Roncal recebeu suas primeiras lições de teclado de seu pai, Juan Roncal, que era
músico da Catedral Metropolitana de Sucre. Seu pai o incentivaria na prática da música
religiosa desde cedo, tanto como cantor no coro quanto como organista. O trabalho de
Roncal na Catedral foi uma oportunidade para estar periodicamente em contato com obras
musicais e teóricas como tratados de harmonia. Auza acredita que essas leituras formaram as
bases de sua composição: “com a leitura de tratados de harmonia e formas musicais
estabeleceu as bases de sua particular linha melódica, chamando-a cueca, kaluyo ou baile”.
(1999, p.405). Durante os anos de sua juventude foi aluno do músico espanhol Emilio Gott,
do qual se diz que recebeu lições de harmonia e composição musical. De fato, a música
religiosa, a formação musical em contato como meio artístico da cidade de Sucre e o
inevitável contato com a música popular de rua (entradas e festivais de música popular
nacional), somados com a própria condição social do compositor (Roncal teve acesso a uma
instrução musical formal, mas sua família não possuía meios para enviá-lo a estudar na
Europa), balizaram as diretrizes que Roncal seguiria, mais tarde, como compositor. A
formação erudita em sua juventude foi marcada pelo professor Eduardo Verdeció, que deu a
Roncal a oportunidade de apoiá-lo em seu trabalho de difusão artística na cidade, frente à
Sociedade Artística Filarmónica de Sucre.
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Convivendo entre artistas e intelectuais da
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As sociedades artísticas na Bolívia surgiram a partir do início do século XIX. Sendo instituições de iniciativa privada, a
princípio tiveram como finalidade promover concertos e difundir a música européia. O conseqüente fomento da música
erudita incentivou os compositores bolivianos a desenvolverem sua própria arte aos moldes do nacionalismo musical que
era buscado pelos compositores europeus. O movimento cultural se difundiu entre as principais cidades bolivianas, sendo
que os artistas de todas as diversas associações espalhadas pelo país compartilhavam idéias, passando a ter como principal
preocupação a formação de uma linguagem musical nacional. Principais associações:
1835 – Sucre: Sociedade Filarmónica y Dramática. Auza menciona que a partir de 1886, passaria a ser chamada de
Sociedade Filarmônica de Sucre. A sociedade oferecia concertos e representações dramáticas (AUZA 1985, p.100).
1863 – La Paz – Sociedad Filarmónica La Paz
1917 – Potosi – Círculo de Belas Artes de Potosi
A prática musical fomentada pelos Círculos de Artes, que durante o século XIX foi da iniciativa privada, passaria, nas
primeiras décadas do século XX, ao Estado: “O que havia sido produto da iniciativa privada começou a ser assumido pelo
Estado, que foi ditando uma série de disposições e decretos mediante os quais se criaram conservatórios e escolas de
música” (SEOANE 2002, p. 574). Entre eles, o Conservatório Nacional de Música com sede na cidade de La Paz, e as
escolas estatais de música das cidades de Sucre, Potosi, Oruro e Cochabamba. O autor atribui ao mesmo movimento a
criação da Orquestra Sinfônica Nacional em 1945.