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ALEXANDRE MANEIRA DOS SANTOS
ESTUDO DE COMPÓSITOS HÍBRIDOS POLIPROPILENO / FIBRAS DE
VIDRO E COCO PARA APLICAÇÕES EM ENGENHARIA
CURITIBA
2006
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ALEXANDRE MANEIRA DOS SANTOS
ESTUDO DE COMPÓSITOS HÍBRIDOS POLIPROPILENO / FIBRAS DE
VIDRO E COCO PARA APLICAÇÕES EM ENGENHARIA
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre em
Engenharia, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Mecânica,
Setor de Tecnologia, Universidade
Federal do Paraná.
Orientadora: Profª Dra. Thais Helena
Sydenstricker
Co-orientador: Profº Dr. Sandro C. Amico
CURITIBA
2006
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ii
DEDICATÓRIA
Muitas são as pessoas presentes em nosso dia a dia, fazendo-nos renovar
continuamente nossas esperanças. Algumas destas pessoas são especiais, outras,
por motivos justificados, são mais especiais ainda. Neste momento em que mais
uma etapa da minha vida é concluída, dedico este trabalho
Ao meu pai Claudemir (in memoriam), meu eterno ídolo;
À minha mãe Terezinha, por toda dedicação e carinho;
À minha esposa Ana Cristina pelo companheirismo e apoio;
Ao meu querido filho Christian, companheiro, que apesar da tenra idade soube
entender a importância desta etapa da minha vida.
iii
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos àqueles que, pessoalmente ou em
pensamento, estiveram ao meu lado nesta caminhada.
Aos meus irmãos André Luis e Cláudia pelo apoio em todos os momentos,
Aos meus familiares pela torcida,
Aos professores orientadores Thais Sydenstricker e Sandro Amico pela
paciência e direcionamento do trabalho,
À amiga Val pelo apoio nas horas difíceis e pelas dicas,
Aos colegas Fabio Tomczak, Reinaldo Strapasson e Waldyr Ota pela força,
Aos professores Maurício Gondak, Marcio e Rodrigo do Centro de Educação
Tecnológica Tupy pela colaboração e apoio durante o processamento dos
compósitos,
Ao parceiro Samuel Estevão pela força de vontade e disposição em cooperar
com o trabalho,
A todos que diretamente ou indiretamente contribuíram para a realização do
trabalho.
Muito obrigado.
iv
EPÍGRAFE
Viver é acreditar no impossível e realizá-lo. Antes de Santos
Dumont, ninguém achava possível fazer voar um aparelho mais
pesado que o ar, mas ele acreditou nisso e, com determinação,
criou o avião. Quando lhe disserem que alguma coisa em que você
acredita é impossível, tenha paciência, talvez estas pessoas não
saibam realmente que a vida é um eterno ato de transformar o
impossível em realidade. Quanto maior a dificuldade, maior o
mérito em superá-la.
Roberto Shinyashiki
v
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.................................................................................................vii
LISTA DE TABELAS................................................................................................. ix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS.................................................................... x
RESUMO....................................................................................................................xi
ABSTRACT...............................................................................................................xii
TRABALHO PUBLICADO.......................................................................................xiii
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS................................................................................1
1.1 OBJETIVOS GERAIS DO TRABALHO..................................................................8
2. OS MATERIAIS COMPÓSITOS..............................................................................9
3. AS MATRIZES POLIMÉRICAS.............................................................................13
4. FIBRAS DE REFORÇO PARA COMPÓSITOS....................................................18
4.1 FIBRAS DE VIDRO..............................................................................................20
4.2 FIBRAS VEGETAIS.............................................................................................20
4.2.1 Fibras de Coco..................................................................................................26
5. PROPRIEDADES DA INTERFACE.......................................................................30
6. METODOLOGIA E PLANO DE TRABALHO........................................................36
6.1 MATERIAIS..........................................................................................................36
6.2 PREPARAÇÃO DOS COMPÓSITOS..................................................................36
6.2.1 Moagem das Fibras de Coco ...........................................................................36
6.2.2 Dimensão das Fibras de Coco......................................................................... 37
6.2.3 Tratamento das Fibras de coco........................................................................ 37
6.2.4 Mistura das Fibras de coco com Polipropileno................................................. 38
6.2.5 Processo de Extrusão dos compósitos............................................................ 38
6.2.6 Processo de Injeção dos compósitos............................................................... 39
6.3 IDENTIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS....................................................................40
6.4 CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS......................................................................41
6.4.1 Análise Termogravimétrica................................................................................41
6.4.2 Análise Microscópica.........................................................................................42
6.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPÓSITOS..........................................................42
6.5.1 Ensaio de Tração..............................................................................................42
6.5.2 Ensaio de Impacto.............................................................................................43
vi
6.5.3 Ensaio de Fluidez..............................................................................................43
6.5.4 Ensaio de Contração.........................................................................................43
6.5.5 Ensaio de Dureza..............................................................................................43
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................44
7.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FIBRAS DE COCO........................................................44
7.2 COMPRIMENTO DAS FIBRAS DE COCO..........................................................44
7.3 PERDA DE MASSA DURANTE PROCESSAMENTO DAS FIBRAS...................47
7.4 EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE TRATAMENTO DAS FIBRAS.......................48
7.5 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DAS FIBRAS DE COCO............................50
7.6 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS POLIPROPILENO/FIBRA DE COCO...........51
7.7 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS POLIPROPILENO/FIBRA DE VIDRO...........56
7.8 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS HÍBRIDOS POLIPROPILENO
COM FIBRAS DE VIDRO E COCO.....................................................................60
8. CONCLUSÕES......................................................................................................66
9. SUGESTÕES.........................................................................................................67
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................69
vii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 BMW SÉRIE 7 E AS FIBRAS NATURAIS...........................................................4
FIGURA 2 PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DE COCO (COCOS NUCIFERA)
NO BRASIL.........................................................................................................5
FIGURA 3 COMPÓSITOS UTILIZADOS NA AERONAVE TUCANO DA EMBRAER........12
FIGURA 4 COCOS NUCIFERA L.......................................................................................26
FIGURA 5 PARTES DO COCO..........................................................................................27
FIGURA 6 - RECEBIMENTO DAS FIBRAS DE COCO........................................................36
FIGURA 7 PROCESSO DE MOAGEM DAS FIBRAS DE COCO.......................................37
FIGURA 8 TRATAMENTO DAS FIBRAS COM SOLUÇÃO DE HIDRÓXIDO DE
SÓDIO (NaOH).................................................................................................38
FIGURA 9 (a) POLIPROPILENO ANTES DA MISTURA; (b) FIBRAS DE COCO
ANTES DA MISTURA; (c) POLIPROPILENO E FIBRAS DE COCO
MISTURADOS..................................................................................................38
FIGURA 10 ESQUEMA DE UMA EXTRUSORA COM SUAS RESPECTIVAS
PARTES...........................................................................................................39
FIGURA 11 ESQUEMA DE UMA INJETORA. (a) FECHAMENTO DO MOLDE E
INICIO DO PROCESSO DE INJEÇÃO; (b) PREENCHIMENTO DA
CAVIDADE DO MOLDE; (c) ABERTURA DO MOLDE LIBERANDO
O PRODUTO INJETADO..................................................................................40
FIGURA 12 ENSAIO DE TRAÇÃO.....................................................................................42
FIGURA 13 - ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DOS DIFERENTES TAMANHOS
DE FIBRAS DE COCO......................................................................................44
FIGURA 14 - DISPERSÃO DO COMPRIMENTO DE FIBRAS DE COCO PARA CADA
DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA..............................................................46
FIGURA 15 - DISTRIBUIÇÃO DO COMPRIMENTO DE FIBRAS DE COCO PARA CADA
DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA..............................................................46
FIGURA 16 - AMOSTRAS DE FIBRAS DE COCO (DISTRIBUIÇÃO “A”)............................47
FIGURA 17 PERDA DE MASSA DURANTE OS PROCESSOS DE
CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO DAS FIBRAS DE COCO........................48
FIGURA 18 (a) FIBRA DE COCO “IN NATURA”; (b) FIBRA DE COCO APÓS
TRATAMENTO NaOH 1%; (c) FIBRA DE COCO APÓS
TRATAMENTO NaOH 2%; (d) FIBRA DE COCO APÓS
TRATAMENTO NaOH 5%................................................................................49
viii
FIGURA 19 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DA FIBRA DE COCO COM
DIFERENTES TRATAMENTOS......................................................................51
FIGURA 20 DIAGRAMA TENSÃO X DEFORMAÇÃO.......................................................53
FIGURA 21 ÍNDICE DE CONTRAÇÃO DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE
COCO...............................................................................................................53
FIGURA 22 DUREZA SHORE D DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE COCO..................54
FIGURA 23 IMPACTO DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE COCO..................................55
FIGURA 24– ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DE PP E COMPÓSITOS
PP+10%FC E PP+15%FC..............................................................................55
FIGURA 25– DIAGRAMA DE TENSÃO X DEFORMAÇÃO DOS COMPÓSITOS
PP+20%FV E PP+30%FV............................................................................. 57
FIGURA 26 AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE FIBRAS DE COCO NA QUEBRA DE
FIBRAS DE VIDRO DURANTE O PROCESSAMENTO DOS
COMPÓSITOS................................................................................................ 58
FIGURA 27 MÓDULO DE YOUNG DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE VIDRO
ANTES E APÓS PROCESSO DE EXTRUSÃO A 150°C............................... 59
FIGURA 28 ÍNDICE DE FLUIDEZ DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE VIDRO
ANTES E APÓS PROCESSO DE EXTRUSÃO.............................................. 59
FIGURA 29 REGIÃO DE RUPTURA DO CORPO DE PROVA DO COMPÓSITO
COMERCIAL PP+20%FV............................................................................... 60
FIGURA 30 MÓDULO DE YOUNG DOS COMPÓSITOS HÍBRIDOS PP/FIBRAS
DE VIDRO E COCO....................................................................................... 61
FIGURA 31 IMPACTO DOS COMPÓSITOS HÍBRIDOS PP/FIBRAS DE VIDRO
E COCO.......................................................................................................... 62
FIGURA 32 ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA DOS COMPÓSITOS
HÍBRIDOS....................................................................................................... 63
FIGURA 33 (a) DIFERENÇA DIMENSIONAL ENTRE FIBRAS DE VIDRO E COCO;
(b) FIBRA DE VIDRO; (c) FIBRA DE COCO.................................................. 63
FIGURA 34 (a) COMPÓSITO DIST. C 5% APÓS PROCESSO DE EXTRUSÃO;
(b) VISTA FRONTAL DA REGIÃO DE RUPTURA DO CORPO DE
PROVA DIST. C 5%; (c) E (d) VISTA LATERAL DA REGIÃO DE
RUPTURA DO CORPO DE PROVA DIST. C 5%.......................................... 64
FIGURA 35 (a) REGIÃO DE RUPTURA DO COMPÓSITO HIBRIDO DIST. B 2%;
(b) E (c) FIBRA DE COCO APÓS RUPTURA EM ENSAIO DE TRAÇÃO
(d) DETALHE DA REGIÃO DE RUPTURA DA FIBRA DE COCO................. 65
ix
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 FIBRAS VEGETAIS NO BRASIL ..................................................................... 5
TABELA 2 COMPARAÇÃO DAS PROPRIEDADES ENTRE
TERMOPLÁSTICOS E TERMORRÍGIDOS...................................................... 13
TABELA 3 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE FIBRAS VEGETAIS E FIBRAS
CONVENCIONAIS USADAS COMO REFORÇO............................................. 18
TABELA 4 MÓDULO ESPECÍFICO DE FIBRAS VEGETAIS E SINTÉTICAS.................. 19
TABELA 5 COMPOSIÇÃO DE FIBRAS ORIUNDAS DE CULTIVO PRINCIPAL
E DE SUBPRODUTOS DA AGRICULTURA.................................................... 24
TABELA 6 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A CONFECÇÃO DOS
COMPÓSITOS.................................................................................................. 36
TABELA 7 IDENTIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS................................................................. 41
TABELA 8 DIMENSÃO DAS FIBRAS DE COCO ESTUDADAS.........................................48
TABELA 9 PROPRIEDADES DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE COCO.........................51
TABELA 10 PROPRIEDADES DOS COMPÓSITOS PP/FIBRA DE VIDRO
ANTES E APÓS PROCESSO DE EXTRUSÃO................................................ 56
TABELA 11 PROPRIEDADES DOS COMPÓSITOS HÍBRIDOS PP/FIBRAS
DE VIDRO E COCO.......................................................................................... 61
x
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ASTM American Society for Testing and Materials
CO
2
Dióxido de Carbono
C
3
H
6
Monômero de Propileno
CH
4
Metano
E-Vidro Fibra de vidro usada na indústria eletrônica
EMBRAER Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FC Fibra de Coco
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FV Fibra de Vidro
GEE Gases do Efeito Estufa
HDT Temperatura de Deflexão Térmica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MEV Microscopia Eletrônica de Varredura
N
2
Gás Nitrogênio
NA Não se aplica
NaOH Hidróxido de Sódio
NO Óxido de Nitrogênio
PC Policarbonato
PE Polietileno
PEAD Polietileno de Alta Densidade
PEBD Polietileno de Baixa Densidade
PEEK Poli(éter-éter-cetona)
PEEL Poliéter-éster-elastômero
PIB Produto Interno Bruto
PP Polipropileno
PPS Poli(sulfeto de fenileno)
PVC Policloreto de Vinila
SBS Copolímero de Estireno-butadieno-estireno
TGA Sigla do idioma inglês para Análise Termogravimétrica
xi
RESUMO
Neste trabalho foi estudado o comportamento mecânico de compósitos híbridos de
polipropileno / fibras de vidro e coco preparados com fibras de coco tratadas com
soluções aquosas de hidróxido de sódio (NaOH) em diferentes concentrações ou
sem tratamento. A partir de um compósito comercial PP / 20% fibra de vidro, foram
analisados os efeitos da adição de fibras de coco de diferentes comprimentos e
tratadas com distintas concentrações de solução de hidróxido de sódio. Avaliou-se o
efeito do tamanho de fibras no desempenho final dos compósitos em testes de
tração e impacto. Partindo do polímero PP comercial, foram estudadas também as
propriedades dos compósitos PP / fibra de coco com diferentes percentagens de
fibras e o efeito dos processos de extrusão e injeção nesses compósitos em relação
aos reforçados com fibras de vidro ou híbridos. A morfologia das fibras foi analisada
por microscopia eletrônica de varredura (MEV) que também foi usada para avaliação
da interface fibras / matriz dos compósitos. Os índices de fluidez e de contração dos
compósitos foram avaliados antes e após o processamento por injeção. A adição de
fibras de coco ao compósito de PP / fibras de vidro não resultou em aumento
significativo nas propriedades mecânicas dos compósitos embora a dureza e a
resistência ao impacto tenham aumentado.
Palavras-chave: fibras de coco, compósitos híbridos, polipropileno,
propriedades mecânicas.
xii
ABSTRACT
In this work Polypropylene/glass fiber/coir hybrid composites prepared with NaOH
solutions treated fibers were studied. The effects of the addition of coir fibers of
different length and treated with distinct NaOH solution concentrations on the
performance of a commercial PP/20% glass composite were evaluated. It was
evaluated the effect of the length of fibers on the composite tensile and impact
strengths. It was also studied properties of PP/coir fibers composites prepared with
different fiber content and the effect of the extrusion and injection process on these
materials, also compared with PP/glass or PP/glass/coir composites. The
morphology of fibers and the evaluation of the interface between matrix and fibers
were analyzed by scanning electronic microscopy (SEM). Melt flow index and
contraction of composites were evaluated before and after injection molding.
Although the addition of coir fiber to PP/glass fiber composites did not result on a
significant increase on mechanical properties, toughness and impact strength were
improved.
Key-words: coir fibers, hybrid composites, polypropylene, mechanical
properties.
xiii
TRABALHO PUBLICADO
SANTOS, A. M.; SYDENSTRICKER, T. H. D.; AMICO, S. C. The study of Hybrid
Polypropylene / Glass and Coir Fiber Composites for Engineering Applications.
In: 41º International Symposium on Macromolecules, 16-21 jul. 2006, Rio de Janeiro.
1
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A instalação dos três pólos petroquímicos no Brasil a partir da década de
1970, o de São Paulo em 1972, o de Camaçari (BA) em 1977 e o de Triunfo (RS) em
1982, permitiu o desenvolvimento da indústria de polímeros no Brasil. Antes disso,
unidades isoladas os produziam em quantidades inexpressivas para a composição
do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Hoje este setor representa cerca de 2% do
PIB do país. O estabelecimento dessa indústria no Brasil ocorreu por iniciativa
governamental, através da adoção de um modelo societário de empresa chamado
modelo tripartite. Neste modelo 1/3 do capital era proveniente da Petroquisa, 1/3 de
sócio privado nacional e 1/3 de sócio estrangeiro, geralmente fornecedor da
tecnologia, que era explorada pela formação de joint-ventures. (HEMAIS, 2001).
A indústria de plásticos move-se ao redor do mundo buscando oportunidades
nos mercados emergentes de alto crescimento. O setor é dominado por um grande
número de companhias multinacionais que atuam em várias etapas da cadeia
produtiva. Embora a indústria de plástico seja global, a base de produção de muitas
resinas migrou para países como Arábia Saudita, China e Coréia do Sul. Os
produtores dos mercados mais desenvolvidos com os Estados Unidos, a Europa
Ocidental e o Japão responderam a essa migração direcionando suas indústrias
para produtos de maior valor agregado e racionalizando a capacidade de produção a
fim de elevar a rentabilidade. Os mercados-chave para a indústria de plásticos
incluem a área econômica da China, Japão, América do Norte e do Sul, Sudeste
Asiático e Europa Ocidental. Por causa de seu tamanho e do nível de
desenvolvimento econômico, não é de surpreender que o Japão, a América do Norte
e a Europa Ocidental sejam os maiores mercados para resinas plásticas, totalizando
90% do consumo mundial de polímeros (UNICAMP, 2002).
O consumo mundial de resinas plásticas (PEAD, PEBD, PP, PS e PVC) foi de
aproximadamente 114 milhões de toneladas em 1999. Deste total, Europa Ocidental
e os Estados Unidos representam 27% cada. Em seguida aparecem China (12,6%),
Japão (8,6%) e Coréia do Sul (3,4%) e o Brasil (ocupando a sexta posição com 3,2
%). No que se refere ao consumo de resinas por setores de uso final em 1999 tem-
se: 40% embalagem, 18% na indústria da construção, 8% na indústria automotiva,
2
7,5% nas indústrias eletro-eletrônicas, 2,5% na agricultura, 19% em outras
aplicações e 5% na indústria em geral (UNICAMP, 2002).
A substituição de materiais tradicionais por polímeros na indústria vem sendo
gradualmente executada ao longo das últimas décadas, tendo se intensificado o
ritmo de substituição nos últimos 20 anos. Os polímeros têm demonstrado um alto
grau de confiabilidade e muitas vantagens sobre os materiais convencionais. Além
de maior flexibilidade de projeto e economia na produção, sua baixa densidade é
essencial para a redução do consumo de combustíveis. Aproximadamente, para 100
kg de polímeros empregados em um veículo, 200 a 300 kg de outros materiais
deixam de ser empregados, refletindo no peso final do carro. Dessa forma,
estimando-se a vida útil de um veículo em 150.000 quilômetros, pode-se economizar
750 litros de combustível devido ao uso de plásticos. Além disso, a utilização de
polímeros favorece a injeção de peças complexas com alto nível de produção e
qualidade sem falar na resistência à corrosão (HEMAIS, 2003 e SUDDELL, 2000).
A média de 30 quilos de polímeros empregada por veículo, na década de 70,
passou a representar cerca de 180 kg no final da década de 90 (APC, 1999). A
questão que ora se levanta, a partir do uso de plásticos na indústria automobilística,
é sobre a disponibilidade de fornecimento de matérias-primas por parte da indústria
de polímeros no Brasil.
A seleção de materiais orientados para o futuro é indispensável nos dias de
hoje em razão dos aspectos tecnológicos e econômicos decorrentes das diretrizes
promulgadas pela legislação da União Européia sobre os carros em fim de vida útil,
ocorrida em setembro de 2000. Em decorrência desta lei, foi estabelecida uma cota
de reciclagem para veículos sucatados, a qual será de 80% até o ano de 2006,
passando a 85% até o ano de 2015, incluindo uma exigência de aproveitamento
térmico de 85% até 2006 e 95% até o ano de 2015 (KLEBA, 2004; MARSH, 2003).
Considerando-se o volume dos materiais, empregam-se mais polímeros na
construção de um carro do que metais. A disponibilidade do fornecimento de
matérias-primas por parte da indústria de polímeros para o setor automotivo de
acordo com suas premissas é a principal problemática (HEMAIS, 2003).
3
As crises do petróleo de 1973 e 1979, entretanto, trouxeram a consciência
para o problema da escassez e da vulnerabilidade do uso de apenas materiais
provenientes de fontes não-renováveis. Diante deste contexto, pesquisadores e
indústrias buscam o desenvolvimento de novos materiais capazes de conciliar a alta
performance dos polímeros de engenharia com a questão ecológica e focada na
preservação ambiental que nos cerca nos dias de hoje.
As fibras vegetais têm sido investigadas para uso como reforço em
compósitos de matrizes poliméricas, pois aliam propriedades que levam em
consideração aspectos que vão de encontro a esta nova ordem mundial, de forte
apelo ecológico, e características como baixo custo, baixa densidade, fonte
renovável, biodegradabilidade, o fato de serem atóxicas e não abrasivas, possuírem
boas propriedades térmicas e alto módulo específico o que as tornam fortes
candidatas em potencial para estas aplicações (BLEDZKI e GASSAN, 1999).
A utilização de fibras vegetais em produtos comerciais contribui para gerar
riquezas e reduzir o impacto ambiental causado pela produção e descarte de bens
de consumo já que são materiais abundantes, de fonte renovável e contribuem para
o melhor aproveitamento do potencial agrícola brasileiro. As fibras vegetais podem
ser utilizadas como reforços em polímeros termoplásticos, termorrígidos e borrachas.
A indústria automotiva começou a usar compósitos com fibras vegetais por
razões técnicas e comerciais. As fibras vegetais aparecem como uma valiosa
alternativa aos materiais sintéticos e sua utilização tem crescido drasticamente nos
últimos anos. As fibras vegetais apresentam ainda um potencial de redução do peso
do veículo em até 40% quando comparado com as fibras de vidro, que estão
presentes na maioria dos compósitos da indústria automotiva. A indústria automotiva
alemã tem aumentado o seu uso de 4.000 toneladas em 1996 para 15.500 toneladas
em 1999 enquanto que o resto da Europa teve seu consumo aumentado de 300
toneladas para 6.900 toneladas no mesmo período. Projeções para 2005 e 2010
sugerem que o consumo de fibras vegetais na indústria automotiva européia cresça
de 50 a 70 mil toneladas em 2005 para mais de 100.000 toneladas em 2010
(SUDELL, 2002).
4
A BMW investe continuamente no desenvolvimento destes materiais
buscando, entre outros aspectos, a preocupação com as questões ecológicas, o
preço e a disponibilidade destes materiais na natureza (BMW GROUP, 2006). O
BMW série 7, por exemplo, emprega 24 kg de materiais renováveis, dentre os quais
mais de 13 Kg são fibras vegetais (Figura 1). Estes materiais são utilizados nos
revestimentos de portas além de outras partes internas do veículo.
FIGURA 1: BMW série 7 e as fibras vegetais.
Nos últimos anos, especial atenção vem sendo dada para a minimização ou
reaproveitamento de resíduos sólidos gerados nos diferentes processos industriais.
Um material deixa de ser resíduo pela sua valorização como matéria-prima, para a
produção de novos produtos. Neste caso, o resíduo passa a ser tratado como
subproduto do processo produtivo (VALLE, 1995). Em países tropicais, os resíduos
gerados pela agroindústria da fibra natural podem constituir importante fonte de
matéria-prima para a produção de componentes, dependendo das quantidades
disponíveis e da dispersão geográfica, haja vista os custos de coleta e transporte
(JOHN, 1997). A Tabela 1 apresenta algumas fibras vegetais de interesse bem como
seus centros produtores no Brasil.
5
TABELA 1: Fibras vegetais no Brasil
Fibra
Nome Botânico
Parte da Planta
Centros Produtores
Agave sisalana
Folha
Semi-árido da Bahia e Paraíba
Piaçava
Attalea funifera
Bainha foliar
Região de Valença - BA
Coco
Cocos nucifera
Mesocarpo do fruto
Região de Recife - PE, Aracaju - SE
Algodão
Gossypium herbaceum
Semente
Campina Grande - PB
Celulose de Eucalipto
Eucaliptus grandis
Tronco
Aracruz - ES
Rami
Boemmiria nivea
Caule
Região de Londrina - PR
Banana
Musa cavendishii
Pseudocaule
Vale do Ribeira - SP
Malva
Urena lobata
Caule
Amazônia
O aumento crescente do coco verde natural para a industrialização de sua
água vem aumentando a geração do rejeito, que corresponde a cerca de 85% do
peso do fruto. Cerca de 70% dos resíduos gerados pelos usuários das praias do
nordeste brasileiro consistem de casca de coco verde. Seu consumo está
disseminado por todos os estados da federação e como conseqüência direta, ocorre
a geração do resíduo formado pelas cascas que contribuem para a diminuição da
vida útil dos aterros, onde são normalmente dispostas (SENHORAS, 2003,
GHAVAMI, 1999).
O aumento da produção de coco está intimamente correlacionado ao
aumento do consumo e, por conseguinte, ao crescimento da geração de resíduos. A
Figura 2 mostra um crescimento de cerca de 162% na produção de coco no Brasil
de 1990 a 2002 ou de quase 100% se considerarmos o período de 1997 a 2002.
Cocos nucifera no Brasil - Produção e Área Plantada
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Ano
Quantidade (Mil frutos)
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
Área Plantada (hectare)
Quantidade (Mil Frutos) Área Plantada (hectare)
FIGURA 2: Produção e área plantada de coco (Cocos nucifera no Brasil)
FONTE: IBGE Produção Agrícola Municipal (2002).
Admitindo-se que cada coco tem, em média, 2 kg de massa, o aumento
verificado neste último período foi de cerca de 1,92 milhões de toneladas de coco
6
com a geração de aproximadamente 3,84 toneladas do fruto, que seria, também, a
quantidade do fruto geradas em 2002 (IBGE, 2002).
A matéria orgânica quando disposta em aterros pode sofrer processo de
decomposição anaeróbica resultando na formação de gás metano. A quantidade
deste gás, gerada pelo processo anaeróbico, representa de 5 a 20% do total
produzido e é emitida para a atmosfera como conseqüência das atividades
antrópicas. O metano é um dos mais importantes gases produzidos pela disposição
do resíduo sólido urbano em aterros e contribui para o agravamento do efeito estufa
(IPCC, 1996).
Segundo Passos (2005), os meios científicos e a sociedade de um modo
geral têm discutido e expressado grande preocupação com o futuro do planeta em
conseqüência das atividades antrópicas. O aumento considerável da concentração
de gases como CO
2
, CH
4
e NO na atmosfera provocou fenômenos em escala
mundial, tais como a maior incidência de raios ultravioleta na terra, como
conseqüência da depleção da camada de ozônio, e o aumento da temperatura
média do planeta, atribuído, por grande parte da comunidade científica, aos
denominados gases indutores do efeito estufa, mais comumente conhecidos como
gases do efeito estufa (GEE).
Sabe-se que o efeito estufa é um fenômeno natural que possibilitou que a
temperatura média da Terra fosse cerca de +15°C e não de -15°C, caso tal evento
não ocorresse. Entretanto, o aumento da concentração dos GEE, associado ao
aumento da intensidade da radiação solar incidente na superfície do planeta, tem
contribuído para que a temperatura média da terra venha aumentando (BAIRD,
2002).
No relatório Climate Change 2001: The Scientific Basis (IPCC, 2001), é
mencionada a elevação da temperatura média da superfície terrestre de 0,6±0,2°C
desde o século 19, com dois períodos com taxa de crescimento visíveis: de 1910 a
1945 e de 1976 até os dias atuais. Nesses períodos, a taxa de aumento da
temperatura foi da ordem de 0,15°C / década.
7
O Brasil é grande consumidor de coco verde. O Distrito Federal consome
cerca de um milhão de cocos verdes por mês, o que resulta no descarte de mais de
mil toneladas mensais de cascas, segundo cálculos de distribuidores do produto na
região. Esse lixo, propício à hospedagem do mosquito da dengue, demora de 10 a
12 anos para se decompor representando risco ao ambiente e à saúde da população
(BARROSO, 2006).
O Nordeste brasileiro é uma região de grande beleza natural, embora
apresente os mais baixos indicadores de desenvolvimento humano do país e
necessite de ações que promovam os desenvolvimentos social e econômico de
comunidades carentes. A pobreza das comunidades costeiras tem aumentado nos
últimos anos e muitas terras de preservação do governo foram irregularmente
ocupadas. No aterro do Janguruçu, bairro pobre de Fortaleza no Ceará, um projeto
da EMBRAPA foi aprovado para o aproveitamento da casca de coco. Nesse local,
pertencente ao governo, há cerca de 17.000 pessoas vivendo com uma renda menor
que US$ 30,00 por mês e que estão sendo beneficiadas com a construção de uma
unidade-piloto de produção de fibra de coco com recursos do Banco Mundial no
valor total de US$ 254 mil. A EMBRAPA visa inicialmente apoiar a extração de pó e
fibra da casca de coco verde para fabricação de produtos com essa matéria prima
para melhorar a qualidade de vida da população local. O pó será usado para
substratos agrícolas e composto orgânico, e a fibra será usada para a produção de
vasos em substituição ao xaxim, matéria prima extraída do samambaiaçu, espécie
em extinção. Uma unidade de artesanato fabricará capachos e produtos afins
usando a fibra, dessa forma empregando mulheres da comunidade local. Será
implementada uma horta comunitária, usando parte do substrato agrícola e
composto orgânico produzidos na unidade de reciclagem (HOMMA, 2006).
Para Sachs (1986), a reciclagem de resíduos, a conservação de energia e da
água criam empregos autofinanciados pelas comunidades que se utilizam dessas
matérias-primas. Esse é um campo ainda pouco explorado na busca de
oportunidades de empregos, onde considerações sociais, econômicas e ambientais
seguem juntas, e que oferece um ponto de partida conveniente para o planejamento
de estratégias de ecodesenvolvimento.
8
O coco-da-Bahia é bastante utilizado comercialmente no Brasil e após
beneficiamento produz uma grande quantidade de biomassa que não encontra plena
aplicação comercial, sendo grande parte descartada no meio-ambiente. As fibras de
coco são materiais abundantes no Brasil, não-abrasivos, de fonte renovável,
biodegradáveis e de baixo custo. A EMBRAPA está incentivando projetos que
utilizem a matéria-prima proveniente do coco, seja ela pó, fibra ou resíduos, pois
apóia a replicação no Brasil da unidade piloto de Fortaleza para produção de pó e
fibra de coco. A utilização combinada de fibras de coco e de vidro no reforço de
polipropileno formando compósitos híbridos pode ser uma alternativa vantajosa para
redução do custo do produto aliado às vantagens do uso de fibras vegetais.
Entretanto, as vantagens e limitações destes compósitos híbridos necessitam ser
investigadas cientificamente para que futuras aplicações comerciais possam ser
identificadas (AMICO e SYDENSTRICKER, 2005).
1.1 OBJETIVOS GERAIS DO TRABALHO
Fabricar compósitos de polipropileno e fibras de coco a partir de um polímero
comercial de PP.
Conduzir tratamento químico nas fibras de coco para auxiliar na adesão com
a matriz de polipropileno na tentativa de melhorar o seu desempenho.
Fabricar compósitos híbridos de polipropileno e fibras de vidro e de coco a
partir de compósitos comerciais de PP/20% fibra de vidro.
Estudar a influência de parâmetros como tamanho das fibras, percentagem de
hidróxido de sódio no tratamento químico e o desempenho dos compósitos
após o processo de extrusão e injeção.
Avaliar os compósitos produzidos (TGA, ensaios de tração, resistência ao
impacto, dureza, índice de fluidez, índice de contração, resistência à umidade,
microscopia óptica e eletrônica).
9
2. OS MATERIAIS COMPÓSITOS
Os compósitos representam um caso de particular importância dentro do
grupo das misturas poliméricas imiscíveis. Materiais compósitos são resultantes da
combinação entre dois ou mais materiais de modo a formar um novo produto com
características diferentes dos seus constituintes originais. Estes materiais são
produzidos através da mistura física de uma fase dispersa que pode ser na forma de
partículas, fibras ou mantas em uma fase contínua, denominada de matriz
(SHELDON, 1982; BODIG e JAYNE, 1993; HULL, 1981).
O papel da matriz é manter a orientação das fibras e seu espaçamento,
transmitir as forças de cisalhamento entre as camadas das fibras (para que o
compósito resista à dobras e à torções) e protegê-las do ambiente exterior (MANO,
1991; ALLEN e THOMAS, 1999).
Segundo Mano (1991), o componente estrutural pode ser um material
orgânico ou inorgânico (metálico ou cerâmico), de forma regular ou irregular, fibroso
(tecido ou não-tecido) ou pulverulento (esférico ou cristalino), com fragmentos
achatados (como flocos) ou como fibras muito curtas, de dimensões quase
moleculares, de material monocristalino (“whisker”). Os materiais estruturais devem
apresentar resistência, rigidez e maleabilidade que, geralmente, se encontram nas
fibras. O seu papel é suportar as cargas máximas e impedir que as deformações
ultrapassem limites aceitáveis.
Durante os últimos 20 anos, um substancial desenvolvimento de compósitos
para aplicações estruturais foi observado. A principal motivação dessa grande
evolução foi a possibilidade de se produzir compósitos com altas propriedades
mecânicas e baixas densidades que, potencialmente, poderiam substituir materiais
usualmente utilizados como o aço e a madeira. A combinação de polímeros de alto
desempenho com fibras cerâmicas ou poliméricas de alto módulo elástico e
resistência mecânica, permitiu a produção de novos compósitos com um grupo de
propriedades específicas (por unidade de peso) superiores ao aço, alumínio e
outros. Esses compósitos apresentam, em geral, altas razões módulo/peso e
resistência/peso superiores à de materiais cerâmicos, poliméricos e metálicos.
10
As propriedades mecânicas dos compósitos são afetadas por duas fases: a
fase estrutural, geralmente possui módulo alto e elevada resistência mecânica e é
representada por um material fibroso; a fase matricial possui módulo baixo e em
geral é capaz de grande alongamento sendo tipicamente constituída de um material
plástico, não quebradiço. Em relação ao peso, os compósitos revelam propriedades
mecânicas que podem exceder consideravelmente às dos metais. A combinação de
excelentes propriedades mecânicas e leveza estrutural torna os compósitos
interessantes materiais de aplicação em engenharia (MANO, 1991).
As propriedades mecânicas de compósitos poliméricos reforçados por fibras
curtas dependem de muitos fatores como adesão fibra-matriz, fração volumétrica de
fibras, razão de aspecto das fibras e orientação (HULL, 1981; AGARWAL e
BROUTMAN, 1980).
As frações volumétricas e mássicas das fibras devem ser devidamente
estudadas, visto que há uma faixa mínima e máxima que irá influenciar no reforço.
Geralmente, o aumento do reforço promove as propriedades mecânicas (JOSEPH,
1999; MURKHERJEE e SATYANARAYANA, 1984), embora um alto carregamento
de reforço pode favorecer a aglomeração de fibras e a baixa dispersão da matriz.
A orientação das fibras também é outro fator significante nas propriedades
mecânicas dos compósitos. Sabe-se que fibras orientadas têm uma resistência à
tração ao longo do seu eixo e a transferência de tensão no compósito assim
fabricado é favorecida (AGARWAL e BROUTMAN, 1980; FOLKES, 1985).
Outro fator importante que envolve os compósitos são os teores de vazios
que se formam durante o processamento destes materiais. Os vazios podem ocorrer
por duas causas: primeiramente, devido à incompleta molhabilidade de resina sobre
as fibras, resultando em formação de bolhas de ar que podem ficar presas devido à
alta viscosidade da resina; segundo, devido à presença de compostos voláteis que
se formam no processo de cura das resinas termorrígidas (HULL, 1981).
O uso de compósitos ocorre desde a pré-história, onde mistura argila com
palha de trigo ou de arroz produzia materiais com melhor maleabilidade e com
menor desenvolvimento de fraturas (MOSLEMI, 1999). Em 5000 a.C., o homem
11
utilizou uma combinação de junco e piche na construção de botes, onde o piche
serviu como adesivo (SHELDON, 1982).
Segundo McMullen (1984), o uso de argila reforçada com madeira e outras
fibras naturais e o papel machê, usado pelos egípcios na antiguidade, são alguns
exemplos de uso e formulação de compósitos de conhecimento tradicional. O autor
faz um interessante relato histórico sobre o uso de vários compósitos nas estruturas
de aviões, desde o uso de gelatina e amido reforçados com fibras de celulose até os
compósitos de resina epóxi reforçados com fibras de carbono.
A partir da década de 60, os materiais compósitos de alto desempenho foram
introduzidos de maneira definitiva na indústria aeroespacial. O desenvolvimento de
fibras de carbono, boro, quartzo ofereceram ao projetista a oportunidade de
flexibilizar os projetos estruturais, atendendo as necessidades de desempenho em
vôo de aeronaves e veículos de reentrada na atmosfera. O crescente uso de
polímeros reforçados com fibras de carbono no setor aeronáutico deve-se,
principalmente, ao constante desafio que esta indústria possui na obtenção de
componentes que exibam os maiores valores de resistência mecânica e de rigidez
específicas entre os materiais disponíveis. A substituição do alumínio por compósitos
poliméricos estruturais, por exemplo, permite uma redução de peso de 20 a 30%,
além de 25% na redução do custo final de obtenção das peças (REZENDE e
BOTELHO, 2000).
As aplicações estruturais de compósitos num Boeing 767 rondam os 3% em
peso, mas esta pequena percentagem equivale a um ganho em peso de 635 Kg.
Cerca de 30% da superfície exterior é em compósito, trazendo benefícios em termos
de corrosão e resistência à fadiga (SILVA, 2006).
A Figura 3 apresenta a aeronave Tucano produzida pela EMBRAER,
mostrando os componentes fabricados em compósitos termorrígidos, utilizando
como reforço fibras de carbono, kevlar e vidro.
12
FIGURA 3: Compósitos utilizados na aeronave TUCANO da EMBRAER
FONTE: Rezende e Botelho, 2000
O uso de compósitos termoplásticos reforçados com fibras contínuas também
tem sido ampliado no setor aeroespacial, devido, principalmente, à redução drástica
da fadiga, maiores valores de resistências ao impacto e ao fogo, baixa absorção de
umidade, temperatura de serviço mais elevada e grande versatilidade na produção
em série, exibindo propriedades mecânicas iguais ou superiores às apresentadas
pelos compósitos termorrígidos. No setor aeronáutico, o uso de compósitos
termoplásticos é promissor na construção de fuselagens, permitindo com isto uma
redução de peso em torno de 25%, em relação às estruturas metálicas hoje
utilizadas (REZENDE e BOTELHO, 2000).
13
3. AS MATRIZES POLIMÉRICAS
Os compósitos poliméricos podem ser termoplásticos ou termorrígidos. A
principal diferença entre estes dois tipos está no comportamento característico
quando aquecidos, isto é, os termoplásticos são polímeros capazes de serem
moldados várias vezes devido às suas características de se tornarem fluidos sob
ação da temperatura e depois se solidificarem quando há um decréscimo de
temperatura. Por outro lado, os termorrígidos não se tornam fluidos devido à
presença de ligações cruzadas entre as cadeias macromoleculares (reticulação). A
Tabela 2 apresenta as principais características de polímeros termoplásticos e
termorrígidos.
TABELA 2: Comparação das propriedades entre termoplásticos e termorrígidos.
Termoplásticos Termorrígidos
Reciclável mecanicamente Não reciclável mecanicamente
Tempo ilimitado de armazenamento Tempo limitado de armazenamento
Alta viscosidade quando fundido Baixa viscosidade durante o processamento
Baixa resistência à fluência Alta resistência à fluência
Temperatura de uso limitada à Tg e Tm. Baixa
estabilidade térmica e dimensional
Alta resistência térmica e dimensional
Os polímeros termorrígidos são mais utilizados para uso estrutural em
materiais compósitos por apresentarem algumas vantagens em relação aos
termoplásticos, tais como alta estabilidade térmica, elevada rigidez, alta estabilidade
dimensional, boas propriedades de isolamento térmico e elétrico, resistência à
fluência e à deformação sob carregamento. Esses materiais podem também ser
misturados fisicamente com fibras em métodos de processamento bastante simples.
As resinas termorrígidas mais usadas e mais baratas são os poliésteres,
poliuretanos, vinil-éster e resinas fenólicas; as quais são usadas principalmente para
compor compósitos reforçados com fibras de vidro. As resinas epóxi são mais caras
e além das aplicações estruturais, também são muito utilizadas em aplicações
aeroespaciais por possuírem melhores propriedades mecânicas e melhores
resistências à umidade do que os poliésteres, poliuretanos e as resinas vinílicas. Em
aplicações de altas temperaturas, são empregadas as resinas poli-imidas, seu limite
superior de temperatura para utilização em regime contínuo é de aproximadamente
230ºC.
14
Misha et al. (2003) estudaram a performance mecânica dos seguintes
compósitos híbridos: poliéster / fibras de vidro e Palf (fibra da folha do abacaxi) e
poliéster / fibras de vidro e sisal. A maioria das resinas utilizadas nos compósitos
industriais é termorrígida. Por volta de 65% dos compósitos produzidos atualmente
para as diversas aplicações utilizam as fibras de vidro e matrizes de poliéster ou
éster vinil. As resinas de poliéster insaturados são largamente utilizadas graças ao
seu baixo custo, fácil manuseio e bom balanceamento das propriedades mecânicas,
elétricas e químicas. No entanto, compósitos termorrígidos são materiais frágeis que
podem colapsar sem aviso prévio já que não possuem o mecanismo de
escorregamento de cadeia umas sobre as outras antes da fratura.
A utilização das resinas termoplásticas tem crescido desde o criação dos
novos termoplásticos resistentes à altas temperaturas tais como as poliamidas,
polisulfonas (Union Carbide Ltd), poliéter sulfona (ICI), poliéter éter sulfona (ICI),
dentre outros materiais (COLLYER e CLEGG, 1995).
As resinas termoplásticas são longas moléculas com comprimento da ordem
de 20 a 30 nm (DAVIS et al., 1982) e fluem facilmente sob tensão sem elevadas
temperaturas, permitindo assim que sejam fabricadas na forma solicitada e
mantendo a forma quando resfriada à temperatura ambiente. Esses polímeros
podem ser repetidamente aquecidos, fabricados e resfriados e, conseqüentemente,
serem reciclados.
A combinação de baixa densidade, resistência química, custo baixo e um
balanço entre rigidez e tenacidade permite que termoplásticos ocupem espaço de
outros materiais em muitas aplicações importantes (ELMAJDOUBI e VU-KHANH,
2003).
As mais atrativas características oferecidas pelos compósitos termoplásticos
são o potencial de produção a baixo custo, alta tenacidade à fratura, boa resistência
ao impacto, boa resistência à propagação de microtrincas, fácil controle de qualidade
e a possibilidade de reciclagem de matéria-prima (FERREIRA, 1999).
As resinas termoplásticas também podem ser classificadas da seguinte forma
segundo Whelan e Goff (1990):
15
Termoplásticos de uso geral: Este grupo cobre a maioria dos plásticos
utilizados atualmente, entre eles estão o polietileno, polipropileno e
poliestireno. São materiais de baixo custo. As propriedades modestas
deste grupo podem ser melhoradas (por exemplo, pela adição de cargas),
tornando-os mais competitivos com outras classes de termoplásticos;
Termoplásticos de engenharia: Oferecem uma combinação de
propriedades de interesse, como alta resistência e módulo, tenacidade e/ou
resistência ao desgaste, ao ataque químico e ao calor. São bastante
empregados em substituição a peças metálicas, sendo os mais importantes
desta categoria as poliamidas, poliacetais, policarbonatos, poliésteres
termoplásticos e poli(óxido de fenileno) modificado;
Termoplásticos elastômeros: Grupo relativamente novo de materiais que
exibe propriedades combinadas entre as normalmente associadas com
elastômeros tradicionais e a facilidade e rapidez de processamento de
termoplásticos, podendo, inclusive, ser re-processado. São baseados em
polímeros especificamente fabricados (por exemplo, estireno-butadieno-
estireno SBS ou poliéter-éster-elastômero PEEL) ou baseados em
blendas de elastômeros e plásticos (e.g. blenda de polipropileno e etileno-
propileno), e
Blendas ou misturas: Normalmente utilizadas para gerar materiais
incomuns, estendendo a performance de plásticos existentes, com mais
agilidade, versatilidade e por um custo menor que o associado ao
desenvolvimento de novos materiais.
Embora a classificação acima seja utilizada, não é muito fácil distinguir os
plásticos e, devido às mudanças químicas em sua estrutura ou à adição de cargas e
reforços, um mesmo polímero pode ocupar mais de uma categoria ou competir com
polímeros de outras categorias. O PP, por exemplo, pode ser enquadrado como
termoplástico de uso geral ou de engenharia dependendo da aplicação final e
utilização ou não de reforço.
16
Segundo Kasliwal et al. (2005), o uso de fibras naturais em resinas
termoplásticas normalmente é benéfico por causa da sua disponibilidade,
capacidade de renovação e grau de eficiência favorável em termos de
resistência/peso. Como resultado desses fatores, compósitos plásticos reforçados
com fibras naturais têm recebido atenção na modificação de resinas termoplásticas
como PP, PEAD e PVC. Esses compósitos são potencialmente aplicáveis em pisos,
componentes de mobília, batentes de portas, assoalhos para sistemas de
construção usando estruturas leves e paletes para armazenamento. Outra aplicação
potencial é a manufatura de painéis interiores de automóveis, devido ao aumento de
rigidez da resina termoplástica proporcionada por estas fibras e à elevação de
temperatura de amolecimento.
Funck e Steffens (2006) afirmam ainda que a tecnologia de fabricação de
estruturas híbridas compósitas constituídas de termoplásticos abre possibilidades
construtivas totalmente novas e econômicas para componentes estruturais
submetidos a altas solicitações, com alto grau de integração de funções e baixo
peso.
Atualmente, o consumo de compósitos termoplásticos está aumentando em
relação aos compósitos termorrígidos devido à questão ecológica. Esta tendência é
devido ao desenvolvimento de polímeros de alta performance, tais como poli(éter-
éter-cetona) (PEEK), poli(sulfeto de fenileno) (PPS) ou policarbonato (PC) chamados
plásticos de engenharia, que oferecem excelentes propriedades mecânicas.
Entretanto, o polipropileno que foi primeiramente polimerizado em 1955 por Natta,
tem também sido reconhecido como um bom material polimérico. A razão disto é a
sua versatilidade de projeto em nível molecular a um custo atrativo (HAMADA,
2000).
Tancrez et al. (1994) comentaram que o polipropileno é um material muito
utilizado na indústria devido às inúmeras qualidades, tais como a facilidade de
produção, as boas características mecânicas, devido, em grande parte, a sua
natureza semicristalina e a sua inércia química, sendo possível sua aplicação
mesmo em meios corrosivos.
17
O uso de polipropileno com fibra de vidro é ainda objeto de muita investigação
científica e tecnológica, em função do grande atrativo deste compósito para
aplicações de engenharia cada vez mais exigentes, como requerida na indústria
automobilística, na qual os requisitos da relação custo/desempenho mecânico
devem ser otimizados. Portanto a grande maioria dos desenvolvimentos está
concentrada na melhoria das características materiais dos compósitos, isto é, das
propriedades da matriz polimérica, do reforço fibroso e da interface polímero-reforço
(LOPES e SOUZA, 1999).
O polipropileno é um termoplástico que é originado pelo monômero chamado
propileno (C
3
H
6
) e é polimerizado por um processo de reação de poliadição e a
massa molar geralmente está entre 80.000 e 500.000. É um polímero semicristalino
que possui uma densidade aproximada de 0.90 0.91 g/cm
3
e índice de refração
1.45. A sua temperatura de transição vítrea a temperatura de fusão estão em torno
de -18°C e 165°C, respectivamente. Como é um polímero com alta cristalinidade, em
torno de 60 a 70%, a sua resistência mecânica e a sua dureza são relativamente
boas. O módulo de elasticidade, a resistência à tração, resistência ao escoamento e
o alongamento estão em torno de 1.14 1.55 GPa, 31.0 - 41.4 MPa, 31.0 37.2
Mpa e 100 600%, respectivamente (CALLISTER, 1997).
As propriedades de polímeros semi-cristalinos como o PP são basicamente
determinadas pela morfologia cristalina desenvolvida durante a moldagem. Os
fatores que mais influenciam na cristalinidade do polímero são fixados durante a
síntese. Assim, a massa molar e sua distribuição, a regularidade da cadeia
(estereorregularidade) e a morfologia do PP são ditados pelo tipo de catalisador
Ziegler-Natter utilizado durante a síntese, embora mudanças de propriedades
relativas à mudanças na cristalização do material podem ser atribuídas ao fenômeno
de pós-cristalização. As regiões semi-cristalinas do PP são ligadas pelas regiões
amorfas e influenciam fortemente nas propriedades mecânicas (FIEBIG, 1999).
18
4. FIBRAS DE REFORÇO PARA COMPÓSITOS
Uma das mais importantes formas de materiais poliméricos são as fibras, que
podem ser descritas como flexíveis, macroscopicamente homogêneas, com alta
relação entre comprimento e seção transversal. As fibras podem ser classificadas de
acordo com sua origem em fibras naturais e sintéticas. As fibras naturais são
derivadas de animais, vegetais e minerais.
As propriedades físicas de uma fibra dependem de sua estrutura química e
cada uma tem seu próprio aspecto quando analisada e submetida ao microscópio.
As fibras vegetais são bastante heterogêneas, pois dependem do tipo de solo, das
condições climáticas, dos fertilizantes utilizados, do tipo de colheita, das folhas, dos
frutos ou do caule dos vegetais.
Dentre os materiais compósitos, o reforço tipo fibra tem despertado grande
interesse em engenheiros da indústria de diversos setores como automotiva, da
construção mecânica, metalúrgica, farmacêutica, naval, aeronáutica, aeroespacial
entre outras. Uma vez que a forma fibrosa de um material possui elevada resistência
à tração e alto módulo de elasticidade (Tabela 3), este tipo de material é usado
atualmente como material de engenharia em combinação com uma matriz que, além
de envolver e proteger a fibra deforma sob a ação de uma força e lhe distribui a
tensão, impedindo a propagação de falhas (SCHWARTZ, 1984).
TABELA 3: Propriedades mecânicas de fibras vegetais e de fibras convencionais usadas como reforço
Fibra
Densidade (g/cm
3
)
Alongamento
(%)
Resitência à
Tração
(Mpa)
Módulo de
Elasticidade (Gpa)
Coco
1,2
30,0
175
4,0 - 6,0
Algodão 1,5 - 1,6 7,0 - 8,0 287 - 597 5,5 - 12,6
Juta 1,3 1,5 - 1,8 393 - 773 26,5
Linho 1,5 2,7 - 3,2 345 - 1035 27,6
Cânhamo *** 1,6 690 ***
Rami *** 3,6 - 3,8 400 - 938 61,4 - 128
Sisal 1,5 2,0 - 2,5 511 - 635 9,4 - 22,0
Kraft
a
1,5
***
1000
40,0
E-vidro
b
2,5
2,5
2000 - 3500
70,0
Carbono (padrão) 1,4 3,3 - 3,7 3000 - 3150 63,0 - 67,0
FONTE: Bledzki & Gassan, 1999
a Kraft de madeira leve;
b Fibra de vidro usada na indústria eletrônica (E).
19
Um critério decisivo para a escolha do tipo adequado de fibra é o seu módulo
de elasticidade. Uma comparação entre os valores de resistência de diversas fibras
convencionais e tropicais com os correspondentes às fibras de vidro mostrou que,
por exemplo, os valores absolutos característicos das fibras tropicais eram de
apenas metade do nível correspondente aos valores característicos da fibra de vidro.
Contudo, devido ao fato de sua densidade ser aproximadamente 45% menor, as
fibras naturais apresentam níveis de resistência específica comparáveis aos da fibra
de vidro (KLEBA, 2004).
Quando a gravidade especifica da fibra é considerada, as fibras vegetais
exibem valores comparavelmente maiores do que as fibras de vidro (Tabela 4).
Estas propriedades específicas são a maior vantagem do uso de fibras vegetais em
compósitos para aplicações que requerem estas propriedades aliadas à redução de
massa. Além disso, o custo das fibras vegetais é menor, são materiais de fonte
renovável, biodegradável e não são abrasivas aos equipamentos como as fibras de
vidro e carbono. Se for considerada a densidade das fibras vegetais em relação à
fibra de vidro, as fibras vegetais apresentam excelentes propriedades específicas.
TABELA 4: Módulo Específico de fibras vegetais e sintéticas.
Fibra
Gravidade
Específica
Módulo de
Elasticidade (GPa)
Módulo Específico
Juta
1,3
55
38
Sisal
1,3
28
22
Linho
1,5
27
50
Cânhamo
1,07
35
32
E-vidro
2,5
72
28
Abacaxi
1,56
62
40
Kevlar-49
1,45
131
125
PAN-II
1,75
390
250
FONTE: SAHEB e JOG, 1999; CALLISTER, 1997.
Wambua et al. (2003) realizaram testes comparativos entre algumas fibras
vegetais (sisal, coco, etc.) e concluiu que as propriedades mecânicas das fibras
vegetais testadas são comparáveis às propriedades conseguidas com a fibra de
vidro sendo, em alguns casos, superiores. Este estudo sugere que os compósitos
com fibras vegetais têm potencial para substituição das fibras de vidro.
20
4.1 FIBRAS DE VIDRO
As fibras de vidro constituem um dos principais materiais de reforço para
matrizes poliméricas devido a seu baixo custo, boa resistência química e
possibilidade de aumento de resistência mecânica através da manipulação dos seus
constituintes. Estes materiais são empregados desde a indústria automobilística,
aeronáutica, naval, embalagens até a indústria civil. A eficiência de reforço das fibras
descontínuas é menor do que as fibras contínuas. Entretanto, os compósitos
reforçados com fibras descontínuas estão se tornando cada vez mais importantes no
mercado comercial devido à facilidade de moldagem. As fibras de vidro são silicatos
com conteúdo de agentes modificadores que são usados visando redução das
temperaturas necessárias para se atingir viscosidades altas o suficiente para se
produzir fibras além de agentes silanos que as compatibilizam com diversas matrizes
termoplásticas.
A produção das fibras de vidro envolve fusão dos reagentes (fonte de borato -
Borax, sílica volatilizada, caulim, dolomita, soda em pó) que, em geral, estão na
forma de óxidos e carbonatos. Esta fusão ocorre em temperaturas entre 1200 e
1400ºC. Após a fusão, é realizado o puxamento através de fieiras de platina (orifícios
com pequeno diâmetro) e posterior enrolamento dos filamentos e/ou corte (fibras)
dependendo da aplicação do mercado. Normalmente, as fibras são recobertas por
emulsões e agentes silanos que as protegem da abrasão e/ou de outras fontes de
defeitos superficiais que podem ocorrer durante a fabricação. A escolha do agente
silano dependerá da matriz com a qual a superfície da fibra interagirá. O
recobrimento, juntamente com o material que constitui a matriz, promove a formação
de uma barreira efetiva entre o ambiente e o agente de reforço. Além disso, facilita o
manuseio, o processamento das fibras de reforço e promove adesão interfacial,
conferindo resistência, rigidez e durabilidade ao compósito final. Normalmente este
recobrimento é feito com agentes de acoplamento, como por exemplo, os agentes
silanos.
4.2 FIBRAS VEGETAIS
Houve um grande avanço tecnológico no desenvolvimento de novos materiais
e as fibras naturais passaram a ter menor uso. Com o surgimento das fibras
21
sintéticas, o consumo das fibras vegetais teve uma queda de cerca de 40%
(D´ALMEIDA, 1987). Nos últimos anos, a crise energética, o baixo grau necessário
para o processamento destas fibras, sua abundância, baixo custo e os problemas
relacionados pelo uso de fibras sintéticas ao meio ambiente, tem novamente
despertado a atenção e o interesse de pesquisadores de todo o mundo.
Recentemente, tem-se buscado retomar o uso de tecnologias consagradas e,
também, desenvolver novos compósitos utilizando recursos naturais renováveis,
com grande incremento no uso das fibras naturais de celulose, coco, linho, sisal,
rami, juta e cânhamo, entre outras. Os plásticos reforçados com fibras de vidro, até
recentemente com uma posição de domínio em vários setores da indústria,
passaram a ter a competição de vários compósitos reforçados com fibras vegetais
(PASSOS, 2005).
Vários estudos têm sido realizados sobre as aplicações das fibras de sisal,
juta e coco em compósitos reforçados, podendo-se citar os de Joseph et al. (1992),
Toledo Filho et al. (1997) e Heitzmann et al. (2001), voltados para analisar em
especial a melhoria das propriedades físicas e mecânicas dos compósitos, quando
reforçados com fibras vegetais. Outros autores têm procurado entender a correlação
entre estrutura e várias outras propriedades (mecânicas, dinâmicas e reológicas),
visando à otimização do desempenho de compósitos de sisal e outros termoplásticos
(polietileno), termorrígidos (resina epóxi) e elastômeros (borracha natural). Em
resumo, eles mostram a potencialidade da aplicação industrial das fibras vegetais na
utilização de novos materiais (compósitos).
O interesse nos materiais compósitos poliméricos reforçados com fibras
naturais está crescendo rapidamente em termos de aplicações industriais e pesquisa
fundamental. Elas são renováveis, baratas, completa ou parcialmente recicláveis e
biodegradáveis. Estas fibras são incorporadas num material que serve de matriz, tais
como plásticos termorrígidos, termoplásticos ou biopolímeros e borrachas
(KOZLOWSKI, 2003).
Leão et al. (1998) estudaram sobre a utilização das fibras naturais em
materiais de construção, embalagens e na indústria automotiva. Segundo os
autores, estas fibras apresentam vantagens consideráveis e podem ser utilizadas
22
com diferentes polímeros tais como PVC, PP e PE apresentando largas aplicações.
Foram consideradas diversas propriedades das fibras naturais dentre as quais a
fibra de curauá apresentou os melhores resultados.
Dentro desse quadro de oportunidades, a indústria automobilística desponta
como exemplo de um bom consumidor de fibras vegetais e, em especial, das fibras
de sisal e coco, já contando com amplo “know-how” na aplicação de fontes
renováveis na produção de vários componentes. Urge, portanto, a necessidade de
se aproveitar as pesquisas já realizadas com essa cultura, as quais comprovam suas
inúmeras possibilidades alternativas de aproveitamento, dando-lhe uma nova
dimensão de mercado.
As fibras vegetais são formadas basicamente de celulose, hemicelulose,
lignina, pectina e minerais. A celulose, um polissacarídeo linear de alta massa
molecular, é o principal constituinte estrutural, sendo responsável pela estabilidade e
resistência das fibras.
A celulose é a base estrutural das fibras vegetais e está distribuída em todas
as plantas, desde árvores desenvolvidas até organismos primitivos. Na fibra, a
celulose está associada com outras substâncias como lignina e as hemiceluloses,
ambas em quantidades consideráveis (FENGEL e WEGENER, 1989; DENCE e
REEVE, 1996).
Fibras com grande quantidade de celulose seriam econômica e tecnicamente
viáveis para serem usadas na produção de têxteis, papel e como reforços em
compósitos, entretanto, deve-se observar não só o teor de celulose contida nas
fibras, mas também a qualidade e qual será o uso final das fibras obtidas.
Segundo Chand et al. (1988), a resistência à tração e o módulo de
elasticidade das fibras são diretamente proporcionais ao teor de celulose e
inversamente proporcionais ao ângulo das microfibrilas. Já o alongamento máximo
de ruptura aumenta com o ângulo, pois é maior o trabalho de fratura necessário para
o estiramento das microfibrilas.
As hemiceluloses são polissacarídeos com peso molecular variando de
25.000 a 35.000 formado pela polimerização de vários açúcares, incluindo glucose,
23
xilose, galactose, arabinose e manose, porém com grau de polimerização cerca de
um décimo a um centésimo daquele encontrado para a celulose nativa. As
hemiceluloses constituem cerca de 20 a 30% das fibras sendo predominantemente
encontradas nas paredes celulares primárias e secundárias (LEWIN e
GOLDENSTEIN, 1991).
A hemicelulose normalmente atua como um elemento de ligação entre a
celulose e a lignina, não estando diretamente correlacionada à resistência e dureza
das fibras. Algumas frações de hemiceluloses se tornam parcial ou totalmente
solúveis em água depois de terem sido extraídas com álcali. Soluções alcalinas de
hidróxido de sódio e potássio são as mais utilizadas para a extração de
hemiceluloses (AZUMA, NOMURA e KOSHIJIMA, 1985).
A lignina é um polímero complexo de estrutura amorfa, com constituintes
aromáticos e alifáticos, que une as fibras celulósicas, formando a parede celular.
Fornece resistência à compressão ao tecido celular e às fibras, enrijecendo a parede
celular e protegendo os carboidratos (açúcares) contra danos físicos e químicos.
Sua concentração nas fibras influencia a estrutura, as propriedades, a morfologia, a
flexibilidade e a taxa de hidrólise. Fibras com alto teor de lignina serão rígidas e
fortes.
A pectina é um polissacarídeo, rico em ácido galacturônico, presente nas
paredes celulares e com função aglutinante. Já os componentes minerais são os
responsáveis pela formação das cinzas após a incineração das fibras.
Os extrativos recebem este nome devido à sua facilidade de serem extraíveis
com água, solventes orgânicos neutros, ou volatilizados a vapor. São responsáveis
por determinadas características das plantas, tais como cor, odor, sabor e
propriedades abrasivas (BROWNING, 1963).
Os extrativos são removidos durante os tratamentos químicos alcalinos
(BLEDKZI e GASAN, 1999). Eles compostos podem influenciar negativamente na
compatibilidade química entre fibras e matriz polimérica, visto que muitos deles são
ácidos graxos e compostos fenólicos (CHAND, 1989; TITA, 2002).
24
Deve-se, no entanto, encontrar uma concentração ótima no tratamento
alcalino no sentido de promover uma adesão adequada entre fibras e matriz sem
comprometer as características mecânicas das fibras.
Brahmakumar et al. (2005) estudaram o efeito da camada natural de graxa
presente nas fibras de coco nas propriedades mecânicas de compósitos de matriz
de PEBD. A extração da graxa das fibras de coco resulta em redução da adesão
interfacial fibra/matriz, o que reduz o desempenho dos compósitos.
As fibras de juta, linho, rami e sisal (convencionais) são fibras com
percentuais altos de celulose, sendo indicadas para uso como material de reforço
em compósitos. Os percentuais elevados de lignina nas fibras de juta e sisal
habilitam-nas a terem comportamento adicional de fortalecimento dos compósitos,
principalmente daqueles submetidos a processos de aquecimento. A Tabela 5
mostra a composição de algumas fibras celulósicas.
TABELA 5: Composição de Fibras oriundas de cultivo principal e de subprodutos da agricultura
Fonte de Fibra
Celulose
(%)
Hemicelulose
(%)
Lignina
(%)
Pectina
(%)
Cinza
(%)
Água
(%)
Casca de coco 36 - 43 0,15 - 0,25 20 - 45 3,0 2,7 - 10,2 10 12
Algodão 82,7 5,7 *** 5,7 NA 10
Juta 64,4 12,0 11,8 0,2 NA 10
Linho 64,1 16,7 2,0 1,8 NA 10
Rami 68,6 13,1 0,6 1,9 NA 10
Sisal 65,8 12,0 9,9 0,8 NA 10
Forragem de Milho 38 - 40 28 7 - 12 NA 3,6 - 7,0 9
Folha de Abacaxi 70 - 82 18 5 - 12 NA 0,7 - 0,9 10 13
Bagaço de Cana 32 - 48 19 - 24 23 - 32 NA 1,5 - 5,0 8,8
Folha da Bananeira 60 - 65 6 - 8 5 - 10 NA 4,7 10 15
Palha de Trigo 33 - 38 26 - 32 17 - 19 NA 6 - 8 10
Palha de Arroz 28 - 36 23 - 28 12 - 14 NA 14 - 20 6,5
Talo de Sorgo 27 25 11 NA *** 8 12
Palha de Cevada 31 - 45 27 - 38 14 - 19 NA 2 - 7 8 12
FONTE: Reddy & Yang, 2005; Bledzki & Gassan, 1999; Khedari et al., 2005; Toledo Filho et al., 2004;
van Dam et al., 2004
NA: Não avaliado
Singleton et al. (2003) estudaram as propriedades mecânicas dos compósitos
PEAD reciclados e fibras de linho. As fibras de linho constituídas por 60% de
celulose, 15% de hemicelulose, 2-3% de pectina, 2% de lignina e 1% de cera
apresentaram os melhores resultados de resistência mecânica na matriz PEAD
reciclado em uma fração volumétrica de 15 a 20%.
25
Razera et al. (2000) realizaram a caracterização das fibras de coco de onde
obtiveram a seguinte composição: celulose 43,4%, lignina 38,3%, hemicelulose
14,7%, umidade 10,5% e finos 3,5%.
As duas plantas produtoras de fibra mais importantes, as quais podem ser
cultivadas sob as condições típicas da Europa Central, são o linho e o cânhamo.
Particularmente, o plantio de cânhamo está sendo atualmente subvencionado em
escala nacional. Além disso, outras plantas produtoras de fibras adequadas para uso
como material de reforço, tais como sisal, curauá, rami, coco, juta de Java (Kenaf),
são adequadas para cultivo, por exemplo, tanto na América do Norte e do Sul como
na África (KLEBA, 2004).
As fibras vegetais oferecem diversas vantagens sobre fibras de vidro tais
como:
As fibras da planta são um material de fonte renovável e sua
disponibilidade é praticamente ilimitada.
Quando os plásticos reforçados são sujeitados, na extremidade de seu
ciclo de vida, a um processo da combustão, a quantidade liberada de CO
2
das fibras é neutra com respeito à quantidade assimilada durante seu
crescimento.
A natureza abrasiva de fibras vegetais é muito mais baixa comparada
àquela das fibras de vidro, o que leva a uma vantagem de ordem técnica,
reciclabilidade e processamento do compósito em geral.
As fibras vegetais quando utilizadas como reforço em matrizes
biodegradáveis representam uma grande vantagem do ponto de vista
ambiental no final do seu ciclo de vida.
Joshi et al. (2003) comparam as fibras naturais com as fibras de vidro sob
diversos aspectos e estuda a viabilidade da substituição das fibras de vidro pelas
fibras naturais em função do baixo custo, baixo peso e por apresentar uma
alternativa ambientalmente mais favorável, quando comparadas às fibras de vidro.
26
4.2.1 Fibras de coco
A fibra de coco, também chamada COIR (coco em inglês), é uma massa
fibrosa castanho-avermelhada contida entre a casca externa do coco e o invólucro
externo do núcleo. O coqueiro, palma de coco ou coconut palm é talvez a árvore
mais conhecida dos trópicos e uma das mais importantes economicamente. O
coqueiro cresce nas costas arenosas através dos trópicos e na maioria das regiões
subtropicais. Ele é uma palma alta e reta, usualmente de 10 a 20 m de altura, sendo
o seu fruto utilizado como fonte de alimentação e bebida, óleo, fibra, combustível,
madeira e outros produtos (Figura 4). O coco é cultivado e utilizado na Índia e na
Ásia Continental há pelo menos 3000 anos e chegou ao Brasil pela colonização
portuguesa (PINO, 2005).
Segundo Tassara (1996), o Cocos nucifera chegou ao Brasil (Bahia) em 1553,
a bordo das embarcações portuguesas, provenientes das ilhas de Cabo Verde. Da
região do Recôncavo Baiano, espalhou-se por toda a costa do Brasil levado,
provavelmente por dispersão natural, através das correntes marítimas. O coqueiro e
seus frutos estão presentes em mais de oitenta países ao redor do globo.
FIGURA 4: Cocos nucifera L.
No Brasil, os coqueiros mais comuns são encontrados em duas variedades: a
gigante e a anã. Os frutos obtidos, tanto numa variedade como na outra, têm as
mesmas características e utilidades. No primeiro caso, como o coqueiro é uma
planta de grande longevidade, podendo viver além dos 150 anos, chega a atingir 35
metros de altura. Isso dificulta bastante a coleta dos frutos, tornando-a uma atividade
arriscada e que exige do apanhador grande destreza, prática e coragem. Dos 6 aos
9 anos de idade o coqueiro inicia a produção de frutos, que se estabiliza quando
chega aos 12 anos, alcançando uma média de 70 cocos por pé ao ano. Esta é a
27
variedade mais comum em todo o Nordeste brasileiro, região responsável por cerca
de 85% da produção nacional e mais de 90% da área plantada, ocupando
principalmente os Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. O coqueiro anão -
introduzido no Brasil em 1925, vindo da Malásia - não alcança mais do que 10
metros de altura, o que facilita bastante a coleta dos frutos. É mais precoce do que a
variedade gigante, iniciando sua frutificação no segundo ano após o plantio, também
apresentando maior produtividade, cerca de 200 frutos por pé ao ano. Em
compensação, vive apenas 20 anos, ou seja, bem menos tempo do que o centenário
coqueiro comum (TASSARA, 1996).
A remoção da fibra do coco pode ser feita embebendo-a com água salobra
por um período de algumas semanas, para facilitar a extração das fibras,
presumidamente devido ao processo bacteriológico. Depois as mesmas são
submetidas a um processo de batidas com martelos de madeira e depois penteadas.
Treze a quinze cocos fornecem mais ou menos 1 Kg de fibras. A fibra de melhor
qualidade é usada na fabricação de cordas e esteiras, as fibras curtas e grossas
usadas com enchimento de colchões e assentos e as fibras longas e grosseiras
usadas na fabricação de pincéis (MENDES, 2000).
A casca do coco é fibrosa e existe um "caroço" interno (o endocarpo) que é
duro e tem três poros de germinação que são claramente visíveis na superfície
exterior, uma vez que a casca é removida (Figura 5).
FIGURA 5: Partes do coco
A fibra de coco verde tem sido muito estudada para a utilização na
composição de novos materiais (biocompósitos) com polímeros tais como polietileno,
poliéster, polipropileno. Neste caso, a utilização da fibra de coco para a obtenção de
biocompósitos é importante por serem materiais baratos, naturais e renováveis. A
28
maioria destes biocompósitos apresenta um aumento de biodegradação em relação
à matriz. Além disso, a fibra de coco verde age como um componente reforçador da
matriz dos polímeros. Assim, altera as propriedades mecânicas destes compostos
tais como resistência em relação à tensão, tração e elongação na ruptura
(SENHORAS, 2003).
Amim et al. (2001) investigaram as características dos materiais
confeccionados pela mistura de polipropileno com fibras de coco. As fibras do coco
são constituídas de materiais lignocelulósicos, obtidos do mesocarpo do coco
(Cocos nucifera). Possuem grande durabilidade, atribuída ao alto teor de lignina (41
a 45%), quando comparadas com outras fibras naturais. As fibras normalmente
devem ser adicionadas em materiais cujo processamento seja inferior a 220°C, pois
acima dessa temperatura, observa-se a degradação das mesmas.
As fibras das cascas de coco têm percentual menor de celulose, entretanto a
quantidade de lignina é muito grande, cerca de duas a quatro vezes os valores
existentes para a juta e o sisal, conferindo-lhe, então, um comportamento singular
frente às outras fibras. O teor de lignina nas fibras varia em função da idade do fruto,
sendo o percentual de cerca de 20% encontrado em fibras oriundas de coco jovem,
colhido com seis meses, e de aproximadamente 35% no fruto maduro, com 11
meses (van DAM, 2004).
Um dos mais importantes exemplos de desenvolvimento sustentável é a
aplicação de fibras de coco em almofadas de assento e encosto de bancos para
veículos. O material veio para substituir o poliuretano (polímero derivado do petróleo)
que após a reação química entre um diisocianato e um poliol, produz a espuma
dentro da cavidade de um molde. Ao contrário do poliuretano que leva 410 anos
para se degradar, a fibra de coco é 100% biodegradável e renovável. Na Europa, a
fibra de coco já é utilizada em estofamentos de carros desde a década de 40 e no
Brasil, desde os anos 70. No entanto, na década de 90, os preços até 30%
superiores aos da espuma de poliuretano afugentaram as montadoras.
Em 2000, a empresa Poematec, situada no Distrito Industrial de Ananindeua /
PA, reabriu o mercado nacional ao desenvolver um projeto de modernização da
produção que conseguiu reduzir satisfatoriamente o custo da matéria-prima, hoje
29
apenas 5% mais cara do que o poliuretano. A expectativa da empresa é de que o
aperfeiçoamento da tecnologia de produção iguale ao preço de fibras de coco e do
poliuretano em 2004. O novo processo de produção venceu a etapa norte do Prêmio
FINEP, em 2000, e já conquistou a Daimler Chrysler, que utiliza o estofamento no
modelo Classe A, nos encostos de cabeça e banco dos caminhões produzidos em
São Bernardo do Campo / SP. O fornecimento de fibras à empresa paraense é dado
pelas cooperativas comunitárias rurais de oito distritos do Pará. Isso se traduz em,
aproximadamente, 4.000 novos empregos criados na produção de fibra de coco,
incluindo produtores agrícolas, e cerca de 400 empregados na planta de extração de
fibra e manufatura de encostos e assentos da empresa.
Sob o ponto de vista socioeconômico, a atividade desta e de outras empresas
que estão trabalhando com matérias-primas naturais é muito importante, já que, há
12,8 milhões de pessoas na região norte vivendo em condições mínimas de
saneamento básico, alimentação e educação, o que corresponde a 7,6% da
população brasileira. Uma das grandes vantagens técnicas do produto em fibra de
coco é a presença da substância Alumina, que, em caso de incêndio, não deixa as
chamas se alastrarem pelo banco. Já os estofamentos em poliuretano são altamente
inflamáveis e, quando em combustão, liberam o gás cianídrico que, além de
poluente, pode matar em dez segundos se inalado. Outra vantagem é a presença de
tanino, um fungicida natural que inibe o aparecimento de ácaros e fungos. Segundo
a empresa, a durabilidade dos componentes de bancos em fibra de coco é 30%
superior, o que lhe confere mais uma vantagem sobre o poliuretano, além de
proporcionar maior conforto térmico ao motorista (REIS NETO, 2003).
30
5. PROPRIEDADES DA INTERFACE
Um dos parâmetros mais importantes em materiais compósitos, com uma ou
mais fases contínuas, é a interface entre o reforço e a matriz. A interface é a região
onde ocorre o contato entre os componentes do compósito. A região interfacial é a
principal responsável pela transferência da solicitação mecânica da matriz para o
reforço. A adesão inadequada entre as fases envolvidas na interface poderá
provocar o início das falhas, comprometendo o desempenho dos compósitos.
A interação entre os componentes na região interfacial depende na prática de
dois fatores: o grau de contato (molhabilidade) das superfícies na interface, e das
forças coesivas (adesividade) nesta região. Estes fatores são interdependentes,
pois, se não houver suficiente área de contato entre os componentes será difícil
assegurar boa adesividade entre as fases. A molhabilidade de uma superfície pela
outra depende por sua vez da energia superficial destas e da área superficial de
contato.
A maior dificuldade no processo de compatibilização entre os componentes
do compósito é combinar as diferentes características químicas destes. Em razão
das diferentes naturezas das ligações químicas envolvidas e da diferença entre os
coeficientes de expansão térmica, a adesividade na interface torna-se um parâmetro
bastante complexo no desenvolvimento de compósitos.
Fouche (1995) explora em seu trabalho os principais tipos de adesão entre
superfícies:
Adesão por interdifusão: Os átomos ou moléculas de dois componentes do
compósito podem interdifundir na interface para promover a adesão. Este
fenômeno de difusão acontecerá apenas em condições favoráveis de
adesividade e de contato entre as superfícies. Este mecanismo é aplicável
em materiais cujas moléculas possuem alto grau de mobilidade assim
como afinidade entre os dois tipos de moléculas. A interdifusão pode ser
promovida pela presença de solventes ou agentes plastificantes e a difusão
dependerá da conformação molecular, dos constituintes envolvidos e da
facilidade da mobilidade molecular.
31
Adesão eletrostática: Esta adesão ocorre entre a matriz e o material de
reforço quando as superfícies são carregadas negativa e positivamente.
Isto promove uma atração eletrostática entre os componentes do
compósito que dependerá da diferença de carga das duas superfícies,
apesar de não contribuir fortemente com a interação final entre fibra/matriz.
Adesão química: Este modelo considera o tipo de ligação química
envolvido na interface entre as superfícies tais como as ligações iônicas,
covalentes ou ligações metálicas. Esta adesão se dá em função da
compatibilidade entre a ligação química da matriz polimérica com a ligação
química da fibra. Como exemplo, têm-se os agentes de acoplamento como
os silanos que promovem o acoplamento de óxidos (silanol) da superfície
do vidro com as moléculas da matriz polimérica.
Adesão mecânica: Consiste numa adesão de intertravamento ou
chaveamento mecânico das duas superfícies. Este tipo de adesão é o tipo
mais eficaz, quando a força é aplicada paralelamente a interface,
aumentando consideravelmente a força de cisalhamento. Em muitos casos,
a adesão mecânica não ocorre sem a ajuda de algum outro mecanismo de
adesão.
Neste contexto, pode-se citar ainda o modelo de adesão promovido pelas
reações ácido-base e ainda a adesão promovida por absorsão e reação superficial.
As fibras celulósicas devem ser secas e tratadas para que se tenha um grau
de adesão aceitável entre fibra e matriz, e assim alcançar o pleno potencial de
reforço das fibras. A secagem das fibras é necessária para evitar a influência
negativa da presença de umidade na interface entre fibras e os diferentes
constituintes (BLEDZDKI e GASSAN, 1999).
Biocompósitos de matriz de polipropileno reforçados por fibras ligno-
celulósicas têm sido utilizados em indústrias de bens duráveis e automotivas.
Segundo Mohanty et al. (2001), tratamentos das fibras tais como desengraxamento,
graftização, branqueamento, acetilação ou reação com álcalis, peróxidos, silanos ou
32
isocianatos são essenciais para a obtenção de materiais com melhores
desempenhos.
As fibras de reforço podem ser modificadas por métodos físicos e químicos.
As modificações químicas e físicas das fibras naturais podem conferir a determinada
matriz maior adesão, estabilidade dimensional, termoplasticidade e resistência à
degradação biológica (ROWELL, 1996; KOZLOWSKI, 2003).
Os métodos físicos como estiramento, calandragem e tratamento térmico, no
entanto, não modificam a composição química das fibras. O tratamento físico
modifica as propriedades de superfície das fibras e podem influenciar no mecanismo
de ligação em polímeros (SAHEB e JOG, 1999).
Muitos autores têm estudado a influência dos tratamentos químicos das fibras
no comportamento mecânico dos compósitos a fim de otimizar estas características
e promover a utilização destes compósitos como alternativas viáveis em substituição
inclusive aos compósitos que utilizam fibras de vidro.
Wambua et al. (2003) compararam a resistência mecânica de algumas fibras
vegetais em compósitos de polipropileno e discutiram a viabilidade técnica em se
substituir as fibras de vidro pelas fibras vegetais. Neste estudo, os compósitos com
fibras de coco apresentaram baixas propriedades mecânicas, entretanto sua
resistência ao impacto foi superior aos compósitos com fibras de juta de Java
(Kenaf).
Com base em Mattoso et al. (1998), os estudos mostraram que existem várias
finalidades para as quais a modificação química das fibras de sisal pode ser
utilizada, dependendo de sua aplicação. Quando se considera o uso de fibras em
ciência dos materiais, para a substituição parcial ou total de plásticos ou outras fibras
sintéticas ou minerais, pelo menos três aspectos podem ser considerados:
Tratamento superficial da fibra para remoção de agentes cimentantes,
levando à desfibrilação em fibras elementares individuais. As fibras
elementares expandem a sua área interfacial fibra-plástico, aumentando a
região de transferência de solicitação mecânica do plástico para a fibra.
33
Modificação química da superfície das fibras, tornando-as apolares e,
portanto, mais compatíveis com os plásticos sintéticos comerciais, o que
melhora a adesão fibra-plástico.
Termoplastização da fibra: modificação química da fibra, em todo o volume,
de forma a transformá-la em um polímero com comportamento semelhante
ao dos termoplásticos comerciais.
Nos compósitos de termoplásticos, a interação interfacial é, em muitos casos,
muito fraca. Em particular, com polímeros poliolefínicos como o polipropileno, existe
uma baixa ou nenhuma reação química entre a fibra e a matriz. Além disso, a
morfologia do polímero na interface não é somente afetada por tratamento das
fibras, mas pode ser diretamente afetada por interação com a fibra, deixando ocorrer
a transcristalização, que dificulta a transferência de tensão para a fibra. O interesse
do polipropileno nas aplicações como matriz em compósitos vem crescendo e a
adesão deste polímero apolar com a superfície da fibra também apolar é um
importante desafio (THOMASON e SCHOOLENBERG, 1994).
Fibras de vidro contínuas são produzidas a partir de matéria-prima de vidro
fundido e estes filamentos são recobertos com solução de agentes de acoplamento
silano. A seleção de agente de acoplamento é também crucial na formação de uma
boa interface (HAMADA, 2000).
Kalaprasad et al. (2004) estudaram a influência da composição relativa de
fibras curtas de sisal/fibras de vidro, sua distribuição e comprimento de fibra nas
propriedades de tração de compósitos híbridos de matriz de polietileno de baixa
densidade (PEBD). Foi realizado um estudo da modificação superficial das fibras e
do PEBD para aumento da adesão fibras/matriz e compatibilização com álcalis,
anidrido acético, ácido esteárico, permanganato, anidrido maleico, silano e/ou
peróxidos. O tratamento que resultou em maior aumento do módulo e da resistência
à tração foi o com uso de peróxido de benzoíla que promoveu a graftização de
polietileno nas fibras.
Prasad et al. (1983) estudaram o tratamento de fibras de coco com solução
de hidróxido de sódio a 5% e constataram que a resistência à tração destas fibras
34
em uma matriz de poliéster aumenta em 15% quando estas são submetidas a uma
temperatura de 27-29°C por 72 a 76 horas. Rout et al. (2001) também estudaram a
influência da modificação superficial das fibras de coco através de tratamento
químico com hidróxido de sódio em concentrações de 0, 2, 5 e 10% nos compósitos
poliéster/fibra de coco e constataram melhoras significativas nas suas propriedades
mecânicas e redução de absorção de água quando comparados com as fibras que
não sofreram tratamento.
A substância alcalina reage com o material cimentante, em particular as
hemiceluloses, levando à destruição das estruturas de mantas e separação de fibras
em filamentos finos. Este processo é chamando de fibrilação, o qual quebra o feixe
de fibras em fibras menores, aumentando a área superficial efetiva, que são
favoráveis para a molhabilidade da resina. Então a ligação entre fibra e a matriz na
interface pode ser promovida (RAY, 2001).
Albuquerque et al. (2000) estudaram o efeito da molhabilidade e das
condições de envelhecimento nas propriedades físicas e mecânicas de compósitos
de matriz de poliéster reforçados por juta orientada uniaxialmente.
Adicionalmente, o tratamento alcalino leva a uma diminuição do ângulo
espiral, tornando-o mais próximo do eixo da fibra e aumentando a orientação
molecular. Um grau razoável de randomicidade é introduzida na orientação dos
cristalitos devido à remoção de material não celulósico.
Bismarck et al. (2001) caracterizaram fibras de sisal e coco modificadas
quimicamente e estudaram seu comportamento quanto à absorção de água. O MEV
foi a ferramenta utilizada pelos autores para mostrar a modificação da morfologia
das fibras necessária à produção de compósitos de bom desempenho, baixo custo e
amistosos em relação ao meio ambiente.
Rozman et al. (1999) verificaram que compósitos híbridos de matriz de PP
com alto teor de fibra de vidro e baixo teor de fibra de coco têm desempenho
comparáveis aos compósitos com alto teor de fibra de coco e baixo teor de fibra de
vidro. No entanto, sem compatibilização entre os materiais e padronização do
35
tamanho de fibras, em comparação ao PP os compósitos híbridos apresentam
menor resistência à flexão, à tração e ao impacto.
John et al. (2004) estudaram o comportamento mecânico dos compósitos
híbridos poliéster/fibras de vidro e sisal. As fibras de sisal, com comprimento médio
de 10 mm, foram tratadas com solução aquosa de hidróxido de sódio a 2% e com
trimetoxi silano. Ambos os tratamentos apresentaram comportamento bastante
similar. Os valores de resistência ao impacto sofreram um aumento com o aumento
da percentagem de fibra de vidro no compósito híbrido.
Herrera-Franco et al. (2003) estudaram o comportamento mecânico do
polietileno de alta densidade reforçado com fibras contínuas de henequen. Para
promover a adesão fibra-matriz, foi realizado um tratamento alcalino.
Rajulu et al. (2005) estudaram as propriedades mecânicas das fibras naturais
de Hildergardia populifolia em matriz de poliéster. Utilizando fibras com diâmetro
0,18 mm, comprimento de 1,0 a 1,5 cm e tratamento com uma solução aquosa de
2% de hidróxido de sódio, verificou-se que os compósitos obtidos com as fibras
tratadas apresentaram um aumento nas propriedades mecânicas da ordem de
15,6% em relação aos compósitos com fibras não tratadas.
Pandey et al. (2003) verificaram que o método de preparação dos
compósitos PP/fibras de coco afeta a foto e a biodegradação dos compósitos. Estes
autores estudaram a resistência de compósito PP / fibra de coco ao ataque biológico
e à fotodegradação. Foram utilizados dois métodos para preparação dos
compósitos, mistura reativa de PP, anidrido maleico e um peróxido orgânico na
presença de fibras de coco ou graftização de anidrido maleico em PP seguida da
esterificação com as fibras de coco.
36
6. METODOLOGIA E PLANO DE TRABALHO
6.1 MATERIAIS
As fibras de coco utilizadas neste trabalho foram fornecidas pela Embrapa
Agroindústias Tropical de Fortaleza CE. Estas fibras chegaram à Universidade
Federal do Paraná embaladas em sacos de ráfia e previamente secas e
compactadas. A Figura 6 mostra as fibras de coco na sua condição de recebimento.
FIGURA 6: Recebimento das Fibras de Coco
A Tabela 6 mostra os materiais da empresa Polibrasil Resinas S/A utilizados
para confecção dos compósitos PP + fibra de coco (HP4000U) e compósitos
híbridos PP + fibras de vidro e coco (PBD F076 e F151 PR01).
TABELA 6: Materiais utilizados para a confecção dos compósitos
Fabricante Polímero Código % Carga
Polibrasil Polipropileno HP4000U Zero
Polibrasil Polipropileno PBD F076 20% Fibra Vidro
Polibrasil Polipropileno F151 PR01 30% Fibra Vidro
6.2 PREPARAÇÃO DOS COMPÓSITOS
6.2.1 Moagem das Fibras de Coco
A moagem das fibras de coco foi realizada através do moinho de facas do
laboratório de polímeros da Universidade Federal do Paraná (Figura 7). Estuda-se
neste trabalho o efeito originado por três distribuições distintas de granulometria
(distribuição “A” formadas por fibras curtas, distribuição “B” formada por fibras
médias e distribuição “C” formada por fibras longas). Estas distribuições foram
conseguidas em função das peneiras utilizadas na classificação do material e do
número de vezes que o material passou pelo processo de moagem.
37
FIGURA 7: Processo de moagem das fibras de coco.
6.2.2 Dimensão das Fibras de Coco
A classificação das fibras foi realizada através do conjunto de Peneiras VIA
TESTE 76773 Kuhardt TYP VSM 200 com tempo de classificação de 10 minutos.
Foram utilizadas as peneiras com as malhas de 3,35 mm; 1,70 mm; 850 µm; 600
µm; 425 µm e 212 µm.
6.2.3 Tratamento das Fibras de Coco
Neste trabalho foram estudados compósitos com fibras de coco que sofreram
três diferentes tratamentos alcalinos e ainda com fibras que não sofreram tratamento
algum, ou seja, fibras “in natura”. Para o tratamento foram utilizadas três
concentrações distintas de solução de NaOH (1%, 2% e 5%).
O tratamento das fibras de coco consistiu na imersão de uma quantidade de
fibra de coco previamente moída na solução de NaOH (100g de fibra de coco para
cada litro de solução de NaOH). Estas fibras ficaram em contato com a solução
alcalina por uma hora em temperatura de 25±5°C sob vigorosa agitação mecânica
(Figura 8). Após este período, as fibras de coco foram lavadas com água deionizada
a fim de remover todas as impurezas e as substâncias solúveis provenientes do
tratamento químico. Estas fibras foram então secas em estufa a temperatura de
60±10°C por 24 horas.
38
FIGURA 8: Tratamento das fibras com solução de hidróxido de sódio (NaOH)
6.2.4 Mistura das Fibras de Coco com Polipropileno
Após o tratamento das fibras de coco, estas foram misturadas com a matriz
polimérica a fim de originar os compósitos. Em dois sacos plásticos distintos foram
pesadas as quantidades necessárias de polipropileno para o processo de extrusão
(2,5±0,5 Kg) e a quantidade necessária de fibras tratadas (conforme a percentagem
desejada). O conteúdo do saco plástico das fibras foi despejado no saco plástico da
matriz polimérica e agitado vigorosamente a fim de proporcionar a mistura destes
dois componentes (Figura 9).
FIGURA 9: (a) Polipropileno antes da mistura; (b) Fibras de coco antes da mistura; (c) Polipropileno e fibras de coco
misturados.
6.2.5 Processo de Extrusão dos Compósitos
Para a extrusão dos materiais, foi utilizada uma extrusora Hansen Tipo H60
com sete zonas de aquecimento do Centro de Educação Tecnológica Tupy em
Curitiba. A Figura 10 mostra o desenho esquemático de uma extrusora com suas
respectivas partes. Os compósitos foram extrudados a uma velocidade de fuso de
400 r.p.m. e com o seguinte perfil de temperatura: 140°C nas zonas 1 e 7 (zona de
(a)
(b)
(c)
39
alimentação e zona da bucha do cabeçote) e 150°C nas zonas intermediárias da
extrusora (zonas 2 a 6).
FIGURA 10: Esquema de uma extrusora com suas respectivas partes
6.2.6 Processo de Injeção dos Compósitos
Para a injeção dos corpos de prova foram utilizados um molde de corpo de
provas e uma máquina injetora MIR de 100 toneladas com diâmetro do cilindro de 45
mm com curso máximo de dosagem de 150 mm do Centro de Educação
Tecnológica Tupy em Curitiba. A injetora dispõe de cinco zonas de aquecimento:
zona 1 na alimentação, zonas 2, 3 e 4 no canhão de injeção e zona 5 no bico. Os
compósitos foram injetados com o seguinte perfil de temperatura: 220°C na zona 1,
190°C nas zonas 2, 3 e 4 e 210°C na zona 5. Os corpos-de-prova para os ensaios
de tração e impacto foram obtidos por intermédio do molde de corpos-de-prova para
ensaios mecânicos do Centro de Educação Tecnológica Tupy em Curitiba. A Figura
11 mostra o desenho esquemático de uma injetora ilustrando as etapas do processo
de injeção.
40
FIGURA 11: Esquema de uma injetora. (a) Fechamento do molde e início do processo de injeção;
(b) Preenchimento da cavidade do molde; (c) Abertura do molde liberando o produto injetado.
6.3 IDENTIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS
As amostras foram identificadas de acordo com o tratamento químico
efetuado bem como o tamanho das fibras de coco empregadas para cada
compósito. O trabalho se divide em duas etapas distintas. Na primeira etapa deseja-
se estudar o comportamento mecânico do compósito PP + fibra de coco no intuito de
verificar quais as características resultantes deste compósito. Nesta primeira etapa,
foram ensaiadas as amostras de PP e PP com as seguintes percentagens de fibras
de coco: 10, 15, 20 e 30 por cento. Os compósitos foram obtidos a partir de fibras de
coco longas (distribuição C) com um tratamento químico alcalino com solução de
hidróxido de sódio a 5%. Na segunda etapa, objetiva-se estudar um compósito
híbrido formado por polipropileno e fibras de vidro e coco. Para tal, utilizou-se um
compósito comercial PP + 20% fibra de vidro e a partir deste, originaram-se outros
compósitos com variações no seu tratamento químico e no tamanho das fibras de
coco, conforme Tabela 7.
41
TABELA 7: Identificação das amostras
Compósitos % PP
% Fibra
de Vidro
% Fibra
de Coco
Tratamento
Químico
Tamanho
das fibras
de Coco
Nomenclatura
100,0
0,0
0,0
NA
Dist. C
PP
90,0
0,0
10,0
5% NaOH
Dist. C
PP+10%FC
85,0
0,0
15,0
5% NaOH
Dist. C
PP+15%FC
80,0
0,0
20,0
5% NaOH
Dist. C
PP+20%FC
70,0 0,0 30,0 5% NaOH Dist. C PP+30%FC
80,0
20,0
0,0
NA
NA
PP+20%FV
80,0
20,0
0,0
NA
NA
PP+20%FV Extrusão
70,0
30,0
0,0
NA
NA
PP+30%FV
70,0
30,0
0,0
NA
NA
PP+30%FV Extrusão
72,7
18,2
9,1
NA
Dist. A
Dist. A
72,7
18,2
9,1
1% NaOH
Dist. A
Dist. A 1%
72,7
18,2
9,1
2% NaOH
Dist. A
Dist. A 2%
72,7
18,2
9,1
NA
Dist. B
Dist. B
72,7
18,2
9,1
1% NaOH
Dist. B
Dist. B 1%
72,7
18,2
9,1
2% NaOH
Dist. B
Dist. B 2%
72,7 18,2 9,1 5% NaOH Dist. C Dist. C 5%
PP + fibra de coco
PP + fibra de vidro após
processo de extrusão
Compósito híbrido
PP + fibras de vidro e
coco
NA: Não se aplica
6.4 CARACTERIZAÇÃO DAS FIBRAS
6.4.1 Análise Termogravimétrica
As análises por TGA têm sido utilizadas para várias finalidades, até mesmo
para o estudo da dispersão de reforços particulados de vidro em matrizes
poliméricas, já que estes materiais apresentam estabilidades térmicas bastante
distintas (LIANG e LI, 2001).
A estabilidade térmica de amostras de fibra de coco foi avaliada através de
análise termogravimétrica sob atmosfera de N
2
com taxas de 20°C/minuto até
850°C.
A caracterização por Análise Térmicas (TGA) das amostras de fibras “in
natura” e tratadas quimicamente com NaOH foram realizadas em um equipamento
Netzsch DSC 209, no Laboratório de Análise Térmica, do LACTEC-UFPR.
42
6.4.2 Análise Microscópica
A análise microscópica foi realizada na Universidade Federal do Paraná por
um Microscópio Eletrônico de Varredura JEOL JSM-6360LV utilizando voltagem de
aceleração do feixe de elétrons de 15 kV.
A verificação do comprimento das fibras de vidro e coco e algumas imagens
provenientes de microscópio óptico foram feitas no laboratório de análise de
sujidades da empresa Vokswagen Audi a partir de um Estereoscópio Zeiss KL 1500
LCD.
6.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPÓSITOS
6.5.1 Ensaio de Tração
No ensaio de tração, a força (ou tensão) é medida enquanto a amostra está
sendo deformada a uma taxa constante; e tem, tradicionalmente, sido o mais popular
e universal teste usado dentro dos testes mecânicos.
O ensaio de tração foi realizado no laboratório central da empresa Vokswagen
Audi em uma Máquina Universal de Tração Modelo INSTRON 5585 com capacidade
máxima 20 toneladas. Os ensaios foram feitos conforme a norma (ASTM 683M) e os
corpos de prova foram tracionados a uma velocidade de 2,5 mm/min. Os valores de
alongamento foram medidos através de extensômetro de 50,0 mm. Para cada
compósito avaliado, foram ensaiados quinze corpos-de-prova. A Figura 12 ilustra a
realização do ensaio de tração.
FIGURA 12: Ensaio de Tração
43
6.5.2 Ensaio de Impacto
Os testes de impacto são testes de fratura a alta velocidade que mede a
energia para romper a amostra. Nos testes de impacto Izod e Charpy, um pêndulo
com um peso é jogado contra a amostra (com entalhe ou não) e a energia
necessária para romper a amostra é determinada através da perda de energia
cinética do pêndulo (NIELSEN, 1974).
Os ensaios de impacto foram realizados em uma máquina de Impacto
Microtest modelo N 5102 segundo a norma ASTM D 1238 Método Charpy e o
entalhe do corpo de prova foi feito em uma máquina de entalhe EMIC PME 2565,
ambos no Centro de Educação Tecnológica Tupy em Curitiba. Os corpos-de-prova
foram entalhados conforme a norma citada e os ensaios foram realizados utilizando
a média de oito corpos-de-prova.
6.5.3 Ensaio de Fluidez
Os ensaios de índice de fluidez foram realizados no Centro de Educação
Tecnológica Tupy em Curitiba em um Plastômetro Microtest Sigma modelo 0102
série CRI conforme a norma (ASTM D 1238).
6.5.4 Ensaio de Contração
O objetivo deste teste é ver o quanto o corpo de prova contraiu após o
processo de injeção, para isso utilizou-se uma formula matemática para ver o quanto
a amostra contraiu usando o comprimento do corpo de prova (LCP) e o comprimento
da cavidade (LCM) segundo a fórmula: (LCM-LCP)/LCM*(100), realizado conforme a
norma ASTM D 955.
6.5.5 Ensaio de Dureza
Os ensaios de dureza shore D foram realizados no Centro de Educação
Tecnológica Tupy em Curitiba em um Durômetro Woltest modelo GS 702 segundo a
norma ASTM D 2240.
44
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
7.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FIBRAS DE COCO
As fibras foram classificadas em três condições diferentes em função do
número de vezes que a amostra passou pelo processo de moagem. Assim, foram
denominadas como Fibras Curtas (distribuição “A”) as fibras provenientes de uma
passagem tripla pelo processo de moagem resultando em uma distribuição ao longo
da peneira com malha de 300 µm; como Fibras Médias (distribuição “B”) as fibras
provenientes de uma passagem dupla pelo processo de moagem resultando em
uma distribuição ao longo da peneira com malha de 425 µm e como Fibras Longas
(distribuição “C”) as fibras provenientes de uma única passagem pelo processo de
moagem resultando em uma distribuição ao longo da peneira com malha de 850 µm
conforme Figura 13.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
3,35 mm 1,70 mm 850 microns 600 microns 425 microns 300 microns 212 microns Fundo
Frequência
Distribuição A Distribuição B Distribuição C
FIGURA 13: Análise granulométrica dos diferentes tamanhos de fibras de coco
7.2 COMPRIMENTO DAS FIBRAS DE COCO
As fibras estudadas apresentaram três comprimentos distintos. Neste estudo,
foram consideradas 100 amostras de cada distribuição granulométrica. Estes valores
são mostrados na Tabela 8.
45
TABELA 8: Dimensão das fibras de coco estudadas
Dimensões (mm)
Distribuição "A"
Distribuição "B"
Distribuição "C"
Comprimento Médio ( l ) 2,1 4,8 7,2
Desvio Padrão 1,0 1,5 2,1
Minimo Valor 0,3 1,1 3,8
Máximo Valor 5,0 9,8 13,5
Diâmetro Médio ( d ) 0,22 0,21 0,27
Desvio Padrão 0,11 0,11 0,12
Minimo Valor 0,1 0,1 0,1
Máximo Valor 0,6 0,5 0,5
Comprimento Crítico ( l/d )
9,5 22,9 26,7
Os valores de comprimento médio, diâmetro médio foram obtidos através de
medições em estereocópio. Nessa avaliação foram consideradas 100 amostras de
cada distribuição. Para efeito de cálculo do desvio padrão também foram
consideradas as 100 amostras. Como houve um aumento significativo do
comprimento das fibras sem alteração significativa do seu diâmetro, pode-se
caracterizar ainda neste trabalho três comprimentos críticos ( l/d ) bastante distintos.
Ainda que tenha sido feito um esforço no sentido de ser selecionado um
tamanho específico de fibras de coco para utilização neste trabalho, as fibras
naturais apresentam como uma das suas principais características a formação de
populações bastante heterogêneas.
Esta dispersão dimensional das fibras dificulta de certa forma a repetibilidade
dos resultados e torna mais complexo o processo de utilização das fibras naturais
em escala industrial tendo em vista a sua instabilidade. Conforme explorado no
capítulo 4, as fibras são bastante heterogêneas, pois dependem do tipo de solo, das
condições climáticas, dos fertilizantes utilizados, do tipo de colheita, das folhas, dos
frutos ou do caule dos vegetais. As Figuras 14 e 15 ilustram a dispersão do
comprimento das fibras para cada distribuição granulométrica.
46
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
Distribuição "A" Distribuição "B" Distribuição "C"
Comprimento Fibras (mm)
FIGURA 14: Dispersão do comprimento de fibras de coco para cada distribuição granulométrica
FIGURA 15: Distribuição do comprimento de fibras de coco para cada distribuição granulométrica
47
A Figura 16 ilustra a alta dispersão dimensional de fibras disponíveis em uma
amostra de fibras de coco de distribuição “A” utilizando microscópio de varredura
eletrônica com aumento de 30 vezes.
FIGURA 16: Amostras de Fibras de Coco (Distribuição “A”)
7.3 PERDA DE MASSA DURANTE PROCESSAMENTO DAS FIBRAS
Após a classificação das fibras de coco, realizou-se o tratamento químico das
mesmas com uma solução de hidróxido de sódio. Em relação às fibras que foram
processadas e as fibras classificadas, tratadas e secas prontas para mistura na
matriz polimérica, existiu um perda de massa no processo. Esta perda se deveu
primeiramente pela própria classificação das fibras e depois pelo fato de que o
tratamento químico das fibras também gerou perdas em função do ataque químico
que solubilizou os extrativos que estavam associados à fibra e, também, em função
dos processos de filtragem e lavagem das fibras.
A Figura 17 mostra a perda de massa que ocorreu no processo de
preparação das fibras partindo de uma quantidade de 100g de fibra de coco bruta.
Esta quantidade de fibras apresenta comprimento de fibras com distribuição “C” e foi
tratada com uma solução de hidróxido de sódio a 5%. Nota-se que, para uma
situação inicial de 100,0 g de fibra bruta, são geradas 34,6 g de fibras classificadas e
tratadas prontas para a mistura com o material polimérico, ou seja, há uma perda de
massa de 65,4% nesse processo. Este perda é ocasionada primeiramente pela
classificação das fibras nas peneiras que retêm uma grande parte das fibras que não
são objeto deste estudo e ainda, pelo processo de lavagem e secagem do material
cuja eficiência não atinge 100%. Outro aspecto relevante é a solubilização dos
48
extrativos que, em função do tratamento químico com NaOH, são extraídos pelo
processo de lavagem.
0
20
40
60
80
100
Fibra in natura Fibra Classificada Fibra Tratada
Massa (g)
FIGURA 17: Perda de massa durante os processos de classificação e
tratamento das fibras de coco
7.4 EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE TRATAMENTO DAS FIBRAS
Através da avaliação por microscopia eletrônica de varredura (Figura 18),
pode-se discutir sobre a eficiência do processo de tratamento das fibras de coco.
Esta avaliação comparativa ilustra a fibra de coco “in natura”, ou seja, sem nenhum
tratamento alcalino, a fibra de coco com tratamento alcalino 1% NaOH, a fibra de
coco com tratamento alcalino 2% NaOH e a fibra de coco com tratamento alcalino
5% NaOH. Através da microscopia eletrônica de varredura pode-se verificar a
morfologia da fibra “in natura” e qual o impacto do tratamento alcalino na morfologia
das fibras. É através da modificação na superfície da fibra que se consegue
promover uma melhor adesão com a matriz polimérica.
As Figuras 18a, 18b e 18c foram obtidas com um aumento de 500 vezes
enquanto que a figura 18d foi obtida com um aumento de 1000 vezes. O aumento de
1000 vezes facilitou a visualização da morfologia da fibra após um tratamento
químico com concentração de 5% de hidróxido de sódio.
49
FIGURA 18: (a) Fibra de coco “in natura”; (b) Fibra de coco após tratamento NaOH 1%; (c) Fibra de coco após tratamento
NaOH 2%; (d) Fibra de coco após tratamento NaOH 5%
A Figura 18a representa uma fibra “in natura”, ou seja, sem tratamento
químico algum. Pode-se verificar nesta situação que a superfície da fibra é bastante
rugosa e apresenta uma série de partículas globulares de aproximadamente 10 µm
de diâmetro em espaços regulares da superfície da fibra denominadas tiloses
(PRASAD, 1983).
Na Figura 18b, certa quantidade de tiloses é removida da superfície da fibra
em função do tratamento químico a que esta fibra foi submetida (hidróxido de sódio
1%). Nota-se também uma considerável alteração na morfologia da fibra.
A Figura 18c retrata uma fibra após tratamento químico com NaOH 2%. Nesta
condição, existe uma remoção ainda maior das tiloses. As tiloses são um material
rico em sílica como demonstrado por Calado et al. (2000). As fibras de coco tratadas
nesta condição apresentam ainda uma superfície pouco rugosa caracterizada pelos
orifícios deixados pelas tiloses removidas e pela ausência dos ácidos graxos e
outros extrativos da fibra.
50
Já a Figura 18d retrata uma fibra bastante atacada pela solução alcalina.
Espera-se que esta rugosidade criada pelo ataque químico favoreça o
intertravamento entre as fibras e a matriz conforme discutido no capítulo 5
favorecendo as propriedades mecânicas dos compósitos. Verifica-se que, nessa
concentração de hidróxido de sódio, todas as tiloses foram removidas da superfície
da fibra. Nota-se ainda que a solução de hidróxido de sódio a 5% apresentou após o
ataque químico uma cor mais escura e uma viscosidade maior quando comparada
com a solução de hidróxido de sódio utilizada nos outros tratamentos.
7.5 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA DAS FIBRAS DE COCO
As curvas de TG da Figura 19 sugerem que houve uma ligeira melhora nas
propriedades térmicas das fibras onde se empregou o aumento da concentração de
NaOH durante o tratamento químico.
O termograma obtido é típico de material lignocelulósico, onde se pode
constatar que na região até 100°C há perda de umidade do material. O início da
degradação inicia-se na região de 250°C, temperatura a partir da qual não é
recomendável a utilização de fibras de coco como reforço de compósitos.
Cada região de temperatura pode ser associada aos constituintes
característicos das fibras, porém estes valores não podem ser seguidos à risca, visto
que há formação de compostos derivados durante os processos de pirólise, mas,
mesmo assim estes compostos derivados em tais faixas de temperatura podem ser
associados aos seus constituintes originais (BROWNING, 1963).
Verifica-se a partir da Figura 19 que até 100°C (faixa de temperatura relativa à
perda de água e substâncias voláteis) a perda de massa é praticamente igual
durante os dois tratamentos. A perda de massa de 200 a 260°C está associada à
degradação das hemiceluloses; a região entre 240 e 350°C está relacionada à
decomposição da celulose e a região que compreende as temperaturas de 280 a
500°C está relacionada à decomposição da lignina (SJÖSTRÖM, 1993).
51
FIGURA 19: Análise Termogravimérica da fibra de coco com diferentes tratamentos
7.6 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS POLIPROPILENO/FIBRA DE COCO
A análise a seguir avalia o comportamento mecânico de um polipropileno
comercial após a inclusão de fibras de coco tratadas com solução aquosa 5% de
hidróxido de sódio (NaOH). Foram ensaiadas 5 amostras com diferentes
concentrações de fibra de coco conforme ilustra a Tabela 9:
Tabela 9: Propriedades dos compósitos PP/Fibra de coco
Tensão na
Ruptura (MPa)
Tensão na Carga
Máxima (MPa)
Módulo Young
(MPa)
Alongamento
(%)
Dureza
Shore "D"
Impacto
(J/mm2)
Índice de
Contração
PP
18,7 ± 0,2
26,8 ± 0,7
1411 ± 16
> 60
53 ± 2
17 ± 1
1,92 ± 0,04
PP + 10%FC
19,1 ± 1,1
24,5 ± 0,3
1629 ± 191
13,4 ± 2,2
53 ± 0
32 ± 2
1,70 ± 0,05
PP + 15%FC
18,5 ± 1,9
23,9 ± 0,4
1729 ± 80
10,6 ± 1,5
54 ± 2
32 ± 1
1,41 ± 0,07
PP + 20%FC
22,0 ± 0,6
22,7 ± 0,5
1745 ± 125
5,5 ± 0,6
57 ± 1
30 ± 2
1,25 ± 0,09
PP + 30%FC
21,5 ± 0,7
22,3 ± 0,6
1777 ± 122
5,1 ± 0,4
58 ± 2
34 ± 3
1,19 ± 0,11
Sabe-se que as propriedades mecânicas são decisivas e podem definir as
possibilidades de aplicação dos compósitos.
Os ensaios mecânicos permitem a determinação de propriedades referentes
ao comportamento de um material sujeito à ação de forças e esforços, que são
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
0
20
40
60
80
100
Perda de Massa (%)
Temperatura (ºC)
Fibra de Coco-NaOH 1%
Fibra de Coco-NaOH 2%
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
0
20
40
60
80
100
Perda de Massa (%)
Temperatura (ºC)
Fibra de Coco-NaOH 1%
Fibra de Coco-NaOH 2%
52
expressos como função de tensões e/ou deformações. As tensões representam a
resposta interna aos esforços externos que atuam sobre uma determinada área em
um corpo (CALLISTER, 1997).
A resistência mecânica do polipropileno apresenta um pequeno decréscimo
com a inclusão das fibras de coco. Segundo Geethamma et al. (1998), a
performance das fibras de coco como reforço em compósitos é insatisfatória mesmo
quando comparada com outras fibras vegetais em função de vários fatores como o
baixo teor de celulose, altos teores de lignina e hemicelulose, elevado ângulo
microfobrilar e alta variação do diâmetro.
Por outro lado, os ensaios mecânicos mostraram em um ligeiro acréscimo do
módulo de Young com o aumento da percentagem de fibras de coco; um ganho
significativo na resistência ao impacto e na dureza e redução significativa no índice
de contração. Isso pode significar que a fibra de coco pode representar um potencial
elemento modificador para o polipropileno ainda que a adesão da matriz polimérica
com a fibra não tenha sido muito eficaz.
O alongamento dos compósitos apresenta um decréscimo significativo à
medida que aumenta a concentração de fibras no polímero (Figura 20). O mesmo
acontece quando se avalia o índice de contração. Pode-se afirmar que a presença
das fibras de coco neste meio atua no sentido de favorecer a estabilidade
dimensional do compósito (Figura 21). Na verdade, o PP é muito cristalino e,
portanto contrai mais do que um polímero amorfo. As fibras de coco ocupam volume
e reduzem o teor de PP no material, reduzindo assim a contração do compósito.
53
FIGURA 20: Diagrama Tensão x Deformação
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
PP PP+10%FC PP+15%FC PP+20%FC PP+30%FC
Contração (%)
FIGURA 21: Índice de contração dos compósitos PP/Fibra de coco
Outro aspecto relevante para a performance destes compósitos é o aumento
da dureza (Figura 22) e da resistência ao impacto (Figura 23), ambos favorecidos
pelo aumento da percentagem de fibras de coco nos compósitos. No teste de
54
impacto, as fibras podem aumentar a resistência ao impacto por dois mecanismos
de dissipação de energia:
1. As fibras podem ser arrancadas (pull-out) da matriz e dissipar energia
durante a fricção mecânica. Ao mesmo tempo, o seu arrancamento
previne a concentração de tensão nas áreas ao longo da fibra;
2. As fibras dissipam energia durante o processo de descolagem
(dewetting) tendendo a cessar a propagação da trinca.
As fibras também tendem a reduzir a resistência ao impacto por dois
mecanismos:
1. Reduzem drasticamente o alongamento até a ruptura, assim podem
reduzir a área sobre a curva tensão-deformação;
2. A concentração de tensão ocorre nas extremidades das fibras, áreas
de adesão fraca e regiões onde as fibras se tocam.
Assim, dependendo da natureza do compósito e do tipo do teste de impacto,
as fibras podem diminuir ou aumentar a resistência ao impacto (NIELSEN, 1974).
50
52
54
56
58
60
PP PP+10%FC PP+15%FC PP+20%FC PP+30%FC
Dureza Shore D
FIGURA 22: Dureza Shore D dos compósitos PP/Fibra de coco
55
10
15
20
25
30
35
40
PP PP+10%FC PP+15%FC PP+20%FC PP+30%FC
Impacto (J/mm
2
)
FIGURA 23: Impacto dos compósitos PP/Fibra de coco
A análise termogravimétrica do polipropileno e dos seus respectivos
compósitos PP+10%FC e PP+15%FC (Figura 24) mostram que existe uma perda de
massa expressiva dos compósitos a partir de 250°C em função do inicio da
degradação das fibras de coco. A perda expressiva de massa do polipropileno só
inicia por volta de 350°C. Por outro lado, a presença de fibras de coco no polímero
diminui a taxa de perda de massa do material entre 500°C e 800°C.
FIGURA 24: Análise Termogravimétrica de PP e compósitos PP+10%FC e PP+15%FC
56
7.7 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS POLIPROPILENO/FIBRA DE VIDRO
A avaliação abaixo considera os compósitos comerciais polipropileno + 20%
fibra de vidro e polipropileno + 30% fibra de vidro. Estes compósitos terão suas
propriedades avaliadas antes e após o processo de extrusão. Objetiva-se com esta
análise quantificar qual o impacto sofrido por estes compósitos quando submetidos a
este processo. Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 10.
TABELA 10: Propriedades dos compósitos PP/Fibra de vidro antes e após o processo de extrusão
Sem Extrusão
Com Extrusão
Sem Extrusão
Com Extrusão
Tensão na Ruptura (MPa)
52,3 ± 2,2 50,1 ± 1,1 64,1 ± 1,4 65,4 ± 1,6
Tensão na Carga Máxima (MPa)
55,0 ± 2,2 52,9 ± 0,6 67,4 ± 1,4 68,2 ± 1,0
Módulo de Young (MPa) 4487 ± 497 4753 ± 667 6463 ± 786 6723 ± 454
Alongamento (%) 3,4 ± 0,2 3,7 ± 0,3 3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,1
Impacto (J/mm2)
61,5 ± 3,9 58,3 ± 3,9 71,6 ± 2,1 70,1 ± 2,2
Fluidez (g/10min)
10,39 ± 0,12 12,97 ± 0,07 3,50 ± 0,07 5,54 ± 0,02
Dureza Shore D 60 ± 2 60 ± 3 62 ± 1 62 ± 1
Índice de Contração
0,21 ± 0,03 0,23 ± 0,04 0,16 ± 0,04 0,14 ± 0,02
PP + 20% Fibra de Vidro PP + 30% Fibra de Vidro
A resistência mecânica do compósito aumentou com o aumento do teor de
fibras (Figura 25). A maioria dos artigos cita um aumento apreciável de resistência
com o aumento da quantidade de reforço (THOMASON, 1996).
O processo de extrusão a que o material foi submetido não ocasionou
alteração significativa nas propriedades mecânicas do material. Fu et al. (2000)
encontraram apenas um aumento marginal de resistência à tração com o aumento
da quantidade de reforço, para o mesmo sistema compósito, que foi justificado pela
redução dos comprimentos médios das fibras nos compósitos com diferentes teores
de fibras, ou seja, o efeito do aumento do teor de fibras foi praticamente anulado
pela redução do comprimento das fibras.
De fato, o processo de extrusão pode ter contribuído com a diminuição do
comprimento médio das fibras o que pode ter ocasionado uma redução dos valores
de tensão para o compósito PP+20%FV. Este mesmo fenômeno não foi constatado
para o compósito PP+30%FV possivelmente em função do maior teor de fibra de
vidro no compósito. A redução no comprimento da fibra durante o processo ocorre
através de quebras das fibras nos seus pontos mais fracos ou com falhas
(THOMASON, 2002).
57
FIGURA 25: Diagrama Tensão x Deformação dos compósitos PP+20%FV e PP+30%FV
Segundo Ota (2004), a distribuição de comprimentos das fibras é
significativamente afetada pela moldagem por injeção. Após a injeção a 170°C, o
comprimento médio das fibras no compósito PP+20%FV e no seu compósito
injetado variou de 1137 µm para 637 µm, enquanto que para o compósito
PP+30%FV estas médias foram de 777 µm e 422 µm, respectivamente.
A Figura 26 ilustra a distribuição granulométrica das fibras de vidro em duas
situações distintas: a primeira situação avalia o comprimento das fibras de vidro do
compósito comercial PP+20%FV após processamento por extrusão e injeção e a
segunda situação avalia o impacto no comprimento das fibras de vidro após
processamento do compósito híbrido Dist. C 5%. Objetiva-se a partir desta
comparação avaliar qual o impacto da presença das fibras de coco na quebra das
fibras de vidro durante os processos de extrusão e injeção dos compósitos.
58
FIGURA 26: Avaliação da presença de fibras de coco na quebra das fibras de vidro durante processamento dos compósitos
De acordo a figura acima, as duas situações são bastante similares, todavia o
compósito híbrido com fibras de coco e vidro apresentou um nível de quebra de
fibras de vidro ligeiramente maior com comprimento médio de fibras de vidro de 318
µm contra 373 µm para as fibras de vidro provenientes do compósito PP+20%FV.
Os diâmetros das fibras de vidro se mantiveram para as duas situações em torno de
27 µm. Isto sugere que a presença de fibras de coco no compósito Dist. C 5% não
contribui para preservação do tamanho das fibras de vidro durante o seu
processamento.
Neste trabalho foi observado, entretanto, um aumento no módulo de Young
de 4487 MPa para 4753 MPa para o compósito PP + 20% Fibra de Vidro e de 6463
para 6723 MPa para o compósito PP + 30% Fibra de Vidro (Figura 27) de onde se
59
conclui que o processo de extrusão não impacta de forma tão significativa nas
características mecânicas do compósito.
FIGURA 27: Módulo de Young dos compósitos PP/Fibra de vidro antes e após processo
de extrusão a 150°C
O parâmetro que obteve alteração mais significativa em função do processo
de extrusão foi o índice de fluidez. Um estudo de Hinsken et al. (1991) demonstrou
um aumento considerável deste índice para o PP após um ciclo de extrusão
adicional a 260°C, o qual passou de 3,1 para 13,8 g/10min em função da quebra de
cadeias moleculares que ocasionou diminuição de massa molecular. Neste trabalho,
um comportamento similar para o índice de fluidez foi encontrado conforme ilustra a
figura 28.
FIGURA 28: Índice de Fluidez dos compósitos PP/Fibra de vidro antes e após processo
de extrusão
De qualquer forma, o processo de extrusão é uma maneira bastante eficaz de
promover a homogeneização na preparação de compósitos híbridos. A seguir será
analisado o comportamento de compósitos híbridos de polipropileno com fibras de
vidro e coco. A incorporação das fibras de coco no compósito comercial PP + fibra
3000
4000
5000
6000
7000
8000
PP+20%FV PP+20%FV
Extrusão
PP+30%FV PP+30%FV
Extrusão
Módulo de Young (MPa)
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
PP+20%FV PP+20%FV
Extrusão
PP+30%FV PP+30%FV
Extrusão
Fluidez (g/10min)
60
de vidro foi realizada por intermédio do processo de extrusão conforme descrito no
capítulo 6.
Com relação à análise termogravimétrica destes compósitos, Ota (2004)
afirma que a presença de fibras de vidro causa uma pequena alteração na
estabilidade térmica do polipropileno, perceptível a partir de 250°C a 300°C, por
exemplo, enquanto o PP não reforçado apresenta uma perda de massa de 16%, os
compósitos PP+20%FV e o PP+30%FV, perderam 13 e 10% de massa,
respectivamente. A 350°C estas diferenças já estão bastante acentuadas, e o PP,
PP+20%FV e o PP+30%FV conservam, respectivamente, 27%, 44% e 58% de suas
massas iniciais.
Wang et al. (2003) afirmam que a incorporação de fibras de vidro em matrizes
de PP/EPDM (etileno-propileno-dieno termopolímero) exerce um importante papel
em aumentar a estabilidade térmica do compósito. No caso do PP/EPDM, o
aumento da estabilidade é da ordem de 100°C.
A região de ruptura de um corpo de prova do compósito comercial PP+20%FV
pode ser verificada através da análise de microscopia eletrônica na Figura 29.
FIGURA 29: Região do ruptura de corpo de prova do compósito comercial PP+20%FV
7.8 AVALIAÇÃO DOS COMPÓSITOS HÍBRIDOS POLIPROPILENO COM
FIBRAS DE VIDRO E COCO
Segue na Tabela 11 os resultados dos ensaios referentes ao compósito
híbrido PP + fibras de vidro e coco resultantes da incorporação de fibras de coco em
61
um compósito comercial de PP + 20% fibra de vidro. As amostras apresentam uma
variação na distribuição do comprimento das fibras de coco (distribuições A, B e C) e
ainda uma variação na concentração da solução de hidróxido de sódio responsável
pelo tratamento das fibras de coco (1, 2 e 5%).
TABELA 11: Propriedades dos compósitos Híbridos PP/Fibras de vidro e coco
Dist. "C"
in natura NaOH 1% NaOH 2% in natura NaOH 1% NaOH 2% NaOH 5%
Tensão na Ruptura (MPa) 33,7 ± 1,4 35,0 ± 1,1 36,7 ± 1,0 35,5 ± 1,4 35,8 ± 0,8 35,4 ± 1,6 36,1 ± 1,0
Tensão na Carga Máxima (MPa) 36,3 ± 1,1 37,8 ± 1,1 39,4 ± 0,8 37,8 ± 1,6 38,7 ± 0,8 37,9 ± 1,3 38,7 ± 0,9
Módulo de Young (MPa) 4006 ± 235 4066 ± 296 4401 ± 259 4055 ± 275 4073 ± 441 4334 ± 321 4210 ± 308
Alongamento (%)
3,0 ± 0,1 3,0 ± 0,1 2,2 ± 0,1 2,1 ± 0,2 2,4 ± 0,2 2,1 ± 0,2 2,4 ± 0,1
Impacto (J/mm2)
42,3 ± 2,3 42,6 ± 1,2 46,0 ± 2,3 43,5 ± 2,3 45,4 ± 2,6 46,5 ± 1,3 48,4 ± 2,6
Fluidez (g/10min)
11,42 ± 1,40 14,87 ± 0,60 14,73 ± 1,90 11,52 ± 0,75 14,47 ± 1,72 13,78 ± 0,65 14,29 ± 1,84
Dureza Shore D
57 ± 0 57 ± 0 57 ± 2 58 ± 1 58 ± 1 57 ± 1 58 ± 1
Índice de Contração 0,24 ± 0,03 0,22 ± 0,03 0,19 ± 0,02 0,22 ± 0,02 0,23 ± 0,01 0,22 ± 0,02 0,27 ± 0,03
D i s t r i b u i ç ã o "A" D i s t r i b u i ç ã o "B"
Apesar da maioria dos parâmetros estudados não ter variado
significativamente em função da distribuição do comprimento das fibras e do
tratamento químico, deve-se ressaltar o comportamento do módulo de Young que é
crescente com o aumento da concentração de hidróxido de sódio no intervalo de 1 a
2% (Figura 30).
FIGURA 30: Módulo de Young dos compósitos híbridos PP/Fibras de vidro e coco
Os valores de impacto dos compósitos híbridos apresentaram um aumento
considerável desta propriedade em função da concentração empregada para o
tratamento das fibras de coco bem como em função da distribuição do comprimento
das fibras, ou seja, a resistência ao impacto encontrada para o compósito cujas
fibras de coco foram tratadas com uma concentração de 5% de NaOH e distribuição
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
Dist. A Dist. A
1%
Dist. A
2%
Dist. B Dist. B
1%
Dist. B
2%
Dist. C
5%
Módulo de Young (MPa)
62
granulométrica “C” é 14% maior que o impacto utilizando nas fibras in natura e
distribuição “A”, tal como ilustra a Figura 31.
FIGURA 31: Impacto dos compósitos híbridos PP/Fibras de vidro e coco.
O teor de absorção de água num compósito formado por fibras vegetais
também é um fator que deve ser observado, uma vez que a absorção de água é
uma característica intrínseca destas fibras. Se o compósito absorve uma alta
quantidade de umidade, pode, de certa forma, comprometer suas propriedades ao
longo do tempo. Esta absorção está diretamente relacionada à própria característica
da fibra ou ainda ao processamento do compósito. Dependendo da compactação do
compósito, sua estrutura pode se tornar mais ou menos vulnerável à entrada de
água. Os ensaios realizados neste trabalho consistiram em medições sucessivas de
massa dos corpos-de-prova realizadas semanalmente durante três semanas. A
diferença de massa encontrada entre as medições representa o quanto de água que
está sendo absorvida pelo compósito. O PP apresentou durante os ensaios uma
absorção de água da ordem de 0,01% considerando o estado inicial e a terceira
medição realizada 21 dias após o inicio do ensaio. Da mesma forma, o corpo-de-
prova PP+20%FV Extrusão apresentou uma absorção de água da ordem de 0,05%,
valor ligeiramente superior ao PP sem reforço. Os compósitos híbridos avaliados
apresentaram uma absorção maior que os demais, entretanto podemos considerar
estes valores satisfatórios tendo em vista a utilização de uma fibra vegetal. Para a
amostra Dist. A 2% foi encontrado o valor de 0,17% de absorção de água; a amostra
Dist. B 2% apresentou 0,20% de absorção de água enquanto que a amostra Dist. C
5% apresentou uma absorção de água da ordem de 0,17%. O tamanho das fibras
35
40
45
50
55
Dist. A Dist. A
1%
Dist. A
2%
Dist. B Dist. B
1%
Dist. B
2%
Dist. C
5%
Impacto (J/mm
2
)
63
bem como o tratamento alcalino utilizado não interferiram de forma significativa nos
resultados de absorção de água.
A Figura 32 apresenta o acompanhamento do ensaio de absorção de água
nos compósitos híbridos. Verifica-se que a absorção de água se dá de forma mais
significativa na primeira semana do ensaio. Depois deste período, os valores tendem
a se estabilizar.
9,35
9,40
9,45
9,50
9,55
9,60
Estado inicial Semana 1 Semana 2 Semana 3
Massa do corpo-de-prova (g)
Dist. A 2% Dist. B 2% Dist. C 5%
FIGURA 32: Ensaio de absorção de água dos compósitos híbridos
A Figura 33 ilustra a morfologia das fibras de vidro e coco bem como a
diferença dimensional entre ambas. Verifica-se na Figura 33a que a fibra de coco é
bem maior que a fibra de vidro. Enquanto que a fibra de coco de distribuição “A”
(amostra de menor comprimento) tem um comprimento da ordem de 2,1 mm com
diâmetro médio de 0,22 mm, a fibra de vidro possui um comprimento da ordem de
1,1 mm (OTA, 2004) com diâmetro médio de 0,03 mm. Na Figura 33b pode-se
constatar a morfologia da fibra de vidro bastante regular e cilíndrica. A Figura 33c
mostra um corte transversal na fibra de coco ilustrando a sua morfologia irregular e
sua complexidade estrutural conforme discutido no capítulo 4.
FIGURA 33: (a) Diferença dimensional entre fibras de vidro e coco; (b) Fibra de vidro; (c) Fibra de coco
64
As propriedades mecânicas de um dado compósito estão diretamente
relacionadas à formação de uma boa interface entre as fibras e a matriz, conforme
discutido no capítulo 5. A Figura 34 ilustra a dispersão das fibras de vidro e coco no
compósito. A Figura 34a ilustra o compósito após processo de extrusão. Verifica-se
nesta figura que tanto as fibras de vidro como as fibras de coco estão orientadas no
sentido dado pelo processo de extrusão. As Figuras 34b, 34c e 34d mostram a
região de ruptura de um corpo de prova (Dist. C 5%) após ensaio de tração. Verifica-
se que a região de ruptura é caracterizada por uma densidade de fibras de vidro
significativamente maior que fibras de coco. Este situação sugere que exista uma
incompatibilidade entre as duas fibras, ou seja, a inserção de fibras de coco neste
meio, aliada à diferença dimensional entre as fibras pode ter ocasionado um
aumento dos espaços vazios durante a tração deste material, contribuindo inclusive
para a diminuição das propriedades mecânicas do compósito comercial PP+20%FV.
FIGURA 34: (a) Compósito Dist. C 5% após processo de extrusão; (b) Vista frontal da região de ruptura do corpo
de prova Dist. C 5%; (c) e (d) Vista lateral da região de ruptura do corpo de prova Dist. C 5%
65
Uma avaliação mais precisa a respeito da interface das fibras de vidro e coco
pode ser feita através da utilização de um microscópio de varredura eletrônica
(Figura 35). A figura 35a ilustra a superfície de ruptura de um corpo de prova do
compósito híbrido Dist. B 2%. Pode-se verificar a diferença entre a população de
fibras de vidro em relação às fibras de coco bem como a divergência dimensional
entre as fibras, tema já discutido acima. Na Figura 35b a extremidade de uma fibra
de coco após ruptura em teste de tração. Além da extremidade da fibra se
caracterizar por uma ruptura forçada, pode-se verificar também que a sua superfície
apresenta resíduos da matriz o que sugere que, apesar das propriedades mecânicas
não terem sofrido acréscimo significativo, há alguma compatibilidade entre fibra e
matriz. As Figuras 35c e 35d também ilustram esta situação na qual houve uma
ruptura da fibra de coco pelo ensaio de tração. A Figura 35d ilustra o detalhamento
da região de ruptura da fibra. Verifica-se que esta morfologia é bem diferente de
quando a fibra de coco sofre ruptura pelo processo de moagem (figura 33c).
FIGURA 35: (a) Região de ruptura de compósito híbrido Dist. B 2%; (b) e (c) Fibra de coco após ruptura em ensaio
de tração; (d) Detalhe da região de ruptura da fibra de coco
66
8. CONCLUSÕES
1. A inclusão das fibras de coco na matriz de polipropileno estudada provoca um
aumento no módulo de Young, impacto e dureza, entretanto resulta em uma
diminuição dos valores de alongamento e contração. Os valores de tensão sofrem
pouca influencia com o aumento da percentagem de fibra de coco na matriz de
polipropileno.
2. O processo de extrusão através do qual o compósito foi submetido apresentou
pouca influência nas características mecânicas do material, com exceção dos
módulos de Young e índice de fluidez que apresentaram um pequeno aumento
nestas características evidenciado, principalmente, pela quebra das fibras durante o
processo de extrusão.
3. A presença de fibras de coco no compósito PP+20%FV não contribuiu para a
diminuição da quebra de fibras de vidro que, naturalmente, ocorre nos processos de
extrusão e injeção.
4. As fibras de coco submetidas a um tratamento alcalino com solução de hidróxido
de sódio apresentaram alterações significativas em sua morfologia. Enquanto que a
fibra “in natura” apresenta uma superfície rugosa e composta por uma grande
quantidade de tiloses, as fibras tratadas apresentam uma superfície mais lisa,
entretanto, mais severamente atacada, indicando uma solubilização dos extrativos
presentes na superfície da fibra e com uma quantidade significativamente menor de
tiloses.
5. Os compósitos híbridos polipropileno/fibras de vidro e coco apresentaram uma
correlação direta entre a concentração de NaOH e os valores de módulo de Young e
resistência ao impacto. As demais características mecânicas por sua vez não
apresentaram alterações significativas no sentido de justificar a presença das fibras
de coco no compósito. Este fato pode ser atribuído à vulnerabilidade da fibra de
coco como reforço em compósitos ou ainda a não utilização de um sistema/processo
ótimo para o emprego destas fibras.
67
9. SUGESTÕES
As fibras de coco, material abundante na natureza e com cosumo crescente
nas grandes capitais, são uma fonte bastante interessante de estudos
principalmente pela sua característica de preservação do meio ambiente. Os
compósitos híbridos polipropileno e fibras de vidro e coco fruto deste trabalho
apresentaram algumas características positivas e que devem ser melhoradas nos
próximos trabalhos. Por outro lado, outros parâmetros ficaram abaixo das
expectativas e devem ser mais detalhadamente explorados em outras abordagens.
O primeiro tema sugerido para estudos diz respeito ao impacto da utilização
de duas fibras tão dimensionalmente diferentes. De um lado as fibras de vidro
surgem como um material bastante estável, regular e de dimensões bastante
reduzidas quando comparadas com as fibras de coco cuja característica é a
dispersão dimensional típica de uma fibra vegetal e com uma dimensão
significativamente maior que as fibras de vidro. Possivelmente, esta variação
dimensional pode ter afetado de forma significativa as propriedades mecânicas
principalmente no ensaio de tração. Por outro lado, os valores de módulo de Young
encontrados neste trabalho foram bastante satisfatórios e sugerem que existe a
possibilidade da utilização da fibra de coco como um reforço. Neste contexto,
sugere-se ainda que sejam estudadas também outras fibras como a fibra de curauá
que tem apresentado características mecânicas bastante favoráveis sendo inclusive
utilizada já em larga escala pela indústria automobilística.
Uma outra situação a ser avaliada diz respeito aos parâmetros de processo
para o tratamento das fibras de coco com hidróxido de sódio. Através da microscopia
eletrônica verificou-se que existe de fato um ponto ótimo no qual a fibra de coco
possui as suas melhores características de adesão ao polímero. Como sugestão fica
a possibilidade de se tratar as fibras com concentrações que variem de 5 a 10 por
cento para que se avaliem as características dos compósitos neste tratamento. A
utilização de maiores temperaturas de tratamento em tempos menores pode tornar
este processo viável em escala industrial.
68
Outra sugestão a ser considerada é a quantidade de fibra de coco a ser
utilizada nos compósitos. Se os compósitos tivessem sido produzidos com uma
percentagem maior de fibra de coco da ordem de 20 a 30 por cento, talvez os
compósitos pudessem ter características mais expressivas sejam elas favoráveis ou
contrárias à utilização das fibras de coco. A utilização da ordem de 10 por cento de
fibras de coco deixou os resultados muito próximos uns dos outros o que de certa
forma dificultou a tomada de decisões e a análise dos parâmetros.
69
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