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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
WANDER PEREIRA
AS REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS ACERCA DA
GÊNESE DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA (1966-1978)
UBERLÂNDIA-MG
2006
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WANDER PEREIRA
AS REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS ACERCA DA
GÊNESE DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA (1966-1978)
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da
Universidade Federal de Uberlândia, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.
Área de concentração: História e Historiografia da
Educação
Orientadora: Professora Drª. Vera Lúcia Abrão Borges
UBERLÂNDIA-MG
2006
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WANDER PEREIRA
AS REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS ACERCA DA
GÊNESE DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA (1966-1978)
DEFESA EM 19/07/2006
BANCA EXAMINADORA
Orientadora: Drª. Vera Lúcia Abrão Borges – UFU
Drª. Sandra Cristina Fagundes de Lima – UFU
Drª. Maria do Amparo Borges Ferro – Universidade Federal do Piauí
FICHA CATALOGFICA
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
P436r
Pereira, Wander, 1975 -
As representões e práticas sociais acerca da gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia (1966-1978) / Wander Pereira. - Uberlândia,
2006.
286 f. : il.
Orientador: Vera Lúcia Abrão Borges.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Progra-
ma de Pós-Graduação em Educação.
Inclui bibliografia.
1. Educação - Teses. 2. Universidade Federal de Uberlândia. Faculda-
de de Odontologia - História - Teses. I. Borges, Vera Lúcia Abrão. II.
Universidade Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em
Educação. III. Título.
CDU: 37
Do ponto de vista historiográfico, a reinvenção da identidade de uma
instituição educativa não se obtém através de uma abordagem
descritiva, ou justificativa, também se não confina à relação das
instituições educativas com o seu meio envolvente. Compreender e
explicar a existência histórica de uma instituição educativa é, sem
deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema
educativo, contextualizá-la, implicando-a no quadro de evolução de
uma comunidade e de uma região, é por fim sistematizar e (re)
escrever-lhe o itinerário de vida na sua multidimensionalidade,
conferindo um sentido histórico. (MAGALHÃES, 1996, p.2).
AGRADECIMENTOS
À minha Orientadora Drª. Vera Lúcia Abrão Borges por ter acreditado no meu
potencial e ter me escolhido como orientando,
À professora Drª. Maria do Amparo Borges Ferro pela disponibilidade e gentileza de
participar da banca examinadora,
Aos entrevistados Gaspar Paulino, Paulo César Azevedo, Wanderley Alves Ribeiro,
Vanderlei Luiz Gomes, Alfredo Júlio Fernandes Neto, Ailton Amado, Antonio Mário Buso,
Gildésio Rezende Alvarenga, Odorico Coelho da Costa Neto, Homero Santos, Rondon
Pacheco, Juarez Altafin, Rosa Maria Domiciano Vidal, Abigail Maria da Silva e Nazaré
Aparecida Massariolli,
A todos os colegas da turma do Mestrado pelos momentos difíceis e felizes que
passamos,
Aos amigos Geraldo, Fernanda, Polyana, Cristiane, Maria de Lourdes, dizendo a eles
que conforme a música: “amigos para sempre é o que nós iremos ser na primavera ou em
qualquer das estações, nas horas tristes, nos momentos de prazer, amigos para sempre”,
Aos funcionários do mestrado James, Jesus e Giane,
Aos meus prezados irmãos: Wolney e Walney,
À minha querida Ana Flávia pelos momentos alegres de nossa convivência, pela
somatória de forças, pela paciência, dedicação, amor, carinho, compreensão e pelo otimismo e
ajuda durante todos os instantes deste trabalho,
Ao meu pai Wanderley Sebastião Pereira pela vida, pelo exemplo de comportamento
demonstrando sempre, desde os meus tempos de criança, o que é o modelo de Sabedoria,
Força e Beleza.
Especialmente, à minha mãe Marisa Pereira, responsável pelo incentivo e as frases
confortantes sempre a dizer: “você vai vencer meu filho”,
E ao Supremo Arquiteto do Universo, Deus nosso criador, pela minha vida e de toda
minha família, pela felicidade de estar nesse mundo, por ele iluminar meus pensamentos e
abrir o caminho para mais esta vitória.
RESUMO
O presente trabalho destina-se à interpretação das representações e práticas sociais em torno
da gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, inserida no campo da História da
Educação, abordando, especificamente, a História das Instituições Educacionais. Teve-se
como objetivo geral apreender as práticas e as representações sociais, bem como as
apropriações constituídas durante os primeiros tempos da Escola de Odontologia de
Uberlândia (1966-1978). De forma específica, procurou-se interpretar as características
contextuais em que a Escola foi implantada, analisando suas estruturas, relações da Faculdade
com a comunidade, significados e práticas realizadas pelos agentes da Escola de Odontologia
de Uberlândia, dentre outros aspectos. O período delimitado para a pesquisa vai desde 1966,
ano da criação legal da Escola de Odontologia de Uberlândia, até 1978, quando se instituiu
sua federalização, juntamente com os demais Cursos da Universidade de Uberlândia,
passando a fazer parte da Universidade Federal de Uberlândia. Quanto às fontes de pesquisa,
foram priorizados as que constam nos arquivos da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Foram utilizadas, também, fontes orais e bibliografias referentes à História da Educação, à
História das Instituições Escolares e as que tratam do contexto da Ditadura Militar (1964-
1985), em que o período recortado encontra-se inserido. A metodologia proposta referencia-se
em uma interpretação norteada: a) pelos conceitos de apropriação, representações e práticas
sociais trazidos por Roger Chartier, b) pela multidimensionalidade carreada pela
interdisciplinaridade da modalidade interpretativa indicada por Justino Magalhães, c) pela
valorização das especificidades e singularidades regionais e locais na tessitura da história
sugerida por Ester Buffa e Paolo Nosella, e d) pela utilização da História Oral como técnica
enriquecedora da historiografia atual. Com a utilização desses novos paradigmas como
referenciais teórico-metodológicos, a nova historiografia, caracterizada por uma renovação
nos quadros epistemológicos e hermenêuticos, originou um alargamento das problemáticas
em História da Educação, também devido às inovações temáticas que ampliaram as formas de
questionar, investigar, apreender e interpretar a diversidade dos contextos históricos, criando,
desta sorte, uma possibilidade de se estudar a gênese da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia. Investigou-se a história da criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia,
orientando-se por essa nova historiografia que está sendo praticada por grande parte dos
historiadores pertencentes aos núcleos de História e Historiografia das universidades. Foi
possível permitir que os agentes participantes do processo de idealização/construção da
Escola de Odontologia de Uberlândia pudessem se identificar e se enxergar como sujeitos
históricos na constituição dessa Instituição Educacional Uberlandense. O resultado dessa
dissertação indica que a nese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia está inserida em
um momento próprio da História do Brasil, mais precisamente, no período conjuntural em que
o capitalismo monopolista estava assentado definitivamente no país, e, sob a égide do
Governo Militar, que se valeu das estratégias de repressão e cooptação das categorias sociais,
na tentativa de se manter no poder. Em consonância com a política desenvolvimentista
adotada pelos Militares, surgiram as práticas de expansão e de interiorização do Ensino
Superior no Brasil, e, também, a criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Palavras-chave: Educação, Odontologia e História.
ABSTRACT
This present project is an interpretation of the presentations and social practices around the
genesis of the Uberlândia´s Odontology Faculty, introduced in the field of Education History,
specifically approaching the History of Educational Institutions. It has as a general objective,
to aprehend the practices and the social representations, as well as apropriation constituted
during the first times of Odontology School in Uberlândia (1966-1978). In an specific form,
the contextual characteristics were interpreted according to the introduction of the School,
analysing its structures, the relationship between the School and the community, the meanings
and the practices done by the agents of Odontology School. The period that was used in this
resource begins at 1966, year when the Odontology School was legally created, until 1978,
year in what it constituted its federalization, together with the other courses at the Federal
University, joining the Uberlândia´s Federal University. As far as is concerns to the
researches sources, the priority was the ones which consisted in the archives of the
Odontology School. Had been also used oral sources and bibliographies to the History of the
Education, the History of the Pertaining to school Institutions and the ones that deal with the
context of the Military dictatorship, where the cut period had been inserted. The proposed
methodology refered to a guided interpretation: a) for the appropriation concepts, social
practical representations brought by Roger Chartier, b) by the multidimensionality brought by
the interdisciplinary of the interpretative modality indicated by Justino Magalhães, c) by the
valuation of the regional and local singularities and specifities in the organization suggested
by Ester Buffa and Paolo Nosella, d) by the use of the Oral History as a rich tecnique of the
nowadays historiography.With the use of these new paradigms as theoretical-methodological
referencials, the new historiography, characterized by a new renovation in the epistmological
and hermeneutical situations, it had originated a widening of the problematics in Education
History, also due to thematic inovations which increased the ways of questioning,
investigating, aprehending and interpreting the diversity of historical contexts, creating a
possibility of studying the genesis of the Uberlândia´s Odontology Faculty. The story of
creation of the Uberlândia´s Odontology Faculty had been investigated, guided by this new
historiography and being practised by great part of the historians who belong to the group of
History and Historiography universities.It was possible to allow to the agents that participate
of the construction process of the Uberlândia´s Odontology School identify and see
themselves as historical subjects in the constitution of this Educational Institution in
Uberlândia. The result of this text indicates that the genesis of the Uberlândia´s Odontology
Faculty is inserted in a proper moment of Brazil´s History, precisely, in the conjuntural period
in which the monopolist capitalism had already been definately set in the country and, under
the overpower of the Military Government, that used repression strategies and co-optation of
social categories, in the attempt of keeping itself in command. According to the politics
adopted by the Military, expansion and interiorization practices had appeared in High School
Education in Brazil, and also the creation of the Uberlândia´s Odontology Faculty.
Key words: Education, Odontology and History.
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................................06
ABSTRACT..............................................................................................................................07
LISTA DE TABELAS..............................................................................................................13
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................14
LISTA DAS ENTREVISTAS……………………………………………………………..…15
LISTA DE DOCUMENTOS……………..…………………………………………………..16
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS…………...………………………………………17
INTRODUÇÃO........................................................................................................................20
CAPÍTULO I
1. SUBSÍDIOS PARA UMA INTERPRETAÇÃO DA GÊNESE DA FACULDADE DE
ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA
1.1. Breve estudo sobre as influências das mudanças temáticas e paradigmáticas
historiográficas na atual historiografia brasileira.................................................32
1.1.1. Utilização das fontes impressas na pesquisa historiográfica atual........37
1.1.2. A história Oral como técnica enriquecedora da historiografia atual.....39
1.2. Breve histórico da Odontologia no Brasil............................................................43
1.3. Políticas de Ensino Superior no Brasil (1964-1985)............................................62
1.4. Surgimento do Ensino Superior em Uberlândia: das faculdades isoladas à
federalização e à institucionalização da UFU......................................................68
CAPÍTULO II
2. FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA: CRIAÇÃO E
INSTALAÇÃO........................................................................................................................79
2.1. Gênese e instalação da Faculdade de Odontologia da atual Universidade Federal de
Uberlândia.................................................................................................................................80
2.2. Estrutura inicial da Faculdade de Odontologia de Uberlândia..................................96
2.3. A criação do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG)
influenciando nas representações e práticas sociais presentes na origem da FOU.................109
2.4 A realidade escolar: objetivos, funções, meios e suportes.......................................112
CAPÍTULO III
3. CRIAÇÃO DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA:
REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS
3.1. A pesquisa das fontes orais envolvendo a gênese da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia..............................................................................................................................119
3.2. Os primeiros alunos da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia...............................................................................................................................124
3.3. Fatores determinantes na escolha do Curso de Odontologia..................................126
3.3.1. Fatores determinantes na escolha do Curso de Odontologia sob o ponto de vista
dos ex-alunos das primeiras turmas........................................................................................127
3.3.2. A escolha do Curso de Odontologia sob o ponto de vista dos pais dos ex-alunos
entrevistados............................................................................................................................129
3.4. Concepções acerca do ingresso no mercado de trabalho na visão dos ex-alunos das
primeiras turmas......................................................................................................................130
3.5. A questão relativa aos dentistas práticos: uma problemática advinda dos primórdios
históricos da Odontologia brasileira e presente no momento da criação da FOU..................130
3.6. O que representou ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia..................133
a) Criação da FOU sob o ponto de vista dos alunos
b) Criação da FOU sob o ponto de vista dos políticos
c) Criação da FOU sob o ponto de vista dos funcionários
3.7. Principais dificuldades na criação da FOU: financeiras e de localidade para
instalação da sede da Policlínica.............................................................................................136
3.7.1. Práticas para resolver as dificuldades na criação da FOU...................................137
a) Atuação do idealizador e fundador professor Laerte Alvarenga de
Figueiredo
b) Atuação dos alunos para solução das dificuldades na criação da FOU
3.8. O Regime Militar e Faculdade de Odontologia de Uberlândia sob o ponto de vista
dos entrevistados.....................................................................................................................139
a) Reminiscências e sentimentos trazidos por alguns ex-alunos da FOU, em
relação à época do Governo Militar
b) Práticas de controle e vigilância para a “Segurança Nacional”
c) Práticas administrativas de respeito às leis vigentes no Período Militar
d) “Trote” versus ideologia da “Segurança Nacional”
3.9. “Forças” responsáveis pela criação da FOU...........................................................145
a) Os políticos e os representantes das categorias detentoras do Poder e suas
práticas em nome da sociedade uberlandense
b) Os primeiros professores e sua participação no processo de criação da
FOU.
4. O novo paradigma na Odontologia: práticas sociais preventivas..............................151
5. Colaboração da FOU para a melhoria das condições de saúde em Uberlândia.........152
TÓPICO FINAL
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1. Retomando as perguntas que nortearam a pesquisa................................................162
a) Como se constituiu essa Escola?
b) Quem foram seus primeiros professores?
c) Que saberes docentes constituíram seu curriculum?
d) Quem foram seus primeiros alunos?
e) Que espaço Físico arquitetônico gestou a Escola de Odontologia?
f) Quais as representações e práticas sociais em torno dessa Escola de Ensino
Superior?
4.2. Contribuições do estudo.......................................................................................168
4.2.1. Contribuições teóricas.......................................................................................168
4.2.2. Contribuições metodológicas............................................................................168
4.2.3. Contribuições práticas.......................................................................................169
4.3. Limitações do estudo............................................................................................171
4.4. Sugestões para futuras investigações...................................................................171
4.5. Considerações Finais............................................................................................172
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................175
ANEXOS
FIGURAS
TABELAS
ENTREVISTAS REALIZADAS
DOCUMENTOS
LISTA DE TABELAS
TABELA - I: COMPONENTES DAS GESTÕES ADMINISTRATIVAS DA ESCOLA DE
ODONTOLOGIA (1970-1978)................................................................................................96
TABELA – II: RELAÇÃO DOS ALUNOS GRADUADOS PELA FOU, E DOS DOCENTES
FORMADOS POR ELA DE 1973 A 1978.............................................................................149
TABELA – III: REITORES E VICE-REITORES DA UNIVERSIDADE DE UBERLÂNDIA
(1969-1978).............................................................................................................................186
TABELA VI – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1973...........................187
TABELA V – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1974............................190
TABELA VI – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1975...........................192
TABELA VII – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1976.........................195
TABELA VIII – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1977........................197
TABELA IX – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - TURMA DE 1978.........................200
LISTA DE FIGURAS
FIGURA I. Foto da fachada do prédio situado na Avenida Engenheiro Diniz, nª. 1178, antiga
Policlínica da Odontologia e atual reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, copiada do
Jornal “Correio de Uberlândia” de 10 de outubro de 1975, nº. 12.545, ilustrando a reportagem
intitulada: Reconhecida pelo presidente Geisel a Faculdade de Odontologia da Universidade
de Uberlândia..........................................................................................................................19
FIGURA II. Foto “Boutique de Barbier” copiada do livro de Jean Baptiste Debret. Viagem
pitoresca e histórica ao Brasil. Tomo I. Vol. I. Editora da Universidade de São Paulo. 1978.
p.212........................................................................................................................................50
FIGURA III. Foto do momento da assinatura do convênio entre a Faculdade de Medicina de
Uberlândia e a Faculdade de Odontologia de Uberlândia. A 30 de dezembro de 1969..........94
FIGURA IV. Foto da estrutura fornecida pelo convênio entre a Faculdade de Medicina e a
FOU, datada de janeiro de 1970..............................................................................................95
FIGURA V. Organograma copiado do Arquivo Geral da UFU, com data de referência:
1970........................................................................................................................................104
LISTA DAS ENTREVISTAS
ANEXO I - Entrevista 01- Gaspar Paulino ex-aluno da turma de 1975.................................203
ANEXO II - Entrevista 02- Ministro Homero Santos ex-vice-presidente do TCU................211
ANEXO III - Entrevista 03- Paulo César Azevedo ex-aluno da turma de 1973.....................214
ANEXO IV - Entrevista 04- Wanderley Alves Ribeiro ex-aluno da turma de 1975..............219
ANEXO V - Entrevista 05- Vanderlei Luiz Gomes ex-aluno da turma de 1975....................225
ANEXO VI - Entrevista 06- Alfredo Júlio Fernandes Neto ex-aluno da turma de 1975.......229
ANEXO VII - Entrevista 07- Ailton Amado ex-aluno da turma de 1974..............................234
ANEXO VIII - Entrevista 08- Antônio Mário Buso ex-aluno da turma de 1973...................238
ANEXO IX - Entrevista 09- Gildésio Rezende Alvarenga ex-aluno da turma de 1978.........242
ANEXO X - Entrevista 10- Odorico Coelho da Costa Neto ex-aluno da turma de 1974.......246
ANEXO XI - Entrevista 11- Rosa Maria Domiciano Vidal funcionária FOUFU..................255
ANEXO XII - Entrevista 12- Abigail Maria da Silva funcionária FOUFU...........................257
ANEXO XIII - Entrevista 13- Juarez Altafin ex-reitor UnU..................................................259
ANEXO XIV - Entrevista 14- Rondon Pacheco ex-governador de Minas Gerais.................265
ANEXO XV - Entrevista 15- Nazaré Aparecida Massariolli ex-paciente da Policlínica da
FOU.........................................................................................................................................272
ANEXO XVI - Questionário Semi-estruturado norteador das entrevistas realizadas............274
LISTA DOS DOCUMENTOS
DOCUMENTO I - Memorando nº. 421, de 31 de maio de 1973 do Reitor da Universidade de
Uberlândia para o Diretor da Faculdade de Odontologia. Dr. Laerte Alvarenga de Figueiredo.
Assunto: faz solicitação..........................................................................................................276
DOCUMENTO II Memorando nº. 608, de 27 de agosto de 1973 do Reitor da Universidade
de Uberlândia para o Diretor. Laerte Alvarenga de Figueiredo. Assunto: Faz
comunicações..........................................................................................................................277
DOCUMENTO III Memorando nº.92/73/Sigiloso, de 13 de fevereiro de 1973 do Reitor da
Universidade de Uberlândia para o Diretor Laerte Alvarenga de Figueiredo........................278
DECLARAÇÃO - Atestado de comparecimento da paciente Nazaré Aparecida Massariolli na
Policlínica da FOU na condição de paciente para fins de abono de faltas escolares..............285
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABENO- Associação Brasileira de Ensino Odontológico
ADESG- Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra
AEU - Autarquia Educacional de Uberlândia
AID - Agency for International Development
ANPUH- Associação Nacional de História
ARENA- Aliança Renovadora Nacional
CD - Cirurgião Dentista
CEBIM - Centro de Ciências Biomédicas
CEDHI - Centro de Documentação Histórica
CEE - Conselho Estadual de Educação
CFE - Conselho Federal de Educação
CNE - Conselho Nacional de Educação
CONFOUFU- Conselho da Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal de Uberlândia
CSO - Curso Superior de Odontologia
CRO - MG- Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais
DA’S - Diretórios Acadêmicos
DCE - Diretório Central Estudantil
EMCIU- Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia
FEMECIU- Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia
FOU - Faculdade de Odontologia de Uberlândia
FOUFU- Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia
HO - Hospital Odontológico
IES - Instituição de Ensino Superior
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
km - Kilometros
LDB - Lei de Diretrizes e Bases
MEC - Ministério da Educação e Cultura
MG - Minas Gerais
OMS - Organização Mundial de Saúde
PSO - Pronto Socorro Odontológico
SESu - Secretaria de Ensino Superior
S/D - Sem Data
SIC - Segundo Informação Colhida
SUS - Sistema Único de Saúde
UAI’s - Unidades de Atendimento Integrado
UDA’S - Unidades Didáticas Avançadas
UESU - União dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia
UFU - Universidade Federal de Uberlândia
USAID- Agency for International Development United States
USP - Universidade de São Paulo
19
AS REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS ACERCA DA GÊNESE
DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA
(1966-1978)
FIGURA 1. Foto da fachada do prédio situado à Avenida Engenheiro Diniz, nº. 1178, antiga
Policlínica da Odontologia e atual reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, copiada
do Jornal “Correio de Uberlândia” de 10 de outubro de 1975, nº. 12.545, ilustrando a
reportagem intitulada: Reconhecida pelo Presidente Geisel a Faculdade de Odontologia da
Universidade de Uberlândia.
20
INTRODUÇÃO
1. APRESENTAÇÃO
Esta pesquisa insere-se no campo da História da Educação, especificamente, da
História das Instituições Educacionais, e interpreta a gênese da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia, no período de 1966 a 1978.
Endossando Caetano e Dib (1988), pode-se afirmar que a Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) é uma referência básica sobre a Educação Superior em Uberlândia e um
guia sobre as primeiras faculdades. No entanto, há poucas monografias sobre a Odontologia
no Brasil e, menos ainda, obras acerca da Faculdade de Odontologia de Uberlândia (FOU).
A Escola de Odontologia de Uberlândia foi criada com a Lei 4.275, em 27 de
setembro de 1966. Entre setembro de 1966 e janeiro de 1972 foi organizado seu espaço físico,
o corpo docente/discente e a administração. Assim, investigou-se como se constituiu essa
Escola, quem foram seus primeiros professores, quais saberes constituíram seu curriculum,
quem foram seus primeiros alunos e que espaço físico-arquitetônico gestou a Escola de
21
Odontologia. Enfim, analisou-se quais os significados e práticas sociais em torno desta Escola
Superior.
Com o objetivo de ir ao encontro desse passado recente, da gênese da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia, e, ao mesmo tempo, buscando não cometer o
engano de realizar interpretações absolutistas, que reduzem a realidade a uma única verdade,
adotou-se como categoria de análise, o conceito de representação proposto por Roger
Chartier, pois entende-se que esse pressuposto teórico possibilita interpretar a história tanto no
seu aspecto material, quanto na perspectiva subjetiva, conseguindo, portanto, tratar da
realidade objetiva e subjetiva sem dividi-la em duas categorias opostas e díspares.
Entende-se que ao tentar tecer a história são inúmeras as ligações entre uma
construção objetivada e outra sob um viés mais subjetivo, e, em virtude disso, essas
representações permitem apreender dimensões conflituosas. As representações devem ser
interpretadas como um processo de construção do real, através da constituição dos
significados que dão sentido à realidade.
Para Chartier:
Por isso esta investigação sobre as representações supõe-nas
como estando sempre colocadas num campo de concorrências e
de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder
e de dominação. As lutas de representações têm tanta
importância como as lutas econômicas para compreender os
mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua
concepção de mundo social, os valores que são os seus, e o seu
domínio. (CHARTIER, 1990, p.17).
Nesse sentido, esse autor propõe um conceito de representação mais
determinado historicamente e, em um sentido mais particular, sendo este utilizado para
construir a história da Faculdade de Odontologia de Uberlândia. De acordo com esse conceito,
os signos são utilizados como representação, possibilitando a realização de inúmeras
interpretações, permitindo ir desde a análise da estrutura inicial da Faculdade até o estudo dos
22
relatos orais dos agentes partícipes do momento recortado, identificando formas de expressão
das diferentes categorias.
Nesse estudo, propõe-se, como objetivo geral, apreender as práticas e as
representações sociais
1
, bem como as apropriações
2
, constituídas durante os primeiros tempos
da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, no período delimitado. E, de forma específica,
procurou-se interpretar as características contextuais em que a Escola foi implantada sua
estrutura e arquitetura, relações da Instituição com a comunidade e as práticas realizadas pelos
agentes da Escola de Odontologia de Uberlândia, dentre outros aspectos.
A pesquisa proposta vincula-se à linha de pesquisa “História e Historiografia
da Educação do Curso de Mestrado em Educação da UFU”, tendo como eixo a história das
instituições educacionais do Triângulo Mineiro.
O interesse por esta pesquisa surgiu por ocasião da experiência como aluno do
referido Curso de Odontologia da UFU, nos anos de 1993 a 1997, quando ocorreu a vontade
de perquirir e conhecer melhor a história desta Escola. Ao ingressar como acadêmico, foram
inúmeros os questionamentos que, na maioria das vezes, permaneciam sem respostas,
justificando, assim, o desenvolvimento deste trabalho.
Considerou-se relevante estudar a História da Educação Superior em
Uberlândia, não apenas por sua importância nessa cidade e região, mas, principalmente, pelo
período investigado (1966 a 1978), época de benefícios para a comunidade uberlandense no
1
Segundo Roger Chartier deve-se fazer: [...] a análise do trabalho de representação, isto é, das classificações e
das exclusões que constituem, na sua diferença radical, as configurações sociais e conceptuais próprias de um
tempo ou de um espaço. As estruturas do mundo social não o um dado objectivo, tal como o não são as
categorias intelectuais e psicológicas: todas elas são historicamente produzidas pelas práticas articuladas
(políticas, sociais, discursivas) que constroem as suas figuras. (CHARTIER, 1990, p. 27). Essas figuras podem
ser entendidas como representações que são modeladas por demarcações e esquemas, constituindo o objeto da
história. As representações e práticas sociais podem refletir ou desviar do social identificado, que para esse autor,
existe por si próprio como um real bem real.
2
A apropriação, a nosso ver, visa uma história social dos usos e das interpretações, referidas a suas
determinações fundamentais e inscritas nas práticas específicas que as produzem. (CHARTIER, 1991, p. 180).
Ou seja, endossando as palavras de Roger Chartier, a apropriação consiste na apreensão dos usos e interpretações
da realidade, por meio das configurações intelectuais múltiplas que resultam em práticas, visando propiciar uma
identidade social, exibir uma maneira própria de estar no mundo.
23
tocante à assistência social. Na verdade, este constitui o período da consolidação do Comando
Militar e em que o capitalismo monopolista estava assentado definitivamente no país,
tendo-se como uma das características deste Governo os “objetivos” de expansão e de
interiorização do ensino superior no Brasil.
Sendo assim, após repensar as variadas opções de pesquisa, buscou-se
conhecer o campo da história e da historiografia da Faculdade de Odontologia em Uberlândia,
pois, além de ser uma área extremamente interessante e não existir outras pesquisas nessa
linha de estudo, vai ao encontro da vontade do pesquisador em majorar os conhecimentos
necessários para a atuação de um bom educador.
Vale ainda destacar a relevância da FOU para a sociedade uberlandense, pois
serviu como marco e referência, junto à Escola de Medicina, para o Ensino na área das
Ciências Biomédicas em Uberlândia e região.
É interessante ressaltar que a delimitação proposta para investigação resultou
das análises iniciais em torno dos dados coletados em alguns periódicos dos Jornais “O
REPÓRTER”, “O TRIÂNGULO”, “MINAS GERAIS” e o “CORREIO DE UBERLÂNDIA”
de 1960 a 1978, e da leitura da dissertação de Cristiane Lopes Simão Lemos (2003), que
analisou o desenvolvimento curricular da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal
de Uberlândia (FOUFU). Essas fontes indicam que a história da educação superior no
Município de Uberlândia é recente, datando do início dos anos de 1960, mas foi idealizada em
fins dos anos de 1950.
Atualmente, no Brasil, a História da Educação está atenta a todas as
transformações que estão a inquietar os historiadores da educação. Por isso, valoriza as novas
fontes documentais, tais como os jornais, as revistas, as fontes orais e outras.
A orientação teórica presente atualmente defende que o
processo de construção de interpretações sobre o passado se faz
no diálogo necessário entre nossas idéias e concepções e os
indícios que conseguimos agrupar para corroborar nossas
assertivas (GATTI JÚNIOR, 2002, p. 29).
24
Na perspectiva de orientação teórica, essa investigação baseou-se em textos
impressos, arquivados ao longo dos anos, bem como no relato oral dos personagens
participantes e dos que ainda participam da história da Instituição Escolar pesquisada. Além
disso, também foram utilizadas fontes iconográficas. A história aqui proposta é interpretativa,
pois se respalda em um permanente diálogo com as informações encontradas (fontes
impressas, iconográficas e orais, entre outras).
Contudo, a análise não se limitou aos documentos oficiais e à bibliografia
indicada, mas estes foram enriquecidos com relatos orais de professores, ex-alunos e outros
profissionais envolvidos, permitindo, assim, preencher os espaços encontrados nas demais
fontes.
Com a criação legal da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, em 1966,
teve-se, posteriormente, o surgimento do Hospital Odontológico (HO), do Pronto Socorro
Odontológico (PSO), dos atendimentos nos bairros e nas Unidades de Atendimento Integrado
(UAI’S), nas Unidades Didáticas Avançadas (UDA’S), e de trabalhos realizados em conjunto
pelos alunos e professores nas escolas desses bairros. Tais ações viabilizaram o contato da
população uberlandense com a assistência de grupos especializados em saúde bucal,
resultando em mudanças relevantes nesse setor da saúde.
Considera-se importante destacar que para elaborar a história de uma
Instituição de Ensino Superior deve-se, antes de tudo, buscar sua inserção num quadro de
práticas e representações sociais, que se interligam nos contextos local, nacional e mundial.
No entanto, é sabido que as representações que os sujeitos fazem de si mesmos e de suas
instituições não seguem modelos ordenados. Às vezes, uma realidade se sobrepõe e/ou se
justapõe, ocorrendo inúmeras e diferenciadas apropriações.
Sobre isso, Magalhães esclarece:
25
Esta etnohistoriografia, centrada na instituição educativa (a
escola ou similar), permite novos debates no interior das
ciências da educação, não apenas pelo cruzamento
interdisciplinar e pelos contributos ao nível da
conceptualização, mas também porque se revela útil para a
formação de pedagogos educadores, ou outros técnicos e
especialistas. A escola ora é tomada em si mesma como um
todo em organização, instituído num contexto, ora é tomada
como o principal referente e como eixo de estruturação
reservada à abordagem historiográfica uma explicação e a
inscrição da realidade educativa em quadros sócio-culturais e
político-ideológicos mais amplos. (MAGALHÃES, 1998, p.55).
Desse modo, infere-se que a escola não é, por excelência, único referente
quando se busca uma análise da instituição educacional. É também o locus das divergências
de opiniões, de atitudes, de apropriações e de valores. Por isso, é importante, na análise das
instituições de educação superior, o diálogo entre a História, a Sociologia, a Antropologia e
mesmo o Direito.
A primeira tarefa cumprida foi estudar as investigações realizadas sobre a
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ressaltando-se a obra de Caetano e Dib (1988),
que trata do nascimento das Faculdades de Uberlândia, da criação da Universidade de
Uberlândia e do seu processo de Federalização, o que ampliou os horizontes dos que anseiam
estudar a História das Instituições de Ensino Superior e tratar com as mais diversas fontes.
Grande contribuição sobre o assunto também trouxe Maria Dolores Sanches Fernandes
(2003), ao estudar as origens do curso de Pedagogia de Uberlândia.
Na linha da História das Instituições Educacionais, pode-se citar a dissertação
de Lucinete M. V. Araújo (2003), que apresenta uma visão da interiorização do ensino
superior; o processo de gênese da Escola de Engenharia de Uberlândia e a sua inserção no
quadro das representações sociais.
Na área de Odontologia, Simone Maria de Ávila Silva Reis (2002) preocupou-
se com o perfil profissional do cirurgião dentista, mostrando que este se apresenta distante do
ideal considerado por ela sobre os recém-formados nos cursos de odontologia no Brasil.
26
Tratou, portanto, das deficiências e ineficácias na tentativa de integração das disciplinas
ministradas, pois estas, na maioria das vezes, não conseguem oferecer um cirurgião dentista
capaz e comprometido com a função social da Odontologia.
Outra pesquisa relevante é a de Geraldo Vieira Filho (1993) que verificou o
papel das lideranças locais e do Governo Federal no Ensino Superior no município de
Uberlândia, no período de 1957 a 1978. Abordou também o processo de criação,
desenvolvimento e consolidação do ensino superior em Uberlândia, enfocando a participação
das lideranças locais e do Governo Federal na estruturação das escolas e dos cursos que, mais
tarde, comporiam a Universidade Federal de Uberlândia. Este trabalho contribuiu,
sobremaneira, para enriquecer a revisão bibliográfica sobre o tema em estudo.
Sobre o estudo da expansão e da interiorização do Ensino Superior brasileiro,
com a valorização e o respeito às especificidades e singularidades regionais e locais, tem-se as
presenças de Ester Buffa e Paolo Nosella, na trilogia sobre a Escola Normal (1996), Escola
Profissional (1998) e Escola de Engenharia (2000), apresentam um rico estudo sobre a
história regional e a política educacional em São Carlos SP. A possibilidade de contribuir
para a reconstrução da história das Instituições de Educação é a lição maior que eles
registram.
Já a presente dissertação apresenta uma contribuição para o conhecimento geral
da História da Odontologia no Brasil e, de forma mais detalhada, da gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia. Tenta-se interpretar as múltiplas práticas, apropriações e
representações sociais constituídas durante seu processo de construção.
Portanto, a investigação realizada apresenta o modelo de pesquisa histórico-
educacional, relacionando o local (Uberlândia – MG) ao nacional, apoiando-se ainda no
paradigma historiográfico interpretativo, o qual orientou o tratamento com as fontes. Dessa
maneira, buscou-se apoio principalmente em Roger Chartier (1990 e 1991), Ester Buffa e
27
Paolo Nosella (1996, 1998 e 2000) e, principalmente, em Justino Magalhães (1988, 1996 e
1999).
Por se tratar de um período relativamente recente (1966-1978), foi possível
realizar entrevistas
3
com alguns dos sujeitos envolvidos políticos, professores, ex-alunos e
funcionários, do período delimitado, sendo que, alguns dos ex-alunos das primeiras turmas de
Odontologia da Faculdade de Uberlândia encontram-se, no momento, participando do quadro
docente, dentre outras atividades, tais como diretor e até mesmo coordenador de curso. Não se
pode olvidar a presença de funcionários que também acompanharam o desenvolvimento
histórico da Faculdade e ainda encontram-se ligados à instituição.
Inúmeras fontes foram utilizadas na pesquisa bibliográficas, impressas, orais
e iconográficas compreendendo o levantamento, a leitura e a análise de fontes secundárias
(obras consultadas) e também primárias - matérias jornalísticas, documentos que estão sob a
guarda do Arquivo Geral da UFU
4
, discursos de inauguração, formatura etc. Enfim, não
houve uma única metodologia, pois o tratamento das diferentes fontes foi definido também
por sua própria característica, tendo por base os referenciais teóricos apresentados, que foram
redefinidos pelo próprio tratamento atinente à necessidade de cada fonte.
Para pesquisas na área da historiografia é de fundamental importância a
compreensão das mudanças ocorridas na história da educação, com o intuito de apreender e
refletir as memórias (sejam elas escritas arquivos, livros, diários, relatórios, jornais ou
orais depoimentos, fitas, entre outros) e, a partir das informações e dos dados colhidos,
reescrever a história sob o olhar do historiador.
3
Entrevistas realizadas com nove ex-alunos das primeiras turmas (nº. 01 Gaspar Paulino, nº. 3 Paulo César
Azevedo, nº. 04 Wanderley Alves Ribeiro, nº. 05 Vanderlei Luiz Gomes, nº. 06 Alfredo Júlio Fernandes
Neto, . 07 Ailton Amado, nº. 08 Antonio Mário Buso, . 09 Gildésio Rezende Alvarenga, . 10
Odorico Coelho da Costa Neto), dois políticos (nº. 02 – Homero Santos, nº. 14 – Rondon Pacheco), um ex-reitor
(nº. 13 Juarez Altafin), duas funcionárias (nº. 11 Rosa Maria Domiciano Vidal, nº. 12 Abigail Maria da
Silva) e com uma paciente que foi atendida nos primeiros anos de funcionamento da Policlínica (nº. 15 Nazaré
Aparecida Massariolli).
4
Documentos esparsos distribuídos em caixas específicas do Curso de Odontologia da Universidade Federal de
Uberlândia, que poderão ser encontradas com os números 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 71, 72, 73, 77.
28
Vale ressaltar que, apesar de existir uma grande relação entre os documentos e
a história, os primeiros devem ser considerados como fontes de informações e de dados,
evitando confundi-los com a própria história. Cabe ao historiador criticar as memórias
trazidas pelos documentos, procurando desconstruir a realidade local, para que se possa
utilizar a produção da memória com a finalidade de reler o passado, reinventando e
reconstruindo “o antigo” na ótica do presente.
A partir desses pressupostos, confrontou-se o maior número possível de dados
e informações acerca do período recortado, para obter uma interpretação da história dos
primeiros tempos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia.
Desse modo, ampliou-se o leque de possibilidades. Com o desenvolver da
pesquisa empírica, verificou-se a existência de uma grande quantidade de fontes concernentes
à Faculdade de Odontologia de Uberlândia, destacando-se: arquivos, fotos, depoimentos orais
e documentos.
Sobre os documentos e seu valor para a história, deve-se ressaltar os estudos de
Le Goff que explica:
O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de
uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da
época, da sociedade que o produziu, mas também das épocas
sucessivas durante as quais continuou a ser manipulado, ainda
que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura,
é o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que
ele traz devem ser em primeiro lugar analisados
desmistificando-lhe o seu significado aparente. O documento é
monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para
impor ao futuro voluntária ou involuntariamente
determinada imagem de si próprias. No limite, não existe um
documento-verdade. Todo o documento é mentira. Cabe ao
historiador não fazer o papel de ingênuo. Os medievalistas, que
tanto trabalharam para construir uma crítica sempre útil,
decerto – do falso, devem superar esta problemática porque
qualquer documento é, ao mesmo tempo, verdadeiro
incluindo, e talvez sobretudo, os falsos e falso, porque um
monumento é em primeiro lugar uma roupagem, uma aparência
enganadora, uma montagem. É preciso começar por desmontar,
demolir esta montagem, desestruturar esta construção e analisar
as condições de produção dos documentos-monumentos. (LE
GOFF, 1990, p. 546-547).
29
Valendo-se dos saberes de Le Goff, procurou-se entrecruzar os dados trazidos
pelas fontes, cotejando as entrevistas orais com as informações fornecidas nos documentos e
demais mananciais textuais, de maneira que nenhuma dessas fontes fosse tomada como a
única detentora da verdade. Tentou-se observar e analisar as diversas representações contidas
nos documentos acerca da gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, procurando
problematizá-las e inquiri-las dentro do contexto social em que foram produzidas.
A partir da análise dessas fontes e buscando atender aos objetivos propostos e
responder às questões suscitadas a priori, esta dissertação foi dividida em três capítulos.
O capítulo I apresenta, em um primeiro momento, um breve estudo sobre as
influências da evolução historiográfica na atual historiografia brasileira, esclarecendo ao leitor
como se procurou tecer o trabalho dissertativo e qual orientação de escrita historiográfica foi
adotada pelo pesquisador: a modalidade interpretativa.
Em um segundo momento, destaca-se um breve histórico da Odontologia no
Brasil, ressaltando a importância do conhecimento da evolução histórica da profissão do
cirurgião dentista para a construção da sua identidade e da sua localização como elemento
partícipe da edificação histórica atual.
Posteriormente, trata-se das políticas de Ensino Superior no Brasil (1964-
1985), referenciando-se às ações governamentais durante o Período Militar, visto que o
período recortado (1966-1978), para o estudo em questão, encontrava-se sob a égide do
Comando Ditatorial (1964-1985), o qual interferiu nos variados graus e níveis do sistema
educacional, modificando o cenário educacional nacional. Em seguida, analisa-se como
ocorreu o surgimento do Ensino Superior em Uberlândia, em especial, o surgimento das
faculdades isoladas e o seu percurso até a federalização e a institucionalização da
Universidade Federal de Uberlândia.
30
No Capítulo II, busca-se interpretar a institucionalização da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia, analisando os elementos pertinentes à sua criação e à sua
instalação, destacando-se como foi formada sua estrutura inicial, quais eram as condições
históricas e culturais daquele contexto, e, por fim, realizou-se um estudo da realidade escolar,
tentando trazer para a análise quais foram os objetivos, funções, meios e suportes no momento
da gênese da Escola de Odontologia de Uberlândia.
No último capítulo, a partir da análise das fontes orais, ou seja, das entrevistas
realizadas com os agentes participantes do processo histórico delimitado, responde-se aos
questionamentos propostos, principalmente, no tocante à indagação inicial que perguntava:
quais os significados e práticas sociais em torno desta Escola Superior? Tratando de forma
específica, acerca de fatores determinantes da escolha do Curso, concepções a respeito do
ingresso no mercado de trabalho, a questão relativa aos dentistas práticos, o que representou
ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia dentre outras questões.
Por fim, busca-se interpretar e apreender as representações e práticas sociais
presentes nessa gênese, as quais contribuíram para a formação da história dessa Faculdade,
deixando claro que ela foi o resultado da interseção de inúmeros fatores e forças”, que
vieram dos políticos, dos idealistas, dos professores, dos alunos e de todos que almejaram e
lutaram pela concretização da FOU.
31
CAPÍTULO I
SUBSÍDIOS PARA UMA INTERPRETAÇÃO DA GÊNESE DA FACULDADE DE
ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA
Este capítulo tem como objetivo desenvolver subsídios para construir uma
interpretação em torno da gênese da FOU. Para tanto, foram pesquisados alguns aspectos da
historiografia brasileira, observando como foram as mudanças temáticas e paradigmáticas e
qual a tendência adotada entre os historiógrafos atuais.
A partir desse breve estudo do desenvolvimento da historiografia brasileira,
pode-se entender a importância da utilização das fontes impressas e orais para a construção de
uma interpretação histórica.
Com base nesses pressupostos básicos, elaborou-se um breve histórico da
Odontologia no Brasil, passando em um outro tópico a tratar das políticas nacionais de Ensino
Superior no período de 1964 a 1985, e, finalmente, analisou-se o surgimento do Ensino
Superior em Uberlândia.
32
1.1. Breve estudo sobre as influências das mudanças temáticas e
paradigmáticas historiográficas na atual historiografia brasileira
Antes de se historicizar a gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia
(1966-1978), premente se faz mostrar as principais mudanças ocorridas na historiografia
brasileira e de onde vieram suas influências, com o intuito de situar o leitor de como se
encontram, atualmente, o processo e a prática de se interpretar e tecer a história.
Hodiernamente, percebem-se vários autores nacionais estudando a nova
historiografia, porquanto, para muitos dos historiógrafos da educação, as mudanças
paradigmáticas e temáticas foram inúmeras, rompendo com a história da educação tradicional,
de forma a despertar o interesse dos estudiosos sobre essa temática atual.
Segundo Burke (1992, p.12): Os historiadores tradicionais pensam na história
como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais
preocupada com a análise das estruturas.
O referido autor Peter Burke caracterizou as mudanças ocorridas no campo da
história como uma “revolução historiográfica”, em que os historiadores dos Annales
distanciaram-se da maneira positivista
5
de se fazer a história.
Em consonância com os estudos de Gatti Júnior (2002) pode-se afirmar que a
história da educação nasceu no campo da pedagogia, sendo marcada em seu início pela
influência abstrato-filosófico da filosofia. Contudo, a nova modalidade historiográfica,
também chamada interpretativa, insere-se em um processo de renovação específica na
tentativa de se aproximar da realidade do caso concreto.
5
O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, visando a obtenção de resultados
claros, objetivos e completamente corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de
neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e
julgamentos do seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem
os analisar. Os positivistas crêem que o conhecimento se explica por si mesmo, necessitando apenas seu
estudioso recuperá-lo e colocá-lo à mostra. Não foram poucos os que seguiram a corrente positivista: Auguste
Comte, na Filosofia; Émile Durkhein, na Sociologia; Fustel de Coulanges, na História, entre outros, contribuíram
para fazer do Positivismo e da cientifização do saber um posicionamento poderoso no século XIX.
33
Antes, a história da educação tinha uma forte ligação com o abstrato-filosófico,
situando-se primordialmente no campo da filosofia. Entretanto, com o desenvolvimento de
uma nova historiografia adotada nos novos núcleos de pesquisa ligados à história, passou-se a
reler e a (re) escrever a história da educação sob o viés do historiador e não mais do
pedagogo.
A nova modalidade historiográfica privilegia uma visão aprofundada dos
espaços sociais destinados aos processos de ensino-aprendizagem, afastando-se dos axiomas
anteriormente existentes, que davam ênfase a análises mais sistêmicas.
Justino Magalhães, um teórico adepto da modalidade interpretativa, esclarece
que:
Compreender e explicar a existência histórica de uma
instituição educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade
mais ampla que é o sistema educativo, contextualizá-la,
implicando-a no quadro de evolução de uma comunidade e de
uma região, é por fim sistematizar e (re) escrever-lhe o
itinerário de vida na sua multidimensionalidade, conferindo um
sentido histórico. (MAGALHÃES, 1996, p.2).
Contudo, é importante afirmar que, para alcançar o nível em que a
historiografia se encontra hoje, ela passou por várias etapas e por influências de grandes
teóricos.
Ainda, de acordo com Gatti Júnior (2002), na França, a historiografia do início
do século XX, oriunda da “história problema” dos Annales, desdobrou-se em diversas
correntes heterogêneas que determinaram mudanças no rumo da história da educação.
A história preconizada pelos fundadores dos Annales, em 1929, passou por
uma significativa diferenciação, chegando, em 1970, a se auto-intitular como Nova História.
34
Na Inglaterra, por possuir uma forte tradição de estudos empíricos, nota-se um
rompimento, tanto com a historiografia tradicional positivista, quanto com a historiografia do
“marxismo vulgar”
6
.
O intelectual E. P. Thompson, com a publicação de artigos e livros, entrevistas
em jornais, dentre outros trabalhos, abriu caminho para que Raymond Williams desenvolvesse
o “materialismo cultural”, obra historiográfica e sociológica de relevante importância.
Thompson, juntamente com Eric Hobsbawm, dentre outros, que ficaram conhecidos como
intelectuais públicos, por tratarem, em seus textos, de problemas contemporâneos divulgados
em muitos países.
Diante do exposto, a historiografia inglesa tornou-se mais crítica e abrangente,
dando maior importância às singularidades e particularidades sociais, aumentando, assim, a
criação de sub-disciplinas que mantêm certa proximidade com a Sociologia, a Antropologia e
a Lingüística, trazendo renovações no campo da história da educação que interferiram no
pensamento dos pesquisadores, historiadores e educadores por todo mundo.
Finalmente, reportando-se ao caso da pesquisa histórica da educação no Brasil,
é possível ressaltar dois fatores de grande importância que influenciaram, de forma incisiva, a
historiografia. O primeiro deles foi a obra de Fernando de Azevedo, A cultura brasileira
(1943), causando impacto sobre como escrever a respeito da educação brasileira. O segundo
foi a análise macroestrutural operada pela sociologia de base economicista, nos anos 50, que
predominou até 1970.
6
Hobsbawm caracterizou o “marxismo vulgar” como uma elaboração teórica feita em nome de Marx, mas que
muito pouco possui de marxista, ou seja, não representa necessariamente o pensamento amadurecido de Marx. O
“marxismo vulgar”, segundo Hobsbawm, expressou-se “através de uma interpretação econômica da história, em
que tudo dela depende; de um modelo de ‘base e superestrutura’, em que a primeira domina e determina
unilateralmente a segunda; de uma limitação do movimento da história ao ‘interesse de classe e à luta de classe’;
de um determinismo evolucionista e mecânico expresso nas ‘leis históricas e inevitabilidade histórica’ e ainda na
eleição de determinadas temáticas como prioritárias, além da afirmação de uma certa imparcialidade da verdade
nas obras historiográficas” (HOBSBAWM, 1982, p.248).
35
Os estudos voltados para assuntos regionais e locais, nos âmbitos estadual e
municipal, representavam as novas tendências da pesquisa histórica, fazendo com que o
pesquisador promovesse sua investigação sobre o passado, apropriando-se de um recorte
eminentemente histórico, que valoriza as especificidades e as singularidades, não mais
deixando prevalecer a concepção de que o pensamento educacional se sobrepõe à própria
realidade da educação.
Desse modo, seguindo essa tendência, justifica-se e ressalta-se a importância
do estudo das especificidades/singularidades da Faculdade de Odontologia de Uberlândia,
para desconstruir/interpretar e construir uma Nova História.
Em síntese, percebe-se que, nas duas últimas décadas do século XX,
aconteceram grandes mudanças na historiografia brasileira, ocorrendo um aumento
quantitativo e qualitativo das obras científicas na área de história da educação.
Nota-se que a criação dos núcleos de pesquisas baseadas na nova concepção
interpretativa da história foi e ainda é de suma relevância para a concretização de trabalhos
baseados em fontes primárias e na valorização da especificidade dos processos educacionais
criados, por exemplo, no seio das Instituições Educativas Brasileiras.
Nessa direção, procurou-se reconstruir a história da gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia, com base nessa nova modalidade interpretativa, valendo-se de
todos os instrumentos e meios possíveis na construção dos fatos históricos pertinentes a essa
Instituição Educacional, durante o período delimitado.
Como se afirmou, o delineamento dos processos de formação e de evolução
das Instituições educativas encontra-se na órbita da nova historiografia. A atual modalidade
interpretativa produz um conhecimento historiográfico em renovação, novas formas de se
pesquisar se interligam com uma ampliação das problemáticas concatenadas à diversidade dos
contextos e às especificidades institucionais.
36
Gatti Júnior et al esclarecem acerca da nova historiografia, pois, segundo eles:
[...] nesta forma de trabalhar com a produção do conhecimento
histórico, valorizam-se não os aportes teóricos utilizados na
investigação, mas também o contato com as evidências de
investigação, os chamados vestígios do passado, que não se
limitam aos documentos escritos, mas abrem-se também às
fontes iconográficas, às fontes orais, entre outras; ou seja, o
processo de construção de uma interpretação do passado se faz
no diálogo necessário entre nossas idéias e concepções e os
indícios que conseguimos agrupar para d elaborar nossas
interpretações (GATTI JÚNIOR et al, 1996, p.4).
Deve-se ressaltar, no entanto, que o historiador não necessita abandonar a
análise de documentos oficiais, mas enriquecê-los com relatos orais dos atores envolvidos,
procurando reconstruir características singulares e detalhes a partir desses depoimentos.
Justino Magalhães, adepto a essa nova forma de reler o passado, valendo-se da
modalidade interpretativa, explica que:
A abordagem dos processos de formação e de evolução das
instituições educativas constitui um domínio do conhecimento
historiográfico em renovação no quadro da História da
Educação. Uma renovação em que novas formas de questionar-
se cruzam com um alargamento das problemáticas e com uma
sensibilidade acrescida à diversidade dos contextos e à
especificidade dos modelos e práticas educativas. Uma
abordagem que permita a construção de um processo histórico
que confira uma identidade às instituições educativas
(MAGALHAES, 1996, p.1).
A partir dessa nova abordagem, começaram as pesquisas no sentido de pensar e
refletir sobre a realidade social, analisando os fatos concretos em todos os níveis. Magalhães
utilizou a análise da história da educação por vários aspectos e diferenciados ângulos,
valendo-se da multidimensionalidade carreada pela interdisciplinaridade.
Ao desenvolver um estudo sobre as instituições educativas, o pesquisador
precisou manter uma atenção especial à hermenêutica, visto que ela é essencial para uma
37
reconceptualização e uma apurada intersecção de informações no processo de estudo
institucional.
Pelo fato de o período recortado (1966-1978) para essa pesquisa, ser
relativamente recente, as entrevistas realizadas com os partícipes principais do momento
estudado trouxeram uma importante colaboração para a investigação das informações desse
passado não muito distante do surgimento e da construção da Faculdade de Odontologia da
Universidade Federal de Uberlândia.
Para a reflexão da importância, do alcance e dos limites das fontes impressas,
como significativos mananciais de informações para a historiografia das Instituições
Educativas, é necessário considerá-las como textos que representam o contexto sócio,
econômico, cultural e político da sua época. Em se tratando dos primeiros tempos da
Faculdade de Odontologia da UFU, não se pode olvidar que o período em questão (1966-
1978) caracteriza-se pela presença de um capitalismo consolidado sob a égide do Regime
Militar no Brasil.
1.1.1. Utilização das fontes impressas na pesquisa historiográfica atual
O trabalho com fontes impressas é interessante e, ao mesmo tempo, complexo,
pelo fato de que o inúmeras as interfaces de discursos multidisciplinares e
multidimensionais permeando a construção do texto refratário, pois são várias as apropriações
e representações possíveis para um mesmo fato, o que dificulta a compreensão das fontes e
enseja inúmeras interpretações para um mesmo texto.
As variações de apropriações e interpretações presentes nos impressos advêm
do fato de uma mesma pessoa poder pertencer a diferentes tipos de categorias sociais à guisa
38
de ser aluno, professor, pai de família, entre outros setores, dos quais o indivíduo sofre
influências e interferências na sua forma de ver, sentir, pensar e agir.
Cabe ao historiador desconstruir as fontes, analisando as marcas, as possíveis
intenções e os sentidos que estão ditos. Para quem não consegue desvelar os dizeres alegando
estar nas “entrelinhas”, pode-se afirmar que o pesquisador deve dialogar com as suas fontes
de maneira a estabelecer problemáticas, fazendo-as se revelarem e tornando expresso o que
estaria “tácito”.
Ao optar por elaborar uma impressão, a qual registrará a vontade de seu autor
perpetuando-a no tempo, são inúmeros os interesses e vontades presentes nessa ação, devendo
o historiador estar consciente de que não neutralidade em nenhuma fonte impressa. Ao
lidar com as fontes, o historiador tem opções de escolha entre produzir/imprimir/publicar ou
não, mediado pela subjetividade que determina suas preferências.
Convém, ainda, esclarecer que nem mesmo o pesquisador/historiador atento e
acautelado consegue uma neutralidade absoluta, esta não é possível ao determinar e pesquisar
seu objeto de estudo. Contudo, no caso dessa pesquisa, tentou-se, ao dialogar com as fontes
referentes a FOUFU, evitar preconceitos e juízos de valor ao analisá-las.
Porém, para Roger Chartier:
Por um lado, existe uma permanente interrogação sobre a
possibilidade de ir do discurso ao facto, o que obriga a pôr em
causa a idéia da fonte enquanto testemunho de uma realidade de
que esta seria mero instrumento de mediação. Donde, a dupla
tendência para analisar a realidade através das suas
representações e para considerar as representações como
realidade de múltiplos sentidos (CHARTIER, 1990, p.11).
Compreendendo a história numa visão ampla deve-se, ao analisar os impressos,
situar o homem dentro de um contexto cultural em sentido latu sensu, pois a conjuntura
interfere na vida das pessoas, de modo que, mesmo que cada indivíduo tenha suas
apropriações particulares, ele faz parte de um contexto local, regional, nacional e mundial.
39
As fontes impressas devem ser analisadas como uma construção que foi
escolhida para ficar na memória, colaborando para a tessitura da história. Não se pode
esquecer que a produção da fonte impressa é advinda de uma escolha feita pelo autor e com
uma determinada intenção: se foi produzido um documento, um texto jornalístico, um artigo,
um folder, um monumento, é importante levantar hipóteses valendo-se de pressupostos
fundamentais para fazer com que as fontes “falem”.
Conforme metodologia de trabalho programada anteriormente, procurou-se, no
trato com as fontes impressas, abarcar a maior quantidade de dados dessa Instituição
Educacional de Odontologia uberlandense, desconstruindo os documentos e monumentos para
tentar construir reflexões que levaram a uma interpretação dessa história.
Todas essas reflexões acerca das interferências “externas” na história da
educação levam a afirmar que a historiografia da educação brasileira é dinâmica e rica, pois o
processo de escolarização não só envolve os sujeitos diretamente implicados com a Instituição
Educacional, mas também o conjunto das Instituições Sociais que deixaram sua história
registrada nas fontes impressas de seu tempo.
Deve-se destacar também que, atualmente, a história oral serve como um
importante suporte utilizado como técnica para os pesquisadores, que buscam dar um novo
olhar sobre os fatos, diferentemente do elaborado a partir das categorias abastadas e da
documentação oficial.
1.1.2. A história Oral como técnica enriquecedora da historiografia atual
A história oral trouxe a possibilidade da reconstrução histórica enriquecida pela
memória daqueles grupos sociais discriminados, dando-se “voz” a quem até então “não a
possuía”, além de trazer certas evidências, muitas vezes, ausentes nas demais fontes.
40
Portanto, ela é especialmente importante, permitindo que o historiador analise
questões críticas anteriormente restritas, pelo fato de dizerem respeito a atividades que
raramente deixavam registros e vestígios para serem estudadas.
A evidência oral pode se dar sob diferentes formas, tais como biografia,
entrevistas e depoimentos, sendo que sua utilização pode levar a uma nova dimensão da
história que:
Também possibilita que indivíduos pertencentes a categorias
sociais geralmente excluídas da história oficial possam ser
ouvidos - deixando registradas para análises futuras sua própria
visão de mundo e aquela do grupo social ao qual pertencem
(SIMSON, 2004).
Paul Thompson também ressalta a importância do relato oral.
[...] Enquanto os historiadores estudam os atores da história à
distância, a caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e
ações sempre estará sujeita a ser descrições defeituosas,
projeções da experiência e da imaginação do próprio
historiador: uma forma de ficção erudita. A evidência oral,
transformando os “objetos” de estudo em “sujeitos”, contribui
para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais
comovente, mas também mais verdadeira (THOMPSON, 1998,
p.137).
Contudo, deve-se ressaltar que o fato da tradição oral ser uma rica via de
informações, a qual amplia as problemáticas colocadas pela História da Educação, não
permite esquecer a necessidade de ser interpretada enquanto informações e dados que devem
ser cruzados com outros tipos de fontes.
O uso da história oral é importante para a História das Instituições educativas,
uma vez que é:
[...] certo que o historiador não pode deixar mão da informação
oral, sob pena de se perderem gradualmente os depoimentos
vivos referentes a períodos altamente significativos da história
recente [...]. Mas tal recurso não pode deixar de contrapor-se à
informação escrita (MAGALHÃES, 1996, p.17).
41
A História Oral tem seus problemas de confiabilidade, pois a memória humana
é seletiva. Contudo, tanto no documento oral como no escrito, cabe ao pesquisador estar
atento e ter consciência clara de que os mesmos são produzidos por pessoas em tempos
próprios, muitas vezes envolvidos pelos acontecimentos, fazendo suas próprias representações
e apropriações. Mesmo assim, destaca-se que, tanto as fontes orais quanto as impressas, são
importantes instrumentos utilizados pela historiografia atual.
Diante do exposto, vale lembrar que, conforme afirmado na introdução desse
trabalho, as concepções contemporâneas de história e historiografia da educação não são as
mesmas que permearam a história tradicional, as inovações paradigmáticas e temáticas foram
tantas, que ampliaram as formas de questionar, investigar, apreender e compreender a
diversidade dos contextos históricos.
A nova historiografia, caracterizada por uma renovação nos quadros
epistemológicos e hermenêuticos, originou um alargamento das problemáticas em História da
Educação, permitindo uma abordagem construtiva de um processo histórico capaz de atender
à necessidade de se ter uma identidade histórica.
Nessa pesquisa investigou-se a história da criação da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, norteado pela nova historiografia, de
maneira a possibilitar que os agentes participantes do processo de idealização/construção da
Escola de Odontologia de Uberlândia pudessem se identificar e se enxergar como sujeitos
históricos na constituição desta Instituição Educacional uberlandense.
Parafraseando Ester Buffa e Paolo Nosella (2000, p.2), essa história dos
primeiros tempos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia é
resultado de um determinado olhar. Outros olhares, certamente, são possíveis sobre essa
42
mesma Escola. Os homens não cessam de questionar o passado, fazendo da história uma
ciência aberta.
Sendo assim, na seqüência, de forma sucinta, realizou-se uma interpretação de
alguns aspectos pertinentes a história da Odontologia brasileira.
43
1.2. Breve histórico da Odontologia no Brasil
O estudo da história não deve se tornar só um momento de prazer, mas também
algo vivo, contemporâneo e significativo que possibilite aos estudiosos a compreensão e a
leitura da realidade. Dessa forma, antes de entrar no objeto central do presente trabalho: a
história da criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia-MG, considerou-se
interessante analisar como se deu a evolução histórica da Odontologia no Brasil, entendendo-a
como elemento essencial para a construção de uma identidade e de uma interpretação dos
dentistas como sujeitos históricos.
Após uma revisão bibliográfica, percebeu-se uma escassa literatura que trata
especificamente da história da profissão do Cirurgião Dentista, de forma que poucos
conhecem os meandros, as curiosidades e alguns porquês da história da Odontologia
brasileira.
Sendo assim, com esse breve histórico tentou-se apresentar os fatos que, na
análise do pesquisador, foram julgados relevantes. Como na maioria das sínteses, a maior
dificuldade encontrada foi a de tentar resumir sem perder os elementos importantes que essa
história traz.
Para a realização dessa análise, foram utilizados: Obras, Leis, Decretos,
Resoluções, Pareceres, entre outras normas que foram colhidas em publicações citadas no
Diário Oficial da União, ou em publicações específicas do Conselho Federal de Educação, do
Conselho Regional de Odontologia e do Conselho Federal de Odontologia.
Para iniciar, analisou-se o fato de que as Faculdades de Odontologia no Brasil
foram regulamentadas após a criação das faculdades de Odontologia dos países da Europa,
mesmo porque a história da prática Odontológica começou a ter seus registros com a chegada
do colonizador português aproximadamente 506 anos atrás. Isto não quer dizer que não
44
havia nenhuma prática dos curandeiros indígenas, ou seja, dos pajés7 para solucionar ou
amenizar uma dor de dente do nativo (CUNHA, 1952. p.39).
As ciências da área de saúde, e dentre elas, a Odontologia, perpassaram por
etapas ao longo de sua trajetória de transformações; de maneira inicial, teve um caráter de
Pré-cientificismo
8
nos séculos XVI e XVII, desenvolvendo-se até alcançar as escolas
especializadas no ensino da prática odontológica, passando, dessa maneira, para uma fase que
se valeu de embasamento teórico-empírico, adquirindo um caráter mais científico.
Mesmo com as tentativas de fiscalização por cada órgão competente de sua
época, por vários séculos, predominou no Brasil a prática da Odontologia exercida pelos
escravos isentos de base teórica e que tampouco passaram por um estudo prévio antes de
ingressarem na profissão de extrair dentes.
De acordo com historiadores, desde o período colonial verificou-se que a
conquista dessa terra “desconhecida” não teve grande importância para o português
colonizador. Mais tarde surgiram os primeiros pontos coloniais: em 1530, o de São Vicente,
sendo que em 1550, Thomé de Souza fundou as cidades do Rio de Janeiro e de Salvador.
(CUNHA, 1952. p.41). Apesar de serem pequenos povoados e com um pequeno número de
habitantes, deveriam existir “mestres” atuantes em todos os ofícios para atender às
necessidades da população, e, dentre esses, haveria de ter os “mestres” cirurgiões e os
barbeiros, para cuidar das dores dentárias (CUNHA, 1952. p.41).
Portanto, aparece neste momento a figura do “barbeiro” e do “sangrador”,
termos que foram empregados até meados do século XIX para denominar os atendentes de
saúde do povo colonial, cada um com seu tipo de atividade: ao “barbeiro” destinava-se o
7
De acordo com o Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI [Do tupi.]
S. m.
a) Antrop. Etnol. Bras. Designação dada ao especialista ritual que, nas comunidades indígenas brasileiras, tem a
atribuição ou o suposto poder de comunicar-se com as diversas potências e seres não humanos (espírito de
animais, de pessoas mortas, etc.); xamã: "O tuxaua e o pajé... guardam segredos invioláveis, só transmitidos aos
substitutos na hora da morte." (Raimundo Morais, País das Pedras Verdes, p. 290.) b) Bras. V. manda-chuva. 3.
Bras. Amaz. Benzedor, curandeiro. 4. Bras. Amaz. Rel. Chefe de pajelança. [Var.: paié.].
8
Atuava-se sem um estudo prévio, ou seja, sem qualquer pesquisa fundamentada em métodos científicos.
45
cortar, pentear e barbear, além de realizar alguns curativos em machucados e algumas
cirurgias de menor significância e dificuldade.
Com o passar do tempo e com o desenvolvimento de uma melhor habilidade
manual, os “barbeiros” começaram a tentar solucionar problemas que acometiam a cavidade
oral. Sendo assim, iniciaram a prática de extrações dentárias, mesmo porque pela necessidade
de ter uma habilidade específica e, às vezes, muita força, eram procedimentos que traziam alto
risco de morte por hemorragia, o que afastava a atuação dos cirurgiões da época.
Tem-se também a figura do “sangrador”, pessoa com habilidade de retirar o
sangue com uso de sanguessugas e ventosas. Essas últimas eram recipientes em forma de vaso
cônico de metal ou de vidro, o qual, após aquecido seu interior e rarefeito o ar dentro dele, se
aplicava sobre a pele do indivíduo, causando uma grande pressão na parte do corpo que se
queria sangrar. (LERMAN, 1964. p.270).
No entanto, era díspare a situação das pessoas que trabalhavam com a saúde
neste período. Para o desenvolvimento de outros ofícios na cirurgia, tais como os médicos
físicos e cirurgiões era necessário uma autorização do “Cirurgião-Mor Mestre Gil”. Nas
profissões de “barbeiro” e “sangrador” não utilizavam licença para trabalhar, uma vez que se
exigiam pessoas fortes, impiedosas, e que tivessem aprendido o oficio com alguém mais
experiente.
Como as técnicas e os instrumentos odontológicos da época eram rudimentares
e com condições de higiene precárias, o risco dos pacientes falecerem por perda excessiva de
sangue e infecção era alto para tais interventos; por isso, os médicos físicos e cirurgiões
não gostavam e até evitavam fazer extrações dentárias.
Para E. Salles Cunha (1952, p.45) pode-se levantar a probabilidade de que
alguns dosTiradentes” que atuavam aqui nesse período colonial tinham autorização do
cirurgião-mor do reino de Portugal, expedida antes de terem vindo para o Brasil.
46
Porém, segundo Lerman:
[...] entre los primeros colones que fundaran esas ciudades de
salvador, Bahía y Rio de Janeiro ya se contaban físicos o
médicos, cirujanos, sangradores y “tira-dentes”(dentistas).
Todos éstos, a exceptión de los médicos, atuaban sin licencia o
bajo la jurisdicción del Cirujano Mayor (LERMAN, 1964, p.
269).
Destaca-se, como mais apropriada, acerca da questão das autorizações para o
desenvolvimento da profissão de saúde no Brasil Colônia, a afirmação de E. Salles Cunha ao
levantar a probabilidade de que alguns atendentes atuavam com autorização, enquanto que se
pode desconsiderar a asseveração categórica realizada por Lerman (1964, p.269) ao afirmar
que: Todos estes, com exceção dos médicos, atuavam sem licença e menos ainda sob a
jurisdição do Cirurgião Mor. (Grifos do pesquisador).
No século XVI, pode-se constatar que não havia legislação para regularizar a
prática odontológica, nem mesmo na Metrópole Portuguesa. Observa-se que, de acordo com a
Carta gia de 1448, redigida pelo Rei D. Affonso, eram dadas algumas licenças para os
profissionais, concedidas pelo Cirurgião-mor.
Mais tarde, a partir da elaboração da Carta Régia de 9 de novembro de 1629,
Pedro Sanches Farinha elaborou um regimento para o “ofício de cirurgião-mor”,
estabelecendo que, a partir de 12 de dezembro de 1631, seriam realizados a fiscalização e o
controle de “barbeiros”e “sangradores”, dentre outras pessoas que retiravam dentes, visto que,
se estas não tivessem licença para tal ofício, seriam multadas (CUNHA, 1952, p.47)
(LERMAN, 1964, p. 269).
Nesse século, nota-se de forma inicial um processo legiferante brasileiro.
Surgiram as primeiras tentativas de regularizar o exercício da arte de curar em todos os seus
ramos, dentre elas a arte da cura dentária. Pórem permaneceu o respeito às ordenações das leis
de Portugal (CUNHA, 1952, p.53).
47
No século XVIII, a Europa, por sua tradição, era considerada o berço da prática
Odontológica, mostrando um grande avanço na fase conhecida como Pré-Cientificista,
desenvolvendo e incentivando os primeiros escritos sobre a ciência de tirar dentes.
Em 1728, na França, o médico Pierre Fauchard (1678-1761) escreveu o livro
“Le Chirurgien Dentiste au Traité des Dents(O Cirurgião Dentista no Tratamento Dentário)
consubstanciando o estudo da área odontológica na tentativa de divulgar técnicas, aparelhos e
conhecimentos necessários para um bom desenvolvimento dessa profissão, e, sendo assim,
conseqüentemente, se tornou uma referência em todo mundo, passando a ser conhecido como
“Pai da Odontologia Moderna” (CUNHA, 1952, p.26) ( LERMAN, 1964, p.270).
No final do século XVIII, tomando como palco o cenário brasileiro, tem-se o
movimento de Independência, no qual não se pode deixar de destacar Joaquim José da Silva
Xavier (1746-1792), um agente importante nesse movimento da política nacional, fato que o
tornou um Mártir também conhecido como Tiradentes, cognome adquirido devido ao seu
ofício que aprendeu com seu padrinho Sebastião Ferreira Leitão, que lhe ensinou a arte de
tirar dentes, além de ajudar na sua alfabetização (CUNHA, 1952, p.59)( LERMAN, 1964, p.
270).
Joaquim José da Silva Xavier é considerado o “Patrono da Odontologia”, pois,
além de ter sido um exímio especialista em tirar os dentes ruins e trocá-los por próteses, foi
um elemento de suma importância no movimento político nacional da Independência. Desta
maneira, nascido na Fazenda do Pombal, entre São José e São João Del Rey MG foi
homenageado, passando a cidade de São José a se chamar, atualmente, Tiradentes. (CUNHA,
1952, p.59) (LERMAN, 1964, p.270).
No dia 17 de junho de 1782 implementou-se a Lei que criou a Real Junta de
Proto-Medicato, composta por sete deputados, médicos ou cirurgiões, que teria vigência de
três anos, na direção da realização de exame para expedição de cartas e licenciamentos e na
48
fiscalização dos praticantes do ofício da arte dentária (CUNHA, 1952, p.71)(LERMAN, 1964,
p.271).
Somente em 23 de maio de 1800, sob os auspícios do “Príncipe Regente Nosso
Senhor”, começou a r em prática o plano de exames para liberação das cartas de licença
para o ofício. Com este fato, iniciou-se um sistema burocrático que determinava regras para
concessão da autorização para profissão de dentista, constando pela primeira vez o vocábulo
dentista, dando origem legal ao ofício da arte dentária como profissão autônoma no Brasil
(CUNHA, 1952, p.72)(LERMAN,1964, p.271).
No século XIX, deve-se destacar o ato de D. João VI, concernente à atuação
dos “profissionais” da área de saúde. No dia 06 de agosto de 1802, ele nomeou, na cidade da
Bahia, José Antonio da Costa Ferreira como comissário da Real Junta do Proto-Medicato.
Esse cirurgião teria a incumbência de fiscalizar os profissionais da área da saúde, verificando
se estavam devidamente documentados com as cartas de autorização ou licenças para o
exercício do ofício seja ele qual for: “barbeiro”, “sangrador”, cirurgiões ou dentista.
Mais tarde, em 1808, a metrópole portuguesa foi invadida pelas tropas
francesas, fato que levou D. João VI, sua Corte e um grande número de pessoas da alta
sociedade de Portugal a fugirem de Lisboa, transferindo-se para a colônia brasileira.
Para Lerman:
Em 1808, con motivo de la invasión napoleónica a la península
emigró la Corte portuguesa a Brasil. El doctor Corrêa Picanço
como Cirujano Mayor del reino, acompañó al regente D. Joao
VI y al instalarse éste en la ciudad de Salvador, en Bahía,
obtuvo se le autorice la fundación de la primera Escula de
Cirugía em Brasil, el 18 de febrero de 1808 ( LERMAN, 1964,
p.271).
Com a chegada da nobreza portuguesa para coabitar as terras coloniais
brasileiras, houve um estímulo ao desenvolvimento na área de saúde, pois seria necessário ter
49
instrumentos para dar atendimento às necessidades da família Real e a seus pares que
passariam a residir em terras brasileiras (CUNHA, 1952, p. 78-79)(LERMAN, 1964, p.271).
Neste período, como demonstrado anteriormente, foi criada, na Bahia, mais
especificamente no hospital de São José, a Escola de cirurgia, com o apoio do Doutor José
Picanço. Este, na qualidade de físico e cirurgião-mor, em nome da Real junta do Proto-
medicato, expediu cartas legalizando a atuação de onze “barbeiros” de Salvador que, apesar
de negros e de fazerem parte da baixa classe social, serviriam para atender à demanda da
região.
Na época em estudo, ocorriam no Brasil inúmeras queixas contra os
profissionais da saúde, devido a problemas como traumatismos dentários, hemorragias,
infecções causados e, às vezes, até morte dos pacientes, fator que levou a uma tentativa de
regulamentar e fiscalizar os ofícios, principalmente com a chegada da família Real no Rio de
Janeiro, aos 07 dias de março de 1808.
Com a presença do cirurgião-mor, começou a legalização da prática da arte de
curar, licenciando os profissionais da Corte portuguesa e, a partir de então, tentou-se estender
a fiscalização por todo território; entretanto, devido à sua imensidão territorial, era dificultado
o controle, tornando as ordenações Reais, na maioria das vezes, em letra “morta”.
Deve-se destacar, ainda, a presença do francês Jean Baptiste Debret (1768-
1848), no campo artístico brasileiro. Ao morar no Brasil, durante o período de 1816-1831, o
artista esboçou em sua obra de arte retratos do Brasil colonial. E, em sua gravura intitulada
“Boutique de Barbier”, conseguiu detalhar uma barbearia que fora representada por uma casa
simples com uma placa divulgando: Barbeiro, Cabellereiro, Sangrador, Dentista e Deitão de
Bixas”, mostrando os serviços oferecidos pela aquela barbearia (DEBRET, 1978, p. 212).
50
FIGURA II. Foto “Boutique de Barbier” copiada do livro de Jean Baptiste Debret. Viagem pitoresca e histórica
ao Brasil. Tomo I. Vol. I. Editora da Universidade de São Paulo. 1978, p.212.
Segundo Debret:
No Rio de Janeiro como em Lisboa as lojas de barbeiros,
copiadas das espanholas, apresentam naturalmente o mesmo
arranjo interior e o mesmo aspecto com a única diferença de
que o oficial de barbeiro no Brasil é quase sempre negro ou pelo
menos mulato. Esse contraste chocante para o europeu não
impede ao habitante do Rio de entrar com confiança numa
dessas lojas, certo de encontrar numa mesma pessoa um
barbeiro hábil, um cabeleireiro exímio, um cirurgião
9
familiarizado com o bisturi e um destro aplicador de
sanguessugas. Dono de mil talentos, ele tanto é capaz de
consertar a malha escapada de uma meia de seda, como de
executar, no violão ou na clarineta, valsas e contradanças
francesas, em verdade arranjadas a seu jeito.[...] Desenho aqui a
hora calma, de quatro às cinco, que precede o delicioso passeio
da tarde. Um vizinho do barbeiro, negligentemente largado
9
O cirurgião era um sangrador” e colocador de sanguessugas. Entretanto, nessa época, a profissão estava
regulamentada. As atas seiscentistas de S. Paulo referem-se mais de uma vez ao regulamento e à exigência de
“cartas de exame”. A observação de Debret revela, portanto, a permanência de certos costumes mais ou menos
clandestinos (Nota do Tradutor) (DEBRET, 1978, p. 212).
51
perto da janela com um leque chinês numa das mãos, deixa a
outra para fora entregue à agradável sensação do ar fresco.
Recém-acordado e com o estômago cheio de água fresca, olha
com indiferença o tabuleiro de doces que lhe apresenta uma
jovem negra, à qual por desafio faz algumas perguntas sobre
seus senhores. Mas logo aborrecido dessa distração inútil,
manda-a embora com esta frase de pouco caso: vai-te embora,
expressão grosseira empregada em todos os tons, desde o mais
amistoso até o mais injurioso. Essa solução destrói as
esperanças da vendedora, bem como do pequeno cão que
aguarda humildemente um pedaço de doce (DEBRET, 1978,
p.212).
A partir de 07 de outubro de 1809, o cirurgião-mor, juntamente com o sico-
mor, com o auxílio dos delegados e subdelegados, tomou frente às responsabilidades
profissionais da saúde, abolindo a Real Junta do Proto-Medicato (CUNHA, 1952, p.88)
(LERMAN, 1964, p.271).
Depois da instalação do Reino no Brasil, tem-se a expedição, em 1811, da
primeira carta de dentista, que atribuía ao seu portador o direito de exercer a profissão de
arrancar dentes. Porém, não era exigido nenhum conhecimento científico e tampouco saber ler
ou escrever: para estar legalizado bastava ter uma licença do cirurgião-mor para realizar
operações cirúrgicas e/ou uma autorização do físico-mor para realização de curativos nos
dentes. Desta sorte, pode-se presumir que o “Plano de estudo de cirurgia” estabelecido como
lei no Governo de D. João VI, que tentava dar diretrizes para o ensino e a prática da cirurgia
no Brasil, não saiu do papel (CUNHA, 1952, p.89).
Na tentativa de suplantar suas próprias necessidades no âmbito da saúde, a
Corte portuguesa procurou, neste período, estimular a vinda de profissionais de maior
experiência para o Brasil. Foi então que, em 1819, o francês Doutor Eugênio Frederico
Guertin, sediado aqui e atendendo à nobreza, resolveu publicar, talvez, a primeira obra de
Odontologia realizada em território brasileiro “Avisos Tendentes à Conservação dos dentes e
sua Substituição”. Como conseqüência do seu bom desempenho na profissão, foi premiado
52
pelo cirurgião-mor Doutor José Correa Picanço, com a primeira carta de um dentista mais
evoluído (CUNHA, 1952, p.97).
Após alguns anos, especificamente em 1 de junho de 1824, depois da
“Independência do Brasil”, Gregório Raphael Silva auferiu a primeira carta de autorização
expedida após a “libertação” da colônia (CUNHA, 1952, p.105).
Em 30 de agosto de 1828, passou para as mãos das Câmeras Municipais e
Juntas Ordinárias as atribuições que, aentão, eram exercidas pelo cirurgião-mor e este teve
seu cargo extinto neste dia, por D. Pedro I (CUNHA, 1952, p.107) (LERMAN, 1964, p. 273).
Nos anos de 1840, iniciou-se a migração de alguns dentistas norte americanos
para o Brasil, trazendo algumas novas técnicas; dentre elas, pode-se citar o uso do
clorofórmio como anestesia em casos especiais, avanços que mais tarde, em 1849, serviriam
de subsídios para Clintin Van Tuyl publicar sua obra: “Guia dos dentes Sãos” (CUNHA,
1952, p.128) (LERMAN, 1964, p.271).
Na tentativa de melhorar as condições de atendimento na área médica,
instituiu-se o Decreto Lei 598, que determinava o incentivo ao desenvolvimento do ensino e a
utilização de práticas saneadoras para viabilizar avanço nas condições de atendimento.
Um dos importantes idealizadores do desenvolvimento da Odontologia foi João
Borges Diniz, que, em setembro de 1869, publicou a primeira revista odontológica, chamada
“Arte dentária”, divulgando novas técnicas e instrumentos em uso nos Estados Unidos e no
mundo.
Com a regularização dos requisitos necessários para aprovação em Faculdades
de Medicina, o Decreto Lei 8024 de 12 de março de 1881 determinava, em seu artigo 94, que:
Os cirurgiões-dentistas que quiserem se habilitar para o
exercício de sua profissão passarão por duas séries de exames:
O primeiro de anatomia, histologia e higiene, em suas
aplicações à arte dentária, e o outro de operações e próteses
dentárias.
53
Em 28 de fevereiro de 1880, Visconde de Sabóia, ou melhor, Vicente Cândido
F. Sabóia, foi nomeado diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e com a ajuda
financeira corroborada pela lei 3141, de outubro de 1882, conseguiu trazer instrumentos e
materiais dos Estados Unidos para aprimorar a atuação dos dentistas, principalmente acerca
da especialidade de prótese dentária (CUNHA, 1952, p.149) (LERMAN, 1964, p.277).
Thomas Gomes dos Santos Filho, juntamente com Visconde Sabóia,
elaboraram a chamada “Reforma Sabóia”. Ela consistia em um texto direcionado para os
estatutos das Faculdades de Medicina do Império, estabelecendo, pela primeira vez, a
Odontologia como um curso anexo (CUNHA, 1952, p.157).
Desta maneira, a partir do dia 25 de outubro de 1884, D. Pedro II, com o
decreto 9311, determinou que as Faculdades Imperiais de Medicina de Salvador e do Rio de
Janeiro contariam com um Curso de Ciências Médicas e Cirurgias e de outros três cursos
anexos, o de Odontologia, o de Farmácia e o de Obstetrícia e Ginecologia .
D. Pedro II, ao sancionar o Decreto Lei 9311, determinando a criação do curso
de Odontologia na Faculdade do Rio de Janeiro, deu subsídios para que mais tarde fosse
escolhido o dia 25 de outubro como o “Dia do Cirurgião-Dentista”.
A Faculdade de Odontologia do Rio de Janeiro teve como importantes
colaboradores os professores Thomas Gomes dos Santos Filho, Aristides Benício de e
Antônio Gonçalves Pereira da Silva na divulgação e na consolidação do processo ensino
aprendizagem odontológico.
Neste período, se podia observar a presença de uma representante da classe
feminina, Isabela Von Sidow, natural de Cananéia, São Paulo. Ela foi a primeira mulher a
adquirir o título de dentista e formou-se pela Faculdade do Rio de Janeiro (CUNHA, 1952. p.
218-219).
54
São Paulo veio a ter sua Faculdade de Odontologia no dia 07 de dezembro
de 1890, que foi conhecida no início como “Escola de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia de
São Paulo”. Neste período, os estatutos desta faculdade determinavam que a estrutura do
curso seria dividida em três séries:
série: Física, Química Mineral, Anatomia Descritiva e Topografia da
Cabeça;
série: Histologia Dentária, Fisiologia Dentária, Patologia Dentária e Higiene
da Boca;
3º série: Terapêutica Dentária, Cirurgia e Próteses Dentárias (p. 161-162).
Pode-se afirmar que o currículo acima, apesar de baseado e inspirado no
modelo francês, era acanhado e restritivo para sua época; entretanto, poderia, com o passar do
tempo, ser aprimorado, visto que permitia a inscrição tanto de homens quanto de mulheres,
tendo como requisito para o ingresso dos candidatos basicamente a aprovação a priori nas
disciplinas de Português, Francês, Inglês, Aritmética e Geometria. Quando o estudante era
aprovado em todas as disciplinas das três séries recebia, ao final do curso, o diploma de
cirurgião-dentista.
Contudo, esse currículo não teve grande duração. Logo após a Proclamação da
República, em 15 de novembro de 1889, ocorreu a promulgação da Constituição Federal de
1891, que estabeleceria novos rumos e novas reformas na realidade da educação brasileira.
A Reforma de 1911, também conhecida como Reforma Rivadávia, estabelecida
pelo Decreto 8.661, de 5 de abril, baixado pelo Presidente Marechal Hermes da Fonseca e
endossado pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores Rivadávia da Cunha Correia, dava
continuidade à duração de dois anos e regulava as Faculdades de Medicinas Oficiais. Neste
mesmo período, foi aprovado a Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental da
República.
55
Com do Decreto 1.731, de 28 de agosto de 1911, algumas Escolas de
Odontologia que estavam em funcionamento no país foram niveladas e equiparadas às
Faculdades Oficiais, a Escola de Farmácia, Odontologia e Obstetrícia de São Paulo e a Escola
Livre de Odontologia do Rio de Janeiro e a Escola de Odontologia e de Farmácia do Instituto
Gramberv, situada em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Com a “Revolução” de 1930, houve uma atribuição ao Congresso Nacional,
delegando-lhe a necessidade de criar Instituições de Ensino Superior e Secundário nos
Estados; porém, segundo rezava os artigos desta Carta Magna de 1891, não era prerrogativa e
nem competência privativa do Senado e da Câmara dos Deputados.
Em 1915, desenvolveu-se a Reforma Carlos Maximiliano, uma Lei
orçamentária programada para entrar em vigência no ano seguinte, aumentando o tempo
mínimo para conclusão de Curso para três anos, com três séries letivas e de cunho obrigatório
de forma uniforme para as faculdades Estaduais ou Livres. Decreto 11530, de março de 1915,
sancionado pelo Presidente Wenceslau Braz Pereira Gomes e referendado pelo Ministro da
Justiça e Negócios Interiores Carlos Maximiliano Pereira dos Santos.
Neste período, tramitava no congresso uma proposta de aumentar para quatro
anos o período mínimo necessário para obtenção do título de Dentista; porém, após ter
passado pela apreciação do Senado e da Câmara de Deputados, o Presidente Delfim Moreira
vetou tal projeto.
Alguns anos mais tarde, em 29 de outubro de 1919, o Presidente Epitácio da
Silva Pessoa decretou a transformação do curso anexo de Odontologia da Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro em faculdade, porém, sem torná-la autônoma, visto a escassez de
verbas para criar um órgão independente; contudo, iniciou-se com a proposta de um currículo
mínimo para ser efetuado em quatro anos.
56
Durante a presidência de Artur Bernardes da Silva, no dia 13 de janeiro de
1925, ele, juntamente com o Ministro de Estado e Justiça e Negócios Interiores, João Luiz
Alves, com o Decreto 16.782-A, tentaram reformar o ensino de Odontologia no país. Com o
apoio do Professor Juvenil da Rocha Vaz tentou-se, mais uma vez, criar uma faculdade
autônoma; porém, o Curso de Odontologia continuou funcionando em anexo às faculdades de
Medicina.
A Reforma Rocha Vaz previa a exigência de preparatórios integrais e exame
vestibular para os cursos de Medicina, Odontologia e Farmácia, estabelecendo cadeiras
privativas do Curso de Odontologia para professores (de Metalurgia e Química aplicada,
Técnica Odontológica, Patologia e Clínica Odontológica, Prótese e de Ortodontia e Prótese
dos Maxilares) que deveriam ser preenchidas por concurso e ministradas por cirurgiões
dentistas.
No interstício de 1931 a 1933, o Decreto 20.862, de 28 de dezembro de
1931, regulou o exercício da Odontologia pelos profissionais não graduados, também
conhecidos como dentistas práticos. O Governo Federal tentou solucionar o problema,
estabelecendo a necessidade de um “exame de licenciamento” e delimitando o local do
exercício profissional, que deveria ser o município do atendente odontológico.
O Decreto 39 de 03 de setembro de 1934, aprovou o Estatuto da
Universidade de São Paulo, já na reorganização pós-revolução de 1932, sendo que o curso era
ministrado pelo período de três anos.
A Universidade de Minas Gerais obteve a aprovação dos seus estatutos
somente em 1935, sendo legalizado pelo Decreto 2167, de 16 de maio desse ano,
estabelecendo que a Faculdade de Farmácia e Odontologia seria parte da mesma Universidade
e que, a partir desse momento, seria exigido o certificado do curso secundário fundamental e
do curso secundário complementar de adaptação para a efetivação da matrícula.
57
Sob a liderança do Presidente da República, Getúlio Vargas, juntamente com o
Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema, houve a criação de várias escolas isoladas
de Odontologia, algumas criadas e/ou mantidas por Governos Estaduais, outras pela iniciativa
privada e, dentre elas, um considerável número era construído conjuntamente com as
Faculdades de Farmácia. O Poder Executivo tentou exercer seu poder disciplinar, exigindo
dos alunos, em alguns casos, a validação de seus cursos em Escolas ditas Oficiais.
No final deste período, o Governo da União havia reconhecido dezenove
cursos de Odontologia em todo Brasil; a partir desse instante, o número de Faculdades
começou a se multiplicar.
Em 17 de janeiro de 1951, com a Lei 1.314, estabeleceu-se a regulamentação
do exercício da atividade odontológica em todo território brasileiro. Assim, pela primeira vez
na história, tem-se uma lei exclusiva para tratar de matéria concernente à Odontologia,
clareando os direitos e deveres dos cirurgiões dentista.
A Lei 1.314, de 1951, tentou definir as condições necessárias para a prática da
Odontologia, dentre elas as que seriam os requisitos para revalidação de diplomas de pessoas
formadas por faculdades no exterior. Em outras palavras, procurava-se regulamentar quem
poderia exercer a Odontologia, quais as penas que seriam aplicadas no caso do exercício
ilegal da profissão, quais eram os direitos dos dentistas e quais intervenções um cirurgião-
dentista devidamente legalizado poderia exercer, ou seja, determinou de forma genérica qual
era a competência do odontólogo. Porém, deve-se destacar que tal regulamento não foi
suficiente para coibir as práticas desautorizadas exercidas por pessoas não qualificadas.
Desta sorte, com as transformações históricas compreendida entre 1930 e 1964,
pode-se apreender que vários foram os aspectos influenciadores do progresso no ensino e no
exercício da atividade odontológica: ocorreu tanto um progresso social quanto científico,
tecnológico, educacional e até mesmo dos diplomas legais.
58
No decorrer do tempo, de “cursos anexos” passou-se para “Escolas” ou
faculdades incorporadas pelas Faculdades de Medicina, chegando, por fim, às faculdades
autônomas do ensino de Odontologia. Foram criadas muitas Escolas Federais, Estaduais ou
até mesmo Privadas, em todo território brasileiro.
Em 1956, estatuiu-se a Lei 3.062, de 22 de dezembro, desmembrando o antigo
Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia e criando o Serviço Nacional de
Fiscalização da Odontologia, no Ministério da Saúde. A partir desse período, o Conselho
Federal de Educação, com o parecer 299, por meio do seu Relator, o Conselheiro Clovis
Salgado, aprovou em 11 de novembro de 1962, com vigência a partir de 1963, a duração
mínima de quatro anos e as matérias necessárias para expedição do diploma de cirurgião
dentista, impondo, ainda, a obrigatoriedade de estágios e práticas odontológicas.
Com a Lei 3.062/56, ficou determinada a duração mínima de quatro anos e o
mínimo de 3.240 horas-aula para o Curso. Dividiu-se didaticamente em dois ciclos:
primeiramente o básico, que contava com as disciplinas de Anatomia, Histologia,
Embriologia, Fisiologia, Microbiologia, Patologia Geral e Buco-dental, Farmacologia,
Materiais dentários e Dentística Operatória, para então, finalmente, partir para o ciclo
profissional sendo ministradas aulas de Clínica Odontológica, Cirurgia Odontológica, Prótese
Dentária, Prótese Buco-Maxilo-Facial, Ortodontia, Odontopediatria, Higiene, Odontologia
Preventiva, Odontologia Legal e Deontologia. De acordo com o relato anterior, a partir desse
momento, os estágios e aulas práticas eram obrigatórias.
Com o advento da Lei 4.324, de 14 de abril de 1964, tem-se a formação dos
Conselhos Federal e Regional de Odontologia. Ficaram esses Conselhos responsáveis pela
discriminação das competências da classe dos dentistas e também com a missão de
fiscalizar/disciplinar e penalizar, quando necessário, a conduta dos cirurgiões dentistas.
59
Em 1966, foi sancionada a lei 5.081, que está vigente atualmente, que regula o
exercício da Odontologia em todo território nacional, definindo as condições mínimas
exigidas para o exercício da profissão, estabelecendo várias normas, dentre elas algumas
específicas para a revalidação de diplomados no exterior que desejarem atuar em solo
brasileiro.
O Conselho Federal de Educação teve duas ingerências na estrutura curricular
odontológica; a primeira, em 1970 e, a segunda, em 1982, e permanece vigente até os dias
atuais. Tais interferências foram no sentido de determinar uma reforma do ensino, adequando
os currículos às disposições legais vigentes, estabelecendo a competência do cirurgião
dentista e as necessidades dele se adaptar ao desenvolvimento técnico/científico da profissão
Odontológica.
Então, devido a essas ingerências, o currículo nimo obrigatório do Curso, a
partir de de janeiro de 1971, ficou dividido em dois tópicos: as matérias básicas e as
matérias profissionais. As disciplinas iniciais eram compostas pela Biologia, dentro dela a
Genética, a Citologia e a Evolução; as Ciências Morfológicas que se subdividiam em
Anatomia, Histologia e Embriologia; as Ciências Fisiológicas, compreendendo a Fisiologia, a
Bioquímica e a Farmacologia e, por fim, no ciclo básico era apresentada a Patologia. As
matérias profissionais ficaram divididas em quatro grandes grupos: Patologia e Clínica
Odontológica, Odontologia Social e Preventiva, Odontopediatria e, por último, Odontologia
Restauradora.
A carga horária mínima de 3.240 horas-aula seria finalizada no mínimo de três
anos e no máximo de cinco. Porém, deve-se ressaltar que essa carga horária, já extensa para o
curto espaço de tempo para conclusão do curso, não incluía a prática de Educação Física e o
desenvolvimento do Estudo de Problemas Brasileiros.
60
Em julho de 1982, com o desenvolvimento de estudos para confecção de um
currículo adequado às necessidades da sociedade brasileira, o Conselheiro João Paulo do Vale
Mendes, com o Parecer 370 - CFE, conseguiu instituir a Resolução 4-CFE, de 03 de
setembro de 1982, que legalizou as diretrizes da nova estrutura curricular mínima.
O currículo mínimo, atualmente, conta com matérias básicas, tais como:
Ciências Morfológicas, Ciências Fisiológicas, Ciências Patológicas e Ciências Sociais, e um
grupo de cinco matérias, fazendo parte da parte de disciplinas profissionais: Propedêutica
Clínica, Clínica Odontológica, Clínica Odontopediátrica, Odontologia Social e, finalmente,
Clínica Integrada.
Nota-se, portanto, que durante esse breve histórico da Odontologia no Brasil,
pode-se observar que a nação brasileira, juntamente com outros paises, recebeu uma forte
influência francesa tanto na área historiográfica como no desenvolvimento da Odontologia.
Conforme demonstrado anteriormente, ficou evidente a participação de
importantes atores franceses atuando de forma incisiva na história da Odontologia; dentre
eles: Fauchard destacando-se como o pai da Odontologia Moderna; Debret, nas artes, e o Dr.
Eugênio Frederico, francês idealizador da primeira Obra produzida totalmente em território
nacional.
Algumas representações forjadas naquela época ainda permeiam o cenário
nacional, como, por exemplo, a criação do curso anexo de Odontologia por D. Pedro II, no dia
25 de outubro de 1884, que estabeleceu um marco importante para a Odontologia brasileira.
Sendo assim, essa data foi escolhida para ser a comemoração do Dia do Cirurgião Dentista no
Brasil.
Pode-se analisar que os anos necessários para a conclusão do Curso de
Odontologia foram aumentando com a evolução da profissão e suas exigências legais, pois era
de dois anos, passando para três e, finalmente, chegando a quatro anos, demonstrando a
61
necessidade maior de tempo, para cumprir o desenvolvimento técnico-científico do aluno,
tornando-se um dos requisitos mínimos para conclusão do Curso de Odontologia.
Percebe-se a existência, desde os primórdios da Odontologia brasileira, de uma
preocupação com a regularização da profissão, evitando-se problemas com os dentistas
práticos. Porém, como foi observado, ocorreu uma dificuldade de fazer cumprir as
determinações legais devido à imensidão do território brasileiro, ficando as Leis, às vezes
como “letra morta”. Essa preocupação com os práticos, também esteve presente durante o
processo de criação da FOU, o que será abordado nos próximos capítulos.
Desta maneira, é possível afirmar que as representações sociais descritas nesse
intróito histórico interferiram e influíram no processo de idealização/construção e
concretização da Faculdade de Odontologia, seja por meio das determinações legais, seja pelo
estabelecimento de datas comemorativas ou fixando grade curricular mínima dentre outras.
No próximo tópico, analisar-se as políticas de Ensino Superior no Brasil,
ressaltando-se as características presentes no cenário nacional, as quais influenciaram na
construção das Faculdades isoladas de Uberlândia, e, de forma especial, na gênese da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
62
1.3. Políticas de Ensino Superior no Brasil (1964-1985)
Importante se faz destacar algumas características relevantes da atuação dos
governantes em relação à educação durante o período estudado, em seus variados aspectos e
espectros, para melhor compreender o cenário nacional, construindo, desta forma, um
panorama geral da educação brasileira, pois assim, poder-se-á analisar as singularidades
presentes na gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia e também estabelecer as suas
identidades com o contexto do programa nacional de educação.
Para entender a ação legal do Estado no período militar acerca da educação,
desrespeitando os princípios importantes contidos na reforma educacional proposta pelo
próprio Regime Militar, necessário se faz entender as intenções contidas nas metas que eram
indicadas no planejamento ditatorial, referentes à educação em seus diferentes níveis.
Realmente, era necessária uma atuação começando pelos níveis básicos de
educação, buscando a universalização e a ampliação da escolarização obrigatória no primeiro
grau, juntamente com a melhoria na qualidade do ensino profissionalizante no segundo grau,
pois segundo Kramer (1982, p.71) e Patto (1991, p. 64) existia significativas evasão e
repetência como resultados dos processos de alfabetização adotados em escolas públicas, a
dificuldade de acesso e o fato das instituições priorizarem a valorização do uso da escrita,
incrementavam a evasão e o alto índice de alunos repetentes, interferindo na configuração da
“pirâmide escolar”.
10
Para Azanha (1992. p.116), os estudos realizados sob o período de 1964-1985
baseavam-se em modelos historiográficos genéricos que “serviriam” ou “enquadrariam” para
qualquer local ou região do Brasil; este modelo foi por ele denominado de “abstracionismo
10
Na Pirâmide escolar a base seria formada pelos alunos dos cursos básicos, ou seja, ensino
primário/fundamental, a parte intermediária seria constituída pelos alunos do curso profissionalizante e do ensino
médio, e por fim, no ápice da Pirâmide estariam os alunos que conseguiriam chegar ao 3º Grau e ao final de todo
processo educativo conseguissem o Diploma Universitário.
63
pedagógico”, as observações e análises de casos concretos foram substituídas por modelos
genéricos, ou seja, não procuravam dar ênfase às singularidades e particularidades de cada
cidade. Tentou-se, nesse estudo, fugir desse padrão genérico, tentando evidenciar as
especificidades da Instituição analisada ao realizar a historiografia da gênese da Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia.
Como exposto anteriormente, de acordo com um dos teóricos adotados pelo
pesquisador, Justino Magalhães, recomenda-se, para analisar os fatos concernentes à política
educacional, valer-se da multidimensionalidade carreada pela interdisciplinaridade,
compreendendo e construindo os sentidos desses fatos históricos.
Para compreender a política educacional brasileira nos anos de 1964-1985, sob
o ponto de vista interpretativo, deve-se aceitar que o período pós 1964 foi analisado por
diversas vezes sob um viés aparentemente monolítico, apesar da existência de crises, conflitos
sociais e algumas tentativas de se resolver os problemas de alfabetização e dos demais níveis
de escolarização da população, por meio da legislação e dos planos educacionais divulgados,
porém, não implementados pelo Estado Militar.
Alguns historiadores apresentavam essa característica monolítica, dentre eles:
Ribeiro (1992), Germano (1993) e Romanelli (1995). De acordo com estas análises, o Estado
Militar, após 1964, direcionou o desenvolvimento econômico brasileiro, consubstanciando um
processo excludente sob o domínio do capital internacional. Inúmeras medidas foram tomadas
para aumentar a industrialização e a modernização, visto que o Estado Militar juntamente com
a classe empresarial consolidaram seus objetivos, aumentando a exclusão social e as
desigualdades.
Os militares adotaram a coerção e a cooptação como meio de manter a
dominação, desmobilizando e desmantelando os movimentos que contrariassem o novo
regime. Lemme (1992, p.121) interpretou o golpe militar de 1964 como um período trágico,
64
pois houve perseguições, repressões, prisões e tortura em todo território nacional, seguidas
por combate violento a qualquer pessoa que lutasse contra o Regime e/ou por uma melhora
quantitativa e qualitativa nas oportunidades de ensino, educação e cultura para o povo
brasileiro.
Com a decretação do Ato Institucional 5, sucederam-se várias violações à
Constituição Federal e aos direitos e garantias individuais e coletivas até então resguardados
por ela, acontecimentos que aterrorizaram um elevado número de pessoas, desencadeando na
“evasão de cérebros”, nome pelo qual ficou conhecido o movimento de fuga de intelectuais e
brasileiros que faziam parte dos mais de 10.000 exilados pelo Regime Ditatorial.
Para Fazenda (1985, p.122), o Governo Militar estabeleceu que o sistema
educacional deveria ser subordinado ao sistema ocupacional, visto que para o Regime Militar
a educação serviria para transformar o cidadão em operário, tornando-o apto para trabalhar na
indústria em desenvolvimento e concomitantemente serviria como consumidor, valendo-se da
Teoria do Capital Humano para colocar a educação a serviço das grandes indústrias.
Sob esse viés, o indivíduo era visualizado como parte do capital, implicando
converter recurso humano para o âmbito educacional. Na realidade, primava-se pelo controle
político/representativo da educação escolar e um estabelecimento de uma educação
continuada capaz de viabilizar uma reciclagem da massa de trabalhadores de maneira veloz e
intermitente, para atender a demanda da indústria.
Segundo Romanelli (1995, p.196), a educação nesse período pós 1964 passou
por dois momentos: primeiramente, iniciou-se com a imposição das diretrizes para
recuperação econômica, baseando-se o Regime Militar em declarações de luta pela
democracia e pelo desenvolvimento nacional; contudo, ao mesmo tempo, utilizava a coerção e
a repressão para tentar dizimar os opositores, na tentativa de consolidar-se no poder.
65
Foi neste primeiro momento que foram realizados os “Acordos MEC/USAID”,
convênios feitos pelo MEC, passando a reorganização do sistema educacional brasileiro aos
técnicos da Agency for International Development AID. Fato que tornou evidentes a força e
a ingerência do capital internacional na educação brasileira.
No segundo momento, coube ao Regime Militar implementar medidas para
tentar abrandar a demanda de mão-de-obra pela indústria crescente, e a requisição de aumento
de número de vagas no ensino por parte da população que, além de ter tido um aumento na
taxa demográfica, intensificava o movimento de pessoas em busca de uma inclusão social.
O Estado Militar valendo-se da tentativa de cooptação dessas categorias
viabilizava, pelo menos no discurso, a concessão de algumas reivindicações feitas por elas,
tentando amenizar as tensões e manter-se no poder.
Para Germano (1993, p.133), o período de 1964 a 1985 pode ser dividido em
duas tendências nas políticas educacionais. Primeiramente, houve uma tendência tecnicista, na
qual se utilizou a repressão com respaldo legal, utilizando-se dos Atos Institucionais, os quais,
como descritos anteriormente, feriam os princípios estabelecidos na Carta Magna, visto que o
planejamento educacional nasceu como prioridade na concretização da competência,
estabelecendo-se os meios para se alcançar os fins de ordem e progresso, em outras palavras,
para se concretizar a política militar desenvolvimentista.
Posteriormente, GERMANO (1993, p.133) retrata uma tendência
compensatória, apresentando uma opção política para resolver o problema da deficiência e do
atraso cultural, caracterizando esse momento como uma tentativa de “dividir” de forma mais
“isonômica” os conhecimentos e desenvolvimentos escolares, profissionais, sociais e
econômicos. Era mister obter uma mão-de-obra com qualificação para atender ao mercado de
trabalho, transmitindo valores que incentivassem a busca por uma sociedade onde as pessoas
tivessem maior integração, queria inculcar no cidadão brasileiro a convicção de que o trabalho
66
é capaz de dignificar e incluir o homem na sociedade, porém, para isso o indivíduo deveria ser
qualificado para merecer tal inclusão.
Esse autor demonstra o menosprezo das autoridades públicas para com a
educação tentando camuflar os problemas presentes no setor educativo brasileiro. Apesar das
justificativas de ordem moral baseadas na conservação dos valores cristãos e da declarada
“vontade” de diminuir as desigualdades sociais, a política educacional caminhou em sentido
contrário ao discurso, ou seja, na realidade ocorreu a perseverança de uma estrutura
mantenedora das desigualdades sociais a serviço do grande capital. Resumindo, o sistema
ocupacional estava subordinando e determinando como deveria funcionar o sistema de
educação brasileiro.
Algumas estratégias foram apresentadas pelo Governo, tais como: cursos de
aprendizagem de curta duração para suprir a carência da indústria e compensar a política
educacional que legitimava a exclusão social. Para amenizar as crises do setor da educação e
escamotear os problemas, propunha-se a universalização e a ampliação do número de vagas
nas escolas; porém, observava-se o inverso, uma política economicista subordinando o
sistema educacional, minguando os incentivos financeiros destinados às escolas e
universidades públicas agravando a exclusão e aumentando a quantidade dos estudantes
chamados “excedentes”.
O grande número de trabalhadores sem qualificação reforçava o índice de
pessoas que faziam parte do “exército de reserva”, trabalhadores sem instrução que ficavam à
mercê das determinações do capital, ou seja, se submetiam a receber baixos salários pela
grande dificuldade de conseguir um emprego.
Verificou-se a falta de compromisso com a educação pública de várias formas,
pois, nesse período, o Governo optou por assumir a dívida externa privada, desviando
67
conseqüentemente uma soma considerável de verbas que poderiam ser destinadas a uma
reestruturação do sistema educacional brasileiro.
Tentavam-se soluções em curto prazo, apesar de visualizar a urgência de
investimentos para adequar a educação à política desenvolvimentista do país. Nota-se que o
Regime Militar atuou no sentido de tentar incentivar a privatização do ensino em detrimento
da educação pública, pois inúmeros “incentivos”, prerrogativas e regalias eram dadas ao setor
privado, tornando a educação um negócio de boa rentabilidade para os empresários do ensino.
Ocorreu a manutenção do sistema dual de educação: o ensino fundamental e
profissionalizante ficavam direcionados para as categorias menos favorecidas, enquanto que o
ensino secundário e as universidades receberiam alunos, na maioria, pertencentes à classe
média, que visualizavam o ensino superior como um caminho direto para ascensão social e
que poderiam prescindir do ingresso prematuro no mercado de trabalho.
A legislação positivada vigente, ou seja, as leis impostas nesse período foram
senão a oficialização dos interesses das categorias dominantes que, juntamente com o capital
internacional, mantinham práticas mantenedoras das desigualdades sociais a serviço da
minoria detentora do poder.
O Estado Militar imprimiu marcas profundas no sistema educacional do Brasil,
interferindo sobremaneira na sociedade brasileira por meio do Regime Ditatorial e sua política
educacional de interiorização do Ensino Superior.
Em consonância a essa tendência adotada pelos militares de expansão das
Escolas de terceiro grau para as cidades interioranas, teve-se o surgimento das primeiras
faculdades isoladas em Uberlândia e, dentre elas, a criação da Faculdade de Odontologia.
Sendo assim, o processo do surgimento do Ensino Superior em Uberlândia será analisado no
tópico a seguir.
68
1.4. Surgimento do Ensino Superior em Uberlândia: das faculdades
isoladas à federalização e à institucionalização da UFU
Para se interpretar e compreender a formação da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia deve-se, preliminarmente, observar como foi o surgimento do Ensino Superior
nessa cidade, tentando analisar quando e como a Escola de Odontologia se concretizou em
uma Faculdade isolada, ressaltando-se, posteriormente, os dois principais momentos: o de sua
inserção, em 1972, na Universidade de Uberlândia (UnU) e de seu ingresso como Curso para
o âmbito da Universidade Federal de Uberlândia com a federalização, em 1978.
O Ensino Superior, em Uberlândia, originou-se por meio da instituição de
faculdades isoladas, fato que precedeu a formação da atual Universidade Federal de
Uberlândia, da qual hoje faz parte a Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Em meados da década de 1950, pode-se constatar a existência de alguns
movimentos que buscavam a conquista e a implementação de escolas de Ensino Superior em
Uberlândia, para atender à demanda de um público que almejava cursar a universidade.
A construção da UFU passou por um processo marcado por várias etapas,
iniciando-se com a formação de faculdades isoladas, tais como: Música (1957), Filosofia,
Ciências e Letras de Uberlândia (1959), Direito (1959), Economia (1966), e, em um segundo
momento, logo após a criação da Universidade de Uberlândia UnU (1969), o curso de
engenharia, criado em 1961, e que passou a integrar essa instituição em 1971 e, finalmente,
com a federalização, em 1978, tem-se como resultado a constituição da atual Universidade
Federal de Uberlândia (GOMES et al, 2003, p.15).
Como exposto no intróito desse tópico, para se interpretar a gênese da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia de forma congruente, é necessário voltar alguns
anos atrás ao período recortado, para somar subsídios e conhecer acontecimentos que
69
interferiram e colaboraram para a o futuro da idealização e de construção dessa Escola de
Ensino Superior.
Segundo Gomes et al:
Por volta dos anos 20 a 60, Uberlândia tinha um grande
índice de crescimento e desenvolvimento em relação às cidades
da região, tornando-se uma referência para as mesmas.
Entretanto, do ponto de vista educacional, ainda deixava muito
a desejar, sobretudo no que tange ao ensino de grau. No
aspecto cultural, destacavam-se o Ginásio Mineiro, atual Escola
Estadual de Uberlândia, o Colégio Brasil Central, o Liceu de
Uberlândia e, posteriormente, o Colégio das Irmãs de Jesus
Crucificado, instituições promotoras de atividades ligadas às
letras e artes em geral (GOMES et al, 2003, p.15).
No ano de 1930, era possível perceber a presença de um sentimento de
ufanismo em relação à cidade de Uberlândia, observando-se um movimento das categorias
abastadas junto à sociedade política, intervindo de forma determinante para a criação de
Escolas de Ensino Superior.
As faculdades isoladas de Uberlândia foram construídas em consonância com o
projeto de modernidade e desenvolvimento almejado pelas categorias dominantes locais,
detentoras do poder local. Nessa época, tal categoria era composta por um seleto grupo
possuidor de poder político, econômico e influência na cidade.
Com o apoio e a requisição de um pequeno grupo de intelectuais, os quais se
preocupavam com o desenvolvimento cultural da cidade, nasceu a vontade/necessidade de
criar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, fato que se concretizou em outubro de 1959,
podendo ser verificado nos Estatutos do Instituto Social de Instrução. Desta forma, estava se
consolidando a efetivação da primeira Faculdade, que iniciou seus trabalhos em 1960.
Em dezembro de 1960, devido à participação de políticos e aos grandes
esforços e capacidade de negociação do idealizador/fundador, professor Jacy de Assis, foi
permitido o funcionamento da Faculdade de Direito de Uberlândia. O contexto desse
70
momento era caracterizado por faculdades isoladas, as quais procuravam formar professores,
pois, nesse período, observou-se uma transformação no quadro das universidades brasileiras,
que se multiplicaram e cresceram.
Vários fatores influenciaram no incremento da quantidade de faculdades,
dentre eles, pode-se afirmar que um deles foi gerado, também, pela crescente demanda por
matrículas nas Faculdades. No final dos anos da década de 1960, ocorreu um aumento
numérico nessa demanda por vagas, pois vários integrantes, principalmente, pessoas das
categorias média e média baixa, batiam às portas das universidades, gerando uma pressão para
que criassem as vagas nas Instituições de Ensino Superior. Era necessário, então, atender aos
“excedentes”, ou seja, alunos que não conseguiam entrar nas Universidades Públicas, após a
realização do vestibular classificatório. Pode-se afirmar que Uberlândia enquadrava-se nessa
tendência.
Assim, observou-se a criação de faculdades isoladas e de novas universidades,
sob a forma de fundação, para tentar suprir essas demandas, criando uma tendência de
expansão rápida e desordenada de faculdades de filosofia por todo Brasil, primeiramente, por
ser um curso que exigia pequenos gastos na construção e na manutenção, e, em segundo
plano, no caso específico da Faculdade de Filosofia de Uberlândia, contou-se com a
participação incisiva da iniciativa privada.
A partir desse momento, devido à expansão da cidade e da região, juntamente
com o aumento da pressão dos jovens em busca de um Curso Superior em Uberlândia,
formaram os cursos de História (1965), Matemática (1967), Ciências (1970), Geografia
(1971), Estudos sociais (1972), Ciências Biológicas (1972), Química (1974) e Psicologia
(1975), além dos dois cursos já existentes, de Pedagogia e Letras (GOMES et al, 2003, p.20).
Dessas Escolas de Ensino Superior, cinco delas, especificamente a Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Uberlândia (1960), a Faculdade de Direito de Uberlândia
71
(1960), a Faculdade de Ciências Econômicas de Uberlândia (1963), a Faculdade de
Engenharia de Uberlândia (1965) e a Faculdade de Artes de Uberlândia (1969), uniram-se
para formar a Universidade de Uberlândia, criada pelo decreto - lei 762 de 14 de agosto de
1969, determinando novas diretrizes para o ensino superior de Uberlândia e região (GOMES
et al, 2003, p.20-21).
Concomitantemente à formação da UnU, surgiram outras instituições, dentre
elas a Faculdade de Odontologia (1970), a Faculdade de Medicina Veterinária (1971) e a
Faculdade de Educação Física (1972).
Em 11 de dezembro de 1972, essas faculdades foram integradas à Universidade
de Uberlândia e, finalmente, em agosto de 1974, com o reconhecimento da Faculdade de
Medicina e Cirurgia, essa escola também passou a fazer parte da UnU, Fundação chamada
Universidade de Uberlândia, que teve como primeiro presidente o professor Miltom
Magalhães Porto, que exerceu o cargo até 1978, ou seja, até a sua federalização (GOMES et
al, 2003, p.21).
Como na grande maioria dos projetos, para que eles tenham êxito, é necessária
a presença de um grupo estratégico direcionando as “forças” para que os objetivos sejam
realizados com sucesso. No caso da implementação da Universidade de Uberlândia, não foi
diferente, ocorreu a participação decisiva de um pequeno grupo de idealizadores, educadores
e políticos. Porém, não se pode olvidar que o processo de criação das Faculdades contou com
o entusiasmo e a participação de grande parte da população uberlandense.
Evidenciando o trabalho de Gomes et al, pode-se compreender que:
Assim, não devemos nos surpreender em determinados
momentos com estranhas alianças políticas, que seriam
perfeitamente compreensíveis se localizadas em seus devidos
contextos históricos. Estes estranhos acordos políticos podem
ser explicados pela natureza endogâmica que marcou a
constituição da cidade. Apesar das diverncias, as famílias
tradicionais procuravam realizar os casamentos de seus filhos
com membros da mesma classe social. Desta maneira, diversos
segmentos da elite mantinham estreitas relações de parentesco.
72
A história tradicional da cidade referia-se, freqüentemente, aos
feitos desses “grandes homens”, que se estabeleceram na região
com o propósito definido de ocupação e fixação econômica e
que foram criando escolas, aconselhando os moradores, enfim,
organizando as relações sociais na cidade em moldes que
garantissem um mínimo de organização política da sociedade
local o que lhes dava, além de tudo, prestígio combinando,
para tal, mecanismos de poder pessoal e institucionais.
(GOMES et al, 2003, p.24).
Deve ser evidenciado que a criação da Universidade de Uberlândia (UnU) em
14 de agosto de 1969, aconteceu por meio da utilização do Decreto Lei nº. 762, com base
em um ato de exceção do Governo Militar, ou seja, o Ato Institucional 5, que, conforme
afirmado previamente, atingiu frontalmente os direitos e garantias individuais e coletivos.
Apesar de tal afronta aos direitos dos cidadãos, o chefe da Casa civil, Rondon Pacheco
11
,
valendo-se da sua influência junto ao Governo, utilizou-se desse Ato e conseguiu a
autorização para a criação da UnU.
Nesse período, pode-se inferir que o Governo Militar considerava mais seguro
incentivar uma interiorização do ensino superior, talvez como uma forma de tentar
desconcentrar e desarticular o movimento estudantil, pois tal medida vinha também ao
encontro de uma demanda crescente da categoria média interiorana por Escolas de Ensino
Superior.
O incremento da pressão para interiorização do Ensino Superior brasileiro
advindo, principalmente, das categorias médias, veio do fato de que, para conseguir acesso às
universidades para seus familiares, os pais precisavam manter os filhos nas capitais, gerando
altos custos. Além disso, pode-se perceber no relato de alguns entrevistados que havia um
sentimento de saudade e angústia ao ver os filhos irem para cidades distantes, em busca de
11
Bacharel em Direito, Deputado Estadual, Deputado Federal, Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da
República – Anos de 1967/1970, Governador do Estado de Minas Gerais – Anos de 1971/1975. Entrevista em
anexo.
73
uma melhor graduação escolar. Assim, a solução para eles foi reivindicar aos políticos que
trouxessem Escolas de Ensino de 3º grau para o interior.
As Faculdades Isoladas presentes nas pequenas cidades, na maioria das vezes,
ficavam submetidas ao controle do grupo dominante local, ficando longe da “má” influência
dos movimentos estudantis de resistência ao Regime Ditatorial.
A criação da Universidade de Uberlândia foi marcada por atos de exceção e
incidentes inconstitucionais, que continuaram até o advento da sua federalização. De acordo
com Ribeiro, pode-se constatar que:
E a Universidade veio em 1969, criada no papel. Criada
através de uma lei, baseada num ato institucional, nossa
Universidade, eu não sei se você sabe, ela foi criada através de
ato de exceção. É interessante! O Ministro Rondon Pacheco era
ministro da Casa Civil do Costa e Silva. Estava sendo articulado
entre ele, Tarso Dutra e também naquela época com a
presença do Ministro Golberi mas sem participar diretamente
do governo a criação de duas Universidades Federais: uma no
Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Grande. O Rondon,
sabendo dessa articulação, encaixou a Universidade de
Uberlândia. Estava sendo feito quando vem a morte de Costa e
Silva. Aí, instituiu-se a junta militar, um triunvirato, que
administrou o Brasil durante um certo período. O Nilton Ramos
era vice-presidente, mas não podia assumir, porque era civil, né.
E mineiro! Mas, então, a junta militar criou uma série de atos
institucionais. Um dos atos institucionais que foram instituídos
foi o que dava à junta militar a capacidade de instituir leis,
promulgar leis. Essas leis estavam fora de qualquer tipo de
análise, inclusive do próprio Poder Judiciário. Era um ato de
exceção violentíssimo! Chamava-se Ato Institucional 16. E
baseado neste ato é que foi criada a Universidade de
Uberlândia, na época, não era federal ainda, mas com
características de Universidade Pública...Com intenção de ser
uma Universidade Pública. Foi a Universidade de Uberlândia e
a Universidade da cidade do Rio Grande. (RIBEIRO, 1995,
p.90).
Desta maneira, pode-se avaliar o quanto os militares abusavam do poder, a
ponto de desrespeitar até as outras instâncias do Legislativo e do Judiciário, o Governo não
admitia ingerências nas suas ações, e governava com repressão e regras severas. No caso das
faculdades uberlandenses, podem-se notar as alianças entre a categoria dominante local e os
74
políticos, tentando se beneficiar dos Atos Institucionais dos militares para angariar benefícios
para a cidade de Uberlândia e Região.
Outros fatores relevantes e favoráveis ao desenvolvimento de Uberlândia
foram às alianças políticas e o crescimento populacional predominantemente urbano, pois:
Este crescimento também favoreceu o fortalecimento dos
políticos locais, que procuraram influenciar o governo federal
no sentido de resguardar o que consideravam ser os “interesses
da cidade”. Como pontua GOMIDE, o vínculo político entre a
elite triangulina e setores expressivos do governo federal foi
sendo reforçado ao longo do processo de desenvolvimento da
região: A aliança entre os políticos locais e os interesses do
estado centralizador marcaram a História do Triângulo. O
estado forte, ora incorporado na ideologia populista pós-1930,
ora travestido de democrático pós-1946, ora seguindo os
preceitos geopolíticos expressos na doutrina nacionalista pós-
1964 e mesmo sob o aparato redemocrático dos anos 1980,
esteve sempre presente no Triângulo. Essa presença se
expressa nas ações que reforçavam a sua posição de estado
compactuado politicamente com interesses da classe
dominante, a qual sempre representou e ainda representa.
(GOMES et al, 2003, p.21) (SIC).
Para compreender o contexto do processo de formação das Faculdades isoladas
em Uberlândia, a concretização da UnU, e, finalmente, com a Federalização, a história da
UFU e seus cursos, dentre eles, o de Odontologia, necessário se faz, analisar as práticas
sociais e políticas das categorias uberlandenses detentoras do capital, que desenharam um
discurso político local baseado nos conceitos desenvolvimentistas que permeavam todo país.
Nesse instante, é importante salientar que o desenvolvimentismo nacional foi
fundado nas práticas políticas de planejamento, em que não se procuravam mais criar a nação,
mas, ditavam que já era o momento de desenvolvê-la.
Sendo assim, essas práticas políticas e sociais transformaram as ações
propostas pelos governos e demais agentes políticos, inaugurando a fase do planejamento
sistematizado que foi adotado, aproximadamente, a partir de 1950.
75
O desenvolvimentismo presente em Uberlândia, sob o contexto da Ditadura
Militar, teve suas “raízes” lançadas desde os governos anteriores ao de Juscelino Kubitschek.
Nesse último, os preceitos desenvolvimentistas assumiram sua forma mais consolidada, em
virtude do plano de metas, cujo Slogan foi “50 anos em 5 ”.
Nessa perspectiva, as práticas desenvolvidas representavam a direção que o
país deveria seguir, trilhando um caminho de mudanças rápidas capazes de transformar o
perfil do Brasil com a industrialização e a modernização, em um curto prazo.
Então, essa política desenvolvimentista aplicada intensamente desde o Governo
de Juscelino Kubistschek, seguiu dentro de outra conjuntura, até a década seguinte sob os
auspícios da Ditadura, fazendo permanecer presente o seu reflexo na vida da população
brasileira, no contexto do Regime Militar.
Pode-se observar um paradoxo entre as necessidades básicas do povo e a
política desenvolvimentista discursada, visando o crescimento, ao desenvolvimento e à
modernização do país. Percebe-se uma incongruência entre o crescimento industrial tão
exaltado por alguns historiadores do período recortado, e os problemas sociais existentes que
acometiam grande parte da população nacional. Tem-se uma vasta historiografia que traz uma
visão privilegiada do desenvolvimentismo, reverenciando as práticas políticas, na maioria das
vezes, somente como algo bom.
Porém, deve-se ressaltar que, em vários momentos, foram silenciadas as
“vozes” daqueles a quem o desenvolvimentismo mais atingiu, ou seja, a população carente.
Em Uberlândia, o desenvolvimentismo praticado sob a égide dos detentores do poder local,
articulados com o Governo Militar, também tentou construir um discurso e uma imagem de
uma cidade progressista, desenvolvida e moderna, buscando camuflar os problemas de falta
de moradia, ausência de infra-estrutura básica, transporte e da miséria social.
76
Pode-se constatar que nos discursos oficiais desenvolvidos no seio da
sociedade uberlandense havia uma ênfase na atividade laboral, afirmando-se que a cidade de
Uberlândia deveria cumprir a finalidade de trazer um crescimento não só para ela própria, mas
para toda Região do Triângulo Mineiro. Nesse sentido, pode-se constatar uma tentativa de
implementar o Projeto Nacional Desenvolvimentista do Governo Militar em Uberlândia.
Analisando o período recortado, pode-se observar que os grupos dominantes
locais, sejam de ordem econômica, social ou intelectual estavam unidos em consonância com
os políticos estaduais e o Governo Federal, procurando inserir a cidade nesses preceitos de
progresso em busca da modernidade.
O desenvolvimento de vários desses projetos de crescimento da cidade de
Uberlândia se concretizou entre os anos de 1960 e 1970, refletindo o “progresso econômico”
pelo qual passava o Brasil, e também a articulação e a sintonia das categorias dominantes
locais com o Governo Militar.
Nas palavras de Gomes, um estudioso da história da Universidade Federal de
Uberlândia:
O projeto de criação da UnU (Universidade de Uberlândia) foi
pensado desde o início para alcançar a federalização sem perder
o controle político da mesma, utilizando-a como um “cartão de
visitas”, elevando o “status” e o poder de atração da cidade,
caracterizando-a como uma cidade universitária e conseguindo,
ao mesmo tempo, a injeção de volumosas verbas federais na
economia local (GOMES et al, 2003, p. 21-22).
Permanece nos dias de hoje, entre os políticos tradicionais da cidade, o
discurso de que o crescimento e o desenvolvimento de Uberlândia se deram devido,
substancialmente, à união dos seus representantes políticos, os quais, muitas vezes, deixaram
os interesses partidários e as divergências particulares de lado em prol de melhorias para
“cidade e região”.
77
É o que se pode constatar na fala do político Homero Santos
12
, quando
questionado sobre quem e quais interesses a instalação da Faculdade de Odontologia estaria
atendendo. Para o ex deputado:
O maior beneficiado foi a sociedade, uma vez que a
representação política de toda região soube corresponder à
expectativa e anseio de todo povo. Destaco que não havia
interesse econômico na sua instalação, mas um forte desejo de
inserir nossa cidade e região no seleto época) grupo de
cidades que ofereciam ensino superior.
Observa-se, na fala desse político a continuidade de um discurso que tenta
mostrar uma Uberlândia unida e homogênea, evidenciado nos seguintes termos: “O maior
beneficiado foi a sociedade [...] a representação política de toda região soube corresponder à
expectativa e anseio de todo povo”. Deve-se atentar, apesar dessa afirmação, para a existência
de “múltiplas Uberlândias”, que são apresentadas, na seqüência.
Primeiramente, uma Uberlândia unida em torno de uma dada representação,
em outro momento, outra Uberlândia contradizendo-a claramente, pois ao mesmo tempo em
que se percebe uma cidade que anseia entrar ao seleto grupo de cidades que ofereciam ensino
superior, sob um viés diverso do anterior, observa-se outra Uberlândia com sérios problemas
de abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica, saneamento básico e deficiências
nos setores de saúde, acometendo grande parte da população que não tinha sequer a
possibilidade de ingressar para o grupo dos alfabetizados.
Após essa análise do surgimento do ensino superior em Uberlândia, no
próximo capítulo, realizar-se-á uma interpretação da institucionalização da FOU, analisando a
12
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara;
Vice-Presidente do TCU - Anos de 1995/1996, Presidente da Primeira mara do TCU - Anos de 1995/1996,
Corregedor do TCU - Anos de 1995/1996, Supervisor da Revista do TCU - Ano de 1995/1996, Presidente do
TCU - Anos de 1997/1998, Vereador em Uberlândia - Anos de 1954/1962, Professor Universitário Ano de
1962, Deputado Estadual em Minas Gerais Anos de 1963/1970, Deputado Federal – Anos de 1971 a
1974/1974 a 1978/1978 a 1982/1982 a 1986 e 1986 a 1988. (entrevista em anexo).
78
gênese e a instalação dessa Escola, observando como foi formada a sua estrutura inicial e a
sua realidade escolar, nos seus primeiros tempos.
79
CAPÍTULO II
FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA: CRIAÇÃO E INSTALAÇÃO
Este capítulo tem como eixo principal a interpretação da institucionalização da
primeira Escola de Odontologia de Uberlândia, analisando os elementos pertinentes à sua
criação e a sua instalação.
Para a interpretação dos dados, procurou-se observar a estrutura inicial da
FOU: base administrativa, previsão orçamentária inicial, constituição da biblioteca,
laboratórios, seus primeiros professores, funcionários, diretores e alunos, estrutura didática,
disciplinas e suas respectivas cargas horárias, Regimento Interno, sistema organizacional e,
finalmente, como ocorreu a constituição dos departamentos dessa Escola.
Realizou-se, também, uma apreciação da realidade escolar da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia, evidenciando os objetivos, funções, meios e suportes dessa
instituição escolar, a partir dos documentos encontrados no Arquivo Geral da Universidade
Federal de Uberlândia, conforme listados e indicados anteriormente.
80
2.1. Gênese e instalação da Faculdade de Odontologia da atual
Universidade Federal de Uberlândia
Para alguns estudiosos da história das principais escolas de Uberlândia, seria
um erro não pesquisar acerca da origem da FOU, uma instituição que, instalada nos anos 70
do século XX, abriu caminho juntamente com outras faculdades para a interiorização do
Ensino Superior no Estado de Minas Gerais, colaborando na formação de lideranças
científicas responsáveis pela divulgação do saber técnico/científico.
A criação dessa Escola de nível superior numa cidade do interior mineiro foi
um ato de ousadia, visto que, segundo estatística municipal de Uberlândia - dados relativos ao
ano de 1968, colididos pela Associação Comercial, Industrial e Agro-pecuária -, a cidade
contava, aentão, com apenas 140.600 habitantes e somente 123 dentistas para atender toda
população desse município.
Segundo os números encontrados em um requerimento expedido pelo diretor
da Autarquia Educacional de Uberlândia, Sr. Wilson Ribeiro da Silva, e, encaminhado para o
CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO (CEE), requerendo em 26 de dezembro de 1969
a competente autorização para o funcionamento da Faculdade de Odontologia, em 1970, e
conseqüente realização do primeiro exame vestibular na segunda quinzena do mês de
fevereiro deste ano, pôde-se observar que, em 1969, a cidade de Uberlândia contava com
uma população estimada em 150.000 habitantes, mas, por outro lado, o número de
profissionais apresentado foi de 77 odontólogos.
Cotejando essas duas estatísticas referentes, respectivamente, aos anos de 1968
e de 1969, pode-se afirmar que o crescimento populacional uberlandense foi de
aproximadamente 9.400 habitantes, sendo que o número de profissionais da Odontologia
diminuiu de 123 para 77 dentistas.
81
No entanto, não se pode confirmar que de um ano para o outro o número de
cirurgiões dentistas em Uberlândia sofreu um ficit real de 46 profissionais; pode-se inferir
que na estatística de 1968 incluíram-se os dentistas práticos, enquanto que, na segunda
aferição, de 1969, somente foram contabilizados os odontólogos graduados e com diploma
fornecido por uma Instituição de Ensino Superior. Deve-se ressaltar que, neste momento,
grande parcela dos trabalhadores da saúde bucal, aproximadamente 37%, eram profissionais
sem qualificação e formação técnico/científica.
Além destes fatores, certamente, a posição geográfica da cidade localizada no
centro do Triângulo Mineiro, ponto de convergência de todas as rodovias que interligam os
Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso, fez com que Uberlândia lutasse
pela criação de novas faculdades e para ser reconhecida como o “Portal do Cerrado”, ou
“Coração do Brasil”. Seu impulso comercial e sua posição estratégica, tanto no sentido militar
como econômico, suas escolas Normal e Profissional, corroboraram o ideal para a
concretização de tão moderno e arrojado projeto de Ensino Superior sonhado pelos grupos
dominantes locais.
Como em nenhuma sociedade brasileira, conforme dissertado anteriormente,
não havia em Uberlândia uma homogeneidade de vontades/representações e práticas sociais.
Sendo assim, após algumas atribulações políticas, essa Faculdade foi criada com a aprovação
e a publicação da Lei 4275, de 27 de setembro de 1966, que estabeleceu o estatuto da
Autarquia Educacional de Uberlândia (doravante também denominada AEU). Seu Artigo 10
determinava inicialmente, a Autarquia Educacional instituída por esta lei instalará a
Faculdade de Odontologia, que deverá funcionar no exercício de 1967. (LEI Nº 4257 de 27 de
setembro de 1966. Artigo 10).
Assim, tem-se o nascimento legal da primeira Faculdade de Odontologia da
cidade de Uberlândia, tendo os seus pilares idealizados e fundados em um contexto permeado
82
pela proposta política autoritária de expansão e interiorização do ensino superior,
implementada pelo Estado ditatorial e por um projeto de modernização baseado nos preceitos
desenvolvimentistas, apresentados a priori.
Logo após a vigência desse ordenamento, foi estabelecida, em outubro de
1966, uma comissão incumbida de organizar e preparar a instalação da escola de ensino
superior de Odontologia da Autarquia Educacional de Uberlândia. A meta fundamental deste
grupo era dar subsídios para fazer valer os ditames da Lei nº 4.257.
Esta comissão contou com a participação de nomes significativos para a
cidade de Uberlândia, tais como: Gerson Mendes de Lima Junior, Laerte Alvarenga
Figueiredo, Edmundo Rodrigues da Cunha Filho, Ângelo Damis, Índio Carvalho Luz,
Josaphát Vieira Marques, Paulo Machado da Silveira, Waldemar Martins Ferreira
(AUTARQUIA, 1966, Livro I, p.2).
Conquanto a Autarquia Estadual de Uberlândia (AEU) tivesse sido
implementada legalmente, a inauguração da Faculdade de Odontologia não ocorreu como
determinava a Lei 4.275, devido às enormes dificuldades e intempéries, tanto de ordem
econômica quanto da falta de uma estrutura arquitetônica adequada para o recebimento dos
equipamentos e o desenvolvimento do curso.
Somente em julho do ano seguinte, ou seja, em 1968, é que ocorreu de fato a
instalação da AEU, sob o comando do primeiro diretor, professor Gerson Mendes de Lima
Júnior
13
, que teve a secretaria instalada na sobreloja 18, do edifício Tubal Vilela, em
Uberlândia, oferecendo atendimento em todos os dias úteis, no horário comercial.
13
Gerson Mendes de Lima era filho da cidade, mas residia em Belo Horizonte e atuava como professor da
Faculdade de Odontologia da Universidade de Minas Gerais e da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Católica de Minas Gerais. Foi o primeiro coordenador da Autarquia Educacional de Uberlândia,
mas foi exonerado do seu cargo antes da construção da Faculdade. Talvez por isso normalmente seu nome não
tem sido lembrado como um dos idealizadores dela. (SIC) (LEMOS, 2003, p.28).
83
Estes fatos de autorização do funcionamento da entidade podem ser
comprovados na reportagem apresentada pelo jornal “CORREIO DE UBERLÂNDIA”, que
informava ter saído o decreto aprovando o estatuto da Autarquia:
Telegrama do prof. Gerson Mendes de Lima Jr. procedente de
Belo Horizonte informa que o governador de Minas aprovou o
estatuto da Autarquia Educacional de Uberlândia e que dentro
de algumas semanas a entidade vai funcionar, iniciando a
instalação da Faculdade de Odontologia nesta cidade. O Sr.
Lima Jr. divulgará em breve, a cópia dos estatutos aprovados
(Correio de Uberlândia, 19/01/1968, p.1).
Essa entidade AEU seria a mantenedora da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia. Para interpretar melhor o que foi e como deveria funcionar essa instituição
recorreu-se ao conceito de autarquia elaborado por Carvalho Filho, demonstrando que:
Como todas as categorias de pessoas jurídicas integrantes da
Administração indireta, as autarquias têm sua própria
fisionomia, apresentando algumas particularidades que as
distinguem das demais. Basicamente, são elementos necessários
à conceituação das autarquias os relativos à personalidade
jurídica, à forma de instituição e ao objeto [...] À luz desses
elementos, pode-se conceituar autarquia como a pessoa jurídica
de direito público, integrante da Administração Indireta, criada
por lei para desempenhar funções que, despidas de caráter
econômico, sejam próprias e típicas do Estado (CARVALHO
FILHO, 2004, p.381-382).
Resolvida essa questão de que a mantenedora oficial seria a Autarquia Estadual
de Uberlândia, a estrutura arquitetônica da Faculdade de Odontologia foi outro problema
enfrentado por seus idealizadores/fundadores. Primeiramente, pelas dificuldades de se
encontrar um prédio em Uberlândia que se adequasse à instalação dos consultórios
odontológicos, que exigiam uma estrutura especial adaptada e diferenciada das demais
escolas, e, depois, pela falta do envio de verbas pelo Estado e pelos desentendimentos
políticos dos agentes internos.
84
Segundo afirmação do primeiro diretor da Faculdade de Odontologia, Dr.
Laerte Alvarenga Figueiredo
14
, em entrevista gravada em 1980, o Diretor da AEU, Gerson
Mendes de Lima Júnior, estaria dando prioridade à implantação do curso de Medicina
Veterinária em Tupaciguara, colocando a Escola de Odontologia em segundo plano e queria
ele também levar a futura Escola de Medicina para Araguari ou Tupaciguara, o que
desencadeou fortes oposições, como pode ser observado no fragmento abaixo:
O deputado Homero Santos reso1veu, juntamente com a criação
da Faculdade de Odontologia, anexar a Faculdade de Medicina
e a de Farmácia. tudo elaborado, fizemos uma reunião em
sua casa e demonstramos a ele que a Faculdade de Farmácia
seria inoperante em face de seu alto custo e também em relação
à manipulação de laboratório, então todo industrializado.
Mostrei-lhe que a Veterinária atenderia não só ao Triângulo
como parte de São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Em face dessas
questões ele substituiu a Faculdade de Farmácia pela de
Veterinária e, então, permaneceu a Odontologia em prioridade,
depois a Medicina e a Veterinária. Acontece que nessa
caminhada os médicos resolveram trabalhar isoladamente.
Então eles foram mais rápidos. ...Como não havia uma dotação
orçamentária, o Deputado Homero Santos entendeu que seria
melhor criar uma Autarquia Educacional em Uberlândia, um
órgão independente, com dotação orçamentária própria. Mas
não conseguimos instalar a Faculdade em 1967, por questões
outras, e...mesmo porque o Gérson criou uma série de
problemas não com a Prefeitura e com a Associação
Odontológica, mas também com o prefeito e levou a Faculdade
de Veterinária para Tupaciguara. O prefeito desta cidade
recebeu de braços abertos uma oferta dessas. O Gérson foi
nomeado diretor da Autarquia e criou então o maior problema.
Queria levar também a Escola de Medicina para Araguari ou
Tupaciguara. Eu me contrapus e não deixei que isso acontecesse
porque a Escola estava instalada aqui. Foi necessário
fazermos uma rie de trabalhos para, através do deputado
Homero Santos, conseguir a exoneração do Gérson. Ele foi
exonerado (FIGUEIREDO, L. A. A Faculdade de
Odontologia de Uberlândia. Entrevistadores: C. G. Caetano e
M.M.C. Dib. Uberlândia. 1988 - A UFU no imaginário social -
p.74).
14
Laerte Alvarenga Figueiredo foi presidente por três mandatos da Associação Brasileira de Odontologia e,
participou da criação do Conselho Regional de Odontologia. Foi um dos principais atores do projeto de criação
da Faculdade de Odontologia de Uberlândia e primeiro diretor dessa faculdade. Suas ações não se restringiam
apenas ao papel institucional, visto que oferecia sua residência como estadia para professores visitantes e
abdicava de recursos financeiros próprios para pagamento de professores. Foi exonerado de seu cargo de
diretor em 1973 e permaneceu como professor por mais alguns anos, após optar pela sua saída por não
concordar com a nova política da instituição. Atuou durante toda a sua vida côo cirurgião-dentista. As
entrevistas aconteceram no seu consultório (Av. Afonso Pena) no ano de 2000, embora nossos contatos tenham
permanecido. No ano de 2002, ocorreu o seu falecimento (LEMOS, 2003, p.28) (SIC).
85
A Escola Superior de Medicina conseguiu se estruturar e entrar em
funcionamento antes do curso de Odontologia, que ainda se encontrava em dificuldade, pois
não tinha um lugar determinado para seu funcionamento. Desta maneira, o curso básico da
primeira turma de Odontologia foi ministrado na Escola de Medicina, após a celebração e a
assinatura de um termo de convênio, que estabelecia um acordo de natureza educacional,
entre as partes: de um lado, a Autarquia Educacional de Uberlândia, entidade de direito
público, responsável pela instalação e manutenção da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia, naquele ato representada pelo seu Diretor, senhor Wilson Ribeiro da Silva, e, do
outro lado, a Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia, entidade de direito
privado, devidamente constituída e registrada, responsável pela manutenção da Escola de
Medicina e Cirurgia de Uberlândia, naquele ato representada pelos senhores Dr. João
Fernandes de Oliveira e José Olympio de Freitas Azevedo, respectivamente, Presidente e
vice-presidente, sob a justificativa de que existia uma grande proximidade do conteúdo básico
ministrado no início destes dois cursos da área biomédica.
Esse convênio, realizado dia 30 de dezembro de 1969, (Figura III, p.94),
mediante prestação de pagamento feito pela Autarquia Educacional de Uberlândia, veio sanar
algumas das maiores dificuldades enfrentadas pelos idealizadores/fundadores da Escola.
Primeiramente, possibilitou provisoriamente um local para o início das aulas junto ao Curso
de Medicina, e, em segundo lugar, resolveu outro dos difíceis problemas, que era a
composição de um corpo docente para formar a estrutura do quadro de professores para
ministrar as disciplinas básicas.
A celebração deste convênio realizado pela Faculdade de Odontologia do
interior do Triângulo Mineiro seguiu uma tendência nacional determinada pela Lei da
Reforma Universitária de 1968, que estabeleceu a formação de departamentos,
86
principalmente, nas universidades de grande porte, para que resultasse na concentração de
disciplinas em departamentos, primando por uma economia de recursos e por uma
maximização de resultados, justificando-se que, desta forma, haveria uma racionalização
material da utilização da estrutura predial salas de aula, laboratórios, entre outros (Figura
IV, p.95), e dos professores, que poderiam ser os mesmos para ministrar aulas, tanto no básico
da medicina quanto no da Odontologia.
Porém, deve-se atentar que, no caso de escolas isoladas, como era o fato
ocorrido com as Faculdades de Uberlândia, a intenção de montar os departamentos com o
escopo de redução de gastos, não tinha uma justificativa lógica, pois essas faculdades isoladas
contavam com um pequeno número de docentes; sendo assim, as funções do departamento de
integrar e racionalizar os recursos tornavam-se inaptas e descaracterizadas.
A estruturação em departamentos foi uma das diretrizes traçadas pela Lei da
Reforma Universitária 5.540/68, que, apesar de não contribuir de forma tão intensa para
economia e racionalização dos recursos das Faculdades de Uberlândia, serviu, como guarida
legal, para facilitar e proporcionar a criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Contudo, a Escola de Odontologia continuava com uma indefinição acerca do
lugar adequado para sua estruturação arquitetônica, a fim de poder desenvolver as atividades
específicas do Curso.
Várias foram as possibilidades apresentadas de local para fixação desta nova
instituição. A princípio, surgiram propostas para que se instalasse em uma das salas do prédio
do Mercado Municipal, onde funcionava a UESU (União dos Estudantes Secundaristas de
Uberlândia), fato que aconteceria por meio de um acordo entre o prefeito e a direção desta
entidade estudantil. Porém, devido às dificuldades financeiras e à necessidade de que o
ambiente fosse reformado e adaptado para funcionamento da Escola, essa indicação não
logrou êxito.
87
Uma outra hipótese, idealizada pelo diretor Laerte A. Fiqueiredo, foi a de
utilizar o Colégio de Fátima
15
, situado à Avenida Engenheiro Diniz, e que estava em posse
dos Freis franciscanos, para implantação da Escola de Odontologia. Porém, o prefeito Renato
de Freitas tinha intenção de fazer daquele prédio um colégio. Sendo assim, a partir disto deu-
se início a desentendimentos e discórdias entre os padres franciscanos e o diretor, não sendo
possível um acordo para que a Faculdade se fixasse ali naquele instante.
O jornal “CORREIO DE UBERLÂNDIA” trouxe, em sua primeira página, a
reportagem que afirmava que a Odontologia talvez não funcionasse em 1969, visto que:
Segundo fonte extra-oficial é bem possível que a Faculdade de
Odontologia de Uberlândia não funcione no ano de 1969 porque
o prédio a ela destinado será o da atual cadeia pública. Acontece
que o edifício que o Estado vem erguendo nas proximidades da
Faculdade de Medicina, para ser a penitenciária de Uberlândia,
acha-se bastante atrasado, devido à vários fatores, destacando-
se, falta de água, rede de esgoto e demora no erguer das
paredes. Se há demora para conclusão da cadeia maior ainda
haverá na instalação da Faculdade de Odontologia, pois o
prédio da rua Tiradentes precisa quase ser reconstruído e
adaptado para a escola superior. (CORREIO DE
UBERLÂNDIA, 10/11/1968, p.1).
Desta maneira, pode-se constatar que uma terceira sugestão para acomodação
da Faculdade de Odontologia foi colocá-la no lugar da cadeia pública de Uberlândia, que
futuramente (caso isso se concretizasse) poderia ser substituída/suprida por uma penitenciária.
Também surgiu, neste momento, a idéia de utilizar o prédio que estava sendo construído nos
arredores da Faculdade de Medicina, com o propósito de sitiar a nova cadeia pública.
No entanto, com vistas às dificuldades financeiras e a escassez de tempo pela
premente necessidade de uma estrutura física/arquitetônica para instalar a Escola Superior de
Odontologia, a Autarquia Educacional de Uberlândia conseguiu alugar o prédio do Colégio
15
Colégio de Fátima, Colégio dos Freis Franciscanos e Colégio Franciscano de Nossa Senhora são
denominações diferentes que eram dadas para o mesmo estabelecimento, local onde, atualmente, está
funcionando a Reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, no endereço Avenida Engenheiro Diniz, 1178 -
Cx. Postal: 593 - CEP: 38.400-902 - Uberlândia - Minas Gerais – Brasil.
88
dos Freis franciscanos situado na Avenida Engenheiro Diniz (onde atualmente funciona a
reitoria da UFU) e dar andamento aos trabalhos.
Após muitas vicissitudes políticas, somente quatro anos depois de sancionada a
Lei nº 4.275/66 a Faculdade de Odontologia foi fundada, aos 18 de março de 1970, visto que,
a partir desta data se definiu sua estrutura administrativa, didática e encaminhou o pedido
para a autorização do funcionamento da Escola de Ensino Superior. Contudo, apenas no dia
21 de maio, do mesmo ano, que o Sr. Presidente da República Emílio Garrastazu Médici
aprovou o decreto 66.610, juntamente com o Ministro Jarbas Passarinho, permitindo
legalmente o funcionamento da Faculdade uberlandense. Esta defasagem vai ao encontro das
análises de Ester Buffa e Paolo Nosella, pois, segundo os autores:
Sabe-se que, no Brasil, normalmente uma defasagem
temporal entre a criação e a instalação de escolas, especialmente
públicas. A criação é atribuição do Poder Legislativo enquanto
a instalação é atributo do Executivo, que destina à escola a ser
instalada uma verba orçamentária e nomeia o diretor (ESTER
BUFFA E PAOLO NOSELLA, 2000, p.28).
Logo depois, no dia 23 de maio, procedeu-se à instalação solene da Escola de
Odontologia, oficializando-se sua fundação. Nesse momento, o Diretor da AEU, Sr. Wilson
Ribeiro da Silva, assinou o edital do primeiro concurso de vestibular, que foi realizado a partir
do dia 10 de junho de 1970. As respectivas aulas tiveram início após uma missa celebrada
pelo Padre João Biagione
16
, no final deste mesmo mês.
Teve-se, neste período, uma forte contribuição do primeiro diretor da
Faculdade de Odontologia, o cirurgião dentista Dr. Laerte Alvarenga de Figueiredo, que ficou
no exercício do cargo de 1970 a 1973, foi exonerado, em fevereiro de 1973, quando o
16
Padre João Biagione, conhecido popularmente como Padre Bolão, por ser uma pessoa obesa, natural de
Araraquara, SP, foi ordenado sacerdote em 1959, em sua cidade natal, e em 1970 assumiu a Paróquia de Santa
Terezinha (Catedral) em Uberlândia/MG. Nessa mesma época foi professor titular da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade Federal de Uberlândia. (CARVALHO, 2002).
89
governador Rondon Pacheco transferiu as Escolas da Autarquia Educacional de Uberlândia
para a Universidade de Uberlândia.
A partir desse momento, ocorreu a nomeação, pelo reitor Juarez Altafin, do
professor Oswaldo Vieira Gonçalves, conhecido popularmente como professor Vadico, que,
apesar de não ser um cirurgião dentista, com seus conhecimentos e experiência na área
administrativa adquiridos como técnico de educação do Estado, teve um papel decisivo no
processo de reconhecimento da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Essa mudança de diretoria causou algumas divergências internas que, segundo
as palavras do próprio reitor da época, Juarez Altafin, pode-se resumir da seguinte maneira:
A Faculdade de Odontologia divergiu da Reitoria num episódio
que, superado, transformou-se num dos fatos mais gratificantes
da minha gestão. Vai ele narrado no perfil que neste
depoimento faço do Prof. Oswaldo Vieira Gonçalves. Em
rápidas palavras, a divergência foi a seguinte: A Faculdade de
Odontologia veio-nos de uma autarquia estadual. Depois de
integrada à Universidade, venceu o mandato do Dr. Laerte
Alvarenga. Para substituí-lo provisoriamente, nomeei diretor
pro-tempore o Prof. Vadico, assim chamado o notável
educador, Oswaldo Viera Gonçalves, meu antigo reitor no
Ginásio de Uberlândia. Não era da área. De formação
farmacêutica, exercia o magistério superior na Faculdade de
Filosofia de Uberlândia, para grande proveito dos alunos, em
virtude da sua profunda cultura humanística. A nomeação caiu
com uma bomba na Faculdade de Odontologia. No dia da sua
posse, uma comissão de professores procurou-o no gabinete da
diretoria e disse-lhe, lealmente, que ele, como diretor, não era
persona grata naquela escola. Porém, de acordo com o seu
estilo de vida, o Prof. Vadico persistiu. Antes de findo o breve
período da gestão pro-tempore, a mesma comissão voltou ao
seu gabinete para pedir-lhe que continuasse no cargo, agora
como diretor efetivo. Assim foi feito, por mais quatro anos, para
benefício daquela prestigiosa Faculdade e confirmação da
competência do Prof. Vadico como administrador, o que para
mim não era segredo (ALTAFIN, Juarez. 1997, p.51-52).
Com o início do ano letivo, nos primeiros meses do curso, os estudantes,
reunidos especialmente para esse fim, fundaram o Diretório Acadêmico da Faculdade de
Odontologia, e, em homenagem a um dos principais atores e idealizadores da Escola,
intitularam a entidade estudantil com o nome de “Diretório Acadêmico Homero Santos”.
90
A partir desse momento, a Escola de Odontologia, apesar das dificuldades,
dava prosseguimento às suas atividades educacionais e, ao final do ano letivo, realizou o
segundo vestibular, que aconteceu no dia 24 de fevereiro de 1971.
A Faculdade de Odontologia tornou-se uma referência para toda a região do
Triângulo Mineiro, passando a representar para a sociedade uberlandense o novo diapasão do
desenvolvimento do Ensino Superior no município. Isso se deu por meio da valorização do
estudo das Ciências Biomédicas. Pela tentativa de aproximação da pesquisa e da atuação dos
acadêmicos e dos profissionais de saúde à comunidade, essa instituição tentou amenizar as
problemáticas e deficiências de ordem técnica-científica que acometiam a população da
cidade.
Além do Diretor da Faculdade de Odontologia, Dr. Laerte Alvarenga
Figueiredo, não se pode esquecer de ressaltar a contribuição trazida pelos integrantes do
primeiro Conselho Superior da Autarquia Dr. Índio Carvalho Luz, Dr. Roberto Miguel, Dr.
Alaor Álvares, Dr. Edison Pires de Carvalho, Dr. Layrton Borges de Miranda Vieira, e o
suplente do Dr. Edmundo Rodrigues da Cunha Filho, o próprio Dr. Laerte A. Figueiredo
17
, os
quais aprovaram as medidas prementes para o desenvolvimento da Instituição. Dentre elas,
destaca-se a autorização para que, a partir do dia 9 de janeiro de 1972, acontecesse o primeiro
Concurso Vestibular Unificado da AEU.
Como exposto a priori, no final do ano de 1971, apesar das grandes
dificuldades financeiras, a AEU alugou o prédio do Colégio Franciscano de Nossa Senhora de
Fátima, implementando algumas adaptações para receber a Faculdade de Odontologia, cujas
aulas começaram a ser ministradas, neste local, apenas no começo do ano de 1972. Neste
ínterim, a primeira turma já havia finalizado o curso básico nas dependências da Escola
Superior de Medicina, localizada no Bairro Umuarama.
17
Dados coletados no Arquivo Geral da UFU. Sendo a revista intitulada: UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UBERLÂNDIA. Odontologia: 10 anos de ensino e participação, Uberlândia, 1980, p.4.
91
Em junho de 1972, foi aberta a licitação para compra de equipamentos
odontológicos para a construção da Policlínica da Odontologia. A instalação desta se
concretizou em novembro do mesmo ano, com a presença dos políticos - o Governador
Rondon Pacheco e o Deputado Federal Homero Santos - prestigiando a cidade de Uberlândia
com uma inauguração solene da Clínica de saúde dentária.
Como homenagem prestada pelos representantes da Faculdade de Odontologia
a esse Governador, a clínica Odontológica recebeu o nome de Policlínica Rondon Pacheco,
para que, simbolicamente, fossem registrados os protestos de estima da população
uberlandense em virtude do apoio fundamental e decisivo que recebeu desse político do
Estado de Minas Gerais.
Ao término deste mesmo ano, o Governo do Estado resolveu transferir as
Escolas pertencentes à AEU para a Universidade de Uberlândia, tendo o Governador Rondon
Pacheco sancionado Lei para tal ato e firmado escritura pública no dia primeiro de fevereiro
de mil novecentos e setenta e três. Assim, finalmente, em 1974, como resultado da soma de
vários esforços, comemorou-se a formatura da primeira turma
18
de Odontologia de 1973
FOU.
A título de enriquecimento, podem-se observar as homenagens prestadas e uma
relação descritiva dos primeiros alunos graduados pela Faculdade de Odontologia de
Uberlândia no artigo do jornal “O TRIÂNGULO” (1974):
Odontologia formou ontem 42 Dentistas: Primeira Turma
Brilhantes solenidades marcaram ontem a colação de grau da
primeira turma da Faculdade de Odontologia da Universidade
de Uberlândia, no salão do cine Uberlândia, às 20hs. São 42
novos dentistas que irão integrar a vida científica brasileira após
brilhante curso em nossa escola, que é das melhores aparelhadas
do interior. A cerimônia teve início às 19 hs. Com solene missa
de ação-de-graças na Catedral, de Santa Terezinha. Depois, às
20 hs. No Cine Uberlândia, a solenidade de colação de grau.
18
Observar relação dos alunos graduados pela Faculdade de Odontologia de Uberlândia egressos da Turma de
1973 – TABELA III, em anexo.
92
Hoje no Praia Clube, o Baile de Formatura oferecido às famílias
dos odontolandos e à sociedade uberlandense. O orador da
turma foi o odontolando Paulo Sérgio de Carvalho e o
juramento esteve a cargo de Alfredo Júlio de Oliveira.
Paraninfou os novos dentistas o prof. Dioracy Fonterrada
Vieira, sendo patrono o prof. Laerte Alvarenga Figueiredo. Eis
a relação dos formandos de ontem pela nossa faculdade de
Odontologia: Abelardo Henrique testa, Abrahão José Mine,
Alberto Magno Ribeiro de Paiva, Alfredo Júlio de Oliveira, Ana
Maria Lisboa Silva, Antonio Ferreira Melo, Antonio Mario
Buso, Arnaldo Queiroz Machado, Byron Lacerda, Carlos
Antônio Colmanetti, Célia Regina de Souza, Consuelo Fátima
Pelizzaro, Édio Elias Borges, Edison Vieira da Costa Junior,
Edihonima Vieira Vaz, Eduardo Borges de Rezende, Élcio de
Freitas Pedrosa, Eneida Marques de Andrade, Fausto Borges
Campos, Ione Rodrigues de Souza, João Vieria da Costa Neto,
José Antônio Lobato, Jorge Cunha, José Rubens Bernardes
Coelho, José Vanderlei de Almeida, Lourdes Maria de Souza,
Luiz Mário Guimarães Gonçalves, Luiz Umberto de Oliveira,
Marcelino Mendes Rezende, Marcus Alves da Rocha, Maria E.
Resende Jorge, Maria Francelina de Barcelos, Mario Francisco
Pereira, Miltom Alves Cardoso, Neusa Maria dos Anjos, Paulo
César Azevedo, Paulo Ferreira Rangel, Paulo Sérgio Carvalho,
Rachef Kobal, Regina Maria Tolesano, Ronan Corrêa Neves,
Shirley Cecim de Castro
Por que estes nomes???? Porque a eles devemos nossos
agradecimentos pelo esforço e coragem que tiveram ao
enfrentar os primeiros problemas. São estes os pioneiros de uma
grande jornada... Deixaram rastos, e rastos fortes que jamais se
apagarão! (Jornal “O Triângulo”, Uberlândia, Ano XLV,
9/02/1974) (Grifos do pesquisador para evidenciar os
entrevistados dessa turma).
Na citação acima é importante ressaltar a atuação da imprensa local tentando
consolidar uma significação/representação, forjando no seio da comunidade uberlandense um
sentido positivo e heróico na concretização da Escola e da formatura dos pioneiros do Curso
de Odontologia de Uberlândia.
Deve-se destacar a concretização da formatura da primeira turma de
Odontologia de Uberlândia que se deu pela junção de inúmeros esforços e fatores; porém,
ressalta-se a importante participação de Rondon Pacheco, que, na posição de presidente do
Diretório Nacional da ARENA, valeu-se de sua influência e persuasão para acelerar o
processo de tramitação e aprovação junto à Câmara dos Deputados e ao Senado,
93
demonstrando a importância da força política para se concretizar práticas sociais de
relevância.
A primeira turma se formou, entretanto, para que a Autarquia Estadual de
Uberlândia pudesse realizar vestibulares nos anos seguintes, foi necessário o reconhecimento
da mesma pelo Conselho Federal de Educação. A Lei não permitia, sem o devido
reconhecimento, a continuidade da realização dos exames seletivos para Escola de Graduação
Superior.
Finalmente, em outubro de 1975, pelo Decreto-lei 76.380, a Faculdade de
Odontologia de Uberlândia foi reconhecida pelo Conselho Federal de Educação e, em 24 de
maio de 1978, pelo Decreto-lei 6532, institui-se sua federalização, passando a fazer parte da
Universidade Federal de Uberlândia.
A partir deste momento, com a federalização, a Faculdade de Odontologia se
integrou aos cursos da Universidade Federal de Uberlândia, passando a ser denominada
FOUFU (Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia), e teve suas
atividades transferidas do prédio da Avenida Engenheiro Diniz para o Campus Umuarama, o
qual, a partir desse momento, concentrou todos os cursos referentes à área das Ciências
Biomédicas.
No tópico seguinte, analisar-se-á a estrutura inicial da FOU, apresentando:
quem foram seus primeiros gestores administrativos, alguns aspectos do Regimento Interno,
algumas características estruturais que foram avaliadas pelo Conselho de Educação, como foi
preconizado o Sistema Organizacional, como se constituiu os Departamentos e a carga horária
destinada as disciplinas do Curso de Odontologia de Uberlândia.
94
ASSINATURA DO CONVÊNIO ENTRE A FACULDADE DE MEDICINA
DE UBERLÂNDIA E A FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA REALIZADA DIA 30/12/1969
FIGURA 3. Foto copiada do Arquivo Geral da Universidade Federal de Uberlândia.
Da esquerda para a direita: Renato Alves Pereira, Laerte Alvarenga de Figueiredo, Jacy de
Assis, Homero Santos, Renato de Freitas, Wilson Ribeiro.
95
ESTRUTURA FORNECIDA PELO CONVÊNIO ENTRE A FACULDADE
DE MEDICINA E A FOU
(DATADA DE JANEIRO DE 1970)
FIGURA 4. Fotos copiadas do Arquivo Geral da Universidade Federal de Uberlândia.
Da direita para a esquerda, de cima para baixo: Pavilhão das matérias básicas da Faculdade
de Medicina de Uberlândia, Biblioteca (foto 1), Biblioteca (foto 2), Laboratório (foto 1),
Laboratório (foto 2), Laboratório (foto 3), Laboratório (foto 4), Primeiro Microscópio, Sala
de Aula e Anfiteatro.
96
2.2. Estrutura inicial da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Com base nos dados coletados no Arquivo Geral da Universidade Federal de
Uberlândia, cotejados com os apresentados pela revista de Odontologia da UFU, (1980, p.
15), apresentou-se informações sistematizando uma relação dos cargos da administração e os
seus agentes partícipes, durante o período estudado, conforme tabela I a seguir.
TABELA I – Componentes das gestões administrativas da Escola de Odontologia (1970-1978).
GESTÕES
DO
PERÍODO
DE 1970-1978
Autarquia
Estadual de
Uberlândia
(AEU)
Faculdade de
Odontologia de
Uberlândia
(FOU)
Centro de
Ciências
Biomédicas
(CEBIM)
Universidade
de
Uberlândia
(UnU)
1970-1973 Diretor Wilson
Ribeiro da Silva
Diretor: Laerte
Alvarenga de
Figueiredo
Coordenador:
Dioracy
Fonterrada Vieira
Secretária
Fabiana Maria de
Ulhôa Rocha
Reitor:
Domingos
Pimentel de
Ulhôa (1970-
1971) Reitor:
Juarez Altafin
(1971-1975)
1973-1977 Diretor: Oswaldo
Vieira Gonçalves
Vice-diretor:
Paulo Marçal
Secretárias: Liana
Maria Manhães e
Cíntia da
Silveira.
Reitor Pró-
Tempore:
José De Paulo
Carvalho
(1975-1976)
1978-1980 Diretor: Arnaldo
Godoy de Souza,
Vice-diretor:
Wilson Ferreira,
Coordenador:
Weiss da Cunha.
Reitor:
Gladstone R.
da Cunha,
vice-reitor:
Antonino
Martins da
Silva
Jr.(1976-
1980).
97
Analisando os dados apresentados na pela tabela I, pode se confirmar que a
Faculdade de Odontologia passou por três etapas até se tornar a atual Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU). Conforme relato anterior, a
instituição começou em 1970, como Escola mantida pela Autarquia Estadual de Uberlândia
(AEU), depois a Faculdade de Odontologia de Uberlândia (FOU), no final de 1972, passou a
integrar os Cursos da Universidade de Uberlândia (UnU), e, por fim, em 1978, com a
federalização, passou a fazer parte da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e
administrada pelo Centro de Ciências Biomédicas (CEBIM).
A Faculdade de Odontologia, ao entrar em funcionamento, em 1970,
procurando cumprir exigências legais, organizou um corpo docente provisório, que atendesse
aos requisitos exigidos pelo Conselho Estadual de Educação, do Estado de Minas Gerais, e
composto por profissionais cirurgiões dentistas, das cidades de Uberlândia e circunvizinhas.
Quanto ao edifício e às instalações para o início das atividades, conforme foi
mencionado anteriormente, a Autarquia decidiu firmar um convênio de três anos com a
Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia, onde foram ministradas as matérias básicas, à
guisa de: Anatomia, Histologia e Embriologia, Bioquímica, Biofísica, Fisiologia,
Microbiologia, Farmacologia, Patologia e Anatomia Patológica, constituindo o currículo das
duas primeiras séries do curso de Odontologia, o qual estabeleceu e que determina, até hoje, o
período mínimo de quatro anos para a formação do cirurgião dentista.
O contrato entre a Escola de Odontologia e a Faculdade de Medicina e Cirurgia
possibilitou a utilização das salas de aula, laboratórios, bibliotecas e demais instalações desta
última, e as aulas foram ministradas pelos professores da referida instituição, pois o Conselho
Federal de Educação já tinha aprovado esses mesmos docentes anteriormente, conforme
consta nas cópias de pareceres que acompanharam o processo da instalação da Escola de
Medicina e Cirurgia.
98
O convênio foi devidamente registrado, no cartório, e sua execução se firmou
com o pagamento de Ncr$ 120.000,00 feito pela Autarquia Educacional de Uberlândia para a
Escola de Medicina e Cirurgia no ano de 1970, e de Ncr$ 220.000,00 em 1971, e, finalmente
de outros Ncr$ 220.000,00, em 1972, sendo que, neste último ano, ficou vinculado ao
acréscimo correspondente ao aumento do salário-mínimo.
A previsão orçamentária da Faculdade de Uberlândia, para o exercício de
1970, incluiu os gastos com o convênio, Ncr$ 120.000., 00, juntamente com outros gastos,
tais como: pessoal específico para o exercício Ncr$ 32.760,00, material de consumo Ncr$
5.000,00, despesas diversas Ncr$ 2.000,00, contribuições trabalhistas e previdenciárias Ncr$
8.854,00, contribuição ao Diretório Acadêmico oriundo da taxa da inscrição do vestibular
Ncr$ 3.000,00, despesa com o exame vestibular Ncr$ 5.000,00, móveis e máquinas de
secretaria e diretoria início Ncr$ 3.500,00, aquisição parcial de livros para a biblioteca da
escola Ncr$ 5.000,00, aquisição de aparelhos e acessórios odontológicos Ncr$ 20.000,00 e,
por outro lado, também apresentou o histórico da sua receita que contou com Ncr$ 132.105,00
de contribuição da Autarquia Educacional, Ncr$ 60.000,00 advindo das anuidades escolares,
visto que cada um dos cinqüenta estudantes aprovados no primeiro vestibular deveria pagar a
razão de Ncr$ 1.200,00 por ano, e, por fim, contou-se com a taxa de inscrição no Vestibular
que tinha previsto para 100 candidatos correspondendo ao montante de Ncr$ 13.000,00.
Analisando os dados, pode-se afirmar que a Faculdade de Odontologia contou
com um valor integral da receita igual à totalização das despesas; ambos somavam igualmente
o montante de Ncr$ 205.105,00 para a administração desta, no ano de 1970.
Além dessa receita e das despesas com valores equilibrados, vários outros
fatores contribuíram para aprovação do pedido de autorização de funcionamento da Faculdade
de Odontologia da AEU, pois ela pôde contar com a planta baixa do edifício-sede da Escola
99
de Medicina e Cirurgia, e encaminhou várias fotografias de suas principais instalações e
relação de aparelhagem e materiais de laboratório.
As instalações e aparelhagem da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia
apresentavam os requisitos mínimos necessários para aquela época, meados da década de
1970, e eram suficientes para a realização das finalidades do convênio firmado com a AEU.
Conforme verificado no parecer 21/70, expedido pelo relator professor
Amaro Xisto de Queirós, durante a apreciação do pedido de autorização de funcionamento da
AEU, pode-se constatar que a biblioteca da Faculdade de Odontologia foi, inicialmente, nos
dois primeiros anos, a biblioteca da Escola de Medicina e Cirurgia, tendo em vista que as
matérias ministradas nas duas Escolas, nessas duas primeiras séries, foram praticamente
comuns.
A biblioteca da Escola de Medicina e Cirurgia tinha um acervo de 3.000
volumes, sendo que 1.032 destes exemplares eram de matérias especializadas, referentes a
diversas áreas da Ciência Biomédica.
O acervo destes livros foi organizado por seções, dividido nas seguintes áreas
do saber: Psicologia, Genética, Anatomia Humana, Fisiologia, Bioquímica, Farmacologia,
Bacteriologia e Imunologia, Parasitologia, Patologia, Saúde Pública, Profissão Médica,
Prática Médica, Doenças infecciosas, Doenças Metabólicas, Sistema locomotor, Sistema
Respiratório, Sistema Cardiovascular, Sistema Hêmico e Linfático, Sistema Gastro-Intestinal,
Sistema Urogenital, Sistema Endócrino, Sistema Nervoso, Psiquiatria, Cirurgia, Ginecologia,
Microbiologia, Histologia, Medicina Preventiva, Terapêuticas, Toxicologia, Veterinária.
Como se pôde averiguar, poucos livros dessas especialidades descritas
serviram para o desenvolvimento dos estudos odontológicos; porém, conforme apresentado
anteriormente, o orçamento da Faculdade de Odontologia previu uma verba de Ncr$ 5.000,00
100
para a primeira aquisição de livros, visando à construção de uma biblioteca própria, com
volumes referentes às especialidades da Odontologia.
Os laboratórios da primeira e da segunda séries da Faculdade de Odontologia,
referentes aos anos de 1970 a 1971, foram os mesmos da Escola de Medicina e Cirurgia,
conforme constava nos termos do convênio estabelecido entre essas Faculdades. No entanto,
pode-se verificar que o curso de Odontologia reservou no orçamento de 1970 a importância
de Ncr$ 25.000,00 para começar a construção dos laboratórios próprios, pelo fato de que, a
partir de 1972, os alunos terminaram o básico e deveriam começar a desenvolver a parte
prática profissionalizante específica da Odontologia.
De acordo com o Regimento Interno encontrado no Arquivo Geral da
Universidade Federal de Uberlândia, datado de 18 de março 1970, a Faculdade de
Odontologia administrada pela AEU ficou com a estrutura didática determinada nos seguintes
moldes:
CAPITULO I – DOS CURSOS
Artigo Os cursos de graduação da Faculdade são abertos à
matrícula de candidatos que hajam concluído ciclo colegial ou
equivalente e tenham sido classificados em Concurso
Vestibular;
Artigo Na medida de suas possibilidades técnicas e
financeiras, a Faculdade de Odontologia poderá criar cursos de
especialização, aperfeiçoamento, extensão e outros, tendo em
vista inclusive as exigências de sua própria programação
específica e as peculiaridades do mercado de trabalho regional;
Parágrafo único Os cursos de especialização,
aperfeiçoamento, extensão e outros serão ministrados de acordo
com os planos traçados pela Congregação e aprovados pelo
Conselho Superior da Autarquia;
Artigo A Faculdade estenderá à comunidade, sob forma de
cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e serviços
especiais, as atividades de ensino e os resultados da pesquisa
que lhe são inerentes (Regimento Interno da Faculdade de
Odontologia da AEU, 18/03/1970, p.2).
101
O corpo docente da Faculdade de Odontologia foi dividido em duas partes: o
das disciplinas básicas, ministradas em 1970,1971 e 1972 na Escola de Medicina e Cirurgia e
o das disciplinas de formação profissional, ensinadas a partir da terceira série, na própria
sede da Escola de Odontologia.
Com relação às matérias do ciclo sico, ou seja, das e séries, foram
lecionadas pelos docentes da Escola de Medicina, os quais, como descrito a priori, já estavam
aprovados pelo Conselho Federal de Educação durante o processo de criação desta faculdade.
Sendo assim, a Faculdade de Odontologia de Uberlândia teve como seus primeiros
professores responsáveis e suas respectivas matérias básicas os seguintes agentes: Carlo
Américo Fattini – Anatomia, Gladstone Rodrigues da Cunha – Histologia e Embriologia, Éder
Silva Bioquímica, Mauritano Rodrigues Ferreira Fisiologia, Luiz Fernandes
Farmacologia e Terapêutica, Luiz Gonzaga de Oliveira Microbiologia, Gerson Mendes de
Lima Júnior e Edmardo Soares de Freitas Biofísica, Pedro Raso Patologia Geral e Buco-
Dental.
A Escola de Odontologia, neste momento, havia se comprometido a tentar
colocar professores do próprio quadro junto a esses docentes das disciplinas básicas, para
atuarem como docentes assistentes, pois esses professores deveriam, ao final do contrato entre
as faculdades, passar de assistentes a titulares das respectivas disciplinas de modo que, após
esses três anos de convênio, as matérias básicas estariam sob o comando dos professores da
Faculdade de Odontologia.
Os professores das disciplinas de formação profissional, que iriam lecionar a
partir da série do curso, em 1972, foram indicados pela AEU para avaliação curricular e
parecer do Conselho Estadual de Educação. Dessa maneira, tiveram-se as seguintes
indicações dos docentes e sua respectiva matéria: José Ramos da Rocha Prótese e
Traumatologia Buco-Maxilo Facial, Roberto Miguel professor assistente desta mesma
102
disciplina, José Gilberto Silva Odontopediatria, Edmundo Rodrigues da Cunha Filho
Ortodontia, Durval Gomes Garcia Odontologia Legal e Deontologia (observação: apesar da
indicação desse professor pela AEU, ele não pode ser aceito devido à inadequação dos seus
títulos para ministrar a disciplina), Dr. Laerte Alvarenga de Figueiredo foi aceito pelo CEE
para ensinar essa matéria, Josaphat Vieira Marques Prótese Dentária (para essa disciplina
foi feita também pela AEU a recomendação do professor Rubens Douat, porém, a
documentação que foi apresentada ao Conselho foi insuficiente para o exame da indicação do
mesmo), Osmar Alvarenga e Édison Pires de Carvalho Higiene e Odontologia preventiva,
Octacelônyco Teixeira de Oliveira, Alaor Ferreira Alvarenga, Sinval Teixeira de Oliveira,
Hitler Pimenta, Paulo Marçal, Walter Nogueira, Amaury Caetano de Menezes (este último
não foi aceito, pois não apresentou cópia do diploma de curso superior) Clínica
Odontológica, Layrton Borges de Miranda Vieira Materiais Dentários, Índio de Carvalho
Luz – Dentística Operatória e Cirurgia Odontológica.
Desta maneira, pode-se verificar que foram realizadas vinte e uma indicações
de docentes pela AEU, sendo quatro delas indeferidas, ficando conseqüentemente dezessete
indicações aceitas para o total de dez disciplinas, ocorrendo o caso da disciplina de Clínica
Odontológica, que contou com seis aceites.
Na documentação do Arquivo Geral da UFU, pode-se constatar que apenas três
dos professores titulares indicados residiam fora de Uberlândia, porém, a uma distância de
105 km por estrada asfaltada, respeitando-se os ditames estabelecidos pela Resolução nº 73/67
do Conselho Estadual de Educação.
Devido a todas essas características estruturais apresentadas ao Conselho
Estadual de Educação, o relator concluiu sua avaliação dando um parecer favorável à
concessão de autorização para funcionamento da Faculdade de Odontologia da AEU.
103
Porém, deve-se demonstrar que os agentes idealizadores e fundadores não
ficaram parados após a celebração do convênio. A partir deste momento, eles adquiriram de
um terreno no Bairro Brasil, em plena zona urbana de Uberlândia, com 8.000 metros
quadrados, sendo destinado à construção da sede da Faculdade de Odontologia.
Importante se faz lembrar que, neste período, especificamente, no dia 30 de
dezembro de 1969, firmou-se um contrato entre a AEU e o Arquiteto Ivan Cupertino, que,
apesar de residir em Belo Horizonte, aceitou a proposta para a construção dos projetos
arquitetônicos constituindo o plano piloto, e seu desenvolvimento da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia.
Em relação ao Regimento Interno, este foi apresentado, tentando atender às
exigências da legislação do Ensino Superior. Sendo assim, o Conselho Estadual de Educação
não colocou óbice à sua aprovação.
No documento apresentado ao Conselho Superior de Educação (CSE),
estavam inclusas as atividades de Educação sica e a Educação Moral e Cívica dos
estudantes (futuros dentistas), em conformidade ao que era preconizado pelas normas
impostas por esse Colegiado Superior.
A partir deste momento, com um parecer positivo do Conselho, a efetivação da
autorização para funcionamento da Faculdade de Odontologia da Autarquia Educacional de
Uberlândia só ocorreu após a expedição do Decreto autorizativo do Presidente da República.
Juntamente com outros rios documentos encaminhados para avaliação do
Conselho Superior de Educação, a AEU de Uberlândia fez juntar um organograma de sua
organização administrativa e educacional, com a devida previsão dos departamentos de ensino
e pesquisa, conforme preconizava a Lei da Reforma Universitária de 1968, que, segundo
relatado antes, ditava as diretrizes necessárias para que uma Escola de ensino superior
estivesse de acordo com a moderna organização estabelecida por essa legislação.
104
O organograma apresentado a seguir, favorece uma melhor visualização do
sistema organizacional da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
FIGURA V: Documento copiado do Arquivo Geral da UFU data de referência, 18/03/1970.
105
Concomitantemente a esse organograma apresentado, o diretor da AEU,
Wilson Ribeiro da Silva, e o diretor da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, assinaram a
constituição de um conselho departamental, que foi dividido basicamente em quatro
departamentos, sendo eles a:
Constituição de Departamentos
Conselho Departamental
I – DEPARTAMENTO DE MATÉRIAS BÁSICAS
Anatomia
Histologia e Embriologia
Bioquímica
Fisiologia
Farmacologia
Microbiologia e Imunologia
Patologia e Anatomia Patológica
II – DEPARTAMENTO DE MEDICINA ORAL
Clínica Odontológica
Cirurgia Odontológica
Prótese e Traumatologia Maxilo Facial
III – DEPARTAMENTO DE OCLUSÃO
Dentística Operatória e Materiais Dentários
Prótese Dentária
IV DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
PREVENTIVA E SOCIAL
Ortodontia
Odontopediatria
Higiene e Odontologia Preventiva
Odontologia Legal e Deontologia (conforme a cópia
de documento encaminhado, dia 18/03/1970, ao Governo do
Estado de Minas Gerais pela Autarquia Educacional de
Uberlândia que está sob a guarda do Arquivo Geral da UFU.
Uberlândia – Minas Gerais).
Vale ressaltar também, a importância de demonstrar a carga horária, por
matéria, apresentada para apreciação do Conselho Superior de Educação e que, depois de
aprovada, foi ministrada durante as séries do curso:
106
a) Na primeira série, do primeiro ano do Ensino Superior, as disciplinas de
Anatomia e (Histologia e Embriologia) foram de 360 horas cada uma,
enquanto que a disciplina de Bioquímica e a de Biofísica tiveram como
carga horária anual 170 horas cada uma.
b) Na segunda série, ou seja, no segundo ano de Faculdade, as matérias de
Fisiologia e Farmacologia tinham cada uma 150 horas como carga horária
anual, ao passo que a microbiologia e a imunologia era de 170 horas cada
uma, diferentemente da carga horária da Patologia e Anatomia Patológica
que foi estabelecida de 480 horas e, finalmente, a Dentística Operatória e
Materiais Dentários que eram apresentadas no período de 240 horas.
c) Na terceira série, já começava a disciplina chamada Clínica Odontológica e
Cirurgia Odontológica, que contava com a carga horária anual de 180 horas
cada uma, no tempo em que a matéria de Higiene e Odontologia Preventiva
era ministrada em 240 horas. Já a prótese Dentária tinha 312 horas e, por
fim, a Odontologia Legal e Deontologia que era ensinada em 120 horas.
d) Finalmente, no último ano de Faculdade, o estudante de Odontologia
deveria passar pelas disciplinas de: Clínica Odontológica – 164 horas,
Cirurgia Odontológica 160 horas, Ortodontia 210 horas,
Odontopediatria 240 horas, Prótese Dentária 300 horas e a Prótese e
Traumatologia Maxilo Facial, que contava com 168 horas.
Interpretando esse demonstrativo da carga horária prevista para ser empregada
em cada série e em cada matéria, pode-se constatar que, durante o período básico, foram
escolhidas disciplinas consideradas essenciais ao alicerce técnico científico para a futura
prática profissional.
107
Pode-se inferir que a fundamentação nas ciências biomédicas foi considerada
um pré-requisito estabelecido para ser cumprido durante os dois primeiros anos, ou seja, a
primeira e a segunda séries da Faculdade de Odontologia deveriam, dessa maneira, conceber
uma base teórica e transmitir um conhecimento estrutural e científico sobre o processo saúde
bucal e seus acometimentos patológicos.
Pelo visto, tentou-se evitar que o cirurgião dentista formado pela Escola de
Odontologia de Uberlândia se tornasse um mero reprodutor de mão de obra técnica e
repetitiva. Com a escolha dessas disciplinas básicas que primavam pela ciência e sua
fundamentação, talvez se tenha buscado possibilitar que o Odontólogo formado por essa
instituição tivesse uma autonomia de pensamento e não atuasse como os práticos, os quais
ainda atendiam como meros artesãos.
Deve-se enfatizar que os professores do ciclo básico pertenciam aos
departamentos concernentes às suas matérias. O modelo constituído por departamentos,
imposto pela Lei 5.540/68, teve como escopo a racionalização de recursos, pois, dessa
forma, o mesmo docente da área de Anatomia poderia ministrar aulas para as Faculdades de
Medicina, Odontologia, Veterinária, Educação Física, Ciências Biológicas, dentre outros
cursos afins às Ciências Biomédicas. Além disso, o mesmo laboratório de uma determinada
matéria poderia abarcar e atender a todos esses alunos.
Entende-se que a Faculdade de Odontologia de Uberlândia, ao adotar uma
constituição de Departamentos, tecnicamente, conseguiu uma racionalização administrativo-
pedagógica do Ensino Superior, pela via da instituição do regime de créditos e da organização
departamental. Porém, observou-se, durante a análise, que essa nova organização, sugerida”
pela Lei da Reforma Universitária de 1968, veio atender aos interesses do Governo do
Regime Militar, que adotou um modelo sócio/econômico atrelado à ordem (Segurança
Nacional) e ao progresso (desenvolvimentismo econômico e modernização do país).
108
Além disso, deve-se desconstruir esse simbolismo de que a Lei 5.540/68 foi
planejada somente com o objetivo de incrementar o desenvolvimento das Faculdades, por
meio da racionalização dos gastos de materiais e de pessoais e pela otimização dos resultados,
pois isto causou, também, um distanciamento entre o docente de uma disciplina que, às vezes,
não se enquadrava no projeto pedagógico de determinado Curso, desencadeando certo
afastamento desse docente para com os demais professores. Isso se tornou um fator nocivo
para as relações sociais entre os professores, visto que dificultava a troca de conhecimentos e,
conseqüentemente, prejudicava o método da prática do ensino-aprendizagem.
Outro distanciamento que também podia ser evidenciado foi entre o professor,
que, normalmente, era formado em outra área, e os alunos, que não aprendiam para serem
profissionais do mesmo Curso da formação do docente. Além disso, com o regime de créditos
os alunos, dos mais variados Cursos, podiam se matricular para fazer as disciplinas com os
discentes de outras Faculdades. Assim, pode-se afirmar que a união dos estudantes ficou mais
tênue do que se todas as matérias fossem ministradas para uma mesma turma, durante todo
um curso.
Mais um diferente problema causado por esse sistema departamental,
especificamente, para os alunos da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, foi que, pelo
fato da contratação do convênio entre as Faculdades, a grande maioria dos professores do
Curso básico eram médicos cedidos pela Faculdade de Medicina e Cirurgia, e, por isso,
tinham dificuldade em contextualizar e conciliar sua disciplina com a prática profissional da
Odontologia.
Outra dificuldade refere-se à carga horária da disciplina de Patologia e
Anatomia Patológica, que exigia o maior número de horas de todo o curso de Odontologia,
480 horas, ministradas durante o segundo ano da Faculdade. Por ser uma ciência difícil e
109
sempre muito exigida pelos professores, perpassava naquela época certo receio dos alunos de
serem reprovados nesta matéria, sentimento que atravessa a história dessa Escola até hoje.
Em seguida, realizou-se uma análise sintética de alguns aspectos em torno da
criação do CRO-MG e suas influências na FOU, em seus primeiros momentos.
2.3. A criação do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais
(CRO-MG) influenciando nas representações e práticas sociais presentes na origem da
FOU
As ações de idealização/criação e construção da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia vieram concomitantemente com outros movimentos e acontecimentos no âmbito
regional, os quais também interferiram e influenciaram na formação das representações,
apropriações e práticas sociais forjadas nesse contexto.
Dentre os mais variados acontecimentos, necessário se faz destacar que, no dia
13 de janeiro de 1967, reuniram-se rios cirurgiões dentistas (CDs) para redigir a ata solene
de instalação e posse da primeira diretoria do Conselho Regional de Odontologia de Minas
Gerais (CRO-MG), fruto da idealização dos CDs que lutaram para que fosse instituída essa
entidade representativa dos dentistas em âmbito regional, os quais já patrocinavam encontros
desde 19 de abril de 1966, com o intuito de tornar real o sonho de um órgão de representação
em Minas Gerais.
Nomes importantes da Odontologia como Edgard Carvalho Silva, Cyro
Gomide Loures, Heraldo Dias Ribeiro, João Haddad, Paulo Amaral, Airton Costa, Walter
Eddy Rolfs, Pedro Luiz Diniz Viana, Gil Mendes, Cândido Cardoso de Miranda Neto, Jair
Raso, Osmir Luiz de Oliveira, Badeia Marcos, e também os cirurgiões dentistas do interior
foram representados pelos CDs Célio Pereira Bastos (Divinópolis), Jairo Viana de Oliveira
110
(Divinópolis), Laerte Alvarenga de Figueiredo (Uberlândia), José Grecco (Divinópolis),
Nagib Salomão Nimam (Caxambu), Nelsom Dantas (Governador Valadares), Maurílio do
Carmo Ribeiro (Santos Dumont), Rui Braga (Montes Claros), Odair Delgado Messias (Juiz de
Fora), Wagner Viera Guedes (Varginha) participaram das reuniões, contribuindo efetivamente
para a idealização e criação do CRO-MG (Jornal do CRO-MG FEVEREIRO –2005. p.2).
(Grifos do pesquisador).
Os agentes idealizadores do CRO-MG ansiavam por uma entidade que tivesse
conselheiros desempenhando uma função de lutar pela Odontologia de forma responsável e
consciente. Viam a criação dos Conselhos como uma grande conquista da categoria
odontológica, pois acreditavam que através de um engajamento dos profissionais se
poderiam conseguir a regulamentação da profissão e, principalmente, o combate aos práticos.
Na época, uma das principais preocupações dos odontólogos uberlandenses,
apresentada junto ao CRO-MG, era a necessidade de eliminar a atuação dos dentistas práticos.
Conforme dados apresentados anteriormente, Uberlândia tinha um alto índice de dentistas
não formados atuando, fato que, sob o ponto de vista de alguns profissionais, denegria a
imagem da odontologia praticada na cidade.
O documento fundador do CRO-MG apregoava que todos os cirurgiões
dentistas deveriam lutar por valorizar a profissão, pelo prestígio da ciência, pela dignificação
da ética, pela defesa das prerrogativas e livre exercício das atividades profissionais, para a
fiscalização das atividades odontológicas, para o julgamento administrativo das infrações
éticas e da inclusão da Odontologia entre os serviços básicos e essenciais à saúde pública.
Seja nas capitais, seja no interior, foi necessário que representantes da
odontologia lutassem para conquistar os seus direitos perante a sociedade brasileira,
estabelecendo a posição, que segundo esses representantes, o cirurgião dentista deveria
111
galgar, com o exercício das suas atividades profissionais, alcançando um status de maior
prestígio no cenário nacional.
Conforme informações anteriores, além do modelo progressista e
desenvolvimentista defendido pelos representantes do Regime Militar, existia também a
pressão das categorias médias pleiteando mais universidades e mais vagas no Ensino
Superior. As camadas médias acreditavam que o Ensino de terceiro grau poderia servir-lhes
como “trampolim”, elevando sua posição e prestígio perante a sociedade. Ainda hoje, permeia
no ideário pátrio essa representação de ser o Curso Superior um caminho direto para uma vida
próspera e de promoção social.
Na sociedade uberlandense, esses sentimentos também não eram e não foram
diferentes do observado em âmbito nacional. Considerava-se, e ainda se considera, o cirurgião
dentista como um importante elemento para a comunidade, e também, às vezes, como um
indivíduo essencial para o desenvolvimento da cidade e com boas possibilidades de adquirir
prosperidade financeira, política e social.
A expansão do Ensino Superior e sua interiorização sugerem uma ascensão
social para os indivíduos, segundo as crendices do povo brasileiro, que acreditava (e ainda
crê) que cursar uma Faculdade é um dos poucos caminhos para se conseguir um crescimento
econômico, tanto pessoal, quanto para a cidade ou região na qual o indivíduo se insere.
O surgimento de uma faculdade estava associado ao engrandecimento e ao
desenvolvimento da região. A partir do momento da construção das faculdades isoladas em
Uberlândia, a cidade passou a ter maior destaque no interior Mineiro, passando a simbolizar
um ponto de referência para as comarcas vizinhas.
Após analisar alguns aspectos pertinentes à criação do Conselho Regional de
Odontologia de Uberlândia, influindo nas lutas de representações e práticas sociais dos
112
dentistas uberlandenses, no momento da criação da FOU, apresenta-se uma interpretação da
realidade escolar dessa instituição.
2.4. A realidade escolar: objetivos, funções, meios e suportes
Conforme foi apresentado, a reforma universitária de 1968 se tornou a Lei
mestra do Ensino Superior, norteando e articulando a implantação/manutenção do modelo
sócio-econômico-político militar dentro das faculdades brasileiras. Para que essas instituições
almejassem ser reconhecidas e/ou continuassem funcionando, deveriam respeitar os ditames
de tal reforma.
Em consonância com essa tendência “requerida” pela Lei citada acima, pode-se
ressalvar a influência e a interferência desse ordenamento dentro da estrutura da AEU, e,
conseqüentemente, na organização interna da Faculdade de Odontologia. Poder-se-á, no
próximo capítulo, entender e constatar, de maneira específica, como tais ingerências
chegaram a implicar nas relações administrativas entre o reitor época) Juarez Altafin e o
Diretor da Escola de Odontologia Dr. Laerte Alvarenga Figueiredo.
A partir desse momento, pós reforma universitária de 1968, o Ensino Superior,
como um todo, foi fortemente influenciado pelas mudanças apresentadas, pois, no sentido
técnico da Lei 5540, de 28 de novembro de 1968, como foi evidenciado, primou pela
racionalização do sistema administrativo-pedagógico de ensino, implementando a
estruturação e a organização das matérias ministradas em departamentos e a utilização do
regime de créditos.
Apesar do fato de que a Escola de Odontologia de Uberlândia tentou se
adequar a todas essas mudanças estruturais apontadas na Lei da reforma universitária de 1978,
isso não amenizou os problemas de ordem econômica. Ela também passou pelas dificuldades
113
financeiras que acometiam a maioria das instituições de ensino no Brasil, pois o Estado não
disponibilizava as verbas prometidas e, quando o fazia, além de chegar com atraso, o
montante concedido quase sempre era bem menor do que o valor pleiteado.
Essa crise financeira pode ser verificada em nota de primeira página do jornal
“CORREIO DE UBERLÂNDIA”:
Uma séria crise está para se esboçar na Autarquia Educacional
de Uberlândia, entidade que engloba a Faculdade de Medicina
Veterinária (Tupaciguara) e Escola de Odontologia (em
planejamento), envolvendo as demissões dos diretores, Sr.
Carlos de Almeida Wutke e Laerte Alvarenga Figueiredo.
Ambos pediram demissão de seus cargos à diretoria da AEU.
Esta demissão, segundo consta, deverá ser em caráter
irrevogável, face à falta de andamento adequado às duas escolas
superiores, por parte dos responsáveis no Estado de Minas,
que até agora nenhuma providência foi tomada garantindo o
funcionamento normal das escolas superiores. Faltam verbas e
tudo mais. Outras informações extra-oficiais chegadas à
redação, adiantam que a AEU recebeu de Minas cerca de 300
mil cruzeiros novos, conforme consta no “Minas Gerais” de 2
do mês passado, porém a importância não chegou aquelas
escolas no triângulo (JORNAL “CORREIO DE
UBERLÂNDIA”, 24/25/09/1968, p.1).
Eram inúmeras as dificuldades financeiras da instituição, que, além da ajuda
econômica proveniente do Estado de Minas Gerais, fornecida pela mantenedora AEU
para a Faculdade de Odontologia de Uberlândia, os discentes pagavam uma mensalidade para
ajudar na manutenção deste instituto.
Conforme consta na entrevista realizada pelo pesquisador com o egresso da
turma de 1975, Gaspar Paulino
19
(entrevista 01, em anexo) pode-se observar que os estudantes
Pagavam uma mensalidade pequena, quase simbólica. O Estado complementava.
Confrontando essa informação com os dados apresentados no documento de previsão
orçamentária para o exercício de 1970, pode-se confirmar que a anuidade escolar paga por
cada aluno foi estabelecida inicialmente no valor de Ncr$ 100,00 por mês, ou seja, perfazendo
19
Cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma – 1975; Especialista em Endodontia pela Associação Brasileira de
Odontologia em 1998; Ex-Presidente do Diretório Acadêmico Homero Santos. (entrevista 01, em anexo).
114
o total de Ncr$ 1.200,00 por ano, enquanto a contribuição da Autarquia Educacional
programada foi no valor de Ncr$ 132.105,00. Desta forma, comprova-se e endossam-se os
depoimentos desse entrevistado ao cotejá-las com os documentos. Vale ainda destacar que, ao
considerarem a “mensalidade pequena”, provavelmente foi porque tal quantia não pesava em
seu bolso, pois era um valor acessível para os alunos provindos da classe média e média
baixa.
Segundo o relato oral do ex-aluno da turma de 1973, Dr. Antônio Mario
Buso
20
, (entrevista 08 em anexo) naquela época - o curso era pago, mas seu valor era menor
do que o cursinho.
A Faculdade de Odontologia de Uberlândia, fundada em 1970, nasceu como
um estabelecimento de Ensino Superior, pertencente à AEU, que, apesar das inúmeras
dificuldades e polêmicas apresentadas antes, foi criada com os objetivos específicos: de
formar profissionais de nível universitário destinados ao exercício da Odontologia; realizar
pesquisas nos domínios da cultura por ela abrangidos; contribuir para a formação de cultura
superior e para o desenvolvimento das ciências.
Outras finalidades sicas da Faculdade foram a de formar cirurgiões dentistas
em número suficiente para responder às necessidades da saúde bucal da região do Triângulo
Mineiro, tendo em vista a importância sanitária do complexo buco-dentário para a saúde do
indivíduo, e até mesmo para sua eficiência como força produtora capaz de colaborar no
impulso do progresso social e econômico da região.
Para o professor Ivan Miguel Costa, segundo editorial escrito por ele para a
revista: 10 Anos de Ensino e Participação Odontologia (UFU-MG) a Faculdade de
Odontologia:
20
Cirurgião dentista, aluno da 1
a
turma 1973. Mestre em Reabilitação Oral; Especialista em Periodontia;
Especialista em Metodologia de Ensino; Professor Titular Universidade Federal de Uberlândia. (entrevista 08,
em anexo).
115
Nascida no ano 70, dentro do espírito crédulo e otimista da
Reforma Universitária e encarnando o sonho de grandeza
brasileira surgido com o milagre econômico, a Faculdade de
Odontologia da Uberlândia tem sido o fiel reflexo dos tempos.
Inicialmente sonhou tornar-se uma escola modelo tais como as
grandes escolas Norte Americanas ou Européias, dentro do
espírito Brasil grande do nosso milagre brasileiro. Depois da
crise do petróleo, quando o Brasil se descobriu num susto como
um país do terceiro mundo, onerado por vultosa dívida externa
e dependente das importações do encarecido petróleo, a
Faculdade de Odontologia, no embrião da Universidade
Federal de Uberlândia, descobriu no povo brasileiro a carência,
a cárie e a perda precoce dos dentes. Iniciou então a jornada
socializante e pela coletividade. (UNIVERSIDADE FEDERAL
DE UBERLÂNDIA. Odontologia 10 anos de ensino e
participação. 1980, p.1).
Diante do relato desse docente, consolida-se a afirmação de que a Faculdade de
Odontologia foi construída sobre pilares idealizados e norteados pelo simbolismo do
progresso e do desenvolvimentismo forjados pelos comandantes da nação brasileira. Sendo
assim, o mito do “milagre econômico” refletiu-se em vários setores da sociedade,
principalmente, sobre os indivíduos pertencentes à categoria da classe média que viam o
Ensino Superior como uma possibilidade de ascensão social, causando conseqüentemente
uma “corrida” para conseguir uma vaga no curso universitário.
No entanto, para que o aluno pudesse ingressar nesta Faculdade, ele deveria
passar pelo concurso de habilitação. As inscrições para o primeiro concurso vestibular da
Escola de Odontologia de Uberlândia foram realizadas na secretaria provisória desta Escola,
que estava localizada a Avenida Afonso Pena 547, sala 83, onde se concretizaram os
pedidos de inscrição para concorrer a uma vaga na 1ª Turma de Odontologia de Uberlândia.
O concurso de habilitação, como demonstrado no decorrer do texto, aconteceu
no dia 10 de junho de 1970, e contou com 84 candidatos para concorrer a 50 vagas. O exame
constou de quatro provas em forma de teste, respectivamente: prova de Português, Química,
Física e de Biologia. Para cada prova, foi designada uma comissão examinadora, que fixou o
116
prazo de duração dos testes de cada matéria, qual seja: três horas, sobre as quais não foi
concedida nenhuma hipótese de revisão, e também não foram fornecidas as notas.
Nesse ponto, observa-se uma “rigidez ditatorial” imposta pelos organizadores
do primeiro exame vestibular do Curso de Odontologia de Uberlândia, pois não forneceram os
pontos obtidos pelos alunos concorrentes e, menos ainda, admitiu a impetração de qualquer
pedido de recurso.
As vagas foram preenchidas por classificação, conforme determinava o
Regimento Interno da Faculdade. A secretaria do curso divulgou, através de edital afixado em
quadro próprio, a relação dos Candidatos que foram admitidos à matrícula e que deveriam,
após a aprovação, preencher o Requerimento de Matrícula munidos dos documentos exigidos
para a efetivação do registro como aluno da Instituição.
A partir do ingresso como aluno do referido Curso, o discente, para obter êxito
na sua formação, devia respeitar as normas e o Regimento Interno vigentes; além disso, para
ser aprovado, os calouros se submetiam a um regime de apuração de resultados mediante à
realização de quatro provas escritas por ano, sendo que o exame final era oral.
As provas escritas foram programadas para serem realizadas: a primeira, na
segunda quinzena de julho; a segunda foi aplicada em setembro; a terceira realizada em
novembro, e a quarta prova correspondeu a uma apresentação de resultados dos trabalhos dos
alunos durante o ano, mediante índice de aproveitamento minuciosamente declarado pelo
docente. Esses trabalhos deveriam ter uma exigência de caráter prático.
Para que o aluno fosse aprovado para a série seguinte, a média aritmética das
quatro notas do aluno deveria ser igual ou superior a sete pontos. Porém, caso essa média
fosse igual ou superior a cinco pontos, mas com freqüência mínima de 80%, ficaria sujeito a
um exame final, no qual precisaria de uma nota mínima de quatro pontos para sua aprovação.
Se não preenchesse esse último quesito seria reprovado.
117
Por insuficiência de nota na prova final, ainda se dava uma outra oportunidade
para os alunos, que poderiam se inscrever nos exames de segunda época. Estes eram
estruturados por uma prova escrita e uma oral, avaliando-se até um limite de três disciplinas.
Para aprovação, deveriam obter uma média mínima de seis pontos.
Além dessas “prerrogativas” para a aprovação, os alunos reprovados poderiam
se matricular na série posterior, ficando com dependência em até duas matérias; porém,
continuariam obrigados a realizar todas as provas e trabalhos das disciplinas pendentes e não
poderiam ser aprovados de um ano para o outro com dependência do ano atrasado.
Assim, a Faculdade de Odontologia iria fornecer o grau de cirurgião dentista,
expedindo o respectivo diploma, devidamente assinado pelo Diretor e pelo Secretário, ao
aluno que concluísse o curso de graduação, sendo aprovado em todas as disciplinas, conforme
normas do Regimento Interno.
O ato coletivo de colação de grau dos alunos deveria ser realizado em sessão
magna da Congregação, sob a presidência do Diretor, para que fosse considerada válida.
Durante esta sessão solene, os graduados deveriam prestar um juramento perante esse
representante oficial.
Se fosse requerido com antecedência e mediante justificativa, o aluno poderia
colar grau individualmente, ou em pequenos grupos. O Diretor fixaria o dia e a hora e
realizaria a sessão solene na presença de três professores titulares da Odontologia.
É importante destacar que a Faculdade poderia, caso julgasse merecedor,
conceder título de Benemérito às pessoas que prestassem serviços relevantes ao
estabelecimento, e conseqüentemente, à sociedade uberlandense.
A comunidade escolar, agregada na comunidade universitária, era constituída
pelos professores, alunos e funcionários (técnico-administrativo). É importante enfatizar que o
ato de investidura em qualquer um dos cargos ou funções pertinentes a Faculdade de
118
Odontologia de Uberlândia vinculava o prestador de serviços ao compromisso de respeitar as
normas impostas pelo Estatuto da Autarquia, pelo Regimento Interno da Escola de
Odontologia e por qualquer autoridade que deles emanassem no exercício das suas funções,
visto que o desrespeito seria passível de sanção.
Neste último capítulo, será apresentado o estudo das representações e práticas
sociais construídas pelos agentes/atores que participaram do processo da gênese dessa Escola
Superior a guisa de: políticos, ex-alunos, funcionárias, ex-Reitor e ex-paciente da Policlínica
da FOU.
CAPÍTULO III
CRIAÇÃO DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE UBERLÂNDIA:
REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS SOCIAIS
Este capítulo tem como objetivo principal a interpretação das representações e
práticas sociais dos ex-alunos, funcionários e políticos que participaram e estiveram presentes
na Faculdade de Odontologia de Uberlândia, no período delimitado para a pesquisa,
analisando os elementos pertinentes à sua criação e à sua instalação, trazidos pelo relato oral
dos entrevistados.
3.1. A pesquisa das fontes orais envolvendo a gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia
Primeiramente, para esclarecer ao leitor como ocorreu o processo de
elaboração dessa pesquisa oral, é importante destacar que, antes de realizar qualquer
entrevista, contou-se com a colaboração do ex-acadêmico da turma de 1975, Dr. Gaspar
120
Paulino, que, em várias conversas informais com o pesquisador, trouxe diversos subsídios,
indicando quais seriam os atores/partícipes da FOU, nos primeiros tempos, que melhor
poderiam colaborar com essa pesquisa histórica.
Depois dessas inúmeras conversas informais, de maneira a avaliar as
reminiscências desse acadêmico, decidiu-se realizar uma entrevista aberta
21
com ele, a
05/03/2005 (entrevista em anexo), vislumbrando que a partir dela seria elaborado um esquema
básico para orientar os demais depoimentos.
Desta sorte, com a matéria da primeira entrevista transcrita, o pesquisador,
juntamente com a orientadora, formulou um questionário semi-estruturado (em anexo),
contendo, em um primeiro momento, indagações genéricas acerca do entrevistado e de sua
qualificação, tais como: nome, turma, filiação, local de nascimento, classe social e,
finalmente, o percurso escolar do ex-aluno, perquirindo onde foram desenvolvidos seus
estudos, nos diferentes níveis.
Em seguida, passou-se a tecer questões acerca dos temas pertinentes à presente
dissertação. Assim, foram apresentados alguns aspectos que foram importantes para a análise
da história da FOU.
A entrevista semi-estruturada, pautada em questões genéricas e flexíveis,
possibilitou aos agentes entrevistados tranqüilidade e liberdade em trazer à memória os
acontecimentos do passado.
A parte inicial das entrevistas, contendo os dados dos entrevistados, foi
realizada de maneira uniforme tanto para os ex-alunos quanto para os funcionários e para uma
das primeiras pacientes atendida na Policlínica da FOU. Porém, na segunda parte dos
21
Como poderá ser observado na primeira entrevista realizada com Dr. Gaspar Paulino no dia 05/03/2005 (em
anexo) foram realizados questionamentos abrangentes, de forma a dar condições ao depoente para trazer à tona
aquilo que, na sua visão, foi significativo/representativo e marcou o passado da FOU.
121
depoimentos, nas questões específicas, algumas alterações foram feitas, direcionando-as para
a categoria profissional à qual pertencia o entrevistado.
Importante se faz enfatizar que cada entrevistado apresentou detalhes não
informados por outros e, por outro lado, alguns corroboraram as assertivas dos seus pares,
sendo que tiveram reminiscências semelhantes, contraditórias e, às vezes, até muito parecidas,
porém, nenhuma foi exatamente igual, enriquecendo o trabalho de historicizar a gênese da
Escola de Odontologia de Uberlândia.
Os depoimentos orais, após a autorização dos entrevistados, foram registrados
por meio de gravação em fita cassete, e, depois, foram transcritos e arquivados em meios
eletrônicos, disquetes e em forma de cópias físicas.
É importante ressaltar que o processo de transcrição foi difícil e demorado,
observando-se a necessidade de reduzir o discurso oral, rico em expressões, gestos, mímicas
e, às vezes, até lágrimas, em um texto escrito. Mesmo valendo-se de todos os recursos
possíveis do vernáculo escrito, tem-se a impressão de que a transcrição o é capaz de trazer,
de forma plena, ao leitor o significado, a representação, como por exemplo, da voz rouca e
cingida por uma saudade ou lembrança da sua história, que apertaram o peito do entrevistado
durante o processo de retorno ao passado.
No entanto, a transcrição das entrevistas na forma de texto escrito foi essencial
para facilitar a análise e a interpretação das informações colhidas, e, mormente, para
apresentá-las, na íntegra, em anexo, ao final do presente trabalho.
Para analisar, interpretar e compreender a natureza da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia é necessário expor a história de sua criação e instalação buscando-
se não esquecer o momento histórico marcado pela influência do poder político e da Ditadura
Militar. Sendo assim, avaliando-se a conjuntura da qual faziam parte os agentes/partícipes
122
dessa gênese escolar, tenta-se demonstrar como os depoentes se enxergavam e o que
significou a Escola de Odontologia de Uberlândia em suas vidas.
Em um primeiro instante, pensou-se em focalizar as entrevistas somente no
principal produto da Faculdade: o formando, procurando observar qual seria sua origem
social, seu percurso escolar, suas pretensões futuras enquanto estudante da FOU, seus hábitos,
suas escolhas, e, até mesmo, suas trajetórias profissionais. Esse trabalho foi realizado de
forma incipiente nas entrevistas e poderá ser verificado nas tabelas em anexo.
Além disso, pensou-se, também, em traçar qual seria o perfil do Odontólogo
formado pela Escola de Odontologia de Uberlândia. Entretanto, apesar da vontade intrínseca
do pesquisador em desenvolver esse estudo, de forma minuciosa, atentou-se para a exigüidade
do tempo.
Diante disso, optou-se por entrevistar, nove ex-alunos formandos das primeiras
turmas, duas funcionárias, dois políticos, um ex-reitor do período delimitado e, por fim, uma
paciente que foi atendida nos primeiros anos de funcionamento da Policlínica. Em
conformidade com a proposta realizada no início dessa dissertação, procurou-se interpretar o
estudo dessas entrevistas como um recurso metodológico importante, valendo-se do relato
oral como técnica complementadora das demais fontes.
Importa ressaltar que, não foi objetivo desse trabalho realizar algumas
biografias que retratassem a importante participação de algumas personalidades, pelo
contrário, procurou-se captar por meio de depoimentos, o significado, a representação de se
ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia.
Os critérios básicos orientadores para a escolha dos depoentes ex-alunos foram:
formados das primeiras turmas dentro do período recortado qual seja: 1966 a 1978, os
acessíveis, escolhidos aleatoriamente, porém de preferência, entre aqueles ex-discentes que
ainda mantêm um vínculo com a instituição de ensino, pois se notou que esses ex-alunos
123
alguns dos quais por serem os atuais professores, diretores e coordenadores do Curso,
sustentando, pois uma relação de emprego com a Faculdade de Odontologia, trazem um
envolvimento constante com os acontecimentos referentes à Instituição, mantendo de forma
viva, em suas mentes, os episódios marcantes da história da FOU. Entrevistou-se também dois
alunos das primeiras turmas que não estão ligados a Faculdade de Odontologia de Uberlândia
com o intuito de enriquecer a análise.
Não se pode julgar que o número de entrevistas foi pequeno, visto que cada
entrevistado reportou-se a alguns colegas, aos familiares e à comunidade, de maneira a
fornecer informações e dados que eram comuns acerca da gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia.
Quanto à entrevista realizada com o Ministro Homero Santos, colocou-se como
elemento identificador, o resumo do seu Curriculum Vitae. Realizada a 24 de junho de 2005,
e, devido ao grande número de compromissos do entrevistado, seu questionário foi sintético e
objetivo, para que, durante o curto tempo disponibilizado pelo político, o pesquisador
conseguisse trazer o maior número de informações possíveis, envolvendo a história da Escola
de Odontologia de Uberlândia.
Na entrevista feita com o ex-vice-reitor (1970-1971) e ex-reitor (1971-1975)
Juarez Altafin
22
, de 11/03/2006, também identificado com um breve currículo do depoente,
foram levantadas indagações acerca da história da Universidade de Uberlândia e dos fatos
que, para ele, marcaram o ingresso da FOU no âmbito da UnU. Essa entrevista trouxe
importantes informações sobre a administração da Universidade de Uberlândia naquela época.
Após inúmeras tentativas e uma persistência que deve ser inerente a todo
pesquisador, conseguiu-se realizar uma entrevista com o ex-Governador Rondon Pacheco.
22
Bacharel em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil; Promotor de Justiça; Juiz
de Direito e Juiz Presidente da JCJ da Justiça do Trabalho em Uberlândia; Juiz Togado do Tribunal Regional do
trabalho da Terceira Região, Vice-Reitor UFU (1970-1971), Reitor UFU (1971-1975), (entrevista 13, em anexo).
124
Feita a identificação do entrevistado com um currículo sumário do mesmo, foram abordadas
questões referentes à conjuntura política e social no Brasil, em Minas Gerais e, finalmente, em
Uberlândia, nos anos de 1970 em relação à gênese da Faculdade de Odontologia
uberlandense.
Por fim, foi realizada no dia 29/04/2006 uma entrevista com Nazaré Aparecida
Massariolli
23
, membro da comunidade que foi atendida juntamente com sua mãe e familiares
pela Policlínica da Faculdade de Odontologia de Uberlândia nos primeiros anos de seu
funcionamento, de forma mais precisa, a partir de 21 de março de 1974, conforme comprova
o atestado de comparecimento, em anexo.
3.2. Os primeiros alunos da Faculdade de Odontologia de Uberlândia
A partir da análise dos depoimentos, poder-se-á observar, no cabeçalho
qualificativo, realizado para dar identidade aos ex-alunos entrevistados, que grande parte dos
ex-estudantes da FOU são filhos de comerciantes, dentre outras atividades, tais como:
ferroviários, agropecuarista, funcionário público, e, as mães dos depoentes trabalhavam no lar
ou com atividades afins, por exemplo, serviços ligados à costura.
O local de nascimento da maioria dos entrevistados é a cidade de Uberlândia e
região, à guisa de Tupaciguara, Indianópolis, Uberaba, Araguari, Buriti Alegre-GO, entre
outras. Essas informações demonstram que ao instalar a Faculdade de Odontologia, a cidade
atraía diversos estudantes das comarcas vizinhas colaborando para seu crescimento e
desenvolvimento.
23
Paciente atendida na Policlínica da FOU, a partir do dia 21/03/1974. Nível escolar atual: grau incompleto.
Data de nascimento: 03/04/1957. Nome da Mãe: Olga de Oliveira Massariolli. Nome do Pai: Valdemar
Massariolli. Local de nascimento: Uberlândia MG. Classe social a que pertencia em 1970: classe baixa.
Profissão atual: Serviços Gerais, (entrevista 15, em anexo).
125
Quanto à classe social, notou-se que os alunos das primeiras turmas da Escola
de Odontologia de Uberlândia pertenciam, na época, à classe média, à média baixa ou baixa,
pois, em sua grande parte, os depoentes responderam que o fato de ter uma Faculdade aqui
nesta cidade, foi uma possibilidade única de desenvolverem seus estudos, senão, caso
contrário, suas famílias não teriam condições de mantê-los estudando nas capitais.
Fazendo uma breve análise do percurso escolar pré-faculdade dos ex-alunos da
FOU nos primeiros tempos, pode-se observar uma participação considerável de discentes
provindos das escolas públicas de Uberlândia e região, muitos acreditavam que o ensino
ministrado pela rede pública era eficiente e capacitava, de forma melhor, o aluno para os
exames vestibulares, quando comparado aos colégios particulares.
Para Gaspar Paulino:
[...] Aqui quase não existia escola particular de segundo grau.
Tinha o Colégio Brasil Central e o Inconfidência. Mas o forte
aqui na época era sempre o Estadual. Se tivesse 100 vagas na
Engenharia e apresentasse 100 candidatos do Estadual não
sobrava pra ninguém. Porque a turma lá era “barra pesada”
mesmo. E como os vestibulares eram projetados, baseados na
metodologia do Colégio Estadual, os alunos sabiam o macete
das provas [...] (entrevista 01, em anexo).
Assim, a partir da interpretação desse depoimento, pode-se perceber uma forte
representação de que os alunos provindos dos Colégios estaduais eram mais capacitados para
concorrer e serem aprovados nos exames vestibulares. É interessante observar a contradição
com a atual escola pública no Brasil.
Pode-se também, constatar nas entrevistas que, em determinados casos com o
objetivo de acelerar o ingresso no Curso Superior, alguns dos depoentes prestaram o exame de
“madureza”, uma espécie de supletivo, o qual possibilitava completar os requisitos
necessários para ingresso na Faculdade de forma célere.
126
Isso pode ser comprovado no relato de Odorico Coelho da Costa Neto
24
:
Quando eu mudei para Uberlândia, eu fiz escola particular,
Externato São José, ali na Tenente Virmondes entre a Cipriano
e a João Pinheiro. eu fiz até a admissão, a gente
enfrentava quase que um vestibular para entrar no Colégio
Estadual. fiz o Colégio Estadual, da primeira até a quarta
série, e fiz o científico até o segundo científico no Estadual.
Depois eu fiz esse exame de madureza, então, o meu pai me
emancipou com 18 anos porque podia fazer quem era
emancipado. Daí eu prestei esse exame em Anápolis, no colégio
Couto Magalhães. Passei e, posteriormente, eu prestei o
vestibular para Odontologia. E prestei para Odontologia
(entrevista 10, em anexo).
Corroborando os fatos da assertiva acima, segundo Alfredo Júlio Fernandes
Neto
25
:
O primário eu cursei no Liceu de Uberlândia. Estudei também
no Externato o José. Minha família mudou para Ipameri em
Goiás e lá eu estudei no Colégio estadual Professor Eduardo
Mancini. E de lá eu regressei para Uberlândia e estudei no
Colégio Brasil Central, quando faltava um ano eu prestei
Madureza, que era um supletivo, então, antecipei a minha
entrada no vestibular. Daí ingressei na Faculdade de
Odontologia (entrevista 06, em anexo).
3.3. Fatores determinantes na escolha do Curso de Odontologia
Havia receio de os jovens cursarem Odontologia, por parte de alguns
familiares, devido à Faculdade ser um Curso novo na época. Sendo assim, os pais de alguns
dos entrevistados incentivavam os seus filhos a prestarem cursos vistos como tradicionais: a
Medicina, a Engenharia, ou até mesmo o Direito, porque, para eles, essas Faculdades dariam
uma melhor segurança no futuro, enquanto que a Odontologia, por estar no começo, não
poderia prever se seria bom, ou não, como profissão para esses estudantes. Essa representação
torna-se evidente nos dizeres de Odorico Coelho da Costa Neto:
24
Atual Diretor do Hospital Odontológico da UFU. Cirurgião dentista, ex-aluno da 2
a
turma 1974. Mestrando
em Cirurgia Oral; Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela PUC/MG em 1979; Professor Titular
Universidade Federal de Uberlândia, (entrevista 10, em anexo).
25
Cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma 1975; Mestre em Reabilitação Oral e Prótese pela USP/Bauru em
1982; Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia, (entrevista 06, em anexo).
127
- A minha escolha era a área biomédica, era a área da saúde.
Isso estava precocemente definido. Principalmente, a minha
mãe queria que eu fizesse Medicina. Eu falava para ela: Mãe eu
vou fazer aquilo que eu tiver condição de fazer e no momento
que der certo (entrevista10, em anexo).
Segundo Paulo César Azevedo
26
:
Eu tinha muitas dúvidas, sentia certa pressão dos pais para
não fazer o Curso porque ele era novo, não sabia se daria
certo. Mas eu tentei o Curso de Odontologia e caso o
mercado de trabalho não fosse tão bom, eu continuaria
com o comércio que o meu pai tinha que era uma drogaria.
E, posteriormente, fui convidado a trabalhar na Faculdade
de Odontologia de Uberlândia. Naquela época ainda era
convidado. Então, foi o consultório mais a Faculdade e
como aquela época era mais promissora, com o mercado
de trabalho tendo um menor número de dentistas, eu acho
que escolhi a profissão certa (entrevista 03, em anexo).
3.3.1. Fatores determinantes na escolha do Curso de Odontologia sob o
ponto de vista dos ex-alunos das primeiras turmas:
Segundo os dados trazidos pelas entrevistas, foram vários os fatores
determinantes na escolha do Curso de Odontologia pelos depoentes:
a) Primeiramente, alguns que não conseguiram passar para o Curso de
Medicina, Direito ou Engenharia, ditos mais tradicionais nesse período,
tendo como segunda opção a FOU;
b) Outros ex-alunos por não terem condições financeiras de custear o Curso de
Medicina, que era totalmente particular e, portanto, de preço mais elevado
26
Cirurgião dentista, ex-aluno da 1
a
turma – 1973. Doutor em Odontologia pela USP/Bauru; Mestre em
Endodontia pela USP/Bauru em 1984, Especialista em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de
Araraquara; Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia, (entrevista 03, em anexo).
128
quando comparado com a Faculdade de Odontologia, a qual por ter
subsídios fornecidos pela Autarquia Estadual, seria mais acessível;
c) Também tiveram aqueles que almejavam exercer a profissão de dentista
devido ao fato de terem parentes que trabalhavam na área, de forma a
incentivar e colaborar para o sonho formado, desde criança, de ser um
cirurgião dentista, resultando, desta sorte, a alternativa da Escola de
Odontologia de Uberlândia como primeira preferência para esse candidato;
d) Alguns que exerciam a profissão como dentistas práticos, e resolveram
regularizar sua atividade laboral, ingressando na Faculdade para obter um
diploma;
e) Uns escolheram a Odontologia por simpatia com a área de ciências
biomédicas e para não ser empregado, ou seja, ser um profissional liberal;
f) Por fim, alguns ex-alunos afirmaram ter escolhido a FOU, pelo fato de
considerarem o Curso de Medicina mais difícil, e, que seria mais fácil
concluir o Curso de Odontologia.
Wanderley Alves Ribeiro
27
, ao justificar sua escolha pela Odontologia,
incorporou muitos dos fatores acima mencionados. Disse ele que optou pela FOU para ser
um: - profissional liberal, para não ser empregado, e eu tinha uma simpatia também. Eu já
tinha um primo que era dentista. Na Medicina a gente pensava que não dava conta né? E era
bem mais cara que a Odonto, era bem mais puxada e era toda particular (entrevista 04, em
anexo).
27
Cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma 1975. Especialista em Periodontia pela Faculdade de Bauru em
1980, (entrevista 04, em anexo).
129
Ou seja, ele fez a opção com base nas seguintes causas: para ser profissional
liberal, por gostar, por ter um sentimento de incapacidade de cursar Medicina sob a crença de
que ela era mais difícil, e, também, pelo seu alto custo em face ao Curso de Odontologia.
3.3.2. A escolha do Curso de Odontologia sob o ponto de vista dos pais dos
ex-alunos entrevistados
Observou-se que, após a opção feita pelos estudantes das primeiras turmas pela
FOU, os pais desses alunos, apesar de receosos, apoiaram os filhos. O temor paterno vinha,
primeiramente, por ser um Curso recém criado, e, posteriormente, por ele não estar entre os
cursos, à época, conhecidos como tradicionais, por exemplo, a Medicina, o Direito e a
Engenharia. Apesar desse medo, devido ao fato da Escola de Odontologia de Uberlândia ser
um Curso novo e desconhecido, esses pais abraçaram essa escolha e se orgulharam dos seus
filhos estarem cursando o Ensino Superior.
Pode-se confirmar essa assertiva na fala de Vanderlei Luiz Gomes
28
, que
afirma:
Praticamente, eu sou um dos únicos da época a ter chegado à
Faculdade. Isso é um orgulho muito grande para meus pais.
Principalmente, para meu pai, que era um professor da escola
rural, ver o filho chegar em uma Faculdade, principalmente,
uma Faculdade na área de saúde muito disputada, como era a de
Odontologia. existiu essa possibilidade com a criação desta
Faculdade em Uberlândia, caso contrário eu não estaria fazendo
(entrevista 05, em anexo).
Desta maneira, percebe-se o quanto foi importante à criação da FOU para a
comunidade Uberlandense. Além de possibilitar o acesso desses alunos ao Ensino de terceiro
grau, segundo relato dos entrevistados, tornou-se um motivo de felicidade para os pais e
28
Cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma 1975. Mestre em Clínicas Odontológicas pela USP/SP em 1986;
Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UFU/MG em 1979; Professor Titular da Universidade
Federal de Uberlândia, (entrevista 05, em anexo).
130
familiares desses estudantes de Odontologia, pois os graduandos e futuros odontólogos
passaram a ser vistos com simpatia pelos moradores da cidade.
3.4. Concepções acerca do ingresso no mercado de trabalho na visão dos
ex-alunos das primeiras turmas
Percebe-se que, para todos os depoentes terem concluído o Curso de
Odontologia foi fundamental para vida profissional, mudando substancialmente o rumo da sua
história de vida. Alguns afirmaram que se não fizessem o Curso teriam que seguir a carreira
do pai, ou seja, ser comerciante, trabalhar na roça etc. Para outros, o Curso possibilitou a eles
ser um profissional liberal, não tendo que se submeter a nenhum patrão.
Para a maioria dos primeiros formandos da FOU, o ingresso no mercado de
trabalho foi excelente em virtude da situação da época: eram poucos os profissionais
habilitados em face da intensa demanda da população. Alguns dos recém formandos, daquele
tempo, chegaram a atender, concomitantemente, na cidade de Uberlândia e outras regiões,
como por exemplo, Ipameri, Indianópolis, Araguari, entre outras.
Vários depoentes compararam o mercado de trabalho da década de 1970 com o
atual. Para eles, hoje se encontra saturado pelo alto número de profissionais que são
“despejados” pelas inúmeras Faculdades de Odontologia, tornando o exercício da profissão
difícil e com uma concorrência acirrada.
3.5. A questão relativa aos dentistas práticos: uma problemática advinda
dos primórdios históricos da Odontologia brasileira e presente no
momento da criação da FOU
131
De acordo com o que foi demonstrado no Capítulo I, tópico 1.2., observou-se
que, desde os primórdios da história da Odontologia no Brasil, houve uma tentativa de
normatização da profissão, por meio das imposições legais, porém, devido à grande extensão
das terras brasileiras, tornou-se difícil o controle eficaz do exercício irregular da profissão,
possibilitando, assim, o crescimento do mero dos “dentistas práticos” atuando,
principalmente, nas cidades interioranas.
Nesse ponto, Uberlândia não foi diferente das demais cidades do interior,
conforme os dados estatísticos apresentados no Capítulo II, tópico 2.1., em 1969, ou seja,
pouco antes da fundação da FOU, os dentistas práticos contabilizavam aproximadamente 37%
do quadro dos dentistas da cidade.
Antes da Faculdade de Odontologia de Uberlândia começar a oferecer seus
dentistas recém formados para atender à população, os profissionais habilitados existentes
aqui eram, em sua maioria, provenientes das Universidades de Ribeirão Preto/SP e
Uberaba/MG. Desde esse momento, já existiam algumas discussões envolvendo a questão dos
“dentistas práticos”, uma vez que determinados cirurgiões dentistas habilitados repugnavam o
atendimento desses profissionais não formados. Outros odontólogos, no entanto, achavam que
esses trabalhadores sem graduação serviam, a seu modo, uma determinada parcela da
comunidade uberlandense que não podia pagar o cirurgião dentista formado.
Para o professor Ailtom Amado
29
, a criação da FOU trouxe uma melhora para
a situação da prática odontológica na cidade, pois para ele:
Uberlândia era infestada de práticos. Na época nós tínhamos
muitos práticos. A luta era de um colega só, do Delegado do
Conselho. Era briga mesmo. Era de andar armado e de mandar
prender. E, hoje, graças a Deus, nós não temos sinal disso mais.
Não trabalho com arma, nem contra o profissional, eu oriento.
O serviço vai ser feito pela Secretaria de Segurança Pública.
29
Delegado do CRO-MG/Uberlândia, Cirurgião dentista, ex-aluno da 2
a
turma 1974. Especialista em
Radiologia pela Faculdade de Bauru em SP; Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade
Estadual de Londrina em 1981; Professor Adjunto 4 da Universidade Federal de Uberlândia, (entrevista 07, em
anexo).
132
Quer dizer, hoje melhorou muito. Se a gente encontrar um ou
outro ele está escondido por aqui (grifos do pesquisador)
(entrevista 07, em anexo).
Todavia, por outro lado, deve-se destacar um diferente ponto de vista trazido
pelo entrevistado Odorico Coelho da Costa Neto, divergindo do depoimento anteriormente
apresentado. Ele não via os profissionais não habilitados como uma infestação a ser
eliminada. Para ele, que tinha em sua sala um companheiro de turma que atuava como
profissional não habilitado antes de ingressar na Faculdade, existiam os bons dentistas
práticos e, que eram reconhecidos pela comunidade uberlandense. Nesse sentido, ao lembrar
da faixa etária dos seus colegas de turma, assinalou que:
Era bem mesclado. Tinham dois mais novos que eu na minha
turma. Depois tinha um grupo, digamos intermediário, e tinha
outro grupo que era menor, que tinham uma idade maior. O
mais velho da minha turma tinha a idade do meu pai na época.
Ele era dentista prático e era tido na época como um dos
bons dentistas da cidade, com uma clientela classe A. Vinha
de uma família de dentistas, o pai foi dentista prático, os irmãos
foram dentistas formados. Ele chegou à presidência do Lions
Clube, o mais tradicional da cidade (grifos do pesquisador)
(entrevista 10, em anexo).
Dessa maneira, pode-se compreender algumas representações conflitantes
quanto à figura do “dentista prático”, visto que, enquanto um depoente entendia e entende
esse trabalhador como um elemento a ser eliminado, ou seja, retirado do mercado, o outro
vislumbrou que havia alguns bons práticos, citando o exemplo do colega de sala que, apesar
de ser bem reconhecido pela sociedade uberlandense, estava estudando na turma do
entrevistado para legalizar sua profissão, fato esse possibilitado pela instauração da Faculdade
de Odontologia de Uberlândia.
133
3.6. O que representou ter uma Faculdade de Odontologia em
Uberlândia
a) Criação da FOU sob o ponto de vista dos alunos
Inúmeros significados acerca da origem da Escola de Odontologia de
Uberlândia foram colocados pelos entrevistados, destacando-se os mais marcantes, a saber:
1º) para alguns ex-alunos, a construção da FOU significou uma oportunidade
de ingressar em uma Escola de Ensino Superior;
2º) para outros, a instalação da Escola de Odontologia de Uberlândia
possibilitou o desenvolvimento de uma profissão que era carente de profissionais;
3º) e também, alguns discentes das primeiras turmas, afirmaram que a
Faculdade de Odontologia de Uberlândia foi importante para inserção no meio social,
funcionando como um “trampolim” para o prestígio social.
Endossando esse pensamento, destaca-se a fala do entrevistado Gildésio
Rezende Alvarenga
30
:
Como realização pessoal e social, ela (a Faculdade de
Odontologia) representou muito porque ela me colocou no meio
social. Hoje me considero uma pessoa grata. Isso me abriu as
portas pro Lions, pra ADESG, pra Maçonaria... Socialmente foi
muito bom... (entrevista 09, em anexo).
30
Fundador e administrador da UNIODONTO, atualmente, um dos convênios de saúde bucal de maior
representatividade em Uberlândia. Cirurgião dentista, ex-aluno da 6
a
turma – 1978 (entrevista 09, em anexo).
134
b) Criação da FOU sob o ponto de vista dos políticos
Para os políticos entrevistados, pode-se notar que, Uberlândia, tal como várias
outras cidades do interior, destacou-se, dentre elas, pela rivalidade e competição. A cidade de
Uberlândia almejava ter sua própria Faculdade.
Rondon Pacheco, durante a entrevista, recordou que:
Eu me lembro que eram numerosas as comissões e muito forte a
aspiração de Uberlândia em uma Escola Superior, que mesmo
porque na realidade havia até uma frustração porque em
Uberaba tinha as Escolas do deputado Mário Palmério. Mas
eram particulares. E, Uberlândia quis acompanhar o ritmo.
Ajudamos assim a criar as Escolas de Uberlândia (entrevista 14,
em anexo).
Ao interpretar os relatos orais colhidos nas entrevistas, pode-se inferir que na
década de 1970, ter uma Escola de Ensino Superior representava um avanço, e, sobretudo,
simbolizava atender às necessidades do eleitorado. Para Homero Santos, os interesses pela
instalação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia estavam de acordo com o contexto
histórico e político da época, percebe-se isso pelo depoimento de Santos:
Como representante de Uberlândia à Assembléia Legislativa,
procurei bem desempenhar o mandato continuando a meta que
tracei de fazer com que a nossa cidade tivesse uma Faculdade à
altura do seu desenvolvimento e dos anseios de tantos jovens
entusiastas. Conforme relatei, foi a soma de um ideal com o
conjunto de interesses a favor da cidade, que se ressentia da
falta de uma Faculdade específica de Odontologia, que
nossos jovens eram obrigados a se deslocar para outras
localidades para realizarem seus estudos.
Rondon Pacheco foi mais enfático, ainda, alegando que:
Nesse sentido, eu acho que foi um fato natural, é à força da
natureza nas coisas. A cidade cresceu. Havia mercado para a
existência de uma Escola. Uberlândia era uma cidade pólo. [...]
É a necessidade. É o fato social mesmo [...] é fazer o bem sem
olhar a quem (entrevista14, em anexo).
135
A partir da análise dos fragmentos expostos acima, pode-se afirmar que sob o
ponto de vista dos políticos, criar uma Faculdade de Odontologia, seria, ao mesmo tempo,
atender aos anseios dos jovens uberlandenses e acompanhar a necessidade social imposta pelo
crescimento da cidade. Para o último depoente, construir uma Escola de Odontologia
representava um fato natural, ou seja, “extrapolava” a vontade humana, tornando-se uma
realidade que a própria força da natureza se incumbiu de concretizar. Percebe-se que a
tentativa de naturalização da história escamoteia os conflitos e as diferenças existentes.
Observa-se na fala desses dois depoentes, um aspecto uníssono, que tenta
reafirmar os ideais políticos desenvolvimentistas presentes naquele momento do Período
Militar. Para eles, a cidade de Uberlândia deveria ter sua própria Faculdade, pois seja pelo
anseio dos jovens entusiastas, ou pela força da natureza nas coisas, ela havia crescido,
havia um mercado para a existência de uma Escola e a cidade merecia uma Faculdade a
altura do seu desenvolvimento, ou seja, segundo esses políticos, Uberlândia representava
uma cidade pólo e nada mais natural e plausível do que desenvolver a estrutura das suas
instituições escolares.
c) Criação da FOU, sob o ponto de vista dos funcionários:
Observou-se que a criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia
resumiu-se na representação de uma oportunidade de emprego, de onde, além de tirar uma
fonte de renda, surgiu uma chance de aprendizado e possibilidade de formar amizades. Foi
ainda posto que, de alguma forma, ao participarem do processo de concretização da FOU,
estavam colaborando para a melhoria da saúde bucal em Uberlândia, ressaltando-se que essa
Faculdade tem um papel importante no cenário da comunidade uberlandense. Ela cumpre
136
bem esse papel. Ela tem uma grande representatividade para a comunidade uberlandense
(entrevista com Abigail Maria da Silva
31
– em anexo).
Para Rosa Maria Dominiciano Vidal
32
, ao iniciar suas atividades laborais, ela
ainda era menor e teve algumas dificuldades, pois, para permanecer no emprego, o Diretor
Osvaldo Vieira Gonçalves exigiu-lhe uma autorização dos pais. Segundo essa depoente:
Eu gosto do que eu faço. Eu não quis fazer Curso Superior por
opção.
Quando eu entrei, ainda não era Federal. Eu vejo como uma
coisa boa. Gostaria que mais pessoas tivessem essa chance de
adentrar no Ensino Superior, e, em especial na Faculdade de
Odontologia.
Na minha vida profissional a Escola de Odontologia de
Uberlândia foi tudo. Muitas das coisas que eu aprendi eu devo à
Faculdade de Odontologia. Tinha amizades bonitas. Minha vida
profissional está na Odonto (entrevista 11, em anexo).
3.7. Principais dificuldades na criação da FOU: financeiras e de localidade
para instalação da sede da Policlínica
A gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia foi marcada por
inúmeras dificuldades, sendo a financeira a de maior destaque, mas as barreiras foram
vencidas com o apoio de diversos setores da sociedade uberlandense à guisa de: idealizadores,
alunos, políticos, professores e, também por parte da comunidade, representada pela Ordem
Franciscana na pessoa do Frei Egidio Parisi, que fez a doação do prédio para construção da
Policlínica, sob condição de destiná-lo sempre para atividades didáticas, dando por meio
dessa prática social grande impulso à concretização da FOU.
Em relação ao histórico da realidade escolar da FOU, no Capítulo II, tópico
2.4. destacou-se que a falta de verba foi um obstáculo difícil, a mantenedora inicial da Escola
31
Funcionária vinculada a UFU desde 6 de fevereiro de 1979, atualmente, ocupa o cargo de secretária da área de
Dentística, (entrevista 12, em anexo).
32
Funcionária vinculada a Instituição - FOU - por 29 anos e cinco meses, atualmente ocupa o cargo de assistente
administrativo, (entrevista 11, em anexo).
137
de Odontologia a Autarquia Estadual de Uberlândia quase sempre atrasava o envio das
verbas para custear a manutenção da Escola, e, conforme afirmado anteriormente, quando
mandava o montante sempre era menor do que o necessário e o esperado pelos
administradores da FOU.
3.7.1. Práticas para resolver as dificuldades na criação da FOU
a) Atuação do idealizador e fundador professor Laerte Alvarenga de
Figueiredo
Contou-se para solução desses problemas iniciais da Escola de Odontologia de
Uberlândia com a participação fundamental do idealizador Laerte Alvarenga Figueiredo,
segundo relato na entrevista de Ailton Amado, que afirmou:
Primeiro lugar o professor Laerte... O Laerte é quem viajava,
discutia ia atrás, e que, muitas vezes, colocava a mão no bolso
para sustentar o custo da Faculdade. O prédio que nós
trabalhávamos foi doado pela Igreja Nossa Senhora de
Fátima e, antes era um Seminário, e, que acabou sendo
adaptado para ser uma clínica com consultórios, com salas
de aula, com laboratórios (entrevista 07, em anexo). (Grifos
do pesquisador).
Evidencia-se, nessa fala, a participação da comunidade para solucionar a
dificuldade citada anteriormente, no capítulo II, tópico 2.1., de encontrar um local adequado
para instalação da Policlínica de Odontologia. Com essa doação dos Freis Franciscanos foi
resolvido o problema da indefinição acerca do lugar apropriado para a estruturação
arquitetônica, com a finalidade de possibilitar o desenvolvimento das disciplinas práticas.
Em outras palavras, o mesmo foi dito quanto ao empenho do professor Laerte
Alvarenga Figueiredo por Alfredo Júlio Fernandes Neto proferindo que:
138
Tem uma pessoa que jamais poderá ser esquecida, que é o Dr.
Laerte Alvarenga Figueiredo. Eu acompanhei a história da
Faculdade, sei que ele foi o grande mentor, o grande
responsável. Ele tinha um senso de coletividade, e sonhou para
Uberlândia uma Faculdade de Odontologia. E ele foi atrás
disso, do poder político. Ele era uma pessoa que fazia
amigos, que não tinha arestas em lugar nenhum. Ele foi atrás
com o sacrifício de sua família, em determinado momento não
muito compreendido pela classe dos dentistas. Ele enfrentou
tudo isso e foi atrás. O Dr. Laerte foi quem catalisou todas as
forças e fez as pessoas entenderem a importância da
implementação. Ele foi o primeiro diretor. Ele não teve a
melhor saída da Faculdade. Mas ele tem sempre nosso respeito
e gratidão e enquanto eu tiver aqui, como elemento desta
história eu vou estar sempre reverenciando seu nome, porque
ele merece (entrevista 06, em anexo).
b) Atuação dos alunos para solução das dificuldades na criação da FOU
Os alunos das primeiras turmas também foram compromissados nas lutas
contra essas dificuldades financeiras. Os materiais do Curso de Odontologia sempre foram
onerosos, e, desta forma, para que fossem atendidos os pacientes, alguns alunos formavam
grupos para dividir despesas com materiais, além de organizarem campanhas para angariar
meios divulgadores e socializadores da Odontologia que estava nascendo em Uberlândia.
Segundo o depoimento de Vanderlei Luiz Gomes, as práticas realizadas pelos
alunos para solucionar a falta de recursos materiais e financeiros foram:
Nós das primeiras turmas não podemos esquecer da batalha
para manter este Curso em pé. Desde o momento da primeira
clínica, que veio no encerrar da primeira turma. A primeira
turma já estava fechando o Curso foi quando se montou à
primeira clínica. Na maioria das vezes, esse pessoal ia para o
consultório dos professores desenvolverem atividades. E depois
a manutenção dessas clínicas. Criou-se uma estrutura, uma
Autarquia e, às vezes, s não nhamos medicamentos
produtos odontológicos, para atuação na clínica. Víamos
momentos em que grupos de alunos se reuniam para comprar
um litro de álcool, para buscar um anestésico. Uma ajuda muito
grande dos políticos da época. Bastava que se telefonasse para
eles e eles mandavam à gente ir ao comércio, deixavam uma
autorização para que a gente comprasse o material. E não parou
a dificuldade, mesmo com tantas dificuldades e lutas a
Faculdade conseguiu chegar onde esta hoje. Foram movimentos
139
tanto de alunos quanto de professores. Ambos, realmente,
colocavam a mão no bolso (entrevista 05, em anexo).
Para Odorico Coelho da Costa Neto:
A minha turma, quando nós formamos, fizemos doações para a
Faculdade, coisa que turma nenhuma hoje pensa: “o que é que
eu vou deixar para a Faculdade?”. Hoje se pensa assim: “o que
é que eu vou levar da Faculdade?”. Então, a primeira autoclave
da Faculdade foi doada pela minha turma, para esterilizar todo o
material, para que pudesse ser marcado como um ato de
contribuição, de colaboração para a Faculdade. Uma autoclave
nunca foi barata. Significava um valor grande e s
conseguimos arrecadar fundos e doar isso para a Faculdade.
Nós doamos um consultório para a delegacia, para tratar dos
presos. Fizemos várias doações onde nós achávamos que ali a
Odontologia pudesse ser bem divulgada, bem conhecida
(entrevista 10, em anexo).
Torna-se evidente no relato desse entrevistado, a preocupação dos alunos com
a consolidação da FOU. Ao pensar no que poderiam contribuir com essa Escola, evidencia-se
uma vontade de colaborar tanto com a Faculdade quanto para que a Odontologia uberlandense
pudesse ser bem divulgada, bem conhecida. Segundo os dizeres desse entrevistado, esses
alunos não mediram esforços e desenvolveram ações para arrecadação de fundos destinados a
essas ações sociais.
3.8. O Regime Militar e Faculdade de Odontologia de Uberlândia sob o
ponto de vista dos entrevistados:
a) Reminiscências e sentimentos trazidos por alguns ex-alunos da FOU,
em relação à época do Governo Militar
Conforme mencionado no capítulo I, tópico 1.3. que o contexto histórico do
Período Militar foi marcado por uma demanda de vagas e Escolas de terceiro grau, pelas
140
classes médias, e uma carência de mão de obra qualificada para a indústria incipiente. A
despeito dessas necessidades prementes, as dificuldades econômicas foram um fator marcante
como óbice à interiorização do Ensino Superior, à criação e ao desenvolvimento de
Faculdades em todo país, sobretudo, nas cidades interioranas ditas de menor porte, como era
Uberlândia.
Apesar das intempéries, atrocidades e dos desmandos cometidos durante o
Regime Militar, averiguou-se certo saudosismo por alguns dos entrevistados que
consideraram tal período como um momento próspero tanto para cidade de Uberlândia,
quanto para o crescimento individual.
Pode-se observar esse sentimento no relato oral de Wanderley Alves Ribeiro,
ao tecer alguns comentários a respeito do Governo Militar:
Teve uma decadência muito grande. A maior parte foi pelo
Governo e também a concorrência aumentou demais. No início
era bem melhor a profissão. Na época dos militares era outra
coisa. (...) Não só para a minha profissão, para tudo. O
Brasil cresceu muito, naquela época tinha menos gente para
concorrência, o povo tinha mais condições para pagar, as
coisas eram mais baratas. Você comprava um consultório
em sete, oito prestações sem juros. Os bancos ajudavam. Na
época de estudante eu comprei meu material de cirurgia
pela Caixa Econômica Federal. Hoje isso não existe de jeito
nenhum. Se for fazer hoje, o banco toma seu consultório
(entrevista em anexo) (Grifos do pesquisador).
Para Wanderley A. Ribeiro, não teve período economicamente melhor no
Brasil, e ele recorda com nostalgia aquela época em que o país estava sob a égide do Regime
Militar, pois, segundo o depoente, o poder de compra do dinheiro era maior na época dos
Militares.
De acordo com o relato de Gaspar Paulino, o relacionamento dos alunos da
Faculdade de Odontologia com o Comando Militar foi tranqüilo e, às vezes, notou-se até uma
cumplicidade, no sentido de que alguns alunos levavam reclamações para os oficiais do
exército, com o intuito de receberem alguma ajuda para solucionarem os problemas vigentes.
141
Assim, ele relata:
[...] era época do Governo Militar e com eles é “ou vai ou racha
né?”! Então, como estava tendo muito problema na
Universidade, a gente não saia da casa do comandante do
quartel. Eles chamavam a gente lá, mas não com o intuito de
prender ninguém não. Eles chamavam os presidentes do
Diretório Acadêmico, chamava todos. Perguntavam o que
estava acontecendo coisa e tal. Eu me lembro que tinha um
capitão, um oficial deles, ele perguntava pra gente. Vamos
supor, pra mim: e a Faculdade de vocês, o que vocês têm a
reclamar? Ah! O problema é esse, esse e esse. Ele virava e
falava assim: anota Paixão. Paixão era o nome de guerra do
capitão né. Daí passava pra Educação Física, Engenharia, etc
(entrevista 01, em anexo).
Segundo essa entrevista, nota-se que os militares uberlandenses ,assim como os
de todo Brasil, procuraram ficar sempre próximos aos alunos, principalmente, daqueles que
faziam parte das lideranças dos Diretórios Acadêmicos (DA’S) e do Diretório Central
Estudantil (DCE), anotando e acompanhando as ações e reclamações desses estudantes, e, por
meio da estratégia de cooptação, ou seja, conquistando a simpatia e o apoio desses
acadêmicos, tentava-se manter calmo os ânimos desses alunos. Às vezes, atendia-se a alguns
pedidos menos importantes e que não causariam grandes transformações, tentando construir a
imagem de um exército benéfico e ativo, que estava sempre pronto para “auxiliar” os
acadêmicos e a sociedade uberlandense na busca de uma convivência social pacífica, de
acordo com a ordem estabelecida em nome da “Segurança Nacional” e dos ideais
progressistas, seguindo os preceitos desenvolvimentistas.
b) Práticas de controle e vigilância para a “Segurança Nacional”
Percebe-se que, apesar da relação dos Comandantes Militares com os
estudantes das Faculdades de Uberlândia ter sido “tranqüila”, o exército acompanhou de perto
a atuação desses estudantes, e, como exposto no relato acima, sempre tomando nota dos
142
acontecimentos e interferindo por meio de “requisições” aos dirigentes dessas Escolas, de
maneira a controlar e evitar que insurgisse algum movimento estudantil.
É possível confirmar essa assertiva quando se confronta os dados coletados nas
entrevistas com um documento confidencial, memorando nº. 421, encaminhado no dia 31 de
maio de 1973, pelo reitor Juarez Altafin ao Diretor da Faculdade de Odontologia, Dr. Laerte
Alvarenga de Figueiredo, fazendo a seguinte solicitação:
Senhor Diretor: Tendo em vista orientação superior,
confidencial, participo a V. Exa. que todas as publicações
estudantis, atualmente, estão abrangidas pelos dispositivos de
Lei nº. 5.250, de 09 de fevereiro de 1967, que em seu artigo
obriga os jornais e demais publicações periódicas a inscrição
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, sob pena de serem
considerados clandestinos, conforme preceitua o artigo 11 da
mesma Lei.
Assim, solicito seja observada a Lei acima referida, com
respeito ao registro das publicações estudantis, dessa Unidade.
Por fim, peço a V. Exa., em sua missão de educador, orientar
constantemente os responsáveis pelas publicações estudantis,
dessa Unidade, estimulando-os em seus empreendimentos,
sempre em obediência às Leis que regem o País e em defesa da
Segurança Nacional (grifo do pesquisador) (Documento I, em
anexo).
Constata-se nesse documento, a imposição de uma obrigação em nome da
defesa da “Segurança Nacional”, ou seja, os Militares mantinham uma preocupação em tentar
controlar o que poderia ou não ser publicado, nota-se uma coação e uma censura no sentido de
que se essas ordens fossem descumpridas seriam consideradas ilegais, e, ainda mais,
clandestinas as publicações sem inscrição no Registro de Pessoas Jurídicas.
c) Práticas administrativas de respeito às leis vigentes no Período Militar
Demonstrando a preocupação e a ingerência Militar dentro da administração
universitária, e, de forma específica na FOU, podem-se averiguar os termos trazidos pelo
memorando nº. 608 de 27 de agosto de 1973, passado pelo Reitor da Universidade de
143
Uberlândia, Juarez Altafin, para o Diretor da Faculdade de Odontologia, professor Laerte
Alvarenga de Figueiredo, fazendo as seguintes comunicações:
Nos termos a legislação vigente ( Lei . 5.540 de 1968,
Decreto –Lei nº. 228 de 1967, Parecer nº62/69 do C.F.E.,
Portaria Ministerial nº. 25/68 e Decreto . 69.053 de 1971),
lembro a V. Exa. que são considerados ilegais todos os tipos de
encontros estudantis, cuja promoção esteja em desacordo com o
espírito dessas determinações e de outras que regulamentam o
assunto.
Outrossim, segundo o disposto na Lei nº. 69.845, de
27/12/1971, a Dirão das Escolas é responsável pela
orientação e esclarecimentos aos estudantes.
Finalmente, pelo Aviso-Circular nº. 861, de 27 de julho pp., o
Exmo.Sr. Ministro da Educação encarece a necessidade do fiel
cumprimento do artigo da Portaria Ministerial nº. 149-A, de
28 de março de 1969, que determina a remessa obrigatória à
Divisão de Segurança e Informações desse Ministério, no prazo
de 30 (trinta) dias após conclusão de processo sumário, com
base no Decreto-Lei nº. 477, de 26 de fevereiro de 1969, de
cópia autenticada de decisão que nele houver proferida
(Documento II, em anexo).
Verifica-se, pois, que foram inúmeros os dispositivos jurídicos, na tentativa de
cercear qualquer tipo de encontro estudantil, impondo o respeito ao “espírito” das
determinações normativas vigentes. Nesse memorando pode-se observar a responsabilização
dos Diretores das Escolas em face da orientação e a elucidação dos alunos, quanto à
ilegalidade dos movimentos organizados pelos estudantes eo conformes aos preceitos
legais.
d) “Trote” “versus” ideologia da “Segurança Nacional”
Continuando a análise das ingerências e determinações advindas do Comando
Militar, por meio do MEC, constatou-se que o trote passou a ser responsabilidade do Diretor
de cada Unidade. A partir do memorando . 92/73/Sigiloso, de 13 de fevereiro de 1973,
encaminhado pelo reitor Juarez Altafin ao Diretor da FOU, Dr. Laerte A. Figueiredo o qual
144
trazia em anexo, uma cópia de expediente sigiloso recebido da Divisão de Segurança e
Informações do MEC que trazia em sua conclusão as seguintes informações:
Verifica-se, pois, que o trote” não é momento na vida
universitária, transformou-se em um processo, calculadamente
desenvolvido, com fins definidos, dentro do esquema global da
ação subversiva.
Tudo está a indicar a necessidade inadiável de providências
para impedir a continuação do processo do “trote” dos calouros
nas Universidades e nos colégios secundários.
Convém, ainda, ressaltar que a ação preventiva e coercitiva do
Ato Institucional nº. 5 e da legislação subseqüente,
complementada pelas medidas acima sugeridas, desde que
mantida sua vigência por tempo suficiente, interrompe o
processo de afirmação de novos deres subversivos e do
condicionamento das massas dos novos universitários,
permitindo o escoamento dos estudantes atualmente
condicionados e dos líderes da esquerda ativista ainda atuantes
nas Universidades (Documento III, em anexo).
Mesmo após esse rígido documento proibitivo do trote, ele continuou
acontecendo em algumas Escolas, porém, deve-se destacar que na Faculdade de Odontologia
de Uberlândia houve algumas peculiaridades, as quais são evidentes na fala de Vanderlei Luiz
Gomes:
O trote de nossa turma foi para a época um trote avançado. Nós
saímos com nossos veteranos nas ruas de Uberlândia, com
auxílio dos militares do quartel fazendo angariações de bens,
como roupas, e esse material depois foi distribuído para a
sociedade. Recebemos também muitos eletrodomésticos. Isto
marcou nossas vidas e fez com que a Faculdade chegasse muito
mais próxima ao povo. (Grifos do pesquisador) (entrevista 05,
em anexo).
O pesquisador levanta o questionamento: será que o auxílio dos militares do
quartel era um interesse puramente social, em benefício à comunidade uberlandense, ou
estariam eles cumprindo ordens superiores para acompanharem de perto os movimentos
realizados pelos estudantes?
Confrontando os documentos encontrados no Arquivo Geral da UFU com os
relatos orais, pode-se inferir que a ajuda dos militares colaborou para práticas sociais de
145
vigilância, sendo que, naquele caso específico do “trote avançado”, o pesquisador entende que
houve uma maior preocupação com o cumprimento das ordens de controle e vigilância,
justificando o auxilio dos militares do quartel.
Sabe-se que o trote era proibido, pois, conforme documento confidencial do
MEC determinou-se que o processo do “trote dos “calouros” como técnica de base
científica reflexológica de imposição de liderança estudantil subversiva nas Universidades
(Documento III, em anexo) deveria ser ferrenhamente combatido.
Apesar da intenção velada, contou-se com o apoio dos militares, em várias
ações a favor da instituição das Escolas Superiores em Uberlândia. A Faculdade de
Odontologia de Uberlândia não foi a única Escola que precisou de ajuda das diversas
categorias sociais para ser construída e sedimentada, as demais faculdades isoladas
uberlandenses, também contaram com o apoio de vários grupos sociais para tornar viáveis as
suas criações e instalações.
3.9. “Forças” responsáveis pela criação da FOU
Quanto às práticas que possibilitaram a formação da Escola de Odontologia em
Uberlândia, devem-se destacar algumas especificidades, as quais são apresentadas a seguir:
a) Os políticos e os representantes das categorias detentoras do Poder e
suas práticas em nome da sociedade uberlandense
Um dos fatores determinantes na construção da Escola de Odontologia foi a
união dos indivíduos que almejavam o crescimento e o desenvolvimento de Uberlândia, e se
colocavam a favor da concretização dessa Faculdade.
146
Notaram-se os esforços dos políticos, que independente da legenda, atuaram de
forma unida para representar, principalmente, aos anseios da categoria de pessoas
pertencentes à classe média e a abastada da sociedade uberlandense. Conforme assinalado no
trecho abaixo, pelo ex-Governador Rondon Pacheco, houve uma formação de um bloco
monolítico em apoio às Escolas Superiores.
Olha! O acontecimento mais confortador para a criação da
Universidade foi à unidade espiritual, intelectual da
sociedade uberlandense, no sentido de criar um bloco
monolítico em apoio às Escolas Superiores, que, até então,
vinham sendo formadas. Nós já nhamos... A primeira Escola
criada em Uberlândia foi a Escola de Filosofia do Colégio das
Lágrimas, Madre Ilar, que está viva. Elas tinham sustentáculo,
tinha uma freira superior chamada Madre Rita de Cássia
Amarante, mulher notável. Na maior pobreza possível,
amealhando recursos. (...) O que é importante foi essa
mobilização de Uberlândia, unindo todas as nossas forças para
o alcance das Escolas Superiores. (entrevista 14, em anexo).
(Grifos do pesquisador, para atentar ao fato de que esse discurso
foi construído para criar um sentimento de unidade social de
toda comunidade em prol do Ensino Superior, essa reunião de
“forças” deveria trazer um significado de benefício para
toda sociedade uberlandense, que somente por meio dessa
união a cidade conseguiria atingir os ideais
desenvolvimentistas de crescimento e desenvolvimento).
(Grifos do pesquisador).
Nesse momento, torna-se evidente, a tentativa de construir um significado de
que, somente por meio da união de todos, se conseguiria formar as Faculdades uberlandenses,
e a reunião dessas “forças” deveria trazer uma união de todos a favor do crescimento e
desenvolvimento de Uberlândia. Nota-se, portanto, um discurso de benefício para toda
sociedade, mas com finalidade de se atingir os ideais desenvolvimentistas.
Porém, conforme foi adiantado ao leitor, sabe-se da existência das “múltiplas
Uberlândias”, ou seja, os maiores beneficiados por essas práticas a favor do Ensino Superior
seria um seleto grupo de pessoas que teria acesso ao Curso de terceiro grau, enquanto que, por
outro viés, pode-se afirmar que grande parcela da população uberlandense, representaria uma
147
outra Uberlândia, carente de subsídios essenciais à sobrevivência e de ações de assistência
social, mas que viram na criação da FOU uma possibilidade de conseguir pelo menos
atendimento odontológico.
b) Os primeiros professores e sua participação no processo de criação da
FOU
A Faculdade de Odontologia de Uberlândia também contou com uma
participação importante dos docentes que vinham de outras cidades, tais como Bauru,
Araraquara, Araçatuba, Diamantina, Uberaba, entre outras, para ministrarem aulas, às vezes,
até aos finais de semana, demorando meses para receber seus salários.
Para Odorico Coelho da Costa Neto:
É verdade que enquanto era Autarquia Educacional de
Uberlândia, e, enquanto foi Universidade de Uberlândia, a gente
tinha que ter uma opção quase franciscana para estar aqui,
porque nós ficamos seis meses sem receber... Mas essa turma
que permaneceu a gente tinha um grande ideal. A gente sempre
vislumbrava, principalmente, pelo que o Dr. Laerte colocava de
que era uma transição, que a fase inicial de implantação era
difícil, mas que ia passar. Então, por essa mensagem de
otimismo que ele passava para gente, a gente segurava. Não
recebíamos em dia nunca no início. Agora, depois que virou
Universidade Federal de Uberlândia, isso acabou [...] (entrevista
10, em anexo).
Segundo Vanderlei Luiz Gomes:
[...] todos aqueles professores que começaram o Curso e que
vieram para Uberlândia para estar aqui com a gente ministrando
aulas, pois tínhamos professores que vinham de vários pontos
do Brasil, por longos períodos. Eles, às vezes, ficavam sem
rendimentos, porque a Autarquia não disponibilizava o dinheiro
para pagar e esse pessoal vinha religiosamente aos finais de
semana ministrar aulas para nós. Vinham professores de Bauru,
Araraquara, Diamantina, Uberaba. Eles vinham apesar de não
receber nada, mas com promessas de virem a receber um dia,
vinham com despesas pagas, às vezes, até por eles, no carro
deles. Nesta andança tivemos um acidente com um professor
que vinha de Bauru, professor Noracilde, por volta de 1973.
148
Isso sem perceber sua remuneração mensal. Isso para s era
um orgulho muito grande. Eram professores que geralmente nas
Faculdades deles, geralmente, lecionavam no Mestrado, no
Doutorado, e assim, na graduação em Uberlândia. Isso nos
deixava muito orgulhosos e nos preenchia completamente em
termos de conteúdo (entrevista 05, em anexo).
Confirmou-se, também, no decorrer das entrevistas, que as primeiras turmas
tiveram um Curso sico, juntamente com os alunos da Medicina, e, após essa etapa,
passaram a ter as disciplinas específicas da Odontologia com professores renomados, vindos
de diversas Faculdades, para ministrarem aulas em Uberlândia. Esses docentes eram ou
tornar-se-iam referenciais em todo país.
Para Alfredo Júlio Fernandes Neto:
É óbvio que na época o possuíamos em Uberlândia
profissionais qualificados para o ensino. Tínhamos profissionais
dentistas capazes para serem clínicos. Eles não estavam prontos
para elaborar uma proposta de ensino. Então o professor
Dioracy trouxe um grupo de professores de fora, de Bauru, de
São Paulo, de Araraquara, de Diamantina (entrevista 06, em
anexo).
Nota-se, pois uma transição no quadro dos primeiros docentes da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia. Conforme relatado anteriormente, os primeiros professores das
primeiras turmas do Curso Básico foram aqueles cedidos pela Escola de Medicina e Cirurgia
por meio do convênio firmado entre essas duas Faculdades.
Após o ciclo básico, teve-se a participação de inúmeros professores de outras
Faculdades que, juntamente com alguns cirurgiões-dentistas da cidade, constituíram uma
equipe com o intuito de formar a primeira turma. Por fim, pode-se observar que alguns dos
alunos das primeiras turmas passaram a integrar o corpo docente da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia. A partir de dados coletados nos documentos encontrados no
Arquivo Geral da Universidade Federal de Uberlândia, coligidos com as informações
constantes no Projeto Conte Comigo, UFU, Odontologia (1995) confeccionou-se a tabela
149
abaixo, demonstrando a relação dos alunos formados pela FOU, e dos docentes graduados por
ela de 1973 a 1978.
TABELA II: Relação dos alunos graduados pela FOU, e dos docentes formados por ela de 1973 a 1978.
Primeiras Turmas de
Formandos da FOU
Quantidade de
alunos
ingressantes por
Turma
Alunos Graduados
pela FOUFU
Professores da
Instituição FOU
graduados por ela
Turma de 1973 50
42٭
Turma de 1974 50 38 10
Turma de 1975 50 50 4
Turma de 1976 50 44 6
Turma de 1977 50 51 2
Turma de 1978 50 51 3
Total 300 276 25
٭ Divergências foram encontradas nos dados coletados do Arquivo Geral da Universidade
Federal de Uberlândia, e dos apresentados na reportagem do jornal “O TRIANGULO”
Uberlândia, Ano XLV, de 9/02/1974, que anunciaram a formatura de 42 estudantes, enquanto
às informações prestadas pelo Projeto Conte Comigo, UFU, Odontologia, (1995), consta que
a Turma de 1973 contabilizou somente 41 formandos. Nesse último, foi omitido o nome do
acadêmico Edison Vieira da Costa Júnior. Sendo assim, o pesquisador adotou a estatística,
confirmada pelas duas fontes anteriores, para realizar sua análise.
Cotejando essas informações, pode-se verificar que, a partir de 1973, com a
formatura de 42 alunos, ocorreu o aproveitamento de 10 desses ex-alunos, que a partir
daquele momento passaram a ministrar aulas, colaborando para a formação dos futuros
dentistas.
Pode-se observar que, nos anos seguintes, do período delimitado, ou seja, 1974,
1975, 1976, 1977 e 1978 também ocorreram participações de ex-alunos como professores do
Curso de Odontologia; porém, em nenhuma dessas turmas alcançou-se um número tão
expressivo quanto o dos professores advindos da turma de 1973. Pode-se deduzir que o
150
número de ex-alunos contratados para dar aulas diminuiu ao longo dos anos pelo fato de, às
vezes, ter-se conseguido maior estabilidade no quadro dos docentes da FOU.
No início do Curso, observou-se que, alguns alunos que trabalhavam como
monitores, ganharam isenção do pagamento das mensalidades, outros estudantes ganharam
bolsas concedidas e custeadas pelos políticos, possibilitando a presença de discentes
pertencentes a grupos de baixa renda. Resumindo, apesar da Odontologia e dos Cursos
Superiores brasileiros, de forma geral, serem considerados acessíveis a uma pequena parcela
da população, principalmente, para as categorias abastadas, nota-se, mesmo que, por via de
exceção, que havia aqueles indivíduos dos setores desprivilegiados estudando com grande
esforço e sacrifício para conseguirem se manter na Faculdade.
Referindo-se a FOU, as dificuldades para alguns alunos se manterem no Curso
foram ainda maiores, pois o Curso era integral, exigindo uma dedicação quase exclusiva dos
estudantes, dificultando a possibilidade de conciliar a Faculdade de Odontologia com algum
trabalho. Sendo assim, os pais, os padrinhos, os políticos ou alguém deveria arcar com as
despesas desse discente pobre para que ele continuasse estudando.
Alguns desses ex-alunos que exerceram monitoria, ou seja, trabalharam
conjuntamente com os professores, auxiliando-os no desenvolvimento das disciplinas, vieram,
mais tarde, fazer parte do grupo dos docentes da FOU, formados por ela mesma. Para o ex-
aluno e atual professor Odorico Coelho da Costa Neto: [...] formou as primeiras turmas e das
primeiras turmas se formaram os professores da Faculdade [...]. (entrevista10, em anexo).
A princípio, a FOU também contou com a participação de alguns professores
voluntários, que, após alguns anos de trabalho, foram convidados a participar do quadro de
docentes. O sistema de admissão de professores funcionou, preliminarmente, na forma de
convites e indicações políticas, posteriormente, após a inserção da Escola de Odontologia no
151
âmbito da Universidade de Uberlândia, passou-se a respeitar os ditames administrativo-legais
para a contratação de professores: o concurso público.
Segundo informações trazidas por Paulo Cezar Azevedo:
O professor, mais um pouco na frente, foi concursado, daí o
tinha mais esses convites. Isso aconteceu apenas na primeira, na
segunda turma quando ainda era particular. Depois que passou
a ser Federal, entrou nos moldes da Constituição Federal
(entrevista 03, em anexo).
4. O novo paradigma na Odontologia: práticas sociais preventivas
Através das reminiscências do ex-aluno da primeira Turma, Dr. Antonio Mario
Buso, observa-se uma mudança de paradigma na Odontologia, e essas transformações
também estavam ocorrendo em Uberlândia, conforme relato do referido professor:
Eu costumo dizer que eu peguei a melhor fase da Odontologia
porque a mesma, até então, era muito radical. Por exemplo, um
dente com problema no nervo era apenas extraído, se uma
doença era detectada na gengiva extraíam-se todos os dentes e
colocava-se dentadura, uma ponte. Além disso, a Odontologia
na qual eu formei, seu princípio era mais conservador e um
pouco mais elitizada, vamos dizer assim. Então eu entrei no
mercado de trabalho onde se tentava fazer a manutenção e a
prevenção, então eu peguei a melhor fase da Odontologia onde
ela sofreu uma metamorfose de tratamento radical para
conservador. Radical para extrair o dente e conservador para
preservar o dente, tratar o dente e estava preparado par trabalhar
o paciente na preservação dos dentes na boca e não a extração
dos dentes. E, eu costumo dizer para pacientes meus: “ponte e
dentadura são muletas da boca” (entrevista 08, em anexo).
Ressalta-se, pois, a tentativa por parte dos mestres em passar ensinamentos de
uma Odontologia contemporânea – preventiva. A configuração do corpo docente ajuda, ainda,
a entender o fato citado anteriormente, de dez ex-alunos da primeira turma terem optado em
prosseguir na carreira acadêmica, talvez tenha advindo do fato de eles terem sido
152
influenciados pelos primeiros educadores da FOU, que instigaram neles uma vocação para a
pesquisa. Destacando-se assim, uma hipótese que poderá ser confirmada e sustentada por
dados empíricos trazidos por pesquisas futuras.
De acordo com Paulo César Azevedo:
Os professores nossos vieram, por exemplo, da Faculdade de
Odontologia de Bauru, Araraquara, Diamantina. Veio um grupo
na época através do coordenador que era o Sr. Assis Vieira da
USP, e ele conseguiu congregar vários professores na primeira
e segunda turma. Então, nós tivemos um incentivo muito
grande, pois eram profissionais já ligados à pesquisa e nós
como estudantes saídos do colegial, achando que sabíamos
alguma coisa, mas na verdade não sabíamos nada, nos sentimos
estimulados quando entramos na Faculdade, pois isso foi um
campo, uma visão muito grande para nós. Por isso assim que eu
terminei o Curso, procurei fazer a especialização,
provavelmente, pela índole desses nossos professores
(entrevista 03, em anexo).
5. Colaboração da FOU para a melhoria das condições de saúde em
Uberlândia
Independente de a FOU ter sida construída para atender aos interesses sociais,
políticos ou pessoais do grupo dominante uberlandense, dentre outros aspectos já citados,
entre os benefícios trazidos para Uberlândia e Região, deve-se destacar a colaboração para a
melhoria das condições de saúde, principalmente, da população carente, pois, conforme
afirmado no exórdio desse trabalho, com a edificação da Escola de Odontologia de
Uberlândia, foram desencadeadas ações socializadoras de saúde: surgimento do Hospital
Odontológico, do Pronto Socorro Odontológico, dos atendimentos nos bairros, nas escolas,
projetos odonto na praça, tratamento nas Unidades de Atendimento Integrado (UAI’S), nas
Unidades Didáticas Avançadas (UDA’S) e, concomitante a isso tudo, o crescimento e o
desenvolvimento da cidade.
153
Nesse sentido, pode-se traçar um paralelo com os acontecimentos analisados
no breve histórico da Odontologia pátria, no qual foi relatado que, com a vinda da Corte Real
portuguesa, ou seja, da categoria dominante, à época, para o Brasil, houve um incentivo ao
desenvolvimento na área de saúde com o intuito de atender as necessidades da família Real,
mas que, por outro lado, colaborou também, sobremaneira, para a evolução das práticas de
assistência à saúde exercidas na imensidão do território brasileiro.
Analisando as ações realizadas em Uberlândia, no campo da saúde, de forma
análoga, ou seja, parecida, porém interpretada inserida em um outro contexto histórico,
político e temporal, é possível afirmar que, buscando concretizar seus interesses, a categoria
dominante uberlandense, trouxe ainda, uma substancial colaboração para as práticas
assistenciais odontológicas que começaram a ser desenvolvidas com o advento da criação da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Conforme palavras de Odorico Coelho da Costa Neto:
[...] sem dúvida alguma esse crescimento que a cidade teve na
década de 70, 80, quando Uberlândia ultrapassou Uberaba em
todos os parâmetros de arrecadação, de população, acho que
isso se deve muito aos Cursos Superiores que aqui foram
implantados, e, principalmente, à Universidade Federal de
Uberlândia, pois durante muito tempo essa chegou a ter um
orçamento muito maior que o da Prefeitura. Em termos de
construção, em termos culturais, em termos sociais e, em última
instância econômica, eu acho que a Universidade contribuiu e
muito para o crescimento de Uberlândia, porque ela jogava no
nosso mercado uma quantidade de recursos, uma quantidade de
dinheiro muito grande (entrevista 10, em anexo).
Apesar do exagero implícito na fala desse entrevistado, pode-se afirmar que a
constituição da Universidade Federal de Uberlândia colaborou para a melhoria da cidade, em
especial, na área da saúde bucal, devido ao sistema de fluoretação do abastecimento de água
inserido com a criação da Faculdade de Odontologia e que funcionou como uma das melhores
medidas preventivas para atender à população uberlandense.
154
Segundo Vanderlei Luiz Gomes:
Sempre nossa Faculdade teve um caráter social muito grande.
Tivemos muito tempo, e ainda temos, uma grande carga horária
na disciplina de Odontologia Social e Preventiva, que faz este
contato com a sociedade. Portanto, a Odontologia esteve
sempre próxima da sociedade, em trabalhos, em grupos
escolares, em ajuda ao atender a população com a parte de
cirurgia, de prótese removível por um bom período de tempo,
enquanto duraram as UDA’S, a gente fazia parte da UDA’S,
isso trouxe muita coisa para sociedade. A nossa turma foi no
ano de 1973/1974, veio trabalhando pelo início da fluoretação
da água em Uberlândia, nós participamos dos primeiros
levantamentos e depois do acompanhamento desta fluoretação.
Simultaneamente, a Odontologia voltada para crianças que era
trabalhada nos grupos escolares (entrevista 05, em anexo).
Desta forma, pode-se observar nos relatos orais trascritos, que para os
depoentes fica evidente papel social desenvolvido pela Faculdade de Odontologia de
Uberlândia para a comunidade uberlandense.
Deve-se destacar, ainda, outro momento importante da criação da FOU que
trouxe inúmeras melhorias para os uberlandenses carentes, a 17 de maio de 1972 em
solenidade na FOU, ocorreu a assinatura do edital de concorrência pública para aquisição de
aparelhagem destinada a instalar a Policlínica, cujo funcionamento estava previsto para o
segundo semestre desse mesmo ano. Para Nazaré Aparecida Massariolli
33
, a Policlínica de
Odontologia de Uberlândia, também foi outro avanço no sistema de saúde da cidade,
porquanto trouxe possibilidade de tratamento para ela, para sua mãe e seus familiares, que
foram atendidos a partir do dia 21/03/1974, assim como para rias pessoas que não tinham
condições de custear um tratamento particular.
Em seu depoimento, Massariolli ressalta:
33
Paciente que foi atendida a partir do dia 21/03/1974 (declaração em anexo), (entrevista 15, em anexo).
155
Eu fiz obturações e canal. Acho que foi só. Mas todos os tipos
de tratamento eram oferecidos pela clínica. Inclusive eu fiz
peças protéticas e restaurações metálicas com ouro. O ouro era
eu mesma quem levava, e eles colocavam.
Fiquei satisfeita com o atendimento. Fui muito bem atendida.
Correspondeu às minhas expectativas (entrevista 15, em anexo).
Após o final da entrevista, a depoente em uma conversa informal como o
pesquisador, afirmou que, naquela época, trabalhava como auxiliar de dentista em um
consultório particular, e, que foi seu patrão que lhe ajudou a comprar o ouro, pois naquele
tempo, quando ainda era estudante e trabalhava, ela não teria condições financeiras de pagar
por aquele material precioso.
Apreende-se dessa e das outras entrevistas que, a odontologia praticada pelos
alunos da Policlínica da Faculdade de Odontologia ajudou algumas pessoas da comunidade
que antes procuravam os dentistas práticos. Para ela:
Aqui tinha muitos dentistas que não eram formados e atuavam. Então, a
população passou a freqüentar a Policlínica ao invés de procurar os dentistas não formados.
Já os alunos eram bem aceitos pela sociedade (entrevista em anexo).
A depoente acrescentou, ainda, que a Faculdade de Odontologia de Uberlândia:
- Ajudou muito o pessoal da classe média e baixa, principalmente, naquela época. O
tratamento era acessível. Gostei muito do tratamento que fiz. Inclusive o tenho até hoje
(entrevista em anexo).
Portanto, a importância da implantação da Faculdade de Odontologia em
Uberlândia o atendeu somente a interesses meramente políticos. Sabe-se que, durante o
período Militar, não se realizava praticamente nenhuma ação de relevância sem o
consentimento e o apoio políticos, mas, deve-se destacar que, independente dos interesses
iniciais, houve uma evidente intimidação e pressão para uma maior preocupação com a
questão social, que foi, aliás, um dos suportes da política realizada pelos militares, a fim de
156
cooptar os grupos sociais marginalizados, ou seja, conquistar a confiança e o apoio das
pessoas pertencentes às categorias menos privilegiadas.
Para esclarecer a respeito da relevância dessa Faculdade de Odontologia para
Uberlândia e Região, um dos entrevistados, o Sr. Rondon Pacheco, o ex-Governador e ex-
Ministro chefe da Casa Civil assim se expressou:
Ah! É muito grande. Todo mundo tem dente podre. (...) Então, a
gente tem que ter uma sensibilidade para as Escolas básicas e
suas iniciativas. Odontologia era uma Escola muito necessária,
e aconteceu que tivemos inclusive que transferir como
Governador, Escolas que estavam em municípios menores
também para a Universidade. Transferir uma Escola de uma
cidade para outra, pois a cidade originária o tinha condições,
precisava de arte e coragem para fazer um ato deste. E
trouxemos outras Escolas, a Veterinária, por exemplo. E
Uberlândia organizou sua pirâmide cultural que é nossa
Universidade (entrevista 14, em anexo).
Ainda para Rondon Pacheco:
A Odontologia foi uma iniciativa da Assembléia Mineira do
Deputado Homero Santos, sempre com a ressalva do
Governador de que o Estado não tinha muitos recursos, os
entreveros com o Israel Pinheiro foram muito trabalhosos no
sentido de criar um precedente de Escola Superior como a
Odontologia para Uberlândia. Mas deu tudo certo e a Escola foi
instalada. E os fatos ajudaram, pois quando tivemos que
aparelhar a Escola, eu estava como Governador e na verdade
não podíamos deixar o cavalo no meio do caminho, seria uma
covardia (entrevista 14, em anexo).
Desta sorte, apesar das dificuldades, a Faculdade de Odontologia foi criada
com a participação das diversas categorias citadas a priori, a policlínica foi aparelhada com os
consultórios doados pelo Governador Rondon Pacheco, e, além de fornecer subsídios para os
aprendizes da Odontologia desenvolverem suas atividades práticas, já fornecia para população
um lócus onde seriam atendidos como pacientes por estudantes com conhecimento
técnico/científico acompanhado pelos professores.
157
Dentre outras modificações trazidas pela criação da Faculdade de Odontologia
em Uberlândia deve-se realçar o entendimento do professor Odorico Coelho da Costa Neto:
A primeira coisa que veio a mudar foi a concepção da
Odontologia dentro da sociedade. Então, com a Faculdade aqui
a profissão Odontologia passou a ser mais valorizada. Então
houve uma valorização tanto daqueles que atuavam aqui
quanto dos novos profissionais que foram ingressando no
mercado de trabalho. Então, a sociedade passou a enxergar a
Odontologia realmente como uma profissão da área de saúde
fundamentada em princípios científicos, biológicos, e não
apenas a Odontologia na função prática.
Segundo a questão da assistência Odontológica que trouxe a
população. Não o que era feito na própria Faculdade, mas
ampliaram-se os serviços de Odontologia na cidade. Os serviços
públicos eram muito escassos, muito pequenos, então com a
Faculdade aqui, apesar de ainda hoje ser considerado
insatisfatório, mas com a vinda da Faculdade, houve um
aumento da oferta desses serviços à população. Na época estava
começando a ter uma mudança de orientação das profissões na
área da saúde, e a Odontologia estava ingressando nessa
mudança. Então, até 1970, a visão das profissões na área da
saúde era curativista, você trabalhava apenas em cima da
doença. A partir daí, passou a mudar a concepção, passou-se a
trabalhar a educação e a prevenção. Então, os primeiros
problemas educativos e preventivos em Odontologia no
município de Uberlândia, vieram com a Faculdade. Então,
educação e prevenção começaram aqui em Uberlândia com a
implantação da Faculdade porque, até então, não se falava em
programas assim, se trabalhava em cima da doença: de cárie
principalmente, e, alguma coisa de doença periodontal. A
doença periodontal nem era uma coisa considerada tão
importante (entrevista 10, em anexo).
Foram inúmeras as contribuições trazidas com a construção da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia, visto que os formandos das primeiras turmas foram instruídos,
com preceitos sob os quais a Odontologia contemporânea estava se consolidando, ou seja,
passava-se da atuação exclusivamente curativa a qual seus pilares eram a doença já instalada e
suas modalidades de tratamento, para uma atuação preventiva, na qual prima-se em procurar
evitar a instalação da patologia, utilizando-se de todos meios profiláticos para senão elimina-
la, ao menos reduzir sua incidência na população.
158
Todos esses elementos trazidos pelo entrevistado acima, consubstanciaram as
estruturas básicas fornecidas para que a Escola de Odontologia tenha atingido o patamar em
que se encontra atualmente.
Hoje, como parte integrante da Universidade Federal de Uberlândia, a FOUFU
que começou particular, subsidiada pela Autarquia Estadual de Uberlândia, que após alguns
anos ingressou para Universidade de Uberlândia, e, vindo em 1978, juntamente com outras
Escolas, entra para o rol das Universidades Federais e deve ser lembrada desde sua criação,
como uma “árvore” que gerou, e ainda de gerar bonsfrutos”. Demonstrando-se, portanto,
que, somente com a participação de todos os setores da sociedade e com a união das mais
diversas categorias, em prol de um ideal, foi possível trazer tantas melhorias para vida social
de Uberlândia e Região.
Nesse sentido, destacam-se os pronunciamentos do professor Dr. Vanderlei
Luiz Gomes asseverando que:
Todo o trabalho do Curso de Graduação desde os primórdios da
Faculdade são trabalhos que não oneram o paciente. Ele sempre
desenvolveu atividades, ou ora por conta própria Autarquia, ou
depois que se tornou Universidade e depois pelo Sistema de
Saúde. Um Sistema de qualidade e de preço acessível.
chegamos a atender mais de 3000 pessoas por mês. Hoje não sei
qual é a escala, mas tivemos esse número. Hoje devemos ter
em nossos arquivos mais de 100.000/110.000 mil prontuários
registrados. Para uma população de 600.000 mil habitantes o
arquivo da Faculdade de Odontologia ter um número tão
expressivo, acho que é muito importante. É significativo. O
trabalho social que a Faculdade desenvolve nos grupos
escolares, junto também a programas da Prefeitura, em praças
públicas, nosso trabalho de Pronto Socorro 24 horas, que é um
trabalho muito bem preparado para atender ao público, que
atende as urgências e as emergências. E a formação do
profissional. Hoje estamos na 76ª turma, são mais de 2800
alunos de Odontologia em Trabalho. Também não podemos
esquecer da Escola Técnica, pois os Cursos formados para a
Odontologia que hoje nós temos nasceram dentro do Curso de
Odontologia, o Curso de Prótese, o de THD (Técnico em
Higiene Dental). Ajudamos a tornar a antiga Escola técnica de
Enfermagem em, hoje, a Escola Técnica de Segundo Grau da
Universidade Federal de Uberlândia. Quer dizer, isso tudo
trouxe um retorno para a sociedade muito forte. E a quantidade
e a qualidade de profissionais que nós temos colocado no
159
mercado. Com formação em Odontologia. Hoje, temos sete
Cursos de Especialização em várias áreas de ensino. E, de
quatro anos para nosso Mestrado, que está sendo muito bem
aceito. É um Mestrado para a formação de docentes, acadêmico.
Formamos em torno de 25/28 profissionais a cada ano para o
ensino de Odontologia. Isso é muito importante. Esse retorno
que a Faculdade tem dado a sociedade, e ela têm nos agradecido
muito quando avaliações o feitas e nós somos lembrados
como uma Escola de nível (entrevista 05, em anexo).
As estatísticas relatadas pelo entrevistado podem ser confirmadas nos arquivos
do Pronto Socorro Odontológico e do Hospital Odontológico da Universidade Federal de
Uberlândia, ratificando a relevância e os altos índices de atendimentos oferecidos a população
da cidade e região.
Endossando essa perspectiva, Alfredo Júlio Fernandes Neto em sua entrevista
afirmou que:
Temos especialização em todas as áreas, e, agora estamos na
quarta turma do Mestrado, em duas áreas de concentração.
Estamos aguardando este ano o Programa do Doutorado.
iremos fechar uma escola que nasceu no interior, particular, na
época uma cidade pequena, hoje nós estamos como uma
Universidade Federal, onde hoje, temos uma Escola Técnica de
Saúde que formam cnicos em Prótese Dental (THD). Quer
dizer, atendemos ao ensino técnico da Odontologia, s
formamos cirurgiões-dentistas para clínico geral, acredito que
muito bem, nós formamos bem especialistas, e agora vamos
formar acredito que bons professores para a Odontologia já com
iniciação a pesquisa. E queremos formar doutores e
pesquisadores em Odontologia. acho que pelo menos a
minha passagem nesta Faculdade vai estar cumprida
(entrevista 06, em anexo).
De acordo com os dados apresentados por ambos os relatores, afirma-se
novamente, que foram inúmeros os avanços alcançados pela Odontologia uberlandense. Nada
obstante, mesmo evidenciando todos esses méritos obtidos, não se pode olvidar que a gênese
da Faculdade de Odontologia de Uberlândia foi o resultado da interseção de várias “forças” e
de diversos fatores, dentre eles, destacam-se:
160
1º) A expansão e a interiorização do Ensino Superior preconizadas pelos
Políticos e/ou Militares, respondendo aos anseios da indústria carente de mão de Obra
qualificada, resultado da internacionalização da economia brasileira e da emergência das
empresas nacionais e corporações multinacionais;
2º) a demanda de vagas nas universidades pela categoria média, a qual
visualizava no Ensino Superior um caminho relativamente rápido para a ascensão social;
3º) a idealização de um grupo de pessoas da cidade de Uberlândia, as quais
elegeram como projeto pessoal a criação dessa Faculdade de Odontologia, não medindo
esforços para a concretização desse sonho;
4º) o apoio dos grupos dominantes, juntamente com o seleto grupo de
intelectuais, buscando formar uma pirâmide cultural, e trazer para a cidade um
desenvolvimento educacional, econômico, político e social capaz de alavancar o prestígio
social dessa categoria dominante local.
Outros olhares poderão, talvez, trazer alguns diferentes fatores, além desses
apresentados, em virtude de ser a história uma ciência aberta, receptível e sensível a novas
interpretações. Sendo assim, não se pode afirmar que se esgotaram categoricamente, com essa
pesquisa, a análise das apropriações, representações e práticas sociais presentes nos
acontecimentos históricos acerca da FOU.
Inúmeras outras possibilidades de interpretações, justificativas e explicações
sobre a criação da Faculdade de Odontologia em Uberlândia poderão ser apresentadas, quiçá
outros estudos virão. De qualquer forma, espera-se que se tenha colaborado de alguma
maneira, para dar identidade aos agentes-partícipes dessa história e para os futuros trabalhos
de tessitura das reminiscências e dos acontecimentos envolvendo a primeira Escola de
Odontologia de Uberlândia.
161
Por fim, no próximo tópico, serão apresentadas as conclusões e considerações
finais resultantes dessa pesquisa histórica.
162
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tópico final, dividido em cinco seções, apresentam-se as conclusões da
pesquisa. Na seção, 4.1, retomam-se as perguntas. Na seção 4.2 são esboçadas as
contribuições teóricas, metodológicas e práticas do estudo. Discute-se, na seção 4.3, as
limitações do estudo, e, baseado nos resultados alcançados, apresentam-se na seção 4.4,
algumas sugestões para futuras pesquisas na área. Por fim, na seção 4.5, são apresentadas as
considerações finais dessa dissertação.
4.1. Retomando as perguntas que nortearam a pesquisa
Nesse estudo envolvendo a gênese da Faculdade de Odontologia de Uberlândia
buscou-se interpretar as representações e práticas sociais contidas nos primeiros tempos dessa
Escola Superior se orientando no paradigma da modalidade histórica interpretativa. São
163
apresentadas, a seguir, as conclusões do estudo, guiando-se, para tanto, pelas perguntas
iniciais propostas nessa pesquisa.
a) Como se constituiu essa Escola?
Em relação à resposta para a primeira pergunta, pode-se resumir que a Escola
de Odontologia de Uberlândia de 1966 a 1978, é constituída em um período em que o
capitalismo monopolista estava assentado definitivamente no país, e sob o domínio do
Comando Militar, que se utilizou das estratégias de repressão e cooptação das categorias
sociais, para se manter no poder.
A política desenvolvimentista praticada pelos militares orientou um movimento
de expansão e interiorização do Ensino Superior. Tentando seguir essa tendência, observou-se
uma união de representantes das três instâncias de poder: as esferas Federal, Estadual e
Municipal, atuando juntamente com os idealistas e representantes das categorias dominantes
locais uberlandenses para concretizar a Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
b) Quem foram seus primeiros professores?
A princípio, os alunos das primeiras turmas tiveram o Curso básico ministrado
na Fundação Escola de Medicina e Cirurgia com os mesmos professores do Curso de
Medicina, em virtude do convênio estabelecido entre as duas Escola de Ensino Superior.
Posteriormente, a partir da terceira série, ou seja, no que se refere aos
professores das disciplinas do segundo ciclo, com matérias de formação profissional, em
virtude de Uberlândia, naquele momento, não possuir um número suficiente de professores
capacitados para ministrar as aulas práticas, buscou-se auxílio de alguns professores que
164
vieram de outras cidades, tais como: Araçatuba, Ribeirão Preto, Uberaba, Araraquara,
Diamantina, entre outras. Esses docentes demonstraram uma grande dedicação e esforço, pois
vieram a Uberlândia ministrar aulas, às vezes, até nos finais de semana. Eram professores que,
em sua instituição de origem, davam aulas no Mestrado, no Doutorado, trazendo, desta sorte,
uma valorização do saber técnico-científico e da continuidade dos estudos acadêmicos para a
evolução da Odontologia, influenciando, sobremaneira, a vida de alguns dos alunos das
primeiras turmas, que se tornaram professores na própria instituição em que foram formados.
Finalmente, após a formatura das primeiras turmas, iniciou-se uma transição e
modificação do quadro de professores da FOU, os docentes da cidade e ex-alunos assumiram
os cargos que antes tinham sido preenchidos pelos educadores de outras cidades, dando maior
estabilidade à equipe de tutores da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Sendo assim, os primeiros professores fazem parte do grupo dos grandes
responsáveis pela criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia, atuando como
importantes atores do processo de construção dessa Instituição educacional.
c) Que saberes docentes constituíram seu curriculum?
Os saberes docentes que fizeram parte da construção do currículo da FOU
foram divididos em dois ciclos: o básico e o profissional. Durante a primeira e segunda série,
ou seja, no primeiro ciclo eram ministradas matérias básicas tentando fornecer subsídios
teórico-científicos aos alunos que, após a aprovação nessas disciplinas básicas, a partir da
terceira e quarta séries passavam para o ciclo profissional, no qual eram oferecidas matérias
referentes às práticas profissionais específicas para atuação do cirurgião-dentista.
165
O departamento de matérias básicas ficou responsável pelas disciplinas de
Anatomia, Histologia, Embriologia, Bioquímica, Biofísica, Fisiologia, Farmacologia,
Microbiologia, Imunologia, Patologia e Anatomia Patológica.
As demais disciplinas do conteúdo de formação profissional ficaram sob a
responsabilidade dos seguintes departamentos:
1º) Departamento de Medicina Oral, as matérias da Clínica Odontológica,
Cirurgia Odontológica, Prótese e Traumatismos Maxilar-Facial;
2º) Departamento de Oclusão, as disciplinas de Dentística Operatória,
Materiais dentários e Prótese dentária;
3º) Departamento de Odontologia Preventiva e Social, a Ortodontia, a
Odontopediatria, a Higiene, a Odontologia Preventiva, a Odontologia Legal e a
Deontologia.
d) Quem foram seus primeiros alunos?
As listas com os nomes dos primeiros alunos da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia podem ser encontradas tanto no corpo do texto, quanto nas tabelas em anexo.
Porém, o relevante não são os nomes, mas o que esses alunos representaram para a criação da
FOU, de acordo com os dizeres apresentados a priori, trazidos pelo jornal “O Triangulo”,
Uberlândia, ano XLV de 9/09/1974. A esses ex-alunos [...] devemos nossos agradecimentos
pelo esforço e coragem que tiveram ao enfrentar os primeiros problemas. [...] os pioneiros de
uma grande jornada [...] Deixaram rastos, e rastos fortes que jamais se apagaram!
Sendo assim, observa-se nessa nota trazida pela imprensa uberlandense, a
importância dada a esses alunos que ajudaram a enfrentar as primeiras dificuldades do Curso
166
de Odontologia. Eles deverão ser lembrados como pioneiros, pois fizeram parte essencial do
grupo responsável pela solução dos primeiros problemas presentes na criação da FOU.
Analisando quem foram os alunos das primeiras turmas da FOU, pode-se dizer
que foram estudantes que pertenciam, em sua maioria, à classe média, média baixa ou baixa,
que viram a criação do Curso de Odontologia em Uberlândia, como uma oportunidade de
profissão, ao alcance das possibilidades em que se encontrava cada um naquele momento.
Independente dos motivos determinantes da escolha pela Odontologia, para
todos ex-alunos entrevistados ela foi essencial para a vida profissional, e, naquela época, após
a formatura, tiveram uma boa impressão quanto à inserção no mercado de trabalho, pois
Uberlândia e Região eram carentes em cirurgiões-dentistas.
e) Que espaço físico arquitetônico gestou a Escola de Odontologia?
Primeiramente, o espaço físico que sediou a Escola de Odontologia de
Uberlândia foi o pavilhão das matérias básicas da Escola de Medicina e Cirurgia de
Uberlândia, localizado no Bairro Umuarama. Conforme pode ser verificado na Figura IV, do
capítulo II, o convênio formado entre essas duas Faculdades não forneceu a estrutura
físico-predial, como também sua biblioteca, seus laboratórios, seu primeiro microscópio, seu
anfiteatro, suas salas de aula e seus professores.
Em 1972, com a doação do prédio da Avenida Engenheiro Diniz feita pelos
Freis fransciscanos, foto apresentada na Figura I, esse edifício de três andares passou a sediar
a Policlínica da FOU, onde foram ministradas as primeiras aulas práticas para os alunos das
turmas iniciais do Curso de Odontologia, a partir do segundo semestre desse mesmo ano.
Por fim, com a federalização em 1978, concentraram-se todos os Cursos de
biomédicas no Campus Umuarama, onde a Odontologia exerceu e exerce grande número das
167
suas atividades docentes, contudo, o prédio da antiga Policlínica da FOU, continuou por
vários anos, como sede das aulas práticas de algumas disciplinas. Atualmente, essa estrutura
predial funciona como sede da reitoria da Universidade Federal de Uberlândia.
f) Quais as representações e práticas sociais em torno dessa Escola de
Ensino Superior?
Foram várias as representações e práticas sociais concernentes à criação da
Faculdade de Odontologia de Uberlândia, preliminarmente, significou crescimento,
desenvolvimento e avanço para Uberlândia e Região. Confirmando essa idéia, tem-se no
relato de Homero Santos a afirmação de que a construção da FOU representou a entrada da
cidade para o seleto grupo que na época oferecia Curso Superior.
Para os idealizadores e fundadores, a edificação da Escola de Odontologia foi a
concretização de um sonho. A Escola de Odontologia significou para os professores e os
funcionários uma oportunidade de emprego. Para os alunos representou uma possibilidade de
continuar os estudos em busca de uma profissão que lhes proporcionassem um futuro melhor.
Para os pais dos estudantes das primeiras turmas de Odontologia, houve um
receio inicial pelo fato de ser um Curso novo e diferente dos Cursos ditos tradicionais, porém,
depois que seus filhos ingressaram na FOU, isso se tornou motivo de orgulho e tranqüilidade
de terem seus descendentes estudando em uma Faculdade de Uberlândia, o precisando sair
para as capitais em busca de instrução superior.
Para a população uberlandense, representou a oportunidade de receber
tratamento realizado por estudantes com embasamento técnico-científico para prevenir e curar
as doenças bucais.
168
4.2. Contribuições do estudo
Este estudo apresenta várias contribuições, não teóricas, mas, também,
metodológicas e práticas. As contribuições teóricas são apresentadas na seção 4.2.1, sendo as
contribuições metodológicas apresentadas na seção 4.2.2. Na seqüência, a seção 4.2.3
apresenta as contribuições práticas do estudo.
4.2.1. Contribuições teóricas
O presente estudo contribui, em primeiro lugar, para apresentar um breve
histórico da Odontologia no Brasil, e, posteriormente, para incrementar as pesquisas
relacionadas à história e historiografia da educação, mais especificamente, à história das
instituições escolares e, finalmente, em especial, colabora para a interpretação das
representações e práticas sociais acerca da gênese da Faculdade de Odontologia de
Uberlândia.
A utilização das diferentes fontes impressas, orais e iconográficas, para coletar
os dados possibilitando cotejá-los durante o processo de investigação, possibilitou a
verificação da consistência das informações, assim como uma confrontação desses
documentos, contribuindo para uma maior confiabilidade da pesquisa.
4.2.2. Contribuições metodológicas
Considera-se o formato dessa pesquisa contemporâneo e inovador uma vez que
procurou aliar paradigmas historiográficos a exemplo da teoria trazida por Roger Chartier,
que possibilitou interpretar as representações e práticas sociais acerca da gênese da Faculdade
169
de Odontologia de Uberlândia. Além disso, o estudo proposto por Justino Magalhães sugeriu
que a compreensão e a explicação da existência histórica de uma instituição educativa deve
ser realizada integrando-a na realidade do sistema educacional, contextualizando-a no
desenvolvimento da comunidade local e regional, devendo conferir um sentido histórico ao se
reescrever o trajeto da Escola em seus múltiplos viéses apresentados pela modalidade
histórica interpretativa. Outro estudo importante é o apresentado por Ester Buffa e Paolo
Nosella que ressalta a importância das especificidades e particularidades regionais e locais na
tessitura da história, e, finalmente, a metodologia da História Oral que é apresentada neste
estudo como técnica enriquecedora da historiografia contemporânea, tornando-se os relatos
orais dos entrevistados uma importante ferramenta a ser utilizada, juntamente com o uso das
demais fontes.
O presente estudo seguiu a tendência de inovações temáticas e paradigmáticas
adotadas pela historiografia atual. Desta maneira, observa-se que se ampliaram as formas de
questionar, investigar, apreender e interpretar a diversidade dos contextos históricos. Com a
utilização desses novos paradigmas como referenciais teórico-metodológicos, a nova
historiografia, caracterizada por uma renovação nos quadros epistemológicos e
hermenêuticos, originou um alargamento das problemáticas em História da Educação,
possibilitando, desta sorte, construir uma interpretação em torno da gênese da Faculdade de
Odontologia de Uberlândia.
4.2.3. Contribuições práticas
O presente estudo apresenta diversas contribuições práticas e implicações para
a análise e a interpretação da história da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
Primeiramente, pode-se citar o processo e os procedimentos realizados durante a confecção da
170
entrevista oral, que se valeu inicialmente, da utilização das conversas informais com um dos
representantes do Diretório Acadêmico Homero Santos do período delimitado, o ex-aluno
Gaspar Paulino, pretendendo avaliar as reminiscências desse acadêmico para elaborar
perguntas que ajudariam na composição dessa prática de releitura e reescrita do passado, de
forma a trazer elementos e respostas importantes para a interpretação de como foi a criação
dessa Escola de Ensino Superior.
Conforme relatado anteriormente, depois de transcrita a primeira entrevista
realizada com esse ex-acadêmico, pode-se juntamente com a orientadora, elaborar algumas
questões que serviram de horizonte para todas as demais entrevistas.
Importante se faz destacar que, durante o processo da gravação dos relatos
orais, foi solicitado aos entrevistados que disponibilizassem seus arquivos pessoais trazendo
fotos, documentos, convites de formatura e tudo aquilo que pudesse contribuir para a escrita
da história da gênese da FOU.
Sendo assim, o pesquisador conseguiu a reunião de uma boa quantidade de
materiais, fontes primárias e secundárias copiadas dos arquivos particulares desses agentes
partícipes dos primeiros momentos da Escola de Odontologia, além daqueles anteriormente
discriminados e que estão sob a guarda do Arquivo Geral da Universidade Federal de
Uberlândia.
Assim, traçou-se um inventário das fontes acerca da Escola de Odontologia
de Uberlândia, com o objetivo de facilitar aos futuros pesquisadores, indicando onde e como
poderão encontrar importantes elementos para o processo de reconstituição da história da
FOU, seja ele através da memória oral, iconográfica e/ou dos documentos escritos.
171
4.3. Limitações do estudo
Primeiramente, uma das limitações foi pensar que não haveria fontes acerca da
história da FOU, por não existir nenhum trabalho anterior que tratasse especificamente da
origem da Escola de Odontologia de Uberlândia. Porém, com o desenvolver da pesquisa
empírica, observou-se que as fontes não seriam um problema, que, apesar de, na maioria das
vezes, estarem arquivadas de forma desorganizadas e mal conservadas, foi possível encontrar
um rico manancial de informações.
Sendo assim, descartada a primeira hipótese de dificuldades para se
desenvolver a pesquisa, a maior limitação do estudo estaria relacionada à exigüidade do
tempo para abarcar a riqueza de informações trazidas pelas fontes primárias, além das
questões iniciais que foram respondidas no decorrer do texto. Outras foram levantadas durante
o contato com as fontes na elaboração da pesquisa e não puderam ser respondidas durante
esse processo dissertativo. Porém, acredita-se que essas limitações poderão ser ultrapassadas
por pesquisas futuras que se utilizem dessas questões que foram apontadas de forma a
desenvolver trabalhos que venham a preencher essas lacunas.
Depois de apresentar as limitações do estudo, na seqüência, foram indicadas
algumas sugestões para futuras pesquisas, tendo como base os resultados e os
direcionamentos apontados na presente investigação.
4.4. Sugestões para futuras investigações
Algumas pesquisas poderiam ser conduzidas sob essa perspectiva integrada de
investigação que considera a história como lutas de representações e práticas sociais
172
construída/escrita utilizando-se os múltiplos viéses trazidos pela interdisciplinaridade na
tentativa de responder alguns questionamentos levantados a guisa de:
a) Qual o perfil dos odontólogos formados pela Faculdade de Odontologia de
Uberlândia?
b) Que proposta e objetivos seguiu o plano pedagógico do Curso de
Odontologia uberlandense?
c) Existiu preocupação com pesquisa?
d) O aluno fazia trabalho de conclusão de Curso?
e) Para onde foram seus alunos depois de formados?
f) Quais as trajetórias profissionais dos formandos da Escola de Odontologia de
Uberlândia?
g) Como foi a consolidação e o desenvolvimento da FOU? E outras.
Essas são algumas das indagações que justificariam a continuidade de outras
pesquisas que tenham como objetivo investigar sobre o processo de criação, consolidação e
desenvolvimento da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
4.5. Considerações finais
Acredita-se que as principais conclusões alcançadas por esse trabalho foram
explicitadas ao longo do texto. Porém, um leitor crítico poderia levantar a objeção de se tratar
de uma história interpretativa, laudatória e escrita sob um viés da categoria dominante.
A história aqui apresentada, retratando a FOU dos primeiros tempos, é
inegavelmente interpretativa porque, conforme afirmado anteriormente, não se almejou tecer
uma história factual ou mesmo simplesmente laudatória, pois, assim, os objetivos
metodológicos propostos não seriam atendidos.
173
Deve-se atentar que o rico manancial de fontes e documentos nos quais se
baseou esse estudo não “falou” por si mesmo. Nesse sentido, procurou-se levantar
questionamentos direcionados pelo objetivo geral de apreender as representações e práticas
sociais constituídas durante os primeiros tempos da FOU no período delimitado, de forma que
essa historiografia interpretativa não se tornasse arbitrária.
Também não se poderia afirmar que o presente estudo se trata de uma história
laudatória, de um texto simplesmente simpático ao orientando, pelo fato do mesmo ter sido
formado pelo objeto estudado, ou seja, pela Faculdade de Odontologia de Uberlândia. O
pesquisador não negou sua empatia pela Escola estudada e tentou ir além dessa empatia.
Procurou-se estabelecer questões, dúvidas e relações da Faculdade com a comunidade,
significados e práticas realizadas pelos agentes da Escola de Odontologia de Uberlândia que
serviram como uma grande contribuição para a cidade e Região.
A Faculdade de Odontologia de Uberlândia contribuiu para a construção de
uma nova realidade social no campo da saúde bucal, colaborou com várias práticas no sentido
de fornecer conhecimentos técnico-científicos aos estudiosos da Odontologia e o acesso da
população aos serviços desses estudantes e profissionais.
Pode-se, ainda, criticar o trabalho realizado argumentando que somente uma
minoria tem acesso a essa Faculdade de Odontologia de Uberlândia, que o Curso por ser
integral, exige uma dedicação quase exclusiva, excluindo a maioria das pessoas que
necessitam de trabalhar para sobreviver. Pode-se afirmar também, que a quantidade de vagas
disponíveis é pequena e que o concurso vestibular para essa área é difícil, eliminando, assim,
a possibilidade de ingresso de um expressivo número de alunos.
Contudo, entende-se que, independente dos interesses que essa Faculdade veio
a atender, no período estudado, sejam eles políticos, sociais, particulares ou das categorias
dominantes, deve-se evidenciar a seriedade do ensino praticado por essa instituição e as
174
conseqüências sociais trazidas por meio de benefícios à sociedade de Uberlândia e Região, na
formação de dentistas para suprir a carência desses profissionais da saúde.
Por fim, ao analisar quem foram os primeiros alunos da FOU, revelou-se que a
origem social deles não é propriamente das categorias abastadas, percebeu-se a presença de
alunos provenientes das classes média, média baixa e pobre, que viram a criação da Escola de
Odontologia em Uberlândia, como uma oportunidade única de ter uma profissão, para que,
por meio do trabalho, alcançassem um futuro melhor.
Portanto, a interpretação realizada neste trabalho não reflete somente as
representações e práticas sociais das categorias dominantes, mas trouxe também como
contribuição a existência das “múltiplas Uberlândias” e, por meio da apresentação da visão
dos agentes partícipes entrevistados, ocasionou a possibilidade da reconstrução histórica
enriquecida pela memória dos grupos sociais discriminados, abrindo espaços para outras
“vozes”, ampliando as possibilidades de novas interpretações históricas.
175
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA. Faculdade de Odontologia. Projeto
conte comigo. Universidade Federal de Uberlândia. Odontologia. Uberlândia: Imprensa
Universitária da UFU, 1995.
________. Odontologia 10 anos de ensino e participação. Uberlândia. 1980.
________. Regimento Interno da Faculdade de Odontologia da AEU, 1970. p.2.
VIEIRA FILHO, Geraldo. O ensino superior no município de Uberlândia 1957-1978: o
papel das lideranças locais e do Governo Federal. Dissertação de Mestrado. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina, 1993.
183
VON SIMSON, O. R. de M. Laboratório de História Oral. Centro de Memória da
Unicamp, DECISAE – Faculdade de Educação, Campinas Unicamp. 2004.
WARDE, Mirian Jorge. Contribuições da História para a educação. EM ABERTO.
Brasília, v.9, n. 47, jul./dez., 1990. p. 3-11.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro, Zahar. 1979.
_________. Cultura. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1992.
________. Questões teóricas e de método: a histórias da educação nos marcos de uma
história das disciplinas. In: SAVIANI, Dermeval; LOMBARDI, José Claudinei;
SANFELICE, José Luís (orgs.). História e História da Educação. São Paulo: Autores
Associados/ HISTEDBR, 1998. p. 88-99.
XAVIER, Maria Elizabeth Sampaio P. Poder político e educação da elite. São Paulo:
Cortez/Autores Associados, 1980.
ANEXOS: FIGURAS, TABELAS, ENTREVISTAS E DOCUMENTOS
FIGURA I. Foto da fachada do prédio situado na Avenida Engenheiro Diniz, nª. 1178, antiga
Policlínica da Odontologia e atual reitoria da Universidade Federal de Uberlândia, copiada do
Jornal “Correio de Uberlândia” de 10 de outubro de 1975, nº. 12.545, ilustrando a reportagem
intitulada: Reconhecida pelo presidente Geisel a Faculdade de Odontologia da Universidade
de Uberlândia.
FIGURA II. Foto “Boutique de Barbier” copiada do livro de Jean Baptiste Debret. Viagem
pitoresca e histórica ao Brasil. Tomo I. Vol. I. Editora da Universidade de São Paulo. 1978.
p.212.
FIGURA III. Foto do momento da assinatura do convênio entre a Faculdade de Medicina de
Uberlândia e a Faculdade de Odontologia de Uberlândia. A 30 de dezembro de 1969.
FIGURA IV. Foto da estrutura fornecida pelo convênio entre a Faculdade de Medicina e a
FOU, datada de janeiro de 1970.
FIGURA V. Organograma copiado do Arquivo Geral da UFU, com data de referência: 1970.
TABELAS
TABELA - I: Componentes das Gestões Administrativas da Escola de Odontologia (1970-
1978).
TABELA – II: Relação dos alunos graduados pela FOU, e dos docentes formados por ela de
1973 A 1978.
184
TABELA – III: REITORES E VICE-REITORES DA UNIVERSIDADE DE UBERLÂNDIA
(1969-1978)
TABELA VI – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1973
TABELA V – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1974
TABELA VI – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1975
TABELA VII – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1976
TABELA VIII – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FOU - TURMA DE 1977
TABELA IX – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - TURMA DE 1978
ENTREVISTAS
ANEXO I- Entrevista 01- Gaspar Paulino ex-aluno da turma de 1975.
ANEXO II- Entrevista 02- Ministro Homero Santos ex-vice-presidente do TCU.
ANEXO III- Entrevista 03- Paulo César Azevedo ex-aluno da turma de 1973.
ANEXO IV- Entrevista 04- Wanderley Alves Ribeiro ex-aluno da turma de 1975.
ANEXO V- Entrevista 05- Vanderlei Luiz Gomes ex-aluno da turma de 1975.
ANEXO VI- Entrevista 06- Alfredo Júlio Fernandes Neto ex-aluno da turma de 1975.
ANEXO VII- Entrevista 07- Ailton Amado ex-aluno da turma de 1974.
ANEXO VIII- Entrevista 08- Antônio Mário Buso ex-aluno da turma de 1973.
ANEXO IX- Entrevista 09- Gildésio Rezende Alvarenga ex-aluno da turma de 1978.
ANEXO X- Entrevista 10- Odorico Coelho da Costa Neto ex-aluno da turma de 1974.
ANEXO XI- Entrevista 11- Rosa Maria Domiciano Vidal funcionária FOUFU.
ANEXO XII- Entrevista 12- Abigail Maria da Silva funcionária FOUFU
ANEXO XIII- Entrevista 13- Juarez Altafin ex-reitor UnU.
ANEXO XIV- Entrevista 14- Rondon Pacheco ex-governador de Minas Gerais.
185
ANEXO XV- Entrevista 15- Nazaré Aparecida Massariolli ex-paciente da Policlínica da
FOU.
ANEXO XVI - Questionário Semi-estruturado norteador das entrevistas realizadas.
DOCUMENTOS
DOCUMENTO I - Memorando nº. 421, de 31 de maio de 1973 do Reitor da Universidade de
Uberlândia para o Diretor da Faculdade de Odontologia. Dr. Laerte Alvarenga de Figueiredo.
Assunto: faz solicitação.
DOCUMENTO II Memorando nº. 608, de 27 de agosto de 1973 do Reitor da Universidade
de Uberlândia para o Diretor. Laerte Alvarenga de Figueiredo. Assunto: Faz comunicações.
DOCUMENTO III Memorando nº.92/73/Sigiloso, de 13 de fevereiro de 1973 do Reitor da
Universidade de Uberlândia para o Diretor Laerte Alvarenga de Figueiredo.
Declaração - Atestado de comparecimento da paciente Nazaré Aparecida Massariolli na
Policlínica da FOU na condição de paciente para fins de abono de faltas escolares.
186
TABELA – III REITORES E VICE-REITORES DA UNIVERSIDADE DE UBERLÂNDIA
(1969-1978)
REITORES VICE-REITORES
Genésio de Melo Pereira (1969)
Domingos Pimentel de Ulhôa (1970-
19710)
Juarez Altafin
Juarez Altafin (1975-1976) Ilar Garotti
José de Paulo Carvalho (Pro-Tempore
1975-1976)
Gladstone Rodrigues da Cunha Filho (1976-
1980
Antonio Martins da Silva Junior
Dados coletados do Arquivo Geral da Universidade Federal de Uberlândia
confrontados com as informações contidas no Projeto Conte Comigo. (SALAZAR .
1995).
O CENTRO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS (CEBIM) NOS ANOS de (1978-1980) TEVE
COMO DIRETOR: Arnaldo Godoy de Souza e VICE-DIRETOR: Wilson Ferreira
187
TABELA IV – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA - TURMA DE 1973
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01- Abelardo Henrique Testa 1-Agropecuarista-Fazenda
Eldorado Udi-MG. Fazenda
Kalaka Paracatu-MG
02- Abrahão José Mine
03- Arberto Magno Ribeiro
de Paiva
04- Alfredo Julio de Oliveira
05- Ana Maria Lisboa Silva
e Dias Ferreira
06- Antonio Ferreira de
Melo
07- Antonio Mario Buso Especialização:metodologia
do ensino superior IES:.
PUC/MG, BH/MG-1979
Professor Titular UFU/MG,
Consultório particular –
periodontia – UDI/MG
08- Arnaldo Queiroz
Machado
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU-1985
Consultório Particular
Araguari/MG
09- Byron Lacerda Especialização: metodologia
do ensino superior
PUC/MG-BH/MG-1979
Professor titular UFU,
Consultório particular
10- Carlos Antonio
Colmanetti
11- Célia Regina de Souza
12- Consuelo Fátima
Pelizzard
13- Edio Elias Borges
14- Edison Vieira da Costa
Júnior ٭
٭ Divergência de dados
15- Edisonina Vieira Vaz Consultório Particular
UDI/MG
188
16- Eduardo Borges de
Rezende
17- Elcio de Freitas Pedrosa
18- Eneida Marques de
Andrade
Consultório Particular
UDI/MG
19- Fausto Borges Campos
Estágio: Cirurgia Buço-
maxilo-facial IES:.USP/SP-
1976-1977
Especialização: Metodologia
do ensino superior
Universidade Estadual de
Londrina/PR-1981
Especialização: Cirurgia e
traumatologia buço-maxilo-
facial pela Universidade
Federal de Pelotas – RS-
1982
Professor titular UFU/MG,
Consultório Particular
20- Ione Rodrigues Vieira
21- João Vieira da Costa
Neto
22- Jorge Cunha
23- José Antonio Lobato Consultório Particular
UDI/MG
24- José Rubens Bernardes
Coelho
25- José Vanderlei de
Almeida
Especialização: Metodologia
do ensino superior IES:.
PUC/MG – BH/MG-1979
Especialização: Prótese
Dental UFU/MG 1985
Mestrado em Dentística
Restauradora USP/ BAURU
1984
Doutorado em Dentística
Restauradora USP/ BAURU-
1991
Professor Titular UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
26- Lourdes Maria de Sousa Especialização: Endodontia
IES:. Policlínica do Rio de
Janeiro
Consultório Particular
UDI/MG
27- Luis Umberto de
Oliveira
Mestrado: Diagnóstico Oral
IES:. USP/ BAURU/SP
1981
UFU/ UDI/MG
Professor Titular
Vice-Chefe do departamento
de Odontologia Social e
preventiva 1980/1981
28- Luiz Mario Guimarães
Gonçalves
Especialização:
Odontopediatria IES:. USP/
BAURU/SP-1974
Professor Titular UFU/MG
Coordenador do Curso de
Odontologia- 1980/1981
189
Especialização:
Administração Universitária
IES:. Centre HEC-ISA-
FRANÇA/UFU-UDI/MG
1987
Diretor do Centro de
Ciências Biomédicas-
1984/1988
Vice-Reitor- 1984-1988
Reitor Pro-Tempore- 1992
Diretor Geral da Unidade
Hospitalar Odontológica a
partir de 1992
29- Marcelino Mendes
Rezende
30- Marcus Alves da Rocha Especialização: Semiologia
IES:. USP/SP-1980
Professor Titular UFU/MG
Chefe do Setor de
Diagnóstico Estomatológico
a partir de 1995
31- Maria Espedita Resende Consultório Particular
UDI/MG
32- Maria Francelina de
Barcelos
Consultório Particular
Campina Verde/ MG
33- Mario Francisco Pereira
34- Milton Alves Cardoso
35- Neusa Maria dos Anjos Especilização: Endodontia
IES:. Faculdade de
Odontologia de
Araraquara/SP-1975
Mestrado: Endodontia IES:.
USP/ BAURU-1984
Professora Titular UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
36- Paulo César Azevedo Mestrado: Endodontia
USP/BAURU/SP-1984
Professor Titular UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
37- Paulo Ferreira Rangel Consultório Particular
UDI/MG
38- Paulo Sergio de
Carvalho
39- Rachel Kobal
40- Regina Maria Tolesano Especialização:
Odontopediatria IES:.
USP/SP-1975
Mestrado: Odontologia
Social IES:. Universidade do
Rio Grande do Sul – Porto
Alegre- RS-1986
Professora Titular UFU/MG
41- Ronan Correa Neves
42- Shirley Cecin de Castro
190
TABELA V – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA -
TURMA DE 1974
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01- Adair Alves Teixeira Cirurgião-Dentista UFU/MG
Consultório particular
UDI/MG
02- Ailton Amado Especialização: Radiologia
IES:. Sociedade de
Promoção Social do
Fisurado Lábio Palatal –
Bauru/SP-1981
Especialização: Metodologia
do Ensino Superior IES:.
Universidade Estadual de
Londrina – PR-1981
Professor Adjunto 4
UFU/MG
03- Alan Kardec Dornelles Cirurgião-Dentista UFU/MG
Consultório particular
UDI/MG
04- Carlos Roberto Rosa
05- Devanir Paulino de
Aguiar
06- Edson Alves
07- Eliane Gláucia Faria de
Melo Pinto
08- Elizabeth Arantes
(Gomes)
Consultório particular
UDI/MG
09 Hamilton Furtado Junior Consultório particular
UDI/MG
10- Jeova Vieira Marques
Filho
11- Jonas Campana
12- José Alves Rodrigues
13- José Carlos Junqueira
14- José Ronaldo Pereira
15- Manoelito Alvim Consultório particular
UDI/MG
16- Márcia Helena de
Oliveira Brasil
17- Marco Antonio Santos
Veloso
191
18- Marcos Santos Diniz Consultório particular
UDI/MG
19- Maria Cristina Geocondo
Cesar Kawaka
20- Marlene Batista Ferreira Consultório particular
UDI/MG
21- Martha Ribeiro Marques Consultório particular
UDI/MG
22- Nelson Moreira Filho Especialização:
Metodologia do ensino
superior IES:. PUC/MG –
BH/MG-1979
Mestrado: Dentistica IES:.
USP/ BAURU/SP-1979
Professor Titular UFU/MG
Chefe do Departamento de
Odontologia Clínica e
Restauradora – 1980-1982
23- Nilton Alves Moreira
24- Nivaldo José Bernardes
Krempel
25- Nubia Vitorino de
Oliveira
Consultório particular
UDI/MG
26- Odair Jaime Aquegawa
27- Odilon Ferreira de
Rezende
Consultório particular
UDI/MG
Brasília/ DF
28- Odorico Coelho da Costa
Neto
Especialização: Metodologia
do ensino superior IES:.
PUC/MG, BH/MG-1979
Professor Titular UFU/MG
Chefe do Departamento de
Odontologia Social e
Preventiva-1980-1982
Diretor do Hospital
Odontológico- 1990
29- René Roberto Contar
30- Rosilene de Sousa
Ramos
31- Sebastião Carneiro da
Cruz
32- Silmon Gaspar Consultório particular
UDI/MG
33- Ubiratan Fonseca
Moraes
34- Vanderlucia Rocha
Barroso Violatti
35- Vilma Vieira Damião Consultório particular
Araguari/MG
36- Wilton Borges Alves
37- Waltercides Silva Junior Aperfeiçoamento: Anatomia
ISE:. USP/SP- 1975
Professor Titular da
UFU/MG
192
Doutorado: Anatomia
Humana ISE:. USP – SP
1984
38- Wellington Luiz
Barcelos Borges
TABELA VI – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA -
TURMA DE 1975
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01-Abdo Elcarin Amed Especialização: Prótese
dental IES:.UFU/MG-1985
02- Alfredo Julio Fernandes
Neto
Mestrado: Reabilitação Oral-
Prótese ISE:.USP/ BAURU-
SP-1982
Professor Titular UFU/MG
Vice-Chefe do
Departamento de
Odontologia Clínica e
Restauradora – 1982/1984
Coordenador do Curso de
Odontologia
Coordenador do Curso de
Especialização em Prótese
Dental
Consultório Particular-
UDI/MG
Associação Brasileira de
Ensino Odontológico-
ABENE- Presidente
Conselho Regional de
Odontologia CRO/MG
Suplente- 1995-97, Membro
da Comissão de Especialistas
de Ensino de Odontologia
Port. 160/95-SESu-MEC
03- Ana Luiza Vilas Boas Consultório Particular -SP
04- Ana Maria Constantino Especialização: Ortodontia
ISE:. Associação Fluminense
de Educação- RJ-1985
Consultório Particular -RJ
05- Benigno José Monteiro
06- Carlos Roberto de Assis
07- Décio Guimarães Naves
Consultório Particular
Araguari/MG
193
08- Divina Maria do
Nascimento Espiridião
09- Edy Cesar da Rocha
10- Edson Vieira da Costa
Junior
11- Edna Marques
34
Consultório Particular
UDI/MG
12- Edson de Oliveira Pinto
13- Eduardo Luiz da Mata
Gonçalves
14- Eliana Divina da Silva Consultório Particular
Ituiutaba/MG
15- Eliete Alves Sampaio
16- Elza Maria de Souza
17- Ernani Cortopassi de
Mendonça
18- Gaspar Paulino Especialização: Endodontia
IES:. UDI/MG
Consultório Particular
UDI/MG
19- Geraldo Carmelo Braga
20- Gleyce Faria Ribeiro Consultório Particular
UDI/MG
21- Helio Carlos Caetano Consultório Particular
UDI/MG
22- Jair Bernardes da Silva FALECIDO
23- Jesuania Maria
Guardieiro Azevedo Pfeifer
Mestrado: Dentística
Restauradora IES:.
Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita
Filho- Araraquara- SP-1981
Doutorado: Dentística
Restauradora IES:.
Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita
Filho- Araraquara- SP-1990
Professora Titular UFU/MG
Coordenadora do Curso de
Especialização em Dentística
Restauradora
24- José Oscar Mendes de
Figueiredo
Especialização: Endodontia
IES:. Faculdade de
Odontologia de Araraquara-
SP-1979
Consultório Particular
UDI/MG
25- Lílian Queiroz de Souza
26- Luci Tanus Jorge da
Silva
34
Edna Marques graduou-se também em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia.
194
27- Luiz Antonio Amui
Nogueira
Aperfeiçoamente: Prótese
Dental Instituição:
Sociedade de Promoção
Social do Fissurado Lábio-
Palatal- BAURU/SP-1981
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1984
28- Marcos Antonio de
Souza
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
29- Maria Alcina Couto
Justino
Consultório Particular
UDI/MG
IPSEMG-UDI/MG
30- Maria Camin de
Menezes
Consultório Particular
UDI/MG
31- Maria Cristina
Assumpção Borges
32- Maria de Fátima Vieira
Reis
33- Maria Sonia de Almeida
Paes Leme
34- Mariza Lopes Andrade
Teixeira
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
Consultório Particular
UDI/MG
35- Mariyo Nakachima
36- Mauricio Guimarães
Paiva
37- Nair Cardoso Consultório Particular
Araguari- MG
38- Neuza Teixeira de
Carvalho Gaspar
Consultório Particular
UDI/MG
39- Neuza Alice
40- Nilson Costa Veloso
41- Nora Maria Faiad Sebba Consultório Particular
Catalão-GO
42- Olinda Guedes Medeiros
43- Sandra Maria Carvalho
de Almeida
44- Sergio de Freitas
Pedrosa
Mestrado: Dentística IES:.
USP/ BAURU/SP-1986
Professor Titular UFU/MG
Gerente da Divisão de
Ambulatórios Odontológicos
1987-1988
45- Vanderlei Luiz Gomes
Especialização: Metodologia do
Ensino Superior IES:.
UFU/MG-1979
Mestrado: Clínicas
Odontológicas IES:. USP/SP-
1986
Professor Titular UFU/MG
Diretor do Hospital
Odontológico
195
46- Vicente Carlos da Silva Especialização:
Odontopediatria
IES:.Odontopediatria IES:.
UFMG/BH/MG-1978
Mestrado: Odontologia
Social e Preventiva IES:.
Universidade Fluminense
Niterói- RJ-1981
Doutorado: Odontologia
Social e Preventiva IES:.
Fundação Universitária de
Pernambuco- Recife-
Pernambuco-1991
Professor Titular UFU/MG
48- Vitória Maria Borges
Ladeira
49- Wanderlei Alves Ribeiro ConsultórioParticular
UDI/MG
50- Washigton Jacob de
Resende
TABELA VII – RELAÇÃO DE ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA - TURMA DE 1976
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01- Ademir Rosa Ladico Consultório particular
UDI/MG
02- Adérito Soares da Mota Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1984
Professor Titular UFU/MG
Consultório particular
UDI/MG
03- Amaury Diniz Machado Consultório particular Monte
Alegre de Minas-MG
04- Arnaldo Ramos Cabral
05- Ângela Aparecida de
Melo
Consultório particular
UDI/MG
06- Arlete Ferreira Especialização:
Odontopediatria
IES:.Universidade do Estado
do Rio de Janeiro-1977
Hospital Naval de Brasília-
DF
Clínica de Odontopediatria
Brasília-DF
07- Aurélio Rosa Lopes
Consultório particular Franca/SP
196
08- Breno de Carvalho Neto Especialização: Prótese IES:.
Faculdade de Odontologia
BAURU/SP-1980
Especialização: Periodontia
IES:. Faculdade de
Odontologia de BAURU-SP-
1982
Professor Assistente
Universidade de Marília- SP
Clínica Particular Marília-SP
09- Cairo Rodrigues Alves
Marcondes Luz
Consultório particular
Franca/SP
10- Carlos Antonio
Mendonça de Araujo
11- Carlos Jair dos Passos Consultório particular
Araguari/MG
12- Carlos Roberto Cardoso
13- Celso Edgard More
14- Cleuzeomar Rezende Consultório particular
UDI/MG
15- Dorival Delefine
16- Edmar Guimarães de
Souza
Especialização: Prótese
Dental UFU/MG
Cirurgião-Dentista UFU/MG
17- Eduardo Antonio
Guimarães
Consultório particular
UDI/MG
18- Gaspar Salvador
Guimarães
19- Geraldo de Souza Rosa
20- Íris Malagoni Marques Mestrado: Diagnóstico Bucal
IES:. USP/ BAURU/SP-
1989
Doutorado: Diagnóstico
Bucal IES:. USP/
BAURU/SP 1994
21- Ivan Rezende
22- Jorge Clemente da Silva Consultório particular
Iturama/MG
23- José Carlos de Castro
24- José Marra de Oliveira Especialização: Destística
Restauradora IES:.UFU/MG
Consultório particular
Ipameri/GO
INAMPS Ipameri/GO
25- Lindalva Chaves de
Moraes
26- Lourdes Maria Santos
Espindola Dias da Silva
27- Magda Helena Barbosa
Torres
197
28- Maria Angélica Andrade Consultório particular
UDI/MG
29- Maria Aparecida Alves
Faria
Consultório particular
UDI/MG
30- Maria Cristina Assis
Rabelo
Consultório particular
UDI/MG
31- Maria Lídia Marra de
Barros
32- Maria Luiza de Oliveira
33- Marilene de Lima
34- Marlene Rezende
35- Osmar Redondano Filho
36- Paulo Barbosa Gomes Consultório particular
UDI/MG
37- Paulo Cesar Ferreira Consultório particular
UDI/MG
38- Paulo Cesar Ribeiro
39- Rosana Ferreira de
Godoi
40- Sandra Mara Pereira
Mauad Ydy
41- Saulus Antonio de
Castro
42- Valquiria Borges de
Santana
Consultório particular
UDI/MG
43- Vânia Porto Arantes
44- Vera Lucia Campos
Santos
TABELA VIII – RELAÇÃO DOS ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA -
TURMA DE 1977
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01- Adriana Salazar
Drumond
Especialização: Dentística
Restauradora IES:. UFU-
1988
Cirurgiã-Dentista UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
02- Alaor Borges Fontes Consultório Particular
Araxá/MG
198
03- Alberto Borges Especialização: Dentística
Restauradora
IES:. UFU/MG-1988
Cirurgião-Dentista UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
04- Ana Lucia Carneiro
Pereira
Cirurgiã-Dentista UFU/MG
05- Ângela Pinto Ribeiro
Miro
Consultório Particular
UDI/MG
06- Aríete Marocolo
Cardoso
Consultório Particular
Brasília/DF
07- Avilar de Souza
Marques
08- Carlos Eduardo Santini Especialização: Ortodontia Consultório Particular
Ribeirão Preto/SP
09- Clayton de Oliveira
Matos
10- Cristina Guimarães
Marcolini
Especialização; Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
Mestrado: Prótese Fixa IES:.
USP/SP
Professora Adjunto I
Consultório Particular
UDI/MG
11- Custódia Maria Borges
Silva
Especialização:
Odontopediatria IES:.
UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
12- Dalva Pereira Espindola
13- Dina Faria Teixeira
14- Edson Uete Kama
15- Edelweiss Susvan
Pereira Naves
Especialização: Endodontia Consultório Particular Rio de
Janeiro - RJ
16- Eliane Soares Costa Cirurgia-Dentista UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
17- Euripedes Barbosa
Gomes
Consultório Particular
UDI/MG
18- Fátima Ioko Mochidome Mestrado: Odontopediatria
IES:. USP/SP 1983
Professora Titular UFU/MG
19- Francisco Carlos Spina Consultório Particular
Batatais- SP
20-Heloisa Nominato
Meireles
21- Ilma Terezinha Carneiro
Simões Branco
22- Ivone de Fátima Lima
Cardoso
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1986
Cirurgia-Dentista UFU/MG
23- Jorge Luiz Gomes
Guedes
24- Jose Estauquio Guimarães
199
25- José Roberto Teixeira
Leite
26- Lauri de Fátima Vilas
Boas
Especialização: Prótese
Dental IES:.UFU/MG
Consultório Particular
UDI/MG
27- Luiz Carlos Magnani
Lima
Especialização: Prótese
Dental IES:.UFU/MG-1986
Consultório Particular
Goiânia-GO
28- Luiz Fabio de Assis
Henriques
29- Lunamar Santana de
Araújo
Consultório Particular
UDI/MG
30- Marcio Teixeira Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
Mestrado: Reabilitação Oral
IES:. USP/ BAURU/SP-
1989
31- Margarida Maria
Bruxelas de Freitas
32- Maria Célia Nasciutti
Prudente
33- Maria de Fátima Castro Consultório Particular
Ribeirão-Preto/SP
34- Maria Del Carmen
Rodrigues Gonzalez
Consultório Particular
São Paulo/SP
35- Maria Neire Teixeira
Bernardes
Especialização:
Odontopediatria IES:.
UFU/MG
36- Maria Terezinha Oliveira
Cunha
Especilização: Prótese
Dental UFU/MG
FALECIDA
37- Marise Arantes
38- Meire Zilda Storti Prefeitura Municipal de
Uberlândia/MG Cirurgia-
Dentista
39- Neuza Maria Nunes
40- Nivaldo Batista
41- Paulo de Oliveira
Resende
FALECIDO
42- Regina Maria
43- Reginaldo Batista
44- Sonia Bertoli Especialização; Ortopedia
Odontológica
Consultório Particular São
Paulo/SP
45- Valder de Carvalho
46- Valdete Angélica de
Faria Almeida
200
47- Valner Pinto Alano Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1984
Consultório Particular
UDI/MG
48- Valter José de Oliveira
49- Vânia Regina Resende Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
Consultório Particular
UDI/MG
50- Vera Cristina Rodrigues
Costa
Especialização: Prótese
Dental IES:. UFU/MG-1985
Consultório Particular
UDI/MG
51- Wania da Silva Neiva
TABELA IX – RELAÇÃO DOS ALUNOS DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE
UBERLÂNDIA - TURMA DE 1978
ALUNOS GRADUADOS PELA FOU E A RELAÇÃO DOS PÓS-GRADUADOS COM AS
RESPECTIVAS ESPECIALIDADES E AS DESIGNAÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO
LABORAL DOS EGRESSOS DO CURSO DE ODONTOLOGIA
NOME PÓS-GRADUAÇÃO (IES
–ÁREA)
ATUAÇÃO
01- Adauto Bernardino da
Silva
Consultório Particular
UDI/MG
02- Adelicia Cândida Pereira
03- Ana Maria Martins
04- Ana Marta Campos Especialização: Dentística
Restauradora
IES:.UFU/MG-1988
Consultório Particular
UDI/MG
05- Ângela Maria Ceccom Consultório Particular
UDI/MG
06- Aparecida Lujan de
Melo
Especialização:
Odontopediatria IES:.
Associação Odontológica do
Norte do Paraná
Consultório Particular
Cascavel- PR
07- Áurea Lucia Magalhães
Carulla
08- Cristina Helena
Bernardes Costa
Consultório Particular
Ribeirão-Preto/SP
09- Daldy Endo Marques Especialização: Endodontia
IES:. USP/ BAURU/SP
Consultório Particular
UDI/MG
10- Dinamar Fernandes
Martis
11- Dulcelena Maria de
Moura
Consultório Particular
UDI/MG
12- Edna Aparecida Maria
Silveira
13- Eliane Guimarães
Ferreira
Especialização:
Odontopediatria
Consultório Particular
UDI/MG
201
Eliene Ribeiro Rezende
14- Elisabete Kiroko yamada
15- Evaldo Rodrigues da
Silva
16- Fernando Antonio Brasil
17- Gildésio de Resende
Alvarenga
Consultório Particular
UDI/MG
18- Hamilton Luiz da Silva
19- Inez Terezinha de
Fátima Rezende Hore
20- Jânio Especialização: Endodontia
IES:. OSEC-1982
Consultório Particular
Goiânia/GO
21- Joaquim Celso de Godoy
22- José Carlos Ronaldi da
Silva
23- Maglia de Oliveira Costa Consultório Particular
UDI/MG
24- Márcia Aparecida
Salomão
Consultório Particular
UDI/MG
25- Maria Lucia de Souza
26- Marcos Cesar Silva
27- Maria de Lourdes
Cavalho
Aperfeiçoamento: Noveno
Curso Latino Americano de
Odonto-Pediatria Social
IES:. Universidad de
Minois- Chicago USA-1986
Mestrado: Odontologia
Social IES:. Universidade
Federal Fluminense Niterói-
RJ-1983
Professora Titular UFU/MG
Gerente da Divisão de Apoio
aos serviços Odontológicos-
1988-1990
Consultório Particular
UDI/MG
28- Maria Eunice Campos
Caixeta
Consultório Particular
UDI/MG
29- Maria Inês Della Torres
Ferreira
30- Maria Inês Resende
31- Maria José Moura
Santos
Consultório Particular
UDI/MG
32- Margaret de Vasconcelos
Lemos
Especialização: Saúde
Coletiva IES:. UFU/MG-
1990
Prefeitura Municipal de
Uberlândia/MG Cirurgia-
Dentista
33- Maria Marta Pinheiro
34- Maria Sirlene Marques
35- Marina Fukuhara
36- Mônica Veloso Costa
Consultório Particular UDI/MG
202
37- Nilva Maria de Resende Consultório Particular
Araguari/MG
38- Rose Mary Santos
39- Rosemary Simão Castro
40- Rosimeyri Lustoza
Wanderley
Especialização: Metodologia
do Ensino Superior IES:.
UFU/ Universidade de
Brasília 1979
Professora Titular UFU/MG
41- Rúbia Pereira Barra Especialização; Saúde
Coletiva IES:. UFU/MG
1992
Prefeitura Municipal de
Uberlândia/MG Cirurgia-
Dentista
Consultório Particular
UDI/MG
42-Sandra Arantes da Silva Consultório Particular
UDI/MG
43- Sinval de Oliveira e
Silva
44- Sonar Quirino de
Oliveira
45- Suani Sodré de Oliveira Mestrado: Odontologia
Social e Preventiva IES:.
USP/ BAURU/SP
FALECIDA
46- Suzana Pinto Machado Epecialização: Odontologia
Social e Preventiva
47- Vânia Lucia de Faria
Fonseca
Consultório Particular
UDI/MG
48- Vânia Paixão
49- Vera Lucia Melo
Sanches
50- Wagner de Souza Santos
51- Wilson José Ferreira
203
Entrevista nº01, realizada em Uberlândia, dia 05/03/2005.
Entrevistado: Gaspar Paulino
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma – 1975; Especialista em
Endodontia pela Associação Brasileira de Odontologia em 1998; Ex-Presidente do
Diretório Acadêmico Homero Santos
Nome da Mãe: Maria José de Jesus
Nome do Pai: José Paulino da Silva
Local de Nascimento: Rio Paranaíba MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Senhor Gaspar, como começou a Faculdade de Odontologia?
R: Quando criou a Autarquia, eu imagino assim, que eles pensavam que ia ter dinheiro pra
fazer uma Universidade do jeito que o Homero Santos idealizou. Eu imagino que seria
assim: a primeira Universidade Estadual em Minas Gerais sabe, a intenção parece que era
essa. Então, conforme eu te falei da outra vez
1
, eles tentaram fazer isso em parceria com o
dono da UNIUBE, o Mário Palmério na época. Parece que o rio Palmério passou a
perna no pessoal daqui e acabou ficando com a Faculdade para Uberaba, Medicina se não
me engano. Agora aqui, quando eles começaram faltou dinheiro sabe.
P: E a Faculdade de Odontologia lá em Uberaba, já existia nesta época?
R: Já, já. Aqui, a primeira Faculdade da Autarquia Educacional de Uberlândia foi a de
Odontologia. Se não me engano o primeiro vestibular foi em 1970. Sabe, e tem um fato
engraçado, se não me engano, acho que tinha cinqüenta vagas e cinqüenta e um candidatos,
e uma prima da minha mulher foi a que não passou.
P: E foram aprovados 50 candidatos?
R: É. E, agora então fizeram a Odontologia. No início, foi feito assim quase que a toque de
caixa, muito rápido, a estrutura ainda não estava pronta, então começou a funcionar lá junto
com a Medicina. Então o básico, o 1º ano, a gente fez junto, com a minha turma a Educação
Física, Veterinária e a Odontologia. Inclusive, se não me engano, parece que a turma da
1
O depoente está se referindo as várias conversas informais realizadas com o pesquisador, nas quais o
entrevistado já havia se reportado a tal fato.
204
Veterinária chegou a estudar até o ser humano inteirinho, dissecar, sabe. Então a gente fez o
básico, era basicamente o mesmo da Medicina.
P: Ah, então o Senhor cursou o básico do Curso no prédio da Medicina?
R: Foi, foi com a turma da Medicina. A aula era naquele anfiteatro lá, todo mundo junto.
Mas daí, depois a turma da Odontologia desceu, né, fazia o básico lá, o primeiro ano e ia
pra Engenheiro Diniz, aquele prédio que era dos padres, porque ali era um Colégio dos
padres. Posteriormente eles doaram aquilo ali para a Autarquia Educacional com a
condição de sempre ser Escola. No caso da Veterinária, como era lotada em Tupaciguara,
ela foi pra lá. Fazia o básico aqui e o profissional lá. Mas a prefeitura de prometeu dar
uma infraestrutura. O pessoal da Veterinária contava pra gente, não sei até que ponto isso
era verdade, mas pra estudar uma vaca, eles a compraram e punham na república deles
sabe. O negócio lá foi difícil. Ficou, ficou, até que os alunos disseram que não tinha jeito. A
prefeitura não dava apoio e tal e coisa por aí, e a Faculdade voltou pra Uberlândia.
P: E a Odonto, a integralidade do curso já era de 04 anos?
R: Já era 4 anos.
P: Aí um ano estudou lá com a Medicina e o resto...
R: Aqui em baixo. Aí, aconteceu o seguinte: em 73, estava formando, porque entrou
70, 71, 72, 73. Então a turma formou e a Faculdade não foi reconhecida. Então, o que
acontecia? O pessoal se formava, a maioria ia embora daqui, chegava lá, não podia
trabalhar porque não tinha diploma reconhecido. Foi aquela batalha pra reconhecer a
Faculdade. Porque o pessoal do Ministério veio aqui e fez uma vistoria, não tinha livro
quase que nenhum e disseram que desse jeito o tinha condição de ser aprovado. Estou
esquecendo de falar da clínica, da policlínica nossa. O pessoal já estava no último ano e não
tinha clínica. Sabe, ficava repetindo a matéria teórica. Então, eu não sei bem em que época
exata que foi do ano, o Governador Rondon Pacheco doou essa policlínica pra Faculdade,
inclusive ficou com o nome da policlínica Governador Rondon Pacheco. o pessoal do
último ano, faltando poucos meses pra encerrar o curso é que eles entraram pra clínica.
Aprenderam aquilo a toque de caixa mesmo, sabe...
P: A sua turma teve a oportunidade de estar mais perto da clínica ou não?
R: A nossa turma já estava tudo normalizado. Aí veio o problema de reconhecer sabe... Em
73, saiu a turma, e não tinha sido reconhecido - não podia trabalhar. Então o pessoal do
Ministério veio aqui e, ah! Não pode funcionar, ser reconhecida, vocês não têm livros.
Precisava de um número mínimo de livros. foi uma loucura né. Nós fomos até o Dr.
Renato de Freitas, que era o prefeito na época, ver se ele dava uma verba pra gente comprar
livros. Ele, esperto que, usando a expressão popular “andou, andou ao redor do toco e o
fez nada”. Ele virou pra nós e disse assim: olha, eu faço uma proposta. Nós vamos rifar um
carro, pra você ter uma idéia, ele daria uns 200 bilhetes, ao preço x, vamos assim R$500,00
em dinheiro de hoje. “Aí eu vendo a metade e vocês vendem o resto.” Como é que nós
vamos vender o resto, né? Ele é o prefeito. Ele pode falar assim: fulano tem um bilhete
205
aqui, você deixa R$ 500, 00, ou o que fosse duzentos, sei lá. Mas era uma quantia pra nós
estudantes, fora de cogitação. Era uma maneira educada de sair fora da gente.
P: Os alunos pagavam ou não mensalidade?
R: Pagavam uma mensalidade pequena, quase simbólica. O Estado complementava. O
Dioracy Fonterrada Vieira que foi o coordenador do curso aqui em Uberlândia. Ele era
vice-reitor da Universidade de São Paulo, era professor de Materiais Dentários. Ele ficava
mais pra do que aqui. Vinha aqui sempre, não sei se eram duas vezes por mês ou uma
vez por mês. Ligamos pra ver o que poderia ser feito. Aí ele falou: olha, eu vou pra Bauru e
vou juntar aqui o que for possível e vou levar pra lá. Aí fica mais próximo pra vocês. Aí ele
juntou o que pode juntar de livro velho, antigo, dentro da USP e alguns novos também.
Inclusive ele tinha, era autor de vários livros. Mas precisava de muitos livros mesmo. Ele
foi pra Bauru. ele juntou na Universidade mais um tanto e ligou pra nós. Olha pra você
ver como a situação era difícil, nós não tínhamos carro pra ir buscar, uma viatura. Por fim o
diretor, o Prof. Vadico, conseguiu da Universidade, nessa época não era mais Autarquia...
P: O Prof. Vadico era o diretor?
R: É o Prof. Vadico. Ele conseguiu uma perua Kombi e nós fomos buscar esses livros.
Trouxemos todos. o pessoal do Ministério ficou “empurrando a gente com a barriga”.
Foi empurrando, empurrando, acontece que era época do Governo Militar e com eles é “ou
vai ou racha né”?! Então, como estava tendo muito problema na Universidade, a gente não
saía da casa do comandante do quartel. Eles chamavam a gente lá, mas não com o intuito de
prender ninguém não. Eles chamavam os presidentes do Diretório Acadêmico, chamava
todos. Perguntavam o que estava acontecendo e tal e coisa. Eu me lembro que tinha um
capitão, um oficial deles, ele perguntava pra gente. Vamos supor, pra mim: e a Faculdade
de vocês, o que vocês têm a reclamar? Ah, o problema é esse, esse e esse. Ele virava e
falava assim: Anota Paixão. Paixão era o nome de guerra do capitão . Daí passava pra
Educação Física, Engenharia, etc. E falava assim: anota aí Paixão.
P: Mas isto era mais pra fiscalizar?
R: Eles chamavam a gente porque eu acho que eles temiam que a gente fizesse
manifestação, e naquela época estava proibido. Aquela fase, por volta de 74. Em termos,
eram visitas assim, até muito amigáveis sabe. Às vezes, era no quartel, mas, às vezes, na
casa deles. Mas então, ficamos sabendo que o pessoal do Ministério tava fazendo corpo
mole, tinha gente que falava assim: ah! Isso se não entrar uma grana aí não sai nada não.
Eu estava deixando o Diretório Acadêmico, sabe. Foi nos últimos dias de Diretório
Acadêmico. Olha, nós arrumamos os livros, tudo o que o Ministério pediu foi feito. E eles
não reconheciam. Na última semana, eu não sei se tenho esta carta aí, mas eu acho que não
tenho mais não. Eu fiz uma carta, eu mesmo escrevi muito bem bolada e mandei uma cópia
para o Ministério da Educação, uma para o Presidente da República, uma para o
Comandante aqui do Exército, e se não me engano eu acho que eu mandei uma pro Dr.
Homero Santos. Foram 4 cartas. Fazendo uma denúncia, uma carta ofício mesmo, do que
estava acontecendo e que eu não entendia porque eles não reconheciam, que tudo que
eles pediram foi feito. Nós batalhamos e fizemos isso e tal e coisa. Passado, acho que não
206
chegou uma semana, eu entreguei o Diretório. Naquela semana eu fiz essa denúncia e
entreguei o Diretório. Aí, acho que não chegou nem a uma semana. O Homero Santos me
ligou de Brasília e falou assim: rapaz do céu, eu estava pra América Central, e o que
você me aprontou aqui hein? Olha o negócio aqui enrolou tudo. eu falei: não, eles
estavam enrolando a gente. ele falou assim: amanhã o processo vai a votação e está
tudo conchavado lá, vai reconhecer amanhã. Pode ficar tranqüilo aí. Então naquela noite, eu
e um colega pegamos um carro, era o Helinho, não sei se você conhece, ele trabalha no
Executivo. Um outro colega nosso emprestou o carro. Nós viajamos a noite inteira.
Chegamos lá, fomos lá pro gabinete do Dr. Homero Santos e ele disse: vai ser votado agora
de manhã. Ai nós fomos para o Ministério. você acompanha todas as votações sabe.
Esse negócio de abertura de Curso, reconhecimento de Curso. É uma sala assim, do
tamanho dessa aqui, com umas poltronas. Você não fica dentro da sala não, você fica fora.
E ficam ali, aqueles delegados dentro votando. Nós checamos na pauta de votação, tava
o reconhecimento da nossa Escola. Aí, será que saí né?! Foi o último a ser votado. Era
mais ou menos uma hora assim, quando terminou a votação. Eu lembro que quando eles
deram o voto final, estava reconhecida a Faculdade. Aí nós saímos...
P: Que ano era esse?
R: Nós chegamos aqui essa hora. Então nós saímos de lá e passamos no gabinete do
Dr.Homero, pra conversar com ele, agradecer, dar os parabéns e tal. Chegamos lá, olha pra
você ver como é esse povo. Foi votado, nós saímos de pra ir ao gabinete do Dr.Homero.
É próximo lá. Quando nós chegamos no gabinete do Homero, ele estava com os papéis
iguais a estes daqui e falou assim: oh, ta aqui, está reconhecida a sua Faculdade e aqui estão
os documentos oficiais. De lá nós ligamos na Faculdade e falamos: oh, foi reconhecida, deu
tudo certinho, estamos indo embora, nós vamos chegar aí pelas 5 horas da tarde.
Chegamos em Araguari, entramos na cidade e compramos uma porção de cartolina,
pincel atômico e aquelas fitas crepe e pregamos no carro. Agradecendo o Dr. Homero
Santos, que a Faculdade foi reconhecida. Compramos caixas de foguetes e dirigindo esse
Karman sabe. Ao chegarmos à Faculdade, o pessoal estava numa festa, num chopp, mas
você precisava ver, que festa! E eu cheguei com os papéis na mão e o pessoal gritando,
soltando foguete e aquela bagunça. E eles entraram me carregando pra dentro e veio o
Prof. Vadico que era o diretor. Foi uma festa e no outro dia continuou a festança. É
interessante você notar nisso aí o seguinte. Houve uma intervenção na Faculdade por volta
de, se não me engano, 73, a Autarquia tinha sido encampada pela Universidade, não era
Federal, era Universidade de Uberlândia. Então, quando passou a Autarquia para a
Universidade, aquele negócio da Autarquia era tudo um... Não estava de acordo com o
esquema da Universidade. Então, eles destituíram o Doutor Laerte que era o diretor. O
negócio foi assim: relâmpago. Então eles tiraram o Doutor Laerte, e puseram o Prof.
Vadico como Reitor, como diretor pró-tempore. Então o Prof. Vadico Osvaldo Vieira
Gonçalves, tido como emérito professor e administrador foi pra lá com a missão de
preparar a Faculdade pra ser reconhecida. Porque no entender do pessoal da Universidade,
se não reprogramasse tudo, dentro da Odontologia, ela não poderia ser reconhecida. Então o
Prof. Vadico foi pra lá com essa missão, e entrou como diretor pró-tempore.
P: O Prof. Laerte ajudou na criação também? Como foi? Quem foi responsável neste
projeto de criação?
207
R: Na criação, eu acredito que foi o seguinte, o Doutor Laerte, é ele idealizou o curso,
certo, ele era relacionado, na época ele era um dos três mais importantes membros da
Odontologia. Então ele foi candidato do Dr. Homero Santos pra formalizar a Faculdade.
Qual o papel dele nessa história aí? Ele tinha que formalizar a Faculdade. Pra formalizar
essa Faculdade, como ele não tinha experiência, então ele chamou o Sr. Dioracy Fonterrada
Vieira. Porque o Sr. Dioracy era vice-reitor da USP. Ele deve ter tido um papo mais ou
menos assim: olha, nós vamos fazer uma Faculdade em Uberlândia, está começando uma
Universidade, nós queremos um negócio de primeira linha, e o Sr. Dioracy se empolgou
com a idéia. Ele chegou a escrever até um livro. Sabe um título mais ou menos assim:
Como fazer uma Faculdade modelo de Odontologia. Essa Faculdade no conceito do
Sr.Dioracy seria a melhor da América Latina. Talvez superior a Bauru. E seria feito do jeito
que ele queria, por experiência dele. Então o Dr. Laerte chamou o Prof. Dioracy, e ele
convidou os melhores professores da época da USP, Ribeirão, Araraquara, Bauru, e trouxe
pra cá. Então os 3 primeiros anos foram professores super-hiper titulados. Os 10 mais”
daquela região lá. Inclusive o próprio diretor de Bauru, Paulo Amarantes, diretor da
Faculdade de Bauru, foi um dos professores nossos aqui. Engraçado é que ele foi formado
em Uberaba.
P: Antes disso os dentistas que trabalhavam aqui em Uberlândia até então eram formados
em Uberaba?
R: Quase todos.
P: Naquela época tinha muitos dentistas “práticos” também?
R: Tinha, tinha muito prático. Vale ressaltar também o seguinte: Uberaba era uma senhora
Escola, era uma Escola referência. Vários professores da USP, Araraquara, Bauru, eram
formados em Uberaba.
P: Foi da vontade deles, então, abrir uma Faculdade aqui em Uberlândia?
R: Não, existia assim aquela disputa, né. Você lembra que eu te falei
2
que o Dr.Homero
Santos, queria trazer a primeira faculdade pra cá, né. Queria trazer para o Triângulo
Mineiro. Mas no fundo, no fundo, ele queria trazer para Uberlândia. Então fizeram a
comissão aqui e juntaram com a turma de Uberaba para dar uma força, ele próprio me falou
assim: o pessoal de Uberaba “passou a perna” na turma e levou a Faculdade de Medicina
pra Uberaba. Aquela Faculdade que tem lá estava programada pra ser aqui. Interessante que
pouco, em conversa com o Sr. Miguel de Oliveira, ex-prefeito de Araguari,
contemporâneo do Dr. Homero Santos, me disse: bem feito para o Homero e sua turma,
pois a Faculdade de Direito que vocês têm em Uberlândia estava destinada para Araguari.
Se o Mário Palmério tomou a Faculdade de Medicina de vocês, este mesmo grupo nos
tomou a de Direito. Ressalte-se que naquela época era o maior orgulho ter uma escola
superior, daí o motivo de tanta disputa.
2
Novamente, o depoente está se referindo as várias conversas informais realizadas com o pesquisador, nas
quais o entrevistado já havia se reportado a tal fato.
208
P: Então, o planejador foi o Dr. Homero, que estava articulando este projeto... Ele era
Deputado Estadual?
R: Estadual. Não, ele já era Federal. A idéia original dele, porque nós não tínhamos
Universidade na época. Tinha aqui, a Engenharia era Federal, tinha a Medicina, Ciências
Econômicas, Filosofia e Direito, tudo particular.
P: E a Odontologia começou subvencionada pelo Governo Estadual?
R: É, Estadual. Não era particular. Mas você pagava lá uma mensalidade quase que
simbólica. Não era cara. O Estado entrava com uma parcela, com 2/3 mais ou menos. A
prova é que o próprio Estado deu a policlínica, mas aí, o sonho do Homero era fazer aqui
uma Universidade Estadual, não concretizou, porque a Autarquia acabou sendo
dissolvida e sendo encampada pela Universidade de Uberlândia, aquela época não era
Federal. Mas acabou ficando até melhor, porque no final ele conseguiu federalizar a
Universidade. Aí ficou melhor, porque a Odontologia, e ao invés de ser Universidade
Estadual, ficou Federal, e é bem melhor né.
P: E o Diretório Acadêmico até hoje se chama D.A. Dr.Homero Santos em homenagem a
ele. Como que foi isso? Você estava nessa época?
R: Não, não estava.
P: Quando já tinha feito essa homenagem...
R: Foi ele que fundou a Autarquia. Como foi a primeira Faculdade da Autarquia, se fosse a
primeira Faculdade a de Educação Física, provavelmente o Diretório Acadêmico iria se
chamar Dr. Homero Santos, mas como a Odontologia foi a primeira Faculdade, então ficou
com a gente. Então, o nome do diretório foi o nome dele né. Hoje o Diretório Acadêmico
não tem tanta expressão política como naquela época. Em Uberlândia tinha cinco
Faculdades. Depois veio a Odontologia, Educação Física e Veterinária.
P: Quando a graduação era obtida em Odontologia o prestígio era maior ainda?
R: Era.
P: Tornava-se realmente doutor?
R: É o Diretório Acadêmico tinha uma expressão política na cidade. A gente se relacionava
com o prefeito, deputados, enfim, pessoas da maior alta expressão. Hoje é mais difícil.
P: Com o comandante do quartel era tranqüilo?
R: Tranqüilo.
P: Não tinha problema de desaparecer aluno devido à ditadura?
209
R: Se houve, não foi comentado.
P: A Odonto não tinha aluno subversivo?
R: Não. Aqui estava mais calmo. O problema aqui esteve feio mesmo por volta de 64,
65 até o final do ano. Eles pegaram muito aluno, mais de curso secundário, nem de
Faculdade era. Pegava um ou outro, mas era muito raro. Você sabe que estudante
universitário aqui não era muito subversivo. Na verdade, nosso relacionamento com os
militares era até bom sabe.
P: Era mais pra ver se ajudava a reconhecer a Faculdade de Odontologia?
R: É também o interesse nosso era esse.
P: Senão corria o risco de desaparecer, não é?
R: hahahaha! Era uma convivência até boa, pacífica. Você veja bem, eu fui selecionado a
ADESG naquela época, um Curso super-hiper valorizado. O primeiro Curso que teve da
ADESG, eu comentei com o sargento Stulzer que eu tinha vontade de fazer esse Curso da
Escola Superior de Guerra. Mas podia fazer quem tivesse acima de 30 anos. um dia
eles me telefonaram. Olha, você se tornou um líder entre a turma aí, nós vamos te convidar.
Ah, mas eu não tenho 30 anos. Não, pode deixar que nós vamos deixar, você vai fazer o
Curso. Então eu estive na primeira turma da ADESG. Eles selecionaram aqui, Ituiutaba e
Araguari. Eram as pessoas mais iminentes. Eles chamaram os juízes, promotores,
professores das Escolas e empresários de grande expressão na cidade.
P: Qual era o interesse desse vestibular? Era difícil? E quem eram os aprovados nessas
provas?
R: o primeiro vestibular selecionou muita gente que já tinha parado os estudos. A Autarquia
era pouco conhecida, pouco divulgada, então aparecia pouco candidato. Eu te falei, o
primeiro vestibular teve 51 candidatos para 50 vagas. A primeira turma teve muita gente
que tinha parado de estudar, gente que fez supletivo, etc.
P: E a classe econômica? Assim, era mesclada?
R: Sim, principalmente as duas primeiras turmas. Era um pessoal, na maioria de nível
médio pra baixo. Já a minha turma, foi mais selecionada. entrou muita gente nova, que
fez o colegial e decidiram fazer Odontologia. Teve pouco, se tiver teve uns cinco de mais
idade. A maioria era gente nova. na faixa de 17 a 20 anos. Era a idade normal de se
passar no vestibular. Então aí aconteceu uma seleção melhor. Aqui quase não existia escola
particular de segundo grau. Tinha o colégio Brasil Central e o Inconfidência. Mas o forte
aqui na época era sempre o Estadual. Se tivesse 100 vagas na Engenharia e apresentasse
100 candidatos do Estadual não sobrava pra ninguém. Porque a turma era barra pesada
mesmo. E como os vestibulares eram projetados, baseados na metodologia do Colégio
Estadual, os alunos sabiam o macete das provas sabe. Na minha turma, por exemplo,
210
tinha várias pessoas de fora. As duas primeiras tinham pouquíssimas oriundas de outras
cidades.
P: A maioria dos alunos das primeiras turmas de Odontologia era proveniente de
Uberlândia?
R: A terceira turma em diante veio muita gente de fora, principalmente do norte de São
Paulo. Aí descobriram a Faculdade. Daí pra frente à proporção foi só aumentando.
211
Entrevista nº02, realizada em Brasília, dia 24/06/2005.
Entrevistado: Ministro Homero Santos
Curriculum vitae: Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da
Universidade do Estado da Guanabara;
Vice-Presidente do TCU - Anos de 1995/1996
Presidente da Primeira Câmara do TCU - Anos de 1995/1996
Corregedor do TCU - Anos de 1995/1996
Supervisor da Revista do TCU - Ano de 1995/1996
Presidente do TCU - Anos de 1997/1998
Vereador em Uberlândia - Anos de 1954/1962
Professor Universitário – Ano de 1962
Deputado Estadual em Minas Gerais – Anos de 1963/1970
Deputado Federal Anos de 1971 a 1974/1974 a 1978/1978 a 1982/1982 a 1986 e 1986 a
1988
Nome da Mãe: Juvenília Ferreira dos Santos
Nome do Pai: Manoel dos Santos
Local de Nascimento: Uberlândia
P: Pergunta
R: Resposta
P: Para o Senhor quais os acontecimentos que mais marcaram a História da Criação
da Faculdade de Odontologia de Uberlândia?
R: A idéia surgiu com a manifestação de grande interesse da Associação de Odontólogos de
Uberlândia, bem como daqueles que não tinham vínculo com a Associação, mas tinham
entusiasmo pela melhoria do ensino e que tiveram meu apoio, por projeto de minha
iniciativa e autoria, quando Deputado Estadual, com a criação da Autarquia Educacional de
Uberlândia, possibilitando assim, a criação de três Faculdades, a saber: Odontologia,
212
Veterinária e Educação Física. Foi um acontecimento muito importante para a nossa região,
e teve a participação dos jovens, que efetivamente lutaram para que esta conquista se
efetivasse, vindo-me à memória neste momento os nomes dos alunos da época, Alfredo
Júlio, Gaspar Paulino, Osmar Alvarenga, e outros que estão hoje, participando
efetivamente da vida acadêmica da cidade como professores ou mesmo como excelentes
profissionais de odontologia.
P: Por que implantar uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Como representante de Uberlândia à Assembléia Legislativa, procurei bem desempenhar
o mandato continuando a meta que tracei de fazer com que a nossa cidade tivesse uma
Faculdade à altura do seu desenvolvimento e dos anseios de tantos jovens entusiastas.
P: Como foi idealizada a Escola de Ensino Superior de Odontologia?
R: Conforme relatei, foi a soma de um ideal com o conjunto de interesses a favor da
cidade, que se ressentia da falta de uma Faculdade específica de Odontologia, que
nossos jovens eram obrigados a se deslocar para outras localidades para realizarem seus
estudos.
P: A Comissão pró-ensino
3
em Uberlândia logrou o êxito que desejava?
R: Não tenho a menor dúvida da grandeza que representa hoje a iniciativa que tivemos no
sentido de efetivar a criação de Escolas de Ensino Superior, que resultou na Federalização
da Universidade, através de projeto de minha autoria na Câmara Federal.
P: Quais as dificuldades encontradas e quais foram os maiores colaboradores para a
efetivação do projeto da Autarquia Estadual de Uberlândia, especificamente a Escola de
Odontologia?
R: Não tivemos propriamente dificuldades, visto que contamos com a colaboração da classe
odontológica da cidade, da sua associação e dos jovens entusiastas da idéia, bem como
tivemos o total apoio da Câmara dos Vereadores de Uberlândia e dos intelectuais da
cidade. Credito parte do nosso sucesso ao entusiasmo do então Deputado Federal Rondon
Pacheco. Entretanto, devo destacar a participação decisiva do então Governador de Minas
Dr. Israel Pinheiro, sancionando e determinando a imediata instalação da Autarquia, com a
criação de três Faculdades, Odontologia, Veterinária e Educação Física com a participação
do Professor Gerson, do Prof. Laerte Alvarenga de Figueiredo, Wilson Ribeiro da Silva e
muitos outros que deixo de consignar, uma vez que foram muitos. Devo dizer que hoje a
Faculdade vai muito bem, pois possui um competente quadro de professores “um dos
melhores do país” e dedicados funcionários. Acredito, e por isto mesmo tenho declarado
3
No começo da década de 50 do século XX, nessa época exercendo o cargo de deputado estadual,
Homero Santos foi um agente determinante na idealização das Faculdades em Uberlândia. No ano de
1957, ele estabeleceu uma comissão pró-escolas superiores de ensino, constituindo e realizando palestras
na tentativa de impulsionar a implementação das Escolas de Ensino Superior uberlandenses.
213
que o processo de melhoria do ensino odontológico deve continuar, principalmente, na
parte social, com perfeito atendimento da população mais carente da cidade e região.
P: Qual o significado dessa Escola Superior de Odontologia para a cidade de Uberlândia?
R: Definitivamente inseriu nossa região no rol daquelas que à época passaram a oferecer
Ensino Superior de qualidade para a população. Colocando Uberlândia na vanguarda do
ensino superior.
P: A quem e quais interesses a instalação da Faculdade de Odontologia em Uberlândia
estaria atendendo, tendo em vista o contexto histórico e político daquela época?
R: O maior beneficiado foi à sociedade, uma vez que a representação política de toda região
soube corresponder à expectativa e anseio de todo povo. Destaco que o havia interesse
econômico na sua instalação, mas um forte desejo de inserir nossa cidade e região no seleto
(à época) grupo de cidades que ofereciam ensino superior.
214
Entrevista n.º 03, realizada em Uberlândia, dia 21/02/2006.
Entrevistado: Paulo César Azevedo
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 1
a
turma – 1973. Doutor em
Odontologia pela USP/Bauru; Mestre em Endodontia pela USP/Bauru em 1984,
Especialista em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara; Professor
Titular da Universidade Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Inês Pereira Azevedo, do lar
Nome do Pai: Marcondes Azevedo, farmacêutico
Local de nascimento: Tupaciguara
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média
P: Pergunta
R: Resposta
P: O curso de Odontologia era pago? O Senhor tinha dificuldades para pagá-lo?
R: O curso era pago e eu contava com meu pai para pagar as mensalidades, pois na época
eu não trabalhava. Não era tão caro, eu acho que hoje as Faculdades cobram um valor mais
alto. Mas naquela época como não tínhamos muita noção do que era o valor, não havia
reclamação dos pais: “nossa, essa Faculdade está cara”.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: Vim para em Uberlândia em 1952, 1953 e cursei o primário no Externato Rio Branco na
Av. Princesa Isabel, depois o Ginásio eu fiz no Liceu de Uberlândia que fica na praça
Oswaldo Cruz e depois o colegial eu fiz no Colégio Estadual Bueno Brandão. Depois
surgiu o vestibular de Odontologia e eu tinha o segundo colegial e meio, mas passei, eu e
uma turminha. Acabamos cursando.
P: Após formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Quando eu formei o mercado de trabalho estava bom. Em Uberlândia era a primeira
turma de alunos de Odontologia que se formava, então, o mercado ainda estava aberto.
Juntamos uma turma e montamos uma clínica. Contando comigo éramos quatro colegas de
turma trabalhando na Clínica Odontológica CAP. E nós começamos. Naquela época o
mercado de trabalho era melhor que hoje.
P: E a carreira profissional como foi?
215
R: Eu tinha muitas dúvidas, sentia certa pressão dos pais para não fazer o Curso porque ele
era novo, não sabia se daria certo. Mas eu tentei o Curso de Odontologia e caso o mercado
de trabalho não fosse tão bom, eu continuaria com o comércio que o meu pai tinha que era
uma drogaria. E, posteriormente, eu fui convidado a trabalhar na Faculdade de Odontologia
de Uberlândia. Naquela época ainda era convidado. Então foi o consultório mais a
faculdade e como aquela época era mais promissora, com o mercado de trabalho tendo um
menor número de dentistas, eu acho que escolhi a profissão correta. Dentro da Odontologia
eu trabalho com a área de tratamento de canais, área que eu mais tive aptidão durante meu
curso. Nove meses depois de formado surgiu um curso de especialização em Araraquara,
em 1974, 1975 que eu fiz. A tendência na época para os professores era que com um curso
de especialização você estava feito na vida. Mas a gente sentia que no futuro seria exigida
alguma situação de mestrado, foi por isso que eu o fiz em 1981. E na época o mestrado não
oferecia vantagem nenhuma ao docente de instituição federal porque não tinha aumento
salarial nenhum. Mas mesmo assim eu procurei fazer o mestrado porque parecia ser uma
coisa que alimentava a gente, porque eu gostava daquilo que eu fazia que fosse dar aula e
ao mesmo tempo estar mais consciente naquilo que fazia mais pé-no-chão. Foi uma
oportunidade que eu tive de sair, eu fiz em Bauru; e seis anos após eu fiz o doutorado
nessa época contava para a Universidade a situação de você ter uma parte, uma
porcentagem maior no seu salário para que você tivesse esse estímulo de fazer o Curso.
P: E o professor era contratado, concursado?
R: O professor mais um pouco na frente foi concursado, daí não tinha mais esses convites.
Isso aconteceu apenas na primeira, na segunda turma quando ainda era particular. Depois
que passou a ser federal já entrou nos moldes da Constituição Federal.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Naquela época em que fazíamos o colegial não tínhamos uma visão porque existiam
algumas carreiras universitárias tradicionais: a Engenharia que existia em Uberlândia,
a Faculdade de Medicina que estava começando, mas a Odontologia surgiu de uma hora
para a outra com alguns profissionais, políticos querendo atrair pra cá o curso como, por
exemplo, o Homero Santos, o Governador de Minas o Rondon Pacheco, deram um apoio
muito grande para formar esse Curso de Odontologia em Uberlândia. O nosso diretório
acadêmico de Odontologia chamava-se “Diretório Acadêmico Homero Santos” porque ele
foi praticamente o fundador da escola. Nós tivemos a sorte da nossa turma homenageá-lo
com o nosso D.A (Diretório Acadêmico) devido ao trabalho que esse profissional, esse
político teve na época para trazer a Faculdade para Uberlândia, pois, até então, a mais
próxima daqui era em Ribeirão Preto ou Belo Horizonte, ou Goiânia. Mas não era muito
conhecido por nós naquela época em que terminávamos o colegial e começávamos a
procurar o que prestar. Para nossa região trazer essa Faculdade foi muito importante e até
hoje ela é muito importante para nós.
P: O que significou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
216
R: Eu tinha uma opção: ou seria comerciante ou não. Como eu tinha experiência de
comerciante dos oito anos de idade aos vinte e três anos quando eu cursava a Faculdade
de Odonto e eu trabalhava na drogaria do meu pai. Então eu optei por fazer a Faculdade de
Odontologia, e, realmente, achei que o comércio não era pra mim e quando eu cursei a
Faculdade eu tive um entusiasmo muito grande porque foi uma área dentro do curso de
odontologia que me agradou muito. Os professores nossos vieram, por exemplo, da
Faculdade de Odontologia de Bauru, Araraquara, Diamantina. Veio um grupo na época
através do coordenador que era o Sr. Assis Vieira da USP, e ele conseguiu congregar vários
professores na primeira e segunda turma. Então nós tivemos um incentivo muito grande,
pois eram profissionais já ligados à pesquisa e nós como estudantes saídos do colegial,
achando que sabíamos alguma coisa, mas na verdade o sabíamos nada, nos sentimos
estimulados quando entramos na Faculdade, pois isso foi um campo, uma visão muito
grande para nós. Por isso assim que eu terminei o Curso, procurei fazer a especialização,
provavelmente pela índole desses nossos professores.
P: O que significou/representou o Curso de Odontologia para você? Para sua família?
R: Na época em que eu prestei o vestibular para Odonto meus pais foram contra pois
queriam que eu escolhesse outro curso ou mesmo Farmácia, Medicina, que eram cursos
tradicionais na época. Mas para a nossa família, o vestibular, Não, não quero mais ficar
estudando física, química, vamos ver o que vai dar. O máximo que eu pode acontecer é eu
me formar. E me formaria com 22, 23 anos. Se eu não gostasse do curso eu faria outro
curso”. Mas depois eu vi que realmente a Odontologia era aquilo que eu tinha que ter feito
mesmo e meus pais mais tarde falavam que eu realmente escolhi a profissão certa. Meu pai
já faleceu, mas minha mãe até hoje diz. Então são coisas que acontecem, não sabe o que vai
fazer porque é muito jovem, toma algumas decisões que podem complicar, mas fui feliz
nessa decisão minha. Gosto muito de Odontologia.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela sociedade uberlandense?
R: existiam outros cursos em Uberlândia, mas a Odontologia veio beneficiar muito a
comunidade em termos de repassar para os demais cidadãos aquela Odontologia moderna,
aquela Odontologia que na época eram mais dentistas práticos do que os profissionais,
então eu acho que foi não para Uberlândia, mas para as regiões do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba, isso tudo veio trazer para nós um enriquecimento cultural, enriquecimento
de atendimento aos pacientes, novos recursos e técnicas, tratamentos diferenciados, e isso
trouxe crescimento, pois a Faculdade mais perto que tinha, agora estou me lembrando, era a
Faculdade em Uberaba que era particular e é até hoje. Então, eu acho que para nós da
comunidade de Uberlândia ela só veio enriquecer, não de Uberlândia mas da região
também.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Eu acho que a sociedade em si começa a respeitar um pouco mais aquela Odontologia
que fazia-se naquela época, não que seja empírica, porque naquela época existiam muitos
dentistas fracos, eu me recordo bem que quando eu era aluno na Faculdade, algum dentista
217
foi autuado, foi preso, teve seu consultório tomado. Então a gente via que a Odontologia
não tinha aquelas condições em que podia se passar ao pacientes recursos maiores de
técnicas. E eu acho que a Faculdade veio trazer aos nossos uberlandenses uma motivação
muito peculiar de melhorias e com isso a população foi vendo que a Odontologia podia ser
diferente daquela dos anos 50, 60. Naquela época eram os anos 70 e a Odontologia foi uma
transformação.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: Que seja político, que seja social, você vê que hoje Uberlândia representa um pólo
praticamente universitário com a vinda de várias Faculdades pelos políticos daquela época,
seja quem for que puxou para cada área: os da Odonto, os da Medicina, da Engenharia,
todas as áreas, mas na verdade essa população de Uberlândia foi ficando quase que uma
população universitária. Se não me engano, em termos de porcentagem, a Argentina tem
uma população muito maior no nível de terceiro grau do que o Brasil, mesmo com as
Escolas crescendo da forma que estão. O pessoal diz que tem muita Faculdade de Odonto,
muita faculdade de Medicina, ou de Farmácia, de Engenharia, mas mesmo assim o aluno
que terminou o colegial ainda não está tendo acesso. O Brasil fica hoje em uma faixa de 14,
19% dessa população em termos de Universidade. na Argentina o acesso é de 32% no
nível de terceiro grau. Como dar o acesso a esse aluno à Faculdade eu acho que tem que
partir do Governo. Uma situação onde hoje esse pessoal está fazendo bolsas, isenção de
impostos de renda para universidades particulares para que vopossa fazer seu curso de
graduação às vezes “gratuito” ou com desconto de 40 a 60% na mensalidade, ou após a
formatura, trabalhar para uma cidade ou para o próprio Governo em algum lugar, mas que
dê condições à nossa população jovem de fazer uma Universidade.
Eu acho que o que você perguntou foi em relação aos interesses, mas que sejam dos
políticos, que seja também para que, ou seja, para essa formação universitária que os jovens
precisam... E que vai refletir com certeza na melhoria da mão-de-obra de qualquer trabalho.
Imagine assim, em um trabalho que você chega num banco, por exemplo, num atendimento
numa entidade do próprio Governo que você chega, tem uma pessoa que já fez um terceiro
grau e vai fazer o atendimento, com certeza você vai ter melhores atendimentos, mais
rapidez nesse trabalho, mais conscientização, uma mão de obra mais qualificada, vai elevar
com certeza o nível cultural da nossa região que atrairia mais profissionais de outras áreas
para cá. Até empresas.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Na época em que nós prestamos o concurso para vestibular, foi uma surpresa para nós
alunos de 68, 69, da época do Estadual, por que: “olha, surgiu um curso de Odonto aqui em
Uberlândia, vamos prestar o vestibular?”. Daí a gente lembrava que naquela época alguns
profissionais da área da Odontologia estavam querendo trazer esse Curso para cá, mas a
gente era jovem, não éramos muito ligados a essa área de política, mas depois que entramos
na Universidade sentimos que alguns funcionários tinham idealismo, como Dr. Laerte
Alvarenga era um profissional da nossa área, chegou a ser coordenador, diretor da
Faculdade, e ele trouxe o professor Dioracy Fonterrada Vieira porque ele era um
profissional que tinha um relacionamento muito grande fora de Uberlândia e com isso
218
outros políticos na época como o Dr. Homero Santos, um pioneiro, quem puxava mesmo,
queria ver nossa região crescendo. Nós tivemos muita sorte de ter essas pessoas e o próprio
acordo que nós tivemos naquela época do Homero Santos junto com o Governador que era
o Rondon Pacheco. Então, a gente lembra na época de inauguração da clínica o quanto foi
importante o apoio político. Foram muito importantes essas pessoas com esse idealismo e
espero que continue a ter gente com esse ideal para que não na Odontologia, mas em
qualquer outra área, até, às vezes, na área de empresas, de políticas, de trazer para nós, para
nossa região um maior crescimento que está gerando a criação do pólo universitário. Queria
que tivesse um pólo industrial muito maior do que nós temos hoje para trazer mais
empregos para esses profissionais que estão formando, e também para a população em
termos de empregos, através de indústrias que poderiam vir mais para Uberlândia. Então eu
acredito que o que essas pessoas fizeram foram as sementes que eles colocaram, porque
essa semente germinou, cresceu e foi florescendo. Então eu hoje acredito que a gente tem
que agradecer muito a esse pessoal que nos ajudou naquela época. Hoje nós vemos a idéia
da Faculdade, o tanto que isso cresceu e o quanto Uberlândia aumentou com isso: a nossa
população, em termos de trabalho para o pessoal aqui em Uberlândia.
Complemento curricular: Fiz a graduação em Uberlândia, a especialização em endodontia
na Faculdade de Odontologia de Araraquara, e posteriormente eu fiz o mestrado e o
doutorado na área de endo também na Faculdade de Odontologia de Bauru. Aí paramos por
aqui, acho que eu já me dediquei muito. RS Mas se ainda tiver alguma coisa a contribuir,
lógico que aos poucos a gente vai fazendo à medida do possível para o nosso
enriquecimento cultural.
219
Entrevista nº04, realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006.
Entrevistado: Wanderley Alves Ribeiro (conhecido pelos colegas como Wanderley
magro)
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma – 1975. Especialista em
Periodontia pela Faculdade de Bauru em 1980.
Nome da Mãe: Jacir Ribeiro da Silva, do lar.
Nome do Pai: José Alves da Silva, comerciante
Local de nascimento: Indianópolis MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quando o Senhor veio para Uberlândia?
R: Vim para Uberlândia em 1967.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: O primário eu fiz em Indianópolis no colégio do Estado, o Ginásio foi em Araguari,
Estadual também, e a partir do colegial já foi particular em Campinas, São Paulo.
P: A Faculdade era paga?
R: Era Autarquia. Pagava 50% e o resto quem pagava era o Estado. Hoje seria em torno
de meio a um salário mínimo, então a Faculdade hoje está muito mais cara.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Eu abri um consultório na época de estudante, em maio de 1975.
P: Em 75 o Senhor já estava atendendo?
R: Eu já estava atendendo.
220
P: O Dr. Falou que vocês montavam uma arapuca
4
?
R: Era uma arapuca.
P: A clínica parece que montou só no finalzinho, não foi?
R: A clínica mesmo foi em 1973.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Teve uma decadência muito grande. A maior parte foi pelo Governo e também a
concorrência aumentou demais. No início era bem melhor a profissão. Na época dos
militares era outra coisa.
P: Tinham muitos dentistas práticos naquela época?
R: Naquela época existiam dentistas práticos, mas isso não atrapalhava em nada. Tinham
mais dentistas formados que práticos. Mas dependendo da cidade... No interior tinham mais
práticos.
P: E eles eram bons? O povo gostava?
R: Na parte de prótese eles até preferiam o prático. Prótese total, prótese removível, eles
eram... É que eles mesmos faziam, não mandavam para protéticos.
P: E antes de existir a Faculdade aqui, os dentistas formados vinham de onde?
R: Principalmente de Uberaba.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Na época foi muito bom, tinham poucas Faculdades aqui. Era a Engenharia com duas
especialidades, Medicina, Veterinária, Educação Física, Direito e então, Odontologia.
P: O que significou/ representou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
R: Foi bom demais.
P: E o que o levou a escolher Odontologia?
R: Eu não queria ser empregado.
4
Consultórios que eram montados em uma sala da residência do estudante ainda não formado, com intuito de
atender para ganhar dinheiro e aproveitar para desenvolver trabalhos. Chamava-se arapuca pois os atendentes
eram estudantes que não haviam se formado, mas já começavam a “caçar” pacientes.
221
P: O pai do senhor era comerciante. O senhor teve experiência trabalhando com ele?
R: Eu trabalhei na época de criança. Depois ele vendeu o comércio e foi mexer com
fazenda. Para a fazenda eu já não quis ir. Eu fui estudar.
P: O que significou para sua família o senhor ter escolhido o Curso de Odontologia? Eles
apoiaram?
R: Eles apoiaram porque eu tinha começado um curso de Economia e desisti. E
naquela época eu tinha problema com sangue não me sentia bem com sangue. Quando eu
parei de fazer eles acharam que eu não ia até o fim. Eles apoiaram. Acabei fazendo
especialidade em periodontia, mexia com sangue.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: A Faculdade foi bem recebida, principalmente porque proporcionaram a parte prática,
atendia sem pagar nada. Inclusive aquela parte da Odontologia foi doação, não foi a
Faculdade nem a Universidade que comprou o, foram os franciscanos da igreja que
doaram o departamento para a Odontologia. Tanto que eles já tentaram até vender aquilo lá,
mas não consegue né?
P: Então tanto a comunidade saiu ganhando como ficou feliz com tratamentos gratuitos?
Tinha uma grande demanda pelos serviços odontológicos?
R: Tinha.
P: E como funcionava? Dois alunos atendiam um paciente?
R: Era em dupla. Um auxiliava o outro.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Modificou muito porque naquela época não tinham nem professores aqui. Eles vinham
de Bauru, Ribeirão Preto, Araraquara. Num instantinho começou a dar emprego para
professores aqui. Hoje está a turminha toda que formou aqui.
P: Vocês tiveram bons professores aqui? E depois esses professores voltaram para suas
cidades e começou a contratação do pessoal daqui?
R: Ahã. É que depois fizeram um regulamento de que professor não podia morar além de
cinqüenta quilômetros daqui. Eles tinham que morar mais perto da cidade de Uberlândia.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem?
222
R: Eu me lembro muito na época teve o Homero Santos, teve o diretor, Dr. Laerte. O que
era o Reitor daqui era da Odontologia, Veterinária e Educação Física, que era uma
Autarquia formada por essas três Faculdades. Então o Wilson Ribeiro teve muita influência.
P: Para que? Para quem?
R: Eu tenho a impressão que era mais político. Teve o Homero Santos, o que antes era
deputado federal... Tivemos a ajuda do governador, Rondon Pacheco.
P: O Senhor se lembra de algum movimento do povo na época? Os dentistas daqui queriam
trazer a Faculdade?
R: Teve o doutor Osmar Alvarenga, o doutor Laerte que tinha consultório particular, o
Verjani, que chegou a ser professor. Eles queriam trazer para formalizar a profissão. Na
época tinha uma briga para tirarem os práticos. Até o Osmar Alvarenga que era o
representante do Conselho. E tinham mãos de ferro que fechavam os consultórios, prendia.
Vigiavam.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Eu não sei te falar assim, mas acho que foi o doutor Laerte. Ele foi o primeiro diretor e
ele tinha muita influência de Bauru. Ele trouxe muitos professores.
P: No começo do Curso existiu alguma dificuldade? De material, de professores, local de
estudo?
R: Não, o curso foi tranqüilo. Teve o auxílio do Curso de Medicina, pois o Curso teórico
era feito lá, com os professores de lá. Na parte de Anatomia, Fisiologia, Citologia,
usávamos os professores da Medicina. A “Autarquia”: a Veterinária, a Educação Física, a
Odontologia estudaram na Medicina.
P: Lá atendiam mais as pessoas carentes?
R: Não tinha uma classe específica. Às vezes, levávamos parentes. Eu mesmo praticava
com parentes.
P: E o Sr. montou seu consultório quando mesmo?
R: Em 1973, nós montamos em Indianópolis. Depois foi aqui em Uberlândia. Eu fazia o
segundo ano e o rapaz fazia o quarto, eu o auxiliava. Depois passei para o terceiro, e no
final eu fiquei sozinho. Eu lembro que foi no Tibery por seis meses, depois eu fui para a
minha casa.
P: Qual foi a mudança na sua vida, qual a importância da Faculdade de Odontologia na vida
do Senhor?
R: Para mim foi uma profissão que eu tive, já tem mais de trinta anos... foi minha vida.
223
P: E o Senhor pensa em continuar como periodontista?
R: Já me aposentei, mas continuo como clínico geral.
P: O pessoal da sua turma pertencia principalmente a qual classe social?
R: Era mais classe média, não era um nível alto não.
P: A população prestigiava mais o Curso de Medicina? Como era a concorrência para o
Curso de Odontologia?
R: Na minha turma deu mais de dois candidatos por vaga. Na primeira turma nem
preencheu. Depois foi crescendo. Começou a turma feminina depois. Na minha turma era
50%. O pessoal era mais velho e muita gente não trabalhava porque era apertado, era tempo
integral o primeiro ano, até de noite. No segundo ano era o dia todo.
P: Mudou a vida do Senhor?
R: Ah, mudou. Não me arrependi de ter deixado a Economia não. Na época eu era até
bancário, mas não me arrependi não.
P: Mesmo não gostando de sangue, o Senhor escolheu a Odontologia por quê? Mais mesmo
para ser um profissional liberal?
R: Para ser profissional liberal, para não ser empregado, e eu tinha uma simpatia também.
Eu tinha um primo que era dentista. Na Medicina a gente pensava que não dava conta,
né? E era bem mais “caro” que Odonto, era bem mais puxada e era toda particular.
P: O Senhor se lembra de algum fato, alguma história que chamou a atenção durante o
curso do Senhor?
R: Não. Era um curso tranqüilo, eu terminei e já estava atendendo. Não teve greve.
P: E o reconhecimento do seu diploma? Como foi?
R: Na época eu mexia com política, porque eu queria sair daqui de Uberlândia, então foi
fácil. O meu CRO foi mais recente do que a maioria da turma e até de quem formou
primeiro do que eu. Consegui juntamente com o Homero. Consegui uma carta com o
Homero, fui a Belo Horizonte e consegui bem mais rápido do que todo mundo. Não me
lembro de alguém que conseguiu rápido assim.
P: O Senhor atuou na área política também?
R: Não, tinha só esse contato de amizade. Porque a minha família mexia muito com política
em Indianópolis. Minha família hoje está aqui, tem muita gente em Indianópolis também.
224
P: E o Senhor tem filhos?
R: Tenho duas filhas. Uma é farmacêutica e a outra é enfermeira padrão. Ninguém quis
Odontologia.
P: Essa entrevista vai nos ajudar a construir a história da FOU. Então para deixar gravado,
tem algo que o senhor gostaria de dizer? Para as próximas gerações do Senhor saberem,
sobre a Faculdade, sobre aquela época? O Senhor diz que na época dos militares foi boa a
época para trabalho...
R: Não para a minha profissão, para tudo. O Brasil cresceu muito, naquela época tinha
menos gente para a concorrência, o povo tinha mais condições para pagar, as coisas eram
mais baratas. Você comprava um consultório em sete, oito prestações sem juros. Os bancos
ajudavam. Na época de estudante eu comprei meu material de cirurgia pela Caixa
Econômica Federal. Hoje isso o existe de jeito nenhum. Se for fazer hoje, o banco toma
seu consultório. Eu comprei o material em três mil, não me lembro mais o que era esses três
mil, mas com um prazo de noventa dias para eu pagar mil e quinhentos. Depois com mais
sessenta dias, pagava setecentos e cinqüenta e mais os juros, que eram baixos. Depois com
mais trinta dias pagava o restante mais os juros.
Complemento curricular: Especializei-me em 1980 em Baurú em periodontia. Fiz
congressos em São Paulo de dois em dois anos, da ABO. Não dou aulas, nunca gostei dessa
parte acadêmica, tem muita implicação, muita briga. Até na minha época eu via, professor
tentando pisar nos outros.
225
Entrevista nº05, realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006.
Entrevistado: Vanderlei Luiz Gomes (conhecido pelos colegas como Vanderlei gordo)
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma – 1975. Mestre em Clínicas
Odontológicas pela USP/SP em 1986; Especialista em Metodologia do Ensino Superior
pela UFU/MG em 1979; Professor Titular da Universidade Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Odília Maria dos Santos, do lar.
Nome do Pai: Manoel Gomes dos Santos, ferroviário.
Local de nascimento: Tupaciguara MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quem custeou seus estudos?
R: Minha família. A escola era Estadual. Neste momento, mantive bolsa de monitoria por
dois anos. O restante eu complementava com trabalhos que eu fazia.
P: Qual seu percurso escolar até seu início na Faculdade?
R: Sempre estudei em escola pública aqui em Uberlândia. Estudei no Coronel Carneiro, no
Amador Naves e depois no Colégio Estadual. Moro em Uberlândia desde os 4 anos de
idade.
P: Depois de formado, como foi seu ingresso no mercado de trabalho? Corresponderam as
expectativas?
R: Eu trabalhei com consultório particular em Uberlândia por 7 a 8 anos. Simultaneamente,
após formado, permaneci na Faculdade, lecionando. Um ano como professor voluntário, em
torno de 16 horas por semana. E no ano de 1977, no dia 1º de abril de 1977 fui contratado e
permaneço na Faculdade ate hoje. Em 1982/83, fechei meu consultório particular. Tornei-
me professor de dedicação exclusiva. Desde então, mantenho este vínculo de professor de
dedicação exclusiva, sem nenhum outro vinculo empregatício. Em 1978/79 fiz Metodologia
do Ensino Superior a nível de especialização em uma turma que a Universidade formou.
Em 1983/85 fiz Mestrado na USP de São Paulo em Clinicas Odontológicas. De 1991/96 fiz
doutorado na USP de Ribeirão Preto.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
226
R: Foi a oportunidade que nós que não possuímos condições de nos manter fora de
Uberlândia para fazer uma Faculdade de poder cursar um Curso sério, que vislumbrava
uma profissão de muito futuro. Naquela época tinham poucas Faculdades de Odontologia
no país. Era uma possibilidade muito grande de trabalho. Então, a gente fez, aproveitando a
oportunidade da criação da Escola, esta introdução no Ensino Superior e depois no
magistério.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: O que eu lembro é que todas as Escolas Superiores eram muito bem recebidas pela
população. E todos os movimentos que a gente fazia eram movimentos que vinham ao
encontro a fortalecer o vínculo com a sociedade. O trote de nossa turma foi para a época um
trote avançado. Nos saímos com nossos veteranos nas ruas de Uberlândia, com auxílio dos
militares do quartel fazendo angariações de bens, como roupas, e esse material depois foi
distribuído para a sociedade. Recebemos também muitos eletrodomésticos. Isto marcou
nossas vidas e fez com que a Faculdade chegasse muito mais próxima ao povo. Sempre
nossa Faculdade teve um caráter social muito grande. Tivemos muito tempo, e ainda temos,
uma grande carga horária na disciplina de Odontologia Social e Preventiva, que faz este
contato com a sociedade. Portanto a Odontologia esteve sempre próxima da sociedade, em
trabalhos em grupos escolares, em ajuda ao atender a população com a parte de cirurgia, de
prótese removível por um bom período de tempo, enquanto duraram as UDAS (Unidades
de Diagnóstico e Assistência Social), a gente fazia parte das UDAS, isso trouxe muita coisa
pra sociedade. A nossa turma foi no ano de 1973/74, veio trabalhando pelo inicio da
fluoretação de água em Uberlândia, nós participamos dos primeiros levantamentos e depois
do acompanhamento desta fluoretaçao. Simultaneamente, a Odontologia voltada para
crianças que era trabalhada nos grupos escolares.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Praticamente, eu sou um dos únicos da época a ter chegado na Faculdade. Isso é um
orgulho muito grande para meus pais. Principalmente, para meu pai, que era um professor
de escola rural, ver o filho chegar em uma Faculdade, principalmente, uma Faculdade na
área de saúde muito disputada como era a da Odontologia. existiu essa possibilidade
com a criação desta Faculdade em Uberlândia, caso contrário eu não estaria fazendo.
P: O que significou o Curso de Odontologia para você?
R: Ele encaixa na minha vida desde o primeiro momento e hoje é a minha segunda família,
é minha família de trabalho, às vezes, até mais que a minha família humana. Eu tenho a
odontologia como uma segunda família mesmo.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: Eu vejo muito mais pelo lado do progresso. Se tivéssemos como pensamento o
idealismo do Homero Santos, do Rondon Pacheco, que fizeram esta Faculdade, nos dias de
hoje, provavelmente, Uberlândia e o Brasil seriam muito melhores. Não me preocupo se o
227
acontecido nos idos de 1968 foi de questão política. Se teve um cunho político, o fundo
social prevaleceu. O que eles conseguiram deixar para Uberlândia, é o que mais tarde viria
a ser a Universidade Federal de Uberlândia, vale muito mais que qualquer outro
pensamento que porventura passou na cabeça de alguém que tivesse uma vontade política.
A UFU hoje não é mais um nicho de Uberlândia. Nós resolvemos muito bem os problemas
da região e do Brasil. Se atras teve esse cunho político, eu acho que foi muito bom. Que
tenham então outras pessoas idealizadoras que tenham este orgulho de fazer uma coisa
pensando no próximo e que mais tarde vai trazer os frutos que a Universidade trouxe para
nós.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Citar nomes sempre é muito ingrato. Seria bom olhar as atas dos arquivos da Faculdade,
através dos livros de departamentos, você vai ter todos aqueles professores que começaram
o curso e que vieram para Uberlândia para estar aqui com a gente ministrando aulas, pois
tínhamos professores que vinham de rios pontos do Brasil, por longos períodos. Eles, as
vezes, ficavam sem rendimentos, porque a Autarquia não disponibilizava o dinheiro para
pagar e esse pessoal vinha religiosamente aos finais de semana ministrar aulas para nós.
Vinham professores de Bauru, Araraquara, Diamantina, Uberaba. Eles vinham apesar de
não receber nada, mas com promessas de virem a receber um dia, vinham com despesas
pagas, as vezes, até por eles, no carro deles. Nesta andança tivemos um acidente com um
professor que vinha de Bauru, professor Noracilde, por volta de 1973. Isso sem perceber
sua remuneração mensal. Isso para nós era um orgulho muito grande. Eram professores que
geralmente nas Faculdades deles geralmente lecionavam no Mestrado, no Doutorado, e
assim, na graduação em Uberlândia. Isso nos deixava muito orgulhosos e nos preenchia
completamente em termos de conteúdo.
P: Existe algum fato ou evento que seria interessante deixar registrado sobre a Faculdade de
Odontologia?
R: Nós das primeiras turmas não podemos esquecer da batalha para manter este Curso em
pé. Desde o momento da primeira clínica, que já veio no encerrar da primeira turma. A
primeira turma estava fechando o Curso foi quando se montou a primeira clínica. Na
maioria das vezes esse pessoal ia para o consultório dos professores desenvolver atividades.
E depois a manutenção destas clínicas. Criou-se uma estrutura, uma Autarquia e, as vezes,
nós não tínhamos disponibilidade financeira para estar comprando medicamentos, produtos
odontológicos para atuação na clínica. Tínhamos momento em que grupos de alunos se
reuniam para comprar um litro de álcool, para buscar um anestésico. Uma ajuda muito
grande dos políticos da época. Bastava que se telefonasse para eles e eles mandavam a
gente ir no comércio, deixavam uma autorização para que a gente comprasse o material. E
não parou a dificuldade, mesmo com tantas dificuldades e lutas a Faculdade conseguiu
chegar onde esta hoje. Foram movimentos tanto de alunos quanto de professores. Ambos
realmente colocavam a mão no bolso.
P: A comunidade ganhou o que com a criação da Faculdade de Odontologia? Existia um
atendimento gratuito? O que a comunidade uberlandense ganhou com a Faculdade?
228
R: Todo o trabalho do Curso de graduação desde os primórdios da Faculdade são trabalhos
que não oneram o paciente. Ele sempre desenvolveu atividades, ou ora por conta da própria
Autarquia, ou depois que se tornou Universidade e depois pelo sistema de saúde. Um
sistema de qualidade e de preço acessível Já chegamos a atender mais de 3.000 pessoas por
mês. Hoje não sei qual é a escala, mas já tivemos esse número. Hoje devemos ter em nossos
arquivos mais de 100.000/110.000 prontuários registrados. Para uma população de 600.000
habitantes, o arquivo da Faculdade de Odontologia ter um número tão expressivo, acho que
é muito importante. É significativo. O trabalho social que a Faculdade desenvolve nos
grupos escolares, junto também a problemas da Prefeitura, em praças públicas, nosso
trabalho de Pronto Socorro 24hs, que é um trabalho muito bem preparado para atender ao
público, que atende as urgências e as emergências. E a formação do profissional. Hoje
estamos na 76
a
turma, são mais de 2800 alunos de Odontologia em trabalho. Também
não podemos nos esquecer da Escola Técnica, pois os cursos formados para a Odontologia
que hoje nós temos nasceu dentro do Curso de Odontologia, o Curso de Prótese, o de THD
(Técnico em Higiene Dental)...Ajudamos a tornar a antiga Escola Técnica de Enfermagem
em hoje a Escola Técnica de Segundo Grau da Universidade Federal de Uberlândia. Quer
dizer, isso tudo trouxe um retorno para a sociedade muito forte. E a quantidade e qualidade
de profissionais que nós temos colocado no mercado. Com formação em Odontologia. Hoje
temos 7 cursos de especialização em várias áreas de ensino. E de 4 anos para nosso
Mestrado, que está sendo muito bem aceito. É um mestrado para a formação de docentes,
acadêmico. Formamos em torno de 25/28 profissionais a cada ano para o ensino de
Odontologia. Isso é muito importante. Esse retorno que a Faculdade tem dado a sociedade,
e ela tem nos agradecido muito quando avaliações são feitas e nós somos lembrados como
uma Escola de nível.
229
Entrevista nº06, realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006.
Entrevistado: Alfredo Júlio Fernandes Neto
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 3
a
turma – 1975; Mestre em
Reabilitação Oral e Prótese pela USP/Bauru em 1982; Professor Titular da Universidade
Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Terezinha Fernandes Barbosa, comerciante.
Nome do Pai: Sinelor Fernandes, contabilista e comerciante.
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como você fez para custear seus estudos durante a Faculdade?
R: Quando eu passei no vestibular meu pai financiava. Na época a Escola era particular. Eu
paguei a Faculdade nos dois primeiros anos. Nos dois últimos, como sempre fui
representante dos alunos nos Conselhos Superiores da Faculdade, na época era o Conselho
de Coordenação que hoje é o Conselho de Pesquisa e o Conselho Universitário. Naquela
época todos que participavam das reuniões recebiam uma gratificação por participar das
reuniões. Como eu era aluno, eu não recebia, mas também não pagava a Faculdade. E no
ultimo ano eu fui monitor, isso me dava isenção de pagamento da faculdade. Então nos
últimos 2 anos eu não paguei a Faculdade, mas o meu sustento sempre veio do meu pai.
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início de seus estudos até seu ingresso na
Faculdade de Odontologia?
R: O primário eu cursei no Liceu de Uberlândia. Estudei também no Externato São José.
Minha família mudou para Ipameri em Goiás e eu estudei no Colégio Estadual Professor
Eduardo Mancini. E de eu regressei para Uberlândia e estudei no Colégio Brasil Central,
quando faltava um ano eu prestei Madureza, que era um supletivo, então antecipei a minha
entrada no vestibular. Daí ingressei na Faculdade de Odontologia.
P: Depois de formado, como foi seu ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu as
suas expectativas?
R: Quando formei já havia definido onde eu iria ficar. Com um mês de formado eu
estava com um consultório montado aqui em Uberlândia na Avenida Afonso Pena no
Conjunto Uberlândia. No final do ano eu fui passear em Ipameri e percebi que possuía
uma demanda muito grande de dentistas e montei um outro consultório lá. Então eu
trabalhava de segunda a quarta em Ipameri e de quinta a sábado aqui. Sendo que no sábado
230
eu ficava na faculdade como professor voluntário. Até que fui convidado para fazer parte
do quadro de professores da Faculdade.
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Eu me formei em 1975. Em 1977 fui contratado pela Faculdade de Odontologia na
cadeira de Materiais Dentários. Dia de maio eu estava chegando a Bauru para fazer um
estágio. Naquela época não existia Mestrado nesta disciplina. O Mestrado teria que ser em
outra área. Como tinham começado todos os cursos, um professor me convidou para
fazer esse estágio. E eu fiquei de maio a dezembro fazendo este estágio e assistindo como
ouvinte o curso de Mestrado em Dentística. Retornei para Uberlândia em 1978 e em 1979
eu fui como aluno regular de Mestrado em Bauru na área de Reabilitação Oral e defendi a
tese em 1982. Voltei para Uberlândia e em 1991 fui para Ribeirão fazer o Doutorado, na
USP também, na área de Reabilitação Oral.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Na época eu não tinha muito entendimento do que representava isso não. Eu era muito
jovem. Quando fiz cursinho a minha primeira opção era Engenharia. E por influencia dos
próprios colegas fiz inscrição para o vestibular em Odontologia no último dia. Ingressei
no curso e estou feliz até hoje aqui. Mas naquela época foi importante, pois tinham poucas
Faculdades no Brasil, e aqui na região ou se ia para Uberaba ou Ribeirão Preto. E era
bem mais caro. Era um Curso integral que não te dava condições para trabalhar, e ainda
tinha que comprar instrumental e tudo mais. Foi muito importante esta Faculdade. Naquela
época a cidade era bem diferente. Mudou a economia, o perfil social e econômico de
Uberlândia, mudou muito com a vinda destes Cursos Superiores. E é o que está
acontecendo hoje. Toda cidade de porte médio tem uma Faculdade modifica muito. Foi o
que representou a Odontologia para Uberlândia em 1970.
P: O que significou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: Ela representou tudo. Se eu não tivesse entrado na Faculdade hoje, eu seria uma pessoa
totalmente diferente do que sou, o oposto talvez. Naquela época as condições eram
diferentes. A primeira especialização em Uberlândia quem montou e coordenou durante 20
anos fui eu. Quer dizer, se eu não tivesse entrado talvez a especialização tivesse vindo
depois. Eu fui o primeiro. Ao ingressar dentro da faculdade eu nunca fui um aluno
brilhante. Nunca fui “CDF”. Eu era da turma do meio. Mas as pessoas que acreditaram em
mim e me deram oportunidade, me fizeram ter essa responsabilidade. Meu medo era
decepcionar quem acreditava em mim. E alguns professores da Faculdade, depois grandes
expoentes da Odontologia foi que me deram essa oportunidade. Ainda hoje meu medo não
é de errar, e sim de decepcionar as pessoas que acreditaram em mim. E agora hoje tenho
medo não de decepcionar aqueles que acreditaram em mim, mas os novos que acreditam
em mim, como modelo, como conduta a ser seguida. Preocupo-me em ser um bom modelo
para a juventude, pois participo de sua formação. Quero ser um bom exemplo assim como
tive meus bons exemplos.
P: Para sua família, como era visto o Curso de Odontologia?
231
R: Para meus pais foi um orgulho muito grande em me ver ingressando na Faculdade.
Quando eu ingressei, a Faculdade aqui era particular e o vestibular aqui era concorrido.
Hoje em uma Faculdade particular, às vezes, nem tem vestibular, é por ordem de chegada.
Mesmo assim, para meus pais foi um orgulho. Eles tinham um poder aquisitivo baixo, e a
origem deles era assim. Para eles ver um filho ingressando na Faculdade foi uma satisfação
muito grande. Quando fui convidado a ser professor a satisfação foi maior ainda. Para meu
pai foi um sonho que era realizado por muito poucos. A satisfação de todo pai hoje é ter um
filho estudando em uma Faculdade.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Ele é sempre um Curso muito bem visto aonde ele vai, porque as pessoas acham que a
Odontologia vai acabar com os problemas de saúde das pessoas. Na época tinha uma força
política em Uberlândia muito grande, que lutava para a implementação deste curso. E era
uma política muito bem vista. Qualquer proposta do Dr. Rondon Pacheco, do Dr. Homero
Santos era motivo de festa e satisfação. A Faculdade foi criada como Autarquia Estadual na
época e depois se transformou em uma fundação, até se tornar federal. Mas pra cidade era
sempre bem vinda. Naqueles tempos ser estudante universitário era diferencial. Hoje se
mistura muito, muitas Faculdades e Universidades. Naquele tempo todo mundo sabia
quais eram os jovens que eram alunos da Faculdade. Mudou a sociedade de Uberlândia.
Algumas cidades aqui perto mais tradicionalistas pararam no tempo, e Uberlândia que
acreditou na cultura, no Ensino Superior, se tornou no que ela é hoje. Então, todos nós,
estudantes daqui, ou estudantes que vieram de fora estudar aqui, sempre foram muito bem
recebidos.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Tem uma pessoa que jamais poderá ser esquecida, que é o Dr. Laerte Alvarenga
Figueiredo. Eu acompanhei a história da Faculdade, sei que ele foi o grande mentor, o
grande responsável. Ele tinha um senso de coletividade, e sonhou para Uberlândia uma
Faculdade de Odontologia. E ele foi atrás disso, do poder político. Ele era uma pessoa que
fazia amigos, que não tinha arestas em lugar nenhum. Ele foi atrás com o sacrifício de
sua família, em determinado momento não muito compreendido pela classe dos dentistas.
Ele enfrentou tudo isso e foi atrás. O Dr. Laerte foi quem catalisou todas as forças e fez as
pessoas entenderem a importância da implementação. Ele foi o primeiro diretor. Ele não
teve a melhor saída da Faculdade. Mas ele tem sempre nosso respeito e gratidão e enquanto
eu tiver aqui, como elemento desta história eu vou estar sempre reverenciando seu nome,
porque ele merece.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: O professor Laerte teve um interesse social. Ele mesmo como dentista em seu
consultório sempre atendia os mais necessitados. Era uma pessoa de um coração imenso.
Ele sabia desta necessidade social e a importância de se fazer à profissão crescer. Ele
232
buscou o apoio político, que sempre foi indispensável, pois tudo na nossa vida é político. O
aspecto legal na época tinha que passar por isso aqui.
P: Teria algum fato que deveria ficar registrado na história da Odontologia?
R: A fundação passa pelo Dr. Laerte. Porque Uberlândia naquela época teve uma Faculdade
de Odontologia que chegou aonde chegou? Ela não foi mais uma Faculdade. O Dr. Laerte,
além dessa clarividência, ele buscou em São Paulo, o Dr. Dioracy Fonterrada Vieira, que
era na época professor da Faculdade de Odontologia da USP em São Paulo, de materiais
dentários. Ele montou a proposta pedagógica do Curso, foi o coordenador do Curso, trazido
pelo Dr. Laerte. Porque uma Faculdade não se faz com prédios. Faz-se com programa e
com competência para se desenvolver o programa. Faz-se com talentos humanos. Eles
basearam o nosso projeto pedagógico na Faculdade de Odontologia de Bauru, na
Universidade de São Paulo. Na época e ainda hoje, é tida como a Meca da Faculdade de
Odontologia. E eles trouxeram o que tinha de bom em Bauru e adaptaram aquilo que não
era tão bom, e implantaram em Uberlândia. É óbvio que na época não possuíamos em
Uberlândia profissionais qualificados para o ensino. Tínhamos profissionais dentistas
capazes para serem clínicos. Eles o estavam prontos para elaborar uma proposta de
ensino. Então o professor Dioracy trouxe um grupo de professores de fora, de Bauru, de
São Paulo, de Araraquara, de Diamantina. Foi onde começou esse programa, a Faculdade
de Odontologia com esse currículo que seria iniciado com professores jovens, mas que ao
longo do tempo se tornaram grandes expressões da Odontologia brasileira. Tínhamos o Dr.
Paulo Amarantes, Dr. José Antonio de Campos Machado, Prof. Oliveira Tangri, que vinha
de Diamantina, ele vinha semanalmente. Prof. Mario Roberto Leonardo. Esses professores
então pegaram cirurgiões-dentistas de Uberlândia como assistentes e formaram uma equipe.
Isso até se formar a primeira turma. Com a primeira turma, começamos nós os ex-alunos a
nos qualificar. Esse foi o primeiro momento pedagógico da nossa escola. Por volta de
1976/77 assumiu a coordenação do Curso, deixou de ser Faculdade, passou a ser
Universidade, passou de Faculdade a Centro de Ciências da Saúde, e assumiu a
coordenação Professor Weiss Cunha. Ele também era um visionário. Na época comecei a
participar desta discussão pedagógica, e foi quando foi discutido e implementado o atual
currículo que nós temos ainda hoje. A Faculdade virou um projeto nacional patrocinado
pela CAPES, a Fundação Care, que é uma fundação americana e a ADENO (Associação
Brasileira de Ensino Odontológico). Então, em 1977, o professor Weiss com a equipe aqui
da época, montou o currículo. Criando-se a clínica integrada. Muitas faculdades tinham
essa dificuldade de montar a clínica integrada e a gente tinha, desde 1977. Tínhamos
clínica de endo, de perio, de prótese. Esse foi outro momento importante, foi com um
pouco de sacrifício. Nada é fácil, implementado de uma hora pra outra. Nós temos hoje a
proposta pedagógica de 1977, mas ela é inovadora. Acabamos de entrar em outro programa
do Ministério da Educação e Ministério da Saúde, o Pró-Saude, foram 58 faculdades que
concorreram no Brasil, 21 foram aprovadas, para montar essa proposta pedagógica que
estamos elaborando, que é mais avançada, mais inovadora. Nós queremos formar um
dentista do que é a profissão hoje. Tudo mudou. Não é mais um dentista de 1970. A
Odontologia não é mais uma profissão liberal. Dentista hoje ou ele tem emprego, ou ele
tem convênio, ou ele trabalha pra alguém. Hoje o grande empregador é o Serviço Público e
ele está preocupado em dar atenção primária a saúde. Enquanto que as Faculdades estão
formando para a questão terciária, da tecnologia, da cura. Estamos hoje preocupados em
233
não mais o aluno ter aula na Faculdade, e sim no serviço, onde ele vai trabalhar. É um
aluno que ficava numa redoma de vidro aqui, com grande tecnologia, mas quando ele forma
ele vai pro Serviço Público, ele vai pro convênio, pro credenciamento, e vai trabalhar numa
realidade totalmente diferente. Então isso é o que está norteando esta nova mudança que
nós vamos dar hoje no Curso. Dentro de 1 ano, 1 ano e meio deveremos estar dentro
desta nova proposta. Dentro da proposta pedagógica estas foram as principais mudanças. E
agora tentamos melhorar um pouco mais, atualizar o Curso. Quanto à questão da
estabilidade financeira da faculdade, quando ela foi criada como autarquia, todos os alunos
pagavam o preço não era exacerbado como é hoje. Com essa alteração de moeda, acredito
que hoje nós pagaríamos uns R$600,00 a R$ 700,00, enquanto que as faculdades de hoje
cobram R$1500,00 até R$1800,00. Mas na época o era das Faculdades mais “caras”, até
porque tinha uma complementação do Estado, mas que era muito pequena, quase não dava.
Às vezes os professores ficavam até quase seis meses sem receber. Eram professores
abnegados, todos davam aula, não faltavam. E depois se transformou em Universidade, foi
quando agrupou a Medicina, a Engenharia, que eram federais, E Direito e Economia
também. No governo de Figueiredo ele prometeu que federalizaria a Universidade Federal
de Uberlândia, e tão logo ele tomou posse, aconteceu. Eu como aluno sei que nós deixamos
de pagar quando o Figueiredo entrou e transformou para Federal. Mas houve na época
muito empenho da sociedade. A Associação Comercial o próprio Sindicato Rural, toda a
força de Uberlândia sempre deu apoio aos nossos políticos para ações políticas para que
fosse federalizada a Universidade. E hoje está aí, é uma universidade de médio porte no
país e uma Universidade que trabalha muito. E a nossa Faculdade começou como uma
Faculdade particular, e hoje é uma Faculdade consolidada, onde nós temos nós temos um
dos poucos graduação, sou suspeito pra falar, tive a oportunidade de ser presidente da
Associação de Ensino Odontológico por 8 anos e conheci todo o ensino do Brasil. Por ter
trabalhado na Comissão de Exame Nacional de Cursos por 8 anos do Ministério da
Educação, também tive a oportunidade de conhecer a realidade brasileira, eu tenho plena
convicção de que a nossa graduação é muito boa. Temos especialização em todas as áreas,
e agora já estamos na 4
a
Turma do Mestrado, em 2 áreas de concentração. Estamos
aguardando a avaliação da CAPES para obter a nota mínima, que é 4, implantaremos este
ano o programa de Doutorado. Aí iremos fechar uma Escola que nasceu no interior,
particular, na época uma cidade pequena, hoje nós estamos uma Universidade Federal,
onde hoje temos uma escola técnica de saúde que forma Técnicos em Prótese Dental e
THD (Técnico em Higiene Dental). Quer dizer, atendemos ao ensino técnico da
odontologia, nós formamos cirurgiões-dentistas para clínico geral, acredito que muito bem,
nós formamos bem especialistas, e agora vamos formar acredito que bons professores para
a Odontologia já com iniciação a pesquisa. E queremos formar doutores e pesquisadores em
Odontologia. Ai acho que pelo menos a minha passagem nesta Faculdade vai estar
cumprida.
234
Entrevista nº07, realizada em Uberlândia, dia 22/02/2006.
Entrevistado: Ailton Amado
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 2
a
turma 1974.; Especialista em
Radiologia pela Faculdade de Bauru em SP; Especialista em Metodologia do Ensino
Superior pela Universidade Estadual de Londrina em 1981; Professor Adjunto 4 da
Universidade Federal de Uberlândia.
Mãe: falecida
Pai: comerciante aposentado
Local de nascimento: Uberlândia MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como o senhor fez para custear a Faculdade de Odontologia?
R: Eu trabalhava de madrugada para pagar a Faculdade. Como era Autarquia, nós
ganhávamos bolsa, ela vinha do, no meu caso, do Dr. Homero Santos. Mas foi por um ano
somente. E eu pagava a Faculdade trabalhando no Colégio Estadual, eu era secretário
substituto, dava aulas também. Tive que lutar bastante para chegar ao que sou hoje.
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade?
R: Bem, estudei no Colégio Estadual de Uberlândia. O primário eu fiz no Externato Santa
Terezinha, até a terceira série na época, depois eu passei para o Externato Nossa Senhora
Aparecida, na quarta série. E conclui o quarto ano com idade inferior para entrar na
primeira série do ginásio. Então tive que fazer um ano de exame de admissão no Colégio
Estadual. Então, após aprovado, tive duas reprovações, uma na primeira série (do ginásio) e
outra no primeiro colegial. Isso devido a uma série de fatores de carga emocional, inclusive
devido ao falecimento de minha mãe. Prestei inclusive supletivo para ganhar tempo na
UFMG. Depois prestei vestibular para Medicina em Belo Horizonte e depois vim para
Uberlândia prestar vestibular para Medicina, que estava sendo a primeira turma.
Infelizmente, fui classificado, mas não fui chamado. Então prestei vestibular para
Odontologia. E ai eu fui chamado em 13º lugar.
P: Depois de formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho, correspondeu as
expectativas?
R: Olha, correspondeu mais do que eu esperava. Montei um consultório em julho de 1974,
a minha primeira reação foi de fechá-lo. O custo estava muito alto para o tanto que eu
235
estava ganhando na época. Fui incentivado por minha esposa. Continuei trabalhando. Eu
tinha que pagar Cr$14.000,00 (quatorze mil cruzeiros) na época, além do que eu estava
contratado pela Faculdade da época para ser professor auxiliar de ensino. Mas consegui,
trabalhando, me dedicando, e no primeiro mês paguei todas as minhas contas e no segundo,
terceiro em diante. Nunca tive um consultório parado, sempre bem movimentado. Minha
clientela era fiel, persistente, e trabalhei até o ano de 1984 no consultório, e por ordens
familiares tive que parar. Cobranças de filho.
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Tudo que fazemos, fazemos por amor. A carreira de professor não foi por menos. Eu
lecionei no Colégio Estadual no ginásio, trabalhei em uma biblioteca do colégio,
trabalhei em uma secretaria. Então, esse trabalho sempre desenvolve a gente, em
formações, dados, memórias e eu consegui, a todo custo, passar por isso. Não tenho nada a
reclamar, graças a Deus da Odontologia. Eu vejo que a Odontologia de hoje não é a
Odontologia daquela minha época. Houve as melhoras, inovações, avanços tecnológicos e
científicos, mas eu vim a me especializar na minha área em que estava trabalhando em
81. E fui fazendo tudo isso por minha conta. Não contei com a ajuda da Faculdade com
bolsa, com nada. Só tive uma ajuda de custo. Mas conseguimos.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Primeira coisa que devo colocar é a boa vontade e disponibilidade do Professor Laerte.
Ele foi a mola que alavancou a Faculdade de Odontologia. Ele que procurou, correu atrás,
viajava, quando ele conseguiu com o Rondon Pacheco a criação da Faculdade, ele
selecionou o corpo docente. E nesta seleção, esse corpo docente vinha não nos horários
comerciais normais. Eles vinham nos horário que tinham disponíveis nas Faculdades deles.
Então, vinham no sábado, domingo e passavam 2 a 4 dias aqui. Muitas vezes eles eram
acolhidos na residência do professor Laerte, para um jantar, ou até mesmo para
hospedagem. E conseguimos fazer na Faculdade um alojamento, no andar do saudoso
prédio da Engenheiro Diniz. E também a gente fazia muita festa, na casa do professor.
Era muito churrasco.
P: O que representou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: Ela significou justamente a profissão que eu estava procurando, mas não sabia. Como eu
disse inicialmente eu prestei vestibular para Medicina. E voltei e fiz Odontologia. Não me
arrependo. E uma área que estou lutando, gosto, trabalho e defendo principalmente a classe.
Hoje sou delegado do Conselho e trabalho ativamente na Associação. fui secretário,
presidente, hoje sou diretor de uma Escola de Aperfeiçoamento. Odontologia para mim é
tudo. Eu respiro Odontologia.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Em um primeiro momento, quando nasceram os filhos, ele questionou onde eu estava ele
não me via. Foi por isso que eu parei. Ele já tinha 4 anos, ele nasceu em 1980 e em 1984 eu
parei. Desde quando eu fiz Faculdade, eu mesmo quem arcava com minhas despesas de
236
escola. Meu pai apenas me aguardava chegar em casa. A qualificação profissional dele não
dava recurso né. Mas ele não foi contra.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Por ser o professor Laerte o fundador da Faculdade, a população de Uberlândia foi toda
em apoio a ele. Tanto e que a Classe Odontológica foi chamada para poder dar auxílio nas
clínicas e em tudo. Todos eles colaboraram 100%. E vieram mais professores de fora, não
resta dúvida. Professores que vinham de carro, ônibus e até infelizmente tivemos um
acidente com um professor, que possui hoje o nome dele na placa no nosso Pronto
Socorro. Tudo era festa. Não tínhamos nada que contrariasse que atrapalhasse. Por mais
que você falasse assim, hoje não tem material para trabalhar na clinica. Isso era parte do
Curso. Muitas das vezes éramos nós quem comprávamos, que pagávamos pro paciente.
Meus 4 anos de Faculdade foram 4 anos sem férias. Porque nas férias vinha professor de
fora para dar aula. Então vinha professor de São Paulo, de Araraquara, de Araçatuba, de
Bauru, Diamantina, Uberaba. Todos de renome.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Trouxe e bastante, porque houve uma melhora, Uberlândia possuía muitos dentistas
práticos. Na época nos nhamos muitos práticos. A luta era de um colega só, o Delegado
do Conselho. Era briga mesmo. Era de andar armado e de mandar prender. E hoje graças a
Deus, nós não temos sinal disso mais. Não trabalho com arma, nem contra o profissional,
eu oriento. O serviço vai ser feito pela Secretaria de Segurança Pública. Quer dizer, hoje
melhorou muito. Se a gente encontrar um ou outro ele está escondido por aqui.
P: Era função de o Delegado prender?
R: Não, era função de ele intervir na prática do exercício ilegal.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia em Uberlândia veio atender a interesses de
alguém? De quem? Para que? Para quem?
R: O interesse que o professor Laerte apresentou para a sociedade, e na época ele era da
entidade que era a Associação Brasileira de Odontologia, naquela época era Associação dos
cirurgiões-dentistas do Brasil Central, foi no intuito de melhorar essa qualificação
profissional da classe.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Primeiro lugar o Professor Laerte. O Dr. Rondon Pacheco e o Homero Santos que foi
quem federalizou a Universidade. São pessoas políticas que trabalharam na campanha. O
Laerte é quem viajava, discutia e ia atras, e que muitas vezes colocava a mão no bolso para
sustentar o custo da Faculdade. O prédio que s trabalhamos foi doado pela Igreja Nossa
Senhora de Fátima e antes era um Seminário e que acabou sendo adaptado para ser uma
clínica, com consultórios, com salas de aula, com laboratórios.
237
P: Qual acontecimento o senhor gostaria que ficasse registrado na história da Faculdade de
Odontologia?
R: Primeiro tudo na vida passa. O nome é que fica na memória da população. Tudo o que
fazemos em vida, devemos colher em vida. E, simplesmente, o reconhecimento que a
Classe Odontológica deve ter para aqueles que trabalham em prol da classe. Posso ser visto
como um chato, pois defendo o que é a lei da Classe, o Código de Ética. Muita das vezes
devo advertir um colega, pois trabalho em favor dele, em prol dele.
238
Entrevista nº08, realizada em Uberlândia, dia 23/02/2006.
Entrevistado: Antônio Mário Buso
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 1
a
turma – 1973. Mestre em
Reabilitação Oral; Especialista em Periodontia; Especialista em Metodologia de Ensino;
Professor Titular Universidade Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Leonor Zelaneides, do lar.
Nome do Pai: Vitório Buso, agropecuarista.
Local de nascimento: Uberaba MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Qual foi seu percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da faculdade?
R: Vim a Uberlândia em 15/11/1961 para estudar e tinha na época 14, 15 anos. Estudei no
Externato Rio Branco, Liceu de Uberlândia, Escola Química Industrial de Uberlândia e fiz
cursinho em Goiânia e Uberlândia.
P: O Curso de Odontologia era pago?
R: O curso era pago, porém seu valor era menor que o do cursinho.
P: Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho, correspondeu às
expectativas?
R: Eu costumo dizer que eu peguei a melhor fase da Odontologia porque a mesma, até
então, era muito radical. Por exemplo, um dente com problema no nervo era apenas
extraído; se uma doença era detectada na gengiva extraíam-se todos os dentes e colocava-se
dentadura, uma ponte. Além disso, a Odontologia na qual eu formei, seu princípio era mais
conservador e um pouco mais elitizada, vamos dizer assim. Então eu entrei no mercado de
trabalho onde já se tentava fazer a manutenção e a prevenção, então eu peguei a melhor
fase da Odontologia onde ela sofreu uma metamorfose de tratamento radical para
conservador. Radical para extrair o dente e conservador para preservar o dente, tratar o
dente e estava preparado para trabalhar o paciente na preservação dos dentes na boca e não
a extração dos dentes. E eu costumo dizer para pacientes meus: “ponte e dentadura são
muletas da boca”.
239
P: E a carreira profissional, como foi?
R: Eu diria que eu fui um dos caras mais felizes na minha profissão. Eu tinha uma
chance de passar no vestibular, pois não podia tomar bomba. Meu trato com meu pai era
que se eu tomasse bomba, deveria voltar para a roça. Eu tomei bomba em medicina, mas
passei em Odontologia. Meu maior sonho foi ter tomado bomba em medicina porque eu
encontrei dentro da Odontologia o que eu acho de melhor que eu faço, faço com amor, com
carinho que é a ter a clínica de especialidade em periodontia e na oportunidade eu fiquei
como monitor e sou professor há 32 anos na escola de Odontologia da Universidade
Federal. Eu tive a melhor fase da Odontologia e criei um espaço dentro dessa fase, criei
meu nome, meu espaço profissional tanto na área de docência, como na área clínica.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Uberlândia nessa época já era um centro de estudos. Muitas pessoas vinham para cá para
estudar, embora Uberaba, Goiânia e Ribeirão Preto fossem mais famosas. Aqui, como
existia a Escola Federal de Engenharia, então já tinha um fluxo de pessoal da própria cidade
e das cidades vizinhas que vinha para se preparar para o curso superior. Então a vinda da
Odontologia foi fundamental porque era mais uma opção de Curso Superior. E um Curso
Superior em uma área carente a hoje no país, a área de saúde. Não que não tenham
profissionais, mas o sistema de saúde no Brasil é falho: o particular não tem dinheiro para
gastar e o serviço público não paga todo o tratamento do indivíduo. A população não tem
dinheiro e o sistema público é muito limitado do meu ponto de vista.
P: O que significou/representou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: A Escola de Odontologia foi um marco que eu acho que foi um presente de Deus. Eu me
encontrei dentro do meu Curso, dentro da minha profissão e dentro da minha especialidade.
Então o que eu tenho hoje, meu espaço profissional, a oportunidade que eu tive de dar aos
meus filhos aquilo que eu não tive foi graças a Odontologia então ela foi um marco
fantástico. Eu criei um espaço para mim que acho que poucos conseguiram, tanto na área
de docência como na área clínica.
P: O que significou/representou o Curso de Odontologia para você?
R: A formação cirurgião dentista, talvez já tenha até citado anteriormente, que para mim foi
um marco na minha vida, uma transposição, uma metamorfose muito grande porque eu me
encontrei dentro do Curso que eu escolhi. Eu faço com carinho, com gosto e com
dedicação, então eu tenho bom relacionamento com os professores, com os alunos e com
meus pacientes em clínica particular. Então ela foi fundamental na minha vida e continua
sendo um marco fantástico.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Para os meus pais que vieram com a educação da Itália e não estudaram praticamente
nada aqui no país, que tinham um nível de conhecimento pequeno além de pouco
desenvolvimento muito baixo na literatura, nas ciências, então qualquer Faculdade para eles
240
era fantástica. Só de eu estar estudando, largar os trabalhos rurais e ter um nível superior,
foi uma trajetória muito grande. Então tanto para mim quanto para eles foi fantástico, foi
uma conquista muito grande que poucas famílias na época tinham, e minha família teve.
Para eles foi um orgulho muito grande.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: A Faculdade foi tão bem vinda como a Engenharia, o Direito, a Filosofia, a Medicina. A
Odontologia era mais uma área da saúde que veio desde então e para ficar. Hoje é uma
Faculdade de médio porte e tem um nome nacional. Então para a comunidade uberlandense
e nacional eu acho que foi uma vinda espetacular, foi um marco na nossa Escola, na nossa
Universidade. Para a sociedade e para o local foi fantástico. Foi muito importante como
todas as outras Escolas. Agora, como a área é a de saúde, ela veio para dar uma assistência
muito boa que nós hoje temos na Faculdade.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Para se ter uma idéia, hoje nós temos uma Escola de Odontologia que recebe alunos de
várias partes do Brasil e tem cursos de especialização e pós-graduação em nível de
mestrado além de um pronto socorro gratuito que funciona 24 horas, o que eu acho o mais
fantástico na Escola, pois qualquer dor de dente, qualquer desconforto ou traumatismo
bucal, tem um atendimento imediato. Eu acho que isso é um ganho muito bom para uma
cidade, uma região. Nem todos os lugares têm isso e aqui existe esse privilégio, esse ganho,
esse benefício para a sociedade.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: Eu acredito que foram vários os interesses. Primeiramente, atrás de qualquer convite
existe um interesse político. Então, Uberlândia toda vida teve uma visão política muito
grande, então ela não gosta das coisas mais ou menos. Ela quer ser boa para melhor. Então
se aqui existia uma Escola de Engenharia e a escola de Direito tinha sido fundada, os
profissionais da época aqueles idealistas da Escola de Odontologia, juntamente com os
políticos na época, que foram Rondon Pacheco, Homero Santos, Walcir DelCastro
(deputado estadual) esses interferiram muito politicamente e socialmente para trazer a
Escola de Odontologia pra cá.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Eu colocaria a Associação Brasileira de Odontologia secção de Uberlândia, na época eu
me lembro que tinha o Dr. Laerte que foi um dos mais influentes, o Dr. Márcio Pacheco,
Dr. Ângelo Danes, e outras pessoas que eu não me lembro mais, pessoas que estavam
envolvidas, mas não se manifestavam politicamente ou socialmente mas que interferiram na
vinda da Escola para cá. E isso era o idealismo dessas pessoas, juntamente com os
deputados e os políticos da época, houve um intercâmbio de idéias que proporcionou a
vinda da Escola pra cá.
241
P: Tem alguma história, algum acontecimento importante da Faculdade que o senhor quer
deixar registrado?
R: Eu diria que o marco mais importante é que na época existia a Faculdade de
Engenharia que era federal. Depois vieram as Faculdades de Medicina e Odontologia e para
concretizar o sonho, eram realizadas quermesses, semelhante às feitas por JK para a
fundação de Brasília, realizadas pela sua esposa Sara K. que fazia aquelas festinhas para
angariar fundos. Então nessa época tiveram essas quermesses para a vinda da Faculdade,
para a compra dos laboratórios do Curso de Medicina. E eu que era criança, rapazinho
nessa época, gostava dessas festas e ia, comprava nem que fosse um refrigerante, um suco,
um lanche e esses fundos foram que levaram à vinda desses laboratórios do Curso de
Medicina. Se tinha a Medicina, porque não ter a Veterinária, a Odontologia, a Educação
Física? Então foram à vinda dessas Escolas e desses acontecimentos que marcaram minha
época de estudante e eu queria um futuro dentro de um Curso Superior, que por acaso, foi a
Odontologia. Eu acho que isso marcou minha vida.
Complemento curricular: especialização em metodologia de ensino, especialização em
periodontia e Mestrado em reabilitação oral. Então hoje eu sou um mestre titular na
disciplina de periodontia e não tenho coragem de me aposentar (Risos).
Complemento requisitado pelo próprio entrevistado: Eu não poderia deixar de citar o nome
de uma pessoa, Weiss Cunha. Ele foi idealizador, professor, fundador e foi um dos
indivíduos que mais trabalhou na Escola de Odontologia. Ele hoje talvez esteja esquecido
na Escola dentro da Administração política, mas ele não está esquecido por quem foi aluno
dele e por quem reconheceu o trabalho que ele fez na Odontologia.
242
Entrevista nº09, realizada em Uberlândia, dia 24/02/2006.
Entrevistado: Gildésio Rezende Alvarenga
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 6
a
turma – 1978;
Nome da Mãe: Alaide Resende Alvarenga, do lar.
Nome do Pai: Osto de Oliveira Jannus, comerciante.
Local de Nascimento: Araguari MG
Classe social a que pertencia na época do curso: classe baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: O senhor é quem custeava a Escola?
R: Na época que nos entramos era ela particular, eu dava aulas em Araguari para custear o
curso, eu ministrava aulas de Química a noite e me associei ao Crédito Educativo, mas logo
em seguida, 2 anos depois ela foi federalizada.
P: Era elevado o valor da mensalidade?
R: Não sei te informar o valor, mas para minhas condições na época, ele era caro. Se eu não
tivesse conseguido dar aulas no colégio estadual na época talvez eu o tivesse conseguido
fazer o Curso.
P: Qual foi o seu percurso escolar desde seu ingresso até a conclusão da Faculdade?
R: Foi todo em Araguari, eu passei no primeiro vestibular, sem cursinho. Apenas fiz aquela
revisão uma semana antes das provas. Em Araguari, estudei todos os anos em colégio
público.
P: Como foi seu ingresso no mercado de trabalho, correspondeu às expectativas?
R: Após sair da Faculdade, comecei a trabalhar. Minha esposa que também é dentista
juntamente com minha cunhada e concunhado que são médicos resolvemos montar uma
clinica conjunta na Machado de Assis nº821. Onde ficamos 7,8 anos juntos. Também fui
R2 do exercito, entrei como militar, fiquei um ano e não quis continuar. Depois fiquei sócio
da pro-saude, que congrega empresas. Assim foi como comecei a minha vida profissional.
P: E a carreira profissional como foi?
243
R: Muito boa, graças a Deus. Considero-me realizado, mas não totalmente. Acho que
ninguém se realiza totalmente, senão acabava tudo. Mas sou muito feliz com o que fiz e não
me arrependo absolutamente de nada. Meus filhos, por livre escolha, cursam Odontologia
hoje também.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Como realização pessoal e social, ela representou muito porque ela me colocou no meio
social. Hoje me considero uma pessoa grata. Isso me abriu as portas pro Lions, pra
ADESG, pra Maçonaria... Socialmente foi muito bom e profissionalmente eu nunca deixei
de participar do acompanhamento da evolução da Odontologia. Eu sou uma pessoa que
investe na própria profissão. O meu conceito ele vai um pouco em choque com a maioria
dos profissionais os quais eu conheço, que não gastam com Curso, que acham que é
bobagem. Fiz cursos a vida toda. Dava inicio ao meu trabalho às seis e meia da manha,
principalmente os 10 primeiros anos, eu trabalhava aoito e meia da noite e aos sábados.
Hoje sou um pouco moderado, mas mesmo assim, as dez pra sete da manha estou no
consultório e saio as onze e quinze, retornando a uma hora e ficando no máximo até as seis
e meia da noite. Eu acho que profissionalmente me considero muito feliz, apesar de todas
as limitações que o profissional tem. Não me arrependo em nenhum minuto de ter
escolhido tudo isso.
P: O que significou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
R: Foi o que eu acabei de dizer. A escola é que faz a formação. Se você pensar o que era a
Escola na época e o que era hoje, percebemos que o parâmetro que temos hoje é muito
ruim, porque muita coisa da Odontologia evoluiu muito. Mas hoje o que percebemos é que
as escolas hoje não possuem o mesmo empenho de antigamente. Os professores se
dedicavam mais ao ensinar, pois formavam um profissional com segurança maior do que
existe hoje, sei disso pois convivo com 400 profissionais. Por minha esposa ser dentista, e
eu ter um rol de amigos que são médicos, então eu posso fazer um traçado paralelo. Eu
percebo que a Odontologia é um pouco complicada neste sentido.
P: Para sua família como era visto o Curso de Odontologia?
R: Para eles foi uma realização. Principalmente para a época, era realmente uma coisa boa,
fantástica. Eu vinha de carona. Hoje a gente percebe que quem forma hoje sabe pouco.
Antes possuíamos material humano. Fica-se a impressão que o aluno sai da Faculdade
sabendo alguma coisa, para que depois ele seja obrigado a fazer um curso de
especialização, para nela aprender um pouco mais e depois ainda tem que se fazer um curso
de pós-graduação pra se praticar mais. A evolução instrumental de material, científico, nem
se compara com aquela época. O que me deixa horrorizado é a falta de entusiasmo quando
se conversa com aluno, diferentemente da nossa época, e acabo por pensar que na nossa
época não era assim. Tínhamos que estudar muito mais e se era muito mais cobrado.
Quando o profissional formava, ele possuía menos medo que os profissionais que se
formam atualmente. Pois, se hoje você sai da Faculdade e não tiver um dinheiro para pagar
um curso de especialização, você acabara indo para o interior de algum Estado para
244
conseguir se dar bem. Então minha família, realmente, naquela época viu com muito
entusiasmo o meu ingresso na Faculdade de Odontologia.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Na época era muito mais entusiasmo que hoje, pois se falava em Medicina, Engenharia,
Odontologia e Direito. existia isso. Na proporcionalidade, naquela época havia uma
guerra entre cursinhos, como por exemplo, entre o Ubermed e o Galileu. Era uma
verdadeira guerra de preparo e de cobrança. As provas não eram descritivas. Para a
sociedade, hoje é menos importante do que era naquela época. Hoje todos os cursos estão
nivelados.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: Na sociedade em si não. Na saúde e na orientação das pessoas é claro que sim. Para mim
a sociedade está muito associada a valores, a trabalho. Para mim é muito relativo esse tipo
de coisa.
P: Teve alguma modificação no modo de ver a Odontologia? E quanto aos dentistas da
cidade? Antes tinha mais dentistas práticos? E quanto ao atendimento gratuito da
policlínica da UFU?
R: Para mim era uma coisa publica. o posso te afirmar isso não, mas imagino era muito
mais pobre, onde diversos profissionais se juntam para abrir cursinhos de especialização,
cobram caro, e muito usuário que deveria pertencer ao consultório particular acabam por ir
numa clínica dessas, que deveria ser voltada para pessoas de baixa renda. Determinadas
clínicas, destes cursos, aonde você chega e carros novos na porta. Quer dizer, essas
pessoas deveriam estar indo para consultórios particulares. Na época se atendia realmente
pessoas necessitadas. Eu acho que isso é algo que coloca nossa área mais para o lado
popular. Olha, “coisa gratuita” na verdade tem que ser bancada por alguém. Tem que ser
triado por uma assistente social. Na verdade alguém tem que pagar a conta. Se for o
prefeito, se é o governo, se é o Estado, a gente não sabe. Hoje tem muita gente fazendo
implantes, prótese, clareamento, colocação de aparelhos nessas clínicas, e na verdade
deveriam ira para consultórios particulares.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
R: Eu acho que em toda escola, baseado na cultura que possuímos, cria-se Faculdade como
se cria cachorro, na verdade. Não sei quantas Faculdades de Administração e Direito se tem
na região, daqui alguns dias nem sei quantas serão de Odontologia. O que vou pensar
disso? É político. Se fosse social, o governo interviria nas clínicas retirando aqueles que
podem pagar e os enviando as clínicas particulares e que está deixando o coitado sem
atendimento. Parece-me ser mais de conotação política, onde o político faz campanha em
cima. Se for bom ou ruim, isso depende. Se fosse social, iria atender aos pobres. Acaba
sendo ruim para quem fica sem campo de trabalho.
245
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Dizem que foi o Homero Santos e o Rondon Pacheco. Não tenho essa informação
segura. Não sei se foi os dois ou mais alguém junto. Mas acho que teve um peso muito
grande o Homero Santos e o Rondon.
P: Na sua época de Faculdade teve algum fato que o senhor acha que deva ficar registrado?
R: Do que me recordo, acho que tivemos um Curso que ofereceu uma boa formação, com
ótimos professores, talvez, não tivesse a tecnologia que se tem hoje, mas imagino que eles
conseguiriam muito mais do que se conseguiu na época. E, infelizmente, hoje o ensino não
é tão cobrado como naquela época. Hoje é difícil quem queira estudar em uma escola
publica. O professor perdeu a motivação. Na época era uma Faculdade muito respeitada,
alguns vinham de Bauru, com bastante formação. Foi uma época de transição da Avenida
Engenheiro Diniz para o Umuarama. Fui monitor do professor Souza, de Farmacologia, foi
uma coisa que me ajudou muito.
246
Entrevista nº10, realizada em Uberlândia, dia 24/02/2006.
Entrevistado: Odorico Coelho da Costa Neto
Qualificação Prévia: cirurgião dentista, ex-aluno da 2
a
turma – 1974. Mestrando em
Cirurgia Oral; Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela PUC/MG em 1979;
Professor Titular Universidade Federal de Uberlândia.
Nome da Mãe: Terezinha Pereira da Costa, costureira.
Nome do Pai: Jair Coelho da Costa, comerciante.
Local de nascimento: Buriti Alegre GO
Classe social a que pertencia na época do curso: classe média baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Veio para Uberlândia quando?
R: Nasci em 1952 e vim para Uberlândia em 1961.
P: Quando o Senhor começou a Faculdade, morava aonde?
R: Eu morava na Avenida Cesário Alvim, 705 ou 701. Era quase esquina com a Coronel
Antônio Alves, ao lado do Calçados G.
P: Percurso escolar desde o início até o ingresso e a conclusão da Faculdade.
R: O primário em comecei em Buriti Alegre em uma escola paroquial. Quando eu mudei
para Uberlândia, eu fiz escola particular, Externato São José, ali na Tenente Virmondes
entre a Cipriano e a João Pinheiro. eu fiz até a admissão, aí a gente enfrentava quase que
um vestibular para entrar no colégio estadual. fiz o colégio estadual, da primeira série
até a quarta série, e fiz o científico até o segundo científico no estadual. Depois eu fiz esse
exame de madureza, então o meu pai me emancipou com 18 anos porque só podia fazer
quem era emancipado. Daí eu prestei esse exame em Anápolis, no colégio Couto
Magalhães. Passei e posteriormente eu prestei o vestibular para Odontologia. E prestei
para Odontologia.
A minha escolha era a área biomédica, era a área da saúde. Isso estava
precocemente definido. Principalmente, a minha mãe queria que eu fizesse Medicina. Eu
falava para ela: “Mãe, eu vou fazer aquilo que eu tiver condição de fazer e no momento que
der certo”. Então eu trabalhava, eu tenho carteira desde os 14. Eu comecei com 11. Com 11
anos eu trabalhava no armazém. Estudava de manhã e trabalhava à tarde. Com 14 anos
eu passei a trabalhar em uma transportadora, a J. Fernandes, até eu ingressar na Faculdade.
247
P: E foi difícil entrar na Faculdade? Era concorrido?
R: Como foram os primeiros vestibulares, a concorrência não era alta. A minha turma, se
não me engano, chegou a dar dois para um.
P: O Senhor entrou novo. O pessoal da sua turma era mais novo, era mais velho?
R: Era bem mesclado. Tinham dois mais novos que eu na minha turma. Depois tinha um
grupo, digamos intermediário, e tinha outro grupo que era menor, que tinham uma idade
maior. O mais velho da minha turma tinha a idade do meu pai na época. Ele era dentista
prático e era tido na época como um dos bons dentistas da cidade, com uma clientela na
classe A. Vinha de uma família de dentistas, o pai foi dentista prático, os irmãos foram
dentistas formados. Ele chegou à presidência do Lions Clube, o mais tradicional da cidade.
P: O curso era pago? Era alto o preço da mensalidade?
R: O Curso era pago, mas não era caro. Foi uma das coisas que me possibilitou fazê-lo,
porque, por exemplo, o Curso de Medicina na época era pago e a mensalidade para nós era
muito mais cara. Aqui a Faculdade era a mantenedora, a “Autarquia Educacional de
Uberlândia”, ela mantinha três Faculdades: a Odontologia, Educação Física e a Veterinária.
Então ela mantinha uma parte e a gente pagava a outra parte. É muito semelhante ao que
acontece hoje com a Universidade Estadual de Minas Gerais, quer dizer, tem algumas
Faculdades, não é totalmente gratuito...
P: Se fosse hoje, o Senhor acha que seria quanto?
R: Hoje? Levando em consideração a Faculdade hoje, devido à grande concorrência, os
custos das mensalidades têm caído. Eu acredito que hoje seria um terço... eu não tenho com
muita precisão, porque a nossa referência na época era a Faculdade de Uberaba, então
deveria ser no mínimo um terço do que custava Uberaba.
Para mim, era o único jeito de eu fazer a Faculdade na área que eu queria, era aqui
porque eu não tinha condição, a minha família não tinha condições de sair e todo o recurso
que eu poupei durante o tempo que eu trabalhei foi para custear a minha Faculdade até um
determinado período quando então, na época, existia uma possibilidade que era o seguinte:
a gente era selecionado como monitor, o monitor era obrigado a cobrir uma carga horária
de serviços dentro da Faculdade, para fazer diversos serviços, e ele tinha isenção da
mensalidade. Na época eu fui monitor de semiologia e o professor responsável pela
disciplina era o José Antônio de Campos Machado. Ele era professor em Araraquara então
ele vinha aos finais de semana, as aulas eram dadas na sexta e no sábado pela manhã.
P: No começo vocês tiveram uma equipe muito boa de professores...
R: Muito boa. Os professores nossos vieram praticamente de Bauru como o de radiologia, o
Gastão, Luis Alberto de Sousa Freitas; materiais dentários nós tivemos o Dr. Diógenes de
Abreu e vários outros professores; pessoal da cirurgia, o Doraceu de Lima; na
odontopediatria a gente tinha o Aymar; na social preventiva tinha o Vitoriano B. De
Ribeirão Preto, na periodontia, nós tínhamos o Sérgio Narciso Marques de Lima; de
248
Araraquara, na semiologia tinha o Luis Antônio Campos Machado; na endodontia o
professor Mário Roberto Leonardo; de São Paulo na prótese a gente tinha o Edmundo
Neves, de patologia bucal, que era da USP, a gente tinha o professor José Barbosa. Então
eram grandes professores na época na área da Odontologia... na prótese total, tivemos um
professor que fugiu desse eixo, porque a nossa relação aqui sempre foi muito maior com
São Paulo que propriamente com Belo Horizonte. E até hoje...
P: E os primeiros anos foram juntos com a Medicina?
R: O básico tinha um convênio da Autarquia com a FEMECIU que na época era Faculdade
“Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia”, teve um convênio em que o ciclo
básico era ministrado pelas...
P: E o Senhor acha que foi bom ou ruim para vocês terem aulas com os professores
médicos?
R: Nós tivemos alguns professores, porque, por exemplo, a parte que era mais específica, a
gente tinha com o pessoal que foi da Odontologia. Tanto é que na anatomia, tinha um
professor Hélio Romano que era da USP, fazia a parte de anatomia um pouco dental. Então
nós tivemos na geral, vários professores da área médica. Eu acho que foi muito bom porque
praticamente era uma formação muito semelhante a que era dada aos alunos da Medicina
naquela época, e a cobrança era igual. Então o professor Gladstone, de Citologia, ele era o
mesmo professor da Medicina e o nível de cobrança dele... Ele colocava-se como professor
da área de saúde então quem entrasse na sala de aula naquela disciplina deveria ter um
conhecimento que ele considerava básico para toda aquela área. Agora, nas partes mais
específicas, vinham os outros professores. Mas eu acho que foi muito bom muito salutar a
gente ter essa convivência, porque foi a partir dessa convivência desses cursos, tanto a
Odontologia, a Veterinária, a Educação Física, que possibilitou a união depois para virar a
Universidade Federal de Uberlândia. Porque igual a UFU tem uma outra que foi criada
nos mesmos moldes. E em Uberlândia existiu por causa dessa outra, que é Santa Maria
no Rio Grande do Sul. Na mesma época que foi federalizado Uberlândia, foi federalizado
em Santa Maria. Era muito semelhante a agregação das Faculdades, porque a única federal
que tinha na época era a Engenharia. As demais Escolas eram estaduais, a Medicina
Veterinária, era para ser uma Escola em que a parte profissionalizante deveria ser em
Tupaciguara... Então ela chegou a ser feita lá, depois voltou para cá. Então o pessoal fazia o
básico aqui e quando chegava a parte profissionalizante, deveria ser feita em Tupaciguara.
Então a Medicina Veterinária, a Educação Física e a Odontologia, eram da Autarquia
Educacional do Estado de Minas Gerais. A Economia, Administração quem comandava era
o doutor Juarez Altafin, o Direito era o doutor Jacy de Assis, Letras e Pedagogia eram das
irmãs... aí reuniu isso tudo inicialmente na Universidade de Uberlândia, UNU. Então, o que
aconteceu? A Autarquia Educacional de Uberlândia doou o curso e o patrimônio que tinha
na época para a UNU. O doutor Juarez Altafin tinha os cursos, mas não tinha a área física.
Então ele doou os cursos. Tinha a FEMECIU, a Faculdade de Medicina que era uma
fundação doou o curso com o patrimônio. As irmãs doaram o Curso, mas não doaram o
patrimônio. E o único que doou o Curso com todo o patrimônio foi doutor Jacy de Assis,
além de sua biblioteca particular, Direito, um curso de altíssima procura na região. A
Universidade recebeu depois outras doações como essa área do Umuarama. A única federal
249
que tinha era a Faculdade de Engenharia. E Santa Maria tinha uma situação muito parecida
com essa. Então nessa época quando estava mobilizando essa questão da federalização de
Santa Maria, se não me engano, Rondon Pacheco era o ministro da casa civil e percebeu
isso: se estão federalizando Santa Maria, entra com o processo em Uberlândia e vai ser
igual. Federalizou lá, federaliza aqui. E nós só temos Faculdade federal aqui também
porque uma proposta muito semelhante foi feita para Uberaba porque tinha a
Faculdade de Medicina que era federal. Engenharia, Odontologia, eram particulares. Então
essa mesma coisa foi feita pra que ele o abriu mão do patrimônio, não quis dar
Curso nem patrimônio, porque Uberaba na época era maior que Uberlândia.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Eu deslumbrei, era uma oportunidade de fazer uma coisa que eu queria fazer que era na
área de saúde. Era realizar um sonho porque se eu tivesse que sair daqui para fazer uma
outra Faculdade, dificilmente eu teria essa condição. E por outro lado o idealizador da
Faculdade de Medicina, o doutor Laerte de Alvarenga Figueiredo, estava realizando um
grande sonho que era colocar em Uberlândia uma Faculdade de Odontologia. Aí sem
dúvida alguma esse crescimento que a cidade teve na década de 70, 80, quando Uberlândia
ultrapassou Uberaba em todos os parâmetros de arrecadação, de população, acho que isso
se deve muito aos Cursos Superiores que aqui foram implantados e, principalmente, à
Universidade Federal de Uberlândia, pois durante muito tempo essa chegou a ter um
orçamento muito maior que o da prefeitura. Em termos de construção, em termos culturais,
em termos sociais e em última instância econômica, eu acho que a Universidade contribuiu
e muito para o crescimento de Uberlândia porque ela jogava no nosso mercado uma
quantidade de recursos, uma quantidade de dinheiro muito grande.
P: O que representou essa Escola na sua vida profissional?
R: Na minha vida profissional ela significa tudo. Ela me possibilitou realizar um sonho que
era atuar na área da saúde, me possibilitou...
P: Apesar de a sua mãe querer a Medicina, a família apoiou sua decisão?
R: Tive todo o apoio da minha família. Quando eu entrei, meus pais assumiram aquilo ali e
na época existiu uma mudança de concepção da Odontologia, porque até então as pessoas
que vinham de cidades menores particularmente, eram muito acostumadas com o dentista
prático. Então quando começou a surgir essa mudança de odontologia como uma ciência da
área da saúde, distanciando da questão do indivíduo prático. Então eu tive todo o apoio
da minha família, me realizei além da minha formação me possibilitou meu primeiro
emprego, tão logo eu me formei já era monitor. Eu me formei fui contratado. É verdade que
enquanto era Autarquia Educacional de Uberlândia, enquanto foi Universidade de
Uberlândia, a gente tinha que ter uma opção quase que franciscana para estar aqui, porque
nós ficamos seis meses sem receber... Mas essa turma que permaneceu a gente tinha um
grande ideal. A gente ficava sem receber, mas poucos foram aqueles que abandonaram. A
gente sempre vislumbrava principalmente pelo que o doutor Laerte colocava de que era
uma transição, que a fase inicial de implantação era difícil, mas que ia passar. Então por
essa mensagem de otimismo que ele passava para a gente, a gente segurava. Não
250
recebíamos em dia nunca no início. Agora, depois que virou Universidade Federal de
Uberlândia, isso acabou. Nós tivemos uma época em que tivemos os melhores salários.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela sociedade uberlandense?
R: Representou um ganho para a comunidade sem dúvida, no momento em que foi
implantada a POLICLÍNICA, a primeira clínica na Avenida Engenheiro Diniz, nós
passamos a atender uma fatia da população que, às vezes, não tinha acesso a nenhuma
forma de tratamento odontológico e a gente sempre pensando que esse atendimento nós
deveríamos buscar uma forma de financiamento que não cobrasse nada do paciente, isso
diferentemente das outras Escolas que tinham uma questão mercantilista bem determinada,
muito forte. Então desde o começo, ela foi criada no sentido de que deveríamos oferecer
um serviço à comunidade e que esse serviço deveria buscar a isenção de pagamento e taxas.
No começo cobravam-se algumas taxas porque não tínhamos recursos para viabilizar o
atendimento. Mas sempre foram as menores taxas se comparadas com outras Faculdades,
até que nós conseguimos passar todo esse atendimento conveniado. Então nós fomos a
primeira Faculdade de Odontologia do país a ter um convênio com o antigo INPS. Primeiro
foi por repasse de consulta. Então tinha um convênio com a área médica e por repasse a
gente atendia a parte odontológica. Depois nós fizemos um convênio específico para a
Odontologia.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
R: A primeira coisa que veio a mudar foi a concepção da Odontologia dentro da sociedade.
Então, com a faculdade aqui a profissão Odontologia passou a ser mais valorizada. Então,
houve uma valorização tanto daqueles que já atuavam aqui quanto dos novos profissionais
que foram ingressando no mercado de trabalho. Então a sociedade passou a enxergar a
Odontologia realmente como uma profissão da área de saúde fundamentada em princípios
científicos, biológicos, e não apenas a Odontologia na função prática.
Segundo a questão da assistência odontológica que trouxe à população. Não o
que era feito na própria Faculdade, mas ampliaram-se os serviços de Odontologia na
cidade. Os serviços públicos eram muito escassos, muito pequenos, então com a Faculdade
aqui, apesar de ainda hoje ser considerado insatisfatório, mas com a vinda da Faculdade,
houve um aumento da oferta desses serviços à população. Na época estava começando a ter
uma mudança de orientação das profissões na área da saúde, e a odontologia estava
ingressando nessa mudança. Então, até 1970, a visão das profissões na área da saúde era
curativista, você trabalhava apenas em cima da doença. A partir d passou a mudar a
concepção, passou-se a trabalhar a educação e a prevenção. Então, os primeiros problemas
educativos e preventivos em Odontologia no município de Uberlândia, vieram com a
Faculdade. Então educação e prevenção começaram aqui em Uberlândia com a implantação
da Faculdade porque até então não se falava em programas assim, só se trabalhava em cima
da doença: de cárie principalmente, e alguma coisa de doença periodontal. A doença
periodontal nem era uma coisa considerada tão importante.
P: Para você a criação da Escola de Odontologia veia atender a interesses de quem? Para
que? Para quem?
251
R: Diversos interesses. A implantação da nossa Faculdade teve um forte componente
político. Se nós o tivéssemos uma representação política tão forte como tínhamos na
época: Rondon Pacheco, Homero Santos, João Pedro Agostinho; talvez não tivéssemos
conseguido tal qual não tinha conseguido a federalização da nossa Universidade. Então
houve um apelo político muito forte para que a Faculdade pudesse ser implantada. E como
na época as coisas eram determinadas pela política, não se tinha nenhum estudo prévio para
dizer que ali precisa de uma Faculdade, ali não precisa. Tinha aquele que tinha maior
representatividade, maior força política e que conseguia levar.
P: Quem criou essa Faculdade aqui então...
R: Houve primeiro o idealista, Dr. Laerte. Isso sem dúvida. Foi ele quem quis fazer,
apostou, dedicou toda uma vida, perdeu dinheiro. Porque esses professores que vinham de
fora não raros, ou eles se hospedavam na casa do Doutor Laerte, tomavam refeição na casa
do Doutor Laerte, faziam da casa dele uma extensão da Faculdade. As festas promovidas
eram feitas na casa dele, várias delas. O idealista foi ele, agora as forças políticas é que
consolidaram isso daí porque quem tinha força política levava, quem não tinha não
conseguia.
Agora se nós transportarmos isso mais recentemente, esse crescimento desordenado
das Faculdades de um modo geral, não apenas da Odontologia, em determinados locais eles
estão cumprindo uma missão social, até porque em locais distantes, de difícil acesso, essas
Faculdades eu acho importante porque melhora a condição local da cidade
independentemente se tenha uma mentalidade mercantilista ou não, mas se ela está
existindo num local onde está descoberto, eu acho que é interessante. Agora o que tem
movido mais esse crescimento desordenado é sem dúvida o mercantilismo, sem nenhuma
análise mais profunda de uma necessidade. Agora eu acredito, visão pessoal, que quem
deve fazer essa regulação é a própria sociedade. O Governo, como a educação e a saúde são
concessões dele, deve atuar como regulador desse processo principalmente envolvendo a
qualidade e informando a sociedade dessa qualidade desse ensino, agora quem praticamente
deve fechar a Faculdade é a sociedade. Como? Não tendo aluno. Porque se os indivíduos se
opõem a fazer uma Faculdade de Odontologia de excelentes padrões para formar um
profissional altamente qualificado, comprometido com o ensino, a pesquisa e a extensão,
porque não pode fazer? Se o indivíduo quiser fazer, essa Faculdade terá vida longa. Agora
o que não pode é “criar essas arapucas”. Esse “faz de conta”: faz de conta que eu te dou um
Curso, você me paga por esse faz de conta, você não me cobra e eu não te cobro. Um pacto
de mediocridade.
P: Depois de formado, como foi o ingresso no mercado de trabalho? Correspondeu às
expectativas?
R: Fui monitor e logo fui convidado a dar aulas. Na época era por convite, não era por
concurso. Os professores da época, na conversa informal que tinham entre eles, faziam um
convite e na época, simultaneamente, eu tive dois convites. Eu tive o convite inicial da
semiologia e 15 dias depois do convite que eu aceitei, porque assim, a princípio, eu
vislumbrei uma forma de dar continuidade no meu ensino, porque no meu primeiro ano de
Faculdade eu ganhei uma bolsa. Não chegou no primeiro ano, porque os primeiros seis
252
meses eu paguei. Depois eu ganhei uma bolsa de um ano e pouco, Homero Santos concedia
bolsas... Quando ela estava vencendo eu pensava: “como é que eu continuo?”, daí surgiu a
oportunidade da monitoria. Quando eu recebi o convite do professor para ser monitor, o
primeiro pensamento que veio na cabeça foi: “consegui um jeito de terminar o meu Curso”,
porque eu ia fazer tudo que ele ia mandar pedir, então no momento em que ele me fez o
convite eu aceitei. Praticamente 15 dias depois o professor de Odontopediatria me fez
também um convite. Por coincidência, os dois eram de Araraquara. Eu acabei me
direcionando para a carreira na área de diagnóstico, mas tenho até hoje uma facilidade
muito grande em atender criança.
P: O Senhor olhando esse tempo todo dedicado à Faculdade, como o Senhor se sente, suas
expectativas foram correspondidas? Tem algum fato, algum elemento que o Senhor gostaria
de deixar registrado?
R: Quando essa Faculdade foi criada, as primeiras turmas tiveram uma grande identidade
com a Faculdade. A gente se dedicava muito à Faculdade, a gente entendia as dificuldades
que a Faculdade tinha, o diretor da época, a gente sabia que ele estava fazendo coisas que
não teria necessidades de fazer que é tirar dinheiro do bolso, que é hospedar, dar refeição,
mas ele fazia tudo aquilo em cima de um ideal porque ele sempre falava para a gente: “Isso
vai vingar. Nós vamos fazer aqui a melhor Faculdade de Odontologia do Estado de Minas
Gerais”. Tanto é que os professores que foram chamados no início eram professores de
primeira linha, de primeira qualidade, de primeiro expoente que tinha no Brasil. O
coordenador do curso inicial que veio para cá, o doutor Dioracy Fonterrada Vieira, que foi
o mesmo que idealizou Bauru e fez toda a proposta de Bauru, que também trabalhou em
Diamantina, que fez na época que o Juscelino Kubitscheck criou a Faculdade de
Odontologia de Diamantina o doutor Dioracy também assessorou o pessoal que montou
em Diamantina que foi um projeto, um plano piloto e foi muito parecido com o projeto do
plano piloto de Diamantina que nós fizemos aqui também porque Diamantina formou as
primeiras turmas e as primeiras turmas se formaram os professores da Faculdade, tal qual
aconteceu também em Bauru. A minha turma, quando nós formamos, fizemos doações para
a Faculdade, coisa que turma nenhuma hoje pensa: “o que é que eu vou deixar na
Faculdade?”. Hoje se pensa assim: “o que é que eu vou levar da faculdade?”. Então a
primeira autoclave da Faculdade foi doada pela minha turma, para esterilizar todo o
material, para que pudesse ser marcado como um ato de contribuição, de colaboração para a
Faculdade. Uma autoclave nunca foi barata. Significava um valor grande e nós
conseguimos arrecadarem fundos e doar isso para a Faculdade. Nós doamos um consultório
para a delegacia, para tratar dos presos. Fizemos várias doações onde s achávamos que
ali a Odontologia pudesse ser bem divulgada, bem conhecida.
Com relação a outros aspectos de desenvolvimento, quando a gente isso daqui
hoje no estado em que está, nós participamos desde a criação até hoje porque a primeira
para a Segunda turma a diferença é muito pequena. A primeira turma ingressou em junho
de 1970. Então antes do início das aulas teve uma missa que foi rezada muito próxima de
São João, São Pedro, Santo Antônio e a segunda turma entraram em fevereiro de 1971.
Então todas as dificuldades que foram passadas pela primeira foram passadas pela segunda
turma tanto é que as nossas atividades clínicas começaram juntas quando a POLICLÍNICA
foi inaugurada, que estava no terceiro ano, nós começamos a atividade de atendimento
muito próximas uma da outra. Então quando a gente todo esse crescimento que nós
253
estamos passando, vivenciando, a gente com muito orgulho. O Sr. Vadico que era um
expert em ensino, uma tradição altíssima em conhecimento, na época era chamado reitor do
Colégio Estadual de Uberlândia por um longo período de tempo, tinha trabalhado na
Secretaria do Estado de Minas Gerais na área de educação, tinha uma experiência muito
grande nessa área educacional, ele que não era dentista, era farmacêutico, ganhou as
eleições para ser diretor da Faculdade, cumpriu o mandato de quatro anos, foi quando então
foi implantado o sistema de atendimento através do INPS. Desde então, essas taxas e essas
cobranças que se fazem aos pacientes praticamente ficou restrito. Se me perguntar: “Tem
alguma coisa que se cobra ainda hoje? “Tem”, mas é porque ainda não tem uma
participação total com o sistema e que nós não estamos produzindo aqui. Hoje, o que o
paciente paga aqui é, por exemplo, a armação da prótese facial removível, porque nós não
temos um laboratório para a fundição de armação. Mas isso também será temporário porque
fizemos um projeto para ser aprovado agora, juntamente com a escola técnica de segundo
grau da Universidade, então o curso de técnico em prótese, que nós vamos montar nesse
semestre um laboratório de prótese parcial removível, então, na hora em que esse
laboratório ficar pronto, já teremos o serviço não tendo nenhuma cobrança dos pacientes.
Então, a nossa luta aqui sempre foi oferecer esses serviços sem custo para a população. Não
se pode dizer que é gratuito porque não existe nada gratuito na face da Terra. Alguém está
pagando. Dentro dessa filosofia, nossa instituição talvez seja pioneira no Brasil em relação
a cobranças de pacientes. Nós desde o começo tivemos uma vocação de não onerar a
população na prestação de serviços. No começo achou-se que por estarmos prestando
serviço ao INPS na época, que aquilo pudesse ter uma ingerência muito grande no ensino.
Pelo contrário. Isso facilitou o ensino de uma forma vertiginosa, acelerada, porque na
medida em que as pessoas têm que pagar, ou você paga para o paciente ou o paciente paga.
Alguém tem que pagar. Aqui nunca custou nada para o aluno ou para o paciente. São
poucas as Faculdades que, às vezes, na graduação é permitida tal experiência ao aluno, e
isso já fazemos aqui muitos anos pelo convênio que nós temos, queveio a beneficiar,
a trazer facilidades para o ensino, para a aprendizagem. E, ampliando a oferta de serviços à
população. Nós estamos insistindo nisso e a nossa próxima meta é pactuar com o sistema a
cirurgia ortognática e o implante. Pela nossa história de prestação de serviços ao sistema,
não é alguém que vai chegar para propor o interesse dele hoje que é o implante para
resolver o problema da instituição naquele momento. É uma história de mais de 25 anos de
prestação de serviço ao Sistema. É uma evolução de prestação de serviços dentro do
Sistema tal qual o Governo está hoje propondo nos centros de especialidades
odontológicas, está ampliando essa oferta de serviços à população. O que a gente está
propondo é que sejamos um centro de referência para a execução das cirurgias ortognáticas
que nós fazemos mas ainda temos limitações. E vamos caminhar para os implantes. Se
não conseguirmos num primeiro momento, não vamos desistir não, vamos continuar. Se
nesse momento agora teve algum empecilho, alguma questão que não foi bem
administrada, que não foi bem entendida, não é por isso que a gente deve desistir.
P: Foram várias conquistas, não?
R: Foram várias conquistas.
254
Complemento curricular: Especialização em metodologia do ensino superior, vários cursos
na área de administração universitária, fiz pequenos estágios na área de semiologia na
Estomatologia e agora estou fazendo o mestrado na área de cirurgia voltado para
diagnóstico. Então o trabalho que eu vou desenvolver é sobre câncer bucal.
255
Entrevista nº11, realizada em Uberlândia, dia 02/03/2006.
Entrevistada: Rosa Maria Domiciano Vidal
Nome da Mãe: Amélia Domiciano Vidal, do lar.
Nome do Pai: Amâncio Alcides Frades Vidal, funcionário público.
Local de nascimento: Ituverava SP
Classe social a que pertencia na época em que começou a trabalhar na FOU: classe
média
P: Pergunta
R: Resposta
P: Qual seu tempo de vínculo com a Faculdade de Odontologia?
R: Tenho 29 anos e 5 meses.
P: Qual sua área de atuação atual?
R: Assistente Administrativo
P: Como foi seu percurso escolar?
R: Primário eu cursei em Ituverava na escola Capitão Antonio Justino Faleiros. O ginásio
fiz em Ituverava, vim pra Uberlândia na 5
a
serie acho. E fiz segundo grau completo aqui em
Uberlândia no Colégio Inconfidência.
P: Como foi o começo do trabalho na FOUFU?
R: Foi fácil. Tive dificuldades porque na época eu era menor de idade. O diretor da
faculdade na época, o Sr. Vadico teve que requerer uma autorização do meu pai. Na época
fazíamos o que precisava, não era só trabalhar em um setor. Era carteira assinada.
P: Como foi a carreira profissional?
R: Eu gosto do que eu faço. Eu não quis fazer Curso Superior por opção.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Quando eu entrei ainda não era Federal. Eu vejo como uma coisa boa. Gostaria que mais
pessoas tivessem essa chance de adentrar no Ensino Superior, e em especial na Faculdade
de Odontologia.
256
P: O que significou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
R: Na minha vida profissional a Escola de Odontologia foi tudo. Muita das coisas que eu
aprendi eu devo a Faculdade de Odontologia. Tinha amizades bonitas. Minha vida
profissional está na Odonto.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: foi melhor. A visão de antes era bem melhor que hoje. Hoje a comunidade em si tem
muito mais dificuldades.
P: Você acha que a FOU trouxe alguma modificação em Uberlândia?
R: Creio que sim. Tinha uma época que tinha até atendimento de prótese dental em bairros
periféricos. Realmente, tem certo apoio ao pessoal mais carente. É que muito trabalho não é
visto.
P: Para você a criação da FOU veio atender a interesses de alguém, de quem?
R: Acho que tem o interesse social e o político. Teve influência do Homero Santos. Eu era
muito nova na época.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia em Uberlândia?
R: Antigamente, posso citar o Sr. Vadico, o diretor, o Prof. Laerte, o Prof. Valdemar.
Foram os que marcaram na minha época. Tem uma turma que atua também desde a minha
época, como o Prof. Alfredo, o Prof. Nelson, Prof. Lourival, Prof. Luiz Mario, é difícil
falar, pois tenho medo de ficar alguém pra trás. Tem também a Jesuane, o Prof. Byron.
257
Entrevista nº12, realizada em Uberlândia, dia 02/03/2006.
Entrevistada: Abigail Maria da Silva
Nome da Mãe: Arminda Maria da Silva, do lar.
Nome do Pai: João P. da Silva, eletricista.
Local de nascimento: Santa Vitória MG
Classe social a que pertencia na época em que começou a trabalhar na FOU: classe
baixa
P: Pergunta
R: Resposta
P: Quando foi seu ingresso na FOU?
R: Em 6 de fevereiro de 1979
P: Qual sua área de atuação atual?
R: Sou secretária da área de Dentística
P: Quando você veio para Uberlândia?
R: Vim para Uberlândia em janeiro de 1978.
P: Qual foi seu percurso escolar?
R: Fiz segundo grau com Técnico em Magistério aqui em Uberlândia na Escola Estadual de
Uberlândia. O ginásio fiz em Rio Verde GO, na Escola Estadual Martins Borges, e no
primário freqüentei mais de uma escola, mas a primeira foi o Grupo Escolar Eugênio
Jardim, também em Rio Verde GO.
P: Como foi o começo do trabalho na FOUFU?
R: Foi meio diferente. Era uma outra época. Hoje possuímos equipamentos, antes não. Hoje
é bem melhor, temos acesso a computadores, tudo mais fácil. Antes datilografamos as
fichas na máquina. Quando entramos aqui não nos foi mostrado como deveríamos atuar,
aprendemos tudo na medida em que as situações iam surgindo.
P: Como foi sua carreira profissional?
258
R: Foi muito boa. Fiz atendimento de clínica, depois passei para secretária da Diretoria do
Hospital Odontológico, hoje estou na área de dentística.
P: O que representava para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Na época eu não tinha essa noção, pois quando entrei aqui eu morava em Uberlândia há
pouco tempo. Eu ainda não tinha essa consciência da importância da Faculdade de
Odontologia para Uberlândia. Mas sem dúvida, esse atendimento tem um valor muito
grande para a sociedade uberlandense. Ela contribui muito tanto no campo social como no
campo do conhecimento.
P: Como era visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Disso não me lembro.
P: A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação para a sociedade uberlandense?
R: Com certeza. Hoje a FOUFU tem um papel muito importante no cenário da comunidade
uberlandense. Ela cumpre bem esse papel. Ela tem uma grande representatividade para a
comunidade uberlandense.
P: A criação da Faculdade de Odontologia veio atender a interesses de quem? Para que?
R: Não sei te responder com clareza. Mas acho que hoje podemos perceber que tudo que se
cria e faz normalmente tem a mão do poder político, influencia política. Pode ser que tenha
tido influencia política.
P: Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Não tenho certeza, mas acho que teve participação muito decisiva do deputado na época
Homero Santos.
259
Entrevista nº13, realizada em Uberlândia, dia 11/03/2006.
Entrevistado: Juarez Altafin
Curriculum vitae: Bacharel em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da
Universidade do Brasil; Promotor de Justiça; Juiz de Direito e Juiz Presidente da JCJ da
Justiça do Trabalho em Uberlândia; Juiz Togado do Tribunal Regional do trabalho da
Terceira Região.
Local de nascimento: Uberlândia MG
Nome da mãe: Aida Bernardes Altafin, doméstica.
Nome do Pai: Caetano Altafin, alfaiate
P: Pergunta
R: Resposta
R: O Genésio era o diretor da Engenharia. Fui Juiz de Direito no Prata, antes de ser juiz
federal. Nós éramos muito amigos e ele tinha uma cadeira no quinto ano, e disse “Juarez,
vem dar aula para mim.” Porque não existia naquela época essa titulação acadêmica de
hoje. Para ser nomeado professor, o candidato tinha que ter indicado ou ter feito concursos
na área. Eu tinha feito concursos e gostava de ser advogado. E dei aula por cinco anos na
Faculdade de Engenharia, de Direito ligado a prática. Da mesma forma dei aula 10 anos na
Economia, onde fui diretor, de Direito ligado as Ciências Econômicas. O 5º ano de
Engenharia era uma turma rebelde. E sempre tínhamos uns alunos que davam mais
trabalho. Muitos sentavam onde escreve e punham o onde se senta. Tinha um aluno
metido a saber, que ficava assim a aula toda: “Qual é a lei doutor, qual é a lei?”. Um dia me
deu uma inspiração, e perguntei pra ele: “Qual sua área? E ele disse: “Engenharia
Mecânica”, “Ah, então você deve ser doutor em Física.” Lembrei de uma aula de Física do
ginásio. “muito bem, então qual é a lei da capilaridade?”. Ele ficou parado, e eu disse: “Lei
da capilaridade. A capilaridade é inversamente proporcional ao vaso capilar.” A turma deu
uma vaia nele e até fez um gesto indecente. Agora uma outra coisa, (...) (Fragmento
retirado a pedido do depoente com intuito de não ter tal parte publicada na entrevista).
Neste livro
5
falo de um ofício que fiz para o Ministério. O Homero brigou comigo, quer
dizer, brigou comigo sob um ponto de vista acadêmico, porque ele virou meu amigo, e o
Jacy também, ele virou meu amigo, o Ministério idem, o Rondon - para transferir essas
5
O depoente fala aqui a respeito de um dos inúmeros livros que escreveu. Este de sua autoria intitulado
Primeiros tempos: depoimentos sobre pessoas e fotos do início da Universidade Federal de Uberlândia. Ed.
UFU, Uberlândia, 1997, 154p.
260
Faculdades para Universidade foi o Rondon - o Rondon ajudou muito. Passou, mas não
quiseram mandar mais dinheiro não.
P: passou, para a Universidade e o Estado não enviou mais verba?
R: É...
P: e como o senhor fez sem este repasse de verba? Porque deve ter sido uma luta... porque
ele federalizou e não mandou mais dinheiro...
R: Não é que ele federalizou, não era não... Ele era Governador e ele propôs transformar
essas Faculdades em Universidade, que não era federal ainda... Ou melhor, não era
reconhecida como federal. Então você tem 3 Faculdades do Estado, ele era Governador do
Estado. Por volta de 1960 teve a aula inaugural da Faculdade de Direito, veio um professor
que era diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, eu que o saldei, o
Jacy pediu para eu o saldar. Isso foi numa sexta-feira, na segunda feira começou o Curso, e
eu lecionava TGE. Olha Jacy o problema é o seguinte eu estudei Teoria Geral do Estado no
ano do Curso, eu estudei em curso elitizado. Não era que eu era elite não, pelo contrário
meu pai era alfaiate. Eu estudei na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do
Brasil. E o Jacy falou: Juarez, aqui em Uberlândia também ninguém entende, o Ministério
te aprovou, quebra o galho.
P: O que mais o senhor lembra acerca daquela época?
R: Depois eu fui convidado pra ser diretor da Economia. Fomos eu e o Dr. Régis Simão que
criamos. Em uma solenidade aqui na Universidade eu disse o seguinte: “Fui juiz e
professor, o juiz conserta, o professor cria. Criar é mais gratificante não é?” Quando eu
aposentei da Universidade, grande número dos professores tinham sido meus alunos.
P: O senhor trabalhou quanto tempo aqui na UFU?
R: 27 anos. Na verdade foram 32 anos. 27 foi o tempo que lecionei na Faculdade de
Direito. Mas quando eu fui reitor, eu estava dispensado de dar aula né.
P: O senhor nasceu aqui em Uberlândia?
R: Nasci aqui. Fui criado aqui e depois fui pro Rio estudar. Eu terminei em dezembro meu
curso e em abril eu fiz concurso para promotor de justiça de Minas. Eu tinha um irmão
formado que era médico, e ele disse: Juarez vai ter concurso agora em Minas para
promotor. Então, em abril, eu fiz o concurso, passei e fui nomeado para Estrela do Sul.
Você imagina sair da Praia do Flamengo depois de nove anos de Rio de Janeiro e ir pra
Estrela do Sul.
P: Sua família ficou feliz... Do senhor ter passado, ter conseguido formar...? Porque como o
senhor falou que naquela época era muito elitizado, também era muito difícil? Conseguir
estudar, chegar a formar e ainda passar em um concurso igual ao que o senhor passou?
261
R: Quando cheguei lá em Estrela do Sul, a noite, parei e perguntei: onde fica o melhor hotel
daqui? falaram: hotel? aqui tem é a pensão da Dona Chiquinha, é essa em frente. Lá
eu me casei e fiz carreira como promotor. Mais tarde eu comprei as partes de um imóvel
rural lá, e hoje eu tenho propriedade lá.
P: E como era lá?
R: Tranqüilo, muito tranqüilo. E na minha propriedade eu restaurei uma casa antiga.
Naquela época o circo estava inaugurando e explodindo em Uberlândia, onde a gente atuou.
P: A participação do senhor foi muito importante... Como deu seu vínculo com a
Universidade de Uberlândia?
R: Por meio de um convite do Jacy de Assis inicialmente, quando começou o Curso de
Direito. Ele me convidou para lecionar no primeiro ano. Foi o meu primeiro contato com o
Ensino Superior em Uberlândia.
P: Qual o nome e a profissão de seus pais?
R: Meu pai era alfaiate e minha mãe doméstica, dona de casa. Meu pai era Caetano Altafin,
e minha mãe Aida Bernardes Altafin.
P: Qual seu local de nascimento?
R: Eu morei em Uberlândia até terminar o meu curso no ginásio mineiro de Uberlândia.
Depois eu fui para o Rio de Janeiro, onde eu estudei no Colégio Pedro II, 2 anos no Pré e
onde fiquei, posteriormente, fazendo o Curso de Direito. Depois de formado voltei para o
Triângulo Mineiro de novo, para Estrela do Sul como promotor de justiça. Também fui
promotor em Cabo Verde, que era uma cidade do sul de Minas, e juiz de direito em Cabo
verde, Monte Alegre e Prata, e depois eu fiz concurso para a Justiça Federal. Além de
promotor, eu fui juiz municipal, juiz de direito, e depois juiz do Poder Judiciário da União.
Como juiz eu morei em Monte Alegre, Prata e Cabo Verde. Depois eu fiz concurso para
juiz federal e do Prata eu vim para Uberlândia. E vim residir em Uberlândia em dezembro
de 1959. Em março eu comecei a lecionar na Faculdade de Direito.
P: Qual sua classe social na época da criação da Faculdade de Odontologia?
R: Eu era pobre. Meu pai era alfaiate, um artista. Suponho que ele demorava dois dias para
fazer um paletó. Veio 6 filhos, e o ganho era sempre o mesmo. Mas era pobre mesmo.
Tanto é que quando a gente terminava o primário tinha que fazer o exame de admissão ao
ginásio. Para fazer exame de admissão você tem que estudar dois meses em um colégio
particular. Meu pai não pode pagar esse colégio particular. Então eu fiquei três anos sem
estudar até poder pagar esse colégio particular e fazer um curso de admissão. Eu era pobre
mesmo.
P: O que representava/significava para o senhor ter uma Faculdade de Odontologia em
Uberlândia?
262
R: Nessa época quando eu morava aqui não tinha Faculdade, os dentistas, cirurgiões-
dentistas como eram chamadas não tinham Faculdade. Mas depois ela veio com essa
expressão, porque Uberlândia também já era outra né...
P: Era mais dentistas práticos ou já tinha cirurgião dentista formado aqui naquela época?
R: Acredito que prático...
P: A população tinha condição de ir ao dentista prático?
R: Tinha, tinha... Tinha dentista que atendia, cobrava pouco mas atendia. Agora eu não
posso dizer quais eram os formados naquela época, não tem como dizer quem tinha
Faculdade. Mas que tinha muitos práticos tinha. não posso dizer quem era, também eu
não me lembro, fui menino pro Rio de Janeiro.
P: Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
R: Muito honrada por ter dentistas formados aqui. Apesar de todo ônus ao vir a faculdade,
pois só veio a Faculdade, não veio dinheiro, conforme eu já expliquei.
P: Quais as dificuldades que o senhor teve em relação ao Curso de Odontologia?
R: Dificuldade especificamente eu não tive. Porque conforme consta do meu livro
6
, quando
a Faculdade ficou sem diretor, eu nomeei um pró-tempore, que não era da área, mas era um
bom administrador escolar. E foi um bom administrador acadêmico. Eu sabia que ele ia
atuar bem, como atuou. E depois ficou mais quatro anos como diretor que foi o professor
Osvaldo Vieira Gonçalves, chamado professor Vadico.
P: A escola de odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa, em que?
R: Modificação porque era uma escola superior, muito bem estruturada, que formava
dentistas com nível superior. Da mesma forma que a Faculdade de Medicina está no mesmo
nível de importância nesta área que é muito importante. Foi uma evolução muito grande,
muito boa.
P: Para o senhor, a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de quem?
Para que? Para quem?
R: Individualmente eu não me lembro. Deve ser do povo né.
P: O povo queria uma Faculdade aqui? Achava que precisava? O senhor se lembra de
algum comentário na época em que o senhor era reitor?
6
Novamente o depoente cita seu livro: UFU, Primeiros tempos: depoimentos sobre pessoas e fotos do início
da Universidade Federal de Uberlândia. Publicado em 1997, pela Editora UFU.
263
R: Eu me lembro. Quando foi criada essa Faculdade, ela trouxe muita alegria. É uma
grande Faculdade né.
P: Para o senhor, quem promoveu a criação do Curso de Odontologia?
R: Junto aos outros deve ser Uberlândia né... Não tenha dúvida. Teve bastante repercussão
boa nisso.
P: Há algum fato ou acontecimento que o senhor gostaria de deixar registrado na história da
Faculdade de Odontologia?
R: especificamente eu não lembro. Lembro apenas do que eu coloquei no meu livro que foi
a nomeação do professor Osvaldo Vieira Gonçalves, o professor Vadico para diretor da
Faculdade né. É um fato específico que eu lembro. Da mesma forma que a Faculdade de
Engenharia, de Medicina... Acompanhei várias Faculdades. Particularmente não me recordo
de nada não.
P: A nomeação do professor Vadico foi muito importante para o reconhecimento do curso?
Como era dado esse reconhecimento? Era difícil?
R: O MEC autorizava o Curso, depois para funcionar o MEC tinha que reconhecer, e para
isso olhava se certos requisitos foram cumpridos, como professor, aluno, instalação...
Enfim, tudo aquilo ligado a uma Faculdade. E o MEC era rigoroso. O ensino era muito
elitizado, o curso de Direito... Faço referencia ao reconhecimento de um Curso Superior de
Direito em São Paulo, quanto aos membros Conselho Nacional de Educação que
analisavam. O Primeiro foi contra, porque achava que o Curso estava muito desorganizado
para um curso de Direito. Ele disse o seguinte: “Hoje eu fui a um banco no Rio de Janeiro e
quem me atendeu era formado em Direito.” O outro era favor, dizia que então seria um
funcionário muito bem educado. Era um choque isso e hoje não é mais. Quantas faculdades
de Direito existem aqui em Uberlândia. Eu nem sei. Tanto que antigamente se terminava o
curso de Direito e já se recebia a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil. Hoje tem que
fazer um exame para ser aprovado e os jornais divulgam uma percentagem muito pequena
de aprovados. Pois nem todos têm capacidade de advogar. E os concursos hoje na área
jurídica estão difícil, muitos candidatos. Tanto que os concursos hoje em dia em sua
primeira fase têm prova de múltipla escolha para eliminar, igual vestibular. Depois que
elimina, sim vamos começar o concurso. Quando eu fiz concurso para promotor de
justiça, juiz de direito e juiz federal, não. Já se começava o concurso ali. Quem é que estava
certo então, eu pergunto a você? O que achava que devia ser um curso de respeito ou ao
outro.
P: Eu acho que o que era mais aberto estava mais certo. Inclusive o que queria vetar a
abertura da faculdade ia até ser mais bem atendido, pois a pessoa mais instruída poderia
auxiliá-lo melhor.
R: estudei em outra época. Quando fiz concurso para promotor de justiça havia 200
candidatos.
264
P: o senhor era muito estudioso professor?
R: Não. Freqüentei a melhor faculdade. Mas eu mexi muito com política no Rio de Janeiro.
Pertenci ao Partido Comunista do Brasil, no tempo de Prestes.
Quando eu era estudante de Direito, me convidaram para participar da célula do Partido
Comunista da Faculdade de Direito, e eu participava. Depois passei a pertencer a uma
célula do Flamengo, onde atuava. fui convidado para trabalhar no Comitê Central do
Partido Comunista, eu era estudante, no setor de verificar a linha política do Partido no
Brasil todo. Mas o Partido nesta época era na legalidade. Trabalhei com o Astrogildo
Pereira que foi um dos fundadores do Partido Comunista e que depois cuidou da atuação
ideológica da imprensa no Brasil. Eu auxiliava o comitê central do Partido. Eu não era
estudioso. Tive grandes professores. Quando eu terminei o curso e fiz concurso para
promotor começou uma nova fase da minha vida. Fui para Estrela do Sul. Eu conto isso em
um livro que eu escrevi.
265
Entrevista nº14, realizada em Uberlândia, dia 02/04/2006.
Entrevistado: Governador Rondon Pacheco
Curriculum vitae: Bacharel em Direito
Deputado Estadual
Deputado Federal
Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República – Anos de 1967/1970
Governador do Estado de Minas Gerais – Anos de 1971/1975
Nome do Pai: Raulino Cotta Pacheco
P: Pergunta
R: Resposta
P: Como se encontrava, ou seja, em que momento político estava o Brasil no ano de 1970?
Como foi o contexto político, em 1970, para o senhor?
R: Em 1970, eu estava sobrecarregado com as maiores responsabilidades políticas deste
país. Porque havia recebido uma delegação do Presidente da República daquela época que
era o eminente General Emílio Garrastazu Médici, que me convocou para presidir
nacionalmente o partido que lhe dava sustentação no Governo, no Poder Executivo, e me
delegou uma missão das mais difíceis, das mais complexas do ponto de vista político,
porque fui encarregado de viajar do Acre até Santa Catarina escolhendo os futuros
Governadores do país. Quanto ao Rio Grande Sul, ele me disse na presença do Ministro
Orlando Geisel, que era o irmão do Ernesto que era o Ministro da Guerra, “Dr. Rondon, o
senhor o vai ser Governador, nem Ministro agora, porque o senhor vai escolher os
Governadores do país. Mas, eu quero dizer que para o senhor poder escolher os
Governadores do país o senhor está escolhido. O senhor vai ser o Governador de Minas.
E quero dizer que no Rio Grande do Sul o senhor não precisa ir porque é o meu Estado,
então, eu escolho. Eu sou gaúcho e eu escolho.” Então, eu disse que estava pronto pra
viajar e assumir a presidência da ARENA, e para ajudá-los nesta conjuntura. Mesmo
porque estava o Ministro da Guerra, naquele tempo, era Ministro da Guerra, e não
Exército. Eu e o General que aqui está o Orlando Geisel, vamos transferir esta
responsabilidade pra você porque está muito tumultuada a área militar. Porque tinha
ocorrido disputa interna pela Presidência dentro do Exército aquela época. O outro
candidato era o General Afonso Albuquerque de Lima. O Médici foi o eleito. Mas eles
tinham que organizar tudo dentro né. Senão como ele iria ter sustentação política e
militar, e de segurança, se não organizasse o exército. Assim saí, havia sido escolhido
266
Governador de Minas, mas não contei isso a ninguém, senão estava degolado. Ainda mais
de Minas...Eu estaria degolado pois a competição era muito grande. Então, saí
selecionando, de capital em capital de Estado, e sentindo aqueles nomes adequados para as
votações majoritárias. O Governador era escolhido por eleição indireta pela Assembléia,
mas tinha eleição majoritária entre os senadores. Tinha que escolher dois senadores em
cada Estado. E fomos muito felizes porque conseguimos uma maioria muito expressiva no
Senado e os Governadores parece que foram muito bem escolhidos porque trabalharam em
paz, grandes nomes, alguns até hoje.
P: E em Uberlândia, como o senhor recorda da política Uberlandense em 1970?
R: Em 70, eu me recordo muito da política uberlandense porque nascia algo positivo. E
esses jovens universitários e mesmo os ginasianos tinham uma grande vocação política.
Fui presidente da AESU (Associação dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia), depois
fui estudar em Belo Horizonte. Eu me recordo, em 70 de uma cidade florescente, motivada.
Uma cidade que estava na plenitude das suas realizações. Entre 67/70 eu fui Ministro da
presidência. Eu fui Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República. E o
presidente Costa e Silva, que era o presidente da República, veio em Uberlândia várias
vezes, eu conseguia trazê-lo, e, ele asfaltou a estrada pra Brasília, que foi uma grande
conquista pra Uberlândia, pois cortou muito caminho. Ele criou nossa Universidade. Fiz o
decreto, ele assinou. E eu tinha aquela confiança absoluta no destino de Uberlândia, e,
Uberlândia tinha me confirmado na Câmara Federal. Eu era deputado federal e presidente
da Arena, escolhendo governadores. E os meus contatos, desde que iniciei a vida pública
em 1947, fins de 46, eu tinha muita identidade com meu povo. Eu estava em Belo
Horizonte, onde havia me formado em Direito. Lá já tinha sido deputado constituinte
mineiro, e fiquei na Assembléia, apenas uma legislatura. E, em 1950, me mandaram para a
Câmara Federal. E, em 1951, veio o Getúlio eleito. Eu trabalhando na Câmara, aprendendo
no cotidiano, aprendendo todos os dias. Muito bem entrosado com todos os políticos de
Uberlândia. Com nossa Associação Comercial, ainda não existia o CAMARU, mas
existia a Associação dos Agricultores e Pecuaristas. A Associação dos Motoristas aqui com
Lázaro Chaves, com todos os partidos. PSD e UDN naquela época tinham sido extintos,
mas até 1966, quando os partidos existentes foram extintos, para a criação de outros, para
fazer apenas o bipartidarismo, era o ideal, que já havia naquela época muita legenda de
aluguel. Em 1970, eu estava já com vinte anos de mandato, quer dizer, 23 anos de mandato,
então, eu era um homem que conhecia os bastidores, que o Getúlio chamava de “meu
serpentário de luxo”, ele brincava assim, era a Câmara Federal e o Senado. Estava bem
domesticado né, naquela luta, que é uma luta que vocês não calculam. Muita vaidade, muito
pragmatismo, a luta política. Cada um disputa palmo a palmo as influências do poder. O
país é um continente. Então aprendi, e eu tinha a esperança de ver Uberlândia continuar
florescendo. E em 71, no final de 70, foi um ano marcante pra mim, o ano em que fui
escolhido como Governador do Estado. Fui eleito pela Assembléia e pude dar continuidade
ao trabalho que vinha fazendo como Ministro e como deputado. Trouxe a malha rodoviária
para Uberlândia. E trouxe de Montes Claros, a estrada chegou aqui foi uma surpresa pra
cidade, pois tínhamos aqui uma grande aspiração, que era construir uma ponte sobre o Rio
Araguari para encurtar o caminho, pois era muito difícil, não havia realmente uma
justificativa, e isso era muito caro para a época. Mas quando conseguimos implantar a
rodovia do sal, que vem de Montes Claros para Uberlândia, Montes Claros, Pirapora, Patos
267
de Minas, Patrocínio, Uberlândia, esta rodovia consolidou muito o progresso de
Uberlândia. Como em 1951, como deputado federal tínhamos conseguido as verbas para o
asfaltamento de Uberlândia e Itumbiara, precedeu ao asfaltamento de Belo Horizonte ao
Rio de Janeiro. Eu fiz um projeto de lei para fazer a estrada, o presidente Getúlio Vargas,
achou aquilo no início, dentro da sistemática legislativa, uma aberração. Um projeto isolado
dessa natureza... Mas ele foi de uma sensibilidade política admirável. Ele não sancionou o
projeto, não criaram precedentes, mas também não vetou. Não exerceu o direito do veto
que ele tinha. Então 15 dias depois o projeto tem que voltar ao Congresso, e o presidente do
Senado aprovou o projeto. Era o Café Filho, o vice do Getúlio. Ele promulgou o projeto.
Então uma batalha, com o auxílio de toda uma retaguarda política de Uberlândia, de todos
os seus representantes, das associações de classe, fomos nos organizando, e Uberlândia
mandou uma representação ao Getúlio, que estava passando o verão em Petrópolis, como
ele sempre fazia. A comissão uberlandense ligou e mostrou as razões que justificavam
tudo isso, tendo como principal argumento que durante a Grande Guerra, o Governo
Federal foi obrigado a fazer em Uberlândia a Fundação Brasil Central, para poder arrecadar
toda a produção com transportes especiais essas coisas, e com o abastecimento de gasolina,
porque ela era racionada. E essa estrada em terra que foi uma obra admirável do saudoso
engenheiro Fernando Vilela, estudou em Ouro Preto, veio para Uberlândia e aqui criou
família e tal, era um homem notável. Ele fez esta estrada até Ituiutaba, que era uma estrada
de bancos de areia, era uma viagem penosa, daqui a Ituiutaba você gastava 4 horas. Mas era
a via de comunicação fundamental para a grandeza de Uberlândia. E conseguimos. O
Getúlio teve a sensibilidade e mandou o DNER comprar esse asfalto. O Brasil não produzia
asfalto, pois não tínhamos a Petrobrás. Até o asfalto era importado da Venezuela. Os galões
de asfalto entraram ali na Afonso Pena e foi um foguetório. O Alexandrino Garcia ainda
não era dono da CTBC, mas tinha postos de gasolina, com o foguetinho na mão, soltando
foguete. O Boulange Fonseca, o Juquita da Erlan. Todos eles soltando foguete e o asfalto
chegando. Fizemos o asfaltamento até Itumbiara. Foi um achado para o futuro. Pois
coincidiu depois com a criação de Brasília.
P: Para o senhor quais os acontecimentos que mais marcaram a história da criação da
Universidade de Uberlândia?
R: Olha, o acontecimento mais confortador para a criação desta Universidade foi a unidade
espiritual, intelectual da sociedade uberlandense, no sentido de criar um bloco monolítico
em apoio as Escolas Superiores, que até então vinham sendo formadas. Nós tínhamos...
A primeira Escola criada em Uberlândia foi a Escola de Filosofia do Colégio das Lágrimas,
Madre Ilar, que está viva. Elas tinham sustentáculo, tinha uma freira superior chamada
Madre Rita de Cássia Amarante, mulher notável. Na maior pobreza possível, amealhando
recursos. Então esta vocação que eu senti para a cultura que nós precisávamos, pois criamos
a Escola de Filosofia, depois criamos a Escola de Direito. A Escola de Direito, tenho o
telegrama até hoje, são signatários Jacy de Assis e Gabriel Catistan. Esse era o presidente
da fundação de ensino e o Jacy o diretor em potencial da Escola de Direito, que foi criada e
está lá, mas precisava de reconhecimento. Este é o telegrama que me foi enviado quando da
criação da Faculdade: Cumprimenta referente a Faculdade de Engenharia, Uberlândia fica
devendo ao eminente amigo mais este grande serviço, Abraços Jacy de Assis e Gabriel
Catistan. O que é importante foi essa mobilização de Uberlândia, unindo todas as nossas
forças para o alcance das escolas superiores. Então criamos a Escola lá no setor federal, a 2
a
268
Escola que foi a Escola de Direito, depois veio o conservatório de música. Depois veio a
Escola de Ciências Econômicas, cujo primeiro diretor foi o Juiz Juarez Altafin, e
começamos a batalha pela Escola de Engenharia, pois nós precisávamos que a
Universidade tivesse 5 escolas integrantes. Sem as 5 Escolas não tinha Universidade, isto
está na lei. Então, mas nós queríamos uma Universidade reconhecida federal, e para se criar
uma universidade federal, era necessário ter uma Escola Oficial do Governo. O Juscelino
estava na presidência da República, em 1956, e mandou para o Congresso uma mensagem
criando uma Escola Agrotécnica, em Bambúi, em Minas Gerais. Os deputados não tinham
o poder de iniciativa, para organizar a estrutura de uma Escola. Mas tinham o poder de
emenda do projeto ao presidente. Eu não tive dúvida, emendei o projeto do Juscelino. Onde
estava “uma escola agrotécnica em Bambuí” e coloquei “e uma Escola de Engenharia em
Uberlândia, Minas Gerais”. Veja o senso de oportunidade e o senso político, pois ia ficar
muito mal pro Juscelino em criar uma Escola Agrotécnica em Bambuí e recusar uma Escola
de Engenharia em uma das grandes cidades e com várias escolas superiores. Faltava a
Engenharia para que se transformasse em Universidade. Vejam vocês a importância dos
fatos, a coincidência e a convergência. Era presidente da Comissão de Justiça o deputado
Tarso Dutra, do Rio Grande do Sul. Ele levanta-se da cadeira presidencial e diz: “você não
vai sozinho, você vai me permitir pegar uma garupa”. Pois ela estava oportuníssima, e o
Juscelino não pode recusar isso. E ele colocou: “Uberlândia e a Faculdade de Engenharia
em Santa Maria no Rio Grande do Sul.” Que 5 anos depois quando da criação da
Universidade eu era Ministro da presidência da casa civil e o Tarso Dutra era Ministro da
Educação. Então, fizemos como foram criadas juntas, as duas, a de Uberlândia e a de Santa
Maria, vieram a constituir o projeto da Universidade. O projeto da Universidade era
Uberlândia e Santa Maria e o presidente da república era do Rio Grande do Sul e o Tarso
Dutra Ministro da Educação. Então eu tenho a fotografia, inclusive na hora que o presidente
assinou a criação da Universidade de Uberlândia e Santa Maria, eu dando a ele o decreto, e
eu digo isso a vocês in off, que aqui corria um boato que tinha chegado um decreto de
Santa Maria e eu acrescentei Uberlândia. Foi justamente o contrário. Desde o nascimento.
Então, Daniel Grila, Presidente da ARENA naquela época, que tinha contribuído muito
para eleger o presidente do Rio Grande do Sul, Tarso Dutra Ministro da Educação do Rio
Grande do Sul e eu de Minas Gerais, Ministro da Presidência. Foi assinado o decreto da
universidade, criando a universidade de Uberlândia. No próprio decreto colocamos que o
diretor da Faculdade de Engenharia seria o primeiro Reitor. Ela era a semente. Era o
Genésio de Melo Pereira, dono destas granjas e grande empresário de Uberlândia. E assim
foi criada a Universidade.
P: E em relação à Faculdade de Odontologia, quais foram os fatos mais marcantes na
formação da Faculdade?
R: Eu acho que foi o seguinte, quando ela surgiu no plano estadual, em um Estado muito
carente de recursos. E esse programa de Ensino Superior realmente é um programa federal.
A Escola estava criada com grandes problemas. Eu tive a honra e a graça de chegar ao
Governo e bateram logo as portas dizendo da situação da Escola de Odontologia. E como
tinha um “knowhow” das outras Escolas, a Escola de Odontologia era uma Escola
fundamental, que atende uma grande gama. naquela época, o dentista era um homem
muito solicitado. Todo mundo precisa de dentista. Eu me lembro que eu comprei 50
gabinetes dentários e mandei vir pra cá. Estava na direção da escola, o professor Osvaldo
269
Vieira Gonçalves, que era farmacêutico formado, tinha sido diretor do Museu, a Escola
Estadual, e agora estava na direção da Faculdade. Foi até aquele impacto, mas consolidava
a Escola e ela incorporou à Universidade.
P: Ela era uma Autarquia? Era a única de Minas?
R: Isso multiplica, pois na hora que se cria uma as outras pegam garupa.
P: Sr. Rondon, o que o senhor acha da importância de se implantar uma Faculdade de
Odontologia em Uberlândia?
R: Ah, é muito grande. Todo mundo tem dente podre. Você não sabe a falta que faz isso (o
entrevistado retirou e mostrou seus óculos) pro povo, na hora de votar, quando era aquela
cédula que tinha que ler e assinar o nome, a falta que faz uns óculos, principalmente de
mais idade. Então a gente tem que ter sensibilidade para as Escolas básicas e suas
iniciativas. Odontologia era uma Escola muito necessária, e aconteceu que tivemos
inclusive que transferir como Governador, Escolas que estavam em municípios menores
também para Universidade. Transferir uma escola de uma cidade para outra pois a cidade
originária não tinha condições, precisava de arte e coragem para fazer um ato deste. E
trouxemos outras Escolas, Veterinária, por exemplo. E Uberlândia organizou sua pirâmide
cultural que é nossa Universidade.
P: Como foi idealizada a Escola de Ensino Superior de Uberlândia? Quem lhe pediu ajuda
para implantar tal projeto?
R: Olha a primeira escola de Ensino Superior, os telegramas que eu recebia lá eram do Jacy
de Assis, do Homero Santos, da Câmara Municipal, da Associação Comercial, da
Associação Ruralista, era uma voz vibrante e eloqüente de toda a cidade. Mas tinha suas
lideranças: Jacy de Assis, Domingos Pimentel de Ulhoa, José Olimpio Azevedo que é
irmão do atual secretário de educação, do Afranio, eram homens apaixonadores, Dr. João
Martins, José Ribeiro, meu concunhado, morreu 2 meses. Foi uma luta empolgante.
Agora, as Escolas até então existentes, como nosso Ginásio Estadual, ele tinha sido um
celeiro de vocações, nomes de peso como Amadeu Cury, família de Guaxupé que veio para
Uberlândia, ele tem um dos currículos mais ricos do mundo científico brasileiro, ele era
cientista de Manguinhos, outra pessoa era o Adib Jatene, o Ataíde Ribeiro da Silva.
Brilharam fora... Rocheda Vintiseba, que criou uma Escola de Medicina em Valença no
Estado do Rio, e outros que saíram daqui. O Amadeu veio a ser reitor da Universidade de
Brasília. Que é uma universidade pioneira também. Das vocações que surgiram nesta
cidade, Domingos Pimentel de Ulhoa era uma das criaturas mais brilhantes, médico,
pediatra, presidente da Associação dos Médicos também era. Lembrar todos os nomes é
difícil, a gente pode ir citando e esquecer algum. O Fausto Gonzaga de Freitas estava nesta
luta, o José Olimpio, Jose Bonifacio Ribeiro. Eu vinha muito a Uberlândia, pois eu estava
pra ser potencialmente Ministro, mas saiu na imprensa, porque tudo sai na imprensa não sei
como, que um possível Ministro do futuro Governo será o deputado Rondon Pacheco, então
minha casa enchia. Eu me lembro que eram numerosas as comissões e muito forte a
aspiração de Uberlândia em uma Escola Superior, que mesmo porque na realidade havia até
uma frustração porque em Uberaba já tinha as Escolas do deputado Mário Palmério né.
270
Mas eram particulares. E Uberlândia quis acompanhar o ritmo. Ajudamos assim a criar as
Escolas de Uberlândia. Quero exaltar e lembrar de um nome que foi o Presidente Costa e
Silva. O Genésio chegava na Casa Civil para tratar da Escola de Engenharia, e eu o
levava ao Presidente. Até abusava um pouco pois a agenda dele era carregada. Então, o
presidente perguntava a ele como estava a escola de Medicina em Uberlândia e ele dizia:
“Mas presidente, eu sou é da Escola de Engenharia.” E o presidente falava: “Mas eu estou
preocupado com a Escola de Medicina.” Para eles uma Escola de Medicina era muito mais
difícil de se cuidar, pois é hospital, cadáver, maternidade. Conseguir isenção alfandegária,
pois precisava de aparelhos sofisticados. Tive que topar várias paradas com o Ministro da
Fazenda pois o inspetor deles não deixava o material entrar, ficava parado em Santos.
Tinha que pagar os direitos de importação e a Escola não tinha dinheiro, mas como era
assunto relevante não pagava. Mas o inspetor não se conformava.
P: Quais as dificuldades encontradas e quais foram os maiores colaboradores para
efetivação do projeto da Autarquia Estadual de Uberlândia, especificamente, a
Odontologia?
R: A Odontologia foi uma iniciativa da Assembléia Mineira do Deputado Homero Santos,
sempre com a ressalva do Governador de que o Estado não tinha muitos recursos, os
entreveros com o Israel Pinheiro foram muito trabalhosos no sentido de criar um precedente
de Escola Superior como Odontologia para Uberlândia. Mas deu tudo certo e a Escola foi
instalada. E os fatos ajudaram, pois quando tivemos que aparelhar a Escola, eu estava com
o Governador e na verdade não podíamos deixar o cavalo no meio do caminho, seria uma
covardia.
P: Como foi a inauguração da policlínica da Odontologia a qual te homenageou nomeando-
a como policlínica odontológica Rondon Pacheco?
R: Eu me lembro que foi um movimento coletivo. O professor Osvaldo Vieira ficou muito
reconhecido, tantos gabinetes dentários. Mas acho que foi uma obra de conjunto. Não
podemos nos esquecer de um trabalho de um Domingos Pimentel de Ulhõa, de Jose
Olimpio de Freitas Azevedo, de Jose Bonifácio Ribeiro, Dr. João Fernandes, cunhado do
Alair Martins, puseram até um busto pra ele ali na Escola, eu fui lá. Então este é um
trabalho que ninguém pode reivindicar. É um trabalho de conjunto, uma soma. E tivemos a
felicidade de termos os instrumentos, porque a política, a virtude dela é essa, é aquilo que
você consegue fazer que sozinho você o conseguiria. É um instrumento do poder. A
pessoa leiga é colocada naquela posição, mas o instrumento do poder é que tem a força
magnética, a força decisiva. E por isso é a grande sedução da vida pública. Juscelino jamais
faria Brasília sozinho.
P: Qual o significado/representação dessa Escola Superior de Odontologia para a cidade de
Uberlândia?
R: Eu acho que foi muito expressiva. Eu tenho um irmão aqui em Uberlândia, um senhor
muito representativo na Odontologia que é o Sr. Márcio Pacheco, formado em Ribeirão
Preto. Antes tinha que ir para Ribeirão. Ele foi um dos entusiastas da Escola de
Odontologia. Lembro-me de tantos dentistas. Tinha um da família Luz, o Índio Luz, o
271
Laerte, você vai encontrar na sua tese o nome deles. O Genésio Melo da Engenharia, o Jacy
de Assis, sempre tem um que se esforça mais. O Laerte Alvarenga Figueiredo foi para a
Odontologia o que o Genésio de Melo Pereira foi pra Engenharia.
P: A quem e quais interesses a instalação da faculdade de Odontologia estaria atendendo no
contexto histórico e político daquela época?
R: Nesse sentido, eu acho que foi um fato natural, é a força da natureza nas coisas. A
cidade cresceu. Havia mercado para a existência de uma escola. Uberlândia era uma cidade
polo. Aqui no meu prédio tem vários estudantes de Odontologia. É a necessidade. É o fato
social mesmo. Agora, eu também ajudei muito em Ituiutaba. Eu era Ministro da Casa Civil,
e levei um professor de Ituiutaba para o meu gabinete chamado Antonio Castillo, e ele era
professor das Escolas de Ituiutaba. Foi um esforço para a construção das Escolas de
Ituiutaba e assim, é fazer o bem sem olhar a quem.
272
Entrevista nº15, realizada em Uberlândia, dia 29/04/2006.
Entrevistada: Nazaré Aparecida Massariolli
Nível escolar atual: 2º grau incompleto
Data de nascimento: 03/04/1957
Nome da Mãe: Olga de Oliveira Massariolli
Nome do Pai: Valdemar Massariolli
Local de nascimento: Uberlândia MG
Classe social a que pertencia em 1970: classe baixa
Profissão atual: Serviços Gerais
P: Pergunta
R: Resposta
P: Em que ano você recebeu atendimento na policlínica da UFU?
R: No ano de 1974. Naquela época eu era estudante, estava terminando o 1º grau.
P: Como você ficou sabendo da possibilidade de receber tratamento odontológico naquela
policlínica?
R: Através da minha mãe. Nós duas procuramos a clínica e começamos o atendimento.
Minha mãe também foi atendida lá e alguns parentes também.
P: Você pagou algum valor pelo tratamento? Se sim, qual foi? Era elevado?
R: Sim, o tratamento foi pago. Paguei os raios-X, canais. Não me lembro o valor exato.
P: Que tipo de tratamento você fez? Que tipo de tratamentos eram oferecidos?
R: Eu fiz obturações e canal. Acho que foi só. Mas todos os tipos de tratamento eram
oferecidos pela clínica. Inclusive eu fiz peças protéticas e restaurações metálicas com ouro.
O ouro era eu mesma quem levava, e eles colocavam.
P: Quem te atendeu? Foram alunos? Atendiam em dupla?
R: Fui atendida o tempo todo por alunos. Eles atendiam individualmente. Não me lembro o
nome de quem me atendeu, mas me lembro de um aluno que agora é dentista e era aluno
naquela época, o Dr. Washington, inclusive o consultório dele é aqui perto no Roosevelt.
273
P: A senhora ficou satisfeita com o atendimento? Foi bem atendida? Corresponderam as
suas expectativas?
R: Fiquei satisfeita com o atendimento. Fui muito bem atendida. Corresponderam as
minhas expectativas.
P: E os outros pacientes pertenciam a qual classe social na época, rica média ou baixa?
R: Eles eram de classe baixa.
P: O que representou/significou a criação da Faculdade de Odontologia para você?
Modificou alguma coisa para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Não tem como eu saber. A existência da faculdade ajudou bastante, principalmente no
tratamento.
P:Algum dos seus familiares e conhecidos também receberam tratamento na policlínica da
Odontologia?
R: Sim. Fizeram obturações, canal, prótese. Dentaduras também. Minha mãe mesmo fez
tratamento lá.
P: Como a comunidade uberlandense via: 1º) A Faculdade de Odontologia 2º) Os dentistas
da cidade 3º) os alunos da Escola de Odontologia?
R: Todos acharam bom. Aqui tinha muitos dentistas que não eram formados e atuavam.
Então, a população passou a freqüentar a Policlinica ao invés de procurar os dentistas não
formados. Já os alunos eram bem aceitos pela sociedade.
P: Tem algum acontecimento/notícia que você viu ou ouviu falar da Faculdade de
Odontologia que te chamou a atenção na época da década de 70?
R: Não que eu me lembre.
P: O que representou para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
R: Ajudou muito o pessoal da classe média e baixa, principalmente naquela época. O
tratamento era acessível. Gostei muito do tratamento que fiz. Inclusive o tenho até hoje.
274
ANEXO XVI – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO
Questionário direcionado aos ex-alunos das primeiras turmas de Odontologia da FOU
(1973-1978).
1º. Etapa: Qualificação do entrevistado
a) Nome;
b) Nome e profissão dos pais;
c) Local de nascimento, local de moradia e classe social em 1970;
d) Percurso escolar desde o início das atividades escolares até o ingresso na FOU.
2º. Etapa: Questionário acerca da FOU.
e) Depois de formado como foi o ingresso no mercado de trabalho correspondeu às
suas expectativas?
f) O que representava para o senhor ter uma Faculdade de Odontologia em
Uberlândia?
g) O que significou/representou a Escola de Odontologia em sua vida profissional?
h) O que significou/representou o Curso de Odontologia para você?
i) Para sua família, como foi visto o Curso de Odontologia?
j) Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
k) A Escola de Odontologia trouxe alguma modificação na sociedade uberlandense?
Modificou alguma coisa? Em que?
l) Para o senhor a criação da Escola de Odontologia veio atender a interesses de
quem? Para que? Para quem?
m) Para o senhor quem promoveu a criação do curso de Odontologia?
Questionário direcionado as funcionárias
1ª. Etapa: Qualificação do entrevistado
a) Nome;
b) Nome e profissão dos pais;
c) Local de nascimento;
d) Classe social a que pertencia em 1970;
e) Qual o tempo de vínculo com a Faculdade de Odontologia;
f) Qual sua área de atuação;
g) Como foi o percurso escolar.
2ª. Etapa: Questionário acerca da FOU
h) Como foi o começo do trabalho na FOU?
i) Como foi a carreira profissional?
j) O que representava, para você, ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
k) O que significou a Escola de Odontologia na sua vida profissional?
l) Como foi visto o Curso de Odontologia pela comunidade uberlandense?
m) Você acha que a FOU trouxe alguma modificação em Uberlândia?
n) Para você, a criação da FOU veio atender a interesses de alguém, de quem?
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o) Quem promoveu a criação do Curso de Odontologia em Uberlândia?
Questionário direcionado a ex-paciente da Policlínica nos seus primeiros tempos
1ª. Etapa: Qualificação do entrevistado
a) Nome;
b) Nível de escolaridade atual;
c) Data de nascimento;
d) Nome e profissão dos pais;
e) Local de nascimento;
f) Classe social em 1970;
g) Profissão atual.
2ª. Etapa: Questionamento acerca da FOU
h) Em que ano você recebeu atendimento na Policlínica da FOU? Como você ficou
sabendo da possibilidade de receber tratamento odontológico naquela Policlínica?
i) Você pagou algum valor pelo tratamento? Se sim, qual foi? Era elevado?
j) Que tipo de tratamento você fez? Que tipo de tratamentos eram oferecidos?
k) Quem te atendeu? Foram alunos? Atendiam em dupla?
l) A senhora ficou satisfeita com o atendimento? Foi bem atendida? Corresponderam
as suas expectativas?
m) E os outros pacientes pertenciam a qual classe social?
n) O que representou/significou a criação da FOU para você? Modificou alguma coisa
para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
o) Algum dos seus familiares e conhecidos também recebeu tratamento na Policlínica
da Odontologia?
p) Como a comunidade uberlandense via: 1º) A Faculdade de Odontologia, 2º) Os
dentistas da cidade e 3º) os alunos da Escola de Odontologia?
q) Tem alguns acontecimento/notícia que você viu ou ouviu falar da FOU que te
chamou atenção, na época de 1970?
r) O que representou para você ter uma Faculdade de Odontologia em Uberlândia?
Os questionários direcionados ao ex-Reitor da UnU, Juarez Altafin e aos políticos Homero
Santos e Rondon Pacheco, foram formulados orientados pelas questões apresentadas acima,
porém, adaptados de acordo com a disponibilidade de tempo de cada um, e, relacionando as
perguntas ao cargo exercido e a participação administrativo-política do depoente, no
contexto da criação da Faculdade de Odontologia de Uberlândia.
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