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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Lessandra Scherer Severo
EVOLUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
NO PROCESSO PRODUTIVO DE SUÍNOS DA
COOPERATIVA DE SUINOCULTORES DE ENCANTADO LTDA
– COSUEL –
Porto Alegre
2007
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Lessandra Scherer Severo
EVOLUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
NO PROCESSO PRODUTIVO DE SUÍNOS DA
COOPERATIVA DE SUINOCULTORES DE ENCANTADO LTDA
– COSUEL –
Dissertação de Mestrado apresentado ao
Programa de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Eugênio Ávila Pedrozo
Porto Alegre
2007
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Lessandra Scherer Severo
EVOLUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE
NO PROCESSO PRODUTIVO DE SUÍNOS DA
COOPERATIVA DE SUINOCULTORES DE ENCANTADO LTDA
– COSUEL –
Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa
de Pós-Graduação em Administração da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Administração.
Conceito final: A
Aprovado em 27 de fevereiro de 2007
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profª Drª Mônica Cavalcanti Sá de Abreu – UFC
____________________________________________________________
Profº Dr. Luis Felipe Machado do Nascimento – PPGA/UFRGS
____________________________________________________________
Profª Dr. Tânia Nines da Silva – PPGA/UFRGS
____________________________________________________________
Orientador – Profº. Dr. Eugênio Ávila Pedrozo – PPGA/UFRGS
A Ele, Jesus Cristo, toda a Glória.
5
AGRADECIMENTOS
A realização desse trabalho foi possível com a liberação, o apoio e a atenção dada
pela Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. Cosuel, Cooperados e
Colaboradores. Entre colaboradores e produtores, agradece-se especialmente ao Rony, Marly
e Elói (da Divisão de Produção Agropecuária e da Supervisão da Suinocultura), aos técnicos
Danilo e Dirceu e aos produtores visitados.
Fundamental também foram as maravilhosas idéias, opiniões e orientações do
Professor (orientador) Eugênio Ávila Pedrozo.
Especialmente no momento de definição do problema de pesquisa e da unidade de
estudo, agradeço à Professora Tânia Nunes da Silva.
Por fim, agradeço a todos que estiveram ao meu lado, me apoiando e torcendo pelo
sucesso desse trabalho.
6
RESUMO
No final do século passado a questão do desenvolvimento sustentável foi institucionalizando-
se e ganhando espaço nas legislações, políticas públicas e atuações de ONGs, resultando em
grandes desafios e oportunidades para as organizações. Ao mesmo tempo, as inovações que
geram o progresso técnico-científico são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e
para a competitividade das organizações. Deste modo é fundamental que as inovações nos
diferentes níveis da sociedade e das organizações atendam não apenas a fatores econômicos e
utilitários, mas também, a fatores sociais e ambientais. Nesse sentido, para as organizações
agropecuárias que trabalham com suinocultura o desafio é grande, tendo em vista às
exigências do mercado, a sua importância para a agricultura familiar e a seu alto potencial
poluidor. O Sistema Integrado Agronegocial (SIAN) é um framework utilizado como suporte
metodológico para a definição e categorização dos níveis de análise do estudo. Trata-se de um
sistema cuja identificação dos atores e fatores de seus subsistemas permite a definição da base
teórica que se pode utilizar para seu estudo, inclusive identificando a articulação,
interdependência e complementaridade de diferentes abordagens teóricas e dimensões da
realidade. Partindo da identificação dos níveis de análise no SIAN, esse estudo propõe-se a
identificar e analisar a evolução da cadeia produtiva de suínos da Cooperativa dos
Suinocultores de Encantado Ltda. Cosuel, especificamente na relação entre Cooperativa e
produtor cooperado, com relação à sustentabilidade das inovações inseridas a partir do
processo de reestruturação na cadeia, iniciado em 1990 até dezembro de 2005. Por fim,
buscou-se representar o avanço em direção a sustentabilidade dessas inovações. Quanto à
metodologia, trata-se de um estudo de caso, com método de abordagem qualitativo e caráter
descritivo, com dados secundários e primários. Os dados primários foram coletados
fundamentalmente em quatro visitas de campo, junto aos produtores e gestores da Cosuel, por
meio de entrevistas em profundidade conduzidas com instrumento de coleta de dados semi-
estruturado. Com relação aos resultados obtidos pôde-se identificar que, a partir do processo
de reestruturação da sua cadeia produtiva de suínos, motivado fundamentalmente por fatores
econômicos e mercadológicos, houve uma evolução da sustentabilidade da atividade na
Cosuel. Adicionalmente, pode-se verificar a intensa interdependência entre as dimensões da
sustentabilidade, permitindo uma análise onde cada efeito das inovações da Cosuel agia como
causa de outros efeitos (secundários, terciários) nas demais dimensões ou na própria dimensão
onde foi originado. Essa análise validou a necessidade de se considerar uma perspectiva
sistêmica, interdisciplinar e complexa, como propõe o SIAN, ao trabalhar o Desenvolvimento
Sustentável, tendo em vista o estreito imbricamento de suas dimensões.
Palavras-chave: Suinocultura, Sustentabilidade, Sistema Integrado Agronegocial
7
ABSTRACT
The question of sustainable development has being institutionalized and growing in legal and
public politics terms since the end of the last century. Including ONGs’ performances this
context results in challenges and opportunities for organizations. At the same time, it is of
common knowledge that innovations generate the technical and scientific progress and are
important to the society development and organizations competitiveness. So, it is important
that those innovations consider not only economic and utilitarian factors, but also social and
ecological factors. In this context, taking in account the market requirements, its social
importance as a familiar agriculture activity and its high polluting potential, swines
organizations have a bigger challenge. The “Agronegocial Integrated Model” (Sistema
Integrado Agronegocial – SIAN –Brazil) is a framework used as a methodological support for
the definition and categorization of the study analysis levels. This system allows the
identification of subsystems actors and factors and the definition of the theoretical base
approach. It also identifies the joint, interdependence and complementary of different
theoretical approaches and reality’s dimensions. Considering the identified analyses levels,in
the SIAN, the present study has as subject to identify and to analyze the sustainability’s
evolution of the innovations in “Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda.”
productive swine chain reorganization, from 1990 to december of 2005. Finally, it presents
the innovations advance in direction of sustainability. This is a case study based on qualitative
approach, posing a descriptive character, from primary and secondary data. The primary data
was collected during four visits, as a result of interviews with swine producers and Cosuel’s
managers. Finally results show that Cosuel’s productive swine chain reorganization was
motivated basically in economic and marketing factors. Additionally, the intense
interdependence of sustainability dimensions could be verified with a complex approach,
allowing an analysis about each innovations effect acted as cause of other effect (secondary,
tertiary) in the others dimensions or the proper dimension where it was originated. This
analysis validated the necessity of considering sustainability with a systemic, interdisciplinary
and complex perspective, as SIAN considers, especial considering the narrow embeddeness
dimensions..
Key-words: Swine production; Sustainability, “Agronegocial Integrated Model” (SIAN)
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Tipologia das perspectivas ambientalistas........................................................................................ 27
Figura 2: O triângulo da inovação técnica ........................................................................................................ 32
Figura 3: O diamante da inovação..................................................................................................................... 32
Figura 4: Tipos de Inovação ............................................................................................................................... 34
Quadro 1: Caracterização da Suinocultura do RS conforme quadro social da ACSURS............................ 52
Quadro 2: Comparativo granjas SI e CC.......................................................................................................... 52
Quadro 3: Produção média diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos ............................ 57
Figura 5: Sistêmico Integrado Agronegocial (SIAN) “Micro-Meso-Macro Analítico”................................. 66
Quadro 4: Caracterização dos produtores cooperados entrevistados ............................................................ 72
Figura 6: Evolução das Mudanças nos Cinqüenta Anos de História da Cosuel ............................................ 78
Figura 7: Ciclo de análise SIAN para a Cosuel................................................................................................. 82
Figura 8: Níveis de análise do SIAN da Cosuel................................................................................................. 84
Figura 9: Guia de Organização do Estudo........................................................................................................ 85
Figura 10: Cadeia, genérica, produtiva da carne suína e derivados ............................................................... 90
Quadro 5: Caracterização dos programas de Suinocultura da Cosuel......................................................... 103
Figura 11: Visão da Cooperativa de um processo de produção eficiente ..................................................... 104
Gráfico 1: Evolução do Número de Associados por Programas da Suinocultura na Cosuel...................... 111
Gráfico 2: Suínos Abatidos (cabeças) por programas nos últimos três anos. .............................................. 111
Gráfico 3: Evolução da Produção da Fábrica de Rações da Cosuel de Alimentos para Suínos: segundo
quantidades produzidas e variedade de tipos. ................................................................................................ 114
Gráfico 4: Evolução da Produção da Fábrica de Rações da Cooperativa.................................................... 116
Gráfico 5: Qualidade dos Suínos Abatidos – quantidade de toicinho........................................................... 117
Gráfico 6: Qualidade dos Suínos Abatidos por programas nos últimos três anos....................................... 118
Figura 12: O percurso do transporte dos animais conforme o Sistema de Produção ................................. 122
Figura 13: Chiqueiro aproximadamente 10 anos atrás.................................................................................. 127
Figura 14: Chiqueiro reformado, pintado e protegido com lonas................................................................. 127
Figura 15: A casa da propriedade - 1996......................................................................................................... 132
Figura 16: A casa reformada – ano 2006......................................................................................................... 132
Figura 17: A interdependência entre as partes: econômica, social e ambiental........................................... 143
Figura 18: Possíveis interrelações entre as implicações em cada dimensão da Sustentabilidade............... 145
Quadro 6: Síntese das Inovações e aspectos da evolução da Sustentabilidade na Cadeia Produtiva de
Suínos da Cosuel................................................................................................................................................ 148
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Participação na produção mundial de suínos. ................................................................................. 46
Tabela 2: Participação da região Sul no total de abates de suínos no Brasil.................................................. 46
Tabela 3: Histórico das Exportações Brasileira de suínos. .............................................................................. 47
Tabela 4: Identificação dos Embargos Russos nas Exportações de suínos do Estado RS............................. 48
Tabela 5: Evolução da produção e consumo de carne suína no Brasil e no Rio Grande do Sul................... 49
Tabela 6: Participação das Unidades de Negócios no faturamento da Cosuel – 1995-1999.......................... 80
Tabela 7: Evolução do Programa Parceria Rural da Suinocultura da Cosuel. ........................................... 112
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................. 12
1.2 Problema de Pesquisa .................................................................................................................................. 16
1.3 Objetivo....................................................................................................................................................... 18
1.3.1 Objetivo geral....................................................................................................................................... 18
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................................................................ 18
1.4 Justificativa.................................................................................................................................................. 19
1.5 Estrutura do trabalho ................................................................................................................................... 20
2. REVISÃO TEÓRICA ....................................................................................................................................... 21
2.1 Desenvolvimento Sustentável...................................................................................................................... 21
2.1.1 Abordagens sobre sustentabilidade...................................................................................................... 25
2.2 Inovações..................................................................................................................................................... 29
2.2.1 Inovações: classificações ..................................................................................................................... 31
2.2.2 Inovações: implicações econômicas, sociais e ambientais................................................................... 34
2.3 Organizações, Inovação e Sustentabilidade................................................................................................. 37
2.4 Cadeias Produtivas ...................................................................................................................................... 40
2.5 Setor Suinícola no Brasil............................................................................................................................. 44
2.5.1 Sistemas de organização da produção ................................................................................................. 49
2.5.2 Manejo dos dejetos............................................................................................................................... 54
2.5.3 Legislação pertinente ao setor ............................................................................................................. 63
2.6 Sistema Integrado Agronegocial (SIAN)..................................................................................................... 64
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................................................... 69
3.1 Tipo, método de abordagem e natureza da pesquisa ................................................................................... 69
3.2 Campo e sujeitos da Pesquisa...................................................................................................................... 70
3.3 Técnicas de levantamento e tratamento dos dados ...................................................................................... 73
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................................................................................. 76
4.1 A Cooperativa de Suinocultores de Encantado (Cosuel – Rio Grande Do Sul) e sua história .................... 76
4.2 SIAN da Cosuel........................................................................................................................................... 81
4.3 Dinâmica do SIAN: Inovações e Sustentabilidade na Cosuel ..................................................................... 85
4.3.1 Consolidação da Cooperativa (E1) ............................................................................................... 86
4.3.2 Cadeia Suinícola da Cosuel (E2) .................................................................................................. 88
4.3.3 A Cadeia Suinícola da Cosuel antes de 1990 (E3 – E4)................................................................ 92
4.3.4 Ambiente Institucional: anos de crise (E5).................................................................................... 95
4.3.5 Pressões concorrências: exigências do mercado e capacidade concorrencial da Cooperativa
(E6 e E7) ..................................................................................................................................................... 97
4.3.6 Reestruturação da Cadeia Suinícola da Cosuel – 1990 a 2005 (E8 – E9).................................... 99
11
4.3.7 A Avaliação da Reestruturação da Cadeia Suinícola da Cosuel (E10 – E11): sustentabilidade das
inovações inseridas no período de 1990 a 2005 ......................................................................................... 105
4.3.8 Desafios, oportunidade e prospectivas (E12 e E13).................................................................... 136
4.3.9 Indicativos de Sustentabilidade (E14): interdependência das partes......................................... 141
4.3.10 As inovações e os indicativos de Sustentabilidade ..................................................................... 145
4.3.11 Sustentabilidade como interesse da Sociedade (E15) ................................................................ 149
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................... 151
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 156
APENDICE 1: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - GESTORES .................................................... 165
APENDICE 2: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - PRODUTORES .............................................. 167
APENDICE 3: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - INTITUIÇÕES DE ATUAÇÃO NO SETOR
(FEPAM, EMATER, SIPS, ACUSRS) ............................................................................................................... 173
APENDICE 4: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS – QUESTIONÁRIO PESQUISADORES S E
TÉCNICOS ......................................................................................................................................................... 174
12
1 INTRODUÇÃO
A internacionalização da economia apresenta para as organizações grandes
oportunidades de crescimento e desenvolvimento tecnológico, ao mesmo tempo, sua dinâmica
e alto nível de competitividade criam grandes desafios. A competitividade de uma
organização está relacionada à sua capacidade de lidar com as informações disponíveis e com
essa intensidade do mercado, criando um pacote de conhecimento e competências que lhe
permitem explorar essas oportunidades de forma superior aos concorrentes.
De tal forma, à medida que o mercado se apresenta mais competitivo e os
consumidores mais exigentes, as organizações investem progressivamente em pesquisa e
desenvolvimento de inovações, sejam elas em produtos, processos ou serviços, pois é
inovando que as organizações diferenciam-se das demais, mantêm-se competitivas, crescem e
ajustam-se às exigências do mercado e dos órgãos regulamentadores.
A importância da inovação é muito debatida e defendida, em termos de estratégias
organizacionais, como forma da organização crescer e manter-se competitiva. No entanto, ela
também é vinculada ao crescimento e desenvolvimento dos países. Nesse sentido, a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (Organization for
Economic Co-operation and Development OECD) destaca em seu relatório “Science,
Technology and Industry” (2004) a importância de investimentos em Ciência e Tecnologia
(C&T) como forma de inovar e desenvolver a economia.
Esses resultados de C&T na busca pelo desenvolvimento caracterizaram o atual
cenário com grandes avanços técnico-científicos, que proporcionaram maior disseminação e
acumulação de conhecimentos nas mais diversas áreas, moldando a forma de funcionamento e
comportamento da sociedade, inovando as formas de locomoção, comunicação, os padrões de
consumo, as formas de produção e organização do trabalho. São exemplos desses avanços as
tecnologias de informação, a evolução da ciência genética e as bio e nanotecnologias. Ao
mesmo tempo, são as causas de problemas como poluição do ar, das águas e acústica, lixões
13
urbanos lotados, alto consumo de energia e recursos naturais, urbanização desorganizada,
entre outros.
Na agropecuária não foi diferente, a acumulação de conhecimentos e o
desenvolvimento de novas tecnologias têm moldado o funcionamento e o comportamento do
meio rural tão intensamente quanto o meio urbano. Impulsionada pelo crescimento
demográfico e concorrencial às atividades agropecuárias foram se profissionalizando, com
novas técnicas e formas de organização da produção. As atividades tornaram-se mais
intensivas, ou seja, em áreas reduzidas, com técnicas mais avançadas, ciclos de produção
menores e alta produtividade.
No caso da suinocultura, a produção passou para os sistemas produtivos intensivos de
suínos baseados no confinamento de animais em pequenas áreas e, posteriormente na
especialização dos produtores por fase de produção, conforme a idade do animal. As pocilgas
abastecidas com restos de comida foram substituídas por novas estruturas e técnicas de
manejo, alimentação e assepsia. O resultado foi melhores índices de produtividades e maiores
ganhos econômicos. Em contrapartida, a atividade também apresentou maior impacto
ambiental, devido à geração de dejetos concentrados em pequenas áreas rurais.
Diante desse contexto surgem questões como: que tipo de conhecimento, inovação e
avanço estão sendo produzidos? Como está sendo aplicado esse conhecimento e sob quais
critérios? A quem esse avanço beneficia (o indivíduo, a organização ou a sociedade como um
todo)?
É dessas indagações que surge discussões que vão além do aspecto técnico e
econômico contidos nas inovações que geram os avanços tecnológicos, uma vez que essas são
fundamentais para o desenvolvimento da sociedade e suas organizações. Ao final do século
XX, com as crescentes evidências relativas aos problemas ambientais provocados pela ação
do homem na natureza, como o buraco da camada de ozônio, cresceram as discussões acerca
das conseqüências das atividades humanas, especialmente as atividades de produção, sob o
meio ambiente. Essas discussões caminharam para o que se convencionou chamar de
Desenvolvimento Sustentável que no inicio da década de 90 estava legitimado e cada vez
mais evidenciado devido aos crescentes problemas ambientais e sociais identificados.
O debate do Desenvolvimento Sustentável unido à nova dinâmica do mercado
implicou em novos desafios às organizações que passaram a representar importante papel no
desenvolvimento de tecnologias e soluções para a sustentabilidade. As atividades
14
potencialmente poluidoras, como é o caso da suinocultura, implicam para a organização,
governos e órgãos regulamentadores desafios ainda maiores. Hart (1997) coloca que a
responsabilidade pelo desenvolvimento de um mundo sustentável incide, sobretudo, nos
ombros das empresas, apresentadas como os motores econômicos do futuro. Assim,
entendendo as organizações como importantes atores para a busca de uma “economia global
sustentável”, o presente estudo procura refletir sobre a relação inovação tecnológica e
sustentabilidade organizacional. Pois, como instituições econômicas, mas, também, sociais, as
organizações não estão à parte do debate da sustentabilidade.
Adicionalmente, entendendo que a reflexão sobre o crescente debate e preocupação
ecológica e social esta influenciado o contexto das mais diversas organizações, busca-se
refletir se a sustentabilidade da atividade produtiva de suínos da Cooperativa de Suinocultores
de Encantado LTda – Cosuel, à medida que essa se moderniza, vem crescendo.
Frequentemente as cooperativas são relacionadas a oportunidades no campo
econômico e, especialmente, a oportunidades sociais de combate a marginalização e à
exclusão e ao comprometimento ambiental. Considerando não apenas a importância
econômica como também o caráter social inerente à forma de organização cooperativa, o
desafio da sustentabilidade torna-se inevitável, pois essa compete no mercado e, portanto,
inova para crescer e, simultaneamente, precisa ser solidária com seus cooperados e
comunidade, conseqüentemente, precisa respeitar e zelar pelo meio ambiente de sua
comunidade e áreas de atuação.
Destaca-se que o debate do desenvolvimento sustentável ultrapassa a disciplina
econômica ao incluir a discussão acerca da necessidade de um desenvolvimento que seja
também ambientalmente correto e socialmente responsável. De tal forma, a complexidade, a
interdisciplinaridade e a estreita relação e interdependência dessas três áreas: econômica,
social e ambiental são características desse debate.
As discussões sobre a complexidade da construção do conhecimento, da ciência, do
pensamento e da sociedade (PRIGOGINE, 1996; MORIN, 2002, 2005a; DELEUZE &
GATARI, 1995); a hegemonia da lógica econômica, utilitária (RAMOS, 1966,1981; SERVA,
1992, 1993, 1997); a ética (MORIN, 2005b; VÁSQUEZ, 1990); e o próprio debate sobre
desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002; VEIGA, 2005; CAVALCANTI, 1995;
HAWKEN, LOVINS e LOVINS, 1999; HART, 1997; ALMEIDA, 1997) refletem a
necessidade cada vez mais clara de um pensar crítico e reflexivo do meio acadêmico e demais
15
instituições e atores responsáveis pela construção do conhecimento, responsável pela geração
de tecnologias e mudanças sociais, por conseguinte, pelo progresso.
Edgar Morin vem desde a cada de 1960 refletindo a respeito da necessidade de se
evitar os mecanismos do pensamento reducionista, disjuntivos, linear e simplificador.
Defendendo um pensamento que percebe as complementaridades de idéias, integrando os
diferentes modos de pensar, sem buscar ou propor uma verdade absoluta. Dessa forma, Morin
(2005a) propõe uma ciência com consciência, ou seja, uma ciência capaz de perceber e aceitar
as diversas dimensões e inter-relações de um fenômeno. Trata-se do desenvolvimento de uma
ciência consciente de sua complexidade, contrapondo-se a ciência moderna que se alicerçou
sobre a separação entre juízo de fato e juízo de valor, ou seja, de um lado, o conhecimento e,
de outro, a ética.
Morin (2005a) coloca que essa ética do conhecimento pelo conhecimento a qual a
ciência obedece não enxerga as graves conseqüências geradas pelas extraordinárias potências
de morte e de manipulação suscitadas pelo progresso científico. Acrescenta ainda que todas as
transformações históricas da sociedade foram acompanhadas (como causas e/ou efeitos) pelo
desenvolvimento da tecnociência, que se tornou uma potência motora social. Assim, nem
sempre é pela sociedade que a ciência trabalha, mas para satisfazer determinados interesses
utilitários.
Assumindo a complexidade própria da sustentabilidade e como alternativa a essa
postura reducionista, econômica e instrumental, ou seja, da ciência pela ciência, sem mensurar
suas conseqüências é que se percebe no framework Sistema Integrado Agronegocial (SIAN),
uma forma de trabalhar e analisar o contexto objeto desse estudo. O Sistema Integrado
Agronegocial (SIAN) trata-se de um sistema cuja identificação dos atores e fatores de seus
subsistemas permite a definição da base teórica que se pode utilizar para seu estudo, inclusive
identificando a articulação, interdependência e complementaridade de diferentes abordagens
teóricas e dimensões da realidade. Portanto, o SIAN trabalha numa perspectiva sistêmica,
identificando, compreendendo e interpretando os fenômenos por meio do reconhecimento das
interações e articulações dos vários atores/agentes, em diferentes níveis organizacionais,
possibilitando o uso de diferentes abordagens teóricas. Mas, principalmente, o sistema
oportuniza a prática de uma lógica interdisciplinar, tanto teórica como em relação ao
fenômeno estudado. Nesse sentido, também oportuniza, conforme escolha do pesquisador, a
definição do melhor caminho a ser seguido entre os diferentes subsistemas e níveis de análise.
16
De tal forma, o SIAN permite preconizar uma abordagem sistêmica e complexa,
inerente a Sustentabilidade, portanto é entendido como um caminho para a análise empírica
da sustentabilidade em determinada realidade, permitindo a convergência de elementos que
normalmente seriam excludentes, como os aspectos ambientais e sociais que passam de
limitadores das atividades de uma organização para fatores estratégicos e impulsionadores
dessas atividades.
1.2 Problema de Pesquisa
A economia apresenta, sob diferentes abordagens, as inovações como fundamentais
para o crescimento e nível de competitividade da organização. Assim, inovar, seja em
produtos, processos ou serviços, deve fazer parte das estratégias da organização, para que esta
possa romper os limites de suas capacidades organizacionais ou estruturais.
Adicionalmente, o desenvolvimento sustentável (DS) apresenta grandes e novos
desafios para as organizações que se deparam com um novo paradigma, onde não basta
inovar, tem-se que inovar inserindo preocupações quanto à sustentabilidade, ou seja,
considerando implicações econômicas, sociais e ambientais.
Assume-se a relevância e atualidade dos temas inovação e sustentabilidade observado
em conjunto, onde o maior desafio da sustentabilidade está na sua complexidade, não
podendo alcançá-la ou avançar em sua direção sem considerar a interdependência e as
relações complementares de suas partes. Ao mesmo tempo, constata-se o desafio da
suinocultura nesse contexto, uma vez que essa atividade em nível industrial apresenta grande
potencial poluidor.
Esse estudo tem sua motivação em questionamentos como: Como as inovações
tecnológicas estão implicando na sustentabilidade de atividades industriais, organizações e
comunidades? Sob quais critérios as inovações (sejam elas em processos, produtos ou
serviços) estão sendo desenvolvidas e implementadas? Quais implicações apresentam? Como
atividades potencialmente poluidoras, como a suinocultura, se enquadram no debate do
Desenvolvimento Sustentável? Estão ou não avançando nesse sentido?
17
Convergindo esses questionamentos e partindo do Sistema Integrado Agronegocial
(SIAN), que permite justamente identificar e analisar a articulação, interdependência e
complementaridade de diferentes abordagens teóricas e dimensões da realidade (PEDROZO
et al., 1999), esse estudo propõe-se a responder a seguinte questão central de pesquisa:
A Cooperativa de Suinocultores de Encantado Ltda Cosuel, à medida que
moderniza sua cadeia produtiva de suínos, está caminhando em direção a soluções
inovadoras mais sustentáveis?
Para procurar responder essa questão foi analisada, com abordagem qualitativa, a
situação da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. – Cosuel. A escolha da Cosuel
como um objeto de estudo adequado deve-se a três fatores, em especial. Primeiramente
porque ela compete no mercado e, portanto, tem na inovação o meio para ampliar seus limites
e manter-se competitiva.
Em seguida, entende-se que por se tratar de uma cooperativa, além de seu caráter
econômico, a Cosuel deve, como preconizam os princípios do Cooperativismo, preocupar-se
com aspectos sociais relativos a seus cooperados e comunidade. Silva e Pedrozo (1999) ao
discutirem o cooperativismo e o desenvolvimento sustentável colocam que um projeto
cooperativo soma esforços e habilidades e qualifica o trabalho, e por trabalhar o princípio da
cooperação a cooperativa está em condições especiais de trabalhar o princípio da
sustentabilidade.
Um terceiro aspecto é com relação ao histórico da Cosuel, que realizou reestruturação
do seu processo produtivo de suínos e que ainda conta com produtores e funcionários que
estão na Cooperativa desde o inicio do processo, permitindo que seja analisado se essas
inovações, no decorrer do tempo canalizaram as atividades a uma maior sustentabilidade.
18
1.3 Objetivo
1.3.1 Objetivo geral
Analisar a relação entre as inovações inseridas na cadeia produtiva de suínos da
Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. Cosuel, durante o processo de
reestruturação da cadeia, de 1990 até 2005, e a evolução da sustentabilidade na cadeia.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Aplicar o Sistema Integrado Agronegocial (SIAN) na análise empírica
da sustentabilidade da cadeia produtiva de suínos coordenada pela Cooperativa dos
Suinocultores de Encantado Ltda. – Cosuel;
b) Caracterizar o processo de reestruturação da Cooperativa, no período de
1990 a 2005, especificamente nos segmentos de insumos e de produção primária da
cadeia produtiva de suínos;
c) Identificar as inovações ocorridas nesse processo em termos de
sustentabilidade econômica, social e ambiental, especialmente com relação a
cooperativa e seus produtores;
d) Analisar a sustentabilidade econômica, social e ambiental das principais
inovações identificadas nesses 15 anos;
e) Identificar as características prospectivas da atividade na Cosuel com
relação à sustentabilidade.
19
1.4 Justificativa
As discussões acerca da necessidade de um desenvolvimento sustentável, que englobe
aspectos mais amplos do que um crescimento econômico ou tecnológico de uma nação,
apresentam grandes e novos desafios para as organizações, que passam a se dedicar a uma
gestão ambiental e social de qualidade. Paralelamente, o avanço das inovações tecnológicas
tem fortes implicações nesse desafio do desenvolvimento sustentável, uma vez que,
historicamente, o progresso tecnológico vem influenciando e determinando o contexto sócio-
econômico. Conseqüentemente, esse trabalho justifica-se porque tanto as inovações
tecnológicas como as organizações assumem importante papel na construção de um
desenvolvimento sustentável.
Assim, essa pesquisa pretende contribuir com esse debate, sistematizando informações
e observando-as na prática da suinocultura, que é uma atividade relevante em termos
econômicos e sociais, contudo potencialmente poluidora, causando sérios problemas
ambientais e de saúde pública.
De tal forma, essa pesquisa justifica-se pela relevância e atualidade dos temas
desenvolvimento sustentável e inovações tecnológicas e, fundamentalmente, porque pretende
transpor a idéia de desenvolvimento sustentável para prática de um setor potencialmente
poluidor, como a produção industrial de suínos. Logo, outra contribuição é a utilização de um
framework (SIAN) complexo e sistêmico como proposta metodológica para avaliação
empírica da sustentabilidade de determinada realizada e a possibilidade desta pesquisa ser um
meio de reflexão para a organização com relação as suas escolhas e avaliação de inovações e
para a sociedade com relação ao papel das organizações para a sustentabilidade do planeta.
Finalmente, essa pesquisa também irá contribuir para a ampliação do conhecimento da
pesquisadora sobre essa temática, podendo também servir como fonte de informações e
suporte para a organização estudada e futuras pesquisas.
20
1.5 Estrutura do trabalho
O trabalho está estruturado em seis seções, contando com essa primeira parte
introdutória. Em seguida, na seção 2, segue a revisão teórica que buscou levantar e
sistematizar abordagens teóricas sobre o Desenvolvimento Sustentável, suas implicações nas
organizações e na sociedade; e sobre Inovações, sua importância para o crescimento e
desenvolvimento de organizações e da sociedade e suas classificações conforme os tipos de
inovação e níveis de intensidade de inovação. Nessa seção, buscou-se também levantar em
fontes bibliográficas fundamentos sobre os sistemas de organização de suínos e do manejo
dos dejetos, além de dados que caracterizam o setor como um todo. Por fim, apresentou-se o
Sistema Integrado Agronegocial (SIAN) que orientará a organização, interpretação e análise
dos dados trabalhados.
A seção 3 descreve os procedimentos metodológicos utilizados para desenvolver o
trabalho, incluindo o tipo, método de abordagem e natureza da pesquisa; as técnicas de
levantamento e tratamento dos dados coletados junto a Cooperativa e Cooperados; o Campo e
os sujeitos da pesquisa, além de destacar as abordagens teóricas que orientaram a etapa de
análise dos resultados.
A seção 4 apresenta rapidamente a história da Cooperativa que, juntamente com as
informações obtidas em conversa com o Superintende da Cooperativa, que antecedeu a
escolha da mesma como objeto de estudo, serviu como base para a construção do Sistema
SIAN específico ao contexto estudado da Cosuel.
A seção 5 apresenta as discussões dos resultados seguindo o caminho traçado no
SIAN. Descreve sucintamente o contexto que antecede a reestruturação da cadeia produtiva
de suínos da Cosuel até chegar ao nível de análise central do estudo que é o próprio processo
de reestruturação, suas inovações e implicações na sustentabilidade da atividade na
Cooperativa, considerando o segmento de insumos e o setor primário de produção até a etapa
de entrega do animal para abate. Nessa seção, discute-se ainda algumas oportunidades,
desafios e prospectivas para o setor suinícola no Brasil.
Por fim, na seção 6 são traçadas algumas considerações finais sobre o estudo e
descritas as principais limitações do trabalho e sugestões de estudos futuros.
21
2. REVISÃO TEÓRICA
Nessa seção são apresentadas diferentes abordagens teóricas sobre o Desenvolvimento
Sustentável, Inovações Tecnológicas, Setor Suinícola e, por fim, sobre o Sistema Integrado
Agronegocial (SIAN), o que representa a base referencial do trabalho.
2.1 Desenvolvimento Sustentável
O problema da sustentabilidade das ações de produção do homem, seja para sua
subsistência, seja para o mercado, não é um privilégio da sociedade contemporânea.
Civilizações antigas, como a Mesopotâmia que perdeu seu potencial com a salinização e
desertificação de suas áreas (HAWKEN, LOVINS e LOVINS, 1999; KHATOUNIAN, 2001),
já utilizavam seus recursos naturais sem preocupações com a finitude ou preservação destes.
Mais recentemente, alerta-se quanto à insustentabilidade demonstrada na forma como
o capitalismo vem sendo praticado, especialmente após a Revolução Industrial do culo
XVIII. A mecanização dos processos produtivos, característica da revolução industrial,
permitiu a potencialização dos meios de produção, ou seja, passou-se a produzir muito mais
com muito menos custos e mão-de-obra, inclusive.
Essa mecanização também caracterizou um novo quadro nas cidades que, por muito
tempo, foi sinônimo de progresso: os céus riscados pela fumaça preta emitida das chaminés
das fábricas e a urbanização crescente. Foi, especialmente, a Revolução Industrial que
fomentou o capitalismo moderno, que hoje é caracterizado principalmente pela
internacionalização dos mercados financeiros e das relações comerciais: a chamada
globalização. Paralelamente ao crescimento da produtividade e da exploração descontrolada
22
dos recursos naturais, houve expressivo crescimento populacional que garantia a demanda e,
portanto, mantinha esse crescimento.
Com isso, por muito tempo, desenvolveram-se relações comerciais e estruturas
produtivas sem qualquer preocupação ambiental ou social. Houve exploração intensa dos
recursos naturais, cuja finitude foi, em alguns casos, solucionada por inovações tecnológicas.
Hawken, Lovins e Lovins (1999) exemplificam essa questão ao mencionar que a tecnologia
conseguia contornar o esgotamento dos recursos naturais, fornecendo metais que pareciam
cada vez mais baratos, baratos porque os custos do desmatamento das florestas tropicais, da
quantidade de resíduos tóxicos derramada nos rios e do empobrecimento dos povoados não
eram e ainda não são computados.
Como apresentam Nascimento e Dinato (2003) da “escassez tecnológica” do passado,
derivada da incapacidade de se extrair recursos da natureza, passou-se à “escassez ecológica”,
derivada de uma capacidade tecnológica que rompe a mecânica de funcionamento dos
sistemas naturais. Como resultado teve-se um processo de desenvolvimento econômico sem
preocupação com as implicações ambientais ou sociais, em outras palavras, com a qualidade
de vida das pessoas.
Contudo, especialmente a partir da década de 1970, tem-se presenciado uma crescente
inquietação por parte de ONGs, governos e sociedade em geral. Esse processo é resultante de
pesquisas que estudaram e divulgaram problemas ambientais como: o buraco da camada de
ozônio; o aquecimento global; os impactos provocados pelo uso desmedido de agrotóxicos
sintéticos, como o DDT apresentado por Rachel Carson em sua obra Silence Spring”
(1962); a relação do uso de produtos químicos sintéticos com a alteração hormonal em
homens e mulheres salientada no livro “O futuro roubado” (1997) de Theo Colborn; entre
outros.
A gênese do debate sobre o desenvolvimento sustentável é, geralmente, atribuída a
Conferência de Estocolmo, em 1972, onde, pela primeira vez, questões ambientais foram
apresentadas como condicionadoras e limitadoras do crescimento econômico. em 1987,
firmou-se o início da legitimação e institucionalização da expressão "desenvolvimento
sustentável" quando Gro Harlem Brundtland (presidente da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD), perante a assembléia geral da ONU, caracterizou
desenvolvimento sustentável com um "conceito político" e um "conceito amplo para o
progresso econômico e social" (VEIGA, 2005, p.113).
23
O relatório de Brundtland, também conhecido como “Nosso futuro comum”, definiu
desenvolvimento sustentável como “o conjunto de ações que promove a satisfação das
necessidades das gerações presentes sem comprometer as possibilidades das gerações futuras”
(CMMAD, 1988).
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CNUMAD) realizada no Rio de Janeiro, a Rio-92, também é marco importante para a
institucionalização do conceito de desenvolvimento sustentável, assim como a construção da
Agenda 21, um programa de ações para orientar e implementar o desenvolvimento
sustentável. A Agenda 21 Brasileira (2000) detalhou o tripé economia, sociedade e meio
ambiente, do conceito de desenvolvimento sustentável, como: ambiental, social, política,
econômica, demográfica, cultural, institucional e espacial.
Soma-se a esses critérios a necessidade de uma revisão dos padrões de produção e
consumo da sociedade, pois esses são elementos críticos para a sustentabilidade. Ou seja, o
papel do consumidor dentro de um paradigma da sustentabilidade é fundamental, pois são
estes mesmos agentes que validam os produtos e serviços das indústrias no mercado e
também sofrerão as conseqüências nefastas da continuidade do paradigma economicista atual.
Como destaca Ruscheinsky (2004), a “sociedade do consumo” se desenvolveu num ritmo sem
precedentes, acelerando a dinâmica consumo-pobreza-desigualdade-degradação ambiental,
resultante de um grande desequilíbrio ocasionado pela predominância do sistema econômico
sobre os sistemas social, político, ético e ambiental (SILVA, 2000). Visto que o crescimento
econômico não leva, necessariamente, a redução da pobreza, sobretudo quando combina a
distribuição flagrantemente desigual do produto social com o uso predatório devastador dos
recursos naturais (RATTNER, 1999, p. 133).
Com isso, nem mesmo os partidários do atual modelo de produção ou os mais céticos
em relação aos problemas ambientais e sociais negligenciam a problemática da concentração
de renda e miséria no mundo. Pois, restringindo-se a análise estritamente econômica, a
informação de que 20% da população detêm 75% da renda mundial (PNUD, 2005) não é
favorável, sustentável, no longo prazo ao mercado em geral.
Após Rio-92, em 1997, a sociedade presenciou a assinatura do Protocolo de Kyoto que
compromete os países que aderiram ao protocolo a reduzirem suas emissões em 5,2%, em
relação aos níveis de 1990, para o período de 2008 a 2012. Com relação ao protocolo, alguns
países, como os Estados Unidos, demonstraram grande ceticismo e resistência em aderir ao
acordo, justificando que este provocaria uma recessão na economia americana, ratificando a
24
hegemonia econômica do modelo de produção. Essa resistência foi confirmada na Rio+10 ou
Eco-2002 promovida pela ONU, na África do Sul, para discutir os avanços com relação ao
meio ambiente e desenvolvimento sustentável passados 10 anos da Rio-92. Na ocasião, alguns
países, destacando-se os EUA, manifestaram sua posição em não mudar os seus padrões de
desenvolvimento econômico e industrial (insustentável).
Eventos como os apontados passaram a impactar em legislações, políticas públicas
ambientais e atuações de ONGs. Como exemplo, Hawken, Lovins e Lovins (1999, p.61)
relatam que a Weiss, uma refinaria de petróleo de Hamburgo, passou meio ano de portas
fechadas, elaborando um design totalmente novo do processo de refinação para deixar de
despejar detritos ilegalmente. Essa decisão de fechar as portas e reestruturar seu design de
produção ocorreu após os ativistas da ONG Greenpeace interditarem a tubulação e
anunciarem que a fábrica tinha duas horas para conceber um modo de resolver o problema
antes que seus tanques começassem a transbordar.
Embora o conceito de Brundtland seja amplamente aceito e divulgado, alguns autores
questionam a superficialidade deste conceito. Por exemplo, Amartya Sen (2000) dirige-se a
questão de que ver os seres humanos apenas em termos de necessidades é fazer uma idéia
muito insuficiente da humanidade, pois as pessoas também valorizam pessoalmente sua
própria capacidade de pensar, avaliar, agir e participar (VEIGA, 2005, p. 166). Da mesma
forma, Payne e Raiborn, (2001) alertam que o conceito de sustentabilidade não esclarece de
acordo com que contexto ou benchmark’ deve o "economicamente viável", ou o
desenvolvimento "socialmente justo" e "ambientalmente apropriado" ser determinado ou
julgado. Afinal, estes fatores dependem de quem obtém o benefício do desenvolvimento
(stakeholders), do tipo de benefício, que nível de desenvolvimento econômico existe na área e
que abordagens políticas e sociais são enfrentadas ou remediadas.
Para Rattner (1999) e Casagrande (2004), o desenvolvimento sustentável é uma
abordagem interdisciplinar e sistêmica, que somente poderá ocorrer quando se
implementarem ações sistêmicas capazes de transformar modelos técnico-econômicos
cartesianos em resoluções que promovam real qualidade de vida as atuais e futuras gerações.
Enquanto Starik e Rands (1995) colocam que a sustentabilidade ecológica é um conceito
organizacional emergente e crítico, que deve considerar seus múltiplos sistemas: econômico,
ambiental, social ou cultural e político; nas dimensões individuais ou organizacionais. Logo,
para os autores as atividades organizacionais sustentáveis não devem modificar fatores
25
físicos, químicos e biológicos (ou condições políticas, econômicas, sociais ou culturais) que
são importantes para atividades de outras entidades sustentáveis.
Por fim, assume-se que o desenvolvimento sustentável trata de um desenvolvimento
econômico que integra também preocupações com a sociedade como um todo e,
conseqüentemente, com o meio ambiente, percebendo essas dimensões como inseparáveis e
interdependentes. Desenvolvimento sustentável é, conseqüentemente, uma discussão
interdisciplinar, tornando necessário que o desafio de sua implementação seja assumido por
todas as esferas da sociedade: pública, privada e civil.
2.1.1 Abordagens sobre sustentabilidade
Freqüentemente, pautam-se duas abordagens da economia quanto a sustentabilidade,
em especial, com relação a variável meio ambiente (VEIGA, 2005; SEKIGUCHI, PIRES,
1995): a economia ecológica e a economia ambiental.
A economia ambiental está muito próxima do ponto de vista da economia neoclássica
e caracteriza-se principalmente pelo pensamento de que as tecnologias vão sempre solucionar
os problemas ambientais sempre que esses ameaçarem o crescimento econômico. Tem-se,
portanto, um excessivo otimismo tecnológico. Na concepção neoclássica, o objetivo da
ciência econômica é o gerenciamento racional da finitude dos recursos produtivos, nesse
sentido, a questão da sustentabilidade corresponde administração mais ou menos eficiente de
uma dimensão específica de escassez (VEIGA, 2005, p.124)
Para essa abordagem não existe dilema entre a conservação ambiental e crescimento
econômico, pois o crescimento econômico prejudicaria o meio ambiente até um
determinado patamar de riqueza aferida pela renda per capta, logo, a tendência seria inversa,
fazendo com que o crescimento passasse a melhorar a qualidade ambiental.
Em contrapartida, a economia ecológica busca ampliar as noções de sustentabilidade
atualmente empregadas. Essa corrente utiliza-se do conceito termodinâmico de entropia, cuja
aplicação na análise econômica deve basicamente ao trabalho pioneiro elaborado, em 1971,
26
por Nicholas Georgescu-Roegen intitulado A lei da entropia e o processo econômico
(SEKIGUCHI e PIRES, 1995; FOLADORI, 2001; VEIGA 2005).
Nicholas Georgescu-Roegen defendia a tese de que a economia precisa ser absorvida
pela ecologia por considerar que a termodinâmica é muito mais pertinente para a primeira do
que a mecânica. Ele enfatizou o papel central dos materiais na gestão econômica e insistiu nos
recursos renováveis como ameaça à sustentabilidade do processo econômico e na entropia
resultante (FOLADORI, 2001, p.151). Baseado na segunda lei da termodinâmica, o autor
assinalou que poder manter seu próprio equilíbrio, a humanidade tira da natureza os
elementos de baixa entropia que permitem compensar a alta entropia que ela causa. Para
Georgescu-Roegen, no futuro, a humanidade deverá apoiar a continuidade de seu
desenvolvimento na retração com o decréscimo do produto (VEIGA, 2005).
Sekiguchi e Pires (1995) acrescentam a essas duas correntes a abordagem
desenvolvimentista, a abordagem marxista e a política. Na abordagem desenvolvimentista da
economia do meio ambiente estão os seguidores de Ignacy Sachs, na França (relacionada com
a questão do "ecodesenvolvimento") e diversos atores e trabalhos com uma abordagem mais
próxima das teorias de desenvolvimento e que vem tratando de questões sócio-ambientais e
procuram desenvolver propostas alternativas para os chamados países dependentes ou do
terceiro mundo. A economia marxista apresenta uma noção materialista de meio ambiente
como o ambiente das relações de produção e de trabalho. A economia política do meio
ambiente trata-se mais de um campo analítico do que uma abordagem do meio ambiente, e
inclui uma série de autores e trabalhos que procuram incorporar suas reflexões com o lado
político da ecologia.
Egri e Pinfield (1999) apresentam outra classificação quanto à tipologia percebida com
relação ao desenvolvimento sustentável de acordo com um grupo de perspectivas (Figura 1).
De acordo com os autores essas perspectivas referem-se a como os valores ecológicos estão
entrelaçados com os valores humanos no que concerne à realidade social, política e
econômica desejada. Essas perspectivas vão variar desde valores fortemente antropocêntricos
do paradigma social dominante até valores biocêntricos da filosofia do ambientalismo radical
da ecologia profunda. As perspectivas intermediárias são denominadas pelos autores de
ambientalismo renovado que tratam de modificações de valores antropocêntricos, incluindo o
ambiente natural nos esforços humanos.
A tipologia do paradigma social dominante (PSD), assim como a economia ambiental,
representa uma aderência aos princípios e objetivos econômicos neoclássicos, como
27
crescimento econômico e lucro, entendendo os fatores ambientais como externalidades ou
recursos exploráveis infinitamente. Se existem problemas ambientais observáveis, estes
podem facilmente, ou eventualmente, serem resolvidos através do progresso científico e
tecnológico (HAWKEN, LOVINS e LOVINS, 1999; MILBRATH, 1989 apud EGRI e
PINFIELD, 1999).
Paradigma social dominante Ambientalismo renovado Ambientalismo radical
Relacionamento
homem natureza
Dominação sobre a natureza
(antropocentrismo muito forte)
Administração da natureza
(antropocentrismo
modificado)
Cooperação e harmonia com
a natureza (ecocentrismo
biocentrismo)
Abordagem ao
ambiente natural
Dominação (controle); Utilitária
(material); Negativista
(evitação)
Naturalista (conservação);
Utilitária (modificada);
Científica
Moralista (espiritual);
Estética (preservação);
Simbólica Humanística
(afeição/emoção)
Natureza da
ordem social
Hierarquica; Autoridade
centralizada; Competidora;
Individuastica
Hierquica; Centralizada
com consulta ao
stakeholder; competidora
colaborativa;
individualismo/coletivo
Igualitária; particiáção
descentralizada (tradição
minoritária em base
biorregional); municpalismo
coletivista
Pressupostos
Conhecimento
Reducionismo; Racionalidade
dos meios; Dualismo
Sistemas reducionistas;
Meios e fins poíticos e
racionais
Holismo; racionalidades dos
fins; Integrativo/dialético
Econômico
Economia neoclássica
(crescimento ecomico e
material ilimitado, essencial
para o progresso humano)
Economia Ecológica
(necolcássica + capital
natural para a tomada de
decisão ótima)
Economia estabilizada
(homeostase)
Recursos Naturais
Infinitos (substitutos ilimitados
dispoveis)
Recursos Naturais não
renováveis e renováveis
(limites de substituição);
Recursos Naturais muito
limitados
Tecnologia
Otimismo tecnológico Otimismo tecnológico Ceticismo tecnológico
Objetivos
dominantes
Crescimento ecomico e
material ilimitado, essencial
para o progresso humano;
Progresso científico e
tecnológico
Desenvolvimento Sustentável
do ambiente natural;
Desenvolvimento econômico
e industrial para reduzir as
injustiças sociais
local/global
Justiça ambiental e social
Gestão Ambiental
Industrialismo moderno Industrialismo verde
Planejamento e controle
biorregional
Consumismo ilimitado;
Dispersão da poluão;
Tecnologias de larga escla
intensivas em capital
Consumismo verde;
Redução da poluição; Eco-
tecnologias para desenvolver
e conservar os recursos
naturais (eficncia técnica e
ambiental); Biodiversidade
utilitária
Ética pós-consumo;
Eliminação da poluição;
Tecnologias intermediárias
(apropriadas); Diversidade
cultural e biogica
Livre mercado sem
regulamentação
Monitoria e regulação dos
riscos ambientais nos bens
de consumo local e global
(cômputo dos
tradeoffs
);
Regulamentação
governamental para a
preservação/conservação do
ambiente natural;
Metáfora deão
quina Sistema-máquina Organismo
Tecnologias e
estratégias
Figura 1: Tipologia das perspectivas ambientalistas
Fonte: Adaptado de EGRI e PINFIELD, (1999)
Por outro lado, a tipologia do ambientalismo radical promove uma visão da biosfera e
da sociedade humana baseada nos princípios ecológicos do holismo, defendendo o
28
desenvolvimento de novas tecnologias que devem ser intermediárias (apropriadas), de forma a
reduzir a depleção e a poluição dos recursos naturais, bem como desenvolver a qualidade
artesanal no trabalho humano. Adicionalmente, a perspectiva radical defende um consumo
responsável e um redirecionamento das formas de produção e comercialização. Dentro da
perspectiva do ambientalismo radical existem quatro filosofias proeminentes - a ecologia
profunda, a ecologia espiritual, a ecologia social e o ecofeminismo - os quais diferem
principalmente em termos de ênfases e meios, ao invés de fins.
Por fim, a abordagem intermediária ao PSD e ao ambientalismo radial foi definida por
Egri e Pinfield (1999) como ambientalismo renovado. A perspectiva do ambientalismo
renovado representa uma modificação de valores antropocêntricos, a fim de incluir valores
biocêntricos. Assim, a tecnologia é vista como o veículo para o progresso científico e
econômico, bem como um meio para detectar e gerenciar os riscos ambientais que ameaçam a
sobrevivência humana e o seu bem-estar.
Egri e Pinfield (1999) destacam que, opondo-se ao PSD, a perspectiva do
ambientalismo renovado, assim como a economia ecológica, tenta incorporar uma abordagem
sistêmica e as leis de conservação e de entropia da termodinâmica no contexto dos cálculos da
sustentabilidade ambiental (GEORGESCU-ROEGEN, 1971 apud EGRI E PINFIELD, 1999).
Com relação ao ambientalismo renovado, a economia ecológica e a ecologia industrial
são apresentadas pelos autores como meios pelo qual o ambiente natural é incorporado nos
processos de tomada de decisão industrial. A economia ecológica, apresentada, pode ser
utilizada para a quantificação das trocas entre benefícios e custos econômicos e ambientais e
para a gestão do risco ambiental. A ecologia industrial preocupa-se com os meios (processos e
tecnologias adequados) de alcançar sistemas de produção ambientalmente sustentáveis.
A inclusão do conceito de stakeholders como parte da perspectiva do ambientalismo
renovado, para Egri e Pinfield (1999), significa reconhecer os interesses públicos que buscam
assegurar sustentabilidade ambiental a longo prazo. Assim, a questão relevante é como e em
até que ponto os stakeholders estão incluídos e/ou influenciam as decisões relativas ao
ambiente natural.
Em suma, percebe-se grande semelhança nas percepções das abordagens na
classificação de Egri e Pinfield (1999) com a classificação apresentada por Sekiguchi e Pires
(1995) e Veiga (2005). O paradigma social dominante é denominado por Sekiguchi e Pires
(1995) e Veiga (2005) como economia ambiental ambos representando a visão tradicional de
29
mundo da sociedade industrializada alinhando-se a perspectiva da economia neoclássica. A
economia ecológica apresentada por Sekiguchi e Pires (1995) e Veiga (2005) como a corrente
mais radical é colocada por Egri e Pinfield (1999) como ambientalismo renovado que
representa a área intermediária na filosofia e na prática ambiental, juntamente com a ecologia
industrial. A questão do radicalismo fica, deste modo, com a perspectiva do ambientalismo
radical que representa a visão de mundo daqueles que defendem uma mudança mais
transformacional da sociedade e de seus valores.
Em síntese, essa seção destacou as abordagens sobre sustentabilidade com relação às
organizações e tecnologias. Nesse sentido, das abordagens apresentadas a que melhor
representa a necessidade de se incorporar princípios ecológicos e sociais na teoria e na prática
organizacional, em especial por considerar os stakeholders envolvidos, é a do ambientalismo
renovado. Essa abordagem também coloca as inovações como meio de alcançar a
sustentabilidade econômica, social e ambiental. Sendo as inovações meios pelos quais
ocorrem as transformações sociais e econômicas, a seção a seguir, apresenta as discussões
acerca das inovações e sua importância para as organizações e para o contexto da
sustentabilidade.
2.2 Inovações
As inovações são colocadas sobre diferentes abordagens como fundamentais para o
crescimento e nível de competitividade das organizações. Ao inovar, seja em produtos,
processos ou serviços, a organização está modificando suas rotinas e conhecimentos e, assim,
aumentando seus limites e competitividade. Esses, por sua vez, estão relacionados a sua
capacidade de acumular e gerar conhecimento específico, incorporando-o nas suas rotinas; de
responder à dinâmica e às incertezas do mercado e de inovar, seja, provocando mudanças nos
paradigmas tecnológicos ou nas trajetórias tecnológicas (COASE, 1937; PENROSE, E. 1959;
NELSON, R.R. & WINTER, S., 1982; FREEMAN, C. & PEREZ C., 1988; DOSI, G.,1991;
PAVITT, 1992; CHANDLER, A.D.1992; WINTER, S. 1993; TEECE, 1996).
30
De tal forma, as inovações são percebidas como fatores impulsionadores do
crescimento da organização. Para Dosi (1991), as perspectivas evolucionárias promovem um
crescimento no interesse na dinâmica da economia, das mudanças tecnológicas e dos
processos decisórios racionalmente limitados pelos atores individuais. Tal perspectiva
contrapõe-se a visão clássica do conceito de equilíbrio de mercado que não explicava as
diferenças existentes entre as firmas uma vez que as mesmas condições e informações
estariam dispostas igualmente a todos.
em 1934, Schumpeter, insatisfeito com a perspectiva estática de estratégia e de
mercado da economia clássica discute o papel do empreendedorismo e da inovação como
fundamental para o sucesso das organizações. Essa perspectiva vai de encontro ao mercado
como um processo dinâmico proposto pela Escola Austríaca, a qual, apesar de não se
enquadrar completamente Schumpeter é, em geral, visto como membro (SIMPSON,1997;
ZANELLA, 1993).
O mercado como processo defendido pelos austríacos é resultado do fato de que o
conhecimento não é dado a nenhum dos participantes de mercado. Assim, o mercado não é
apenas uma atividade econômica que permite alocar eficientemente recursos, dadas às
preferências e as técnicas, para determinados fins, ele é “basicamente um processo de
descoberta destas informações e uma incursão num mundo de incertezas e informações
dispersas” (ZANELLA, 1993, p.42).
Essa rápida contextualização da Escola Austríaca se faz importante porque certamente
não é possível dissertar sobre inovação sem se remeter a “destruição criadora” proposta por
Schumpeter em 1934. A destruição criadora, responsável pelas inovações, é resultado da
atuação do empreendedor que rompe com o que está estabelecido. O empreendedor é,
portanto, um “desequilibrador do mercado. E esse desequilíbrio do mercado, ocasionado
pelas inovações, seria responsável por diferenciar a firma criadora das demais e gerar lucro
extraordinário.
Por conseguinte, a possibilidade de obter lucro é um incentivo à produção contínua de
inovações, que, juntamente com a flexibilidade e mudanças das rotinas organizacionais, com a
geração de barreiras à imitação e com o empreendedorismo, é questão considerada estratégica
na escola austríaca (SCHUMPETER, 1961, JACOBSON, 1992; HILL & DEEDS, 1996,
KIRZNER, 1997). Essa percepção da inovação como fator estratégico, colocada pela Escola
Austríaca e compartilhada pelos Evolucionários, ambos partidários do “não-equilibrio”
31
(BARNEY & HESTERLY, 2004), é fundamental para a competitividade das organizações no
atual cenário.
2.2.1 Inovações: classificações
Em termos econômicos, uma inovação é um conhecimento que tem valor de troca, não
só de uso, diferenciando-se da invenção que é uma solução tecnicamente viável de um
problema, enquanto a inovação é também economicamente viável. Outra definição importante
é o entendimento que se tem por tecnologia. Harris e Harris (2004) colocam que a tecnologia
não necessariamente é um objeto, trata-se da aplicação de princípios científicos para resolver
problemas práticos. Para os autores, tecnologia seria melhor caracterizada como uma
abordagem..
A tecnologia foi classificada por Harris e Harris (2004) como: (a) tecnologias de
produto, associadas aos aspectos físicos e de engenharia do equipamento; e (b) tecnologias de
processo, associadas com os processos pelos os quais os problemas são resolvidos. Por outro
lado, Giget (1997) apresenta o chamado triângulo da inovação tecnológica que determina a
possibilidade de realizar inovações de três tipos: produtos, produção e distribuição. Essas
inovações são resultados da inter-relação das experiências decorrentes das funções definidas
pelo autor como operacionais: científica ou P&D, produção e marketing e vendas. Uma
integração das funções relacionadas aos aspectos humanos e financeiros a essa esfera técnica
operacional caracteriza o diamante da inovação total (ver Figuras 2 e 3).
32
PRODUÇÃO
P&D
MARKETING/
VENDAS
I
n
o
v
a
ç
ã
o
n
o
s
P
r
o
c
e
s
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o
e
m
D
i
s
t
r
i
b
u
i
ç
ã
o
Inovação em Produto
Figura 2: O triângulo da inovação técnica
Fonte: Adaptado de GIGET (1997)
Finanças
Marketing
P&D
Produção
Recursos
Humanos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1 – Inovações em produtos;
2 – Inovações nas finanças de produção;
3 - Inovações nas finanças de vendas;
4 - Inovações nas finanças de P&D;
5 – Inovações em processos
6 – Inovações em serviços – distribuição;
7 – Inovações na gestão do pessoal de
P&D;
8 – Inovações com relação ao pessoal de
vendas;
9 – Inovações organizacionais e sociais
Figura 3: O diamante da inovação
Fonte: Adaptado de GIGET (1997)
33
Pode-se perceber no diamante da inovação total que as relações entre essas funções
resultarão em inovações de diferentes tipos em diferentes áreas. Por exemplo, a relação das
funções da área de Recursos Humanos com a área de produção pode resultar em inovações
para a área organizacional ou social.
Assim, quanto ao tipo, podem-se ter inovações em produtos, processos (produção) ou
serviços (distribuição). Contudo, para fins desse estudo, destaca-se um quarto tipo de
inovação, a inovação relacional. As relações interorganizacionais têm sido frequentemente
discutidas como estratégicas para as organizações alcançarem novos mercado ou investirem
em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias. De tal forma, entende-se que as inovações na
forma como ocorrem as relações interfirmas são tão determinantes para o sucesso da
organização quanto às inovações tecnológicas em produtos, processos e serviços.
Como colocam os autores Begnis, Pedrozo, Estivalete (2006), os relacionamentos
interfirmas podem ser determinantes para a criação valor superior ao consumidor, percebidos
ou não, conseqüentemente, por meio da gestão dos relacionamentos e de informação, as
atividades podem se tornar mais eficazes em decorrência da identificação de restrições da
cadeia de valor e das atividades necessárias para que se assegure uma vantagem competitiva.
Os autores colocam ainda que a criação de valor a partir de relacionamentos interfirmas
envolve a conjunção de inúmeras variáveis interconectadas, contudo destacam a interferência
de seis elementos: cooperação, confiança, compensação, comunicação, compartilhamento e
comprometimento.
quanto ao grau de intensidade da inovação, a literatura, em geral, classifica as
inovações como incrementais ou radicais (FREEMAN e PEREZ, 1988). As inovações
incrementais são resultados de modificações ou criações em cima de um produto ou processo
preexistente sem, contudo, alterar sua essência, geralmente indicam melhoramentos ou
adaptações. As inovações radicais seguem a linha da destruição criadora proposta por
Schumpeter (1961) e introduzem uma estrutura, produto ou processo completamente novo em
relação ao que é conhecido.
Henderson e Clark (1990) destacam outros dois níveis de inovação (Figura 4),
enfatizando que diferentes tipos de inovação resultam em diferentes efeitos sob a
competitividade da organização. Além da inovação incremental e radical os autores propõem
a inovação arquitetural e modular. A essência da inovação arquitetural está no redesenho de
um sistema existente por meio da modificação da forma como seus componentes estão
34
ligados, gerando, dessa forma, uma percepção de mudança de produto ao mercado, entretanto,
mantém o mesmo conceito central da tecnologia utilizada.
A inovação modular, por outro lado, não mantém o mesmo conceito central da
tecnologia utilizada e não modifica a forma como os componentes da tecnologia estão
ligados. Um exemplo de inovação modular apresentado pelos autores é a mudança de
tecnologia nos telefones, dos sinais analógicos para digitais, pois o conceito central da
tecnologia utilizada é modificado, sem, no entanto, alterar a ‘arquitetura’ do produto
(telefone).
Reforçados Modificados
Não Modificada
Inovação Incremental Inovação Modular
Modificada
Inovação Arquitetural Inovação Radical
Conceitos Centrais
Ligação entre os Conceitos
Figura 4: Tipos de Inovação
Fonte: Henderson e Clark, 1990, p.12.
Portanto, a inovação incremental difere-se da arquitetural porque a primeira não
modifica as ligações entre os componentes, apenas aprimora a tecnologia existente. Pelo
mesmo motivo a inovação modular difere-se da radical, ambas modificam significativamente
a tecnologia existente, no entanto, somente a do tipo radical também modifica as ligações
entre os componentes, ou seja, o desenho (arquitetura) do produto ou tecnologia.
Logo, tem-se que o processo de desenvolvimento de inovação pode ocorrer de duas
formas: tecnicamente empurrada, em função do desenvolvimento tecnológico e cientifico ou
puxado, pelo mercado (GIGET, 1997). E, podem-se classificar as inovações quanto a sua
forma em quatro tipos: produto, processo, serviço e relacionais; e quanto ao seu grau de
intensidade da inovação em quatro tipos: incremental, arquitetural, modelar e radical.
2.2.2 Inovações: implicações econômicas, sociais e ambientais
As inovações provocam transformações nas sociedades, sendo responsáveis por
mudanças e melhorias sociais como o avanço na área da saúde (medicina, indicadores e
35
mecanismos de controle sanitário, manejo e conservação de alimentos, etc.), da educação
(métodos, computadores, etc.), moradia (eletricidade, conhecimentos e tecnologias da
construção civil), entre outros. No entanto, são também responsáveis por grandes impactos
ambientais e desigualdades sociais.
Nesse sentido, essa seção busca embasamento teórico sobre implicações das inovações
na economia, sociedade e meio ambiente, pois a inovação tecnológica é elemento gerador de
mudanças não apenas de ordem técnico-cientifica, mas também de ordem política, econômica
e sócio-cultural (CASAGRANDE, 2004).
Para que as implicações das inovações sejam mais positivas num contexto amplo,
Bursztyn (2001) defende que a produção de conhecimentos e de tecnologias deve deixar de se
orientar principalmente pela razão instrumental e pela lógica do mercado, para se preocupar,
acima de tudo, com o bem-estar e a perenidade da vida. Essa afirmação de Bursztyn (2001)
corrobora com o chamado principio da precaução, que, conforme a Declaração de
Wingspread (1998), determina que quando uma atividade representa ameaças de danos ao
meio-ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se
algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente
(FUNDAÇÃO GAIA, 2005). Ou seja, na ausência da certeza científica formal, a existência de
um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam
prever ou evitar este dano.
Em conformidade, pode-se afirmar que as implicações das inovações serão mais
positivas quando inseridas numa perspectiva do desenvolvimento sustentável, pois este exige
não somente uma racionalidade econômica alternativa, mas também uma racionalidade social
alternativa, refletida na educação, no trabalho e em padrões de organização e administração
diferentes (RATTNER, 1999).
Economicamente, como defendia Schumpeter (1964), a inovação é a força
movedora do capitalismo. Ela significa competitividade, alcance de mercados potenciais,
novos mercados, novos investimentos associados e novas possibilidades de inovação. Assim,
a procura e o desenvolvimento de inovações são fatos endógenos das atividades dos agentes
econômicos, motivados por oportunidades ainda não explorados e pelas expectativas de
ganhos (DOSI, 1991).
Com relação às implicações sociais das inovações, em 1973, Schumacher defendia
uma tecnologia com face humana, contrária a uma tecnologia automatizada de larga escala,
36
controlada por grandes organizações, de alto custo financeiro, de alto impacto ambiental e não
compatível com as necessidades básicas do ser humano, pois o tornava um escravo da
máquina (CASAGRANDE, 2004).
Harris e Harris (2004) e Geels (2005) também defendem um cuidado com o aspecto
social das inovações, ambos sugerem que o desenvolvimento e a transferência de tecnologias
devem atentar ao contexto sócio-técnico da mesma, que se refere ao relacionamento entre
trabalhadores, equipamento e organização. As tecnologias deveriam ser, então, reavaliadas no
seu aspecto ergonômico, atendendo além das necessidades do usuário principal, incluindo as
implicações e necessidades de um contexto sócio-técnico mais amplo (HARRIS e HARRIS,
2004), ou seja, abrangendo também as implicações e necessidades de outros stakeholders.
Assim, quanto as implicações sociais de uma inovação deve-se considerar se a inovação
atende a parcela da sociedade a que se dedica, atentando também às implicações e
necessidades dos demais stakeholders do processo.
Nesse sentido, devem-se incluir considerações políticas e culturais. Quanto às
políticas, elas devem ser sustentáveis, buscando uma melhoria real das condições de vida das
pessoas sem perturbar as funções ecossistêmicas essenciais (CAVALCANTI, 1997). Quanto
ao aspecto cultural refere-se a padrões de consumo, como colocado por Sachs (2002):
“equilíbrio entre respeito à tradição e inovação”. O aspecto cultural também deve incluir
conhecimento (dos significados, funções e implicações) e legitimação dos envolvidos quanto
à inovação que se propõe.
Quanto às implicações sociais, Pujari (2006), trabalhando o conceito de eco-inovação,
alerta que as tecnologias e os produtos ambientais mais avançados não contribuirão com a
sustentabilidade a menos que consigam fornecer um produto verde viável em relação aos
convencionais e que demonstrem eficiência subjacente em seu eco-desempenho sem
comprometer os benefícios funcionais do produto.
As implicações ambientais devem preocupar-se com a maximização e limitação da
utilização dos recursos não-renováveis; com a potencialização do uso de recursos renováveis;
com a correta destinação e manejo dos resíduos da produção e com o respeito e manutenção
da biodiversidade de espécies.
37
2.3 Organizações, Inovação e Sustentabilidade
O debate sobre o desenvolvimento sustentável, em especial sobre a questão ambiental,
ganhou espaço no meio acadêmico e na mídia gradativamente. Contudo, o conceito de
desenvolvimento sustentável não indicou claramente o papel das organizações nesse contexto.
Por outro lado, freqüentemente, os estudos sobre impactos ambientais apontam as atividades
industriais, de produção, como as principais responsáveis por danos ambientais.
Ao mesmo tempo, o avanço dos meios de comunicação, a globalização das transações
econômicas, o crescimento de uma conscientização e preocupação social e ecológica, entre
outras questões, exigem da organização um posicionamento frentes aos seus stakeholders que,
segundo Freeman (1984), são grupos ou indivíduos que de alguma forma podem afetar ou
serem afetados pelas atividades da organização. Esses fatores explicam ainda a participação
cada vez maior de alguns stakeholders, anteriormente negligenciados pelas organizações,
como ONG’s e comunidades locais.
Assim, a questão dos stakeholders remete aos gestores a obrigação de gerir e
preocupar-se com os relacionamentos da empresa com os mais diversos atores que de alguma
forma podem impactar no desempenho e imagem da organização. Shrivastava (1995) alerta
que não somente a satisfação dos interesses da organização deve ser foco de atenção dos
administradores, mas também as conseqüências das atividades das organizações sob seus
diversos stakeholders.
Diante dessa conjuntura, as organizações vêm assumindo novas estratégias e
responsabilidades sociais e ambientais impulsionadas por diferentes razões. Algumas
enxergam possibilidade de redução de custos, maior competitividade e melhoria da sua
imagem. Outras enxergam a possibilidade de estreitar positivamente as relações com sua
comunidade e demais stakeholders. Algumas agem adiantando-se as exigências legais ou
mercadológicas, outras apenas respondem a essas, de forma muito mais vagarosa.
Banerjee (2003) coloca que não dúvidas que as organizações representam
importante papel na busca pela sustentabilidade. Para Hart (1997) faz muito sentido para os
negócios empenhar-se em estratégias sustentáveis para as organizações e para o planeta.
Estudos indicam que as organizações que se anteciparem e melhor se posicionarem numa
perspectiva sustentável ganharão em termos de competitividade num mercado, pois sairão na
38
frente em termos tecnológicos e ganharão credibilidade no mercado (ARAGÓN-CORREA,
1998; SHARMA, VREDENBURG, 1998; SHARMA, PABLO, VREDENBURG, 1999;
HART, 1997).
Essa nova perspectiva da sustentabilidade abre espaço para a influência de novos
stakeholders (DAROIT e NACIMENTO, 2004) e direciona a uma gradativa mudança de
“paradigma tecno-econômico” (FREEMAN e PEREZ, 1988), isto é, as mudanças que podem
influenciar o comportamento de uma economia inteira, por meio de inovações. Isso significa
que as organizações devem conduzir mudanças fundamentais, para se adaptar a um novo
ambiente de negócios, e para se tornarem ecologicamente sustentáveis. De tal forma, percebe-
se uma reflexão sobre a necessidade do que se coloca como um novo paradigma cnico-
econômico: o da sustentabilidade.
Nesse sentido, Aragón-Correa (1998) trabalha o continnuum, proposto por Roome, de
resposta das organizações à sustentabilidade. Nesse continuum a última postura indica as
organizações não-flexíveis, que significa uma postura de indiferença completa, sem adotar
nenhum tipo de estratégia, ação ou tecnologia ambientalmente corretas, nem mesmo conforme
as regulamentações. A categoria flexível inclui organizações com posturas ambientais
determinadas por legislações e regulamentações. A categoria ‘super’ flexível indica uma
postura que atende não apenas as legislações, mas também inclui ações baseadas nas políticas
e estratégias ambientais da própria organização. Essas organizações possuem métodos
preventivos baseados em princípios da qualidade total de sua gestão ambiental e são
organizações que apontarão o caminho para as demais seguirem (ARAGÓN-CORREA, 1998,
p. 557).
Outra abordagem trabalhada por Aragón-Correa (1998) é a de Miles e Snow que
apresentaram um continuum cujos extremos denominaram de “prospectors” ou pró-ativos e
defensores. Os “avaliadores” ocupam as posições mais intermediárias. Assim, três dimensões
estratégicas podem explicar como as características pró-ativas encorajam as firmas a adotarem
posturas mais avançadas em relação ao meio ambiente.
a) A dimensão empreendedora: refere-se às opções de produto, mercado e formas
de competição. De acordo com o continuum de Miles e Snow as organizações pró-
ativos analisam todos os aspectos dos seus contextos e crescem desenvolvendo novos
produtos e mercados com o mínimo de impactos ambientais. Essas organizações são
mais propensas a mudar seus produtos e mercados por razões ambientais.
b) A dimensão da engenharia: as defensoras adotarão melhorias ambientais se
essas tecnologias reduzirem seus custos e aumentarem sua eficiência. Por outro lado,
algumas evidências sugerem que as pró-ativas realizam maiores progressos ambientais
39
na sua tecnologia do que os defensores porque são mais preparadas e propensas para
investir nessas tecnologias e são mais flexíveis.
c) A dimensão administrativa: refere-se à estrutura que busca reduzir as incertezas
e permitir a inovação. Nesse caso, as pró-ativas investem mais em grandes projetos, ao
mesmo tempo, buscam um desenho interno que incentive todos os indivíduos a se
engajarem em desenvolver tecnologias mais sustentáveis (Starik e Rands, 1995).
Sharma, Pablo, Vredenburg (1999, p. 101) evidenciam que estratégias reativas e pró-
ativas de responsividade ambiental são um reflexo das interpretações das organizações e dos
gestores quanto às questões ambientais como forças ou ameaças. Alguns fatores vão
influenciar essas interpretações, como:
a) Tempo de resposta: para as empresas pró-ativas esse tempo tende a ser mais
curto, pois, ao contrario das reativas, elas adotam investimentos de longo prazo,
assumindo a importância das questões relacionadas à preservação ambiental.
b) Legitimação do problema: as pró-ativas apresentaram preocupações ambientais
mais ligadas a identidade da organização dos que as reativas. As primeiras percebem
essas questões como oportunidades e as segundas como ameaças.
c) Fluxo de informações: as empresas pró-ativas realizam auditorias ambientais,
divulgando os resultados; enquanto as reativas limitam as informações aos
departamentos jurídicos.
d) Gestão ponderada: as pró-ativas promovem um contexto organizacional que
facilita a experiência, alterando padrões de autoridade, de responsabilidade e de
controle, permitindo a participação ponderada dos colaboradores na utilização de
recursos para experimentação de inovações que esses considerassem importantes. As
organizações reativas não apresentaram espaço para a construção desse contexto,
consequentemente para a emergência de inovações.
e) Sistema de controle: a incorporação de critérios de avaliação da performance
ambiental que isente as ações de subjetividade e reduz as incertezas associada a essas
ações puderam ser percebidos nas duas posturas organizacionais, embora muito mais
nas pró-ativas.
Embora essas propostas analisem as posturas e estratégias das organizações quanto às
questões ambientais, uma ampliação dessas perspectivas para uma análise da sustentabilidade
das posturas das organizações quanto as suas tecnologias é perfeitamente viável.
Adicionalmente, ambas as propostas (ARAGÓN-CORREA, 1998; SHARMA, PABLO,
VREDENBURG, 1999) consideram a influência dos stakeholders da organização como fator
determinante da postura pró-ativa ou reativa da organização.
40
2.4 Cadeias Produtivas
As abordagens sobre cadeias de produção foram construídas de forma a suprir a
necessidade de se entender e avaliar os processos e as relações entre os atores das diferentes
atividades realizadas na produção de um produto, especialmente do agronegócio. O
agronegócio, como definido por Davis e Goldberg, em 1957, trata do conjunto de atividades
envolvidas no processamento e distribuição dos insumos agropecuários, nas operações de
produção na fazenda, no armazenamento, no processamento e na distribuição dos produtos
agrícolas e seus derivados, ou seja, da produção de insumos à venda do produto ao
consumidor final.
Assim, foi remetendo-se a esse conjunto de atividades, em 1968, que Goldberg sugere
a abordagem da Commodity System Approach (CSA) por meio de um estudo que se
preocupou com as cadeias produtivas da laranja, do trigo e da soja nos Estado Unidos,
observando os aspectos de montante a jusante. Zylbersztajn (2000) coloca que inicialmente os
estudos de Davis e Goldberg tinham como base teórica a teoria neoclássica da produção em
especial do conceito de matriz insumo-produto de Leontief, introduzindo a questão de
dependência inter-setorial e da mensuração da intensidade das ligações inter-setoriais. no
CSA o aparato conceitual utilizado não mais é baseado na matriz de insumo-produto, mas sim
no paradigma de “estrutura-conduta-desempenho” da organização industrial. Sendo cada
sistema estudado em termos da sua lucratividade, estabilidade de preços, estratégia das
corporações e adaptabilidade.
Outra abordagem similar aos conceitos de complexo agroindustrial, cadeia de
produção agroindustrial e agronegócio seria o Sistema Agroindustrial (SAI) que trata do
conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a
produção de insumos até a chegada do produto final ao consumidor e não está associado a
nenhuma matéria prima ou produto final específico (BATALHA, 2001). Este conceito na
prática não se diferencia em muito do conceito de agronegócio.
Quanto à abordagem do Complexo Agroindustrial (CAI), sua característica principal é
a análise com o ponto de partida determinado por uma matéria prima de base, enquanto a
Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA) é definida a partir da identificação de um
41
determinado produto final, seguindo a lógica de orientação pelo consumidor, que a
caracteriza.
Posteriormente, a Escola Francesa de Organizações Industriais desenvolve o conceito
de filière (LABONNE, 1985) que, como apresenta Batalha (2001), encontrou seus principais
defensores entre os economistas agrícolas e pesquisadores ligados aos setores rural e
agroindustrial e, assim como o CSA, considera as etapas do processo de produção
sucessivamente. O autor coloca ainda que a palavra filière em português é expressa por
“cadeia de produção”, e no caso do setor agroindustrial, cadeia de produção agroindustrial ou
simplesmente cadeia agroindustrial (CPA).
Morvan (1985) apresenta a definição de filière como uma seqüência de operações que
conduzem à produção de bens, articuladas de acordo com as possibilidades ditadas pela
tecnologia, sendo definida pelas estratégias de maximização dos lucros dos agentes
envolvidos. As relações entre os agentes dessas operações são de interdependência ou
complementaridade e são determinadas por forças hierárquicas.
O conceito de cadeia de produção ainda não apresenta definição específica, de tal
forma Morvan (1985) procurou sintetizar e sistematizar as idéias, enumerando três
características implícitas ao conceito de cadeia de produção: 1) a cadeia de produção é uma
sucessão de operações de transformação dissociáveis capazes de ser separadas e ligadas entre
si por um encadeamento técnico; 2) a cadeia de produção é também um conjunto de relações
comerciais e financeiras que estabelecem um fluxo de troca, situado de montante a jusante,
entre fornecedores e clientes; 3) a cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que
presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das operações.
Quando se trabalha com a abordagem de filière ou CPA a amplitude do escopo
estudado é definida por quem conduz a análise, de acordo com seus objetivos, da mesma
forma o grau de detalhamento da filiére. Contudo, é importante que esta parta sempre do
mercado final, ou seja, de um produto predefinido, em direção a matéria prima de base que
lhe originou. Esse tipo de análise pode ser utilizado em cinco situações: 1) como metodologia
de divisão setorial do sistema produtivo; 2) para formulação e análise de políticas públicas e
privadas; 3) como ferramenta de descrição técnico-econômica; 4) como metodologia de
análise da estratégia das firmas; e, 5) como ferramenta de análise das inovações tecnológicas e
apoio à tomada de decisão tecnológica (BATALHA, 2001, p.39-40).
42
No caso deste estudo, interessa-nos a definição da cadeia de produção, que aqui foi
analisada como um conjunto de operações técnicas de produção de matérias-prima, de
processamento e de comercialização, assim como das relações determinadas por esses.
Portanto, uma vez identificados os segmentos que compõe as etapas dos processos produtivos
de uma Cadeia Produtiva de forma sucessiva, pode-se identificar como ocorrem as relações
inter-firmas nessa cadeia, ou seja, também a forma de governança de uma organização
inserida nessa cadeia. Nesse sentido a Nova Economia Institucional (NIE) contribui ao tratar
da estrutura interna da organização e das relações que as firmas estabelecem entre si no
mercado, considerando os custos de transação, contratos e direitos de propriedade, agentes,
incentivos e mecanismos de controle inerentes a essas relações (WILLIAMSON, 1985;
MÉNARD, 2004).
A NIE emerge em contrapartida a Teoria Neoclássica que pressupunha a firma
somente como uma unidade produtiva, que operava para maximizar lucros, em um modelo de
competição perfeita, onde o objetivo era maximizar a alocação de recursos dentro do mercado
por meio de um sistema de preços. Coase (1937, p.388 e 394) questionou o papel das
organizações diante desse mercado perfeito, pois se a coordenação é determinada pelo
mecanismo de preço, não há porque as organizações existiram, podendo toda produção estar a
cargo de uma única grande firma.
E se não é com uma única grande firma que o mercado se apresenta, é necessário,
portanto, avançar o entendimento de firma de sua função produtiva para uma estrutura de
governança, que deverá considerar o custo de se o mecanismo de preço, ou seja, do mercado,
e de se produzir. Assim sendo, a razão de as firmas existirem é devido ao custo de gerenciar
transações econômicas no mercado apresentar-se, algumas vezes, maior do que o custo de
gerenciar as transações econômicas dentro dos limites da própria organização.
O importante é que sob a ótica da NIE os mecanismos de governança definidos por
uma organização é que determinam o seu sucesso no mercado. São três as formas de
governança que podem resultar da inter-relação firmas e mercado: governança de mercado,
governança mista ou híbrida e governança única (integração ou verticalização)
(WILLIAMSON, 1985; MENARD, 2004).
A governança de mercado trata-se de uma troca entre a firma e o mercado, de um bem
ou ativo, em transação pouco específica, mas ocasional ou recorrente. Uma ruptura dos
contratos na governança de mercado significaria pouca perda para a firma que poderá buscar
outro agente no mercado como fornecedor desse bem.
43
Por outro lado, a governança unificada, também denominada integração vertical, induz
para a firma toda a responsabilidade da cadeia de produção, o controle único dos ativos,
normalmente associados a grandes investimentos. Na verticalização quebras contratuais
significam amplas perdas, sendo, portanto, necessário alto monitoramento. A integração
vertical tem finalidades econômicas (redução dos custos de transação) e não-econômicas
(estratégicas), por exemplo, as firmas percebem nesse modelo de governança benefícios na
alocação dos recursos humanos pelos supervisores, sem necessidade de negociação, reduzindo
custos de transação; melhorias no processo decisório, por meio do domínio da racionalidade
devido à “divisão cognitiva do trabalho”; e melhorias na comunicação (WILLIAMSON,
1985; MENARD, 2004).
Os arranjos híbridos colocados por Menard (2004) são as formas governanças mistas
de Williamson (1985). A governança mista mostra-se ideal para os casos que a integração
vertical ou o mercado não o formas eficientes de realizar a transação e tratam de uma
colaboração sistemáticas inter-firmas nas quais decisões são feitas em conjunto. Como
exemplos: franquias, associações estratégicas, fornecimento exclusivo, contratos de divisão
territorial, entre outros.
Para Menard (2004) arranjos híbridos incluiriam todas as formas de colaboração inter-
firmas nas quais os direitos de propriedade continuam distintos, enquanto decisões em
conjunto são feitas, requerendo modos específicos de coordenação. Em outras palavras, a
parceria divide e troca tecnologias, capital, produtos e serviços sem uma propriedade
unificada. Nesses arranjos a dimensão relacional é determinante para a continuidade da
parceria e justifica-se quando os investimentos são específicos o suficiente para gerar riscos
contratuais sem, contudo, justificar a integração e seus fardos e quando as incertezas do
ambiente requerem uma coordenação maior do que os mercados podem prover.
De tal forma, a gestão dos arranjos híbridos pode ser feita por meio de contratos ou de
estruturas formais de governança. Os contratos são formas de se obter salvaguardas ao alto
risco de comportamento oportunístico e da racionalidade limitada presentes numa transação.
Ou seja, admite-se que as transações não são perfeitas uma vez que os agentes envolvidos são
movidos por uma racionalidade limitada e que podem agir estrategicamente com voracidade
de forma a alcançarem benefícios próprios (oportunismo). O primeiro aspecto admite os
limites na competência cognitiva dos atores (SIMON, 1961), enquanto o oportunismo diz
respeito ao auto-interesse (WILLIAMSON, 1985).
44
Miele (2006) afirma que as agroindustriais têm preferido à coordenação vertical
(integração) e a crescente contratualização (arranjos híbridos) devido a esse processo de
industrialização da agricultura, que evolui para uma produção diferenciada, com maior
controle dos fluxos de produtos e informação. Com relação à cadeia de produção de suínos o
autor aponta para a existência de cinco tipos de contratos, quais sejam: de terminação, de
comercialização, de fornecimento, de reprodutores e os verbais, sendo o mais difundido o
contrato de terminação que envolve o fornecimento de insumos e especificação do processo
produtivo.
Tecnicamente os sistemas de integração o freqüentemente definidos como
articulação vertical entre agroindústrias e pequenos produtores agrícolas, com alta
interdependência entre os agentes econômicos da cadeia, contudo, segundo a literatura citada
acima, pode-se caracterizá-los como arranjos híbridos tendendo à verticalização. Arranjo
híbrido por que as relações entre agroindústria e agricultores são definidas contratualmente
por lote de produção e tendendo a verticalização porque em um típico contrato de integração a
agroindústria contratante fornece quase todos os insumos, cerca de 80% dos custos de
produção, que são a ração, leitões (genética), serviços veterinários, assistência gerencial e
serviços de comercialização e genética (MIELE, 2006, p.10). Por outro lado, o produtor
contratado fornece instalações, mão-de-obra, água, equipamentos e gestão dos dejetos. A
desvantagem dos sistemas de integração está relacionada a pouca participação dos produtores
na determinação dos preços e na impossibilidade de se escolher os compradores que pagam os
preços mais altos.
Em síntese, com a crescente industrialização e profissionalização das cadeias
agropecuárias, as agroindústrias, freqüentemente agente mais forte da cadeia, devem não
apenas identificar os demais agentes de sua cadeia produtiva, para ter maior controle e
qualidade da produção, como também devem decidir quais atividades são estrategicamente
interessantes ou menos custosas internalizar (verticalizar); e quais se deve coordenar por meio
de arranjos híbridos ou sistema de preços (mercado).
2.5 Setor Suinícola no Brasil
45
A cadeia suinícola é formada basicamente pela produção de grãos, indústria de
insumos (ração, medicamentos), criação de animais, agroindústria de abate e processamento,
distribuidores (atacadistas e varejistas) e consumidor final.
No Brasil, as principais transformações na cadeia de suínos começaram na década de
60, com a introdução de raças especializadas na produção de carne, quando se buscava a
redução do índice de banha no animal (ZANATTA, 2006), e também impulsionada pela
revolução verde que aumentou a disponibilidade de grãos, permitindo sistemas de criação de
animais mais intensivos. A partir daí, progressivamente, iniciou-se um processo de introdução
de novas técnicas de criação e organização da produção. Com isso, a cadeia passou a
apresentar índices crescentes de produtividade.
Contudo, em 1978, focos da peste suína africana retraíram a nascente e crescente
indústria brasileira exportadora de suínos. Implicações da peste suína africana foram
observadas na suinocultura até a metade da cada de 80, quando as agroindústrias votaram-
se para os programas de profissionalização da suinocultura, como os programas de integração,
e maior controle sanitário das criações.
Desde 1985, quando iniciaram os programas integrados no Brasil, até o momento, a
especialização com a divisão das etapas de criação segundo o ciclo de vida dos animais
(nascimento, leitões e crescimento) resultou em maior eficiência e ganhos econômicos ao
produtor e a agroindústria. Registra-se ganhos com a redução da mortalidade de animais;
aumento na taxa de conversão de ração em peso vivo; maior teor de carne magra; e
diminuição no tempo do ciclo de produção; etc. Segundo Girotto e Miele (2005), em 1970
eram produzidos em média 10 terminados/matriz/ano, passando para os atuais 20
terminados/matriz/ano, em Santa Catarina. O tempo de engorde também foi reduzido e a
idade de abate passou de 180 dias para 150 dias.
Comparado ao resto do mundo, verifica-se que a produção de suínos no Brasil
apresentou nas últimas quatro décadas comportamento inferior ao mundial. No período
compreendido entre 1961 e 1998 a produção mundial cresceu a uma taxa de 3,3% ao ano,
enquanto a produção nacional cresceu a 2,6%. Somente na última década (1990-1998), após
incremento de tecnologias no setor, é que a suinocultura nacional reverteu a situação, tendo
crescido a uma taxa anual de 5,8%, enquanto no resto do mundo o crescimento foi de somente
2,7%. (ANUÁRIO 2000).
46
Conforme a Tabela 1, o Brasil cresceu sua participação na produção mundial de suínos
apenas em 1% com relação a 1990, sendo que em 2005 o mercado interno foi responsável
pela absorção de 65% da produção brasileira. Contudo as exportações somaram US$ 66,6
milhões em janeiro de 2006, similar ao mesmo período em 2005. Santa Catarina liderou as
exportações de carne suína em janeiro de 2006, com 20 mil toneladas e receita de US$ 35
milhões. Em segundo lugar, o Rio Grande do Sul com 8.228 toneladas (US$ 16,2 milhões)
seguido por Minas Gerais com 2.648 toneladas (US$ 5,7 milhões) (ABIPECS, 2006).
Ps 1990 2005
Mundo 65,9 93,6
Brasil
2% 3%
Cana
2% 2%
China
34% 53%
EUA
11% 10%
Outros
21% 9%
Uniao
30%
23%
Participação na Produção
Tabela 1: Participação na produção mundial de suínos.
Fonte: USDA, 2005 apud Advances in Pork Production, 2006.
A região sul do país é a principal produtora de suínos sendo que o Estado de Santa
Catarina é o principal produtor do país. A participação dos estados no total de abates SIF, ou
seja, sob inspeção federal, no Brasil pode ser observada na Tabela 2.
Total no
Brasil
RS (%) SC (%) PR (%)
Reg Sul
(%)
Outros
(%)
1997
13000000 22,25 42,45 18,83 83,53 16,47
1998
14000000 24,22 42,2 17,26 83,68 16,32
1999
15710000 23,08 37,62 16,34 77,04 22,96
2000
17200000 21,04 34,74 14,95 70,73 29,27
2001
18900000 21,18 33,82 14,76 69,76 30,24
2002
21820000 21,79 32,22 15,9 69,91 30,09
2003
24.680.000
18,34
26,03
15,08
59,46
40,54
ABATE DE SUÍNOS SIF, BRASIL E ESTADOS DA REGIÃO SUL - 1997 - 2004
Tabela 2: Participação da região Sul no total de abates de suínos no Brasil.
Fonte: ACSURS, 2006.
47
Atualmente, a suinocultura brasileira ainda é uma atividade predominantemente de
pequenas propriedades rurais, com 80% de suínos sendo criados em unidades de até 100
hectares (SANTINI, 2004). O Brasil é o quarto produtor mundial de carne suína e, em 2004,
contava com cerca de 200 plantas frigoríficas, responsáveis pelo abate de 33,9 milhões de
suínos (ABIPECS, 2004). Adicionalmente, é o quarto maior exportador de suínos, sendo seu
maior importador a Rússia que é responsável pela absorção de 11% do total de produtos
suínos exportados no mundo.
As exportações brasileiras cresceram desde 1990, apresentando algumas oscilações no
decorrer do período, ainda devido a barreiras sanitárias decorrentes não somente do problema
com a peste suína como também de focos de aftosa nos rebanhos bovinos. Segundo a
Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), as
exportações brasileiras de cortes de suínos geraram uma receita equivalente a US$ 550
milhões em 2005, apresentando um decréscimo de 29% em relação ao valor exportado em
2004 (Tabela 3).
Ano Toneladas US$ mil Variação (ton) Ano Toneladas US$ mil Variação (ton)
1990
13.129 22.055 0,00%
1998
81.565 153.802 27,79%
1991
17.312 29.863 31,86%
1999
87.287 122.748 7,02%
1992
44.481 74.420 156,94%
2000
127.883 171.851 46,51%
1993
34.771 61.976 -21,83%
2001
265.165 358.966 107,35%
1994
32.317 57.787 -7,06%
2002
475.863 481.435 79,46%
1995
36.457 91.653 12,81%
2003
495.487 550.837 4,12%
1996
64.364 130.091 76,55%
2004
507.704 774.050 2,47%
1997
63.827
148.047
-0,83%
2005
495.487
550.837
-2,41%
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE SUÍNA SÉRIE HISTÓRICA (1990 - 2005)
Tabela 3: Histórico das Exportações Brasileira de suínos.
Fonte: ABIPECS, 2006.
Segundo dados do Sindicato dos Produtores de Suínos do Rio Grande do Sul (SIPS), o
Rio Grande do Sul passou a exportar efetivamente somente no ano 2000, tendo um
crescimento nesses seis anos (2000-2005) de aproximadamente 351%. Sendo que até julho de
2006 passou por vinte e quatro messes de embargo russo, essencialmente devido aos focos de
aftosa identificados no Uruguai e no Brasil. Embora os suínos sofram os sintomas e
conseqüências das doenças não são animais que hospedam o vírus como os bovinos, não
influenciando, portanto, os índices de transmissão da doença. De qualquer forma o setor tem
sofrido reflexos da crise no setor de carnes de bovinos, como pode ser observado na Tabela 4.
48
mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez total
2001
2,76 3,38 4,96 7,04 5,39 2,93 2,59 3,02 4,628 3,834 4,098 2,786 47,41
2002
1,74 2,02 3,01 3,94 8,50 8,76 7,60 10,01 11,62 10,91 9,39 8,52 86,00
2003
14,73 20,30 7,37 7,67 13,24 10,52 8,65 17,32 11,38 11,48 6,99 6,99 136,65
2004
5,30 7,60 8,12 9,39 10,63 8,96 12,96 11,95 11,31 13,27 12,98 8,02 120,49
2005
8,34 9,32 12,74 14,29 13,78 14,74 15,39 14,08 16,08 17,52 13,52 12,55 162,35
2006
7,28
8,87
6,02
23,06
26,09
28,01
28,46
127,78
Exportações Mensais de Carne Suina do Rio Grande do Sul (toneladas)
Greve Fiscais Federais AgropecuáreiosEmbargos Russo
Tabela 4: Identificação dos Embargos Russos nas Exportações de suínos do Estado RS.
Fonte: SIPS, 2006.
Os produtores que mais sofrem com o embargo à exportação são os produtores
independentes, pois como não são integrados às agroindústrias, não um compromisso
formal de compra da produção por parte das empresas. O que ocorre é que em épocas de crise
os produtores independentes acabam vendendo a produção por preço muito abaixo do
mercado e, por vezes, dos custos de produção. Sendo que o produtor não tem saída, pois se
manter o lote por muito mais tempo que o ideal para o abate, os animais acabam ficando
muito pesados, inadequados para retirada de alguns cortes especiais, o que deprecia ainda
mais o produto (JURGENFELD, 2006).
Outro aspecto que tem influenciado bastante o setor desde 1985 são as pesquisas e
evolução na genética, o que reduziu a gordura em 31%, o colesterol em 10% e as calorias em
14% (ABIPECS, 2006), permitindo melhor rendimento dos cortes nobres, maior concentração
por carcaça e derrubando o mito da carne suína como prejudicial à saúde, conseqüentemente,
houve gradativo aumento no consumo per capita. O consumo per capita no Brasil cresceu
70% em 15 anos e, em 2005, foi de 12kg per capita, pouco abaixo da média mundial de
14,75kg (Tabela 5).
49
Ano
Abates
Cabeças
(milhões)
Produção
(mil tons)
Consumo
(kg) per
capita
Ano
Abates
Cabeças
(milhões)
Produção
(mil tons)
Consumo
(kg) per
capita
1990
19,2 1.050 7,26
1990
1991
19,9 1.130 7,68
1991
2,25 160,48 13,97
1992
19,7 1.190 7,96
1992
2,40 158,98 14,59
1993
19,8 1.260 8,31
1993
2,45 167,29 14,85
1994
19,2 1.330 8,46
1994
2,69 187,40 15,12
1995
20,1 1.470 9,23
1995
3,06 220,71 16,53
1996
20,7
1.560
9,56
1996
3,56
250,91
17,15
1997
20,4 1.540 9,26
1997
3,04 215,66 17,23
1998
22,4 1.699 10
1998
3,54 258,78 19,00
1999
23,5 1.834 10,7
1999
3,82 279,16 19,60
2000
32,3 2.556 14,3
2000
3,83 279,39 20,00
2001
34,9 2.730 14,3
2001
4,22 308,33 20,50
2002
37,7 2.872 13,7
2002
5,00 383,09 21,00
2003
34,5 2.698 12,4
2003
4,79 376,36 21,50
2004
33,9 2.679 12,1
2004
4,76 383,09 21,82
2005
34
2.708
12
2005
5,12
407,42
22,00
Rio Grande do SulBrasil
Tabela 5: Evolução da produção e consumo de carne suína no Brasil e no Rio Grande do Sul.
Fontes: ABIPECS, SIPS e ACSURS.
A produção e o abate de suínos também apresentaram crescimento significativo, nos
últimos 10 anos houve um crescimento de 28,4% na produção mundial. Em 2005 o Brasil
produziu 158% a mais de suínos com relação ao ano de 1990. O Rio Grande do Sul
acompanhou o crescimento nacional e registrou uma taxa de crescimento da produção no
período de aproximadamente 153% (Tabela 5). De acordo com as expectativas da Embrapa
Suínos e Aves e ABIPECS a produção de carne suína no Brasil deve crescer 5,8% em 2006.
Em recente levantamento com relação a produção nacional de suínos, essas instituições
mostram o encolhimento do consumo interno de carne suína (desde 2002 caiu de 13,4 kg por
habitante/ano para 10,8 kg) e o crescimento significativo das exportações (SOUZA, 2006).
Contudo, como apresentado, recentemente (junho de 2006) as exportações foram novamente
prejudicadas por um embargo russo à carne suína de Santa Catarina, o maior produtor do País,
que aumentou a oferta no mercado interno e abaixou o preço pago ao produtor.
2.5.1 Sistemas de organização da produção
50
Foi por volta de 1985 que ocorreram as primeiras iniciativas no Brasil de implantação
de programas integrados, seguido da especialização do produtor conforme etapas de
produção, isto é, conforme as etapas de vida do suíno.
O Sistema Integrado (SI) que incentiva essa especialização na criação de suínos, foi
incentivado de forma a substituir a organização do sistema de produção industrial de suínos
conhecida como Ciclo Completo (CC). No Sistema de Ciclo Completo (CC) o produtor é
independente e tem completa autonomia e responsabilidade quanto à gestão e coordenação da
atividade, responsabilizando-se por todas as etapas do processo produtivo: genética,
alimentação, medicamento e entrega do animal ao frigorífico (transporte).
Segundo Guivant e Miranda (2004), os produtores de Ciclo Completo detêm as
matrizes que produzem os leitões e cuidam desses até o momento de seu abate, que acontece
com uma idade aproximada de cinco meses (150 dias). Assim, sua autonomia no processo
produtivo está relacionada à propriedade do material genético (matrizes e reprodutores), à
preparação da ração na propriedade e a propriedade das instalações e mão-de-obra.
De acordo com o estudo sobre a cadeia produtiva de suínos no Estado do Paraná,
realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) em
parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade e Grupo de Estudos e
Pesquisas Agroindustriais da UFSCAR (GEPA/UFSCAR) e com o Instituto Brasileiro da
Qualidade e Produtividade (IBPQ-PR), as granjas independentes (não integradas) podem
ainda ser encontradas em todo o Brasil. Essas granjas têm como principal dificuldade e foco
de ineficiência as relações conflituosas com a agroindústria e a atualização tecnológica. No
inicio da implantação dos sistemas integrado a maioria das propriedades integradas ainda
trabalhavam com o ciclo completo, mas quando integradas caminharam em direção a
especialização em uma das etapas, recebendo da integradora o plantel reprodutivo, a
alimentação, a assistência técnica e sinaliza, de acordo com o planejamento do frigorífico, a
quantidade a ser produzida (MACEDO, BATALHA, SANTOS, 2002).
No Sistema Integrado o produtor tem menor autonomia para tomar decisões com
relação ao processo porque deve atender a exigências de um padrão tecnológico exigido pelo
seu parceiro ou integradora (agroindústria) e, em geral, deve especializar-se em uma das
etapas. Para Gomes et al. (1992), a integração na produção de suínos surgiu na década de 60 e
tem se expandido constantemente, sinal de que o produtor vantagens na forma de
relacionamento com a integradora.
51
Os produtores integrados atualmente são requisitados a especializarem-se em uma das
etapas do processo e dividem-se basicamente em produtores responsáveis pelas unidades
produtivas de leitões (UPLs) e os proprietários das granjas de crescimento (creches) e
terminação. Inicialmente tinha-se apenas o modelo de dois sítios, com as UPLs, de onde os
suínos saiam com 63 dias de vida, e com as granjas de terminação, onde ficam até o abate.
Mais recentemente, tem se difundido o modelo conhecido por três sítios, que se baseia no
desmame precoce do leitão. No modelo três sítios o leitão sai das UPLs com 21 dias e é
direcionado para as propriedades de crecheiros’, ou seja, para as creches, onde ficam até os
63 dias e então são encaminhados para os ‘terminadores’ ou unidades de terminação.
A especialização ainda maior no modelo três sítios é considerada um avanço ainda
maior em virtude de um maior controle alimentar e, consequentemente, melhor conversão
alimentar e maior controle sanitário do lote, uma vez que diminui os agentes infecciosos e,
por conseguinte, a transmissão de doenças entre os animais de diferentes idades. Nesse
sentido, a prática do vazio sanitário, que o SI permite devido a entrada e a saída dos animais
ocorrerem por lote, todos entram e saem no mesmo período, tem colaborado no controle
sanitário efetivo das granjas.
A menor autonomia dos parceiros (produtores) no SI está relacionada, de um modo
geral, a sua participação restrita às instalações e a mão-de-obra, pois a agroindústria
integradora responsabiliza-se pelo fornecimento dos animais e insumos necessários (ração,
medicamentos, transportes etc.) ao processo produtivo.
Segundo a Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul ACSURS, de
1978 a 1986 o Estado perdeu muito em número de unidades de produção e produtividade,
devido às condições de mercado e produção. Esse contexto abriu espaço para o crescimento
do setor em Santa Catarina, que passou a liderar a participação no mercado de suínos em nível
nacional. A recuperação do ritmo de crescimento da atividade, a partir de 1986, é atribuída
pela Associação ao sistema de produção integrado.
O Quadro 1 apresenta o quadro social da Associação, e pode indicar a caracterização
da suinocultura no Estado, enquanto o Quadro 2 apresenta um comparativo entre as granjas no
SI e os índices alcançados pelas antigas granjas CC.
52
Sistema de Produção
mero de
Criadores
Produtor de Leitões
519
Crecheiros 148
Terminadores
1820
Parceria 149
Ciclo Completo
1236
Granjas Multiplicadoras 47
Granjas de Reprodutores Puros e Cruzados
14
Pequenos Suinocultores 1265
Núcleos, Associações e Conveniados
1482
Total de Sócios Diretos e Indiretos 6680
Quadro 1: Caracterização da Suinocultura do RS conforme quadro social da ACSURS.
Fonte: ACSURS, 2006.
Indicadores
Granjas
Granjas não
Taxa de conversão (kg ração : kg carne) 3 de 3,6 a 4,5
Partos por matriz/ano 2,4 1,8
Mortalidade (%) 0,09 0,15
Leitões por parto (número) 11 9
Leitões terminados por matriz/ano 23 13
Tempo de produção, do nascimento ao abate 155 dias 180 dias
Peso no abate (kg)
100
85
RS: Indicadores de produtividade em granjas integradas e granjas não
integradas
Quadro 2: Comparativo granjas SI e CC.
Fonte: ACSURS, 2006.
Assim, o SI busca essencialmente um aumento na produtividade, na melhoria da
qualidade do produto e a manutenção de um fluxo mais regular da produção. Com a
especialização as agroindústrias passam a ter um maior controle sobre o processo produtivo,
fundamentalmente, com o fornecimento do material genético, da alimentação e
acompanhamento das práticas de manejo, garantindo assim um cronograma mais rigoroso da
produção (GUIVANT e MIRANDA, 2004) e um rastreamento da produção. Esses fatores têm
implicações diretas no potencial do produto de acesso ao mercado, principalmente
internacional.
A literatura pesquisada ressalta que para o produtor as vantagens da integração
referem-se à garantia de venda da sua produção, assistência técnica e acesso às tecnologias
mais avançadas em genética, alimentação, instalações e manejo dos animais e dejetos.
Contudo, a desvantagem está relacionada a pouca participação dos produtores na
53
determinação dos preços e na impossibilidade de se escolher os compradores que pagam os
preços mais altos, especialmente em épocas de menor oferta. Tecnicamente, o sistema de
integração é definido como a forma de articulação vertical entre empresas agroindustriais e
pequenos produtores agrícolas, resultando numa maior interdependência entre os agentes
econômicos da cadeia.
Percebe-se, dessa forma, que padrão competitivo do setor está relacionado a baixos
preços, cortes com baixo teor de gordura e a controle da produção (rastreabilidade). A
rastreabilidade do animal tende a crescer ainda mais, não apenas devido às preocupações
sanitárias, como o surgimento de novos focos de aftosa, como também por preocupações
relativas à segurança do alimento, ou seja, possíveis resíduos de insumos (rações e
medicamentos) utilizados no animal. Nesse sentido, o SI tem facilitado o controle e a
implantação de sistemas de rastreamento do animal.
Observa-se, portanto, que o nível de competitividade do setor está também
intrinsecamente relacionado aos avanços nas formas de organização da produção (ou relação
integradora/integrado) às técnicas de manejo (especialização das etapas e edificações), aos
avanços na área de genética e alimentação e aos avanços na área de medicamentos, controle
sanitário e manejo dos dejetos. em nível internacional, as políticas de créditos e subsídios
do setor agropecuário são também determinantes.
Os valores apresentados indicam a importância da atividade para a economia do País e
do Estado e, ainda, sua importância como fonte de geração de renda para produtores e
trabalhadores ligados a atividade. Contudo, não indicam o grande potencial de impacto
ambiental que a atividade possui, especialmente nos sistemas de produção intensiva com
relação ao armazenamento e destino final do montante de dejetos gerados.
Tendo em vista o objetivo deste trabalho de verificar a evolução da sustentabilidade da
atividade suinícola da Cosuel, pretende-se na próxima subseção apresentar algumas
considerações realizadas e levantadas por pesquisadores do setor quanto às técnicas,
impactos e cuidados ambientais da atividade, especialmente quanto a gestão dos dejetos de
suínos. Isso se deve ao fato da geração de dejetos suínos em sistemas de produção em
confinamento ser apontada como principal obstáculo ou desafio para uma suinocultura
sustentável.
Essa pressão sob o meio ambiente decorre tanto por uma pressão direta no local de
produção, como a concentração de animais em determinadas áreas, quanto por pressão
54
indireta, fora do local de produção, através do aumento do consumo de alimentos
concentrados, o que provoca expansão e intensificação na produção de grãos, podendo
provocar erosão e poluição nas áreas agrícolas (SPIES, 2003 apud MIRANDA, 2005).
Para Miranda (2005), para maior inserção no comércio internacional, o Brasil
necessita adequar os seus sistemas produtivos às exigências ambientais de seus principais
mercados de exportação. A forma de obter essa adequação está diretamente relacionada com o
tipo de manejo tecnológico ambiental prevalecente nos países desenvolvidos, porque são eles
que dominam o comércio mundial e, portanto, definem o padrão tecnológico que prevalecerá
no resto do mundo. O autor exemplificada a importância de se atentar as tecnologias de
cuidado ambiental, afirmando que tendências ambientais mais restritivas nos países grandes
produtores podem estimular um aumento da produção brasileira em função de maiores
possibilidades de exportação, o que, por sua vez, pode resultar em aumento de poluição. Por
outro lado, essa possibilidade de exportação pode estar associada a exigências ambientais tão
rigorosas quanto à dos países importadores, levando a um maior esforço interno no sentido de
controlar os impactos ambientais negativos.
Os principais problemas identificados em relação aos dejetos de suínos são: a poluição
das águas e dos solos, o mau cheiro e o crescimento do número de borrachudos nas regiões de
produção. Pessoa, Silva e Camargo (2002) colocam que na região de Lajeado dos Fragosos,
Santa Catarina, estudos sobre impactos ambientais da suinocultura indicam que essa atividade
vem contribuindo com 65% da emissão de poluentes lançados nos recursos hídricos locais.
Votto (2004) defende que os impactos ambientais da atividade suinícola são tão
grandes que numa perspectiva radical a suinocultura em sistemas de confinamento poderia
indicar que, além de concorrer por alimentos, os suínos confinados têm concorrido com os
homens pelas águas, pelos solos e até pelo próprio ar das áreas de produção.
2.5.2 Manejo dos dejetos
Os sistemas produtivos intensivos de suínos, geralmente utilizados em propriedades
que têm a atividade com fins econômicos, baseiam-se no confinamento de animais em
55
pequenas áreas. Esse tipo de exploração intensiva resultou em melhores índices de
produtividades, portanto maiores resultados econômicos, gerando maior renda para o
produtor. Também apresentou maior produção de dejetos, que podem ser utilizados como
adubo orgânico em lavouras como a de milho que é a base da ração dos suínos.
Essa descrição passa a idéia de um sistema completo e fechado, que gera maior
produtividade e seus excedentes podem ainda ser utilizados como insumos para fertilizar
lavouras que serão utilizadas para fabricar a ração dos suínos, que produzirão dejetos,
reiniciando o ciclo. No entanto, os sistemas de confinamento costumam gerar um montante de
desejos muito maior do que as propriedades podem aproveitar sem contaminar os solos. Isso
se deve a um contra-senso intrínseco ao sistema de confinamento dos animais que, ao mesmo
tempo em que permite ótimos índices de produtividade em pequenas áreas de produção, gera
excedentes de dejetos que exigem grandes áreas de produção para seu aproveitamento
adequado.
Esse problema é agravado quando ocorre à separação da produção animal da produção
agrícola, ficando a propriedade sem opção de lavoura para a alocação dos dejetos como adubo
orgânico. A utilização inadequada dos dejetos como adubo orgânico gera grande poluição
ambiental devido à infiltração do nitrogênio no solo e ao escorrimento superficial do fósforo
e, muitas vezes, devido ao lançamento direto dos dejetos nos cursos d’água.
Conseqüentemente, tem-se o risco (potencial) de aparecimento ou agravamento de doenças
(verminoses, alergias, hepatites, hipertensão, câncer de estômago), desconforto na população
(proliferação de moscas, borrachudos, maus odores) e degradação dos recursos naturais
(morte de peixes e animais, toxicidade em plantas, e poluição dos recursos hídricos)
(GUIVANT e MIRANDA, 2004; OLIVEIRA, 2004).
Nos Estados Unidos, Williams (2006) analisa a situação da suinocultura em três
estados: Kansas, Oklahoma e Missouri, tendo em vista as divergências entre as grandes
corporações do setor e a comunidade local. A intensificação da suinocultura por essas
corporações excluiu os pequenos produtores da atividade e provocou problemas ambientais
graves. O autor discute a luta da comunidade e dos pequenos produtores para conter a
expansão desse tipo de sistema de produção (confinamento em larga escola), colocando que
alguns casos a população não se manifesta para assegurar empregos de familiares e amigos e,
em outros casos, quando a luta acontece, a saída encontrada pelas Corporações é a simples
realocação das produções em outras localidades e não a solução do problema em si.
56
No Brasil, em Santa Catarina, a região oeste está com solo, ar e recursos hídricos
bastantes comprometidos devido às unidades em grande escala e ao manejo inadequado dos
dejetos das criações de suínos e aves, principais atividades da região. Governos, organizações
do setor suinícola e de pesquisa estão convergindo esforços na busca por melhorias, por
exemplo, os projetos para suinocultura aprovados no Programa Nacional do Meio Ambiente
PNMA (I e II) que buscam desenvolver pesquisas e tecnologias que resultem na melhoria da
qualidade ambiental.
o Rio Grande do Sul não apresenta os mesmos problemas dos casos citados acima.
A diferença do Rio Grande do Sul com relação à Santa Catarina é atribuída pelo SIPS ao
crescimento da atividade estar ligado ao crescimento dos sistemas integrados, que permitem
um maior controle da cadeia. Ao mesmo tempo, na região oeste de Santa Catarina há
propriedades com grandes escalas de criações de suínos, todavia sem terras suficientes para
aproveitamento dos excedentes, quadro que não se repete no Rio Grande do Sul, onde
predomina as granjas de pequena escala, em propriedade familiares.
A única região identificada que apresenta problemas de poluição de rios e mal cheiro é
a região do município de Frederico Westphalen, noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, ou
seja na Região do Médio Alto Uruguai, sendo que o Ministério Público está atuando de
forma a responsabilizar produtores e integradoras responsáveis pela disposição dos dejetos
nos rios e pelas propriedades não adequadas aos critérios da legislação ambiental. Portanto,
pode-se perceber que apesar de existirem alternativas tecnológicas para o tratamento e
adequado destino dos dejetos, o problema ambiental não é facilmente resolvido ou evitado
porque pode envolver custos significativos, especialmente quanto ao armazenamento e
transporte dos dejetos.
Miranda (2005) coloca que, enquanto muitos países europeus estão tendo que reduzir
o seu plantel devido a problemas ambientais, o Brasil não possui tal restrição. A Alemanha,
por exemplo, proibiu a abertura de novas granjas no país. A Holanda subsidiou o transporte e
tratamento dos dejetos e agora busca a estagnação ou total encerramento das atividades no
país, devido justamente a escassez de terras para a correta utilização dos dejetos como
fertilizantes e a alta demanda de investimentos para solucionar a questão.
No Brasil, a atividade suinícola ainda possui a vantagem de não ter restrições ao
crescimento da atividade, considerando a capacidade de absorção do meio ambiente dos
resíduos da atividade, pois ainda há baixa densidade de animais por hectare e em razão de sua
vasta extensão territorial (MIRANDA, 2005). Todavia deve se ter precauções, pois pode-se
57
entender esse aspecto como parcialmente verdadeiro, uma vez que a distribuição espacial da
atividade é muito desigual, estando concentrada principalmente nos estados da Região Sul e,
dentro deles, em determinadas regiões ou microrregiões bem específicas, condição esta que,
pelo menos no curto prazo, relativiza a suposta vantagem ambiental do país.
Para Bley (2000 apud WEYDMANN, 2004), no Brasil a tendência é permitir novas
atividades de criatórios desde que sejam obedecidas as distâncias entre as granjas, áreas de
preservação permanente e demais dispositivos estabelecidos em lei. Weydmann (2004) alerta
que esse contexto internacional torna a Europa um potencial comprador da indústria brasileira
de carne suína, o que aumenta a necessidade de políticas e tecnologias orientadas a
sustentabilidade da atividade, ou seja, controle sanitário e ambiental juntamente com um
controle dos custos e aumento de produtividade.
Os dejetos de suínos têm poder poluente de 4 à 5 vezes maiores que os do homem,
sendo que cada suíno produz volume de dejetos variando entre 8 a 10 % do peso vivo animal
(Oliveira, 1993). Segundo Weydmann (2004), um suíno de 60 kg produz quatro vezes mais
dejetos do que um ser humano. Perdomo et al. (1999) estimaram que o total de dejetos
produzidos nos diferentes sistemas de produção é, em média: (a) ciclo completo: 100L/ dia/
matriz; (b) UPL’s: 60L/ dia/ animal; (d) unidades de crescimento e terminação: 7,5L/ dia/
animal (apud MIRANDA et al, 2004). Enquanto Oliveira (1993) classificou a produção média
de dejetos nas diferentes fases do processo de produção, como pode ser observado no Quadro
3, de acordo com sua concentração de fatores sólidos e líquidos.
Categoria de Suínos
Esterco*
(kg/animal/dia)
Esterco (+ urina
kg/ animal/dia)
Dejetos líquidos
(l/ animal/dia)
Suínos de 25-100 kg
2,30
4,90
7,00
Porcas em Gestação
3,60
11,00
16,00
Porcas em Lactação
6,40
18,00
27,00
Machos
3,00
6,00
9,00
Leitões desmamados
0,35
0,95
1,40
Média 2,35 6 9
Produção média diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos
Quadro 3: Produção média diária de dejetos nas diferentes fases produtivas dos suínos
Fonte: Oliveira, 1993.
Oliveira e Nunes (2002) ressaltam que além de considerar os aspectos ambientais, os
processos adotados para o tratamento dos dejetos devem proporcionar agregação de valor ao
58
resíduo final, para torná-lo auto-sustentável economicamente, através da valorização
agronômica do resíduo como fertilizante, para a produção comercial de adubo orgânico ou a
geração de energia (térmica ou elétrica).
Algumas tecnologias foram desenvolvidas de forma a diminuir os riscos com o manejo
e destino dos dejetos de suínos. Na literatura pesquisada, puderam-se destacar as esterqueiras,
bioesterqueiras ou lagoas de estabilização, o sistema de cama sobreposta, os biodigestores e
os cuidados com as instalações.
As esterqueiras, bioesterqueiras e lagoas de estabilização são apresentadas como as
formas mais usuais de manejo de dejetos de suínos e tratam de processos de armazenamento
dos dejetos que buscam sua estabilização para evitar danos maiores aos rios e solos e para,
posteriormente, utilizá-los como fertilizantes do solo. No processo de armazenamento em
esterqueiras ou bioesterqueiras os dejetos são coletados juntamente com a água utilizada na
limpeza das instalações e separados em duas fases, por meio de uma peneira rotativa. Em
seguida são transportados até as bioesterqueiras, onde ficam até que ocorra sua estabilização,
quando então são levados para as lavouras e utilizados como fertilizantes (VASQUES, 2004).
Para Guivant e Miranda (2004), desde o início da utilização de esterqueiras e
bioesterqueiras pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves questionavam-se a eficiência dessas
para solucionar os problemas ambientais, por se tratar de uma tecnologia para armazenamento
e não para tratamento dos dejetos. Mais tarde Gosmann (1997, apud GUIVANT e
MIRANDA, 2004) comprovou que as (bio) esterqueiras representavam uma forma de
armazenamento e não de tratamento dos dejetos.
As lagoas de estabilização também são bastante difundidas devido a seus baixos
custos. Esse processo determina a passagem dos dejetos por sucessivas lagoas (lagoas
anaeróbicas, lagoa facultativa e lagoas de aguapé) para que ocorra a separação dos resíduos
sólidos dos líquidos, reduzindo seu potencial poluente, permitindo assim o seu retorno ao
corpo d'água, de acordo com os parâmetros estabelecido pela legislação ambiental
(GUIVANT e MIRANDA, 2004).
na produção de suínos em sistemas de Cama Sobreposta (Deep Bedding) os dejetos
líquidos são misturados a um substrato sólido (maravalha, palha, casca de arroz, bagaço de
cana) dentro das edificações, juntamente com os animais, sendo submetidos a um processo de
compostagem e estabilização (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2004). Esse sistema é uma
alternativa às pequenas propriedades, que não dispõem de áreas agrícolas suficientes para
59
aplicação do dejeto como adubo, nem recursos para a implantação de sistemas de tratamento
de dejetos.
Os sistemas convencionais de produção de suínos baseiam o tratamento de dejetos em
estruturas externas às edificações, como as mencionadas esterqueiras. Para Girotto e
Chiochetta (2004) essas práticas resultam em um resíduo final cuja concentração de nutrientes
é muito baixa, o que praticamente inviabiliza economicamente o seu uso como adubo
orgânico. No Brasil observa-se “uma alta diluição dos dejetos (matéria seca entre 1,6% e
3%), em função do grande desperdício de água nos bebedouros e da limpeza das instalações,
bem como no manejo inadequado das águas pluviais” (GIROTTO; CHIOCHETTA, 2004,
p.12).
Por outro lado, o composto gerado no sistema de produção em cama sobreposta,
apresenta alta concentração de nutrientes, viabilizando seu uso como fertilizante orgânico e
facilitando sua distribuição na lavoura ou comercialização (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2004;
GIROTTO e CHIOCHETTA, 2004). Gaya (2004) demonstrou a eficiência fertilizante das
camas resultantes desse sistema, no entanto, como para qualquer adubo, é necessário que se
adapte a aplicação do material com as condições e necessidades do solo e cultura plantada.
Oliveira e Higarashi (2004) citam como importantes vantagens do sistema
adequadamente operacionalizado o melhor conforto e bem estar animal; melhor
aproveitamento da cama como fertilizante agrícola em função da concentração de nutrientes;
redução quase total da água contida nos dejetos; menor tempo de mão-de-obra; redução no
uso de medicamentos; redução significativa dos odores e dos gases nocivos a atmosfera.
Por outro lado as desvantagens do sistema são: maior consumo de água no verão pelos
animais; maior cuidado e necessidade de ventilação nas edificações; disponibilidade do
substrato que servirá de cama e aumento dos cuidados com transmissão de algumas doenças.
Assim, o maior empecilho para a definitiva aceitação do sistema de camas no Brasil é a
questão sanitária. Adicionalmente, a gestão de camas poderia prejudicar não somente o
ganho de peso dos animais, mas também favorecer a propagação de doenças entre estes.
Uma alternativa que vem sendo difundida no Estado do Rio Grande do Sul para os
produtores rurais agregarem valor aos resíduos e ao mesmo tempo reduzirem os custos
energéticos nas propriedades, principalmente os custos com o aquecimento de ambientes para
a produção animal, é o uso do biogás como combustível. O uso do biogás nas propriedades
tem como modelo de produção os biodigestores, que têm merecido destaque devido aos
60
aspectos de saneamento e geração de energia, além de estimularem a reciclagem orgânica e de
nutrientes (LUCAS JR., 1994 apud OLIVEIRA, 2004).
Os biodigestores são câmaras que realizam a digestão anaeróbia da matéria orgânica e,
no meio rural, são depósitos semelhantes às esterqueiras, que podem ser adaptadas e
transformadas em biodigestores simples, diferenciando-se apenas por possuírem cobertura
para armazenar o biogás (OLIVEIRA, 2004). O biogás, produto da digestão anaeróbia dos
dejetos de suínos, é composto por uma mistura de metano (65-70%-CH4) e de gás carbônico
(30-35%-CO2) e vapor d’água, e pode substituir o gás liquefeito de petróleo (GLP), a lenha, a
gasolina e serve para a geração de energia elétrica.
Para o produtor que possui área agrícola suficiente para aplicação do biofertilizante no
solo e possui uma demanda de energia térmica que justifique o investimento, que conforme a
tecnologia adotada, nem sempre apresentam custos atraentes ao pequeno produtor, os
biodigestores são bem vantajosos. Além dos dejetos, os resíduos domésticos vegetais
triturados também podem ser aproveitados no biodigestor. A limitação deste processo está no
cuidado com os teores de agentes sólidos totais para evitar entupimentos e na temperatura da
biomassa no biodigestor (OLIVEIRA, 2004).
Kunz, Perdomo, Oliveira (2005) salientam a importância de um planejamento
adequado para a produção, uso e disposição dos subprodutos derivados dos biodigestores,
para que os produtores não implementem um projeto mal dimensionado, com altos custos,
problemas operacionais e baixa eficiência de produção e uso do biogás, bem como a
utilização do biofertilizante inviabilizando o sistema do ponto de vista técnico e econômico.
O biodigestor é uma tecnologia que permite uma visão mais sistêmica do ponto de
vista da gestão econômica e ambiental da propriedade, devido à diversidade do uso do biogás
como: na alimentação de motores; na geração de energia térmica ou fonte de calor para o
aquecimento dos animais e até mesmo nas residências; e devido ao lodo resultante do
processo de fermentação com grande potencial fertilizante e alto valor agregado. Soma-se a
isso, mais um beneficio recentemente oficializado (2005), por meio do Protocolo de Quioto
(2005). Assim, como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os biodigestores abrem a
possibilidade de os produtores associarem-se para instalação de biodigestores para geração de
61
energia a partir de fonte renovável, como os dejetos de suínos e restos orgânicos, e entrarem
no mercado de carbonos.
1
As edificações que são as instalações dos animais, local da comida e bebida e meio de
escoamento dos dejetos também são fatores importantes no planejamento dos sistemas de
produção de suínos e determinantes na etapa de manejo adequado dos resíduos. Oliveira e
Silva (2004) atribuem a falta de modulação e qualidade das edificações tanta responsabilidade
com relação aos impactos ambientais quanto a que é atribuída ao manejo dos dejetos e
resíduos produzidos. Para os autores a situação é grave, pois mesmo os projetos novos de
edificações evoluíram tecnicamente muito pouco, conservando frequentemente os mesmos
erros.
O local da edificação deve, além de atender a legislação quanto à distância das fontes
de água, dos rios, das estradas e das divisas, visar um maior aproveitamento dos recursos
naturais, como a ventilação e aquecimento solar. Assim, o local escolhido deve “ser bem
drenado, elevado, bem ventilado e com declividade para facilitar o escoamento das águas
pluviais e a retirada dos dejetos líquidos” (OLIVEIRA; SILVA, 2004, p.18).
Não existe padronização nas dimensões das edificações, porém Oliveira e Silva (2004)
recomendam que a largura não deve ultrapassar 12 metros, para facilitar a ventilação natural e
evitar problemas com a umidade interna, e o comprimento 100 metros, para facilitar o
manejo e deslocamento interno de resíduos e de animais. Na entrada de todos os prédios, deve
haver um local com solução desinfetante à base de iodo, para as pessoas pisarem antes de
entrar. Enfatiza-se, entretanto, que, a partir desses critérios, as edificações sejam adaptadas às
regiões.
Os resultados esperados com esses cuidados nas edificações são: facilidade de
ampliação das edificações; redução do custo das edificações; aumento do conforto térmico, do
bem estar animal e humano; da produtividade; facilidade do manejo de animais e dejetos e
aumento dos lucros (OLIVEIRA; SILVA, 2004, p.20). Esses cuidados também vão refletir na
quantidade de água dos dejetos, provinda dos bebedouros, da lavação das baias e da água das
chuvas. Com relação a água da chuva, os canais abertos, de captação de dejetos, existentes na
maioria das propriedades, além de coletarem indevidamente a água da chuva e do telhado,
possibilitam o escorrimento superficial dos dejetos para fora dos canais, pois a maioria desses
1
O Instituto Sadia de Sustentabilidade tem oportunizado aos seus integrados a adoção de pequenos biodigestores
na propriedade e por meio do “Programa da Suinocultura Sustentável Sadia - Programa 3S” a inserção desses
produtores no mercado de carbono.
62
depósitos não possui caneletas de drenagem ao redor nem desvio das águas pluviais. Soma-se
a isso o escoamento dos dejetos das edificações geralmente realizado com o auxílio de água e
utilização de equipamentos de alta vazão e baixa pressão, trazendo conseqüências como: (a)
grande desperdício de água; (b) incorporação de água aos dejetos, reduzindo a qualidade e
aumentando a quantidade; (c) escoamento de dejetos pelas paredes e superfícies; (d)
proliferação de vetores nocivos à saúde humana e animal e; (e) proliferação de odores. Uma
alternativa é a raspagem mecânica dos dejetos e, quando necessário a lavação, através de lava-
jatos de alta pressão (OLIVEIRA; SILVA, 2004).
Finalmente, a suinocultura é uma atividade relevante tanto em termos econômicos
como sociais, mas que merece especial atenção quanto aos cuidados ambientais. A atividade
vem sendo considerada pelos órgãos de fiscalização e proteção ambiental como uma atividade
potencialmente causadora de degradação do ambiente, por apresentar grandes produções de
resíduos orgânicos, que são altamente poluentes, causando sérios problemas ambientais e de
saúde pública.
63
2.5.3 Legislação pertinente ao setor
Em nível Federal a atividade suinícola deve atentar à: (a) Lei 4.771/1965, referente ao
Código Florestal Federal; (b) Lei 9.605/1998, que dispõe sobre os crimes ambientais; (c) Lei
9.985/2000, relacionada ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza -
SNUC, que indica os critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de
conservação, inclusive as relacionadas às Áreas de Proteção Ambiental - APA, Áreas de
Relevante Interesse Ecológico ARIE e às Reservas Particulares de Patrimônio Natural -
RPPN; (d) Resolução CONAMA 10/1998 e Resolução CONAMA 12/1999, que dispõem
sobre a Mata Atlântica e; (e) Resoluções CONAMA 302 e 303/2002, sobre as Áreas de
Preservação Permanente – APP.
Os produtores do Estado do Rio Grande do Sul devem atentar também a: (a) Lei
11.520/2000, sobre o Código Estadual do Meio Ambiente; (b) Lei 9.519/1992, sobre o
Código Florestal Estadual; (c) Lei 6.503/1972, referente ao Código Sanitário Estadual. Além
disso, cada caso isolado deve atender ao Plano Diretor e zoneamentos municipais.
Especificamente para o setor no estado destaca-se a Resolução Consema 084/2004,
de 17 de dezembro de 2004, que dispõe sobre o licenciamento ambiental das atividades
constantes de Sistemas Integrados de Produção. Segundo essa resolução, o Licenciamento
Ambiental como procedimento administrativo é o meio pelo qual o órgão ambiental licencia a
localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades que utilizam
recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.
Segundo os critérios técnicos para o licenciamento ambiental de novos
empreendimentos destinados à suinocultura seguido pela Fundação Estadual de Proteção
Ambiental FEPAM, na seleção das áreas para implantação de empreendimentos destinados
à atividade de suinocultura deverão ser considerados, especialmente: as legislações referentes
a Unidades de Conservação (UCs), Áreas de Proteção Ambiental (APAs), Áreas de Relevante
Interesse Ecológico (ARIEs) e a Reserva da Mata Atlântica e Áreas de Preservação
Permanente (APPs).
64
Votto (2004, p.154) ressalta que, no geral, na legislação referente à produção de suínos
as responsabilidades e penalidades são dirigidas exclusivamente aos produtores; “não há
referências, por exemplo, uma co-responsabilidade das cooperativas e indústrias
integradoras”.
Esse quadro no Estado do Rio Grande do Sul muda um pouco com a introdução do
Licenciamento Ambiental Integrado efetivado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente
CONSEMA
2
, por meio do qual as Integradoras podem obter o licenciamento para seus
integrados, responsabilizando-se pelo atendimento dos critérios legais das propriedades.
Assim, o órgão pode fiscalizar uma amostra do grupo e não o grupo todo, certificando-se que
a Integradora está de acordo. Essa iniciativa é tida como um grande avanço para o setor, pois
agiliza e viabiliza as atividades do Conselho com relação à fiscalização e liberação do
licenciamento e delega maior responsabilidade para as Integradoras que passam a observar
suas propriedades com mais cautela, para não correr o risco de perder o licenciamento de
todas as propriedades do grupo.
2.6 Sistema Integrado Agronegocial (SIAN)
O Sistema Integrado Agronegocial é um framework constituído por Pedrozo et al.
(1999) que permite identificar atores e fatores de determinado ambiente da organização,
conforme diferentes níveis de análise separados em três subsistemas cuja interrelação permite
uma visualização do todo. O Sistema já foi aplicado em três estudos acadêmicos para analisar
sob diferentes aspectos a cadeia produtiva de frango em Goiás (DIAS, 2001), da fruticultura
irrigada da região da campanha do Rio Grande do Sul (FERREIRA, 2001) e, por fim, a cadeia
produtiva de carne bovina para exportação (DIAS, 2003).
O SIAN propõe uma abordagem sistêmica que permite identificar, compreender e
interpretar fenômenos, cada vez mais complexos, no sentido colocado por Morin (2002, 2005)
de que a complexidade evita os mecanismos do pensamento reducionista, disjuntivos, linear e
simplificador, defendendo um pensamento que procura ao mesmo tempo distinguir, mas não
2
Resolução CONSEMA nº 084/2004, de 17 de dezembro de 2004 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental das
atividades constantes de Sistemas Integrados de Produção.
65
disjungir, e reunir: o uno e o múltiplo; o incerto e o certo, o lógico e o contraditório. Esse
pensamento complexo busca as relações existentes entre todos os aspectos de um contexto,
entendendo que essas são interdependentes, pois mesmo quando independentes (autônomos)
eles dependem de outros fatores para manter sua autonomia. Por conseguinte, se uma
relação interdependente entre os fatores de um contexto complexo, também implicações
das ações de um no andamento de outro e, por vezes, implicações em terceiros e assim por
diante. Sendo que o pensamento complexo rompe com o princípio da causalidade linear,
entendendo que a causa age sobre o efeito e o efeito sobre a causa, isto é, os efeitos são eles
próprios produtos e causas daquilo que os produz.
A questão da complexidade, nesse sentido, converge com o debate sobre
desenvolvimento sustentável, uma vez que se admite que um estreito imbricamento entre
as diferentes dimensões da sustentabilidade e um alto grau de interdependência entre elas,
sendo que, de forma geral, o sucesso de uma não ocorre sem a outra. Por esse motivo, o SIAN
é entendido como um caminho para a análise empírica da sustentabilidade em determinada
realidade, permitindo a convergência de elementos que normalmente seriam excludentes.
Assim, a proposta do SIAN é representar as interações e articulações dos vários
atores/agentes e ambiente da organização. Especificamente, ele foi elaborado com orientação
às organizações do agronegócio ou agribusiness. Com base no trabalho de Pedrozo et al.
(1999) os três subsistemas (referencial, estrutural e avaliativo), representados na Figura 5, que
compõem o SIAN serão melhores detalhados.
66
Figura 5: Sistêmico Integrado Agronegocial (SIAN) “Micro-Meso-Macro Analítico”
Fonte: Pedrozo et al. (1999. p. 27).
67
O subsistema referencial (SBR) é composto por três dimensões principais
representadas pela demanda efetiva e/ou potencial (necessidade e/ou expectativas dos
consumidores, individualmente ou em grupo), o ambiente e/ou políticas institucionais e a
capacidade concorrencial, principalmente das organizações (PEDROZO et al.. 1999).
No subsistema estrutural (SBE) encontram-se os atores que são responsáveis pelo
funcionamento do sistema, cujas decisões conduzem às ações. Os atores principais são as
organizações (consideradas individualmente), os conjuntos de organizações (arranjos
produtivos) e a nação. Essas organizações, que podem ser de naturezas muito diversas
incluindo ambientes organizacionais distintos, são consideradas sob o ponto de seus
comportamentos individuais.
No conjunto das organizações podem se articular, de maneira formal ou informal,
interesses estratégicos que envolvem várias organizações, como por exemplo: filière, cadeia
produtiva, cadeia agroindustrial, cadeia de suprimentos, redes, alianças e clusters (PEDROZO
et al., 1999).
A nação é representada pelas estruturas organizacionais, os recursos humanos as
políticas ou diretrizes governamentais (federal, estadual, municipal), que representam os
interesses nacionais. A ação das estruturas organizacionais governamentais e suas políticas
sinalizam um horizonte desejado e buscam medidas que organizam, catalisam, estimulam e/ou
inibem a ação dos demais atores.
O subsistema avaliativo (SBA) é o subsistema que permite uma avaliação do
desempenho. Cada componente do SBE deve ser avaliado, sendo três tipos de desempenhos
que fazem parte do SBA: o desempenho organizacional, o desempenho de “conjuntos de
organizações” e o desempenho nacional. Esses três componentes também estão ligados entre
si pelo processo de retro-alimentação sistêmica. Observando o Sistema, o desempenho de uma
organização pode ser dado tanto pela legitimação das atividades da organização por parte de
seus stakeholders, quanto pelo próprio posicionamento da organização e de seus gestores.
A retro-alimentação do sistema ocorre de várias maneiras e em diferentes níveis
através da interação contínua. Ela existe no interior de cada um dos subsistemas
(SBR/SBE/SBA), ligando cada um de seus componentes. O processo se completa com a
interação entre os diferentes subsistemas entre si. As mudanças ocorrem permanentemente,
sendo necessário, portanto, interpretar e apreender a dinâmica do sistema, pois é uma das
características fundamentais do mesmo.
68
Assim, as organizações interpretam os estímulos do mercado e das políticas/diretrizes
governamentais e, levando em consideração suas próprias intenções, suas capacidades e suas
competências internas; decidem se devem ou não passar a ações concretas. Portanto, a retro-
alimentação dos desempenhos dos três conjuntos caracteriza o sistema como dinâmico e
permite a manifestação da inter-relação sistêmica entre as partes entre si e entre essas partes e
o todo, e vice-versa.
O caminho a ser percorrido dentro do SIAN, isto é, passando pelos subsistemas,
depende da história do fenômeno estudado, do referencial teórico utilizado e da própria
interpretação do pesquisador, sobre quais etapas são pertinentes ao estudo e qual a seqüência
de etapas mais adequada para se atingir o objetivo proposto pelo estudo. Nesse sentido, outro
aspecto teórico contemplado na construção do SIAN é a idéia de rizoma, apresentada por
Deleuze & Gattari. De maneira sucinta, a idéia do rizoma trata de uma unidade central
extraída de um todo de onde outras múltiplas unidades poderão sair, assim ela possibilita uma
análise partindo de qualquer parte do sistema e conectando-a em qualquer parte independente
da lógica do sistema. De tal forma, o SIAN pode ser iniciado ou reiniciado, em qualquer
ponto do modelo e, assim sendo, uma análise de um mesmo contexto pode implicar em
múltiplos caminhos e resultados, conforme o ponto de partida e interações das partes..
Outra característica do Sistema, é que este pode ser utilizado tanto como referencial
teórico, definindo as abordagens teóricas que orientaram o estudo, quanto como instrumento
de apoio metodológico, no sentido de estabelecer a seqüência de níveis percorridos dentro do
Sistema durante o estudo.
Na presente pesquisa, o SIAN é utilizado como instrumento de apoio metodológico,
para a definição dos níveis (etapas) que interagem no contexto do problema proposto,
entendidos como unidades de análise da pesquisa. Sendo uma dessas unidades o objeto central
desse estudo, isto é, a unidade, que a partir das demais etapas ou com base nelas, preocupa-se
em responder a questão central do estudo, atendendo ao objetivo geral do mesmo. De tal
forma, identifica-se quais os atores de cada subsistema do SIAN no contexto da reestruturação
da cadeia produtiva de suínos da Cosuel e conforma o entendimento (do pesquisador) sobre a
importância desses atores no processo esses são definidos como níveis de análise que em
seqüência apresentam a dinâmica do Sistema e, portanto, do contexto da Cosuel.
69
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Tendo em vista a revisão teórica desenvolvida, segue os procedimentos metodológicos
utilizados para realização da pesquisa, coleta e análise dos dados, de modo a satisfazer seus
objetivos.
3.1 Tipo, método de abordagem e natureza da pesquisa
A pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, por se tratar de uma investigação
empírica que reflete a realidade de uma unidade de estudo, no caso o setor suinícola da
Cosuel, que se analisa profundamente, contribuindo para a compreensão dos fenômenos
individuais, organizacionais, sociais e políticos (TRIVIÑOS, 1987, YIN, 2001).
O método de abordagem é fundamentalmente qualitativo, de forma a possibilitar uma
interpretação mais aprofundada das relações que se estabelecem entre as variáveis estudadas
(Cooperativa, suinocultura, sustentabilidade) permitindo captar não só aparência do fenômeno
como também a sua essência, buscando explicar as causas da sua existência, sua origem, suas
relações e suas mudanças (TRIVIÑOS, 1987).
A pesquisa tem caráter descritivo (TRIVIÑOS, 1987; CERVO E BERVIAN, 1983),
pois se propõe a levantar, analisar e descrever as características e propriedades do processo de
reestruturação da cadeia produtiva de suínos da Cosuel, assim como as relações existentes
entre a Cooperativa e os Cooperados e as inovações e a evolução da sustentabilidade da
atividade suinícola na Cooperativa. A descrição terá como base e ponto de partida as etapas
identificadas no Sistema Integrado Agronegocial especificamente construído para orientar a
análise desse caso. Logo, as etapas identificadas como importantes para aprofundamento
teórico-empírico no Sistema são os níveis de análise do estudo.
70
Para a descrição, utilizou-se também a perspectiva de análise da path dependency
(caminho dependente), pois, uma vez que se buscou identificar a evolução da sustentabilidade
na cadeia suinícola da Cosuel, valorizou-se a sua história e o período de forma corrente e não
apenas o antes e o depois. A lógica da path dependency indica que fatos presentes são
decorrentes de caminhos definidos devido a acontecimentos do passado. Segundo North
(1990 apud Pierson, 2000) o uso da path dependency implica no entendimento sobre o que
existe nas instituições que influenciará escolhas futuras e sobre como essas instituições e os
modelos mentais existentes interagem nessas escolhas. Para Pierson (2000) atentar aos
acontecimentos do passado é importante, pois escolhas iniciais incentivam a emergência de
redes sociais e econômicas elaboradas, aumentando extremamente o custo de adotar novas
escolhas. Isto é, uma vez que se adota um caminho os custos de mudá-lo são muito altos, o
que não significa que por influenciar a trajetória futura, levará aos mesmos resultados.
Santos (2003) coloca que para North (1990) a noção de path dependency não se aplica
a toda e qualquer mudança, apenas às institucionais e às tecnológicas, contudo Pierson (2000)
coloca que a noção de path dependency tem sido aplicada ao entendimento de processos
políticos diversos, em especial nos estudos comparativos.
Assim, a inclusão de uma perspectiva de análise na lógica da path dependency
mostrou-se interessante para determinar e enfatizar as inter-relações existentes entre os níveis
de análise definidas no SIAN, indicando que não apenas uma lógica cronológica nessas
etapas, mas também implicações de uma etapa definindo o andamento de outras.
3.2 Campo e sujeitos da Pesquisa
O campo de pesquisa é a cadeia produtiva de suínos da Cooperativa dos Suinocultores
de Encantado Ltda. Cosuel, especificamente o segmento de insumos e o setor primário de
produção até a etapa de entrega do animal para abate, segmentos que se referem à atuação da
Cooperativa e dos Cooperados. A Cosuel tem sua matriz na cidade de Encantado, na região do
Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. A cadeia produtiva de suínos da Cosuel, como unidade
de estudo, foi escolhida de forma intencional, devido a contato pré-estabelecido com o
71
Superintende da Cooperativa e por esta ter apresentado histórico de reestruturação na cadeia,
inovando o processo de organização da criação de suínos.
Quanto aos sujeitos da pesquisa esses foram selecionados qualitativamente, de acordo
com o contexto identificado na análise do SIAN, na revisão teórica e no contato prévio
estabelecido com a Cooperativa. A participação da pesquisadora no “Fórum de Tecnologias
Limpas para Suinocultura” (julho de 2006), organizado pela FARSUL
3
, foi determinante para
a identificação e o contato com agentes atuantes no setor, como técnicos da FEPAM e o
Presidente do Sindicado dos Produtores de Suínos (RS). Em síntese, a amostra caracteriza-se
como do tipo qualitativa e intencional (THIOLLENT, 1987), em conformidade com a
proposta de abordagem assumida.
De tal forma, foram realizadas entrevistas pré-estruturadas com o Presidente do
Sindicato das Indústrias Produtoras de Suínos do Rio Grande do Sul (SIPS-RS); com um
Técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler - RS
(FEPAM), que trabalhou no Programa Nacional de Meio Ambiente II/ Ativos da Suinocultura
RS, e; com o técnico responsável pela cadeia de suinocultura da regional de Estrela da
Emater-RS.
Com relação aos atores da Cooperativa contatados, foram realizadas entrevistas com
três gestores da Cooperativa, são eles: o gerente da Divisão de Produtos de Suínos DPS da
Cooperativa; o gerente da Divisão de Fomento Agropecuário (DFA); e o supervisor da
Suinocultura da Divisão de Fomento Agropecuário. Contatos posteriores para esclarecimento
de dúvidas foram realizados por telefone e e-mail, fundamentalmente, com a unidade de
Supervisão da Suinocultura da Divisão de Fomento Agropecuário da Cooperativa. Tendo em
vista a estrutura organizacional mais enxuta que a Cooperativa adotou nos anos 90 (após
reestruturação organizacional), com a redução dos níveis hierárquicos para quatro, entende-se
que esses contatos realizados representam uma amostra representativa do quadro
organizacional da Cooperativa, especialmente no que se refere ao setor suinícola.
A definição dos oito produtores de suínos integrados à Cooperativa que participaram
da amostra foi realizada junto à unidade de Supervisão da Suinocultura, seguindo como
critério o roteiro de assistência de dois técnicos da Cooperativa, uma vez que, por solicitação
da Cooperativa, as visitas poderiam ser realizadas por intermédio dos técnicos. Contudo, a
pedido da pesquisadora, em virtude da pesquisa, os técnicos foram orientados a contemplar os
3
FARSUL: Federação dos Agricultores do Rio Grande do Sul.
72
produtores mais antigos, ou seja, que passaram pela mudança nos programas de suinocultura
da Cooperativa, buscando diversificar entre: ciclo completo, UPLS, creches, parcerias e
terminação a vista.
Em dezembro de 2005, dos cerca de 2800 cooperados a Cooperativa contava com 587
produtores inseridos nas atividades de suinocultura, divididos nos programas: (a) UPLs (58);
(b) terminadores (28); (c) terminador parceria rural (297); (d) Crecheiro (35); Ciclo Completo
(169) (Cosuel em Notícias, nov/dez 2005). Embora nem todos desse grupo sejam associados à
Cooperativa ou trabalham com suínos desde 1990, quantitativamente não se pode considerar a
amostra de oito produtores significativa frente a essa população de 587 produtores. Contudo,
entende-se que qualitativamente o aprofundamento das entrevistas e a convergência, das
informações apresentadas pelos produtores com as informações dos gestores, informativos e
relatórios, identificada na análise e cruzamento dos dados, viabilizam a amostra. Com base
nesse pressuposto, estende-se os resultados obtidos nas análises das entrevistas (com
produtores e gestores) e dos dados dos informativos e relatórios de atividades a toda cadeia
da Cooperativa, contudo não a toda suinocultura.
Como mencionado, essa limitação da amostra deve-se a viabilidade técnica e
econômica por parte da pesquisador e dos profissionais da Cooperativa em estender a amostra
a outros cooperados. De tal forma, a amostra relativa aos oito cooperados produtores de
suínos contatados caracterizou-se conforme apresenta o Quadro 4. Destaca-se que no decorrer
da análise dos dados, quando se coloca uma afirmação e generaliza-se essa informação ao
grupo total de produtores significa que o fato foi colocado por no mínimo a maioria dos
entrevistados.
Produtor Municipio Programa Anos na Cosuel
A
Dr. Ricardo Ciclo Completo 59 - Fundador
B
Roca Sales Creche 10
C
Anta Gorda Terminador a vista 59 - Fundador
D
Ilópolis Terminador Parceria 30
E
Anta Gorda Terminador Parceria 28
F
Imigrante Terminador Parceria 11
G
Anta Gorda UPL 63 dias 10
H
Colinas UPL 63 dias 25
Quadro 4: Caracterização dos produtores cooperados entrevistados
Fonte: Dados primários.
73
Adicionalmente, para melhor compreensão dos sistemas produtivos do setor suinícola
e dos fatores que influenciam a sustentabilidade do setor, foram contatados, por meio de
questionários abertos enviados via correio eletrônico, 6 pesquisadores da área, sendo 5 ligados
a Embrapa Suínos e Aves de Concórdia SC, obtendo o retorno de quatro pesquisadores.
Justamente por objetivar aprofundar o conhecimento do setor, na percepção de seus
pesquisadores, essa etapa antecedeu as visitas aos produtores da Cosuel e auxiliou na
identificação de perguntas e fatores a serem observados nas visitas às propriedades rurais.
3.3 Técnicas de levantamento e tratamento dos dados
Segundo Yin (2001), as dados de um estudo de caso podem derivar de: documentos,
registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos
físicos. Sendo que, para o autor, ao realizar uma visita de campo ao local escolhido para o
estudo de caso, cria-se a oportunidade de fazer observações diretas, de comportamentos ou
condições ambientais. Nesse estudo, as fontes de observação participante e artefatos físicos
não foram contempladas.
Os dados primários foram coletados em pesquisa de campo, no total de quatro visitas,
que possibilitaram a realização de algumas observações diretas, especialmente nas
propriedades rurais. Sendo que, além das propriedades cujos proprietários foram entrevistas, o
trajeto de assistência de um dos técnicos possibilitou ainda a observação de outras três
propriedades.
Adicionalmente, foram realizadas entrevistas em profundidade, todas elas gravadas,
conduzidas com instrumento de coleta de dados pré-elaborado (semi-estruturado),
procedimento comum na coleta de dados qualitativos, pois permite captar não aspectos
objetivos como também subjetivos relacionados à opinião, valores e atitudes dos
entrevistados.
Foram construídos 3 instrumentos semi-estruturados diferentes: o primeiro
direcionado aos gestores da Cooperativa (APÊNDICE 1) com temas que possibilitassem a
caracterização do período de reestruturação, como questionamentos sobre o que mudou no
74
processo produtivo, tecnologias e programas; o segundo para os produtores de suínos
(APÊNDICE 2), com temas para questionamento que possibilitassem a caracterização da
propriedade e da história da atividade suinícola na propriedade, assim como as mudanças
sociais e ambientais ocorridas; um terceiro direcionado para se conhecer o trabalho da
Emater, da Fepam e do Sindicato de Produtores de Suínos do Estado (SIPS/RS) (APÊNDICE
3), com perguntas amplas que permitiram que o entrevistado conduzisse a descrição da
atuação da instituição e suas percepções sobre a suinocultura.
Utilizou-se também de questionários abertos (APÊNDICE 4) enviados
eletronicamente para pesquisadores do setor, devido à impossibilidade técnica e econômica de
realização de entrevistas com os mesmos. O contato com técnicos do setor, justifica-se pela
necessidade de se compreender melhor todo o contexto e mudanças percebidas no setor.
Adicionalmente, a partir dos posicionamentos desses pesquisadores especialistas e atuantes no
setor, pôde-se identificar com mais clareza os aspectos relevantes a serem considerados nas
entrevistas com os produtores e observados nas visitas.
Os dados secundários foram obtidos com pesquisa bibliográfica e documental.
Bibliográfica quando por meio de pesquisas em teses, dissertações e periódicos que
retratassem a Cooperativa, os períodos e o contexto estudado. A etapa de análise documental
refere-se à pesquisa realizada nos informativos da Cooperativa, “Cosuel em notícias”, de
janeiro de 1993 (nº173) a dezembro de 1999 (nº235), conforme a disponibilidade no arquivo
da Cooperativa, sendo que a periodicidade das edições desse informativo não segue um
padrão. Assim, foram analisadas todas as edições desse período com exceções dos números:
202 (jan. 1997); 213 (jan.1998); 219 (jul 1998); 226 (fev. 1999); 228 (abr. 1999); 229 (maio
1999), por não constarem no arquivo.
As edições a partir do ano de 2000 também não constavam no arquivo da Cooperativa,
em virtude de um memorial aos 60 anos da Cooperativa, que, na ocasião, estava sendo
desenvolvido por terceiros (fora da Cooperativa), dificultando o acesso. Assim, do período de
2000 até dezembro de 2005 se teve acesso às publicações do ano de 2005, a partir do mês
de maio até dezembro. Essa ruptura no período de 2000 a 2005, foi atenuada com o
fornecimento por parte da Cooperativa de cópias dos Relatórios da Atividade de Suínos do
ano de 1994 a 2005.
Esse cuidado na análise desses documentos no decorrer do período deve-se a pretensão
desse estudo em identificar a evolução da Cooperativa com relação à sustentabilidade de sua
cadeia produtiva de suínos e a carência de dados sistematizados pelos setores contatados.
75
Portanto, ratifica-se que o período de análise desse estudo foi fundamentalmente de 1990,
definido como ponto de partida, pois foi quando se iniciou o processo de discussão acerca do
processo de reestruturação na Cooperativa, até dezembro de 2005.
Para a análise e interpretação dos dados coletados pretende-se seguir nos níveis de
análise identificados no SIAN a proposta de Triviños (1987) de: (a) pré-análise, que consiste
na organização do material como as entrevistas e os dados levantados nos informativos e
relatórios de atividade da Cooperativa; (b) processo de descrição analítica dos dados, que é a
codificação, principalmente as transcrições das gravações das entrevistas e a organização dos
dados em tabelas e gráficos que demonstrem a evolução que se pretende caracterizar; (c)
classificação e categorização dos dados em função dos objetivos específicos e dos níveis de
análise do Sistema Integrado Agronegocial Cosuel e, por fim; (d) o tratamento, reflexão e
descrição dos dados, conforme o referencial apresentado e seguindo a seqüência dos níveis de
análises categorizadas no SIAN.
Assim, os dados foram analisados e apresentados conforme as etapas identificadas no
SIAN, essas entendidas como níveis de análise, sendo que alguns desses níveis foram
considerados como forma de apoiar a descrição do foco desse estudo, que é o nível relativo ao
processo de reestruturação, suas inovações e implicações econômicas, sociais e ambientais. A
definição dos demais níveis justifica-se porque se entende que o contexto histórico foi
determinante para todo o processo de reestruturação e posicionamentos definidos pela
Cooperativa (path dependency), o que ocasionou em duas voltas no Sistema, caracterizando o
antes e o depois de cada nível de análise escolhido.
As abordagens teóricas escolhidas como referencial para o tratamento e descrição dos
dados referentes aos níveis às unidades de análise categorizadas são, fundamentalmente, os
tipos de inovação, isto é, onde essas podem ocorrer: processo, produto ou serviço, como
coloca Giget (1997); a categorização dos níveis de intensidade de inovação em radical,
incremental, modular e arquitetural, como definem Henderson e Clark (1990); as discussões
sobre sustentabilidade e o tripé econômico, social e ambiental como colocam Sachs (2002) e
Egri e Pinfield (1999), entre outros; a relação entre inovação (ou tecnologia) e
sustentabilidade (ou ecologia) como colocam Starik e Rands (1995); Rattner (1999); Pujari
(2004); entre outros; e a relação entre sustentabilidade e posicionamento estratégico das
organizações como trabalham Aragón-Correa (1998) e Sharma, Pablo e Vredenburg (1999).
76
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A seção de análise dos resultados se preocupa em descrever e caracterizar a
organização estudada e sua história como passo inicial para se entender o contexto do objeto
de estudo, uma vez que se adotou a perspectiva do path dependency que valoriza a
interferência dos fatos históricos no caminho presente definido pela organização. O passo
seguinte é, com base nesses aspectos históricos, construir o Sistema Integrado Agronegocial
(SIAN) adaptado para a pesquisa na Cosuel, definindo as abordagens teóricas utilizadas e os
níveis de análise que serão, posteriormente, analisados conforme a seqüência de análise
identificada na dinâmica do sistema construído, tendo em vista o objetivo do estudo.
4.1 A Cooperativa de Suinocultores de Encantado (Cosuel – Rio Grande Do Sul) e sua
história
A Cooperativa de Suinocultores de Encantado (Cosuel) foi fundada em 1947, por 387
pequenos agricultores que estavam desmotivados com as oscilações do mercado de suínos e
com os preços praticados pelo frigorífico da região, na época o Frigorífico Costi S/A. A
sugestão de organizar os produtores em Cooperativa partiu do diretor do Frigorífico Costi,
Guerino Costi, em almoço com os produtores e o então Prefeito de Encantado João Batista
Marchese (SCHIMTZ, 1990).
De acordo com Konzen, Ew e Lauschner (1998), a concretização da idéia da fundação
de cooperativa iniciou com base na experiência cooperativa de Charqueada, no distrito de
Putinga. Em Encantado, um grupo de produtores chegou à conclusão que os problemas que
enfrentavam com relação aos preços na comercialização de seus suínos teriam a solução
adequada por meio da criação de uma cooperativa própria. Assim, apoiados pelo então
prefeito de Encantado, no dia 15 de julho de 1947, foi realizada a Assembléia de Fundação da
Cooperativa de Suinocultores de Encantado Cosuel, concretizada em 1948, com a
77
construção de seu frigorífico de suínos, que se constitui ainda hoje a principal atividade da
empresa. Conforme o Estatuto Social de sua fundação, o objetivo inicial da Cosuel foi
viabilizar a atividade suinícola para os produtores, assumindo sua industrialização e
comercialização.
Inicialmente, a área de ação da cooperativa contemplava apenas os municípios de
Encantado, Arroio do Meio, Estrela, Garibaldi, Bento Gonçalves, Guaporé e Soledade
(KONZEN, EW e LAUSCHNER, 1998). Em 1995, o frigorífico da Cooperativa já trabalhava
com sua capacidade plena, superando os demais frigoríficos da região em capacidade de abate
e industrialização.
Na figura 6, procurou-se caracterizar cincos momentos da história da Cooperativa,
partindo da proposta de Konzen, Ew e Lauschner (1998), que resgataram e descreveram a
história dos cinqüenta anos da Cooperativa. Destacou-se também as principais mudanças
tecnológicas ocorridas no processo de produção de suínos, que serão retomadas na seção de
análise e discussão dos resultados desse estudo. Assim, durante esses 59 anos de existência, a
cooperativa passou por crises, desafios e oportunidades de crescimento que caracterizaram
esses cinco diferentes períodos de sua história, que são:
(1) 1947-1957 – fundação e concretização da Cooperativa;
(2) 1957-1968 – diversificação das suas atividades;
(3) 1968-1978 – consolidação das atividades e da própria Cooperativa;
(4) 1978-1989 crise estrutural no setor, na economia e, por conseguinte, na
Cooperativa;
(5) 1989-1999 reestruturação organizacional e produtiva caracterizou-se pela busca
de maior eficiência organizacional e nas cadeias produtivas para alcançar maior
competitividade. Esse é o período foco de análise desse estudo que busca observar suas
implicações até o período de 2005, quando a reestruturação está efetivada, com o objetivo
de maior eficiência dos programas sendo mantido.
78
1947 1957 1968
1978 1989
1999
Tempo
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a
- Meio de
comercializão e
renda do produtor;
-Incorporação de
novas atividades:
leite, soja, erva-mate,
trigo, bovinos, aves...
- Ampliação da área
de aceitação de
novos associados
-Expansão
quantitativa de suas
industrializões;
- Ampliação da
capacidade de
processamento e
aumento da área de
produção dos
cooperados;
-
- Estagnação
das atividades
econômicas e dos
investimentos em
infra-estrutura;
- Melhoria genética e
aumento dos
programas de
assistência como
forma de garantir
renda ao produtor;
- redução progressiva
da importância de
outras atividades
- Busca pela máxima
eficiência;
-Profissionalização da
gestão;
- Definição das atividades
estratégicas: suínos, leite e
ração (como apoio)
-Profissionalização das
cadeias leiteira e suinícola
com a introdução de novos
programas de
relacionamento e novas
técnicas e tecnologias;
- Melhoria no parque
industrial e na fábrica de
ração;
Principais Mudanças
Tecnológicas na
atividade Suinícola
Fases da História da Cooperativa
-Projeto Integrado de
Suinocultura (1973);
- Plano Cosuel de
Produção de Suínos
(1975/77);
- Programa Tipificação
de Carcaças (1975);
- Busca pelo aumento
de abates de suínos
tipo exportação
-Abatedouro e
frigorífico próprio
(1948);
-Produtores
Independentes,
produção em Ciclo
Completo (CC);
-Integração dos
produtores CC e
terminação;
- medidas sanitárias
como reprimir a
alimentação com lixo
e lavagem, a criação
de suínos na zona
urbana e a matança e
a comercialização
clandestina
-Programa de dois sítios (1990) e,
depois três sítios (1997);
-Autonomia e risco da atividade
minimizados para o produtor rural;
-Vazio Sanitário; Desmame Precoce;
Tipificação Eletrônica de Carcaças;
- Licenciamento Ambiental, em 2005,
passa a velar o Integrado;
-Lagoas de estabilização; Bico
Ecológico; Biodigestores;
- Fábrica de Rações
(1963);
-Produção de rações
na própria
Cooperativa;
-Criação da Marca
Dália (1965)
Figura 6: Evolução das Mudanças nos Cinqüenta Anos de História da Cosuel
Fonte: EW (2001) e Konzen, Ew e Lauschner (1998).
Para aumentar sua competitividade e seguindo uma tendência das cooperativas
agropecuárias, no período de 60 a 80 a cooperativa adotou duas estratégias de expansão:
multiplicação e diversificação industrial e ampliação da sua área de atuação com a aceitação
de novos associados. Esse movimento deve-se a identificação de outras culturas e criações de
importância econômica nas propriedades dos associados e incorporação das mesmas no
quadro de atividades da Cooperativa. Dessa forma, em 1957 a Cooperativa inaugurou a
unidade fabril de óleos comestíveis; em 1963, a fábrica de rações e; em 1965, a indústria de
laticínios que impulsionou a criação de uma marca própria, os produtos Dália (EW, 2001),
dando inicio ao segundo período de sua história como apresenta a Figura 6.
Para Konzen, Ew e Lauschner (1998), a década de 70 marcada pela consolidação da
Cooperativa no setor e na região, com a expansão quantitativa de suas industrializações e com
a incorporação de um total de 12 pequenas cooperativas, encerrando o processo de
diversificação. Nesse período, devido ao aumento do quadro social e da quantidade e
diversidade de produtos, também ocorreu ampliação da capacidade de processamento e a
modernização do parque industrial da Cooperativa.
79
A década de 80, quarto período representado na figura, foi marcada pelas
instabilidades econômicas e pela crise no setor suinícola, em virtude especialmente das
medidas econômicas adotadas pelo governo para reduzir os desequilíbrios e controlar a
instabilidade de preços e da peste suína. Assim, tendo identificado seu nível tecnológico baixo
para competir num mercado aberto e mais exigente, a Cooperativa passou a construir
planejamentos de longo prazo e profissionalizar a sua gestão. Ew (2001, p.72) coloca que foi
em 1991 que a Cooperativa enfatizou a sua função de sociedade e empresa cooperativa,
notando-se, pela primeira vez, a sua nítida preocupação com as mudanças no contexto
econômico através da adoção de uma visão empresarial na sua organização.
Dessa forma, a Cooperativa foi gradualmente implantando um processo de
reestruturação na sua gestão e processos produtivos por meio de programas que normalizam a
produção e o relacionamento da cooperativa com o produtor, isso ocorreu no quinto período,
representado na Figura 6, referente à década de 90. Na gestão, a cooperativa buscou
profissionalizar seus processos e quadro de funcionários, adotando uma estrutura hierárquica
mais horizontalizada, ao mesmo tempo em que matinha a participação dos cooperados por
meio de delegados, eleitos por região. Em 1996, os níveis hierárquicos foram reduzidos a
quatro, correspondendo apenas a 3,8% do quadro ao número de chefias, incluindo diretores,
gerentes e supervisores, bem como houve o redimensionamento do quadro funcional que,
além de reduzir custos, propiciou agilidade na tomada de decisões (EW, 2001).
Diante desse contexto no decorrer da década de 90 a cooperativa identificou e avaliou
suas atividades, eliminando as menos rentáveis. As atividades ligadas à suinocultura e aos
laticínios, bem como as atividades de apoio, como grãos para a indústria de rações, foram
consideradas como atividades rentáveis e estratégicas para o desenvolvimento da Cooperativa
(EW, 2001). Essas atividades passaram por reestruturação dentro de suas cadeias, na busca
por máxima eficiência e controle da produção, definindo novos programas, critérios de
qualidade na produção e no produto final, pacotes tecnológicos e, também, novos critérios de
adesão de novos produtores aos programas. Todas essas mudanças, na estrutura
organizacional, gestão e cadeias produtivas visaram, também, contribuir para o “Programa
Qualidade Total COSUEL”, aplicado a toda Cooperativa ao longo dos anos 90.
Como resultado dessas modificações, em 1995, a Cosuel definiu em sua estrutura
organizacional a Divisão de Produtos de Suínos DPS, a Divisão de Produtos Vegetais
DPV (grãos e derivados), a Divisão de Laticínios DL e a Divisão de Varejo – DV
(supermercados), trabalhando essas atividades de forma estrategicamente independentes,
80
como unidades de negócios (EW, 2001). Enquanto essas divisões responsabilizam-se pelos
aspectos da produção industrial, a Divisão de Fomento Agropecuário (DFA), criada em 1997,
ficou responsável pela etapa que cabe ao produtor rural, assistência técnica e fomento de todas
as áreas, o que permite uma visão sistêmica das propriedades que atendem a mais de uma
atividade, otimizando o atendimento ao associado.
Com relação a esse último período da história da Cooperativa, a participação das
unidades no faturamento da Cooperativa pode ser visualizada na Tabela 6, destacando a
predominância da liderança da cadeia produtiva de suínos e o crescimento significativo da
atividade leiteira que, em cinco anos, teve um crescimento próximo a 30%. Em 2004, a
produção de suínos representou cerca de 48% do faturamento da Cooperativa (RELATORIO
DE ATIVIDADES DA COOPERATIVA DE 2004).
Tabela 6: Participação das Unidades de Negócios no faturamento da Cosuel – 1995-1999
Fonte: EW (2001)
Por fim, apesar dessa crescente participação da atividade leiteira ao longo do tempo,
devido as visíveis implicações econômicas e as implicações sociais da suinocultura, desde a
fundação da Cooperativa, essa é a principal atividade da Cooperativa. De tal forma, o
histórico da atividade suinícola está estritamente ligada aos acontecimentos e tendências da
Cooperativa, seguindo as mesmas características dos períodos que constituem a sua própria
história. Como mencionado, inclusive o período de crise da Cooperativa, esteve relacionado
ao período de crise no setor suinícola em nível nacional.
81
4.2 SIAN da Cosuel
A construção do SIAN referente ao contexto da COSUEL, especialmente relativo ao
período de análise deste estudo (1990-2005), permitiu identificação e compreensão da
dinâmica e as implicações (path dependency) das mudanças adotadas pela cooperativa,
permitindo que se identifiquem as oportunidades de análise e que se realizem as escolhas
teóricas e a delimitação dos níveis de análise empírica individual, organizacional e
interorganizacional. Essas etapas definem a dinâmica do sistema estudado e a forma com se
a articulação entre fatos e atores, possibilitando identificar se as inter-relações entre os
subsistemas levaram a uma evolução do nível de sustentabilidade da Cooperativa nos anos
estudados.
De tal forma, a Figura 7 apresenta o SIAN construído de acordo com o contexto
identificado na Cosuel, a partir do período de consolidação da Cooperativa (1968-1978).
Conforme o Sistema permite trabalhar, tendo em vista o fenômeno estudado, nem todas as
etapas do sistema foram analisadas nesse estudo, em virtude do caminho escolhido para
análise. As etapas identificadas por “E” seguida de um número representam a seqüência de
análise a ser seguida na descrição dos resultados. Embora as etapas E8 à E11 representem o
principal nível de análise desse estudo, considerando a importância do contexto histórico, o
caminho traçado no Sistema, engloba outros níveis e resulta em duas voltas pelo Sistema,
conforme pode ser observado na Figura 6 e na descrição das etapas, que segue:
E1 SBE Consolidação da Cooperativa: essa etapa descreve o período de
consolidação da Cooperativa no setor e alguns aspectos e escolhas da Cooperativa que
refletiram no período posterior (reestruturação). A análise dessa etapa, como ponto de
partida do ciclo de análise do Sistema, assim como outras etapas, é reflexo da
abordagem path dependency”. Isso se deve ao fato de que, apesar de se tratar de um
fato ocorrido fora do período de análise, acontecimentos e posicionamentos assumidos
pela cooperativa determinaram sua postura mais a frente, em 1990, quando esta define
sua reestruturação.
82
BASE TEÓRICA (GERAL)
- INTERDISCIPLINARIEDADE;
- COMPLEXIDADE;
- DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL;
- TEORIAS ORGANIZACIONAIS;
- TEORIAS ECONÔMICAS
-
INOVÕES;
- DIMENSÕES DA
SUSTENTABILIDADE;
FLUXO DE INFORMAÇÕES:
CONHECIMENTOS TEÓRICOS:
AREAS NÃO CONTEMPLADAS:
CADEIA SUINÍCOLA E
TRAJETÓRIA TECNOLÓGICA NOS
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS
SBE
SBR
SBA
E 14 -
Sustentabi
lidade
Figura 7: Ciclo de análise SIAN para a Cosuel
Fonte: Adaptado de Pedrozo et al. (1999).
E2 SBE Cadeia Suinícola da Cosuel: retrata, no caso estudado, a Cooperativa e
produtores cooperados a ela integrados, principais agentes da estrutura da cadeia.
Assim, considera a cadeia como constituída fundamentalmente pela Cooperativa e
Produtores. A escolha teórica da abordagem de cadeias produtivas e formas de
governanças das relações inter-firmas numa cadeia trata-se também de uma
delimitação empírica.
E3 e E4 SBA Cadeia Suinícola da Cosuel: A consideração da cadeia produtiva de
suínos da Cosuel como constituída fundamentalmente pela Cooperativa e Produtores,
justifica a junção das etapas que se referem à Organização e à Cadeia. O SBA (E3 e
E4) retrata a ineficiência dos produtores, e a falta de coordenação da cadeia, com base
nas referências do setor e nas abordagens de cadeias produtivas e formas de
governanças, tendo em vista o tripé da sustentabilidade.
E5 SBR Ambiente Institucional: anos de crise. Descreve, sucintamente, a partir
dos dados e referências levantados as mudanças e as características relativas a
economia e ao setor suinícola do período que a antecede a reestruturação.
83
E6 E7 SBR Demanda e Capacidade Concorrencial Pressões concorrências:
exigências do mercado. A junção dessas etapas justifica-se pela sua estreita relação
que há entre elas, o que significa que o tratamento dessas etapas separadamente
ocasionaria uma descrição repetitiva com alguns fatores de uma etapa correspondendo
também à outra. Essa descrição tem base nas referências históricas das mudanças
ocorridas no setor suinícola e no ambiente institucional (E5) que demandaram novas
tecnologias de produção e produtos e que, juntamente com os fatores analisados nas
etapas E3 e E4, influenciaram sua capacidade concorrencial e levaram a Cooperativa a
pensar e planejar a reestruturação de sua estrutura organizacional e cadeias produtivas.
E8 e E9 – SBE Reestruturação da Cadeia Suinícola da Cosuel: trata de processo de
reestruturação da Cooperativa, principal nível de análise do estudo, cujo caminho foi
determinado (path dependendy) pelo histórico e posicionamentos da Cooperativa
associados aos fatos ocorridos nas etapas anteriores. As abordagens teóricas que dão
suporte a descrição dessa etapa estão relacionadas às inovações, ao Desenvolvimento
Sustentável; à cadeia produtiva. Como nas etapas E3 e E4, tendo em vista a
abordagem de cadeias produtivas, e o arranjo definido entre Cooperativa e Produtores,
o processo de reestruturação da Cooperativa (E8) engloba também a reestruturação na
cadeia (E9), sendo os dois processos na realidade um só.
E10 e E11 SBA O processo de reestruturação, suas inovações e implicações
econômicas, sociais e ambientais: essa etapa analisa e descreve quais inovações
foram incorporadas na Cooperativa e sua cadeia tendo em vista a reestruturação,
considerando as abordagens acerca das inovações, do Desenvolvimento Sustentável e
do posicionamento das organizações frente a esses dois desafios.
E12 e E13 SBR Ambiente Institucional e demandas atuais: descreve,
sucintamente, a partir dos dados e referências secundários e primários os atuais
desafios e oportunidades, demandas e prospectivas do setor suinícola. Essa última
porque se entende que a sustentabilidade trata não apenas do agora, mas do futuro de
uma atividade, comunidade, sociedade.
E14 O próprio sistema: Indicadores de Sustentabilidade a partir das inovações
identificadas. Tendo em vista as abordagens da Sustentabilidade, o próprio SIAN e as
inovações identificadas, as inter-relações e inter-dependências das etapas descritas
resultam em considerações sobre a Cadeia Suinícola da Cosuel conforme fatores
identificados na dinâmica do Sistema.
84
E15 SBR Sociedade: Subsistema incluído como proposta para o SIAN, pois se
acredita que uma discussão sobre sustentabilidade, refere-se não apenas a
sustentabilidade de uma inovação, organização ou atividade, mas às implicações da
atividade em todas as esferas da sociedade (pública, privada e civil). Assim sendo,
qualquer contexto analisado no Sistema, admitindo a sua complexidade, deveria
considerar os impactos das inter-relações dos subsistemas sobre a Sociedade e o seu
papel nesse contexto.
Etapa
Escolha Teórica
Nível de Análise Empírica
E1 - SBE
Path Dependency
Período de Consolidação da Cooperativa - decisões e
opções da Cooperativa que determinaram seu caminho
E2 - SBE Cadeia produtivas
Cadeia produtiva de suínos da Cosuel, composta pela
Cooperativa e produtores integrados
E3-E4 -SBA
Setor Suínicola; Cadeias
Produtivas e Sustentabilidade
Ineficiência dos produtores e a falta de coordenação da
cadeia por parte da Cooperativa
E5 - SBR Setor Suínicola
Mudanças e características do ambiente institucional no
período que antecede a reestruturação
E6-E7- SBR
Setor Suínicola; Cadeias
Produtivas
Preses concorrencias do setor e demanda e exigências
do mercado consumidor
Etapa
Escolha Teórica
Nível de Análise Empírica
E8-E9-SBE
Path Dependency ; Inovação
Tecnológica;
Desenvolvimento Sustentável;
Cadeias Produtivas
O processo de reestruturação da cadeia produtiva de
suinos da Cosuel
E10-E11-SBA
Inovação Tecnológica;
Desenvolvimento Sustentável
As inovações incorporadas no processo produtivo de
suínos da Cosuel a partir da reestruturação
E12-E13 -
SBR
Setor Suínicola Os desafios, oportunidades e prospectivas do setor
E14
SIAN, Inovação Tecnológica e
Desenvolvimento Sustentável
Interrelações e interdependências das etapas
identificadas na dinamica do Sistema, especialmente as
inovações e implicações na sustentabilidade
E15
SIAN e Desenvolvimento
Sustentável
Proposta de incorporação de novo nível de análise no
Sistema
1ª volta na dinâmica do Sistema
2ª volta na dinâmica do Sistema
Níveis de análise no Sistema Integrado Agronegocial da Cosuel
Figura 8: Níveis de análise do SIAN da Cosuel
Fonte: Elaboração da autora.
85
4.3 Dinâmica do SIAN: Inovações e Sustentabilidade na Cosuel
A dinâmica do Sistema construído permite, a partir das etapas (E) definidas no ciclo
de análise, identificar os atores e os processos que resultaram no período de reestruturação
organizacional e produtiva da Cooperativa e, portanto, caracterizar as inovações no processo
produtivo de suínos, suas implicações e a evolução da sustentabilidade da atividade na
Cooperativa. Isso se deve às interações e aos encadeamentos entre o referencial teórico, a
metodologia e os níveis de análise identificados, como pode ser visualizado na Figura 7. Essa
figura é uma adaptação do trabalho de Dias (2003), que construiu esse guia de organização da
pesquisa para estudar as exportações na cadeia produtiva de carne bovina.
§ -
§
-
§ -
§ -
§ -
1º Para os gestores da Cooperativa, com o
objetivo de caracterizar o período de
reestruturação, e as mudanças no processo
produtivo, nas tecnologias e nos
programas;
2º para os produtores de suínos, com o
objetivo de caracterizar a propriedade e a
história da atividade suinícola, assim como
as mudanças sociais e ambientais;
para se conhecer o trabalho da Emater,
da Fepam e do Sindicato de Produtores de
Suínos do Estado (SIPS/RS) com relação ao
setor suinícola;
4º Conhecer a evolução do setor e a atuação
de pesquisadores (questionário);
-
-
-
ETAPAS DA PESQUISA
+
SIAN
=
RESULTADOS
ETAPAS DA PESQUISA SIAN RESULTADOS
§
3.3 Instrumentos de Coleta de Dados
Susten
tabilidade
Subsistema
Referencial
- SBR
Subsistema
Avaliativo -
SBA
Subsistema
Estrutural -
SBE
2. Revisão Teórica
2.1 Desenvolvimento Sustentável
2.2 Inovações
2.3 Organizações, Inovações e
Sustentabilidade
2.4 Cadeias Produtivas
2.5 Setor Suinícola
2.6 Sistema Integrado Agronegocial
3. Procedimentos Metodológicos
3.1 Tipo, método de abordagem e natureza
da pesquisa
3.2Campo e sujeitos da Pesquisa
3.3 Técnicas de levantamento e tratamento
dos dados( primários e secundários)
5.1 Consolidação da Cooperativa (E1)
5.2 Cadeia Suinícola da Cosuel (E2)
5.3Avaliação da Cadeia Suinícola da
Cosuel (E3 – E4)
5.4 Ambiente Institucional: anos de crise
(E5)
5.5 Pressões concorrências: exigências do
mercado e capacidade concorrencial da
Cooperativa (E6 e E7)
5.6 Reestruturação da Cadeia Suinícola da
Cosuel – 1990 a 2005 (E8 – E9)
5.7 Avaliação da Reestruturação da
Cadeia Suinícola da Cosuel (E10 E11)
5.7.1 A Reestruturação e a dimensão
econômica da sustentabilidade
5.7.2 A Reestruturação e a dimensão
ambiental da sustentabilidade
5.7.3 A Reestruturação e a dimensão
social da sustentabilidade
5.8 Desafios, oportunidade e prospectivas
(E12 e E13)
5.9 Indicativos de Sustentabilidade (E14)
5.10 Sustentabilidade como interesse da
Sociedade (E15)
Figura 9: Guia de Organização do Estudo
Fonte: Adaptado de Dias (2003).
86
4.3.1 Consolidação da Cooperativa (E1)
A década de 70 na história da Cosuel foi caracterizada por um período de
consolidação, quando, após assegurar as condições de aquisição, industrialização e
comercialização de seus produtos e ampliar e diversificar sua área de atuação, com a aceitação
de novos associados, e setores de industrialização (década de 60), a Cooperativa se firma
como importante agroindústria na região.
Assim, o terceiro período da história da Cosuel, tomado como ponto de partida da
seqüência de análise no SIAN, caracteriza-se pela expansão quantitativa de suas
industrializações, ampliando a capacidade de processamento e modernizando seu parque
industrial, decorrentes do aumento do número de associados e da diversificação das atividades
ocorridos no período anterior. Outra característica desse período é a incorporação de 12
pequenas cooperativas à Cosuel, aumentando consideravelmente seu quadro social e
impulsionou a ampliação de sua capacidade de processamento e a modernização de seu
parque industrial (KONZEN, EW e LAUSCHNER, 1998).
Este período é tomado como ponto de partida de análise no SIAN construído, pois
caracteriza a concretização da Cooperativa como organização econômica e social e, ainda,
porque numa perspectiva da path dependency, juntamente com os acontecimentos do período
de crise que o sucede, apresenta fatos entendidos como determinantes no posicionamento que
a Cooperativa assume no período de reestruturação, foco desse estudo. Incluem-se nesses
fatos o Projeto Integrado de Suinocultura”, instituído em 1973, visando o melhoramento
qualitativo dos suínos, e a contratação de novos técnicos e adoção de medidas de apoio aos
produtores.
O “Projeto Integrado de Suinocultura” tinha como objetivo aumentar o abate de suíno
tipo exportação (magro) e reduzir o número de suíno tipo banha, qualificando a produção
(EW, 2001). Com esse projeto, em épocas de crise, a Cooperativa garantia ao seu associado
um preço mínimo pelo suíno terminado equivalente à soma dos principais componentes do
custo de produção, quais sejam: (a) alimentação: a preços da época do lote sendo 80 quilos
para reprodutores; 20 quilos de inicial; 100 quilos de crescimento; 170 quilos de terminação;
totalizando 370 quilos de ração; (b) juros sobre rações de 15% ao ano; (c) medicamentos; (d)
87
energia elétrica; (e) fretes de rações e suínos; (f) FUNRURAL: conforme legislação vigente
(COSUEL EM NOTICIA, out/1977 apud KONZEN, EW e LAUSCHNER, 1998, p.129).
Embora, no início da divulgação do projeto integrado mais de 500 associados tenham
apresentado interesse, somente 120 produtores assinaram o convênio, com o objetivo de
racionalizar a sua criação de suínos e capacitar-se para entregar suínos de melhor qualidade ao
Frigorífico, beneficiando-se das suas vantagens e pondo-se a disposição das exigências nele
contidas. Na época, a expectativa da cooperativa era de um crescimento de 50% na produção
desses associados. A inclusão desses 120 associados no programa contribuiu para a elevação
do abate de suíno tipo exportação de 28% para 44%, em 1973, e a redução da participação do
suíno tipo banha de 14% para 10% (KONZEN, EW e LAUSCHNER, 1998, p.126).
Tendo em vista o contexto econômico e a falta de adesão de produtores a integração
por lote de produtores, Ciclo Completo e Terminação, iniciou-se efetivamente em 1984, sendo
concluída em 1985. Essa integração englobou os produtores que criam e engordam os
próprios leitões e os produtores que compram leitões financiados pela cooperativa, no sistema
troca-troca, gerando um aumento da produção dos associados.
O sistema integrado de produção de suínos mostrou-se eficaz e economicamente
viável para a pequena propriedade, aumentando sensivelmente a produção do quadro
associativo. Assim, progressivamente, difundiu-se em todo o quadro social o sistema de
integração de lotes de leitões sendo contratados novos técnicos para integrarem a equipe de
controle e assistência técnica e foram adotadas medidas de apoio aos criadores como o
fornecimento de reprodutores e o serviço de inseminação (KONZEN, EW e LAUSCHNER,
1998, p.126; EW, 2001, p. 70).
Também nesse período a Cooperativa instituiu o “Plano Cosuel de Produção Suína”
implantado progressivamente a partir de 1975, sendo que somente em 1977, quando se
enfrentava problemas com a queda dos preços dos suínos, que a cooperativa formalizou e
determinou imediata execução do “Plano Cosuel de Produção Suína”. Esse plano objetivava
atender o Frigorífico convergindo as metas de crescimento da capacidade de abate com o
crescimento da criação de suínos. A partir desse plano, em 1975, iniciou-se o “Programa de
Tipificação de Carcaças”, inicialmente realizado mecanicamente, isto é, a tipificação era feita
visualmente pelos funcionários. Somente em 2003 a tipificação de carcaças passou a ser
realizada eletronicamente.
88
Destaca-se que diferentemente de como ocorreu nas demais integradoras, que após
integração paulatinamente excluíram os produtores que se mantiveram no Ciclo Completo, na
Cooperativa a adesão ou egresso aos programas ocorreu de forma voluntária, portanto, ainda
hoje há, no quadro social da Cooperativa, produtores de Ciclo Completo associados.
Pode-se perceber assim, que as escolhas feitas pela Cooperativa para aumentar a
competitividade de sua cadeia produtiva de suínos, nessa época, determinaram
posicionamentos e caminhos seguidos pela Cooperativa que implicaram, mais adiante (1990),
na forma como a Cooperativa planejou a reestruturação dos programas de produção (path
dependency).
Portanto, considerando que ambos os programas definidos nesse período (“Projeto
Integrado de Suinocultura” e “Plano Cosuel de Produção Suína”) buscaram de alguma forma
garantir ao associado o preço mínimo, para que o produtor em época de crise tenha garantido
ao menos o custo de produção; e racionalizar a produção, garantindo produtividade e
abastecimento do frigorífico, verifica-se que, posteriormente, o programa de reestruturação
caracteriza-se como uma junção desses programas. Isto é, por um lado a reestruturação
determinará a integração de todos os associados em algum programa, definindo ou a
transferência do pacote tecnológico da Cooperativa para o produtor, quando a Cooperativa
assume quase que a totalidade dos custos e riscos de produção, ou um preço nimo pelo
quilo do animal vivo. Por outro lado, institui um planejamento de produção junto a todos
associados, buscando a máxima eficiência das propriedades, a produtividade e estabilidade no
fluxo de abates do frigorífico.
4.3.2 Cadeia Suinícola da Cosuel (E2)
As cadeias produtivas resultam da crescente especialização técnica que permite a
divisão das etapas de produção entre firmas, quando uma firma mostra-se mais eficiente na
produção de um bem do que a firma que vai utilizá-lo, direcionando a uma interdependência
entre esses agentes econômicos. Esse processo, como observado na revisão de literatura,
89
caracteriza o processo de desintegração vertical fazendo com que as organizações partam para
estruturas de relações com o mercado ou arranjos híbridos.
A cadeia produtiva de carne suína e derivados pode ser definida como composta pelos
segmentos: (a) de insumos, de produção de fertilizantes, grãos, ração, maquinário,
medicamentos, genéticas e outros produtos e serviços; (b) segmento de produção primária, de
criação de leitões e suínos; (c) segmento agroindustrial, onde ocorre o abate dos animais e o
processamento da carne; (d) segmento de comercialização, quando os produtos são
distribuídos e comercializados a consumidores primários e finais. A Figura 9 apresenta com
detalhes os segmentos de uma cadeia produtiva de suínos genérica, caracterizando os
processos, atores e algumas possíveis formas de relacionamento entre os atores.
No caso da Cosuel, a Cooperativa se responsabiliza por grande parte do segmento de
insumos (exceto pela produção de genética e medicamentos, contudo pelo seu fornecimento, e
pela produção de grãos), agroindustrial e comercialização. os produtores responsabilizam-
se pela produção de grãos e pela criação dos animais. O que permite caracterizar a cadeia
produtiva de carne suína e derivados da Cosuel, fundamentalmente, composta pela
Cooperativa e seus Cooperados (produtores). Portanto, as análises referentes ao desempenho
ou à estrutura da Cadeia Produtiva de Suínos da Cosuel é também a análise do subsistema
referente à Cooperativa como organização agroindustrial, pois essas são construídas com base
nos dados e fatos relativos à Cooperativa e seus produtores, principais agentes da cadeia.
90
Produção de Grãos
Outros insumos,
equipamentos e serviços
Indústria de Rações
Medica-
mentos
Genética
Segmento de
Insumos (A)
Suinocultura
Creche
UPLs
Granjas núcleo de reprodutores puros e multiplicadoras
Terminador
Ciclo
Completo
Segmento de
Produção
Primária (B)
Agroindústria (Empresas e Cooperativas)
Abate
Processamento
Segmento de Abate e
Processamento (C)
Supermercados, Açougues,
feiras e restaurantes
Exportação e
Importação
Consumidor
Estrangeiro
Consumidor
Brasileiro
Segmento de
Distribuição e
Consumo (D)
Produção Própria
Integração
Independente
Integração
Independente
Comerciantes
SIF, SIE E SIM
SIF, SIE E SIM
SIF
SIF
Autoconsumo
Figura 10: Cadeia, genérica, produtiva da carne suína e derivados
Fonte: Adaptado de Miele (2006).
Do período de consolidação da Cosuel até os anos 90 a cadeia suinícola no geral era
constituída por relações de mercado, ou seja, as atividades e os agentes de produção de
insumos, de produção primária e de processamento eram diferentes e não mantinham relações
contratuais de parcerias ou uma estrutura de governança híbrida constituída, com poucas
91
exceções. Assim sendo, os produtores (criadores) eram independentes da agroindústria, ou
seja, trabalhavam suas criações conforme seus conhecimentos e disposição de tempo e
recursos e quando o preço do quilo vivo do suíno no mercado era considerado bom, vendiam
seus lotes para a agroindústria que ofertasse o melhor preço ou que estava mais próxima à
propriedade.
Como mencionado, essa relação com o mercado era delicada e conflituosa para a
agroindústria que não tinha controle do fluxo de recebimento de sua principal matéria prima,
apresentando dificuldades no planejamento de produção e, em épocas de preços baixos,
quando o produtor segura o lote na propriedade, capacidade ociosa e dificuldade de manter a
oferta de seus produtos ao consumidor final. Conseqüentemente, a cadeia apresentava alto
índice de ineficiência, relações conflituosas entre agroindústria e produtor e defasagem
tecnológica. Os conflitos eram ainda maiores em época de pouca disponibilidade de grãos
(especialmente milho) no mercado, que resultava em alto custo da ração, que chega a
representar 72% dos custos com insumos.
Com relação ao quadro de suinocultores era caracterizado predominante pelas
pequenas propriedades, trabalhando de forma independente e com o sistema de ciclo
completo. Para o suinocultor independente na época, assim como hoje, a principal estratégia
era reduzir o risco da propriedade através da diversificação de culturas e criações, pois em
época de crise uma atividade poderia proporcionar capital de giro para a outra.
Adicionalmente, devido à diversificação, não tomavam toda a sua propriedade apenas
para os suínos, apresentando área disponível para aplicação dos dejetos e, portanto menor
potencial poluidor. Contudo, a questão ambiental não era preocupação em nenhuma das
etapas da cadeia, ainda não se conheciam os impactos negativos dos dejetos de suínos no
meio ambiente e nem existia legislação a respeito.
As características da cadeia da Cosuel não são muito diferentes do que se encontrava
no setor. O frigorífico da Cooperativa, embora representasse um dos maiores da região e
apresentasse preço referência no estado, vivenciava grandes oscilações de produção,
resultantes dos períodos de valorização do suíno no mercado e porque, eventualmente, seus
fornecedores de matéria prima entregavam a produção a outros frigoríficos, mesmo sendo
esses seus Cooperados.
Adicionalmente, como resultado do seu período histórico de diversificação, a
cooperativa assumia na cadeia a responsabilidade pelas etapas de produção de ração,
92
fornecimento de medicamentos e genética, abate, processamento e distribuição. Enquanto os
produtores rurais encarregam-se da produção de grãos e criação dos animais.
Apesar de se tratar fundamentalmente de relação entre Cooperativa e Cooperado e de,
eventualmente, a Cooperativa disponibilizar assistência técnica e crédito e financiar matrizes
e leitões aos cooperados a estrutura de governança que prevalecia era de mercado, com
contratos recorrentes. Isso se deve ao fato de que não existiam compromissos formais de
fornecimento desses benefícios por parte da Cooperativa ou, em contrapartida, de entrega da
produção à Cooperativa por parte dos Cooperados. Ou seja, a Cooperativa recebia o produto
(suíno) e em troca pagava o produtor o valor referente do dia no mercado.
4.3.3 A Cadeia Suinícola da Cosuel antes de 1990 (E3 – E4)
Como pôde ser verificada na estrutura da cadeia produtiva de suínos, até o início da
década de 1990 a cadeia era composta principalmente por produtores independentes na
modalidade Ciclo Completo e unidades produtivas de pequena escala. Essa modalidade em
pequena escala, ao final dos anos 80, apresentava-se cada vez mais inviável e muito
ineficiente na conversão alimentar, uma vez que era comum a alimentação dos animais com
rações não muito balanceadas nutricionalmente e com grãos e restos de alimentos da própria
propriedade.
Mesmo aqueles produtores que compravam os concentrados
4
na unidade fabril de
ração da Cooperativa não tinham bons resultados, pois também não conseguiam balancear a
alimentação do animal em suas propriedades. Isso em virtude da qualidade dos grãos de milho
utilizados na mistura ou, muitas vezes, em virtude da proporção inadequada de grãos para a
quantidade de concentrado utilizada, na errônea tentativa de economizar ou otimizar o
concentrado. Problemas com a conversão alimentar também eram encontrados em algumas
unidades de terminação. Adicionalmente, visualiza-se que problemas como perdas de animais
4
Concentrado: tipo de suplemento com alta concentração de proteínas, de vitaminas e minerais destinado a
produção de rações para a criação de suínos. O concentrado é utilizado pelos produtores misturado ao milho
colhido na propriedade para complementar à alimentação do animal.
93
e doenças poderiam ser também melhorados com a introdução de novas técnicas e sistemas de
produção, ou seja, com a especialização do produtor.
A grande presença de produtores na modalidade ciclo completo dificultava a adoção
de técnicas de controle sanitário mais eficientes, uma vez que, mesmo que desde a década de
80 essa modalidade tenha sido orientada a criar pocilgas separadas de acordo com as fases do
animal
5
, identificava-se uma flora microbiana contínua, pois os lotes eram seguidos, sem o
cuidado que hoje se conhece por vazio sanitário.
Em síntese, o contexto da cadeia produtiva de suínos caracterizava-se:
(a) por uma produção descontrolada de animais, ora a Cooperativa possuía poucas
cabeças para abate, tendo que buscar animais no mercado (fora do quadro social); ora estava
acima da sua capacidade de processamento, variando conforme os preços praticados pelo
mercado;
(b) por uma alimentação sem controle e sem sistemática, com o suíno sendo
alimentado duas ou três vezes ao dia, conforme os cochos eram sendo esvaziados. Sendo que
a ração não era balanceada, de qualidade pouco controlada e de baixa eficiência, resultando
em desperdícios com alimentação e em um suíno tipo banha;
(c) por uma produção de suínos que trabalhava com o desmame dos leitões aos 35
dias em média, sendo que cada matriz tinha em média 1,8 partos/ano com média de 7
leitões/parto.
(d) por um baixo controle sanitário e ambiental (destino dos dejetos).
Segundo os gestores da Cooperativa entrevistados, esses problemas acarretavam
baixos índices de produção para os produtores e alta ocorrência de suíno tipo banha (e não
exportação). Mesmo investindo em mudanças na genética o resultado final, para a
cooperativa, era o suíno com muito toicinho, devido à alimentação não balanceada e um custo
maior devido à baixa conversão em um animal com alta genética.
Com relação à genética, ainda no inicio dos anos 90 a Cooperativa desenvolvia seu
próprio processo de melhoramento genético trabalhando com três rebanhos de raças puras,
que passavam pelo cruzamento nas unidades da Cooperativa. Com os melhores animais ou
melhores cruzas, continuava-se com o melhoramento genético.
5
Na época, dois sítios: leitões (UPL 63 dias) e suínos (terminação).
94
Portanto, no período que antecede a reestruturação, a política de organização da
produção de suínos da Cooperativa, contemplava a seus integrados:
(a) Os programas de produção modalidades: Ciclo Completo; Unidade Produtora de
Leitões (63 dias); Terminador Troca a Troca;
(b) Fornecimento de: reprodutores geneticamente testados e selecionados na própria
Cooperativa; milho, ração e concentrados; armazém de milho e assistência técnica. Segundo
os produtores, a assistência acontecia uma vez por ano, mais para contagem do rebanho ou
quando ocorriam surtos de doenças nos lotes. Posteriormente, com a adoção de novos
programas devido à reestruturação da cadeia pela Cooperativa, a assistência técnica e os
investimentos em melhoramento das rações foram intensificados;
(c) Garantias de recebimento da produção e da tipificação de carcaças.
As preocupações da Cooperativa e dos produtores, nessa época, concentravam-se no
preço dos insumos, que quando muito alto indicavam maior necessidade de capital de giro
para os produtores e o risco de um lucro menor ao final do lote; e no preço dos suínos, que
indicava a rentabilidade do lote. Pouco se considerava ou estudava a eficiência das unidades
produtivas e os custos dos desperdícios nela gerados.
Com relação ao aspecto ambiental, antes da década de 90, esse era ainda pouco
observado, conhecido e cobrado, sendo o principal foco das atividades da Cooperativa os
aspectos econômicos e produtivos da cadeia. Segundo os entrevistados, tanto representantes
da área de gestão do setor da Cooperativa quanto produtores, ainda na época da reestruturação
das atividades da cadeia produtiva de suínos, pouco se sabia sobre os impactos ambientais da
suinocultura, talvez porque houvesse poucos suínos na região, o que diminuía a pressão da
atividade sob o meio ambiente. Inclusive, nenhum dos entrevistados soube dizer como
funcionava ou se havia critérios legais, licenças e fiscalização na suinocultura da época. Para
o Supervisor de Suinocultura, como nas demais atividades a Cooperativa sempre buscou não
impactar negativamente o meio ambiente, contudo não dispunha dos conhecimentos e
tecnologias que hoje estão mais socializados.
A única preocupação, que se pôde identificar nas entrevistas, iniciada pouco antes da
década de 1990, era com relação a não poluir os cursos d’água, por isso era indicado, porém
não obrigatoriamente, que as propriedades construíssem lagoas de estabilização dos dejetos.
Com pouco conhecimento acumulado, a respeito das lagoas de estabilização e outras
alternativas de armazenamento e disposição dos dejetos, ocorria que essas lagoas sequer eram
95
revestidas com lonas ou cimentadas, apenas possuíam o solo compactado, e não eram
preparadas para respeitar o tempo de estabilização dos dejetos de 90 a 120 dias. Tão pouco,
eram observados cuidados com a quantidade de água utilizada, com a possibilidade de
reaproveitamento da água das chuvas, com a proteção das lagoas para não reterem a água da
chuva, com a quantidade de dejetos dispostos no solo, com a disposição das carcaças ou
atração de vetores causadores de doenças.
Socialmente, esse período retrata as crescentes dificuldades que o pequeno produtor,
defasado em seus conhecimentos, enfrenta para viabilizar sua atividade, absorver novos
conhecimento e tecnologias, ou seja, tendo em vista as mudanças institucionais,
profissionalizar-se para que a renda de sua propriedade seja suficiente para manter a família e
as próprias atividades produtivas.
4.3.4 Ambiente Institucional: anos de crise (E5)
Como mencionado, o período do final da década de 70 e a década de 80 foi marcado
por instabilidades econômicas em nível nacional e internacional, o que impossibilitou
planejamentos de longo prazo para as organizações. Em especial, para as organizações da
suinocultura, o quadro piorou quando, em 1978, focos da Peste Suína Africana (PSA) foram
identificados, refletindo em grande retração da nascente e crescente indústria brasileira
exportadora de suínos, sendo esses reflexos observados no setor da suinocultura até a metade
da década de 80, quando iniciou a profissionalização da suinocultura.
Para Marques (2003) o diagnóstico da PSA no Brasil tem sim essas implicações
restritivas para o setor suinícola no mercado interno, contudo contribuiu para acelerar o
processo de modernização tecnológica do setor. Auxiliaram nesse processo algumas medidas
do Ministério responsável
6
como: reprimir a alimentação de suínos com lixo e lavagem, a
criação de suínos na zona urbana e coibir a matança e a comercialização clandestina de suínos
e subprodutos. O autor coloca ainda que inicialmente existiam muitas informações
desencontradas e exageros, o que ocasionou a queda de 40% no consumo interno devido ao
6
Na época, denominado Ministério da Agricultura.
96
medo de contágio, mesmo sendo de conhecimento que o vírus era inofensivo ao ser humano.
Quanto às exportações, que haviam quase que quadruplicado no período de 1973 a 1977,
chegando a 12,3 toneladas, foram todas suspensas. O produtor ficou sem ter como escoar sua
produção, pois as agroindústrias, diante da retração do mercado, diminuíram sua produção.
Assim, durante a década de 80, a Cooperativa, como as demais agroindústrias, sofreu
reflexos e perdas resultantes da peste suína, juntamente com os efeitos do choque do petróleo
e das medidas macroeconômicas adotadas pelo governo de incentivo a exportação e barreiras
as importações na tentativa de reduzir os desequilíbrios da vida externa e para controlar a
instabilidade de preços. Por conseqüência, a COSUEL cessou as estratégias de expansão das
atividades e área de atuação, e voltou gradativamente a um número limitado de atividades,
bem como buscou assegurar a rentabilidade da produção dos associados através do incentivo à
melhoria genética dos rebanhos suíno e leiteiro, e do aumento dos programas de assistência
técnica (EW, 2001).
Para o Presidente do SIPS, o Rio Grande do Sul somente se recuperou dos efeitos da
peste suína diante do mercado externo no final da década de 90 quando retomou suas
exportações que, como apresentado, enfrenta sucessivos percalços, agora devido à
identificação de focos de aftosa nos rebanhos bovinos. O Brasil ocupa, em 2005, a posição
com 2.240 mil toneladas e concorre diretamente com o Canadá para manter essa classificação.
Tais níveis de produção solidificam a posição brasileira no ranking mundial e o retorno da
atividade com todo o seu potencial após esse período de crise, final da década de 70 e década
de 80, e após período de adaptação à abertura de mercado ocorrida nos anos 90.
A abertura econômica ou de mercado, implementada durante o governo Collor,
determinava a liberalização financeira externa e a eliminação de ações protecionistas contra a
importação. Ou seja, surpreendentemente as empresas viram-se concorrendo no seu mercado
interno com empresas externas tecnologicamente mais avançadas, o que pressionou
expressivamente o nível de concorrência nos setores, levando algumas organizações e
inclusive indústrias inteiras à falência. Esse contexto exigiu das organizações, que se
mantiveram no mercado e que ansiavam manter-se e crescer, maior eficiência, agilidade e
capacidade tecnológica.
Especialmente no setor agropecuário, a década de 90 foi caracterizada não pela
abertura econômica e concorrência mais acirrada, mas “pela industrialização cada vez maior
de seus produtos” (EW, 2001, p. 63). Nesse sentido a especialização e profissionalização dos
97
associados da cadeia suinícola foram percebidas como o caminho para a sobrevivência e
crescimento da atividade na Cosuel.
4.3.5 Pressões concorrências: exigências do mercado e capacidade concorrencial da
Cooperativa (E6 e E7)
Os problemas decorrentes da peste suína chamaram a atenção não somente dos
produtores que perderam sua produção como também dos consumidores com relação à
qualidade do que consumiam e dos órgãos reguladores, com relação às medidas de controle
sanitário que seriam necessárias para controlar o surto e evitar que o problema se repetisse.
Diante desse contexto, por parte dos consumidores teve-se uma demanda por um
produto de maior qualidade, com maior teor de carne magra, pois na época e, em parte, ainda
hoje, o mercado interno percebia a carne suína como prejudicial à saúde. Por parte das
agências reguladoras e do mercado externo a demanda era por um maior cuidado sanitário, ou
seja, maior controle de agentes infecciosos. Assim, inicialmente as demandas por produtos de
maior qualidade e por maior controle sanitário vieram do mercado externo, logo também do
mercado interno, influenciando não somente a postura do consumidor, como também as
normas e procedimentos de produção.
Tendo em vista que o debate sobre Desenvolvimento Sustentável estava legitimando-
se (sendo que a Rio-92 e a construção da Agenda 21, marcos importantes desse debate,
ocorreram no Brasil), uma demanda por cuidado ambiental, no inicio da década de 90,
emergia no setor ainda que timidamente. Embora não fosse uma preocupação efetiva das
organizações ou órgão públicos, as discussões acerca do manejo adequado dos dejetos
iniciavam-se nessa época. Pode-se afirmar, corroborando com Williams (2006), que a
demanda por técnicas e tecnologias de manejo e utilização dos dejetos de suínos vem
especialmente das comunidades próximas aos centros de produção, que sofrem com a
poluição dos rios, do ar e com o aumento de insetos.
Também são agentes determinantes nesse processo ONGs ambientalistas e institutos
de pesquisa, como a Embrapa Suínos e Aves. A Embrapa Suínos e Aves está localizada no
98
oeste de Santa Catarina, região que apresentou e apresenta graves problemas ambientais
ocasionado devido a alta concentração de produção de suínos em grande escala na região e ao
uso e manejo inadequados dos dejetos.
Adicionalmente, avançando um pouco mais no tempo, na metade da década de 90, a
globalização se firmava também na cadeia suinícola e fez com que se difundisse um padrão
produtivo internacional, especialmente em termos de manejo e organização da produção e de
avaliação da firmeza e coloração da carne, quantidade de gordura e cortes. Conforme Miranda
(2005, p.59), esse padrão faz com que um país, para permanecer competitivo, minimize os
custos de produção, otimize a produtividade e persiga padrões de qualidade da matéria-prima
estabelecidos pelo mercado internacional.
Ao mesmo tempo, esse contexto, para os produtores de suínos, reflete na adoção de
um pacote tecnológico altamente internacionalizado, que atenda a demanda por suínos que
não apresentam resíduos químicos, carcaça com teor de gordura reduzido, coloração
adequada, firmeza da carne e preços atrativos. Como resultado, foi e é crescente a pressão
para que os produtores se especializem na atividade, aumentem a sua escala de produção e
trabalhem por meio de contratos de produção onde o fazendeiro produz o suíno de acordo
com as especificações de uma companhia e em contrapartida recebe garantia de preço
(MIRANDA, 2005).
Como conseqüência dessa demanda e do contexto resultante das interações dos
subsistemas descritos até o momento passa-se de um período de prosperidade e consolidação
da Cooperativa para um período de crise e, em seguida, de grandes desafios competitivos. Ou
seja, com pouco mais que uma década de história a Cosuel se consolidava, apresentando
condições organizacionais e financeiras para atuar em outros setores da economia,
diversificando as atividades, ampliando sua área de atuação e investindo em infra-estrutura.
Contudo, esse crescimento foi interrompido na sua terceira década de vida (anos 80), devido à
economia instável e a crise no setor de suínos, principal atividade econômica da Cooperativa.
Soma-se a esse contexto, a abertura econômica da década de 1990, mais especificamente, a
partir do Plano Real (1994), o que tornou mais evidente as ineficiências e fraquezas
concorrenciais da Cooperativa.
Como resultado, os gestores da Cooperativa atentaram ao fato que seus produtores
(grande maioria pequenas propriedades rurais) e, conseqüentemente, a própria Cooperativa
não teriam condições de atender às exigências emergentes dos mercados internacionais e do
próprio mercado interno e nem de alcançar os padrões competitivos dos seus concorrentes
99
frente a essa internacionalização dos mercados que se formatava. Isso devido às mencionadas
ineficiências na cadeia produtiva resultantes especialmente da falta de controle e coordenação
por parte da Cooperativa com relação a seus fornecedores e da defasagem tecnológica por
parte dos produtores que, embora produzissem para a indústria, o tinham adquirido
competência para gerir a propriedade e a produção com a eficiência e qualidade que o
mercado demandava.
Diante deste contexto, motivados pela experiência de seu superintendente
7
em Santa
Catarina, cooperados e gestores apoiaram e assumiram como plano da Cooperativa a
reestruturação organizacional e produtiva da Cooperativa, na busca por maior eficiência, vista
como fundamental para a sobrevivência e crescimento da Cooperativa e seus produtores
cooperados. Conforme relatório da Assembléia Geral de 1993, a Cooperativa continuaria suas
atividades não apenas porque precisava, mas também porque queria, a para isso buscaria
atualização tecnológica de seu patrimônio físico e humano, investindo em cursos de
aperfeiçoamento e consultoria de forma a alcançar maior produtividade e competitividade,
isto é, de forma a melhorar sua capacidade concorrencial (KONZEN, EW E LAUSCHNER,
1998).
4.3.6 Reestruturação da Cadeia Suinícola da Cosuel – 1990 a 2005 (E8 – E9)
Como resultado de todo o contexto apresentado até o momento, no início dos anos 90,
a Cooperativa passou a construir planejamentos de longo prazo e profissionalizar a sua gestão,
pois diagnosticava seu nível tecnológico baixo para competir num mercado aberto e mais
exigente. Movida pela pressão desse cenário altamente competitivo e desafiador, a Cosuel
passou a conscientizar firmemente seus associados da necessidade de uma maior
profissionalização da organização e da cadeia, pois assim poderia crescer com
competitividade sustentada.
De tal forma, o processo de reestruturação da Cooperativa internamente ocorreu na sua
gestão com o intuito de dinamizar os processos, profissionalizar o quadro de pessoal e
7
No cargo até o momento.
100
priorizar atividades que promovessem uma saúde financeira da Cooperativa. Ao priorizar as
atividades financeiramente rentáveis, a Cooperativa efetivou uma estratégia estabelecida
ainda nos anos 80 de eliminar algumas atividades. Assim, juntamente com a reestruturação de
sua estrutura de gestão, a Cosuel reestruturou suas cadeias de produção por meio de novos
programas de relacionamento (contratos) nas atividades definidas como financeiramente
saudáveis, ou seja, estratégicas, no caso laticínios e suínos, e nas atividades definidas como
complementares a essas, como grãos, pastagem e a fábrica de rações.
Essa iniciativa tinha como objetivo aumentar a produtividade e índice de eficiência das
propriedades agrícolas buscando viabilizar as atividades para a Cooperativa e para os
pequenos produtores, uma vez que o quadro social da Cooperativa, corroborando a tendência
estadual, é composto, ainda hoje, essencialmente, por pequenos produtores.
Com relação à reestruturação da suinocultura essa foi marcada pela busca da
profissionalização do quadro social por meio de programas educacionais, visando o
gerenciamento da propriedade rural, da formalização e ou definição de programas de
produção e da adequação dos associados aos mesmos. Isso decorre de um contexto que vinha
definindo a suinocultura mundial e brasileira, caracterizado pela concentração da produção,
diminuindo o número de produtores e abatedouros, mas alcançando índices de produção
maiores. Foi nesse sentido que a Cooperativa resolveu orientar seus programas, com
mudanças significativas nas propriedades rurais e com inovações nas estruturas e nas
tecnologias utilizadas.
Nesse período, os profissionais da área de Agropecuária, especialmente Suinocultura,
definiram quais programas de produção seriam estimulados e trabalhados pela cooperativa no
setor, inovando estruturas, técnicas e formas de relacionamento entre a Cooperativa e o
produtor, buscando racionalizar mais a sua produção de suínos e melhorar a qualidade do
produto final (suíno tipo exportação).
Como a adesão aos programas de especialização não era obrigatória, o programa de
Ciclo Completo foi mantido, e para todos eles foram definidos índices de eficiência mínimos,
de forma a conscientizar os produtores que seus esforços na atividade lhe trariam retorno
com investimentos nas novas tecnologias e processos indicados pela Cooperativa. Assim,
todos os produtores foram integrados, por meio de contratos, cadastrando os leus lotes de
produção e comprometendo-se em entregá-lo à Cooperativa.
101
Os índices de eficiência mínimos previstos, em 1994, eram (Cosuel em Notícias,
nº177, julho e agosto de 1994):
(a) Modalidade Ciclo Completo: tinha o número mínimo ideal de 6 fêmeas,
devendo apresentar auto-suficiência no milho a ser consumido pelo plantel de
reprodutores e suínos a serem terminados, considerando uma média de 80 sacos de
milho/fêmea/ano;
(b) Modalidade Produtor de Leitões: tinha o número mínimo ideal de 44
fêmeas
8
, devendo ser auto-suficiente no milho consumido pelo plantel de reprodutores,
em média 12 sacos de milho/fêmea/ano;
(c) Modalidade Terminador Troca Troca: tinha o número mínimo ideal três
lotes por ano, sendo 60 leitões por lote. Também precisar ser auto-suficiente no milho
a ser consumido pelos suínos terminados, em média 3 sacos de milho/suíno/ano de 3
sacos;
(d) Modalidade Terminador Parceria: tinha o número mínimo ideal de três lotes
por ano, sendo 200 leitões por lote. A quantidade de milho/suíno/ano não era
estipulada, mas se incentiva a produção máxima, de acordo com a área do produtor,
para venda a fábrica de rações da Cosuel.
Esses índices não foram impostos aos produtores pela Cooperativa como requisito de
recebimento da produção ou mediante punições, mas como recomendações. Ou seja, como
meta para os produtores que queriam se instalar ou continuar na atividade, baseando-se na
prerrogativa de que somente com esses índices a atividade se viabilizaria.
Em 2005, o tamanho mínimo do lote é previsto em contrato e os índices de eficiência
mínimos são:
(a) Modalidade Ciclo Completo: a Cooperativa não orienta mais a expansão
desse programa e a assistência técnica é dada somente e quando solicitada, isto é,
quando necessário;
(b) Modalidade Produtor de Leitões (21 dias): para as que se iniciam, precisam
ter no mínimo 260 fêmeas, com 2,4 partos por anos e uma média de 24 leitões
produzidos por fêmea por ano, sendo o peso médio dos leitões de 6,5 kg.
8
Em 1993 eram 22 fêmeas, apresentando um crescimento de 100% em um ano para viabilidade da unidade.
102
(c) Modalidade Produtor de Leitões (63 dias): tem o mínimo ideal de 44
fêmeas (como em 1994), com 2,4 partos por anos e uma média de 24 leitões
produzidos por fêmea por ano, sendo o peso médio dos leitões de 24 kg.
(d) Modalidade Creches: não existia em 1994 e, em 2005, tem a definição de
um lote mínimo de 240 cabeças, com peso médio dos leitões de 24 kg, com ganho
médio diário de 0,417 kg e conversão alimentar próxima a 1,54 quilos de ração para
cada quilo engordado pelo animal.
(e) Modalidade Terminador Parceria ou a vista: tem o lote mínimo definido em
200 cabeças, com médio de peso para abate de 112 kg, ganho médio diário de 0,817
kg e, para o terminador parceria, conversão alimentar de 2,80 quilos de ração para
cada quilo engordado pelo animal. O terminador a vista não tem o comprometimento
de utilizar somente a ração da Cooperativa, podendo fazer a ração na propriedade.
Contudo, nos contratos, nesse caso, se compromete em usar o concentrado da
Cooperativa.
Não foram identificados critérios atuais com relação a auto-suficiência de milho nas
propriedades em nenhuma das modalidades o que pode provocar maior pressão sobre o meio
ambiente em relação aos critérios anteriores, pois os programas não apresentam mais a
obrigatoriedade da propriedade dispor de lavouras ou áreas suficientes para disposição dos
dejetos. Adicionalmente, o milho é principal insumo para produção de ração, principal insumo
da produção de suínos, esse posicionamento pode ocasionar numa maior dependência da
Cooperativa de grãos de produtores não cooperados ou mesmo importado, implicado em
maior custo de produção.
O Quadro 5 apresenta os Programas que fazem ou fizeram parte da área de atuação da
Cooperativa na cadeia suinícola. Embora o quadro social da Cooperativa ainda apresente
produtores integrados com Ciclo Completo ou Terminador à vista esses programas não são
mais estimulados pela Cooperativa, tendo em vista o processo de reestruturação que definiu as
UPLs, o terminador parceria, seguido das creches como política de produção da suinocultura.
O que ocorre é que a Cooperativa respeitou o direito dos produtores que trabalham nesses
sistemas de manterem-se neles, mas não são aceitos novos associados nessas modalidades.
Embora integrados à Cooperativa, os produtores nessas modalidades de produção não
possuíam, e nem possuem, o compromisso formalizado de assumirem o pacote tecnológico
disponibilizado pela cooperativa, especialmente no que se refere à alimentação, uma vez que a
103
genética vem das granjas integradas, portanto aprovada pela Cooperativa, e que a assistência
técnica é disponibilizada a todos associados.
Programa Principais Caracteristicas
Data de
Criação
Ciclo Completo
Responsável por todas as etapas da produção, incluindo custos com ração e
medicamentos.
Desde o
inicio
Creches
Recebe o leitão com 21 dias, aproximadamente 6kg, e entrega o leitão aos
terminadores com 63 dias, aproximadamente 25kg.
1997
Terminador a vista
Recebe os leitões com 63 dias, pagando pelos leitoes e insumos para a
Cooperativa, recebendo ao final o o valor do kg vivo do suino integral.
1994
Terminador
parceria rural
Recebe os leitões com 63 dias, não paga pelos leitoes, nem ração ou
medicamentos. Recebe pelo índice de conversão.
1990
Terminador troca a
troca
Os leitões eram comprados das UPLs pela Cosuel ou de granjas próprias e
repassados para o terminador por um sistema de troca na média de 1,5 kg
de suíno para cada kg de leitão repassado.
1990
UPL condomínio 21
dias
Sob responsabilidade da Cooperativa para a viabilização de UPLs de
grande escala e garantia de materia prima (leitões) para as unidades de
creche
1996
UPL condomínio 63
dias
Sob responsabilidade da Cooperativa ou de Associações de produtores,
normalmente terminadores, para a viabilização de UPLs de grande escala
1993
UPL individual 21
dias
Inclui as etapas de nascimento (maternidade) e crescimento do leitão até
21 dias, aproximadamente 6 Kg
1996
UPL individual 63
dias
Inclui as etapas de nascimento (maternidade) e crscimento do leitão até 63
dias, aproximadamente 25Kg
Desde o
inicio
CARACTERIZAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS DA COSUEL
Quadro 5: Caracterização dos programas de Suinocultura da Cosuel
Fonte: Dados primários e Ew (2001).
O programa terminação troca-troca foi paulatinamente extinto com a migração dos
produtores para os programas de parceria rural (terminação). Nesse programa o produtor se
responsabilizava apenas pela terminação dos leitões, que eram comprados das UPLs pela
Cosuel ou provindos de granjas próprias da Cooperativa e repassados para o terminador. A
principal diferença entre esse programa e o parceria rural é que o pagamento destes leitões era
feito no final da engorda, no abate, em quilos de suínos terminados, na base de 1,5 kg de
suíno para cada 1 kg de leitão, enquanto os produtores parceria rural não pagam pelo leitão
que é de propriedade da Cosuel e recebem conforme a conversão alimentar.
Foi em 1994 que, efetivamente, a COSUEL desenvolveu e aperfeiçoou seus
programas de suinocultura (EW, 2001), definindo seu posicionamento de fomentar a produção
de suínos especializadas em sítios, cujos programas (UPLs, Creches, Terminação Parceria
Rural) receberam mais atenção da Cooperativa durante a reestruturação porque eram, e são,
104
entendidos como o melhor caminho para a especialização e profissionalização dos produtores.
Esses programas caracterizam-se como arranjos híbridos, onde os produtores associados, ou
seja, com contratos firmados, recebem da Cooperativa todos os insumos necessários ao
processo de produção, inclusive medicamentos e assistência técnica, não arcando com
nenhum dos custos e recebendo conforme a eficiência da unidade (número de leitões por
matriz, conversão alimentar e a tipificação das carcaças).
Em síntese, para a Cooperativa, se 58,8% da eficiência da atividade depende do
número de suínos terminados por ano e 26,8% da conversão alimentar (COSUEL EM
NOTÍCIAS, 178, outubro de 1994) era nesses aspectos que se deveria investir em
tecnologias para garantir eficiência e rentabilidade satisfatória da atividade. Enquanto, como
apresentado, anteriormente a preocupação estava muito concentrada no preço dos insumos e
dos suínos, que representam apenas 8,8% e 7,8%, respectivamente.
GENÉTICA, SANIDADE, NUTRIÇÃO, MANEJO, INSTALAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
EFICIENCIA DE PRODUÇÃO
CUSTO DO PRODUTO PRIMÁRIO QUALIDADE DO PRODUTO PRIMÁRIO
EFICIENCIA DO PROCESSAMENTO
PODER AQUISITIVO + PRFERÊNCIA DO CONSUMIDOR
QUALIDADE DO PRODUTO FINALCUSTO DO PRODUTO FINAL
CONSUMO
Figura 11: Visão da Cooperativa de um processo de produção eficiente
Fonte: Cosuel em Notícias, nº 177, setembro de 1994; e nº 186, novembro de 1995.
Ratifica-se que diferentemente de como ocorreu em grande parte do setor, na Cosuel a
implementação do Programa de Integração não ocasionou na extinção dos produtores de Ciclo
Completo, sendo os programas de produção por sítios (fases) efetivamente implementados
somente a partir dessa reestruturação na atividade da Cooperativa. Pois, esse contexto que
105
levou a reestruturação indicava que a eficiência das unidades produtivas seria alcançada
com investimentos em novos sistemas de produção (especialização do produtor em sítios)
para alcançar produtividade (suínos/terminados/ano), alimentação (conversão alimentar),
genética, sanidade, instalações, manejo e administração adequados, como indica a Figura 10.
Assim sendo, a introdução de inovações nas estruturas produtivas, no manejo
alimentar e sanitário, nas rações, na genética, nos cuidados ambientais e nas formas de
relacionamento da cadeia, com o principal intuito de alcançar maior eficiência para a
permanência da Cooperativa e dos produtores na atividade, caracterizaram esse período.
4.3.7 A Avaliação da Reestruturação da Cadeia Suinícola da Cosuel (E10 – E11):
sustentabilidade das inovações inseridas no período de 1990 a 2005
Conforme indicado no SIAN, as etapas E8 e E9 tratam da descrição do período de
reestruturação da cadeia produtiva de suínos da Cosuel, entendidas como nível único de
análise devido à caracterização, dos segmentos estudados da cadeia, estar associada à
Cooperativa e aos produtores. Pela mesma razão, as etapas E10 e E11 foram analisadas e são
descritas em conjunto. Essas quatro etapas tratam do nível central de análise desse estudo,
sendo o seu objetivo reunir informações para identificar a evolução da sustentabilidade nas
inovações ocorridas no período analisado nessas etapas.
De tal forma, essa seção descreve as inovações ocorridas na cadeia tendo em vista a
reestruturação, caracterizando-as conforme seus aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Embora se admita a interrelação e interdependência dessas três dimensões, que compõe o
tripé da sustentabilidade, de forma a sistematizar os resultados e melhor compreender o
processo, a descrição e avaliação dos dados levantados serão realizadas nas subseções
seguintes, conforme seu principal impacto: econômico, social ou ambiental.
Em síntese, com a adoção das medidas e inovações no decorrer do processo de
reestruturação, a cadeia produtiva de suínos da Cosuel, comparada ao período anterior (seção
5.3), caracteriza-se por:
106
(a) por uma produção mais controlada dos animais, inclusive com a possibilidade de
rastreabilidade e planejamento de longo prazo do Frigorífico;
(b) por uma alimentação dos animais mais controlada e sistematizada, com a doação
de tabelas com especificação da periodicidade e especificidade da alimentação dada ao
animal, conforme sua fase de vida. Sendo as rações balanceadas, de qualidade e eficiência na
conversão controlada;
(c) por uma produção de suínos que trabalha com o desmame dos leitões aos 21 dias
em média, sendo que cada matriz tem em média 2,4 partos/ano com média de 9 leitões/parto.
(d) por um alto controle sanitário, com a adoção do vazio sanitário e do transporte dos
animais por lotes;
(e) por maior pressão sob o meio ambiente, devido a viabilidade de escalas de
produção maiores em propriedades menores. Contudo, também por um controle ambiental
mais intensificado, por parte dos órgãos fiscalizadores, com a adoção da licença ambiental
que determina critérios como: destino e manejo dos dejetos, localização da unidade produtiva
em relação a áreas urbanas, rios e áreas de preservação ambiental; por parte dos produtores e
da Cooperativa, o cuidado ambiental também evoluiu significativamente, contudo um pouco
paradoxal: ao mesmo tempo em que estão atentos às novas tecnologias, como bicos
ecológicos e biodigestores, ainda não internalizaram cuidados simples como a proteção das
lagoas de estabilização da chuva.
4.3.7..1 A Reestruturação e a dimensão econômica da sustentabilidade
Os programas definidos para o setor de suínos na reestruturação da atividade da
Cooperativa basearam-se, portanto, no sistema de produção tipo sítios. Inicialmente, eram
dois sítios: UPLs 63 dias e terminação. Posteriormente, em 1997, a Cooperativa passou a
trabalhar com o sistema de três sítios: UPLs 21 dias, creches e terminador parceria rural.
Assim sendo, a política de organização da produção de suínos da Cooperativa, em 2005,
privilegia:
107
(a) Os programas de produção modalidades: Unidade Produtora de Leitões (21 e 63
dias); Creches e Terminador Parceria Rural.
(b) Fornecimento de: reprodutores e leitões geneticamente selecionados por empresa
parceira (Gènètic Pork); 12 tipos de ração balanceada e 2 tipos de concentrados; assistência
técnica; e logística.
(c) Garantia de recebimento da produção, sendo que dependendo do programa a
produção é de propriedade da Cooperativa (creches e parcerias); de preço e; da tipificação de
carcaças.
Com essa divisão da produção em sítios, a cooperativa passou a incentivar um ciclo
produtivo caracterizado pelo desmame precoce do leitão com 21 dias de idade, seguido da
transferência desse leitão para creches isoladas e desinfetadas onde permanecem até os 63
dias, quando são transferidos para as unidades terminação, onde também as instalações estão
isoladas e desinfetadas para o recebimento do lote. Como mencionado na revisão de literatura
sobre o setor suinícola, esse tipo de especialização conforme a idade do animal foi uma
inovação importante para a evolução do setor, pois aumenta a produtividade e diminui os
riscos de doenças ao evitar a mistura de agentes infecciosos característicos de cada etapa da
vida do animal.
A adoção de unidades isoladas em diferentes etapas dos ciclos de produção (sítios) é
entendida como uma inovação arquitetural no processo produtivo da Cooperativa, visto que,
apesar de manter muitos dos conceitos centrais relativos à produção e manejo dos animais,
modifica a estrutura de funcionamento do processo produtivo baseando-se em novas
prerrogativas, fundamentalmente, por priorizar a especialização do produtor por fases de vida
do animal, não mais incentivando que o produtor se responsabilizasse pela gestação e
maternidade dos animais, creches e terminação ao mesmo tempo (Ciclo Completo).
Assim como para o setor suinícola no país, essa inovação representou um grande
avanço para a Cooperativa porque diminuiu as oscilações de produção que o frigorífico
enfrentava, o que onerava em mais custos de produção para cooperativa; diminuiu os riscos da
atividade ao produtor; melhorou o aspecto sanitário da produção, com a introdução do vazio
sanitário, e; também evitou a perda de animais pequenos que, anteriormente, eventualmente
eram “amassados” pelos animais maiores que se encontravam no mesmo espaço físico.
Devido a esse último aspecto, desde a década de 80 até mesmo as propriedades de Ciclo
108
Completo eram orientadas a utilizarem unidades físicas isoladas, mantendo grupos de idades e
pesos diferentes separados.
Adicionalmente, com a inclusão desse novo sistema de produção, a Cooperativa teve
que construir um novo processo de remuneração do produtor, definindo qual seria a base e
quanto se pagaria por cada suíno terminando na propriedade. Se o objetivo da reestruturação
dos processos de produção e da adoção de inovações tecnológicas em genética e rações era
alcançar maior eficiência, também o índice de eficiência passou a determinar as formas de
remuneração dos produtores inscritos nos programas, por meio da conversão alimentar e da
tipificação de carcaças.
Segundo dados do setor de Supervisão da Suinocultura, determinar a eficiência de uma
granja e remunerar o produtor conforme seu desempenho, não foi um processo simples ou
rápido, pois não existiam parâmetros para esses processos de produção em sítios na época.
Adicionalmente, os programas da Cooperativa apresentavam características peculiares porque
a relação, as características e as diretrizes dos programas tinham sido constrdas pela e para a
Cooperativa e porque a cadeia da Cooperativa ainda mantinha os demais programas.
Essa inovação na forma de remuneração dos produtores, modificou os critérios
centrais que orientavam o processo, passando da base valor do quilo do suíno vivo para
índices de eficiência. Isso sem, contudo, alterar a relação entre os fatores entrega da produção
e remuneração, caracterizando, portanto uma inovação modular em processo.
Uma vez determinado que o pagamento seria pelo índice de conversão alimentar,
também não haviam parâmetros que indicassem qual a média de conversão de um suíno em
um lote de terminação, ou seja, não se conhecia quantos quilos de ração eram necessários
para, ao final do ciclo, se obter um quilo de carne de suíno vivo, e então determinar qual o
valor que se poderia pagar ao produtor.
Isso ocorreu porque tanto técnicos quanto produtores estavam acostumados com os
ciclos contínuos (completos) ou com a remuneração com base no peso do animal. o se
conhecia as necessidades do animal de acordo com cada fase, nem qual era a diferença da
média de conversão de um leitão na creche para a média de conversão de um suíno em fase de
terminação. A solução encontrada pela cooperativa foi inicialmente trabalhar com unidades
testes, por meio das quais se obteve os parâmetros de conversão alimentar que com o tempo
foram aperfeiçoados. No caso das UPLs, a eficiência é avaliada conforme o número de crias
109
(leitões) por matriz e também teve sua base relacionada aos parâmetros alcançados em
unidades já constituídas, indicadas como unidades teste.
Segundo a Supervisão de Suinocultura da Cooperativa, corroborando com o exposto
pelos produtores, com esse sistema de remuneração do produtor conforme a eficiência da
unidade produtiva conseguiu-se remunerar melhor o produtor e incluir bonificações e, em
alguns casos, diminuir os riscos para o produtor e a necessidade de capital de giro. Tendo em
vista as entrevistas realizadas, pode-se perceber que a média de ganho por animal terminado
não variou significativamente entre as unidades de Ciclo Completo, Terminação a Vista e
Terminação Parceria rural. Conforme os valores fornecidos pelos produtores, em 2005 o
produtor de Ciclo Completo ganha cerca de 50% a mais que os demais, contudo esses
produtores estão sujeitos às oscilações de mercado e necessitam de capital de giro para arcar
com os custos dos leitões, rações, medicamentos e mão de obra.
Em suma, a avaliação do índice de eficiência da propriedade era necessária porque o
produtor nos sistemas de sítios, não internaliza os custos com o leitão, ração, assistência
técnica ou medicamento, sendo esses de responsabilidade da Cooperativa. Isso reflete na
perda de autonomia do produtor com relação ao processo produtivo e planejamento da sua
produção, pois sua propriedade passa a ser uma espécie de “hotel” para a produção da
Cooperativa, e o seu trabalho avaliado e remunerado conforme seu desempenho,
caracterizando uma espécie de arrendamento da propriedade do produtor com contratação de
sua mão-de-obra.
Assim, estabelece-se uma relação capital-trabalho, entre a Cooperativa (detentora do
capital e da tecnologia) e o produtor que, embora detentor de parte dos meios de produção
(terra e estrutura física da pocilga), representa a mão-de-obra. Nas entrevistas realizadas, os
nenhum dos produtores que assumiram o pacote tecnológico da Cooperativa (programas de
sítios) manifestou descontentamento com a mudança no relacionamento com a Cooperativa
(de Ciclo Completo para um dos sítios), apontando como os prós da mudança justamente os
fatores colocados pela literatura (GOMES et al., 1992; GUIVANT E MIRANDA, 2004) como
causadores da perda de sua autonomia.
Isso reflete um conflito de percepções: se por um lado a perda de autonomia com
relação ao processo produtivo é apontada como negativa pelos teóricos, a segurança com
relação à diminuição dos riscos com a oscilação do mercado, em geral, agrada ao produtor.
Por outro lado, o produtor terminador a vista entrevistado afirmou não ter realizado a
110
transição para a terminação parceria rural porque seu filho acredita que nessa modalidade eles
têm maior liberdade para o manejo do lote e maior rentabilidade, apesar dos riscos.
Entende-se que, ao contrário do que a literatura aponta que ocorre com as empresas
integradoras, a relação de parceria integradora e produtor é atenuada, no caso da Cosuel, por
se tratar de uma organização Cooperativa, onde os produtores são cooperados e, portando,
proprietários, podendo manifestar, nesse caso por intermédio de seus delegados, seus
descontentamentos em Assembléias e, caso obtenham a maioria dos votos, decidir por
alterações.
Para a Cooperativa, como organização que precisa manter suas atividades industriais
eficientes e rentáveis, os programas conforme os sítios (UPLs, creches e terminador parceria
rural) permitem melhor planejamento de produção do frigorífico, maior controle genético,
nutricional e sanitário facilitando a rastreabilidade do produto. Ao mesmo tempo, em
conformidade com o que colocam estudiosos do setor, para o produtor os programas de
especialização em sítios apresentam as vantagens de permitirem maior estabilidade
econômica, uma vez que seus riscos diminuem, e acesso a novas tecnologias e técnicas de
manejo do animal.
Para a Cooperativa, o sucesso do programa de parcerias em sítios pode ser constatado
pelo crescimento das adesões de produtores aos programas. Percebe-se no Gráfico 1 a
gradativa diminuição de produtores no sistema de Ciclo Completo e o crescimento dos
programas que permitem a especialização do produtor, como terminação, creches ou UPLS
(21 dias e 63 dias).
111
Evolução Número de Associados por Programas
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1.000,00
1.200,00
1.400,00
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Ano
Nº de Associados
Ciclo Completo Terminadores UPLs e Creches
Gráfico 1: Evolução do Número de Associados por Programas da Suinocultura na Cosuel.
Fonte: Relatórios de Atividades da Cooperativa conforme o ano e dados primários.
Suínos Abatidos por Programa
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
200 2004 2005
Ano
Cabas
Ciclo Completo Terminador Parceria
Gráfico 2: Suínos Abatidos (cabeças) por programas nos últimos três anos.
Fonte: Dados do Programa de Tipificação de Carcaças da Cooperativa (DIDAI).
Como pode ser visualizado (Gráfico 2), nos últimos anos a modalidade parceria rural
responde por mais de 80% dos abates da Cooperativa, excluindo o total dos abates de suínos
provenientes das granjas próprias.
112
Suínos
Alojados
Suínos
Abatidos
Mortalidade
abs
Mortalida
de %
Peso
médio
inicial
Peso
médio final
Dias de
proprieda
de
G.M.D
(Ganho
médio
diário)
C.A
(Convers
ão
Alimentar
)
1990
104 103 1 0,96 22,88 87,79 86,00 0,752 3,260
1991
7.778 7.707 72 0,92 23,30 94,63 98,00 0,741 3,090
1992
18.366 18.180 185 1,01 22,59 89,14 97,87 0,678 3,060
1993
35.645 35.233 413 1,16 22,97 90,26 98,31 0,684 3,040
1994
45.819 45.306 513 1,12 24,31 94,56 97,42 0,721 2,950
1995
51.949 51.472 478 0,92 24,69 97,20 100,86 0,719 2,910
1996
104.600 103.817 764 0,73 25,59 97,95 97,35 0,730 2,850
1997
127.852 127.113 1.010 0,79 26,04 98,71 97,92 0,740 2,860
1998
152.013 153.928 1.079 0,71 25,91 99,39 98,01 0,749 2,850
1999
257.936 154.947 1.144 0,44 23,30 98,54 86,10 0,800 2,780
2000
228.700 226.635 1.565 0,69 23,99 97,36 91,10 0,805 2,830
2001
236.541 234.817 1.724 0,73 21,55 95,16 92,87 0,793 2,850
2002
240.193 237.748 2.445 1,02 20,22 95,76 97,68 0,773 2,850
2003
245.614 242.898 2.716 1,11 19,78 90,87 91,13 0,780 2,830
2004
189.477 186.344 3.133 1,65 20,09 91,48 94,33 0,757 2,960
2005
208.099 204.704 3.395 1,63 19,37 101,02 105,13 0,773 2,860
Resultado do Programa de Suinocultura Modalidade Parceria Rural
Tabela 7: Evolução do Programa Parceria Rural da Suinocultura da Cosuel.
Fonte: Cosuel Notícias e Relatórios de Atividades da Cooperativa conforme o ano.
Chama a atenção na Tabela 7 o crescimento percentual na perda de animais
(mortalidade), contudo não se conseguiu justificar esse crescimento percentual, pois, além do
valor absoluto e percentual, os relatórios e informativos pesquisados não informam as razões
dessa mortalidade e, ao mesmo tempo, gestores e produtores contatados acreditam que a taxa
de mortalidade média dos leitões recuou. Na Tabela 7 pode-se constatar também o
significativo crescimento na produção e abate de suínos nesses 15 anos, sendo que esses têm
apresentado maior peso médio final, com alguns dias a mais na propriedade. Adicionalmente,
percebe-se que o ganho médio diário (G.M.D) manteve-se praticamente estável enquanto a
conversão alimentar (C.A) teve um crescimento positivo, corroborando com o exposto pelos
técnicos de que uma alimentação balanceada e em quantidade adequada representa mais
produtividade e qualidade a custo mais baixo. Assim, em 1990 eram necessários quase 3,3
quilos de ração para o leitão engordar um quilo, em 2005 esse valor cai para 2,8 quilos,
diferença pequena, mas o suficiente para ser apontada por gestores e técnicos como
significativa para a diminuição dos custos e da quantidade de toicinho da carne.
Essa questão da alimentação, que antes dos sistemas de sítios era feita duas ou três
vezes ao dia, conforme os cochos eram sendo esvaziados, estabeleceu-se uma tabela que
orienta o produtor com relação à quantidade e tipo de ração a ser dada ao animal conforme
113
sua fase. De tal forma, para estabelecer um pacote tecnológico que viabilizasse e que
proporcionasse maior eficiência na cadeia, a Cooperativa precisou também estudar e
reestruturar a alimentação dos animais segundo suas fases, juntamente com as técnicas de
condução dos lotes.
Além de influenciar em cerca de 27% a eficiência da atividade, a etapa de alimentação
do animal apresenta grande impacto econômico e ambiental na atividade, pois os suínos
excretam aproximadamente 30% do que comem em estado praticamente intacto. Para Bley
(apud COSUEL EM NOTÍCIAS, junho/julho de 2001), além de maior geração de dejetos e
consumo de água, esses 30% indicam uma perda financeira de aproximadamente 20%, uma
vez que a ração chega a representar 72% dos custos com insumos.
Adicionalmente, somente a adoção de genéticas mais avançadas não alcança retorno
satisfatório, pois a qualidade da carne é influenciada apenas 25% pela genética, sendo o
restante determinado por outros fatores como manejo e bem-estar dos animais, baias, manejo
alimentar e alimentação de qualidade (BLEY, apud COSUEL EM NOTÍCIAS, junho/julho de
2001). Nesse sentido, os técnicos da Cooperativa passaram a estudar essas questões, buscando
soluções para a qualidade dos grãos e para um melhor balanceamento das rações, em
substituição às rações feitas na propriedade ou inadequada para a idade do animal.
Desse modo, o sistema de alimentação dos suínos nesses 15 anos também evoluiu
bastante. Para a qualidade dos grãos a fábrica de rações adquiriu uma esteira vazada, que
funciona como uma peneira que elimina os grãos (milho e soja) menores, provavelmente
quebrados e, portanto, mais suscetíveis a fungos e bactérias. Mais recentemente, no início do
segundo semestre de 2006, a fábrica passou a operar com uma caldeira para um pré-
cozimento da ração, processo que facilita a digestão dos animais e, devido ao aquecimento,
diminui a possibilidade de permanência de fungos e bactérias dos grãos na ração.
Paralelamente, inovações incrementais na dosagem de nutrientes e proteínas das
rações, diferenciando os tipos de rações conforme sua composição nutricional, foram
progressivamente introduzidas e disponibilizadas aos associados. Em outras palavras, a
inclusão de pequenas alterações na dosagem de nutrientes e energia das rações, reforçando a
combinação central entre grãos, proteínas, vitaminas e minerais, resultou em novos tipos de
rações (gestação, lactação, pré-inicial, dois tipos para as fases iniciais, reposição, 5 tipos de
lanches, crescimento), conforme indica o Gráfico 3.
114
Segundo o Gerente da Divisão de Produção Agropecuária, esse processo foi
fundamental para a melhoria final do suíno, pois a ração desbalanceada resultava em mais
energia (especialmente devido à adição de mais milho) e com isso em um suíno com mais
toicinho. Assim, também a adoção desses programas de parcerias implicou no crescimento do
uso de rações mais balanceadas, visto que, nesses programas, a ração balanceada passou a ser
fornecida pela Cooperativa.
Essas inovações incrementais na concentração nutricional das rações foram resultados
de pesquisas e testes realizados pelos técnicos e nutricionistas da Fábrica de Rações da
Cooperativa. O Gráfico 3 apresenta o reflexo dessas inovações na definição de novos tipos de
rações. Percebe-se que à medida que se avança no tempo a Fábrica de Rações da Cooperativa
passou a disponibilizar para seus associados uma maior variedade de rações, indicadas
conforme a fase de vida do suíno.
Evolução Fábrica De Rações
5 tipos
7 tipos
10 tipos
12 tipos
2 tipos
2 tipos
2 tipos 2 tipos
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
6500
7000
1990 1995 2000 2005
Tempo
Produção (ton/mês)
Prodão de Ração Produção Concentrado
Gráfico 3: Evolução da Produção da Fábrica de Rações da Cosuel de Alimentos para Suínos: segundo
quantidades produzidas e variedade de tipos.
Fonte: Relatórios de Atividades da Cooperativa conforme o ano e dados primários.
Ao mesmo tempo, pode-se identificar que o número de tipos de concentrado manteve-
se estável enquanto a produção deste diminui com o tempo. Isso se deve não somente a
implementação dos programas, como também ao posicionamento definido pela Cooperativa
115
que, para estimular uma maior eficiência nas propriedades, passou a vender a ração sem
margem de lucro. Assim, segundo o Supervisor de Suinocultura, considerando os custos e a
produtividade alcançada hoje, freqüentemente é mais viável para o produtor vender sua
produção de grãos para a Cooperativa e utilizar a ração balanceada em sua granja do que
misturar a ração na sua propriedade. Desse modo, as rações balanceadas passaram a ser
utilizadas pelos produtores dos Programas de Parcerias (obrigatoriamente) e também por
produtores dos demais programas.
Os dois tipos de concentrados disponibilizados aos associados eram e são para
reprodução (matrizes) e terminação. O mesmo concentrado é disponibilizado para a
formulação das rações dos animais desde o desmame, que hoje ocorre aos 21 dias, até o abate,
quando o animal possui em média 120 dias e 100 kg. Como o animal apresenta níveis de
necessidade de proteínas, minerais e vitaminas diferentes conforme a idade ocorre que, às
vezes, o animal ingere nutrientes em excesso e, em outros momentos, fica com carência dos
mesmos. O mesmo ocorria com as rações, antes de a fábrica investir em maior especificidade
das rações, diversificando os tipos conforme a idade do animal (Gráfico 3).
Dentro desse contexto a fábrica trabalhou conforme a necessidade das cadeias de
suínos e laticínios da Cooperativa, sendo essas um reflexo do andamento dos próprios setores
e dos setores de grãos. Embora, tenha apresentado decréscimo na produção nos 2003, 2004 e
2005 (Gráfico 4) a fábrica tem abastecido sem problemas seus associados. Segundo o
Relatório de Atividades de 2005, a Cooperativa têm conseguido disponibilizar aos associados
a alimentação dos suínos a um custo bem acessível, o que tem contribuído para a
rentabilidade das granjas dos cooperados.
116
Evolução da Produção da brica de Rações
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Quantidade (ton/ano)
Gráfico 4: Evolução da Produção da Fábrica de Rações da Cooperativa
Fonte: Relatórios de Atividades da Cooperativa conforme o ano.
Todas essas mudanças nos tipos de rações implicaram em maior produtividade e
menores custos dos lotes de suínos, devido a maior eficiência na conversão alimentar, e maior
qualidade da carne. Como foi mencionado, um dos resultados, alcançados com a
profissionalização e especialização das unidades produtivas, foi que, paulatinamente, a
Cooperativa passou a trabalhar mais com o suíno tipo exportação (magro) em substituição ao
suíno tipo banha. As melhorias na qualidade da carne podem ser percebidas por meio da
quantidade de toicinho apresentada (Gráficos 5 e 6), quanto menor melhor, sendo que passou
de cerca de 27 mm, em 1994, para 20 mm, em 2005, contudo 2005 apresentou um leve
crescimento se comparado aos anos de 2000 a 2004.
117
Variação da Quantidade de Toicinho
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Tempo
Toicinho (mm)
Gráfico 5: Qualidade dos Suínos Abatidos – quantidade de toicinho.
Fonte: Dados primários conforme o Programa de Tipificação de Carcaças da Cooperativa e Relatórios de
Atividades da Cosuel, conforme respectivos anos (1994-2002).
Em termos de valor absoluto a diferença na quantidade de toicinho nesses 15 anos é
muito pequena, entretanto, em termos de qualidade do produto indica um avanço significativo
de melhoria e, conseqüentemente, maior inserção no mercado. Esse teor maior de carne magra
é associado pela Cooperativa ao melhoramento genético das matrizes e, especialmente, ao
controle e balanceamento nutricional dos animais.
Uma limitação do Gráfico 5 é que esse compara dados coletados de forma
diferenciada, isto é, no inicio da década de 90 a tipificação era feita visualmente, enquanto
mais recentemente (2003) tem sido feita eletronicamente, pelo Sistema DIDAI
9
. A avaliação
das carcaças pelo Sistema DIDAI implica na utilização de uma pistola que utiliza a tecnologia
óptica para determinação das medidas de rendimento das carcaças animais. Um sensor óptico
acoplado junto à ponta de penetração da pistola é capaz de diferenciar a gordura da carne e
medir a espessura desses tecidos, determinando: a porcentagem de carne magra, a espessura
total do animal, a coloração do músculo, a variação de cor do músculo, a coloração mínima e
a indicação de carne do tipo PSE (carne de textura mole, de cor pálida e que retém pouca
água). Adicionalmente, um coletor de dados instalado na plataforma de tipificação, permite: a
pesagem da carcaça; a identificação da tatuagem da carcaça e de outras observações sanitárias
pré-determinadas.
9
Informações sobre esse sistema disponíveis em: http://www.didai.com.br/tipcarcaca_hennessy.htm
118
Assim, com a adoção desse sistema DIDAI é possível a geração de relatórios com
identificação do produtor, destino, código sanitário, parte condenada, peso de carcaça,
espessuras de toucinho e músculo, porcentagem de carne magra, coloração do músculo,
variação de cor, cor mínima, indicação de PSE, classificação SEUROP (critérios e normas
que definem um padrão para a qualidade da carne considerada aceitável pelos Países-Baixos),
índice de bonificação e preço para a remuneração do produtor de forma automatizada.
A etapa de tipificação de carcaças ocorre no frigorífico, segmento da cadeia não
contemplado como objeto de estudo desse trabalho, que se preocupa com os segmentos de
insumos e o setor primário de produção até a etapa de entrega do animal para abate, onde a
relação entre Cooperativa e produtor Cooperados é determinante. Contudo, essa descrição
sucinta do Sistema DIDAI deve-se a importância da adoção dessa tecnologia pela Cooperativa
pela precisão e agilidade dos dados coletados, que influenciam diretamente na remuneração
dos produtores.
Diferentemente do Gráfico 5, o Gráfico 6 trabalha somente com dados da tipificação
eletrônica, comprando a quantidade de toicinhos nos últimos três anos (devido à
indisponibilidade de informações por programa nos anos que antecedem o Sistema DIDAI) de
cada programa. Pode-se perceber no Gráfico 6 que os suínos terminados pelos produtores de
ciclo completo apresentam maior variabilidade na quantidade de toicinho.
Qualidade do Suínos por Programa
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
2003¹ 2004 2005
Ano
Toicinho (mm)
Ciclo Completo Terminador Parceria
Gráfico 6: Qualidade dos Suínos Abatidos por programas nos últimos três anos.
Fonte: Dados do Programa de Tipificação de Carcaças da Cooperativa (DIDAI).
Outra inovação, apontada pela Divisão de Suínos como resultado da especialização em
sítios, foi a etapa de desmame dos leitões passar de 35 dias para 21 dias. Essa alteração
119
influenciou fortemente a produtividades das UPLs cujas matrizes passaram de 1,8
partos/porca/ano para 2,4 partos/porca/ano. Ao mesmo tempo, enquanto anteriormente se
produziam 15 leitões por matriz/ano as UPLs da Cooperativa passaram a produzir 22 ou 23
leitões por matriz/ano.
O desmame em 21 dias é suficiente para o leitão ganhar peso e força para se alimentar
sozinho e passar para as fases de crescimento e engorda. Esse período está no limite
fisiológico das porcas que não possuem estrutura física para mais do que 2,4 partos por ano. O
impacto dessa mudança na produtividade é considerado pelo Supervisor de Suinocultura
como fundamental para viabilizar a suinocultura na Cosuel e no Brasil. Essa mudança do
desmame dos 35 dias para os 21 dias é entendida como uma inovação modular, pois modifica
o conceito central do processo de quanto mais tempo o leitão mamar mais preparado para a
fase de crescimento ele estará sem, contudo, modificar a ligação entre o fator mamar e
resistência física do leitão.
Em entrevista, um dos produtores afirmou que a sua especialização em UPL lhe
proporcionou a oportunidade de continuar na suinocultura, pois essa lhe apresenta
rentabilidade satisfatória mesmo que em pequena escala. O aumento da produtividade de
leitões, resultado de novas genéticas, técnicas e, especialmente do desmame precoce, foi
apresentado pelo produtor como bastante positivo. Por outro lado, o produtor considerou um
problema, em virtude do número de leitões por parto, que em alguns casos as crias precisam
disputar as mamas da mãe, e brincou, “é preciso criar porcas com mais mamas”
(PRODUTOR H). Mesmo considerando que essa colocação tenha sido dita pelo produtor
irrefletidamente, fica saliente como a produtividade e o aspecto econômico são prioritários e
determinantes na produção agropecuária, não apenas na Cooperativa como no setor como um
todo. Nesse caso, fica a dúvida: até que ponto esse limite fisiológico do animal converge
também com o seu bem-estar?
Com relação à genética, em 1994, as granjas próprias da Cooperativa receberam
especial atenção, para assegurar a evolução conquistada, fruto da importação de animais de
alta linhagem e do processo interno de melhoramento genético (KONZEN, EW e
LAUSCHNER, 1998, p.116). Trabalhavam com três rebanhos de raças puras (Large-White,
Landrace, Durok), que passavam pelo cruzamento nas unidades da Cooperativa e com os
melhores animais ou cruzas, continuavam o processo de melhoramento genético realizando
novos cruzamentos.
120
Contudo, em seguida foi introduzido no mercado um sistema Americano de
identificação genética denominado “Blup”. Esse sistema congrega ferramentas sofisticadas de
avaliação genética dos animais, resultando em prognósticos do valor genético de um
cruzamento, aumentando as possibilidades de obtenção de ganhos genéticos (SOUTHWOOD
e KENNEDY, 1991 apud PIRES et al, 2000). Em outras palavras, antes mesmo do
cruzamento o sistema apresenta a possibilidade do animal ser bom ou ruim e inclusive
quais são as chances desse animal passar suas qualidades genéticas para as próximas
gerações.
A introdução de sistemas desse tipo tornou o sistema da Cooperativa ineficiente ao
mesmo tempo em que a compra de um sistema tipo “Blup” não era viável. Assim, a solução
foi comprar a genética por meio de parceria com empresa especializada, no caso a canadense
Génétiporc que, embora tenha unidade no Brasil, disponibiliza material genético canadense.
Até o ano de 2000 manteve-se o processo de cruzamento e melhoramento genético na própria
cooperativa. Agora, segundo a Cooperativa, todos os produtores integrados estão com a
mesma genética, sendo a base genética da Cosuel abastecida pela base genética do Canadá.
Outra questão que tem alto reflexo na dimensão econômica da cadeia produtiva de
suínos da Cooperativa é a possibilidade de implementar um programa de rastreabilidade. A
competitividade de uma agroindústria, assim como a Cooperativa no setor suinícola do País e,
especialmente no mercado externo, está diretamente relacionada à transparência de
informações, relativas ao monitoramento sanitário, à sanidade e balanceamento das rações,
aos custos e qualidade da carne do animal, tendo em vista as pressões do mercado consumidor
e dos órgãos regulamentadores.
Considerando as palavras do Supervisor de Suinocultura, o crescimento de um
mercado consumidor mais exigente quanto às condições de origem de seus alimentos tem
influenciado, ano a ano, a adoção de critérios mais rígidos na utilização de medicamentos e
tratamento dos animais que, hoje, passam, sem exceção, pelo aval dos veterinários da
Cooperativa. Assim sendo, o processo de rastreabilidade do animal é fundamental para a
comprovação dessa postura.
A possibilidade de construção de um programa de rastreabilidade do seu produto,
promovendo a transparência em suas informações, para oferecer maiores garantias ao seu
mercado consumidor, também é atribuída pela Cooperativa, fundamentalmente, às escolhas
feitas 15 anos atrás (path dependency), quando se iniciou as discussões acerca da
reestruturação, e foi efetivada em junho de 2006. De forma inovadora e peculiar às suas
121
atividades a Cooperativa construiu, em conjunto gestores, técnicos e produtores, um sistema
que permite a rastreabilidade do suíno.
A reestruturação da cadeia, especialmente os programas de parcerias construídos
nesses 15 anos, auxiliou a construção do programa de rastreabilidade, pois permitiu que a
Cooperativa organizasse, planejasse e controlasse melhor a cadeia produtiva. Devido à adoção
de pequenas inovações nos processos de controles e registros dos animais, a Cooperativa tem
condições de registrar e controlar o que e quanto o animal ingeriu durante o seu
desenvolvimento, que doenças teve e como foi tratado, por quais microregiões (propriedades)
passou, entre outros fatores.
O sistema de rastreabilidade, desenvolvido pela Cosuel e concluído no final de junho
de 2006, permite o acompanhamento da vida dos suínos desde o nascimento a o abate.
Nesse sistema, após receber a tatuagem, e cortes na orelha (mossagem) e o número de
rastreamento, os lotes de suínos passam a ter todos esses dados acompanhados e registrados.
Para o produtor, o sistema exige apenas um pouco mais de cuidado nos registros das
informações.
Hoje, a obrigatoriedade dos parceiros em trabalhar com o tipo e quantidade de ração
indicada no pacote tecnológico e com a assistência da Cooperativa, não se trata mais apenas
de produtividade e eficiência, trata-se de atender a exigências do mercado, principalmente o
mercado exterior, com relação às condições de origem do alimento. A cooperativa foi a
primeira a formatar um modelo de rastreabilidade de acordo com parâmetros estabelecidos
pelo Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul (ZERO HORA,
18/08/2006), contudo o processo ainda não foi aprovado pelas autoridades sanitárias, que
hoje não existem regras oficiais para identificação suína.
Com relação às operações logísticas, os programas de parcerias também implicaram
em grandes mudanças nesse processo (Figura 10). Apesar da Cooperativa não manter os
registros dos gastos ou perdas de animais com a logística antes da terceirização do serviço, em
1995, é consenso, entre os gestores entrevistados, que essas operações encareceram bastante
em relação às operações realizadas antes da reestruturação e cuidados sanitários, pois os
montantes de quilômetro rodado e de percursos realizados aumentaram.
122
Ciclo Completo
Abate - Frigorífico
UPLs
Terminadores
Em 1990 representavam a minoria ou, no caso das
creches, nem existiam. Hoje são a maioria.
Creches
Hoje, percurso logístico mais utilizado
Por volta de 1990, percurso mais utilizado.
Figura 12: O percurso do transporte dos animais conforme o Sistema de Produção
Fonte: Construído com base em Dados Primários.
Com os novos cuidados adotados após profissionalização da atividade, por razões
sanitárias, o caminhão deve realizar o transporte de apenas um lote de animais por percurso,
tendo que retornar à unidade central para limpeza e desinfetação para então retornar o
trabalho com outro lote. Assim sendo, o caminhão que realiza o transporte de leitões até as
creches, não pode em seu caminho realizar o transporte de outro lote, mesmo que da mesma
fase. Segundo a Divisão de Produtos de Suínos da Cooperativa, os ganhos obtidos com a
eficiência e produtividade das granjas e com a sanidade animal justificam a mudança.
Por fim, com relação à sanidade animal, não se tem mais aquela flora microbiana
contínua que se identificava nas instalações em que se trabalhava todo o ciclo, ou lote atrás de
lote, direto. Isso porque, os sistemas de sítios permitiram a efetivação do vazio sanitário
devido ao sistema referido pelos técnicos da Cooperativa como “tudo dentro e tudo fora”. Ou
seja, todo o lote é retirado de uma instalação para outra unidade produtiva ou para o
frigorífico de uma vez só, pois todos os animais estão na mesma idade. Essa instalação passa
por uma desinfetação, eliminando também a possibilidade de novos micróbios uma vez que
foram retirados os hospedeiros (suínos). Após um período de 14 dias, que caracteriza o vazio
sanitário, essa instalação está apta a receber um novo lote. A melhoria da sanidade animal tem
reflexos econômicos, como maior qualidade do lote e diminuição nas perdas, e sociais, por
123
melhorar a qualidade do produto final e diminuir a exposição do produtor a agentes
infecciosos.
4.3.7.2 A Reestruturação e a dimensão ambiental da sustentabilidade
Inicialmente, tendo em vista que a atividade suinícola é potencialmente poluidora,
com relação aos aspectos ambientais do processo de reestruturação da atividade, identificou-
se a Cooperativa com uma postura muito reativa, avançando nas mudanças conforme a
legislação e a fiscalização, por parte do Órgão Ambiental competente, fossem avançando em
seus critérios de autorização de funcionamento das granjas. Isso se deve também ao fato de
que, no inicio da implantação da reestruturação na cadeia produtiva, o foco principal das
atividades e ações de mudanças propostas pela Cooperativa era viabilizar a atividade suinícola
para o pequeno produtor, ou seja, em pequena escala, isto é, a Cooperativa foi movida por
uma razão instrumental, utilitária.
Segundo os entrevistados, tanto representantes da área de gestão do setor da
Cooperativa quanto produtores, na época da reestruturação das atividades da cadeia suinícola,
pouco se sabia sobre os impactos ambientais da suinocultura, talvez porque houvesse poucos
suínos na região, o que diminuía a pressão da atividade sob o meio ambiente. Inclusive,
nenhum dos entrevistados soube dizer como funcionava ou se havia critérios legais, licenças e
fiscalização na suinocultura da época. Para o Supervisor de Suinocultura, como nas demais
atividades a Cooperativa possuía a preocupação de não impactar negativamente o meio
ambiente, contudo não dispunha dos conhecimentos e tecnologias que hoje dispõe e foram
socializados com seus cooperados.
A única preocupação que havia na época (início da década de 90), identificada nas
entrevistas, como mencionado, era com relação a não poluir os cursos d’água, por isso era
motivada a adoção de lagoas de estabilização, que na época eram apenas com o solo
compactado. Com o tempo, apurou-se as técnicas e conhecimentos relacionados à disposição
dos dejetos o que indicou que o revestimento é necessário para proteger os lençóis d’água e o
tempo de estabilização para proteção do solo. Em 2005, é possível encontrar todas as lagoas
124
das propriedades associadas à Cooperativa revestidas, conforme legislação vigente, com
mantas (lonas) próprias para impedir a infiltração do lodo no solo e, em alguns casos, lagoas
cimentadas.
Na busca nos jornais da Cooperativa dos últimos 15 anos pode-se perceber que,
embora timidamente, a preocupação de conscientização dos associados com relação ao
cuidado ambiental se faz presente. Notícias encontradas nos informativos da Cooperativa
orientavam o produtor com relação ao uso adequado dos dejetos nas lavouras e às formas de
potencializar o seu poder fertilizante; ao revestimento das lagoas e; à técnica de solo-
cimentado das lagoas. Por exemplo, a edição número 170, de janeiro e fevereiro de 1993, do
informativo Cosuel em Notícias destaca na sua capa a questão do uso e destino correto dos
dejetos de suínos, destacando que ainda havia na região produtores sem lagoas, inclusive
associados da cooperativa, despejando os dejetos na área próxima as pocilgas, poluindo rios e
açudes. Destacou também e importância de se procurar os técnicos da Cooperativa para a
construção desses depósitos de dejetos e para análise do solo e correta disposição dos dejetos
estabilizados.
Entretanto, nem sempre a Cooperativa alcançou a compreensão desejada com seus
meios de comunicação. No caso das adequações a legislação ambiental a Cooperativa
precisou optar por atitudes entendidas como mais enérgicas do que a conscientização com
alguns produtores que apresentaram resistência para se adequar aos critérios legais. Houve
casos, que a Cooperativa forçou-se a não entregar leitões até que o produtor se
comprometesse em construir junto com os técnicos um plano de ação para adequação legal.
Segundo o Supervisor de Suinocultura, a Cooperativa teve casos de produtores mudando
para outras integradoras não tão criteriosas com relação ao respeito à legislação e ao meio
ambiente. Com a introdução do Licenciamento Integrado, possibilitando que a Integradora (no
caso a Cooperativa) ou Prefeitura retire a licença ambiental para um grupo de produtores,
talvez essas medidas tenham que ser adotadas com mais freqüências, para que um grupo todo
não seja prejudicado, em caso de fiscalização.
Acrescenta-se a esse quadro os cuidados com a quantidade de água utilizada,
reaproveitamento da água das chuvas, quantidade de dejetos dispostos no solo, disposição das
carcaças, mau cheiro e atração de vetores causadores de infecções e infestações pouco
observados pelos produtores e técnicos. Ainda hoje, as pocilgas não possuem calhas
estruturadas para coleta da chuva e posterior reaproveitamento, nem as lagoas de estabilização
estão protegidas, isto é, a água da chuva se mistura aos dejetos armazenados na lagoa,
125
aumentando a quantidade, diminuindo o potencial fertilizante dos dejetos e aumentando os
custos com o transporte desses, uma vez que estão mais diluídos.
Com relação à disposição das carcaças, que também podem ocasionar mau cheiro e
atração de vetores causadores de doenças, três dos produtores entrevistados, por solicitação da
fiscalização ambiental para renovação do licenciamento, estão construindo composteiras para
correta disposição das carcaças dos animais. A questão das composteiras para as carcaças é
recente na legislação ambiental e conforme apontou o técnico da Cooperativa ainda há muitas
propriedades se adequando. O mau cheiro e a atração de insetos, segundo os técnicos e
produtores entrevistados, são evitados com a disposição de dejetos em lagoas e não mais
correndo e céu aberto.
com relação à distância das pocilgas de áreas de preservação ambiental e de cursos
d’água nenhuma das propriedades foi atuada pelo órgão fiscal, entendendo que essas estão
adequadas a legislação. Adicionalmente, futuramente, o Sistema de Zoneamento das áreas
produtivas de suínos, realizado pelo Sindicado dos Produtores de Suínos (SIPS-RS), deve
auxiliar, tanto o órgão ambiental quando a Cooperativa, na fiscalização desse critério, como
será observado mais adiante. Não obstante, a Cooperativa tem trabalhado com algumas
propriedades na recuperação da mata ciliar dos rios próximos as comunidades das
propriedades.
Tendo em vista que a Cooperativa não vem mais atuando de forma restrita a
legislação, mas vem buscando e inserindo novas tecnologias para o cuidado ambiental e,
ainda, vem fiscalizando seus produtores com relação aos cuidados ambientais, pode-se
observar que, com o tempo, a Cooperativa indicou uma postura mais “avaliadora” quase que
“pró-ativa” (ARAGÓN-CORREA, 1998) do que reativa. Entende-se a Cooperativa numa
posição intermediária porque ela tem apresentado características tanto reativa quanto pró-
ativa.
Essa posição mais intermediária deve-se ao fato que a Cooperativa vem definindo
políticas e estratégias ambientais próprias, contudo não chega a tomar uma posição efetiva de
pioneira na adoção de inovações ambientais, por exemplo, até o momento ainda estuda a
possibilidade do uso de biodigestores, enquanto outras agroindústrias já estão se beneficiando
dessa tecnologia. Com relação a essa questão do biodigestor, a Cooperativa vêm realizando
levantamento no mercado dos tipos e tecnologias disponíveis e a viabilidade, partindo do
pressuposto que, para a adoção formal pela Cooperativa, essa tecnologia não pode apresentar
alto custo de compra e instalação, devendo ser viável ao pequeno produtor, além de garantir
126
os benefícios previstos. Essa cautela e avaliação das novas tecnologias antes de adotar
formalmente como estratégia da Cooperativa e levar aos seus cooperados é fundamental para
o produtor cujo contato com novas tecnologias é feito fundamentalmente via Cooperativa e
que possui poucos recursos para se aventurar por tecnologias boas, mas que não são
adequadas a sua realidade. O que implica numa avaliação dessa postura, tecnológica e
ambientalmente, reativa da Cooperativa, como uma postura que condiz com o papel social da
Cooperativa.
Outras ações identificadas corroboram a caracterização da postura da Cooperativa
como intermediária, nem pró-ativa nem apenas avaliadora. Com relação à quantidade de
dejetos dispostos no solo como fertilizantes, se antes isso o era observado, em 2005 o
acompanhamento dessa atividade é feito pelo técnico da área agrícola da Cooperativa, ou seja,
que acompanha as lavouras de grãos e pastagem dos cooperados. Este técnico realiza a análise
do solo, verificando o excesso ou a falta de nutrientes, mesmo considerando o critério para
licenciamento ambiental que exige que uma tecnologia de tratamento dos dejetos e no
máximo 20 suínos na fase de engorda e 100 suínos na fase de creche por hectare para
aproveitamento dos dejetos, pois se admite a variabilidade desses números conforme o solo.
Uma alternativa para o produtor que não possui essa área é o compromisso oficializado de que
uma propriedade vizinha disposta e com capacidade para receber esse dejeto e aplicá-lo
como fertilizante orgânico.
Outra iniciativa da Cooperativa foi a adoção de uma estrutura física padrão para as
novas unidades produtivas, pocilgas. Embora o inclua a obrigatoriedade de calhas para a
coleta e o reaproveitamento da água da chuva na limpeza das pocilgas ou o uso de
biodigestores, essas estruturas avançaram bastante com relação as que antecedem esse
padrão (Figuras 12 e 13).
127
Figura 13: Chiqueiro aproximadamente 10 anos atrás
Fonte: Foto disponível nos arquivos da Supervisão de Suinocultura da Cooperativa.
Figura 14: Chiqueiro reformado, pintado e protegido com lonas
Fonte: Foto disponível nos arquivos da Supervisão de Suinocultura da Cooperativa.
A estrutura padrão da pocilga que a Cosuel vem trabalhando, além das cores da
Cosuel, determina aspectos como:
(a) Cuidados referentes à estrutura física, com as construções dos prédios
considerando a trajetória solar no verão para que as pocilgas não fiquem muito quentes e com
as laterais arborizadas; à disposição das baias facilitando o manejo dos animais; o
128
abastecimento dos cochos e limpeza das baias pelos produtores; caracterizando inovações
arquiteturais, pois as estruturas são modificadas, tendo em vista os mesmos cuidados de
manejo adequado e bem-estar animal, e atendendo aos mesmos objetivos.
Também a alimentação e a ventilação ou aquecimento das baias são preocupações
dessa estrutura. Os cochos são considerados mais fáceis de limpar e são ergonomicamente
apropriados para a altura média dos animais, facilitando a alimentação. As cortinas são soltas,
podendo ficar completamente abertas ou fechadas. Em dias muito frios, inclui-se uma
cobertura sobre as baias também. Tanto o calor quanto o frio não refletem apenas no bem
estar do animal, como também na sanidade e nos índices de conversão alimentar, pois o
animal em temperaturas inadequadas não se alimenta adequadamente;
(b) A Cooperativa tem adotado como critério nas novas instalações os bicos
ecológicos para os bebedores, uma inovação modular disponível para o setor como alternativa
às antigas chupetas. O bico ecológico diminui a quantidade de água desperdiçada, pois
permite maior disponibilidade controlada de água; reduz em aproximadamente 53,2 % o
volume de dejetos líquidos gerados e apresenta um bom nível de higiene, indicado pela
Embrapa Suínos e Aves como uma melhora de 92,5%
10
.
Paralelamente, os técnicos da Cooperativa têm realizado um trabalho de
conscientização e mobilização das Prefeituras, para que essas fomentem a adoção desses bicos
ecológicos em substituição aos bebedores tipo chupeta nas propriedades que estão em
atividade. Em muitos casos, são as Prefeituras as responsáveis pelo transporte dos dejetos, das
propriedades sem área para aplicação para as propriedades com terras suficientes, sendo a
diminuição da quantidade total de dejetos gerados e do índice de diluição um atrativo, pois
torna o transporte menos custoso e mais eficiente. O bico ecológico possui a desvantagem de
apresentar um custo mais alto de investimento, contudo é muito mais eficiente na redução de
desperdícios, conseqüentemente, nos custos de coleta, de armazenagem, de tratamento e de
distribuição de dejetos.
Com intuito de certificar essas vantagens e apresentá-las às prefeituras e aos
produtores, os técnicos da Cooperativa têm realizado levantamento de dados comparativos
com relação à quantidade de água utilizada e de dejeto gerado antes e depois da adoção dos
bicos ecológicos nas propriedades, obtendo até o momento resultados bem satisfatórios.
Destaca-se com esse estudo mais uma postura pró-ativa da Cooperativa, contudo não são
10
Informações do Sistema de Tratamento de Dejetos Suínos: inventário tecnológico, disponíveis em:
http://www.cnpsa.embrapa.br/invtec/47.html.
129
apresentados os dados porque o estudo ainda não foi concluído e a Cooperativa prefere
aguardar os resultados finais, mais concretos, antes de qualquer publicação.
(c) Outra inovação arquitetural é a adoção de caixas d’água enterradas ao invés de
expostas ao sol. Segundo os técnicos agropecuários da Cooperativa, que acompanham e
visitam as propriedades dos suinocultores, essa simples mudança tem a vantagem de a água
chegar ao bebedor sempre a uma temperatura média, sem onerar em mais custos para a
implementação da estrutura. A água não chegando até o animal nem muito fria no inverno e
quente no verão, melhora o bem estar do animal, a alimentação e, conseqüentemente, a
conversão alimentar.
Outro posicionamento positivo e pró-ativo da Cooperativa com relação ao cuidado
ambiental é que, mesmo após obtenção da licença ambiental pelos produtores, a Cooperativa
tem um trabalho de fiscalização das propriedades com critérios a serem observados pelos
técnicos durante suas visitas, entendendo que, em muitos casos, não adianta alcançar o
licenciamento sem fiscalizar o produtor. Assim, os técnicos são orientados a observarem se a
propriedade ou os vizinhos dispõem de terras suficientes para a absorção dos dejetos de
acordo com a escala de produção; também se observa as calhas, para evitar que a água da
chuva seja canalizada para as lagoas ou para dentro das instalações; as condições de
instalações, com relação à limpeza das baias e cochos; e as lagoas, observando se o tamanho
é, realmente, apropriado para a propriedade, evitando riscos de vazamentos.
Esse acompanhamento é importante e demonstra a preocupação da Cooperativa em
evitar danos ao meio ambiente e não apenas em obter o licenciamento. Alguns desafios nesse
sentido puderam ser verificados, como a conscientização do produtor com os cuidados
ambientais; das Prefeituras responsáveis em coletar os dejetos, não atrasando a coleta, pois o
atraso pode provocar vazamento das lagoas (o que estava por acontecer em uma propriedade
observada, onde a Prefeitura estava uma semana atrasada no recolhimento); das demais
integradoras, cobrando de seus produtores tanto quanto as demais para evitar a permutação de
integradoras por produtores e; adequação ou adoção de novas tecnologias com custos
acessíveis ao pequeno produtor.
Por fim, acrescenta-se que a produção de suínos em sistemas de Cama Sobreposta
(Deep Bedding) não foi adotada pela Cooperativa porque experiências na região não deram
certo. Esse sistema é indicado pela literatura (OLIVEIRA e HIGARASHI, 2004) como
alternativa às pequenas propriedades, que não dispõem de áreas agrícolas suficientes para
aplicação do dejeto como adubo, para produção de um adubo mais rico, menos diluído e de
130
possível comercialização. Segundo o Supervisor da Suinocultura da Cooperativa esse sistema
não é adequado à região por causa da umidade do clima que acaba deixando as pocilgas e os
animais sempre em um ambiente muito úmido, propício a doenças. o técnico da Emater de
contatado acredita que não houve muita pré-disposição de integradoras e produtores em
adotar esse sistema porque a região não possui fornecedores de maravalha, palha ou casca de
arroz para colocação nas camas, e comprar esse insumo de um fornecedor de outra região
acarretaria em mais custos de produção.
4.3.7.3 A Reestruturação e a dimensão social da sustentabilidade
A melhoria das condições sociais do produtor rural na suinocultura é resultado da
evolução tecnológica do setor e das mudanças nos programas de relacionamento entre
Cooperativa e Produtor que vêm possibilitando ao produtor gerar renda, manter-se na
atividade de forma economicamente viável e acessar as tecnologias específicas do setor.
A formatação da uma estrutura (pocilga) padrão Cosuel para produção de suínos,
como apresentado na subseção anterior, também resultou em implicações sociais, como
estruturas ergonomicamente mais adequadas, diminuindo o tempo de dedicação ao trabalho e
o esforço necessário. Segundo o Supervisor de Suinocultura, corroborando com um dos
técnicos agropecuários, a formatação dessa estrutura foi planejada de forma a viabilizar a
atividade até mesmo para os produtores mais idosos, que não possuem nem disposição nem
condições físicas para um serviço muito pesado. Por exemplo, o estabelecimento de baias com
pisos ripados permite que o dejeto caia numa estrutura abaixo da pocilga, que funciona como
uma unidade de armazenamento e estabilização dos dejetos sem, contudo, substituir as lagoas
de estabilização. O piso ripado possibilita ainda a limpeza da estrutura somente na saída do
lote, antes da chegada do próximo lote e não mais diariamente.
A projeção das instalações nessa perspectiva tem esse importante impacto social que é
propiciar menor esforço e, conseqüentemente, mais longevidade ao trabalho do produtor, que
tem nessas estruturas a oportunidade de trabalhar e incrementar a renda mesmo após
aposentadoria. Ao mesmo tempo, quando mais jovem, o produtor ganha mais tempo livre para
131
se dedicar a outras atividades produtivas, diversificando as atividades da propriedade e
incrementando a renda gerada.
Segundo entrevistados, em 2005 os produtores investem em média três horas do seu
dia para cuidar dos leitões em fase de creche e terminação. Na época em que os animais eram
criados juntos na mesma estrutura (Ciclo Completo), independente das fases, para esses
produtores (com a exceção das UPLs), os cuidados eram maiores e a limpeza mais demorada,
mas nenhum deles soube dizer quanto tempo, em média, dedicavam à atividade antes da
mudança. as propriedades que não possuem piso ripado são orientadas pelos técnicos a
realizarem a retirada dos dejetos no mínimo duas vezes por dia.
Essa e as demais inovações na produção de suínos, ocorridas nesses 15 anos,
implicaram em melhoria na renda familiar provinda da atividade, que possibilitou a compra
de novos eletrodomésticos, computadores, maquinário agrícola e melhoria nas condições de
moradia dos produtores e nas estruturas produtivas (FIGURAS 12 e 13). A Figura 14 mostra a
casa de um dos produtores entrevistados, em 1996
11
; enquanto a Figura 15 mostra a casa
como é atualmente, recentemente reformada e pintada.
Dos oito produtores entrevistados todos investiram nas instalações para os animais ou
adquiriram novos maquinários e equipamentos. Com a exceção de um, todos passaram por
uma reforma na casa, sendo que 3 deles também aumentaram a estrutura da casa, incluindo
novos quartos e banheiros. Quatro produtores construíram na propriedade a casa para os filhos
e suas famílias. Questões como colocação de energia elétrica, compras de eletrodomésticos e
computadores também foram ressaltadas pelos entrevistados como implicações da adoção
desse novo programa.
11
Após um período de enchente.
132
Figura 15: A casa da propriedade - 1996
Fonte: Foto disponível nos arquivos da Supervisão de Suinocultura da Cooperativa.
Figura 16: A casa reformada – ano 2006
Fonte: Foto tirada durante a visita na propriedade.
Durante as entrevistas, freqüentemente os produtores atentaram para o fato de que se
não fosse à especialização em sítios e o programa de parcerias não teriam continuado com a
atividade, devido a sua instabilidade e inviabilidade, e quem sabe nem mesmo no meio rural.
Um dos entrevistados colocou que provavelmente estaria vivendo da máquina pública, estaria
133
com algum cargo público e nenhuma das filhas estaria com o casal na propriedade porque
teriam que também tentar a vida na cidade, acrescentou afirmando que acredita que todos
trabalhariam muito mais por muito menos (PRODUTOR H).
Outro produtor, assim como os técnicos enfatizaram, destacou que sabe que melhorou
ao se especializar porque as condições de produção e moradia daqueles que não aderiram
aos programas de integração e especialização. Por outro lado, três entrevistados afirmaram
que continuariam no Sistema de Ciclo Completo caso tivessem condições de aumentar sua
escala e capital de giro para arcar com os custos e poder segurar a produção em tempos de
crise.
Perceberam-se também algumas mudanças culturais como o produtor conhecer menos
sua produção ficando mais dependente da assistência técnica, por exemplo, para o
atendimento de enfermidades dos animais. Adicionalmente, em geral o produtor não sabe
carnear o animal ou fazer embutido. Quando sabe, não costuma carnear na propriedade e nem
passou o conhecimento aos filhos. Segundo o técnico da Emater (Estrela-RS), no passado, era
muito mais comum o produtor saber carnear, como também separar a banha, fazer torresmos e
embutidos e ensinar isso aos filhos.
Mesmo alcançando o objetivo de viabilizar a suinocultura para pequenos produtores, a
Cooperativa ainda enfrenta o grande desafio de evitar que os filhos desses produtores
busquem outra alternativa de vida fora do campo. Essa conjuntura implica não apenas em um
problema social, que é o êxodo rural, como também pode ocasionar em um problema futuro
como a falta de continuidade da atividade e a conseqüente diminuição do quadro social e da
produção da Cooperativa.
Nesse sentido, um aspecto importante do trabalho da Cooperativa com os integrados
nos sistemas de parcerias é trabalhar o treinamento e a capacitação dos filhos dos produtores
para a realização dos controles administrativos da propriedade, como registro da entrada de
lotes, de animais doentes, quantidade de ração, água e outros fatores. Segundo o Supervisor
de Suinocultura, comumente encontra-se resistência por parte dos produtores mais velhos em
aprender e trabalhar com esses fatores administrativos.
A saída encontrada pela Cooperativa foi desenvolver os jovens das propriedades cujos
produtores têm filhos que encontram na própria propriedade uma alternativa de trabalho e
renda. Essa iniciativa tem se mostrado significativa para motivar o estabelecimento dos jovens
no campo e necessária para suprir a incapacidade da Cooperativa de disponibilizar técnicos
134
suficientes para realização desses controles em todas as propriedades. O planejamento da
propriedade como capacidade de alojamento de animais, de absorção de dejetos,
investimentos em estruturas, lavouras interessante para cultivo, entre outros fatores técnicos
ainda estão sob responsabilidade dos técnicos da Cooperativa.
Assim, também se identificou inovação na forma de relacionamento entre cooperativa
e produtor, que mudou significativamente após a implantação dos programas de parceria, pois
costumava ser muito pequena e, embora a Cooperativa sempre tenha se destacado com
relação aos bons preços praticados, até mesmo o compromisso do produtor em entregar sua
produção a Cooperativa era pequeno. A relação do produtor com a cooperativa ocorria
fundamentalmente ao entregar o seu lote, caracterizando uma relação de mercado. Até mesmo
a assistência técnica ao produtor era precária, causal e muito mais uma medida corretiva do
que preventiva. Como colocado, esse contexto era complicado não apenas para o produtor,
mas também para a Cooperativa que ficava sem saber o quanto de produção iria receber no
mês, por conseqüência o planejamento das atividades do frigorífico era quase impossível.
Em substituição a esse quadro, considerando os elementos para criação de valor a
partir de relacionamentos interfirmas, apresentados por Begnis, Pedrozo e Estivalete, (2006),
pode-se dizer que essa inovação relacional ocorreu, fundamentalmente, nos elementos:
comunicação entre os agentes, compartilhamento dos riscos da atividade e o
comprometimento do produtor com a Cooperativa. Mudanças que, sem dúvida, implicaram na
melhoria do processo e do produto final.
Com os programas de parceria a Cooperativa mantém mais contatos com os
produtores por meio do seu serviço de assistência técnica. Os técnicos agrícolas além da
assistência realizam o papel de orientar e noticiar os produtores quanto às novas técnicas e ou
mudanças de funcionamento da Cooperativa. Em contrapartida, também recebem dos
produtores informações sobre eventuais problemas, dúvidas, tecnologias adotadas por
vizinhos ou novos interessados em se associarem à Cooperativa.
Segundo alguns produtores entrevistados esse contato e conversa com os técnicos
durante suas visitas os atualizam com relação ao setor e movimentos da Cooperativa de forma
mais eficiente e abrangente do que os informativos “Cosuel em Notícias”. Adicionalmente,
essa nova estrutura de relação entre Cooperativa e produtor permite que se realizem contratos
individuais com os produtores, contemplando questões como escala de produção, preço a ser
pago pelo índice de conversão, pacote tecnológico a ser cedido pela Cooperativa e
obrigatoriedade de entrega da produção à cooperativa, evitando futuros conflitos.
135
Outro aspecto que reflete na dimensão social diz menção ao posicionamento assumido
pela cooperativa de, atendendo o seu papel e sua responsabilidade com seus cooperados,
prover a transição para um dos programas de parcerias definidos de forma não obrigatória
para os cooperados que estavam na atividade que em outro sistema. Apenas em 1996 foi
incluída no Estatuto a obrigatoriedade da inscrição do associado em um programa de
produção, ou seja, a integração, para definição de contratos e identificação da produção, sendo
somente para novos produtores a adesão a um dos programas de sítios era obrigatória.
Deste modo, em nenhum momento, nem quando se buscou viabilizar a atividade
suinícola para os produtores, reestruturando a cadeia, em 1990, nem agora quando se busca
viabilizar a etapa de UPLs, a Cooperativa trabalhou com medidas compulsórias. Respeitando
sua posição de organização social e seus produtores que são cooperados e, portanto,
proprietários da organização, as decisões dos gestores do setor e da cooperativa sempre
contemplaram a introdução de novas técnicas e processos, de acordo com a adesão voluntária
das unidades produtivas.
Contudo, de forma a efetivar as melhorias almejadas, o trabalho de conscientização
dos associados da importância e das vantagens das mudanças propostas foi e é intensamente
realizado por meio de informativos e técnicos. Como pode ser observado nos informativos da
época que indicavam a especialização do produtor como o caminho para a sustentação da
suinocultura diante da conjuntura da década de 90 (COSUEL EM NOTÍCIAS, 173, 177,
178 e 186). Adicionalmente, os informativos freqüentemente descrevem casos de produtores
satisfeitos com os programas de parcerias ou que recentemente aderiram aos programas,
indicando as vantagens e melhorias apontadas pelo produtor.
A edição de abril e maio de 2000, por exemplo, descreve o caso de um produtor de
Coqueiro Baixo que estava saindo do Sistema de Ciclo Completo, que vinha apresentando
problemas, principalmente com os leitões, doenças e baixa produtividade, para aderir ao
Sistema de Sítios no módulo UPL 63 dias, ou seja, partindo para uma produção mais técnica e
profissionalizada. Como nas demais propriedades, a estruturação da nova pocilga e o
planejamento da propriedade foram, na sua totalidade, acompanhados e orientados pelos
técnicos da Cooperativa.
136
4.3.8 Desafios, oportunidade e prospectivas (E12 e E13)
Essa seção preocupa-se em descrever sucintamente o ambiente institucional e as
demandas desse ambiente e dos consumidores de carne suína e derivados, destacando os
desafios e as oportunidades para a Cadeia Suinícola da Cooperativa no período de 2005. A
descrição abaixo é resultado de dados levantados e observados na seqüência de inter-relações
identificadas no SIAN. Ao mesmo tempo, busca-se traçar algumas prospectivas para o setor,
identificadas no levantamento bibliográfico e nas entrevistas com os agentes da cadeia, pois
se entende que ver adiante e preocupar-se com o que concerne ao futuro é intrínseco ao
debate, ao estudo, da sustentabilidade.
Como pôde ser constatado, a evolução da suinocultura, tanto mundial quanto
brasileira, nos últimos 20 anos, foi possível em razão de investimentos em novas
tecnologias e da crescente tecnificação e especialização dos agentes envolvidos na cadeia
produtiva. Como resultado, enquanto, cerca de 30 anos atrás, 60% das granjas brasileiras
possuíam pouca ou nenhuma tecnificação, esse número caiu para 40% na última década
(ROSADO; GOMES; PIRES, 1999). Todas essas transformações, juntamente com o contexto
do mercado global, fizeram com que o setor se tornasse ainda mais competitivo, o que ainda
hoje resulta em desafios para a cadeia, em novas demandas e oportunidades de negócio.
Ao contrário do que ocorria na economia enquanto se iniciava o processo de
reestruturação, em 2005, a economia encontra-se em crescente recuperação, estável, com
inflação controlada e com relativo aumento no poder aquisitivo da população. Contudo, o
setor do Agronegócios tem atravessado crises freqüentes devido a enchentes, secas, novos
focos de doenças, como a aftosa e devido à entrada de produtos externos com impostos e
taxas mais favoráveis que o produto interno. Adicionalmente, as exportações do Agronegócio
são fortemente afetas pela valoração cambial que vem sendo presenciada desde o final de
2005. Spolador (2006) destaca que, durante o ano de 2006, tanto as exportações totais como
as exportações do agronegócio tiveram redução em suas taxas de crescimento.
Ao mesmo tempo, barreiras sanitárias estão sendo aplicadas com maior freqüência,
devido a maior fiscalização e crescem as exigências por responsabilidade ambiental e por
produtos livres de resíduos (medicamentos). Especialmente com relação ao setor de suínos,
autoridades brasileiras e da União Européia (UE) negociam a aplicação de regionalização
137
sanitária recíproca para a carne suína. O objetivo dessa negociação é permitir as exportações
do setor para os dois mercados, pois enquanto a UE tem interesse em exportar para o Brasil
produtos de carne suína de seus novos países-membros, o Brasil, tem interesse em obter a
aprovação para a o produto nacional pela UE (VALOR ECONOMICO, 2006).
A regionalização implica na divisão geográfica das áreas de produção que terão sua
fiscalização e liberação sanitária individualizadas assim, a existência de determinada doença
em Goiás, não implicaria em barreira sanitária para as demais regiões produtivas. Contudo, as
implicações de uma regionalização serão progressivas, dependentes da atuação dos órgãos
sanitários e de acordos sanitários específicos entre os países. A União Européia e a Rússia
reconhecem a regionalização, que é rejeitada pelos Estados Unidos, Canadá e Japão (VALOR
ECONOMICO, 2006).
Com relação à possibilidade de regionalização das áreas de produção pode-se perceber
a complexidade do contexto e a interdependência dos fatores, assim como a relação de causa e
efeito destacada por Morin (2002), princípios bases do Sistema com o qual está se trabalhando
(SIAN), quando se percebe que uma pequena modificação nas regras de fiscalização, que é a
regionalização, ocasiona uma seqüência de mudanças que terão pequenas e grandes
implicações para os produtores, órgãos fiscalizadores, agroindústria, exportadores,
importadores e consumidores. Durante a coleta de dados tomou-se conhecimento que o
Estado (RS) está desenvolvendo uma estratégia pioneira, no sentido de se inserir no mercado
internacional a carne suína estadual de uma forma diferenciada. em 1995, a Organização
Internacional de Saúde Animal (OIE) admitiu o conceito de regionalização ou zoneamento da
produção, foi quando o Brasil constituiu seus circuitos pecuários
12
.
Ao mesmo tempo, a principal demanda do mercado (hoje) é que o produtor tenha um
controle efetivo dos aspectos sanitários e ambientais de sua produção, pois, além do aspecto
sanitário, existe uma tendência dos mercados de exportação exercerem um controle ambiental
cada vez mais restritivo. Conforme apresentam Spies (2003) e Weydmann (2004), não bastará
argumentar que as restrições ambientais dos países desenvolvidos são barreiras comerciais
disfarçadas ou sanções injustas, pois os problemas ambientais estão legitimados
(MIRANDA, 2005).
Assim, a estratégia de inserção da carne suína do RS de forma diferenciada no
mercado, surge da união dessa questão do zoneamento com essas demandas por controles
12
Fonte: dados primários, entrevista com o presidente da SIPS
138
sanitários e ambientais, que fez com que o Sindicado (SIPS/RS) trabalhasse na realização do
geo-referenciamento da produção de suínos no Rio Grande Sul.
Já em 2005 o Sindicato possui sistematizadas todas as informações sobre a criação dos
produtores integrados a uma agroindústria do Estado, faltando apenas identificar os
produtores independentes. Essas informações estão inseridas e sistematizadas em um
programa denominado Geosuínos que contêm: dados do produz produtor (CPF; telefone); tipo
de criação; a produção em cabeças; e dados cartográficos como localização da propriedade,
das instalações de produção, da residência, das esterqueiras, se fontes de água próximas,
etc.
O programa está vinculado ao programa Google-earth” e basta o nome do produtor
para os habilitados a utilizar o programa, acessar todas as informações. Quando colocado em
funcionamento, o Ministério da Agricultura, a Secretaria da Agricultura, o SIPS e os órgãos
fiscalizadores terão acesso irrestrito ao programa, enquanto as agroindústrias terão acesso
restrito a seus produtores e os produtores as suas informações. As implicações da adoção de
um programa dessa amplitude terão reflexos não apenas na controle e na comprobação dos
aspectos sanitários, como também poderá auxiliar os fiscais ambientais a identificar
propriedades irregulares, especialmente, com relação aos quesitos distanciamento de fontes
hídricas e de área urbana.
Com relação a esse desafio do contexto do mercado internacional, a Cosuel tem
potencial para transformar esse desafio em oportunidade, pois apresenta fatores favoráveis a
sua competitividade, como: (a) seus produtores, na totalidade, atendidos por técnicos que
trabalham com restrição e controle do uso de medicamentos e; (b) implementação de seu
sistema de rastreabilidade.
Diferentemente do que ocorria em 1990, a implementação e execução de sistemas de
rastreabilidade em todas as cadeias produtivas da indústria de alimentos é uma demanda
crescente e uma tendência irreversível no mundo inteiro, impulsionada pela ocorrência de
problemas relacionados a produtos de origem animal, que colocou em cheque a capacidade da
indústria alimentícia garantir a segurança de seus alimentos (ANTUNES, 2004).
Com relação ao mercado interno, espera-se que o consumo "per capita" atual de 12
kg/hab/ano volte a crescer, estimulando o setor produtivo e exercendo pressão sobre os preços
pagos por quilo de suíno vivo. Contudo, outro fator que caracteriza a demanda é que o maior
consumo de carne suína (cerca de 70%) ocorre na forma de produtos industrializados que, em
139
geral, não estão presentes nas principais refeições do brasileiro, por apresentarem preço
elevado para os seus padrões de renda. Esse contexto indica uma tendência a maior
diversificação de cortes e processados (ANTUNES, 2004).
Adicionalmente, progressivamente a imagem que os consumidores internos possuíam
da carne suína como prejudicial à saúde, com auxilio de pesquisas e especialistas, tem sido
substituída por uma imagem oposta. Esse fator pode confirmar o crescimento do consumo e,
por conseguinte, da produção e, assim sendo, como defende Miranda (2005), novas pressões
sobre o meio ambiente. Nesse sentido, são fundamentais as constatações sobre as prospectivas
da suinocultura com relação às tecnologias para o cuidado ambiental. Salvo o programa de
geo-referenciamento que possibilitará maior fiscalização e controle ambiental, emergem no
setor freentes discussões acerca da suinocultura como Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL).
O MDL está estabelecido no Protocolo de Quioto, que busca a diminuição do
aquecimento global, e tem por objetivo ajudar os países desenvolvidos a minimizar o custo
para alcançar suas metas de emissão, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em
países cujo custo é menor. Projetos de MDL, devidamente inspecionados, regulados e
certificados por agências competentes, resultam em créditos de carbono que podem ser
negociáveis em valores monetários.
Nesse sentido, a suinocultura tem potencial de participação no chamado Mercado de
Carbono, uma vez que com a adoção de biodigestores os produtores estarão auxiliando na
redução do gás metano, que é produzido a partir da decomposição da matéria orgânica dos
dejetos de suínos. Cada tonelada de gás que deixa de ser emitida para atmosfera pode ser
adquirida pelos países que tem metas de redução, sendo que Brasil está entre os países que
podem se beneficiar destes créditos (GRZYBOWSKI, 2006).
Em comparação com os projetos de MDL referente ao reflorestamento, projetos que
envolvem a redução da emissão de gás carbono são muito mais atrativos, uma vez que o gás
metano é considerado 21 vezes mais prejudicial à atmosfera que o gás carbônico
(CAMARGO, 2005). Adicionalmente, projetos de reflorestamento apresentam complicações,
devido à dificuldade de medir o carbono absorvido pelas árvores em crescimento,
particularmente se forem de espécies diferentes (CAMARGO, 2005).
Além de agregar valor com o crédito de carbono, os biodigestores podem melhorar o
processo de tratamento dos dejetos e o biogás pode ser utilizado para a geração de energia
140
térmica e elétrica na propriedade, possibilitando uma visão sistêmica do processo, sob o ponto
de vista sustentável da suinocultura brasileira (GRZYBOWSKI, 2006). No Brasil, tem-se
conhecimento da atuação de produtores de suínos nesse mercado, no Oeste de Santa Catarina,
por intermédio do Instituto Sadia de Sustentabilidade, mais de três mil produtores estão
trabalhando com biodigestores e estão inseridos em projeto de MDL que em junho de 2006,
vendeu 2,5 milhões de toneladas de carbono para a instituição European Carbon Fund
13
.
No Rio Grande do Sul, na ocasião do “Fórum de Tecnologias Limpas para
Suinocultura”, tomou-se conhecimento que o Instituto de Tecnologia do Meio Ambiente
(Itemac), localizado em Canoas, está realizando trabalho semelhante com produtores do
noroeste do Estado que, em conjunto, construíram um biodigestor cujo planejamento
contempla a venda de créditos de carbonos e da eletricidade gerada para a distribuidora local.
Por fim, o SIAN também permitiu identificar que o setor continua pressionado por
melhorias na produtividade e eficiência da cadeia. Se antes todo o processo produtivo
apresentava ineficiências, atualmente alguns fatores têm indicado um novo desafio
relacionado à necessidade de se trabalhar melhorias nas unidades de produção de leitões
(UPLs) que, conforme a Supervisão de Suinocultura da Cooperativa, alguns anos, vêm
diminuindo o índice de rentabilidade entre os Cooperados. Assim, as UPLs não têm mais
apresentado viabilidade em unidades de pequena escala, ou seja, com cerca de quarenta e
quatro matrizes.
Diante desse contexto, a Cooperativa vem trabalhando para esclarecer aos produtores
dessas unidades que eles precisam mudar, avançando para unidades maiores ou
especializando-se em outra fase produtiva. A Cooperativa também tem trabalhado no sentido
de dar condições desses produtores investirem nessa mudança. Ao mesmo tempo, a Cosuel
vem investido em grandes unidades produtivas de leitões próprias, viabilizando essa etapa da
produção e garantido aos seus produtores (crecheiros e terminadores) o abastecimento de
leitões segundo os padrões genéticos e sanitários adotados.
Em síntese, os desafios do setor estão associados às demandas por continuidade e
melhorias dos controles sanitários e ambientais que, poderão ser facilitados por intermédio do
programa Geosuínos e comprovados por programas de rastreabilidade. Este último vem se
apresentado como uma tendência do setor, pois é um meio eficiente e legitimado de se atender
a essas demandas. Ao mesmo tempo, a geração de um mix de produtos processados com
13
Informações disponíveis em: http://www.sadia.com.br/br/instituto
141
preços mais acessíveis é uma oportunidade de atender ao mercado interno, cujo crescimento é
esperado e a demanda caracterizada por produtos industrializados e não cortes especiais.
4.3.9 Indicativos de Sustentabilidade (E14): interdependência das partes
Essa seção busca refletir as etapas E8 à E11, níveis centrais de análise desse estudo,
pois direcionaram a caracterização e reflexão sobre o processo de reestruturação na cadeia
produtiva de suínos da Cooperativa, com relação às inovações adotadas pela cooperativa,
indicando se essas resultaram em maior sustentabilidade da atividade do caso estudado ou
não. Uma vez que o próprio ciclo de análise do Sistema foi construído de forma a atender esse
objetivo de identificar a evolução da sustentabilidade é que se optou por acrescentar a etapa
14 ao Sistema, como resultado do próprio ciclo de análise, isto é, das interrelações e
interdependências dos subsistemas vistas na sua totalidade.
A Figura 17 apresenta essa totalidade da dinâmica do sistema. Seguindo a idéia de
rizoma (DELEUZE; GUATTARI, 1995) percebe-se que, devido às interrelações e
interdependências entre as dimensões da sustentabilidade, de determinada escolha (causa - A)
emergem efeitos (B, C, D) classificadas conforme o ponto de partida de análise, sendo esses
últimos também interdependentes entre si. Isto é, o efeito de uma escolha (no caso, inovação)
pode ser a causa de outros efeitos, entendidos como secundários, terciários e assim por diante,
conforme o nível de profundidade da análise. Assim, cada escolha abre-se para novas escolhas
resultando em diferentes caminhos e, por conseguinte, em diferentes reflexões sobre os níveis
desses efeitos (primário, secundário, etc.).
Como exemplo dessa seqüência de causa e efeito tem-se a questão (Figura 17) da
integração dos produtores à Cooperativa (A), que ocasionou um maior controle sobre os lotes
(D), que implicou na rastreabilidade (D), que implicou em segurança do produto ao
consumidor final (C).
Por outro lado, como exemplo da multiplicidade de interações no sistema, e, portanto,
de sua complexidade, se a análise apresentar um viés econômico, apresentará um caminho
diferente de quando se realiza uma análise com viés ambiental, em convergência com a idéia
142
de rizoma que indica que uma análise pode ser construída por meio de múltiplas entradas.
Assim, analisando a Figura 17 sob o viés ambiental o bico ecológico apresenta efeitos
ambientais primárias como a redução do consumo e perda de água o que implica em efeitos
econômicos secundários, como redução dos custos com água. Mas, conforme o nível de
informação que o produtor dispõe, se movido por uma racionalidade econômica (outra entrada
– rizoma – para a análise), a adoção dessa tecnologia implica em adotar o bico ecológico para
reduzir os custos com água e, como efeito secundário, eliminar desperdícios e custos
ambientais.
De tal forma, a escolha de uma dimensão como primária, por exemplo, a dimensão
econômica, resulta numa reflexão dessa como a causa de efeitos secundários e terciários nas
dimensões social, ambiental e, inclusive, na própria dimensão econômica. Na Figura 17 isso
foi feito para cada uma das três dimensões, resultando em seis combinações possíveis entre
elas. Contudo, pode-se obter um efeito exponencial se a reflexão considerar cada um dos
elementos contidos em cada dimensão e seus efeitos. Adicionalmente, os elementos de cada
dimensão podem apresentar efeitos sobre outros elementos na própria dimensão. Por
conseqüência, tem-se a possibilidade de um grande número de efeitos de alguns elementos
sobre outros, por isso, uma compreensão mais detalhada dessa dinâmica deveria conhecer o
estreito imbricamento (embeddedness) entre os elementos e as dimensões apresentadas.
143
Figura 17: A interdependência entre as partes: econômica, social e ambiental
Fonte: Dados primários.
IMPLICAÇÕES DO PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA
DE SUÍNOS
ESPECIALIZAÇÃO DO PRODUTOR
Causa
Efeitos Secundários, Terciários ...
(A) Econômico:
1) Integração: contratos por modalidade de
produção, definição de pacote tecnológico;
2) Produção por sítios
3) Rações Balanceadas com tabelas de orientação
nutricional por fase de vida do animal;
4) Sistema de remuneração: eficiência;
5) Vazio Sanitário;
(B) Ambiental:
1-2) Maior pressão sobre o Meio Ambiente; limite
fisiológico das matrizes;
3) Diminuição na geração de dejetos e nos
desperdícios;
5) Qualidade Sanitária, controle de agentes
infecciosos;
(C) Social:
1) A Rastreabilidade implica em qualidade e segurança
do produto ao consumidor final;
2) Possibilidade do produtor manter-se na atividade;
Diminuição do risco para o produtor parceiro, ao
mesmo tempo em que esse perde o controle sobre as
decisões relativas a sua produção;
2-4) Melhoria na rentabilidade da atividade ao
produtor;
5) Qualidade Sanitária, controle de agentes infecciosos
nas comunidades locais;
(D) Efeitos Econômicos:
1-2) Maior Produtividade e controle da produção
(planejamento do Frigorífico e rastreabilidade);
3) Juntamente com o melhoramento
genético e no manejo da criação proporcionou a
predominância do suíno tipo exportação;
4) Bonificação tendo em vista a tipificação de
carcaças e a conversão alimentar; motiva o produtor
a buscar sempre maior eficiência;
5) Diminuição de problemas e perdas devido a
agentes infecciosos;
(A) Ambiental:
1) Licenciamento Ambiental;
2) Lagoas de Estabilização revestidas,
mas não cobertas;
3) Bico Ecológico:
4) Caixas d’água enterradas -
temperatura da água adequada;
5) Sem técnicas estruturas ou
tecnologias para aproveitamento da
água da chuva
(B) Econômico:
2) Possibilidade de custos maiores como transporte
dos dejetos diluídos;
3)Diminuição do gasto com água e dos custos com
tratamento e transporte de dejetos;
4) Diminuição do gasto com água pois evita o
desperdício de água por parte do animal, que brinca
nas chupetas até que a água saia mais fresca (no
verão); e ganhos em produtividade devido ao bem
estar do animal, que se alimenta melhor
(C) Social:
1) Diminuição nos problemas como
mal cheiro e do aumento de
agentes infecciosos nas
comunidades vizinhas;
IMPLICAÇÕES DO PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO DA CADEIA
PRODUTIVA DE SUÍNOS ESPECIALIZAÇÃO DO PRODUTOR
Causa Efeitos Secundários, Terciários ...
(D) Efeitos Ambientais:
1) Fiscalização e critérios para
cuidados ambientais mais rígidos;
2) Proteção dos lençóis d’água; a falta
de cobertura implica na diluição
dos dejetos em caso de chuvas;
3) Redução no consumo de água e na
geração de dejetos;
4) Bem estar animal;
5) Desperdício de recurso Natural
IMPLICAÇÕES DAS MUDANÇAS OCORRIDAS NO PERÍODO DE REESTRUTURAÇÃO
DA CADEIA PRODUTIVA DE SUÍNOS – ESPECIALIZAÇÃO DO PRODUTOR
Causas
Efeitos Secundários, Terciários ...
A) Sociais:
1) Estrutura de produção padrão
2) Capacitação dos filhos dos produtores para a gestão
da propriedade rural:
3) Maior poder de compra do produtor;
4) Sistema de Comunicação melhorado: processo de
transferência de informações e conhecimento por
parte da Cooperativa para o Produtor e vice-versa;
(D) Efeitos Sociais
1) Ergonomicamente adequada ao produtor, inclusive
aos mais velhos;
2) Oportunidade de trabalho e permanência no campo;
B) Econômico:
1) Dinamização da produção; Longevidade das estruturas
produtivas e do relacionamento Cooperativa – Produtor;
mais tempo disponível para o produtor se dedicar a outras
atividades;
2-3) Diminuição do Êxodo Rural;
4) Mais recursos para avaliação de programas, tecnologias
e da própria ação da Cooperativa;
(C) Ambiental:
1) Adoção de tecnologias limpas;
144
A Figura 18 contempla as possíveis interações entre as três dimensões da
sustentabilidade, pois, embora nas seções anteriores se tenha optado por descrever os efeitos
de cada escolha da Cooperativa, conforme a dimensão da sustentabilidade que esse mais se
ajusta, de forma autônoma das demais, entende-se que essas são interdependentes, agindo
uma como causa da outra. Em conformidade com o colocado por Morin (2002), quanto mais
essas dimensões desenvolverem interações, mais complexo o sistema será e mais
interdependências múltiplas e autônomas desenvolverá (uma autonomia relativa, uma vez que
a para manter essa autonomia o sistema depende de um contexto externo).
De tal forma, a complexidade do contexto do debate sobre desenvolvimento
sustentável, é percebida, fundamentalmente, na interdependência e no estreito imbricamento
das três dimensões (econômica, social e ambiental) bases desse debate. Pode-se perceber
(tanto na Figura 17, quanto na Figura 18) ainda uma das características da complexidade,
apresentada por (MORIN, 2002; 2005), a recursividade, isto é, quando um elemento é a causa
que age sobre outro, que é o efeito, sendo que esse último (o efeito) age sobre a causa. Em
outras palavras, a aspecto econômico pode agir sobre o ambiental que, de forma cíclica, irá
também agir sob o econômico. Nesse sentido, efeitos econômicos podem apresentar efeitos
sociais e ambientais, entendidos como secundários que, por sua vez, podem atribuir efeitos
terciários, e assim por diante. Na seqüência, as implicações ambientais e sociais também
podem ter implicações secundárias e terciárias, sendo que diferentes possibilidades e
caminhos de reflexão dessas relações de causa e efeito e interdependências das dimensões
podem ocorrer, inclusive efeitos secundários dentro da mesma dimensão, como mostra a
Figura 18.
145
Primários Secundárias
Econômicas
Ambientais
Sociais
Implicações
PrimáriosSecundárias
Econômicas
Ambientais
Sociais
Implicações
Primários
Econômicas
Ambientais
Sociais
Implicações
Secundárias
Figura 18: Possíveis interrelações entre as implicações em cada dimensão da Sustentabilidade
Fonte: Elaboração da autora.
Em ntese, as Figuras 17 e 18 objetivam apresentar a complexidade da
Sustentabilidade, representando as interações e interdependências de suas partes, indicando
que, como a idéia de rizoma, a análise da Sustentabilidade suportada pelo SIAN pode partir de
qualquer parte do sistema, conectando-se em qualquer parte independente da lógica do
sistema, resultando em diferentes reflexões.
4.3.10 As inovações e os indicativos de Sustentabilidade
De forma geral, partindo das interações caracterizadas na seção anterior, pode-se
afirmar que a necessidade de se obter um produto de maior qualidade, com escala e custo
competitivo é que incentivou a adoção de diferentes inovações tecnológicas na cadeia
produtiva de suínos da Cooperativa. Como se pode perceber no Quadro 6, dentre essas
inovações destaca-se a adoção da integração dos produtores e da especialização dos
produtores em sítios, esta última adotada a partir da reestruturação da cadeia, que encadeou a
adoção de estruturas produtivas padronizadas e mudanças nos processos e tecnologias
produtivas e na metodologia de remuneração dos produtores.
146
Assim, a Cosuel reformulou a estrutura geral de seus programas de produção, o que se
caracteriza, essencialmente, como uma inovação arquitetural em processos, que se apresentou
mais adequada a seu contexto sócio-técnico, isto é, às necessidades básicas do ser humano,
ergonomicamente mais apropriada ao produtor e ao animal. Também apresentou maximização
de recursos como ração, água e climatização do ambiente para os animais e implicou em
maior competitividade para o produtor e para a cooperativa.
No geral, essa inovação possibilitou ao produtor manter-se na atividade, mesmo em
pequena escala, obtendo renda conforme seu desempenho e assumindo menores riscos. Os
produtores que aderiram à estrutura padrão ainda se beneficiaram com sua ergonomia
adequada, que otimizou o trabalho, deixando mais tempo para outras atividades. Ao mesmo
tempo, permitiu que a Cooperativa alcançasse a meta de um produto com melhor qualidade,
melhorias sanitárias e maior controle e fluxo de produção do frigorífico, mesmo onerando
maiores custos com a logística e assistência técnica.
Esse aumento de produção por propriedade agrícola pode ser associado a um maior
impacto ambiental da atividade, contudo, tendo em vista o período analisado, o maior
acompanhamento das criações por parte dos cnicos da Cooperativa também possibilitou
maior controle e orientação com relação aos aspectos ambientais. Inclusive, segundo os
entrevistados, a separação dos suínos em edificações por fases de vida permitiu um melhor
planejamento do manejo dos dejetos. Paralelamente, foi no período de adoção dessa inovação,
nas estruturas dos programas de relacionamento com os produtores, que se difundiu (e que a
Cooperativa motivou a adoção) as tecnologias de armazenamento e estabilização dos dejetos,
antes que os mesmos fossem utilizados nos solos e impedindo que corressem a céu aberto, em
direção a cursos d’águas.
Adicionalmente, destacam-se as inovações incrementais ocorridas nas rações e
concentrados disponibilizados aos produtores. Essas inovações permitiram uma alimentação
mais adequada por faze de vida do animal, aumentando a produtividade e diminuindo os
desperdícios ocasionados por um fornecimento de alimentação ao animal inadequado.
Também implicaram na redução da geração de dejetos, uma vez que o animal ingere o
necessário. Pelos mesmos motivos também se destaca a adoção do bico ecológico, que
possibilita ganhos com a liberação controlada de água para a ingestão do animal.
Também indicada como implicação da reestruturação da cadeia produtiva de suínos, a
forma de relacionamento entre Cosuel e produtores foi inovada. Ao assumir a importância de
uma assistência técnica periódica, a cooperativa além de vantagens técnicas estreitou relações
147
com seus associados, conhecendo melhor a realidade das propriedades que lhe forneciam os
suínos, trocando experiências e capacitando o produtor e familiares.
Esse maior acompanhamento dos lotes pelos técnicos também resultou em maior
orientação com relação aos cuidados ambientais e tecnologias disponíveis. A eficiência dessa
orientação também se mostrou melhor após reestruturação, pois passou a correr in loco, isto é,
na propriedade do agricultor, e não mais apenas via descrição de casos no informativo da
Cosuel. O estreitamento desse relacionamento e suas implicações positivas, identificados no
decorrer da análise, foram ratificados por gestores, técnicos e produtores nas entrevistas
realizadas.
Finalmente, além dessas inovações e melhorias, toda a dinâmica do SIAN Cosuel,
possibilitou a identificação de inovações, que estão sendo implementadas ou que poderão ser
adotadas, cujos benefícios são prospectivos, como é o caso do processo de Rastreabilidade
que vem sendo implementado e do estudo a viabilidade da adoção de biodigestores pelos
pequenos produtores.
O Quadro 6 busca sintetizar a descrição das inovações ocorridas durante o período de
análise, da mesma forma que a Figura 17, aponta as implicações positivas e negativas na
evolução da sustentabilidade da cadeia produtiva de suínos da Cosuel, dos insumos até o
abate, conforme o objetivo desse estudo.
148
Inovação, tipo e grau de
inovatividade
Como era Como é Prós Contras
Estrutura Geral dos
Programas de Produção;
Inovação Arquitetural em
processos
Produtores Integrados
e Independentes -
sendo a maioria em
Ciclo Completo
Todo quadro social integrado, sendo
a maioria especializado em um dos
sítios
Para a Cooperativa:
Controle e Escala de Prodão;
Qualidade Sanitária e da carne do Suino;
Para o Produtor
:
viabilidade da atividade, menores riscos, produtividade;
assistência técnica;
Para o Ambiente:
adoção de
tecnologias de manejo dos dejetos, acompa
Para a Cooperativa:
maiores custos
logísticos e com assistência técnica; ,
porém compensados pelo incremento da
produtividade;
Para o produto:
perda de
autonomia;
Para o Ambiente:
pressão
ambiental
Pocilga Padrão Cosuel com
inovações arquiteturais e
incrementais
Não existia uma
estrutura produtiva
padrão
Determina: tamanho da estrutura e
das baias; piso ripado, tipo de
ventilação, tipo de cochos, bico
ecológio, caixas d'água enterradas
Para a Cooperativa:
Produtividade, Controle Sanitário;
Para o Proudutor: o piso ripado e os cochos apropriados
otimizam o seu trabalho assim como diminui os custos e
desperdícios da ração.
Para o Ambiente
: A adoção de bicos
ecológicos reduz o consumo de á
Os custos iniciais de instalação
aumentaram, especialmente com a
adoção de algumas tecnologias (como os
bicos ecológicos), mas são compensados
pela maior produtividade.
Remuneração: inovação
modular em processo
Não existia uma
metodologia padrão
Calculada conforme padrões de
produtividade (conversão alimentar);
e de qualidade (tipificação da
carcaça). Garante um valor mínimo
pela conversão.
Para a Cooperativa:
Comprometimento do Produtor com a
qualidade do manejo do lote; Para o Proudutor: garantia
de recebimento de um mínimo, independente do andamente
do setor;
Para o Ambiente
: Leve diminuição nos
desperdídos;
Pode-se, conforme o contexto, considerar
a pressão no produtor para melhorias de
desempenho
Nutrição Animal, inovões
incrementais no produto
(ração)
Sem critérios,
desbalanceada e
ineficiente
Orientada pela Cooperativa,
conforme tabela técnica, balanceada
por fases. Mais eficiente
Para a Cooperativa:
Qualidade da carcaça (suíno magro);
Para o Produtor
: Ganhos com conversão alimentar;
Para o
Ambiente:
menor geração de dejetos
Não identificado.
Relação Cooperativa-
Produtor: inovação
relacional
Esporática com pouco
compromentimento
Periódica (assistência) e de Parceria
(comprometimento de ambos)
A assistência freqüente possibilitou melhor controle da
produção e menores perdas e ficalização ambiental; também
melhorou a transferência de informaões e conhecimentos da
Cooperativa para o produtor e vice-versa.
O estebelecimento de uma assistência
periódica sobrecarregou os custos da
Cooperativa
Programa de
Rastreabilidade: inovações
incrementais em processos
Não existia um pacote
de técnicas de controle
da produção que
permitisse a
rastreabilidade
Construindo e Implementando
Sistema próprio de Rastreabilidade
Para a Cooperativa:
permite transparência do processo
para o mercado consumidor (externo, principalmente);
Para o Ambiente:
a transparência pressionará a uma
controle ambiental e de saúde do alimento cada vez maior e
mais efetivo, isto é, maior segurança
Por se tratar de um programa ainda
iminente, o puderem ser constatadas
desvantagens.
Impactos destacados das inovações: sustentabilidade
Sustentabilidade (E14)
Quadro 6: Síntese das Inovações e aspectos da evolução da Sustentabilidade na Cadeia Produtiva de Suínos da Cosuel
Fonte: Dados primários.
4.3.11 Sustentabilidade como interesse da Sociedade (E15)
Essa etapa foi incluída no Sistema com intuito de se refletir sobre a proposta de
inclusão de um novo item de análise no Sistema Integrado Agronegocial, mais
especificamente no subsistema referencial, o item Sociedade. Se compararmos o sistema
teórico com o sistema proposto para a Cosuel, é possível perceber que a inclusão desse item
trata-se de uma inovação no Sistema sem, contudo, alterar a sua essência. Isso se deve a
discussão, no presente estudo, sobre o Desenvolvimento Sustentável que implica numa
discussão sobre a interação do individuo com a organização (SBE- Organização - Homem),
das organizações com outras organizações (interorganizacional SBE Conjunto das
Organizações, trabalhado nesse estudo como a cadeia produtiva), desses com as estruturas
governamentais que representam o interesse da Nação (SBE Nação) e, por fim, desses com
os anseios de toda a Sociedade (SBR – Sociedade – a acrescentar).
Assim, entende-se que quando o nível de análise do sistema for macro, a inclusão do
item sociedade, particularmente quando envolve uma discussão sobre desenvolvimento
sustentável, sugere que os aspectos referentes ao ambiente institucional, à demanda e à
capacidade concorrencial da organização devem ser percebidos como influenciados pelo
comportamento e posicionamento de uma Sociedade como um todo, e vice e versa. Essa
relação converge com a proposta da complexidade trabalhada pelo Sistema, que destaca as
relações e dependências multidimensionais de diferentes aspectos de um dado contexto.
Assim, uma análise do comportamento histórico dos diferentes grupos e esferas da
sociedade, e não apenas das instituições e grupos de consumidores que interferem diretamente
no desempenho e na história da organização, passa a ser mais um nível de análise
determinante para se conhecer a realidade da dinâmica do Sistema, conforme a profundidade
que se propõe a estudar.
Considerando a especificidade deste estudo que trabalha com a sustentabilidade,
mesmo não sendo um nível de análise trabalhado, a inclusão do item Sociedade deve-se ao
fato que se admite uma postura sustentável como aquela que resulta de preocupações com a
150
sociedade e, conseqüentemente com o planeta, como um todo. Para o economista Nicholas
Stern, considerando somente o problema do aquecimento terrestre, a elevação de um grau
centígrado na temperatura do planeta deve custar 300 bilhões de dólares a economia mundial
e, ainda, uma queda no consumo per capita de 20%, sem mencionar que cidades inteiras
ficariam abaixo d’água (TEIXEIRA Jr, 2006). Já o custo atual para evitar essa catástrofe
ambiental e econômica é prevista pelo economista em 1% de toda a riqueza produzida no
mundo, sendo que ignorar esse problema pode sair 20 vezes mais caro (TEIXEIRA Jr, 2006).
Assim sendo, pensar em sustentabilidade de uma atividade tem implicações na
Sociedade como um todo e, portanto, deve ser uma responsabilidade pública, privada e civil.
Embora, corrobora-se com os autores Banerjee (2003), Aragón-Correa (1998), Sharma et al
(1998, 1999) e Hart (1997) quando destacam o papel das organizações privadas nesse
processo, pois grande parte dos problemas ambientais tem sua gênese nas atividades
industriais, sendo que as organizações estão atentando ao seu papel, não por consciência
ambiental e responsabilidade para com a Sociedade, mas porque suas atividades econômicas
serão afetadas caso medidas corretivas e estratégias preventivas não sejam definidas. Por
exemplo, os aportes de capital em energia limpa dobram de 2004 para 2006, soma-se a isso a
previsão do aporte de 100 bilhões de dólares dos fundos de tecnologias limpas em projetos
inovadores para os próximos três anos (TEIXEIRA Jr, 2006).
De tal forma, a inclusão do item Sociedade no SIAN surge, portanto, como proposta
de estudo futuro, para uma atualização do framework. E, uma vez que se admite que as
referências com relação ao comportamento histórico dos diferentes grupos e esferas da
sociedade podem determinar a estrutura de uma nação, cadeia ou organização, considerar a
metodologia do path dependencycomo elemento complementar e orientador da análise das
relações no Sistema, pode se mostrar interessante como outra proposta de estudo e atualização
do SIAN.
151
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa dissertação procurou-se analisar o processo de reestruturação da cadeia
produtiva de suínos da Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda. Cosuel,
especificamente no segmento de insumos e no setor primário de produção até a etapa de
entrega do animal para abate, com relação à evolução de sua sustentabilidade, tendo em vista
as inovações ocorridas na cadeia, nos últimos 15 anos. Para tanto, descreveu-se o processo de
reestruturação da cadeia e todo o contexto que o antecede e o procede, conforme aspectos e
atores identificados nos subsistemas do Sistema Integrado Agronegocial adaptado para
atender esse objetivo.
A utilização do Sistema SIAN como ponto de partida para análise do estudo de caso
realizado contribuiu significativamente para o alcance do objetivo proposto, pois o SIAN
permitiu compreender e representar o fenômeno estudado e, especialmente, permitiu
identificar e representar a interdependência das dimensões do Desenvolvimento Sustentável,
uma das abordagens teóricas utilizadas. Especialmente porque esse imbricamento das
dimensões nem sempre é identificado ou considerado nos estudos sobre o tema, que deixam a
complexidade do debate um pouco aparte.
Assim sendo, pode-se identificar a recursão, inerente a complexidade da
sustentabilidade, percebendo que um elemento, por exemplo, da dimensão econômica
apresenta reflexos (efeitos) nas demais dimensões e, ao mesmo tempo, também sofre ação
dessas sobre si. Isto é, o efeito é, ele próprio, causador daquilo que o produz, emergindo uma
análise cíclica, onde os resultados e reflexões construídos estão condicionados ao ponto de
partida da análise ou, conforme a idéia de rizoma, de uma entrada de onde múltiplos unidades
e caminhos poderão emergir.
Assim, o ciclo de análise identificado no SIAN e a reflexão sobre essa
interdependência das dimensões da sustentabilidade possibilitaram a caracterização da
evolução da sustentabilidade no processo de reestruturação e nas inovações ocorridas nesse
processo, especialmente com relação à cooperativa e seus produtores rurais, que caracterizam
a cadeia produtiva de suínos da Cooperativa. Assim, pôde-se identificar que, a partir dessa
152
reestruturação, motivada fundamentalmente por fatores econômicos e mercadológicos, houve
uma evolução da sustentabilidade da atividade na Cosuel. O que permite inferir que, como
frequentemente se observa nos estudos sobre tecnologias sustentáveis (eco tecnologia), a
consciência ambiental ainda apresenta como principal propulsor o fator econômico.
Apesar da Cooperativas ainda não ter adotado os biodigestores como forma de
diminuir a pressão colocada pelo sistema produtivo, cada vez mais intensificado, sob o meio
ambiente, essa tecnologia, o mercado de carbono, juntamente com uma demanda do mercado
consumidor por maior controle sanitário e ambiental, foram identificadas como prospectivas
para a Cooperativa.
Em síntese, no contexto identificado, percebeu-se que a importância da suinocultura
reside não só no montante negociado ou exportado, mas, essencialmente, na predominância de
pequenos produtores na atividade, caracterizando-a, no Estado do Rio Grande do Sul, apesar
de orientada e organizada para a escala industrial, como uma atividade da agricultura familiar.
A produção de suínos, impulsionada pela competição do mercado, tornou-se mais
tecnologicamente avançada, organizada e eficiente e, por isso, tem alcançado índices de
produtividade, de custos e controle sanitário competitivos com relação ao mercado
internacional. Esses indicadores freqüentemente são ligados ao sistema de integração e
especialização da cadeia por fases de vida do animal, conforme a Cosuel vêm adotando nesses
15 anos, período de análise do estudo.
Assim, em termos econômicos, a evolução da cadeia na Cosuel indicou maior
produtividade, reflexo da maior eficiência na criação dos animais para o abate, que alcançou
melhores taxas de conversão de ração em peso do animal vivo e de leitões por matriz. As
mudanças na genética e nas rações, mais balanceadas e direcionadas, também foram
responsáveis por maior produtividade e menores custos. Apesar dos dados apresentarem um
crescimento percentual na perda de animais, gestores e produtores entrevistados inferiram que
a taxa de mortalidade média dos leitões recuou, por isso, a partir dos dados coletados não se
conseguiu justificar esse crescimento percentual. com relação a logística, apesar de custos
mais elevados, seu processo mais complexo justifica-se pelos ganhos em controle sanitário e
produtividade.
Também se verificou que esse processo industrial profissionalizado de criação de
suínos efetivamente levou a uma maior concentração de animais em pequenas áreas o que,
corroborando com Miranda (2005), resultou em maior pressão sobre o meio ambiente. Na
153
Cosuel, essa pressão tem sido remediada com adoção de tecnologias de armazenamento e
estabilização dos dejetos que, posteriormente, são utilizados como fertilizantes nos solos e
prevenida com a adoção de estruturas que otimizam a utilização de recursos como a água e a
ração, que influenciam diretamente no montante de dejetos gerados, sendo que, os dejetos de
suínos têm poder poluente de 4 à 5 vezes maior que os do homem.
A fiscalização e a rigidez da legislação ambiental atribuída à atividade também
cresceu nesse período, e teve implicações no nível de preocupação ambiental no setor e na
Cosuel, isto é, o nível de comprometimento ambiental foi significativamente alavancado com
a implantação e, especialmente, com a posterior cobrança (década de 90) do licenciamento
ambiental para a atividade. Nesse sentido, pôde-se constatar o crescimento das políticas,
fiscalização e ações de conscientização ambiental da Cosuel junto a seus associados nesses 15
anos, fator que se considera muito importante em termos de cuidado ambiental, uma vez que
se considerarmos situações críticas de problemas ambientais, como ocorre em Santa Catarina,
a legislação por si só, efetivamente, não é eficaz e não traz os resultados esperados.
Adicionalmente, o impacto ambiental devido à concentração de um grande número de
animais em áreas pequenas, próximas às agroindústrias, no Rio Grande do Sul, não tem
apresentado o quadro emergencial que apresenta o Oeste Catarinense, pois o Estado é
caracterizado por unidades de pequena escala, distribuídas em diferentes micro-regiões do
Estado. Inclusive a Cosuel, trabalha com associados de diferentes municípios, numa área de
atuação regional e não municipal. Contudo, em termos de análise da sustentabilidade, ressalta-
se esse aspecto como fator crítico, que deve ser cuidadosamente estudado e considerado no
planejamento da Cosuel, tendo em vista que o aspecto econômico da produção continuará
pressionando a uma maior produtividade por área de produção.
Nesse sentido, no final de 2005, uma nova pressão (ao setor) identificada está
relacionada a melhorias na produtividade e eficiência das pequenas unidades de produção de
leitões (UPLs) cujo índice de rentabilidade tem diminuído. O que indica que se prevalecer a
eficiência e a rentabilidade como únicos fatores avaliadores da atividade suinícola o potencial
poluidor da atividade pode se concretizar, pois esse posicionamento implicará na adoção de
grandes unidades produtivas mais intensivas, como o contexto apresentado por Williams
(2006).
Pôde-se, ainda, constatar implicações sociais da adoção dessas inovações, conforme
literatura pesquisada, na adequação ergonômica das estruturas, o que diminuiu o tempo de
dedicação ao trabalho e o esforço necessário, e na adequação das estruturas e processos ao
154
contexto sócio-técnico apresentado. Ao mesmo tempo, incluiu-se como implicações sociais, a
melhoria na renda que o produtor obtém da atividade; a estabilidade da atividade para o
produtor e; a melhoria na qualidade de vida do produtor, apesar da perda de autonomia com
relação ao processo produtivo da criação de suínos e da dependência com relação a
Cooperativa (integradora).
Essa perda de autonomia reflete ainda o aspecto cultural, como colocado por Sachs
(2002), no “equilíbrio entre respeito à tradição e inovação” e no conhecimento e na
legitimação dos envolvidos quanto à inovação que se propõe. Se observarmos que o produtor
não detém mais o controle sobre sua produção e nem mesmo todos os conhecimentos
necessários, o aspecto cultural dessa inovação (especialização da produção) teve implicações
negativas. Ao mesmo tempo, tradicionalmente o produtor sabia carnear, separar os cortes e
fazer alguns derivados da carne o que já não é mais comum.
Com relação aos produtores entrevistados não foi possível identificar se houve uma
descaracterização da agricultura familiar, no sentido colocado por Miranda (2005), devido à
economia de escala e a não diversificação da propriedade, pois as propriedades visitadas ainda
mantinham a diversificação com produção de grãos e fumo e criação de gado leiteiro.
Contudo, como reflexo dessa especialização e aumento de escala por produtor, pode-se
identificar a diminuição no quadro social da Cooperativa e, por conseguinte, a exclusão de
alguns produtores que não se adequaram aos novos processos.
De tal forma, faz-se uma última consideração, seguindo a perspectiva do
ambientalismo renovado, infere-se, a partir do estudo realizado, que a Cooperativa apresentou
significativo avanço na sustentabilidade, especialmente com relação às dimensões econômica
e social, mas inclusive na parte ambiental, onde antes os cuidados eram inexistentes. Isso
significa que uma necessidade de um esforço adicional para o futuro, ou seja, a
necessidade da Cooperativa orientar-se por inovações sustentáveis com forte ênfase na parte
ambiental, pois as dimensões econômicas e sociais apresentaram avanços mais significativos.
Destaca-se ainda que a suinocultura é, de fato, uma atividade altamente poluidora
contudo não de modo inerente poluidora. Não de modo inerente porque, tanto na literatura
pesquisada quanto no estudo realizado, se identificou avanços entendidos como significativos
nas técnicas, tecnologias e processos de produção e de manejo ambiental. Assim, se por um
lado a atividade pode poluir cursos de água, contaminar os solos e aumentar o número de
vetores de doenças, por outro lado se tem conhecimento desses riscos e de como trabalhar
para evitá-lo. Cabe aos produtores e às agroindústrias apresentarem posturas pró-ativas com
155
relação ao meio ambiente, controlando o tamanho dos lotes por propriedade e região,
adotando inovações tecnológicas sustentáveis, evitando e não remediando os danos
ambientais.
Adicionalmente, para o crescimento da sustentabilidade na atividade é altamente
necessário, além do comprometimento das integradoras, uma maior atuação do poder público
no sentido de limitar a intensificação da atividade e as regiões de produção, exigir o uso de
tecnologias avançadas de tratamento e destino dos dejetos e controlar o uso e tratamento dos
recursos naturais (como a água) envolvidos no processo de produção.
Como limitação do estudo destaca-se a impossibilidade de obtenção e verificação
científica de dados com relação à carga de dejetos depositadas nas lagoas, ao tempo de
estabilização e à adequação da aplicação desses no solo, restringindo a análise às avaliações
dos técnicos da Cooperativa, às licenças ambientais e as afirmativas dos produtores. Ao
mesmo tempo, a literatura técnica encontrada sobre a suinocultura e impactos sobre a
qualidade dos solos, cursos de água e ar são, fundamentalmente, análises da Região Oeste de
Santa Catarina, em virtude dos problemas apresentados na região e da sede da localização da
Embrapa. Inclusive, o sindicato (SIPS/RS) e a associação (ACSURS) não possuem essas
informações direcionadas ao Estado do Rio Grande do Sul.
Outra, e talvez mais significativa, limitação refere-se às entrevistas com os atores da
cadeia produtiva de suínos da Cooperativa, cujos posicionamentos não estão livres de valores,
como lealdade e defesa da Cooperativa. Finalmente, por se tratar de um estudo de caso com
abordagem qualitativa, destaca-se a subjetividade de algumas inferências e a sua construção
com base em um determinado contexto social e cultural, o que implica na impossibilidade da
extensão dos resultados às demais agroindústrias do setor.
Como proposta de novos estudos para ampliação do conhecimento sobre a evolução da
sustentabilidade de uma atividade destaca-se a oportunidade de: (a) aprofundamento na
questão da interdependência e da relação de causa e efeito das dimensões da sustentabilidade;
(b) estudo sobre o impacto do programa de Geo-referenciamento de suínos que está para ser
implementado pelo Sindicato dos Produtores de Suínos (RS) para as Agroindústrias e para os
órgãos ambientais fiscalizadores da atividade; (c) estudo sobre quais os custos, benefícios e
problemas potencias da adoção de biodigestores no Estado para o pequeno produtor; e (d)
estudo sobre quais implicações econômicos, sociais e ambientais da intensificação da
produção nas Unidades Produtivas de Leitões (UPLs).
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agosto de 2006.
165
APENDICE 1: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - GESTORES
Entrevistado: ___________________________________
Cargo/Função: __________________________________
Tempo de Cooperativa: ____________________
(1) Como funcionou o processo de reestruturação?
a. Quem participou do desenvolvimento desse projeto?
b. Partiram de um modelo ou construíram o projeto por meio de discussões
interna a Cooperativa?
c. A quem o projeto buscou beneficiar? Como?
(2) Quais os atores envolvidos nesse processo?
a. Como foram considerados e por quê?
b. Qual a participação de cada um?
(3) Quais os benefícios esperados (na época) com esse programa?
a. Quais foram alcançados?
(4) Como a questão ambiental (e social) foi debatida dentro desse projeto de
reestruturação (projetos, tecnologias, informativos, programas educacionais, gestão
ambiental – ISO, responsabilidade social)?
a. No desenvolvimento do processo foram consideradas implicações sociais e
ambientais? Quais? Quais foram atingidas – quais melhorias ambientais e
sociais são percebidas?
(5) Como era a questão ambiental na época (tecnologias, fiscalizações, licenças)?
(6) Como era a relação com os produtores?
a. Contratos, transações, responsabilidades e benefícios
b. Havia a ração feita na cooperativa? Eram obrigados a comprar da cooperativa?
c. Havia assistência técnica na propriedade?
(7) Quais as principais mudanças no processo de produção
a. Infra-estrutura:
b. Genética
c. Ração
d. Medicamentos; tratamento; saúde do animal
e. Tempo de dedicação do produtor (trabalho):
f. Manejo dos animais:
g. Resíduos – manejo, quantidade e uso:
h. Numero de ciclos de produção (tempo de renovação do ciclo):
166
(8) Quais as principais mudanças na cadeia:
a. Mudaram os fornecedores (ração e medicamentos, genética)
b. Os sistemas de transportes e distribuição:
c. O atendimento aos produtores (técnico):
(9) Quais as principais mudanças no produto (suíno entregue a cooperativa para abate):
a. Saúde do animal (questões sanitárias), as doenças e mortes de animais
aumentaram ou diminuíram: ______________________________________
b. Qualidade da carne (carne magra X toicinho)
c. Geração de subprodutos (banha)
d. Número de abatimentos no ano
e. Qual a média de matrizes/ ano hoje e na época?
(10) A Cooperativa tinha capacidade ociosa na estrutura de abatimento?
a. Por que (falta de demanda no mercado ou de oferta de suínos por parte dos
produtores)? E como está hoje?
(11) Quantos produtores estavam ligados a suinocultura na época? Quantos são
hoje? Qual o tamanho de suas propriedades (em média a cooperativa conta com
produtores pequenos ou grandes)?
(12) Levantamento do quadro de produtores:
a. Quantos produtores participaram do processo logo no inicio?
b. Quantos ainda realizam o ciclo completo de produção de suínos (ou que não
aderiam a reestruturação)? Quem são?
a. Quem são os maiores produtores da Cooperativa (nome, contato) e em que
etapa do ciclo se encontram?
b. E os menores produtores e em que etapa do ciclo se encontram?
(13) Quais os produtos (finais) resultantes da suinocultura?
(14) Como é a relação com a Fepam, Acsurs, Secretarias Municipais, Ministério
Publico?
(15) Qual a relação com a prefeitura e demais órgãos governamentais? Tem alguma
relação (parceria) que se destaca?
a. Investigar parcerias com empresa italiana (Sanfler)
(16) Com quais entidades (universidades, instituições de pesquisa, ONG’s e
sindicatos) a Cooperativa se relaciona, tem parcerias?
(17) Como é o relacionamento?
(18) Qual a importância dada a esse relacionamento?
(19) E com a comunidade local?
(20) Como percebe a atividade suinícola daqui a 10 anos?
(21) Como essa atividade, considerada altamente poluidora, com relação a sua
sustentabilidade daqui a 10 anos?
167
APENDICE 2: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - PRODUTORES
Nome: ______________________________
Tempo de Cooperativa _______
Telefone: _____________
Caracterização da propriedade
(2) Qual o tamanho da propriedade?
(3) É o proprietário?
(4) Quantas pessoas vivem na propriedade?
(5) Quantas dependem da renda resultante das atividades da propriedade?
(6) Quantas trabalham fora da propriedade? No que?
(7) Possui outras culturas ou criações na propriedade
a. Identificar o que é para subsistência e o que é para geração de renda:
b. Se não, por quê?
c. Que outras atividades lhe parecem atrativas? Por quê (tem apoio na região, faz
parte do quadro da Cooperativa)?
(8) A suinocultura é a principal atividade? Se não, qual é?
PARTE I: PRODUTORES CICLO COMPLETO
A – Sobre as mudanças no processo
(1) Participou de alguma forma das discussões sobre as mudanças no processo produtivo de
Ciclo Completo para Sistema de Sítios? Se sim, como?
a. Que benefícios ou problemas identificava no novo Sistema apresentado?
(custos, necessidades de melhoria das instalações, acesso a recursos...)
(2) Mas, por que não aderiu? Que vantagens percebe no sistema de Ciclo Completo?
(3) Como a Cooperativa se posiciona quanto a sua decisão de manter-se com o CC?
B – Quanto ao processo produtivo (observar as mudanças no tempo)
(1) Qual a área dedicada às edificações?
(2) Quantos leitões (porcos) são acomodados em cada baia?
168
(3) Como é feito o arraçoamento (possui comedouro automático)? E por quem?
(4) Quem faz o transporte dos animais? Para onde vai? Qual a distância percorrida?
(5) Quanto aos resíduos:
a. Quanto é gerado por dia?
b. Como é o transporte desses dejetos?
c. Qual a distância percorrida?
d. Qual o destino desses resíduos?
e. Utiliza esterqueira, biodigestores ou cama sobreposta?
f. Como e por quem foi projetado o sistema de armazenamento de resíduos? Para
que quantidade e por quanto tempo?
g. Na condução dos dejetos, durante a limpeza das baias, as caneletas são
tampadas? E saídas, escoamentos, canos?
(6) O telhado das edificações é orientado a coleta de água da chuva?
a. Se sim: Que destino é dado a água coletada?
b. Se não: Por quê?
(7) Quais as matérias primas utilizadas (genética, ração e medicamentos) e quem as
fornece?
(8) Como está a saúde do animal, qual o índice de perdas por doenças?
(9) Quanto tempo o produtor se dedica a essa atividade especificamente
a. Teve mais trabalho ou mais tempo para dedicar-se a outras atividades depois
do SI?
(10) Quantas pessoas estão envolvidas na atividade? São familiares ou têm contratados?
(11) Qual a produtividade por ciclo (quantos animais)? E quantos ciclos de produção realiza
no ano (tempo de renovação do ciclo)?
(12) A que distância de fontes hídricas se encontra a área de criação (legislação: o lençol
freático deve estar a, no mínimo, 1,5m de profundidade, na situação de maior precipitação
pluviométrica).
(13) A que distância dos núcleos populacionais se encontra a área de criação (legislação:
distância mínima de 300 metros de núcleos populacionais e 50 metros de frentes de vias
públicas)
(14) Quem inspeciona a propriedade?
a. Quem liberou a licença, Estado pela Fepam ou Prefeitura Municipal?
b. Quando foi a última inspeção e quais problemas apontados?
169
C: Gerais
(1) Qual a rentabilidade (renda) identificada?
(2) Como era a residência em 1990 e como está agora?
a. Fez alguma reforma?
b. Condições da estrutura, Televisão, Telefone, Eletrodomésticos
(3) Quais as mudanças na estrutura familiar?
a. Teve filhos?
b. Os filhos estudam ou estudaram?
c. Ainda moram na fazenda? Por quê?
d. Sabe carnear um porco, fazer lingüiça, conhece os cortes ....
(4) Como era o ambiente na sua região? Quais diferenças percebidas com relação a rios,
solo, animais selvagens, ar.
(5) Conhece os problemas ambientais gerados pela produção de suínos em confinamento?
a. Quais são?
b. Como estão sendo trabalhados na propriedade?
c. Como estão sendo trabalhados pela Cooperativa (recomendações,
tecnologias)?
(6) Como é a participação na Cooperativa?
a. Vai as Assembléias?
b. Se não: Por que não? Quem o representa?
(7) Mantendo-se no Ciclo Completo mudou alguma coisa no seu relacionamento com a
Cooperativa?
a. Tem mais ou menos comunicação? Mais noticias, informações?
b. Mais apoio? Alguma reclamação?
(8) Se tivesse no Sistema Integrado o que acha que seria diferente?
a. Ainda estaria com a Suinocultura?
b. A relação com a Cooperativa, seria diferente, melhor?
c. Tecnologias disponíveis;
d. Renda, melhorias na propriedade?
(9) Como percebe a Cooperativa no seu trabalho e na sua vida?
(10) E na comunidade?
(11) Tem parcerias ou conta com o apoio de alguma instituição que não a Cooperativa?
a. Qual o objetivo dessas parcerias? Quais os resultados alcançados?
170
PARTE II: PRODUTORES QUE ADERIRAM AO SISTEMA DE SÍTIOS
A – Sobre as mudanças no processo
(1) Lembra-se do processo de produção de suínos de ciclo completo?
a. O que mudou (melhorou) com relação a produção?
(2) Participou de alguma forma das discussões sobre a reestruturação: mudanças de Ciclo
Completo para Sítios? Se sim, como?
b. Apoiou logo de inicio a mudança de Ciclo Completo para Sistema Integrado?
Por quê?
c. Que benefícios ou problemas identificava no processo de Ciclo Completo?
(melhoria das instalações, acesso a recursos, garantia de comercialização...)
(3) Como ocorreu na sua propriedade o processo de mudança?
d. Rapidamente?
e. Gerenciou sozinho ou foi orientado pela cooperativa?
(4) Com qual etapa do ciclo trabalha? Por quê?
(5) Teve necessidade de capacitação e/ou ajuda técnica no inicio para focar-se nessa
etapa?
a. Obteve por meio da Cooperativa? Se não, como?
(6) Teve necessidade de investimentos em infra-estrutura para focar-se nessa etapa?
a. Se sim, tinhas os recursos? Ou conseguiu financiamento com a Cooperativa ou
outra instituição?
b. Observou o retorno desse investimento em quanto tempo?
B – Quanto ao processo produtivo (antes e depois)
(1) Qual a área dedicada às edificações?
(2) Quantos leitões (porcos) são acomodados em cada baia?
(3) Como é feito o arraçoamento (possui comedouro automático)? E por quem?
(4) Quem faz o transporte dos animais? Para onde vai? Qual a distância percorrida?
171
(5) Quanto aos resíduos:
a. Quanto é gerado por dia?
b. Como é o transporte desses dejetos?
c. Qual a distância percorrida?
d. Qual o destino desses resíduos?
e. Utiliza esterqueira, biodigestores ou cama sobreposta?
f. Como e por quem foi projetado o sistema de armazenamento de resíduos? Para
que quantidade e por quanto tempo?
g. Na condução dos dejetos, durante a limpeza das baias, as caneletas são
tampadas? E saídas, escoamentos, canos?
(6) O telhado das edificações é orientado a coleta de água da chuva?
a. Se sim: Que destino é dado a água coletada?
b. Se não: Por quê?
(7) Quais as matérias primas utilizadas (genética, ração e medicamentos) e quem as
fornece?
(8) Como está a saúde do animal, qual o índice de perdas por doeas?
(9) Quanto tempo o produtor se dedica a essa atividade especificamente
c. Teve mais trabalho ou mais tempo para dedicar-se a outras atividades depois
do SI?
(10) Quantas pessoas estão envolvidas na atividade? São familiares ou têm
contratados?
(11) Qual a produtividade por ciclo (quantos animais)? E quantos ciclos de
produção realiza no ano (tempo de renovação do ciclo)?
(12) A que distância de fontes hídricas se encontra a área de criação (legislação: o
lençol freático deve estar a, no nimo, 1,5m de profundidade, na situação de maior
precipitação pluviométrica).
(13) A que distância dos núcleos populacionais se encontra a área de criação
(legislação: distância mínima de 300 metros de núcleos populacionais e 50 metros de
frentes de vias públicas)
(14) Quem inspeciona a propriedade?
d. Quem liberou a licença, Estado pela Fepam ou Prefeitura Municipal?
e. Quando foi a última inspeção e quais problemas apontados?
C: Gerais
172
(1) Qual a rentabilidade (renda) identificada?
(2) Como era a residência em 1990 e como está agora?
a. Fez alguma reforma?
b. Condições da estrutura, Televisão, Telefone, Eletrodomésticos
(3) Mudanças na estrutura familiar?
a. Teve filhos?
b. Os filhos estudam ou estudaram?
c. Ainda moram na fazenda? Por quê?
d. Sabe carnear um porco, fazer lingüiça, conhece os cortes ....
(4) Como era o ambiente na sua região? Quais diferenças percebidas com relação a rios,
solo, animais selvagens, ar.
(5) Conhece os problemas ambientais gerados pela produção de suínos em confinamento?
a. Quais são?
b. Como estão sendo trabalhados na propriedade?
c. Como estão sendo trabalhados pela Cooperativa (recomendações,
tecnologias)?
(6) Como é a participação na Cooperativa?
a. Vai às Assembléias?
b. Se não: Por que não? Quem o representa?
(7) Com o novo sistema melhorou o relacionamento com a Cooperativa?
a. Tem mais comunicação? Mais noticias, informações?
b. Mais apoio? Alguma reclamação?
(8) Se ainda estivesse com o sistema de Ciclo Completo o que acha que seria diferente?
a. Ainda estaria com a Suinocultura?
b. Relação com a Cooperativa;
c. Tecnologias disponíveis;
d. Renda, melhorias na propriedade?
(9) Como percebe a Cooperativa no seu trabalho e na sua vida?
(10) E na comunidade?
(11) Tem parcerias ou apoio de alguma instituição que não a Cooperativa?
a. Qual o objetivo dessas parcerias?
b. Quais os resultados alcançados?
173
APENDICE 3: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS - INTITUIÇÕES DE
ATUAÇÃO NO SETOR (FEPAM, EMATER, SIPS, ACUSRS)
Instituição:
Respondente:
Especialidade e titulação:
Função:
(1) Como a instituição atua? De que forma, com quais profissionais e atores
(agroindústrias ou produtores)?
(2) Quanto tempo trabalha com a Suinocultura?
(3) Quais os problemas mais freqüentes observados ...
a. Nas propriedades da região?
b. Na agroindústria? Na Comercialização? Na exportação?
(4) Nesse período de atuação no setor, que tipo de melhorias e mudanças identificou no
setor (novos processos, tecnologias, regulamentações)?
(5) E, em especial, como observa as mudanças na legislação e cuidados ambientais?
(6) Com relação aos Sistemas Integrados e de Produção em Sítios, quais os pontos
positivos e negativos que percebe?
(7) Que evolução tem percebido com relação às discussões e tecnologias da suinocultura e
ao impacto ambiental dessa atividade?
a. E com relação a adoção dessas tecnologias, que evolução tem percebido?
(8) Como percebe a atividade suinícola daqui a 10 anos?
(9) Como essa atividade, considerada altamente poluidora, com relação a sua
sustentabilidade daqui a 10 anos?
174
APENDICE 4: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS – QUESTIONÁRIO
PESQUISADORES S E TÉCNICOS
Respondente:
Especialidade e titulação:
Instituição:
(1) Há quanto tempo atua (estuda) no setor de suinocultura?
(2) Quais os problemas mais freqüentes observados nas propriedades da região?
(3) Nesse período de atuação no setor, que tipo de melhorias e mudanças identificou no
setor (novos processos, tecnologias, regulamentações)?
(4) Como o produtor reagiu com relação a essas mudanças?
(5) E, em especial as mudanças na legislação e cuidados ambientais, como os produtores
reagem às requisições ambientais impostas pela legislação?
(6) Com relação aos Sistemas Integrados, como percebe a relação Agroindústria e
Produtor? Quais os pontos positivos e negativos que percebe?
(7) Que evolução tem percebido com relação às discussões e tecnologias da suinocultura e
ao impacto ambiental dessa atividade?
a. E com relação a adoção dessas tecnologias, que evolução tem percebido?
(8) Como observou a atuação dos órgãos governamentais no setor durante o período que
trabalhou com o setor (tentar realizar uma retrospectiva do que tem observado)?
(9) Como tem observado a atuação das instituições de pesquisa e ONG’s no setor?
(10) Quais aspectos sociais (saúde, tempo de dedicação ao trabalho, cultura, educação, etc)
com relação aos produtores que observou que evoluiu positivamente nesse tempo de atuação
no setor?
a. Quais problemas, perspectivas e mudaas foram identificados?
(11) Nos casos (propriedades) acompanhados, como observou a participação da família do
produtor no processo? E, especialmente, da mulher?
(12) Como percebe a atividade suinícola daqui a 10 anos?
(13) Como essa atividade, considerada altamente poluidora, com relação a sua
sustentabilidade daqui a 10 anos?
175
Curriculum Vitae
Lessandra Scherer Severo
Graduada em Ciências da Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina no
primeiro semestre do ano 2004.
Mestre em Gestão da Tecnologia e Produção pela Escola de Administração da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2007.
Principais áreas de interesse: Gestão da Tecnologia e da Inovação; Gestão Sócio-
Ambiental; Gestão Estratégica, Produção, Cooperativismo e Desenvolvimento Local.
Contato:
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