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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Área de Concentração: Gestão de Negócios
CONCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA
REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ
Dissertação de Mestrado
LILIANE CANOPF
Maringá
2003
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LILIANE CANOPF
CONCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA
REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade
Estadual de Maringá e Universidade Estadual
de Londrina, na área de Gestão de Negócios,
como requisito final à obtenção do título de
mestre em Administração.
Orientadora Profª. Dr.ª Cláudia Souza
Passador.
Maringá
2003
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LILIANE CANOPF
CONCEPÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA
REGIÃO SUDOESTE DO PARANÁ
Dissertação aprovada como requisito para
obtenção do título de mestre no programa de
Pós-Graduação em Administração da
Universidade Estadual de Maringá e
Universidade Estadual de Londrina, pela
seguinte banca examinadora:
Aprovada em 16 de dezembro de 2003.
__________________________________________________
Profª Drª CLÁUDIA SOUZA PASSADOR
Universidade Estadual de Maringá - UEM
__________________________________________________
Profº Dr. ANDRÉ LUCIRTON COSTA
Universidade de São Paulo – FEA/USP
__________________________________________________
Profº. ANTONIO ARTUR DE SOUZA, Ph.D.
Universidade Estadual de Maringá - UEM
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida, por me socorrer em todos os momentos apesar de minha insignificância,
por todos os dons que me deste e que permitiram a realização deste trabalho.
Aos meus pais, Adelino João e Lourdes, e irmãos, Junior e Juliano, pelo incentivo, carinho e
compreensão, por sempre serem meu porto seguro.
À minha orientadora, Profª Drª Cláudia Souza Passador, por ter aceitado este desafio sem
nenhuma restrição, por seu apoio, seus encaminhamentos e principalmente por demonstrar
confiança em um resultado que eu mesma não vislumbrava.
À Universidade Estadual de Maringá – UEM, pela oportunidade e por através de todos os
seus professores, da coordenação do Profº Antônio Artur e da secretaria do Bruhmer César
Forone Canonice, possibilitar a realização do curso de Pós-Graduação em Administração,
área do conhecimento que tanto necessita de reflexão, em um País que tanto necessita da
Administração.
Aos coordenadores e direção da FACIPAL, do CEFET, da CESREAL e da UNIOESTE, que
prontamente disponibilizaram os dados necessários à realização da pesquisa.
Aos colegas e amigos da turma de Mestrado de 2002, pela oportunidade de troca de
experiências e pelo contagiante entusiasmo com que encararam cada novo desafio.
A minha amiga e mais do que colega, companheira de tantas lutas, Rosane Calgaro Festinalli,
por me apresentar ao mundo acadêmico e nele me acompanhar com seu exemplo de coragem,
determinação e desprendimento.
A meu namorado Alberto Loreno Fracasso, que soube ser compreensivo com tantas crises e,
mesmo distante, evocar o aconchego e carinho de que eu tanto precisava.
Às minhas revisoras, Lúcia Maria Shimata Ghiraldi e Cláudia Bocchese de Lima, pela
carinhosa atenção com que trataram a mim e a meu trabalho.
A todos os meus velhos e novos amigos, Lúcia, Adri, Cris, Ana, Adair, Zelair, Sandra,
Marlize, Alsirez, Joce, Lígia, Fábio e Sílvio, que das mais variadas formas me incentivaram e
contribuíram para a realização deste trabalho.
“Senhor, dá-me coragem para mudar as coisas que posso,
paciência para aceitar as coisas que não posso mudar e
sabedoria para discernir entre elas”.
RESUMO
Em diversos momentos, na mídia, nos discursos de empresários e até mesmo em trabalhos
acadêmicos vê-se o tema Responsabilidade Social apresentado com um único entendimento: o
de responsabilidade das empresas para com a sociedade onde estão inseridas. Isto sabido e
aceito por todos sem questionamentos e sem alusões ao que o originou. A partir deste
contexto, este trabalho propõe um resgate teórico de alguns dos conceitos possíveis, bem
como buscar sua origem no fenômeno da globalização. E, por que as empresas, a sociedade e
o próprio MEC entendem que este tema deva fazer parte da atuação dos administradores das
organizações modernas, fez-se a ligação da discussão da responsabilidade social a quatro
cursos de graduação em Administração da Região Sudoeste do Paraná, dois de instituições
públicas (CEFET e UNIOESTE) e dois de instituições privadas (FACIPAL e CESREAL).
Nesses buscou-se saber qual concepção de responsabilidade social, dentre as muitas possíveis,
está presente no trabalho de formação dos acadêmicos através da análise de alguns aspectos
como: missão da instituição e do curso, perfil do egresso pretendido e referências explícitas
ao tema. Após esta análise, o que os cursos apresentaram foi uma grande mistura de
conceitos, utilizando enunciados em alguns momentos críticos e em outros extremamente
normativos e preocupados em formar profissionais que atuem visando o lucro para suas
organizações, demonstrando que ainda há espaço para muitos estudos e discussões sobre
responsabilidade social antes que esta faça parte, consistentemente, dos projetos pedagógicos
dos cursos de graduação em Administração.
Palavras-chave: Responsabilidade Social, formação acadêmica e graduação em administração.
ABSTRACT
In lots of moments, in the media, in enterprisers’s speeches and even in
academics research papers is talked about the topic “Social Responsibility”, which is
presented with only one meaning: the responsibility of the companies to the society where
they are put in. This is known and accepted by everybody with no questions and references
about its origin. Following this context, this research paper proposes to make a theorical
rescue of some possible concepts, as well looking for its origin in the phenomenon of
globalization. This discussion about responsability has connected four graduation courses in
administration from Southwest Region of Paraná, two came from government institutions
(CEFET and UNIOESTE) and two private (FACIPAL and CESREAL), because the
companies, the society and even MEC understand that this topic should be part of the
administrator’s actions of the modern organization. This research has tryed to discover the
concept of social responsability, among lots of possible, which one is inserted in the academic
formation. The research will be done through analysis of some aspects: the aim of institution
and the course, administrator’s profile intended and clear references about the topic. After this
analysis, the courses showed a huge confusion of conceps, for example in a same project has
appeared criticism and praise, putting the reader in doubt and showing that still has a big field
to study and discuss about social responsability, before it becomes part of pedagogical
projects in courses of graduation in administration.
Key-Words: Social Responsability, academic graduation and majoring in administration.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Distribuição geográfica das regiões do Paraná.....................................................18
Figura 2 – Distribuição geográfica dos municípios da Região Sudoeste do Paraná................86
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Responsabilidade Social Interna e Externa...........................................................58
Quadro 2 – Desenvolvimento moral das organizações e orientação para os
stakeholders......................................................................................................................... 65
Quadro 3 - Instituições que oferecem o curso de graduação em Administração, os municípios
de sua localização, ano de início de atividades dos cursos e número de vagas oferecidas a cada
vestibular..............................................................................................................................85
Quadro 4 – Dados disponibilizados nas páginas dos Cursos na Internet.................................93
Quadro 5 - Missão das Instituições.......................................................................................95
Quadro 6 – Missão dos Cursos..............................................................................................95
Quadro 7 – Perfil do Egresso................................................................................................98
Quadro 8 – Referências ao papel das organizações na sociedade de hoje...............................99
Quadro 9 - Referências ao papel do administrador nas organizações....................................100
Quadro 10 – Temas centrais (pilares ou temas chaves) do Projeto Pedagógico....................101
Quadro 11 - Referências explícitas a responsabilidade social................................................102
Quadro 12- Disciplinas em que o tema responsabilidade social é abordado..........................104
Quadro 13 – Respostas dos Coordenadores dos Cursos.......................................................107
Quadro 14 – Síntese de Abordagens Apresentadas pelos Cursos.........................................109
SUMÁRIO
RESUMO....................................................................................................................................5
ABSTRACT ...............................................................................................................................6
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................7
LISTA DE QUADROS..............................................................................................................8
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................11
1.1 TEMA DA PESQUISA
.........................................................................................11
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO
.........................................14
1.3 OBJETIVOS
................................................................................................................19
1.3.1 Objetivo Geral
....................................................................................................19
1.3.2 Objetivos Específicos
........................................................................................19
1.4 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA.................................19
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO..............................................................20
2 DIVERSAS ABORDAGENS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL ..........................22
2.1 A GLOBALIZAÇÃO
................................................................................................22
2.1.1 A Globalização e as Organizações
...............................................................32
2.2 BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
.......................35
2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL É UM MODISMO?
...................................39
2.4 OS LIBERAIS, NEOLIBERAIS E AFINS .........................................................40
2.5 LEGITIMAÇÃO SOCIAL
.......................................................................................44
2.6 UMA QUESTÃO ÉTICA
........................................................................................50
2.7 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
.......................................53
2.7.1 Modelos de Estudo
............................................................................................62
3 O PAPEL DO ADMINISTRADOR NA ERA DO CONHECIMENTO..........................66
3.1 O PAPEL DA UNIVERSIDADE
..........................................................................66
3.2 O ADMINISTRADOR NAS ORGANIZAÇÕES
.............................................69
3.3 A TOMADA DE DECISÃO
...................................................................................70
3.4 PROJETO PEDAGÓGICO
.....................................................................................74
3.5 O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
.....................................................................76
4 PROPOSTA METODOLÓGICA.......................................................................................81
4.1 NATUREZA DA PESQUISA
................................................................................81
4.2 TIPO DA PESQUISA E INSTRUMENTOS
......................................................81
4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA PESQUISA
......................................................83
4.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
..................................................................87
5 OS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO SUDOESTE
DO PARANÁ ...........................................................................................................................89
5.1 BREVE HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES
....................................................89
5.1.1 CEFET-PR Unidade de Pato Branco
.........................................................89
5.1.2 FACIPAL
.............................................................................................................89
5.1.3 CESREAL
............................................................................................................90
5.1.4 UNIOESTE
..........................................................................................................91
5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CURSOS
.................................................................92
5.2.1 Disciplinas
..........................................................................................................102
10
5.3 OS CURSOS SEGUNDO SEUS COORDENADORES ...............................105
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................111
6.1 QUANTO AOS OBJETIVOS PROPOSTOS
...................................................111
6.2 CONCLUSÃO GERAL DA PESQUISA ..........................................................112
7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS................................................................................117
8 ANEXOS..............................................................................................................................122
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA DA PESQUISA
Está recaindo sobre as empresas uma grande pressão da sociedade por melhorias nas
condições de vida de seus cidadãos, como conseqüência da impossibilidade do Estado
mínimo neoliberal atender as demandas geradas pelo processo de globalização (PASSADOR,
2003b).
A atual crise do modelo do Estado de bem-estar social, gerada pela aplicação do
modelo neoliberal de Estado mínimo, está destruindo os instrumentos de representação
política e promoção da ação individual (ações sociais e comunitárias), bem como
inviabilizando as organizações de defesa de direitos e promotoras de acesso a benefícios
sociais (PASSADOR, 2003b). O incômodo vazio, gerado pela ausência do Estado em vários
aspectos da vida cotidiana das pessoas e das organizações, incentiva a busca por novos
agentes que se proponham a preenchê-lo. Dentre as opções que se apresentam, vemos
florescer a discussão sobre Responsabilidade Social das organizações.
Este é um tema que vem sendo amplamente discutido por diversas áreas do
conhecimento como a Educação, a Sociologia e a Administração, contudo percebe-se ainda
muita divergência em relação a ele. Duarte e Dias (apud ASHLEY, 2002) ensinam que, para
alguns, ela representa a obrigação legal, para outros é vista como dever fiduciário, há os que a
traduzem como prática social, como papel social e como função social e, ainda, os que a
associam ao comportamento eticamente responsável ou a uma contribuição caridosa. Para
ampliar ainda mais a discussão, são citados aqueles que a consideram ser responsável por ou
socialmente consciente e os que a vêem como sinônimo de legitimidade ou antônimo de
socialmente irresponsável ou não responsável. Para Ashley (2002) estes muitos diferentes
12
conceitos são resultado de toda uma variação de diferentes abordagens
1
tais como:
abordagens normativas, instrumentais, pré-lucro, pós-lucro e a dos stakeholders. Assim como
ela, Montana & Charnov (1998) e Bateman & Snell (1998) também comentam sobre as
muitas possibilidades de abordagens.
Apesar das divergências, Ashley (2002) considera que o conceito de ética e
responsabilidade social corporativo vem amadurecendo quanto à capacidade de sua
operacionalização e mensuração, subdividindo-se em vertentes de conhecimento. Utilizando-
se de Frederick, a autora cita que, a partir da década de 1970, a questão não é mais se a
empresa tem obrigações sociais, mas sim como e em que medida a corporação pode responder
a elas.
Robbins (2000) lembra que as expectativas da sociedade em relação aos negócios
mudaram. Há 20 anos, a sociedade era mais tolerante com ações antiéticas. Hoje, no entanto,
as expectativas da sociedade em relação aos problemas sociais e éticos elevaram-se mais
rapidamente que a capacidade das empresas em melhorar seus padrões. Assim, ainda que as
empresas de hoje possuam mais consciência social que há 20 anos, a sociedade considera que
elas têm muito a melhorar. O autor deixa claro que, independentemente da abordagem que a
empresa adotar, todas estarão sendo pressionadas pelos acionistas, pelos investidores, pelos
concorrentes, pelos consumidores, pelos fornecedores, pelo governo e pela comunidade em
geral a assumirem uma postura socialmente responsável, e isto será percebido como critério
de avaliação do seu desempenho.
1
Abordagem: ato de abordar; modo de tratar ou encarar algo; visão de um assunto; ponto de vista sobre uma
questão; maneira ou método de enfocar ou interpretar algo; modo de lidar com algo (HOUAISS e VILAR,
2001).
13
Além de agentes econômicos, as empresas passam a ser vistas por todos como
responsáveis pelo crescimento e pelo bem estar da sociedade para que alcancem uma posição
de organizações bem sucedidas ao longo da história. A história das empresas com visão
inovadora e de tradição no mercado mostra que a existência de uma ideologia central que
determine a presença de valores permanentes e relevantes, com objetivos que transcendem o
lucro, inspira e orienta seus participantes, permanecendo tais valores inalterados por muito
tempo (ARANTES, 1998).
O autor denomina estas empresas de “empresas válidas”, conceituando-as como
organizações que vêem o lucro como resultado de um trabalho eficaz e efetivo, com
princípios transparentes e duradouros de contribuição para o desenvolvimento da sociedade
na qual estão inseridas. A função destas organizações é criar, produzir e desenvolver-se para
atender às necessidades e aos desejos humanos, participando ativamente do progresso da
sociedade.
Collins & Porras (1997) defendem que se pode integrar ideais que consideram a
existência de objetivos pragmáticos com ideais de responsabilidade social. Esclarecem que os
objetivos sociais sempre fizeram parte dos valores das empresas com visão inovadora,
inclusive nos períodos de crise econômica.
Bateman & Snell (1998) afirmam que a responsabilidade social é a extensão do papel
empresarial além de seus objetivos econômicos. Conforme os autores, as organizações, como
membros da sociedade, deveriam participar ativa e responsavelmente da comunidade e do
ambiente mais amplo. Complementa, ainda, que as ações sociais podem apresentar vantagens
em longo prazo como: melhorar a imagem da organização e evitar regulamentação
desnecessária e cara caso sejam percebidas pelos consumidores como socialmente
responsáveis.
No ponto de vista de Kiernan (1998), serão necessárias mudanças no âmbito das
14
empresas para alcançarem desempenho e eficiência ambiental, para gerenciar o risco
ambiental e terem acesso ao capital, a clientes, a fornecedores e a funcionários
comprometidos. Considera o autor, também, que existem muitas razões para os
administradores verem as questões ambientais não apenas operacionalmente, mas
estrategicamente, como a sobrevivência a longo prazo, as oportunidades de mercado, a
competitividade e a imagem e reputação corporativas.
Kiernan (1998) acredita que praticamente nada tem sido feito para preparar o
executivo contemporâneo, tanto em sua formação acadêmica quanto na antiga carreira
gerencial, para lidar com as implicações e efeitos da responsabilidade social cobrada pela
sociedade.
Frente ao contexto de mudanças no mundo do trabalho, inclusive do administrador,
ou seja, das organizações, causadas pelo processo da globalização, a questão a que este
trabalho se propõe a analisar é: quais as concepções
2
de Responsabilidade Social dos cursos
de graduação em Administração da Região Sudoeste do Paraná. Também identificar, a partir
da análise dos projetos pedagógicos, as iniciativas
3
existentes, como disciplinas, para a
formação do administrador com a finalidade de corresponder às expectativas da sociedade em
relação à Responsabilidade Social das empresas.
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Como apontam alguns estudos (ROBINS, 2000; DRUCKER, 2001; ASHLEY,
2
Concepção: idéia; faculdade ou ato de apreender uma idéia ou questão, ou de compreender algo; compreensão,
percepção; modo de sentir, ponto de vista; entendimento, noção (HOUAISS, 2001).
3
Iniciativa: ação daquele que propõe, realiza (HOUAISS, 2001).
15
2002), apesar da Responsabilidade Social fazer-se presente na mídia e nos meios acadêmicos,
ainda não integra a rotina de muitas organizações. Embora os empresários sintam a
necessidade de um posicionamento politicamente correto e socialmente responsável,
encontram-se um pouco confusos com relação a sua conceituação e abrangência. Esta busca
dos empresários se reflete nas empresas que, impulsionadas por tendências ou por pressões,
passam a reavaliar seu relacionamento com concorrentes, com funcionários, com
fornecedores, com clientes, com governo e com a comunidade em geral, causando mudanças
nos valores incorporados por elas.
Ao reavaliar tais relacionamentos, as empresas começam a valorizar certos aspectos
antes negligenciados como questões relacionadas a obrigações legais e à defesa dos direitos
dos consumidores. Algumas iniciativas se traduzem em apoio corporativo de causas sociais,
programas de voluntariado e adoção de padrões éticos para fundamentar transações
comerciais.
Para realizar as atividades concernentes ao administrador destas organizações, o
profissional deverá estar preparado para enfrentar situações que envolvam aspectos éticos,
sendo capaz de conciliar os interesses organizacionais aos interesses da sociedade. As
instituições de ensino, nesse contexto, deverão assumir uma importante função social:
proporcionar ao aluno de Administração formação que contemple tais aspectos.
Assim, percebe-se, na atual realidade social, espaço para a inserção do tema
Responsabilidade Social no ensino de administração para a formação dos profissionais que
irão atuar no conjunto das empresas. Rodrigues (1986) anota que a educação escolar deve
possibilitar aos indivíduos as condições básicas para o desenvolvimento do seu bem-estar,
compreendido como acesso aos bens culturais e preparação para o trabalho e para o exercício
das funções políticas requeridas pela sociedade.
Além da visão puramente voltada para o mercado de trabalho, Beraldo (2001) afirma
16
que o administrador deve ter consciência do valor do indivíduo, promover a convivência
produtiva e justa, independente das diferenças, e saber usar com fraternidade os recursos
escassos necessários à produção e à distribuição de bens e serviços. É preciso considerar
também o perfil do egresso de administração definido pela Comissão de Avaliação dos
Cursos de Administração que, segundo Caravantes (1998), abrange a internalização de
valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional, bem como a sólida formação
humanística e visão global que o habilite a compreender o meio social, o político, o
econômico e o cultural em que está inserido e a tomar decisões em um mundo diversificado e
interdependente.
Tratando sobre a adequada formação profissional do aluno do curso de graduação em
Administração, o Ministério da Educação estabeleceu nas Diretrizes Curriculares (1999) que
o assunto ética, intimamente ligado a questão da Responsabilidade Social, seja abordado no
currículo, não necessariamente como uma disciplina específica, mas como um tema que
permeie diferentes disciplinas de formação profissional e atividades complementares. Apesar
de ser uma intervenção recente do governo nos cursos de Administração, pode demonstrar
que esta não é uma questão passageira.
Caravantes (1998) relata como pressupostos básicos para a realização da Avaliação
dos cursos o processo de globalização, o estado atual do conhecimento na área, a rapidez das
mudanças nos paradigmas científicos e tecnológicos, a dinâmica dos mercados, a valorização
das questões éticas e ambientais e as novas exigências sociais do desenvolvimento
sustentável.
A partir das considerações das Diretrizes Curriculares Nacionais (1999) e do perfil
do egresso de Administração definido pela Comissão de Avaliação dos Cursos, pode-se
pressupor que a preocupação com as questões sociais deve estar presente no meio acadêmico.
A escola, por sua vez, deverá buscar a formação de um profissional que tenha condições de
17
corresponder às expectativas da sociedade como um todo. Torna-se importante verificar como
a Responsabilidade Social está sendo abordada por uma amostra de instituições de ensino
superior que oferece o curso de graduação em Administração, tendo em vista seu papel como
disseminadoras de conceitos, não apenas para atender a demanda das organizações por
profissionais, mas também para defender os interesses da sociedade.
A Região Sudoeste do Paraná, apresentada na figura 1 – Distribuição geográfica das
regiões do Paraná, tem atualmente catorze instituições de ensino superior, dentre as quais
onze oferecem o curso de graduação em Administração com diversas habilitações. É neste
universo que o presente trabalho se propõe a contribuir a partir da apresentação de alguns
autores e da análise de uma amostra de cursos, verificar a existência ou não da discussão do
tema Responsabilidade Social na formação dos Administradores.
18
FIGURA 1Distribuição geográfica das regiões do Paraná
Fonte: Adaptado da Fundação de Ação Social
19
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
A presente pesquisa tem como principal objetivo analisar as concepções de
Responsabilidade Social dos cursos de graduação em Administração da Região Sudoeste do
Paraná.
1.3.2 Objetivos Específicos
Identificar as concepções de Responsabilidade Social apresentadas pelos Cursos com
o referencial teórico proposto;
Analisar as concepções dos Coordenadores de Curso;
Identificar iniciativas existentes no Curso com relação à Responsabilidade Social.
1.4 RESULTADOS E CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA
Um dos resultados esperados é a verificação da presença ou não da discussão do
tema Responsabilidade Social nos cursos de graduação em Administração da amostra,
levando-se em consideração as Diretrizes Curriculares Nacionais (1999) e o perfil de egresso
pretendido resultante delas, bem como, a descrição das concepções apresentadas pelos cursos.
E, a partir deste conhecimento, despertar o interesse de professores e pesquisadores em
Administração pela realização de outras pesquisas visando suprir as atuais necessidades
relacionadas à formação dos administradores que possam respaldar alterações nos projetos
20
pedagógicos dos cursos.
O estudo pretende contribuir principalmente para que os cursos de graduação em
Administração possam refletir a cerca da questão da Responsabilidade Social e, inclusive, a
responsabilidade concernente à própria escola. Talvez assim, as instituições de ensino possam
ter iniciativas concretas para preparar gestores mais cônscios da amplitude dos reflexos de
suas decisões em toda a sociedade.
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
A presente dissertação está organizada em capítulos e estes em seções e
subseções. Na introdução é apresentado o tema de pesquisa, sua justificativa, objetivos,
resultados e contribuição esperados, bem como a organização da dissertação. A seguir, o
capítulo Diversas Abordagens de Responsabilidade Social inicia com a apresentação de uma
discussão sobre o processo da globalização e a inserção das organizações nesta, então
apresenta um breve histórico do tema e algumas abordagens a partir da escolha de
determinado referencial teórico. As seções: Responsabilidade Social é um Modismo?; Os
Liberais, Neoliberais e Afins; Legitimação Social; Uma Questão Ética; Responsabilidade
Social Corporativa e seus modelos de estudo abordam o tema a partir da visão deste como um
modismo passageiro até apresentá-lo como algo inquestionavelmente necessário à sociedade.
Para ligar a discussão da responsabilidade social aos cursos de graduação em
Administração da Região Sudoeste do Paraná, torna-se necessário rever o papel do
administrador na era do conhecimento. Para isso é preciso conhecer do papel da
Universidade, do próprio administrador nas organizações e seu processo de tomada de
decisão, conhecer também o que é projeto pedagógico e o curso de administração.
21
Na proposta metodológica apresenta-se a natureza da pesquisa, seu tipo e
instrumentos, seu universo e amostra, bem como a forma de coleta e análise dos dados. Então
a discussão passa ao objeto de estudo com breve histórico e caracterização através de dados
dos projetos pedagógicos e de respostas dos coordenadores ao questionário aplicado. As
considerações finais dividem-se em objetivos propostos e conclusão geral da pesquisa.
22
2 DIVERSAS ABORDAGENS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
2.1 A GLOBALIZAÇÃO
Antes de iniciar a discussão de algumas abordagens de responsabilidade social
possíveis, necessário se faz reportar-se ao processo chamado globalização, em que se
vislumbra a origem das diferentes abordagens que serão posteriormente apresentadas.
Strazzacappa & Montanari (1998, p.11) buscam o que consideram ser um conceito facilmente
assimilável de globalização, definindo-a como a “tendência crescente de unificação de todos
os povos e países da Terra, tornando-os cada vez mais interdependentes, tanto em termos
econômicos quanto socioculturais” e dão a impressão de nascente homogeneidade e
uniformidade. Vesentini (1999, apud PASSASDOR, 2003a) também a coloca como crescente
interdependência de todas as economias nacionais, de todas as nações do planeta.
Já para Gilberto Dupas (1998, apud PASSADOR, 2003a), a globalização, enquanto
crescente interdependência entre todos os povos e economias, não se faz de forma homogênea
ou igual em todas as partes, ela é mais forte em algumas e mais fraca em outras. Corazza
(1997) aponta a existência de diferentes concepções de globalização, citando a de Batista Jr.
(1996) que a considera um mito que exagera o peso das forças econômicas de âmbito
internacional; a de Coutinho (1996) que afirma ter a globalização um conteúdo ideológico e
um conteúdo objetivo nítido, configurando uma nova etapa mais avançada de progresso
tecnológico e de acumulação financeira de capital, sendo um estágio de profunda e intensa
internacionalização da vida econômica, social, cultural e política e a de Chesnais (1996) que
prefere chamar a globalização de mundialização do capital, uma nova configuração do
capitalismo mundial e dos mecanismos que comandam seu desempenho e regulação.
Parker (1999) faz distinção entre autores com diferentes pontos de vista sobre a
23
globalização: Pieterse (1995), Cooperrider e Passmore (1991) e Gergen (1995), que
consideram a globalização um fenômeno gerador de oportunidades mundiais de crescimento,
de desenvolvimento e de expansão de opções que cria empregos, ajuda a formar infra-
estrutura empreendedora, contribui para o processo de democratização e equaciona a solução
dos problemas sociais de escala global. Já Lavipour e Sauvant (1976) e Barber (1992)
acreditam que a globalização resultará em exploração de mão-de-obra estrangeira, na redução
das opções para escolhas medíocres e pouco atrativas, e na destruição de recursos naturais e
culturas locais.
Aprofundando a análise destas diferenças, para Santos (2002) a globalização,
enquanto homogeneização e uniformização, é o padrão ocidental de globalização, que
combina a universalização e a eliminação das fronteiras nacionais com o particularismo, a
diversidade local, a identidade étnica e o regresso ao comunitarismo. Esta interage com
transformações mundiais como o aumento dramático das desigualdades entre países ricos e
pobres e, no interior dos países, entre ricos e pobres, a sobrepopulação, a catástrofe ambiental,
os conflitos étnicos, a migração internacional, a emergência de novos Estados e a falência de
outros, a proliferação de guerras civis, o crime globalmente organizado, a democracia formal
como condição para assistência internacional, entre outras.
Naisbitt (1994) aponta a globalização como geradora do chamado parodoxo global,
que torna seus atores mais conscientes de suas diversidades.
Quanto maior a economia mundial, mais poderosos são os seus protagonistas menores: nações,
empresas e indivíduos. À medida que o mundo se integra economicamente, as suas partes componentes
estão se tornando mais numerosas, menores e mais importantes. De uma só vez, a economia global está
crescendo, enquanto o tamanho das partes está encolhendo (NAISBITT, 1994, p. 09).
Corazza (1997) também aponta a globalização como um fenômeno contraditório: o
mundo se globaliza, mas se fragmenta, a liberalização é acompanhada por protecionismos,
cresce a riqueza e a desigualdade entre ricos e pobres, desenvolvimento da tecnologia e
24
desemprego estrutural, maiores ganhos financeiros ou produção real, mecanismos de proteção
contra os riscos ou globalização dos riscos financeiros. Mas considera que o que se sobressai
é o descolamento entre o poder monetário e o poder estatal, a formação de um espaço
monetário e financeiro de decisão privada.
A globalização financeira gera a crise da soberania econômica, a ruptura entre a
produção e circulação da riqueza e o território, portanto, crise da soberania fiscal do Estado.
Este se torna desnecessário, juntamente com suas instituições e políticas, passa a valer
unicamente as regras da competitividade e da eficiência econômicas. Uma verdadeira utopia:
as forças da globalização organizarem e regerem sua própria ordem privada, com base apenas
nas regras de mercado. É falsa a idéia de que seria possível ou desejável prescindir do Estado
e das instituições, uma vez que foi o próprio Estado que proporcionou ao capitalismo sua
oportunidade de desenvolvimento (CORAZZA, 1997).
Para explicar o porquê dos diferentes conceitos de globalização, Santos (2002) divide-
a em componente descritivo e componente prescritivo, que é o conjunto de prescrições
ancoradas no consenso hegemônico ou consenso neoliberal, ou ainda consenso de
Washington. Este ocorreu em meados da década de oitenta e foi subscrito pelos Estados
centrais do sistema mundial, abrangendo o futuro da economia mundial, suas políticas de
desenvolvimento e o papel do Estado na economia. Consenso pautado na idéia-força ou no
meta-consenso de fazer desaparecer as clivagens políticas profundas e estabelecer a
interdependência entre as grandes potências, a cooperação e a integração regional; fazer com
que a transformação social passe a ser uma questão técnica e não mais política, repetir, de
forma acelerada, as relações cooperativas entre grupos sociais e Estados (SANTOS, 2002).
Emerge uma nova divisão internacional do trabalho, baseada na globalização da
produção das empresas multinacionais, agora atores centrais da economia mundial, a qual
passa a ser dominada pelo sistema financeiro, pelos investimentos globais, pelos processos de
25
produção flexíveis e multilocais, pelos baixos custos de transporte, pela revolução nas
tecnologias de informação e de comunicação, pela desregulação das economias nacionais,
pela preeminência das agências financeiras multilaterais e pela emergência de três
capitalismos transnacionais: o americano, o japonês e o europeu. As economias nacionais
passam a seguir as seguintes orientações ou exigências: abrirem-se ao mercado mundial, os
preços domésticos adequarem-se aos preços internacionais, priorizarem a economia de
exportação, orientarem as políticas monetárias e fiscais para a redução da inflação e da dívida
pública e para a vigilância sobre a balança de pagamentos, estabelecerem direitos de
propriedade privada claros e invioláveis, privatizarem o setor empresarial do Estado com
regulação mínima deste sobre a economia, diminuírem o orçamento social até meras medidas
compensatórias, subordinarem os Estados nacionais à agências multilaterais como Banco
Mundial, FMI e Organização Mundial do Comércio (SANTOS, 2002).
Becker e Sklar (1987, apud SANTOS, 2002) falam do surgimento de uma nova
burguesia de executivos, além do aumento das desigualdades sociais. Segundo o Relatório do
Desenvolvimento Humano, os 20% da população mundial que vive nos países mais ricos
detinham, em 1997, 86% do produto bruto mundial, enquanto os 20% mais pobres detinham
1%. A diferença entre o quinto mais rico da população mundial e o quinto mais pobre, em
1960, era de 30 para 1, em 1990 de 60 para 1 e, em 1997, de 74 para 1. As 200 pessoas mais
ricas do mundo aumentaram para mais do dobro a sua riqueza entre 1994 e 1998. A soma dos
valores dos três maiores bilionários do mundo excedem a soma do produto interno bruto de
todos os países menos desenvolvidos do mundo, onde vivem 600 milhões de pessoas.
O crescimento e a estabilidade econômicos, para o consenso neoliberal, baseiam-se na
redução dos custos salariais em escala global, no desemprego e na destruição das economias
de subsistência. A exclusão torna-se, assim, um efeito inevitável e justificado para o
crescimento e a competição global (SANTOS, 2002).
26
O autor aponta esta nova divisão internacional do trabalho conjunta com a nova
economia política pró-mercado, como compressora da autonomia política e da soberania dos
Estados periféricos e semiperiféricos. Ela enfraquece os poderes dos Estados e torna o
Consenso de Washington o único modelo a ser utilizado, impondo ao mundo suas políticas de
ajustamento estrutural, que, principalmente nos países periféricos e semiperiféricos,
provocam enorme turbulência no contrato social, nos quadros legais e nas molduras
institucionais.
Uma análise mais aprofundada dos traços dominantes da globalização política – que são, de fato, os
traços da globalização política dominante – leva-nos a concluir que subjazem a esta três componentes
do Consenso de Washington: o consenso do Estado fraco; o consenso da democracia liberal; o consenso
do primado do direito e do sistema judicial (SANTOS, 2002 p.41).
A idéia de globalização deve considerar dispositivos ideológicos e políticos, dotados
de intencionalidades específicas, que são as falácias da globalização. Uma delas é a idéia de
que a globalização é um processo espontâneo, automático, inelutável e irreversível, que se
impõe a qualquer interferência. Santos (2002) discorda desta idéia e cita o modelo asiático,
em que a maior autonomia do Estado, a eficiência da burocracia estatal, a reforma agrária e a
existência de um período inicial de proteção ao capitalismo dos países centrais conseguiram
produzir menos desigualdade social do que, por exemplo, o modelo brasileiro.
Corazza (1997) também aponta a existência, dentro da globalização, de um conteúdo
real de mudança e de um conteúdo ideológico. Dentro deste ela significaria a completa
integração econômica e a mais ampla liberalização comercial e financeira, a vigência natural
da economia de mercado. O discurso ideológico pretende anular qualquer possibilidade de
dissenso e de crítica, é um caminho de mão única que todos deveriam trilhar para conseguir
os frutos do desenvolvimento econômico e social, uma verdade única que todos deveriam
conhecer e seguir. Uma nova era de prosperidade, paz e democracia sem precedentes, uma
27
nova idade de ouro do capitalismo mundial, em que os mercados sem fronteiras, dominados
por empresas globais, criariam sua própria ordem privada.
Para Santos (2002), se não ocorrer resistência, os processos de inclusão/exclusão
podem atingir continentes inteiros, exemplo da África, ou dominar todos os processos num
subcontinente, como na América Latina, através do poder das dívidas externas e da
financeirização dos sistemas econômicos. Outra idéia apregoada pelo discurso ideológico da
globalização é a falácia do fim do Sul, pois na visão dos países centrais a globalização
provocará o desaparecimento do Terceiro Mundo, esta é uma visão baseada apenas na
realidade deles, que se vêem como vencedores por serem consumidores, enquanto consideram
o Sul os perdedores por não possuírem o mesmo poder de compra.
Para alguns, a globalização é o grande triunfo da racionalidade, da inovação e da
liberdade capaz de produzir progresso infinito e abundância ilimitada para um pequeno e
privilegiado grupo, em detrimento da maioria da população mundial, para quem ela transporta
miséria, marginalização e exclusão. Assim, a chamada globalização é um conjunto de lutas
transnacionais, em que poucos vislumbram a possibilidade da distribuição democrática da
riqueza, assentada nos direitos individuais e coletivos de cidadania:
...temos o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza e a ser diferentes quando a
igualdade nos descaracteriza (SANTOS, 2002, p.75).
Santos (2002) considera que é possível olhar a globalização de três formas diferentes:
1) como não existente; 2) existente e inelutável e; 3) existente, mas não inelutável.
Independente da opção, esta deverá levar em consideração a existência de três blocos
regionais interligados por múltiplas interdependências e rivalidades: o bloco americano, o
europeu e o japonês, cada qual com uma semiperiferia e uma periferia, e características
particulares, mostrando que há possibilidades para além de uma única forma de capitalismo.
28
É entre as variadas formas de capitalismo que ocorrem os conflitos e as lutas sociais.
A área da segurança social demonstra claramente as diferenças de articulação entre cada uma
das formas de capitalismo e uma dada sociedade. Ao longo do século XX, e principalmente
depois da 2ª Guerra Mundial, os Estados centrais desenvolveram um conjunto de políticas
públicas, sistemas de proteção social e segurança social para seus cidadãos, em especial para
os trabalhadores, transformando a relação Estado/sociedade civil no que se designou Estado-
Providência, que Santos (2002) distingue em três tipos:
- Estado-Providência liberal, com baixo grau de desmercadorização (grau em que
os indivíduos ou famílias podem manter um nível de vida aceitável,
independentemente da participação do mercado), proteção pública seletiva,
sistema dual de proteção pública e privada, intervenção do mercado e níveis
mínimos de proteção pública; existente nos EUA e Inglaterra.
- Estado-Providência corporativo, no qual os direitos sociais são garantidos em
nível elevado para trabalhadores e desempregados, sistema de assistência social
generosa, desmercadorização da proteção social e efetivo controle social; ocorre
na Alemanha e na Áustria.
- Estado-Providência social democrático, com acesso quase universal aos
benefícios, inclui a classe média, elevado grau de desmercadorização, benefícios
fixos, generosos e financiados por impostos; vigente nos países escandinavos.
Por considerar globalização a evolução do capitalismo mercantil em contraposição aos
capitalismos mesocorporativos, social democráticos e estatais, Santos (2002) coloca no bojo
da globalização o modelo de Estado-Providência liberal. Modelo que procura impor-se aos
outros Estados-Providência que acreditam ser possível compatibilizar competitividade e
crescimento econômico com altos níveis de proteção social. Nesta concorrência entre o
capitalismo europeu e norte-americano, surgem fraturas no interior da globalização que
29
podem constituir o ponto de entrada das lutas sociais por menos iniqüidade e maior proteção
social.
Crises como a da Rússia mostram que o modelo de desenvolvimento baseado no
sistema financeiro, além de ter causado muito sofrimento humano e contribuir para o
agravamento das desigualdades sociais, é um modelo cientificamente errado, pois baseia-se
em mitos como o que aponta os governos como ineficientes para gerirem um sistema público
de benefícios. Começa a despontar o fato de que, em determinadas situações, a intervenção do
Estado é mais eficiente que a mão invisível do mercado, sobretudo nos países em
desenvolvimento. A proteção social passa a ser reconhecida como um dos elementos
fundamentais para o bom funcionamento dos sistemas sociais e econômicos (STIGLITZ e
ORSZAG, 1999 apud SANTOS, 2002).
Para concluir seu pensamento, Santos (2002) resgata a definição de globalização como
conjuntos de relações sociais que se traduzem na intensificação das interações transnacionais,
em que ocorrem trocas desiguais, e neste processo, tanto as entidades e fenômenos
dominantes como os dominados sofrem transformações internas, os dominantes expandindo e
os dominados retraindo. E propõe duas leituras deste momento de transição mundial: a
paradigmática e a subparadigmática. Para a primeira, após o período de crise, emergirá um
novo paradigma social, talvez até o socialismo, mas antes as ciências sociais devem sofrer
uma revisão radical e através de um questionamento mais amplo tentar clarificar as
alternativas históricas e avaliar as vantagens e desvantagens das estratégias alternativas
(WALLERSTEIN, 1991 apud SANTOS, 2002). Para a leitura subparadigmática, o período
atual é um processo de ajustamento estrutural, sustentado pelas teorias da regulação.
Leituras diferentes sugerem ações diferentes para as mesmas condições. Apesar de
ambas apelarem aos atores coletivos (grupos, classes e também organizações), os
paradigmáticos privilegiam a ação transformadora e os subparadigmáticos a ação adaptativa.
30
Mas os próprios atores podem não ter uma leitura definida, ou esta pode variar com o tempo
ou com o tema, podendo assim, a globalização ser vista como altamente destrutiva de
equilíbrios e identidades, prenúncio de rupturas radicais, ou como uma nova era de
solidariedade global, de oportunidades para emancipações insuspeitáveis (SANTOS, 2002).
Para Corazza (1997), a globalização significa que o mundo mudou radicalmente, ela é
uma palavra de ordem, uma exigência de que todos aceitem incondicionalmente as mudanças
e ponham em prática as políticas adequadas a esse mundo liberalizado e sem fronteiras, se
quiserem usufruir suas benesses. Isto é uma postura ideológica que usa a globalização tanto
para eximir-se de explicar a natureza das mudanças como para justificar políticas muitas
vezes indefensáveis. Um esforço para negar a realidade efetiva do fenômeno, considerando-o
uma tendência histórica de internacionalização, um quadro de continuidade.
Assim, ela é um complexo processo de mudanças estruturais que envolve uma
dimensão econômica, impulsionada pelas inovações tecnológicas do processo produtivo, pela
substituição do padrão taylorista-fordista, do Estado de bem-estar social e do Estado
desenvolvimentista. Uma dimensão política que dilui fronteiras e afeta a soberania dos
Estados; uma dimensão social que coloca em xeque direitos sociais; e uma dimensão cultural
que permite uma maior difusão e integração das culturas e também maior dominação das
culturas dominantes (CORAZZA, 1997).
Ao tratar sobre globalização, Parker (1999) lembra o sentimento de que eventos
mundiais estão convergindo para delinear um mundo único em relação à economia, à cultura,
à tecnologia e a negócios, atravessando as fronteiras das nações. Tornando confusas
distinções entre o que é real e o que é virtual, por exemplo, o que as organizações podem
fazer e o que devem fazer, gerando desafios e responsabilidades.
A partir da década de 80, as mudanças ficaram mais rápidas e simultâneas, atingindo
diversos setores ao mesmo tempo, como conseqüência da revolução técnico-científica e da
31
intensificação do processo de internacionalização das economias capitalistas (PASSADOR,
2003). Parker (1999) lembra que no bojo da globalização ressurgem práticas tradicionais
como violações dos direitos humanos, insultos às políticas migratórias, doenças e culturas
exportadas pelo mundo como produtos.
“À medida que as fortunas econômicas de indivíduos, organizações e nações são
conectadas entre si, são criadas novas interdependências” (PARKER, 1999, p. 400). As
empresas, na busca por novos produtos e mercados, não distribuem apenas produtos, mas
também ideologias e idéias a respeito da criação de riqueza, de como as pessoas devem viver
e trabalhar. Por isso, os chamados negócios globais não se referem somente a negócios, eles
causam efeitos para além dos econômicos, são efeitos culturais, políticos e sociais. Tudo isto
faz com que a vida dentro e fora das organizações ocorra cada vez mais em um contexto
globalizado.
As transnacionais, no entanto, não estão atuando como novos agentes sociais da era
globalizada, mas, sim, influenciando diretamente a autonomia dos mercados de trabalho. As
economias nacionais, para se tornarem competitivas, ajustam em patamares inferiores os
padrões sociais e de salários. Ainda não é possível afirmar que haverá uma substancial
redução da oferta de empregos, mas esta parece ser uma perspectiva provável. As empresas
estão investindo em tecnologia para se tornarem competitivas (PASSADOR, 2003a).
O trabalho em todo o mundo é um dos setores que está sofrendo efeito revolucionário.
A globalização, através da dissolução e a penetração de fronteiras, cria tanto oportunidades
como ameaças, pois representa um conjunto de mudanças nos padrões tradicionais de
produção, investimentos e comércio internacionais. Pode ser entendida ainda como a
convergência entre os interesses das empresas e da sociedade ou a simples ausência de
fronteiras e barreiras para o comércio entre nações (PARKER, 1999).
32
2.1.1 A Globalização e as Organizações
Não obstante às incertezas, ao mudar a lógica do mundo do trabalho, a globalização
envolve e afeta as organizações. O mais difícil para estas é saber que ferramentas e técnicas
utilizar para participar de negócios agora globais. Para Parker (1999) o que as organizações
sabem é que precisam revisar suas teorias sobre mercados e sobre si mesmas. As
possibilidades que começam a se apresentar envolvem estruturas e processos organizacionais
mais complexos e híbridos que reconhecem a existência de recursos e ações que afetam toda a
população da Terra.
A organização globalizada exerce diferentes tipos de atividades e está envolvida em
responsabilidades adicionais. Para assim ser considerada, uma organização não precisa ser
grande e pode ser encontrada virtualmente em qualquer indústria, é necessário apenas que
mantenha uma presença mundial em um ou mais negócios, ou uma estratégia de padronização
mundial de produtos e serviços (PARKER, 1999).
O autor lembra que todo o crescimento econômico possibilitado pela queda de
fronteiras e pela rapidez nas comunicações, principalmente através da internet, tem um preço.
A humanidade vê, nos mesmos meios de comunicação que alardeiam os incríveis feitos da
globalização, eventos como o trabalho infantil, trabalho perigoso, degradação ambiental e o
grande aumento do trabalho não pago ou atividades econômicas realizadas informalmente
pelos chamados excluídos.
Premissas sobre interesses próprios urgem por serem reexaminadas. Uma nação não
pode mais ser considerada rica quando a diferença entre seus ricos e pobres assemelha-se a
um grande abismo. A economia mundial não pode mais ser um jogo de soma zero, ou seja,
para um ganhar, outro precisa perder. Quando as organizações vão à busca de mão-de-obra
33
mais barata, abandonando países, podem estar derrubando os padrões de vida e de salários
globais. E não há muito que os líderes políticos nacionais possam fazer, na medida em que a
globalização reduziu sua influência e a transferiu para o mundo dos negócios.
À medida que as empresas vão exercendo de maneira crescente seu poder, poderá
surgir um novo imperialismo, ou elas assumem as novas demandas por direção social, ou
resistem, obstruem e exploram recursos naturais e humanos. E Parker (1999, p.418)
argumenta que “o desenvolvimento econômico por meio de mercados livres deve ser
substituído por princípios de desenvolvimento sustentável que garantam um futuro viável”.
Nasce na sociedade a expectativa de que as empresas, ao assumirem papéis
anteriormente desempenhados por entidades governamentais, comportem-se mais como
organizações sociais do que empresas comprometidas com lucro e resultados. Apesar das
dificuldades, já existem iniciativas em prol da regulamentação do comportamento socialmente
responsável das organizações em escala mundial, por exemplo, a Ética Global produzida pelo
Parlamento Mundial das Religiões, que pede a redução dos abusos ambientais e humanos no
mundo (PARKER, 1999).
A sobrevivência, neste contexto globalizado, vai depender das organizações ou de seus
gestores serem capazes de ver o futuro primeiro e de forma diferente. O executivo deverá ser
um generalista que saiba lidar com estratégias complexas que envolvam diversos países, que
se responsabilize pelo desenvolvimento do pessoal adequado e que seja capaz de integrar
pessoas e funções (BARTLETT e GHOSHAL, 1992, apud PARKER, 1999).
Novas configurações de trabalho, mais flexíveis e localizadas, deverão oferecer a
possibilidade de combinar oportunidades de negócio com as necessidades sociais locais. No
entanto, a necessidade de menor custo, controle gerencial, competição acirrada faz com que
as organizações passem a representar um híbrido do velho e do novo, da organização moderna
e da pós-moderna, passando a serem mais exigentes e difíceis de serem gerenciadas.
34
Sem mudanças profundas na forma de pensar em todos os escalões e setores organizacionais, as
mudanças associadas à globalização podem não passar de modismos. A adaptação da estrutura
organizacional à globalização requer não só mudanças incrementais no funcionamento da organização,
mas um repensar fundamental de como os participantes da organização pensam seu relacionamento com
a organização e o papel da organização num mundo global (PARKER, 1999, p.426).
Como as empresas têm duas formas de existir e de sobreviver: custo baixo e produto
diferenciado, precisam produzir mais com menos, lembrando o fenômeno da globalização
como processo de desemprego estrutural. As grandes corporações mundiais assumem clara
posição de seu papel: limitam-se a melhorar a competitividade para crescerem, remunerarem
seus acionistas e usam, quando necessário, o low wage (mão-de-obra de baixo salário) dentro
da lógica de suas cadeias produtivas (PASSADOR, 2003b).
Desta grande mudança surgem novas organizações mais digitais, e novos
trabalhadores mais intelectualizados. Passa a existirem mais oportunidades, mas para
indivíduos moldados para esta nova realidade. Os indivíduos moldados pela antiga realidade
terão uma difícil e dolorosa adequação, às vezes impossível, o que causa o desencontro entre
as pessoas que procuram emprego e as empresas que não conseguem preencher suas vagas.
Somente a mudança de mentalidade, das pessoas e das empresas, através da educação, poderá
diminuir este problema (PASSADOR, 2003a).
A autora lembra que para as empresas brasileiras, o problema é ainda maior, ao
mesmo tempo em que precisam mudar para se tornarem competitivas, deparam-se com o
analfabetismo e a baixa qualidade do ensino no Brasil. Além de que, após as políticas
econômicas liberais terem reduzido o poder do Estado em busca do Estado Mínimo, a
população depende cada vez mais de políticas públicas de proteção que ofereçam, por
exemplo, seguro desemprego.
Com a tendência ao declínio do Estado-nação, à globalização da pobreza e do
desemprego, surge uma nova reestruturação de forças em que o Estado e o setor privado vão
35
delimitando seus papéis e fronteiras de atuação, deixando “lacunas” por preencher entre
sociedade-governo-empresa. Nesse cenário de contrastes, a sociedade apresenta-se cada vez
mais reivindicatória e consciente de que desenvolvimento não pode ser caracterizado
simplesmente por indicadores de eficiência econômica, que resultam em pressões de toda
ordem. Talvez este seja o lado positivo da globalização, numa sociedade globalizada,
ultracompetitiva e bem informada não basta oferecer um bom produto, é necessário vender
também a imagem da empresa (PASSADOR, 2003a). Esta pode ser a porta de entrada para a
discussão da responsabilidade social.
2.2 BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
Ashley, Coutinho e Tomei (2000) observam a diferença entre o conceito de
cidadania empresarial, que apresenta maior receptividade pelas empresas, pois tem a
conotação de gestão de relações comunitárias; e o conceito de responsabilidade social, que
vem consolidando-se como um conceito intrinsicamente interdisciplinar, multidimensional e
associado a uma abordagem sistêmica, focada nas relações entre stakeholders associados
direta e indiretamente ao negócio da empresa.
Para fazer uma abordagem histórica do conceito de responsabilidade social
corporativa, as autoras dividiram sua evolução em duas fases: a própria introdução do
conceito nos meios acadêmico e empresarial e a sua evolução recente da década de 60 até a
década de 90. Expõe a responsabilidade social corporativa, aceita nos EUA e Europa como
doutrina até o século XIX, em que o direito de conduzir negócios de forma corporativa cabia
ao Estado ou à Monarquia e não era um interesse econômico privado. Após a independência
36
dos EUA e aprovação das legislações dos estados americanos, ocorrem mudanças na
legislação sobre corporações que passam a ter como premissa fundamental, até o início do
século XX, a realização de lucros para seus acionistas.
Em 1919, a questão da responsabilidade e discricionariedade dos dirigentes de
empresas abertas veio à tona, publicamente, pelo julgamento na Justiça Americana do caso
Dodge versus Ford (ASHLEY, COUTINHO e TOMEI, 2000). A Suprema Corte de
Michigan, através de sua sentença, demonstrou que a corporação existe para o benefício de
seus acionistas e que diretores corporativos têm livre arbítrio apenas quanto aos meios de se
alcançar tal objetivo, não podendo usar os lucros para outros fins. A filantropia corporativa e
o investimento na imagem da corporação para atrair consumidores poderiam ser realizados na
medida em que favorecessem os lucros dos acionistas.
Somente após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra
Mundial, a noção de que a corporação deve responder apenas aos seus acionistas passou a
sofrer ataques na academia e nas decisões das Cortes Americanas. Em 1953, a
responsabilidade social corporativa tem seu debate público retomado em outro litígio e desta
vez a Justiça Americana determinou que uma corporação podia buscar o desenvolvimento
social, e estabeleceu em lei a filantropia corporativa (ASHLEY, COUTINHO e TOMEI,
2000).
Esta foi a partida para que os defensores da responsabilidade social corporativa
começassem a argumentar que, se a filantropia era uma ação legítima da corporação, então
outras ações que priorizassem objetivos sociais em relação aos retornos financeiros dos
acionistas seriam de igual legitimidade. Inicialmente nos EUA e a partir do final da década de
60, na Europa, o tema vem sendo atacado e apoiado por vários autores.
Para Schommer, Rocha e Fischer (1999) a questão da responsabilidade social
corporativa está relacionada à “cidadania empresarial”, que é uma expressão utilizada por
37
empresas privadas para denominar um conjunto de programas sociais adotados. O que teria
levado a este momento de profundas transformações em relação aos papéis desempenhados
pelas instituições sociais e políticas para estas autoras são:
Em primeiro lugar, a crise do Welfare State com o fim dos “anos dourados” da década
de 70, o agravamento dos problemas econômicos e a ascensão de governos neoliberais nos
países centrais a partir dos anos 80. A forma para eliminar a crise disseminada pelo
neoliberalismo é a redução das funções estatais, a diminuição do tamanho do Estado, o
equilíbrio das contas públicas e a redução dos gastos sociais.
Em segundo, há um acelerado e gigantesco processo de concentração de capitais com
a formação de megacorporações mundiais numa onda recente de fusões e aquisições, a
intensificação das relações comerciais entre os países e a instalação de empresas
multinacionais por todas as partes, dentro da chamada globalização. É a hegemonia do
mercado que passa a ter crescente influência na definição do rumo dos países. É, ainda, a era
do conhecimento e da informação proporcionada por grandes avanços tecnológicos.
E, por último, Schommer, Rocha e Fischer (1999) apontam importantes mudanças
sentidas no seio da sociedade civil com a emergência de novos atores sociais. As empresas
tornam-se importantes agentes de promoção do desenvolvimento econômico e do avanço
tecnológico. Devendo, a iniciativa empresarial, assumir novos papéis, num sentido diferente
para a função produtiva e numa redefinição de seu lugar no conjunto das atividades sociais.
Entre os que argumentam o contrário estão Friedman (1970) e Leavitt (1958). Para o
primeiro há somente uma responsabilidade social do capital, usar seus recursos e dedicar-se
às atividades destinadas a aumentar seus lucros até os limites das regras do jogo, o que
significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou fraudes. Este
pensamento é abordado de forma mais detalhada na seção 2.4, o do segundo é descrito por
ASHLEY, COUTINHO e TOMEI (2000) como de função institucional, pois argumenta que
38
outras instituições tais como governo, igrejas, sindicatos e organizações sem fins lucrativos
existem para atuar sobre as funções necessárias ao cumprimento da responsabilidade social
corporativa. Gerentes de grandes corporações não têm competência técnica, tempo ou
mandato para tais atividades, as quais constituem uma tarifa sobre o lucro dos acionistas, nem
foram eleitos democraticamente para tal, como o são os políticos.
Nas seções a seguir serão apresentadas algumas abordagens possíveis a partir do
referencial teórico proposto. Após a definição de modismo gerencial proposta por Tomei e
Lerner (1997), apresenta-se Fossá e Sartoretto (2002), que indagam se a responsabilidade
social é uma moda que vai passar ou não. Friedman (1998) afirma que esta não é uma
discussão que deva envolver as organizações, ou que, pelo menos, não se deva esquecer que a
prioridade dos administradores continua sendo o retorno econômico para proprietários e
acionistas como ensinam Soares (2002) e Sousa e Almeida (2003). Já para Freitas (1997), as
organizações são o novo pólo da legitimação social e assim passam a estar envolvidas em
aspectos da vida social dos quais não faziam parte há algum tempo e há, ainda, outros
aspectos que nunca deixaram de fazer parte das preocupações das empresas, como a
necessidade de obter comprometimento dos funcionários e lucros, lembrada por Ventura
(2003), que poderia ser sanada pelo desenvolvimento da Responsabilidade Social. Srour
(1998) e Moreira (2002) a posicionam como uma questão ética que envolve a todos, inclusive
organizações, conceito que vem ao encontro da responsabilidade social corporativa proposta
Schommer (2000), Ashley, Coutinho e Tomei (2000), Drucker (2001) e Ferreira e Passador
(2002).
39
2.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL É UM MODISMO?
Sproles (1985, apud TOMEI e LERNER, 1997, p.01) define o fenômeno da moda,
na perspectiva contemporânea, como a forma de comportamento que é temporariamente
adotada por uma proporção identificável de membros de um grupo social, porque este
comportamento escolhido é percebido como socialmente apropriado para o tempo e para a
situação”.
Tomei e Lerner (1997) conceituam o processo da moda em seis fases seqüenciais:
1. invenção e introdução. Uma fonte ou um formador de opinião cria um objeto (ou
uma teoria, ou uma metodologia) que é apresentada de forma diferente para os seus pares;
2. a liderança na moda. Uma pequena proporção de consumidores de moda adotam e
introduzem-na ao público;
3. aumento da visibilidade social. Esta moda recebe crescente aceitabilidade por
outros consumidores e começa a ser mais visível entre camadas mais amplas de grupos sociais
e estilos de vida diferentes;
4. conformidade com e através dos grupos sociais. A moda alcança “legitimidade
social” e as forças de conformidade, comunicação e Marketing de massa propagam a adoção
da moda;
5. saturação social. A moda passa a ser uma ocorrência diária na vida de muitos
indivíduos e de fato passa a ser excessivamente utilizada, iniciando assim o seu estágio de
declínio;
6. declínio e obsolescência. Novas modas são introduzidas para ocupar o espaço de
saturação social e o uso da moda antiga entra em recesso.
Após esta definição do fenômeno da moda, Tomei e Lerner (1997) apresentam como
40
modismos gerenciais programas implementados pelas organizações e que, teórica e
praticamente, se encaixam nestas seis fases seqüenciais para atender ao fato de que vivemos
uma era na qual tudo é subordinado à questão do efêmero, da competitividade e da mudança.
A moda é um espelho móvel de como somos e dos tempos em que vivemos (O’HARA, 1992
apud TOMEI e LERNER, 1997, p. 05).
Para Fossá e Sartoretto (2002) a responsabilidade social empresarial está na moda
devido a um conjunto de fatores e acontecimentos mundiais. Somado a isso, ações da ONU
colocaram o assunto em pauta nas discussões. Ainda é cedo para se dizer se a
responsabilidade social é apenas uma moda que vai passar, como tantas outras que já
tomaram conta do ambiente corporativo, ou se existe realmente uma nova mentalidade, uma
nova visão do papel da iniciativa privada na sociedade. No entanto, para que essa questão seja
esclarecida é preciso ampla discussão e interação entre todos os setores da sociedade.
2.4 OS LIBERAIS, NEOLIBERAIS E AFINS
O princípio do estado de bem-estar social, no qual alguns podem decidir por outros,
suscitado pelas discussões sobre Responsabilidade Social, é considerado pelos liberais um
argumento questionável. A essência da filosofia liberal é a crença na dignidade do indivíduo,
o respeito ao direito de escolha livre, vedado somente à interferência na liberdade do outro.
Assim, “o ponto de vista específico de que altos funcionários das grandes empresas e os
líderes trabalhistas têm responsabilidade social para além dos serviços que devem prestar aos
interesses de seus acionistas ou de seus membros” (FRIEDMAN, 1988, p.120) estaria
demonstrando uma concepção fundamentalmente errada do caráter da natureza de uma
economia livre.
41
Para Friedman (1988) há somente uma responsabilidade social do capital, usar seus
recursos e dedicar-se às atividades destinadas a aumentar seus lucros até os limites das regras
do jogo, o que significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou fraudes.
Assim,
os líderes do trabalho têm como
responsabilidade servir os interesses dos membros de
seus sindicatos. E o restante dos cidadãos deve estabelecer uma estrutura legal que permita ao
indivíduo promover os interesses da sociedade ao promover os seus próprios.
Uma das justificativas apresentadas para essa “não responsabilidade social” por parte
dos dirigentes das empresas é considerá-la subversiva. Friedman (1988, p.121) questiona:
Se homens de negócio têm outra responsabilidade social que não a de obter o máximo de lucro para os
acionistas, como poderão eles saber qual seria ela? Podem indivíduos decidir o que constitui o interesse
social? Podem eles decidir que carga impor a si próprios e a seus acionistas para servir o interesse
social?
Estes questionamentos deixam implícito que é o Estado o responsável por decidir
sobre interesses sociais. Friedman (1988) mostra certa preocupação em relação a
contribuições caritativas porque, quando feitas por empresas, constituem uso impróprio dos
fundos da companhia numa sociedade de economia livre. Tanto a permissão quanto o
incentivo a esta prática poderão estabelecer a separação entre propriedade e controle,
alterando a natureza e as características da sociedade individualista rumo ao Estado
corporativo.
Em uma sociedade de mercado livre, Friedman (1998, p.145) considera justificada
uma distribuição de renda que dê “a cada um de acordo com o que ele e seus instrumentos de
trabalho produzem”. E, como recurso desejável para amenizar o problema da pobreza, sugere
a caridade privada exercida por particulares, ou ainda, o imposto de renda negativo. Assim os
liberais distinguem a igualdade de direitos ou de oportunidades, que é considerada
42
imprescindível, e a igualdade material ou de rendas, que será conseqüência da plena
realização da primeira.
Mais próximo do que se poderia chamar de neoliberalismo do que liberalismo, alguns
autores, como Soares (2002), defendem a diminuição da participação do Estado na economia,
por considerarem que este transformou-se em um agente inibidor de novos investimentos, o
que torna a privatização uma nova diretriz estratégica de interesse nacional, passam a
considerar o conceito de empresa-cidadã uma necessidade no mercado que se delineia com a
globalização. Estes autores consideram a cidadania vinculada à riqueza nacional, ambas
necessitando focar os resultados.
Há toda uma mudança macroeconômica ocorrendo em nível mundial que faz com que
a sociedade brasileira exija medidas que completem o processo de mudanças estruturais para
consolidar o modelo competitivo para o país e, também, ações de alto impacto para melhoria
das condições sociais. Para inserir países emergentes como o Brasil, competitivamente no
processo de globalização, as empresas não podem restringir suas ações a objetivos de
produção e comercialização de bens e serviços. Precisam aumentar seu raio de ação, atingir
áreas que já foram privativas dos poderes públicos; democratizar a riqueza e promover
igualdade de oportunidades para os cidadãos brasileiros, além de oferecer ganhos para a
população e abrir melhores perspectivas para o futuro do país (SOARES, 2002).
A empresa ética, no sentido de empresa que atua com responsabilidade social, é vista
como a resposta necessária do mundo corporativo às pressões do mundo dos negócios porque
neutraliza as ameaças a sua sobrevivência, a seu crescimento e a sua perpetuação,
corresponde aos imperativos legais, compatibiliza interesses privados e sociais, preserva as
condições vitais de gerações futuras, valoriza a diversidade e dissemina valores. Por essas
razões, ao desenvolver e implantar o modelo stakeholder de resultados, a empresa alcança um
maior número de contrapartes por suas ações.
43
Soares (2002) não considera incompatível a visão dos liberais e a resposabilidade
social. Resguardar os interesses corporativos dos acionistas e buscar o lucro é um imperativo
de fundamentação ética. O lucro é o primeiro dever ético de um gestor. Só que agora, para
estar de acordo com as novas demandas da sociedade, ele precisa estar alinhado aos novos
objetivos e às novas posturas do mundo corporativo, nos quais prevalecem as condutas auto-
reguladas, os novos credos corporativos, sistemas de valores internalizados pelas empresas
focados em promoção humana e executados em parceria com organizações não
governamentais.
Para melhor aplicação da teoria dos stakholders como resposta à necessidade de
gerenciar de maneira a maximizar a riqueza dos acionistas, reconhecendo que há
multiplicidade de grupos nas operações da empresa que merecem consideração, Sousa e
Almeida (2003) propõem fundamentar conceitos para definir, identificar e classificar os
stakeholders. Buscam atributos que lhes facilitem o controle dos relacionamentos, sob a
perspectiva financeira para dar suporte a um modelo de planejamento e de controle que
integre os interesses dos stakeholders e a maximização da riqueza dos proprietários. Estes
autores acreditam que, apesar de não estar muito clara a relação da empresa com funcionários,
clientes, fornecedores e a comunidade, esses podem criar valor para o acionista.
Dentro desta perspectiva, Sousa e Almeida (2003) apontam os stakeholders como
agentes econômicos que, em relação a determinada empresa, influenciam e sofrem influência
e devem ser tratados como investidores ou tomadores de recursos. O que faltaria é uma forma
de clarear tais influências numa relação de custo-benefício, para isso dividem os stakeholders
em passivos e ativos. Os primeiros, também chamados stakeholders involuntários, têm
direitos sobre a empresa e os benefícios desta que estão por vir, colocam-se em risco em
virtude do resultado da atividade da firma. Os ativos têm direitos relacionados diretamente
44
aos direitos de propriedade, estão envolvidos voluntariamente na empresa e com esta mantêm
relações de reciprocidade.
Sousa e Almeida (2003), baseados na tipologia de Mitchel, Agle & Wood (1997),
desenvolveram uma ferramenta de classificação dos stakeholders, baseada nos atributos de
poder, legitimidade e urgência. Esta ferramenta, para ser utilizada no planejamento e controle
das relações das organizações com seus stakeholders, pretende determinar a quais segmentos
devem ser despendidos recursos humanos e materiais e monitorar se estes estão sendo
direcionados aos agentes que oferecem mais retorno econômico.
Essa responsabilidade social será abraçada na situação em que haja a percepção de que a sociedade
retornará o valor investido na forma de receitas que viabilizem tal investimento. Do ponto de vista dos
investidores, as ações a serem implementadas devem considerar as suas preferências (parâmetros) sobre
os direcionadores de valor (SOUSA e ALMEIDA, 2003 p.149).
Como exemplo de aplicação desta ferramenta os autores citam que uma atuação mais
adequada para a preservação ambiental pode não ser implementada pelos administradores, por
não ser entendida como criadora de valor para a empresa. Finalizam argumentando que a
avaliação do equilíbrio nas demandas pode ser melhor viabilizada por meio do planejamento e
controle financeiro que identifica e quantifica receitas, custos e investimentos propiciados
pelos relacionamentos com os stakeholders. Este deverá ser integrado ao tradicional plano
financeiro que estabelecerá as metas para os referidos relacionamentos (Sousa e Almeida,
2003).
2.5 LEGITIMAÇÃO SOCIAL
45
Freitas (1997) aponta as grandes empresas ou organizações modernas como o novo
pólo da legitimação social e como o lugar que pode responder pelo esfacelamento dos
vínculos sociais e pelas questões identitárias que constroem, para e de si, uma auto-imagem
grandiosa capaz de enraizar-se num imaginário próprio que é repassado, não apenas para os
seus membros internos, mas para a sociedade no seu conjunto. A autora apresenta a empresa-
cidadã como um dos temas hoje privilegiado por esse imaginário. Mostra também como estes
temas encobrem as funções por eles preenchidas.
Isso não é desconsiderar a importância que as empresas têm exercido no
desenvolvimento econômico das sociedades atuais, mas é não esquecer que essa relevante
função não altera a sua finalidade básica, a de produzir - com lucro - bens e serviços
destinados a um mercado. Sendo que, mesmo reforçando seu papel, a crise econômica não é
suficiente para modificar a sua essência.
Para Freitas (1997) o conceito de cidadania tem outra natureza a que implica
superação de interesses particulares, consciência do bem comum, noção de igualdade e
liberdade, respeito aos direitos do outro, bem como o reconhecimento da necessidade da
presença de diferentes atores no debate político sobre os negócios da cidade e da nação no seu
inteiro. O político e o social se fundam e se sustentam numa representação e num desejo, num
projeto e numa vivência de coletividade capazes de identificarem-se como pertencendo àquela
e não a outra sociedade. Ou seja, a cidadania é um estatuto entre uma pessoa natural e uma
sociedade política, portanto privativo do indivíduo e dos seus direitos/deveres civis. Um
sistema artificial, como uma empresa, uma associação, pode ter uma nacionalidade, mas
certamente não uma cidadania.
Para fortalecer ainda mais este argumento, a autora lembra que as empresas falam em
seus nomes e em nome de seus interesses (categorias e setores econômicos), dos quais não
perder é um dos mais fortes, que apesar de parciais, são legítimos. Entretanto, quando as
46
empresas pretenderem falar em nome de todos e se apresentarem como isentas de críticas ou
envoltas num manto de bom-mocismo, as incongruências tornar-se-ão gritantes. Quando o
econômico é o critério decisivo, as empresas podem fazer coisas bem absurdas do ponto de
vista do cidadão, desde que garantam sua permanência no jogo e no ganho do jogo, esta é a
“consciência” das empresas. Freitas (1997) questiona: estarão as empresas erradas? E
responde: não, ganhar o jogo é a sua missão e a sua natureza.
No discurso de cidadania das grandes empresas, a autora distingue duas frentes:
apoio à cultura e à ecologia. E destaca que o apoio a projetos culturais pode proporcionar
retorno em imagem institucional, em dividendos políticos e em redução de custos de
campanhas publicitárias. Muito importante esse último porque, cada vez mais, a publicidade
convencional apresenta limites de eficácia e está buscando a valorização da empresa como um
todo e não de um produto específico, pois uma marca consolidada é sempre uma garantia de
vendas para seus produtos.
Já na questão ecológica, aponta a importância das empresas estarem adequadas às
exigências do mercado internacional, e assim poderem exportar. E avisa: respeitar a ecologia
pode não dar dinheiro, mas pode evitar perdê-lo.
Que as organizações seguidamente utilizem discursos em que o homem aparece
como o centro de suas preocupações, como relembra Freitas (1997), não é nenhuma novidade,
no entanto existe um grande abismo entre o mundo das intenções e o da realidade cotidiana.
As organizações são produto e produtora dos ambientes onde atuam. Na luta pela
competitividade atual, são as empresas que dela participam que estabelecem as regras.
Quando o ambiente começa a se tornar nocivo ao próprio jogo, aquele precisa ser modificado
para que este possa continuar. Assim, neste momento em que o modelo que consagra o ganhar
de qualquer jeito tende a esgotar-se, torna-se necessário dar um basta e limpar as relações
organizacionais.
47
Ventura (2003) corrobora esta idéia considerando a responsabilidade social
empresarial como uma questão de auto-interesse das empresas, pois, mesmo que não seja do
interesse exclusivo e imediato desses, é do seu interesse esclarecido e de longo prazo, na
medida em que suas ações podem contribuir para o fortalecimento da sociedade civil,
tornando-a mais densa e articulada – o que favorece, em última instância, a condução de seus
negócios.
Freitas (1997) deixa claro que não existem anjos nem inocentes nesse jogo, mas
existem conveniências e a necessidade de um mínimo de credibilidade para que as
organizações possam operar, gerar lucros, crescer e expandir. E assim, parece que as diversas
abordagens de responsabilidade social estão assumindo o papel de alterar o modelo vigente de
competitividade para um modelo em que seja novamente viável às organizações crescerem e
prosperarem. Para que isto seja possível será necessário mudar o comportamento das pessoas
que compõem as organizações até alcançar estas no seu todo.
Comenta Ventura (2003) que são raros os casos de empresários e executivos que ainda
desconsideram totalmente suas responsabilidades sociais, podendo-se dizer que a
sensibilidade para os problemas sociais já está institucionalizada. As organizações vêem-se
pressionadas para tornarem-se mais solidárias e chamadas a uma maior participação, abertura
e integração com a sociedade, pela ameaça de serem abandonadas por seus consumidores.
Para a autora, a chamada responsabilidade social empresarial avança à medida que a
globalização acirra a competição entre empresas.
O principal problema com os modelos e com os argumentos sobre responsabilidade
social empresarial, segundo Ventura (2003), é que eles se concentram na determinação das
razões, dos motivos, das conseqüências e dos benefícios desta e assumem que todos os outros
atores sociais ganham com sua adoção. Não se considera a dimensão pública/política dessas
ações, não se indaga se e como a responsabilidade social contribui – ou não – para a garantia
48
dos direitos dos cidadãos estabelecidos na organização da sociedade.
O Estado estaria garantindo estes direitos, ou se eximindo, quando permite, ou incentiva, que outros
atores sociais também executem ações sociais? As ações de responsabilidade social não têm
conseqüências somente para a própria empresa ou para seus beneficiários diretos, mas para a sociedade
como um todo, pois podem influir na distribuição de poder político na própria sociedade (VENTURA,
2003, p.03).
Não se pode esquecer que as organizações mais fortes forçam as empresas de sua
cadeia produtiva a adotarem práticas similares às suas, no caso, impondo ações no âmbito da
responsabilidade social empresarial. Além disso, as organizações buscam copiar as práticas de
organizações que julgam de ponta, tentando com isso se livrarem das incertezas ambientais.
Há também a conscientização dos gerentes e a demanda da sociedade civil que cobra uma
postura mais responsável e cidadã que faz as ações organizacionais convergirem para ações
mais responsáveis, que leve em conta os stakeholders da organização, divulgando e
ampliando o movimento pela responsabilidade social (VENTURA, 2003).
A autora levanta outra suposição, a de que, em muitos casos, “as organizações lançam-
se no discurso da responsabilidade social sem ao menos questionar o que isto significa e sem,
verdadeiramente, produzir mudanças reais em suas ações, mas buscando ‘estampar’ aquilo
que pode ser divulgado e ‘condecorado’ pela sociedade (e consumidores)” (VENTURA,
2003, p.05).
Através da discussão do “espírito do capitalismo”, Ventura (2003) aponta a
responsabilidade social como uma das recentes formas encontradas pelo capitalismo para
engajar as pessoas necessárias à produção e ao desenvolvimento dos negócios, uma vez que a
utilização da força, da violência para fazer as pessoas trabalharem para outrem está fora do
escopo de sua ideologia. As pessoas precisam “querer” o trabalho, pois o capitalismo
pressupõe esta liberdade – de trabalhar e de empreender, uma implicação positiva dos
49
trabalhadores, um motivo, uma razão. E, para que este espírito do capitalismo possa realmente
mobilizar as pessoas, deve incorporar uma dimensão moral.
Para perpetuar-se, o capitalismo precisa, então, de estimular e refrear, ao mesmo
tempo, sua insaciabilidade, seu processo de acumulação ilimitada. É nessa dinâmica, nessa
tensão permanente que o espírito do capitalismo equaciona a tendência capitalista de auto-
destruição com as exigências morais de bem-comum, já que não se justifica unicamente por
seu objetivo de obter lucro, são produzidas outras provas (VENTURA, 2003).
Um dos grandes problemas para mudar as perspectivas sobre o capitalismo é apontado
por Ventura (2003) como conseqüência da incorporação do utilitarismo à economia, o qual
permitiu assumir como “natural” que tudo aquilo que é benéfico para o indivíduo o é também
para a sociedade. Mas, como a motivação material não é suficiente, mesmo para o trabalhador
assalariado, para dedicar-se à empresa como esta deseja, o capitalismo passa a enfrentar uma
crise que precisa de justificações através da ideologia ou do espírito do capitalismo para ser
resolvida. É aí que as novas formas de acumulação precisam parecer sedutoras e apoiarem-se
na referência do bem comum para se auto-justificarem, além de defenderem-se daquelas
pessoas que entendem os novos dispositivos como ameaças à sua identidade social.
No caso da responsabilidade social, esta surge como resultado da crítica à forma pela qual as
empresas se relacionam com a sociedade, (re)criando provas e dispositivos que desmantelem
a crítica e não causem prejuízo para a lucratividade. Ou seja, “as empresas passam a investir
em ações sociais e a divulgar seus padrões éticos, justificando e criando provas à sociedade (e
consumidores) de que estão indo ao encontro das aspirações sociais” (VENTURA, 2003,
p.10).
O caso brasileiro, para a autora, é típico de cópia das empresas multinacionais, sem
questionamentos. Concorrentes passam a copiar a prática, os estudiosos passam a divulgá-la,
inicia-se um processo de estudos sobre o assunto e de tentativas de definição e adaptação à
50
realidade brasileira, a empresa que adota o discurso passa a ter um diferencial,
institucionaliza-se o movimento como uma prática aceita e legitimada. Mas, Ventura (2003)
questiona que tipos de atores estão legitimando a construção do conceito de responsabilidade
social empresarial e aponta este como um reposicionamento empresarial frente à sociedade
que também “encobre” o processo de acumulação capitalista.
Segundo Boltanki & Chiapello (1999 apud VENTURA, 2003), os anos 90 assistiram
ao estabelecimento de uma nova representação da empresa e do processo econômico. As
empresas querem proporcionar àqueles, cujo engajamento é particularmente necessário à
extensão do capitalismo, evidências quanto às “boas ações” a empreender. O movimento pela
responsabilidade social empresarial não seria fruto simplesmente de uma mudança desejada
pela sociedade, mas também um deslocamento do capitalismo que visa combater a crítica e dá
uma nova possibilidade de acumulação.
2.6 UMA QUESTÃO ÉTICA
A perspectiva que relaciona responsabilidade social diretamente com a questão da
ética poderia até ser considerada pelos autores da linha liberal como visão um tanto ingênua,
mas para Srour (1998), elas estão indubitavelmente entrelaçadas. Aliás, o autor divide as
teorias éticas em duas: a da convicção e da responsabilidade. Esta última é eminentemente
política ou voltada para uma ação comprometida com o futuro, sua máxima é “fundamentais
são os resultados”, não segundo uma interpretação egoísta, mas tendo em vista o bem do
outro.
51
Srour (1998) coloca que a moral entra em jogo sempre que um agente afeta os outros
com aquilo que decide e faz. Os problemas da moralidade repousam no conflito de interesses.
Advêm daí os problemas éticos contemporâneos:
Como equacionar interesses individuais e responsabilidade social? Como perseguir a maximização do
lucro sem ferir os interesses dos stakeholders? Como agir moralmente quando a generalização da
mercadoria permeia todos os poros da sociedade e mercantiliza praticamente todas as atividades? Como
ser ético num mundo em que se confrontam valores e fins que, por sua própria pluralidade, sustentam a
irracionalidade ética do mundo? (SROUR, 1998, p. 276)
O autor considera que o ideal seria fazer escolhas que interessassem à humanidade
como um todo. Todavia, nem sempre é possível tomar decisões tendo a humanidade como
marco. Srour (1998) vislumbra como saída para estes dilemas toda uma mudança nas relações
sociais que estão menos assimétricas, mais liberais e democráticas, que geram um novo tipo
de capitalismo, o capitalismo social ou associativista. Não que estas mudanças tenham
decorrido de voluntarismo altruísta, mas sim das pressões que a cidadania organizada exerceu
no cotidiano das empresas e das ruas. Esta postura da sociedade civil absolveu o lucro e
legitimou a livre iniciativa como motores essenciais da dinâmica econômica.
Para além do Estado comunista ou do Estado clientelista e desenvolvimentista e até
mesmo do Estado do Bem-Estar Social, a revolução da gestão e a revolução tecnológica estão
inaugurando um novo tipo de sociedade (SROUR, 1998).
A revolução digital funda-se em estratégias relacionais ou associativas, no poder dos
clientes ou consumidores e no fortalecimento do papel da sociedade civil como poder
compensatório. Ao contrário do capitalismo anterior, que visava somente maximizar o lucro
dos acionistas, o capitalismo da segunda metade do século XX tem uma dupla lógica, a do
lucro e a da responsabilidade social, que faz com que as empresas deixem de se fixar apenas
na função econômica (ainda que esta permaneça importante) e passem a se orientar pela
função ética da responsabilidade social. Somam os interesses dos acionistas aos de todos
52
aqueles que têm interesse na preservação e na vitalidade da empresa, os stakeholders
(SROUR, 1998).
No entanto, nem tudo são rosas nesta nova concepção de sociedade, o capitalismo
social ou associativista traz consigo o perigo do desemprego tecnológico e do processo de
globalização empurrar os países do Terceiro Mundo para uma zona de exclusão. Srour (1998)
chama a estas preocupantes questões de “comunalidades”, e faz um alerta: serão necessárias
ações globais para resolvê-las.
O paradoxo moral do sistema capitalista pode ser superado através de uma sociedade
civil ampla, articulada e engajada. É preciso fazer “política pela ética”, e ter cidadãos
organizados, eis aí a essência do capitalismo social. E nesta nova sociedade, a questão ética
tornou-se um imperativo para as organizações que queiram sobreviver. As razões são o
desenvolvimento de uma mídia plural e dedicada à investigação, as pressões da sociedade
civil, os concorrentes, fornecedores, investidores, autoridades governamentais, prestadores de
serviços e empregados que vigiam as ações das organizações (SROUR, 2000).
Para Moreira (2002), a prática da ética insere-se no rol dos deveres relativos à
responsabilidade social dos agentes econômicos. O autor defende a idéia de que a empresa é
responsável por ajudar a melhorar continuamente a sociedade da qual obtém lucro, sendo esta
responsabilidade além de material, também abstrata, consubstanciada na adoção e na prática
dos preceitos éticos.
A ética empresarial é o comportamento da empresa, entidade lucrativa, quando ela
age em conformidade com os princípios morais e às regras do bem proceder aceitas pela
coletividade, regras éticas (MOREIRA, 2002). O autor relembra a primeira tentativa de
implantar um comportamento ético à empresa como a encíclica Rerum Novarum, do Papa
Leão XIII, que expunha princípios éticos para o relacionamento com os empregados,
valorizando os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Desde então, inclusive no Brasil,
53
foram muitas as leis promulgadas com a intenção de proteger a sociedade e restringir ações
indiscriminadas das empresas.
O comportamento ético da empresa com relação a empregados, clientes,
fornecedores, competidores, mercado, governo e público em geral é hoje esperado e exigido
pela sociedade. Ao complementar esta idéia, Moreira (2002) realça muitas razões para que as
empresas atuem eticamente, entre elas uma melhor qualificação que gerará mais lucros, custos
menores com não pagamentos de irregularidades, postura semelhante de empregados e
administradores para com a empresa, laços de parceria empresarial.
Para Bateman e Snell (1998), as questões relativas à ética nos negócios e à
responsabilidade social das empresas são complexas, pois esta é uma área de controvérsias,
apesar de haver concordância quanto a se evitar ações e decisões ilegais que prejudiquem
significativamente a sociedade, não existe concordância quanto à extensão da
responsabilidade de suas atividades em âmbito global. Os autores apresentam como objetivo
da ética identificar as regras que deveriam governar o comportamento das pessoas e os bens
que valem a pena buscar. Para alcançar tal objetivo, a ética passa a ser o sistema de regras que
governa a ordenação de valores e, para isso, utiliza-se de sistemas éticos: a universalidade
(agir corretamente, independe dos resultados) e o utilitarismo (pensar no bem do todo, antes
do individual). No entanto isto é muito pessoal, pois está relacionado aos valores ou
princípios de cada um.
2.7 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
Ashley, Coutinho e Tomei (2000) concluíram que o conceito de cidadania
54
empresarial, para não ter sua prática limitada a projetos específicos, precisa ser desenvolvido
num espectro
mais amplo, permeando toda a organização, incorporando a performance social
corporativa e tendo como pano de fundo o desenvolvimento sustentável. Já o conceito de
responsabilidade social corporativa requer, para sua construção teórica e aplicação prática, a
incorporação de uma orientação estratégica refletida em desafios éticos para as diferentes
dimensões do negócio.
As autoras relatam a abordagem crítica de Jones (1996) na qual o conceito de
responsabilidade social corporativa é considerado carente de coerência teórica, de validade
empírica e de viabilidade normativa, mas que oferece implicações ao poder e ao
conhecimento dos agentes sociais. Essa abordagem é dividida em duas linhas básicas:
Linha ética, cujos os argumentos derivam dos princípios religiosos e das normas
sociais prevalecentes, considerando que as empresas e pessoas que nelas trabalhem devam ser
conduzidas a se comportarem de maneira socialmente responsável, por ser a ação moralmente
correta, mesmo que envolva despesas improdutivas para a empresa.
Linha instrumental considera que há uma relação positiva entre o comportamento
socialmente responsável e a performance econômica da empresa. Através de uma ação
proativa da empresa, as oportunidades geradas podem ser:
maior consciência sobre as questões culturais, ambientais e de gênero;
antecipação e evitação de regulações restritivas à ação empresarial pelo
governo;
diferenciação de seus produtos diante de seus competidores menos
responsáveis socialmente.
Como um tema dinâmico, o conceito de responsabilidade social corporativa vem
amadurecendo quanto à capacidade de sua operacionalização e mensuração, subdividindo-se
55
em vertentes de conhecimento. Entre essas estão: responsabilidade social corporativa,
responsividade social corporativa, rectitude social corporativa, performance social
corporativa, performance social dos stakeholders, auditoria social e inovação social (ASHEY,
COUTINHO e TOMEI, 2000).
Apesar de alguns autores utilizarem os termos responsabilidade social corporativa e
cidadania empresarial como sinônimos, as autoras apontam que popularmente este conceito
tem sido tratado de maneira bastante instrumental, como algo que traria vantagem competitiva
à organização frente à crescente concorrência, seu aspecto mais ressaltado tem sido o de
investimento na comunidade através de projetos ou ações sociais com recursos transferidos
por empresas, tema este que vem ganhando muito espaço nos fóruns de discussão empresarial
e na mídia dirigida aos empresários.
Dentro dessa perspectiva Ostergard (1999 apud ASHEY, COUTINHO e TOMEI,
2000) avalia que as organizações deveriam repensar sua responsabilidade social de forma
estratégica, alinhada com seus objetivos estratégicos. Haveria um foco de investimento social
em áreas que pudessem alavancar os pontos fortes de seu core business, melhor utilizando
seus recursos e maximizando o retorno para as comunidades em que atuam, para seus
colaboradores e para seus investidores.
Em outra perspectiva, Martinelli (1997, apud ASHLEY, COUTINHO e TOMEI
2000) propõe a evolução da empresa em três estágios: Primeiro a empresa unicamente como
negócio, segundo como organização social até chegar a empresa-cidadã que opera sob uma
concepção estratégica e sob um compromisso ético o que resulta na satisfação das
expectativas e no respeito dos parceiros. E por último, a empresa passa a agir na
transformação do ambiente social, sem se ater apenas aos resultados financeiros do balanço
econômico, mas buscando avaliar sua contribuição para com a sociedade e posicionando-se
de forma pró-ativa em suas contribuições para com os problemas sociais. A empresa
56
classificável como empresa-cidadã possuiria objetivos e instrumentos sociais, os quais não
deveriam ser confundidos com práticas comerciais nem com objetivos econômicos. Desta
forma, sua atuação agregaria uma nova faceta ao seu papel de agente econômico: a de agente
social. Ela passaria a disponibilizar, com as devidas adaptações, os mesmos recursos
aplicados em seu negócio em prol da transformação da sociedade e do desenvolvimento do
bem comum.
Ainda Martinelli (1997, apud ASHLEY, COUTINHO e TOMEI, 2000) apresenta o
ganho substancial à empresa que chegar a este estágio:
valor agregado à sua imagem;
desenvolvimento de lideranças mais conscientes e socialmente responsáveis;
melhoria do clima organizacional, da satisfação e da motivação decorrentes de
aumento de auto-estima;
reconhecimento e orgulho pela participação em projetos sociais, entre outras
vantagens.
Carroll (1998, apud ASHLEY, COUTINHO e TOMEI, 2000) propõe uma
convergência entre os conceitos de cidadania empresarial e de responsabilidade social
corporativa e aponta quatro faces para a cidadania empresarial: econômica, legal, ética e
filantrópica. Para este autor as boas empresas-cidadãs deveriam ser lucrativas, obedecer às
leis, ter comportamento ético e retribuir à sociedade em forma de filantropia.
Maignan (1999), também citado pelas autoras, vai além e chega à definição de que
cidadania empresarial é a extensão através da qual as organizações atendem a suas
responsabilidades econômicas, legais, éticas e discricionárias, exigidas por seus diversos
stakeholders.
Ashley, Coutinho e Tomei (2000) realizam ampla análise conceitual de
57
responsabilidade social corporativa e de cidadania empresarial, considerando as seguintes
variáveis: grupo de stakeholders (acionistas, comunidade, empregados, empregados e
comunidade, empregados, comunidade e demais stakholders), a priorização instrumental e a
normativa (pré-lucro ou pós-lucro).
Schommer (2000), ao tratar das diferentes formas de relacionamento das empresas
com o social, cita os três eixos apresentados por Nelson (1998):
1. atuar eticamente em suas atividades produtivas;
2. desenvolver programas de voluntariado empresarial mediante investimento social,
doações, participação da capacidade gerencial e técnica, adoção de iniciativas de
marketing social, apoio a iniciativas de desenvolvimento comunitário;
3. colaborar no desenvolvimento de políticas fiscais, educacionais, produtivas,
ambientais e outras mediante contribuição ao debate sobre políticas públicas.
São destacadas as virtudes da cooperação entre organizações com competências
diferentes (no caso, empresas e organizações da área social): oportunidade de aprender e
desenvolver competências, ganho de recursos – tempo, dinheiro, informações, legitimidade,
status, utilização de capacidade ociosa, divisão de custos e riscos, habilidade para resolver
problemas complexos e para especialização ou diversificação. Na área social, acredita-se que
o envolvimento de diferentes agentes leva a uma maior sustentabilidade dos projetos e à
potencialização dos recursos disponíveis (Schommer, 2000).
Ferreira e Passador (2002, p.2) apresentam o conceito de responsabilidade social de
Melo Neto & Froes (1999, p.87) como o exercício da “cidadania empresarial” que pressupõe
uma atuação eficaz da empresa em duas dimensões: a gestão da responsabilidade social
interna e a gestão da responsabilidade externa. E comentam sobre a criação dos Indicadores
do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social que visa disseminar a
responsabilidade social como forma de gestão e também valorizar as dimensões público
58
interno com externo.
Quadro 1 – Responsabilidade Social Interna e Externa
Responsabilidade Social
Interna
Responsabilidade Social Externa
Foco Público Interno (empregados e
seus dependentes)
Comunidade
Áreas de atuação Educação
Salários e Benefícios
Assistência Médica, Social e
Odontológica.
Educação
Saúde
Assistência Social
Ecologia
Instrumentos Programa de RH
Planos de Previdência
complementar
Doações
Programa de Voluntariado
Parcerias
Programas e Projetos sociais.
Tipo de Retorno Retorno de Produtividade
Retorno para os Acionistas
Retorno Social – propriamente dito
Retorno de Imagem
Retorno Publicitário
Retorno para os Acionistas
Fonte: Ferreira e Passador, 2002, p.02, adaptado de Melo Neto & Froes, Responsabilidade
Social e Cidadania Empresarial: 2000, p.87.
Ferreira e Passador (2002) consideram que a responsabilidade social não tem um
conceito final, acabado, ainda é um conceito em construção. Diferencia-se desde uma questão
estratégica de marketing para aumentar sua visibilidade e valoração da marca até uma
filosofia de atuação com investimentos reais que busquem parceiros locais para acompanhar o
andamento dos trabalhos.
As transnacionais que se instalaram no Brasil a partir das décadas de 80 e 90,
pressionadas pela economia global, passaram a ser grandes impulsionadoras da discussão da
responsabilidade social como um conceito de estratégia de negócio e estão envolvidas de uma
forma inédita para os conceitos de administração brasileiros (FERREIRA e PASSADOR,
2002):
59
A empresa deverá ser pautada pelo envolvimento que saia do assistencialismo e que traga realmente ao
indivíduo a participação cívica, com justiça, democracia e luta pelos seus direitos civis e políticos,
relativos à liberdade, direitos econômicos, sociais e culturais, e direitos à solidariedade, à paz
internacional, ao meio ambiente saudável, à comunicação, os quais, respectivamente, são classificados
como direitos de primeira, segunda e terceira geração (Ferreira e Passador, 2002 p. 13).
Como resultado de pesquisa realizada com empresários da cidade de Maringá – PR,
Ferreira e Passador (2002, p.14) afirmam que as empresas pesquisadas “vêm tentando, de
alguma forma, auxiliar a comunidade com algumas ações sociais esporádicas e estão
dispostas a realizar parcerias com o Estado e com a sociedade civil para a construção de uma
sociedade mais saudável e justa”. Apesar desta disposição dos empresários, as autoras
declaram sua preocupação com a possibilidade destes esquecerem o cidadão em detrimento
do consumidor, em decorrência das grandes transformações que o Brasil vem sofrendo como
diminuição do Estado, desenvolvimento do mercado global, presença das transnacionais e
acirramento das desigualdades sociais.
Como proposta para evitar o risco de focar somente o consumidor, Ferreira e Passador
(2002 p.14) propõem:
...discutir também a Responsabilidade Social do Estado e de cada um, pois a expectativa de
responsabilidade social somente da empresa concentra ações apenas em determinados territórios o que
pode ser desastroso em um país tão desigual, poucos seriam beneficiados, e manteria o processo de
exclusão. Estas reflexões se fazem necessárias para pensarmos em responsabilidade social como forma
cada vez mais de ação de inclusão.
Na tentativa de conciliar as diferentes visões sobre responsabilidade social, Drucker
(2001) considera que, apesar da teoria social e política sempre ter focalizado o poder, a
responsabilidade deve ser o princípio que informa e organiza a sociedade pós-capitalista. A
sociedade de organizações, ou, como o autor denomina, de conhecimento, exige uma
organização baseada na responsabilidade.
Nesta abordagem sobre o poder, Drucker (2001) assevera que as organizações
precisam assumir responsabilidade até o limite do seu poder, isto é, até o ponto em que o
exercício das suas funções deixa de ser legítimo. Não existe mais ninguém, na sociedade das
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organizações, para cuidar da própria sociedade, por isso as organizações precisam assumir
“responsabi-lidade social” e agirem de forma responsável, dentro dos limites da sua
competência e sem colocar em risco sua capacidade de desempenho.
As organizações, para poderem funcionar, precisam contar com um poder
considerável, mas este deve ser legítimo e limitado. Para que isto ocorra na organização como
um todo, esta deve ser construída com responsabilidade de dentro, ao invés de com poder,
comando e controle.
Mas não é uma questão das organizações serem responsáveis por todos os problemas
da sociedade, elas devem ser órgãos com fins especiais. Cada uma é boa em somente uma
tarefa; e é essa especialização que lhes dá capacidade de desempenho. Elas somente poderão
prejudicar a si mesmas e à sociedade, se se dedicarem a tarefas que estiverem além de sua
competência especializada, de seus valores especializados, de suas funções especializadas.
Assim Drucker (2001) tenta conciliar a questão econômica com a de responsabilidade social.
Apesar de criticar Milton Friedam por considerar como única responsabilidade das
empresas o desempenho econômico, Drucker (2001) também considera o desempenho
econômico como a primeira responsabilidade de uma empresa, pois, comenta o autor, uma
empresa que não apresentar um lucro mínimo igual ao seu custo de capital é socialmente
irresponsável. Ela desperdiça recursos da sociedade. O desempenho econômico é a base; sem
ele a empresa não pode cumprir nenhuma outra responsabilidade, nem ser uma boa
empregadora, nem uma boa cidadã, nem uma boa vizinha. Indo além, o autor diz que até
agora a empresa tem sido o principal foco da discussão sobre responsabilidade social, por ter
sido a primeira organização a surgir, mas que em breve outras organizações, como a
Universidade por exemplo, também serão cobradas por seu desempenho nesta área.
Drucker (2001) deixa bem clara a irresponsabilidade de uma organização aceitar
responsabilidades que comprometam sua capacidade de desempenhar sua tarefa e missão
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principais, em que ela não tem competência não terá responsabilidade, somente a terá onde
houver impacto de suas atividades sobre a comunidade e a sociedade.
Como um dos principais focos da abordagem sobre responsabilidade social de
Drucker (2001) é a questão do poder, ele lembra que o poder social deve ser exercido pelas
organizações na medida em que for necessário ao cumprimento de suas funções, nem mais
nem menos. Inclusive aponta as organizações não-empresariais como as maiores detentoras
do poder social, novamente exemplificando com a Universidade. Mas que um dos limites que
deve ser imposto às organizações incide sobre o poder político, que não deve ser exercido por
estas, da mesma forma que o poder social não deve ser exercido por autoridades políticas, em
ambos os casos o desrespeito a esta regra pode causar abusos.
Assim devemos ir da organização baseada na informação para àquela baseada na
responsabilidade em todos os seus âmbitos, na qual cada membro da organização assuma
responsabilidade pelo objetivos da organização, pelas contribuições da mesma e pelo seu
comportamento. Com cada membro agindo assim, a organização que é composta por pessoas,
terá um comportamento responsável.
As necessidades sociais irão crescer em duas áreas. Em primeiro lugar, elas irão crescer naquilo que
tradicionalmente tem sido considerado caridade: ajudar os pobres, os incapacitados, os desamparados,
as vítimas. E elas irão crescer, ainda mais rápido, com respeito a serviços que visam mudar a
comunidade e mudar as pessoas (DRUCKER, 2001, p.127).
O autor inclui a escola na discussão da responsabilidade social pois acredita que a
posição social desta e seu papel estão mudando drasticamente. A escola passou a ser uma
instituição de cidadãos adultos, e não mais de jovens e crianças que viriam a ser cidadãos. E,
acima de tudo, na sociedade do conhecimento, a escola passa a ser responsável pelo
desempenho e pelos resultados, assim é importante repensar o papel e a função da educação
escolar, seu foco, sua finalidade, seus valores.
62
Para Drucker (2001) ensino universal de alto nível, habilita os estudantes com os
meios para realizar, contribuir e ser empregável na sociedade do conhecimento, tendo
compromisso com valores comuns, excelência e respeito mútuo.
Assim, a questão da responsabilidade social corportativa está ligada ao
comportamento que as pessoas adotam dentro da empresa, e esta, com relação aos seus
stakholders. E o comportamento surge como resposta predominante a pressões ou a
necessidades, se é para inglês ver ou não, parece não estar mais importando, o fato é que
principalmente no contexto brasileiro como anotam Wood Jr. e Caldas (1997), as empresas
agem de acordo com as pressões econômicas sofridas, que determinam não apenas o que deve
ser feito, mas também o como deve ser feito, numa clara referência às melhores práticas
mundiais. No contexto internacional, diversos autores apresentam a responsabilidade social
elevada à condição de imprescindível nas práticas organizacionais atuais, as organizações
brasileiras seguindo este curso passam a cobrar dos seus administradores a competência para
desenvolver tais práticas.
Para tentar entender melhor a forma de inserção das empresas na questão da
responsabilidade social, alguns autores passaram a analisar o que estas estavam fazendo
através da aplicação de modelos de estudo, dos quais apresentaremos alguns.
2.7.1 Modelos de Estudo
Existem muitos modelos para análise do grau de envolvimento das organizações com
relação à Responsabilidade Social, por exemplo o de Montana e Charnov (1998) que se divide
em abordagem da obrigação social, abordagem da responsabilidade social e abordagem da
sensibilidade social. Robbins (2000) aponta três níveis de envolvimento social das
organizações: o da obrigação social, o da responsabilidade social e o da reatividade social.
63
Enderle e Tavis (1998, apud ASHELEY, COUTINHO e TOMEI, 2000, p.09)
apresentam um modelo em que as responsabilidades corporativas nas dimensões econômicas,
sociais e ambientais devem ser consideradas em três níveis de desafios éticos a que as
corporações se propõem:
nível 1 - nível onde há mínimos requisitos éticos;
nível 2 - nível em que se consideram obrigações além do nível ético mínimo;
nível 3 - nível em que há aspirações para ideais éticos.
Curado (2003) se propõe a explorar a questão da terminologia referente à atuação social
das empresas apresentando um modelo de síntese para avaliar a atuação social delas, em três
abordagens: responsabilidade legal; responsabilidade social (dividida em três focos - imagem,
negócio e cidadania) e compromisso social.
Com relação especificamente à responsabilidade social, Curado (2003) considera as
discussões da academia e as atuações sociais do meio empresarial para relatar três padrões de
atuação socialmente responsável: responsabilidade social “como IMAGEM, na qual a
preocupação dos gestores está focada no marketing e no público externo; responsabilidade
social como NEGÓCIO, focada nos ambientes interno e externo e na estratégia e
responsabilidade social como CIDADANIA, em que a preocupação dos gestores extrapola a
atuação direta e indireta da empresa e parte para o engajamento em projetos sociais”
(CURADO, 2003, p.09).
Ashley (2002) apresenta, adaptado de Longsdon & Yuthas (1997), um modelo sobre
o desenvolvimento moral das organizações e orientação para os stakeholders que enfatiza o
papel da direção na criação de processos voltados à prática de desempenho social corporativo.
Para esta abordagem, o estágio de desenvolvimento moral das organizações está relacionado
com o próprio desenvolvimento moral e com as características pessoais de seus dirigentes,
além das forças ambientais.
64
Como será explanado no capítulo 3, o papel da administração é a ação de conduzir a
empresa pelo melhor caminho à realização de seus propósitos, isso implica constantes
escolhas ou tomadas de decisão sobre qual o melhor caminho. As decisões não são gratuitas,
casuais ou neutras, elas são fundadas em interesses considerados relevantes ou não para o
administrador, a partir da reflexão sobre elas. Nesta reflexão farão parte os aspectos sobre os
quais o administrador tem conhecimento, por exemplo, com relação a interesses individuais,
organizacionais ou sociais. Quanto maior ou mais profundo for o conhecimento sobre os
reflexos das decisões pautadas em um interesse, maiores chances deste ser percebido como
relevante.
Assim, este modelo abrange os critérios considerados no processo decisório dos
administradores. Estes critérios, se assimilados na formação do administrador, farão parte de
sua atuação nas organizações.
Quadro 2 - Desenvolvimento moral das organizações e orientação para os
stakeholders
Nível de
desenvolvimento
moral
Ênfase Orientação para os
stakeholders
Critério de processo
decisório
Pré-convencional
Engrandecimento de
si próprio sem
considerar os outros.
Orientação apenas
para si próprio
Cálculo quanto a
prazer/dor
Convencional
Obrigações negativas
para com os outros
Conceito estrito de
mercado como a lei
exige
Expectativas dos
parceiros de trabalho
social
Pós-convencional
Obrigações positivas Relações com uma
larga faixa de
stakeholders
Princípios éticos
universais
Fonte: Ashley (2002, p. 27), adaptado e traduzido do original de Longsdon & Yuthas
(1997).
65
Segundo este modelo, quando há ênfase apenas no próprio indivíduo que vê os
outros apenas como meio para trazer-lhe benefício e prazer, ou como oportunidade de se auto-
engrandecer, a abordagem da ética e responsabilidade social será a pré-convencional. Assim
pode ser considerada a concepção dos cursos que demonstrarem, em seus projetos
pedagógicos, maior preocupação em formar administradores capacitados em se
autopromoverem e em formar fortunas pessoais, em detrimento dos outros indivíduos.
Quando o tomador de decisão preocupa-se em respeitar estritamente o que a lei
exige nos limites externos à organização, mas leva em conta as expectativas de seus parceiros
de trabalho sua abordagem é a convencional. Apresentam esta concepção os cursos que
promoverem a formação de um administrador cioso da necessidade de cumprir a lei em
primeiro lugar, altamente voltado para as exigências do mercado e para seus stakeholders
mais estritos (proprietários, investidores, agentes financeiros, clientes e empregados) que
assim se portam pressionados pelo controle social ao qual não querem dever obrigações, ou
ter obrigações negativas.
Quando, no entanto, o curso demonstrar iniciativas, disciplinas ou projetos para que o
administrador internalize o respeito pelo outros e o dever em promover o bem-estar de uma
faixa maior de stakeholders (vizinhança, comunidades, grupos ambientalistas e agências
governamentais, além dos mais estritos), sua concepção estará em consonância com a
abordagem pós-convencional. Esta dá ênfase às obrigações positivas e à utilização dos
princípios éticos universais na tomada de decisão.
A partir das perspectivas de responsabilidade social apresentadas, bem como possíveis
modelos de estudo, será interessante discutir o papel do gestor na era global para melhor
analisar os projetos pedagógicos.
66
3 O PAPEL DO ADMINISTRADOR NA ERA DO CONHECIMENTO
3.1 O PAPEL DA UNIVERSIDADE
Apesar de muitos administradores de empresas não serem graduados em
administração nem outro curso superior, este trabalho optou por focar a universidade e,
principalmente, o curso de administração na busca de conhecimento sobre a formação para a
responsabilidade social. Esta não foi uma escolha aleatória, pois a universidade é entendida
como uma das grandes responsáveis pela formação da prática e da ideologia que permeiam
nossa sociedade, e o curso de graduação em Administração, por propor-se a formar pessoas
aptas a atuar em todas as formas de organizações existentes, principalmente gestores que
terão, em maior ou menor grau, o poder de decisão dentro das organizações. Um dos grandes
desafios da Universidade na ‘Era Global’ passa a ser o de oferecer uma formação capaz de
também desenvolver responsabilidade social nas pessoas que compõem as organizações.
Peters (2001) lembra que a Universidade é formada por pessoas, forma pessoas
através de pessoas. É um processo que envolve o professor e o aluno na procura do melhor
tanto para a pessoa quanto para a sociedade. Assim, a Universidade tem o papel de equilibrar
a balança dos valores a partir de uma visão de conjunto sobre a natureza, sobre o meio
ambiente, sobre o bem-estar de cada um e da sociedade. Por ter o ideal de transmitir a verdade
e de formar uma nova sociedade a Universidade é insubstituível.
Neste processo para uma nova sociedade, o papel da Universidade é fundamental. É
nela que serão formadas as novas gerações. Eis uma tarefa enorme, fundamentar as novas
gerações para além dos interesses egoístas e de lucro fácil. Outro lembrete importante: a
Universidade está formando os homens públicos de amanhã, deles irão depender os rumos da
67
política que regerá a nação (PETERS, 2001).
Para cumprir papel tão importante, o autor acredita que o Projeto Pedagógico e o
programa de desenvolvimento institucional deverão considerar a formação de profissionais
cidadãos. E vai além, coloca como intenção da escola formar pessoas para a cidadania, para a
sociedade, visando ao bem comum de todas as pessoas.
Para Peters (2001) os valores assimilados na escola servirão de orientação na tomada
de decisão das pessoas. O autor está convencido do potencial da Comunidade Universitária de
servir à sociedade e apresentar soluções para tornar agradável à vida sobre a terra. Considera
a ciência como “não neutra”, e a serviço da melhoria de vida da sociedade.
A responsabilidade social da universidade é desempenhar na sociedade, o papel de
gerar a própria sociedade, formar as novas gerações, transmitir-lhes as técnicas e os valores
que constituem sua cultura (PETERS, 2001, p.201).
Se a universidade não for capaz de incutir em seus alunos e em seus professores esse espírito de
justiça – pior ainda – se deixar que neles se desenvolvam sentimentos de indiferença para com os
demais, estará falhando em sua missão de formar excelentes seres humanos; estará traindo sua
responsabilidade social.
Importante esclarecer que, para Peters (2001), cidadão é o indivíduo que tem
consciência, assume sua cidadania, reivindica seus direitos e desempenha suas tarefas e
deveres. Nessa perspectiva, enaltece a educação que junto com a formação técnica inclui a
formação ética, dando a esta última o papel de conseguir formar jovens nos ideais de
fraternidade, justiça, solidariedade e paz.
Marcovitch (1998) considera que o papel da Universidade é formar lideranças,
agentes de mudança, homens e mulheres dispostos em assumir riscos para construir um
mundo melhor. Insiste no fato de que a universidade deve estar a serviço da sociedade em seu
conjunto, seja para os setores que querem elevar sua competitividade, seja para os setores que
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querem melhorar a qualidade de vida. E há a dimensão da cultura, em que a universidade é
centro cultivador e irradiador de valores humanos.
São três os motivos apontados por Marcovitch (1998) para a existência da
universidade: a convivência das múltiplas expressões do saber, ser lugar da enriquecedora
transição da adolescência para a juventude e para a vida adulta e o papel de formar cidadania,
desenvolvendo a inquietude do ser social. Dentre os elementos irrenunciáveis da vida em
academia o autor aponta a solidariedade e a ética.
Ao contrário da posição de Levitt (1987 apud LOPES, 2001) que considera a
personalidade e modos próprios de agir coisas enraizadas e, portanto, que não se ensina ou se
modifica na escola, Marcovitch (1998) acredita que uma universidade ética, orientada por
valores éticos, pode incutir senso de valores. Isto, apesar do ser humano não ser
necessariamente dotado de predicados de honra ou desonra, e de ser a vida em sociedade que
vai agregando esses traços a seu caráter.
Para tanto, é necessário o amadurecimento da compreensão da história e dos valores
humanos. E é aí, novamente, que aparece a universidade, capacitando não só para o exercício
de profissões e atividades específicas, mas fazendo os alunos compreenderem o fenômeno
estético e sensibilizarem-se para a cultura política (MARCOVITCH, 1998).
Neste grande chamado para mudanças na sociedade, a grande oportunidade da
universidade para cumprir a sua parte é entender o aluno e prepará-lo para ser um agente de
transformação.
A comunidade acadêmica deve ter fôlego para se tornar uma força de mudança social, já que cada
aluno formado deveria se tornar uma liderança no seu campo de atividades (Marcovitch, 1998, p.65).
Para que isso ocorra, é necessária a formação cultural de base, a adoção de um
sistema de valores e vivência prática (MARCOVITCH, 1998).
69
Moraes (1999) considera que a grande responsabilidade das instituições de ensino
superior é propiciar educação mais adequada às mudanças que atualmente se presenciam na
sociedade e no mercado de trabalho. É neste sentido que devemos analisar o projeto
pedagógico dos cursos de graduação em Administração em relação a formação para a
responsabilidade social, já que esta passou a ser considerada parte integrante das organizações
da ‘Era Global’.
3.2 O ADMINISTRADOR NAS ORGANIZAÇÕES
Faria (1970) apresenta o papel da administração como sendo a ação de conduzir a
empresa pelo melhor caminho à realização de seus propósitos, sem comprometer o futuro,
sem assumir riscos desnecessários e com maior rendimento.
Para tornar mais objetiva a visão do que deve ser o trabalho do administrador e
também de auxiliar na compreensão dos atributos e competências centrais que deve possuir
esse profissional, Drucker (1986, apud LOPES, 2001) considera que a função essencial do
gerente é orientar os recursos da empresa para as oportunidades que indiquem melhores
resultados. Lopes (2001) diz que a decisão deve sempre ter atenção à eficácia, sem descuidar-
se da eficiência, o que pressupõe visão sistêmica e articulada da organização e do ambiente.
Srour (1998) lembra que o administrador tem o mando e a influência, que são
capacidades de interferir no curso dos acontecimentos, de agir sobre as relações, de atuar
sobre os interesses e sobre as consciências. É assim que as organizações conseguem atingir
suas finalidades e manter a disciplina e a coesão interna.
70
Estão disponíveis para o administrador controles variados como as contribuições
materiais, as coerções físicas e as sanções morais. Através da utilização deles, tentará
equilibrar os interesses individuais, os interesses da organização e os interesses da sociedade.
3.3 A TOMADA DE DECISÃO
Todo processo decisório é a escolha de um caminho entre vários cursos de ação. As
decisões não são gratuitas, casuais ou neutras, mesmo quando tecnicamente bem elaboradas
ou bem fundadas. Toda decisão se firma em interesses observáveis, sejam eles individuais,
corporativos ou coletivos. Para aumentar a preocupação dos administradores, as decisões
devem ser coerentes com a moral da organização, pois se dentro das empresas formarem-se
moralidades alternativas em desacordo com sua própria cultura organizacional, estas poderão
ficar sem identidade (SROUR, 1998).
Quando faz escolhas entre diferentes cursos de ação, a reflexão ética do
administrador torna-se uma forma de legitimar as decisões organizacionais, porque dispõe da
faculdade de antecipar as conseqüências danosas aos negócios e permite evitar retaliações.
“Ao fundamentar decisões, as organizações legitimam seus atos de gestão e contribuem para
sua permanência ao longo do tempo” (SROUR, 1998, p.308).
Bateman e Snell (1998) comentam que há empresários que consideram ética e
negócios uma contradição de termos. No entanto as questões éticas fundamentais em negócios
são as mesmas para o restante da sociedade. As situações podem ser mais complexas para o
tomador de decisões porque ele pode não ser o chefe e sim um agente agindo em interesse de
71
outros. Então, além de tentar fazer a melhor escolha para organização e para os muitos grupos
envolvidos, o tomador de decisões terá que tentar conciliar seu sistema ético com sua escolha.
Seria a causa deste dilema ético a diferença entre os códigos de ética pessoais e o das
organizações, daí surgir como possível solução as organizações deixarem seus códigos
explícitos, no tocante a expectativas e a padrões. Outro problema são as diferentes regras de
cada organização que vão desde trazer para dentro da empresa os padrões do comportamento
ético familiar até considerar quais são as práticas de negócios correntes e aceitas que devem
governar o comportamento, valendo levar vantagem em tudo ou agir segundo o que se
percebe ser certo (BATEMAN e SNELL, 1998).
Segundo estes autores, existem dois tipos de programas éticos: os fundamentados na
obediência às leis e nas punições, e os fundamentados na integridade, que, além da obediência
às leis, preocupam-se em desenvolver comportamento ético nas pessoas. Para desenvolver
programas fundamentados na integridade, é necessária uma estratégia que contemple
elementos como compartilhar valores-guias, comprometimento da liderança da empresa ao
tomar decisões, sistemas de informação, prestação de contas, avaliações que apóiem e
reforcem os valores. Isto em todos os níveis da empresa.
Um dos sinais visíveis do compromisso corporativo com o comportamento ético são
os códigos de ética que se tornaram populares depois dos anos 80. Estes devem ser escritos e
ajustados às filosofias de cada empresa, devem abordar assuntos referentes à conduta dos
empregados, à comunidade, ao meio ambiente, aos acionistas, aos consumidores, aos
fornecedores, aos prestadores de serviços, à atividade política e à tecnologia (BATEMAN e
SNELL,1998).
São as políticas empresariais que podem auxiliar na tomada de decisões éticas
através de diretrizes claras, ajudar as pessoas a evitarem violações de ética inadvertidas.
Questionar qual o contexto da questão e quais os públicos interessados a serem afetados,
72
identificar os valores relevantes na situação, pesar os valores conflitantes e escolher uma
opção que os equilibre e que implemente a decisão são os passos que o tomador de decisões
deve dar rumo à uma tomada de decisão ética (BATEMAN e SNELL, 1998).
As perspectivas éticas dos tomadores de decisões das organizações determinarão a
postura destas na tentativa de equilibrar o resultado econômico e a responsabilidade social
empresarial. Estas posturas podem variar, indo da abordagem resistente a tal conceito,
passando pela de resposta à legislação, pela utilitarista chegando à proativa.
Independente da estrutura ética adotada, todas as organizações estão tentando
influenciar o ambiente político para atingir duas metas, a vantagem competitiva e a
legitimidade empresarial. As estratégias para lidar com o ambiente político são inúmeras e
visam melhorar a credibilidade da organização e seus resultados financeiros (BATEMAN e
SNELL, 1998).
A responsabilidade social empresarial diz respeito diretamente à tomada de decisão
orientada eticamente, condicionada pela preocupação com o bem-estar da coletividade. Tem
como premissas: respeitar os interesses da população, preservar o meio ambiente e satisfazer
às exigências legais. Engloba a visão compreensiva de políticas, práticas e programas que
perpassam todas as operações do negócio (SROUR, 2000).
Então, embora não haja consenso sobre o conceito de responsabilidade social e
apesar dos diferentes focos sob os quais ela tem sido observada e pesquisada, já se exige sua
presença no processo de tomada de decisão dos administradores, pois muitos autores já a
apresentam como responsabilidade de todos. Este “todos” refere-se a cada elemento
integrante da sociedade: cidadãos, organizações e governos.
Ao analisar as organizações que visam lucro ou não, públicas ou privadas, como um
grupo de pessoas em busca de objetivos comuns, percebemos que são as pessoas que
determinam, através de decisões com maior ou menor grau de autonomia, as ações da
73
organização. Em última análise, quem terá responsabilidade social ou não em suas atitudes
cotidianas são elas.
E pessoas indiscutivelmente importantes no contexto organizacional são os
administradores. Como nos lembra Passador (2003b), diante de mudanças como integração
regional, crescimento do comércio internacional, modificação no paradigma do trabalho e
avanço da nova lógica global das cadeias produtivas do capitalismo, o perfil do administrador
contemporâneo também deve mudar. Na discussão que a autora propõe são apresentadas
como novas atribuições da gerência o “estímulo a modelos menos normativos e a autonomia
de gestão, consciência do momento histórico e do papel social do administrador”
(PASSASOR, 2003b, p. 01).
O trabalho do administrador é cada vez mais a capacidade de gerar e gerir idéias, de
conectar-se a outros trabalhadores e clientes, para isso “deve assumir que uma grande
empresa é muito complexa para ser administrada por manuais e procedimentos rígidos, como
por exemplo os de estilo taylorista/fayolista” (MONTANA e CHARNOV, 1998 apud
PASSADOR, 2003b, p.06). O gestor da ‘Era Global’ necessita de espírito crítico e humanista.
São novas atribuições da gerência o estímulo a autonomia e a consciência da necessidade de
estar em permanente atualização. Assim, as interações de conhecimentos, a habilidade de
integração/intermediação de pessoas e a capacidade de agir e transformar realidades devem
ser as bases do ensino de administração (PASSADOR, 2003b).
A tradição preditiva e normativa da ciência da administração tem que aceitar agora imprevisões,
incertezas, complexidades e caos. É necessário intensificar os espaços de sobreposição da vida
cotidiana das organizações e de formação conceitual formal nas escolas, procurando construir
competências dentro das incertezas, buscando criatividade e inovação. O gestor contemporâneo
deverá ser sujeito privilegiado de uma formação generalista, multiplicando qualificações e
desenvolvendo habilidades para tomar decisões na complexidade e na intempestividade; ser capaz de
auto organizar-se para a realidade de constantes mudanças e imprevisibilidade, produto de uma sólida
e ampla base formativa (PASSADOR, 2003b, p.07).
74
Para alcançar esta formação será necessário confrontar e avaliar o papel da Universidade
e os projetos pedagógicos de cursos de Administração, “frente às mudanças institucionais do
universo acadêmico e às novas complexidades do mundo organizacional contemporâneo”
(PASSADOR, 2003b, p. 07).
3.4 PROJETO PEDAGÓGICO
Projeto Pedagógico é a própria essência do trabalho que a escola desenvolve no
âmbito de seu contexto histórico, por isso a necessidade da reflexão acerca de sua construção.
Ele será a organização de todo o trabalho pedagógico. Ao construir o projeto, as escolas estão
planejando o que tem intenção de fazer, de realizar. Vai além de um simples agrupamento de
planos de ensino e de atividades diversas, busca um rumo, uma direção.
“É uma ação intencional, com sentido explícito, com um compromisso definido
coletivamente” (VEIGA, 1995 p. 13), e deve estar intimamente ligado aos interesses reais e
coletivos da população e também comprometido com a formação do cidadão. Tem a ver com
a organização da escola como um todo e com a sala de aula.
As tendências pedagógicas praticadas em uma dada escola são conseqüência de
valores e princípios acumulados ao longo da experiência vivencial de cada profissional que
nela atua (VEIGA, 1995 p.169):
Ao inscrever-se num projeto de transformação social, a escola estará buscando, por intermédio da ação
educativa, a construção de uma nova hegemonia. Isto é, a implementação e a generalização de uma
forma de ver e compreender a realidade, distinta da atualmente dominante...
Para Moraes (1999), é através do projeto pedagógico que as escolas em qualquer grau
de ensino assumem um compromisso. No caso da universidade, principalmente a brasileira,
75
isso significa instrumentalizar seus egressos para “enfrentarem” o atual mercado de trabalho.
No projeto, devem constar o perfil e os objetivos da formação escolar, tendo em vista o
profissional e o cidadão de amanhã. Contudo, não se deve fixar somente no futuro, mas
também nas satisfações e realizações do presente ou de um futuro próximo, para que os
egressos estejam aptos à subsistência social.
É papel da escola sistematizar projetos pedagógicos que conduzam o educando a
formação profissional global e de qualidade que respeite suas características, anseios e
necessidades. Eles não podem desconsiderar as expectativas e necessidades dos trabalhadores
e as exigências do mercado, entre elas o permanente aperfeiçoamento (MORAES, 1999).
A nova LDB tem, como um dos seus pilares, a educação comprometida com a
cidadania, entendida como o compromisso do ensino superior em formar e qualificar
trabalhadores para o mercado de trabalho e para a vida em sociedade. O acadêmico deve
receber habilidades e conhecimentos que os tornem capazes de resolver problemas do
cotidiano no trabalho, na família e na sociedade. Então, de se compreender a criação de
projetos que atendam a demanda dos acadêmicos por uma educação de qualidade, pautada no
conhecimento que trazem e nas habilidades requeridas pelo mercado, capacitando-os a se
constituírem cidadãos produtivos (MORAES, 1999).
76
3.5 O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO
Lopes (2001) aponta a formação de administradores vivendo sob grande tensão,
provocada pelo crescente ritmo das mudanças e conseqüente aumento da incerteza e risco no
ambiente dos negócios. O autor considera que alguns indicadores como o desempenho médio
dos estudantes no Exame Nacional de Cursos e sua experiência docente evidenciam algumas
fragilidades importantes no processo de formação desses profissionais, sendo, em grande
parte, reflexos dos problemas existentes nos projetos pedagógicos dos cursos de
administração. Para superar tais fragilidades, Lopes (2001) aponta a necessidade de
mudanças nos projetos pedagógicos dos cursos, para que estes proporcionem uma formação
de qualidade superior com o provimento de determinados conjuntos de habilidades adequadas
ao atual ambiente de negócios.
São destacadas as seguintes características desse novo ambiente: descontinuidade
nos padrões de consumo mais diversificados, exigentes e sensíveis a preço; competição
profissional e global; redução drástica dos ciclos de vida de produtos e das tecnologias de
processo e de gestão que passam a dar relevância ao fator tempo e à flexibilidade nos
processos decisórios e de execução; a nova escala de viabilidade econômica dos negócios. A
sociedade brasileira ressente-se profundamente da falta de instrumentos científicos,
tecnológicos e, particularmente, culturais para superar grandes dificuldades nos planos social
e econômico (LOPES, 2001).
É necessário repensar e reformular o processo de formação de profissionais de
Administração, orientando-os para o desenvolvimento de competências de gestão
significativamente diferentes daquelas que os cursos, tradicionalmente, vêm provendo, sendo
esta uma contribuição importante ao esforço conjunto de melhorar nossa sociedade. E, apesar
77
de salientar todas as deficiências da formação do administrador, Lopes (2001) mostra-se
otimista com relação à possibilidade de se desenvolver um curso de Administração formulado
em novas bases pedagógicas, com adequados pressupostos teórico-práticos e compromisso
das instituições de ensino superior. Considera, inclusive, que existem projetos pedagógicos
que, em meio a estes problemas culturais e estruturais, e embora impulsionados por diretrizes
legais e institucionais, já representam iniciativas inovadoras e procuram prover maior
realismo na formação profissional do administrador. Entretanto, ainda de maneira insuficiente
para superar a fragmentação disciplinar, em geral, descolada da realidade.
Em sua pesquisa com alunos do curso de graduação em Administração da
Universidade Estadual de Londrina – UEL, Lopes (2001) percebeu a necessidade de combinar
um conjunto de habilidades de diversas naturezas para formar adequadamente o profissional
de Administração. Contudo, deve-se compreender claramente quais habilidades podem ser
desenvolvidas na fase adulta, quando a formação acadêmica estará ocorrendo e qual a real
flexibilidade para moldá-las.
Nos últimos anos, a necessidade de obtenção de uma melhor qualidade educacional,
em nível superior, e de mais tempo de escolaridade por parte dos indivíduos está perceptível,
principalmente porque as organizações estão exigindo um maior grau de escolaridade de seus
selecionados, motivados pelas modificações e/ou implementação de novas tecnologias em
seus ambientes internos. No ambiente de trabalho, há uma maior exigência no modo de agir
(atitudes) de cada indivíduo, que necessita aprender novas formas de executar seu trabalho,
manusear novas máquinas, adquirir novos conhecimentos e habilidades (ARAÚJO e
CORREIA, 2001).
Como o conhecimento e a tecnologia crescem continuamente, as exigências da
profissão também aumentam, o que obriga o indivíduo a acompanhar esta evolução. Com
relação à necessidade de educação, Souza (2000) aponta cinco passos no processo de
78
adaptação e sobrevivência no ambiente complexo e mutável em que as organizações estão
inseridas, dos quais destacam-se dois:
a) acompanhar as tendências do ambiente de negócios que podem afetar as atividades
do seu setor de atuação bem como as características de seu cargo;
b) identificar necessidades e desejos de pessoas e organizações que possam contratar
seus serviços.
Assim, acaba por recair sobre as universidades a necessidade de associar ao processo
de ensino-aprendizagem os conteúdos que o aluno deverá obter de um conjunto de
disciplinas, e também, que sejam previstas quais ações ou que desempenho este aluno será
capaz de executar com o desenvolvimento de habilidades e quais atitudes são desejáveis que o
mesmo adote. Igualmente importante é trabalhar os valores para ajudar o aluno a direcionar
suas ações, seus conhecimentos e suas habilidades para aquilo em que acredita ser viável e
certo e assim respeitar os princípios éticos de sua profissão ao atuar na sociedade (ARAÚJO e
CORREIA, 2001).
A capacitação do aluno da graduação, para que atue de forma competente no
mercado de trabalho, decorre principalmente da assimilação dos conteúdos das disciplinas
inseridas no currículo de cada curso. Isso demonstra a relevância acadêmica e social do
processo formativo das Instituições de Ensino Superior (IES) e sua congruência com as
exigências do mercado de trabalho (ARAÚJO e CORREIA, 2001).
Sintonizado a esta preocupação, em 1993, o Conselho Federal de Administração
(CFA) instituiu o currículo mínimo para o curso de Administração com a intenção de preparar
o administrador para o mercado globalizado.
Andrade e Amboni (2002) apresentam o perfil do egresso desejado do curso de
administração, de responsabilidade das IES, que deve estar no âmbito do perfil brasileiro e
refletir as características regionais, a potencialidade das IES e suas escolhas estratégicas. Os
79
perfis deverão servir de referência para o desenvolvimento do Projeto Pedagógico do curso
e/ou das habilidades pretendidas. Características como capacidade de raciocínio abstrato, de
autogerenciamento, de assimilação de novas informações, de compreensão das bases gerais,
técnico-científicas, sociais e econômicas da produção em seu conjunto, de desenvolvimento
de habilidades de natureza conceitual e operacional, de domínio das atividades específicas e
conexas e flexibilidade intelectual no trato de situações cambiantes são requisitos
fundamentais na formação do novo profissional.
No que se refere ao perfil, em um contexto de transformação da organização do
trabalho, para Andrade e Amboni (2002) a proposta de educação que melhor se adapta à
capacitação de recursos humanos é a da formação do generalista especializado que tem como
pressupostos:
a internalização de valores de responsabilidade social, de justiça, de ética
profissional;
a formação humanística e visão global que o habilite a compreender o meio social,
político, econômico e cultural em que está inserido e a tomar decisões em um mundo
diversificado e interdependente;
a formação técnica e científica para atuar na administração das organizações e
desenvolver atividades específicas da prática profissional;
a competência para empreender ações, analisar criticamente as organizações,
antecipar e promover suas transformações;
a capacidade de atuar de forma interdisciplinar;
a capacidade de compreensão da necessidade de contínuo aperfeiçoamento
profissional e do desenvolvimento da autoconfiança.
Para consolidar tal perfil, os cursos de graduação em Administração deverão
80
desenvolver competências e habilidades. Por competências entende-se o conjunto de
atribuições/atividades conferidas para determinada ocupação/cargo (ANDRADE e
AMBONI, 2002).
De acordo com estas reflexões, Guerra (2001) lembra que hoje novos desafios e
novas oportunidades se apresentam para o ensino de graduação em Administração. É preciso
que este se dedique à formação de valores humanos, à formação de cidadãos com visão
crítica e criativa. A autora cita partes da Declaração Mundial sobre a Educação Superior de
1998 em que se explicita a necessidade de uma articulação melhor da educação superior com
os problemas e necessidades da sociedade e do mundo do trabalho.
Para tal realização, serão necessárias revisões curriculares que garantam maior
aproximação com as práticas de trabalho, de desenvolvimento de habilidades empresariais e
de senso de iniciativa, só assim, a educação facilitará a empregabilidade dos formandos. Os
administradores, muitas vezes, são gerentes da propriedade e de interesses de outros, para
exercerem tal função é fundamental uma formação escolar adequada às demandas dos
modelos de organização (GUERRA, 2001).
81
4 PROPOSTA METODOLÓGICA
4.1 NATUREZA DA PESQUISA
Andrade (1999) ao questionar qual o sentido de pesquisar, toma pesquisa num
sentido amplo e a coloca como atividade de busca, de indagação, de investigação, de
inquirição da realidade, que vão nos permitir, no âmbito da ciência, elaborar conhecimento ou
um conjunto de conhecimentos que nos auxilie na compreensão da realidade e que nos oriente
as ações. Uma das possibilidades na elaboração de um conjunto de conhecimento são os
constructos.
Segundo Lakatos e Marconi (1991) constructo é um nível elevado de abstração,
primeiro passo em direção à formulação de uma teoria. Os constructos são elaborados, criados
ou adotados, tendo em vista determinada finalidade, referindo-se a esquemas teóricos,
relacionando-se de diversas formas a vários outros constructos. São ainda derivados de um
processo de julgamento que as pessoas fazem das variáveis organizacionais e ambientais,
atribuindo-lhes conotações de valor. Assim, uma pesquisa que pretenda analisar um
constructo não deve ser apenas quantitativa, deve tentar detectar também aspectos
qualitativos, como o envolvimento dos participantes. A natureza da pesquisa é então uma
busca pelo constructo Responsabilidade Social de cada curso da amostra.
4.2 TIPO DA PESQUISA E INSTRUMENTOS
A pesquisa pretendida identificou-se com a abordagem qualitativa, que segundo
Chizzotti (1998) fundamenta-se em dados coligidos nas interações interpessoais, na co-
82
participação das situações dos informantes que são analisadas a partir da significação que
estes dão a seus atos. O pesquisador participa, compreende e interpreta.
Para melhor definição da pesquisa, Cooper & Schindler (1995) utilizam oito
descrições diferentes para demarcá-la:
1. Quanto ao grau de definição da pergunta de pesquisa: o trabalho é um estudo
exploratório, pois fornece critérios sobre a situação-problema e sua compreensão, além de ser
um estudo pioneiro. Andrade (1999) considera a pesquisa exploratória o primeiro passo de
todo trabalho científico. A autora comenta que são objetivos de uma pesquisa exploratória,
principalmente quando bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado
assunto;
2. Quanto ao método de coleta de dados: é uma pesquisa realizada através da análise
dos Projetos Pedagógicos disponibilizados pelos cursos que compõe a amostra de pesquisa e
da aplicação de questionário junto aos coordenadores de tais cursos;
3. Quanto ao controle das variáveis: a pesquisa é definida como ex post facto
porque não se pretende manipular variáveis, mas sim relatar de que forma elas se comportam;
4. Quanto ao objetivo do estudo: a pesquisa é descritiva, pois esta expõe
características de determinada população ou fenômeno;
5. Quanto ao tempo: pode ser definido como transversal, pois é apenas um
determinado período de estudo, um ponto no tempo, e por isso uma nova aplicação da
pesquisa em outro tempo pode apresentar resultados diferentes;
6. Quanto à amplitude e à profundidade: pode ser definida como um levantamento,
pois seu objetivo é descrever a incidência ou a predominância de um fenômeno (YIN, 2001);
7. Quanto ao ambiente de pesquisa: é estudo de campo, ou seja, investigação
empírica realizada no local onde o fenômeno ocorre. E pesquisa bibliográfica apoiada em
fontes primárias e secundárias;
83
8. Quanto à percepção dos sujeitos: pretende-se conduzir a pesquisa de forma que os
respondentes não percebam nenhuma variação em suas rotinas diárias, para que não ocorram
vieses, no entanto esta possibilidade sempre está presente.
Assim, o estudo pode ser caracterizado como uma pesquisa qualitativa, exploratória,
descritiva, com levantamento de dados primários e secundários. Foram utilizados como
instrumentos de coleta de dados a pesquisa documental e o questionário.
4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA PESQUISA
O universo pesquisado são os cursos de graduação em Administração oferecidos no
ano de 2003 pelas Instituições de Ensino Superior localizadas na Região Sudoeste do Paraná,
conforme apresentado no Quadro 3 - Instituições que oferecem o curso de graduação em
Administração, municípios de sua localização, ano de início de atividades dos cursos e
número de vagas oferecidas a cada vestibular e na Figura 2 – Distribuição geográfica dos
municípios da Região Sudoeste do Paraná.
Dentre as classificações políticas existentes para determinação desta região, a adotada
nesta pesquisa é a da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná – AMSOP (2001)
que abrange uma área de 17.102.750 km², ocupa a margem esquerda do Rio Iguaçu e vai do
município de Palmas até a fronteira com a Argentina e com o Oeste de Santa Catarina,
dividida em 42 municípios com uma população de 557.044 habitantes. De acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a maior parte da população da
região é urbana, a maior renda é proveniente do setor de serviços, seguido por um equilíbrio
entre a indústria e a agropecuária, o setor industrial é composto por empresas classificadas
84
como micro e pequenas, com algumas exceções de médio e de grande porte.
Quadro 3 – Instituições que oferecem o curso de graduação em Administração,
municípios de sua localização, ano de início de atividades dos cursos e número de vagas
oferecidas a cada vestibular
Instituições Municípios Início das atividades Número de vagas
CEFET – pública Pato Branco 1975 40
FACIPAL – privada Palmas 1979 150
VIZIVALI – privada Dois Vizinhos 1999 80
FADEP – privada Pato Branco 2000 200
MATER DEI – privada Pato Branco 2000 60
CESREAL – privada Realeza 2001 200
FESC – privada Clevelândia 2001 60
PALAS ATENA – privada Chopinzinho 2001 180
UNIPAR – privada Francisco Beltrão 2001 80
UNISEP – privada Dois Vizinhos 2001 50
UNIOESTE – pública Francisco Beltrão 2003 40
85
FIGURA 2 – Distribuição geográfica dos municípios da Região Sudoeste do Paraná
Fonte: Adaptado de AMSOP
86
A amostra é não probabilística por conveniência, pois do total de onze cursos de
graduação em Administração da Região foram pesquisados quatro, seguindo os seguintes
critérios:
- Os dois cursos pioneiros, um de uma Instituição privada e outro de uma
Instituição pública, por entender-se que são cursos importantes para a própria
história do Ensino em Administração da região;
- Um curso de uma Instituição privada e um de uma Instituição pública entre os
mais recentes, e, em decorrência do número de cursos de Instituições privadas
que iniciaram suas atividades na mesma data, a escolha dar-se-á pelo maior
número de vagas oferecidas a cada vestibular.
Tais critérios pretendem contemplar a concepção de Responsabilidade Social dos
primeiros cursos instalados na Região, não que isto assegure a apresentação das concepções
mais antigas, ao contrário, poderá representar o desenvolvimento dos cursos em relação ao
tema, em conseqüência do maior tempo em atividade. Já a inclusão dos cursos mais recentes
pode trazer à tona a formulação de Projetos Pedagógicos em sintonia com este tema
considerado emergente. Estas, no entanto, são apenas hipóteses que podem ser refutadas pela
confirmação de outras, por exemplo, os cursos, tanto os mais antigos quanto os mais recentes
não estarem atentando para a questão da responsabilidade social por motivos diversos.
Como critério de desempate foi escolhido o maior número de vagas oferecidas pelas
instituições particulares que iniciaram suas atividades na mesma época. A presença de
instituições públicas e privadas em ambos os critérios justifica-se tendo em vista que a Região
conta com as duas formas de instituições e por representar a busca de um aspecto de
diversidade entre elas ou, talvez, a confirmação de uma semelhança entre diferentes.
Assim, em decorrência do primeiro critério estipulado, os pesquisados são os cursos
de graduação em Administração do CEFET-PR, Unidade de Pato Branco, e o curso da
87
FACIPAL de Palmas. Com relação ao segundo critério, os cursos do CESREAL de Realeza e
o da UNIOESTE de Francisco Beltrão.
4.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram coletados através de análise sistemática dos projetos pedagógicos ou
de informações disponibilizados pelas coordenações dos cursos e a posterior aplicação de
questionário junto aos coordenadores, ambos, análise e questionário, envolvendo sete
aspectos:
a. Missão
4
da Instituição;
b. Missão do curso;
c. Perfil
5
do Egresso pretendido;
d. Referências
6
ao papel
7
das organizações na sociedade de hoje;
e. Referências ao papel do administrador nas organizações;
f. Os temas
8
centrais (pilares ou temas chaves) do Projeto Pedagógico;
g. Referências explícitas a responsabilidade social
Após, os dados e informações foram organizados de forma que permitissem a análise
curso a curso e comparação com a bibliografia pertinente para então, através da convergência
ou não destes dados, buscar caracterizar o curso do qual foram coletados. Esta forma de
análise de dados deixa a possibilidade de um curso convergir para uma concepção ou não,
apresentando características de duas ou até mesmo de mais concepções. O que não é
4
Missão: visão, define o propósito de uma organização, fornece orientação (Robbins, 2000).
5
Perfil: descrição de uma pessoa em traços que ressaltam suas características básicas; informação concisa e
informal sobre a vida de alguém (Houaiss, 2001).
6
Referências: ato ou efeito de referir, contar ou relatar; ação de aludir, mencionar (Houaiss, 2001).
7
Papel: dever, obrigação, atribuição, função que se desempenha ou cumpre (Houaiss, 2001).
88
considerado um problema, pois a não convergência dos elementos pesquisados no projeto
pedagógico para uma única concepção também é um dado relevante que contribuirá para o
resultado da pesquisa.
8
Temas: proposição, assunto, argumento, matéria (Houaiss, 2001).
89
5 OS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA REGIÃO
SUDOESTE DO PARANÁ
5.1 BREVE HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES
5.1.1 CEFET-PR Unidade de Pato Branco
Segundo Pastro (1999) em 1975 iniciou suas atividades a Faculdade de Ciências
Contábeis e Administração de Pato Branco – FACICON com os cursos de Administração e
Ciências Contábeis, a primeira da história do Ensino Superior do município de Pato Branco.
Em 1981 passou a ser denominada Fundação de Ensino Superior de Pato Branco – FUNESP
com o objetivo de expandir as atividades da Instituição, criou novos cursos que buscavam
atender a demanda e colaborar com o desenvolvimento regional. Em 1985, a FUNESP
implantou os cursos de Letras e Matemática, em 1987 o curso de Processamento de Dados e
em 1992 o de Agronomia.
Em 1993, a FUNESP foi incorporada ao Centro Federal de Educação Tecnológica do
Paraná – CEFET-PR. Todos os cursos de graduação que estavam em funcionamento desde o
início das atividades da Instituição passaram para o novo órgão mantenedor que mantém,
atualmente, 09 cursos de graduação e turmas de ensino médio, conta com aproximadamente
200 professores.
5.1.2 FACIPAL
90
Segundo o Manual do Acadêmico (2002), fornecido pela Instituição Faculdades
Integradas de Palmas, esta foi fundada em 1969 com a denominação de Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras – FAFI, mantida e administrada pelo Centro Pastoral,
Educacional e Assistencial Dom Carlos – CPEA, obteve o reconhecimento pelo Decreto
Federal Nº 72.452/73 que autorizou os cursos de Filosofia, Pedagogia, História e Letras
Francês. Em 1979, criaram-se as Faculdades Reunidas de Administração, Ciências Contábeis
e Ciências Econômicas de Palmas – FACEPAL, estabelecimento de Ensino Superior de
Direito Público mantido pela Prefeitura Municipal de Palmas e administrado através de
convênio pelo CPEA, reconhecidas pela Portaria Ministerial Nº 76/83.
Em 2000, o CPEA tornou-se, também, mantenedora da FACEPAL e, em 2001, FAFI e
FACEPAL foram transformadas em uma só Instituição, recebendo a atual denominação,
FACIPAL, pela Portaria Nº 285/01. A FACIPAL possui atualmente: 16 coordenações de
curso, responsáveis por 18 cursos de graduação nas mais diversas áreas, 21 cursos de
especialização e 02 mestrados. Integram seu corpo docente 174 professores.
5.1.3 CESREAL
Integrante da Rede Gonzaga de Ensino Superior – REGES com sede em Dracena, São
Paulo, o primeiro bloco da Faculdade de Realeza foi concluído em novembro de 1999 e a
Faculdade foi oficialmente instalada no dia 02 de setembro de 2001. Data também do
primeiro vestibular com os cursos de Administração Geral e Administração com Gestão de
Sistemas de Informação que foram autorizados pela Portaria nº 1718 de 01 de Agosto de
2001.
91
O curso de Administração com Gestão de Sistemas de Informação ofereceu 200 vagas
e contou com 1000 inscritos, ou seja, 05 candidatos para cada vaga. Para o curso de
Administração Geral o número de inscritos, neste primeiro vestibular, totalizou 603
candidatos para 100 vagas disponíveis, sendo 6,03 candidatos por vaga.
A Faculdade voltou a realizar vestibular em novembro de 2001 e novembro de 2002,
abrindo a cada ano uma nova turma de 50 alunos. Atualmente são oito turmas funcionando,
do 1º ao 3º ano, com aproximadamente 300 alunos, atendidos por 25 professores. A carga
horária dos cursos está distribuída em 4 anos.
5.1.4 UNIOESTE
A Lei Nº 477/74, homologada pelo Prefeito Antônio de Paiva Cantelmo, criou na
cidade de Francisco Beltrão / PR a Fundação Faculdade de Ciências Humanas de Francisco
Beltrão – FACIBEL, com a co-participação do Centro Pastoral Educacional e Assistencial
Dom Carlos – CPEA. O primeiro vestibular ocorreu em 1975 e oferecia vagas para os cursos
de Estudos Sociais – licenciatura curta e para o curso de Economia Doméstica – licenciatura e
bacharelado.
Inicialmente, a FACIBEL instalou-se no prédio da escola Nossa Senhora da Glória,
hoje Colégio Nossa Senhora da Glória, mais tarde a Prefeitura Municipal construiu
instalações no Bairro Miniguaçu, que foram doadas à Fundação, passando esta a ter sede
própria. Em 1985 aconteceu o 1º vestibular para o curso de Ciências Econômicas –
bacharelado e, em 1986, ocorreu o 1º vestibular para o curso de Geografia – licenciatura plena
e bacharelado.
92
Em 1996, foi realizado o vestibular para Pedagogia – magistério das matérias
pedagógicas do ensino de 2º grau e magistério para a pré-escola. A Lei Nº 12.235 de 24 de
junho de 1999 autorizou a incorporação do patrimônio e de todos os cursos de graduação da
FACIBEL pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
A UNIOESTE, que incorporou a FACIBEL, deu seqüência aos cursos vindos da
instituição anterior: Ciências Econômicas, Economia Doméstica, Geografia e Pedagogia, e em
início de 2003 passou a ofertar também os cursos de Direito e de Administração no período
matutino. A Instituição conta atualmente com um corpo docente composto por
aproximadamente 50 professores.
5.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CURSOS
Para iniciar a caracterização dos cursos para posterior análise buscou-se as
informações disponibilizadas pelas instituições em suas páginas na Internet. O tipo de
informação colocada a disposição de acadêmicos e comunidade em geral através da rede de
computadores é descrito no Quadro 4:
Quadro 4 - Dados Disponibilizados nas Páginas dos Cursos na Internet
Instituição Dados Disponibilizados
CEFET Perfil do egresso, breve comentário sobre mercado de trabalho do administrador e grade
curricular.
FACIPAL Histórico do curso, filosofia, objetivo, perfil profissiográfico, mercado de trabalho, matriz
curricular, publicações realizadas por docentes, projetos de pesquisa e extensão em
desenvolvimento, corpo docente com respectiva titulação e uma breve explanação sobre a
Empresa Junior e o Centro Acadêmico.
CESREAL Calendário anual e grade curricular.
UNIOESTE Breve texto sobre a duração do curso, número de vagas, habilitações oferecidas e perfil
profissional do Bacharel em Administração.
FONTE: www.cefetpr.br; www.facipal.edu.br; www.cesreal.br; www.unioeste.br
Fica evidente que somente a FACIPAL disponibiliza a seus acadêmicos e à
comunidade um panorama mais abrangente sobre o curso. O CEFET e a UNIOESTE, através
93
do breve comentário sobre o perfil do egresso e do mercado de trabalho parecem querer
mostrar que o profissional formado por este curso terá espaço de atuação no mercado de
trabalho, talvez numa tentativa de influenciar possíveis visitantes da página em busca de
informações para efetuar inscrições para vestibular. A página do CESREAL traz diversas
notícias da rede de ensino a qual pertence, mas está praticamente em branco com relação a
informações sobre a própria faculdade e seu curso de Administração.
De acordo com os Projetos Pedagógicos e com as informações fornecidos pelas
coordenações dos cursos de graduação em Administração, são apresentados os quadros que
possibilitam a visualização dos seguintes aspectos:
1. Missão da Instituição;
2. Missão do curso;
3. Perfil do Egresso pretendido;
4. Referências ao papel das organizações na sociedade de hoje;
5. Referências ao papel do administrador nas organizações;
6. Os temas centrais (pilares ou temas chaves) do Projeto Pedagógico;
7. Referências explícitas a responsabilidade social.
Estes aspectos foram considerados suficientes para caracterizar cada curso da
amostra com relação a sua concepção de responsabilidade social, pois demonstram os
resultados das reflexões realizadas para construção de seus projetos pedagógicos a partir da
missão da instituição na qual os cursos estão inseridos. Ter clara idéia de que profissional
pretende-se formar e para que tipos de organização este irá atuar, somente empresas ou outras
(ONGS, órgãos públicos, etc.) mostra-se imprescindível à discussão de responsabilidade
social.
94
Quadro 5 – Missão das Instituições
Instituição Missão
CEFET Promover a educação de excelência através do ensino, pesquisa e extensão, interagindo de
forma ética e produtiva com a comunidade para o desenvolvimento social e tecnológico.
FACIPAL Nossa missão, como instituição educacional católica, é oportunizar a participação do
brasileiro nos benefícios do progresso científico e tecnológico, num processo cooperativo com
seus alunos, benfeitores e sociedade.
CESREAL Gerar o desenvolvimento da região, através da formação de profissionais ética e tecnicamente
capazes de transformar a realidade regional, em seus aspectos tecnológicos, econômicos,
sociais, políticos e culturais.
UNIOESTE Ser uma universidade que promova permanentemente a inovação qualitativa nos cursos de
graduação e crie núcleos de competência, prioritariamente nas áreas de educação básica,
integração regional e latino-americana, saúde, biotecnologia, turismo, meio ambiente e buscar
a excelência na área de desenvolvimento agroindustrial.
FONTE: A pesquisadora, 2003.
Como mostra o Quadro 5, as missões das Instituições evocam a preocupação com a
educação voltada para a formação ética e o desenvolvimento das comunidades regionais e até
mesmo do País. Um aspecto que infelizmente não fica claro nos Projetos Pedagógicos é se
estas estão oferecendo em seus cursos as condições necessárias para o desenvolvimento de tal
educação.
Quadro 6 – Missão dos Cursos
Instituição Missão
CEFET Formar um Administrador capaz de compreender os conhecimentos técnicos/científicos e
deles se apropriar de maneira contínua, utilizando-os de forma crítica e competente, para atuar
nas diversas modalidades de organizações e na sociedade de modo responsável, ético e
solidário.
FACIPAL Formar Administradores qualificados ao exercício das atividades atinentes aos vários campos
da Administração, gerando profissionais para desenvolver as diversas atividades que exijam
domínio desse ramo do conhecimento humano, capacitando-os a refletir, analisar e buscar
alternativas compatíveis com a realidade organizacional e social.
CESREAL Contribuir com o aprimoramento da Administração, mediante a formação de profissionais
qualificados que, através das suas habilidades e competências, buscarão o aprimoramento
cultural e tecnológico, a geração de empregos e o aumento de renda da sociedade, de forma
responsável.
UNIOESTE Promover conhecimentos instrumentais da prática administrativa e científica, éticos, sociais,
de meio ambiente, de comunicação, de informação, estratégicos e de gestão comportamental e
de processos tecnológicos.
FONTE: A pesquisadora, 2003.
No Quadro 6, das missões dos cursos, além da ética e do desenvolvimento, começa a
95
aparecer a percepção de uma sociedade em mudança, expressa na preocupação com a
formação de profissionais que buscarão o aprimoramento contínuo, capazes de atuarem em
diversas formas de organização e refletirem sobre sua prática. Isto fica ainda mais evidente na
exposição do perfil do egresso. No entanto, a forma como os cursos pretendem conseguir tais
objetivos ou não fica claro em seus projetos, ou parece que serão alcançados somente através
das disciplinas ofertadas.
O enunciado da missão do curso do CEFET faz ligação do responsável com o ético e o
solidário na atuação do administrador como apresentado por Srour (1998), que aponta a ética
e a responsabilidade indubitavelmente entrelaçadas. Faz-se assim ligação com a concepção
da responsabilidade social enquanto uma questão ética e até mesmo com a orientação pós-
convencional do modelo proposto por Ashley (2002).
A missão do curso da FACIPAL declara ter foco na questão de refletir a realidade
tanto organizacional quanto social. Freitas (1997) relembra o grande abismo que existe entre
o mundo das intenções e o da realidade cotidiana, deixando clara a necessidade de reflexão
por parte dos administradores, pois as organizações nas quais estarão inseridos são produto e
produtoras dos ambientes em que atuam. Somente o enunciado da missão se mostrou
insuficiente para relacionar um curso com uma concepção que aponta a responsabilidade
social como um discurso que busca a legitimação social das organizações numa nova lógica
de mercado, intimamente ligada à visão crítica de evolução do próprio capitalismo (Ventura,
2003), talvez após a análise de outros aspectos isto se confirme ou não. Para uma
classificação, apenas no modelo de Ashley (2002), esta missão apontaria para uma orientação
pós-convencional.
O curso do CESREAL divulga sua preocupação com a atuação responsável ligada à
capacidade dos egressos em proporcionar aumento de renda para a sociedade. E o curso da
UNIOESTE em promover conhecimentos éticos e sociais como instrumentos da prática
96
administrativa e científica. Que o indivíduo promova o interesse da sociedade ao realizar os
próprios é a essência da filosofia dos liberais defendida por Fiedman (1998) e, a busca de
formas de instrumentalizar a relação da organização com os stakeholders, é sanada com a
ferramenta de classificação desenvolvida por Sousa e Almeida (2003). Assim, estes cursos,
com enunciados diferentes de missão, aproximam-se da abordagem dos liberais, neoliberais e
afins, ou somente liberais, inclusive demonstra uma orientação convencional para os
stakeholders, conforme o modelo de análise proposto por Ashley (2002).
Há, no entanto, a linha instrumental do conceito de responsabilidade social corporativa
de Jones (1996, apud ASHLEY, COUTINHO e TOMEI, 2000) que considera a necessidade
de uma ação proativa da empresa que também pode ser identificada com o enunciado de
prática administrativa do curso da UNIOESTE. E também a perspectiva de Ostergrd (1999,
apud ASHLEY, COUTINHO e TOMEI, 2000), pela qual a empresa , ao utilizar melhor seus
recursos, maximiza o retorno para a comunidade onde atua e aproxima-se do “aumento de
renda da sociedade” do curso do CESREAL, e assim, ambos os cursos teriam uma abordagem
de responsabilidade social corporativa.
O perfil de egresso pretendido pelos cursos apresentados no Quadro 7, mostra que o
do CEFET em nada acrescenta ao enunciado da missão, como o projeto não traz nenhuma
conceituação do que é entendido por missão e por perfil, tal semelhança pode ter sido
proposital ou não. O curso da UNIOESTE pretende que seu acadêmico seja um profissional
“ético” mas “habilitado”, que aja como “agente de mudança”, mas somente do meio
empresarial, numa clara abordagem de responsabilidade social corporativa. Também não
deixa margem a muitas dúvidas o enunciado do perfil do egresso pretendido pelo curso do
CESREAL ao buscar formar administradores com características para atender as necessidades
do mercado, uma preocupação dos liberais.
97
Quadro 7 – Perfil do Egresso
Instituição Perfil
CEFET O profissional formado pelo curso de Administração do CEFET-PR Unidade de Pato Branco
será capaz de compreender os conhecimentos técnicos/científicos e deles se apropriar de
maneira contínua, utilizando-os de forma crítica e competente, para atuar nas diversas
modalidades de organizações e na sociedade de modo responsável, ético e solidário.
FACIPAL O Curso de Administração da FACIPAL visa formar profissionais capazes de modificar
paradigmas e, ao mesmo tempo, de liberar pessoas, de modo a posicionar a organização diante
de intensificação competitiva. Portanto, visa formar profissionais com visão estratégica da
Administração e dotados de grande habilidade em prever e promover mudanças, tanto nas
técnicas administrativas, quanto na cultura organizacional, capaz de levar empresas
brasileiras a um estágio competitivo mais adequado ao novo milênio.
CESREAL O Curso de Administração da Faculdade de Realeza objetiva a preparação de administradores
modernos, inovadores, flexíveis e que tenham foco no mercado e nas suas necessidades.
UNIOESTE
Profissional empreendedor ético e habilitado em gerir organizações e acompanhar as
mudanças de paradigmas organizacionais na conjuntura atual. Com perfil generalista, e
domínio de conhecimentos diferenciados que o tornam capaz de autogerenciar-se para
construção de seu próprio empreendimento, apto a compreender e interpretar a realidade,
atuando como agente de mudança e transformação do meio empresarial.
FONTE:
A pesquisadora, 2003.
Já do curso da FACIPAL destaca-se o “posicionar a organização” e a preocupação
com a competitividade da mesma, distancia-se da primeira impressão de uma abordagem
voltada à busca de legitimação social e aproxima-se de uma abordagem de responsabilidade
social corporativa que pretende conciliar os interesses da organização com os da sociedade.
Mas não é o único tópico que se destaca, coloca-se “profissionais capazes de modificar
paradigmas e, ao mesmo tempo, de liberar pessoas” que leva o curso novamente para a
abordagem crítica de legitimação social ao lado da questão tão instrumental e funcionalista de
“visão estratégica” e “posicionar a organização diante de intensificação competitiva”,
deixando uma incômoda sensação de incongruência.
Quadro 8 – Referências ao papel das organizações na sociedade de hoje
Instituição Referências
CEFET As organizações, mais do que serem determinadas pelo meio, também o determinam. Como
parte integrante da esfera cotidiana, as organizações constituem uma característica
dominante e assumem diversas formas, o que demonstra que a sociedade não pressupõe a
98
exclusão ou a opção por determinada forma, mas sim aceita e convive com a diversidade e
complementaridade obtida pelo conjunto dessas organizações (FRIEDBERG, 1995). Tem-se
então a percepção das organizações como objetos sociais.
FACIPAL Enfoque nas organizações como organismos vivos (sistemas) e agentes de mudanças sociais.
CESREAL Não há referências explicitas, mas subentendidas de que o papel das organizações na
sociedade é promover o desenvolvimento econômico.
UNIOESTE Não há referências
FONTE: A pesquisadora, 2003.
Apesar de demonstrar, nos enunciados das missões e dos perfis dos egressos, a
percepção de uma sociedade em constante mudança e a importância do papel das
organizações apresentado no Quadro 8, somente os projetos pedagógicos do CEFET e da
FACIPAL mostram preocupação em estabelecer o papel das organizações como objetos
sociais determinadas e determinantes do meio em que estão inseridas, o que pode ser
relacionado a uma visão mais crítica dos processos dos quais os administradores tomam parte.
O curso do CESREAL renova sua ênfase na promoção do desenvolvimento econômico, mas
não de forma esclarecedora, ficando novamente entre a postura dos liberais e da
responsabilidade social corporativa.
Com relação ao papel dos administradores nas organizações, Quadro 9, o projeto do
CEFET coloca a questão da necessidade do administrador estar preparado para atuar em
diferentes formas de organização como empresas e entidades filantrópicas, em sintonia com
as formas de organização que estão florescendo na sociedade.
Quadro 9 – Referências ao papel do administrador nas organizações
Instituição Referências
CEFET Pode-se constatar que os próprios discentes e docentes estão vinculados a uma ampla
diversidade de organizações comerciais, industriais, financeiras, seguradoras, prestadoras de
serviços, etc., além de participarem direta ou indiretamente de diversas instituições e
99
entidades, tais como associações, sindicatos, clubes, entidades filantrópicas, organizações
ambientais, partidos políticos, grupos culturais, entre outras.
BERALDO (MEC, 2001, p.4) “o profissional que venha a Administrar uma organização deve
“ter consciência do valor do indivíduo, promover a convivência produtiva e justa,
independente das diferenças, e saber usar com fraternidade os recursos escassos necessários à
produção e distribuição de bens e serviços”. Esse trabalho torna-se cada vez mais difícil,
diante da crescente complexidade do mundo – mudanças de tecnologia, de valores familiares
e sociais, para citar uns poucos.
Assim, esse novo desafio que emerge diante dos administradores diz respeito à organização,
enquanto processo, e a necessidade de conhecer, repensar e até mesmo desenvolver novas
estruturas organizacionais e novas formas de interação entre os indivíduos, que venham a
superar as atuais dificuldades encontradas pelas organizações e que se agravam diante do
atual cenário político, econômico e social.
FACIPAL Refletir, analisar e buscar alternativas compatíveis com a realidade organizacional e social,
equilibrando teoria e prática.
CESREAL Implantar nas micro, pequenas e médias empresas da região, tecnologias administrativas que
têm como finalidade principal o aumento da sua qualidade, produtividade e competitividade,
possibilitando, assim, a geração de empregos, aumento de renda e da qualidade de vida da
comunidade.
Os melhores administradores são líderes e participantes ativos nos departamentos e
organizações. O administrador moderno não pode ser passivo; deve estar intimamente
envolvido no processo decisorial e nos processos-chaves da empresa, possuindo um amplo e
profundo entendimento das tarefas que se delegam a outros. Os administradores devem
fornecer às pessoas oportunidades para atingir um desempenho satisfatório, assegurando-se de
que as pessoas possuam todos os recursos necessários para executar as tarefas com sucesso
(devem estar disponíveis na qualidade, quantidade, local e no momento em que precisarem).
Do mesmo modo, uma das tarefas mais importantes do administrador moderno é remover
obstáculos que impedem o desempenho eficaz do funcionário. Os administradores devem
identificar os fatores que motivam as pessoas e construí-los no ambiente de trabalho.
Para assegurar uma carreira gerencial bem sucedida nestes tempos desafiadores, os
administradores devem ser, ao mesmo tempo, especialistas e generalistas.
UNIOESTE Não consta, mas deixa transparecer o foco na necessidade de ação empreendedora por parte
do administrador.
FONTE: A pesquisadora, 2003.
Os cursos do CESREAL e da UNIOESTE, por sua vez, parecem estar mais
preocupados com a formação para as competências e habilidades exigidas pelas empresas. O
da FACIPAL mantêm os enunciados de reflexão da realidade organizacional, mas a limita a
busca do equilíbrio entre teoria e prática. Assim, este tópico vem reforçar a primeira
impressão dada pelas missões dos cursos, CEFET com uma abordagem ética, CESREAL E
UNIOESTE de responsabilidade social corporativa com fortes tendências liberais e FACIPAL
indo do discurso mais crítico de legitimação social até o da responsabilidade social
corporativa.
100
Quadro 10 – Temas centrais (pilares ou temas chaves) do Projeto Pedagógico
Instituição Temas
CEFET O Projeto Político Pedagógico do Curso de Administração do CEFET/PR foi construído a
partir de três eixos estruturantes: Desenvolvimento Integral do Ser Humano;
Responsabilidade Social Visando a Sustentabilidade e Inserção da Administração nas
Diversas Modalidades de Organização. Tais eixos têm o objetivo de fornecer os fundamentos
teórico-metodológicos de toda a organização Curricular.
FACIPAL Estudo e a produção do conhecimento científico, humano e tecnológico necessários a uma
formação abrangente em Administração, tendo em vista as necessidades do mercado e das
organizações, a dinâmica de novos paradigmas sociais e empresariais e das novas realidades
do meio ambiente no qual o Administrador deve atuar ética e eficazmente. Inter-relação
graduação e pós-graduação.
CESREAL Políticas do Curso de Administração: Compromisso Social, Compromisso Cultural,
Compromisso Econômico, Compromisso de Integração e Compromisso Ambiental.
UNIOESTE Não constam, mas a habilitação proposta pelo curso é em empreendedorismo.
FONTE: A pesquisadora, 2003.
Com relação aos temas centrais apresentados no Quadro 10, o curso do CEFET e do
CESREAL incluem a preocupação com o social de forma bastante explícita. O primeiro como
um eixo estruturante juntamente com o de desenvolvimento integral do ser humano e inserção
da Administração nas diversas modalidades de organizações, que faz ligação deste curso
novamente com a abordagem voltada à questão ética. O segundo trata a questão da
responsabilidade social como compromisso social assumido pelo curso frente a sociedade,
mas há também o compromisso econômico, mais uma vez a possibilidade de relacionar social
e econômico, proposta feita por autores da abordagem da responsabilidade social corporativa.
Em ambos os cursos, no entanto, esta preocupação com a responsabilidade social, parece que
irá se conformar com a oferta de uma disciplina ao longo do curso. O curso da UNIOESTE
por sua vez foca claramente a ação empreendedora, entendida esta como criação do próprio
negócio e pende para visão do bem particular ser bom para todos, dos liberais. E o da
FACIPAL sana a incongruência que apareceu no perfil de egresso pretendido pelo curso ao
trazer um enunciado voltado para as necessidades do mercado e das organizações, à atuação
ética e eficaz, tão apregoada pela abordagem de responsabilidade social corporativa.
101
Quadro 11 – Referências explícitas a responsabilidade social
Instituição Referências
CEFET
A preocupação com as questões sociais deve estar presente no meio acadêmico. O Curso de
Administração do CEFET/PR - Unidade de Pato Branco, deverá buscar a formação de um
profissional que tenha condições de corresponder às expectativas da sociedade como um
todo, não somente das organizações que trabalham com objetivos pragmáticos, voltados
unicamente para o lucro.
O egresso deste Curso deverá contribuir para o desenvolvimento das organizações em todos
os âmbitos, visando elevar as condições de vida em sociedade. A participação do acadêmico
em todos os tipos de organizações deve permear todo o curso. Desta forma, inclui-se na rotina
escolar os problemas sociais, os recursos disponíveis e a importância da construção e
implementação de alternativas que atendam às expectativas da responsabilidade social das
organizações, visando o desenvolvimento da sociedade.
FACIPAL Não consta.
CESREAL
Busca a consolidação da cidadania através da
conjugação da atividade acadêmica, inserida
num contexto mais amplo. Busca constituir-se como um espaço de diálogo para refletir com a
sociedade problemas específicos, integrando-se a ela completamente.
O objetivo do curso consiste em formar o cidadão e o profissional da Administração com:
Comportamento e espírito social: o cidadão e o profissional trabalhando comprometidos com
os problemas da comunidade.
UNIOESTE
Promover desenvolvimento de valores éticos, sociais e ambientais através de atitudes proativa
e criativa; responsabilidade e ética profissional com espírito empreendedor e inovador; formar
cidadãos profissionais e empreendedores que promovam o desenvolvimento para a sociedade
no âmbito de organizações públicas e privadas; criar vínculos com a sociedade, no sentido de
estar em constante interação com seus problemas e ser capaz de dar-lhes respostas concretas,
dentro da globalização e do caráter da qualidade ambiental.
FONTE: A pesquisadora, 2003.
Com exceção do projeto pedagógico do curso da FACIPAL, no qual não constam
referências explícitas à responsabilidade social, o Quadro 11 demonstra que todos os outros
cursos fazem longas referências a mesma inclusive à responsabilidade social do próprio curso
frente à sociedade e a de seus egressos. Parece estranho o curso da FACIPAL não ter
nenhuma referência, apesar de demonstrar nos outros aspectos analisados que este não era um
tema desconhecido, no entanto, ao não fazer nenhuma referência este pode demonstrar uma
abordagem que apresenta a responsabilidade social como busca da legitimação social ou
como a dos liberais, por mais divergentes que estas pareçam ser, nos dois casos a
responsabilidade social é apresentada como algo fora da alçada dos administradores.
O curso do CEFET aqui apresenta a questão das expectativas da sociedade e da
elevação das condições de vida e trata explicitamente da responsabilidade social das
102
organizações para promover o desenvolvimento sustentável. O curso do CESREAL também
traz argumentos claramente ligados à abordagem de responsabilidade social corporativa ao
usar termos como cidadania, cidadão e profissional. Da mesma forma o curso da UNIOESTE
insere em seu enunciado os termos cidadãos profissionais, o que vincula desenvolvimento a
respostas concretas destes. Assim, neste aspecto, todos os cursos trazem enunciados que
refletem proposições da abordagem da responsabilidade social corporativa.
5.2.1 Disciplinas
A seguir serão relatadas as disciplinas que em seus conteúdos programáticos
contemplam a preocupação com a formação do administrador para a Responsabilidade Social.
As mesmas serão descritas seguindo os critérios do quadro a seguir:
Quadro 12: Disciplinas em que o tema responsabilidade social é abordado
CEFET
Nome da disciplina: Meio Ambiente e Sociedade
Carga horária: 60 h
Período do curso em
que é ministrada:
4º ano
103
Objetivos da
disciplina:
Não consta
Programa:
O modelo técnico e cientifico de desenvolvimento na modernidade. Tecnologias e
seus impactos sócio-ambientais. A crise ecológica e social e as criticas ao modelo de
desenvolvimento. Abordagens cientificas que colocam a questão ambiental como
espaço de superação da dicotomia entre as diferentes correntes políticas entre as
Ciências Sociais e as da Natureza. Desenvolvimento sustentável. As diferentes
correntes políticas e abordagens técnico – cientificas. As dicotomias entre as
diferentes correntes políticas.
Metodologia de
ensino:
Não consta
Critérios de
avaliação:
Não consta
FACIPAL
Nome da disciplina: Tópicos Especiais e Tópicos Avançados em Administração.
Carga horária: 136h/aula e 68h/aula respectivamente
Período do curso em
que é ministrada:
A 1ª do 1º ao 8º, sendo 17h/aula em cada período e a 2ª, somente no 8º período
Objetivos da
disciplina:
Não informado
Programa: Não informado
Metodologia de
ensino:
Não informado
Critérios de
avaliação:
Não informado
CESREAL
Nome da disciplina: Tecnologias da Administração I e II
Carga horária: 160 h
Período do curso em
que é ministrada:
3º e 4º ano
Objetivos da
disciplina:
Não consta
Programa:
Abordagem de temas atuais das ciências gerenciais. A inteligência emocional. O
aprendizado organizacional. As novas ferramentas administrativas. Negociações. Teoria
da Decisão. Tópicos emergentes: Ética, Globalização, Ecologia e Meio Ambiente. A
consultoria e o papel do consultor. Conhecimento das características especiais das
organizações locais e regionais. Gestão da micro e pequena empresa.
Metodologia de
ensino:
Não consta
Critérios de
avaliação:
Não consta
Continua na página seguinte
UNIOESTE
Nome da disciplina: Gestão Ambiental e Responsabilidade Social
Carga horária: 68h
Período do curso em
que é ministrada:
4º ano
Objetivos da
disciplina:
Não consta
104
Programa:
Conceitos básicos. Panorama histórico. A questão ambiental na empresa.
Responsabilidade social. Abordagens econômicas. Tendências e exigências frente a
globalização. Estratégica ambiental. Impactos da questão ambiental nas organizações.
Gestão de resíduos. Rotulagem, auditoria ambiental e a ISSO 14000. ACV.
Metodologia de
ensino:
Não consta
Critérios de
avaliação:
Não consta
FONTE:
: adaptado de Oliveira & Moreira (2002).
Além da oferta de uma disciplina ao longo de alguns cursos (CEFET, CESREAL e
UNIOESTE), conforme Quadro 12, não foram identificadas quaisquer outras iniciativas em
forma de projetos a serem desenvolvidos por acadêmicos, professores ou funcionários das
Instituições que demonstrassem visar a formação para a responsabilidade social. Nos cursos
do CEFET e da UNIOESTE a disciplina, que em seu programa contempla a questão da
responsabilidade social, ainda não foi iniciada, pois as atuais grades dos cursos encontram-se
em seus primeiros anos e a disciplina será oferecida nos últimos anos dos cursos. No curso do
CESREAL a disciplina começou a ser ministrada em agosto de 2003, como está distribuída
em dois anos, o tema responsabilidade social deverá ser abordado no próximo ano. Assim as
disciplinas não têm ainda planos de ensino elaborados o que impossibilitou a coleta de
informações necessárias para uma análise mais profunda.
Em seus ementários as disciplinas trazem tópicos que suscitam a discussão da
globalização, do papel das organizações e do papel dos administradores nessas. São
ementários bastante amplos e com espaço para reflexão. Como nos projetos pedagógicos não
constam objetivos das disciplinas, nem metodologias de ensino e nem critérios de avaliação,
esses provavelmente irão depender do professor que venha a ministrar tal disciplina e da
coordenação de cada curso. Novamente parece que critérios bastante pessoais irão nortear esta
discussão nos cursos de graduação em Administração.
105
5.3 OS CURSOS SEGUNDO SEUS COORDENADORES
Os coordenadores dos cursos do CEFET e do CESREAL ao serem questionados sobre
os aspectos Missão da Instituição expressam a mesma missão já apresentada no Quadro5, o
coordenador do curso da UNIOESTE disse não lembrar da missão da Instituição, inclusive
sugere que esta seja mais divulgada. Quanto a Missão do Curso, os três coordenadores
apresentaram o mesmo enunciado do Quadro 6, para cada curso. O coordenador do curso da
FACIPAL não respondeu ao questionário. Com relação aos outros aspectos pesquisados nos
Projetos Pedagógicos dos cursos, conforme questionário anexo (anexo 1), apresentaram as
seguintes repostas:
Quadro 13 – Respostas dos Coordenadores de Curso
Instituição Perfil do Egresso Acesso às Informações Papel das Organizações e
dos Administradores
Conceito de Responsabilidade Social Iniciativas Existentes no
Curso
CEFET Profissional da área de
Administração, qualificado,
criativo e empreendedor, em
condições de criar seu espaço no
mundo do trabalho.
Os alunos têm participação
no processo de elaboração
do PPP.
Além disso, pelos sermões
dos professores e em
discursos de abertura e
encerramento de eventos.
Contribuir para o
desenvolvimento de uma
sociedade mais justa.
Proporcionado condições de
trabalho e renda para o
cidadão e de forma
sustentável.
Além de crescer, faz-se necessário também o
desenvolvimento econômico. Chega das
empresas plantarem uma árvore e
propagandear isso, dizendo que é a
responsabilidade social. Esta tal
responsabilidade social que hoje as empresas
pregam, não passa de balela.
Desenvolvimento de
projetos sociais de cunho
filantrópico. Neste ano
estarão sendo apresentados 7
projetos com esta
característica à comunidade
Sudoestina.
CESREAL Administradores profissionais que
tenham capacidade de interferir na
realidade empresarial, atuando de
forma inovadora, flexível e
dinamicamente relacionada com
as pessoas que os cercam,
promovendo o desenvolvimento e
o aprimoramento empresarial,
através da criação de novas formas
de trabalho, raciocinando de forma
crítica e analítica para melhorar a
qualidade de vida e transformar os
recursos disponíveis em
oportunidades para o alcance de
objetivos.
Através dos murais e da
biblioteca
O administrador deve
Planejar, organizar, dirigir e
controlar.
A organização está
relacionada à alocação de
recursos e atividades para a
busca dos objetivos.
É o compromisso com o ajustamento social,
que fomenta o profícuo relacionamento entre o
individual e o grupal, consciente de que a
união entre as pessoas deve-se processar em
clima respeitoso. Dessa forma, ter consciência
da necessidade de tornar-se um profissional
justo, ou seja, ter dentro de si uma vontade
constante de dar a cada um o que lhe pertence,
pois quando esta disposição não existe, o que
passa a existir na sociedade são conjuntos
normativos ocos, puros regulamentos
funcionais. O individualismo alimenta o
egoísmo, desenfreia paixões, conduz à
exaustão da autoridade. A exacerbação do
social torna o indivíduo prisioneiro e escravo
do sistema político e econômico.
Através de disciplinas, dos
estágios e da Empresa
Junior.
UNIOESTE Desejam-se pessoas que estejam
cientes das responsabilidades que
terá em assimilar e converter esses
conhecimentos e prática seguindo
sempre a ética, e que possuam um
senso crítico na análise dos fatos
sociais que estará enfrentando.
Através de folders e
principalmente pela
exposição verbal em sala
de aula.
O papel das organizações vai
muito além do
desenvolvimento econômico
da região onde está
localizada, passa pelo
desenvolvimento humano de
seus integrantes e de suas
famílias. Pelo aparato
sociológico de
desenvolvimento que a
integra.
Hoje, da micro a grande empresa, é
inadmissível a responsabilidade social estar
fora de seus objetivos, pois uma organização
se interage com o ambiente e sofre pressões.
No meu conceito responsabilidade social é o
papel que as organizações tem com a
comunidade geral, na diminuição das
desigualdades sociais, seja através de apoio a
educação, no meio ambiente, na própria
empregabilidade e deve ser com o objetivo de
ajudar essa comunidade e não com fins
lucrativos.
O curso na reformulação de
sua grade curricular criou a
disciplina de responsabilidade
social e gestão ambiental, no
qual através de visitas e
t
rabalhos a campo mostraram
a importância para suas
carreiras desse assunto tão em
p
auta nos dias de hoje.
108
Na análise do Quadro 13, denota-se que o coordenador do curso do CEFET, em sua
conceituação de responsabilidade social apresenta uma visão mais crítica que os demais, e é o
único curso do qual os alunos participaram da elaboração do Projeto Pedagógico, mas não
poderia ser identificado somente com a abordagem crítica da legitimação social, pois em suas
iniciativas aparece o desenvolvimento de projetos sociais de cunho filantrópico, uma
característica muito mais próxima da abordagem da responsabilidade social como questão
ética. Ao contrário do coordenador do curso do CESREAL que preocupa-se com a
“exacerbação do social tornar o indivíduo prisioneiro e escravo do sistema político e
econômico”, o que vem a corroborar com as impressões anteriores de uma abordagem liberal
de responsabilidade social deste curso. O coordenador do curso da UNIOESTE por sua vez,
apesar de divagar um pouco, dando mostras de diferentes concepções, acaba por demonstrar
referência à abordagem da responsabilidade social corporativa por considerar como obrigação
da empresa atuar eticamente e isto estar ligado à empregabilidade.
Ao longo da análise dos Projetos Pedagógicos e das respostas dos coordenadores têm-
se a impressão de que o tema responsabilidade social não lhes é estranho, no entanto não há
uma clara demonstração de entendimento sobre as diversas abordagens possíveis para o
mesmo fazendo lembrar a crítica de Ventura (2003, p.05): “as organizações lançam-se no
discurso da responsabilidade social sem ao menos questionar o que isto significa e sem,
verdadeiramente, produzir mudanças reais em suas ações, mas buscando ‘estampar’ aquilo
que pode ser divulgado e ‘condecorado’ pela sociedade”. Isso reforçado pelo fato de que os
cursos, em nenhum momento, abordaram a possibilidade da Responsabilidade Social ser um
modismo passageiro, todos demonstram aceitá-la como algo presente e inquestionável.
O Quadro 14 apresenta uma síntese das formas de como os cursos abordam a
responsabilidade social com relação aos aspectos apresentados nos quadros 6, 7, 8, 9, 10, 11 e
13, para melhor visualização das divergências encontradas nos mesmos:
109
Quadro 14 – Síntese de Abordagens Apresentadas pelos Cursos
Temas
Instituição
Missão
Curso
Perfil
Egresso
Papel
Orgs
Papel
Adms.
Temas
Centrais
Resp.
Social
Coorden.
CEFET Como uma
Questão Ética
Como
Questão
Ética
Como
Legitimação
Social
Como
Questão Ética
Como uma
Questão
Ética
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como uma
Questão
Ética
FACIPAL Como
Legitimação
Social ou
Responsabi-
lidade Social
Corporativa
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como
Legitimação
Social
Como
Legitimação
Social ou
Responsabili-
dade Social
Corporativa
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como
Legitimação
Social ou
como
Liberais
Não
informado
CESREAL Como
Liberais ou
Responsabi-
lidade Social
Corporativa
Como
Liberais
Como
Liberais ou
Responsabi-
lidade Social
Corporativa
Como
Liberais ou
Responsabili-
dade Social
Corporativa
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como
Liberais
UNIOESTE Como
Liberais ou
Responsabi-
lidade Social
Corporativa
Como
Responsabi-
bilidade
Social
Corporativa
Não consta Como
Liberais ou
Responsabili-
dade Social
Corporativa
Como
Liberais
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
Como
Responsa-
bilidade
Social
Corporativa
FONTE: A pesquisadora, 2003.
É
possível perceber através do Quadro 14, que a abordagem que mais se faz presente
no Projeto Pedagógico do curso do CEFET, inclusive nas repostas do coordenador do curso, é
a que trata a responsabilidade social como uma Questão Ética, aparecem uma vez as
abordagens da Legitimação Social e da Responsabilidade Social Corporativa. Não foram
estipuladas quantas vezes uma concepção deveria aparecer para caracterizar um curso, assim
pode-se olhar para o curso do CEFET como um que tem preocupação bastante grande com a
questão ética da formação do administrador. Bom lembrar também que o CEFET é uma
instituição pública, talvez este tenha sido um fator determinante para a existência de tal
característica.
O curso da FACIPAL, por sua vez, tem grande tendência a se identificar com a
abordagem que trata a responsabilidade social como busca das organizações pela Legitimação
Social, apesar de também ter aspectos que o aproximem da abordagem da Responsabilidade
110
Social Corporativa e até da abordagem dos Liberais, foi o curso que maior diversidade de
abordagens apresentou. O curso do CESREAL pode ser identificado igualmente com as
concepções dos Liberais e a da Responsabilidade Social Corporativa e o curso da
UNIOESTE, mais com esta última e menos com a primeira, sendo que em ambos os cursos
não apareceram outras concepções. Ao analisar o Quadro 14 questiona-se se os cursos
realizaram algum estudo sobre responsabilidade social antes de fazerem, de diversas formas,
menção ao tema em seus Projetos Pedagógicos. Vale lembrar também, a possível e bastante
presente distorção entre os projetos pedagógicos e a prática docente.
111
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 QUANTO AOS OBJETIVOS PROPOSTOS
A presente pesquisa tinha como principal objetivo analisar as concepções de
Responsabilidade Social dos cursos de graduação em Administração da Região Sudoeste do
Paraná. Partiu da idéia de que o tema estaria englobado nos cursos uma vez que estes
deveriam estar em acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais e os pressupostos do
perfil do Administrador decorrente destas, proposto por Andrade e Amboni (2002).
Considera-se que tal objetivo foi plenamente alcançado, pois todos os cursos apresentaram, de
uma forma ou de outra, referências ao tema Responsabilidade Social que possibilitaram a
realização de análise.
Com relação aos objetivos específicos apresentados no capítulo 1, seção 1.3:
Identificar as concepções de Responsabilidade Social apresentadas pelos Cursos
com o referencial teórico proposto;
Analisar as concepções dos Coordenadores de Curso;
Identificar iniciativas existentes no Curso com relação à Responsabilidade Social.
Estes foram alcançados parcialmente, a análise foi feita, mas mostrou-se insuficiente
para identificar cada um dos cursos da amostra de pesquisa com uma das abordagens
propostas pelo referencial teórico utilizado. Era uma possibilidade prevista na análise dos
dados que veio a se confirmar. Os cursos não convergiram para uma dada abordagem,
mostraram concepções confusas de Responsabilidade Social, isto talvez, em decorrência até
mesmo dos diversos conceitos que o próprio tema apresenta.
Apesar de ter ocorrido uma maior tendência de alguns cursos para algumas
abordagens, o que demonstram é uma grande mistura de conceitos, que vão desde uma visão
112
mais crítica até a extremamente normativa e preocupada em formar profissionais que atuem
visando somente o lucro para suas empresas.
Como exposto nos resultados esperados e contribuição da pesquisa, espera-se que o
presente estudo contribua para que os cursos de graduação em Administração reflitam a
questão da Responsabilidade Social e a responsabilidade concernente ao desempenho do
papel da Universidade na sociedade.
6.2 CONCLUSÃO GERAL DA PESQUISA
Para Chiavenato (1994), as empresas constituem uma das mais complexas e
multifacetadas invenções do homem. Sua complexidade e diversidade emergem na medida
em que se visualizam as empresas de um modo global e abrangente, tanto do ponto de vista de
suas características internas quanto do ponto de vista de seu contexto ambiental envolvido
pelos seus domínios, repleto de contingências, restrições, coações, ameaças, pressões e
oportunidades que se alteram e se revezam. Aliada à mudança e à instabilidade ambiental,
passam a exigir estratégias e repostas empresariais capazes de assegurar a sobrevivência e a
eficácia empresarial em situações de difícil diagnóstico e de acentuada incerteza.
Talvez por isso o campo da Administração seja tão fértil para novas propostas
gerenciais de como administrar melhor. Assim apresenta-se hoje a discussão da
Responsabilidade Social como uma opção para administradores em busca de
comprometimento dos funcionários, de legitimidade frente à sociedade na qual sua empresa
está inserida, de diferenciais de marketing e de tantas outras demandas que partem das
estratégias necessárias para manter o retorno econômico esperado por proprietários e
acionistas.
113
A partir das abordagens de responsabilidade social apresentadas, verificamos que ela
pode configurar um modismo (TOMEI e LERNER, 1997) e em pouco tempo deixar de estar
em pauta, tanto no mundo acadêmico quanto no empresarial. Ou então que esta discussão não
deve envolver as empresas, pois estas têm como sua função principal gerar lucros para
proprietários e acionistas (FRIEDMAN, 1998), ou no máximo envolver-se em questões que
possam ser quantificadas e verificadas se são promotoras de uma maior lucratividade ou não
(SOARES, 2002; SOUSA e ALMEIDA, 2003). Da mesma forma, Freitas (1997) e Ventura
(2003) destacam que o discurso de responsabilidade social não é condizente com a essência
das empresas, ele encerra incongruências, mas por razões diferentes das argumentadas por
Friedmam (1998). As autoras o apontam como uma nova forma encontrada pelas empresas de
alcançarem a legitimação social ou driblarem as críticas à acumulação capitalista e
continuarem lucrando.
Já para Srour (1998) e Moreira (2002), responsabilidade social é também uma questão
ética que envolve todas as pessoas e organizações, apenas um novo nome para a prática do
bom, do certo, que sempre valeu e continua valendo nas relações humanas, sejam estas
empresariais ou não. Schommer (2000); Ashley, Coutinho e Tomei (2000), Drucker (2001) e
Passador (2003) tratam de diversas formas a chamada responsabilidade social corporativa,
mas apresentam alguns pontos em comum: que ela é necessária em todas as organizações
porque está sendo exigida pela sociedade, que seu desenvolvimento e aplicação proporcionam
retorno melhor e em longo prazo e esta responsabilidade é para com os diversos stakeholders
de sua cadeia produtiva.
Chiavenato (1994) lembra que as empresas precisam continuamente realocar, reajustar
e reconciliar seus recursos e tecnologias disponíveis com seus objetivos e com as
oportunidades percebidas no ambiente onde elas operam, assim, uma das atividades
profissionais que mais concentra potencial de mudança e de turbulência é a administração,
114
por isso a preocupação com a formação destes profissionais.
Que a economia global mudou, e em conseqüência as empresas e o mercado de
trabalho também, não há mais dúvidas e continua mudando de uma forma cada vez mais
rápida. A humanidade que levou milênios para passar da agricultura para a indústria e pelo
menos dois séculos para chegar até a chamada sociedade automatizada, agora se encontra
diante de novos impasses, provocados pela velocidade das transformações. As relações de
trabalho mostram novas roupagens e a estrutura do emprego estabelecida pela sociedade
capitalista passa no mínimo por redefinições. É evidente que o emprego não morreu, mas no
mínimo deixou de ser sinônimo de segurança, de status e de reconhecimento social e moral.
Outras alternativas são definidas diante da falência da perspectiva do pleno emprego e
conseqüentemente da promessa integradora do mercado de trabalho.
Novas propostas, ameaças para uns, desafios para outros, são apresentadas aos
profissionais de Administração. As empresas não são mais grandes famílias, precisam
sobreviver à concorrência e para isto redefinem atuações, estratégias, estruturas e recursos. O
posto de trabalho desapareceu, cargos e funções foram eliminados ou redesenhados. As
decisões foram descentralizadas, a participação e a responsabilidade dos profissionais foram
ampliadas e tornou o trabalho mais intenso e mais complexo. Este processo exige dos
profissionais novas habilidades, atitudes e, sobretudo, novos valores. Novas estratégias de
recursos humanos, fundamentando-se em princípios de autonomia e individualidade dizem
liberar o profissional para que este possa conciliar seus interesses pessoais e laborais para que
ele busque a formação continuada e se auto-gerencie.
O que parece, no entanto, é que os administradores de empresas que enfrentam os
desafios atuais não foram preparados para isso. O despreparo diante de tantas mutações não
constitui surpresa. A família, a escola e até as próprias empresas perderam a função de
agentes de socialização. A flexibilidade do profissional deve ser tão grande quanto a das
115
empresas, trata-se de uma revolução de conceitos, de comportamentos e de valores. Uma
revolução que parece necessitar de muito mais do que a inserção de um único novo tópico na
formação dos Administradores. Assim, cada ator, envolvido no processo educacional, precisa
de iniciativas para garantir uma boa formação e qualificação destes profissionais. Escolas,
alunos, professores, Estado, sociedade e empresas devem ser conclamados a buscar soluções
em conjunto.
A educação atual exige a substituição da pedagogia típica do modelo
taylorista/fordista. Cabe a estes diversos atores garantir que os acadêmicos de administração,
além de portadores de competências reconhecidas que lhe garantam a promessa de atuação
profissional, tenham competência para ser e agir como cidadãos. Parece ser esta a educação
que a sociedade do conhecimento está exigindo, mas que não tem encontrado nas salas de
aula.
Se a educação caminhar para a compreensão processual, histórica e dinâmica da
formação do conhecimento, se evidenciar o elo existente entre as ciências naturais, humanas e
sociais, pode-se dizer que a educação estará contribuindo para a formação completa do
cidadão. Assim, os cursos e as Instituições podem considerar que este é realmente um grande
desafio e não apenas a inclusão de mais uma disciplina ou tema em seus Projetos
Pedagógicos.
Responsabilidade Social não tem um conceito único, ela abre muitas possibilidades
para o desenvolvimento da sociedade, das organizações e das pessoas, mas deve ser vista
dentro de um contexto mais amplo. A própria administração vai além da função de gerenciar
uma organização. Não podemos nos deixar envolver por mais um processo ideológico e
hegemônico, responsabilidade social para tudo e para todos. Com certeza, ela deve dar sua
contribuição, mas sozinha não dará conta de resolver todos os problemas, novos e antigos,
que permeiam a atual sociedade do conhecimento. A simples reprodução de um discurso não
116
contribui para a formação de uma sociedade melhor. É preciso questionar, analisar e verificar
todos os aspectos envolvidos que podem estar disfarçados por trás de algo apresentado como
“natural”, ao qual “todos” já aderiram.
117
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