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DANIELA DE ALMEIDA MARTINS
ESTRESSE OCUPACIONAL E QUALIDADE DE VIDA EM
TRABALHADORES DE MANUTENÇÃO DE AERONAVES DE
UMA INSTITUIÇÃO MILITAR BRASILEIRA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
CAMPO GRANDE/MS
2005
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ii
DANIELA DE ALMEIDA MARTINS
ESTRESSE OCUPACIONAL E QUALIDADE DE VIDA EM
TRABALHADORES DE MANUTENÇÃO DE AERONAVES DE
UMA INSTITUIÇÃO MILITAR BRASILEIRA
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco, como exigência parcial
para obtenção do Título de Mestre em Psicologia
Área de Concentração: Comportamento Social
e Psicologia da Saúde, sob a orientação da
Profa. Dra. Liliana Andolpho Magalhães
Guimarães.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
CAMPO GRANDE/MS
2005
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iii
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Liliana Andolpho Magalhães Guimarães (UCDB) Orientadora
Prof. Dr. Dorgival Caetano (UNICAMP)
Profa. Dra. Sonia Grubits (UCDB)
iv
Dedico esse trabalho à minha
família:
Laerte, Selma, Mi, Lannes,
e a nossa alegria de todos
os dias, Frederico .
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço profundamente
Aos meus pais, pelo amor, pelo exemplo, pela compreensão e pelo apoio constantes,
sempre ao meu lado, incansáveis;
À Mi, minha irmã querida, amiga de todas as horas, parceira para tudo, meu porto
seguro, que nos deu o presente mais iluminado da vida: Frederico;
Ao querido Lannes, irmão que ganhei, pela amizade e carinho constantes;
A minha orientadora e amiga, Profa. Dra. Liliana Guimarães, pelo exemplo de mulher
e de profissional que é, que me apoiou desde sempre, com palavras amigas, sábias e
carinhosas, por ter acreditado e por me fazer acreditar que sempre é possível ir além;
A querida amiga Inalda, pela companhia “impagável”, pelo incentivo e pela alegria
com que compartilhou comigo as famosas “15 horas” de viagem, sua força e amizade foram
fundamentais;
A UCDB, ao mestrado de Psicologia, aos professores, funcionários e colegas de
turma, por todo o apoio e acolhimento que recebi;
Ao CTA e a toda a equipe de manutenção de aeronaves que aceitou participar e
cooperar com essa pesquisa obrigado pelo apoio e pela oportunidade;
Aos amigos do Laboratório de Saúde Mental e Trabalho, pessoas especiais e
companheiras que dividem comigo esse espaço privilegiado para partilhar experiências,
conquistas e alegrias;
Ao amigo querido Léo da Vinci, médico do trabalho e piloto, por todo o incentivo e
carinho, iluminando meus primeiros passos nesse mundo apaixonante da aviação;
Ao comandante e piloto Ruy Lange, querido amigo, que com toda a paciência e
generosidade dividiu comigo seu conhecimento profundo e, acima de tudo, sua paixão por
voar;
Ao meu irmãozinho Dri, companheiro de todas as horas, pela amizade e estímulo
constante;
Aos amigos e familiares do meu coração, perdoem a ausência durante o período de
“gestação” dessa dissertação. Obrigado pela torcida, pela amizade e pelas palavras
carinhosas nos momentos difíceis.
vi
RESUMO
vii
MARTINS, Daniela de Almeida. Estresse Ocupacional e Qualidade de Vida de
trabalhadores de manutenção de aeronaves de uma instituição militar
brasileira. Campo Grande/MS, 2005, 232p. Dissertação de Mestrado
Mestrado em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
Inexistem estudos similares na literatura nacional e internacional avaliando Estresse
Ocupacional e Qualidade de Vida de trabalhadores de manutenção de aeronaves.
Essa atividade exige um alto nível de competência, não admite erros e demanda
uma importante carga física e mental de trabalho (DAC, 1996; FAA, 2002). Dentre os
riscos ocupacionais inerentes à profissão destacam-se: trabalho em espaços
restritos, riscos atmosféricos; riscos físicos e carga mental. Através do estudo
exploratório-descritivo, desenvolvido em uma única etapa, no setor de manutenção
de aeronaves de uma instituição militar brasileira, objetivou-se a caracterização dos
aspectos sócio-demográficos, a avaliação do estresse ocupacional e da qualidade
de vida, comparando e correlacionando os resultados. Dos 93 funcionários, 82 (n =
82; 88,1%) participaram da aplicação dos questionários ERI Desequilíbrio entre
Esforço e Recompensa no Trabalho (SIEGRIST, 1999) e do Questionário de
Qualidade de Vida WHOQOL - Bref. (FLECK et al., 1999). Foram utilizados:
análise de variância (ANOVA), teste de proporções, teste t de Student, e regressão
linear múltipla. A ANOVA dos domínios do WHOQOL-Bref evidenciou que a média
do domínio Meio Ambiente (12,4) foi significativamente inferior a dos demais
domínios de QV (p < 0,05). Quanto ao ERI, 55 sujeitos (67%) apresentaram
equilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho (ERI-) e 27 (33%) apresentaram
desequilíbrio nessa relação (ERI+) (p = 0,00), indicando presença de estresse
ocupacional; 8 (10%) apresentaram Supercomprometimento, enquanto 74 (90%) não
o apresentaram (p = 0,00). Não foram obtidas associações significativas entre as
variáveis sócio-demográficas, de um lado, e os domínios de QV e o fator
desequilíbrio no ERI, de outro (p>0,05). O fator Supercomprometimento (SC)
apresentou associação significativa com a variável renda (p = 0,05). As sub-escalas
de SC apresentaram associações significativas com as variáveis sócio-
demográficas: competitividade e horas semanais de trabalho (p=0,01); irritabilidade
desproporcional e renda (p = 0,02); dificuldade de se desligar do trabalho (DDT) e
renda (p = 0,01); DDT e idade (p = 0,00); DDT e tipo de cargo (p = 0,01); DDT e
trabalho em turnos (p = 0,02). A regressão linear múltipla entre QV e ERI revelou
que os domínios de QV foram responsáveis por 33,9% da variância do ERI e que
apenas os domínios Meio Ambiente (DMA) (ß =-0,044) e Físico (DF) (ß =-0,054)
contribuíram significativamente para a variância explicada (p < 0,05). Tomando-se o
ERI como variável preditora de cada domínio de QV, observa-se que o mesmo foi
responsável por 28,3% da variância do DF e por 24,7% da variância do DMA. Os
achados sugerem que a percepção inferior de QV está mais relacionada às
características do ambiente de trabalho do que às características do trabalhador, o
que permite concluir que condições organizacionais desfavoráveis exercem pressão
sobre o trabalhador de manutenção de aeronaves militares e, quando sua energia
adaptativa se exaure, podem ocorrer os erros que colocam em risco a segurança de
vôo.
Palavras-chave: estresse ocupacional; qualidade de vida; manutenção de
aeronaves; fator humano; psicologia da saúde ocupacional.
viii
ABSTRACT
ix
MARTINS, Daniela de Almeida. Work Stress and Quality of Life of the aircraft
maintenance personnel from a Brazilian military institution. Campo Grande/MS,
2005, 232p. Dissertation submitted for Master’s Degree in Psychology at Dom
Bosco Catholic University (UCDB).
There is no evidence of national or international studies assessing work stress (WS)
and quality of life (QOL) of the aircraft maintenance personnel. The aircraft
maintenance system is a complex one, requires a high level of competency, is
intolerant to errors, and is characterized by high levels of mental workloads (DAC,
1996; FAA, 2002). Its hazards are associated with working in confined spaces, being
exposed to air contaminants, physical demands and mental pressure. In a cross-
sectional study designed to describe the sociodemographic characteristics and to
assess the prevalence of work stress and quality of life from 93 aircraft maintenance
workers from a Brazilian military institution, two questionnaires (ERI - Effort-Reward
Imbalance and the WHOQOL-Bref) were administered to 82 (88,1%) of them. The
responses were subjected to analysis of variance (ANOVA), proportion tests,
Student's t-test and multiple linear regressions. The WHOQOL-Bref showed that the
Environment Domain (mean=12,4) was found to be significantly lower than the others
domains (p < 0,05) of QOL. The prevalence of ERI was 33% (n = 55) (p = 0,00),
suggesting the occurrence of work stress. The prevalence of Overcommitment (OC)
was 10% (n = 8) (p = 0,00). On the one hand, sociodemographic characteristics were
not significantly associated with WHOQOL-Bref and ERI (p>0,05). On the other hand,
OC was significantly associated with income (p=0,05). The OC’s scales were
significantly associated with sociodemographic characteristics as follows:
competitiveness and working hours per week (p=0,01); latent hostility and income
(p=0,02); inability to withdrawal from work (IWW) and income (p=0,01); IWW and age
(p=0,00); IWW and level of occupation (p=0,01); IWW and work shift (p=0,02).
Through the Multiple linear regressions between QOL and ERI, QOL domains
accounted for 33,9% of the variance of ERI, which is explained significantly (p<0,05)
by the QOL Physical Health domain (PHD) (ß=-0,05) and by the Environment domain
(ED) (ß=-0,044). On the other hand, ERI accounted for 28,3% of the variance of the
PHD and 24,7% of the variance of the ED. These findings suggest that the
perception of QOL is mostly related to the organizational variables than the worker’s
individual characteristics. In closing, unfavorable organizational conditions place
pressure on the military aircraft maintenance worker and when his adaptive energy
begins to succumb to these pressures, errors may occur, becoming an important risk
factor for the flight safety.
Key-words: work stress; quality of life; aircraft maintenance; human factors;
occupational health psychology.
x
LISTA DE FIGURAS
pág.
FIGURA 1 Modelo ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no
Trabalho........................................................................................
42
FIGURA 2 Distribuição da frota de aeronaves e das empresas aéreas
comerciais na América Latina.......................................................
59
FIGURA 3 Distribuição da frota mundial de aeronaves ativas em 2003......... 89
FIGURA 4 Idade média da frota militar mundial............................................. 91
FIGURA 5 Causas dos acidentes e incidentes aéreos................................... 95
FIGURA 6 Representação gráfica do modelo SHELL. .................................. 107
FIGURA 7 O modelo do “queijo suíço” de Reason......................................... 112
xi
LISTA DE TABELAS
pág.
TABELA 1 - Artigos encontrados na área da Saúde Ocupacional relacionados
aos trabalhadores de manutenção aeronáutica...............................
127
TABELA 2 Artigos encontrados na área de Fatores Humanos relacionados
aos trabalhadores de manutenção aeronáutica...............................
127
TABELA 3 Distribuição de freqüências e porcentagens para as variáveis
sócio-demográficas dos trabalhadores do setor de manutenção de
aeronaves (N = 82)..................................................................... 157
TABELA 4 ANOVA dos domínios do WHOQOL-Bref (N=82) em
trabalhadores do setor de manutenção de aeronaves.....................
159
TABELA 5 Correlação linear de Pearson entre os domínios do WHOQOL-
Bref (N=82) ......................................................................................
159
TABELA 6 ANOVA comparando a amostra com 3 diferentes grupos
ocupacionais utilizando o WHOQOL-Bref ....................................... 160
TABELA 7 Distribuição da freqüência de ERI- e ERI+ e presença de
supercomprometimento nos trabalhadores de manutenção de
aeronaves........................................................................................
161
TABELA 8 Correlação linear de Pearson entre os Fatores do ERI................... 161
TABELA 9 Classificação das questões mais referidas sobre Esforço para
os grupo ERI- e ERI+, quanto ao grau de incomodo
(“muito” e “muitíssimo”) (N=82)....................................................... 162
TABELA 10 Classificação das questões mais referidas sobre Recompensa
(falta de) para os grupo ERI- e ERI+, quanto ao grau de
incomodo (“muito” e “muitíssimo”) (N=82).......................................
163
TABELA 11 Distribuição das médias e desvio padrão para o fator
Supercomprometimento e suas sub-escalas, comparando os
resultados entre os grupos com ERI- e ERI+ (N = 82)....................
164
TABELA 12 Comparação das proporções obtidas no estudo com dados
normativos de 2 diferentes categorias ocupacionais da validação
brasileira do ERI (teste de uma proporção).....................................
165
xii
TABELA 13 Comparação das médias e Alpha de Cronbach para Esforço (E),
Recompensa (R) no trabalho e Supercomprometimento entre a
amostra de estudo com 2 outras categorias ocupacionais ............
165
TABELA 14 Resumo das comparações realizadas através da ANOVA e do
Teste t de Student para as variáveis sócio-demográficas, de QV
e do ERI..........................................................................................
166
TABELA 15 Regressão linear múltipla dos domínios do WHOQOL-Bref
sobre o ERI....................................................................................
168
TABELA 16 Regressão linear múltipla dos múltipla dos domínios do
WHOQOL-Bref sobre a variável SUPERCOMPROMETIMENTO..
168
TABELA 17 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Físico.......................................................
169
TABELA 18 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Psicológico..............................................
169
TABELA 19 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Relações Sociais.....................................
170
TABELA 20 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Meio Ambiente.........................................
170
TABELA 21 Regressão linear múltipla da variável preditora
SUPERCOMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV
Domínio Físico...............................................................................
171
TABELA 22 Regressão linear múltipla da variável preditora
SUPERCOMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV
Domínio Psicológico.......................................................................
171
TABELA 23 Regressão linear múltipla da variável preditora
SUPERCOMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV
Domínio Relações Sociais.............................................................
172
TABELA 25 Regressão linear múltipla da variável preditora
SUPERCOMPROMETIM
ENTO e a variável regressora de QV
Domínio Ambiente..........................................................................
172
xiii
Lista de Quadros
Pág.
QUADRO 1 Descrição geral da função e do procedimento de inspeção............ 87
I
INTRODUÇÃO
2
O presente estudo aborda os fatores de risco psicossocial do trabalho de
manutenção de aeronaves de uma instituição militar brasileira e o impacto na saúde
mental e na qualidade de vida de seus trabalhadores. Seu início ocorreu a partir do
contato estabelecido pela instituição estudada com o Laboratório de Saúde Mental e
Trabalho (LSMT), vinculado à Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, do qual
faço parte desde sua fundação, em 1997.
Através do contato com o livro “Série Saúde Mental e Trabalho vol. 1”, editado
pela Casa do Psicólogo em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco
(UCDB), organizado pelas Profas. Liliana A. M. Guimarães, orientadora dessa
dissertação, e Sonia Grubits, coordenadora do Mestrado em Psicologia da UCDB, as
psicólogas da Divisão de Saúde desta instituição militar buscaram auxílio de
pesquisadores do LSMT, dado que, num período de cerca de seis meses, trinta
funcionários do setor de manutenção de aeronaves da empresa (que tem um total
de 93 funcionários) foram atendidos pelo serviço de psicologia. Alguns desses
funcionários buscaram o serviço espontaneamente, mas muitos foram
encaminhados para atendimento psicológico por diferentes especialidades médicas,
sobretudo a clínica médica, a cardiologia e a pneumologia.
De acordo com os relatos, os funcionários atendidos apresentavam queixas
físicas (palpitação, insônia, falta de ar, gastrite), queixas psíquicas (ansiedade,
depressão, fobias, irritabilidade, ideações suicidas, agressividade), e queixas
relacionadas ao trabalho (atitudes inadequadas das chefias, pressão de tempo,
aumento de trabalho).
Com esses dados, as psicólogas da instituição militar perceberam a
necessidade de realizar um diagnóstico da situação de trabalho para poderem
compreender os possíveis motivos para esse aparente “adoecimento” em massa.
Por fazerem parte do “staff” da empresa, não se sentiam tendo a capacitação, a
objetividade e a neutralidade necessárias para uma visibilidade adequada da
situação. Por consenso entre o grupo, procuraram auxílio externo à empresa, para o
adequado diagnóstico da situação.
Por já haver participado anteriormente de várias pesquisas na área da Saúde
Mental e Trabalho, como assistente da Profa. Liliana, acreditei ser essa uma
oportunidade valiosa para desenvolver uma investigação que pudesse trazer à luz
3
aspectos que vinham sendo estudados, em nosso grupo de pesquisa, acerca da
Saúde Mental, do Estresse Ocupacional e da Qualidade de Vida no Trabalho, ao
mesmo tempo em que poderia proporcionar uma contribuição prática para um
contexto laboral até então desconhecido para mim, ainda pouco estudado, e que
necessitava de uma ação emergencial, tendo em vista as queixas apresentadas e a
gravidade dos riscos envolvidos para a saúde dos trabalhadores e para a segurança
de vôo.
A partir desse contexto, o presente estudo foi gerado, tendo percorrido uma
longa trajetória até sua finalização. Como o LSMT já vinha estudando de maneira
frutífera o campo da Saúde Mental e Trabalho, tendo publicado três livros sobre o
assunto e vários artigos, o conhecimento até então dos temas abordados sugeria
que a investigação do Estresse Ocupacional e da Qualidade de Vida na equipe de
manutenção aeronáutica poderia contribuir para uma compreensão dos fatores
psicossociais do trabalho capazes de interferir na saúde mental dessa categoria
ocupacional.
De forma convergente, ao se estabelecer o design deste estudo, optou-se por
verificar a adequação, para os objetivos pretendidos, do Questionário ERI (Effort-
Reward Imbalance), baseado no modelo de mesmo nome, que viria a ser validado
para uso no Brasil pela Profa. Liliana e colaboradores, simultaneamente à realização
desta investigação. Concluiu-se que o mesmo mostrava-se adequado, sobretudo,
por suas premissas teóricas e por suas características psicométricas.
O modelo ERI tem o seguinte paradigma central: as experiências
cronicamente estressantes são o resultado de um desequilíbrio entre alto esforço
intrínseco e baixa recompensa extrínseca, somados a um alto nível pessoal de
“supercomprometimento”, caracterizado por um estado prolongado de investimento
ativo de energia adaptativa” (SIEGRIST, 1996). Acrescente-se que várias pesquisas
apontam que o desequilíbrio prolongado entre esforços e recompensas que o
trabalhador vivencia na sua situação de trabalho pode ser um fator de risco
substancial para doença cardiovascular, problemas gastrintestinais e ósteo-
musculares, transtornos mentais e percepção subjetiva da saúde (SIEGRIST, 1996;
2001; STEENLAND et al., 2000; SIEGRIST et al., 2004), sendo um preditor
significativo de saúde precária tanto para homens quanto para mulheres
(NIEDHAMMER et al., 2004).
4
As propriedades psicométricas do modelo foram investigadas por Siegrist et
al. (2004) utilizando dados comparativos de estudos epidemiológicos desenvolvidos
em cinco países (Bélgica, França, Suécia, Reino Unido e Alemanha). A consistência
interna das escalas foi satisfatória em todas as amostras e a estrutura fatorial foi
consistentemente confirmada, encontrando-se um odds ratio significativamente
elevado relacionado à saúde precária em trabalhadores que apresentaram altos
escores na escala de desequilíbrio, indicando ser o modelo ERI uma medida
psicométrica adequada para avaliar estresse ocupacional. A validação brasileira,
também apresentou altos níveis de confiabilidade, apresentando os seguintes Alfas
de Cronbach: 0,71, para Esforço, 0,84, para Recompensa e 0,68, para a escala de
Supercomprometimento.
Para avaliar a Qualidade de Vida (QV), escolheu-se o questionário WHOQOL-
Bref, desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (WHOQOL GROUP, 1998),
que aborda a QV em quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio
Ambiente. Optou-se por esse instrumento em função das propriedades
psicométricas obtidas na validação brasileira (FLECK, 2000), da facilidade de
compreensão e da rapidez de aplicação. Buscou-se, assim, descrever as
repercussões do ERI na QV dos trabalhadores da amostra desse estudo.
A opção por utilizar dois instrumentos se justifica, dado que a literatura refere
que a combinação de medidas que avaliem o sentimento de bem-estar acerca do
equilíbrio entre as demandas do trabalho e os recursos psicológicos, organizacionais
e relacionais de que o trabalhador dispõe para enfrentar essas demandas permite
viabilizar uma maior capacidade estratégica, gerencial e operacional para questões
de qualidade de vida no trabalho (CORTÉS RUBIO, 2003; LIMONGI FRANÇA,
2004).
Com o referencial teórico/conceitual escolhido, bem como os instrumentos de
pesquisa, realizou-se as primeiras buscas na literatura científica sobre o trabalho
com equipes de manutenção de aeronaves na área da saúde do trabalhador,
constatando-se uma carência importante de estudos com este grupo ocupacional.
Um levantamento bibliográfico nas bases de dados nacionais e internacIonais,
mostrou diversos estudos investigando a saúde mental ocupacional dos aeronautas
(pilotos e comissários) e de controladores de tráfego aéreo. Entretanto, a literatura
relacionada especificamente com o trabalho de manutenção de aeronaves
5
apresentou-se num número visivelmente menor, sendo encontrados ao todo noventa
e nove (99) artigos na literatura internacional abrangendo assuntos diversos, tais
como prevenção de acidentes, o gerenciamento do erro de manutenção, riscos
ocupacionais, entre outros. Na literatura nacional, no entanto, não foram
encontrados estudos que abordem esta categoria ocupacional nas áreas da Saúde
Mental e da Qualidade de Vida.
Apenas seis (6) estudos foram encontrados relacionados especificamente à
saúde mental dos trabalhadores de manutenção de aeronaves, reforçando a
importância de se desenvolver mais pesquisas voltadas a esse tipo de atividade
laboral. Essa busca foi ampliada por referências complementares em outros campos
do conhecimento para que fosse possível conhecer de maneira mais aprofundada os
demais fatores envolvidos no trabalho do grupo ocupacional estudado.
Inicialmente se procurou contextualizar como a aviação civil e, em especial, a
militar, se comportam frente aos desafios dos tempos atuais. É notório que na
aviação, tanto civil quanto militar, observa-se de maneira privilegiada a busca por
maior produtividade e qualidade nos serviços, principalmente num contexto marcado
pelo congestionado movimento aéreo nas grandes metrópoles, por uma intensa
competitividade, pelos constantes avanços tecnológicos, pelo impacto econômico e
psicológico dos atentados terroristas iniciados em 2001 e pela busca constante da
supremacia militar, principalmente em tempos de conflitos e de guerras.
Entretanto, no transporte aéreo o risco de acidentes é parte integrante do
conteúdo do trabalho. Essa vulnerabilidade permeia as relações na aviação,
passando a ser um eixo fundamental de investigação e de análise das causas dos
acidentes aéreos.
No caso da aviação militar, deve-se acrescentar que a presença do risco é
uma condição inerente ao trabalho e à formação militar. Segundo Bray et al. (2001;
2003), os militares de ambos os sexos estão expostos a uma ampla variedade de
eventos estressores que são parte do próprio treinamento e das atividades de
trabalho e podem afetar não só o militar na ativa, como também sua família e
amigos.
6
Além disso, deve-se considerar também os aspectos da cultura e dos valores
militares que permeiam as relações interpessoais e de trabalho, baseados em
conceitos como a hierarquia, a higidez, a lealdade e a autoridade, que apresentam
importante associação com os ambientes e as relações de trabalho, que são locus
de estresse que podem afetar a qualidade de vida e a capacidade dos militares
desempenharem adequadamente suas tarefas (BRAY et al., 2001).
Isso mostra a grande relevância para a segurança de vôo e a investigação de
acidentes aéreos do campo de estudos denominado Fator Humano.
Na aviação, o Fator Humano é identificado como a principal causa das
catástrofes aéreas (FERREYRA; DEL VALLE, 2000; PALMA, 2002; DAC, 2004). Em
concordância com tal afirmação, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes
Aeronáuticos (CENIPA, 2003) acrescenta que:
[...] a ”ponta de lança” em qualquer atividade aeronáutica ainda é o
elemento humano, independentemente dos avanços tecnológicos
obtidos. (...) Dentre todos os aspectos que envolvem o sistema
complexo do mundo aeronáutico, o homem ainda é o grande "vilão",
responsável pelo sucesso ou insucesso desta atividade. Seja no
desenvolvimento, operação ou manutenção da máquina, nos
serviços oferecidos a bordo, ou no controle do tráfego, a relação
entre os profissionais que permeiam estas atividades tem participado
ativamente como um dos fatores contribuintes para a ocorrência de
inúmeros acidentes aeronáuticos” (CENIPA, 2003).
De acordo com a International Civil Aviation Organization (ICAO, 2003), o
conceito de Fatores Humanos refere-se ao estudo da interação humana em suas
situações de trabalho e de vida: a interação das pessoas com as máquinas e os
equipamentos utilizados, com os procedimentos escritos e verbais, com as regras
que devem ser seguidas, com as condições atmosféricas ao seu redor e com as
interações com as outras pessoas que influenciam no comportamento no trabalho de
maneira a poder afetar a saúde e a segurança, transformando-se numa ciência
multidisciplinar por natureza.
É a partir das contribuições e do desenvolvimento do conceito de Fatores
Humanos que passou a se expandir em toda a aviação uma atenção especial aos
7
aspectos organizacionais, relacionais e individuais que permeiam as atividades dos
aeronautas. O foco inicial das pesquisas era voltado ao trabalho dos pilotos,
passando posteriormente para o dos comissários, o dos controladores de tráfego
aéreo e só nos últimos 5 anos se encontram estudos voltados aos trabalhadores de
manutenção de aeronaves.
Na indústria aeronáutica, sempre que as causas prováveis de um acidente
aéreo são listadas, as deficiências associadas ao sistema de manutenção ocupam,
invariavelmente, um lugar proeminente (FOGARTY; SAUNDERS; COLLYER, 1999).
Entretanto, para a Federal Aviation Association (FAA, 2002), a atenção dada para os
problemas relacionados à manutenção de aeronaves tem sido insuficiente.
Graeber e Marx (1994) referem que 12% dos acidentes ocorrem em função
de falhas de manutenção e inspeção e cerca de um terço dos funcionamentos
defeituosos podem ser atribuídos a deficiências de manutenção. Além do impacto na
segurança de vôo, a falta de eficiência nessas atividades também pode ser
relacionada a atrasos nos vôos, danos em solo e outros fatores que influenciam
diretamente nos custos e na viabilidade do negócio.
No caso específico da manutenção de aeronaves militares, deve-se
considerar a idade da frota como sendo um importante fator de risco, já que tende a
ser mais antiga e a ter menor chance de reposição do que a da aviação comercial
(JACKMAN, 2005). Além disso, os gastos com as aeronaves militares são maiores
do que os da aviação comercial, assim como é maior a sua a frota mundial,
constituída por aviões de guerra, de transporte de carga, de serviços, de
treinamento, aviões-tanque, de missões especiais e helicópteros.
Nessa dissertação foram formuladas as seguintes questões: quais serão os
fatores ligados ao trabalho de manutenção de aeronaves militares que protegem ou
colocam em risco a saúde física e mental do trabalhador? Quais serão os fatores
intrínsecos do trabalhador que podem ser determinantes no seu (não) adoecimento
sob condições de trabalho específicas? E como isso interfere no seu trabalho e na
sua qualidade de vida? E a cultura militar, como interfere no adoecimento do
trabalhador? E os fatores sócio-demográficos, como e em que medida, interferem
nessa relação?
8
Assim, embora a presente investigação se dê com a categoria profissional
dos trabalhadores militares de manutenção de aeronaves militares, pretende-se
que os achados desse estudo possam contribuir para uma maior visibilidade dos
fatores psicossociais de risco presentes na atividade de manutenção aeronáutica
militar, para o campo da Segurança e Prevenção de acidentes aéreos e para o
campo da Psicologia da Saúde Ocupacional (PSO).
Essa dissertação está dividida em 7 seções: a primeira delas contém uma
introdução que descreve o contexto em que se iniciou esse estudo, ressaltando sua
importância.
A segunda versa sobre o referencial teórico que fundamentou o presente
estudo e está dividida em quatro capítulos. O capítulo 1 aborda as mudanças no
universo laboral e seu impacto na saúde do trabalhador. São apresentados os
principais conceitos, definições e abrangências relacionados à saúde ocupacional, à
saúde mental no trabalho e os modelos de estresse ocupacional. É apresentado,
então, o modelo ERI, utilizado nesse estudo, seguido de considerações acerca da
Qualidade de Vida e da Qualidade de Vida no Trabalho.
O capítulo 2 aborda a Atividade Aeronáutica e o Trabalho de Manutenção de
Aeronaves e são apresentados os principais aspectos da atividade aeronáutica, o
atual contexto mundial e brasileiro, a aviação militar no Brasil, seus valores e
normas, finalizando com o trabalho de manutenção de aeronaves e a segurança de
vôo.
O capítulo 3 apresenta de maneira abrangente o conceito de Fatores
Humanos e são apresentados um breve histórico, principais conceitos e modelos,
finalizando com os treinamentos CRM (Crew Resource Management).
O capítulo 4 busca tecer/construir a interface entre os conceitos de Saúde
Mental, Fator Humano e Trabalho enfocando a literatura científica nacional e
internacional em relação aos esses aspectos voltados especificamente para esta
categoria ocupacional.
A terceira seção traz a pesquisa de campo e o contexto onde ela foi realizada,
as hipóteses do trabalho e os objetivos estabelecidos. A quarta descreve a
9
casuística e o método de investigação, apresentando a população estudada, os
recursos humanos e materiais utilizados, os instrumentos de pesquisa, os
procedimentos realizados, os aspectos éticos e a análise e processamento dos
dados coletados.
A quinta seção descreve os resultados obtidos, evidenciando-se os achados
estatisticamente significativos. A sexta apresenta a discussão dos resultados,
comparando-os aos encontrados na literatura nacional e internacional. Finalmente,
na seção sete são apresentadas as conclusões obtidas e as considerações finais,
que incluem sugestões para a atividade de manutenção de aeronaves e para os
futuros estudos na área.
Capítulo 1
AS MUDANÇAS NO UNIVERSO LABORAL E SUAS
REPERCUSSÕES NA SAÚDE MENTAL E
NA QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR
12
"A não ser que se consiga fazer com que as
sociedades se tornem mais igualitárias e que a
economia global seja mais inclusiva, poucos
conseguirão alcançar segurança econômica ou o
trabalho decente”
Juan Somavia (ILO, 2004)
13
1.1. As mudanças no universo laboral
1.1.1. União Européia, Estados Unidos e Japão
Na atualidade, o universo do trabalho apresenta uma complexidade singular:
como uma marca simbólica da globalização, a natureza mutante do trabalho se
apresenta numa velocidade cada vez mais acelerada, tornando-se imprescindível
adequar máquinas, papéis, contratos, produtos, leis, sociedade, educação,
economia, cultura e o homem moderno, inserido nessa especificidade dos tempos
atuais (BAKER; SCHNALL, 2004).
Cabe acrescentar que hoje a força de trabalho mundial tem cerca de 3 bilhões
de trabalhadores, sendo que destes, dois bilhões se encontram em regiões de
menor desenvolvimento e recebem salários que não chegam à metade dos
rendimentos dos países ricos (OLIVEIRA, 2005). Conseqüentemente, essas
diferenças entre realidades sócio-econômico-culturais tão distintas repercutem de
maneira importante em um universo laboral globalizado.
O National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH, 2002) refere
que os países industrializados vêm testemunhando profundas mudanças na
organização do trabalho, fortemente influenciado por fatores macroeconômicos,
tecnológicos, legais e políticos, entre outros.
Conseqüentemente, as práticas organizacionais vêem se transformando
drasticamente nessa “nova economia” que busca o melhor resultado ao menor custo
possível. Para competir de maneira mais eficaz, grandes empresas se
reestruturaram através de processos de downsizing
1
e da terceirização de seus
funcionários. Ao mesmo tempo, vêm aumentando práticas menos tradicionais de
contrato de emprego, como o trabalho temporário ou por empreitada.
Para o NIOSH (2002), a rubrica “sistemas de trabalho de alta performance”
tem sido utilizada para descrever e justificar muitas dessas novas práticas
organizacionais, como as estruturas de gerenciamento novas e mais achatadas, que
resultam na transferência descendente da responsabilidade de gerenciamento e no
1
É o enxugamento de pessoal, delegando maior responsabilidade a gerentes e funcionários de níveis
mais baixos com a finalidade de redução de custos ou racionalização de atividades.
14
controle descentralizado, a implementação de tecnologias de produção “enxuta” e
mais flexível, como a produção just-in-time
2
.
Donkin (2003) ressalta que essas mudanças vêm resultando numa variedade
de circunstâncias potencialmente estressantes e perigosas, como a terceirização, a
redução da estabilidade no emprego e o aumento da carga de trabalho,
acrescentando que a infra-estrutura na qual se trabalha hoje não se ajustou
totalmente à revolução tecnológica e imprimiu uma pressão excessiva na vida
profissional das pessoas.
Para Guimarães e Freire (2004), quando se aborda as inúmeras
transformações laborais vividas recentemente, deve-se considerar três aspectos
fundamentais que apresentam relevante impacto à saúde: os avanços tecnológicos,
as novas jornadas de trabalho e as condições macroeconômicas globais. Acerca dos
avanços tecnológicos, as mesmas autoras colocam que a automatização, a
incorporação da tecnologia de informação e a desmaterialização da produção
geraram novas exigências físicas e psico-mentais para os trabalhadores. Se por um
lado produziram efeitos de alívio, por outro geraram novas situações estressantes.
Landbergis (2004) ressalta que, quanto às novas jornadas de trabalho, vem
ocorrendo uma importante diferença nas horas anuais trabalhadas em vários países.
Se em países europeus e no Japão as mesmas vêm se reduzindo ao longo dos
últimos 20 anos, nos EUA, no entanto, elas vêm sofrendo um aumento de mais de
10%, sendo 5,5% para os homens, e 18% para as mulheres. Essa diferença se deve
ao fato de, atualmente, existir uma proporção maior do que antes de mulheres que
trabalham em empregos de período integral, o que reflete, em parte, o declínio (ou a
falta de aumento) dos salários, desde 1970, entre as famílias norte-americanas de
baixa e média renda.
Guimarães e Freire (2004) apontam que a flexibilização do horário de trabalho
semanal, que proporciona, por um lado, alívio para o trabalhador, pode também
gerar a necessidade de trabalhos em turnos, especialmente para o setor de serviços.
Para as autoras, deve-se ressaltar a globalização da economia como um fator
2
Significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessárias à montagem alcançam a
linha de montagem no momento em que são necessárias e somente na quantidade necessária. Cada
processo acaba tendo o item exato necessário, eliminando desperdícios. É um conceito associado ao
que se conhece como Sistema de Qualidade Total.
15
primordial no atual panorama do universo laboral. Daí uma maior racionalização e
concentração das empresas, as novas formas de contrato de trabalho, as fusões de
grandes grupos corporativos, a crescente pressão da competição, o encurtamento
do ciclo produtivo, as necessárias inovações tecnológicas, que obrigam o
trabalhador a se reciclar e se adaptar numa velocidade marcante.
Nesse aspecto, Somavia (2004) acrescenta que a economia globalizada
desencadeou um sentimento generalizado de insegurança e incerteza relacionado,
via de regra, com o trabalho.
Além dessas mudanças no trabalho, também são observadas mudanças
significativas na população trabalhadora. Em 2003, de acordo com o Labor
Department norte-americano (NIOSH, 2004), mais de 146.5 milhões de pessoas, nos
EUA, formavam a mão-de-obra trabalhadora e mais de 137.7 milhões delas estavam
empregadas. Cerca de 7.3 milhões desses trabalhadores possuíam mais de um
emprego.
Para a European Foundation for the Improvement of Living and Working
Conditions (2001), a mão-de-obra européia, assim como em outros países, está
envelhecendo e ficando cada vez mais diversificada. Além disso, o suprimento de
empregos está mudando das indústrias de produção de bens para as empresas de
prestação de serviço. Os contratos temporários e os empregos de meio-período tem
aumentado em decorrência dos arranjos alternativos de trabalho. Dessa maneira,
essas mudanças nas características da mão-de-obra e na natureza do trabalho
passam a apresentar os novos desafios para se garantir a segurança e a saúde do
trabalhador no seu ambiente laboral.
Essas mudanças, entretanto, apresentam algumas implicações distintas em
relação à América Latina, como pode se observar na seção a seguir.
1.1.2. América Latina
Segundo recente estudo apresentado pela International Labour Organization
(ILO, 2004), os países latino-americanos apresentam a maior desigualdade na
distribuição de renda no mundo e vêm sofrendo crises econômicas freqüentes,
16
crescentes e severas. Nos anos recentes, a região sofreu um declínio nos índices de
crescimento, acompanhado por um aumento da sua volatilidade, maior do que
qualquer país do mundo, levando a um estado crítico de insegurança econômica.
O mesmo estudo mostra que a insegurança influencia na atitude das pessoas,
interferindo até nos valores e ideais da sociedade. De todos os latino-americanos
entrevistados, 76% estão preocupados com o risco de não virem a ter emprego no
próximo ano e a grande maioria afirmou não se importar com um governo não
democrático se ele for capaz de resolver o problema de desemprego.
Entretanto, segundo o mesmo estudo, o rápido crescimento econômico não
leva necessariamente a uma maior segurança econômica, a não ser que este seja
acompanhado por políticas sociais apropriadas. Além disso, a segurança salarial
parece ser um dos principais determinantes de outras formas de segurança no
trabalho e a desigualdade nos rendimentos prejudica a estabilidade econômica de
diversas maneiras.
De acordo com dados da ILO (2004), o estado atual das condições de
trabalho nos países em desenvolvimento apresenta-se como a seguir:
ü A maior parte dos trabalhadores desconhece a existência de sindicatos,
que na maioria desses países representa menos do que 10% dos
trabalhadores;
ü Geralmente, as mulheres experimentam maior insegurança no emprego do
que os homens e enfrentam diferentes tipos de insegurança;
ü A segurança no emprego está diminuindo em todos os lugares em
decorrência da “informalização” da atividade econômica, da terceirização e
das reformas na legislação;
ü Um grande número de pessoas possui habilidades que não são utilizadas
no seu trabalho;
ü A segurança no emprego (possuir uma posição que permita boas
perspectivas de satisfação no trabalho e na carreira) apresenta-se frágil na
maioria dos países e pesquisas recentes ressaltam um aumento
generalizado da insatisfação no emprego.
17
Dessa maneira, a desigualdade nos rendimentos prejudica a segurança
econômica em diversos níveis, sendo pouco provável que as sociedades altamente
desiguais consigam alcançar segurança econômica e trabalho decente.
A partir das considerações acima relatadas, será apresentado a seguir um
breve panorama acerca das mudanças que vêm ocorrendo no contexto do trabalho
no Brasil.
1.1.3. Brasil
Em relação às mudanças ocorridas na realidade brasileira é possível se
afirmar que o Brasil do início do século XX era bem diferente do de hoje. Souto
(2003, p. 42) coloca que:
Nos últimos 50 anos o Brasil sofreu profundas mudanças no seu
processo de industrialização e urbanização, passando de uma
sociedade rural pré-industrial para uma sociedade industrializada,
urbana e inserida num mercado global (SOUTO, 2003, p.42).
O Brasil é um país peculiar, que apresenta condições de vida e de saúde
semelhantes às de primeiro mundo os oásis cosmopolitas convivendo lado a
lado com enormes bolsões de miséria, dignos das sociedades mais
subdesenvolvidas e carentes do planeta. Por isso torna-se difícil falar de um só
Brasil, pois, mesmo numa única cidade, pode-se observar realidades altamente
contrastantes que refletem uma grande desigualdade social.
Essa desigualdade, segundo Souto (2003), se reflete também nas relações de
trabalho, as quais, no Brasil, são marcadas pela persistência de antigas formas de
produção (processos artesanais ou mecanizados), aliadas a condições anacrônicas
e degradantes de salários, trabalho informal, sub-emprego, trabalho infantil e
trabalho escravo, que convivem lado a lado com modalidades de trabalho
assentadas sobre as novas tecnologias e empresas globalizadas.
Do ponto de vista da história recente, o crescimento econômico, que teve seu
grande boom na década de 70, é hoje um dos fatores mais dramáticos da realidade
18
brasileira e está fortemente associado ao aumento da violência e da desigualdade
social no país.
A partir dos anos 80 houve uma estagnação do crescimento a níveis tímidos
(cerca de menos de 2% ao ano), o que invariavelmente impediu a criação de novos
empregos. O alto índice de desemprego não é um fenômeno exclusivo do Brasil,
entretanto, por conta dos constantes períodos de picos inflacionários, o país vem
optando por uma política recessiva de controle da inflação, somada a “maior taxa de
juros reais do planeta”, que tem dificultado a perspectiva de criação de novos postos
de trabalho num volume satisfatório às necessidades da população (FOLHA DE
SÃO PAULO, 2005).
O cenário atual parece ser um pouco mais otimista, pois segundo Martins
(2005), em 2004, o país, do ponto de vista econômico mostrou-se em recuperação
em relação ao anos anteriores, com uma expansão de quase 9% da produção
industrial (o melhor desempenho dos últimos 18 anos), tendo atingido mais de 85%
do seu índice de capacidade de produção.
Dados divulgados pela Confederação Nacional da Indústria, de 2004,
apontam para um aumento das vendas reais da indústria de 14,29%, em
comparação com o ano anterior. O emprego aumentou cerca de 3.5%, as horas
trabalhadas na produção, 6,21% e os salários líquidos reais, 9,01% (SALAZAR,
2005; MEDINA, 2005). Entretanto, os especialistas divergem quanto à consistência
dessa tendência positiva de crescimento, tendo como base as diferenças
metodológicas dos levantamentos.
Salazar (2005) acrescenta que, apesar de uma diminuição real na taxa de
desemprego, de pouco mais de 13% em 2003 para cerca de 12% em 2004, sendo
que em algumas regiões chegou a 9% (o que sugere uma inegável geração de
postos de trabalho), a criação de vagas ficou abaixo das expectativas dos
especialistas, provavelmente em função do processo continuado de recessão. Além
disso, observou-se uma mudança no padrão de crescimento de emprego que pode
ser justificada pelos investimentos feitos em tecnologia e produtividade em
detrimento de investimentos na contratação de pessoas, e também pelo aumento de
postos de trabalho no interior do país, em oposição à diminuição destes nas capitais
19
A questão do desemprego apresenta desdobramentos preocupantes para o
trabalhador brasileiro, trazendo conseqüências negativas como o empobrecimento
das condições de trabalho, a precarização do mesmo, a aceitação cada vez maior
de salários baixos, uma menor reivindicação por parte dos trabalhadores, uma maior
desmobilização política ante o temor de perder o emprego, entre outras, pois “todos
são potencialmente demissíveis“ (ÁLVARO-ESTRAMIANA, 1992).
Surge então o fenômeno do “trabalhador pobre”, mencionado por Donkin
(2003), conceito este que vai além da simples divisão entre ricos e pobres,
empregados e desempregados, pois se refere àquele empregado cujo trabalho não
proporciona uma renda suficiente para viver.
As implicações desse quadro são preocupantes, pois, por ter “ainda” um
emprego, o trabalhador acaba tendo acesso a linhas de financiamento de crédito
formais (empréstimos bancários, limites em conta, cartões de crédito, entre outros) e
informais (e.g., agiotas, cheques pré-datados) a juros elevados, que acabam sendo
utilizadas como recursos complementares para uma renda insatisfatória. Muito
freqüentemente acaba se entrando num ciclo vicioso de endividamento do qual fica
cada vez mais difícil sair e a solução possível acaba sendo arranjar um segundo ou
terceiro emprego para tentar dar conta dessa situação limite, o que pode
comprometer ainda mais a saúde e a qualidade de vida do trabalhador.
Além disso, é necessário entender também o comportamento do mercado
informal no Brasil, que muitas vezes fica de fora das estatísticas oficiais. O
trabalhador do mercado informal em sua grande parte está desempregado há um
certo tempo e perdeu o poder aquisitivo da época em que tinha sua carteira
assinada, o que lhe garantia benefícios que agora devem ser arcados por ele
próprio, como a previdência social, acesso a planos de saúde, auxílio transporte e
alimentação, entre outros. Como afirma Sampaio (2005),
Sem oportunidade de obter emprego na economia formal, amplos
contingentes da população brasileira convertem-se, na asséptica
terminologia neoliberal, em marginais, descartáveis, prescindíveis,
inincorporáveis (SAMPAIO, 2005, p.3).
20
A partir dessas colocações, pode-se questionar então como ficam a qualidade
de vida desse trabalhador e suas condições de trabalho para que consiga manter o
poder aquisitivo de antes, ou, apenas o necessário para sobreviver. E o que o
trabalhador deve fazer para não estar futuramente nessa mesma economia
informal? Quais serão as condições laborais que acabam sendo toleradas pelo
trabalhador já que a alternativa a um emprego insatisfatório muitas vezes é o próprio
desemprego? Na tentativa de ilustrar como esses questionamentos têm se refletido
na prática, os dados apresentados a seguir refletem o atual contexto brasileiro.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), a
média de horas trabalhadas no Brasil, em 2000, foi de 41 por semana, contra 39 em
1990, colocando o país em oitavo lugar em horas trabalhadas no mundo. Além
disso, 71% da população brasileira economicamente ativa trabalha mais de 40 horas
por semana, sendo que para 39% a jornada é de pelo menos 45 horas. A média
norte-americana, no mesmo período, foi de 40 horas por semana.
O rendimento médio mensal do brasileiro era de 5,31 salários mínimos em
1991, caindo para 4,67 em 1999. Os que têm baixa qualificação trabalham mais
porque ganham pouco. Já aqueles altamente qualificados trabalham mais porque
podem ganhar mais pelo que produzem, ou seja, todos estão trabalhando mais
(SOUTO, 2003).
Segundo Seligmann Silva (1986, p.54), as mudanças econômicas, “tanto nas
fases de crescimento quanto nas de recessão afetam a saúde humana e, mais
especialmente, contribuem para aquelas afecções influenciadas pela tensão,
alimentação, hábitos de vida e condições de trabalho”, cabendo aos pesquisadores
avaliar o modo como isso acontece e sua relação com os outros fatores envolvidos
(sociais, biológicos, organizacionais).
A International Labour Organization (ILO, 2004) também ressalta que a
insegurança econômica que atinge a grande maioria dos trabalhadores em todo o
mundo (cerca de três quartos do total) conduz a uma realidade marcada pela
ansiedade e pela raiva. Nesse estudo, o nível de rendimento não é o determinante
mais importante para a “felicidade nacional”, que está relacionada mais
positivamente com a extensão da segurança econômica. Além disso, as pessoas
têm trabalhado em atividades inferiores a suas habilidades e qualificações, levando
21
a um estado de frustração que estimula a intolerância, leva ao estresse, à doença
social e, finalmente, à violência social.
No Brasil, de acordo com Souto (2003), a coexistência entre formas de
produção antigas e modernas acaba sendo invariavelmente refletida no perfil de
morbi-mortalidade do trabalhador. Doenças ocupacionais consideradas antigas
(intoxicação por chumbo, mercúrio, silicose e altos índices de acidentes de trabalho)
coexistem com doenças consideradas “modernas”, como as DORT/LER, as
intoxicações por substâncias radioativas, relacionadas à alta tecnologia e, também, o
sofrimento mental, tornando-se imprescindível compreender então o impacto das
mudanças no universo laboral na saúde do trabalhador.
1.2. O impacto das mudanças na saúde do trabalhador
Através da nova economia capitalista, que transferiu seu principal eixo de
articulação do ramo industrial para o financeiro, o que reduziu a participação do
trabalho operário tradicional sobre a carga de trabalho total e priorizou os setores do
comércio, serviços, entretenimento, entre outros, mudou o trabalho, mudou o
trabalhador e, conseqüentemente, mudou a forma de adoecimento no trabalho.
O emprego homogêneo e estável de antes deu lugar aos novos contratos de
trabalho (por tempo determinado, de tempo parcial), o trabalho informal, os múltiplos
empregos, o trabalho precário e o desemprego, aumentando a vulnerabilidade social
e a insegurança do trabalhador (COOPER, 2001).
Já na década de 80, Seligmann Silva (1986) alertava que os aspectos
econômicos são indissociáveis dos aspectos sociais, e que estes determinam
repercussões sobre a saúde geral e a saúde mental, só que de forma menos visível.
Em concordância, Palma (2002) refere que, em todo o mundo, os problemas de
saúde estão relacionados a uma complexa rede de interações. O processo de
globalização da economia não trouxe uma solução para os problemas mais agudos
das sociedades: as desigualdades na distribuição de renda, a destruição de recursos
do meio ambiente, a fome e o desemprego. Dessa maneira, não é possível abordar
22
a saúde sem se considerar os processos sociais, econômicos e ecológicos, tais
como pobreza, migração, urbanização, desflorestamento, entre outros.
Assim, torna-se imperativo investigar os fatores condicionantes da saúde
ocupacional e da saúde mental ocupacional, já que esses fatores não se relacionam
de maneira simples, estática, isolada. Como afirma Souto (2003, p. 23), suas raízes
possuem importante influência histórica e social, apoiadas numa “(...) imensa rede
de fatores diversos, uns integrantes do próprio homem e que são partes de seu
equipamento somático básico, outros oriundos do ambiente externo” .
Apesar dos estudos recentes abordarem seu potencial “adoecedor”, o
trabalho é reconhecidamente uma das fontes de satisfação de diversas
necessidades humanas, como auto-realização, manutenção de relações
interpessoais e sobrevivência (MURTA; TRÓCCOLI, 2004).
Neffa (2002, p. 232) coloca que:
[...] o trabalho é um direito humano fundamental ao mesmo tempo
em que é um dever social, porque dele depende a reprodução da
força de trabalho e a continuidade da espécie humana. Ele contribui
para a realização pessoal através do desenvolvimento da
personalidade de quem o executa, pois proporciona, ao mesmo
tempo, a atualização, se não de todas, pelo menos de algumas das
potencialidades físicas, biológicas, psíquicas e mentais do ser
humano, transcendendo a persona do trabalhador (NEFFA, 2002, p.
232).
Apesar desses aspectos positivos, o trabalho, em sua essência e por sua
própria natureza, implica para o trabalhador em esforço pela absorção, pelo
desgaste e pela atenção que requer, e nem sempre favorece o desenvolvimento da
personalidade e o sentimento de pertença e de identidade. Por esse motivo, para
sobrepor-se a essas limitações, os trabalhadores procuram encontrar um sentido
naquilo que fazem, buscando o reconhecimento social da sua atividade (NEFFA,
2002).
Em concordância com essas afirmações, o NIOSH (2002) coloca que, em
circunstâncias favoráveis, o trabalho contribui para uma boa saúde e para o
crescimento econômico, podendo ser um gerador de equilíbrio e de saúde. Por outro
lado, ele também expõe muitos trabalhadores a restrições ao seu desenvolvimento
23
pessoal, que podem acarretar em efeitos patológicos e desestabilizadores. Quando
as condições e o meio ambiente de trabalho são deficientes, atentam contra a saúde
biológica, psíquica e mental, gerando sofrimento e provocando incidentes e
acidentes.
O NIOSH (2004) observou que, durante os últimos 32 anos, muitos avanços
ocorreram visando reconhecer, avaliar e prevenir acidentes, doenças e mortes no
trabalho, destacando que alguns índices diminuíram significativamente ao longo
desse período. Entretanto, apesar dessas mudanças positivas, a morbi-mortalidade
desnecessária permanece sendo uma sobrecarga significativa para os
trabalhadores, para suas famílias, para os empregadores e para a sociedade.
A European Foundation (2001), em levantamentos realizados em 1990, 1995
e 2000, na União Européia, revela que ao longo dos anos houve uma diminuição da
porcentagem de trabalhadores expostos aos seguintes riscos físicos do trabalho:
vibração, calor, frio, inalação de vapores e fumaças. Por outro lado, houve um
aumento de exposição ao barulho, a lidar com substâncias perigosas, a radiação, a
posições dolorosas e a cargas pesadas, apesar de, do ponto de vista preventivo, ter
havido simultaneamente um aumento da utilização de equipamentos protetores e de
acesso a informações sobre os riscos.
Em relação à atenção dada à saúde do trabalhador nas empresas, Souto
(2003) postula que o foco inicial esteve inevitavelmente direcionado aos fatores
externos de risco no trabalho, cujo modelo típico era o da mutilação de corpos e das
intoxicações e envenenamentos agudos, característicos do trabalho operário em
ambientes ostensivamente ameaçadores. Já, após as melhorias significativas na
prevenção e nos serviços de atendimento de emergência, o foco passou a ser o
grande número de doenças emergentes, de natureza mental (não tão novas e
desconhecidas assim), o que reproduz de certa forma o que acontece também na
sociedade em geral.
Portanto, na busca pelo conhecimento dos determinantes (nexos) causais das
doenças ocupacionais, derivados das novas formas de organização e de gestão do
trabalho, entram em pauta os temas relacionados à saúde mental do trabalhador: o
adoecer mental, o trabalho do idoso, o trabalho infantil, o trabalho noturno, o
trabalho monótono, o estresse, o esgotamento mental, a violência no trabalho, a
24
intimidação psicossocial, o assédio psicológico (mobbing) e sexual, entre outros, que
passam a adquirir importância semelhante aos fatores de risco mais tradicionais.
1.2.1. Saúde Mental e Trabalho
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001, p.45) afirma que os
transtornos mentais e comportamentais ocorrem comumente e afetam mais de 25%
da população em dada fase de sua vida”. Eles são universais e podem acometer
pessoas de todas as idades, etnias, condição sócio-econômica, gênero, em qualquer
lugar do planeta. Estão presentes a qualquer momento em cerca de 10% da
população adulta e cerca de 20% de todos os pacientes atendidos por profissionais
de atenção primária de saúde apresentam um ou mais transtornos mentais e
comportamentais.
Além disso, segundo a mesma fonte, esses transtornos foram responsáveis,
em 1990, por 10% do total de Anos de Vida Ajustados para a Incapacidade
3
(AVAI)
perdidos em virtude de todas as doenças e lesões. Em 2000 essa proporção chegou
a 12% e a tendência é que esse número chegue a 15% em 2020. De todas as
afecções mentais e neurológicas, a depressão causaria a maior proporção de
incapacidade, representando cerca de 12% do total. Nesse levantamento da OMS, 6
afecções neuropsiquiátricas situaram-se entre as 20 principais causas de
incapacidade no mundo: transtornos depressivos unipolares, esquizofrenia,
transtornos afetivos bipolares, transtornos devido ao uso de álcool, doença de
Alzheimer e outras demências e hemicrânia.
Segundo a OMS (2001):
O impacto econômico desses transtornos é profundo, durável e
enorme. Esses transtornos impõem ao indivíduo, à família e à
comunidade em seu todo uma série de custos. [...] Entre os
componentes mensuráveis da carga econômica estão os serviços
sociais e de saúde, a perda de emprego e redução de produtividade,
o impacto nas famílias e nos provedores de atenção, os níveis de
3
O AVAI é um parâmetro que foi criado para quantificar a carga das doenças e mede o desnível de
saúde através da soma dos anos perdidos em virtude de mortalidade prematura e em virtude de
incapacidade pela incidência de enfermidades na população (OMS, 2001, p.52)
25
criminalidade e a segurança pública e o impacto negativo da
mortalidade prematura.
A vida laboral acaba estabelecendo uma complexa relação com a saúde
mental do trabalhador. Sua característica interdisciplinar e multifatorial vem
estimulando inúmeras tentativas de conexão entre esses dois fatores, principalmente
nos últimos 20 anos.
Para Kessler e Ustün (2004 apud GUIMARÃES et al., 2005), os Transtornos
Mentais (TM) estão entre as principais causas de perda de dias de trabalho. Os TM
menores (leves) causam em média perda de 4 dias de trabalho/ano e os TM maiores
(graves), cerca de 200 dias/ano. Brundtland (2000 apud GUIMARÃES et al., 2005)
refere que 5 das 10 principais causas de incapacitação no mundo dizem respeito
aos TM (depressão maior, esquizofrenia, transtorno bipolar, alcoolismo e transtorno
obsessivo-compulsivo). Esses transtornos, junto com a ansiedade, a depressão e o
estresse, têm um impacto definitivo na população trabalhadora e devem ser
relacionados ao contexto ocupacional.
Joca, Padovan e Guimarães (2003) acrescentam que o estresse parece ser
um dos principais fatores ambientais que predispõem um indivíduo à depressão. Em
cerca de 60% dos casos os episódios depressivos são precedidos pela ocorrência
de fatores estressantes, principalmente de origem psicossocial.
De acordo com Houtman e Kompier (1998), pesquisas desenvolvidas em
diversos países investigando a relação entre saúde e trabalho apontam que os TM,
juntamente com os problemas ósteo-musculares, são responsáveis por cerca de
dois terços de todos os afastamentos anuais por motivo médico.
Barbosa Branco (2002 apud GUIMARÃES et al., 2005) refere que, no Brasil,
de um universo de 18 milhões de pessoas com carteira assinada, no período de 4
anos (1998 2002), 270.382 benefícios foram concedidos a pessoas com algum tipo
de TM e que os mesmos são o 2
o
. grupo de doenças que geram afastamentos, atrás
somente das doenças ósteo-musculares.
Segundo a mesma autora, o Brasil gastou cerca de R$ 1,82 bilhões em
benefícios para trabalhadores com problemas ligados à Saúde Mental do
trabalhador, tais como: Depressão, Estresse, Esquizofrenia e Alcoolismo. Dos 4
26
grupos de doenças, entre ?os transtornos de humor ou afetivos, a depressão é mais
prevalente, sendo responsável por 65% dos afastamentos e o INSS, entre 1998 e
2002, gastou R$ 495 milhões apenas com os transtornos depressivos. Em ordem de
prevalência, o 2
o
. grupo é o dos transtornos neuróticos relacionados ao estresse, o
3
o
. grupo, a esquizofrenia e o 4
o
. grupo, o consumo de álcool e drogas.
Para Somavia (2004), na atualidade, o trabalho e a saúde mental passam por
um contexto particularmente problemático em decorrência principalmente do mal-
estar geral desencadeado pela economia globalizada e pelos “novos estressores”
conseqüentemente gerados por ela, agravando inquietudes humanas como a
insegurança e a incerteza em relação ao futuro.
Num estudo recente, o NIOSH (2004) coloca que ansiedade, estresse e
transtornos neuróticos no trabalho estão associados com quadros de ansiedade por
transtorno de estresse pós-traumático agudo ou crônico, reação ao estresse,
transtorno de pânico e outros transtornos não classificados. A maior prevalência de
casos ocorreu na faixa etária entre 25 e 54 anos e 78,3% eram mulheres, brancos e
não hispânicos. Os grupos ocupacionais mais atingidos por quadros de ansiedade,
estresse e transtornos neuróticos eram formados por técnicos, vendedores e pessoal
de apoio administrativo (39,9%) e ocupações de nível gerencial (23,6%).
Com tantas e profundas mudanças sociais, organizacionais, econômicas e
tecnológicas, o adoecimento mental, especialmente o estresse relacionado ao
trabalho, acaba sendo uma importante ameaça a saúde do trabalhador e,
conseqüentemente, a saúde das organizações (NIOSH, 1999; 2004) e as pesquisas
na área da Saúde Mental e Trabalho vêm buscando compreender sua relação a
partir de diferentes referenciais.
De maneira geral, pode-se destacar duas principais abordagens que
investigam a relação entre Saúde Mental e Trabalho:
ü A Psicopatologia do Trabalho denominada de Psicodinâmica do Trabalho a
partir dos estudos de Dejours, nas décadas de 80 e 90;
ü O Estresse Ocupacional (Work Stress) originados através da escola
escandinava.
27
Em linhas gerais, sobre a primeira abordagem, Glina et al. (2001, p. 608)
referem que “a psicodinâmica do trabalho enfatiza a centralidade do trabalho na vida
dos trabalhadores, analisando os aspectos dessa atividade que podem favorecer a
saúde ou a doença”.
A organização do trabalho, dentro dessa abordagem, se caracteriza pela
divisão das tarefas e pela divisão dos homens, sendo que:
A divisão das tarefas engloba o conteúdo das tarefas, o modo
operatório e tudo que é prescrito pela organização do trabalho. A
divisão dos homens compreende a forma pela qual as pessoas são
divididas em uma empresa e as relações humanas que aí se
estabelecem (GLINA et al., 2001, p. 609).
Segundo as autoras acima citadas, Dejours refere que o descompasso entre
a organização do trabalho prescrita (formalizada pela empresa) e a do trabalho real
(o modo operatório dos trabalhadores) favoreceria o aparecimento do sofrimento
mental, uma vez que levaria o trabalhador à necessidade de transgredir para poder
executar a tarefa.
Merlo (2002) acrescenta que os conceitos ergonômicos de trabalho real e
trabalho prescrito são uma referência fundamental para a Psicodinâmica do
Trabalho, pois é no espaço entre esses dois fenômenos que pode ocorrer, ou não, a
sublimação e a construção da identidade no trabalho.
Entretanto, Lima (2002), num ensaio crítico acerca da psicopatologia do
trabalho, acrescenta que Dejours, ao aderir explicitamente à psicanálise, deixou
claro em sua abordagem o seu desinteresse pela situação real de trabalho, dando
uma ênfase quase exclusiva ao discurso dos trabalhadores, fazendo com que o
discurso sobre os fatos (a subjetividade e a intersubjetividade) passasse a ter uma
importância maior do que os fatos em si (a objetividade).
Dessa maneira, apesar de receber críticas importantes acerca de entraves
metodológicos e de contradições em sua abordagem, deve-se reconhecer a
importância das contribuições de Dejours para a evolução das discussões e das
pesquisas no campo da Saúde Mental e Trabalho, principalmente no Brasil.
Entretanto, como no presente estudo a corrente teórica escolhida para se abordar os
28
aspectos relacionados à Saúde Mental e Trabalho foi a escandinava, optou-se por
restringir as referências sobre a obra de Dejours para não cometer maiores
simplificações e omissões acerca de sua vasta contribuição.
Portanto, é com a segunda abordagem teórico-conceitual, que prioriza a
relação entre estresse e trabalho, que o presente estudo se identifica. Os autores
escandinavos que se destacaram inicialmente nesse campo de estudos foram
Frankenhaeuser, Gardell, Kalimo e Levi, entre as décadas de 60 e de 80, que
definiram o estresse ocupacional como sendo resultado de um desequilíbrio entre as
demandas do trabalho e a capacidade de resposta do trabalhador.
Essa abordagem, de maneira geral, busca investigar as condições
psicossociais do trabalho e seu impacto na saúde do trabalhador, considerando os
fatores intrínsecos (individuais) e extrínsecos (ambientais e organizacionais)
envolvidos, conceituando o estresse em termos da relação entre o trabalho e a
pessoa a partir da suposição de que este tende a ocorrer quando as exigências do
trabalho não se ajustam às necessidades, expectativas ou capacidades do
trabalhador (NIOSH, 2002).
Como já dito anteriormente, em função da identificação com a concepção
teórico-conceitual denominada “Estresse Ocupacional”, optou-se nesse estudo por
utilizar um instrumento compatível com esta abordagem: o questionário ERI
(Effort/Reward Imbalance), que será detalhado na seção 2.2.1.1. Antes, será
apresentada uma breve revisão histórica da evolução dos principais conceitos e dos
dois modelos de estresse ocupacional mais utilizados na atualidade.
1.2.2. Estresse Ocupacional
Nas últimas décadas, o Estresse Ocupacional (traduzido dos termos em
inglês “job stress” e “work stress”) se transformou num problema altamente custoso
e cada vez mais comum para os empregadores e empregados em todo o mundo,
principalmente após os seguintes achados (SCHNALL, 1998; LEVI, 2001):
ü O estresse relacionado ao trabalho pode levar a doenças físicas e mentais;
29
ü Mesmo o estresse que não está relacionado com o trabalho pode se
manifestar no ambiente de trabalho;
ü O custo humano e econômico do estresse ocupacional é muito alto para
todos os envolvidos;
ü Esses custos podem ser reduzidos através da prevenção do estresse
relacionado ao trabalho.
Em termos de custos do estresse ocupacional, a European Comission (1999)
revela que essa condição afeta pelo menos 40 milhões de trabalhadores da União
Européia, com um custo de pelos menos 20 bilhões de euros ao ano. Dessa
maneira, o estresse, além de contribuir diretamente para o sofrimento humano, a
doença e a morte, também causa vários transtornos em termos de competitividade e
de produtividade. Cooper (2001) acrescenta que esses custos chegam a 2,5% do
Produto Nacional Bruto (PNB) anual da Dinamarca e a 10% do PNB da Noruega. Na
União Européia, o custo estimado do estresse ocupacional para as organizações e
para os países é estimado entre 5 a 10% do PNB anual.
Schnall e Jauregui (2004) alertam que, além dos custos médicos diretos
associados às doenças e ferimentos produzidos pelos fatores psicossociais no
trabalho, os empregadores têm ainda que lidar com os custos adicionais decorrentes
do absenteísmo, da perda de produtividade, da rotatividade e das indenizações
trabalhistas, tendo atingido cerca de U$ 200 bilhões de dólares ao ano na indústria
norte-americana, considerando-se somente as perdas relacionadas ao absenteísmo,
aos atrasos e à rotatividade de empregados.
Para esses autores, os fatores do trabalho que estão associados ao
absenteísmo por doença são: longa jornada de trabalho, excesso de trabalho e
pressão, ausência de controle e de participação do trabalhador na tomada de
decisões, um apoio social precário e papéis gerenciais e de trabalho pouco claros.
Mais recentemente, num estudo de Andrea et al. (2003), observou-se que baixos
níveis de decisão (job control) e presença de doença crônica são os preditores mais
fortes de absenteísmo por doença excedendo a duração de um mês.
30
Nesta direção, Schnall e Jauregui (2004) alertam para o equívoco em se
assumir que quando um empregado não está ausente do trabalho ele está sendo
necessariamente produtivo, ou que quanto mais tempo ele trabalhar mais produtivo
ele será. Esse fenômeno, denominado presenteeism”, demonstra que, mesmo
estando presente ao trabalho, o empregado pode ter seu desempenho diminuído e
com uma qualidade inferior, fato este que pode impactar numa perda de
produtividade cerca de 7.5 vezes maior do que as perdas relacionadas ao
absenteísmo.
Esse fenômeno tende a ser uma resposta aos estressores ocupacionais e ao
excesso de trabalho, podendo ocorrer também quando um empregado comparece
ao trabalho mesmo não se sentindo bem. As razões para se trabalhar mesmo
estando doente podem variar, significando desde um comprometimento com a tarefa
e os colegas, uma forma de evitar perdas financeiras ou até o medo de perder o
emprego.
Já em relação aos custos com indenizações trabalhistas, Schnall e Jauregui
(2004) acrescentam que os fatores psicossociais podem gerar agravos à saúde que
são reconhecidos legalmente como “indenizáveis” (acidentes de trabalho,
contaminações por substâncias tóxicas, assédio moral, DORT/LER, entre outras), o
que pode acarretar num custo significativo para o sistema.
Numa época marcada pela intensa competitividade, em organizações
enxutas, nas quais as pessoas trabalham mais e se sentem menos seguras
(COOPER, 2001), inúmeras pesquisas buscam investigar a natureza e os
mecanismos do estresse ocupacional e as suas conseqüências para a saúde e para
o desempenho do empregado (PASCHOAL; TAMAYO, 2004).
Entretanto, já em 1966, o Comitê Nacional de Saúde Ambiental dos EUA
entregou ao Ministro da Saúde daquele país um documento para orientar os
programas federais de saúde no trabalho (KARASEK, 1998). O documento se
baseava em estudos que apontavam que o estresse psicológico era cada vez mais
freqüente no local de trabalho, apresentando novas e sutis ameaças para a Saúde
Mental e um possível risco de transtornos somáticos, principalmente de doenças
cardiovasculares (BELKIC et al., 2000).
31
Quase quarenta anos depois se observa que o estresse relacionado ao
trabalho se transformou em uma das principais causas de incapacidade laboral no
mundo, estando fortemente relacionado com as exigências do trabalho moderno.
Segundo o NIOSH (2004), diversos estudos foram desenvolvidos, nos últimos
20 anos, buscando investigar a relação específica entre o estresse ocupacional e
uma grande variedade de doenças.
Nessas pesquisas, segundo Schnall (2004), foram estudadas diversas
condições estressoras no trabalho, tais como: o trabalho repetitivo, o trabalho em
linha de montagem, o trabalho em turnos, o monitoramento eletrônico ou a vigilância
no trabalho, a hora-extra involuntária, o trabalho por empreitada, a inflexibilidade de
horário, a supervisão arbitrária, a desqualificação para o trabalho, entre outras.
Vários achados têm mostrado que o estresse ocupacional possui um
importante papel em diversos problemas crônicos de saúde, especialmente nas
doenças cardiovasculares, doenças ósteo-musculares e transtornos mentais
(NIOSH, 1999). Tal constatação revelou também que os efeitos do estresse
ocupacional em doenças crônicas são mais difíceis de serem reconhecidos, pois
essas doenças levam um período longo de tempo para se desenvolver e podem
sofrer a influência de diversos fatores além do trabalho.
De maneira geral, o conceito de estresse ocupacional se baseou nas teorias
iniciais do estresse que descreviam as reações a um estresse agudo e “inevitável”
em situações que eram uma ameaça a sobrevivência biológica (KARASEK, 1998).
Partindo desse conceito, diversas investigações em estresse ocupacional
buscam avaliar o papel das demandas ou estímulos ambientais nas respostas de
estresse. Araujo et al. (2003) referem que a teoria do estresse fundamenta-se na
avaliação de como o organismo responde às demandas do ambiente externo, sendo
o estresse produzido em situações em que as demandas excedem as capacidades
individuais de responder a esses estímulos. O estresse se prolonga quando os
mecanismos de respostas disponíveis não são efetivos, o que pode implicar em
efeitos negativos sobre a saúde.
Para Paschoal e Tamayo (2004), o estresse ocupacional pode ser definido
como um processo em que o indivíduo percebe demandas do trabalho como
32
estímulos estressores, os quais, ao exceder sua habilidade de enfrentamento
(coping), provocam no sujeito reações negativas.
Entretanto, os autores alertam para a utilização pouco consistente do termo
“estresse ocupacional”, em função da multiplicidade de pesquisas realizadas nesse
campo, nas quais observam-se divergências sobre o seu significado e sobre as
formas de medição.
Dentro dessa perspectiva, pode-se dividir os estudos nesse campo como
sendo baseados nos estressores organizacionais (estímulos do ambiente de
trabalho que exigem respostas adaptativas por parte do empregado e que excedem
sua capacidade de enfrentamento), nas respostas do indivíduo (respostas
psicológicas, fisiológicas e comportamentais emitidas pelo indivíduo frente a fatores
do trabalho que excedem sua habilidade de enfrentamento), ou nas diversas
variáveis presentes no processo estressor-resposta (processo geral que
consiste no enfoque mais completo englobando os anteriores) (PASCHOAL;
TAMAYO, 2004)
Para o NIOSH (1999) o estresse ocupacional pode ser definido como sendo
as respostas físicas e emocionais nocivas que ocorrem quando as
exigências do trabalho não são compatíveis com as capacidades, os
recursos ou as necessidades do trabalhador, podendo conduzir a um
estado de saúde precário e até a danos irreversíveis (NIOSH, 1999).
Já a European Comission (1999) define o estresse relacionado ao trabalho
como sendo
causado pelo pobre equilíbrio entre nós e o nosso trabalho, por
conflitos entre os nossos papéis no trabalho e fora dele, e por não
haver um grau de controle razoável sobre nosso próprio trabalho e
nossa própria vida (EUROPEAN COMISSION, 1999).
Segundo Levi (2001), os estressores ocupacionais surgem da organização
social do trabalho e são mediados pela percepção, avaliação e experiência do
indivíduo acerca das estruturas e processos do ambiente de trabalho (e.g.,
sobrecarga ou subcarga de trabalho, baixa margem de decisão).
33
Nessa mediação deve-se considerar os determinantes individuais que
interferem na propensão de uma pessoa para manejar (podendo significar tolerar,
dominar, minimizar), avaliar e reagir às demandas ambientais, tais como a
personalidade, os hábitos e a maneira de pensar e de se comportar as estratégias
de enfrentamento pessoais (coping) (DIZ, 2002).
Para a autora acima citada, dentre os fatores mediadores do estresse, as
estratégias de coping acabam desempenhando um papel crucial. Em linhas gerais,
as estratégias podem ser divididas em dois tipos:
ü Com foco no problema contempla os esforços dirigidos a enfrentar as
demandas externas, como, por exemplo, pensar em soluções buscando
informações, realizando ações específicas ou redefinindo a situação, ou seja,
tratando de ver o problema desde uma perspectiva que o faça mais tolerável.
ü Com foco na emoção contempla os esforços orientados a reduzir a
perturbação interna provocada pelo estresse, como atividades de relaxamento
e o apoio emocional de pessoas próximas, profissionais e religiosos.
Um outro importante mediador do estresse é o apoio social, que possui uma
função amortizadora (buffer) em relação à ação dos estressores (DIZ, 2002).
Segundo essa perspectiva, frente a eventos estressantes, as pessoas que contam
com recursos sociais são capazes de mobilizá-los em seu auxílio (recebendo apoio
emocional e informacional), e assim podem enfrentar os desafios de maneira mais
eficaz.
Dessa forma, na definição de Levi (2001), a situação ocupacional, quando
avaliada pelo trabalhador como sendo estressora, passa a ser um estímulo que
interage com seu programa psicobiológico (mecanismos fisiológicos, e.g. produção
hormonal; mecanismos psicológicos, e.g., ansiedade; mecanismos
comportamentais, e.g., comportamento de risco), que poderá ser modificado ou
moderado por variáveis interacionais, tais como o apoio social ou o repertório de
estratégias de coping.
Várias outras definições sobre estresse ocupacional poderiam ser aqui
descritas, já que cada modelo teórico-conceitual tende a priorizar um fator
34
determinante ou mediador específico em detrimento do outro. Mas, assumindo-se
neste estudo as colocações feitas por Paschoal e Tamayo (2004, p. 46),
Apesar das peculiaridades de cada tipo de definição e de modelos
existentes para explicar o estresse ocupacional, tem se constatado
um consenso entre os estudiosos da área de que as percepções dos
indivíduos são mediadoras do impacto do ambiente de trabalho sobre
o indivíduo; para algo na organização ser um estressor, ele precisa
ser percebido como tal pelo empregado (PASCHOAL; TAMAYO,
2004, p.46).
Para o NIOSH (1999), as diferentes abordagens sobre o estresse relacionado
ao trabalho diferem, principalmente, quanto à importância dada as características do
trabalhador versus as condições do trabalho como a causa principal do
aparecimento do estresse ocupacional. Uma tendência não ignora a outra, apenas
prioriza determinado fator em relação ao outro. Entretanto, todos os pontos de vista
vão apresentar uma importante similaridade: o estresse se conceitua em termos da
relação entre o trabalho e a pessoa, podendo aparecer quando as exigências do
trabalho não se ajustam as necessidades, expectativas ou capacidades do
trabalhador (SAUTER et. al, 1998).
Na busca por conhecer os fatores (nexos) causais do estresse ocupacional,
alguns estudos identificam as condições de trabalho como sendo um importante
fator estressor. O NIOSH (1999) e a European Comission (1999) definem algumas
condições do trabalho que podem contribuir para o aparecimento do estresse:
O desenho das tarefas: pesada carga de trabalho ou carga inferior
(ociosidade), pausas para descanso pouco freqüentes, longas jornadas de
trabalho e turnos, tarefas de rotina que possuem pouco significado
inerente, que não utilizam a habilidade do trabalhador e que permitem
pouco controle, tempo inadequado para completar o trabalho de maneira
satisfatória, ausência de uma descrição clara da tarefa, ausência de
controle, ou de orgulho (satisfação), em relação ao produto do trabalho;
Estilo de gerenciamento: ausência de participação dos trabalhadores na
tomada de decisões, comunicação precária na organização, ausência de
políticas amistosas, ausência de reconhecimento ou de recompensa
35
quando o trabalho é bem realizado, ausência de oportunidade para fazer
queixas, ausência de oportunidades para o funcionário utilizar efetivamente
seus talentos pessoais ou habilidades;
Relações interpessoais: ambiente social pobre e ausência de cooperação
e de apoio dos colegas e/ou dos supervisores, exposição a prejuízos
relacionados com a idade, sexo, gênero, raça, etnia ou religião, exposição
à violência, ameaças ou intimidação;
Papéis no trabalho: expectativas de trabalho conflituosas ou incertas,
muita responsabilidade, porém pouca autoridade ou capacidade de tomada
de decisões, ausência de uma descrição clara dos papéis, chance de um
erro pequeno ou de um lapso momentâneo de atenção ter conseqüências
sérias ou até desastrosas;
Preocupações com a carreira: insegurança no trabalho e ausência de
oportunidade de crescimento ou promoção, rápidas mudanças para as
quais o trabalhador não está preparado;
Condições do ambiente: características físicas do ambiente que são
desagradáveis ou perigosas, como: aglomeração de pessoas, barulho,
poluição do ar, problemas ergonômicos, entre outros.
Numa visão mais abrangente, Sauter et al. (1998) também alertam para a
presença de condições que conduzem ao estresse no trabalho e a outros problemas
de saúde e segurança. Essas condições, denominadas de Fatores Psicossociais do
Trabalho, compreendem os aspectos do trabalho em si e do ambiente, tais como: o
clima ou cultura da organização; as funções laborais; as relações interpessoais no
trabalho; a forma e o conteúdo das tarefas (variedade, alcance, caráter repetitivo,
significado).
Além disso, o conceito de “fatores psicossociais do trabalho” também
contempla o ambiente externo à organização (e.g., situações domésticas) e os
aspectos do indivíduo (e.g., personalidade e atitudes).
Dessa maneira, de acordo com os diferentes autores pesquisados, observa-
se que são vários os enfoques e os modelos utilizados para se compreender o
36
estresse ocupacional. A seguir serão apresentados mais detalhadamente dois
modelos que vêm sendo amplamente estudados nesse campo: o modelo Demanda
e Controle e o modelo ERI.
1.2.2.1. Os 2 modelos mais utilizados sobre o Estresse Ocupacional na
atualidade
Dentre as diversas abordagens acerca do estresse ocupacional escolheu-se
aqui enfocar mais detalhadamente dois modelos conceituais que são atualmente
apresentados como complementares: o modelo D/C- Demanda e Controle e o
modelo ERI Effort-Reward Imbalance, este último adotado no presente estudo.
Na avaliação de Levi (2001), esses modelos teóricos contribuíram de maneira
importante para o desenvolvimento das pesquisas recentes acerca do estresse
ocupacional. Apesar deles focalizarem originalmente a relação entre a vida
ocupacional, por um lado, e a saúde e o bem-estar do trabalhador por outro, eles
podem ser adaptados ao contexto organizacional de maneira a contribuir para um
aperfeiçoamento das relações de trabalho e das estratégias preventivas a serem
implementadas, especialmente pelo fato de permitirem medidas acerca do impacto
do estresse ocupacional nas condições psicofisiológicas e cardiovasculares do
trabalhador.
Além disso, estudos que são referência na área do estresse ocupacional,
como o Whitehall Study I e II, vêm utilizando os dois modelos conjuntamente como
uma forma de avaliar o ambiente psicossocial do trabalho (demandas, controle,
apoio social e equilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho) e seu impacto na
saúde do trabalhador (HEAD et al., 2002).
Historicamente, esses dois modelos têm origem numa mesma vertente de
pesquisa sobre o estresse relacionado ao trabalho. Johnson (1996), num artigo de
revisão, traça a evolução histórica do conceito de estresse ocupacional tendo início
após a 2
a
. Guerra Mundial, quando diversos estudos foram desenvolvidos buscando
avaliar o impacto do ambiente psicossocial do trabalho no risco de doença
cardiovascular. Surge nesse momento a geração pioneira de estudiosos da saúde
37
ocupacional Bertil Gardell, Lennart Levi e Marianne Frankenhauser, na Suécia,
Robert Kahn, nos EUA.
Calnan et al. (2000) colocam que os primeiros estudos sobre o estresse
relacionado ao trabalho refletiam inevitavelmente as inquietações ideológicas da
Guerra Fria e acabaram desenvolvendo métodos de avaliação que contribuíam para
o recrutamento de profissionais mais resilientes (particularmente no contexto militar)
e para a maximização do desempenho e da produtividade em condições de alta
demanda.
Os mesmos autores descrevem que, entre a década de 60 e 70, nos EUA, o
sofrimento psicológico no trabalho era freqüentemente considerado um problema de
adaptação e de ajustamento do empregado em detrimento dos problemas do
ambiente e da organização do trabalho. O foco residia mais nas características
subjetivas e nos atributos pessoais do trabalhador associados à resposta de
estresse. Essa concepção altamente individualizada do papel do estresse acabou
despolitizando o discurso do estresse ocupacional, facilitando assim sua utilização
nas instâncias de gerenciamento de recursos humanos nas empresas.
Na Europa, entretanto, na mesma época, desenvolvia-se uma abordagem
distinta do fenômeno do estresse ocupacional (CALNAN et al., 2000). A abordagem
escandinava desenvolveu-se num contexto político completamente diferente da sua
contrapartida norte-americana, refletindo uma agenda social-democrata de reforma
trabalhista e de democracia industrial que era apoiada tanto por movimentos
sindicais assim como pelo governo e pelas organizações empresariais. Esse clima
político diferenciado deu origem a um foco de pesquisa mais concentrado nas
características do trabalho e na saúde ocupacional do que nas experiências
subjetivas do trabalhador e no desempenho da tarefa. O objetivo inicial era melhorar
as condições de trabalho ao invés de simplesmente buscar aumentar a
produtividade.
Um pioneiro das pesquisas sobre estresse na Escandinávia foi Bertil Gardell,
que sugeriu, inicialmente, que os trabalhos que levam a uma pequena autonomia do
trabalhador ou que exigem pouco uso de habilidades tendem a estar associados a
uma saúde mental precária. Esse foco nas características do trabalho e seus efeitos
38
na saúde mental e no bem-estar do trabalhador predominou nas pesquisas entre os
anos 70 e 80.
Calnan et al. (2000) ressaltam que, durante a reforma trabalhista, esses
achados de Gardell tiveram um impacto direto na legislação vigente, o que, de forma
imprevista, acabou mudando de maneira pouco eficaz o equilíbrio entre empregador
e empregado em países como a Noruega e a Suécia. Esse fato, em paralelo ao
avanço do neoliberalismo e da falência da militância sindical, terminou por encerrar a
reforma trabalhista na Escandinávia. Entretanto, a abordagem epidemiológica que
buscava explorar a relação entre as características do trabalho e a saúde física e
mental do trabalhador já tinha sido aderida por uma ampla categoria de
pesquisadores tanto na Europa quanto nos EUA, cujos nomes principais foram
Karasek, Theorell e Siegrist.
É dentro desse contexto que surge o modelo Demanda/Controle do estresse
relacionado ao trabalho, desenvolvido no final da década de 70 pelo sociólogo
americano Robert Karasek, sendo posteriormente testado e complementado pelo
cardiologista e epidemiologista sueco Töres Theorell (JOHNSON, 1996; KARASEK,
1998; THEORELL, 2001).
Esse modelo integrou a tradição americana dos eventos de vida estressores
com a perspectiva escandinava que enfatizava a importância do controle no trabalho
e é considerado por muitos estudiosos como a mais influente abordagem para a
compreensão teórica sobre como o ambiente psicossocial do trabalho pode
influenciar na saúde do trabalhador (RUGULIES, 2004; MELLO ALVES et. al., 2004).
Para Martins e Guimarães (2004), o modelo desenvolvido por Karasek realça
dois elementos-chave dos estressores ocupacionais a demanda física e
psicológica do trabalho e o controle do trabalhador sobre o uso de suas próprias
capacidades durante as tarefas apoiado por uma quantidade substancial e cada
vez mais crescente de evidências.
Theorell (2001) coloca que o modelo Demanda/Controle (D/C) lida
primeiramente com o conteúdo do trabalho. Seu conceito central foi construído
através de análises prévias acerca da divisão do trabalho, que enfatizava a
importância para o trabalhador de exercer influência nas decisões e no uso de suas
habilidades individuais.
39
Para Karasek (1998), o modelo D/C tem como referência os ambientes de
trabalho nos quais os estressores são crônicos, não supõem uma ameaça para a
vida (inicialmente) e são o produto de complexas decisões humanas em matéria de
organização.
Na definição do autor o enfoque do modelo reside nas características
psicossociais do trabalho, que são as demandas físicas e psicológicas que este
estabelece, e numa combinação do controle que o trabalhador exerce sobre suas
tarefas e sobre o uso de suas capacidades (margem de tomada de decisões).
O modelo D/C define que o desgaste no trabalho (“job strain”) ocorre quando
as demandas (exigências) do trabalho são altas e a margem de tomada de decisões
é baixa. Essa condição pode se refletir em conseqüências nocivas à saúde física,
como hipertensão e doenças cardiovasculares (THEORELL, 2001; MELLO et al.,
2004). Dessa maneira, trabalhadores que se defrontam com altas demandas ou
pressões psicológicas no trabalho, combinadas com um baixo controle ou uma baixa
margem de tomada de decisões, correm um risco grave de adoecimento físico e/ou
mental em decorrência do estresse.
Além desses dois componentes fundamentais, Theorell (2001) refere uma
terceira dimensão que não havia sido abordada no início das pesquisas: o apoio
social do trabalho. Essa nova dimensão sugere que receber apoio social das chefias
e dos colegas pode ser um fator amortizador (buffer) da combinação entre altas
demandas e baixo controle no trabalho.
Karasek (1998) acrescenta que o trabalho que apresenta “iso-strain”
grandes exigências e baixo controle somado a um baixo apoio social é o que
possui maior risco para doenças. Além disso, para o autor, a possibilidade de o
apoio social diminuir a tensão psicológica pode depender do grau de integração
social e emocional e da confiança entre os companheiros de trabalho e os
supervisores (apoio sócio-emocional).
Em função da importância desse fator na dinâmica do modelo D/C, o autor
enfatiza que é fundamental que qualquer teoria sobre estresse no trabalho avalie
também as relações sociais no trabalho.
Dessa maneira, uma situação saudável de trabalho seria a que permitisse o
desenvolvimento do indivíduo, alternando entre demandas e períodos de repouso,
40
com o controle do trabalhador sobre o processo de trabalho. Johnson (1996) refere
que pesquisas seguindo esse modelo apontaram para o importante papel das
diferenças individuais no adoecer relacionado ao trabalho. Os resultados
evidenciaram, no entanto, a necessidade de maiores avanços na compreensão da
relação entre as condições de trabalho de controle limitado e as características
pessoais que influenciam na percepção e na busca por controle. Para o autor, esse
modelo contribuiu significativamente para os avanços nesse campo de estudos,
porém algumas questões ficaram em aberto, especialmente as relacionadas com a
cronicidade da experiência estressante, com o significado de “controle” e com o
papel das características individuais de coping.
Quanto às características individuais do trabalhador, Johnson (1996) aponta
para o fato de que o modelo D/C não contempla o impacto individual dos estímulos
psicossociais do trabalho, devendo-se, portanto, investigar a importância da história
de vida individual do trabalhador, suas expectativas e sua percepção, como fatores
de fundamental importância na complexa relação entre estresse e doença.
Theorell (2001) e Rugulies (2004) acrescentam que críticas importantes
direcionadas à pesquisa psicossocial de maneira geral e, em particular, às pesquisas
baseadas no modelo D/C, apontam que, mesmo em estudos prospectivos,
considerados o padrão-ouro da epidemiologia observacional (não clínica), podem
ocorrer viézes se tanto o ambiente psicossocial do trabalho quanto a saúde do
trabalhador forem avaliados com base em auto-relatos, e que esse fato deve ser
mais bem investigado em estudos com um desenho metodológico mais eficaz.
Portanto, cabe questionar por que um mesmo trabalho pode ser descrito
como sendo estimulante e desafiador para um trabalhador, e estressante para outro.
Em função dessas diferenças, Calnan et al. (2001) sugerem que o estresse
ocupacional não pode ser conceitualizado como um fenômeno puramente objetivo,
mas sim que os significados e definições que os trabalhadores atribuem às suas
experiências e aos fatores sócio-culturais que os moldam devem ser também
incluídos no modelo.
Ainda quanto ao viés individual, Theorell (2001) acrescenta que as diferenças
entre as descrições individuais sobre a margem de decisão são explicadas em
grande parte pelo tipo de ocupação, o que significa que essa dimensão é
41
relativamente robusta quando a população trabalhadora em geral é estudada. Já,
em estudos com grupos homogêneos, a variação real das condições de trabalho
pode ser muito pequena, o que faz com que questionários padronizados não sejam
tão apropriados e devam ser substituídos por questionários mais focais, adaptados
para esse grupo em específico.
Em paralelo ao desenvolvimento de várias pesquisas utilizando o modelo D/C
no mundo todo, o modelo ERI começou a ser desenvolvido. A seguir, o mesmo será
apresentado detalhadamente, dada sua relevância para o campo de estudos do
estresse ocupacional e, em especial, para a presente pesquisa, que o utilizou como
principal referência teórico-conceitual.
1.2.2.1.1. O Modelo ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no
Trabalho
O modelo de Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no Trabalho,
também conhecido como ERI (Effort/Reward Imbalance), foi desenvolvido por
Johannes Siegrist em 1986, na Alemanha, a partir dos estudos relacionados ao
modelo Demanda/Controle de Karasek (GUIMARÃES; SIEGRIST; MARTINS, 2004).
Em linhas gerais, ele busca explorar os efeitos adversos dos fatores psicossociais do
trabalho na saúde do trabalhador e, em especial, nas doenças cardiovasculares.
Theorell (2001) sustenta que, de acordo com o modelo, torna-se fundamental
avaliar o grau em que o trabalhador se sente recompensado por seus esforços no
trabalho para se compreender como se dá a combinação entre as condições de
trabalho e a saúde. Portanto, quando um alto grau de esforço não é correspondido
por um alto grau de recompensa, supõe-se que surja tensão emocional e que
aumente o risco de aparecimento de doenças.
Assim sendo, no modelo ERI há estresse crônico no trabalho quando ocorre
um desequilíbrio entre o alto esforço gasto (alta demanda) e a baixa recompensa
recebida (baixa reciprocidade) (SIEGRIST, 1990, 1996, 1999, 2001; SIEGRIST et al.,
1997; SIEGRIST; KLEIN, 1990; SIEGRIST; PETER, 1997; SIEGRIST et al., 2004;
GUIMARÃES; SIEGRIST; MARTINS, 2004).
42
Fonte: Guimarães, Siegrist e Martins (2004)
FIGURA 1 Modelo ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no
Trabalho.
No modelo o esforço é definido como sendo uma resposta individual às
demandas impostas sobre o trabalhador. As fontes de esforço podem ser divididas
em:
ü Esforço extrínseco refere-se ao esforço individual para lidar com as
demandas externas (as exigências do trabalho);
ü Esforço intrínseco refere-se à motivação individual do trabalhador para
corresponder às suas próprias expectativas frente às demandas do trabalho.
Quanto ao que denominou como esforço intrínseco, Siegrist (1996) buscou
desenvolver, no modelo ERI, o conceito de “necessidade de controle”, dando uma
ênfase especial às características individuais do trabalhador.
Para Siegrist (2001), esse conceito, denominado posteriormente de
“supercomprometimento relacionado ao trabalho”, surge como um padrão
individual de coping (enfrentamento) para lidar com as demandas do trabalho,
permitindo especificar os componentes cognitivos, emocionais e motivacionais
Supercomprometimento
(necessidade de controle)
Alto esforço
Baixa recompensa
Salário
Reconhecimento
Segurança
Oportunidade
Demandas
Obrigações
Fatores
intrínsecos
(pessoais)
Fatores
extrínsecos
(situacionais)
O modelo ERI
43
presentes com base no conceito global de comportamento Tipo A, que é identificado
como um “gatilho” capaz de intensificar o estado de alerta em situações de alta
demanda. Assim sendo, os indivíduos que apresentam alta pontuação nesse fator
(supercomprometimento) tendem freqüentemente a julgar de maneira inadequada
(i.e., superestimar ou subestimar) sua percepção pessoal dos estímulos decorrentes
da demanda.
O autor acima citado acrescenta que esse julgamento inadequado acaba
sendo um fator que prolonga os esforços excessivos do trabalhador, ao mesmo
tempo em que proporciona oportunidades de experimentar aprovação, sucesso e
controle. Pessoas com alta necessidade de controle tendem a despender um alto
custo em termos de mobilização de energia, mesmo em situações de relativo baixo
ganho. Isso pode ser explicado parcialmente pelas características de seu estilo
perceptivo e de valoração e também em função da experiência autogratificante de
“estar controlando” uma situação desafiadora. Portanto, altos níveis de necessidade
de controle por um longo período, tanto na vida pessoal quanto na ocupacional,
podem precipitar estados de exaustão (‘imersão’) e colapso psicológico.
Entretanto, como colocam Tsutumi et al. (2001), mesmo na ausência de um
alto nível de supercomprometimento, condições de alto custo ± baixo ganho no
trabalho remetem a experiências estressantes em decorrência da ausência de
reciprocidade nas trocas sociais. Em contrapartida, esforços contínuos excessivos,
em combinação com o desapontamento da expectativa de recompensa em
decorrência do alto nível de supercomprometimento, podem produzir experiências
estressoras mesmo na ausência do desequilíbrio entre os fatores extrínsecos.
Portanto, para os autores, um teste completo do modelo deve englobar as três
condições mencionadas (esforço, recompensa, supercomprometimento).
O modelo ERI, quanto às recompensas ocupacionais, define que as mesmas
ocorrem em três níveis maiores salário, reconhecimento e segurança no
emprego/oportunidades na carreira que abrangem algumas recompensas
específicas. Todas as recompensas avaliadas pelo modelo (i.e., salário, apoio
adequado, tratamento justo, reconhecimento, respeito, perspectivas de promoção,
ausência de mudanças indesejáveis, segurança no emprego e status consistente)
são mensuradas separadamente e depois são resumidas num único indicador global
44
de recompensa. A utilização desse único indicador sugere que todas as
recompensas são iguais, ou que pelo menos estão distribuídas igualmente.
Entretanto, Van Vegchel et al. (2002) alertam que existem desvantagens em
se utilizar um indicador global para o conceito de recompensa, pois não está
estabelecido se elas resultam em conseqüências diferentes ou não, já que na
proposta do modelo são transformadas de maneira indiferenciada num escore total
médio. Os autores alertam para a necessidade de uma nova estratégia de
mensuração das recompensas no modelo ERI, visando obter uma avaliação mais
precisa acerca de quais recompensas estão relacionadas com indicadores
específicos de saúde ocupacional, principalmente quando se considera categorias
ocupacionais que lidam diretamente com pessoas.
Nessa crítica a um dos conceitos fundamentais do modelo ERI a
recompensa Van Vegchel et al. (2002) questionam sua definição, com base no
conceito de hierarquia das necessidades de Maslow, que sugere que as
necessidades primárias (fisiológicas e de segurança) do ser humano devem ser
atendidas antes que se busque atender as necessidades secundárias (psicossociais
de afeto ou estima). Portanto, em comparação com o proposto por Siegrist, no
trabalho, as recompensas relacionadas ao salário e à segurança no emprego seriam
consideradas necessidades de segurança (definidas como primárias), enquanto o
reconhecimento poderia ser considerado uma necessidade social (secundária). Por
esse aspecto, quando essas necessidades básicas estão satisfeitas, os aspectos
motivacionais do trabalho tendem a se tornar mais importantes, sugerindo que as
recompensas podem ser percebidas e valoradas de maneira diferente.
Quanto ao conceito de reciprocidade no trabalho, o modelo ERI assume
que uma pessoa pode se expor a uma condição desfavorável (de baixa
reciprocidade) no trabalho sob três circunstâncias (Rugulies, 2004):
1. Falta de alternativas no mercado de trabalho que permitam que troque seu
emprego desfavorável por um outro, antes que os custos do esforço ultrapassem
os custos de se aceitar benefícios inadequados;
2. A baixa reciprocidade pode ser uma condição aceita por um período específico
de tempo por razões estratégicas (e.g., visando promoção futura);
45
3. O “supercomprometimento relacionado ao trabalho”, que é um padrão específico
de personalidade, pode impedir a pessoa de julgar adequadamente os custos e
os ganhos no trabalho, já que pessoas identificadas como “supercomprometidas”
tendem a exagerar seus esforços acima de níveis considerados apropriados.
Além dos conceitos fundamentais do modelo descritos anteriormente, que
apresentam um importante embasamento sociológico, torna-se essencial
compreender a importância dada por Siegrist em relação à centralidade do trabalho
nas sociedades avançadas.
Siegrist (2001) destaca 4 razões para se compreender essa centralidade:
1. Ter um trabalho é um dos principais pré-requisitos para a obtenção de uma
renda continuada, e o nível de renda tende a determinar uma vasta gama de
oportunidades na vida;
2. Preparar-se para um emprego e a conquista de um status profissional são as
metas mais importantes de socialização primária e secundária. É através da
educação, do treinamento profissional e da aquisição de um status que se
conquista o crescimento pessoal e o desenvolvimento, que se adquire uma
identidade central fora da família e que se molda à atividade humana
intencional e voltada para a conquista de objetivos;
3. A ocupação define o mais importante critério de estratificação social nas
sociedades avançadas. A aprovação social e o reconhecimento presente nas
relações interpessoais dependem fortemente do tipo de trabalho, da profissão
que se exerce e do nível de conquistas profissionais. Além disso, o tipo e a
qualidade da ocupação e, especialmente, o grau de controle sobre o próprio
trabalho, influenciam fortemente nos valores pessoais e nos padrões de
comportamento em áreas que não estão diretamente relacionadas com o
trabalho, como o lazer, a vida familiar, a educação e a atividade política.
4. O ambiente laboral produz demandas contínuas intensas e absorve a maior
quantidade de tempo ativo da vida adulta. A exposição a condições de
trabalho adversas implica em riscos à saúde em virtude da quantidade de
tempo despendida sob essa condição e a qualidade das demandas
46
enfrentadas no local de trabalho. Por outro lado, o trabalho, simultaneamente,
proporciona uma oportunidade única de se experimentar recompensa,
reconhecimento, sucesso e satisfação.
A partir dessas considerações, o autor acima citado acrescenta que, para
uma grande parte da população adulta, a posição profissional garante um papel
social fundamental. A partir dessa assertiva, qualquer ameaça à continuidade desse
papel pode produzir um quadro de distresse (mau estresse) emocional permanente,
principalmente ao se considerar as mudanças organizacionais e a instabilidade
crescente características dos dias de hoje.
Dessa maneira, a premissa central do modelo propõe que o papel exercido
pelo trabalho define um elo crucial entre as funções auto-regulatórias, como auto-
estima e auto-eficácia, e a estrutura de oportunidade social. Portanto, o modelo ERI
traz uma contribuição histórica e biográfica para a compreensão da interação
homem/trabalho, pois avalia as características da pessoa assim como as do
ambiente, através de uma análise que contextualiza a compreensão histórica do
curso de vida e as expectativas decorrentes que os indivíduos trazem para o local de
trabalho.
Nesta direção, Schnall (1998) acrescenta que uma das grandes contribuições
do modelo ERI ao campo de estudos do estresse ocupacional é a análise da
combinação de características pessoais e situacionais, centrando-se nas
recompensas ocupacionais e relacionando o ambiente “psicológico” do trabalho às
condições mais amplas do mercado de trabalho. Para ao autor, Siegrist desenvolveu
um modelo teórico conceitual de estresse no trabalho numa perspectiva sócio-
histórica que aponta centralmente para a dimensão psicológica da justiça distributiva
e da reciprocidade nas trocas sociais.
O modelo ERI foi testado em diversos estudos, em vários países, avaliando
as conseqüências do desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho à saúde
do trabalhador, tais como: doenças cardiovasculares, problemas gastrintestinais e
ósteo-musculares, transtornos mentais e percepção subjetiva da saúde.
Segundo Siegrist (1996; 2001), Steenland et al. (2000) e Siegrist et al., 2004,
encontrou-se uma prevalência de 10 a 45% de trabalhadores que apresentavam
47
escores finais indicando desequilíbrio, fato que sugere ser o ERI uma medida capaz
de identificar uma parte substancial da força de trabalho como estando submetida a
essa forma de estresse ocupacional.
De maneira geral, um número crescente de estudos prospectivos e de corte
transversal baseados no modelo ERI sugerem que o desequilíbrio prolongado entre
esforços e recompensas pode ser um fator de risco substancial para a doença
cardiovascular. Além disso, o modelo ERI também prognostica que, em
trabalhadores que apresentam a característica de “supercomprometimento”, os
efeitos desse desequilíbrio no seu bem-estar são mais potentes quando comparados
com aqueles que não apresentam tal característica (VAN VEGCHEL et al., 2001;
TSUTUMI et al., 2001; NIEDHAMMER et al., 2004).
Quanto à saúde mental, segundo Rugulies (2004), alguns estudos
prospectivos com diferentes períodos de follow-up e diferentes indicadores de saúde
mental apontaram que o desequilíbrio no ERI aumenta significativamente o risco de
adoecimento mental, mas ainda é necessário aguardar os resultados de estudos
prospectivos de longo prazo ainda em andamento para uma compreensão mais
aprofundada do tema. Para o autor, por se tratar de um modelo relativamente novo,
o ERI ainda não foi tão extensamente estudado e criticado quanto o modelo DC,
mas algumas críticas gerais acerca das pesquisas psicossociais também se aplicam
a ele.
A partir dos pressupostos até aqui apresentados observa-se que o adoecer no
trabalho, principalmente em decorrência do estresse ocupacional, impacta de
maneira importante na qualidade de vida pessoal, social e ocupacional (CAMARGO;
OLIVEIRA, 2004). É com base então nessa associação entre Estresse Ocupacional
e Qualidade de Vida que, no presente estudo, se optou por utilizar como referencial
teórico-conceitual as contribuições mais relevantes e recentes nessas duas áreas de
conhecimento.
A seguir apresenta-se então uma breve descrição acerca da Qualidade de
Vida.
48
1.2.3. Qualidade de Vida
Nos últimos 30 anos multiplicaram-se as interrogações acerca do bem-estar
do homem no trabalho e o termo Qualidade de Vida (QV), freqüentemente utilizado
para explicar esse bem-estar, tornou-se cada vez mais popular, sendo usado de
maneira desgastada e até banalizada em diversos contextos.
De maneira geral, pode-se afirmar que o conceito de QV é hoje um elemento-
chave para as ciências sociais, humanas, biológicas e do ambiente, exercendo
grande impacto na pesquisa e na prática.
Goulart e Sampaio (2004) referem que essas diversas áreas do conhecimento
têm contribuído para o desenvolvimento e a utilização do conceito de QV através de
diferentes enfoques:
ü Áreas sociais e do ambiente QV se traduz através de indicadores sociais,
como os relacionados com a riqueza e o bem-estar da população (educação,
renda, condições de moradia, entre outros), indicadores da qualidade do
meio-ambiente (qualidade do ar, preservação de recursos naturais, combate à
poluição), o IDH Índice de Desenvolvimento Humano, entre outros;
ü Aéreas da saúde QV se traduz pela qualidade da saúde, através de
indicadores de natalidade, morbidade, mortalidade, expectativa de vida da
população, emergência de doenças contagiosas, entre outras. A Psicologia
têm contribuído para essa compreensão acrescentando indicadores
relacionados ao estresse, à busca da satisfação no trabalho, à importância da
saúde mental, entre outros.
Para Berlim e Fleck (2003), desde a década de 70, a avaliação da QV
cresceu de uma atividade relativamente restrita para se transformar numa disciplina
formal com uma estrutura teórica coerente, com métodos reconhecidos e múltiplas
aplicações.
Entretanto, na busca por respostas objetivas, permanece forte a tendência a
se afirmar que QV relaciona-se necessariamente com a existência de indicadores
positivos ou negativos nas diferentes áreas em que se aplica. Como afirmam Goulart
49
e Sampaio (2004), a presença de indicadores positivos, como, por exemplo, alta
renda per capita, expectativa de vida longa e boa qualidade do ar, pode indicar as
condições físicas ou econômicas de uma sociedade, mas não reflete exatamente o
bem-estar do seu povo.
A partir dessa colocação, pode-se supor que QV não é sinônimo de qualidade
do ambiente, de saúde física/mental, de quantidade de dinheiro, entre outros. Ela é
um conceito abstrato que deve conseguir refletir a interação do homem com seu
meio. Portanto, QV diz respeito justamente à maneira pela qual o indivíduo interage
com o mundo externo, o que se dá através da sua individualidade e da sua
subjetividade.
Prutkin e Feinstein (2002) colocam que as diferentes abordagens de QV ainda
trazem à tona debates acerca da definição básica do conceito, que é acompanhado
por uma variedade de índices de medida.
Para esses autores, as diferentes formas de mensuração ainda representam
problemas para o conceito de QV pelo fato de se basearem em fontes que refletem
duas correntes distintas de pensamento: os índices médicos de estado de saúde e
os índices derivados da aplicação de métodos sociométricos e psicométricos que
avaliam felicidade, bem-estar e outros tipos de “impressões”. No entanto, nenhuma
dessas fontes de medidas baseou-se no princípio básico de que a QV de uma
pessoa é na realidade um “estado de espírito” e não um estado de saúde.
Esse aspecto subjetivo da avaliação de QV é fonte de diversas críticas.
Prutkin e Feinstein (2002) apontam para o fato de que mensurar a percepção de QV
através de questionários parece ser uma forma de simplificar um construto que é na
realidade complexo, reduzindo o fenômeno a um único índice. Já a alternativa a
esse problema parece ser criar um espaço adequado para a expressão pessoal que
permita ao sujeito explicitar seus sentimentos individuais, o que metodologicamente
traz alguns entraves em estudos epidemiológicos, por exemplo.
Dentre inúmeras definições, um dos conceitos de QV mais utilizados é o da
Organização Mundial da Saúde (OMS) que, através do grupo criado para
desenvolver o questionário WHOQOL, que avalia a QV relacionada à saúde,
apresenta uma definição única (comum) e transcultural (WHOQOL GROUP, 1998):
50
QV é a percepção do indivíduo de sua posição na vida e no contexto
da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos
seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Contém
domínios que incluem a saúde física das pessoas, estado
psicológico, nível de independência, relações sociais e sua relação
com características importantes do ambiente (WHOQOL GROUP,
1998, p.551).
Essa definição reflete a visão de que qualidade de vida se refere a uma
avaliação subjetiva que está embutida num contexto cultural, social e ambiental.
Pelo fato dela focalizar a qualidade de vida percebida pelo respondente, não deve se
esperar que ela forneça um meio de mensurar tipos específicos de sintomas,
doenças ou condições de saúde, mas sim os efeitos de doenças e intervenções na
QV. Dessa maneira, QV não pode ser equacionada simplesmente em termos de
“estado de saúde”, “estilo de vida”, “satisfação na vida”, “estado mental” ou “bem-
estar” (WHOQOL GROUP, 1998).
Skevington, Lotfy e O’Connell (2004) ainda acrescentam que, segundo essa
definição, para dimensionar QV é importante conhecer o quão satisfeita ou
preocupada uma pessoa está em relação a aspectos importantes de sua vida,
representados pelos diferentes domínios de QV, sendo essa interpretação um
assunto altamente individual.
Para Minayo, Hartz e Buss (2000), a promoção da saúde é um dos fatores
que garantem a Qualidade de Vida da população, devendo-se “respeitar a satisfação
das necessidades mais elementares da vida humana: alimentação, acesso à água
potável, habitação, trabalho, educação, saúde, lazer, conforto, bem-estar e
realização individual e coletiva”.
Numa tentativa de conceituação do termo, Gillen (2004) coloca que a QV é
um fenômeno multidimensional altamente individualizado, caracterizado por
percepções contextuais acerca de estados funcionais que são influenciados pela
cultura, pelas doenças, pela incapacitação, por modalidades de tratamentos e pela
política. A QV envolve a percepção da pessoa acerca de sua capacidade funcional a
partir do seu bem-estar físico, psicológico, interpessoal, financeiro e social.
Frente aos diversos enfoques de QV, Berlim e Fleck (2003) colocam que o
conceito abrange tanto aspectos médicos quanto não médicos, incluindo o
51
funcionamento físico (e.g., capacidade de desempenhar atividades diárias), o
funcionamento psicológico (e.g., bem-estar emocional e mental), o funcionamento
social (e.g., o relacionamento com outras pessoas e a participação em atividades
sociais) e a percepção do estado de saúde, de dor e da satisfação com a vida.
Na opinião de Gillen (2004), a avaliação do estado funcional parece ser a
medida de QV mais pertinente aos ambientes de trabalho, porque permite investigar
as limitações quanto ao desempenho da capacidade laboral de um trabalhador
“incapacitado”.
Para a autora acima citada, outras medidas importantes para esse contexto
incluem a avaliação da capacidade de retorno ao trabalho e do desempenho das
atividades ao longo do dia. A avaliação da diminuição da capacidade funcional
parece ser útil para a identificação precoce de incapacidade para o trabalho. A
incapacidade, por outro lado, pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de
complicações maiores para a saúde do trabalhador, podendo levar a uma
cronicidade do seu quadro de doença, acompanhada por uma maior dificuldade de
desempenhar atividades em casa, no trabalho e no lazer, e pelo desenvolvimento de
estados ansiosos e depressivos, interferindo na qualidade de vida de maneira global.
Em paralelo ao desenvolvimento na área médica do conceito de QV, a
abordagem denominada QVT Qualidade de Vida no Trabalho, apresentada a
seguir, desenvolveu-se a partir de referenciais diferentes, buscando garantir uma
força de trabalho saudável, competente e produtiva.
1.2.3.1. Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
Chiavenato (1999) refere que o termo Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)
foi cunhado por Louis Davis na década de 1970 e refletia a preocupação com o bem-
estar geral e a saúde dos indivíduos no desempenho de suas tarefas.
Para Goulart e Sampaio (2004), no passado, o tema QVT era representado
pela busca de satisfação do trabalhador e pela tentativa de redução do mal-estar e
do excessivo esforço no trabalho. Ao longo do tempo, a partir da sistematização dos
52
métodos de produção nos séculos XVIII e XIX, essas condições de trabalho
passaram a ser estudadas cientificamente pelos economistas liberais, passando
para os teóricos da Administração Científica, chegando até a Escola de Relações
Humanas, iniciada por Elton Mayo.
A expressão QVT surge, então, no início da década de 50, a partir das
contribuições de Mayo, Maslow, Herzberg e Lewin acerca da importância dos
aspectos psicossociais do trabalho, das motivações humanas e dos fenômenos
grupais para o aumento da produtividade e do interesse das pessoas pelo trabalho.
Foi Eric Trist quem iniciou uma abordagem sócio-técnica da organização do
trabalho. Através de estudos que visavam tornar o trabalho menos penoso, suas
pesquisas se centraram nas inter-relações entre o trinômio Homem Trabalho
Organização.
Segundo Rodrigues (1994 apud BERAQUET, 2005), o conceito de QVT vem
se desenvolvendo desde então, tendo passado por diferentes caminhos e com
diferentes abordagens, enfatizando ora a reação individual do trabalhador às
experiências de trabalho, ora a melhoria das condições e ambientes de trabalho.
Dentro dessa mesma perspectiva, para Guimarães et al. (2004, p. 215),
A atual ênfase dada a QVT preocupa-se em humanizar os ambientes
organizacionais, fazendo vistas ao cargo, às interações e às políticas
presentes; sua tônica é um maior equilíbrio entre trabalho e lazer,
indo além do que permeia a organização, no anseio de que um bem-
estar se estenda para todos os ambientes que façam parte da vida
do trabalhador (GUIMARÃES et al., 2004, p. 215).
Huse e Cummings (1985 apud CARDOSO, 1999) referem que a baixa QVT
nas organizações é a maior causa da crescente alienação e insatisfação do
trabalhador e da declinação da produtividade.
Sobre a importância da QVT, Lacaz (2000, p. 156) coloca que é “inadmissível
falar em qualidade do produto sem tocar na qualidade dos ambientes e condições de
trabalho, o que seria sobremaneira auxiliado pela democratização das relações
sociais nos locais de trabalho”.
53
De maneira concordante, para Cortés Rubio (2003), a inclusão da satisfação
laboral entre os atributos da gestão da qualidade nas empresas deriva da influência
que a satisfação profissional exerce na qualidade do trabalho realizado. Portanto, ela
deve estar contemplada dentro da organização como um dos pilares estruturais que
favorecem o bom funcionamento e a qualidade do serviço prestado, partindo da
afirmativa de que parece ser impossível satisfazer as expectativas do cliente externo
sem buscar satisfazer às do interno.
Para esse autor, a satisfação profissional pode ser definida como “o grau de
bem-estar que o indivíduo experimenta em relação ao seu trabalho”. Já o conceito
de qualidade de vida profissional é
[...] o sentimento de bem-estar que é derivado da percepção do
indivíduo acerca do equilíbrio entre as demandas ou cargas do
trabalho e os recursos (psicológicos, organizacionais e relacionais)
de que dispõe para enfrentar essas demandas (CORTÉS RUBIO,
2003, p. 288).
Nessa perspectiva, a European Foundation (2002) acrescenta que promover
QV significaria promover a qualidade do trabalho e do emprego tendo como ponto
de partida os seguintes objetivos:
ü Garantir a segurança na carreira e no emprego, assegurando a
empregabilidade, a renda, a proteção social e o direito dos trabalhadores;
ü Manter e promover a saúde e o bem-estar dos trabalhadores através dos
cuidados à saúde e à exposição a riscos no trabalho, e de uma organização
do trabalho mais adequada e eficaz;
ü Desenvolver habilidades e competências através da qualificação, do
treinamento, do desenvolvimento na carreira;
ü Reconciliar a vida fora e dentro do trabalho através da redução ou adequação
da extensão da jornada de trabalho, da flexibilização do tempo dedicado ao
trabalho e da criação de estruturas sociais de apoio.
54
De acordo com Limongi França (2004), as fontes mais sólidas de indicadores
de QV contemplam uma avaliação dos fatores econômicos, organizacionais e
médicos (saúde física e mental) dos trabalhadores. As avaliações que buscam
contemplar esses fatores cobrem os grandes eixos da qualidade de vida do trabalho,
tanto do ponto de vista da empresa, como do ponto de vista do empregado, quais
sejam características sócio-funcionais, processos de relação de trabalho e de
produção e saúde ocupacional.
Para a autora, nas empresas, para uma avaliação adequada da QV no
trabalho, além da utilização de indicadores mais objetivos, relacionados à
produtividade, custos, assiduidade, pontualidade, entre outros, é necessário tornar
mensuráveis aspectos usualmente subjetivos acerca do bem-estar das pessoas na
organização. Através de avaliação desses indicadores é possível viabilizar uma
maior capacidade estratégica, gerencial e operacional para questões de qualidade
de vida no trabalho, destacando-se os:
ü Indicadores da Saúde: As Normas Regulamentadoras da legislação de
Saúde e Segurança podem ser entendidas como valiosos indicadores de QV
nas empresas, uma vez que determinam programas de eliminação, controle e
preservação da saúde e conseqüente bem estar no trabalho (CIPA, SIPAT,
PPRA, PCMSO).
ü Indicadores Organizacionais: A carreira é um poderoso indicador
organizacional, assim como benefícios, participação em decisões, entre
outros. Um outro importante medidor da percepção do funcionário das
questões organizacionais é a avaliação da QVT grau de satisfação do
funcionário.
Donaldson (1999) afirma que, em decorrência da evolução do conceito e das
estratégias de mensuração de QV, frente a números que apontam para as perdas
em produtividade, para os índices de absenteísmo e de licenças médicas, para os
resultados dos programas de qualidade total, as empresas passaram a implementar
ações que visem à melhoria da Qualidade de Vida no trabalho e da Qualidade de
Vida do trabalhador, pois a promoção de QV aumenta o comprometimento com a
organização e a produtividade, diminuindo os índices de absenteísmo e de atrasos.
55
Lacaz (2000) acrescenta que, em decorrência das recentes mudanças na
organização do processo de trabalho, o enfoque em QVT
necessita pensar em indicadores epidemiológicos que expressem as
relações saúde/doença e as novas formas de gestão, divisão e
organização da produção, representadas pelas doenças relacionadas
ao trabalho, cujo nexo com ele têm causalidade mais complexa
(LACAZ, 2000, p.151).
Delineia-se uma clara semelhança entre os fatores apontados acima e os
descritos como protetores para a saúde mental e para a satisfação no trabalho, que
são investigados nos principais modelos de estresse ocupacional. Dessa maneira,
partindo-se do estado da arte sobre as pesquisas neste campo de estudos que
reconhecem consensualmente a relação entre Estresse Ocupacional e Qualidade de
Vida, o presente estudo busca dar visibilidade a estes fatores. Para tanto, optou-se
por utilizar o questionário ERI, para avaliar o estresse ocupacional, e o questionário
WHOQOL-Bref, desenvolvido pelo WHOQOL GROUP (1998), para avaliar a QV de
trabalhadores do setor de manutenção de aeronaves de uma instituição militar
brasileira.
.
CAPÍTULO 2
A ATIVIDADE AERONÁUTICA E
O TRABALHO DE MANUTENÇÃO DE AERONAVES
57
Sobre Aviação
O homem que voa, mais que épico é um ser utópico.
Quem voa, sobreleva.
Quem voa busca no céu um lugar de onde Deus possa vê-lo
melhor.
Quem voa perpassa as sete cores do arco-íris.
Quem voa reparte com os anjos a castidade azul do céu.
Quem voa é confidente das nuvens.
Quem voa troca o beco pela linha do horizonte.
Quem voa sente o perfume da rosa-dos-ventos.
Quem voa contempla o instante em que o sol se cala.
Quem voa é capaz de ouvir e de entender estrelas.
Quem voa, quando pousa, está regressando da eternidade.
Só quem voa descobre o tamanho de Deus.
Armando Nogueira
58
Para contextualizar o trabalho de manutenção de aeronaves, interesse focal
da presente investigação, optou-se neste capítulo por descrever em linhas gerais a
atividade aeronáutica, situando sua expansão no Brasil, acompanhada por uma
breve descrição da crise pela qual vem passando na atualidade.
Buscou-se apresentar aspectos relevantes relacionados à aviação militar
brasileira, evidenciando suas normas e valores. Descreve-se então a atividade de
manutenção aeronáutica civil e militar, finalizando com as repercussões de todo
esse contexto para a segurança na aviação.
A opção por apresentar uma contextualização dos principais aspectos
relacionados à atividade aérea justifica-se pela necessidade de apresentar o cenário
no qual o trabalhador militar de manutenção de aeronaves militares no Brasil está
inserido, o que permitirá uma compreensão de aspectos relevantes ao trabalho
dessa categoria ocupacional.
2.1. A atividade aeronáutica
A aviação constitui o primeiro grande invento do século XX, apesar de
abranger um amplo espectro temporal, que se estende da mitologia grega, com
Dédalo e Ícaro, até a máquina voadora mais pesada do que o ar proporcionada pela
tecnologia moderna.
A cada ano cerca de um bilhão de pessoas realiza viagens aéreas domésticas
ou internacionais, número este que cresce constantemente, com previsão de dobrar
nas próximas duas décadas. No Brasil, a aviação civil transportou cerca de 36
milhões de passageiros durante o ano de 2002, sendo 4,4 milhões em vôos
internacionais (DAC, 2003).
Segundo levantamento realizado pela consultoria Aerostrategy (2004) em
2003, a frota de aeronaves brasileira, com um total de 10681, é a maior da América
Latina (29%), que, juntamente com a do México (25%), soma mais da metade de
toda a frota aérea da região.
59
Frota aérea latino-americana em 2003
México
25%
Colômbia
7%
Argentina
7%
Chile
7%
Outros países
25%
Brasil
29%
FIGURA 2 Distribuição da frota de aeronaves comerciais na América Latina.
Fonte: Aerostrategy (2004)
O transporte aéreo é essencial para o desenvolvimento e a integração
nacional de um país de extensão continental como o Brasil. Faz parte do Setor
Terciário da economia de um país, ou seja, é um setor de serviços, de acordo com
as Contas Nacionais.
De acordo com Burle (2003) o setor de transporte aéreo envolve todas as
atividades que, de forma direta ou indireta, têm a função de propiciar o transporte de
passageiros e de carga por meio de avião, que envolvem:
a) os serviços de tripulantes e comissários,
b) a manutenção e revisão de aeronaves e peças,
c) a venda de passagens e apoio aos passageiros e à carga nos aeroportos e
em agências de passagens,
d) a administração e operação de aeroportos,
e) o apoio aos aviões nos aeroportos,
f) o auxílio à navegação aérea,
g) o abastecimento de combustível,
h) os investimentos em aeroportos, dentre outras atividades.
60
A aviação comercial e civil é a base do transporte aéreo moderno e dentro
dela estão contidas a aviação comercial de grande porte, a aviação regional, e a
aviação executiva. Já, a aviação militar, como alerta Burle (2003), é considerada à
parte da aviação civil, pois pertence a um contexto muito específico da estrutura
militar, que tem como objetivo primordial garantir a soberania e a segurança
nacional.
Entretanto, apesar dessa separação conceitual, a estreita relação entre a
aviação militar e a civil possui importância central na evolução e na compreensão do
estado atual da aviação mundial e da brasileira.
A influência militar nasce nas Guerras Mundiais e segue em direção às
conquistas aeroespaciais, que vão desde o primeiro satélite lançado, o Sputnik, em
1957, passando pelo primeiro homem tripulando uma nave aeroespacial, Gagarin,
até a missão que levou o homem à Lua, em 1969. Dessa maneira, evidencia-se que
grande parte das conquistas científico-tecnológicas que contribuíram profundamente
para a evolução da aviação mundial está associada à atmosfera militar.
Cabe acrescentar que essa forte associação é marcante na aviação brasileira,
que é controlada pelo Comando da Aeronáutica, através do Departamento de
Aviação Civil (DAC), setor militar. Isto ocorre somente em seis países do mundo.
Segundo Itani (1998), um dos graves problemas decorrentes desta vinculação é a
falta de um organismo independente para análise de acidentes, o que gera uma
dificuldade para se obter informações e documentos, dentre outros.
A estrutura da aviação civil no Brasil é basicamente militarizada. Não só a
forma como o trabalho se organiza internamente nas empresas, a sua hierarquia, e
também todo o funcionamento da aviação comercial se estabelece dependente da
organização militar, notadamente, do Comando da Aeronáutica.
Palma (2002, p.190) faz uma reflexão crítica sobre a repercussão do
militarismo na aviação civil ressaltando que, historicamente, os “militares sempre se
pronunciaram em favor do capital (empresas), em detrimento das reivindicações e
anseios dos trabalhadores”. Essa característica faz com que, por exemplo, seja difícil
obter a liberação de dados essenciais para estudar a saúde dos aeronautas, como
ocorreu na condução da pesquisa de doutorado realizada por Palma, o que limitou
61
as possibilidades de identificação, com maior precisão, das características de morbi-
mortalidade dessa categoria ocupacional.
Além disso, observa-se que a mesma dificuldade em relação à obtenção de
informações ou dados estende-se, também, aos acidentes e incidentes no setor.
Sob responsabilidade da Aeronáutica, as informações completas sobre os incidentes
e acidentes são mantidas sob sigilo (ITANI, 1998). O mesmo se refere aos dados
sobre a saúde dos aeronautas.
Na presente investigação, diferentemente, talvez pelo fato da entrada em
campo da pesquisadora e dos auxiliares ter sido solicitada pela própria instituição,
não se pode dizer que tenha havido omissão de qualquer informação solicitada, ou
entraves e resistências com vistas à sua realização por parte de qualquer instância,
setor ou funcionário. Cabe lembrar que os trabalhadores da amostra são militares e
foram convocados pelo serviço de saúde da instituição e estariam cumprindo uma
determinação superior, a qual não poderiam deixar de participar. O que se observou,
no entanto, é que estes cooperaram de maneira efetiva para dar a maior visibilidade
possível aos problemas que poderiam estar contribuindo para a situação de alto
estresse vivenciada pelos mesmos, encontrando-se então um clima de grande
interesse, motivação e cooperação, que favoreceu em muito a coleta de dados em
campo.
Palma (2002) também coloca que o fato da aviação civil no Brasil ser regida
por regras militares implica em ter que suportar as condições impostas aos
profissionais militares”, o que pode fazer com que essa população de trabalhadores
civis tenha que se comportar como “soldados”, isto é, “super-homens”.
Entretanto, a atividade aeronáutica, por sua alta complexidade e pela
existência inerente do risco constante, acaba necessitando, inevitavelmente, de
mecanismos de controle e de proteção ao risco. Conseqüentemente, a organização
aeronáutica demanda uma estrutura bastante rígida, na qual suas atividades são
intensamente reguladas e seu desempenho diário exaustivamente esquadrinhado, o
que acaba sendo suprido pela organização e hierarquização militar.
A partir dessas considerações, que introduzem em linhas gerais a aviação no
Brasil, faz-se necessário descrever, a seguir, o momento pelo qual passa a aviação
62
brasileira, pois esse dado apresenta implicações importantes para o contexto atual
do trabalho de manutenção aeronáutica.
2.2. A crise atual da aviação brasileira
A década de 90 marcou uma importante mudança de rumos na aviação
brasileira e mundial. Foi a partir dela que vários trabalhadores do setor aeronáutico
foram demitidos. Com a tendência global de “enxugar” empresas em nome da
produtividade, aumentou a terceirização no setor. Além disto, as privatizações, como
a da VASP, facilitaram este processo de demissões (PALMA, 2002). Esse quadro
pode ser ilustrado através dos seguintes números:
a) Entre o final de 1991 e o final de 1993 houve uma redução de 20% dos
postos de trabalho no setor;
b) Em 1991, 44.535 funcionários trabalhavam entre a VARIG, VASP e
TRANSBRASIL. Em 1995 restaram 35.000;
c) Itani (1998) coloca que entre 1986 e 1996 houve uma redução de 25% no
total de trabalhadores. Porém, entre 1991 e 1994 essa redução foi de
30%.
De maneira geral, alguns eventos importantes concorreram para agravar a
situação do setor (PALMA, 2002; BURLE, 2003):
a) entre 1991 e 1992, o conflito no Golfo Pérsico atingiu todas as grandes
companhias de transporte aéreo;
b) a privatização da VASP, que resultou na redução de 38% do pessoal entre
1991 e 1992 e 57% entre 1991 e 1993;
c) o fechamento da Cruzeiro, absorvida pela VARIG, concorreu para um
movimento diferenciado no quantitativo de pessoal, em relação às demais
companhias aéreas, entre 1992 e 1993;
d) com a desregulamentação ocorrida em 1992, foi permitido que as
companhias aéreas brasileiras (Transbrasil, Vasp e TAM e Varig)
63
operassem vôos para os EUA, o que, em contrapartida, fez com que
quatro empresas norte-americanas (American, United, Continental e Delta)
passassem a operar vôos para o Brasil, estabelecendo uma competição
desigual para as brasileiras.
É importante ressaltar que esse mercado competitivo induziu que a gestão
das empresas passasse de uma visão puramente operacional para uma visão de
negócios. As rotas passaram a ser definidas com base na demanda por vôos e só
então se verifica seu impacto operacional de forma a definir-se a malha efetiva da
empresa. Além disso, a grande desvalorização cambial ocorrida em 1999 revelou a
ineficiência de algumas companhias em operar em mercado livre, haja vista os
resultados financeiros apresentados naquela ocasião (BURLE, 2003).
Segundo Soares de Mello (2003), até o início da desregulamentação, o
mercado aéreo brasileiro era claramente dividido em companhias internacionais,
nacionais e regionais, sendo que estas tinham área geográfica de atuação bem
definida, limitando muito a concorrência entre elas. Atualmente, foram eliminadas
várias das barreiras à concorrência e a divisão desses grupos já não está bem
definida.
Como relatado anteriormente, a aviação mundial, incluindo a brasileira,
passou por importante crise na década de 90, e ainda não se recuperou.
Atualmente, a aviação comercial, em todo mundo, vivencia uma profunda crise
estrutural, ou seja, há um excesso de oferta permanente, e a taxa de retorno tem se
apresentado significativamente baixa, que foi agravada especialmente pelos
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, pela Guerra do Iraque em 2003 e,
mais recentemente, pela pneumonia asiática (BURLE, 2003).
Nesse contexto, a produtividade no setor de transporte aéreo é, normalmente,
mensurada através dos “assentos-quilômetros oferecidos e/ou utilizados”;
“toneladas-quilômetros oferecidos (ATK) e/ou utilizados” e “passageiros-quilômetros
transportados” (PALMA, 2002).
É importante ressaltar que a realidade econômica brasileira possui alguns
agravantes para garantir a competitividade no setor, pois, do total de custos de uma
empresa aérea no Brasil, 35% são impostos (em comparação com 16% na Europa e
64
7,5% nos Estados Unidos), 20% são mão-de-obra, 25% são combustível, 15% são
despesa de leasing, e 5% são outros custos (BURLE, 2003). Além disso, o tamanho
do mercado das empresas brasileiras é muito menor do que o das empresas norte-
americanas, o que permite que estas últimas ganhem a concorrência com as
primeiras no que se refere ao preço reduzido das passagens.
Como a crise no setor é mundial, observa-se, como tendência nos EUA e na
União Européia, a incorporação das empresas menores pelas maiores, a fusão de
pequenas empresas, com o objetivo de formar empresas fortes, e o crescimento das
empresas de baixo custo e de baixo preço.
Nessa mesma direção, cabe ressaltar que, além dos aspectos numéricos, faz
parte da essência do trabalho dos aeronautas a responsabilidade pela segurança no
transporte dos passageiros, o que exerce constante pressão para todos os
trabalhadores envolvidos na atividade aérea.
As considerações acima apresentadas refletem um quadro abrangente da
atividade aérea no Brasil, com importante relevância para a aviação comercial. No
caso da aviação militar, que também sofre restrições financeiras, outros aspectos,
descritos a seguir, são importantes para a compreensão do seu contexto atual.
2.3. A aviação militar brasileira
A aviação militar brasileira possui um papel preponderante na evolução e na
regulamentação do setor aeronáutico no país. Entretanto, para um maior
esclarecimento das particularidades do universo da aviação militar faz-se
necessário apresentar os principais aspectos da estrutura e do funcionamento da
Aeronáutica e da carreira militar no Brasil.
Essa breve descrição permite a contextualização de aspectos específicos da
Aeronáutica, relacionando-os à cultura e aos valores militares de maneira geral, o
que contribui para um maior embasamento acerca do ambiente no qual está
inserida a população investigada nesse estudo.
65
2.3.1. As Forças Armadas e a aviação militar no Brasil
Os dados constantes nesta seção foram obtidos através de informações
fornecidas pelo Estado Maior das Forças Armadas (EMFA, 1995).
A origem da aviação militar no Brasil data de um pouco antes do início da 1
a
Guerra Mundial, quando, mediante um acordo governamental, houve, no país, a
presença de militares franceses ligados ao que, naquele tempo, não era ainda uma
arma aérea, mas uma capacidade bélica de emprego dos "engenhos voadores”, com
o objetivo de treinar pilotos militares da Marinha e do Exército, visando ao emprego
de aeronaves em objetivos militares.
Essa missão deu origem à Escola Brasileira de Aviação, que iniciou suas
atividades em 2 de fevereiro de 1914, interrompendo-as em 18 de junho do mesmo
ano, por conta da eclosão da 1
a
. Guerra Mundial. Na época, o Brasil recebeu uma
série de aeronaves para treinamento de suas Aviações - Militar (Exército) e Naval
(Marinha) - e enfrentou o novo desafio adestrando e preparando seu pessoal. Além
disso, seguindo uma tradição histórica iniciada no século 17, partiu-se, pelo ar, para
o desbravamento do interior do país, lançando-se na abertura de novas rotas
aéreas, com o apoio do Departamento de Comunicações do então Ministério de
Viação e Obras Públicas, que fazia o controle do movimento dessas e de outras
aeronaves.
Foi grande a participação das comunidades municipais, que, para auxiliar a
Aviação, escreviam o nome da cidade sobre o telhado das estações ferroviárias,
como forma de orientar os aviões que seguiam para o interior do país. Nessa época,
as facilidades e auxílios para a navegação aérea praticamente inexistiam.
Outro evento histórico importante ocorreu em 1931, quando dois Tenentes da
Aviação Militar saíram do Rio de Janeiro e chegaram a São Paulo, conduzindo uma
mala postal com 2 cartas. Nasceu daí o Correio Aéreo Militar (CAM), que derivou
para o atualmente denominado Correio Aéreo Nacional (CAN), com a missão de
assegurar a presença do Governo Federal em todas as regiões do Brasil. A
importância estratégica desse fato, por exemplo, levou o Congresso a exigir da
Força Aérea Brasileira a continuidade da operação do Correio Aéreo Nacional,
incluindo-o na Constituição de 1988.
66
Os fatos históricos abordados até o momento permitiram que se criasse no
País, no final da década de 30, uma atmosfera de questionamento sobre a arma
aérea e sobre a forma que ela deveria ser administrada pela Nação. As duas
Aviações Militares Marinha e Exército de então buscavam defender posições: se
as armas aéreas deveriam continuar no âmbito das duas Forças, ou se elas
deveriam agrupar meios aéreos de ambas e constituir uma arma única e
independente, vindo a ser a única a administrar a atividade aérea no Brasil. A
segunda corrente prevaleceu, tornando-se vitoriosa no dia 20 de janeiro de 1941,
quando foi criado o Ministério da Aeronáutica, tendo como primeiro titular da pasta
um civil Dr. Joaquim Pedro Salgado Filho. Esta foi a solução adotada pelo Governo
de então para manter as duas Forças em harmonia.
Os anos seguintes permitiram um engrandecimento do setor aeronáutico
brasileiro, tendo sido criada uma respeitável infra-estrutura por todo o País,
aumentando a capacidade tecnológica e organizando toda a aviação civil e militar. O
Ministério da Aeronáutica manteve-se atuante até 10 de junho de 1999, quando foi
criado o Ministério da Defesa. A partir de então, passou a ser denominado Comando
da Aeronáutica.
2.3.2. As Forças Armadas
Para se compreender o papel da Aeronáutica dentro das Forças Armadas
Brasileiras faz-se necessário visualizar inicialmente como elas estão estruturadas e
como se articulam.
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil de 1999 (BRASIL,
1999), as Forças Armadas são constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica. Elas são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
Elas estão assim organizadas: são subordinadas ao Ministro de Estado da
Defesa, dispondo de estruturas próprias. A Marinha, o Exército e a Aeronáutica
67
dispõem, singularmente, de um Comandante, nomeado pelo Presidente da
República, que exercerá a direção e a gestão da respectiva Força.
Dentro desse contexto, o preparo e o emprego das Forças Armadas fica sob
responsabilidade do Ministério da Defesa, que tem como área de competência os
seguintes assuntos:
a) política de defesa nacional;
b) política e estratégia militares;
c) doutrina e planejamento de emprego das Forças Armadas;
d) projetos especiais de interesse da defesa nacional;
e) inteligência estratégica e operacional no interesse da defesa;
f) operações militares das Forças Armadas;
g) relacionamento internacional das Forças Armadas;
h) orçamento de defesa;
i) legislação militar;
j) política de mobilização nacional;
k) política de ciência e tecnologia nas Forças Armadas;
l) política de comunicação social nas Forças Armadas;
m) política de remuneração dos militares e pensionistas;
n) fomento às atividades de pesquisa e desenvolvimento e de produção e
exportação em 15 áreas de interesse da defesa;
o) atuação das Forças Armadas na preservação da ordem pública, no combate
a delitos transfronteiriços ou ambientais, na defesa civil e no
desenvolvimento nacional;
p) logística militar;
q) serviço militar;
r) assistência à saúde, social e religiosa das Forças Armadas;
s) constituição, organização, efetivos, adestramento e aprestamento das
forças navais, terrestres e aéreas;
68
t) política marítima nacional;
u) segurança da navegação aérea e do tráfego aquaviário e salvaguarda da
vida humana no mar;
v) política aeronáutica nacional e atuação na política nacional de
desenvolvimento das atividades aeroespaciais;
w) infra-estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária.
Os cargos de Comandante da Aeronáutica, da Marinha e do Exército são
privativos de oficiais-generais do último posto da respectiva Força. É o Poder
Executivo que define a competência dos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica para a criação, a denominação, a localização e a definição das
atribuições das organizações integrantes das estruturas das Forças Armadas.
A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem de efetivos de pessoal militar
e civil, fixados em lei, e dos meios orgânicos necessários ao cumprimento de sua
destinação constitucional e atribuições subsidiárias. Constituem reserva das Forças
Armadas o pessoal sujeito a incorporação, mediante mobilização ou convocação,
pelo Ministério da Defesa, por intermédio da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
bem como as organizações assim definidas em lei.
Para o cumprimento da destinação constitucional das Forças Armadas, cabe
aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica o preparo de seus
órgãos operativos e de apoio, obedecidas as políticas estabelecidas pelo Ministro da
Defesa. O preparo das Forças Armadas é orientado pela busca permanente da
eficiência operacional, nas diferentes modalidades de emprego pela procura da
autonomia nacional crescente, mediante contínua nacionalização de seus meios,
nela incluídas pesquisa e desenvolvimento e o fortalecimento da indústria nacional;
e pela correta utilização do potencial nacional, mediante mobilização criteriosamente
planejada.
69
2.3.3. A Aeronáutica
À Aeronáutica, organização na qual está inserida a população de
trabalhadores avaliada no presente estudo, compete:
a) orientar, coordenar e controlar as atividades de Aviação Civil;
b) prover a segurança da navegação aérea;
c) contribuir para a formulação e condução da Política Aeroespacial Nacional;
d) estabelecer, equipar e operar, diretamente ou mediante concessão, a infra-
estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária;
e) operar o Correio Aéreo Nacional.
Ao Comando da Aeronáutica cabe:
a) formular e conduzir a política aeronáutica nacional, civil e militar;
b) propor a constituição, a organização e os efetivos, bem como aparelhar e
adestrar a Força Aérea Brasileira;
c) formular o planejamento estratégico e executar ações relativas à defesa do
País, no campo aeroespacial;
d) contribuir para a formulação e condução da política nacional de
desenvolvimento das atividades aeroespaciais;
e) operar o Correio Aéreo Nacional;
f) orientar, coordenar e controlar as atividades de aviação civil;
g) estabelecer, equipar e operar, diretamente ou mediante concessão, a infra-
estrutura aeroespacial, aeronáutica e aeroportuária;
h) incentivar e realizar atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas
com as atividades aeroespaciais;
i) estimular a indústria aeroespacial; e
j) prover a segurança da navegação aérea.
70
2.3.4. A Carreira Militar
A etimologia da palavra "career" (carreira), segundo Williams (1988), refere
que o termo não é usado apenas para descrever o progresso de um indivíduo na
vida, ou, por derivação desta, na sua profissão ou vocação, mas também, pelo
sentido original de "trajeto e/ou galope".
No século XIX, a palavra carreira adquiriu o conceito de progresso
profissional. Já no século XX, tornou-se sinônimo de trabalho, exercício e emprego
com uma conotação implícita de ascensão. Atualmente, entende-se como carreira o
trabalho contínuo realizado em determinada atividade sem que haja
necessariamente progresso profissional, o que é diferenciado de trabalho, pois o
primeiro é realizado em regime de continuidade de um ofício, e o segundo pode não
ter a continuidade de uma atividade anterior (WILLIAMS, 1988).
No Brasil, as relações de trabalho são reguladas por três regimes que
especificam diferencialmente as relações de trabalho e doença: a) o dos servidores
públicos; b) o dos trabalhadores das empresas privadas e de economia mista; c) e o
dos militares (ESHER, 1999).
Segundo a lei 6.880, de 9 de Dezembro de 1980, que estabelece o Estatuto
dos Militares, a carreira militar tem como característica o desenvolvimento de
atividades ininterruptas e inteiramente dedicadas às finalidades essenciais das
Forças Armadas, isto é, “defender a Pátria e garantir os poderes constituídos, a lei e
a ordem” (BRASIL, 1980, p.5).
O art.3 desta lei indica que “os membros das Forças Armadas, em razão de
sua destinação constitucional, formam uma categoria especial de servidores da
Pátria e são denominados militares” (BRASIL, 1980, p.5).
De acordo, com as normas do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA,
1995), o indivíduo que segue a carreira militar terá que obedecer a severas regras
disciplinares e a rigorosos princípios hierárquicos, que regularão toda sua vida
profissional e pessoal. Com crenças, valores e símbolos peculiares, os militares
compartilham de preceitos que representam a base da profissão.
71
No caso do ambiente militar, o etos inerente a essa cultura é o do trabalho
árduo, da dedicação e do comprometimento (BRITT; STETZ; BLIESE, 2004), ou,
como afirmam Garsombke (1988), Goldman (1998) e Wilson (2000), lealdade,
responsabilidade, respeito, serviço abnegado, disciplina, honestidade, integridade,
solidariedade grupal, higidez, coragem, supremacia, eficiência, desafio, vitória.
Dentre os principais valores militares estão o patriotismo que evoca fidelidade
à Pátria e sacrifício da própria vida, “civismo e o culto das tradições históricas”, amor
à profissão e entusiasmo com o exercício desta, além de “aprimoramento técnico
profissional” (BRASIL, 1980, p.13).
Segundo Luz (1989), este é o cenário que permeia a formação militar:
Todos temos nossa formação moral, ética, profissional. Nesse
quadro, os valores maiores dos cidadãos militares, hierarquia
e disciplina, nos mantêm coesos, silenciosos, dedicados ao
Serviço e a nossos Chefes, que consideramos estejam
conduzindo as Forças Armadas no melhor rumo possível em
face da conjuntura dos tempos difíceis que estamos vivendo.
Estamos em silêncio, mas pensamos (LUZ, 1989, p. 103).
Nessa direção, Dunivin (1994) acrescenta que a cultura militar é caracterizada
pelo combate, associado ao paradigma do “guerreiro masculino” (masculine-warrior).
Para a autora, a atividade central da vida militar, que define sua existência e
significado, é o combate, em torno do qual são construídas as estruturas e as forças
militares ar, terra e mar.
Dessa maneira, o militarismo representaria a celebração da masculinidade,
sendo difícil imaginar a existência da cultura militar sem os valores tipicamente
“masculinos” (SKJELSBAEK, 1997).
As forças militares se organizam e treinam seu pessoal em torno dos seus
papéis de combate, que se distinguem em armas diferenciadas e atividades de
apoio. Pelo fato de ter como papel principal a preparação e a condução da guerra, a
imagem “masculina” do militar é sinônimo de combate, de bravura, de lealdade, de
força e de resistência, sendo ele capaz de enfrentar desafios e de confrontar o
perigo, junto com a disposição para se sacrificar a serviço de seu companheiro e de
seu país (FRANKE, 1997; GARSOMBKE, 1988).
72
Dunivin (1994) também acrescenta que a imagem do “guerreiro masculino”
seria, ao lado do combate, o elemento central do paradigma cultural militar. Por ser
uma instituição composta principalmente por homens, sua cultura é moldada por
eles. Servir o exército é visto como um papel masculino a vocação para a guerra,
a defesa e o combate são definidos pela sociedade como sendo uma atividade
tipicamente masculina.
Além disso, Rosen, Knudson e Ancher (2003) ressaltam que esse profundo
culto à masculinidade pode levar a um ideal de “hipermasculinidade” expressões
extremas, exageradas ou estereotipadas de atributos e comportamentos
masculinos.
Segundo Esher (1999), a doutrina e os valores que perpassam toda esta
carreira parecem ser fundamentais para a formação do "espírito de grupo" e do
amor pela instituição. Bondy (2004) acrescenta que a coesão social característica na
cultura militar, representada pela camaradagem e pela ênfase na identidade grupal,
tende a melhorar o trabalho em equipe, além de oferecer apoio emocional positivo
para soldados submetidos ao estresse em combate, sendo capaz de reduzir a
incidência de danos psicológicos relacionados ao estresse, como o transtorno por
estresse pós-traumático.
De acordo com o Art.14, da lei 6.880 citada anteriormente, hierarquia e
disciplina formam então a base institucional das Forças Armadas e devem ser
mantidas em todas as circunstâncias da vida entre os militares da ativa, da reserva
remunerada e dos reformados. Autoridade e responsabilidade aumentam com o
grau hierárquico.
A Hierarquia militar pode ser definida como
[...] a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da
estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos
ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se
faz pela antiguidade no posto ou a graduação. O respeito à
hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento em
seqüência de autoridade (BRASIL, 1980, p. 8).
A disciplina consiste na
[...] rigorosa observância e o acatamento integral das leis,
regulamentos, normas e disposições que fundamentam o
organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e
73
harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever
por parte de todos e de cada um dos componentes desses
organismos (BRASIL, 1980, p. 9).
Compreender esses dois princípios é de suma importância para perceber
como os indivíduos se inserem neste sistema.
Existe uma divisão em “círculos hierárquicos” que, segundo o Art.15 se refere
a
[...] âmbitos de convivência entre os militares da mesma
categoria e têm a finalidade de desenvolver o espírito de
camaradagem, em ambiente de estima e confiança, sem
prejuízo do respeito mútuo (BRASIL, 1980, p. 9).
O grau hierárquico do oficial é denominado Posto e é conferido por ato do
Presidente da República ou do Ministro de Força Singular e confirmado em Carta
Patente, enquanto o do Praça é denominado Graduação e é conferido pela
autoridade militar competente.
Segundo o Art.17, “a precedência entre militares da ativa do mesmo grau
hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela antigüidade no posto ou
graduação, salvo nos casos de precedência funcional estabelecida em lei” (BRASIL,
1980, p. 10).
A antigüidade é um dado importante no entendimento da hierarquia militar e é
contada a partir da assinatura do ato da respectiva promoção, nomeação,
declaração ou incorporação. As obrigações que fazem parte do “cargo militar devem
ser compatíveis com o correspondente grau hierárquico e definidas em legislação ou
regulamentação específica” (BRASIL, 1980, p. 11).
É possível que a inserção na Aeronáutica do Brasil seja na maioria das vezes
motivada por um sonho, influência da família, possibilidade de trabalho estável ou
simplesmente falta de opção. Desejada por muitas pessoas e suas famílias, a
carreira militar gera a expectativa de estabilidade, de poder, e porque não dizer
status, e em troca exige compromisso, coragem, fidelidade e renúncia a direitos
importantes. A realização profissional só se concretiza com a ascensão e, para isso,
muitas vezes é necessário abdicar de alguns direitos individuais.
74
Esher (1999) assim refere-se ao imaginário a respeito das forças armadas
[..] o imaginário construído à respeito do poder das Forças Armadas
como responsável por manter a ordem e defender a Pátria
permanece ainda hoje, transformando a carreira num projeto familiar
e influenciando muitos jovens que sonham com estabilidade e
ascensão social. [...] a rígida formação exigida na instituição cria,
muitas vezes, a expectativa de solução de conflitos individuais ou
familiares, como por exemplo, em torno da orientação sexual. Neste
novo ambiente, cenário de diversas mudanças, principalmente na
vida dos mais jovens, a mudança no estilo de vida é inevitável. [...] a
possibilidade de independência financeira, a saída da casa dos pais,
o encontro com novas pessoas e novos lugares e ao mesmo tempo,
as novas responsabilidades decorrentes do ideal de luta e amor
pela Pátria são fatores que criam laços sociais e uma verdadeira
integração entre aqueles que servem as forças armadas no Brasil.
[...] a farda aparece como um dos elementos fundamentais na
identidade comum criada entre os membros da instituição e a
proibição de seu uso pode ser um dos pontos mais marcantes e
dolorosos na ruptura da carreira (ESHER, 1999).
Quanto às restrições, ao ingressar nas Forças Armadas, o militar não poderá
exercer qualquer outra atividade profissional. Deve estar disponível ao longo das 24
horas do dia, sem direito a qualquer remuneração ou compensação extra. Alguns
direitos sociais garantidos, em caráter universal a todos os trabalhadores, não são
assegurados aos militares, como por exemplo:
a) remuneração do trabalho noturno superior ao do diurno;
b) jornada de trabalho diário limitada a 8 horas;
c) obrigatoriedade de repouso semanal remunerado; e
d) remuneração de hora extra, em decorrência de uma jornada superior a 8
horas diárias (EMFA, 1995).
Sua condição jurídica, segundo o artigo 7º, da lei 6880, é definida pelos
dispositivos da Constituição que lhes forem aplicáveis, pelo Estatuto e pela
legislação, que lhes outorgam direitos e lhes impõem deveres e obrigações (Brasil,
1980). A forma como estas obrigações são impostas geram muitas vezes a
indignação, que tende a ser silenciada pelo medo de punição e pelo respeito ao
sistema.
75
As exigências da profissão do militar se refletem nas condições que garantem
a infraestrutura da vida de seus familiares. A formação do patrimônio familiar é
dificultada, assim como a educação dos filhos é prejudicada pela possibilidade de
mudanças para outras regiões do país (EMFA, 1995). Finalmente, para seguir a
carreira militar há a necessidade de uma rigorosa e diferenciada formação, além de
uma dedicação exclusiva, o que dificulta o reingresso do indivíduo no mercado de
trabalho, quando este é considerado inativo.
O vigor físico é um atributo importante na carreira militar. O militar deve estar
sempre preparado, não só para eventuais conflitos, mas também, nos tempos de
paz, e para isso “exigem-lhe elevado nível de saúde física e mental” (EMFA, 1995, p.
12). A possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é um risco constante da
profissão a ser considerado.
Nas Forças Armadas, as noções de elite, vigor físico e higidez permanecem
como fundamentais para que haja êxito nas ações ligadas à segurança e defesa do
País. Conseqüentemente, as doenças são fontes de grandes preocupações para as
Forças Armadas. Assim, é neste cenário que a noção ampliada de “doença” ainda
remanescente do pensamento eugenista ganha espaço, pois prejudica o exercício
pleno do papel do indivíduo na Força, provoca gastos, diminui a produtividade e cria
especulações e/ou preocupações em torno da saúde da coletividade (ESHER,
1999).
2.3.5. Saúde, doença e carreira militar
A necessidade de cuidado constante com a saúde dos contingentes exige do
Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) atualizações periódicas nas Normas que
vão reger os procedimentos desta área no Exército, na Marinha e na Aeronáutica.
A legislação que normatiza os procedimentos para avaliação da incapacidade
dos portadores de doenças especificadas em lei a serem observadas pelas Juntas
de Saúde são resolvidas pelo chefe do EMFA, no entanto, cada Força tem suas
próprias Instruções Reguladoras (IR) (EMFA, 1995).
76
A reforma do militar realiza-se a pedido ou “ex-officio”. A reforma a pedido,
aplicada aos membros do Magistério Militar, de acordo com a legislação específica
da Força, será concedida àquele que contar mais de trinta anos de serviço, de
tempo de Magistério Militar (ESHER, 1999).
A reforma ex-officio”, no caso de doenças, está prevista no art.106 do
Estatuto dos Militares, inciso II:
[...] militar julgado incapaz, definitivamente, ativo das Forças
Armadas ou de acordo com inciso III, agregado por mais anos por
ter sido julgado incapaz, temporariamente, mediante homologação
superior de saúde, ainda que trate de moléstia curável (BRASIL,
1980, p. 49).
Em decorrência de práticas desse tipo, sentimentos paradoxais surgem em
relação à instituição, que aparece muitas vezes representada como a "grande mãe"
ou como "uma grande família", mas que com atos de rejeição, "aborta" seus filhos
(ESHER, 1999).
A capacidade produtiva do indivíduo é avaliada por critérios rígidos através
inspeções periódicas, que buscam manter no serviço ativo aqueles que possuem
pleno estado de sanidade psicofísica. Este estado é expresso pela ausência de
doenças incapacitantes e pelo alcance dos índices estabelecidos nas Normas
Reguladoras específicas das Forças, considerando sempre a capacidade de
desempenhar as atividades normalmente atribuídas ao militar ou civil.
Segundo Brandt e Rozin (1997), o entendimento que qualquer sociedade tem
de padrões de saúde e doença e suas causas revelam normas culturais básicas e
expectativas. Para as Força Armadas, o conceito de higidez é considerado básico
(MOURA FILHO, 1991), garantindo padrões exigidos em caso de guerra ou em
outras situações de segurança e defesa do país.
Segundo o art.108, da lei 6.880 (Estatuto dos Militares), para as Forças
Armadas, a incapacidade pode ocorrer em conseqüência de:
a) ferimento recebido em campanha ou manutenção da ordem pública;
b) enfermidade contraída em campanha ou manutenção da ordem pública,
ou enfermidade cuja causa decorrer de uma dessas situações;
77
c) acidente em serviço;
d) doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação
de causa e efeito a condições inerentes ao serviço;
e) tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira,
hanseníase (lepra), paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave,
mal de parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave
e outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina
especializada;
f) acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e
efeito com o serviço. A AIDS está incluída nas doenças incapacitantes.
É fundamental entender que o exercício da profissão militar exige
treinamentos específicos que qualificam o indivíduo para atividades utilizadas
apenas em determinados ambientes, dificultando assim, a reinserção deste em
atividades que fazem parte do âmbito civil.
Alguns indivíduos têm sua identidade manchada” por possuírem marcas
diferentes ou atributos que são considerados socialmente desqualificadores por
membros da sociedade. Ao longo do tempo, estes atributos são associados à
vergonha, indignidade, desfavor, culpa e nesse sentido, o estigma de indivíduos ou
grupos irá variar em uma série de dimensões, resultando em categorias de
aceitabilidade mostrada em direção a diferentes tipos de indivíduos ou grupos
(TAKAHASHI, 1997).
Assim sendo, para este autor, rejeição e reações violentas de uma
comunidade não devem ser entendidas como simples atitudes egoístas e
excludentes, mas sim como resultado de um processo estrutural das relações
sociais que contribuem para avaliar pessoas e lugares como menos valorizados ou
considerá-los “anormais”, criando desta forma, rótulos que estigmatizam e
marginalizam grupos específicos (TAKAHASHI, 1996).
Mann (1996) acrescenta que a promoção e proteção da saúde estão
intrinsecamente ligadas à promoção e proteção dos direitos humanos” (1996, p.141),
78
e no caso da carreira militar, a importância da distinção entre normal e patológico,
saúde e doença, reflete diretamente os valores embutidos nessa cultura.
Ao abordar os aspectos inerentes à carreira militar nota-se a importância dos
valores e do etos sob os quais está construída a instituição militar na sociedade.
Conhecer esses valores que permeiam a cultura militar passa a ser então
imprescindível para a compreensão dos aspectos relacionados à saúde mental e
das conseqüências do adoecimento mental entre os militares.
Segundo Bray et al. (2001), os militares de ambos os sexos estão expostos a
uma ampla variedade de eventos estressores que são parte do próprio treinamento
militar e das atividades de trabalho e podem afetar não só o militar na ativa, como
também sua família e amigos.
Os militares e suas famílias enfrentam uma combinação única de estressores
como as freqüentes mudanças de residência, a possibilidade de ser enviado para
uma missão, a possibilidade de ter um membro morto ou incapacitado em
decorrência do serviço militar, o isolamento geográfico em relação aos familiares, o
baixo salário, a pouca idade, e a alta incidência de crianças novas em casa.
Além disso, os valores militares estão sofrendo importantes mudanças.
Segundo Santos (2004),
com o fim da Guerra Fria e a redefinição da ordem internacional, a
globalização e a intensificação de diversos processos de integração
transnacional e fragmentação nacional, conjuntamente, levaram a
mudanças nos conceitos de segurança e defesa, nos âmbitos
internacional, regional e nacional (SANTOS, 2004, p.115).
Para Bondy (2004), esse fato fez com que as forças militares ocidentais,
principalmente, venham enfrentando rápidas mudanças na tecnologia militar e na
geopolítica, o que exige um alcance e uma flexibilidade cultural, doutrinária e
tecnológica significativamente maior. Nesse contexto, a revolução da cultura militar
79
passa a ser uma precondição para qualquer revolução doutrinária e tecnológica nos
assuntos militares
4
.
Essa nova posição, segundo esse autor, trouxe um importante desafio para o
trabalho militar, pois insere novos valores numa cultura estratégica, tradicionalmente
autoritária e conservadora, devendo o militar:
a) expandir sua capacidade analítica para favorecer a crescente
complexidade do ambiente estratégico;
b) aprender a ir para além do campo de batalha;
c) aprender a administrar a diversidade de raça, gênero, religião, cultura e
preferência sexual; e
d) incorporar esses desafios numa ética profissional capaz de alimentar a
competência profissional com os valores e as normas de uma sociedade
democrática e de caráter político.
O autor sugere ainda que, para que isso aconteça, as instituições militares
devem alternar a ênfase tradicional dada à tecnologia, representada pelos três “Cs”
comando, controle e comunicação para os três “Csda cultura representada
pela cultura, carreira e clima.
Neste cenário, pode-se inferir que, além dos fatores psicossociais de risco
inerentes à função técnica exercida, os quais serão objeto de atenção deste estudo
em capítulo próprio, o militar, trabalhador de manutenção e inspeção de aeronaves,
está submetido a outros tantos fatores de risco, que poderão trazer efeitos deletérios
à sua Saúde Mental e Qualidade de Vida. É para com essa visibilidade que o
presente estudo objetiva contribuir, embora o mesmo aborde somente a questão dos
militares, sendo que posteriores estudos comparativos com trabalhadores civis
deverão ser realizados.
4
Em relação ao Brasil, outros aspectos concorreram para essa mudança nos valores militares. A
crise de identidade militar brasileira, que se manifestou nos primeiros anos da década de 90 deu-se
em função da combinação entre um conjunto de mudanças estruturais no contexto internacional e da
quebra do padrão de tutela militar sobre o governo após ditadura militar. Estas mudanças
relacionavam-se à visão do governo, do Parlamento e da sociedade civil sobre as demandas militares
e também à visão da instituição militar acerca da sua própria identidade, das identidades dos demais
atores e da correspondência dos resultados obtidos com as demandas apresentadas (MARQUES,
2003, p.73).
80
A seguir será descrito o trabalho específico de manutenção de aeronaves.
2.4. O trabalho de manutenção aeronáutica
O trabalho de manutenção e inspeção de aeronaves é um processo
complexo, que requer diversas tarefas, conhecimentos e procedimentos específicos
(BEARD; AHUMADA Jr., 2003). Para os autores, sua principal responsabilidade é
identificar e reparar defeitos nas diversas estruturas das aeronaves, sendo,
portanto, um componente-chave no sistema geral de aviação.
A manutenção de aeronaves é composta fundamentalmente pela atividade de
manutenção propriamente dita e pela de inspeção, as quais ocorrem em momentos
específicos e complementares.
Manter, como o próprio vocábulo indica, significa conservar e preservar a
coisa tal qual ela sempre foi. Do Latim manu (mão) + tenere (ter), significando ter na
mão ou segurar na mão, a palavra assume também o sentido de sustentar, cumprir,
observar, guardar, reter, resistir com êxito. Dessa forma, pode-se afirmar que, na
sua essência, o trabalho de manutenção de aeronaves busca garantir as condições
de funcionamento e de segurança necessárias para a preservação da integridade
das pessoas e das aeronaves, estando diretamente associado aos conceitos de
segurança de vôo e da prevenção de acidentes.
O profissional especializado em manutenção de aeronaves pode atuar no
setor de fabricação de aviões ou de seus componentes, em hangares especializados
das companhias aéreas, na manutenção de linha de vôo e em oficinas
especializadas de recuperação de componentes específicos do motor.
As aeronaves têm um plano de manutenção/inspeção que deve ser
executado em períodos específicos, com checagens que possuem intervalos
variados. O objetivo dessas checagens é realizar tanto a manutenção de rotina
quanto a de não rotina, que incluem (GRAMOPADHYE et al., 2003):
a) agendar o reparo de problemas já conhecidos;
81
b) trocar itens após um certo número de horas de vôo, de ciclos de
decolagens e aterrissagens e de um calendário programado;
c) reparar defeitos identificados previamente, através, por exemplo, de
relatórios feitos pelo piloto e tripulação ou pelos inspetores de manutenção
de linha de vôo, ou itens previstos em manutenção anterior;
d) realizar reparos agendados.
O profissional de manutenção de aeronaves pode atuar nas seguintes
especialidades (DAC, 2005):
ü GMP (Grupo motopropulsor) especialidade que trabalha com todos os
tipos de motores de aviação geral (convencional ou a reação), todos os
sistemas de hélices e rotores, e com todos os sistemas dos grupos moto-
propulsores.
ü CEL (Célula) - especialidade que trabalha com todos os sistemas de
pressurização, ar condicionado, pneumático, sistemas hidráulicos, estrutura
de aviões e helicópteros em geral (a fuselagem da aeronave).
ü AVI (Aviônicos) especialidade que trabalha com todos os componentes
elétricos e eletrônicos de aeronave, inclusive instrumentos de navegação,
rádio-navegação e rádio-comunicação, sistemas elétricos e de radar.
A manutenção/inspeção de toda a aeronave é estipulada em intervalos
específicos pelo órgão regulador do governo, respeitando também as indicações dos
fabricantes. Ela depende geralmente do modelo do avião ou do tipo de operação
que realiza, com a finalidade de comprovar seu estado geral. A freqüência com que
deve ser feita pode variar, por exemplo, de 12 em 12 meses, ou a cada 100 horas de
vôo. Além disso, as instruções do fabricante do avião e do motor devem ser
consultadas ao serem estabelecidos esses intervalos. De maneira geral, todos esses
cuidados e regulamentos mostram-se eficientes do ponto de vista do controle da
manutenção (DAC, 1996).
82
O conceito de aeronavegabilidade continuada é fundamental para o trabalho
de manutenção/inspeção, pois está relacionado à condição de segurança de uma
aeronave, a qual engloba todos os processos que visam a assegurar que, em
qualquer instante de sua fase operacional, a aeronave (COSTA, 2004):
a) esteja em conformidade com os requisitos de projeto pertinentes e
aprovados ou, no caso de haver modificações, que estas tenham sido
apropriadamente aprovadas pela autoridade aeronáutica competente;
b) tenha devidamente cumpridas as determinações técnicas emitidas pela
autoridade aeronáutica através de documentos de caráter mandatório
denominados “diretrizes de aeronavegabilidade”;
c) esteja com a manutenção em dia e
d) não apresente qualquer situação que a impeça a operar com segurança.
O trabalho de manutenção pode ocorrer em três níveis diferentes (DAC,
1996):
1) A Manutenção de Linha (Line Maintenance), ou na designação militar de "1º
Escalão" (Organizational Level ou Level O), corresponde às atividades
praticadas junto à aeronave no seu local de estacionamento. É realizada por
um profissional da empresa aérea a cada aterrissagem do avião. Trata-se de
uma inspeção basicamente visual que busca identificar as condições dos
principais sistemas da aeronave. O mecânico de linha de vôo é considerado
um generalista, “um clínico geral”, pois tem que ter um conhecimento amplo
de todas as especialidades envolvidas para o funcionamento seguro da
aeronave. Após a inspeção de linha, o avião poderá ser liberado ou não para
decolagem, ou serão necessários reparos que poderão atrasar toda a
programação do vôo. É importante ressaltar que esse é um dos momentos de
fundamental interação entre a manutenção e o comandante da aeronave,
envolvendo decisões estratégicas e delicadas tanto do ponto de vista técnico
e econômico quanto de segurança.
83
2) A Manutenção Intermediária (Intermediate Maintenance), ou na designação
militar "2º Escalão" (Intermediate Level ou Level I), corresponde às atividades
de inspeção e desmontagem de componentes de pequena monta, realizadas
em hangares utilizando-se ferramentas e equipamentos de apoio especiais.
3) A Manutenção Profunda (Overhaul Maintenance) ou na designação militar
"3º Escalão" (Depot Level), corresponde às atividades realizadas em
hangares, envolvendo ações de inspeção e desmontagem de vulto,
obrigando, em alguns casos, à desmontagem completa da aeronave e seus
sistemas, com a utilização de um grande número de ferramentas,
equipamentos de apoio especiais e tecnologias, implicando, sobretudo, num
volumoso investimento.
4) Pode-se ainda considerar-se um 4º nível de manutenção, designado por
“regeneração” (remanufacturing ou rebuild) ou na designação militar “4º
escalão”. Neste nível, pressupõe-se a reparação através da reconstrução de
partes dos componentes e constitui, basicamente, a atividade de reparação
de componentes isolados.
A depender dos componentes ou dos planos de manutenção, alguns serviços
executados por mecânicos necessitam também da verificação de um profissional
mais qualificado.
De acordo com o Departamento de Aviação Civil (DAC, 2005), o profissional
técnico de maior importância na manutenção de aeronaves é aquele responsável
por aprovar o produto aeronáutico para o retorno ao serviço, declarando a sua
aeronavegabilidade quanto aos procedimentos executados.
No Brasil esse profissional é o inspetor designado em uma organização de
manutenção (empresa aérea ou empresa de manutenção). Para ser inspetor é
necessário que o mecânico de manutenção aeronáutica possua:
a) 4 (quatro) anos de experiência após a emissão da Licença,
84
b) a conclusão de curso de um produto aeronáutico ou de um sistema do
mesmo, conforme aplicável, realizado em local regularmente habilitado
ou aceito pelo DAC,
c) habilitação de grupo motopropulsor, ou de célula, ou de aviônicos.
Além disso, um mecânico de manutenção aeronáutica somente pode exercer
a função de inspetor se possuir "vínculo empregatício" com a empresa e se tiver sido
designado como tal pelo Diretor de Manutenção ou pelo Chefe de Manutenção,
conforme aplicável, no caso de empresas aéreas (DAC, 2005).
De acordo com as determinações do DAC, o inspetor designado deve ser
responsável pelas principais atividades de manutenção, como, por exemplo:
1. análise, execução, supervisão e acompanhamento dos serviços de diretrizes
de aeronavegabilidade e seus boletins de serviços relacionados;
2. análise de todos os registros de manutenção pregressa (cadernetas) de uma
aeronave, para se definir quais as manutenções estão vencidas ou não foram
realizadas. Para isto deve analisar todas as Diretrizes de Aeronavegabilidade
aplicáveis e verificar se todos os componentes que devem ser controlados
estão realmente sendo controlados e estão com crédito.
3. recebimento de todo o material e peças que entram na empresa para a
execução de um serviço de manutenção ou para o estoque, de acordo com o
procedimento específico para tal constante no Manual de Procedimentos de
Inspeção (MPI);
4. inspeção de uma tarefa de manutenção, como trocas e reparos, que diferente
de uma tarefa de inspeção, não pode ser concluída somente por um
mecânico.
5. aprovar uma aeronave para o retorno ao serviço após manutenção, somente
quanto ao serviço executado (exceto a Inspeção Anual de Manutenção
IAM), assinando o fechamento da Ordem de Serviço, das fichas de inspeções
(task cards) e das cadernetas, garantindo a qualidade dos serviços
85
executados, ou seja, que todas as atividades de manutenção foram
cumpridas, todas as discrepâncias foram corrigidas, todos os registros foram
feitos, assinados, estão legíveis, compreensíveis e retratam o que foi feito
respeitando a legislação de aviação civil em vigor.
A inspeção deve ocorrer em situações de vôo normais e também em
situações especiais, como em decorrência de pousos com excesso de peso, após
impactos ou turbulência severa. Na ocorrência de qualquer destas situações deverão
ser observados procedimentos especiais de inspeção, detalhados nos manuais dos
fabricantes, com a finalidade de verificar se houve qualquer dano à estrutura do
avião (DAC, 1996).
Apesar de ser altamente monitorada e controlada, a atividade geral de
inspeção de aeronaves, componente fundamental dessa rotina de manutenção, é
freqüentemente apontada na literatura como um dos fatores que mais necessita de
aperfeiçoamento, já que tem sido amplamente associada como a causa de diversos
erros/acidentes na indústria de manutenção aeronáutica (GRAMOPADHYE et al.,
2003).
Uma das preocupações acerca da atividade de inspeção se deve ao fato de
que as inspeções são exames essencialmente visuais e manuais realizados para
determinar a condição de um componente ou de uma aeronave. Dessa maneira, a
inspeção de um avião pode se estender desde uma simples caminhada em volta do
mesmo até um exame detalhado, compreendendo uma completa desmontagem e a
utilização de complexos auxílios à inspeção (DAC, 1996).
A visão é um componente fundamental para uma manutenção e inspeção de
aeronaves efetiva (BEARD; AHUMADA Jr., 2003). Além disso, são importantes
também outros fatores cognitivos, como atenção, memória e experiência.
Os inspetores são profissionais altamente qualificados, que utilizam sua visão,
com ou sem recursos ópticos auxiliares, para fazer julgamentos sobre as condições
da aeronave em geral e dos seus componentes em particular, buscando localizar,
identificar e avaliar apropriadamente os defeitos (NAKAGAWARA et al., 2003).
De acordo com o DAC (1996), os chamados testes ou ensaios não destrutivos
(TDI) pelo método visual constituem a mais antiga forma de inspeção. Através deles
86
os defeitos que possam passar desapercebidos a olho nu podem ser ampliados até
se tornarem visíveis. Telescópios, boroscópios e lentes ajudam na execução da
inspeção visual.
As atividades de um inspetor visual freqüentemente requerem algumas
habilidades físicas, já que realizam uma considerável quantidade de caminhadas, de
movimentos de abaixar e levantar, de escalada, de se curvar e de rastejar em
ambientes apertados.
Segundo Good et al. (2003), o fracasso em identificar visualmente corrosões,
fendas, rachaduras ou incrustações detectáveis são as causas prováveis de diversos
acidentes de aviação. Por conta disso, a inspeção visual pode ou não contar com
recursos auxiliares para se realizar tanto julgamentos simples quanto inspeções que
utilizam recursos de imagem e de scanning altamente sofisticados (p.ex.,
boroscópios, scanners ultrasônicos, teste de eddy current
5
e raios X). Entretanto, os
autores ressaltam que cerca de 80% de todas as inspeções visuais realizadas em
empresas de aviação de grande porte são consideradas simples, e esse número
pode ser ainda maior em empresas de pequeno porte.
Um sistema de inspeção consiste em diversos processos construídos para
atender fundamentalmente às reclamações feitas pela tripulação ou pelo inspetor do
avião e às inspeções regularmente programadas para o avião.
O sistema de inspeção é projetado para manter o avião na melhor condição
possível de vôo. As inspeções gerais e periódicas são consideradas a coluna mestra
de um bom programa de manutenção. Por outro lado, a ocorrência de uma inspeção
irregular ou ocasional resultará certamente na deterioração gradual ou até total de
uma aeronave.
Dessa maneira, as inspeções regularmente programadas e a manutenção
preventiva asseguram boas condições de vôo, portanto, quanto mais cedo forem
detectados e corrigidos os desgastes ou pequenos defeitos dos equipamentos, mais
reduzidas serão as chances de falhas operacionais e de defeitos.
5
É a técnica mais usada dentre os procedimentos de análise eletromagnética. Eddy-current são
compostos por elétrons livres que passam através do metal, sob a influência de um campo
magnético. Pode ser usada para inspecionar o eixo do motor da turbina de um jato, o revestimento
das asas e seus componentes, o trem de pouso, os furos de fixadores e a cavidade das velas de
ignição, até rachaduras, superaquecimento e danos estruturais (DAC, 1996, p.10-27).
87
Para uma compreensão mais didática do que pode ser o trabalho de
manutenção e inspeção de aeronaves, Drury, Saran e Schultz (2004) buscaram
apresentar no quadro abaixo as funções genéricas que compreendem todas as
tarefas de inspeção, com sua descrição, seja ela manual, automatizada ou híbrida.
QUADRO 1 Descrição geral da função e do procedimento de inspeção
Fonte: Drury, Saran e Schultz (2004)
Para sua realização, as técnicas de manutenção e inspeção aeronáutica
requerem apoios de serviços, com equipamentos de solo e equipamentos para a
movimentação da aeronave. A complexidade desses equipamentos e os riscos
envolvidos no manuseio de dispendiosas aeronaves demandam técnicos de
manutenção que possuem um complexo conhecimento dos procedimentos de
segurança usados na inspeção, no reparo, no taxiamento, nos testes, e no uso de
equipamentos auxiliares (DAC, 1996).
Como se pode observar, o trabalho na manutenção/inspeção aeronáutica
apresenta características peculiares, de alta especificidade, com freqüente utilização
de recursos tóxicos e inflamáveis, exposição a gases e ruídos, intensa carga física e
Função Descrição do procedimento
1. Iniciar O componente é submetido a processos químicos e físicos. Pegar e
ler as fichas de inspeção. Montar e ajustar o equipamento
necessário. Preparação para análise.
2. Acessar Localizar e acessar a área de inspeção. Estar apto a visualizar a
área a ser inspecionada suficientemente perto para garantir uma
detecção confiável. Para a inspeção de componente,
freqüentemente as partes são analisadas fora da aeronave.
3. Buscar Mover o campo de visão por todo o componente para garantir
adequada segurança. Fazer um exame cuidadoso do campo de
visão usando uma boa estratégia. Parar a busca se uma indicação
for encontrada.
4. Decisão Identificar o tipo de indicação e compará-la aos padrões
estabelecidos.
5. Resposta Se uma indicação for confirmada, deve-se registrar sua localização
e detalhes. Completar os procedimentos de registro. Remover os
equipamentos e ferramentas utilizados da área de trabalho e
guardá-los. Se nenhuma indicação for confirmada, retornar a busca
(3).
88
mental e necessária integração em equipe que, por sua complexidade e
necessidade de altos níveis de segurança, representam importante fonte de
cuidados relacionados à saúde dos técnicos envolvidos.
Após essa descrição geral da atividade de manutenção aeronáutica em si
serão apresentadas a seguir algumas considerações acerca do trabalho de
manutenção na aviação militar, já que essa especificidade é fundamental para a
contextualização do presente estudo.
2.4.1. Manutenção de aeronaves militares
Uma das principais diferenças entre a manutenção de aeronaves comercial e
militar, além das diferenças relacionadas à cultura, contrato de trabalho, entre
outros, refere-se aos custos financeiros e à idade da frota.
Em comparação com a aviação comercial, os gastos com as aeronaves
militares são maiores, assim como é maior a sua a frota mundial, constituída por
aviões de guerra, de transporte de carga, de serviços, de treinamento, aviões-
tanque, de missões especiais e helicópteros. Os gastos com manutenção de
aeronaves militares no mundo atingiram aproximadamente $52.7 bilhões de dólares
em 2004, e, de acordo com Jackman (2005), esse número deverá aumentar ainda
mais na próxima década.
Na figura 3 a seguir se observa a distribuição da frota mundial de aeronaves
ativas em 2003, ficando evidente que a aviação militar responde por 60% do total.
No mundo, em 2004, circularam 39.087 aeronaves militares ocidentais.
Dessas, 15.351 (39%) eram norte-americanas, 9.458 (24%) européias, 7.182 (18%)
da Ásia-Pacífico, 2.662 (7%) do Oriente Médio, 2.379 (6%) da América Latina e
2.008 (5%) da África (AEROSTRATEGY, 2004).
89
Distribuição da frota mundial
de aeronaves em 2003
60%
12%
10%
8%
6%
3%
1%
Militar
Helicópteros Civis
Transporte aéreo
Executiva turbofans
Executiva turbopropuls
Regional turbopropuls
Regional Jatos
FIGURA 3 Distribuição da frota mundial de aeronaves ativas em 2003.
Fonte: Aerostrategy, 2004
Segundo Jackman (2005), a expectativa atual de um crescimento anual de
2% nos gastos com as aeronaves militares se deve em função do aumento
generalizado de custos para manter uma frota que está envelhecendo e a
expectativa é que as forças militares mundiais continuem gastando bilhões de
dólares para manter aeronaves antigas operando. Mesmo na Força Aérea
Americana, que possui a maior frota do mundo, o orçamento para a aquisição de
novas aeronaves F/A 22 vêm sendo reduzido.
Como não há perspectiva de crescimento na aquisição de nova frota militar, a
tendência é que aumentem os gastos com a manutenção da frota antiga. Esse fato
gera um impasse importante, pois é uma preocupação geral dos governos a redução
significativa das despesas com a manutenção de maneira a direcionar as verbas
disponíveis para a aquisição de novas tecnologias e novos programas estratégicos
capazes de aumentar a efetividade da “Força”.
Estudo realizado pela consultoria AeroStrategy (2004), "Military Aircraft MRO
Market Assessment", estima que os gastos globais em defesa atingiram US$1.013
trilhão de dólares em 2003, sendo que as operações e manutenções foram
responsáveis por sua maior parte (70%, ou US$710 bilhões). Desse valor, a
manutenção aeronáutica (incluindo a manutenção e a revisão de estrutura, motores
e componentes) é responsável por somente 7% do total de manutenção e 5% do
total de gastos na defesa. Calcula-se, de maneira geral, que os custos em defesa
global devem aumentar cerca de 3% a cada ano.
90
Um dos fatores mais relevantes para os custos de manutenção relaciona-se
com a idade da frota militar. Na frota comercial mundial, de cerca de 16.000
aeronaves, entram no mercado cerca de 1.000 aeronaves (de 6 a 7%) ao ano. Já na
aviação militar existe uma carência de investimentos. Cerca de 800 aeronaves novas
entram ao ano numa frota de 40.000, ou seja, numa frota 3 vezes maior que a
comercial, entram menos aeronaves novas ao ano, o que acaba pesando nos custos
de manutenção.
Por outro lado, numa estimativa conservadora, cerca de 1.000 aeronaves
militares poderão ser aposentadas na próxima década, pois ainda não há um
consenso acerca da vida útil de uma aeronave militar, já que o parâmetro econômico
não é preponderante como na aviação comercial, na qual se torna questionável voar
numa aeronave com cerca de 38 anos.
Ironicamente, um dos fatores que justificam parcialmente os gastos com
manutenção, pelo menos em relação às revisões de motor, acaba sendo uma das
principais razões pelas quais os militares operam uma mesma aeronave por tanto
tempo: elas simplesmente voaram menos de que as aeronaves comerciais.
De acordo com a Aerostrategy (2004), a utilização mundial de aeronaves
militares foi de aproximadamente 10.9 milhões de horas em 2004, o que dá uma
média de 278.9 horas por aeronave. Contrariamente, a aviação comercial de
transporte a jato obteve um total de 40 milhões de horas no mesmo ano, gerando
uma média de 2.500 horas por aeronave. Dos US$52.7 bilhões de dólares gastos
com a manutenção da frota militar no ano passado, cerca de 49% (ou US$25.8
bilhões de dólares) foram gastos com a manutenção de linha, que inclui a
manutenção organizacional e de nível intermediário, geralmente executada por
pessoal militar.
A manutenção estrutural (célula, fuselagem) foi responsável por cerca de
US$11 bilhões do gasto total (21%), seguido pela manutenção de componentes
aviônicos (17%), e pela revisão de grupos motopropulsores (13%).
Na aviação militar, é freqüente se encontrar aeronaves antigas, utilizadas por
diversas vezes em ambientes adversos, mas que não foram utilizadas
“demasiadamente”. Em decorrência desse fato, os custos tendem a ficar mais
sobrecarregados pela manutenção de estrutura, que está mais associada à idade e
91
à complexidade de condições da aeronave, do que pela de motores, que está mais
associada à freqüência de utilização. Ver na figura 4 abaixo a idade média da frota
militar mundial.
Idade média da frota militar mundial
0
5
10
15
20
25
30
35
FA chinesa
FA EUA
Marinha EUA
FA francesa
FA russa
FA australiana
FIGURA 4 Idade média da frota militar mundial.
Fonte: Aerostrategy, 2004
No contexto atual, além da ameaça crescente do terrorismo em todo o mundo
e das “guerras” que têm surgido em decorrência, as frotas militares têm sofrido com
déficits nos orçamentos, o que força os governos a restringirem gastos com
operações, com manutenção e com novas aquisições de aeronaves. Além disso, os
militares também estão tentando ser mais eficientes utilizando processos enxutos no
gerenciamento de recursos e do espaço.
Dentre esses fatores apontados, é possível supor os diversos tipos de
pressão no trabalho e de fatores psicossociais de risco aos quais estão submetidas
as equipes de manutenção de aeronaves militares, e também as da aviação
comercial, apesar das suas especificidades.
E ao se falar em pressão, em diminuição de recursos, em crises globais, em
culturas organizacionais que valorizam a competitividade em detrimento das
necessidades humanas, torna-se imperativo questionar acerca de suas implicações
Idade média
da frota = 21
92
para a segurança de vôo e os acidentes aéreos, preocupação essa que permeia
toda a atividade aérea, independente do contexto ou da cultura na qual ela está
inserida.
Portanto, a seguir será abordada a questão da segurança na aviação e a
prevenção de acidentes aéreos, concluindo, assim, a necessária contextualização
sobre o trabalho de manutenção de aeronaves.
2.5. Segurança e Acidentes Aéreos
A aviação é por excelência um sistema crítico de segurança
6
, pois é uma
atividade que está estruturada num sistema operacional com requisitos considerados
cruciais, no qual um mau funcionamento pode resultar em sérias conseqüências ao
usuário. Os requisitos característicos nos projetos desses sistemas incluem a
proteção à vida humana, ao meio ambiente ou dos recursos materiais (OGATA,
2003).
Nas atividades que envolvem sistemas críticos, o sucesso do
empreendimento está diretamente relacionado com o cumprimento dos critérios de
segurança e da confiabilidade do sistema. Portanto, a segurança deve
representar, para a comunidade envolvida (órgão regulador, fabricantes e
operadoras), a principal prioridade em garantir níveis mínimos de risco aos usuários
finais” (OGATA, 2003, p.2).
Dessa maneira, a segurança é definida como a probabilidade, em um
determinado período de tempo, de que o sistema executará corretamente suas
funções, indicando assim sua capacidade em buscar um estado final seguro em
caso de falha (fail-safe). Caso haja descontinuidade, o sistema deve buscar um
estado final que não interrompa a operação de outros sistemas ou que comprometa
a segurança de quaisquer pessoas associadas (JOHNSON 1989, apud OGATA,
2003).
6
Nesses sistemas críticos, a denominação “segurança” refere-se sempre à expressão inglesa “safety
ao invés de “security”.
93
Já a confiabilidade implica que o sistema irá executar correta e
consistentemente suas funções ao longo de um determinado período de tempo. Por
ser uma função do tempo, indica a probabilidade condicional de que o sistema
estará funcionando corretamente no intervalo esperado.
Dessa maneira, os sistemas críticos de segurança podem estar sujeitos à
ocorrência de algum tipo de problema ou anormalidade durante a sua operação. As
expressões inglesas freqüentemente indicativas de problemas ou anormalidades
incluem fault (falha), error (erro) e failure (disfunção) (CAMARGO, 2002).
A partir desses conceitos relacionados à importância da segurança e da
confiabilidade na atividade aeronáutica, observa-se que ao longo da evolução da
aviação houve períodos de rápidos avanços tecnológicos que foram capazes de
diminuir drasticamente os índices de acidentes aéreos. Entretanto, a história da
prevenção de acidentes aponta que as principais mudanças relacionadas à
segurança somente ocorreram de maneira mais consistente após a realização de
investigações de acidentes ou incidentes aéreos.
O Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aéreos (CENIPA, 2003)
coloca que
Acidente aéreo representa toda ocorrência relacionada com a
operação de uma aeronave e que tenha se sucedido entre o período
que uma pessoa nela embarca com a intenção de realizar um vôo,
até o momento em que todas as pessoas tenham dela
desembarcado (CENIPA, 2003).
Denomina-se acidente aéreo quando:
a) qualquer pessoa sofra lesão grave ou venha a falecer em decorrência de
estar na aeronave ou tenha estado em contato direto com qualquer parte da
aeronave (exposição à hélice, ao jato, entre outros);
b) a aeronave sofra dano estrutural, ou seja considerada desaparecida ou
tenha- se substituído grande parte dos seus componentes.
94
Já o incidente aéreo é considerado como um evento em um sentido bem
próximo de quase-acidente, desde que as conseqüências não resultem em seqüelas
ou danos graves às pessoas ou à propriedade.
As origens dos acidentes e incidentes aéreos são diversas e as fontes mais
conhecidas são as falhas mecânicas nos componentes das aeronaves. Porém,
muitas vezes as causas reais são de difícil localização, já que dependem de outros
fatores que não estão relacionados diretamente às aeronaves (OGATA, 2003).
A complexidade característica da localização das causas dos acidentes
aéreos pode ser melhor estimada através da figura abaixo, na qual é apresentado o
modelo elaborado pelo National Transportation Safety Board (NTSB), que representa
graficamente o inter-relacionamento dos diversos fatores que podem influenciar na
origem dos acidentes e incidentes aéreos. (WELLS, 2001 apud OGATA, 2003)
95
FIGURA 5 Causas dos acidentes e incidentes aéreos.
FONTE: NTBC (WELLS, 2001 apud OGATA, 2003)
A figura acima evidencia a multiplicidade de fatores que concorrem para a
ocorrência de um acidente ou incidente aéreo e eles vão muito além da relação
direta entre a máquina e o homem, possuindo raízes importantes em questões
sociais, políticas, organizacionais, culturais e financeiras, que devem ser
consideradas na investigação e na prevenção de acidentes.
É importante ressaltar que na atividade aérea estão envolvidos todos os
setores de uma empresa aérea, mas também a infraestrutura de aeroportos e o
Valores
Rentabilidade
Política do governo
(regulamentos e
orçamento)
Política da indústria da
aviação comercial
(produção e custos)
Âmbito
federal
Previsão do
tempo e
comunicação
Sistema de
controle de
tráfego aéreo
Seleção e
treinamento dos
controladores de
tráfego aéreo
Âmbito privado
Operadoras
Seleção e
treinamento
Manutenção
Fabricantes
Projeto e
produção
Condições
atmosféricas
Ambiente d
o
tráfego aéreo
(comercial,
civil, militar)
Capacidade
dos controladores
de tráfego aéreo
e pilotos
Capacidade
das aeronaves
Atos
imprevisíveis
(sabotagem)
Fatores/causas de acidentes e incidentes*
Acidentes
Fatalidades
Incidentes
*influenciam um no outro
Efeito amplo
Efeito direto
Informação
96
pessoal que nela trabalha, os controladores de tráfego aéreo, a legislação (nacional
e internacional), os governos federais e estaduais e as empresas terceirizadas que
prestam serviços como o abastecimento de combustível e catering, por exemplo.
Todos têm sua parcela de responsabilidade com relação à segurança da atividade
aérea e deve-se ressaltar que o erro humano permeia todos esses setores e não
apenas a tripulação de uma aeronave, que é o último estágio deste processo
(MELO, 2004).
Outros dois aspectos freqüentemente relacionados aos acidentes em geral
referem-se à automação e ao fator humano. Quanto à automação, ela exerce
papel preponderante nas questões de segurança, pois substituiu muitos processos e
trabalhos antes manuais, visando o aumento da produtividade, redução de custos,
redução de fadiga e de tempo em processos repetitivos, precisão no manuseio de
informações e atendimento a certos critérios de segurança que excedem a
capacidade e as habilidades humanas (OGATA, 2003).
Para o autor acima citado, no caso da atividade aérea, a automação
representou um avanço imprescindível para o aumento da segurança,
principalmente porque substituiu a ação humana (e.g., do piloto ou do engenheiro de
vôo) em determinadas situações, sempre sujeita a falhas. Proporcionou assim
eficiência econômica, crescimento do desempenho e regularidade nos vôos.
É inegável que a automação bem projetada pode ajudar o operador humano
e, conseqüentemente, melhorar o desempenho do sistema. Entretanto, a
complexidade que hoje existe nas centenas de computadores embarcados em um
avião de carreira, por exemplo, também sugere a vulnerabilidade e a
susceptibilidade às falhas do sistema, pois quando a máquina falha, cabe ao
operador humano tentar retomar o controle da situação (SCARDIGLI, 2002).
Dessa maneira, as falhas dos sistemas tecnológicos não podem ser
atribuídas somente aos aspectos técnicos, pois também abarcam fatores
comportamentais derivados dos indivíduos e das organizações que operam e
mantêm esses sistemas. É com base em questionamentos deste tipo que ganhou
força na aviação o conceito denominado Fator Humano, que é geralmente
identificado como o maior agente responsável pelos acidentes no setor aéreo
(NASA, 1996).
97
É a partir do desenvolvimento do conceito de Fator Humano que a aviação
assume valores essenciais para a segurança de vôo e a prevenção de acidentes: a
consciência da falibilidade humana e a necessidade de relatar e gerenciar erros.
Em concordância com o conceito de que o erro é uma falha involuntária e que
a performance humana, por ser limitada, não pode evitar alguns erros, que devem
ser então esperados, na aviação existem ferramentas desenvolvidas
especificamente para evitá-los, contê-los e minimizá-los nas suas conseqüências,
tais como os treinamentos de CRM (Crew Resource Management) e o
gerenciamento de informações (Relatórios de Perigo RELPER, Flight Operation
Quality Assurance FOQA, Recomendações de Segurança de Vôo RSV), dentre
outras (DAC, 2004).
Em função da vulnerabilidade que é inerente aos sistemas críticos, a
segurança na aviação passou a ser um processo dogmático baseado em estruturas
definidas e protocolos (MAURIÑO, 2004). Entretanto, o autor enfatiza que a
segurança evolui principalmente a partir das atitudes:
[...] Segurança é um estado mental [...] está relacionada aos perigos
e riscos e a alocação de recursos para evitá-los. É também uma
forma de prevenir a perda de vidas e danos à propriedade e,
finalmente, segurança está relacionada ao valor da vida humana. [...]
Segurança não é um processo objetivo proposto por dogma, mas um
processo subjetivo de avaliação de risco e aceitação (MAURIÑO,
2004, p. 13).
Conclui-se com o acima exposto que a segurança de um sistema complexo
não é garantida apenas com a criação de controles impostos (normas, protocolos,
check lists). É a incorporação da atitude de segurança que permite a transformação
dessas ferramentas numa cultura de segurança.
Essa marcada preocupação em relação à segurança de vôo apresenta laços
diretos com a atividade de manutenção aeronáutica, já que a essência de seu
trabalho reside em garantir a aeronavegabilidade e, conseqüentemente, a segurança
das aeronaves.
98
Em função da importância do conceito de Fator Humano para a aviação e em
relação ao trabalho de manutenção aeronáutica em especial, o mesmo será
abordado detalhadamente no capítulo 3, a seguir.
CAPÍTULO 3
FATOR HUMANO
100
3.1. Contexto
Segundo Marques (2004), dados estatísticos recentes levantados pela Boeing
mostram que 62% dos acidentes aéreos de aeronaves de grande porte são
causados por erro humano. Estão incluídos neste resultado todos os fatores
contribuintes conhecidos: falha de treinamento, estresse, fadiga, desatenção,
imprudência, imperícia, negligência, erro de julgamento, falha de planejamento,
supervisão deficiente, falta de coordenação entre a tripulação, falhas de
comunicação, operação indevida do equipamento e outros.
A preocupação com o erro humano, entretanto, não é recente, pois, já na
década de 80, Rasmussen (1990) apontava para o fato de que a tecnologia
dominante, caracterizada por uma crescente complexidade, por rápidas mudanças e
pelo contínuo aumento do tamanho dos sistemas tecnológicos, gerou um alerta
gradativo acerca do envolvimento humano nos sistemas críticos de segurança. Esse
estado de alerta surgiu através da análise de grandes acidentes que apontaram que
os erros humanos envolvendo operadores, engenheiros e gerentes representavam a
principal causa de acidentes.
Ao considerar os fatores que compõem um sistema crítico de segurança,
Hollnagel (1993) propôs um número de razões para a ênfase na falibilidade humana,
das quais pelo menos 3 possuem implicações para a indústria da aviação:
a) a confiabilidade dos componentes mecânicos e eletrônicos aumentou
acentuadamente nos últimos 30 anos, enquanto o nível de confiabilidade
humana permaneceu inalterado no mesmo período;
b) o aumento da complexidade e da automação do sistema colocou demandas
maiores nos responsáveis por sua manutenção;
c) o aumento da complexidade do sistema proporcionou o panorama imaginado
por James Reason, no qual falhas latentes resultantes de procedimentos cada
vez mais complexos combinam-se com erros operacionais colocando, assim, a
organização em risco.
101
A literatura acerca dos Fatores Humanos sugere que o erro humano está
cada vez mais presente em acidentes relacionados a sistemas tecnológicos
complexos (FOGARTY; SAUNDERS; COLLYER, 1999). Os autores ressaltam que,
em qualquer acidente haverá envolvimento direto ou indireto do elemento humano,
pois este não é dispensável, mesmo nos sistemas altamente automatizados. No
caso do acidente aéreo, o fator humano é tradicionalmente representado pela figura
dos pilotos, dos controladores de tráfego aéreo, dos comissários, das equipes de
manutenção e das operadoras.
Do ponto de vista dos Fatores Humanos não existe a possibilidade de uma
operação livre de erros humanos. Por ser a falibilidade humana um fato inegável,
diversas teorias foram desenvolvidas para explicar as razões dos diferentes tipos de
erro, pois alguns deles podem ser causados por simples incompatibilidade física,
como letras impressas que podem ser confundidas quando muito pequenas,
enquanto outros podem ser causados por complexos fatores psicológicos ou por
certos tipos de estressores como fadiga e limites de tempo rígidos (HELMREICH,
1998; FAA, 2004).
Helmreich, um dos mais importantes estudiosos dos Fatores Humanos na
aviação, afirma que, dado que seres humanos operem sistemas complexos, erros
ocorrerão e que, sob situações de estresse e/ou sobrecarga de trabalho (ou trabalho
monótono, ou sub-carga), a probabilidade de ocorrência de erro pode ser ainda
maior (HELMREICH, 1998).
Helmreich (1998) ressalta que a boa prática do gerenciamento de erros
reconhece sua inevitabilidade e adota uma postura não punitiva frente ao erro
classificado como acidental. Dessa maneira, o conceito de gerenciamento de erros
passa a ser imprescindível para que se diminua de maneira eficaz a sua
probabilidade de ocorrência e também suas conseqüências.
Esse conceito começou a ganhar visibilidade após a introdução do transporte
a jato na década de 50, quando os índices de acidentes devidos a falhas mecânicas
caíram substancialmente (SEXTON; THOMAS; HELMREICH, 2000). Como os dados
sobre acidentes continuaram a ser investigados, tornou-se cada vez mais evidente
que a maioria das ocorrências relacionava-se a problemas associados à
coordenação da tripulação, à comunicação e à tomada de decisões.
102
A partir daí, fez-se necessário buscar uma cultura mais aberta na aviação,
que fosse capaz de tolerar a crítica e reconhecer as limitações humanas, o que veio
ocorrendo numa progressão gradual, porém sólida.
Os autores acima citados ressaltam que essa mudança surgiu inicialmente
através do envolvimento da comunidade científica, da National Aeronautics and
Space Administration (NASA), das agências reguladoras, e do uso de informações
que levaram a uma maior consciência acerca das limitações do desempenho
humano e da importância de um trabalho em equipe eficaz.
Para que isso ocorresse, os processos de treinamento e de seleção foram
corrigidos. Os pilotos passaram a ser selecionados não só pelo conhecimento
técnico, mas também por sua habilidade em coordenar atividades, aprender com o
erro e reconhecer que os outros podem contribuir para a solução de problemas. As
companhias aéreas iniciaram uma nova abordagem para o treinamento e a
avaliação do conhecimento do piloto, migrando de uma posição tradicional de
treinamento individual para uma de treinamento de toda a tripulação.
Dessa maneira, a segurança e o bom desempenho da atividade deixou de ser
função exclusiva do comandante, passando a ser compartilhada por toda a
tripulação, como num team work, levando-se em consideração todos os recursos
disponíveis.
Essa importante mudança de cultura permitiu que a aviação passasse a lidar
com os erros de maneira não punitiva e pró-ativa. Atualmente, esse estilo de
gerenciamento, ensinado, por exemplo, no treinamento CRM (Crew Resource
Management), passou a definir estratégias comportamentais como medidas
protetoras de erros, sendo utilizadas para evitá-los sempre que possível, enredá-los
sempre que ocorram e mitigar suas conseqüências antes que atinjam níveis não
desejáveis (HELMREICH et al., 2001).
A partir dessa contextualização serão apresentados o histórico, os principais
conceitos e modelos de Fatores Humanos na aviação.
103
3.2. Breve Histórico
O campo de estudos dos Fatores Humanos, segundo a FAA (2004), tem suas
raízes na aviação e em dados e estudos de manutenção bélica. A 2
ª
Guerra Mundial
foi o embrião para a estruturação desse conhecimento em decorrência dos inúmeros
acidentes ocorridos e da necessidade de se adaptar, então, veículos militares,
aviões e demais equipamentos bélicos, às características físicas e psicofisiológicas
dos soldados, especialmente em situações de emergência e pânico (VIDAL, 1999).
Segundo a mesma fonte, o primeiro trabalho identificado na área de projeto
de equipamentos e desempenho humano foi realizado durante esse período. Havia
a preocupação em eliminar certos acidentes relacionados ao projeto do cockpit
6
e ao
desempenho da tripulação. De fato, a maior parte dos trabalhos pioneiros
relacionados ao projeto de equipamentos, treinamento, desempenho humano sob
estresse, vigilância e outros tópicos foram conduzidos e publicados no pós-guerra.
A FAA (2004) ressalta ainda que, durante esse período, o rápido
aperfeiçoamento dos sistemas técnicos expôs o equívoco de se ignorar a pessoa,
isto é, o piloto, no sistema. Erros humanos induzidos pelo sistema, como a leitura
errada de altímetros ou a seleção errada dos controles do cockpit, foram reduzidos
ou eliminados através de uma melhor interface entre piloto-cockpit.
Dessa experiência no pós-guerra, principalmente nos EUA e na Inglaterra, os
profissionais envolvidos em equipes multidisciplinares (médicos, engenheiros e
psicólogos) decidiram continuar essa empreitada, voltando-se, com sucesso, para a
produção da indústria civil (VIDAL, 1999).
Nos EUA, segundo a FAA (2004), o campo de estudos sobre os Fatores
Humanos foi reconhecido em 1957, durante a fundação e o primeiro encontro da
Human Factors Society. Já na Europa, um campo profissional paralelo, conhecido
como Ergonomia, já vinha se desenvolvendo havia ao menos uma década. Na
Inglaterra, a Ergonomics Research Society, atualmente conhecida como The
Ergonomics Society, foi criada em 1947. Dentro desse movimento nasceu a corrente
6
Habitáculo da aeronave.
104
da Ergonomia denominada de Engenharia de Fatores Humanos (Human Factors
Engeneering HFE) (VIDAL, 1999).
Os profissionais americanos da área de Fatores Humanos tinham como foco
inicial os elementos relacionados ao desempenho humano, que incluíam alguns
componentes psicológicos. Já a corrente da Ergonomia se concentrava mais nos
aspectos biomecânicos e biofísicos do trabalho. Entretanto, ambas buscavam uma
melhor conformação da interface entre pessoas e sistemas técnicos (FAA, 2004).
Segundo Vidal (1999), os principais tratados de Ergonomia tendo como
abordagem dominante a do HFE foram produzidos nos anos 60, sendo os mais
representativos os de Woodson e Conover (EUA), em 1966, e Grandjean (Suíça),
em 1974.
Posteriormente, nos EUA, a Human Factors Society mudou seu nome para a
Human Factors and Ergonomics Society, fazendo com que ambos os termos (fatores
humanos e ergonomia) passassem a ser utilizados de maneira alternada, como, por
exemplo, o faz a FAA (FAA, 2004).
Observa-se então que as principais ferramentas utilizadas em Fatores
Humanos foram desenvolvidas entre a década de 40 e 50. Dentre essas, a análise e
a investigação de erros auxiliou os engenheiros a enfocar a elaboração de projetos
voltados para o trabalhador. Já a análise da tarefa proporcionou a elaboração de um
procedimento sistemático para a compreensão e a predição de incompatibilidade
entre operador-sistema que fosse capaz de levar a erros (MAURIÑO, 2004, p. 13).
Segundo o autor acima citado, inúmeras pesquisas quantitativas acerca das
capacidades humanas físicas e mentais levaram ao desenvolvimento de uma vasta
base de dados e de princípios específicos de projetos. Dessa maneira, a notável
redução de acidentes aéreos nas últimas 4 décadas se deve, em parte, à redução
sistemática do erro do piloto, através da aplicação dos conceitos e das técnicas
baseadas no estudo dos Fatores Humanos.
105
3.3. Conceito
O uso do termo Fator Humano para o senso comum tende a significar
qualquer aspecto relacionado com seres humanos. Em estudos no referido campo, o
termo deve ser operacionalmente definido, evitando-se diferentes entendimentos, o
que pode implicar em vários entraves, inclusive de ordem metodológica.
Segundo a International Civil Aviation Organization (ICAO, 2003, p.1-1), o
elemento humano é “a parte mais flexível, adaptável e valiosa dentro do sistema
aeronáutico, mas é também a que está mais vulnerável às influências externas que
poderão vir a afetar negativamente o seu desempenho”.
Como a maior parte dos acidentes e incidentes aéreos resulta de um
desempenho humano menor do que o “ótimo” necessário, surgiu uma tendência a
atribuí-los meramente ao erro humano. Entretanto, o termo “erro humano” é de
pouca ajuda para a prevenção de acidentes e incidentes aéreos. Apesar dele indicar
ONDE o colapso do sistema ocorreu, ele não oferece respostas precisas sobre
COMO ele ocorreu.
De maneira geral, o conceito de Fator Humano tende a ser identificado como
um ramo da Medicina por conta da tradição de estudos iniciais realizados na
aviação, que o relacionavam com os efeitos do ruído, calor, frio, vibração e
aceleração nas pessoas. Entretanto, seu alcance e significado é muito mais
complexo e amplo (FAA, 2004).
Na aviação, o estudo do Fator Humano abarca todos os aspectos do
comportamento e desempenho humanos: a tomada de decisões e outros processos
cognitivos; o projeto dos instrumentos e das cabines de pilotagem; as comunicações
e o suporte lógico dos computadores; mapas, cartas, manuais de operações de
aeronaves; check list, entre outros, transformando-se numa ciência multidisciplinar
por natureza (ICAO, 2003).
Para Hawkins (1993), a atenção aos Fatores Humanos busca proporcionar os
melhores resultados possíveis da relação entre as pessoas e as suas atividades,
através de uma aplicação sistemática das Ciências Humanas, integrada aos
conceitos da Engenharia de Sistemas. Seus objetivos são a garantia da eficiência do
106
sistema que inclui a segurança, a eficiência e o bem-estar do indivíduo, tendo como
ponto de partida de análise as interações entre os indivíduos, os grupos e as
organizações às quais pertencem, e as interações entre as organizações que
constituem o sistema da aviação.
Para a ICAO (2003), o conceito de Fator Humano refere-se ao estudo das
capacidades e das limitações humanas oferecidas pelo local de trabalho. É o estudo
da interação humana em suas situações de trabalho e de vida: entre as pessoas
e as máquinas e equipamentos utilizados, os procedimentos escritos e verbais, as
regras que devem ser seguidas, as condições ambientais ao seu redor e as
interações com as outras pessoas. Todos esses aspectos podem influenciar no
comportamento no trabalho de maneira a poder afetar a saúde e a segurança.
Na aviação, segundo a FAA (2004), esse conceito envolve um conjunto de
cuidados médicos, pessoais e biológicos para uma ótima operação da aeronave, a
manutenção aeronáutica e o controle de tráfego aéreo, o que compreende um
esforço multidisciplinar com o objetivo de gerar e compilar informações sobre a
potencialidade e a limitação humana, aliando estas informações aos equipamentos,
sistemas, procedimentos, tarefas, ambiente, treinamento e gerenciamento, buscando
assim alcançar a segurança e a performance humana efetiva.
O ponto crucial acerca dos Fatores Humanos é que as pessoas não devem
ser consideradas de maneira isolada de outros componentes, dado que todos estão
em interação, tornando impossível que se mude um aspecto do sistema sem
considerar seus efeitos nos outros elementos.
Dessa maneira, numa definição abrangente do FAA (2004), o Fator Humano é
o estudo do ser humano como parte central de qualquer sistema:
ü identificando suas capacidades e limitações para, posteriormente, adaptá-las
conforme os demais componentes do sistema;
ü quantificando o desempenho humano através de medidas como tempo,
unidades de trabalho, segurança, erro, e, algumas vezes, mudanças
referentes a uma situação;
ü projetando ou modificando os sistemas de acordo com as necessidades
identificadas, buscando o melhor desempenho humano possível.
107
Como conseqüência desses procedimentos, a atenção operacional aos
Fatores Humanos pode elevar a eficiência, a produtividade e a segurança no
ambiente aeronáutico, o que se traduz em controle de custo e segurança contínua
(ICAO, 2003).
Dessa maneira, na prevenção e na investigação de acidentes aéreos deve-se
considerar o avião (equipamento), o ser humano que o opera, projeta, fabrica e faz
sua manutenção, o meio e as condições em que a atividade se desenvolve
(condições atmosféricas, cabine de pilotagem, meio social, familiar e laboral em que
vive e trabalha) ou seja, o trinômio HOMEM MEIO MÁQUINA que constitui a
base e o objeto de toda a atividade de prevenção.
3.4. Principais modelos teóricos em Fatores Humanos
Um dos modelos que possibilita uma compreensão gráfica da necessidade de
se ajustar os componentes envolvidos na atividade aérea é o Modelo SHELL,
desenvolvido inicialmente por Edwards, em 1972, modificado posteriormente por
Hawkins, em 1975 (ICAO, 2003), no qual:
S simboliza Software (suporte lógico)
H simboliza Hardware (equipamento, máquina)
E simboliza Environment (ambiente)
L simboliza Liveware (elemento humano)
FIGURA 6 Representação gráfica do modelo SHELL.
Fonte: ICAO (2003, p. 1-7)
108
O modelo SHELL é representado por um diagrama de blocos (figura 6)
baseado nas iniciais de seus componentes, tendo o homem (liveware) como o
elemento central. As interfaces entre cada componente (S H E) são vinculadas
ao componente L (o elemento humano), devem adaptar-se e ajustar-se a ele, e não
envolvem as interfaces que se encontram fora dos Fatores Humanos (máquina
máquina, máquina ambiente, suporte lógico máquina).
O elemento humano (liveware) é o componente mais crítico e flexível no
sistema. Apesar das pessoas estarem sujeitas a consideráveis variações em termos
de desempenho e sofrerem muitas limitações, grande parte desses fatores são
atualmente previsíveis. As margens dos blocos desenhados (as áreas de contato
entre os componentes do modelo) não são simples e retas, portanto, os outros
componentes do sistema devem ser cuidadosamente combinados entre si se algum
estressor ou colapso eventual tiver que ser evitado, pois uma falha nessa
combinação poderá ser uma importante fonte de erro humano.
Segundo a ICAO (2003), para que se alcance esse encadeamento, é
essencial que haja uma compreensão das características desse componente central
o homem quanto a:
a) Tamanho físico e forma No planejamento de qualquer local de
trabalho e da maioria dos equipamentos, as medidas do corpo e dos
movimentos possuem um papel crucial, podendo variar de acordo com
idade, gênero e raça, por exemplo. Importantes decisões devem ser
tomadas nos estágios iniciais dos projetos com base em medidas obtidas
através da antropometria e da biomecânica.
b) Necessidades físicas Necessidade de comida, água e oxigênio são
obtidas através dos conhecimentos da fisiologia e da biologia.
c) Características de input O aparelho sensório humano é capaz de
coletar informações do mundo a sua volta, capacitando as pessoas a
responder aos eventos externos e a realizar as tarefas necessárias.
Entretanto, todos os sentidos estão sujeitos à deterioração por uma razão
ou outra. Os conhecimentos sobre estas características são providos pela
fisiologia, psicologia e biologia.
109
d) Processamento de informações Essa capacidade humana possui
limitações relevantes. Projetos de instrumentos e de sistemas de alerta
precários resultaram freqüentemente de uma falha em considerar as
potencialidades e as limitações do sistema de processamento de
informações humano. As memórias de curto e de longo prazo estão
envolvidas, assim como a motivação e o estresse. A psicologia é a
principal fonte de conhecimentos nessa área.
e) Características de output Assim que a informação é percebida e
processada, mensagens são enviadas aos músculos para iniciar a
resposta desejada, que pode ser desde um movimento objetivando o
controle físico até o início de alguma forma de comunicação. Forças de
controle e direção dos movimentos devem ser conhecidas e a
biomecânica, a fisiologia e a psicologia fornecem tal conhecimento.
f) Tolerância ambiental Temperatura, pressão, umidade, barulho, hora
do dia, claridade e escuridão podem refletir no desempenho e no bem
estar de uma pessoa. A altura, os espaços confinados e um ambiente de
trabalho monótono ou estressante podem influenciar no desempenho
humano. Os conhecimentos acerca destas informações são fornecidos
pela fisiologia, biologia e psicologia.
A partir dos aspectos acima descritos, os demais componentes do modelo se
relacionam e se adaptam a esse componente central como a seguir (FAA, 2004;
ICAO, 2003):
ü Elemento Humano Máquina: é a interface mais freqüentemente
considerada e relaciona-se com os ajustes da máquina ao corpo humano
(assento, telas, controles, etc). Entretanto, por uma característica natural do
homem de se adaptar aos desajustes, é possível encobrir-se uma deficiência
nesse sistema, mas isso não eliminará a sua existência. Erros podem advir da
má localização ou da identificação inadequada de botões e alavancas, por
exemplo, o que justifica a importância da análise dessa relação desde o início
do projeto de um sistema.
110
ü Elemento Humano Software (Suporte Lógico): envolve o ser humano e
os aspectos não físicos do sistema, tais como procedimentos, apresentação
geral dos manuais e check lists, símbolos e programas de computador. Os
problemas nessa interface não são objetivos e são de difícil solução, podendo
resultar da má interpretação de mapas confusos, de documentação enganosa
ou composta por excessivos elementos, incluindo a automação.
ü Elemento Humano Ambiente: foi uma das interfaces que primeiro se
reconheceu na aviação. As medidas adotadas inicialmente visavam garantir a
adaptação do ser humano ao ambiente (capacetes, trajes de vôo, macacão
anti-G
7
, máscaras de oxigênio, entre outros). Posteriormente, buscou-se
adaptar o ambiente ao homem (pressurização e sistema de ar condicionado,
isolamento acústico). Hoje, as preocupações incluem também as
conseqüências das concentrações de ozônio e de radiação em vôos de
altitude, alteração do ritmo circadiano em viagens transcontinentais, erros de
percepção provocados por condições metereológicas, aspectos
organizacionais, o contexto político e econômico da empresa aérea e suas
restrições.
ü Elemento Humano Elemento Humano: é a interface que envolve as
relações interpessoais entre as equipes de trabalho, sendo relevantes
aspectos como liderança, cooperação, trabalho em equipe, interação de
personalidades, relações de trabalho. A tripulação, os controladores de
tráfego aéreo, os engenheiros e técnicos de manutenção e os demais
profissionais operacionais funcionam como um grande grupo, e a influência
grupal exerce importante papel na determinação de comportamentos e de
desempenho. É nessa interface que atuam os programas de gestão de
recursos de cabine, como, por exemplo, o CRM, incluindo a cultura
corporativa, o clima organizacional, as pressões em funcionamento dentro da
7
É o traje utilizado por pilotos militares que fica ligado a equipamentos especiais. Quando o avião executa uma
manobra repentina a altas velocidades, o traje infla, por poucos instantes, em posições determinadas, alterando
o fluxo sanguíneo. Isso evita que o sangue possa fluir muito rápido. Assim o piloto não corre o risco de sofrer
uma diminuição, ou aumento, violento do fluxo sanguíneo em partes vitais de seu corpo.
111
empresa, que são capazes de afetar significativamente o desempenho
humano.
Outro modelo de Fatores Humanos de grande importância para a aviação é o
Modelo de Gerenciamento de Erros, desenvolvido pelo inglês James Reason, que
inicialmente concebe a indústria aeronáutica como um sistema de produção
complexo, interativo e organizado. Nesse modelo, Reason analisa o modo como os
seres humanos contribuem para as falhas desse sistema a ponto de produzir um
acidente aeronáutico.
Dessa maneira, para o autor, um acidente é causado por uma série de
fatores múltiplos contribuintes, que se formam através de uma cadeia de eventos
(falhas latentes em interação com falhas ativas) que rompem as barreiras defensivas
(REASON, 2000). As barreiras defensivas seriam então os filtros desenvolvidos
pelas organizações com o objetivo de remover, minimizar ou proteger-se de danos
operacionais.
Dentro desse enfoque, para se compreender os fatores causais de um
acidente dentro da cadeia de eventos deve-se considerar inicialmente o tipo de falha
(REASON, 1995; 2000; 2002):
ü FALHAS ATIVAS São os atos inseguros de efeito imediato, geralmente
cometido por operadores, em contato direto (na “linha de frente”) com o
sistema (pilotos, controladores de tráfego aéreo, entre outros). Podem
assumir diferentes formas: falha, lapso, perda, engano e violações de
conduta.
ü FALHAS LATENTES São os elementos patogênicos que residem no
sistema. Ficam latentes por muito tempo e demoram a se manifestar, até que
se combinam com algum erro ativo que cria a oportunidade de ocorrência de
um acidente, dependendo das defesas existentes. Estão ligados a decisões
equivocadas ou falhas cometidas por profissionais que não estão
necessariamente presentes nem no local nem na hora em que o acidente
ocorre (fabricante, decisões gerenciais e manutenção). Essas decisões
estratégicas possuem o potencial de introduzir os elementos patogênicos no
112
sistema e, por sua característica latente, podem ser identificadas e
remediadas antes da ocorrência de um evento adverso, o que permite uma
atitude pró-ativa no gerenciamento de erros. Entretanto, a maioria dos erros
latentes só é descoberta quando uma defesa falha.
Reason (2000) escolheu a imagem gráfica do “queijo suíço” (ver figura 7) para
explicar seu modelo, inspirado na “teoria dos dominós” desenvolvida por Heinrich,
que representaria a trajetória do acidente através das camadas defensivas do
sistema.
FIGURA 7 O modelo do “queijo suíço” de Reason.
Fonte: Reason (2000, p. 769).
Segundo Liberman (2004), a imagem de um mundo “ideal” seria representada
pelas sucessivas camadas defensivas que permaneceriam intactas e assim
impediriam a penetração de possíveis acidentes. Entretanto, no mundo “real” as
camadas de defesa apresentam fraquezas ou buracos que se movimentam
dinamicamente em resposta às ações dos operadores do sistema.
Na imagem do “queijo suíço”, as falhas ativas causam acidentes quando
combinadas a rupturas nas camadas de defesa. As falhas latentes são “janelas” nas
defesas do sistema que, ao se combinarem com falhas ativas, criam uma trajetória
Danos potenciais
(pessoas e bens)
Sucessivas defesas em camadas
Outros furos são
decorrentes de
condições latentes
Alguns furos são
decorrentes de falhas ativas
Perigo
113
de oportunidades de acidente através de algumas ou de todas as camadas
protetoras do sistema. São estas janelas alinhadas nas várias defesas que
constituem um evento. Dessa maneira, os caminhos das falhas ativas e latentes se
juntam para criar trajetórias completas ou parciais de oportunidades de acidentes
(REASON, 2000).
Numa revisão ampla acerca de seu modelo, Reason (1995) ressaltou os
seguintes aspectos:
a) As falhas humanas, mais do que as técnicas representam a maior ameaça a
sistemas complexos e potencialmente perigosos.
b) Gerenciar os riscos humanos nunca será 100% eficaz. A falibilidade humana
pode ser moderada, porém nunca eliminada.
c) Diferentes tipos de erro possuem diferentes mecanismos de sustentação,
ocorrem em diferentes partes da organização e requerem diferentes métodos
de gerenciamento de risco. A principal distinção ocorre entre as falhas de
execução e as falhas no planejamento ou na solução de problemas. Os erros
são divididos entre baseados nas regras e baseados no conhecimento. Os
erros são de origem informacional erra-se quando a ação não ocorre de
acordo com sua intenção ou não ocorre de maneira apropriada. Já a violação
é de ordem motivacional: ela ocorre quando, intencionalmente, não se
executa a ação prevista no regulamento, podendo virar rotina (falhas ativas
versus latentes).
d) Erros significativos de segurança ocorrem em todos os níveis do sistema e
não só na linha final. Decisões tomadas nos escalões mais altos da
organização criam as condições no ambiente de trabalho que promovem
subseqüentemente os erros individuais e as violações. Falhas latentes estão
presentes muito antes do acidente ocorrer e são, então, as primeiras
candidatas ao gerenciamento de riscos.
e) Medidas que envolvem sanções e exortações (i.e., medidas moralistas
direcionadas aos que estão na linha de frente) possuem eficácia limitada,
especialmente no caso de profissionais altamente treinados.
f) Problemas relacionados aos Fatores Humanos são produto de uma corrente
de causas na qual os fatores psicológicos individuais (desatenção
114
momentânea, esquecimento, entre outros) são os elos últimos e menos
gerenciáveis. Preocupações ou distrações são condições necessárias para se
cometer deslizes e lapsos. Além disso, sua ocorrência é quase impossível de
se predizer ou controlar efetivamente. O mesmo pode ser dito dos fatores
associados ao esquecimento. Dessa maneira, estados mentais que
contribuem para o erro são extremamente difíceis de serem gerenciados;
podem acontecer para as melhores pessoas a qualquer tempo.
g) As pessoas nunca agem isoladamente. Seus comportamentos são moldados
pelas circunstâncias. O mesmo vale para os erros e violações. A
probabilidade de um ato inseguro ser cometido é altamente influenciada pela
natureza da tarefa e pelas condições do trabalho. Isso, por sua vez, é
produto dos fatores organizacionais. Ganhos significativos em segurança
podem ser alcançados através de pequenas modificações nos equipamentos
e no local de trabalho.
h) A automação e a evolução dos equipamentos não sanam os problemas
relacionados aos fatores humanos, eles simplesmente os realocam. Por outro
lado, treinar as pessoas para trabalhar em equipe custa pouco e traz avanços
relevantes para o desempenho humano na aviação.
i) O gerenciamento efetivo dos riscos depende de um sistema de
monitoramento confidencial e preferencialmente anônimo de riscos, que
registre os fatores individuais, da tarefa, situacionais/organizacionais
associados aos incidentes e aos “quase” acidentes.
j) O gerenciamento efetivo de riscos significa o uso focal e simultâneo de
recursos corretivos limitados em diferentes níveis do sistema: o individual ou
da equipe, o da tarefa, o da situação e o da organização como um todo.
A partir do acima exposto pode-se entender que o acidente (ou o quase-
acidente
8
) ocorre dentro de um determinado contexto, que não pode ser desprezado
na análise dos fatores contribuintes, partindo assim de uma perspectiva global e
8
O “quase-acidente” é a ocorrência que poderia conduzir a um acidente se o último elo da cadeia indispensável
de eventos não faltasse.
115
sistêmica da situação, considerando todas as variáveis. Com base nesse enfoque,
os erros não são intrinsecamente ruins de fato eles são com freqüência altamente
adaptáveis, como no aprendizado através de acertos e erros ou nas descobertas
acidentais que podem surgir dos erros (REASON, 2002).
A falibilidade, por estar enraizada na condição humana, não pode ser
eliminada, porém suas conseqüências adversas podem ser moderadas através das
técnicas de gerenciamento de erros. Parte-se, então, do princípio de que erros
poderão acontecer, mesmo nas melhores organizações e com os melhores
profissionais. Não se busca identificar e condenar o culpado ou responsável (como
tradicionalmente se faz), mas sim identificar as situações que contribuíram para a
ocorrência do erro para que se possa aprender com elas, evitando-se, assim, uma
nova ocorrência do fato (REASON, 2000). Dessa maneira, a análise do evento
indesejável é de grande importância para a prevenção de acidentes.
Para que essa análise seja realizada colhendo-se dados fidedignos é
importante criar condições para que as pessoas envolvidas na atividade da
aeronave (tripulação, mecânicos, operadores, entre outros) tenham garantido
antecipadamente a isenção de culpabilidade, para que reportem com maior
sinceridade as indicações observadas como inadequadas na aeronave ou nas
condições do vôo. Entretanto, o que se observa é que culpar indivíduos é
emocionalmente mais satisfatório do que abalizar as instituições (REASON, 2000).
A alta incidência da chamada 'falha pessoal' nas conclusões das
investigações quanto às causas dos acidentes aeronáuticos mostra, claramente, que
a identificação do Fator Humano é mais complexa do que se imagina. Para Reason
(2000), o gerenciamento efetivo de erros depende crucialmente do estabelecimento
de uma cultura de informação, na qual reportar erros seja visto como um hábito
desejável, pois sem uma análise detalhada das falhas, equívocos, incidentes,
omissões e lapsos, torna-se impossível descobrir armadilhas de erros recorrentes ou
conhecer onde está o limite da situação antes que ele seja ultrapassado.
A crescente literatura sobre a cultura de segurança e a proliferação de
instrumentos desenvolvidos para medí-la (WIEGMANN et al., 2003) aponta para a
importância das variáveis organizacionais como condições latentes importantes para
a ocorrência dos erros.
116
Para Shappell e Wiegmann (1997), as diversas classificações de erros
utilizadas na indústria aeronáutica enfatizam o papel organizacional assim como as
variáveis individuais. As últimas apresentam graves desvantagens para a prevenção
de acidentes, pois focalizam os erros nos indivíduos, que são culpados por falhas
como o esquecimento, a falta de atenção ou a fraqueza moral.
Numa perspectiva de análise sistêmica, Fogarty (2004) atesta que os modelos
descritivos sobre as causas de acidentes sugerem que o indivíduo erra por causa de
elementos organizacionais patogênicos latentes capazes de criar condições nas
quais as fraquezas humanas são expostas desnecessariamente. Dessa maneira,
aceita-se conceitualmente que é a interação de variáveis organizacionais e
individuais que leva ao erro.
Além disso, segundo Mauriño (2004), com o desenvolvimento do conceito e
da compreensão do Fator Humano, evoluiu-se para a noção de que acidentes são
causados através de falhas no sistema em lugar do mau comportamento individual.
O autor acredita que, a partir dessa evolução,
[...] os erros operacionais passarão a ser considerados um sintoma,
uma pista para indicar onde o processo de segurança deveria
começar, em lugar do fim disto. [...] Dentro de tal contexto, o
treinamento e o desenvolvimento do recurso humano se tornará uma
ferramenta explícita para melhorar a segurança e a eficiência do
sistema de aviação, com relevância operacional e social.
(MAURIÑO, 2004, p.16),
Assim, para Pereira (2004), os treinamentos passaram a fazer parte essencial
do desenvolvimento da cultura de segurança na aviação na busca por maiores
possibilidades de controle dos erros humanos.
Esses treinamentos, em sua evolução, deixaram para trás o foco técnico-
operativo inicial, que se preocupava com o universo das tripulações e seus
desempenhos individuais, para a busca de um foco nas interações humanas, que
enfatiza a idéia de que todos, sem exceção, que trabalham na aviação estão
envolvidos nas operações aéreas e são, portanto, responsáveis por elas (PEREIRA,
2004).
117
Surgem então os treinamentos de Fatores Humanos conhecidos como CRM
(Crew Resource Management) que buscam compreender, numa perspectiva
abrangente, o contexto de como estão sendo gerenciados e coordenados os
recursos humanos dentro da aviação, passando a envolver todos os seguimentos do
sistema aeronáutico.
3.5. CRM Crew Resource Management
Ao acompanhar a evolução dos modelos de Fator Humano anteriormente
apresentados, o treinamento CRM passou a ser um dos elementos fundamentais de
uma estratégia organizacional para minimizar riscos e gerenciar o erro humano
(HELMREICH et al., 2001).
O CRM, segundo Melo (2004), é definido de maneira geral como uma filosofia
operacional que serve de ferramenta para ser usada em situações normais e
anormais de forma a melhorar o trabalho em equipe e elevar os níveis de segurança
do vôo e da atividade aérea.
Para essa autora, o CRM é uma matéria multidisciplinar que envolve aspectos
da Medicina, da Psicologia, da Antropologia, da Sociologia, da Administração e da
Engenharia, entre outras áreas, cuja missão principal é conscientizar todos os
funcionários sobre o papel que desempenham em relação à segurança de vôo,
mesmo não sendo tripulantes, pois todas as decisões tomadas em terra poderão
influenciar no desempenho da tripulação.
De maneira geral, no treinamento CRM busca-se promover a (MELO, 2004):
a) capacidade do tripulante e/ou funcionário em utilizar adequadamente
todos os recursos disponíveis (informações, combustível/tempo
disponível, equipamentos e pessoas) de forma a obter mais segurança e
eficiência na operação aérea;
b) habilidade da pessoa para trazer para o cotidiano do mundo operacional
os conceitos de CRM, utilizando-os de forma prática através do
treinamento técnico e comportamental recebido, interagindo bem com a
sua equipe, promovendo um ambiente propício à manifestação da
118
assertividade e fluidez das informações e cumprimento da disciplina
operacional.
Na aviação, os programas de treinamento para tripulação desenvolveram-se
ao longo de 25 anos de história, incluindo conhecimentos básicos acerca dos
Fatores Humanos e das limitações humanas, técnicas apropriadas acerca de
conceitos de liderança e de adesão, instruções formais para garantir a preocupação
com segurança frente às hierarquias de comando e frente a desentendimentos
interpessoais, e, finalmente, a mudança de um estilo autocrático e individualista de
comandar a aeronave para um mais focado no trabalho em equipe, com
interdependência mútua e compartilhamento da responsabilidade (MUSSON;
HELMREICH, 2004).
Para esses autores, alguns elementos que surgiram desses treinamentos são
particularmente relevantes:
ü O conceito de briefing pequena sinopse acerca das ações planejadas pelo
indivíduo responsável antes de iniciar a atividade (e.g., plano de vôo,
perspectiva de atraso ou de más condições meteorológicas, papéis
específicos dos membros da tripulação, normas de comportamento), com o
objetivo de alertar para os aspectos de segurança envolvidos. Essa
comunicação permite que todos os envolvidos na atividade saibam antecipar
as necessidades de cada um de maneira pontual e compreendam seu próprio
papel no que virá a seguir.
ü Comportamento assertivo a tripulação recebe um treinamento especial
para confrontar, de maneira aceitável, as ações de outros membros da
equipe, visando garantir a segurança durante uma emergência. No
treinamento fica claro que esse comportamento não significa insubordinação
ou ataque pessoal, tornando-se uma habilidade esperada e desejável numa
equipe coesa.
ü Monitoramento do “outro” membro da equipe a incorporação de
comportamentos de monitoramento do “outro” membro da equipe em ações
críticas à segurança (e.g., verificar a entrada do piloto automático e de alguns
sistemas do computador de bordo, revisar os ajustes na configuração da
119
aeronave realizados por algum colega, confirmar a comunicação entre a
tripulação e os controladores de tráfego aéreo). Essas verificações são
altamente formalizadas e requerem ações específicas de membros
específicos da tripulação e são prescritas pelos Standard Operating
Procedures (SOPs) e pelos manuais de operação de vôo.
Nos treinamento em CRM, os pilotos, tradicionalmente, são instruídos acerca
dos possíveis efeitos da fadiga no desempenho cognitivo e da probabilidade de levar
ao erro, ou sobre como as preocupações relacionadas a doença na família e o
desentendimento conjugal podem funcionar como um risco (capaz de gerar uma
“distração” indesejável) durante um vôo longo e monótono (MUSSON; HELMREICH,
2004).
Dessa maneira, tornou-se habitual discutir durante o briefing pré-vôo a
redução potencial do desempenho humano como mais um aspecto da segurança de
vôo, assim como condições climáticas, a quantidade de combustível e
considerações de terra.
De modo geral, os programas de CRM são desenvolvidos em organizações
específicas (militar ou comercial) e estão intimamente associados a programas
regulares de treinamento. Atualmente, esses programas ultrapassaram o
aprendizado teórico-didático e são praticados simultaneamente em simuladores de
alta fidelidade. Os pilotos recebem feedback acerca de suas habilidades técnicas e
de tomada de decisão e também acerca do gerenciamento da equipe e da utilização
de recursos.
Helmreich, Merritt e Wilhelm (1999) referem que as raízes do CRM, nos EUA,
situam-se num workshop conhecido como Resource Management on the Flightdeck ,
patrocinado pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) em 1979,
que representou o florescimento das pesquisas da NASA acerca das causas dos
acidentes aéreos. O trabalho apresentado no evento identificava que, na maioria dos
acidentes, os erros humanos resultavam geralmente de falhas na comunicação
interpessoal, na tomada de decisão e na liderança.
Nessa época, o termo Cockpit Resource Management era utilizado em função
de sua aplicação nos processos de treinamento das equipes para a redução do “erro
120
do piloto”. Após esse encontro, as companhias aéreas buscaram desenvolver novos
programas de treinamento com o objetivo de aperfeiçoar os aspectos interpessoais
das operações aéreas. Desde então, os programas de treinamento em CRM
proliferaram nos EUA e em todo o mundo.
Nas últimas duas décadas ocorreram mudanças importantes no CRM,
denominadas “gerações”, como a seguir (MELO, 2004):
1
a
. Geração (1979 - 1985) com foco principal na liderança e no processo
decisório (comunicação interpessoal, tomada de decisão, falta/falha de
liderança), visava somente o grupo de pilotos (cockpit resource management).
É considerado um marco na história da aviação, pois a partir daí se começou
a discutir a importância do elemento humano e seu relacionamento com os
colegas dentro de um ambiente altamente complexo e dinâmico.
2
a
. Geração (1986 1990) os cursos CRM passaram a ser estendidos para
toda a tripulação (comissários e pilotos), passando a ser denominado Crew
Resource Management a partir da introdução do conceito de team (equipe).
3
a
. Geração (1990)
9
procurou-se adequar os cursos à cultura do país e da
organização, além de integrar o CRM ao treinamento técnico (tanto em rota
quanto em simuladores). O foco continuava sendo nos pilotos e em como os
mesmos poderiam utilizar suas habilidades para conseguir uma maior
interação.
4
a
. Geração (a partir de 1990) iniciou-se a implantação de novos modelos
de treinamento como o LOFT (Line Oriented Flight Training)
10
, a avaliação de
tripulações e a LOE (Line Operation Evaluation) e a criação de checklists
específicos para a parte comportamental (specific behavior checklist).
5
a
. Geração (meados da década de 90) denominado EMCRM (Error
Management CRM), baseado no conceito de gerenciamento de erros. Foi
desenvolvido por Robert Helmreich, da Universidade do Texas, e apresenta
as seguintes características: considera a cultura organizacional e a cultura do
país, admite a existência do erro, independente da qualidade do treinamento
e do desempenho habitual do tripulante, estimula o comportamento assertivo,
9
Nessa época começaram a surgir no Brasil os primeiros treinamentos em CRM para os pilotos.
10
Aplicação prática dos conceitos de CRM e de Fatores Humanos dentro de uma cabine simulada.
121
estimula a prática de briefings conjuntos e interativos, considera a influência
do estresse e da fadiga sobre o comportamento, estimula a disciplina
operacional (manuais, procedimentos), propõe tratamento diferenciado para
erros e violações, requer juntas disciplinares justas e democráticas, estimula
os relatórios confidenciais sobre erros, busca o estabelecimento de uma
relação de confiança mútua entre empresa e funcionários, propõe a aplicação
do LOFT como uma ferramenta para reforçar os conceitos de CRM.
6
a
. Geração (ainda pouco utilizado) engloba todos os aspectos da
geração anterior além de adicionar o seguinte: LOFT como complemento e
aplicação prática dos conceitos EMCRM; estudo sobre as ameaças que
podem atingir a segurança de vôo, iniciando com uma auditoria (LOSA Line
Operating Safety Audits); o CRM deve ser ministrado de forma corporativa
(Company Resource Management), envolvendo todos os funcionários que
trabalham direta ou indiretamente na atividade aérea.
Após anos de desenvolvimento e ajustes, o CRM apresentou sinais
encorajadores, assim como problemas insolúveis e crescentes (HELMREICH;
MERRIT, 2000). Dentre os problemas freqüentemente apontados, um aspecto
recorrente refere-se ao fato de que a ampla aplicação do modelo não conseguiu
eliminar acidentes e incidentes nos quais o fator humano é um elemento causal.
Além disso, observa-se que erros clássicos continuam acontecendo mesmo em
equipes que receberam treinamento em CRM, indicando o necessário
reconhecimento dos limites na eficácia desta ferramenta.
Apesar do exposto, os autores acima citados ressaltam que o CRM é um
sucesso na história da aviação e aprimorou a atitude e a eficácia da tripulação.
Experiências ao redor do mundo têm demonstrado que as equipes que operam
segundo os critérios do CRM erram menos e correm menor risco de sofrer acidentes
aeronáuticos (BIENIEK, 2004).
Por outro lado, acidentes e incidentes resultantes de falha humana
permanecem importunando o sistema da aviação, refletindo as limitações da
natureza humana e do papel do CRM nas organizações.
122
É necessário ressaltar a importância para o treinamento CRM da consciência
da falibilidade humana e de que os seres humanos são organismos imperfeitos que
necessariamente cometerão erros, especialmente sob condições de sobrecarga,
estresse e fadiga. Além disso, grande parte dos acidentes em ambientes que
envolvem alta tecnologia possui múltiplas causas, o que trouxe uma nova dimensão
da complexidade, da onipresença e da inevitabilidade do erro humano (LIBERMAN,
2004).
Como afirma Reason (2000), o contexto organizacional permite o
desenvolvimento de erros latentes que podem se combinar e produzir finalmente um
acidente. Dessa maneira, é temerário afirmar que o CRM levará necessariamente a
um índice ideal de “acidentes-zero”. Seu objetivo original sempre foi a redução de
erros dos pilotos e o aumento da segurança. Hoje se sabe que o CRM é uma
ferramenta eficaz, porém imperfeita, a serviço da segurança e da eficácia
operacional. O aprimoramento do funcionamento em equipe é uma das formas de se
atingir esse objetivo e não necessariamente o seu fim.
Além disso, as críticas ao CRM precisam considerar o contexto organizacional
em que ele surgiu. As organizações devem adotar uma atitude pró-ativa voltada para
o fortalecimento de uma cultura de segurança. Caso isso não aconteça, elas
responderão de maneira apenas superficial e reativa às ameaças à segurança.
Esperar que um programa de treinamento como o CRM dê conta de todas as falhas
latentes em um sistema complexo é irrealista. De fato, o gerenciamento de erros
(diferentemente da eliminação de erros) é a primeira missão de uma cultura de
segurança e os programas de CRM são apenas mais uma ferramenta nesse
complexo sistema (MUSSON e HELMREICH, 2004).
Dessa maneira, concordando com HELMREICH et al. (2001), é importante
reconhecer que existem múltiplas fontes de erros, que podem atingir mesmo as
equipes mais preparadas e motivadas.
Para os autores, essas fontes incluem as limitações cognitivas de todos os
seres humanos, a fadiga, a sobrecarga de trabalho, os treinamentos e
procedimentos inadequados, a manutenção precária dos equipamentos e os erros
cometidos ou induzidos por controladores de tráfego aéreo. Além disso, eventos
inesperados podem acontecer. Em oposição a esses desafios surge uma estrutura
de defesas e fraquezas capazes de desviar ou exacerbar os erros latentes,
123
permitindo até que passem desapercebidos. Isso inclui os aspectos positivos e
negativos da cultura nacional, a força e a fraqueza da cultura organizacional e
profissional, e a natureza e a qualidade do treinamento oferecido pela empresa. Os
atributos pessoais dos membros da tripulação (incluindo suas habilidades e a
combinação de personalidades) também aumentam ou diminuem a probabilidade de
ocorrência de acidentes/incidentes.
A partir dos dados acima apresentados torna-se possível compreender a
abrangência e a pertinência do conceito de Fatores Humanos para a atividade
aeronáutica. O foco inicial no trabalho do piloto foi ampliado e hoje as equipes de
manutenção aeronáutica já participam de treinamentos específicos para a sua
função, conhecidos como Maintenance Resource Management (MRM).
Entretanto, observa-se que o trabalho de manutenção de aeronaves ainda
não é estudado de maneira tão abrangente quanto o trabalho dos pilotos e dos
controladores de tráfego aéreo.
A partir dessa constatação, o capítulo a seguir busca apresentar o estado da
arte das pesquisas voltadas especificamente para essa categoria ocupacional nas
áreas da Saúde Ocupacional, Saúde Mental e Trabalho, Estresse Ocupacional,
Qualidade de Vida e dos Fatores Humanos no trabalho de manutenção aeronáutica.
As seguir, busca-se construir, a partir do campo de estudos denominado Psicologia
da Saúde Ocupacional, em construção, uma convergência possível entre todas
essas áreas de interface.
Capítulo 4
PSICOLOGIA DA SAÚDE OCUPACIONAL:
CONSTRUINDO A INTERFACE ENTRE
SAÚDE OCUPACIONAL,
SAÚDE MENTAL E FATOR HUMANO
125
4.1. Saúde Ocupacional, Saúde Mental e Fator Humano no
trabalho de manutenção de aeronaves
Visando a realização do presente estudo com trabalhadores de manutenção
de aeronaves, observou-se já na primeira revisão de literatura que se tratava de um
assunto complexo devido à abrangência das áreas nas quais se poderia encontrar
referências (área médica, área tecnológica, medicina aeroespacial, sociologia,
psicologia, saúde ocupacional, ergonomia, segurança de vôo, prevenção de
acidentes, entre outras). Sendo assim, tornou-se necessário conhecer os termos
específicos dos assuntos investigados para que se estabelecesse uma estratégia de
busca capaz de garantir uma recuperação eficiente e significativa dos dados.
Para tal foram utilizadas as bases de dados PubMed/MEDLINE, da National
Library of Medicine (Estados Unidos), que indexa artigos publicados em cerca de
3.700 revistas internacionais na área de medicina e assuntos correlatos, e a base de
dados PsycINFO que inclui:
a) a Psychology and Behavioral Sciences Collection, com aproximadamente
550 revistas científicas com texto completo, incluindo mais de 500 títulos
analisados por especialistas, que abrange tópicos como: características
emocionais e comportamentais, psiquiatria e psicologia, processos
mentais, antropologia e métodos observacionais e experimentais;
b) a PsycINFO, que contém aproximadamente 2 milhões de citações e
resumos de artigos de revistas científicas, capítulos de livros, livros, teses
e relatórios técnicos de todos os campos da psicologia, inclui material
internacional selecionado de aproximadamente 2.000 periódicos em
aproximadamente 35 idiomas, sendo que mais de 60.000 registros são
acrescentados todos os anos;
c) o ERIC, o Educational Resource Information Center, que contém mais de
2.200 sínteses juntamente com referências para informações e citações
adicionais e resumos de mais de 980 publicações educacionais e
relacionadas à educação.
126
Para a recuperação dos dados optou-se por utilizar os descritores
apresentados a seguir, sem restrição por período:
ü aircraft maintenance;
ü aviation maintenance personnel/workers;
ü aircraft mechanics;
ü work/job stress;
ü occupational stress;
ü quality of life/of work life;
ü mental health/mental disease;
ü human factors;
ü errors;
ü aviation safety;
ü accident prevention.
No levantamento feito em ambas bases de dados (PubMed/MEDLINE e
PsycINFO) foram encontrados ao todo 99 artigos investigando assuntos
relacionados aos descritores acima e associados à categoria ocupacional escolhida
no presente estudo: os trabalhadores de manutenção de aeronaves.
De maneira geral, a literatura científica encontrada divide-se em dois grandes
tópicos: as pesquisas na área da Saúde Ocupacional e as na área de Fatores
Humanos, na qual geralmente estão incluídos alguns aspectos relacionados à
Saúde Mental. Dentre essas áreas de estudo, encontram-se diversos sub-temas que
estão apresentados nas tabelas a seguir.
127
TABELA 1 - Artigos encontrados na área da Saúde Ocupacional relacionados
aos trabalhadores de manutenção aeronáutica
TABELA 2 Artigos encontrados na área de Fatores Humanos relacionados
aos trabalhadores de manutenção aeronáutica.
Com base nos dados apresentados acima (tabela 1) pode-se observar um
número restrito (6) de estudos relacionados especificamente à Saúde Mental dos
trabalhadores de manutenção de aeronaves. Por esse motivo, tornou-se necessário
buscar descritores mais específicos da atividade aeronáutica, como fator humano,
prevenção de acidentes aéreos e administração de erros (tabela 2), para que fosse
possível identificar outras abordagens acerca da associação entre aspectos
relacionados à saúde mental nessa categoria ocupacional.
Temas
Artigos
%
Intoxicação 19 42,1
Ruído 9 20,0
Doenças ocupacionais - descompressão 2 4,5
Doenças ocupacionais clássicas 1 2,2
Doenças ocupacionais - câncer 2 4,5
Doenças ocupacionais LER/DORT 1 2,2
Saúde mental Burnout 1 2,2
Saúde mental Fatores psicossociais de risco
1 2,2
Saúde mental Fadiga/Sono 3 6,7
Saúde mental Uso de Álcool 1 2,2
Uso de medicação 2 4,5
Acidentes durante a manutenção 3 6,7
Total 45 100
Temas
Artigos
%
Prevenção/investigação de acidentes/análise de erros
15 27,8
Treinamento 16 29,7
Fator humano e saúde 2 3,7
Medicina aeroespacial 2 3,7
Recursos tecnológicos 2 3,7
Variáveis individuais/grupais/organizaiconais 12 22,2
Avaliação de competências 2 3,7
Cultura de segurança 3 5,5
Total 54 100
128
Essa limitação no número de artigos científicos sobre o tema central desta
dissertação reflete um aspecto importante sobre um fato recorrente na aviação:
mesmo nas pesquisas que enfocam o Fator Humano, desenvolvidas principalmente
na medicina aeroespacial, investiga-se com maior freqüência “os pilotos e os erros
dos pilotos do que os trabalhadores de manutenção de aeronaves e os erros de
manutenção” (SNEEDER, 2000).
Essa prioridade nos estudos relacionados aos pilotos é marcante na evolução
da investigação e da prevenção de acidentes aéreos, cujo foco freqüentemente
reside no cockpit. Certamente, nos últimos 20 anos, a aviação foi transformada com
o avanço do conceito CRM (Crew/Cockpit Resource Management) descrito no
capítulo 3. A FAA (2002), entretanto, ressalta que somente nos últimos 5 anos
começou a se mencionar a importância do “treinamento em Fatores Humanos” no
setor de manutenção aeronáutica.
Para uma ampliação das referências relacionadas ao foco desse estudo, além
das bases de dados consultadas, foram pesquisados também sites oficiais e
governamentais específicos da área da aviação que disponibilizam informações,
manuais e documentos acerca da manutenção aeronáutica, como o da Federal
Aviation Administration (FAA), da International Civil Aviation Organization (ICAO), da
NASA, do Department of Veterans Affairs junto ao Department of Defence, Austrália,
do Human Factors Research Project da Universidade do Texas, do Departamento de
Aviação Civil (DAC) e do Núcleo do Instituto de Ciências da Atividade Física
(NUICAF), no Brasil.
A seguir serão apresentados os principais estudos desenvolvidos nas duas
grandes áreas identificadas, o que permite uma visão abrangente dos achados
relevantes para a presente dissertação.
4.1.1. Saúde Ocupacional
De maneira geral, os estudos encontrados dentro do enfoque da Saúde
Ocupacional buscam investigar os riscos ocupacionais específicos aos quais os
trabalhadores de manutenção de aeronaves estão expostos no seu local de trabalho
e os seus efeitos na saúde.
129
Eles sugerem que o ambiente de trabalho da manutenção aeronáutica pode
oferecer riscos à saúde ocupacional já que a realização da tarefa envolve a remoção
de peças pesadas, a presença de dispositivos rotatórios, de ambientes ruidosos, de
materiais tóxicos ou perigosos, ou de postos de trabalho situados acima do solo.
Os principais riscos à Saúde Geral estudados para essa ocupação
relacionam-se com:
ruído, principalmente das turbinas, que num longo prazo pode acarretar em
doença ocupacional (GUILD, 1951; WARD, 1957; OOSTERVELD; POLMAN;
SCHOONHEYT, 1980; CHEN; CHIANG; CHEN, 1992; VOROB'EV et al.,
1996; SKREBNEV et al., 1997; BENTO COELHO et al., 1999; KING; SALIBA;
BROCK JR., 1999; ISING; KRUPPA, 2001);
intoxicação, em decorrência da exposição a solventes e aos combustíveis
utilizados por aviões tanto civis quanto militares, que num longo prazo pode
acarretar em sérios danos à saúde como: déficit de algumas funções do
sistema nervoso central, incluindo fadiga, mudanças neuro-comportamentais,
transtornos psiquiátricos, embolia cerebral e eletroencefalograma anormal
(MCDERMOTT; HERMENS, 1980; MCLENDON, 1981; MACAMMON;
HALPERIN; LEMEN, 1981; MCCONNELL; PACHECO ANTON; MAGNOTTI,
1990; SPIRTAS et al., 1991; STEWART et al., 1991; BLAIR et al., 1998;
LEMASTERS et al., 1999; LEMASTERS et al., 1999; PLEIL; SMITH;
ZELNICK, 2000; CHILDERS et al., 2000; LEE, et al. 2001; LIN et al., 2001;
GREEN, 2002; RITCHIE et al., 2002; WINDER; BALOUET, 2002; ZELNICK et
al., 2002; RHODES et al., 2003; TU et al., 2004);
descompressão, em decorrência de acidentes relacionados à
despressurização abrupta da aeronave (LEE, 1999; HICKEY; ZANETTI,
2003);
câncer, em função da freqüente exposição a riscos químicos (GARLAND et
al., 1988; RODIONOV; STRONGIN, 2003);
doenças músculo-esqueléticas, em função da inadequação de algumas
posturas recorrentes na atividade de manutenção (GARLAND et al., 1996);
130
doenças ocupacionais “clássicas”, que acabam sendo a maior
preocupação em relação às equipes de “terra”, cerca de 70% dos funcionários
numa companhia aérea. No estudo encontrado aborda-se a necessidade de
se aperfeiçoar os procedimentos necessários para atendimento dessas
equipes dentro da saúde ocupacional (DEHART, 1990);
acidentes durante a manutenção (CLARK, 1987; MURPHY, 1997; GRIMES,
2002).
Quantos aos aspectos relacionados à Saúde Mental, os fatores estudados
foram:
Síndrome de Burnout
11
(LEITER; ROBICHAUD, 1997), cujo estudo busca
avaliar a relação entre a percepção dos perigos específicos do trabalho de
manutenção de aeronaves e a presença de sintomas de Burnout;
Relação entre fatores psicossociais do trabalho e saúde (THEORELL et
al., 1990), estudo que busca compreender a relação entre os fatores
psicossociais do trabalho e os estados fisiológicos (pressão sanguínea,
ambiente de trabalho, hábitos de cigarro, estado emocional e distúrbio de
sono) em trabalhadores de seis diferentes ocupações na Suécia, incluindo
nelas a de mecânico de manutenção de aeronaves;
Uso de medicação (SANDERS; CHATURVEDI; HORDINSKY, 1999;
IRELAND, 2002), cujos estudos avaliam a utilização de medicações
psicotrópicas (inibidor de recaptação da serotonina) e de melatonina (controle
do ritmo circadiano) e seus efeitos no desempenho da atividade de
manutenção, com especial atenção ao trabalho realizado em turnos;
Fadiga e sono (CALDWELL, 1997; PURNELL; FEYER; HERBISON, 2002;
DRURY; SARAN; SCHULTZ, 2004), cujos estudos avaliam as implicações da
fadiga e do sono no desempenho da atividade de manutenção/inspeção
aeronáutica, principalmente entre os trabalhadores em turnos;
11
Síndrome de Burnout é um quadro clínico mental extremo que advem da cronificação do estresse ocupacional,
podendo se manifestar em 3 dimensões: exaustão emocional, despersonalização e sensação de incompetência
profissional.
131
Uso de álcool (COOK, 1997), cujo estudo avalia, como um importante fator
de segurança, a necessidade de se implantar, na atividade aeronáutica,
políticas relacionadas ao uso de álcool.
Em função da precariedade de estudos relacionados ao foco da presente
pesquisa Estresse Ocupacional e Qualidade de Vida no trabalho de manutenção
aeronáutica tornou-se necessário ampliar a procura por referências bibliográficas
numa área do conhecimento relevante para a aviação: os estudos em Fatores
Humanos, apresentados a seguir.
4.1.2. Fator humano em manutenção de aeronaves
Observou-se uma considerável produção de pesquisas relacionadas ao
trabalho de manutenção de aeronaves dentro do referencial dos Fatores Humanos,
no qual se pode encontrar também considerações acerca da Saúde Ocupacional e
da Saúde Mental.
De fato, esses achados revelam que o foco fundamental da medicina
aeroespacial como uma “ciência” refere-se à sua capacidade de integrar de maneira
uniforme os fatores humanos nos processos de desenvolvimento, de testagens e de
operações tecnológicas na aviação (STUPAKOV, 1997). Dessa maneira, a evolução
da medicina aeroespacial está relacionada com a ampliação do conceito de Fator
Humano, o que pode explicar a presença importante de estudos abordando
aspectos psicológicos como estresse, fadiga, características de personalidade,
competências, trabalho em equipe, entre outros, na análise de erros e na prevenção
de acidentes aéreos.
Dentre as pesquisas recentes com foco nos Fatores Humanos e a
manutenção aeronáutica destaca-se o trabalho do Prof. Gerard Fogarty, da
University of Southern Queensland, Austrália.
O Prof. Fogarty vem desenvolvendo nos últimos 8 anos um questionário, o
Maintenance Environment Survey, baseado num modelo estrutural, o Structural
132
Equation Modelling (SEM), que tem se mostrado capaz de explicar as causas de
erros na manutenção aeronáutica.
Os estudos que apresentam esse modelo (FOGARTY; SAUNDERS;
COLLYER, 1999 e 2001; FOGARTY; SHAW, 2003; FOGARTY, 2003; FOGARTY,
2004; FOGARTY; SHARDLOW, 2004) investigam, de maneira geral, a influência de
variáveis organizacionais, ocupacionais e individuais nos erros de manutenção.
Segundo Fogarty (2004), os erros de manutenção são conhecidos como um
fator-chave nos contratempos da aviação e a busca dos seus fatores causais é vista
atualmente como sendo de alta prioridade na indústria aeronáutica. Em paralelo à
busca pelos fatores causais, as pesquisas também têm se concentrado na
compreensão dos modos como os diferentes fatores do contexto se associam para
influenciar nos índices de segurança.
Fogarty, Saunders e Collyer (1999) referem que os achados aparentemente
conflitantes acerca dos dados contidos nos relatórios de acidentes aéreos e em
entrevistas realizadas com pessoal da área ilustram a tendência natural de se
enfatizar o erro humano como sua principal causa, pois é freqüente que se
identifique as falhas humanas sem se questionar o porquê elas ocorreram.
Dessa maneira, Fogarty (2004) alerta que os resultados obtidos em seus
estudos sugerem que os fatores individuais, como saúde e estresse, interferem nos
erros de manutenção e na intenção de rotatividade no trabalho e que eles são
fortemente afetados pelos interesses organizacionais. Portanto, o autor propõe que
a natureza dessa relação causal pode ser apresentada no seguinte sentido:
Sendo assim, os fatores organizacionais influenciam nos fatores individuais,
como saúde mental e moral, o que por sua vez tem importante impacto no auto-
relato dos erros e na rotatividade no emprego.
Além dos estudos do Prof. Fogarty, várias pesquisas foram encontradas na
área dos Fatores Humanos, relacionadas ao trabalho de manutenção aeronáutica de
maneira geral, cujos tópicos abordados referem-se a:
Fatores organizacionais
Fatores individuais
Erros
133
prevenção/investigação de acidentes/análise de erros, cujos estudos
avaliam os fatores contribuintes para os acidentes aéreos relacionados à
manutenção, tendo como base a investigação das causas e a análise dos
erros (HENNEMAN; MITCHELL, 1948; ICAO, 1996; SMITH et al., 1997;
CONWAY; KLATT; MANWARING, 1998; DRURY, 1998; HANEY, 2000;
WIEGMANN; SHAPPELL, 2001; FRAZER, 2002; HOBBS; WILLIAMSON,
2002a; 2002b; 2002c; HOBBS, 2002; HOBBS; WILLIAMSON, 2003;
KRULACK, 2004, STEELE, 2005);
treinamento, cujos estudos buscam avaliar a utilização de treinamentos
empregados para desenvolver o relacionamento interpessoal, o team work, a
utilização de workcards, os programas de MRM (maintenance resource
management), aplicados especificamente à manutenção de aeronaves
(FOLEY, 1964; SCHULZ et al., 1975; ROUSE, 1979; JOHNSON; ROUSE,
1982; OVAE, 1991; TAGGART, 1995; HALL; GOTT; POKORNY, 1995;
POKORNY et al., 1996; KRAUS, 1998; WALTER, 2000; ENDSLEY;
ROBERTSON, 2000; BARANZINI; BACCHI; CACCIABUE, 2001;
ROBERTSON, 2001; BADLER; ERIGNAC; LIU, 2002; VORA et al., 2002;
THOMAS, 2004) ;
fator humano e saúde, cujos estudos avaliam alguns fatores relacionados à
saúde (variação de batimentos cardíacos em situações estressoras
decolagens e aterrissagens, uso de medicação) e seus efeitos no
desempenho do trabalho do profissional de manutenção (TATTERSALL;
HOCKEY, 1995; SNEEDER, 2000);
medicina aeroespacial, cujos estudos avaliam o papel da medicina
aeroespacial no desenvolvimento do conhecimento acerca dos fatores
humanos ao permitir a identificação dos fatores de risco para adoecimento no
trabalho na aviação, ressaltando o trabalho de manutenção aeronáutica
(BUGROV; PONOMARENKO, 1987; STUPAKOV, 1997);
recursos tecnológicos, que avaliam as mudanças tecnológicas no trabalho
de manutenção aeronáutica e sua tendência à automação (DRURY, 1996;
FALLMAN, 2003);
134
variáveis individuais/grupais e organizacionais, cujos estudos investigam
as variáveis individuais (personalidade, liderança, motivação, aspectos
cognitivos), grupais (coesão grupal, cooperação) e organizacionais
(estressores, carga mental, cultura organizacional) e seu impacto na
produtividade no trabalho de manutenção e na prevenção de acidentes
(HARRELL, 1940; HARRELL; FAUBION, 1940a, 1940b e 1941; LODAHL;
PORTER, 1961; NEBEKER; MITCHELL, 1973; JAMES; HATER; JONES,
1981; NEBEKER; MITCHELL, 1974; ROUSE; ROUSE, 1982; TIERMAN et al.,
2002; JIANG et al., 2002; FOGARTY, 2004);
avaliação de competências, cujos estudos exploram as principais
competências para o bom desempenho do trabalho de manutenção
aeronáutica (JUDY, 1953; NCVE, 1991;);
cultura de segurança, cujas pesquisas buscam compreender os
mecanismos por detrás da criação e da sustentação de uma cultura de
segurança no trabalho de manutenção aeronáutica, diferenciando entre erros
e violações, ressaltando a importância dos aspectos organizacionais
(condições de trabalho, política de segurança, normas, pressão no trabalho),
do estresse, da atitude profissional e da confiança na organização e na equipe
para o desempenho no trabalho (TAYLOR e THOMAS, 2003; FOGARTY e
SHAW, 2003; FOGARTY e WORTH, 2003).
4.2. Um novo campo de estudos: a Psicologia da Saúde
Ocupacional (PSO).
A presente investigação insere-se dentro do campo de estudos da Saúde
Mental do Trabalhador (Saúde Mental Ocupacional), mais especificamente na
Psicologia da Saúde Ocupacional, campo de conhecimentos em construção em
nosso meio e no mundo, situado na interface entre Psicologia da Saúde
Psicologia Organizacional e do Trabalho Saúde Ocupacional. Desconhecem-
se estudos dentro desta área realizados junto a trabalhadores militares de
manutenção de aeronaves no mundo e, em particular, em nosso meio.
135
Nesta direção, Guimarães (2005) refere que o Campo da Saúde Mental
necessita urgentemente:
Refazer-se;
Ampliar o seu foco de abordagem;
Buscar romper com as delimitações dos saberes tradicionais na área;
Buscar uma recomposição de conhecimentos sustentada sobre um
conjunto de rupturas e novas premissas, e que, portanto,
Que não seja apenas um novo somatório ou rearranjo simples dos
antigos saberes parcializados.
A autora acima citada acrescenta a importância de se recolocar a questão da
interdisciplinaridade e a necessidade do campo da Psicologia exercer um papel mais
ativo nas pesquisas e práticas para a prevenção do estresse, da doença, e da
incapacitação ocupacional.
De maneira geral, sempre existiu uma interface entre o campo da Psicologia e
o da Saúde Ocupacional. Entretanto, com exceção de poucos estudos (e.g., na área
de Fatores Humanos Ergonomia Fadiga Industrial), essa interface permaneceu
bastante restrita até recentemente (SAUTER; HURRELL JR., 1999).
O termo Psicologia da Saúde Ocupacional (PSO) foi primeiramente utilizado
por Jonathan Raymond, em 1990, do Greenville College, EUA e a primeira
conceituação do termo foi realizada por Raymond, Wood e Patrick (1990), que
alertaram para o papel do psicólogo frente às mudanças organizacionais ao afirmar
que essa profissão tem a responsabilidade de assumir um papel mais proativo em
defender e desenvolver ambientes saudáveis e políticas que de fato previnam o
estresse ocupacional.
A PSO é um campo emergente dentro da Psicologia. Sua constituição visa
atender uma demanda especialmente relacionada à rápida e intensa transformação
do trabalho e do emprego ocorrida nas economias industriais desde os anos 80,
preocupando-se também em investigar como as mudanças nas estruturas e
processos organizacionais influenciam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores e
de suas famílias (NIOSH, 2004).
136
Ainda segundo o NIOSH, seu foco principal reside nos fatores organizacionais
e no delineamento (design) do trabalho que contribuem para a incapacitação e
doença no trabalho, incluindo os transtornos relacionados ao estresse. Aspectos
relacionados a fatores sociais e familiares são também de interesse na medida em
que influenciam na segurança e no bem estar das populações trabalhadoras. Leva
em conta as características individuais, como capacidades, habilidades,
personalidade e temperamento, e a sua contribuição para doenças e incapacitações
ocupacionais estão submetidas à rubrica da PSO.
Segundo o NIOSH (2004), a Psicologia da Saúde Ocupacional pode ser
definida como “a aplicação da Psicologia objetivando a melhoria da Qualidade de
Vida no Trabalho, a proteção, a promoção da segurança, da saúde e do bem estar
dos trabalhadores”. Para o referido instituto, são atribuições centrais dos
investigadores e profissionais neste campo: a) planejar sistemas de trabalho e
organizações saudáveis; b) proteger e melhorar a saúde, a segurança e o bem-
estar dos trabalhadores.
Alinhada à perspectiva acima traçada pelo NIOSH (2004), essa dissertação,
que objetiva detectar especificamente o Estresse Ocupacional junto aos
trabalhadores da amostra, bem como sua relação com a Qualidade de Vida dos
mesmos, encontra-se inserida neste novo campo de estudos dentro da área da
Psicologia: a Psicologia da Saúde Ocupacional.
Ainda segundo o NIOSH (2004), a noção de "PROTEÇÃO" à saúde, nesta
definição, remete-se à intervenção no ambiente de trabalho visando reduzir a
exposição do trabalhador aos riscos ocupacionais e psicossociais do ambiente de
trabalho. A "PROMOÇÃO" de saúde se refere a intervenções em nível individual
para equipar os trabalhadores com conhecimentos e recursos que visem uma
melhoria da saúde para um adequado enfrentamento dos riscos do ambiente de
trabalho.
Embora ambos os tipos de intervenção possam ser definidos como prevenção
primária, a definição do NIOSH prioriza a proteção da saúde e recomenda que este
novo campo preste atenção especial à prevenção primária dos fatores de risco
organizacionais ao estresse, à doença e à incapacitação no trabalho.
137
A European Academy of Occupational Health Psychology (EAOHP, 2003) foi
constituída em 1999 como representante pan-européia dos conhecimentos sobre o
emergente campo da PSO, definida então como a aplicação dos princípios e
práticas da psicologia aplicada à saúde ocupacional, o estudo de aspectos
psicológicos, sociais e organizacionais em interação dinâmica entre trabalho e
saúde”.
Para Schaufeli (2004), são priorizados na pesquisa e na prática em PSO: o
estudo dos fatores pessoais, organizacionais e da interface indivíduo-
organização que influenciam na saúde ocupacional;
b) as teorias e mecanismos sobre o estresse ocupacional,
c) a diferenciação entre resiliência X vulnerabilidade, as estratégias de
coping;
d) os fatores de risco organizacional para o estresse, doenças e
incapacitação ocupacionais;
e) o desenvolvimento de intervenções psicossociais para promover a saúde
ocupacional e avaliação da sua eficácia em termos de resultados
pessoais e organizacionais;
f) as repercussões do trabalho estressante na saúde (física e mental),
repercussões sociais e econômicas;
g) as intervenções organizacionais (e.g., redesenho do trabalho) e
programas (e.g., programa de assistência ao empregado, programas
família-trabalho) para a redução do estresse ocupacional, doença e
incapacitação;
h) a avaliação de hardiness (personalidade resistente);
i) o auto-conceito e auto-eficácia, a iniciativa pessoal;
j) a ética no trabalho;
k) o comportamento não produtivo no trabalho;
l) a investigação transcultural sobre comportamento feminino bem sucedido
no trabalho;
m) a investigação de “Mobbing” (assédio moral no trabalho);
138
n) o bem-estar no trabalho;
o) o equilíbrio entre contexto ocupacional e familiar;
p) o uso de novas tecnologias e seu impacto na performance humana;
q) a aquisição de competências e habilidades no trabalho;
r) a motivação humana;
s) os modelos de convivência em grupo, entre outros.
Pode-se dizer que, no futuro, a PSO estará voltada para 3 aspectos principais
(SCHAUFELI, 2004):
a) vigilância às características do ambiente de trabalho;
b) pesquisas sobre os efeitos das práticas organizacionais;
c) pesquisas de intervenção.
Para o autor acima citado, cabe a PSO desenvolver preferencialmente 5 tipos
de pesquisa:
a) pesquisa explicativa (e.g., desenvolvimento de modelos conceituais de
estresse no trabalho); pesquisa descritiva (e.g., estudos epidemiológicos,
relações com parâmetros das metas e objetivos organizacionais);
c) desenvolvimento de instrumentos (e.g., estandardização de
questionários de mensuração do nível de estresse no trabalho);
d) pesquisa de intervenção (e.g., avaliação de custo-efetividade);
e) mudanças organizacionais (e.g., medições sistemáticas de projetos de
mudança e mais atenção à implementação de projetos).
A constituição deste novo campo na área da Psicologia, a PSO, traz uma
importante mudança de paradigma, saindo de um modelo de doença para um
modelo de saúde. Em se postulando por uma Saúde Mental Ocupacional,
intervenções futuras poderão se beneficiar de uma atuação conjunta com o setor de
Segurança e Medicina do Trabalho e das Comissões Internas de Prevenção de
Acidentes no Trabalho (CIPATs). Cabe acrescentar que a atuação do psicólogo em
139
Saúde Ocupacional ainda não é legalmente exigida em nosso meio, como é exigida
a atuação de profissionais da enfermagem, medicina, engenharia e técnicos em
segurança do trabalho (FINGRET, 2000).
Para Sauter e Hurrell Jr. (1999), os profissionais da segurança e saúde
ocupacional estão adequadamente preparados para identificar e prevenir os riscos
físicos, biológicos e químicos do trabalho, assim como os danos físicos e as doenças
que resultam da exposição a esses riscos. Entretanto, esses profissionais estão
sendo cada vez mais confrontados por riscos psicossociais e transtornos mentais,
tais como os estressores organizacionais e as doenças relacionadas ao estresse,
que acabam indo além do referencial para o qual estão preparados, desafiando o
modelo biomédico e necessitando do apoio de especialistas (expertise) nas ciências
do comportamento para sua investigação e conduta.
Segundo Murta e Trócolli (2004), a ausência de profissionais psicólogos em
equipes de segurança e medicina do trabalho é contraditória. Entende-se que as
doenças ocupacionais possam ser causadas, ainda que em parte, por fatores
psicossociais, mas não há normas para seu controle como há para os demais
fatores de risco. Isto pode ser entendido como um convite para a integração entre
aplicação, pesquisa e divulgação do conhecimento, a fim de que seja esclarecido o
papel da Psicologia da Saúde Ocupacional na promoção da saúde no trabalho.
No campo da Psicologia, estes desafios vêm criando uma nova cultura
profissional ainda restrita ao nível da pós-graduação, dos novos serviços e das
entidades corporativas.
O processo de desenvolvimento da profissão e do campo da Saúde Mental
depende fundamentalmente de movimentos históricos que extrapolam estes dois
campos particulares, englobando, por exemplo, o desenrolar da cultura individualista
e psicologizante no contexto neo-liberal atual, bem como o desenvolvimento da
presente crise do Estado e das políticas sociais em geral (VASCONCELOS, 2000).
Para Guimarães (2005), a dinâmica da história é também dependente das
vontades humanas e precisa de homens e mulheres concretos para ser vivida e
desdobrada. É neste terreno privilegiado das sutilezas que os próprios psicólogos e
os demais atores-chave do campo da Saúde Mental podem reconhecer os fluxos de
seu movimento, para poder reinventar novos ritmos e estilos.
140
Em suma, esta área emergente, a PSO, e sua consolidação apontam para a
necessidade de um processo gradativo de difusão de uma nova cultura profissional
entre os psicólogos e outros trabalhadores das áreas da saúde e do trabalho.
Portanto, a presente dissertação, através das interfaces conceituais e práticas
que estabelece entre aos campos da Saúde Ocupacional, Saúde Mental, Fatores
Humanos, Estresse Ocupacional e a Qualidade de Vida no trabalho, pretende
contribuir para com o avanço do conhecimento na área da Psicologia da Saúde
Ocupacional, apresentando uma proposta de diagnóstico que permite identificar os
principais fatores psicossociais de risco, neste caso, para os trabalhadores de
manutenção de aeronaves militares.
III A PESQUISA
142
1. Locus de Pesquisa
1.1. Centro Técnico Aeroespacial - CTA
A presente dissertação foi desenvolvida junto ao Centro Técnico Aeroespacial
(CTA), situado em São José dos Campos, SP. O CTA ocupa uma área de 14km²,
com 968 residências, 40 laboratórios, 3.134 servidores, sendo 2.348 civis e 1.260
militares. Cerca de 617 alunos de graduação e 1.716 de pós-graduação circulam
anualmente no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), unidade acadêmica do
CTA (CTA, 2004).
O campus do CTA situa-se numa das maiores áreas verdes da cidade,
possuindo uma rica fauna e flora, com várias espécies vegetais e de animais
silvestres, principalmente pássaros. O conceito urbanístico foi inspirado no modelo
norte-americano, com as residências separadas da área funcional e da área de
comércio e serviços.
O CTA recebe uma média de 1.200 visitantes nos seus diversos órgãos e
residências, com uma média anual de 130 comitivas visitantes nacionais e
estrangeiras. Entre servidores, residentes e população flutuante, circulam
diariamente mais de 9.000 pessoas.
Dentro do CTA ainda encontram-se
ü uma escola estadual, que atende 1.100 alunos,
ü uma creche (139 crianças de 3 meses a 4 anos) e
ü uma escola de educação infantil (240 crianças de 4 a 7 anos);
ü cinco agências bancárias;
ü dois aeroportos (civil e militar);
ü biblioteca central,
ü agência de correios,
ü uma associação desportiva,
ü quatro centros sociais,
ü uma capela,
143
ü três hotéis de trânsito,
ü uma unidade médica (Divisão de Saúde, com estrutura ambulatorial e de
hospitalização);
ü uma odontoclínica;
ü rede de serviços (restaurante, alfaiataria, posto de gasolina, barbearia,
lavanderia, locadora de vídeo, posto de fardamento, supermercado, salão de
beleza).
A área residencial compõe-se dos mais diversos blocos residenciais,
distribuídos aos servidores em caráter permissionário, de acordo com sua
qualificação interna, tempo de serviço e hierarquia militar.
Em cada bloco residencial é indicado, por escolha dos próprios moradores,
um síndico para administrar o bloco e servir de elo de ligação com a Prefeitura de
Aeronáutica (PASJ), que é a coordenadora da área.
1.2. Breve histórico
Essa instituição, criada pelo Decreto nº 34.701, de 26 de novembro de 1953,
é a organização do Comando da Aeronáutica que tem por finalidade a realização
das atividades técnico-científicas relacionadas com o ensino, a pesquisa e o
desenvolvimento aeroespaciais de interesse da Aeronáutica (CTA, 2004).
Na sua criação, o objetivo inicial era formar engenheiros especializados para
dar apoio às atividades aeronáuticas, bem como propiciar a implantação de uma
indústria aeronáutica própria no Brasil.
Segundo Cavagnari (1993), de todos os órgãos de pesquisa e
desenvolvimento no Brasil, um dos que tem mais tradição e resultados concretos é o
CTA. Algumas empresas nasceram ou se desenvolveram com o seu apoio, como
por exemplo: a Embraer, a Eletrometal e a Tecnasa.
144
1.3. Estrutura
Para se ter uma melhor visualização de onde o CTA se situa em relação ao
Comando da Aeronáutica (COMAER), será apresentado a seguir um organograma
da área da Ciência e Tecnologia. Essa área é coordenada e supervisionada pelo
Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento DEPED. Como um dos
componentes do Poder Aeroespacial, o DEPED é formado pelos seguintes órgãos:
Legenda:
CTA Centro Técnico Aeroespacial
CLBI Centro de Lançamento da Barreira do Inferno
CLA Centro de Lançamento de Alcântara
DIR Direção
VDR Vice-Direção
ITA Instituto Técnico da Aeronáutica
IAE Instituto de Aeronáutica e Espaço
IEAv Instituto de Estudos Avançados
IFI Instituto de Fomento e Coordenação Industrial
GIA Grupo de Infra-estrutura e Apoio
GAB Gabinete
DOSM Divisão de Operações, Suprimento e Manutenção
COMAER
COMGAR COMGAP COMGEP DEPED DAC DEPENS
CTA CLBI CLA
DIR GAB
VDR
ITA IAE IEAv IFI GIA
DOSM
145
Além disso, o CTA também sedia o Instituto de Proteção ao Vôo (IPV), uma
unidade-hóspede, que possui autonomia administrativa e está subordinada
diretamente ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Tem como
finalidade a administração de ensino especializado destinado aos recursos humanos
do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), bem como a
realização de estudos e projetos de interesse desse sistema.
Nos Institutos do CTA são desenvolvidos vários projetos (CTA, 2004), tais
como:
No IAE: fibra de carbono, grafite de alta massa específica e de pureza
controlada, cerâmicas especiais, sistema imageador infravermelho,
equipamento alerta-radar, aeronave não-tripulada, helicóptero de ataque e os
projetos relativos à família Sonda, e o respectivo propelente, além dos
relativos ao campo da meteorologia e ao desenvolvimento de armamentos e
munições de interesse da Aeronáutica.
O desenvolvimento de tecnologias avançadas está a cargo do IEA, nas áreas
de física de altas e baixas energias, de energia nuclear, laser e informática,
cujos projetos são os seguintes: acelerador linear de elétrons, transceptora
laser no infravermelho, telêmetro a laser no infravermelho, giroscópios óticos.
Além disso, o CTA é o responsável, através do IAE, pelo projeto militar da
Missão Espacial Completa Brasileira e pelo Programa AMX.
1.4. A DOSM Divisão de Operações, Suprimento e Manutenção
O presente estudo foi realizado especificamente junto à Divisão de Operações,
Suprimento e Manutenção (DOSM), que é subordinada ao Gabinete do CTA. Esse
setor tem por atribuição operar, planejar, coordenar, controlar e executar as
atividades de suprimento e manutenção do material aeronáutico e bélico, em nível
Orgânico e Base, bem como operar e manter os equipamentos de apoio no solo,
alocados ao Centro (CTA), em obediência às normas do Sistema de Material
Aeronáutico (SISMA).
146
A constituição atual da DOSM é resultante de uma reunião, realizada em
1998, na qual participaram representantes de várias Unidades, os quais
compuseram o Grupo de Trabalho para Estudo da Estrutura de Manutenção
(GTMAN-CTA). O objetivo foi o de tratar de assunto referente à atribuição da
manutenção de aeronaves do CTA. Como resultado, houve a criação da Divisão aos
moldes de um ESM (Esquadrão de Suprimento e Manutenção). Como decorrência
direta da atribuição das atividades manutentivas ao CTA (DOSM), houve a
desvinculação de Unidades Apoiadoras em relação a este Centro.
Dessa forma, a DOSM vem realizando manutenção em 17 (dezessete)
aeronaves e, principalmente, 09 (nove) projetos diferentes que englobam as
mesmas.
2. Hipóteses
1. Um percentual significativo da amostra apresenta desequilíbrio entre esforço
e recompensa no trabalho (ERI+);
2. Encontra-se característica de supercomprometimento em parte significativa
dos participantes;
3. A amostra, em sua maioria, apresenta comprometimento quanto à
Qualidade de Vida (QV), em suas 4 dimensões;
4. O desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho repercute
negativamente na percepção dos domínios de QV;
5. A percepção inferior da QV nos seus 4 domínios repercute para a ocorrência
de estresse ocupacional (ERI+).
147
3. Objetivos
3.1. Objetivo Geral
Avaliar o Estresse Ocupacional e a Qualidade de Vida de trabalhadores do
setor de manutenção de aeronaves de uma instituição militar brasileira.
3.2. Objetivos Específicos
1. Caracterizar os aspectos sócio-demográficos da população estudada;
2. Avaliar os domínios de Qualidade de Vida da amostra estudada, associando-
os com as variáveis sócio-demográficas;
3. Comparar os resultados obtidos pela amostra para QV com 3 outros grupos
ocupacionais: jornalistas, técnicos-administrativos e trabalhadores de UTI;
4. Avaliar o desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho da amostra
utilizando o modelo ERI (Effort-Reward Imbalance) de Estresse Ocupacional,
associando-o com as variáveis sócio-demográficas;
5. Comparar os resultados obtidos pela amostra para o ERI com 2 outros grupos
ocupacionais: enfermeiros e professores universitários;
6. Comparar as variáveis sócio-demográficas com QV e ERI;
7. Através da Regressão Linear Múltipla verificou-se a variância entre:
a. a variável preditora QV (domínios) sobre as variáveis regressoras ERI
e Supercomprometimento;
b. a variância entre a variável preditora ERI sobre as variáveis
regressoras de QV (domínios);
c. a variância entre a variável preditora Supercomprometimento sobre as
variáveis regressoras de QV.
IV
CASUÍSTICA E MÉTODO
149
1. Participantes
A DOSM, setor estudado, contém um total de 93 funcionários e realiza a
manutenção de aeronaves militares do próprio CTA e de diversas bases aéreas do
Brasil.
Todos os 93 funcionários (N = 93) do setor foram convidados a participar
deste estudo, independente de sua função, formação ou de hierarquia. Desse total,
participaram efetivamente 82 funcionários (88,1%), todos militares.
Critérios de inclusão: ser militar, do sexo masculino, estar presente no dia da
aplicação dos questionários.
Critérios de exclusão: não ser militar (somente 1 funcionário do setor não era
militar), ser do sexo feminino (somente 1 mulher trabalhava no setor), estar fora do
trabalho no dia da aplicação dos questionários (funcionários em férias, afastados ou
em viagem a trabalho).
2. Recursos Humanos e Materiais
O presente estudo, em sua fase de coleta de dados, contou com os seguintes
recursos:
Recursos financeiros A instituição pesquisada participou com a ajuda de
transporte para a pesquisadora (combustível e pedágio) sempre que
necessário, com a impressão dos instrumentos a serem utilizados e com o
fornecimento de canetas, lápis e borrachas.
Recursos humanos A instituição colocou à disposição da pesquisadora
toda a equipe de psicólogas do seu Serviço de Saúde. As psicólogas foram
treinadas para auxiliar na aplicação dos instrumentos de pesquisa utilizados
esclarecendo as dúvidas dos respondentes. O local cedido para a aplicação
foi o auditório do Serviço de Saúde, com capacidade para 50 pessoas.
150
Serviços institucionais A instituição autorizou o acesso da pesquisadora
sempre que foi necessário, assim como o acesso a sua biblioteca.
3. Instrumentos
Foram aplicados 2 instrumentos conjuntamente, descritos a seguir:
1) ERI - Modelo de Desequilíbrio entre Esforço-Recompensa no trabalho
(SIEGRIST, 1999) (Ver em ANEXOS)
Esse questionário é composto por 57 questões, divididas em 3 partes. A 1
a
.
parte, composta por 11 perguntas, avalia dados sócio demográficos e da situação no
trabalho, através de questões objetivas sobre idade, sexo, escolaridade, o tipo de
trabalho, turnos, nível de função, tipo de organização em que trabalha, entre outros
A 2
a
. parte é composta por 17 perguntas do tipo SIM/NÃO, com questões do
tipo Likert dependendo da resposta, contendo 6 itens sobre esforço externo (e.g.,
Eu sofro pressão constante em meu trabalho”) e 11 itens sobre recompensa (e.g.,
Minhas perspectivas de promoção são poucas”), que investigam a freqüência e a
intensidade da experiência estressora precipitada por condições de alto esforço ou
baixa recompensa.
As dimensões avaliadas relacionadas a esforço e recompensa são elencadas
a seguir:
) Esforço extrínseco
ü pressão de tempo
ü interrupções
ü responsabilidade
ü pressão para trabalho extra
ü trabalho fisicamente exigente
ü aumento de demandas
2) Recompensa Extrínseca
ü Gratificação financeira
Salário e esforços
ü Expectativa de recompensa
Proporcional
Suporte adequado
Tratamento incorreto
ü Segurança e oportunidades na carreira
Perspectivas de promoção
Mudança indesejável
Instabilidade no emprego
Inconsistência do Status
151
Essas questões primeiramente avaliam se o potencial estressor está
presente, e, se sim, deve-se posteriormente assinalar o grau de incomodo desse
estressor, numa escala de 4 pontos. Duas escalas separadas, de esforço e de
recompensa, são pontuadas e a razão entre esses dois escores é calculada,
incluindo um fator de correção para o maior número de itens presentes na escala de
recompensa. O escore final < 1.0 indica que a avaliação subjetiva das recompensas
é maior do que a dos esforços. Já o escore final = 1.0 reflete o equilíbrio entre
esforço e recompensa e o escore > 1.0 sugere a presença de desequilíbrio entre alto
esforço e baixa recompensa num nível crítico (SIEGRIST, 2001).
A 3
a
. parte é composta por 28 questões do tipo Likert, que avaliam questões
intrínsecas ao sujeito, as denominadas características de “supercomprometimento”.
A escala de “supercomprometimento” é baseada em 28 questões, numa
escala de Likert de 4 pontos, e permite uma avaliação de 4 sub-escalas:
ü Necessidade de aprovação;
ü Irritabilidade desproporcional;
ü Competitividade;
ü Dificuldade de se desligar do trabalho.
O escore final 19 sugere que a pessoa apresenta a característica de
supercomprometimento relacionada ao trabalho com risco de adoecimento.
2) WHOQOL Bref QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA (FLECK,
1998; 2000) (Ver em ANEXOS)
Esse questionário tem como objetivo avaliar a Qualidade de Vida baseando-
se nos pressupostos de que esta é um construto subjetivo (percepção do indivíduo
em questão), multidimensional e composto por dimensões positivas (e.g.,
mobilidade) e negativas (e.g., dor).
Foram desenvolvidos pela Organização Mundial de Saúde, até o momento,
dois instrumentos gerais de Qualidade de Vida: o WHOQOL-100 e o WHOQOL-
Bref. O WHOQOL-100 consta de 100 questões que avaliam 6 domínios: Físico,
152
Psicológico, Nível de Independência, Relações Sociais, Meio-ambiente e
Espiritualidade/Crenças Pessoais.
Já o WHOQOL-Bref é uma versão abreviada composta pelas 26 questões
que obtiveram os melhores desempenhos psicométricos extraídas do WHOQOL-
100. A versão abreviada é composta por 4 domínios: Físico, Psicológico, Relações
Sociais e Meio ambiente.
O WHOQOL-Bref consta de 26 questões do tipo Likert, sendo duas questões
gerais e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõem o
instrumento original. Assim, diferentemente do WHOQOL-100, em que cada uma
das 24 facetas é avaliada a partir de 4 questões, no WHOQOL-Bref elas são
avaliadas por apenas uma questão.
As facetas analisadas nos 4 domínios do WHOQOL-Bref (WHOQOL GROUP,
1998) são:
Quanto aos resultados, cada domínio produz um escore médio que indica a
percepção de QV específica nesse aspecto em particular. Os escores são
escalonados numa direção positiva (i.e., quanto maior o escore maior a QV no
domínio).
Para se realizar uma comparação com o WHOQOL-100, os escores médios
de cada domínio podem ser multiplicados por 4 de maneira a torná-los comparáveis
aos escores correspondentes na versão completa. Dessa maneira, a versão breve
Domínio I
-
Domínio físico
1. Dor e desconforto
2. Energia e fadiga
3. Sono e repouso
Domínio II - Domínio psicológico
4. Sentimentos positivos
5. Pensar, aprender, memória e
concentração
6. Auto-estima
7. Imagem corporal e aparência
8. Sentimentos negativos
Domínio III - Relações Sociais
9. Relações pessoais
10.Suporte (Apoio) social
11. Atividade sexual
Domínio IV
-
Ambiente
12. Segurança física e proteção
13. Ambiente no lar
14. Recursos financeiros
15. Cuidados de saúde e sociais:
disponibilidade e qualidade
16. Oportunidades de adquirir novas
informações e habilidades
17. Participação em, e oportunidades
de recreação/lazer
18. Ambiente físico:
(poluição/ruído/trânsito/clima)
19. Transporte
153
apresenta escores numa faixa de 4 a 20 pontos, que podem ser convertidos, através
da metodologia proposta, para uma escala de 0 a 100.
4. Procedimentos e Aspectos Éticos
Para a viabilização deste estudo foram seguidas todas as recomendações
preconizadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), através da Resolução
CFP 016/2000 de 20/12/2000, pelo Conselho Nacional de Saúde para pesquisas
junto a seres humanos e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP),
estabelecidos na Resolução 196/96, já que se tratava de investigação não invasiva e
que não envolveu qualquer tipo de manipulação que pudesse atentar contra a ética
em pesquisa.
Foi realizado um estudo exploratório descritivo, realizado em uma única
etapa. Inicialmente, após o contato inicial feito pelas psicólogas da instituição
estudada com o grupo do Laboratório de Saúde Mental e Trabalho (LSMT) e com a
autora dessa dissertação, foram feitos contatos posteriores com a equipe de Saúde
Mental e as chefias do setor avaliado para explicitar a proposta do projeto e para a
definição de prazos.
Foram definidos os seguintes passos:
a) todos os funcionários deveriam ser avisados previamente sobre o estudo a
ser desenvolvido com todo o setor por uma pesquisadora vinculada à
Unicamp, em parceria com as psicólogas da empresa;
b) todos os funcionários, incluindo as chefias, foram convidados a participar da
pesquisa, independente de função, idade, sexo ou posição na hierarquia,
com a garantia de não haver prejuízo algum para aqueles que se
recusassem;
c) foi apresentado a todos o termo de consentimento informado para
participação na pesquisa, que deveria ser assinado antes de seu início;
d) a aplicação foi realizada em dois momentos para que todos os funcionários
presentes ao setor no dia estipulado participassem sem prejudicar o
154
funcionamento do trabalho. Os funcionários foram divididos em dois grupos
aleatoriamente, sendo um na parte da manhã e o outro na parte da tarde,
com duração média de 2 horas;
e) todos os instrumentos foram respondidos de maneira anônima, visando
proteger a identidade dos funcionários, permitindo que se colocassem de
maneira mais espontânea e verdadeira em relação às perguntas. Para
garantir essa proteção, evitou-se também que colocassem dados como
patente, função e número de registro, pois essas informações também
permitiriam algum tipo de identificação;
f) por ser uma proposta de pesquisa originada por uma parceria entre o
Serviço de Saúde Mental da empresa e as chefias do setor a ser estudado,
aqueles que não quisessem responder aos questionários foram orientados a
não assinar o termo de consentimento, entretanto, para que não fossem
identificados pelas chefias e pelos colegas, deveriam participar da aplicação
em conjunto. No momento da entrega dos questionários, entretanto, bastaria
que os entregassem em branco. Essa conduta visava proteger todo e
qualquer funcionário de qualquer tipo de punição acerca da sua recusa em
participar da pesquisa, já que assim este não poderia ser identificado;
g) nas aplicações dos instrumentos a pesquisadora foi auxiliada pelas
psicólogas da instituição, que foram treinadas para esclarecer dúvidas e
verificar se os instrumentos estavam sendo respondidos corretamente;
h) ao entregar os questionários respondidos (ou não), o próprio participante
deveria colocá-los em um envelope na ordem em que o desejasse;
i) a avaliação dos resultados obtidos foi feita pela pesquisadora responsável,
que não tem vínculo algum com a instituição;
j) a devolução dos resultados foi feita a partir dos dados obtidos pelo grupo,
sem apresentação de resultados individuais, a não ser que o participante
tivesse demonstrado tal interesse. Nesse caso, ele receberia um número
que identificava seus questionários respondidos, devendo procurar a
pesquisadora em hora e local determinado para apresentação dos dados
obtidos pelo participante, propondo eventuais condutas e encaminhamentos
necessários.
155
5. Análise e Processamento dos Dados
Para a correção do instrumento ERI, utilizou-se os critérios de correção
contidos no manual elaborado por SIEGRIST (1996) e para o WHOQOL-Bref, a
sintaxe para SPSS, preconizada por FLECK et al. (2000)
12
.
Utilizou-se o software estatístico MINITAB para Windows, versão 13.32 e
versão 14.13 para as análises estatísticas realizadas.
Para o tratamento dos resultados foi realizada análise exploratória de dados
(medidas, resumos, gráficos e correlações). Utilizou-se o teste de proporções, teste t
de Student e a análise de variância (ANOVA) com teste de médias de Tukey e de
Fisher para efetuar as análises comparativas.
Foi também realizada análise de regressão linear múltipla com procedimento
de seleção de variáveis Stepwise para correlacionar os instrumentos utilizados (ERI
e WHOQOL-Bref).
12
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol86.html >
157
1. Caracterização da Amostra
TABELA 3 Distribuição de freqüências e porcentagens para as variáveis
sócio-demográficas dos trabalhadores do setor de manutenção de aeronaves
(N = 82).
13
A parte 1 do questionário ERI divide o tipo de trabalho em 4 níveis: cargos de direção (supervisor, chefe,
gerente, diretor), cargos intermediários (encarregados, técnicos, especialistas), trabalho por conta própria e
trabalhador autônomo. Como todos os participantes tinham vínculo empregatício com a instituição, solicitou-se
que somente assinalassem as duas primeiras opções.
Característica
sócio-demográfica
Categoria Freqüência %
30 anos
30 36,6
Entre 31 e 40 anos
34 41,5
Faixa Etária
41 anos
18 21,9
2º Grau (Comp/Incomp)
53 64,6
Escolaridade
Superior
29 35,4
Solteiro (a)
19 23,2
Casado (a)
59 71,9
Separado (a)
4 4,9
Estado Civil
Viúvo (a)
0 0,0
Direção
7 8,5
Tipo de Trabalho
13
Intermediário
75 91,5
até 10 anos
36 43,9
Entre 11 e 20 anos
29 35,4
Anos Trabalhados
21 ou mais anos
17 20,7
Até 40 horas
47 57,3
Entre 41 e 60 horas
24 29,3
Horas
Remuneradas por
Semana
61 ou mais horas
11 13,4
Sim
9 10,9
Faz outros
trabalhos ?
Não
73 89,1
Sim
28 34,2
Trabalha em
Turnos ?
Não
54 65,8
1 a 6
24 29,3
7 a 12
50 60,9
Salário
(em salários
mínimos)
13 ou mais
8 9,8
158
As categorias das variáveis “Escolaridade”, “Tipo de Trabalho”, “Faz Outros
Trabalhos?” e “Trabalha em Turnos” foram reduzidas a dois grupos cada para
viabilização do tratamento estatístico. As categorias foram reagrupadas como a
seguir:
ü Escolaridade : 2º Grau (Completo/Incompleto) e Superior;
ü Tipo de Trabalho : Direção e Intermediário;
ü Faz outros trabalhos ? : Sim e Não;
ü Trabalha em turnos ? : Sim e Não.
Realizou-se então o teste de uma proporção, obtendo-se diferenças
significativas para todas as variáveis analisadas: a maior parte dos entrevistados
situa-se na faixa etária entre 30 e 40 anos (41,5%), possui escolaridade até o 2
o
.
Grau (64,6%) e é casada (71,9%). Em relação ao trabalho, 91,5% dos participantes
exercem funções de nível intermediário; 43,9% trabalham nessa atividade há menos
de 10 anos, 57,3% trabalham até 40 horas por semana, 89,1% não realizam outros
trabalhos, 65,8% não trabalham em turnos e 60% recebem de 7 a 12 salários
mínimos.
159
2. Qualidade de Vida WHOQOL-Bref
TABELA 4 ANOVA dos domínios do WHOQOL-Bref (N=82) em trabalhadores
do setor de manutenção de aeronaves
Domínio Média (± DP) Mínimo Máximo
Físico
14,5 (± 2,6) 9,0 14,5
Psicológico
14,2 (± 2,8) 5,0 15,0
Relações Sociais
14,6 (± 3,2) 7,0 15,0
Meio Ambiente
12,4 (± 2,3) * 7,0 12,0
* p< 0,05
Realizando a análise de variância (ANOVA) e posteriormente o teste de
comparação múltipla de médias de Tukey, com α = 5%, observou-se que a média do
domínio Meio Ambiente (12,4) foi significativamente inferior as médias dos domínios
Físico, Psicológico e Social.
TABELA 5 Correlação linear de Pearson entre os domínios do WHOQOL-Bref
(N=82)
Domínios Físico Psicológico Social Meio Ambiente
Físico
1,000
Psicológico
0,546 1,000
Social
0,595 0,525 1,000
Ambiente
0,574 0,476 0,555 1,000
Na tabela 5 encontram-se os coeficientes de correlação linear de Pearson
obtidos, buscando-se a existência de associação entre os domínios. Os domínios
Físico e Social foram os que apresentaram maior correlação linear (0,595).
Todos os domínios apresentaram correlações estatisticamente significativas
(p=0,000).
160
TABELA 6 ANOVA comparando a amostra com 3 diferentes grupos
ocupacionais utilizando o WHOQOL-Bref
Domínio CTA Jornalistas
Técnicos
Administrativos
UTI p-valor
1- Físico
14,5a 14,2b 14,6c 15,4d 0,025*
2- Psicológico
14,2 13,7 14,5 14,6 0,337
3- Relações Sociais
14,6a 12,6b 14,7c 14,5d 0,008**
4- Meio ambiente
12,4a 13,1b 13,9c 13,4d 0,008***
* ao nível de confiança de 95%.
* 1: d > a, b, c
** 3: b < a, c, d
*** 4: a < b, c, d
Foram encontradas diferenças significativas entre os diferentes grupos
ocupacionais para as médias de Qualidade de Vida. Os resultados revelam que, no
domínio Meio Ambiente, as médias dos grupos UTI (profissionais de UTI de um
hospital universitário), técnicos administrativos (profissionais técnico-administrativos
de uma universidade estadual) e jornalistas foram significativamente superiores
(p=0,008) à média dos trabalhadores de manutenção de aeronaves (CTA), indicando
que a percepção de QV nesse domínio é pior para essa categoria ocupacional.
Quanto ao domínio Físico, esse grupo obteve média significativamente inferior
(p=0,025) ao grupo UTI. Já no domínio Relações Sociais a média do grupo CTA foi
significativamente superior à do grupo de jornalistas.
161
3. ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no trabalho
TABELA 7 Distribuição da freqüência de ERI- e ERI+ e presença de
supercomprometimento nos técnicos de manutenção de aeronaves.
ERI N %
Equilíbrio 55* 67%
Desequilíbrio 27 33%
Supercomprometimento N %
NÃO 74** 90%
SIM 8 10%
*p = 0,003 **p = 0,000
Na amostra estudada, 55 sujeitos (67%) apresentaram equilíbrio entre esforço
e recompensa no trabalho (ERI-) e 27 (33%) apresentaram desequilíbrio nessa
relação (ERI+), o que indica presença de estresse ocupacional.
Já, dos 82 participantes, somente 8 (10%) apresentaram características de
Supercomprometimento, enquanto 74 (90%) não.
Através do teste de proporções observa-se que as diferenças para esses dois
fatores (ERI e Supercomprometimento) são significativas (p = 0,003 e p = 0,000,
respectivamente).
TABELA 8 Correlação linear de Pearson entre os Fatores do ERI
Domínios ERI SC NA C I DDT
ERI
1,000
SC
0,341 1,000
NA
0,142 0,719 1,000
C
0,259 0,616 0,436
1,000
I
0,296 0,801 0,430
0,451 1,000
DDT
0,249 0,700 0,334 0,090
0,351
1,000
Legenda
SC: Supercomprometimento
NA: Necessidade de aprovação
C: Competitividade
I: Irritabilidade
DDT: Dificuldade de se Desligar do Trabalho
162
Na tabela 8 encontram-se os coeficientes de correlação linear de Pearson
obtidos no ERI, buscando-se a existência de associação entre os fatores. Os fatores
Supercomprometimento e Irritabilidade Desproporcional foram os que apresentaram
maior correlação linear (0,801).
As correlações estatisticamente significativas foram: ERI e SC (p=0,002); ERI
e C (p=0,019); ERI e I (p=0,007); ERI e DDT (p=0,025); SC e NA (p=0,000); SC e C
(p=0,000); SC e I (p=0,000); SC e DDT (p=0,000); N e C (p=0,000), N e I (0,000); N
e DDT (p=0,002); C e I (p=0,000); I e DDT (p=0,001).
Não foram encontradas correlações significativas entre ERI e N e entre C e
DDT (p>0,05).
TABELA 9 Classificação das questões mais referidas sobre Esforço para os
grupo ERI- e ERI+, quanto ao grau de incomodo (“muito” e “muitíssimo”)
(N=82)
ERI (-) ERI (+)
n % Class n % Class
p-valor
Q12
19 34,5 2
o
. 25 92,5 1
o
. 0,001
Q13
24 43,6 1
o
. 20 74,1 3
o
. 0,005
Q14
5 9,1 4
o
. 10 37,0 5
o
. 0,006
Q15
14 25,5 3
o
. 21 77,7 2
o
. 0,001
Q16
3 5,54 5
o
. 10 37,0 5
o
. 0,001
Q17
5 9,09 4
o
. 17 62,9 4
o
. 0,001
Legenda:
Q12 pressão por quantidade de trabalho
Q13 interrupções
Q14 grande responsabilidade
Q15 horas extras
Q16 trabalho fisicamente cansativo
Q17 aumento progressivo de trabalho
CLASS Classificação
A proporção de sujeitos com ERI+ foi significativamente superior à proporção
de sujeitos com ERI- para todas as questões de Esforço avaliadas.
163
TABELA 10 - Classificação das questões mais referidas sobre Recompensa
(falta de) para os grupo ERI- e ERI+, quanto ao grau de incomodo (“muito” e
“muitíssimo”) (N=82)
ERI (-) ERI (+)
n % Class n % Class
p-valor
Q18
11 20,0 9
O
. 20 74,1 5
O
. 0,001
Q19
05 9,0 11
O
. 06 22,2 9
O
. 0,140
Q20
13 23,6 7
O
. 21 77,7 4
O
. 0,001
Q21
13 23,6 7
O
. 22 81,5 3
O
. 0,001
Q22
16 29,1 5
O
. 21 77,7 4
O
. 0,001
Q23
14 25,5 6
O
. 21 77,7 4
O
. 0,001
Q24
07 12,7 10
O
. 07 25,9 8
O
. 0,167
Q25
18 33,0 4
O
. 12 44,4 7
O
. 0,307
Q26
35 63,6 2
O
. 23 85,2 2
O
. 0,069
Q27
32 58,2 3
O
. 17 62,9 6
O
. 0,676
Q28
49 89,1 1
O
. 24 88,8 1
O
. 0,978
Legenda:
Q18 reconhecimento dos superiores
Q20 apoio em situações difíceis
Q21 tratamento injusto
Q22 possibilidade de promoção pouca
Q23 expectativa de fase ruim na condição de trabalho
A proporção de sujeitos com ERI+ foi significativamente superior à proporção
de sujeitos com ERI- para as questões 18, 20, 21, 22 e 23. Para as questões 19, 24,
25, 26, 27 e 28 não foram encontradas diferenças significativas.
164
TABELA 11 Médias e desvios-padrão para o fator Supercomprometimento e
suas sub-escalas, comparando os resultados entre os grupos com ERI- e ERI+
(N = 82)
ERI SC NA C I DDT
Média (± DP)
Média (± DP)
Média (± DP)
Média (± DP)
Média (± DP)
ERI -
ERI +
12,76 (4,40)
15,40 (4,44)
3,81 (1,33)
4,22 (1,08)
1,36 (1,12)
1,92 (1,38)
2,87 (1,70)
3,85 (2,01)
4,72 (2,06)
5,40 (1,78)
p
0,014 0,148 0,073 0,035 0,129
Legenda
ERI-: Equilíbrio entre Esforço e Recompensa no trabalho
ERI+:Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no trabalho
SC: Supercomprometimento
NA: Necessidade de aprovação
C: Competitividade
I: Irritabilidade
DDT: Dificuldade de se desligar do Trabalho
O grupo que apresentou desequilíbrio entre esforço e recompensa (ERI+)
mostra resultados superiores em todos os fatores avaliados nas escalas de
supercomprometimento quando comparado ao grupo ERI-. Através do Teste t de
Student foram encontradas diferenças significativas entre as médias obtidas entre os
dois grupos para o fator de Supercomprometimento e a sub-escala Irritabilidade
Desproporcional (p = 0,014 e p = 0,035 respectivamente).
Para as sub-escalas Necessidade de Aprovação, Competitividade e
Dificuldade de se Desligar do Trabalho não foram encontradas diferenças
significativas entre as médias das respostas obtidas nos dois grupos (equilíbrio e
desequilíbrio) (p>0,05).
A amostra desse estudo foi incluída na validação brasileira do instrumento ERI
realizada pela Profa. Dra. Liliana Andolpho Magalhães Guimarães e colaboradores,
juntamente com outras 2 categorias ocupacionais: enfermeiros (N = 38) e
professores universitários (N = 510). A tabela 12 mostra a comparação dos
resultados obtidos nos 3 grupos ocupacionais.
165
TABELA 12 Comparação das proporções obtidas no estudo com dados
normativos de 2 diferentes categorias ocupacionais da validação brasileira do
ERI
Proporções
ERI
Grupo Eri+ Eri- Risco+
Risco-
CTA (N=82)
0,33 0,67 0,10 0,90
Enfermeiros (N=38)
0,16 0,74 0,11 0,89
Professores (N= 510)
0,08 0,92 0,12 0,88
p
<0,0001
<0,0001
0,875 0,855
Na tabela 12 foram encontradas diferenças significativas para ERI+ (<0,0001) e
ERI- (<0,0001) entre as 3 categorias ocupacionais. A amostra de estudo (CTA)
apresentou proporção superior à de professores para ERI+. Com relação ao grupo
ERI-, a amostra de estudo e os enfermeiros apresentaram proporções inferiores a do
grupo de professores. Com relação às demais comparações, não foram encontradas
diferenças significativas.
TABELA 13 Comparação das médias e Alpha de Cronbach para Esforço (E),
Recompensa (R) no trabalho e Supercomprometimento entre a amostra de
estudo com 2 outras categorias ocupacionais
O Alpha de Cronbach revela que os valores obtidos para Esforço (0,71) e
Recompensa (0,84) indicaram uma alta consistência interna, sendo que o fator
Supercomprometimento obteve valor um pouco inferior (0,68).
Grupo Ocupacional
Esforço
Média (± DP)
Recompensa
Média (± DP)
Supercomprometimento
Média (± DP)
CTA (N=82)
8,1 (± 1,77) 14,93 (3,06) 14,8 (4,03)
Enfermeiros (N= 38)
7,21 (±1,67) 13,5 (± 2,19) 12,61 (± 4,35)
Professores (N=510)
6,96 (± 1,35) 13,05 (± 2,59) 14,51(± 4,24)
Geral
7,13 (± 1,47) 13,32 (± 2,7) 14,35 (± 4,24)
Alpha de Cronbach
0,71 0,84 0,68
166
4. Análise Comparativa
TABELA 14 Resumo das comparações realizadas através da ANOVA e do Teste t de Student para as variáveis sócio-demográficas, de
QV e do ERI.
Civil Renda Idade Escolaridade
Tipo de
trabalho
Tempo na
profissão
Outros
trabalhos
Horas de
trabalho
Turnos
QV1
ns ns ns ns ns
(11-20) < ( 10)**
ns ns ns
QV2
ns ns ns ns ns ns ns ns ns
QV3
ns ns ns ns ns ns ns ns ns
QV4
ns ns ns ns ns ns ns ns ns
ERI
ns ns ns ns ns ns ns ns ns
SC
ns
(13) > [(7-12) e 6)]
ns ns ns ns ns ns ns
SA
ns ns ns ns ns ns ns ns ns
C
ns ns ns ns ns ns ns
(61+) > (até 40) e
(41-60)*
ns
I
ns
(13) > (7-12)*
ns ns ns ns ns ns ns
DDT
ns
(13) > ( 6)* (30) < (30-40)*
ns DIR > INT* ns ns ns NÃO > SIM*
LEGENDA:
ns = Diferença não significativa entre os grupos
(*) = diferenças significativas encontradas ao nível de confiança de 95%
QV1 = QV domínio físico
QV2 = QV domínio psicológico
QV3 = QV domínio das relações sociais
QV4 = QV domínio meio ambiente
Exemplo de interpretação : Cruzamento entre a variável DDT e Idade, (30) < (30-40)*, significa que a média obtida para o DDT do grupo com menos de 30 anos foi inferior a do grupo entre 30 e 40
anos de idade, ou seja, os trabalhadores da faixa etária entre 30 e 40 apresentam maior dificuldade de se desligar do trabalho
ERI = desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho
SC = supercomprometimento
NA = necessidade de aprovação
C = competitividade
I= irritabilidade desproporcional
D
D
T = di
ficuldade de se desligar do trabalho
157
165
166
167
Quanto à competitividade, as pessoas que trabalham mais de 61 horas por
semana obtiveram média significativamente superior (p = 0,013) do que as que
trabalham menos horas (> 40 e 41-60) para esse fator.
Quanto à irritabilidade desproporcional, o grupo com maior renda
(pessoas que recebem 13 ou mais salários mínimos) obteve média
significativamente superior (p = 0,027) aos grupos com renda intermediária
(pessoas que recebem entre 7 e 12 salários mínimos).
Quanto à dificuldade de se desligar do trabalho:
o grupo com maior renda (pessoas que recebem 13 ou mais salários
mínimos) obteve média significativamente superior (p = 0,010) ao grupo
com menor renda (pessoas que recebem 6 ou menos salários mínimos)
para esse fator;
o grupo com idade entre 30-40 obteve média significativamente superior (p
= 0,002) ao grupo com menos de 30 anos para esse fator;
o grupo que possui cargo de chefia obteve média significativamente
superior (p = 0,009) ao grupo cujo tipo de trabalho foi classificado como
intermediário para esse fator;
o grupo que não trabalha em turnos obteve média significativamente
superior (p = 0,022) ao grupo que trabalha em turnos para esse fator.
Quanto ao fator geral de supercomprometimento
14
, o grupo com maior renda
(13 ou mais salários mínimos) obteve média significativamente superior (p = 0,051)
aos demais grupos com menor renda (6 ou menos salários mínimos e pessoas que
recebem entre 7 e 12 salários mínimos).
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as
variáveis sócio-demográficas e os domínios de QV e o ERI.
14
O fator geral de Supercomprometimento em relação à variável Renda foi considerado para análise,
embora apresente um nível de confiança de 90% (p = 0,051), muito próximo de 95%.
168
5. Regressão Linear Múltipla
TABELA 15 - Regressão linear múltipla dos domínios do WHOQOL-Bref sobre
a variável ERI
WHOQOL-Bref ERI ß
Físico
-3,64* -0,054
Psicológico
1,50 0,018
Relações sociais
0,34 0,004
Meio ambiente
-2,93* -0,044
R
2
= 0,372
R
2
ajustado
= 0,339
R = 0,610
* p < 0,05
A regressão linear múltipla (tabela 15) mostra que 33,9% da variância do ERI
é explicada pelos domínios de QV. No entanto, deve-se observar que, considerando
o grupo dessas variáveis preditoras, apenas os domínios físico e meio ambiente
contribuíram significativamente para a variância explicada considerando-se p < 0,05.
TABELA 16 Regressão linear múltipla dos domínios do WHOQOL-Bref sobre
a variável SUPERCOMPROMETIMENTO
WHOQOL-Bref SUPERCOMPROMETIMENTO
ß
Físico
-2,13* -0,540
Psicológico
-2,24* -0,469
Relações sociais
-0,6891 -0,176
Meio ambiente
1,99* 0,516
R
2
= 0,231
R
2
ajustado
=0,190
R = 0,48
* p < 0,05
A regressão linear múltipla (tabela 16) mostra que 19% da variância da
variável SUPERCOMPROMETIMENTO é explicada pelos domínios de QV. No
169
entanto, deve-se observar que, considerando o grupo de variáveis do WHOQOL-
Bref apenas os domínios físico, psicológico e meio ambiente contribuíram
significativamente para a variância explicada.
TABELA 17 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Físico.
Variável Preditora Domínio Físico ß
ERI
-5,71* -4,59
R
2
= 0,292
R
2
ajustado
= 0,283
R = 0,540
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo ERI em relação ao domínio Físico
de QV foi de 28,3%.
TABELA 18 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Psicológico.
Variável preditora
Domínio
Psicológico
ß
ERI
-2,02* -2,08
R
2
= 0,049
R
2
ajustado
= 0,037
R = 0,22
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo ERI em relação ao domínio
Psicológico de QV foi de 3,7%.
170
TABELA 19 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Relações Sociais.
Variável preditora
Domínio de
Relações Sociais
ß
ERI
-3,15* -3,66
R
2
= 0,112
R
2
ajustado
= 0,100
R = 0,316
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo ERI em relação ao domínio
Relações Sociais de QV foi de 10%.
TABELA 20 Regressão linear múltipla da variável preditora ERI e a variável
regressora QV Domínio Meio Ambiente.
Variável preditora
Domínio Meio
Ambiente
ß
ERI
-5,22* -3,97
R
2
= 0,257
R
2
ajustado
= 0,247
R = 0,507
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo ERI em relação ao domínio Meio
Ambiente de QV foi de 24,7%.
Apesar da variável preditora ERI ter sido significativa nos quatro domínios (p
< 0,05), percebe-se que a porcentagem da variância explicada para os domínios
Psicológico e Relações Sociais foram muito baixas (3,7% e 10% respectivamente).
Já, para os domínios Físico e Meio Ambiente, a porcentagem da variância explicada
pelo ERI foi maior (28,3% e 24,7% respectivamente).
171
TABELA 21 Regressão linear múltipla da variável preditora SUPER-
COMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV Domínio Físico.
Variável preditora Domínio Físico ß
Supercomprometimento
-3,61* -0,21
R
2
= 0,142
R
2
ajustado
= 0,131
R = 0,312
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo SUPERCOMPROMETIMENTO
em relação ao domínio Físico de QV foi de 13,1%.
TABELA 22 Regressão linear múltipla da variável preditora SUPER-
COMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV Domínio Psicológico.
Variável preditora
Domínio
PsicológicoT
ß
Supercomprometimento
-3,74* -0,23
R
2
= 0,151
R
2
ajustado
= 0,140
R = 0,374
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo SUPERCOMPROMETIMENTO
em relação ao domínio Psicológico de QV foi de 14%.
172
TABELA 23 Regressão linear múltipla da variável preditora SUPER-
COMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV Relações Sociais.
Variável preditora
Domínio de
Relações Sociais
ß
Supercomprometimento
-2,85* 0,22
R
2
= 0,093
R
2
ajustado
= 0,082
R = 0,286
* p < 0,05
A porcentagem da variância explicada pelo SUPERCOMPROMETIMENTO
em relação ao domínio Relações Sociais de QV foi de 8,2%.
TABELA 24 Regressão linear múltipla da variável preditora SUPER-
COMPROMETIMENTO e a variável regressora de QV Domínio Ambiente.
Variável preditora
Domínio de Meio
Ambiente
ß
Supercomprometimento
-1,02 -0,06
R
2
= 0,013
R
2
ajustado
= 0,00
R = 0,11
* p < 0,05
A variável preditora SUPERCOMPROMETIMENTO não foi significativa para o
domínio Meio Ambiente de QV (p > 0,05), não sendo responsável por variância (0%).
A variável preditora SUPERCOMPROMETIMENTO foi significativa para os
domínios físico, psicológico e relações sociais de QV. Apesar disso, percebe-se que
a porcentagem da variância explicada é muito pequena em todos os casos (13,1%,
14% e 8,2% respectivamente).
VI
DISCUSSÃO
174
Dentre os 93 funcionários que atuavam no setor estudado (DOSM) (N = 93),
88,1% participaram da presente investigação (n = 82), sendo na sua totalidade
militares, membros da Força Aérea Brasileira, do sexo masculino, que
desempenhavam diversas atividades relacionadas ao trabalho de manutenção e
inspeção de aeronaves.
A faixa etária predominante da amostra situou-se entre 30 e 40 anos (41,5%),
sendo que 64,6% possuíam escolaridade até o 2
o
. Grau e 71,9% eram casados.
Esse perfil parece se repetir em contextos militares semelhantes, como afirmam
Leiter e Robichaud (1997), nos quais observa-se a predominância, nessa atividade
específica, de profissionais do sexo masculino (93% de sua amostra).
Em relação ao trabalho, 91,5% dos participantes exerciam funções de nível
intermediário. Da amostra total, 43,9% trabalhavam nessa atividade há menos de 10
anos, 57,3% trabalhavam até 40 horas por semana, 89,1% não realizavam outros
trabalhos, 65,8% não trabalhavam em turnos e 60% recebiam de 7 a 12 salários
mínimos.
Dentre os participantes, 67% apresentaram equilíbrio entre esforço e
recompensa no trabalho (ERI-). Entretanto, 33% apresentaram desequilíbrio (ERI+)
nessa relação, sugerindo a presença de estresse ocupacional relacionado
especificamente à falta de reciprocidade entre os fatores de esforço e de
recompensa no trabalho (p = 0,003).
Esses achados corroboram dados da literatura internacional (SIEGRIST,
1996; 2001; STEENLAND et al., 2000; SIEGRIST et al., 2004) que encontraram uma
prevalência de 10 a 45% de trabalhadores apresentando desequilíbrio entre esforço
e recompensa no trabalho (ERI+).
Comparado a outras investigações realizadas com dois diferentes grupos
ocupacionais (enfermeiros e professores universitários) para a validação brasileira
do instrumento ERI, o índice de ERI+ encontrado no presente estudo (33%) foi
aproximadamente o dobro daquele obtido por Vasconcelos (2004) em enfermeiros
(18%) (p < 0,0001), e o quádruplo do que o encontrado por Inocente (2004) em
professores universitários (8%) (p < 0,0001).
Pode-se supor, a partir desses resultados, que o trabalho de manutenção de
aeronaves, para a amostra estudada, parece ser um fator de risco para o estresse
175
ocupacional, considerando-se, como proposto no modelo ERI, que este se origina
em razão do grau de reciprocidade entre esforços e recompensas.
Na tabela 9 observa-se que os fatores de esforço mais prevalentes (alto
incomodo) para o grupo em equilíbrio entre esforço e recompensa (ERI-) foram:
interrupções na execução da atividade (43,6%), pressão de tempo (34,5%), pressão
para realizar trabalho extra (25,5%). O fator de esforço menos prevalente (menos
incomodo) relacionou-se com as demandas físicas do trabalho (5,5%).
Já para o grupo em desequilíbrio (ERI+) os fatores de esforço (alto incomodo)
mais prevalentes foram: pressão de tempo (92,5%), pressão por trabalho extra
(77,7%) e interrupções na execução da atividade (74,1%). Os fatores menos
incômodos relacionaram-se às demandas físicas do trabalho e quantidade de
responsabilidade (37%).
As diferenças entre os resultados das questões para ERI- e ERI+ foram todas
significativas: Q12 (p < 0,001), Q13 (p = 0,005), Q14 (p = 0,006), Q15 (p < 0,001),
Q16 (p = 0,001) e Q17 (p < 0,001), indicando que essas questões possuem um alto
poder discriminativo para ERI+.
Cabe ressaltar que os fatores ‘interrupções na execução da atividade’,
‘pressão de tempo’ e ‘pressão para trabalho extra’ são apontados pelos 2 grupos
como os fatores de esforço de mais alto incômodo. No entanto, o fator ‘pressão de
tempo’ é considerado o de mais alto incômodo para aqueles com ERI+ (92,5%),
enquanto que para o grupo ERI- esse fator foi incômodo para somente 34,5%. É
provável, portanto, que o fator pressão de tempo para execução da atividade tenha
contribuído de forma significativa para ERI+, seguido por pressão por trabalho extra
e interrupções.
A literatura (SIEGRIST, 2001; KUPER et al., 2002) refere que trabalhadores
com ERI+ percebem mais esforços incômodos no trabalho do que o grupo em
equilíbrio. De forma concordante, na amostra de estudo, os fatores de maior
incômodo são semelhantes para os dois grupos (ERI+ e ERI-), porém se distribuem
com intensidades diferentes, como referido acima.
Por outro lado, no presente estudo, o fator de esforço menos prevalente
(menos incômodo), para os dois grupos, refere-se às demandas físicas do trabalho.
Em relação a esse fato cabe ressaltar que a literatura sobre o trabalho de
176
manutenção e inspeção de aeronaves descreve que essa atividade exige um alto
nível de competência, não admite erros e demanda uma importante carga física e
mental de trabalho (DAC, 1996; FAA, 2002).
Quanto à carga física, nas suas diversas etapas de execução, a manutenção
e a inspeção de um avião pode demandar desde uma simples caminhada em volta
do mesmo até um exame detalhado, compreendendo uma completa desmontagem e
a utilização de complexos auxílios à inspeção, exigindo freqüentemente algumas
habilidades físicas, tais como caminhadas, movimentos de abaixar e levantar, de
escalada, de se curvar e de rastejar em ambientes apertados (DAC, 1996).
Segundo a FAA (2002), o exercício dessa atividade acaba exigindo que o
trabalhador assuma, com freqüência, uma postura “desajeitada” em função,
principalmente, do trabalho em espaços restritos (confinados), com apoios
inadequados que podem levar à fadiga postural e a erros. Além disso, ocorrem
repetidamente a elevação inadequada de peso e o movimento de componentes,
muitas vezes posicionados próximos de obstruções estruturais, o que pode danificar
tanto os componentes quanto a estrutura do avião.
Algumas das tarefas mais importantes dentro da atividade de manutenção e
inspeção são realizadas em espaços confinados
15
(BOWLING et al., 2002). Esses
espaços estão associados a diversos riscos para o trabalhador, que podem causar
sérios danos à saúde e até a morte, tais como: riscos atmosféricos (deficiência de
oxigênio, atmosfera inflamável, gases tóxicos e solventes) e riscos físicos
(associados à energia mecânica, elétrica e hidráulica; ser “engolfado”; problemas de
comunicação; ruído e tamanho da saída do espaço, entre outros).
Em relação à carga física do trabalho, é importante ressaltar que os fatores de
esforço mais prevalentes apresentados pelo grupo com ERI+ parecem caracterizar
uma sobrecarga quantitativa de trabalho, que segundo Sampaio e Guimarães
(2004), está associada a uma grande quantidade de trabalho realizada em um
período de tempo específico. Por outro lado, essa sobrecarga não é qualitativa, pois,
para as autoras, essa condição tende a ocorrer quando as tarefas são
demasiadamente repetitivas e carecem de variedade e dificuldade.
15
Ambiente projetado com aberturas limitadas de entrada e saída, que é desfavorável para a ventilação natural,
podendo conter ou produzir contaminação do ar perigosa, e inadequado para ocupação contínua de um
trabalhador.
177
Para Bowling et al. (2002), os espaços confinados, além da carga física já
mencionada, demandam especialmente uma alta carga mental para o trabalhador e
constituem um campo potencial para a ocorrência de um grande número de erros de
manutenção e de violações de segurança, resultando num importante fator de risco
de estresse em função do seu potencial para gerar danos ao homem, ao
equipamento e a componentes críticos da aeronave. Além disso, os autores
acrescentam que os estressores relacionados ao trabalho nessas condições podem
também estar associados à evolução de quadros de fobias e tendem a afetar de
maneira importante o desempenho e a capacidade de atenção do trabalhador.
Nessa direção, Hobbs e Williamson (2002) ainda acrescentam que o
ambiente de manutenção e inspeção é altamente controlado e está submetido a
inúmeras regras para garantir a segurança e a eficácia do trabalho. Para tanto, é
esperado que os mecânicos e inspetores executem suas atividades enquanto,
simultaneamente, observam todos os requerimentos legais, os manuais dos
fabricantes, os procedimentos da empresa e as normas relacionadas ao
comportamento seguro.
Dentro desse contexto é possível compreender a relevância dada pelos
participantes do presente estudo em relação ao incômodo ocasionado pelas
interrupções na execução das atividades. Segundo o FAA (2002), a distração é
responsável por 15% dos erros de manutenção, em decorrência de interrupções
físicas e/ ou mentais durante a tarefa (e.g., atender ao telefone). Por ser uma
atividade altamente controlada, qualquer distração pode interromper um processo
inteiro de trabalho, sendo recomendado, por motivo de segurança, que o profissional
tente sempre terminar a tarefa antes de atender a qualquer outra demanda. Caso
necessite interromper, deverá assinalar o trabalho incompleto e, quando retornar ao
trabalho, sempre voltar atrás três passos, utilizando também um check list detalhado.
Esse ambiente naturalmente “regrado”, de alta carga mental, inserido em uma
organização militar, cuja cultura característica acentua a noção de responsabilidade,
de dedicação e de obediência, que tem trabalhado com custos reduzidos e equipes
defasadas, parece ser um ambiente propício para o desenvolvimento de fatores
psicossociais de risco no trabalho, corroborando dados obtidos por Fogarty e
Saunders (2000) que, num estudo com 448 trabalhadores de manutenção de
aeronaves militares na Austrália, apontaram para o importante papel das variáveis
178
organizacionais do trabalho, especialmente das pressões relacionadas ao
planejamento precário da atividade, na ocorrência de erros ligados à manutenção
aeronáutica no contexto militar.
Outro aspecto importante também se relaciona com a demanda por trabalho
extra apresentado pela amostra de estudo, que está relacionada na literatura como
estando associada à fadiga do trabalhador de manutenção e inspeção aeronáutica
(DRURY; SARAN; SCHULTZ, 2004). Esse fator tem relevante impacto,
principalmente, nas inspeções visuais, que requerem um trabalho contínuo em
tarefas bastante repetitivas por períodos prolongados.
De acordo com esses autores, nesse tipo de tarefa, caracterizada pela
detecção de defeitos, o trabalhador tende a ter seu desempenho reduzido
rapidamente após os 20-30 minutos iniciais, permanecendo nesse nível mais baixo
com o passar do tempo. Além disso, um grande número de tarefas relacionadas à
detecção de defeitos ocorre em ambientes escuros (e.g., para melhorar o efeito
florescente) e em isolamento social, o que também contribui para um prejuízo no
desempenho. Esse tipo de trabalho apresenta efeitos cumulativos para o trabalhador
quando ocorre em dias seguidos, gerando fadiga, principalmente se realizado em
turnos extras que acarretam em privação de sono.
Dessa maneira, é possível supor que, para os participantes desse estudo, a
demanda física da atividade, apesar de presente, foi percebida como menos
incomoda do que outros fatores de esforço (a pressão de tempo, as interrupções e a
pressão por trabalho extra), os quais, associados à alta carga mental requerida pelo
trabalho, parecem ser percebidos como os principais estressores ocupacionais.
Nesse aspecto, deve-se acrescentar que a carga de trabalho tem sido
definida, a partir de Frankenhauser (1998), como sendo “o conjunto de requisitos
psicofísicos a que o trabalhador é submetido ao longo de sua jornada de trabalho”, e
quando é excessiva (sobrecarga), pode levar a fadiga, com diminuição da
capacidade física e mental (SAMPAIO; GUIMARÃES, 2004, p. 91).
Segundo as autoras acima citadas, a fadiga física é determinada pelos
esforços físicos, pelas posturas de trabalho inadequadas, pelos movimentos e pela
manipulação de cargas realizadas de forma incorreta. Já a fadiga mental está
relacionada a uma exigência excessiva da capacidade de atenção, de análise e de
179
controle do trabalhador pela quantidade de informação que ele recebe, o que pode
levar ao estresse ocupacional.
Um outro aspecto que pode ser considerado para a compreensão das
diferentes percepções de esforço nos grupos ERI- e ERI+ da amostra desse estudo
refere-se as variáveis individuais que podem influenciar na susceptibilidade de uma
pessoa ao estresse e mediar o efeito dos estressores na saúde mental, como os
conceitos de hardiness, resiliência e coping.
Hardiness
16
é um construto proposto para explicar a “personalidade resistente
ao estresse”. Estudos desenvolvidos com diversos grupos ocupacionais, incluindo os
militares (BARTONE, 2000; BARTONE et al., 1989; KOBASA, 1979), demonstraram
que a personalidade hardy (resistente) está associada de maneira significativa à
manutenção da saúde e do desempenho, mesmo quando a pessoa está submetida
a uma variedade de condições estressantes.
No caso dos militares, de acordo com Bartone et al. (2002), essa
característica parece ser um fator importante para a coesão grupal militar, pois
quando o grupo compartilha um evento estressor, a identificação de pessoas hardy
(resistentes) na equipe, comprometidas com a tarefa e com o grupo, que interpretam
os desafios de maneira positiva e que assumem o controle da situação, fortalece a
identidade e o apoio grupal.
Resiliência
17
, conceito que remete à idéia de elasticidade e capacidade rápida
de recuperação da Física, também representa um importante fator moderador e
amortizador do estresse humano. A pessoa resiliente possui uma capacidade de
resistir a situações adversas sem perder o seu equilíbrio inicial, isto é, a capacidade
de se acomodar e reequilibrar constantemente (flexibilidade interna adaptativa)
(PINHEIRO, 2004). Assim, resiliência não seria uma forma de defesa rígida, ou
mesmo de contrapressão à situação, mas uma forma de manejo das circunstâncias
16
Hardiness (personalidade resistente) corresponde a um estilo de personalidade ou um estilo cognitivo
caracterizado por níveis elevados de comprometimento, de controle e de desafio (MADDI; KOBASA, 1984).
Dessa maneira, as pessoas “resistentes” estão comprometidas com suas vidas, assumem o controle de sua
situação e avaliam os estressores como desafios a serem superados, ao invés de oportunidades de fracasso.
Esses aspectos, de acordo com a literatura, amortizam ou transformam a resposta ao estresse de maneira
positiva e fazem com que a pessoa responda melhor frente aos estressores, podendo até trazer efeitos
psicológicos benéficos.
17
Resiliência é definida como a capacidade que um ser humano tem de se recuperar psicologicamente, quando
é submetido às adversidades, violências e catástrofes na vida, e tem importante relação com sua capacidade de
autoregulação e auto-estima (PINHEIRO, 2004).
180
adversas, externas e internas, sempre presentes ao longo de todo o
desenvolvimento humano.
Já as estratégias de coping
17
refletem um importante determinante da reação
individual ao estresse. O estilo de coping pode ser passivo ou ativo (BILLINGS;
MOOS, 1984). No coping ativo a pessoa faz esforços de aproximação do foco de
estresse (e.g., planejamento, busca de informações, apoio social), enquanto no
estilo passivo a pessoa busca a evitação do foco de estresse (e.g., negação,
pensamento mágico, comportamento de esquiva), sendo que as estratégias ativas
parecem ser mais eficazes do que as passivas. Apesar da literatura sobre coping ser
relativamente recente (década de 80), o nível de complexidade que esse conceito
atinge inviabiliza qualquer descrição sucinta. No entanto, é possível afirmar, de
forma mais generalista, que os estilos de coping que buscam a solução de
problemas são geralmente mais eficazes do que as estratégias com foco na emoção
ou as tentativas de ignorar ou evitar o problema. Além disso, as pessoas resistentes
(hardy) tendem a usar estratégias de coping mais ativas do que passivas.
Entre os militares, Bray et al. (2003) relatam que as estratégias de coping
mais utilizadas pelos membros das Forças norte-americanas foram a busca pela
solução do problema (83,1%), a busca de apoio social (75,1%) e a realização de
atividade física (60,8%). Por outro lado, cerca de 25% dos militares entrevistados
pelos autores faz uso de álcool e cigarro (estratégias de evitação-fuga) como forma
de manejo do estresse, das pressões diárias e do sentimento de depressão.
Cabe acrescentar que, apesar de no presente estudo não ter sido investigada
a associação entre saúde mental e religiosidade, Bray et al. (2003) referem que, em
militares, a religiosidade está relacionada à presença de coping adaptativo e de
maior resiliência ao estresse. Num estudo de Parker et al. (2001) observa-se que a
prática religiosa regular está relacionada a uma redução da morbidade por doenças
entre os militares. Entretanto, mais estudos devem ser desenvolvidos para
compreender o papel da religião como um moderador do sofrimento mental entre os
militares.
17
Define-se coping como uma variável individual que se refere às formas como as pessoas comumente reagem
ao estresse, determinadas por fatores pessoais, exigências situacionais e recursos disponíveis (LAZARUS;
FOLKMAN, 1984). As estratégias de coping refletem como o indivíduo administra as demandas da relação
pessoa/ambiente, que são avaliadas como estressantes e as emoções que elas geram. Frente uma situação
considerada estressora, os indivíduos realizam uma avaliação do que está ocorrendo, a fim de que o organismo
possa responder adequadamente ao estressor, solucionando-o ou amenizando-o.
181
Dessa maneira, é possível supor que as variáveis individuais acima descritas
possam ter exercido efeito moderador da percepção do estresse para alguns
participantes do estudo, mesmo todos sendo expostos aos mesmos estressores.
Entretanto, como o presente estudo não objetivou o detalhamento dessas variáveis,
torna-se necessária a realização de outras investigações sobre estresse ocupacional
que contemplem esses aspectos.
No entanto, cabe ressaltar que no caso do instrumento ERI, utilizado no
presente estudo, a escala de Supercomprometimento pode ser indicadora de alguns
desses aspectos apresentados, já que ela foi desenvolvida por Siegrist (2001),
inicialmente, como um padrão individual de coping para lidar com as demandas do
trabalho, baseado do conceito de personalidade Tipo A
18
.
Para esse autor, a personalidade Tipo A está presente em pessoas que
possuem alta necessidade de controle e que, conseqüentemente, despendem um
alto grau de energia, mesmo em situações de baixo ganho. Essa condição de baixa
reciprocidade pode ser prolongada, principalmente pelo fato de que a percepção de
se exercer controle em situações desafiadoras pode ser percebida como gratificante
para quem apresenta essa característica de personalidade. Essa experiência, como
alertam Tsutumi et al., (2001), pode ser estressora mesmo na ausência de
desequilíbrio no ERI.
Pode-se supor então que um coping adequado seria aquele em que o
trabalhador equilibrasse a energia despendida em função das demandas e
recompensas presentes, o contrário do que é denominado supercomprometimento
no ERI.
Para SIEGRIST (2001) a presença de supercomprometimento representa um
mau julgamento das demandas do trabalho (subestimação ou superestimação).
Dessa forma, o trabalhador despende um alto grau de energia, mesmo em situações
de baixa recompensa, o que pode prolongar ou intensificar esforços excessivos de
forma a precipitar um estado de exaustão emocional e de colapso psicológico.
18
Personalidade tipo A é um construto multidimensional relacionado a características de personalidade com
marcante traço para a ação e emoção, resultando numa atitude de contínua e vigorosa luta em direção aos
objetivos, menosprezo às eventuais circunstâncias adversas e afetação especial para com o aproveitamento
laborativo do tempo. As personalidades tipo A tendem a ser hiper-reativas a estressores incontroláveis e
altamente competitivas. O sentido de urgência de tempo e impaciência são considerados componentes desse
tipo de personalidade, que a literatura tem relacionado a um risco maior de desenvolver doenças cardíacas
(SPECTOR; O’CONNELL,1994).
182
A partir dessas considerações, pode-se inferir que a característica de
supercomprometimento poderia ser também interpretada como um padrão de coping
negativo, já que aumenta a susceptibilidade do trabalhador ao estresse. No caso da
amostra desse estudo, 10% dos participantes apresentaram supercomprometimento
(p = 0,000), o que se mostrou significativo, sendo esse fator mais prevalente para o
grupo com ERI+ (p = 0,014) do que para o grupo com ERI-. Pode se supor, em
concordância com a literatura (SIEGRIST, 2001; TSUTUMI et al., 2001), que os
participantes deste estudo que apresentaram supercomprometimento possuem
maior tendência ao estresse ocupacional.
Em relação às questões que avaliam a recompensa, observa-se que os
fatores de (falta de) recompensa mais prevalentes (tabela 10) para os participantes
do grupo ERI- foram: salário (89,1%), reconhecimento (63,6%) e falta de perspectiva
de promoção (58,2%). Para o grupo ERI+ foram: salário (88,8%), reconhecimento
(85,2%) e tratamento que recebem no trabalho (81,5%).
Para os dois grupos os dois fatores de (falta de) recompensa menos
prevalentes para o grupo com ERI- referem-se à: estabilidade-segurança no
emprego (12,7%) e reconhecimento que recebem dos colegas (9%). Para o grupo
com ERI+ foram: estabilidade/segurança no emprego (25,9%) reconhecimento que
recebem dos colegas (22,9%).
Quanto à falta de recompensas, observa-se para os dois grupos uma
concordância em relação à queixa quanto aos salários. No modelo ERI, a pergunta
relacionada ao salário objetiva avaliar se o mesmo é percebido como proporcional
ao esforço despendido no trabalho, o que se mostra insatisfatório para os
participantes deste estudo. Esse fato relaciona-se ao conceito de reciprocidade do
modelo, associado a uma necessidade básica do trabalhador, com difícil
possibilidade de mudança, já que as instituições militares no Brasil passam, no
momento, por um período de corte de custos e de ausência de investimentos.
Acrescente-se que a queixa em relação aos salários insuficientes é histórica
entre os militares no Brasil e vem sendo alvo de reivindicações recentes de todas as
Forças. No entanto, ela acaba sendo agravada pelo fato de que a carreira militar,
pela necessidade de mobilidade constante para várias cidades por um período de
tempo determinado, traz importantes conseqüências financeiras à dinâmica familiar,
183
impedindo por vezes que se façam, por exemplo, investimentos imobiliários e de
longo prazo.
Nesta direção, a literatura (LITWACK; FOSTER, 1981; SANCHEZ et al., 2004)
aponta que as exigências da profissão não ficam restritas à pessoa do militar, mas
afetam, também, sua família, interferindo na formação do patrimônio familiar, como
já dito, e dificultando também o exercício de atividades remuneradas pelo cônjuge e
filhos do militar.
No entanto, somente as seguintes diferenças entre os resultados das
questões relacionadas a recompensas para ERI- e ERI+ foram significativas: Q18 (p
< 0,001), Q20 (p < 0,001), Q21 (p < 0,001), Q22 (p < 0,001), Q23 (p < 0,001), ou
seja, estas questões apresentaram poder discriminativo para aferir ERI+. Não foram
significativas as seguintes questões: Q19 (p = 0,140), Q24 (p = 0,167), Q25 (p =
0,307), Q26 (p = 0,069), Q27 (p = 0,676) e Q28 (p = 0,978), que não apresentaram
poder de discriminação entre ERI+ e ERI-.
Das cinco questões que discriminaram, neste estudo, o grupo ERI+, duas
questões (22 e 23) se referem às expectativas futuras e desfavoráveis com relação a
mudanças nas condições de trabalho, bem como à pouca possibilidade de
promoção.
Três questões (18, 20, 21) estão ligadas a fatores externos: o reconhecimento
por parte da instituição e/ou dos superiores, o que pode ser explicado possivelmente
pelo conceito de locus de controle externo.
Para Spector e O’Connell (1994), locus de controle é um construto que se
refere às expectativas individuais relacionadas a resultados desejados, os quais são
percebidos como importantes para o sujeito. Quando essa expectativa está atrelada
a uma tendência a perceber os eventos da vida como controlados pelo próprio
sujeito, o locus de controle é interno. Ao contrário, no caso do locus de controle
externo, a pessoa possui uma expectativa constante e generalizada de que fatores
externos (outras pessoas, entidades, o destino, a sorte ou as situações) têm controle
sobre os eventos de sua vida.
Para esses autores, a percepção sobre o controle dos eventos está
relacionada ao bem-estar no trabalho, a autonomia e a satisfação no emprego. O
184
controle interno é considerado um importante componente de ajustamento
emocional e da capacidade para lidar com o estresse em geral e no trabalho.
Spector e O’Connell (1994) referem ainda que a tendência ao controle
percebido (se interno ou externo) apresenta correlação significativa com o estresse
ocupacional. Aqueles que apresentam locus de controle externo (que não acreditam
ser capazes de controlar aspectos importantes de seu ambiente) podem avaliar o
ambiente de trabalho como fundamentalmente ameaçador e estressante.
A partir dessas considerações, é possível inferir que, mesmo no contexto
militar, o locus de controle interno também é elemento essencial para o
comportamento assertivo no que diz respeito ao desempenho da tarefa, uma
prerrogativa atual preconizada em Fatores Humanos.
Cabe indagar como conciliar o comportamento assertivo relacionado ao
desempenho da tarefa de manutenção e inspeção de aeronaves com a questão da
hierarquia militar? Muitas vezes os rotativos cargos de direção e de comando não
são exercidos por aqueles militares que têm o domínio técnico da tarefa. É possível
que a experiência e o saber acumulados no manejo das condições adversas para a
realização do trabalho, o “pulo do gato”, e a coesão grupal sejam os fatores
principais de referência e identificação para esses trabalhadores, suplantando de
uma forma “militarmente aceita” as regras institucionais.
Na amostra de estudo, aqueles que provavelmente apresentaram um locus de
controle externo, ou seja, que dependem da aprovação externa, estiveram mais
expostos à ocorrência de estresse ocupacional (ERI+).
Em seqüência, depois de realizada a análise comparativa entre as variáveis
sócio-demográficas estudadas, os domínios de QV e o ERI, não foram obtidas
associações estatisticamente significativas para esses fatores.
A única variável a apresentar associações significativas com as variáveis
sócio-demográficas da amostra foi o fator Supercomprometimento (SC) (parte do
ERI), que apresentou associação significativa com a variável renda (p = 0,051). As
sub-escalas de SC apresentaram associações significativas com as variáveis sócio-
demográficas como a seguir: competitividade e horas semanais de trabalho (p =
0,013); irritabilidade desproporcional e renda (p = 0,027); dificuldade de se desligar
185
do trabalho (DDT) e renda (p = 0,010); DDT e idade (p = 0,002); DDT e tipo de cargo
(p = 0,009); DDT e trabalho em turnos (p = 0,022).
Observa-se, então, que aqueles participantes com maior idade (mais de 30
anos), que ocupavam cargo de chefia e tinham maior renda apresentaram médias
significativamente superiores para supercomprometimento (p = 0,051) e nas sub-
escalas irritabilidade desproporcional (p = 0,027) e dificuldade de se desligar do
trabalho (p = 0,002). Pode se supor que essas pessoas, dentro da hierarquia militar
e da antiguidade na função, estiveram expostas há mais tempo aos estressores
ocupacionais.
Por outro lado, observou-se que os participantes com menor idade (< 30
anos) trabalhavam um maior número de vezes em turno (p = 0,022) e mais horas
por semana (p = 0,013), recebendo menores salários (p = 0,027). Entretanto, este
mesmo grupo apresentou médias inferiores para supercomprometimento,
irritabilidade desproporcional e dificuldade de se desligar do trabalho, apresentando
médias superiores somente para o fator competitividade (p= 0,013). Este achado
pode ser explicado pelo fato de que esses participantes são aqueles que estão em
um nível inicial da carreira militar, provavelmente ainda motivados pela idéia da
“combatividade” e do “ser guerreiro”, o que justificaria uma maior competitividade
apresentada.
Acrescente-se que nesse estudo, em função de questões éticas relacionadas
ao sigilo das informações e ao anonimato dos participantes, não foi possível
conhecer a distribuição de patentes relacionadas à hierarquia militar. Esse dado teria
permitido obter informações importantes acerca da relação entre idade, antiguidade
e posição na hierarquia militar, complementando assim essa análise.
Cabe ressaltar que essa limitação inviabilizou a análise de um valor
fundamental para o contexto militar: a posição na hierarquia, pois ela ordena a
autoridade, em níveis diferentes (BRASIL, 1980), o que pode interferir em questões
como disciplina e obediência.
Dado que não foram localizadas referências sobre a utilização do ERI em
militares na literatura pesquisada, buscou-se uma aproximação dos achados obtidos
neste estudo, relacionando-os à literatura com trabalhadores civis.
186
É possível supor que as características da variável supercomprometimento
(necessidade de aprovação, competitividade, irritabilidade desproporcional e
dificuldade de se desligar do trabalho), no modelo ERI, englobem aspectos
peculiares à personalidade do militar, tais como a idéia de ter controle da situação, o
combate, que pode estar associado à competitividade no modelo, a necessidade de
estar alerta o tempo todo, entre outros.
Para uma maior compreensão do perfil de personalidade militar deve-se
ressaltar os valores que são inerentes a sua cultura: o trabalho árduo, a dedicação,
o comprometimento, a lealdade, a responsabilidade, o respeito, o serviço abnegado,
a disciplina, a honestidade, a integridade, a solidariedade grupal, a higidez, a
coragem, a supremacia, a eficiência, o desafio e a vitória. (GARSOMBKE, 1988;
GOLDMAN ,1998; WILSON, 2000; BRITT;STETZ ;BLIESE,2004).
Além disso, pelo que se pode sistematizar a partir da literatura consultada
(LEITER; ROBICHAUD,1997; FOGARTY, 1999), observa-se que alguns dos valores
inerentes à cultura militar acima citados apresentam correspondência com valores
desejáveis para o bom desempenho do trabalho de manutenção de aeronaves, tais
como: a atenção constante (vigilância), a busca por sinais e falhas nem sempre
visíveis a olho nu, a necessidade de utilizar-se de controles rígidos na execução da
tarefa, a evitação do erro a todo o custo, a noção de responsabilidade, entre outros.
De forma concordante, para Leiter e Robichaud (1997), a atividade de
manutenção e inspeção aeronáutica exige um alto grau de responsabilidade
individual para atender padrões de desempenho bastante exatos e precisos. Nessa
atividade, um desempenho inadequado pode trazer conseqüências severas para a
segurança das equipes de manutenção e para as pessoas que utilizam as
aeronaves.
Além disso, esses mesmos autores, neste estudo que também investiga o
burnout no trabalho de manutenção de aeronaves militares, identificaram que as
demandas associadas ao fato de estar submetido a riscos constantes no trabalho
(riscos químicos, ruído, temperatura, pressão de tempo, fadiga, entre outros) podem
aumentar a susceptibilidade das pessoas da equipe à exaustão, sendo o próprio
burnout um fator de risco para o trabalho.
187
Dessa maneira, pode-se inferir que o trabalho de manutenção de aeronaves,
por estar inserido no contexto maior da aviação (tanto civil quanto militar), que vem
estimulando cada vez mais a noção da falibilidade humana, da necessidade de
controle e do gerenciamento constante dos riscos, exige que o nível de atenção e de
responsabilidade a cada etapa do trabalho seja absoluto, sendo o controle uma
característica altamente desejável (REASON, 2000; 2002; HELMREICH, 1998;
ICAO, 2003).
Em função da especificidade do trabalho da amostra desse estudo o
trabalho de manutenção de aeronaves realizado por militares numa organização
militar pode se supor, então, que o achado que aponta para a acentuada presença
de características de supercomprometimento associadas às variáveis sócio-
demográficas pode ser explicado, em parte, pela combinação entre alguns traços
relativos à personalidade militar e as demandas e características inerentes ao
trabalho exercido.
Acrescente-se o seguinte fato: alguns dos participantes da amostra podem ter
procurado espontaneamente a carreira militar e o trabalho em manutenção de
aeronaves e outros, não necessariamente, escolhendo-as como alternativa para
ingresso, estabilidade e permanência no mercado de trabalho
17
. Pode-se indagar, se
os primeiros já apresentavam anteriormente as principais características de
personalidade apontadas acima antes de ingressarem na carreira militar e/ou no
trabalho de manutenção de aeronaves.
Entretanto, o presente estudo não tem como objetivo responder a essas
questões, porém é possível afirmar que 10% (tabela 7) dos participantes
apresentaram resultados que sugerem um nível de supercomprometimento de alto
risco (p = 0,000) para o desenvolvimento de doenças físicas e ou mentais, fato que
deve ser considerado como indicador de que a presença dessas características na
amostra em estudo, quando excede o nível adaptativo, pode ser um importante
estressor para o trabalho de manutenção de aeronaves.
17
Quanto ao motivo da escolha da carreira militar, Santos (2004) refere que, no Brasil, o recrutamento militar é
considerado um importante canal de mobilidade social para as classes desprivilegiadas, e que a opção pela
carreira pode ocorrer em função da ausência de oportunidades.
188
Foi também realizada regressão linear múltipla (tabela 15) entre os domínios
de QV e o ERI. Os resultados obtidos mostram que os domínios de QV foram
responsáveis por 33,9% da variância do ERI. No entanto, deve-se observar que
apenas os domínios Meio Ambiente (ß =-0,044) e Físico (ß =-0,054) contribuíram
significativamente para a variância explicada.
Os achados acima sugerem que uma percepção inferior de QV no domínio
Meio Ambiente está relacionada aos seguintes fatores extrínsecos observados na
amostra de estudo: baixos salários, morar no mesmo local em que trabalha (no
próprio CTA), ter atividades de lazer dentro do mesmo ambiente em que trabalha, ter
que conviver sempre com as mesmas pessoas; a falta de treinamento adequado
para desempenhar atividades, defasagem de pessoal, ambiente físico de trabalho
com exposição a riscos (poluição, ruído), entre outros, que podem contribuir para a
ocorrência de estresse ocupacional.
A importância atribuída ao domínio Meio Ambiente pela amostra pode ser
também explicada através dos resultados obtidos pela ANOVA em relação aos 4
domínios de QV (tabela 4), que apontam que a média (12,4) desse domínio foi
significativamente inferior aos demais (α = 5%).
É importante ressaltar que, na comparação com jornalistas e enfermeiros
(tabela 6) os resultados da amostra de estudo apresentaram média
significativamente inferior (p =0,008) para o domínio Meio Ambiente de QV.
Como já mencionado anteriormente, as condições de trabalho na atividade de
manutenção e inspeção aeronáutica apresentam fatores de risco para a saúde física
e mental do profissional que são inerentes à própria atividade. Soma-se a isso a
exposição que os participantes desse estudo têm aos estressores característicos da
atividade militar.
Em relação às facetas medidas no domínio de QV sobre Meio Ambiente,
observa-se que as mesmas contemplam aspectos apontados como estressores para
essas duas condições, sendo possível inferir que o domínio Meio Ambiente mostrou-
se particularmente sensível, quando comparado aos demais, para a identificação em
especificidade dos estressores extrínsecos do trabalho de manutenção de
aeronaves da amostra estudada.
189
Estes dados corroboram achados obtidos por Fogarty (2004) em relação a
trabalhadores militares de manutenção de aeronaves na Austrália, que referem que
os fatores organizacionais, representados no presente estudo pelo domínio Meio
Ambiente de QV, podem interferir nos fatores intrínsecos ao indivíduo, tais como,
saúde mental e auto-confiança. As variáveis organizacionais avaliadas pelo autor,
apesar de não apresentarem conseqüências diretas na ocorrência de erros, podem
contribuir indiretamente para auto-confiança e para a saúde. O autor ainda
acrescenta que uma das variáveis incluídas na presente investigação e relacionada
à saúde psicológica o estresse ocupacional parece ser um dos fatores
determinantes dentre as causas dos erros de manutenção. Dessa maneira,
condições organizacionais desfavoráveis repercutem no indivíduo e, quando seus
recursos para lidar com as mesmas se esgotam, erros podem ocorrer.
Nessa mesma direção, o FAA (2002) afirma que os fatores organizacionais
que mais impactam no trabalho de manutenção aeronáutica são: estrutura
organizacional, gestão de pessoas, abastecimento e qualidade das ferramentas e
dos equipamentos, treinamentos, pressões comerciais e operacionais, planejamento
e escala, manutenção dos locais de trabalho e dos equipamentos utilizados e
comunicação.
Dessa maneira, num trabalho caracterizado pela desmontagem
remontagem instalação restauração de componentes, condições latentes como
as descritas acima podem levar a omissões no trabalho (falha em realizar todos os
passos necessários para a tarefa), que representam o tipo de erro mais freqüente no
trabalho de manutenção (cerca de 60%) (FAA, 2002).
Os achados acima referidos corroboram dados da literatura (Fogarty, 2004)
que oferecem um forte respaldo para o planejamento de iniciativas que visem
mensurar cultura de segurança, fatores organizacionais e saúde individual
(WIEGMANN et al., 2003) no trabalho de manutenção de aeronaves.
Quanto ao domínio Físico da QV (dor e desconforto; energia e fadiga; sono e
repouso), é importante ressaltar que, entre os militares, o vigor físico é considerado
um dos elementos fundamentais para a prontidão no cumprimento de suas
obrigações. Dessa maneira, a saúde física está diretamente relacionada à
capacidade de desempenhar adequadamente as atividades, garantindo a
integridade psicológica, o apoio social e a satisfação com o trabalho. A percepção de
190
uma saúde física precária ameaça a capacidade de desempenhar adequadamente o
trabalho do militar, tornando-se por si só um importante estressor.
Nessa direção Esher (1999) coloca que a doença, seja física ou mental,
sempre representará uma ameaça à integridade da Força, pois o vigor físico e a
prontidão para o serviço militar são fundamentais para o êxito das atividades. Nesse
contexto, o adoecimento é algo totalmente indesejável, pois representaria a
vulnerabilidade ou “fraqueza” pessoal, e essa condição não é tida como compatível
e nem aceita no âmbito militar, além do prejuízo para a capacidade produtiva, sendo
portanto um importante estressor para o trabalho de manutenção de aeronaves num
contexto militar.
Foi realizada, a seguir, regressão linear múltipla tomando-se o ERI como
variável preditora de cada um dos 4 domínios de QV (tabelas 17 a 20). O ERI foi
responsável por 28,3% da variância do domínio Físico e por 24,7% da variância do
domínio Meio Ambiente. Em relação aos domínios Psicológico e Relações Sociais, a
porcentagem da variância explicada pelo ERI, apesar de significativa
estatisticamente, foi baixa (3,7% e 10%, respectivamente).
Os resultados acima mostram que, possivelmente, o estresse ocupacional
pode contribuir para uma percepção inferior da QV nos domínios Físico (ß = -4,59) e
Meio Ambiente (ß = -3,97), porém a variância explicada não é tão forte quanto a
inversa, que define os domínios de QV como preditores sobre o ERI (33,9%).
Cabe lembrar que, tomando o ERI como variável preditora sobre a QV, esta
teve que ser analisada separadamente por domínio, ao contrário da primeira
regressão, na qual todos os 4 domínios juntos formavam as variáveis preditoras de
QV em relação ao ERI. Essa separação dos domínios de QV diluiu possivelmente o
poder de variância, diminuindo-a, portanto. De qualquer forma, pode-se dizer que a
presença de Estresse Ocupacional parece contribuir para uma percepção inferior de
QV nos domínios Físico (28,3%) e Meio Ambiente (24,7%) na amostra de estudo.
Esses aspectos confirmam achados relatados por BRAY et al. (2003), que
revelam que o estresse no trabalho traz implicações para a saúde física do militar, já
que uma pré-condição fundamental para sua presença na ativa refere-se à prontidão
para o exercício das obrigações militares, incluindo-se aí o vigor físico.
191
Dessa maneira, para esses autores, quanto maior o sofrimento mental,
menor será a percepção da qualidade do vigor físico do militar. Além disso, o
registro de doenças e acidentes no trabalho em 4 ou mais dias durante um período
de 12 meses, segundo os autores, é duas vezes mais comum entre os militares com
alto nível de estresse do que entre os com níveis baixos/moderados de estresse.
Ressalte-se que o modelo ERI tem privilegiado estudos associando o
impacto do desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho na saúde
cardiovascular, sendo este um fator preditivo desta ocorrência. Como no presente
estudo foi encontrada uma alta prevalência de ERI+, faz-se necessário um olhar
mais atento da organização para essa importância, através do estabelecimento de
ações preventivas e interventivas.
Além disso, o Estresse Ocupacional (EO) que pode advir dependendo do grau
de reciprocidade entre esforço e recompensa no trabalho, como definido no modelo
ERI, parece ter implicações para uma percepção inferior da QV no domínio Meio
Ambiente.
A presença de EO sugere que a pessoa possa perceber as recompensas que
recebe como não recíprocas aos esforços despendidos no trabalho. Uma vez em
desequilíbrio, os fatores extrínsecos (externos ao sujeito) apresentam relevância
para a ocorrência do estresse.
No caso específico do trabalho de manutenção de aeronaves, os estressores
externos podem contribuir para o aumento da vulnerabilidade do trabalhador e seu
sentimento de baixa auto-eficácia. Tal fato pode implicar em que o trabalhador
perceba como essenciais para o desempenho seguro dessa atividade as seguintes
condições: a necessidade de treinamentos e reciclagens; de ferramentas adequadas
para o trabalho, de exposição controlada aos riscos ambientais, entre outros.
As demandas físicas e mentais do trabalho de manutenção de aeronaves
dentro do aludido contexto são altas, a margem de erro é mínima e os investimentos
quanto ao treinamento e ferramentas tendem a ser reduzidos, o que por si pode se
constituir em fonte de estresse.
Foi também realizada regressão linear múltipla (tabela 16) entre os domínios
de QV e o fator Supercomprometimento. Os resultados obtidos mostram que os
domínios de QV foram responsáveis por 19% da variância de
192
Supercomprometimento. No entanto, deve-se observar que apenas os domínios
Físico (ß = -0,54), Psicológico (ß = -0,469) e Meio Ambiente =-0,516)
contribuíram significativamente para a variância explicada.
Por outro lado, tomando-se o fator Supercomprometimento como variável
preditora de cada um dos 4 domínios de QV (tabelas 21 a 24), o
supercomprometimento foi responsável por somente 13,1% da variância do domínio
Físico, 14% do domínio Psicológico e 8,2% do domínio Relações Sociais. A variável
preditora Supercomprometimento não foi significativa para o domínio Meio Ambiente
de QV (p > 0,05), não sendo responsável por nenhuma variância (0%).
As baixas correlações obtidas evidenciam que o fator Supercomprometimento
é um fraco preditor para os domínios de QV.
Os dados obtidos evidenciam o fato de que a percepção inferior de QV está
mais relacionada às características do ambiente de trabalho do que às
características do trabalhador.
Assim sendo, o tipo de trabalho ora estudado, a forma como o mesmo está
organizado na instituição, bem como os fatores de risco psicossocial e ambiental,
parecem ser fonte de estresse para a amostra como um todo. A depender também
de variáveis individuais (intrínsecas) apresentadas por estes trabalhadores, haverá
maior ou menor susceptibilidade ao risco da ocorrência do estresse ocupacional, que
poderá levar à presença de doenças físicas e ou mentais.
VII
CONCLUSÕES E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
194
De uma população de N= 93 trabalhadores de manutenção de aeronaves de
uma instituição militar brasileira, participaram deste estudo n = 82 (88,1%), sendo
essa amostra constituída, na sua totalidade, por participantes do sexo masculino,
todos militares, membros da Força Aérea Brasileira (FAB), na faixa etária entre 30 e
40 anos predominantemente (41,5%), com escolaridade até o 2
o
grau (64,6%) e
casados (71,9%).
Dos participantes do estudo, 91,5% exerciam funções de nível intermediário
(técnicos em manutenção e inspeção de aeronaves), 43,9% trabalhavam há menos
de 10 anos nesta atividade, até 40 horas semanais (57,3%), 89,1% não realizavam
outros trabalhos paralelamente à função principal, 65,8% não trabalhavam em
regime de turnos alternados e 60% recebiam de 7 a 12 salários mínimos.
Foram confirmadas as seguintes hipóteses de estudo:
a) um percentual de 33% da amostra apresentou desequilíbrio entre Esforço e
Recompensa no trabalho (ERI+);
b) encontrou-se a característica intrínseca de supercomprometimento em 10%
dos participantes do estudo;
c) a amostra, em sua maioria, apresentou média inferior de QV no domínio Meio
Ambiente (MA) (12, 4), em comparação às médias apresentadas nos outros
domínios pelo próprio grupo. Este mesmo domínio (MA) quando comparada a
amostra com outros 3 grupos ocupacionais (jornalistas, técnicos-
administrativos e trabalhadores de UTI) também apresentou média
significativamente inferior. (p= 0,008);
d) o desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho (ERI+) pode explicar
uma variância de QV de 28,3%, relativa ao domínio Físico e de 24,7%,
relativa ao domínio Meio Ambiente;
e) a QV avaliada através de seus 4 domínios prediz 33,9% da ocorrência de
Estresse Ocupacional.
195
Não foram encontradas associações estatisticamente significativas avaliando-
se conjuntamente os domínios de QV, o ERI e as variáveis sócio-demográficas
estudadas.
O fator Supercomprometimento (parte do ERI) apresentou associação
significativa com a variável renda (p=0,05). As sub-escalas de
Supercomprometimento apresentaram associações significativas com as variáveis
sócio-demográficas, como a seguir: competitividade e horas semanais de trabalho
(p=0,013); irritabilidade desproporcional e renda (p=0,027); dificuldade de se desligar
do trabalho (DDT) e renda (p=0,010); DDT e idade (p=0,002); DDT e tipo de cargo
(p=0,009); DDT e trabalho em turnos (p=0,022).
Os resultados obtidos pela amostra no ERI, comparando-se com 2 outros
grupos ocupacionais (enfermeiros e professores universitários), revelaram que os
trabalhadores de manutenção de aeronaves apresentaram uma proporção superior
de estresse ocupacional (ERI+) em relação aos professores (p < 0,0001). Com
relação ao ERI- (equilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho), a amostra de
estudo e os enfermeiros apresentaram proporções inferiores as dos professores (p <
0,0001). Não foram encontradas diferenças significativas relacionadas às demais
comparações.
Os dados obtidos através de regressão linear múltipla evidenciaram, de forma
geral, que a percepção inferior de QV está mais relacionada às características do
ambiente de trabalho do que às características do trabalhador.
Os achados do estudo permitem concluir que condições organizacionais
desfavoráveis exercem pressão sobre o trabalhador de manutenção de aeronaves
militares e, quando sua energia adaptativa se exaure, podem ocorrer os erros que
colocam em risco a segurança de vôo. Características intrínsecas de personalidade,
tais como o supercomprometimento, podem servir como catalizadoras do estresse
ocupacional, bem como, possivelmente, outras características (resiliência, hardiness,
locus de controle, estratégias de coping) poderão neutralizar ou potencializar os
efeitos danosos do estresse.
Os achados obtidos no estudo, dado o rigor metodológico utilizado para sua
realização, bem como o número amostral suficientemente amplo, permitem concluir
por sua generalização para amostras similares.
196
No entanto, uma das limitações desse estudo se refere ao fato da amostra ser
restrita a trabalhadores militares, os quais enfrentam alguns desafios (e.g.,
demandas relacionadas às obrigações militares) que não são enfrentados por
aqueles que trabalham na aviação comercial. O contrário também é verdadeiro.
Pode-se também afirmar que o ambiente militar impõe uma uniformidade nas
condições de trabalho que não é encontrada na aviação comercial.
Além disso, visando-se preservar o anonimato dos participantes, optou-se por
não classificar a amostra por patente militar e por categoria ocupacional. Novas
pesquisas devem ser desenvolvidas no futuro para continuar explorando as
repercussões das variáveis que envolvem processos de interação entre indivíduo e
ambiente de trabalho, tais como o estresse ocupacional, estabelecendo-se uma
maior visibilidade quanto a sua participação nos fenômenos relacionados à saúde
geral, mental e à QV do trabalhador.
Finalmente, o presente estudo é o primeiro a ser realizado, no nosso meio,
com essa população no campo de estudos da Psicologia da Saúde Ocupacional,
campo este ainda em construção, e pretende contribuir para a sistematização da
especificidade dessa importante área de interface entre a Saúde Ocupacional, a
Psicologia da Saúde, a Psicologia Organizacional e do Trabalho, além de poder
colaborar também para os estudos relacionados à segurança e prevenção de
acidentes aéreos.
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SUMÁRIO
xv
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO............................................................................................................
01
II REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................
10
1 Mudanças no Universo Laboral e suas Repercussões na Saúde
Mental e na Qualidade de Vida do Trabalhador.....................................
11
1.1 As mudanças no universo laboral..............................................................................
13
1.1.1 União Européia, Estados Unidos e Japão.........................................................
13
1.1.2 América Latina...................................................................................................
15
1.1.3 Brasil..................................................................................................................
17
1.2 O impacto das mudanças na saúde do trabalhador.................................................. 21
1.2.1 Saúde Mental e Trabalho..................................................................................
24
1.2.2 Estresse Ocupacional........................................................................................
28
1.2.2.1 Os 2 modelos mais utilizados sobre o Estresse Ocupacional na
atualidade....................................................................................................
36
1.2.2.1.1 O modelo ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no
trabalho........................................................................................................
41
1.2.3 Qualidade Vida..................................................................................................
47
1.2.3.1 Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) .....................................................
51
2 A Atividade Aeronáutica e o Trabalho de Manutenção de
Aeronaves .............................................................................................................
55
2.1 A atividade aeronáutica.......................................................................................
58
2.2 A crise atual da aviação brasileira ......................................................................
62
2.3 A aviação militar brasileira ..................................................................................
64
2.3.1 As Forças Armadas e a aviação militar no Brasil ......................................
65
2.3.2 As Forças Armadas....................................................................................
66
2.3.3 A Aeronáutica.............................................................................................
69
2.3.4 A Carreira Militar........................................................................................
70
2.3.5 Saúde, doença e carreira militar................................................................
75
2.4 O trabalho de manutenção aeronáutica.............................................................. 80
2.4.1 Manutenção de aeronaves militares .........................................................
88
2.5 Segurança e acidentes aéreos ..........................................................................
92
xvi
3 Fator Humano .......................................................................................................
99
3.1 Contexto ............................................................................................................. 100
3.2 Breve histórico.................................................................................................... 103
3.3 Conceito ............................................................................................................. 105
3.4 Principais modelos teóricos em Fatores Humanos ............................................ 107
3.5. CRM Crew Resource Management ..........................................…………….. 117
4 Psicologia da Saúde Ocupacional: Construindo a Interface
entre Saúde Mental, Fator Humano e o Trabalho de
Manutenção de Aeronaves .............................................................................
124
4.1 Saúde Ocupacional, Saúde Mental e Fator Humano no Trabalho de
Manutenção de Aeronaves ................................................................................
125
4.1.1 Saúde Ocupacional....................................................................................
128
4.1.2 Fator humano em manutenção de aeronaves ..........................................
131
4.2 Um novo campo de estudos: a Psicologia da Saúde Ocupacional (PSO)..........
134
III A PESQUISA ...........................................................................................................
141
1 Locus de Pesquisa ...............................................................................................
142
1.1 O Centro Técnico Aeroespacial .........................................................................
142
1.2 Breve histórico ...................................................................................................
143
1.3. Estrutura ........................................................................................................... 144
1.4 A DOSM Divisão de Operações, Suprimento e Manutenção .........................
145
2 Hipótese....................................................................................................................
146
3 Objetivos ..................................................................................................................
147
3.1 Objetivo Geral ....................................................................................................
147
3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................ 147
IV CASUÍSTICA E MÉTODO .....................................................................................
148
1 Participantes ...............................................................................................................
149
xvii
2 Recursos Humanos e Materiais ...............................................................................
149
3 Instrumentos................................................................................................................ 150
4 Procedimento e Aspectos Éticos.............................................................................. 153
5 Análise e Processamento dos Dados ..................................................................... 155
V RESULTADOS .........................................................................................................
156
1 Caracterização da amostra .......................................................................................
157
2 Qualidade de Vida WHOQOL-Bref .......................................................................
159
3 ERI Desequilíbrio entre Esforço e Recompensa no trabalho ...........................
161
4 Análise Comparativa .................................................................................................
166
5 Regresão Linear Múltipla ..........................................................................................
168
VI DISCUSSÃO ............................................................................................................
173
VII CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................
193
REFERÊNCIAS .............................................................................................................
197
ANEXOS .........................................................................................................................
221
ANEXOS
222
ANEXO 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O projeto de pesquisa denominado “Estresse Ocupacional e Qualidade de
Vida de trabalhadores do setor de manutenção de aeronaves de uma
instituição militar brasileira” tem como objetivo avaliar o Estresse Ocupacional e a
Qualidade de Vida dessa categoria ocupacional.
Serão utilizados instrumentos que avaliam tanto os aspectos psico-físicos dos
participantes, quanto aspectos relativos a fatores psicossociais do trabalho
(organização, dinâmica, fatores de risco, características gerenciais, entre outros),
cujos resultados poderão orientar algumas ações gerenciais e de promoção de
saúde no trabalho junto a esse setor da empresa.
Sua participação nessa pesquisa é muito importante, é voluntária e você tem
plena liberdade para abandonar o estudo a qualquer momento, sem incorrer em
nenhuma penalidade.
Todas as perguntas relacionadas à pesquisa serão respondidas antes de sua
concordância em participar. A pesquisadora responsável oferecerá todas as
informações necessárias e dúvidas que surgirem antes, durante e depois da
pesquisa.
As avaliações serão realizadas em 2 grupos previamente agendados. Todos
os funcionários do seu setor serão convidados a participar dessa pesquisa,
independente de função, idade, sexo ou posição na hierarquia, com a garantia de
não haver prejuízo algum para aqueles que se recusarem.
A devolução dos resultados será feita para a equipe de saúde mental do
serviço de saúde da empresa, para as chefias do setor e para todos os funcionários
a partir dos dados obtidos pelo grupo, sem apresentação de resultados individuais, a
não ser que o participante demonstre tal interesse. Nesse caso, ele receberá um
número que identificará seus questionários respondidos e será também orientado a
procurar a pesquisadora em hora e local determinado, a qual apresentará os dados
obtidos pelo participante, propondo eventuais condutas e encaminhamentos
necessários.
A pesquisadora, sua orientadora e o Comitê de Ética da UNICAMP poderão
ser encontrados, em horário comercial, nos telefones abaixo e a qualquer momento
223
pelo celular da pesquisadora, também relacionado ao fim da página. Os dados
obtidos serão utilizados exclusivamente com finalidade acadêmico-científica.
Eu, ____________________________________________________estou
respondendo de forma voluntária e espontânea aos questionários e autorizo a
utilização dos dados para pesquisa científica.
São José dos Campos, _____ de ______________________ de _______.
______________________________________________
Assinatura
Daniela de Almeida Martins
Psicóloga / Pesquisadora
(19) 3253-5846 ou (19) 8111-1171
Profa. Dra. Liliana A. M. Guimarães
Professora/Orientadora
(19) 3256-3707
Universidade Estadual de Campinas
Comitê de Ética
(19) 3788-8936
224
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO ERI Desequilíbrio entre esforço e recompensa no trabalho
Perguntas sobre a situação no trabalho (I)
Por favor responda às seguintes perguntas. Com isso nos ajudará a obter uma melhor comprensão das relações
entre a vida laboral moderna e a saúde. Estamos muito agradecidos por sua colaboração.
1. Ano de nascimento 19___ Ano
2. Sexo Masculino
Feminino
1
2
3. Qual é seu nível de escolaridade? Analfabeto
1
o
grau incompleto
1
o
grau completo
2
o
grau incompleto
2
o
grau completo
Curso universitário
1
2
3
4
5
6
4. Qual é sua atual situação laboral? Ocupação em tempo integral/parcial
Parado (menos de 6 meses)
Parado (más de 6 meses)
Afastado por doença (menos de 6 meses)
Aposentado
Outra situação (indique):
____________________
1
2
3
4
5
5. Qual é sua profissão atual (ou sua última)
profissão?
Indique por favor:
_________________________
6. Que tipo de trabalho você faz? Cargo de direção
Posto intermediário (p.ex., Encarregado)
por conta própria (trabalho manual)
por conta própria (trabalho não manual)
Autônomo
1
2
3
4
5
7. Onde você trabalha? Empresa pública
Empresa privada
Outro, indique:
_____________________
1
2
8. Há quanto tempo está trabalhando em sua profissão
atual?
__________________ anos
9. Faz outros trabalhos além de seu trabalho principal?
Sim
Não
1
2
10. Quantas horas remuneradas você trabalha por
semana?
__________________ horas
11. Está trabalhando em turnos? Sim, mas sem turno da noite
Sim com turno da noite
Não
1
2
3
Siegrist & Peter Universität Düsseldorf 1996
225
Perguntas sobre a situação no trabalho II
Por favor indique, se concorda ou não, com as seguintes afirmações. Se você encontrar uma seta após sua
resposta, indique, em cada caso, quanto é que isso o incomoda. É importante que você responda a todas as
perguntas.
Incomoda-me muitíssimo 4
Incomoda-me muito 3
Incomoda-me pouco 2
Não me incomoda nada 1
12. Devido à grande quantidade de trabalho sinto-me muitas vezes sob
pressão.
Não
Sim
1
2
3
4
13. Sou interrompido e perturbado muitas vezes durante o trabalho. Não
Sim
1
2
3
4
14. Tenho uma grande responsabilidade no meu trabalho. Não
Sim
1
2
3
4
15. Muitas vezes sou obrigado a fazer horas extras. Não
Sim
1
2
3
4
16. O meu trabalho é fisicamente muito cansativo. Não
Sim
1
2
3
4
17. Nos últimos anos tenho tido cada vez mais trabalho. Não
Sim
1
2
3
4
18. Recebo dos meus superiores o reconhecimento que
mereço.
Não
Sim
1 2 3 4
19: Recebo dos meus colegas o reconhecimento que mereço. Não
Sim
1 2 3 4
20. Em situações difíceis, recebo o apoio necessário. Não
Sim
1 2 3 4
21. No meu trabalho tratam-me de forma injusta. Não
Sim
1
2
3
4
22. As possibilidades de ser promovido são poucas. Não
Sim
1
2
3
4
23. Estou passando ou esperando por uma fase ruim nas minhas
condições de trabalho.
Não
Sim
1
2
3
4
24. O meu cargo no trabalho está em jôgo. Não
Sim
1
2
3
4
25. De acordo com a minha formação considero justa a minha posição. Não
Sim
1 2 3 4
26. Quando penso em todo trabalho que realizo, acho justo o
reconhecimento que recebo.
Não
Sim
1 2 3 4
27. Quando penso em todo trabalho que realizo, acho justas as minhas
oportunidades de promoção.
Não
Sim
1 2 3 4
28. Quando penso em todo trabalho que realizo, considero justo o meu
salário.
Não
Sim
1 2 3 4
Siegrist & Peter Universität Düsseldorf 1996
226
Por favor, indique em que medida você concorda, ou não, com as seguintes afirmações. É
importante responder a todas as perguntas. Muito obrigada!
1
Não estou nada de acordo
2
Não estou de acordo
3
Estou de acordo
4
Estou totalmente de
acordo
1
2
3
4
29. Fico muito ofendido se me criticam.
1
2
3
4
30. Sou muito ambicioso.
1
2
3
4
31. Fico muito perturbado com pouca coisa..
1
2
3
4
32. Se um trabalho tem que ser bem feito, faço-o eu mesmo.
1
2
3
4
33. Tenho prazer em apontar os erros de certas pessoas.
1
2
3
4
34. Para mim é como uma competição ser sempre mais rápido ou melhor que os
outros.
1
2
3
4
35. Se alguém me impede de cumprir os meus deveres, fico furioso.
1
2
3
4
36. Muitas vezes irrito-me mais com os outros do que o necessário.
1
2
3
4
37. Com freqüência, falta-me tempo para terminar um trabalho.
1
2
3
4
38. Muitas vezes já acordo pensando nos problemas do trabalho.
1
2
3
4
39. Fico furioso quando não consigo resolver os meus problemas por completo.
1
2
3
4
40. Não admito que alguém se intrometa nos meus assuntos de trabalho.
1
2
3
4
41. Fico muito desapontado quando os meus esforços não são reconhecidos.
1
2
3
4
42. Perco fácilmente a paciência, se os outros não entendem logo na primeira
vez.
1
2
3
4
43. Quando chego em casa, esqueço rápidamente o trabalho.
1
2
3
4
44. As pessoas mais próximas dizem que eu me sacrifico demais pelo trabalho.
1
2
3
4
45. Só quando consigo alcançar meus objetivos, tenho o sentimento de êxito.
1
2
3
4
46. Em situações difíceis os colegas dizem: “Você vai conseguir!“.
1
2
3
4
47. Uso toda a minha energia para controlar as situações.
1
2
3
4
48. Para mim, primeiro estão a família e a vida particular, depois o trabalho.
1
2
3
4
49. Fico furioso se um colega duvida da minha capacidade.
1
2
3
4
50. Não fico muito aborrecido se sou interrompido no meu trabalho.
1
2
3
4
51. Frequentemente, proponho me a realizar mais tarefas do que realmente
consigo fazer.
1
2
3
4
52. Raramente consigo me libertar do trabalho, à noite ainda fica “martelando na
minha cabeça”.
1
2
3
4
53. Mesmo o menor elogio me anima muitíssimo.
1
2
3
4
54. Não me incomodo se os outros são melhores do que eu.
1
2
3
4
55. Às vezes gosto quando me desviam do trabalho.
1
2
3
4
56. Em pensamento, sempre estou na próxima tarefa.
1
2
3
4
57. Se deixo alguma tarefa importante sem ser feita não consigo dormir à noite.
Siegrist & Peter Universität Düsseldorf 1996
Perguntas sobre a situação no trabalho III
227
ANEXO 3
Instruções
Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde
e outras áreas de sua vida. Por favor responda a todas as questões. Se você não tem
certeza sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas
a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha.
Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós
estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando como como referência as
duas últimas semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma
questão poderia ser:
nada
Muito
pouco
médio muito completamente
Você recebe dos
outros o apoio de
que necessita?
1 2 3 4 5
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos
outros o apoio de que necessita nestas últimas duas semanas.
Portanto, você deve circular o número 4 se você recebeu "muito" apoio como abaixo.
nada
Muito
pouco
médio muito completamente
Você recebe dos outros o
apoio de que necessita?
1 2 3
5
Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio.
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta.
muito
insatisfeito
Insatisfeito
nem satisfeito
nem
insatisfeito
satisfeito
muito
satisfeito
2
Quão satisfeito(a)
você está com a sua
saúde?
1 2 3 4 5
muito
ruim
Ruim
nem ruim
nem boa
boa
muito
boa
1
Como você avaliaria sua
qualidade de vida?
1 2 3 4 5
QUESTIONÁRIO WHOQOL-BREVE
228
As questões seguintes são sobre o quanto você
tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas.
nada
muito
pouco
mais ou
menos
bastante Extremamente
3
Em que medida
você acha que sua
dor (física) impede
você de fazer o que
você precisa?
1 2 3 4 5
4
O quanto você
precisa de algum
tratamento médico
para levar sua vida
diária?
1 2 3 4 5
5
O quanto você
aproveita a vida?
1 2 3 4 5
6
Em que medida
você acha que a
sua vida tem
sentido?
1 2 3 4 5
7
O quanto você
consegue se
concentrar?
1 2 3 4 5
8
Quão seguro(a)
você se sente em
sua vida diária?
1 2 3 4 5
9
Quão saudável é o
seu ambiente físico
(clima, barulho,
poluição,
atrativos)?
1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz
de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas.
nada
muito
pouco
médio muito completamente
10
Você tem energia
suficiente para seu dia-
a- dia?
1 2 3 4 5
11
Você é capaz de aceitar
sua aparência física?
1 2 3 4 5
12
Você tem dinheiro
suficiente para satisfazer
suas necessidades?
1 2 3 4 5
13
Quão disponíveis para
você estão as
informações que precisa
no seu dia-a-dia?
1 2 3 4 5
14
Em que medida você
tem oportunidades de
atividade de lazer?
1 2 3 4 5
229
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de
vários aspecto s de sua vida nas últimas duas semanas.
muito ruim ruim
nem ruim
nem bom
bom
muito
bom
15
Quão bem
você é capaz
de se
locomover?
1 2 3 4 5
muito
insatisfeito
Insatisfeito
nem
satisfeito
nem
insatisfeito
satisfeito
Muito
satisfeito
16
Quão
satisfeito(a)
você está
com o seu
sono?
1 2 3 4 5
17
Quão
satisfeito(a)
você está
com sua
capacidade
de
desempenhar
as atividades
do seu dia-a-
dia?
1 2 3 4 5
18
Quão
satisfeito(a)
você está
com sua
capacidade
para o
trabalho?
1 2 3 4 5
19
Quão
satisfeito(a)
você está
consigo
mesmo?
1 2 3 4 5
20
Quão
satisfeito(a)
você está
com suas
relações
pessoais
(amigos,
parentes,
conhecidos,
colegas)?
1 2 3 4 5
21
Quão
satisfeito(a)
você está
com sua vida
sexual?
1 2 3 4 5
22
Quão
satisfeito(a)
você está
com
o apoio que
você recebe
de seus
amigos?
1 2 3 4 5
23
Quão
satisfeito(a)
você está
com
as condições
do local onde
mora?
1 2 3 4 5
230
24
Quão
satisfeito(a)
você está
com o
seu acesso
aos serviços
de saúde?
1 2 3 4 5
25
Quão
satisfeito(a)
você está
com
o seu meio
de
transporte?
1 2 3 4 5
As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas
últimas duas semanas.
nunca
Algumas
vezes
freqüentemente
muito
freqüentemente
sempre
26
Com que
freqüência
você tem
sentimentos
negativos
tais como
mau humor,
desespero,
ansiedade,
depressão?
1 2 3 4 5
Alguém lhe ajudou a preencher este questionário? ..................................................................
Quanto tempo você levou para preencher este questionário? ..................................................
Você tem algum comentário sobre o questionário?
OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO
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