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e de sua reprodução um período de incubação, nesse caso, entra em relação com a esfera das
representações. Na citação abaixo, Wallon explica com clareza esta questão, ao afirmar que a
criança
não imita senão pessoas por quem se sente profundamente atraída ou senão
que a cativam. No âmago das suas imitações, existe amor, admiração e
também rivalidade, porquanto o seu desejo de participação se transforma
rapidamente em desejo de substituição; muitas vezes, até coexistem os dois,
inspirando-lhe para com o modelo um sentimento ambivalente de submissão
e revolta, de tímido fideísmo e de depreciação (WALLON, 1995, p.162).
Ao retratarmos o tônus muscular, apontamos as especificidades da linguagem
corporal, qual seja, a expressão emocional. Como ressalta Galvão (2003, p.69), uma
característica da psicogenética walloniana é dar ênfase “à motricidade expressiva, isto é, à
dimensão afetiva do movimento, como mostram os estudos sobre as emoções”. Por meio do
corpo expressamos o que estamos sentindo, o que pode ou não ser consciente. Ao ficarmos
com a face vermelha, por exemplo, em uma situação de constrangimento, comunicamos algo,
que pode ser interpretado de diferentes maneiras, pois, implicam significados, ou seja, a
linguagem corporal é cheia de expressão emocional, a qual só é compreendida no contexto em
que se realiza, deve ser vista de forma concreta e, contextualizada nas relações que
mobilizaram a flutuação tônica, como afirma Wallon (1975a). É válido destacar que o corpo
possui uma linguagem que tem particularidades que precisamos compreender. Nosso corpo
não mente, por mais que tentemos com as palavras, nosso corpo expressa-nos de forma a
retratar o que somos e sentimos e, por mais que esta dimensão da linguagem corporal seja
negada, ela marca nossa vida.
Corroboramos Reich (2001), ao enfatizar que nosso corpo revela o que realmente
estamos sentindo, o que somos. É nele que registramos as marcas dos nossos conflitos,
medos, vergonhas, conquistas, enfim, nossa história. Na criança, essa linguagem é ainda mais
aflorada, a criança é o seu corpo. As pessoas nos comunicam muitas coisas verbalmente, mas,
segundo Reich (2001a), devemos prestar atenção em como as pessoas nos falam, nesse caso, a
atenção ao corpo torna-se a grande aliado na compreensão do indivíduo. Ressaltamos,
portanto, a riqueza comunicativa do movimento. O corpo revela muito sobre a criança,
algumas vezes, mais que a linguagem verbal. Não se trata de forma alguma da desvalorização
da expressão verbal na interação com a criança pequena, mas, sim, de ampliar essa relação,
valorizando também o movimento corporal como uma forma de comunicação não verbal.
Portanto, é por meio da interação com seus pares, nesse contexto sócio-cultural, que a
criança constitui sua linguagem corporal, pois o movimento, os gestos, também vão ganhando