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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
REGENTES DE CORAIS EVANGÉLICOS: FORMAÇÃO E
EDUCAÇÃO VOCAL DE CORALISTAS
TATIANE GUIMARÃES SCHLEIFER
Piracicaba, SP
2006
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REGENTES DE CORAIS EVANGÉLICOS: FORMAÇÃO E
EDUCAÇÃO VOCAL DE CORALISTAS
TATIANE GUIMARÃES SCHLEIFER
Profª. Dr.ª Cristina Broglia Feitosa de Lacerda
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP
como exigência para obtenção do título de Mestre em
Educação.
Piracicaba, SP
2006
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BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Cristina Broglia Feitosa de Lacerda
____________________________
Anna Maria Lunardi Padilha
___________________________
Lucia Figueiredo Mourão
AGRADECIMENTOS
À minha família que sempre demonstrou apoio em todos os momentos dessa
trajetória e que acreditou em meu crescimento profissional.
À querida “co-orientadora” Prof.ª Drª. Lucia F. Mourão por ter me ajudado logo
no início, quando ainda não sabia como seguir meu caminho, à minha grande
admiração.
À orientadora Prof.ª Drª. Cristina B. F. de Lacerda todo meu agradecimento por
ter me conduzido ao fim dessa trajetória.
À amiga Prof.ª Drª. Vânia Casseb Galvão pelas palavras de otimismo nos
momentos difíceis e por muito contribuir com sugestões e idéias para meu trabalho.
Aos professores e pesquisadores que, ao longo desse período, auxiliaram-me de
algum modo para conclusão do trabalho.
Às professoras do PPGE que nos receberam e nos acolheram com todo carinho.
Aos meus amigos, próximos ou distantes, que sempre me ofereceram momentos
de alegria e de apoio incondicional.
RESUMO
A atividade do canto coral em instituições religiosas pode configurar-se como
um cenário de educação não-formal, já que consiste na socialização dos cantores
proporcionando lazer, educação vocal/musical e resgate cultural, sem regras rígidas e
cobranças de desempenho dos coralistas. Contudo, existem requisitos mínimos para que
esta atividade apresente qualidade musical, preserve a voz dos integrantes e seja
agradável aos ouvidos daqueles que os assistem.
Muitos coralistas religiosos são despreparados para cantar de modo saudável e,
sendo o regente o condutor do grupo, seu conhecimento para realizar o exercício da
regência é fundamental para o bom andamento do trabalho e saúde vocal dos
participantes. Neste sentido, torna-se importante compreender seu papel dentro de corais
religiosos. Para tal, foram realizadas entrevistas com regentes de corais evangélicos da
Igreja Assembléia de Deus e nos depoimentos coletados foi possível identificar que ele
é o profissional responsável pela técnica e cuidados vocais dos coralistas, mas que faz
isso de forma secundária, já que a valorização maior está em seu papel de líder de um
grupo de fiéis, reconhecendo o coral como um canteiro de amizades, recreação e, acima
de tudo, prática da fé. Tais práticas merecem mais atenção, já que a saúde vocal e a
saúde geral dos participantes podem ser comprometidas por ações pouco cuidadosas
com a atividade de cantar.
Palavras-chave: educação não-formal, canto coral, voz, igreja evangélica.
ABSTRACT
The choral singing activity in religion institutions can be characterized as an
informal education scenario as it consists in the socialization of singers. It provides
recreation, vocal and musical education, and cultural redeem without rigid norms and
performance from the singers. Nevertheless, this activity demands some requirements to
present quality music. The voice of the singers needs to be preserved, so the ones who
watch can be pleased. Many religion Chorals are not well prepared to sing healthily. For
being the conductor of the group the regent’s knowledge is essential for the success of
the work and to the participant’s vocal health. In this sense, it is important to
comprehend his role in religion’s Chorals. Interviews where done with regents from
Assemblies of God, and it was possible to identify their responsibility for the techniques
and vocal performance of the singers, but the regents most important role is as a leader
of a group of followers. They use the Choral activity to approach friends, as recreation
and above all, faith’s practice. Such practices deserve more attention as the vocal health
and overall health of the participants can be jeopardized by actions with little care.
Key-word: Non formal education, choral sing, voice, Evangelist church
SUMÁRIO
Introdução...........................................................................................................1
Capítulo 1-Educação não-formal........................................................................3
1.1-Canto coral...................................................................................................6
1.2-Aspectos fonoaudiológicos da voz cantada.................................................10
1.3-Educação vocal de corais religiosos............................................................16
Capítulo 2-A igreja Assembléia de Deus...........................................................24
2.1-Corais evangélicos.......................................................................................28
2.2-O exercício da regência...............................................................................33
Capítulo 3-Materiais e Métodos........................................................................39
Capítulo 4-Análise das entrevistas e Discussão.................................................41
Capítulo 5-Considerações Finais.......................................................................56
Referências Bibliográficas................................................................................59
Anexos..............................................................................................................63
1
Introdução
O canto nas igrejas se faz tradicionalmente pela música sacra referindo-se ao que
é sagrado e venerável. Em princípio, a música sacra é considerada erudita com
características bem estruturadas e rigorosas nos textos e arranjos. Porém, esse estilo
musical tem tomado, nos dias atuais, uma roupagem diferenciada com o intuito de
alcançar um conjunto mais amplo de fiéis. Por isso, é comum encontrar em algumas
igrejas diversos estilos como rock, pop, funk associados às mensagens do texto bíblico,
conforme é observado no trabalho de Silva (2001).
Nas igrejas, um modo corrente de apresentação das músicas são os grupos de
louvor e corais. Tais grupos destinam-se à divulgação da fé e dos textos bíblicos,
reforçando a doutrina ou crença que é propagada de acordo com a determinação
religiosa.
Geralmente, corais profissionais recebem remuneração e são exemplificados
pelos corais de teatros municipais e corais sinfônicos mantidos pelo estado. Os corais
profissionais são regidos por profissionais formados para esta função e despendem
muitas horas semanais em ensaios e aperfeiçoamento de técnicas almejando
apresentações bastante qualificadas.
É comum encontrarmos corais amadores, organizados em coros de escolas,
universidades, empresas, igrejas e clubes em geral como forma de lazer para seus
participantes. Tais corais, em geral, contam com regentes também amadores que não
possuem suficiente preparação para exercer tal função, podendo prejudicar por vezes os
integrantes do coro, por seu desconhecimento sobre canto ou cuidados com a voz.
Atualmente, vem sendo cada vez mais freqüente o surgimento de corais nas
igrejas evangélicas, já que a prática do canto é muito valorizada por este grupo. Muitos
2
corais são formados sem qualquer cuidado e os regentes, em geral, são pessoas sem
formação em regência, podendo esta prática gerar problemas para os participantes. O
presente estudo objetiva conhecer melhor esta realidade, buscando compreender o
trabalho do regente nestes corais. A Igreja Assembléia de Deus foi escolhida como local
para o desenvolvimento da pesquisa pelo fato de ser uma igreja de grande proliferação e
várias outras igrejas evangélicas terem posturas semelhantes em relação aos costumes e
atividades de canto desta igreja.
Para tal, no primeiro capítulo serão abordados aspectos da educação não-formal,
prática que de certa forma é desenvolvida nos corais evangélicos, as principais
características do canto coral e aspectos fonoaudiológicos relativos aos cuidados,
preparação e alterações da voz cantada.
O segundo capítulo focalizará o histórico e características da igreja evangélica
Assembléia de Deus, destacando o papel do coral evangélico. Além disso, serão trazidos
estudos que discutem o exercício da regência em corais religiosos.
No capítulo 3 apresentaremos os materiais e métodos envolvidos para as
entrevistas realizadas com regentes de corais evangélicos objetivando melhor conhecer
sua prática e papel nos corais religiosos. No capítulo 4 serão apresentadas as análises de
trechos das entrevistas e em seguida as considerações finais buscando refletir sobre o
cenário em que ocorre o trabalho do regente em corais e, os efeitos do canto coral na
qualidade de vida e saúde dos integrantes que utilizam a voz com intuito de reforçar a
sua fé.
3
CAPÍTULO 1
1. Educação não-formal
O tema educação é bastante abrangente e foi escolhido para esse estudo uma vez
que se enquadra, de modo pertinente, nas experiências de educação vocal vivenciadas
nos corais religiosos. Definir educação não é tarefa fácil pela amplitude e modos
diversificados de compreendê-la. Contudo, encontrei nas palavras de Gohn (2001) um
conceito bastante interessante quanto a esse tema:
[...] a educação é abordada enquanto forma de
ensino/aprendizagem adquirida ao longo da vida dos cidadãos; pela
leitura, interpretação e assimilação dos fatos, eventos e
acontecimentos que os indivíduos fazem, de forma isolada ou em
contato com grupos e organizações
(p. 98).
Considero o trabalho de educação vocal de regentes com coralistas evangélicos
um processo de educação não-formal já que acontece fora da escola, mas que de certa
forma instrui para uma tarefa específica, a saber, o canto coral. Para tanto, o referencial
teórico para o presente estudo subsidiou-se em autores que focalizam a educação não-
formal entendida como situação de aprendizagem por meio de um mediador, em que
não há rigidez de conteúdo programático, nem do desempenho do aluno, uma vez que o
trabalho coletivo é priorizado visando o desenvolvimento do sujeito. Ainda, privilegia-
se a função de integração e socialização dos indivíduos considerando-se que o momento
da aprendizagem implica um papel potencialmente socializador.
Para Gohn (2001), a educação não-formal envolve “ações e práticas coletivas
organizadas em movimentos, organizações e associações sociais” (p.100). A autora
relata que esta abrange quatro campos: aprendizagem política dos direitos dos
4
indivíduos, capacitação para o trabalho, a organização com objetivos comunitários
relacionados à solução de problemas coletivos e por fim, a aprendizagem dos conteúdos
da escolarização formal. Considera ainda educação não-formal a educação desenvolvida
na e pela mídia e a educação para a vida, ou seja, a arte de viver bem. É neste âmbito
que entendemos que a prática de canto coral em instituições religiosas pode configurar-
se como educação não-formal: aprender a cantar com pares orientados por um regente,
para melhorar a qualidade de vida, ter prazer e louvar a Deus.
A educação não-formal diferencia-se da educação formal e da educação
informal. Da primeira porque se entende que formal é o aprendizado que ocorre dentro
das escolas convencionais, ou melhor, oficiais e, da segunda, porque se refere ao
aprendizado natural e espontâneo ao longo da vida de um sujeito como nas situações
familiares e sociais em que não existe intencionalidade no aprendizado.
De acordo com a autora, são variados os espaços nos quais se pratica a educação
não-formal como nas associações de bairro, nas igrejas, nos sindicatos, nas
Organizações Não-Governamentais (ONGs), nos espaços culturais e até nas próprias
escolas. Ao caracterizar a educação não-formal, descreve que o tempo de aprendizagem
não é fixado, respeita-se a capacidade de absorção de conteúdo de cada sujeito e há
flexibilidade no conteúdo ministrado que segue os objetivos de cada grupo envolvido no
processo de ensino-aprendizagem. Gohn afirma que:
[...] a educação não-formal tem sempre um caráter coletivo,
passa por um processo de ação grupal, é vivida como práxis concreta
de um grupo, ainda que o resultado do que se aprende seja absorvido
individualmente. O processo ocorre a partir das relações sociais,
mediadas por agentes assessores e, é profundamente marcado por
elementos de intersubjetidade à medida que os mediadores
desempenham o papel de comunicadores
(p. 104).
5
Uma questão que necessita de sistematização mais aprofundada refere-se à
abordagem metodológica na educação não-formal que se encontra mais organizada em
relatos orais que na palavra escrita. Finalmente, a autora resume as principais
características da educação não-formal em: apresenta caráter voluntário, promove
sobretudo a socialização, a solidariedade, visa o desenvolvimento, preocupa-se com a
mudança social, é pouco formalizada, favorece a participação, proporciona projetos de
desenvolvimento e é por natureza uma forma de participação descentralizada.
Cury (1995, p.105) explica a educação não-formal baseando-se nos pressupostos
da educação formal como podemos verificar a seguir:
[...] em confronto com a educação formal ela possui uma
elasticidade muito grande, dado o seu distanciamento em relação às
regras burocráticas da sociedade política. Nessa distinção, a educação
não-formal inclui, sem dúvida, os meios de comunicação de massa, os
projetos de saúde e higiene públicas, a publicidade oficial ou não, os
grupos da sociedade civil que se reúnem com finalidades comuns e
específicas
.
Nota-se que, muitas vezes, o conceito de educação não-formal encontra-se
atrelado ao da educação formal mostrando a necessidade de maior aprofundamento
nesse tema considerado ainda incipiente nos estudos do campo educacional.
Bezerra (2000) expõe dentre as principais características da educação não-
formal, a flexibilidade tanto de projetos que se enquadram nesse tipo de educação como
da organização mais livre e aberta comparada à educação formal. Para o autor, “a
flexibilidade e a liberdade de ação seriam fatores fundamentais na educação não-formal,
possibilitando que se trilhem caminhos que a educação formal cercearia” (p.10).
Outro fator presente na educação não-formal é a vinculação com o cotidiano que
se entende da seguinte forma: “como pensar em uma educação que tem por
6
características a flexibilidade e objetiva a transformação social, sem partir do cotidiano
dos grupos onde se insere e sem pensar num retorno significativo para o mesmo?”
(p.10). Para se obter sucesso no exercício da educação não-formal, acreditamos que
entender o contexto daqueles sujeitos quanto aos valores, cultura e historicidade seja
imprescindível para o educador. Uma terceira característica da educação não-formal é a
ausência de uma sistematização burocrática rígida, diferente daquela mais convencional
presente na escola formal.
Nosso foco de interesse, neste estudo, são os corais evangélicos que, a nosso ver,
estruturam-se de forma muito semelhante àquela descrita como grupos de educação
não-formal. Grupos de pessoas que se reúnem com uma finalidade - cantar - sem um
compromisso com regras ou metas rígidas, mas que é formado por várias pessoas, em
sua maioria sem conhecimento musical anterior. Há uma busca de transformação social,
não pela reivindicação de direitos, mas pela possibilidade de servir a Deus e com isso
estar mais próximo a Ele e obter graças. Os corais são dirigidos por um regente que,
transmitindo conhecimentos sobre música e canto, conseguem organizar um grupo que
cante satisfatoriamente, apresente-se nas cerimônias e cultos religiosos, louvando a
Deus, o que torna o ambiente mais prazeroso e agradável, além de praticarem a fé.
1.1-Canto Coral
O canto coral é uma atividade praticada em vários grupos sociais, sendo que
dentre eles, destacam-se os grupos religiosos. Além disso, tornou-se objeto de estudo
em diversas áreas viabilizando trabalhos que se interessam por esse tema tão complexo
e instigante.
7
O termo coro origina-se do grego chóros, e é definido como um agrupamento de
pessoas com tratamento e estrutura dos mais variados possíveis (ZANDER, 1979). O
canto coral refere-se à expressão musical coletiva.
Pela et al (1998) apontam que os cantores podem cantar em uníssono ou
harmonizar várias vozes em uma melodia. O coral pode estar acompanhado de
instrumento musical e quando isso não acontece denomina-se canto “à capela”.
A educação musical e vocal do canto coral promove aprendizagem aos
coralistas, pois o cantor passa a desenvolver “um ouvido afinado”, diferenciando sons e
notas, além de ter a oportunidade de perceber suas próprias habilidades vocais. O cantor
observa sua voz inserida no grupo procurando harmonizá-la com os demais.
Mathias (1986) expõe que a função do coral é dar a oportunidade para que cada
ser humano busque seu som interior, sua beleza musical inserindo-se em um processo
de educação musical libertadora. Esse som deve ter qualidade para que consiga atingir
seu público e, para que se realize uma boa apresentação são necessários dois fatores:
técnica, como trabalhar em harmonia, com uma interpretação impecável, escolha bem
feita do repertório e musicalidade do grupo coral, e o segundo fator é a comunicação
entre cantores e ouvintes. Esse item aborda a postura, expressão facial e corporal e o
entusiasmo.
Jackson-Menaldi (1992) indica também que o canto coral promove o
aprendizado com as outras vozes, domínio de si mesmo, segurança e respeito pelos
demais, saber intervir e esperar, dominar a respiração incidindo não apenas sobre a
produção vocal de cada um, mas em um modo de se relacionar com o grupo. Um coral
conseguirá transmitir sua mensagem se houver segurança no ritmo, exatidão do tempo,
afinação, boa articulação, precisão nos acentos e vocalizações e uma sonoridade plena.
Desse modo, o resultado final será bastante eficiente.
8
Ao receber novos membros, o coral precisa preocupar-se em manter um trabalho
fundamentado na técnica vocal, considerando aspectos anátomo-fisiológicos para
preservar a voz de cada participante e chegar à qualidade musical artística almejada.
Para tanto, os critérios utilizados na seleção de um novo integrante no coro e a
classificação da voz em naipes são fatores indispensáveis para o pleno exercício da voz
cantada e para o sucesso do coral enquanto grupo e, neste sentido, o regente possui
papel fundamental.
Destacamos aqui a importância da adequada classificação vocal uma vez que,
desconhecer o real naipe do cantor, poderá prejudicar sobremaneira a qualidade vocal
cantada e até falada do coralista devido aos desequilíbrios musculares no trato vocal
como também no surgimento de lesões laríngeas além de um resultado negativo para o
coral.
Segundo Campioto (1997), a classificação vocal mais comum é aquela que
divide as vozes masculinas e femininas em naipes: vozes graves para baixos e
contraltos, respectivamente; vozes médias para os barítonos e mezzosopranos, e vozes
agudas para os tenores e sopranos. Ainda afirma que as vozes graves são mais difíceis
de serem encontradas e, muitas vezes, uma voz média substitui uma voz grave, levando
o cantor a cantar fora da sua tessitura vocal propiciando uso incorreto da voz.
A classificação vocal para Pela et al (1998) tem a função de compilar as
semelhanças acústicas em um grupo, além de possibilitar aos coralistas a expressão de
suas qualidades vocais, prevenir problemas e uniformizar os naipes. Para que haja uma
adequada classificação vocal, vários critérios avaliativos são apresentados como “a
qualidade vocal, a extensão vocal funcional, a zona de passagem, as características
anatômicas do aparelho vocal – laringe e ressonadores supraglóticos -, a idade do cantor
e aspectos psicológicos” (p.532). Todo esse processo classificatório pode demandar um
9
longo tempo até a definição do naipe do cantor. Alguns deles possuem uma voz
intermediária, ou seja, ora a voz feminina pode ser de uma soprano, ora contralto, por
exemplo.
Uma questão importante nesse processo classificatório vocal, conforme discorre
Zander (1979), é que nem sempre se identifica prontamente o naipe do cantor. Portanto,
o regente deve conhecer o processo de formação vocal para efetuar diversas
considerações a respeito da voz do coralista. Ainda, não só os regentes, mas os próprios
cantores de coral devem fazer aulas de canto, seja em conjunto ou individualmente. São
cuidados como estes que podem fazer com que o coral não se constitua em material
vocal simples que executa uma partitura, mas em um grupo com real qualidade musical.
Herr (1995) explica que a demanda de tempo na classificação das vozes ocorre
pelo fato que, inicialmente, há uma certa inibição do cantor ao cantar para o regente ou
professor devido à sua inexperiência e insegurança. É comum também cantar de modo
afinado somente as notas musicais abrangidas na voz falada. Na verdade, quando um
cantor se integra ao coral, existem “tendências” de naipes e somente após a realização
de todo um trabalho vocal, o cantor estará mais afinado, mais seguro e cantando em
uma maior extensão vocal. Nesse momento, pode-se classificar verdadeiramente a voz
do cantor. Além disso, verificar somente a extensão vocal do cantor não deve ser
considerado o único critério de classificação vocal, pois com o treino ela se estende. O
modo mais confiável de classificação vocal é perceber a região de maior conforto e mais
semelhante à voz falada.
Um problema que ocorre freqüentemente em corais, relatado por Sandroni
(1998), é que o coralista costuma substituir outro naipe que está desfalcado no grupo,
podendo esta prática ocasionar problemas vocais e prejudicar o desempenho do próprio
coro. O autor comenta que a tessitura - notas que o cantor consegue emitir com
10
facilidade; a extensão – sons que é capaz de cantar do mais grave para o mais agudo; e o
timbre - a “cor” da voz - são fatores indispensáveis para uma adequada classificação
vocal.
1.2-Aspectos Fonoaudiológicos da Voz Cantada
Na literatura pesquisada, podemos observar estudos que abordam o uso da voz e
hábitos vocais prejudiciais em populações de cantores originando queixas vocais e
lesões laríngeas conforme verificamos nos estudos de Marangon (2001), Behlau,
Rehder (1997), Behlau, Pontes (1999). Muitas vezes, esses hábitos vocais como utilizar
gengibre, cebola, chá de alho, entre outros, permeiam crendices a respeito do que faz
bem à voz. Contudo, não há estudos que comprovem, cientificamente, a eficácia de
métodos caseiros para saúde vocal. Alguns autores preocupados em discutir a
necessidade dos cuidados vocais apontam hábitos que trazem benefícios ou malefícios à
voz e os cuidados que precisam ser tomados por aqueles que utilizam a voz no canto.
Costa, Andrada e Silva (1998) consideram a hidratação oral como o melhor
recurso para melhorar o excesso de muco. Conseqüentemente, ocorre a minimização do
esforço fonatório e facilidade para a regressão de lesões de massa. Porém, a hidratação
para o cantor não deve acontecer somente antes das apresentações e ensaios, mas
durante os mesmos. Devem-se dar pequenos goles de água natural a cada 04 ou 05
músicas cantadas.
A hidratação tem papel fundamental na produção da voz, principalmente para
quem faz uso profissional, conforme relatam Behlau, Pontes (1999). Recomenda-se
beber 02 litros de água diariamente, e de 04 a 06 copos antes do seu uso prolongado.
Para que o cantor obtenha um bom funcionamento do sistema de ressonância, o seu
11
trato vocal precisa estar hidratado para a amplificação do som básico laríngeo. Existem
alguns sintomas que indicam a falta de hidratação como saliva grossa, esforço ao falar e
pigarro constante. Descrevem também sobre a necessidade de alimentar-se bem antes do
uso intenso da voz. Os alimentos gordurosos e condimentados retardam o processo
digestivo, prejudicam a movimentação da musculatura abdominal durante a respiração e
ainda favorecem o refluxo gastroesofágico e, por isso, devem ser evitados. Já os
alimentos como leite, seus derivados e chocolate prejudicam a ressonância do som e
provocam o pigarro devido ao aumento de secreção mucosa no trato vocal.
Behlau, Rehder (1997) citam os principais hábitos prejudiciais à voz do cantor, e
dentre eles destacam-se o ato de pigarrear, que provoca atritos entre as pregas vocais
ocasionando irritação e descamação do tecido e, falar muito já que exerce dano à laringe
devido ao esforço prolongado predispondo o surgimento de lesões na laringe do cantor.
Os hábitos vocais inadequados e o mau uso da voz podem ocasionar problemas
funcionais como as fendas glóticas e contrições supraglóticas e, problemas
organofuncionais no trato vocal representados pelos nódulos, cistos, entre outros. Com
isso, a qualidade vocal do cantor poderá ficar prejudicada e se não houver intervenção
precoce de profissionais como fonoaudiólogos e professores de canto, o cantor
permanecerá nesse processo inadequado de uso da voz, aumentando suas queixas vocais
e agravando as alterações funcionais e orgânicas decorrentes do mau uso e abuso vocal.
Estas alterações vocais poderão interferir na saúde geral do sujeito e na qualidade de
vida referente ao ato de comunicação. Em casos detectados tardiamente, muitas vezes,
há a necessidade de intervenção cirúrgica.
Ao atentar para as alterações funcionais da laringe, Câmara, Ferreira (2000)
concluem que a constrição ântero-posterior da laringe é um comportamento vocal
inadequado sendo provocado por tensão e esforço excessivos. Porém, quando esse tipo
12
de constrição acontece na voz cantada, ela é considerada um recurso que auxilia na
projeção vocal e ressonância. Já a constrição medial está associada à tensão
desnecessária durante a fonação e também pode ser um mecanismo compensatório
quando há ineficiência glótica.
Outras alterações freqüentemente encontradas em cantores são as fendas glóticas
definidas como “pequeno espaço na região mediana do vestíbulo laríngeo, provocada
pela má coaptação das pregas vocais” (COSTA, ANDRADA E SILVA, 1998, p.132).
Essa má coaptação decorre da maneira como a musculatura laríngea é utilizada, ou seja,
pode haver hipertonicidade ou hipotonicidade da musculatura intrínseca da laringe.
Hábitos vocais inadequados e as conseqüentes alterações nem sempre são
percebidas pelos cantores. Na análise de Cunha et al (1999), detectou-se que nem
sempre existe compatibilidade entre a análise perceptivo-auditiva da voz e o exame
laringológico. O sujeito pode ter um fechamento glótico completo, por exemplo, com
uma qualidade vocal soprosa se contrapondo ao que é referido na literatura clássica.
Acredita-se que esse fato pode ser explicado devido aos aspectos emocionais positivos
ou negativos perante a própria voz.
Além dos problemas funcionais, são muito comuns alterações organofuncionais
nas pregas vocais. Diversos estudos dão um panorama das patologias mais encontradas
em cantores que utilizam a voz de modo inadequado.
Hamam et al (1996) relatam que os cantores líricos minimizam o aparecimento
de lesões vocais com o uso de técnicas adequadas, compensando o grande esforço
realizado nesse estilo de canto. Já os cantores populares compensam a falta de técnica e
reduzem o risco de lesões utilizando recursos de amplificação sonora externa
(microfones, por exemplo).
13
Os cantores líricos, geralmente, possuem técnica vocal e conhecem os cuidados
necessários com a voz minimizando os efeitos prejudiciais à voz cantada já que são
profissionais desta área e interessam-se sobremaneira por sua saúde vocal. Comumente,
são supervisionados e orientados pelo professor de canto e acompanhados pelo
fonoaudiólogo e médico otorrinolaringologista. O fato de cantar profissionalmente e
receber remuneração por esta atividade pode ser a justificativa para tais cuidados.
A presença de lesões nas pregas vocais do cantor, geralmente, produz qualidade
vocal “distorcida” como a rouquidão, aspereza e soprosidade. Estas características
podem dificultar o rendimento respiratório do cantor além de não ser agradável aos
ouvidos de seu público.
No estudo de Cobeta (1998) evidencia-se que a patologia laríngea mais temida
pelos cantores é o nódulo vocal. Existem três precedentes que predispõem ao
aparecimento dos nódulos vocais: cantar muito, técnica vocal defeituosa e estilos
musicais que estão fora das possibilidades do cantor.
O atendimento aos cantores com queixas vocais vem aumentando
significativamente em centros especializados (DUARTE ET AL, 1996). A principal
queixa vocal dos cantores é a dificuldade em alcançar os tons agudos e as patologias
mais encontradas no exame laringológico são as fendas, nódulos, cistos, pólipos, etc. “A
necessidade de conscientizar e reabilitar o cantor a respeito dos distúrbios vocais
funcionais torna-se emergente” (p. 198).
No estudo de Zampieri et al (2002), com cantoras populares de bailes,
detectaram-se as seguintes alterações laríngeas: lesão nodular (31,25%), refluxo
gastroesofágico (68,75%) e fendas (56,25%). Ao cantarem trechos de músicas líricas,
houve um aumento significante da constrição ântero-posterior e mediana em relação ao
14
trecho de música popular sugerindo o uso auditivo e não os ajustes necessários no trato
vocal dessas cantoras.
O canto exige uma alta demanda da voz devido à produção de fortes
intensidades e notas agudíssimas o que ocasiona uma sobrecarga vocal conforme
descrevem Scarpel, Pinho (2001). A saúde vocal torna-se fundamental para a sua
longevidade e quando o cantor realiza o aquecimento da musculatura laríngea há uma
integração dos sistemas respiratório, laríngeo e ressonantal.
Entre os recursos que o cantor pode utilizar para preservar sua voz e
potencializá-la, está o programa de aquecimento e desaquecimento vocal (PAD) que
propicia o equilíbrio muscular do trato vocal, favorecendo o exercício do canto
cuidadoso. É realizado antes e após o canto na tentativa de impedir o desgaste vocal.
Não só o PAD preserva e mantém a saúde vocal, mas a técnica vocal aplicada
posteriormente ao aquecimento da voz tem papel definitivo na qualidade vocal do
cantor.
A prática do aquecimento e desaquecimento vocal é considerada um requisito
básico para uma boa performance vocal no canto, podendo prevenir o surgimento de
lesões e alterações que ocorrem no aparelho fonador. São recomendados os exercícios
de aquecimento com vocalizes em escalas ascendentes, vibração de língua e exercícios
respiratórios. Quanto ao desaquecimento da voz do cantor, o alongamento é indicado
porque diminui a tensão pós-performance e prepara o sujeito para o uso habitual da fala.
Nesse caso, não é recomendado fazer o repouso vocal, pois a musculatura vocal se
beneficia com o lento desaquecimento fazendo o exercício de diminuição progressiva de
intensidade cantando, e também os vocalizes descendentes chegando ao retorno de fala
habitual.
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O aquecimento vocal é imprescindível na voz cantada independentemente do
estilo e demanda musical. Costa, Andrada e Silva (1998) afirmam que para a realização
adequada desta atividade não são necessárias aulas de canto ou domínio completo da
fisiologia vocal. Deve-se ter em mente que as pregas vocais são compostas por
músculos e como qualquer musculatura corporal, possui propensão a fadigas
necessitando de preparação anterior ao seu uso excessivo. O desaquecimento vocal
proporciona a transferência do padrão de voz cantada para o de voz falada e deve ser
composto por exercícios de relaxamento de pregas vocais e massagens cervicais nas
quais aumentam a circulação local e diminuem edemas nas pregas vocais e pescoço.
Pela (1996), propôs a utilização do Programa de Aquecimento e
Desaquecimento vocal (PAD) em coralistas infanto-juvenis. Concluiu-se que sua prática
provoca resultados consideráveis quanto à produção vocal global, beneficiando dessa
forma, as vozes alteradas encontradas anteriormente ao PAD. Contudo, o processo
terapêutico é insubstituível no processo de reabilitação das alterações vocais dos
coralistas.
Francato et al (1996) discorrem sobre a importância de se realizar o PAD com
cantores melhorando, do ponto de vista técnico, a percepção auditiva, afinação, projeção
e homogeneidade do som. Sob o ponto de vista fonoaudiológico, melhoram-se os
parâmetros vocais dos indivíduos e no caso de disfônicos (pessoas com alterações na
voz), o PAD pode minimizar o grau de disfonia do cantor. Contudo, esses exercícios
devem ser praticados adequadamente para não ocasionarem alterações orgânicas ou
funcionais no aparelho fonador.
Acreditamos que quando o PAD é ensinado e supervisionado, os exercícios são
realizados eficientemente, pois para a sua correta aplicação, o profissional deve ter
16
conhecimentos básicos de fisiologia e anatomia fonatória. Diversos autores discorrem
sobre a prática do PAD e seus benefícios para a voz cantada.
O trabalho de Camargo, Behlau (2003) evidencia a caracterização do perfil
vocal de 286 coralistas de instituições de ensino quanto à performance no canto. Dentre
eles, 81,1% referem que necessitam melhorar a respiração, 78,8% sentem desconforto
esporádico, 82,9% não possuem problemas vocais, 99,7% realizam o aquecimento vocal
e 20,3% fazem o desaquecimento vocal. Nota-se a presença de alterações vocais no
grupo como desconforto esporádico e dificuldade na respiração evidenciando que
mesmo com a prática correta do PAD, a técnica vocal é fundamental para o exercício
saudável do canto. Observa-se também que o aquecimento vocal, muitas vezes, é mais
valorizado que o desaquecimento após o canto, todavia, ambas as atividades devem ser
praticadas.
Estudos como os descritos anteriormente destacam a importância do cantor ter
conhecimento sobre sua produção vocal e desenvolver hábitos vocais benéficos. Desse
modo, quando os cantores são bem orientados e utilizam técnicas vocais adequadas
promove-se a saúde vocal e a qualidade no canto. Caso contrário, problemas de saúde
são gerados comprometendo a qualidade vocal e, conseqüentemente, a comunicação do
sujeito e sua qualidade de vida.
1.3-Educação Vocal de Corais Religiosos
Podemos encontrar grupos corais em diversas instituições, empresas, igrejas e
centros comunitários. Nesse perfil, enquadram-se os corais amadores que são aqueles
nos quais os participantes não recebem remuneração e não têm na arte de cantar sua
profissão.
17
Acreditamos que as principais funções do coral amador são promover a
socialização dos cantores, proporcionar lazer, educação vocal/musical e resgate cultural.
Contudo, existem requisitos mínimos para que esta atividade apresente qualidade
musical e seja agradável aos ouvidos daqueles que os assistem. Mesmo os coralistas
com maior facilidade para cantar necessitam de cuidados mínimos, treino e constante
aprendizado na arte do coro, visto que, é uma população de risco para o
desenvolvimento de disodias (termo usado para indicar alterações vocais do canto).
Discorremos então sobre o coral amador religioso, tema escolhido para essa
pesquisa. Apesar do canto coral exigir preparo técnico tanto de seus condutores quanto
de seus integrantes, para que possam realizar um trabalho de qualidade artística e
musical, Oliveira (1995) descreve que muitos cantores não possuem preparação técnica
adequada. A maioria dessas pessoas reconhece o ato de cantar como um dom, mas que
este deve ser aprimorado com técnica. Para o autor, há principalmente desinformação
entre os participantes de corais amadores quanto aos mecanismos de produção de fala e
canto, saúde geral, sistema músculo-esquelético, posturas e tensões. Essa desinformação
poderia ser suprida por meio de trabalho interdisciplinar entre professores de canto,
regentes e fonoaudiólogos, por exemplo, viabilizando o exercício do canto de modo
saudável e técnico, pois é de suma importância o estudo sistematizado e a prática
cuidadosa do canto coral.
Pela et al (1998) referem que muitos corais religiosos cantam músicas religiosas
e populares havendo exigência de competência para cantar. Além disso, fazem uma
descrição das principais problemáticas enfrentadas pelo coral amador, entre elas
destacam que “habitualmente há uma grande reciclagem de coralistas, uma vez que
permanecem no grupo segundo interesses, prioridades e/ou circunstâncias pessoais” (p.
533). Isso pode gerar problemas para conciliar as vozes mais antigas e, portanto, mais
18
treinadas, com as vozes dos coralistas mais novos, gerando dificuldades para afinar e
timbrar as vozes do grupo coral.
Os corais amadores nem sempre entendem de qualidade musical, e podem
inferiorizar a função espiritual do coro (ZANDER, 1979). O coral amador sendo regido
por um regente também amador e sem a capacidade para assumir esta complexa
atividade, poderá produzir uma arte desqualificada e sem gosto musical, além dos
problemas vocais que podem acometer os coralistas que estiverem sob sua orientação.
Os argumentos dos diferentes autores, principalmente daqueles preocupados com a
saúde vocal dos integrantes de corais, indicam que seria esperada formação técnica por
parte dos regentes e cantores.
Podemos perceber os mais freqüentes abusos vocais cometidos pelos cantores
amadores em alguns estudos como o de Vasconcellos (2002) que revelou que freiras
Carmelitas que cantam em um coral investigado cometem em média, 11,5 dentre os
chamados abusos vocais, enquanto as que não cantam, apenas 8. Os abusos vocais mais
cometidos pelos sujeitos analisados neste estudo são: falar ou cantar sem aquecer a voz
previamente (100%), falar ou cantar por um período prolongado sem hidratação
(100%), pigarrear ou tossir para limpar a garganta (87,5%).
Em virtude de grande parte dos coralistas amadores possuir desempenho
insuficiente ao utilizar a voz para o canto, torna-se comum observar fadiga vocal,
rouquidão, nódulos, hemorragias e outros problemas resultantes do abuso vocal durante
o período de atividades de canto (SMITH, SATALOFF, 1991). Estudos como os
apresentados até aqui nos remetem à reflexão sobre a grande necessidade do trabalho
fonoaudiólogico, tanto em consultoria quanto em assessoria, em corais profissionais e
amadores.
19
Infelizmente, a atividade da voz cantada torna-se comprometida em decorrência
dos hábitos vocais inadequados e uso incorreto da voz. E, mesmo assim, muitos
cantores permanecem “paralisados” diante de tal situação. A questão é que nos corais
religiosos amadores, sua principal função é de socialização de pessoas com os mesmos
princípios religiosos sendo que, o canto propriamente dito, pode ser entendido como
momento de adoração a Deus e não como uso da voz que pode trazer prejuízos aos
sujeitos.
No estudo de Ferreira (1995) com nove professores de canto os quais possuíam
em média dezessete anos de atuação, constatou-se que o tipo de clientela atendida por
esses profissionais eram em sua maioria cantores eruditos, poucos são populares e
somente 01 referiu atendimento ao cantor religioso. Percebemos com esse estudo que a
busca pela técnica vocal acontece, geralmente, por cantores profissionais que desejam
aperfeiçoar os seus conhecimentos vocais e preservar a saúde vocal, uma vez que,
necessitam do bom funcionamento do aparelho fonador para exercerem seu trabalho
com qualidade e longevidade.
Pesquisas atentas aos cuidados vocais de pessoas leigas que cantam em corais
revelam dados interessantes a respeito dos hábitos vocais desta população. Na pesquisa
de Marangon (2001), cujo objeto de estudo foi verificar o nível de conhecimento
referente aos cuidados vocais na perspectiva dos leigos, constatou-se que os principais
hábitos vocais considerados saudáveis relatados foram hidratação, pigarrear, repouso
vocal, balas, receitas caseiras, sprays e que nada faz bem à voz. Já quanto aos hábitos
vocais considerados negativos foram obtidas respostas do tipo abuso vocal, dor de
garganta, fumaça, nada faz mal. A autora finaliza tal estudo considerando que os leigos
utilizam o senso comum de “o que faz bem à saúde faz bem à voz” e se equivocaram ao
20
pensar que alguns hábitos como pigarro, uso de balas e sprays e receitas caseiras são
positivos para a voz.
Agostinho (2001) estudou quatro corais de São Paulo, entre eles um coral
religioso – composto por doze integrantes. O autor observou que este grupo foi o que
mais apresentou queixas vocais, caracterizadas por perda da voz, rouquidão, pigarro,
entre outras, e o que mais faz uso de métodos paliativos como gargarejos com romã, e
limão com sal. Os coralistas relataram sentir dificuldades nas notas agudas e também
quando o regente faz o ensaio separado de naipes. De forma geral, o autor levantou que
a maioria dos corais não tem formação musical e os participantes não sabem cuidar da
voz. Há também uma forte cobrança por parte do regente para que os cantores atinjam
as notas musicais e cobrança por parte dos coralistas para que o regente classifique
rapidamente seu naipe.
Foi realizado estudo com 28 coralistas, sexo feminino, da igreja Assembléia de
Deus de Piracicaba-SP, cujo objetivo foi investigar o preparo vocal, o conhecimento
sobre voz e as queixas mais comuns de integrantes de três diferentes corais, a saber:
Vozes Celestes (10 integrantes), Ágape (10 integrantes) e Jovem Paz (08 integrantes).
Além disso, considerou-se necessário analisar os aspectos funcionais e estruturais da
laringe. Na composição dos recursos metodológicos para investigação foram utilizados
questionário e exame laringológico. A coleta de dados das coralistas realizou-se na
Clínica de Fonoaudiologia da Unimep.
Observa-se que a maioria dos sujeitos participa do coral evangélico de 01 a 05
anos. Quanto à importância em cantar num coral de igreja, as coralistas responderam
que é pela vida espiritual ou para educar a voz. A maioria das coralistas nunca fez aula
de canto e se consideram cantoras não treinadas. As coralistas costumam ensaiar duas
ou mais vezes por semana e disseram que não ficam roucas após as apresentações. Além
21
do canto, a maioria das coralistas participa dos louvores e orações durante o culto
evangélico. Utilizam intensamente a voz em casa. Quando estão cantando ou falando,
possuem a sensação de raspar a garganta e no canto, possuem retorno da sua própria
voz.
Verifica-se ainda que, as principais queixas vocais relatadas pelas coralistas
foram sensações desagradáveis (aperto, ardor, coceira e sensação de espinho na
garganta). Os principais hábitos vocais encontrados foram não se alimentar
adequadamente antes ou após o canto, pigarrear e falar intensamente. Nos aspectos de
saúde geral, detectamos problemas emocionais como estresse e ansiedade e também
alterações de vias aéreas superiores.
O estudo conclui que as coralistas estudadas apresentaram sintomas vocais
negativos, praticam hábitos vocais inadequados quanto à alimentação, pigarro e uso
vocal intenso e na saúde geral sofrem impactos emocionais prejudicando a produção
fonatória.
Quanto aos aspectos laringológicos, ainda no mesmo estudo, observou-se
coaptação glótica incompleta presenciando fendas glóticas. Apresentaram contrição
supraglótica total, ântero-posterior e mediana e, em apenas três cantoras diagnosticou-se
lesão laríngea (cisto vocal, micronódulos e sulco vocal). Nota-se por meio da avaliação
laringoscópica que os sujeitos da pesquisa apresentaram alterações estruturais e
principalmente funcionais da laringe. Essas alterações funcionais refletem o uso
inadequado da voz e a prática de hábitos vocais negativos transparecendo a necessidade
de maiores cuidados quanto à educação vocal desses sujeitos (SCHLEIFER,
MOURÃO, 2003, não publicado).
Além disso, foram investigados nesse estudo a atuação dos regentes que
conduziam esses corais evangélicos. Dois regentes estudaram música e o terceiro não
22
teve nenhuma formação para exercer a regência. Dois deles exerciam a função durante
18 anos e um regente há 03 anos. Quanto ao PAD, apenas um regente relatou realizá-lo
nos ensaios e, é interessante relatar que um regente disse que não pratica o aquecimento
vocal porque os coralistas acham engraçado e não valorizam a prática por serem leigos.
Ao ser perguntado sobre quais as principais facilidades em reger o coro, os regentes
responderam que são o interesse das pessoas em participar de um coral, o evangélico ter
o hábito de cantar na igreja e um dos regentes respondeu ser fácil reger jovens pela
disposição que apresentam. Quanto às dificuldades, relataram a pouca concentração de
alguns integrantes, o número flutuante de participantes nos ensaios e apresentações
comprometendo, por vezes, a qualidade das apresentações e para finalizar, a
necessidade de ter paciência e saber motivar as pessoas.
Quando foi perguntado “como a voz é produzida?”, os regentes não souberam
afirmar como ocorre a produção fonatória respondendo: “não tenho definição, sei
‘colocar’ porque a gente canta tem tempo. Primeiro é a respiração, o diafragma, não sei
dizer”. Em relação aos critérios de classificação vocal, responderam que “vê pelo
timbre” se é agudo ou grave ou deixa o sujeito entrar no coral observando em qual naipe
ele apresenta maior facilidade. Conclui-se que os regentes estudados exercem suas
funções baseados em experiências musicais faltando-lhes formação técnica adequada à
atividade. É evidente o despreparo com a voz dos coralistas podendo resultar em
prejuízos vocais na voz falada e na voz cantada (SCHLEIFER, MOURÃO, 2004).
Portanto, a prática do canto coral religioso encontra-se inserida dentre as
diversas atividades realizadas pela educação não-formal caracterizada pelos seguintes
aspectos: não rigidez em seguir o conteúdo planejado e nem do desempenho do aluno,
ocorre fora do ambiente escolar tradicional e prioriza a função socializadora no ensino.
Porém, o mediador desse ensino-aprendizagem necessita de formação para conduzir o
23
grupo mesmo não tendo que se preocupar com a plena sistematização das atividades
propostas. Os regentes de corais religiosos, conforme mostram os estudos já citados,
nem sempre têm formação em regência para executar de maneira adequada seu papel
podendo acarretar danos vocais e influenciar a qualidade de vida dos integrantes.
24
CAPÍTULO 2
2. A Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Antigamente, as pregações protestantes eram realizadas por pastores leigos que
costumavam praticar a oração incessante e a santificação com o intuito de aproximar-se
de Deus. A figura expoente do protestantismo é representada por John Wesley que
preconizava em suas pregações do evangelho, que o mais importante era que o pastor
tivesse o “coração aquecido” e dons espirituais e não, necessariamente, formação
teológica (WREGE, 2001). Diversas igrejas evangélicas têm suas raízes no
protestantismo, dentre elas: Evangelho Quadrangular, Congregação Cristã, Deus é
amor, Brasil para Cristo, Universal do Reino de Deus e a Assembléia de Deus e, todas
estas seguem uma liturgia pentecostal
1
.
A igreja Assembléia de Deus foi fundada oficialmente, nos Estados Unidos em
1906, pela população negra. Segundo Wrege (2001), “o caráter leigo da pregação cristã
protestante se fez notório nos Estados Unidos quando da sua colonização” (p. 48). No
Brasil, esse movimento religioso foi fundado pelos missionários suecos Berg e Vingren
que migraram dos EUA para o Brasil em 1911 e fundaram a Igreja Assembléia de Deus,
1
Os integrantes do movimento pentecostal crêem que o Espírito Santo continua a se manifestar
nos dias de hoje, da mesma forma que em Pentecostes, na narrativa do Novo Testamento (Atos
2). Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos por meio de línguas de fogo e
fez com que eles pudessem falar em outros idiomas para serem entendidos pela multidão
heterogênea que os ouvia. Para eles, sobressaem os dons da glossolalia (o de falar línguas
desconhecidas), da cura e da profecia.
(site portal brasil, 2006)
25
em Belém do Pará. Somente na década de 1950, a igreja passou a ser dirigida por um
brasileiro.
Atualmente a Assembléia de Deus é a maior igreja evangélica da América
Latina e a segunda igreja pentecostal a ser fundada no Brasil (site portal brasil, 2006).
Possui adeptos em todas as regiões do país com número de fiéis estimado em 18
milhões podendo ser definida, como agência de Deus:
[...] sendo uma comunidade de fé, serviço e adoração, não
pode furtar-se às suas obrigações – proclamar o Evangelho de Cristo e
promover espiritual, moral e socialmente o povo de Deus. Somente
assim, estaremos nos firmando, definitivamente, como agência do
Reino de Deus (site da casa publicadora Assembléia de Deus, 2005).
Algumas das principais características dos assembleianos, segundo Wrege
(2001), são a existência, em algumas dessas igrejas, da separação de assentos entre os
sexos e da participação de corais durante os cultos. Um fator inovador dentro da igreja
mais recentemente é a formação de lideranças pastorais por meio de cursos de Teologia
diferenciando-se da atuação leiga realizada anteriormente. Na Assembléia de Deus há
uma Convenção Nacional que se responsabiliza pela administração da igreja, além de
legislar sobre a doutrina quando esta deve sofrer alguma modificação.
Assistir à televisão, que antes era visto como uma prática pejorativa, assim como
fazer uso do rádio e internet, são, hoje, comportamentos aceitos e utilizados pelos
líderes pastorais, como meio de divulgação em massa da doutrina aos fiéis. Os costumes
dantes tão rigorosos a respeito das vestimentas e aparência amenizaram-se trazendo
maior liberdade ao fiel como podemos verificar, a seguir:
Algumas Assembléias de Deus vêm experimentando, mais
recentemente, sensíveis mudanças comportamentais concernentes a
usos e costumes. Em particular, algumas dessas igrejas já não mais
26
implicam com determinadas peças do vestuário feminino, consentindo
que as mulheres usem calças compridas, decotes mais alongados ou
mangas mais curtas, desde que mantido um razoável padrão de pudor.
Quanto aos homens, diminuem as restrições ao uso de bigode, barba
crescida ou cabelos mais alongados, substituindo-se o rigor da
proibição pela recomendação de uma boa imagem pessoal ante a
sociedade, nos padrões exigidos por algumas organizações
corporativas (site enciclopédia tio sam, 2006).
Na doutrina pentecostal existe a crença da aquisição de dons espirituais que são
concedidos ou até “presenteados” por Cristo aos fiéis quando este é convertido.
Diversos dons podem ser concedidos a um único crente ou até mesmo nenhum,
condição que varia de acordo com a fé e a vontade de Deus. Há o dom da palavra da
sabedoria, da palavra do conhecimento, da fé, de curas, de milagres, de profecias e de
orar em línguas. Para Wrege (2001) orar em línguas significa dizer palavras
ininteligíveis para, desse modo, falarem com Deus num movimento sobrenatural
(glossolalia).
As manifestações de doenças, muitas vezes, são vistas como vontade divina
para que assim a pessoa se aproxime de valores espirituais e, quanto aos aspectos
financeiros, acreditam que a privação econômica pode levar ao crescimento espiritual e
pessoal para o fiel ser então fortalecido em sua fé. Para compreendermos melhor a
questão da cura de doenças através da espiritualidade observemos o trecho a seguir:
O problema das enfermidades e das doenças está fortemente
vinculado ao problema do pecado e da morte [...]. Enquanto a ciência
médica considera as causas das enfermidades e das doenças em termos
psicológicos ou psicossomáticos, a Bíblia apresenta as causas
espirituais como sendo o problema subjacente ou fundamental desses
27
males. Essas causas são de dois tipos: (a) O pecado, que afetou a
constituição física e espiritual do homem, e (b) Satanás (Site
convenção geral das assembléias de deus do brasil, 2006).
Faz parte também da doutrina evangélica, o dom espiritual direcionado à cura
das enfermidades que pode ser manifestado por meio de oração com imposição das
mãos do crente, que tenha recebido esse dom de cura, sob o doente.
Os assembleianos, assim como todo evangélico, devem ser batizados no Espírito
Santo cuja função é de conversão da sua espiritualidade e comportamento:
[...] é para todos que professam sua fé em Cristo; que
nasceram de novo, e, assim, receberam o Espírito Santo para neles
habitar. O batismo no Espírito Santo outorgará ao crente ousadia e
poder celestial para este realizar grandes obras em nome de Cristo e
ter eficácia no seu testemunho e pregação. Esse poder não se trata de
uma força impessoal, mas de uma manifestação do Espírito Santo, na
qual a presença, a glória e a operação de Jesus estão presentes com seu
povo (Site convenção geral das assembléias de deus do brasil, 2006).
Uma outra crença dos fiéis remete-se à segunda vinda de Cristo para o
arrebatamento. Essa crença consiste na descida de Cristo para buscar o seu povo na terra
e unir-se a Ele sendo que somente a igreja de Deus será salva. Todos os fiéis
arrebatados ficarão livres de aflições, de opressões, do pecado e da morte.
Quanto à formação educacional dos pastores houve significativa mudança na
igreja, pois, antigamente, os líderes assembleianos não eram preparados com estudos
teológicos para ministrar a palavra de Deus. Isto decorre da herança wesleyana que dizia
que a proximidade com Deus, por meio de dons espirituais e manifestações
sobrenaturais, eram os fundamentos mais importantes para a pregação do evangelho.
Nas palavras de um líder a respeito da formação dessas lideranças pastorais, verifica-se
28
a falta de formação educacional compensada pela direção divina (site da Igreja
Assembléia de Deus, 2005):
Eram bons examinadores das Escrituras Sagradas, mas, em
sua maioria, eram desprovidos de títulos universitários ou teológicos.
Não por opção, mas as dificuldades da época impunham-lhes estas
condições. A ausência do preparo escolar talvez tenha repercutido na
área organizacional da igreja atual, mas conduziu-lhes à total
dependência da direção divina. Eram, no dizer do apóstolo Paulo: ‘as
coisas loucas, fracas, vis e desprezíveis deste mundo’, que foram
escolhidos para que a glória da realização não recaísse sobre o
homem, mas unicamente a Deus (1 Co 1.26-30). Eram tecnicamente
fracos, mas espiritualmente poderosos.
Contudo, a igreja atualmente modificou essas diretrizes e vê a necessidade da
implementação de estudos teológicos para capacitar aqueles que realizam a pregação da
palavra do evangelho. Assim, a igreja passa a ter preocupação em prover líderes com
formação teológica. Existem vários institutos e escolas que se dispõem a executar tal
ensino com sede em diversas regiões do país. Porém, a concepção de que uma formação
“profissionalizante” seja necessária não abarca todos os âmbitos da igreja, como por
exemplo, a condução dos corais evangélicos que podem ser regidos por qualquer leigo
que mostre aptidão para tal.
2.1- Corais Evangélicos
A maioria dos corais religiosos é considerada amadora, ou seja, não possui
caráter profissional. É bastante valorizada, no coral, a socialização dos fiéis que por
meio de encontros semanais fortalecem os laços religiosos e sociais entre seus
29
integrantes. O coral nas igrejas é parte integrante do culto, tem a função de comunicação
e participação da comunidade religiosa. O coro sacro deve ser culto, oferecer sacrifícios
a Deus e anunciar boas novas (ZANDER, 1979).
Ao se considerar o crescimento vultoso das igrejas evangélicas em todo país e o
nosso interesse em melhor conhecer a realidade de práticas educacionais relativas ao
canto nestas igrejas, torna-se imprescindível para esse estudo compreender algumas
características da população evangélica principalmente no que concerne a sua música
enquanto instrumento de evangelização.
Oliveira (2001) afirma que o desenvolvimento da música gospel
2
aconteceu com
os cristãos negros norte-americanos no início do século XX. Assim, eles conseguiam
preservar a cultura do seu povo através da música uma vez que a Igreja Católica,
naquela época, rejeitava os negros.
Ainda segundo esse autor, o cantor gospel deve reunir alguns atributos para
exercer de maneira efetiva o canto: saúde geral perfeita, aparelho fonador com
qualidades naturais e saber utilizá-lo da melhor forma possível. Além disso, é
necessário um ouvido refinado para perceber as diferenças de intensidade sonora e
afinação. Profere que alguns profissionais de canto considerados leigos, acreditam que
cantar é um dom espiritual que com a prática, o cantor desenvolve naturalmente. Porém,
os indivíduos que estudam seriamente o canto gospel têm a oportunidade de se
transformar física e espiritualmente.
Contudo, muitos fiéis impulsionados por sua fé acreditam que cantar, mesmo
sem qualquer embasamento para esta atividade, é um dom divino e que, Deus tem o
poder de melhorar sua voz não sendo necessário tomar outras providências.
2
O termo gospel é uma adaptação de “God spell”, que significa em português, Palavra de Deus,
ou seja, o evangelho (ALVES, 2002).
30
Os principais objetivos do canto na igreja evangélica são expressar o evangelho
numa linguagem de fácil compreensão, oferecer sacrifícios de louvor, o que significa
dar o melhor de si no momento da adoração (podendo sacrificar a voz), apoiar todas as
atividades da igreja como a adoração, comunhão e evangelização, ser criativo evitando
o que é vulgar ou trivial. Por meio da música, os fiéis conseguem expressar suas
emoções, já que ela deve “falar ao coração” das pessoas e é considerada um veículo de
divulgação das palavras da Bíblia. “A música prepara o solo do coração para receber a
semente do evangelho. A música destrói a resistência da pessoa à mensagem da Palavra
de Deus” (HUSTAD, 1981, p. 38). Portanto, a música evangélica tem a função de servir
aos propósitos de Deus e da igreja, reforçando o sistema de valores e expressando
coletivamente a fé.
Silva (2001) considera o canto evangélico um instrumento espiritual essencial na
fé dos religiosos e toda inspiração musical advém dos textos bíblicos. Nesse canto,
denominado louvor (música que é oferecida a Deus), os fiéis consideram que podem
acontecer milagres e curas na vida das pessoas. Antes da sua apresentação, muitos
evangélicos costumam fazer orações para diminuir a ansiedade e dar segurança no
canto.
É importante ressaltar que esta crença afasta os fiéis da preocupação com os
cuidados com a voz ou da busca por uma orientação profissional para o canto, tornando
os assembleianos uma população de risco para problemas relativos à sua saúde vocal já
que, conforme discutimos no capítulo 1, cantar sem orientação adequada pode trazer
riscos à saúde e à qualidade de vida destas pessoas.
Alguns autores interessados nesta questão abordam o modo como os cantores
evangélicos praticam o canto, como usam sua voz e seus principais hábitos vocais.
Alves (2002) ao pesquisar a voz de cantores de música gospel concluiu que a maioria
31
apresentou o seguinte perfil: freqüentou aula de canto; possuem problemas de vias
aéreas superiores; tem algum tipo de cuidado vocal; possui tempos máximos fonatórios
(TMF) diminuídos, poucos já foram submetidos às avaliações otorrinolaringológica e
fonoaudiológica. E por fim, apenas as cantoras do sexo feminino apresentaram falta de
coaptação glótica das pregas vocais. O TMF diminuído é um indicativo de ineficiência
respiratória e a falta de coaptação glótica das pregas vocais e é mais comum em
mulheres por fatores fisiológicos ou de alterações do trato vocal.
Estes dados mostram-nos que mesmo freqüentando aulas de canto, o cantor pode
apresentar alterações vocais em decorrência de uma pedagogia vocal ineficiente ou de
falta de conscientização do cantor que, muitas vezes, designa o canto apenas como uma
atividade de aclamação a Deus que promove recreação e socialização.
Um fato relevante na caracterização de cantores evangélicos é que, na maioria
das vezes, os fiéis utilizam intensamente a voz falada na igreja podendo contribuir para
o surgimento de distúrbios vocais que interferirão na voz cantada. Conforme observado
no estudo de Silva (2001), com 25 cantores evangélicos profissionais constatou-se que,
os evangélicos utilizam em demasia a voz falada devido à pregação do evangelho às
pessoas, participam de reuniões na igreja onde sempre há momentos de canto, fazem
orações muitas vezes com esforço e forte intensidade. Dos sujeitos investigados, apenas
14 freqüentaram aulas de canto. Quanto aos aspectos de saúde vocal, a maioria baseia-
se em crendices populares como o uso de pastilhas, sprays e chás para melhorar a voz e
acreditam que pigarrear e falar muito prejudica a voz do cantor. Entre os cantores
avaliados, apenas 05 costumavam realizar o aquecimento e desaquecimento vocal.
Todos os cantores disseram que precisam se preparar espiritualmente para cantar por
meio da leitura bíblica, jejum ou oração. Assim neste estudo foi observado que os
cantores preparam-se espiritualmente para o canto seja orando, jejuando ou lendo a
32
bíblia levando em conta apenas os aspectos religiosos ligados a esta atividade. Esse fato
é bastante preocupante quando se conhece a propensão de surgirem problemas vocais na
voz cantada. O hábito mais citado pelos cantores antes de apresentações foi descansar e
dormir seguido de aquecer a voz durante o dia. Apresentaram queixas 16 sujeitos sendo,
as mais comuns, dificuldades de sustentação de notas e rouquidão.
Estes estudos mostram-nos o elevado número de abusos vocais e queixas vocais
cometidos pelos fiéis que cantam em cultos evangélicos. Acredito que, se o uso da voz
cantada e também da voz falada recebesse freqüentemente acompanhamento
fonoaudiológico nas igrejas, haveria notória redução de queixas vocais.
Borba et al. (1998) investigaram a incidência de mau uso vocal em 15 cantores
de igrejas evangélicas e encontraram os seguintes dados: 100% apresentam tensão e
esforço, 67% utilizam posição de laringe elevada no pescoço para o canto, 93% não
utilizam uma freqüência vocal apropriada e não possuem variabilidade de freqüência.
Quanto ao abuso vocal, 93% usam alta intensidade, 100% utilizam a voz em competição
sonora durante os ensaios, 86% apresentam pigarro e 53% não fazem hidratação durante
a atividade vocal, além de fazer uso de pastilhas. Os autores concluíram que a falta de
consciência sobre o abuso e mau uso vocais podem levar esta população a desenvolver
disfonias funcionais e orgânico-funcionais.
Nota-se nos estudos acima citados que os coralistas evangélicos necessitam de
orientações quanto ao uso da voz falada e voz cantada considerando a prática de abusos
vocais e o elevado número de queixas vocais apresentados. Há necessidade de
constantes pesquisas nessa área a fim de compreender melhor o uso da voz por esse
grupo e a ocorrência de possíveis alterações vocais (disfonias funcionais e orgânico-
funcionais). E, na esfera da religião e da fé, entender a influência que esta exerce nas
crenças dos fiéis sobre o canto e a saúde vocal.
33
2.2- O Exercício da Regência
Existe em algumas universidades, dentre elas na UFG (Universidade Federal de
Goiás), o curso de graduação em música com habilitação em regência coral cujo
objetivo é habilitar os profissionais às atividades de organização e regência de corais.
Cabe ao regente formar, organizar, ensaiar e dirigir corais profissionais e amadores.
Tal formação abrange o estudo de diversas disciplinas: fisiologia da voz, dicção
e fonética I, II, III, percepção musical, música na idade média e renascimento, períodos
barroco e clássico, romantismo e século XX, cultura musical brasileira, métodos e
técnicas de preparação coral e fundamentos de regência. O curso capacita o regente para
atuação em pesquisas musicais e o campo de trabalho abarca instituições de ensino, bem
como em empresas e organizações sociais e religiosas. A graduação é completada ao
cursar a carga horária de 2998 horas, em período integral.
Compreende-se que para que o indivíduo se torne um regente é importante que
sua formação seja ampla, que estude disciplinas variadas, organizando sua capacitação
profissional de modo que conheça desde aspectos de fisiologia da voz, dicção e
fonética, passando por técnicas vocais, até aspectos culturais abrangentes envolvendo a
música.
Contudo, muitos regentes amadores apenas com formação em música
instrumental (piano, teclado, guitarra) ou até mesmo com reduzido conhecimento
musical acreditam, por vezes, estarem suficientemente preparados para assumir a
responsabilidade da condução de coros. É certo que reger ultrapassa largamente o saber
tocar algum instrumento que acompanhe o coro ou a tarefa de organização de um grupo
e harmonização de suas vozes. Como pudemos verificar, é necessária técnica vocal
34
fundamentada em teorias que subsidiem a prática do canto. Partindo desse pressuposto,
o regente, mesmo amador, deve agregar conhecimentos vocais, musicais e culturais ao
conduzir corais. A problemática em questão é a conseqüência que o exercício da
regência amadora pode acarretar na voz e na vida dos coralistas.
É freqüente, nos corais das igrejas, a presença de um regente cuja tarefa é
preparar o coro, através de ensaios, para suas apresentações na própria igreja ou em
eventos religiosos. Portanto, para que haja unidade sonora e harmonia no grupo coral
considera-se de exponencial importância a presença do regente. Como vimos
anteriormente, muitos coralistas evangélicos são despreparados para cantar de modo
saudável e, sendo o regente o condutor do grupo, torna-se importante compreender seu
papel dentro do coral e o conhecimento que ele detém para realizar o exercício da
regência, assunto este que será discutido a seguir.
O regente é a pessoa que guia um grupo de músicos ou de cantores. Para Zander
(1979) existem algumas condições fundamentais para o pleno exercício da regência
como: ouvido bem treinado para perceber a afinação; responsabilidade em sua maneira
de conduzir o grupo impondo uma autoridade espontânea; organização de todo grupo;
paciência e entusiasmo para que alcancem um trabalho positivo; ter conhecimento da
educação vocal; boa cultura musical, dentre elas, saber tocar instrumentos e cantar;
conhecer a história da música para compreender os diferentes estilos; e um dos mais
importantes requisitos é já ter freqüentado um coral no papel de cantor, pois, assim,
conseguirá entender como se sentem os cantores e a perspectiva daquele que canta. Para
que o regente consiga desenvolver um trabalho eficiente é necessário que o coral cante
bem e corretamente e não apenas congregue pessoas para cantar. “O coro é o reflexo do
que o regente pode e sabe” (p.154). Os corais amadores são compostos em sua maioria
por cantores leigos exigindo do regente, um maior convívio e trabalho em conjunto.
35
Acontece que existem muitos regentes amadores que sabem tocar, precariamente, algum
instrumento e que se aventuram no trabalho de regência sem os conhecimentos básicos
necessários a esta atividade.
O autor reafirma a necessidade do regente em realizar um trabalho cuidadoso e
sério, assumindo todas as responsabilidades que lhe são exigidas. Quando se trata de
coral amador essa prática torna-se ainda mais meticulosa, afinal, tratam-se de sujeitos
despreparados e sem conhecimentos vocais.
Pela et al (1988, p.533) relatam que o regente agrega várias funções como a
classificação dos naipes, afinação e ensaio do coral, arranjos e adaptações musicais do
coro.
Há vários métodos de educação vocal para o canto, conforme afirma Jackson-
Menaldi (1992). Por isso, o regente deve possuir intensa preparação musical e técnica,
saber classificar as vozes dos coralistas para transparecer homogeneidade, potência e
claridade vocal no grupo coral. Cabe ainda ao regente adquirir conhecimentos de
anatomia e fisiologia da voz cantada e selecionar a técnica mais adequada para cada um
dos cantores. Desse modo, poderá alcançar o rendimento vocal quanto à intensidade,
freqüência e timbre e não provocará excessiva fadiga vocal.
Campos (1997) considera que o preparador vocal do coral deve basear-se em
técnicas para desenvolver um trabalho de qualidade e bom rendimento sonoro do grupo.
É necessário que o regente saiba identificar as dificuldades e limitações dos cantores,
procurando diferenciar os problemas técnicos daqueles musicais, além de conhecer o
processo de produção da voz e saber escolher um repertório adequado ao estilo do coral
e nível técnico.
Existem quatro áreas que devem ser desenvolvidas pelo regente para a obtenção
de sucesso segundo Mathias (1986). A primeira habilidade é a física, em que o regente
36
precisa apresentar-se com gestos expressivos seguindo os padrões de regência e a
precisão dos movimentos para a compreensão do grupo que dirige. A segunda é possuir
uma consciência auditiva como afinação, noção tonal e rítmica e equilíbrio. A
comunicação preenche a terceira habilidade e aborda a liderança, relacionamento
interpessoal, exemplificação da técnica, correção, motivação. Para finalizar, tem-se a
habilidade de interpretação em que o regente deve recriar as interpretações dos
compositores, entender os estilos e períodos históricos nos quais foram concebidos,
além de vivenciar a música e executá-la com seu próprio estilo.
Herr (1995) revela que “a maioria dos regentes tem pelo menos uma noção de
canto, mas depende da assistência de um preparador vocal para ajudar neste aspecto tão
importante do desenvolvimento das vozes dos coralistas” (p. 51). Complementa ainda
que, grande parte dos corais é formada por cantores amadores que não possuem
experiência da técnica de canto, como saber respirar e apoiar o ar. Por isso, os regentes
possuem grande responsabilidade quanto às vozes integrantes do coral porque são vozes
em estágio de formação e, normalmente, ele exercerá o papel de professor de canto no
coral.
Os regentes estão numa posição ideal para reconhecerem, antecipadamente,
problemas vocais e sugerirem encaminhamentos médicos (SMITH, SATALOFF, 1991).
É importante para o condutor de coral estar bem preparado quanto à saúde vocal e
capacidade pedagógica. Infelizmente, um grande número deles não tem tal preparação.
A maioria dos condutores de coral são organistas ou condutores instrumentais com
pequena prática de canto e nenhum conhecimento de pedagogia vocal e produção
fonatória. Muitos cantores de coral possuem pequena ou nenhuma experiência com
partituras. É esperado que o regente fale sobre as técnicas vocais que a música exige,
responda às perguntas sobre saúde vocal e cuidados médicos visando um bom
37
desempenho de seu grupo, ao mesmo tempo em que propicia um ambiente saudável
para o canto. Certamente, os condutores de coral não devem exceder os limites de suas
habilidades. Contudo, as responsabilidades para conduzir o coral demandam
conhecimento suficiente de educação na pedagogia vocal e, a realização de
encaminhamentos aos profissionais que possam prover os coralistas com respostas e
orientações adequadas.
Existem diversos estudos, como vistos anteriormente, que ressaltam as
alterações vocais do coral devidas ao despreparo do regente e dos cantores, em geral,
leigos. É imprescindível que o regente tenha consciência plena dos problemas que
podem ser acarretados pelo mau uso e abuso da voz e faça os encaminhamentos
necessários para que os coralistas sejam acompanhados por outros profissionais como
médicos, fonoaudiólogos e professores de canto. Mas, tal prática parece muito distante
de ser alcançada, à medida que se vê o coral amador como um momento de recreação e
socialização por parte dos seus integrantes, sem a percepção das conseqüências desta
atividade para sua saúde, quando realizada incorretamente.
Rehder (1999) estudou o perfil vocal de 150 regentes de corais do Estado de São
Paulo. Considera que o regente comunica-se com o coral por gestos, mímica e voz e é
um profissional que utiliza excessivamente a voz cantada e voz falada durante o
trabalho com o coral. Costuma realizar competição sonora com o seu grupo,
predispondo-o aos distúrbios de voz. Ao caracterizar a população estudada, constatou
que os regentes têm em média 8,4 anos de exercício profissional; 53,3% já tinham feito
aula de canto; sob a regência, 64% dos naipes cantam separadamente nos ensaios,
93,3% fazem o aquecimento vocal e 89,3% não praticam o desaquecimento; 76,7%
acreditam que dom e técnica devem caminhar juntos para o pleno exercício da regência
na voz cantada.
38
Fonterrada (1997) diz que o regente deve conduzir um coro evitando realizar
demasiados esforços vocais. Para isso, pode pautar-se em gestos expressivos e
adequados tecnicamente. Na visão do autor, “regência não é necessariamente uma
movimentação de braços. É, antes de tudo, um exercício de liderança de quem arquiteta
sons e organiza as disponibilidades para construir um resultado sonoro” (p. 23).
Em sua tese de doutorado, Rehder (2002) realizou a análise dos aspectos
perceptivo-auditivos e acústicos da voz falada e voz cantada de 100 regentes.
Constatou-se que a maioria dos regentes pesquisados possui voz adaptada para fala e
canto e que na primeira situação, as emissões de fala apareceram mais alteradas
sugerindo menor treino e sobrecarga vocal por parte dos regentes.
Conclui-se, portanto, que o trabalho do regente possui relevância na prática do
canto coral. Ele é responsável pela técnica e cuidados vocais, mas, não devemos nos
esquecer da função social existente nos corais principalmente considerados amadores.
Mais do que cantar perfeitamente, a reunião do grupo coral torna-se canteiro de
amizades, recreação e, nos casos dos corais religiosos, prática da fé. Para tanto,
disponho-me a investigar o exercício da regência a partir de depoimentos de regentes de
igreja evangélica para melhor conhecer os desdobramentos desta realidade.
As principais perguntas que orientaram esta investigação foram: “Como é a
atuação do regente no coral evangélico”? “Ele entende o seu trabalho como uma
atividade educativa”? “O regente possui conhecimentos técnicos suficientes para
conduzir o grupo sem prejudicar as vozes do coro”?
A partir dessas indagações, apresentarei a metodologia de pesquisa utilizada, os
dados e as análises realizadas com base nos referencias teóricos trazidos até aqui.
39
CAPÍTULO 3
3. Materiais e Métodos
Para a realização do presente estudo foram realizadas entrevistas com três (03)
regentes que atuam em coral da Igreja Assembléia de Deus, na cidade de Goiânia-GO.
Os critérios de inclusão dos regentes na pesquisa foram concordar em participar da
entrevista e reger um coral da Igreja Assembléia de Deus. A igreja selecionada é
denominada Sede de uma determinada região da cidade, e é considerada grande e
estruturada em suas diversas atividades. Os três regentes da igreja se dispuseram a
participar da entrevista e conduzem corais infantis, juvenis e adultos com o número de
integrantes de aproximadamente 30 coralistas.
O regente J. I.
3
, 41 anos, sexo masculino, trabalha com corais há 18 anos e sua
profissão é tenente da banda de música da polícia militar de Goiás. O regente E., 30
anos, sexo masculino, músico, atua em corais há 05 anos. P. foi o terceiro regente
entrevistado, 35 anos, sexo masculino, bombeiro e músico militar, rege corais há 12
anos.
Para tanto, os regentes foram entrevistados pela pesquisadora na própria igreja
em horário previamente agendado. Optou-se pela utilização da entrevista semi-
estruturada seguindo um roteiro elaborado anteriormente constituído de questões abertas
e fechadas (anexo 1).
Desse modo, tornou-se possível extrair dos sujeitos pesquisados suas convicções
e opiniões a respeito do trabalho de regência. Para Chizzotti (1998), a pesquisa
qualitativa reúne técnicas como entrevista, observação participante, entre outras, nas
quais se abre a possibilidade da “descoberta de fenômenos latentes”. Para este estudo a
3
Os regentes serão referidos a partir de suas iniciais visando manter o sigilo necessário à pesquisa.
40
entrevista foi a técnica escolhida por se mostrar a mais adequada para as finalidades
pretendidas.
Nas entrevistas foram abordados vários aspectos da regência, buscando
compreender o papel do regente frente ao coro e enquanto educador vocal. Foram
questionados o número de componentes do coro, tempo de regência, modo de condução
do coral nos ensaios, sua formação e preparação técnica, os requisitos de seleção, a
realização da classificação vocal, os conhecimentos sobre a voz, qual o seu papel no
coral e o conhecimento sobre as expectativas dos coralistas quanto ao seu trabalho.
Para o registro da fala dos regentes utilizou-se como instrumento de
audiogravação, o Digital Voice Recorder DVR-3800 Powerpack.
A fala dos regentes foi transcrita pela pesquisadora com o intuito de realizar
posterior análise (anexo 2). Segundo Bogdan e Biklen (1994), a análise de dados é um
processo de busca de organização sistemática de transcrição de entrevistas, de notas de
campo e outros materiais que foram acumulados, com o objetivo de aumentar a
compreensão do problema que se coloca e permitir encontrar formas adequadas de
transmitir aos outros àquilo que foi encontrado. A análise envolve procura de padrões
(núcleos de análise ou temáticos); sua organização e descoberta de aspectos importantes
para responder às questões da pesquisa.
Na transcrição foram eliminados alguns marcadores do tipo “né, aí, então” e
palavras vagas as quais não contribuíram para a compreensão da comunicação verbal do
sujeito.
Nesse sentido, as entrevistas trouxeram informações que permitiram melhor
compreender o modo como o regente de coral evangélico se vê no exercício da
regência.
41
CAPÍTULO 4
4.1- Análise das entrevistas e Discussão
Foram analisados e discutidos os relatos obtidos nas entrevistas com 03 regentes
da Igreja Assembléia de Deus, de Goiânia-GO. A transcrição das entrevistas
possibilitou a análise, pela pesquisadora, da visão dos próprios regentes sobre o
exercício da regência.
Para possibilitar as análises, trechos das entrevistas foram organizados nos
seguintes núcleos temáticos: a) Como se tornou regente; b) Papel do regente no coral e
suas características; c) Uso de técnicas e classificação vocal; d) Reconhecimento das
expectativas dos coralistas em relação ao trabalho do regente. Tais núcleos temáticos
serão apresentados e discutidos a seguir.
Como se tornou Regente
Este núcleo temático emergiu justamente porque todos os entrevistados
relataram aspectos de como entraram em contato com a música e como se tornaram
regentes.
“Eu fui uma pessoa com uma criação musical, totalmente musical. Meus
pais tocavam, meus irmãos tocavam sanfona e eu passei a tocar esses instrumentos
e fui indo para igreja e passei a tocar bateria, baixo, guitarra, teclado”. (J.I.)
De acordo com o relato de J.I, sua experiência musical advém do convívio com
parentes músicos em suas relações familiares. É bastante comum em famílias de
músicos, os mais velhos ensinarem o uso de instrumentos ou canto para os mais novos
42
em situações de lazer, reuniões e etc. Configura-se um ambiente de aprendizagem não-
formal, adequado para as atividades musicais domésticas do sujeito, que sente-se
capacitado deste modo. Aqueles que o ensinaram freqüentemente também não passaram
por uma formação profissional, se constituindo uma cadeia de aprendizagem não-
formal, que assim se estabelece.
“A pastora já sabia que eu era maestro, que eu tinha habilidade e tudo e me
convidou para reger o coral. Aí falei: ‘mas essa não é a minha praia, eu não gosto’
e eu não gostava apesar de ter cantado em coral quando era de menino, fui
crescendo com meus cunhados que cantavam e eu aprendi muita coisa, mas eu não
tinha aquela ‘queda’.” (J.I)
J.I. evidencia a influência familiar em sua história musical, como ele aprendeu a
cantar e participou de corais (religiosos) desde menino, e foi acumulando conhecimento
sobre esta atividade. Assim, ele foi convidado para atuar como regente, sem num
primeiro momento se sentir apto para esta tarefa. O fato de ter experiência como cantor,
não parecia para ele condição suficiente para ser regente, ele inicialmente recusou o
convite, mas pelas circunstâncias acabou assumindo a tarefa e a tem realizado por mais
de 20 anos.
“Eu estudei música, aprendi música dentro da igreja, comecei a praticar
dentro da igreja o instrumental e com 15 anos já comecei a fazer parte da banda
sinfônica da cidade onde eu morava e, com 16 anos me tornei músico profissional
mesmo e instrumentista.”(P.)
43
“Eu me tornei regente de coral foi quando o maestro deixou o coral. Como
eu já era músico, já cantava no coral, então eu acabei assumindo o coral.”(P.)
“Eu fiz teoria musical, e peguei um instrumento que no caso é o
trombone.”(P.)
O regente P. ao narrar sobre sua história musical, conta suas experiências com
instrumentos e como cantor no coral, através de sua participação na banda sinfônica e
na igreja. Sua carreira como regente emergiu ocasionalmente, devido ao afastamento do
maestro, e ele parece ver sua trajetória como um desdobramento natural de seus
conhecimentos sobre música. Alega que já havia cantado em coral e como tocava
instrumento poderia reger o coro.
“A primeira experiência que eu tive como regente foi logo após de eu ter me
formado e a igreja me fez uma proposta de serviço. Eu fiz o curso superior de
piano. Foi o ano que eu comecei a trabalhar como regente. Até então eu não tinha
tido essa experiência, mas daí eu comecei a trabalhar assim que me formei, estava
de posse do diploma já podia assumir. E também porque a gente no curso tem uma
certa experiência com coral.” (E.)
Já o regente E. foi convidado a reger corais após ter terminado sua graduação em
piano. Diferente do sujeito J.I. e P., teve uma formação musical acadêmica, todavia
focada no instrumento e não em regência destinada ao canto. Ele mesmo considera que
até começar a atuar como regente não tinha experiência para esta atividade, já que sua
formação tinha outro foco, todavia, aceita o convite porque ser formado, ter um diploma
na área de música, é algo que o habilita a exercer a regência de corais.
44
Como já discutimos anteriormente, o regente deve preparar-se adequadamente
para o trabalho com corais. Conforme Zander (1979), muitos músicos que sabem tocar
algum instrumento aventuram-se no trabalho de regência podendo causar desarmonia
musical e alterações vocais dos integrantes. E é necessário que o coral cante bem e
corretamente e não apenas congregue pessoas para cantar. Neste sentido, o coro é visto
como reflexo daquilo que o regente pode fazer e conhece. Como os corais amadores são
compostos em sua maioria por cantores leigos, a exigência sobre o regente e sobre seu
trabalho técnico fica ainda maior. O fato dele não ter uma formação musical, focalizada
em regência destinada ao canto, pode abrir espaço para que uma série de problemas
vocais surja, conforme já verificado em vários estudos nesta área (COSTA, ANDRADA
E SILVA, 1998; COBETA, 1998; DUARTE ET AL, 1996).
O regente deve agregar algumas habilidades musicais e vocais. Segundo Pela et
al (1988) a classificação dos naipes, afinação e ensaio do coral, arranjos e adaptações
musicais do coro são aspectos que devem ser abordados para se executar um trabalho de
qualidade musical e manter a saúde vocal dos coralistas.
Mas, a realidade desses regentes, segundo seus relatos, mostra-nos a falta de
preparo para a regência e ainda, a crença de que ao saberem tocar instrumentos ou
estudarem música, estão aptos à função. As igrejas que os convidaram para a tarefa de
regentes parecem se apoiar, em todos os casos, em sua experiência prática com música
(qualquer que seja ela: tocar instrumentos, ter participado de corais, experiência
familiar) sem exigir, contudo, experiência específica com regência e formação de
coralistas. Parece que os convites são feitos baseados na crença de que “em terra de
cego, quem tem um olho é rei”, ou seja, aquele que tem algum conhecimento musical é
o mais indicado para reger o coro, sem maiores exigências.
45
Todavia, os cursos de graduação organizados para habilitar sujeitos para essa
tarefa, mostram a necessidade de conhecimentos diversos nas áreas de música, voz e
cultura que não poderiam ser negligenciados (JACKSON-MENALDI, 1992;
MATHIAS, 1986; SMITH E SATALOFF, 1991). Mesmo que o coral seja amador, o
regente deve reger apoiado em conhecimentos necessários para a tarefa, cujo objetivo
principal é produzir boa música, preservando e mantendo a saúde vocal.
Papel do regente no coral e suas características.
Um segundo núcleo temático de análise destacado refere-se a como os
entrevistados vêem a atividade de regente, quais são suas funções e que habilidades
devem ter para desenvolver um bom trabalho.
“...eu acho que tenho que ter um papel de motivador, de abençoador, de
uma pessoa que mostre para eles o que a música tem a mais. Porque tem pessoa
que não tem uma visão, eles acham que música é só cantar e a música não é só
cantar, a música é algo lá de dentro, uma coisa que é vida, é alma, é espírito, é uma
coisa muito além”. (J.I.)
O regente J.I. não se coloca como um educador e sim como um motivador de
pessoas, além de abençoador, evidenciando a forte influência da religião na condução
do coral evangélico amador. A música para os evangélicos atinge o espírito, a alma e os
fiéis não a vêem apenas como fonte de lazer. A música tem a função primordial de
preparar o coração para receber a palavra de Deus (HUSTAD, 1981). Assim, aspectos
46
técnicos, de formação musical entre outros não aparecem em seu depoimento como
centrais para sua atuação.
“...olha, tendo em vista a extrema necessidade da gente criar alternativas
musicais, quanto mais música tiver dentro da igreja melhor para gente, para haver
envolvimento de grupos, envolvimento pessoal e haver uma interação maior
também”. (E.)
O regente E. ao considerar seu papel enquanto regente, destaca sua função de
aglutinador no interior do grupo. Seu depoimento traz argumentos compatíveis com os
princípios da educação não-formal, conforme Gohn (2001), que afirma que uma das
atribuições mais importantes do mediador/formador é socializar o grupo com o qual
trabalha, não necessitando ter tantas preocupações com o desempenho de cada um dos
participantes. Em seu relato E. não assume, explicitamente, um papel de formador, mas
reconhece que sua função tem um papel nas relações pessoais que se estabelecem no
grupo.
Nos trechos seguintes, pontuam-se as qualidades para o pleno exercício da
regência:
“Primeira coisa que eu penso é numa pessoa responsável. ... o regente para
mim tem que ser daí para lá, primeiramente é o espírito de responsabilidade.” (J.I)
“... característica principal que eu gostaria, se eu fosse escolher, é uma
pessoa que tivesse facilidade de lidar com pessoas.” (E.)
47
“... a pessoa tem que gostar, esse é o primeiro passo, tem querer assumir
essa responsabilidade e ver se ele assimila bem com o grupo, se o grupo está
disposto a aceitá-lo nesse aspecto.” (P.)
Apesar de todos eles considerarem necessário que o regente saiba música e
conheça partituras, conforme afirmaram nas entrevistas, ao tratarem das principais
características de um regente, priorizam o compromisso que se deve assumir com o
grupo pressupondo responsabilidade e bom relacionamento. Assim, ainda que os
aspectos técnicos aparecem como necessários em alguns relatos, o que se destaca como
principal é a função de mediador social e de responsável pela formação e manutenção
do grupo.
Este aspecto defendido pelos regentes entrevistados também coincide com
princípios afirmados na educação não-formal: a reunião de grupos visando à
socialização depende fundamentalmente do mediador que deve ser responsável,
promover a interação entre os participantes e ter bom relacionamento com os mesmos.
Gohn (2001) ao caracterizar as atividades de educação não-formal considera as relações
interpessoais vivenciadas e a função dos mediadores no trabalho de liderança de grupos.
Para a autora, o processo de ação grupal se dá pelas relações sociais mediadas por
agentes assessores e a aprendizagem é absorvida de modo subjetivo.
Neste sentido, o papel do regente se aproxima muito de um educador não-
formal, organizador de um grupo, e seu papel de educador vocal, ou de alguém que
capacita o outro para cantar fica desfocado, relegado a um segundo plano.
Uso de técnicas e classificação vocal
48
“Gosto de deixar o povo até um pouco mais a vontade porque tem regente
que é duro. “... Eu sei que o músico já vem de casa, do trabalho o dia inteiro e ele
chega aqui ele quer fazer até uma terapia, você deve entender bem disso e se
chegar aqui e se eu provocar um estresse nele, não faz bem para ele né?” (J.I.)
O regente J.I. destaca em seu relato o papel ‘terapêutico’ dos encontros. O coral
funciona também como um lugar para descansar a cabeça das tarefas do dia-a-dia.
Dessa forma, o regente não deve ser rígido quanto à participação no ensaio completo.
Defende que o regente deve estar atento a isso, para não provocar estresse. Assim, o
espaço do coral, neste aspecto, também se configura como uma prática de educação
não-formal, na qual grupos de sujeitos participam das atividades propostas sem regras
muito rígidas.
“Eu obrigava o povo a fazer a técnica vocal, fazer o aquecimento vocal. Aí,
a partir de um tempo eu deixei de obrigar porque eu entendia e passei a transmitir
para ele que aquilo era uma aula que eu estava dando, que aí fora é caríssimo e no
entanto eu venho e dou de graça e eles não valorizam às vezes.” (J.I.)
“E as pessoas que são um pouco desinteressadas geralmente ficam meio de
fora e quando vê que começou ensaio eles vêm. Mas eu explico para eles que isso é
prejudicial para vozes deles...” (J.I.)
“Eu sempre começo com exercícios de...como é que fala? de alongamento,
acerta a postura, alonga o corpo, essa coisa toda e com aquecimento vocal.” (P.)
O regente P. relata como inicia o ensaio com exercícios de alongamentos e ao
perguntar como realiza o aquecimento vocal ele expõe:
49
“Eu faço na respiração, sempre controlando o ar na saída, porque a maior
dificuldade dos coristas é no controle do ar.” (P.)
Apesar da tentativa de se executar o PAD pelos regentes, os coralistas mostram-
se pouco disponíveis a esta prática. Tal fato, talvez possa ser explicado pelo pouco
conhecimento que eles têm sobre os processos de produção fonatória e os cuidados
necessários para um bom uso do aparelho fonador. Segundo Francato et al (1996) deve-
se realizar o PAD com cantores favorecendo a melhora da percepção auditiva, da
afinação, da projeção e da homogeneidade do som. Ainda, a prática do PAD melhora os
parâmetros vocais dos indivíduos e no caso de disfônicos (pessoas com alterações na
voz) pode minimizar o grau de disfonia do cantor. Contudo, esses exercícios devem ser
praticados adequadamente para não ocasionar alterações orgânicas ou funcionais no
aparelho fonador.
O regente J.I. relata dificuldade para trabalhar o PAD com o coro, que
desvaloriza a atividade, chegando atrasados aos ensaios ou costumando entrar no coro
após o momento inicial de aquecimento vocal. Ele parece saber que o aquecimento
vocal é importante, mas não consegue convencer o grupo da necessidade desta
atividade. Ainda, relata a tentativa de conscientizar o grupo da importância em realizar
o PAD dizendo se tratar de técnica sofisticada (“aí fora é caríssimo”) e, que mesmo
assim o coro não valoriza esse momento do ensaio. Talvez, se ele tivesse maior
conhecimento quanto à importância deste procedimento para a saúde vocal dos
participantes, argumentaria de modo a convencê-los da necessidade desta atividade,
resultando num trabalho de maior qualidade vocal e musical aos coralistas. A resistência
dos coralistas e os conhecimentos reduzidos que tem sobre os cuidados com a saúde
50
vocal parecem justificar sua dificuldade em colocar a atividade do PAD como parte
fundamental dos ensaios.
Quanto ao desaquecimento vocal, o regente E. expõe:
“...não dá porque na hora que o pessoal já vai percebendo que está
terminando, fica todo mundo ansioso e um sai, vai tomar água e não há certo rigor
na disciplina ainda, porque até o pessoal pegar no tranco (risos).” (E.)
Se fosse mais claro para o regente a necessidade da técnica vocal é provável que
ele fosse mais exigente com o grupo, ou organizasse os ensaios de outra forma criando
espaços para o desaquecimento. Há uma autoridade, inerente ao seu papel, que ele
parece não conseguir exercer sobre o grupo, no que se refere aos cuidados com a saúde
vocal, que talvez para ele também não sejam tão relevantes. Assim, o regente E. não
consegue terminar o ensaio com o desaquecimento vocal, revelando a pouca valorização
dele e do grupo sobre a necessidade de manter a longevidade vocal.
Em relação aos critérios de ingresso no coral, o regente J.I.e E. descrevem:
“Eu faço um teste de afinação individual porque não é a questão de você
excluir as pessoas, o ideal seria você trabalhar com coral até inclusivo, como se diz
aí fora, mesmo a pessoa deficiente vocal, mas o que acontece você trabalha com
muita deficiência vocal ela começa a... a qualidade começa a diminuir a partir do
momento que a deficiência aumenta.” (J.I.)
“Como é uma atividade que está aberta, eu gostaria que a pessoa que tivesse
vontade de participar fizesse um teste. Mas nós temos um problema muito sério em
51
relação a isso porque as pessoas não entendem isso como uma avaliação, entendem
como uma rejeição de fazer um teste para elas entrarem no coral.” (E)
Nesse trecho, o regente E. demonstra conhecer a necessidade de classificação
vocal para a atuação no coral, porém, os coralistas (tomados, muitas vezes, mais como
fiéis, do que como cantores em um coral) sentem-se ofendidos caso não possam
participar do coral. Como já foi citado anteriormente, o processo de classificação vocal
demanda tempo e conhecimento do regente sobre voz, e as definições dos naipes são
feitas com base técnica e não com base na amizade ou desejo das pessoas em participar.
J.I. deseja que qualquer pessoa da igreja participe do coral, numa perspectiva de
‘inclusão vocal’: o seu coral aberto à diversidade. Mas, revela que em alguns momentos
torna-se difícil respeitar esta diversidade pela desarmonia que pode causar no coral, já
que esta ‘inclusão vocal’ pode resultar em pessoas não aptas a esta prática (desafinados,
por exemplo). Estar aberto à diversidade não significa aceitar tudo em qualquer lugar,
mas reconhecer as potencialidades e limitações das pessoas e inseri-las em
ambientes/atividades nas quais elas possam se desenvolver da melhor maneira possível.
Se o coralista apresenta “deficiências”, o regente poderia propor que ele procurasse
outra área da igreja para participar:
“...se ele é daqueles que atrapalha mesmo tenho que falar para ele: ‘olha
irmão, aqui nesse caso, seu dom deve ser de pregar, de interceder, de orar porque
o irmão pode estar atrapalhando o coral’ e atrapalha mesmo. Mas com muito jeito,
eu procuro nunca ferir as pessoas, de modo nenhum, eu gosto muito de amizade.”
(J.I.)
52
O regente procura não excluir os integrantes do coro, revelando seu papel
aglutinador e quando não é possível a participação de algum coralista, o regente
reafirma a questão do dom de cantar orientando o fiel a descobrir outro dom para suas
atividades na igreja. Há em seu relato um cuidado técnico presente, buscando não
colocar no coral vozes que não se harmonizam (desafinados, por exemplo). Mas, fica
clara também a preocupação do regente em manter boas relações com o grupo, o
cuidado para não ofender qualquer coralista. Em seu depoimento, entende-se que a
igreja não é lugar para gerar conflitos, mas sim um lugar para proporcionar a reunião de
fiéis em diversas atividades. As técnicas vocais, então, encontram-se sempre submetidas
aos aspectos religiosos.
Assim, o foco principal é a socialização dos participantes, sem atenção especial
para o desenvolvimento de cada um, mas com foco no coral com um todo. Mais que
aprender, a coletividade ocupa função primordial, de acordo com os pressupostos da
educação não-formal (GOHN, 2001).
Todavia, acreditamos que o regente, no papel de condutor do grupo coral, deva
saber lidar com os coralistas que são músicos profissionais e, por esse motivo, merecem
cuidados a fim de preservar sua voz e sua qualidade de vida. Em seu estudo, Herr
(1995) identificou que muitos regentes têm uma noção de canto, mas argumenta que
deveriam ter a colaboração de um preparador vocal para ajudar neste aspecto tão
importante do desenvolvimento das vozes dos coralistas. Complementa ainda que,
grande parte dos corais é formada por cantores amadores que não possuem experiência
da técnica de canto, como saber respirar e apoiar o ar. Por isso, os regentes possuem
grande responsabilidade quanto às vozes integrantes do coral porque são vozes em
estágio de formação e, normalmente, ele exercerá também o papel de professor de canto
no coral.
53
Reconhecimento das expectativas dos coralistas em relação ao trabalho
do regente.
Neste item serão focalizados aspectos dos depoimentos que indicam a
expectativa que os regentes reconhecem que os coralistas têm sobre seu trabalho e como
eles se vêm em relação a essa questão.
“Na verdade eu não sei. Porque eu acho que poucas pessoas chegam para
mim para falar alguma coisa...”. Eu sei que algumas... a gente imagina e por esse
bate papo eu acho que eles esperam não sei nem te dizer, talvez uma...como se
diz...uma presença mais longa, como é que se diz.... uma estada com eles mais
prolongada. Talvez seja isso porque eu tenho uma amizade muito boa com eles,
uma coisa de irmão mesmo, não só irmão de igreja mas aquela amizade.” (J.I.)
“Graças a Deus que eles me respeitam, eles me conhecem bem, sabem da
minha postura e, Graças a Deus eles têm uma confiança em mim. Sabe que podem
aproveitar bem, que o momento que eles estarão aqui eles vão aprender.” (P.)
“Eu acho que eles também esperam de mim um amadurecimento musical,
vamos dizer assim, uma segurança musical para o que eles fizerem, não façam
errado, por exemplo, ter segurança na hora de fazer os exercícios vocais, para não
fazer errado, para não danificar a voz, essa coisa toda.” (E.)
54
O regente J.I. apresentou um relato evasivo ao falar sobre este aspecto,
parecendo não conhecer exatamente as expectativas do grupo com o qual trabalha. Por
fim, respondeu que o coro espera dele uma postura de condutor de grupo, de alguém
presente para conversar com certo acolhimento.
Nota-se muito mais o destaque para os aspectos de relações interpessoais entre
regente e coro que a educação de vozes de pessoas amadoras que estão nesse grupo com
o objetivo de cantar. A função de servir a Deus é tida como primordial e, as relações
interpessoais assumem papel fundamental nesta direção.
P. avaliou ser importante a confiança estabelecida no trabalho com corais. O
regente não tem formação adequada para esta tarefa, porém, considera-se apto ao refletir
sobre a aprendizagem do grupo diante de seu trabalho. Outro fato relevante em seu
relato é remeter a Deus a responsabilidade pelo trabalho realizado com e no grupo,
como se recebesse esse dom divino para desenvolver uma boa postura perante o coro
garantindo a aprendizagem de todos.
O regente E. em seu depoimento demonstrou a importância do saber-fazer do
regente apesar de não ter formação adequada para exercer essa tarefa. Mesmo sem a
formação esperada, verifica-se maior profissionalismo desse regente ao relatar o
cuidado com a voz, a preocupação em não danificá-la. Talvez, a formação acadêmica
em música proporcione a ele melhor percepção de aspectos envolvidos na regência,
diferentemente dos demais entrevistados que reconhecem na liderança de grupo, nas
relações interpessoais e na intercessão divina a atuação primordial do regente.
Conclui-se que os regentes visualizam o trabalho de reger o coral como um
momento de reunir fiéis para que possam cantar e conversar oferecendo a Deus
“sacrifícios” de louvor. Certamente, saber liderar e transmitir confiança ao grupo é uma
habilidade relacionada aos atributos de um bom regente, porém, não se pode esquecer
55
que eles conduzem vozes leigas que, muitas vezes, fazem esforços durante os ensaios ou
cantam em naipes variados que resultam em alterações vocais significativas. Nos
relatos, a função de educadores vocais foi pouco citada entre os regentes (exceto o
regente E. que demonstrou preocupação em formar vozes), mostrando que eles pouco
conhecem ou reconhecem esta função como sua responsabilidade.
Assim, as entrevistas realizadas revelam que os três entrevistados não tiveram
formação específica para atuarem como regentes, aceitaram esta incumbência a partir de
convite da igreja com base em seus conhecimentos musicais (tocar instrumentos e
participar em corais e bandas) e que inicialmente se sentiram pouco aptos para a tarefa,
mas, atualmente, consideram-se preparados para atuarem como regentes. Em relação ao
papel do regente no coral e suas características o destaque principal foi dado a
responsabilidade pelo trabalho, a liderança sobre o grupo e a capacidade de aglutinar as
pessoas. Em relação ao uso de técnicas e classificação vocal, todos revelaram ter algum
conhecimento sobre alguma técnica e sobre sua importância para o coral, mas, ao
mesmo tempo, demonstraram conhecer pouco o funcionamento da voz humana e os
efeitos das técnicas sobre a qualidade e saúde vocal dos participantes, insistindo pouco
na realização adequada delas, ou não conseguindo implantá-las em seus corais. Em
relação ao reconhecimento das expectativas dos coralistas sobre o seu trabalho,
novamente os aspectos de liderança sobre o coral são destacados, e a tarefa de orientar
adequadamente os fiéis para que os dons oferecidos por Deus sejam bem utilizados.
56
Capítulo 5
Considerações Finais
A presente pesquisa mostra-nos, tomando como referência a perspectiva da
educação não-formal, o trabalho dos regentes com corais evangélicos caracterizado pela
formação coletiva, sem regras muitos rígidas e sem uma preocupação maior com o
desempenho de cada integrante. Nesse contexto, muito mais que aprender a cantar, os
coralistas encontram-se, semanalmente, com o objetivo de interação grupal e louvor a
Deus. Porém, os regentes, cuja função é conduzir o grupo para que alcance qualidade
musical, assumem como tarefa primordial a aglutinação de pessoas para exercitarem a
fé e alcançarem sua expressão através do canto.
Salienta-se que não existem critérios para que um fiel ingresse no coro, uma vez
que vêem na igreja um local de acolhimento e não de exclusão. Muitas vezes, atuam nos
corais pessoas sem condições para tal, e nesses casos os regentes se vêem obrigados a
encaminhar o fiel para outra atividade da igreja, tomando o cuidado para não causar
inimizade ou constrangimento. O despreparo dos regentes fica destacado nos trechos em
que relatam suas experiências com música e instrumentos sem, no entanto, terem
estudado de forma mais aprofundada aspectos relativos à regência de corais, tarefa que
exige conhecimentos em diversas áreas do saber musical.
Os regentes se encontram também despreparados para praticarem o PAD e o
coro desvaloriza esses exercícios. Os regentes demonstram não possuírem argumentos
técnicos consistentes a respeito da necessidade do PAD objetivando manter a
longevidade vocal do grupo que conduzem.
Nas práticas de educação não-formal, espera-se que o condutor do grupo tenha
formação para tal, o que não é o caso do coral amador evangélico que é regido por
57
regentes também amadores. Mesmo que exista uma postura mais flexível nesse
trabalho, é necessária boa formação do mediador (regente) porque este poderá, com suas
atividades, prejudicar as vozes do coro como vimos na literatura e estudos apresentados
anteriormente.
Os regentes da igreja estudada não se vêem como preparadores de vozes e sim
como líderes e fortalecedores da fé. Apesar de desenvolverem em alguns casos
metodologia específica ao prepararem as músicas antes dos ensaios e existir uma
seqüência de atividades pré-estabelecidas nos mesmos, os regentes não se encaixam
plenamente nos pressupostos da educação não-formal justamente pela falta de preparo
técnico. Ao mesmo tempo, não podemos entender o seu trabalho como educação
informal, pois nesta, não existe intencionalidade de aprendizagem. Assim, o trabalho da
regência em corais evangélicos, pode em alguns aspectos ser considerado como uma
atividade de Educação não-formal, e em outros não. O ponto fundamental a ser
destacado é a falta de formação nos parâmetros da educação vocal, e a realização do
trabalho se dar com base em conhecimentos construídos apenas em experiências
cotidianas familiares e religiosas.
A ausência de formação adequada pode colocar em risco a população de
coralistas que fica sob sua orientação. Estudos já citados neste trabalho indicam que esta
população apresenta sintomas e queixas de sensações desagradáveis na garganta,
alterações funcionais e orgânico-funcionais da laringe podendo comprometer a
comunicação verbal (falada e cantada) e acarretar problemas na qualidade de vida e
saúde dos sujeitos. Tais problemas podem ser bastante complexos, sendo necessária, por
vezes, intervenção cirúrgica e/ou fonoterápica para o tratamento das disodias.
Assim, o espaço dos corais amadores religiosos merece uma atenção maior de
fonoaudiólogos e de outros profissionais interessados em promover a Educação para
58
Saúde e prevenir problemas. Para o profissional que pretenda atuar neste campo, novos
caminhos devem ser repensados em sua atuação com os regentes e coralistas e, esta
pesquisa sugere, por exemplo, que os exercícios do PAD possam ser realizados não de
forma isolada, mas compondo a parte final do ensaio como na oração final ou durante os
recados do regente aos coralistas, integrando técnica e atividades que, para regentes e
coralistas, façam sentido. Se o profissional que atua com esse grupo, cujas
características são específicas, entende que o seu trabalho implica em uma outra forma
do saber-fazer, não convencional, acredita-se que possivelmente, alcançará de forma
mais eficiente seus objetivos diante do grupo.
Neste sentido, compreender a dinâmica própria de funcionamento de corais
religiosos pode favorecer uma atuação mais adequada, levando em conta não apenas os
aspectos clínicos, ou de saúde vocal, mas também aqueles que envolvem a fé e a
socialização. Para os participantes (regentes e coralistas) todos estes aspectos estão
presentes, e intervir sem compreender esta dinâmica pode tornar todo o trabalho
infrutífero. Eles ao cantarem para Deus, crêem que estão protegidos ou livres de
alterações vocais, pois, dons divinos lhes são oferecidos. Caberá ao
fonoaudiólogo/educador vocal compreender também estes aspectos para atuar com
eficácia no trabalho vocal, possibilitando ganhos a esta população.
59
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63
ANEXO 1
Roteiro das entrevistas
1-Nome completo?
2-Sua idade?
3-Qual é a sua profissão?
4-Quantos coralistas há no seu coral?
5-E há quanto tempo, você é regente de coral?
6-Conta pra mim, como você se tornou regente.
7-Como é o seu trabalho no coral. Relate como acontece um ensaio aqui na igreja.
8-E para você, qual o seu papel no coral da igreja? O que você acha?
9-E o que você acha que os coralistas esperam do seu trabalho?
10-Se você tivesse que escolher alguém para ser regente, como seria essa pessoa?
11-Quais características que você gostaria que ela tivesse?
12-E as características que você não gostaria que a pessoa tivesse...
13-O que uma pessoa deve fazer para entrar no coral?
14-E se caso ela não aprende a cantar ou ela não canta bem e aí, o que você faz?
15-E como que você termina o ensaio?
64
ANEXO 2
Transcrição da entrevista com regente J. I.
Entrev. Seu nome completo, por favor?
Reg.: Meu nome é J. I C. F.
Entrev. Sua idade?
Reg.: Eu tenho 41 anos.
Entrev. Qual é a sua profissão?
Reg.: Eu sou policial militar. Sou tenente da banda de música da polícia militar de
Goiás.
Entrev. Quantos coralistas participam do seu coral?
Reg.: Nesse coral daqui em torno de 40 a 45 mas eu trabalho com outros corais também.
Entrev. Quantos outros corais?
Reg.: Na igreja de Deus tem em torno de 30, na igreja de Deus em Campinas, 30
também e tem o trabalho com o coral da Grande Loja Maçonaria em torno de 30 vozes
também, 30 a 35.
Entrev. É uma média de 30 a 35.
Reg.: É, esse aqui é o maior com 40,45. Esse coral aqui é muito grande e quando a
gente reúne o Grande Coral do canto que pertence a essa igreja e outros corais de outra
região, a gente trabalha em torno de 300,400 vozes.
Entrev. Em um coral só?
Reg.: O Grande Coral dá 300 vozes!
Entrev. Há quanto tempo que você é regente, J.I.?
Reg.: Eu creio que já faz uns 20 anos mais ou menos, quase 20 anos. Desde a época que
eu tinha dezenove para vinte anos já estava trabalhando nessa área.
Entrev. Conta para mim J.I., como você se tornou regente?
Reg.: Isso é uma história interessante, na minha vida musical eu fui uma pessoa com
uma criação musical, totalmente musical. Lá em casa os instrumentos ficavam nos
bancos em casa, no sofá. Eu acho que por isso nós todos lá em casa tocamos, eu
trabalho com violão com cordas, cavaquinho, bandolim. Meus pais tocavam, meus
irmãos tocavam sanfona e eu passei a tocar esses instrumentos e fui indo para igreja e
passei a tocar bateria, baixo, guitarra, teclado. Mas a minha vida musical mesmo, em
termos de música, de partituras, ela veio se desenvolver depois que eu já tinha 13, 14
anos. Se eu tivesse tido mais incentivo musical do lado de música mesmo quando eu era
menino talvez eu teria uma linguagem até melhor musical hoje, mas eu comecei com
12, 14 anos. E aí que eu passei a trabalhar nessa área musical que veio me despertar
para coral porque até então eu tocava, compunha. Tem pessoas que gravaram várias
músicas minhas, dos meus irmãos mas a minha linha era o quê? Era tocar. Eu era
guitarrista, gostava de fazer solo de guitarra, a gente tinha uma banda de rock
evangélica, gospel. A gente tocava muito na praça, chamava banda Calvário, e a partir
dali o coral da igreja ficou sem o regente. A pastora já sabia que eu era maestro, que eu
65
tinha habilidade e tudo e me convidou para reger o coral. Aí falei: “mas essa não é a
minha praia, eu não gosto” e eu não gostava apesar de ter cantado em coral quando era
de menino, fui crescendo com meus cunhados que cantavam e eu aprendi muita coisa
mas eu não tinha aquela “queda”. Aí eu falei: “mas assumir regência de coral?” Aí eu
experimentei, depois disso também eu nunca mais parei porque é uma coisa assim que
quem entra depois não pára,é interessante, é contagiante, muito legal!
Entrev. Já tem 20 anos aí!!
Reg: Já tem vinte anos aí e você vê até hoje...
Entrev. E está super empolgado! (risos)
Reg.: A gente tem que ter paciência, empolgação porque se a gente que está ali na frente
não tiver eles não vão ter! Então se tem que transmitir isso tudo que eu te falei
(comentário do coral antes de iniciar a entrevista), que gosto de deixar o povo até um
pouco mais a vontade porque tem regente que é duro. Eu acho que é legal, tem hora que
eu sou, tem hora que tem que ser, tem hora que chamo mais firmemente mas gosto de
trabalhar assim, tranqüilo, não gosto de estressar ninguém. Eu sei que o músico já vem
de casa, do trabalho o dia inteiro e ele chega aqui ele quer fazer até uma terapia, você
deve entender bem disso e se chegar aqui e se eu provocar um estresse nele, não faz
bem para ele né?
Entrev. Com certeza...
Reg.: Então a gente vai trabalhando dessa forma e tem dado certo.
Entrev. Que bom!!
Entrev. E como que é o seu trabalho no coral, relate como que acontece um ensaio.
Reg.: O ensaio geralmente, eu chego um pouco mais cedo. Eu antigamente até, talvez
nem era para eu te falar isso aqui ou gravar, mas eu tenho liberdade de expressão...
Entrev. Lógico
Reg.: ...eu sou cidadão, eu obrigava o povo a fazer a técnica vocal, fazer o aquecimento
vocal. A partir de um tempo eu deixei de obrigar porque eu entendia e passei a
transmitir para ele que aquilo era uma aula que eu estava dando, que aí fora é caríssimo
e, no entanto, eu venho e dou de graça e eles não valorizam às vezes. Aí eu passei a
trabalhar com quem está, com quem é interessado. Então eu chego sete e meia, quinze
para oito, sete e quarenta e já começo o trabalho. No mínimo 20 minutos fazendo o
aquecimento vocal, uma técnica vocal das vogais para que a pessoa imposte bem as
vozes e o aquecimento em si para que não chegue a cantar uma nota aguda, uma nota
forte e ele tenha uma dificuldade, uma deficiência vocal, vem uma fenda ou uma coisa
semelhante. E eu faço esse trabalho. E as pessoas que são um pouco desinteressadas
geralmente ficam meio de fora e quando vê que começou ensaio eles vêm. Mas eu
explico para eles que isso é prejudicial para vozes deles mas, a partir do momento que
vi que há um certo desinteresse, eu passei a falar para eles dessa maneira, que a técnica
vocal, o aquecimento vocal é de suma importância. Mas a gente tem trabalhado com um
número muito bom, a maioria dos coristas estão presentes. E é nesse caso aqui. Nos
outros corais todos eles participam, todos eles já começam o ensaio com o aquecimento
vocal, todos eles participam.
Entrev. E o desaquecimento vocal?
66
Reg.: O desaquecimento eu costumo fazer, só quando não tem tempo. Nesse caso de
hoje eu tinha que te dar uma certa atenção mas a gente também faz um trabalho mais
brando, um bocciuse, o “hum” mastigado com boca fechada. Alguns trabalhos que a
gente tem aí, a gente também faz, vai acalmando o pessoal para provocar esse
desaquecimento vocal. Também faço. E só em edição extraordinária que deixo de fazer,
eu até não gosto de deixar de fazer não.
Entrev: E quanto tempo que dura esse ensaio?
Reg.: O nosso ensaio em torno de 1 hora, uma hora e quinze. Quando a gente tem uma
atividade, uma música que exige um pouco mais a gente vai uma hora e meia, às vezes
uma hora e quarenta e eu não gosto não.
Entrev. Quantas vezes na semana?
Reg.: Uma vez só na semana, se nós trabalhássemos duas vezes na semana poderíamos
ter um ensaio só de uma hora e renderia bem mais, ok?
Entrev. Para você J.I., qual o seu papel no coral da igreja enquanto regente?
Reg.: Eu na verdade penso tantas coisas... mas eu acho que eu tenho que ter um papel,
eu posso até falar que eu acho, eu acho que tenho que ter um papel de motivador, de
abençoador, de uma pessoa que mostre para eles o que a música tem a mais. Porque tem
pessoa que não tem uma visão, eles acham que música é só cantar e a música não é só
cantar, a música é algo lá de dentro, uma coisa que é vida, é alma, é espírito, é uma
coisa muito além. Além da música transferir muitas coisas boas para nós no dia a dia,
no decorrer do nosso dia a dia. Então, eu acho que meu papel fundamental além de
regente é... um papel motivador, um papel de quem puxa, quem sabe... vou falar um
barco de remador que eu acho que é meu papel .O coral é muito complicado
principalmente o coral de igreja. Primeiro que é um trabalho voluntário, sem fins
lucrativos, ninguém aqui recebe nada, então é um trabalho que os coristas fazem os
sacrifícios deles de estarem aqui. Então passa a época, toda coisa você sabe disso, a
gente entra na rotina e aonde você tem que trabalhar, fazer aquele trabalho para estar
puxando o povo. E aqui a gente, graças a Deus, está num trabalho muito legal a turma
tem uma freqüência muito boa.
Entrev. E o que os coralistas esperam do seu trabalho, o que você acha?
Reg.: Na verdade eu não sei. Porque eu acho que poucas pessoas chegam para mim para
falar alguma coisa, às vezes no meu aniversário passam uma mensagem, me abraçam e
falam: “que legal você estar aqui com a gente”. Eu sei que algumas... a gente imagina e
por esse bate papo eu acho que eles esperam não sei nem te dizer, talvez uma...como se
diz...uma presença mais longa, como é que se diz.... uma estada com eles mais
prolongada. Talvez seja isso porque eu tenho uma amizade muito boa com eles, uma
coisa de irmão mesmo, não só irmão de igreja mas aquela amizade. Então eu sinto assim
deles pelo menos... sei lá... querem que eu fique mais tempo porque coral também passa
fase que você quer sair, quer deixar, quer colocar outro no lugar, eu sinto que é isso. Em
termos técnicos não, porque a gente trabalha com pessoas não muito informadas em
termos musicais, em termos vocais. Tem vez que você traz um trabalho aqui que eles
ficam admirados: “puxa! eu nunca tinha visto isso”. Então em termos técnicos até que
não, eles admiram muito mas não é que eles esperam, eles até ficam admirados quando
acontece uma coisa diferente, mas é isso aí.
Reg.: Eu não sei se estou te respondendo a altura.... essas perguntas que eu não
imaginasse que você ia fazer (risos).
67
Entrev. Está ótimo, você está bem a vontade...
Entrev. Se você tivesse que escolher alguém para ser regente, como seria essa
pessoa? Quais as características que você gostaria que ela tivesse?
Reg.: Alguém para ser regente...alguém do coro?
Entrev. Não, uma pessoa que tivesse que colocar como seu substituto aqui.
Reg.: É uma pergunta excelente, essa daí eu te respondo o que sempre penso. Eu quando
penso em largar um trabalho, quando tenho outra oportunidade que me provoca um
pensamento: “poxa, aí eu tenho que deixar o pessoal, eu tenho que arrumar alguém para
ficar e tal...”. Primeira coisa que eu penso é numa pessoa responsável. Eu acho que um
regente tem que ter responsabilidade, que ele não chegue na hora. A princípio ele tem
que chegar na hora, tem que ser pontual. Mas vamos supor que ele tenha uma
dificuldade porque a vida é muito corrida, acho que o regente tem que ser responsável
no sentido de respeito, de admiração, de companheirismo, de nunca deixar um coral
esperando e ele faltar. Ele tem que ir de qualquer maneira, ele vai debaixo da chuva, ele
chega molhado e rege o coral. Eu nunca pensei isso na minha vida, eu nunca deixei um
coral em vinte anos, nunca deixei o coro. Às vezes eles ficam aqui, eu tenho uma ou
outra atividade, tem que reger um outro coral, eu falo: “gente, eu vou...”, eles ficam
desesperados, e eu chego na hora certinha e rejo, eles dizem “você mata a gente do
coração”(os coralistas), “mas para que isso? você sabe que isso nunca vai acontecer”
(regente). Se Deus quiser, é claro que a gente não prevê o futuro mas eu procuro...então
o regente para mim tem que ser daí para lá, primeiramente é o espírito de
responsabilidade.
Entrev. Mais uma característica.
Reg.: Ah, ser um bom músico. E outra coisa é o regente ter ouvido. A gente fala ter
ouvido pelo nosso lado musical, é uma palavra musical, é o regente não ensaiar só por
partitura. É claro, ele ensaia por partitura mas ele ter ouvido aguçado, apurado e saber se
alguém desafinou ou não, ele saber se a pessoa aprendeu se está cantando na altura, na
linha que foi transmitida para ele. Porque tem muitos músicos que ele é músico de
partitura, é um ótimo músico, ele até ensaia ou toca instrumento. Mas ele não tem a
percepção auditiva de observar, de saber se está legal ou se está afinado ou se não está.
Assim também como tem músico que é ótimo de ouvido ensaia até um coral de ouvido
sem precisar de partitura. Mas seria ideal, o regente completo é músico, que lê partitura
e que tem ouvido.
Entrev. E que seja responsável (risos)
Reg.: Ihh, isso daí... aí ele está bem!
Entrev. E as características que você gostaria que ele não tivesse?
Reg.: Nossa, aí eu vou falar o contrário, que ele não fosse irresponsável, que ele fosse
uma pessoa que ele não tivesse capacidade de ler partitura, que ele lesse né, então vou
falar o contrário. Eu acho que é uma característica boa que ele tenha. Outra coisa, uma
característica que gostaria que ele não tivesse, não é isso? É que ele não desfizesse o
trabalho de nenhum outro. Isso daí, eu falei sobre o respeito com o corista agora o
respeito com os outros regentes, isso acontece muito sabe? O regente chega aqui,
assume o meu lugar, e... “mas o J.I. não corrigiu isso! Você está cantando aberto fulano!
Ah, como é que o J.I. deixou? Que regente é esse? O coral está assim, assado...” Eu
acho isso muito anti-ético. Eu já trabalhei com coral que já passou outros regentes. Não
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que eu sou certinho, é claro, a gente tem falhas, eu devo ter minhas falhas em outros
lugares mas nesse quesito aí eu não tenho, graças a Deus, porque eu acho que a gente
tem que respeitar o outro músico também. Se você quer uma coisa diferente, você
trabalha dali pra frente, pega aquilo que foi bom. Então eu acho que ele não deve ser
uma pessoa que desfaça de uma outra pessoa, do trabalho do outro regente.
Entrev. Quais são os critérios para alguém ingressar no coral?
Reg.: É, eu vou te falar sobre esse assunto, é uma coisa...se a gente for conversar sobre
isso a gente vai a noite inteira mas rapidamente...
Entrev: É, de forma resumida...
Reg.: Eu vou falar daqui, depois falo do outro coral que trabalho aí fora, que não é
coral evangélico.
Entrev. No caso da minha pesquisa é evangélico. Então vamos focar aqui na...
Reg.: No evangélico.
Entrev: É, no evangélico
Reg.: No caso do coral evangélico eu faço um teste com a pessoa.
Entrev. Individual?
Reg.: Eu faço um teste de afinação individual porque não é a questão de você excluir as
pessoas, o ideal seria você trabalhar com coral até inclusivo, como se diz aí fora, mesmo
a pessoa deficiente vocal, mas o que acontece você trabalha com muita deficiência vocal
ela começa a... a qualidade começa a diminuir a partir do momento que a deficiência
aumenta. Aquela qualidade diminui e você começa a trabalhar na zona de risco e fica
muito feio, o coral não fica harmônico. Então você pode até trabalhar com limite, com a
pessoa que está um pouco desafinada você vai trabalhando querendo recuperar uma voz
ou outra. Eu falo isso em termos de igreja, não é uma coisa profissional, mas não você
trabalhar sistematicamente de adquirir pessoas que tenham deficiência vocal, deficiência
assim desafinados. Então faço um testezinho, a pessoa fez, eu descubro o timbre dele, se
é um soprano, um contralto, se é um tenor ou baixo e encaixo a pessoa no local correto.
Faço um trabalho com 2 vozes para viabilidade que ele tem porque ele pode ser um
soprano mas às vezes ele ouve um contralto cantar e não segura o soprano, ele desafina
e passa para o contralto, então faço um trabalho também de 2 vozes aqui dentro....(fala
sobre o coral da polícia, que é inclusivo, que não faz teste)
Entrev. E aqui se o irmão é desafinado, como é que você faz?
Reg: Aí eu...
Entrev. Ele morre de vontade de cantar no coral mas não sabe cantar...
Reg.: Eu costumo dar uma oportunidade e depois faço uma reavaliação para ver se ele
está aprendendo aqueles exercícios que eu faço. Eu cobro dele de estar cedo para fazer
as técnicas vocais e depois vou lá e pego o repertório que estou ensaiando muito e passo
com ele depois sozinho. Agora, se ele é daqueles que atrapalha mesmo tenho que falar
para ele: “olha irmão, aqui nesse caso, seu dom deve ser de pregar, de interceder, de
orar porque o irmão pode estar atrapalhando o coral” e atrapalha mesmo. Mas com
muito jeito, eu procuro nunca ferir as pessoas, de modo nenhum, eu gosto muito de
amizade.
Entrev. E para finalizar J.I., como é feito o trabalho de voz com os coralistas?
Reg.: Em termos....
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Entrev. De técnica
Reg.: Eu faço trabalho em escalas ascendentes, descendentes, por exemplo, “lá lá lá”
(ascendente) e vou modulando “lálálá”, é isso que a gente usa, o que é usado aí
normalmente em termos gerais. E mudo o exercício, trabalho o “a, é ,i , o” e nisso vai
aplicando o trabalho vocal no aquecimento. Já faz aquecimento trabalhando técnica, eu
falo “a e i o u o i e a” (2vezes) e vai trabalhando “lolenu larená”, uma série de
trabalhozinhos, de exercícios de trocas de letras e nisso já vai trabalhando a articulação
e com isso vai expandindo esse lado todinho, pegando a expressão facial, postura de
palco, postura cênica, a gente canta aqui (aponta o palco em frente dos bancos), tudo
espalhado, cada um num lugar, aí você já tem que fazer um trabalho legal, não é igual
você estar ali (nos bancos), você tem que cantar sem a pasta, a música deve ser bem
decorada. Mas em termos vocal é por aí.
Entrev. E aonde você aprendeu essa técnica vocal?
Reg.: Ah, eu fiz alguns cursos, depois que saí da casa da minha mãe, da época de garoto
que eu vim estudar aqui em Goiânia, fui criado com um maestro aqui o Leci, ele é muito
conhecido no meio evangélico e dali já fui pegando muita coisa. Tem o professor João
Gomes, em Brasília, que eu passei uma temporada boa fazendo curso com ele de técnica
vocal, de regente. Fiz curso técnico 3 anos e ainda não sou formado. Tive até a
oportunidade de fazer faculdade, mas depois que fui oficial na polícia militar a banda
me excluiu esse tempo mas com certeza vou estar fazendo o curso superior, é meu
sonho! (risos).
Transcrição da entrevista com o regente E..
Entrev.-Nome completo, por favor?
Reg.:E. F. R.
Entrev.- Sua idade, E.?
Reg.:30 anos.
Entrev.- Qual é a sua profissão?
Reg.:Músico.
Entrev.:-Quantos coralistas há no seu coral?
Reg.:Olha, atualmente, são 35 do coral jovem e, 30 do coral infantil.
Entrev.: E há quanto tempo, E., você é regente de coral?
Reg.:Cinco anos.
Entrev.:Conta pra mim, como você se tornou regente.
Reg.:A primeira experiência que eu tive como regente foi logo após de eu ter me
formado e a igreja me fez uma proposta de serviço. Então, nessa proposta eu assumiria
um coral adulto que, na época, não era essa igreja aqui, era a igreja presbiteriana. Daí eu
regi o coral lá 4 anos e na mesma época que eu comecei a reger o coral lá comecei a
trabalhar no Gustavo Riter. E lá eu deveria assumir turmas de teoria musical, turmas de
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instrumento que, nesse caso, seria piano e teclado e as turmas de coral infantil. Então foi
assim que comecei. Foi no ano de 2000, logo após a formatura.
Entrev.:-Formatura? Em que você se formou?(pausa para atender ao telefone)
Entrev.:Vamos continuar aqui. Você falou que você é formado? Que você começou
a trabalhar como regente depois que você se formou em quê?
Reg.:Eu formei em piano, a minha formação é em piano. Eu fiz o curso superior de
piano e eu me formei em 99 e colei grau em 2000. Foi o ano que eu comecei a trabalhar
como regente. Até então eu não tinha tido essa experiência mas daí eu comecei a
trabalhar assim que me formei, estava de posse do diploma já e podia assumir.E
também porque a gente no curso tem uma certa experiência com coral. Então não foi
uma experiência que foi, vamos dizer assim a modo grosso, para mim crua (risos), já
tinha uma certa experiência. A gente tem um certo suporte até.
Entrev.:Certo, entendi.
Entrev.:E aí E., como é o seu trabalho no coral. Relate como acontece um ensaio
aqui na igreja.
Reg.:Bom, o ensaio é assim: antes de eu entrar para sala com os coristas eu já tenho que
ter preparado o meu material. Eu já faço uma escolha de repertório de acordo com a
extensão vocal do coro. Eu procuro trabalhar as vozes dentro de uma determinada
extensão que eles têm. E no ensaio normalmente acontece assim: eu...(pausa para trocar
de sala)
Entrev.:Então, como você estava falando da escolha do repertório de acordo com a
extensão vocal...
Reg.:É, de acordo com a extensão vocal do coro que eu tenho. Então, como o coral
jovem é um coral que está recém-formado, assim que eu comecei a trabalhar esse ano,
as notas graves, muito graves eu não coloco porque o baixo ainda tem que ser
trabalhado vocalmente. E a mesma coisa acontece com o soprano, com tenor e contralto
que tem suas devidas extensões também. E...normalmente, o ensaio a gente começa
trabalhando um relaxamento muscular, dos membros superiores, pescoço, fazendo
exercícios com os músculos faciais. Depois a gente começa com o aquecimento vocal
em bocciuse, com a vibração da língua, vibração labial e depois com sílabas para ativar
a voz, com sílabas abertas e depois fechadas.
Entrev.:Como é esse exercício com sílabas?
Reg.:Eu trabalho com /si/, e a extensão que eu faço, por exemplo, como a gente tem as
extensões divididas paras vozes, eu pego as primeiras 5 notas da escala e vou do grave
até o agudo com essas 5 notas subindo e descendo com a sílaba assim: então seria por
exemplo: si i i i i, né, esse exemplo.Depois com sílabas abertas /pa/, /ta/. Depois tem um
exercício que eu uso muito para ativação da voz nessa mesma extensão, que é a palavra
zing. Daí depois que faz mais ou menos uns 15 minutos desse aquecimento, aí a gente já
começa a passar o ensaio das vozes mesmo. Nosso ensaio tem a duração de 1 hora, 1
hora e 10.
Entrev.:Quantas vezes na semana?
Reg.:Por enquanto, nós estamos fazendo 1 vez por semana, que é o coro jovem no
sábado e o coro infantil na terça-feira.
71
Entrev.:E o coro é misto ou só feminino?
Reg.:Misto
Entrev.:E para você, E., qual o seu papel no coral da igreja? O que você acha?
Reg.:Olha, tendo em vista a extrema necessidade da gente criar alternativas musicais,
quanto mais música tiver dentro da igreja melhor para gente, para haver envolvimento
de grupos, envolvimento pessoal e haver uma interação maior também. Então eu acho
que como responsável por isso, como responsável pela coordenação de música da igreja,
o meu papel é extremamente fundamental nessa área sabe? Porque a gente tenta não só
proporcionar música mas também como outras atividades de interação entre os grupos.
Às vezes a gente tem jovens que podem freqüentar a igreja só aos domingos e durante a
semana fica o tempo inteiro fora. E as vezes, um dia a mais é melhor para eles porque é
outra oportunidade que eles têm de jogar conversa fora também depois ou antes dos
ensaio..essas coisas todas.
Entrev.:Para estar sempre em contato né?
Reg.:É, sempre em contato.
Entrev.:E o que você acha que os coralistas esperam do seu trabalho?
Reg.:Olha, muitas pessoas quando elas procuram um coral elas acham que estão indo
para uma aula de técnica vocal, a intenção delas eu acho que é essa e na verdade não é.
Porque não dá para você trabalhar a voz de um grupo, não dá para refinar como você faz
individualmente. Então assim, eu acho que a intenção delas quando elas procuram esse
tipo de trabalho é primeiramente cantar e assim, como a gente está na igreja, elas têm o
intuito de estar participando do grupo para louvar a Deus, de prestar culto a Deus e
também como uma atividade musical que elas podem ter uma oportunidade em grupo
que às vezes não teriam individualmente. Porque dentro do culto é muito difícil, por
exemplo, vamos supor que eu tenha no coral 30 mulheres que cantam bem. De 30
mulheres que pedem oportunidade, uma ou duas recebem a oportunidade para cantar
individualmente no culto porque o espaço de tempo é pouco e assim, não é objetivo
também ter só música no culto. Então eu acho que para eles é mais interessante porque
recebem a oportunidade junto e ao mesmo tempo uma atividade que faz bem pra eles
também. Eu acho que assim, a intenção é direta e indireta nesse caso porque responde a
eles. Eu acho que eles também esperam de mim um amadurecimento musical, vamos
dizer assim, uma segurança musical para o que eles fizerem, não façam errado, por
exemplo, ter segurança na hora de fazer os exercícios vocais, para não fazer errado, para
não danificar a voz, essa coisa toda.
Entrev.:Se você tivesse que escolher alguém para ser regente, como seria essa
pessoa? Quais características que você gostaria que ela tivesse?
Reg.:Hoje, a característica principal que eu gostaria, se eu fosse escolher, é uma pessoa
que tivesse facilidade de lidar com pessoas. Porque o regente de coral não precisa saber
só música. Porque não adianta você pegar e abrir um livro de partitura na frente do coral
e passar a voz sem ter uma interação pessoal com essas pessoas. Então, a primeira
característica que eu buscaria é essa facilidade do líder lidar bem com o grupo sem
impor e assim, ele conquistar o grupo a tal ponto de ele ter o grupo na palma da mão.
Em questões de agendas, de músicas, de atender as outras necessidades, nesse caso seria
de apresentar fora, em hospitais essas atividades mais seculares mesmo que o coral
poderia atender. Então, que soubesse também...então poderia ser as características de
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lidar bem com o grupo,dominar o conteúdo, cantar bem, ter uma voz boa, ter segurança
para conduzir o grupo e ter um envolvimento, assim, se dar para o trabalho de regente
para o grupo. Não ser uma pessoa que esteja ali só a fim de fundos monetários, só pra
ganhar dinheiro mas que goste realmente de exercer atividade e que se doe para o coral.
Entrev.:E as características que você não gostaria que a pessoa tivesse...
Reg.:É, agora vamos dizer primeiramente, não saber música (risos), porque as vezes a
pessoa sabe cantar mas não sabe música e as vezes ouve e quer ensaiar de ouvido então
não dá certo. A outra é que ela não soubesse lidar com pessoas, que fosse impetulante,
que fosse osso duro de roer (risos).
Entrev.:Entendi, é ao contrário do que...
Reg.:É ao contrário que eu gostaria que fosse.
Entrev.:O que uma pessoa deve fazer para entrar no coral?
Reg.:Primeiro, ter vontade de participar. Como é uma atividade que está aberta, eu
gostaria que a pessoa que tivesse vontade de participar fizesse um teste. Mas nós temos
um problema muito sério em relação a isso porque as pessoas não entendem isso como
uma avaliação, entendem como uma rejeição de fazer um teste para elas entrarem no
coral. Então eu peço que a pessoa que tenha facilidade de cantar já entra tranquilamente
mas a que não tem eu peço que ela preste mais atenção nos ensaios e, na medida do
possível, eu pego e faço um...como se fosse um...dar um aparato para a pessoa fora do
ensaio para que ela possa se situar. Nesse caso que eu te disse que montei o coral jovem
recentemente, tem muitos jovens que nunca participaram de coral. Eu vejo que tem
gente que está desafinada mas que pode afinar, que pode chegar na nota e acaba até que
esse fator de afinação é um fator que abrange várias outras áreas, a atenção, a
psicomotricidade, todas essas características que são ligadas ao cérebro mesmo, a
neurologia cerebral.Mas a pessoa procura o grupo, se ela canta bem ela já vai abrindo a
boca para participar (risos) efetivamente e a gente procurar estar fazendo com que cada
participante se comprometa, tenha compromisso com o ensaio para não ter aquela
rotatividade de participantes. Uma hora você prepara a música de um jeito aí de repente
entra um que está fora dessa coisa, não consegue fazer direitinho. Mas enfim, são essas
as possibilidades que a pessoa tem para participar do coral.
Entrev.:E se caso ela não aprende a cantar ou ela não canta bem e aí, o que você
faz ?
Reg.:Olha, aí a gente conversa (risos).
Entrev.:Porque às vezes ela tem vontade mas ela não tem perfil para cantar.
Reg.:É, justamente. Porque eu não posso permitir que uma pessoa muito desafinada
apareça no coral, cante num coral. Porque se eu tenho 35 elementos, 34 cantam afinados
e um não, quem aparece é o desafinado, entendeu? E a gente conversa, explica que pode
ser feito, assim... lógico que com muita cautela porque as pessoas são muito sensíveis,
essa coisa toda, então não dá para dizer que ela é desafinada. A gente tem que usar uns
termos similares (risos) para a pessoa ou procurar uma aula ou procurar outra atividade
que ela se desenvolveria melhor.
Entrev.:Entendi. E aí como que você termina o ensaio?
Reg.:Olha, esse ensaio como a gente tem pouco tempo para fazer o ensaio, eu gostaria
muito que terminasse com desaquecimento vocal. Mas a gente não termina, a gente
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canta, quando as vozes já estão passadas separadamente, a gente junta e canta de 1 a 4
vezes a música. Como é um ensaio de uma igreja evangélica, normalmente a gente ora
no final e cada um se despede e a gente finaliza.
Entrev.:Então, não é feito o desaquecimento...
Reg.:É, não é feito. A minha intenção é que eu tenha uma íntegra sabe? Em questão
assim de trabalhar a voz. Não dá porque na hora que o pessoal já vai percebendo que
está terminando, fica todo mundo ansioso e um sai, vai tomar água e não há certo rigor
na disciplina ainda, porque até o pessoal pegar no tranco (risos). Isso para o coral jovem
e para o coral infantil a gente já trabalha alguma coisinha assim já mais com a disciplina
porque a criança é mais fácil da gente trabalhar nesse aspecto.
Entrev.:O jovem é mais difícil! risos
Reg.:É mais difícil, é mais incontrolável (risos).
Transcrição da entrevista com o regente P..
Entrev.-Qual seu nome completo, por favor?
Reg.-Meu nome é P. A. N.
Entrev.-Sua idade?
Reg.-Eu tenho 35 anos
Entrev.-Qual sua profissão?
Reg.-Minha profissão hoje é bombeiro, músico militar.
Entrev.-Quantos coralistas há no seu coral?
Reg.-Hoje eu estou trabalhando com 2 corais,um aqui na igreja e um na Faculdade
Universo. Aqui na igreja eu estou ensaiando um grupo de aproximadamente 20 vozes e
lá na Universo, de 22 vozes.
Entrev.-E há quanto tempo você é regente?
Reg.-Eu já estou com uns 12 anos de regência e trabalhando em canto já tem uns 14
anos direto.
Entrev.-Conta para mim P., como você se tornou regente.
Reg.-Olha, eu me tornei regente de coral foi quando o maestro deixou o coral.Como eu
já era música, já cantava no coral, então eu acabei assumindo o coral, que foi no início
de 93. Mas em coral eu já canto desde os 15, 16 anos de idade. Foi quando eu me tornei
músico profissional mesmo.
Entrev.-Você estudou música ou foi pela sua experiência...
Reg.-Não, não, eu estudei música, aprendi música dentro da igreja, comecei a praticar
dentro da igreja o instrumental e com 15 anos já comecei a fazer parte da banda
sinfônica da cidade onde eu morava e com 16 anos me tornei músico profissional
mesmo e instrumentista . Isto fora da igreja numa banda sinfônica da prefeitura. E na
igreja tocando na banda e também no coral da igreja.
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Entrev.-Você então fez curso de música? De qual instrumento? Como é que foi?
Reg.-Eu fiz teoria musical, e peguei um instrumento que no caso é o trombone.Com a
minha vinda para Goiânia quando eu me ingressei no corpo de bombeiros aonde eu vim
tocar trompa. E aqui eu também canto no coro sinfônico da orquestra sinfônica de
Goiânia, que é o coro profissional, não sei se você já ouviu falar, é o Afósico.
Entrev.-Já ouvi falar sim...
Entrev.-Como é o seu trabalho no coral? Relate como acontece um dia de ensaio
aqui na igreja.
Reg.-No sentido assim.. de como eu começo o início de tudo?
Entrev.-É, como é o início, meio e fim do coral.
Reg.-Eu sempre começo com exercícios de...como é que fala? de alongamento, acerta a
postura, alonga o corpo, essa coisa toda e com aquecimento vocal. Eu sempre trago a
música preparada, já pré-ensaiada e só depois de um aquecimento bem detalhado aí eu
já começo a implantar a música. Eu sempre passo vozes por vozes depois a gente vai
encaixando e sempre termino com tudo aquilo que nós começamos tentando finalizar
fazendo com que os coristas saiam daqui e não se esqueçam o que aprendeu, porque na
verdade eu trabalho com leigos na música eu não trabalho com músicos profissionais
certo?
Entrev.-Para você P., qual é o seu papel no coral da igreja?
Reg.-O meu papel é fundamental porque na verdade aqui na igreja são poucos
profissionais então se eu também não tiver essa cooperação o trabalho...na verdade esse
grupo que estou trabalhando na igreja foi de uma pessoa que saiu e o trabalho parou
porque não tinha uma outra pessoa. Então eu propus aplicar o que eu aprendi também
dentro da igreja.
Entrev.-Para você, o que os coralistas esperam do seu trabalho aqui na igreja?
Reg.-Graças a Deus que eles me respeitam, eles me conhecem bem, sabem da minha
postura e Graças a Deus eles têm uma confiança em mim. Sabe que podem aproveitar
bem, que o momento que eles estarão aqui eles vão aprender. Porque a partir do
momento que eu entro para ensaiar, eu não converso, não tenho outro assunto. Para mim
é o tempo todo música e Graças a Deus eu tenho tido essa confiança deles, sabendo que
eu vou chegar, vou fazer e vai acontecer.
Entrev.-Se você tivesse que escolher alguém para ser regente, como seria essa
pessoa? Quais as características que gostaria que tivesse?
Reg.-As características que eu gostaria era o seguinte: que ele se interessasse primeiro,
que a pessoa ao ser regente não é porque um saiu, a pessoa tem que gostar, esse é o
primeiro passo, tem querer assumir essa responsabilidade e ver se ele assimila bem com
o grupo, se o grupo está disposto a aceitá-lo nesse aspecto.
Entrev.-E as características que um regente não pode ter?
Reg.-As características que um regente não pode ter é o individualismo, achar que ele é
autoridade total do grupo, aquele que manda e pronto e acabou e não é assim. Ele tem
que impor a autoridade dele com o trabalho dele, não dizer “Ah, porque eu mando eu
faço isso!” Ele deve acatar sugestões e dessas sugestões ele fazer um balanço do que
deve ser mas sempre pensando na música e no músico e nunca pensando em si próprio.
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Entrev.-E o que uma pessoa deve fazer para entrar num coral da igreja?
Reg.-Geralmente, quando uma pessoa entra num coral da igreja, a gente faz um teste
para ver se ela é afinada, se uma pessoa tem condição vocal de cantar. Eu geralmente,
faço teste de ...não digo de fidelidade mas de interesse da pessoa. Por exemplo, a pessoa
chega hoje, quer cantar num coral, eu faço um exercício com ela, para ver qual é a voz
dela, se é um soprano, contralto, tenor ou baixo, ver se ela é afinada e aonde vou
encaixá-la no grupo. E a partir desse momento, eu dou um prazo para ela, você vai ficar
ensaiando até você aprender as músicas e de acordo com o seu desenvolvimento, você
permanece no grupo. Porque tem que ver o lado se a pessoa está somente por um
impulso ou porque gostou, achou bonito ou porque realmente quer. Tem pessoas que
chegam e faz acontecer e tem aquelas que chegam e não fazem nada.
Entrev.:Mas e se a pessoa não consegue cantar, se ela não se desenvolve, o que você
faz?
Reg.-Quando eu faço um teste com a pessoa, eu faço com ela sozinha e depois eu faço
comigo cantando junto. Se a pessoa não cantou sozinha mas comigo ela cantou, eu
entendo que é uma falta de percepção, ela consegue acompanhar. Então, num trabalho
mais prolongado, ela dentro do grupo ela consegue se desenvolver. Mas quando a
pessoa chega, não canta sozinha e também não canta acompanhado então essa pessoa
não consegue ter um desenvolvimento. Aí teria que fazer um trabalho totalmente à
parte, separado para ver se a pessoa se desenvolve mas dentro do grupo ela não se
encaixa.
Entrev.-Então ela não participa nesse momento...
Reg.-Não participa.
Entrev.-E como você termina o ensaio?
Reg.-Geralmente eu termino fazendo uma avaliação daquilo que eu comecei. eu sempre
faço o trabalho e sempre deixo claro para os coralistas de que a gente tem que continuar
nesse trabalho, nesse projeto com afinco, querendo sempre continuar.E eu sempre
termino cantando uma música leve, uma música suave para gente finalizar.
Entrev.-Por que você canta uma música mais suave, qual seu objetivo?
Reg.-Justamente para relaxar, porque a gente começa naquele pique, com aquele gás
todo e de repente vou soltar? Eu também não sobrecarrego, quando vejo que os coristas
já estão cansados eu procuro dar um jeito de terminar porque já foi além do limite. É
melhor terminar do que prejudicar a voz, essas coisas.
Entrev.-E qual exercício que você faz quando falou que faz o aquecimento no
início?
Reg.-Eu faço na respiração, sempre controlando o ar na saída, porque a maior
dificuldade dos corista sé no controle do ar. Eu faço com notas longas e também para
emitir um som bem puro. E eu vou inserindo umas 2 notas, 3 notas, 4 notas e assim eu
vou devagarzinho subindo mais agudo para que a voz esteja bem aquecida.
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