ocupações e acampamentos e a bandeira da reforma agrária é retomada com os significados
impressos pelas pressões em massa
48
.
Os personagens do processo de resistência no campo modificaram-se. E, segundo
Leonilde Medeiros, no início dos anos oitenta, “intensifica-se a luta pela terra: revigoram-se
antigos personagens, surgem novos atores” (1989:139). A luta da terra não-resolvida,
anteriormente mantida por trabalhadores na condição de posseiros e grileiros, rendeiros,
foreiros, parceiros, é retomada com força por trabalhadores seringueiros, atingidos por
barragens e trabalhadores excluídos da modernização da agricultura
49
(Sader, 1988;
Grybowsk, 1986); Medeiros, 1989.
Surgem “os chamados Sem Terra”, um novo personagem que se agrega na luta por
terra, constituindo uma identidade e organização específicas (Medeiros, 1989:147). As
diversas experiências de trabalhadores integrados precariamente na produção, a “árdua
experiência de migração” para áreas de fronteira, provocando reação e denúncia da
expropriação pelas barragens e gerando movimentos como o Movimento de Agricultores
Sem Terra do Oeste, constituíram um “caldo cultural”.
As ocupações de terra estocaram em vários pontos do país: Rio Grande do Sul, São
Paulo, Mato Grosso, Santa Catarina, Bahia
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. “Nos primeiros onze meses de 1980, o
presidente da República assinou 30 decretos declarando propriedades territoriais de
utilidade pública para desapropriação por interesse social, para fim de reforma agrária”
(Martins, 1981: 99). As ocupações, até então, dispositivos isolados de pressão
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para
emergência do problema da terra, nesta conjuntura, as ocupações de terras se constituem
num dispositivo de enfrentamento.
Vistas como um “divisor de águas no debate sobre reforma agrária e as lutas por
terra nos anos 80” (Bruno, 2002: 163), as ocupações deram visibilidade às demandas dos
trabalhadores no campo ocupando espaço nos meios de comunicação. Estas ações
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Em 1979, no III Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais, visualiza-se nas mobilizações e ações de
massa formas de pressionar o Estado no sentido de realizar uma reforma agrária. (Medeiros & Leite: 1998).
49
É bom frisar que autores, como é o caso de Leonilde Sérvolo Medeiros, ao tratar da história dos
movimentos neste período, destacam a atuação de pequenos produtores que no final da década anterior,
produzem grandes movimentações em relação a dívidas financeiras, como é o caso do Sudoeste e Oeste do
Paraná. O segmento dos pequenos produtores se agrega no movimento sindical com o apoio da Igreja.
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Ver: Medeiros, 1989 e 2001; Fernandes (1999); Caldart (2000); Gryzbowsk, 1987; Navarro (1997 e 2001)
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Conflitos de trabalhadores sem terra, no Sul do país, são registrados já na década de 45 e 50, no RS.
Demandas por terra, fosse pelo esgotamento das fronteiras do estado para a instalação de unidades familiares
ou pela pressão do crescimento de assalariados temporários (Medeiros, 1989).