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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FILOSOFIA, SAÚDE E SOCIEDADE
MODALIDADE INTERINSTITUCIONAL
UFSC/UCS/UNIVATES/FEEVALE
JUSTINA INES BRUNETTO VERRUCK ACKER
CONSTRUINDO A MOBILIZAÇÃO COM A EQUIPE DE SAÚDE DA
FAMÍLIA PARA A PREVENÇÃO DO ACIDENTE DOMÉSTICO
INFANTIL
FLORIANÓPOLIS
2006
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JUSTINA INES BRUNETTO VERRUCK ACKER
CONSTRUINDO A MOBILIZAÇÃO COM A EQUIPE DE SAÚDE DA
FAMÍLIA PARA A PREVENÇÃO DO ACIDENTE DOMÉSTICO
INFANTIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina como requisito final para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem – Área de Concentração:
Filosofia, Saúde e Sociedade.
Orientadora: Dra. Maria do Horto Fontoura Cartana
FLORIANÓPOLIS
2006
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© Copyright 2006 – Justina Inês Brunetto Verruck Acker.
Ficha Catalográfica
A182c Acker, Justina Inês Brunetto Verruck
Construindo a mobilização com a equipe de saúde para a prevenção de
Acidentes domésticos infantis [dissertação] / Justina Inês Brunetto Verruck Acker.
– Florianópolis: UFSC/PEN, 2006.
144 p.
Inclui bibliografia.
1. Enfermagem – Acidentes domésticos. 2. Saúde - Educação. 3. Programa de
Saúde da Família – Participação comunitária. I. Título.
CDD21ª ed.– 614.8
Catologado na fonte por Lidyani Mangrich dos Passos – CRB14/697 – ACB439.
“A verdade é sempre a realidade interpretada”
Oswald de Andrade
Dedicatória:
Ao meu esposo, Leopoldo e aos meus filhos
Fernando, Eduardo e André por compartilharem
comigo esta caminhada. Pelo carinho, incentivo e
aprendizados que a convivência nos tem
proporcionado.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Chegar aqui é bem mais que um sonho concretizado, é um movimento a mais em
direção a algo que me nutre para viver, e no qual invisto o que há de melhor em mim, o
cuidado ao ser humano. Seria impossível listar o nome de todas as pessoas que
contribuíram para concretizar este estudo, entretanto algumas se destacaram e a estas eu
gostaria de agradecer publicamente.
Agradeço aos participantes do estudo, cujos depoimentos, percepções e
envolvimento sustentaram este trabalho. Pessoas que tive o prazer de conhecer, e que me
oportunizaram re-aprender coisas significativas para o meu viver. Obrigada pelo convívio
e pela lição de vida.
À minha orientadora, professora Dra. Maria do Horto Fontoura Cartana,
grande incentivadora que re-surgiu em meu caminho, dedicou seu tempo e compreendeu
as minhas dificuldades mostrando que o sonho pode tornar-se realidade. Aprendi com ela
que o esforço gerado, por mais complexo que pareça, mesmo assim pode ser muito
prazeroso.
Agradeço a Deus pela saúde e inspiração recebida em todos os momentos,
concretizadas na presença do pai (in memorian) e da mãe. Eles colocaram no caminho
de seus 8 filhos a persistência para jamais desistirem de sonhar com o belo da vida,
amando e respeitando as pessoas, principalmente as crianças. Lembro especialmente
daquelas enormes bacias de “calça-virada” que chegavam nos momentos de brincadeira
dos domingos à tarde.
Às colegas de mestrado, Sonia, Tatiana e Ligia, com quem dividi angústias,
problemas e alegrias. Elas se mostraram amigas confidentes e parceiras de todas as horas.
Seu bom humor impulsionou esta conquista que também é delas. Juntas nossas viagens se
tornaram mais desafiadoras e com menos curvas.
À coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVATES,
Giselda Hahn, profissional de talento e integridade excepcionais. Obrigada pela
confiança demonstrada durante esta trajetória; sua atenção e dedicação foram
fundamentais para a efetivação deste Curso.
8
À Helena e ao Mário, pela atenção dedicada à minha família quando estive
ausente. Seu ombro amigo me apoiou e esteve presente em muitos momentos difíceis.
À minha família, que esteve presente e vibrou comigo durante esta trajetória. Em
especial à Leda (in memorian), que sempre me fez refletir sobre meus atos e me
incentivou para a concretização deste sonho, que também era dela.
Aos meus sobrinhos a Lizandra e o Dari, que ajudaram com idéias e criações para
as oficinas.
Tendo contado com vocês todos, reafirmo que a Vida é Bela!
ACKER, Justina Inês Brunetto Verruck. Construindo a mobilização com a equipe
de saúde para a prevenção de acidentes domésticos infantis, 2006. Dissertação
(Mestrado em Enfermagem) – Curso Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 144 p.
Orientadora: Dra. Maria do Horto Fontoura Cartana
RESUMO
No Brasil, como em outros países, a criança tem sido freqüentemente vítima de
acidentes no espaço domiciliar devido a fatores pessoais, ambientais e circunstanciais.
Faz-se necessário que o profissional de saúde, em consonância com as expectativas da
família, estabeleça ações que promovam a prevenção dessa situação. Este estudo
trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo Convergente-assistencial, tendo como
objetivo principal mobilizar a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) para a
construção da participação comunitária visando prevenir acidentes domésticos de
crianças menores de 5 anos através da educação em saúde, tendo como base as “Sete
Teses sobre Educação Sanitária para a Participação Comunitária”, de Roberto
Briceño-León, no Bairro Santo André, no Município de Lajeado, Rio Grande do Sul.
Este estudo foi desenvolvido em duas etapas nos meses de maio e junho de 2006. Na
primeira a pesquisadora foi a protagonista do processo de mobilização e na segunda
etapa a equipe de saúde assume o planejamento e organização das atividades,
contando apenas com o apoio da pesquisadora. Os sujeitos do estudo foram os
profissionais de uma equipe do Programa de Saúde da Família, totalizando 11
pessoas. As informações foram coletadas através de entrevistas coletivas e oficinas.
Os dados foram organizados pela pesquisadora e analisados, conforme Trentini e
Paim (2004). Como resultado global do estudo encontramos cinco categorias de
análise, sendo elas: “Tornando o projeto conhecido e obtendo apoio”; “Ações
educativas propostas pelos profissionais da saúde”; “A equipe de saúde educa com
criatividade”; “As estratégias facilitadoras para a construção da participação
comunitária”; e, “Continuidade da construção da participação comunitária para
prevenção de acidentes”. Evidenciou-se que o referencial teórico metodológico foi
adequado para desencadear o processo de mobilização para a prevenção de acidentes
domésticos através da educação em saúde. Concluímos que a mobilização é um
processo lento e complexo, mas pode ser desencadeada quando ocorre maior
envolvimento e congruência entre as expectativas da equipe de saúde e comunidade,
respeitando as diferenças e valorizando potencialidades individuais e coletivas. Como
sugestão propõe-se que o processo de educação em saúde para a prevenção de
acidentes domésticos seja ampliado, agregando diferentes instâncias sociais
governamentais e não governamentais, incluído a educação em saúde também na sala
de emergência.
Palavras chaves: participação comunitária; educação em saúde; acidentes domésticos;
mobilização.
ACKER, Justina Inês Brunetto Verruck. Constructing the mobilization of the
health team for the prevention of domestic infant accidents, 2006. Thesis
(Master’s in Nursing) – Post-Graduate Course in Nursing, Federal University of Santa
Catarina, Florianópolis. 144 p.
Advisor: Dra. Maria do Horto Fontoura Cartana
ABSTRACT
In Brazil, as in other countries, children are frequently victims of accidents
around the home due to personal, environmental, and circumstantial factors. Thus, it
is necessary for the health care professional, in consonance with the family’s
expectations, to establish actions that promote the prevention of such situations. This
is a qualitative Assitential-convergent study. Its principal objective is to mobilize the
Family Health Program (PSF) team for the construction of community participation,
seeking to prevent domestic accidents among children less than 5 years old through
health care education. It is based upon the “Seven Theses about Sanitary Education
for Community Participation”, by Roberto Briceño-León, in the Santo André
neighborhood, in Lajeado County, Rio Grande do Sul, Brazil. This study was
developed and carried out in two stages, during the months of May and June of 2006.
In the first, the researcher was the protagonist in the mobilization process, and in the
second the health care team assumed the planning and organization of the activities,
counting only on the support of the researcher. The subjects of the study were
professionals in a Family Health Program team, totaling 11 people. The data was
collected through collective interviews and workshops. The data was organized by
the researcher and analyzed according to Trentini and Paim (2004). As the global
result of the study, the following five categories for analysis were found: “Making the
project known and obtaining support”; “Educational actions proposed by health care
professionals”; “The health care team educates with creativity”; “Facilitating
strategies for the construction of community participation”; and, “Continuity of the
construction of community participation for the prevention of accidents”. The
evidence points out that the methodological theoretical reference was adequate for
unchaining the mobilization process for the prevention of domestic accidents through
health care education. We conclude that mobilization is a slow and complex process,
but that it can be unchained when there is greater involvement and congruency among
the expectations of the health care team and of the community, respecting differences,
and valuing individual and collective potentials. As a suggestion, we propose that the
educational process in health care for the prevention of domestic accidents be
amplified, adding different social, governmental, and non-governmental instances,
including health care education in the emergency room.
Keywords: community participation; health care education; domestic accidents;
mobilization.
11
ACKER, Justina Inês Bruneto Verruck. Construyendo la movilización con el
equipo de salud para la prevención de accidentes domésticos infantiles, 2006.
Disertación (Maestría en Enfermería) – Curso Post Graduación en Enfermería,
Universidad Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 144 p.
Orientadora: Dra. Maria do Horto Fontoura Cartana.
RESUMEN
En el Brasil, como en otros países, el niño frecuentemente ha sido víctima de
accidentes en el espacio domiciliar debido a factores personales, ambientales y
circunstanciales. Se hace necesario que el profesional de salud, en consonancia con
las expectativas de la familia, establezca acciones que promuevan la prevención de
esa situación. Se trata de una investigación cualitativa de tipo Convergente-
asistencial, teniendo como objetivo principal movilizar al equipo del Programa de
Salud de la Familia (PSF) para la construcción de la participación comunitaria
buscando prevenir accidentes domésticos de niños menores de 5 años a través de la
educación en salud, teniendo como base las “Siete Tesis sobre Educación Sanitaria
para la participación comunitaria”, de Roberto Briceño-León, en el Barrio Santo
André, en el Municipio de Lajeado, Río Grande del Sur. Este estudio fue desarrollado
en dos etapas en los meses de mayo y junio del 2006. En la primera la investigadora
fue la protagonista del proceso de movilización y en la segunda etapa el equipo de
salud asume el planeamiento y organización de las actividades, contando sólo con el
apoyo de la investigadora. Los sujetos del estudio fueron los profesionales de un
equipo del Programa de Salud de la Familia, totalizando 11 personas. Las
informaciones fueron colectadas a través de entrevistas colectivas y talleres. Los datos
fueron organizados por la investigadora y analizados, conforme Trentini y Paim
(2004). Como resultado global del estudio encontramos cinco categorías de análisis,
siendo ellas: “Tornando el proyecto conocido y obteniendo apoyo”; “Acciones
educativas propuestas por los profesionales de la salud”; “El equipo de salud educa
con creatividad”; “Las estrategias facilitadoras para la construcción de la participación
comunitaria”; y, “Continuidad de la construcción de la participación comunitaria para
la prevención de accidentes”. Se evidenció que el referencial teórico-metodológico
fue adecuado para desencadenar el proceso de movilización para la prevención de
accidentes domésticos a través de la educación en salud. Concluimos que la
movilización es un proceso lento y complejo, pero puede ser desencadenada cuando
ocurre mayor envolvimiento y congruencia entre las expectativas del equipo de salud
y comunidad, respetando las diferencias y valorizando potencialidades individuales y
colectivas. Se propone, como sugestión, que el proceso de educación en salud para la
prevención de accidentes domésticos sea ampliado, agregando diferentes instancias
sociales gubernamentales y no gubernamentales, incluyendo la educación en salud
también en la sala de emergencia.
Palabras clave: participación comunitaria; educación en salud; accidentes
domésticos; movilización.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Fotos dos materiais utilizados em oficina com crianças..................................101
Figura 2: Fotos de balas utilizada na oficina com crianças.............................................102
Figura 3: Fotos de frasco contendo açúcar utilizado na oficina com crianças................ 102
Figura 4: Fotos de frascos contendo produtos químicos utilizados na oficina com as
crianças
.....................................................................................................................103
Figura 5: Desenhos elaborados pelas crianças após a oficina......................................... 104
Figura 6: Desenhos elaborados pelas crianças após a oficina......................................... 105
Figura 7: Foto da casa simulada construída para oficina com as mães...........................107
Figura 8: Foto saco surpresa contendo os móveis e utensílios da cozinha .....................107
Figura 9: Móveis e utensílios colocados no saco surpresa.............................................. 108
Figura 10: Foto demonstrando a colocação inicial dos móveis e utensílios na Casa
Simulada
...................................................................................................................108
Figura 11: Foto da colocação final dos móveis e utensílios na Casa Simulada.............. 109
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Descrição das categorias de análise resultantes da pesquisa ...........................87
Quadro 2: Ações preventivas propostas pelo profissional da saúde para a prevenção de
acidentes domésticos
...................................................................................................95
Quadro 3: Listagem das estratégias facilitadoras para a construção da participação
comunitária
...............................................................................................................112
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... 11
LISTA DE QUADROS ................................................................................................... 12
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................16
1.1 Objetivo geral..............................................................................................................21
1.2 Objetivos específicos..................................................................................................21
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................22
2.1 Contextualização das Políticas de Saúde..................................................................22
2.2 A criança no contexto familiar e social ao longo da história..................................31
2.3 Cenário do acidente doméstico infantil ....................................................................38
2.4 Educação e educação em saúde................................................................................50
3 MARCO REFERENCIAL...........................................................................................58
3.1 Apresentação dos conceitos........................................................................................59
3.2 Meus pressupostos para prevenir acidentes domésticos........................................65
3.3 Minha compreensão sobre as Sete Teses de Briceño-Léon....................................67
3.3.1 Tese I ........................................................................................................................67
3.3.2 Tese II....................................................................................................................... 67
3.3.3 Tese III....................................................................................................................... 68
3.3.4 Tese IV .....................................................................................................................70
3.3.5 Tese V........................................................................................................................70
3.3.6 Tese VI ......................................................................................................................71
3.3.7 Tese VII ....................................................................................................................71
3.4 Discussão sobre Sete Teses de Briceño-León ..........................................................72
4 METODOLOGIA.........................................................................................................75
4.1. Fase da concepção......................................................................................................78
4.2 Fase da instrumentação.............................................................................................78
4.2.1 Cenário da mobilização para prevenção de acidentes domésticos ........................... 79
4.2.2 Os participantes do estudo........................................................................................ 82
4.2.3. Técnicas para obter as informações..........................................................................83
4.2.4. O registro das informações....................................................................................... 84
4.3. Fase da Perscrutação.................................................................................................85
4.4 Fase da análise e interpretação.................................................................................87
4.5 Rigor metodológico....................................................................................................87
4.6 Preceitos Éticos..........................................................................................................88
5 RESULTADOS DO ESTUDO....................................................................................91
5.1 Tornando o projeto conhecido e obtendo o apoio....................................................92
5.2 Ações educativas propostas pelos profissionais da saúde.......................................94
5.3 A equipe de saúde educa com criatividade..............................................................98
5.4 Estratégias facilitadoras para a construção da mobilização................................111
5.5 Continuidade da construção da participação comunitária para prevenção de
acidentes
..........................................................................................................................115
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................121
15
REFERÊNCIAS..............................................................................................................129
APÊNDICES...................................................................................................................138
ANEXOS..........................................................................................................................147
INTRODUÇÃO
A história nos mostra que no Brasil, o interesse e a preocupação pelas condições
de vida das crianças, por parte do poder público, da educação e da saúde, têm sido
maior a partir da segunda metade do século XX.
Atualmente, os indicadores de saúde relativos aos acidentes e violências,
revelam um grave problema de saúde pública e as crianças menores de cinco anos
estão envolvidas na maioria dos atendimentos por quedas, queimaduras e intoxicações
atendidas nos serviços de emergência. “Os acidentes matam e incapacitam mais
crianças do que qualquer outra doença humana, e são a causa principal de morte na
infância” (THOMPSON, 1996, p.190).
Além disso, em nossa cultura cristã foi dito às crianças que o seu “anjo da
guarda” as protege durante o seu dia a dia, em suas brincadeiras e aprendizados. Este
pensamento talvez justifique porque o acidente é interpretado como obra do destino ou
do acaso, ou ainda como algo comum nesta faixa etária. Sendo assim, não basta
nomear e identificar os fatores envolvidos na ocorrência dos acidentes, é preciso ir
além. Pensa-se que uma das maneiras de identificar as necessidades das crianças em
termos de segurança no domicílio é compreender profundamente a situação dos
acidentes domésticos, visando conhecer as dimensões do objeto do estudo, bem como
as formas como se articulam as questões da promoção de saúde e prevenção dos
acidentes.
Sendo assim, busca-se através desta pesquisa, construir a mobilização da equipe
do Programa de Saúde da Família (PSF) para a construção da participação comunitária
de famílias com crianças menores de 5 anos, visando prevenir acidentes domésticos
através da educação em saúde, tendo como base as “Sete Teses sobre Educação
Sanitária para a Participação Comunitária”, de Roberto Briceño-León, no bairro Santo
André, no município de Lajeado- RS
Acreditamos que compreender a situação dos acidentes domésticos a partir do
17
enfoque familiar poderá revelar “o modo de andar a vida” pela família, como diz
Canguilhem apud Castellanos (1995). Modo este inseguro, pois estudos nacionais e
internacionais revelam que aproximadamente 45% dos acidentes ocorrem no ambiente
domiciliar, encarados, não raramente como um fato comum, mesmo que estes
contribuam para aumentar significativamente as taxas de morbi-mortalidade em
crianças (DEL CIAMPO, RICCO, MUCILLO, 1997). Por outro lado muitas das
crianças que recebem o atendimento são examinadas e poucas vezes ficam
reconhecidos eventos que envolvem intencionalidade, ao invés de acaso (MENEZES
et al., 1996, p. 78).
Independente da intencionalidade dos eventos, eles comprometam a saúde das
famílias. Ao pensar na saúde, bem-estar e qualidade de vida de famílias a educação se
evidencia como uma estratégia fundamental de intervenção no campo social e político,
intrafamiliar, intersetorial e interdisciplinar. As estratégias de promoção à saúde não
devem ser pontuais ou particulares (PORDEUS, FRAGA, FACO, 2003). Os pais
podem promover a saúde da criança, prevenindo os acidentes domésticos com
conhecimento adequado, tomando as devidas precauções de acordo com as
necessidades de cada fase do crescimento e desenvolvimento da criança.
Nesta perspectiva, parte-se do princípio de que todas as pessoas, por estarem
inseridas num contexto social e ao fazer parte dele, interagem, pensam, fazem escolhas
em saúde, influenciam e são influenciadas, podendo gerar e internalizar aprendizagens,
sendo desta forma elementos ativos, capazes de interagir e intervir com ambiente.
Além disso, as sociedades, para cuidar de seus membros, buscam diferentes maneiras
para satisfazer as necessidades, através de possíveis intervenções governamentais
(LISS, 2000, p. 501).
Os serviços de saúde são uma das formas de satisfação das necessidades de
saúde. No Brasil, o Sistema Único de Saúde vem sendo construído a partir do preceito
constitucional de que saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Entretanto
ainda há muito a ser feito nesse campo. Segundo Malveira e Souza (1998), há nos
serviços de atenção básica à saúde um distanciamento entre os profissionais de saúde e
seus clientes, ou seja, ao cumprirem apenas as normas e as ações dos programas de
saúde acabam nivelando às condutas e procedimentos gerais para resolver problemas
18
de saúde, mas isto não garante um cuidado que atenda as necessidades das crianças
(MALVEIRA e SOUZA, 1998, p.252). A situação descrita pelos autores ainda é
realidade em serviços de saúde, embora tenham se passados anos desde seu enunciado.
Este distanciamento talvez esteja contribuindo para elevar os índices de
internação hospitalar, descritos por Alfradique e Mendes apud Mendes (2002, p. 46),
ao dizer que no Brasil, ano 2001, ocorreram 12.426.111 internações pelo sistema
Único de Saúde, destas 3.405.452 (27%) foram por condições sensíveis à atenção
ambulatorial e, ao ser retirado os partos, este índice sobe para 33,8%. Para Mendes
(2002), o número de internações hospitalares por problemas que poderiam ser
atendidas através da atenção ambulatorial, é um indicador que permite medir a
qualidade da atenção primária à saúde do SUS (MENDES, 2002). Defendo a idéia de
que a qualidade da atenção ambulatorial poderia ser modificada se permeada pela
educação em saúde.
Os acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos são situações
complexas. Quando consideradas apenas sob a ótica epidemiológica, deixa-se de
considerar comportamentos, subjetividades e necessidades individuais, familiares e
sociais. Sendo assim, compreendê-los a partir do olhar da família possivelmente trará
uma nova contribuição aos profissionais de saúde e sociedade em geral, especialmente
aos preocupados e comprometidos com a promoção da saúde das crianças (BRASIL,
2002).
Neste contexto há de se considerar a diversidade de “modos de levar a vida”, a
variabilidade dos fatores envolvidos e a importância dada à saúde pelos atores.
Compartilhar saberes com famílias, escola e profissionais da saúde permite ir além da
identificação das responsabilidades pelo acidente, busca-se incorporar formas
educativas em saúde, sensatas e participativas e não coercivas ou punitivas.
Pensar e fazer prevenção de acidentes domésticos com foco centrado na família
é uma prática educativa e ao mesmo tempo uma prática de cuidado. Segundo Souza et
al. (2005), ao adotar um modelo educativo em saúde que propõe aos sujeitos a reflexão
da realidade, o profissional de saúde assume o papel de facilitador na re-construção
desta realidade, estimulando o desenvolvimento da consciência crítica dos usuários
frente às decisões de saúde nos aspectos individuais e coletivos.
19
Nesta perspectiva, torna-se fundamental ultrapassar o modelo de saúde que
detém o poder e a disciplina, para estudar outras características do processo
saúde/doença enquanto socialmente e historicamente determinados. É momento de
motivar a autonomia do cidadão e da família, a descobrir estratégias para se conduzir
de forma saudável e garantir a proteção à criança. Por outro lado, estimular a
autonomia, não assegura que o processo de educação seja suficiente para promover
continuamente a saúde das crianças e torna-se necessário construir aprendizados
continuados, em conjunto entre profissionais de saúde, famílias, escola e outras
organizações sociais.
Uma das motivações para as iniciativas nesse sentido é assumir a cidadania da
criança, conforme previsto no artigo 227 da Constituição Federal de 1988 e como cita
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 13 de julho de 1990, em seu
capítulo 7
o
que é um direito da criança em receber cuidado adequado para a proteção
da vida e da saúde e, portanto cabe ao adulto desenvolver ações efetivas de cuidado
(BRASIL, 1991).
Como nos refere Freire (1980, p. 39), “é preciso que a educação esteja em seu
conteúdo, em seus métodos, adaptada ao fim que persegue”. Acreditando nisso, penso
que esta forma de educar, junto à família e comunidade, pode transformar o cenário
dos acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos.
O interesse pelo tema emergiu, além de minha vivência profissional, devido a
ter participado do Comitê Estadual de Urgências e Emergências onde tive a
oportunidade de conhecer a incidência dos acidentes domésticos e suas repercussões.
O presente estudo tem como pano de fundo a cidade de Lajeado, por existir ali o
Observatório de Acidentes e Violências
1
. Iniciei o Curso de Mestrado já com essa
preocupação, e ao longo do Curso meus esforços se direcionaram a compreender
melhor o tema.
1
O Observatório de Acidentes e Violências está instalado junto ao Pronto Socorro do Hospital Bruno Born e
funciona em convênio com a Secretaria Estadual de Saúde. Neste serviço é feito o detalhamento dos casos de
acidentes e violências atendidos no referido local e está em funcionamento desde agosto de 2002. O
Observatório surgiu com o objetivo inicial de detectar dados sobre os acidentes de trabalho, mas acabou
ampliando os interesses para todos os eventos. No Rio Grande do Sul existem em torno de outras 20 unidades de
saúde que integram esta parceria.
20
A medida em que fui desenvolvendo a minha Prática Assistencial
2
no Curso de
Mestrado em Enfermagem e Saúde, fui convivendo com mães da comunidade, tendo
como objetivo traçar e alcançar estratégias de prevenção para a prevenção de acidentes
domésticos e, neste percurso foi identificado questões específicas que me conduziram
à definição o tema: A mobilização da equipe de saúde para prevenir acidentes
domésticos.
Assim, escolhido o tema, busquei nesta dissertação de mestrado avançar na
prática educativa em saúde, guiei-me a partir da questão de pesquisa: Como mobilizar
a equipe de saúde para construir a participação comunitária para a prevenção de
acidentes domésticos com crianças menores de 5 anos através da educação em saúde,
no Bairro Santo André, do município de Lajeado- RS? Busquei aproximar a questão de
pesquisa aproximando-a do referencial teórico proposto pelo sociólogo Roberto
Briceño-León.
Entendo que a relevância profissional e social do tema encontra-se nos desafios
moral, ético e legal imposto à enfermagem, visando garantir proteção e promoção e
prevenção de agravos à saúde, objetivando conscientizar a sociedade e motivar novas
práticas educativas, para assim romper paradigmas e modificar a compreensão deste
fenômeno.
Este estudo integra-se na linha de pesquisa “Educação, Saúde e Enfermagem”
do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Na tentativa de avançar em uma prática educativa e transformadora em saúde,
descreverei aqui o desenrolar de um processo de mobilização desenvolvido junto à
equipe de saúde da comunidade em estudo. Ao projetar-me nesta pesquisa qualitativa
visualizava os seguintes objetivos.
2
É uma das disciplinas integrantes da grade curricular do Curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina, área de concentração: Filosofia, Saúde e Sociedade. Está estruturada em seis créditos
e tem como objetivo principal elaborar, implementar e avaliar uma atividade de assistência de enfermagem a
indivíduos, famílias, grupos sociais e comunidade, com base em um marco de referência teórico, seguindo o
rigor metodológico e ético. Nesta atividade desenvolvemos 3 encontros com 7 mães da comunidade que se
dispuseram voluntariamente a participar do prática educativa. Buscamos traçar e implementar estratégias
domiciliares para a prevenção de acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos a partir das
vivências e da investigação dos riscos ambientais de seus domicílios. Os resultados da Prática Assistencial foram
limitados, mas revelaram a necessidade de atuação pela equipe do PSF, envolvendo a Escola Municipal de
Educação Infantil.
21
1.1 Objetivo geral
Mobilizar a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) para a construção
da participação comunitária visando prevenir acidentes domésticos de crianças
menores de 5 anos através da educação em saúde, tendo como base as “Sete Teses
sobre Educação Sanitária para a Participação Comunitária”, de Roberto Briceño-León,
no Bairro Santo André, no Município de Lajeado- RS
1.2 Objetivos específicos
Capacitar a equipe de saúde para identificar aos riscos de acidentes
domésticos;
Co-responsabilizar a equipe de saúde na prevenção de acidentes
domésticos;
Estimular a equipe de saúde para a construção de estratégias educativas;
Avaliar as estratégias implementadas pela equipe de saúde.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Contextualização das Políticas de Saúde
Vivemos na atualidade os reflexos da construção histórica social e política dos
modelos de saúde, estes imbricados por relações de poder das classes dominantes
existentes na sociedade. As políticas de saúde estão ligadas aos interesses sociais,
embasados na concepção de saúde/doença que seus organizadores possuem, em cada
época.
Segundo Mendes (2002, p.23), no Brasil a primeira metade do século passado
foi marcada pelo modelo de saúde sanitarista, fortemente centrado numa política
repressora sobre as pessoas ou “corpos social e individual”, ancorados na necessidade
econômica agro-exportadora do país. O modelo sanitarista foi muito contestado pela
imprensa, pelos intelectuais e pela população devido a seu caráter autoritário, pois não
utilizava medidas que visassem à melhoria da qualidade de vida da população e a
prevenção dos problemas de saúde. Salienta que a base da regionalização dos serviços
e sistemas de saúde, em muitos países do mundo, na década de 20, teve forte
influência da forma de organização advinda do Reino Unido, onde os serviços de
saúde eram organizados em três diferentes níveis de atenção a saúde, ou seja,
primários, secundários e os hospitais de ensino.
O mesmo autor diz que, no Brasil, nesta época, existia a crise do ponto de vista
comercial, devido à ocorrência de epidemias, tais como a febre amarela, a peste e a
varíola.Oswaldo Cruz inicia nessa época uma grande campanha prevencionista com
medidas e controles permitindo dar continuidade da comercialização dos produtos
agrícolas brasileiros.
Em 1921, Carlos Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública,
deu continuidade ao trabalho iniciado por Oswaldo Cruz e criou o curso de Visitadoras
Sanitárias, com o objetivo de difundir medidas de prevenção de doenças nas casas e
comunidades em geral. Além disso, traz para o Rio de Janeiro um grupo de
23
enfermeiras americanas, que organizam a primeira escola de enfermagem do Brasil,
esta inicialmente tinha seu foco centrado no controle de doenças transmissíveis,
assegurando através de suas medidas a agro-exportação, baseado no modelo capitalista
vigente nesta época.
A criação da escola de Enfermagem do Departamento Nacional de Saúde
Pública marca o início do ensino formal de enfermagem no Brasil. Esta escola seguia
os fundamentos nightingalianos de disciplina, obediência e subserviência, calcada pelo
poder das classes dominantes e pela forte tendência ao controle dos corpos da classe
trabalhadora, onde a submissão existente dificultava o desenvolvimento do
pensamento critico para a tomada de decisões por si próprios (GEIB et al., 1999, p.
81).
O período entre os anos de 1923 e 1930 marcou o nascimento da Previdência
Social, com a Lei Eloy Chaves, marcada pelo “sanitarismo campanhista”, onde as
ações de saúde estavam pautadas no combate de doenças em massa, de forma
repressiva (CUNHA e CUNHA, 2001).
Nesta época, segundo Mendes (2002), havia três fortes correntes de sanitaristas.
Uma delas defendia a idéia do modelo baseado nas campanhas verticais contra
doenças endêmicas. A outra estava baseada na existência de serviços especializados de
assistência médica para tratar doenças como tuberculose, hanseníase e doenças
mentais. Uma terceira corrente acreditava na criação de uma rede de centros de saúde,
que buscaria promover e proteger a saúde de uma determinada área de abrangência.
Conforme Mendes (2002, p. 24), “acabou por predominar a corrente
campanhista-policial, mas marginalmente, abriu-se espaço para a rede local
permanente”. Estes focalizavam a promoção da saúde e prevenção de doenças
utilizando ações de educação sanitária, devido aos problemas grandes problemas de
saúde pública que comprometiam o país neste período.
Entre os anos de 1930 até 1945, com a intenção de conter gastos relativos à
assistência a saúde as ações passam a ser centradas na saúde pública, ocorrendo a
expansão da atenção primária à saúde. Após a Revolução de 30, liderada por Getúlio
Vargas, ocorre um período marcado por greves e manifestações, legitimaram a ação
sindical corporativista. Nesta época a Previdência privilegia os benefícios e reduz a
24
prestação de serviços de saúde, ocorre o corte de despesas médico-hospitalares.
Entre os anos de 1945 e 1966 ocorre um crescimento dos serviços da
Previdência, gerando um aumento nos gastos com assistência médica, surgindo a
expansão dos serviços privados de saúde para suprir as demandas de assistência. Os
gastos com assistência médica em 1945 eram de 2,3% sobem para 14,9% em 1966,
isto se deu devido ao aumento de beneficiários e modificação nos critérios de liberação
de benefícios (CUNHA e CUNHA, 2001, p. 289).
A partir da década de 50, segundo Mendes (2002), surge o aumento da
urbanização e em contrapartida a necessidade de incrementar a força de trabalho,
tornando-se necessário manter os corpos saudáveis para o mundo do trabalho,
produção e renda. Para dar conta desta demanda de corpos saudáveis, oriundas dos
interesses políticos e econômicos, o sistema de saúde também se modifica, surgindo a
medicina previdenciária, ficando responsável pela maior parte da assistência médica
brasileira (VASCONCELOS, 2000, p.53).
Embora a Saúde Pública brasileira tenha iniciado suas atividade em 1808,
somente em 25 de julho de 1953, o Ministério da Saúde. Em 1967, o Ministério da
Saúde assume de fato a formulação e a coordenação das Políticas Nacional de Saúde,
entre outras atribuições: coordenação e fiscalização da assistência à saúde; controle da
saúde ambiental e desenvolvimento de ações promoção, proteção e recuperação da
saúde individual e coletiva (COSTA, 2005).
No período entre os anos de 1966 até por volta de 1973 a saúde coletiva fica
dispersa entre vários ministérios e órgãos públicos. Ocorre um aumento de gastos com
saúde pela Previdência, há um aumento da extensão da cobertura que leva a compra de
serviços privados de saúde pela previdência em detrimento dos serviços próprios. Com
o apoio do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social os hospitais da rede privada,
são remodelados e ampliados (CUNHA e CUNHA, 2001).
Junto a isto, entre os anos 60 e 80, ocorre a hegemonia dos serviços de saúde,
baseado no modelo biologicista e curativista, denominado por Mendes (2002) como
“modelo médico-assistencial privatista”. A partir da metade de 1960,
(...) com a hegemonia do modelo médico-assistencial privatista a atenção à
saúde se desenvolveu nas Secretarias Estaduais de Saúde, [...] o que implicava
em focalizar suas ações na promoção da saúde e na prevenção de doenças mas
25
incorporando a atenção médica num modelo dirigido especialmente para o
grupo materno-infantil e para doenças infecciosas e carenciais, os
denominados programas de saúde pública. (MENDES, 2002, p. 24-5).
As bases que favoreceram a hegemonia do modelo assistencial privatista são: a)
o Estado como órgão financiador por meio da Previdência Social; b) o setor privado
nacional como prestador de serviços; c) o setor privado internacional como o maior
fornecedor de materiais e produtos. As ações de saúde coletiva na década de 70
coincidem com mobilizações internacionais importantes no processo de atenção
primária à saúde, visando atender as populações brasileiras não pertencentes à
previdência social (MENDES, 2002).
Em resposta à crescente demanda por uma nova concepção de Saúde Pública,
no mundo, foi realizada, em 1978, em Alma-Ata a Primeira Conferência Internacional
sobre Cuidados Primários de Saúde. Os cuidados primários de saúde são entendidos
como
Procedimentos que se baseiam em métodos e técnicas práticas, fundamentadas
cientificamente, socialmente aceitáveis, disponíveis para toda a população e a
um custo que possa ser mantido pelo país. Os cuidados primários de saúde se
constituem no primeiro nível de contato com os indivíduos com o sistema
nacional de saúde e deverão ser levados o mais próximo possível dos locais
onde as pessoas vivem ou trabalham. (GERALDES, 1992, p. 92-3)
Neste momento surge então a necessidade dos países reconhecerem a
importância da atenção primária à saúde. A atenção primária inclui questões relevantes
e envolve ensinamentos sobre a saúde, métodos de prevenção e controle de doenças.
Segundo Mendes (2002), os elementos definidos nesta Conferência incluíam:
educação sanitária, saneamento básico, planejamento familiar, programa de
imunizações e entre outros a valorização da medicina tradicional.
Nesta década, com o objetivo de criar um sistema para dar conta das
necessidades de saúde da população começam programas de atenção primária seletivos
26
porque se destinavam a populações e regiões pobres. Com interiorização dos mesmos,
gerou aumento de 1.255% unidades básicas de saúde em uma década, ou seja, em
1975 tinham 1.122 unidades básicas e em 1984 passou a existir 13.739 instituições.
Com a ampliação do programa de interiorização, em 1979, ocorre a grande expansão
da rede ambulatorial pública (MENDES, 2002).
Vislumbrando fortalecer a população menos favorecida, em regiões com maior
crescimento populacional ocorre integração dos profissionais e dos serviços de saúde
onde a principal preocupação é “a colaboração no esforço das classes populares pela
conquista de seus direitos e uma maior capacidade de entendimento e enfrentamento
de seus problemas de saúde” (VASCONCELOS, 2000, p. 35). Conforme o autor, neste
processo de mobilização ocorre a “consolidação da participação popular na dinâmica e
no funcionamento dos serviços de saúde”, pois até então era muito escassa a
participação das classes populares, devido ao intenso e repressivo regime militar que
assolava o país.
Com isto se desencadeia na sociedade um movimento de re-democratização e
re-estruturação dos serviços de saúde porque as classes populares estavam insatisfeitas
com o sistema de saúde vigente. Desta forma, a organização das pessoas catalisa
forças para estruturar um sistema de saúde em bases populacionais, indo além do
modelo hegemônico, centrado nas doenças (MENDES, 2002).
Por outro lado, o mesmo autor descreve que em 1979, foi realizada a
Assembléia Mundial da Saúde para que fossem acordadas estratégias nacionais,
regionais e globais, visando atingir a meta “Saúde para Todos no ano 2000”, até hoje
ainda não concretizada.
Neste processo de mobilização nacional e internacional ocorre o fortalecimento
de ações comunitárias, conforme previsto na Carta de Ottawa, a qual foi realizada em
Ottawa em 21 de novembro de 1986. Esta carta incluía a elaboração de política pública
saudável; a criação de meio ambientes que protejam a saúde; o desenvolvimento de
hábilidades pessoais; e a reorientação dos serviços de saúde (CARTA de OTAWA,
1986).
No Brasil, em 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS).
Constituiu-se num foro de discussões envolvendo diferentes segmentos da sociedade,
27
entre eles trabalhadores, políticos, sindicatos, universitários e outros. Esta conferência
significou um marco para as propostas de mudanças no setor saúde dela saiu diretrizes
para o projeto da Reforma Sanitária Brasileira. Esta reforma merece ser entendida
como um processo social e político, onde os diferentes grupos sociais da sociedade se
manifestaram, contribuindo para a reorganização do setor saúde (PAIM, 1999).
As bases do novo sistema de saúde, segundo Mendes (2002), foram construídas
a partir de um conceito de saúde mais amplo, fazendo parte outros condicionantes
como renda, habitação, meio ambiente, lazer, transporte, trabalho, renda, alimentação,
acesso à saúde e posse de terra. Prevê que a saúde é um direito das pessoas e um dever
do estado, este como regulador e responsável pela garantia desse direito. Esta reforma
propõe a reformulação do sistema Nacional de Saúde, criando o Sistema Único de
Saúde.
Assim, em 1988, a Assembléia Nacional constituinte elabora a Constituição
Federal e nela cria os artigos 196 a 200 que tratam da saúde, incorporando a essência
da reforma sanitária. Com isto é aprovada a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),
ficando neste momento reconhecido no artigo 196 da Constituição Federal o conceito
de saúde:
A saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas, que visem a redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário as ações e serviços para a sua
formação, proteção e recuperação. No artigo 198: As ações e serviços públicos
de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I -
descentralização, com direção única em cada esfera do governo; II -
atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade (BRASIL,
2001, p. 118).
O Sistema Único de Saúde é hierarquizado e composto por várias instâncias
interligadas, sendo que cada uma delas segue suas atribuições específicas. Em 1990, o
Congresso Nacional aprova a Lei Orgânica de Saúde 8080/90 que detalha o fun-
cionamento do Sistema Único de Saúde, como sendo um sistema público, organizado e
orientado no sentido de atender o interesse da coletividade (COSTA, 2005).
28
Para organizar o sistema de atenção a saúde, é fundamental utilizar o
conhecimento epidemiológico, que subsidia as políticas, planos ou programas de
saúde, conforme estabelecido na Lei 8.080 de 1990 Capitulo II – Dos princípios e
diretrizes do SUS, Art. 7, inciso VII: sobre a “utilização da epidemiologia para o
estabelecimento de prioridades, alocação de recursos e a orientação pragmática”. Neste
capítulo fica regulamentada a importância das Unidades Básicas de Saúde e outras
instituições de cuidado à saúde captarem informações, pois a comunicação destes
dados é fundamental para promover a saúde e a prevenção de doenças (BASIL, 1990).
Segundo Motta e Carvalho (1999), o conhecimento sobre a situação saúde de
uma determinada comunidade ou região requer informações para a tomada de
decisões, desta forma permite que sejam estabelecidas as prioridades, alocando
recursos para o desenvolvimento da ação. Entretanto, no Brasil, existe certa carência
de informações para subsidiar iniciativas de qualidade de vida, que levem em conta
aspectos econômicos e sociais de padrões de morbimortalidade e dos riscos de saúde
(MOTTA, CARVALHO, 1999, p. 519).
Para a implantação do SUS foi necessário, além de conhecer os dados
epidemiológicos, também organizar a estrutura física e material e principalmente
compreender que saúde se iguala com condição de vida, a saúde precisa ser expressa
como “um retrato das condições de vida” (CUNHA e CUNHA, 2001, p.299)
Segundo Mendes (2002), com a implantação do Sistema Único de Saúde, não
pelo aumento do número de Unidades Básicas de Saúde, mas principalmente pela
qualidade do atendimento:
O SUS não só aumentou a quantidade de unidades básicas de saúde, como
mudou sua qualidade, já que um dos princípios é a integralidade da atenção,
[...]. Tratava-se, então de buscar um modelo de atenção primária à saúde que
desse conta de concretizar a integralidade das ações e dos serviços de saúde e
que pudesse colocar-se como alternativa ao modelo tradicional vigente
(MENDES, 2002, p. 26).
Conforme descreve o mesmo autor, no Brasil, várias foram às propostas para a
organização da atenção primária à saúde e representam alternativas bem sucedidas,
contrárias ao modelo hegemônico, proporcionando concretizar os princípios do SUS.
29
Entre os vários programas temos o Programa de Agentes Comunitários de Saúde
(PACS) e o Programa de Saúde da Família (PSF), ambos vigentes até hoje.
Em 1991, para modificar os indicadores de morbimortalidade infantil e materna,
na região nordeste do Brasil, o Ministério da Saúde lança mão do Programa de
Agentes Comunitários. Este deve ser uma pessoa da própria comunidade, conhecedor
dos valores e dos costumes daquela população e, além de ser o elo entre a comunidade
e o serviço de saúde, também tem a função de resgatar e valorizar os saberes
populares. Souza (2000), salienta que o programa inicialmente percorria um caminho
marginal e oposto ao sistema de saúde que era desenvolvido nas Unidades Básicas de
Saúde (UBS), cujo enfoque nestes serviços ainda era curativo e com baixa
resolutividade. Advindo dos resultados positivos, pela redução da mortalidade infantil
e pela avaliação da população, estes articulados tecnicamente, fortaleceram debates e
pressionaram mudanças no sistema de saúde.
Num processo contínuo, segundo Martini (2000), a partir de dezembro de 1993,
é estruturado o Programa de Saúde da Família (PSF). O PSF se origina no
Departamento de Operações da Fundação Nacional de Saúde, não tendo articulação
com os demais setores do ministério da Saúde. Segundo Souza (2000), nasce em
condição desfavorável, não havia orçamento para garantir a sua expansão e era
financiado por procedimentos realizados. Diante das limitações, foi implantado em
comunidades mais excluídas e menos favorecidas. O PSF ao longo de sua trajetória e
com o avanço de sua implantação tem destaque político e segue uma caminhada em
busca da sustentabilidade.
De acordo com Martini (2000, p.71), o objetivo do PSF era o de “melhoria da
saúde dos brasileiros e a implantação de um sistema que contemple a universalização
da assistência, incluindo desde a proteção e a promoção da saúde até o diagnóstico e
tratamento precoces de doenças”. Este modelo propõe ampliar a atenção básica, indo
além do espaço da unidade básica de saúde; esta nova dinâmica prevê a participação
popular “o fortalecimento das ações à saúde, dá ênfase na integralidade da assistência,
do tratamento do indivíduo como sujeito integrado à família, ao domicílio e a
comunidade...” (CHIESA, VERÍSSIMO, 2001, p.35)
Este modelo de assistência buscou desencadear um processo de melhoria da
30
saúde do ser humano, aqui entendido como indivíduo, família e comunidade, através
de ações de promoção e proteção à saúde, desenvolvidas em conjunto visando que as
pessoas se co-responsabilizem no processo. Isto demanda que as pessoas sejam
capazes de tomar suas próprias decisões e demanda do profissional da saúde muita
estruturação dos processos “procurando sempre ir e vir com ela [a família] em suas
resignificações, acessando suas crenças, conceitos, idéias mobilizadoras de uma
dinâmica única e singula” (WERNET, 2000, p. 87).
O modelo do Programa de Saúde da Família brasileiro é um sistema solidário e
é uma estratégia para operacionalizar os princípios do SUS, tendo como concepção
teórica “a família como espaço nuclear da agregação das pessoas, inseridas em um
contexto social, devendo ser objeto prioritário e de focalização da atenção à saúde”
(SOUZA, 2000, p.15)
Segundo Vale (2000, p.5), o PSF é considerado pelo Ministério da Saúde como
um eixo estruturante na atenção básica de saúde, que vem reorientando o modelo
assistencial, tomando como foco a família no seu espaço físico e social e por permitir
intervenções para além da práticas curativas. Nesta proposta a equipe de saúde,
composta por um médico, um enfermeiro, um ou dois auxiliares de enfermagem e
quatro a seis agentes de saúde, podem desenvolver atividades interdisciplinares, não
tradicionais e pontuais visando a integralidade da assistência, alicerçadas nos saberes
das diferentes ciências (BRASIL, 1997).
Neste sentido, no entender de Veríssimo (2001, p. 119), o profissional da saúde
deve conhecer os perfis epidemiológicos da população procurando os riscos potenciais
e a partir disso estabelecer as ações possíveis de serem realizadas, para influir no
processo saúde doença que geralmente demanda o envolvimento de outros setores
governamentais e da sociedade. O autor entende que o profissional da saúde pode atuar
e influenciar todos os campos de ação da promoção da saúde, entre eles: desenvolver
políticas públicas saudáveis, criar ambientes saudáveis, fortalecer a ação comunitária,
desenvolver habilidades pessoais, e reorientar os serviços de saúde.
Em se tratando da criança, Veríssimo (2001), propõe ao enfermeiro desenvolver
a prática para a promoção da saúde a partir de pressupostos que contemplem o
atendimento integral a criança, buscando: a)Compreender e compartilhar com a
31
família as diferentes características da criança nas diferentes idades; b) Informar a
família sobre possibilidades de atenção existentes no serviço de saúde, estimulando-as
a preservar boas práticas de saúde ou a modificar se for necessário; c)Apoiar a criança
e família no enfrentamento de situações e desafios de saúde-doença; d)Auxiliar a
família para o desenvolvimento da autonomia da criança e atendimento de suas
necessidades; e) Controlar doenças imunopreveníveis esclarecendo os pais e seguindo
o calendário de vacinação e f) Priorizar sempre orientações sobre a prevenção de
acidentes estimulando o fortalecimento das famílias.
O profissional de saúde deve conhecer como cada família presta o cuidado aos
seus membros, procurando identificar como ela se organiza, “suas forças, suas
dificuldades e seus esforços para partilhar responsabilidades” (ANGELO e BOUSSO,
2001, p.15).
A partir do conhecimento detalhado sobre as famílias o profissional da saúde
poderá desenvolver intervenções, que possibilitem a família aprimorar ou construir
novas habilidades para resolver suas dificuldades, cabendo ao profissional auxiliar ou
facilitar este processo, ou seja, só poderá ser feita uma intervenção se a família se
propõe a participar das decisões, não podendo fazer por ela (BOUSSO e ANGELO,
2001). Desta forma o planejamento das intervenções merecem um olhar individual ou
familiar, preferencialmente definido a partir do entendimento que cada pessoa tem
sobre a sua realidade e seus significados.
2.2 A criança no contexto familiar e social ao longo da história
Embora tenhamos no Brasil inúmeros avanços em tecnologias e na área social
que proporcionam maior expectativa e qualidade de vida ao ser humano, ainda nos
deparamos com agravos à saúde e mortes de crianças associadas a causas evitáveis.
Muitos destes agravos são gerados no domicílio e aumentam significativamente os
indicadores de morbidade infantil. Além disso, são considerados evitáveis porque
podem as causas podem ser prevenidas com melhorias na segurança domiciliar e com
investimentos nos processos educativos, estes compartilhados e construídos coletiva-
32
mente, profissionais de saúde e famílias.
Segundo Simões (2002), durante a década de 90, houve grandes modificações
nos níveis de saúde no Brasil, gerando quedas na mortalidade da população brasileira.
Investimentos realizados com gestantes e crianças contribuíram para a redução da
mortalidade infantil e na infância, especialmente à expectativa ao nascer. Por outro
lado, o autor salienta que temos, ainda, 11% das mortes de crianças com causa
indefinida, sendo que na região sudeste estes dados não chegam a 5%. Além disso, nas
regiões mais desenvolvidas o perfil das mortes vem sendo modificado pelo aumento de
agravos por causas externas. Agravos estes que podem estar associados a diferentes
variáveis, entre elas as sociais, as ambientais e as biológicas, incluindo o processo de
crescimento e desenvolvimento da criança.
Estudos citados por Simões (2002), revelam que a mortalidade é inversamente
proporcional ao nível de escolaridade da mãe, ou seja, quanto maior a escolaridade
menor é a mortalidade por causas evitáveis. Neste caso, a educação pode influenciar a
percepção das necessidades de cuidado e na adoção de medidas mais saudáveis à
criança. Segundo Canabarro (2003), o enfoque educativo pode estar inserido nas
consultas e em atividades desenvolvidas individualmente, em grupos ou nas famílias.
Do ponto de vista biológico a criança torna-se vulnerável devido aos processos
inerentes a sua fase de vida. Needlman (2002), nos diz que a criança, primeiro ano de
vida, especialmente entre o 6º e o 12º mês, ocorre uma “crescente mielinização e
crescimento cerebelar”, que possibilita a ela estabelecer conquistas motoras, entre as
quais engatinhar e andar, sendo que junto a isto se expandem os riscos para acidentes,
bem como oportunidades de aprendizado. Nesta fase a criança também desenvolve o
movimento de pinça facilitando a preensão de objetos. Caracterizando-se por ser um
período onde tudo é colocado na boca. Diante disso cabe aos pais ou responsáveis e
equipe de saúde, estabelecerem um diálogo para a busca do equilíbrio entre novos
aprendizados, visando a autonomia e o atendimento das necessidades da criança e da
família, fazendo escolhas certas e evitando os riscos que possam advir.
Ainda conforme Needlman (2002), a criança após caminhar, aprende a afastar-
se dos pais e em seguida passa a explorar a sua separação. Sendo assim, com a
capacidade de sair do campo da visão dos pais, dificulta a supervisão dos cuidadores,
33
que por conseqüência, aumenta o risco para acidentes. Crianças que são mais afoitas
por descobertas necessitam de ambiente mais seguro e supervisão de pessoas bem
orientadas. Acrescenta ainda: “Crianças muito ativas, com precocidade motora,
enfrentam maiores riscos de lesão” (NEEDAMAN, 2002, p. 47). Para o autor,
Em todos os estágios, o aprendizado é promovido quando novos desafios se
tornam conjunturais no nível de competência atual da criança, sendo apenas
ligeiramente mais difícil do que o que já foi aprendido (NEEDAMAN, 2002,
p. 25).
Por outro lado, a vida da criança no contexto social, tal como estamos
acompanhando em nossos dias, foi permeada por abandonos e mortalidade durante
toda a história da humanidade. Conforme Ceccin (2001), a criança nem sempre foi
vista como um ser humano dotado de características próprias, incluso na sociedade e
tratado como cidadão. O mesmo autor relata que anterior a cristã, a criança indesejada
era exposta à morte, colocada em barco e lançada ao mar, largada no campo ou na rua
para quem estivesse necessitado ou para serem depredadas pelos animais. Muitas
vezes eram queimadas, sacrificadas em rituais místicos ou até mesmo mutiladas para
justificar seus atos, isto era freqüente até o século XVIII, quando os hospitais passaram
a assumir as crianças abandonadas evitando assim mortes cruéis.
No século XII a criança aparece em pinturas como imagem de um adulto em
miniatura, pois nesta época, não havia a figura social da criança. No século XIII se
dissemina uma forte tendência de passar a educação para a igreja, especialmente entre
as famílias pobres, surgindo assim a entrega de crianças em igrejas e casa de religiosos
e de religiosas (CECCIM, 2001). Descreve ainda que no século XV, período da
Renascença, a criança passa a ter uma imagem angelical, onde a criança é algo que
virá a ser. A ela fica reservado o sinal de pureza, inocência, onde o viver da criança
passa a ser “a esperança de uma vida no futuro” (CECCIM, 2001, p.90). Ao assumir a
figura de anjo, a criança, assume proximidade com Deus pela obediência e respeito,
não necessitando ser amada e cuidada, em caso de morte este anjo, com alma pura,
seria encaminhado ao céu.
Ainda o autor nos diz que, mais tarde, por volta do século XVI, com o
34
fortalecimento dos colégios internos, a criança recebe refúgio e passa a ser reformada
pela escola, recebe ensinamentos rígidos e disciplinadores que afastam da
delinqüência.
Já na modernidade, no século XVIII, a criança ainda é submetida a atos
violentos onde realizavam trabalhos difíceis para os adultos como limpar chaminés de
fábricas, também sofrem abuso físico, passam a ser “acorrentadas, surradas,
amedrontadas e castigadas” (CECCIM, 2001, p.91). Surgindo aqui, devido às altas
taxas de mortalidade infantil, os primeiros discursos sobre a maternidade (envolvendo
a gravidez, o parto e o cuidado da criança).
Como pode ser observada a violência contra a criança também foi descrita por
Guerra (1985), quando as crianças ao longo dos tempos foram castigadas pelos
adultos, sua história “tem sido também a história de um mundo de violências
perpetradas contra elas na forma de escravidão, abandonos, mutilações, filicidio e
espancamentos” (GUERRA, 1985, p.21).
Conforme Ceccim (2001), a criança, desde a antiguidade até os tempos
modernos, foi vista como um “ser incompleto e incompetente, era preciso crescer para
se tornar competente naquilo que se é: um adulto” (CECCIM, 2001, p.92). Os pais
sempre tiveram poder sobre as filhas porque eram mulheres e crianças, sendo assim
tinha o direito da honra, da tradição e da continuidade existencial. Eram os patrões e
patriarcas, justificando-se os maus-tratos emocionais e físicos realizados com as
crianças.
Sendo assim, as crianças, nos séculos passados atrapalhavam os interesses
dominantes, um “...estorvo, desgraça, um fardo insuportável para a família.” (ALVES,
2003, p.1). E, nos dias atuais, Damasceno e Barroso (2004), sugerem que seja
desvelado o que está por trás dos acidentes domésticos que podem caracterizar maus-
tratos.
Alves (2003) diz que as altas taxas de mortalidade especialmente com crianças
menores de um ano, até meados do século XIX, estavam associadas à falta de cuidados
direcionados à suas particularidades, sendo a criança muitas vezes cuidada pelas as
amas de leite. Em oposição, no século XIX, os laços amorosos são mais intensos,
esgotando-se a exclusividade dos laços sangüíneos. A mãe passa a ser o centro da
35
família, cuidando mais intensamente seus filhos, pois acreditavam que assim eles
poderiam se tornar adultos melhor integrados a sociedade. Neste período cabe à mãe o
aleitamento materno e os cuidados nos primeiros anos de vida e, posteriormente,
caberia a escola o dever de disciplinar a mente e o corpo das crianças (ALVES, 2003).
Ao longo da história foi construído um modelo de criança que possivelmente
sofre influências do poder econômico, político e social, tornando-se reconhecida
apenas em 1924, através da Declaração dos Direitos da Criança, pela Organização
Mundial da Saúde (ALVES, 2003).
Mesmo existindo este reconhecimento também existe uma relação entre a saúde
e a sociedade, ou seja, os modos como as pessoas vivem pode gerar saúde e “as
intervenções sobre a saúde do homem são determinadas socialmente” (COLLET,
2002, p.3). Considerando que a sociedade é uma extensão da família, muitas destas
determinações são construídas a partir das vivências familiares, portanto atitudes
familiares positivas podem determinar o processo de desenvolvimento da criança, do
adulto e posteriormente da sociedade.
Com a intenção de atender as necessidades das crianças menores de cinco anos,
o Ministério da Saúde, em 1984, lança o PAISC, que é um conjunto de ações básicas
que visam à integralidade na assistência. Segundo Malveira e Souza (1998),
Em relação à criança brasileira, mais especificamente, ao grupo de menores de
cinco anos devido sua vulnerabilidade, o grande marco assistencial, de uma
política de universalização da assistência em saúde objetivando a diminuição
das condições que determinam a morbimortalidade no país, nos últimos vinte
anos, foi o programa de Assistência Integral à Saúde da Criança.
(MALVEIRA e SOUZA, 1998, p.247)
Um dos grandes avanços para a segurança das crianças está no artigo 227 da
Constituição Federal de 1988, no qual fica reconhecido que a criança é um sujeito
sócioetário, deixando de ser propriedade dos pais (BRASIL, 2002). Portanto:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência crueldade e opressão.(BRASIL, 2002, p. 07)
36
A partir disso, seguindo o movimento de democratização e participação social,
a criança, em 1990, recebe atenção especial, através do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e promulgado através da Lei n. 8.069. O capítulo I deste estatuto
trata do Direito à Vida e à Saúde, onde fica evidente a mudança no foco do
atendimento à criança; busca-se agora atender suas necessidades, a lei passa a exigir
prioridade absoluta por parte da família, da sociedade e do Estado, as crianças devem
ser criadas em ambiente respeitoso e saudável. A criança passa e ser entendida como
alguém que requer cuidados especiais no seu crescimento e desenvolvimento físico,
moral e psicológico (BRASIL, 2002). No artigo no 11 do ECA é:
Assegurado atendimento médico à criança e adolescente, através do Sistema
Único de Saúde, garantindo acesso universal e igualitário às ações para a
promoção, proteção e recuperação da saúde. (BRASIL, 2002, p. 8)
Porém, mesmo existindo e conhecendo a lei, os profissionais de saúde e da
educação podem não estar convencidos de que cada pessoa deve exercer o seu papel.
Diante disto, é fundamental ampliar a participação de todos os setores da sociedade
civil para implementá-lo, incorporando a família no processo do cuidado, tornando-a
elemento chave tanto para a promoção da saúde das crianças como para a prevenção
de doenças. Aqui passa a ser introduzida a idéia de Rede de proteção à criança,
conforme previsto no artigo 86 do Estatuto. Neste artigo é referenciado que o cuidado
à criança far-se-á através da formação de Redes, entendidas como um conjunto
articulado de ações governamentais – união, estado e municípios e, não-governamen-
tais – ONGS, escolas, associações de moradores, igrejas (BRASIL, 1991).
Uma rede de prevenção de acidentes com crianças, segundo Del Ciampo e
Ricco (1996), deve envolver além dos fatores físicos, sociais e culturais, o
amadurecimento para o controle das emoções e impulso da criança. Acidentes poderão
ser prevenidos desde que a criança menor de cinco anos receba o cuidado integral,
seguro e em ambiente adequado a sua fase de crescimento e desenvolvimento.
Atualmente no Brasil, os acidentes e as violências, constituem a segunda causa de
mortalidade geral e nas idades entre 1 e 9 anos estas causas representam 25% dos
37
casos (BRASIL, 2002).
Conforme Azevedo e Guerra (1989), a violência doméstica com crianças pode
estar presente nas relações familiares e o diagnóstico deste evento é dificultado por
vários fatores, entre eles, os culturais. Assim é possível pensar que existam outras
amarras envolvendo os acidentes domésticos. Sabe-se que os relatos feitos aos
profissionais de saúde são prestados pelas pessoas que compõe a unidade familiar da
vítima. Neste caso torna-se pertinente ao enfermeiro deixar a posição passiva de mero
provedor de atendimento e tornar-se elemento ativo nos processos que sustentam as
interpretações dos acidentes e dão a eles legitimidade.
Entretanto, não é novidade que os profissionais da saúde atendem as vítimas de
acidentes e nem sempre conseguem ter certeza da intencionalidade do evento. Silva,
em 2000, salienta que deve se buscar pistas através do “exame físico da criança, no seu
comportamento e nas características da família”, que possam identificar maus tratos à
criança (SILVA, 2000, p.22). Explicita também que o profissional da saúde e da edu-
cação devem preocupar-se com esta problemática, já que:
Depois da família, são os mais próximos da criança, busquem, de forma
continuada a capacitação para o enfrentamento da violência. A falta de
informação e a dificuldade em identificar os sintomas, aliado ao medo advindo
da responsabilidade em enfrentar as comunicações aos órgãos competentes são
fatores de risco à permanência do círculo da violência em nosso meio
(AZAMBUJA, 2000, p.60).
Compartilho o pensamento de Elsen (1994, p 20) ao nos dizer que “... o mundo
das famílias tem se mostrado complexo”, e considero que esta complexidade aumenta
por ser o domicílio dessa família um espaço privado em que para se entrar é preciso
obter consentimento. Consentimento este, que vai além do cumprimento dos aspectos
legais determinados pela portaria no 196/96, a qual descreve aspectos relativos à
pesquisa envolvendo seres humanos.
Para entrar no mundo das famílias, devemos respeitar culturas, crenças e
valores, podendo estabelecer-se uma relação de confiança mútua, entre a família e o
profissional, “formando uma unidade de cuidado em saúde” (ALTHOFF, ELSEN,
LAURINDO, 1998, p. 322). Neste caso, se estabelecem parcerias, surgem possibi-
38
lidades e são geradas ações transformadoras, “a partir da conscientização das
condições de vida das famílias, a negociação e a avaliação das ações” (ALTHOFF,
ELSEN, LAURINDO, 1998, p. 323).
Por outro lado, o domicílio é um lugar físico determinado e sede do convívio de
pessoas, membros das famílias, independente de laços sangüíneos, podendo existir
forças biológicas e emocionais, bem como vulnerabilidades. Elsen (1994) reforça esta
vulnerabilidade ao dizer que a família não funciona bem quando não cumpre seu papel
protegendo seus membros e atendendo as necessidades básicas. Salienta que:
Se, por um lado, é fácil reconhecer que a família constitui uma unidade que
presta o cuidado, por outro, torna-se difícil concordar que ela é sempre
eficiente no desempenho de seu papel. É de se esperar que uma família
saudável cuide de seus membros de forma adequada e contínua (ELSEN,
1994, p 72).
Diante deste pensamento e dos indicadores epidemiológicos podemos concluir
que tanto as famílias como as crianças fazem parte dos grupos populacionais
vulneráveis, nos quais os acidentes costumam causar maiores danos, uma vez que a
criança depende da vigilância do cuidador. (BRASIL, 2001)
O dimensionamento das forças e vulnerabilidades da criança, construída
histórica e socialmente, é algo muito complexo porque cada ser humano pensa e age
de forma individual. Sendo assim é lógico que devemos, profissionais e não
profissionais, refletir e interferir com práticas educativas construtivistas, no setor saúde
e educação, agregando e respeitando as famílias em suas crenças, valores e atitudes.
2.3 Cenário do acidente doméstico infantil
Os acidentes com crianças representam um problema de saúde pública, tanto
nos paises em desenvolvimento como em paises desenvolvidos e, a solução para esta
problemática nem sempre está no interior do sistema de saúde, implica em agregar
39
forças externas dos diferentes segmentos da sociedade, entre os quais encontra-se a
família.
Estima-se que 20% das mortes envolvendo crianças de 1 à 4 anos, estejam
associadas com acidentes e, para cada morte relativa a este tipo de problema
possivelmente existem 200 à 1200 lesões (BENGUGUI, BOSSIO, FERNÁNDEZ,
2004).
No Brasil, a maioria dos acidentes domésticos ocorre com crianças e idosos,
representando uma ameaça à saúde das famílias tanto no contexto social, como
político, econômico e cultural. Entre os acidentes, temos o trauma físico que assume
importância fundamental, tanto por sua prevalência quanto por seu significado,
configurando um conjunto de agravos à saúde, que pode ou não levar a óbito
(BRASIL, 2001).
Os acidentes domésticos, conforme a OMS (2000), são denominados de causas
externas pela Classificação Internacional de Doenças 10ª Revisão. Estas são
constituídas pelos acidentes de trânsito, homicídios, suicídios, outras violências
(intoxicações, acidentes de trabalho, queimaduras, quedas, afogamentos, entre outros)
e ainda causas externas não especificadas, se acidentais ou intencionais. Além disso,
conceitua os acidentes como “um acontecimento independente da vontade humana,
desencadeado pela ação repentina e rápida de uma causa externa produtora ou não de
lesão corporal e/ou mental” (BACK, LENTZ, SCHMITZ, 2000, p. 379).
Os acidentes se caracterizam pela ausência de intencionalidade e podem ser
classificados pelo mecanismo do acidente, pelo tipo da lesão, pela atividade que a pes-
soa estava fazendo e pelo local da ocorrência (BENGUGUI, BOSSIO, FERNÁNDEZ,
2004).
Por outro lado, quanto ao tipo de lesão, o trauma físico é descrito como “uma
lesão de extensão, de intensidade e gravidade variáveis que pode ser produzida por
agentes diversos (físicos, químicos, ou outros), de modo acidental” (FERREIRA,
1999, p.1993).
Entretanto, para Tambellini e Osanai (2001), os processos que dão origem a
traumas físicos, “são na sua totalidade processos agressivos a integridade do ser, quer
sejam intencionais ou não. Dentre eles os acidentes domésticos, cuja intencionalidade
40
e cujo sentido ou significado podem em alguns casos ser discutidos” (p. 51). O mesmo
autor salienta que as lesões de partes moles constituem o maior grupo de lesões trau-
máticas, dentre todos os atendimentos nos serviços de emergência, tendo o acom-
panhamento ambulatorial como principal desfecho. Dentre estas lesões, as queima-
duras domiciliares podem configurar situações de violência familiar e geralmente estão
ligadas ao descuido, a ignorância ou maus tratos (FREIRE 2001, p. 33).
Neste sentido alguns autores, em seus estudos, questionam a “acidentalidade”
do trauma físico, pois entendem acidentalidade como algo não passivo de prevenção,
cabendo ao profissional conhecer o processo causal, possibilitando estabelecer suas
fases e comportando diferentes formas de prevenção. Para isto, faz-se necessário
observar in loco, os aspectos relacionados aos acidentes domésticos, relacionando-os a
estrutura ambiental, condição de vida e hábitos pessoais e familiares.
No domicílio também ocorrem atos com a intenção de causar dor física ou
ferimentos aos seus membros, caracterizando assim violência doméstica. Diante disso,
os acidentes domésticos podem estar permeados por algum tipo de violência,
especialmente aqueles cuja lesão tenha sido o trauma físico (PERIN et al apud
CANABARRO, 2003, p. 21).
Para Sttefane (2000), os agravos tidos como acidentes (não intencionais),
podem ser influenciados pelo processo de crescimento e desenvolvimento ou
determinados por fenômenos genéticos, físico e social. Reforçando este pensamento as
autoras Whaley & Wong (1999, p. 4-5) salientam que “os estágios de desenvolvimento
da criança determinam parcialmente os tipos de lesões traumáticas que mais
provavelmente ocorrem em uma idade específica”. Durante a infância elas “tem
motricidade e mobilidade ainda por aperfeiçoar, são exploradoras; desconhecem
situações de perigo ou potencial” (BACK, 2000, p. 205). Sendo assim, a segurança do
ambiente e a proteção à criança, depende dos seus cuidadores, que por sua vez também
são determinantes na prevenção de acidentes domésticos.
Segundo Souza e Barroso (1999), ao realizarem um estudo bibliográfico, sobre
acidentes com crianças descrevem que este tipo de evento é um dos maiores problemas
de saúde pública e, podem estar permeados por hábitos familiares, estilos de vida e a
própria fase do desenvolvimento e crescimento da vida da criança. Estes eventos con-
41
tribuem significativamente para elevar os índices de morbi-mortalidade, necessitando
de mais estudos científicos, reflexões e elaboração de estratégias preventivas (p.108).
Além disso, Araújo e Vieira (2002) descrevem a infância como uma fase de
descobertas, com inquietações e pensamento de auto-suficiência, e ainda poten-
cializada pelos descuidos próprios da idade aliados aos descuidos dos adultos, passa a
ser responsável pelo elevado índice de acidentes domésticos. A complexidade dos aci-
dentes podem ser relacionadas, além da idade da criança e sua fase de crescimento e
desenvolvimento, à situações facilitadoras do risco num determinado contexto social e
cultural.
Por outro lado, no entender de Del Ciampo e Ricco (1996), os acidentes
acontecem devido a uma interação desfavorável entre o agente etiológico e hospedeiro
suscetível num determinado ambiente. Os autores salientam que em torno de 45%
deles ocorrem no domicílio e isto demanda ações de educação e de segurança, dados
estes também citados por Acker (2003) a partir da análise epidemiológica dos
acidentes e violências atendidos em pronto socorro hospitalar.
Além disso, Back, Lentz, Schmitz (2000), descrevem que os acidentes infantis
também podem estar relacionados a fatores que incorporam à evolução social do
homem, bem como as condições de crescimento e desenvolvimento físico e psico-
lógico da criança. Complementam ainda referindo que os acidentes estão ligados à
“etapa evolutiva, influências socioculturais, geográficas, constituição física e somática
das crianças” (p. 379).
Em relação à morbidade por acidentes domésticos, no grupo etário de 0 à 5
anos, é mais significativa do que a mortalidade por acidentes de trânsito, tendo a
cozinha como o local de maior ocorrência, seguida pelo banheiro, quarto e garagem
(BACK, LENTZ, SCHMITZ, 2000). Entretanto, 90% dos casos de acidentes
domésticos podem ser evitados se forem adotados hábitos de vida mais seguros.
(BENGUGUI, BOSSIO, FERNÁNDEZ, 2004).
Segundo Johnson et al. (2000), as pessoas não profissionais, quando
capacitadas, também podem influenciar positivamente nas condições de vida da crian-
ça. Esta conclusão surgiu a partir de um estudo realizado com acompanhamento 76
famílias com crianças menores de 1 ano, tendo poder aquisitivo semelhante, destas 38
42
famílias foram acompanhadas e orientadas sobre o cuidado, por mulheres voluntárias
e, 38 famílias não receberam estas orientações. As autoras descrevem que os
resultados baseados nas evidências deste estudo não podem ser generalizados devido
às características específicas desta população, entretanto, revela que as crianças
acompanhadas pelas mulheres voluntárias tiveram muitos benefícios, entre eles:
A criança teve menor número de visitas ao hospital por acidentes ou por
outras doenças comuns na infância, possivelmente porque houve
aderência ao programa de vacinação;
As crianças tiveram melhor desempenho cognitivo na escola,
possivelmente porque os pais desenvolveram habilidades de cuidado a
partir das orientações recebidas.
A partir desses resultados entendemos que os benefícios das informações
recebidas por estas famílias podem se refletir ao longo de suas vidas e de seus
descendentes, já que na maioria das vezes as atitudes familiares e individuais se
repetem. Desta forma, em se tratando de acidentes domésticos infantis, acreditamos
que os adultos podem estar pouco sensibilizados para a prevenção dos mesmos.
Seguindo esta lógica, Sanchez et. al (2003), propõe ao profissional de saúde estimular
o desenvolvimento de condutas adequadas e seguras, adotando estilos de vida
saudáveis como uma constante na vida das pessoas.
Em estudo realizado pelos autores Damasceno e Barroso (2004), depois das
quedas, a maioria dos acidentes com crianças ocorrem por queimaduras, tendo como
agente causador o líquido superaquecido. Esta realidade também foi descrita por
Leonardi et. al. (2002), quando investigou o perfil das crianças queimadas que
internaram no Hospital Pronto Socorro de Porto alegre, nos anos de 1996/97, no seu
estudo identificou que aproximadamente 50% dos pacientes queimados eram crianças,
em idade pré-escolar, vítima de escaldadura domiciliar em companhia de uma pessoa
adulta.
Ainda sobre as queimaduras, em estudo realizado no Serviço de Queimaduras
do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no
período compreendido entre 1998 e 1999 constatou-se que dos 235 casos de
queimaduras 77,4% dos casos a ocorrência foi dentro de casa (CUNHA et al. 2001).
43
Os mesmos autores descrevem que nos EUA, as queimaduras constituem a segunda
causa de morte em crianças com idades de 1 a 4 anos ficando atrás apenas dos aci-
dentes automobilísticos.
Conforme pode ser constatado, entre muitos autores Damasceno e Barroso.
(2004), salientam que as queimaduras são o segundo tipo de acidente letal mais
freqüente e são potencialmente fáceis de serem evitados porque a maioria dos casos
acontece na companhia de um adulto. As autoras sugerem aos profissionais da saúde
terem um olhar diferenciado no sentido de prevenir a ocorrência dos mesmos e acres-
centam ser fundamental investigar o que pode estar implícito em um acidente domes-
tico.
Neste caso, além de estabelecer ações preventivas os adultos devem estar
sensibilizados e adotarem medida de segurança domiciliar, que no entender de Alfonso
e Casanova (1998, p. 443), deve ser estabelecido prioridade para os locais com maior
número de pessoas e com maior quantidade de fatores de risco, especialmente nas
cozinhas.
Semelhante ao estudo anterior, Filócomo et al. (2002), ao estudarem acidentes
com crianças menores de 12 anos constataram que 44,9% dos acidentes acontecem em
casa sendo que os pais estavam presentes no momento da ocorrência em 43,4% dos
casos e, em 95,7% dos casos, após o atendimento hospitalar, a criança teve alta, não
necessitando de internação. Dados semelhantes a estes também são reforçados por
outros autores ao descreverem que o domicílio é o local mais comum para quedas
acidentais em crianças, queimaduras e intoxicações.
Por outro lado Canabarro (2003), em sua dissertação ao investigar os
traumatismos infantis identificou que cerca de 35% dos traumatismos ocorrem no
domicílio. Em seu estudo cita autores que entendem o domicílio ou a moradia como
um ambiente com grande número de acidentes e que o trauma ocorre nas diferentes
fases da vida, porém a criança torna-se mais vulnerável em determinadas etapas do seu
processo de crescimento e desenvolvimento.
Os profissionais da saúde, em seus estudos, são unânimes ao afirmar que o
trauma físico gera impactos, social e coletivo não só pela sua prevalência, mas por seu
significado. Estima-se que “para cada criança que morre haja de 20 a 30 hospita-
44
lizações (1/3 das quais resulta em seqüelas permanentes) e 350 a 1000 atendimentos
ambulatoriais. O seu custo social em termos econômicos e desgaste emocional é
incalculável” (BLANK, 1996, p.108).
Diante dessa realidade os pesquisadores da saúde enfatizam a importância do
planejamento das ações subsidiadas a partir da incidência, distribuição e características
dos acidentes domésticos. E, além disso, devem contemplar a detecção precoce de ris-
cos que podem ser suprimidos, em conjunto com a família.
No entender de Alfonso e Casanova (1998), não há lugar completamente livre
de riscos para acidentes domésticos. Entretanto, ao relacionarem a presença de riscos
com a ocorrência de acidentes domésticos, concluíram que um grande número de
riscos se concentra em um baixo número de domicílios e é nestes domicílios que
ocorrem o maior numero de casos de acidentes domésticos.
A Portaria nº 737/ GM (Brasil, 2001) mostra que entre os anos de 1981 e 1991
o número de anos potenciais de vida perdida teve um aumento de 30% devido a mortes
decorrentes de acidentes e violências. Estes eventos, também denominados causas
externas, no Brasil, foram responsáveis por 120 mil mortes em 2001, representando
15% do total de mortes no país (MOURA e REICHNHEIM, 2005).
Nos Estados Unidos, segundo informações do Comitê do PHTS da National
Association of Emergency Medical Technicians em Colaboração com o Colégio
Americano de Cirurgiões, o trauma físico tem sido a causa mais freqüente de mortes
em crianças. Por entenderem que o trauma pode ser evitado em 20 a 40% das mortes,
descrevem que “O trauma não é acidente” é “um acontecimento desastroso por falta de
cuidado, atenção e ignorância” (p.5). Isto porque a maioria dos acidentes com crianças
menores de 5 anos estão relacionados a queimaduras, aspiração, sufocação e transporte
veicular, podendo estes ser prevenidos. Christoffel e Gallaghen apud PHTS (2004,
p.13), descrevem que o acidente doméstico com crianças pode ser entendido como
uma epidemia negligenciada. Esta realidade pode causar, além das grandes demandas
aos serviços de saúde, muito sofrimento tanto para a criança como para sua família
(BLANK, 2002).
Nos Estados Unidos, os envenenamentos predominam nas crianças com menos
de 2 anos e os afogamentos e queimaduras são a segunda e terceira causa morte em
45
crianças com idades entre 1 e 4 anos. Para as autoras, “as lesões traumáticas causam
mais mortes e incapacidades nas crianças do que a combinação de todas as causas de
doença” (WHALEY & WONG, 1999, p. 4).
Em nossa região, município de Lajeado – RS, a partir dos registros existentes
no Banco de Dados do Observatório de Acidentes e Violências, existente junto ao
Pronto Socorro Regional, Acker e Demarchi (2004) descrevem que no período de 6
meses de 2003, as crianças menores de cinco anos representaram 11,58% dos casos de
acidentes domésticos. Em 49% dos casos a cabeça foi a parte do corpo mais atingida,
seguidas pelas queimaduras com 6,8%, corpo estranho 3,9% e as intoxicações
representam 2,6%.
Os acidentes domésticos com crianças podem ser considerados uma epidemia
muito discreta porque somente os agravos de maior complexidade chegam aos
serviços de saúde e neste caso podem fazer parte das estatísticas. Um estudo realizado
por Mora (2000), mostra que 68% dos acidentes em geral, buscam atendimento
médico e 23,6% necessitam internação hospitalar. Acrescenta que o trauma é a causa
mais freqüente, a maioria dos casos ocorre à tarde sendo que a mãe está com a criança
no momento do evento. Para o mesmo autor, em 27% dos casos a criança apresenta
seqüelas e em 37,6% dos casos, os pais perderam horas de trabalho para cuidar da
criança vítima do acidente doméstico. Assim, além da perda econômica gerada,
provavelmente estejam associadas outras necessidades, talvez mais significativas e
comprometedoras para a qualidade de vida das famílias. Uma delas poderá ser o
sofrimento psíquico decorrente das seqüelas que restam, por exemplo, em vítimas de
queimaduras, podem manifestar dificuldades tardias possivelmente no momento em
que novas relações sociais se estabelecem ou quando se perceberem fisicamente
diferente das demais crianças.
Entre os anos de 1999 e 2000, no Hospital Infantil Joana Gusmão em
Florianópolis (SC), das 573 internações, 59,2% dos casos de queimaduras ocorreram
no domicílio, sendo destes 58,1% ocorreram na cozinha tendo os líquidos aquecidos
como principal agente causador (PEREIMA et al., 2001). Os autores concluem o
estudo reforçando que as queimaduras são o resultado de diversos fatores entre eles
individuais, familiares e coletivos. As crianças menores de 5 anos ficam mais expostas
46
ao risco por permanecerem a maior parte do tempo em casa, por terem o líquidos
aquecidos ao alcance e isto pode ser agravado nas famílias em que a criança fica
sozinha, devido ao baixo poder socioeconômico.
Del Ciampo et al (1997), ao realizarem um estudo retrospectivo com crianças
menores de 14 anos, em São Paulo, através de dados coletados junto às famílias,
concluíram que as meninas se acidentam mais com (54,71%), no horário da tarde
(46,47%), aos sábado (18,23%) e segunda feira (16,47%), predominando as lesões por
quedas (43,52%) e contusões (18,82%), tendo o quintal como principal local de ocor-
rência (48,23%) e a cozinha com (20,58%).
Segundo Sousa e Koizumi (1999), o traumatismo crânio-encefálico é apontado
como a causa de morte mais freqüente entre os 2 e 42 anos de vida, sendo que as
vítimas que sobrevivem podem apresentar incapacidades pós-trauma por longos
períodos. Em outro estudo realizado por Gaspar et. al (2004), no Hospital Márcio
Cunha, Minas Gerais, entre os anos de 1999 e 2000, constatou que houve 272 casos
internações por injurias com crianças e adolescentes por acidentes na residência e 424
fora dela nesta mesma faixa etária, sendo que a principal causa de internações em
crianças menores de 1 ano foi por queda e a faixa etária entre 1 e 4 anos foi a mais
exposta a intoxicações acidentais. Os autores constataram que as internações de
crianças menores de cinco anos por acidentes ocorreram principalmente por quedas e
queimaduras (p. 450).
Quanto às intoxicações, no Brasil, segundo estudo realizado Bortoletto e
Bochner (1999), conforme dados da Fundação Osvaldo Cruz/SINITOX, entre os anos
de 1993 e 1996 (Tabela 1), as crianças menores de cinco anos são as maiores vítimas
de acidentes causados por intoxicação por medicamentos, representando 33% dos
casos registrados no país.
47
Tabela 1: Casos, óbitos e letalidade de intoxicação por medicamentos segundo faixa
etária. Brasil, 1993 a 1996.
Casos Óbitos Faixa etária
Número Número %
Letalidade
< 5
5 a 9
10 a 14
20 a 29
30 a 39
40 a 49
50 a 59
60 a 69
70 e +
Ignorada
Total
19045
3496
3324
10756
6042
3218
1251
594
439
1597
57748
33,0
6,1
5,8
18,6
11,1
5,6
2,2
1,0
0,7
2,8
100,0
42
03
05
58
47
31
24
16
10
12
266
15,7
1,1
1,9
6,8
17,7
11,7
9,0
6,0
3,8
4,5
100,0
0,22
0,09
0,15
0,24
0,73
0,96
1,92
2,69
2,28
0,75
0,46
Fonte: Ministério da Saúde, Fundação Osvaldo Cruz/ SINITOX apud Bortoletto
e Bochner (1999).
A literatura tem apontado de que há necessidade da família ou o adulto
responsável pelo cuidado da criança, promovam segurança domiciliar e evitando
situações facilitadoras de risco para acidentes. Estas situações de vulnerabilidade para
as intoxicações em menores de cinco anos, no entender de Junkes e Schmitz (2000, p.
393), podem estar associadas ao crescimento e desenvolvimento da criança e aliadas a
“conjuntura econômica-social e política...”. Esta conjuntura pode ser exemplificada
pelo desconhecimento ou displicência dos adultos, pelas condições inadequadas do
domicílio, pela guarda do produto tóxico em local impróprio, pelo estímulo a
automedicação e ainda pela produção intensa de diferentes produtos, ou pela ausência
ou descumprimento das leis de segurança em relação aos mesmos.
Conforme dado divulgado pela Folha de São Paulo (1999), no Brasil, mais de
300 mil pessoas são intoxicadas por ano, destas a maioria são crianças menores de
cinco anos. Dados semelhantes foram divulgados pelo Centro de informações
tecnológicas do Rio Grande do Sul, no ano de 2004, ocorreram 15.616 casos de
intoxicação humana, destes a maioria foi individualmente na residência, tendo a faixa
etária de 1 a 4 anos como a mais comprometida com 3.769 casos (24,13%) e as
crianças com menos de 1 ano com 200 casos (1,28%), prevalecendo o agente
etiológico os medicamentos e produtos domissanitários.
Em estudo realizado por Aleixo e Itinose (2000), as mães de crianças vítimas de
acidentes por intoxicação expressam, entre outros sentimentos: culpa, medo,
48
preocupação, dúvida, tristeza, nervosismo e revolta; talvez isto aconteça pelo risco de
perda, dano físico ou mesmo pela sensação de morte decorrente do acidente. As
autoras salientam que poucos familiares admitem serem responsáveis ou co-
responsáveis pelo acidente.
Segundo Ramos, Targa e Stein (2005, p. 1140), em Porto Alegre - RS, a
intoxicação acidental entre crianças menores de 4 anos as principais vítimas são os
meninos 1 ano de idade; a principal via de exposição é a oral; o agente tóxico causador
do acidente estava localizado no chão da sala de estar ou no quarto da residência; o
horário do acidente foi entre 18h01 às 22h; o tempo entre o acidente e a busca do
atendimento médico foi menor que 30 minutos; o agente tóxico prevalente foi o
medicamento analgésico, sendo considerado como intoxicação não tóxica e que as
crianças evoluíram para a cura.
Conforme dados divulgados pelo Centro de Informações Toxicológicas do Rio
Grande do Sul - CTI, no ano de 2004, no referido estado, a ocorrência de acidentes por
substâncias ou produtos tóxicos no domicílio se deve, principalmente, pela diversidade
e pela disponibilidade dos mesmos no ambiente domiciliar (CIT, 2005). Geralmente os
acidentes acontecem porque os produtos estão ao alcance das crianças; ou pelo uso de
embalagem de alimentos ou bebidas para guardar produtos de limpeza; ou por estocar
ou usar em casa produtos de risco, "fórmulas artesanais" ou "misturas caseiras" de
produtos tóxicos; ou ainda pela falta de conhecimento sobre o risco dos produtos que
estão armazenados bem como sobre medidas de segurança e manuseio correto. Estas
informações também foram descritas por Aleixo e Itinose (2000), a maioria das
intoxicações está associada ao armazenamento inadequado dos produtos tóxicos e às
características próprias da criança, como curiosidade e imitação.
Sendo assim, o risco para intoxicação domiciliar, pela criança, pode ser
facilitado pelo grande número de produtos químicos existentes no domicílio e por
problemas de armazenamento. Isto pode ser observado em estudo realizado por Diel,
Facchini e Dall’Agnol (2003), no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da
Universidade Federal de Pelotas, entre os anos de 1999 até 2000, dos 2.039 domicílios
visitados em 79% havia um ou mais produto inseticidas doméstico, sendo as formas
prevalentes os aerossóis e as pastilhas do grupo piretróide. Nas famílias de maior renda
49
existia os aerossóis piretróides e nas de renda inferior, os pulverizadores compostos
com organofosforados. Segundo os autores, a intoxicação por piretróides pode causar
problemas respiratórios, como chiado persistente e asma, dor de cabeça,
imunossupressão, formigamento, irritações na pele, excitação do sistema nervoso,
convulsões e até a morte, dependendo da intensidade da exposição.
Quanto aos organofosforados, Diel, Facchini e Dall’Agnol (2003), salientam
que estes produtos tóxicos podem ser absorvidos pela pele, ingestão e pela via
respiratória. Na pulverização domiciliar a absorção deste produto se dá principalmente
pela pele, especialmente, quando a criança engatinha, podendo se intoxicar pelo
contato com resíduo existente na superfície da casa ou no chão. A manifestação da
intoxicação será através do aumento da secreção brônquica, vômitos, dificuldade de
acomodação visual, cefaléia, tonturas, depressão, ansiedade e outros (p. 88). Frente a
isto, eventos decorrentes de intoxicação podem passar desapercebidos, pois os sinais
clínicos são semelhantes a outros problemas de saúde.
Diante disso e de outros aspectos investigados por estes e por outros autores
Whaley & Wong (1999), Gomes (1998), Canabarro (2003), Canabarro, Eidt e Aerts
(2004), reforçam que é compromisso do enfermeiro realizar investigação e trabalhar
pela prevenção de acidentes na infância, pois entendem que os acidentes domésticos
são eventos podem ser prevenidos e sugerem aos profissionais da saúde ter um olhar
diferenciado no sentido de desvelar o que possa estar imbricado na ocorrência dos
eventos.
Embora muitas famílias preocupam-se com o cuidado integral a criança, ainda
assim devemos assumir que os acidentes domésticos infantis representam um grave
problema de saúde pública, especialmente pelos custos sociais e emocionais e pelos
anos potenciais de vida perdidos, decorrentes desta problemática. Seguindo esta lógica
e observando os indicadores epidemiológicos constatamos que o processo de
prevenção não se resume em ações pontuais, é fundamental que o profissional da
saúde e da educação agreguem os diferentes segmentos da sociedade para o
desenvolvimento de uma cultura de saúde, prevalecendo o desejo em suprimir
possíveis riscos de acidentes infantis inerentes as fases de crescimento e
desenvolvimento da criança e ao contexto social e cultural vividos.
50
2.4 Educação e educação em saúde
A educação em geral sofreu modificações ao longo dos tempos, na área da
saúde recebeu denominações como: educação higiênica, educação sanitária, educação
para a saúde, por último com a criação do curso de Educação em Saúde Pública, na
USP, passa e ser utilizada a terminologia de educação em saúde. Este movimento foi
influenciado por concepções de países da Europa e Estados Unidos e sofre transfor-
mações atreladas aos movimentos econômicos e sociais vividos no país, tais como:
industrialização, urbanização, condições de vida, crises econômicas (ROSSO,
COLLET, 1999).
Segundo Schall (1996), somente a partir dos anos 20, no Brasil, com o
desenvolvimento da saúde pública é dado ênfase à prevenção, embora norteada por
questões biológicas e comportamentais. Nesta época, educar tinha o caráter de trans-
missão de conhecimentos, assumindo muitas vezes o papel disciplinador e autoritário.
Até a década de 70, a educação em saúde se dava de forma tradicional onde os
padrões eram definidos pelo governo e as ações não incluíam a comunidade e se
baseavam no modelo biologicista (GAZZINELLI et al., 2005), tendo cunho coercitivo
e normativo onde o saber reproduzido gerava mudança no comportamento das pessoas
podendo tornar-se ineficiente. Possivelmente, na maneira de conceber educação e
saúde, estava relacionado à preservação de força de trabalho que por volta de 1975,
com o intuito de reduzir conflitos sociais, passa a ser incorporado no discurso à neces-
sidade da participação comunitária. Os autores propõem que a educação em saúde arti-
cule o ser humano e a comunidade, suas experiências e representações sociais, permi-
tindo um continuo transformar a partir das interações entre as pessoas e sociedade.
Com o advento do modelo americano de saúde no Brasil são introduzidas
técnicas e metodologias que continuam sendo preservadas até os dias atuais, tais
como: a educação de grupos, recursos audiovisuais, o desenvolvimento e a
organização de comunidades (ROSSO, COLLET, 1999). Porém muitas vezes essas
práticas educativas são desvinculadas da necessidade da comunidade, e o enfermeiro,
continua sendo o transmissor do saber na tentativa de interferir na mudança do
comportamento humano. Nesta perspectiva, a pessoa é um mero expectador, um
51
depositário de informações. Com esta concepção de educação, o homem muda ou se
adapta de maneira individualizada e não assumindo responsabilidade pela sua saúde.
As autoras Rosso e Collet (1999), perceberam que o enfermeiro reproduz os
projetos do governo, não constatando preocupação com as questões sociais, políticas e
econômicas para subsidiar uma prática educativa. Salientam que a comunidade e
profissional de saúde devem interagir para conhecer-se e de forma participativa definir
propostas que atendam as expectativas coletivas.
A educação em saúde tem sido permeada por limitações e determinações
políticas, na qual o estado tem o poder de planejar e definir de forma vertical os
programas que cada comunidade necessita, e, as ações se sustentam por motivações
externas e de acordo com a verba financeira disponibilizada.
A educação em saúde tem, porém, como principal objetivo oportunizar as
pessoas desenvolverem um viver mais saudável, em que possam ser estimuladas a
buscar seu crescimento pessoal (Rabelo e Padilha, 1998). Para as autoras o enfermeiro
deve selecionar o método mais adequado para atender os objetivos, e deve agregar
afetividade no ato de educar. Reforçam que o lúdico é prazeroso e que o ensinar é
intencional, porque acontece de forma consciente e planejada. A melhor escola pode
ser aquela entre amigos e fica mais fácil construir seu saber quando este levar em
conta realidade vivida.
Esta forma de educar em saúde vai além da transmissão de informações, pois
estabelece um diálogo contínuo entre os atores sociais. Buscando desenvolver um
trabalho coletivo e interdisciplinar que atenda os princípios do SUS, ultrapassando as
relações de poder historicamente instituídas, requer comprometimento pessoal e
profissional, no qual as ações em saúde são planejadas em conjunto. Para Meirelles e
Herdmann (1999, p.159), encaminha-se para uma nova postura que inclui no processo
saúde/doença fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Referem ainda que
somente o enfermeiro crítico e formado através da educação libertadora, será capaz de
refletir constantemente a sua prática, visando re-significar valores e atitudes para
propor e executar transformações nos modelos assistenciais. Este constante re-
aprender reflete as potencialidades e limites de cada pessoa, deixando lacunas para
novos saberes. A partir da re-valorização das vivências prévias o processo de
52
aprendizagem em saúde mobiliza e transforma a própria inteligência, podendo ser
facilitado quando se estabelece interação positiva entre os sujeitos.
A interação coletiva para a busca do cuidado, visando a integralidade da
atenção básica à saúde, reforça a necessidade da participação “efetiva da sociedade
civil nas políticas de saúde, resultante do entrosamento entre organizações civis e
setores institucionais (profissionais, burocratas, gestores) tem variado de acordo com a
cultura político-partidária dominante nos governos...” (LUZ, 2001 p.22). É
fundamental que o processo educativo leve em conta os princípios da promoção da
saúde, tornando-se indispensável capacitar pessoas e a comunidade (LEME, 2005).
O enfermeiro deve ir além do habitual e das questões técnicas, deve ter a
capacidade de perceber e interpretar a subjetividade do outro, podendo planejar de
forma imaginária os resultados das ações em saúde (CARPER, 1978, p. 22). Nesta
interação, o conhecimento científico e o pessoal são essenciais para que tanto o
profissional em saúde como os sujeitos possam fazer novos questionamentos e novas
escolhas, visando a promoção da saúde da criança.
A educação em saúde, como proposta de intervenção, é uma atividade
tradicionalmente desenvolvida pelo Estado no sentido de promover
comportamentos adequados para a prevenção e/ou controle das diversas
patologias. As críticas ao modelo original da educação em saúde tem apontado
uma visão biologicista e redu-cionista dos problemas de saúde. O caráter
muitas vezes invasivo e autoritário das ações tem estimulado a reflexão e a
busca de práticas educativas inovadoras. Práticas de saúde que reconsiderem a
saúde como processo histórico e social e que a tomem em seu sentido amplo e
positivo, abrindo espaços ao dialogo e ao saber popular e estimulando a
participação social (ASSIS, 1998 apud RAMOS, PEREIRA e ROCHA, 2001,
p. 29).
Isto demanda estratégias de redescoberta do sujeito, torna-se necessário uma
base teórica para que o processo de promoção da saúde e de prevenção acidentes não
seja desvinculado da realidade familiar; é necessário atentar aos interesses e
peculiaridade de cada ser humano, especialmente neste caso, por se tratar de diferentes
famílias em diferentes contextos, tendo em comum, apenas a necessidade do cuidado
integral a criança com promoção de ambientes seguros.
Neste caso, as autoras Ramos, Pereira e Rocha (2001) recomendam incluir a co-
53
munidade na promoção da saúde é fundamental, já que “[..] a promoção da saúde não é
responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai além de um estilo de vida saudável, na
direção do bem-estar global...”(RAMOS, PEREIRA, ROCHA, 2001, p. 27).
Sendo assim, um movimento de educação para a promoção da saúde veicula
uma compreensão mais ampla de saúde e traz consigo a idéia do viver com qualidade,
contrária ao modelo biologicista, que prevê apenas mudança de comportamentos e
adoção de atitudes saudáveis, tornando-os economicamente produtivos. Entretanto,
lamentavelmente a maior atenção em saúde para a prevenção de acidentes domésticos
descrita na literatura, tem sido dada às intervenções que geram mudanças
comportamentais frente aos riscos existentes no domicílio.
Uma das formas de organizar pensamento e ações educativas mais promissoras,
em relação à educação em saúde, são os escritos de Briceño-León. Fernandes (1996),
ao tecer comentários sobre as Sete Teses de Roberto Briceño-León, reconhece que elas
propõem que estado e comunidade elaborem propostas de políticas de saúde em
conjunto, estabelecendo relações éticas que valorizem as pessoas e a cidadania. A
participação da comunidade é essencial para dar sustentabilidade às ações de
promoção da saúde e ocorre quando os envolvidos no processo percebem o direito e a
responsabilidade de tomar decisões, utilizando recursos disponíveis que possam
modificar positivamente a saúde individual e coletiva. A participação pode gerar
habilidade para a pessoa tomar decisões e ter controle sobre sua vida ou a pessoa pode
agir coletivamente para obter maior controle geral sobre os demais determinantes da
saúde e da qualidade de vida. A construção desta participação comunitária inicia
quando várias pessoas decidem compartilhar suas preocupações, expectativas,
experiências e necessidades, com a intenção de aprimorar suas condições de vida
(BOGUS, 1998; BRICEÑO-LEÓN, 1998). Por outro lado, é indispensável compre-
ender que uma comunidade organizada não necessariamente é participativa.
Conforme Mello (1996), tanto a educação como a saúde, servem para realizar
intervenções sociais, sendo preciso estabelecer articulação entre ambas em suas
práticas. Em relação ao tema do estudo, tendo acesso à educação em saúde e refletindo
sobre os acidentes domésticos, possivelmente as pessoas estabeleçam pensamentos e
tomada de consciência de seus atos, podendo desencadear um processo de transfor-
54
mação no âmbito individual, familiar ou coletivo.
Esta transformação, na concepção de Paulo Freire (1999) é um processo
inacabado, onde cada pessoa tem seu tempo para descobrir refletir e agir
transformando a realidade. Para o autor, o ato de ensinar, num processo compartilhado
e solidário, conduz a autonomia do ser humano. Dela pode emergir possibilidades de
alienação ou de transformação no processo de viver e ser saudável, especialmente nas
populações menos favorecidas, exploradas ou alienadas.
Isto assinala que na educação em saúde não existe apenas uma única alternativa,
mas esta prática educativa deve ser sim diversificada, assim como as famílias o são,
exigindo habilidades relacionadas com a capacidade de perceber e compartilhar com o
outro. O autor propõe ir além “não haveria criatividade sem a curiosidade que nos
move e que nos põe praticamente impacientes diante do mundo que não fazemos,
acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 1999, p.35).
Gadotti (2000, p. 117), diz que “o papel da educação popular comunitária será
decisivo para a mudança de mentalidades e atitudes em direção a sustentabilidade
econômica” e, ao ser educado para a cidadania, estaremos desenvolvendo novas
capacidades nas pessoas em relação às atitudes, valores éticos e estilos de vida,
exigindo do profissional da saúde abrir mão do domínio do saber, já que o processo de
aprender se dá de forma solidária e contínua.
Esta prática educativa
É efetivada na relação dialógica e participativa entre os diferentes sujeitos
sociais, negociando entre as partes envolvidas no ensino-aprendizagem,
promovendo a cooperação, a solidariedade, a troca, a superação da realidade
existente para a construção da realidade almejada, possível ou utópica.
(SAUPE, 1998, p.68)
Nesta nova concepção educacional se dá mais ênfase ao compartilhar
potencialidades, agregando valores e propiciando a participação comunitária. A partir
dessa ótica, o ser humano pode re-significar conceitos para transformar-se e para
transformar a sua realidade. Este modelo é contrário com algumas práticas tradicionais
de educação em saúde, onde nelas a pessoa apenas se adapta e dela retiramos as suas
55
esperanças. Por outro lado, na nova concepção a ação transformadora, interfere
positivamente na busca da superação, transformação e na mudança da realidade. Nela
o enfermeiro assume o compromisso de participar da busca de soluções mais efetivas a
partir do mundo vivido pelas pessoas (SAUPE, 1998, p.57).
Esta busca inclui orientações pelo profissional da saúde e, no entender de
Castro et al (1998, p. 87), devem deixar “os programas clássicos e metódicos,
passando a ser momentos prazerosos, onde a capacidade de imaginação e criatividade,
potencialmente desenvolvidas na criança, estimule a sua aprendizagem, concretizando
as informações recebidas”. Neste caso a construção do saber vai além da recepção de
informações, desperta atenção e curiosidade capazes de proporcionar um viver mais
saudável, porque brincar faz parte do universo do ser humano. Conforme Alves e Silva
(2003), é a partir das experiências imaginárias que, quando crianças, investigam o
mundo buscando a ampliação do conhecimento. As descobertas, nas atividades
lúdicas, normalmente podem ser mais significativas do que o resultado estético obtido
(MORITA, 2005). Sendo assim, as atividades lúdicas: brincadeiras, jogos, música e
brinquedos podem se tornar o principal caminho a ser utilizado como estratégia
educativa para o desenvolvimento de uma consciência preventiva em saúde.
Reichert, Silva e Costa (2003), Canabarro (2003); Gomes (1998); Whaley &
Wong (1999), reforçam que é compromisso do enfermeiro realizar prevenção de
acidentes na infância através da educação em saúde. Os profissionais da saúde, como
já dito, ocupam papel importante na promoção da saúde, especialmente se for
desenvolvido atividades em grupo, não se limitando ao atendimento individual e de
demandas (SOUZA et al., 2005). Nesta perspectiva o profissional da saúde assume o
papel de facilitador, os participantes são estimulados a expressarem sentimentos,
pensamentos e opiniões para traçar estratégias de enfrentamento diante das
necessidades, expectativas e circunstâncias percebidas pela comunidade e que
influenciam na saúde das pessoas.
Os profissionais de saúde devem vislumbrar sempre o ser humano como
membro de uma família ou comunidade e reconhecê-lo como elemento participante e
ativo, reunindo competência técnico-científica para ser o mediador no processo de
educação e construção da cidadania. O profissional deve transpor os obstáculos devido
56
as condições do sistema de saúde visando desenvolver um trabalho que promova o
crescimento da comunidade através da consciência crítica das pessoas acerca das
condições de vida e de saúde (LEME, 2005).
E ainda, o profissional de saúde deve ter a pretensão de estimular o ser humano
a viver de forma plena e feliz, especialmente na família. Cabe a enfermagem
desenvolver sua prática de educação em saúde centrada na família levando em conta o
contexto familiar, a determinação das lacunas de necessidades e a implementação das
políticas de proteção à criança (ELSEN, 1994 e LISS, 2000).
Além disso, para Araújo e Vieira (2002), devemos agregar a escola e a família
na transformação de condutas que favoreçam o viver saudável, já que nelas a criança
faz importantes descobertas para a sua vida, cabe então
... acompanhar, proteger, educar e incentivar as diversas fases de socialização.
Não se pode dissociar as abordagens preventivas das ações educativas e, sendo
assim, o contexto ambiental da família-escola-família necessita de uma
contínua interação para fortalecer e alcançar os seus propósitos (ARAUJO E
VIEIRA, 2002 p.87).
Para lidar com a promoção do ambiente saudável à criança é indispensável que
a escola também seja co-responsável no processo de educação em saúde, respeitando
as necessidades, ritmos e desejos, não forçando as famílias a comportarem-se segundo
normas e prescrições aceitas como corretas socialmente.
Segundo Reichert, Silva e Costa (2003), a falta de atenção dos pais pode estar
associada com na incidência dos acidentes que ocorrem com os filhos. As autoras
identificaram que os acidentes podem estar associados à falta de informações
recebidas pelas mães, acreditam que isto pode estar associado ao descaso do
profissional em relação ao tema. Salientam que a prevenção pode ser intensificada
com “orientação à família, alteração no comportamento familiar, alterações físicas do
espaço domiciliar e/ou elaboração e/ou cumprimento de leis” (REICHERT, SILVA E
COSTA, 2003, p.35).
A escola e a família representam o núcleo social da criança, assumindo um
papel relevante em seu comportamento e suas relações, por isto ações que envolvam a
57
criança, emocionalmente e pedagogicamente, podem ser decisivas para a sua
aprendizagem e seu desenvolvimento. A escola pode servir de ponte para a difusão do
conhecimento na família e quando esta tem acesso e se apropria da informação pode
contribuir na formação da criança, que por sua vez torna-se capaz de transformar a
realidade no decorrer de suas vidas, quebrando assim o ciclo do acidente doméstico,
muitas vezes compreendido como algo inerente ao crescimento da criança.
3 MARCO REFERENCIAL
Este marco foi construído a partir do contato com as sete teses de Briceño-León,
que me instigou a refletir sobre novas possibilidades de fazer a prática da enfermagem
e a educação em saúde. O texto foi construído em três capítulos, no primeiro,
apresento o itinerário da estruturação do marco referencial. No segundo falo sobre os
meus pressupostos na compreensão da educação participativa para prevenir os
acidentes domésticos, e, por último apresento as Sete Teses de Briceño-Léon, que
serão o suporte teórico-metodológico norteador desta pesquisa.
Para a estruturação do Marco Referencial, baseei-me em minhas crenças,
valores, nas vivências relacionadas ao tema e, utilizo como base teórica os princípios
do sociólogo venezuelano Briceño-León (1996) e em conceitos que tratem de
educação e saúde com famílias entre eles interligados: Ser Humano, família, saúde-
doença, educação participativa, enfermagem; vulnerabilidade e acidente doméstico.
Conceitos, segundo Trentini e Paim (2004, p. 51) são:
[...] representações mentais de determinadas realidades: mentais, porque não é
realidade em si mesma, mas uma imagem dela... são abstrações da realidade,
embora a realidade seja concreta, o conceito que a representa é sempre
abstrato... Os conceitos com alto nível de abstração são denominados de
construtos; levam este nome porque são formados por uma série de outros
conceitos de menor abstração (TRENTINI e PAIM, 2004, p. 51)
Em outras palavras, estes conceitos interligados servem como base para
compreender e explicar o significado atribuído à saúde pela equipe de saúde e pela
família. Pois é a partir daquilo que eles pensam sobre o objeto de estudo que
desenvolvo a prática educativa, tendo como objetivo prevenir acidentes domésticos
através da transformação do comportamento e da criação de estratégias preventivas e
de baixo custo. Para isto busquei autores que valorizam a cultura das pessoas e das
famílias e que tratam de educação e saúde, entre eles: Ingrid Elsen (1994), Maria
59
Tereza Leopardi (1999), Telma Carraro (1999) e Zuleica Maria Patrício (1994).
Destaco entre os demais autores, Roberto Briceño-León, Sociólogo, PhD,
Diretor do Laboratorio de Ciencias Sociales (LACSO) e Professor Titular de
Sociología de la Universidad Central de Venezuela. É membro do Comité Ejecutivo de
la International Sociologial Association (ISA) e Coordenador do Grupo de Violencia y
Sociedad del Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO). Este autor
escreveu, ao longo dos tempos muitos artigos sobre questões sociais como violência,
desigualdades, empobrecimento, qualidade de vida, bem estar e outros. Suas teses
seguem os princípios na educação participativa tendo forte aderência ao estudo, pois
os acidentes domésticos acontecem num espaço privado, impregnado por diferentes
hábitos, valores, crenças e estilos de vida e, a prevenção vai além de programas, requer
mudanças nas atitudes do Ser Humano e nas circunstâncias ambientais. Segundo o
autor, a educação é uma troca de saberes e para isto é necessário conhecer o ser
humano e contar com ele no desenvolvimento de ações de saúde sustentáveis.
3.1 Apresentação dos conceitos
Os conceitos descritos abaixo serviram como base para as ações desta pesquisa
convergente assistencial:
Ser Humano;
Família;
Saúde-doença;
Educação participativa.
Vulnerabilidade da criança;
Enfermagem;
Acidente doméstico
Ser Humano: Conforme Carraro (1999), o ser humano pode ser entendido como
pessoa, indivíduo, ou homem ou mesmo outra definição. A autora afirma que o ser
humano é único e tem liberdade de escolher formas de viver, as quais podem se refletir
nas condições de saúde da pessoa, ou seja, nas formas de prevenir os acidentes. Para
60
ela o homem é entendido
... como agente ativo no seu viver, que ele atua sobre os estímulos que recebe,
e é dessa maneira responsivo ao meio ambiente... participa da criação do seu
universo desde que possa se sentir livre para pensar e escolher formas de
viver, ou mais além, que se ele pode pensar e escolher formas de viver, ele
mantém sua singularidade (CARRARO, 1999, p. 189)
Percebe-se o ser humano como ser social e singular, carregado por culturas,
crenças, valores e expectativas que foram construídas ao longo de suas vidas ou
herdados em diferentes circunstâncias, as quais devem ser valorizadas e respeitados
nas mais diferentes esferas. O ser humano neste estudo é representado pelos
profissionais da equipe do PSF e pelas famílias de crianças menores de cinco anos que
fizeram parte das ações educativas para a prevenção de acidentes domésticos.
Família: Segundo diversos autores é difícil conceituar, pois cada uma tem suas
especificidades. Por outro lado descrevem a família como muito dinâmica; por este
motivo se modificou ao longo dos tempos assumindo diferentes formas de organização
e estrutura, podendo, hoje, ser reconhecida independente da existência de laços
sanguíneos entre os membros, estes interagem de forma coletiva e individual
(PATRÍCIO, 1994). Para a mesma autora família é
um sistema interpessoal formado por pessoas que interagem por vários
motivos, tais como afetividade e reprodução, dentro de um processo histórico
de vida, mesmo sem habitar o mesmo espaço físico. É uma relação social
dinâmica que durante todo o seu processo de desenvolvimento, assume forma,
tarefas e sentidos elaborados a partir de um sistema de crenças, valores e
normas, estruturados na cultura da família na classe social a qual pertence, em
ouras influências e determinações do “ambiente” em que vivem incluindo os
valores e normas de outras culturas (PATRICIO, 1994, p.97).
Ao tomarmos a família como um sistema interpessoal e como uma instituição
social formadora de identidades através das trocas entre os seus membros, pode-se ter
como resultado a formação de pessoas pró-ativas ou negativas quando assumem
apenas o papel disciplinador pela imposição de normas rígidas e em alguns casos pode
ser refletido em atos violentos com seus membros.
61
Neste estudo a família é concebida como espaço social de interação, educação e
cuidado, onde a participação maximiza as potencialidades de cada membro, que por
sua vez também é potencializado de forma individual e coletiva. Estas pessoas
conseguem exercer sua autonomia enquanto seres humanos e são capazes de mobilizar
outras para a mudança de atitudes, contribuindo positivamente nos processos de
saúde/doença individual e coletivo. Pela sua história de vida comunitária são pessoas
que tem grande influência no meio em que estão inseridas, caracterizando assim
‘agentes de movimentação ou participação comunitária’.
Nesta perspectiva tomo a família como sendo pessoas que convivem em um
mesmo domicílio, independente de laços sangüíneos desde que se reconheçam como
parte do mesmo grupo familiar.
Este grupo familiar, no entender de Elsen (1994), vive no domicílio, espaço de
convívio entre os membros, e neste, podem existir forças biológicas e emocionais, bem
como a vulnerabilidades. Esta vulnerabilidade pode estar associada ao não aten-
dimento das necessidades básicas, muitas vezes percebida na incapacidade da família
em proteger as crianças menores de cinco anos.
O controle e prevenção das doenças podem estar associados à resistência das
pessoas para a tomada de decisões (BRICEÑO-LEÓN, 1996). Esta tomada de decisões
para a promoção da segurança domiciliar talvez explique, em parte, a alta incidência
de acidentes e violências, ocorridos no ambiente domiciliar.
O domicílio, entendido como o espaço físico interno da casa e o pátio da
residência, também é o local em que os membros da família crescem e desenvolvem
ações individuais (promovidas pelo adulto que cuida da criança) ou coletivas
(promovidas pelos profissionais da equipe do PSF e famílias), podendo resultar em
saúde para a criança. A não ação dos adultos em suprimir riscos domiciliares pode
resultar em acidentes domésticos infantis, entretanto, os eventos que decorreram de
situações passivas de prevenção são denominados de incidentes ao invés de acidentes,
já que os riscos poderiam ter sido suprimidos e não foram por motivos diversos e não
tratados neste estudo.
Vulnerabilidade da criança: A criança é entendida como ser único dotado de
percepções e significados próprios e pertencente a um grupo populacional vulnerável
62
tanto nos aspectos biológicos, por estar vivendo uma fase específica da vida, como
pelos aspectos sociais e emocionais inerentes ao processo de crescimento e
desenvolvimento.
Segundo Ramos, Ferreira e Rocha (2001), a vulnerabilidade pode ser analisada
através de três planos aspectos inter-relacionados: o pano individual, o social e o
pragmático ou institucional. O plano individual está relacionado aos comportamentos,
condicionados pelas circunstâncias naturais e sociais e pelos aspectos biológicos da
pessoa.
A criança na faixa etária em estudo, dada a sua dificuldade para perceber os
riscos, necessita de vigilância contínua para a construção da autonomia segura. A
criança deve ser ensinada, auxiliada e supervisionada constantemente para que possa
crescer e se desenvolver de acordo com suas diferentes fases de vida. Conforme
Whaley e Wong (1999) o desenvolvimento físico e mental da criança está intimamente
relacionado ao risco de acidentes, podendo ser indicado medidas de prevenção de
acordo com a faixa etária da criança. Segundo Canabarro (2003), os riscos podem ser
trabalhados através de medidas de proteção, supervisão e disciplina, devendo ser
adequados ao processo de crescimento e desenvolvimento motor, emocional,
intelectual e no plano social envolvendo aspectos culturais da família e da criança
(CANABARRO, 2003, p. 34).
Na área de abrangência do estudo, as famílias são de classe média baixa e a
comunidade oferece suporte institucional para as crianças permanecerem em creches
durante o período de trabalho das mães. Por outro lado sabemos que a vulnerabilidade
pode estar aumentada nas famílias com maior exclusão social e os profissionais de
saúde devem estar atentos às necessidades das mesmas quando elas não disporem de
condições para cuidar de seus membros, em especial as crianças (ROCHA,
TASSITANO, SANTANA, 2001, p. 42).
No plano institucional relacionam-se a ações, compromissos oficiais, planeja-
mentos, financiamentos e outros. Segundo Ayres, França Junior e Calazans apud
Canabarro (2003, p. 33), as condições que afetam a vulnerabilidade individual podem
ser definidas como sendo,
... de ordem cognitiva ( informação, consistência do problema e das formas de
enfrentá-lo), comportamentais (interesse e habilidades para transformar
63
atitudes e ações a partir daqueles elementos cognitivos) e sociais (acesso a
recursos e poder para adotar comportamentos protetores. (AYRES, FRANÇA
JUNIOR E CALAZANS apud CANABARRO, 2003, p. 33)
A partir desta abordagem penso que na comunidade em estudo, pode existir
além da vulnerabilidade da criança a vulnerabilidade familiar, esta por sua vez
relacionada ao contexto da família, as dificuldades econômicas, sociais, educacionais,
culturais e de gênero, não podendo ser omitida nas intervenções de saúde.
Saúde-doença: de todos os conceitos, saúde possivelmente seja o de maior
complexidade para delimitação quando se busca uma compreensão que vai além da
ausência de doença. O conceito de saúde proposto pela Organização Mundial de Saúde
é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não só a ausência de
infecções e enfermidades” (BRICEÑO-LEÓN, 2000, p.15). Neste conceito não tem
espaço para a prevenção, está fortemente marcado pela cura das pessoas, pois apenas
atendia a expectativa de vida no período pós a guerra por volta de 1948. Este conceito
mostra-se estático e difícil de atingir, pois a saúde não é entendida como um processo
que constantemente se modifica.
Atualmente, o conceito de saúde vai além da abordagem biológica, se incorpora
na família e na saúde dos seus membros. A saúde pode ter diferentes significados para
as pessoas, depende da ação ou não-ação do ser humano num determinado contexto, e
sua garantia depende do grau de envolvimento das pessoas. Para Briceño-León (2000,
p. 15),
A saúde é a síntese; síntese de uma multiplicação de processos, do que
acontece com a biologia do corpo, com o ambiente que nos rodeia, com as
relações sociais, com a política e a economia internacional. A saúde é um
índice de bem-estar, talvez o mais importante a ser alcançado por uma
população. É uma amostra palpável do desenvolvimento social alcançado por
uma sociedade e uma condição essencial para a continuidade deste mesmo
desenvolvimento.
Contudo enxergar a saúde através de um conceito mais amplo e dinâmico,
construídos a partir de conceitos vigentes na sociedade, sem dúvida tem conseqüências
64
sobre o objeto uma vez que pode gerar olhares que vão além da mudança de
comportamentos.
Neste sentido para propor estratégias de prevenção junto às famílias, é
indispensável identificar o sentido social compartilhado, na família e na comunidade,
sobre o entendimento da saúde, ou seja, conhecer o senso comum das mesmas
(CARTANA, 2002).
Neste estudo, as ações de saúde estruturadas pelo profissional da saúde
realizam-se a partir da concepção da equipe do PSF, aqui defendida, como o equilíbrio
familiar para promover um ambiente seguro, prevenindo acidentes, de maneira que a
criança possa crescer e se desenvolver de forma saudável.
Enfermagem: é uma profissão que se encontra inserida na sociedade, e tem as
suas atividades centradas no cuidado, gerência, ensino, auditoria (CARTANA, 2002).
Neste estudo a enfermagem, que por natureza é educativa, também se caracteriza pela
capacidade do profissional em ser elemento social articulador e facilitador nos
processos de promoção da saúde com as famílias, visando a tomada de consciência
frente a importância da segurança no ambiente domiciliar em prol do viver saudável da
criança.
Educação participativa: Na questão da prevenção de acidentes domésticos,
através da educação participativa, utiliza-se entre outros conceitos, as “siete tesis sobre
educación para la participacion” de Briceño-Léon (1996), as quais seguem dois
princípios básicos:
a) é fundamental conhecer o Ser Humano (suas crenças, seus hábitos e funções
e suas circunstâncias);
b) é fundamental contar com o Ser Humano, não basta impor programas de
saúde; eles devem ser compartilhados.
O autor reforça a idéia de que para cuidar da saúde da outra pessoa, é necessário
que esta queira se cuidar por si mesmo. Não bastam intervenções planejadas e
investimentos financeiros. Este querer conduz a participação e no momento em que as
pessoas participam do processo, garantem a eficácia e a sustentabilidade do programa
através de ações individuais e familiares de saúde.
O profissional da saúde deve mobilizar a comunidade para promover a saúde da
65
criança. Segundo Leopardi e Ramos (2000), ao falar sobre as dimensões que orientam
o trabalho da enfermagem, diz que:
A mobilização é atributo daquilo que mobiliza, impulsiona, vitaliza e emerge
na linguagem e na ação, como gerador de transformação (ativada por desejo,
motivação, intenção, valor almejado, compromisso ético, compaixão,
interesse e outros) (LEOPARDI, RAMOS, 2000, p. 435).
Este movimento para concretizar a mobilização permite colocar as famílias
numa posição ativa e inserida no processo, compartilhando medidas preventivas e de
promoção da saúde. Esta prática educativa não é seletiva porque permite o acesso de
todas as famílias com crianças menores de cinco anos e que desejarem fazer parte do
grupo independente de credo, cor, cultura, nível socioeconômico e outros. É criativa
porque eles (os membros do grupo) serão estimulados a criar formas de prevenção de
baixo custo e de grande resolutividade e, é solidária pela oportunidade de troca de
saberes entre as famílias, talvez posteriormente repercutindo seus benefícios na
sociedade.
Neste estudo a prática educativa constitui-se em um processo desenvolvido a
partir da realidade vivida pelas famílias, na qual os saberes se complementam, se
educando mutuamente, trocando experiências e gerando internalizações individuais e
coletivas possibilitando aos profissionais de saúde e famílias fazerem escolhas e
tomarem decisões para modificar o contexto domiciliar.
3.2 Meus pressupostos para prevenir acidentes domésticos
A sustentação de uma proposta qualitativa de pesquisa inclui a explicitação dos
pressupostos da pesquisadora. A seguir descrevo pressuposições construídas a partir de
minhas crenças e valores, bem como dos conceitos interligados e dos princípios que
sustentam as Sete Teses de Briceño-León (1996).
A criança menor de cinco anos é grupo populacional vulnerável nos
aspectos individuais, familiares e sociais, pois ela interage com uma
realidade familiar nem sempre protetora. A criança participa ativamente
66
da construção de sua própria realidade, porém necessita da vigilância
constante de cuidadores, já que ainda desconhece os riscos (potenciais ou
reais) inerentes ao meio em que se encontra, o que a torna vulnerável aos
diversos perigos a que está submetida, inclusive aos acidentes
domésticos.
Família: pode ser entendida como seres humanos capazes de prevenir
acidentes domésticos quando compreendem as necessidades da criança e
quando estão capacitadas para adotar medidas de segurança domiciliar.
A família pode ser educada de forma solidária e compartilhada para
promover segurança no ambiente domiciliar.
A educação do familiar para a prevenção de acidentes domésticos pode
ser construída com o apoio e estímulo das equipes de saúde, desde que
estejam sensíveis para tal.
A família pode ser caracterizada como peça chave no seu processo de
segurança domiciliar.
A abordagem educativa com utilização de estratégias lúdicas pode ser
mais eficaz para as famílias compreenderem a importância da segurança
domiciliar.
A saúde pode ser entendida como a capacidade que a equipe de saúde
tem para gerar estímulos visando a manutenção do equilíbrio no
ambiente físico, psíquico e social da família.
Os acidentes domésticos podem ser prevenidos através de estímulos
educativos pelo profissional da saúde junto das famílias.
As ações educativas com abordagem compartilhada entre profissionais e
não profissionais pode trazer benefícios para a prevenção de acidentes
domésticos.
O resultado das ações de educação em saúde pode desenvolver poten-
cialidades individuais e familiares, preservando o respeito e a dignidade
na tomada de decisões sobre a adoção de estratégias preventivas que jul-
gar adequada ao seu contexto vivido.
67
3.3 Minha compreensão sobre as Sete Teses de Briceño-Léon
3.3.1 Tese I
“La educacion no es solo lo que se imparte em programas educativos, sino em
toda la acción sanitária” (BRICEÑO-LEÓN, 1996, p. 11). Entendo que nesta tese o
autor mostra que a educação pode ir além dos programas específicos, vindos de forma
verticalizada e intencional. A educação nesta tese extrapola as ações formais e reforça
a importância da educação popular, podendo acontecer de forma não intencional
através de gestos, palavras e atitudes pelos sujeitos da ação em saúde. Sendo assim,
dependendo de como os profissionais executam a ação no contexto domiciliar, a
família pode se sentir incapaz de reconhecer as necessidades de segurança no
domicílio e, a não participação do processo de prevenção dos acidentes, em seu
entender isto significa uma má educação.
Do ponto de vista sociológico, recomenda-se estudar os resultados sociais das
ações e não apenas a intencionalidade daquilo que os profissionais de saúde estão
fazendo em suas práticas educativas, talvez este seja o maior desafio. Em sua primeira
tese Briceño-León (1996), conclui que devem ser revistas as formas de aplicação das
políticas de saúde para compreender os efeitos comunicativos e educativos das ações e
não intencionalmente comunicativas e nem educativas. É necessário rever quem são as
pessoas envolvidas nos programas, saber se estão preparados e capacitados ou se ape-
nas exercem a atividade porque foram designados para tal (BRICEÑO-LEÓN, 1996).
Diante disso, penso que para promover a saúde da criança, no espaço domiciliar
os profissionais de saúde devem estar engajados na proposta construída coletivamente.
Neste estudo os resultados das ações desenvolvidas para a promoção de segurança no
espaço domiciliar dependem da compreensão e do comprometimento que cada pessoa
tem em relação as necessidades, associadas as diferentes fases do processo de
crescimento e desenvolvimento da criança.
3.3.2 Tese II
“La ignorancia no es un hueco a ser llenado, sino um lleno a ser transformado”
(BRICEÑO-LEÓN, 1996, p. 12). Nesta tese, o autor, nos remete a pensar sobre o
68
significado da ignorância e da educação. Ao pensarmos que as famílias são ignorantes
quanto ao cuidado da criança e que esta ignorância é uma lacuna a ser preenchida, logo
a educação pode ser entendida como mera transmissão do saber para o preenchimento
da lacuna existente no contexto familiar.
Além disso, saberes construídos no cotidiano das famílias, ou herdado dos seus
antepassados não pode ser ignorado. Frente a isso, o profissional da saúde deve
planejar a ação educativa de forma reflexiva, respeitosa e solidária, só assim poderá
gerar novas aprendizagens, permitindo transformar a realidade.
Briceño-León (1996), reforça nesta tese que não existe relação entre a
informação e a conduta, afirma que a ignorância não é apenas um espaço a ser
preenchido e, exemplifica falando dos malefícios do fumo em que, mesmo assim,
existem médicos fumantes.
Ainda que pensemos na ignorância daquele que cuida da criança como fator
gerador de acidentes domésticos, não podemos esquecer que a vida desta pessoa não é
um vazio, é sim guiada por suas crenças e opiniões de acordo com sua visão de papéis
no contexto familiar e coletivo.
Segundo esta tese, o profissional de saúde, deve desenvolver a prática educativa
a partir do conhecimento e das concepções da família, que neste caso são as
necessidades de segurança no contexto domiciliar, para trabalhar junto delas, tentando
modificar saberes, crenças e hábitos de vida que foram constrdos ou herdados.
3.3.3 Tese III
“No hay uno que sabe y otro que no sabe, sino dos que saben cosas distintas”
(BRICEÑO-LEÓN, 1996, p. 13). Entendo que nesta tese o autor refere-se ao saber
como algo inerente ao ser humano, ou seja, todos conhecem algo sobre o mundo e que
por sua vez podem saber coisas diferentes e distintas. O autor coloca que todos
conhecem algo sobre o mundo. Talvez as pessoas não saibam sobre teorias e outras
ciências, mas possuem conhecimentos que os profissionais da saúde talvez
desconheçam. Seguindo seu raciocínio, a educação pode ser entendida como um
processo ‘bidirecional’, onde ambos os envolvidos fazem parte e, portanto, geram o
compromisso de transformar os seus próprios saberes, que por conseqüência
69
transformam o mundo. “A educação é então o compromisso para transformar os
saberes e o mundo” (BRICEÑO-LEÓN, 1996, p. 13).
Nesta lógica entendemos que os profissionais de saúde, professores, famílias e
crianças sabem coisas distintas, conhecem diferentes realidades e tiveram diferentes
vivências. Neste caso, o profissional da saúde, enquanto educador para a promoção da
segurança no contexto domiciliar, passa a ser um agente externo ao processo de
mudança, pode apenas motivar e mobilizar as famílias de forma individual e coletiva.
Caso contrário se as famílias não quiserem suprimir os riscos para fazer a
transformação do ambiente domiciliar através da adoção de atitudes preventivas, o
profissional da saúde não poderá fazer por elas, ficando assim a criança mais
vulnerável ao risco de acidentes domésticos.
Neste caso, se por um lado os saberes das famílias sobre prevenção de acidentes
domésticos não podem ser ignorados, possivelmente os saberes nelas existentes
também podem não dar conta de todos os aspectos envolvidos na ocorrência dos
eventos. Sendo assim trabalhar com grupos pode ser um desafio em que a socialização
de experiências vividas pelas famílias e a difusão de informações possivelmente pode
desencadear a possibilidade de um novo saber, onde o acidente deixa de ser
interpretado apenas como resultado do acaso ou do destino, ou mesmo como uma
fatalidade inerente ao processo de crescimento e desenvolvimento da criança no
contexto domiciliar.
Acredita-se que em grupo os sujeitos podem fortalecer a sua autonomia,
fazendo escolhas em direção a promoção da saúde definindo estratégias que incluem
ações intersetoriais e interdisciplinares. Ações estas não necessariamente
desenvolvidas pelos profissionais da saúde, conforme Johnson et al. (2000), em seu
estudo randomizado identificaram benefícios significativos quando voluntárias
auxiliaram no cuidado de crianças menores de um ano. Os resultados mostram que
tanto os pais como as crianças assistidas desenvolveram habilidade para a promoção
da saúde.
70
3.3.4 Tese IV
“La educación deve ser dialógica y participativa” (BRICEÑO-LEÓN, 1996, p.
13). Nesta tese o autor enfatiza que através do diálogo as pessoas se comprometem,
escolhem caminhos e transformam a realidade, portanto um programa de saúde
dialógico e participativo, demanda ações conjuntas, onde cada pessoa desempenha a
sua função e seu papel de forma distinta em benefício próprio ou coletivo. O autor nos
diz que “uma comunicação participativa e dialógica não pode fundar-se no predomínio
de nenhum dos extremos”, seja na comunidade ou no educador porque todos
participam dialogando, trocando saberes “sem dominação ou submissão”. Nesta forma
de educar não há predomínio de nenhuma das partes, ambos negociam, dialogam e se
comprometem. O autor salienta que existem três diferentes modalidades de
participação: a passiva, a ativa e, a participação propriamente dita. Na participação
passiva, a comunidade aceita os programas de saúde, isto por si só poderia significar
um trabalho que envolve cooperação e diálogo. A participação ativa, em sua essência é
reativa porque depende sempre do estímulo do pessoal da saúde, nesta as pessoas exe-
cutam as tarefas com ou sem a supervisão dos profissionais da saúde, entretanto, não
tomam a iniciativa da mudança. Por último temos a forma de participação onde à co-
munidade toma iniciativa, elabora a proposta e toma providências entre a comunidade,
órgãos de saúde e ONG’S. (BRICEÑO-LEÓN apud BRICEÑO-LEÓN, 1996).
Sendo assim, ao refletir sobre esta tese, penso que a mobilização da comunidade
para a prevenção de acidentes domésticos é um desafio para o profissional da saúde.
No momento em que ocorre a mobilização possivelmente ambos (profissionais e
famílias) se comprometem e transformam seus saberes e suas práticas em atitudes de
cuidado à criança no contexto domiciliar.
3.3.5 Tese V
“La educación debe reforzar la confianza de la gente en sí misma” (BRICEÑO-
LEÓN, 1996, p.14). Nesta tese o autor salienta que a educação torna-se um fator
fundamental para o sucesso de uma ação em saúde. Nela projetamos nossas crenças e
expectativas no resultado a ser alcançado. Essa projeção é que nos conduz a
determinados comportamentos, ou seja, quanto mais acreditamos mais nos
71
comprometemos, participamos e fazemos. Segundo Briceño-León (1996), conforme
declaração de Alma-Ata, participar da saúde é um direito e um dever da comunidade,
frente a isto, as ações desenvolvidas em programas de saúde formais e informais,
devem reforçar a confiança das pessoas, fazendo algo por si próprios, para manter sua
saúde (BRICEÑO-LEÓN, 1996). Sendo assim, as famílias devem ser orientadas sobre
a necessidade de segurança no domicílio, conforme cada fase de crescimento e
desenvolvimento da criança, visando a promoção da saúde e a melhor qualidade de
vida.
3.3.6 Tese VI
“La educción debe procurar reforzar el modelo de conocimento: esforzo-logro”
(BRICEÑO-LEÓN, 1996, p. 15). Esta tese demonstra que através da educação
podemos reforçar o ganho pessoal ou coletivo a partir do esforço. Neste caso a
educação não pode ser só teórica e não basta o ganho da confiança, é fundamental que
as pessoas tenham algum ganho, ou seja, através da sua ação surtirá algum efeito ou
resultado. Em seu texto ressalta que talvez o conformismo seja decorrente de ações
desenvolvidas sem nunca ter alcançado êxito, houve o esforço e não houve resultado.
Por outro lado, muitas vezes são oferecidos benefícios à população que ela não
valoriza, provavelmente porque não houve relação entre o benefício e a solicitação.
Conforme o pensamento deste autor a ação educativa deve ser acompanhada de
esforço e êxito. Sempre que a pessoa trabalha, se envolve, participa, traça metas
desafiadoras pode significar um estímulo à inteligência, reforçando assim a idéia do
ganho e do êxito, ou seja, ele pode fazer algo pela sua saúde e levar-lhe a satisfação
através dos fatos que apreendeu. Acredito que a participação efetiva e consciente dos
profissionais no projeto, poderemos desencadear custos mínimos e ganhos individuais
e grupais difíceis de quantificar, os resultados das ações de prevenção de acidentes
domésticos poderão ser extensivos e contínuos.
3.3.7 Tese VII
“La educación debe fomentar la responsabilidad individual y la cooperación
coletiva”.( BRICEÑO-LEÓN, 1996, p.15). O enunciado desta tese trás para discussão
72
o aspecto da responsabilidade individual e a cooperação coletiva. Neste postulado o
autor nos apresenta dois tipos de participação: a individual/familiar e a coletiva. Na
primeira a pessoa ou grupo familiar define a ação e executam, pois o interesse é
comum. Esta forma de participação requer um aumento da responsabilidade
individual, cada um deve fazer a sua parte para alcançar suas próprias metas de saúde,
podendo ser extensivas aos mais próximos. Como o grosso do benefício é pessoal ou
familiar o autor recomenda que este tipo de educação seja incentivado. Na participação
coletiva a ação é definida por um grupo de pessoas e não existe restrição entre a ação
executada e os êxitos. Nesta quem participa e se esforça obtém os mesmos benefícios
do que aqueles que nada ou pouco fazem. Porque na participação coletiva os
benefícios se diluem e geralmente é desenvolvida pelo Estado. Para o autor a lógica da
ação coletiva pode ser perversa quando uma pessoa que não participa das ações acaba
recebendo os mesmos benefícios daquela que participa e investe. Salienta que as
pessoas que se comportam de maneira não participativa, isto é, não fazendo nada em
relação a saúde, eles tem custo zero e por este motivo o benefício também deveria ser
zero (BRICEÑO-LEÓN, 1996).
O autor reforça que saúde não é um bem comprável, por isto a ação educativa
deve dar ênfase no indivíduo e em sua responsabilidade individual, buscando obter
benefícios. Para isto é necessário que os profissionais de saúde mobilizem a
comunidade para a construção de estratégias preventivas no ambiente domiciliar,
visando a promoção da saúde das crianças através do comprometimento individual e
coletivo, cumprindo assim a função de cuidador.
3.4 Discussão sobre Sete Teses de Briceño-León
A publicação “Siete Tesis sobre la Educación Sanitária para la Participação
Comunitária”, é bastante discutida por autores latino-americanos. Em geral percebe-se
que os fundamentos de proposta são considerados relevantes para a maioria dos
autores, estão pautados na ética e apontam para um novo papel do cidadão na
construção de seu bem estar.
73
O autor Briceño-León (1996), em suas teses, refere-se ao trabalho com adultos e
diz em sua Tese II: “Recordemos, además, que no estamos trabajando con niños, sino
con adultos que tienen una perspectiva y una visión general del mundo” (p.12). Por
outro lado Virginia T. Schall (1996), diz que as teses de Roberto Briceño-León,
também são válidas para trabalhar com outros grupos populacionais, como:
adolescentes e crianças. Estes são considerados “agentes potenciais de transformações
sociais, agindo no presente, influenciando suas famílias, ou atuando como cidadãos
que delinearão os rumos do futuro” (p.18). Esta autora salienta que ao serem
planejadas ações de educação em saúde com crianças é fundamental criar espaços para
expressão afetiva entre os profissionais da saúde e as famílias, passando a revelar
subjetividades permitindo, assim, construírem-se como “pessoa e indivíduo social” e,
contribuindo para a busca coletiva de solução para as situações vivenciadas em seu
contexto domiciliar.
Segundo Rosemberg (1996), um dos indiscutíveis valores das teses de Briceño-
León, é a preocupação ética decorrentes da interação entre a população e os
profissionais de saúde, advinda das experiências práticas do relacionamento entre
ambos. Para esta interação devemos escutar atentamente as necessidades do outro,
bem como “praticar, decidir, responsabilizar-se, rever-se” (p.19). Neste espaço somos
constantemente forçados a revelar nossos conceitos, ideais e expectativas e, muitas
vezes isto nos encaminha para mudanças pessoais. Este revelar aproxima as famílias e
os profissionais frente a ação de promoção da segurança no ambiente domiciliar,
fortalece o conhecimento mútuo e facilita a promoção da educação em saúde com
participação comunitária.
No entender de Rosemberg (1996), a tese I de Briceño-León (1996, p.11): “La
educacion no es solo lo que se imparte em programas educativos, sino em toda la
acción sanitária”, ou seja, a educação é toda a ação sanitária e não somente as
atividades desenvolvidas em programas educativos. Para o autor nesta tese fica claro a
tarefa educativa envolvendo os diversos atores sociais e não apenas o educador formal.
Isto servirá para que a família desenvolva uma consciência sobre o ato educativo em
relação às crianças, como sendo um espaço saudável para todos.
Para Maria Cecília de Souza Minayo (1996), as teses do autor revelam que o
74
processo educativo é um espaço de trocas que carregam símbolos e significados. Neste
processo é relevante conhecer o ser humano para poder contar com ele e, entender a
lógica do pensamento, incluindo informações, relações interpessoais (cuidadosas,
respeitosas e de trocas) e ações que podem ser contraditórias.
Em saúde, segundo Mohr (1996), ainda é comum pensarmos que para educar
basta conhecimento e prática. Por outro lado, sabemos que educar, hoje, envolve
conhecimentos específicos, questões psicológicas, sociais e cognitivas, sendo estas
impregnadas de representações sociais. A educação em saúde em famílias deve buscar
em outras áreas do conhecimento subsídios que o auxiliem à compreender como se dá
os processos individuais e coletivos de aprendizado no contexto domiciliar. Para isto é
necessário desenvolver competências e subsidiar a família e a criança para torná-la
capaz de fazer escolhas sobre a maneira de viver e agir individual e socialmente.
Briceño-León (1996-b, p.29) ao fazer sua réplica sobre os debates dos demais
autores diz que a educação serve para ajudar as pessoas a adquirirem mais
conhecimentos, saberes e consciência sobre uma determinada realidade e a partir daí
poder transformá-la. A educação no entender dele é uma forma de intervenção ideal e
pensamento sobre determinada realidade. No entender de Mello (1996), a educação
revela e é relevada dentro de um contexto histórico, assim, no momento em que o
profissional da saúde e a família têm acesso à informação, se apropriam e contribuem
para a formação de cidadãos críticos e comprometidos, capazes de transformar a
realidade para a promoção da saúde da criança.
4 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa baseada no referencial
metodológico da Pesquisa Convergente-Assistencial (PCA). Para desenvolver a
pesquisa foi necessária participação ativa dos sujeitos, componentes de uma equipe do
Programa de Saúde da Família (PSF), do Bairro Santo André, no município de
Lajeado – RS.
Esta pesquisa foi construída em duas etapas. Na primeira etapa as atividades
foram coordenadas pela pesquisadora buscando capacitar a equipe de saúde para a
prevenção de acidentes domésticos infantis. Na segunda fase a equipe de saúde assume
o papel de protagonista principal tendo apenas o apoio da pesquisadora para a
construção da mobilização para a prevenção dos acidentes domésticos. Os dados foram
coletados através de entrevistas coletivas e da observação feita pela pesquisadora
sendo os mesmos posteriormente validados pela equipe de saúde.
Segundo Trentini e Paim (2004),
A PCA é aquela que mantém, durante todo o seu processo, uma estreita
relação com a prática assistencial, com a intencionalidade de encontrar
alternativas para solucionar ou minimizar os problemas, realizar mudança e
introduzir inovações na prática; portanto este tipo de pesquisa está
comprometido com a melhoria direta do contexto social pesquisado
(TRENTINI E PAIM, 2004, p. 28).
Esta metodologia é um norte para a enfermagem. Através da PCA o enfermeiro
poderá investigar, minimizar ou resolver situações problema, inovando e articulando
intencionalmente a sua prática em saúde para beneficiar a comunidade envolvida no
processo. Além disso, a Pesquisa Convergente-Assistencial serve para explorar
questões relevantes concomitante ao desenvolvimento do trabalho, servindo para retro-
alimentar os processos de assistência e de pesquisa, no contexto vivido pelos sujeitos.
A opção pelo referencial metodológico da PCA se deve ao fato de que o tema
“Acidentes domésticos com criança menor de cinco anos”, nos remete a refletir a
76
situações do contexto concreto da vida familiar e profissional, nos quais a equipe de
saúde pode prestar cuidados relacionados à educação em saúde, buscando ao mesmo
tempo compreender os acidentes para propor transformações em conjunto com as
famílias, visando melhoria da qualidade de vida.
Durante a PCA busquei, ao mesmo tempo em que foi desenvolvido o processo
de educação, refletir conjuntamente com a equipe do PSF em relação à prevenção de
acidentes domésticos através da educação em saúde, dando oportunidade para
estabelecerem o processo de mobilização na comunidade. Este processo de teorização
visou beneficiar a promoção da saúde das crianças, em especial pela possibilidade de
aprimoramento do pensamento crítico dos profissionais da saúde. Isto foi possível a
partir do despertar da consciência crítica para a construção de aprendizados em relação
a promoção da segurança domiciliar, bem como em relação às atitudes educativas do
profissional no contexto das famílias.
Durante a trajetória desta pesquisa também foi necessário colaboração mútua
entre os sujeitos, estabelecendo o processo de “dança” propostos por Trentini e Paim
(2004, p.24), ou seja, foi necessário estabelecer momentos de aproximação com a
prática da equipe do PSF e famílias, bem como momentos de afastamento para a
análise das informações obtidas nos encontros e nas vivências relatadas ou observadas.
Neste percurso identificamos que uma das metas do Programa de Saúde da
Família, desta comunidade, consistia em realizar ações para a prevenção de acidentes
domésticos, as quais ainda não estavam sendo implementadas. O enfermeiro, assim
como os demais membros desta equipe de saúde foram o reforço positivo para ser
concretizada a proposta de prevenção de acidentes domésticos.
A escolha do referencial metodológico Pesquisa Convergente-Assistencial para
este estudo justifica-se porque a temática emergiu de minhas vivências enquanto
enfermeira e docente, na área de urgências e emergências. E, a motivação para o
estudo veio entre um turbilhão de idéias e vivências pessoais e profissionais, mas a
opção metodológica se deu com a realização da Prática Assistencial, no período de
maio a junho de 2005, realizada neste local da pesquisa. O convívio estabelecido me
impulsionou a dar continuidade ao processo educativo junto à equipe de saúde para
investigar e analisar a construção do processo de mobilização para a prevenção de
77
acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos, possibilitando elaborar a
minha dissertação do mestrado.
Para a realização desta pesquisa foram seguidas as recomendações éticas da
pesquisa envolvendo seres humanos, conforme previsto na Resolução n 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (Apêndice B) e com a liberação do projeto pelo
Secretário da Saúde, previu-se a execução do mesmo em horário de trabalho, sendo
que a não participação não implicava em prejuízos ao trabalhador. Houve permissão
também para que as falas fossem gravadas, mas o ambiente não favoreceu para que
isto acontecesse. Além disso, a diretora da escola foi uma das pessoas que facilitou o
desenvolvimento dos encontros com as crianças da Escola de Educação Infantil –
EMEI e com os pais das referidas crianças.
O desenho da Pesquisa Convergente-Assitencial proposto por Trentini e Paim
(2004, p.37) contém cinco fases compostas por passos que se inter-relacionam de
diferentes formas, são elas:
Fase da Concepção;
Fase da Instrumentação;
Fase da Perscrutação;
Fase da Análise;
Fase da Interpretação.
As autoras entendem que esta inter-relação entre os passos oferece um processo
de constante “dança” entre o pensar e o fazer. Nesta pesquisa atendemos a todas as
fases propostas no referencial metodológico de Trentini e Paim (2004), sendo a seguir
apresentadas, incluindo a descrição das ações concretizadas em cada uma delas.
Neste capítulo faço também a apresentação do método de pesquisa e descrevo o
caminho metodológico que foi percorrido para o desenvolvimento deste estudo, junto à
equipe de saúde da família (PSF), finalizando com os aspectos éticos e com o rigor
metodológico desta pesquisa.
78
4.1. Fase da concepção
Nesta fase, o pensamento das autoras Trentini e Paim (2004), propõe que o
enfermeiro deve repensar a prática e as experiências vividas, sendo que e a escolha do
tema, a ser pesquisado, também pode emergir de leituras especificas.
Assim, resgato minha trajetória profissional e pessoal, a qual deu origem a este
projeto, ou seja, a partir de inquietudes vivenciadas durante a caminhada na docência e
na assistência e em diferentes hospitais, venho observando a ocorrência dos acidentes
domésticos, muitas vezes interpretados como inadequações do cuidado familiar. Esta
observação foi motivo de constantes reflexões, especialmente na prática assistencial,
buscando sempre maior compreensão das situações de acidentes infantis no contexto
das famílias e da equipe de saúde.
Estruturei o meu projeto a partir de vivências positivas durante a Prática
Assistencial, especialmente, quando senti indícios de mudanças entre as mães, para a
prevenção de acidentes domésticos. Nos encontros realizados com as mães, na Prática
Assistencial, tivemos espaço para sensibilização, reflexão, construção, implementação
e avaliação de estratégias de prevenção para acidentes domésticos com crianças
menores de cinco anos.
Na medida em que fomos desenhando este projeto de pesquisa, para a
dissertação de Mestrado, buscamos aprofundamento em literaturas específicas. Nelas
constatamos forte cunho epidemiológico, bem como insistentes afirmações de que para
prevenir acidentes domésticos é necessário mudar comportamentos e atitudes, cabendo
aos profissionais um importante papel na educação em saúde dos cuidadores das
crianças.
4.2 Fase da instrumentação
A fase da Instrumentação da PCA caracteriza-se pelo planejamento de
atividades, reunião dos conhecimentos e recursos necessários para a efetivação da
pesquisa. Nela é necessária a participação ativa das pessoas do lócus em estudo, aqui
representada pela equipe de saúde do PSF.
79
Nessa fase foi aprofundada a revisão da literatura sobre políticas de saúde,
acidentes domésticos com crianças, educação e educação em saúde, participação
comunitária, explicitação do referencial teórico baseado nas Sete Teses de Roberto
Briceño-León para a Educação Sanitária.Também foram selecionados os métodos de
coleta de dados e as formas de registro. A seleção do local e dos participantes já havia
sido realizada anteriormente. A seguir descrevo o cenário, os métodos de coleta das
informações e forma de registro adotados na pesquisa.
4.2.1 Cenário da mobilização para prevenção de acidentes domésticos
Este estudo foi realizado no Bairro Santo André do Município de Lajeado, RS.
Este município foi fundado em 1891 e o bairro Santo André em 1980, segundo dados
do Projeto de Implantação do Programa de Saúde da Família, neste Bairro (2003). Este
localiza-se na zona urbana de Lajeado, tem uma região bem delimitada, situa-se
geograficamente entre os bairros: Campestre, Montanha, São Cristóvão e Olarias. É
considerado um local de fácil acesso, pois é ladeada pela BR 386 e pela RS 130.
Segundo informações divulgadas pelo IBGE (2000), o município de Lajeado –
RS, dispõe de uma área geográfica com 89,42 Km
2
localiza-se na região central do
Estado do Rio Grande do Sul e é considerada uma cidade pólo do Vale do Taquari.
Tem uma densidade populacional de 661 habitantes/Km
2
e tem uma população total de
59.790 habitantes, sendo 59.339 residentes na zona urbana e 451 pessoas vivem na
zona rural. Conforme dados obtidos no Sistema de Informação de Atenção Básica –
SIAB (2005), o Bairro Santo André tem 2.346 pessoas, sendo 1.152 do sexo masculino
e 1194 do sexo feminino, destas 198 são crianças de zero a 4 anos.
O tipo de gestão municipal da saúde é feito segundo a NOB/MS, Gestão Plena
de Atenção Básica (GPABA). No município de Lajeado – RS, existe o Conselho
Municipal de Saúde, criado pela lei n
o
4.778/92, é atuante e participativo constituído
por 30 conselheiros representantes das diversas entidades locais. Conta com a
regionalização dos seguintes serviços de controle da tuberculose, controle da
hanseníase, serviço de atendimento especializado (SAE), dispõe de 1 laboratório
regional e 1 hospital regional.
No município existem 08 Unidades Básicas de Saúde, 01 Centro de Saúde, 01
80
Centro de Atendimento à Mulher e estão em funcionamento 5 Equipes do Programas
de Saúde da Família (PSF). O Município também possui um hospital regional de
médio porte, empresa de direito privado, filantrópica e sem fins lucrativos. Este
hospital atende alta complexidade para algumas especialidades e dispõe de 76 leitos
destinados a internação gerais, 17 leitos em UTIs adulto, neonatal e pediátrica todos
credenciadas pelo SUS.
O sistema de referência em termos de saúde dentro do município é feito em
formulário próprio sendo que a pessoa deverá retornar ao serviço de origem com a
contra-referência do especialista solicitado. Para os serviços médicos com
especialidades não disponíveis no serviço público, este processo segue um
agendamento realizado pela Central de Marcação existente na Secretaria de Saúde
Municipal.
No município são desenvolvidas ações de atenção à saúde da criança, à saúde
mental, à saúde da mulher, à saúde do idoso e ao portador de transtorno mental,
visando promoção da saúde, prevenção e assistência.
Em relação à atenção à criança, em Lajeado, são desenvolvidas ações em saúde,
através de programas e atividade específicas, tais como: SISVAN (Sistema de
Vigilância Alimentar Nutricional) com crianças menores de cinco anos, conforme
cartão da criança; monitoramento das diarréias com notificação semanal; campanhas
multivacinais; monitoramento de doenças respiratórias em menores de cinco anos;
busca ativa de crianças com esquema de vacinas que estão em atraso; teste do pezinho;
e pré-agendamento da primeira consulta com pediatra.
Conforme dados obtidos no Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB
(2005), no Bairro Santo André existem 708 famílias e 100% delas são cadastradas no
PSF. O mapeamento do PACS relaciona 5 micro-áreas urbanas, designadas de
Microárea 21, 22, 23, 24 e 25. A maioria das residências é formada por casas da
COHAB ampliadas, possui abastecimento de água tratada em 96,19 % delas e tem
cobertura em 99,86 % para coleta seletiva do lixo. Possui sistema de esgoto em apenas
22,03% das casas, sendo que 77,97% este é feito em fossa. A maior parte das casas
(81,64%) é de alvenaria e em 98,87% existe energia elétrica.
Segundo informações do IBGE (2000), este bairro possui uma Escola
81
Municipal de Ensino Fundamental, uma Escola Municipal de Educação Infantil
(EMEI), um Projeto Vida, uma Unidade Básica de Saúde e 108 empresas.
A Unidade Básica de Saúde do Bairro Santo André dispõe de uma Equipe de
Saúde da Família formada por médico, enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem,
secretário e 5 Agentes de Saúde. A sua estrutura física é composta por 11 peças
distribuídas em: farmácia, sanitário dos funcionários, sala de imunizações e aplicação
de injeções, sala de espera e triagem, sala de curativos e nebulizações, sala de apoio,
consultório médico, sala de reuniões, sanitário para pacientes de consultas
ginecológicas, consultório ginecológico e de enfermagem, sanitário externo para
pacientes e um gabinete odontológico.
Evidenciamos que esta Unidade Básica de Saúde está situada em local de fácil
acesso, mas sua área física é bastante restrita, dificultando a execução de ações
coletivas para a promoção da saúde. Devido a isto já está sendo planejada a ampliação
da área física, o que revela a necessidade de previsão destes espaços durante os
processos iniciais de construção.
Por outro lado, nesta UBS, foi implantado em 2003 o Programa de Saúde da
Família, com ações prioritárias para diminuir a mobimortalidade, entre elas:
A prevenção e tratamento de doenças do aparelho circulatório;
Orientações para prevenção de acidentes domésticos;
Prevenção do câncer de colo uterino e de mama;
Prevenção de neoplasias através da implantação do Programa de
Controle ao Tabagismo;
Atuação na prevenção de problemas respiratórios incluindo vacinações e
ações educativas;
Ações de Planejamento Familiar a fim de reduzir a ocorrência de
gravidez na adolescência; prevenção de problemas do aparelho
digestório incluindo assistência nutricional para a reeducação alimentar.
A equipe do PSF também tem como meta desenvolver mobilização e
participação comunitária através da divulgação de reuniões e grupos; também buscam
orientar a população para participar de reuniões em creches, igrejas, Conselho
Municipal de Saúde, Associações de bairro e de orçamentos participativos.
82
Constatamos que o serviço de saúde deste bairro é bastante atuante, costumam
desenvolver atividades com a participação das famílias, mas a adesão nem sempre é a
esperada. Algumas atividades desenvolvidas nesta comunidade estão integradas as
diretrizes do SUS e servem como modelo para outros locais, por exemplo: produção de
cremes e sabonetes usados no controle de infestações por pediculoses, cultivo coletivo
de chás, grupos com adolescentes para incentivo ao planejamento familiar e redução
de gravidez precoce, entre outros. Por outro lado, evidenciamos que ainda não existe o
planejamento de ações continuadas sobre o tema prevenção de acidentes domésticos.
Também observamos que a equipe de saúde realiza fora da UBS atividades
diversificadas com famílias, na escola, em eventos locais e regionais. Ao visitarmos a
escola, porém, identificamos que a equipe do PSF desconhece os recursos ali
existentes como fantoches e materiais para atividades lúdicas. Na UBS a maioria das
atividades está centrada em demandas espontâneas e na atenção individual. O
enfermeiro exerce o papel de facilitador e mobilizador da equipe dando autonomia aos
Agentes Comunitários de Saúde para planejarem e atuarem na saúde, ainda que estas
tenham limitações inerentes ao grau de formação nos aspectos que envolvem a questão
da saúde.
4.2.2 Os participantes do estudo
Para a realização da primeira etapa deste estudo a pesquisadora convidou toda a
equipe do Programa de Saúde da Família (PSF): um médico, um enfermeiro, 2
auxiliares de enfermagem, 5 Agentes Comunitários de Saúde, um secretário e uma
pessoa da higienização. E, para a realização da segunda etapa do estudo a equipe de
saúde convidou mães de crianças que estudam na escola de educação infantil - EMEI.
Para preservar o anonimato dos participantes da equipe de saúde usamos codinomes de
pedras preciosas: Topázio, Ônix, Cristal, Quartzo, Rubi, Ágata, Ametista, Brilhante,
Jaspe Rosa, Jaspe Verde, Esmeralda e, para as mães usamos algarismos romanos: I, II,
III, sucessivamente.
A participação dos sujeitos foi voluntária e espontânea, não havendo exclusão
de participantes porque todos desejaram fazer parte do estudo. Isto possibilitou somar
esforços e agregar as diferentes potencialidades para o processo educativo. Conforme
83
Trentini e Paim (2004, p.74), os participantes da PCA devem fazer parte do processo,
integram discussões, permitindo o aprofundamento teórico e busca significado para as
descobertas. A partir de determinado momento os técnicos superiores tiveram uma
participação indireta, enquanto os Agentes Comunitários de Saúde protagonizavam a
mobilização planejada.
Os encontros com os participantes se desenvolveram de forma tranqüila, em
clima de harmonia e participação, todas as pessoas se conheciam, exceto a
pesquisadora que teve que se tornar mais conhecida durante o processo. Para assegurar
o anonimato dos participantes utilizamos codinomes de pedras, por eles escolhidos.
4.2.3. Técnicas para obter as informações
No desenvolvimento da pesquisa utilizamos, principalmente, a modalidade de
entrevistas coletivas conforme proposto por Trentini e Paim (2004), que se caracteriza
como sendo aquela na qual o pesquisador realiza a coleta de dados a partir da
discussão entre um grupo de pessoas.
Coletar dados através de entrevista coletiva foi uma tarefa complexa, exigiu
interação humana para que fosse possível obter informações fidedignas. As entrevistas
coletivas realizadas, em sua realização, se aproximaram da técnica de Grupo Focal,
proposta por Dall’Agnol, Ternch (1999). Para as autoras, na medida em que os
membros do grupo olham um fenômeno por diferentes focos despertam percepções
que estavam na condição de latência e, no momento em que interagem, seus relatos
são os construtos que vão nortear ações e transformações, através da educação em
saúde.
Em todas as atividades o coordenador dos grupos (pesquisador ou o profissional
de saúde) exerceu as funções previstas por Dall’Agnol, Ternch (1999), assumindo o
papel de facilitador nas dinâmicas, abriu as sessões, encaminhou as apresentações,
elaborou convites, forneceu informações, esclareceu os participantes, cedeu a palavra
aos participantes, propôs questões para o debate, conduziu os debates, sintetizou o
debate e encerrou as discussões.
Concomitante a realização das entrevistas coletivas também foi utilizada a
observação não participante para coletar informações. Trentini e Paim (2004, p. 80),
84
referem que a observação, tida como método de investigação é “consciente,
objetivada, formalizada e exteriorizada de maneira que seja exposta à compreensão de
outras pessoas”. Salientam que a coleta de informações na PCA aglomera vários
métodos, ou seja, o que difere dos demais métodos é a dupla intencionalidade:
produzir conhecimento e encontrar alternativas para contribuir com o serviço de saúde.
Neste caso a contribuição pode ser imediata, revertida em benefício a saúde da criança
e da família, ou tardia quando os seus benefícios podem ser estendido às futuras
famílias destas crianças. Ou ainda, os benefícios desta atividade podem ser expandidos
para outras equipes de saúde ou transformando-se em políticas educativas integradas
aos Programas de Saúde das Famílias. Desta forma o conhecimento produzido estará
realmente contribuindo com o serviço de saúde e este com a sociedade.
Pela observação constatou-se que durante as atividades os participantes
assumiram a posição de integrantes do projeto, passaram a identificar seus problemas,
apresentaram sugestões, fizeram críticas, revelaram sentimentos, expressaram
comportamentos e atitudes e também encontraram soluções para os problemas
identificados. A participação de todos foi essencial para estabelecer o diálogo de forma
dirigida e orientada para a prevenção de acidentes domésticos.
4.2.4. O registro das informações
Trentini e Paim (2004, p. 83), recomendam o uso de diferentes formas de
registro para que seja possível coletar o máximo de informações, o pesquisador deve
registrar: “idéias, dúvidas, sentimentos, reações, erros e acertos, dificuldades e
facilidades durante a coleta de informações”.
Embora os participantes tenham consentido em gravar as falas, não foi possível
utilizar gravador devido ao ruído existente no pátio da escola (onde se realizaram as
atividades). Devido a isto, as informações obtidas foram registradas em diário de
campo com expressões chave e através da descrição pela memória recente da
pesquisadora.
Os materiais utilizados nos encontros foram organizados pela equipe de saúde e
fotografados para facilitar a análise dos dados.
85
4.3. Fase da Perscrutação
O processo de mobilização foi construído em duas etapas, realizadas em 5
encontros entre os meses de maio a junho de 2006. Todos os encontros foram
realizados na escola da comunidade - Escola de Ensino Fundamental, sendo em
horários previamente estabelecidos.
Na primeira etapa foram realizados 02 encontros com a equipe de saúde, dos
quais participaram todos as 11 pessoas que fazem parte da equipe do PSF (1 Médico, 1
Enfermeiro, 2 Auxiliares de Enfermagem, 5 Agentes Comunitários de saúde, 1
Secretário e 1 pessoa da higienização). Nestes dois encontros a pesquisadora foi
responsável pela organização e coordenação dos mesmos buscando capacitá-los para a
expansão do conhecimento. O primeiro encontro com a equipe do PSF, foi
desenvolvido conforme a técnica de grupo focal, nele buscamos nos conhecer melhor
para poder desenvolver o projeto. Coletamos dados sobre as expectativas do grupo em
relação ao tema acidentes domésticos e sobre as possibilidades de atuação no Bairro
Santo André. Além disso, neste encontro também fizemos ajustes, para mim
indispensáveis, visando atingir os objetivos propostos, pois acredito que não seria
possível obter o apoio sem que a proposta fosse compartilhada com a equipe e de
interesse coletivo. O segundo encontro com a equipe do PSF foi realizado em forma de
oficina, nele buscamos coletar dados sobre possíveis ações para a prevenção de
acidentes domésticos infantis, bem como as estratégias que poderiam ser utilizadas
para o processo. Neste encontro também identificamos os recursos que seriam
necessários para o desenvolvimento destas ações e quem ficaria responsável para dar
os encaminhamento no processo de mobilização, iniciando aqui a segunda fase da
pesquisa.
Nesta segunda fase, as atividades foram coordenadas pela equipe de saúde com
o apoio da pesquisadora, esta assumindo o papel de observadora da construção da
mobilização. A equipe de saúde realizou 03 encontros em forma de oficina, visando
concretizar do processo de mobilização, sendo eles: 1 com as crianças da Escola
Municipal de Educação Infantil, 1 com os pais destas crianças e 1 com outros pais da
referida escola.
86
No encontro com as crianças de uma turma de alunos da escola houve a
participação de 18 crianças com idades entre 3 e 4 anos. Neste encontro a equipe de
saúde buscou identificar como a criança reconhece os riscos domiciliares e como
estabelece associações com suas vivências. Para isto utilizamos ferramentas por elas
criadas, entre elas: uma música – “A lição do Sapeca”, a dramatização desta música e
a dinâmica “O que é isto?”. Nesta dinâmica as crianças foram interrogadas sobre
produtos e materiais domiciliares, entre eles: embalagens de produtos originais (caixa
de leite, frasco de amaciante, frasco de detergente, frasco de desengordurador
doméstico). Também utilizamos garrafas descartáveis contendo líquidos de várias
cores simulando produtos tóxicos e um recipiente contendo balas de diferentes cores.
O segundo encontro organizado ela equipe do PSF, foi com os pais das referidas
crianças – o convite foi extensivo a todas as mães da turma (18 famílias) -
participaram 07 mães; e, o terceiro encontro promovido pela equipe do PSF foi
extensivo aos demais pais da referida escola – participaram 13 familiares, sendo que
neste último uma das mães que participou do encontro anterior também colaborou na
execução das atividades educativas. As atividades desenvolvidas com os pais foi
semelhante a realizada com as crianças, sendo acrescida a dinâmica da “Casa
Simulada”. Durantes os encontros a equipe de saúde buscou investigar semelhanças
entre o conhecimento dos pais e das crianças. Além disso, discutiram e estabeleceram
reflexões sobre os modos de organizar a casa, possibilitando a reconstrução de
conceitos sobre os acidentes domésticos infantis.
A concretização da construção da participação comunitária em busca da
prevenção de acidentes domésticos, fenômeno pesquisado, vem da assistência e
converge para ela, ou seja, são as experiências, os erros e os acertos que mobilizam
novos desafios educativos em saúde. Esta convergência também chamada triangulação
constitui “fonte de dados adequada para a análise em pesquisa do tipo convergente-
assistencial” (TRENTINI e PAIM, p. 89).
Pelo fato da coleta de informações ter sido realizada no local de trabalho da
equipe de PSF, envolvendo famílias e a diretora da escola, esta com o papel de
facilitadora, foi estabelecido um acordo ético entre todos integrantes visando a
confiabilidade das informações e a preservação de suas identidades. Por outro lado a
87
familiaridade com as estratégias utilizadas nas dinâmicas por eles criadas facilitou a
coordenação das atividades, possibilitando que a pesquisadora pudesse coletar e
registrar as informações para atender o objetivo do estudo, sendo as mesmas validadas
com a equipe de saúde.
4.4 Fase da análise e interpretação
Neste estudo utilizamos o método de análise qualitativa, para compreender o
fenômeno. Segundo Morse & Field apud TRENTINI e PAIM (2004, p.92), as
informações em métodos qualitativos podem ser analisadas através de processos
genéricos, denominados: apreensão, síntese, teorização e recontextualização.
Ainda durante o processo de coleta de dados foi iniciado o processo de análise.
Após a leitura detalhada das informações de cada um dos encontros, foram
organizadas as informações e construídas, por similaridades as categorias, expressas a
seguir.
Quadro 1: Descrição das categorias de análise resultantes da pesquisa
“Tornando o projeto conhecido e obtendo apoio”
“Ações educativas propostas pelos profissionais da saúde”
“A equipe de saúde educa com criatividade”
“As estratégias facilitadoras para a construção da participação comunitária”
“Continuidade da construção da participação comunitária para prevenção de acidentes”
4.5 Rigor metodológico
Para Trentini e Paim (2004, p. 100), “o rigor de uma investigação se traduz pela
fidelidade aos princípios da pesquisa em estudo”. A PCA mantém estreita relação com
a prática assistencial da enfermagem, neste caso a equipe do PSF, que é por natureza
social, dirigida às situações sociais. Para realizar a PCA as autoras recomendam
88
substituir os valores das ciências exatas relativos à veracidade, neutralidade e
generalização pelo valor da credibilidade. A PCA qualifica a intersubjetividade e
“enfatiza a participação dos sujeitos no processo da pesquisa e a condição do
pesquisador como sujeito” (TRENTINI e PAIM, 2004, p. 100).
As autoras salientam que o rigor metodológico deve estar presente em toda a
produção de conhecimento científico. É importante salientar que neste estudo me
mantive envolvida como informante da pesquisa, pois o tema emergiu de minhas
vivências como enfermeira da assistência hospitalar com crianças e retorna para a
academia e para a comunidade como possibilidade de transformação.
O rigor metodológico deste estudo segue os critérios recomendados pelas
autoras Trentini e Paim (2004), para tanto, estabelecemos o tema, o problema, os
objetivos, a metodologia e a relevância social, pessoal e científica do estudo.
Todos os participantes desta pesquisa foram esclarecidos sobre os objetivos,
metodologia e relevância da mobilização e assinaram o termo de consentimento,
participando livremente do estudo. Durante o desenvolvimento das atividades, foram
feitas as Notas conforme proposto por Trentini e Paim (2004), sendo as informações
descritas com total transparência e fidelidade. As atividades em grupo foram descritas
com clareza e de forma organizada, permitindo proceder à análise e a interpretação dos
dados. As informações coletadas, após processo de apreensão e síntese, foram
devolvidas aos participantes no encontro subseqüente para validação, buscando sempre
uma melhor compreensão do fenômeno investigado, conforme percebido pelos
participantes do estudo.
4.6 Preceitos éticos
Partindo do princípio que a ética permeia todo o trabalho realizado com seres
humanos e de que toda a pesquisa tem riscos mesmo que sejam ínfimos, busco neste
estudo contemplar as determinações da Resolução No 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde, que dispõe sobre as diretrizes e normas especialmente no que diz respeito ao
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B). Esta resolução aborda quatro
89
princípios da bioética: a autonomia, a não maleficência, a beneficência e a justiça, os
quais asseguram os direitos e deveres dos participantes da pesquisa (BRASIL, 1996).
O projeto desta pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética do Centro
Universitário do Vale do Taquari – UNIVATES, conforme Anexo 01. Após análise e
aprovação pelo Comitê de Pesquisa e Ética em Saúde da Instituição de Ensino,
reconhecida pelo CONEP, o mesmo foi apresentado o projeto à Chefia do Serviço de
Enfermagem e ao Secretario Municipal de Saúde, conforme Apêndice A. Além disso,
obtivemos a apoio e o consentimento livre e esclarecido da equipe do PSF.
No primeiro encontro que a pesquisadora realizou com a equipe de saúde foi
coletada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B),
após serem informados sobre a proposta de trabalho verbalmente e por escrito.
Solicitamos e garantimos a veracidade e o sigilo de suas falas por meio da guarda
segura dos dados, preservando o anonimato dos participantes utilizando codinomes por
eles escolhidos, garantindo a eles a liberdade de acesso a informações, conforme
Portaria 196/96 (BRASIL, 1996).
Na etapa da concretização da mobilização pelas Agentes de Saúde, o projeto de
pesquisa foi apresentado à diretora da Escola de Educação Infantil – EMEI, que
mediante a sua liberação foi convidado os pais de uma turma de alunos para
participarem do projeto. O convite aos pais dessas crianças foi elaborado pelas
Agentes de Saúde e após ser aprovado pela diretora, foi encaminhado através da
agenda da criança (Apêndice C). Todos os pais convidados e que desejaram participar,
devolveram o convite com suas assinaturas. Além disso, todos os pais ou responsáveis
pelas crianças da escola EMEI (total de 123 famílias) receberam uma ficha de
investigação da segurança do domiciliar (Apêndice D), através da agenda das crianças.
Este instrumento foi criado pela equipe de saúde e voluntariamente foi preenchida
pelos familiares das crianças (retornando 43 questionários), sendo os mesmos
depositados na urna existente na recepção da escola EMEI. Os questionários não
incluíam dados que permitissem identificação das famílias.
Neste estudo foi previsto risco relacionado à sensibilização sobre o tema, mas
não foi manifestado pelos participantes sinais de sofrimento, pois se tratou de uma
atividade investigativa educativa, desenvolvida em parceria com a equipe de saúde e
90
de educação. Buscamos estimular o desenvolvimento do pensamento crítico entre os
participantes e pactuamos os sucessos e os fracassos assumidos pelos informantes,
conforme acerto prévio.
Além dos aspectos acima citados, desenvolvemos de forma continuada,
atividades de apoio e capacitação específica com as Agentes Comunitárias de Saúde
para que possam replicar esta prática em outras comunidades e escolas, sempre
traçando e partilhando estratégias de prevenção de acidentes domésticos, aumentando
a segurança domiciliar e conseqüentemente interferindo positivamente na qualidade de
vida das crianças menores de cinco anos.
5 RESULTADOS DO ESTUDO
Os resultados aqui reunidos são análises reflexivas sobre o processo de
mobilização com a equipe de saúde para a construção da participação comunitária
visando à prevenção de acidentes domésticos de menores de cinco anos através da
educação em saúde. Para isto tornou-se necessário conhecer os participantes para
poder contar com eles, desde a compreensão dos riscos domiciliares para a ocorrência
de acidentes até a capacitação para o planejamento e implementação de ações para a
prevenção. Em todas as fases do processo de mobilização oportunizamos a criação de
espaços atrativos e agradáveis, buscando desenvolver a sensibilização, capacitação e
co-responsabilização da equipe do PSF para a prevenção de acidentes domésticos
através da educação em saúde. Para a fase de concretização ou avaliação da
mobilização pela equipe de saúde, foi necessário adotar tecnologias educativas como
grupos, oficinas e outras dinâmicas.
Identificamos e construímos cincos categorias de análise a partir da análise de
informações coletadas nas atividades desenvolvidas na Pesquisa Convergente
Assistencial (PCA), sendo elas: “Tornando o projeto conhecido e obtendo apoio”;
“Ações educativas propostas pelos profissionais da saúde”; “A equipe de saúde educa
com criatividade”; “As estratégias facilitadoras para a construção da participação
comunitária”; e, “Continuidade da construção da participação comunitária para
prevenção de acidentes”.
Estas categorias emergiram a partir da integração pessoal com os participantes
do estudo, bem como, a partir das observações e da leitura detalhada dos relatos
contidos nas notas do campo. A interação estabelecida com a equipe de saúde e o
diálogo utilizando linguagem popular permitiram que eu conhecesse e me tornasse
conhecida para poder contar intensamente com eles durante toda a caminhada.
Esta interação, desencadeada pelo clima de solidariedade, possibilitou
desenharmos conjuntamente o processo de mobilização junto da equipe do PSF
introduzindo o pensamento: científico, filosófico e político sobre a temática.
92
Através da troca de experiências nas discussões e nas atividades lúdicas
buscamos, de forma agradável e prazerosa, construir e re-construir o pensamento
crítico sobre a prevenção de acidentes domésticos, tendo como cerne desta
mobilização a construção da participação comunitária através da educação em saúde.
5.1 Tornando o projeto conhecido e obtendo o apoio
Antes mesmo de iniciar esta pesquisa, foi estabelecida interação com alguns
membros da comunidade, na qual fui bem recebida e acolhida desde o primeiro
contato. Em 2000, desenvolvemos uma atividade educativa tradicional, ou seja, uma
palestra sobre primeiros socorros, envolvendo alguns professores e ajudantes de
creche, pessoas que agora reencontrei para o desenvolvimento do estudo.
Em maio de 2004, estabeleço a minha primeira aproximação, com a Equipe do
Programa de Saúde da Família (PSF), quando mantive contato pessoal para
desenvolver, na época, uma pesquisa cujo objetivo foi o de identificar os riscos
ambientais nos domicílios, para crianças menores de cinco anos e para idosos. Nesta
atividade as Agentes Comunitárias de Saúde participaram como facilitadoras e
intermediaram o acesso às famílias para a observação e coleta de dados, no domicílio.
Antes do início da realização da Prática Assistencial foi estabelecido um novo
contato com a enfermeira do PSF para apresentar a proposta de trabalho. A partir do
aceite verbal pela equipe de saúde, ainda na etapa da instrumentalização da PCA,
busquei apoio junto ao gestor municipal de saúde. O projeto foi protocolado na
Prefeitura Municipal de Lajeado, tendo recebido parecer favorável em maio deste
mesmo ano.
Após a manifestação favorável ao projeto pela Secretaria Municipal da Saúde,
foi estabelecido novo contato com a enfermeira da equipe do PSF, do Bairro Santo
André. Na ocasião agendamos uma visita para que eu pudesse intensificar a minha
aproximação com a equipe de saúde.
Na semana seguinte ocorreu o encontro, nos reunimos no corredor da UBS. Fui
93
apresentada aos demais mesmos da equipe de saúde pela enfermeira. Neste encontro
tornei a proposta mais conhecida e após convite verbal que fiz aos profissionais da
saúde, obtive o apoio. Todos se colocaram à disposição para desenvolverem atividades
de educação em saúde.
Ainda neste encontro com os profissionais, negociamos os ajustes necessários
para atender, além dos objetivos da pesquisa, as necessidades do serviço e as
expectativas dos profissionais. Durante as discussões planejamos o desenvolvimento
das atividades, sendo estabelecido que a pesquisa teria as duas etapas já descritas
anteriormente.
Aproveitamos este primeiro encontro para também conhecer melhor a realidade
de trabalho. A equipe de saúde em conjunto com a pesquisadora, decidiu-se que os
encontros não poderiam ser realizados na UBS, devido à falta de espaço físico. Sendo
assim, os encontros seguintes aconteceram nas acomodações da Escola Municipal de
Ensino Fundamental, situada a duas quadras da UBS. Ainda neste encontro, esta-
belecemos o cronograma das atividades, seguindo a disponibilidade da equipe do PSF.
Os profissionais manifestaram imediato envolvimento com a proposta. Os
resultados do envolvimento podem ser constatados através das contribuições que cada
um fez em relação ao planejamento das próximas atividades, especialmente em relação
ao cumprimento do horário e organização das atividades na Escola Municipal de
Ensino Fundamental.
Percebi que a equipe de PSF ficou emocionada e demonstrou desejo de
participar. Isto foi identificado pela forma como Rubi se expressou: “Este projeto veio
na hora certa e nós temos muito interesse que isso dê certo”. O acolhimento da
proposta foi intensificado porque a proposta apresentada era congruente ao plano de
atuação do Programa de Saúde da Família, onde o tema prevenção de acidentes do-
méticos representa uma das ações de saúde a serem desenvolvidas pela equipe do PSF.
A congruência entre o projeto e o plano de atuação da equipe do PSF
aproximou os interesses, gerou participação e motivação para a organização dos
encontros, revelando ser este um momento oportuno para a construção do pensamento
crítico sobre os acidentes, permitindo trocar saberes e experiências, podendo ir além
das expectativas da pesquisadora.
94
Constatamos que entre os membros da equipe existe co-responsabilidade nos
processos, facilitando o desenvolvimento das atividades. Isto pode ser percebido pelas
falas e pelas decisões conjuntas tomadas, desde definição de local para as atividades
até a definição de estratégias educativas. Desde o primeiro contato as Agentes
Comunitárias de Saúde demonstraram muito empenho, auxiliaram na organização dos
encontros e se preocuparam em concretizar o processo de expansão do conhecimento
com as famílias de acordo com cada área de atuação.
5.2 Ações educativas propostas pelos profissionais da saúde
Este tema se refere ao processo de transformação da natureza pedagógica e
técnica das ações de prevenção planejadas pela equipe de saúde do PSF. Inicialmente
evidenciou-se que as ações propostas tinham cunho meramente informativo e
prescritivo, nas quais o profissional de saúde era o detentor do saber. Posteriormente,
com as reflexões conjuntas sobre o papel dos profissionais de saúde, apoiadas no
referencial teórico do trabalho, essas ações passaram a ser planejadas de forma
participativa, levando em consideração as expectativas e a realidade das famílias e da
comunidade, especialmente, através do diálogo estabelecido em atendimentos
domiciliares ou em reuniões comunitárias.
As ações prescritivas surgiram já na primeira oficina, quando os profissionais
de saúde foram questionados sobre que medidas implantar para a prevenção de
acidentes domésticos infantis. Após discussão em grupo, descreveram que para
prevenir acidentes domésticos é necessário planejar ações coletivas, como em
palestras, e em alguns momentos individualizadas, como nas consultas. O quadro 02
descreve o conteúdo global da discussão com os sujeitos do estudo.
95
Quadro 2: Ações preventivas propostas pelo profissional da saúde para a prevenção
de acidentes domésticos
Aprimorar o conhecimento dos profissionais e das famílias;
Educar a comunidade através da conscientização sobre os riscos de acidentes;
Minimizar ou eliminar os riscos domésticos, através do estímulo para a organização de
espaços onde a criança interage, evitando a sua exposição ao risco e dando à ela autonomia
supervisionada;
Incentivar medidas de prevenção utilizando práticas demonstrativas de fácil compreensão,
para pais e crianças, através de dramatizações, brincadeiras, estas definidas a partir de
situações do cotidiano;
Informar e orientar os pais, através de cartilha educativa, medidas simples que previnem
acidente, como: colocar os cabos das panelas para trás, manter medicamentos e produtos
tóxicos longe do alcance das crianças;
Criar uma rotina de investigação para os riscos domiciliares a que as crianças ficam expostas,
principalmente quando vem uma família nova para o bairro;
Comprometer a comunidade sem demagogias;
Buscar recursos junto à comunidade e aos órgãos públicos para o desenvolvimento dessas
ações;
Interagir com a comunidade realizando palestras educativas, passar filmes educativos, criar
material ilustrativo (folder), dispor de recursos audiovisual (retro-projetor).
A educação em saúde como possibilidade para a transformação da realidade,
tendo como base para a análise as teses de Biceño-León (1996), possibilitou interpretar
e dar significado às propostas de educação em saúde a partir de novas aprendizagens,
desenvolvidas na PCA.
Nestas aprendizagens a subjetividade do ser humano, suas crenças, cultura e
valores são elementos essenciais a serem considerados. Segundo Rosso e Collet
(1999), uma proposta educativa quando vinculada aos interesses da comunidade pode
trazer mudanças significativas no processo saúde/doença, caso contrário, o ser humano
é um mero expectador e um depositário de informações.
Quando o educar se estabelece de forma unidirecional, contraria o pensamento
de Briceño-León (1996). Neste caso o profissional da saúde não pode motivar o outro,
não podendo fazer as transformações necessárias. Observamos que a equipe de saúde,
embora inicialmente estivesse pensando de forma prescritiva, ao receberem o estímulo
da pesquisadora perceberam outras possibilidades educativas em saúde.
Neste processo educativo as transformações aconteceram gradativamente, a
partir das experiências vividas pela equipe e pela pesquisadora. Um exemplo foi o
resultado da socialização de vivências entre os participantes, como compartilhar
96
experiências pessoais com acidentes domésticos de filhos, gerando a percepção de que
não há diferenças significativas entre os saberes das pessoas, mas sim que todo o ser
humano sabe coisas diferentes. Outro exemplo foi a percepção de que tínhamos papéis
em comum, como ser mãe, ser mulher, ser trabalhadora, ser cuidadora do lar, entre
outras identidades. Isto permitiu estabelecermos vínculos entre nós, criando
alternativas aos papéis tradicionais de professora e alunas. Não era mais possível que a
equipe de saúde se colocasse no papel de alunas passivas, uma vez que a pesquisadora
(professora) se colocava como também uma aprendiz. Assumindo de maneira
crescente o papel de estudantes ativas, os participantes da equipe de saúde tiveram que
repensar a abordagem pedagógica que estavam pensando em adotar para as ações de
educação em saúde, que no final decorrer do estudo, assumiram um caráter muito mais
dialógico e participativo, voltado à realidade da comunidade.
Neste processo de capacitação dos profissionais da saúde evidenciamos que
equipe conseguiu andar por si, individual e coletivamente, resultando na concretização
da educação em saúde com as crianças e com as mães da comunidade. Os resultados
possibilitaram rever conceitos tidos como a única verdade, entre eles que os acidentes
deixam de ser entendidos como inevitáveis e passam a ser compreendido como algo
possível de ser suprimido. Os indícios de mudanças resultantes das atividades
educativas também foram evidenciados quando o grupo não só compartilhou
conhecimentos acerca das experiências vivenciadas, mas principalmente quando
identificou circunstâncias domiciliares possíveis de serem transformadas.
Desta forma, educar em saúde para a prevenção de acidentes domésticos deixa
de ser um preenchimento de vazios e assume nova dimensão, isto é, passa a ser
norteada pelo compartilhamento de vivências, significados, crenças e opiniões entre
participantes. Como diz Rubi: “Para prevenir acidentes domésticos podemos lançar
mão da educação em saúde como uma constante no nosso dia-a-dia”.
Entendemos que esta “constante” se aproxima ao referencial de Briceño-León
(1996) ao dizer que também educamos através de nossos gestos, palavras e atitudes, ou
seja, a partir daquilo que somos e daquilo que acreditamos ser o melhor.
Também houve transformação quanto ao conhecimento técnico dos
participantes sobre a ocorrência dos acidentes domésticos. Inicialmente era evidente
97
que os aspectos biológicos e as características naturais da criança eram determinantes
para a ocorrência dos acidentes e as ações educativas incluíam principalmente a
informação passada pelo profissional. No decorrer das atividades, com a ação
deliberada da pesquisadora, agregamos a isto questões epidemiológicas sobre
acidentes domésticos e as expectativas individuais e coletivas relacionadas ao
problema do estudo. Buscamos capacitar o profissional da saúde para despertar a
autonomia das famílias em relação à prevenção e acidentes domésticos. Além disso,
motivamos a equipe de saúde para reconhecer a complexidade do espaço familiar, nos
aspectos organizacionais e funcionais, visando a promoção da segurança domiciliar.
Segundo Tambellini e Osanai (2001), a promoção de medidas adequadas e
eficazes perpassa por discussões interdisciplinares em instâncias intersetoriais, em
conjunto com a comunidade e com os seus representantes, levando em conta as
situações peculiares de cada contexto.
Tanto a transformação da abordagem pedagógica quanto a expansão do
conhecimento técnico possibilitaram uma nova forma de educar para transformar a
realidade. Isto resultou em re-descobrir e re-construir conceitos estabelecidos a partir
do senso comum, como pode ser evidenciado na fala de Jaspe Rosa ao dizer que
“aprendi com minha mãe a colocar as cadeiras sobre a mesa, agora sei que isso pode
ser diferente, já que a cadeira poderia cair na cabeça do meu filho. Eu não tinha
pensado nisso”.
Esta fala se aproxima da tese I de Briceño-León (1996), nela a educação é
entendida não só como aquilo que advém de programas educativos, mas sim de todas
as palavras, gestos e atitudes que fazemos, ou seja, o aprendizado é o resultado de
todas as ações humanas. Sendo assim, os exemplos gerados pelos cuidadores da
criança (na escola, na família e na comunidade) podem ser decisivos para o processo
de prevenção de acidentes.
Entre as ações educativas planejadas implementadas pelos profissionais da
saúde, utilizando a nova abordagem pedagógica e os conhecimentos construídos
durante o estudo, destaca-se a criação de uma música denominada “A lição do sapeca”
(Apêndice E), criada após contato da equipe com os dados epidemiológicos municipais
sobre acidentes. Inicialmente a música se caracterizava pelo caráter punitivo, e
98
gradativamente assume um caráter de promoção de atitudes saudáveis em relação aos
acidentes. Um outro exemplo é a dramatização da música, em que, após a apresentação
para crianças e mães na escola de educação infantil, foi aberto um espaço para diálogo
sobre os acidentes e suas vivências. Também foi construída uma casa de brinquedo
para ser manuseada concretamente pelas mães na construção da segurança no
ambiente doméstico. Uma outra ação concreta foi a mobilização das mães, pela equipe
de saúde, para que investigassem a segurança de seus próprios domicílios a partir de
um roteiro estruturado em conjunto com a pesquisadora.
Os profissionais de saúde também referiram que as ações devem ser continuas
e, ao contrário do planejamento inicial. Também salientam que é necessário inten-
sificar a divulgação do projeto junto aos serviços de educação e saúde, e que a cons-
trução da participação da comunidade deve ser ampliada. Para Safira “as pessoas es-
peram para receber as informações, temos que estimular mais e vamos contribuir com
conhecimento”. Isto é salientado por Jaspe Verde ao dizer que os profissionais devem
“encontrar maneiras de interagir com famílias, é importante a participação delas”.
Este estudo mostra que a educação em saúde para a prevenção de acidentes
deve ser ampliada, estabelecendo uma via dupla entre a expectativa da equipe de saúde
e a família. No entender de Briceño-León (1996), os programas não podem ser
impostos à comunidade, eles devem ser compartilhados desde o seu planejamento até a
avaliação dos resultados. Justifica dizendo que os programas verticais podem ter
eficácia de imediato, mas possivelmente não tenham sustentabilidade, podem se tornar
frágeis pala falta de cooperação, rejeição ou pela resistência à proposta.
5.3 A equipe de saúde educa com criatividade
Esta categoria resultou da análise das informações obtidas na segunda fase do
projeto. Nesta etapa a equipe de saúde utilizou o conhecimento desenvolvido
anteriormente e implementou ações educativas com bases pedagógicas participativas e
transformadoras. Este processo educativo ocorreu de forma progressiva, exigindo
99
acolhimento, apoio, vontade, negociação, planejamento e envolvimento de ambas as
partes (equipe de saúde, famílias) e tendo o apoio constante da pesquisadora.
Para a concretização das ações educativas foi muito importante acolher a idéia
do outro, negociar alternativas para a prevenção, planejar ações educativas não
tradicionais e avaliar continuamente os resultados. Os participantes no final de cada
atividade sintetizavam as discussões, decidiam novas formas de trabalhar o tema
prevenção de acidentes domésticos com a comunidade, faziam os encaminhamentos e
identificavam os possíveis resultados destas ações. Nos encontros subseqüentes
sempre foram resgatados os encaminhamentos dos encontros anteriores visando
facilitar a continuidade do processo educativo com transparência contínua sobre a
intencionalidade do projeto. Esta, alicerçada em conceitos que tomam o ser humano
como a essência do processo educativo participativo.
A equipe de saúde entende que é necessário motivar as famílias, pois “se as
famílias não participam fica mais difícil, nós não vamos poder prevenir por eles”
(Ônix). Este relato contribuiu significativamente para desencadear reflexões sobre a
importância da motivação da família em busca do cuidado da criança, especialmente a
partir do momento em que os participantes se apropriaram do referencial teórico - as
sete teses de Roberto Briceño-León (1996), proposto para subsidiar o estudo. As ações
educativas tornaram-se concretas quando os participantes se envolveram e apoiaram as
decisões, já que os resultados dependiam da ação ou da não ação de cada pessoa.
Segundo Briceño-León (1996), é nos resultados das ações que projetamos as
expectativas, os interesses e os desafios das novas práticas educativas.
Percebemos que a comunicação se estabeleceu de forma efetiva, tanto entre a
pesquisadora e a equipe de saúde, como entre a equipe de saúde e os demais
participantes (crianças e mães), ficando claro que quanto mais as pessoas se
conheciam mais se motivavam, especialmente porque não há aquele que sabe mais e
sim, como diz Briceno-León (1996), todos sabem coisas diferentes. Esta forma de se
comunicar possibilitou ampliar a interação, unificar o discurso em relação aos
conceitos, entre eles: acidentes, prevenção, riscos, responsabilidades de cuidado. Com
isto também ampliamos o nosso conhecimento, tornando-se possível identificar riscos
domiciliares e estabelecer ações preventivas sem emitir juízos de valor.
100
Neste momento o grande ganho da equipe de saúde foi o aprendizado de que o
cuidado da criança é um compromisso social de cada cidadão e não apenas da família.
Como diz Topázio “se eu vejo uma criança em perigo eu tenho que proteger, eu não
posso esperar pelos pais, talvez eles estão ocupados com outras coisas”. Desta forma
a prevenção dos acidentes domésticos infantis inclui cuidadores externos à família,
sinalizando que devemos agregar diferentes atores, instituições e espaços sociais no
cuidado à criança.
Seguindo esta lógica a equipe de saúde agregou a escola, as crianças e seus pais,
e com muita criatividade interagiu e mobilizou discussões, permitindo o
aprofundamento teórico e a busca de significado a descobertas sobre a prevenção de
acidentes infantis, conforme proposto por Trentini e Paim (2004) na pesquisa
convergente assistencial.
Durante este processo, a criatividade da equipe de saúde foi intensificada,
resultando em atividades educativas, entre elas: a criação da música (Apêndice E), a
dramatização da música, a criação da casa de brinquedo (Figura 7), a ficha de
investigação da segurança domiciliar (Apêndice D) e o folder com orientações para a
família (Apêndice F). Para Jaspe Verde “se a gente fizer uma coisa que elas [as mães]
gostam daí elas vão contar para as outras e daí na outra vez as mães vêm também”.
Este relato mostra que a equipe de saúde se comprometeu definitivamente com o
processo de mobilização para a construção de novas alternativas de educação em
saúde, visando movimentar a comunidade para a prevenção de acidentes domésticos.
As atividades educativas criadas pela equipe de saúde foram testadas e
avaliadas antes da utilização nas oficinas, com crianças de outras turmas e entre a
própria equipe. A criatividade utilizada pela equipe de saúde pode ser evidenciada nos
relatos da oficina com as crianças (subdividida em quatro momentos) e nas duas
oficinas realizadas com pais.
Oficina com as crianças:
Este encontro foi planejado para ser realizado em quatro momentos seqüenciais.
No primeiro a equipe de saúde recebeu as crianças em uma sala previamente
organizada cantando a música “A Lição do Sapeca”, composta por eles, e que trata dos
101
principais tipos de acidentes domésticos (quedas, queimaduras, intoxicações). No
segundo momento a música foi dramatizada pelos membros da equipe, gerando muitos
risos pelas crianças. Nesse momento ficou evidente que as crianças interagiram muito
com a equipe de saúde (todos já se conheciam, menos eu que estava apenas
observando o trabalho deles). As crianças estabeleceram associações significativas e
concretas com as suas vivências a partir das atividades, mostraram cicatrizes de
queimaduras, falaram sobre quedas e alguns deles lembraram “machucados” que
tinham em seus corpos. Desta forma consideramos que houve sintonia da criança com
a atividade educativa, gerando possíveis indícios de aprendizados.
Quanto ao terceiro momento da oficina a equipe de saúde desenvolveu uma
dinâmica utilizando embalagens de produtos domissanitários, alimentos, balas e
brinquedos de diferentes tamanhos (Figuras 01) e passou a conhecer melhor como elas
compreendem os riscos. Nesta etapa da oficina as crianças foram interrogadas sobre
diferentes produtos e embalagens e as respostas obtidas foram posteriormente
refletidas pela equipe de saúde em conjunto com as crianças.
Fonte: Terceiro Momento da Oficina com as crianças Bairro Santo André – Lajeado - RS
Figura 1: Fotos dos materiais utilizados em oficina com crianças
102
Durante as atividades a equipe de saúde identificou que as crianças
manifestaram intenso desejo de colocar na boca as coisas pequenas, coloridas e que se
assemelhavam com alimentos ou doces, podendo ser elas medicamentos ou mesmo
pequenos objetos.
Analisando a atividade, concluíram que as crianças gostam de coisas diferentes
e se tornam mais vulneráveis quando estão com fome. Entre tantos doces a maioria
pegou o comprimido que estava junto aos confetes (Figura 02). Esta constatação foi
possível porque o encontro com as crianças aconteceu antes do horário do almoço.
comprimido
Fonte: terceiro momento da oficina com as crianças Bairro Santo André – Lajeado – RS
Figura 2: Fotos de balas utilizada na oficina com crianças
Fonte: Terceiro momento da oficina com as crianças Bairro Santo André – Lajeado – RS
Figura 3: Fotos de frasco contendo açúcar utilizado na oficina com crianças
103
Em relação à Figura 3, observaram que as crianças reconhecem o conteúdo dos
frascos a partir da forma como os produtos são armazenados em suas casas. Neste caso
a maioria das crianças disse que o vidro continha sal, quando na verdade era açúcar ou,
conforme assinalado pela equipe de saúde, poderia ser qualquer outro produto
químico.
Fonte: Terceiro momento da oficina
com as crianças
Bairro Santo André – Lajeado - RS
Figura 4: Fotos de frascos contendo produtos químicos utilizados na oficina com as
crianças
Em relação ao frasco da figura 4, as crianças disseram que o frasco branco
continha leite e no transparente água. Na verdade o frasco branco continha farinha com
água e o transparente apenas água. Isto sinaliza que a utilização de embalagens
descartáveis para armazenar produto tóxico pode favorecer o risco de intoxicação
exógena grave. Com essa atividade evidenciou-se que:
As crianças com idades entre 3 e 4 anos preferem objetos em miniatura;
As crianças desconhecem os perigos dos produtos domissanitários;
O acondicionamento de produtos ou alimentos na embalagem original é
mais seguro;
As crianças não sabem diferenciar produtos pela cor ou pelo cheiro;
As crianças estão tendo acesso a produtos de risco no domicílio (pilhas,
fósforo, perfumes, etc).
104
No quarto momento do mesmo encontro, as crianças retornaram para a sala de
aula interagiram com a professora, possibilitando refletir sobre a oficina, resultando
em desenhos e dizeres, sobre como cada uma delas associou a música à prevenção de
acidentes domésticos, conforme exemplificado nas Figuras 05 e 06. Os desenhos
foram posteriormente analisados pela equipe de saúde, constatando que a atividade
educativa realizada com as crianças gerou indícios de aprendizado. Entre eles temos
um desenho mostrando o perigo da eletricidade, conforme Figura 05.
Fonte: Quarto momento do encontro com as crianças Escola de Municipal de Educação Infantil
Figura 5: Desenhos elaborados pelas crianças após a oficina
A criança que fez o desenho, ao ser questionada pela professora sobre o
significado do seu desenho salientou que “Não dá pra botar a mão na panela quando tá
quente e nem passar quando o fio do ferro que vai na luz tá no chão”.
Outra a criança faz referência, ao explicar seu desenho (Figura 6) que na sua
casa tinha o perigo do fogão, pela presença calor e das panelas e pela livre circulação
das mesmas na cozinha. Ela diz: “Não é prá meche no fogão e na panela quente, que
nem a menina mexeu e se queimou”
105
Fonte: Quarto momento do encontro com as crianças Escola de Municipal de Educação Infantil
Figura 6: Desenhos elaborados pelas crianças após a oficina
Ao analisar a atividade como um todo, a equipe de saúde concluiu que a criança
estabelece associações significativas entre aquilo que vê e aquilo que vive no contexto
familiar. Isto nos remete ao descrito na literatura sobre a importância dos exemplos das
pessoas adultas e da influência que a comunicação visual tem em relação aos seus
modos de viver e prevenir acidentes domésticos (DEL CIAMPO e RICCO, 1996).
Os desenhos produzidos pelas crianças foram utilizados como material
educativo pela equipe de saúde. Foram transformados em cartões oferecidos aos
respectivos pais que participaram da oficina seguinte. Cada cartão era composto do
desenho da criança e no verso foi agregado um texto (Apêndice F) contendo
informações sobre a prevenção de acidentes para a faixa etária de um a quatro anos de
idade. O texto informativo foi elaborado a partir do conhecimento científico e
aprovado pela diretora da escola.
Os resultados da oficina com as crianças mostram que ela é capaz de aprender
quando existe comunicação adequada entre aquele que ensina e aquele que aprende. A
exemplo disso, ao serem estimuladas para refletir sobre a música: “A lição do sapeca”,
elas teceram relação com suas vivências anteriores. Estas reflexões possivelmente
encaminham a criança para um amadurecimento que pode efetivamente resultar em
prevenção de acidentes domésticos ao longo de suas vidas. Isto demonstra que devem
106
existir construções contínuas e participativas com as crianças, buscando desenvolver
sempre novas habilidades e competências para a prevenção de acidentes domésticos.
Oficina com os pais
Quanto à oficina com os pais dessas crianças, cujo objetivo constituiu-se em
refletir sobre o papel dos pais na construção da prevenção de acidentes domésticos,
identificamos que a forma como a equipe recepcionou os pais foi fundamental para
que eles se sentissem estimulados a falarem sobre suas experiências vividas e sobre as
possíveis estratégias de prevenção de acidentes domésticos. Esta preocupação em
construir um ambiente acolhedor e informal faz parte do que é recomendado por
Trentini e Paim (2004), ao dizer que a PCA, pode favorecer a aproximação dos
participantes e facilitar a coleta de dados para a reflexão e transformação no contexto
vivido.
Nesta oficina os pais foram instigados pela equipe de saúde, desafiando o seu
próprio saber, que possivelmente encontrava-se latente ou distorcido sobre a
prevenção de acidentes. Segundo Bógus (1998) e Briceño-León (1998), as metas para
melhorar as condições de vida ocorrem quando a comunidade tem o direito e a
responsabilidade de tomar decisões porque se sentem capacitadas para tal. Entretanto,
este direito e responsabilidade quando exercitado na família pode ser expandido para a
sociedade. Pois é na família que se estabelece o modelo de interação, assim como, é
nela que são definidos objetivos comuns para a promoção da saúde de seus membros.
A Equipe de Saúde, ao analisar os resultados, constatou que é possível estabe-
lecer a construção da participação comunitária através da educação em saúde, se o
desafio for assumido coletivamente, desde o planejamento, organização e coordenação
dos encontros, visando atender ao principal objetivo e as expectativas dos envolvidos.
Para a realização dessa oficina foi elaborada uma casa simulada (Figuras 07, 08,
09, 10 e 11) pela própria Equipe de Saúde. Foi construída em isopor e suas paredes
eram vasadas, o que possibilitava a visualização e manuseio dos móveis e utensílios
domésticos em seu interior. A casa foi colocada no meio do ambiente da oficina, e os
participantes foram convidados a mobiliarem e organizarem a casa a partir de
pequenos móveis e objetos existentes em um saco-surpresa também providenciado
107
pela equipe de saúde. Após esse primeiro momento, em grupo, discutiram outras
possibilidades de organização visando tornar o ambiente mais seguro para as crianças.
Os participantes demonstraram envolvimento com a atividade, possibilitando a
reflexão-ação-reflexão sobre a importância da prevenção de acidentes domésticos. Isto
reforça o pensamento de Gadotti (2000, p. 117), ao dizer que “o papel da educação
popular comunitária será decisivo para a mudança de mentalidades e atitudes...”
Fonte: Oficina realizada pela Equipe de Saúde do PSF - Bairro Santo André – Lajeado - RS
Figura 7: Foto da casa simulada construída para oficina com as mães
Fonte: Oficina realizada pela Equipe de Saúde do PSF Bairro Santo André – Lajeado – RS
Figura 8: Foto saco surpresa contendo os móveis e utensílios da cozinha
108
Fonte: Oficina realizada pela Equipe de Saúde do PSF Bairro Santo André – Lajeado – RS
Figura 9: Móveis e utensílios colocados no saco surpresa
Fonte: Oficina realizada pela Equipe de Saúde do PSF Bairro Santo André – Lajeado - RS
Figura 10: Foto demonstrando a colocação inicial dos móveis e utensílios na Casa
Simulada
Como pode ser visto nesta figura a disposição dos móveis apresentava vários
riscos de acidentes, entre eles: o botijão de gás próximo ao fogão, muitas coisas sobre
a pia e sobre a mesa, bacia com água ao alcance das crianças e praticamente não foram
utilizado os suportes e prateleiras existentes na cozinha. Da mesma forma os
problemas de organização também estavam presentes no quarto e na área de serviço,
não sendo visualizadas na foto.
A partir da observação atenta da equipe de saúde em relação às mães, ocorreu a
109
interação e a conseqüente mobilização para concretizar medidas de prevenção na Casa
Simulada. Entre as mães houve uma que ofereceu resistência à sugestão de troca dos
móveis ou utensílios na casa simulada. Percebemos que na medida em que esta mãe
falava, as demais também se pronunciavam em um movimento coletivo de mudanças,
que progressivamente foi construindo consenso sobre a disposição de objetos visando
prevenção de acidentes domésticos.
Nesse movimento dialógico entre as participantes, mediado pela equipe de
saúde, as mães se movimentaram e fizeram vários ajustes conforme pode ser
constatado na Figura 11. Nesta foto podemos constatar que a criatividade contribui
para a segurança, a exemplo se a casa for de madeira muitas coisas podem ser
penduradas em locais onde as crianças não tenham acesso. Esta é uma estratégia
simples e de baixo custo, mas que pode significar muitos benefícios para a criança.
Fonte: Oficina realizada pela Equipe de Saúde do PSF Bairro Santo André – Lajeado - RS
Figura 11: Foto da colocação final dos móveis e utensílios na Casa Simulada
Através do desenvolvimento das dinâmicas em grupo foram revelados apren-
dizados sendo estes mais intensos e com maior grau de aprofundamento quando os
participantes se integravam nas discussões. Possivelmente este aprendizado foi
permeado pela comunicação efetiva estabelecida entre os profissionais de saúde e os
110
participantes.
Percebemos que através do diálogo tornou-se possível identificar
potencialidades individuais e coletivas, conduzindo para a expansão do conhecimento
e continuidade da proposta educativa em saúde. Esta expansão também resultou do
grande número de questionamentos e reflexões gerados a partir das dinâmicas citadas
anteriormente, cujo objetivo foi investigar e educar.
O processo de mobilização desencadeado pela equipe de saúde se concretizou
qualitativamente na medida em que as relações foram sendo estabelecidas. Como diz
Jaspe Rosa “esta forma de educar é bem interessante, porque a gente se envolve”. Na
medida em que o grupo interagiu possivelmente aprendeu e com isto descobriu
possibilidades de transformação, tanto na forma de perceber o ambiente domiciliar
como na forma de conduzir os fatos e as subjetividades de cada participante. Quartzo
disse “temos que respeitar as famílias, não dá pra impor, cada um vê o problema de
um jeito”.
No decorrer das atividades desenvolvidas pela equipe de saúde constatamos que
cada participante pensa e age de forma única, é impregnado por subjetividades,
crenças e valores, que possivelmente norteiam suas decisões, tanto para a ação como
para a não ação individual, familiar e comunitária. Isto se aproxima ao pensamento de
Carraro (1999), quando diz que o ser humano único e que tem liberdade para fazer
suas escolhas. Escolhas que muitas vezes se refletem nas formas de expressão, nas
atitudes e nas estratégias sociais e políticas adotadas pelo ser humano.
Podemos admitir que a mobilização da equipe de saúde, neste estudo se
mostrou satisfatória, entretanto a família não correspondeu na mesma intensidade para
a concretização participação comunitária em relação à prevenção de acidentes
domésticos. Atribuímos a isto o pouco tempo de disponível para o desenvolvimento do
estudo. Por outro lado, percebemos muito particularmente que não houve significativa
participação dos pais nas atividades desenvolvidas pela equipe de saúde. Desta forma
entendemos que isto é um desafio a ser vencido, o aumento da participação masculina
em programas comunitários relacionados ao cuidado de crianças poderá contribuir
para o aumento do valor familiar relativo às condições de segurança domiciliar bem
como os cuidados a ela oferecidos.
111
Embora os resultados do estudo apontem que o interesse pela reflexão-ação-
reflexão sobre o tema tornou-se mais significativo quando o participante tinha alguma
experiência, geralmente esta se tratava de algo ruim e triste. Percebemos que os relatos
dos participantes (a equipe de saúde e mães) estavam envolvidos por sentimentos se-
melhantes, especialmente, quando os acidentes infantis mutilaram ou deixaram marcas
em seus filhos - lesões físicas decorrentes de queimaduras, intoxicações, entre outras.
Por outro lado, estas experiências foram permeadas por saberes populares,
saberes estes que não foram ignorados, mas aprimorados durante o processo educativo
em saúde. Sabemos que a escuta dos relatos e a observação atenta da pesquisadora em
relação ao silêncio de alguns participantes foi fundamental para o processo de
mobilização da equipe de saúde. Quanto à escuta das vivências foi fundamental não
procurar culpados para os acidentes e tornou-se necessário dispor de tempo para as
conversas informais que normalmente aconteciam após as atividades planejadas,
podendo isto ser utilizado como uma estratégia educativa em saúde.
Houve consenso de que esta realidade pode ser transformada, se os pais ou
cuidadores entenderem que a casa atualmente não é o local mais seguro, tornando-se
necessário adotar medidas de segurança domiciliar, evitando descuidos e negligências
no cuidado à criança. Sabemos que a insegurança domiciliar pode ser intensificada
pela curiosidade da criança, especialmente quando ela for atraída por cores, aromas e
formatos. Evidenciamos que a criança se torna mais vulnerável ao acidente doméstico,
quando não recebem a atenção necessária ou quando os familiares desconhecem ou
negligenciam a segurança no domicílio, de acordo com as características de cada fase
de crescimento e desenvolvimento.
5.4 Estratégias facilitadoras para a construção da mobilização
A partir da análise das informações obtidas nos encontros com a equipe de
saúde, constatamos que algumas estratégias facilitaram o processo de mobilização dos
participantes do estudo, entre elas: o acolhimento, a flexibilidade, a liberdade, o
112
comprometimento, a sensibilização, o desafio para novas possibilidades de educação
em saúde, a congruência entre os objetivos e as expectativas, a capacitação pessoal, a
aceitação de críticas, o esforço individual e coletivo, a clareza na intencionalidade e a
utilização de dinâmicas lúdicas, conforme descrito no Quadro 03.
Quadro 3: Listagem das estratégias facilitadoras para a construção da participação
comunitária
1. Acolhimento e receptividade do projeto e da pesquisadora;
2. Flexibilidade e autonomia da equipe para adequar horários conforme possibilidades;
3. Liberdade para a equipe participar em horário de trabalho;
4. Comprometimento e envolvimento dos participantes;
5. Sensibilização e valorização do ser humano pela equipe de saúde;
6. Clareza na intencionalidade do projeto e desafio para o novo;
7. Congruência entre os objetivos da pesquisa e expectativas da equipe;
8. Esforço individual e coletivo para a construção da mobilização;
9. Utilização de atividades lúdicas simuladas a partir das vivências dos participantes
O acolhimento e a receptividade por parte dos participantes, à pesquisadora
quanto à proposta do estudo, foram fundamentais para o planejamento, organização e
desenvolvimento de todas as atividades investigativas e educativas. A equipe de saúde
contribuiu intensamente, como diz Rubi: “Se queremos que isto dê certo temos que
abraçar a causa”. Demonstraram satisfação e motivação quando perceberam que esta
prática educativa poderia ser desafiadora e extensiva a outras atividades, sendo
multiplicadores desta idéia em outros locais. Isto causou muito impacto na equipe
“podemos fazer isto em relação ao tabagismo, vacinas” (Safira). As adequações no
projeto foram determinantes para estabelecer a co-responsabilização da equipe de
saúde no processo de mobilização para a prevenção dos acidentes domésticos, visando
atender as especificidades da comunidade.
Além das adequações no projeto, observamos que, por parte do gestor, houve
apoio no sentido de dar autonomia à equipe de saúde para participarem das atividades
no horário de trabalho. Com a autonomia manifestada pela equipe de saúde foi
possível flexibilizar os horários e só assim conseguimos realizar atividades à noite
envolvendo as famílias da comunidade.
Podemos salientar que a flexibilização constituiu-se em uma estratégia
113
facilitadora para a mobilização, indispensável na construção da participação
comunitária, especialmente porque uma das dificuldades é a falta de tempo e a pouca
participação dos pais. Normalmente são as mães que participam e elas trabalham fora
de suas casas “só sobra os sábados tarde e neste dia elas precisam limpar tudo, nem
podem participar das coisas que promovemos” (Jaspe Verde). Estas dificuldades
podem comprometer as atividades educativas para a prevenção, como diz Quartzo
“todos nós sabemos que em trabalhos anteriores poucas pessoas vêm”. Ametista
reforça e diz que “na maioria das vezes são os mesmos que participam”.
Evidenciamos que a equipe quando sensibilizada se sente valorizada,
compartilhando e opinando de forma responsável e consciente. A valorização foi
manifestada pela equipe de saúde foi em relação a escolha do bairro para uma nova
proposta de trabalho educativo. Segundo Ágata este tipo de projeto educativo, quando
transparente a sua intencionalidade torna-se “muito bom, faremos algo novo e
diferente, dá mais ânimo para nós”. Acreditamos que a valorização da equipe de
saúde tornou-se fundamental para que eles se tornassem os principais protagonistas da
construção da participação comunitária. Inicialmente alguns membros da equipe de
saúde queriam apenas “aprender com o projeto para poder prevenir os aciden-
tes”(Jaspe Verde, Esmeralda e Safira). Como diz Brilhante, este projeto também “é
uma oportunidade de troca de informações” para Esmeralda significa “muito apren-
dizado”, para Diamante “além de aprender também podemos também ajudar a comu-
nidade”, para Cristal, “este projeto pode ajudar a cuidar das crianças”e, conforme
Ametista “este projeto poderá contribuir para integrar a comunidade e os pro-
fissionais”.
Observamos também a importância do conhecimento técnico específico por
parte da equipe de saúde para subsidiar a atividade educativa. Esse conhecimento
proporciona segurança como relata Topázio: “ontem atendi uma criança, ela se
engasgou eu fiz como aprendi no curso de primeiros socorros”. E diz “você (refe-
rindo-se a mim) foi a instrutora, lembras?”.
Outra estratégia significativa para a mobilização dos participantes foi a
congruência entre os objetivos da pesquisa e expectativas da equipe de saúde. Isto foi
evidenciado pela responsabilidade em assumir o projeto como parte de sua prática
114
diária na educação em saúde. A congruência entre os objetivos e expectativas gerou
comprometimento que por sua vez resultou em demonstrações de satisfação,
concordavam ser bastante significante esta atividade, conforme Ametista “todos nós
vamos ganhar com isto”, independente do esforço que cada um tenha realizado.
Percebemos que o interesse de alguns contagiou os outros, especialmente nas
atividades em grupo, quando cada participante se concentrava e dava o melhor de si,
resultando em admiração sobre a atividade educativa.
Um resultado significativo foi a interação entre a equipe de saúde, famílias e
escola. Com esta interação agregaram esforços coletivos, possibilitando criar as
estratégias educativas lúdicas. As estratégias lúdicas facilitaram a mobilização e as
discussões com as famílias.
Percebemos que no início das atividades o processo educativo foi lento e
prescritivo e demanda mais reflexões sobre a construção da prevenção de acidentes
domésticos. Visualizamos indícios de transformação na fala da mãe III: “nós podemos
mobilizar os outros”. Então neste momento esta mãe foi questionada sobre o que ela
entende por mobilizar, então ela diz: “mobilizar é passar para os outros, transmitir o
que sabemos, podemos informar as pessoas”. Ao serem questionadas pela equipe de
saúde sobre qual seria a forma de trabalho que poderiam desenvolver na comunidade
para prevenir os acidentes domésticos, a Mãe I fala: “isto que foi feito com nós,
cantamos a música, brincamos de casinha, isto deve ser feito em toda a escola, isto é
muito bom, ajuda muito prá gente cuidar mais”. A Mãe VII diz: “Quando a gente
enxerga [dinâmicas] a gente entende melhor as coisas”. Através das dinâmicas
também foi revelado que “temos que conhecer mais e melhor nossos filhos” (Mãe III).
Ficou evidente que atividades lúdicas aproximam as pessoas e potencializam o
aprendizado para o processo de mobilização da comunidade, mas demandam mais
encontros para discussão e reflexão. O lúdico pode abrir caminho para a quebra do
ciclo do acidente doméstico, seja ele por desconhecimento, por omissão ou por
negligência do adulto cuidador. Neste caso descobrir potencialidades individuais e
coletivas, através do lúdico e da brincadeira, pode contribuir para a formação da rede
de promoção da saúde da criança.
Para Silva (1998), o brincar facilita o desenvolvimento de aprendizados que
115
quando bem conduzidos podem promover saúde. Recomenda-se que as atividades
educativas com crianças sejam realizadas com brincadeiras que contemplem os vários
fatores relacionados aos acidentes, tais como: as características específicas da criança e
as circunstâncias do ambiente (físico, social e cultural) em que ela esta inserida.
5.5 Continuidade da construção da participação comunitária para prevenção de
acidentes
No tocante a continuidade do processo de construção da mobilização para a
construção da participação comunitária identificamos ser esta uma meta do Programa
de Saúde da Família (PSF), deste bairro. Entretanto, demanda novas ações de
prevenção que ultrapassem programas pontuais de informação passada à clientela
através dos profissionais da saúde e dos veículos de comunicação.
Até o final da coleta de dados, identificamos que os profissionais intensificaram
o diálogo e estreitaram o vínculo de relações com a comunidade. Venceram as
dificuldades e resistências pessoais, citadas por Briceño-León (1996). Em relação as
principais dificuldades temos a falta de tempo, pois a equipe de PSF teve que, entre
tantas outras atividades, se organizar para dispor de um horário, visando desenvolver
ações eficientes e permanentes para a prevenção de acidentes domésticos infantis. Em
relação ao horário de trabalho foram necessárias atitudes pró-ativas, tanto por parte da
pesquisadora como por parte dos profissionais da saúde porque algumas atividades
foram realizadas à noite. Além disso, percebemos que foi fundamental a autonomia da
Coordenadora do PSF ao tomar decisões internas em relação a flexibilização dos
horários das Agentes Comunitárias de Saúde. Desta forma a autonomia do
coordenador foi pertinente e indispensável para o andamento do projeto.
A continuidade e a adesão nesta proposta tornou-se desejo dos participantes
quando eles se sentiram elementos ativos capazes de contribuir socialmente. Leme
(2005) recomenda que um projeto de promoção da saúde deve levar em conta os
princípios que norteiam a ação educativa o que implica no profissional da saúde
capacitar as pessoas e a comunidade para tal.
116
A partir das reflexões, os participantes compreenderam a necessidade de
continuar a mobilização na comunidade, incluindo os adultos cuidadores da criança
neste processo. No entender de Canabarro (2003), os riscos podem ser trabalhados
através de medidas de proteção, supervisão e disciplina, devendo ser adequados ao
processo de crescimento e desenvolvimento motor, emocional, intelectual e social da
criança (CANABARRO, 2003, p. 34).
Constatamos que a equipe de saúde considera fundamental dar continuidade ao
projeto e entende ser importante agregar mais crianças, pois as ações educativas
desenvolvidas com elas podem ser extensivas às suas famílias e futuramente aos seus
descendentes. Para Topázio trabalhar com a criança nesta faixa etária é muito
importante, “elas vão para casa e contam tudo daí os pais também aprendem com
isso”. Conforme Schall (1996, p. 18), as crianças são consideradas “agentes
potenciais de transformações sociais, agindo no presente, influenciando suas famílias,
ou atuando como cidadãos que delinearão os rumos do futuro”. Esta autora salienta
que ao serem planejadas ações de educação em saúde com crianças, é fundamental
criar espaços para expressão afetiva entre os profissionais da saúde e as famílias,
passando a revelar subjetividades permitindo, assim, construírem-se como “pessoa e
indivíduo social” e, contribuindo para a busca coletiva de solução para as situações
vivenciadas em seu contexto domiciliar.
Conforme Briceño-León (1996), as pessoas agem de acordo com aquilo que
acreditam, neste caso se criança acredita que o acidente é obra do destino, nada fará na
sua vida para prevenir. Conforme Rabelo e Padilha (1998), cabe ao profissional de
saúde estimular e conduzir o ser humano a desenvolver um viver mais saudável, isto
de forma intencional, consciente e planejada. Entendemos que não basta o profissional
querer estabelecer metas de prevenção, é vital que as famílias e comunidade também
desejem isto para as suas vidas. Neste caso conhecer os hábitos de cada ser humano
pode revelar as maneiras de viver em família.
Sendo assim os participantes propõem a continuidade do projeto e a reflexão da
sua prática, enquanto prestadores de cuidados, sobre o que fazem, como fazem e que
resultados, ambos os envolvidos projetam e obtém. Seguindo esta lógica Briceño-León
(1996) diz que o profissional da saúde, enquanto educador é um agente externo ao
117
processo de mudança, cabendo a ele apenas motivar e mobilizar, mas se as pessoas não
quiserem fazer a transformação [suprimir riscos de acidentes domésticos conforme as
necessidades da criança], o profissional não poderá fazer pelas famílias.
A partir das vivências, a equipe de saúde constatou que o processo de
mobilização para construção da participação comunitária “é complexo e lento” (Rubi)
e Ametista diz “temos outras experiências que estão dando certo, temos que ter muita
calma” ou conforme Ágata “nada melhor que a gente observar bem para depois falar
com eles, às vezes eles tem muitas dificuldade, dificuldade que a gente nem sabe”.
Entretanto, salientam que este projeto representa um marco para a equipe de
saúde na concretização da prevenção de acidentes domésticos pela continuidade das
ações educativas. A construção de recursos lúdicos para as dinâmicas, o planejamento
de estratégias e a divulgação dos resultados iniciais do processo educativo, constituem
reforço positivo para a continuidade do projeto, desejo da própria comunidade,
especialmente nas oficinas que foram realizadas com os pais da escola de educação
infantil, do Bairro Santo André.
A equipe de saúde, após a análise dos resultados da PCA elaborou um plano de
ação para a prevenção de acidentes domésticos a ser desenvolvido na comunidade no
decorrer do vigente ano.
Esta proposta inclui, além da prática diária da promoção à saúde, um encontro
quinzenal da equipe de saúde com o apoio da pesquisadora para organizar as próximas
atividades, entre elas: a divulgação das atividades no Fórum Regional de Agentes de
Saúde que será realizado em uma cidade vizinha (previsto a participação de
aproximadamente 400 pessoas); a participação na Feira Municipal de Saúde; a
realização de encontros com a pesquisadora para discutir o primeiro atendimento em
caso de acidentes e, com os bombeiros da comunidade intensificar a segurança
domiciliar; pelo menos uma atividade na rua envolvendo a comunidade sobre a
temática intoxicação exógena. Também está prevista uma atividade na escola de
educação infantil, a pedido da diretora, para investigação dos riscos ambientais para a
ocorrência de acidentes escolares, tendo o apoio da pesquisadora.
No entender de Mello (1996), uma ação educativa revela e é relevada dentro de
um contexto histórico, assim, no momento em que o profissional da saúde e a família
118
tem acesso à informação, se apropriam e contribuem para a formação de cidadãos
críticos e comprometidos, capazes de transformar a realidade para a promoção da
saúde da criança. Os profissionais da saúde, também entendem que a adesão ao
processo de mobilização é um direito do ser humano, mas precisa ser assumido como
uma responsabilidade social de cada cidadão. Como diz Quartzo “tem gente que nunca
participa de nada e geralmente são as que mais precisam”, ou conforme Jaspe Rosa
“tem mãe que acha que não precisa participar porque nunca teve acidente com seus
filhos”. Neste caso a resistência para participar está associada a experiência prévia, ou
seja, se não teve acidente não preciso aprender, assim como não tenho o compromisso
de dividir o saber com os outros.
Neste percurso, a sustentabilidade da mobilização demanda identificar os
saberes e potencialidades do ser humano, aqui entendido como equipe de saúde,
família e comunidade. Aproximando-se ao pensamento de Briceño-León (1996), cabe
a equipe de saúde apenas estimular para que as famílias desenvolvam ações visando
garantir a sua própria saúde (e a da criança), tornando-as pró-ativas no processo de
prevenção. Este estímulo para a troca de saberes e desenvolvimento de potencialidades
de forma compartilhada, respeitosa e solidária, aproxima-se da fala de Ramos, Pereira
e Rocha (2001), a qual inclui ‘re-descobertas do sujeito’ sobre novas possibilidades de
cuidado às crianças e sobre o fazer e o pensar da equipe de saúde.
A continuidade desta mobilização da equipe de saúde só está sendo possível
porque os participantes desejaram de forma espontânea compartilhar necessidades,
aspirações e experiências de cuidado às crianças. Os participantes (profissionais e não
profissionais) compreenderam que mesmo as famílias sendo diferente em vários
aspectos, entre eles a situação econômica das famílias, ainda assim, os riscos
domiciliares podem ser muito semelhantes, como diz Jaspe Verde “uma família mais
rica tem uma grande piscina e uma família pobre pode ter uma piscina de plástico”.
Esta diferença social em termos de risco não é significativa porque ambas demandam
medidas sistemáticas e contínuas para a prevenção de acidentes domésticos.
Desta forma, com a continuidade do projeto será possível ampliar a compre-
ensão que cada participante tem sobre a segurança no domicílio, influenciando a toma-
da de decisão em termos de prevenção. Constatamos que as questões relacionadas à
119
prevenção estão muito ligadas aos aprendizados e vivências pessoais dos participantes,
entretanto o conhecimento herdado pelo senso comum tem maior peso e este, muitas
vezes, serve como norte para guiar a tomada de decisão. Como diz Ágata “o armário
tem que ser pesado se não a criança pode puxar em cima dela” ou conforme Quartzo
“agora eu sempre coloco uma cadeira na frente do fogão daí ele não pode se encostar
e então não se queima”. A partir da fala de Ágata, ao referir que a cadeira em frente ao
fogão pode significar uma ação efetiva de segurança, concluo que há muito a ser
problematizado para construção de novas práticas domiciliares visando desencadear o
processo de prevenção de acidentes domésticos infantis.
Evidenciamos que a continuidade do projeto possibilitará a equipe de saúde
trabalhar a prevenção a partir do senso comum. Esta naturalização do cuidado pode
persistir por gerações e esta pode ter influenciado este processo de mobilização para a
prevenção de acidentes domésticos. Para Briceño-León (1996) em um enfoque
cultural, as pessoas agem de acordo com aquilo que acreditam, logo o seu passado é
muito importante, pois o conhecimento cognitivo ou valorativo herdado ou aprendido,
pode estar atrelado a experiências passadas e ao conhecimento científico. Ambos
podem guiar as decisões atuais para a prevenção do acidente.
Os resultados desta categoria de análise geraram reflexões-ações-reflexões
sobre a questão da sustentabilidade do projeto para a prevenção de acidentes
domésticos. Os dados epidemiológicos sobre os acidentes domésticos são
indispensáveis e constituiu-se em uma ótima ferramenta para subsidiar o planejamento
das intervenções de educação e de saúde. Entretanto, todos os participantes concordam
que mobilizar implica em abdicar dos poderes individuais e abrir mão de coisas
pessoais para dividir com o outro de forma intensa e significativa. Sendo assim, é no-
tória a validação dos pressupostos de Briceño-León para mobilização da equipe de
saúde, pois os mesmos fortalecem ambas as partes (profissionais e pesquisadora). Co-
nhecer o ser humano e suas circunstâncias é algo complexo, mas facilita o desenvol-
vimento do processo de mobilização sustentável para a prevenção de acidentes.
Segundo Briceño-León (1996), para contar com o ser humano é fundamental
respeitar os princípios éticos, o qual reside no respeito pela liberdade de escolha (desde
que isto não comprometa a saúde do outro, neste caso a criança). O autor salienta
120
também que os agentes externos de mudança (aqui entendidos como a equipe de
saúde) devem envolver as pessoas e as comunidades para dar sustentabilidade as ações
educativas, caso contrário o processo será frágil, podendo ser estabelecido rejeição ou
resistências individuais ou coletivas. Desta forma, a mobilização para a construção da
participação comunitária será sustentável quando a equipe de saúde conseguir engajar
mais famílias no processo, estas com vistas ao cuidar de si e dos seus, e
principalmente, quando capacitados para tal.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo não possibilitam a generalização das descobertas.
Porém pode ser evidenciada houve mobilização da equipe do PSF (especialmente das
Agentes Comunitárias de Saúde) para a construção da participação comunitária,
visando prevenir acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos, através da
educação em saúde, tendo como base as “Sete Teses sobre Educação Sanitária para a
Participação Comunitária”, de Roberto Briceño-León. A capacitação da equipe de
saúde em relação ao fenômeno estudado, as possibilidades de continuidade do projeto,
a construção de estratégias educativas criativas e a possível replicação da mobilização
em outras comunidades, são resultados concretos desse estudo. Além disso, a
contextualização da prevenção de acidentes domésticos possibilitou produzir
conhecimentos dando significados às descobertas relacionadas à ação educativa,
diferente das demais encontradas na bibliografia.
Conforme Trentini e Paim (2004, p. 97), “toda a pesquisa do tipo convergente-
assistencial cobre duas classes de resultados em processos: a ligada ao problema de
pesquisa enfocado [Mobilização da equipe de saúde do PSF para a construção da
participação comunitária na prevenção de acidentes domésticos com crianças menores
de cinco anos]; e a ampliação do resultado em processo de modo a explicitar seus
reflexos na qualidade da assistência desenvolvida no âmbito de atuação da pesquisa
[autonomia das Agentes Comunitárias de Saúde para ações educativas em conjunto
com as famílias visando a segurança no ambiente domiciliar, tendo o apoio dos demais
membros da equipe do PSF]”. Creio que ambas as classes de resultados foram
alcançados com esse estudo.
Em relação às contribuições pessoais, na concepção desse trabalho, que se
iniciou durante a Prática-Assistencial, em maio de 2005, e que continuou nesta
pesquisa, vivi algumas dificuldades. Uma delas foi frente à opção em desenvolver
atividades educativas em saúde coletiva, área de atuação que não domino, e que, ao
mesmo tempo me instiga e me impulsiona para novas leituras e descobertas. A falta de
122
experiência prática, associada à curiosidade e ao medo do fracasso tornou a construção
dessa dissertação um desafio a ser superado.
Os momentos de ansiedade, porém, se reduziram paulatinamente, à medida que
ocorria o aumento da minha integração com a equipe do PSF e com o referencial
teórico e metodológico. A oportunidade de me apropriar de uma metodologia de
pesquisa intervenção, bem como dos pressupostos de Roberto Briceño-León me
mostraram um novo caminho e novas possibilidades para conhecer a realidade da
equipe do PSF e das famílias e praticar a enfermagem.
A experiência deste estudo influenciou a minha docência que, ao longo dos
anos esteve fundamentada em modelo tradicional de ensino, onde o
professor/profissional da saúde julga que detém o saber. De forma semelhante,
acredito que o estudo poderá influenciar outras professoras, enfermeiras de prática
assistencial e mesmo outros profissionais da saúde. Alguns aspectos do conhecimento
produzido a partir desta pesquisa estão relacionados a seguir.
O marco referencial e a metodologia utilizada contribuíram para a construção
do processo de mobilização da equipe do PSF, desencadeado a partir do
comprometimento dos participantes com o projeto e da valorização do ser humano (a
pesquisadora, as famílias e a equipe de saúde). Esta valorização possibilitou a
concretização da mobilização pela equipe de saúde, em especial quando as Agentes
Comunitárias de Saúde criaram e implementaram diferentes tecnologias educativas:
atividades em grupo, oficinas, dramatizações. O componente lúdico presente nestas
tecnologias educativas favoreceu o acolhimento dos sujeitos e de suas experiências,
tornando-se possível compartilhar saberes sobre o cuidado da criança, possibilitando
repensar e concretizar a transformação das práticas pedagógicas utilizadas na fase
inicial deste processo educativo.
Durante a caminhada rumo à mobilização da equipe do PSF, fui constatando
que o saber científico e o senso comum permearam as reflexões, assim como, o conhe-
cimento dos valores, crenças e culturas relativas à promoção da segurança domiciliar.
Evidenciamos que a capacitação da equipe do PSF para a identificação dos
riscos pessoais, ambientais e etiológicos foi desencadeada a partir de dados
epidemiológicos relativos aos acidentes domésticos, vivências pessoais e profissionais,
123
reflexões sobre a prática educativa com base no conhecimento científico e
principalmente a partir da valorização do Ser Humano.
Esta capacitação foi fundamental para atingir o segundo objetivo do estudo que
consistia em estabelecer o processo de co-responsabilização da equipe de saúde na
prevenção de acidentes domésticos. No contexto institucional identificamos que houve
co-responsabilização, revelada através do envolvimento e motivação da equipe do PSF
para o aproveitamento dos recursos disponíveis, para a produção de materiais
educativos e para a expansão da proposta. No contexto familiar os dados revelam que
a co-responsabilização está associada com a redução de custos econômicos e de
sofrimentos, podendo contribuir para a proteção da saúde da criança e melhoria da
qualidade de vida familiar.
Em relação ao terceiro objetivo evidenciamos que a equipe do PSF teve
motivação para construir estratégias educativas. Criaram uma música, uma
dramatização, uma casa simulada, uma dinâmica sobre os riscos, uma ficha de
investigação da segurança domiciliar e um folder. Estes dados revelam que para
modificar os indicadores dos acidentes domésticos uma das possíveis alternativas, seja
implementar programas participativos com promoção de reflexões junto a famílias e
comunidade, podendo gerar atitudes de segurança no espaço domiciliar, até então
ainda insuficiente para o cuidado integral da criança. Esta estratégia é contrária a
rigidez dos programas com atos somente informativos, por serem excludentes e
insuficientes, especialmente quando neles estão inscritos apenas aspectos relacionados
à incapacidade das famílias para a promoção de medidas de segurança no contexto
domiciliar.
Esta rigidez pode, de certa forma, estar afinada com os interesses dominantes,
que por sua vez desconsideram as fragilidades familiares e sociais, especialmente a
vida da mulher, enquanto mãe, cuidadora e trabalhadora exercendo seus múltiplos e
concomitantes papéis, construídos histórica e socialmente. A mulher ao exercer estes
múltiplos papéis pode estar comprometendo o cuidado à criança, especialmente, nos
momentos em que a mãe não dispõe de recursos para atender a necessidade econômica
e social da família.
Entre os acidentes domésticos relatados pelas mães (profissionais e não
124
profissionais), percebemos que na maioria das vezes ele ocorre quando a mãe está
exercendo ao mesmo tempo diferentes atividades, estas associadas aos papéis que
assume na família e na sociedade. O resultado do estudo sinaliza que a equipe de
saúde, a família e a comunidade devem ser sensíveis a realidade da criança e da
família. Entendem que a criança pode desenvolver progressivamente habilidades e
competências fundamentais para a promoção da saúde, estas são construídas na
medida em que acontecem novas relações familiares e ambientais, nelas a criança, em
ritmo pessoal, aperfeiçoa ou novas serão formadas. As habilidades e competências
podem ser estruturadas a partir daquilo que as crianças recebem dos adultos, levando
em conta as experiências familiares, a cultura, o ambiente no qual está inserida.
Em relação ao quarto objetivo do estudo, nos propomos a avaliar as estratégias
implementadas pela equipe do PSF, identificamos que é difícil quantificar os
benefícios gerados pela mobilização da equipe de saúde junto a família para a
prevenção de acidentes domésticos, tanto nos aspectos econômicos, como sociais e
emocionais, é difícil de quantificar. Entretanto, percebemos que o Ser Humano pró-
ativo busca soluções, amplia o olhar e o espaço de atuação, identifica novas demandas
e desencadeia novas ações. As discussões em grupo favoreceram para a construção do
processo reflexivo individual e coletivo. A oportunidade de expressão em grupo, com
socialização das vivências dos participantes foi possível transformar a prática
educativa e a expansão da mobilização, estabelecidas no plano de ação da equipe do
PSF. Com estes resultados esperamos que ambos, profissionais e não profissionais
tenham obtido algum benefício direto para as crianças ou indireto ao expandirem o
conhecimento para outras realidades e contextos.
Observamos que a equipe do PSF revelou estar capacitada para a prevenção de
acidentes domésticos infantis, ao entender família e criança como seres humanos
abertos para aprender e para oferecer retornos aos educadores/cuidadores,
demonstrados através da participação, em falas ou desenhos. Penso que os
aprendizados, resultantes das reflexões, estão associados às vivências das pessoas.
Então, supõe-se que a criança e a família quando bem cuidadas, ensinadas e protegidas
também tem muito mais chances de zelar pelos seus, podendo determinar no futuro
novas formas de cuidar. Por este motivo propomos que às equipes de saúde em geral
125
estejam capacitadas e motivadas para a construção da participação comunitária,
visando a prevenção de acidentes domésticos infantis, já que as crianças de hoje serão
os adultos de amanhã.
Identificamos que a equipe de saúde rompeu barreiras impostas de forma
prescritiva ou informativa e conscientizadoras, as quais visam somente modificar
hábitos e comportamentos e, incluíram a família nas atividades educativas, em prol da
saúde da criança. Neste caso, concluímos que é indispensável cada ser humano se
sentir parte do processo educativo, só assim poderá estabelecer transformações em
benefício próprio ou dos seus dependentes.
Entretanto, reconhecer a necessidade de intervenção para o cuidado da criança
podem demandar movimentos intra e extra-familiares, tanto em aspectos práticos
como políticos. Prático porque implica em ajustes ou alterações apenas de espaços
físicos do domicílio e político por ser uma questão de opção de vida do indivíduo ou
da família para o viver saudável.
Desta forma, os profissionais da saúde podem aproveitar demandas individuais
e coletivas para mobilizar e desenvolver ações educativas relativas a prevenção de aci-
dentes domésticos, utilizando diferentes tecnologias (grupos, consultas, oficinas, dra-
matizações, etc), em especial as atividades lúdicas, visando acolher as histórias de vi-
da, ajudar nos enfrentamentos, compartilhar saberes e necessidades para o cuidado da
criança, preferencialmente sistematizando as informações coletadas junto das famílias.
Vale explicitar que quando a equipe de saúde está mobilizada pode assumir o
papel de mediador no processo de prevenção de acidentes domésticos especialmente,
quando consegue desenvolver potencialidades individuais e familiares. E, a família
quando sensibilizada sobre a necessidade de segurança no ambiente domiciliar, faz
reflexões pertinentes, compartilha saberes constrói novas concepções, independente da
condição econômica e social, especialmente quando engajadas em um processo
educativo em saúde.
Diante destes resultados, restam algumas perguntas: Como fazer para que as
demais famílias chamem para si a responsabilidade pela prevenção de acidentes
(entendida como promoção da saúde)? Cabe investigar com a sociedade onde está
depositada esta responsabilidade da atenção à saúde. Será que as famílias acreditam
126
que os programas e as equipes de saúde podem dar conta de todas as necessidades de
saúde da criança e da família? Seria a falta de participação ou a falta de identificação
das potencialidades e fragilidades das famílias e comunidade que geram insatisfações
ou insucessos profissionais e sociais?
Entendendo que por mais que sejam oferecidas possibilidades de atenção à
saúde, ainda assim, não concretizaremos o sonho de “acidentes zero”, isto porque
como diz Briceño-León, saúde não é um bem comprável e não vem do macro para o
micro espaço. Para mim, prevenir acidentes ou promover saúde é algo sistêmico e vem
do indivíduo para a família e comunidade. Concordo com o autor ao dizer que cada um
deve chamar para si a responsabilidade, já que a extinção do acidente doméstico é algo
inatingível, cada um deve fazer a sua parte para suprimir ao máximo os riscos
domiciliares. Entretanto, a prevenção e a redução de acidentes tem se mostrado viável
em vários casos e situações, conforme comprovado por Johnson et al. (2001).
Por este motivo endosso o pensamento de Briceño-León (1996), ao dizer que se
a pessoa (adulto cuidador) não quer aumentar as condições de segurança domiciliar
pouco ou nada o profissional da saúde pode fazer por ele. Em suma, penso que a luta
para a prevenção de acidentes domésticos revela-se uma tarefa imperativa, constituin-
do-se em uma meta de quem cuida de crianças, tanto nas famílias como nas
instituições.
Acredito que o êxito da prevenção depende do planejamento de medidas
simples, da assimilação e aplicação da segurança domiciliar pelas famílias e
comunidades. Entre as medidas simples e corriqueiras temos a prevenção do contato
com produtos e plantas tóxicas ou a circulação livre, pela criança, em todos os espaços
do domicílio, sem a supervisão do adulto. O planejamento de uma ação educativa
demanda estratégias individuais (do cuidador), coletivas (famílias) e institucionais
(escola ou comunidade), envolvendo as diferentes esferas do sistema de saúde.
Para isto se faz necessária provisão de recursos profissionais e financeiros
indispensáveis ao atendimento domiciliar de maior efetividade. Uma ação de cuidado
integral no domicílio requer tempo do visitador, principalmente se for incrementado
um processo de prevenção participativo que leva em conta as questões relacionadas a
família e as questões relacionadas a criança. Nesta perspectiva estamos pensando na
127
criança como protagonista da prevenção, demandando novas formas de educar em
família e em saúde. O cuidado, sob esta ótica, toma a criança como parte do processo,
indo além da obrigação normatizada, passa a ser vista como uma questão de saúde
coletiva.
Por essa razão proponho, além da provisão de recursos, o monitoramento dos
casos de acidentes domésticos infantis e das fragilidades familiares, especialmente
pelo enfermeiro, utilizando estratégias educativas-investigativas, inclusive em sala de
emergência. É fundamental a co-responsabilidade do profissional de saúde para
concretizar a contra-referência dos casos de acidentes domésticos infantis, em níveis
secundários ou terciários de atenção à saúde. com essa ação será possível planejar e
implementar novas estratégias educativas para a promoção da saúde da criança.
Concluímos que a mobilização da equipe de saúde e da família é um processo
lento e complexo, pois envolve pessoas com características heterogêneas e com
diferentes papéis profissionais e sociais, mas principalmente porque educar em saúde
envolve um espaço de atuação onde todos estes profissionais transitam com suas
expectativas, subjetividades e onde os papéis de cada membro normalmente não são
pontuais ou demarcados. Penso que estes espaços de atuação não devem ser
demarcados, mas deve haver sintonia entre eles. Acredito que a falta de sintonia entre
os profissionais nos espaços comuns de atuação podem gerar situações veladas de
acordo com os significados atribuídos, podendo ser traduzidos pelas expressões: não
temos tempo, não podemos fazer tudo ou mesmo vocês também são capazes. Em
sendo assim, não podemos ignorar estes aspectos, pois incorremos o risco de sofrer
forças contrárias o que dificulta os resultados das próprias escolhas relativas ao
processo de mobilização da equipe de saúde para a educação em saúde.
Diante do exposto suponho que a adoção de uma filosofia que valorize a área de
atuação comum entre todos os profissionais torna-se condição indispensável para a
educação em saúde. Nestes espaços (visitas domiciliares, consultas, grupos
comunitários, etc) podemos oportunizar a expressão individual e coletiva, o que
possibilitaria a re-construção de conceitos, especialmente quando subsidiados por
relatos de vivências, podendo gerar reflexões e se transformarem em ações preventivas
e, que posteriormente demandam novas reflexões.
128
Em suma, este estudo aponta para novas investigações e novas intervenções
comunitárias relativas aos fatores que interferem no processo de mobilização da
equipe de saúde para a concretização da participação comunitária visando a prevenção
de acidentes domésticos. As Agentes Comunitárias de Saúde podem contribuir muito
neste processo, especialmente pela proximidade que existe entre elas e as famílias. O
estudo também sinaliza que as intervenções devem ser construídas na base da
sociedade – família, escola, unidades de saúde, igrejas, etc. E, com a continuidade dos
movimentos comunitários poderemos estabelecer o cuidado integral a criança,
deixando de ser estratégia hierarquizada e assumindo uma abordagem participativa e
co-responsável, onde as metas são estabelecidas pelos sujeitos do processo e o
profissional da saúde é apenas o mediador das discussões para o ato de prevenir
acidentes domésticos com crianças menores de cinco anos.
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APÊNDICES
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APÊNDICE A – DECLARAÇÃO ÉTICA DO PESQUISADOR
Declaração ética do Pesquisador
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FILOSOFIA, SAÚDE E SOCIEDADE MODALIDADE
INTERINSTITUCIONAL UFSC/UCS/UNIVATES/FEEVALE
Eu, Justina Inês Brunetto Verruck Acker declaro que no desenvolvimento do
projeto de pesquisa:
CONSTRUINDO A MOBILIZAÇÃO COM A EQUIPE DE
SAÚDE DA FAMÍLIA PARA A PREVENÇÃO DO ACIDENTE
DOMÉSTICO INFANTIL
, cumprirei os termos da Resolução CNS 196/96 e suas
complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados coletados exclusivamente
para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não.
Declaro, ainda, que não há conflitos de interesses entre a pesquisadora e os participantes da
pesquisa. Aceito as responsabilidades pela condução científica do projeto em questão.
Florianópolis, ......../......./.........
ASSINATURA
(Pesquisador/a Responsável/Orientador/a)
ASSINATURA
(Pesquisador/a Principal/Orientando/a)
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
A pesquisa ”CONSTRUINDO A MOBILIZAÇÃO COM A EQUIPE DE
SAÚDE PARA A PREVENIR ACIDENTE DOMÉSTICO INFANTIL” será realizada como
condição para obtenção do título de Mestre em Enfermagem, no Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, cujo objetivo principal consiste
em mobilizar a Equipe do Programa de Saúde da Família (PSF), do Bairro Santo André, no
município de Lajeado - RS, para a construção da participação comunitária, visando a
prevenção de acidentes domésticos
de crianças menores de 5 anos
, através da educação em
saúde.
Este estudo se justifica porque o tema prevenção de acidentes domésticos é uma
meta da Equipe de Saúde da Família e, principalmente, porque temos elevados índices de
acidentes domésticos em nosso município. A coleta de dados será feita mediante entrevista
coletiva, a qual será gravada, em que os profissionais da equipe do PSF serão capacitados
para identificarem os riscos de acidentes domésticos que podem ser suprimidos, visando co-
responsabilizá-los na prevenção de acidentes domésticos. Os profissionais serão estimulados
a traçarem e avaliarem a implementação de estratégias educativas para a prevenção de
acidentes domésticos.
Os dados de identificação dos informantes serão mantidos em segredo, sendo
que estes necessitarão dispor de tempo, em torno de 1 hora, para cada encontro. Acredito
que um estudo que capacite a equipe de saúde da família para a construção da participação
comunitária poderá gerar benefícios individuais e coletivos.
Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que estou
disposto a participar desta pesquisa, pois fui informada de forma clara e detalhada, livre de
qualquer forma de constrangimento e coerção dos objetivos, da justificativa, dos
procedimentos que serei submetido, dos desconfortos e benefícios todos acima listados. Fui
igualmente informado:
- da garantia de receber resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a
qualquer dúvida a cerca dos procedimentos, desconfortos e benefícios e outros assuntos
relacionados à pesquisa;
- da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do
estudo, sem que isso traga prejuízo à continuidade ao meu trabalho;
- da garantia de que não serei identificado quando da divulgação dos resultados e que as
informações obtidas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente
projeto de pesquisa;
- do compromisso de proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que esta
possa afetar minha vontade em continuar participando ;
- de que se existirem gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da pesquisa.
Este termo será assinado em duas vias, sendo que uma ficará com o participante e outra
com o pesquisador. Considerando-me livre e esclarecida consinto em participar da pesquisa,
resguardando à autora a propriedade intelectual das informações geradas, expressando a
concordância com a divulgação pública dos resultados. A enfermeira responsável por este
projeto é a mestranda Justina Inês Brunetto Verruck Acker, que está sendo desenvolvido sob
141
a orientação da Profa. Dra. Maria do Horto Cartana. Caso eu tenha dúvidas sobre esta
pesquisa posso solicitar novas orientações e ligar para Justina Acker no telefone 3710 24 98.
.
Data:_____/______/______
Nome e assinatura do participante: ______________________________
Nome e assinatura do Pesquisador: _________________________________
142
APÊNDICE C – CONVITE ÀS FAMÍLIAS PARA PARTICIPAREM DA
PESQUISA
CONVITE ÀS FAMÍLIAS
Senhor(a) familiar
A equipe de profissionais do Programa de Saúde da Família, do Bairro Santo André,
com o apoio da Justina Inês Brunetto Verruck Acker, enfermeira e professora da UNIVATES,
aluna do curso de Mestrado em Enfermagem e Saúde, da Universidade Federal de Santa
Catarina, estamos informando que o Bairro Santo André foi escolhido para ser realizada a
pesquisa integrada ao Projeto de Educação em Saúde, o qual tem por objetivo
mobilizar a
equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) para a construção da participação
comunitária, visando a prevenção de acidentes domésticos de crianças menores de 5
anos através da educação em saúde, tendo como base às “Sete Teses sobre Educação
Sanitária para a Participação Comunitária”, de Roberto Briceño-León, no bairro
Santo André, no munipio de Lajeado, RS.
Estamos convidando famílias de crianças
menores de 5 anos que estudam na escola infantil de bairro para fazerem parte do
grupo de discussão, reflexão e ação frente a prevenção de acidentes domésticos.
Nesta pesquisa além de coletar dados também serão mobilizadas os
profissionais de saúde da comunidade para identificarem riscos que podem ser
suprimidos e, posteriormente em conjunto definir estratégias de segurança domiciliar.
Sua participação é voluntária e será respeitada sua decisão, não implicando em
prejuízos pessoais ou sociais.
Ficaremos imensamente gratos com a sua presença e conto com sua
colaboração.
143
APÊNDCE D – FICHA DE INVESTIGAÇÃO DA SEGURANÇA
DOMICILIAR
Ficha de investigação da segurança domiciliar
A equipe do Programa de Saúde da Família do Bairro Santo André, com o apoio da
enfermeira, professora da UNIVATES, Justina Inês Brunetto Verruck Acker, Mestranda do
Curso de Enfermagem e Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, comunicam que
está sendo realizada um pesquisa no Bairro Santo André com o objetivo de objetivo mobilizar
a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) para a construção da participação
comunitária, visando a prevenção de acidentes domésticos de crianças menores de 5 anos
através da educação em saúde. Para isto solicitamos aos familiares que desejarem
espontaneamente participar desta pesquisa preencher esta ficha.
Através das respostas obtidas com esta ficha visamos refletir sobre a realidade
domiciliar e os resultados desta análise serão utilizados pela mestranda para escrever parte de
sua Dissertação de Mestrado. Para assegurar o sigilo e o anonimato das famílias que
preencherem a ficha solicitamos que a devolução das mesmas seja em urna existente na escola
de educação infantil.
A participação das famílias não é obrigatória, mas gostaríamos MUITO de contar com
a colaboração de todos no preenchimento desta ficha.
Estes dados só terão valor científico se as informações forem fidedignas. Para isto
basta colocar um “X” no quadradinho que se encontra em frente a cada uma das afirmativas
quando a família já executa os cuidados.
ATENÇÃO: Só coloque o “X” nos itens que você já vem executando em sua casa.
Tenho proteção em frente do fogão ou aquecedores;
O botijão de gás está fora do domicílio e a mangueira tem a validade adequada;
Não tenho fios elétricos expostos ou estão encapados e escondidos atrás do móvel;
Em minha casa não usamos tomadas duplas tipo ‘T’;
Todas as tomadas elétricas com tampas;
Todos os acendedores: velas e fósforo estão fora do alcance da criança;
Não temos cinzeiros ao alcance das crianças em nossa casa;
Os aparelhos elétricos estão fora do alcance da criança (ferro de passar roupas, etc.);
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As panelas sempre são colocadas na parte posterior do fogão ou com suas alças voltadas
para trás;
Não costumamos cozinhar segurando a criança no colo;
Não costumamos comer ou tomar líquidos quentes com a criança no colo;
Nunca deixamos garrafas térmicas com água quente ao alcance das crianças;
Os disjuntores de energia elétrica estão em local seguro e fora do alcance da criança;
Não costumamos deixar objetos espalhados pela casa;
Não costumamos deixar objetos pequenos (moedas, feijão, etc.) ao alcance das crianças;
Em nossa casa os brinquedos são armazenados em local próprio;
As camas dos bebês tem grade com espaço menor que 6 centímetros;
O berço do bebê está posicionado longe de outros móveis e mantemos as grades elevadas;
Colocamos grade ao redor de piscinas, mesmo quando de plástico;
Nunca deixamos o controle de portões eletrônicos ao alcance da criança;
Alimentos arredondados (tipo salsicha) sempre são servidos em pedaços não redondos;
Em nossa casa nunca deixamos baldes com água e sem tampa ao alcance da criança;
Sempre armazenamos substâncias tóxicas fora do alcance das crianças;
Em nossa casa não temos plantas tóxicas tipo: amor perfeito, Hera, azaléia, Coroa de Cristo,
Hortência, Lírio da Paz, Saia-Branca e outras;
As embalagens tóxicas sempre são desprezadas fora do alcance de crianças;
O armazenamento de medicamentos sempre é feito fora do alcance das crianças;
Produtos de limpeza são armazenados no recipiente original e fora do alcance das crianças;
Em nossa casa os alimentos são armazenados longe de produtos tóxicos;
Em nossa casa o consumo de fumo sempre é afastado da criança;
Em nossa casa quando usamos tapetes eles são antiderrapantes ou fixados no local;
Em nossa casa todos os espaços são bem iluminados;
Temos proteção nas escadas e grades em janelas no andar superior da casa;
Sempre fazemos uso de contenções (cinto) em cadeiras infantis para evitar quedas;
As facas, armas de fogo, tesouras, etc. são sempre armazenados fora do alcance da criança;
Os aparelhos elétricos de jardinagem são sempre armazenados fora do alcance das crianças;
Os animais domésticos são corretamente vacinados;
Quando uso balanço para a criança ele está em condição de segurança;
A circulação da criança é livre em todos os espaços em todos os espaços da casa;
Em nossa casa quem cuida da criança conhece as manobras de primeiros socorros;
Todos nós sabemos o número do telefone do Centro de Informações Toxicológicas.
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APÊNDICE E – TEXTO DA MÚSICA “A Lição do Sapeca”
A lição do Sapeca
Joãozinho é um menino brincalhão
correu, pulou
Bateu a cabeça no chão
Não escutou a mamãe
Ref: Aí, doeu, chorou, gritou, com tudo
Isso aprendeu sua lição
Pedrinho, muito sem noção.
Abriu o cofrinho
Engoliu um moedão
Onde foi parar .... No barrigão.
Ref: Aí, doeu, chorou, gritou, com tudo
Isso aprendeu sua lição
Gabriela foi na cozinha
Puxou a panela e queimou
A cabecinha
Ref: Aí, doeu, chorou, gritou, com tudo
Isso aprendeu sua lição
Maria encostou no fogão
Ele estava quente
Queimou o seu dedão
Ref: Aí, doeu, chorou, gritou, com tudo
Isso aprendeu sua lição
Claudinha, tomou o remédio
Da vózinha
E agora esta doente
E ficou com dor na barriginha
Ref: Aí, doeu, chorou, gritou, com tudo
Isso aprendeu sua lição
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APÊNDICE F – FOLDER COM ORIENTAÇÕES PARA A PREVENÇÃO
DE ACIDENTES DOMÉSTICOS
Folder com orientação prevenção de acidentes domésticos
Acidentes de
1 até 5 anos
MEDIDAS DE PREVENÇÃO
Aspiração
Manter pequenos objetos fora do alcance da criança;
Manter o local seguro onde a criança estiver;
Nunca oferecer alimentos duros, com caroços, redondos tipo: amêndoas, rodelas
ou pedaços de salsicha e pedaços de alimentos;
Não permitir correr com alimentos, pirulitos ou balas na boca
Inspecionar os brinquedos antes de oferecer a criança;
Ter cuidado com baterias, descarte em local seguro.
Sufocação
Afogamento
Manter os cuidados das idades anteriores
Trancar portões;
Ensinar medidas de segurança na água e mesmo assim supervisionar sempre a
criança.
Quedas
Manter os cuidados para as idades anteriores;
Manter grades ou telas nas janelas, trancas e maçanetas de segurança em portas;
Remover tapetes soltos;
Colocar capachos antiderrapantes no chuveiro;
Manter as grades do berço bem elevadas;
Colocar carpete em baixo do berço;
Cuidar com laços dos sapatos;
Evitar a criança sozinha no carrinho de compras do mercado;
Selecione locais e brinquedos seguros em área pública de lazer;
Intoxicação
Manter os cuidados das idades anteriores e,
Ensinar a criança à não brincar com embalagens vindas do lixo;
Não retirar rótulos da embalagem original;
Saber o número do telefone CIT.
Queimaduras
Manter os cuidados para as idades anteriores e,
Virar cabos de panelas para a porção posterior do fogão;
Acondicionar eletrodomésticos longe de seu alcance;
Guardar acendedores, fósforos e isqueiros;
Ensinar o que significa “quente”;
Veículo
motorizado
Transportar a criança e usar contenção de acordo com normas federais;
Supervisionar a criança no pátio, não permitir que brinque na calçada ou atrás de
carro;
Ensinar regras de pedestres (faixas, sinal) e usar roupas com cores vivas;
Aguardar a um pé do meio para atravessar a rua, olhar para os lados e para a
esquina entes de atravessar;
Andar na calçada em sentido contrário ao tráfego e pegar sempre a criança pela
mão;
Não colocar o assento do bebê próximo ao air-bag ou viajar com o bebê sentado
no colo;
Nunca deixar a criança sozinha dentro de carro ou atrás de carro estacionado.
Lesões
corporais
Oferecer brinquedos lisos ou arredondados e não quebráveis;
Guardar instrumentos perigosos (armas de fogo) e equipamentos de jardinagem;
Colocar móveis em frente à porta-janela de vidro;
Ensinar a criança o nome e o telefone;
Ensinar a criança a nunca acompanhar estranhos;
Ensinar a criança a dizer não quando se sentir em situação desconfortável;
Despertar o perigo em relação ao animal doméstico;
Evitar objetos pontiagudos: facas, tesouras, palito de dente.
ANEXOS
ANEXO 1 – APROVAÇÃO DO ESTUDO PELO COMITÊ DE ÉTICA E
PESQUISA COM SERES HUMANOS DA UNIVATES
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ANEXO 2 – DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO PARA A
REALIZAÇÃO DO ESTUDO PELO SECRETÁRIO MUNICIPAL DE
SAÚDE DE LAJEADO
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