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Outra questão que merece destaque, em se tratando da educação indígena, diz respeito,
a não haver punição física para as crianças. Essa é a opinião de todos os autores que focalizam
em seus trabalhos esse aspecto.
Em relação a educação, Shaden (1976 apud MELIÁ, 1979, p. 12) cita que:
[...] a vida em sociedade requer obediência a um conjunto de normas de
comportamento aprovadas pela tradição. Estas normas, variáveis de um povo
para outro, devem ser aprendidas e aceitas pelo indivíduo enquanto se
desenvolve a sua personalidade. Isto se obtém pela educação, processo que
abrange as atitudes, práticas e precauções, conscientes ou inconscientes,
intencionais ou não – aos membros do grupo, características físicas, mentais
e morais necessárias à vida adulta no contexto social. Educar é, enfim,
formar o tipo de homem ou de mulher que, segundo o ideal válido para a
comunidade, corresponda à verdadeira expressão da natureza humana. De
acordo com a definição deste ideal e na medida em que o admite e exige a
cultura, a educação age no sentido de tornar semelhantes os indivíduos. Por
outro lado, os diversifica na medida em que o impõe o funcionamento
normal do sistema, em correspondência com sua maior ou menor
complexidade.
A educação nesta sociedade é dividida em dois momentos, um em que o filho é
presença constante na vida da mãe, até provavelmente um ano de vida e um segundo
momento onde se dá a imitação da criança pelos jogos e afazeres dos adultos.
Meliá (1979, p. 14) divide a educação em primeira e segunda infância; em relação à
primeira infância, diz: “[...] a educação de hábitos motores, o estreito relacionamento com a
mãe, são geralmente as principais características da educação nesse período”.
Apresenta duas etapas: a imitação da vida do adulto pelo jogo e a imitação
pelo trabalho participativo. A criança indígena faz em miniatura o que o
adulto faz, vive no jogo a vida dos adultos. Aprende as atividades sociais
rotineiras, participa da divisão social do trabalho e adquire as habilidades de
usar e fazer instrumentos e utensílios de seu trabalho, de acordo com a
divisão de sexo. [...] Uma dupla atitude aparentemente contraditória chama a
atenção do observador de fora numa sociedade indígena: as crianças gozam
de uma grande liberdade nos seus movimentos, fazendo o que bem querem,
sem que os adultos se imponham a elas com continua admoestações ou
proibições; por sua vez essas mesmas crianças não dão motivo de
aborrecimento aos pais ou a outros membros da comunidade. [...] O respeito
que os pais têm com as crianças, o modo de falar com ela, de persuadi-la
quase que nos pareceriam exagerados. O adulto considera o papel da criança
na sociedade com muita seriedade. O que não quer dizer que as relações
entre eles sejam tensas ou tristes. Adulto brinca com criança e criança brinca
com adulto (MELIÁ, 1979, p. 14-20).