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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
CENTRO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOFÍSICA MARINHA
VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS
AMBIENTES COSTEIROS AMAZÔNICOS:
Avaliação de Modificações por Sensoriamento Remoto
Niterói- RJ
2006
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VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS
AMBIENTES COSTEIROS AMAZÔNICOS:
Avaliação de Modificações por Sensoriamento Remoto
Tese apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Geologia e Geofísica
Marinha como requisito parcial para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências.
Área de Concentração: Geologia e
Geofísica Marinha
Orientador: Prof. Dr. Alberto Garcia de Figueiredo Jr.
Co-Orientadores: Prof
a
. Dr
a
. Odete Fátima Machado da Silveira
Dr. Laurent Polidori
Niterói
2006
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S237 Santos, Valdenira Ferreira dos
Ambientes costeiros amazônicos: avaliação de modifica-
ções por sensoriamento remoto/ Valdenira Ferreira dos Santos. –
Niterói :
s.n., 2006.
306 f. : il.
Tese (Doutorado em Geologia e Geofísica Marinha) –
Universidade Federal Fluminense, 2006.
1. Sensoriamento remoto. 2. Modificação ambiental.
3. Estuários - Interpretação de dados - Sensoriamento remoto.
4. Costa Amazônica. I. Título.
CDD 526.982098115
VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS
AMBIENTES COSTEIROS AMAZÔNICOS:
Avaliação de Modificações por Sensoriamento Remoto
Tese apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Geologia e Geofísica Marinha
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Doutor em Ciências. Área de
Concentração: Geologia e Geofísica Marinha
Aprovada em 10 de agosto de 2006.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Alberto Garcia de Figueiredo Jr. (Orientador)
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof
a
. Dr
a
. Odete Fátima Machado da Silveira (co-orientadora)
Universidade Federal do Pará - UFPA
Dr. Laurent Polidori
Institut de Recherche pour le Développement – IRD (co-orientador)
Prof. Dr. Pedro Walfir Martins e Souza Filho
Universidade Federal do Pará - UFPA
Dr. Fernando Pellon de Miranda
Centro de Pesquisas da PETROBRÁS - CENPES
Prof. Dr. Gilberto Tavares de Macedo Dias
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof. Dr. Marcus Polette
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI
Niterói
2006
i
Á minha família, que na escola da vida em
águas amazônicas, ensinou-me a olhar os
sinais da terra e suas transformações. Pelos
exemplos de fé, coragem, honestidade e
persistência na vida. Por mais que eu viva
mil anos jamais saberei e conseguirei
retribuir a essa torcida incondicional que
possuo.
À minha adorável avó, Valdelina Ferreira (in
memoriam), saudades eternas.
ii
AGRADECIMENTOS
Nenhum homem trabalha sozinho. Ao longo de cada jornada terminada, muitos
caminharam conosco e nos auxiliaram, então agradeço:
Ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA,
pela oportunidade de desenvolver esta pesquisa, pelos auxílios financeiros, apoio logístico e
infra-estrutura.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq e a Secretaria de Estado de Ciência e
Tecnologia do Amapá – SETEC, pelo financiamento do projeto “Avaliação de Processos
Dinâmicos no Estuário do rio Araguari”, convênio 610093/03-7 MCT/CNPq, que permitiu
que grande parte desta tese fosse viabilizada.
Ao MMA, através do projeto PROBIO, na pessoa da coordenação do pesquisador
Salustiano Costa Neto, pelo apoio logístico e financeiramente do segundo trabalho de campo.
Ao Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro – GERCO-AP, através do
coordenador do programa, Luis Takiyama, pela cessão dos dados sobre a área de estudo.
Ao IBAMA, Amapá, pelo apoio logístico nos trabalhos de campo e sobrevôos
realizados na área, pela cessão de fotografias.
À Secretaria do Estado de Meio Ambiente do Amapá- SEMA pela cessão de imagens
recentes da área.
A Universidade Federal Fluminense – UFF, através de seu Departamento de Geologia
e do LAGEMAR que me acolheu de braços abertos.
Ao IRD pelo apoio na nossa formação em sensoriamento remoto, através dos estágios
concedidos em Montpellier e Cayenne, que me fez conhecer um pouco mais do mundo de
aplicações do sensoriamento remoto. Pelo apoio no processamento das imagens e pelo acesso
ao seu acervo de imagens.
Á DIREN, equivalente francês da SEMA, através do Sr. Sebastian Linhares, que me
propiciou uma visita a Reserva de Kaw, para conhecer sítios de criações de bovinos em áreas
inundáveis, ampliando meus conhecimentos sobre a costa amazônica.
À Societé Coopérative dês Éleveurs des Bovins em Guyane (SCEBORG) que através
da amiga Laure Gardel, me deu a oportunidade de visitar as explotações de búfalos na Guiana
Francesa, guiada pelo técnico Marcellin Dupuids, que em deu todo apoio logístico,
enriquecendo assim a pesquisa.
Ao Archives Departamentale de la Guyane, pela cessão dos mapas históricos, na
pessoa do Sr. Phillipe Guyot, a quem agradeço o interesse em minha tese.
Ao Arquivo Histórico do Exército Brasileiro pelo acesso a carta de 1798 da costa do
Amapá.
À Marinha do Brasil, através do seu Centro de Hidrografia, pela disponibilização de
seus técnicos que auxiliaram no resgate do acervo de fotografias aéreas, cartas e folhas de
restituição, por terem possibilitado a infraestrutura para escanear as cartas A0. Obrigada ainda
pela presteza na cessão de dados de marés observados e das previsões solicitadas.
iii
À CPRM, através do DIDOTE Multimeios pelo atendimento, facilitando o acesso e
empréstimo de fotografias aéreas, cartas imagens e mapas existentes em seu acervo.
Ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas-IBGE que dirimiram todas as
minhas dúvidas a respeito dos dados cartográficos da região. Tanto no Amapá, quanto no Rio
de Janeiro.
Ao Projeto PIATAM Mar pelo apoio a tese, cessão de imagens do satélite
RADARSAT-1 e apoio no processamento de imagens, através do Laboratório de Análise de
Imagens do Trópico Úmido – LAIT, em Belém.
À PETROBRÁS, que através do projeto PIATAM Mar, apoiou financeiramente com
passagens aéreas entre Macapá-Belém-Rio.
Ao INPE pela doação de uma imagem MSS do satélite Landsat 1 e das imagens
CBERS.
Um agradecimento especial ao meu orientador Dr. Alberto Figueiredo, por ter me
acolhido como mais uma orientanda, pela sua paciência e dedicação de parte do seu escasso
tempo nos encaminhamentos do nosso trabalho. Obrigada por nunca ter deixado que as
dificuldades da pesquisa fosse impedimento para qualquer avanço e pela paixão que tem por
nossa costa amazônica.
Aos meus co-orientadores, Dr. Laurent Polidori e Dra. Odete Silveira, pelos
encaminhamentos dados ao projeto de tese, atenção, paciência, ensinamentos e pelo
conhecimento partilhado e amizade. Espero que eu tenha correspondido a altura da confiança
em mim depositada. Odete, obrigada por ter lutado em todos os momentos para viabilizar a
tese e a Laurent por todo seu apoio do lado francês. Obrigada ainda, pela oportunidade de
conviver com mais uma cultura entre as diversas espalhadas neste mundo.
Aos meus orientadores de estágio, Drs. Marc Lointier e Laurent Durieux pelas
contribuições durante minha estadia na “Maison de Télédéction” em Montpellier (França).
Aos membros da minha banca de qualificação: Profa. Dra. Maria Augusta Martins da
Silva, Profs. Drs. Gilberto Dias e Pedro Walfir Martins e Souza Filho, pelas valiosas
contribuições.
Aos membros da minha banca examinadora profs. Marcus Polette, Pedro Walfir M. e
Souza Fo., Gilberto Dias e Fernando Pellon de Miranda pelas contribuições, críticas e
sugestões a nossa pesquisa.
A Dra. Maria Thereza Prost pelo incentivo desde a minha proposta inicial.
Aos professores e alunos do LAGEMAR, com que tive maravilhosas experiências na
pesquisa. À professora Maria Augusta Martins da Silva e aos professores Gilberto Dias e
Cleverson Guizan da Silva, pelas contribuições no decorrer dos seminários. Ao professor José
Antonio Baptista Neto pelo incentivo à minha pesquisa e pelas valiosas discussões. Ao Prof.
Jorge Palma e André Ferrari pela presteza em solucionar da melhor maneira possível os
problemas de infra-estrutura e informática.
Ao Prof. Gilberto Pessanha pelo auxílio nas minhas dúvidas de cartografia.
As secretárias Eneida Falcão e Jenny Oliveira, por dirimirem minhas dúvidas
acadêmicas e auxílio nas minhas eternas idas e vindas atravessando o Brasil. Vocês são
ótimas.
iv
Aos amigos de curso, Lucia Artusi, Sérgio Ventura e Cláudia Zetune, obrigada pela
força, dicas, ombros e pelas nossas aventuras dentro e fora da cidade maravilhosa. Jamais
esquecerei.
Aos colegas do doutorado Priscila Moreira, Lázaro Laut, Frederico Sobrinho e Luis
Fontana. Os momentos de pressão foram muitos, mas as descontrações também, permitindo
que o fardo fosse mais leve. A alegria de vocês foi contagiante. Agradeço especialmente a
Lázaro e Fred pelas ajudas com o nosso Miau e a Vanessa Laut pelo maravilhoso presente.
Agradeço também pelos auxílios em minhas constantes mudanças de moradia, facilitando
minha vida durante a tese. Vocês foram adoráveis.
Obrigada ainda a Lázaro Laut pela ajuda com figuras e a Paulo Cetto e Victor Murillo
pelo auxílio no momento final.
A Mauro Toledo pelo auxílio na tradução do resumo em inglês, pelas valiosas
discussões e ajuda com os gráficos e análises estatísticas.
Aos colegas e amigos que me ajudaram em Montpellier e no Laboratoire Regional de
Telédétection (Guiana Francesa), dirimindo minhas dúvidas e auxiliando nas atividades
inerentes a nossa pesquisa. Aos que conheci durante a realização deste doutorado. Aos amigos
Loïc, Laure, Antoine, Charron, Proisy e Jean pelo carinho nas acolhidas em Caiena.
A família Reynaud que me acolheu e me adotou em nossa estadia em Montpellier.
Aos pesquisadores do IEPA, Luis Takiyama, Marcos Henrique Martins, Maxley
Barbosa e Salustiano Costa Neto, pelo auxílio nos trabalhos de campo e coleta de alguns
dados apresentados nesta tese, assim como aos técnicos Denis Marques de Oliveira e Silvana
Veloso. Aos bolsistas vinculados ao IEPA, em especial a Laysa Santana e Fátima Alves pela
ajuda na fase pré-campo e nos trabalhos de campo. À Alan e Romeu pela ajuda nos momentos
necessários.
Aos colegas e técnicos do LAIT, Belém, em especial a Fabrício Gonçalves, Francisco
(Tatu), Sheila e Fernando Souza pelo auxílio nos programas de tratamento de imagens, pela
cordialidade e auxílio na solução dos problemas durante minha estádia no laboratório.
Às minhas companheiras de apartamento, Valterlene Oliveira (nossa baiana) e Beatriz
Serrano (nossa colombiana). Obrigada pela compreensão e descontração. À Camilo Ordoñez
pelas preocupações comigo e por facilitar minha vida, pelo auxílio com figuras por ter doado
um pouco do seu tempo para nos auxiliar.
Um agradecimento com muito carinho aos moradores da região de trabalho, que nos
acolheram com muito amor em seus humildes espaços, durante nossas idas e vindas ao
campo. Em especial ao Seu Dinaldo, Seu Branco, que muitas das vezes nos emprestaram seus
ajudantes, nos acompanhando nas árduas tarefas de campo. Sinto-me honrada e feliz de ter
merecido a confiança de vocês.
Obrigada aos pilotos de voadeira (Abelardo-IBAMA, Gaducho-IBAMA, Zeca-
Fazenda Campo Verde, Jonas-IEPA e Miguel-IEPA) que souberam manejar com destreza
nosso principal meio de transporte, a voadeira, através do nosso encantado rio Arawari,
mesmo por debaixo de chuva. Em especial, aos que nos fizerem literalmente surfar na
pororoca com segurança, usando suas experiências na profissão e na área de trabalho.
A Zanandrea Figueira por tudo o que fez por mim, minimizando ao máximo minhas
preocupações durante nossas estadias no Amapá, pelo incentivo em todas as fases deste
trabalho, por me ajudar na pesquisa bibliográfica nas instituições no Amapá, pelas palavras
sempre encorajadoras e pelo carinho e amizade.
v
À Patrícia e Cleiton Júnior pelas preocupações, carinho e amizade me acolhendo
sempre no Amapá, e fazendo o melhor que podiam por mim, como se fossem os anfitriões da
“nossa” casa, de “nossa” Mama.
Ao meu anfitrião, em Belém, Francisco Berredo e sua família, pelas constantes
acolhidas.
À Lídia e Kelly, eternas amigas, pela acolhida em Niterói.
Á Fernandinha pelos conselhos e ajuda com sua experiência e tranqüilidade.
Aos amigos da UFPA e do MPEG, em Belém, pelas informações prestadas e pela
torcida.
A Débora Thomaz por todos os momentos de descontração e pelo incentivo, não
permitindo que a distância lhe impedisse de enviar suas palavras de ânimo.
Enfim, gostaria de agradecer aos meus pais e a minha família pelos ensinamentos de
dignidade, honestidade e perseverança. Sem esta última, difícil chegar ao final de qualquer
jornada. Por terem me dado a oportunidade que não tiveram. Meu muito obrigada de todo
coração.
A lista seria imensa, e o espaço finito para tantos agradecimentos. Termino então
agradecendo a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta
tese. Aos que acreditaram e me fizeram acreditar. Aos que me apoiaram e mesmo aos que nos
puseram obstáculos (poucos, ainda bem!), pois eles permitiram a união de esforços para
transpô-los e chegarmos ao final.
Aos que esqueci, perdoem-me, vocês não foram menos importantes, apenas minha
fraca memória não foi suficiente para citá-los.
vi
“...tudo o que se vê não é igual
ao que a gente viu há um segundo
tudo muda o tempo todo no mundo...”
Como uma onda
Nelson Motta
vii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ...............................................................................................................
AGRADECIMENTOS ................................................ ....................................................
EPÍGRAFE ................................................ ......................................................................
SUMÁRIO ................................................ .......................................................................
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ...........................................................................................
LISTA DE QUADROS E TABELAS ............................................................................
SIGLAS E ABREVIATURAS .........................................................................................
RESUMO ..........................................................................................................................
ABSTRACT ......................................................................................................................
RESUMÉ ................................................ ..........................................................................
PARTE I – AMBIENTES COSTEIROS AMAZÔNICOS: ESTADO DA ARTE E
ESTRATÉGIA METODOLÓGICA DE INVESTIGAÇÃO ..................
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ....................................................................................
1.1 CONTEXTO GEOGRÁFICO E CIENTÍFICO .....................................................
1.2 PRESSUPOSTOS ..................................................................................................
1.3 HIPÓTESES ...........................................................................................................
1.4 OBJETIVOS ...........................................................................................................
1.5 ÁREA DE TRABALHO ........................................................................................
1.6 SINOPSE ................................................................................................................
CAPÍTULO 2 – COSTA AMAZÔNICA .......................................................................
2.1 PLANÍCIE COSTEIRA AMAZÔNICA....................................................................
.
2.1.1 Aspectos Fisiográficos, Geológicos e Oceanográficos........................................
.
2.1.2 Principais Pressões Antrópicas............................................................................
.
2.2 PLANÍCIE COSTEIRA DO AMAPÁ-ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E
EVOLUTIVOS
............................................................................................................
.
2.2.1 Segmentos Progradacionais.................................................................................
.
2.2.2 Segmentos Retrogradacionais..............................................................................
.
2.3 O ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI.......................................................................
2.3.1. O Rio Araguari ...................................................................................................
.
2.3.2 O Estuário............................................................................................................
.
2.3.2 Uso, Ocupação e Pressões Antrópicas................................................................
.
CAPÍTULO 3 – ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS .............................................
3.1 MATERIAIS, MÉTODOS E ESTRATÉGIAS..........................................................
.
3.1.1 Caracterização dos Ambientes Sedimentares Recentes.......................................
3.1.2 Análise da Dinâmica Natural...............................................................................
.
3.1.3 Análise da Dinâmica Antrópica...........................................................................
.
3.2 ANÁLISE DOS DADOS DE SENSORES REMOTOS............................................
.
3.3 INTEGRAÇÃO DOS DADOS ..................................................................................
.
i
ii
vi
vii
xii
xvi
xvii
1
3
5
7
8
8
10
10
12
12
14
15
16
16
20
22
24
27
30
30
34
36
39
41
41
43
48
50
50
viii
PARTE II – MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS EM REGIÕES COSTEIRAS E
NA COSTA AMAZÔNICA .............................................................................................
CAPÍTULO 4 – MODIFICAÇÕES EM ÁREAS COSTEIRAS: AGENTES,
ESCALAS E RESPOSTAS .............................................................................................
4.1. AS ESCALAS NO ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES .........................................
4.2 MECANISMOS DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NATURAIS DE
CURTO PERÍODO EM ÁREAS COSTEIRAS TROPICAIS....................................
.
4.2.1 Climáticos Globais ..............................................................................................
.
4.2.2 Oceanográficos Globais e Regionais...................................................................
.
4.3 RESULTADOS DAS FORÇANTES NATURAIS EM AMBIENTES
COSTEIROS TROPICAIS..........................................................................................
.
4.3.1 Forçantes Climáticas ...........................................................................................
.
4.3.2 Marés como Mecanismo Controlador de Modificações ...................................
4.3.3 Efeitos da Pororoca nos Ambientes Costeiros.....................................................
.
4.3.4 Efeitos das ondas.................................................................................................
.
4.4 MODIFICAÇÕES DE ORIGEM ANTRÓPICA.......................................................
.
4.4.1 A Pecuária como Fator de Modificação em Áreas Costeiras ...........................
4.4.2 Efeitos da Pecuária sobre o Ambiente.................................................................
.
4.5 CONCLUSÕES..........................................................................................................
.
CAPÍTULO 5 – MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS: FORÇANTES E SUAS
INFLUÊNCIAS NA COSTA AMAZÕNICA ................................................................
5.1. AS FORÇANTES NATURAIS ................................................................................
.
5.1.1 ZCIT e ENSO e sua Variabilidade na Costa Amazônica ..................................
5.1.2 Descarga Fluvial..................................................................................................
.
5.1.3 Forçantes Oceanográficas....................................................................................
.
5.2 O PAPEL DAS FORÇANTES NATURAIS NA DINÂMICA DA PAISAGEM E
AMBIENTES DA COSTA AMAZÔNICA................................................................
.
5.2.1 Inundação e as Forçantes Climáticas e Oceanográficas......................................
.
5.2.2 A Sazonalidade da Cobertura Vegetal.................................................................
.
5.2.3 Variações no Aporte de Sedimentos....................................................................
.
5.2.4 Influência das Marés e Pororoca nos Processos Sedimentares e Morfologia....
5.3. FORÇANTES ANTRÓPICAS – A PECUÁRIA NA COSTA AMAZÔNICA ....
5.3.1 A bubalinocultura na costa amazônica................................................................
.
5.3.2 O sistema de criação no estuário do rio Araguari................................................
.
5.4. A PECUÁRIA COMO AGENTE MODIFICADOR DA PAISAGEM
5.4.1 Efeitos Induzidos pelo Rebanho..................................................................
.
5.4.2 Efeitos Associados a Interferência Humana........................................................
.
5.5. CONCLUSÕES.........................................................................................................
.
PARTE III – SENSORIAMENTO REMOTO EM REGIÕES COSTEIRAS
TROPICAIS: FERRAMENTA E SUAS APLICAÇÕES .............................................
CAPÍTULO 6 – O SENSORIAMENTO REMOTO E AS REGIÕES COSTEIRAS
TROPICAIS ......................................................................................................................
6.1. O SENSORIAMENTO REMOTO............................................................................
.
6.1.1. O Sistema de Aquisição de Dados......................................................................
.
6.1.2 O Sistema de Análise dos Dados.........................................................................
.
6.1.3 Premissas Básicas para Aplicação do Sensoriamento Remoto em Ambientes
Costeiros Tropicais
.......................................................................................................
52
53
53
56
56
61
67
67
70
72
74
74
76
77
79
81
81
82
86
90
103
103
109
110
112
119
119
121
125
126
135
136
140
141
141
141
149
154
ix
6.2 EXEMPLO DE APLICAÇÕES EM COSTAS TROPICAIS....................................
.
6.2.1 Mapeamento de Ambientes.................................................................................
.
6.2.2 Detecção de Modificações...................................................................................
.
6.2.3 Monitoramento de Áreas Úmidas........................................................................
.
6.2.4 Monitoramento das Águas Costeiras...................................................................
.
6.2.5 Monitoramento de Derrames de Óleo .................................................................
.
6.2.6 Mapeamento do Uso do Solo e Cobertura do Solo .............................................
.
6.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .............................................................................
.
CAPÍTULO 7 – SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA AMAZÔNICA..........
7.1. AS FERRAMENTAS E CONTEXTO TECNOLÓGICO DO
DESENVOLVIMENTO DO SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA
AMAZÔNICA.............................................................................................................
.
7.2 APLICAÇÕES NA COSTA AMAZÔNICA.............................................................
.
7.2.1 Mapeamento e reconhecimento dos ambientes .................................................
7.2.2 Detecção de Mudanças ......................................................................................
7.2.3 Estudos multidisciplinares para a gestão ambiental ..........................................
7.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...........................................................................
PARTE IV – APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO NO
RECONHECIMENTO DOS AMBIENTES E ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES
NO ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI .........................................................................
CAPÍTULO 8 – APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO PARA
RECONHECIMENTO DOS AMBIENTES E SUA DINÂMICA NO ESTUÁRIO
DO RIO ARAGUARI ......................................................................................................
8.1 DADOS DE SENSORES REMOTOS: AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO ..
...............................................................................................8.1.1 Fotografias Aéreas
.
..........8.1.2 Imagens de Radar Aerotransportado (RADAR GEMS 1000) – RADAM
.
..............................................................................................8.1.3 Imagens de Satélite
.
8.1.4 Dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission)..........................................
8.1.5 Integração dos Dados de Sensores Remotos......................................................
8.2 RECONHECIMENTO DOS PADRÕES E FEIÇÕES MORFOLÓGICAS..............
.
......................................................................................8.2.1 Uso e Cobertura do Solo
.
8.2.2 Feições Morfológicas Lineares Associadas aos Padrões de Uso e Cobertura
Vegetal........................................................................................................................
...................................................................................................................
8.2.3 A Instabilidade dos Padrões e Feições no Contexto das Modificações
Ambientais
.
8.2.4 Reconecimento dos Ambientes ........................................................................
8.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .............................................................................
.
CAPÍTULO 9 – OS INDICADORES DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NA
PLANÍCIE COSTEIRA AMAPAENSE ........................................................................
9.1 INDICADORES NATURAIS....................................................................................
.
9.1.1 Rede de Drenagem................................................................................................
.
9.1.2 Cobertura Vegetal como Marcador dos Processos de Modificação......................
.
9.1.3 Variações na Taxas de Sedimentação e Erosão.....................................................
.
9.2 INDICADORES ASSOCIADOS A DINÂMICA ANTRÓPICA..............................
.
9.2.1 Trilhas....................................................................................................................
.
9.2.2 Rampas, Ravinamentos e Canais (Valas)..............................................................
.
9.2.3 Cercas ....................................................................................................................
.
156
156
157
158
159
161
161
162
164
164
167
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171
173
174
174
174
175
176
184
185
185
185
198
201
202
207
209
210
210
215
217
217
217
218
218
x
9.3.4 Turbidez dos Corpos Aquáticos ............................................................................
.
9.3 TOPONÍMIA..............................................................................................................
.
9.4 IDENTIFICAÇÃO E ESCALA DOS INDICADORES............................................
.
9.4.1 Dados dos Sensores Remotos................................................................................
.
9.4.2 Cartas e Mapas ......................................................................................................
.
9.4.3 Trabalhos de Campo..............................................................................................
.
9.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .............................................................................
.
CAPÍTULO 10 – RECONSTITUIÇÃO DAS MODIFICAÇÕES NO ESTUÁRIO
DO RIO ARAGUARI ......................................................................................................
10.1 APLICAÇÃO DE MAPAS HISTÓRICOS E IMAGENS DE SENSORES
REMOTOS EM ESTUDOS DE MODIFICAÇÕES COSTEIRAS............................
.
10.2 MATERIAIS E MÉTODOS.....................................................................................
.
10.2.1 Mapas Históricos...............................................................................................
.
10.2.2 Imagens de Sensores Remotos ..........................................................................
.
10.2.3 Dados Auxiliares ...............................................................................................
.
10.2.4 Métodos de Detecção das Mudanças.................................................................
.
10.3 MUDANÇAS NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO INFLUENCIADA POR
MARÉS .......................................................................................................................
.
10.3.1 Permanência do "Cabo Norte" e desaparecimento da ilha Carpori...................
.
10.3.2. Desaparecimento do Furo do Araguari na Porção a Sul do Estuário ...............
.
10.3.3. Evolução de Canais Secundários......................................................................
.
10.3.4. Detecção das Mudanças no Lago Central do Meandro de Desembocadura.....
.
10.4 MUDANÇAS NA PLANÍCIE ESTUARINA NA DESEMBOCADURA DO
RIO ARAGUARI........................................................................................................
.
10.4.1 Desenvolvimento da Morfologia Atual do Meandro de Desembocadura........
.
10.4.2 Modificações na Planície Estuarina...................................................................
.
10.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...........................................................................
.
PARTE V – AVALIAÇÃO DOS SENSORES REMOTOS E TÉCNICAS
APLICADAS PARA O ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES NA COSTA
AMAPAENSE ...................................................................................................................
CAPÍTULO 11 – AVALIAÇÃO DOS SENSORES E TÉCNICAS PARA O
ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES .................................................................................
11.1 POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DAS IMAGENS UTILIZADAS............
.
11.1.1 Imagens de Radar..............................................................................................
.
11.1.2 Dados SRTM.....................................................................................................
.
11.1.3 Imagens dos Sensores Óticos ............................................................................
.
11.2. POTENCIALIDADE E LIMITAÇÕES DAS TÉCNICAS E
PROCESSAMENTOS ................................................................................................
.
11.2.1 Correção Geométrica.........................................................................................
.
11.2.2 Análise de Componente Principal por Subgrupo ..............................................
.
11.2.3 Classificação Não Supervisionada ....................................................................
.
11.2.4 Análise Multitemporal.......................................................................................
.
11.2.5 Fusão de Imagens Multisensor..........................................................................
.
11.3 POTENCIALIDADE DOS MAPAS E IMAGENS PARA A DETECÇÃO DE
MUDANÇAS ..............................................................................................................
.
11.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...........................................................................
.
218
218
220
220
221
223
224
232
232
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PARTE VI – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS …………………………………..
CAPÍTULO 12 – CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ...............................................
12.1 CONCLUSÕES .....................................................................................................
12.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................
12.3 RECOMENDAÇÕES E PERSPECTIVAS ..........................................................
CAPÍTULO 13 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................
ANEXOS ...........................................................................................................................
I FORMULÁRIO DE ENTREVISTA DE CAMPO ………………...........................
II MAPA DE AMBIENTES ……………………........................................................
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
CAPÍTULO 1
Figura 1.1: Pressuposto para desenvolvimento desta tese .................................................
Figura 1.2: Questionamentos, estratégias, abordagem e aplicação de resultados ..............
Figura 1.3: Localização da área de estudo..........................................................................
CAPÍTULO 2
Figura 2.1: Clima terrestre, zonas vegetacionais e zonas climáticas oceânicas ...............
Figura 2.2: Contexto geológico-estrutural da costa amazônica..........................................
Figura 2.3: Sistema de dispersão do rio Amazonas ...........................................................
Figura 2.4: Contexto geológico regional da planície costeira amapaense..........................
Figura 2.5: A região dos lagos ...........................................................................................
Figura 2.6: Segmentos progradacionais e retrogradacionais na planície norte .................
Figura 2.7: Segmentos progradacionais e retrogradacionais na planície a sul ..................
Figura 2.8: Principais unidades de paisagem da planície costeira amapaense ..................
Figura 2.9: Ambientes praiais na costa do Amapá. ...........................................................
Figura 2.10: Bacia hidrográfica do rio Araguari …………………………………………
Figura 2.11: Vazão do rio Araguari com outros estuários da costa amapaense ................
Figura 2.12: Aspectos morfológicos da planície costeira no rio Araguari ........................
Figura 2.13: Classificações de estuários ............................................................................
Figura 2.14: Antiga baia do rio Macarry ……………………………………...................
Figura 2.15: REBIO do Lago Piratuba ..............................................................................
CAPÍTULO 3
Figura 3.1: Estratégia de abordagem metodológica da tese ...............................................
Figura 3.2: Estratégia metodológica para reconhecimento dos ambientes sedimentares...
Figura 3.3: Localização da coleta realizada com trados ....................................................
Figura 3.4: Localização de perfis topográficos e aspectos das observações ....................
Figura 3.5: Localização dos pontos de coleta dos dados de marés ....................................
Figura 3.6: Localização e alocação de experimentos ........................................................
Figura 3.7: Localização dos pontos de coleta de água no estuário do rio Araguari ..........
Figura 3.8: Localização das estações pluviométricas e fluviométricas .............................
Figura 3.9: Coleta de dados topográficos na planície de inundação do rio Araguari ........
Figura 3.10: Localização das entrevistas ao longo do estuário do rio Araguari ................
Figura 3.11: Diagrama conceitual da utilização dos dados de sensores remotos ..............
CAPÍTULO 4
Figura 4.1: Técnicas e métodos para o estudo das mudanças geomórficas .......................
Figura 4.2: ZCIT gerada pelo sistema de circulação atmosférica ......................................
Figura 4.3: Padrão de deslocamento da ZCIT sobre a região equatorial ...........................
Figura 4.4: ZCIT com sua área de alta nebulosidade sobre a região equatorial ................
Figura 4.5: Relação dos episódios de El-Niño e La Niña com o clima global ..................
Figura 4.6: Forma e amplitude de marés no mundo ..........................................................
Figura 4.7: Mapa dos fatores que afetam o nível do mar no espaço e no tempo ...............
Figura 4.8: Mecanismo de formação da onda de pororoca nos estuários ..........................
Figura 4.9: Distribuição da pororoca no mundo (retângulo vermelho) .............................
Figura 4.10: Classificação dos sistemas costeiros de acordo com Boyd et al. (1992) ......
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Figura 4.11: Influência da intensificação da reflexão da pororoca ...................................
Figura 4.12: Distribuição do rebanho efetivo nos estados brasileiros em 2004.................
CAPÍTULO 5
Figura 5.1: Desenho esquemático das forçantes naturais que atuam na costa amazônica..
Figura 5.2: Distribuição da precipitação no norte do Brasil ..............................................
Figura 5.3: Distribuição das chuvas e nebulosidade na costa amazônica brasileira ..........
Figura 5.4: Diagrama esquemático da nebulosidade associada às linhas de instabilidade.
Figura 5.5: Efeitos globais dos fenômenos El-Niño/La-Niña sobre a costa amazônica ....
Figura 5.6: Descarga do rio Amazonas em Manacapuru de 1903 a 1985 .........................
Figura 5.7: Vazão desazonalizada para a estação de Óbidos e Porto Platon .....................
Figura 5.8: Variação sazonal dos fatores que influenciam nos processos .........................
Figura 5.9: Pluma de sedimentos do Amazonas em 2004 através de imagens CBERS ....
Figura 5.10: Variações das vazões dos rios que drenam a costa amapaense .....................
Figura 5.11: Direção das elipses de marés M2 na plataforma do Amazonas ....................
Figura 5.12: Altura e amplitudes de marés máximas na costa amapaense ........................
Figura 5.13: Amplitudes máximas de marés para o estuário do rio Araguari ...................
Figura 5.14: Curvas de maré medidas no estuário do rio Araguari, igarapé Novo ...........
Figura 5.15: Curvas de maré medidas no estuário do rio Araguari, igarapé Santana........
Figura 5.16: Locais de ocorrência da pororoca na costa do Amapá ..................................
Figura 5.17: Vistas do fenômeno da pororoca no estuário do rio Araguari ......................
Figura 5.18: Registro do trajeto da pororoca no estuário do Araguari ..............................
Figura 5.19: Seqüência da entrada da pororoca no estuário do rio Araguari ....................
Figura 5:20: Chegada de ondas na costa do Amapá nas proximidades do Cabo Norte ....
Figura 5.21: As condições de precipitação mensal no período de atividades de campo ..
Figura 5.22: Situação de inundação em março de 2003 e março de 2004 ........................
Figura 5.23: Área afetada pelas cheias de 1984 .................................................................
Figura 5.24: Mapa de eventos extremos de inundação desde 1985 ...................................
Figura 5.25: Comparação do comportamento do regime hidrodinâmico ..........................
Figura 5.26: Variação na cobertura vegetal .......................................................................
Figura 5.27: Canais de maré em padrão retilíneos mostrando mudança de sedimentação.
Figura 5.28: Concentração de sedimentos em suspensão (CSS) em sigízia de equinócio
Figura 5.29: Deposição e erosão vertical de sedimentos durante a pororoca ....................
Figura 5.30: Mudança na foz do igarapé Novo .................................................................
Figura 5.31: Agradação na planície de inundação do rio Araguari ...................................
Figura 5.32: Terraços erosionais sob a influência da pororoca .........................................
Figura 5.33: Correlação entre zonas de distribuição de microfauna e pororoca ................
Figura 5.34: Distribuição rebanho bubalino no Amapá ………………………………….
Figura 5.35: Concentração de rebanho bubalino por fazenda ...........................................
Figura 5.36: Tempo mínimo de existência da bubalinocultura na planície de inundação .
Figura 5.37: Fazendas na planície de inundação ...............................................................
Figura 5.38: Búfalos na planície de inundação ..................................................................
Figura 5:39: Maromba em construção no campo ..............................................................
Figura 5.40: Áreas de malhada ..........................................................................................
Figura 5.41: Cercas ............................................................................................................
Figura 5.42: Pegadas de búfalos em terreno ......................................................................
Figura 5.43: Trilhas em áreas de fazendas .........................................................................
Figura 5.44: Aspectos das ravinas desenvolvidos pela subida e descida de gado .............
Figura 5.45: Canais artificiais na planície de inundação do rio Araguari...........................
Figura 5.46: Poças na planície de inundação .....................................................................
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Figura 5.47: Pluma de sedimentos em suspensão disponibilizados por pisoteio de gado.
Figura 5.48: Concentração de sedimentos em suspensão para o igarapé Novo ................
Figura 5.49: Concentração de sedimentos em suspensão para igarapé Santana ................
Figura 5.50: Cercas impedindo o fluxo livre de águas e delimitando fazendas ................
Figura 5:51: Diagrama esquemático da interação entre processos naturais e antrópicos ..
CAPÍTULO 6
Figura 6.1: Diagrama esquemático dos sistemas de aquisição e análise dos dados ..........
Figura 6.2: Relação entre rugosidade e comprimento de onda ..........................................
Figura 6.3: Imagem ERS no estuário do rio Oiapoque.......................................................
Figura 6.4: Imagem de novembro de 2002, NOAA ……………………………………..
Figura 6.5: Imagem do sensor Landsat 7 ETM+. Estuário do rio Hoogly .......................
Figura 6.6: Imagem de sensor de alta resolução (SPOT 5-HRG) em área tropical ...........
Figura 6.7: Exemplo de utilização da cor da água como traçador da hidrodinâmica ........
CAPÍTULO 7
Figura 7.1: Aplicação do sensoriamento remoto na costa amazônica ...............................
Figura 7.2: Exemplo de mapeamento de ambientes costeiros amazônicos .......................
Figura 7.3: Imagens AIRSAR com multipolarização de floresta de mangue ....................
Figura 7.4: Análise de mudanças da linha de costa ...........................................................
CAPÍTULO 8
Figura 8.1: Fluxograma de pré-processamento das fotografias aéreas...............................
Figura 8.2: Imagens JERS-1 de outubro de 1995 e maio de 1996 ....................................
Figura 8.3: Mosaicos das 8 imagens de RADARSAT-1, utilizadas no trabalho ...............
Figura 8.4: Imagens do satélite Landsat utilizadas na pesquisa …………………………
Figura 8.5: Principais padrões de uso e cobertura reconhecidos .......................................
Figura 8.6: Imagens de radar do período chuvoso mostrando os padrões .........................
Figura 8.7: Campo antrópico associado a desmatamento de floresta de várzea ................
Figura 8.8: Detecção de padrões antrópicos ......................................................................
Figura 8.9: Planície de intermaré na desembocadura do rio Araguari ...............................
Figura 8.10: Onda da pororoca perpendicular ao canal do estuário do rio Araguari .........
Figura 8.11: DEM do SRTM .............................................................................................
Figura 8.12: Feições morfológicas lineares associadas a padrões de acresção .................
Figura 8.13: A) Relação entre paleodrenagem e cercas na planície a sul do estuário........
Figura 8.14: Paleodrenagem meandrante em imagem JERS-1...........................................
Figura 8.15: Composição coloridas das imagens JERS-1 ……………………………….
Figura 8.16: Vista panorâmica de uma bacia de inundação, igarapé Novo ......................
CAPÍTULO 9
Figura 9.1: Padrão de drenagem dendrítico .......................................................................
Figura 9.2: Paleodrenagens ................................................................................................
Figura 9.3: Aspectos topográficos e batimétricos dos segmentos meandrantes ................
Figura 9.4: Aspectos topográficos e batimétricos dos segmentos retilíneos .....................
Figura 9.5: Zoneamento de vegetação e alternância de padrões ........................................
Figura 9.6: Desmatamento em áreas de floresta de várzea ..............................................
Figura 9.7: Rio Tapado indicado em mapa histórico de Saint-Quantin .............................
Figura 9.8: Águas turvas em lagos nas regiões de criação de búfalos ...............................
Figura 9.9: Cerca atravessando áreas de floresta densa e campestres ...............................
Figura 9.10: Estrutura de fundos de casa e de antiga cerca ...............................................
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Figura 9.11: Drenagens homônimas ..................................................................................
CAPÍTULO 10
Figura 10.1: Mapa de 1793 e mapa do final do século XIX ..............................................
Figura 10.2: Mapas mostrando a evolução da cartografia das terras da Ilha Carpori .......
Figura 10.3: Mapas do século XIX mostrando a região da planície de inundação ............
Figura 10.4: Carta do século XIX indicando a toponímia do rio Tapado...........................
Figura 10.5: Presença do furo do Araguari em diversos mapas a partir do século XVII..
Figura 10.6: Mapa de 1798, com anotação e paleodrenagem do furo do Araguari ...........
Figura 10.7: Mapa planialtimétrico do Estado do Amapá .................................................
Figura 10.8: Drenagem do igarapé Novo em fotografias aérea de 1952 e 1970 ...............
Figura 10.9: Desenvolvimento da bacia de drenagem do igarapé Novo entre 1986- 2000
Figura 10.10: Desenvolvimento da drenagem do igarapé Santana entre 1971 e 2000 ......
Figura 10.11: Evolução da desembocadura do rio Araguari .............................................
Figura 10.12: Variação na margem da planície estuarina ..................................................
Figura 10.13: Exemplos de mapas do século XIX que ainda preservam a ilha Carpori ...
CAPÍTULO 11
Figura 11.1: Faixa de recobrimentos com radares em banda L na costa amazônica..........
Figura 11.2: Variação da precipitação acumulada para a quinzena ...................................
Figura 11.3: Condições de maré previstas para a Ponta do Guará ....................................
Figura 11.4: Mapas das estações planimétricas e altimétricas do Amapá ........................
Figura 11.5: Imagem e produto de classificação na PC1 do subgrupo I ...........................
Figura 11.6: Imagem e produto de classificação na PC1 do subgrupo III..........................
Figura 11.7: Imagem e produto da classificação na composição colorida ........................
Figura 11.8: Composição colorida de imagens multidatas do sensor RADARSAT-1 .....
Figura 11.9: Produto híbrido proveniente da fusão de imagens RADARSAT e ETM+ ...
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LISTA DE QUADROS E TABELAS
Tabela 4.1: Fatores de mudanças do nível do mar, de curto período, na zona costeira.....
Tabela 4.2: Anos de ocorrência dos eventos El Niño e La Niña desde o século XIX.......
Tabela 4.3: Exemplos de mudanças do nível do mar em função das marés .....................
Tabela 4.4: Denominação da pororoca no mundo..............................................................
Tabela 4.5: Localização e altura da onda da pororoca no mundo .....................................
Tabela 5.1: As mudanças do nível de inundação ..............................................................
Tabela 6.1: Radares orbitais imageadores com suas respectivas características................
Tabela 8.1: Fotografias aéreas processadas........................................................................
Tabela 8.2: Imagens de satélite e dados de sensores remotos tilizados.............................
Quadro 8.1: Principais padrões de uso e cobertura do solo ……………………..............
Quadro 8.2: Interpretação das informações para o mapeamento costeiro.........................
Quadro 9.1: Indicadores, métodos e escalas de observação .............................................
Tabela 11.1: Matriz de correlação para as seis bandas do sensor ETM+ utilizadas..........
Tabela 11.2: Potencial dos mapas históricos e imagens de sensores remotos ..................
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xvii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
A.P.
ABCB
AIRSAR
ALOS/PALSAR
ALS
ALTM
AMASSEDS
ANA
ANEEL
ASAR
ASTER
AVRR
CASI
CBERS
CCD
CCRS
CEOS
CNB
CNES
CNPq
CPRM
CPTEC
CSS
DEM
DGPS
DHN
DIDOTE
DIREN
DN
ECOLAB
ENSO
ENVISAT
Antes do Presente
Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos
AIRborne Synthetic Aperture Radar
Advanced Land Observing Satellite/Phased Array L-band SAR
Airbone Laser Scanning
Airborne Laser Terrain Mapper
A Multidisciplinary Amazon Shelf SEDiment Study
Agência Nacional de Águas
Agencia Nacional de Energia Elétrica
Advanced Synthetic Aperture Radar
Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer
Advanced Very High Resolution Radiometer (sensor do NOAA)
Compact Airbone Spectrographic Imager
China Brazil Earth Resources Satellite
Charge-Coupled Devices (CBERS)
Canada Centre for Remote Sensing
Committee on Earth Observation Satellites
Corrente Norte do Brasil
Centre National d'Etudes Spatiales
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Serviço Geológico do Brasil
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
Concentração de Sedimentos em Suspensão
Digital Elevation Model
Diferential Global Positioning System
Diretoria de Hidrografia e Navegação
Divisão de Documentação Técnica (divisão da CPRM)
Direction Regionale de l'Environnement
Digital Number – nível digital.
Laboratório de Ecossistemas Costeiros Amazônicos
El Niño Southern Oscillation
Environmental Satellite
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ERS/AMI
ESA
ETM+
FAO
FUNCEME
GEMS
GERCO
GIS
GLCF
GPS
GRFM
HIBAM
IBAMA
IBGE
IEPA
INCRA
INMET
INPE
IRD
IRS
IUGS
JERS
JPL
LAGEMAR
LAGEO
LAIT
LANDSAT
LIDAR
LISS
MCT
MeRIS
METEOSAT
MITI
MMA
MODIS
European Remote Sensing Satellite/Active Microwave Instrument
European Space Agency
Enhanced Thematic Mapper Plus (sensor do Landsat)
Food and Agriculture Organization
Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
Goodyear Mapping System
Programa de Gerenciamento Costeiro
Geographic Information System
Global Land Cover Facility
Global Positioning System
Global Rain Forest Mapping
Hidrologia e Geoquímica da Bacia Amazônica
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Instituto Nacional de Meteorologia
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Institut de Recherche pour le Développement
Indian Remote Sensing Satellite
International Union of Geological Sciences
Japanese Earth Resources Satellite
Jet Propulsion Laboratory
Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha
Laboratório de Geoprocessamento
Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido
Land Remote Sensing Satellite
LIght Detection and Ranging
Linear Imaging Self Scanning Sensor
Ministério da Ciência e Tecnologia
MEdium Resolution Imaging Spectrometer
Meteorological Satellite
Ministry of International Trade and Industry
Ministério do Meio Ambiente
Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer
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MPEG
MSS
NASA
NASDA
NOAA
PC1
PC2
PDVSA
Petrobrás
PIATAM
PNEC
PROBIO
PROVAM
RADAM
RADAR
REBIO
RMSE
SAR
SCEBORG
SEAS
SeaWIFS
SEMA
SERG
SETEC
SGF
SIDRA
SIG
SIR
SO
SP
SPOT-HRG
SPOT-HRV
SR
Museu Paraense Emílio Goeldi
Multispectral Scanner (sensor do Landsat)
National Aeronautics and Space Administration
National Space Development Agency of Japan
National Oceanic Atmospheric Administration
Primeira componente principal
Segunda componente principal
Petróleos de Venezuela S.A.
Petróleo Brasileiro S.A.
Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e
Gás no Amazonas
Programme National sur l´environnement Côtier
Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade
Biológica Brasileira
Programa de Estudos e pesquisas nos vales amazônicos
Radar Amazon
Radio Detection and Ranging Instrument
Reserva Biológica
Root Mean Square Error
Synthetic Aperture Radar
Societé Coopérative dês Eleveurs des Bovins en Guyane
Surveillance de l'Environnement Amazonien par Satellite
Sea-viewing Wide Field-of-view Sensor
Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Amapá)
Société d'Etudes et de Représentation Graphique
Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Amapá)
SAR Georeferenced Fine Resolution Product
Sistema IBGE de Recuperação Automática
Sistema de Informação Geográfica
Spaceborne Imaging Radar
Southern Oscillation
Segmento Progradacional
Satellite pour l'Observation de la Terre-High Resolution Geometric
Satellite pour l'Observation de la Terre -High Resolution Visible
Segmento Retrogradacional
xx
SRTM
TM
TOPEX/POSEIDON
UAS
UFF
USACE
UTM
UFPA
WFI
ZCA
ZCIT
ZEE
Shuttle Radar Topography Mission
Thematic Mapper
TOPography Experiment/Poseidon instrument
Unidade de Análise Espaciais
Universidade Federal Fluminense
United States Army Corps of Engineers
Universal Transverse Mercator
Universidade Federal do Pará
Wide Field Imager (Sensor do CBERS-1)
Zona de Convergência de Ventos Alíseos
Zona de Convergência Intertropical
Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico
RESUMO
A planície costeira do Estado do Amapá, localizada no extremo norte do Brasil, abriga
uma diversidade de ambientes representados principalmente por manguezais, lagos, florestas
de várzea e campos inundáveis, associados às planícies de inundação dos sistemas fluviais
que drenam a região costeira e estuários. Nesta pesquisa são avaliadas as modificações
registradas nessa planície, com foco na região do estuário do rio Araguari e, apresentados os
processos responsáveis por essas mudanças.
Os processos naturais que influenciam as modificações nesta planície estão
relacionados com os eventos ENSO, presença da ZCIT, influência do rio Amazonas e das
marés (pororoca). Os processos antrópicos estão associados principalmente com a
bubalinocultura. Estas forçantes são apresentadas e discutidas na forma de processos e
produtos. As informações ambientais são oriundas de dados pré-existentes e de coletas em
campo. Foram utilizados como informação de base fotografias aéreas, imagens de radar -
RADAR GEMS 1000 do Projeto RADAM, JERS-1 e RADARSAT-1; imagens de sensores
óticos - MSS, TM e ETM+ dos satélites Landsat e dados de modelo numérico de terreno -
DEM SRTM, processados digitalmente, em abordagem multisensor, multi-escala e multi-
data. Cartas históricas desde o século XVI também foram avaliadas.
As análises permitiram identificar espacialmente os padrões de uso e cobertura do solo
e as feições naturais e antrópicas. Os padrões e feições identificados foram agrupados em dois
principais ambientes: fluvial influenciado por marés (planície de inundação) e estuarino
(manguezais, zonas de intermaré e canal estuarino). Foi possível ainda estabelecer indicadores
para caracterizar as modificações ambientais na região, a partir das análises multitemporais
dos dados de sensores remotos e cartas históricas. O fenômeno da pororoca também foi
evidenciado dentro do estuário estudado.
A correlação dos dados de sensores remotos com cartas históricas indica que a
desembocadura do rio Araguari possuía dois distributários até o século XVIII, um a oeste e
outro a sul da chamada terra de Carpori. A configuração atual da planície de inundação a
norte e sul do estuário e, do seu meandro final se deve a transformações cujos eventos
ocorreram entre o final do século XVIII e meados do século XIX, existindo indícios de
influência antrópica em alguns desses eventos.
O resultado das análises multitemporais dos dados de sensores remotos, a partir da
década de 1950, e informações correlatas, evidenciaram modificações na planície de
inundação e na planície estuarina. Na planície de inundação referem-se ao desenvolvimento
de redes de drenagens, algumas das quais influenciadas pelo desenvolvimento da pecuária, a
exemplo do igarapé Santana. Outras drenagens tiveram suas aberturas influenciadas por
grandes eventos de inundações que foram correlacionados a fenômeno de El-Niño/La Niña,
como o igarapé Novo que deságua no rio Gurijuba. Na planície estuarina as modificações são
associadas com a formação de barras de canal, barras de desembocadura, modificação de
canais de marés e processos erosionais na margem do estuário. Estas modificações são mais
evidentes na desembocadura do rio Araguari e são decorrentes principalmente da ação das
1
marés (pororoca), que possui alto poder de remobilização de sedimentos. Foi possível ainda
analisar como o fenômeno da pororoca se comporta ao longo do estuário e estudar os seus
registros, a partir de observações efetuadas antes, durante e após a sua passagem. As forçantes
associadas às modificações detectadas podem alterar a forma de atuação dos processos
erosionais e deposicionais dentro de ambientes estuarinos em sistemas fluviais de rios
meandrantes.
Os resultados da avaliação dos dados de sensores remotos e técnicas aplicadas nesta
pesquisa demonstraram a potencialidade da ferramenta de sensoriamento remoto e cartas
históricas no estudo de modificações em costas tropicais (de difícil acesso), sujeitas a rápidas
mudanças. Todavia, estas ferramentas podem também apresentar dificuldades de aplicação na
costa amazônica, submetida a processos naturais e antrópicos muito dinâmicos, que se
superpõem em uma escala temporal muito pequena, em comparação ao tempo geológico que
caracteriza a evolução em outros ambientes costeiros.
Palavras-chave: modificações ambientais, sensoriamento remoto, costa amazônica.
2
ABSTRACT
The coastal plain of the State of Amapá, located on the northernmost region of Brazil,
on the Amazonian coast, comprises an environmental diversity represented mainly by
mangroves, lakes, swamps forests and flooded basins, related to flood plains influenced by
tides and estuaries. In this study, the modifications recorded in this plain are evaluated,
focusing in the region of the Araguari estuary, and the processes responsible for these changes
are presented.
The natural processes that influence the modifications in this plain are related to
ENSO events (El Niño Southern Oscillation), position of the Intertropical Convergence Zone
(ITCZ), influence of the Amazon River and tides influenced by tidal bore. The anthropogenic
processes are associated with water buffalo ranching. All these factors are presented and
discussed in the form of processes and products. The environmental information is from
previous data and also collected in the field. The base information came from remote sensing
data (aerial photographs, radar imagery - RADAR GEMS 1000 from RADAM Project, JERS-
1 and RADARSAT-1, images from optical sensors - MSS, TM and ETM+ from Landsat
satellites, digital elevation model data - DEM SRTM), digitally processed for multi-sensor,
multi-scale and multi-date approach. Historical maps since 16th century had also been
utilized.
The analyses allowed the identification of patterns of land use and cover as well as the
natural and anthropogenic geomorphic features. The identified patterns and features were
grouped into two main types of environments: fluvial influenced by tides (flood plain) and
estuarine plain (mangrove, intertidal zone and estuarine channel). It was also possible to
establish indicators to characterize the environmental modifications in the region, from
multitemporal analyses of remote sensing and historical data. The tidal bore phenomenon can
also be identified in the estuary by RADARSAT-1 images.
The correlation between the remote sensing and historical data indicates that the
Araguari River mouth had two channels until the 18
th
century, one to the west and the other to
the south of the so-called Land of Carpori. The current configuration of the floodplain at the
north and south of the estuary, and of its last meander is recent. The events related to these
transformations occurred between the end of the 18
th
century and middle of 19
th
century, with
indications of anthropogenic influences in some of these events.
The results of multitemporal analysis of remote sensing data from the 1950s and
related information had evidenced modifications in the floodplain and the estuarine plain. In
the floodplain, they are related to the development of drainage networks, some of which
influenced by the development of cattle ranching (e.g. the Igarapé Santana). Others had their
opening influenced by great flooding events that had been correlated to ENSO phenomenon
(e.g. Igarapé Novo in the Gurijuba River). In the estuarine plain, the modifications are
associated with the formation of channel bars, mouth bars, changes in the tidal channels and
erosional processes in the margins of the estuary. These modifications are more evident in the
mouth of the Araguari River and are mainly a result of tide action and the tidal bore
3
phenomenon, which is a powerful sediment transport agent. It was also possible to analyze the
phenomenon’s behavior and its records throughout the estuary from observations done prior,
during and after its passage. The agents associated to these modifications can influence
erosional and depositional processes that act within estuarine environments of fluvial
meandering systems.
The results from the evaluation of remote sensing data and the techniques applied in
this study had demonstrated the potential of the remote sensing tool and historical maps in the
study of modifications in highly dynamic tropical coasts (of difficult access). However, these
tools may present some difficulties in application to the Amazon coast, which is a region
under very dynamic natural and antrophogenic processes that overlap in a short timescale,
when comparing with other coastal regions.
Keywords: Environmental changes, remote sensing, Amazonian coast.
4
RÉSUMÉ
La plaine côtière de l'état brésilien d'Amapá, située dans l'extrême nord du Brésil,
présente une diversité d'environnements représentés principalement par les mangroves, les
lacs, les forêts inondées (várzeas) et les savanes inondables, associés aux plaines d'inondation
influencés par les marées et aux estuaires. Dans ce travail nous avons évalué les modifications
affectant cette plaine, notamment dans la région de l'estuaire du fleuve Araguari, et présenté
les processus responsables de ces modifications.
Les processus naturels qui influencent les modifications de cette plaine sont liés aux
épisodes El Niño et La Niña, à la présence de la Zone Intertropicale de Convergence, à
l'influence du fleuve Amazone, des marées qui provoquent le mascaret (la pororoca). Les
processus anthropiques sont associés à l'élevage de buffles. Ces forçages sont présentés et
discutés dans la thèse et leur action ainsi que leurs résultats sont évalués à partir de diverses
informations environnementales pré-existantes et d'autres recueillies sur le terrain. Nous
avons utilisé comme information de base des données de télédétection (photographies
aériennes, images radar - radar GEMS 1000 du projet RADAM, JERS-1 et RADARSAT-1,
images de capteurs optiques - MSS, TM et ETM+ des satellites Landsat, modèles numériques
de terrain - MNT SRTM), traitées numériquement selon une approche multi-capteur, multi-
échelle, et multi-date. Des cartes historiques remontant au XVIème siècle ont également été
prises en compte.
A partir des techniques et méthodes utilisées nous avons pu mettre en évidence les
modes d'utilisation et de couverture du sol et des motifs spatiaux tant naturels
qu'anthropiques. Les motifs identifiés ont permis de distinguer deux types d'environnements :
fluvial influencé par les marées (plaine d'inondation) et estuarien (mangroves, zones d'estran
et canal estuarien). Des indicateurs ont également pu être établis pour caractériser les
modifications de la région à partir d'une analyse multi-temporelle de données de télédétection
et de cartes historiques. Le phénomène de mascaret a aussi pu être mis en évidence dans
l'estuaire étudié.
La confrontation des données de télédétection et des cartes historiques montrent que
l'embouchure du fleuve Araguari possédait deux bras, l'un à l'ouest et l'autre au sud d'une terre
appelée Carpori. La configuration actuelle de la plaine d'inondation au nord et au sud de
l'estuaire et de son méandre final, est récente, car les événements en cause se sont produits
entre la fin du XVIIIème et le milieu du XIXème siècle, sachant qu'il existe aussi des indices
d'influence anthropique au cours de certains de ces événements.
Le résultat des analyses multitemporelles de données de télédétection à partir de la
décennie de 1950, et des informations connexes, montre des modifications survenues dans la
plaine d'inondation, et dans la plaine estuarienne. Dans la plaine d'inondation, il s'agit des
réseaux de drainage dont certains ont été influencés par le développement de l'élevage,
comme l'igarapé Santana. D'autres se sont ouverts sous l'influence de grands événements
d'inondation liés au phénomène El Niño / La Niña, comme l'igarapé Novo qui se jette dans le
fleuve Gurijuba. Dans la plaine estuarienne, les modifications sont liées à la formation de
5
barres de chenal et de barres d'embouchure, aux modifications de chenaux de marées et au
processus d'érosion des berges de l'estuaire. Ces modifications sont plus évidentes à
l'embouchure du fleuve Araguari et découlent principalement de l'action des marées et du
phénomène de mascaret qui possède une forte capacité de remobilisation de sédiments. Nous
avons pu en outre analyser comment ce phénomène se comporte le long de l'estuaire par des
observations effectuées pendant son passage. Les forçages liés à ces modifications peuvent
altérer l'impact des phénomènes d'érosion et de sédimentation dans les environnements
estuariens de systèmes fluviaux à méandres.
Les résultats de l'évaluation des données de télédétection et les techniques appliquées
dans ce recherche démontrent le potentiel de l'outil de télédétection et des cartes historiques
dans l'étude des modifications sur des côtes tropicales (difficiles d'accès et) soumises à des
changements rapides. Toutefois ces outils présentent aussi des difficultés de mise en oeuvre
sur la côte amazonienne, soumise à des processus naturels et anthropiques si dynamiques,
qu'ils se superposent à une échelle temporelle très courte par comparaison a l'évolution
d'autres environnements côtiers.
Mots clés: modifications côtiers, télédétection, côte amazoniène.
6
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
1.1 CONTEXTO GEOGRÁFICO E CIENTÍFICO................................................................8
1.2 PRESSUPOSTOS ...........................................................................................................10
1.3 HIPÓTESES....................................................................................................................10
1.4 OBJETIVOS....................................................................................................................12
1.5 ÁREA DE TRABALHO.................................................................................................12
1.6 SINOPSE.........................................................................................................................14
PARTE I
AMBIENTES COSTEIROS
AMAZÔNICOS: ESTADO DA ARTE E
ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
7
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
Os ambientes costeiros são altamente dinâmicos por serem palco da atuação de
complexos processos que ocorrem na transição entre o oceano e o continente. Quando atuam
sobre estes forçantes regionais sua complexidade aumenta e, reconhecer esses ambientes e sua
dinâmica, é um desafio científico a ser vencido. Junte-se a isso a componente antrópica capaz
de modificar os ambientes e potencializar a atuação das forçantes naturais.
1.1 CONTEXTO GEOGRÁFICO E CIENTÍFICO
Os ambientes costeiros amazônicos estão submetidos a uma dinâmica espacial e
temporal ímpar no mundo. Situados na borda da maior floresta do planeta, apresentam, à
semelhança desta, paisagens extensas e de difícil acesso, segmentadas por sistemas estuarinos,
sendo o maior deles o do Amazonas.
O contexto geográfico e hidrológico particular onde esses ambientes se encontram
coloca-os em um regime climático regido pela Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a
qual influencia na precipitação e conseqüentemente no regime de inundação das áreas
costeiras. Some-se a isso a presença dos constantes ventos alíseos e a influência direta do
sistema de dispersão de sedimentos do rio Amazonas, o que torna esses ambientes potenciais
para o estudo de mudanças globais e regionais.
Na costa amapaense, suas características geomorfológicas e a presença de macromarés
potencializam o fenômeno da pororoca produzindo fortes correntes com grande poder de
remobilização e erosão de sedimentos. Os processos resultantes da interação dessas forçantes
podem ser amplificados com a fragilização dos ambientes pela criação extensiva de búfalos.
Esses processos, de ampla distribuição espacial e temporal, podem determinar a dinâmica de
uso e ocupação do solo e interagir promovendo modificações. No entanto, essas
modificações, como na maioria das costas tropicais, são pouco estudadas do ponto de vista de
8
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
sua dinâmica e, seus reflexos na estruturação dos ambientes costeiros. Os estudos dessas
modificações são praticamente inexistentes, embora tais modificações sejam reportadas pelas
comunidades costeiras. Esses estudos, porém, enfrentam limitações de ordem logística,
operacional e metodológica.
Em um ambiente com essa complexidade e com necessidade ainda de caracterização
para o entendimento dos seus processos, as facilidades que os produtos de sensores remotos
trazem são inegáveis. Os mesmos apresentam possibilidade de se observar os ambientes de
diferentes pontos de vista através de sensores diversos, permitindo um maior entendimento
dos ambientes e dos processos que neles operam. Esta utilização também passa pela
sensibilidade de cada sensor de perceber a resposta dos elementos que compõem a paisagem,
o que resulta em potencialidades e limitações, tanto de ordem técnica como inerentes aos
ambientes, o que tem sido alvo de poucos estudos.
A importância desse estudo para a gestão ambiental se alicerça na premissa de que o
conhecimento da dinâmica dos ecossistemas permitirá desenvolver uma base para o
monitoramento a partir de indicadores adequados para a região, seja para processos naturais
e/ou antrópicos. Assim, áreas em diferentes estágios de modificação poderiam ser
comparadas. Além disso, apesar da gama de sensores remotos disponíveis, muitos deles ainda
necessitam de validação e definição de protocolos para o tratamento das imagens, apropriados
para a realidade da região costeira amazônica.
A temática abordada insere-se dentro dos temas de interesse atualmente discutidos no
Brasil. O direcionamento de investigações e pesquisas para identificação de dinâmicas e
complexidades dos impactos naturais e antrópicos nas zonas costeiras se destacou na temática
de Sustentabilidade dos Sistemas Marinhos e Costeiros Brasileiros como uma das
preocupações do Ministério de Ciência e Tecnologia, conforme apontado no documento
básico para estabelecer a Política Nacional de Ciência e Tecnologia do Mar (Castro Fo. et al.
2001). Além disso, a atenção ao uso sustentável dos ecossistemas costeiros está explícita pelo
Governo Brasileiro com a implantação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro em
1988. As investigações nos ambientes costeiros como subsídio para a correta gestão desse
espaço também é uma preocupação internacional, como atestam os diversos grupos de
trabalhos, formados recentemente, nas mais diversas áreas temáticas de pesquisa, com a
finalidade de estabelecer diretrizes para a compreensão da dinâmica desses ambientes, e
melhorar o nível de conhecimento através da aplicação de ferramentas compatíveis com o
estudo dos mesmos. Isto é reflexo do pensamento de que manter a saúde dos ecossistemas
9
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
costeiros é fundamental para a manutenção de seus recursos naturais dos quais a humanidade
depende e onde a ciência desempenha um papel importante nesse desafio.
1.2 PRESSUPOSTOS
Este trabalho parte do pressuposto de que as modificações que ocorrem nos ambientes
costeiros podem ser identificadas e estudadas através de dados de sensores remotos, assim
como suas forçantes, por possuirem respostas espacial, espectral e temporal nas imagens (Fig.
1.1).
caractesticas das respostas
detectadas nos sensores remotos
- espaciais (localização, tamanho, forma, distribuição...)
- espectrais (cor, tonalidade..)
- temporais (frequência, permanência...)
PROCESSOS
ANTROPOGÊNICOS
PROCESSOS
NATURAIS
MODIFICAÇÕES
AMBIENTAIS
Figura 1.1: Pressupostos para desenvolvimento desta tese.
1.3 HIPÓTESES
As hipóteses de trabalho foram abordadas na forma de questionamentos e são
apresentados na Fig. 1.2.
10
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
MODIFICAÇÕES EM AMBIENTES
COSTEIROS AMAZÔNICOS
Existem modificações?
Quais forçantes estão envolvidas?
É possível identificá-las através de sensoriamento remoto?
Qual a aplicabilidade dessa ferramenta para a região?
- técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento;
- integração de dados geológicos,
geomorfológicos, hidrológicos, históricos e
sócio-econômicos
ABORDAGEM
-caracterização em multi-escala
-caracterização em multi-sensor
-caracterização multi-data
CONSIDERAÇÕES
-especificidades da região: macromarés (pororoca,
sistema Amazônico, situação climática,
intervenções antrópicas - bubalinocultura)
-limitações de sensores e metodologias para a
região
PROBLEMÁTICA
ESTRATÉGIA
METODOLÓGICA
TEMA
- auxiliar na escolha de métodos para monitoramento
(multi-escala e multi-sensor)
- melhor entendimento dos ambientes e forçantes
naturais e antrópicas envolvidas nas modificações
APLICAÇÃO DOS RESULTADOS
Figura 1.2: Resumo dos questionamentos, estratégias, abordagem e aplicação de resultados.
Quatro hipóteses são testadas nesta tese:
PRIMEIRA HIPÓTESE:
¾ H1 - Existem modificações ambientais na planície costeira amapaense.
No caso de resposta afirmativa, será testada a SEGUNDA hipótese:
¾ H2 - Essas modificações são decorrentes tanto de processos naturais quanto
antrópicos.
Se as hipóteses acima forem confirmadas, a TERCEIRA e QUARTA hipóteses serão
testadas:
¾ H3 - Os dados de sensores remotos (óticos e radar) disponíveis podem identificar
os produtos dessas modificações;
¾ H4 - Os dados de sensores remotos podem identificar as forçantes responsáveis
pelas modificações.
11
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
1.4 OBJETIVOS
Objetivo geral:
Ao final desta tese, pretende-se ter um claro discernimento das potencialidades e
limitações dos sensores remotos, quando aplicados na planície costeira do Amapá, para estudo
das modificações de curto período, sejam elas de origem natural e/ou antrópica e, de forma
complementar, entender a dinâmica ambiental imposta pelos processos responsáveis por essas
transformações.
Objetivos específicos:
¾ Identificar e analisar as modificações impostas sobre os ecossistemas costeiros
na planície do Amapá, principalmente ao longo do estuário do rio Araguari,
procurando caracterizar as forçantes e produtos, bem como em que escalas (temporal e
espacial) elas podem ser detectadas;
¾ Identificar e avaliar os padrões de uso e ocupação resultantes da atividade de
bubalinocultura, no estuário do rio Araguari, procurando caracterizar nas imagens de
sensores remotos a dinâmica antrópica responsáveis por esses padrões;
¾ Estabelecer indicadores de modificações, com o propósito futuro de indicar
áreas mais susceptíveis às modificações ambientais e aquelas alteradas pela atividade
de bubalinocultura;
¾ Analisar a evolução das transformações que ocorreram no rio Araguari, a partir
da avaliação de produtos de sensores remotos (último 50 anos), e da correlação com
mapas históricos (últimos 300 anos);
¾ Aplicar a ferramenta de sensoriamento remoto na planície costeira amapaense,
com vistas a entender suas potencialidades e limitações para o estudo dos ambientes
costeiros e sua dinâmica na costa amazônica.
1.5 ÁREA DE TRABALHO
A área foco do trabalho é a planície costeira do Amapá, mais especificamente o
estuário do rio Araguari (Fig. 1.3).
12
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
Figura 1.3: Localização da área de estudo. Mosaico de imagem de radar JERS-1, maio/1996.
Fonte: Projeto GRFM.
13
Parte I: Capítulo 1 - Introdução
1.6 SINOPSE
Os resultados da tese são apresentados em cinco partes. Cada parte é composta por
capítulos e, à exceção da parte I, todos apresentam discussões e conclusões do assunto
tratado. Ao final as conclusões são apresentadas a partir das hipóteses e objetivos traçados.
A primeira parte apresenta a planície costeira amazônica, em escala regional (costa
amazônica) e sub-regional (planície costeira do Amapá), à luz dos estudos pré-existentes
(Capítulo 2) e apresenta a estratégia metodológica do trabalho (Capítulo 3).
A segunda parte trata das modificações ambientais nas áreas costeiras e das forçantes
naturais e antrópicas envolvidas nessas mudanças. As forçantes naturais globais e regionais
que atuam nas costas tropicais são apresentadas, com destaque para os seus mecanismos,
escala e produtos. Nas forçantes antrópicas é discutida a influência da pecuária nas
modificações dos ambientes (Capítulo 4). À luz desses conhecimentos e dos estudos
realizados nesta tese, apresentam-se, no capítulo 5, as principais forçantes que atuam na costa
amazônica, com destaque para a planície costeira do Amapá e o estuário do rio Araguari.
Na terceira parte são apresentadas as ferramentas, técnicas e a aplicação do
sensoriamento em áreas costeiras tropicais (Capítulo 6), destacando-se o avanço dessas
ferramentas, técnicas e suas aplicações na costa amazônica (Capítulo 7), algumas das quais
foram aplicadas no estuário do rio Araguari nesta pesquisa (parte IV).
Na quarta parte, após a análise dos resultados das dinâmicas antrópica e natural na
costa amapaense, faz-se a aplicação do sensoriamento remoto no estuário do rio Araguari e
sua planície de inundação, reconhecendo-se os padrões naturais e antrópicos e suas dinâmicas
(Capítulo 8). A partir desses resultados e do entendimento das interações entre as forçantes
naturais e antrópicas abordadas na parte II, identificam-se e analisam-se os elementos que
podem ser utilizados como indicadores de modificações (Capítulo 9). No capítulo 10,
retrocede-se na avaliação das modificações no estuário até ao século XVII, a partir de mapas
antigos correlacionados com dados de sensores remotos. Estes últimos permitiram uma
avaliação mais contínua das modificações desde os anos de 1950.
Na quinta parte são avaliadas as potencialidades e limitações dos dados e técnicas
aplicadas para o estudo das modificações na área de pesquisa (Capítulo 11).
A sexta parte apresenta as principais conclusões do trabalho e abre perspectivas para
que os estudos possam prosseguir com a finalidade de entender a complexa dinâmica dessa
região e seus resultados na construção dos ambientes costeiros amazônicos (Capítulo 12).
14
2
COSTA AMAZÔNICA
...................................................................................................15
2.1 PLANÍCIE COSTEIRA AMAZÔNICA ........................................................................16
2.1.1 Aspectos Fisiográficos, Geológicos e Oceanográficos............................................16
2.1.2 Principais Pressões Antrópicas................................................................................20
2.2 P
LANÍCIE COSTEIRA DO AMAPÁ
-
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E
EVOLUTIVOS.....................................................................................................................22
2.2.1 Segmentos Progradacionais.....................................................................................24
2.2.2 Segmentos Retrogradaci
onais..................................................................................27
2.3 O ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI...........................................................................30
2.3.1. O Rio Araguari........................................................................................................30
2.3.2 O Estuário................................................................................................................34
2.3.2 Uso, Ocupação e Pressões Antrópicas....................................................................36
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
15
Capítulo 2
COSTA
AMAZÔNICA
A costa amazônica, denominada por Silveira
(1972
) de litor
al amazônico, é uma feição
fisiográfica que se estende por aproximadamente 2.700 km, desde a Baia de São Marcos, no
Maranhão, até ao Delta do Orenoco, na Venezuela. Está localizada dentro da zona tropical
caracterizada por áreas de alta pluviosidade, norma
lmente superior a 2.000 mm/ano, associada
à ocorrência dos ventos alí
seos, responsáveis por trazer a umidade dos oceanos (Fig. 2.1).
Figura 2.1: Clima terrestre, zonas vegetacionais e zonas climáticas oceânicas. Notar a
presença das áreas tropicais associadas às zonas climáticas dos ventos alíseos. Linha em
vermelho destacando costa amazônica
(Segar, 1998)
.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
16
2.1
PLANÍCIE COSTEIRA AMAZÔNICA
2.1.1 Aspectos
Fisiográficos,
Geológicos e Oceanográficos
A planície costeira amazônica encontra-se em contato com três principais conjuntos
litológicos: a) rochas do embasamento que constituem o Escudo das Guianas, aflorando a
norte do rio Amazonas e est
endendo
-se até a Venezuela; b) sedimentos terciários e
quaternários da Formação Barreiras e do Pós-Barreiras, dispostos em uma estreita faixa entre
o embasamento cristalino e a planície costeira, que ocorrem
desde a Baia de São Marcos até o
Oiapoque; c) depósitos das bacias sedimentares da Foz do Amazonas, que margeia a planície
costeira ao longo do rio Ama
zonas, em direção a sua foz e,
da Bacia do Parnaíba, na região de
São Luis (Fig. 2.2)
A história dessa planície costeira remonta à Orogenia Andina, iniciada no Oligoceno
Superior (aproximadamente 30 milhões de anos) e com pico no Plioceno (5,3 milhões de
anos), que influenciou notadamente o desenvolvimento dos sistemas dos rios Amazonas e
Orenoco
(Hoorn, 1993; Hoorn et al. 1995; Diaz de Gamero, 1996, Potter, 1997). Seus
depósitos foram construídos a partir do Pleistoceno, melhor registrados na planície costeira do
Suriname
e da República da Guiana (Palvadeau, 1999) e, cujos vestígios na costa amazônica
bras
ileira ainda são desconhecidos.
O reflexo de sua história geológica, e da marcante contribuição do sistema amazônico,
reflete
-se em um relevo plano, onde um pequeno aumento no nível de água pode resultar na
imersão da costa, em função das cheias dos rios (ver
Capítulo
5), associados à ação da maré
astronô
mica, ou mesmo d
a
meteorológica.
A sedimentação dessa planície é controlada por cinco fatores principais: a história de
variação do nível do mar; a tectônica, o suprimento sedimentar, as condições oceanográficas e
o clima. Estes fatores aliados
às
características geológicas permitiram que
Silveira
(1972
)
distinguisse
três compartimentos: litoral guianense e litoral oriental, seccionados pelo Golfão
Amazônico. Nesta
pesquisa
o termo guianense, está sendo substituído por ocidental (Fig. 2.2).
As variações do nível marinho foram responsáveis pela construção dos estuários
durante a última transgressão (Reinson, 1992), sendo influenciada também pela tectônica
regional. Esta, por sua vez, controla a fisiografia da costa, influenciando também na direção
dos rios e conseqüentemente dos estuários (Fig. 2.2), tendo reflexos na sedimentação
(Mendes, 1994; Silveira, 1998; Souza Filho e El
-
Robrini, 2000)
.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
17
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
18
O Sistema de Dispersão Amaz
ônico
desempenha um papel determinante no
provimento dos sedimentos lamosos (ver
Capítulo
5), alimentando grande parte da costa (Fig.
2.3).
Figura 2.3: Sistema de dispersão do rio Amazonas e a influência de sua pluma até o Delta do
Orenoco na Venezuela. Mosaico de
imagens
de radar do satélite JERS-1 (1995) e do NOAA
(nov/1999)
.
As condições oceanográficas são determinadas por regimes de macromarés, com
amplitudes variáveis, que decrescem em direção à costa das guianas, submetida ao regime de
meso e micromarés. As ondas são mais atuantes no litoral oriental, retrabalhando os
sedim
entos arenosos. Na plataforma, a presença da Corrente Norte Brasileira (CNB) interfere
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
19
no direcionamento da pluma de sedimentos do rio Amazonas, impedindo a dispersão desses
se
dimentos para regiões mais profundas do mar, e permitindo a sua deposição ao longo da
costa ocidental e
da
plataforma.
O clima tropical, controlado pela ZCIT, influencia na descarga líquida e sólida dos
rios (ver
Capítulo
5), como também nos processos int
empéricos regionais.
Outra característica marcante da costa amazônica é a presença de florestas de mangue,
desenvolvidas ao longo dos estuários, sistema dominante nesta costa, que possui como o seu
maior representante o próprio rio Amazonas. Estas florestas, com aproximadamente 17.500
km
2
(Herz, 1991; Spalding et al., 1997), representam a maior feição geobotânica da costa
amazônica brasileira. No litoral oriental constituem, segundo Souza Filho (2005), o cinturão
de manguezais de macromaré mais extenso e contínuo do mundo com aproximadamente
7.600 km
2
, ultrapassando os da costa da Ásia continental identificados por Blasco (2001)
.
Associados aos sistemas estuarinos, encontram
-
se depósitos de pr
aias, dunas, deltas de
maré,
cheniers
, planícies de maré, planícies de cristas praiais e, pântanos salinos. Destaca-
se
ainda, um singular sistema de lagos costeiros (ver item 2.3), vinculados ao Cabo Norte, na
Planície Costeira do Amapá (Mendes, 1994; Santos, 1996;
Santos
et al., 2001; Silva, 1996;
Silveira, 1998;
Souza Filho
e El
-
Robrini, 2000
).
Os sedimentos siliciclásticos finos (lama), são dominantes na Costa Ocidental e
Golfão Amazônico, em virtude da influência do rio Amazonas (Fig. 2.2) e suprem as planícies
de inundação e de marés. A característica marcante dessa dominância é a formação de uma
extensa zona de deposição pelítica, associada à planícies de marés estuarinas, encontrada a
partir do Cabo Cassiporé até a Venezuela (Fig. 2.3), considerada a maior do planeta, com
aproximadamente 1.600 km
(Allison e Lee, 2004)
. Ao longo da costa amapaense e em direção
a costa das guianas, os sedimentos arenosos são encontrados apenas nas desembocaduras dos
estuários (ver item 2.3.1) e nos
cheniers
(Augustinus
et al., 1989; Prost, 1989a; Silveira,
1998)
. Em regiões mais restritas existem sedimentos biodetríticos, como no litoral do
Suriname.
Na Costa Oriental, os sedimentos arenosos dominam as planícies de submaré,
constituindo os bancos arenosos de maré (sand tidal shoal), ondas de areia (sand waves)
e
cristas arenosas (sand ridges
),
expostos durante a baixamar. Na linha de costa se destacam
os
pontais arenosos (
spits
)
e deltas de marés e, mais para o interior da planície, os depósitos de
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
20
dunas e planícies de cristas de praias. Os sedimentos finos estão associados às planícies
lamosas colonizadas pelos manguezais
( Souza Filho, 1995; Santos, 1996;
Silva, 1996).
Em função da variedade e complexidade das forçantes envolvidas na formação e
manutenção (ver Capítulo 5) dos ambientes costeiros amazônicos, eles são difíceis de serem
enqua
drados em modelos deposicionais clássicos, necessitando ainda de maiores estudos para
sua caracterização.
O
estágio
de desenvolvimento da costa amazônica e as suas características levam o
homem a ter uma dependência estreita das condições ambientais, para executar suas
atividades econômicas e viver ao longo do litoral
.
O grande aporte fluvial e o retrabalhamento dos sedimentos pelos processos costeiros
propiciam o assoreamento de canais, provocando impacto na navegabilidade dos estuários,
cujos canais são mantidos por dragagens periódicas, nos locais onde os portos estão
instalados. Os processos erosionais e deposicionais provocam a transferência de vilas e casas.
Ao mesmo tempo trazem problemas jurisdicionais, por modificarem as áreas dos terrenos e
dificu
ltarem a localização de terrenos estáveis para implantação de obras infraestruturais. As
condições de inundações, desencadeadas pelos processos climáticos e oceanográficos,
também influenciam no desenvolvimento das atividades econômicas ao longo das planíc
ies de
inundação e dos estuários (ver
Capítulo
5).
2.1.2 Principais Pressões Antrópicas
Enquanto no aspecto natural os estudos da costa amazônica têm permitido pelo menos
entender suas características globais, não se pode dizer o mesmo em relação aos tensores
antrópicos e suas implicações sobre as modificações dos ambientes. Isto se deve em parte à
baixa densidade demográfica da região, porém quase toda concentrada ao longo da costa e
estuários. As pressões antrópicas mais evidentes são pontuais, concentr
ando
-se nas áreas
urbanas, que possuem em torno de 90% da população costeira. Nas áreas rurais, as pressões
antrópicas estão
vinculadas
ao desenvolvimento das atividades de agricultura e pecuária e à
exploração de recursos naturais.
As principais pressõe
s estão associadas a:
- exploração de óleo realizadas na Costa da Venezuela, pela PDVSA e no Suriname
pela companhia N.V.Staatsolie (State Oil) (Bouwer, com. verbal, 2005);
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
21
- implantação de infraestrutura: estradas, ramais, redes de abastecimento de energia,
etc... localizados principalmente sobre depósitos mais antigos da planície costeira;
-
agricultura
relacionada
a
plantações de coco sobre depósitos de cheniers (Guiana),
plantações de arroz
(Suriname e Guiana Francesa) e
a
gricultura itinerante praticada
na
cost
a amazônica brasileira por pequenos agricultores às margens do rio Amazonas e
dos outros rios que drenam a região;
- implantação de estrutura para defensas marinhas contra a erosão, na costa da
República da
Guiana
(Daniel, 1989)
;
- assentamentos humanos relacionados à implantação de povoados,
vilas
, cidades e
empreendimentos industriais ao longo dos estuários.
Para a costa amazônica brasileira as pressões são diferenciadas de acordo com as
caracterís
ticas fisiográficas da região.
Para a costa oriental:
- seccionamento dos manguezais pela construção de estradas de acesso à praia
impedindo os processos de trocas de águas, nutrientes e sedimentos a exemplo do que
ocorre na planície costeira Bragantina e Ilha de Atalaia relatadas por Souza Filho
(2000) e
Mendes et al.
(2001);
- ocupação desordenada de praias
(Mendes
et al., 2001; Souza Filho, 2001),
impedindo o fluxo natural de
sedimentos nesses ambientes;
- retirada de arenito ferruginoso e de areias de praias e dunas para construção civil,
são registradas nas ilhas de Algodoal e Atalaia
(Mendes
et al., 2001), diminuindo a
proteção natural da linha de costa;
-
disposição de resíduos sólidos em praias e mangues
(Souza Filho, 2001)
;
- corte de árvores de manguezais, despejos de óleo, depósitos de lixo, além outros
tensores na Ilha de São Luís, costa maranhense
(Mochel
et al.
, 2001)
;
-
criação de búfalos na Baixada Maranhaense
(Ibañez et al.
, 2000)
.
Na região do Golfão Amazônico e na costa amapaense:
-
agricultura itinerante nas margens dos rios e estuários;
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
22
-
assenta
mentos humanos na borda do Planalto Costeiro, es
tendendo
-se para a
planície, com construção de cidades e trazendo problemas relacionados à disposição
de resíduos sólidos e líquidos;
- implantação da BR-156 sobre o Planalto Costeiro e parte setentrional do
em
basamento cristalino, na costa do Amapá;
-
criação de búfalos de forma extensiva nas planícies de inundação (Ilha de Marajó, no
Pará) e Amapá (ver
Capítulo
5).
Considerando-
se o exposto acima e apoiando o que advoga
Warne
et al.
(
2002)
para a
costa da Venezuela, as mudanças induzidas pela ocupação humana na costa amazônica ainda
são possíveis de serem distinguidas, tornando possível estudar os efeitos das alterações
antrópicas, na
estabilidade e integridade natural de seus ecossistemas.
2.2 PLANÍCIE COSTEIRA DO AMAPÁ-
ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E EVOLUTIVOS
De um modo geral a planície costeira do Amapá é constituída por uma zona de terra
alagável que ocupa uma área de aproximadamente 18.800 km
2
(cálculos a partir da base de
dados de Bizzi et al.
, 2001).
Encontra-se bordejada por sedimentos da bacia Foz do Amazonas
e pelos sedimentos da Formação Barreiras e Alter do Chão que constituem o Planalto Costeiro
(Fig. 2.4), em uma estreita faixa que diminui em direção ao norte, até deixar a planície em
contato direto com o embasamento cristalino. Os sistemas de lagos, no Cabo Norte,
encontram
-
se em uma das áreas mais largas da planície costeira amazônica (aproximadamente
100 km) e foi separada por Silveira (
1998)
, de acordo com a sua evolução geológica-
geomorfológica, em três cinturões: Oriental, Meridional e Ocidental (Fig. 2.5), onde são
reconhecidas feições de sistemas deltáicos com mega cicatrizes perceptíveis em qualquer
imagem de satélite.
A evolução dessa região ainda não foi devidamente esclarecida e alguns desses lagos
apresentam feições que lembram
ox
-
bow
, cuja disposição parece estar associada a fatores
tectônicos locais
(Silveira, 1998)
e
à
evolução do rio Araguari (ver
Capítulo
10).
O Cabo Norte é um divisor de processos geológicos e oceanográficos diferenciados,
ao longo da costa amapaense, já observados por
Magnanini
(
1952)
.
Esses processos diferenciados, aliados à história geológica, influenciam para que a
linha de costa atual apresente
,
ao mesmo tempo, segme
ntos acrescionários e erosionais, que se
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
23
intercalam e dividem a linha de costa atual em quatro porções (Silveira e Santos, 2003). Estes
segmentos podem ser correlacionados aos sistemas evolucionários progradacionais e
transgressivos de
Boyd
et al. (1992). Prefere-se nesta
pesquisa,
assinalar esses segmentos
como progradacionais e retrogradacionais, por falta de estudos concretos sobre variações do
nível do mar nessa costa.
Figura 2.4: Contexto geológico regional da planície costeira amapaense. Adaptado de
Bizzi
et al.
(2001)
.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
24
Figura 2.5: A região dos lagos na planície de inundação a norte do rio Araguari (ao sul), na
planície costeira amapaense. 1) Cinturão Lacustre Oriental; 2) Cinturão Lacustre Meridional,
3) Cinturão Lacustre Ocidental. Fonte: Carta imagem
de
radar
do Projeto RADAM com a
localização dos cinturões lacustres a
pontados
por
Silveira
(
1998)
.
2.2.1 Segmentos Progradacionais
Os segmentos progradacionais correspondem às áreas de acresção, localizados no
extremo norte do Amapá (Segmento Progradacional I - SP I) e na foz do rio Amazonas
(Segmento Progradacional II
-
SP II) (Figs. 2.6 e 2.7).
Tanto no SP I (Fig. 2.6), quanto no SP II, a progradação
ocorre
às expensas do
s
sedimentos oriundos do rio Amazonas. No SP I, formam-
se
os cabos lamosos na
desembocadura dos estuários dos rios Cassiporé e Oiapoque e desenvolve-se onde a pluma de
sedimentos do Amazonas torna-se mais estreita e bem próxima da costa (Fig. 2.3). O SP II
(Fig. 2.7) caracteriza zonas acrescionárias na desembocadura do estuário do rio Araguari e a
formação e modificação de ilhas, na foz do rio Amazonas
(Silveira
et al., 2002), sendo
controlada pela hidrodinâmica dos rios Araguari e Amazonas.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
25
Figura 2.6: A) SP I com detalhe para a acresção no cabo Cassiporé e desenho mostrando os
mecanismos de acresção; B) SR I mostrando as zonas
de
acumulação de curto período (zona
de acumulação efêmera). Detalhe das fotos mostrando acresção, com vegetação de spartina na
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
26
linha de costa e foto abaixo mostrando a erosão da floresta de mangue. Fonte: Modificado de
Nittrouer
et al.
(1991)
; Allison et al
. (1995), Nittrouer et al.
(1996) e Silveira (1998).
Figura 2.7: A) SP II na foz do rio Amazonas (
Silveira
et al., 2002); B) planície costeira a sul
do rio Araguari. Observar o predomínio de erosão nas áreas de florestas de várzea (fotos),
constituindo o SR II (modificado de
Santos
et al., 200
3
).
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
27
A progradação do Segmento I teria se iniciado antes de 4.450 anos A.P, intercalada
por eventos de não deposição ou de erosão (Silveira, 1998). A taxa de acumulação registrada
para o Cabo Cassiporé é superior a 2,5 cm/ano na porção norte e, maior que 1 mm/ano, no
flanco leste
(Allison et al.
, 1995)
.
No SP II, a taxa de progradação é de aproximadamente 230 m/ano,
estimadas
por
Faria (200
5),
a partir da análise multitemporal de imagens de satélite, entre os anos de 1972-
2002,
para a parte
noroeste
da Ilha de Caviana
, próximo a foz do Amazonas
.
A cobertura vegetal possui um papel importante nesta progradação, auxiliando na
fixação dos sedi
mentos depositados e marcando eventos progradacionais (ver capítulos 5 e 9).
2.2.2 Segmentos Retrogradacionais
Os segmentos retrogradacionais dominam a maior parte da costa amapaense. Ocorrem
tanto em sua porção voltada para o oceano Atlântico (Segmento Retrogradacional I - SR I),
como naquela voltada para o rio Amazonas (Segmento Retrogradacional II - SR II) (Figs. 2.6
e 2.7).
O SR I se localiza entre o sul do Cabo Cassiporé e a porção setentrional do estuário do
rio Araguari, onde se inicia o SP II. É caracterizado por forte erosão de florestas de mangue,
estabelecidas sobre depósitos argilosos sobreconsolidados, resultando na formação de terraços
erosionais (Fig. 2.6). A erosão é descontinuada apenas por depósitos arenosos temporários
associados a desembocadura dos sistemas estuarinos (Amapá Grande, Calçoene, Cuñani e
Araguari)
denominados de Zonas de Acumulação Efêmera (Mendes, 1994;
Allison
et al.
1995).
As fontes de sedimentos desses depósitos efêmeros são tipicamente fluviais
(Mendes,
1994)
, entretanto, sedimentos biodetríticos de origem marinha foram encontrados na foz do
rio Araguari (Santos, 1994). Mendes (1994) advoga que a natureza estuarina dos rios que
drenam esse setor é confirmada pela presença de águas salobras e de maré dinâmica em áreas
situadas alguns quilômetros à montante da desembocadura desses rios (ver
Capítulo
5).
O SR II
caracteriza
-
se pela presença de extensos terraços erosionais com cerca de 1 a 2
metros de altura, localizados nas margens do rio Amazonas, marcados por erosão da floresta
de várzea. O segmento é seccionado ocasionalmente pela formação de áreas acrescionárias
restritas, associadas à formação e progradação de ilhas na foz de alguns rios (Fig. 2.7) que
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
28
drenam esse setor costeiro.
Ess
as drenagens recebem a influência da maré
dinâmica
através
do rio Amazonas, podendo caracterizá-los como rios influenciados por marés. Além dos
terraços, é comum a existência de ilhas, formadas a partir de erosão do continente.
No cenário dessas zonas progradantes e retrogradacionais, três unidades de paisagem
se destacam, representadas da linha de costa para o interior por: florestas de várzea, florestas
de mangue e campos inundáveis.
As florestas de várzeas localizam-se nas margens do estuário do rio Amazonas e no
interior dos rios que drenam a planície costeira (Fig. 2.8A). Destacam-se nas regiões
submetidas às condições de águas doces e são influenciadas pelo regime sazonal de
inundações (ver
Capítulo
5). Estão desenvolvidas sobre sedimentos argilosos mosqueados
que sustentam altos terraços, apresentando por vezes camadas de turfas.
A estrutura das florestas normalmente é complexa e são ricas em palmeira como o açai
(
Euterpe
spp.), além de samaúmas (Ceiba pentandra Gaerth), ucuúbas (
Virola
spp.),
and
irobas (Carapa guianensis Aubl.), tachis (Tachygalia sp.), taquaras (
Guadua
sp.) e outras
(Leite
et al., 1974). Na Foz do rio Araguari, as árvores apresentam altura de 15 a 20 metros,
com o domínio de Bambu do gênero
Guadua
sp., formando um franja de difícil penetração,
além das outras espécies que ocorrem no estuário amazônico (
Costa
Neto
et al., 2003
).
As florestas de mangue ocorrem na porção da planície voltada para o Oceano
Atlântico, a partir da foz do rio Amazonas, formando uma franja ao longo do litoral e
Figura 2.8:
Aspectos das principais
unidades de paisagem encontradas na
planíc
ie costeira amapaense. A)
florestas de várzea; B) manguezais; C)
campos inundáveis. Fotos: acervo
IBAMA.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
29
adentrando nos sistemas estuarinos (Fig. 2.8B). São constituídas por siriúbas (
Avicenia sp.),
mangue
-
vermelho (
Ryzophora
sp.) e mangue
-
branco (
Lagunculária sp.) (Leite et al.
, 1974).
Os campos inundáveis (Fig. 2.8C) fazem parte da planície de inundação dos rios e
estuários que drenam a região. Encontram-se entre as unidades de florestas de várzea e/ou
manguezais e o limite da planície costeira com os terrenos terciários ou cristalinos. São
submetidos ao regime de inundações, porém recebem a influência das marés através das
drenagens que recortam essa unidade.
A cobertura vegetal nas áreas periodicamente inundadas é composta por Poaceae,
Cyperaceae, Nymphaceae, Alismataceae, Araceae, Maranthaceae. Nos campos herbáceos e
nos campos arbustivos destacam-se as espécies como taxi (Triplaris surinamensis Cham.),
mamorana (Pachira aquatica Aubl.), munguba (Bombax munguba Mart. et Zucc.); arbustos
esparsos como Solanum sp., Mimosa pigra L. e as palmeiras buriti (Mauritia flexuosa L. f.) e
caranã (
Mauritiell
a aculeata
(Kunth) Burnet.).
Nas regiões mais rebaixadas e mais alagadas a
vegetação é composta por aninga (Montrichardia arborescens Shortt), tiriricão (
Scleria
sp.),
buriti (Mauritia flexuosa Mart.), piri (Cyperus giganteus Vahl.). Nas depressões onde s
e
formam lagos permanentes, com acúmulo de matéria orgânica proveniente da decomposição
das macrófitas aquáticas, destaca-se o aguapé (Eichornia crassipes (Mart.) Solms e E. azurea
(Sw.) Kunth.), mururé (
Nynmphaea
sp.), cabomba (Cabomba aquatica DC.) e out
ras
aquáticas (Leite
et al.
, 1974;
Costa
Neto,
et al.
, 2003
).
Para o interior da costa onde se localiza o SR I, estes campos estão associados aos
sistemas de lagos e são desenvolvidos sobre sedimentos siltosos e arenosos, encontrando-
se
ainda sobre camadas de turfa (Silveira, com. verbal). Na região do SR II estão associados a
planícies fluviais em processo de colmatação, denominados localmente de “ressacas”.
Apresentam sedimentos siltosos e com maior percentual de areia quando se associam a
paleocanais (Co
sta
et al., 1999; Santos et al. 2001). Estas planícies tiveram franca influência
do rio Amazonas até aproximadamente 5000 anos A.P. (cal), conforme atestado pelos
resultados de análise de polens realizadas por Toledo (2004)
.
Emb
ora reduzidos, se comparados com a costa paraense, ambientes praiais são
encontrados em lugares restritos na costa amapaense e são marcados pela presença de
sedimentos arenosos e siltosos, destacando-se a praia da Ilha do Parazinho (Fig 2.9A), na foz
do rio Amazonas; a praia de Ilha Vitória, na foz do rio Araguari (Fig. 2.9B) e; a praia de
Goiabal, associada ao estuário do rio Calçoene.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
30
Figura 2.9: Ambientes praiais na costa do Amapá. (A) praia na ilha de Parazinho, foz do rio
Amazonas;
(B) praia na ilha
Vitória, foz do rio Araguari.
2.3 O ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI
2.3.1. O Rio Araguari
O rio Araguari constitui o sistema de drenagem mais expressivo da costa amapaense,
excetuando o próprio rio Amazonas. Possui aproximadamente 500 km de extensão e inicia-
se
sobre rochas do embasamento cristalino, no lado sul da serra da Lombarda, a cerca de 200 m
de altitude. Sua bacia de drenagem possui uma área de aproximadamente 37.600 km
2
(Fig.
2.10)
das quais 7.000 km
2
localizam
-
se na planície costeira
(
PROVAM, 1990)
.
A vazão média do rio Araguari é cerca de 22,8 x 10
9
m
3
/ano, e sua descarga sólida de
7 x 10
5
ton/ano
(Allison
et al., 1995). As descargas líquidas e sólidas desse rio são as maiores
entre os estuários que deság
uam na costa amapaense
(Fig. 2.11
), após o rio Amazonas.
Em seu aspecto morfológico o rio Araguari apresenta duas unidades bem distin
tas:
planície aluvial e planície de inundação.
A planície aluvial está associada ao alto e médio curso do rio Araguari definidos em
PROVAM (1990). Está instalada em rochas do embasamento cristalino onde se encontram as
nascentes do rio Araguari e onde as drenagens são fortemente encaixadas. Nesta área são
encontradas as maiores declividades da planície, que entre Porto Grande e Ferreira Gomes é
da ordem de 0,30 m/km. Costa (1996) estende a planície aluvial até a localidade de Cutias,
porém ao m
esmo tempo descreve a presença de planícies de inundações restritas.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
31
Figura 2.10: Bacia hidrográfica do rio Araguari. Observar o limite da maré dinâmica em
Ferreira Gomes.
Adaptado de PROVAM (
1990)
e Bizzi et al
. (2001)
.
Figura 2.11
:
Comparação da
vazão do rio Araguari com outros estuários da costa amapaense.
Dados estimados por
Allison et al.
(1995
).
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
32
A planície de inundação se estabelece na planície quaternária, no baixo curso do rio
Araguari (Fig. 2.10). É marcada por limites abruptos entre os sedimentos terciários da
Formação Barreiras e os sedimentos mais recentes. Integra-se a sul com a planície do rio
Amazonas, tornando a margem direita do rio Araguari o limite hidrográfico da bacia
amazônica. A norte, a planície de inundação integra-se com a região de lagos
intercomunicáveis e com outros rios e canais que drenam a porção leste da costa amapa
ense.
Entre a localidade de Ferreira Gomes e a foz do rio Araguari, o gradiente é muito
baixo, com desnível de apenas 1 metro (gradiente de 0,0
04m/km)
. Nesta porção, o rio possui
baixas velocidades e reduzidas capacidades de escoamento, que são mais rápidas quando as
cheias do Araguari atingem níveis excepcionais com lâminas de água superiores a 1,50 m
(Hydros, 1999; PROVAM, 1990)
.
No interior desta planície, nas áreas de campos inundáveis (Fig. 2.8B) ocorrem feições
de colmatação, com numerosos paleocanais, meandros abandonados, e paleodeltas
(Boaventura e Narita, 1974; Costa, 1996; Silveira, 1
998)
descritos como prováveis vestígios
do rio Araguari (ver
Capítulo
10).
Os depósitos sedimentares recentes estão representados por barras em pontal, barras
de
meio de canal, planície de intermae planície de inundação (Fig. 2.12), anteriormente
de
scritos por Costa (1996), cuja deposição são resultantes das forçantes que atuam nesse
estuário (ver capí
tulos 5, 8 a 10).
Sondagens realizadas na foz do rio Araguari pela
Petrobrás
em 1960, revelaram a
relação desses depósitos recentes com unidades mais antigas. O embasamento encontra-se a
1.450 m de profundidade, sobreposto por 1.395 m de sedimentação terciária. Sobre esses
depósitos são encontrados 55 metros de sedimentos quaternários distribuídos em 2 seções
(THEMAG Engenharia, 1984)
:
-
de 55
-
35 metros: camada de argila mole cinza, plástica e micácea, sem
fósseis;
- de 35 metros até a superfície: areia muito fina com grãos angulares de quartzo,
misturada com silte, argila cinza e material carbonoso. Apresenta abundantes grãos
de
fosfatos
negros, arredondados e polidos.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Am
azônicos
33
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Amazônicos
34
2.3.2 O Estuário
À semelhança d
e
outros sistemas estuarinos da costa amazônica, o estuário do rio
Araguari é um sistema dominado por marés, cujas alturas alcançam cerca 5 metros em sua
foz
(DHN, 200
0)
. As marés adentram por aproximadamente 224 km, considerando os
segmentos meandrantes do estuário, até a localidade de Ferreira G
omes (Fig. 2.10
).
Morfologicamente
, o estuário pode ser considerado como de planície costeira (Fig.
2.13A), segundo a classificação de Fairbridge (1980). Considerando sua morfologia, padrões
sedimentológicos e oceanográficos, Costa (1996), enquadrou o estuário no tipo de maré (Fig.
2.13B) da proposta de
Reinso
n (1992). Entretanto, se deve considerar os aspectos peculiares
deste estuário, em função não somente do alcance da maré mas das características regionais
(ver capítulos 5, 8 a 10).
A história evolutiva do estuário do rio Araguari ainda não foi devidamen
te esclarecida.
Geneticamente sua planície de inundação está associada ao desenvolvimento do sistema da
foz do rio Amazonas, tendo como limite o rio Flexal (Boaventura e Narita, 1974).
Costa
(1996)
afirma que o estuário foi instalado em sedimentos semiconsolidados da Unidade Pré-
Araguari, cuja história deposicional está relacionada a antigos sistemas fluviais e a variações
do nível do mar no Holoceno. Estes sistemas fluviais antigos que pertencem à atual planície
de inundação a norte do rio Araguari foram estudados por (Silveira, 1998) e teriam idade
mínima de aproximadamente 3000 anos A.P (idade de diques marginais no antigo rio
Macarry, cuja drenagem iniciou sua colmatação a partir de aproximadamente 1750 A.P
.).
Costa (1996) sugere que o estabelecimento do canal estuarino atual possuiria idade mínima de
500 anos A.P., representado pelos depósitos de preenchimento do estuário que é típico de
sistemas juvenis. Esta evolução recente do estuário será tratada no
Capítulo
10 desta tese.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Amazônicos
35
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Amazônicos
36
2.3.2 Uso, Ocupação e Pressões Antrópicas
A ocupação humana no estuário do rio Araguari remonta à época pré-
histórica,
conforme atestam os vestígios arqueológicos de inúmeras ocupações, encontrados no limite
do planalto com a planície costeira (GERCO, 2004). Nos tempos históricos, além das
ocupações associadas a tribos indígenas que habitavam o litoral, é registrada na foz do
estuário, a construção de uma “vigia”, apontada em mapas do século XVIII
(ver
Capítulo
10).
Por se constituir em uma porta de entrada para o rio Amazonas, através da antiga baia
do rio Macarry (Fig. 2.14), o posicionamento geográfico do estuário do Araguari foi
estratégico desde os tempos coloniais. Esta localização foi uma das causas de constantes
disputas históricas, com incursões de ingleses, holandeses e franceses. O rio Araguari
constituiu
-se, desde o século XVIII, o limite de um contestado, situado entre ele e o rio
Oiapoque,
inicialmente entre França e Portugal. O conflito foi resolvido em 1900 pela
Com
issão de Arbitragem, em Genebra,
que deu posse da região ao Brasil.
Figura 2.14: Antiga baia do rio Macarry que servia de porta de entrada para o rio Araguari
através de um canal a leste. Mapa copiado em 1894
.
Archi
v
es Départementales de la Guyan
e.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Amazônicos
37
Nos dias de hoje, o estuário do rio Araguari é ocupado por inúmeras fazendas que
utilizam a sua planície de inundação para a criação de gado. Esta atividade é muito antiga
nessa região, implantada desde o início do século XX (ver
Capítulo
5)
inicialmente
com a
criação de bovinos. Atualmente o rebanho é praticamente de bubalinos, criados de forma
extensiva com poucas áreas de manejo.
No contexto jurisdicional, as terras ocupadas pelo estuário e planície de inundação do
rio Araguari, pertencem ao Governo Federal representado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária - INCRA e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. O primeiro é responsável pela regularização das
ter
ras. O IBAMA é responsável pela Reserva Biológica do Lago Piratuba, criada em
16.07.1984, que está localizada na região dos ambientes lacustres (Fig. 2.5), bordejando a
margem
esquerda
do estuário (Fig. 2.15). Mesmo com a instalação dessa reserva, as fazen
das
continuam a existir a margem do estuário, o que tem trazido muitos problemas para o seu
gerenciamento. Por outro lado, a gestão da reserva também é dificultada devido ao potencial
dos lagos para a pesca do pirarucu, peixe nobre e altamente comercializado por comparar-
se
ao bacalhau.
Figura 2.15: REBIO do Lago Piratuba na margem esquerda do estuário do rio Araguari.
LAGEO
-
ZEE/IEPA.
__ Parte I: Capítulo 2
-
Ambientes Costeiros Amazônicos
38
Outro aspecto do uso que merece ser destacado neste estuário é a instalação em seu
alto curso da Usina Hidrelétrica de Coaracy Nunes, em funcionamento desde 13.01.1976.
Existem afirmações de que a instalação dessa hidrelétrica tenha diminuido a vazão do rio
Araguari e venha propiciando o assoreamento de sua foz, porém até o momento nenhum
estudo comprova a existência dessa relação. PROVAM (1990) afirma que assoreamento no
curso inferior do rio Araguari se deve ao escoamento de parte dos sedimentos provenientes da
região dos lagos e drenagens adjacentes que deságuam no rio Araguari.
No alto curso do rio Araguari estão localizados importantes recursos minerais como o
manganês, ouro e metais raros como a columbita
-
tantalita, dando origem a garimpos.
Figura 2.2: Contexto geológico-estrutural da costa amazônica. Compilado a partir de
Bizzi
et al., 2001;
Milani e Thomaz Filho, 2000; Palvadeau, 1999
. Compartimentação da
costa modificada de Silveira
(1972
).
Figura 2.12:
Aspectos morfológicos da planície costeira associada ao estuário do rio Araguari segundo Costa (1996).
Figura 2.13: Enquadramento do estuário do rio Araguari segundo sua morfologia e padrões sedimentológicos e oceanográficos
(destacado em vermelho). A) Tipo planície costeira (desembocadura em forma de funil) de Fairbridge (1980); B) d
omin
ado por
marés de Reinson (1992).
Parte Introdutória
3. ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS ............................................................................39
3.1 MATERIAIS, MÉTODOS E ESTRATÉGIAS...............................................................41
3.1.1 Caracterização dos Ambientes Sedimentares Recentes............................................41
3.1.2 Análise da Dinâmica Natural ....................................................................................43
3.1.3 Análise da Din
âmica Antrópica ................................................................................48
3.2 ANÁLISE DOS DADOS DE SENSORES REMOTOS.................................................50
3.3 INTEGRAÇÃO DOS DADOS .......................................................................................50
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
39
C
apítulo 3
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS
Para a elaboração desta tese utilizou-se uma estratégia metodológica em quatro níveis
de observação multitemporal: regional - costa do Amapá no contexto dos ambientes costeiros
amazônicos; sub-
regional
- estuário do rio Araguari; local e in situ. Tal estratégia pode ser
visualizada na Fig. 3.1.
Figura 3.1:
Estratégia de abordagem metodológica da tese.
Em cada um desses veis de observação buscaram-
se
os elementos resultantes da
atuação da dinâmica natural e da dinâmica antrópica, a fim de entender as modificações
produzidas por
essas dinâmicas
e suas interações.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
40
A organização desta abordagem metodológica procurou atender a duas problemáticas
principais: a) compreensão das causas e efeitos das modificações que ocorrem na planície
costeira do Amapá; e b) aplicação da ferramenta de sensoriamento remoto para o estudo de
modificações em ambientes costeiros amazônicos. A primeira remete à necessidade de
reconhecer os ambientes e os processos associados, procurando identi
ficá
-los tanto nos dados
de sensores remotos, quanto no terreno. A segunda, a necessidade de compreender a resposta
dos ambientes às forçantes, a partir dos resultados derivados da primeira necessidade, tendo
em mente as potencialidades e limitações dos dados de sensores remotos para essa
aplicabilidade.
As análises em escala regional permitiram identificar a dinâmica ambiental da região
imposta principalmente pelos processos responsáveis pelos fenômenos de inundação na área
(marés e cheias), que se refletem nas condições de umidade da planície costeira do Amapá.
Nesta análise foram utilizadas imagens de sensores remotos de baixa resolução espacial
(
CBERS
-
WFI
e os
mosaicos
das
imagens de radar do satélite JERS
-1).
A escala sub-regional restringe-se ao estuário do rio Araguari e nela foram utilizados
sensores de média resolução espacial (
RADARSAT
-
1, Landsat). Nessa abordagem, procurou
-
se identificar os padrões ambientais do estuário e a dinâmica dos processos naturais e
antrópicos (relacionado
s à
atividade de
bubalinocultura) a eles associados.
Na escala local foram analisados registros fotográficos de sobrevôos e fotografias
aéreas verticais. As fotografias aéreas foram utilizadas com o intuito de avaliar a situação
anterior à implementação da atividade de bubalinocultura no estuário e, juntamente com
imagens de sobrevôo, serviram para validar os padrões encontrados nas imagens de satélite e
avaliar as modificações ao longo do tempo.
Os trabalhos de campo (análise in situ) foram realizados em quatro períodos distintos,
procurando atender as características ambientais regionais e locais da área e observar os
processos naturais e antrópicos. Os critérios adotados foram: a) períodos de maior e menor
precipitação; b) períodos de equinócios, em marés de sizígia, coi
ncidente
s também com a
maior expressão do fenômeno da pororoca. Todas as informações coletadas foram
posicionadas através de um GPS de mão, com precisão em torno de 5 m, realizando a
navegação em tempo real utilizando
-
se o aplicativo DNR Garmin, e
o softwa
re ArcView GIS,
versão 3.2. Na impossibilidade da navegação em tempo real, os dados eram descarregados
diariamente em campo e sobrepostos às imagens de satélite (óticas e de radar) permitindo a
correlação das informações com as imagens.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
41
A escolha da área de estudo baseou-se nos critérios de: a) disponibilidade de dados
de
sensores remotos; b) acesso em campo; c) acesso aos dados históricos; d) concentração da
atividade de bubalinocultura e; e) atuação diferenciada dos processos naturais (áreas com e
sem in
fluência do fenômeno da pororoca).
3.1 MATERIAIS, MÉTODOS E ESTRATÉGIAS
Para alcançar os objetivos gerais e específicos da tese as estratégias metodológicas
foram desenvolvidas em três fases distintas: caracterização dos ambientes sedimentares
recentes;
análise da dinâmica natural e, análise da dinâmica antrópica. Em todas essas fases
foram utilizados produtos resultantes da análise das imagens de satélite.
3.1.1 Caracterização dos Ambientes Sedimentares Recentes
Os padrões e feições que compõem os ambientes recentes na área de estudo foram
mapeados a partir de métodos de fotointerpretação em fotografias aéreas e imagens de
satélite, aliados a dados da literatura e trabalhos de campo (Fig. 3.2).
Figura 3.2: Esquema da estratégia metodológica para reconhecimento dos ambientes
sedimentares.
Em campo as unidades foram reconhecidas a partir de seus processos dinâmicos
(influência das marés e de inundação) e de observações sedimentológicas. As observações
sedimentológicas foram realizadas através da descrição de textura e estrutura das camadas
sedimentares, recuperadas através de observação de 42 testemunhos retirados com trado
manual (Fig. 3.3), realização de 26 trincheiras e descrição de terraços expostos ao longo do
rio Araguari.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
42
O trado possuía 1 m de comprimento e foi utilizado ao longo das diferentes unidades
obser
vadas nas imagens de satélite e onde o acesso foi possível. Em muitos locais da planície
de inundação a recuperação de sedimentos não ultrapassou 20 cm.
Figura 3.3: Localização da coleta realizada com trados e metodologia de recuperação e
descrição.
I
magem Landsat 7, ETM+
,
composição colorida da
primeira componente principal
das bandas 1, 2 e 3 no canal B; banda 4 no canal R; e primeira componente principal das
bandas 7 e 5
no canal
G.
Fon
te: GLCF.
As trincheiras tinham as dimensões de 0.2 a 0.6 m de profundidade por
aproximadamente 1.0 m de largura e foram abertas ao longo de perfis topográficos
transversais a duas redes de drenagens na planície de inundação do rio Araguari (Fig. 3.4).
Na
s trincheiras foram feitas amostragens de sedimentos em intervalos de 10 em 10 cm ou,
onde o perfil apresentava mudança de fácies, sendo realizada ainda coleta de 32 amostras
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
43
superficiais ao longo dos perfis topográficos. Este método foi empregado com a finalidade de
verificar mudança na sedimentação ao longo das drenagens observadas.
Figura 3.4: Localização de perfis topográficos onde foram abertas trincheiras e feitas as
observações
de terraços na planície de inundação do rio Araguari: A) igarapé Sa
nta
na, B)
igarapé Novo; C) e D) limpeza de terraço; E) trincheira em barra em pontal. Imagens do
satélite Landsat 7, ETM+,
composição
das bandas 7, 4, 2 em
RGB.
Fonte:
https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid.
3.1.2 Análise da Dinâmica Natural
Esta análise foi realizada a fim de compreender como os processos de inundação,
relacionado
s às marés e cheias dos rios, atuam na região, e entender o papel destes processos
na estruturação do ambiente atual, suas modificações e na dinâmica antrópica.
Marés
A observação e registros das variações de marés, ao longo do baixo curso do rio
Araguari, foi realizada a partir de inspeções visuais e instalação temporária de um sensor de
pressão (Orphimedes). O sensor foi instalado em duas áreas, uma com e outra sem influência
da pororoca (Fig. 3.5), e foi programado para registrar dados do nível da maré, de 15 em 15
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
44
minutos. O registro foi realizado em dois períodos sazonais distintos, coincidentes com os
equinócios de setembro de 2004 e março de 2005.
Os dados de marés coletados (Fig. 3.5, pontos A e B) foram correlacionados com as
informações de previsão existentes para a Ponta do Guará (Fig. 3.5, ponto C) a fim de
entender o comportamento da maré no estuário do rio Araguari e
de
validar a observação da
pororoca em imagem de radar (ver
capítulos 5 e 8).
Figura 3.5: Localização dos pontos de coleta dos dados de marés. A) igarapé Santana; B)
igarapé Novo; C) Ponta do Guará (dados de previsão DHN). Imagem do satélite Landsat 4,
TM, composição das bandas 4, 5, 3 em RGB. Fonte: GLCF.
Observação e registro do fenômeno da pororoca foram realizados a partir de inspeção
visual do comportamento da onda no estuário (forma de deslocamento, altura, poder de
remobilização e deposição de sedimentos). Para tanto, foram efetuados experimentos (Fig.
3.6) para medidas de erosão e sedimentação durante o período de ocorrência do fenômeno,
conforme metodologia apresentada em
Santo
s e Santana
(2005)
, além de coleta de água para
análise da concentração de sedimentos em suspensão antes, durante e após o fenômeno, em
um perfil transversal ao estuário (Fig. 3.7).
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
45
Figura 3.6:
Localização dos experimentos para medições de taxa de erosão e sedimentação
esquerda). Instalação de placa de metal na superfície da camada sedimentar durante a
baixamar
(à dir
eita)
. As placas foram recolhidas 4 dias após a exposição aos processos
sedimentares, durante período de sigízia de equinócio. Imagem de satélite Landsat 7, ETM+,
composição das bandas 7, 4, 3 em RGB. Fonte. GLCF.
Figura 3.7: Localização dos pontos de coleta de água no estuário do rio Araguari para a
análise de sedimentos em suspensão antes, durante e após a passagem da onda da pororoca.
Imagem de satélite Landsat 7, ETM+, composição das bandas 7, 4, 3 em RGB. Fonte. GLCF.
O processamento dos dados coletados de marés foi realizado em software de
tratamento estatístico Excell. As curvas de maré total foram analisadas com o objetivo de
entender o comportamento das marés neste estuário e seus reflexos sobre a sedimentação,
bem como correlacionar com as informações de caracterização dos ambientes descritas no
item 3.1.1.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
46
Para analisar a variação da amplitude de marés ao longo da costa amapaense (ver
Capítulo 5) foram utilizados dados de marés coletados pela Marinha do Brasil, na década de
1960 e 1970. Da
dos
de previsão dessas estações também foram usados para auxiliar na
interpretação das imagens de satélite
, os quais
foram tratados no software Matlab, versão 6.5.
Dados Pluviométricos e Fluviométricos
Estes dados são provenientes do banco de dados Hidroweb da Agência Nacional de
Águas (ANA), do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL). Os dados utilizados são de várias estações localizadas dentro e
fora da planície costeira (Fig. 3.8) e foram tratados estatisticamente de acordo com o objetivo
do trabalho. Para correlação com as imagens de satélite foram utilizados dados acumulados de
precipitação e cota da última quinzena do período de precipitação antes da aquisição da
imagem. Para análise de séries históricas visando a correlação com eventos climáticos globais
foram utilizados os dados de vazão (ver item 5.1.1).
Figura 3.8: Localização das estações pluviométricas e fluviométricas, cujos dados foram
utilizados nesta tese.
Modificado da base de dados da
ANA
-
Hidroweb
e ANEEL.
Dados Topográficos
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
47
Estes dados foram coletados em duas áreas, uma sob influência da pororoca e outra
sem a influência do fenômeno (Fig. 3.4), a fim de verificar a variação de relevo e sua relação
com os fenômenos de inundação e os padrões encontrados nas imagens de satélite, bem como
entender as características morfológicas das drenagens e suas relações com os processos
naturais e antrópicos.
A coleta dos dados topográficos foi realizada tanto na superfície do terreno como no
leito
do rio Araguari e canais secundários (batimetria).
Em terra foram realizados através de levantamento topográfico altimétrico pelo
método visada a e vante, utilizando-se uma mira, nível de engenheiro, bússola, trena e
piquetes (Fig. 3.9). Os dados resultantes foram tratados no software Grapher, versão 2.0, e os
resultados integrados as informações sedimentológicas coletadas, conforme descrito no item
3.1.1.
Figura 3.9: Coleta de dados topográficos na planície de inundação do rio Araguari. A)
Transporte
utilizado para deslocamento entre as drenagens; B) leitura de nível no limite entre
campo antrópico e floresta de várzea; C) medição em drenagens. Foto C: Edson de Faria.
Nos canais, os dados foram levantados através de perfis batimétricos, utilizando um
ecobatímetro analógico-
digita
l da RAYTHEON modelo DE719D MK2, assim como um GPS
TRIMBLE modelo Ag132 com correção diferencial em tempo real via farol da Marinha, com
precisão centimétrica. A coleta dos perfis batimétricos foi realizada no período de maior
altura de maré, contíguos aos perfis topográficos da porção emersa de modo a complementá-
los. Perfis batimétricos também foram coletados no baixo curso do rio Araguari, com a
finalidade de caracterizar a topografia de fundo canal estuarino. Os dados batim
étricos
coletados foram tratados no software Surfer, versão 8.0.
As informações coletadas nesta fase também serviram como dados colaterais para
análise, avaliação e validação de padrões nas imagens de satélite.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
48
Mapas e Registros Históricos
Os mapas históricos serviram como elemento de avaliação qualitativa das
modificações regionais no estuário, para os últimos 300 anos, servindo ainda como suporte
para a análise de padrões recentes encontrados nas imagens de satélite (ver capítulos 9 e 10).
Foram resgatados junto aos Archives Departamentale de la Guyane,
Caiena
e ao
Arquivo Histórico do Exército Brasileiro-RJ. Cerca de 33 mapas foram analisados,
correlacionando
-se visualmente com imagens de satélites e alguns escolhidos para este
trabalho (ver capítulos 8
e 10).
Além destes mapas, também foram utilizados registros históricos (livros) que
continham descrição da costa e dos locais de atuação do fenômeno da pororoca, e forneciam
ainda
informações sobre alguns mapas.
3.1.3 Análise da Dinâmica Antrópica
As atividades referentes a esta etapa da tese foram realizadas a fim de verificar a
dinâmica da atividade da criação de búfalos na área e seus resultados, buscando prováveis
relações com as modificações na planície costeira e as informações espectrais e espaciais nas
imagens de satélite.
Consistiu primeiramente na análise de informações pretéritas sobre distribuição de
rebanho na planície costeira do Amapá, identificando-se a partir desta como área alvo o
estuário do rio Araguari.
Entrevistas foram realizadas através da aplicação de questionários em 18 fazendas
localizadas entre o rio Gurijuba e estuário do rio Araguari (Fig. 3.10, Anexo I), em março de
2003, no período chuvoso, quando o acesso à área é facilitado pelas inundações. Para a
realização das entrevistas tomou-se como base um mapa de estrutura fundiária com a
localização das fazendas e retiros.
Os entrevistados foram proprietários das fazendas e na ausência destes, entrevistou-
se
os responsáveis (capatazes). As entrevistas representam a quase totalidade das fazendas da
margem direita do estuário entre o trecho trabalhado. Nos questionários aplicados se tentou
identificar as principais propriedades e seus limites, tipo e quantidade de rebanho, resgatando
-
se ainda a percepção ambiental dos moradores sobre as modificações que ocorrem na área,
suas prováveis causas e ocorrência temporal a fim de correlacionar com as informações de
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
49
campo e as imagens dos sensores remotos. Os questionários sofreram tratamento estatístico
utilizando
-se o software Excell e as informações relevantes foram espacializadas em um SIG
(ArcView 3.2) utilizando imagens de satélite como referência visual. Estes dados também
serviram para auxiliar nas análises multitemporais.
Figura 3.10: Locais de realização das entrevistas ao longo do estuário do rio Araguari, em
março de 2003, época chuvosa. Imagem Landsat 7, ETM+, composição da primeira
componente principal das bandas 1, 2 e 3; banda 4 e primeira componente principal das
bandas 7 e 5 em BRG.
Fonte da imagem:
GLCF.
Nas observações visuais em campo foram registrados os elementos vinculados à
atividade de bubalinocultura tais como: cercas, casas, locais de pastagem, repouso do gado,
passagem e banho dos animais, etc... e observados os padrões da atividade in situ,
tendo
-se o
cuidad
o de observar as relações de contexto de todas essas informações e sua correlação com
as características do ambiente. Todas as informações foram posicionadas com GPS e
registradas através de fotografias nos períodos sazonais distintos. Foram realizadas ain
da
medições das estruturas associadas ao pisoteio do rebanho como trilhas e pequenos canais.
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
50
Também foram utilizados os resultados dos levantamentos topográficos e batimétricos
para encontrar distinções morfológicas entre estruturas naturais e antrópicas e identificar a
morfologia das trilhas e locais de acesso do gado, às margens das drenagens
.
3.2 ANÁLISE DOS DADOS DE SENSORES REMOTOS
Os dados de sensores remotos utilizados foram radar aerotransportado, fotografias
aéreas, imagens de satélites (radar e ótico) e dados de elevação do SRTM. Os dados foram
selecionados em função das características da dinâmica da região, procurando obter
informações que pudessem ser correlacionadas para caracterização do ambiente (natural e
antrópico), das forçantes (ver
Cap
ítulo
5) e das modificações atuais desde a década de 1950.
Em virtude da característica da região dados de sensores óticos em períodos chuvosos (ver
Capítulo
11) são escassos.
As imagens de radar aerotransportado e fotografias aéreas foram cedidas pelo S
erviço
Geológico do Brasil (CPRM) e Marinha do Brasil, respectivamente. Apesar da gama de
fotografias aéreas sobre a costa amazônica existente no acervo da Marinha do Brasil, poucas
se referem à área de estudo e muitas foram extraviadas do acervo. Outras, registradas nos
fotoíndices da CPRM, não foram encontradas.
As imagens orbitais de RADARSAT-1 utilizadas foram disponibilizadas através do
Projeto PIATAM
Mar
e as imagens JERS
-
1 estavam disponíveis no acervo das intituições que
apoiaram esta tese. As imagens Landsat foram resgatadas junto aos acervos do Global Land
Cover Facility
(GLCF)
, do IEPA, da SEMA e do INPE.
Maiores detalhes sobre esses dados, métodos e técnicas aplicados estão descritos nas
partes III e IV, que se referem à aplicação do sensoriamen
to
remoto
em
estudos
de
ambientes
costeiros tropicais e na identificação de modificações na planície costeira estudada.
A Figura 3.11 apresenta o diagrama conceitual da utilização
das
ferramentas de
tratamento e análise dos dados de sensores remotos.
3.3
INTEGRAÇÃO DOS DADOS
A integração dos dados compreendeu duas fases: 1) integração dos dados coletados em
campo e provenientes de outras fontes, visando compreender e analisar a dinâmica natural e
_____________________________________
Parte I: Capítulo 3
-
Estratégias Metodológic
as
51
antrópica da região e; 2) integração dos dados de sensores remotos e análise a partir da
primeira fase.
Figura 3.11: Diagrama conceitual da utilização dos dados de sensores remotos e modo de
correlação com as informações colaterais. Adaptado de
Jensen (1996)
.
Na primeira fase as informações geradas foram correlacionadas com uma imagem
Landsat ETM+ 7, tratada para ressaltar as feições geológicas e geomorfológicas e os padrões
antrópicos (ver
capítulos
8 e 9). Esta fase foi iniciada nos trabalhos de campo, através da
plotagem diária dos dados de GPS e informações coletadas.
Na segunda fase foram realizados os processamentos digitais descritos no capítulo 8 e
os resultados foram avaliados em função do conhecimento prévio do ambiente e dinâmica da
área. Nesta fase foram realizadas as análises multitemporais, multi-escala, multisensor e
multidados, para reconhecer e avaliar qualitativamente as modificações ocorridas na área (Fig.
3.10).
No trabalho final de redação da tese os resultados provenientes das fases anteriores
foram trabalhados, em sua ma
ioria, dentro de um Sistema de Informações Geográficas (SIG).
_ Parte II: Capítulo 4
-
Modificações e
m Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
4 MODIFICAÇÕES EM ÁREAS COSTEIRAS: AGENTES, ESCALAS E
RESPOSTAS
.......................................................................................................................... 53
4.1. AS ESCA
LAS NO ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES................................................53
4.2 MECANISMOS DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NATURAIS DE CURTO
PERÍODO EM ÁREAS COSTEIRAS TROPICAIS............................................................56
4.2.1 Climáticos Globais...................................................................................................56
4.2.2 Oceanográficos Globais e Regionais.......................................................................61
4.3 RESULTADOS DAS FORÇANTES NATURAIS EM AMBIENTES
COSTEIROS
TROPICAIS..........................................................................................................................67
4.3.1 Forçantes Climáticas................................................................................................67
4.3.2 Marés como Mecanismo Controlador de Modificações..........................................70
4.3.3 Efeitos da Pororoca nos Ambientes Costeiros.........................................................72
4.3.4 Efeitos das ondas .....................................................................................................74
4.4 MODIFICAÇÕES DE ORIGEM ANTRÓPICA ...........................................................74
4.4.1 A Pecuária como Fator de Modificação em Áreas Costeiras ................................
.76
4.4.2 Efeitos da Pecuária sobre o Ambiente.....................................................................77
4.5 CONCLUSÕES ..............................................................................................................79
PARTE II
MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS EM
REGIÕES COSTEIRAS E NA COSTA
AMAZÔNICA
52
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
53
Capítulo 4
MODIFICAÇÕES EM ÁREAS COSTEIRAS:
AGENTES, ESCALAS E RESPOSTAS
As modificações ambientais são decorrentes das transformações ou variações
produzidas no ambiente e estão associadas a duas origens principais: ação natural e ação
antrópica.
As transformações de origem natural decorrem das variações dos parâmetros naturais
do ambiente, resultado das t
ransforma
ções do planeta Terra, enquanto que as
transformações
resul
tantes da influência antrópica são dependentes das ões do homem sobre a natureza e
esta depende das transformações que ocorrem na sociedade.
Assim, as modificações naturais não podem ser confun
didas com as ambientais, já que
estas últimas tratam de modificações no ambiente não se referindo
à
origem.
Nesse contexto questiona
-
se nos estudos das modificações ambientais: o que se mede?
ou, o que se detecta? Uma resposta inicial para essa questão viria através do entendimento de
como os agentes, natureza e homem, atuam e qual a extensão, temporal e espacial, dessa
atuação. Assim, três ações são necessárias: a) identificar os produtos dessas transformações;
b) identificar os agentes responsáveis e; c) identificar a escala espacial e temporal dos
fenômenos associados às modificações.
4.1. AS ESCALAS NO ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES
A escala é uma técnica de abordagem de um fenômeno espaço-temporal seguindo a
definição de
Kohler (2001).
As mudanças naturais nos ecossistemas e feições das paisagens costeiras, resul
tantes
das variações nos parâmetros geológicos e climáticos, levam ao ajustamento nos processos
superficiais, materiais e na vegetação. Essas interações e sua variação no tempo, espaço e
magnitude
ainda n
ão estão completamente entendida
s
(Coltrinari, 1996)
.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
54
No geral, as transformações ligadas aos fenômenos naturais estão relacionadas a
eventos cíclicos e episódicos na natureza. Os eventos cíclicos ocorrem em escalas temporais
variadas de milhões, milhares, centenas e dezenas de anos, até a escalas temporais diárias.
Estes eventos podem ser previsíveis ao longo da história geológica, a qual está
intrinsecamente ligada aos processos de evolução do planeta. Fenômenos episódicos não
possuem tempo de recorrência definido, sendo difíceis de prever.
As transformações ligadas a fenômenos antrópicos estão associadas a eventos de
origem sócio-econômica e cultural, perpassando pela escala temporal do aparecimento e
evolução do homem sobre o planeta. Essas transformões teriam escalas de no mínimo
milhares de anos. Entretanto, muitos dos fenômenos decorrentes da ação antrópica ainda não
podem ser mensuráveis por falta de estudos mais apurados. Discute-se atualmente quanto da
Terra já teria sido modificado pelo homem.
Nesses dois aspectos, natural e humano, as escalas temporais e espaciais dos
fenômenos e seus re
sultados são variáveis.
Existem controvérsias na literatura sobre a escala de tempo de longo, médio e curto
período, e a aplicação destes termos depende da área temática dos trabalhos. Em relação a
modificações associadas a variações do nível do mar
,
USACE
(
1995)
define
que mudanças de
curto período são aquelas ocorrem dentro de um intervalo de tempo de vida humana e podem
ser vistas diretamente ou medidas (uma geração - 25 anos). Reed (2002) usou o termo escala
de longo período para se referir a variações de nível de mar que ocorrem acima de 500 anos e
de curto período para variações menores que décadas.
D
e um modo geral, na literat
ura voltada
para as geociências, admite
-
se que a escala de médio e longo período (
medium and long
-
term
)
refere
-se a transformações acima de dezenas de milhares de anos, enquanto que as
transformações de curto período (
short
-
term
) estariam associadas ao Hol
oceno.
Deste modo
,
se
podem
então
enquadrar
as transformações em escalas milenares, seculares, decenais,
anuais, sazonais, mensais e diárias, além daquelas associadas a eventos não periódicos que
são abordadas nesta pesquisa.
Assim,
o termo modificações de curto período
utilizado nesta
tese
se refere às
transformações
analisadas
em escala temporal secular
a diária
.
Nos ambientes costeiros, essas transformações podem ser estudadas através de
diversas cnicas dependendo dos objetivos da pesquisa. Porém, maior enfoque tem se dado
para as mudanças geomórficas (Fig. 4.1).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
55
Figura 4.1: Técnicas e métodos para o estudo das mudanças geomórficas em várias escalas
de tempo. As flechas das setas indicam o espaço de tempo aproximado onde uma técnica pode
ser usada. M
odificado de
USACE (1995).
No campo aplicado os mapas e arquivos históricos são úteis para observação das
transformações que oco
rrem em escala maior do que as seculares, enquanto que as fotografias
aéreas e imagens de satélites são utilizadas para avaliar modificações a partir de meados do
século XX. No entanto, como a escala espacial das transformações depende da resposta dos
ambi
entes aos fenômenos que ocorrem nos ambientes costeiros, estas modificações poderão
ser detectáveis ou não.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
56
4.2 MECANISMOS DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NATURAIS DE CURTO
PERÍODO EM ÁREAS COSTEIRAS TROPICAIS
As modificações ambientais de curto período nas áreas costeiras são caracterizadas por
uma extrema variabilidade dos processos costeiros e do exercício de atividades humanas nos
ambientes. Algumas dessas mudanças de curto período podem ser visíveis ainda na escala do
tempo de vida humana. As causas dessas modificações possuem escalas temporal e espacial
variadas, estando associadas a processos globais, regionais e locais.
Poucos estudos porém, tratam de entender a interação entre os mecanismos que geram
as modificações nos ambientes costeiros e as respostas do ambiente, em diferentes escalas
temporais
(Salant
et al., 2005) e espaciais. Isto resulta do fato de que muitos processos
interagem e ocorrem simultaneamente, o que torna difícil precisar a contribuição de cada fator
para as modificações no nível do mar e conseqüentemente para as modificações nos
ambientes costeiros
(USACE,
1995
). Por outro lado, os estudos para entender essas
modificações precisariam de registros históricos associados a medições dos fenômenos e seu
reflexo nos ambientes costeiros.
As modificações naturais de curto período, nas áreas costeiras, estão intrinsecamente
relacionadas com a variação do nível do mar (Tab. 4.1). De um modo geral pode-se dizer que
os principais agentes naturais que produzem
essas
modificações nas áreas costeira
s e planícies
tropicais úmidas estão ligados a fatores climáticos, astronômicos, oceanográficos e
meteorológico
s, globais, regionais e locais, que desencadeiam processos modelando e
remodelando a paisagem costeira e conseqüentemente os seus ecossistemas, mantendo esta
área em constante transformação.
4.2.1 Climáticos Globais
Nas costas tropicais os processos climáticos possuem uma dinâmica própria em função
de sua localização geográfica. A atuação desses processos, aliada às condições geológicas e
oceanográficas locais, é determinante para a existência dos ambientes costeiros tropicais e
planícies associadas. Os processos climáticos refletem-se em duas variáveis principais:
precipitação e padrão de ventos, que vão interferir na análise das modificações naturais.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
57
Tabela 4.1:
Fatores de mudanças do nível do mar, de curto período, ao longo da zona costeira
e esti
mativa de seus efeitos
(USACE, 1995
).
Causas
Escala de Tempo
(P=período)
Efeito Vertical
Mudanças Periódicas do Nível do Mar
- marés astronômicas 6-
12 horas P
0,
2 a +10
m
-
marés de longo período (variações rotacionais)
14 meses P
Flutuações Oceanográficas e Meteorológicas
-
pressão atmosférica
-
ventos (ondas de tempestades)
1-
5 dias
acima de 5 m
-
evaporação e prec
ipitação
dias a semanas
-
topografia superficial do oceano (mudanças na
densidade da água e correntes)
dias a semanas
acima de 1 m
-
El Niño
6 meses a cada 5-
10 anos
acima de 60 cm
Variações Sazonais
-
balanço sazonal de água entre os oceanos (Atlântico,
Pacífico e Índico)
- variações sazonais no gradiente da água superficial
-
escoamento dos rios/inundação
2 meses
1 m
-
mudança sazonal na densidade de água (temperatura
e salinidade)
6 meses
0,
2 m
-
seiches
minutos
-
horas
acima de 2 m
T
erremotos
-
tsunamis
(ondas de longo período geradas
catastroficamente)
horas
acima de 10 m
-
mudanças abruptas no nível da terra
minutos
acima de 10 m
Para os ambientes costeiros
tropicais, a alta precipitação e
xerce um papel fundamental.
No entan
to, a freqüência e intensidade dessa precipita
ção variam ao longo do tempo
conforme
demonstrado por
Latrubesse
et al. (2005). Como resultado, períodos chuvosos e menos
chuvosos ocorrem ao longo do ano, apresentando variações anuais, interanuais e decenais, de
acordo com os fenômenos associados. Dois fatores naturais
s
ão
fundamentais no regime dessa
precipitação e decorrem da condição climática global do planeta: Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT) e ocorrência do fenômeno
El
-Niño-
Southern Oscillation
(ENSO).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
58
ZCIT
A ZCIT é decorrente do sistema de circulação atmosférica superficial, existente entre
o Equador e a latitude de 30
o
(Célula de Hadley), representando o ramo ascendente dessa
célula (Fig. 4.2).
A ZCIT insere-se na região equatorial onde ocorrem marcantes interações
atmosféricas e oceânicas: 1) zona de confluência dos ventos alíseos (ZCA); 2) zona da
depressão equatorial; 3) zona de máxima temperatura da superfície do mar; 4) zona de
máxima convergência de massa; e 5) banda de máxima cobertura de nuvens convectivas
(Ferreira, 2002).
Figura 4.2: ZCIT gerada pelo sistema de circulação atmosférica.
Fonte
: Modificado de
encarta.msn.com
. Acessado em dezembro de 2005.
Como a ZCIT move-se anualmente de um lado para outro da linha do E
quador
deslocando
-se para Norte, entre os meses de junho a setembro, e para o Sul do equador, nos
meses de dezembro a fevereiro (Fig. 4.3), origina as estações secas e úmidas na zona
equatorial tropical. Esta zona influencia fortemente a temperatura e a precipitação, marcando
as áreas tropicais com altas precipitações e forte nebulosidade, observáveis em imagens de
satélite (Fig. 4.4).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
59
ENSO
Em decorrência da variação na precipitação, os regimes fluviais tropicais são
influenciados pelo ENSO
(Latrubesse
et al., 2005), conseqüentemente os ecossistemas
coste
iros a eles associados também o são.
Figura 4.3:
Padrão de deslocamento da ZCIT sobre a região equatorial. Para sul nos meses de
dezembro a fevereiro e, para norte da linha do equador, nos meses de junho a setembro.
Fonte:
www.meteo.nc/comprendre/glossaire/zcit.html
. Acessado em maio de 2002.
Figura 4.4: A ZCIT e sua área de alta nebulosidade sobre a região equatorial e a relação com
os ventos alíseos, observada a partir de dados de classificação da cobertura da terra e dados de
nuvens do satélite GOES
-
11. Fonte:
http://earthobservatory.nasa.gov
. Acessado em 2005.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
60
O El-Niño está relacionado a uma oscilação atmosférica global conhecida como
Southern Oscillation (SO) resultando em flutuações nas temperaturas no oceano. As
anomalias ocasionadas pelo fenômeno podem ser negativas ou positivas. Fases negativas
ocorrem durante os episódios de El-Niño quando zonas anômalas de alta pressão cobrem a
Indonésia e o oeste do Pacífico Tropical e zonas anômalas de baixa pressão cobrem o leste do
Pacífico Tropical. Nas fases positivas essas anomalias se invertem produzindo o fenômeno de
La-
Niña
(NOAA
- National Weather Service, 2006). O resultado das anomalias reflete-se no
padrão de ventos, temperatura superficial na água do mar, nebulosidade e precipitação (Fig.
4.5).
Figura 4.5: Relação dos episódios de El-Niño e La Niña com o clima global.
Fonte:
Modificado de <
http://www.cptec.inpe.br/enos/
>. Acessado em março de 2006.
Os episódios de El-Niño e La Niña duram aproximadamente 9 a 12 meses, começam
geralmente a se formar em junho-agosto, alcançando seu pico durante dezembro-abril e
decaindo em maio-
julho
do próximo ano. São verificados entretanto, períodos em que os
episódios se prolongaram por 2 anos e algumas vezes 3 a 4 anos. Embora com periodicidade
irregular, os eventos de El Niño e La Niña ocorrem a cada 3 a 5 anos em média
(NOAA
-
National Weather Service, 2
006)
. O evento entretanto possui várias escalas de ocorrência que
variam de interanuais, multianuais e até decenais (Tab. 4.2).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
61
Tabela 4.2: Anos de ocorrência dos eventos El Niño e La Niña desde o século XIX.
Compilado de www.cpc.ncep.noaa.gov e
http://www.cptec.inpe.br/enos/
. Acessado em
março de 2006.
EL NIÑO
LA NIÑA
1886
1877
1878
1888
1889
1889
-
1890
1896
1897
1899
1902
1903
1903
-
1904
1905
1906
1906
-
1908
1909
-
1910
1911
1912
1913
1914
1916
-
1918
1918
1919
1923
1924
-
1925
1925
1926
1928
-
1929
1932
1938
-
1939
1939
1941
1946
-
1947
1949
-
1951
1951
1953
1954
-
1956
1957
1959
1964
-
1965
1965
1966
1968
1970
1
970
-
1971
1972
1973
1973
-
1976
1976
1977
1977
1978
1979
1980
1982
1983
1983
-
1984
1984
-
1985
1986
1988
1988
-
1989
1990
1993
1994
1995
1995
-
1996
1997
1998
1998
-
2001
2002
-
2003
2004
-
2005
2006
Forte
Moderado
Fraco
Forte
Moderado
Fraco
4.2.2 Oceanográficos Globais e Regionais
As Marés
As marés originam-se da ação de forças gravitacionais entre Terra-
Sol
-
Lu
a agindo
sobre os oceanos e mares fechados e lagos (marés dinâmicas), resultando na variação
periódica do nível do mar, podendo ser amplificadas por agentes meteorológicos como os
ventos. Elas interferem de forma positiva ou negativa sobre a paisagem a partir do papel das
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
62
correntes de marés como fator de remobilização e transporte de sedimentos ao longo da linha
de costa e nos
estuários.
Em costas tropicais as marés geralmente possuem forma e amplitude variáveis (Fig.
4.6)
, uma vez que a morfologia dos oceanos e costas possui um papel decisivo no tipo e
amplitude das marés. De um modo geral as marés nos ambientes tropicais são semidiurnas e
mistas e suas amplitudes variam de micro até macromarés.
Figura 4.6: Forma e amplitude de marés no mundo. Notar que nas costas tropicais as
amplitudes e tipo de marés são variáveis
(Segar, 1998).
Como todo fenômeno natural, as marés também possuem sua periodicidade temporal e
escala espacial associada com as variações do nível do mar (Fig. 4.7, Tab. 4.3).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
63
Figura 4.7: Mapa dos fatores que afetam o nível do mar no espaço e no tempo, com variação
em metros. Modificações rápidas de pequena escala estão representadas no canto inferior
esquerdo
(Pugh, 2004).
Tabela 4.3: Exemplos de mudanças do nível do mar em função das marés e suas escalas
temporais baseado em
Franco (
1
997) e Pugh (2004)
.
Causas
Escala de Tempo
(P=periodo)
Ocorrência
Trânsito da lua pela longitude local
6-
12 horas P
Variação diária de
baixamar e preamar.
Alin
hamento do sistema Lua
-Terra-
Sol
~14 dias
Marés de sizígia um ou
dois dias
,
após a
s
lua
s
nova e cheia
; e
marés de
quadratura, nas luas
crescente e minguante.
Equinócios e solstícios 6 meses
Em 21 de março, 21 de
junho, e 23 de setembro e
22 de dezembr
o (para o
ano de 2002).
Apogeu e perigeu
~14 dias
Quando a lua está mais
próxima ou mais afastada
da terra.
Movimentos médios da lua e do sol
ciclo da revolução dos nodos
18,5 anos
Quando o conjunto Terra
-
Sol
-
Lua volta a ter a
mesma disposição.
Ventos
(marés meteorológicas)
?
Quando há variação de
pressão próxi
mo à
costa
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
64
Pororoca
Um dos fenômenos associado
às
ações das marés sobre os ambientes costeiros é a
pororoca, conhecida sob vários nomes na literatura dependendo do local (Tab. 4.4).
Caracteriza
-se pela entrada de uma ou várias ondas nos estuários e ocorrem principalmente
durante as marés de sizígia. Este fenômeno é potencializado nos períodos de equinócios.
Tabela 4.4:
Denominação da pororoca no mundo. Modificado de Chanson (2005).
Língua
Onda in
duzida pela
maré
Nome local
Turbulência
posterior
francês
mascaret
barre
ou
flot
(Seine)
montant
(Garonne)
éteules
inglês
tidal bore
undulations
whelps
português (Brasil)
pororoca
pororoca
banzeiro
espanhol
macareo
burro
(Colorado)
celte
aeir (
ou a
egre,
ou
eager)
malaio
Benak
papou
ibua
ibua
bengali (Bangladesh)
ban
A onda da pororoca comporta-se como uma onda solitária,
possuindo
sua origem
relacionada a macromarés, morfologia de fundo e presença de um estuário em forma de funil.
Esta
forma força a maré entrar em uma área estreita e rasa, gerando uma onda e durante a sua
passagem, o rio flui em direção a montante por algumas horas. Sua magnitude também pode
ser afetada pelo vento
(Chanson, 2001; Lynch, 1982).
A formação e desenvolvimento da pororoca estão associados com a formação de uma
onda positiva de translação (Fig. 4.8). É resposta do escoamento de superfície livre e um
aumento rápido na altura da água, portanto ligada a uma instabilidade hidráulica do fluxo de
marés e à
profundidade do canal (Chanson, 2005; Pugh, 2004).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
65
Figura 4.8:
Mecanismo de formação da onda de pororoca nos estuários. No mar as ondas são
simétricas, com o mesmo gradiente de ambos os lados, a crista e
a
calha da onda viajam a
mesma velocidade (1a). Dentro de cada onda o padrão de deslocamento de uma partícula ou
de um pequeno volume de água é circular (1b). A onda transporta somente energia, a água
não é des
locada. Quando as ondas entram no estuário elas começam a interagir com o fundo e
se movem como ondas de águas rasas. A interação comprime as ondas e diminui o
comprimento de onda. As cristas começam a viajar mais rápido do que as calhas tornando-
se
assimé
tricas (2a)
com
mov
imentação das partículas na forma de uma elipse (2b). Quando a
altura da onda atinge metade da profundidade, a crista sobrepassa a calha e quebra
-
se (3a). O
padrão de movimento da partícula de água torna-se achatada (3b) e onda ao quebrar-se (4a)
forma a pororoca. O padrão de movimento da partícula torna-se linear em direção à costa
(4b). Então, a pororoca movimenta água e energia rio acima. Fonte: Lynch (1982).
A pororoca possui uma ampla distribuição espacial no mundo, formando-se em quase
todos os continentes (Fig. 4.9) com exceção da Antártica (Chanson, 2005). Porém as mais
documentadas são as do rio Seine, na França e Qiantang, na China (Chanson, 2005). As mais
conhecidas no mundo e suas alturas são apresentadas na Tab. 4.5.
Tabela 4.5: Localização e altura da onda da pororoca no mundo. Sentinelles
Petitcodiac
Riv
erkeeper
(2001).
Local
Altura
Amazonas, Brasil
+ 2 m
Qiantang, China
+ 2 m
Salmon, Canadá
1 m
Shubenacadie, Canadá
+ 1m
Turnagain Arm, EUA
+ 1 m
Seine, França
+ 1 m antes de 1963
Dordogne, França
+ 1m
Hoogly, Índia
+ 1m
Petitcodiac, Inglaterra
+
1 m antes de 1968
Servern, Inglaterra
+ 1 m
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
66
Figura 4.9: Distribuição da pororoca no mundo. Notar a predominânica do fenômeno nas
áreas de macromarés. Elaborado a partir de
Chanson
(2004), Lynch (1982), Maladain (1988)
e TBRS (2005).
As características das ondas da pororoca variam de um rio para outro e igualmente de
maré para maré. A maioria das ondas é relativamente pequena, variando de poucos
centimetr
os a mais de 2 metros de altura. As maiores alturas da pororoca são encontradas na
desembocadura do Amazonas que, segundo Lynch (1982), alcançaria 7 m, porém tal altura de
onda não tem sido confirmada. A velocidade da onda pode alcançar mais de 6 m/s como a do
rio Qiantang (Pugh, 2004). As ondas da pororoca geralmente são maiores e mais f
reqüentes
durante as marés de sizígia
(Lynch, 1982)
, principalmente nos equinócios.
As ondas da pororoca podem ser ondulares (ondular, ondule) ou em formato de
mac
aréu (breaking, déferlant). As formas ondulares geralmente não se quebram durante o
percurso e são seguidas por várias ondas pequenas. Lynch (1982) observou mais do que 55
pequenas ondas seguindo a onda da pororoca de um tributário do rio Amazonas. Em
ambi
entes tropicais pororocas em formato ondular são muito perceptíveis (Donnelly e
Chanson, 2002). Entretanto, o tipo de onda da pororoca é variável e depende da altura da
maré, da profundidade do rio, da forma do fundo e da velocidade e dire
ção do vento.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
67
Muitas ondas são ondulares no meio do canal e como macaréu sobre os bancos. Em
certos rios a pororoca pode ser ondular em algumas marés e macaréu em outras. As ondas
sempre podem mudar de forma com as mudanças na profundidade do rio. Chanson (2005)
admite que as ondas em formato total de macaréu são raras.
Ondas
Enquanto as marés atuam externa e internamente à linha de costa, as ondas são mais
eficientes sobre a linha de costa. Próximo à costa, as ondas geram as correntes de deriva
l
itorânea e correntes de retorno,
as quais vão atuar
de modo diferente ao longo da costa, tendo
um papel mais definido nas costas de micro e mesomarés, principalmente supridas com
sedimentos arenosos.
4.3 RESULTADOS DAS FORÇANTES NATURAIS EM AMBIENTES COSTEIROS
TROPICAIS
O resultado da atuação das forçantes de curto período sobre os ambientes costeiros
tropicais de um modo geral está ligado a três fatores: o aporte fluvial, as marés e as ondas
(Fig. 4.10), cujos processos determinam a classificação dos ambientes costeiros.
A predominância de um ou de outro fator irá estruturar os ambientes costeiros e será
determinante em suas mudanças. O aporte fluvial possui forte influência das forçantes
climáticas e do terreno geológico onde o rio está inserido. As ondas e marés dependem
principalmente das forçantes met
ereológicas e oceanográficas.
4.3.1 Forçantes Climáticas
As principais conseqüências da ação da ZCIT e ENSO sobre as planícies costeiras
tropicais
se
refere
m à
variabilidade na precipitação, ação dos ventos e nebulosidade.
Como o movimento sazonal da ZCIT está relacionado à pronunciada alteração
climática sazonal, disso resulta uma variação no aporte de sedimentos, através dos estuários,
para a zona costeira. Desempenha
,
por conseguinte, um papel importante na redistribuição de
sedimentos nas costas a exemplo do estudo apresentado por Peterson e Haug (2005) na costa
da Venezuela.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
68
Figura 4.10: Classificação dos sistemas costeiros de acordo com
Boyd
et al. (1992),
baseando
-se nos processos fluviais e oceanográficos. Os campos também são discriminados
com base na origem dos sedimentos e grau de embaiame
nto.
Enquanto o movimento da ZCIT
produz
uma variação sazonal, o resultado das
variações
ocorridas devido aos fenômenos El-Niño/La Niña afetaria a precipitação e
conseqüentemente a descarga média anual dos rios, em escalas temporais variadas.
Alguns estudos mostram que os grandes rios tropicais teriam alta probabilidade de
uma baixa descarga durante o evento de El
-
Niño e alta descarga nos períodos de La
-
Niña. Os
efeitos sobre os regimes hidrológicos são corroborados através de estudos de séries temporai
s,
correlacionando eventos de inundação e de seca em planícies de grandes rios como o rio
Yangtze na China
(Tong
et al., 2006). Correlações entre descargas anuais de rios tropicais e
as variações das anomalias na temperatura superficial do mar nos episódios de El-Niño, são
apresentadas por
Amarasekera
et al. (1997). Os autores
demonstraram
que os rios próximos
ao equador como o Amazonas e Congo possuem fraca correlação com esses episódios
,
enquanto
que
rios mais afastados, a exemplo do Nilo e Paraná, teriam uma forte correlação. É
fundamental se considerar, entretanto, que esses rios possuem descargas fluviais menores que
os rios Amazonas e Congo.
O resultado das modificações no regime hidrológico afetaria a descarga hídrica e de
sedimentos dos sistemas fluviais e conseqüentemente dos estuários. Entretanto, deve-
se
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
69
considerar que uma das grandes lacunas para as costas tropicais são estudos que possam
relacionar modificações cost
eiras e processos associados, principalmente processos globais.
Como se registrariam as modificações climáticas nas áreas costeiras
Os
reflexos
das
respostas
das forçantes climáticas sobre os ambientes costeiros
tropicais
poderiam ser registrados através
de:
mudança na morfologia das desembocaduras dos rios, baías e estuários.
Registrada em virtude da variação na descarga fluvial, afetando o padrão de
correntes. A descarga funciona como um molhe hidráulico e interrompe as
correntes litorâneas propiciando variação nos regimes erosionais e
deposicionais, estruturando as áreas de deposição e erosão. Modificações
influenciadas por essas variações têm reflexos na morfologia e são passíveis de
serem monitorados por sensoriamento remoto;
redução
no aporte de água doce durante os eventos de El-
Niño
que
diminuiria
também o aporte de nutrientes para as regiões costeiras, provocando um
aumento de salinidade. Inversões dessas condições seriam ocasionadas durante
o evento de La Niña. Estes efeitos repercutiriam
também
nas condições
ecológicas nos ambientes costeiros;
mudanças na precipitação resulta
ria
m em modificações na extensão e duração
das inundações, principalmente em áreas de relevo plano. Os registros ficariam
marcados na espessura dos sedimentos depositados e extensão do material
depositado
. Tais efeitos foram estudados por Terry et al
. (2002) em um sistema
fluvial no Pacífico tropical
;
modificação na disponibilidade e distribuição espacial da pluma de sedimentos
nas regiões costeiras
, a exemplo do que ocorre c
om o rio Amazonas (Nittrouer
e DeMaster, 1996). Nos períodos de maior precipitação haveria maior aporte
de sedimentos provocando uma variação na pluma de sedimentação na foz dos
estuários e deltas que poderiam ser monitorados por sensores óticos. Por outr
o
lado, o maior aporte de sedimentos significa disponibilidade de material a ser
trapeado nas planícies de inundação e áreas costeiras. A disponibilidade de
sedimentos poderia aumentar a magnitude dos processos de formação de barras
em estuários e deltas;
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
70
modificação na direção das feições costeiras. A circulação atmosférica global
influencia no padrão de ventos. As modificações na direção de incidência dos
ventos sobre as costas teriam reflexos: a) na variação no ângulo de incidência
de ondas sobre o litoral e, conseqüentemente, na variação morfológica dos
padrões de deposição e erosão de sedimentos; b) na mudança de direção de
cristas praiais e; c) na modificação no padrão de migração de dunas costeiras.
4.3.2 Marés como Mecanismo Controlador de Modific
ações
Nos estuários a ação direta das forças astronômicas é desprezível e a corrente de maré
é resultado da diferença de nível entre o oceano e o interior. O fluxo e refluxo das correntes
seriam caracterizados por uma corrente axial segundo o eixo do canal
que dev
eria ser máxima
para a enchente e vazante, com a corrente de vazante adicionada a descarga fluvial
potencializando o efeito das vazantes (Franco, 1997). Registros de marés para as costas rasas
e estuários mostram que o tempo de enchente é muito menor que o tempo de vazante, deste
modo correntes de enchentes deveriam ser maiores que as correntes de vazante, tendendo a
movimentar sedimentos em direção preferencial
(Pugh, 2004)
.
A subida e descida das marés geram mudanças periódicas na força e direção do fluxo
das correntes de marés produzindo alternância entre períodos de movimentação e de não
movimentação de sedimentos (estofo de maré). Importante também é a quantidade, amplitude
e o sincronismo da subida e descida da maré, pois as correntes de marés são responsáveis
pela formação de estruturas sedimentares características cuja natureza, tamanho e direção
revelam a complexidade espacial e temporal do regime de fluxo da corrente (Friedman e
Sanders, 1978;
Leeder, 1982; Reading e Collinson, 1996).
A contínua subida e descida do nível de água diariamente expõe grandes espaços sobre
as planícies costeiras, dependendo da amplitude de maré e do relevo da planície. Em costas
arenosas propicia uma melhor atuação dos ventos e auxiliando no suprimento de areia para as
dunas.
Em costas influenciadas por marés, dois principais mecanismos controlam a
distribuição dos sedimentos: a) deposição a partir de suspensão e b) ressuspensão de
sedimentos. Durante as enchentes e vazantes as partículas ficam em suspensão por fluxo
turbulento até o período de estofo da maré (momento antes da reversão da corrente de maré)
quando então a velocidade da corrente diminui consideravelmente e as partículas são
depositadas no fundo. Essas partículas podem permanecer no fundo ou serem apanhadas e
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
71
ressuspensas pela corrente subseqüente. O processo de ressuspensão depende, entre vários
fatores, do tipo de fundo e velocidade da corrente seguinte. Estes dois mecanismos são os
principais responsáveis pela formação de cinturões de sedimentos próximo à costa
(Friedman
e Sanders, 1978). Outro processo importante para a deposição das partículas finas a partir de
suspensão é a floculação.
Os processos de deposição e erosão variam com a amplitude das marés, atuação das
correntes, morfologia da área, condições geológicas e climáticas. Esses fatores, associados à
presença ou não de rios, são capazes de
formar e alterar as paisagens costeiras.
Hayes (1975) e Hayes (1976) advogam que a amplitude de marés seria
determinante
nas diferenças de grande escala na morfologia e acumulação de sedimentos nos estuários e
definiu três modelos básicos de estuários: o de micro, meso e de macromarés. Os três
modelos podem ser encontrados nas costas tropicais porém são nos ambientes de macromarés
(estuários e planícies de marés) que a eficiência das correntes de marés é mais evidente.
Ressalta
-se que as planícies de marés ocorrem
tanto
ao longo do litoral,
como
no
interior e exterior dos sistemas estuarinos e nelas desenvolvem-se os canais de marés a partir
da entrada e reversão do fluxo da maré.
A morfologia, largura e extensão de planícies de marés nos estuários dependem em
parte da morfologia do canal estuarino, o qual está fortemente influenciado pelo regime
hidrodinâmico.
Disso resultam modificações constantes nos elementos que compõem a
paisagem estuarina, como a formação, migração e destruição das barras longitudinais, e
também a formação e erosão de áreas acrescionárias.
A amplitude de maré, energia das ondas, quantidade e tipo de sedimentos disponíveis
constituem forçantes que se refletirão na natureza da planície de maré (arenosa ou lamosa). As
planícies lamosas são usualmente formadas próximo aos rios com grande suprimento de lama,
sendo os canais de marés as feições t
ípicas desses ambientes
(Reading e
Collinson, 1996).
Os canais de maré estão em constante modificação devido à rápida acresção lateral e
vertical. Estima-se que os canais movem-se 30 m anualmente e em casos extremos mais de
100 metros. Quando as águas abandonam repentinamente seus canais durante as marés de
tempestades, eles são preenchidos com sedimentos dentro de poucos dias ou semanas. O
escavamento de canais é forte, indicado pela profundidade desses canais d
e até várias dezenas
de metros
(Kukal, 1971)
.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
72
4.3.3 Efeitos da Pororoca nos Ambiente
s Costeiros
Estudos sobre os resultados da atuação da pororoca nos processos costeiros e
conseqüentemente nas modificações desses ambientes são poucos na literatura. A maioria das
pesquisas
estão relacionadas a trabalhos teóricos e experimentais (Chanson, 2001), existindo
trabalhos sobre a modelagem do processo tanto em laboratório como em campo, a exemplo do
trabalho de
Simonsen (2003)
no estuário de Qiantang, na China.
mistura de sedimentos e dis
persão de sedimentos finos e salinidade
A passagem da onda da pororoca pode gerar uma zona de mistura e de dispersão de
sedimentos finos e de salinidade conforme demonstrado por Kjerfve e Ferreira (1993) para
o rio Mearim, na costa maranhense. Essa zona pode estender-se por distâncias considerá
veis
ao longo dos rios e estuários, uma vez que a pororoca pode viajar por longas distâncias rio
adentro.
Chanson (2003) discute que os processos de mistura e dispersão de sedimentos em
um estuário afetado pela pororoca não são comparáveis com os processos de um estuário bem
misturado e ocorrem repentinamente, podendo inclusive tornar-se o processo de mistura
predominante.
O processo de advecção que ocorre associado as pequenas ondas, logo após a
passagem da pororoca, é predominante na mistura das águas, conforme comprovado para o
estuário do rio Mearim, no Maranhão (Kjerfve e Ferreira, 1993) e rio Ord, Austrália
(Wolanski
et al.
, 2001)
.
mobilização de sedimentos
O maior poder de remobilização de sedimentos durante a pororoca ocorre quando
existe a reflexão da onda dentro dos estuários, nas áreas de intermarés, acentuando a onda e
formando uma parede de sedimentos que pode ser dispersa por sobre grandes obstáculos,
como marg
em de rios e construções (Fig. 4.11).
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
73
Figura 4.11
: Influência da intensificação da reflexão da pororoca sobre um muro de
contenção no rio Qiantang, China.
(Simpson, 1997)
.
formação de deformações sin
-
sedimentares e mudança de morfologia
Tessier e Terwindt (1994)
observaram uma série de microfalésias na borda do canal do
estuário da Baia de Saint
-
Michel, na França.
Deformações semelhantes a dobras cônicas com eixo perpendicular ao canal ocorrem
n
a parte superior de bancos erosionais, que poderiam ser resultado da perda de estabilidade da
parte superior das camadas sedimentares devido à propagação da onda da pororoca. Estas
estruturas são associadas à liquefação de sedimentos e são registradas na literatura para
ambiente onde existem atuação de ondas.
efeitos ecológicos
A pororoca influencia na ecologia dos estuários, auxiliando na disponibilidade de
alimentos para predadores e peixes, desta forma é importante para a atividade pesqueira nas
zonas d
e intermaré
(Chanson, 2005)
.
efeitos sobre
as atividades econômicas
Chanson (2005) admite que a pororoca freia o desenvolvimento econômico de
algumas regiões pela violência do fenômeno, tendo um efeito importante sobre o escoamento
de produtos, pois gera problemas para a navegabilidade dos estuários. Por outro lado,
ultimamente ela vem se
tornando uma atração a prática esportiva, como as temporadas de
surf
que ocorre no rio Qiantang, China; rio Seine e Dordogne, França e rio Araguari, Brasil. Além
do fato de ser uma atração turística
(Chanson, 2001; Simonsen, 2003; TBRS, 2005)
.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
74
4.3.4 Efeitos das ondas
A combinação entre a pista e as condições de ventos alíseos constantes permitem que
as ondas sejam agentes importantes
em
costas tropicais, tornando
-
as
eficientes na modificação
dos ambientes costeiros em curta escala de tempo (horas a meses). Assim, a eficiência dos
ventos sobres as costas, quando combi
nados com a ação de marés, pode
gerar ambientes sob a
atuação de
proce
ssos complexos, o que levou Anthony e Orford (2002)
a
proporem sistemas
dominados por ondas e marés, simultaneamente. Tais autores discutem que a ação das ondas
não está restrita a costas de barreiras arenosas cortadas por canais de marés. Deste modo, eles
identificaram
, em algumas costas tropicais, grandes sistemas dominados por esses dois
processos.
O retrabalhamento dos sedimentos pelas ondas nos ambientes costeiros se traduz
principalmente na formação de cristas praiais, bancos e barras arenosas na foz dos estuários e
deltas. Como resultado da presença de correntes litorâneas os sedimentos são transportados ao
longo da costa que, de acordo com o maior ou menor aporte destes e, com a intensidade das
ondas, geram feições indicativas de variações nos processos sedimentares decorrentes das
alterações no regime de ondas e ventos.
4.4 MODIFICAÇÕES DE ORIGEM ANTRÓPICA
A influência do homem sobre o meio ambiente tem levado a proposta de uma nova
época para o Planeta: o Antropoceno. Postulado primeiramente por
Vernadski
(
1926)
e
aplicado por Crutzen e Stoermer (2000), caracteriza-se por um forte impacto das atividades
humanas sobre o clima do planeta. Este conceito poderia ser aplicado também para as
mudanças nos ambientes costeiros, e já tem sido aplicado para os sistemas fluviais por
Meybeck e Vorosmarty (2005)
.
Nos ambientes costeiros, a pressão humana decorre das atividades de urbanização,
industrialização, recreação,
turismo
, agricultura e pecuária. A presença de local propício ao
escoamento de produtos é estratégica para alocação dessas atividades, e a existência dos
recursos naturais explotáveis, aumenta a pre
ssão sobre esses ambientes.
A ação humana tanto pode interferir nos processos como nos produtos resultantes do
equilíbrio dinâmico
das áreas costeiras.
A interferência nos processos é imposta geralmente através de obras de construção
realizadas tanto na z
ona costeira como nas bacias de drenagem que deságuam na costa.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
75
As obras realizadas na zona costeira estão associadas geralmente ao controle da
erosão, em costas baixas. USACE (2002) advoga que o principal efeito das obras de
engenharia (gabiões, quebra
-
mares, espigões, etc...) é no padrão de distribuição de sedimentos
e decorre das mudanças nas condições hidrodinâmicas locais. A i
nterferência humana através
de construção de obras em áreas costeiras também pode ser realizada no sentido de preservar
ambientes como
,
por exemplo
,
na utilização de vegetação e cercas para estabilização de dunas
arenosas, desacelerando as mudanças provoc
adas por erosão natural.
Obras de construção em bacias de drenagem são decorrentes de atividades de
irrigação, controle de inundação e geração de energia e segundo
Yang
et al. (2002), t
anto
podem aumentar como reduzir a quantidade de sedimentos em suspensão para os oceanos. O
resultado é a obstrução do transporte de sedimentos para o litoral pela criação de novas trapas
de sedimentos em locais anteriormente inexistentes. Reflexos de construção de barragens em
rios e no litoral podem resultar em retração de área de manguezais
(Bird
et al., 2004) pela
variação no regime hidrológico.
As modificações no regime de fluxo também resultam na modificação da morfologia
do canal e nas condições sedimentológicas a jusante das barragens, como reflexo da re
gulação
do fluxo
(Magilligana e Nislow, 2005).
Mudança das condições necessárias para ocorrência do fenômeno da pororoca através
da instalação de portos, construção de barragens, dragagens de canais podem resultar na
diminuição ou completo desaparecimento desse processo, a exemplo do que ocorreu com a
pororoca do rio Ord,
na
Austrália;
do
rio Seine,
na
França,
do rio
Tsientang,
na
China e do
rio
Colorado
nos EUA
(Chanson, 2005; Pugh,
2004)
.
A interferência direta sobre a paisagem, resulta na modificação da proteção natural dos
ambientes nas áreas costeiras. Tal interferência está associada à retirada da vegetação,
destruição de dunas e vegetação de praias, mineração, desvios de drenag
ens, engordamento de
praias, construção em áreas de pós
-
praia e
atrás de ilhas barreiras, etc.
Convém ressaltar que em virtude da interconexão da paisagem com os processos
costeiros, a interferência direta sobre a paisagem também
resulta
na interferência n
os
processos costeiros.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
76
4.4.1 A Pecuária como Fator de Modificação em Áreas Costeiras
A atividade de pecuária é uma das atividades que mais cresceram nos últimos três
séculos acompanhando o aumento da população humana. Estima-se cerca de uma cabeça de
gado para cada família de tamanho médio no mundo (Crutzen e Stoermer,
2000)
. Um dos
fatores é a demanda por alimentos. Dentre as atividades da pecuária a bubalinocultura tem um
destaque especial.
Os búfalos são encontrados em várias partes do mundo, nos mais diversos ambientes.
Em alguns locais eles fazem parte da biodiversidade natural e em outros foram introduzidos
pelo homem. Nas áreas costeiras e pantanosas destacam-se os búfalos da água. Estes
são
originários da Índia e chegaram ao Leste e Norte da África por volta de 600 A.D., sendo
introduzidos na Europa no retorno das cruzadas na Idade Média. Recentemente prospera
ram
na América do Sul e Central e foram introduzidos também na Micronésia e Austrália
(Ligda,
1996)
. Encontram
-
se atualmente fixado
s
em todos os continentes
(Fonseca, 1987)
, porém com
97% de sua população localizada na Ásia
(FAO, 2000)
.
Na maioria dos continentes o búfalo é tratado como animal para tração, auxiliando na
agricultura
(Sheikh
et al., 2005). Entretanto, na América do Sul, ele é tratado como animal de
produção de carne e leite.
No Brasil o rebanho bubalino atualmente é de 3 milhões de cabeças com um
cresc
imento de 12% ao ano. Cerca de 50% do rebanho está concentrado na região norte (Fig.
4.12).
O crescimento da população de búfalos no Brasil, se deve principalmente à
precocidade do animal para abate (12 a 24 meses), resistência a doenças e pragas, custo d
e
produção menor e fertilidade de 70% contra 40%, no caso dos bovinos, e curto período de
gestação com média de 303 dias. Segundo a ABCB - Associação Brasileira dos Criadores de
Búfalos
, o manejo do animal é mais simples e a carne possui 40% menos colesterol, 12 vezes
menos gordura, 55%, menos calorias, 11% mais proteínas e 10% a mais de minerais do que a
carne bovina (
http://www.faeg.com.br/faeg_not028.htm
). É considerado também um máquina
de produzir leite conforme preconiza
Fonseca
(
1987)
. O animal alcança mais de 600 kg, p
ara
o caso dos machos
,
e mais de 400 kg para as fêmeas
(Fonseca, 1987)
.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
77
Os
búfalos foram introduzidos no Brasil, pela Ilha de Marajó, no ano de 1890. Apesar
da primeira importação oficial datar de 1895, que comprova a importação de búfalos da Itália
para o Brasil. No início do século XX (1907) adentrou no Estado de Alagoas e som
ente
entre
1918 e 1920 chegou a região leste brasileira, difundindo-se posteriormente nos estados de
Minas Gerais, São Paulo e Paraná
(Fonseca, 1987)
.
Figura 4.12: Estados Brasileiros com criação de búfalos e distribuição de cabeças no ano de
2004. Observar a concentração de rebanho nos estados costeiros. O Amapá se destaca como o
segundo em quantidade de animais. Dados: IBGE (
http://www.sidra.ibge.gov.br/
). Acessado
em 2006.
A atividade da pecuária, e em especial a criação de búfalos, enquanto elemento de
modificação do ambiente
em áreas costeiras
,
é pouco trata
da
na literatura, sendo a maioria dos
trabalhos realizados em áreas continentais e de clima sub
-
tropical
(Trimble e M
endel, 1995).
4.4.2 Efeitos da Pecuária sobre o Ambiente
De um modo geral os efeitos da atividade de pecuária na modificação dos
ecossistemas, estão relacionados a:
- compactação do solo - a compactação de solo pela pecuária é dos maiores efeitos
do gado, pois ele pode remodelar a superfície do solo e, compactar o solo,
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
78
diminuindo a capacidade de infiltração
(Pietola
et al., 2005) e causando aumento
do escoamento superficial, algumas vezes transformando o regime de escoamento.
O pi
soteio do gado, geralmente associado ao seu peso (400
-
500 kg para o bovino e
até 800 kg para bubalinos), pode causar a perda de solo, mudando a
susceptibilidade à erosão pela água e pelo vento (Trimble e Mendel, 1995). O
resultado desses processos é a mudança no regime hidrológico comprovada na
literatura
(Mwendera e Saleem, 1997). O efeito mais comum do pisoteio do gado
são os caminhos ou trilhas, formados pela tendência do rebanho de se deslocar
sobre o terreno seguindo um mesmo caminho, e de deslocar-se para os lados,
compactando a própria trilha. Em solos úmidos as trilhas podem alcançar
profundidades de 30 cm. Outro efeito da compactação do solo pelo gado são os
terracetes ou degraus (Trimble e Mendel, 1995), denominados neste trabalho de
rampas;
- descaracterização da cobertura vegetal - este efeito se através da retirada da
vegetação para alocação de pastagem e pelo constante pisoteio dos animais em
áre
as vegetadas. Pastoreio e pisoteio podem reduzir consideravelmente a área da
cobertura vegetal nativa. A remoção da fitomassa pelo pastoreio e produção cada
vez menor de fitomassa pode reduzir a fertilidade e conteúdo de matéria orgânica
no solo, resultando algumas vezes na formação de uma crosta sobre o solo
(Trimble e Mendel, 1995). O pastoreio em planícies de inundação por búfalos
pode reduzir a biomassa de espécies nativas e induzir o aparecimento de outras
espécies conforme estudos de Corbett e Hertog (1996), na planície de inundação
do rio South Alligator, na Austrália. O pastoreio pode provocar ainda mudanças na
diversidade de espécies em pântanos salinos
(Bouchard
et al., 2003) e os búfalos
de água podem exacerbar o espalhamento de espécies invasoras como observado
em uma ilha na Ásia
(Fensham e Cowie, 1998)
;
- efeito sobre a fauna o efeito direto da compactação, diminuição da vegetação e
matéria orgânica afetaria todos os níveis da endopedofauna. A redução da
quantidade organismos no primeiro nível trófico afetaria a fauna de vertebrados
(Cluzeau
et al.
, 1992)
;
- mudanças na qualidade da água o efeito do pisoteio do gado auxilia na
desmobilização do solo e produção de sedimentos que o transportados para os
corpos aquosos.
Ibañez
et al.
(2000)
referem-se à mudança na quantidade de
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
79
sedimentos em suspensão em um dos lagos na região da baixada maranhense onde
a criação de búfalos. Os nutrientes produzidos pela urina e fezes dos animais,
prá
ticas fertilizantes associadas à produção de pastagens de alta qualidade, e a
produção de organismos patogênicos
(Hubbard
et al., 2004) também podem afetar
a qualidade da água.
No Brasil, a criação do gado (bovino e bubalino) nos ambientes costeiros, é apontada
como um vetor de risco para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha,
aliada a outros vetores antrópicos e naturais (MMA, 2002).
4.5 CONCLUSÕES
As modificações ambientais em áreas costeiras tropicais úmidas suas forçantes e
efeitos ocorrem em escalas temporais e espaciais variadas, desde globais até locais.
Enquanto as variações naturais associadas
as
forçantes climáticas possuem escalas
temporais sazonais, anuais e interanuais, as variações decorrentes dos fatores astronômicos e
oceanográficos como as marés possuem uma escala muito variável de dias até dezenas de
anos. Nos ambientes costeiros tropicais úmidos dominados por marés, estas assumem um
papel regional e local de modificações, porém sua freqüência temporal é maior que as
forçantes climáticas.
Apesar das escalas temporais e espaciais variadas, essas forçantes podem se sobrepor
aumentando a magnitude dos fenômenos envolvidos. As marés
,
por exemplo, se somada
s
c
om
épocas de La Niña, equinócios e eventos de pororoca, teriam um papel preponderante nas
planícies de inundação e estuarinas em costas tropicais úmidas, principalmente na
redistribuição e deposição de sedimentos (ver
Capítulo
5).
As variações decorrentes de fenômenos antrópicos parecem depender muito mais de
forçantes locais e não possuem uma periodicidade recorrente nas áreas costeiras, em função
dos fatores econômicos e sociais. Os reflexos da ação humana nas áreas costeiras, embora
sejam perceptíveis, ainda são pouco entendidos, e menos ainda quando se trata de planícies
tropicais úmidas.
Parte II: Capítulo 4
-
Modificações em Áreas Costeiras: Agentes, Escalas e Respostas
80
No caso da pecuária pode-se dizer que os estudos são raros no tocante a modificações
ambientais, provavelmente em virtude de demanda por alimentação e apoio para o
des
envolvimento de atividades rurais, principalmente ao considerar-se que as costas tropicais
úmidas estão associadas a países que possuem um contexto econômico desfavorável para o
controle da atividade.
Pode-se expressar ainda que a escala temporal e espacial das modificações ambientais
decorrentes das forçantes antrópicas é reflexo das políticas de desenvolvimento implantadas
nas regiões costeiras. Como tal, os eventos são episódicos e associados à implantação de
grandes projetos geralmente de cunho econômico. Porém existe um efeito de permanência
dessas atividades humanas sobre os ambientes costeiros com intervenções cumulativas. Estas
nem sempre podem ser bem averiguadas principalmente pela falta de informações históricas e
de métodos comparativos seguros.
Os efeitos das forçantes modificadoras sejam em decorrência dos agentes naturais
como dos agentes antrópicos, poderiam ser monitorados por imagens de satélite, porém em
tempos históricos e recentes, dependendo do acúmulo de informações sobre as áreas e
de
dados disponíveis. Tal assunto é abordado nos capítulos seguintes.
5 MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS: FORÇANTES E SUAS INFLUÊNCIAS NA
COSTA AMAZÔNICA .........................................................................................................81
5.1. AS FORÇANTES NATURAIS ....................................................................................81
5.1.1 ZCIT e ENSO e sua Variabilidade na Costa Amazônica........................................82
5.1.2 Descarga Fluvial......................................................................................................86
5.1.3 Forçantes Oceanográficas........................................................................................90
5.2 O PAPEL DAS FORÇANTES NATURAIS NA DINÂMICA DA PAISAGEM E
AMBIENTES DA COSTA AMAZÔNICA.......................................................................103
5.2.1 Inundação e as Forçantes Climáticas e Oceanográficas........................................103
5.2.2 A Sazonalidade da Cobertura Vegetal...................................................................109
5.2.3 Variações no Aporte de Sedimentos......................................................................110
5.2.4 Influência das Marés e Pororoca nos Processos Sedimentares e Morfologia........112
5.3. FORÇANTES ANTRÓPICAS – A PECUÁRIA NA COSTA AMAZÔNICA ........119
5.3.1 A bubalinocultura na costa amazônica..................................................................119
5.3.2 O sistema de criação..............................................................................................121
5.4. A PECUÁRIA COMO AGENTE MODIFICADOR DA PAISAGEM......................125
5.4.1 Efeitos Induzidos pelo Rebanho....................................................................126
5.4.2 Efeitos Associados à Interferência Humana..........................................................135
5.5. CONCLUSÕES...........................................................................................................136
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
81
Capítulo 5
MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS:
FORÇANTES E SUAS INFLUÊNCIAS NA COSTA AMAZÔNICA
Neste capítulo são apresentadas as forçantes responsáveis pelas modificações na costa
amazônica brasileira, principalmente na planície costeira do Amapá e estuário do rio
Araguari, mostrando a escala temporal e espacial dessas forçantes e o papel desempenhado
por elas. Este capítulo servirá de base para o estudo das modificações através de sensores
remotos que serão discutidas a partir do capítulo 8.
O desenvolvimento do capítulo baseou-se na análise dos dados para reconhecimento
dos ambientes e das dinâmicas natural e antrópica apresentados no item 3.1 desta tese.
Também foram utilizadas informações da literatura científica referentes às forçantes naturais e
que atuam sobre a costa amazônica. Estas informações foram sistematizadas e correlacionadas
com os dados de campo e das estações pluviométricas, fluviométricas e oceanográficas.
Foram utilizadas também informações sobre a atividade de pecuária da costa estudada.
Os principais mecanismos de modificações e seus produtos na costa amazônica estão
relacionados com as forçantes que atuam nas costas tropicais, discutidas no capítulo 4, porém
com a adição de forçantes locais que desempenham um papel importante nas modificações
dessa costa.
5.1. AS FORÇANTES NATURAIS
As forçantes naturais que atuam na costa amazônica estão intimamente ligadas com as
condições climáticas e oceanográficas da região em estudo (Fig. 5.1).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
82
5.1.1 ZCIT e ENSO e sua Variabilidade na Costa Amazônica
A ZCIT e ENSO são duas forçantes que agem principalmente sobre a distribuição da
precipitação, nebulosidade e descarga fluvial (ver item 5.1.2). A escala temporal de seus
efeitos é variável, o ENSO tem uma variação interanual, enquanto que a ZCIT atua de forma
sazonal (ver Capítulo 4).
Figura 5.1: Desenho esquemático das forçantes naturais que atuam na costa amazônica.
Modificado de Figueiredo Jr. et al. (1996).
A distribuição da precipitação é heterogênea ao longo da costa amazônica. A foz do
rio Amazonas é a região de maior concentração pluviométrica anual (Fig. 5.2), excedendo a
3000 mm/ano (Quadro et al., 1996), porém 40% das chuvas concentram-se nos meses de
fevereiro a abril, excedendo 400 mm de chuvas mensais (Fig. 5.3). No entanto, deve-se notar
que a distribuição mensal da precipitação varia ao longo do ano para cada região da costa
amazônica brasileira, e a costa amapaense destaca-se por estar sujeita a chuvas durante vários
meses do ano, possuindo apenas dois meses com menores precipitações (setembro e outubro)
(Fig. 5.3).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
83
Figura 5.2: Distribuição da precipitação no norte do Brasil. Observar a concentração da
precipitação por volta de 3000 mm/ano na costa amazônica, foz do rio Amazonas. Quadro et
al. (1996).
Figura 5.3: Distribuição das chuvas em mm (cor laranja) e nebulosidade mensal em graus
(cor azul) para a costa amazônica brasileira. Dados do INMET para o período de 1961-1990.
Mapa base modificado de Bizzi et al. (2001).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
84
Nas proximidades da ZCIT há o incremento de linhas de instabilidade (bandas de
nuvens causadoras de chuvas, normalmente do tipo cumulus) responsáveis em parte pela
nebulosidade (Fig. 5.4). A nebulosidade é maior na costa do Amapá (estação Macapá), que
apresenta sete meses de nebulosidade acima de 80%, enquanto que Belém e São Luis
possuem apenas dois meses (fevereiro e março) com a nebulosidade acima dessa faixa. A
presença da ZCIT também controla a direção dos ventos alíseos que incidem sobre a costa
amazônica, influenciando na dispersão da pluma de sedimentos do rio Amazonas (item 5.1.2).
Figura 5.4: Diagrama esquemático da nebulosidade associada às linhas de instabilidade:
A)fevereiro a maio, B)agosto a novembro. Fonte: FUNCEME.
As condições climáticas variam na costa amazônica com a presença dos eventos de El-
Niño/La-Niña (ver Capítulo 4). Durante o período de El-Niño condições mais secas são
observadas nessa costa, as quais são invertidas nos eventos de La-Niña (Fig. 5.5), refletindo
nas descargas dos rios que compõem as bacias hidrográficas e deságuam na zona costeira.
Estas anomalias influenciariam nos processos hidrodinâmicos e, conseqüentemente, nas
condições de transporte e deposição de sedimentos.
Variações nas descargas fluviais do rio Amazonas foram registrados por (Richey et al.,
1989), refletindo a influência dos eventos El-Niño ao longo do século XX (Fig. 5.6).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
85
Figura 5.5: Efeitos globais dos fenômenos El-Niño/La-Niña sobre a costa amazônica (linha
em vermelho). Os efeitos na costa amazônica são observados entre os meses de dezembro-
fevereiro com desenvolvimento de um período acentuadamente menos chuvoso nos eventos
de El-Niño e de condições mais chuvosos nos eventos de La Niña. Modificado de
http://www.cptec.inpe.br/enos/globo_la-nina.shtml.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
86
Figura 5.6: Descarga do rio Amazonas em Manacapuru. (A) descarga de 1903 a 1985. B) Q´
desazonalizada de 1903 a 1985. As setas nos períodos de baixa descarga indicam a ocorrência
de eventos ENSO (Richey et al., 1989). Estação sem influência de marés. Comparar com a
Fig. 5.7.
Séries históricas de dados fluviométricos da estação de Óbidos no rio Amazonas e, de
Porto Platon, no rio Araguari, mostram anomalias nas vazões médias mensais desses rios, que
podem ser correlacionadas aos eventos de El-Niño observados por Ritchey et al. (1989) (Fig.
5.7) e mostrados na Tab. 4.2, p.61. As análises foram realizadas utilizando o mesmo método
do autor: descargas desazonalizadas a partir da subtração da média mensal de longo período,
da respectiva média mensal em cada ano. Das estações analisadas apenas a de Óbidos tem
influência das marés.
5.1.2 Descarga Fluvial
A descarga fluvial hídrica e sedimentar é uma das forçantes marcantes capazes de
influenciar as modificações na costa amazônica. As variações nas descargas relativas ao rio
Amazonas e dos outros rios que drenam a planície costeira possuem seu regime hidrológico
regidos pelas condições climáticas e são influenciados também pelas condições
oceanográficas.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
87
Figura 5.7: Vazão média mensal, desazonalizada, para a estação de Óbidos, rio Amazonas
(A) e de Porto Platon (B), rio Araguari. As linhas transversais ao gráfico representam eventos
de El Niño e La Niña fortes e moderados, relacionados com a Tabela 4.2, p.61. Fonte dos
dados: ANEEL e ANA. Comparar com a Fig. 5.6.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
88
A elevada carga sedimentar despejada pelo rio Amazonas, máximo de
aproximadamente 300.000 m
3
/s em maio (Nittrouer et al., 1991), e sua descarga hídrica (Fig.
5.8) para o oceano Atlântico contribuem para uma alta taxa de deposição de sedimentos, cerca
de 2.7-4.2 cm/ano próximo ao Cabo Cassiporé (Kuehl et al., 1996).
Figura 5.8: Variação sazonal dos fatores que influenciam nos processos sedimentares na
plataforma do Amazonas e se refletem sobre a costa do Amapá. Modificado de Nittrouer et al.
(1995)
A carga sedimentar do rio Amazonas forma uma pluma de sedimentos e água doce que
se estende de 100 a 200 km da costa ao longo da isóbata de 10 m, variando no tempo e no
espaço (Fig. 5.9) em função da flutuação na descarga do rio, da Corrente Norte do Brasil e do
efeito não linear das marés. A direção, velocidade e intensidade dos ventos alíseos controla a
largura da pluma e seu comportamento ao longo da costa (Paluszkiewicz et al., 1995).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
89
Figura 5.9: Variação da pluma de sedimentos do rio Amazonas ao longo do ano de 2004.
Imagens CBERS-WFI (260 m, banda 1) obtidas junto ao Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais - INPE.
A concentração de sedimentos nessa pluma é bem misturada na coluna de água e varia
de 1-5 g/l, próximo da costa, em profundidades inferiores a 12 m. A partir dessa profundidade
em direção a isóbata de 30 m, a alta concentração é limitada às águas de fundo e alcançam
mais de 100 g/l. Em direção ao mar a concentração de sedimentos é menor do que 10 mg/l na
superfície da pluma, enquanto no fundo é menor que 3 g/l e flutua com as marés e ondas
(AmasSeds Research Group, 1990).
Nos períodos de alta descarga do rio Amazonas (fevereiro a junho) uma camada de
lama fluída é formada pela variação na concentração de sedimentos em suspensão, possuindo
uma espessura de 1-7 m variando conforme a fase da maré. Esta camada de lama fluída
desaparece em agosto durante a descida do nível de água (AmasSeds Research Group, 1990).
Durante os períodos de máxima descarga as águas do rio Amazonas interligam-se com
as águas dos vários rios que drenam a região principalmente na planície costeira do Amapá.
Essas águas de inundação são bloqueadas pelas áreas mais altas que constituem o Planalto
Costeiro. Segundo Birkett et al. (2002), o armazenamento de água das cheias sobre as
planícies de inundação do rio Amazonas é superior a dois meses. Nesse período de máxima
inundação, a interligação entre as diversas redes de drenagens, torna difícil medidas reais de
vazão e descarga sedimentar.
A descarga fluvial dos outros rios que drenam a costa amapaense aponta o
comportamento sazonal do regime hidrodinâmico em função das forçantes climáticas (Fig.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
90
5.10). O Araguari é o que possui as maiores descargas fluviais e também a maior descarga
sedimentar (Fig. 2.11, p.31), seguido pelo rio Oiapoque. As menores descargas hídricas
ocorrem entre os meses de outubro e dezembro, quando ocorrem os períodos de baixa
precipitação (Fig. 5.3).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
2,2
2,4
2,6
jan/96
abr/96
jul/96
out/96
jan/97
abr/97
jul/97
out/97
jan/98
abr/98
jul/98
out/98
jan/99
abr/99
jul/99
out/99
jan/00
anos
descarga hídrica ( x 10
3
m
3
/s)
rio Oiapoque rio Cassiporé rio Cuñani rio Araguari
Figura 5.10: Variações das vazões médias mensais para os rios que drenam a costa
amapaense em virtude das condições climáticas. Dados: ANA.
A alta descarga do rio Araguari pode ser explicada pela diferença da área de drenagem
de sua bacia hidrográfica (aproximadamente 37.600 km
2
), em comparação com as bacias do
rio Oiapoque, Cassiporé e Cuñani, que apresentam respectivamente 12.800 km
2
, 5.100 km
2
e
1.400 km
2
. Por outro lado o rio Araguari drena uma área maior da planície costeira do que os
outros rios acima citados.
5.1.3 Forçantes Oceanográficas
Marés
O comportamento das marés na costa está intrinsecamente relacionado com a
conformação da costa e sua relação com as características das marés na plataforma continental
amazônica.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
91
A maré semidiurna que se propaga na plataforma do Amazonas é uma das maiores no
mundo. Ela se move perpendicular as isóbatas (Fig. 5.11) e desse movimento resultam fortes
correntes transversais à costa, com velocidades superiores a 200 cm/s durante as marés de
sizígia (Beardsley et al., 1995; Geyer e Kineke, 1995; Nittrouer e DeMaster, 1996).
Figura 5.11: Direção das elipses de marés M2 na plataforma do Amazonas, em direção ao
continente, em condições de máximo fluxo de enchente. Modificado de Beardsley et al.
(1995) .
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
92
As correntes de marés entram quase perpendiculares à linha de costa, principalmente
na foz do rio Araguari. As velocidades de corrente são acima de 35 cm/s com picos máximos
de velocidade na metade dos ciclos de enchente e vazante nas planícies lamosas no norte do
Amapá (Allison et al., 1994)
A costa amapaense é o local da costa amazônica que apresenta as maiores amplitudes
e alturas de marés, cerca de 10 m na região da Ilha de Maracá (Fig. 5.12). Dados de previsão
da DHN revelam que as alturas das marés nessa região podem ser maiores chegando a
alcançar até 12 m. Na realidade nessa costa ocorre tanto o regime de macro, quanto o de
mesomarés.
Uma das peculiaridades marcantes das marés na costa amazônica é a sua entrada nos
rios e estuários como uma onda progressiva, drenando a costa e adentrando até limites
consideráveis rio acima (aproximadamente 800 km para o rio Amazonas), em virtude das
características das marés e das condições geológicas e geomorfológicas (relevo baixo) da
região.
Na costa amapaense, as barreiras geológicas-geomorfológicas parecem constituir um
dos elementos para a limitação da entrada da maré dinâmica. Como exemplo, no estuário do
rio Oiapoque, extremo norte da costa amapaense, os limites de influência das marés estão a
mais de 120 km da costa e são coincidentes com o contato do embasamento cristalino com a
planície costeira. O mesmo ocorre no estuário do rio Araguari, onde a maré dinâmica alcança
o contato do embasamento com o planalto costeiro na altura de Ferreira Gomes a
aproximadamente 225 km da foz (Fig. 2.10, p.31).
Dentro do estuário do rio Araguari, as amplitudes de marés são pequenas
comparativamente à maré na sua foz (Fig. 5.13). Informações de campo indicam que, no
limite interior do alcance das marés nesse estuário, as amplitudes são cerca de 1m,
coincidindo com o desnível topográfico entre o trecho (ver Capítulo 2), indicando o efetivo
controle geológico-geomorfológico no limite das marés nesse estuário.
A extensão do estuário e o efeito de fricção de fundo propicia uma defasagem na
entrada das marés em diversos pontos do estuário. Entre a Ponta do Guará e o Igarapé Novo
(40 km) a correlação das medidas de campo com os dados de previsão da DHN revelam uma
defasagem de 4 horas na entrada de maré (Fig. 5.13A
e B).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
93
Figura 5.12: Altura e amplitudes máximas de marés nos períodos de sizígia na costa
amapaense. Compilado a partir de medidas realizadas pela DHN na década de 1960 e 1970.
Imagem do satélite Landsat 7, ETM+, composição das bandas 7, 4, 2 em RGB. Fonte:
https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
94
Figura 5.13: Amplitudes máximas de marés para o estuário do rio Araguari. A) Dados de
previsão da marinha para 28/09/2004, máximo da sigízia-lua cheia; B) dados de campo em
28/11/2004, máximo da sizígia-lua cheia e C) dados de campo em 21/09/2004, máximo da
quadratura. Imagem do satélite Landsat 7, ETM+, composição das bandas 7, 4, 2 em RGB.
Fonte: https://zulu.ssc.nasa.gov/mrsid.
Em campo, observou-se que a defasagem entre o tempo de enchente e vazante da maré
no estuário e nos canais que drenam a planície de inundação, limita o deslocamento de
embarcações, bem como leva à necessidade de equipamentos de medições de marés nos
mesmos locais dos levantamentos batimétricos, a fim de obter maior precisão na correção dos
dados. A limitação da navegação por causa da defasagem de maré impede, por exemplo, que
na mesma maré se possa sair e entrar de determinadas regiões do estuário.
Os dados de marés coletados em campo no estuário mostram que as curvas de maré
apresentam efeitos da fricção de fundo, com uma assimetria marcante na área de influência da
pororoca no igarapé Novo (Fig 5.14A), cujo tempo de enchente é de apenas 2 horas, enquanto
o tempo de vazante chega a ser de 10 horas (Fig. 5.14B). Para a desembocadura do igarapé
Santana (Fig. 5.13) a assimetria é menor (Fig. 5.15A). Outra característica da maré neste
estuário é um período de estofo que chega a alcançar 1 hora, com um tempo maior no igarapé
Santana.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
95
Figura 5.14: A) Curvas de maré medidas em setembro de 2004 no estuário do rio Araguari,
localidade de igarapé Novo e, B) tempos de enchente, vazante e estofo de maré. Área com
influência da pororoca (Santos et al., 2005b).
Figura 5.15: A) Curvas de maré medidas em setembro de 2004 no estuário do rio Araguari,
localidade de igarapé Santana e, B) tempos de enchente, vazante e estofo de maré. Área sem
influência da pororoca (Santos et al., 2005b).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
96
As marés influenciam na inundação da planície costeira de forma diferenciada nos
dois períodos sazonais. No período chuvoso, o nível de água das marés se soma com as águas
das cheias dos rios afetando não só o estuário do Araguari, como a planície de inundação
adjacente. No período menos chuvoso as marés são atuantes no canal do estuário e suas
drenagens secundárias (ver Capítulo 8). Na planície de inundação ela alcança apenas as
porções rebaixadas e algumas vezes as margens dependendo de sua altura. Infelizmente, a
dimensão da área e as limitações logísticas e operacionais não permitiram acesso
simultaneamente da equipe nos vários pontos do estuário para observação da distribuição
espacial do fenômeno na planície.
A pororoca na Costa Amazônica*
A pororoca é registrada na costa amazônica desde o século XVI por Vincente Yanez
Pinzon e Charles-Marie de La Condamine (Chanson, 2005), sendo bastante documentada no
século XIX por Magalhães (1943). É inclusive documentada por Jules Verne no romance “A
Jangada”, quando descreve a presença da pororoca no estuário de Breves (Verne, 1881). Sua
importância na segurança da navegação e na navegabilidade dos rios amazônicos tornou
possível sua documentação também em mapas históricos do século XIX (Adonias, 1963).
O barulho da onda (semelhante ao estrondo de trovões) é ouvido de vários quilômetros
antes da sua chegada o que deu origem ao seu nome em tupi-guarani poroc-poroc, que
significa grande estrondo.
O fenômeno na costa amazônica encontra condições propícias (terminação dos
estuários em forma de funil, morfologia do fundo tornando-se abruptamente rasa quando
chega próximo à costa, direção da entrada das marés e amplitude) para que tenha uma das
maiores expressões, sendo a única no mundo a formar-se no oceano. Tal desenvolvimento do
fenômeno foi bem documentado pela equipe de Jacques Cousteau no início da década de
1980, que registrou um trem de ondas estendendo-se por mais de 20 km, com alturas próxima
a 2 m, em pleno mar, na desembocadura do rio Amazonas (Chanson, 2005).
Na costa amazônica oriental (Fig. 2.2, p.17), ela ocorre no estuário do rio Mearim
(Kjerfve e Ferreira, 1993), no Maranhão. Dentro do Golfão Amazônico encontra-se no rio
Guamá, na costa do estado do Pará e, na margem esquerda do Canal do Norte, margeando a
costa sul do Amapá, Magalhães (1943) registra sua ocorrência até a localidade de Pau
*
resultado publicado em resumo de evento – X ABEQUA, 2005.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
97
Cavado, a cerca de 150 km da desembocadura do rio Amazonas (Fig. 5.16). Porém é na
costa ocidental, a partir da foz do Amazonas, que a pororoca registra sua maior expressão,
distribuindo-se ao longo de quase toda a costa amapaense e desenvolvendo-se principalmente
no estuário do rio Araguari (Fig. 5.16).
Figura 5.16: Locais de ocorrência da pororoca na costa do Amapá. O tamanho da elipse
indica o alcance do fenômeno. Fonte: informações de campo, Silveira (com. verbal) e
Magalhães (1943). Mapa base: ZEE/1996
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
98
A amplitude das ondas da pororoca no estuário do rio Araguari varia de 1 a 2 m
durante o período da sizígia, segundo as observações de campo, tendo-se registro de ondas de
até 3 m de altura na literatura e confirmadas por entrevistas com moradores locais. A forma da
onda é do tipo ondular quando está nas porções mais profundas do canal estuarino, e em
macaréu (breaking) nas porções mais rasas (Fig. 5.17). A pororoca adentra mais de 45 km no
estuário, e sua velocidade medida durante a realização desta pesquisa, no equinócio de março
de 2005, variou de 2.8 a 5 m/s (10 a 18 km/hora). Uma das características da pororoca é que
suas ondas estendem-se de uma margem a outra do estuário (larguras de 3,5 e 2,5 km), o que
já permitiu sua observação em imagens de radar (Santos e Polidori, 2005) (ver Capítulo 8).
Figura 5.17: A) Vista aérea do fenômeno da pororoca registrado por Lynch (1982) no
estuário do rio Araguari; B) vista frontal, 28/09/2004, maré de sizígia. C) Vista lateral em
março de 2005. Observar a existência de mais de uma onda.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
99
Ao deslocar-se no canal estuarino a pororoca varia consideravelmente de altura. Por
vezes a onda desaparece nas áreas mais profundas voltando a reaparecer em seguida à medida
que a profundidade diminui. Ao percorrer o estuário divide-se entre os bancos e ilhas e
reflete-se quando encontra as margens.
Nas áreas muito rasas o atrito com o fundo desconfigura totalmente a onda, porém não
impede o avanço das águas (Fig. 5.18).
A partir das observações de campo, pode-se resumir que o fenômeno da pororoca no
estuário do rio Araguari, ocorre em 5 momentos (Fig. 5.19):
a) momento do estofo da baixa-mar antes da chegada das ondas. Nenhum
movimento nas águas anuncia a chegada da pororoca a não ser o barulho que se ouve a
quilômetros de distância, antes da onda surgir no horizonte (Fig. 19A);
b) momento de chegada da onda como uma frente única perpendicular ou não às
margens do estuário, com altura variada de acordo com a profundidade (Fig. 19B).
Neste momento o estuário é preenchido repentinamente pelas águas em
aproximadamente 2 minutos. Um tempo muito curto em comparação ao tempo que as
marés normalmente levam para alcançar a preamar (de 2 a 4 horas);
c) momento de explosão de águas nas margens do estuário (Fig. 19C). Ocorre em
seguida à chegada da onda (Fig. 19B) quando as margens do estuário são
ultrapassadas pela massa d´água. Nesse momento, o fluxo das águas violentas da
pororoca inunda e obstrui totalmente as drenagens menores que deságuam no estuário;
d) recuo das águas. Ocorre logo após a passagem da onda inundando o canal e as
margens do estuário. O recuo das águas forma um forte fluxo em direção ao canal do
estuário (Fig. 19D);
e) momento de turbulência logo após a passagem da pororoca. A turbulência é
observada pela formação de pequenas ondas descontínuas que se deslocam atrás da
frente de ondas da pororoca em sentido horário e anti-horário. A origem dessa
macroturbulência ainda é desconhecida, porém Wolanski et al. (2004) acreditam que
ela ocorra devido à instabilidade do cisalhamento vertical e horizontal do fluxo com a
passagem da onda.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
100
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
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101
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
102
A exemplo de outros locais no mundo, a pororoca no estuário do Araguari é um
fenômeno breve que muda a paisagem do estuário em minutos, porém de grande expressão
para os processos sedimentares que se desenvolvem neste e em outros estuários da costa
amapaense (ver item 5.3.4). Segundo Nittrouer e DeMaster (1996) a presença do banco do
Cabo Norte, e a forma do embaiamento costeiro a sul do Cabo Cassiporé criam condições
propícias para o efeito de ressonância da maré local, causando a formação de uma onda
standing com largas amplitudes e correntes de marés, que pode formar as pororocas.
Entretanto, há de se considerar que este fenômeno é também observado dentro do rio
Cassiporé (Fig. 5.16, p.97). Desta forma acredita-se que outros elementos podem ter
influência como os ventos alíseos constantes, uma vez que a menor expressão do fenômeno
ocorre entre os meses de junho a agosto coincidindo com período de ventos alíseos fracos.
Na realidade o comportamento da pororoca, seus mecanismos e seus produtos ainda
são poucos estudados na literatura, principalmente em função de adaptação de tecnologia e a
logística necessária para estudar a passagem do fenômeno. Como exemplo, determinar a
altura da onda da pororoca no momento que adentra no estuário é difícil pela exigência de
equipamento com alta sensibilidade para registro da passagem da onda em intervalos de
segundos. (Wolanski et al., 2004) detectaram as ondas em intervalos de 0,5 segundos,
conseguindo estudar o fenômeno no estuário de Daly, na Austrália. Nesses estudos, o risco de
perda de equipamentos durante a passagem da onda, como aconteceu com Kjerfve e Ferreira
(1993), no estuário do rio Mearim, é uma variável que deve ser considerada na logística.
Ventos, Ondas e Correntes Costeiras
Em função da circulação atmosférica e presença da ZCIT, os ventos provenientes de
nordeste sopram em direção à costa amazônica com maiores intensidades de dezembro a
maio, enquanto que de junho a novembro são fracos e com direção predominante leste com
pequeno desvio para noroeste (Fig. 5.8, p.88).
Estes ventos dão origem a ondas de curto período (Fig. 5.20) (<10 segundos em 95%
do ano) provenientes do quadrante leste com alturas de 1-2 m, atingindo valores maiores
durante os meses de janeiro a março quando os ventos estão mais fortes (Schaeffer-Novelli e
Cintron-Molero, 1988; Kineke, 1993).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
103
Uma forte corrente costeira prevalece ao longo do litoral no sentido noroeste, que
auxiliam as ondas na erosão da linha de costa (Kuehl et al., 1996), principalmente no setor SR
I (ver Capítulo 2).
Figura 5:20: Chegada de frente de ondas na costa do Amapá no Cabo Norte, próximo à foz
do rio Araguari. Janeiro/2005. Acervo IBAMA.
5.2 O PAPEL DAS FORÇANTES NATURAIS NA DINÂMICA DA PAISAGEM E
AMBIENTES DA COSTA AMAZÔNICA
5.2.1 Inundação e as Forçantes Climáticas e Oceanográficas
As variações no regime de inundação da planície costeira estudada decorrem
principalmente dos mecanismos climáticos globais (ENSO e ZCIT) e das condições de marés
na costa amazônica. Tais mecanismos de inundação são discutidos a seguir à luz dos dados
existentes e das informações de campo.
A influência das forçantes climáticas se expressa nas condições de inundação da
planície de inundação dos rios na costa amapaense. A variação no regime de precipitação,
cuja estação chuvosa muda sob a influência da ZCIT (Quadro et al., 1996), define uma
paisagem específica na região. Notadamente durante os períodos chuvosos, a costa do Amapá
permanece inundada entre os meses de março a junho. As inundações favorecem que os
sedimentos alcancem a planície de inundação, e ao mesmo tempo facilita o deslocamento de
pequenas embarcações, como também limita as observações de terreno exposto.
Durante os três períodos chuvosos de trabalhos de campo realizados nesta pesquisa
(março, 2003; março, 2004 e março, 2005) (Fig. 5.21), observou-se que a planície de
inundação do rio Araguari estava parcialmente inundada, permitindo a navegabilidade na
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
104
maioria das drenagens secundárias existentes. Entretanto, em 2003, a área estava mais
inundada não somente nessas drenagens como tamm na planície adjacente e permitiu
atravessar a planície de inundação através de um meandro do rio Araguari, em embarcação
pequena (voadeira). Em março de 2004 não houve possibilidade de acessar o restante da
planície, nem mesmo pelo canal observado e não existia nível de água com condições de
navegabilidade sobre a planície adjacente (Fig. 5.22). Em março de 2005, o mesmo acesso
estava interditado por uma cerca.
Aparentemente não deveria ter existido dificuldades para transpor o meandro do
Araguari mencionado acima em 2004, uma vez que as condições de precipitação eram
maiores (Fig. 5.21). Isto indica que não é somente a precipitação que controla a inundação,
mas sua combinação com a morfologia do terreno.
Figura 5.21: As condições de precipitação mensal no período de atividades de campo. Fonte:
http://www.cptec.inpe.br/clima/monit/monitor_brasil.shtml.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
105
Figura 5.22: Situação de inundação em dois períodos: março de 2003 (foto acima) e março
de 2004 (foto abaixo). Em março de 2005, o acesso foi limitado por uma cerca. Imagem
Landsat 7, ETM+, composição da primeira componente principal das bandas 1, 2 e 3; banda 4
e primeira componente principal das bandas 7 e 5 em BRG. Fonte da imagem: GLCF.
As variações sazonais de precipitação em função do clima tropical e da presença da
ZCIT podem ser perturbadas por eventos El-Niño. Rosa e Roa (1985) analisaram as cheias no
rio Araguari, principalmente a que ocorreu no ano de 1984, quando a lâmina de água sobre a
planície de inundação alcançou 2 m nas áreas mais rebaixadas (Fig. 5.23). Este evento pode
estar relacionado a um período de alta precipitação ocorrido em virtude de um período de La-
Niña registrado nas estações de Óbidos e Porto Platon (Fig. 5.7, p.87 – comparar com a tabela
4.2, p.61). A presença desse evento é corroborada na Figura 5.24. Este evento de inundação
acima das condições sazonais normais do rio Araguari culminou com a morte de muitas
cabeças de gado (bovinos e bubalinos) por falta da pastagem natural e deixou a planície
inundada por um período superior a 2-3 meses, que correspondem os períodos normais de
inundação. Tal fato foi reportado por vários moradores da região em entrevistas de campo, os
quais afirmam ter sido essa uma das causas de troca de parte do gado bovino por rebanho
bubalino na área.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
106
Figura 5.23: Área afetada pelas cheias de 1984. Modificado de Rosa e Roa (1985).
Fi
gura 5.24: Mapa de eventos extremos de inundação desde 1985. Seta vermelha indicando a
costa amazônica. Darthmouth Flood Observatory,
http://www.dartmouth.edu/~floods/Archives/. Acessado em 2002.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
107
Enquanto que as variações na precipitação são responsáveis por condições de
inundações variadas em função da ZCIT e ENSO, os efeitos diários das marés sobre as
condições de inundação da planície representam pequenas oscilações dentro dos ciclos
maiores de inundação. Essas interações são observadas nos dados de marés e fluviométricos
(Figura 5.25) da região. A estação maregráfica da Ilha do Brigue (Figs. 5.12, ponto 7 e 5.25A)
mostra nitidamente dois tipos de oscilações no nível d´água: uma de alta freqüência, que
representa as variações diárias de marés com seus efeitos de sizígias e quadraturas; e outra
oscilação anual que mostra as variações nas vazões médias mensais do rio Amazonas. Ao
comparar os dados desta estação maregráfica com os dados fluviométricos da estação de
Óbidos (Fig. 5.7, p.87), influenciada por maré, observa-se a correlação da variação sazonal
da descarga (Fig. 5.25B). Nos dados de cota desta estação (Fig. 5.25C), são nítidas as
oscilações do nível de água em função das marés de sigízias e quadraturas.
Essas interações entre o regime pluviométrico e as marés se refletem nas condições de
inundações nas áreas próximas à linha de costa e dentro dos estuários. Este regime
hidrodinâmico também é encontrado na costa da Guiana Francesa, estudado por Lointier
(1996).
As considerações apresentadas acima mostram que as condições de inundação na área
estudada são extremamente variáveis. Essas condições são maximizadas nos eventos de La
Niña, e podem ser extremas se coincidentes com marés de sizígia em períodos de equinócio.
A inundação é um elemento resultante das forçantes com importância para as modificações,
pois influencia diretamente no escoamento superficial sobre o terreno. Nos resultados de
entrevistas, os moradores indicam que processos de abertura de canais ocorrem nos eventos
de fortes enchentes, a exemplo do que ocorreu no igarapé Novo (no rio Gurijuba) e do igarapé
Vitória. Para o Igarapé Novo os moradores costumam atribuir a abertura do igarapé à
enchente que ocorreu por volta dos anos de 1984-1985 usando a frase: “o igarapé... era mata
fechada, abriu durante a enchente no inverno”. Tal fato é coincidente com a ocorrência da
inundação de 1984 discutida acima. Para o igarapé Vitória os moradores atribuíram a
abertura do igarapé ao pisoteio do gado, porém o processo de formação efetiva do canal teria
ocorrido com “ocorrência de água maior” (períodos de inundações extremas). Seriam esses
períodos de ocorrência das mudanças mais eficientes da rede de drenagem local?
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
108
Por outro lado, o entendimento das condições de inundação, suas variações na planície
costeira e seus resultados são importantes para compreender os processos de sedimentação,
sua dinâmica e detectar sua assinatura no registro geológico.
Figura 5.25: Correlação dos
dados de marés (A), na Foz do
rio Amazonas (estação da ilha
do Brigue) com os dados
fluviométricos de vazão (B) e
cotas diárias em Óbidos (C),
revelando a superposição da
influência de marés e regime
fluvial nos processos de
inundação da planície costeira
amapaense. Dados fornecidos
pela ANEEL e DHN.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
109
5.2.2 A Sazonalidade da Cobertura Vegetal
A cobertura vegetal responde às variações sazonais e aos processos de deposição e
erosão sob a influência das correntes fluviais e de marés.
Na planície de inundação a resposta ocorre de duas maneiras distintas.
Durante os períodos chuvosos, a vegetação dos campos inundáveis é constituída por
vegetação campestre e espécies aquáticas flutuantes (Fig. 5.26A). As primeiras estão
geralmente fixadas ao substrato, enquanto que as espécies aquáticas deslocam-se livremente
(salvo em presença de obstáculos) através dos lagos, drenagens e, dependendo da altura da
lâmina de água e altura da vegetação campestre, flutua por grande parte da planície de
inundação. O emaranhando criado por essa vegetação viçosa sobre a planície de inundação
cria um falso fundo composto de raízes e muita matéria orgânica em decomposição, criando
uma noção de profundidade subjetiva. Tal fato foi evidenciado por Lointier (1996) para áreas
inundáveis na planície costeira da Guiana Francesa.
Nos períodos menos chuvosos, a vegetação campestre perde sua robustez e as espécies
flutuantes se restringem apenas às bacias de inundação e às margens dos canais de drenagem.
A permanência das espécies flutuantes nas bacias de inundação depende das condições de
umidade e do pisoteio por búfalos. As áreas sujeitas a intenso pisoteio e pastoreio inibem o
desenvolvimento dessa cobertura vegetal (Fig. 5.26B, ver item 5.4). Nos corpos de águas
superficiais livres (lagos e canais), ela pode se deslocar influenciada pelos ventos e correntes.
Figura 5.26: Variação na cobertura vegetal para o mesmo local na planície de inundação do
rio Araguari em março de 2005 (A) e em setembro de 2004 (B).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
110
O resultado dessa dinâmica na cobertura vegetal e o clima auxiliam na formação de
camadas de matéria orgânica que ficam preservadas no registro sedimentar.
Nas planícies de marés o crescimento da vegetação pioneira auxilia na fixação de
sedimentos depositados por agradação vertical e lateral, sendo ao mesmo tempo marcadores
das variações nesses processos (ver item 5.2.4).
Essas variações na cobertura vegetal como resposta das condições de inundações
resultantes do regime climático ou das marés podem produzir padrões espectrais distintos em
imagens de satélites de sensores óticos, sendo passíveis de serem observadas, enquanto que
nas margens dos estuários e na linha de costa podem se constituir em indicadores de
modificações morfológicas (ver capítulos 11 e 12).
5.2.3 Variações no Aporte de Sedimentos
As variações no aporte de sedimentos produzem modificações que geralmente são
registradas na linha de costa.
A influência do ENSO enquanto agente interferindo nos processos costeiros e
resultando em modificações na costa amazônica foi registrado por Souza Filho (2000) para a
costa do nordeste do Pará. O autor, examinando uma série de imagens de sensores remotos
entre 1972 e 1998, observou mudanças mais pronunciadas na costa de Bragança entre os anos
1985 a 1988 e atribuiu essa variação na linha de costa aos períodos de alta precipitação e
conseqüentemente alta descarga dos rios. Essa observação do autor pode ser correlacionada
com os dados da Tab. 4.2 (p.61) e Figs. 5.6 (p.86) e 5.7 (p.87), indicando que o evento de
ENSO ocorrido entre 1986-1988 deveria ter realmente influenciado na descarga de rios na
costa amazônica.
As variações sazonais dos regimes hidrológicos resultam em formação e/ou
modificação de áreas acrescionárias e erosivas em função da variação no aporte de
sedimentos.
Na porção norte da planície costeira, próximo ao Cabo Cassiporé, existem camadas
sazonais identificadas por Allison et al. (1996) cuja taxa de deposição sazonal excede a
acumulação permanente. Zonas de acumulação efêmeras (Fig. 2.6, p.25) na foz dos estuários
foram caracterizadas por Nittrouer et al. (1991) e resultariam de aporte fluvial de sedimentos
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
111
para a costa durante os períodos de alta descarga dos rios, sendo o Araguari também
influenciado por esse processo.
A variação no aporte de sedimentos para a planície costeira tem reflexos na
morfologia dos canais de marés que drenam a planície de maré atual. Essa influência pode ser
observada na mudança de direção da rede de drenagem. Drenagens retilíneas existentes na
desembocadura do rio Araguari, apontam fluxo de sedimentos para dentro do estuário (Fig.
5.27). Ao norte dessa mesma área as imagens de satélite evidenciam drenagens com o mesmo
padrão, porém com deslocamento de canais para nordeste indicando fluxo de sedimentos
contrário.
Figura 5.27: A) Composição
colorida de imagem Landsat TM5
de 01/08/2004, bandas 4, 7 e 2 nos
canais R, G e B, respectivamente,
na enchente da maré (acervo
SEMA); B) Área na
desembocadura do rio Araguari
com canais de maré em padrão
retilíneo com mudança brusca de
direção, detalhado na fotografia de
sobrevôo (C). As setas indicam a
direção predominante do fluxo de
sedimentos na foz dos canais de
maré para sudeste, para dentro do
rio Araguari.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
112
5.2.4 Influência das Marés e Pororoca nos Processos Sedimentares e Morfologia
*
A maré é uma das forçantes mais efetivas no trapeamento de sedimentos na costa
amazônica. Sob a ação das macromarés a mobilização dos sedimentos finos é intensa e como
resultado a morfologia dos estuários pode mudar largamente e rapidamente, dentro de poucos
anos (ver Capítulo 10).
Os efeitos dos ciclos das marés são importantes no processo de mistura, remobilização
e transporte de sedimentos, influenciando na taxa de concentração de sedimentos em
suspensão, promovendo a erosão e a deposição (ver Capítulo 4), além de permitir formar
extensas planícies de marés com estruturas típicas desses ambientes.
A variação na taxa de concentração de sedimentos é um dos efeitos mais notáveis da
atuação das marés principalmente quando está sob a influência da pororoca.
As taxas de concentração de sedimentos medidas em campo durante o equinócio de
setembro de 2004 (Figs. 3.7, p.45 e 5.28), no canal do rio Araguari, registram 0,27 g/l antes da
passagem da onda, subindo para 8,1 g/l durante e 1,65 g/l 50 minutos após a passagem da
onda em um mesmo ponto na margem do estuário (Santos et al., 2005a). Nas medidas
tomadas em dois ciclos de marés antes desta data, a concentração de sólidos em suspensão
durante a passagem do fenômeno chegou a alcançar 15,61 g/l. Tais taxas atestam o poder das
correntes geradas pela onda da pororoca na remobilização de sedimentos, tornando a massa
d´água muito viscosa e, ao mesmo tempo, com alto poder de erosão por carrear partículas
sedimentares durante o momento de sua explosão nas margens das drenagens (Figs. 5.19C).
Os valores de concentração de sedimentos em suspensão medidos (8 g/l = 8 kg/m
3
)
durante a passagem da pororoca são próximos aos encontrados na camada de lama fluida
existente na plataforma continental (>10 g/l) e superior àquelas encontradas no estuário de
Daly, na Austrália (5 kg/m
3
) (Wolanski et al., 2004).
A variação dessa concentração de sedimentos se reflete na turbidez das águas do
estuário, principalmente na região de atuação da pororoca, o que é bem evidente nas imagens
de sensores óticos (ver Capítulo 8). Por outro lado, no centro do canal (Fig. 5.28, ponto B), os
valores de sedimentos em suspensão praticamente não variam com a passagem da pororoca.
*
baseado no trabalho de Santos et al., 2005a, apresentado durante o X Congresso da ABEQUA em 2005.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
113
Figura 5.28: Concentração de sedimentos em suspensão (CSS) em sigízia de equinócio
(29.09.04). Ponto A (25 minutos antes, durante e 50 minutos após), Ponto B (60 minutos
antes e 13 minutos após) e na estação C (80 minutos antes e 25 minutos após). Santos et al.
(2005a). Imagem de satélite Landsat 7, ETM+, composição das bandas 7, 4, 3 em RGB.
Fonte. GLCF.
Os efeitos da pororoca sobre a taxa de deposição e erosão foram registrados nos
experimentos em campo nos 8 ciclos de marés (Fig. 3.6, p.45). As medidas evidenciaram
deposição de cerca de 1 cm (Fig. 5.29A) e erosão vertical de 3 cm de sedimentos argilosos
consolidados (Fig. 5.29B), em porções distintas da região de intermaré do estuário do
Araguari. Considerando-se esses valores somente para o período de sizígias, o resultado seria
uma taxa de erosão e sedimentação verticais de aproximadamente 72 cm/ano e 24 cm/ano,
respectivamente. Deve-se ressaltar, entretanto, que esses valores podem não ser contínuos no
tempo, uma vez que os processos de erosão e sedimentação se alternam nos ambientes
influenciados por marés. Porém, apesar dessa relação empírica, sabe-se que planícies costeiras
influenciadas por pororoca possuem altas taxas de sedimentação, a exemplo das encontradas
no rio Yangtze, na planície de maré de Shanghai (China), onde a acumulação vertical é de 12
cm/ano (Qinshang et al., 1989).
As altas taxas de deposição e erosão explicariam as rápidas mudanças morfológicas
nas planícies de marés que foram observadas durante os três anos de observações desta
pesquisa e que podem ser visualizadas em imagens de satélite (ver Capítulo 10).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
114
Figura 5.29: Deposição de 1 cm de sedimentos na localidade de Rocinha (A) e erosão
vertical de 3 cm na localidade de Baraúna (B), em 8 ciclos de maré. C e D foram
experimentos perdidos devido à remoção parcial das placas pelas correntes durante a mudança
de curso do canal do igarapé Novo. Santos et al. (2005a). Imagem de satélite Landsat 7,
ETM+, composição das bandas 7, 4, 3 em RGB. Fonte. GLCF. Fotos: Alberto Figueiredo.
As variações nos processos erosionais e deposicionais são capazes de gerar mudanças
rápidas como a modificação dos cursos de canais, a exemplo da modificação vista em campo
na foz do canal do igarapé Novo, ocorrida em março de 2005 (Fig. 5.30A). Isto explica a
necessidade de sinalizações temporárias encontradas nesse local durante as etapas de campo
(Fig. 5.30B).
Na localidade de Rocinha (Fig. 5.29, ponto A) o processo agradacional atual levou a
construção de uma plataforma de deposição que impediu desse ponto continuar como um
posto de observação da pororoca registrado na Figura 5.19 no ano de 2002. A construção
dessa plataforma agradacional e a influência do fluxo de sedimentos carreados pela pororoca
podem levar à obstrução da drenagem existente nesse local.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
115
Figura 5.30: Imagem CBERS, banda 2 (A) mostrando o canal do igarapé Novo e sua foz (1)
em setembro de 2004 e foto de campo do mesmo período (B). Nas marés de sizígia de março
de 2005 a foz do canal ficou obstruída e seu curso mudou para a esquerda, juntando-se ao
curso de outro canal de maré (2). Foto: Alberto Figueiredo.
Os processos agradacionais são efetivos na planície de inundação do estuário. As
acumulações são rápidas permitindo a desativação de canais dentro da planície e processos de
agradação vertical (Fig. 5.31). A correlação de informações das entrevistas com a localização
de residências, construções e cercas permitem inferir taxas de 5 cm/ano para a região do
Igarapé Novo.
Figura 5.31: Agradação na planície de inundação do rio Araguari. (A) 7 anos de deposição
sobre restos de madeira deixados quando da construção de cercas por volta do ano de 1998,
Fazenda Campo Novo, igarapé Novo; (B) deposição onde era o atracadouro de uma casa
abandonada em 1993. C) detalhe em maré baixa da foto B; D) deposição sobre restos de
madeira de cercas utilizadas provavelmente na década de 1990, Fazenda Campo Verde, braço
do igarapé Novo.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
116
As correntes de marés sob a influência da pororoca formam terraços erosionais sobre
os sedimentos consolidados. Esses terraços apresentam alturas na ordem de centímetros (Fig.
5.32A) e desenvolvem-se nas barras e margem do estuário do Araguari. Costa (1996)
descreveu esses terraços nas barras em pontais do estuário estudado, chamando-os de
microfalésias. Tais feições já foram descritas na literatura por Tessier e Terwindt (1994) nas
zonas de intermarés na porção interna do estuário na baia do Mont-Saint-Michel, França que
possui influência da pororoca, porém com efeitos menores.
Figura 5.32: A) Terraços (microfalésias) em barra em pontal (março de 2003 e março de
2004) e em B) margem do canal do Araguari (março/2003); C a E1) blocos na margem do
canal do Araguari em área de influência da pororoca (março/2005); E2 e E3) blocos acima do
terraço marginal do rio Araguari (março/2005). Imagem de satélite Landsat 7, ETM+,
composição das bandas 7, 4, 3 em RGB, fonte: GLCF. Fotos: A2, Laurent Polidori; E1 a E3,
Alberto Figueiredo.
Outros terraços encontrados relacionados com a atuação da pororoca são aqueles
elaborados em sedimentos consolidados sob cobertura vegetal (Fig. 5.32B). Assim como os
terraços anteriores, mostram vários níveis, porém possuem alturas maiores e o forte poder de
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
117
erosão das ondas da pororoca é evidenciado na remoção de grandes árvores. O poder
erosional do fenômeno da pororoca também pode ser observado no SR I (ver Capítulo 2) com
grandes árvores de mangue tombadas na costa.
Blocos de sedimentos e bolas de lama são muito freqüentes e dispostos sobre as
camadas sedimentares nas regiões de intermarés. A localização desses blocos é coincidente
com as áreas de maior atuação do fenômeno da pororoca, não sendo registradas nas porções
mais interiores do estuário. Isto indica o poder das correntes e do impacto da pororoca que
promove a quebra e queda por gravidade de blocos de dimensões métricas retirados dos
terraços marginais e depositados as margens do canal do estuário (Fig. 5.32 C, D e E1). Tais
blocos são posteriormente retrabalhados pelas correntes de marés. Em fotografias observadas
de outros estuários sob a influência da pororoca, essas estruturas também ocorrem nas zonas
de intermarés e tais efeitos não são descritos na literatura pesquisada.
Nas porções superiores desses terraços, são encontrados blocos de dimensões
centimétricas de sedimentos consolidados vegetados (Fig. 5.32 E2 e E3) arrancados das
margens do estuário, os quais se preservados podem constituir em mais um indicador da
existência do fenômeno de pororoca em outros estuários no mundo e em outros locais da costa
amazônica.
Além dos efeitos físicos, a ação das marés e pororoca também pode influenciar na
distribuição da microfauna no estuário. Laut et al. (2005), analisando a distribuição da fauna
de foraminíferos bentônicos e tecamebas, sugerem que existe uma correlação entre a
distribuição desses organismos e as condições hidrodinâmicas influenciadas pela pororoca
(Fig. 5.33). Entretanto, até o momento, nenhuma medida nas águas superficiais mostrou
registro de salinidade em qualquer período sazonal, havendo necessidade de medidas ao longo
da coluna da água e nos sedimentos.
A pronunciada assimetria das marés (Figs. 5.14 e 5.15) observada nas curvas, com
tempo de enchente muito menor do que na vazante, pode indicar velocidades de correntes
maiores nas enchentes o que auxilia na movimentação de sedimentos para dentro do estuário.
Isto explica a presença de biodetritos de origem marinha retrabalhados em sedimentos da foz
do estuário do rio Araguari encontrados por Santos (1994). Curvas de maré com essas
características assimétricas também foram observadas no estuário do rio Daly, na Austrália, o
qual possui influência da pororoca e está sujeito a processos de assoreamento em sua
desembocadura (Wolanski et al., 2004), à semelhança do que está ocorrendo com a foz do rio
Araguari.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
118
Figura 5.33: Correlação entre as zonas de distribuição da fauna de foraminíferos bentônicos e
tecamebas (A) definidas por Laut et al. (2005) com a pluma de turbidez no estuário do rio
Araguari (B) em função do fenômeno da pororoca. Notar a semelhança entre o limite da zona
I e II e o limite de influência da pororoca detectado em campo, onde a turbidez da água
diminui para dentro do estuário. Imagem do satélite Landsat 7 ETM+ de 18/11/2000 na
composição colorida das bandas 1, 2 e 3 em GBR.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
119
5.3. FORÇANTES ANTRÓPICAS – A PECUÁRIA NA COSTA AMAZÔNICA
As forçantes antrópicas que podem produzir modificações na costa amazônica foram
apresentadas no capítulo 2 no âmbito das atividades que são desenvolvidas na planície
costeira amazônica. Neste item enfatiza-se a atividade da pecuária e sua forma de
desenvolvimento na costa amazônica, como subsídio para discussões de seus impactos sobre
as modificações na área de estudo e reconhecimento dos padrões nas imagens de satélite e em
campo, com a finalidade de procurar indicadores de modificações que serão discutidos no
capítulo 9.
5.3.1 A bubalinocultura na costa amazônica
Na região amazônica o crescimento da população total de búfalos é de 13% entre os
anos de 1975 e 2000, o que representa um crescimento muito maior do que em muitos países
no mundo e apresenta uma série de conflitos, principalmente com a agricultura (Sheikh et al.,
2005), muitos dos quais também identificados para a costa amazônica no litoral do Amapá
(GERCO, 2002).
A partir de dados do IBGE, estima-se que a costa amazônica brasileira comportava
62% (aproximadamente 700.000 cabeças) do rebanho total existente nos estados costeiros
brasileiros. A costa amapaense tem 25% (cerca de 170.000) desse efetivo, dos quais 26 %
(aproximadamente 42.000 cabeças) concentram-se no município de Cutias (Fig. 5.34), que
representa grande parte da planície de inundação da margem direita do rio Araguari.
Entretanto, deve-se considerar que a cada ano existe uma tendência de aumento da
densidade de rebanho, a partir da introdução de gado e por nascimentos (cerca de um bezerro
para cada fêmea a cada ano).
No estuário do rio Araguari, até a finalização desta pesquisa, não existiam dados
atualizados e confiáveis para uma análise da pressão do rebanho por área na planície. Um
censo estava sendo realizado pelo Estado, porém as informações ainda não tinham sido
divulgadas a conclusão desta tese.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
120
Figura 5.34: Distribuição do efetivo de rebanho bubalino na planície costeira do Estado do
Amapá. Em destaque a área do estuário do rio Araguari. Elaborado a partir do Sistema IBGE
de Recuperação Automática – SIDRA <http://www.sidra.ibge.gov.br/>.
Aliás, uma das grandes dificuldades na pesquisa foi a coleta de dados sobre o rebanho.
Entre os vários motivos lista-se: desconhecimento por parte do funcionário da fazenda do
efetivo bubalino, o difícil manejo de gado em áreas extensas, além da falta de vontade dos
pecuaristas de revelar a quantidade do seu rebanho efetivo. Outra problemática foi a falta de
uma base cadastral atualizada de fazendas, que permitisse estabelecer uma correlação entre os
terrenos ocupados e a quantidade de rebanhos, além da dificuldade de acesso a toda a área,
diferenciada para cada período sazonal. No entanto, os levantamentos realizados indicam a
existência de aproximadamente 23.000 cabeças de búfalos para a margem direita do Araguari,
entre o igarapé Vitória e o Igarapé Novo (Fig. 5.35).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
121
Figura 5.35: Concentração de rebanho bubalino por fazenda. O valor zero na realidade trata-
se de fazendas sem informação da quantidade de rebanho. Fonte: entrevistas de campo.
Imagem de satélite Landsat 7, ETM+, banda 5, acervo GLCF.
5.3.2 O sistema de criação
A atividade de pecuária é desenvolvida no estado do Amapá de acordo com as
características do meio natural. Nas áreas do planalto costeiro se desenvolve a criação de
bovinos, que se deslocam para a planície costeira nos períodos menos chuvosos, aproveitando
a pastagem natural, enquanto que a bubalinocultura é desenvolvida nas planícies de
inundação. A continuidade dessa fisiografia em direção à costa permite que os ambientes
costeiros, como planícies de marés e praias, sejam afetados pela atividade (GERCO, 2002).
A pecuária na região do rio Araguari é exercida desde o início do século XX (Fig.
5.36), porém a ocupação pelas fazendas ocorreu de maneira mais efetiva a partir da década de
1970. A maioria das fazendas entrevistadas iniciou a atividade com gado bovino.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
122
Figura 5.36: Tempo mínimo de existência da bubalinocultura na planície de inundação do
estuário do rio Araguari. Fonte: entrevistas de campo. Imagem de satélite Landsat 7, ETM+,
banda 4, acervo GLCF.
No sistema de criação, dependendo do tamanho da área da fazenda e das condições
econômicas do pecuarista, existe uma fazenda sede com vários retiros espalhados no terreno,
a quilômetros de distância dentro da planície de inundação, que se constituem, por vezes, de
uma única casinha que é ocupada temporariamente por um “vaqueiro”. As fazendas podem
pertencer individualmente a um proprietário ou podem existir várias fazendas pertencentes a
apenas um proprietário.
As sedes das fazendas geralmente ocupam a margem do estuário do Araguari ou das
drenagens que recortam a planície de inundação (Fig. 5.37A). Algumas das grandes fazendas
chegam a constituir agrupamento de empregados e familiares, formando pequenas
comunidades que se ocupam praticamente apenas da pecuária (Fig. 5.37B).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
123
Figura 5.37: A) Sede de fazendas na planície de inundação no estuário do rio Araguari; B)
Comunidades formadas nas fazendas a partir da atividade de pecuária. Março/2003.
Existem fazendas com mais de um século (Fig. 5.36) na região que, em virtude das
condições de inundação, foram trocando a atividade de criação de bovinos por bubalinos, com
permanência da criação de bois só nas situações de terrenos mais altos na planície.
A criação do gado bubalino é desenvolvida especialmente nas planícies de inundação e
sofre a influência do regime das chuvas e inundações. Entretanto, em virtude da continuidade
fisiográfica dos ambientes, o rebanho também é encontrado nas planícies de marés (Fig. 5.38).
Figura 5.38: Búfalos na planície de inundação nas áreas dos campos inundáveis (A) e dentro
da floresta de várzea (B). C) Búfalos em áreas de planície de maré. Março/2003.
Nas épocas de estiagem, o rebanho se refugia próximo às margens do estuário ou nas
áreas das bacias de inundação (Capítulo 8). Nos períodos de cheia, o gado é levado para
pastos em áreas mais altas, entretanto, nos terrenos sem esses refúgios o gado é levado para
terras altas construídas no terreno através do auxílio de um trator, com altura de
aproximadamente 1 m e cerca de 10 m de extensão, chamadas localmente de “marombas”
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
124
(Fig. 5.39). Tal prática, comum apenas para as grandes fazendas, também ocorre no baixo
Amazonas relacionada com a criação de búfalos, identificada por Sheikh et al. (2005). Nos
períodos de cheias onde as gramíneas fixas ficam inundadas o gado costuma alimentar-se de
vegetação flutuante.
Figura 5:39: Maromba em construção no campo para abrigo do gado durante as cheias. Rio
Piririm, março de 2003.
Na área das fazendas é comum existir um local onde o gado é manejado, denominado
localmente de “malhada”. Durante o período das cheias, pequenos lagos são formados nesses
locais. (5.40).
Figura 5.40: A) Área de malhada, em terreno utilizado para bubalinocultura na fazenda
Campo Verde, igarapé Novo, setembro de 2004. Observar a exposição do solo devido ao
pisoteio do gado; B) malhada na fazenda Nova Delly, em março de 2004. Os pequenos lagos
observados na planície inundada são áreas pisoteadas com restos de vegetação.
O manejo dos búfalos em função da pastagem é dependente das condições sócio-
econômicas do fazendeiro e tamanho da fazenda. As cercas constituem uma prática de manejo
do gado. Os resultados das entrevistas indicam que, no início da implantação da atividade de
pecuária, as fazendas praticamente não eram delimitadas por cercas, o que constituía
problemas na contagem e manejo do rebanho. Porém, com o passar dos anos, o número de
cercas aumentou devido à necessidade de delimitação de fazendas, separação do rebanho
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
125
bubalino de outros animais criados, transferência de gado para manejo das pastagens
exauridas, proteção de pequenas áreas (em torno de 100 ha) de pastagens artificiais destinadas
à alimentação de eqüinos e bovinos e, impedimento da passagem do gado para as margens dos
rios (Fig. 5.41). Durante o desenvolvimento desta pesquisa foi constatado em campo um
aumento do número de cercas, impedindo inclusive o acesso e a revisita de algumas áreas.
Figura 5.41: Cercas. A) duplas para proteção das margens do rio Araguari do pisoteio dos
búfalos na fazenda Maria Atilde; B) delimitação de fazendas; C) e D) bloqueando canais e
delimitando fazendas no igarapé Santana, setembro de 2004 e março de 2005,
respectivamente.
5.4. A PECUÁRIA COMO AGENTE MODIFICADOR DA PAISAGEM
As modificações induzidas pela atividade de pecuária, observadas na área estudada,
podem ser subdivididas em duas categorias: a) aquelas induzidas pelo rebanho e b) as
induzidas pela ação humana sobre a área onde a atividade de bubalinocultura é exercida.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
126
5.4.1 Efeitos Induzidos pelo Rebanho
Morfológicos
Ocorrem principalmente através da compactação e erosão do solo pelo pisoteio do
animal e se referem à formação de estruturas de sobrecarga, trilhas, ravinas, canais artificiais e
pequenos lagos.
Em terreno sob condições úmidas, o rebanho bubalino, em virtude de seu peso, é
capaz de deixar pegadas, cujas profundidades alcançam mais de 10 cm e larguras variáveis de
acordo com o tamanho do búfalo (Fig. 5.42A e B). Nos terrenos com menor umidade, fora das
áreas com maior permanência de água, as profundidades dessas pegadas são menores (Fig.
5.42C). O resultado da passagem do gado no terreno, esteja úmido ou não, resulta em um solo
extremamente pisoteado e compactado, o que dificultou por exemplo amostragens de trado
nessas áreas. Esse grau de pisoteio depende do número de cabeças e do local de concentração
dos búfalos.
Figura 5.42: A) Pegadas de búfalos em terreno sob condições úmidas da planície de
inundação; B) solo pisoteado em condições úmidas na planície de inundação; C) solo
pisoteado por búfalos em terreno sob condições mais secas. Setembro/2004.
A formação das trilhas ocorre por compactação do terreno em função do hábito do
rebanho de andar em fila e, geralmente, está associada às margens das drenagens naturais e
artificiais, seguindo paralelo a estas (Fig. 5.43A-D). Estão localizadas nas áreas de subida do
gado (Fig. 5.43E) tanto em áreas de campos naturais quanto em áreas de várzea. Encontram-
se também bordejando as cercas que delimitam as fazendas. As trilhas possuem formato
retilíneo e apresentam larguras de aproximadamente 40 centímetros a 1 metro, podendo se
estender por vários quilômetros. São interrompidas apenas pela presença de canais onde o
gado costuma fazer travessia. Essas trilhas são típicas de pisoteio de gado e são encontradas
em outros locais no mundo em áreas pastoreadas por bois (Trimble e Mendel, 1995). Na costa
amazônica, tanto as trilhas como as ravinas, são encontradas na Guiana Francesa em planície
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
127
de inundação influenciada por marés próximo ao rio Mana. A disposição das mesmas também
obedece aos padrões apresentados acima.
Figura 5.43: Fotografia aérea oblíqua ilustrando a disposição de trilhas (A, B, C) em áreas de
fazendas contornando e paralelas à drenagens (setembro/2004); trilha paralela a drenagem (D)
do igarapé Santana em março de 2003; erosão em local de subida e descida de gado para as
trilhas (E), no mesmo local de D, em setembro de 2004. Foto de Sobrevôo: Odete Silveira,
acervo IBAMA.
As ravinas são formadas em função da subida e descida do gado nas margens das
drenagens, dispondo-se comumente perpendicular a estas configurando um padrão retangular
(Fig. 5.44A e B). Elas distanciam-se entre si de metros a dezenas de metros e algumas delas
podem conectar-se em duas extremidades com o canal principal formando uma pequena ilha
(Fig. 5.44C). Apresentam larguras em torno de meio a um metro e extensões variadas, porém
de poucos metros (Fig. 5.44D). As profundidades medidas raramente ultrapassam um metro.
A formação de ravinas por gado, segundo Trimble e Mendel (1995), se inicia como uma
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
128
rampa (Fig. 5.44G), que se forma pela perda da resistência do solo ao pisoteio do gado (Fig.
5.44E e F), dando início ao processo de erosão. A erosão torna-se mais eficiente na margem
do canal pela formação de um fluxo turbulento localizado na irregularidade desenvolvida pelo
pisoteio do gado. Por outro lado, essa turbulência no fluxo acelera a erosão quando as águas
ultrapassam a margem da drenagem. Assim, as rampas criam rotas para saída e entrada de
água promovendo mais erosão, até finalmente escavar pequenos canais que são as ravinas.
Figura 5.44: Aspectos das ravinas desenvolvidos pela subida e descida de gado da planície de
inundação. A) Fotografia área oblíqua tomada em janeiro de 2005 de ravinas no igarapé
Santana; B) padrão de ravina perpendicular a canal; C) ravina conectada ao mesmo canal
formando uma ilha; D) observar o tamanho e profundidade; E) e F) subida de gado na
margem de drenagem originando rampas (G), a partir das quais se formará uma ravina. Foto
aérea: Odete Silveira, acervo IBAMA.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
129
A formação de canais artificiais é uma das modificações apontadas pelos moradores da
região em decorrência da atividade de pecuária. Os canais formados artificialmente recebem o
nome de “vala”, possuindo geralmente a denominação da fazenda, por exemplo “vala do
Antonico” ou de nomes vinculados ao cotidiano dos moradores como a “Vala do Paca”. Cerca
de 89% das entrevistas em campo apontaram para modificações na rede de drenagem, dos
quais 64% foram associadas diretamente ao pisoteio do gado ou indiretamente pela indução
na formação de canais pelos moradores.
Os canais têm forma retilínea e com padrões retangulares (Fig. 5.45A) e não
apresentam feições típicas das drenagens naturais como barras em pontais e curso meandrante
(ver capítulo 9). As margens dos canais comumente são retas (Fig. 5.45B), apresentando
terraços em função do desmonte da margem pela ação das correntes na base do canal. Dois
processos de formação desses canais foram identificados: a) formação a partir do pisoteio e
deslocamento do gado dentro das ravinas, junto com contínuo processo de erosão pelo fluxo
turbulento gerado dentro desses pequenos canais, conforme já descrito por Trimble e Mendel
(1995), e 2) desenvolvimento a partir da formação de trilhas pelo pisoteio do gado.
Figura 5.45: Fotografia aérea oblíqua ilustrando canal artificial (A1) com forma retangular
desenvolvido na planície de inundação pelo pisoteio de gado; ravina (A2) a partir da qual está
se desenvolvendo uma vala; B) canal artificial bem desenvolvido; C) canal artificial com
búfalos e; D) trilha em processo de evolução para canal artificial. Foto de sobrevôo. Odete
Silveira, acervo IBAMA.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
130
A evolução dos canais artificiais é rápida. Na Figura 45D o canal artificial gerado
possuía uma largura de 1,50 metro em março de 2004. Um ano depois, a largura desse canal
era de 10 metros em sua boca na margem do Araguari.
Outra feição bastante comum na área é a presença de pequenos lagos e bacias, as quais
são desenvolvidas a partir do hábito do rebanho a banhar-se em poças. Estas feições possuem
formas arredondadas de dimensões centimétricas a métricas (Fig. 5.46A
e B), que são em
função do tamanho do indivíduo ou quantidade de rebanho sobre o terreno.
Figura 5.46: Poças na planície de inundação. A) poça seca; B) poças com água em período
chuvoso; C) búfalos em poça no período chuvoso.
Tanto as ravinas como as feições de terraços nas bordas dos canais artificiais já foram
discutidas na literatura por Trimble e Mendel (1995) em sua revisão abordando o gado como
agente modelador de relevo (ver Capítulo 4).
Efeitos sobre os processos de sedimentação
Esta interferência pode ocorrer através da disponibilização de sedimentos a partir da
erosão do terreno para formação das rampas, ravinas e valas, e da ressuspensão de sedimentos
dos canais, lagos e bacias de inundação (Fig. 5.47).
Os resultados das medidas de concentração de sólidos em suspensão nas drenagens,
duas com influência da criação de búfalos (Igarapé Novo e Igarapé Santana) e uma sem
influência efetiva (Igarapé Natural), demonstram uma variação significativa nos valores de
concentração de sedimentos.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
131
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
132
No igarapé Novo a concentração de sedimentos aumenta à medida que se aproxima do
interior da planície de inundação nos dois períodos sazonais (setembro/2004 e março/2005),
com concentração de sedimentos maior para o período chuvoso (Fig. 5.48), resultado esperado
uma vez que nesse período a lavagem dos campos é mais efetiva. Para o igarapé Santana, a
taxa de concentração de sedimentos é maior para setembro de 2004, aumentando para o interior
da planície de inundação, indicando provavelmente a disponibilidade de sedimentos dentro dos
canais sob a influência direta de búfalos (Fig. 5.49A). Para o igarapé natural as taxas de
sedimentos em suspensão apesar de valores menores que o Igarapé Novo, apresentam a mesma
tendência desta drenagem (Figs. 5.48 e 5.49B).
Figura 5.48: Concentração de sedimentos em suspensão para o igarapé Novo, localidade sob
a influência do fenômeno da pororoca e com a maioria do rebanho localizado fora da área de
coleta dos dados. Composição colorida de imagem Landsat TM5 de 01/08/2004, bandas 4, 7 e
2 nos canais R, G e B.
A variação significativa na taxa de sedimentos em suspensão entre o igarapé Novo e o
igarapé Santana, pode ser atribuída à atuação do fenômeno da pororoca, que não ocorre no
igarapé Santana. Para este igarapé, os valores de concentração de sedimentos em suspensão,
embora menores do que o Igarapé Novo, aumentam para o interior da planície costeira em
setembro de 2004, indicando que a pecuária pode ser um fator importante nessa distribuição de
sedimentos. Em março as águas mais altas permitiriam a diluição dos sedimentos. O igarapé
natural possui as mais baixas taxas de sedimentos em suspensão, o que seria normal por estar
fora da área de influência da pororoca e ter suas margens com a floresta de várzea ainda
preservada, inibindo o processo de erosão.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
133
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
134
Os resultados da concentração de sedimentos em suspensão nas águas superficiais das
drenagens estudadas indicam que a variação nesse parâmetro não pode ser atribuída
exclusivamente à atividade de pecuária, principalmente onde a pororoca desempenha um papel
fundamental, conforme visto no item 5.3.5.
Efeitos sobre a cobertura vegetal
Os efeitos do pastoreio e pisoteio do gado é um fator de redução da cobertura vegetal
natural na região.
O pastoreio do gado torna a cobertura vegetal muito homogênea e bem rasteira ao solo
(Fig. 5.42C), expondo o solo aos processos erosionais. Assim uma variação na cobertura
vegetal natural pode ser observada resultando em paisagem diferenciada dentro de uma
mesma fazenda, embora sobre processos naturais semelhantes. A destruição da cobertura
vegetal é observada principalmente nas áreas de “malhadas” e de aglomeração do gado para
repouso.
O efeito do pisoteio e pastoreio do gado também pode causar efeitos sobre o
desenvolvimento e a diversidade da cobertura vegetal, uma vez que algumas espécies podem
deixar de se desenvolver ou mudar de hábito (Costa Neto, com. verbal). Proliferação de
espécies invasoras (danosas ao rebanho) como o algodão bravo (Imomoea cranea ssp
fistulosa) tem se tornado um problema na região, sendo atribuída ao intenso pastoreio por
búfalos de acordo com Meirelles e Mochiutti (2000), o que reduz a biodiversidade local. Os
efeitos sobre a cobertura vegetal são mais visíveis geralmente nos locais de malhadas, subida
de gado e próximo às redes de drenagens.
Associada aos efeitos morfológicos, e aos existentes sobre a cobertura vegetal e a
sedimentação, está a compactação do solo. As áreas extremamente compactadas estão
localizadas nos locais de descanso do rebanho, das trilhas, nas margens dos canais artificiais e
naturais, nas ravinas e rampas, nas áreas de malhadas e nas poças que ficam secas durante o
período menos chuvoso. Nessas áreas a cobertura vegetal é praticamente inexistente devido ao
contínuo pisoteio pelo gado.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
135
5.4.2 Efeitos Associados à Interferência Humana
Estes efeitos não estão associados diretamente ao pastoreio e pisoteio do gado, porém
ao desenvolvimento da atividade de pecuária e estão relacionados as atividades de
desmatamento, construção de cercas (ver item 5.2.2), construção de aterros e abertura de
canais.
desmatamento
O desmatamento está associado não só à limpeza da área para implantação de fazendas
(Fig. 5.36), como também para implantação de pastos para bovinos e eqüinos. As clareiras
abertas seccionam a paisagem (ver Capítulo 8) e auxiliam na erosão das margens das
drenagens, disponibilizando sedimentos para dos corpos de água. O desmatamento é realizado
também para limpeza das áreas de fazendas principalmente nas margens do Araguari, onde a
regeneração da área inicia-se a partir do crescimento de uma vegetação secundária dominada
localmente de juquiris (Mimosa pigra).
construção de cercas
As cercas interferem no fluxo livre de água durante as inundações (Fig. 5.50A)
influenciando no escoamento superficial. Constituem-se também barreiras físicas para o
deslocamento de vegetação aquática (Capítulo 8). As cercas geram obstáculos que separam
áreas com níveis diferenciados de pastoreio (Fig. 5.50B) em função do confinamento do
rebanho, como também fazem a separação entre áreas de florestas preservadas e áreas
pastoreadas. Em alguns locais geram proteção contra a erosão nas margens dos estuários,
impedindo o deslocamento de gado (Fig. 5.41A). Em função disso separam áreas com
paisagens diferenciadas que podem ser observadas em imagens de satélite (ver Capítulo 8).
construção de aterros
A construção de aterros (“maromba”) funciona como uma barreira física para
circulação d´água e vegetação flutuante, porém sua ação é localizada na área, não se
detectando modificação em função dessa estrutura.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
136
Figura 5.50: A) Cerca impedindo o fluxo livre de águas durante o evento da pororoca (abril de
2002); B) cerca servindo de limite para fazenda resultando em diferenciação no solo entre uma
área intensamente pastoreada e pisoteada e uma área com pouco pastoreio.
abertura de canais
A abertura induzida de canais artificiais é realizada com a finalidade de formar
drenagens a fim de facilitar acesso a fazendas, ou até mesmo impedir processos erosionais em
direção as habitações desviando as drenagens, como detectado em campo. Este tipo de ação
ocorre há muito tempo na região, sendo feita através de instrumentos como enxadas e pás,
reboque de canoas ou utilizando o rebanho. Os canais artificiais produzidos dessa forma
inicialmente têm um metro de largura (o suficiente para passar uma canoa) e poucos metros
de extensão, segundo informações dos moradores locais. Feito a vala, os processos naturais se
encarregam de transformá-los em verdadeiras bacias de drenagens a exemplo do que ocorreu
no Igarapé Santana (ver capítulos 9 e 10).
5.5. CONCLUSÕES
As forçantes e processos associados às modificações na costa amazônica possuem uma
escala temporal e espacial variada. De um modo geral as forçantes naturais afetam
visivelmente as condições de inundação (Tab. 5.1), cobertura vegetal e a disponibilidade de
sedimentos, que terão reflexos na morfologia da planície costeira (ver capítulos 9 e 10).
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
137
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
138
A forçante antrópica associada à pecuária possui uma distribuição espacial e temporal
influenciada não só por condicionantes sócio-econômicas, mas também pelas condições
naturais da área. A ação da pecuária sobre os ambientes costeiros amazônicos interage através
de vários mecanismos alterando a morfologia, cobertura vegetal e provavelmente os processos
de sedimentação. Essas interações podem ocorrer através de diversos caminhos (Fig. 5.51) e
são passíveis de serem estudadas, porém, algumas não puderam ser detectadas nesta pesquisa.
É difícil, entretanto, concluir quanto do ambiente é afetado pela atividade da pecuária ou
pelos processos naturais, sem estabelecer indicadores que possam ser monitoráveis, para os
quais o sensoriamento pode ser uma ferramenta útil (ver Capítulo 9).
Os resultados da atuação das forçantes discutidas neste capítulo aliados à evolução
geológica da área podem resultar em modificações ambientais passíveis de serem detectadas
por sensores remotos, as quais serão discutidas nos capítulos 9 e 10 desta tese.
Parte II: Capítulo 5 – Modificações Ambientais: Forçantes e suas Influências na Costa
Amazônica
139
Figura 5.18: Registro do trajeto da pororoca no estuário do Araguari com as fotos referenciadas. Equinócio de março de 2004. Imagem Landsat
7, ETM+, composição da primeira componente principal das bandas 1, 2 e 3; banda 4 e primeira componente principal das bandas 7 e 5 em
BRG. Fonte da imagem: GLCF.
Figura 5.19: Seqüência da entrada da pororoca no estuário do rio Araguari na localidade de Rocinha. A) Surgimento da onda; B) pororoca
chegando às margens do estuário; C) explosão da onda e ultrapassagem das águas nas margens do estuário (seta) com concomitante entrada nos
canais menores; D) breve recuo das águas após a passagem da onda; E) turbulência após a passagem da onda. A seqüência entre os momentos B
e C ocorre em cerca de 2 minutos preenchendo o canal do estuário cuja altura do terraço é cerca de 2 metros. Fotos: acervo IEPA.
Figura 5.47: Fotografia aérea oblíqua ilustrando pluma de sedimentos em suspensão disponibilizados por pisoteio de gado em canal secundário
desaguando no rio Araguari. Local sem influência da pororoca. Observar as trilhas e ravinas truncando a rede de drenagens meandrantes e
interligando os braços da drenagem. Foto: Odete Silveira. Acervo IBAMA.
Figura 5.49: Concentração de sedimentos em suspensão. A) igarapé natural, sem atividade de bubalinocultura e; B) igarapé Santana, fora da área
de influência da pororoca e diretamente influenciada pelo rebanho bubalino na área de coleta dos dados. Imagem de satélite Landsat 7, ETM+,
composição das bandas 7, 4, 3 em RGB, fonte: GLCF.
Tabela 5.1: Mudanças do nível de inundação em função das forçantes climáticas e oceanográficas, suas escalas temporais e as variações do
nível de água sobre a planície de inundação e resultados.
Causas Escala de Tempo
(períodicidade)
Efeito Vertical
no Nível de Água
Resultados
Interação Oceano-
Atmosfera/ El-Niño
2- 7 anos (dezembro a
fevereiro)
Diminuição das condições de
inundações sobre a planície
costeira
Interação Oceano-
Atmosfera/La Niña
2-7 anos (dezembro a
fevereiro)
Aumento do nível de água na
planície costeira na época de
inundações
Magnificação ou minimização da descarga hídrica e sólida e tempo de inundação;
Variação nas zonas deposicionais e erosionais.
Clima/ZCIT Sazonal- 6 meses (~janeiro
a junho)
Planície inundada nos meses
de março a junho (~1,5 m).
Condição modificada em
função dos eventos de El-
Niño e La Niña)
Variação na descarga hídrica e sólida (descarga fluvial máxima entre abril-junho).
Precipitação e nebulosidade maior de janeiro a agosto para a costa do Amapá.
Maior disponibilidade de sedimentos em suspensão.
Clima/ZCIT Sazonal – 6 meses (~julho a
dezembro)
Planície sem inundação entre
os meses de julho a fevereiro.
Condição modificada em
função dos eventos de El-Niño
e La Niña)
Variação na descarga hídrica e sólida (descarga fluvial mínima entre outubro-
novembro). Precipitação e nebulosidade menor entre setembro e dezembro para a
costa do Amapá.
Menor disponibilidade de sedimentos em suspensão.
Oceanográficos/
Marés
Solstícios e equinócios (182
dias);
Sigízias e quadraturas (14
dias);
Marés semi-diurnas (~12
horas)
Enchente e vazante (~2 a10
horas)
De 1 a 10 m dependendo da
localização na costa. Na
planície de inundação dos
estuários reforça a amplitude
da inundação nos períodos de
cheias
Variação na remobilização, transporte, deposição e erosão de sedimentos;
Variação na qualidade da água ;
Variação na taxa de erosão e sedimentação;
Variação nos estratos sedimentares;
Variação na extensão da pluma de turbidez;
Influencia na morfologia através dos processos sedimentares.
Oceanográficos/
Marés-Pororoca
Equinócios (182 dias)
Sigízias (14 dias)
Marés semi-diurnas (~12
horas)
Enchente (~2 minutos)
Rápida elevação do nível
d´agua. Aproximadamente 2
metros em 2 a 3 minutos
dentro do estuário do Araguari.
Intensifica a remobilização, erosão, deposição de sedimentos e erosão de sedimentos;
Aumento da concentração de sedimentos na foz do rio Araguari;
Variação dos estratos sedimentares;
Retrabalhamento e deposição acentuada de sedimentos nas áreas de intermarés;
Influencia na morfologia através dos processos sedimentares;
Variação na qualidade da água.
Oceanográficos/
Ventos e Ondas
Sazonal Provável aumento do nível de
água nos estuários e linha de
costa
Sem informação sobre a costa;
Represamento da pluma de sedimentação do rio Amazonas.
Figura 5:51: Diagrama esquemático da interação entre os processos naturais e antrópicos relacionados com a atividade de bubalinocultura na
planície costeira do Amapá. Modificado de Santos e Figueiredo (2002 e 2003).
Capítulo 6 O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
6 O SENSORIAMENTO REMOTO E AS REGIÕES COSTEIRAS TROPICAIS......141
6.1. O SENSORIAMENTO REMOTO..............................................................................141
6.1.1. O Sistema de Aquisição de Dados........................................................................141
6.1.2 O Sistema de Análise dos Dados...........................................................................149
6.1.3 Premissas Básicas para Aplicação do Sensoriamento Remoto em Ambientes
Costeiros Tropicais.........................................................................................................154
6.2 EXEMPLO DE APLICAÇÕES EM COSTAS TROPICAIS ................................156
6.2.1 Mapeamento de Ambientes ...................................................................................156
6.2.2 Detecção de Modificações.....................................................................................157
6.2.3 Monitoramento de Áreas Úmidas..........................................................................158
6.2.4 Monitoramento das Águas Costeiras.....................................................................159
6.2.5 Monitoramento de Derrames de Óleo ...................................................................161
6.2.6 Mapeamento do Uso do Solo e Cobertura do Solo ...............................................161
6.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...............................................................................162
PARTE III
SENSORIAMENTO REMOTO EM
REGIÕES COSTEIRAS TROPICAIS:
FERRAMENTA E SUAS APLICAÇÕES
140
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
141
Capítulo 6
O SENSORIAMENTO REMOTO E AS REGIÕES COSTEIRAS
TROPICAIS
O sensoriamento remoto como ferramenta para o estudo de ambientes costeiros
tropicais possibilita a identificação e o monitoramento contínuo das modificações costeiras,
otimizando os recursos financeiros, uma vez que é capaz de observar áreas extensas e de
difícil acesso. Além disso, permite a seleção de alvos, facilitando a logística para os trabalhos
de campo e possibilita a coleta de informações em locais mais apropriados a partir da visão
geral do ambiente.
Deste modo deve ser percebido em seu contexto de aquisição, tratamento e aplicação
para os ambientes costeiros tropicais, que possuem uma dinâmica própria, nem sempre
condizente com a realidade da ferramenta.
6.1. O SENSORIAMENTO REMOTO
No sensoriamento remoto existem quatro elementos principais (atmosfera, cena,
sensor e a análise de dados), que podem ser abordados segundo Abkar et al. (2000) em dois
sistemas principais: o sistema de aquisição de dados e o sistema de análise de dados (Fig. 6.1).
6.1.1. O Sistema de Aquisição de Dados
O sistema de aquisição de dados, para imageamento da superfície terrestre, é composto
por três componentes: a atmosfera, a cena e o sensor (Abkar et al., 2000).
A atmosfera funciona modo um filtro, onde a energia eletromagnética pode ser
absorvida ou dispersada e afeta a quantidade de energia que retorna para o sensor, seja ela
proveniente de uma fonte natural (sol) ou artificial (sensor).
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
142
Figura 6.1: Diagrama esquemático dos sistemas de aquisição e análise dos dados no
sensoriamento remoto e seus componentes principais. Elaborado a partir de Abkar et al.
(2000).
A cena é o alvo principal do sensoriamento remoto e contém informações de objetos
do mundo físico. Estes objetos visualizados na cena são resultantes das interações dos alvos
na Terra com as radiações emitida, refletida e transmitida pelo sensor ou pelo sol.
O componente sensor é determinante para transformar as ondas eletromagnéticas
recebidas do mundo físico em imagens de duas dimensões, cuja energia dos objetos é medida
em números digitais. As características, temporal, espacial e espectral dos sensores,
determinarão o quanto se pode capturar das imagens do mundo físico, estabelecendo assim a
quantidade e qualidade de informações que podem ser extraídas.
Os sensores, ativos ou passivos, utilizados no sistema de aquisição de dados em
sensoriamento remoto operam em diferentes comprimentos de ondas, destacando-se os
radares e os sensores óticos.
O RADAR (RAdio Detection And Ranging)
Os radares possuem três características principais: 1) transmitem sinais de microondas
(1mm até 1 m) em direção ao alvo; 2) recebem parte da energia transmitida que é
retroespalhada pelo alvo; 3) registram a intensidade (detecção) e a defasagem (indicação da
distância) dos sinais de retorno.
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
143
Por ser um sensor ativo pode funcionar a qualquer hora do dia ou da noite e não ter
suas propagações de microondas afetadas pela atmosfera, em função do radar poder funcionar
o tempo todo (Polidori, 1997). Entretanto, alguns tipos de cobertura de nuvens podem
interferir no radar para comprimento de ondas menores que 2 cm, e a chuva se torna um fator
adverso para comprimentos de ondas menores que 4 cm (CCRS, 2001).
Os sistemas de radar podem ser aerotransportados ou a bordo de satélites. Os sistemas
aerotransportados iniciaram sua utilização para fins militares durante a Segunda Guerra
Mundial e para fins civis desde 1970. Atualmente existe uma série de satélites com sensores
em diferentes comprimentos de microondas (Tab. 6.1) que constituem um potencial para
aplicação nas áreas costeiras tropicais úmidas (ver item 6.3 e Capítulo 11).
Tabela 6.1: Radares orbitais imageadores com suas respectivas características.
satélite/sensor lançamento banda polarização ângulo de
incidência
(
o
)
resolução espacial
da imagem
(range x azimute)
SEASAT 1978 L HH 23 25 m x 25 m
SIR-A 1981 L HH 50 40 m x 40 m
SIR-B 1984 L HH 15-60 58-16 m x 20-30 m
ALMAZ-1 1987 S HH 30-60 15-30 m
ERS-1/AMI
SAR
1991 C VV 20-26 25 x 25 m
JERS-1 1992 L HH 35 18 m
SIR-C 1994 C, L HH, VV,
HV, VH
15-55 10-200 m
X-SAR 1994 X VV 15-55 10-200 m
RADARSAT-1
1995 C HH 10-60 10-100 m azimute
ERS-2/AMI
1995 C VV 20-26 25 x 25 m
ASAR
ENVISAT
2002 C HH e/ou VV 15-45 25 x 25 m
150 x 150 m
ALOS/PALSAR 2005 L HH, VV,
HV, VH
08-60 7-100 m range
Na aplicação das imagens SAR, o conhecimento dos parâmetros dos sensores
(comprimento de onda, ângulo de incidência, polarização) e da interação da onda com o
terreno são fundamentais para a distinção de feições geográficas.
O comprimento de onda determina a profundidade de penetração em uma superfície.
Esta capacidade aumenta para comprimento de ondas maiores. Ele determina também, junto
com o ângulo de incidência, a rugosidade da superfície da terra ou do mar (Fig. 6.2).
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
144
Figura 6.2: Relação entre rugosidade e comprimento de onda. A superfície será lisa se suas
variações de altura são muito inferiores ao comprimento de onda do radar. Neste caso a maior
parte da energia incidente é refletida na direção oposta ao radar. Figura cedida por Laurent
Polidori.
O ângulo de incidência determinará o comportamento da reflexão e penetração da
onda de radar sobre uma superfície. O aumento do ângulo de incidência diminui a
refletividade do alvo resultando em uma resposta baixa ou escura. No entanto, como nem
sempre a superfície imageada é plana, o ângulo de incidência local (ângulo entre a iluminação
do radar e a linha perpendicular ao terreno) é importante e em parte determina a tonalidade e o
brilho da cena (CCRS, 1997). Este ângulo influencia na intensidade do retroespalhamento e
essa influência pode ser modelada para superfícies homogêneas. Em presença de relevo
pronunciado, o ângulo de incidência também influencia nas distorções geométricas das
imagens, produzindo efeitos de sombra, encurtamento e sobreposição.
As diferentes polarizações (ver Tab. 6.1) também podem auxiliar na distinção da
estrutura física dos alvos, através do retroespalhamento. Quando a onda emitida pelo radar
atinge o alvo, a polarização pode ser modificada, retroespalhando a onda em outra polarização
(CCRS, 2001; Polidori, 1997). Este processo afeta o modo como o alvo aparece nas cenas
polarimétricas, favorecendo o estudo do mesmo. Por outro lado, a orientação do alvo também
influência na resposta polarimétrica.
A aplicação do RADAR em regiões tropicais deve-se principalmente à sua precisão de
localização em função de sua geometria estável e sensibilidade as características da paisagem,
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
145
principalmente o relevo (Polidori, 1997). Em áreas costeiras com baixo relevo e águas rasas,
como é o caso da costa amazônica (Fig. 6.3), dependendo do comprimento de onda utilizado
estas imagens podem constituir outros tipos de potencialidade e limitações (ver Capítulo 11).
Figura 6.3: Imagem ERS no estuário do rio Oiapoque. Observar o efeito da rugosidade da
superfície da água indicando a batimetria nas águas rasas. Fonte: ESA 1992.
Os Sensores Óticos
Os sensores óticos representam a técnica mais tradicional para aquisição de imagens
de satélite. Eles utilizam a luz solar como fonte de energia e funcionam na faixa do visível e
infravermelho (Tab. 6.2) e registram a radiação refletida pelos alvos sobre a superfície da
terra.
Tabela 6.2: Regiões do espectro eletromagnético utilizados em sensoriamento remoto. Fonte:
Schowengerdt (1997).
nome comprimento de
onda
origem
da
radiação
propriedade
de interesse
visível 0,4 – 0,7 µm solar reflectância
infravermelho próximo 0,7 – 1,1 µm solar reflectância
infravermelho de pequeno
comprimento de onda
1,1 – 1,35 µm
1,4 – 1, 8 µm
2 – 2,5 µm
solar reflectância
infravermelho médio 3 – 4 µm
4,5 – 5 µm
solar,
termal
reflectância,
temperatura
infravermelho termal 8 – 9,5 µm
10 – 14 µm
termal temperatura
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
146
Diferentemente do radar, a habilidade dos sensores óticos de distinguir sinais que
estão espectralmente próximos depende principalmente do intervalo de comprimento de onda
em que eles operam, e sua resolução espacial, radiométrica e temporal são elementos
importantes no estudo de modificações. Existem sensores nas mais variadas resoluções
espaciais (métricas a quilométricas) e podem operar em: a) bandas largas, como as fotografias
aéreas em preto e branco; b) bandas espectrais menos largas e com 3 a 6 bandas de
comprimento de onda (sensores multiespectrais); c) estreitas bandas espectrais, com
quantidade de bandas superiores aos sensores multiespectrais e são chamados sensores
hiperespectrais. Estes possuem a vantagem de discriminar melhor entre alvos nas imagens
devido à coleta simultânea de dados em várias bandas espectrais bem estreitas.
Na aplicação desses sensores óticos, os fatores que influenciam na resposta dos alvos
são os elementos que absorvem, transmitem e refletem a energia (umidade e propriedades
químicas e mineralógicas do solo e das rochas, atividade de fotossíntese e tipo de dossel da
vegetação, conteúdo de fitoplancton e matéria orgânica na água, etc...), rugosidade superficial
do alvo, ângulo de observação e iluminação. As resoluções espacial, espectral, temporal e
radiométrica dos sensores são elementos importantes para o estudo dos recursos ambientais e
sua dinâmica.
Em ambientes tropicais a presença constante de nuvens interfere freqüentemente na
disponibilidade de imagens para estudos ambientais. Deste modo sensores óticos com alta
resolução temporal podem minimizar esse problema.
Altas resoluções espectrais, nas várias faixas do espectro do visível e infravermelho,
permitem a descrição das paisagens utilizando a cor com uma informação essencial nessa
aplicação. É importante também no monitoramento dos fenômenos que ocorrem nos
ambientes.
Determinante na escala de observação dos fenômenos globais, regionais e locais sobre
a superfície da terra ou do mar é a resolução espacial, a qual está intrinsecamente relacionada
com a sua faixa de imageamento. Isto permite que os sensores sejam classificados como de
baixa, intermediária e alta resolução, independente de serem ativos ou passivos. Abaixo são
apresentados alguns sensores óticos que operam nessas resoluções.
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
147
¾ Sensores de Baixa Resolução – Observação Global e Regional
Nesta categoria estão os sensores de que operam em bandas largas e geoestacionários.
Estes sensores permitem a observação da terra em escala global, com imagem em largas
faixas de imageamento (mais de 100 até 5000 km), possuindo resolução espacial acima de
100 metros a exemplo do NOAA-AVRR, ORBIEW 2-SeaWiFS, MeRIS, MODIS, SPOT-
vegetation, CBERS-WFI, ERS 2-ATSR e METEOSAT. Esta baixa resolução permite em
contrapartida uma alta repetitividade de observação de um ponto na superfície da terra, em
virtude da alta resolução temporal que é de até 10 vezes por dia no caso do NOAA, que opera
com vários satélites, favorecendo o monitoramento de fenômenos de grande escala e alta
freqüência temporal. Assim, fenômenos importantes que afetam as regiões costeiras tropicais
(ver Capítulo 4) como El-Niño e variação da ZCIT podem ser observados e monitorados por
esses sensores (Fig. 6.4).
Figura 6.4: Imagem de novembro
de 2002, do satélite NOAA na
região da costa amazônica.
Observar a concentração de
nuvens na ZCIT. Composição
colorida das bandas 4, 2, 1 nos
canais RGB, respectivamente.
Fonte: IRD/ US Espace –
programme SEASNet.
¾ Sensores de Resolução Intermediária – Observação Regional e Sub-Regional
Estes sensores são em sua maioria multiespectrais, destacando-se os dos satélites
LANDSAT-TM, SPOT-HRV, CBERS-CCD, TERRA-ASTER, entre outros. Nesse conjunto
está o Landsat MSS que possui dados desde a década de 1970. A resolução intermediária (5 a
100 m) das imagens coletadas permite a observação de fenômenos regionais (Fig. 6.5) e até
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
148
mesmos locais. Assim, processos costeiros podem ser monitorados nos estuários, baías e
águas costeiras, definindo desta forma o seu potencial para as regiões tropicais que
apresentam a problemática de constante cobertura de nuvens sob a influência da ZCIT.
Figura 6.5: Imagem do sensor
Landsat 7 ETM+, composição
colorida das bandas 5, 4 e 3,
em RGB, respectivamente.
Estuário do rio Hoogly, costa
da Índia, onde ocorre também
a pororoca. Notar a pluma de
sedimentos indicada pela
diferença na cor da água na
imagem. http://glovis.usgs.gov/
ImgViewer. Acessado em
março de 2006.
¾ Sensores de Alta Resolução – Observação Local
Os sensores de alta resolução espacial (1 a 5 m) são importantes para uma visão mais
detalhada dos ambientes, permitindo estudos em nível local. A aquisição de dados por estes
sensores é realizada tanto de forma aerotransportada, a exemplo das fotografias aéreas
verticais e videografia, como também através de satélites. Paulatinamente estes sensores vêm
sendo utilizados para a execução de mapeamento e cartografia de áreas costeiras.
Os sensores fotográficos aerotransportados foram os mais utilizados desde meados do
século XX, e seus produtos são apresentados na forma de fotografias aéreas pancromáticas
(preto-e-brancas) ou coloridas (normal e falsa cor) (Moreira, 2003). Estes sensores
constituíram e ainda constituem, a nível mundial, um método para cartografia do terreno.
A videografia é um método aerotransportado de aquisição de dados que vem sendo
utilizado para adquirir imagens no espectro visível e infra-vermelho, desde os anos 1980
(Galisson, 2000). Foi desenvolvida como uma técnica alternativa de recobrimento aéreo
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
149
devido à necessidade de monitoramento rápido dos ambientes sem a necessidade de grandes
precisões e com custos mais baixos do que os recobrimentos aerofotogramétricos.
Os sensores orbitais foram implementados a partir do final da década de 1990 e estão
representados pelo IKONOS, QUICKBIRD e SPOT5-HRG (Pan e Supermode) (Fig. 6.6). Por
possuírem ainda um custo relativamente alto, a utilização desses sensores deve ter um
compromisso entre o método e o objetivo do trabalho. Isto é importante para as regiões
tropicais úmidas, onde existem ambientes com consideráveis extensões.
Figura 6.6: Exemplo de
dado adquirido com o sensor
de alta resolução (SPOT 5-
HRG) em área tropical,
Indonésia.http://www.spot.co
m/automne_modules_files/si
corp_gal/ edited. Acessado
em março de 2006.
6.1.2 O Sistema de Análise dos Dados
O sistema de análise de imagens é um dos mais importantes componentes na
aplicação do sensoriamento remoto, pois é neste ponto que os dados transformam-se em
informações (Abkar et al., 2000). Essa transformação dependerá do poder de resolução dos
componentes do sistema de aquisição de dados e da capacidade do usuário de analisar as
imagens através dos métodos e técnicas disponíveis no mercado.
Esta capacidade está intrinsecamente associada com as necessidades básicas para
implementação e uso de imagens de sensores remotos (ver item 6.2.3). Basicamente para a
análise dos dados dois elementos são necessários: a infra-estrutura (hardwares e softwares)
compatível com a análise a ser realizada e o conhecimento dos métodos e técnicas de
processamento digital de imagens.
Entre as abordagens de análise de dados para extração de informações em áreas
costeiras a partir de dados de sensores remotos, as mais utilizadas são elencadas abaixo.
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
150
Fotointerpretação
Como uma das primeiras técnicas aplicadas para utilização de imagens de sensores
remotos, a fotointerpretação tem sido usada tradicionalmente desde o advento das fotografias
áreas, iniciando a priori de modo analógico com o uso de estereoscópios e atualmente na
forma de imagens digitais, escaneadas ou adquiridas através de sensores digitais. O método
foi expandido para as imagens de satélite.
A fotointerpretação é baseada nas características das feições observadas nas imagens
como: padrão, tonalidade e cor, forma e tamanho, textura, padrão, altura, sombra, elementos
de contexto (Jensen, 1996; Moreira, 2003). Ela envolve duas fases: a observação e a
interpretação. A primeira analisa a imagem com o propósito de reconhecer simplesmente as
diferentes feições da paisagem, sem compromisso com a correta identificação do alvo
(Moreira, 2003), analisando-se a escala da foto, época de aquisição, etc. Na interpretação faz-
se a avaliação das partes que compõem a imagem e o fotointérprete utiliza seu conhecimento
técnico e experiência para separar as diferentes feições contidas na foto. Nesse processo o
usuário também utiliza os raciocínios lógico, dedutivo e indutivo para compreender e explicar
o comportamento de cada objeto contido nas fotos. O resultado da fotointerpretação
geralmente é um mapa temático validado em campo. Neste trabalho, a técnica de
fotointerpretação foi utilizada a fim de reconhecer os padrões e feições naturais e antrópicas
na área da pesquisa e produzir o mapa de ambientes (Capítulo 8, Anexos II e III).
Combinação de Dados de Sensores Remotos
Esta combinação só é possível graças à disponibilidade e variedade de imagens de
sensores remotos existentes atualmente e à implementação e avanço das ferramentas de
processamento digital de imagens. Geralmente o intuito deste método é retirar maiores
informações das imagens disponíveis, visando melhorar a interpretação dos dados e
transformá-los em informações confiáveis.
A combinação dos dados de diferentes sensores requer o cuidado de todos os
conjuntos de dados estarem registrados geometricamente entre eles, envolvendo a
reamostragem para o mesmo tamanho de pixel. A combinação de imagens pode ser realizada
por dois métodos (Polidori et al., em preparação): gráficos e estatísticos.
Os métodos gráficos podem ser executados através da realização da composição
colorida de imagens de sensores. As variações na intensidade da cor na composição colorida
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
151
resultam das mudanças no espectro dos alvos nos vários sensores ou bandas de imagens de
um mesmo sensor. No método gráfico pode-se ainda fazer a simples substituição de banda de
imagens. A transformação IHS é muito utilizada para a fusão de sensores óticos e radar. Tal
técnica foi avaliada nesta tese, integrando dados do sensor ETM+ e RADARSAT-1 (ver
capítulos 8 e 11).
Ao contrário dos métodos gráficos que geram um produto onde cada pixel de uma
banda é independente dos outros pixels nas outras bandas, os métodos estatísticos fazem uma
comparação global entre as diferentes bandas, calculam e mapeam índices de semelhanças. A
análise por componente principal é a técnica mais utilizada e realiza transformações lineares
nas imagens, envolvendo processamentos que combinam as informações espectrais coletadas
nas várias bandas do sensor, gerando novas imagens com informações espectrais
estatisticamente mais contrastadas do que nas bandas originais. As transformações são
realizadas pixel a pixel e não dependem da localização espacial dos dados, mas sim das
propriedades estatísticas das imagens.
A análise por principal componente também pode ser utilizada para comprimir o
conteúdo de informações de numerosas bandas (por exemplo, 7 bandas do TM) para duas ou
três bandas de imagens de componente principal reduzindo a dimensionalidade dos dados,
através da concentração de informações espectrais dos alvos. Esta técnica foi aplicada neste
trabalho para análise dos dados do sensor ETM+ (ver Capítulo 8).
Análise Multitemporal
A análise multitemporal consiste em comparar imagens de sensores remotos de duas
ou mais datas diferentes, permitindo com que informações de diferentes épocas possam ser
detectadas e possibilitando assim uma avaliação histórica e o reconhecimento das alterações
ocorridas na paisagem de uma região, num dado período de tempo. A técnica permite a
análise de modificações históricas recentes desde o aparecimento das fotografias áreas na
década de 1940, podendo ainda retroceder-se na análise histórica usando produtos
cartográficos (ver Capítulo 10). Este tipo de análise é uma ferramenta útil para aplicação em
ambientes costeiros tropicais sujeitos a rápidas modificações, possibilitando avaliar a sua
dinâmica e auxiliando na identificação os processos envolvidos. Entretanto, as altas
precipitações e nebulosidades podem restringir esta análise (ver Capítulo 11).
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
152
Classificação
A classificação é um dos métodos mais usados para extração de informões de dados
de sensores remotos (Jensen, 2000). Na classificação procura-se rotular cada pixel da imagem
a uma classe temática, semelhante ao que se faz na fotointerpretação visual. Para tal utilizam-
se algoritmos estatísticos de reconhecimento de padrões espectrais (Moreira, 2003).
Este método é aplicado de duas maneiras: supervisionada e não-supervisionada. No
primeiro o reconhecimento dos padrões espectrais se baseia em áreas de treinamento,
fornecida pelo usuário ao sistema de processamento. A classificação não-supervisionada tenta
eliminar a subjetividade do usuário na obtenção das amostras das áreas e agrupar
automaticamente os pixels com critérios de semelhança espectral.
Geralmente os algoritmos classificadores não-supervisionados baseiam-se na regra de
decisão da distância mínima, radiométrica, entre o valor do nível digital do pixel e o valor
médio dos números digitais das classes espectrais contidas na área da imagem (Moreira,
2003).
O objetivo da classificação é um reconhecimento prévio das diferentes classes
temáticas existentes na imagem, e não pode ser confundida com o mapeamento de unidades
de paisagens e/ou ambientes, uma vez que os vários algoritmos estatísticos permitem apenas o
reconhecimento dos padrões espectrais, associando cada número digital a uma resposta
espectral. A relação entre as classes espectrais (das imagens) e os padrões das imagens e alvos
reais no terreno gera as classes temáticas que são definidas pelo usuário. Como definido por
Jensen (2000), classes de informações é o usuário que define, classes espectrais é inerente aos
dados do sensor e deve ser identificada e rotulada pelo usuário.
A classificação digital também pode ser utilizada para classificar índices como de
textura e de vegetação. O resultado da classificação é um mapa codificado relacionado às
diferentes categorias das unidades classificadas com códigos ou cores.
Topografia e Batimetria
A topografia e a batimetria permitem a visualização da geometria do terreno que está
intrinsecamente associada aos processos naturais e fenômenos de antropização de regiões. A
topografia (para áreas emersas) e a batimetria (para áreas submersas) permitem conhecer,
através de modelos bi ou tridimensionais, a morfologia do terreno.
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
153
A técnica mais utilizada para reconstituição do relevo em 3 dimensões é a
fotogrametria que foi realizada por muito tempo através de fotografias aéreas estereoscópicas
e utilizada mundialmente para a elaboração de mapas planialtimétricos com precisões da
ordem de 2 metros para escala de 1:25.000 (Polidori et al., em preparação). A técnica
combinada com imagens aéreas serve para estudos ambientais, auxiliando no monitoramento
e gerenciamento. Atualmente, modernas técnicas como a topografia por radar da missão
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) permitem a elaboração de modelos digitais de
elevação de terreno com acurácia vertical da ordem de +/- 16 m, para a banda C de +/-6 m,
para a banda X (Rabus et al., 2003) (ver Capítulo 8). Esta técnica, entretanto, tem suas
limitações para regiões de floresta densa como é caso das áreas tropicais (ver Capítulo 11).
Outras técnicas altimétricas utilizando o Sistema de Perfilagem a Laser (ALS – Airbone Laser
Scanning) ou sistema de laser aerotransportado para mapeamento de terreno (ALTM –
Airbone Laser Terrain Mapper) adquirem dados de elevação do terreno com precisão de um
DGPS. O sistema permite que sejam registrados objetos acima do solo (Tavares e Savian,
2003), levando a registrar com maior precisão a topografia do solo em regiões densamente
florestadas, como é o caso das regiões tropicais.
A batimetria permite a identificação e modelagem da topografia de fundo em áreas
submersas, através de sensores acústicos. Estas informações são utilizadas para estudos
hidrodinâmicos e avaliações multemporais de processos através da migração das formas de
fundo. A técnica também é utilizada para auxiliar a navegação em águas costeiras, estuários e
baías, apresentando limitações onde o fundo é muito instável e com propriedades acústicas
reais desconhecidas. Em regiões tropicais, a presença de massa vegetal flutuante (ver Capítulo
5) impede a correta identificação de seu fundo pela presença do emaranhando de raízes. Em
costas lamosas, a presença de lamas fluidas no fundo são capazes de produzir ruídos
identificando falsos fundos.
Onde as técnicas batimétricas tradicionais encontram dificuldades, no caso de costas
rasas e sujeitas a alta energia, técnicas altimétricas alternativas como o Lidar (Light Detection
And Ranging) são utilizadas. O LIDAR batimétrico funciona através do registro dos múltiplos
retornos dos pulsos em um único comprimento de onda, ou através dos retornos
correspondentes dos pulsos infra-vermelho e verde (Brandalize e Phillips, 2004). Estas
técnicas porém são difíceis de serem aplicadas em regiões tropicais influenciadas por grandes
fontes fluviais e com pluma de turbidez elevada.
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
154
Imagens de satélites também podem fornecer informações sobre a batimetria próxima
à linha de costa, através da utilização da linha de água na costa, acoplados a dados de marés
permitindo a reconstituição morfológica de bancos costeiros (Gratiot et al., 2005).
6.1.3 Premissas Básicas para Aplicação do Sensoriamento Remoto em Ambientes
Costeiros Tropicais
Apesar da importância do subsistema de aquisição e análise dos dados de
sensoriamento remoto, outros elementos existem para o sucesso da aplicação do
sensoriamento remoto em regiões costeiras para detecção de modificações. São necessidades
geradas desde a aquisição dos dados e imagens até a análise e geração das informações,
podendo potencializar ou limitar o seu uso (ver capítulos 8 a 11).
disponibilidade de imagens
De um modo geral as costas tropicais estão sujeitas a fortes nebulosidades em virtude
de suas características (ver Capítulo 4), que restringem as avaliações multitemporais por
sensores óticos e requerem um considerável acervo de dados, muitos dos quais podem estar
disponíveis na internet. Entretanto, para os dados SAR, o acervo de imagens é muito recente
e, os recobrimentos até a década de 90 foram limitados. Para as regiões tropicais, as imagens
JERS-1, do GRFM, constituem um acervo de mosaicos de radar de fácil acesso.
Entretanto, não é apenas a disponibilidade de imagens um fator importante para o
estudo de modificações, porém essa disponibilidade em época certa de acordo com a dinâmica
ambiental da região é fundamental para a avaliação dos processos envolvidos nas
modificações em costas tropicais. Por exemplo, a necessidade de observar a variação
hidrodinâmica e sua relação com pluma de sedimentos em um estuário tropical requer dados
de alta e baixa precipitação, o que nem sempre é possível para as costas tropicais através de
sensores óticos. Esta falta de disponibilidade hoje poderia ser sanada através de imagens SAR,
porém o acervo destas imagens não permite retroceder no tempo de forma contínua. Além do
mais, pelas características das imagens de radares, elas não podem sanar a necessidade de
imagens óticas para o monitoramento de pluma de sedimentos.
No caso de monitoramento de fenômeno com variações diárias, os sensores de
resolução intermediária a alta, por sua repetitividade de coleta de dados, poderiam fornecer
um bom estudo de modificações e associá-los aos períodos de variações na magnitude dessa
forçante. No entanto os sensores de baixa resolução espacial possuem praticamente resolução
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
155
temporal diária enquanto que as marés possuem um ciclo de mínimo de 2 a 10 horas, no caso
da costa amazônica (ver Capítulo 5).
No aspecto de monitoramento da forçante antrópica como elemento de modificação, a
análise fica condicionada à existência e disponibilidade de imagens obtidas em período
anterior a intervenção no ambiente. No entanto, o monitoramento por satélites só se tornou
uma preocupação a partir da década de 90.
capacidade de processamento das imagens: infra-estrutura e recursos humanos
A infra-estrutura para análise dos produtos de sensoriamento remoto é uma variável
importante e perpassa pela infra-estrutura física, capacitação do usuário para avaliação dos
produtos de sensores remotos e o custo de aquisição de imagens. Aquisição de imagens de
alta resolução para estudos de modificações tem um custo muito alto pela necessidade de uma
série de imagens nos períodos necessários para se ter a visão dinâmica do ambiente.
A capacitação do usuário em sua maioria não pode ser completada em apenas um
indivíduo, pela variedade de aplicações do sensoriamento remoto nos ambientes costeiros e a
necessidade dos estudos nas costas tropicais. À medida que pessoas capacitadas estão
disponíveis no mercado, o uso das imagens torna-se mais abrangente. Entretanto, uma
capacitação técnica sem fundamentos teóricos pode resultar em um alastramento de falsas
idéias que o sensoriamento remoto pode ser a tábua de salvação para monitorar com eficácia
os recursos ambientais.
escolhas metodológicas
A escolha dos sensores e da metodologia para aplicação do sensoriamento remoto em
áreas costeiras passa pela escala de resposta do ambiente e do fenômeno passível de ser
detectado nas imagens, seja em seu aspecto espacial, espectral ou temporal. Nesse processo
poderá se caracterizar os ambientes e seus componentes, como também observar suas
transformações espaciais. Entretanto, como fazer a escolha adequada? Esta dependerá do
objetivo do trabalho e do reconhecimento prévio das características do ambiente. Receitas
operacionais são úteis para elaboração de produtos provenientes de imagens de satélite, porém
não são, necessariamente, perfeitamente aplicáveis em todas as áreas costeiras. Nas áreas
costeiras tropicais, a gama de forçantes envolvidas no estudo das modificações exige que os
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
156
sensores remotos possam ver as variações das forçantes e seus efeitos na paisagem. Isto
requer muitas das vezes aplicações de sensores diferentes e em escalas diferenciadas. Assim,
metodologias básicas que impliquem no reconhecimento prévio do ambiente ainda são
necessárias.
6.2 EXEMPLO DE APLICAÇÕES EM COSTAS TROPICAIS
Poucos trabalhos de revisão da aplicação de sensoriamento remoto para o
monitoramento de ambientes costeiros tropicais foram realizados, sendo comum neles o
destaque para aplicação em áreas em ecossistemas de manguezais e recifes de corais
(Cracknell, 1999; Mumby et al., 1999). Destaca-se aqui a revisão realizada por (Sanderson,
2001) para o litoral de Singapura e, de Polidori et al. (em preparação) para a costa
amazônica. Neste item apresenta-se um resumo das aplicações do sensoriamento remoto nas
costas tropicais. As aplicações específicas para a costa amazônica são abordadas no Capítulo
7.
6.2.1 Mapeamento de Ambientes
A necessidade de uma cartografia atualizada dos ambientes costeiros pode ser uma das
causas para que os mapeamentos em costas tropicais tenha sido uma das primeiras aplicações
do sensoriamento remoto. Entretanto, a maioria dos trabalhos está voltada para o mapeamento
de manguezais e de recifes de corais.
No mapeamento de manguezais, a aplicação principal é para a discriminação das
unidades florísticas utilizando sensores óticos de média resolução espacial como SPOT1, 2, e
SPOT XS, IRS-1C LISS3 e Landsat MSS TM4, 5 e 7 ETM
+
7. As principais técnicas
aplicadas para o mapeamento tem sido a classificação digital (Green et al., 2000;
Rasolofoharinoro et al., 1998). Sensores aerotransportados de alta resolução como o Compact
Airborne Spectrographic Imager (CASI ) também foram utilizados visando avaliar o custo de
recobrimento e tratamento para ambientes costeiros tropicais (Clark et al., 1997).
Para os recifes de corais, imagens óticas de média resolução espacial como o Landsat
7 ETM+ foram utilizadas na costa da Indonésia, utilizando a classificação digital e análises
por principal componente para identificação desses ambientes (Radiarta et al., 2002). Imagens
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
157
de alta resolução como CASI, IKONOS e SPOT HRV também foram utilizadas, avaliando-se
a potencialidade desses sensores para essa aplicação (Mumby e Edwards, 2002).
O mapeamento usando imagens SAR foi iniciado no final da década de 1990, durante
os programas de validações de imagens de satélites já existentes (ERS-1 e JERS-1), a
exemplo do trabalho de Simard et al. (2002), que mapearam a vegetação costeira na região do
Gabão, demonstrando a complementaridade no uso das bandas C e L, para o aperfeiçoamento
da cartografia. Imagens polarimétricas foram utilizadas por Lucas et al. (2002) para
caracterizar comunidades de mangue na costa da Austrália e Guiana Francesa. Na costa de
Madagascar, Pasqualini et al. (1999) utilizaram imagens de radar SIR-C analisando os dados
em banda C e L e, em várias polarizações, para mapeamento temático com a finalidade de
caracterizar a dinâmica de florestas de mangue sujeitas à atividade de aquacultura.
Nota-se que, no contexto de mapeamento, apesar da diversidade de ambientes nas
costas tropicais, os destaques na literatura são para os manguezais e recifes de corais, em parte
pelo apelo ambiental que esses ecossistemas possuem. Porém, a limitação da disponibilidade
de imagens óticas, devido às condições meteorológicas sobre as costas tropicais, pode
também ter inibido o avanço de mapeamento de outros ambientes e, ao mesmo tempo,
permitido um aumento de trabalhos de mapeamento com imagens SAR atualmente.
6.2.2 Detecção de Modificações
A capacidade dos sensores remotos de obtenção de imagens de diferentes épocas
oferece a possibilidade do monitoramento de modificações costeiras através de análises
multitemporais. No entanto, a maioria dos trabalhos sobre monitoramento de modificações
costeiras se ocupa das modificações apenas da linha de costa. Algumas vezes o
monitoramento das modificações da linha de costa é acompanhado de mapeamento dos
ambientes costeiros (Cuong et al., 1989; Qingcheng, 2000). Nesses trabalhos são usados os
sensores de média resolução espacial, principalmente o Landsat, em parte pela antiguidade
das imagens, existentes desde 1972 para o sensor MSS.
Tanto para a linha de costa, como para o interior da planície costeira, a existência e
disponibilidade de fotografias aéreas são importantes, pois continuam a ser um dos dados
mais antigos para estudar modificações de curto período, sejam elas naturais ou antrópicas.
Bird et al., (2004) utilizaram fotografias aéreas para determinar a história de modificações
induzidas por regime hidrodinâmico e pelo uso do solo para aquacultura, permitindo
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
158
monitorar modificações de mais de meio século no litoral de Singapura. Geralmente esses
estudos de modificações são acompanhados da utilização de um SIG.
O enfoque dos trabalhos para estudo das modificações da linha de costa
provavelmente resulta da necessidade de monitoramento em função das condições de
navegabilidade. Além disso, se torna mais fácil monitorar as modificações da linha de costa
do que os ambientes costeiros interiores, que requerem o uso de outras ferramentas, além de
um bom mapeamento dos mesmos e do entendimento das mudanças.
A detecção de modificações em ambientes costeiros tropicais tem sido apontada por
Green et al. (2000) como a segunda maior necessidade dos tomadores de decisão e cientistas
para aplicação do sensoriamento remoto, ultrapassada apenas pela necessidade de aplicação
da ferramenta para estabelecer bases para gerenciamento e planejamento dessas áreas.
6.2.3 Monitoramento de Áreas Úmidas
A aplicação do sensoriamento remoto para estudo de áreas tropicais úmidas é
importante para o entendimento dos processos de inundações (ver capítulos 4 e 5). Alsdorf et
al. (2003) discutem que antes do advento do sensoriamento remoto o monitoramento de
processos de inundações de larga escala era praticamente desconhecido. As medidas
existentes limitavam-se a medições de descargas pontuais que impediam a extrapolação dos
dados para as grandes bacias. As limitações das medidas pontuais nas áreas com grandes
bacias hidrográficas, a exemplo das existentes nos ambientes tropicais, advêm principalmente
do fato de que extensas planícies de inundações são conectadas ao mesmo tempo a vários rios.
O sensoriamento remoto oferece a oportunidade de determinar o padrão espacial e temporal
de inundação e o armazenamento de água nessas bacias hidrográficas, como a do Amazonas,
o que seria impraticável apenas com medições por estações fixas, por falta de
representatividade das amostras e alto custo do processo.
Nesse contexto, está o desenvolvimento do projeto HIBAM (Hidrologia e Geoquímica
da Bacia Amazônica), cujos primeiros resultados têm mostrado a viabilidade do uso de
satélites altimétricos do tipo TOPEX/POSEIDON para a determinação dos níveis dos grandes
rios, principalmente em áreas remotas (http://www.ana.gov.br/hibam).
Os trabalhos para esses estudos iniciaram-se com imagens dos sensores óticos Landsat
e SPOT, a exemplo do trabalho realizado por Blasco et al. (1992), que determinaram a
extensão de inundação no complexo deltáico de Ganges utilizando análise visual e digital de
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
159
imagens SPOT XS. Posteriormente, o radar tornou-se mais utilizado por suas características e
por apresentar um alto contraste entre terra e água. Desnos et al. (1996) usaram imagens do
satélite ERS-1 e ERS-2 para monitoramento de áreas inundadas em Bangladesh, utilizando
análise multitemporal através da composição colorida dessas imagens, a fim de avaliar as
condições de inundações durante a estação úmida nessa região tropical. Brisco e Pultz (1998)
apresentam várias aplicações do uso de Radarsat no mapeamento e monitoramento de áreas
úmidas.
Deve-se considerar que estas aplicações se limitam a observar o fenômeno de
inundação e sua extensão, sem possuir a característica de previsão do fenômeno.
6.2.4 Monitoramento das Águas Costeiras
A detecção de diferenças nos corpos aquáticos através de sensores remotos é possível
em virtude do conteúdo de fitoplâncton, matéria orgânica e material inorgânico em suspensão
(Moreira, 2003). Esses elementos influenciam na absorção e reflexão das ondas
eletromagnéticas perto da superfície, uma vez que a cor do fundo e a profundidade são fatores
não detectáveis pelos sensores remotos.
Nos sensores óticos são registradas mudanças de coloração da água em função de
material em suspensão e fitoplâncton e mudanças na temperatura da água (para o espectro
termal). Isto permite utilizar a cor da água como um traçador dos processos hidrodinâmicos
(Fig. 6.7).
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
160
Figura 6.7: Exemplo de utilização da cor da água como traçador da hidrodinâmica em áreas
costeiras tropicais. Fotografia aérea de 1998 cedida pela SERG, Caiena.
Vários autores como Barros et al. (2003), Braga (1988), Brakel (2003), Deng et al.
(1999) e Nichol (1993) utilizaram imagens de Landsat MSS, TM e ETM+, além do NOAA
para estimar a concentração de sedimentos em suspensão e monitorar diferentes massas de
água em áreas costeiras tropicais. Froidefond et al. (2004) utilizaram imagens SPOT e
medidas de concentração de material em suspensão para estudar as planícies lamosas e lamas
em suspensão na costa da Guiana Francesa. Poucos trabalhos são encontrados a respeito da
estimativa de clorofila e da temperatura (Cuq, 1983; Islam et al., 2004). Um dos problemas
para o monitoramento das águas costeiras, no entanto, ainda está por conta da coleta de dados
simultaneamente à aquisição da imagem.
Através de imagens de radar, pode-se obter indicação de correntes e indiretamente da
morfologia de fundo devido à diferença na rugosidade superficial. Essa diferença de
rugosidade ocorre pela interação da corrente superficial com a topografia de fundo, causando
variação no espectro de ondas e conseqüentemente uma modulação no retorno do sinal para o
radar (Hesselmans et al., 1997). Isto permitiu por exemplo avaliar o comportamento de pluma
de sedimentação no rio Sepik em Nova Guiné a partir de dados do Radarsat-1,
complementado com a coleta de dados de correntes em campo (Cresswell e Tildesley, 2000).
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
161
A identificação de mudanças, seja na coloração ou na rugosidade superficial das águas
costeiras através de imagens, se constitui numa informação importante para o monitoramento
das águas nas costas tropicais, uma vez que em sua grande maioria estão vinculadas a rios
com grandes fontes fluviais.
6.2.5 Monitoramento de Derrames de Óleo
A preocupação com os desastres relacionados a derrames de óleo, vinculados ao
aumento da produção da indústria do petróleo e do escoamento do produto, tem levado ao
desenvolvimento de algoritmos específicos para a detecção e monitoramento de derrame de
óleo em águas costeiras e oceânicas utilizando dados dos satélites ERS-1, ERS-2 e Radarsat-
1 (Sanderson, 2001). As informações sobre monitoramento de derrames de óleo através de
imagens SAR só são possíveis porque as ondas de capilaridade refletem a energia emitida
pelo radar, produzindo um brilho na imagem. A presença de óleo amortecendo essas ondas e
produzindo uma maior viscosidade no corpo d´água induz uma reflexão especular na imagem,
produzindo uma área escura. No entanto, um desafio é distinguir o padrão do óleo de outros
fenômenos naturais que mascaram as ondas curtas e criam um padrão escuro na superfície da
água (Brekke e Solberg, 2005). As imagens de Radar, incluindo ERS-1, ERS-2, Radarsat e
JERS-1 apresentam mais sucesso no monitoramento de derrames de óleo em região de mar
aberto (Fingas e Brown, 1997). Para esta aplicação entretanto, é fundamental a obtenção de
dados radiométricos, meteorológicos e oceanográficos para uma melhor análise da situação de
derrames de óleo (Estes e Senger, 1971) .
Ressalta-se que as aplicações de imagens de sensores remotos estão restritas a
monitoramento da ocorrência de derrames e poucos trabalhos foram encontrados na literatura
para as costas tropicais. No entanto, as políticas internacionais de prevenção do meio
ambiente têm levado à aplicação de imagens de sensores remotos para a elaboração de mapas
de sensibilidade ao derrame de óleo, o que, para a costa amazônica levou a um grande avanço
no uso de imagens de radar (ver Capítulo 7).
6.2.6 Mapeamento do Uso do Solo e Cobertura do Solo
O uso sustentável dos ecossistemas costeiros tropicais não pode ser feito sem o
entendimento dos impactos direto e indireto realizados pela ação humana. É necessário ainda
muitas pesquisas nessa direção, principalmente devido à dinâmica espacial e temporal no
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
162
padrão de uso e cobertura do solo, que permitam predizer a extensão dos impactos
antropogênicos ou das mudanças ambientais (Dahdouh-Guebas, 2002). O sensoriamento
remoto e os Sistemas de Informações Geográficas - SIG são ferramentas úteis para o
entendimento desse processo.
A maioria das aplicações se limitam ao mapeamento do uso do solo ou da evolução de
culturas, utilizando primeiramente imagens de sensores óticos, e posteriormente de radar, em
diversas partes do mundo, como na costa da Indonésia, China e Korea, com o uso também das
ferramentas de SIG (Chen et al., 2005; Ribbes e Le Toan, 1999; Xiuwan, 2002). No entanto,
o que se observa através dos exemplos é que poucos estudos estão voltados para o
entendimento dessa dinâmica de uso e ocupação, e suas implicações sobre os ambientes
costeiros tropicais estudados.
6.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Na observação dos ambientes costeiros tropicais, tanto os sensores que atuam na faixa
do espectro ótico quanto os radares têm sido utilizados.
Os principais sistemas de sensores óticos aplicados no reconhecimento e
monitoramento de ambientes tropicais são o Landsat MSS (1, 2 e 3), TM 5 e 7 e SPOT. Estes
sensores foram os primeiros a serem utilizados, principalmente por terem sido os que
inauguraram os sistemas imageadores orbitais para observação dos recursos terrestres. Apesar
de suas limitações em relação à cobertura de nuvens, estes sensores são utilizados em função
das características do espectro onde operam (visível e infra-vermelho), fornecendo
informações de naturezas diversas, associadas às características físico-químicas e biológicas
dos alvos, as quais não podem ser fornecidas pelos radares.
A utilização de radares orbitais para monitorar áreas costeiras tornou-se uma prática na
década de 1990, em decorrência da operacionalização dos radares de abertura sintética (SAR)
no início desse período. O potencial para aplicação em estudos costeiros em regiões tropicais
passa pela sua boa resolução espacial (variando de 10 a 100 m) e independência do tempo
para coletas das imagens, uma vez que as aquisições podem ser realizadas de dia ou de noite,
independente da presença de nuvens.
As imagens de radares adquiridas pelos satélites ERS e JERS-1 são as mais utilizadas
para mapeamento de ambientes costeiros, principalmente por terem sido os primeiros a serem
lançados. Em meados da década de 90, o RADARSAT-1 é lançado apresentando maior
Parte III: Capítulo 6 - O Sensoriamento Remoto e as Regiões Costeiras Tropicais
163
resolução espacial e temporal, melhorando a performance da tecnologia SAR. A ESA
(European Space Agency) lançou, em 2002, o ENVISAT (Environmental Satellite), porém as
aplicações deste último sensor em áreas costeiras ainda não foram amplamente desenvolvidas.
Nos trabalhos analisados, o principal objetivo do uso do sensoriamento remoto em
áreas costeiras tem sido o mapeamento, principalmente de manguezais, e o reconhecimento de
variações da linha de costa. Isto decorre de dois fatores principais: muitos ambientes costeiros
ainda não possuem uma cartografia atualizada e o fato dos manguezais chamarem a atenção
como recurso natural abundante nas costas tropicais.
Um avanço considerável das aplicações em ambientes costeiros tropicais no uso do
sensoriamento remoto foi dado à medida que novos sensores surgiram no mercado, tornando-
se operacionais e comercialmente viáveis. Dados dos antigos sensores tamm estão sendo
disponibilizados com baixos custos. Isto abre campo para inúmeras possibilidades de
aplicações na detecção de modificações em ambientes costeiros.
7 SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA AMAZÔNICA ...........................................164
7.1 AS FERRAMENTAS E O CONTEXTO TECNOLÓGICO DO
DESENVOLVIMENTO DO SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA AMAZÔNICA
............................................................................................................................................164
7.2 APLICAÇÕES NA COSTA AMAZÔNICA ...............................................................167
7.2.1 Mapeamento e reconhecimento dos ambientes .............................................................167
7.2.2 Detecção de Mudanças..................................................................................................169
7.2.3 Estudos multidisciplinares para a gestão ambiental ......................................................171
7.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...............................................................................171
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
164
Capítulo 7
SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA AMAZÔNICA
O sensoriamento na costa amazônica teve seu desenvolvimento seguindo a lógica de
implementação e aplicação dessa ferramenta no mundo. As primeiras aplicações vieram com
a utilização de fotografias aéreas, utilizadas principalmente para fins de reconhecimento do
território, ainda quando estas eram o único meio de mapeamento e cartografia por imagens de
sensores remotos.
Este quadro sofre mudanças a partir do recobrimento do território brasileiro por radar
aerotransportado, no âmbito do Projeto RADAM, na década de 1970 (Azevedo, 1971), e do
lançamento dos sensores remotos orbitais, primeiramente óticos, como o Landsat, e depois os
radares, como o ERS-1 e JERS-1, na década de 1990 (Fig. 7.1).
No entanto, o contexto de aplicação das ferramentas de sensoriamento remoto seguiu
passos diferenciados em cada território que integra essa região.
7.1 AS FERRAMENTAS E O CONTEXTO TECNOLÓGICO DO DESENVOLVIMENTO
DO SENSORIAMENTO REMOTO NA COSTA AMAZÔNICA
Sem dúvida, o Projeto RADAM foi um dos marcos que despertou a comunidade
técnico-científica para o potencial de utilização de imagens de sensores remotos para a região
amazônica brasileira. As imagens deste projeto constituem ainda hoje o único produto de
sensor remoto, em escala regional, utilizado para estabelecer um background preliminar dos
ambientes costeiros amazônicos. Em escala local detecta-se a existência de fotografias aéreas
desde a década de 50 (Fig. 7.1).
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
165
Figura 7.1: Desenvolvimento da aplicação do sensoriamento remoto na costa amazônica dentro do contexto das principais ferramentas disponíveis no mundo.
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
166
Nesta costa, programas de cunho nacional como o Zoneamento Ecológico-Econômico
(ZEE) e o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO), implementados nos
estados na década de 1990, deram impulso na utilização de sensores remotos óticos,
utilizando imagens de sensores do satélite Landsat. Tal fato decorreu principalmente da
necessidade de cartografia e elaboração de mapas temáticos e integrados atualizados para o
ordenamento territorial.
No contexto de aplicação para questões científicas, o litoral da Guiana Francesa
apresenta uma diversidade na aplicação das ferramentas de sensoriamento remoto, incluindo
modelagens radiométricas, pela existência de um laboratório de sensoriamento remoto desde
o final da década de 1980 (Fig. 7.1). Este laboratório foi criado com a finalidade de avaliar as
ferramentas de sensoriamento no contexto tropical como apoio as agências espaciais
européias (CNES, ESA) e respondendo à demanda de gestores.
Na costa amazônica brasileira a aplicação da ferramenta seguiu passo a passo com a
formação e capacitação de pessoal e a diversificação no uso das ferramentas ficou por conta
da disponibilidade de imagens e a presença de programa e projetos em rede. Destaca-se entre
eles o ECOLAB - Ecossistemas Costeiros Amazônicos, uma rede de cooperação técnico-
científica entre brasileiros e franceses implantada desde 1992 que reúne bianualmente os
pesquisadores da costa amazônica, tendo o sensoriamento remoto como a ferramenta de apoio
fundamental.
Recentemente, a implantação do Projeto PIATAM Mar - Potenciais Impactos
Ambientais do Transporte de Petróleo e Derivados na Zona Costeira Amazônica, com apoio
da Petrobras, reúne pesquisadores da costa amazônica brasileira, de diversas áreas temáticas.
Este projeto tem contribuído para a aplicação dessa ferramenta, no contexto do
desenvolvimento de mapas de sensibilidade ambiental ao derramamento de óleo, inclusive
com o apoio para o desenvolvimento do Laboratório de Análises de Imagens do Trópico
Úmido-LAIT na UFPA (Belém) em 2004.
Nos projetos e programas, observa-se que o estudo da costa amazônica abrange
diferentes áreas temáticas e o sensoriamento remoto tem sido usado como uma ferramenta de
interdisciplinaridade, contribuindo para a integração de resultados, sendo esta uma
característica que identifica a aplicação do sensoriamento remoto na costa amazônica.
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
167
7.2 APLICAÇÕES NA COSTA AMAZÔNICA
As aplicações das ferramentas de sensoriamento remoto na costa amazônica estão
intrinsecamente relacionadas ao desenvolvimento de programas e projetos onde se destacam
duas abordagens principais: mapeamento e reconhecimento dos ambientes e suas variáveis e;
detecção de mudanças.
7.2.1 Mapeamento e reconhecimento dos ambientes
Os trabalhos de mapeamento na costa amazônica iniciaram-se com o reconhecimento
dos manguezais da costa brasileira realizado por Herz (1991). Em 1993 através da rede de
cooperação técnico-científica ECOLAB foi realizado o mapeamento das unidades de
paisagem da costa amazônica, abrangendo desde a costa do Pará até ao Suriname, utilizando
técnicas de fotointerpretação tradicional (ver item 6.1.2) sobre imagens de sensores remotos
óticos (orbitais e aerotransportados) e relatórios de estudos ambientais. Durante essa década, a
técnica de fotointerpretação foi a mais utilizada e posteriormente expandiu-se para as técnicas
digitais de classificação supervisionada de imagens com auxílio de informações de campo e
fotografias aéreas (Fig. 7.1).
No final da década de 1990, a disponibilidade e acessibilidade de dados de sensores
remotos óticos e a obtenção de imagens de radares, através de projetos regionais, permitiram
um melhor mapeamento e reconhecimento da paisagem costeira amazônica, através da fusão e
integração de informações dessas imagens (SPOT, Landsat) e com imagens de radares orbitais
(ERS-1 e 2, JERS-1, RADARSAT-1), dados de elevação de terreno (SRTM) e imagens
videográficas (Fig. 7.2).
Em relação às imagens de radares, destaca-se na costa da Guiana Francesa a aplicação
de imagens ERS-1 e JERS-1, enquanto que na costa amazônica brasileira o principal satélite
utilizado foi o RADARSAT-1. O uso destas imagens, porém, é muito mais em função das
oportunidades que se apresentaram através das agências espaciais e em relação a
financiamento, do que em função das características de cada sensor.
Na costa da Guiana Francesa, o uso dos radares ERS-1 e JERS-1 propiciaram o
mapeamento de condições hidrológicas (Lointier, 1995; 1996), auxiliando na compreensão da
hidrodinâmica dessa região que possui certa similaridade com a costa amapaense no que diz
respeito às planícies de inundação interconectadas dentro da planície costeira. Na costa
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
168
amazônica brasileira o RADARSAT-1 tem aprimorado o mapeamento de ambientes costeiros
(Souza Filho, 2000; Batista et al., 2005, Gonçalves e Souza Filho, 2005).
Figura 7.2: Exemplo de mapeamento de ambientes costeiros amazônicos. A) integração de
imagens RADARSAT-1 e Landsat TM, a-acresção, e-erosão,costa de Bragança-PA (Souza
Filho e Paradella, 2001); B) Fusão SAR/SRTM com TM/Landsat, Cabo Cassiporé-AP
(Batista et al., 2005).
Além do mapeamento dos ambientes naturais, mapeamento do estado de urbanização
de capitais que fazem parte da costa amazônica brasileira e da Guiana Francesa (Belém e
Caiena) foi realizado por Faure et al. (2003) que baseados em análise de textura de imagens
SPOT, Landsat e dados demográficos, estabeleceram índices de densidade demográfica.
No início dos anos 2000, radares com multipolarização e multifrequência (Fig. 7.3)
começaram a ser utilizados para reconhecimento das unidades de manguezais, sua estrutura e
biomassa (Lucas et al., 2002; Proisy et al., 2000; Proisy et al., 2002).
Figura 7.3: Imagens AIRSAR com multipolarização de floresta de mangue na Guiana
Francesa, bandas C, L e P. Proisy et al. (2002).
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
169
Nas águas costeiras o reconhecimento da turbidez, a partir de modelagem da
concentração de sedimentos em suspensão, acoplada aos dados de sensores remotos óticos,
auxiliou no mapeamento de pluma de sedimentos na costa da Guiana Francesa (Froidefond et
al., 2002; Lahet et al., 2002).
Mapeamento de formas subaéreas foi realizado por Gratiot et al. (2005), que
utilizaram uma série de imagens SPOT e dados de marés em uma análise multitemporal para
mapeamento batimétrico no litoral da Guiana Francesa, com a finalidade de demonstrar o
potencial de dados de sensores de alta resolução para auxiliar na batimetria de águas rasas e
zonas de intermarés lamosas e sujeitas a mudanças contínuas.
Mapeamentos voltados à identificação dos padrões de uso e ocupação do solo são
poucos, destacando-se o trabalho de Singhroy (1996), que aplicou imagens de SAR
aerotransportado, RADARSAT e Landsat para cartografia da costa da República da Guiana.
Ferramentas alternativas (videografia) e imagens de Landsat TM e SPOT, aliadas a
informações de campo, permitiram a cartografia dos vetores antrópicos na Costa da Guiana
Francesa (Galisson et al., 1999).
7.2.2 Detecção de Mudanças
No estudo das modificações dos ambientes, a principal técnica aplicada tem sido a de
análise multitemporal com digitalização de linha de costa para detectar as mudanças.
Os estudos iniciais foram realizados na Guiana Francesa, no final da década de 1980,
usando dados do sensor MSS, SPOT e fotografias aéreas, com quantificação de áreas
erosionais e acrescionárias (Lointier e Prost, 1988; Charron et al., 1990).
Na costa amazônica brasileira, eles se iniciaram em meados da década de 1990 com o
reconhecimento da modificação de padrões de cristas praiais através de comparações visuais
de imagens Landsat e fotografias aéreas na costa paraense (Santos, 1996). Estes tipos de
imagens foram avaliadas junto com mapas históricos e utilizadas para o reconhecimento de
modificações na planície costeira amapaense por Silveira (1998). Entretanto, a maioria dos
estudos com avaliação quantitativa de modificações da linha de costa foram realizados na
costa paraense, a partir da utilização de imagens de Landsat, do GEMS-1000 (projeto
RADAM) e de RADARSAT-1, com auxílio de sistemas de informações geográficas - SIG
(França e Souza Filho, 2002; Souza Filho e Paradella, 2003).
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
170
Figura 7.4: Análise de mudanças da linha de costa a partir de dados de radar aerotransportado
GEMS 1000, em 1972 e de imagens RADARSAT -1, em 1998. Souza Filho e Paradella
(2003).
Na costa da Guiana Francesa os estudos têm sido dirigidos para o entendimento das
variações na linha de costa devido ao deslocamento dos bancos lamosos associados à
dinâmica de sedimentação da costa amazônica, utilizando principalmente imagens do satélite
SPOT e fotografias aéreas. Através destas imagens e aliando dados de campo, Allison e Lee
(2004) puderam identificar os mecanismos e volume de sedimentos trocados entre a franjas de
manguezais e as áreas de bancos lamosos que se estabelecem ao longo da referida costa. Essas
mudanças no litoral associadas à migração dos bancos lamosos também foram avaliadas
através de imagens SAR ERS-1 e 2 e ENVISAT, como observado no trabalho de Trebossen et
al. (2005). Imagens de sensores óticos aerotransportados (CASI e videografia) têm sido
utilizadas para os estudos locais na costa da Guiana Francesa (Lefebvre, 2000 e Lefebvre et
al., 2004). Não apenas os bancos lamosos, mas modificações das praias associadas aos
promontórios rochosos foram estudadas através de fotografias aéreas, imagens de satélites e
informações de campo, permitindo estabelecer uma correlação entre a dinâmica de
modificações dessas praias e a migração dos bancos lamosos associados ao Sistema de
Dispersão Amazônico (Anthony e Dolique, 2004). A maioria destes trabalhos foi
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
171
desenvolvida no âmbito do PNEC - Programme National sur l’Environnement Côtier, o qual
permitiu estudar a estruturação dos ecossistemas e a influência das variações hidrodinâmicas e
do trânsito de sedimentos amazônicos nesse litoral.
Como as modificações não se restringem apenas à dinâmica natural, as mudanças
referentes à expansão urbana no município de Belém e em Caiena-Guiana Francesa foram
tratadas por Faure (2000) e Gardel (2000). Pereira (1998), Zarin et al. (2001) e Santos et al.
(2003) trataram das mudanças na paisagem na costa do Amapá influenciadas pela dinâmica de
inundação sazonal e processos antrópicos, associados principalmente com a bubalinocultura.
7.2.3 Estudos multidisciplinares para a gestão ambiental
Estes estudos iniciaram no final da década de 1990, marcando uma abordagem
multidisciplinar, através do uso de imagens de satélite, procurando indicadores de
sustentabilidade para os ambientes costeiros amazônicos (Charron et al., 2001; Faure et al.,
2002). Porém, a aplicação dos produtos derivados de sensores remotos para a gestão
ambiental necessita da cartografia dos ambientes costeiros. Desta forma, mapas
geoambientais foram elaborados, a exemplo do trabalho de Mendes et al. (2001), que
utilizaram mapas geológico-geomorfológicos derivados de imagens de satélite Landsat e
informações sobre a legislação de proteção de ambientes costeiros.
7.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
Na costa amazônica, a maioria dos trabalhos analisados, a exemplo do que ocorre no
nas áreas costeiras tropicais trata de mapeamento de ambientes e unidades de paisagem.
Comparando-se as aplicações na costa amazônica com aquelas discutidas no capitulo
6, relacionadas ao estudo de costas tropicais, nota-se que existem muitos trabalhos de
mapeamento e reconhecimento do ambiente, porém em áreas localizadas da costa. No
mapeamento dos ambientes costeiros utilizaram-se técnicas de fotointerpretação e
classificação digital de imagens, com poucos estudos visando estabelecer correlação entre a
radiometria da imagem e os parâmetros ambientais. Apesar de que no início dos anos 2000
tenha havido uma diversificação dos tipos de sensores remotos e técnicas aplicadas para o
mapeamento costeiro, isto ainda não acompanha a diversidade de sensores disponíveis no
_____________________Parte III: Capítulo 7 – Sensoriamento Remoto na Costa Amazônica
172
mercado. Nos últimos anos, ênfase tem sido dada ao radar, por sua vantagem em regiões com
constante cobertura de nuvens, com aplicação inicial na Guiana Francesa.
Existe uma similaridade, ainda, da aplicação de sensoriamento remoto para estudos de
modificações costeiras na costa amazônica com aqueles existentes para outras costas tropicais
do planeta (ver Capítulo 6). A maioria dos trabalhos se restringiu ao estudo das variações na
linha de costa, com quantificação de áreas erosionais e acrescionárias, e poucos trabalhos com
estudo da dinâmica dessas modificações e sua relação com os processos regionais.
Nota-se que o avanço na utilização da ferramenta de sensoriamento remoto no estudo
da costa amazônica é reflexo direto da implantação de laboratórios regionais que
desempenham um papel fundamental na formação de recursos humanos, a partir de projetos
de cooperação nacional e internacional (Fig. 7.1). Diversificação considerável na utilização
de técnicas para processamento de imagens de satélite é observada para os estudos realizados
na costa da Guiana Francesa, notadamente como reflexo talvez da antiguidade do Laboratório
de Sensoriamento Remoto, implantado desde a década de 80 (Lointier, 1989) e da presença,
ainda que temporária, de pessoal capacitado, bem como do acesso a informações provenientes
de projetos com agências espaciais.
Estes avanços estão intimamente relacionados com a aplicação da ferramenta de
sensoriamento remoto para o reconhecimento e compreensão da dinâmica dos ambientes
costeiros amazônicos, como forma de apoio à gestão, realizado por parte das instituições
regionais. É dentro deste contexto que esta tese se encontra.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
1
8. APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO PARA RECONHECIMENTO
DOS AMBIENTES E SUA DINÂMICA NO ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI ...... 174
8.1 DADOS DE SENSORES REMOTOS: AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO..............174
8.1.1 Fotografias Aéreas.........................................................................................................174
8.1.2 Imagens de Radar Aerotransportado (RADAR GEMS 1000) – RADAM....................175
8.1.3 Imagens de Satélite........................................................................................................176
8.1.4 Dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission).....................................................184
8.1.5 Integração dos Dados de Sensores Remotos .................................................................185
8.2 RECONHECIMENTO DOS PADRÕES E FEIÇÕES MORFOLÓGICAS....................185
8.2.1 Uso e Cobertura do Solo................................................................................................185
8.2.2 Feições Morfológicas Lineares Associadas aos Padrões de Uso e Cobertura Vegetal .198
8.2.3 A Instabilidade dos Padrões e Feições no Contexto das Modificações Ambientais .....201
8.2.4 Reconhecimento dos Ambientes ...................................................................................202
8.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...................................................................................207
PARTE IV
APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO
REMOTO NO RECONHECIMENTO
DOS AMBIENTES E ESTUDO DAS
MODIFICAÇÕES NO ESTUÁRIO DO
RIO ARAGUARI
173
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
174
Capítulo 8
APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO PARA
RECONHECIMENTO DOS AMBIENTES E SUA DINÂMICA NO
ESTUÁRIO DO RIO ARAGUARI
8.1 DADOS DE SENSORES REMOTOS: AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO
Os produtos de sensores remotos utilizados nesta tese foram apresentados no capítulo
3 e a descrição dos processamentos dos mesmos são apresentados abaixo.
8.1.1 Fotografias Aéreas
A foz do estuário do rio Araguari possui recobrimento com fotografias aéreas verticais
desde a década de 50, realizados inicialmente pela Marinha do Brasil para fins de
reconhecimento da linha de costa, como apoio para a elaboração de mapas batimétricos e
instalação de marégrafos. As fotografias aéreas foram usadas (Tab. 8.1) para comparações
visuais a fim de identificar padrões pretéritos nas imagens de satélites e avaliar as
modificações recentes.
Tabela 8.1: Fotografias aéreas processadas.
As fotografias foram digitalizadas a fim de transformar as imagens de forma analógica
para o formato digital utilizando-se um scanner. Foi adotada a resolução de 300 dpi e
calculado o tamanho de pixel das fotografias aéreas utilizadas (Tab. 8.1).
O processamento das fotografias aéreas para fins de análise multitemporal deveria
envolver uma correção geométrica transformando cada foto em uma ortofoto, através de
dados dos parâmetros do vôo e da câmera utilizada na tomada das imagens. Nesta pesquisa
estas informações não puderam ser resgatadas, o que teria permitido fazer a correção das
ID Ano Escala Tamanho Pixel
(m)
I-40 09/1971 1:80.000 10,2
1-200 09/1952 1:50.000 6,3
12-200
12-200
10/1966
07/1970
1:30.000
1:30.000
3,8
3,8
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
175
distorções inerentes às variações do movimento do avião durante a captura das imagens, como
também referente à objetiva da câmera fotogramétrica. Para sanar este problema uma solução
seria utilizar pontos de controle secundários (de campo) para o registro e correção, o que não
foi possível por dois problemas fundamentais: a) falta de acesso necessário a área recoberta
pelas fotografias e 2) dificuldades para reconhecimento dos pontos de controle nas fotografias
aéreas e em campo, em virtude das constantes modificações na área de estudo. Por outro lado,
assim como o deslocamento do avião, o relevo pode influenciar nas distorções das imagens;
porém, para áreas planas como a região estudada, pode-se utilizar métodos simplificados para
evitar as distorções.
Assim, para eliminar as distorções internas das fotografias, as bordas de superposição
foram recortadas ao máximo, através do programa Panavue Image Assembler, versão 2.12. A
parte central das fotografias foi utilizada para o mosaico, seguindo as recomendações de
Crowell et al. (1991). As imagens foram mosaicadas no software Regeemmy Image
Registration and Mosaicking, versão 2.36, procurando-se não ultrapassar o RMSE (Root
Mean Square Error) de 3 pixels para os mosaicos que correspondem a 11,5 m; 19,0 m e 30.5
m, para as escalas de 1:30.000, 1:50.000 e 1:80.000, respectivamente.
A correção geométrica dos mosaicos foi feita através da aquisição de pontos de
controle em imagens de satélite Landsat 7 ETM+ previamente corrigida e considerada como
referência geométrica.
Os métodos utilizados para o pré-processamento digital estão simplificados no
fluxograma da Fig. 8.1.
8.1.2 Imagens de Radar Aerotransportado (RADAR GEMS 1000) – RADAM
As imagens de radar de visada lateral GEMS (Goodyear Electronic Mapping System)
1000, banda X, são provenientes das cartas imagens produzidas no âmbito do Projeto
RADAM (Radar Amazon) (Azevedo, 1971). Estas imagens constituem o único recobrimento
aéreo completo da costa amazônica sem nuvens, razão pela qual este sensor foi utilizado no
projeto. As imagens foram recuperadas no acervo do Serviço Geológico do Brasil – CPRM,
em formato analógico e constituem, junto com as fotografias aéreas, as imagens mais antigas
da região e foram utilizadas para comparação das modificações (ver Capítulo 10).
À semelhança das fotografias aéreas verticais, as imagens em meio analógico foram
digitalizadas, porém utilizando-se um scanner de rolo A0, pertencente ao Centro de
Hidrografia da Marinha do Brasil.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
176
Figura 8.1: Fluxograma de pré-processamento das fotografias aéreas.
8.1.3 Imagens de Satélite
Os dados utilizados foram imagens de radar dos satélites JERS-1 (Japanese Earth
Resources Satellite) e RADARSAT-1, assim como imagens de sensores óticos MSS, TM e
ETM+, do satélite Landsat (Tab. 8.2).
JERS-1
As imagens JERS-1 são provenientes de dois mosaicos gerados pelo Projeto Global
Rain Forest Mapping (GFRM). Este satélite foi lançado pela NASDA (National Space
Development Agency of Japan) em 1992. As características desses dados são apresentadas na
Tabela 8.2.
Os mosaicos foram obtidos a partir de imagens com espaçamento de pixel da ordem de
12,5 m e processados pela NASDA com reamostragem de pixel para 3 arcos segundo.
Pertencem a dois períodos sazonais distintos: outubro de 1995 e maio de 1996,
correspondendo aos períodos menos chuvoso e mais chuvoso da região, respectivamente (Fig.
8.2).
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
177
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
178
Figura 8.2: Imagens JERS-1 de outubro de 1995 e maio de 1996. Fonte: GRFM.
Os dois mosaicos foram lidos e registrados no software ENVI 3.5, reprojetados para o
sistema de projeção UTM, datum/elipsóide WGS84. A área de pesquisa foi recortada e o
tamanho de pixel transformado de arcos segundos para metros (cerca de 92 metros).
Na fase de processamento procedeu-se o ajuste de histograma dos mosaicos e
transformação da escala em tons de cinza para uma imagem de cor sintética a partir da técnica
de fatiamento. Nesta técnica, os intervalos de níveis de cinza são estabelecidos a partir da
distribuição dos valores dos números digitais (DN´s) das imagens e mapeados em cores ou
tons de cinza diferentes. Esta transformação foi usada com a finalidade de diferenciar grandes
feições retendo detalhes da imagem, permitindo assim o realce de informações. Desta forma
as regiões inundáveis campestres e áreas de cobertura vegetal foram evidenciadas,
preservando a nitidez das feições lineares como as paleodrenagens e feições antrópicas.
Após esse processo fez-se a comparação visual entre os mosaicos dos diferentes
períodos, tanto em tons de cinza como em pseudocor.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
179
RADARSAT-1
O RADARSAT-1, lançado em 1995, (Fig. 7.1, p.173) é um radar operacional e
comercial que possui a possibilidade de oferecer 35 modos de aquisição de imagens, com
ângulos de incidência que variam de 10
o
a 59
o
e resolução espacial de 10 a 100 metros
(Paradella et al., 1997). Isto permitiria uma melhor avaliação da área e a possibilidade de
separar os diferentes padrões de cobertura na área, pois a modificação do ângulo de incidência
influenciará na penetração, tonalidade e brilho da imagem (ver Capítulo 6.1.1). No entanto, as
imagens utilizadas nesta pesquisa correspondem apenas ao modo Wide 1, com ângulo de
incidência de aproximadamente 25
o
(Tab. 8.2). Este ângulo intermediário, entre os disponíveis
para o RADARSAT-1, permitiria uma razoável penetração sobre a cobertura vegetal, do que
os ângulos de incidência menores disponíveis para este sistema.
Foram utilizadas 8 imagens do sistema RADARSAT-1 que compuseram 4 mosaicos, 2
de cada período sazonal distinto: chuvoso (15 de janeiro e 08 de fevereiro de 2003) e menos
chuvoso (06 e 30 setembro de 2004) (Fig. 8.3 e Tab. 8.2). As imagens utilizadas foram
adquiridas no formato CEOS (Committee on Earth Observation Satellites), com nível de
processamento 1, SGF (SAR Georeferenced Fine Resolution Product) e dados em 16 bits.
Estas imagens já vieram com uma calibração radiométrica chamada correção do
padrão de antena. Deste modo procedeu-se apenas os processamentos para a ortoretificação e
análise multitemporal através de composição colorida para extração das informações
procuradas.
As imagens foram ortoretificadas usando pontos de controle adquiridos sobre a
imagem do Landsat 7 sensor ETM+ ortoretificada proveniente do GLCF e os dados de
efemérides para as imagens de radar disponíveis no cabeçalho dos dados do CD-SAR. A
ortoretificação foi realizada utilizando o DEM do SRTM, tendo o espaçamento do pixel
reamostrado para 30 metros. Para isso foi utilizado o pacote denominado Ortho & DEM
disponível no software PCI Geomática 9.1. Após a ortoretificação, visando a continuidade
geométrica da zona de estudo, foi elaborado um mosaico para cada data das imagens
adquiridas, totalizando 4 mosaicos (Fig. 8.3). Os mosaicos foram realizados de forma
automática no módulo OrthoEngine do software PCI Geomática 9.1. Foi realizado o
reescalonamento das imagens de 16 para 8 bits. Este processamento foi necessário para
redução do volume dos dados e limitação do olho humano em distinguir muitos níveis de
cinza.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
180
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
181
Para atenuar o speckle (ruído inerente aos dados de radar) foi aplicado um algoritmo
de filtragem adaptativa (filtro Frost) (Lopes et al., 1990), com kernel de 3 x 3 pixels. A fim de
melhorar a qualidade visual das imagens foi aplicado um realce linear para melhorar o
contraste.
As imagens foram usadas para o mapeamento dos ambientes costeiros (neste capítulo)
e detecção e avaliação de modificações e seus indicadores (ver capítulos 9 e10).
LANDSAT
As imagens utilizadas foram adquiridas pelos sensores MSS (Multi Spectral Scanner),
TM (Thematic Mapper) e ETM+ (Enhanced Thematic Mapper Plus) dos satélites Landsat 1,
4, 5 e 7 (Tab. 8.2, Fig. 8.4). As imagens do satélite Landsat têm sido adquiridas desde 1972,
sendo as imagens do sensor MSS as mais antigas e de mais resolução espacial e espectral da
série de imagens do satélite Landsat. As imagens do sensor TM estão disponíveis desde 1984
e possuem uma qualidade intermediária entre as do sensor MSS e ETM+. Este último possuía
as imagens de melhor qualidade da série Landsat, porém só foram coletadas entre abril de
1999 até maio de 2003, quando ocorreu uma anomalia no sensor do Landsat 7, que continua
operando, embora com problemas (http://glcf.umiacs.umd.edu/data/landsat/).
As imagens de Landsat foram utilizadas principalmente para a reconstituição das
modificações que ocorreram ao longo do estuário do rio Araguari, sendo que a imagem de
Landsat 7 ETM+ foi aplicada no reconhecimento dos ambientes e constituiu a imagem base
para a correção das imagens dos outros sensores.
As imagens de Landsat adquiridas através do programa GLCF vieram previamente
ortoretificadas segundo o procedimento abaixo:
- as imagens do sensor MSS vieram ortoretificadas a partir de imagens Landsat
TM utilizadas para o controle horizontal e modelo digital de elevação de terreno para
o controle vertical;
- a imagem do sensor TM também veio processada do mesmo modo que para o
sensor MSS, à exceção do controle horizontal, para o qual foram utilizados de 6 a 12
pontos de controle identificáveis na imagem, com acurácia melhor do que 15 metros.
O tamanho de pixel desta imagem veio reamostrado para 28.5 metros, enquanto que da
imagem do sensor MSS o tamanho de pixel veio reamostrado para 57 metros
(http://glcf.umiacs.umd.edu/data/landsat/);
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
182
Figura 8.4: Imagens Landsat utilizadas nesta tese.
O erro de posicionamento para as imagens do sensor MSS é menor que 100 metros e
para as imagens dos sensores TM e ETM+ é menor que 50 metros, determinado a partir de um
polinômio de primeira ordem. Todas as imagens vieram com a Projeção em UTM e o
datum/esferóide WGS1984 (Tucker et al., 2004). Não houve, portanto, necessidade de
correção geométrica dessas imagens uma vez que os pontos de controle coletados durante os
trabalhos de campo e plotados sobre as mesmas apresentaram boa qualidade no
posicionamento, principalmente a do sensor ETM+ adquirido com nível de processamento
1G, geométrica e radiometricamente corrigida,
(http://glcf.umiacs.umd.edu/data/guide/fileformat/index.shtml).
A imagem do sensor MSS do Landsat 1 adquirida do INPE, originalmente
referenciada no Datum SAD-69/Brasil, foi reprojetada para o sistema de referência utilizado
na tese e georeferenciada tendo como base a imagem do sensor ETM+.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
183
A fase do processamento digital das imagens Landsat envolveu a elaboração de
composição colorida das bandas do visível e infravermelho com realce linear. Para as imagens
do sensor ETM+ foi realizada análise por principal componente e classificação não-
supervisionada (ver Capítulo 6).
Na análise por principal componente utilizaram-se as bandas seletivamente, seguindo
o processamento empregado por Siljeström (1997) baseado em Chavez Jr. e Kwarteng (1989).
Os testes foram realizados utilizando três subgrupos de imagens: subgrupo I - análise das 3
bandas no visível (1, 2 e 3); subgrupo II - análise de bandas no visível e infra-vermelho (3, 4
e 5) e; subgrupo III - análise das bandas do infra-vermelho (7 e 5), avaliados através da matriz
de covariância das imagens. Um filtro linear foi aplicado visando melhorar o contraste nas
imagens resultantes dessa análise. Após o tratamento, procedeu-se à análise visual dos
componentes principais de cada subgrupo de imagens interpretando os alvos através da
observação de padrões, texturas, formas, tonalidades e tamanhos dos alvos.
Em seguida, vários testes foram realizados com as principais componentes e bandas
originais das imagens a fim de combinar as informações e reduzir a dimensionalidade dos
dados de forma a ressaltar as informações em cores. Os resultados desses testes foram
avaliados visualmente, utilizando os critérios de fotointerpretação. A imagem resultante foi
utilizada para identificar as feições geomorfológicas e discriminar as unidades espectrais. As
feições e unidades espectrais foram posteriormente interpretadas, com o auxílio do resultado
da classificação não-supervisionada e, correlacionadas com dados auxiliares e de campo, para
o reconhecimento dos ambientes (ver item 8.3). O produto resultante deste processamento
também foi utilizado como uma ferramenta de comunicação nas etapas de campo para
discussões com os fazendeiros.
A classificação não-supervisionada foi aplicada com a finalidade de explorar os dados
espectrais da imagem a partir do agrupamento dos pixels por semelhanças espectrais e, assim,
ter uma primeira visão da área de pesquisa, possibilitando extrair as prováveis informações
temáticas. As bandas escolhidas para a aplicação foram as principais componentes dos
subgrupos I e III. Após vários testes, foram definidos os parâmetros para a classificação
utilizando o algoritmo ISODATA. O subgrupo I foi escolhido a fim de ressaltar as diferenças
de turbidez nos corpos de água e o subgrupo III para análise das variações espectrais nas áreas
emersas. Os produtos dessas classificações auxiliaram o reconhecimento de padrões espectrais
prévios do ambiente e seus resultados são discutidos no capítulo 11.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
184
O registro e processamento das imagens dos satélites Landsat foram realizados
utilizando-se o software ENVI 3.5, uma vez que o mesmo permite avaliar provisoriamente os
resultados dos processamentos sem necessidade de gravação dos dados, sendo útil também na
avaliação de vários produtos simultaneamente através de múltiplas janelas vinculadas
geograficamente.
8.1.4 Dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission)
Os dados do SRTM foram utilizados para a escala de análise de observação regional e
sub-regional, a fim de diferenciar as macrofeições geomorfológicas da planície (ver Capítulo
9).
Os dados de elevação foram coletados entre 11 e 22 de fevereiro de 2000 pela
espaçonave Space Shuttle Endeavor durante a missão STS-99, obtidos através dos ecos de
radar recebidos por duas antenas distantes de 60 metros, uma sobre o shuttle e a outra fixada
em um braço articulado. O DEM foi gerado através da técnica de interferometria InSAR -
Interferometric Synthetic Aperture Radar. Experiências anteriores tinham usado a técnica para
levantamento da topografia, porém, com ecos de radar recebidos em duas datas diferentes.
Isto afetava o processamento interferométrico, devido à instabilidade da superfície entre uma
aquisição e outra devido à variação de umidade, cobertura vegetal e do comprimento de onda
utilizado.
O diferencial do SRTM foi a coleta simultânea dos dados de elevação, mapeando 80%
da massa de Terra na Banda C (~5.6 cm), polarização HH e VV, e banda X (~3 cm) com
polarização VV, registrando o sinal do radar em uma única passagem (Rabus et al., 2003),
permitindo uma melhor precisão dos dados para o modelo de elevação. Entretanto, o fato dos
dados de elevação terem sido coletados em bandas C e X (curtos comprimentos de ondas)
gera uma limitação em paisagens com floresta densa, como a costa amazônica (ver Capítulo
11).
Os dados foram adquiridos com espaçamento do grid de 1 arco segundo
(aproximadamente 30 metros) e são distribuídos gratuitamente pela NASA na forma de
DEMs (digital elevation models), em extensão *.ght, em áreas de 1
o
x 1
o
, com resolução de 3
arcos segundo (aproximadamente 90 metros) para regiões fora dos USA. Os parâmetros de
projeção estão em coordenadas geográficas e os dados, horizontal e vertical, estão
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
185
referenciados ao Datum WGS 84 (Rabus et al., 2003). Os dados estão disponíveis no site
ftp://e0srp01u.ecs.nasa.gov/srtm/version2/SRTM3/South_America/.
A leitura dos arquivos dos dados SRTM foi realizada no Software Global Mapper 5 e
os dados mosaicados e recortados para restringir a área de estudo. Em seguida foi gerada uma
nova paleta de cores visando o realce dos dados. O resultado foi comparado visualmente com
as informações correlatas e posteriormente exportado para leitura no software PCI Geomática,
a fim de auxiliar na ortoretificação das imagens de RADARSAT-1.
8.1.5 Integração dos Dados de Sensores Remotos
A integração de dados foi realizada visando auxiliar na detecção dos padrões e feições
da área de estudo e auxiliar na identificação das modificações ambientais. Foi realizada por
dois métodos: análise de imagens multidatas e análise multisensor.
A integração de imagens multidatas foi feita através de composições coloridas entre as
imagens multidatas do RADARSAT-1 e entre as imagens multidatas do JERS-1. Tal análise
foi realizada visando a avaliação das modificações sazonais e entre as imagens desses radares.
A integração de dados multisensores foi realizada de dois modos distintos: a) para a
observação das modificações seculares fez-se comparação visual dos mapas históricos com as
fotografias aéreas, imagens de radar GEMS 1000 e JERS-1 e a composição colorida da
imagem do sensor ETM+; b) a análise de modificação no período dos dados de sensores
remotos disponíveis foi realizada por comparações entre os mosaicos de fotografias aéreas, as
imagens RADARGEMS e as imagens de satélite Landsat e do RADARSAT-1.
Todos os produtos resultantes do processamento das imagens foram armazenados em
um Sistema de Informações Geográficas (SIG), com o software ArcView 3.2 para facilitar a
extração das informações.
8.2 RECONHECIMENTO DOS PADRÕES E FEIÇÕES MORFOLÓGICAS
8.2.1 Uso e Cobertura do Solo
A partir da análise dos produtos gerados a partir dos dados de sensores remotos e das
informações colaterais foram distinguidos oito padrões de uso e cobertura do solo: áreas de
cobertura vegetal densa associadas às florestas de mangue e florestas de várzeas, campos
arbustivos, áreas de vegetação campestre, campo antrópico, zona de intermaré, canal estuarino
e lagos (Quadro 8.1, Fig. 8.5).
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
186
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
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Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
188
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
189
Figura 8.5: Principais padrões de uso e cobertura do solo reconhecidos. A) floresta de
mangue, B) floresta de várzea, C) campo arbustivo, D) áreas de vegetação campestre, E)
campo antrópico, F) planície de maré, G) lagos e H) canal estuarino. I) Imagem JERS-1 de
outubro de 1995, II) imagem RADARSAT-1 de 30 de setembro de 2004, III) primeira
componente principal do subgrupo I do sensor ETM+, IV) primeira componente principal do
subgrupo II do sensor ETM+, V) primeira componente principal do subgrupo III do sensor
ETM+, VI) imagem Landsat 7, sensor ETM+, composição colorida da PC1 das bandas 1, 2 e
3 em B; banda 4 em R; e PC1 das bandas 7 e 5 em G.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
190
As florestas de mangue desenvolvem-se na desembocadura do estuário do rio Araguari
(Fig. 8.5A, 2.8B, p.28 e 5.27C, p.111), apresentando-se na forma de uma franja ao longo do
litoral e truncando o padrão de floresta de várzea desenvolvido em direção ao interior do
estuário. É uma unidade que não pôde ser distinguida com nitidez dos padrões de floresta de
várzea nas imagens de RADARSAT-1. Nestas imagens o limite das florestas de mangue com
a com a planície de intermaré é bem nítido em função do efeito de double-bounce. Nas
imagens JERS-1 os padrões de floresta de mangue distingue-se dos padrões de floresta de
várzea pela diferença na rugosidade. Nos produtos derivados do sensor ETM+ este padrão é
distinguido por sua textura mais lisa e tonalidade avermelhada mais escura como resultado da
associação do vermelho na banda 4 do infravermelho próximo e da absorção de parte da
energia incidente sobre esta cobertura vegetal.
A floresta de várzea bordeja as margens do rio Araguari, recobre as ilhas que ocorrem
no canal do estuário e também ocorre como massas florestais e feições lineares encravadas na
planície costeira (Fig. 8.5B). Na imagem de radar JERS-1 de maio de 1996 este padrão é mais
visível apresentando tonalidade em tons de cinza médio com tons claros no contato com os
padrões dos campos arbustivos e áreas campestres, além de apresentar textura mais rugosa
(Fig. 8.6A). É bem nítida na composição colorida das imagens dos dois períodos sazonais. Na
imagem de RADARSAT-1 de 08
de fevereiro de 2003 este padrão é melhor visualizado do
que nas outras imagens dos períodos menos chuvosos, apresentando tons de cinza mais
escuros (Fig. 8.6B). As florestas associadas às massas de floresta de várzea e das ilhas
apresentam textura mais rugosa na composição colorida do ETM+ do que aquelas associadas
às feições lineares.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
191
Figura 8.6: Imagens de radar do período chuvoso mostrando os padrões associados a floresta
de várzea (FV) distinguindo-os das áreas campestres (CH). A) Imagem JERS-1 de maio de
1996, B) Imagem RADARSAT-1 de 08 de fevereiro de 2003, C) floresta de várzea emergindo
em áreas campestres, D) floresta de várzea na margem do Araguari e recobrindo ilhas, E)
campos arburtivos, F) e G) áreas de vegetação campestres. Fotos: D, acervo IBAMA; F,
cedida por Salustiano V. da Costa Neto.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
192
As áreas de campos arbustivos ocorrem como um padrão bem expressivo na planície
de inundação a norte do estuário (Fig. 8.5 e Fig. 8.6E) e como manchas na planície de
inundação a sul. Apresenta uma textura rugosa nas imagens do JERS-1 com tonalidades de
cinza mais escuros que da floresta de várzea, porém mais claros que as áreas campestres na
imagem de maio de 1996 em função da variação no retroespalhamento por causa da lâmina de
água existente nesses períodos. Nas imagens de RADARSAT-1, confunde-se com as áreas de
vegetação campestres. Nas imagens do sensor ETM+ é onde apresenta um maior contraste
(Fig. 8.5) por sua textura e variações de rugosidade e tonalidades principalmente para as
primeiras componentes dos subgrupos II e III e na composição colorida.
As áreas de vegetação campestre ocupam a maior parte da área estudada e estão
localizadas no interior da planície costeira. É uma unidade heterogênea seccionada por massas
de floresta densa de espécies de várzea, disformes e por vezes retilíneas. Apesar de ser
considerada uma unidade natural encontra-se parcialmente alterada pelo uso do solo em
função da pecuária com a presença de inúmeras valas e de cercas (ver Capítulo 5). Nas
imagens de RADARSAT-1 apresenta textura rugosa e com tonalidades ora claras, ora escuras
dependendo da época de aquisição das imagens, devido à influência da umidade sobre o
retroespalhamento nas imagens de radar. Em alguns locais tons muito claros e com alto
brilho são detectados. Nas imagens JERS-1 possui textura mais lisa e tonalidades de cinza
escuro (no período menos chuvoso) a tonalidades muito escuras para maio de 1996 (Fig.
8.6A). Na composição colorida do sensor ETM+ possui textura lisa apresentando uma
variedade de tons de cinza nos produtos das principais componentes que resultam, na
composição colorida, em tons esverdeados e avermelhados, dependendo da situação da
cobertura vegetal com tonalidades escuras nas áreas com maior umidade (Fig. 8.5VI).
Os campos antrópicos estão associados ao processo de desmatamento para
implantação das infra-estruturas, formação de pequenos pastos e as áreas pastoreadas pelo
rebanho (Fig. 5.42B e C, p.126) (ver Capítulo 5). Apresentam formas geométricas bem
definidas, contrastantes com seu entorno (Fig. 8.7 e 8.8). Para o interior da planície costeira,
estas áreas confundem-se por vezes com as de vegetação campestre, porém quando
intensamente pastoreadas pelo gado bubalino (Fig. 5.42B e C, p.126) podem ser identificadas
em virtude do contraste com as áreas adjacentes devido à mudança de cor, textura e da
umidade do solo por modificação no padrão de reflexão da onda eletromagnética. (Fig. 8.8).
Nas imagens JERS-1 estes padrões são bem evidentes nas margens do rio Araguari, quando
apresenta textura lisa, tonalidade cinza escura nos dois períodos sazonais (Fig. 8.7A e B)
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
193
quando associados ao desmatamento para implantação de fazendas. Estas mesmas áreas, só
são distinguidas nas imagens de RADARSAT-1 dependendo do período da imagem e da
dinâmica de ocupação do terreno (Fig. 8.7C e D), quando existe modificação da cobertura
vegetal por desmatamento ou pastoreio, bem como em função das variações nas condições de
umidade. No entanto, para estas imagens, quando o terreno está sob influência de pastoreio e
na presença de cercas são visualizadas pelas modificações nos padrões de retroespalhamento
sendo notadas em imagens multidatas (Fig. 8.8A, B e C). Na composição colorida do sensor
ETM+ são distinguidas principalmente por sua geometria e maior exposição do solo
apresentando textura muito lisa (Fig. 8.7E).
Figura 8.7: Campo antrópico associado a desmatamento de floresta de várzea. A e B)
imagens JERS-1, C e D) imagens RADARSAT-1, E) ) imagem Landsat 7, sensor ETM+,
composição colorida da PC1 do subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
194
Figura 8.8: Detecção de padrões antrópicos influenciados por mudança na cobertura vegetal
em função de pastoreio de gado bubalino. A) RADARSAT-1 de 15/01/2003, B)
RADARSAT-1 de 08/02/2003, C) composição colorida da imagem de 15/01/2003 (em R e G)
e de 08/02/2003 (em B), mostrando variações no retroespalhamento coincidentes com o limite
de uma cerca, D) imagem Landsat 7, sensor ETM+, composição colorida da PC1 do
subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G; E) cerca apontada em C; F)
cerca apontada em D, porém não detectada na composição colorida das imagens de radar.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
195
Linhas tracejadas em vermelho representam cercas que delimitam mudança no
retroespalhamento nas imagens de radar. Foto E: Laurent Polidori.
A zona de intermaré ocorre na borda do canal do rio Araguari. É mais desenvolvida
em direção à foz do estuário, quando apresenta extensões de mais de 20 km e larguras de até 4
km (Fig. 8.5F). Nesta zona ocorrem barras em pontal, barras de canal e barras de
desembocadura (Fig. 8.9). É um padrão nítido em todos os produtos dos sensores remotos,
variando de extensão em função das variações de inundação por marés e, da influência de
processos erosionais e deposicionais. Nas imagens de RADARSAT-1, quando sob processo
de colonização por vegetação pioneira, apresenta tonalidade cinza clara com alto brilho. Sem
cobertura vegetal, as tonalidades são muito escuras com reflexão especular (Figs. 8.5F). Nas
imagens do sensor ETM+ este padrão é bem nítido na primeira componente principal do
subgrupo I e na segunda componente principal do subgrupo II (Fig. 8.9).
Figura 8.9: Planície de intermaré na desembocadura do rio Araguari. A) Imagem
RADARSAT-1 de 30/09/2004 em situação de baixamar. Observar a mudança de tonalidade
de cinza médio (mangue adulto) para tons claros e brilhantes (mangue jovem), reflexão
especular nas áreas sem vegetação na planície de intermaré; B) primeira componente principal
do subgrupo I (bandas 1, 2 e 3) ressaltando principalmente as variações nos corpos de água,
B1) barras longitudinais, B2) barra em pontal; C) segunda componente principal do subgrupo
II (bandas 3, 4 e 5) ressaltando as variações na cobertura vegetal; C1) barras de
desembocadura de canal. Seta amarela horizontal indicando o canal do estuário. Fotos: Odete
Silveira, acervo IBAMA.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
196
Os lagos foram os padrões melhor identificados nas imagens dos sensores remotos,
por possuírem um bom contraste entre água calma e vegetação em todos os comprimentos de
onda. Na planície de inundação a norte do estuário do Araguari, estão associados aos sistemas
lacustres apresentados no capítulo 2 (Fig. 2.5, p.24). Na planície a sul, os lagos são bem
menores (Fig. 8.5G). Seus padrões são distintos em cada uma dessas regiões.
Nas imagens de JERS-1 e de RADARSAT-1, os grandes sistemas de lagos
encontrados a norte, apresentam tonalidades bem escuras indicando reflexão especular. Em
algumas porções apresentam leve rugosidade da sua superfície que pode indicar a presença de
uma rugosidade superficial na água em função da presença de ventos.
Os lagos a sul do estuário ocorrem na primeira componente principal do subgrupo I e
segunda do subgrupo II do sensor ETM+ com tonalidades claras, principalmente em áreas
associadas a campos antrópicos, indicando a presença de turbidez nas águas. Essas
tonalidades se assemelham muito àquelas das águas encontradas na foz do estuário do
Araguari, que são muito turvas.
O canal estuarino refere-se ao leito do rio Araguari sujeito constantemente a correntes
fluviais, de marés e a atuação da pororoca (Figs. 5.17, p.98 e 8.9), definindo-se por sua
morfologia. Nas imagens de radar apresenta tonalidade cinza escuro para o JERS-1 e cinza
claro para o RADARSAT-1 (Fig. 8.5H), apresentando textura pouco rugosa, tornando-se
mais lisa e com tonalidades mais escura em direção rio acima. Isto indica a influência de
águas agitadas que comumente ocorre na área da foz do estuário, principalmente após a
entrada das marés. Na imagem de RADARSAT-1 de 30 de setembro de 2004 o canal é bem
definido (Fig. 8.9A). Na primeira componente principal do subgrupo I e segunda componente
principal do subgrupo II observa-se variação na tonalidade das águas que variam de cinza
claro até a tonalidade bem escura em direção a montante do rio.
Nos dados de SRTM foi possível observar os padrões associados às coberturas de
floresta densa e áreas campestres (Fig. 8.11). O limite entre o planalto e a planície costeira é
observado nitidamente nesses dados.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
197
Figura 8.10: Onda da pororoca perpendicular ao canal do estuário do rio Araguari, a 20 km
da desembocadura. Imagem RADARSAT-1 de 15 de janeiro de 2003. A) Previsão de maré
para a estação na foz do estuário (Dados DHN). Modificado de Santos & Polidori (2005).
Figura 8.11: DEM do
SRTM mostrando a
planície costeira ao longo
do estuário do rio
Araguari. O perfil
desenhado mostra as
principais feições
associadas ao relevo e à
cobertura vegetal. (a)
planalto costeiro
(Formação Barreiras), (b)
planície de inundação –
vegetação campestre, (c)
planície de inundação -
vegetação de floresta de
várzea, (d) canal do
estuário do Araguari, (e)
planície de maré -
vegetação de mangue.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
198
8.2.2 Feições Morfológicas Lineares Associadas aos Padrões de Uso e Cobertura Vegetal
As feições lineares estão associadas a padrões de acresção, erosão, paleodrenagens,
drenagens atuais e a estruturas resultantes da ação antrópica.
As feições de acresção são encontradas nas margens do canal do estuário do rio
Araguari e em sua foz.
As feições associadas às margens do canal são definidas ou pelo zoneamento de
vegetação nas margens do canal (Fig. 8.9B2) ou pela intercalação entre os padrões de floresta
de várzea e áreas campestres para dentro da planície de inundação. Foram detectadas em
quase todos os sensores remotos utilizados e em campo, dependendo da resolução espacial
dos sensores e das dimensões dessas feições. Nas imagens de JERS-1, de menor resolução
espacial, somente as grandes feições lineares são visíveis. Nas imagens de RADARSAT-1 as
mesmas têm menor visibilidade e só são evidenciadas quando estão sob influência de
inundação (Fig. 8.3). Isto porque, apesar da melhor resolução espacial deste sensor, a banda C
é menos sensível a essas diferenças.
As feições acrescionárias encontradas na desembocadura do estuário estão associadas
ao zoneamento da vegetação de mangue na interface com a zona de intermaré (Figs 8.9A e
5.27B e C, p.111). São marcadas nas imagens de RADARSAT-1 por uma reflexão muito
clara e brilhante ao lado de áreas de tons escuros, associados às zonas de intermaré sem
vegetação.
Estas feições de acresção ocorrem ainda nas drenagens secundárias da planície de
inundação do rio Araguari; entretanto, por serem mais recentes, são delimitadas por pequenos
terraços com cerca de 20 centímetros de altura (Fig. 8.12) e, algumas vezes, por zoneamento
de vegetação de gramíneas, sendo observáveis apenas em imagens de sobrevôo.
As feições associadas a padrões de erosão são definidas por truncamento de feições
acrescionárias pretéritas, erosão atual das margens de canais e erosão de ilhas. Estas feições,
entretanto, só puderam ser distinguidas através de análises multitemporais e informações de
campo. No caso das análises multitemporais, são visíveis em quase todos as imagens
utilizadas, dependendo da sua resolução espacial (ver capítulos 9 e 10).
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
199
Figura 8.12: Feições morfológicas lineares associadas a padrões de acresção: A) igarapé
Novo com detalhe para a fotografia de sobrevôo em B) mostrando a relação entre a zona de
intermaré e a planície de inundação onde se destacam os padrões de campo antrópico e
floresta de várzea; C) campo antrópico cortado por drenagem meandrante. Na borda do canal
maior (seta) são desenvolvidas, nas zonas de intermaré, barras em pontal (D) com estruturas
típicas de maré conforme verificado nas trincheiras (E). Imagem Landsat 7, sensor ETM+,
composição colorida da PC1 do subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G.
As paleodrenagens identificadas possuem dimensões métricas até quilométricas, sendo
esta uma característica importante da região, conforme descrito por Silveira (1998). As
paleodrenagens mais antigas geralmente são definidas por alinhamento de vegetação na borda
de feições de canais abandonados, quando em áreas com pouca interferência antrópica. Nos
locais sob a interferência da pecuária as paleodrenagens e as estruturas antrópicas podem por
vezes se confundir (Fig. 8.13). Tais ambigüidades podem ser melhor analisadas a partir de
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
200
avaliações multitemporais (ver capítulos 9 e 10). As grandes paleodrenagens são visíveis nas
imagens JERS-1, principalmente na imagem de maio de 1996 (Fig. 8.14). Nas imagens
RADARSAT-1 são pouco nítidas. Nas imagens do sensor ETM+, apesar de serem visíveis em
quase todos os produtos, são mais nítidas na segunda componente principal do subgrupo II
(bandas 4, 5 e 7) e no produto da composição colorida.
As feições lineares associadas às drenagens atuais correspondem tanto às drenagens
elaboradas sob a ação dos fenômenos naturais, quanto àquelas associadas à ação antrópica
(ver capítulos 5 e 9), sendo nítidas na segunda componente principal do subgrupo II.
As feições lineares associadas às drenagens naturais se distinguem por seu
posicionamento na planície costeira e por sua forma, geralmente meandrante (Fig. 8.12C),
apesar de existirem drenagens naturais de caráter retilíneo (Fig. 5.27C, p.111).
As feições relacionadas às intervenções antrópicas estão associadas à presença de
cercas (Fig. 8.13), valas e limites de áreas desmatadas (ver Capítulo 5). Uma das
características dessas feições é o truncamento dos padrões e feições naturais, evidentes em
campo e que possibilitariam ainda a análise da dinâmica de ocupação da planície através dos
sensores remotos.
Figura 8.13: A) Relação entre paleodrenagem e cercas na planície a sul do estuário,
composição colorida imagem do sensor ETM+. Foto com detalhe de cerca com mudança de
padrão na imagem; B) fotografia aérea do detalhe da imagem. Seta preta indicando a
paleolinha; C) cerca definindo um lago. Mesma cerca marcada pela linha pontilhada em B.
Imagem Landsat 7, sensor ETM+, composição colorida da PC1 do subgrupo I em B; banda 4
em R; e PC1 do subgrupo II em G. Foto B: Odete Silveira, acervo IBAMA.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
201
Figura 8.14: Paleodrenagem meandrante em imagem JERS-1 (maio/1996) da planície a norte
do estuário. Fonte: GRFM.
8.2.3 A Instabilidade dos Padrões e Feições no Contexto das Modificações Ambientais
Os padrões associados à cobertura vegetal densa (floresta de várzea e manguezais)
possuem limites constantes para o interior da planície e somente são alterados pelos processos
deposicionais e erosionais quando associados às margens do estuário, dando origem as linhas
de acresção e aos truncamentos.
Os campos arbustivos apresentam padrões constantes devido à sua localização no
interior da planície costeira, visto que são influenciados mais pela dinâmica de inundação do
que pela atividade antrópica. Além do mais, sua cobertura vegetal parece ser estável ao longo
do tempo. No entanto, a detecção dessas áreas nas imagens de RADARSAT-1 está
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
202
condicionada à presença de umidade, que proporciona um retroespalhamento difuso, gerando
um alto brilho nessa região. Nesta porção também, os trabalhos de campo indicam um relevo
um pouco mais elevado que o restante das áreas de campo.
As áreas de vegetação campestre apresentam padrões variáveis temporalmente, em
função principalmente das modificações sazonais da cobertura vegetal (Fig. 5.26, p.109) e
diferenças nas condições de inundação.
Os padrões de campos antrópicos nas áreas campestres se alteram em poucos dias.
Essa modificação, por vezes, ocorre devido à mudança da cobertura vegetal, em virtude do
pastoreio pelo gado e conseqüente retirada do gado para outro local de pastagem (8.8A, B e
C), e não somente pela variação nas condições de inundação. A mudança da cobertura vegetal
em função do pastoreio é bem detectada nas imagens de RADARSAT-1 pelas variações no
retroespalhamento. Quando estes campos antrópicos estão relacionados a desmatamento da
floresta de várzea, apresentam uma forma geométrica similar ao longo do tempo, alterando a
sua área. Sua detecção nas imagens de RADARSAT-1 está condicionada à mudança nas
condições de umidade da planície (Fig. 8.7).
Os padrões das zonas de intermaré e o canal estuarino apresentam feições
deposicionais e erosionais que se reconfiguram temporal e espacialmente tanto em função da
variação na lâmina de água devido às marés como em função da mudança na configuração de
seus depósitos (Fig. 8.9A e B) (ver Capítulo 10).
8.2.4 Reconhecimento dos Ambientes
A partir da interpretação dos padrões de uso e cobertura vegetal e das feições
morfológicas lineares apresentadas acima, em associação com as demais informações
correlatas apresentadas no capítulo 3, foram identificadas duas grandes unidades dentro da
planície costeira, uma associada a ambiente fluvial meandrante e outra a ambiente estuarino
(Quadro 8.2, Anexo II).
Na planície de inundação influenciada por marés, agrupam-se os padrões referentes às
florestas de várzea, campos arbustivos, áreas de vegetação campestre e os campos antrópicos
(Fig. 8.15).
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
203
Quadro 8.2: Interpretação das informações para o mapeamento costeiro da área.
Região
Morfológica
Ambientes de
Sedimentação
Subunidades do
ambiente
Padrões Associados Feições Associadas
cobertura vegetal densa
(floresta de várzea)
fluvial meandrante sob
influência de marés
planície de
inundação
influenciada por
marés
áreas de vegetação campestre,
campos arbustivos e campos
antrópicos
barras em pontal;
paleodrenagens;
lagos e canais
cobertura vegetal de floresta
de mangue
cobertura vegetal de florestas
de várzea em ilhas
planície de maré
zona de intermaré
barras em pontal;
barras de
desembocadura de
canais;
barras de canal;
linhas de acresção;
paleodrenagens;
canais de maré
Planície Costeira
estuário
canal estuarino
Esta planície possui seu limite com o planalto costeiro (Fig. 8.11) e está sujeita aos
processos de inundação discutidos no capítulo 5. Não foi possível determinar até onde as
marés influenciam esta planície na época da sua inundação. A planície está elaborada sobre
sedimentos síltico-argilosos sem estruturação aparente, porém, próximo à desembocadura do
estuário, os mesmos estão sobrepostos a sedimentos com estruturas típicas de marés. Dentro
da planície de inundação existem áreas deprimidas onde se desenvolvem as bacias de
inundação e os sedimentos tornam-se mais argilosos.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
204
Figura 8.15: Composição colorida das imagens JERS-1 de maio/96 (em R e B) e outubro/95
(em G). Em cinza as áreas sem modificação, algumas realçando as unidades de floresta de
várzea (textura rugosa - reflexão difusa – copa, troncos e galhos) e de mangue (textura mais
lisa – reflexão provavelmente nas copas). Em verde as áreas inundáveis e nas porções mais
escuras as áreas com maior umidade (reflexão parcialmente difusa nos campos menos
alagados a especular para as áreas mais alagadas, em virtude da cobertura vegetal baixa). Nos
campos arbustivos (CA), a sul, notar o alto brilho referente a reflexões difusas pelo efeito de
double-bounce. No canal estuarino e zona de intermaré a textura lisa e tonalidade escura é
resultado da reflexão especular em virtude do comprimento de onda de 23 cm, o mesmo
ocorrendo com os lagos.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
205
As bacias de inundação (Fig. 8.16A) estão associadas às áreas mais úmidas do terreno
e apresentam desníveis topográficos de apenas poucos centímetros (cerca de 20) em relação às
áreas adjacentes. Nos períodos menos chuvosos, essas bacias podem secar, apresentando
gretas de contração em sua superfície (Fig. 8.16B), deixando expostos também pequenos
canais meandrantes. Estes canais atravessam também a planície de inundação, conectando-se
às margens dos canais secundários que deságuam no rio Araguari (Fig. 8.16C). Nas imagens
do sensor ETM+ são distinguidas dentro dos padrões de áreas campestres por tonalidades
mais escuras, uma vez que nesse comprimento de onda ótico, a umidade apresenta refletâncias
mais baixas.
Figura 8.16: A) Vista
panorâmica de uma bacia de
inundação, igarapé Novo; B)
b
acia de inundação com gretas de
contração e canais meandrantes;
C) canais meandrantes dentro de
bacia de inundação sem muita
influência do pisoteio por búfalos.
Setembro de 2004.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
206
Os lagos existentes na planície de inundação mostram evidências de uma história
diferenciada a norte e sul do canal do Araguari, tanto pela sua dimensão e forma, quanto por
sua relação de contexto na planície. Os lagos a norte são maiores sendo comum a presença de
camadas de turfas sobrepostas a camadas de argila cinza clara, aparentemente homogênea. A
sul, os lagos são intermitentes (Fig. 8.13A e B), alguns dos quais podem estar associados a
pisoteio de gado ou provavelmente a paleodrenagens. Nestes lagos são encontradas águas
turvas, enquanto que a norte as águas são mais claras.
Nas margens do estuário as barras em pontal são as feições características no limite da
planície de inundação com o canal estuarino (Fig.8.9B2). Quando estas barras estão mais
próximas da desembocadura do estuário, apresentam estruturas típicas de maré e terraços
erosivos decorrentes da ação da pororoca (Fig. 5.32A2, p.116). As barras em pontal também
são encontradas às margens dos canais secundários que drenam a planície de inundação (Fig.
8.12B, D e E).
Na planície estuarina destacam-se os padrões de zona de intermaré e o canal estuarino.
As zonas de intermaré são formadas por barras de canal (Fig.8.9B1) e barras de
desembocadura, cujos sedimentos apresentam estruturas de marés. São comuns as feições
acrescionárias delimitadas pelo zoneamento de vegetação. Em direção à montante do rio
ocorrem ilhas mais antigas, recobertas pelo padrão de floresta de várzea, as quais poderiam ter
sido antigas barras de canal, descritas por Costa (1996). No entanto, em análises
multitemporais, entre as aquisições da década 1990, observa-se que algumas ilhas atuais já
fizeram parte do continente (ver Capítulo 10). Os canais de marés são as feições típicas dessa
planície. Possuem formas meandrantes e estão em constante modificação, em função do fluxo
das correntes e sua influência nos processos deposicionais e erosionais no estuário (Fig. 5.30,
p.114).
No canal estuarino, as imagens demonstram com nitidez a influência da pluma de
águas turvas no estuário com seu limite ocorrendo a aproximadamente 60 km da foz do
estuário. Esta turbidez coincide com a área de máxima expressão do fenômeno da pororoca
observado em campo (ver Capítulo 5). Em direção à montante as águas são mais claras.
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
207
8.3 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
A detecção dos padrões e feições relacionados aos ambientes apresentados acima é
diferente para cada produto, e está vinculada principalmente à resolução espectral e espacial
dos sensores analisados.
Extensas feições de paleodrenagens e estruturas antrópicas (cercas) puderam ser
identificadas nas imagens JERS-1, embora o produto analisado seja de média a baixa
resolução espacial. As áreas campestres mais susceptíveis à inundação também foram bem
evidenciadas uma vez que a banda L, de comprimento de onda de 23 cm penetra mais na
cobertura vegetal, permitindo diferenciar solos em condições secas e úmidas, o que a banda C
não consegue fazer com tanta nitidez. Deste modo, a composição colorida dos mosaicos do
JERS-1 dos dois períodos sazonais evidenciou melhor o limite entre os padrões e feições
detectados na planície de inundação do que as imagens RADARSAT-1 (Fig. 8.15),
ressaltando as áreas de campos e distinguindo das áreas de cobertura vegetal densa.
As variações nos padrões das áreas campestres e de campos antrópicos foram melhor
identificadas nas imagens RADARSAT-1, como também as variações associadas à presença
de cercas. Tal resultado só foi possível porque o RADARSAT-1, com comprimento de onda
de 5,3 cm é sensível para detectar as variações na cobertura vegetal em função das condições
climáticas e antrópicas. Em alguns casos (Fig. 8.8) a variação na cobertura vegetal foi o fator
determinante para a identificação de padrões antropizados mais que a variação de umidade na
planície.
Estas imagens também evidenciaram as variações nos padrões e feições da planície
estuarina mostrando com nitidez a dinâmica associada ao estuário (Fig. 8.10). Nas zonas de
intermaré os padrões acrescionários foram identificados a partir da mudança do padrão de
reflexão especular das zonas de intermaré, sem cobertura vegetal, para um retroespalhamento
difuso resultado da interação da onda com a cobertura vegetal que coloniza inicialmente essas
áreas e o solo. Desta forma, pode-se separar a zona constantemente retrabalhada e
influenciada pela maré, daquelas que já estão em processo de estabilização (Figs. 8.9A e
5.27B e C, p.111). Essa mudança no padrão de reflexão nas zonas de intermaré não foi
detectada pelo sensor JERS-1 (1995), provavelmente em função das datas das imagens em um
momento onde a vegetal inicial não estava se estabelecendo.
Nos produtos analisados do sensor ETM+ foram identificados quase todos os padrões
e feições da planície de inundação influenciada por marés e do estuário, resguardando a
Parte IV: Capítulo 8 - Aplicação do Sensoriamento Remoto para Reconhecimento dos
Ambientes e sua Dinâmica no Estuário do Rio Araguari
208
resolução espacial do sensor. A cobertura vegetal foi um elemento importante para essa
identificação, uma vez que a mesma responde tanto à dinâmica natural quanto antrópica.
Entretanto, para as áreas onde se registrou interferência do pisoteio de gado, os padrões
naturais e antrópicos são difíceis de serem separados (Fig. 8.13).
Os padrões e feições na planície de inundação foram melhor identificados nas
primeiras componentes dos subgrupos II e III, o que era de se esperar, uma vez que a
vegetação responde à dinâmica do ambiente estudado. As feições de águas rasas e a turbidez
das águas do estuário na planície estuarina foram melhor evidenciadas através da análise da
composição colorida e das primeiras componentes principais dos subgrupos I e II. Isto se deve
ao fato de que as águas turvas apresentam maior reflectância nas primeiras bandas do sensor
ETM+.
Na segunda componente principal do subgrupo II as feições lineares referentes às
paleodrenagens, drenagens atuais e cercas foram ressaltadas com mais nitidez. Provavelmente
em função dessa componente ter armazenado o resíduo de variância desse subgrupo. Nas
imagens de RADARSAT-1, as feições ligadas às drenagens atuais foram mais difíceis de
serem ressaltadas. Entretanto, os alinhamentos das cercas são bem visíveis, sendo facilmente
detectados em função da variação na cobertura vegetal principalmente quando sob influência
do pastoreio.
Os dados SRTM embora tenham ressaltado as macrofeições vinculadas à topografia,
no limite entre planalto costeiro e planície costeira (Fig. 8.11), não permitem fazer nenhuma
inferência da topografia (ver Capítulo 11) na planície costeira. Entretanto, são úteis para
definir áreas de cobertura vegetal densa (ver Capítulo 9).
A utilização de sensores com maior resolução espacial permitiria caracterizar melhor
os padrões associados às drenagens secundárias. Entretanto deve-se levar em consideração
que a escala espacial do ambiente estudado é um elemento fundamental para a identificação
desses padrões e sua relação com as modificações (ver capítulos 9 e 10).
Os padrões e feições morfológicas observadas nas imagens podem servir como
indicadores de modificações tanto da dinâmica natural como da dinâmica antrópica (Capítulo
9), e ainda para reconstituir as modificações históricas e recentes da planície estudada
(Capítulo 10), em função da potencialidade e limitação dos sensores remotos utilizados
(Capítulo 11).
Tabela 8.2: Imagens de satélite e dados de sensores remotos utilizados.
Plataforma/
Sensor
Modo/
Bandas
utilizadas
Data de Aquisição
Órbita/
Hora Local
Ângulo de
Incidência
Tamanho de Pixel
(m)
Situação
Ambiental (*)
Cessão das Imagens
RADAR GEMS 1000 X 1972 - 45-77
o
- - CPRM
JERS-1 mosaico, L 02 e 03 de out 1995 - 36-41
o
~ 90 m
período menos chuvoso, sem
informação de marés
GRFM
JERS-1 mosaico, L 09 e 10 de mai 1995 - 36-4
o
~ 90 m
período chuvoso, sem
informação de marés
GRFM
RADARSAT-1
M0324302
M0324303
Wide 1, C 15 jan 2003
descendente
06:10
20
o
– 31
o
12,5 m x 12,5 m
início período chuvoso
maré: 2 horas após a
baixamar
PIATAM Mar-
PETROBRÁS
RADARSAT-1
P324316
P324317
Wide 1, C 08 fev 2003
descendente
06:10
20
o
– 31
o
12,5 m x 12,5 m
início período chuvoso
maré: 2 horas após a preamar
PIATAM Mar-
PETROBRÁS
RADARSAT-1
P9387005
P9387006
Wide 1, C 06 set 2004
descendente
06:09
20
o
– 31
o
12,5 m x 12,5 m
período menos chuvoso
maré: 3 horas após a preamar
PIATAM Mar-
PETROBRÁS
RADARSAT-1
P9389371
P9389372
Wide 1, C 30 set 2004
descendente
06:09
20
o
– 31
o
12,5 m x 12,5 m
período menos chuvoso
maré: baixamar
PIATAM Mar-
PETROBRÁS
LANDSAT1-MSS 4, 5, 6, 7 21 nov 1973
241/059
09:59
- 80 m x 80 m
período menos chuvoso
maré: preamar
INPE
LANDSAT 5-MSS 4, 5, 6, 7 15 jul 1986
225/059
09:57
- 57 x 57 m
final período chuvoso
maré: 1 hora antes da
baixamar
GLCF
LANDSAT 4-TM 1 a 5 e 7 08 ago 1992
225/059
09:43
- 28,5 m x 28,5 m
período menos chuvoso
maré: 3,5 h após preamar
GLCF
LANDSAT 7-ETM+ 1 a 5 e 7 18 nov 2000
225/059
10:25
- 28,5 m x 28,5 m
período menos chuvoso
maré: 1 hora antes da
baixamar
IEPA/INPE e GLCF
Dados SRTM (DEM) - 11-22 fev 2000 - -
~ 90 m
(espaçamento dos
pontos)
início período chuvoso, sem
informação de marés
USGS
* referência das marés na estação de ponta do Guará, foz do rio Araguari.
Figura 8.3: Mosaicos das 8 imagens de RADARSAT-1 utilizadas no trabalho.
Quadro 8.1: Chave de identificação dos padrões de uso e cobertura vegetal a partir dos produtos de sensores remotos analisados.
Landsat 7 ETM+
Uso e
Cobertura
da Terra
Descrição
JERS-1
RADARSAT-1
PC1
Subgrupo I
PC1
Subgrupo II
PC2
Subgrupo
II
PC1
Subgrupo
III
Composição
Colorida
Dados SRTM
Floresta de mangue
Feições planas formadas
por massas florestais que
ocorrem na
desembocadura do
estuário, truncando o
padrão de floresta de
várzea. Áreas sujeitas a
inundação sazonal e por
marés.
Tonalidade cinza
médio, textura
lisa.
Tonalidade cinza
médio, textura
pouco rugosa.
Tonalidade cinza
escuro, textura
lisa.
Tonalidade
cinza médio,
textura lisa.
Tonalidade
cinza claro,
textura lisa.
Tonalidade
cinza escuro
textura lisa
Tons de
vermelho
escuro,
textura lisa.
Áreas com falso
relevo em torno
de 15m a 25 m
de altitude
Cobertura de floresta densa
Floresta de várzea
Feições planas e lineares,
bordejando a margem do
rio Araguari ou como
massas florestais dentro
das áreas campestres.
Áreas sujeitas a
inundação sazonal
somada a inundação por
marés no período
chuvoso.
Tonalidade cinza
médio com tons
cinza claros nas
bordas na
imagem de maio
de 1996, textura
rugosa.
Tonalidade cinza
médio, textura
pouco rugosa.
Tonalidade cinza
escuro, textura
rugosa.
Tonalidade
cinza médio,
textura
rugosa.
Tonalidade
cinza claro,
textura
rugosa.
Tonalidade
cinza
escuro,
textura
rugosa.
Tons
avermelhado
mais claro
que o padrão
de floresta de
mangue,
textura
rugosa.
Áreas com falso
relevo em torno
de 15 metros
para as florestas
da borda do
estuário e 25 m
para as maiores
massas florestais
encravadas nos
campos.
Campos arbustivos
Feições planas formadas
de campos arbustivos em
contato com as florestas
de várzea. Sujeitas a
inundação sazonal
somada a inundação por
marés no período
chuvoso.
Tonalidade cinza
média na
imagem de maio
de 96 e cinza
claro na imagem
de outubro de
1995 com alto
brilho, textura
rugosa.
Tonalidade cinza
claro e com alto
brilho para as
imagens de 08 de
fevereiro de
2003, textura
rugosa.
Tonalidade cinza
médio, textura
rugosa.
Tonalidade
cinza médio,
textura
rugosa,
destaque de
paleocanais e
drenagens
atuais.
Tonalidade
cinza médio,
textura
rugosa.
Destaque de
paleocanais
e drenagens
atuais
Tonalidade
cinza médio,
textura
rugosa.
Tons
esverdeados
com manchas
e feições
lineares
avermelhadas,
textura
rugosa.
Áreas com
menor topografia
aparente, em
torno de 5 m.
Landsat 7 ETM+
Uso e
Cobertura
da Terra
Descrição
JERS-1
RADARSAT-1
PC1
Subgrupo I
PC1
Subgrupo II
PC2
Subgrupo
II
PC1
Subgrupo
III
Composição
Colorida
Dados SRTM
Áreas de vegetação
campestre
Área com cobertura
vegetal de gramíneas
recortadas por pequenas
massas e alinhamentos
de floresta de várzea.
Sujeita a inundação
sazonal somada a
inundações por marés no
período chuvoso.
Tonalidade cinza
médio em
outubro e cinza
escuro a muito
escuro em maio.
Textura lisa.
Variações tonais
de cinza claro até
cinza escuro,
com regiões de
alto brilho
dependendo da
data da imagem,
textura rugosa.
Tonalidade cinza
claro e média,
dependendo da
umidade e
cobertura vegetal,
textura lisa.
Tonalidade
cinza escuro a
muito escuro,
textura lisa.
Tonalidade
cinza médio
a escuro,
textura lisa.
Tonalidade
de cinza
claro a
escuro
dependendo
da situação
de umidade
e cobertura
vegetal
Tonalidade
esverdeada,
avermelhadas
quando sob
influencia de
pouca
cobertura
vegetal,
textura lisa.
Idem ao anterior
porém tendendo
a 0 metro
próximo a linha
de costa.
Campos antrópicos
Feições geométricas sem
cobertura vegetal ou com
incipiente cobertura
vegetal resultado do
pastoreio e de
implantação de fazendas.
Cinza escuro,
textura lisa.
Tons cinza
médio, textura
lisa e formas
geométricas bem
definidas
dependendo da
época da
imagem.
Tons cinza médio
a claro,
dependendo da
cobertura vegetal,
textura lisa e
formas
geométricas bem
definidas.
Tons cinza
escuro,
textura lisa e
formas
geométricas
bem
definidas.
Tons cinza
escuro,
textura lisa e
formas
geométricas
bem
definidas.
Tons cinza
claro,
textura lisa e
formas
geométricas
bem
definidas.
Tons verde
claro e
esbranquiçado
quando o solo
está quase que
totalmente
exposto,
textura lisa e
formas
geométricas
bem
definidas.
Mesma
topografia
aparente das
áreas campestres.
Landsat 7 ETM+
Uso e
Cobertura
da Terra
Descrição
JERS-1
RADARSAT-1
PC1
Subgrupo I
PC1
Subgrupo II
PC2
Subgrupo
II
PC1
Subgrupo
III
Composição
Colorida
Dados SRTM
Zona de intermaré
Com formas de planícies
bordeja áreas de floresta
de várzea e de mangues.
Largura de até 4 km na
desembocadura do
estuário e 20 km de
extensão. Canais de maré
meandrantes.
Tonalidade
muito escura,
reflexão
especular, com
tons claros e
brilhantes no
contato com a
floresta de
mangue.
Superfície lisa
entre os
alinhamentos de
vegetação com
tons mais claros.
Tons cinza claro,
textura lisa.
Tons cinza
claro, textura
lisa.
Tons cinza
médio,
textura lisa.
Tonalidades
cinza médio,
textura lisa.
Tons
esverdeados e
azulados,
dependendo
do grau de
exposição
subárea da
planície,
textura lisa.
-
Lagos
Geralmente alongados
com até 14 km de
extensão. Estão
desenvolvidos nas áreas
de vegetação campestre.
Tons escuros
indicando
reflexão
especular.
Tons cinza muito
escuro a negro.
Tons brilhantes
na borda dos
lagos a norte da
planície.
Cinza claro nos
lagos a norte da
planície e muito
claro na planície a
sul do Araguari.
Tons
esbranquiçado
s nos sistemas
de lagos a
norte e tons
cinza muito
claro nos
lagos na
planície a sul
do Araguari.
Tons cinza
claro nos
sistemas de
lagos a norte
e cinza
escuro a
muito
escuro nos
lagos a sul
do rio
Araguari.
Superfície
lisa e negra.
Tons azul
escuro nos
lagos a norte e
azul claro
para os lagos
a sul.
-
Canal estuarino
Faz parte do canal do rio
Araguari e apresenta
largura máxima de 2 km
do leito menor nas
proximidades da área de
estudo.
Tons escuros em
direção a
montante e cinza
médio em
direção a foz,
textura pouco
rugosa e feições
lineares
indicativas de
correntes.
Tons cinza
médio a claro
para a foz,
escuros rio
acima.
Variações nas
feições
dependendo da
época da imagem
e indicativas de
correntes.
Cinza muito claro
na foz a cinza
médio direção rio
acima. Feições
indicativas de
correntes.
Cinza claro
tornando-se
branco em
direção a
montante.
Cinza
escuro
tornando-se
cinza claro
rio acima.
Cinza muito
escuro na
foz e
superfície
negra em
direção a
montante do
rio.
Tons azulados
próximo a
desembocadur
a e azul
escuro em
direção a
montante do
rio.
-
9 OS INDICADORES DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NA PLANÍCIE
COSTEIRA AMAPAENSE...................................................................................................... 209
9.1 INDICADORES NATURAIS 210
9.1.1 Rede de Drenagem ....................................................................................210
9.1.2 Cobertura Vegetal como Marcador dos Processos de Modificação..........215
9.1.3 Variações na Taxas de Sedimentação e Erosão.........................................217
9.2 INDICADORES ASSOCIADOS À DINÂMICA ANTRÓPICA 217
9.2.1 Trilhas........................................................................................................217
9.2.2 Rampas, Ravinamentos e Canais (Valas)..................................................218
9.2.3 Cercas ........................................................................................................218
9.2.4 Turbidez dos Corpos Aquáticos ................................................................218
9.3 TOPONÍMIA 218
9.4 IDENTIFICAÇÃO E ESCALA DOS INDICADORES 219
9.4.1 Dados dos Sensores Remotos....................................................................219
9.4.2 Cartas e Mapas ..........................................................................................220
9.4.3 Trabalhos de Campo..................................................................................222
9.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 223
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
209
Capítulo 9
OS INDICADORES DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS NA PLANÍCIE
COSTEIRA AMAPAENSE
As observações de modificações em áreas costeiras requerem o uso de indicadores
ambientais. Berger (1996) advoga que apesar dos inúmeros trabalhos sobre indicadores para
mensurar o estado do ambiente, poucos são os que se reportam aos processos que determinam
a estruturação física e química dos ecossistemas. Tais processos deveriam receber mais
atenção pois são determinantes para definir as condições ambientais de cada ecossistema.
Os indicadores ambientais para avaliar modificações são subdivididos em três grupos:
geoindicadores, bioindicadores e socioindicadores. Os indicadores de modificação abordados
nesta pesquisa se referem aos geoindicadores.
Os geoindicadores, conforme definição da IUGS – International Union of Geological
Sciences, são elementos capazes de mensurar os processos geológicos e fenômenos em
superfície ou próximos à superfície que variam significantemente em períodos menores que
100 anos (escala histórica) e que fornecem informações úteis para avaliações ambientais. Eles
medem variações geológicas e geomorfológicas tanto para eventos catastróficos quanto para
aqueles graduais, evidentes dentro do tempo de vida humano, servindo para reportar o estado
do ambiente em determinando momento.
Este capítulo se propõe a apresentar e discutir os indicadores que podem ser utilizados
para avaliação das modificações na área estudada, procurando distinguir aqueles que são
passíveis de serem monitorados em imagens dos satélites. Alguns desses indicadores foram
utilizados para reconstruir a evolução no estuário do rio Araguari, a partir do século XVII (ver
Capítulo 10).
Os indicadores foram definidos a partir das observações de campo, dados históricos e
da interpretação de imagens de sensores remotos. A metodologia dos levantamentos de campo
e resgate dos dados históricos foi descrita no capítulo 3 desta tese e o processamento dos
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
210
dados de sensores remotos reportados no capítulo 8. Vale ressaltar que os indicadores de
modificações apresentados são discutidos à luz dos conhecimentos da área de estudo, e dentro
do contexto das modificações que são analisadas nesta tese.
9.1 INDICADORES NATURAIS
9.1.1 Rede de Drenagem
Três elementos referentes à rede de drenagem foram identificados, que poderiam ser
utilizados como indicadores para análise das transformações naturais e antrópicas atuais e das
modificações históricas: padrão e forma do segmento de drenagem e, morfologia dos canais.
Foram observados na área três tipos de padrões de rede de drenagem: dendríticos,
retilíneos e palimpsestos.
Dendríticos
Os padrões de drenagem dendríticos são comuns na planície de inundação e na
planície estuarina. Apresentam baixa densidade de drenagem, grau de controle fraco na
planície de inundação e forte na planície estuarina. Os segmentos de drenagem são em sua
maioria meandrantes (Fig. 9.1).
Figura 9.1: A) Padrão de drenagem dendrítico atual com canais meandrantes na planície de
inundação em áreas de floresta de várzea; B) drenagem retilínea controlada pelos padrões
acrescionários na planície estuarina. Imagem Landsat 7, sensor ETM+, composição colorida
da PC1 do subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G. Fotografia aérea de
1970, acervo CHM.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
211
Retilíneos
As drenagens retilíneas apresentam canais retos ou com baixa sinuosidade, com grau
de controle forte e angularidade alta. São comuns na planície de inundação na área de criação
de búfalos (Fig. 5.44, p.128 e Fig. 5.45, p.129) e geralmente seccionam as drenagens
meandrantes. Ocorrem tamm na planície estuarina, porém não chegam a constituir uma
rede de drenagem com várias confluências de canais (Fig. 5.27B e C, p.111).
Palimpsestos
Os palimpsestos constituem as paleodrenagens estabelecidas na planície costeira,
apresentam geralmente formas meandrantes (Fig. 8.14, p.200) com baixa sinuosidade ou com
tendência retilíneas (Fig. 9.2A). Ocorrem geralmente como canais isolados ou fazendo parte
de rede de drenagens pretéritas que possuíam padrão de drenagem dendrítica (Fig. 9.2B).
Figura 9.2: Paleodrenagens, com margens delimitadas por linhas de vegetação, na planície de
inundação influenciada por marés. A) com tendência retilínea na planície de inundação a sul
do estuário do Araguari; B) canais palimpsestos em padrão dendrítico com baixa densidade de
drenagem e grau de controle fraco. Imagem Landsat 7, sensor ETM+, composição coloridas
das bandas 7, 4 e 3 em RGB. Fotografias aéreas de setembro de 1952 (A) e outubro de 1966
(B), acervo CHM.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
212
O representante principal de drenagem com segmentos meandrantes é o próprio rio
Araguari. Diferente dos segmentos de drenagens palimpsestos, que possuem apenas suas
margens marcadas pela presença de florestas, os segmentos de drenagens meandrantes atuais
estão entalhados na planície costeira dentro das áreas de florestas densas.
Na planície de inundação esses segmentos estão estabelecidos dentro da floresta de
várzea (Fig. 9.1). Esse arranjo é interrompido, quando as áreas foram desmatadas para a
implantação da atividade de pecuária (Figs. 5.47, p.131, 8.12B e C, p.200), ou pisoteadas pelo
rebanho. As principais feições associadas a essas drenagens são as margens erosivas nas
porções côncavas dos canais e as barras em pontais nas porções convexas (Fig. 9.3). Os
registros das estruturas sedimentares nas margens dessas drenagens aparecem obliterados, em
função da cobertura vegetal, nas áreas mais internas da planície de inundação. Em direção à
desembocadura do Araguari estas drenagens apresentam maior influência das marés (Fig.
8.12E, p.200). Os perfis topográficos realizados cortando os segmentos meandrantes atuais
mostram canais com formas de vales assimétricos, com estruturas sedimentares diferenciadas
em cada uma das margens (Fig. 9.3).
Algumas dessas drenagens são cortadas por feições retilíneas ligadas às atividades
antrópicas (Fig. 5.47, p.131).
Na planície estuarina os segmentos meandrantes estão estabelecidos dentro das
florestas de mangue e na zona de intermaré (Fig. 9.1B). Nesta última, apresentam
modificações constantes em seu curso, a exemplo do que ocorreu com a foz do igarapé Novo
(Fig. 5.30, p.115), uma vez que a cobertura vegetal ainda não está estabelecida e por drenarem
áreas com sedimentos inconsolidados, sujeitos a constante retrabalhamento pelas correntes de
marés e pela pororoca.
Os segmentos retilíneos ocorrem também tanto na planície de inundação influenciada
por marés quanto na planície estuarina.
Na planície de inundação os segmentos retilíneos caracterizam-se por: a) secionarem
segmentos de drenagem meandrantes (Fig. 5.47, p.131); b) cortarem a planície de inundação
de forma retilínea e sem seguir o padrão de sedimentação atual (Fig. 5.44B, p.128); c)
concentrarem-se nas áreas de maior freqüência de ravinas e de maior uso do solo para a
bubalinocultura (Fig. 5.44B, C e D, p.128). As margens do canal são geralmente retas (Fig.
5.45B, p.129), com vales de fundo chato (Fig 9.4). As análises das trincheiras não revelaram
diferenças entre os registros sedimentares de ambas as margens desses segmentos.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
213
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
214
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
215
Na planície estuarina os segmentos retilíneos apresentam deslocamento de suas formas
retas, acompanhados pela sedimentação. Em sua linha de deslocamento é comum mudança na
cobertura vegetal apresentando em zoneamento, indicando padrões de acresção (Fig. 5.27C,
p.111).
9.1.2 Cobertura Vegetal como Marcador dos Processos de Modificação
A cobertura vegetal na região estudada pode ser utilizada como indicador de
modificações levando-se em consideração o nível de preservação da área.
Nas áreas mais preservadas da planície ela se destaca como marcadora de processos de
colmatação, acresção e erosão. Nas áreas utilizadas pela pecuária são marcadoras dos
processos antrópicos.
Como indicador de processos de colmatação, linhas de vegetação demarcam margens
de paleodrenagens dentro da planície de inundação destacando-se das áreas campestres
adjacentes (Fig. 9.2). Estes alinhamentos são encontrados por toda a planície de inundação,
porém na área de uso para a pecuária se encontram com seus padrões alterados.
Outro indicador indireto do processo de colmatação é a presença de massas de
florestas na planície de inundação (Fig. 8.6C, p.191). Estas massas se destacam por possuírem
árvores mais altas com uma diversidade de espécies parasitárias em seus troncos indicando
uma floresta madura. Este tipo de cobertura vegetal ocorre, às vezes, ao lado de cobertura
vegetal de várzea mais recente que apresenta árvores de menor porte e espécies mais jovens.
Como marcador de processos de acresção, a cobertura vegetal apresenta feições de
zoneamento que ocorrem tanto no limite da planície de inundação com o canal do estuário,
quanto na planície estuarina. No primeiro o zoneamento ocorre em vegetação de várzea (Fig.
9.5A) e, no segundo, na vegetação de mangue na planície estuarina (Fig. 5.27B e C, p.111).
Alternância entre os padrões de floresta de várzea e áreas campestres (ver Capítulo 8,
Fig. 9.5B) marca linhas acrescionárias associadas a barras em pontal.
Como marcadores de processos erosionais se destacam: linhas de vegetação de floresta
de várzea truncadas por outras mais recentes, terraços erosionais em áreas de cobertura
vegetal de floresta de várzea (Fig. 5.32B, p.116), campestres, campos antrópicos e em áreas
de manguezais na planície estuarina (Fig. 2.6, p.25). Os terraços erosionais são marcados pela
exposição de turfas, camadas de lama, raízes de árvores em posição de vida (Fig. 5.32B,
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
216
p.116), além da presença de blocos de sedimentos consolidados em frente e acima de terraços
erosionais (Fig. 5.32 C a E, p.116).
Figura 9.5: A) zoneamento de vegetação na margem do estuário; B) alternância entre padrões
de áreas campestres e floresta de várzea delimitando acresção em barra em pontal. Fotos:
Odete Silveira, acervo PROBIO.
Nas áreas sob influência da pecuária as diferenças na cobertura vegetal marcam: a)
limites de áreas com níveis de pastoreio diferenciado, que é mais efetivo na presença de
cercas (Figs. 5.50B, p.136 e 8.8, p.194); b) limites entre áreas conservadas e campos
antrópicos, quando foram abertas clareiras em floresta de várzea (Fig. 8.7, p.193 e Fig. 9.6).
Figura 9.6: Desmatamento em áreas de floresta de várzea para implantação de pasto. Notar
as cercas delimitando o terreno e a margem do estuário. Março de 2004.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
217
9.1.3 Variações na Taxas de Sedimentação e Erosão
As taxas de sedimentação e erosão verticais e laterais são importantes como
indicadores das modificações que ocorrem na área.
Na planície de inundação influenciada por marés, as taxas de sedimentação vertical
desempenham um papel fundamental nos processos de agradação, demonstrado pelas
estruturas e resíduos de ocupação soterradas nessa planície (Fig. 5.31, p.115), em bom estado
de preservação e de datas recentes, conforme confirmado nas entrevistas e nas observações de
campo.
Na planície estuarina, os marcadores utilizados em campo mostraram taxas de
sedimentação e erosão verticais da ordem de centímetros em poucos dias. É evidente que a
alta turbidez do canal estuarino (Capítulo 8) indica a grande disponibilidade de sedimentos
nas águas do estuário para que ocorra a deposição. A força de erosão durante o fenômeno da
pororoca é um mecanismo poderoso que atua principalmente nas margens do estuário (ver
item 5.2.3, p.110).
9.2 INDICADORES ASSOCIADOS À DINÂMICA ANTRÓPICA
Estes indicadores estão associados principalmente à pecuária e seus efeitos sobre a
área (ver item 5.4, p.125). Os indicadores que poderiam ser utilizados para avaliar a dinâmica
antrópica estão relacionados às trilhas, ravinas, canais retilíneos (tratado no item 9.1.1), cercas
e turbidez dos corpos aquáticos.
9.2.1 Trilhas
As trilhas indicam a presença de rebanho e deslocamento do gado sobre o terreno.
Corretamente identificadas e monitoradas poderiam servir para indicar onde os processos
erosionais e de compactação do solo seriam mais evidentes, uma vez que a tendência
observada em campo é das mesmas terminem em um local de pastoreio, repouso ou travessia
do rebanho (Fig. 5.43, p.127). Desta forma poderiam ser estabelecidos locais de medições dos
processos erosionais, deposicionais e os associados à concentração de sedimentos em
suspensão, acompanhando assim os processos de transformações do terreno.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
218
9.2.2 Rampas, Ravinamentos e Canais (Valas)
A presença de trilhas, rampas e ravinamentos nas margens das drenagens associadas
com registros de pisoteio de gado pode constituir um indicador morfológico confiável da ação
antrópica relacionada à pecuária, indicando ainda processos de erosão por pisoteio de gado,
cujos elementos são identificados em outras regiões no mundo (ver Capítulo 5).
9.2.3 Cercas
As cercas em si não se constituem elementos de modificação, mas seccionam
paisagens com diferentes níveis de pastoreio e assim podem indicar a dinâmica de
modificação da cobertura vegetal (Fig. 8.8, p.194). Além de serem marcadores da utilização
do solo para a pecuária, elas podem ser utilizadas também para demarcações de processos
erosionais, pelo hábito dos fazendeiros de as construírem geralmente as margens do canal. No
exemplo apresentado na Figura 5. 41A (p.125) as cercas duplas indicam que quase 15 metros
da margem do canal do rio Araguari teriam sido erodidos em 7 anos em função do pisoteio do
gado e ação de correntes.
As modificações induzidas pela presença de cerca e pastoreio do gado podem ocorrer
em escala temporal diária, conforme observado na figura 8.8 (p.194).
9.2.4 Turbidez dos Corpos Aquáticos
A turbidez das águas dos lagos e drenagens na planície de inundação pode ser um
indicador de sedimentos perturbados por pisoteio do gado, cuja relação já foi discutida no
capítulo 5 (Figs. 5.47, p.131 e 5.49, p.133).
A disponibilidade de sedimentos em suspensão pela presença da atividade de
bubalinocultura já foi detectada para a baixada maranhense por Ibañez et al. (2000).
9.3 TOPONÍMIA
A toponímia pode servir como um elemento para detecção da mudança de paisagem.
Na região estudada os nomes de lugares revelam um pouco da temporalidade da origem de
algumas drenagens. Um exemplo é o uso do termo “novo” acrescentado aos nomes
substantivos da drenagem, como igarapé Novo e lago Novo, indicando a presença de feição
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
219
que em passado recente não existia. Por outro lado, o termo rio Tapado indica a presença de
uma drenagem que foi colmatada (Fig. 9.7).
Figura 9.7: Drenagem colmatada na desembocadura do rio Araguari, denominada de rio
Tapado, indicado pela seta, em mapa histórico de 1850. Fonte: Saint-Quantin (1858).
Feições morfológicas antrópicas são identificadas por nomenclatura própria na região
referente a modificações introduzidas pelo homem, tais como o termo “vala”, usado para
ressaltar a interferência da atividade de pecuária na construção de drenagens na planície
costeira (Santos et al., 2003b). Este termo geralmente é associado ao nome de fazendas ou de
pessoas.
Nomes de igarapés associados ao nome de fazenda também são comuns, quando estes
se iniciaram a partir da influência da pecuária na região, caso do igarapé Santana, na fazenda
epônima, aberto na década de 1980 e que apresenta atualmente uma rede de drenagem bem
evidente (ver Capítulo 10).
9.4 IDENTIFICAÇÃO E ESCALA DOS INDICADORES
Os indicadores tratados acima puderam ser identificados através de várias ferramentas
e métodos utilizados nesta pesquisa.
9.4.1 Dados dos Sensores Remotos
Em dados de sensores remotos quase todos os indicadores puderam ser identificados,
com exceção da toponímia e formas dos fundos de vales. No caso da toponímia, as imagens
auxiliaram a identificar o histórico de desenvolvimento das drenagens modificadas (ver item
9.5).
Os indicadores associados à rede de drenagem são evidenciados nas imagens de
acordo com a resolução espacial e espectral do sensor. Nas imagens JERS-1 as grandes
paleodrenagens (Fig 8.14, p.202) e drenagens atuais são possíveis de serem observadas, assim
como algumas redes de drenagens secundárias (Fig. 8.7A, p.193). Nas imagens RADARSAT-
1 a presença de água na planície de inundação não permite que as drenagens secundárias
sejam ressaltadas em todas as imagens (Fig. 8.7C e D, p.193 ). As drenagens principais e
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
220
secundárias são evidentes nos produtos do sensor ETM+, principalmente na segunda
componente principal do subgrupo II para as drenagens atuais e, na composição colorida para
as paleodrenagens. Pequenas drenagens, da ordem de metros a algumas dezenas de metros de
extensão, não podem ser observadas, a não ser nas fotografias aéreas e imagens de sobrevôo,
as quais são importantes para distinguir a forma de segmentos da rede hidrográfica.
Da mesma forma que a drenagem, a cobertura vegetal e sua variação também podem
ser monitoradas pelos diversos sensores, resguardando-se suas limitações (ver capítulos 8 e
11) para a observação dos padrões.
Os reflexos das variações nas taxas de sedimentação e erosão laterais só podem ser
avaliados nas imagens através de análises multitemporais (ver Capítulo 10).
As estruturas antrópicas relacionadas às cercas são evidenciadas nas imagens de
satélite, dependendo da variação no padrão espectral recortado por elas, do tipo de sensor
utilizado e de sua resolução espacial (ver Capítulo 8). Estes elementos influenciam muito
mais na detecção dessas estruturas do que as suas dimensões. O mesmo ocorre com as valas.
Por exemplo, no igarapé Santana, é notável nas imagens do sensor ETM+ a presença do
intrincado arranjo de valas no interior da planície de inundação. As larguras dessas valas no
interior desse igarapé não ultrapassam algumas dezenas de metros.
Rampas, ravinas e poças de dimensões métricas são mais evidentes em recobrimento
fotográfico por sobrevôo e em campo.
A turbidez da água, devido ao pisoteio do gado dentro dos corpos de água, foi
identificada nos produtos do sensor ETM+ (Fig. 9.8) e nas fotografias tomadas em sobrevôo
(Fig. 5.47, p.131).
As trilhas por serem formas lineares muito estreitas (por volta de 40 cm) não puderam
ser percebidas pelos sensores remotos orbitais. Entretanto, são elementos visíveis em imagens
de sobrevôos por sua continuidade linear no terreno. Isto leva a possibilidade de serem
visualizadas em sensores óticos com alta resolução espacial, em função da diferença de
padrão espectral que ocorre entre o solo exposto na trilha e áreas vegetadas nas adjacências.
9.4.2 Cartas e Mapas
O principal indicador que pode ser analisado tanto em cartas e mapas históricos, como
em cartas e mapas recentes, é a toponímia. Estes documentos guardam o registro dos nomes
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
221
de lagos e canais, os quais podem mudar ao longo do tempo, porém seus nomes permanecem
registrados. Além da toponímia, guardam ainda o registro da hidrografia e conseqüentemente
de antigas linhas de costas (ver Capítulo 10). Tais registros são aplicados no capítulo 10.
Figura 9.8: Águas turvas em lagos nas regiões de criação de búfalos, na planície de
inundação influenciada por marés e fora da influência do fenômeno da pororoca. A1) e B1)
composição colorida das primeiras componentes principais dos subgrupos I (B) e III (G) e
banda 4 (R) do sensor ETM+; A2) e B2) primeira principal componente do subgrupo I. Notar
em A1 que o rio Araguari tem uma tonalidade de azul mais escuro, indicando águas menos
turvas.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
222
9.4.3 Trabalhos de Campo
Os principais indicadores relacionados às drenagens que foram observados nos
trabalhos de campo são o tipo do segmento e a forma do vale do canal, através de
levantamentos topográficos e batimétricos. Foram úteis para analisar as drenagens naturais e
antrópicas da ordem de poucos metros, ao mesmo tempo em que permitiram observar as
estruturas sedimentares, as quais indicam os processos associados a essas drenagens e às
feições morfológicas referentes ao pisoteio do gado.
A utilização de rampas, ravinas e valas como elementos de monitoramento dos
processos antrópicos deve considerar uma rápida evolução de devido aos processos
erosionais. Nos primeiros trabalhos de campo tentou-se fazer um monitoramento da abertura
de uma vala que não foi eficaz por dois motivos:
- áreas ocupadas pelo rebanho e para a implantação das fazendas possuem rápido
crescimento da cobertura vegetal. Isto faz com que os fazendeiros limpem o terreno
freqüentemente e, desta forma, antigas rampas e ravinas podem ser entulhadas,
impedindo observação o seu processo de evolução, conforme aconteceu com a vala
observada na Fig. 5.45D, p.129;
- estas formas, quando seguem seu processo de evolução, podem ser entulhadas por
sedimentos devido ao processo erosional a que estão submetidas e desta forma são
abandonadas pelo gado. Isto explica o complexo padrão de canais que se associam nas
áreas pisoteadas pelo rebanho (Figs. 5.45, p.129 e 5.47, p.131) e provavelmente a
indicação nas entrevistas de que muitas valas dentro da planicie de inundação estariam
se fechando.
Outro indicador que pode ser monitorado em campo é a concentração de sedimentos
em suspensão, que pode evidenciar tanto a disponibilização de sedimentos por processos
naturais quanto antrópicos (ver Capítulo 5).
As estruturas antrópicas são bem visíveis no terreno, principalmente as cercas quando
construídas em áreas de vegetação campestre (ver Capítulo 8). Entretanto, cercas em áreas de
vegetação densa, podem ficar escondidas em campo e, neste caso, tomadas de fotografias
aéreas são melhores (Fig. 9.9).
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
223
Figura 9.9: Cerca atravessando áreas de floresta densa e áreas campestres. Foto: Odete
Silveira, acervo IBAMA.
Áreas erosicionais e deposicionais atuais são evidentes nos terraços (Fig. 5.32, p.116)
e plataformas de deposição (5.29A, p.114), respectivamente. A comparação entre estruturas
sedimentares em áreas erosionais pode ser indicadora dos processos pretéritos de evolução da
paisagem. No caso, podem ser utilizadas para analisar se ilhas hoje encontradas dentro do
canal do rio faziam parte ou não do continente e desta forma auxiliar na análise multitemporal
(ver Capítulo 10).
Através de entrevistas de campo, dois elementos indicativos de modificações foram
identificados: toponímia e rede de drenagem. No caso da rede de drenagem foram apontados
os locais onde foram abertos drenos pela ação antrópica direta ou pelo pisoteio do gado. Ao
mesmo tempo, foram úteis para indicar áreas onde as drenagens estão sob modificação seja
por processos naturais ou antrópicos (ver Capítulo 10).
9.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
As diferenças apresentadas para a rede de drenagem com relação ao seu padrão, tipo
de segmento e formas do canal podem ser indicadores para estabelecer se a rede de drenagem
sofreu ou não influência dos processos antrópicos, principalmente na planície de inundação.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
224
Para as drenagens naturais, os perfis apresentam um desenvolvimento de formas
comuns para os segmentos meandrantes, associados aos processos deposicionais e erosionais,
gerando a assimetria na morfologia e diferenças na sedimentação em ambas as margens de
canais (Fig. 9.3).
Drenagens retilíneas são freqüentes dentro da planície de inundação e os estudos dos
efeitos da pecuária sobre o terreno (ver Capítulo 5) indicam que as mesmas podem servir
como indicadores da atuação dos processos antrópicos, estando associadas principalmente ao
pisoteio do gado. Este tipo de drenagem pode ser definido a partir de suas relações temporais
com outras drenagens (Fig. 5.47, p.131), da observação de estruturas sedimentares em ambas
as margens das drenagens e de análises multitemporais (neste caso, desde que seja possível
estabelecer o histórico de ocupação do terreno). A topografia também é um elemento
importante para verificação da morfologia desses canais, que apresenta diferenças para as
drenagens naturais e antrópicas (ver Capítulo 5 e Figs. 9.3 e 9.4).
Em Lima (2002) é mostrado que drenagens com canais retos são poucos freqüentes na
natureza, à exceção daqueles que são controlados por falhas e juntas, ou pela disposição de
cordões arenosos em planícies arenosas ou planícies deltáicas. O controle do deslocamento do
curso da drenagem, em função de variações no regime sedimentar, como observado na
planície estuarina (Fig. 5.27B e C, p.111), também é capaz de estruturar drenagens com
padrões de deslocamento retilíneos, uma vez que na área onde tal processo ocorre não se
observa influência da atividade de pecuária (ver Capítulo 8).
A cobertura vegetal pode ser utilizada como indicador de mudanças tanto na planície
de inundação como na planície estuarina, indicadas pelas feições geomórficas discutidas no
capítulo 8 e item 9.1.2.
Entretanto, Morton (1996) advoga que as linhas de vegetação seriam elementos menos
sensíveis para ressaltar modificações na linha de costa, devido a mudanças temporais em sua
aparência. No entanto, o autor acrescenta que isso pode ser resolvido com o entendimento dos
processos costeiros e dos fatores que afetam a aparência da linha de vegetação em fotografias
aéreas. Tais processos já foram discutidos para a área em foco nos capítulos anteriores
(capítulos 5 e 8).
As linhas de vegetação podem ser um indicador mais confiável para identificação de
paleodrenagens nas imagens, quando estas não estão alteradas pela ocupação do solo para a
pecuária, pois marcam nitidamente margens de paleodrenagens.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
225
Próximo às margens da planície de inundação e na planície estuarina, são
demarcadoras dos processos de acresção e erosão e sua utilização seria mais confiável para a
área do que utilizar a linha d´água em avaliações multitemporais por imagens, pois:
- dentro do estuário, as zonas de intermaré são restritas e totalmente cobertas
durante a preamar;
- as zonas de intermaré na planície estuarina em direção à desembocadura do
estuário são tão amplas e planas que pequenas variações nas marés poderiam produzir
variações de extensões consideráveis nesse indicador.
Além do mais, a variação na cobertura vegetal produz um padrão espectral passível de
ser monitorado na maioria dos sensores utilizados nesta tese, dependendo de sua resolução
espacial e espectral (ver Capítulo 8).
Na planície de inundação, a retirada da cobertura vegetal das áreas de floresta de
várzea pode ser indicador da taxa de ocupação do solo para a pecuária através de imagens de
sensores com resolução espacial e espectral adequada. Entretanto, para as áreas campestres, a
rápida mudança da cobertura vegetal, em virtude das condições naturais e antrópicas, não
permitiria a utilização deste indicador de forma eficaz.
As variações nas taxas de erosão e sedimentação tanto vertical como laterais devem
ser cuidadosamente utilizadas. Para as taxas de sedimentação vertical, deveriam ser utilizados
métodos clássicos como o
210
Pb e
137
Cs. No entanto, deve-se considerar que as medidas em
campo, embora limitada pelo número de experimentos, apontam para altas taxas de erosão e
sedimentação, variáveis dentro do estuário, em função de processos de erosão e deposição
diferenciados.
Durante os trabalhos de campo, foram testados vários métodos de observações das
taxas de sedimentação e erosão (varas graduadas, placas, piquetes, trena e bússola).
Entretanto, em alguns locais, as elevadas taxas de erosão e a velocidade das correntes não
permitiram medições confiáveis, havendo ainda perdas de material e de pontos de referência.
Para a planície estuarina as taxas de sedimentação e erosão verticais poderiam ser
monitoradas através das placas de sedimentação construídas e utilizadas na pesquisa (Fig. 3.6,
p.45), as quais podem também auxiliar no estudo de formação de estruturas sedimentares
durante a atuação do fenômeno da pororoca, em outras áreas no estuário.
Não se deve esquecer, entretanto, que as estruturas antrópicas soterradas na planície de
inundação podem ser um elemento importante de referência para avaliação dos processos
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
226
sedimentares, se aliadas com outros métodos de datação e correlacionadas com o resgate do
histórico de ocupação.
Os vestígios de estruturas associadas a construções de casas (Fig. 9.10) e cercas (Fig.
5.41A, p.125) nas margens do estuário podem ser usados para avaliar as taxas de erosão
lateral e sua identificação depende da busca de informações em campo através de entrevistas.
Semelhante aos mapas antigos, estes indicadores ficam registrados, mesmo que na memória
das pessoas, indicando antigas construções que hoje não existem, ou que se tornaram
obsoletas, como no caso das cercas, sendo, portanto, registros históricos que não podem ser
desprezados.
Figura 9.10: Estrutura de fundos de casa (1) e de antiga cerca (2). Estas estruturas
correspondem à segunda casa, construída em 1995 e abandonada em 2002. Notar que a erosão
ocorre em margem côncava do meandro do rio Araguari, que poderia indicar o processo
natural de migração do canal do rio. No entanto, os moradores apontam consensualmente que
o pisoteio do gado tem acelerado os processos erosionais. Composição colorida das primeiras
componentes principais dos subgrupos I (B) e III (G) e banda 4 (R) do sensor ETM+.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
227
O monitoramento dos indicadores associados às trilhas, rampas, ravinas e valas requer
adoção de sistemática apropriada e constante visitas ao campo, tentativa feita nesta pesquisa.
Entretanto, duas dificuldades ocorreram:
- rápida evolução do processo erosional com perda das referências;
- dificuldade de acompanhamento regular do processo através das revisitas em
campo.
A primeira dificuldade poderia ser sanada com o uso de uma estação total que
permitisse monitorar a evolução das formas em três dimensões (profundidade, largura e
comprimento). A segunda depende de fatores de ordem econômica e logística, pois requer
várias campanhas de campo. Necessita ainda, de que os moradores da região não modifiquem
o local e que condições de acessibilidade existam durante todo o período de monitoramento.
O acompanhamento contínuo com DGPS e estação total poderia ser um método a ser testado
para monitorar a evolução das feições morfológicas, porém há necessidade de ser estabelecer
referências de nível confiáveis, inexistente na área de estudo.
Vale ressaltar que, na literatura, a maioria dos estudos de formação de ravinas está
ligada apenas ao fluxo hidrológico em uma encosta, não se encontrando nenhum caso de
monitoramento em terrenos ocupados pela pecuária. Portanto, a aplicação de métodos
alternativos para a medição desses indicadores como elemento de modificação do terreno é
necessária.
Com relação à elevada concentração de sedimentos em suspensão dos corpos de água
devido ao pisoteio do gado, o monitoramento deve ser feito nos corpos de água fora da área
de influência de processos naturais 1remobilizadores de sedimentos como as correntes de
marés e presença de pororoca (ver Capítulo 5). Essa turbidez é um indicador importante
também para avaliar a influência da pecuária em outras áreas da planície costeira, sendo
observada tanto em fotografias aéreas oblíquas quanto em imagens de satélite dos sensores
óticos utilizados. No entanto, este indicador pode ser monitorado tanto na fonte, no local da
passagem do gado, como também distante desta, porém dentro da mesma drenagem (Fig.
5.47, p.131). Outro fator a se considerar é que essa concentração de sedimentos também
depende da temporalidade, pois seus efeitos cessam se as águas ficarem sem movimento.
Na toponímia os termos geralmente utilizados são decorrentes das observações dos
processos ambientais e foram detectados através de observações em mapas e de entrevistas de
campo com moradores locais. No entanto, este indicador deve ser analisado com cuidado
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
228
quando se tratar de uma área muito dinâmica como a estudada, pois pode levar ao uso de
homônimos, como o associado ao termo novo. Como exemplo, o nome igarapé Novo
denomina duas drenagens diferentes existentes na área de pesquisa. Uma drenagem que
deságua no Araguari próximo à sua desembocadura a leste (Fig. 9.11A) e outra associada ao
rio Gurijuba a sul (Fig. 9.11B). Ambas teriam se estabelecido na década de 1980, conforme
atestado nas entrevistas em campo e confirmado pelas observações dos sensores remotos (ver
Capítulo 10). Estas ambigüidades podem ser sanadas com o reconhecimento da localização
das drenagens e corroboração das entrevistas com outros moradores do local, o que se fez
nesta pesquisa.
Nas cartas históricas, os registros da hidrografia e antigas linhas de costas devem ser
analisados, resguardando-se de problemas referentes à fidelidade das cartas, à realidade do
terreno por conta de mal feitas e à cartografia tendenciosa em virtude de questões políticas e
históricas, além de situações relativas à evolução da própria cartografia ao longo do tempo.
A maioria dos indicadores apresentados foram detectados nas imagens de sensores
remotos através das modificações nos padrões espectral e espacial, assim como através de
análises multitemporais (Quadro 9.1, ver Capítulo 10).
Deve-se considerar, no entanto, que um indicador deva ser passível de medição, ou ter
pelo menos meios de resgatar a informação. No entanto, avaliando-se a realidade da região
estudada, quais indicadores podem ser mensurados com confiabilidade de sua origem? visto
que os registros geológicos e geomorfológicos da área, principalmente na planície de
inundação, parecem estar sendo superpostos pelos processos antrópicos.
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
229
Figura 9.11: Drenagens homônimas. A) Igarapé Novo na margem do rio Araguari; B1)
igarapé Novo ligando o rio Gurijuba ao rio Araguari. Em 1972 essa drenagem era inexistente
na época da aquisição das imagens do projeto RADAM (B2). A fotografia mostra evidências
do processo erosional na confluência do igarapé Novo com o rio Gurijuba. Imagem de satélite
do sensor ETM+, composição colorida das primeiras componentes principais dos subgrupos I
(B) e III (G) e banda 4 (R).
Parte IV: Capítulo 9 – Os Indicadores de Modificações Ambientais na Planície Costeira
Amapaense
230
Quadro 9.1: Indicadores, métodos e escalas de observação neste estudo.
Indicador
Dados de Sensores
Remotos
Cartas Históricas Trabalhos de Campo
Padrão e tipo de
segmentos da rede de
drenagem
Imagens JERS-1, ETM+,
fotografias aéreas verticais e
oblíquas e parcialmente no
RADARSAT-1
Melhor observado para rede de
drenagem com extensão métrica a
dezenas de metros;
Acompanhamento da forma com
drenagem com GPS;
Formas dos vales dos
canais atuais
Observações e levantamentos
topográficos e batimétricos;
Paleodrenagens
Detecção da forma do
segmento da rede de
drenagens em imagens JERS-
1, ETM+, RADAR GEMS
1000, fotografias aéreas
verticais e oblíquas
Detecção da hidrografia
da época da elaboração
do mapa
Sem boa visibilidade em campo
Cobertura vegetal
Imagens de satélite,
fotografias aéreas verticais e
oblíquas, RADAR GEMS
1000
Detecção de áreas com
vegetação de floresta
Observação da estrutura e relações de
contexto
Taxas de erosão e
sedimentação
Variações laterais observadas
em análises multitemporais
Variações verticais na planície
estuarina detectadas com medição
utilizando placas de sedimentação;
variações na planície de inundação
detectadas através de objetos e
estruturas soterradas
Trilhas
Fotografias aéreas verticais e
oblíquas
Medições de largura e comprimento
com trena
Rampas, ravinas e
canais
Imagens de satélite para os
canais de dezenas a centenas
de metros de comprimento;
fotografias aéreas oblíquas
para os canais menores e as
ravinas
Observações da largura, altura, forma
e aspectos da sedimentação
Cercas
Imagens de satélite,
fotografias aéreas oblíquas
Posicionamento com GPS e relação
de contexto com os padrões da área.
Turbidez da água
Imagens do sensor ETM+ e
fotografias aéreas oblíquas
Medições de sedimentos em
suspensão e observação da relação de
contexto do corpo d´água com o uso
e cobertura do solo
Toponímia
Para drenagens naturais
existentes no passado
Entrevistas de campo com
posicionamento das drenagens e
distinção de termos para drenagens
naturais e antrópicas
Figura 9.3: Aspectos topográficos dos segmentos meandrantes naturais na planície de inundação. Os perfis transversais aos canais são
assimétricos. Perfil IN2, no igarapé Novo, fazenda do Sr. Dinaldo, área de influência da pororoca. Imagem Landsat 7, sensor ETM+,
composição colorida da PC1 do subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G.
Figura 9.4: Aspectos morfológicos dos segmentos retilíneos em perfis topográficos e batimétricos, na planície de inundação, fazenda
Santana. Nesta área não existem mais as barras em pontal e as margens dos canais que cortam a planície são retas. Os perfis
batimétricos foram realizados nos canais maiores e demonstram certa simetria das margens. Imagem Landsat 7, sensor ETM+,
composição colorida da PC1 do subgrupo I em B; banda 4 em R; e PC1 do subgrupo II em G.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
10 RECONSTITUIÇÃO DAS MODIFICAÇÕES NO ESTUÁRIO DO RIO
ARAGUARI ......................................................................................................................... 232
10.1 APLICAÇÃO DE MAPAS HISTÓRICOS E IMAGENS DE SENSORES REMOTOS
EM ESTUDOS DE MODIFICAÇÕES COSTEIRAS .......................................................232
10.2 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................234
10.2.1 Mapas Históricos.................................................................................................234
10.2.2 Imagens de Sensores Remotos ............................................................................236
10.2.3 Dados Auxiliares .................................................................................................236
10.2.4 Métodos de Detecção das Mudanças...................................................................236
10.3 MUDANÇAS NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO INFLUENCIADA POR MARÉS
............................................................................................................................................237
10.3.1 Permanência do "Cabo Norte" e desaparecimento da ilha Carpori.....................237
10.3.2. Desaparecimento do Furo do Araguari na Porção a Sul do Estuário .................239
10.3.3. Evolução de Canais Secundários........................................................................242
10.3.4. Detecção das Mudanças no Lago Central do Meandro de Desembocadura.......246
10.4 MUDANÇAS NA PLANÍCIE ESTUARINA NA DESEMBOCADURA DO RIO
ARAGUARI.......................................................................................................................246
10.4.1 Desenvolvimento da Morfologia Atual do Meandro de Desembocadura..........246
10.4.2 Modificações na Planície Estuarina.....................................................................247
10.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .............................................................................250
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
232
Capítulo 10
RECONSTITUIÇÃO DAS MODIFICAÇÕES NO ESTUÁRIO DO RIO
ARAGUARI
Neste capítulo apresenta-se a história de modificações registradas a partir do século
XVII, relacionada ao desenvolvimento do estuário do rio Araguari, tendo como base de
informações os mapas históricos e imagens de sensores remotos, aliados aos dados auxiliares
e os indicadores de modificação discutidos anteriormente.
10.1 APLICAÇÃO DE MAPAS HISTÓRICOS E IMAGENS DE SENSORES REMOTOS
EM ESTUDOS DE MODIFICAÇÕES COSTEIRAS
A aplicação de imagens de sensores remotos é providencial para a caracterização dos
ambientes costeiros e indicações dos processos de modificações da paisagem. Elas permitem
o reconhecimento dos ambientes atuais e de feições geomórficas importantes, produtos das
modificações do passado, registradas nas planícies costeiras, tais como meandros
abandonados, paleodeltas, antigos estuários e registros de planícies acrescionárias (ver
Capítulo 9). Tais elementos são indicativos dos processos que operaram nesses ambientes.
Estas imagens também são úteis para estudar a dinâmica das modificações relacionadas aos
processos costeiros atuais, pelo menos a partir do aparecimento das fotografias aéreas.
No entanto, nem todas as fases de modificações ficam registradas nas planícies
costeiras, principalmente nos trópicos úmidos, sujeitos às condições climáticas que propiciam
o desenvolvimento de uma cobertura vegetal espessa, impedindo a identificação desses
registros. Além do mais, estes registros se superpõem em várias escalas de tempo, e a erosão
pode promover a perda do registro dos eventos acrescionários, tornando mais difícil a
identificação e a reconstituição dos eventos. Quando a ação antropogênica interage no terreno,
fica ainda mais difícil entender a história evolutiva e estabelecer ações eficazes para seu
estudo.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
233
Nesse contexto, os mapas históricos passam a representar um papel importante para a
melhoria do conhecimento dos ambientes costeiros e para análise de suas modificações,
principalmente nas áreas sujeitas a mudanças intensas e constantes. Com efeito, eles mostram
feições representativas da hidrografia e morfologia observadas em diferentes épocas, que
podem ser descritas apesar da sua qualidade limitada devido à precisão de localização. Além
do mais os mapas antigos constituíam uma ajuda à navegação. Estes mapas podem auxiliar na
reconstrução da evolução geológica recente, como é o caso da planície costeira do Amapá.
O único trabalho utilizando mapas históricos, para reconhecer a evolução geológica
recente (seculares) da costa amapaense, é o de Silveira (1998). A autora utilizou os mapas de
Alexandrino (1749), Cavalcante (1896) e Braz de Aguiar (1923) comparando com fotografias
aéreas da década de 70, e imagens de radar do Projeto RADAM (Azevedo, 1971), para o
reconhecimento de antigas feições morfológicas no interior da planície costeira e da evolução
da linha de costa. Tais feições estão associadas à desativação de deltas, baías e canais.
Algumas parecem ser registros de condições hidrográficas e geomorfológicas registradas nos
mapas antigos, o que demonstra a rápida dinâmica de modificações nessa planície costeira.
Plaziat e Augustinus (2004) utilizaram mapas dos séculos XVIII e XIX, comparando
alguns sítios na costa da Guiana Francesa, o que permitiu entender melhor o fenômeno de
progradação e retrogradação dos bancos lamosos existentes nessa costa (ver Capítulo 3), cuja
existência pode ser remontada ao século XVIII.
Modificações recentes têm sido detectadas através de imagens de sensores remotos,
em vários locais nas costas tropicais (ver Capítulo 6). Na costa amazônica, foram observadas
por diversos autores, conforme apresentado no capítulo 7. Alguns desses trabalhos apontam
para as prováveis mudanças associadas à atividade de pecuária (Santos et al., 2000; Santos et
al., 2003), induzindo a modificações morfológicas (capítulos 5, 8 e 9) e criando uma
complexidade para o entendimento das modificações naturais que ocorrem na planície
estudada.
A recuperação da história de modificações de ambientes costeiros, através de mapas
antigos, foi estudada no mundo por vários autores (Warburton et al., 2002; Cooper et al.,
2004; Wal e Pye, 2004). Os trabalhos demonstram que esses mapas podem se constituir em
mais uma ferramenta aliada aos estudos dos ambientes costeiros e que, apesar de suas
limitações, poderiam ser utilizados para costas influenciadas por rápidas mudanças costeiras
(Camfield e Morang, 1996). Neste caso, seria útil para o estudo das modificações na costa
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
234
amazônica, pois as histórias, geológica e humana, são distintas e geralmente ocorrem em
escalas temporais muito diferentes. A costa amapaense é uma das poucas regiões no mundo
onde essas histórias ocorrem em mesma escala de tempo. Por esta razão os mapas antigos
podem ser utilizados para estudar evoluções geológicas-geomorfológicas. No entanto, como
essa é uma situação pouco freqüente, ainda não existe uma metodologia bem desenvolvida
para essa abordagem.
10.2 MATERIAIS E MÉTODOS
O material utilizado neste capítulo corresponde principalmente à análise de mapas
históricos desde o século XVII, com um aumento na freqüência dos dados a partir da década
de 1950, devido ao desenvolvimento de sensores remotos imageadores aerotransportados e
orbitais. Estas cartas e imagens foram correlacionadas entre si, e com dados auxiliares e
indicadores de modificações.
10.2.1 Mapas Históricos
Os mapas históricos foram utilizados para observação visual e comparação com os
registros das paleofeições nas imagens de satélite e fotografias aéreas. Comentários anotados
nos mapas e a respeito dos mesmos foram utilizados como referência para entender as
modificações. A correção geométrica desses mapas não foi realizada devido à necessidade de
recuperação da história de confecção dos mapas, de se recuperar mapas bem preservados e de
se buscar informações sobre as projeções cartográficas e correções das mesmas para as
projeções e datum atuais.
Os mapas históricos da região costeira estudada existem desde o século XVI. Apesar
desses mapas apresentarem pouca informação, para o interior da planície costeira e terrenos
geologicamente mais antigos, nas proximidades das linhas de costa possuem uma cartografia
mais aprimorada, devido à necessidade de auxílio à navegação na região (Fig. 10.1A) e ao
desenvolvimento do comércio com grupos indígenas que habitavam a costa (Fig. 10.1B).
Ademais, a presença na região norte do país de uma área de Contestado, inicialmente
entre Portugal e a França, na região entre os rios Oiapoque e Araguari, durante os séculos
XVIII e XIX, levou à confecção de muitos mapas militares para preparar a arbitragem da área.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
235
A localização da região em área de fronteira do Brasil também contribuiu para que muitos
mapas fossem elaborados.
Figura 10.1: A) Mapa de 1793, mostrando as áreas rasas e cotas batimétricas como auxílio à
navegação na costa amapaense; B) mapa do final do século XIX, mostrando localização de
tribos indígenas (elipses em cinza). Fonte: Archives Départementales de la Guyane.
Um dos problemas relativos a esses mapas é a sua conservação, apresentando
distorções de papel, dobradura, dentre outros, e sua precisão decorrente da evolução da
própria história cartográfica, uma vez que as longitudes eram imprecisas até o final do século
XVIII, enquanto que as latitudes já tinham melhor precisão séculos antes. As datas nesses
mapas são pouco precisas, sendo um dos problemas as inúmeras cópias de autores diferentes
realizadas com maior ou menor precisão dependendo do objetivo do trabalho. Além do mais,
os mapas representavam uma informação defasada de 10 a 20 anos, quando os dados já eram
de domínio público.
Entretanto, estes mapas permitem comparações que podem dirimir parte da história
geológica da planície do estuário do rio Araguari, através das comparações de macro-feições
com os registros encontrados nas imagens de sensores remotos. Isso exige que as paleofeições
existentes nas imagens recentes tenham sido observadas pelos cartógrafos que elaboraram os
mapas, o que é possível quase sempre para os rios e seus limites com a linha de costa. No
entanto, a presença de bancos lamosos ou arenosos é observada apenas se fosse importante
para a navegação.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
236
10.2.2 Imagens de Sensores Remotos
As imagens de sensores remotos fornecem uma visão em várias escalas temporais e
espaciais, tendo sido utilizadas para observação das transformações em escala regional e
local. Elas permitiram identificar os vestígios da morfologia do passado (capítulos 8 e 9) e as
modificações recentes que estão ocorrendo no estuário principalmente em sua planície
estuarina.
As imagens utilizadas foram fotografias aéreas verticais, imagens do Projeto RADAM
(RADAR GEMS 1000), imagens de radares JERS-1 e RADARSAT-1, além das imagens dos
sensores MSS, TM e ETM+ do satélite Landsat 1, 4, 5 e 7. Os processamentos destas imagens
foram descritos no capítulo 8.
10.2.3 Dados Auxiliares
Imagens de fotografias de 35 mm obtidas em sobrevôo foram utilizadas visando
auxiliar no reconhecimento dos padrões morfológicos e na determinação de indicadores de
modificação na área. Entrevistas de campo, através de questionários, foram realizadas com
moradores da região resgatando a história de modificações recentes nas drenagens, a fim de
correlacioná-las com as informações das imagens de sensores remotos. Esta fase permitiu
também identificar outros indicadores de modificação na região, como por exemplo a
toponímia (ver capítulos 3 e 9).
10.2.4 Métodos de Detecção das Mudanças
As modificações foram identificadas através da análise multitemporal dos mapas
históricos e imagens de sensores remotos (ver capítulos 3 e 8), confirmados através dos dados
auxiliares descritos acima, e dos indicadores de modificação apresentados e discutidos no
Capítulo 9.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
237
10.3 MUDANÇAS NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO INFLUENCIADA POR MARÉS
A partir do século XVII, várias evidências de modificações morfológicas foram
detectadas resultantes das transformações ambientais no estuário estudado.
10.3.1 Permanência do "Cabo Norte" e desaparecimento da ilha Carpori
O Cabo Norte é uma das importantes feições fisiográficas da planície costeira do
Amapá, delimitando a planície de inundação influenciada por maré a norte do estuário do rio
Araguari. A presença deste cabo ocorre nos mapas desde o século XVII (Fig. 10.2A) e
permanece nos mapas dos séculos subseqüentes (Fig. 10.2B a D). Este cabo aparece associado
à presença de uma ilha denominada Carpori, registrada em vários mapas analisados.
Figura 10.2: Mapas mostrando a evolução da cartografia das terras da Ilha Carpori, na
planície de inundação a norte do rio Araguari. A a C: Archives Départementales de la
Guyane, D: Arquivo Histórico do Exército Brasileiro.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
238
A antiga ilha Carpori que definia o Cabo Norte posicionava-se na foz do antigo rio
Araguari, e referia-se a uma terra delimitada entre dois braços do rio Araguari: um a oeste e
outro a sul, separando-a do continente (Fig. 10.2B). Nos mapas esses braços parecem ter
dimensões semelhantes e poderiam ser navegáveis, razão pela qual podem ter sido bem
cartografados. Por volta do final do século XVIII o braço a oeste desta terra desaparece, sendo
substituída por uma área alagada, quando deve ter ocorrido a consolidação da atual região dos
Lagos (Fig. 10.3A a C).
Figura 10.3: Mapas do século XIX, mostrando a região da planície de inundação a norte do
rio sem a drenagem que separava a terra de Carpori do continente. Fonte: Archives
Départementales de la Guyane.
O desaparecimento desse braço do Araguari é confirmado no mapa de Saint-Quantin
de 1850 (Fig. 9.7, p.219), que em suas observações descreve: “on remarquera combien est
significatif le nom de Rio-Tapado... que porte la plus grande des criques de l´Araouari qui va
se perdre dans les lacs et marais qui ont remplacé la seconde branche de ce fleuve, depuis
l´obstruction de son embouchure”
*
(Saint-Quantin, 1858). Este evento também é confirmado
em outro mapa do século XIX (Fig. 10.4A).
Cicatrizes da drenagem que separava a ilha Carpori do continente são reveladas nas
imagens Landsat ETM+7 (Fig. 10.4B) e JERS-1 (Fig. 8.14, p.201). Entretanto, nenhuma
diferença espectral distingue a terra de Carpori do continente, a não ser a presença de
paleocanal definido por alinhamento de vegetação de floresta em áreas campestres (Fig.
10.4C).
*
“... nota-se como é significativo o nome de Rio Tapado... que possui o maior dos igarapés do Araouari, e que se
perde dentro dos lagos e pântanos que substituíram o segundo braço deste rio, depois da obstrução de sua
embocadura”.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
239
A análise dos mapas históricos indica que a planície de inundação a norte do estuário
do rio Araguari possui a forma de um cabo há vários séculos e teria se configurado e
consolidado totalmente, tal como é hoje, a partir do final do século XVIII (Fig. 10.2).
10.3.2. Desaparecimento do Furo do Araguari na Porção a Sul do Estuário
O furo do Araguari representaria uma antiga ligação entre os rios Araguari e o
Amazonas, sendo registrado nos mapas analisados somente a partir do século XVII até o
século XX (Fig.10.5).
Figura 10.4: A) Carta do século XIX indicando a toponímia do rio Tapado. Este mapa foi
corrigido após trabalhos hidrográficos de M. Carpentie e; B)
paleodrenagem indicando a
existência de um antigo braço do rio Araguari. Imagem de satélite do sensor ETM+,
composição colorida da PC1 do subgrupo I (B), banda 4 (R) e PC1 do subgrupo III (G); C)
fotografia aérea da paleodrenagem (acervo IBAMA). A) Fonte da carta: Archives
Départementales de la Guyane.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
240
Figura 10.5: Presença do furo do Araguari em diversos mapas a partir do século XVII. Fonte:
A, C a E, Archives Départementales de la Guyane; B, Arquivo Histórico do Exército
Brasileiro.
Em cópia do mapa de 1798 (Figs. 10.5B e 10.6A) registram-se anotações, sem datas,
da obstrução do mesmo. Adonias (1963) em sua obra sobre a cartografia da Região
Amazônica, existente no acervo do Itamarati, assinala em uma carta feita em 1808 as
seguintes anotações: “obstruído (furo Araguari entupido por ordem de Conde de V
a
. Flor)”. A
obstrução do furo é confirmada nas anotações feitas sobre o mapa de 1798 (Fig. 10.6A). Isto
sugere que este furo teria sido obstruído entre 1798 e início do século XIX.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
241
Figura 10.6: A) Mapa de 1798, com posterior anotação revelando a obstrução do furo do
Araguari; B) paleodrenagem do furo do Araguari em imagem de Radar do Projeto RADAM.
Comparar com a Fig. 9.2A - fotografia aérea de 1952. Fonte da carta: Arquivo Histórico do
Exército Brasileiro, imagem de radar: acervo CPRM.
A existência desse furo ainda está viva na memória de alguns moradores na região,
conforme atestado durante entrevistas de campo com moradores antigos da foz do Amazonas,
em 2001. Atualmente ligação feita por este furo entre o rio Araguari com o Amazonas não
mais existe e sua evidência nas imagens de sensores remotos é marcante (Figs. 10.6B e 9.2A,
p.211).
Vale ressaltar que tanto o furo do Araguari quanto parte do “rio Tapado”, são
cartografados no século XX como drenagens ativas (Fig. 10.7).
A presença desse furo, que isolava uma ilha a leste, em direção à foz do Amazonas,
talvez explique a existência de uma região de vegetação densa, existente a sul da planície do
Araguari, aparentemente um pouco mais elevada que a planície atual, onde se desenvolveu a
rede de drenagem do igarapé Grande (Fig. 10. 6B), que configura uma das poucas bacias de
drenagem bem definidas, o que é incomum na planície costeira estudada.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
242
Figura 10.7: Mapa planialtimétrico do Estado do Amapá, mostrando parte do rio Tapado (1)
e o furo do Araguari (2) como drenagens ativas, 3) igarapé Paraíso. Fonte: IBGE.
Na porção leste dessa referida feição, teria se iniciado o processo de acresção na
localidade de Ponta Grossa (Fig. 10.6B), a qual seria concomitante com a formação da barra
em pontal encontrada na margem norte do estuário (Fig. 8.9B2, p.195).
10.3.3. Evolução de Canais Secundários
Ao longo das margens da planície de inundação do rio Araguari são observadas várias
drenagens menores (secundárias). Dentre estas, se destacam duas drenagens homônimas
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
243
denominadas de igarapé Novo (Fig. 9.11, p.230), nome que sugere uma formação recente para
essas drenagens e a do igarapé Santana (Fig. 3.4A, p.43).
O igarapé Novo desenvolvido às margens do rio Araguari (Fig. 9.11A, p.230), teria se
formado por volta de 1988, segundo informações resgatadas nas entrevistas, a partir da
entrada de gado bubalino. Com efeito, nesse local observa-se, em fotografia aéreas de 1952,
uma drenagem de característica natural. Em 1970, registra-se apenas uma drenagem muito
incipiente no local (Fig. 10.8A e B), não sendo registrada na imagem do sensor MSS, em
1973, provavelmente em função da menor resolução espacial desta imagem. Tal drenagem é
registrada com maior expressão nas imagens de 1986, 1992 e 2000. Nota-se então que o
tamanho atual e organização espacial da bacia do igarapé Novo teriam ocorrido a partir da
década de 1980 (Fig. 10.9A, B e C). Seus padrões de drenagens no interior da planície de
inundação apresentam segmentos retilíneos indicando ação de pisoteio do gado como um
fator na estruturação dessa drenagem.
Figura 10.8: Drenagem do igarapé Novo (indicado pela seta) em fotografias aéreas de
1952(A) e 1970(B). Acervo CHM, Marinha do Brasil.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
244
Figura 10.9: Desenvolvimento da bacia de drenagem do igarapé Novo, entre 1986 (A), 1992
(B) e 2000 (C). Notar o desenvolvimento de barras de desembocadura de canal em 2000. A)
Imagem de satélite Landsat 5, MSS, PC2 das bandas 7, 5 e 4 ; B) imagem de satélite Landsat
4, TM, PC2 das bandas 4, 5 e 3; C) imagem de satélite Landsat 7, ETM+, PC2 das bandas 4, 5
e 3.
O igarapé Novo desenvolvido na confluência com o rio Gurijuba (Fig. 9.11B, p.230)
teria sido aberto, segundo os resultados das entrevistas, por volta de 1986, em função de uma
grande enchente no Araguari. Os resultados das entrevistas corroborados pelas análises de
fotografias aéreas indicam que os búfalos só foram introduzidos na área depois que o igarapé
se abriu. Fato natural para a região, pois as fazendas são instaladas sempre à margem de uma
drenagem.
A análise da imagem de 1972 revela que, nesse ano, este igarapé não existia, o que é
corroborado pela imagem do Projeto RADAM (Fig. 9.11B2, p.230). O mesmo aparece bem
expressivo na imagem de 1986. Isto aponta que provavelmente o desenvolvimento desta
drenagem esteja associado ao forte evento de La-Niña ocorrido entre os anos de 1982 e 1983,
que teve reflexos nas cheias do rio Araguari no ano de 1984 (ver Capítulo 5). Deste modo, o
igarapé citado acima teria sido originado por fortes correntes associados a altas velocidades de
fluxo durante a enchente apontada nas entrevistas.
A drenagem do igarapé Santana, aberta, segundo o resultado das entrevistas,
aproximadamente no início da década de 1970, em virtude do escavamento com posterior
pisoteio de búfalos, ao lado da fazenda homônima, é registrado na imagem do sensor MSS, a
partir do ano de 1986 e nas imagens subseqüentes. Em 1971 (Fig. 10.10A), o local de tal
drenagem é registrado pela presença de desmatamento indicando a implantação de uma
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
245
fazenda. Em 1973, devido à presença de nuvens na imagem, não foi possível avaliar se a
mesma estava se desenvolvendo.
Além dessas três drenagens mencionadas, várias outras foram analisadas. Indica-se
aqui como exemplo de drenagem assoreada, o igarapé Paraíso, que teria sido colmatado por
volta de 1992, segundo entrevistas de campo. Tal igarapé aparece ativo desde as fotografias
aéreas de 1952. Na imagem de 2000, parte de sua drenagem no interior da planície de
inundação está assoreada. O igarapé localiza-se em área de perda de energia da pororoca e seu
evento de fechamento parece estar associado a um contínuo processo de assoreamento de
drenagem que vem correndo nessa porção do estuário.
Figura 10.10: A) Fotografia aérea de 1971 mostrando a drenagem do igarapé Santana. Notar
o desmatamento indicando a implantação da Fazenda Santana. B), C) e D) organização da
rede de drenagem do igarapé Santana em 1986, 1992 e 2000. Em B) Imagem de satélite
Landsat 5, MSS, PC2 das bandas 7, 5 e 4 ; C) imagem de satélite Landsat 4, TM, PC2 das
bandas 4, 5 e 3; D) imagem de satélite Landsat 7, ETM+, PC1 das bandas 4, 5 e 3.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
246
10.3.4. Detecção das Mudanças no Lago Central do Meandro de Desembocadura
Dentro da planície de inundação a sul do estuário, outra feição que chama a atenção, é
a presença de um lago influenciado por uma cerca detectada em campo e nos sensores
remotos (Fig. 9.8, p.222).
Este lago passou a ser registrado apenas na imagem de 2000. Em imagens anteriores, o
que se detecta é a presença de uma cerca (Fig. 8.13A, p.200), mais antiga, marcada na
imagem de 1992, que aquela indicada na Figura 8.13B e C, cujo registro só aparece na
imagem de 2000. Isto sugere uma influência das estruturas antrópicas e o confinamento de
gado provavelmente na formação desse lago.
10.4 MUDANÇAS NA PLANÍCIE ESTUARINA NA DESEMBOCADURA DO RIO
ARAGUARI
Como mencionado acima, a forma geral da planície de inundação do estuário do rio
Araguari se estabeleceu a partir do século XIX. Entretanto, mudanças locais são evidentes no
meandro externo, relacionado com a planície estuarina do Araguari.
10.4.1 Desenvolvimento da Morfologia Atual do Meandro de Desembocadura
A modificação na morfologia dos meandros no baixo curso do estuário do rio Araguari
a partir do final do século XVIII parece estar condicionada ao desaparecimento da antiga ilha
Carpori descrita anteriormente. No mapa de 1798 (Figs. 10.2D e 10.11A), a desembocadura
do estuário do rio Araguari aproxima-se da sua configuração atual, não existindo mais a terra
de Carpori que configurava o antigo Cabo Norte. Nesse mapa, observa-se que a planície de
inundação da margem esquerda do rio Araguari ocorre de forma contínua, sendo seccionada
apenas pelo que foi denominada pelo autor do mapa de “sequitos de lagos”. Comparando-se
este mapa com o de 1892 (Fig. 10.3A) e com a imagem de radar do Projeto RADAM (Fig.
10.11B), nota-se que a desembocadura atual do rio Araguari estaria ligada à drenagem
existente a sul da ilha Carpori.
A desembocadura do rio Araguari antes de sua conformação no século XX (Fig.
10.11B) apresenta nos mapas antigos uma sinuosidade muito menor que a atual, com o rio
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
247
constantemente representado com direção oeste-leste. No final do século XIX (Fig. 10.3A), a
planície estuarina na desembocadura do rio Araguari teria adquirido sua configuração atual.
De acordo com Boaventura e Narita (1974), as imagens adquiridas no âmbito do projeto
RADAM mostram terraços que confirmam a migração do rio Araguari para sul. Estes terraços
são evidências da formação de barras em pontal, típicas de rios meandrantes, e foram
provavelmente formados quando o Araguari passou a ter apenas uma desembocadura. Por
outro lado, seriam evidências apenas da migração dessa parte do rio Araguari, e não do rio
Araguari como um todo, como advogava o autor supra citado. Tal fato teria ocorrido entre os
séculos XVIII e XIX, com a colmatação do braço a oeste da terra de Carpori (ver item 10.3.1).
Figura 10.11: Evolução da desembocadura do rio Araguari. A) Carta de 1798 mostrando a
ausência da Ponta Grossa. Comparar com a Fig. 10.3A, carta de 1892, que mostra o segmento
final do meandro da desembocadura do Araguari mais desenvolvido. B) Configuração atual
do meandro final do rio Araguari. Notar o desenvolvimento das áreas acrescionárias (setas
vermelhas), demarcadas por linhas de vegetação, a norte e a sul da foz do estuário. Carta em
A, acervo do Arquivo Histórico do Exército. B) imagem de radar GEMS 1000 do Projeto
RADAM.
10.4.2 Modificações na Planície Estuarina
Três principais modificações foram observadas na planície estuarina a partir dos
resultados da análise multitemporal dos dados de sensores remotos, desde a década de 1950:
progradação e recuo da margem do estuário
Entre 1973 e 1986 observa-se o crescimento na margem esquerda do rio Araguari
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
248
ocasionando a incorporação da ilha do meio do canal ao continente. Entre 1986 e 2000, houve
(Fig. 10.12) um recuo desta mesma área da margem do rio Araguari. Este recuo foi de
aproximadamente 750 m em menos de uma década (entre 1992 e 2000). Hoje a margem
pretérita do estuário é marcada pela presença de uma ilha com vegetação densa, separada por
um canal (Fig. 8.9B1, p.195), a qual em 1986, pertencia ao continente (Fig. 10.12). Esta ilha
não é registrada nas fotografias aéreas de 1950, porém, é registrada nas de 1970 e na imagem
de Landsat de 1973 (Fig. 10.12A).
Na atual planície de inundação adjacente a essa área é possível observar os registros de
semelhantes mudanças, com presença de ilhas de vegetação de alto porte encravada em áreas
com presença apenas de vegetação de gramíneas marcando a presença de canais colmatados.
desenvolvimento de barras de canal
No período entre 1986 e 2000, enquanto a margem do estuário recuava, novas barras
de canal foram se formando (Fig. 10.12D) e hoje se encontram em processo de consolidação
com início de colonização por vegetação rasteira.
desenvolvimento de barras de desembocadura
Na foz do igarapé Novo, que deságua no rio Araguari, barras de desembocadura de
canal foram formadas (Figs. 8.9C1, p.195 e 10.9B e C) entre o período de 1992 e 2000, na
porção côncava de meandro, a qual estava em processo erosivo. Na realidade, observando-se
outra imagem de 1997, estas barras não existiam tratando-se de um fenômeno muito recente
nesta porção do estuário.
As barras encontram-se atualmente em processo de consolidação com colonização por
vegetação, porém estão sendo constantemente retrabalhadas pela ação das correntes e da
pororoca que propicia mudanças em sua configuração (Fig. 8.9A, p.195).
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
249
Figura 10.12: Variação na margem da planície estuarina, em local de existência da pororoca.
Observar a progradação entre 1973 (A) e 1986 (B) e depois o recuo da margem do estuário
entre 1986, 1992 (C) e 2000 (D). Em 2000 a presença de uma ilha marca o registro da antiga
margem do estuário. Esta ilha é a mesma registrada na imagem de 1973.
A) Imagem de
satélite Landsat 1, MSS, composição colorida das bandas 7, 5 e 4 em RGB; B) imagem de
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
250
satélite Landsat 5, MSS, composição colorida das bandas 7, 5 e 4 em RGB; C) imagem de
satélite Landsat 4, TM, bandas 4, 5 e 3 em RGB; C) imagem de satélite Landsat 7, ETM+,
composição colorida das primeiras componentes principais dos subgrupos I (em B) e III (em
G) e da banda 4 (em R).
10.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
As modificações registradas a partir do século XVII, na área de estudo, sugerem que
as mesmas estão ligadas a três processos principais: colmatação da rede de drenagem na
planície de inundação influenciada por marés, processos erosionais e deposicionais em
decorrência da influência das correntes fluviais e de marés, aliadas à presença da pororoca.
Os processos de colmatação foram os registros mais antigos evidenciados na análise
dos mapas históricos e sua correlação com as imagens de sensores remotos. O registro do
desaparecimento do rio Tapado indica que o rio Araguari, em sua porção adjacente ao
estuário, teve sua planície de inundação ao norte, consolidada pelo menos a partir do final do
século XVIII, quando ocorreu a colmatação dessa drenagem. A consolidação recente dessa
planície pode ser corroborada por Toledo (com. verbal), que encontrou idades muito recentes
para os lagos Lodão e Comprido de Baixo, a leste ao rio Tapado (Fig. 10.6). Estas idades, de
310 +/- 30 anos A.P. (sem calibração) e 200 +/- 45 anos A.P. (sem calibração), para estes
lagos, respectivamente, foram obtidas em material orgânico retirado de testemunhos a 195
cm e 170 cm de profundidade. Esses processos de colmatação recente da atual planície de
inundação do estuário do rio Araguari são evidenciados pelos numerosos paleocanais
existentes em sua porção norte, e outros poucos registrados a sul do estuário (Fig. 9.2, p.211).
A presença dessa rede de paleocanais já tinha sido registrada por Boaventura e Narita
(1974) e estudados por Silveira (1998), que apontou a recente história de colmatação dessa
planície. Este autor advoga que esse processo pode ter sido desencadeado por um reajuste da
rede hidrológica em função provavelmente de fatores tectônicos locais e por uma
disponibilidade contínua de sedimentos, uma vez que se tratam de processos rápidos de
agradação.
O processo de colmatação é contínuo na planície de inundação, como indicado pelos
registros em campo (Fig. 5.31, p.115). Tal processo agradacional também é evidenciado pelo
fechamento de canais nos dias atuais (Fig. 10.12)
Os processos de erosão das margens do estuário do rio Araguari e o desenvolvimento
das barras de canal estão relacionados ao retrabalhamento dos sedimentos pelas correntes de
marés e ação da pororoca. Estes processos permitem com que fragmentos do continente sejam
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
251
preservados dentro do rio Araguari (Fig. 10.12).
O fenômeno da pororoca propicia que elevadas taxas de erosão e sedimentação
verticais e laterais ocorram (ver Capítulo 5), o que pode explicar as rápidas modificações
observadas na porção do estuário estudado.
As informações de campo e análise de imagens de satélite indicam que o local onde se
observou o processo erosional das margens do estuário, entre 1986 e 2000, atualmente
corresponde a áreas de perda de energia da onda de pororoca (Fig. 5.18, p.100).
O canal estuarino adjacente a esta margem erosional é o local de formação atual das
barras de canal (Fig. 10.12D), onde predomina sedimentação de areia siltosa e areia fina
(Santos et al. 2005a).
Mais a sul dessas áreas, o processo deposicional é evidenciado pela formação de
barras de desembocadura, em local que deveriam ocorrer processos erosionais, em função da
configuração côncava do meandro do rio Araguari, nessa porção do estuário. A formação
dessas barras está associada à presença do canal do igarapé Novo, e outro canal desenvolvido
mais a leste (Fig. 10.12D). Estes canais funcionam como um molhe hidráulico bloqueando o
fluxo de sedimentos nessa margem do estuário e permitindo o desenvolvimento das barras em
ambos os lados de suas desembocaduras. A norte do igarapé Novo as barras estão interligadas
a uma plataforma erosional. Atualmente, as barras se encontram em processo de
reconfiguração conforme pode ser visualizado na imagem de radar da Figura 8.9A. p.195.
Geralmente estas barras, quando não erodidas, são rapidamente fixadas dentro do
canal estuarino. Isto ocorre pelo processo de agradação em função da contínua deposição de
sedimentos. Esse processo eleva a superfície do terreno, aumentando a altura das barras,
tornando suas superfícies gradualmente mais expostas, à medida que as torna tamm
colonizadas, inicialmente por vegetação rasteira. À proporção que essa vegetação se
estabelece, mais sedimentos são fixados sobre a superfície das barras, e a vegetação será
substituída por espécies de maior porte.
Quando este processo ocorre nas barras de canal, ilhas são formadas dentro do
estuário. Estas ilhas podem ser incorporadas às margens do estuário, tornando-se parte do
continente, através de processo de colmatação dos canais entre as barras vegetadas e as
margens do estuário. Tal processo de incorporação parece ter ocorrido em relação à ilha
testemunho descrita no item 10.4.2 referente ao recuo da margem do estuário entre 1986 e
2000 (Fig. 10.12). Como resultado massas florestais são encontradas dentro da planície de
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
252
inundação do estuário, ressaltadas entre áreas de vegetação campestre, sendo indicadores
desses processos de colmatação. Isto também pode explicar porque alguns registros de barras
em pontal apontadas por Costa (1996) são complexos e muito diferentes do registro
acrescionário da barra do último meandro do Araguari. O que sugere que paleofeições
encontradas na margem convexa deste estuário, nem sempre estão relacionados a barras em
pontais e, portanto, não são registros de processos de acresção e sim de processos de
colmatação.
Apesar das rápidas transformações observadas na planície de inundação e na planície
estuarina do rio Araguari, em relação às modificações históricas não se pode afirmar que as
mesmas possuam exclusivamente as condições ambientais naturais como fatores de
modificações, conforme apresentado para a situação do furo do Araguari.
Nesse contexto, encontra-se também o desenvolvimento das “bacias de drenagem” dos
igarapés Novo, que deságuam nos rios Araguari e Gurijuba e, do igarapé Santana, as quais
foram indicadas como iniciadas em função da atividade da pecuária na região durante a
década de 1980. Estas drenagens se transformaram em uma rede de canais bem relevante na
região, no período de uma década, possuindo vários indícios de transformações antrópicas em
seus segmentos, evidenciando que a atividade da pecuária pode promover mudanças sobre o
solo (ver Capítulo 5), como também pode mascarar os indicadores naturais das modificações,
impedir a sua identificação sobre o terreno e trazer ambigüidades, como ocorreu com o lago
identificado da planície de inundação discutido no item 10.3.4.
Algumas divergências foram encontradas no histórico temporal das cartas, em relação
às modificações relacionadas à planície de inundação do rio Araguari. Isto remete à
necessidade de se resgatar a história de confecção das cartas antigas, pois alguns mapas
podem ser cópias de mapas anteriores. Um exemplo dessa divergência é a preservação da ilha
Carpori em mapas do século XIX (Fig. 10.13) que podem tratar-se de mapas compilados de
outros autores. Por outro lado, erros propositais em função da delimitação do território
contestado podem ter ocorrido, um dos exemplos é a mudança de localização da Baia de
Vincent Pinzon e ao posicionamento do nome do Cabo Norte, que variam em alguns mapas.
__ Parte III: Capítulo 10 - Reconstituição das Modificações na Costa Amapaense
253
Figura 10.13: Exemplos de mapas do século XIX que ainda preservam a ilha Carpori apesar
da existência de mapas mais antigos (Fig. 10.5B) onde a ilha não existia mais. Fonte: Archives
Départementales de la Guyane.
De um modo geral pode-se considerar, entretanto, que afora a variável antrópica, a
tendência do estuário do rio Araguari é de contínuo processo de colmatação de sua planície de
inundação e de assoreamento de seu canal, através da formação de barras de canal e de
desembocadura. No canal estuarino, este fato pode estar associado ao deslocamento da
influência da pororoca cada vez mais para sua foz, uma vez que existem relatos da existência
da pororoca em porções mais interiores do estuário em documentos históricos.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
11 AVALIAÇÃO DOS SENSORES E TÉCNICAS PARA O ESTUDO DAS
MODIFICAÇÕES ................................................................................................................255
11.1 POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DAS IMAGENS UTILIZADAS..............255
11.1.1 Imagens de Radar ................................................................................................255
11.1.2 Dados SRTM.......................................................................................................259
11.1.3 Imagens dos Sensores Óticos ..............................................................................259
11.2. POTENCIALIDADE E LIMITAÇÕES DAS TÉCNICAS E PROCESSAMENTOS
............................................................................................................................................260
11.2.1 Correção Geométrica...........................................................................................260
11.2.2 Análise de Componente Principal por Subgrupo ................................................262
11.2.3 Classificação Não Supervisionada ......................................................................264
11.2.4 Análise Multitemporal.........................................................................................268
11.2.5 Fusão de Imagens Multisensor ............................................................................269
11.3 POTENCIALIDADE DOS MAPAS E IMAGENS PARA A DETECÇÃO DE
MUDANÇAS .....................................................................................................................271
11.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .............................................................................272
PARTE V
AVALIAÇÃO DOS SENSORES E
TÉCNICAS APLICADAS PARA O
ESTUDO DAS MODIFICAÇÕES NA
COSTA AMAPAENSE
254
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
255255
Capítulo 11
AVALIAÇÃO DOS SENSORES E TÉCNICAS PARA O ESTUDO DAS
MODIFICAÇÕES
O uso dos vários dados de sensores remotos e a aplicação das técnicas/métodos nesta
tese permitiram um melhor reconhecimento da região e a avaliação de suas modificações,
porém apresentaram limitações em função das características dos sensores utilizados e das
condições ambientais da área. Este capítulo se propõe a avaliar as vantagens e limitações dos
sensores e métodos aplicados nesta pesquisa, com o intuito de discutir a reprodução da
pesquisa em outras regiões costeiras amazônicas com características semelhantes ou não à
área estudada, dentro da temática abordada.
11.1 POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DAS IMAGENS UTILIZADAS
11.1.1 Imagens de Radar
Os dados das imagens de radar, sem dúvida alguma, podem auxiliar na análise das
modificações atuais, minimizando o problema de disponibilidade de imagens, em virtude da
incidência de nuvens na região estudada.
No entanto, se deve considerar duas abordagens principais nesta pesquisa:
disponibilidade de imagens e as características dos sensores disponíveis.
A disponibilidade de imagens de radares para as análises multitemporais (ver Capítulo
6, item 6.1.3) se torna um problema devido à pequena quantidade de cobertura com radares,
sobre a costa amazônica para anos anteriores ao meado da década de 1990.
Depois do recobrimento realizado pelo Projeto RADAM, na década de 1970, as
imagens mais antigas de radar sobre a costa, correspondem aos satélites SIR-A (Tab. 6.1), em
banda L, que recobriu apenas duas faixas na costa amazônica (Fig. 11.1A), na década de
1980. Na década de 1990, com exceção das faixas recobertas pelo SIR-C/X-SAR (Fig. 11.1B)
e o recobrimento do JERS-1, todos os radares operaram em banda C.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
256256
Figura 11.1: Faixa de recobrimentos com radares em banda L na costa amazônica. A) SIR-A,
em 1981 e; B) SIR-C/X-SAR, em 1994. Fontes: A) Modificado de
http://southport.jpl.nasa.gov/gif/smap.gif ; B) http://southport.jpl.nasa.gov.
As características dos radares que foram utilizados nesta pesquisa, JERS-1, em banda
L, e RADARSAT-1, em banda C, definiram os resultados apresentados nos capítulos
precedentes.
As imagens de RADARSAT-1 mostraram-se muito sensíveis às modificações da
paisagem nas áreas campestres. Isto se deve principalmente em função do comprimento de
onda das imagens utilizadas (5,3 cm). Isto define um baixo poder de penetração na cobertura
vegetal densa, porém, nas áreas campestres, em função da baixa densidade da cobertura
vegetal, os dados permitiram ressaltar as flutuações nessa cobertura vegetal. Além do mais,
como esse tipo de cobertura vegetal é a mais afetada pela atividade de pecuária, com a
presença de estruturas antrópicas, a propriedade de penetração da banda C permitiu evidenciá-
las. Ressalta-se, porém, que tais comparações são válidas para imagens com mesmas
condições de observações (características das imagens do sensor e condições ambientais) (ver
capítulos 6 e 8).
As variações nas condições de umidade da planície, tanto em função da precipitação
(Fig. 11.2), como em função das condições de maré (Fig. 11.3) influenciaram na resposta das
imagens de RADARSAT-1.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
257257
Figura 11.2: Variação da precipitação acumulada para a quinzena antes da aquisição das
imagens RADARSAT-1 de 08 de fevereiro (A) e 15 de janeiro de 2003 (B) utilizadas nesta
tese. Comparar com a figura 8.3. Dados ANA.
Figura 11.3: Condições de maré previstas para a Ponta do Guará (foz do rio Araguari) para as
imagens de RADARSAT-1 analisadas. Comparar com a figura 8.3, p.180. Dados CHM.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
258258
As condições de umidade na área pesquisa em função da precipitação e das marés, era
maior para a imagem de RADARSAT-1 de 08 de fevereiro de 2003 do que para a imagem de
15 de janeiro (Figs. 11.2 e 11.3, comparar com a Fig. 8.3, p.180). Notam-se extensas áreas
com tonalidades claras e com alto brilho nos padrões correspondentes às áreas campestres e
campos arbustivos na imagem de 15 de janeiro de 2003, devido ao efeito de double-bounce.
Este efeito resulta da presença de vegetação inundada que é detectada em função do baixo
ângulo de incidência utilizado (20º a 31º) no modo Wide 1, permitindo deste modo, nas
imagens em condições mais úmidas indicar melhor o limite entre as áreas campestres e
campos arbustivos daquelas áreas de cobertura vegetal densa (floresta de várzea e mangue).
No entanto, deve-se considerar que a precipitação é um elemento a ser utilizado com
cautela para avaliar modificações no padrão de resposta das imagens analisadas. Lontier
(comunicação verbal) chama a atenção que o tipo de cobertura vegetal influencia no tempo
que água precipitada leva para atingir o solo, saturá-lo e permitir a existência de uma lâmina
de água sobre o mesmo, o que resulta, para as áreas campestres estudadas, em uma reflexão
especular nas imagens de radar em banda L, a exemplo do JERS-1. Desta forma, uma análise
de 15 dias anterior à imagem seria necessária, mais do que uma simples análise dos últimos 3
dias. Do mesmo modo, os dados pluviométricos não podem ser extrapolados para grandes
áreas, como tratada nesta tese, pois na realidade são dados pontuais, lançando dúvidas sobre a
representatividade das estações para avaliar os efeitos de precipitação sobre imagens de radar.
Os mosaicos de imagens JERS-1 analisados, embora de baixa resolução espacial
permitiram com que as condições de inundações fossem mais evidenciadas (Fig.8.2, p.178),
como também os padrões associados a variações da cobertura vegetal densa. O que resultou
em melhor identificação das paleodrenagens, nas imagens deste sensor, do que nas imagens
de RADARSAT-1. Uma das causas para isto é a propriedade da banda utilizada pelo sensor
JERS-1 (banda L), que permite uma melhor penetração sobre a cobertura vegetal. A maior
penetração deste sensor explica a identificação das áreas de florestas e campos arbustivos em
função das diferenças de comportamento do retroespalhamento nessas unidades. Tal
diferenciação apresentou dificuldades nas imagens de RADARSAT-1.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
259259
11.1.2 Dados SRTM
Os dados altimétricos fornecidos pelo DEM do SRTM foram adquiridos por radares
em banda C. Devido ao baixo poder de penetração das ondas eletromagnéticas nesse
comprimento de onda, nas áreas de cobertura florestal densa, parte da energia eletromagnética
recebida pelo sensor refere-se à reflexão pelas copas das árvores. Neste caso, para as áreas
tropicais, onde predomina a cobertura vegetal de florestas, as propriedades altimétricas na
realidade representam a altura do dossel.
utilizaram esta propriedade do recobrimento para estimar a altura da vegetação em
duas regiões (Iowa e Norte de Dakota). Baseados em seus resultados os autores sugerem que
esses dados possam ser aplicados para determinar a altura de vegetação utilizando como
unidade mínima de mapeamento 1.8 ha.
Assim, a propriedade dos dados SRTM tamm poderia ser utilizada para estimar
altura da cobertura vegetal na área estudada, por se tratar de uma região plana. Porém, há
necessidade de avaliações quantitativas nesse sentido, sem esquecer da temporalidade dos
dados.
Esta dificuldade de aquisição de dados altimétricos por satélite se soma a ausência de
dados altimétricos precisos na região (ver item 11.2.1), os quais são importantes para a
calibração e correlação dos dados de marés, de perfis sedimentológicos e correção de dados
de sensores remotos. Isto interfere nas avaliações do nível de inundação na planície e não
permite correlacionar com confiabilidade as variações da superfície de água, fator importante
na área de estudo.
Por outro lado, a coleta dos dados do SRTM, limitou-se entre –51
o
e 51
o
de latitude,
em função da inclinação do Shuttle o que é uma vantagem para a região estudada e demais
áreas tropicais, porém constitui-se em uma dificuldade para outras áreas no mundo.
11.1.3 Imagens dos Sensores Óticos
Um dos principais problemas relativos à utilização dos dados dos sensores óticos nesta
pesquisa diz respeito à disponibilidade de imagens sem muita interferência de nuvens para
estudar as modificações.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
260260
A maioria das imagens utilizada corresponde ao período menos chuvoso (Tab. 8.2),
quando a presença de nuvens é menor na região (ver Capítulo 5) e permite ter uma área útil da
imagem maior. No entanto, em alguns momentos, foi necessário recorrer a informações de
imagens com alta incidência de nuvens, porém com o objeto de estudo visível. Isto leva,
muitas vezes, à análise de maior quantidade de imagens do que o necessário, uma vez que,
para averiguar as informações dos eventos de modificações citados nas entrevistas, seriam
necessárias imagens com o objeto de estudo visível de pelo menos dois anos antes e dois anos
depois da data informada.
Os sensores óticos utilizados, como o MSS e o TM, guardam, porém, a potencialidade
de existirem em períodos mais antigos que os atuais e, portanto, servem como referência.
Embora, para o caso do sensor MSS, as imagens possuam pouca resolução espacial e
espectral, dificultando as avaliações de modificações dentro da planície costeira. Para as áreas
da planície estuarina e do canal do estuário, estas imagens constituíram-se uma boa referência,
devido ao bom contraste entre os corpos aquosos e a cobertura vegetal e/ou solo.
11.2. POTENCIALIDADE E LIMITAÇÕES DAS TÉCNICAS E PROCESSAMENTOS
11.2.1 Correção Geométrica
Para análise multitemporal (ver Capítulo 6), a correção geométrica é um passo
importante para a correlação entre imagens. O registro geométrico, através da coleta de pontos
de controle no terreno, usualmente é necessário para refinar essa correção geométrica. Crosta
(1992) advoga que a primeira condição para isto seria a existência de mapa planimétrico ou
plani-altimétrico confiável, em escala adequada. Condição esta inexistente para a costa
amazônica, principalmente para a costa amapaense, por dois motivos principais: a) as cartas
planimétricas da área costeira estão restritas à escala 1:100.000 e estão muito desatualizadas e
b) falta de pontos de controle confiáveis em mapa que possam ser correlacionáveis nas
imagens.
Desta forma, a coleta de pontos de controle em campo para a correção tornou-se uma
tarefa rotineira, quando se pretende refinar a geometria para as comparações e, ao mesmo
tempo, obter-se um bom posicionamento dos objetos em campo, Tarefa fundamental também
para auxiliar na identificação dos padrões e feições nas imagens (ver capítulos 8 e 9).
No entanto, duas premissas fundamentais para aquisição de pontos de controle no
terreno são (a) a necessidade de acesso às áreas que permitam uma boa distribuição desses
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
261261
pontos nas imagens e (b) pontos de controle confiáveis e estáveis. A estabilidade e
confiabilidade dos pontos de controle são uma dificuldade em função das constantes
modificações do nível de água devido às inundações, afogando redes de drenagens que às
vezes constituem o único referencial para coleta dos pontos. As constantes transformações da
paisagem também são uma dificuldade. Isto exige um conhecimento prévio dos processos
dinâmicos e sua localização espacial para encontrar pontos de controle estáveis passíveis de
serem utilizados.
Na planície costeira amapaense, estas premissas são difíceis de serem cumpridas. Tal
fato pode ser corroborado ao se observar as cartas de estações planimétricas e altimétricas do
estado do Amapá, atualizadas em 1998 e 1999 pelo IBGE (Figs. 11.4 A e B). Nestas cartas, a
concentração de pontos planimétricos e altimétricos é principalmente ao longo das estradas e
próximos às drenagens nas áreas do planalto costeiro e embasamento (comparar com a Fig.
2.4, p.23). Isto se deve à dificuldade de acesso a planície, assim como ao esforço logístico e
financeiro para tal empreendimento.
91052
91053
91055
91056
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10029
10030
10031
-55.0 -54.0 -53.0 -52.0 -51.0 -50.0 -49.0
-55.0 -54.0 -53.0 -52.0 -51.0 -50.0 -49.0
-3.0
-2.0
-1.0
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
-3.0
-2.0
-1.0
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
Estações Planimétricas do Estado do Amapá
Estação de Poligonal
Estação SAT
Data de Referência : 10/11/98
IBGE - Diretoria de Geociências
Departamento de Geodésia - Divisão de Dados e Informações
A)
1639-Z
1625-N
1637-D
1649-B
1638-U
1644-B
1633-P
1646-G
1631-B
1624-X
1626-B
1627-E
1647-A
1636-N
1626-J
1635-D
-55.00 -54.50 -54.00 -53.50 -53.00 -52.50 -52.0 0 -51.50 -51.00 -50.50 -50.00 -49.50 -49.00
-55.00 -54.00 -53.00 -52.0 0 -51.00 -50.00 -49.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
9533-T
Estações Altimétricas no Amapá
IBGE - Diretoria de Geociências
Departamento de Geodésia - Divisão de Dados e Informações
Referência de Nível
Data de Referência: 30/06/99
B)
Figura 11.4: A) Mapa das estações planimétricas e B) altimétricas do Amapá. Fonte:
http://www2.ibge.gov.br/pub/Cartas_e_Mapas/Documentos_Geodesicos/Norte/.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
262262
As dificuldades de acesso não só afetam a coleta de bons pontos de controle como a
observação e coleta de outros dados em campo.
Desta forma, nesta pesquisa, foram providenciais as imagens disponibilizadas através
do GLCF (ver Capítulo 8). No entanto, isso não diminuiu as dificuldades de registro das
fotografias aéreas e imagens mais antigas como as do sensor MSS de 1973. Nas fotografias
aéreas, a escala de observação local exige uma precisão maior nos pontos de controle
adquiridos entre as imagens corrigidas e as fotos. Para a imagem do sensor MSS de 1973, a
dificuldade ocorreu em função de uma resolução espacial mais baixa que dos outros sensores
óticos e de imagens de uma época em que a geometria interna era pior que as atuais.
Para o processo de ortoretificação das imagens de RADARSAT-1, utilizando um
modelo numérico de terreno (DEM SRTM), deve-se ressaltar que tal tarefa não seria
justificável para um terreno plano como o da área estudada. Além do mais, o DEM utilizado
relaciona dados de altimetria com cobertura vegetal (ver item 11.1.2), tornando o processo de
ortoretificação menos exato. No entanto, isto permitiu com que se obtivesse uma melhor
comparação e combinação entre imagens do RADARSAT-1 e destas com o produto do sensor
ETM+.
11.2.2 Análise de Componente Principal por Subgrupo
Na análise da matriz de correlação entre os grupos escolhidos para aplicação da
técnica por componente principal, se observa que o subgrupo I apresenta a mais alta
correlação entre as bandas, enquanto que o subgrupo II apresenta a mais baixa correlação
(Tab. 11.1). A maior correlação significa mais semelhanças entre as bandas, trazendo pouca
informação nas outras componentes secundárias. A busca de bandas com pouca correlação na
matriz permite que as diferenças entre estas bandas combinadas sejam ressaltadas em outras
componentes fora a primeira componente principal. Isto explica o fato do subgrupo II ter
apresentado uma distribuição melhor de informações nas duas primeiras componentes,
permitindo diferenciar os padrões de drenagens atuais com maior nitidez na segunda
componente principal.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
263263
Tabela 11.1: Matriz de correlação para as seis bandas do sensor ETM+ utilizadas.
Bandas ETM+ 1 2 3 4 5 7
1 1 - - - - -
2 0.98 1 - - - -
3 0.93 0.97 1 - - -
4 0.35 0.30 0.09 1 - -
5 0.35 0.30 0.17 0.68 1 -
7 0.54 0.51 0.43 0.48 0.92 1
No resultado da análise por componente principal do subgrupo I (bandas 1, 2 e 3), a
elevada correlação entre as bandas usadas permitiu com que cerca de 99% ficasse concentrada
na PC1. A utilização de bandas que possuem comprimentos de onda com máxima refletância
para águas turvas neste subgrupo resultou em uma PC1 que apresenta com bastante nitidez a
localização das águas turvas do rio Araguari e aquelas associadas ao pisoteio de gado em
pequenos lagos localizados na planície de inundação (ver Capítulo 8).
O resultado da análise do subgrupo II (bandas 3, 4 e 5) mostrou que a PC2, que
concentrou 27% das informações das bandas, ressaltou melhor as feições nas áreas úmidas
como a rede de drenagem e zonas de intermaré. Essa componente secundária mostra
claramente o padrão da atual rede de drenagem natural e antrópica da área, bem como das
feições inerentes aos paleocanais e linhas acrescionárias dentro da planície, realçados por
diferenças de textura e forma. Este triplete é portanto o melhor resultado obtido nas análises
por subgrupo de principais componentes.
O resultado da análise do subgrupo 3 (bandas 5 e 7, do infra-vermelho) evidenciou
principalmente as feições associadas à porção emersa da planície, visto que as características
espectrais destas bandas permitem ressaltar áreas de solos arenosos e argilosos. Isto explica,
por exemplo, porque as áreas mais arenosas e siltosas aparecem com um padrão de reflexão
muito alto na composição colorida, resultante das análises por componentes principais.
Esta composição colorida baseada nas principais componentes seletivas apresentou o
melhor resultado quando foi combinada à primeira principal componente dos subgrupos das
bandas do visível (em azul), do infra-vermelho (em verde) e a banda 4 (em vermelho), que foi
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
264264
preservada por sua característica. Nesta composição se concentram as informações principais
das seis bandas utilizadas.
O resultado da análise por componente principal permitiu que imagens com muitas
nuvens pudessem ser utilizadas na análise multitemporal, diminuindo a interferência de destas
na visualização dos dados. As nuvens continuaram nas imagens, porém a maior parte das
informações referente a elas ficou concentrada na primeira componente principal. Este tipo de
análise acabou por ser aplicada também nas imagens do sensor MSS, a fim de ressaltar as
drenagens e auxiliar na comparação das imagens multidatas de Landsat (Figs. 10.9 e 10.10).
11.2.3 Classificação Não Supervisionada
A classificação não supervisionada enquanto método exploratório da imagem
classificada (sensor ETM+) foi um elemento útil antes da definição dos padrões identificados
no capítulo 8. Por outro lado, deve-se reconhecer o caráter aleatório desta classificação. O
produto foi apenas uma análise intermediária e não foi feita nenhuma validação da
classificação, que foi realizada sem utilizar áreas de treinamento, como se usa na classificação
supervisionada, que pode dar uma representação mais “fiel” do terreno.
A utilização da classificação não supervisionada se deve a dois fatores fundamentais:
alta incidência de nuvens nas imagens e a heterogeneidade das classes espectrais dentro de
uma mesma unidade, como reflexo das condições ambientais (naturais e antrópicas) da área.
Uma análise exploratória das classificações realizadas mostrou que muitos pixels
foram classificados erroneamente, havendo confusões entre classes de terrenos com maior
umidade, águas muito turvas e sombras de nuvens (Figs. 11.5 e 11.6). Observa-se, no entanto,
que para a classificação da principal componente do subgrupo I (Fig. 11.5) foram
identificadas cinco classes no canal estuarino, representando as variações na turbidez das
águas do estuário, o que não foi possível observar na classificação da primeira componente
principal do subgrupo III (Fig. 11.6). Confusões bem evidentes são visualizadas entre as áreas
de florestas, sombras de nuvens e campos arbustivos no resultado da classificação do
subgrupo I (Fig. 11.5), que são menos visíveis na classificação do subgrupo III (Fig. 11.6).
Estas confusões entre as classes são mantidas e se tornam mais complexas para o produto da
classificação colorida (Fig. 11.7). Porém, nota-se que dentro do canal estuarino a separação
entre as classes de turbidez da água é melhor. Provavelmente em função da homogeneidade
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
265265
no padrão de reflexão das águas dentro do estuário, o que não é possível para a planície de
inundação.
Figura 11.5: A) Imagem da PC1 do subgrupo I (bandas 1, 2 e 3) do sensor ETM+. B)
Classificação da PC1 da respectiva imagem.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
266266
Figura 11.6: Produto da classificação não supervisionada aplicada em imagem do sensor
ETM+. A) imagem da PC1 do subgrupo III; B) Classificação da PC1 do subgrupo em A.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
267267
Figura 11.7: A) Imagem do sensor ETM+ para a composição colorida resultante da PC1 do
subgrupo I (bandas 1, 2, 3) em B, banda 4 em R e PC1 do subgrupo III (bandas 5 e 7) em G.
B) produto da classificação colorida aplicada na imagem em A.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
268268
11.2.4 Análise Multitemporal
Dentre as principais vantagens da utilização dos dados apresentados para a análise das
variações temporais nas imagens e deste modo identificação das mudanças, cita-se:
- para as imagens JERS-1, as análises multidatas permitiram identificar as áreas mais
susceptíveis a inundação na planície estudada (Figs. 8.2, p.178 e 8.15, p.204). De certa
forma, observou-se também a existência de uma correlação dessas áreas, com aquelas
mais pressionadas pelo rebanho bubalino, evidenciado pelo destaque dos padrões de
drenagens com interferência antrópica.
- para as imagens de RADARSAT-1, estas análises evidenciaram as modificações de
cobertura vegetal na planície de inundação, relacionada com as áreas campestres. Na
planície estuarina, permitiu diferenciar as áreas em diferentes situações de marés (Fig.
11.8).
As variações na coloração desta figura multitemporal ressaltam as áreas que
apresentam instabilidade nos padrões detectados (ver item 8.2.3, p.201). Por outro se tornam
mais evidentes os limites entre os padrões das áreas de cobertura vegetal densa daqueles
relacionados as áreas campestres e arbustivas.
As comparações entre as imagens de Landsat forneceram elementos úteis para a
identificação nas modificações principalmente na rede hidrográfica na planície de inundação
seja em tempos históricos (séculos) ou recente (1973-2000). No entanto, nesta análise o
registro entre imagens mais antigas e recentes apresenta maiores dificuldades devido à baixa
qualidade das imagens mais antigas do Landsat, em termos de resolução espacial e espectral.
Na análise multitemporal, a resolução espacial das imagens se tornou uma dificuldade
para a correção geométrica das fotografias aéreas com as imagens do Landsat, tomando-se
muito tempo nesse registro, em conseqüência, também, desse registro ter sido realizado entre
imagens multisensor, tornando o processo mais difícil.
Deve-se considerar, entretanto, que o acesso a imagens de acordo com o ritmo da
dinâmica de modificações em função dos processos dinâmicos da região, se coloca como um
problema para as análises multitemporais. Um exemplo é a falta de acesso a imagens com
períodos intermediários entre as imagens analisadas e em épocas indicadas nas entrevistas,
como períodos de modificações na rede de drenagem (ver Capítulo 10).
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
269269
Figura 11.8: Composição colorida de imagens multidatas do sensor RADARSAT-1. Imagens
de 06 (R) e 30 de setembro de 2004 (G) e, de 08 de fevereiro de 2003 (B). Notar as maiores
variações para a planície estuarina e áreas campestres. Em cinza escuro as áreas de florestas
sem aparentar mudanças no padrão identificado no sensor, porém essas áreas deveriam estar
inundadas para a aquisição da cena de 08 de fevereiro. Em magenta as áreas da planície de
intermaré expostas na imagem de 30 de setembro e dentro da planície de inundação. Esta cor
destaca as diferenças de umidade nas áreas campestres. Em amarelo as variações entre as
imagens de 08 de fevereiro de 2003 e de 06 de setembro de 2004 refletem às mudanças na
situação de inundação por marés na planície de intermaré e pela precipitação, dentro da
planície de inundação influenciada por marés.
Na análise multitemporal, a necessidade de se ter imagens em mesmas condições de
observação em relação aos parâmetros do sensor e condições ambientais é importante para
evidenciar as mudanças.
11.2.5 Fusão de Imagens Multisensor
Duas vantagens podem ser citadas em relação ao produto da fusão multisensor: a)
ressalto de padrões e feições geomórficas, pouco nítidas nas imagens RADARSAT-1; b)
diminuição da interferência de nuvens visualizadas nas imagens do sensor ETM+, resgatando
parte das informações mascaradas (Fig. 11.9).
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
270270
Figura 11.9: Produto híbrido proveniente da fusão de imagens RADARSAT de 08 de
fevereiro de 2003 e composição colorida do sensor ETM+ proveniente da análise de principal
componente seletiva. FV (floresta de várzea), M (mangue), CA (campos arbustivos) e AC
(áreas campestres).
No geral, o produto resultante, apresenta pouca variação de cor. No detalhe, este
produto permitiu distinguir as áreas de floresta de várzea daquelas dos campos arbustivos, do
que simplesmente as imagens de RADARSAT-1. As diferenças entre as florestas de várzea e
mangue se tornaram mais evidentes, bem como a rede de drenagem secundária. No canal
estuarino, nota-se nitidamente o limite da influência de águas turvas coincidente com o limite
de ação da pororoca no estuário. No entanto, a fusão de dados de sensores óticos e radar pode
ser uma prática limitada para a área estudada, não só pela falta de imagens com pouca
incidência de nuvens, como também pela variação nas condições de inundação do terreno (ver
Capítulo 5). Isto remete a necessidade de que esses produtos devam ser elaborados pelo
menos com imagens de mesmas condições de marés, mesmo ano e período sazonal.
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
271271
11.3 POTENCIALIDADE DOS MAPAS E IMAGENS PARA A DETECÇÃO DE
MUDANÇAS
A análise da integração multidados e multisensores para detecção de modificações na
área estudada permite considerar que os mapas antigos e as imagens dos sensores remotos
possuem um bom potencial para detecção de mudanças no estuário estudado (Tab. 11.2).
Este potencial varia em função da dimensão da feição identificada, também passa pela
capacidade das imagens de sensores remotos em identificar as feições procuradas (ver
capítulos 6, 8 a 10).
Tabela 11.2: Potencial dos mapas históricos e imagens de sensores remotos para detecção dos
elementos que registram mudanças na área estudada. Comparar com a Tab. 9.1, p.231.
paleo-
drenagens
drenagens
atuais
(planície de
inundação)
valas
massas
florestais
residuais
linhas de
vegetação
sedimentação/
erosão-variação
laterais na
planície
estuarina
cercas
turbidez
da água
toponí-
mia
mapas
históricos
E -
-
E P
-
- - E
fotografias
aéreas verticais
e 35 mm
E E
E
E E
-
E E -
imagens de
radar GEMS
1000
E M
1
- E E
E
- - -
mosaico JERS-1 E
1
M
1
P M M M P - -
imagens
RADARSAT-1
P P
1
P
P P
E
E - -
imagens de
satélite Landsat
E E
1
E
E E
E
M E -
E = excelente M = médio P = pobre
1
– dependendo das dimensões da drenagens.
Por outro lado, há de se considerar que as imagens de sensores remotos atuais não são
capazes de mostrar todas as informações relacionadas às cicatrizes da história de
modificações de curto período na área estudada. A superposição de eventos naturais resulta no
mascaramento de registros e o uso da planície para a pecuária vem destruindo os registros
geológicos-geomorfológicos (ver Capítulo 5).
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
272272
Na utilização dos dados de referência como os mapas históricos e as fotografias
aéreas, deve-se considerar que, a inexistência de arquivos que preservem a história de
confecção desses mapas e dos recobrimentos aéreos, é um fator limitante para que os mesmos
sejam utilizados com maior precisão.
11.5 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
De um modo geral, pode-se afirmar que a utilização dos dados de sensores remotos e
técnicas utilizadas nesta tese, para reconhecimento das características da área estudada e suas
modificações foram satisfatórios. No entanto, uma dificuldade se refere à disponibilidade de
imagens. Esta limitação tendeu a desaparecer no ano 2000, com o recobrimento mais contínuo
da região por outros sensores.
Os dados de radares apresentaram complementaridade, pois enquanto o JERS-1
permitiu uma avaliação regional, as imagens de RADARSAT-1 permitiram uma análise mais
sub-regional e pode-se considerar até a nível local, uma vez que, foram detectadas pequenas
variações na cobertura vegetal, devido à sensibilidade do comprimento de onda deste sensor.
No entanto, para comparações referentes às décadas anteriores, no sentido de resgatar
situações onde a planície costeira estudada deveria estar mais preservada, os dados originais
das imagens JERS-1 são importantes.
O resultado da aplicação das técnicas para a análise multitemporal, nas imagens JERS-
1, permitiram evidenciar as áreas sob maior influência das inundações dentro da planície
costeira que, de um modo geral, coincidem com áreas de maior uso do solo para a pecuária.
Para as imagens RADARSAT-1, as análises multitemporais evidenciaram variações no
retroespalhamento principalmente nas áreas campestres que, em alguns momentos, estão
ligadas à variação da cobertura vegetal em função de pastoreio (Fig. 8.8, p.194), causando
uma ambigüidade na interpretação dentro da planície de inundação e, dificultando a
interpretação das condições de inundação. No entanto, para as áreas de campos arbustivos, o
padrão de brilho e tonalidade das imagens permite a correlação das mudanças do padrão de
retroespalhamento com o fenômeno de inundação, em função da menor variação na cobertura
vegetal (ver Capítulo 8). Contudo, deve-se considerar que as condições ambientais e
parâmetros do sensor podem modificar qualitativamente os mecanismos de interação entre o
sinal radar e os elementos de superfície do terreno/água, adicionando dificuldades para
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
273273
correlacionar a interpretação aqui apresentada e a resposta do radar para imagens de sensores
SAR em outras condições de observações.
Os produtos resultantes das técnicas aplicadas aos sensores óticos foram os que melhor
permitiram a análise de modificações ambientais, entre a década de 1950 e ano de 2000, tanto
pelo fator de disponibilidade dos dados, quanto em função das características espectrais dos
sensores analisados. Porém, com pobreza na análise para os dados de Landsat do sensor MSS
tanto por sua resolução espectral, quanto por sua resolução espacial e incidência de nuvens
sobre as áreas avaliadas. A resolução espacial das imagens deste sensor não permitiu adquirir
informações para verificar a situação da área antes da maior influência da bubalinocultura. Tal
dificuldade poderia ser sanada utilizando os dados de recobrimento de fotografias aéreas da
década de 1970. Entretanto, a maioria destes dados não foi encontrada para a avaliação dessa
situação.
Os fatores climáticos relacionados à cobertura de nuvens, em função da ZCIT são
elementos restritivos para utilização de imagens de sensores óticos, porém podem ser
potenciais, no caso da ocorrência do fenômeno El-Niño, permitindo a aquisição de imagens
com menor cobertura de nuvens e assim, com melhor potencial para observação da planície
estudada. Isto se refletiu, por exemplo, na escolha da imagem de 2000, como base utilizada na
pesquisa. Além do fato de ser uma imagem com boa geometria.
Os produtos derivados do processamento e análise das imagens deste sensor ajudaram
tanto a entender o alcance dos processos sedimentares relacionados à ação da pororoca dentro
do estuário do Araguari. Permitiram também identificar as áreas sujeitas a influência
antrópica através do mapeamento dos padrões de drenagem e turbidez da água.
Os resultados da análise por principal componente mostraram ser este, um método
eficaz para ressaltar os padrões e feições na planície costeira estudada, como também para
aumentar a área útil da imagem para as análises, minimizando, a interferência de algumas
nuvens restritivas para estas análises. Acredita-se que este tipo de análise deva ser mais
aplicado, não apenas para condensação de informações das bandas de sensores óticos
multiespectrais, com a finalidade de fusão com outros sensores, como o radar, mas também
para análise do conteúdo das informações.
Vale ressaltar, que afora as potencialidades e limitações dos dados de sensores
remotos analisadas, a área estudada apresentou uma problemática inicial que foi a delimitação
da área de pesquisa. Isto se deve ao fato de que, a abordagem estratégica nas diferentes
PARTE V: CAPÍTULO 11 – Avaliação dos Sensores e Técnicas para Estudo das
Modificações
274274
escalas e, a dimensão dos ambientes envolvidos, não permitiria uma delimitação de área
preliminar para os estudos locais. Deste modo, buscando definir as áreas onde as
transformações poderiam ser evidentes nas imagens, as entrevistas, aliadas às informações de
campo foram providenciais para um primeiro momento na identificação das áreas susceptíveis
às modificações ambientais.
Acredita-se que a área, cuja dimensão não favorece um campo exaustivo, só foi
possível de ser avaliada, com melhor propriedade para os diferentes produtos de sensores
remotos, em virtude das informações adquiridas nas várias campanhas de campo e adquiridas
no âmbito de outros projetos executados na área. Pois, isto permitiu selecionar e delimitar os
alvos, tanto dentro da planície de inundação e quanto do estuário. No entanto, o problema
relativo com as interpretações e comparações entre os padrões e feições analisadas, só foram
solucionados à medida que a área foi sendo investigada em campo, com as integrações das
informações provenientes das imagens e dados colaterais. Isto reafirma que para a região, a
aplicação de dados de sensores remotos para o estudo de modificações, deve ainda primar
pelo conhecimento da dinâmica natural e da dinâmica antrópica em campo.
Ressalta-se ainda que estudos relacionados a modificações ambientais utilizando os
dados e técnicas aplicadas nesta pesquisa, devem verificar sempre as condições de observação
dos alvos, devido às características dos sensores e da dinâmica natural e antrópica a que a área
está submetida.
PARTE VI
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS
275
Parte VI: Capítulo 12: Considerações Finais
276
Capítulo 12
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
12.1 CONCLUSÕES
A análise dos dados permitiu confirmar as hipóteses propostas nesta pesquisa.
Hipótese 1: existem modificações ambientais na planície costeira amapaense.
A hipótese foi confirmada. Os resultados apontaram modificações tanto dentro da
planície de inundação quanto na área da planície de maré.
Hipótese 2: se refere à origem das modificações, se naturais ou antrópicas.
Os dois tipos de modificações foram confirmadas. As forçantes naturais regem
principalmente a dinâmica de inundação da região, resultando em uma paisagem dinâmica.
Estas forçantes estão relacionadas aos eventos ENSO, variação da ZCIT, influência do rio
Amazonas, variação na descarga do rio Araguari e à maré. As principais modificações estão
associadas a colmatação e abertura de drenagens, dentro da planície costeira. Variações nas
taxas de erosão e sedimentação e na concentração de sedimentos em suspensão ocorrem na
planície estuarina refletindo-se em mudanças morfológicas. A bubalinocultura como processo
antrópico responsável por modificações, traz mudanças na paisagem e nos parâmetros da
qualidade de água (turbidez). Na paisagem, as mudanças estão associadas com a morfologia
do terreno a partir de criação de trilhas, rampas, ravinas e valas, e modificação da cobertura
vegetal. Essas modificações são mais efetivas na planície costeira e foram intensificadas em
tempos recentes (desde a década de 1970).
Hipóteses 3 e 4: os dados de sensores remotos podem identificar os produtos dessas
modificações e as forçantes responsáveis pelas modificações.
Ambas as hipóteses foram confirmadas através da aplicação dos dados de sensores
Parte VI: Capítulo 12: Considerações Finais
277
remotos óticos (Landsat MSS, TM e ETM+), de radares (RADAR GEMS 1000,
RADARSAT-1 e mosaico de imagens do JERS-1) e das fotografias aéreas. Os dados foram
úteis para auxiliar tanto no reconhecimento dos ambientes quanto na identificação dos
produtos das modificações e processos associados.
Os resultados das modificações foram observados nos dados de sensores remotos
utilizados, nas mais diversas escalas, como também em trabalhos de campo e se refletem nos
padrões de uso e cobertura do solo e nas feições identificadas. De um modo geral, as imagens
RADARSAT-1 permitiram identificar as modificações associadas à área de cobertura vegetal
menos densa (áreas campestres e campos arbustivos) e na planície estuarina. O mosaico de
imagens JERS-1 e dados de SRTM foram úteis para auxiliar na identificação dos padrões e
feições associadas aos ambientes existentes na área, sendo que as imagens do JERS-1 tamm
permitiram identificar a dinâmica de inundação da planície costeira. As fotografias aéreas e os
dados de sensores óticos (Landsat MSS, TM e ETM+) forneceram elementos para identificar
as mudanças desde a década de 1950. No entanto, a imagem do sensor ETM+ apresentou o
melhor resultado para o mapeamento dos ambientes, apesar das limitações dos sensores óticos
em função da cobertura de nuvens.
A análise dos padrões e feições, tanto nas imagens de sensores remotos como a partir
dos trabalhos de campo e de análise de dados históricos, permitiu identificar indicadores de
modificações que podem ser utilizados para avaliar as mudanças. Estes indicadores
permitiram reconstituir parte da evolução do estuário do rio Araguari e da planície de
inundação desde o século XVII e demonstraram que esta área apresenta uma complexidade
em sua evolução, que deve ser considerada à luz da evolução dos ambientes adjacentes que se
formaram na planície costeira do Amapá.
12.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As modificações estudadas no âmbito do estuário do rio Araguari são muito dinâmicas
e de grandes proporções. Isto leva a considerar a região costeira do Amapá como uma área
onde os processos geológicos-geomorfológicos modificam a paisagem em curto espaço de
tempo. Além disso, trata-se de uma região onde os processos antrópicos estão imprimindo
modificações na paisagem em curto espaço de tempo, trazendo ambigüidades para o estudo
das modificações por sensores remotos.
Parte VI: Capítulo 12: Considerações Finais
278
Apesar de na linha de costa encontrarem-se áreas sob a influência de fortes processos
erosivos, os registros avaliados dentro da planície de inundação apontam para um contínuo
processo agradacional nos últimos séculos, registrados pelo preenchimento de canais e
desativação de drenagens, o qual pode estar sendo influenciado por possíveis processos
tectônicos locais e variações do nível do mar, necessitando de maiores investigações para
determinar a influência dominante.
No contexto do uso das ferramentas como a cartografia histórica, os resultados
evidenciaram que mapas antigos podem fornecer elementos para entender a dinâmica de
evolução de costas sujeitas a rápidas modificações e como tal devem ser conservados. Por
outro lado, ajudam a avaliar as tendências de modificações sobre a região costeira, permitindo
também auxiliar programas de gerenciamento costeiro. Os mapas históricos podem ser
utilizados como mais uma ferramenta para os geocientistas estudarem as modificações em
áreas costeiras. Entretanto, há de se considerar que em virtude de serem peças históricas o
acesso aos mapas é restrito, o que dificulta seu uso em estudos mais acurados e o avanço no
conhecimento das modificações em ambientes costeiros atuais.
Os relatos das entrevistas, apesar de apontarem algumas divergências de poucos anos
entre os acontecimentos, foram úteis para identificar as transformações que ocorreram na
área, as quais foram confirmadas, a partir do uso dos dados de sensores remotos e avaliações
de campo. Isto permite concluir que as observações dos processos de modificações pelos
moradores locais, podem servir como uma ferramenta na busca da história de modificações
em ambientes costeiros sujeitos as rápidas mudanças como o estudado. Este foi um passo
inicial neste trabalho que se mostrou muito proveitoso e eficiente.
De um modo geral, pode-se considerar que os dados de sensores remotos e as técnicas
aplicadas, mesmo aqueles com baixa qualidade espectral e baixa resolução espacial, podem
fornecer informações importantes sobre a dinâmica dos processos na planície estudada e as
transformações que nela ocorreram, devido às dimensões dos ambientes nessa região e o
contexto em que eles se encontram.
As imagens de radares e de sensores óticos possuem informações complementares
para o estudo de modificações, porém, em virtude das características peculiares da área e a
superposição de eventos antrópicos e naturais, devem ser utilizadas com cuidado. Tendo-se
em mente que as condições de observação (características dos sensores e condições
Parte VI: Capítulo 12: Considerações Finais
279
ambientais) podem trazer complicações na aplicação destas ferramentas.
As modificações de curto período puderam ser reconstituídas desde o século XVII,
através de mapas cartográficos em comparação com imagens de sensores remotos permitindo
uma análise diacrônica com multisensores e multidados em escalas temporais seculares,
anuais e sazonais.
12.3 RECOMENDAÇÕES E PERSPECTIVAS
Em virtude dos resultados terem indicado que fenômenos globais como o El-Niño e
La-Niña serem forçantes que potencializam as modificações na área de estudo, deve-se,
aprimorar os estudos das modificações nesta área, por meio de análise de séries mais
contínuas de imagens, visando compreender tamm a influência desses fenômenos na
descarga de água e sedimentos do rio Araguari através de medições.
A pororoca, enquanto forçante local que imprime rápidas modificações dentro do
estuário, deve ser melhor estudada, a fim de encontrar elementos indicadores desse processo
que permitam avaliar melhor os registros sedimentares na área estudada. Para isso é
necessário partir da reconstrução de eventos de transformação da planície, a fim de localizar
os melhores pontos para avaliações dos registros sedimentares deixados por esse fenômeno.
Os modelos teóricos desenvolvidos para a descrição do fenômeno da pororoca no estuário
estudado poderiam ser aplicados em outras áreas a fim de verificar a dinâmica do fenômeno.
Em relação à utilização dos dados de sensores remotos, sugere-se o resgate dos dados
originais dos recobrimentos por radares em banda L, para avaliar a situação da planície de
inundação, em momento onde a atividade de pecuária não era tão intensa na área, uma vez
que as imagens antigas dos sensores óticos apresentaram problemas em relação a sua baixa
resolução espacial e espectral para avaliar os elementos dentro da planície de inundação. Isto
permitiria melhorar a reconstituição da história de modificações. Aliás, o uso de radar em
banda L, seria uma boa opção para estudar a dinâmica natural da planície de inundação da
área trabalhada e, portanto, seria promissora a aplicação de novos sensores, nessa banda e/ou
outras polarizações como o ALOS/PALSAR e o SAR aerotransportado do SIPAM.
As imagens de radar em banda C devem continuar sendo aplicadas, principalmente
para reconhecer as variações superficiais sobre as áreas de campos inundáveis sob a influência
Parte VI: Capítulo 12: Considerações Finais
280
da pecuária e as transformações dentro da planície estuarina. Nesse contexto, sugere-se a
aplicação de imagens ENVISAT e RADARSAT-2 para estudo da problemática. No entanto,
devem ser analisadas também em outros sítios da planície costeira amazônica a fim de
correlacionar os padrões detectados na área de estudo, porém nas mesmas condições de
observação.
Na análise das modificações, comparações quantitativas a partir da possibilidade de
correções geométricas dos mapas históricos e de aquisição de dados para correção das
fotografias aéreas deveriam ser realizadas no futuro, possibilitando medir a velocidade dos
processos detectados neste trabalho. Estas quantificações deveriam seguir de estudos
morfoestratigráficos com datações absolutas. Entretanto, deve-se lembrar que a alta taxa de
sedimentação e o constante retrabalhamento do material nessa planície pelos processos já
discutidos nesta tese pode ser impedimento para medições precisas. Taxas de Pb210, por
exemplo, poderiam ser utilizadas para analisar as taxas de sedimentação, no entanto, elas
supõem eventos de deposição progressivos sem variações, o que parece não ser o caso do
estuário estudado.
Estudos sobre a hidrodinâmica do estuário devem ser realizados a fim de se poder
compreender o papel das marés, incluindo a pororoca, e das cheias nos processos
sedimentares, bem como identificar a abrangência espacial desses fenômenos e melhorar a
classificação deste ambiente.
Acredita-se que este estuário é um bom laboratório para estudar tanto os processos de
modificações naturais quanto antrópicas, em função da pecuária, na costa amazônica. Esta
atividade tende a se expandir nos próximos séculos em virtude da necessidade de alimentação
da população, conforme discutido amplamente em documentos da FAO (Food and
Agriculture Organization). Deste modo, identificar e aprofundar os estudos sobre o impacto
desta atividade sobre o ambiente é importante para aplicação na gestão das áreas costeiras.
PARTE VI: Capítulo 12 – Referências Bibliográficas
281
Capítulo 13
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Thevand, A. & V. Gond. 2005. Uso do sensoriamento remoto ótico para a compreenção da
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Sensoriamento Remoto, Goiânia, INPE. pp 3387-3394.
Timouk, F.; Charron, C.; Panechou, K. & Silveira, O.F.M.d. 1998. Relatório da Missão
Científica ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá,
ORSTOM/IEPA, 6.p.
Timouk, F.; C. Charron, K. Panechou, F. Huynh, M. T. R. d. C. Prost & J. F. Faure. 2001.
Videografia Digital para Gestão Ambiental e Aplicação Cartográfica - Ilha de Mutucal
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Toledo, M. B. 2004. Holocene Vegetation and Climate History of Savanna-Forest Ecotones in
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Tong, J.; Qiang, Z.; Deming, Z. & Yijin, W. 2006. Yangtze foods and droughts (China) and
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Trebossen, H.; Deffontaines, B.; Classeau, N.; Kouame, J. & Rudant, J.-P. 2005. Monitoring
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Trimble, S.W. & Mendel, A.C. 1995. The cow as a geomorphic agent - A critical review.
Geomorphology, 13(1-4): 233-253.
Tucker, C. J.; D. M. Grant & J. D. Dykstra. 2004. NASA´s global orthorectified Landsat Data
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Vernadski, V.I. 1926. The Biosphere (translated and annotated version). Copernicus and
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Verne, J. 1881. La Jangada Huit cent lieues sur l'Amazone, Project Gutenberg EBook of La
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Wal, D.van der & Pye, K. 2004. Patterns, rates and possible causes of saltmarsh erosion in the
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Warburton, J.; Danks, M. & Wishart, D. 2002. Stability of an upland gravel-bed stream,
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Warne, A. G.; Guevara, E. H. & Aslan, A. 2002. Late Quaternary evolution of the Orinoco
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PARTE VI: Capítulo 12 – Referências Bibliográficas
298
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Wolanski, E.; Moore, K.; Spagnol, S.; D´Adamo, N. & Pattiaratchi, C. 2001. Rapid, human-
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R. G. 2001. Landscape change in tidal floodplain near the mouth of Amazon River. Forest
Ecology and Management, 154: 383-393.
Anexos
299
ANEXOS
Anexos
300
Anexo I: Formulário de entrevista de campo
Anexos
301
PROJETO: MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS EM ECOSSISTEMAS COSTEIROS AMAZÔNICOS
DOUTORANDA: VALDENIRA FERREIRA DOS SANTOS
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES: IEPA/IRD/UFF
PESQUISA DE CAMPO
FORMULÁRIO DE DIAGNÓSTICO DE MODIFICAÇÕES AMBIENTAIS
1
Comunidade/Localidade: Região:
Município:
Coordenadas do local da entrevista:
Tipo de GPS e Datum:
Data:
Rio/Igarapé/Lago: Hora:
Acesso: Informante:
Entrevistador: Término da entrevista:
I - DADOS GERAIS:
I.A - IDENTIFICAÇÃO DO PROPRIETÁRIO
1. Nome do proprietário:___________________________________________________________________
2. Nome da propriedade: __________________________________________________________________
3. Natural de :__________________________________
Rural Urbana
4. Escolaridade do proprietário:
Só assina o nome Alfabetizado Grau de estudo: _______________ outro: _____________
5. Idade: ______________________________anos
6. Local de domicílio:
Na Sede do município No núcleo populacional da comunidade Na propriedade
Outra condição : _______________________________________________________
7. Tempo de existência da propriedade: ____________________ anos
8. Tempo de residência do proprietário na região da entrevista: _____________________________ anos
9. Coordenadas da sede da propriedade: _____________________________________________________
I. B - IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
1. Nome do entrevistado:__________________________________________________________________
2. Natural de :__________________________________
Rural Urbana
3. Escolaridade do entrevistado:
Só assina o nome Alfabetizado Grau de estudo: _______________ outro
4. Idade: ____________________ anos
5. Local de domicílio:
Na Sede do município No núcleo populacional da comunidade Na propriedade
Outra condição : _________________________________________________________________
6. Tempo de residência na região em estudo do entrevistado: _______________________________ anos
7. Atividade do entrevistado na propriedade: ________________________________________________
II - IDENTIFICAÇÃO DA REGIÃO
II.A - Via de acesso ao local
1
Questionário modificado da Matriz de Pesquisa de Campo do Produtor – ZEE e da matriz de questionários aplicados
as comunidades no Setor Costeiro Estuarino – GERCO. Elaboração: Valdenira Santos e Dr.Alberto Figueiredo.
Revisão: Dr. Laurent Polidori.
Anexos
302
Fluvial Tipo da embarcação: ________________________
Quanto tempo para se chegar ao local: ___________________________________
Período do ano do acesso:
Todo o ano Cheias Estiagem
Terrrestre: Tipo do Transporte: _________________________
Quanto tempo para se chegar ao local: ___________________________________
Período do ano do acesso: Todo o ano Cheias Estiagem
Outros Tipo: _____________________________________
Quanto tempo para se chegar ao local: ___________________________________
Período do ano do acesso:
Todo o ano Cheias Estiagem
II.B - Tipologia do ambiente natural da propriedade
Terra firme (Floresta)
Cerrado
Campos inundáveis
Várzea
outros: terra firme (capoeira), etc.
III - CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE PRODUTIVA:
Área total da propriedade : _______________hectare
ATIVIDADE DE PECUÁRIA
1. Há quanto tempo começou a atividade de pecuária: ______________(anos) e _______(meses)
3. Com que tipo de rebanho iniciou:
bubalino bovino
4. Área de pastagens
Rebanho Bubalino
Ambiente de criação:
campos naturais praias várzea
Pastagem Quant.
(cabeças)
Coordenadas (tirar na borda da atividade)
Área com pastagens nativa
Área com pastagem formada
Outras áreas
Rebanho Bovino
Ambiente de criação:
campos naturais praias várzea floresta de terra firme
Pastagem Quant.
(cabeças)
Coordenadas (tirar na borda da atividade)
Área com pastagens nativa
Área com pastagem formada
Outras áreas
5. Desenho Esquemático da Localização do Ponto de GPS:
Outras atividades executadas na propriedade, no local e na região:
Relativo ao:
(propriedade,
local, região –
escrever abaixo)
Atividade Tamanho da área
utilizada
Coordenadas (tirar na
borda da atividade)
6. Desenho Esquemático da Localização do Ponto de GPS:
Anexos
303
IV. MIGRAÇÃO (DENTRO OU FORA DA REGIÃO)
1. O(a) senhor(a) ou algum membro da família pretende sair desse local ?
sim não não sabe não respondeu
2. Se respondeu sim, qual o motivo?
3. Se imigrou, qual o motivo e local de origem:
V - ASPECTOS SOBRE MODIFICAÇÕES NA REGIÃO
V.A – MARÉS (se possível localizar em imagem ou mapa inclusive com do local onde as marés alcançam)
1. Até onde as maiores marés alcançam o terreno: _____________________________________________
Coordenadas: __________________________________________________________________________
2. Até onde as marés mortas chegam o terreno: _______________________________________________
Coordenadas: __________________________________________________________________________
3. ( ) área não alcançada pelas marés
4. Existe a ocorrência do fenômeno da pororoca:
não sim
Até onde alcança: _________________________________________________________________
Coordenadas: __________________________________________________________________________
5. O que acontece com o solo na chegada e saida do pororoca (erosão, deposição de lama, mortandade de
animais, mudança na água, descrever e se possível quantificar):
______________________________________________________________________________________
6. O que acontece com as atividades produtivas, principalmente o rebanho:
mantido em cercas
Local e ambiente onde o rebanho é mantido: ______________________________________________
é levado para __________________________________________________________________
V.B – OUTRAS MODIFICAÇÕES
MODIFICAÇÕES NOS ÚLTIMOS ANOS
1. Você notou alguma modificação no ambiente nos últimos anos na região : não sim
2. Tipo de modificação: ___________________________________________________________________
3. Isso acontece frequentemente:
não sim
4. Se não, em que anos ocorreram?_________________________________________________________
5. Se sim, em que períodos:
verão inverno sem período definido
6. Você saberia dizer qual a causa dessa modificação?___________ _______________________________
______________________________________________________________________________________
MUDANÇAS NAS ATIVIDADES E HÁBITOS POR CAUSA DE MODIFICAÇÕES
Já houve mudança de posição de construções, atividades ou de hábitos na região por causa de
modificações no ambiente:
não sim
MODIFICAÇÃO 1
1. Que tipo de mudança: _____________________________________________________________
2. Devido a qual fenômeno: ___________________________________________________________
3. Quando ocorreu: __________________________________________________________________
4. A que vocês atribuem esse fato?
natureza ação do homem
5. Por quê? ____________________________________________________________________________
6. Detalhar a mudança: ___________________________________________________________________
Anexos
304
MODIFICAÇÃO 2
1. Que tipo de mudança: _____________________________________________________________
2. Devido a qual fenômeno: __________________________________________________________
3. Quando ocorreu: _________________________________________________________________
4. A que vocês atribuem esse fato?
natureza ação do homem
5. Por quê? ____________________________________________________________________________
6. Detalhar a mudança: ___________________________________________________________________
MODIFICAÇÃO 3
1. Que tipo de mudança: _____________________________________________________________
2. Devido a qual fenômeno: ___________________________________________________________
3. Quando ocorreu: __________________________________________________________________
4. A que vocês atribuem esse fato?
natureza ação do homem
5. Por quê? ____________________________________________________________________________
6. Detalhar a mudança: ___________________________________________________________________
MUDANÇAS NA REDE DE DRENAGEM
Você conhece algum curso d’água (rio, igarapé, furo) que foi aberto ou fechado: não sim
1 - Nome do Curso d´Água: __________________________________________________________
2 – O que ocorreu com o curso d´água:
fechado aberto
3 - Quando isso aconteceu:____ ______________________________________________________
4 - Onde ele se localiza (localizava): ____________________________________________________
5 - Dimensão (antes e depois) : ________________________________________________________
6 - A que lugar ele leva (levava): _______________________________________________________
7 - Coordenadas (se possível): ________________________________________________________
1 - Nome do Curso d´Água: __________________________________________________________
2 – O que ocorreu com o curso d´água:
fechado aberto
3 - Quando isso aconteceu:____ ______________________________________________________
4 - Onde ele se localiza (localizava): ____________________________________________________
5 - Dimensão (antes e depois) : ________________________________________________________
6 - A que lugar ele leva (levava): _______________________________________________________
7 - Coordenadas (se possível): ________________________________________________________
VI - OUTRAS INFORMAÇÕES:
1. Condição do dono segundo à propriedade e posse de terra:
Posseiro(posse não regularizada - sem processo de regularização);
Posseiro(em processo de regularização);
Onde: __________________________________________________________
Início do processo: ________________________________________________
título definitivo, emitido por: ________________________________________
Arrendatário Meeiro Outro
2 . Impressões do entrevistador sobre a propriedade e o a região:
Anexos
305
Anexo II: Mapa de Ambientes
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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