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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
A IMPLEMENTAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM BROTAS – SP:
EUFORIA E DECLÍNIO
SELMA APARECIDA CURY AGNELLI
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Araraquara, como parte
das exigências para obtenção do título de
Mestre em Desenvolvimento Regional e
Meio Ambiente
A R A R A Q U A R A – SP
2006
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
A IMPLEMENTAÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM BROTAS – SP:
EUFORIA E DECLÍNIO
Aluna: Selma Aparecida Cury Agnelli
Orientador: Prof. Dr. Oriowaldo Queda
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Araraquara, como parte
das exigências para obtenção do título de
Mestre em Desenvolvimento Regional e
Meio Ambiente
A R A R A Q U A R A – SP
2006
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FICHA CATALOGRÁFICA
(1) Autor – Agnelli, Selma A. Cury
(2) A implementação da atividade turística em Brotas- SP: (3) euforia e declínio (4) Selma A.
Cury Agnelli.(5) Araraquara,(6) 2006.
(7) Dissertação de Mestrado – UNIARA – Centro Universitário de Araraquara
(8) Área de concentração: Dinâmica Regional e Alternativas de Sustentabilidade
(9) Orientador: Queda, Oriowaldo.
(10) 1. Brotas. 2. Ecoturismo. 3. Ciclo de vida do produto.
BANCA DE DEFESA
__________________________________________
Dra. Odaléia Telles Marcondes Machado de Queiroz
ESALQ/USP
_______________________________________
Profa. Dra.Solange Terezinha Lima Guimarães
UNESP
_____________________________
Dr. Oriowaldo Queda
UNIARA
“Ensinai também, a vossos filhos, aquilo que
ensinamos aos nossos: que a terra é nossa mãe. Dizei a
eles, que a respeitem, pois tudo que acontecer à terra,
acontecerá aos filhos da terra... ao menos sabemos isso:
a terra não é do homem; o homem pertence à terra.
Todas as coisas são dependentes”.
Carta do chefe índio Seatle ao Presidente dos EEUU (Franklin Pierce) em 1854.
Aos meus dois amores, maior presente de Deus para minha vida, Ana
Helena e Ana Paula.
Compartilho com meu amado esposo, Paulo Fernando Agnelli, as alegrias
de uma vida de amor, amizade, apoio e compreensão.
Aos meus amados pais, Fuad Cury e Maria Luiza M. Cury, ao meu irmão
Fuad Samir e cunhada Anamélia expresso meus sinceros agradecimentos pelo
incentivo, confiança e apoio em todos os momentos.
DEDICO.
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação é o resultado da Fidelidade, Misericórdia e Provisão de
Deus para com a minha vida. Diante disso, posso dizer: “Até aqui o Senhor tem
me ajudado. A Ele toda honra, glória e louvor”. Agradeço este trabalho a Esse
Deus que tudo pode e tudo vê, como ato de louvor e adoração.
Meus agradecimentos ao meu orientador, Prof. Dr. Oriowaldo Queda,
nesta jornada de conhecimentos, compartilhando suas idéias e reflexões,
possibilitando o aperfeiçoamento de minha pesquisa. Orientador atento e
paciente, me mostrou os caminhos para a busca do conhecimento.
Aos amigos especiais de mestrado, pela troca de conhecimentos: Alcir
Antonio Kuranga, Alessandro S. de Oliveira, Alexandre Marucci Bastos, Antonio
Silvestre Leite, Cátia Miciane Caíres Haddad, Eliene Cristina Barros Ribeiro,
Falbert Mauricio de Sena, Juliana Munaretti de Oliveira, Juliana Sakoda T.
Chinalia, Lee Yun Feng, Leonice Aparecida da Silva, Manoel Luiz Neto, Núbia
Alves de Carvalho Ferreira, Paulo Sérgio Rosalin Moreno, Rodrigo Furgieri
Manchini.
À Ivani e Adriana, secretárias do Curso de mestrado, pessoas especiais,
sempre muito competentes e atenciosas, agradeço pelo grande apoio.
À banca examinadora pela gentileza de participarem desta etapa, nessa
pesquisa.
Gostaria de agradecer as contribuições da Prof. Dra. Solange
T.Guimarães e ao “Ju” da Mata’dentro Eco Parque.
A amiga Cristiana Posati pela força nessa fase da minha vida.
A todos vocês, meu muito obrigado!
SUMÁRIO
Lista de Siglas.............................................................................................
Lista de Tabelas..........................................................................................
Lista de Figuras...........................................................................................
Resumo.......................................................................................................
Abstract…..….....................................................………..............................
1. Introdução ...............................................................................................
1.1. Justificativa ..........................................................................................
1.2. Problematização...................................................................................
1.3 Hipótese ...............................................................................................
1.4 Objetivos................................................................................................
1.4.1 Objetivo Geral.....................................................................................
1.4.2. Objetivos Específicos........................................................................
2 Desenvolvimento.....................................................................................
2.1. Desenvolvimento Sustentável e Turismo.............................................
2.1.1. Turismo sustentável..........................................................................
2.2. Ecoturismo............................................................................................
2.3 Turismo de Aventura............................................................................
3. Ciclo de vida das destinações turísticas..................................................
4. Material e Método....................................................................................
4.1. Revisão Bibliográfica............................................................................
4.2. Pesquisas Semi-estruturadas...............................................................
4.2.1. Delimitação do universo....................................................................
4.2.2. A amostra..........................................................................................
4.3. Levantamento fotográfico.....................................................................
5. Cenário da pesquisa................................................................................
5.1. Origem do Nome..................................................................................
5.2. Localização ..........................................................................................
5.3. Acesso..................................................................................................
5.4. Aspectos Fisiográficos..........................................................................
5.4.1 Geologia Regional..............................................................................
i
ii
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46
5.4.2. Geomorfologia...................................................................................
5.4.3. Climatologia.......................................................................................
5.4.4. Vegetação.........................................................................................
5.4.5. Recursos hídricos ...........................................................................
5.5. Perfil do Turista....................................................................................
6. Análise dos Resultados...........................................................................
6.1. Origem e Evolução da Atividade Turística em Brotas..........................
6.1.1. Fase da Exploração...........................................................................
6.1.2. Fase do Envolvimento.......................................................................
6.1.3. Fase do Desenvolvimento.................................................................
6.1.4. Fase da Consolidação ......................................................................
6.1.5. Fase do Declínio................................................................................
6.2. O ideal do Ecoturismo e o Ecoturismo em Brotas SP..........................
7. Considerações Finais..............................................................................
8. Bibliografia...............................................................................................
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49
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55
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i
LISTA DE SIGLAS
CONDEMA – Conselho de Defesa do Meio ambiente, instituição do Sistema
Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), sistema esse coordenado pelo
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA
), e integrado aos demais
conselhos equivalentes nos estados (CONSEMA-SP
) e municípios.
ONG – Organização Não-Governamental
CEPAM – Centro de Estudos e Pesquisas Ambientais - Fundação Prefeito
Faria Lima, integrado à Secretaria de Economia e Planejamento Governo do
Estado de São Paulo.
COMTUR – Conselho Municipal de Turismo (Brotas – SP)
CVP – Ciclo de Vida do Produto
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
ECA – Escola de Comunicações e Artes
IH – Instituto de Hospitalidade
OMT – Organização Mundial de Turismo
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
UCs – Unidade de Conservação
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
USP – Universidade de São Paulo
ii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Componentes do desenvolvimento sustentável.......................
TABELA 2. Princípios do turismo sustentável.............................................
TABELA 3. Progressão da preocupação ambiental....................................
TABELA 4. Turismo litorâneo de mercado de massa versus ecoturismo...
TABELA 5. Principais efeitos e impactos negativos potenciais...................
TABELA 6. Resumo das principais características, objetivos e
estratégias do ciclo de vida do produto.......................................................
TABELA 7. Perfil do turista.........................................................................
TABELA 8. Principais Motivações e Expectativas dos visitantes...............
TABELA 9. Características do turismo em Brotas antes de 1993, em
2001 e em 2005...........................................................................................
TABELA 10. Agências de Turismo em Brotas............................................
TABELA 11. Conseqüências positivas e negativas do turismo em
Brotas..........................................................................................................
TABELA 12. Ecoturismo e Ecoturismo em Brotas......................................
TABELA 13. Os efeitos e impactos da atividade turística apontados pela
EMBRATUR e os impactos potenciais em Brotas SP.................................
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iii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. O desenvolvimento cronológico do conceito de turismo
sustentável..................................................................................................
FIGURA 2. Ciclo de vida das áreas turísticas...........................................
FIGURA 3. Padrões de ciclo de vida ..........................................................
FIGURA 4. Categorias especiais e distintas de ciclos de vida de produto..
FIGURA 5. Mapa de localização do Estado de São Paulo no Brasil .........
FIGURA 6. Acesso por Rodovias................................................................
FIGURA 7. Detalhes do relevo do município de Brotas – 3ª Cachoeira
do Jacaré, Mata’dentro Ecoparque, bairro do Patrimônio..........................
FIGURA 8. Detalhes do relevo – Morro da Sela.........................................
FIGURA 9. Matas de Galeria – Furna do Rio Jacaré Pepira, antiga
Usina Hidroelétrica, bairro do Patrimônio atual Mata’dentro Ecoparque.....
FIGURA 10. Redução da cobertura vegetal – vista do vale do Rio
a
ré (região do Varjão)....................................................................................
FIGURA 11. Rio Jacaré Pepira – Parque dos Saltos..................................
FIGURA 12. Rio Jacaré Pepira – Três Saltos, trecho final do rafting..........
FIGURA 13. Mata’dentro Ecoparque – 2ª cachoeira São Sebastião, bairro
P
atrimônio......................................................................................................
FIGURA 14. Natureza transformada em produto – trecho de um afluente
do Rio Jacaré – Fazenda Sinhá Ruth – Mata’dentro Ecoparque................
FIGURA 15. Rio Jacaré-Pepira vista da ponte da cidade...........................
FIGURA 16. Cachoeira de Santa Maria – atrativo turístico em Brotas.......
FIGURA 17. 3ª Cachoeira – Mata’dentro Ecoparque..................................
FIGURA 18. Estrada da Carvoaria .............................................................
FIGURA 19. Estrada da Carvoaria .............................................................
FIGURA 20. Estrada da Carvoaria .............................................................
FIGURA 21. Descida de bóia no Rio Jacaré Pepira, Poção .....................
FIGURA 22.: Primeira Capa da bóia – Parque dos Saltos..........................
FIGURA 23. Bóia-cross – Parque dos Saltos..............................................
FIGURA 24. Bóia-cross – Parque dos Saltos..............................................
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iv
FIGURA 25. Arvorismo no Mata’dentro Ecoparque....................................
FIGURA 26. Arvorismo modalidade adulto.................................................
FIGURA 27. Cascading ou cachoerismo.....................................................
FIGURA 28. Caminhada no Mata’dentro Ecoparque..................................
FIGURA 29. Rafting no Rio Jacaré-Pepira..................................................
FIGURA 30. Rafting no Rio Jacaré-Pepira - 1º Salto dos Três Saltos.......
FIGURA 31. Alaya Centro de Aventura – Verticalinha................................
FIGURA 32. Alaya Centro de Aventura – Verticalinha................................
FIGURA 33. Ciclo de vida da atividade turística em Brotas S.P, baseado
no gráfico de Butler (1980)......................................
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92
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v
RESUMO
O município de Brotas, situado no centro geográfico do Estado de São
Paulo, se firmou na última década como uma das principais rotas de ecoturismo
e turismo de aventura do Brasil. O crescimento desse segmento no município e
seu sucesso são, em parte, devidos à criação de mecanismos de participação
comunitária em projetos ambientais, parcerias estabelecidas com o poder
público local e principalmente devido às características fisiográficas (relevo,
hidrografia, clima) favoráveis à implantação da atividade turística no município.
Por outro lado, o rápido desenvolvimento turístico do município, além de
conseqüências positivas, também tem trazido resultados negativos decorrentes
da falta de planejamento turístico inicial e da busca de lucro por empresários do
setor turístico, sem preocupação com a questão ambiental.
Este estudo tem como objetivo analisar o ciclo de vida do produto turístico
no município de Brotas-SP, seguindo o modelo de Butler (1980), mensurando,
assim, o seu desenvolvimento desde a euforia do crescimento até o seu declínio
e o possível rejuvenescimento do turismo.
Palavras-chave: Brotas, Ecoturismo, Turismo de Aventura, Ciclo de vida
do produto.
vi
Abstract
In the last decade the municipal district of Brotas, situated at the
geographical centre of São Paulo state, became a symbol in Brazil for Ecoturism
and Adventure Tourism Development. The growth of this segment in the district and
its success are, in part, owed to the creation of mechanisms of the local community
and participation in environmental projects, partnerships established with the local
public power and mostly due to the physiographic characteristics (relief,
hydrography, climate) favorable to the implantation of the tourist activity in the
municipal district.
On the other hand, the fast tourist development of the municipal district,
besides positive consequences, has also brought negative results originated from
the lack of initial tourist planning and the profit search of the tourist sector by
businessmen without preoccupation with the environmental matter.
The objective of this study is to analyze the area cycle of evolution in the
municipal district of Brotas – SP, following Butler’s Model (1980), measuring, this
way, its development since the euphoria of growth until decline and possible
rejuvenation of the tourism.
Keywords: Brotas, Ecotourism, Adventure Tourism, Area Cycle of Evolution
1
1. INTRODUÇÃO
Uma idéia corrente e muito simplista falseia a atividade turística, a de que
seja uma atividade redentora, tornando-a salvadora de muitos lugares.
Característico de uma sociedade de consumo, o turismo como um todo
estruturado é um produto composto por bens e serviços, tangíveis e intangíveis.
Assim, o produto turístico inclui recursos e atrativos naturais e artificiais,
equipamentos e infra-estruturas, serviços, atitudes recreativas, imagens e valores
simbólicos, constituindo-se num conjunto de determinados benefícios capazes de
atrair certos grupos de consumidores em busca de satisfação de motivações e
expectativas, criadas principalmente pelas publicidades midiáticas.
Assim, desde que informações passaram a circular apontando o turismo
como uma atividade econômica rentável, vem ocorrendo uma frenética disputa
pela exploração turística nos mais variados paises, despertando o interesse de
empreendedores, governos e profissionais de vários setores da sociedade. Desse
modo, o turismo tem sido a esperança de desenvolvimento econômico, somado
também a promessas milagrosas como alternativa capaz de gerar renda, criar
empregos e melhorar a qualidade de vida das pessoas e contribuir para a paz
entre as nações.
Para Boo , o impacto teórico do turismo é bem conhecido, porém:
“ eles provocam reações conflitantes em relação ao ecoturismo, pois se
de um lado temos a geração de receitas, criação de empregos, a
promoção de educação ambiental e conscientização sobre a
conservação, por outro lado, temos a degradação do meio ambiente, as
injustiças e a instabilidade econômica e as mudanças socioculturais
negativas. (BOO, 1995,p.34)
Para Cooper, Fletcher, Wanhill, Gilbert e Shepherd (2002,p.36):
2
as organizações internacionais apóiam o turismo por sua contribuição à
paz mundial, pelos benefícios da mesclagem de povos e culturas, pelas
vantagens econômicas que podem advir e pelo fato de que o turismo é
uma indústria relativamente ‘limpa.
Para Teixeira, (s.d., p.1) apesar da atividade turística “ser chamada por
muitos de indústria sem chaminé (ela) é responsável por diversos impactos
negativos nas localidades onde ela se desenvolve, decorrentes de sua indevida e
mal planejada apropriação dos bens naturais, históricos e culturais dos povos.”
Assim, o turismo traz consigo algumas questões que começam a ser
discutidas nos âmbitos acadêmico, científico e empresarial. Entre elas, a questão
da sustentabilidade do turismo, o respeito pelas culturas locais e conservação de
patrimônios históricos e naturais, dado que para alguns o turismo tem sido o
grande salvador, visto como instrumento para a proteção, revitalização e utilização
sustentável dos recursos naturais e culturais.
Porém, o estudo do turismo é relativamente jovem, criando assim uma gama
de questões para os envolvidos em pesquisas sobre o tema, sofrendo muitas
vezes indefinições conceituais e confusões na terminologia.
A partir da década de 50 do século passado, o “turismo massivo”
desencadeou a euforia típica nos anos de 1970, relacionando-o principalmente à
prosperidade econômica e ao desenvolvimento de destinos e atrações, num
ambiente de grandes transformações políticas, econômicas, sociais e culturais.
A partir desse boom do turismo - que ocasionou a sua exploração
desenfreada e quase sempre irresponsável - em relação ao meio ambiente, a
atividade tem sido submetida progressivamente às críticas mais duras; a
“experiência turística” passou a ser vista sob a ótica de todos os agentes e atores
que comandam o processo. Assim, passaram a ser levados em conta não só os
interesses de governos, de turistas e de empresários, mas também os da
população local.
Ao lado do turismo de massa, em franca evolução, avançou o discurso em
prol do desenvolvimento sustentável, que clamava por um “turismo sustentável ou
durável”, passando a estar presente em várias esferas da sociedade.
3
A partir daí o termo “turismo sustentável” começou a ser usado de forma
constante e corriqueira, muitas vezes como sinônimo de Ecoturismo, Turismo
Responsável, Turismo Alternativo, Turismo de Aventura, Turismo Ecológico,
Turismo Natural, Turismo Verde, Turismo Leve, Turismo Rural e Agroturismo. São
classificações usadas na literatura para tipos de turismo que respeitam o equilíbrio
Homem – Natureza. A mercadoria paisagem se constituiu num dos fundamentos
do turismo, aparecendo como a principal determinante dessa atividade
(OURIQUES , 2005, p.18).
A natureza exuberante é um elemento fundamental para o consumo
turístico. Desse modo, no turismo sustentável buscava-se usufruir o turismo no
presente e também deveria possibilitar o seu uso no futuro. Além disso, procurou-
se aplicar o conceito de capacidade de carga
1
, a fim de limitar a quantidade de
turistas de destinações e atrações ecoturísticas.
Nas últimas décadas alteraram-se profundamente as características da
demanda, dos equipamentos e dos serviços turísticos, tornando os
empreendimentos turísticos muito mais competitivos.
Neste início do século XXI, os desafios a serem enfrentados pelo turismo
(sejam quais forem suas classificações), são enormes e complexos: rápida
inovação dos produtos turísticos em decorrência da diminuição dos seus ciclos de
vida e das exigências requeridas por novos segmentos de público; pressões
ambientais e as grandes diferenças regionais influenciando os custos das viagens;
o direcionamento das correntes turísticas e as dificuldades para garantir o
crescimento consistente a longo prazo, em harmonia com os recursos humanos e
naturais de destinos e produtos turísticos
2
.
1
Capacidade de carga – se refere a um ponto além do qual níveis superiores de visitas ou de
desenvolvimento turístico levariam a uma deterioração inaceitável do ambiente físico e da
experiência do visitante. (ARCHER e COOPER, 2001,p. 85-102)
É no mínimo curioso que um conceito comumente utilizado em Zootecnia (número de animais por
área de pastagem) seja utilizado para analisar os efeitos dos empreendimentos turísticos.
2
Para uma história do turismo, consultar, REJOWSKI (2002).
4
A mobilização do turismo como atividade sócio-econômica e cultural gerou
em muitos lugares a destruição de bens naturais e culturais. Essa constatação tem
levado ao desenvolvimento de obras críticas a esses procedimentos (OURIQUES,
2005). O turismo de massa ou o turismo alternativo quando apresenta um
planejamento adequado, aliado ao trabalho em conjunto das pessoas envolvidas
nessa atividade, tem a cada dia consolidado uma dinâmica diferenciada nos
processos de preservação/conservação, buscando salvaguardar as condições dos
recursos paisagísticos naturais e construídos.
Porém, atualmente a situação da atividade turística tem se tornado
preocupante em muitos destinos. Áreas idealizadas para a prática do ecoturismo
têm recebido um fluxo cada vez maior de visitantes, e esse fluxo tem aumentado
drasticamente, duplicando ou triplicando em um ano, e muitas dessas áreas não
estão preparadas para o turismo, pois elas estão a cargo de pessoas sem
treinamento em gestão de turismo. (Boo, 1995, p.34)
É sob essa perspectiva que este trabalho foi desenvolvido. Foi analisado o
município de Brotas, localizado no centro geográfico do Estado de São Paulo, o
qual apresenta aspectos fisiográficos relevantes ao empreendimento Ecoturístico.
A abundância de recursos naturais, principalmente hídricos, com inúmeras
cachoeiras e corredeiras, tornou o município um local considerado ideal para a
prática dos esportes de aventura. Brotas está próxima a várias cidades importantes
no contexto econômico regional como Jaú, Bauru, Araraquara, Piracicaba. Além
disso, há cidades próximas que também atuam na atividade turística da região do
município como São Pedro, Águas de São Pedro e Barra Bonita.
O turismo em Brotas se desenvolveu freneticamente e em 2002, recebeu
130 mil turistas durante o ano, número relevante para um município interiorano de
21.695 habitantes (IBGE, 2005).
Ao longo desta pesquisa abordaremos fatos históricos que contribuíram para
que a atividade turística se desenvolvesse. Devido à insuficiência
3
bibliográfica
3
Tomamos conhecimento da tese: “Análise sistêmica, turismo de natureza e planejamento
ambiental de Brotas:proposta metodológica”de autoria de Charlei Aparecido Silva de julho de
2006, quando esta dissertação já estava finalizada.
5
referente ao surgimento do turismo em Brotas, consideramos que seria importante
a reconstituição dessa história com base em entrevistas semi-estruturadas com
algumas pessoas responsáveis pelo início da atividade, bem como com as
agências de turismo que foram se instalando na cidade durante a fase de
desenvolvimento dessa nova atividade econômica no município.
1.1 Justificativa
Em Brotas, a atividade turística é adjetivamente explorada como Ecoturismo,
Turismo de Aventura e Turismo Ambientalista. Brotas aparece nas mais diversas
revistas do segmento de viagens e turismo, tais como em Próxima Viagem, Jornal e
Revista de Ecoturismo, Revista Adventure. Aparece também nas revistas Veja,
Veja São Paulo, Isto é, Cláudia, Sexy; nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de
S. Paulo e em reportagens televisivas como no programa Fantástico, da Rede
Globo.
Atualmente, com base em dados da Diretoria de Turismo de Brotas, tem sido
notada uma diminuição no fluxo de visitantes, depois de 2002. Diversos trabalhos
sugerem que a atividade turística sem planejamento apresenta um ciclo de vida
com o seu auge e o seu conseqüente declínio (BUTLER, 1980; RUSCHMANN,
1997; COOPER, FLETCHER, WANHILL, GILBERT e SHEPHERD, 2002).
Pretendemos, neste trabalho, avaliar o surgimento da atividade turística no
município de Brotas, tendo em vista fatores importantes no contexto regional, como
a pretendida mudança da capital do Estado para Brotas (Paulo Salim Maluf, 1978
4
),
a criação da sede do CONDEMA (Conselho de Defesa do Meio Ambiente), e o
surgimento da ONG Movimento do Rio Vivo. Brotas, em 2002, passa a ser
4
Esse fato não foi explorado com profundidade nesse trabalho.
6
considerada a “Capital dos Esportes de Aventura”
5
. Assim, todos esses fatores são
apontados como responsáveis pelo desenvolvimento do Ecoturismo na cidade.
Mas, recentemente, as notícias sobre Brotas não aparecem com a
freqüência e ênfase até então devotadas pela mídia a esse segmento.
A Diretoria de Turismo de Brotas aponta uma redução significativa quanto ao
fluxo de visitação. Do mesmo modo, os proprietários das agências mencionam o
aparecimento de outras localidades, na região, com oferta de atrativos
semelhantes, como: Socorro, Analândia e Itirapina, que podem ser apontadas
como relevantes pelo declínio do turismo em Brotas.
Brotas possui, ao longo de sua história, várias passagens marcantes até
chegar a ser reconhecida como cidade turística. Na década de 1960, o turismo era
explorado informalmente pelas famílias locais, parentes e amigos visitantes. Na
década de 80, diante da intenção de se instalar um curtume na cidade, criou-se a
ONG Movimento Rio Vivo. Com o apoio do Poder Público local, foi elaborado um
Plano
6
de Ecoturismo para o município. Aliado a esse plano, foi criado o
CONDEMA, composto por 13 municípios da Bacia do Rio Jacaré Pepira. Esses
municípios desenvolveram o Projeto Piloto denominado “Consórcio Intermunicipal
da Bacia do Rio Jacaré”, que teve o apoio do Governo Estadual, do CEPAM -
Centro de Pesquisas Ambientais e da UNICAMP.
Na década de 90, foi criado o COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) e
em 1994, Brotas foi reconhecia pela EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo)
como “CIDADE TURÍSTICA” (Del. Normativa nº 329/94). Em 1995, fez parceria
acadêmica com a ECA/USP e, em 1996, elaborou-se o primeiro Projeto para o
Desenvolvimento do Turismo em Brotas
7
. Atualmente está sendo pleiteada a
ascensão de Brotas à categoria de Estância Turística.
5
“Capital dos Esportes de Aventura” – segundo informações em entrevista com a diretoria de
Turismo de Brotas, esse slogan foi criado pelo “trade” e posteriormente foi adotado nacionalmente.
6
Para uma crítica de que planejar não significa apenas fazer planos, ver Szmrecsányi (1973). Foi
elaborado um plano e depois um projeto, mas eles não foram frutos de um planejamento.
7
RUSCHMANN, Doris. Brotas: plano de desenvolvimento turístico. São Paulo: ECA/USP, 1995.
178p.
7
A cidade tem sediado várias reuniões, inclusive do IH (Instituto de
Hospitalidade), com sede em Salvador, para elaborar as normas de âmbito
nacional para esportes de aventura.
1. 2 Problematização
Atualmente alguns indicadores apontam que a “Capital dos Esportes de
Aventura” atravessa um estágio de redução significativa quanto ao seu fluxo de
visitação.
Buscamos por meio deste estudo avaliar o que tem gerado essa situação, e
analisar o Ecoturismo, revelando como se dá a prática dessa atividade no
município de Brotas.
1.3 Hipótese
A existência de abundantes recursos paisagísticos naturais como atrativos
turísticos (rios, cachoeiras, corredeiras) foi considerada condição necessária e
suficiente para o desenvolvimento do turismo em Brotas - SP, e que, a falta de
planejamento não seria obstáculo para que a atividade turística tivesse seu auge,
tornando-se uma das principais atividades econômicas do município
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
Analisar o surgimento, o desenvolvimento e a atual situação das atividades
turísticas em Brotas.
8
1.4.2 Objetivos específicos:
Analisar as atividades ligadas ao turismo em Brotas, com base no ciclo de vida do
produto (Butler, 1980).
9
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Desenvolvimento Sustentável e Turismo
Por um longo período, acreditava-se que um processo de desenvolvimento
estaria livre das conseqüências praticadas à natureza. Assim, foi construída uma
sociedade assentada no uso massivo dos recursos naturais, onde a natureza era
vista como objeto; conseqüentemente, como um recurso a ser explorado.
O artifício de exploração degradadora encontrava força no próprio processo,
em que a exploração geraria condições autoreguladoras e restabelecedoras do
equilíbrio. Esse processo possibilitou a difusão e expansão de dois padrões: o de
produção e o de consumo. (BECKER, 2001, p.13).
O padrão produtivo era depredador da natureza. Percebeu-se, assim, que há
contratempos no processo de desenvolvimento que causam estragos evidentes no
sistema natural.
Já a concepção econômica do desenvolvimento sustentável traz como
solução novos mecanismos de mercado para condicionar a produção à
capacidade de suporte dos recursos naturais.
Nesse contexto, os princípios do desenvolvimento sustentável
8
estão
inseridos nos conceitos de ecodesenvolvimento, que propõem a utilização racional
dos recursos visando a melhoria da qualidade de vida da presente geração e das
gerações futuras, a maximização dos ecossistemas, a flexibilidade dos processos
de planejamento, a participação da população local em projeto de gestão, a
utilização de tecnologia compatível com a realidade e a reformulação dos planos e
programas de educação.
8
Sachs (1986), estabelece uma estratégia de desenvolvimento sócio-econômico, a longo prazo e
ecologicamente consciente, de forma a minimizar a dilapidação de recursos não renováveis, e
orientando-se para o aproveitamento de recursos renováveis.
10
Assim, o desenvolvimento sustentável foi proposto como um modelo que
poderia ser útil na criação do estímulo para a mudança estrutural da sociedade,
pois, nesse modelo, a conservação ambiental proporcionaria o desenvolvimento
baseado no uso racional dos recursos, tendo como suporte o equilíbrio entre o
homem e a natureza, possibilitando a introdução de atividades econômicas menos
impactantes e socialmente mais justas.
Esse modelo tem o propósito de desviar o foco estritamente econômico para
um tipo de desenvolvimento que alcance as metas do presente sem comprometer
a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades
(Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1987 apud FENNELL,
2002, p.43). Em outras palavras, o que se visa, portanto, é estabelecer a
regulação mercantil sobre a natureza. (ALMEIDA, apud BECKER, 2001, p.23).
Devido a isso, a sustentabilidade tornou-se o novo foco, e ao mesmo tempo em
que se exorcizam velhas utopias, o próprio sistema de sustentabilidade cria e
recria novas utopias.
Um dos primeiros trabalhos a falar sobre o conceito de desenvolvimento
sustentável foi o “World Conservation Strategy”, publicado em 1980.
Posteriormente, em 1987, a World Commission Environment and Development
9
da ONU, publicou “Our Common Future”, conhecido também como o Relatório
Brundtland.
Na Tabela 1 destacam-se os principais componentes do desenvolvimento
sustentável, conforme definidos pelo Relatório Brundtland, interpretado por
Murphy. (MURPHY, apud SWARBROOKE, 2000, p.6). A ênfase do relatório está
no meio ambiente, pois acreditava-se que o crescimento econômico tinha de
ocorrer de uma maneira ecológica e socialmente igualitária.
9
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
11
Tabela 1. Componentes do desenvolvimento sustentável
____________________________________________________________________________________________________________
Estabelecimento de limites
ecológicos e padrões mais
igualitários
“...exige a promoção de valores que encorajem padrões de consumo que estejam dentro dos limites do
ecologicamente possível e aos quais todos possam aspirar com sensatez”
Redistribuição de
atividades econômicas e
de recursos
“A satisfação de necessidades essenciais depende em parte de alcançar-se completo potencial de
crescimento, e o desenvolvimento sustentável claramente exige crescimento econômico nos lugares
onde tais necessidades não estão sendo satisfeitas.”
Controle populacional “Apesar da questão não ser meramente de tamanho populacional, mas de distribuição de recursos, o
desenvolvimento sustentável só pode ser buscado se os desenvolvimentos demográficos estiverem em
harmonia com o mutável potencial produtivo do ecossistema.”
Conservação de recursos
básicos
“...o desenvolvimento sustentável não deve colocar em risco os sistemas naturais que permitem a vida
na Terra: a atmosfera, a água, os solos e os seres vivos.”
Maior igualdade de acesso
aos recursos
“O crescimento não tem limites definidos em termos de população ou do uso de recursos, além dos
quais se encontra o desastre ecológico...Mas a sustentabilidade exige que, antes dos resultados finais,
sejam feitos esforços para garantir um acesso mais igualitário aos recursos...”
Capacidade de suporte e
rendimentos sustentáveis
“... a maioria dos recursos renováveis são parte de um complexo e interligado ecossistema, devendo-se
definir o rendimento sustentável máximo depois de se ponderar a dimensão dos efeitos do sistema de
exploração.”
Retenção de recursos “O desenvolvimento sustentável exige que o índice de esgotamento de recursos não-renováveis force o
encerramento de quaisquer futuras retenções por mínimas que sejam.”
Diversificação das
espécies
“o desenvolvimento sustentável exige a conservação das espécies da fauna e da flora.”
Minimização de impactos
adversos
“O desenvolvimento sustentável exige que os impactos adversos sobre a qualidade do ar, da água e de
outros elementos naturais sejam minimizados de forma a sustentar a integridade total do ecossistema.”
Controle por parte da
comunidade
“... controle por parte da comunidade sobre as decisões de desenvolvimento que afetam os
ecossistemas locais.”
Amplo suporte da política
nacional/internacional
“... a biosfera é o lar comum de toda a espécie humana e a administração conjunta da biosfera é um pré-
requisito para a segurança política global.”
Viabilidade econômica “... as comunidades devem perseguir o bem-estar econômico e, ao mesmo tempo, reconhecer que as
políticas (governamentais) podem definir limites ao crescimento material.”
Qualidade ambiental “A política ambiental das empresas é uma extensão da administração de qualidade total.”
Auditoria ambiental “Um sistema efetivo de auditoria ambiental está no cerne da boa administração do meio ambiente.”
__________________________________________________________________
Fonte: adaptado de MURPHY (1995), baseado no Relatório Brundtland, apud
SWARBROOKE (2000,p.7)
12
Carvalho (1991, p.1), ao analisar o documento de Brundtland, aponta suas
limitações:
Apesar de considerar os fatores sociais como determinantes no atual
estado de degradação ambiental mundial, está longe de ser conseqüente
com seu próprio diagnóstico. Baseado numa visão a-histórica dos
processos sociais, apresenta o desenvolvimento sustentável como
aquele que deve atender às necessidades e aspirações do presente sem
comprometer as possibilidades de atendê-las para as futuras gerações.
Ora, essa proposição é por si mesma insustentável. Quais são as
necessidades e aspirações do presente que queremos garantir para as
gerações futuras? Se tomarmos, por exemplo, as aspirações das
populações dos países industrializados como medida das necessidades
humanas e generalizarmos esse padrão de consumo para toda a
população do planeta teríamos um desastre imediato. A manutenção
desses atuais níveis de consumo significa o aprofundamento das práticas
de dilapidação intensiva dos recursos naturais. A expansão dessas
“necessidades e aspirações” acarretaria um colapso imediato dos
recursos naturais, colocando em risco até mesmo a existência das
“gerações futuras”, e de um “futuro comum”, em nome do que se afirma o
desenvolvimento sustentável.
O documento exclui, também, de sua análise os mecanismos de
dominação política e concentração da riqueza que produzem as
desigualdades sociais e promovem a degradação ambiental.
Tais limitações, entretanto, não frustram a necessidade de se buscar
alternativas de desenvolvimento que sejam capazes de atender à crise social e
ambiental.
É no caminho do desenvolvimento sustentável que surgem expressões como
Ecoturismo, que não é apenas a atividade turística realizada na natureza. Além de
envolvê-la, a prática dessa atividade possui um ideal conservacionista, devendo
também envolver educação ambiental e a participação da comunidade local,
sobretudo na definição de políticas e estratégias que proporcionem a conservação
de seu modo de vida, usos e costumes, e na elaboração de propostas que
objetivem a geração de benefícios para a própria comunidade.
Mas não devemos esquecer que a causa da crise ambiental está vinculada à
dinâmica do capitalismo, cuja apropriação da natureza tem como objetivo o
aumento da produtividade por meio de diferentes fórmulas, que transformam a
natureza em recurso a ser explorado (OURIQUES, 2005).
13
2.1.1 Turismo de Massa e Turismo Sustentável
De acordo com SWARBROOKE (2000), o debate sobre turismo sustentável é
“parcialmente” influenciado pelo conceito geral de desenvolvimento sustentável,
pois para o autor, paralelamente existiu uma evolução no próprio âmbito do
turismo, devido às conseqüências ambientais causadas pelo turismo desenfreado
de massa. O desenvolvimento desse processo pode ser visto na Figura 1.
Figura 1. O desenvolvimento cronológico do conceito Turismo Sustentável.
Fonte: SWARBROOKE (2000, p.11)
O turismo de massa (Lage e Milone, 2000, p.122) é a saturação do número
de pessoas que visitam uma destinação turística. A partir principalmente de 1960,
os impactos negativos do turismo de massa passaram a ser reconhecidos. Em
1970, verifica-se a ampliação de seu conceito e posteriormente o aparecimento da
expressão “Turismo Verde”, e nos anos 90, a ampliação do conceito para “Turismo
Sustentável”, sendo que a partir daí o termo passa a ser usado com freqüência.
1960 1970 1980 1990
Ampliação do conceito de
gestão de turistas
Reconhecimento dos
potenciais impactos da
explosão do turismo de
massa
Aparecimento do conceito
de turismo verde
Ampliação do conceito
de turismo sustentável
14
No turismo, uma das primeiras estratégias de ação foi discutida nas
Conferência Globe (1990 e 1992), no Canadá, (BECKER, 2001). Nelas,
representantes do turismo, governos, ONGs e acadêmicos discutiram a
importância da conservação do meio ambiente para a atividade turística.
A partir da realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92) deu-se ênfase para programas
destinados a proteger o ambiente na Terra e a promover formas de
industrialização e de desenvolvimento menos destrutivas (MURPHY, 2001, p.185).
O conceito Turismo Sustentável foi adotado pelas Nações Unidas (ONU),
pela Organização Mundial de Turismo (OMT) e por muitos governos nacionais,
regionais e locais.
Assim,
Turismo sustentável significa que os recursos naturais, históricos e
culturais, para o turismo sejam preservados para o uso contínuo no
futuro, bem como no presente. O turismo sustentável também significa
que a prática do turismo não acarrete sérios problemas ambientais ou
socioculturais, que a qualidade ambiental da área seja preservada ou
melhorada, que um alto nível de satisfação do turista seja mantido, de
forma a conservar os mercados para o turismo e a expandir suas
vantagens amplamente pela sociedade. (OMT, 2003, p.17).
Embora o turismo seja considerado menos agressivo para o ambiente do
que a maioria das indústrias, suas dimensões e a sua presença em algumas
regiões tiveram conseqüências negativas para o meio ambiente, em termos
físicos, sociais, econômicos e culturais
10
.
Porém, os danos ambientais e ecológicos causados pelo turismo depende da
magnitude do empreendimento e do volume de visitantes, da concentração do uso
em termos tanto espaciais quanto temporais, da natureza do ambiente, da
10
Carvalho (1991) sustenta que “seria necessário pensar em termos políticos o compromisso com a sustentabilidade da
sociedade... Assim podemos definir que sustentável é aquela sociedade onde decisões, no que tange as relações entre os
indivíduos e grupos sociais e entre estes e os elementos da natureza, são orientadas por valores democráticos como a
diversidade, solidariedade, igualdade e participação, e a economia está subordinada a esses valores” (2000, p.2).
15
natureza dos métodos de planejamento e de gerenciamento adotados antes e
depois do turismo se desenvolver.
Surge a preocupação e a necessidade de se medir os impactos provocados
pela atividade turística, e alguns princípios quanto à prática da atividade e sua
sustentabilidade (Tabela 2, ver p.16)).
No entanto, o turismo sustentável também tem seus críticos. OURIQUES
(2005), TEIXEIRA (s.d..) sugerem que o turismo sustentável provavelmente nunca
será alcançado, apesar de o desempenho ambiental ser o mais comprometido
possível. BURR (1950) aponta que é pouco provável que o desenvolvimento
sustentável ocorrera, a menos que as pessoas de comunidades rurais trabalhem
juntas para que a atividade aconteça (apud FENNELL, 2002)
Assim, alguns questionamentos acabam surgindo: o turismo é uma atividade
sustentável? Como pode ter a obediência de seus princípios, se as pessoas que se
dizem ecoturistas nem sabem ao certo o significado do conceito, seus princípios e
sua prática? Como pode ser explorado um destino, cujo ambiente natural é o
responsável pelas visitas, sem que essa exploração gere impactos negativos?
WIGHT (1993) alega que:
muitos empresários e agências de marketing e promoção ganharam
muito dinheiro com turismo de natureza adotando o termo de ecoturismo,
abusando do mesmo, sem o devido compromisso e muito menos o rigor
dos parâmetros exigidos. (WIGHT (1993) apud NELSON e
PEREIRA,2004, p.46)
Portanto, a prática do turismo pode ter conseqüências sociais, ambientais,
econômicas, políticas e culturais, boas e más. Mas, o mais importante é a
perspectiva de quem está analisando, pois na maioria dos casos a atividade tem
sido citada somente como válvula para o desenvolvimento oportuno e correto para
as regiões onde a atividade turística é implantada.
16
Tabela 2. Princípios do turismo sustentável
1. Usar os recursos de forma sustentável
A conservação e o uso sustentável dos recursos – naturais, sociais e culturais – é crucial, e garante
os negócios a longo prazo.
2. Reduzir o consumo exagerado e o desperdício
A redução do consumo exagerado e do desperdício evitam o custo da recuperação do meio
ambiente, danificado ao longo do tempo, e contribui para a boa qualidade do turismo.
3. Manter a diversidade
Manter e promover a diversidade natural, social e cultural é essencial para o turismo sustentável de
longo prazo, e cria uma base resiliente para a indústria do turismo.
4. Integrar o turismo ao planejamento
O empreendimento turístico integrado num contexto de planejamento estratégico, nacional e local, e
submetido aos Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) aumenta a viabilidade a longo prazo do
turismo.
5. Apoiar as economias locais
O turismo que apóia uma ampla série de atividades econômicas locais e que leva em conta os
custos/valores ambientais protege essas economias e evita danos ao meio ambiente.
6. Envolver as comunidades locais
O envolvimento total das comunidades locais no setor do turismo não só traz benefícios a elas e ao
meio ambiente em geral, como também melhora a qualidade da experiência do turismo.
7. Consultar os investidores e o público
As consultas a investidores, comunidades locais, organizações e instituições são essenciais se
todos quiserem trabalhar juntos e conciliar interesses potencialmente conflitantes.
8. Treinar equipes
O treinamento de equipes que integram o turismo sustentável, além do recrutamento de pessoal
local em todos os níveis melhora a qualidade do produto do truísmo.
9. Fazer o marketing
O marketing que fornece informações completas e responsáveis aumenta o respeito dos turistas
pelo meio ambiente natural, social e cultural das áreas de destino, e aumenta a satisfação dos
clientes.
10. Realizar pesquisas
A pesquisa contínua e o monitoramento pela indústria do turismo, coletando e analisando dados, é
essencial para a resolução de problemas, além de trazer benefícios às localidades de destino, à
indústria do turismo e aos seus consumidores.
Fonte: Tourism Concern (1992) apud FENNELL (2002:33).
17
Devido a isso, atualmente os princípios básicos exigidos para qualquer
segmento do turismo são: a proteção e a conservação dos recursos atuais. Assim,
o ecoturismo ou o lazer em contato com a natureza surge como uma proposta
conservacionista, pois é um tipo de turismo que passa a ter cuidados com o meio
ambiente, valoriza as populações locais, exige qualidade de vida, hospitalidade,
recreação, segurança e serviços interrelacionados.
Nesse sentido, a necessidade de uma regulamentação (normatização) que
proteja o ambiente tem sido objetivo de ampla aceitação, mas relutante: “ampla,
porque todos querem um planeta habitável; relutante, em razão da crença
persistente de que a regulamentação ambiental solapa a competitividade”
(PORTER e LINDE, 1999, p.371).
Os mesmos autores defendem a vantagem competitiva, apontando:
Os dados mostram com nitidez que os custos da observância da
regulamentação ambiental são suscetíveis de minimização, se não de
eliminação, através de inovações que proporcionem outros benefícios
competitivos. (PORTER e LINDE,1999, p.376).
Os citados autores afirmam ainda: “Que o pensamento estático induz as
empresas a combater normas ambientais que, na realidade, seriam capazes de
reforçar a sua competitividade (PORTER e LINDE, 1999, p. 385).
Essa realidade é sentida nos locais em que a natureza é o principal atrativo da
localidade, e geralmente, as normas são elaboradas após os desequilíbrios
econômico, social, cultural e ambiental. Assim, acontecem tardiamente e, muitas
vezes, não conseguem evitar o declínio ou manter o fluxo de visitação.
18
2.2 Ecoturismo
O turismo mundial ligado ao meio ambiente surgiu principalmente na década
de 90. Conforme Hudman (apud SANCHO 2001, p.229), existem estudos sobre a
progressão da preocupação ambiental, que estão dispostos na Tabela 3.
Tabela 3. Progressão da preocupação ambiental
ERA ENTORNO TURISMO
Década de 50 Desfrutar e utilizar
Etapas de exploração. Começo do
turismo de massa.
Década de 60
Conscientização, intervenção pública e
protestos
Desenvolvimento, crescimento rápido.
Elementos do entorno como atrações
únicas
Década de 70
Institucionalização. Preocupação com
a contaminação do ar, da água e
visual
Década de crescimento e sucesso.
Marketing. Estudos de impactos pelo
mundo acadêmico.
Década de 80
Preocupação com substâncias tóxicas
no entorno: Chuva ácida, aquecimento
do globo, buraco de ozônio
Expansão dos mercados mundiais e
avanços tecnológicos.
Década de 90
Desmatamento, mudanças climáticas,
desertificação, impactos globais.
Ecoturismo, desenvolvimento
sustentável.
Fonte: Hudman, (1991) apud Sancho (2001, p.229).
Sancho (2001, p.230) afirma que o ecoturismo surgiu como uma opção de
desenvolvimento sustentável a países, regiões e comunidades locais, para
proporcionar um incentivo à conservação e à administração de regiões naturais e
da fauna selvagem e, em conseqüência, à biodiversidade.
Devido à ambigüidade quanto às origens históricos dessa atividade,
identificamos as principais características, conceitos e princípios desse segmento
turístico que envolve o meio ambiente. É importante levar em conta também a
diversidade de definições existente quanto ao conceito de Ecoturismo, também
19
denominado Turismo Ecológico, dentro do qual estão inseridos os esportes de
aventura.
RIBEIRO e BARROS (apud SERRANO e BRUHNS, 1998, p.29-30)
subdividem o turismo ecológico em quatro grandes categorias. Nelas estão a
sensibilidade dos turistas a distintas ideologias ambientalistas e a necessidade de
se diferenciarem de outros turistas. Mas a distribuição está, sobretudo, nas
dimensões e na qualidade das infra-estruturas disponíveis. De acordo com esses
autores, essas categorias são:
1) “turismo tipo Cancun”,que apresenta uma complexa infra-estrutura de
transportes, comunicação e serviços na região visitada, “região-alvo”, e
em diversos pontos de saída, “de captação”, dispersos no mundo;
consiste em empreendimentos de capitalismo transnacional apoiados por
uma retórica de respeito ao meio ambiente e à cultura locais;
2)”turismo tipo institucional-ambiental”, em que o visitante de uma
unidade de conservação é admitido e freqüentemente guiado dentro de
um território delimitado, devendo seguir regras preestabelecidas para
usufruir daquela área diferenciada;
3)”turismo tipo aventura de luxo pseudocientífico-humanista”, em que o
turista – em transporte rápido, seguro e confortável, freqüentemente
guiado por personalidades ou autoridades ambientalistas – visita a mãe-
natureza e o bom-selvagem;
4) “turismo tipo aventura desportista de grupo”(como hiking, trekking,
canoagem, alpinismo, espeleologia), que inclui modalidades alternativas
de baixo investimento de capital fixo, mas de alto retorno; apoiado em
ideologias ambientalistas e/ou místico-religiosas.
A Sociedade Internacional de Ecoturismo (The International Ecotourism
Society (Tiés), ONG Internacional, define ecoturismo como “a viagem responsável a
áreas naturais, visando a preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da
população local” (LINDBERG e HANWKINS, 1993 apud NELSON e PEREIRA,
2004, p.46).
Em 1994, o Brasil publicou a sua definição oficial de Ecoturismo:
20
Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza, de
forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua
conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista
através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das
populações envolvida. (EMBRATUR/IBAMA, 1994, p.19).
Para GOIDANICH e MOLETTA (2000, p.09):
O turismo ecológico, ou ecoturismo, é a prática dessa atividade
em áreas naturais nativas, pouco alteradas ou já recuperadas, que utiliza
o patrimônio natural de forma sustentável, incentivando a sua
conservação, promovendo a formação de uma consciência ambientalista
e garantindo o bem-estar das populações envolvida.
De acordo com a definição dada pelos autores GOIDANICH e MOLETTA
(2000), o turismo ecológico é tratado como sinônimo de ecoturismo. Assim, esse
segmento envolve as seguintes características:
9 Praticado em áreas naturais;
9 Incentivo à conservação do patrimônio natural;
9 Formação de uma consciência ambientalista;
9 Garantia do bem-estar das populações envolvidas.
Pelas características citadas, percebe-se que muitos empreendimentos
ditos de ecoturismo, na verdade, não atendem às exigências contidas no próprio
conceito de ecoturismo. O termo muitas vezes é utilizado de forma oportunista
para promover alguns negócios sem levar em conta o compromisso ético do
segmento.
Para esclarecer se uma atividade é ecoturística, Honey (1999, apud
NELSON e PEREIRA, 2004, p.47) delineou sete características para a prática do
ecoturismo. São elas:
Envolve viagens a destinos naturais, os quais muitas vezes estão
protegidos por leis ambientais nacionais, internacionais ou municipais.
Esses lugares freqüentemente são longínquos;
21
Minimiza impacto – o desafio do ecoturismo é não degradar o meio
ambiente pelo uso de equipamento turístico e controlar o número de
pessoas que visitam os atrativos;
Constrói uma consciência ambientalista, promovendo programas de
educação ambiental para turistas, moradores e operadores. A informação
ao turista deve ser iniciada desde a partida até o retorno a sua casa. Os
guias devem compartilhar informação de maneira participativa e o atrativo
deve encorajar visitação das comunidades locais utilizando ingressos
reduzidos;
Promove benefícios econômicos diretos para a conservação, contribuindo
e levantando recursos para pesquisa, fiscalização, educação ambiental e a
conservação da natureza, em geral através de vários meios, como por
exemplo: taxa de entrada em UC (Unidade de Conservação), impostos nos
aeroportos, doações voluntárias dos turistas e agencias de viagens;
Fornece benefícios financeiros, poder de decisão para os moradores locais,
oportunidades econômicas aos moradores, fortalece e contribui no
desenvolvimento local, possibilitando às pessoas de continuarem morando
no interior;
Respeita a cultura local – o ecoturismo não pretende apresentar valores
indesejáveis às culturas visitadas, mas sim valorizar as crenças, lendas e
costumes existentes;
Apóia os direitos humanos e o processo democrático, contribuindo para a
paz, prosperidade, entendimento local e respeito global.
Assim, o que podemos observar nos destinos apontados como destinos de
ecoturismo, apresentam características bem diferentes do que foi apontado, sendo
praticamente impossível que a atividade minimize impactos ao meio ambiente,
pois sabemos que toda atividade gera impacto ambiental, além de promover
desigualdade social e cultural. Quanto a consciência ambientalista, o que se prega
no papel é o ideal, mas isso não acontece na realidade.
22
Diante de grupos com interesses conflitantes, tais exigências não passam de
um wishfulthing (criação ilusória de fatos que se desejaria fossem realidade). Por
isso mesmo, difíceis de serem aplicadas e com alto risco de sua sobrevivência ser
ameaçada em longo prazo.
BOURDIEU (1997, apud MAURO, 2005, p. 33), aponta que desde o
surgimento dos produtos vinculados ao ecoturismo no mercado, nota-se um
desencontro entre o que é oferecido e a realidade dos serviços e das vivências
experimentadas pelos turistas. Dessa forma, muitas vezes a idéia da ligação entre
turismo sustentável e ecoturismo permanece somente no papel.
O ecoturismo também acaba por gerar uma contradição típica da ética
capitalista, que pensa evitar ou mitigar os efeitos destrutivos, sem eliminar as
causas. Assim, percebem-se muitas falhas desde sua implantação como alternativa
econômica, proclamado muitas vezes como “o salvador” de muitos lugares
intocados.
YÁZIGI (2001, p.91) aponta que o prefixo eco pretende ter um efeito
moralizante. Assim sendo, o ecoturismo apresenta-se carregado de ideologias e
intenções que precisam ser identificadas. O turismo nos chamados “países
periféricos” precisa ser estudado e analisado o seu redirecionamento, para que não
passe apenas de uma ilusão, ou mais uma forma de exploração. O espaço físico,
tanto natural como o produzido, constitui a base da atividade turística, pois é nele
que se realizam as atividades turísticas, os sonhos e os encontros dos viajantes.
Nota-se, portanto, que a presença do turismo ou do ecoturismo no meio natural
causa impactos nos ecossistemas, devido principalmente à necessidade de
implementação de serviços, equipamentos e alojamentos, regulamentações
(normatização) e educação.
Essa atividade tem sido um importante agente modificador da organização
espacial, principalmente em lugares turísticos pequenos, pois a ocupação do
espaço para a construção de equipamentos turísticos pode gerar descaracterização
de muitos ambientes, principalmente os caracterizados como turismo convencional.
É o que podemos observar na Tabela 4, onde são apontadas as diferenças entre o
turismo de massa e o ecoturismo.
23
Tabela 4: Turismo litorâneo de mercado de massa versus ecoturismo
Turismo litorâneo de massa Ecoturismo
Escala
Impacto no meio
ambiente físico
Relações com a
comunidade local
Impacto
sociocultural
Impacto
econômico
A importância da
localização
Qualidade de
experiência para
o turista
Comportamento
do turista
Larga escala
Inadequado para o local
Construções novas, antiestéticas e
nada de atraentes
Infra-estrutura com excesso de
construções levando à poluição e
ao congestionamento de tráfego
Relações formais
Pouco contato com autóctones que
não estejam envolvidos na
indústria do turismo
Transforma a cultura local
Migrações para trabalho vindas de
fora da região
Muita renda do turismo perde-se
devido à localização das empresas
fora da destinação turística
O turismo torna-se a atividade
econômica dominante
Pode acontecer em qualquer lugar
com mar e tempo bom
A localização específica não é
importante
Relaxamento por pouco tempo e
banho de sol
Insensível à cultura e às tradições
locais
Indiferença à vida autóctone
Hedonismo
Turismo em pequena escala de
acordo com a capacidade da
destinação turística de absorver
turistas sem prejuízos
Poucas construções novas
Pequena demanda extra sobre a
infra-estrutura
Contato informal
Interação com todos os tipos de
autóctones
Impacto mínimo na cultura local
As necessidades de trabalho são
completamente satisfeitas na
comunidade local
Muita renda oriunda do turismo é
retida pela economia local
A renda adicional oriunda do
turismo complementa as atividades
econômicas tradicionais
A localização especifica oferece
uma experiência única, que não
poderá ser encontrada em outro
lugar
O aprendizado sobre os lugares
traz uma compreensão a longo
prazo sobre onde e como as outras
pessoas vivem
Sensível à cultura e às tradições
locais
Interessado na vida autóctone
Responsável
Fonte: SWARBROOKE (2000, p.26)
24
Com base nos dados analisados na Tabela 4, observamos que no
Ecoturismo existe um forte comprometimento com a natureza e a responsabilidade
social, pois nessa atividade há um contato direto do visitante com a natureza, que
realiza uma interpretação ambiental. O ecoturista observa fenômenos da natureza,
conhece melhor sua dinâmica e recupera o sentimento perdido de também ele
preservar a natureza. Abandona a idéia de dominar a natureza e assume a
postura de integrar-se a ela.
A indústria do turismo quer que os clientes sintam que o ecoturismo é menos
prejudicial e mais sustentável que o turismo de massa, talvez porque acredite que
isso fará com que os turistas sintam-se bem ao comprar tais produtos .
Fabiana Mauro aponta que “perante o problema ambiental, a mídia afirma
que se consumirmos determinadas mercadorias podemos diminuir ou até mesmo
resgatar nossa dívida com o ambiente”. (MAURO, 2005, p.31).
Segundo FONTES e LAGE (2003, p.92) o turismo, como fator de
desenvolvimento econômico, se apropria de determinados lugares, impondo-lhe
transformações que podem acabar com a singularidade e a particularidade desse
lugar. Essa é uma das características das atividades produtivas do sistema
capitalista, pois sua lógica é o lucro sobre a exploração de paisagens. O turismo
passa a ser caracterizado como um voraz consumidor de lugares.
os núcleos produzidos, baseados em parâmetros sobre modismos e
veiculados pela mídia, ao longo do processo vão sendo abandonados e
substituídos por outros, na medida em que mudam os valores ou que os
espaços se tornam saturados pela ocupação desenfreada. (FONTES e
LAGE, 2003, p.92).
Para RODRIGUES (FONTES e LAGE, 2003, p.94):
o turismo é uma atividade que tem se mostrado um tanto “perversa”; em
algumas comunidades, tem provocado profundas transformações
econômicas, sociais e culturais, transformações que no geral, não
beneficiam nem o lugar enquanto possuidor dos recursos que engendram
a atividade, nem a população local, que muitas vezes fica excluída do
processo. Portanto, ao mesmo tempo em que o turismo pode organizar e
(re)produzir o espaço para uns, ele também desorganiza para outros e o
25
(re)produz segundo a lógica capitalista de apropriação do espaço, palco
onde estabelecem as relações de poder.
Portanto, quando o Ecoturismo segue a tendência de interesses comerciais e
econômicos, os valores ambientais e culturais são sobrepostos.
A apropriação do bem natural e cultural, em forma de exploração sem
cuidados, fez surgir sérios impactos que passaram a colocar em risco a
conservação dos recursos e sobrevivência de muitas comunidades.
Observamos que a falta de planejamento tem causado desequilíbrio
ecológico, desagregação social e perda de valores culturais da comunidade,
provocando também danos ao patrimônio histórico. Assim, para FONTES e LAGE,
(2003:92) “os espaços turísticos evoluem pelo processo de “ondas” de ocupação
que são ditas pela moda ou produzidas pelo consumo do espaço, ocasionando a
sua degradação e, portanto, a destruição dos recursos que os engendraram”.
Novamente a natureza é vista como espetáculo e fantasia e usada como
estratégia do consumismo. Segundo YAZIGI (2001, p.15), “Espetáculo e festa
tornam-se a grande razão do turismo. Um alimenta o outro.
Importante frisar que o consumismo, segundo os princípios do Ecoturismo,
passa a ser uma contradição da modernidade, em que a natureza é revalorizada e
reorganizada. Mas a ideologia conservacionista não muda a sociedade. Ela apenas
desloca formas e funções, orientando a produção de um novo tipo de consumo.
(LUCHIARI, 2001, p.26).
Segundo FONTES e LAGE (2003, p.92), as preocupações com o
crescimento do turismo e seu sistema de produção, no meio natural e social,
encontram-se hoje no auge das discussões globais, porque o sistema capitalista
proporciona o surgimento de novas formas de apropriação do espaço em todos os
lugares.
Na Tabela 5, são listados os principais efeitos e impactos negativos
induzidos pela atividade do turismo.
26
Tabela 5. Principais efeitos e impactos negativos potenciais
_______________________________________________________________
AGENTE DE
IMPACTO
EFEITOS POTENCIAIS IMPACTOS POTENCIAIS
Trilhas pedonais
Pisoteio, compactação do solo
Alteração da qualidade estética da paisagem
Trilhas eqüestres Remoção de cobertura vegetal
Aumento da sensibilidade à erosão
Carros/caminhões
Libertação de gases de combustão
Eliminação de habitat
Veículos todo-o-
terreno
Derrame de óleo/combustível
Interrupção de processos naturais
Deterioração da qualidade do ar
Bascos a motor
Ruído
Deterioração da qualidade da água
Perturbação da fauna e flora
Lixo
Deterioração da paisagem natural
Redução da qualidade estética da paisagem
Contaminação do solo
Contaminação da água
Descarga de
efluentes
Alteração da acidez da água
Contaminação do aqüífero
Deterioração da paisagem natural
Contaminação da água
Contaminação do solo
Mau cheiro
Redução da qualidade estética da paisagem
Interferência na fauna e flora aquáticas
Vandalismo Remoção de atrativos naturais
Interrupção dos processos naturais
Redução da qualidade estética da paisagem
Interferência nos ciclos de vida da fauna e da
flora
Alimentação de
animais
Mudança comportamental da fauna
Dependência da fauna
Perturbação de visitantes
Construção de
edifícios
Remoção da cobertura vegetal
Eliminação do habitat
Libertação de fumos de combustão e
poeiras
Ruído
Alteração da qualidade estética da paisagem
Aumento da sensibilidade à erosão
Deterioração da qualidade do ar
Stress na fauna e flora
________________________________________________________________________________________
Fonte: EMBRATUR (1994:45)
Ruschmann (1997) aponta uma série de tendências para o turismo ambiental
entre os anos de 2000 – 2010, contemplando:
a conscientização entre o estreito relacionamento entre o homem e a natureza,
ampliando os movimentos conservacionistas;
27
a comunidade receptora precisa adotar estratégias importantes e adequadas
para preservar o patrimônio natural e cultural;
as autoridades públicas e as instituições políticas também têm o papel de
contribuir para o desenvolvimento dos interesses das comunidades e de seu
ambiente original.
Portanto, somente com diretrizes claras é que o ecoturismo pode se
desenvolver seguindo seus princípios e práticas, evitando assim depredações que
já aconteceram em muitos ambientes, causadas pela visão de lucro imediato,
responsável pelo declínio de algumas destinações.
É importante ressaltar que a busca por ambientes intocados ainda é frenética
por parte de muitos empresários, nos quais a natureza novamente é colocada
como a protagonista da implantação da atividade turística, o que torna a atividade
frágil, pois cada gosto, cada desejo, motivação ou fantasia, são produzidos em um
endereço diferente, sempre com finalidade exclusiva de lucro.
28
2.3 Turismo de Aventura
Essa categoria de turismo é concebida por RIBEIRO e BASTOS (2003)
como “turismo tipo aventura desportista de grupo”, como já foi assinalado
anteriormente.
A busca contemporânea de aventura em contato com a natureza, aliada a
novas possibilidades tecnológicas, promoveu o surgimento de novas práticas
esportivas com experiências inéditas no meio natural.
O consumo da natureza, vinculado a prática de esportes de aventura, abre
uma nova modalidade no segmento turístico, o turismo de aventura, caracterizado
como:
Segmento do mercado Turístico que promove a prática de atividades de
aventura e esporte recreacional, em ambientes naturais e espaços
urbanos ao ar livre, que envolvam emoções e riscos controlados,
exigindo o uso de técnicas e equipamentos específicos, a adoção de
procedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros e o
respeito ao patrimônio ambiental e sócio-ambiental.(Oficina Nacional de
Turismo de Aventura -EMBRATUR – Caeté – MG)
Segundo JESUS (2003, p.75-76) é um segmento que gera conflito com o
ecoturismo, já que a prática deste requer a conservação da natureza. Observamos
que o que foi proposto como um modelo alternativo ao trade, envolvendo uma
concepção ecológica, abriga um vasto leque de ações que abrange desde
atividades efetivamente sustentáveis e de preservação até as atividades de
aventura que se caracterizam por manobras desafiadoras. Nesse contexto, estão
as aventuras responsáveis pela descarga de adrenalina, sensações humanas
transformadas em mercadoria (BRUNHS, 1998).
Ecoturismo e esportes de aventura são dois segmentos distintos, mas em
muitos destinos apresentam zonas de contato: o ecoturismo busca lugares
intocados e os esportes de aventura se apropriam desses lugares para a prática
dos esportes como a: caminhada, canyoning, canoagem, escalada (alpinismo),
29
espeleologia, mergulho esportivo, mountain bike, off-road, paraglinding (parapente),
rafting e hidrospeed, surf e turismo eqüestre, entre outros.
FERNANDES (apud JESUS, 2003, p.77), aponta que:
a terminologia empregada pelos usuários vem sendo socialmente
construída nas ultimas duas décadas, longe portanto, de estar
consolidada. Nesse sentido, um conjunto igualmente indefinido de
modalidades esportivas pode ser denominado de “esportes radicais”, “de
ação”, esportes extremos ou “X-games”.
Apesar de encontramos varias designações, as “atividades de aventura” são
as mais aceitas para sinalizar a busca por sensações e emoções na natureza e que
apresentam cenários de risco e beleza a ser consumidos.
Para JESUS (2003p.83), “trata-se de mais uma variação do amplo e
polissêmico ecoturismo, tendo a particularidade de tomar os esportes de aventura
como seu canal de realização”. Ainda segundo Jesus, o melhor exemplo no Brasil é
a cidade de Brotas, a “capital paulista dos esportes radicais”, onde “ao que tudo
indica, o projeto de ecoturismo esportivo foi muito bem-sucedido” (JESUS, 2003,
p.85). A pergunta que deve ser feita é: bem sucedido para quem?
Assim, o ecoturismo passa a ser praticado atrelado aos esportes de
aventura, lembrando que os conceitos e as práticas dessas duas modalidades são
contraditórias, sendo praticamente impossível um mesmo destino conseguir
conciliar as duas modalidades.
30
3. Ciclo de vida das destinações turísticas
No território brasileiro há uma infinidade de localidades cuja beleza
paisagística tem se transformado em produtos turísticos, a fim de atender a uma
demanda cada vez mais crescente. Ambientes naturais preservados têm se
transformado em produtos turísticos. Porém, isso vem ocorrendo, em muitos casos,
sem uma discussão prévia das transformações decorrentes dessa nova forma de
uso dos recursos naturais.
No caso específico de ambientes naturais deve-se procurar a compreensão
dos limites de exploração e orientar o seu uso em função principalmente dos
processos de inter-relação e interdependência que envolvem os elementos que
compõem o sistema turístico.
Segundo BENI (1998, p. 26) “O Sistur
11
é um sistema aberto que realiza
trocas com o meio que o circunda e, por extensão, é interdependente, nunca auto-
suficiente”.Ou seja, o turismo influencia as localidades onde se desenvolve e as
características dessas também influenciam direta ou indiretamente no seu
desenvolvimento, possibilitando, assim, sua existência no tempo e no espaço.
BUTLER (1980) toma emprestado o conceito de ciclo de vida, utilizando
estratégias de marketing de produto para analisar destinações turísticas em regiões
e países onde o turismo se desenvolveu.
12
Neste trabalho, o conceito de ciclo de vida das destinações turísticas
elaborado por BUTLER (1980) será utilizado para analisar o desenvolvimento do
turismo no município de Brotas.
O modelo de Butler estabelece o ciclo de vida em cinco fases, as quais são
capazes de demonstrar como as localidades são afetadas pelo turismo. São elas:
exploração, envolvimento, desenvolvimento, consolidação, estagnação e declínio
ou recuperação (renovação).
11
SISTUR – Sistema de Turismo. Para melhor compreensão ver BENI (1998)
12
Ruschmann (1997) também faz o uso desse mesmo conceito de R. W. Butler.
31
A Figura 2 ilustra o conceito utilizado por Butler (1980).
Figura 2. Ciclo de vida das áreas turísticas
Fonte: reproduzido de BUTLER (1980)
A seguir, as cinco fases são caracterizadas, identificando-se os seus
elementos constitutivos.
Exploração: a localidade apresenta algumas facilidades para os visitantes,
sendo ampliadas pela população local com o objetivo de criar um mercado forte e
fiel e gerar lucros. Geralmente visitada pelos exploradores, pessoas que buscam
novidades e aventura, mas existe dificuldade de acesso e de instalações, pois os
principais atrativos são as atrações naturais, a cultura, os aspectos originais da
comunidade.
Envolvimento: as comunidades locais devem decidir se querem estimular a
atividade turística e que segmento devem implantar. À medida que o turismo vai
32
se desenvolvendo iniciativas locais começam a oferecer serviços aos visitantes.
Essa fase é importante para estabelecer processos de organização e tomada de
decisões apropriadas para a atividade. Nessa fase deveriam ser controlados os
limites de visitação ao atrativo, pois a comunidade ainda estaria envolvida no
processo, salvaguardando assim aspectos relevantes para atrair o turista.
Desenvolvimento: caracterizado pelo domínio de empresas e serviços
externos, cuja participação ajuda a controlar os custos e a manter a
competitividade do local, diante de outras destinações. Os destinos recebem
visitantes exigentes, que buscam conforto e segurança.
Nessa fase a participação da comunidade diminui em relação ao controle dos
equipamentos, dando lugar à entrada de organizações externas, que estimulam o
crescimento do número de visitantes. A localidade passa a receber grande
quantidade de visitantes, chegando a igualar ou ultrapassar o número de
habitantes da destinação. Nesse estágio começam a aparecer os problemas, será
um momento crítico se a localidade não estiver estruturada, sendo frágil aos
investimentos que estarão chegando.
O poder público também começa a se abalar, pois se torna difícil o controle
da infra-estrutura como água, esgoto, lixo, segurança além da deterioração dos
recursos naturais e construídos da cidade e da tranqüilidade e segurança das
pessoas do local.
Consolidação: o apogeu quantitativo da demanda se alcança na fase de
saturação da destinação que, a partir daí, começa a decair na preferência do
turista. Começa aí a luta pela sobrevivência. Os preços começam a cair para lotar
os equipamentos e para se ter viabilidade econômica. Assim, o destino passa a
atrair uma demanda com menor poder aquisitivo, acontecendo muitas vezes a
degradação das atrações turísticas, que perdem a atratividade e ficam, muitas
vezes, “fora de moda”. Essas destinações ficam num estágio em que não são
mais familiares nem exóticas.
As localidades que utilizam os recursos naturais como atrativo acabam se
deteriorando pelo mau uso deles, seja na construção de equipamentos como
hotéis e restaurantes, quanto no excessivo número de visitantes no ambiente em
33
questão. A “massificação” do turismo faz com que os recursos percam suas
qualidades e características peculiares, perdendo, assim, a originalidade dos
atrativos.
Estagnação: durante essa fase, a destinação não está mais em evidência na
mídia e passa a depender de visitas repetidas dos mais conservadores.
Declínio: se existe uma queda prolongada no número de visitantes, nos
gastos ou nas pernoites na destinação, afetando a lucratividade, é preciso admitir
o início do declínio. Essa fase é caracterizada pelo turista que deseja conhecer o
maior número de atrações pelo menor preço. Nessa fase, buscam-se novos
mercados, o seu reposicionamento ou atribuir novos usos para as instalações
estabelecidas.
Renovação: feita pelos administradores púbicos e privados por meio de um
planejamento, modificando o produto e buscando novos mercados. As estratégias
de renovação são difíceis de se implementar, pois se lida com produtos e serviços
já estabelecidos nas destinações em vez de um produto para o consumidor, ou
seja, um produto renovado, mas não inédito.
Determinar a unidade de mensuração em que se encontra a destinação
turística é fundamental para determinar o nível de saturação de uma localidade ou
produto. Além disso, o ciclo de vida facilita entender a dinâmica de crescimento da
localidade e registrar quais foram os impactos negativos e/ou positivos ocorridos
em cada uma das fases. Acima de tudo, ele possibilita um acompanhamento
dinâmico e histórico dos processos que fizeram daquela localidade uma
destinação turística e quais são as conseqüências disso.
Podemos também explicar o ciclo de vida da destinação pelo tipo de turista
que freqüenta o destino. Assim, os alocêntricos são pessoas com interesses em
várias atividades; são extrovertidas e autoconfiantes, buscando sempre novidades
e aventuras. A atividade turística torna-se para elas uma forma de se expressarem
e satisfazer suas curiosidades. São pessoas, com essas características, as
responsáveis pela descoberta de novos destinos (THEOBALD, 2001, p.149).
Quando a destinação passa a ser mais conhecida e com mais infra-estrutura,
com facilidades para atrair e acomodar mais turistas, passa a ser freqüentada
34
pelos mesocêntricos, correspondente ao turismo massivo. Nesse estágio a
destinação já não é mais tão exótica e nem familiar. Pode-se perceber a
transformação da localidade, a população local transforma-se muitas vezes em
empregada do turismo, e geralmente abandona a agricultura (RUSCHMANN,
1997, p. 96).
Os turistas que visitavam a localidade passam a visitar outras destinações
com as características originais o que acaba gerando a extinção da atividade
turística, pois o turismo de massa causa a perda dos recursos, cujas
características foram as motivadoras para o surgimento da atividade. Percebe-se
também que existe uma interação muito próxima dos turistas com a população
local, isso possibilita a mudança de comportamentos, atitudes e muitas vezes da
própria identidade quanto a costumes e tradições locais.
Percebemos também, a transformação de muitas manifestações populares e
folclóricas em verdadeiros palcos de espetáculo. KRIPPENDORF (1989) alega
que o “turismo destruirá o turismo”, sugerindo a prática de um turismo mais
brando, em que os turistas sejam atendidos pela infra-estrutura destinada à
população local, bloqueando a implantação de equipamentos que alterem a
originalidade das paisagens e dos recursos culturais (RUSCHMANN, 1997, p.96).
Essas conseqüências negativas, mais o aumento de equipamentos e
alojamentos destinados à atividade turística, geralmente levam ao excesso da
oferta sobre a demanda, ultrapassando assim os limites considerados menos
prejudiciais aos recursos, deteriorando o produto.
O preço também é outro fator que pode ser taxado como responsável pela
massificação, pois a própria concorrência faz com que o preço diminua, atraindo
pessoas com menor poder econômico.
Localidades que utilizam os recursos naturais como atrativo acabam
deterioradas pelo mau uso tanto por causa da construção de equipamentos como
hotéis e restaurantes, como pelo número excessivo de visitantes no ambiente em
questão. Portanto, a “massificação” do turismo faz com que os recursos percam
sua originalidade.
35
A maioria das avaliações sobre o turismo utiliza o “gráfico de Butler”, que
como já mencionado, baseia-se nos princípios de marketing. Outros modelos são
utilizados, e serão analisados a seguir neste mesmo capítulo.
Segundo KOTLER (1998, p.307), o ciclo de vida do produto (CVP) é um
conceito em marketing que fornece insights sobre a dinâmica competitiva de um
produto e para afirmar que o produto possui um ciclo de vida, é necessário
assumir quatro fatos:
Os produtos têm vida limitada;
As vendas do produto passam por estágios distintos, cada um oferecendo
diferentes desafios, oportunidades e problemas para a empresa vendedora;
Os lucros crescem e diminuem nos diferentes estágios do ciclo de vida do
produto;
Os produtos requerem estratégias diferentes de marketing, finanças,
produção, compras e de recursos humanos em cada estágio de seus ciclos de
vida.
Assim, podemos ter os estágios de introdução, crescimento, maturidade e
declínio. Alguns autores destacam estágios adicionais, apontando de seis a
dezessete diferentes padrões de CVP.
Figura 3 : Padrões de ciclo de vida
Fonte: KOTLER (1998, p.310)
36
Conforme a Figura 3, observamos três modelos de CVP. O primeiro gráfico
mostra um padrão de crescimento-queda-maturidade. O produto é vendido
rapidamente quando introduzido no mercado e depois cai a um nível estabilizado,
sendo sustentado pelos adotantes não imediatos, que compram o produto pela
primeira vez e pelos adotantes imediatos, que repõem o produto.
O padrão ciclo-novo promove agressivamente novos produtos, produzindo
um primeiro ciclo de vendas. Depois, as vendas começam a declinar e a empresa
promove uma nova campanha que produz um segundo ciclo, geralmente de
magnitude e duração menores.
Outro padrão comum é o CVP escalonado, em que as vendas atravessam
uma seqüência de ciclos de vida baseadas na descoberta de novas
características, novos
usos e novos usuários do novo produto.
Existem também três categorias especiais e distintas de ciclos de vida de
produto, que são as relacionadas a estilo, moda e moda passageira.
Conforme KOTLER (1998, p.312), estilo é um modo básico e distinto de
expressão que aparece no campo das atividade humana, como por exemplo:
estilos de casas (colonial, campestre, moderna), vestuário ( formal, extravagante)
e arte (realista, surrealista, abstrata). Uma vez inventado o estilo, ele pode durar
várias gerações, entrando e saindo de moda.
Figura 4. Categorias especiais e distintas de ciclos de vida de produto
Fonte: KOTLER (1998, p.312)
37
Moda é um estilo aceito correntemente ou popularizado em um dado campo
de atividade. A moda passa por 4 estágios:
Estágio de distintividade – alguns consumidores têm interesse em algo
novo para parecerem diferentes de outros consumidores;
Estágio da imitação – outros consumidores estão interessados em imitar os
líderes da moda;
Estágio da massificação – a moda torna-se expressamente popular e os
fabricantes começam a produzi-la em grande escala;
Estágio de declínio – os consumidores começam a movimentar-se em
direção a outras modas que estão começando a atrair sua atenção.
Dessa forma, as modas tendem a crescer lentamente, permanecem
populares por um tempo e declinam lentamente.
A moda passageira – é a moda que surge rapidamente aos olhos do público,
é adotada com grande entusiasmo, atinge o pico de venda muito cedo e declina
com muita rapidez. Assim, tem uma aceitação curta e atrai um número limitado de
seguidores.
Segundo KOTLER (1998, p.325), a partir de diversas fontes como WASSON
(1978), WEBER (1976), DOYLE (1976) é apresentada a Tabela 6, seguindo os 4
estágios do produto: introdução, crescimento, maturidade e declínio.
No caso do turismo, cada estágio de desenvolvimento socioeconômico é
dividido em fases distintas com características especificas e inerentes ao processo
de implementação do turismo de aventura.
Os resultados demonstram que todas as atividades associadas ao turismo de
aventura encontram-se em ascensão, e fomentam a economia para expansão
urbana e rural e para o incremento de equipamentos e produtos turísticos. Essa
fase é distinguida por um conjunto de características especificas como:
Aparecimento diferenciado de produtos específicos de cada localidade;
Surgimento de agências/operadoras de turismo;
38
Tabela 6. Resumo das principais características, objetivos e estratégias do ciclo de vida do produto
Introdução Crescimento Maturidade Declínio
Características
Venda
Baixa Rápido
crescimento
Atinge
apogeu
Declinante
Custo
Alto Médio Baixo Baixo
Lucro
Negativo Crescente Elevado Declinante
Consumidores
Inovadores Adotantes
imediatos
Adotantes
posteriores
Retardatários
Concorrentes
Poucos Crescente Número estável que
começa a declinar
Número declinante
Objetivos de marketing
Marketing
Criar consciência do
produto
M
aximizar participação
de mercado
Maximizar lucro e
ao mesmo tempo
defender a
participação de
mercado
Reduzir gastos e
tirar o máximo
proveito da marca
Estratégias
Produto
Oferecer um
produto básico
Oferecer
extensões de
produtos,
serviços e
garantia
Diversificar
marcas e
modelos
Retirar itens
fracos
Preço
Preço
elevado
Preço penetração Preço para
c
ompanhar ou vencer
a concorrência
Reduzir preço
Distribuição
Seletiva Intensiva Mais intensiva Ser seletivo:
desacelerar canais
não lucrativos
Propaganda
Construir
consciência do
produto entre os
adotantes e
revendedores
Construir consciência
e interesse no
mercado de massa
Enfatizar as
diferenças e os
benefícios da
marca
Reduzir o nível
necessário para
manter fiéis os bons
consumidores
Promoção de
vendas
Usar intensa
promoção de
vendas para
estimular
experimentação
Reduzir para
aproveitar a forte
demanda do
consumidor
Aumentar para
estimular a troca
de marca
Reduzir ao
nível mínimo
Fonte: baseado em Kotler (1998, p.325)
39
São ampliadas as construções de instalações como hospedagens,
restaurantes, hotéis; reestruturação na infra-estrutura da cidade como
saneamento básico, estação de tratamento de esgoto, asfalto, acesso ao local,
entre outros;
Surgimento de investimentos externos juntamente com a oferta de produtos,
bens e serviços;
Há o envolvimento sutil da comunidade local como forma de opção de trabalho;
O crescimento nessa fase é vertiginoso;
Ocorrem as primeiras estratégias de conservação do ambiente, com base nas
regulamentações, formação de conselhos populares, conselho municipal do
turismo, legislação específica;
Surge a preocupação com a capacidade de suporte;
O fluxo de turistas é ascendente juntamente com o fluxo monetário;
As terras do município e de seu entorno tornam-se mais valorizadas.
A identificação do estágio atual de desenvolvimento da atividade turística em
Brotas poderá servir como contribuição aos tomadores de decisões, ao mesmo
tempo em que adverte a comunidade local dos processos que envolvem as
atividades associadas ao turismo, esclarecendo com antecedência as decisões a
serem tomadas.
O resultado obtido implica na elaboração de um planejamento ambiental e
turístico, uma vez que o ambiente é o suporte para a prática das atividades do
ecoturismo e do turismo de aventura, justificando a aplicação de programas
voltado à conservação, à conscientização e à educação ambiental. Com a
proteção dos recursos naturais, será maior o período de duração de cada fase do
ciclo de vida das atividades turísticas, concorrendo para a sustentabilidade do
turismo e de atividades a ele associadas.
40
4. Material e Método
Esta pesquisa divide-se em três partes principais. Inicialmente foi realizada
a revisão bibliográfica, seguida de entrevistas semi-estruturadas e mais o
levantamento fotográfico.
4.1 Revisão Bibliográfica
Foram levantados e analisados os documentos referentes ao turismo no
município existentes na Biblioteca Municipal da cidade, no Centro de Interpretação
Ambiental (CIAM), na Diretoria de Turismo e Diretoria do Meio Ambiente. Foram
consultados jornais, revistas, livros, dissertações, teses, artigos de periódicos e
Internet a respeito das origens do desenvolvimento do turismo em Brotas. Esse
levantamento contemplava também identificar alguns estudos desenvolvidos por
outros autores, a respeito do mesmo tema, evitando possíveis repetições e erros
quanto ao uso do conceito de Ecoturismo.
No decorrer das pesquisas encontramos muitos artigos apontando o
Ecoturismo como o salvador de muitos ambientes intocados, mas na realidade ele
sempre gerava impactos negativos onde estava sendo praticado. Em outras
publicações, notamos o uso do ecoturismo como sinônimo de uma mercadoria que
tinha o seu uso correto, contemplando o equilíbrio da natureza e do homem.
Mas o que mais nos chamou a atenção foi o uso indiscriminado do termo
Ecoturismo, mesmo quando não era praticado. O termo é usado de forma errônea
para designar práticas de esportes de aventura, consistindo do segmento de
Turismo de Aventura, em que os participantes buscam esportes excitantes,
inclusive com risco de vida, mas difere-se do conceito original do Ecoturismo, no
qual se busca a contemplação como forma de lazer e aprendizado.
41
4.2 As entrevistas semi-estruturadas
A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas com a
Diretoria de Turismo e as Agências de Turismo de Brotas, e com as pessoas que
contribuíram para o desenvolvimento da atividade turística no município. Os dados
obtidos foram tabulados e também apresentados de forma descritiva.
4.2.1. Delimitação do Universo
O Universo desta pesquisa foi delimitado em um estudo de caso, realizado
em Brotas - SP, fazendo uma retrospectiva da história da implantação da atividade
turística até os dias atuais, buscando compreender a atual situação desse
segmento econômico no município, com base no conceito do ciclo de vida do
produto turístico desenvolvido por BUTLER (1980).
4.2.2 A amostra
Por meio da pesquisa, na primeira fase, buscou-se saber das Agências de
Turismo qual era a real situação do fluxo de turistas, já que por informações
obtidas na Diretoria de Turismo, na fase de levantamento de dados, constatou-se
que o rafting é o carro-chefe, responsável por 70% da visitação. Como o rafting é
um esporte que precisa de equipamentos e de instrutores, é necessário que o
visitante passe pela Agência de Turismo. Sendo assim, a primeira fase das
entrevistas foi realizada em 8 das 12 agências existentes em 2005, na cidade.
Vale ressaltar que foram procurados os proprietários das agências que não
42
constam da lista apresentada na Tabela 12 (p.70), mas durante a pesquisa não se
encontravam ou preferiram não participar dela.
A entrevista buscava identificar:
Ano de abertura da agência;
Naturalidade do proprietário (acredita-se que na fase de desenvolvimento do
turismo muitas pessoas vindas de outras cidades instalaram equipamentos
turísticos na localidade);
Razões para trabalhar com turismo em Brotas;
Razões do desenvolvimento da atividade turística no município;
O grau de desenvolvimento do turismo quando da abertura da agência e entre
2000 e 2002;
Qual o cenário do turismo atualmente na cidade e
O que esperam do turismo a partir de 2005.
No segundo momento, foram realizadas entrevistas com pessoas consideradas
importantes para o desenvolvimento da atividade turística no município: João
Batista Negrão (Secretário do Meio Ambiente no momento da implantação da
atividade turística em Brotas; fundador da ONG Movimento Rio Vivo); Maria Pia
(Proprietária do Acampamento Peraltas, primeiro equipamento destinado ao
entretenimento e lazer do município); Eva Firmino Santana (Membro da ONG
Movimento do Rio Vivo e que participou da abertura da primeira agência de
turismo em Brotas); Fabio Lenci (fazia parte como sócio da primeira agência de
turismo, a Mata’dentro. Atualmente, preside a Ong Movimento do Rio Vivo); José
Carlos Francisco Junior (sócio da Mata’dentro. Atualmente, atua no segmento em
parceria com Agência Alaya).
Por meio dessas entrevistas, buscamos identificar como está a atividade
turística no cenário atual. Com base na análise do ciclo de vida do produto,
proposto por BUTLER (1980), apontaremos os estágios desse ciclo, do
nascimento ao desenvolvimento da atividade até seu eventual declínio,
estagnação ou rejuvenescimento.
43
4.3 Levantamento Fotográfico
Foram pesquisadas as fotografias que revelam as características fisiográficas
da região. A fotografia também foi usada como recurso para mostrar os impactos
positivos e negativos que a atividade do turismo gerou ao município. Como no
caso a prática do arvorismo nas copas das árvores, e a degradação das margens
do Rio Jacaré Pepira.
As fotos antigas da prática da descida de bóia fazem parte do acervo de José
Carlos Francisco Júnior.
Ressaltamos que deveria ser dado um tratamento especial a esse acervo, e
cópias desses arquivos fossem feitas por meio do Departamento de Turismo;
assim, toda a documentação fotográfica poderia se transformar em uma fonte de
pesquisa, e portanto, num local interessante para visitação de turistas.
As fotografias dos esportes de aventura praticados em Brotas foram
gentilmente cedidas pela Agência Alaya mas, infelizmente não foi possível
identificar os meses em que as fotos foram tiradas.
44
5. Cenário da pesquisa
5.1 A Origem do Nome
Para a origem do nome Brotas são citadas várias versões no livro “Brotas
Cotidiano & História” de RAMOS ; BUSSAB; SOUZA e SANSONI, (1996, p.120)
tais como: Brotas de olho d’água; Brotas de Broto de capim (mato que brotava
após pousadas de tropeiros); Brotas como derivado de “bolotas” (biscoitos
característicos fabricados no local). A mais coerente parece ser a de que
Francisca Ribeiro dos Reis, descendente de portugueses, tenha trazido para
Brotas a devoção a Nossa Senhora das Brotas que, em Portugal, desde o seu
aparecimento no século XV, tem atendido aos pedidos a quem a ela se dirige. O
mesmo pode ter acontecido em Lindóia, cidade colonizada por portugueses e
espanhóis, e que tem como centro de sua devoção Nossa Senhora das Brotas, a
sua padroeira, em função da grande quantidade de “brotos” d’água (denominação
antiga de nascentes d’água). A região onde está localizada Brotas também é rica
em nascentes d’água (brotas d’água).
Um outro fator que chama a atenção para essa versão é a existência de
uma imagem de Nossa Senhora das Brotas, de meados do século XIX, na Capela
de Santa Cruz, em Brotas.
5.2. Localização
O município de Brotas localiza-se no centro geográfico do Estado de São
Paulo, distando por rodovia a 242 km da capital. Possui uma área de 1.001
km
2
(IBGE 2004), sendo o 6
o
município em extensão do Estado. Brotas está
inserida na APA de Corumbataí.
45
W 53º 00’ W 49º00 W 47º00’ W 45º00’W 51º00’
S 2 1º 0 0
S 2 3º 0 0
S 2 5º 0 0
N
0 70 140 km
ESCALA
M
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n
a
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n
t
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c
o
R
i
o
d
e
J
a
n
e
i
r
o
BROTAS
Figura 5. Localização do município de Brotas no estado de São Paulo.
Desenhista: Gilberto Donizetti Henrique, 2006.
Apresenta como coordenadas geográficas latitude: 22
o
17’sul; longitude: 48
o
08’oeste e altitude: 661 m. Faz limites com: Torrinha (Sul), Dois Córregos (Oeste),
Itirapina (Leste), Dourado (Noroeste), Ribeirão Bonito (Norte), São Carlos
(Nordeste) e São Pedro (Sudeste).
5.3. Acesso
O acesso ao município de Brotas pode ser feito pela SP 225 - Rodovia
Engenheiro Paulo Niloromano, SP 330 - Rodovia Anhanguera, SP 310 - Rodovia
Washington Luís, SP 340 - Rodovia Bandeirantes e SP 197 - Rodovia Américo
Piva.
46
Figura 6. Acesso por rodovias
Fonte: www.brotas.sp.gov.br (2006)
5.4 Aspectos Fisiográficos
Utilizamos a descrição fisiográfica a seguir visando a analisar a
particularidade do geossistema do município de Brotas e o provável responsável
pelo surgimento da atividade turística no local.
5.4.1 Geologia Regional
Segundo descrição de ALMEIDA (et alii,1981), e citado por MAIER (1983), na
bacia do Jacaré Pepira ocorrem rochas predominantemente do Mezozóico, a
saber: grupo São Bento com formações Pirambóia, Botucatu e Serra Geral, à qual
associam-se Intrusivas Básicas e o grupo Bauru com formação Adamantina.
Segundo MAIER (1983), citando PONÇANO (1981), ocorrem ainda coberturas
Cenozóicas da formação Itaqueri e Aluviões e Coluviões .
A formação Pirambóia apresenta arenitos finos e médios de deposição fluvial,
podendo também ocorrer folhelhos e arenitos argilosos. Já a formação Botucatu
apresenta arenitos de granulação fina a média, de origem eólica e com
estratificação cruzada. Podem ocorrer pequenos corpos de siltitos, argilitos e
47
conglomerados, todos de deposição fluvial ou lacustre. Por sua vez, a formação
Serra Geral, apresenta rochas vulcânicas sob a forma de derrames basálticos de
coloração escura. Nesses derrames podem ocorrer intercalações de arenitos
eólicos da formação Botucatu (MAIER, 1983).
Os aluviões e coluviões, presentes na bacia, são constituídos principalmente
por argilas com alto teor de matéria orgânica (MAIER, 1983). Na bacia hidrográfica
considerada ocorrem estruturas que revelam o tectonismo da região. A orientação
geral do curso do rio Jacaré Pepira parece indicar uma influência do alinhamento
estrutural do Tietê. A Oeste de Dourado, no divisor de águas entre as bacias do
Jacaré Pepira e Jacaré Guaçu o mapa geológico citado assinala a presença de
alguns falhamentos de gravidade, o mesmo ocorrendo junto ao curso do rio, ao sul
de Brotas, a jusante do cruzamento deste rio com a rodovia Araraquara - Jaú
(SP225). Nessa mesma região é assinalado um domo que define o interflúvio
entre as duas bacias citadas (MAIER, 1983).
A erosão no período Cenozóico propiciou o surgimento da depressão
periférica, das Cuestas Basálticas e do Planalto Ocidental, que compõe o relevo
atual da região
5.4.2 Geomorfologia
A beleza privilegiada da paisagem regional, que incentivou o advento do
ecoturismo é resultado da geomorfologia do município de Brotas.
O relevo é constituído de planaltos tubulares e cuestas basálticas
concêntricas, que drenam suas águas para os rios Paraná e Uruguai. As Cuestas
Basálticas são um relevo escarpado, dessimétrico, seguido de uma sucessão de
camadas com diferentes resistências ao desgaste e de grandes plataformas
estruturais de relevo suavizado, inclinadas para o interior em direção à calha do
Rio Paraná. O topo é denominado de frente da cuesta e a base de reverso da
cuesta. O entalhamento do reverso dessas cuestas , um corte íngreme na região
frontal, deu lugar a grandes anfiteatros de erosão, e muitos destes cortes
apresentam quedas d’água (MAIER, 1983).
48
Figura 7: Detalhes do relevo do município de Brotas - 3ª Cachoeira
do Jacaré, Mata’dentro Ecoparque, bairro do Patrimônio
Foto: Alaya (2005)
Figura 8: Detalhes do relevo – Morro da Sela
Foto: Alaya (2005)
49
A disposição desse relevo confere ao município características particulares,
com cenários de beleza cênica propícios para a atividade de contemplação e o
grande número de cachoeiras é mais uma opção para que a atividade do turismo
tivesse, assim, bases peculiares para se desenvolver.
5.4.3 Climatologia
O clima da região de Brotas está classificado como CWA, segundo o Sistema
de Köppen, apresentando um inverno seco. (SETZER, 1966, apud RUScHMANN,
1997).
Brotas encontra-se sob clima tropical e 90% das chuvas ocorrem de outubro
a março, demarcando duas estações climáticas distintas: a chuvosa e a seca. A
temperatura média anual é de 18º a 22º.
Como ocupa a posição central, próxima ao rebordo das escarpas, nas
cuestas, apresenta características climáticas peculiares; assim, o inverno é
ameno, com dias quentes e as noites mais frias, tornando favorável a prática das
atividades turísticas mesmo no inverno.
5.4.4 Vegetação
A vegetação típica do município de Brotas se divide em extensões
interioranas da Mata Atlântica localizadas nas escarpas da cuesta, cerrados e
cerradões no reverso da cuesta, e matas de galerias que seguem os cursos
d'água.
50
Figura 9: Matas de Galeria – Furna do Rio Jacaré Pepira, antiga
Usina Hidroelétrica, bairro do Patrimônio atual Mata’dentro Ecoparque.
Foto: Alaya (2005)
Segundo RUSCHMANN (1997), a vegetação que cobria o reverso da cuesta
foi praticamente toda devastada com a instalação de fazendas na região. A
paisagem típica constituía-se de mata umbrófila aberta e floresta estacional,
extensões interioranas da mata atlântica. Na frente das cuestas, nos trechos mais
íngremes, salvam-se as matas nativas. As matas de galeria, que formavam
extensas áreas ao longo dos cursos d’água que drenam a região, também
sofreram drásticas reduções de sua cobertura vegetal, anteriormente larga em
ambas as margens dos rios e riachos locais.
51
Figura 10: Redução da cobertura vegetal vista do vale do Rio
Jacaré (região do Varjão)
Foto: Alaya (2005)
5.4.5 Recursos hídricos
A região de Brotas apresenta um potencial e efetivo recurso paisagístico que
envolve principalmente os recursos hídricos, com corredeiras, saltos e cachoeiras,
que atualmente tem sido considerado a razão do fluxo turístico.
GRIGOLIN (2004,p.29) descreve que:
devido à estrutura monoclinal
13
, a drenagem se acomodou aos declives
das camadas, estabelecendo rios conseqüentes
14
que, além de
escavarem a periferia da grande bacia devido ao soerguimento positivo
desta última, entalharam em " percée "
15
o bordo daquele planalto.
Tendo os rios principais se encaixando nos arenitos, colocando a mostra
13
Relevo cuja estrutura das camadas sedimentares é inclinada numa só direção.
14
Rios que correm segundo a direção do mergulho das camadas.
15
Abertura feita por um rio conseqüente ao atravessar uma frente de cuesta.
52
as camadas de basalto, originou-se uma série de corredeiras e quedas
d’água.
O Rio Jacaré–Pepira tem 174 km de extensão, sua hidrografia abrange uma
área de 2.612 km
2
, faz parte da Bacia do Rio Paraná, pertencendo à Bacia
Hidrográfica do Rio Tietê (Médio Tietê).
De acordo com a CETESB São Paulo, por meio da Rede de Monitoramento
de Qualidade das Águas Interiores do Estado de São Paulo, a bacia do Rio Jacaré
Pepira apresentou, em 2003, qualidade boa para o índice de Qualidade de água
Brita para fins de abastecimento Público e qualidade Regular para o índice de
Qualidade de Água para Proteção da Vida Aquática. Portanto, apresenta, no geral,
boa qualidade de acordo com os parâmetros utilizados pelo Ministério Público.
Figura 11: Rio Jacaré Pepira – Parque dos Saltos
Foto: Alaya (2005)
53
Figura 12: Rio Jacaré Pepira – Três Saltos, trecho final do rafting
Foto: Alaya (2005)
Figura 13: Mata’dentro Ecoparque – 2ª cachoeira São Sebastião, bairro do
Patrimônio.
Foto: Alaya (2005)
54
Em Brotas, algumas empresas como a Paraíso Bioenergia e Ripasa
desenvolveram ações de conservação da mata ciliar existente com o replantio de
espécies nativas juntamente com proprietários de fazendas e sítios e por algumas
agências de ecoturismo do município. (GRIGOLIN, 2004,p.72).
Assim, os atrativos turísticos de Brotas, estão intimamente associados aos
recursos hídricos e ao relevo, apresentando-se assim como um patrimônio
paisagístico valorizado do ponto de vista do ecoturismo.
55
5.5. Perfil do Turista
Na Tabela 7, a seguir, é apresentado o perfil do turista que visita Brotas,
segundo informações cedidas por José Carlos Francisco Júnior
16
(2005):
Tabela 7. Perfil do turista
Características Plano de
marketing –
USP - 1996
Prefeitura Municipal
de Brotas - 1997
Prefeitura
Municipal de
Brotas- 1999
Plano de Marketing
Mata’dentro
Perfil geral:
Origem 46,96% SP
capital
70% grande São
Paulo
52% grande São
Paulo e Campinas
Não analisou Predomínio da
grande São Paulo
Faixa etária 42,93% de 18 a
25 anos e
29,29% de 26 a
34 anos
25%-18 a 25 anos
30%-26 a 34 anos
33%-35 a 50 anos
85% faixa etária
entre 21 e 48 anos
Entre 18 a 39 anos 10-50 anos,
predominando
entre 20 e 45
anos
Sexo Não analisou 50% masculino
47% feminino
57,35% masculino
42,64% feminino
Sexo masculino (62%) Ambos, com
tendência de
predomínio
masculino
Poder aquisitivo Renda familiar
de mais de 20
salários mínimos
36% mais de 20
salários, 22% de 6 a
10 salários e 17% de
11 a 15 salários
mínimos
40% de 10 a 30
salários mínimo
Classe social entre A1 e
A2
55% dos entrevistados
Médio/
elevado
Nível cultural e
escolaridade
Médio/
elevado
69% superior
completo, 16%
superior incompleto e
11% ensino médio
50% nível superior
completo,
23% nível médio
completo
Médio/elevado Médio/
elevado
Predomínio de
nível superior
completo
Tipologia Estudantes
universitários e
turistas de
interesse
genérico
Profissionais jovens,
casais, grupo de
amigos.
Profissionais
jovens, casais,
grupo de amigos.
Profissionais jovens,
casais, grupo de amigos.
Predomínio de
turista de interesse
genérico
Tabela 7. Perfil de turista de Brotas
Fonte: Jose Carlos Francisco Júnior, 2004.
16
José Carlos Francisco Júnior – ex-proprietário da agência Mata’dentro e hoje adjunta à agência
Alaya, é Zootecnista, mestre em Ciência Animal e Pastagem e especialista em Educação
Ambiental pela ESALQ/USP.
56
Com base na Tabela 7, podemos notar que a maioria dos turistas que visitam
Brotas são da grande São Paulo e de Campinas. A faixa etária predominante são
pessoas entre 20 a 45 anos (identificado pelo esforço físico dispensados para as
atividades de esporte de aventura), de ambos os sexos. O poder aquisitivo
compreende a classe média a elevada (40% dos entrevistados com renda entre 10 a
30 salários mínimos). O nível cultural dominante é o superior completo com interesse
genérico.
José Carlos Francisco Junior, a seguir, aponta a motivação e expectativas do
turista que visita Brotas (Tabela 8)
Tabela 8. Principais Motivações e Expectativas dos visitantes
__________________________________________________________________
Motivação e Expectativas:
Lazer e descanso;
Praticar atividades de esporte aventura, lúdicas e contato com a natureza;
Relacionamento (conhecer novas pessoas e novas comunidades e interagir);
Conhecimento e curiosidade;
Fantasia;
Fuga da rotina.
Tabela 8. Perfil de turista de Brotas
Fonte: Jose Carlos Francisco Júnior, 2004.
Quanto às motivações e expectativas dos visitantes, enfatizamos a fuga da
rotina em busca do descanso em contato com natureza. Assim, Brotas se apresenta
como um cenário ideal para a prática de atividades que têm na natureza uma forma
de lazer como forma de atrativo para o turista.
57
6. Análise dos Resultados
6.1. Origem e Evolução da Atividade Turística em Brotas
O desenvolvimento de atividades ligadas ao ambiente natural tem seguido
uma tendência mundial e a procura por lugares quase intocados tem tido uma
constante nos últimos tempos.
Brotas é uma cidade que possui, ao longo de sua história, várias passagens
marcantes, até chegar a ser reconhecida como cidade turística. A cidade apresenta
cenários de beleza cênica propiciada pelas características fisiográficas, possuindo
atrativos naturais como cachoeiras, rios com corredeiras e matas nativas, suporte
para o crescimento da atividade turística.
Na Tabela 9 a seguir, apresentamos alguns dados obtidos na Diretoria de
Turismo, em Brotas, no mês de julho de 2005. A partir desses dados tentaremos
investigar quais os motivos que levaram o destino ao seu auge e o provável
declínio no que tange à atividade turística.
Em Brotas, na década de 1960, o turismo era explorado informalmente pelas
famílias locais, parentes e amigos visitantes, sendo o Rio Jacaré Pepira o principal
atrativo.
João Batista Negrão
17
relata:
Eu faço o passeio de bóia desce criança. Quando a gente começou, com
isso daí, eu me lembro que a gente descia essas corredeiras, mas sem
bóia, se machucava todo, então entrava naquelas ondas e entrava de
peito, o joelho ficava todo esfolado, era a molecada maluca, todo
moleque tem um pouco de louco. Depois é que aconteceu, aliás, não
começou com bóia, começou com prancha. Então o pessoal pegava uma
tábua leve e se apoiava para não machucar o peito, e entrava naquela
ondas quando o rio enchia, como está agora, entrava naquelas ondas e
era divertido, era uma festa, depois teve alguém que montou numa
câmera de ar e viu que era melhor a câmera de ar, do que se machucar
todo e aí foi evoluindo, mas isso era de quando eu tinha 12 ou 13 anos,
faz muitos anos. O nome bóia-cross eu não sei de onde veio, a gente ia
a pé até o pontilhão da FEPASA, na Carvoaria, mas a gente descia esse
trecho menor do Caju, depois que a gente foi se aventurando mais para
17
João Batista Negrão – cirurgião dentista, precursor do Movimento Rio Vivo no município,
pessoa considerada importante na fase de implantação da atividade turística em Brotas.
58
cima e depois começamos a descer aqui em baixo, porque quando o rio
não estava cheio, aqui era ruim para descer, bate muito em pedra, então
a gente começou a descer aqui, mas aqui era muito perigoso, porque
aqui era mais radical.(João Batista Negrão, 70 anos:2006).
José Carlos de Francisco Junior, na Revista e Jornal de Ecoturismo, aponta
que após a crise do café houve uma estagnação econômica no município, quando
perdeu-se parte da população para os grandes centros urbanos. (Revista e Jornal
de Ecoturismo, 2004:9).
Na década de 70, mais precisamente em 1978, foi cogitada a transferência
da capital do Estado de São Paulo para o interior. Brotas seria palco da nova
capital, pois novamente as características fisiográficas, principalmente os recursos
hídricos, eram satisfatórios para esse acontecimento.
Maria Pia
18
(2005) relata:
Brotas é um lugar lindo. Nós temos aqui um braço do aqüífero Guarani o
maior lençol freático do mundo, água pura, água em abundância, água
cristalina de boa qualidade e uma extensa área que pertencia ao
governo. O governo tinha uma área muito grande, não sei se ainda tem.
A idéia dele era muito saudável, faz a capital, compra uma área muito
grande, vende os terrenos em volta. Na realidade, a mesma coisa que
aconteceu em Brasília; não seria bom para o povo de Brotas, mas seria
muito bom para o povo de São Paulo.
A valorização da terra como atrativo financeiro sempre esteve presente na
opinião das pessoas. Negrão (2006) lembra que nessa época:
Houve a criação do Bairro do Campos Elysios. Eles aproveitaram aquele
momento e acharam que ia ter um fluxo muito grande de pessoas e
acabaram loteando, depois ficou quase vinte anos totalmente
parado.Com o tempo, Brotas cresceu e acabou ocupando aquele bairro,
mas na época muita gente de São Paulo comprou terrenos em Brotas. Eu
acompanhei bem na ocasião, o idealizador disso daí é um professor da
USP de São Carlos, o Corsini, e a idéia dele é que aqui seria a região
ideal, havia algumas áreas que haviam sido levantadas, uma perto de
Avaré, três na região de Brotas (Broa, Patrimônio, entre uma e outra),
chegou até ser feita a demarcação da área, mas daí a própria
Assembléia não aprovou e passou a era Maluf.
18
Maria Pia é proprietária do Acampamento Peraltas implantado desde 1978, no município de
Brotas e proprietária, também, da Agência Brotas Aventura.
59
Tabela 9. Características do turismo em Brotas antes de 1993, em 2001 e em 2005
_______________________________________________________________________________
ANTES DE 1993
2001 2005
Nenhum sítio turístico 20 sítios turísticos e três áreas de visitação controlada 20 sítios turísticos e três áreas de visitação controlada
Uma agência de Ecoturismo
Mata’dentro
15 operadoras de Ecoturismo
10 operadoras de Ecoturismo
Nenhum produto turístico Dezenas de produtos turísticos Novos investimentos para a diversificação dos atrativos
Ex:Mata’dentro Ecoparque
Nenhuma imobiliária especializada 2 imobiliárias especializadas 2 imobiliárias especializadas
Nenhum monitor local Mais de 300 monitores Mais de 350 monitores
2 antigos hotéis
(130 leitos)
17 hotéis e pousadas (1200 leitos)
Casas de aluguel ~1500 leitos
Áreas de camping ~300 pessoas
25 hotéis e pousadas
Dezenas de casas
6 áreas de campings
1 restaurante 15 restaurantes
20 restaurantes
Pequeno fluxo de turistas Estimativa 1998 a 2000 - Finais de semana – 1500
turistas, Feriados (3 dias) – 5000 turistas, Carnaval – 8
mil turistas
96% dos turistas pretendem voltar
Queda do fluxo
em aproximadamente
40 %
Pouca produção de artesanato
Associação de artesãos – 4 lojas de artesanato local
Produção nas fazendas – doces, pinga, mel, licores e
queijos
maior produção de produtos típicos nas fazendas (doces,
pingas, licores), feira de artesanato
Pouco envolvimento do comércio Comércio aberto nos finais de semana – aumento de ~
40% do faturamento
Comércio aberto nos finais
de semana
Pouca participação institucional Maior vontade política
Criação do COMTUR, FUNTUR,
Elaboração da normatização para o turismo de esporte
de aventura
COMTUR, FUNTUR, CIAM
Normatização aprovada
(todas as empresas trabalham irregularmente sem
fiscalização)
Brotas não era considerada destino
turístico
Considerada oficialmente cidade turística (EMBRATUR)
Conhecida nacionalmente como a Capital dos Esportes
de Aventura
Busca pela categoria na EMBRATUR de “Estância Turística”
A comunidade participa, muitas pessoas alugam suas
casas para turistas nos finais de semana para ter renda.
Em 2002 ouviram-se reclamações e insatisfação quanto
a ruídos, segurança, drogas e infra-estrutura.
Entrada de empresas externas
O ‘trade’
19
se preocupa com a qualidade no serviço,
capacitação e amadurecimento nas atividades.
Existe o pensamento de ter novamente uma cidade com
consciência preservacionista.
1970 – mídia informava sobre as
águas medicinais na Fazenda Areia
que Canta
Mídia – muita divulgação
em todos os jornais, revistas e televisão
Pouca ou quase nenhuma mídia
Procura pela divulgação de várias cidades agrupadas –
incentivando o turismo regional
Fonte: Diretoria de Turismo de Brotas, 08/2005
19
Trade” – o turismo é composto por diversos equipamentos e serviços destinados a satisfazer às
necessidades do cliente. O conjunto destes e as empresas e organizações que administram são
chamados de “trade turístico”. (“Meu negócio é Turismo, Ministério do Turismo, 2002).
60
Maria Pia, precursora do turismo em Brotas, relata:
Quando nós começamos com turismo, o pessoal dava risada, gozava,
naquela época se dizia assim: “Conheça Brotas antes que se acabe”.
Ninguém acreditava, nem o prefeito e o pessoal da cúpula, eles queriam
trazer indústria e meu marido dizia: indústria polui. A indústria vai tirar
tudo o que nós temos de bom, o ar puro, e ele tava certo.
O projeto para a implantação do ecoturismo em Brotas não nasceu apenas
como fruto das mobilizações que estavam acontecendo globalmente. O Consórcio
Intermunicipal do Rio Jacaré Pepira ou a mobilização popular formada para barrar a
entrada de um curtume em Brotas, foram ações importantes para que a atividade
se desenvolvesse.
O rio Jacaré Pepira nasce próximo à região central do Estado de São Paulo,
nos municípios de São Pedro e Itirapina, passa pelos Municípios de Brotas,
Bocaina, Torrinha, Ribeirão Bonito, Bariri, Boa Esperança do Sul, Dourado, Jaú,
Dois Córregos, Itajú e deságua no Rio Tietê, na represa de Ibitinga, abrangendo
uma área de 7.219 km
2
. (CEPAM, 1983:3)
O consórcio do Rio Jacaré Pepira teve sua origem quando o Governo
Estadual, em medos de 1984, propôs a organização de Conselhos Municipais do
Meio Ambiente – CONDEMA.
Pelas entrevistas realizadas, percebe-se que o processo esteve ligado aos
interesses com a preservação da natureza, principalmente da mata ciliar do Rio
Jacaré Pepira.
O consórcio do Rio Jacaré nasceu de um projeto entre João Batista Negrão,
do Dr. Antonio de Padua Bertelli e o então prefeito Pedro Ragassi.
João Batista Negrão conta:
Como estavam surgindo atividades no sentido de preservação, tendo
como centro o Rio Jacaré, muita coisa não dependia de uma ação local e
sim de uma ação mais geral, assim, surgiu a idéia de se fundar um
parque, sendo que no início da coisa não foi um Consórcio. E aí que
entrou o CEPAM, na primeira reunião que nós tivemos para falar sobre
isso daí, para discutir essa idéia da criação de uma área intermunicipal
de preservação onde abrangesse toda a bacia do rio Jacaré. A gente
pensava num parque ecológico, tanto é que a primeira matéria publicada
61
sobre esse assunto foi no jornal o Estado de S. Paulo, de um jornalista
de Bauru, e que ele dizia assim: ‘nasce o parque ecológico do Rio
Jacaré’. Ele já foi um pouco adiantado na idéia. Porque quando ele
soube desse movimento, ele esteve aqui em Brotas e numa entrevista
onde estávamos nós três a gente tinha uma idéia de fundar um parque,
essa era a idéia da gente. O CEPAM que nos alertou de que um parque
não poderia ter esse tipo de aglutinação, porque um parque precisaria ser
desapropriado, e que essa figura jurídica não cabia ou era inviável devido
a certos detalhes, então o pessoal da área jurídica do CEPAM fez um
estudo da parte jurídica de que tipo de aglutinação poderia ser feito. Foi
quando surgiu a idéia de se estabelecer um Consórcio, porque o
Consórcio não obrigava a você ter um limite de ação, porque uma
nascente que ficasse a uma distancia muito grande da parte central que
seria o rio Jacaré, mas que direta ou indiretamente acabasse escoando
nessa área, teria que fazer parte disso daí.
Assim, o Consórcio do Rio Jacaré tinha por objetivo incentivar a associação
entre municípios para a preservação da flora, fauna e dos mananciais por eles
partilhados, sendo a primeira experiência de consórcio intermunicipal de Meio
Ambiente no Estado de São Paulo.
A bacia do rio Jacaré Pepira, um dos afluentes do Tietê, apresentava na
época condições propícias para a implantação do consórcio, já que grande parte de
sua extensão estava conservada, o que justificava o esforço da sociedade e do
poder público para sua proteção. Porém, vale ressaltar que algumas áreas já se
apresentavam com índices de devastação. Nessa época, o CEPAM - Fundação
Prefeito Faria Lima – também desempenhou um papel importante, realizando e
acompanhando as iniciativas que ocorreram nesse período de consolidação das
atividades do Consórcio, possibilitando o levantamento de dados para proteção e
recuperação ambiental.
Na década de 80, aconteceram múltiplas atividades nas áreas de
preservação e educação ambiental, recuperação de matas ciliares, gestão dos
recursos naturais e mais recentemente, ações de implantação do Ecoturismo como
alternativa para o desenvolvimento do município.
O sucesso dessas ações, foi em parte devido à criação de mecanismos de
participação comunitária e de gestão ambiental, como o CONDEMA (Governo de
Franco Montoro (1983-1988), que implementou o Consórcio Intermunicipal para a
62
preservação da Bacia do Jacaré Pepira, com a participação dos 13 municípios
situados no Médio Tietê, banhados pelo rio Jacaré Pepira Mirim.
Em 30 de novembro de 1985, os prefeitos de Brotas, Jaú, Bocaina, Dois
Córregos, Dourado, Ibitinga, Boa Esperança do Sul e Bariri se reuniram para
firmar a “Carta de intenções”, visando à proteção ambiental, à criação e instalação
do CONDEMA e à implantação de um “Consórcio Ambiental Regional”, visando
assim a proteção dos ecossistemas.
A partir de 1986, foram realizadas várias reuniões com a população local,
prefeitos, vereadores e representantes de entidades sociais e governamentais
para discutir formas de solução para a conservação da natureza, na área do Rio
Jacaré Pepira. Em setembro de 1986 foi constituído o consórcio com o nome de
‘Consórcio Intermunicipal para Defesa e Preservação da Bacia do Rio Jacaré
Pepira’ – CODERJ, sendo o primeiro consórcio do Brasil formado exclusivamente
para estabelecer políticas para a preservação e o manejo de recursos naturais de
uma bacia hidrográfica. Ficou definida, também, a participação da UNICAMP em
projetos de pesquisa que possibilitassem o reflorestamento das margens do rio
Jacaré Pepira, a partir do conhecimento das espécies nativas dessas áreas.
Nessa época, foi feita a descida de barco pelo rio Jacaré Pepira, de Brotas
ao Rio Tietê, com a participação da Polícia Florestal, Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental (CETESB), da UNESP de Rio Claro, da UNICAMP, da
Companhia Energética de São Paulo (CESP), do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF), da Divisão de Proteção dos Recursos Naturais
(DPRN) e das prefeituras de Brotas e Bocaina, onde foram desenvolvidas as
atividades de levantamento fotogramétrico, recolhimento de amostras (botânica e
geológica), observação de fauna e flora e marcação dos pontos críticos das áreas
ribeirinhas afetadas pela devastação. O material produzido encontra-se arquivado
na CETESB, mas vale ressaltar que desde o princípio a questão da devastação já
era percebida e portanto, ficaria delicado estar usando essas áreas com novos
usos, principalmente por se tratarem de Áreas de Proteção Permanente (APP).
63
Ainda em 1986, foi realizada uma reunião com a participação da Secretaria
da Agricultura, para a discussão do Programa Pró-Várzea
20
, e suas diretrizes para
a região da bacia. Foi realizada também a primeira apresentação dos slides da
avaliação do rio Jacaré Pepira, e feita a entrega do documento ao Governador
André Franco Montoro, no Palácio dos Bandeirantes.
Em 1987, inicia-se o levantamento florístico dos remanescentes de mata
ciliar, começando também a coleta de sementes para a produção de mudas a ser
feita no viveiro do Consórcio, onde foram montadas “parcelas” na mata da fazenda
Santa Elisa, propriedade da família Atalla. Assim, é feito o primeiro plantio para o
reflorestamento. Em junho, é solicitado recurso ao IBDF, para a ampliação do
viveiro. Em 20 de julho de 1987, foi solicitada ao Governador André Franco
Montoro, audiência para reivindicar auxílio financeiro para o tratamento dos
esgotos lançados na bacia
21
, bem como para o aproveitamento das áreas de lazer
nas correntes de água.
Segundo o Projeto Piloto, a pauta da reunião do dia 07 de dezembro de
1987 era a preocupação com a conservação de áreas da bacia hidrográfica do rio
Jacaré Pepira. A área da usina do Patrimônio mobilizou o consórcio e o CEPAM,
pois era preciso saber o que poderia ser feito nas unidades de conservação. Assim,
pensou-se na possibilidade de criação de opções de lazer para a população local.
Nesse sentido, a proposta do Programa de Ecoturismo do Departamento de
Parques e Áreas Naturais – DEPAN, surgia como resposta a esta questão,
possibilitando a conservação dos recursos naturais, a recreação em contato com a
natureza, a formação de uma consciência ecológica por meio da educação
ambiental, e a criação de uma nova fonte de recursos financeiros para os
municípios integrantes do Consórcio. Assim origina-se o problema, o DEPAN
20
É inacreditável: ao mesmo tempo que várias agências do Governo do Estado de São Paulo são
mobilizadas para atividades de preservação e manejo de recursos naturais, outra agência do
mesmo governo propõe um programa de aproveitamento das várzeas (Programa Pró-Várzea).
21
Problema que existe ainda hoje. Por exemplo, na Cachoeira do Mira em Torrinha, a água está
contaminada pelo lançamento de esgoto na cidade de Torrinha, que por sua vez lança também,
por meio desse curso d’água, o esgoto no Rio Jacaré Pepira, em Brotas.
64
sugere ações em APP, não se pode falar que não se conhecia a lei, as ações
propostas e implementadas não poderiam ter sido desenvolvidas.
O Projeto Piloto (1990) consistia na organização do acesso aos recursos
naturais e dos elementos que compõem o projeto, seguindo as seguintes etapas:
1. Levantamento do patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico,
turístico e dos recursos naturais de cada município integrante do Consórcio;
2. Treinamento e preparação dos recursos humanos envolvidos no projeto;
3. Seleção das áreas apropriadas para o desenvolvimento do projeto;
4. Elaboração dos roteiros turístico-ecológicos;
5. Estudos de demanda turística;
6. Adequação do equipamento receptivo turístico;
7. Implantação dos roteiros turístico-ecológicos;
8. Divulgação dos roteiros turístico-ecológicos;
9. Supervisão do funcionamento do projeto;
10. Verificação das metas atingidas para posterior aperfeiçoamento do projeto.
O levantamento foi feito para que essas informações básicas fossem uma
fonte inicial de consulta para as próprias prefeituras municipais.
Nos primeiros meses de 1988 foi finalizada a construção do viveiro de
mudas em Brotas, com o suporte financeiro do IBAMA - Ministério do Meio
Ambiente, e ao final do mesmo ano, haviam sido produzidas cerca de 100.000
mudas de 125 espécies nativas.
Em 1990, foi publicado pela Fundação Faria Lima – CEPAM, o relatório das
atividades realizadas pelo consórcio até então, contendo também os projetos que
seriam desenvolvidos na Bacia do Jacaré Pepira:
- Caracterização geral da região do Consórcio do Rio Jacaré Pepira;
- Ecoturismo na Bacia do Rio Jacaré Pepira;
- Estudo para a avaliação e recuperação das matas ciliares da Bacia, por
meio de imagens de satélite;
- A ocupação e a divisão do espaço/binômio Homem, Natureza, Preservação
e Cultura;
65
- Programa de Educação Ambiental;
- Projeto da Sede do Consórcio do Rio Jacaré Pepira;
- Projeto Especial de Recuperação Florestal do Consórcio;
- Projetos Municipais – Áreas de Lazer;
- Propostas de estudos ambientais na Bacia;
- Ações do Consórcio.
O consórcio foi dinâmico até meados de 1991, chegando a realizar
convênios com várias universidades como UNICAMP, USP e UNESP. Após essa
fase, o consórcio foi reduzindo suas atividade por falta de recursos financeiros e
hoje existe apenas juridicamente.
Na década de 90, a notícia da instalação de um curtume, em Brotas, gera
um movimento de resistência à instalação dessa atividade, não compatível com a
preservação ambiental. Esse movimento amplia a participação da comunidade
local, retomando assim as discussões e ações de educação ambiental, visto que o
CONDEMA estava desativado.
Batista Negrão relata:
Em quase todas as cidades do interior teve um curtume, porque era uma
atividade muito rudimentar. Como se matava animais, então o couro tinha
que ser aproveitado, então quase todo lugar teve um pequeno curtume;
isso geralmente ficava próximo da cidade, não dentro, mas próximo da
cidade. Mas no caso especifico do curtume Cantucio, quando ele foi
construído, ele ficava num bairro afastado de Campinas. Campinas
cresceu, como todo mundo sabe, e engoliu tudo aquilo, ele acabou
ficando no meio dessa zona de crescimento, e se tornou inviável aquela
atividade, pois produz um mau cheiro horrível, além de outros problemas;
o cheiro é insuportável no curtume. Então eles foram sendo obrigados a
desocupar aquela área. Então em 1990, esse pessoal comprou uma área
relativamente próxima da cidade, com intenção de trazer o curtume para
cá. Cada ação que eles faziam eles conseguiam prorrogar o prazo de
funcionamento lá no local que eles estavam, então o primeiro avanço era
a compra dessa área.
De 1991 a 1992, foi quando eles tentaram aprovar uma planta para trazer
a atividade para cá em definitivo, daí que começou esse movimento
contrário. Quando nós conseguimos juntar um número expressivo da
população, de pessoas representativas, com estudantes, universitários,
com profissionais liberais, pessoas do comércio, enfim não só um
número, mas um pessoal formador de opinião, pessoas da cúpula da
cidade, a nata intelectual da cidade, então a gente percebeu que tinha
que se organizar num tipo de associação. Então daí é que se surgiu a
idéia de se construir em 1992 uma ONG, e hoje ela existe legalmente na
Secretaria do Meio Ambiente como “Movimento Rio Vivo.
66
Ainda segundo Batista Negrão, nessa época, a ONG propõe que no lugar de
uma indústria poluidora, dever-se-ia implantar a indústria do turismo. Ela não seria
poluidora, mas conservacionista. Nesse sentido, a área a ser utilizada para o
turismo ecológico ou turismo rural deveria estar conservada, o proprietário teria que
tornar a área cada vez mais bonita e ter cada vez mais a mente voltada para a
conservação.
Assim, o discurso da indústria sem chaminés, que não causa problemas ao
meio ambiente, passou a ser o grande objetivo para a economia do município.
Um fator relevante a ser destacado é que desde o inicio existiram
dificuldades na gestão do turismo, porque a maioria das cachoeiras em Brotas
estão em propriedades particulares, o que dificulta a gestão da atividade turística.
Sabe-se que o turismo também gera impactos negativos onde se
desenvolve. Porém, para muitos lugares ele tem sido visto como o salvador do
meio ambiente e responsável também pela geração de emprego e renda.
Assim, a Ong Rio Vivo, formada por pessoas dispostas a lutar contra a
instalação do curtume, sugeriu o turismo como alternativa.
João Batista Negrão conta:
Ser contra uma atividade poluidora, tudo bem, mas não se pode ir contra
uma atividade que gera emprego e que traz riqueza para a cidade e pode
melhorar o seu desenvolvimento. Então, era preciso mostrar que nós
tínhamos uma indústria, era só explorar que ela estava pronta, que não
precisava construir essa indústria, que era só a gente utilizar o que a
natureza havia dado, uma região com muitos atrativos que nos foi dada
de graça e que estava aí dormindo, como a gente diz. Muitos dos
atrativos turísticos nem o proprietário da área conhecia, não só a
população da cidade, mas teve locais que a gente foi conhecer, foi
documentar, fomos fotografar e filmar e quando mostrou para o
proprietário da área o que ele tinha, ele dizia que nunca tinha visto; e
proprietários que já vinham de famílias, gente que nasceu dono daquilo
lá, então era isso que a gente quis mostrar, para que entregar um
patrimônio que nós tínhamos, que nos foi dado gratuitamente, destruir
esse patrimônio com uma atividade que Ia gerar um punhado de
empregos da pior qualidade, uma exposição ao perigo, a todo tipo de
coisas nocivas à saúde, enquanto que nós poderíamos e o que realmente
acabou acontecendo foi desenvolver uma atividade que geraria muito
mais emprego, traria muito mais renda e uma renda não concentrada,
porque o turismo você não substitui de jeito nenhum, o homem pela
máquina. Você não pode utilizar um atrativo qualquer sem que você
ponha gente para trabalhar, você não tem como substituir um atendente,
67
um garçom, um cozinheiro, uma arrumadeira, isso você não substitui por
máquinas, então essa atividade, além dela ser geradora de emprego,
muito mais que uma indústria, ela distribui a renda de uma maneira mais
democrática.
A natureza é vista como mercadoria para ser explorada e dominada. Brotas
não foge à regra. Não era preciso grande investimento, era só explorá-los. Foi
assim que a atividade do turismo foi pensada desde o início; embora com um
discurso conservacionista, a natureza era uma mercadoria a ser explorada.
Figura 14: Natureza transformada em produto – trecho de um afluente
do Rio Jacaré – Fazenda Sinhá Ruth – Mata’dentro Ecoparque
Foto: Alaya (2005)
Dominar a natureza, como se não houvesse limites, gerou o renascimento
da noção de sustentabilidade, mas somente por volta dos anos 80 do século
passado.
68
Eva Firmino Santana
22
(2006), aponta:
O turismo nasceu em Brotas, primeiro porque a cidade já tinha uma
vocação, um potencial. Segundo porque tinha pessoas com visão
articuladas e que trabalharam muito para isso. Efetivamente com trabalho
sério, enfim o grande diferencial nosso é essa visão e essa relação.
Quanto ao curtume, nessa ocasião, tudo precisa ter um start, um motivo,
então o principal motivo foi essa questão ambiental, que teve esse
cutucão com a história da implantação do curtume. Esse foi o primeiro
ponto para a galera se articular, vamos dizer assim, só que se você
chegar e falar e não para uma proposta, criticar simplesmente por criticar,
sem dar uma alternativa, ficava complicado. Para a população brotense
essa história do curtume era uma forma de trabalho, era uma maneira de
se melhorar a questão econômica da cidade, pois ela estava estagnada.
E na verdade a gente não achava que essa era a melhor forma, poluindo,
o curtume ia gerar subemprego e não emprego, então foi aí que surgiu a
idéia de dar uma solução para isso.
No caso de Brotas, a concepção de que o município “já tinha uma vocação,
um potencial turístico” que “estava ali” para ser explorado, permitiu que se
empregasse o conceito de sustentabilidade para justificar essa opção pelo turismo.
Ainda segundo Batista Negrão:
O que aconteceu foi tudo uma questão de momento, o que aconteceu
em Brotas foi o ideal. Porque até então o turismo no Brasil era praia, as
cidades termais, o turismo religioso e o turismo científico. Mas começou
nessa ocasião a participação do pessoal mais jovem, mais aventureiro,
de um turismo mais esportivo, de aventura; e a mídia começou a dar
atenção para esse tipo de coisa, e nós chegamos junto, então é aquele
negócio assim, a imprensa tinha espaço para isso então não passava
uma semana sem sair numa revista de ponta alguma matéria sobre
Brotas. Porque não existiam outras, eram poucas as cidades que
ofereciam esse tipo de atrativo e a procura era muito grande.
Foi mais ou menos nesse período que o jovem começou a ter mais
liberdade para viajar e para fazer excursões independentes dos pais,
então isso aí veio a calhar, chegou na hora certa. A ECO 92 também deu
uma alavancagem muito grande a essa questão ambiental. Quando a
gente falava em turismo rural, pouca gente fazia esse tipo de viagem e
Brotas estava com tudo aí, você não precisava construir nada para você
22
Eva Fimino Santana é membro da ONG Movimento do Rio Vivo e participou da abertura da
primeira agência de turismo em Brotas.
69
fazer um passeio de bóia, que foi uma das primeiras atividades que a
gente fez, era só você montar em cima de uma câmara de ar e descer o
rio, você não precisava criar nada, tava aí, e uma coisa que a gente
fazia desde criança. Então uma molecagem passou a ser uma atividade
rendosa. E a mídia tinha que encher o espaço e o espaço estava aqui,
então isso daí veio assim, como uma explosão e cresceu mais do que
tinha como crescer, a coisa foi que meio desordenada, tinha muita gente,
e não tinha acomodação e daí veio muita acomodação e não tinha tanta
gente para aquela acomodação.
Mas vale lembrar que o turismo aconteceu em conseqüência da
atividade de preservação, nós não lutamos para a implantação do
turismo, nossa briga sempre foi na questão ambiental, quando a gente
fala assim, que eu tive participação ativa na questão do turismo, eu digo
assim: ‘o turismo veio montado a cavalo no trabalho de preservação
porque a nossa briga pela preservação data da década de 80 e o turismo
só foi começar a se organizar de 93 para frente. A idéia de preservação
ambiental é muito anterior à idéia do turismo.
Temos, na entrevista de Batista Negrão, uma afirmativa delicada e complexa.
Ao afirmar que o “turismo aconteceu em conseqüência da atividade de
preservação
23
, nós não lutamos para a implantação do turismo” ou “o turismo veio
montado a cavalo no trabalho de preservação porque nossa briga pela
preservação data da década de 80 e o turismo só foi começar a se organizar de
93 para frente”, isso pode ser verdadeiro. Mas, fica a questão: o turismo em Brotas
teve um desenvolvimento frenético sem que se levasse em conta a conservação?
Não se deve esquecer a tentativa de mudança da capital, em 1978, e a
valorização das terras e de todas as suas riquezas naturais. Enfim, a valorização
dos recursos naturais e as dificuldades de sua conservação.
Novamente, foram discursos maquiados de conceitos ecologicamente
corretos, mas que no fundo sempre buscaram a exploração, e o lucro.
A atividade turística se desenvolveu de maneira desordenada, sem
preocupação com o ambiente. Muitos acreditavam que o principal, Deus já havia
dado de graça, uma cidade com recursos abundantes, muita “sombra e água
fresca”.
23
O termo preservação é confundido com o de conservação, que seria o mais
indicado nesse caso.
70
De maneira mais enfática, a partir da Eco-92 o tema Turismo, que até então
circulava somente em meios científicos, ganha espaço nos meios de comunicação
de massa. O ambiente começa a fazer parte da pauta da mídia impressa e
eletrônica, nacional e local. Assim, as matérias têm que ser produzidas e o
ambiente passa a ser consumido como mercadoria.
Fabiana MAURO (2005:36) aponta que “as revistas tentam transformar as
viagens e o turismo supostamente ecológico em moda, em mercadoria, passando
a impressão de que tudo que vem da natureza é saudável, ideal para ser
consumido e, sendo assim, é o melhor para os seres humanos.
De acordo com LEDA (apud MAURO, 2005:38), nas mensagens veiculadas,
economicamente o ecoturismo é sinônimo de dinheiro, e para o lugar ofertado é
uma forma de conservação da natureza.”
Seguindo essa idéia, José Carlos Francisco Júnior (2005) argumenta:
Figura 15: Rio Jacaré-
Pepira vista da ponte da
cidade
Fonte: Alaya (2005)
71
uma série de fatores levou ao desenvolvimento, mas o que eu ressalto,
foi que o momento foi oportuno, então nós entramos na atividade no
melhor momento. E qual era esse momento, era o cenário do Ecoturismo
no Brasil, tinha acabado de ocorrer no Rio de Janeiro a Eco 92, o
Ecoturismo no mundo estava em crescimento, no Brasil também, então
todo mundo querendo investir, querendo trabalhar a mídia espontânea
em cima de atividades relacionadas à natureza, então foi uma questão de
oportunidade nós conseguimos ter esse senso de oportunismo de entrar
no negócio na hora certa, quando estava começando e quando toda a
mídia e mesmo o Brasil estava carente de projetos sérios nessa área de
Ecoturismo, então Brotas encaixou como uma luva. Uma cidade
pequena, tradicional igual a muitas que existem, mas onde tinha um
diferencial de natureza e um diferencial humano capaz de transformar
todo esse potencial de natureza em produto turístico. (FRANCISCO
JÚNIOR, 2005)
É complicado falar em mídia espontânea, com jornalistas que buscavam
incessantemente matérias que evidenciassem ambientes intocados e preservados.
Brotas, é claro, fazia parte desse cenário conservado. Portanto, a mídia vendia a
cidade de modo que também proporcionasse a ela lucros imediatos com a venda
de publicações, seja em revistas, jornais ou reportagens televisivas.
Após o movimento de resistência, com o surgimento do “Movimento Rio
Vivo”, Orlando Pereira Barreto (conhecido como Dú Barreto) é eleito, em 1993,
prefeito de Brotas. É considerado um grande incentivador da implantação da
atividade turística no município e criador da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Batista Negrão é convidado a ser secretário do Meio Ambiente, e propõe
algumas metas de atuação dentro da área de preservação. Ainda em 1993, o
município de Brotas dá inicio ao processo de fomento ao turismo, tendo como base
o uso direto dos recursos naturais existentes. Desse modo, começaram a ser
realizadas “expedições” com integrantes do Movimento Rio Vivo e da Secretaria do
Meio Ambiente, de membros da sociedade civil e com o apoio da Prefeitura
Municipal. Essas expedições, além de propiciar o conhecimento do patrimônio
natural tinham como objetivo avaliar e documentar a possibilidade de exploração do
Turismo Ecológico em Brotas.
72
6.1.1 Fase de Exploração
Brotas, dentro do Estado de São Paulo, configurava-se como um município
ímpar, graças à sua posição geográfica, facilidades de acesso, sua qualidade
paisagística, à qualidade de seus recursos hídricos e o nível de conservação de
seus ambientes naturais. A existência destes ambientes conservados e as
características dos sistemas naturais presentes no município e em suas áreas
adjacentes é que fundamentaram o crescimento do turismo.
Eva Firmino Santana, lembra que:
Figura 16: Cachoeira de Santa
Maria – atrativo turístico em Brotas
Fonte: Alaya (2005)
73
Foi feita uma primeira exposição de fotografias desse material e foi uma
coisa até pouco divulgada, só foi dado um toque no jornal regional.
Depois dessa exposição e dessa chamada no jornal regional, começou a
aparecer os turistas. Então o povo batia na casa da gente, domingo de
manhã ‘ah vocês que são da galera do Rio Vivo, que sabe onde é tal
cachoeira’, e daí a gente levava o pessoal para ver, e daí a gente
começou a sacar que isso poderia se transformar, a gente já estava
trabalhando de graça e informalmente, de uma maneira errada, então
precisava transformar isso de verdade em produto.
A busca por lucro passava a ser vista como alternativa a estar “trabalhando
de graça e informalmente, de uma maneira errada.”
Figura 17: 3ª Cachoeira – Mata’dentro Ecoparque
Fonte: Alaya (2005)
Foi quando surgiu a primeira agência, a “Mata’dentro Ecoturismo e
Aventura”. Na verdade, eram as mesmas pessoas do Movimento Rio Vivo, pessoas
que estavam envolvidas com a questão ambiental. Nessa época não havia nada de
74
turismo. No começo, foi uma atividade incipiente e a Mata’dentro era “uma
portinha”. Santana conta que:
Lá a gente fazia essa história de sensibilizar as pessoas, fazendo os
proprietários abrirem os seus sítios a ceder, pois ninguém acreditava no
turismo. Era uma coisa que estava muito distante da realidade das
pessoas, essa é a verdade, e quando a gente fez esse trabalho de
sensibilização também foi um divisor de água porque a agência
trabalhava em função de levar pequenos grupos para visitar as
cachoeiras, foi o primeiro produto de Brotas, tanto é que a gente não
vendia esporte de aventura, nós vendíamos Ecoturismo”
Não custa retomar as lembranças de infância de Batista Negrão a respeito
do uso de bóias de câmara de pneus como prática de lazer, que se quer hoje como
turismo.
Assim, a atividade foi se estabelecendo. As pessoas que recebiam turistas
nos sítios começaram a se estruturar e começaram a perceber a possibilidade de
fazer as atividades sozinhas, sem a agência. Dessa forma, a agência ficava quase
impossibilitada de trabalhar, porque os donos dos atrativos queriam cobrar
diretamente dos turistas, tornando assim inviável a participação da agência naquele
momento.
Conforme o relato histórico do desenvolvimento do turismo em Brotas, essa
fase, de acordo com BUTLER (1980), é caracterizada pelo início da “Exploração”
da localidade. O município começa a apresentar algumas facilidades aos visitantes.
A população local começa a se estabelecer na atividade com o objetivo de criar um
mercado forte e gerar lucros. Caracterizada também como a fase em que a cidade
começa a ser visitada pelos exploradores, pessoas que buscam novidades e
aventura; porém, o município apresentava dificuldades de acesso e de instalações,
pois os principais atrativos eram as atrações naturais.
Na Tabela 10 a seguir, apresentamos as agências entrevistadas, ano de
inauguração, naturalidade do proprietário e porque escolheram trabalhar com a
atividade turística em Brotas:
75
Tabela 10– Agências de Turismo em Brotas: Ano de inauguração, naturalidade
do proprietário e razões para trabalhar com o turismo em Brotas.
_________________________________________________________________________
Agências Ano de
Inauguração
Proprietário
naturalidade
Razões para trabalhar com o turismo em
Brotas
Alaya
(Mata’dentro)
1993 França
(Brotas)
Alaya junta-se a Mata’dentro primeira agência de
turismo da cidade, foram os empreendedores do
turismo participantes da Ong do Rio Vivo
Vaca Náutica 1996 Brotas Já trabalha no ramo (Mata’dentro)
Ponto de
Partida
1997 Jundiaí Trabalhava de monitor no Peraltas e vendo o
movimento resolveu investir
Águas
Radicais
2000 Brotas Como empreendedor, percebeu o movimento e
teve uma proposta para abrir a agência
Brotas
Aventura
2000 Brotas Já estava no mercado com o Acampamento
Peraltas
Terra de
Aventura
2000 Brotas Trabalhava como instrutor
Território
Selvagem
2000 São Paulo Buscar qualidade de vida. Convidado a trabalhar
em uma agência, tornou-se proprietário
posteriormente
Eco Ação 2001 São Paulo Campeão brasileiro de caíque pólo, e
freqüentador de Brotas
Fonte: entrevistas com os proprietários (2005)
76
6.1.2 Fase do Envolvimento
Com a chegada dos primeiros turistas, era preciso inovar, para que o
turismo pudesse ser considerado como uma alternativa, pelo menos do ponto de
vista econômico. Assim, a agência montava o curso de guias, envolvendo a
comunidade local. Eva Firmino Santana lembra:
“Quando a gente estava com a empresa, era um grupo de meia dúzia de
pessoas e a gente fazia tudo. Então eu lembro que nessa ocasião eu
administrava a agência e os meninos eram guias. O Ju, o Renato, a
gente fazia tudo, não tinha gente, e assim a gente sacou que precisava
abrir esse leque e envolver mais pessoas, foi quando fizemos o primeiro
curso de guias, eu e o Renato que ministramos. Fizemos uma grande
pesquisa, com SEBRAE, com EMBRATUR, e todo material que a gente
pegava era outra coisa porque o povo do turismo era um turismo de
massa, uma outra história. Pegava as fitas de vídeo, eram umas
mulheres de tailler dentro dos ônibus, falando de vegetação, não era o
que a gente fazia aqui, porque Ecoturismo não existia no país. Bonito
tava começando e a gente tava começando.
O ecoturismo era muito incipiente e aconteceu de forma natural, pelo
próprio feeling dessa coisa de a gente visualizar a questão ambiental, o
próprio potencial natural, essa idéia de conseguir grana com
preservação. Também a gente tava muito focado nisso, de ter um
resgate, essa coisa de ter que sair para trabalhar fora, ‘não, eu quero
trabalhar na minha cidade’, então isso foi uma junção; acho que tudo
culminou para isso. Porque daí teve a ECO 92, que já teve essa
sensibilização, gente tava nesse movimento já mexendo com essa coisa
do Rio Vivo, então foi uma sinergia que facilitou para isso. Mas a gente
não tinha referência, foi tudo muito no feeling, no escuro, por isso teve
muitos erros e muitos acertos, na moral da história a gente até se saiu
bem.
Enfim, o momento foi importante porque se plantou essa semente de
meia dúzia para um publico maior, “essa molecada que ficava brigando
na rua, vivia enchendo a cara de cachaça, jogava lixo na rua, não
aceitava gente de fora, aquela coisa de picuinha, essas pessoas
mudaram a mentalidade. Hoje elas são profissionais que trabalham, e
têm esse intercâmbio com os turistas, abriu a cabeça, foi uma série de
ganhos nisso.”
O foco que se nota era a preocupação com a “grana”, o ambiental e o social
serviam para edulcorar o econômico.
77
Nessa fase, caracterizada pelo Envolvimento (BUTLER, 1980), a
comunidade local começa a oferecer serviços aos visitantes. Assim, é importante
estabelecer os processos de organização e tomadas de decisões apropriadas para
cada atividade. É nessa fase que deveriam ser estabelecidos os limites de visitação
ao atrativo, pois a comunidade ainda estaria envolvida no processo,
salvaguardando assim aspectos relevantes para atrair o turista.
Em 1993, foi apresentado ao prefeito o inventário do levantamento feito pelo
“Movimento Rio Vivo”. O relatório causou surpresa, pois havia nele a confirmação
de que nem todos os atrativos eram conhecidos. Foi então sugerido chamar um
grupo especializado nessa atividade para opinar se a atividade seria viável ou não.
Dóris Rushmann, professora da USP - São Paulo, foi convidada para analisar esse
material e conhecer “in loco” todo o patrimônio do município.
Vale ressaltar que nessa fase o importante é realizar o planejamento. Nesse
sentido, planejamento não se limita apenas à formulação de planos, programas e
projetos. Trata-se de uma intervenção gradativa que compreende vários estágios
interdependentes, nos quais os planos e programas são simples documentos de
referência. Assim, segundo SZMRECSANYI (1979, p.13), podem-se distinguir os
seguintes estágios no processo de planejamento:
1. Diagnóstico da evolução do complexo sócio-econômico que se pretende
influenciar através do planejamento;
2. Formulação de uma política de desenvolvimento para o complexo;
3. Elaboração do plano propriamente dito;
4. Execução do plano;
5. Avaliação periódica dos resultados obtidos; e
6. Progressiva reformulação do diagnóstico, da política de desenvolvimento, dos
objetivos e dos instrumentos do plano.
Assim, o planejamento tem um caráter probabilístico (não determinístico) na
maioria de suas variáveis, com reajustes quando necessário. Mas, o que se nota
com freqüência são municípios turísticos formulando planos e não realizando o
planejamento. E mesmo assim os planos não saem do papel.
78
Dóris Ruschmann, em 1995, apresenta seu plano de desenvolvimento
turístico para Brotas, mencionando a subdivisão do turismo em cinco
especialidades: o turismo de natureza, o turismo de eventos, o turismo de criança,
o turismo de terceira idade e o turismo rural. Mostra também a preferência por
essas atividades em oposição ao desenvolvimento industrial poluente, como a
instalação de um curtume.
O plano apontava também o potencial turístico de Brotas e contemplava a
preocupação com preservação para prevenir impactos ambientais e também com
a segurança dos visitantes.
Sugeria também que era imprescindível fazer um projeto de Ecoturismo
para o município, sendo necessário um estudo sobre os impactos sócio-
ambientais. O Núcleo de Pesquisas e Estudos do Meio Ambiente da UNICAMP –
NEPAN, em conjunto com as Secretarias Municipal e Estadual de Meio Ambiente,
seriam responsáveis pela realização de estudo com o objetivo de “ordenar o
processo de transformação de Brotas num Pólo ecoturístico, estabelecendo um
uso mais racional dos recursos naturais pra minimizar os impactos ambientais e
sociais do ecoturismo no município”. (RUSCHMANN, 1996, p.24)
Nesse plano é manifestada a importância dos eventos e manifestações
culturais que Brotas apresentava, incluindo o Carnaval, Festival de Ballet,
Memória Viva da Cidade, Grupo de Teatro, Grupo de Coral, Romaria Nossa
Senhora das Dores, sendo eles importantes instrumentos de preservação da
história e da cultura, podendo se transformar em atrativos pontuais.
Na fase de desenvolvimento do plano, apontava-se a necessidade de a
Secretaria de Esportes e Turismo de São Paulo (SET) “realizar parceria com
Núcleos de Turismo para criar roteiros para várias especialidades do turismo
inclusive, programas turísticos especiais para crianças e para a Terceira Idade
(RUSCHMANN, 1996:25).
Nessa fase, tinha-se como objetivo estabelecer e estruturar uma política de
ecoturismo no município. Eram mencionadas várias ações importantes para que a
atividade contemplada se desenvolvesse com planejamento. Porém, alguns itens
mencionados, até o presente momento, ainda não foram reestruturados:
79
* Restauração da CASA DAS MÁQUINAS na antiga usina do Parque dos Saltos;
* sinalização turística – placas no formato padrão para indicar as atrações e
serviços turísticos, bem como para alertar de perigo ou recomendações
ambientais;
* Criação de centrais de informações ao turista em pontos estratégicos da cidade;
* Revitalização da Estação Ferroviária.
A intenção deste plano ia além de tornar Brotas um centro receptivo,
pretendia-se, acima de tudo, melhorar a qualidade de vida da comunidade.
Embora o plano tenha contemplado toda a parte cultural e histórica da
cidade, conforme apresentado no conceito de Ecoturismo, ele ficou somente no
papel. Atualmente, percebe-se um descaso quanto ao patrimônio artístico e
arquitetônico e cultural da cidade, o qual é responsável pela própria identidade
quanto ao surgimento e desenvolvimento do município. Dessa forma, torna-se
muito difícil uma atividade turística ser sustentável se ela não valoriza as raízes da
cidade.
Na publicação de Rushmann, ainda é apontada como a atividade do
turismo poderia ser utilizada, quais os riscos da utilização do turismo e onde se
poderia chegar sem que a qualidade de vida da comunidade ficasse
comprometida. Esse foi o início real e oficial da atividade turística em Brotas, que
acabou virando uma bola de neve, de acordo com o reconhecimento feito por
Negrão.
6.1.3. Desenvolvimento
Paralelamente a esses acontecimentos, em 1994 foi criado o Conselho
Municipal de Turismo (COMTUR), visando motivar os empreendedores locais a
investirem na melhoria da infra-estrutura turística de hospedagem, alimentação e
nos sítios. Ainda em 1994, por meio da Coordenadoria de Turismo de Brotas
desenvolve-se o pré-projeto para o desenvolvimento ecoturístico de Brotas. A
80
proposta deste projeto surgiu da necessidade de buscar uma alternativa econômica
que pudesse desenvolver o município e ao mesmo tempo conservar a maior
riqueza que Brotas possui, suas águas limpas e suas belezas naturais.
Nessa época foram catalogadas: 17 cachoeiras, o Rio Jacaré, o Salto do Rio
Jacaré, a Represa do Patrimônio, as Usinas do Rio Jacaré (cidade e no
Patrimônio), a Areia que Canta, a Represa do Broa, os Prédios Históricos, as
Fazendas Modelo, as Fazendas Históricas, o Acampamento Peraltas, a Fazenda
Nova América, os eventos culturais, religiosos e esportivos tradicionais, a Festa de
Santa Cruz, a Romaria de Nossa Senhora das Dores, o Carnaval, os Campeonatos
de Canoagem e o Mountain Bicke, e que formavam o Potencial Turístico.
Ainda em 1994, a Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo
(SET) organizou e lançou o projeto de regionalização e interiorização do Turismo.
Nesse projeto os municípios do Estado de São Paulo foram agrupados em 14
núcleos. Brota foi incluída no Núcleo das Serras, ao lado dos municípios de: Águas
de São Pedro, Americana, Analândia, Araras, Itirapina, Charqueada, Cordeirópolis,
Corumbataí, Ipeúna, Leme, Limeira, Piracicaba, Rio Claro, Santa Bárbara do
Oeste, Santa Gertrudes, São Pedro e Torrinha. Com este projeto, a Secretaria tinha
o intuito de incentivar o paulista a viajar dentro do próprio estado, mantendo assim
o fluxo intenso de capital satisfatório.
Nesse momento a agência de turismo começa a fazer articulações (pois
nesse período só havia o Casarão Hotel e a Mata’dentro) e a divulgar os atrativos
de Brotas. Eva Firmino Santana (2006), descreve:
Eu já tinha feito assessoria de imprensa em São Paulo, no escritório da
irmã da Regina Casé, tinha uma certa experiência com divulgação. Então
eu tinha muito medo, todo mundo querendo divulgar o Paraná, tinha
investido, feito a pousada, meio sob a nossa matuta e ele queria divulgar,
e eu tinha muito receio porque a estrutura não estava pronta para um
volume grande. Então eu fiz esse trabalho de divulgação de uma forma
super profissional, com um monte de dedos e cuidados, o povo me
enchia o saco em função disso, porque a ansiedade, essa coisa do
imediatismo do brasileiro, mas graças a Deus eu tinha essa visão, essa
experiência. Então a gente fez um trabalho de divulgação super seleto,
direcionado, profissional mesmo, a gente só divulgava em tv a cabo,
onde o numero de pessoas que assistem é menor, o publico é bacana, a
gente sabe o que a gente queria para cá, isso desde o começo, a gente
81
queria transformar isso aqui numa viabilidade econômica; não adianta
trazer farofeiro para cidade que detona e não dá o retorno financeiro que
a gente queria, então essa coisa que as pessoas falam que o turista que
vem para Brotas é bacana não caiu do céu teve um trabalho árduo para a
gente cativar, são pessoas viajadas, que têm um nível de exigência
grande, então a gente teve esse cuidado em divulgar só em revista
especializada, Revista Terra; jornal, no caderno mais bacana, mas nem
muito lido, para a gente andar do tamanho das pernas.
O relato revela preconceitos no emprego do termo “farofeiro” em oposição a
“gente bacana”. E que o turismo de massa, freqüentado geralmente por farofeiros,
em sua maioria, é menos sustentável, ou que gera mais impactos no meio
ambiente do que o ecoturismo. É perigosa essa afirmação, pois faltam estudos
empíricos para comprová-los.
Segundo FENNELL, a indústria do turismo quer que os turistas sintam que o
ecoturismo, freqüentado no início por “gente bacana”, é menos prejudicial e mais
sustentável que o turismo de massa. Porém, os ecoturistas não estão inicialmente
motivados por um desejo de proteger o meio ambiente, mas de ver o ecossistema
nativo e exótico em primeira mão. (FENNELL, 2002, p.39)
Assim, podemos supor que se o ecoturismo crescer numa área sem
regulamentação, ele pode facilmente tornar-se tão prejudicial quanto outras formas
atuais de turismo. Na verdade, por tender a ocorrer em áreas com ecossistemas
raros e frágeis, ele poderia ser até mais prejudicial, haja visto que os ecoturistas
sempre estão à procura de novos destinos, mais exóticos do que os anteriores, ao
passo que muitos turistas habituais ficam felizes por passar suas férias em
complexos turísticos consagrados.
Controvérsias sobre “turismo de massa X turismo ecológico ou ecoturismo”,
ou “turismo de farofeiro X turismo de gente bacana” estarão sempre presentes nos
discursos de muitos daqueles que se dizem preservacionistas.
Voltando ao processo histórico, Eva Firmino Santana lembra que a primeira
divulgação foi feita pela pousada do Paraná do Patrimônio, por meio de um
82
Famtur
24
e contava com parceria de pessoas de fora e de São Paulo que estavam
investindo em agências localizadas em Brotas (1994/1995).
O turismo estava crescendo gradativamente: as empresas foram se
estruturando, enquanto os sítios passaram a receber diretamente as pessoas, o
que inevitavelmente iria comprometer a sobrevivência das agências.
Conforme relatado por Eva Firmino Santana, houve um novo impulso para a
atividade turística:
A gente já fazia o bóia-cross aqui, que era um hábito do brotense de
infância, enfim, a gente queria transformar aquilo em produto, então teve
um trabalho, o Paulinho elaborou as primeiras capas de bóia, ele é
engenheiro de produção, então nós ficávamos costurando na máquina,
testávamos, e assim o esporte de aventura começou com o bóia-cross.
Depois a gente conseguiu comprar um bote, porque não existia bote de
rafting no Brasil, foi a Mata’dentro que trouxe a confecção de bote para o
Brasil, hoje é uma coisa muito disseminada.
Em dezembro de 1996, foi reinaugurado o Centro Cultural “Grêmio
Recreativo”, reunindo documentos e imagens sobre a história cultural da cidade,
bem como o Museu do Café, com objetos que contemplavam desde aquela época
o florescimento do município e a ocupação pelos imigrantes, predominantemente
italianos. Em 1996, foi realizado pela ECA - USP o Projeto de Aproveitamento
Turístico da Primeira Cachoeira do Astor, tendo como docente responsável a Profa.
Dra. Dóris Ruschmann. Esse projeto teve início a partir do Plano de
Desenvolvimento Turístico da cidade, mencionado acima.
O inventário sócio-econômico-cultural apontava a qualidade de vida
satisfatória dos moradores do local, a tendência para a visitação aos atrativos da
cidade e do entorno e a necessidade de um turismo sustentável nas cachoeiras e
corredeiras, já que eram e (são) os elementos mais importantes para o
desenvolvimento da prática do ecoturismo e do turismo de aventura em Brotas.
24
Famtur – é o turismo de familiarização gratuito, oferecido às agências, jornalistas e pessoas que
possam divulgar o local.
83
Esse inventário apontava uma demanda nesses segmentos de turismo.
Entretanto, já mencionava o problema que a atividade poderia provocar pela
ausência de controle do afluxo de turistas e outros fatores degradantes do meio
ambiente, que poderiam comprometer a atratividade da oferta natural, “tornando-
se necessário controlar a visitação excessiva de turistas, determinando a
capacidade de carga dos recursos (carrying capacity) e delimitando o.horário de
acesso, bem como a obrigatoriedade de guias especializados para permitir o
entretenimento no local.” (RUSCHMANN,1996, p.03)
Em 1997, com outro governo municipal e uma nova Secretaria Municipal de
Turismo, firmam-se convênios com universidades que geraram vários trabalhos
sobre o turismo no município, inclusive um plano de marketing. Em 1998 foi
assinado um termo de cooperação técnica com a Fundação Florestal, entidade
ligada ao Instituto Florestal do Estado de São Paulo, elaborando-se uma agenda
ambiental e de controle do produto turístico. Nesse mesmo ano, Brotas conseguiu o
selo turístico da EMBRATUR, tornando-se ‘oficialmente’ uma cidade turística.
A partir de 1999 o Governo Municipal, o Conselho Municipal de Turismo e os
empresários do setor, em parceria com a Ecoassociação e EMBRATUR,
começaram a elaborar normas e políticas para o desenvolvimento do turismo
‘sustentável’ e para buscar alternativas para o planejamento e a gestão do
ecoturismo em Brotas.
Em fase de rápido crescimento, acontece o “boom”, como relatado por Eva
Firmino Santana:
No começo a gente controlava a mídia, era uma mídia que os caras
vinham e a gente que fazia o contato, eles escutavam o que eu queria
que eles escutassem, eles viam o que eu queria que eles vissem, então
eles divulgavam o que eu queria que eles divulgassem. Depois de um
certo momento, quando Brotas ficou na moda, a gente tinha uma mídia
espontânea, é a mídia free e que essa você não segura. A Dani tava na
Secretaria de Turismo, conseguiu fazer um trabalho super bacana, a
gente tentava podar dentro do possível, já havia um canal maior via
prefeitura, porque algumas coisas passavam por lá, quase tudo na
verdade, mas muita coisa você nem fica sabendo, então esse segundo
momento de mídia teve os dois aspectos, positivo de um lado e negativo
do outro, porque daí você começa a divulgar demais, começa a vir gente
demais. Nesse boom, nesse momento de mídia, de modinha, veio muita
84
gente, gente bem intencionada e gente mal intencionada. Pessoas que
apareciam, não por sacanagem, mas por falta de competência mesmo.
Porque para montar um negócio você precisa de dinheiro, e o povo abria
agência como se abria um boteco e achava que era pegar neguinho.
Novamente, vemos nesse discurso a pretensão de que é possível controlar
a mídia. E questionamos quais os interesses dos responsáveis pela atividade do
turismo que estão em jogo: é vender Brotas com atrativos naturais para a sua
exploração? Mostrar o município conservado? Que tipo de público compraria esse
tipo de revista? Viajar para fazer reportagens simplesmente para falar de
conservação?
O que notamos realmente é que nessa época a divulgação era acirrada, as
reportagens contemplavam o turismo de aventura, caracterizado pelo consumo de
bens naturais para atividades esportivas e de exploração do meio ambiente. A
meta era atingir pessoas em busca de um contato íntimo com a natureza,
utilizando a paisagem no seu âmbito mais radical.
Assim, vários esportes de aventura são divulgados para ser praticados no
município de Brotas. A seguir, identificaremos os mais praticados:
Bóia-cross
O bóia-cross compreende a descida do Rio Jacaré-Pepira, praticada no início
com bóias de caminhão ou trator. As Figuras 18, 19, 20, 21 e 22 contemplam o
equipamento utilizado para a prática desse esporte, antes de ter sido
transformado em produto turístico (Figuras 23 e 24).
85
Figura 18: estrada da Carvoaria
Fonte: Mata’dentro
O Bóia-cross compreende dois níveis que podem ser escolhidos para o
percurso: o básico, com uma hora de duração e 4 km de extensão e o radical, com
duas horas e 7 km de extensão.
Figura 19: estrada da Carvoaria
Fonte: Mata’dentro
86
Figura 20: estrada da Carvoaria
Fonte: Mata’dentro
Figura 21: Descida de bóia no Rio Jacaré Pepira, Poção
Fonte: Mata’dentro
.
87
Figura 22: Primeira Capa da bóia – Parque dos Saltos
Foto: José Carlos Francisco Júnior
Figura 23: Bóia-cross – Parque dos Saltos
Foto: Alaya (2005)
88
Figura 24: Bóia-cross – Parque dos Saltos
Foto: Alaya (2005)
Arvorismo
O arvorismo pode ser contemplativo ou acrobático. Nos circuitos
contemplativos, o praticante caminha suspenso entre as árvores usando
passarelas e, na maioria das vezes, está protegido por redes.
Esta prática tem sido usada também por biólogos e cientistas para estudar a
fauna e flora existente na copa das árvores. Os circuitos acrobáticos exigem
coordenação, equilíbrio e uma dose de coragem do praticante. Apesar de estarem
sempre presos a um cabo de segurança, os candidatos escalam redes, caminham
sobre cabos de aço, equilibram-se em estribos até finalizarem o percurso com
uma tirolesa. Em Brotas, na Verticália, pode-se experimentar um dos mais
qualificados circuitos de Arvorismo do Brasil.
89
Figura 25: Arvorismo no Mata’dentro Ecoparque
Fonte: Alaya (2005)
Figura 26: Arvorismo modalidade adulto
Fonte: Alaya (2005)
90
Canyoning (Canionismo) / Casacading (Cachoerismo)
A atividade baseia-se na utilização de técnicas verticais (descida e subida)
com corda. A principal técnica é o rapel, ou descida controlada. Os praticantes
dessa modalidade usam como equipamento básico: cadeirinha, mosquetões, freio
oito, solteira (cabo de vida), capacete, além de luvas, roupa de borracha, joelheira,
caneleira, etc..
Figura 27: Cascading ou cachoerismo
Cachoeira de São Sebastião - Mata’dentro Ecoparque
Fonte: Alaya (2005)
91
Caminhada
A Caminhada (trekking) é uma atividade recreacional que consiste em
percorrer a pé paisagens em ambientes naturais, levando equipamentos e comida
na mochila. É praticado em áreas selvagens ou em trilhas previamente planejadas
e demarcadas. Os praticantes podem pernoitar.
Equipamento necessário: cantil, saco de dormir ou barraca, fogareiro,
panelas, tênis ou botas especiais para caminhada, bússola e mapas.
Figura 28: Caminhada no Mata’dentro Ecoparque
Fonte: Alaya (2005)
92
Rafting
O rafting é a descida de rios com corredeiras em botes de borracha, é
praticado nos EUA e Europa desde os anos 70. Foi introduzido no Brasil na
década de 80. Equipamento: remos (no mínimo quatro remadores), bote especial
inflável, capacete, salva-vidas, corda de salvamento, sapato de borracha ou tênis.
Figura 29: Rafting no Rio Jacaré-Pepira
Foto: Alaya (2005)
Figura 30: Rafting no Rio Jacaré-Pepira - 1º Salto dos Três Saltos
Fonte: Alaya (2005)
93
Pode ser praticado por pessoas sem experiência, desde que acompanhados
por guia experiente. Com duração média de três horas, o nível de dificuldade do
rafting varia de fácil a médio. Durante a aventura, é possível avistar tucanos,
macacos e capivaras na margem do rio Jacaré-Pepira.
O Rafting é a atividade de aventura mais praticada em Brotas. Segundo as
agências entrevistadas, ele é responsável por 70% das vendas e pela visitação ao
destino, seguidas pelo canyoning e bóia-cross.
Esses esportes foram sendo introduzidos em Brotas durante a fase de
“Desenvolvimento” (BUTLER,1980) da atividade turística. É caracterizada pelo
domínio de empresas e serviços externos, quando o município começa a receber
visitantes exigentes, que buscam conforto e segurança.
Nesta fase, a participação da comunidade diminui em relação ao controle
dos equipamentos, dando lugar à entrada de organizações externas, que
estimulam o crescimento do número de visitantes. A localidade passa a receber
grande número de visitantes, chegando a igualar ou ultrapassar o número de
habitantes da destinação. É nesse estágio que começaram a aparecer os
problemas quanto à infra-estrutura local, pois muitos investimentos começam a
aparecer na destinação. Ela passa a ser mais conhecida e com facilidades para
atrair e acomodar cada vez mais turistas. Nesse período Brotas começou a receber
pessoas de todos os níveis sociais, tornando-se nessa época o destino de um
grande número de pessoas.
Mesmo sem planejamento inicial, a atividade turística cresceu em
decorrência do aumento do fluxo turístico. Desse modo, pequenos empresários e
proprietários rurais passaram a agir de acordo com seus próprios critérios e
interesses, trazendo para o município algumas conseqüências positivas e
negativas, como podemos observar na Tabela 11, a seguir:
94
Tabela 11. Conseqüências positivas e negativas do turismo em Brotas
_______________________________________________________________________________
Conseqüências positivas Conseqüências negativas
Promoveu uma maior conscientização
ambiental e de manutenção dos atrativos
naturais e culturais.
Aumento na geração de lixo e esgoto no
município.
Como alternativa econômica, agregaram-se
novos negócios à economia local, gerando
novas oportunidades de emprego e
lucratividade.
Saturação de trilhas, descaracterização da
paisagem e do ambiente (decorrência da
falta de planejamento e do controle da
capacidade de carga dos atrativos)
Promoveu o intercâmbio cultural da
comunidade com os turistas, permitindo
uma troca mútua de conhecimentos.
Excesso de turistas na cidade, sítios
turísticos e atrativos naturais nos períodos
de pico (feriados prolongados)
Resgate do patrimônio histórico-cultural da
comunidade.
Crescimento da economia informal,
especulação imobiliária
Reduziu o êxodo rural e urbano Saturação da infra-estrutura de
hospedagem. (feriados prolongados)
Estimulou melhorias na infra-estrutura
básica da cidade, garantindo uma melhor
qualidade de vida para a comunidade.
A Qualidade na prestação de serviços
turísticos e de alimentação fica
comprometida (feriados prolongados)
Surgimento de uma consciência municipal
positiva, promoção espontânea da cidade,
agregando valores culturais, históricos e
ambientais
Surgimento de turistas não qualificados,
gerando comportamento inadequado,
bagunça, excesso no consumo de bebidas
e depredação do patrimônio público.
Estimulou melhorias na infra-estrutura dos
sítios turísticos
Aumento no risco de pane do sistema de
abastecimento de água e luz.
Fonte: José Carlos de Francisco Junior e Jean Claude Razel
25
(2005)
Pelos dados apontados podem-se observar as conseqüências negativas que
aconteceram em Brotas. Porém, colocamos em dúvida se as conseqüências
positivas realmente beneficiaram o município. Será que criou-se uma maior
conscientização ambiental e de manutenção dos atrativos naturais e culturais? Se
realmente a tivessem desenvolvido as trilhas não teriam sido saturadas e nem teria
recebido o excessivo número de visitantes. E os atrativos culturais? A Estação
Ferroviária, um dos principais monumentos históricos da cidade, foi invadido e
ainda suas dependências de carga hoje abrigam os caminhões da prefeitura. Vale
ressaltar que todo o edifício foi descaracterizado, foi colocada terra na plataforma
25
Jean-Claude Razel – proprietário da Alaya Expedições, guia de montanha e administrador de
empresas (Ecole Supérieure Commerce -Paris)
95
onde antes existia paralelepípedo e foram postas cercas para evitar a entrada das
pessoas. Isso é conscientização cultural?
Voltando à história, em 2001 e 2002, a Secretaria Municipal de Turismo e os
grupos de trabalho do COMTUR apresentaram à comunidade o plano de
Normatização Turística, contendo um conjunto de ações, regulamentos e leis para
disciplinar a prática do ecoturismo no município. A normatização foi concluída em
2004, porém, até o presente momento ainda não está sendo seguida pelo trade,
pois não existe um órgão fiscalizador que possa se responsabilizar pelas leis não
cumpridas.
6.1.4. Consolidação
Em 2002, segundo estimativas da prefeitura, Brotas recebeu
aproximadamente 140.000 visitantes, movimentando um montante de cerca de
20 milhões de reais.
A Diretoria de Turismo, nesse momento, tinha uma estimativa muito
grosseira do número de visitantes que chegavam à Brotas. Como resultado, era
difícil calcular a capacidade de suporte dos atrativos. Dessa forma, muitos turistas
saiam insatisfeitos quanto ao atendimento das agências, restaurantes e hotéis, por
causa do grande número de turistas. Não havia infra-estrutura suficiente, o que
causava o mau atendimento, e muitas vezes a falta de educação por parte dos
atendentes e proprietários, já que havia muita procura pelos mesmos
equipamentos e sítios turísticos.
Assim, as localidades que utilizam os recursos naturais como atrativo
acabam se deteriorando pelo mau uso na sua exploração, tanto na construção de
equipamentos como hotéis e restaurantes quanto no excessivo número de
visitantes nos atrativos. Essa “massificação” do turismo faz com que os recursos
percam suas qualidades e suas características peculiares.
96
O poder público também começa a se abalar, pois se torna difícil o controle
de infra-estrutura de água, esgoto, lixo, segurança; começa a deterioração dos
recursos naturais e daqueles construídos da cidade e a tranqüilidade e segurança
das pessoas do local são afetadas.
Torna-se quase impossível controlar o número das pessoas que chegam na
cidade. Segundo a diretoria de Turismo, em 2002 a infra-estrutura para o turismo
contava com: dezessete agências de turismo, dezessete pousadas e hotéis na
zona urbana, sete pousadas na zona rural, cinco campings, duzentas casas de
veraneio para aluguel, vinte restaurantes e pizzarias, onze lanchonetes e bares,
sete lojas de artesanato e vinte e três sítios turísticos, com cerca de trinta e cinco
cachoeiras. Vale ressaltar que em Brotas não existe uma forma de controle, como
acontece por exemplo em Bonito, com o uso do “voucher” , que funciona como um
boleto de passagem aérea que você adquire antes de visitar os atrativos. O uso
dessa técnica também é uma forma de se controlar o número de visitas nos
atrativos e obter informações sobre os turistas, como local de origem, idade, sexo,
etc.
O rafting, como foi apontado anteriormente, é o carro-chefe dos produtos
turísticos, chegando a receber 1.000 turistas em um único dia. Começam as
queixas quanto ao atendimento e ao excesso de embarcações no rio.
A visitação aos atrativos iniciada sem planejamento adequado e o aumento
considerável do uso, concentrado nos feriados e finais de semana, trazem
conseqüências visíveis aos leitos das trilhas e, portanto, diminuição da qualidade
da visita (MAGRO, www.brotas.sp.gov.br).
Em feriados prolongados, o número de visitantes na cidade aumenta
consideravelmente, gerando congestionamentos nos sítios turísticos, sobrecarga
nos serviços de água, esgoto e coleta de lixo.
Ainda em 2002, a Prefeitura Municipal, o COMTUR e uma ONG envolvida
com a formação dos pólos de ecoturismo do Brasil e a Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Magro, 2002), realizaram um trabalho de
monitoramento de impacto ambiental, mapeando alguns sítios turísticos e fazendo
o levantamento do perfil do turista que visitava o município.
97
Foram realizadas 1029 entrevistas em 16 propriedades, durante o Carnaval,
a Páscoa e dois dias durante um final de semana normal, para diagnosticar o perfil
dos visitantes.
Os resultados revelaram que 96% dos entrevistados pretendiam voltar a
Brotas, mostrando assim um alto grau de satisfação. Em média, 45% já haviam
visitado a cidade e cerca de 30% no ano anterior.
Os turistas vinham de cento e três cidades diferentes, das quais quinze de
estados diferentes de São Paulo e uma cidade do exterior (Paris, França). A
maioria dos entrevistados era de São Paulo (33,1%), seguidos de Campinas
(7,1%); Piracicaba (6,5%); Bauru (4,3%); Americana (3,9%), Limeira (3,6%); São
Carlos (3,2%); Jaú (2,8%); Ribeirão Preto (2,2%); Araraquara (1,8%); Sumaré
(1,6%); Rio Claro (1,5%); outras cidades (28,4%). (GRIGOLIN, 2004:81). A
natureza foi o motivo mais importante para a visita a Brotas, em 91% dos casos.
Segundo MAGRO (www.brotas.sp.gov.br ):
uma vez que a pessoa conhece uma área com atrativos naturais, ela
começa a almejar conhecer ambientes ainda mais primitivos. Esta
tendência poderá afetar profundamente os investimentos que estão
sendo feitos com acomodação e recebimento dos turistas no município
caso a qualidade do ambiente natural seja diminuída em curto prazo.
Esses dados apontam que os turistas que visitam Brotas vêm, em sua
maioria, da própria região. Todavia, turistas de diversas regiões do Brasil haviam
visitado Brotas nos períodos da pesquisa, apresentando assim potencial de
expansão para a atividade turística no município.
Novamente constata-se o problema da propriedade privada, e a busca do
lucro imediato. Os turistas geralmente dirigem-se para os atrativos sem passar
pela agência de turismo, o que torna o controle do fluxo de visitação difícil de ser
realizado, acarretando a falta de atendimento, pois na maioria das vezes
ultrapassa o suporte.
98
Quanto ao monitoramento de impacto ambiental, os problemas mais
freqüentes observados nos sítios turísticos em Brotas foram: erosão e drenagem
deficiente, relacionadas diretamente com a localização, a falta de planejamento e
manutenção das trilhas que levam às cachoeiras. Outros problemas são apontados
por MAGRO, como a largura excessiva de algumas trilhas em locais sujeitos a
formação de lama, existência de trilhas não oficiais e árvores danificadas pela
colocação de amarras e corrimão nas áreas com declividade acentuada.
As atividades de descida do rio como rafting, duck ou bóia-cross podem
causar degradação nas áreas de embarque e desembarque. De acordo com a
avaliação feita, pontos com erosão significativa são encontrados em vários trechos
do rio e há trechos sem vegetação ciliar.
Iniciativas locais de reconstituição da faixa de Área de Preservação
Permanente (APP) da bacia do rio Jacaré Pepira já existem. Apesar de ser um dos
rios mais preservados do Estado de São Paulo, não deixa de ser preocupante a
situação em que se encontram as matas que beiram o rio Jacaré Pepira. Em vários
de seus trechos não é respeitada a largura mínima dessas matas, conforme
previsto na legislação ambiental
26
.
De acordo com a Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente, o
controle do número de pessoas que freqüentam as áreas naturais é necessário
principalmente nos períodos de férias e feriados prolongados, quando o número de
turistas que procuram o município aumenta significativamente. MAGRO aponta
ainda que, essa não deve ser a única estratégia a ser utilizada, é necessário
implementá-la com ações de educação ambiental buscando envolver o turista no
contexto conservacionista local.
Nessa fase, se caminha para a “Consolidação” da atividade, o apogeu
quantitativo já havia ocorrido na fase anterior, quando houve a saturação da
destinação, e com isso uma grande queda no fluxo de visitantes.
26
Código Florestal – Lei nº 4.771 de agosto de 1965. Vale ressaltar que talvez uma releitura do
Código Florestal impedisse a atividade turística no município de Brotas, pois a maioria dos atrativos
usam a APP como recurso turístico.
99
Quanto aos preços, conforme entrevistas nas Agências de Turismo, os
proprietários afirmam que Brotas virou um “mercado de peixe”
27
, com o preço
oferecido no balcão, e quem tiver o melhor preço ganha o turista.
Tem início a luta pela sobrevivência, novos atrativos são necessários, ou são
alterados para atender a uma demanda diferente das contempladas anteriormente.
Vários atrativos são montados para crianças, pois muitos pais visitam a cidade
(anteriormente os atrativos baseados nos esportes de aventura não atendiam
crianças a partir de 4 anos). Nas Figuras 31 e 32 aparecem crianças praticando os
esportes de aventura.
Figura 31: Alaya Centro de Aventura -- Verticalinha
Foto: Alaya (2005)
27
mercado de peixe a agência oferece os passeios a um determinado valor, os turistas visitam
as agências em busca do melhor preço e vão pechinchando até conseguir um preço melhor.
100
Figura 32: Alaya Centro de Aventura – Verticalinha
Foto: Alaya (2005)
Muitas vezes a atividade turística torna-se inviável. Isso faz com que muitas
agências fechem, outras operem com déficit e aquelas que preferem não operar,
para não estragar os equipamentos. O preço baixo acaba por atrair turistas com
menor poder aquisitivo, que geralmente não ocupam os equipamentos destinados
ao turismo.
Outro fator relevante é que surgem outras destinações turísticas competindo
com Brotas. Como é reconhecido, os praticantes do Ecoturismo sempre procuram
por lugares intocados. Deste modo, devagar a cidade vai perdendo a atratividade
e as novas destinações vão entrando na “moda”.
Em 2002, as operadoras de Brotas iniciaram um processo de
especialização. Algumas Agências fecharam, pois iniciaram a atividade na crença
da lucratividade certa e os custos tornaram o produto inviável para muitas
operadoras.
101
Segundo GRIGOLIN (2004), nesses dez anos o trade do ecoturismo de
Brotas viveu uma fase de consolidação e agora busca uma fase de estabilização,
trabalhando com um número menor de produtos, mas com maior qualidade.
Nesse processo, o poder público local e os empresários procuram
estabelecer ações conjuntas, uma destas é o Projeto Empreender, do SEBRAE, em
que grupos se reúnem para discutir os problemas do turismo local, buscando
também uma maior união do trade turístico.
Um dos resultados dessas reuniões foi a Normatização do Turismo,
publicada a partir de 2002, como parte da Política Municipal de Desenvolvimento
do Turismo Sustentável (PMTS). A Normatização representou um fator de
promoção de Brotas perante outros municípios brasileiros que pretendiam iniciar ou
consolidar um processo de implantação da infra-estrutura necessária para a
atividade turística.
Brotas é considerada um exemplo (para bem e para mau) para todos os
destinos que já implantaram a atividade ecoturística e também para os que
pretendem se inserir nesse mercado. Assim, por essa consagração em âmbito
nacional, os atrativos de Brotas poderiam ser transformados em oficinas para a
capacitação profissional.
6.1.5. Declínio
Hoje Brotas enfrenta uma situação delicada quanto ao fluxo de visitação.
Vários destinos turísticos no Brasil como Santos, Guarujá, Blumenau (com a
Octoberfest) e Barretos já passaram pelos três estágios definidos por vários
autores, descritos abaixo:
O primeiro é o da euforia – o turismo representa a solução de quase todos os
problemas econômicos e sociais da localidade;
O segundo é o da apatia – os problemas começam a surgir, mas o lucro fala
mais alto e
O terceiro é o da revolta ou do “antagonismo “ - o turismo e o turista são
culpados por vários dos problemas que surgiram na localidade, como poluição,
102
violência, perda da tranqüilidade, numa clara contradição aos objetivos almejados
no primeiro estágio.
Atualmente, levantamentos realizados para esta dissertação apontam o declínio
no fluxo de visitação aos atrativos de Brotas; algumas agências afirmam que a
diminuição da visitação fica entre 40% e 50%.
Todas as agências entrevistadas apontam o declínio do número de
visitantes. Segundo elas, essa queda é resultado de:
- a situação econômica do país;
- queda do dólar, estimulando viagens internacionais;
- abertura de novos pólos de Ecoturismo;
- reclamações quanto ao auto custo na localidade em relação aos serviços
oferecidos aos visitantes;
- aumento do número de empresas – agências (basta lembrar que entre 2000 e
2002 havia 15 agências e ainda era notada a falta desse tipo de equipamento);
- falta de reserva antecipada;
- o “mercado de peixe” – preço de balcão refletindo no tipo de público;
- falta de união no “trade” ;
- Brotas ter sido a sensação do momento entre 2000 e 2002 – moda;
- falta de divulgação na mídia.
A fase do “Declínio” em Brotas é evidente. Percebe-se uma queda prolongada
no número de visitantes, nos gastos ou nos pernoites na destinação, afetando a
lucratividade.
José Carlos Francisco Júnior, aponta que:
Nós não temos nenhum meio de controle para saber ao certo o
número de visitantes. Como falam em 130 mil turistas, isso é uma
estimativa, eu sei que a própria agência Mata’dentro vendia em pelo
menos uma temporada de um ano, atendia tranqüilamente 15 mil
pessoas, fazendo atividade.
Brotas teve o boom, um auge desenfreado, mas não existiu um
controle para saber o numero certo das pessoas que passaram por aqui.
Teve um auge, mas era um número menor de empresas trabalhando um
número menor de receptivo.
103
Hoje temos uma maior oferta, então não tem controle para saber
quando foi maior ou menor, eu acredito ainda que nós tivemos um pico
um auge, mas eu acredito que Brotas ainda não chegou no seu auge
ainda. Porque se você for analisar um gráfico de crescimento de um
destino turístico, nós estamos ainda numa fase de investimento porque
ainda existem pessoas investindo no município, novos produtos surgindo,
então talvez o crescimento não esteja tão acentuado como era, mas eu
acho que ainda nós estamos nessa fase de investimento buscando a
estabilidade, então eu não acredito que ainda nós estejamos numa fase
de declínio, nós estamos terminando uma fase de crescimento buscando
no gráfico a estabilidade. Agora, as ações daqui para frente vão
determinar se nós vamos voltar a crescer, ou vai ter o declínio.
Conforme apontado por José Carlos Francisco Júnior, a partir dessa fase
também pode surgir a “Renovação”, feita pelos administradores púbicos e
privados utilizando o planejamento, modificando o produto e buscando novos
mercados. As estratégias de renovação são difíceis de ser implementadas, pois se
lida com produtos e serviços já estabelecidos nas destinações, em vez de um
produto para o consumidor, ou seja, um produto renovado, mas não inédito.
As fases de consolidação e de renovação em Brotas estão muito próximas.
As vezes elas se entrelaçam, pois ao mesmo tempo que se busca uma
consolidação por meio de ações, como a própria normatização, outros atrativos vão
surgindo para aprimorar o turismo no município.
Eva Firmino Santana lembra:
A normatização inibiu um pouco o fluxo de visitantes , ela surgiu no
momento certo, acho que até atrasado, se passasse mais um pouco a
gente perdia o bonde da história, acho que ainda dá tempo, acho que as
pessoas estão tomando essa consciência, acho que estamos
caminhando para uma coisa bacana.
Eva aponta que a normatização foi a causadora da queda do número de
visitação, esquecendo-se do deficiente atendimento gerado pela falta de
planejamento da atividade turística no município. Em seu relato notamos também o
descontrole por parte do trade quanto ao destino que a atividade terá no município.
Por vezes essas falas revelam incertezas e “ achismos”.
104
Maria Pia também manifestou sua opinião:
Hoje o turismo em Brotas ficou mais selecionado, hoje teve um
ajustamento, porque no ‘boom” veio qualquer um, e junto com qualquer
um muita gente boa veio e achou que não tinha condição, porque estava
muita mistureba. Hoje não, hoje a gente sente que o pessoal vem à
procura de qualidade, muitos retornam e saem satisfeitos.
Ainda hoje existe o preconceito quanto ao farofeiro X pessoas selecionadas.
A busca pela qualidade nos serviços parece ser a característica principal de quem
visita Brotas. Mas, vale ressaltar, a normatização que propicia o uso dos atrativos,
serviços e equipamentos com segurança e qualidade ainda hoje existe
praticamente no papel. Não existe fiscalização. Por conseguinte, essa tão
procurada qualidade está longe de ser adquirida. Novamente podemos constatar
que não existe a execução do planejamento que foi detalhado na normatização.
José Carlos Francisco Júnior ainda aponta:
Hoje já existe o bom senso, como a normatização saiu das próprias
empresas, então já existe uma condição mínima de equipamentos, de
pessoas, de qualificação, então todas as empresas já têm essa
qualificação mínima, então já tem praticamente a normatização. O que
falta realmente para atender o processo de normatizacão seria algumas
licenças ambientais em APP que não dava para tirar porque não existia
uma resolução CONAMA específica para você fazer pequenas obras em
APP, e saiu agora em abril (2005) essa resolução, então já existe no
DPRN uma resolução CONAMA que já permite você encaminhar projetos
de baixo impacto dentro de área de APP, então hoje a gente já consegue
fazer o licenciamento de escadas para descer para o rio para embarque e
desembarque dos barcos para regularizar as trilhas, então essa parte é
uma parte que está caminhando na prefeitura. A prefeitura está num
processo de organização para emissão de voucher, quer dizer, foi
contratada uma agente, ela está tentando organizar para efetivamente
aplicar a norma que é lei hoje já, e eu acredito que nos próximos dois
anos todas as empresas vão ter que estar regularizadas, as empresas
novas que vêem, que eventualmente podem abrir em Brotas, elas já têm
que estar dentro da lei.
105
Como relata José Carlos Francisco Junior, a normatização poderia ser um
passaporte para reorganizar o turismo em Brotas. Como já mencionado, a
normatização foi feita, virou Lei, mas não existe fiscalização para averiguar a
obediência dessas normas. A prática dos esportes de aventura requer o uso dos
recursos naturais, portanto, vale ressaltar que em Brotas a APP é usada ou como
um atrativo exuberante para os visitantes ou ela é usada para travessia de trilhas
que levam aos atrativos como cachoeiras e até a própria prática do rafting, que usa
o leito do rio para embarque e desembarque.
Hoje já existe uma resolução CONAMA que propicia o uso da APP para o
turismo de baixo impacto, mas a maioria dos atrativos não possuem Licenças
Ambientais. Mas, questionamos: será turismo de baixo impacto quando ocorrem
mortes? Ou quando ocorrem acidentes? E ainda o desaparecimento do olho d’água
na areia que canta?
Para Jean Claude Razel:
Hoje está muito mais estruturado, mais profissional, tem mais opções de
passeio, mais opções de hospedagem, mais opções de atividades, muita
concorrência, o que com um número grande de agências e poucos
clientes, fica mais difícil para todo mundo. A própria Normatização que
virou lei só criou clandestinos.
Acho que hoje Brotas está pouco presente na mídia, como está mal
presente o destino turístico Brotas, não está bem concebido em termos
de marketing. Atualmente estão começando a falar para fazer uma
campanha, mas do jeito que está hoje não vai levantar, é preciso fazer
um trabalho muito sério de marketing, muito profissionalismo para
levantar.
Hoje tem esse declínio devido à situação econômica do Brasil e muita
concorrência, muitos lugares fazendo a mesma coisa, outro fator é data
de feriado e o dólar baixo.
A criação de novos atrativos possibilitou o uso novamente da natureza com
outras modalidades de esportes destinados às crianças. O discurso também aponta
o declínio e a concorrência de Brotas com outros destinos. Porém, o marketing é
apontado como o possível solucionador da falta de fluxo de visitantes.
106
Para Negrão:
O turismo teve um declínio e eu acredito que aquilo que sobreviveu tende
a se fortificar, sobreviveu porque teve retaguarda, teve muita gente que
foi aventureiro que chegou ai com a cara e achou que ia ficar rico só com
a boa vontade e nem era do ramo. Agora aqueles que se estabeleceram
com juízo, com o pé no chão, sabendo que nada se faz só com boa
vontade, você tem que trabalhar e muito. Essa área é muito trabalhosa,
isso é uma briga intensa.
Eu acredito que o ideal para Brotas, para quem é daqui, para quem
deseja que tudo isso aqui se preserve, é esse nível que nós temos agora,
e que o crescimento venha a ser um crescimento muito pequeno, mais
fundado, o que nós temos que fazer hoje é organizar eventos, porque nós
não temos mais o que mostrar, Brotas passou a ser um livro aberto,
escancarado, vamos dizer assim. Hoje tem turista que conhece mais
Brotas do que eu, porque não tem um palmo do que ele não tenha vindo
visitar e isminuciar (sic). Mas faltam eventos, falta acontecimento que
continue trazendo o pessoal para cá, independente do que ele venha
fazer, porque nós temos a festa de Santa Cruz, o Carnaval e algumas
competições que têm acontecido, e pára por aí, tem que ser uma coisa
programada, é preciso elaborar um calendário oficial. Pois passando o
Carnaval tem uma queda muito grande, o que é natural , porque o nosso
turismo, todo ele é sazonal. Então isso daí faz com que muita gente não
suporte isso daí, em primeiro lugar por ele ser sazonal, ele é um turismo
caro porque pouca gente vem fazer atividades de aventura no rio no
inverno, porque nosso inverno também não é dos mais amenos, ainda
mais dentro d’água. Então naturalmente esse movimento no inverno cai,
então nós temos que ter algumas atividades para chamar esse pessoal
mais vezes durante o ano.
Depois tinha que haver uma questão de equilíbrio em termos de valores
de preço, então eu acredito que hoje nós temos chegado num ponto de
equilíbrio, algumas agências já fecharam, algumas tiveram que se fundir
porque senão não dava para sobreviver. Ainda tem algumas atividades
que não estão solidificadas, eu acredito que ainda vai acontecer alguma
coisa mesmo na área de acomodação, tenho a impressão que vai
acontecer alguma coisa, mas esse ano e o ano passado a gente já nota
que a queda deixou de acontecer, já esta havendo um equilíbrio, o
atendimento está sendo melhor. O pessoal, com tempo vai aprendendo
que a cidade se tornou uma cidade diferenciada.
Conforme Negrão aponta, o declínio era necessário e ia acontecer
naturalmente. O turismo tem sido considerado um produto, portanto, ele tem seu
ciclo de vida. O que pode mudar é o tempo de cada estágio, e se houver um
planejamento eficiente, os impactos podem ser minimizados e possivelmente o
declínio possa ser evitado.
107
Em Brotas, o ciclo de vida do produto se mostra aparente, mas algumas
agências acreditam que essa situação delicada pode ser melhorada, mas é
preciso muito empenho do poder público, da iniciativa privada e da comunidade
local para que isso aconteça.
Atualmente, algumas atividades têm sido realizadas com apoio do SEBRAE,
denominadas “Empreender”, buscando a regionalização e união do trade. A
normatização também foi citada como diferencial, mas afirmam que é preciso
dedicação e apoio político para que aconteça a fiscalização, conforme estabelecido
nas normas reconhecidas pelo Executivo e Legislativo.
A diversificação dos atrativos, focando-se em outros que não incluam a água,
foi proposta para não depender da sazonalidade, disponibilizando atividades para o
inverno.
Esse é o momento para reestruturar os atrativos da cidade e fazer um plano
de desenvolvimento turístico que contemple não só os esportes de aventura mas
também a cultura, a história e o meio ambiente da cidade.
Sabemos que Brotas pode novamente ocupar um lugar de destaque pois é
um destino ainda reconhecido nacionalmente. É preciso que os governantes, a
sociedade privada e a comunidade se dediquem a formatar ações para que o
local não fique esquecido com o tempo, como já ocorreu com várias localidades
no Brasil e no exterior.
Nesse início de 2006, a EMBRATUR escolheu a Chapada Guarani para
representar o Brasil no marketing exterior. Hoje o município de Brotas está se
capacitando, estão sendo ministrados em parceria com o Banco do Brasil e o
Ministério do Turismo 25 cursos de Capacitação Profissional focados no turismo.
Acredita-se que isso proporcionará um novo impulso para a cidade e para a região.
É necessário investimento e união da iniciativa privada para que se consiga o
fortalecimento do trade.
Na figura 33, apresentamos o gráfico do ciclo de vida do turismo em Brotas,
apontando seu início, desenvolvimento, consolidação e declínio.
108
Figura 33: Ciclo de vida da atividade turística em Brotas S.P., baseado no
gráfico de Butler (1980).
Nota-se, portanto, que o ciclo de vida do turismo em Brotas segue um gráfico
semelhante daquele proposto por BUTLER (1980). O que muda talvez seja a
rapidez com que o destino teve seu auge e seu declínio. Isso se deveu ao
crescimento desenfreado e sem planejamento.
Vale ressaltar que a destinação também ultrapassou seu limite da
capacidade de fluxo de visitantes em alguns atrativos. Portanto, somente uma
reestruturação e um planejamento detalhado pode ajudar a minimizar os efeitos do
truísmo em Brotas, valendo também para qualquer local que pretenda implantar um
turismo que tenha como característica o contato permanente com a natureza.
109
6.2. O ideal do Ecoturismo e o Ecoturismo em Brotas S.P.
Na Tabela 12, estão os elementos que caracterizam o Ecoturismo, de acordo
com SWARBROOKE (2000, p.26). Ao lado, para efeito de comparação, estão os
elementos que caracterizam o Ecoturismo em Brotas - SP.
Tabela 12. Ecoturismo (1) Ecoturismo em Brotas - SP (2)
_________________________________________________________________
Escala Turismo em pequena escala, de acordo com a
capacidade de a destinação turística absorver
turistas sem prejuízos
Segundo Magro (www.brotas.gov.br), Brotas ultrapassa os limites permitidos para
que não aconteça a degradação ambiental
Impacto no meio
ambiente físico
Poucas construções novas
Pequena demanda extra sobre a infra-estrutura
Entre 1998 a 2002 foram construídas mais de 30 pousadas em Brotas.
Os serviços de água e esgoto tiveram que ser super dimensionados para atender
ao fluxo de turistas na temporada.
Relações com a
comunidade local
Contato informal
Interação com todos os tipos de autóctones
Pela própria falta de infra-estrutura (hotéis/pousadas), muitos turistas alugavam
apartamentos ou quartos nas residências do município. Os proprietários dessas
casas, por sua vez, viam nisso apenas uma fonte de renda.
Interação somente com os envolvidos na atividade
Impacto sociocultural
Impacto mínimo na cultura local
As necessidades de trabalho são
completamente satisfeitas na comunidade
local
A cultura local não foi valorizada
Grande parte da mão-de-obra tem sido recrutada de outras cidades
Impacto econômico
Muita renda oriunda do turismo é retida pela
economia local
A renda adicional oriunda do turismo
complementa as atividades econômicas
tradicionais
Muitos equipamentos turísticos pertencem a proprietários que não são de Brotas,
portanto, parte da renda sai do município.
O turismo responsável é o único pela renda de certa de 30% da população local
A importância da
localização
A localização específica oferece uma
experiência única, que não poderá ser
encontrada em outro lugar
Como já foi abordado por Jean Claude Razel (entrevista), hoje muitos destinos
estão surgindo, competindo com Brotas, mostrando que a experiência oferecida em
Brotas não é única.
Qualidade de
experiência para o
turista
O aprendizado sobre os lugares traz uma
compreensão a longo prazo sobre onde e como
as outras pessoas vivem
Faltam iniciativas (cursos, treinamentos, visitas) que possibilitem a convivência dos
turistas com as pessoas do município.
Comportamento do
turista
Sensível à cultura e às tradições locais
Interessado na vida autóctone
Responsável
Brotas não ofereceu alternativas que levassem os turistas a entrar em contato com
a cultura e as tradições locais.
Os turistas que freqüentam Brotas geralmente são visitantes de final de semana,
que vêm exclusivamente para a prática dos esportes de aventura
O poder público e as agências não possuem programas de educação ambiental
para envolver os turistas na preservação ambiental.
____________________________________________________________________
Fonte: (1)Swarbrooke (2000, p.26)
(2) Dados da pesquisa de campo
110
Na verdade, o que observa-se nessa tabela é a inversão dos elementos que
caracterizam o Ecoturismo em Brotas, parecendo muito mais o que Swarbrooke
(ver Tabela 4, p.31) designa como Turismo de Massa, quando o autor contrapõe
esse tipo de Turismo ao Ecoturismo, como apresentado anteriormente.
Também para efeito de comparação, são apresentados na Tabela 13 os
agentes causadores de impactos de acordo com a Embratur (1994). Ao lado, na
mesma tabela, estão os agentes e os impactos registrados em função da
ocorrência do turismo em Brotas.
Com base na Tabela 13 (p.111), nota-se, a partir dos dados coletados, que
Brotas enfrentou os impactos apontados. Pode-se afirmar que o turismo é uma
atividade que agride o meio ambiente, gerando incertezas quanto à
sustentabilidade dessa atividade.
111
Tabela 13. Os efeitos e impactos da atividade turística apontados pela
EMBRATUR e os impactos potenciais em Brotas.
___________________________________________________________________
AGENTE DE
IMPACTO (1)
EFEITOS
POTENCIAIS
IMPACTOS
POTENCIAIS
IMPACTO POTENCIAIS EM BROTAS (2)
Trilhas pedonais
Pisoteio,
Compactação do solo
Alteração da
qualidade estética da
paisagem
Dado o elevado número de turistas e ausência de normas e de educação
ambiental as trilhas foram se alargando.
Trilhas eqüestres Remoção de
cobertura vegetal
Aumento da
sensibilidade à
erosão
Pouca divulgação das trilhas eqüestres
Carros/caminhões
Libertação de gases
de combustão
Eliminação de
habitat
O veículo usado para levar os turistas até a base, para a prática dos
esportes de aventura, é geralmente o ônibus. Os equipamentos são
transportados de ônibus ou caminhão. Vale ressaltar que o trajeto, em
alguns locais, é feito dentro da área de proteção permanente. Fica a
pergunta? Este é um turismo de baixo impacto?
Veículos todo-o-
terreno
Derrame de
óleo/combustível
Interrupção de
processos naturais
Deterioração da
qualidade do ar
Deterioração da
qualidade da água
Pelo fato de a circulação (de pessoas e veículos) ser feita em meio a matas
e APP, há a Interrupção de processos naturais, bem como a deterioração da
qualidade do ar e da água
Barcos a motor
Ruído Perturbação da
fauna e flora
Embora proibidos (para a prática do Ecoturismo, não podem ser usados
veículos a motor), há circulação de motos (motocross e jipeiros).
Lixo
Deterioração da
paisagem natural
Redução da
qualidade estética da
paisagem
Contaminação do
solo
Contaminação da
água
Outra vez, o elevado fluxo de turistas e a ausência de educação ambiental e
fiscalização. Latas, garrafas e restos de alimentos surgem nas trilhas e nos
rios.
Descarga de
efluentes
Alteração da acidez
da água
Contaminação do
aqüífero
Deterioração da
paisagem natural
Contaminação da
água
Contaminação do
solo
Mau cheiro
Redução da
qualidade estética da
paisagem
Interferência na
fauna e flora
aquáticas
O esgoto do Patrimônio e do município de Torrinha são lançados sem
tratamento no Rio Jacaré-Pepira.
Há o uso de protetor solar.
Vandalismo Remoção de atrativos
naturais
Interrupção dos
processos naturais
Redução da
qualidade estética da
paisagem
Interferência nos
ciclos de vida da
fauna e da flora
Há marcas nas árvores, além de retiradas de plantas e pedras do ambiente.
Alimentação de
animais
Mudança
comportamental da
fauna
Dependência da
fauna
Perturbação de
visitantes
O número elevado de turistas tem provocado o desaparecimento de animais.
Construção de
edifícios
Remoção da
cobertura vegetal
Eliminação do habitat
Libertação de fumos
de combustão e
Poeiras
Ruído
Alteração da
qualidade estética da
paisagem
Aumento da
sensibilidade à
erosão
Deterioração da
qualidade do ar
Stress da fauna e
flora
As construções feitas ( pousadas e hotéis) têm todos o mesmo estilo “sol e
mar”: na frente uma varanda, seguida de quarto e banheiro.
Alguns equipamentos estão próximos às cachoeiras, em alguns momentos
afetam a contemplação da paisagem.
Fonte: (1) EMBRATUR (1994)
(2) Dados de Pesquisa de Campo
112
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade turística em Brotas, pensada inicialmente como turismo rural,
incorpora progressivamente a noção de Ecoturismo (por exemplo, o Projeto Piloto
se propõe a preservar os recursos paisagísticos naturais em vez de conservá-los)
desembocou finalmente no turismo de aventura. Após a análise dos dados
coletados, podemos apontar que:
As atividades turísticas, em Brotas, partiram de um raciocínio fundado no
desfrute incondicional das riquezas naturais existentes no município. As
entrevistas realizadas com os principais atores envolvidos desde o início
com as questões ambientais (por exemplo, a organização de uma
associação para lutar contra a implantação de um curtume, impedido de
funcionar em Campinas/SP) reafirmaram esses objetivos;
Contra a implantação de uma atividade poluidora como o curtume, mas
que iria gerar emprego, renda, tributos, etc. o turismo foi reconhecido como
alternativa melhor. Além de gerar mais empregos, rendas e tributos, era e
continuava sendo considerado uma indústria não poluidora. De qualquer
forma, é uma indústria e como tal, criada para ser lucrativa. Os atrativos
turísticos (cachoeiras, rios, corredeiras) estavam à disposição dos
investidores, não haviam custado nada para eles. Eram frutos da natureza.
Para outros, eram uma obra de Deus. Assim, usos e significados foram
atribuídos à natureza . A Natureza, na forma dos recursos naturais
existentes no local, é que serviu de pretexto para o aproveitamento/ a
exploração do potencial turístico;
Assim, os procedimentos exigidos pela legislação ambiental deveriam ter
sido obedecidos, isto é: a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
e do Relatório de Impacto Meio Ambiente (RIMA);
Existe uma banalização de conceitos técnicos e científicos relacionados ao
ambiente – o uso indevido dos conceitos de desenvolvimento sustentável,
turismo sustentável e ecoturismo pôde ser observado em todo o processo
de pesquisa;
113
O uso do prefixo “eco” tem por finalidade rotular a natureza como
mercadoria. Assim, grande parte do trade turístico atribui a qualquer
empreendimento baseado na natureza o adjetivo de ecoturismo, com o
objetivo de atingir um nicho de mercado cada vez maior. Todavia, as
características intrínsecas no conceito de ecoturismo são distintas em
relação a outros segmentos turísticos. Vale ressaltar que o tema Ambiente
é visto como um potencial mercado econômico para os veículos de
comunicação;
A utilização do conceito de Ciclo de Vida do Produto, adaptado por Butler
(1980), se mostrou adequado para analisar o surgimento, o
desenvolvimento e os problemas atuais do turismo em Brotas. A seguir, as
características de cada fase são analisadas a partir do ciclo do turismo em
Brotas:
9 Exploração: a localidade apresenta alguns atrativos e facilidades
aos visitantes. Geralmente essas localidades são visitadas pelos
exploradores, pessoas que buscam novidades e aventura, mas
existe dificuldade de acesso e de instalações, pois os principais
atrativos são as atrações naturais, a cultura e os aspectos originais
da comunidade. A cidade de Brotas apresentava características
fisiográficas relevantes e localização privilegiada. Era visitada
pelos aventureiros, e seus atrativos eram a “exploração” da
natureza;
9 Envolvimento: as comunidades locais devem decidir se querem
estimular a atividade turística e que segmento devem implantar. À
medida que o turismo vai se desenvolvendo iniciativas locais
começam a oferecer serviços aos visitantes. Essa fase é importante
para estabelecer processos de organização e tomada de decisões
apropriadas para a atividade. Nessa fase, deveriam ser controlados
os limites de visitação ao atrativo, pois a comunidade ainda estaria
envolvida no processo, salvaguardando assim aspectos relevantes
para atrair o turista. Em Brotas, um grupo decidiu estimular o
114
desenvolvimento da atividade turística. Os empresários
começam a se organizar para oferecer os serviços e
equipamentos aos visitantes. Porém, não é feito nenhum estudo
quanto ao controle do fluxo de visitação aos atrativos;
9 Desenvolvimento: caracterizado pelo domínio de empresas e
serviços externos, cuja participação ajuda a controlar os custos e a
manter a competitividade do local, diante de outras destinações. Os
destinos recebem visitantes exigentes, que buscam conforto e
segurança. Em Brotas, muitos serviços e equipamentos vieram
de iniciativa privada, de fora do município. Nessa fase, como os
visitantes são mais exigentes e buscam conforto e segurança, o
que se nota é que quase todas as pousadas são semelhantes,
bem parecidas com as que existem na via costeira. Assim, vai
se perdendo a identidade do turismo de contemplação, pois
essas construções não combinam com a natureza existente;
A localidade passa a receber grande número de visitantes,
chegando a igualar ou ultrapassar o número de habitantes da
destinação. Nesse estágio começam a aparecer os problemas, é um
momento crítico se a localidade não estiver estruturada. O poder
público também começa a se abalar, pois é difícil controlar a infra-
estrutura de água, esgoto, lixo, segurança, ocorre a deterioração dos
recursos naturais e construídos da cidade e a tranqüilidade e
segurança das pessoas do local é afetada;
Brotas, com aproximadamente de 21.000 habitantes
(IBGE,2005), recebeu 130.000 turistas em 2002. Vários
problemas decorreram desse fluxo de visitação, tais como: falta
de água, lixo, depredação, etc.
9 Consolidação: o apogeu quantitativo da demanda é
alcançado na fase de saturação da destinação. A partir daí, começa
a decair na preferência do turista. Começa a luta pela sobrevivência.
Os preços começam a cair para que os equipamentos sejam
115
utilizados em sua capacidade total e para se ter viabilidade
econômica. O destino passa a atrair um público com menor poder
aquisitivo. Há muitas vezes a degradação das atrações turísticas e
ocorre a perda da atratividade, que fica muitas vezes “fora de moda”.
Essas destinações se caracterizam por não serem mais familiares
nem exóticas.
Brotas se torna a Capital dos Esportes de Aventura. Em
seguida, começa a ser percebido o decréscimo do número de
visitações. Os preços caem, virando um “mercado de peixe”.
Novos destinos aparecem e começam a competir com Brotas,
que já não se torna única nesse segmento. Os atrativos, em
conseqüência da “massificação” provocada pelas visitações,
perdem suas características originais e peculiares;
9 Estagnação: durante essa fase a destinação não está mais
em evidência na mídia e passa a depender de visitas repetidas dos
mais conservadores.
Brotas já não aparece na mídia como antigamente, outros
destinos são lançados;
9 Declínio: se existe uma queda prolongada no número de
visitantes, nos gastos ou nas pernoites na destinação, a lucratividade
é afetada. É preciso admitir o início do declínio. Essa fase é
caracterizada pelo turista que deseja conhecer o maior número de
atrações pelo menor preço. Buscam-se novos mercados,
reposicionamento ou são atribuídos novos usos para as instalações
estabelecidas.
A queda no número de visitantes percebida pelas Agências,
chegou a 50%. Surgem novos atrativos para crianças, e
atrativos que não estão disponíveis somente no verão. Como
exemplo o Mata’dentro Ecoparque, composto por cachoeiras e
trilhas para contemplação; a Verticalia, onde o arborismo pode
116
ser praticado por crianças, além do Centro de Estudos do
Universo (CEU);
9 Renovação: feita pelos administradores púbicos e privados
utilizando o planejamento. Modificam o produto e buscam novos
mercados. As estratégias de renovação são difíceis de ser
implementadas. Lida-se com produtos e serviços já estabelecidos
nas destinações, em vez de um produto para o consumidor, ou seja,
um produto renovado, mas não inédito.
A própria normatização é uma forma de renovação. Há também
os investimentos em 25 cursos de capacitação profissional que
estão acontecendo em Brotas, como: curso de eventos,
hospedagem, garçom, recepcionista, entre outros.
117
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