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espaço, o tempo, onde se encontram “representações confusas e comumente admitidas”, e o
nível “supralingüístico”- o essencial - , onde figuram os conceitos, os sentidos, categorias
como juventude, feminilidade, virilidade, historicidade. (LEFÈBVRE, 1966, p.269).
Se adentrarmos o campo da filosofia da linguagem, somos, a cada leitura,
seduzidos pela riqueza das discussões. Entretanto, não é esse o trajeto a seguir. Passando,
então, a alguns comentários neste esboço de reflexão sobre a linguagem, transcrevemos, a
seguir, um extenso trecho, do lingüista dinamarquês Louis Hjelmslev, por considerá-lo
significativo, já que nos leva a desmontar a opinião comum de que existe um mundo objetivo
com referentes e acontecimentos refletidos pela linguagem, da qual emana o sentido:
A linguagem – a fala humana – é uma inesgotável riqueza de múltiplos
valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus
atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela o seu
pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e
seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base
última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o recurso
último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o
espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo
do poeta e na meditação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar de
nossa consciência, as palavras já ressoaram a nossa volta, prontas para
envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a nos
acompanhar inseparavelmente através da vida [...] A linguagem não é um
simples acompanhante, mas sim um fio profundamente tecido na trama do
pensamento; para o indivíduo, ela é um tesouro da memória e a consciência
vigilante transmitida de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a
marca da personalidade, da terra natal, da nação, o título de nobreza da
humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextricavelmente
ligado ao da personalidade de cada indivíduo, da terra natal, da nação, da
própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de um simples
reflexo ou se ela não é isso tudo: a própria fonte do desenvolvimento dessas
coisas. ( HJELMSLEV, 1975, p.1-2).
No âmbito da linguagem jornalística, as questões que se colocam quanto aos
efeitos de sentido construídos no jornal, é conveniente ratificarmos que não se referem ao
mundo dos acontecimentos do mundo fenomênico, mas ao universo das significações
linguageiras ‘tecidas’ por esse veículo de comunicação, tendo o sujeito de enunciação no
papel fundamental de produzir as experiências semióticas da sociedade, abolindo qualquer
pressuposta linearidade (GREIMAS e COURTÉS, s/d, p.147).
Obviamente a linguagem jornalística, atividade de comunicação intersubjetiva,
leva-nos para a órbita do sujeito, instância única e exclusiva do que é dito ou extraído por
pressuposição lógica do enunciado, na amplitude dessa atividade produtora de relações
polêmicas, cujo ponto de partida para abordagem é a enunciação. A conseqüência disso é