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MARLI APARECIDA BIGATTÃO
O STRESS EM MOTORISTAS NO TRANSPORTE
COLETIVO DE ÔNIBUS URBANO EM CAMPO GRANDE
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)
MESTRADO EM PSICOLOGIA
CAMPO GRANDE-MS
2005
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i
MARLI APARECIDA BIGATTÃO
O STRESS EM MOTORISTAS NO TRANSPORTE
COLETIVO DE ÔNIBUS URBANO EM CAMPO GRANDE
Dissertação apresentada ao programa de
mestrado em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco, como exigência
parcial para obtenção do título de mestre
em Psicologia, sob a orientação da Profª.
Drª. Marta Vieira Vilela.
CAMPO GRANDE-MS
2005
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ii
FICHA CATALOGRÁFICA
Bigattão, Marli Aparecida
O stress em motoristas no transporte coletivo de ônibus urbano em
Campo Grande / Marli Aparecida Bigattão; orientadora, Marta Vieira
Vilela. 2005.
125 f: il.+anexos.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Católica
Dom Bosco. Campo Grande, 2005.
Inclui bibliografias
1. Stress ocupacional 2. Motorista de ônibus urbano 3. Stress no
trabalho (Psicologia) I.. Vilela, Marta Vieira II. Título
CDD – 158.7
Bibliotecária responsável: Clélia Takie Nakahata Bezerra – CRB-1/757
iii
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Profª. Drª. Marta Viera Vilela – orientadora (UCDB)
__________________________________________
Profª. Drª. Wilma Lúcia Castro Diniz Cardoso (UCDB)
__________________________________________
Profª. Drª. Valquíria Aparecida Cintra Tricoli (PUCCAMP)
Dissertação defendida e aprovada em: 28/02/2005.
iv
Este estudo é dedicado, em especial:
Aos meus pais que me deram Vida e me
ensinaram a vivê-la com coragem e dignidade.
Ao Junior, meu parceiro de Vida, companheiro de
todos os momentos, que não mediu esforços para
me acompanhar e apoiar em todas as etapas
desta dissertação e na minha existência.
Aos meus filhos, Dami e Yaruã, por seus brilhos
que iluminam o meu caminho.
v
AGRADECIMENTOS
À Deus, que abre minha consciência, ilumina o meu Caminho e protege-me
na minha caminhada.
Aos protetores espirituais que me guardam desde o início da minha
existência.
Aos participantes desta pesquisa, que compartilharam aspectos de suas
vidas para servir de referências e amostra.
Ao Frederico M. Cohrs, pela contribuição no trabalho estatístico.
À Maria Elisa, pela valiosa colaboração na revisão das normas da ABNT.
À Gladys Trindad Benitez, digitadora e amiga, meu carinho e apreço.
À amiga Sonia Zanoni, pela preciosa ajuda e apoio incondicional.
À Lia que por muitas vezes foi à luz que iluminou o meu caminho, quando a
minha própria faltou.
À orientadora querida, Profª Drª Marta Vieira Vilela, que pacientemente me
acompanhou nesta jornada.
À Profª Drª Wilma Lúcia, pelo seu carinho e disposição.
À Profª Drª Valquíria Aparecida Cintra Tricoli, pelas contribuições valiosas
no exame de qualificação.
A todos os professores do mestrado, que me despertaram o gosto para
pesquisa, pela confiança demonstrada no decorrer do tempo em que juntos
trabalhamos.
À secretária Ângela, pelo seu carinho, apoio e dedicação.
Ao PROSUP/CAPES, pela bolsa recebida.
A todos aqueles que, de uma forma ou outra, colaboraram para realização
deste trabalho. Minha gratidão!
vi
Antes do compromisso,
há hesitação, a oportunidade de recuar,
uma ineficácia permanente.
Em todo ato de iniciativa (e de criação),
há uma verdade elementar
cujo desconhecimento destrói muitas idéias
e planos esplêndidos.
No momento em que nos comprometemos de fato, a
providência também age.
Ocorre toda espécie das coisas para nos ajudar,
coisas que de outro modo nunca ocorreriam,
Toda uma cadeia de eventos emana na decisão,
fazendo em nosso favor todo tipo
de encontros, de incidentes,
e de apoio material imprevistos, que ninguém
poderia sonhar que surgiriam em seu caminho.
Começa tudo o que possas fazer,
ou que sonhas poder fazer.
A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.
Goethe
vii
RESUMO
Estudos referentes ao stress, e em especial ao stress ocupacional, vêm
crescendo significativamente nos últimos tempos; no entanto, são poucos os
estudos acerca dos motoristas de transporte coletivo de ônibus urbano. Esta
pesquisa pode ser caracterizada como quantitativa e de caráter descritivo-
analítico que objetivou identificar o nível de stress em motoristas, reconhecer a
fase e a sintomatologia predominante. Utilizou-se o modelo de Lipp, baseado na
abordagem cognitivo-comportamental, que enfatiza a resposta do organismo a um
estímulo mediado pela interpretação que lhe é dado. Para a coleta de dados,
utilizou-se o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL-2000), e
um questionário de caracterização sócio-demográfico, em uma amostra de 64
motoristas de ônibus urbano em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A análise
estatística incluiu o teste de Qui-quadrado e a análise de regressão logística, para
um nível de significância de p 0,05. Os resultados revelaram que, dos 64
motoristas pesquisados, 34 (53,1%) apresentaram stress significativo e 30
(46,9%) não apresentaram. Dos motoristas que apresentaram stress, 26,5%
encontravam-se na fase de alerta, 52,9% na fase de resistência, 17,6% na fase
de quase-exaustão e 2,9% na fase de exaustão. A maior concentração de
sintomas de stress deu-se na área psicológica. Não foi possível determinar uma
relação direta entre a ocorrência de stress e alguns dos dados biográficos
analisados. A predominância da fase de resistência pode indicar que os fatores
estressantes continuam presentes e o organismo tenta restabelecer o equilíbrio,
adaptando-se. A concentração dos sintomas na área psicológica pode revelar a
existência de fortes pressões psicológicas no ambiente de trabalho, bem como, a
inabilidade pessoal de enfrentamento do stress. Apesar das relações entre stress
e alguns dos dados biográficos não terem sido observadas, as variáveis
revelaram-se como possíveis fontes de pressão no trabalho. Pode-se dizer, então,
que os motoristas mostraram respostas diferentes para uma mesma situação,
apresentaram uma forma pessoal de avaliar e enfrentar os acontecimentos da
vida. Uma importante associação foi encontrada entre o tempo de carteira de
motorista e a fase do stress. Quanto maior o tempo de carteira, mais avançada é
a fase do stress. Ficou aparente neste estudo a necessidade de implantação de
programas que favoreçam a prevenção e redução do stress dos motoristas de
transportes coletivos de ônibus urbano.
Palavras-chave: Stress ocupacional. Motorista de ônibus urbano. Stress no
trabalho.
viii
ABSTRACT
Papers refering to stress, and specially job stress, have increased lately, although,
there are few studies about urban transportation bus drivers. This research can be
considered quantitative and descriptive-analytic in its features that had as it main
objective to identify the drivers stress level, recognize the phases and the
symptomatology. It was used the Lipp Model based on cognitive-behavioral
principles, that gives emphasis on the body response to a stimulus based on a
interpretation given to it. To data collection was used the Inventory of Stress
Symptoms to Adults from Lipp (ISSL-2000), and a questionnaire of socio-
demographic characteristics, in a sample of 64 drivers of Campo Grande-Mato
Grosso do Sul urban bus public transportation system. The statistics analysis
includes the chi-squared and the analysis of the logistic regression, to a
significance level de p 0,05. The results reveled that, from the 64 drivers
researched, 34 (53,1%) presented significant stress and 30 (46,9%) did not. From
the drivers that presented stress, 26,5% were in the alert phase, 52,9% are in the
resistance phase, 17,6% are in the almost-exhaustion phase and 2,9% in the
exhaustion phase. The greater stress symptoms concentration were on the
psychological area. It was not possible to determine a straight relation between the
stress occurrence and some of the bibliographical data analyzed. The resistance
phase dominance, on the drivers with stress symptoms can indicate that the
stress factors continue present and the body try to reset the balance, adapting to
it. The symptoms concentration on psychological area can reveal the existence of
high psychological pressure in the work place environment as well as a personal
inability in facing the stress. Althougt relation between the stress and
bibliographical data, haven’t been observed, the variants revealed themselves as
possible sources of work pressure. Then, were concluded that the drivers showed
different responses to a same situation, that each driver presented a personal way
to evaluate and face the life happenings. A important contribution it was found a
relation between the time of the driver’s license and the phase of the stress. It
was apparent this paper the necessity of implement programs that work on the
prevention and reduction of the urban public transportation bus drivers stress.
Key-words: Job stress. Urban bus driver. Work stress.
ix
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Distribuição do resultado final do stress. .........................................7
GRÁFICO 2 - Distribuição das fases de stress. .....................................................7
GRÁFICO 3 - Distribuição das sintomatologias......................................................7
x
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Faixa etária do motorista....................................................................7
TABELA 2 - Tempo de serviço do motorista prestado na empresa .......................7
TABELA 3 - Tempo de carteira do motorista .........................................................7
TABELA 4 - Tempo de serviço total como motorista .............................................7
TABELA 5 - Exercício de outras atividades ...........................................................7
TABELA 6 - A sensação de a renda ser suficiente ................................................7
TABELA 7 - A percepção que o motorista tem sobre o próprio lazer ....................7
TABELA 8 - Problemas de saúde ..........................................................................7
TABELA 9 - A prática de atividades físicas............................................................7
TABELA 10 - Exercício de práticas religiosas..........................................................7
TABELA 11 - Turnos de trabalho.............................................................................7
TABELA 12 - O estado civil do motorista.................................................................7
TABELA 13 - A fase do stress e sua relação com a sintomatologia mais
presente.............................................................................................7
TABELA 14 - Números de filhos e as fases do stress .............................................7
TABELA 15 - Idade do motorista e as fases do stress.............................................7
TABELA 16 - Tempo de carteira de motorista nas fases do stress .........................7
TABELA 17 - Tempo como motorista profissional e as fases do stress...................7
TABELA 18 - Tempo de contratação na empresa e as fases do stress...................7
xi
TABELA 19 - Numero de filhos e as sintomatologias do stress...............................7
TABELA 20 - Idade do motorista e as sintomatologias do stress ............................7
TABELA 21 - Tempo de carteira de motorista e as sintomatologias do stress ........7
TABELA 22 - Tempo como motorista profissional e as sintomatologias do
stress .................................................................................................7
TABELA 23 - Tempo de contratação na empresa e as sintomatologias do
stress .................................................................................................7
TABELA 24 - Numero de filhos e o stress ...............................................................7
TABELA 25 - Idade do motorista e o stress.............................................................7
TABELA 26 - Tempo de carteira de motorista e o stress.........................................7
TABELA 27 - Tempo como motorista profissional e o stress...................................7
TABELA 28 - Tempo de contratação na empresa e o stress...................................7
xii
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A - Cronologia do transporte coletivo urbano em Campo Grande.......7
APÊNDICE B - Termo de consentimento livre e esclarecido..................................7
APÊNDICE C - Questionário de caracterização sócio-demográfico – pré-
teste...............................................................................................7
APÊNDICE D - Questionário de caracterização sócio-demográfico - final .............7
APÊNDICE E - Aviso aos Motoristas VCM.............................................................7
xiii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................1
2 STRESS .............................................................................................................4
2.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E PRINCIPAIS CONCEITOS ................4
2.2 MECANISMO PSICOFISIOLÓGICO DO STRESS, DIAGNÓSTICOS
DOS ESTRESSORES, FORMAS DE ENFRENTAMENTO E
TRATAMENTO...............................................................................................7
3 STRESS OCUPACIONAL E TRABALHO .........................................................7
3.1 SÍNDROME DE BURNOUT............................................................................7
4 STRESS DO MOTORISTA.................................................................................7
5 OBJETIVOS .......................................................................................................7
5.1 GERAL ...........................................................................................................7
5.2 ESPECÍFICOS................................................................................................7
6 MÉTODO ............................................................................................................7
6.1 CONTEXTO ONDE SE REALIZOU A PESQUISA .........................................7
6.2 PARTICIPANTES ...........................................................................................7
6.2.1 Critérios de inclusão .....................................................................................7
6.3 RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS ........................................................7
6.4 ASPECTOS ÉTICOS......................................................................................7
6.5 INSTRUMENTOS...........................................................................................7
6.6 PROCEDIMENTO ..........................................................................................7
7 RESULTADOS ...................................................................................................7
7.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS ...................................................................7
7.2 RESULTADOS DA ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................7
xiv
8 DISCUSSÃO.......................................................................................................7
9 CONCLUSÃO.....................................................................................................7
REFERÊNCIAS ......................................................................................................7
APÊNDICES ...........................................................................................................7
1
1 INTRODUÇÃO
O trabalho marca acentuadamente a existência humana. Na revisão de
literatura sobre o “trabalho”, constatou-se a existência de entendimentos distintos
quanto ao seu significado, porém, a idéia de castigo, esforço, caráter de
obrigação ainda prevalece. Isso é resultado de um sistema capitalista que
divorciou o homem do produto do homem (CODO; SAMPAIO; HITOMI, 1993).
Há muito vivem-se em um sistema capitalista, deparando-se, na maioria
das vezes, com um ambiente hostil, ritmo de trabalho acelerado, competitivo,
exigências maiores do que o indivíduo pode suportar, em grandes aglomerados
urbanos, locais em que parece haver a predominância do medo e da tensão.
Estudos referentes ao stress
1
e, em especial ao stress ocupacional, vêm
crescendo significativamente nos últimos tempos; no entanto, o stress
ocupacional dos motoristas pode ser melhor examinado.
Com o crescimento da urbanização, o transporte coletivo adquire uma
importância social e econômica cada vez maior, transportando milhões de
passageiros que deles dependem para satisfazer suas necessidades básicas. O
comportamento dos seus operadores é de significativa importância para o
desempenho de atividades considerada essenciais à população. Falhas no
trabalho podem colocar em risco não só a vida do motorista como também a vida
de muitas pessoas.
Com a realização do presente trabalho, esperou-se oferecer uma
contribuição significativa para que o stress do motorista seja estudado mais
1
A palavra stress está com grafia no seu original em inglês de acordo com a orientação da
Sociedade Brasileira de Stress, para trabalhos científicos.
2
profundamente e que o próprio motorista, os empresários, as empresas e o
estado por meio de política de transportes públicos visualizarem a real situação
dessa categoria profissional.
O interesse desse tema partiu do gosto pelo estudo e pesquisa, busca de
conhecimento e da observação de que diante de uma mesma situação algumas
pessoas obtinham sucesso e outras não. Na pratica profissional se deu com a
observação de que trabalhadores com a mesma hierarquia de cargos, salários,
responsabilidades, ritmo imposto, sistema de controle e avaliação apresentavam
sintomas diversos, onde uns adoeciam e outros não.
A presente pesquisa teve como objetivo principal avaliar o nível de stress
em motoristas do transporte coletivo de ônibus urbano em uma empresa de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul e como objetivos específicos verificar a fase
do stress e identificar os sintomas presentes no motorista. Utilizou-se o modelo
Lipp, baseado na abordagem cognitivo-comportamental, que enfatiza a resposta
do organismo a um estimulo mediado pela interpretação que lhe é dado.
A apresentação deste estudo foi organizada em capítulos. Inicialmente
apresenta elementos necessários para situar o tema do trabalho. O segundo
capítulo traz os desenvolvimentos históricos do stress e principais conceitos, o
mecanismo psicofisiológico, diagnóstico dos estressores, formas de
enfrentamento e tratamento.
O terceiro aborda o stress ocupacional e trabalho, onde se faz uma
retrospectiva do surgimento da necessidade do trabalho, formas de convivências
e organização, de princípios que estão contidos nas relações pessoa/trabalho,
incluindo estudos e modelos teóricos e uma breve referencia sobre a síndrome de
burnout.
O quarto capítulo focaliza o stress do motorista e algumas indicações de
pesquisas científicas realizadas nesta área. O quinto apresenta os objetivos
pesquisados. O sexto traz o método descrevendo o contexto onde se realizou a
pesquisa, a descrição dos participantes, os critérios de inclusão, os recursos e
3
materiais, a descrição dos instrumentos utilizados, os aspectos éticos, os
procedimentos da pesquisa, a análise e estatística dos dados. O sétimo apresenta
os resultados a nível quantitativo, incluindo o demonstrativo em tabelas e gráficos.
O oitavo apresenta a discussão dos resultados buscando evidenciar a realidade
percebida e vivida pela amostra de motoristas pesquisados, com base no
referencial teórico levantado. O nono apresenta a conclusão e finalizando, as
referências e apêndices.
4
2 STRESS
Por natureza, o ser humano possui o ímpeto de manter o equilíbrio interno,
com seu organismo funcionando em harmonia. O corpo humano é, naturalmente,
orientado para a sua auto-equilibração na sua relação corpo-ambiente. Quando,
diante de algum evento importante, bom ou mal, que altera a auto-regulação
organísmica, havendo uma conseqüente quebra do equilíbrio, o corpo
imediatamente entra em estado de alerta e se prepara para a ação e para
satisfazer a necessidade, na busca do reequilíbrio homeostático. Esse processo
de adaptação que consiste numa série de modificações fisiológicas que requer
esforço que desgasta ou estressa o organismo, é denominado de stress (SELYE,
1965).
O stress de um modo geral vem sendo consideravelmente estudado por ter
um efeito facilitador no desenvolvimento de muitas doenças, propiciar um prejuízo
para a qualidade de vida e a produtividade do ser humano, o que gera uma
grande busca pelas causas e pelos métodos de redução do stress (LIPP;
TANGANELLI, 2002).
2.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E PRINCIPAIS CONCEITOS
O fenômeno stress, entendido como quebra do equilíbrio, pode ser
observado tanto na matéria inanimada como na matéria viva e existe desde os
primórdios da civilização. No século XIX, embora não recebendo muitas
considerações científicas, várias especulações foram realizadas no sentido de
relacionar eventos estressantes a doenças físicas e psicológicas. Já em 1910, no
século XX, um médico inglês, Sir Orler, igualou o termo estressante com trabalho
excessivo, e a reação do organismo ao stress com preocupação, sugerindo que o
5
excesso de trabalho e de preocupação estivesse ligado às doenças coronarianas,
sem, contudo, receber maior atenção da área médica (LIPP, 2003a).
Em 1925, Selye, ainda estudante da Escola de Medicina na Universidade
de Praga, observou que os pacientes apresentavam um conjunto de reações
muito semelhantes, independentes da causa da enfermidade e mesmo antes de
mostrarem qualquer sintoma típico de determinada doença. Os sintomas mais
comuns eram falta de apetite, pressão-alta, desânimo e fadiga. Denominou a esse
conjunto de reações de “síndrome de estar apenas doente”. Embora tenha sido
despertado para a curiosidade do mecanismo da doença e sua forma de
tratamento, com apenas 18 anos de idade, à medida que aprendia mais e mais
sobre a medicina, os problemas específicos de diagnose e tratamento obliteraram
a visão do não específico, isto é, foi perdendo a noção do todo e se
especializando no tratamento específico e só retornou essa pesquisa 10 anos
após, quando, em 1935, ao aplicar tratamento não-específico em ratos, em seu
laboratório, registrou uma tríade: estímulo das supra-renais, atrofia timo-linfático e
úlceras gástricas e associou tal reação à síndrome do estar apenas doente. Em 4
de julho de 1936, publicou o artigo sob o título: “Uma Síndrome Produzida por
Diversos Agentes Nocivos”, sugerindo a síndrome do stress, em que expunha a
Síndrome de Adaptação Geral (SAG) e suas fases de evolução, que consistia em:
reação de alarme, fase de resistência e fase de exaustão (SELYE, 1965).
Na busca do termo adequado para a síndrome de adaptação geral, Selye
(1965) deparou-se novamente com o termo stress, há muito tempo utilizado,
principalmente, na engenharia, para significar forças que atuam contra
determinada resistência, e devido ao sentido equivalente em biologia, adota o
termo stress para suas publicações, sendo utilizado até os dias de hoje, na
literatura médica e na área da saúde.
Após a segunda Guerra Mundial, o stress passou a ser mais estudado e
conhecido, antes restrito a pesquisadores. Na década de 1950, a ênfase do stress
era de embasamento fisiológico. Na década de 1970 sobressaem os aspectos
psicossomáticos, isto é, aspectos psicológicos interagindo com os aspectos
biológicos.
6
Atualmente, enfatizam-se as conseqüências do stress sobre o corpo e a
mente, incluindo fatores sociopsicológicos, como o ambiente de trabalho, as
diferentes etapas do desenvolvimento humano, da gestação ao envelhecimento,
com implicações na qualidade de vida em geral.
Em uma revisão, Selye (1965) fez um retrospecto a alguns conceitos
médicos antigos sobre o stress, como agente produtor de doenças, e os
respectivos tratamentos não específicos, comentando que, durante muitos
séculos, a doença foi considerada como algo causado por demônios ou espíritos
malignos e, para expulsá-los, médicos, sacerdotes ou feiticeiros tratavam doenças
com tratamentos não-específicos, como na medicina dos Astecas e da Babilônia,
que se utilizavam encantamentos, danças, drogas fortes, emplastos, bandagens.
Na antiguidade ainda, antes de 150 a.C., sangria era utilizada no
tratamento de algumas doenças. Na idade média, a flagelação para os dementes.
No século XVI, Paracelso, médico suíço, utilizara como método de cura de
doenças a submersão do paciente em água fria. Cem anos depois, Rufos de
Éfeso descobriu a febre alta para a cura de várias doenças. Em 1883, Julius
Wagner Von Jauregg, psiquiatra vienense, percebeu que a febre tifóide fazia
desaparecer os sintomas mentais de certos pacientes. Uma outra forma de
terapia não específica, a terapia de choque, nasceu da observação casual de que
pessoas foram curadas mediante certos tipos de choque. Ainda em 1950,
melhoras de doenças como o reumatismo, eram obtidas por meio de injeções de
produtos estranhos como leite, sangue e metais pesados (SELYE, 1965).
Ainda segundo o autor, o que essas terapias não-específicas tinham em
comum, é que todas elas causavam desgastes nos organismos, supondo, a
princípio, que o stress poderia ser um “empurrão” que acarretava o reinício do
funcionamento de um organismo danificado.
Seguindo ainda este pensamento, Hipócrates, o Pai da Medicina, que há
24 séculos já dizia:
[...] a “doença não é apenas sofrimento (pathos), mas, também,
instrumento (ponos)”, isto é, a luta pelo corpo para restabelecer a
7
normalidade e concluiu que a doença não é apenas sofrimento,
mas também a luta para se manter o equilíbrio homeostático dos
tecidos, a despeito das lesões sofridas (SELYE, 1965, p. 15).
Sua obra foi influenciada pelas descobertas de dois fisiologistas,
relacionadas estritamente com a adaptação das condições do meio ambiente à
defesa geral do organismo. A importância do equilíbrio interno foi inicialmente
ressaltado pelo fisiologista Bernard (1879), que estabeleceu que a constância do
meio interno, apesar das trocas no meio ambiente, eram essenciais para a
manutenção da vida. Cannon (1939) denominou esse processo de constância
interna, este equilíbrio que o organismo automaticamente tenta manter a fim de
preservar a vida, de homeostase (do grego homoios, como, similar, stasis,
posição, atitude), e assinalou papel fundamental da fisiologia – o sistema
endócrino e o sistema nervoso autônomo, que participam dos ajustes necessários
para manter a constância do meio interno, diante da diversidade de situações que
requerem esforços. Cannon (1939), fisiologista americano responsável pelo
desenvolvimento da noção de homeostase, percebeu que, quando um animal era
submetido a estímulos ameaçadores a seu equilíbrio orgânico, inclusive medo,
raiva, fome, dor, apresentava uma reação que ele denominou de Emergência,
onde o animal se preparava para luta ou fuga. As alterações metabólicas que
ocorriam preparavam o corpo para uma reação imediata e mais eficiente e, nos
seres humanos, as alterações físicas são remanescentes de um passado
distante, quando o homem primitivo via-se obrigado a um confronto diário com os
animais selvagens, tendo que lutar ou fugir deles (SELYE, 1965).
O conceito de homeostase, ou seja, a habilidade e necessidade do
organismo de se manter por meio de ações compensadoras, são fundamentais
para o estudo do stress, uma vez que a ação possível do stress é a quebra do
equilíbrio interno em decorrência da ação exacerbada do sistema nervoso
simpático e a desaceleração do sistema nervoso parassimpático em momentos
de tensão.
Cannon (1939) propôs uma teoria denominada de Mecanismo de Luta ou
Fuga, para explicar a interação entre os dois subsistemas ou níveis – o simpático
8
e parassimpático – do sistema nervoso autônomo, cujas funções são opostas e
complementares do sistema nervoso autônomo. Segundo Lewis (1988), o sistema
nervoso autônomo mantém o corpo em regime de ajustes constantes tais como: a
pressão sanguínea sobe e desce, os movimentos dos alimentos no trato digestivo
se retardam ou aceleram, a produção de hormônios flui ou é detido. As alterações
metabólicas físicas são remanescentes de um passado distante, quando o
homem primitivo via-se obrigado a enfrentar os animais selvagens, lutando ou
fugindo.
Morini (1997) descreve o mecanismo de luta e fuga, dizendo que o perigo é
percebido pelos órgãos dos sentidos e reconhecido pelo cérebro, desencadeando
respostas em nível do córtex cerebral onde se interpreta a informação, e pelo
sistema límbico, onde este fato é associado a uma emoção correspondente e, por
fim, ao sistema nervoso autônomo, onde o nível simpático acionado libera
adrenalina e noradrenalina, levando o organismo a um estado de prontidão, a fim
de que possa lidar com situação em que tenha que atuar com urgência (lutar ou
fugir). Numa situação ideal, o homem pré-histórico reagia a esses estímulos
anteriormente descritos com uma determinada atividade física. Essa atividade
física, além de garantir sua sobrevivência, promovia uma ativação do nível
parassimpático, revertendo o metabolismo ao seu estado normal. A execução de
qualquer movimento corporal depende basicamente da contração coordenada de
alguns grupos dos músculos e qualquer contração muscular ocorre pela da
liberação de acetilcolina no íntimo da junção neuromuscular. A acetilcolina é um
neuro-transmissor que ativa o nível parassimpático do sistema nervoso autônomo,
revertendo os efeitos produzidos pelas adrenalinas produzindo a resposta de
descanso.
MacLean (1954) propôs uma teoria segundo a qual, o cérebro humano
seria o resultado evolutivo de todas as fases anteriores da espécie humana.
Assim, teríamos em nosso cérebro:
a) estruturas correspondentes ao cérebro reptiliano, contendo a formação
reticular, mesencéfalo e gânglios de base, que controlam nossas
funções vegetativas, onde se inclui o Sistema Nervoso Autônomo;
9
b) estruturas semelhantes ao cérebro dos mamíferos inferiores, que
constituem basicamente o sistema límbico, o paleocórtex e os núcleos
relacionados ao tronco encefálico (foco organizador das emoções);
c) o neocórtex, aquisição mais recente, estrutura responsável pelas
qualidades e capacidades mais nobres, como intelecto e a abstração
(aqui justifica as atitudes impensadas quando levadas pelas paixões).
Morini (1997), continuando essa linha de pensamento, acredita que
exatamente aí começa o stress. O ser humano submetido a pressão psicológica,
situações de risco e ameaça real ou hipotética (o sistema nervoso autônomo não
diferencia entre uma ameaça real ou imaginária) sofre uma superestimação do
nível simpático do sistema nervoso autônomo e, por outro lado, os compromissos
e convenções sociais não permitem agir como os ancestrais (lutar ou fugir),
tampouco espaço e tempo para atividades físicas, na maioria das vezes, gerando
com isso, pouca liberação de acetilcolina, necessária para estimular a resposta de
descanso.
Selye (1965), utilizando-se dos conceitos de Bernard (1879) e Cannon
(1939), definiu o stress como uma quebra desses organismos.
Selye (1965, p. 64), após vários trabalhos de definição do stress, chega a
uma mais precisa: “Stress é o estado manifestado por uma síndrome específica,
constituída por todas as alterações não-específicas produzidas num sistema
biológico”. Observou dois tipos de alterações que o stress causa: uma alteração
primária, isto é, uma lesão, que é induzida não especificamente em qualquer
ponto do corpo por qualquer tipo de agente sendo não específico, tanto na forma
quanto na causa; e uma alteração secundária, isto é, defesa, que é o
desenvolvimento específico da síndrome de adaptação geral (SAG). É uma
agressão, mas é também uma defesa.
Ao definir stress como o estado que se manifesta pela síndrome de
adaptação, Selye (1965) diferencia stress de síndrome de adaptão geral, sendo
stress o conjunto de alterações não-específicas que ocorrem no corpo em um
10
dado momento e síndrome de adaptação geral o desenvolvimento desse
conjunto, isto é, todas as alterações não específicas que ocorrem no corpo do
início ao final do processo, durante a ação contínua do agente estressor. Isto
significa que a tríade da reação de alarme será um componente da síndrome do
stress não específico, quando ocorrer, simultaneamente, aumento das glândulas
supra-renais, atrofias timocolinfáticas e úlceras gastrintestinais. Se afetar apenas
um desses órgãos deixa de ser considerado stress por ser uma manifestação
específica.
O stress é denominado de síndrome de adaptação geral (SAG) quando
afeta o corpo todo, e de síndrome de adaptação local (SAL) quando apenas parte
do corpo ou tecidos são afetados, sendo os dois tipos estritamente relacionados.
Uma SAG perfeitamente desenvolvida consiste em três fases: reação de alarme;
fase de resistência; e fase de exaustão. Ocorre stress em qualquer uma dessas
fases, embora com manifestações diferentes e apenas situações graves de stress
podem chegar à fase da exaustão e morte. A maioria dos estressores produz
alteração correspondente apenas à primeira e à segunda fase, o que, de outra
forma, não seria possível desenvolver certas atividades e resistir a certos
infortúnios. Mesmo a exaustão não é necessariamente irreversível, desde que
afete apenas partes do corpo, isto é, quando a exaustão representa as fases
finais nas síndromes de adaptação local (SAL). “A maioria das atividades
humanas passa por três fases: inicialmente temos de nos habituar, depois
funcionamos com grande eficiência, mas finalmente, cansamo-nos do que
fazemos” (SELYE, 1965, p. 76).
Selye (1965, p. 334) já ressaltava a importância do ato de completar as três
fases da resposta ao stress em todas as atividades e em todas as ações
passivas. Para ele, “[...] esta é a base biológica da necessidade do homem de
expressar-se e levar a cabo sua missão”. Mencionava que o ser humano em
todas as atividades passa pela fase da surpresa (reação de alarme), pelo domínio
(fase da resistência), da fadiga (fase da exaustão) e, após, para o repouso (com a
repetição do ciclo na mesma ou em outras partes do corpo) ou, para a morte.
Assinalava ainda que o homem é estruturado em função desses ciclos e que
11
grande lição prática a ser tirada disso é a compreensão da necessidade de
realização profundamente arraigada, da materialização de todas as pequenas
necessidades e grandes aspirações em harmonia com a estrutura hereditária e,
para materializar as aspirações mais ardentes, constituídas pelos objetivos em
longo prazo, se faz necessário agir e aprender como escolher entre várias
possibilidades existentes.
Ainda Selye (1965), uma irreversível exaustão podendo chegar a morte,
ocorre somente quando toda a adaptabilidade ou energia de adaptação é gasta,
em conseqüência de senilidade, ao fim de um curso normal de vida, quando todos
os órgãos do corpo são proporcionalmente gastos pelo uso ou envelhecimento
prematuro em decorrência de stress.
Selye (1965) cunhou o termo energia de adaptação em função daquilo que
é consumido durante o trabalho contínuo de adaptação e, tal reserva constitui
uma herança limitada, não podendo ser restabelecida:
É como se cada indivíduo herdasse, ao nascer, certo grau de
energia de adaptação, cuja magnitude é determinada por seu
antecessor genético – os pais. Ele pode girar, sem incidentes,
com esse capital, através de uma existência longa, mas
invariavelmente monótona, ou despendê-lo prodigamente no
curso de uma vida cheia de stress, intensa e talvez mais cheia de
colorido e interesse. De qualquer forma, seu capital é um só e
deve ser equilibrado de acordo (SELYE, 1965, p. 77).
Selye (1965) apresentou a teoria de stress, partindo da observação em
ratos, a princípio, de três alterações principais no organismo que explicam como
os sintomas se desenvolvem ao reagir aos estímulos apresentados. Frente a um
agente estressor, inicialmente, o córtex das supra-renais descarrega grânulos de
gordura na circulação sanguínea, que contêm hormônios corticóides;
conseqüentemente, as reservas são gastas, o sangue fica mais concentrado e o
peso específico fica reduzido (reação de alarme). Posteriormente, o córtex das
supra-renais fica sobrecarregado de células gordurosas devido ao acúmulo
abundante, o sangue se apresenta diluído e com o peso especifico normal (fase
de resistência) e, finalmente, quando esta adaptação é perdida, descarrega os
12
grânulos novamente na circulação, apresentando sintomas parecidos com a
reação de alarme, porém mais intensa (fase de exaustão). Tais conclusões foram
transpostas para o homem com as devidas adaptações.
Lipp (2003a, p. 18) definiu “[...] stress como reação psicofisiológica muito
complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer face a algo
que ameace sua homeostase interna”. Essa situação pode ocorrer quando a
pessoa se encontra muito infeliz ou imensamente feliz.
A palavra stress tem gerado muitas confusões devido ao fato de ser
utilizada para significar tanto o estímulo, a condição ou a causa que desencadeia
uma quebra da homeostase do organismo, como para descrever o seu efeito, ou
seja, tanto para descrever uma situação de muita tensão, quanto para definir a
nossa reação. E para aumentar ainda mais a dificuldade quanto à prevalência do
termo, conforme citam Lipp e Malagris (2001), o stress tem relação com a
seriedade da condição do organismo. O termo é utilizado para designar uma
pessoa que está tanto na primeira como na quarta fase do stress,
independentemente se pouco ou muito intenso, se agudo ou crônico.
Lipp (2003a) apresenta o modelo quadrifásico do stress, que acrescenta
uma quarta fase ao modelo de Selye (1965), sendo identificada, tanto clínica
como estatisticamente, no decorrer da padronização do Inventário de Sintomas de
Stress para Adultos de Lipp (ISSL-2000), e a qual denominou de quase exaustão.
Os dados da pesquisa mostraram que a fase de resistência é muito extensa e
apresenta dois momentos distintos caracterizados pela quantidade e intensidade
de sintomas e não por sintomas diferenciados. Dessa forma, no modelo de Lipp, a
fase de resistência se refere à primeira parte do conceito de resistência de Selye
e a fase de quase exaustão se refere a sua parte final quando realmente está
acabando a resistência da pessoa.
O modelo quadrifásico de Lipp (2003a) é um desenvolvimento do modelo
trifásico de Selye (1965), que consiste em fase de alerta, fase de resistência, fase
de quase exaustão e fase de exaustão, cujo processo será descrito a seguir.
13
A fase de alerta é a que ocorre quando, na interação com o meio, a pessoa
percebe um agente agressor (fome, frio e raiva), e se prepara para o que Cannon
(1939) denominou de mecanismo fisiológico de “luta ou fuga”, que é o momento
de preparo do corpo e mente, essencial para a preservação da vida. É uma
reação de enfrentamento que desencadeia uma quebra do equilíbrio organísmico.
Segundo Lipp (1996, p. 23), a quebra da homeostase “[...] ocorre em decorrência
da ação exacerbada do sistema nervoso simpático e da desaceleração do
sistema nervoso parassimpático em momentos de tensão”.
Na fase inicial do processo de stress, a sensação de estar em alerta, a
taquicardia, a tensão muscular, a boca seca, a sudorese excessiva se apresenta
como universais, e à medida que o stress se desenvolve, as diferenças variam de
acordo com as predisposições genéticas e experiências da vida de cada um.
De acordo com Lipp e Malagris (1995), as mudanças hormonais que
ocorrem nessa fase podem ocasionar na pessoa aumento da motivação,
entusiasmo e energia, que pode gerar maior produtividade no ser humano, desde
que não seja excessivo. Segundo Alcino (1999, p. 35),
Stress não é uma doença e um pouco de stress é importante para
que se possa produzir e até se proteger em momentos de perigo,
já que em situações de stress, o organismo entra em estado de
alerta.
Lagercrantz e Slotkin (1986 apud PAPALIA; OLDS, 2000) apontam que o
esforço para nascer, aparentemente, estimula o corpo do bebê a produzir uma
quantidade enorme de adrenalina e noradrenalina. Estes dois hormônios do
stress produzidos pelo bebê, que parecem ser disparados pelas contrações
uterinas da mãe no momento do parto, livram os pulmões de líquido excessivo
para permitir a respiração, mobilizam fontes energéticas armazenadas para
nutrição celular e enviam sangue para o coração e o cérebro, além disso, o bebê
fica mais alerta e pronto para interagir com o meio. Segundo esses autores ainda,
os bebês nascidos por cirurgia cesariana de emergência, após o início do trabalho
de parto, apresentam níveis de stress muito parecidos quanto aos de bebês
14
nascidos pela vagina, e os bebês nascidos por cirurgias cesarianas eletivas antes
do trabalho de parto não passam por essa elevação repentina de hormônios,
apresentando muito deles, problemas para respirar.
A fase de resistência é a segunda fase do stress que ocorre quando o
estressor continua presente por períodos longos ou se muito intenso. A pessoa
faz o uso das reservas de energias adaptativas que possuem, na tentativa do
reequilíbrio interno. Se a energia for suficiente e os sintomas de alerta
desaparecerem, a pessoa volta ao normal. Se persistir, pode ocorrer a sensação
generalizada de mal-estar, dificuldade com a memória e dúvidas quanto a si
próprio.
A fase de quase exaustão é a fase em que as defesas do organismo
começam a ceder e tem dificuldade para resistir às tensões e restabelecer o
equilíbrio interno. Oscila entre instantes de bem-estar e tranqüilidade e momentos
de desconforto, cansaço e ansiedade. Nessa fase, se o estressor é eliminado ou
se técnicas de controle do stress forem utilizadas, o organismo se restabelece e o
processo de stress termina. Se por outro lado, o estressor continuar, a pessoa
começa a ficar mais vulnerável às doenças, como o herpes simples, os resfriados
constantes e infecções.
Na fase de exaustão, o stress está consideravelmente intenso e ultrapassa
as reservas de energia adaptativa que a pessoa possui, há uma quebra total da
resistência e podem aparecer alguns sintomas semelhantes aos da reação de
alerta, porém mais intensificados. Há também um aumento das estruturas
linfáticas, exaustão psicológica que pode aparecer na forma de depressão e
exaustão física, com o conseqüente aparecimento de doenças, podendo a pessoa
chegar à morte.
Além do conhecimento das fases do stress, importante se faz conhecer de
onde o stress vem. Tudo o que proporciona uma quebra da homeostase interna,
pode ser chamado de estressor ou fonte de stress e esta pode ser de natureza
inerentemente negativa como no caso de dor, fome ou frio ou muito positivo como
conseguir algo muito desejado. Dessa forma, tanto um evento ruim como um que
15
faz a pessoa imensamente feliz, pode ser uma fonte alta de stress por exigir
esforços na adaptação às mudanças.
As fontes de stress podem ser divididas em externas e internas. As fontes
externas são aquelas condições que agem sobre a pessoa e que vem de fora do
organismo, que independem, muitas vezes, do mundo interno como acidentes,
mudanças de condições de vida, mudanças políticas no país, a alimentação e o
trabalho. As fontes externas podem ser facilmente identificadas pelas principais
preocupações que a pessoa apresenta. O stress relacionado à fonte externa pode
ser medido pela Escala de Reajustamento Social de Holmes e Rahe (1967), com
43 situações que podem provocar stress e, conseqüentemente, doenças de
adaptação. A noção desenvolvida por esses autores citados anteriormente
baseia-se na suposição de que o organismo é dotado de uma quantidade de
energia necessária para manter-se em homeostase e essa energia adaptativa é
limitada. Quando ocorre algo bom ou ruim, que envolve mudanças significativas
em que a pessoa ultrapassa sua capacidade de adaptar-se, a reserva de energia
adaptativa pode se esgotar e doenças se desenvolverem.
As fontes internas são o que Lipp (1999, p. 18) chamou de “[...] fábrica
particular de stress”, isto é, a interpretação que se dá ao evento, as crenças e
valores, seu nível de assertividade, suas vulnerabilidades, sua ansiedade, o modo
de ser e de agir de cada um, que é fruto da experiência que se tem durante a
vida. Os estressores internos, citados por Lipp (2003b) são os valores e crenças
inadequados, distorções cognitivas, expectativas infundadas, padrões de
comportamento competitivos, agressivos e ligados à premência de tempo, falta de
afetividade, dificuldades de expressão de afeto, tendência à ansiedade ou à
depressão e padrões de respostas emocionais ligados a experiências passadas.
As fontes internas podem ser identificadas com a aplicação de escalas, testes e
inventários.
Existem dois tipos de estressores: uns que não dependem da interpretação
da pessoa e agem automaticamente no desenvolvimento do stress, como frio ou a
fome e a dor, chamados de biogênicos por Everly (1989). Existem outros
chamados de psicossociais por Ellis (1973) e Lazarus e Folkman (1984) que
16
atuam no desenvolvimento do stress em decorrência da história de vida, do
indivíduo, das experiências que teve e das relações que manteve com o meio até
então.
De um lado, temos um estímulo que desencadeia uma resposta que é o
stress e de outro lado, temos a resposta da pessoa frente a esse estressor. Se
essa resposta é adequada, um esforço sadio, mesmo que inesperado na garantia
da sobrevivência e a pessoa sente-se realizada, o stress é positivo e é
denominado de eustress. Se a resposta é negativa, inadequada e que produz,
inclusive, sobrecarga de esforço, que pode até ocasionar doenças, é chamado de
distress. Lipp (1984) aponta que o mesmo evento pode produzir distress em uma
pessoa e eustress em outra dependendo da interpretação dada a cada evento.
2.2 MECANISMO PSICOFISIOLÓGICO DO STRESS, DIAGNÓSTICOS DOS
ESTRESSORES, FORMAS DE ENFRENTAMENTO E TRATAMENTO
O organismo, diante de situações difíceis, em que precisa lidar com
alterações físicas ou ambientais que ameaçam o equilíbrio interno, reage com
respostas fisiológicas que são desencadeadas por vários circuitos neurais, que
podem permitir o reequilíbrio homeostático interno.
O conhecimento do mecanismo psicofisiológico do stress é fundamental
para um bom entendimento das alterações, das fases e dos sintomas, bem como
da relação stress-doença.
Para Lipp e Malagris (1995), os sistemas principais de coordenação do
corpo são o nervoso e o hormonal. Diante de uma situação de risco, os dois
sistemas responsáveis pela reação, que Cannon (1939) denominou de
emergência, em que o animal se preparava para luta ou fuga, mobilizava-se para
ação à medida que um determinado estímulo era sentido e interpretado pela
pessoa como desafiador.
De acordo com Lipp e Malagris (1995), o estressor interno ou externo
precisa ser percebido, primeiramente, por um dos receptores do sistema nervoso
17
periférico. As mensagens vão, via sistema sensorial, para o cérebro e uma vez
que atinjam o sistema nervoso central e o neocórtex, o que foi percebido é
integrado com a emoção codificada no sistema límbico e no hipotálamo. Esta
integração neocortical-límbica é retroalimentado para o sistema límbico com a
interpretação emocional. Sendo assim, a avaliação de um determinado evento
como bom ou mal, agradável ou não, depende do valor e da interpretação que o
sistema límbico lhe oferecer. O evento é interpretado de acordo com a história de
vida do ser humano, de seus valores e das suas crenças. A reação do stress será
desenvolvida quando a interpretação sinalizar para o organismo a necessidade de
uma ação. Neste caso, o corpo age por meio dos três eixos: neural,
neuroendócrino e o endócrino, já descrito anteriormente.
Para Everly (1989), a reação do stress envolve um ou mais dos três eixos
psicossomáticos: o neural, o neuroendócrino e o endócrino. O caminho mais
direto do stress é o neural, que ativa os ramos simpáticos e parassimpáticos do
sistema nervoso autônomo, passa pela medula espinhal e atinge o órgão final. Se
a ativação neural é feita via sistema simpático, o efeito é de estimulação, se é
feita via sistema parassimpático é de inibição. Quando o stress perdura por mais
tempo, que gera reação de luta e de fuga, o eixo neuroendócrino é ativado,
produzindo catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) pela medula adrenal, cujo
efeito é superior ao do produzido pelo eixo neural. No caso de um stress muito
intenso ou muito prolongado ainda, devido a numerosas e diversas influências
psicológicas, incluindo vários estímulos psicossociais, ocorre a ativação do eixo
endócrino: adrenal-cortical, somatotrópico, tireóide e pituitário-posterior, que tem a
ação originada no hipocampo e após os impulsos neurais descem para o
hipotálamo, onde a corticotropina é liberada para a glândula pituitária que, por sua
vez, produz vários hormônios que estimulam determinados órgãos-alvos (sistema
cardiovascular, gastrointestinal, a pele, o sistema imunológico, etc.).
O stress, além de desencadear sintomas psicológicos e contribuir para
etiologia de várias doenças mais graves, pode apresentar sintomas de outras
patologias, o que dificulta o diagnóstico do quadro de stress de modo adequado.
Vários métodos têm sido propostos para um diagnóstico mais preciso. Lipp (2000)
18
aponta que, pode ser pela avaliação de eventos causadores do stress; de reações
emocionais e auto-relatos de desconfortos e ansiedade, de medidas fisiológicas e
endócrinas e doenças em órgãos-alvos. Uma avaliação ideal seria incluir todos
estes métodos diagnósticos, mas como isto nem sempre é viável, outros
instrumentos são indicados, entre eles, o uso do Inventário de Sintomas de Stress
para Adultos de Lipp (ISSL-2000). O ISSL visa identificar a sintomatologia que o
paciente apresenta, avaliando se possui sintomas de stress (se somáticos ou
psicológicos) e a fase em que se encontra.
A identificação da sintomatologia do stress é essencial, mas não é
suficiente. É necessário também o diagnóstico dos estressores, isto é, identificar
as fontes de stress, sejam elas internas ou externas. A identificação das fontes é
importante para que estratégias de enfrentamento adequadas sejam
desenvolvidas.
O conceito de enfrentamento, como o de avaliação, é considerado hoje
como fundamental. A partir do momento em que se observa o stress pela
perspectiva relacional, este passa a ser observado além de um estímulo externo,
como também pelo significado que este estressor, interno ou externo, vai ter para
esta pessoa e, conseqüentemente, como ele vai ser avaliado e manejado.
Segundo França e Rodrigues (2002, p. 46),
Enfrentamento é o conjunto de esforços que uma pessoa
desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou
internas, que são avaliadas por ela como excessivas ou acima de
suas possibilidades.
Os autores dizem ainda, que se pode ver enfrentamento como uma
estratégia da pessoa consciente ou não, para conhecer o que está acontecendo,
interna e externamente, para agir e diminuir assim, a resposta de distress,
mantendo o equilíbrio de seu organismo. Refere-se ainda ao que o indivíduo
realmente pensa, sente e faz ou faria em determinadas condições.
Uma outra forma de lidar adequadamente com o stress é adotar uma
postura assertiva. Para Gillen (2001), assertividade ou comportamento assertivo é
19
o ato de expressar aos outros o que se pensa, agindo em favor de si mesmo em
consonância com os outros. Agir assertivamente aumenta as possibilidades das
pessoas de estabelecerem relações honestas com os outros e desenvolve uma
postura mais ativa e a capacidade de decidir e agir facilitando a obtenção do que
realmente se quer na vida. O comportamento não assertivo é aquele que, ao se
expressar, a pessoa age a favor do meio abandonando a si próprio. Quando se
depara com um conflito entre o que se quer fazer e o que a outra pessoa espera
dele, o indivíduo não assertivo tende a sentir-se errado, culpado e ansioso.
Embora se sinta explorado, o não assertivo não consegue dizer não aos outros.
Geralmente torna-se uma pessoa descontente consigo e com os outros.
Aprendeu desde cedo a buscar a confirmação e a orientação dos mais velhos e a
duvidar de sua percepção e sua maneira de julgar. Enquanto adulta, tende a,
possivelmente, ser passiva e facilmente influenciada.
São muitas as estratégias de enfrentamento existentes que podem ser
utilizadas para gerenciar o stress negativo, isto é, o distress. Segundo Lipp e
Rocha (1996), é muito difícil a pessoa sair da fase de exaustão por seus próprios
recursos. Geralmente necessita de ajuda de profissionais da área médica e
psicológica. Para Lipp e Malagris (2001), os quatro pilares para o controle do
stress são a alimentação, o relaxamento, os exercícios físicos e a mudança
cognitivo-comportamental (reestruturação cognitiva).
França e Rodrigues (2002) subdividem os recursos para se lidar com o
stress físicos, psíquicos e sociais. Os recursos físicos são técnicas de
relaxamento, alimentação adequada, exercício físico regular, repouso, lazer e
diversão, sono apropriado às necessidades individuais, medicação, se necessário
e sob supervisão médica. Os psíquicos são: métodos psicoterápicos, processos
que favoreçam o autoconhecimento; estruturação de tempo livre com atividades
prazerosas e ativas; avaliação periódica de sua qualidade de vida; reavaliação de
seu limite de tolerância e exigência; busca de convivência menos conflituosas
com pares e grupos. As sociais são: revisão e redimensionamento das formas de
organização de trabalho, aprimoramento por parte da população em geral, do
conhecimento de seus problemas médicos e sociais e concomitância dos
20
planejamentos econômico, social e de saúde. Os autores destacam que, a partir
disso, devem criar programas específicos, pois o stress deve ser entendido como
uma relação particular entre a pessoa, seu ambiente e o contexto ao qual está
submetida.
O conceito de stress vem sendo tema para diversos estudos realizados e o
Brasil já é um dos países líderes nas pesquisas nesta área, haja vista que, até o
momento, foram desenvolvidas no departamento de pós-graduação em Psicologia
da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP) mais de 40
dissertações e teses defendidas sobre a temática (LIPP, 2003a).
Serão relatados alguns estudos que apontam para o fato de que o stress
associa-se intimamente à algumas doenças e à grupos de risco, como gestantes,
crianças, casais, idosos, entre outros.
Tanganelli (1995) procurou investigar a sintomatologia de stress, fontes
estressoras e estratégias para a melhoria da qualidade de vida em uma amostra
de doze participantes portadores de vírus HIV assintomáticos, membros de um
grupo de auto-ajuda, de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 41 anos, na
maioria, solteiros, nível de escolaridade prevalentemente superior. O instrumento
utilizado para o levantamento do stress foi o Inventário de Sintomas de Stress
(ISS) (LIPP; GUEVARA, 1994). No final, foi observada que os sujeitos
apresentavam alta incidência de sintomas de stress, em especial, de sintomas
psicológicos e a maioria estava na fase da resistência do stress.
Tunala (2002) procurou caracterizar e descrever as fontes de stress
cotidianos de mulheres portadoras do vírus HIV assintomáticos por meio de
entrevistas individuais e questionários semi-estruturados com uma amostra de
150 mulheres portadoras do HIV. O resultado indicou que apenas 14% dos
eventos estressantes estavam relacionados ao tratamento ou adoecimento. Os
relatos das fontes de stress foram distribuídos nos seguintes assuntos: familiares
(17%); relacionamento com o parceiro (12%); filhos (14%); enfermidade (8%);
profissionais (7%); vivências de discriminação (7%); outros (4%); e não
responderam (8%).
21
Calais, Andrade e Lipp (2003) realizaram um estudo em adultos jovens, de
15 a 28 anos, estudantes, sendo 150 mulheres e 145 homens, num total de 295
participantes. Este estudo pesquisou sintomas de stress, o tipo e a freqüência de
sintomas, relacionando-os com o sexo e ano escolar em curso. Os resultados
acusaram correlação significativa entre sexo e nível de stress (p < 0,0001), sendo
que as mulheres apresentaram maior nível de stress. Os estudantes que mais
apresentaram stress foram do curso pré-vestibular seguidos do terceiro ano do
ensino médio. A sintomatologia mais presente foi a psicológica.
Sparrenberger, Santos e Lima (2004) investigaram a associação entre
determinados eventos produtores de stress e a sensação de mal-estar
psicológico, pelos resultados de um estudo transversal, e do uso de escala de
fases para medir o desfecho. A analise por regressão logística seguiu modelo
hierárquico: incluindo no primeiro nível, características sócio-demográficas
individuais, no segundo, eventos estressantes e, no terceiro o mal-estar
psicológico. O maior efeito foi para separação conjugal. Os mais altos riscos
atribuíveis na população foram os das variáveis sócio-econômicas (escolaridade e
renda) e o da ocorrência de pelo menos um dos eventos. Foi concluído que ações
no plano das políticas públicas pode reduzir as ocorrências de eventos sociais
negativos e contribuir para reduzir simultaneamente o mal-estar psicológico.
Alcino (1996) procurou verificar se os filhos de hipertensos apresentavam
maior relatividade cardiovascular frente a situações de stress social comparados
com filhos de normotensos. Utilizou-se nessa pesquisa a técnica de Role-play por
meio do qual se criou stress social nas crianças. Participaram desse estudo
crianças entre sete a doze anos de idade, de ambos os sexos, filhos de
hipertensos e normotensos. Os resultados mostraram que os filhos de hipertensos
apresentavam pressão arterial e reatividade cardiovascular significativamente
maior, comparado aos de normotensos. Outro dado observado foi que crianças
negras e obesas, filhos de hipertensos, apresentavam maior reatividade
cardiovascular.
22
Lima (1992) objetivou investigar a contribuição do stress e de alguns
fatores psicológicos no desenvolvimento e manutenção da obesidade. A amostra
foi constituída de oito mulheres e dois homens, na faixa etária de 42 a 65 anos. A
avaliação dos participantes foi feita pelo Inventário de Sintomas de Stress (ISS)
(LIPP; GUEVARA, 1994), de um roteiro de entrevista para obesos e do Inventário
Tipo A de comportamento. Verificou-se que todos os participantes apresentavam
sintomas da fase de resistência ao stress com prevalência de sintomas
psicológicos em comparação a sintomas físicos e sua maioria foi classificada
como possuidores de comportamentos típicos do Padrão tipo A.
Torrezan (1994) comparou grupos de gestantes, multípares, no último
trimestre de gravidez, em relação à incidência do stress e suas fontes
estressoras, sintomas e estratégias utilizadas por elas. Como resultado, foi
detectado sintoma de stress em ambos os grupos, porém, mais acentuado no
grupo das gestantes que trabalhavam fora de casa.
Rezende Neto (2000) verificou os efeitos de um protocolo de biofeedback
de eletromiografia associado a uma adaptação do relaxamento muscular
progressivo no gerenciamento de sintomas do stress como: a ansiedade estado, a
tensão muscular, a freqüência cardíaca e a pressão arterial sistólica e diastólica.
Os participantes foram oito mulheres e três homens com idade entre 20 a 35 anos
e escolaridade mínima de segundo grau. Os resultados indicaram que a tensão
muscular e a ansiedade apresentaram uma diferença significante entre o antes e
o depois do treinamento.
Karkow, Spiandorello e Godoy (2004) realizaram um estudo transversal de
120 participantes visando avaliar o stress hormonal e ansiedade em grupo de
doentes clínicos ambulatoriais e enfermos clínicos hospitalizados e pacientes
cirúrgicos, contendo 30 pessoas em cada um deles. Os controles (30) eram
voluntários sadios. A adrenalina, noradrenalina e cortisol foram mensuradas pela
manhã e o Inventário de Ansiedade de Beck foi aplicado. Os três grupos de
doentes exibiram níveis de ansiedade superiores aos do controle, porém não
houve diferença significativa entre stress hormonal e ansiedade.
23
Vilela (1995) investigou a incidência de stress em crianças da primeira a
quarta série, verificando as possíveis fontes externas e internas de stress e se os
sintomas eram mais psicológicos ou físicos. Como sujeitos foram utilizadas 40
crianças da rede particular e 40 da rede estadual de educação. Como resultado
detectou-se uma alta incidência de sintomas de stress nos dois tipos de escolas,
com ênfase nos sintomas psicológicos e nas fontes externas de stress.
Tricoli (1997) procurou verificar a relação entre stress de crianças de
primeira a quarta série do primeiro grau e o aproveitamento escolar de alunos
considerados com o melhor e o pior desempenho acadêmico. Os participantes
foram 68 crianças de ambos os sexos, de sete a onze anos de idade, sendo 51 da
rede pública e 17 da rede particular, 16 responsáveis e 4 professoras. Os
resultados demonstraram a existência de stress entre as crianças de ambas as
escolas, a falta de intercâmbio entre as famílias e as escolas e, principalmente,
em relação à escola particular. Não foi possível estabelecer uma relação direta
entre stress e aproveitamento escolar, talvez pelo fato desse último ser
multideterminado.
Vilela (2001) procurou verificar o efeito do treino de controle do stress em
casais. Participaram 15 casais no total de trinta sujeitos divididos em três grupos
de casais. Foram avaliados o stress, as estratégias de enfrentamento, os
estressores pessoais antes e depois da sessão de controle pelos mesmos
instrumentos de avaliação. Um grupo sob controle passou por um programa de
palestras variadas de conteúdos psicológicos e sobre stress. Outro grupo sob
controle não sofreu nenhuma intervenção e o grupo experimental passou por oito
sessões de treino de controle do stress. Os resultados mostraram que 98%
encontravam-se na fase de resistência ao stress, 1% em alerta e 1% em
exaustão. Os sintomas físicos foram os mais detectados entre os casais, e o
treino de controle do stress reduziu significativamente os sintomas, assim como o
nível de satisfação conjugal e de crenças irracionais após o treino.
Enfim, a reação de stress e seus efeitos envolvem o cérebro e todas as
outras funções corporais. Pesquisas apontam para o fato de que o stress associa-
se intimamente a algumas doenças. Lipp, Romano, Covolan e Nery (1987)
24
abordam a importância de associar o controle do stress psicológico ao tratamento
médico em algumas doenças, como no caso da hipertensão e psoríase, dentre
outros, os quais muito contribuíram para o avanço das pesquisas sobre stress no
Brasil. A seguir, discorrer-se-á sobre stress ocupacional e trabalho.
25
3 STRESS OCUPACIONAL E TRABALHO
Stress ocupacional é o termo utilizado quando a principal fonte de stress
encontra-se no trabalho. O trabalho ocupa lugar central na vida das pessoas e o
ambiente organizacional é uma forma potencial de stress (COOPER; COOPER;
EAKER, 1988).
França e Rodrigues (2002) perceberam que várias patologias estudadas
hoje pela medicina do trabalho têm intima correlação com o stress. Para Lipp e
Malagris (2001, p. 483), “O stress ocupacional pode ser decorrente de uma
variedade de fontes, algumas delas pertencentes ao ambiente de trabalho e as
condições e outras decorrentes do próprio individuo [...]”.
Diante deste contexto, resta-nos uma pergunta: o trabalho adoece? Seria o
stress essa doença? Na tentativa de uma compreensão mais ampla acerca do
stress ocupacional, foi realizada uma retrospectiva do surgimento da necessidade
do trabalho, formas de convivência e organização, de onde foi possível extrair
alguns dos princípios que estão contidos nas relações entre as pessoas e o
trabalho.
O trabalho pode ser percebido em dois sentidos. Um como sofrimento,
castigo, que demanda esforço e que se faz necessário para sobreviver, seja
produzindo o próprio alimento, moradia e vestimentas, seja trocando ou
comprando mercadorias, e outro como impulso para auto-realização. É a vida em
ação, a essência da própria vida.
Engels (1990) assinala que o trabalho é muito mais do que transformar os
materiais em riqueza; o trabalho é o fundamento da vida, tendo, de certo modo,
criado o próprio homem. Em outras palavras o sentido do trabalho caminha entre
26
a alienação, a tortura do trabalho que virou mercadoria e o vir-a-ser que
representa o homem construindo a si mesmo. A concepção de trabalho como
sofrimento e castigo pode ser encontrado no próprio significado da palavra e em
outros diversos textos, descritos a seguir.
A própria palavra trabalho aparece na etimologia como torturar, derivado do
latim tripalium, referindo-se a um instrumento de tortura. Inicialmente, da idéia de
sofrer, passou-se à idéia de esforçar-se, lutar, pugnar e, por fim, trabalhar;
exercer o seu ofício.
Gonçalves [19--?] descreve a narrativa poética de Ovídio (45 a.C. –17
d.C.), sobre a criação do mundo e do homem. Antes da existência do céu, do mar,
da terra, a natureza apresentava um único aspecto em todo o universo, uma
massa rude e confusa de peso inerte, que teve o nome de caos. Era uma
contradição entre opostos, o equilíbrio e a luta. Um deus ou a própria natureza
pôs fim a essa luta, separou o céu da terra e tirou os quatro elementos: o fogo, o
ar, a terra e água e distribuiu e os ligou em harmonia. Criou o homem dotado de
espírito e capaz de exercer domínio sobre todas as coisas. Na idade de ouro, os
homens cultivavam a justiça e a boa fé. Não havia medo nem castigo. O homem
extraía da terra tudo que era necessário à sua sobrevivência, sem esforço. Na
idade de prata, o ano foi dividido em quatro partes: o inverno, o verão, o outono e
a primavera. Então, o homem sentiu frio, calor, fome e surgiu a necessidade de
abrigo e de trabalhar para se alimentar. Na idade de bronze, as armas
(ferramentas de trabalho), foram confeccionadas, como peças de índole cruel,
porém não criminosas ainda. Já na idade do ferro, o pior metal, logo irromperam
todos os crimes. No lugar da boa fé, do pudor, da verdade, apareceram as
violências, a traição, as maquinações, a inveja, a ganância de possuir. O homem
vivenciou a guerra e manchou a terra de sangue. A noção de trabalho nesse
contexto é o de sofrimento e de ter que trabalhar e tirar da terra o seu sustento,
da ação do homem para extrair da natureza a sua sobrevivência.
Na passagem bíblica do Gênese III: "No suor do teu rosto comerás o teu
pão” – o trabalho que antes não existia passou a ser considerado como uma pena
pela transgressão de Adão e Eva. Criou deus o mundo e todas as coisas, criou o
27
homem à sua imagem e semelhança e o colocou num paraíso de delicias, o
jardim do Éden, para que o homem pudesse usufruir toda a sua maravilha, e
possuir vida plena, com uma única condição: se subordinar ao seu projeto de vida
e fraternidade, não ser auto-suficiente, ocupando o lugar de deus, a fim de não
ser a causa de espécie alguma de opressão e morte. O homem e a mulher
desobedeceram à lei de deus e foram condenados ao trabalho e à morte (BÍBLIA,
1990).
A idéia que aparece subjacente nos contextos anteriormente descritos,
quando o homem estava na idade do ouro e do paraíso bíblico, é a da felicidade
eterna, ligada à satisfação plena das necessidades sem qualquer esforço, e fora
da idade de ouro, expulso do paraíso em que ele – homem – tem que lutar para
sobreviver, o trabalho é percebido como castigo e sofrimento.
O trabalho, executado desde os primórdios da humanidade, passa por
vários estágios na sua forma e na sua organização. No início dos tempos, com
pequenas populações e grandes extensões territoriais, o trabalho era meramente
extrativo para a alimentação, habitação e para o vestuário. Do uso das mãos,
caminhou o homem para a criação de instrumentos de trabalho, indo da pedra
lascada (paleolítico), para a pedra polida (neolítico), à faiscação do fogo, à
alavanca, à roda e, mais tarde, para os metais até a idade do ferro e do aço. Com
a criação dos instrumentos de trabalho e da transição do período simplesmente
extrativo para o período do cultivo e criação, surge a idéia de posse, de domínio,
de propriedade, fosse ela individual, familiar ou comunal, como também o estágio
fundamental para o aparecimento do trabalho organizado. Com o trabalho
organizado veio a utilização do trabalho escravo e, do outro lado, no seio da
população livre, o artesanato. O artesão produzia em pequena escala, os ofícios
eram praticados geralmente no ambiente familiar e passados de pai para filho ou
de mestres a oficiais e aprendizes, mantendo certa hierarquia. O trabalho
artesanal permitia ao trabalhador conhecer todo o processo do trabalho e conviver
com as pessoas que o executavam. Havia maior probabilidade de manifestações
de afetividade. O trabalho era feito geralmente com gosto e até diversão
(CARVALHO, 1977).
28
Na evolução do trabalho do artesanato constituíram-se as corporações - os
artífices eram agrupados em círculos econômicos, onde o trabalho de cada ofício,
cerceado a padrões pré-estabelecidos, passou a ser fiscalizado e até punido.
Com o progresso passa-se da escravatura para a corporação e então para a livre
concorrência.
Para Codo, Sampaio e Hitomi (1993, p. 54), o advento do capitalismo
tornou o homem e o trabalho livres. “Tomar o trabalho e pagar por ele pressupõe
um homem livre e consciente de suas ações”. Torna o homem duplamente
dependente do capital. De um lado, livre para vender sua força de trabalho; de
outro, subordinados ao comércio de produtos necessários à sobrevivência. O
surgimento do capitalismo e os avanços na indústria tornaram mais complexa a
relação do homem com trabalho. Em 1911, o americano Frederick Winslow Taylor
(1856-1915), publicou o livro “Administração científica” onde desenvolveu o
método de estudo de tempo e movimento com o objetivo de aumentar a
produtividade e a eficiência, beneficiando a empresa e o trabalhador pelo seu
êxito. O taylorismo, método de racionalizar a produção, gerou euforia nos
empresários e revolta nos trabalhadores, proporcionou a divisão social do
trabalho, que a levou à divisão das tarefas e conseqüente fragmentação do
trabalho. O trabalhador perdeu o controle sobre sua produção (DAVIES;
SHACKLETON, 1977).
O advento do sistema capitalista veio transformar profundamente a noção
de trabalho. As relações sociais expropriaram do homem o direito sobre o próprio
destino. Destacou-se a separação do trabalhador dos meios de produção, do
produto do trabalho e do conhecimento do processo produtivo. O trabalho,
sinônimo de liberdade, se transforma em perda de si, portanto sofrimento. O
homem perde o significado e o sentido.
No mundo industrializado o trabalho foi fragmentado e massificado. Criou-
se ruptura entre trabalho e afetividade. Lazer e diversão passaram a ser buscadas
fora do horário de trabalho. Evoluindo um pouco mais, no capitalismo
multinacional, o homem passa a depender do mundo inteiro para produção de
bens, a matéria-prima vem de um país, as ferramentas de outro, a montagem é
29
feita num outro ainda. A profecia de Marx e Engels (1975) é cumprida quando o
homem passa a depender de todo o planeta para a satisfação de suas
necessidades.
Toffler (1980), numa perspectiva histórica, dividiu a civilização em três
ondas de mudanças: a revolução agrícola, a revolução industrial e a revolução da
informação.
A primeira onda de mudanças – a revolução agrícola –, simbolizada pela
enxada, começou por volta de 8.000 a.C. e dominou a terra soberanamente até
cerca de 1650-1750 d.C. com o advento da civilização industrial. A civilização da
primeira onda foi e é ainda ligada à terra, vivem escavando e tirando do solo o
seu sustento. Antes da primeira onda de mudança, a maioria dos seres humanos
vivia em pequenos grupos, às vezes migratórios que se alimentavam pescando,
caçando e saqueando ou criando rebanhos. Com o advento da agricultura,
aproximadamente há dez milênios, foram se formando aldeias e povoados. O
vigor desta onda, na atualidade, se exauriu.
A segunda onda de mudança – a revolução industrial –, simbolizada pela
linha de montagem, cuja força dura em torno de cem anos, continua se
expandindo em alguns países ainda basicamente agrícolas, onde o impulso da
industrialização ainda faz sentido. Faz parte desta onda a ciência newtoniana, a
idéia de progresso, uma nova maneira de criar riquezas – a produção industrial –,
a fragmentação do trabalho e a massificação. A economia da força bruta da
segunda onda cria sociedade de massa que refletem e exigem produção de
massa.
A terceira onda de mudança – a revolução da informação –, simbolizada
pelo computador está em pleno desenvolvimento. Teve início na década de 1950,
nos Estados Unidos, quando grande número de computadores, de avião
comercial a jato, do anticoncepcional e outras inovações de grande impacto. A
atividade produtiva central e a capacidade de comando da raça humana estão no
desenvolvimento e na distribuição da informação.
30
Segundo Toffler e Toffler (1996), as nações da terceira onda vendem ao
mundo informação, inovação, tecnologia avançada, software, cultura, educação,
administração, treinamento, assistência médica e financeira, entre outros
serviços. Enquanto terra, trabalho, matérias-primas e capital foram os principais
fatores de produção na segunda onda, a economia fundamental da terceira onda
é o conhecimento. Enquanto antes, uma companhia era valorizada pelos seus
ativos como prédios, máquinas e estoques, na terceira onda reside cada vez mais
na sua capacidade de adquirir, gerar, distribuir e aplicar conhecimento estratégica
e operacionalmente. O conhecimento, além de substituir materiais, transportes e
energia, também economiza tempo, espaço e capital e é inexorável. A economia
da terceira onda, baseada na atividade cerebral, caminha para uma produção
desmassificada – pequenas tiragens de produtos altamente personalizados. O
sistema como um todo é desmassificado.
Ainda segundo Toffler e Toffler (1996), enquanto o trabalho exigia uma
mão de obra de baixa qualidade, preparada para tarefas rotineiras, braçal e
intercambiável, na terceira onda é transformado, é caracterizado por uma
crescente não intercambialidade de mão-de-obra, exige-se cada vez mais
qualificações e com mais urgência. Hoje, as empresas esclarecidas estimulam
seus trabalhadores a tomarem iniciativas e apresentarem suas idéias. As
unidades de trabalho estão cada vez menores; estruturas padronizadas de
organização dão lugar a organizações matriciais, equipes de projetos específicos,
centros de lucros, diversidades de alianças estratégicas; requer integração e
administração mais sofisticada. As vias eletrônicas formam a infra-estrutura da
economia da terceira onda. Todas essas mudanças aceleram o ritmo das
operações e transações, o tempo torna-se uma variável crítica. A informação
movimenta mais rapidamente, assim, a aceleração aproxima as companhias da
terceira onda, cada vez mais, do tempo real.
Continuando ainda nesta linha de pensamento Toffler e Toffler (1996),
assinala que a terceira onda traz em si uma consciência modificada e ampliada,
maneiras diferentes de viver, amar e trabalhar e a idéia de que é possível um
mundo sadio e desejável. Esta civilização é baseada em fontes de energias
31
diversificadas, renováveis; estabelece um novo código de comportamento para o
ser humano e transporta-o para além da padronização, da sincronização e da
centralização, além da concentração de energia, poder e dinheiro. Embora a
aparência seja de destruição, a terceira onda pressupõe que as mudanças
contundentes que sofremos agora não são aleatórias ou caóticas, sem nexo, mas
formam um padrão claramente discernível, bem definido. Parafraseando Smuts
(1926), a humanidade caminha para uma grande síntese.
A idéia que aparece subjacente à terceira onda é que o que se vivencia nos
dias de hoje, o terrorismo, a guerra, a violência, a aniquilação, o desastre
ecológico nuclear, embaixadas incendiadas, o fanatismo racial, a transformação
familiar, a crise econômica política, se percebidos como eventos isolados, podem
ser considerados como instabilidade, colapso, desastre. Se, entretanto, eventos
ou tendências aparentemente desconexos, são percebidos como inter-
relacionados, as mesmas condições que produzem os maiores perigos da
atualidade também abrem novos e fascinantes potenciais. A terceira onda
argumenta que bem no meio da destruição e da decadência podem ser
encontradas provas notáveis de nascimento e de vida. A idéia subjacente neste
texto é de renovação, crescimento e realização.
O que segue agora é uma revolução global, um salto qualitativo; em outras
palavras:
Somos a última geração de uma velha civilização e a primeira
geração de uma nova, que grande parte de nossa confusão
pessoal, angústia e desorientação pode ser diretamente atribuída
ao nosso conflito interno e ao conflito no cerne de nossas
instituições políticas, entre a civilização agonizante da Segunda
Onda e a civilização emergente da Terceira Onda clamando para
assumir o seu lugar. Quando, finalmente, compreendermos isso,
muitos eventos aparentemente sem sentido de repente tornar-se-
ão compreensíveis. Amplos padrões de mudança começam a
emergir claramente. A ação pela sobrevivência torna-se
novamente possível e plausível. Em suma, a premissa
revolucionária libera nosso intelecto e nossa vontade (TOFFLER;
TOFFLER, 1996, p. 21).
Para Silva (1994), o trabalho pode funcionar tanto como fonte de
32
construção, realização, satisfação, riqueza, bens materiais e serviços úteis para o
indivíduo e a sociedade humana, como também pode significar escravidão,
exploração, sofrimento, doença e morte. Se o trabalho responde a estas duas
perspectivas, ou seja, um promotor de saúde ou de doença, Guimarães e Barros
(1999) acreditam que tal fato se deve, entre outros, à organização do trabalho.
Assim como não existe apenas uma forma de se perceber o trabalho,
existem referenciais teóricos e modelos para o estudo da saúde mental do
trabalho, estudo esse voltado para a investigação da relação entre aspectos do
trabalho e a constituição de distúrbios mentais em geral. Estes estudos foram
vinculados a diferentes correntes de pensamentos científicos, descritos a seguir:
a) teoria do stress: formulada pelo endocrinologista Selye, na década de
1930. O embasamento teórico deste modelo provém da fisiologia, de
perspectiva positivista e com a visão behaviorista;
b) psicodinâmica do trabalho para análise dos fenômenos psíquicos e
intersubjetivos que se conectam ao sofrimento mental relacionado ao
trabalho;
c) um modelo que se fundamenta no materialismo dialético, que integra
contribuições da Psicologia Social, da Psicanálise e dos estudos sócios-
históricos. Esta abordagem emerge dos estudos dos processos de
trabalho em que noções de desgaste estão vinculadas à idéia de
consumo do substrato e das energias do trabalhador (SILVA, 1994).
Será comentado, de forma resumida, o enfoque da Psicodinâmica do
trabalho e passar-se-á à teoria do stress, abordagem adotada nesta pesquisa.
As pressões que aparecem como decorrentes da organização do trabalho
são potencialmente desestabilizadoras para a saúde mental do trabalhador;
organização do trabalho é entendida, por um lado, como a divisão do trabalho
(modo operatório descrito), e por outro, como a divisão de homens (repartição de
responsabilidades, hierarquia, controle).
33
O conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento
psíquico pode ser reconhecido como fonte de sofrimento, ao
mesmo tempo como chave de sua possibilidade de análise. Mas o
sofrimento suscita estratégias defensivas (DEJOURS; JAYET;
ABDOUCHELI, 1994, p.43).
Quando a organização do trabalho entra em conflito com o funcionamento
psíquico dos homens, quando estão bloqueadas todas as possibilidades de
adaptação entre a organização do trabalho e o desejo dos sujeitos, então emerge
um sofrimento patológico e, por ser um processo dinâmico, os sujeitos criam
estratégias defensivas para se proteger. Explicar em que consistem estas
estratégias, como elas surgem e evoluem, é o terceiro ponto da teoria.
Para Dejours (1992), a evolução das condições de vida e de trabalho não
estão dissociadas dos desenvolvimentos das lutas e das reivindicações da classe
operária em geral. No século XIX, a luta pela sobrevivência condenava a jornada
excessiva de trabalho; da Primeira Guerra Mundial até 1968, a luta por um corpo
saudável levava a denúncia das condições de trabalho e após 1968 a luta contra
o sofrimento mental, resultado da organização do trabalho, passa a ser o foco
deste terceiro período, que não cabe ser aprofundado nesta pesquisa.
Em um estudo realizado por Palácios, Duarte e Camara (2002) foi discutida
alguma relação entre sofrimento psíquico e trabalho de caixa, em agências
bancárias, onde se compreendeu a participação do trabalho na produção do
sofrimento psíquico. O resultado sugeriu que o sofrimento psíquico é favorecido
pela organização do trabalho que obriga os caixas evitarem as regras de
segurança e não oferecer suporte aos caixas para responder apropriadamente as
demandas dos clientes. O contexto de baixos salários e grandes transformações
favoreceu o isolamento dos trabalhadores, que gerou insegurança com relação ao
futuro e é entendida como falta de reconhecimento, podendo desta forma,
compreender a participação do trabalho na produção do sofrimento psíquico.
França e Rodrigues (2002) definem stress ocupacional como situações em
que a pessoa percebe seu ambiente de trabalho como ameaçador a suas
necessidades de realização pessoal e profissional e/ou a sua saúde física ou
34
mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de
trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a ela, ou
que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações.
O stress ocupacional pode ser decorrente de uma variedade de fontes,
algumas delas pertencentes ao ambiente e as condições de trabalho, e outras da
própria pessoa. As fontes estressoras do ambiente podem ser: chefia autoritária,
falta de apoio dos colegas, horário inadequado, condições físicas inapropriadas
entre outras. As fontes decorrentes da própria pessoa estão relacionadas aos
“[…] eventos [que] adquirem a capacidade de estressar uma pessoa ou não em
função de sua história de vida, o que fará com que haja uma grande variação de
um indivíduo para outro” (LIPP; MALAGRIS, 2001, p. 483).
De acordo com Margis, Picon, Corner e Silveira (2003), frente a uma
situação estressora, o tipo de resposta de cada indivíduo depende, não somente
da magnitude e freqüência do evento de vida estressor, como também de
conjunção de fatores ambientais e genéticos. Mesmo as capacidades individuais
de interpretar, avaliar e elaborar estratégias de enfrentamento parecem ser
geneticamente influenciados.
Independentemente do tipo de estressor, Lipp e Malagris (1995) assinalam
que o stress ocupacional pode gerar impactos para o trabalho e em outras áreas
na vida da pessoa, na medida em que há uma interação entre elas, quando o
indivíduo é tomado como um todo biopsicossocial indivisível. O stress ocupacional
pode contaminar as áreas afetivas e sociais, bem como as relacionadas à saúde,
debilitando-os. Pode ainda levar a pessoa a enfrentar dificuldades que podem
acentuar seu nível de stress, e interferir no seu desempenho, constituindo-se em
mais fonte de stress, como levar a pessoa a reagir com o uso de álcool excessivo
ou de outras drogas como forma de aliviar a ansiedade ou lidar com o senso de
incompetência diante de situações difíceis. Cunradi, Greiner, Ragland e Fisher
(2003), num estudo realizado com motoristas de ônibus urbano, procuraram
correlacionar a contribuição da exaustão emocional com o risco de dependência
de álcool e os resultados indicaram um alto grau de correlação com o stress do
motorista.
35
Em um estudo realizado por Lipp e Tanganelli (2002) averiguou-se o stress
ocupacional de 75 magistrados da justiça do trabalho, níveis de qualidade de vida,
fontes de stress, estratégias de enfrentamento. Verificou-se que 71% deles
apresentavam sintomas de stress, onde 68% deles encontram-se na fase de
resistência e 1,3% na fase de exaustão. A qualidade de vida mostrou-se
comprometida nas áreas social, afetiva, profissional e da saúde. Os estressores
mais freqüentes foram, interferência com a vida familiar e sobrecarga de trabalho
e a estratégia mais utilizada (69%) pelos juízes foi conversar com o cônjuge ou
alguém afetivamente importante. Os dados revelaram um alto nível de stress e a
qualidade de vida aparentemente prejudicada no exercício da magistratura da
justiça do trabalho.
Barros e Nahas (2001) procuraram identificar a prevalência e analisar a
associação entre comportamentos de riscos à saúde e a percepção de stress de
trabalhadores da indústria. Foram coletados dados sobre fumo, abuso de álcool,
consumo de frutas e verduras, atividades físicas, percepção de stress em 4.225
trabalhadores. Os resultados sugeriram níveis elevados de stress e dificuldade
para enfrentar a vida, elevada prevalência do abuso de bebidas alcoólicas e
inatividade física de lazer. Sexo, idade, estado civil, número de filhos, níveis
educacionais e econômicos estiveram significativamente associados à
prevalência de comportamento de risco e ao stress.
Por reconhecer a importância do trabalho na vida dos indivíduos e
identificar as inúmeras influências que o trabalho exerce sobre os mesmos,
diversos modelos teóricos foram desenvolvidos que buscam integrar as diferentes
colaborações que vieram sendo fornecidas ao estudo do stress ocupacional, entre
eles Lazarus e Folkman (1984), Karasek (1979) e Cooper, Cooper e Eaker (1988).
Lazarus e Folkman (1984, p. 19) desenvolveram um modelo de stress e
coping que se tornou bastante influente. Definem o stress como “[...] uma relação
particular entre a pessoa e o ambiente, que é avaliada pela pessoa como
onerando ou excedendo seus recursos e colocando em risco o seu bem-estar”.
Para esses autores, não é apenas o tipo de estressor que determina o
desenvolvimento do stress, as atividades cognitivas, usadas pelo indivíduo para
36
perceber e interpretar evento ambiental são fundamentais. A experiência de
stress é, então, pessoal e subjetiva, e depende de como a pessoa avalia os
eventos que encontra.
O modelo de Lazarus e Folkman (1984) considera como mediadoras da
relação pessoa-ambiente, as seguintes fases:
a) avaliação primária em que, a partir do ponto de vista do seu bem-estar, a
pessoa avalia se o acontecimento é irrelevante, positivo ou estressante;
b) avaliação secundária, que é um julgamento relativo ao que pode ser feito
(estratégia de coping);
c) reavaliação, que é uma avaliação modificada, baseada em novas
informações advindas do ambiente e/ou levantadas pela própria pessoa;
d) coping, que se refere aos esforços cognitivos e comportamentais,
utilizados pela pessoa para administrar exigências internas e/ou
externas específicas, que ultrapassem seus próprios recursos.
Ainda para Lazarus e Folkman (1984), as respostas espontâneas,
involuntárias, que surgem numa situação estressora caracterizam o stress e
qualquer empenho em se lidar com o estressor é uma resposta de coping,
independentemente do sucesso ou fracasso obtido e classificam em dois tipos
principais de estratégias: coping centrado no problema; e coping centrado na
emoção. Equivalem a duas grandes funções: modificar a relação pessoa e o
ambiente, solucionando, controlando ou alterando o problema causador de
distress (enfrentamento centrado no problema) e modificar condições emocionais
momentâneas por meio de medidas que atingem a área somática, como tomar
um tranqüilizante ou ingerir álcool ou medida de efeito emocional, como se
entregar a fantasias, isto é, adequar a resposta emocional ao problema
(enfrentamento centrado na emoção). Os mecanismos de coping instalam-se ao
longo do desenvolvimento humano e dependem de respostas do indivíduo às
variáveis da situação.
37
Para Troccoli, Pinheiro e Tamayo (2003), coping pode ser diferenciado pela
forma como as pessoas comumente reagem ao stress em ambiente ocupacional
e que estilos de coping envolvem cognições e intenções de comportamentos de
controle de conteúdo escapista ou de manejo de sintomas.
Troccoli, Seidl e Zannon (2001) mencionam que as respostas ou
estratégias de enfrentamento tem sido classificadas quanto à função em suas
categorias: enfrentamento focalizado no problema, que são em geral, estratégias
ativas de aproximação em relação ao estressor, como solução de problemas e
planejamento e, enfrentamento focalizado na emoção que representam atitudes
de afastamento ou paliativos em relação a fonte de stress, como negação ou
esquiva. Essas estratégias podem ser utilizadas simultaneamente, dependendo
da situação estressora. Parece ser o caso da prática religiosa encontrada nos
resultados da pesquisa dos autores citados anteriormente, em que os dados
permitiram concluir que, o enfrentamento relacionado à religião pode estar
associado tanto à estratégia orientada para o problema como orientada para a
emoção.
Karasek (1979) desenvolveu o Modelo Exigência-Controle (Demand-
Control), de enfoque social, emocional e fisiológico, que se centra em duas
características psicossociais no trabalho: o controle sobre o trabalho e a demanda
psicológica advinda do trabalho. A partir da combinação dessas duas dimensões,
o modelo distingue situações de trabalho específicos que estruturam riscos
diferenciados à saúde.
Segundo Karasek, Baker, Maxer, Ahbom e Theörell (1981) as pesquisas de
stress, apresentavam-se no modelo de Selye que previa stress a partir da relação
entre demandas e a capacidade do indivíduo, sendo omitido na análise dos
processos de produção de stress, o controle no trabalho. Considerando limitado
tal enfoque, propôs um modelo baseado na abordagem simultânea de controle e
demanda. O controle no trabalho refere-se a aspectos referentes ao uso de
habilidades e autoridade decisória e a demanda psicológica se refere ás
exigências psicológicas que o trabalhador enfrenta na realização das suas
tarefas, como pressão de tempo, nível de concentração requerida, entre outros.
38
Na proposta teórica do Modelo Exigência-Controle, é possível correlacionar
exigência psicológica com a atitude de tomada de decisão ou margem decisória
(controle), e obter-se a análise de risco de tensão psicológica e doenças que
podem estar relacionadas ao stress, como também a motivação, aprendizagem
de novos comportamentos e crescimento, satisfação no trabalho e o grau de
ativação dos trabalhadores.
A primeira hipótese deste modelo é de que, quando as exigências
psicológicas do posto de trabalho são muito altas e as margens decisórias são
muito baixas, podem produzir reações de tensão psicológica mais negativas,
como ansiedade, depressão, fadiga e doenças físicas. A tensão psicológica
ocorre quando a situação de trabalho exige mais do que a resposta construtiva de
atuação, quando se exige do indivíduo uma condição maior do que a que ele
possui para enfrentar o estressor, principalmente quando é experimentado de
uma maneira negativa (KARASEK et al., 1981).
Segundo ainda os autores Karasek et al. (1981), um trabalho é considerado
estressante quando consistem simultaneamente em “impor exigências e criar
restrições ambientais sobre a capacidade de resposta do trabalhador”. Desta
forma, a tensão surge das características do trabalho e não da percepção
subjetiva do trabalhador, razão pela qual, neste modelo de Exigência-Controle,
não há preocupação em medir fatores de personalidade ou estressores externos
ao trabalho, uma vez que considera os fatores ambientais como determinantes do
stress. Desta forma, se há controle sobre o trabalho por parte do trabalhador, os
estressores do trabalho podem atuar como completas decisões humanas em
matéria de organização e não como uma ameaça para os trabalhadores. Já a
falta de controle pode levar a risco de tensão psicológica e doenças físicas.
Em um estudo realizado por Araújo, Graça e Araújo (2003) objetivaram
apresentar as bases teóricas e metodológicos do modelo demanda-controle e
discutir sua capacidade para identificar diferentes situações de trabalho no
contexto brasileiro. Os resultados encontrados apontaram boa capacidade do
modelo demanda-controle para identificar diferentes situações de riscos à saúde
mental dos trabalhadores. Aspectos relacionados à demanda psicológica do
39
trabalho estavam mais associados a elevadas prevalências de distúrbios
psíquicos menores do que os aspectos referentes ao controle.
Oliveira (2000) analisa as estratégicas de superação do stress em
psicólogos de instituições hospitalares em Natal-RN, com 30 participantes que
atuam em hospitais não psiquiátricos com o objetivo de avaliar as dimensões de
confronto e de evasão. Os resultados indicaram predominâncias da dimensão
confronto do que da evasão e não foram encontradas diferenças significativas
entre variáveis sócio-demográficas e respostas de coping.
Cooper, Cooper e Eaker (1988, p. 11-2) definem stress ocupacional “[...]
como qualquer força que conduz um fator psicológico ou físico além do seu limite
de estabilidade, produzido uma tensão no indivíduo”. No ambiente organizacional,
todos os elementos ou situações que influenciam o surgimento do stress no
individuo podem ser considerados fontes de pressão, independente do grau com
que elas afetam. Os agentes ocupacionais potencialmente estressores foram
divididos em seis conjuntos abrangentes: fatores intrínsecos ao trabalho, papel do
indivíduo na organização, inter-relacionamento, carreira e realização profissional,
clima e estrutura organizacional e interface trabalho/casa, descritos a seguir:
a) os fatores intrínsecos ao trabalho envolvem condições de trabalho
empobrecidas, jornadas extensas de trabalho, jornada noturna,
sobrecarga ou monotonia no trabalho, novas tecnologias, riscos ou
perigos no ambiente de trabalho;
b) o papel do indivíduo na organização preocupa-se com as
responsabilidades inerentes ao desenvolvimento do trabalho, como o
nível de responsabilidade em relação às pessoas ou objetos da
organização, com a identificação de ambigüidades e conflitos de papéis
no contexto de trabalho;
c) com relação à carreira e a realização, é proposto que se examine a falta
de segurança no trabalho gerada muitas vezes por aposentadoria
precoce, a incoerência de status;
40
d) os inter-relacionamentos, como fontes estressoras, podem ser: as
pressões exercidas ou a falta de consideração por parte dos superiores,
a falta de suporte social, o isolamento, a rivalidade, conflitos e falta de
cooperação por parte dos subordinados, entre outros;
e) com relação ao clima e estrutura organizacional, é proposto investigação
de aspectos que ameacem a individualidade, identidade, liberdade e
autonomia, como a falta do senso de pertencer, a falta de participação e
as restrições do comportamento no trabalho.
Salientam ainda Cooper, Cooper e Eaker (1988), que não se pode esperar
que determinados estressores em uma situação de trabalho atinjam, de formas
homogêneas diversas pessoas, uma vez que os impactos das fontes de tensão e
stress nos indivíduos dependem das características próprias de cada um. O
resultado do stress no trabalho é explicado pelos estressores ocupacionais
juntamente com as diferenças individuais.
Neste modelo citado anteriormente, há lugar ainda para o conceito de
vulnerabilidade individual, que é tido como moderador do stress: personalidade
tipo A, que caracteriza indivíduos com urgência de tempo, altamente competitivo,
impaciente e lócus de controle, que se refere ao grau de responsabilidade pessoal
que o individuo atribui as suas experiências vividas, suporte social para resolução
de problemas e estratégias de enfrentamento.
Cooper, Cooper e Eaker (1988) desenvolveram um instrumento para
avaliar o stress ocupacional, o Occupational Stress Indicator (OSI), que engloba
agentes estressores, características pessoais, manifestações individuais e
organizacionais, bem como estratégias de combate ao stress.
Moraes, Ferreira e Rocha (2004), baseados no modelo de Cooper, Cooper
e Eaker (1988), realizaram uma pesquisa junto à policia militar do estado de
Minas gerais, com o objetivo de estudar a qualidade de vida no trabalho e stress
ocupacional. Como resultado constatou-se a existência de importantes níveis de
stress entre os membros da corporação, decorrentes de uma elevada insatisfação
41
em relação à instituição do trabalho e importante nível de satisfação com o
trabalho em si implicando em significativa qualidade de vida no trabalho.
Vieira (2001) realiza um estudo em enfermeiros de um hospital universitário
visando identificar as características sócio-demográficas e as fontes de stress
ocupacional. Tratou-se de um estudo descritivo-comparativo onde foi estudada
uma amostra de 127 participantes. O instrumento utilizado foi o Occupational
Stress Indicator. Embora na amostra existisse alta propensão ao stress, os níveis
de stress ocupacional encontrado foram baixos. Nos enfermeiros que
apresentaram stress, as fontes estavam relacionados a insatisfação com a
organização do trabalho, com a personalidade tipo A e com saúde física e mental
deficitárias.
França e Rodrigues (2002) comentam que o modelo de Lazarus e Folkman
(1984) parece atribuir um maior peso relativo aos fatores de ordem individual, via
avaliação cognitiva; no contato, enfatizam o caráter transacional da relação entre
pessoa e ambiente e a importância das imposições ambientais na gênese do
processo de stress (isto é, o stress depende, em parte das exigências sociais e
físicas impostas). O modelo de Karasek (1979) focaliza os aspectos psicossociais
ambientais, e o modelo de Cooper, Cooper e Eaker (1988) focalizam tanto os
aspectos ambientais como os individuais, abrangendo um número maior de
variáreis. Diferentes modelos têm sido propostos por vários pesquisadores, cada
um com seu modo de visualizar o ser humano, incorporando uma multiplicidade
de fatores neurofisiológicos e psicossociais, gerando críticas e propostas dos
modelos de stress, ampliando o conhecimento sobre ele.
Chanlat (1990, p. 123), ao comparar os modelos de stress com as
contribuições da psicopatologia do trabalho de Dejours, Jayet e Abdoucheli
(1994), menciona que a corrente de stress “[...] muitas vezes reduz os problemas
dos trabalhadores a um nível estritamente individual [...]” e acrescenta que se
houvesse diálogo entre essas duas abordagens ambas se beneficiariam.
França e Rodrigues (2002, p. 70) acrescentam que:
42
Esses modelos se beneficiariam da interlocução com as pessoas
que realizam o trabalho e que poderiam surgir inúmeros
indicadores muito próprios da situação do trabalho em que vivem
e que não seriam previstos a priori pelos esforços de
desenvolvimento teórico. Da mesma forma os modelos de
intervenção qualitativa se beneficiariam da introdução de fatores
que talvez não tenham sido percebidos pelos trabalhadores e que
podem ter relação clara com o desenvolvimento do stress
ocupacional.
Para Albrecht (1990, p. 136), os estressores estão no meio ambiente, o
stress está na pessoa. Define os estressores como “[...] qualquer elemento
tangível ou inatingível - das interações da pessoa com seu ambiente, que a leve a
sentir um nível significativo de stress”. O autor classifica os estressores na
situação de trabalho em três categorias: fatores físicos, fatores sociais e fatores
emocionais. Os fatores físicos são os aspectos do ambiente pessoal imediato,
como o calor, frio, barulho, umidade, radiação, animais perigosos, máquinas
perigosas, entre outros. Os fatores sociais são os ligados ao relacionamento do
indivíduo com outras pessoas, como sua família, colega de trabalho, clientes,
grupo de pessoas. Os fatores emocionais são os aspectos abstratamente
percebidos, na relação do empregado com o ambiente, que levam à frustração, à
apreensão, à raiva, à ansiedade e/ou outras emoções causadas pelo stress.
Albrecht (1990) considera a organização empresarial como um sistema
social formado por seres humanos reais, com sentimentos, pensamentos e
comportamentos concretos, bem como um sistema técnico com capital, materiais
e os fatores de produção a eles associados. Ainda para o mesmo autor, um
modelo ecológico da saúde e do bem-estar ocupacional do ponto de vista dos
objetivos da organização é o de uma pessoa que trabalha produtivamente quando
trabalha com alta capacidade, em tarefas que valem a pena serem executadas e
com competência aceitável. Do ponto de vista dos próprios objetivos da pessoa,
ela está trabalhando produtivamente quando faz o descrito anteriormente e
recebe uma remuneração compatível, mantendo-se dentro da sua zona de
conforto, pessoalmente definida em termos de pressão, stress e desafio.
Segundo ainda Albrecht (1990) explica as principais variáveis da satisfação
43
geral no trabalho, que leva ao equilíbrio entre stress e recompensa, na maioria
das pessoas são: cargas de trabalho, variáveis físicas, status do trabalho,
prestação de contas, variedade das tarefas, contato humano, desafio físico e
desafio mental.
Fontana (1991, p. 15) menciona que o stress depende tanto das exigências
externas como da nossa capacidade pessoal de reagir a ele, isto é, “O fato de nos
sentirmos estressados ou não depende não apenas das circunstâncias, mas
também de nós mesmos”. O autor divide os estressores profissionais em gerais,
específicos e aqueles relacionados com as tarefas.
Os estressores profissionais gerais são considerados tudo o que está fora
do cargo imediato e das responsabilidades decorrentes dele, mas que
influenciam, de maneira significativa, o modo como tenta resolvê-los, como os
problemas organizacionais, o apoio insuficiente, longas ou insaciáveis horas,
status baixo, perspectiva de remuneração e promoção, rituais e procedimentos
desnecessários, incerteza e insegurança.
Os estressores profissionais específicos são os localizados, os ligados
mais diretamente às tarefas que devem ser executadas. São as especificações de
cargo indefinidas, conflitos de cargos, expectativas elevadas, incapacidade para
influenciar a tomada de decisões, choques freqüentes com os superiores,
isolamento do apoio dos colegas, excesso de trabalho e pressões de prazo, falta
de variedade nas tarefas, má comunicação, liderança inadequada, conflito com os
colegas, incapacidade para finalizar um trabalho e enfrentamentos
desnecessários.
Os estressores relacionados com as tarefas são aqueles que surgem das
tarefas do dia-a-dia na realização do trabalho, são fatores ligados à execução do
trabalho. Os mais freqüentes são o treinamento insuficiente, clientes ou
subordinados difíceis, envolvimento emocional com clientes ou subordinados, as
responsabilidades do cargo e a incapacidade para ajudar ou agir de forma eficaz.
Ainda com relação ao stress, cujos estressores são internos, isto é, que
44
dependem da nossa avaliação cognitiva, o autor sugere “Colocar a mente
inteiramente na experiência de nossa vida, momento a momento, ao mesmo
tempo em que as vivemos” (FONTANA, 1991, p. 121).
Couto (1987, p. 16) aprofundou seus estudos sobre stress dos gerentes e
executivos. Define stress ocupacional como um estado em que ocorre um
desgaste anormal na máquina humana e/ou uma diminuição da capacidade de
trabalho, ocasionada, basicamente, por uma incapacidade prolongada do
indivíduo tolerar, superar ou se adaptar às exigências da natureza psíquica
existentes no seu ambiente de vida. Em suma, “Stress ocupacional é um conjunto
de sinais e sintomas devido à má adaptação a uma realidade”.
Ainda segundo Couto (1987), o estado de stress e stress ocupacional
decorre da interação desfavorável entre as exigências psíquicas do meio e a
estrutura psíquica do indivíduo, e para elimina-los existem duas alternativas:
reduzir as exigências de natureza psíquica ou melhorar sua estrutura psíquica
para enfrentar os agentes estressantes. Os agentes estressantes são fatos
comuns no dia-a-dia, alguns deles são por natureza negativa e a maioria neutra, e
os estressores neutros tornam-se estressantes quando a pessoa não tem controle
sobre o processo, quando não há previsibilidade sobre as conseqüências e
quando não se está apto para arcar com as responsabilidades exigidas.
Couto (1987) menciona ainda que exercícios físicos, tempo para lazer,
dietas, técnicas de relaxamento, religião, gritar e bater em alguma coisa, o uso de
remédios, álcool ou drogas mais pesadas como a cocaína, são formas de diminuir
transitoriamente as tensões, mas que essas formas de catarses não contribuem
para a superação do problema. Para superar o stress, o autor citado
anteriormente sugere como melhor tratamento: “luta cognitiva”, isto é, conhecer o
mecanismo do stress, conhecer suas conseqüências e suas causas, e adotar
medidas pessoais de superação desses fatores. Como isto nem sempre é fácil e
possível, sugere também a busca de um profissional especializado em
psicoterapia.
Covolan (1984) investigou o stress ocupacional do psicólogo clínico com o
45
objetivo de identificar os sintomas, as fontes e as estratégias utilizadas. O
resultado obtido foi que 61% dos participantes consideraram a profissão pouco
estressante e 32% deles muito estressante. Dentre as variáveis estudadas ter
outra atividade profissional, ou seja, ter sobrecarga de trabalho foi considerado
muito estressante. Verificou-se também que os psicólogos clínicos utilizavam–se
de estratégias como atividades sociais, entretenimentos e atividades mais
relaxadoras para lidar com stress.
Reinhold (1984) buscou levantar em um estudo exploratório, as principais
fontes e sintomas de stress ocupacional em uma amostra de 72 professoras no
interior paulista. Mais da metade das professoras consideraram sua profissão
muito ou muitíssimo estressante, sendo que as professoras com tempo de
magistério acima de 20 anos revelaram apresentar maior nível de stress.
Oliveira (2003) realizou uma pesquisa em uma amostra de professores de
ensino médio na rede particular de educação objetivando verificar os fatores
estressantes decorrentes do exercício laboral, a sintomatologia e a estratégia de
enfrentamento comumente utilizada. Dos 14 professores investigados, 71,4%
deles apresentaram stress e os principais sintomas se deram na área física.
Detectou-se também que professores atuando há 20 anos ou mais apresentaram
níveis de stress mais elevados. Não foi possível estabelecer uma relação direta
entre a presença de stress quando relacionada ao gênero, a faixa etária e o
número de filhos.
Angerami e Camelo (2004) objetivaram investigar os sintomas de stress
nos trabalhadores atuantes em cinco núcleos de saúde da família. Foi utilizado o
Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL-2000). Constatou-se
a presença de stress em 62% dos trabalhadores, sendo que 83% deles estavam
na fase de resistência e 1,7% na fase de quase-exaustão. Houve predominância
de sintomas psicológicas em 48% dos participantes, de sintomas físicos em 39%
e igualdade de sintomas em 13% desse grupo de trabalhadores.
Bueno (2000) procurou averiguar a incidência de stress em um grupo de
profissionais da área médica, sua sintomatologia, fontes estressoras
46
ocupacionais, estratégias de enfrentamento de stress e a ocorrência de acidentes
de trabalho. Vinte e três profissionais responderam uma bateria de instrumentos
de coleta de dados. Os resultados obtidos foram a presença de stress em 65%
dos médicos, a sintomatologia predominante foi a psicológica. As fontes mais
citadas foram: ter condições de trabalho de má qualidade; receber salário
insuficiente e inadequado pela responsabilidade que tem; sentiu-se incapacitado
de realizar uma ação eficaz em determinada situação de trabalho; possibilidade
de causar a morte de alguém ou ver pessoas mortas no exercício de sua
profissão e ter sobrecarga de trabalho. As estratégias mais utilizadas pelo grupo
se referiam ao apoio familiar, refeições balanceadas; fazer algo que goste para
benefício próprio; ter um lugar em casa para relaxar e exercer um passa-tempo.
Mais da metade dos profissionais relataram ter sofrido acidentes de trabalho.
Matos (2000) realizou um estudo sobre stress do professor em Rondônia.
Investigou as fontes de stress que incidem no ambiente de trabalho universitário,
os problemas de saúde existentes e as estratégias de coping. Na coleta de dados
foi utilizado o Inventário baseado no Faculty Stress Index de Gmelch e
colaboradores em 87 profissionais. Os resultados indicaram um valor acima da
média de stress, com a seguinte distribuição das fontes de stress:
compensação/reconhecimento, relacionamento com os colegas, identidade
profissional, atividades burocráticas e desempenho docente. Constatou-se a
existência de associação positiva entre o grau de stress sentido e os problemas
de saúde apresentados pelos docentes. Os problemas de saúde mais freqüentes
seriam os osteomusculares, dermatológicos e sobrecarga nervosa. As estratégias
de coping mais utilizadas foram as que buscam evitar lidar diretamente com os
problemas.
Em um estudo realizado por Murta e Troccoli (2004), teve como objetivo
identificar fontes de satisfação e insatisfação para um programa em manejo de
stress ocupacional baseado no modelo cognitivo-comportamental onde 210
trabalhadores de um hospital participaram de 24 sessões de desenvolvimento de
estratégias individuais de enfrentamento ao stress. Os relatos verbais foram
anotados e o resultado indicou que as fontes principais de satisfação foram:
47
técnica e instrumentos usados, temas discutidos, suporte social, aprendizagem de
habilidades sociais, sentimentos agradáveis e o desenvolvimento de habilidades
de solução de problemas. A principal fonte de insatisfação foi relativa à curta
duração das sessões. A análise qualitativa do programa revelou um processo
terapêutico potencialmente favorecidos de impacto positivo sobre a saúde.
A avaliação da eficácia da intervenção psicológica também foi objeto de
estudo de Tanganelli (2001), que investigou 104 mulheres chefe de família. O
resultado indicou que 68% das mulheres se encontram na fase de resistência do
stress, com prevalência dos sintomas psicológicos. Os estressores mais
mencionados por elas foram a sua situação econômica, os filhos e o trabalho. As
estratégias utilizadas não se mostraram eficazes para controlar os sintomas de
stress. A fim de se avaliar a eficácia da intervenção psicológica, foi realizado um
estudo em dois grupos compostos de 10 mulheres cada um e participantes da
pesquisa, sendo que um grupo recebeu um treino de controle de stress e outro
não. Após a intervenção do primeiro grupo e a pura passagem do tempo do
segundo, foi realizada uma reavaliação de stress nos dois grupos, e observou-se
que o grupo que sofreu a intervenção do controle de stress apresentou uma
redução muito significativa nos seus níveis de stress, quando comparado ao
grupo que sofreu apenas a passagem do tempo.
O estudo dos fatores que levam ao stress ocupacional e a influência do
mesmo na gênese das doenças em geral têm recebido grande ênfase por parte
dos pesquisadores. Os vários modelos de estudos de stress ocupacional,
apresentados aqui, permitem verificar a complexidade do processo de stress e
suas múltiplas determinações e a lenta e difícil tarefa dos pesquisadores para
obterem uma aproximação teórica adequada e em relação ao fenômeno stress.
No entanto, considera que qualquer tentativa na direção do entendimento através
de estudos e pesquisas, constitui um elemento de partida para a compreensão do
processo de stress ocupacional e, conseqüentemente, o estabelecimento de
estratégias de enfrentamento para superá-lo.
48
Quando persiste a inabilidade para lidar com stress ocupacional, ocorre o
seu prolongamento, a sua cronicidade, tem-se a possibilidade de instalação da
síndrome de burnout.
3.1 SÍNDROME DE BURNOUT
O burnout quase nunca é notado nos estágios iniciais. É uma erosão
gradual de desenvolvimento lento e cumulativo, podendo surgir repentinamente,
raramente é agudo. Trata-se de uma condição crônica, que pode se desenvolver
por semanas, meses e até anos. Acomete profissionais, na sua maioria com alto
grau de contato interpessoal, de ambos os sexos, e em distintas faixas etárias,
pessoas competentes, auto-suficientes e que ocultam bem suas fraquezas, após
dez a quinze anos de atividade profissional. “[...] a inabilidade para lidar-se com o
estresse, haverá seu prolongamento, sua cronicidade e portanto poderá ocorrer o
burnout” (GUIMARÃES, 2000, p. 37).
Segundo França (1987), os profissionais atingidos pelo burnout são
pessoas que se dedicam profundamente ao seu trabalho, não sabem dizer não,
se ocupam com várias causas ao mesmo tempo e que retiram do trabalho grande
parte da sua satisfação pessoal. Paradoxalmente, essas características são as
mais valorizadas pelos departamentos de pessoal.
Carlotto (2002), através de uma revisão de literatura, chegou à conclusão
que, atualmente, a definição mais aceita do burnout é a fundamentada na
perspectiva social-psicológica, sendo esta constituída de três dimensões:
exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.
Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) definem as três dimensões da síndrome:
exaustão emocional é a dimensão que mais se aproxima da primeira variável de
stress, é caracterizada por uma carência de energia e de entusiasmo e apresenta
um sentimento de esgotamento de recursos emocionais; despersonalização, que
se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a organização como objeto, de uma
forma desumanizada; e diminuição da realização pessoal no trabalho, que se
49
expressa através da tendência do trabalhador em avaliar negativamente o seu
desempenho, sentimentos de infelicidade e insatisfação com seu
desenvolvimento profissional.
Em uma pesquisa realizada por Araújo (2001), foi analisado a incidência de
burnout e comprometimento de saúde na equipe de enfermagem de um hospital
geral e de ensino, situado em São Paulo. Dos 128 participantes entrevistados,
3,1% apresentaram burnout, sendo 9,4% de exaustão emocional e
despersonalização elevados concomitantemente e 24,2% de exaustão emocional
elevado. Os resultados sugeriram a necessidade do suporte social aos
trabalhadores da saúde, também como estimular as estratégias de enfrentamento
no sentido de otimizar as questões funcionais.
Kleinman e Atoom (1979 apud COVOLAN, 1984) relatam que a síndrome
pode ocorrer em diferentes profissões em qualquer faixa etária, embora existam
algumas ocupações que apresentam um alto índice de burnout, em geral são
aquelas que requerem um alto grau de contatos interpessoais como professores,
assistentes sociais, conselheiros, médicos, telefonistas, advogados e motoristas
de ônibus.
50
4 STRESS DO MOTORISTA
Poucos são os estudos relacionados ao trabalho dos motoristas no
transporte coletivo por ônibus urbano, se comparados com outras categorias
profissionais e tais estudos existentes, na sua maioria, procuram estabelecer
relações entre as condições de trabalho e o adoecimento desse profissional.
Menor ainda é o número de pesquisas sobre stress ocupacional do motorista de
ônibus urbano no Brasil. Dado a importância do serviço de transporte coletivo
para a comunidade, e de acordo com Lipp e Novaes (2000), o stress pode ser um
dos maiores fatores de risco para a vida e para a qualidade de vida de todos,
adultos ou crianças. A pessoa estressada não se sente bem, não consegue
produzir de acordo com o seu potencial, não interage com as pessoas a seu
gosto, não ama com liberdade necessária, perde a motivação, pode adoecer e até
morrer.
Com o aumento da urbanização, grande parte da população depende do
transporte coletivo para satisfazer suas necessidades básicas. Nas grandes
cidades, para a realização de algumas atividades consideradas essenciais, como
trabalho, saúde e educação, ligada as condições de vida e aos direitos dos
cidadãos, às vezes se faz necessário, a utilização de outro serviço essencial que
são os transportes disponíveis.
Souza (1996), ao refletir sobre a importância do transporte coletivo, refere-
se a duas questões que devem ser compartilhadas e não antagonizadas: a
preservação do direito social ao acesso a um transporte de boa qualidade e
acessível, e também a preservação do direito dos trabalhadores à sua saúde. Um
motorista estressado pode significar um maior índice de acidente envolvendo
usuários, como também aumento de risco de problema de saúde do motorista.
51
Mendes (1999) discute que, no transporte coletivo, o comportamento do
motorista é de grande importância, por tratar de uma atividade essencial à
população e de significativa responsabilidade. Falhas no trabalho podem acarretar
acidentes e prejudicar a vida de um grande número de pessoas.
Os estudos a respeito das condições de trabalho, e as respectivas
patologias do motorista de transporte coletivo, são recentes e realizadas por
áreas de conhecimentos diversificados, explicitando a interdisciplinaridade do
assunto. Dentre as contribuições à compreensão do tema, sobressaem os
estudos da ergonomia, a epidemiologia, a psicodinâmica entre outros.
Para Mendes (1999), dentre os estudos que levam em conta os aspectos
relativos à organização do trabalho, destacam-se os fatores ligados ao desgaste
mental ou psíquico: trabalhos em turnos alternados, trabalho noturno, ritmos
excessivos, fragmentação de tarefas, desqualificação profissional, exposição a
riscos e o impacto de novas tecnologias.
Em um estudo realizado por Meijman e Kompier (2003), foi diagnosticado
que, entre as demandas psicossociais mais importantes para o motorista de
ônibus, estão seguir horários, atender passageiros e dirigir com segurança.
Albright, Winkleby, Ragland e Fisher (2004) pesquisaram 1.396 motoristas
de ônibus que foram submetidos a exames físicos: peso, altura, pressão
sangüínea e histórico médico. O estudo completou com um questionário
avaliando seu horário de trabalho, hábitos pessoais, sua autopercepção sobre as
demandas de trabalho e a latitude de tomada de decisões. Foram encontrados
baixos níveis de demanda no trabalho e o stress foi associado com uma alta
prevalência da hipertensão. Após o controle de doze variáveis consideradas como
perturbadoras no ambiente de trabalho, a associação entre o stress ocupacional e
hipertensão tornou-se insignificante.
David (2004) criticou o artigo escrito por Albright, Winkleby, Ragland e
Fisher em 1992, comentando que este estudo foi restrito a profissionais que eram
conhecidos por ter características intrínsecas de stress e estudos desta natureza;
52
a associação entre stress percebido e a hipertensão pode somente ser
demonstrada em trabalho sem stress intrínseco significativo.
Evans e Carrere (2003) realizaram uma pesquisa com 60 motoristas de
ônibus urbano, com idade de 21 a 63 anos. Foi observado uma elevação do nível
de catecolamina urinária nos momentos de picos do tráfego (congestionamentos)
e este resultado continuou, mesmo após terem sido incorporados vários controles
de fatores, como tempo de trabalho do motorista e parâmetros de saúde como
idade, se fumante ou não, entre outros. Neste estudo houve correlação entre o
congestionamento de tráfego e o stress psicofisiológico do motorista.
Evans, Johansson e Rydstedt (2004), após a observação dos resultados de
várias pesquisas e conclusão de que dirigir ônibus urbano era extremamente
estressante, causando sérios riscos à saúde, realizaram uma pesquisa com o
objetivo de verificar se o stress do motorista seria observado em operadores de
ônibus de dois turnos, em linhas experimentais. No início de cada turno, eram
tiradas medidas de pressão, batimentos cardíacos e o stress percebido foram
comparados ao do final do turno. Observações foram anotadas. Houve
indicadores de stress nos dois grupos observados, porém nos do grupo controle,
o nível de stress foi menor. Resultados possibilitaram concluir que uma relação da
pressão do trabalho parece explicar um efeito positivo no stress dos motoristas.
No Brasil, destaca-se a pesquisa minuciosa realizada no Rio de Janeiro por
Ramos (1991), sobre as condições de trabalho do motorista de transportes
coletivos por ônibus urbano. As principais queixas encontradas foram: falta de
manutenção dos veículos, inexistência de condições sanitárias, pausa de
descanso inadequada e trânsito.
Na área da psicologia social, analisou-se a penosidade na realização do
trabalho dos motoristas de transporte coletivo por ônibus urbano na cidade de
São Paulo, encontrando vários elementos e situações específicas presentes que
determinavam um trabalho penoso para este profissional e concluiu que o
trabalho do motorista de ônibus se inclui dentre as poucas profissões
reconhecidas como penosas. Sato (1991, p. 55) define a penosidade não
53
simplesmente como exigência de esforços que provoquem incômodos e
sofrimentos, mas:
A penosidade existe quando os esforços exigidos pelo trabalho
provoquem incômodo e sofrimento que ultrapassem o limite
suportável. A violação do limite suportável dá-se quando sobre
esses esforços, sentidos como demasiados, o trabalhador não
tem controle.
Souza (1996) realizou o trabalho de investigação: “Risco de distúrbios
psiquiátricos menores entre motoristas e cobradores do sistema de ônibus urbano
no município de São Paulo”, onde concluiu que as situações de maiores
incômodos são as responsabilidades financeiras, tais como pagar multas de
trânsito, peças quebradas do ônibus, consertos decorrentes de colisões ou
acidentes com o ônibus, o trânsito em si, bancos sem regulagens, horas de sono,
procedências e escala de trabalho. Abordou, também, neste estudo, as questões
relativas ao stress.
Em uma pesquisa de coletivos de ônibus urbano em Buenos Aires, Cohen
(1996) estudou um conjunto de causas psíquicas que poderiam levar os
motoristas a um estado de stress e conseqüentemente ao absenteísmo. Foi
utilizada, descrição minuciosa dos traços característicos dos motoristas e aplicada
uma abordagem grupal de curta duração para situações de crises, de valor
terapêutico e de aprendizagem, para a população específica de motoristas. Os
resultados superaram as expectativas antes mesmo do término da experiência.
Watanabe (1996), em estudo a respeito de formas de manifestação e de
regulação de conflitos na cidade de Belo Horizonte, constatou que as fontes de
conflito relativas às condições de trabalho são: aspectos ergonômicos (calor do
motor, fumaça, iluminação, barulhos diversos, condições climáticas), condições
do ônibus (idade, manutenção, marcha, embreagem) falta de horário para
refeição, tipo de passageiro, falta de segurança (assaltos) e ainda a não aceitação
de atestados médicos pelas empresas. Constatou, ainda, que, a grande maioria
dos trabalhadores entrevistados sentia-se perseguida e desvalorizada por
usuários, patrão, guarda de trânsito, empresa, sociedade em geral.
54
Em Belo Horizonte, Mendes (1999) realizou uma análise de estudo de caso
específica das condições de trabalho do motorista, em que, na época, 70% da
população dependiam de ônibus para deslocamentos diários. A análise foi
baseada, entre outros, no modelo de Albrecht (1990), destacando as variáveis
físicas (ruído, temperatura, iluminação), representação social do trabalho, contato
humano, responsabilidade, desafio mental, conforto, higiene, carga de trabalho,
trânsito e risco de acidentes e assaltos. A autora procurou identificar a
representação das condições de trabalho pelos motoristas, os reflexos das
condições de trabalho para cada fator levantado, bem como sugestões de
melhorias e/ou mudanças.
Ainda segundo a autora, ao melhorar as condições de trabalho dos
motoristas, poder-se-á ter um positivo efeito multiplicador no desempenho da
atividade considerada essencial à população. O Estado, através das políticas de
transportes públicos, pode influenciar muito neste processo, sendo co-
responsável pelas melhorias e ainda que, se o sentido do termo ônibus ou
omnibus, do latim, significa para todos e é chamado de coletivo em diversas
localidades, “Cabe à população contribuir para sua melhor execução” (MENDES,
1999, p. 177).
Ainda em Belo Horizonte, Mendes (2000) realizou uma pesquisa para
investigar a situação de trabalho de stress ocupacional. Como técnica de coleta
de dados foi utilizada uma versão adaptada, de acordo com as especificidades da
categoria estudada, do Occupational Stress Indicator, instrumento criado por
Cooper, Cooper e Eaker (1988), e validado no Brasil por Moraes, Swan e Cooper
(1993). Os resultados indicaram que os motoristas de ônibus estudados
apresentaram um bom nível de saúde física e controle emocional e um baixo nível
de stress, porém, os motoristas com mais tempo de serviço na empresa
apresentaram níveis de stress um pouco mais alto do que os novatos. Apesar do
baixo nível de stress, a situação de trabalho desses profissionais apresentou
fontes de pressão que estão diretamente relacionados com o stress, a saber:
trabalho continuado por várias horas, responsabilidades por multas e acidentes de
trânsito, falta de horário para as refeições, inadequação das pausas entre as
55
viagens, entre outros. As estratégias utilizadas ao combate do stress encontrado
nos motoristas foram: a racionalização e o apoio social.
Almeida (2002), ao analisar a problemática psicossocial do trabalho dos
motoristas de coletivo urbano na cidade de Recife, identificou fatores externos e
internos que influenciam no desempenho do motorista de ônibus. Os fatores
externos encontrados foram: a segurança física, as exigências dos usuários, as
condições do tempo, das estradas, o trânsito lento e congestionado, as
deficiências na sinalização, poluição sonora e visual, a iluminação deficiente, o
mau planejamento das viagens, percursos longos e enfadonhos, a temperatura do
motor, as condições de trabalho em geral. Os fatores internos podem ser
representados por várias formas: as doenças crônicas ou agudas, problemas
visuais e auditivos, a auto medicação, o uso de drogas, de álcool, fadiga, o
excesso de estímulos, o stress, calor, cansaço, problemas pessoais e familiares,
mudanças no trabalho, conflitos no trabalho, perdas, dívidas, a auto imagem do
motorista e a representação que possui de sua profissão, a ambigüidade entre o
grau de exigência cognitiva da tarefa e a escolaridade da maioria dos motoristas.
O autor ainda aponta que as principais estratégias utilizadas pelos motoristas
para enfrentar as condições de trabalho foram a racionalização, o individualismo e
a passividade.
Guanche (2003), com o objetivo de identificar os fatores de risco de
acidentes, realizou um estudo descritivo de 78 motoristas de três empresas de
transportes coletivos na província de Pinar Del Rio. Foram avaliados aspectos
gerais de risco cardiovascular, stress e alcoolismo. As informações sofreram
tratamento estatístico. A idade média dos motoristas foi de 49,16 anos e a
experiência profissional de 25,11 anos. A enfermidade mais mencionada foi a
hipertensão arterial (19,2%) e bronquite asmática (11,5%). Com relação a pressão
arterial, 36,1% deles tiveram algum grau de hipertensão sistodiastólica, porém
sem antecedentes de hipertensão arterial e 33,4% deles apresentaram pressão
arterial elevada. Dentre os motoristas pesquisados 24,3% deles referiram-se
ingerir algum tipo de medicamento; 44,9% eram fumantes ativos, 9% eram ex-
fumantes e 10,2% eram fumantes passivos. Com relação ao consumo de bebidas
56
alcoólicas, 17,9% faziam uso diário e 7,7% eventualmente. O nível de stress
apresentado foi de 60,2% de stress leve e 9% de stress médio.
Foram encontrados no Brasil apenas duas pesquisas que investigaram os
sintomas de stress e suas fases além das condições de trabalho e a saúde dos
motoristas, descritas a seguir.
Numa pesquisa realizada por Vilela (2002), em 300 motoristas de coletivos
urbanos em Campo Grande-MS, foi constatada a presença de stress em 60%,
sendo que 40% estavam na fase de resistência ao stress e 20% na fase de alerta
e, quanto ao tipo de sintomas, 30% no quadrante social e 61% no afetivo. Outros
sintomas gerais apresentados foram: dificuldade para o lazer, desesperança,
problemas conjugais e familiares, traços de depressão e alcoolismo e 81% de
insucesso na qualidade de vida dos trabalhadores.
Almada, Gualberto, Neto, Pereira e Moreira (2004) realizaram uma
pesquisa em motoristas de ônibus urbano da cidade de Belém do Pará,
objetivando determinar a prevalência de sintomas de stress. Foram pesquisados
sessenta motoristas do sexo masculino entre vinte e seis e sessenta e quatro
anos de idade. Foi utilizados o Inventário de Sintomas de Stress (ISS) e um
questionário para identificar “o que mais desagrada no seu trabalho?” como
resposta livre.
O resultado revelou 15 motoristas (25%) com sintomas de stress e 45
motoristas (75%) sem sintomas de stress, sendo que 88% deles encontravam-se
na fase de resistência e 12% na fase de alerta, e em ambos foi igual a
participação dos sintomas físicos e psicológicos. O trânsito foi a resposta
apresentada pela maioria dos motoristas (48,3%) como algo que desagrada no
trabalho, e como isto foi uma resposta dada tanto pelos motoristas que
apresentavam stress como os que não, não se pode concluir que o trânsito seja o
fator desencadeador dos sintomas de stress.
Essas considerações levaram à realização da pesquisa do stress em
motoristas no transporte coletivo de ônibus urbano, tendo implícito que o stress
57
excessivo e mal conduzido representa problema de significativa magnitude, que
afeta tanto os motoristas quanto a própria comunidade, principalmente aquela que
do transporte coletivo necessita para se locomover.
Urge a necessidade de mais estudos nesta área, que através do
conhecimento da real situação dos motoristas de ônibus urbano, medidas possam
ser tomadas na direção de uma melhor qualidade de vida para a comunidade e o
profissional motorista. Este é o objetivo desta pesquisa.
58
5 OBJETIVOS
5.1 GERAL
Avaliar o nível de stress em motoristas do transporte coletivo de ônibus
urbano em uma empresa de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
5.2 ESPECÍFICOS
Verificar a fase do stress em que os motoristas se encontravam.
Identificar os sintomas de stress presentes nos motoristas.
59
6 MÉTODO
Neste trabalho, optou-se por um estudo descritivo-analítico, avaliando-se o
stress em 64 motoristas no transporte coletivo de ônibus urbano em uma empresa
de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste, Brasil.
6.1 CONTEXTO ONDE SE REALIZOU A PESQUISA
Conforme cronologia dos transportes coletivos urbanos (APÊNDICE A), o
sistema de transporte coletivo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, operava
antes de 1989, com linhas convencionais de propriedade particular, no sentido
bairro/centro e centro/bairro.
A partir dessa data, deu-se início aos estudos para implantação do Sistema
Integrado de Transporte (SIT), tendo sido construídos, inicialmente, os terminais
Bandeirantes, General Osório, Morenão e Julio de Castilho. O SIT foi inaugurado
em 1991, com três tipos de linhas: Alimentador (Azul), Troncal (Vermelha) e
Interbairro (Verde), sendo mantidas algumas linhas convencionais (Amarela), com
representação de 43% de integração de todo Sistema.
O Plano Diretor de Transportes de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, foi
finalizado com a confirmação da viabilidade da continuidade do SIT, com uma
frota operante de 345 veículos.
Em 1998, foi realizado um processo licitatório abrindo a concessão dos
serviços de transporte coletivo urbano em cinco lotes de frota, acabando com
áreas de atuação exclusivas. Com a inauguração dos terminais Nova Bahia,
Guaicurús e Aero Rancho, iniciaram-se as operações de três veículos articulados,
60
micro-ônibus executivos e veículos adaptados com elevadores hidráulicos. A
integração passou a ser de 63% do Sistema.
Com a inauguração do terminal das Moreninhas em 2001, o Sistema
passou para 67% da integração no SIT. Foram adquiridos 10 ônibus adaptados
com elevador hidráulico e 30 micro-ônibus urbanos, tendo sido iniciada a
construção dos terminais Tiradentes e São Francisco.
As cinco empresas que ganharam a concessão dos serviços de transportes
coletivos foram Viação Cidade Morena Ltda (lote n. 01), Viação São Francisco
Ltda (lote n. 02), Jaguar Transportes Urbanos Ltda (lote n. 03), Viação Campo
Grande Ltda (lote n. 04) e Viação Serrana Ltda (lote n. 05).
A delimitação da pesquisa em apenas uma das empresas existentes teve
como intenção observar a incidência de stress em trabalhadores com a mesma
hierarquia de cargos, salários, responsabilidades, ritmo imposto, modo operatório,
sistema de controle e avaliação, isto é, submetidos à mesma organização do
trabalho.
A empresa contava com, aproximadamente, 520 funcionários, dentre eles,
212 motoristas e 205 cobradores; a média de passageiros transportados era de
1.100 passageiros/mês. O horário de trabalho era de sete horas e vinte minutos
diários.
6.2 PARTICIPANTES
O número encontrado para o tamanho da amostra
2
, para um nível de
confiança de 99%, seria de 51 entrevistas. No entanto, nesse universo de 212
motoristas decidiu-se investigar 64 de uma amostra total de 68 inscritos
voluntariamente.
2
Para o cálculo da amostra considerou-se uma população de 212 motoristas contratados pela
empresa pesquisada e dados de literatura que estimavam a prevalência do stress variando de
70% a 82% (COSTA; DANTAS, 2004).
61
6.2.1 Critérios de inclusão
Os participantes foram inscritos voluntariamente, independentemente da
idade cronológica, do tempo de serviço, do estado civil, do grau de escolaridade,
da formação profissional, da situação socioeconômica, da renda familiar, da
crença religiosa, entre outros fatores.
Ressalta-se que, dos 68 motoristas pesquisados 4 deles foram eliminados.
Um por ser a única motorista do sexo feminino contratada na empresa, dois por
serem motoristas, mas ainda em treinamento na manobra, sem experiência de
percurso de linha, e o último por ser cobrador que se inscreveu e só foi detectado
no momento de responder o questionário.
Desta forma, sessenta e quatro (n = 64) foram os motoristas que fizeram
parte da amostra constante deste estudo.
6.3 RECURSOS HUMANOS E MATERIAIS
Todas as etapas desta dissertação de mestrado foram realizadas pela
própria autora. Colaborou nesta pesquisa uma orientadora e um profissional da
área estatística nas análises dos dados coletados, bem como nas orientações
para elaboração de gráficos e tabelas.
6.4 ASPECTOS ÉTICOS
O projeto desta pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), sendo autorizada a
realização da mesma. Desta forma a presente pesquisa foi realizada procurando
atender as exigências éticas e científicas fundamentais, cumprindo os requisitos
da Resolução n. 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os
participantes da pesquisa foram esclarecidos inicialmente, pela leitura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B) sobre os objetivos e
62
procedimentos da pesquisa, sendo que só foram pesquisados após a assinatura
do referido termo. Vale ressaltar ainda, que foram observadas e respeitadas todas
as recomendações contidas no artigo 30 do Código de Ética do Psicólogo,
concernentes a realização de estudos e pesquisas. Os participantes foram
respeitados em sua dignidade e autonomia, sendo garantido o máximo de
benefícios e o mínimo de danos e riscos, sendo que nenhum incidente foi
observado. Os dados materiais e dados coletados foram utilizados
exclusivamente para os fins previstos no protocolo e os resultados, favoráveis ou
não, foram fornecidos para a empresa colaboradora e aos participantes de forma
geral e em termos de percentuais.
6.5 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram:
a) Questionário de caracterização sócio-demográfica:
Este instrumento traz informações sobre dados biográficos e de
identificação como data de nascimento, naturalidade, escolaridade, data de
expedição da carteira de motorista categoria D, tempo de empresa, turno no
serviço (APÊNDICE C). Foi elaborado com o objetivo de coletar dados adicionais
para aprofundamento do stress do motorista. Contêm questões além dos dados
biográficos, que podem estar associados ao desenvolvimento do stress como:
estado civil, outras atividades, números de filhos, a renda familiar, lazer,
problemas de saúde, prática de exercícios físicos e prática de religião e que
requerem respostas de tipo bivariado, isto é, sim ou não, bom ou péssimo,
suficiente ou não.
Para testar a aplicabilidade do questionário de caracterização sócio-
demográfico utilizado nesta pesquisa, verificar o tempo necessário para sua
aplicação e para eventuais adequações das perguntas foi realizado um pré-teste
com 12 motoristas de uma outra empresa de transportes coletivos de Campo
Grande-MS, que não fizeram parte da amostra constante da presente pesquisa.
63
Para a escolha da amostra dos participantes do pré-teste a pesquisadora
permaneceu no terminal de ônibus onde eram realizadas algumas trocas de
turnos. Foi explicados o objetivo da pesquisa, do pré-teste e o procedimento. O
questionário foi aplicado em forma de entrevista e transcrito pela pesquisadora,
pelo fato de não constar no local condição apropriada para escrever e por
solicitação da maioria dos motoristas colaboradores. Optou-se pala entrevista de
forma a padronizar a aplicação do instrumento. Com a realização do pré-teste,
verificou-se que o questionário era muito extenso, de duração excessiva para
aplicação, com detalhamento de dados irrelevantes para a pesquisa, e com
questões que não condiziam com os objetivos da pesquisa. Optou-se por outro
questionário mais sintetizado (APÊNDICE D).
b) Inventário de Sintomas de Stress para Adulto de Lipp (ISSL-2000):
Este instrumento, amplamente utilizado e publicado, validado por Lipp
(2000), apresenta um modelo quadrifásico do stress, a saber: alerta, resistência,
quase exaustão e exaustão, foi fundamentado nos conceitos pioneiros de Selye
(1965), por ele revisto historicamente em 1984, quanto ao efeito do stress que
aparece em seqüência e gradação de seriedade na medida em que suas fases se
agravam e podem se manifestar tanto na área física como na psicológica.
Este instrumento visou identificar, objetivamente, se o motorista
apresentava stress, em que fase se encontrava, e qual a sintomatologia
predominante. Na primeira parte do inventário, os motoristas assinalam os
sintomas experimentados nas últimas 24 horas; na segunda parte, assinalaram os
sintomas da última semana e na terceira e última parte, assinalaram os sintomas
experimentados nos últimos 30 dias.
6.6 PROCEDIMENTO
A presente pesquisa consta de alguns passos como os descritos a seguir:
a) o primeiro passo foi estabelecer um contato junto à direção da empresa,
64
informando o desejo de investigar o stress no motorista de transporte
coletivo urbano, tendo sido expostos os objetivos da pesquisa na busca
da autorização para a realização da mesma. Diante da autorização por
parte da diretoria, foi contatada a psicóloga da empresa para verificar o
melhor local, época e horário para realização da pesquisa.
Um dado que não pode ser omitido foi sobre a receptividade da proposta
da pesquisadora por parte da diretoria da empresa bem como a
facilidade com que a pesquisa foi autorizada;
b) o segundo passo foi o levantamento dos dados junto à diretoria de
recursos humanos para seleção da amostra e da escolha da melhor
forma para a coleta de dados. Estabeleceu-se que todos os motoristas
seriam informados sobre a pesquisa de stress e as inscrições seriam
feitas de acordo com o interesse demonstrado;
c) o terceiro passo foi enviar via malote, um comunicado a todos os
motoristas da empresa (APÊNDICE E), informando-os sobre a
realização da pesquisa, o objetivo, o conteúdo a ser avaliado e as
condições em que seriam fornecidos os resultados;
d) no quarto passo, a pesquisadora esteve presente durante todo o horário
de funcionamento do departamento pessoal da empresa, onde deveriam
passar todos os motoristas, para assinarem o holerite e retirarem os
respectivos salários, onde esclareceu duvidas e realizou o agendamento
das inscrições. A proposta inicial era de aplicação dos instrumentos em
quatro grupos de 20 participantes cada, inscrito por interesse próprio e
ordem de chegada, em três períodos diferentes, de acordo com a troca
dos turnos de trabalho. Conforme os motoristas iam se inscrevendo
voluntariamente, foi detectada a impossibilidade de se formarem os
grupos, devido à escala de trabalho não ser a mesma para todos e
grande número deles realizarem dois turnos e ainda por possuírem
pouco espaço de tempo para o almoço. Optou-se, então, por aplicar os
instrumentos individualmente;
65
e) o quinto passo foi a coleta de dados. Durante todo o tempo de realização
da pesquisa, o procedimento foi o mesmo na aplicação dos
instrumentos. Inicialmente, fez-se a leitura do Termo de Consentimento
e colheu-se as devidas assinaturas. Em seguida aplicou-se o Inventário
de Stress para Adultos de Lipp (ISSL-2000), e o questionário de
caracterização sócio-demográfico sucinto, em forma de entrevista
transcrita pela pesquisadora. A aplicação teve uma duração média de 25
minutos.
f) o sexto passo foi à devolutiva dos resultados da pesquisa para os
motoristas e a empresa colaboradora de forma generalizada, mantendo
a identidade dos participantes em sigilo. Para os motoristas foram
ministradas palestras sobre o stress e para a empresa foi enviado um
relatório contendo alem dos resultados, orientações sobre prevenção e
de como lidar com o stress.
A pesquisa aconteceu no período de 06 a 24 de agosto de 2004, tendo sido
realizada em uma sala medindo 3,00 m x 3,00 m, com boa iluminação e
ventilação suficiente, contendo uma mesa, duas cadeiras, uma maca e um
armário.
66
7 RESULTADOS
Os dados da presente pesquisa são provenientes da avaliação de
motoristas de transportes coletivos de ônibus urbano. A análise dos dados foi
apresentada em partes. Apresentam-se os resultados em tabelas e gráficos
seguidos de comentários específicos referentes à análise estatística dos dados
coletados.
Inicialmente, com a finalidade de se obter um conhecimento mais amplo da
população foi apresentado o perfil dos entrevistados, isto é, uma descrição geral
da amostra entrevistada com relação ao resultado de stress e algumas variáveis
como a faixa etária, tempo na empresa, tempo de motorista e tempo de carteira.
7.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS
Dos 64 motoristas pesquisados, 34 (53,1%) apresentaram stress e 30
(46,9%) não apresentaram stress.
TABELA 1 - Faixa etária do motorista
Stress Não stress Total
Faixa etária (anos)
n % n % n %
18 a 30 5 62,5 3 37,5 8 12,5
31 a 40 16 55,2 13 44,8 29 45,3
41 a 50 8 42,1 11 57,9 19 29,7
51 a 60 5 62,5 3 37,5 8 12,5
67
Observa-se que o maior índice de stress (62,5%) apresentado no item faixa
etária foi o mesmo para os mais jovens de 18 a 30 anos, como para os de idade
mais avançada do grupo, de 51 a 60 anos, embora a maioria (45,3%) dos 64
motoristas pesquisados encontrava-se na faixa de 31 a 40 anos de idade
(TABELA 1).
TABELA 2 - Tempo de serviço do motorista prestado na empresa
Stress Não stress Total
Tempo de serviço
(anos)
n % n % n %
0 ---| 2 8 80,0 2 20,0 10 15,6
2 ---| 5 11 47,8 12 52,2 23 35,9
5 ---| 10 8 61,5 5 38,5 13 20,3
10 ---| 20 7 41,2 10 58,8 17 26,6
Mais de 20 - - 1 3,3 1 1,6
Dos motoristas pesquisados, 35,9% deles possuíam de 2,1 a 5 anos de
tempo de serviço na empresa, mas foram os novatos (80%), de 0 a 2 anos, que
indicaram alto nível de stress (TABELA 2).
TABELA 3 - Tempo de carteira do motorista
Stress Não stress Total
Tempo de carteira
(anos)
n % n % n %
0 ---| 2 - - 1 100,0 1 1,6
2 ---| 5 3 50,0 3 50,0 6 9,8
5 ---| 10 9 56,3 7 43,7 16 26,2
10 ---| 20 11 50,0 11 50,0 22 36,1
Mais de 20 10 62,5 6 37,5 16 26,2
Com relação ao tempo de carteira, 22 (36,1%) motoristas, dos 64
pesquisados, possuíam de 10,1 a 20 anos, e dos que apresentaram maior índice
de stress, 62,5%, possuíam mais de 20 anos de tempo de carteira (TABELA 3).
68
TABELA 4 - Tempo de serviço total como motorista
Stress Não stress Total
Tempo como motorista
(anos)
n % n % n %
0 ---| 2 7 63,6 4 36,4 11 17,2
2 ---| 5 6 60,0 4 40,0 10 15,6
5 ---| 10 3 42,9 4 57,1 7 10,9
10 ---| 20 10 58,8 7 41,2 17 26,6
Mais de 20 8 42,1 11 57,9 19 29,7
A maioria dos participantes pesquisados, 29,7%, possuía mais de 20 anos
de tempo como motorista, sendo que os que evidenciaram um nível maior de
stress, 63,6%, foram os que tinham de 0 a 2 anos de experiência na profissão
(TABELA 4).
7.2 RESULTADOS DA ANÁLISE ESTATÍSTICA
Em seguida apresenta a análise estatística dos dados da associação entre
o resultado de stress e as variáveis categóricas como outras atividades,
percepção de renda, lazer, problemas de saúde, atividades físicas, práticas
religiosas, turno de trabalho e estado civil. Quando não há a possibilidade de
transformar as variáveis em valores numéricos, o artifício que se usa é a análise
de contingência para investigar a associação entre as variáveis. De uma maneira
geral, uma tabela de contingência é uma representação dos dados, quer sejam
qualitativo, quer sejam quantitativos, especialmente quando são de tipo bivariado,
isto é, podem ser classificados segundo dois critérios. O aspecto de uma tabela
de contingência é o de uma tabela com linhas, correspondente a um dos critérios,
e com colunas, correspondente ao outro critério, formando uma tabela de
freqüências observadas em que as linhas correspondem a uma variável de
classificação e as colunas correspondem à outra variável de classificação
(SPIEGEL, 1985).
As análises das tabelas de contingência realizadas nesta pesquisa
69
avaliaram a associação entre as variáveis de estudo pelo teste de Qui Quadrado
de Pearson (1899 apud COSTA, 1998).
O teste do Qui Quadrado é útil para comparação de grupos em que o
comportamento dos sujeitos tenha sido classificado em categorias distintas,
qualitativamente diferentes. O teste pode ser usado para determinar se dois
grupos diferem em termos da proporção de indivíduos que se situam numa
categoria em vez de outra. No presente estudo, buscou-se caracterizar a
ocorrência de stress entre os motoristas de transporte coletivo em uma empresa
em Campo Grande-MS, em combinações com categorias diversas em que, de
forma estatisticamente significante, mais aparece o stress, considerando-se as
diversas características individuais entre os motoristas. Para a associação entre
as variáveis no teste de Qui Quadrado, adotou-se o nível de significância de 5%,
isto é, p 0,05.
Para análise dos dados das variáveis numéricas partiu-se da definição de
que a população tinha uma distribuição normal em todas as variáveis, sendo
possível calcular a média, a mediana, o desvio padrão e a variância. A fim de se
comparar os níveis de desempenho sob várias condições, normalmente realiza-se
teste sobre diferenças entre médias ou outras medidas de tendência central
(SPIEGEL, 1985).
Apresentou-se então, no terceiro momento, uma descrição da fase do
stress em que os motoristas se encontravam e sua relação com a sintomatologia
predominante. Finalmente foi apresentada a análise estatística dos dados da
relação entre as diversas fases, a sintomatologia e resultados do stress e as
variáveis numéricas como números de filhos, idade do motorista, tempo de
carteira, tempo como motorista e tempo de empresa. Nesta pesquisa, a intenção
foi verificar se havia alguma diferença entre as variâncias e para isso foi utilizado
o teste estatístico ou teste F de Fisher (SNEDECOR apud COSTA, 1998). Foi
adotado um índice de 5% de significância, isto é, p 0,05.
70
TABELA 5 - Exercício de outras atividades
Stress Não stress Total
Outras atividades?
n % n % n %
Sim 17 51,5 12 48,5 29 46,0
Não 16 60,0 18 40,0 34 54,0
Os dados apresentados na Tabela 5 referem-se à ocorrência de stress e o
exercício de outras atividades na população entrevistada. Observando-se os
dados apresentados verifica-se que a maioria (54%), dos motoristas não se
dedicava à outras atividades e 17 (60%) deles apresentaram a ocorrência de
stress e 18 (40%) deles não apresentaram e dos 29 (46%) motoristas, que se
dedicavam à outra atividade, 17 (51,5%) deles apresentaram a ocorrência de
stress e 12 (48,5%) deles não apresentaram. Porém, essas diferenças não foram
estatisticamente significativas (χ
2
= 0,84 e p-valor = 0,3597).
TABELA 6 - A sensação de a renda ser suficiente
Stress Não stress Total
Renda suficiente?
n % n % n %
Sim 28 50,9 27 49,1 55 85,9
Não 6 66,7 3 33,3 9 14,1
Na Tabela 6 apresentou-se a ocorrência de stress e a sensação de a renda
ser suficiente entre a população entrevistada. Dos 55 (85,9%) motoristas que
tinham a sensação de a renda ser suficiente, praticamente um pouco mais da
metade (50,9%) exibiram a ocorrência de stress e um pouco menos da metade
(49,1%) não apresentaram e dos 9 (14,1%) motoristas que não tinham a
sensação de a renda ser suficiente, 6 (66,7%) deles apresentaram stress e 3
(33,3%) deles não apresentaram. Porém, não houve diferença estatisticamente
significativa (χ
2
= 0,27 e p-valor = 0,6045) entre achar a renda suficiente e a
ocorrência ou não de stress.
71
TABELA 7 - A percepção que o motorista tem sobre o próprio lazer
Stress Não stress Total
Como é o lazer?
n % n % n %
Bom 12 46,2 14 53,8 26 41,3
Péssimo 22 59,5 15 40,5 37 58,7
Na Tabela 7 os dados apresentados referem-se à ocorrência de stress e a
percepção que se tem sobre o próprio lazer. Dos 26 (41,3%) motoristas que
consideraram o próprio lazer como bom, 12 (46,2%) deles exibiram a ocorrência
de stress e 14 (53,8%) deles não exibiram. Dos 37 (58,7%) motoristas que
consideram o próprio lazer como péssimo, 22 (59,5%) deles apresentaram a
maior ocorrência de stress nesta variável analisada. Porém, não houve diferença
estatisticamente significativa (χ
2
= 1,09 e p-valor = 0,2969) entre achar o lazer
adequado ou não e a ocorrência de stress ou não.
TABELA 8 - Problemas de saúde
Stress Não stress Total
Problemas de saúde?
n % n % n %
Sim 8 61,5 5 38,5 13 22,8
Não 25 56,8 19 43,2 44 77,2
Os dados apresentados na Tabela 8 referem-se à ocorrência de stress e de
problemas de saúde. Dos 13 (22,8%) motoristas que apresentaram problemas de
saúde, 8 (61,5%) deles exibiram a ocorrência de stress e 5 (38,5) deles não
exibiram. Dos 44 (77,2%) motoristas que não apresentaram problemas de saúde,
25 (56,8%) deles exibiram a ocorrência de stress e 19 (43,2%) deles não
exibiram. Porém, não houve diferença estatisticamente significativa (χ
2
= 0,09 e p-
valor = 0,7620) entre ter problemas de saúde e a ocorrência de stress ou não.
72
TABELA 9 - A prática de atividades físicas
Stress Não stress Total
Atividades físicas?
n % n % n %
Sim 18 46,1 21 53,9 39 60,9
Não 16 64,0 9 36,0 25 39,1
Na Tabela 9 os dados apresentados referem-se à ocorrência de stress e a
prática de atividades físicas. Dos 39 (60,9%) motoristas que faziam atividades
físicas, 18 (46,1%) deles exibiram a ocorrência de stress e 21 (53,9%) deles não
exibiram. Dos 25 (39,1) motoristas que não faziam atividades físicas, 16 (64%)
deles exibiram a ocorrência de stress e 9 (36%) não exibiram. Porém não houve
diferença estatisticamente significativa (χ
2
= 1,95 e p-valor = 0,1628) entre o fazer
atividades físicas e a ocorrência de stress ou não.
TABELA 10 - Exercício de práticas religiosas
Stress Não stress Total
Prática religiosa?
n % n % n %
Sim 27 51,9 25 48,1 52 81,2
Não 7 58,3 5 41,7 12 18,7
Os dados apresentados na Tabela 10 referem-se à ocorrência de stress e o
exercício das práticas religiosas. Dos 52 (81,2%) motoristas que praticavam uma
religião, 27 (51,9%) deles exibiram a ocorrência de stress e 25 (48,1%) não
exibiram. Dos 12 (18,7%) motoristas que não praticavam uma religião, 7 (58,3%)
deles exibiram a ocorrência de stress e 5 (41,7%) não exibiram. Porém, não
houve diferença estatisticamente significativa (χ
2
= 0,16 e p-valor = 0,6883) entre
o exercício de práticas religiosas e a ocorrência de stress ou não.
73
TABELA 11 - Turnos de trabalho
Stress Não stress Total
Turnos?
n % n % n %
1 turno 15 53,6 13 46,4 28 44,4
2 ou mais turnos 19 54,3 16 45,7 35 55,6
A Tabela 11 refere-se à ocorrência de stress e a quantidade de turnos de
trabalho. Dos 28 (44,4%) motoristas que faziam um turno de trabalho, 15 (53,6%)
deles exibiram a ocorrência de stress e dos 35 (55,6%) motoristas que faziam
dois ou mais turnos, 19 (54,3%) deles exibiram a ocorrência de stress. Porém,
não houve diferença estatisticamente significativa (χ
2
= 0,00 e p-valor = 0,9549)
entre a quantidade de turnos de trabalho e a ocorrência de stress ou não.
TABELA 12 - O estado civil do motorista
Stress Não stress Total
Estado civil
n % n % n %
Solteiro 3 60,0 2 40,0 5 7,8
Casado 31 53,4 27 46,6 58 90,6
Viúvo - - 1 100,0 1 1,6
Os dados da Tabela 12 referem-se à ocorrência de stress e o estado civil.
Dos 5 (7,8%) motoristas solteiros, 3 (60%) deles exibiram a ocorrência do stress;
dos 58 (90,6%) motoristas casados, 31 (53,4%) deles exibiram a ocorrência de
stress e 1 (1,6%) viúvo não apresentava stress. Porém, não houve diferença
estatisticamente significativa (χ
2
= 0,30 e p-valor = 0,8528) entre o estado civil e a
ocorrência de stress ou não.
74
TABELA 13 - A fase do stress e sua relação com a sintomatologia mais presente
Físico Psicológico Total
Fase do stress
n % n % n %
Alerta 1 11,1 8 88,9 9 26,5
Resistência 4 22,2 14 77,8 18 52,9
Quase exaustão 2 33,3 4 66,7 6 17,6
Exaustão - - 1 100,0 1 2,9
Na Tabela 13 apresentou-se a fase do stress em que os motoristas se
encontravam de alerta, de resistência, de quase-exaustão ou de exaustão, e a
sua sintomatologia física ou psicológica. Dos 34 motoristas que apresentavam
stress, 9 (26,5%) deles encontraram-se na fase de alerta, 18 (52,9%)
encontraram-se na fase de resistência, 6 (17,6%) encontraram-se na fase de
quase-exaustão e 1 (2,9%) encontrara-se na fase de exaustão.
A maioria dos 34 motoristas encontrava-se na fase de resistência e a
sintomatologia mais encontrada em todas as fases do stress foi a psicológica.
TABELA 14 - Números de filhos e as fases do stress
Fases do stress
Filhos
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Média 1,7 2,3 2,2 4,0
Desvio padrão 0,9 1,1 1,5 -
Variância 0,81 1,21 2,25 -
Na Tabela 14, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
filhos entre as diversas fases do stress. A média de filhos dos motoristas na fase
de alerta foi de 1,7; na fase de resistência foi de 2,3 e na fase da quase exaustão
foi de 2,2. O teste F estatístico evidenciou que não houve diferença
estatisticamente significativa (F estatístico = 0,87; p = 0,4300) entre as médias de
filhos nas diversas fases do stress.
75
TABELA 15 - Idade do motorista e as fases do stress
Fases do stress
Idade
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Média 35,3 41,1 39,2 34,0
Desvio padrão 9,2 9,3 8,9 -
Variância 84,64 86,49 79,21 -
Os dados apresentados, demonstrados na Tabela 15, refere-se às médias
de idade nas diversas fases do stress. A média de idade dos motoristas que se
encontraram na fase de alerta foi de 35,3; na fase de resistência a média foi de
41,1 e na fase de quase exaustão foi de 39,2. Não houve diferença
estatisticamente significativa (F estatístico = 1,19; p = 0,3165) entre as médias de
idade nas diversas fases do stress.
TABELA 16 - Tempo de carteira de motorista nas fases do stress
Fases do stress
Tempo de
carteira
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Média 9,3 17,4 18,6 14,0
Desvio padrão 5,4 8,7 2,6 -
Variância 29,16 75,69 6,76 -
Na Tabela 16, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
tempo de carteira de motorista nas diversas fases do stress. A média de tempo de
carteira dos motoristas na fase de alerta foi de 9,3, na fase de resistência foi de
17,4 e na fase de quase exaustão foi de 18,6.
Houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 4,52; p =
0,0181) entre as médias de tempo de carteira de motorista nas diversas fases do
stress, o que permitiu inferir que quanto maior o tempo de carteira, mais avançada
é a fase do stress (foi excluída a fase de exaustão na análise).
76
TABELA 17 - Tempo como motorista profissional e as fases do stress
Fases do stress
Tempo como
motorista
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Média 8,0 16,0 12,8 10,0
Desvio padrão 9,0 11,4 10,0 -
Os dados apresentados nas Tabela 17 referem-se às médias de tempo
como motorista profissional nas diversas fases do stress. A média de tempo como
motorista na fase de alerta foi de 8,0, na fase de resistência foi de 16,0 e na fase
de quase-exaustão, 12,8; não houve diferença estatisticamente significativa (F
estatístico = 1,72; p = 0,1939) entre as médias de tempo como motorista
profissional nas diversas fases do stress.
TABELA 18 - Tempo de contratação na empresa e as fases do stress
Fases do stress
Tempo na
empresa
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Média 5,1 8,0 4,7 4,0
Desvio padrão 4,7 5,7 4,8 -
Variância 22,09 32,49 23,04 -
Na Tabela 18, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
tempo de contratação na empresa entre as diversas fases de stress. A média de
tempo na empresa na fase de alerta foi de 5,1, na fase de resistência foi de 8,0 e
na fase de quase-exaustão foi de 4,7. Não houve diferença estatisticamente
significativa (F estatístico = 1,37; p = 0,2674) entre as médias de tempo de
contratação na empresa nas diversas fases do stress.
77
TABELA 19 - Numero de filhos e as sintomatologias do stress
Sintomatologia
Filhos
Física Psicológica
Média 2,0 2,2
Desvio padrão 1,0 1,2
Variância 1,00 1,44
Os dados apresentados na Tabela 19 referem-se ao estudo das médias de
filhos entre as sintomatologias do stress. A média de filhos na sintomatologia
física foi de 2 e na psicológica foi de 2,2. Não houve diferença estatisticamente
significativa (F estatístico = 0,16; p = 0,6881) entre as médias de filhos nas
diversas sintomatologias.
TABELA 20 - Idade do motorista e as sintomatologias do stress
Sintomatologia
Idade
Física Psicológica
Média 41,3 38,4
Desvio padrão 10,5 8,9
Variância 110,25 79,21
Na Tabela 20, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
idade entre a sintomatologia do stress. A média de idade na sintomatologia física
foi de 41,3 e na fase psicológica foi de 38,4. Não houve diferença estatisticamente
significativa (F estatístico = 0,55; p = 0,4632) entre as médias de tempo de
contratação na empresa nas diversas sintomatologias.
78
TABELA 21 - Tempo de carteira de motorista e as sintomatologias do stress
Sintomatologia
Tempo de
carteira
Física Psicológica
Média 17,0 14,8
Desvio padrão 5,7 8,4
Variância 32,49 70,56
Os dados apresentados na Tabela 21 referem-se ao estudo das médias de
tempo de carteira de motorista entre as sintomatologias do stress. A média de
tempo de carteira na sintomatologia física foi de 17 e na psicológica foi de 14,8.
Não houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 0,42; p =
0,5190) entre as médias de tempo de contratação na empresa nas diversas
sintomatologias.
TABELA 22 - Tempo como motorista profissional e as sintomatologias do stress
Sintomatologia
Tempo como
motorista
Física Psicológica
Média 13,3 13,1
Desvio padrão 6,5 11,6
Variância 42,25 134,56
Na Tabela 22, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
tempo como motorista profissional entre as sintomatologias do stress. A média de
tempo como motorista na sintomatologia física foi de 13,3 e na psicológica foi de
13,1. Não houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 0,00; p =
0,9655) entre as médias de tempo como motorista profissional nas diversas
sintomatologias.
79
TABELA 23 - Tempo de contratação na empresa e as sintomatologias do stress
Sintomatologia
Tempo de
empresa
Física Psicológica
Média 9,9 5,7
Desvio padrão 4,9 5,2
Variância 24,01 27,04
Os dados apresentados na Tabela 23 referem-se ao estudo das médias de
tempo de contratação na empresa entre as sintomatologias do stress. A média de
tempo na empresa, na sintomatologia física, foi de 9,9 e na psicológica foi de 5,7.
Não houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 3,70; p =
0,0622) entre as médias de tempo de contratação na empresa nas diversas
sintomatologias.
TABELA 24 - Numero de filhos e o stress
Resultados
Filhos
Física Psicológica
Média 2,2 1,9
Desvio padrão 1,1 0,8
Variância 1,21 0,64
Na Tabela 24, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
filhos entre os resultados de confirmação do stress. A média de filhos nos
motoristas que apresentaram stress foi de 2,2 e nos que não apresentaram stress
foi de 1,9. Não houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 1,52;
p = 0,2219) entre as médias de filhos sobre haver ou não a identificação de
stress.
80
TABELA 25 - Idade do motorista e o stress
Resultados
Idade
Física Psicológica
Média 39,0 40,4
Desvio padrão 9,2 7,5
Variância 84,64 56,25
Os dados apresentados na Tabela 25 referem-se ao estudo das médias de
idade entre os resultados de confirmação do stress. A média de idade dos
motoristas que apresentaram stress é de 39 e a dos que não apresentaram stress
é de 40,4. Não houve diferença estatisticamente significativa (F estatístico = 0,44;
p = 0,5105) entre as médias de idade sobre haver ou não a identificação de
stress.
TABELA 26 - Tempo de carteira de motorista e o stress
Resultados
Tempo de
carteira
Física Psicológica
Média 15,3 13,6
Desvio padrão 7,9 7,7
Variância 62,41 59,29
Na Tabela 26, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
tempo de carteira de motorista entre os resultados de confirmação do stress. A
média de tempo de carteira nos motoristas que apresentaram stress foi de 15,3 e
a dos que não apresentaram foi de 13,6. Não houve diferença estatisticamente
significativa (F estatístico = 0,76; p = 0,3878) entre as médias de tempo de
carteira de motorista sobre haver ou não a identificação de stress.
81
TABELA 27 - Tempo como motorista profissional e o stress
Resultados
Tempo como
motorista
Física Psicológica
Média 13,1 14,3
Desvio padrão 10,6 9,6
Variância 112,36 92,16
Os dados apresentados na Tabela 27 referem-se ao estudo das médias de
tempo como motorista profissional entre os resultados de confirmação de stress.
A média de tempo como motorista profissional dos que apresentaram stress foi de
13,1 e dos que não apresentaram stress foi de 14,3. Não houve diferença
estatisticamente significativa (F estatístico = 0,22; p = 0,6383) entre as médias de
tempo como motorista profissional sobre haver ou não a identificação de stress.
TABELA 28 - Tempo de contratação na empresa e o stress
Resultados
Tempo na
empresa
Física Psicológica
Média 6,5 8,7
Desvio padrão 5,3 6,5
Variância 28,09 42,25
Na Tabela 28, os dados apresentados referem-se ao estudo das médias de
tempo de contratação na empresa entre os resultados de confirmação de stress.
A média de tempo na empresa dos que apresentaram stress foi de 6,5 e a dos
que não apresentaram stress foi de 8,7. Não houve diferença estatisticamente
significativa (F estatístico = 2,22; p = 0,1408) entre as médias de tempo de
contratação na empresa sobre haver ou não a identificação de stress.
82
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
Stress o Stress
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
Alerta Resistência Quase exaustão Exaustão
Os resultados dos Gráficos 1, 2 e 3 referem-se a distribuição do resultado
final do stress na população entrevistada, a distribuição das fases de stress e a
distribuição das sintomatologias, respectivamente.
GRÁFICO 1 - Distribuição do resultado final do stress.
GRÁFICO 2 - Distribuição das fases de stress.
83
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
sica Psicogica
GRÁFICO 3 - Distribuição das sintomatologias.
Dos 64 motoristas pesquisados, 34 (53,1%) apresentaram stress e 30
(46,9%) não apresentaram stress (GRÁFICO 1).
Dos 34 motoristas que apresentaram stress, 9 (26,5%) deles encontravam-
se na fase de alerta, 18 (52,9%) na fase de resistência, 6 (17,6%) na fase de
quase-exaustão e 1 (2,9%) na fase de exaustão (GRÁFICO 2).
A maioria dos 34 motoristas encontrava-se na fase de resistência e a
sintomatologia mais presente em todas as fases do stress foi a psicológica
(GRAFICO 3).
84
8 DISCUSSÃO
Os resultados desta investigação revelaram que 53,1% da amostra
pesquisada apresentaram stress significativo o que está de acordo com os
resultados obtidos por Vilela (2002), que verificou o stress em 300 motoristas de
coletivos urbanos em três empresas na cidade de Campo Grande-MS, onde 60%
da população pesquisada apresentaram stress, e em discordância com os
resultados obtidos por Almada et al. (2004), que verificaram o stress em 60
motoristas na cidade de Belém do Pará, onde 15 (25%) dos participantes
apresentaram stress e 45 (75%) deles não apresentaram stress.
Tal resultado parece demonstrar que a maioria dos motoristas de ônibus
urbana apresentou stress significativo, porém não se pode generalizar que os
motoristas possuem uma profissão estressante.
O mesmo índice (62,5%) encontrado no item faixa etária, tanto para os
mais jovens de idade, como para os mais avançados do grupo, pode significar
que quando o motorista inicia sua profissão, provavelmente, tem que se adaptar
diante do novo, depois passa a dominar a atividade e, no decorrer dos anos,
começa a se cansar do que faz. Este resultado vem ao encontro com o que Selye
(1965) denominou de evolução trifásica de adaptação, de que, inicialmente temos
de nos habituar, depois funcionamos com grande eficiência e finalmente
cansamo-nos do que fazemos.
Foram pesquisados três tempos como motorista: tempo como motorista,
isto é, o tempo de início da atividade profissional, o tempo como motorista na
empresa pesquisada e o tempo de carteira que significou o tempo total como
motorista. De acordo com os resultados, no tempo como motorista, os novatos
apresentaram mais stress. No tempo de empresa, os novatos também, mas com
85
o passar dos anos, o nível de stress encontrado, nestas mesmas categorias foi
menor. Neste caso, pode-se levar em conta a passagem do tempo, se percebida
numa perspectiva de experiência profissional que, com o passar do tempo, as
normas da empresa e do desempenho da atividade, vão sendo incorporadas,
assimiladas e, neste caso, muitos atos até automatizados, o motorista torna-se
menos propenso ao stress. Tal constatação parece estar de acordo com Covolan
(1984), que menciona que, com o passar do tempo, o profissional venha a adquirir
domínio e segurança sobre sua atividade prática tornando-o menos vulnerável ao
stress.
No que diz respeito ao tempo de carteira como motorista, observou-se o
oposto do ocorrido com os itens tempo como motorista e tempo na empresa, no
que se refere ao alto nível de stress no início dessa profissão, já discutido
anteriormente. No início do tempo de carteira, quando o motorista se habilita
profissionalmente, os novatos apresentaram índice de stress menor do que os
que têm mais de 20 anos. Resultados semelhantes no que se refere ao tempo de
atividade profissional do motorista de ônibus urbano parecem ter sido
encontrados em pesquisas onde se investigou o tempo de magistério do
professor, nas pesquisas de Reinhold (1984) e Oliveira (2003), nas quais o maior
nível de stress se encontravam também nos professores que contavam com
tempo de magistério acima de 20 anos com relação aos de início de atividade
profissional. O que este resultado parece sugerir ainda é que, quando percebido
numa perspectiva de auto-realização, o motorista vai se cansando da mesma
atividade, principalmente quando não se sente satisfeito com algum aspecto em
sua vida.
Selye (1965) ressalta que a energia de adaptação é uma quantidade
limitada de vitalidade, determinada hereditariamente, que deve ser gasta
necessariamente, daí a razão inerente do impulso para expressar-se em busca de
realização e integração e a maioria dos prazeres físicos tende a perder o sabor
com o decorrer do tempo, mas as satisfações mentais, de ordem mais complexa,
tornam-se cada vez mais apreciáveis à medida que são cultivadas, e que a
frustração e a indecisão são apenas dois tipos de irrealização. Os motoristas
86
desta pesquisa que mencionaram tempo de carteira acima de 20 anos e
apresentaram stress provavelmente não se sentiam satisfeitos e os que não
apresentaram stress possivelmente se sentiam realizados.
Nenhum dos dados biográficos analisados nesta pesquisa estiveram
significativamente (p 0,05) associados com a ocorrência de stress, o que parece
diferir dos resultados encontrados por Barros e Nahas (2001), onde os dados
biográficos encontraram-se correlacionados com as variáveis investigadas, talvez
pelo fato do stress depender das fontes internas externas e ser multideterminado.
Verificou-se no presente trabalho que a maioria dos motoristas não se
dedicavam à outra atividade e apresentaram o maior nível de stress significativo,
o que parece contrariar o resultado obtido por Covolan (1984), em uma pesquisa
realizada em outra categoria profissional, onde a maioria dos participantes
pesquisados dedicava-se a outras atividades e foi detectado que a fonte mais alta
de stress esteve correlacionada com ter sobrecarga de trabalho, ou seja, dedicar-
se à outra atividade. A autora citada anteriormente considera sobrecarga o
mesmo que superestímulo, e que ocorre distress quando as exigências excedem
a capacidade do indivíduo de processar ou cumprir as tarefas. Não foi o resultado
encontrado neste estudo, onde a maioria dos motoristas não se dedicava à outra
atividade e apresentou o maior índice de stress. Neste caso, aproxima-se mais
dos dados encontrados nos estudos de Lipp (1984), de que o mesmo evento pode
produzir distress em uma pessoa e eustress em outra, dependendo da
interpretação dada a cada evento.
Uma outra possibilidade que pode explicar o resultado encontrado nos
motoristas que desenvolviam duas atividades e mesmo assim apresentaram o
menor índice de stress, provavelmente pelo fato da segunda atividade
desestressar o motorista da primeira.
Os dados que se referem à percepção de renda nesta pesquisa parecem
estar de acordo com a pesquisa de Watanabe (1996), que constatou a jornada
prolongada como uma constante entre os motoristas pesquisados e supôs que
esta prática tinha um significado duplo: ao mesmo tempo em que reclamavam de
87
cansaço, desejavam fazê-las para aumento da renda. O fato ainda de perceberem
a renda como suficiente pode ser devido ao teto salarial ser padronizado e
obrigatório para todos os motoristas de ônibus urbano em Campo grande-MS,
sendo um salário razoável se comparado a outras categorias similares; também
pelas oportunidades da dupla jornada e horas extras oferecidas pelas empresas,
o que gera aumento de renda e pelo fato de que 46% dos motoristas pesquisados
nesse estudo dedicavam-se a outras atividades, como discutido anteriormente.
Quanto à questão do lazer, os dados podem estar de acordo com o
apontado por Fontana (1991), quando descreve que o corpo tem um ritmo
biológico (ritmo circadiano) e quando desrespeitado ou forçado ao extremo pode
causar stress tanto fisiológico como psicológico. De acordo também com Selye
(1965), que destacou a importância da diversão, que redunda na descentralização
de esforços, e a qual auxilia no restabelecimento da normalidade, reduzindo o
índice de stress. Resultados semelhantes parecem ter sido encontrados nos
estudos de Bueno (2000), que investigou o stress ocupacional na área médica,
onde uma das estratégias mais utilizadas foi ter um lugar em casa para relaxar e
exercer um passatempo habitualmente.
Os dados que se referem ao problema de saúde nesta pesquisa não foram
correlacionados com a ocorrência de stress, diferentemente dos resultados
obtidos por Matos (2000), que apesar de ter investigado professores universitários
foi constatado a existência de associação positiva entre o grau de stress e os
problemas de saúde apresentados. Está em desacordo também com os
resultados encontrados por Vieira (2001) em uma população de enfermeiros,
onde o resultado foi um baixo nível de stress ocupacional em enfermeiros, porém,
o stress estava relacionado com algumas variáveis dentre elas, a saúde física e
mental deficitária.
O fato dos motoristas apresentarem stress significativo mesmo quando não
apresentaram problemas de saúde, nesta pesquisa pode provavelmente estar
relacionado à fase de resistência do stress, estágio em que os sintomas começam
a surgir, mas, às vezes ainda não são percebidos.
88
A prática da atividade física pareceu sugerir nesta pesquisa, uma estratégia
eficaz para o controle do stress, o que possivelmente está em concordância com
o estudo de Morini (1997), quando mencionou que a atividade física promove
resposta de descanso, uma vez que diante de situações de risco, pressões
psicológicas e ameaças reais ou imaginárias, o Sistema Nervoso Autônomo sofre
uma superestimulação, necessária para a mobilização de uma ação que, quando
impedido de agir, a resposta de descanso não vem ou é dificultada, sendo a
atividade física um meio de liberação da acetilcolina.
Os dados obtidos com relação à atividade física, também estão de acordo
com Fontana (1991), quando menciona que os exercícios físicos desempenham
uma parte importante na redução do stress, ajudam a descarregar a energia e
auxiliam a mente a voltar-se para outras atividades e, assim, esquecer as
frustrações e pressões que em princípio ativam o corpo além de aumentar os
níveis de endorfinas no sangue, proporcionando uma sensação de bem-estar,
entre outros.
O resultado encontrado nesta pesquisa, que os motoristas faziam prática
religiosa e mesmo assim, um pouco mais da metade deles apresentaram stress e
a outra parte não, possivelmente esteja em concordância com o que Couto (1987)
quis transmitir ao dizer que exercícios físicos, tempo para lazer, dietas, técnicas
de relaxamento, religião, gritar e bater em uma almofada, o uso de remédios,
álcool, drogas, entre outros são formas de diminuir transitoriamente as tensões,
mas que essas formas de catarses não contribuírem para a superação do
problema, ou ainda, com os achados de Troccoli, Seidl e Zannon (2001), sobre a
estratégia de enfrentamento relacionado à religiosidade pode estar associado
tanto com estratégias de aproximação em relação ao estressor, como solução do
problema e planejamento ou atividades de afastamento como negação ou fuga.
Na amostra desta pesquisa, foi encontrado somente um viúvo, sendo que
não pode ser considerado dado significativo. Nos dados referentes aos casados,
que nesta amostra foram quase a maioria e mais da metade deles apresentaram
stress, parece sugerir uma aproximação com o resultado de uma pesquisa
realizada por Vilela (2001) sobre o stress no relacionamento conjugal, onde na
89
testagem inicial e antes do efeito do treino de controle do stress (TCS) foi
detectado um nível de stress elevado entre os casais, em virtude de várias
causas, provavelmente de situações específicas de relacionamento conjugal. Por
outro lado, nos estudos de Sparrenberger, Santos e Lima (2004), dentre os
eventos produtores de stress, foram encontrados o de maior efeito para
separação conjugal. Vale ainda ressaltar os achados de Lipp e Tanganelli (2002),
que a estratégia de enfrentamento dos juizes mais mencionada foi conversar com
o cônjuge.
A fase de alerta, a segunda maior fase do stress mencionada nesta
pesquisa, pode indicar pelo menos duas situações: uma reação de enfrentamento
quando o motorista se encontra diante de um estressor essencial para a
prevenção da vida, e de acordo com Lipp e Malagris (1995), pode ocorrer nesta
fase aumento da motivação, entusiasmo e energia que pode gerar maior
produtividade ao motorista, desde que não ultrapasse a capacidade de cada um,
e este seria o lado bom do stress, e a outra situação, concordando com Vilela
(1995), que a fase de alerta pode ser considerada como um aviso, um alerta
quanto a necessidade de se controlarem esses sintomas para impedir a evolução
e agravamento dos mesmos.
Há uma concordância no que se refere à fase de resistência evidenciar o
maior índice do que as outras fases em outras pesquisas sobre o stress do
motorista (VILELA, 2002; ALMADA et al., 2004; equipe da saúde – ANGERAMI;
CAMELO, 2004; professores – OLIVEIRA, 2003).
A predominância da fase de resistência nos motoristas com sintomas de
stress pode ser um indicativo de que os fatores estressores continuam presentes
e o organismo tenta reestabelecer o equilíbrio, adaptando-se. Na fase de
resistência do stress, como é enfatizado por Lipp e Malagris (2001), o ser
humano, por meio de ação reparadora, utiliza-se da energia adaptativa para se
reequilibrar, daí a sensação de desgaste generalizado, sem causa aparente. O
organismo fica enfraquecido, mais suscetível a doenças, que se não combatidas e
o stress não controlado pode evoluir para a fase da quase exaustão, e a fase de
exaustão. Os resultados desta pesquisa com relação à fase de stress requerem
90
um olhar diferenciado uma vez que 17,6% deles já se encontraram na fase da
quase exaustão e um motorista pelo menos na fase da exaustão.
A sintomatologia de stress mais presente nesta pesquisa na área
psicológica contraria a hipótese inicial de que os sintomas estariam concentrados
na área física, devido às condições de trabalho dos motoristas e por ter sido este
o resultado encontrado anteriormente na população de motoristas nos estudos de
Vilela (2002), em que os sintomas se concentraram mais na área física. Já nas
pesquisas de Almada et al. (2004), a incidência dos sintomas físicos e
psicológicos foram iguais.
A concentração dos sintomas na área psicológica pode revelar a existência
de fortes pressões no ambiente de trabalho, bem como a inabilidade pessoal de
enfrentamento do stress. É importante ressaltar que os sintomas de stress, na
população estudada, se concentraram mais na área psicológica, sendo assim a
maioria dos motoristas, provavelmente, não necessita ainda do profissional
médico, exceto nos casos de quase exaustão e exaustão já identificados neste
estudo. Este resultado esta de acordo com os estudos de Lipp (1996), que
quando o estressor foi eliminado ou quando se utilizaram técnicas de controle do
stress, o processo terminou e o organismo se restabeleceu.
Um resultado relevante nesta pesquisa a diferença estatisticamente
significativa (p = 0,0181), encontrada entre a fase do stress e o tempo de carteira.
Estes dados do resultado evidenciaram que, quanto maior o tempo de carteira,
mais avançada é a fase do stress.
A correlação encontrada entre a fase do stress e o tempo de carteira nesta
pesquisa tornou-se um dado preocupante principalmente, quando os motoristas
que apresentaram stress e com tempo de carteira acima de 10 anos
representaram mais da metade da amostra e acima de 20 anos já ultrapassaram
a metade (62,5%) e por apresentarem características sócio demográficas que
parecem favorecer o aparecimento e a manutenção do stress dos motoristas.
91
Esses dados ainda confirmam o pensamento de Selye (1965) quando
menciona que a importância do ato de completar as três fases da resposta do
stress em todas as atividades humanas passa pela fase de surpresa (reação de
alarme), pela fase do domínio (fase da resistência), da fadiga (fase da exaustão) e
posteriormente para a resposta de descanso. O estado de fadiga ou frustração,
causado pela dedicação excessiva ou prolongada à uma causa, por possuir
expectativas elevadas e não realizadas, por insistirem em metas muitas
inatingíveis, pode levar a pessoa ao estado de esvaziamento, de esgotamento.
Corroboram com os resultados desta pesquisa os dados encontrados por
Araújo (2001), em que o tempo de atuação profissional esteve correlacionado
com o esgotamento emocional.
Conforme ainda Guimarães (2000, p. 37), “[...] a inabilidade para lidar-se
com o estresse, haverá seu prolongamento, sua cronicidade e portanto, poderá
ocorrer o burnout”. Acomete profissionais, na sua maioria com alto grau de
contato interpessoal, em distintas faixas etárias, pessoas competentes, auto-
suficientes e que ocultam suas fraquezas, após 10 a 15 anos de atividade
profissional. Ainda, de acordo com França (1987), os profissionais atingidos pelo
burnout são pessoas que se dedicam profundamente ao seu trabalho, não sabem
dizer não, se ocupam com várias causas ao mesmo tempo e que retiram do
trabalho grande parte da sua satisfação pessoal e, paradoxalmente, este tipo de
profissional é o mais procurado e promovido pelo departamento pessoal.
Essas características citadas anteriormente parecem ser as características
da empresa e dos motoristas pesquisados, especialmente na provável dedicação
intensiva por parte do trabalhador e por tal comportamento esperado e reforçado
por parte da empresa, o que possivelmente pode vir a justificar tantos anos de
vínculo empregatício.
Um outro problema que pode agravar ainda mais o estado de esgotamento
no caso dos motoristas desta pesquisa que já se encontravam na fase da quase
exaustão e da exaustão, é o fato desse estado poder ser aliviado com o uso de
álcool ou outros tipos de drogas, conforme menciona Lipp e Malagris (1995).
92
Parece ter sido o resultado obtido nos estudos com motoristas por Cunradi et al.
(2003), no qual o estado de esgotamento emocional estava associado com o uso
de bebidas alcoólicas.
93
9 CONCLUSÃO
O presente estudo, na busca de uma melhor compreensão sobre o stress
do motorista de ônibus urbano, avaliou o nível de stress, verificou a fase do stress
e identificou a sintomatologia mais presente.
A proposta deste estudo atingiu, enfim, os seus objetivos. Os resultados
foram de que um pouco mais da metade (53,1%) dos motoristas apresentaram
stress significativo, a fase mais encontrada foi de resistência e a sintomatologia
mais presente foi na área psicológica.
A predominância da fase de resistência nos motoristas com sintomas de
stress pode ser um indicativo de que os fatores estressores continuam presentes
e o organismo tenta reestabelecer o equilíbrio, adaptando-se.
A concentração dos sintomas na área psicológica pode revelar a existência
de fortes pressões no ambiente de trabalho, bem como a inabilidade pessoal de
enfrentamento do stress.
Não foi encontrada nenhuma diferença significativa entre a ocorrência de
stress e alguns dos dados biográficos analisados, no entanto, o stress foi
observado em todas as situações pesquisadas e os resultados revelaram que a
maioria dos motoristas apresentou nível de stress mais elevado quando:
a) não desenvolviam outras atividades;
b) não consideravam a renda suficiente;
c) consideravam o lazer péssimo;
d) tinham problemas de saúde;
94
e) não faziam atividades físicas;
f) não praticavam alguma religião;
g) faziam 2 ou mais turnos;
h) -eram solteiros.
Apesar das relações entre stress e alguns dados biográficos não terem
sido observadas, as variáveis revelaram-se como possíveis fontes de pressão no
trabalho. Pode-se dizer, então, que os motoristas mostraram respostas diferentes
para uma mesma situação, apresentaram uma forma pessoal de avaliar e
enfrentar os acontecimentos da vida.
Uma importante associação foi encontrada entre o tempo de carteira de
motorista e a fase do stress: quanto maior o tempo de carteira, mais avançada era
a fase do stress. Tais dados obtidos revelaram um quadro preocupante no que se
refere a uma classe que exerce a função fundamental de transportar pessoas
para satisfazer outras necessidades consideradas essenciais como trabalho,
saúde, educação, convívio social, entre outros.
Sendo assim, o presente estudo tem implicações nos campos da
psicologia, do trabalho e das políticas de transportes públicos.
Pesquisas futuras devem ampliar o tamanho da amostra para que
generalizações mais fidedignas possam ser realizadas.
Vê-se a necessidade de um treino de controle do stress desses motoristas
que os levem a um melhor manejo do stress e habilidades sociais. Tal treino
poderia possivelmente prevenir e diminuir a dificuldade de enfrentar situações
estressantes, principalmente para os que mencionaram mais tempo de carteira.
95
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104
APÊNDICES
105
APÊNDICE A
Cronologia do transporte coletivo urbano em Campo Grande
Período Cronologia
Antes 1989
O sistema operava com linhas convencionais, ou seja, as viagens eram
realizadas no sentido bairro/centro e centro/bairro.
1989
Iniciaram-se os estudos para implantação do Sistema Integrado de Transportes
(SIT), com a consultoria da URBS de Curitiba-PR.
1990
Deu-se início às construções dos terminais de integração do SIT: Terminais
Bandeirantes, General Osório e Júlio de Castilho.
1991
Foram inaugurados e iniciaram as operações dos terminais Bandeirantes,
General Osório, Morenão, Júlio de Castilho, com três tipos de linhas:
Alimentador (Azul), Troncal (Vermelho) e Intermediário (Verde);
Entram em operação ônibus tipo Padron nas linhas troncais e interbairros;
Foram mantidas algumas linhas convencionais (amarelas);
Os quatro terminais representaram 43% de integração de todo Sistema.
1993-1996
O Sistema operou sem alterações;
Em junho de 1993 foi concedida a isenção total para os estudantes (Lei n.
3.026).
1997
Foi finalizado o Plano Diretor de Transporte de Campo Grande, tendo sido
confirmada a viabilidade da continuidade do Sistema Integrado de Transportes –
SIT;
A administração municipal desse ano assumiu o sistema com uma frota
operante de 345 veículos, estudantes beneficiados com isenção total.
1998
Foi realizado um processo licitatório, abrindo a concessão dos serviços de
transporte coletivo urbano em cinco lotes de frota, acabando com as áreas de
atuação exclusivas;
A licitação adotada foi o sistema de outorga onerosa, onde foi cobrado, das
cinco empresas vencedoras, o valor de R$4.800.000,00 que foram investidos
em reformas e ampliações dos terminais existentes e na construção dos
terminais Nova Bahia, Guaicurus e Aero Rancho;
Com a inauguração dos novos terminais, iniciaram-se as operações de três
veículos articulados, micro-ônibus executivos e veículos adaptados com
elevadores hidráulicos;
Com o início de operação dos novos terminais e ampliação dos existentes, a
integração passa a ser de 63%.
2000
Foi dado início à implantação do Sistema de Bilhetagem Eletrônica.
2001
Foi construído e inaugurado o Terminal das Moreninhas, com isto, aumentou
para 67% a integração no SIT.
2004
Foram adquiridos 10 ônibus adaptados com elevador hidráulico e 30 micro-
ônibus urbanos.
Lançamento da construção de mais dois terminais de transbordo: Tiradentes e
São Francisco;
Nos oito anos da administração do atual Prefeito, foram pavimentados cerca de
105 km de linhas de ônibus.
106
APÊNDICE B
Termo de consentimento livre e esclarecido
O presente estudo trata-se de uma pesquisa para o Programa de Mestrado em Psicologia
da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, MS, como parte dos
requisitos para obtenção do titulo de mestre, realizado pela mestranda Marli Aparecida
Bigattão, orientada pela psicóloga, Profª. Drª. Marta Viera Vilela. Objetivamos levantar as
ocorrências de stress em motorista de transporte coletivo em uma empresa de Campo
Grande. Portanto, será solicitado aos participantes o preenchimento do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, Questionário de Caracterização e Inventário Lipp
(ISSL).
Eu, ................................................................................................................., declaro que
aceito participar deste estudo, tendo sido garantido que serei tratado com dignidade,
respeito e autonomia, que os dados por mim fornecidos serão confidenciais e que minha
identidade será mantida em sigilo, através da total preservação das questões éticas de
confidencialidade, anonimato e de privacidade, bem como a garantia de que serei
protegido com relação a danos e riscos previsíveis. Tenho também a plena liberdade de
retirar o consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalidade alguma e sem
prejuízo.
Saliento que o consentimento em participar deste estudo abrange a possibilidade da
publicação em formato de artigo cientifico e/ou apresentação dos resultados em eventos
científicos, seguindo as normas éticas de pesquisa do Conselho Nacional de Saúde.
Campo Grande MS, ..........de ...................................................... de 2004.
......................................................................
Assinatura do participante
......................................................................
Marli Aparecida Bigattão
Psicóloga – CRP 14/00298-0
Orientadora Profª. Drª Marta Vieira Vilela
CRP 14/00126-5
107
APÊNDICE C
Questionário de caracterização sócio-demográfico – pré-teste
1) Nome...............................................................................................................................
2) Data de nascimento................................... Naturalidade.......................................
3) Escolaridade ...................................................................................................................
4) Data da expedição da carteira de motorista categoria D ................................................
5) Tempo de experiência como motorista de transportes ...................................................
6) Data de admissão nesta empresa como motorista.........................................................
7) Turno atual de serviço neste momento...........................................................................
8) O que você acha da sua profissão de motorista?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
9) O que você acha que os outros pensam da sua profissão?: ..........................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
10) Quais são as melhores partes do seu trabalho?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
11) Quais são as piores partes do seu trabalho?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
12) Como você faz para superar as piores partes do seu trabalho?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
13) Se fosse possível você mudar o que você considera ruim do desempenho de seu
trabalho, o que você mudaria?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
14) Outras atividades profissionais .......................................................................................
108
15) Como está o seu relacionamento afetivo (amigos, companheiro/a, familiar)?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
16) Estado civil ................................................. Quanto tempo ...................................
17) Filhos:
Sexo: ............................ Idade: ...................... Escolaridade: ......................
Sexo: ............................ Idade: ...................... Escolaridade: ......................
Sexo: ............................ Idade: ...................... Escolaridade: ......................
Sexo: ............................ Idade: ...................... Escolaridade: ......................
18) Como está a sua situação financeira?
........................................................................................................................................
19) Quantos trabalham e colaboram nas despesas familiares?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
20) Possui casa própria?....................... É quitada ou financiada? ....................................
21) Possui carro próprio? .....................................................................................................
22) A renda familiar é suficiente? .........................................................................................
23) Como é o seu lazer?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
24) O que você geralmente faz nos seus dias de folga?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
25) O que você geralmente faz nos seus dias de férias?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
26) Como esta a sua saúde?
........................................................................................................................................
27) Bebe? ..................................................... Fuma? ...................................................
Toma medicação? .................. Qual?..........................................................................
109
28) Você tem algum problema de saúde que precisa de tratamento constante?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
29) Nos últimos três meses, você tirou alguma licença médica?..........................................
Qual o motivo?................................................................................................................
30) Nos últimos três meses você consultou um médico por estar se sentindo doente?
........................................................................................................................................
31) Você pratica algum exercício físico ou esporte?.............................................................
Quantas vezes por semana? ..........................................................................................
32) Como é a sua alimentação?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
33) Do que você se alimenta:
No café da manhã...........................................................................................................
No almoço.......................................................................................................................
No lanche da tarde..........................................................................................................
No jantar..........................................................................................................................
Outras .............................................................................................................................
34) Você é praticante de alguma religião?............................................................................
Qual?...............................................................................................................................
35) Como você vê o mundo em que nós vivemos?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
36) Como você se define como pessoa, qual é o seu jeito de ser?
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
110
APÊNDICE D
Questionário de caracterização sócio-demográfico - final
1) Nome...............................................................................................................................
2) Data de nascimento................................... Naturalidade.......................................
3) Escolaridade ...................................................................................................................
4) Data da expedição da carteira de motorista categoria D ................................................
5) Tempo de experiência como motorista de transportes ...................................................
6) Data de admissão nesta empresa como motorista.........................................................
7) Turno atual de serviço neste momento...........................................................................
8) Possui outras atividades profissionais?
[ ] Sim [ ] Não
9) Estado civil:
[ ] Casado [ ] Solteiro [ ] Viúvo
10) Filhos:
[ ] Sim [ ] Não
11) A renda familiar é suficiente?
[ ] Sim [ ] Não
12) Como é o seu lazer?
[ ] Sim [ ] Não
13) Você tem algum problema de saúde que precisa de tratamento constante?
[ ] Sim [ ] Não
14) Você pratica algum exercício físico ou esporte?
[ ] Sim [ ] Não
15) Você é praticante de alguma religião?
[ ] Sim [ ] Não
111
APÊNDICE E
Aviso aos Motoristas VCM
A partir do dia 06 de agosto de 2004, será realizada uma pesquisa sobre stress, junto aos
motoristas da VCM, no Setor Administrativo perto do Departamento Pessoal.
Trata-se de uma pesquisa para Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade
Católico Dom Bosco (UCDB), sob responsabilidade da psicóloga Marli Bigattão (ex
Psicóloga da VCM).
Aos motoristas interessados será fornecido resultado individual.
Através da pesquisa, será analisada a qualidade de vida bem como as condições de
trabalho dos voluntários que participarem.
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