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Clock time é construído de segundos para minutos para horas, dias,
meses, anos. Esta hierarquia também não é totalmente artificial. Ainda
que os níveis mais baixos (segundos, minutos, horas) repousem sobre os
mecanismos do relógio desenvolvidos relativamente tarde na história da
humanidade, suas dimensões maiores de meses e anos são delineadas
pelo mundo natural – pelo movimento dos corpos planetários (EPSTEIN,
1995, p. 7).
Aqui há uma hierarquização em estruturas temporais essencialmente regulares.
Hierarquia também pode ser encontrada em estruturações temporais não regulares. Se
considerarmos um período de tempo da nossa atividade cotidiana, podemos encontrar uma
série de eventos que possuem diferentes durações e que geram uma seqüência irregular de
pontos de referência em nossa memória e, assim, em nossa percepção do tempo. Estes
pontos de referência podem adquirir diferentes níveis de importância ao serem retidos na
memória, gerando uma hierarquia entre os mais importantes e os menos. Assim, ocorrem
estruturas temporais paralelas, em diferentes níveis hierárquicos, como no clock time,
embora não necessariamente regulares.
Estes conceitos são aplicáveis, também, ao tempo musical. O fluir do tempo
musical, para ser percebido, quantificado e qualificado, precisa apoiar-se em pontos de
referência que servem de balizamento na audição, e que constituem a própria estruturação
do tempo musical. Os meios pelos quais estes pontos de referência se concretizam, em
música, nem sempre são óbvios. Diversos elementos musicais podem atuar neste sentido.
Ritmo e métrica estão entre os principais. Entretanto, outros elementos mais pontuais – e
que podem estar associados entre si e aos já citados – como acentos, padrões melódicos,
timbre, textura, intensidade, alturas, modos de ataque – também podem atuar marcando
perceptivelmente o fluir temporal de alguma maneira.
Segundo Epstein, a propriedade da hierarquia presente no clock time pode ser
também identificada na música, como por exemplo, na periódica distribuição de pulso,
compasso e hipercompasso
1
. Aqui, os diferentes níveis são essencialmente regulares -
principalmente nos primeiros níveis (pulso e compasso)
2
. Assim como na estruturação do
tempo (no sentido geral), a hierarquia na música também pode ser identificada em
1
EPSTEIN, 1995, p. 28. O termo hipercompasso refere-se a estruturas métricas mais amplas que englobam
vários compassos (normalmente quatro ou oito).
2
A regularidade nos pulsos e compassos está presente especialmente no repertório clássico-romântico, foco
do trabalho de Epstein.