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diagnóstico foi confirmado em 23% e suspeito em outros 12%. Em ambos os
estudos, a síncope cardiovascular foi a causa do erro diagnóstico na maioria dos
casos. A síncope cardiovascular é causada por uma condição hemodinâmica aguda e
transitória, causada por uma taqui ou bradiarritmia ou por hipotensão arterial grave e
súbita. Supõe-se que, nestes casos, haveria uma hipóxia cerebral aguda e
generalizada, que, dependendo de sua intensidade, seria a responsável pelos
movimentos musculares convulsivos. Neste sentido, um estudo recente de Passman
R et al. (5) mostrou que, de 222 testes de inclinação positivos para o diagnóstico de
síncope vasovagal, 18 pacientes (8%) tiveram sintomas neurológicos, sendo 11 (5%)
com movimentos musculares tônico-clônicos e 3 com convulsões focais. O grupo de
pacientes com sintomas convulsivos teve pressões arteriais sistólicas e freqüências
cardíacas durante as crises significativamente menores do que aqueles que não
tiveram tais sintomas. Além da síncope vasovagal, outras causas cardiovasculares
têm sido relatadas esporadicamente como causadoras de confusão diagnóstica com
convulsões. Destas, destacam-se a hipersensibilidade de seio carotídeo (6) e a
síndrome de QT longo congênito (7). Convulsões febris têm sido relatada na
síndrome de Brugada, em associação com taquicardias ventriculares polimórficas
graves (8). Uma causa rara, mas que ocorre esporadicamente em crianças, é a
taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica (9). Estas crianças podem
apresentar síncopes, algumas vezes com convulsões, na vigência de taquicardia
ventricular polimórfica associada a estresse físico ou emocional. Potencialmente, na
presença de cardiopatias estruturais graves, a síncope pode inclusive ser o prenúncio
de morte súbita, principalmente se a causa não for detectada. A propósito, também a
morte súbita tem sido relatada em pacientes em tratamento para epilepsia, podendo
ser responsável por 2 a 17% das mortes (10). No Reino Unido, ocorrem
aproximadamente 1000 mortes súbitas por ano em pacientes com diagnóstico de
epilepsia, sendo cerca da metade súbitas e inexplicadas (11). A incidência é até 40
vezes maior em jovens com epilepsia do que aqueles sem epilepsia (12). Muitos
casos podem ser conseqüência da própria convulsão (13), mas poucos são os casos
esclarecidos. Alguns são relacionados a arritmias (14). A refratariedade ao
tratamento tem sido implicada como fator de risco (15,16), o que pode dever-se à
gravidade do caso, mas também a erro diagnóstico. A fisiopatologia da morte súbita
na epilepsia não é bem conhecida, mas possíveis causas cardiovasculares associadas
podem estar presentes. A síncope neurocardiogênica é uma causa comum de perda
transitória de consciência, podendo ser responsável por até cerca de 40% destes
eventos na população geral (17). Na maioria das vezes, o diagnóstico pode ser
realizado baseado na história clínica, na exclusão de cardiopatias estruturais graves e
na realização do exame “Teste de Inclinação”. No entanto, alguns pacientes com
síncopes verdadeiras podem ser erroneamente classificados como sendo portadores
de doença neurológica, como epilepsia, pois ela pode vir acompanhada de atividade
semelhante a convulsões e, mesmo, a déficits neurológicos focais. O teste de
inclinação pode ajudar a esclarecer estes casos, pois ele pode demonstrar atividade
tipo convulsão, associada à hipotensão arterial grave, em até dois terços dos
pacientes com diagnóstico de epilepsia e com resposta não satisfatória aos
anticonvulsivantes (18-19).
O eletroencefalograma é o exame complementar mais comumente utilizado para
o diagnóstico da epilepsia. No entanto, a sensibilidade de um único exame em 4
trabalhos foi de apenas 40%, 48%, 63% e 70.7%, respectivamente (20, 21, 22,23).
Hoefnagels et al. estudando pacientes com diagnóstico de convulsões, encontraram
atividade epileptiforme no EEG interictal em 40% apenas dos pacientes, com