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As mães portadoras do HIV têm uma escolha difícil, principalmente se viverem
em condições sócio-econômicas desfavoráveis. No Brasil, todas as puérperas com HIV
têm acesso ao leite artificial para seu filho, saem da maternidade com quatro latas de
leite artificial e, após, continuam recebendo em nível ambulatorial. Essa política é de
suma importância, pois a UNICEF calcula que para cada criança que morre por causa
do HIV através da amamentação, muitas morrem porque não são amamentadas.
Assim, assegurar que as crianças serão alimentadas adequadamente é garantir que toda
a política de prevenção da transmissão vertical seja efetiva e benéfica para o recém-
nascido (ASHWORTH, 2006).
Dessa forma, a gestante com HIV recebe orientação durante todo o pré-natal
sobre o fato de não amamentar, porém, isso causa um grande sofrimento às mulheres,
pois amamentar é inerente ao fato de ser mãe, além de ser amplamente divulgada na
mídia a importância do leite materno na nutrição da criança. Vários trabalhos foram
publicados revelando o sofrimento da mulher mãe com HIV sobre o ato de não
amamentar. Paiva e Galvão, (2004) e Santos (2004) encontraram resultados
semelhantes aos apresentados pelas gestantes/puérperas deste estudo que revelou
sentimentos de dor e padecimento, como o encontrado nestas falas:
Eu falei o tempo todo que eu não tinha leite. Mas pura mentira eu tava com
os peitos cheios! Com uns peito desse tamanho e como doía! Os
comprimidos para secar o leite que a gente ganha no hospital não adiantou,
eu tive que tirar em casa, parecia uma vaca leiteira! Eu fiquei sofrendo! O
que tinha! Latejava! E eu levantava para fazer a mamadeira e via os meus
peitos cheios eu chorava! (Amor Perfeito)
Meu Deus!! Pro meu guri, eu amamentei até os quatro ano. Sabe, daí dessa
aqui, eu não ia sabendo, né, que eu não ia podê amamentá ela, sabe, como é
que ia sê, como é que ia fica, sabe? Foi assim, pra mim o mundo tinha
acabado, o mundo tinha terminado naquele momento ali! Aí, depois eu fui
vendo que não, sabe, depois que ela veio também, né? Foi feito já o
primeiro exame nela, né? Deu que tava baixinho né? Não tá alto, ih pra vê
se ela tem mesmo e se ela não tem é só depois, né?! Só que, quando ela
nasceu, meu Deus, me assustei que eu tava cheinha de leite, sabe. E eu
assim tu sente aquela vontade, sabe, tu que dá mamá pro teu filho, tu qué
amamenta, tu qué, parecia assim que se eu não desse mamá pra ela que ela
não ia sabe que eu era a mãe dela. Eu sentia isso sabe, aí a médica dizia pra
mim tu tem que dá mamá pra ela, quando tu for dá na mamadeirinha, né,
bota ela bem pertinho do teu peito, né, que daí ela vai, vai sê a mesma coisa,
só que eu não achava assim, não achava que se eu desse mamá na
mamadeira pra ela, ela ia acha que eu não fosse a mãe dela sabe, fosse
qualquer uma pessoa, né, e não. (Tulipa)