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LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:
Análise comparativa das trajetórias de sucesso e do fracasso empresarial
no Município de Maringá
MARINGÁ
2003
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1
LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:
Análise comparativa das trajetórias de sucesso e do fracasso empresarial
no Município de Maringá
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre no
Programa de Pós-Graduação em
Administração da Universidade Estadual
de Maringá e Universidade Estadual de
Londrina consorciadas, sob a orientação do
Profº. Dr. José de Jesus Previdelli.
MARINGÁ
2003
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LIGIA GREATTI
PERFIS EMPREENDEDORES:
Análise comparativa das trajetórias de sucesso e fracasso empresarial
Dissertação aprovada como requisito
para a obtenção do grau de Mestre no
Programa de Pós-Graduação em
Administração, Universidade Estadual de
Maringá e Universidade estadual de Londrina,
pela seguinte banca examinadora
Aprovada em 06/08/2003
_______________________________________________
Profº. Dr. José de Jesus Previdelli (PPA-UEM)
_______________________________________________
Profª. Drº. Fernando Antônio Prado Gimenez (PPA-UEM)
_______________________________________________
Profª. Drª. Mirian Palmeira (UFPR)
3
Ao meu filho, Brenno, que foi quem mais teve
perdas com esta tarefa e que, mesmo sem entender,
teve que renunciar, muitas vezes, a minha presença.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, que em anonimato me deu força e coragem necessárias para vencer esta caminhada...
Aos meus pais, Valdir e Joana, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade,
iluminando meus caminhos obscuros com afeto e dedicação, para que os trilhasse sem medo e
cheia de esperança..., que se doaram e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes,
pudesse realizar os meus...
Ao meu esposo, Kelber, que sempre acreditou nos meus sonhos, apoiando todas as minhas
decisões e sabendo compreender os momentos em que fui ausente..., que com palavras de
carinho me fez crescer e aprender a ser forte..., que com alegria compartilhou das minhas
conquistas...
Ao meu filho, Brenno, pelo seu sorriso que me deu forças para transpor barreiras, vencer
desafios e seguir em frente..., pelas muitas vezes em que não estive presente na sua doce
infância...e pelas vezes que lhe faltei com minha atenção...
Aos meus irmãos, Alessandra e Maycon, que estiveram sempre comigo compartilhando não
só os meus momentos de alegria, mas principalmente os de tristeza...
À minha família e amigos, que juntos formam uma base forte de confiança sobre a qual eu
posso caminhar...
Ao meu orientador, José de Jesus Previdelli, que me incentivou a não desanimar e a lutar
pelos meus ideais..., que compartilhou comigo seus conhecimentos e jamais mediu esforços
para me auxiliar na busca dos meus objetivos...
Aos demais professores, que sustentaram em mim a maturidade de um profissional...
À banca qualificadora, Drº Fernando Antônio Prado Gimenez e Drª. Ivoneti Catharina Rigon
Bastiani, pelos questionamentos e sugestões que contribuíram para a melhora deste trabalho...
5
À banca de defesa, Drº Fernando Antônio Prado Gimenez e Drª. Mirian Palmeira, pela
participação e contribuição na finalização desta tarefa...
Aos funcionários, em especial ao Bruhmer César Forone Canonice, pela compreensão,
dedicação e pelas palavras amigas, às vezes duras, mas necessárias...
Aos colegas, em especial à Vilma Meurer, pelo companheirismo e por compartilhar os
momentos difíceis, tornando-os mais amenos...
Enfim, a todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, me ajudaram a vencer mais uma
etapa.
6
Quem passou pela vida em branca nuvem e em
plácido repouso adormeceu; quem não sentiu o frio
da desgraça quem passou pela e não sofreu; foi
espectro de homem, não foi homem, só passou pela
vida, não viveu.
Manuel Bandeira
7
SUMÁRIO
Lista de quadros............................................................................................................... 9
Lista de figuras
........................................................................................................................................
10
Lista de tabelas
........................................................................................................................................
11
Resumo............................................................................................................................. 12
Abstract............................................................................................................................ 13
CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO DA PESQUISA..................................................
14
1.1 INTRODUÇÃO
..............................................................................................................................
14
1.2 OBJETO DA PESQUISA.......
....................................................................................................
15
1.2.1 Problema da pesquisa
..............................................................................................................
15
1.2.2 Variáveis da pesquisa
..............................................................................................................
16
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral
.............................................................................................................................
17
1.3.2 Objetivos específicos
................................................................................................................
17
1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DA PESQUISA....................................................... 19
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO........................................................................................ 21
CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................
24
2.1 A EVOLUÇÃO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO....................................... 24
2.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo
.........................................................................
25
2.1.1.1 Abordagem econômica sobre o empreendedorismo..................................................... 26
2.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo.................................... 33
2.1.1.3 Abordagens pós-comportamentalistas sobre o empreendedorismo......................... 45
2.2 CONCEITUAÇÃO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR.............. 48
2.3 O PERFIL EMPREENDEDOR................................................................................................. 54
2.4 A IMPORTÂNCIA DO PERFIL EMPREENDEDOR PARA O SUCESSO DO
EMPREENDIMENTO............................................................................................... 59
2.4.1 O sucesso e o fracasso empresarial como fator resultante do perfil
empreendedor...........................................................................................................
64
2.5 O AMBIENTE CULTURAL NA FORMAÇÃO DO EMPREENDEDOR.............. 70
2.5.1 Fatores que inibem o desenvolvimento do empreendedorismo........................
74
2.6. CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS ANALISADAS NA PESQUISA.. 77
CAPÍTULO 3: ASPECTOS METODOLÓGICOS....................................................
83
3.1 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA................................................................................... 83
3.2 MÉTODO CIENTÍFICO DA PESQUISA.............................................................................. 85
3.2.1 Métodos de abordagem
...........................................................................................................
86
3.2.2 Métodos de procedimento
......................................................................................................
88
3.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA......................................................................................... 92
3.4 TÉCNICAS DE PESQUISA....................................................................................................... 94
3.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA............................................................................................. 100
3.5.1 Unidade de análise
....................................................................................................................
100
3.5.2 Delimitação do universo da pesquisa
................................................................................
101
3.5.3 Tipo de amostragem
................................................................................................................
105
3.5.4 Limitações da pesquisa.........................................................................................
108
CAPÍTULO 4: RESULTADO DA PESQUISA...........................................................
110
4.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR.................................... 111
4.1.1 Idade do empreendedor........................................................................................
111
8
4.1.2 Sexo do empreendedor..........................................................................................
112
4.1.3 Nível de escolaridade do empreendedor.............................................................
113
4.2 AMBIENTE DE RELAÇÃO DO EMPREENDEDOR............................................. 115
4.3 NÍVEL DE EXPERIÊNCIA NA ÁREA EMPRESARIAL E NO RAMO DO
NEGÓCIO.................................................................................................................. 116
4.4 COMPROMETIMENTO E DEDICAÇÃO AO EMPREENDIMENTO.................. 119
4.5. CAPACIDADE DE INOVAÇÃO............................................................................ 120
4.6 NÍVEL DE CENTRALIZAÇÃO E DELEGAÇÃO DE AUTORIDADE ............... 122
4.7 EXIGÊNCIA DE QUALIDADE E EFICIÊNCIA................................................... 123
4.8 CAPACIDADE DE REAÇÃO.................................................................................. 125
4.9 NÍVEL DE REALIZAÇÃO....................................................................................... 126
4.10 PROCESSO DE CRIAÇÃO DA EMPRESA.......................................................... 127
4.10.1 Motivo de abertura do empreendimento..........................................................
128
4.10.2 Processo de planejamento do negócio............................................................... 130
4.10.3 Consideração do empreendedor sobre o principal fator de sucesso do
empreendimento.................................................................................................
135
4.11 ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES............................................................... 138
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................
143
6 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS......................
149
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................
152
ANEXOS.........................................................................................................................
157
ANEXO 1: Questionário aplicado nas empresas encerradas.......................................... 158
ANEXO 2: Questionário aplicado nas empresas em atividade..................................... 163
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo......................................... 24
Quadro 2: Características mais freqüente dos empreendedores – visão
comportamentalistas........................................................................................ 44
Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo................................ 47
Quadro 4: Definições de empreendedor de acordo com especialistas de áreas distintas. 52
Quadro 5: Características do empreendedor segundo Hornaday (1982) e Timmons
(1994)............................................................................................................. 57
Quadro 6: Características históricas do empreendedor.................................................. 58
Quadro 7: Causas do sucesso e fracasso das micro e pequenas empresas no estado do
Paraná.............................................................................................................. 60
Quadro 8: Motivos de sucesso e fracasso do empreendimento........................................ 64
Quadro 9: Fatores de sucesso e do empreendedor, segundo Timmons (1994)................ 67
Quadro 10: Principais causas de fracasso de um empreendedor...................................... 68
Quadro 11: Competência de empreendedores bem sucedidos......................................... 69
Quadro 12: Razões para disseminar a cultura empreendedora........................................ 73
Quadro 13: Comparação entre as concepções básicas de pesquisa.................................. 84
Quadro 14: Questões que respondem aos objetivos da pesquisa..................................... 99
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura da dissertação...................................................................................... 22
Figura 2: Modelo metodológico da pesquisa...................................................................... 91
Figura 3: Desenho das técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo.................................. 97
Figura 4: Idade do empreendedor....................................................................................... 112
Figura 5: Sexo do empreendedor........................................................................................ 112
Figura 6: Nível de escolaridade do empreendedor............................................................. 113
Figura 7: Área de formação em curso superior e pós-graduação..................................... 114
Figura 8: Empreendedores com família ou amigos próximos envolvidos na área
empresarial....................................................................................................... 115
Figura 9: Atividade anterior à criação da empresa............................................................. 117
Figura 10: Ramo de atividade da empresa anterior............................................................ 118
Figura 11: Dedicação ao empreendimento......................................................................... 119
Figura 12: Inovações introduzidas na empresa.................................................................. 121
Figura 13: Tomador de decisão.......................................................................................... 122
Figura 14: Qualidade dos produtos e serviços.................................................................... 124
Figura 15: Qualidade do trabalho dos funcionários........................................................... 124
Figura 16: Tempo de reação à situações stressantes.......................................................... 125
Figura 17: Nível de realização com o empreendimento..................................................... 127
Figura 18: Nível de planejamento antes da criação da empresa......................................... 132
Figura 19: Nível de planejamento durante as atividades da empresa................................. 134
Figura 20: Empreendedores que reiniciariam seu negócio................................................. 140
Figura 21: Empreendedores que fariam mudanças no empreendimento............................ 141
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Relação das empresas e tamanho do universo da pesquisa................................ 103
Tabela 2: Empresas validadas, abertas no Município de Maringá, entre 1997 e
1999.................................................................................................................. 104
Tabela 3: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 106
Tabela 4: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)..................... 110
Tabela 5: Principal motivos de abertura da empresa.......................................................... 129
Tabela 6: Tempo de planejamento para a criação da empresa........................................... 131
Tabela 7: Principal fator para o sucesso do empreendimento sobre a perspectiva do
empreendedor..................................................................................................... 136
Tabela 8: Motivo pelo fechamento das empresas............................................................... 138
12
RESUMO
Sob a nova ótica de um mundo globalizado e sem fronteiras, a atividade
empreendedora é de fundamental importância para o processo de desenvolvimento econômico
de uma comunidade e de uma nação, pois estimula o crescimento gerando novas tecnologias,
produtos e serviços. A atividade empreendedora é realizada por indivíduos que conseguem
identificar novas oportunidades de negócios através de um processo visionário, combinar
recursos e habilidades de forma inovadora para a concretização da idéia e conduzir de forma
eficaz o empreendimento, objetivando o relacionamento amistoso entre a empresa, seus
membros e o mercado, altamente competitivo. Considerando a necessidade de sobrevivência
das empresas e a influência que o empreendedor exerce sobre ela, esta pesquisa vem com o
objetivo de analisar e comparar o perfil dos empreendedores das micro e pequenas empresas,
ativas e inativas, da cidade de Maringá-PR. Buscando atingir os objetivos da pesquisa foi
realizado um estudo de caráter exploratório e descritivo e utilizou-se o método de abordagem
indutivo e métodos de procedimentos histórico, tipológico e comparativo. A pesquisa foi
realizada por meio da observação direta intensiva, usando como instrumento de coleta de
dados a entrevista estruturada. Através da comparação e análise dos dados coletados, pôde-se
perceber que os empreendedores das empresas em atividade apresentaram praticamente todas
as características analisadas em proporções maiores do que os empreendedores das empresas
extintas. A consideração que se pode fazer é que a falta de características empreendedoras
pode ter sido um dos fatores que impulsionou o encerramento de tais empreendimentos, pois
empresas abertas nos mesmos anos, com as mesmas condições de mercado tiveram destinos
totalmente contrários. Não se pode dizer que o perfil empreendedor é o fator condicionante da
mortalidade dessas empresas, pois são inúmeras as variáveis internas e externas, que
influenciam na longevidade empresarial. Entretanto, fica evidente que, quando empresas são
colocadas nas mesmas condições externas e tomam rumos diferentes, o causador pode ser um
dos fatores internos. O fato é que este fator interno que influencia no sucesso e no fracasso do
empreendimento pode estar relacionado com as características individuais que formam o
perfil do empreendedor.
Palavras-chaves: empreendedorismo, perfil empreendedor, longevidade empresarial.
13
ABSTRACT
Under a new vision of a globalized world without frontiers, the entrepreneurial activity is very
important to the economical development of a community and of a nation, because it incites
growth creating new products, services and technologies. Those who are able to identify new
business opportunities through a visionary process, to associate resources and abilities in an
innovatory way in order to realize the project and to conduct the enterprise successfully,
accomplish this activity aiming a friendly relationship between the company members and its
highly competitive market. Considering the survival needs of a company and the influence the
entrepreneur has on it, this study aims to analyze and to compare the entrepreneurs’ profile
from active or inactive small and micro companies in the city of Maringá, Paraná. An
exploratory and descriptive study was carried out to reach the purpose of this paper and the
inductive approach was utilized as well as historical, typological and comparative procedures.
This research was made through an intensive direct observation using structured interviews as
a tool for data collection. By the analysis and comparison of the collected data, it was possible
to see that the entrepreneurs from the active companies have presented almost all of the
analyzed features in larger proportions than those from extinct companies. It can be
considered that the lack of entrepreneurial characteristics could have been one of the factors
which has led to these enterprises enclosing, for companies opened at the same time, with the
same market conditions have had completely contrary destinies. It cannot be affirmed that an
entrepreneurial profile is the determinant factor of these companies’ ends, because there are
numbers of internal and external variables, which influence business longevity. However, it is
clear that when companies are set in same external conditions and they take different ways,
one of the internal factors may be the cause. Actually, this internal factor, which influences
the success or failure of an undertaking, can be related to the individual features that make the
entrepreneurial profile.
Key words: entrepreneurship, entrepreneurial profile, business longevity.
14
CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
1.1 INTRODUÇÃO
No atual contexto de desafios e incertezas, o desenvolvimento das organizações e até
mesmo sua sobrevivência depende, em grande parte, da capacitação, das habilidades e das
características individuais dos seus empreendedores. O empreendedor precisa ter
competências que possibilitem, não só inserir uma empresa no mundo dos negócios, como,
também, manter sua sobrevivência em um mercado altamente competitivo. Ele deve estar
capacitado para criar e, também, para conduzir a implementação do processo criativo,
elaborando estratégias que permitam o desenvolvimento da sua organização. O empreendedor
é caracterizado como um indivíduo que possui altos níveis de energia e altos graus de
perseverança e imaginação que, combinados com a disposição para correr riscos moderados,
o capacita a transformar o que freqüentemente começa como uma idéia (visão) simples e mal
definida em algo concreto (KETS DE VRIES, 2001).
O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e
atingir objetivos e que mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive,
usando-o para detectar oportunidades de negócio (FILION, 1991). Por ser uma pessoa
visionária e orientada para a realização, se dispõe a assumir riscos e é responsável por suas
decisões. Os principais traços que caracterizam o empreendedor são a iniciativa,
independência, autoconhecimento, autoconfiança, automotivação, criatividade, flexibilidade,
energia, integridade, perseverança, otimismo, convencimento, planejamento, sensibilidade,
resistência à frustração, relacionamento interpessoal, comunicação, organização,
15
conhecimento de mercado, capacidade de identificar oportunidades e disposição para assumir
riscos, aptidões empresariais, liderança, capacidade de negociação, entre inúmeras outras, que
em conjunto formam o perfil do empreendedor, determinando sua maneira de pensar e agir no
propósito de criação de algo inesperado.
De acordo com pesquisas efetuadas pelo Sebrae (1999) e também da colocação de
vários autores como Dolabela (1999a;b), Degen (1989) entre outros, muitas empresas morrem
nos primeiros anos de existência. A causa da mortalidade é atribuída a inúmeros fatores, como
falta de planejamento, de capital de giro etc., mas até agora não relacionaram essas causas
com a falta de características empreendedoras do empresário. Assim, esta pesquisa tem a
finalidade de analisar as habilidades, competências, comportamento e características
individuais que em conjunto formam o perfil empreendedor, a fim de elaborar um estudo
comparativo do perfil do empreendedor de empresas ativas e inativas na cidade de Maringá.
1.2 OBJETO DA PESQUISA
Definir o objeto da pesquisa consiste em definir o que realmente foi estudado, de
forma bastante objetiva e específica. Consiste em definir, primeiramente, o problema da
pesquisa, ou seja, a questão que a pesquisa pretendeu estudar e responder. Em seqüência,
apresentar as variáveis da pesquisa, podendo ser entendido como os fenômenos que foram
estudados.
1.2.1 Problema da pesquisa
O problema da pesquisa, segundo Lakatos e Marconi (1991), indica exatamente qual a
dificuldade que se pretendeu resolver. Consiste em dizer de forma clara, explícita,
compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual o pesquisador estava se
16
defrontando e pretendia resolver. O problema da pesquisa é, geralmente, formulado em forma
de pergunta, com o intuito de torná-lo específico, objetivo e inconfundível. Desta forma, o
problema desta pesquisa pôde ser assim apresentado:
“Existe alguma diferença entre o perfil do empreendedor que mantém sua empresa ativa
no mercado e o perfil do empreendedor que teve sua empresa extinta do mercado, no
Município de Maringá?”
Com a formulação deste problema, procurou-se descobrir se o perfil empreendedor
exercia alguma influência na mortalidade/sobrevivência empresarial. Para isso, a pesquisa se
serviu de uma análise das características dos empresários maringaenses que tiveram suas
empresas extintas e dos empresários maringaenses que mantinham suas empresas ativas no
mercado, para termos de comparação.
1.2.2 Variáveis da pesquisa
É uma característica ou um fenômeno que está sendo estudado (COOPER E
SCHINDLER, 2000). É um conceito que contém ou apresenta valores, tais como:
característica, qualidades, quantidades, traços etc (LAKATOS E MARCONI, 1991). Sendo
assim, esta pesquisa apresentou duas variáveis de estudo: a) o perfil do empreendedor que
manteve sua empresa ativa no mercado por mais de três anos; b) o perfil do empreendedor
que teve sua empresa extinta do mercado com até três anos de existência. As duas variáveis de
análise são totalmente independentes uma da outra, e foram utilizadas apenas para termos de
comparação.
17
1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo Geral
9 Desenvolver uma análise comparativa entre o perfil dos empreendedores que tiveram suas
empresas extintas e o perfil dos empreendedores que mantinham suas empresas ativas no
mercado, no Município de Maringá.
Para tal objetivo, perguntou-se:
Existe alguma diferença entre o perfil dos empreendedores de empresas inativas e de
empresas ativas no mercado, no Município de Maringá?
1.3.2 Objetivos Específicos
1. Caracterizar os empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade e nível de
escolaridade;
2. Analisar o nível de conhecimento e experiência na área empresarial e no ramo do negócio;
3. Analisar o ambiente de relação do empreendedor maringaense;
4. Analisar o nível de comprometimento e dedicação do empreendedor com o seu
empreendimento;
5. Analisar a capacidade de inovação do empreendedor;
6. Analisar o nível de centralização e delegação de autoridade do empreendimento;
7. Analisar o nível de exigência de qualidade e eficiência do empreendedor;
8. Analisar o nível de realização e satisfação com o trabalho por parte do empreendedor;
18
9. Analisar o processo de criação da empresa: motivos de abertura, busca de informações,
planejamento inicial e monitoramento;
10. Estabelecer um comparativo entre os dois grupos de análise, empreendedores das
empresas ativas e das inativas, com relação a todos os fatores acima relacionados;
11. Analisar os motivos do encerramento da empresa e o nível de persistência com relação a
ele;
Em busca de atingir tais objetivos específicos, definiu-se questões que foram respondidas no
decorrer da pesquisa:
1. Quais as características gerais dos empreendedores maringaenses quanto ao sexo, idade
e nível de escolaridade;
2. Qual o nível de conhecimento e experiência na área empresarial e no ramo do negócio;
3. Qual o ambiente de relação do empreendedor maringaense;
4. Qual o nível de comprometimento e dedicação do empreendedor com o seu
empreendimento;
5. Como se encontra a capacidade de inovação do empreendedor;
6. Qual o nível de centralização e delegação de autoridade do empreendimento;
7. Qual o nível de qualidade e eficiência do empreendimento;
8. Qual o nível de realização e satisfação com o trabalho por parte do empreendedor;
9. Como foi o processo de criação da empresa: motivos de abertura, busca de informações,
planejamento inicial e monitoramento;
10. Existem diferenças entre os dois grupos de análise, empreendedores das empresas ativas
e das inativas, com relação a todos os fatores acima relacionados;
11. Quais os motivos do encerramento da empresa e o nível de persistência do empreendedor
com relação a ele;
19
1.4 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DA PESQUISA
Segundo Dolabela (1999a,b), o índice de mortalidade das micros e pequenas empresas
é bastante elevado nos três anos seguintes à sua criação – cerca de 90%. Muitas pesquisas têm
sido desenvolvidas no sentido de descobrir e analisar as causas de tantos encerramentos
empresariais. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 12 (doze) Unidades da Federação, no
período de agosto de 1998 a junho de 1999, e em Minas Gerais, em 1997, apurou a taxa de
mortalidade das empresas para até três anos de criação das mesmas. Conforme a Unidade de
Federação, essa taxa variou de cerca de 30% até 61%, no primeiro ano de existência da
empresa, de 40% até 68%, no segundo ano, e de 55% até 73%, no terceiro período do
empreendimento (SEBRAE, 1999). Ao analisar os fatores condicionantes dessa mortalidade,
comparando-se os resultados de entrevistas realizadas junto a empresas extintas e empresas
em atividade, identificou-se que as principais causas era a falta de capital de giro, problemas
financeiros, falta de clientes, carga tributária elevada, recessão econômica, como os principais
fatores de extinção (SEBRAE, 1999).
Um outro estudo realizado por Previdelli & Senhorini (2001), sobre as causas da
mortalidade das micros e pequenas empresas maringaenses, no estado do Paraná, revelou que
47,86% das empresas que tiveram suas portas fechadas entre 1998 e 2000 sobreviveram por
menos de 1 ano no mercado, e 38,03% conseguiram se manter até os seus dois anos de vida.
Neste estudo as causas foram atribuídas a problemas financeiros, elevada carga tributária,
concorrência acirrada e falta de clientes.
Pode-se notar que as causas são atribuídas, geralmente, à fatores externos (social,
político, econômico) e à fatores internos da empresa, como a falta de capital de giro, custos
elevados, quedas nas vendas, entre outras. Quase nunca se relaciona a mortalidade das
empresas com a sua administração ou gerenciamento. Os fatores apontados como causa da
20
mortalidade das empresas podem ser decorrentes de um problema ainda maior: a falta de
características para empreender, por parte do fundador da empresa. Segundo Dolabela
(1999a,b), presume-se que, se uma pessoa tem características e aptidões comumentes
encontradas em empreendedores de sucesso, terá melhores condições para empreender. São
nessas características comportamentais básicas que o candidato a empreendedor deve se
pautar, e sem tais características, o indivíduo terá dificuldades em obter sucesso.
Assim, esta pesquisa se justificou ao comparar o perfil do empreendedor de sucesso e
de fracasso empresarial, tentando analisar se as causas da mortalidade e da sobrevivência das
micros e pequenas empresas de Maringá podiam ter alguma relação com a falta de habilidades
e características individuais desses empresários, no sentido de terem ou não um perfil
empreendedor. Uma análise deste tipo pode trazer inúmeros benefícios aos estudos do gênero
e à comunidade em geral. Sendo realizada no âmbito da cidade de Maringá, a pesquisa pode
ser extendida para outras cidades e também para outras unidades federativas do Brasil. Se o
fato for constatado, surge a necessidade de se investir na formação de empreendedores, ou
seja, de criar uma forma de desenvolvimento das características empreendedoras no
indivíduo, ou, pelo menos, conscientizar os indivíduos da importância da existência de tais
características para se criar um empreendimento.
Dolabela (1999a), coloca que no ensino profissionalizante e universitário, predomina a
cultura da “grande empresa”, e que não há o hábito de se falar na pequena empresa: “Os
cursos de Administração, com raras exceções, são voltados quase exclusivamente para o
gerenciamento de grandes empresas” (DOLABELA, 1999a). Vendo o rumo da educação
administrativa no país e constatando (ou não) alguma relação entre o perfil do empreendedor
e a mortalidade/sobrevivência das empresas, este estudo se justifica e mostra sua relevância
ao abrir caminho para a conscientização de que desenvolver o potencial empreendedor é um
21
dos principais fatores para o surgimento de negócios, gerando possibilidade de
desenvolvimento econômico do país.
1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
A dissertação foi dividida em cinco capítulos: Apresentação da pesquisa,
Fundamentação Teórica, Aspectos Metodológicos, Resultados da Pesquisa e Considerações
Finais, como mostra a figura 1. No primeiro capítulo foi feita uma abordagem geral ao
assunto, bem como se colocou a importância de realizar tal pesquisa. Contextualizou-se o
tema, definiu-se o objeto da pesquisa no qual estavam inseridos o problema da pesquisa e suas
variáveis de estudo, mostrou-se os objetivos a serem alcançados e a justificativa que ressaltou
a relevância da pesquisa.
No segundo capítulo, Fundamentação Teórica, buscou-se identificar as estruturas
conceituais existentes na literatura, tendo como finalidade apresentar a base de conhecimento
que foi formada para realizar a pesquisa. Tratou-se de assuntos relevantes ao tema e que
fundamentaram a pesquisa empírica. Os assuntos abordados foram a respeito das
características individuais que formam o perfil do empreendedor de sucesso; a evolução do
conceito de empreendedorismo e suas abordagens, o perfil do empreendedor, os fatores de
sucesso de um empreendimento e a cultura e o ambiente como um fator motivador do
empreendedorismo.
No terceiro capítulo, trabalhou-se o modelo da pesquisa e sua metodologia. Foi
explicado como a pesquisa foi realizada, destacando a classificação da pesquisa, o método
científico utilizado (método de abordagem e de procedimento), as técnicas de coleta e análise
dos dados, os instrumentos da pesquisa, a unidade de análise, a delimitação da pesquisa e o
tipo de amostragem utilizado.
22
Figura 1: Estrutura da dissertação
O quarto capítulo – Resultados da Pesquisa – consistiu na apresentação e análise dos
resultados da pesquisa. Estão contidos os dados coletados na pesquisa, seu tratamento e
também as informações que foram obtidas. Respondeu-se às perguntas enunciadas no objetivo
da pesquisa, expostas na primeira parte da dissertação – Apresentação da pesquisa.
A última etapa fez uma comparação entre o estudo bibliográfico e o empírico,
analisando se conclusões obtidas responderam às perguntas da pesquisa. Fez uma avaliação da
pesquisa, colocando os problemas encontrados durante a fase de realização, os pontos falhos,
CAPÍTULO 1:
Apresentação
CAPÍTULO 2:
Fundamentação Teórica
CAPÍTULO 3:
Aspectos Metodológicos
CAPÍTULO 4:
Resultados da Pesquisa
CAPÍTULO 5:
Considerações Finais e Recomendações
23
a contribuição do estudo para as partes envolvidas e deixando em aberto propostas para
estudos futuros.
Este foi um estudo de caráter microeconômico, desenvolvido na cidade de Maringá,
situada na esfera regional do noroeste do Paraná, Brasil. Restringiu-se a análise comparativa
do perfil dos empreendedores de sucesso e fracasso empresarial nesta região. Ele não esgotou
as possibilidades de novos estudos, ao contrário, buscou abrir um campo para estudos
posteriores de confirmação, comparação com períodos futuros ou com outras regiões,
buscando cada vez mais satisfazer a interdisciplinaridade e a complexidade que a área de
conhecimento exige.
24
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 EVOLUÇÃO DO ESTUDO DO EMPREENDEDORISMO
Segundo Filion (1999a), Vérin (1982) foi quem estudou o desenvolvimento do termo
entre-preneur através da história e observou que no século XII ele era usado para referir-se
“àquele que incentivava brigas” e, no século XVII, descrevia uma pessoa que tomava a
responsabilidade e coordenava uma operação militar. Verificou também que somente no final
do século XVII e início do século XVIII o termo foi usado para referir-se à pessoa que criava
e conduzia projetos ou empreendimentos (VÉRIN, 1982 apud FILION, 1999a:18). Segundo
Logen (1997), este termo era utilizado também nessa época, para denominar outros
aventureiros tais como construtores de pontes, empreiteiros de estradas ou arquitetos. Desde
então o termo vem sofrendo evoluções constantes, sendo introduzido novos conceitos e novas
perspectivas na sua definição. O quadro abaixo mostra um resumo dos estudos elaborados
sobre o desenvolvimento da teoria do empreendedorismo.
Quadro 1: Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo.
Idade média: personagem (um grupo de guerreiros em ação) e um indivíduo que administra projeto de
produção em larga escala;
Século XVII: indivíduo com comportamento voltado para o risco, de ter lucro (prejuízo) na fixação de
um preço num contrato com o governo;
Richard Cantillon (1725): indivíduo assumindo riscos, planejando, supervisionando e organizando;
Jean Baptist Say (1803): separa os lucros do empreendedor do lucro do capitalista;
Francis Walter (1876): estabelece distinção entre os que fornecem fundos (capital) e recebem lucros
gerados por sua capacidade gerencial;
Joseph Schumpeter (1934): empreendedor é um inovador e desenvolve tecnologia inédita;
David McClelland (1961): empreendedor é um tomador de risco moderado;
Peter Drucker (1964): empreendedor maximiza oportunidades;
Albert Shapero (1975): empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos sócio-econômicos,
e aceita risco de fracasso;
Karl Vesper (1976): empreendedores parecem diferentes de economistas, engenheiros, gestores e
políticos;
Gifford Pinchot (1983): intrapreneur é um empreendedor dentro de uma organização já estabelecida;
Fonte: Ibraihim, R & Goowin, J. R. (1986) apud LEITE, Emanuel Ferreira. O fenômeno do
empreendedorismo criando riquezas. 3ª Edição. Recife: Bagaço, 2002
25
Esse quadro mostra que o empreendedorismo vem sendo um campo de estudo
multidisciplinar, que recebeu contribuições de diversas áreas de conhecimento. No entanto, o
termo empreendedorismo foi marcado por duas grandes correntes de pensamentos, cada qual
com suas abordagens e suas contribuições.
2.1.1 Abordagens sobre o empreendedorismo
O pensamento com relação ao empreendedorismo pode ser dividido em duas correntes
principais: aquela que define o termo como uma função econômica e aquela que identifica
empreendedorismo com traços de personalidade, chamada “behaviorista” ou comportamental.
“Os economistas tendem a concordar que os empreendedores estão associados à inovação e
são vistos como forças direcionadas de desenvolvimento” (FILION, 1999a, p.12). O termo
comportamentalista refere-se aos psicólogos, psicoanalistas, sociólogos e outros especialistas
do comportamento humano. Eles atribuem ao empreendedor as características de necessidade
de realização, criatividade, persistência, liderança, energia, autoconfiança, entre inúmeras
outras. Além dessas duas correntes, existem outros estudos que tratam do tema sobre aspectos
diferentes e diversos, como o ensino do empreendedorismo, a cultura empreendedora, intra-
empreendedorismo, incubadoras de base tecnológica, empreendedorismo na micro e pequena
empreendedorismo, empresas familiares e processo de sucessão, trabalho autônomo, entre
inúmeros outros. Essa reunião de temas diversos foi chamada neste trabalho de abordagem
pós-comportametalista, devido ao fato de terem sido pesquisadas depois da abordagem
comportamental, o que não significa que é uma linha de pensamento constante na literatura,
mas apenas um agrupamento do que foi e está sendo pesquisado após a abordagem
comportamental.
26
2.1.1.1 Abordagem econômica sobre o empreendedorismo
Por volta do século XVIII aflorou a escola do “pensamento econômico” que procura
focar o papel do empreendedor dentro da economia e apresenta vários seguidores. No século
XVIII, Richard Cantillon ( + 1680–1734), um economista Britânico que vivia em Paris,
descrevia o empreendedor como alguém que investia e corria riscos com seu próprio dinheiro.
Nasceu na Irlanda, provavelmente por volta de 1680, fundou um estabelecimento bancário em
Paris e morreu, assassinado, em Londres, em 1734 (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).
Segundo Filion (1999a), os boatos são de que foi um cozinheiro que causou um incêndio em
sua casa, após as constantes recusas de Cantillon em lhe dar um aumento. Cantillon já era
conhecido por ser mão-fechada, chegando a ser chamado até mesmo de pão duro.
Filion (1999a), conta a vida pessoal de Cantillon e coloca que, mesmo não tendo se
assentado em país algum, por questões particulares, ele mostrou preocupação com as mesmas
questões econômicas e necessidade de racionalização que seus contemporâneos europeus. A
família Cantillon, originária da Normandia, emigrou para a Irlanda durante o reinado de
William, o Conquistador, que nomeou membros da família para o governo de um pequeno
território quase do tamanho de um município. Eram, portanto, pessoas de classe alta. Segundo
Seldon e Pennance (1968, p.90) Richard fugiu da Irlanda para Paris, em 1716, após a queda
dos Stuarts na Grã-Betanha. A data de nascimento de Cantillon é ignorada, e ele pode ser
confundido com o tio, cavaleiro que também se chamava Richard Cantillon e que também
viveu em Paris. Cantillon, o sobrinho, vivia de renda e buscava oportunidades de
investimentos, sendo capaz de analisar uma operação e identificar nela aqueles elementos que
já eram lucrativos e os que poderiam vir a ser ainda mais.
Sua contribuição para a economia é representada pelo seu Essai sur la Nature du
Commerce em Général (Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral), escrito em 1725,
mas publicado, postumamente, somente em 1755 com correções do editor e 20 anos depois de
27
ser amplamente distribuída em Paris e Londres (FILION, 1999a, p.7). Trata-se de uma
vigorosa obra analítica, muito adiantada para o seu tempo, que expõe as contradições do
mercantilismo vigente (SANDRONI, 1994, p.39; SELDON & PENNANCE, 1968, p.90). A
obra esteve por muito tempo esquecida e foi redescoberta por Stanley Jevons, no final do
século XIX, sendo considerada a mais sistemática exposição dos princípios econômicos que
se fez antes de A Riqueza das Nações, de Adam Smith (SANDRONI, 1994, p.39). A obra de
Cantillon foi uma das primeiras a definir a terra como a única fonte de riqueza, o trabalho
como força geradora dessa riqueza e a mostrar ser o dinheiro apenas uma medida de riqueza
que deriva da produção (SELDON & PENNANCE, 1968, p.90).
A atividade de Cantillon, banqueiro, seria hoje qualificada como investidor de capital
de risco. “Seus escritos revelam um homem em busca de oportunidades de negócios,
preocupado com o gerenciamento inteligente de negócios e a obtenção de rendimentos
otimizados para o capital investido” (FILION,1999a, p.06). No Reino Unido nascia a
Revolução Industrial e ele defendia o pensamento liberal da época que exigia liberdade plena
para que cada um pudesse tirar o melhor proveito dos frutos de seu trabalho (KURATKO &
HODGETTS, 2001; FILION, 2000). Segundo Filion (2000), Cantillon buscava nichos de
mercado para investimentos lucrativos e considerava a análise dos riscos o ponto central para
a tomada de decisão. Para ele, o empreendedor era “uma pessoa que comprava matéria prima
(insumo), processava-a e vendia para outra pessoa” (FILION, 1999a, p.18) ou também, aquele
que comprava matéria-prima por um preço certo para revendê-la a preço incerto (FILION,
2000; SAHLMAN et al, 1999). “Ele entendia, no fundo, que se o empreendedor lucrara além
do esperado, insto ocorrera porque ele havia inovado: fizera algo de novo e diferente”
(FILION, 2000, p.17). Para Cantillon, o empreendedor era então uma pessoa que identificava
uma oportunidade de negócio e assumia o risco inerente com a perspectiva de obter lucros.
Essa foi a primeira aparição do elemento risco na definição de empreendedorismo e Cantillon
28
foi o primeiro a oferecer clara concepção da função empreendedora como um todo
(FILION,1999a).
A Inglaterra foi o país que mais dedicou esforços para definir explicitamente a função
do empreendedor no desenvolvimento econômico. Dentre os ilustres teóricos que ofereceram
uma grande contribuição para o entendimento do fenômeno do empreendedorismo ressalta-se,
Adam Smith e Alfred Marshall. Segundo Logen (1997), Adam Smith (1723-1790),
economista escocês, caracterizou o empreendedor como um proprietário capitalista, um
fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que interpõe-se entre o
trabalhador e o consumidor. Atribuiu ao empreendedor o papel de criador de riquezas. O
conceito de Smith, refletia uma tendência da época de considerar o empreendedor como
alguém que visava somente produzir dinheiro. Entretanto, o empreendedor foi caracterizado
pelo economista inglês Alfred Marshall como alguém que se aventura e assume riscos, que
reúne capital e o trabalho requeridos para o negócio e supervisiona seus mínimos detalhes,
caracterizando-se pela convivência com o risco, a inovação e a gerência do negócio (Logen,
1997).
Jean Baptiste Say (1767–1832), industrial e economista clássico francês, no início do
século XIX, foi o segundo autor a demonstrar interesse pelos empreendedores, ampliando a
definição de empreendedorismo para incluir no conceito os fatores de produção (SAHLMAN
et al, 1999). Say é considerado economista porque naquele tempo as ciências gerenciais não
existiam e qualquer um que tivesse interesse em organizações ou falasse sobre a criação e
distribuição de riquezas seria classificado como economista.
Inicialmente Say procurou seguir carreira comercial, mas, depois de ler a Riqueza das
Nações, de Adam Smith, passou a se interessar pela Economia Política (SELDON &
PENNANCE, 1969, p.524). Admirador de Adam Smith, divulgou sua obra e propagou suas
idéias e políticas por toda a vida. Elaborou em 1803 a Lei dos Mercados (Lei de Say),
29
segundo a qual a produção criaria sua própria demanda, impossibilitando uma crise geral de
superprodução (SANDRONI, 1994, p.317). Esta lei, que estabelece a concepção do equilíbrio
econômico, foi a base da teoria econômica neoclássica (SANDRONI, 1994, p. 317; SELDON
& PENNANCE, 1969, p.524). Say elaborou ainda a teoria dos três fatores de produção (terra,
mão-de-obra e capital), partindo da idéia de que a utilidade é a grande determinante do valor,
e também a teoria das funções do empresário, introduzindo esse tema na economia política
(SANDRONI, 1994, p.317).
Em 1814, comissionado pelo governo francês, estudou as condições econômicas da
Inglaterra, publicando em De l’Anglaterre et des Anglais (Da Inglaterra e dos Ingleses) os
resultados dos seus estudos. Em 1816, começou a ensinar Economia, tendo fundado a cadeira
de Economia Industrial no Conservatoire des Arts et Métiers (Conservatório de Artes e
Ofícios), em 1819 (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524). Foi nomeado professor de
Economia Política no Collége de France, tendo como principais obras Traité d’Économie
Politique, 1803 (Tratado da Economia Política) e Cours Complet d’Économie Politique
Pratique, em 1828-30 (Curso Completo de Economia Política Prática), que seguem a tradição
de Cantillon e de Turgot (SANDRONI, 1994, p.317; SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).
Admirador da Revolução Industrial Britânica e de Adam Smith, tentou estabelecer um
corpo teórico que possibilitaria a chegada da revolução industrial na França, pois considerava
o desenvolvimento econômico como resultado da criação de novos empreendimentos
(FILION, 1999a). Ele pode ser identificado como o pai do que hoje se convencionou chamar
de empreendedorismo, pois foi quem lançou os alicerces desse campo de estudo (FILION,
2000). Ele foi o primeiro a explicar a diferença entre lucros do empreendedor e aqueles do
capitalista, e dizia que empreendedor é o indivíduo que transfere recursos econômicos de um
setor de baixa produtividade para um setor de alta produtividade e maior rendimento. Dizia
30
que empreendedor é o indivíduo que, na sua busca pelo êxito, perturba e desorganiza o status
quo do sistema econômico (SAY apud PEREIRA, 1995:05).
Joseph A. Schumpeter (1883-1950), foi o primeiro economista de renome a retornar a
Say e foi ele quem realmente consolidou o conceito de empreendedorismo associando-o
claramente à inovação (FILION, 2000, p.18; 1999a:7). Austríaco, nascido na Morávia e
educado em Viena, permaneceu um tempo no Egito e depois tornou-se professor de Economia
em Czernowitz e, a seguir, em Graz (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Depois da
Primeira Guerra Mundial, foi nomeado ministro das Finanças da República Austríaca, mas
logo renunciou para se tornar professor nos Estados Unidos, lecionando na Universidade de
Bonn até 1932 quando se transferiu para Harvard (SANDRONI, 1994, p.318; SELDON &
PENNANCE, 1969, p.525). Suas obras foram tomadas a sério desde o início da sua carreira,
pois abrangem todos os ramos da Economia. Entre as principais obras de Schumpeter,
destacam-se seu primeiro livro, Theory of Economic Development, 1912 (Teoria do
Desenvolvimento Econômico); Business Cycles, 1939 (Ciclos Econômicos); Capitalism,
Socialism and Democracy, 1942 (Socialismo, Capitalismo e Democracia) e History of
Economic Analysis (História da Análise Econômica), uma obra inacabada e publicada
postumamente, em 1954, que juntas dão uma idéia da sua versatilidade (SANDRONI, 1994,
p.319; SELDON & PENNANCE, 1969, p.525).
Foi em 1911 que adicionou o conceito de inovação para a definição de
empreendedorismo, como sendo o ato de criar coisas novas e diferentes (FILION, 1999a,
p.07; 2000b, p.18). Em sua obra, Business Cycles (1939), Schumpeter analisou o sistema
capitalista e avançou a teoria de que as inovações feitas pelos empresários são o fator
estratégico do desenvolvimento econômico e ocupam uma posição central no processo do
ciclo comercial (SELDON & PENNANCE, 1969, p.525). Schumpeter admitia a existência de
ciclos longos (de vários decênios), médios (de dez anos) e curtos (de quarenta meses) e dizia
31
que “o estímulo para o início de um novo ciclo econômico viria principalmente das inovações
tecnológicas introduzidas por empresários empreendedores” (SANDRONI, 1994, p.318).
Segundo Sandroni (1994), para Schumpeter esse é o ponto essencial, pois sem
empreendedores e suas propostas de inovações tecnológicas, a economia manter-se-ia numa
posição de equilíbrio estático, num círculo econômico fechado.
Por inovações tecnológicas, Schumpeter entendia cinco categorias de fatores: a
fabricação de um novo bem; a introdução de um novo método de produção; a abertura de um
novo mercado; a conquista de uma fonte de matérias-primas; a realização de uma nova
organização econômica, tal como o estabelecimento de uma situação de monopólio
(SANDRONI, 1994, p.319). Ele falava de vários tipos de inovação, incluindo inovação nos
processos, inovação mercadológica, inovação na produção e até mesmo inovação
organizacional (SAHLMAN et al, 1999), pois, segundo Schumpeter, “o impulso fundamental
que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre dos novos bens de consumo,
dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de
organização industrial que a empresa capitalista cria” (SCHUMPETER, 1976, p.112).
Seu trabalho enfatizou o papel do empreendedor no processo de criação destrutiva que
contribui para a descontinuidade da economia. Na visão de Schumpeter o empreendedor é o
agente de mudança, ou seja, aquele que destrói a ordem econômica existente através da
introdução de novos produtos e serviços, através da criação de novas formas de organização e
também da exploração de novos recursos e materiais. Schumpeter postulava que o
desequilíbrio dinâmico provocado pelo empreendedor inovador, em vez de equilíbrio e
otimização, é a norma de uma economia sadia e a realidade central para a teoria e a prática
econômicas (DRUCKER, 1987).
Segundo Degen (1989), esse processo, chamado por Schumpeter de “destruição
criativa”, – é “o impulso fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista” e
32
quem dirige esse motor é o empreendedor. Tal processo é responsável pela substituição de
produtos antigos por outros mais eficientes, mais baratos, mais ágeis, mais acessíveis, de
melhor qualidade e comodidade, como por exemplo, a substituição da máquina de escrever
por computadores pessoais, o telégrafo pelo telefone, a caneta tinteiro pela esferográfica, a
viagem de navio pela viagem de avião, o trem a vapor pelo trem elétrico e pelo metrô, o ferro
a brasa pelo ferro elétrico, entre muitas outras destruições criativas que foram marcos no
nosso desenvolvimento econômico. Nesse processo o empreendedor está constantemente
utilizando sua capacidade visionária e sua criatividade para aprimorar os produtos, tornando-
os melhores e mais acessíveis para atender a necessidade e o bem-estar da população.
Esta constante busca por algo novo e diferente vem da necessidade de realização do
empreendedor, através da qual consegue colocar suas idéias em prática e fazer as coisas
acontecerem. Schumpeter merece um lugar à parte na História da Economia, e não somente
pela sua facilidade discursiva e penetração crítica, mas ainda pela qualidade da sua
inteligência, manifesta no seu método analítico, que o singulariza entre os economistas seus
contemporâneos (SELDON & PENNANCE, 1969, p.524).
Segundo Filion (1999a), Schumpeter não foi o único a associar empreendedorismo à
inovação. Clark, em 1899, havia feito o mesmo de forma bem clara, Higgins (1959), Baumol
(1968), Schloss (1968), Leibenstein (1978) e a maioria dos economistas que tinham interesse
no campo também fizeram o mesmo algum tempo depois, pois todos os economistas estavam
interessados na compreensão do papel do empreendedor como motor do sistema econômico.
A partir daí os economistas não se restringiram a desenvolver estudos no sentido de aprimorar
a contextualização de empreendedor. Filion (1999a) fez um apanhado das diversas
contribuições dadas por alguns economistas que se interessavam pelo campo de
empreendedorismo. Segundo ele, Knight (1921) mostrou que os empreendedores assumiam
riscos por causa do estado de incerteza no qual trabalhavam e que eles eram recompensados
33
de acordo com os lucros obtidos com a atividade que iniciavam; Hayek (1937; 1959) mostrou
que os empreendedores tinham o papel de informar o mercado a respeito de novos elementos;
Hoselitz (1952; 1968) falava de um nível mais alto de tolerância que capacitava os
empreendedores para o trabalho em condições de ambigüidade e incerteza; Leibenstein (1979)
já tinha estabelecido um modelo para medir os níveis de eficiência e ineficiência no uso de
recursos por parte dos empreendedores; Casson (1982) fez uma interessante tentativa de
desenvolver uma teoria ligando empreendedores ao desenvolvimento econômico. Ele insistia
nos aspectos de coordenação de recursos e tomada de decisões; Baumol (1993) estabeleceu a
diferença clara entre empreendedor organizador de negócios e o empreendedor inovador. Os
economistas se recusavam a aceitar modelos não-quantificáveis e, portanto, não conseguiram
criar uma ciência baseada no comportamento dos empreendedores. Isso foi o que acabou
levando o universo do empreendedorismo a voltar-se para os comportamentalistas, na
constante busca do entendimento do comportamento e atitude do empreendedor, bem como na
identificação de suas principais características.
2.1.1.2 Abordagem comportamentalista sobre o empreendedorismo
Enquanto alguns analistas focam a função econômica do empreendedorismo, outros
concentram sua atenção voltada para pesquisar as características pessoais do empreendedor. O
behaviorismo, segundo Braghirolli et al apud Lopes (2002, p.24), “[...] é um sistema teórico
da psicologia que propõe um estudo completamente objetivo do homem, insistindo que o
comportamento (behavior) deve ser a única fonte dos dados psicológicos”. De acordo com o
autor, esta perspectiva tenta explicar o que leva o indivíduo a empreender e quais seriam as
características de personalidade, comportamento, atitudes e valores presentes nos
empreendedores de sucesso.
34
Em 1930 surgiu a linha comportamentalista sobre o empreendedorismo e, segundo
Filion (1999a), um dos primeiros autores desse grupo a mostrar interesse pelos
empreendedores foi Max Weber, em 1930, que identificou o sistema de valores como
elemento fundamental para a explicação do comportamento empreendedor. “Ele via os
empreendedores como inovadores, pessoas independentes cujo papel de liderança nos
negócios inferia uma fonte de autoridade formal” (FILION, 1999a). Entretanto, David
McClelland foi quem realmente deu início à contribuição das ciências do comportamento para
o empreendedorismo.
Segundo Filion (1999a, 2000), David McClelland levado a interrogar-se sobre o
declínio relativo dos americanos em face dos soviéticos durante os anos 50, estudou a história
em busca de explicações para a existência de grandes civilizações e analisou os fatores que
explicam o apogeu e o declínio das civilizações. Concluiu que as gerações que precediam o
apogeu foram fortemente influenciadas por heróis que haviam sido personagens populares na
literatura, com os quais os jovens se identificavam e tomavam como modelo, tendendo a
imitá-los em seu comportamento. O povo treinado sob tal influência desenvolvia grande
necessidade de realização e associava essa necessidade aos empreendedores. A partir dessa
pesquisa o papel do “modelo” ocupa um papel importante no estudo do empreendedorismo
(FILION, 2000). Esta foi uma das primeiras e mais importantes pesquisa das raízes
psicológicas sobre empreendedorismo, cuja teoria foi exposta no início dos anos 60 por David
McClelland e mostrava que as pessoas que seguem carreiras semelhantes a de
empreendedores tem uma alta necessidade de realização social além de gostarem de correr
riscos, fato que as levam a desprenderem maiores esforços.
A grande contribuição desta linha de pensamento está firmada sobre a busca em
identificar as características do perfil empreendedor. Segundo Bertoglio (1998), David
McClelland, na sua pesquisa sobre perfil de empreendedores, identificou algumas
35
características constantes nos empreendedores bem sucedidos. Inicialmente foram
identificadas vinte e três características, que foram lapidadas e resumidas para quinze. Após
vários anos de estudos e análises algumas características se fundiram, outras foram
descartadas e McClelland ficou então com um conjunto de dez características, agrupadas em
três conjuntos distintos:
9 1º Grupo - Conjunto de Realização: Busca de oportunidade e iniciativa; Persistência;
Correr riscos calculados; Exigência de qualidade e eficiência; Comprometimento.
9 2º Grupo: Conjunto Planejamento: Busca de informações; Estabelecimento de metas;
Planejamento e monitoramento sistemático.
9 3º Grupo: Conjunto Poder: Persuasão e rede de contatos; Independência e Autoconfiança.
1º Grupo: Conjunto de realização
McClelland, na tentativa de descobrir a razão pela qual certas culturas tinham maior
desempenho do que outras, observou um valor que chamou de necessidade de realização. Viu
que a necessidade de realização variava de cultura para cultura, ou seja, cada cultura se
realizava com aspectos e proporções diferentes (LEITE, 2002, p.80). A necessidade de
realização leva o empreendedor a se dedicar ao trabalho constantemente, a estar sempre
motivado pela vontade de fazer aquilo que gosta, com o mesmo entusiasmo de quem está
começando tudo, naquele exato momento.
A necessidade de realização dirige a atenção de um indivíduo para que este execute, da
melhor forma possível, suas tarefas, de forma que possa atingir os seus objetivos, seja eficaz
naquilo em que se propõe a fazer, mas sempre dentro dos limites permitidos pela ética
(LEITE, 2002, p. 83). Tal necessidade leva o indivíduo a ter iniciativa, ser persistente, buscar
qualidade e eficiência, ter comprometimento e também a correr riscos moderados em busca da
36
sua realização. Essas e outras características que, segundo McClelland, formam o conjunto de
realização serão descritas a seguir:
9 Busca de oportunidades e iniciativa: esta característica envolve certas atitudes do
empreendedor, como, fazer as coisas antes do solicitado; atuar para expandir o negócio; e
aproveitar oportunidades fora do comum para iniciar um negócio (SEBRAE, 1990).
Identificar oportunidades é fundamental para quem deseja ser empreendedor, e consiste em
aproveitar todo e qualquer ensejo para observar negócios. O empreendedor de sucesso é
aquele que não se cansa de observar, na constante procura de novas oportunidades, seja no
caminho de casa, do trabalho, nas compras, nas férias, lendo revistas, jornais ou vendo
televisão. Além de identificar as oportunidades, o empreendedor deve ter iniciativa, que é a
capacidade de se antecipar às situações, agindo de maneira oportuna e adequada sobre a
realidade, apresentando soluções e influenciando os acontecimentos. Sem iniciativa não pode
haver empreendimento e sem vontade e persistência não se pode atingir o sucesso.
“A oportunidade é uma ‘criatura’ amistosa e muitas vezes imperceptível. Perigosa,
somente quando ignorada pelos empreendedores. Ela precisa ser protegida, explorada,
preservada, dinamizada e aumentada” (LEITE, 2001, p.92). Segundo Degen (1989, p.21),
existem fórmulas para identificar oportunidades. A oportunidade pode aparecer através da
identificação de necessidades, da observação de deficiências (quando se percebe que algo
pode ser melhorado ou modificado), da observação de tendências, da derivação da ocupação
atual (quando destina um produto ou serviço para uma finalidade que deriva da de origem),
procura de outras aplicações (quando procura outras finalidades para um produto ou serviço),
exploração de hobbies, lançamento de moda, e imitação do sucesso alheio.
O processo de identificação de oportunidades, segundo Longhini & Sachuk (2000)
não consiste apenas no estudo visando a colocação de um produto ou serviço novo no
mercado, ou ocupar um segmento que ninguém tenha pensado, mas também na redução de
37
custos, na melhoria da qualidade ou mesmo em oferecer serviços mais rápidos que os da
concorrência. Oportunidade, pode ser vista então, como a soma de uma necessidade (seja
individual, grupal ou da sociedade) com as condições de satisfazê-la (condições ambientais,
econômicas, sociais etc). Birley e Muzyka (2001) coloca que a capacidade empreendedora
envolve a identificação de oportunidades e a agregação de valor, podendo ser encontrada
tanto no setor público, quanto no privado ou em qualquer tipo de organização. Isso leva à
reflexão de que além do empreendedor ter a capacidade de detectar uma oportunidade ele
deve ser capaz de colocar um adicional ou diferencial, para agregar valor ao produto ou
serviço.
9 Persistência: ser persistente significa agir diante de um obstáculo significativo; agir
repetidamente ou mudar de estratégia, a fim de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo;
e assumir responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário ao atingimento de metas e
objetivo (SEBRAE, 1990). Persistência é a energia que leva o empreendedor a agir de
diferentes formas até alcançar aquilo que deseja. Tendo definido claramente seus objetivos e
metas, o empreendedor aprende com seus fracassos, reformula estratégias e persiste no seu
desejo, até ser alcançado. A persistência não deve ser confundida com a teimosia, pois o
indivíduo teimoso busca alcançar seus objetivos sempre utilizando as mesmas estratégias,
mesmo que não estejam dando certo. Já o persistente não desiste dos objetivos, mas busca
alcançá-los de formas diferentes, ou seja, uma vez que uma estratégia não tenha dado certo ele
muda a estratégia e começa tudo de novo, até conseguir atingir o esperado.
9 Correr riscos calculados: essa característica significa que o empreendedor é capaz de
avaliar alternativas e calcular riscos deliberadamente; agir para reduzir riscos ou controlar
resultados; e colocar-se em situação que implicam desafios ou riscos moderados (SEBRAE,
1990). Segundo Degen (1989), os riscos fazem parte de qualquer atividade e o sucesso do
empreendedor está na sua capacidade de conviver com eles e sobreviver a eles. Para isso é
38
preciso aprender a administrá-los. O empreendedor não é malsucedido nos seus negócios
porque sofre revezes, mas porque não sabe superá-los. Os riscos, por sua vez, podem ser, se
não eliminados, reduzidos pelo planejamento inicial do negócio. A elaboração de um bom
plano de negócios permite ao empreendedor levantar os possíveis riscos que pode obter no
decorrer da vida do seu empreendimento e procurar uma solução previamente. Conseguir
identificar os riscos previamente e antecipar-se a eles, buscando minimizá-los, é a melhor
maneira de o empreendedor administrá-los.
9 Exigência de qualidade e eficiência: com isso o empreendedor encontra maneiras de
fazer as coisas melhor, mais rápido, ou mais barato; age de maneira a fazer as coisas que
satisfazem ou excedem padrões de excelência; e desenvolve ou utiliza procedimentos para
assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda padrões de
qualidade previamente combinados (SEBRAE, 1990). O empreendedor busca sempre fazer as
coisas da melhor forma possível, para que seja bem aceito pelo seu público-alvo. “Faz parte
do perfil do empreendedor a busca constante pela excelência na qualidade de seus produtos e
serviços, da economia de tempo e recursos e do envolvimento e desenvolvimento da sua
equipe de trabalho” (PATI, 1995, p.50). Para ele, é essencial estar constantemente buscando
maneiras de realizar tarefas com maior rapidez, menor custo e maior qualidade, já que o
empreendedor geralmente se destaca pelo nível de qualidade mais alto de seus trabalhos,
resultado de seus padrões de excelência e energia para trabalhar duro.
9 Comprometimento: o comprometimento, que é uma forte característica do
empreendedor, implica em fazer um sacrifício pessoal ou despender um esforço
extraordinário para completar uma tarefa; colaborar com os empregados ou se colocar no
lugar deles se necessário para terminar um trabalho; e se esmerar em manter os clientes
satisfeito, colocando em primeiro lugar a boa vontade a longo prazo, acima do lucro a curto
prazo (SEBRAE, 1990). O empreendedor se compromete profundamente com seu
39
empreendimento e possui também o autocomprometimento, o que faz com que ele assuma
responsabilidades consigo mesmo. Quando inicia uma tarefa vai até o fim, mesmo que para
isso tenha que fazer alguns sacrifícios ou sacrificar a própria família, quanto a ausência e a
falta de tempo.
2º Grupo: Conjunto de planejamento
Neste conjunto o indivíduo apresenta um grupo de características que estão voltadas a
levá-lo a pensar a respeito do empreendimento. No início ele busca informações sobre
clientes, concorrentes, fornecedores, modelo de produção ou de execução de um serviço,
formas administrativas, contábeis e jurídicas. Estabelece metas de longo prazo que sejam
claras, realistas e específicas. A partir de então, planeja as divisões de tarefas e mantém um
monitoramento sistemático, comparando os resultados obtidos com aqueles que foram
inicialmente esperados. A características que, segundo McClelland, formam esse conjunto
serão descritas mais profundamente a seguir:
9 Busca de informações: o empreendedor dedica-se pessoalmente a obter informações de
clientes, fornecedores e concorrentes; investiga pessoalmente como fabricar um produto ou
proporcionar um serviço; e consulta especialistas para obter assessoria técnica ou comercial
(SEBRAE, 1990). A informação é uma arma muito utilizada hoje em dia para sobressair-se no
mercado. Empreendedor que se preze deve estar sempre atualizado sobre as últimas
tendências do mercado, os mais novos conceitos de gestão, os líderes empresariais mais
comentados, enfim, ele deve conhecer o mercado como um todo. Para planejar a futura
empresa é preciso ter informações diversas sobre oportunidades de mercado, futuros clientes,
custos e preços, tributos e taxas, custos de abertura e de legalização da nova empresa,
concorrentes, fornecedores e linhas de financiamentos, entre outras (SANTOS, 1995, p.24).
Com essas informações em mãos, ele terá muito mais recursos para liderar pessoas, elaborar
40
estratégias e poder lançar-se com muito mais firmeza no novo empreendimento. Buscar e
reunir tais informações vai exigir um esforço pessoal do empreendedor.
Com o auxílio da internet e o advento da globalização, é possível ter acesso a uma
gama de informações sem sair de casa, como notícias, balanços financeiros de empresas,
cotações e índices financeiros, entre outras informações estratégicas de mercado. Uma boa
alternativa na internet são as listas de discussão, que funcionam como fóruns sobre temas
específicos, onde os participantes trocam informações e contatos entre si, além de se formar
uma rede de contatos atuante no mercado. Possibilidades de negócios, parcerias e amizades
podem se formar, e isso sem dúvida é muito importante para o empreendedor que está
começando e precisa trocar idéias com pessoas do mercado. Deve-se tomar cuidado com o
excesso de informação, que é tão prejudicial quanto a falta de informação. Para Sheedy
(1996) as informações devem ser atuais, fatuais e precisas, além do que precisam ser
gerenciadas, monitoradas e avaliadas a fim de identificar aquelas que são realmente
importantes para a empresa e das quais a empresa necessita. Assim, é necessário manter-se
informado, mas também filtrar as informações, colocando de lado o excesso e extraindo o que
é realmente importante.
9 Estabelecimento de metas: essa característica envolve certas atitudes do empreendedor,
como: estabelecer metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado pessoal; definir
metas de longo prazo, claras e específicas; e estabelecer objetivos de curto prazo mensuráveis
(SEBRAE, 1990). O empreendedor sabe exatamente o que quer, por quê quer, quando quer e
como fazer para conseguir, ou seja, sabe onde quer chegar e o caminho para chegar lá. Sabe
fixar metas e alcançá-las. Luta contra padrões impostos. Diferencia-se. Tem a capacidade de
ocupar um espaço não ocupado por outros no mercado, descobrir nichos. É orientado para os
resultados, para o futuro a longo prazo.
41
Estabelecer metas não significa fechar-se em um esquema rígido que impede de ver
novas oportunidades. Significa apenas pensar profundamente no que se deseja da empresa e
para a empresa e depois dirigir o tempo e energia para alcançá-lo. Segundo Sheedy (1996,
p.46) as metas devem fazer sentido e serem lógicas; devem valer o esforço; devem ser
claramente definidas, concisas e específicas; devem estimular e manter o apoio do pessoal;
devem exigir que se faça alguma coisa a mais do que está sendo feito no momento; devem ser
priorizadas; atingíveis, pois metas inatingíveis podem causar frustração; e mensuráveis.
9 Planejamento e monitoramento sistemático: através dessa característica, o
empreendedor é capaz de dividir tarefas de grande porte em sub-tarefas com prazos definidos;
revisar seus planos constantemente levando em conta os resultados obtidos e mudanças
circunstanciais; e mantém registros financeiros, os utilizando para tomar decisões (SEBRAE,
1990). O empreendedor tenta antecipar situações e preparar-se para elas. É alguém com
capacidade de observação e de planejamento. Capacidade para mapear o meio ambiente,
analisar recursos e condições existentes, buscando estruturar uma visão de longo prazo dos
rumos a serem seguidos para se atingir os objetivos. O empreendedor faz um planejamento
através da elaboração do plano de negócios do seu empreendimento. Com esse documento
consegue avaliar o negócio, monitorar através de um acompanhamento sistemático e
comparativo, e consegue atrair investidores para o seu projeto, ou seja, buscar recursos
financeiros.
3º Grupo: Conjunto de poder
O conjunto de poder envolve o desejo de estar próximo dos outros, construindo sólidas
amizades e edificando bons relacionamentos. Envolve a necessidade que pessoas têm de
influenciar ou dominar outras pessoas com as quais convive. É a necessidade de convencer as
outras pessoas sobre determinada opinião. Envolve também a independência e autoconfiança,
42
através da qual o empreendedor busca sua autonomia, baseado na confiança em sua própria
capacidade. As características que, segundo McClelland, formam o conjunto de realização
serão descritas a seguir:
9 Persuasão e rede de contatos: com tal característica ele utiliza estratégias deliberadas
para influenciar ou persuadir os outros; utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus
próprios objetivos; e age para desenvolver e manter relações comerciais (SEBRAE, 1990). O
empreendedor busca ampliar sua rede de relações e manter contato constante com todos os
membros, pois nunca se sabe quando irá precisar deles. Vê nas pessoas uma das suas mais
importantes fontes de aprendizagem, e não se prende, somente a fontes reconhecidas, como
autores da literatura, cursos, profissionais especialistas etc. Busca tirar das pessoas
informações, aconselhamentos, experiências já vividas (para não cometer os mesmos erros),
obter parcerias, influências etc. O empreendedor é capaz de aprender através da assimilação
de experiências de pessoas comuns como ele.
Segundo Dolabela (1999a), ele tem um alto grau de internalidade, o que significa a
capacidade de influenciar ou persuadir as pessoas com as quais lida e a crença de que pode
mudar algo no mundo. Ele tem a capacidade de manter uma boa convivência e interação com
outras pessoas, dentro e fora da empresa. “Empresários de sucesso são influenciados por
empreendedores do seu círculo de relações (família, amigos) ou por líderes ou figuras
importantes, tomadas como ‘modelos’ (DOLABELA, 1999a, p.33). É por isso que pessoas
empreendedoras procuram manter contato com o máximo de pessoas possível, de todo o tipo
e ramo de mercado. Ele tece redes de relações (contatos, amizades) moderadas, mas utilizadas
intensamente como suporte para alcançar os seus objetivos. Segundo Debelak (1999), para
manter um relacionamento firme e contínuo com toda a rede de relação é importante que o
empreendedor mostre que: 1º) possui sensibilidade, que precisa da ajuda e experiência de
todos; 2º) tem perseverança – dedica tempo e esforço para idéia; 3º) está aberto a sugestões;
43
4º) luta contra os problemas de forma aberta e transparente; 5º) precisa do envolvimento de
todos. A rede de relações interna (com sócios, colaboradores) é para ele mais importante que a
externa, pois é através dos membros da organização que ele consegue alcançar os seus
objetivos.
9 Independência e Autoconfiança: o empreendedor busca autonomia em relação a normas
e controles de outros; mantém seu ponto de vista mesmo diante da oposição ou de resultados
desanimadores; e expressa confiança na sua própria capacidade de completar uma tarefa
difícil ou de enfrentar um desafio (SEBRAE, 1990). A iniciativa é uma característica que leva
o empreendedor a trocar a segurança do assalariado pelo risco de um negócio próprio, em
busca da sua independência e realização. Autoconfiança é ter consciência de seu valor, sentir-
se seguro em relação a si mesmo e, com isso, poder agir com firmeza e tranqüilidade. O
empreendedor tem auto-confiança, isto é, acredita em si mesmo. Se não acreditasse, seria
difícil para ele tomar a iniciativa. A crença em si mesmo faz o indivíduo arriscar mais, ousar,
oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras, enfim, torna-o mais empreendedor. O
empreendedor precisa soltar as amarras e, sozinho, determinar seus próprios passos, abrir seus
próprios caminhos, decidir o rumo de sua vida, enfim, ser seu próprio patrão.
Durante 20 anos os comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo,
com grande quantidade de pesquisas e publicações procurando definir o que é o
empreendedor e suas características. Os comportamentalistas predominaram até no início dos
anos 80 e um considerável esforço foi e continua sendo empregado para entender as diversas
fontes psicológicas e sociológicas que estão no perfil do empreendedor. Inúmeras publicações
descrevem uma série de características pessoais atribuídas aos empreendedores, que foram
resumidas por Filion (1999a) e podem ser analisadas no quadro que segue:
44
Quadro 2: Características mais freqüentes dos empreendedores – visão dos comportamentalistas
CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES
Inovação Otimismo Tolerância à ambiguidade e à incerteza
Liderança Orientação para resultados Iniciativa
Riscos moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem
Independência Habilidade para conduzir
situações
Habilidade na utilização de recursos
Criatividade Necessidade de realização Sensibilidade a outros
Energia Autoconsciência Agressividade
Tenacidade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas
Originalidade Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de desempenho
Fonte: Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons(1978) apud FILION, Louis Jaques.
Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. Revista de
Administração. Universidade de São Paulo (USP). V. 34, n. 2, p. 05-28, abril/junho, 1999(a).
Filion (1999a) traz as características mais freqüentemente atribuídas aos
empreendedores e que estão em consenso entre os estudiosos da área, como Ayres et a (2001),
Barros et al (2001), Leite (2001;2002), Birley e Muzyka (2001), Dornelas (2001), Morais
(2000), Dolabela (1999a,b), Degen (1989), Pichott III (1989), Drucker (1986), entre outros e
ele próprio. Em adição, tais estudiosos comentam sobre uma determinada característica, que
não é universalmente aceita, que é o fato do empreendedor ser inato, ou seja, tratar o fator
genético como agente tipificador do empreendedor. Este estudo quando tomado como um
todo é, muitas vezes, conflituoso e inconcluso.
Apesar de tantos estudos realizados e pesquisas sendo desenvolvidas não é totalmente
possível traçar um perfil psicológico absolutamente científico e exato do empreendedor, pois
segundo Filion (2000, p.18) “as pessoas mudam segundo os contextos e as circunstâncias às
quais são expostas: os perfis de comportamento não são necessariamente estáticos”. Existem
inúmeras variáveis que influenciam na formação, e assim, o perfil empreendedor certamente
será diferente em função do tempo que está no mercado. Também influencia a experiência de
trabalho, a região de origem, o nível de educação, a religião, a cultura familiar (DOLABELA,
1999b). Portanto, não é possível avaliar um indivíduo e afirmar se ele será ou não bem-
sucedido como empreendedor. O que se pode analisar é se ele tem ou não algumas
características e aptidões mais comumente encontradas em empreendedores bem-sucedidos, o
45
que permite ao indivíduo avaliar e identificar as características que precisam ser aperfeiçoadas
ou desenvolvidas.
2.1.1.3 Abordagens pós-comportamentalistas sobre o empreendedorismo
Muitos são os autores que desenvolveram e muitos os que continuam desenvolvendo
estudos a fim de conceituar o termo empreendedorismo. Apesar de ter sido mencionado há
séculos, o empreendedorismo como campo de estudo acadêmico é bastante jovem. Segundo
Dolabela (1999a), o termo só começou a ser explorado em maior profundidade há mais ou
menos 20 anos. Foi nos anos 80 que o campo do empreendedorismo cresceu e espalhou-se por
quase todas as ciências humanas e gerenciais. Os primeiros doutorados surgiram nos anos 80
e a grande maioria dos interessados vinham de outras áreas de estudo, nas quais
empreendedorismo não era o principal campo de atividade (FILION, 1999a). Cooper et al
(2000), faz um relato do desenvolvimento acadêmico do empreendedorismo. Ele coloca que
Myles Mace ofereceu o primeiro curso em empreendedorismo, “Management of New
Enterprise”, para a Harvard Business School em 1947. Peter Drucker começou um curso em
Empreemdedorismo e Inovação para a New York University em 1953.
Patrocinada pelo Center for Venture Management, a primeira conferência acadêmica
de pesquisa em empreendedorismo nos Estados Unidos foi realizada em Purdue University
em 1970. Na Academy of Management, em 1974, Karl Vesper realizou um encontro
organizacional para aqueles interessados em empreendedorismo. O encontro conduziu a
formação de um Grupo de Interesse em Empreendedorismo, inicialmente parte da Divisão de
Negócios Políticos e Planejamento. Este grupo não atingiu status máximo como uma divisão
independente da Academy of Management até 1987. A primeira Conferência Internacional na
pesquisa de empreendedorismo foi realizada em Toronto em 1973. Ao mesmo tempo, havia
46
um esforço para organizar uma nova organização profissional, a Society for Entrepreneurship
Research and Application (SERA). Esta sociedade, nunca progrediu além da original lista de
42 membros (COOPER et al, 2000).
Em 1975, o Simpósio Internacional de Empreendedorismo e Desenvolvimento de
Empreendedorismo teve lugar em Cincinati, com a ambição de atrair participantes de todos os
lados do mundo. O Babson College fez o principal papel no início do desenvolvimento do
campo de empreendedorismo, pois estabeleceu a Academy of Distinguished Entrepreneurs,
em 1978, para reconhecer a classe de empreendedores no mundo (World-class entrepreneurs).
Esta se tornou um protótipo de outros programas para reconhecer empreendedores, seus
talentos e suas realizações, incluindo a Ernst & Young Entrepreneur of the Year Awards, a
National Federation of Independent Business, entre outras. Outra importante iniciativa foi o
Small Business Intitute Program, que iniciou em 1972 na Texas Tech University e
providenciou suporte para universidades que tinham cursos na consultoria para pequenos
negócios. Este programa se desenvolveu rapidamente, com 396 universidades participando
em 1976 (COOPER et al, 2000).
Segundo Dolabela (1999a), os cursos na área vem aumentando em volume e
velocidade surpreendente: em 1975, nos EUA, havia cerca de 50 cursos, já hoje há mais de
mil, em universidades e escolas de segundo grau, ensinando empreendedorismo. Mais de 100
universidades têm estabelecido centros de empreendedorismo que servem como pontos para
pesquisas e programas de discussão do tema (COOPER et al, 2000). Ao final dos anos 80 o
empreendedorismo se tornou um tema de estudos em quase todas as áreas de conhecimento,
havendo em quase todas elas uma excepcional diversidade conceitual. O quadro 3 a seguir
mostra as diversas áreas pelas quais o estudo do empreendedorismo se propagou.
47
Quadro 3: Temas principais da pesquisa sobre empreendedorismo
Características comportamentais dos empreendedores
Características econômicas e demográficas das PME
Empreendedorismo e PME nos países em desenvolvimento
Características gerenciais dos empreendedores
Processo empreendedor
Criação de empresas
Desenvolvimento de empresas
Capitais de risco e financiamento das PME
Administração de empresas, levantamento, aquisições
Empresas de alta tecnologia
Estratégias de crescimento da empresa empreendedora
Parceria estratégica
Empreendedorismo corporativo ou “intra-empreendedorismo”
Empresas familiares
Trabalho autônomo
Incubadoras e sistemas de apoio ao empreendedorismo
Redes
Fatores que influenciam a criação e o desenvolvimento de empresas
Políticas governamentais e criação de empresas
Mulheres, grupos minoritários, grupos étnicos e o empreendedorismo
Educação empreendedora
Pesquisa e empreendedorismo
Estudos culturais comparativos
Empreendedorismo e sociedade
Franquias
Fonte: Filion (1997, p. 142) apud FILION, Louis Jaques O empreendedorismo como tema de Estudos
Superiores. In: Empreendedorismo: Ciência, Técnica e Arte. Instituto Euvaldo Lodi. Brasília: CNI. IEL
Nacional, 2000, 100 págs. p. 15-42, (p.20).
Esse quadro mostra o quão variável está o estudo do empreendedorismo e que ainda há
um campo vasto a ser estudado a respeito do tema. Na medida em que se lê os itens do quadro
novos temas de pesquisa vão surgindo, como por exemplo, empreendedorismo na saúde,
empreendedorismo artesanal, empreendedorismo artístico, empreendedorismo esportivo, alto
índice de criação de empresas versus alto índice de mortalidade de empresas, relação entre
mortalidade e perfil empreendedor, etc. Cooper et al (2000) coloca que não se pode deixar de
mencionar que o estudo do empreendedorismo foi inicialmente realizado com estudos de
pequenos negócios e criação de novos empreendimentos, mas se desenvolveu para incluir
uma larga população de firmas, incluindo organizações sólidas procurando se revitalizar. O
empreendedorismo é um dos poucos assuntos que atraem especialistas de diversas áreas de
conhecimento, gerando uma falta de consenso e, portanto, uma confusão na definição e
conceituação do termo.
48
Apesar de serem vários os estudiosos da área - economistas, administradores,
sociólogos, psicólogos, entre outros – e talvez seja este o motivo, há ainda muita discórdia
com relação ao tema. “Vários tentaram teorizar em torno do fenômeno, mas não existe ainda
nenhuma teoria econômica sobre o empreendedor que reúna consenso, nem modelo
econômico que explique o desenvolvimento a partir da função empreendedora, pois está é
dificilmente quantificável” (FILION, 2000, p.18). Pesquisadores de diversas áreas tendem a
perceber e definir empreendedores usando premissas de suas próprias disciplinas. Assim, a
confusão do que vem a ser empreendedor tende a se diluir e as semelhanças aparecerem na
medida em que se analisa cada disciplina separadamente.
2.2 CONCEITUAÇÃO DE EMPREENDEDORISMO E EMPREENDEDOR
Nos estudos e pesquisas realizados sobre o fenômeno do empreendedorismo observa-
se que não há consenso entre os estudiosos e pesquisadores a respeito da exata definição do
conceito de empreendedor. Isto é decorrente da amplitude de disciplinas envolvidas no campo
do empreendedorismo. Os estudiosos das diversas linhas de estudo definem o termo, dando
perspectivas condizentes com sua área de atuação e, portanto, empreendedorismo se torna um
conceito com uma ampla definição.
Empreendedorismo, na visão de Dolabela (1999b, p.43), “é um neologismo derivado
da livre tradução da palavra entrepreneurship e utilizado para designar os estudos relativos ao
empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação”.
Para o autor, a palavra empreendedor é usada para designar aquele que se dedica à geração de
riquezas, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do
próprio conhecimento ou na inovação em áreas como marketing, produção, organização etc.
Pode representar um indivíduo que cria uma empresa, uma pessoa que trabalha de forma
49
autônoma ou que gera seu próprio trabalho, empregados que inovam (intraempreendedores),
ou uma “pessoa que compra uma empresa e introduz inovações, assumindo riscos, seja na
forma de administrar, vender, fabricar, distribuir, seja na forma de fazer propaganda dos seus
produtos e/ou serviços, agregando novos valores” (DOLABELA, 1999a, p.29; 1999b, p.69).
Cooper et al (2000, p.115), diz que “entrepreneurship will be considered both as it relates to
new venture creation and as it relates to making existing organizations more flexible and
innovative”.
Segundo Schumpeter, o empreendedor é o “motor da economia”, um agente de
mudanças. Ele associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao
aproveitamento de oportunidades em negócios. Diz que empreendedorismo consiste em fazer
coisas que, geralmente, não são feitas no curso ordinário dos negócios, ou seja, inovar
(SHUMPETER apud KURATKO & HODGETTS, 2001, p.29). Para Schumpeter,
empreendedorismo é, na verdade, uma força revolucionária solta no mundo, que vem
transformando tudo num passo que, a cada instante, excede tudo o que até então foi pensado.
É o agente que rompe com velhos hábitos, para gerar respostas novas às carências e desejos
do mercado (LEITE, 2002). Kennedy (1989 apud PASTRO 2001, p.129) na mesma visão,
caracteriza o empreendedor como aquele que inova e gera riquezas com resultados
econômicos.
Filion (1991; 1999a), na sua abordagem visionária, define empreendedor como uma
pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões. Segundo ele, esta definição é um resumo que
contém os elementos essenciais de uma definição mais ampla que diz:
O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e
atingir objetivos e que mantém alto nível de consciência do ambiente em que vive,
usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a
aprender a respeito de possíveis oportunidade de negócios e a tomar decisões
moderadamente arriscadas que objetivam a inovação, continuará a desempenhar um
papel empreendedor (FILION, 1999a, p.19).
50
Para Filion (1999a) esta definição engloba as principais características do
empreendedor presente na literatura. Envolve criatividade, estabelecimento e cumprimento
dos objetivos e metas (o que inclui tenacidade, internalidade e também criatividade),
conhecimento do mercado e capacidade de detectar oportunidades nele presentes, processo de
aprendizagem constante e busca de informações, tomar riscos moderados, capacidade de
contribuir com algo novo e diferente para o desenvolvimento econômico, ou seja, capacidade
de inovação, como já dizia Say e, mais tarde, Schumpeter. Filion (1999b) diz que para ser
empreendedor exige-se três requisitos básicos: dirigir uma empresa; mantê-la continuamente
obtendo lucros elevados e; inovar, seja em produtos, serviços, processos, mercado, etc.
Indo de acordo com o pensamento de Filion, Pinchott III (1989, p.xi), diz que
entrepreneur são todos os sonhadores que realizam. São aqueles que assumem a
responsabilidade pela criação de inovações de qualquer espécie. Ele pode ser o criador ou o
inventor, mas é sempre o sonhador que concebe como transformar uma idéia em uma
alternativa lucrativa. O centro para empreendedorismo Arthur M. Blank, do Babson College,
define empreendedorismo como “uma maneira de pensar e agir que é obcecada pela
oportunidade, holística na abordagem e balanceada na liderança” (apud GIMENEZ et al,
2001, p. 11). Caracterizam o empreendedorismo como o ato de identificar uma oportunidade
sem levar em consideração os recursos correntemente disponíveis e agir sobre esta com o
propósito de criação de riqueza, seja no setor público, privado, político, econômico ou global.
Para Drucker (1987), empreendedorismo não é arte nem ciência, mas sim uma prática
e uma disciplina. Considera o empreendedorismo como a) a prática de empreender (o ato, a
ação árdua, criativa, difícil e arrojada), e o resultado (efeito) dessa prática (a empresa, o
cometimento, o negócio). Relaciona empreendedorismo com inovação, dizendo que os
empreendedores são pessoas que inovam. Para ele a inovação é o instrumento específico dos
empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um
51
negócio ou serviço diferente. Caracteriza o empreendedor como alguém que funda uma
empresa ou amplia os negócios de uma empresa já existente. Apresenta três traços
importantes na formação do perfil desse personagem: a criatividade, a insatisfação com o
status quo e a determinação pessoal. Para Drucker, o empreendedor sempre está buscando a
mudança, reage a ela e a explora como sendo uma oportunidade.
Muzyka & Churchill (2001), também relaciona inovação com oportunidade de
negócio quando coloca que “a essência da capacidade empreendedora é a identificação e a
captura do valor de mercado, com base no encontro da inovação com uma necessidade”.
Pode-se dizer então que quando a necessidade de mercado é detectada pelo empreendedor,
logo ele introduz uma inovação que a transforma em uma ótima oportunidade de negócio.
Segundo Logen (1997), Low e MacMillan acreditam que, os "empreendedores são
indivíduos que tomam iniciativa, identificam e criam oportunidades de negócios, através da
reunião e coordenação de combinações de novas pesquisas". Amit, segundo a autora, coloca
que “os empreendedores são indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de
negócios, montam e coordenam novas combinações de recursos (funções de produção) para
extrair os maiores benefícios de suas inovações”. Leite (2002, p.15) concorda, dizendo que
“ser empreendedor significa ter capacidade de iniciativa, imaginação fértil para conceber
idéias, flexibilidade para adaptá-las, criatividade para transformá-las em uma oportunidade de
negócio, motivação para pensar conceptualmente, e a capacidade para ver, perceber a
mudança como uma oportunidade”. Empreendedores são cidadãos que utilizam sua
capacidade de percepção e suas habilidades em prol da sociedade, criando valor, riquezas e
postos de trabalho.
Ser empreendedor é ter uma clara visão dos seus objetivos e saber a direção certa e
oportuna para alcançá-los. Ele precisa saber que caminho pegará para transformar suas idéias
em produção. Para atingir esse objetivo, o empreendedor precisa seguir um modelo
52
estratégico para o sucesso. Terá que descobrir algo que diferencie o seu negócio dos outros,
procurando, dentre outras coisas, segundo Abrecht (apud LEITE, E.F., 2001) “formular uma
visão baseada na realidade; definir os valores centrais e a filosofia de sua empresa; criar uma
declaração da missão da empresa que seja precisa, concisa e inspiradora; avaliar um conceito
unificado para criar valor para seus clientes”.
Filion (1999b, p.12) coloca que uma confusão reina no campo do empreendedorismo
porque não há consenso a respeito do empreendedor e das fronteiras do paradigma. Mas,
observa no entanto que, o empreendedorismo é um dos raros assuntos que atraem
especialistas de grande variedade de disciplinas, e que talvez seja por isso que a abrangência
das definições seja tão grande. Ele diz que se forem comparadas as definições dadas por
especialistas de uma mesma área, o consenso é encontrado de forma surpreendente, como
mostra o quadro 4.
Quadro 4: Definições de empreendedor de acordo com especialistas de áreas distintas.
ESPECIALISTAS DEFINIÇÕES ATRIBUÍDAS AO EMPREENDEDOR
Economistas Os empreendedores estão associados à inovação e são vistos como forças
que motivam o desenvolvimento econômico.
Comportamentalistas Atribuem aos empreendedores as características de criatividade,
persistência, internalidade (capacidade de influenciar e controlar
comportamentos de outras pessoas) e liderança.
Engenheiros e especialistas em
gerenciamento de operações
Vêem os empreendedores como bons distribuidores e coordenadores de
recursos.
Especialistas em finanças Definem os empreendedores como pessoas capazes de calcular e medir
riscos.
Especialistas em gerenciamento Consideram os empreendedores como organizadores competentes que
desenvolvem linhas mestras ou visões em torno das quais organizam suas
atividades, destacando-se em organizar e fazer uso de recursos.
Especialistas na área de marketing Os empreendedores são pessoas que identificam oportunidades, se
diferenciam dos outros e têm o pensamento voltado para o consumidor.
Interessados no estudo da criação de
novos empreendimentos
Os melhores elementos para prever o sucesso de um empreendedor são o
valor, a diversidade e a profundidade da experiência e das qualificações
adquiridas por ele no setor em que pretende operar.
Fonte: Elaborado com base em FILION, Louis Jaques. Diferenças entre sistemas gerenciais de
empreendedores e operadores de pequenos negócios. Revista de Administração de Empresas. São Paulo:
FGV. V. 39, n. 4, p. 6-20, outubro/dezembro 1999(b), p.12.
Como mostra o quadro 4, os economistas associam os empreendedores à inovação; os
comportamentalistas à criatividade, persistência, internalidade e liderança; os engenheiros, à
coordenação de recursos; os especialistas em finanças associam o empreendedor à capacidade
53
de calcular riscos; os especialistas em gerenciamento, à visão e planejamento; os especialistas
em marketing, à identificação de oportunidades, diferenciação e conquista de clientes; e, os
voltados à criação de novas empresas, ao valor, diversidade e à experiência no setor que
pretende atuar. Desta forma, pode-se perceber que para cada especialidade, a figura do
empreendedor é definida de forma diferente, baseada nos conceitos utilizados pelo campo de
atuação. E que, ao englobar todas as definições, o empreendedor assume um conceito amplo
e, ao mesmo tempo, profundo, como um indivíduo atuando perfeitamente no mercado.
Baseado na evolução do termo empreendedorismo e examinando as várias definições a
ele atribuídas, Robert C. Ronstadt formulou uma descrição resumida, dizendo que:
entrepreneurship is the dynamic process of creating incremental wealth. This wealth
is created by individuals who assume the major risks in terms of equity, time, and/or
career commitment of providing value for some product or service. The product or
service itself may not be new or unique but value must somehow be infused by the
entrepreneur by securing and allocating the necessary skills and resources (apud
KURATKO & HODGETTS, 2001, p.29).
O empreendedor para fazer seu negócio prosperar, além das suas habilidades e
capacidades, precisa ser ético nos negócios, preocupar-se com a qualidade do produto mas
também com a qualidade de vida do cliente, buscar e dominar informações a respeito,
entender os anseios do cliente e, sobretudo, preservar o meio ambiente. “A responsabilidade
social do empreendedor e da sua empresa na perseverança do meio ambiente e os próprios
efeitos do consumo de seus produtos na saúde dos seus clientes são fatores que terão, cada vez
mais, peso na decisão do empreendedor” (SANTOS, 1995, p.21). Responsabilidade ética e
social com relação à melhoria na qualidade do produto, melhoria na qualidade de vida do
funcionário e do cliente e melhoria na qualidade ambiental são fatores que condicionam a
ação empreendedora e devem estar sempre em pauta na discussão a respeito do
empreendedorismo.
O empreendedor precisa ter sempre em mente o realismo, não criando expectativas
que fujam dele. Precisa buscar oportunidades indo ao encontro das necessidade dos clientes
54
potenciais e não tentar impor suas idéias e consequentemente seus produtos. Precisa
desenvolver aptidões de gestão e marketing do seu negócio, pois o sucesso de um negócio não
é decorrente apenas de uma idéia genial. Ele não deve tentar enriquecer rapidamente, mas sim
canalizar os lucros para a expansão e enriquecimento do negócio. Assim, vagarosamente, se
vai ao longe; começar pequeno com objetivos grandes, ser persistente, corajoso e não se
desviar do seu conhecimento é, sobretudo, acreditar que é possível ir além dos limites
(LEITE, E.F.2001, p.91; 2002, p.23). O empreendedor acredita num mundo sem fronteiras de
tempo e espaço, no qual as idéias, as informações e o conhecimento podem ir e vir livremente.
Embora nos estudos e pesquisas relacionados com o empreendedor haja muitas
diferenças e disparidades a respeito das exatas definições, pode-se perceber que há um
consenso entre os estudiosos de que, o que distingue o empreendedor das outras pessoas é a
maneira como este percebe a mudança e lida com as oportunidades. Dentro desse contexto, o
conceito de empreendedor adotado neste estudo é de que o empreendedor é uma pessoa que
persegue, identifica e cria oportunidades de negócio, planeja, monta e coordena novas
combinações de recursos (materiais, humanos, financeiros, mercadológicos,etc.), trabalha
individual e coletivamente, objetivando extrair os melhores benefícios de suas inovações num
meio incerto.
2.3 O PERFIL EMPREENDEDOR
Embora se tente categorizar um perfil empreendedor, os empreendedores não
representam um grupo homogêneo, pois assumem muitas formas diferentes, cada um com
suas características próprias. Manfred Kets de Vries (2001) detalha as características únicas e
algumas vezes aberrantes que formam o empreendedor. Diz que “os empreendedores parecem
ser orientados para a realização, gostam de assumir responsabilidades por suas decisões e não
55
gostam de trabalho repetitivo e rotineiro”. Faz uma abordagem aos empreendedores criativos,
colocando que eles possuem altos níveis de energia e altos graus de perseverança e
imaginação que, combinados com a disposição para correr riscos moderados e calculados, os
capacitam a transformar o que freqüentemente começa como uma idéia simples e mal definida
em algo concreto. Para o autor, os empreendedores geram um entusiasmo contagiante dentro
da organização e transmitem um senso de propósito e determinação. Sabem como liderar uma
organização e dar-lhe impulso e, por isso, representam a força motriz da economia, a riqueza
de uma nação e seu potencial para gerar empregos.
Apesar do termo empreendedor apresentar diversos conceitos e aspectos inseridos, é
necessário que se delineie os traços de um empreendedor, para servir aos estudos das
condições que levam o empreendedor ao sucesso. O estudo do perfil do empreendedor é o
tema central das pesquisas e tem sido de grande valia para a educação na área, pois é através
do estudo das características dos empreendedores que é possível ensinar um indivíduo a ser
empreendedor ou desenvolver nele tais habilidades. O empreendedorismo é um campo que
vem sendo explorado, em profundidade, há muito pouco tempo, mais ou menos 20 anos, e
segundo Dolabela (1999a), os cursos nessa área têm-se multiplicado com velocidade
surpreendente.
Presume-se que, se uma pessoa tem características comportamentais e aptidões mais
comumentes encontradas em empreendedores bem sucedidos, terá melhores condições para
empreender. Por outro lado, apesar de não serem somente as características empreendedoras
que garantirão o pleno sucesso, sem elas a pessoa poderá encontrar dificuldades em alcançar o
sucesso empresarial. Antes de se iniciar no mundo empresarial é importante que o
empreendedor realize uma auto-avaliação, refletindo honestamente e objetivamente sobre
aspectos fundamentais de sua personalidade.
56
No estágio atual de conhecimento sobre empreendedorismo, sabe-se que ajudar os
empreendedores a identificar as características que devem ser aperfeiçoadas, é um fator muito
importante para o desenvolvimento pessoal em busca do sucesso empresarial. Hoje há na
literatura muita concordância entre os estudiosos sobre características dos empreendedores de
sucesso: traços de personalidade, atitudes e comportamentos que contribuem para alcançar o
êxito nos negócios.
Para Morais (2000, p.111), as características básicas de um empreendedor são:
magnetismo pessoal, carisma e respeito pela dignidade das pessoas, e cabe a ele ser sensível e
propiciar condições para que os subordinados tenham prazer com seu trabalho. A autora
coloca algumas atitudes relevantes para levar os empreendedores ao êxito:
Aproveitar oportunidades;
Preparar-se o tempo todo, agindo por meio da informação, considerando a
tecnologia a maior aliada, esperando sempre o melhor, usando da disciplina,
pensamento e controle para aumentar a capacidade de fazer;
Ter audácia, correr riscos;
Usar as artimanhas do mercado;
Usar do tempo, da velocidade e da inovação;
Ser bom ouvinte;
Ter potencialidade administrativa;
Ter disciplina e flexibilidade;
Conquistar dinheiro e usá-lo com disciplina, personalidade e responsabilidade para
dar continuidade a ele;
Ter sagacidade, arte de negociação;
Superar a vaidade para, só assim, gerar riquezas.
Segundo Dolabela (1999a), hoje há muita concordância entre os cientistas sobre as
características dos empreendedores de sucesso: traços de personalidade, atitudes e
comportamentos que contribuem para alcançar o êxito nos negócios. Tais características
contribuem para a identificação e compreensão do comportamento que pode levar o
empreendedor ao sucesso, servindo de base para o ensino na área. Dando sua contribuição,
57
Dolabela (1999a;b) coloca um resumo das principais característica identificadas por Timmons
(1994) e Hornaday (1982) em suas pesquisas, que podem ser analisadas no quadro 5 que
segue:
Quadro 5: Características do empreendedor segundo Hornaday (1982) e Timmons (1994)
Tem um “modelo”, uma pessoa que o influencia;
Tem iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização;
Trabalha sozinho. O processo visionário é individual;
Tem perseverança e tenacidade para vencer obstáculos;
O fracasso é considerado um resultado como outro qualquer; aprende com eles;
Tem grande energia e sabe concentrar esforços para alcançar resultados;
Sabe fixar metas e alcançá-las. Luta contra padrões impostos.
Diferencia-se e descobre nichos não ocupados por outros no mercado;
Tem forte intuição, dando mais importância para o que faz e não para o que sabe;
Tem alto comprometimento. Crê no que faz;
Cria situações para obter feedback sobre seu comportamento e sabe utilizar tais informações para seu
aprimoramento;
Sabe buscar, utilizar e controlar recursos;
É um sonhador realista, ou seja, sonha mas é racional;
É líder. Cria um sistema próprio de relação com empregados e dá liberdade;
É orientado para resultados, para o futuro, para o longo prazo;
Aceita o dinheiro como uma das medida de seu desempenho;
Tece “rede de relações” internas(sócios, colaboradores) e externas (fornecedores, clientes) como
suporte para alcançar resultados;
Conhece muito bem o ramo em que atua;
Cultiva a imaginação e aprende a definir visões;
Traduz seus pensamentos em ações;
Define o que deve aprender para realizar suas visões. Preocupa-se em aprender a aprender;
Define o que quer, aonde quer chegar, depois busca o conhecimento que lhe permitirá atingir o
objetivo. É um fixador de metas;
Cria um método próprio de aprendizagem e aprende indefinidamente;
Tem alto grau de “internalidade”, o que significa a capacidade de influenciar as pessoas;
Tem a crença de que pode mudar algo no mundo e que pode provocar mudanças nos sistemas em que
atua;
Assume riscos moderados, pois não é um aventureiro. Gosta dos riscos, mas faz tudo para minimizá-
los;
É inovador e criativo. A inovação é relacionada ao produto, diferente da invenção que pode não dar
conseqüência a um produto;
Tem alta tolerância à ambigüidade e à incerteza;
Mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades
de negócios.
Fonte: Elaborado com base em DOLABELA, F. C. O segredo de Luísa: uma idéia, uma paixão e um plano de
negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999a, p.
37-38 e DOLABELA, F. C. Oficina do empreendedor: a metodologia do ensino que ajuda a transformar
conhecimento em riqueza. São Paulo: Cultura editores associados, 1999b, p. 71-72).
A quadro 6, a seguir, mostra as principais características que diversos autores
atribuíram ao empreendedor, no período de 1848 a 1987.
58
Quadro 6: Características históricas do empreendedor
DATA AUTORES CARACTERÍSTICAS
1848 Mill Riskbearing
1917 Weber Origem da autoridade formal
1934 Schumpeter Inovação, iniciativa
1954 Sutton Desejo por responsabilidade
1959 Hartman Origem da autoridade formal
1961 Mcclelland Assume riscos; necessidade para a realização
1963 Davids Ambição; voltado para a independência; responsabilidade; autoconfiança
1964 Pickle Condutor/mental; relações humanas; compatibilidade; conhecimento técnico
1971 Palmer Risco calculado
1973 Winter Necessidade pelo poder
1974 Borland Internal locus of control
1974 Liles Necessidade para a realização
1977 Gasse Orientação para valores pessoais
1978 Timmons Condutor/autoconfiante; orientado para metas; criatividade/inovação
1980 Sexton energia/reação de ambição positiva para revés;
1981 Welsh e White Necessidade para o controle; procura responsabilidade; procura desafios;
assume riscos moderadamente
1982 Dunkelberg e
Cooper
Orientado para o crescimento; orientado para a independência; orientado a
artesão
1986 Fernald e Solomon Valores dos empreendedores
1987 Winslow e Solomon Mildly sociopathic
Fonte: Solomon e Winslow (1988), apud
DUTRA, Ivan de Souza.
O perfil do Empreendedor e a
Mortalidade de Micro e Pequenas Empresas Londrinenses. 2002. Dissertação (Mestrado em Administração)
- Universidade Estadual de Maringá e Universidade Estadual de Londrina consorciadas, Maringá/Londrina.
(2002)
Para Carmo-Neto (apud LOPES, 2002, p.27), o empreendedor é um analista, que traz
características como: imaginação, capacidade analítica (de reduzir à essência uma atividade,
separando os fatos das opiniões, sugestões relevantes das irrelevantes), clareza de raciocínio,
visão de conjunto, capacidade crítica, espírito de equipe, persistência, humildade, satisfação
profissional e capacidade de comunicação. Azevedo (1992), traz uma série de qualidades
pessoais que o empreendedor deve apresentar, para alcançar o sucesso: Capacidade de
assumir riscos, habilidade para identificar oportunidades, conhecimento do ramo empresarial,
senso de organização, disposição para tomar decisões, faculdade de liderar, talento para
empreender, independência pessoal, otimismo e tino empresarial.
59
2.4 IMPORTÂNCIA DO PERFIL EMPREENDEDOR PARA O SUCESSO DO
EMPREENDIMENTO
A notícia de que o amigo que, cansado de ser empregado resolveu abrir seu negócio
próprio, acabou fracassando, sempre causa uma certa melancolia. Esses fatos não são raros,
pelo contrário, são muito mais freqüentes do que se pode imaginar. A taxa de nascimento de
micro e pequenas empresas é muito alta, no entanto, a taxa de mortalidade precoce das
mesmas também é bastante elevada.
Dados do Sebrae indicam que, entre 1990 e 1999, foram criadas no Brasil em torno de
500 mil empresas a cada ano. Muito se tem comentado a respeito do Brasil ser o país mais
empreendedor do mundo, mas somente com esses dados, tais afirmações não podem ser
consideradas verídicas. Apesar de haver um grande número de abertura de empresas o índice
de mortalidade das mesmas também é alto. De acordo com o órgão, em 1999, 475.005
empresas foram constituídas, entretanto, 69.246 se extinguiram, deixando a taxa de
mortalidade em 15%. Além de abrir uma empresa, para ser empreendedor, é preciso também
fazer com que o negócio prospere e seja bem sucedido.
Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 12 (doze) Unidades da Federação, no período
de agosto de 1998 a junho de 1999, e em Minas Gerais, em 1997, apurou a taxa de
mortalidade das empresas para até três anos de criação das mesmas. Conforme a Unidade de
Federação, essa taxa variou de cerca de 30% até 61%, no primeiro ano de existência da
empresa, de 40% até 68%, no segundo ano, e de 55% até 73%, no terceiro período do
empreendimento. Ao analisar os fatores condicionantes dessa mortalidade, comparando-se os
resultados de entrevistas realizadas junto a empresas extintas e empresas em atividade,
identificou-se: falta de capital de giro, problemas financeiros, falta de clientes, carga tributária
elevada, recessão econômica, como os principais fatores de extinção.
60
Na Grande São Paulo, uma pesquisa realizada também pelo Sebrae-SP, em 1999, em
parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) da USP, constatou que de
100 empresas de pequeno porte que são abertas, pelo menos 64 passaram para o segundo ano
de atividades. Das 64 que iniciam o segundo ano de atividade, 56 conseguem completá-lo (a
mortalidade cai para 15% dos sobreviventes). Dessas 56 empresas, 42 completam o terceiro
ano (a taxa de mortalidade sobe para 21%). Isso quer dizer que de todas as micro e pequenas
empresas que abrem, mais da metade estarão fechadas no terceiro ano de atividade. As causas
da mortalidade das empresas paulistas são atribuídas em primeiro lugar, a falta de experiência,
a preparação inadequada e o desconhecimento do mercado por parte do candidato a
empresário. As dificuldades burocráticas são fontes de desestímulo e a conjuntura econômica
é apontado como outro fator que pode inviabilizar o negócio próprio.
Segundo Fontanini (2000), o Centro de Estudos, Pesquisas e Planejamento
Empresarial (CEPPE) realizou, em 1995, uma pesquisa com 259 micro e pequenas empresas
paranaenses, na qual foram observados alguns aspectos relevantes em empresas de sucesso
quando comparados com empresas que encerraram suas atividades. Os resultados da pesquisa
foram julgados como as causas do sucesso e do fracasso das micro e pequenas empresas
paranaenses, como mostra o quadro 7:
Quadro 7: Causas do sucesso e fracasso das micro e pequenas empresas no estado do Paraná.
CAUSAS ENTRE AS EMPRESAS QUE
ENCERRARAM SUAS ATIVIDADES
CAUSAS ENTRE AS EMPRESAS DE SUCESSO
Planejaram pouco suas ações; Suas ações são mais planejadas e pensadas;
Os empresários eram imediatistas; Controlam tudo que podem, propiciando a
informação certa, na hora certa, para a tomada de
decisão;
Os sistemas de controles eram limitados e pouco
técnicos;
Procuram atualizar-se com as evoluções
tecnológicas do mercado;
Não utilizavam programas de qualidade; Realizam pós-venda;
As empresas não eram informatizadas; Estão procurando cada vez mais informatizar
seus processos;
Preferiram resolver os problemas da empresa,
individualmente, a recorrer à ajuda especializada.
A maioria conhece o Sebrae Paraná.
Fonte: Elaborado com base em FONTANINI, Carlos Augusto Candêo. Programa de formação de novos
empreendedores. Anais do I EGEPE- Encontro de estudos sobre empreendedorismo e gestão de pequenas
empresas. ISSN 1518-4382. p. 123-131, out./ 2000, (p.126).
61
Um outro estudo realizado por Previdelli & Senhorini (2001), sobre as causas da
mortalidade das micros e pequenas empresas maringaenses, no estado do Paraná, revelou que
47,86% das empresas que tiveram suas portas fechadas entre 1998 e 2000 sobreviveram por
menos de 1 ano no mercado, e 38,03% conseguiram se manter até os seus dois anos de vida.
Esses dados confirmam a contextualização de Dolabela (1999a) ao dizer que a taxa de
mortalidade de novas empresas é bastante elevada nos três anos seguintes à sua criação: cerca
de 90% no Brasil. Neste estudo as causas foram atribuídas a problemas financeiros, elevada
carga tributária, concorrência acirrada e falta de clientes. Uma pesquisa do mesmo gênero,
realizada nas empresas londrinenses, atribui as causas da mortalidade da empresas a
problemas particulares do empresário (18,32%), falta de cliente (12,98%), carga tributária
elevada (9,54%), falta de crédito (8,78%), concorrência forte (8,40%), entre outras causas
diversas (DUTRA, 2002).
A tendência humana é, muitas vezes, de culpar as circunstâncias, e não os próprios
atos, pelo fracasso. Embora essa tendência seja perdoável, a auto-ilusão que se cria impede o
ser humano de aprender com os erros. De acordo com Cox (1994), a armadilha a evitar é dar
guarida à disposição de culpar nas circunstâncias ou tornar habitual essa fuga da
responsabilidade pessoal, pois em todas as ocasiões em que nos livrarmos da
responsabilidade, mais fácil se tornará repetirmos os mesmos erros no futuro. É claro que há
ocasiões em que as circunstâncias ocorrem de tal forma que nos impedem de cumprir o que
nos propusemos fazer. No entanto, é verdade que fatos considerados imprevisíveis poderiam
ter sido previstos e controlados se tivesse planejado melhor. O que se pode notar, em ambas
pesquisas descritas, é que houve uma falta de planejamento inicial do negócio. Quando um
plano de negócios é elaborado de forma minuciosa, o empreendedor consegue identificar
certos riscos, como: inviabilidade financeira, concorrência acirrada, falta de clientes
potenciais etc., e desta forma solucioná-los ou até mesmo descartar a possibilidade de abrir o
62
negócio. Mesmo quando tais riscos aparecem no decorrer da vida da empresa faz parte do
perfil do empreendedor conseguir administrá-los e levar a empresa ao sucesso.
Por trás do sucesso de uma empresa há, certamente, uma boa idéia e alguém com
talento e disposição suficientes para transformá-la em realidade. Além de todas as
características que são a ele atribuídas, o empreendedor é aquela pessoa capaz de identificar
uma boa oportunidade, correr riscos, enfrentar adversidades e, principalmente, conduzir seu
negócio ao sucesso. O mercado atual, demanda a mudança do perfil dos gestores
organizacionais que, atendendo às necessidades de uma sociedade em constantes e rápidas
transformações, são forçados a buscar competências e condições para que suas organizações,
não só sobrevivam, como sejam sustentáveis. Diante de um cenário cada vez mais
competitivo e igualitário, o empreendedor deve possuir certas aptidões que o ajudem a superar
as armadilhas que o mercado prepara.
Um empreendedor potencial tem habilidades para reconquistar clientes, tem
criatividade suficiente para superar os concorrentes, tem influência para conseguir
financiamentos e comprometimento para pagá-los no prazo. Com a ajuda de profissionais ele
consegue estudar, previamente, a melhor estrutura legal a ser montada para a sua empresa, de
forma a conseguir arcar com a carga tributária correspondente. Ele pode até fracassar em
todas essas atividades, mas sua característica marcante de aprender com os erros e ser
persistente não deixa o seu empreendimento morrer.
O que ocorre, muitas vezes, é que o desemprego e até mesmo a vontade de deixar de
ser empregado, leva o indivíduo a montar seu próprio negócio. A ambição e a necessidade de
“subir na vida” são variáveis que contribuem para isso. Entretanto, para entrar em uma nova
atividade, o futuro empresário necessita de alguns requisitos que são imprescindíveis para
quem pretende empreender: conhecimento do ramo do negócio que pretende assumir,
aptidões empresariais e sensibilidade administrativa, capacidade de planejamento, capacidade
63
de identificar e conviver com os risco, entre outras características que em conjunto formam o
perfil do empreendedor.
O empreendedor, antes de iniciar um negócio, precisa ser estimulado a refletir sobre
suas características pessoais, e impulsionado a desenvolvê-las na direção do perfil ideal para
tornar-se bem-sucedido, pois o empreendedor em si é o maior e melhor recurso que se tem
para o sucesso. Ele deve avaliar as próprias características da forma mais objetiva possível,
encarar suas limitações em vez de escondê-las e trabalhar seriamente no sentido de
desenvolver ou aperfeiçoar aquelas características das quais necessita, pois segundo Pati
(1995, p.43):
somos ‘um produto’ em constante estado de aperfeiçoamento. Se hoje somos o que
somos, amanhã seremos o que quisermos ser. Algumas características nossas não
podem ser radicalmente alteradas, mas poderão variar em grau de desenvolvimento,
em qualidade, em importância e no espaço que ocupam em nossas vidas.
O homem é um ser passando por um processo de constante transformação,
amadurecimento e mudanças – o processo da vida. Ele é capaz de criar e moldar a si mesmo,
pois é ao mesmo tempo o criador e a criação. Ele tem a capacidade de alterar o seu
comportamento quando achar que deve, bem como de construir e lapidar as características
fundamentais na formação do perfil empreendedor.
O perfil do empreendedor bem-sucedido não pode ser tomado como um padrão de
exigências. Ele deve ser usado exclusivamente para descobrir para onde direcionar o processo
de desenvolvimento, detectando o que precisa ser aperfeiçoado e trabalhado para ser o
empreendedor que espera ser. O empreendedor bem sucedido é uma pessoa como qualquer
outra, cujas características de personalidade, talentos e habilidades o leva a agir de tal forma
que chega ao sucesso, realizando sonhos, alcançando seus objetivos e atingindo sua realização
pessoal.
64
2.4.1 O sucesso e o fracasso empresarial como fator resultante do perfil empreendedor
Se o empreendedor encara o seu negócio como um projeto de vida, ele está diante de
um desafio: o sucesso do seu empreendimento. De acordo com Ferreira (1999), o sucesso é
aquilo que sucede um resultado, uma conclusão. É algo que teve bom êxito ou resultado feliz.
O sucesso é muitas vezes associado ao desempenho obtido na atividade e também ao
desempenho financeiro, e a melhor maneira de entendê-lo é comparar o desempenho de uma
empresa com relação a diferentes empresas do mesmo setor de negócios (KAY, 1996). No
campo empresarial, o sucesso pode estar relacionado com vencer o concorrente e conquistar
os clientes potenciais, para assim o empreendimento se desenvolver e prosperar. Para isso
algumas qualidades são requeridas do empreendedor e do empreendimento. Tais qualidades
são interdependentes, pois as qualidades do empreendedor irão influenciar e determinar a
qualidade do empreendimento. O empreendimento, por sua vez, se torna um reflexo do seu
empreendedor e as características do empreendedor é o fator que determina o seu sucesso e
consequentemente o do empreendimento.
Segundo Pereira (1995), o empreendimento necessita de algumas qualidades
essenciais que constituem a base do seu sucesso empresarial. Essas qualidades são mostradas
no quadro abaixo e dependendo da área em que atua e da atividade que exerce esta listagem
deve ser ampliada e outros aspectos mencionados. O quadro 8 mostra uma síntese dos
motivos de sucesso e fracasso empresarial, apresentados por Pereira (1995, p.274-278).
Quadro 8: Motivos de sucesso e fracasso do empreendimento
ÁREA MOTIVOS DE SUCESSO MOTIVOS DE FRACASSO
Mercadológica estratégia de marketing bem definida;
conquista da fidelidade da clientela;
comunicação eficaz com o mercado;
mix de marketing estabelecido com
clareza.
desconhecimento do mercado:
cliente, concorrente, fornecedor;
desconhecimento do produto ou
serviço.
Técnico-operacional tecnologia atual;
localização adequada;
relação de parceria estabelecida com
fornecedores;
programa de qualidade total e
tecnologia de produção obsoleta;
localização errada;
má relação com fornecedores;
falta de qualidade.
65
produtividade em desenvolvimento.
Financeira operação com capital próprio ou com
alavancagem positiva – uso eficiente do
capital de terceiros;
reinvestimento dos lucros;
baixa imobilização de capital;
endividamento sob controle;
capitalização da empresa.
política equivocada de crédito aos
clientes, gerando inadimplência;
imobilização excessiva do capital em
ativos fixos;
falta de controles de custos e de
gestão financeira, que gera a má
formação de preço.
Jurídico-
organizacional
estrutura societária não-conflitiva entre
os sócios;
empreendedor/sócios/família dedicados;
gestão inovadora dos negócios;
estilo gerencial participativo;
missão e objetivos bem definidos e
disseminados;
estratégia competitiva clara para clientes,
fornecedores e equipe.
estrutura organizacional concentrada,
centralização de poder e incapacidade
de delegar;
falta de um sistema de planejamento
e de informações gerenciais;
ausência de inovações gerenciais
perante a agilidade do mercado.
Fonte: Elaborado com base em PEREIRA, Heitor José. Motivos de sucesso e de fracasso empresarial. In:
Criando seu próprio negócio: como desenvolver o potencial empreendedor / Coordenação de Heitor José Pereira
e Silva Aparecido dos Santos. Brasília: Ed. SEBRAE, 1995, p. 271 – 278.
Ao perguntar ao empreendedor quais foram os motivos do fracasso do seu
empreendimento é comum ouvir dizer que a culpa é do governo, da falta de cliente, da
concorrência sem ética, dos juros bancários, da carga tributária, entre outros inúmeros fatores
externos ao negócio. Segundo Pereira (1995, p.276) “os empreendedores que se limitam a
explicar o seu fracasso culpando ‘terceiros’ estão míopes em relação a seus próprios erros:
não querem reconhecer suas falhas, e culpar terceiros é uma forma de defesa psicológica
pessoal”. O ambiente é o mesmo para todos os empreendimentos nele inseridos. As
dificuldades, as ameaças e as oportunidades também são as mesmas e, no entanto, algumas
empresas obtém sucesso e outras não. O que difere o sucesso do fracasso são as
características, capacidades e habilidades pessoais do empreendedor.
O fracasso na cultura ocidental é forte e marcante, traz a idéia de derrota e sofrimento.
Já na cultura oriental errar ou fracassar significa oportunidade que a vida concedeu à pessoa
para aprender e adquirir experiência (PEREIRA, 1995, p.275). O empreendedor encara o
fracasso de acordo com a filosofia oriental, pois é persistente com seus objetivos e não
desiste diante de um fracasso, vendo-o exatamente como um aprendizado.
66
Os motivos de fracasso relacionados no Quadro 8 podem ser resumidos em alguns
aspectos pessoais do empreendedor: a falta de experiência empresarial, a falta de competência
gerencial e a falta de algumas características e habilidades pessoais, que em conjunto pode ser
a explicação de todo fracasso empresarial. Assim, o empreendedor antes de iniciar o seu
negócio precisa de um preparo anterior, por meio de uma auto-avaliação das suas
características pessoais, das suas habilidades gerenciais e da elaboração do seu Plano de
Negócio, que possibilita a identificação dos riscos inerentes, dos pontos fortes e fracos do
empreendimento, além de estabelecer objetivos e metas de forma clara e concisa.
Zaccarelli (2000) coloca que algumas vezes uma tomada de decisão correta não
implica em sucesso verdadeiro para uma empresa. É necessário, antes de tudo, analisar se a
decisão certa é a mais indicada para o negócio ou se está sendo tomada no momento certo. O
autor lista algumas das ações que não são suficiente para levar uma empresa ao sucesso:
Corrigir deficiências e erros da administração: não errar evita o insucesso, mas não
é suficiente para tornar uma empresa bem-sucedida;
Tentar imitar empresas bem-sucedidas: imitar pode levar a empresa a ser no
máximo igual a imitada. Para conseguir se desenvolver mais do que ela é preciso
implementar formas próprias de buscar o sucesso;
Buscar a excelência: excelência reconhecida pelo mercado traz efeitos
antifuncionais - os executivos serão disputados, as reivindicações de funcionários e
sindicatos serão elevadas e o mercado exigirá muito mais da empresa do que se ela
fosse melhor somente em alguns aspectos;
Buscar ser bom em tudo: mesmo que seja tecnicamente possível ser bom em tudo,
não é viável pela relação custo/benefício. É preciso escolher no que vale a pena ser
bom;
67
Usar técnicas administrativas modernas de fácil implantação: o sucesso depende da
originalidade, depende de ousar ser diferente do padrão usual;
Elaborar planos superficiais: o plano não pode ser elaborado somente com meias
verdades, e também não pode ser elaborado uma única vez e nunca mais
reajustado.
Essas ações são estratégias consideradas boas somente num primeiro momento e para
determinadas situações, pois quando são analisadas em maior profundidade percebe-se que
não garante o sucesso da empresa. É como um remédio que elimina os sintomas, tira a dor,
mas não leva a cura definitiva.
Segundo Dolabela (1999a), Timmons (1994) fez uma pesquisa com empreendedores
analisando os fatores de sucesso empresarial. A maioria dos entrevistados mencionou atitudes
mentais e atributos do empreendedor, como fonte de sucesso, em vez de habilidades
específicas ou conceitos organizacionais. Algumas respostas podem ser analisadas no quadro
abaixo:
Quadro 9: Fatores de sucesso do empreendedor, segundo Timmons (1994)
Fazer o que dá energia e o que diverte;
Imaginar como fazer algo funcionar;
Dizer “posso fazer”, ao invés de “não posso” ou “talvez”;
Ter tenacidade e criatividade;
Acreditar que pode fazer qualquer coisa, assim qualquer coisa é possível;
Ver o copo metade cheio, e não metade vazio;
Ser insatisfeito com o jeito que as coisas estão e procurar melhorá-las;
Fazer coisas de forma diferente;
Não assumir riscos desnecessários, mas sim um risco calculado, se for a oportunidade certa;
Aprender com o fracasso, mas tentar manter baixo o custo do aprendizado;
Fazer da oportunidade e dos resultados a sua obsessão;
Tentar fazer dinheiro, pois é mais divertido do que gastá-lo;
Ter orgulho das realizações, pois é contagiante;
Fonte: Elaborado com base em DOLABELA, F. C. O segredo de Luísa: uma idéia, uma paixão e um plano de
negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999a, (
p. 64).
Apesar de serem muitos os fatores que podem levar o empreendedor ao sucesso, e
apesar de tais fatores serem facilmente encontrados em indivíduos com perfil empreendedor,
Leite (2002, p.178) diz que nem todos os casos de empreendedorismo são marcados pelo
68
sucesso. Ele coloca que os fatores que podem levar um empreendimento ao fracasso também
aparecem em grandes quantidades, e destaca algumas das principais causas que mais
contribuem para o insucesso de um negócio:
Quadro 10: Principais causas dos fracassos de um empreendedor
CAUSAS EFEITOS
Experiência de gestão Muitos empreendedores não compreendem os meandros inerentes à gestão de
um negócio. Alguns optam por incorrer em linha de gestão que conhecem,
mas as quais não sabem gerir. Quando os problemas surgem, não sabem
como resolvê-los.
Planejamento financeiro Subestimar o capital necessário para iniciar um negócio consiste numa das
principais causas de fracasso.
Análise de localização Quando a localização constitui fator crucial de sucesso, recomenda-se o
tempo e o dinheiro necessários para a escolher convenientemente.
Controles gerenciais É necessário uma planificação correta do negócio (contabilidade, estoque,
gastos, etc.), para que este não fracasse.
Gastos excessivos Investimentos excessivos em ativos fixos podem limitar o capital para a
gestão do negócio.
Dedicação insuficiente Os primeiros anos do negócio exige dedicação e trabalho árduo, até que se
solidifique. Se não houver disposição para isso, o negócio não deve ser
iniciado.
Expansão Uma expansão exagerada e sem planejamento pode movimentar muito mais
capital do que se pode imaginar. Expandir implica em contratar funcionários,
aumentar a produção, adquirir equipamento, capacitar a equipe gerencial,
entre outros atributos.
Gestão das contas a
receber
Os problemas de gestão de caixa poderão ser graves quando os
empreendedores não praticam uma política de crédito e cobrança adequada.
Fonte: Resumido e adaptado de LEITE, Emanuel Ferreira. O fenômeno do empreendedorismo e as empresas
de base tecnológica. In: Empreendedorismo – Competência Essencial para pequenas e médias empresas.
ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas.
Brasília, 2001, p. 84-102.
Com a pretensão de diminuir o insucesso empresarial, a literatura apresenta causas de
fracasso, causas de sucesso, ações do empreendedor que levam a tais resultados e algumas
dicas para evitar o mal desempenho do negócio. Dando sua contribuição, Santos (1995, p.27)
coloca alguns aspectos relevantes a serem considerados na atividade empreendedora, com
vista a alcançar o sucesso empresarial:
O mundo dos negócios está se modificando aceleradamente e para obter sucesso
nesse mercado é preciso criar uma empresa capaz de ofertar produtos ou serviços
em padrões de qualidade e preços compatíveis com aqueles vigentes no mercado
mundial;
69
A competitividade acirrada de uma economia globalizada exige o estabelecimento
de parcerias para enfrentar os concorrentes;
Os clientes são cada vez mais exigentes;
Exige-se muito a prática da ética, da responsabilidade social e responsabilidade
ambiental nas atividade empresariais;
Preservação do ambiente;
A evolução da ciência e da tecnologia ocorre aceleradamente.
Essas dicas de mercado, quando implantadas isoladamente, podem não levar ao
resultado benéfico desejado. Para o bom êxito, elas devem ser associadas à algumas
características especiais, habilidades e competência do empreendedor. O quadro abaixo
mostra alguns dos diversos fatores que levam o empreendedor ao sucesso:
Quadro 11: Competência de empreendedores bem sucedidos
PROATIVIDADE
1- Iniciativa Faz as coisas antes de pedirem ou ser forçado pelas circunstâncias
2- Assertividade Confronta problemas com outros diretamente.
Diz aos outros o que deve fazer.
ORIENTAÇÃO PARA REALIZAÇÃO
3- Percebe e age nas oportunidades Aproveita oportunidades raras para iniciar um novo negócio, obter
financiamento e recursos
4- Orientação para eficiência Procura maneiras de fazer as coisas mais rápido ou a custo menor
5- Preocupação com qualidade do
trabalho
Manifesta um rápido desejo de produzir ou vender um produto ou serviço de
qualidade superior
6- Planejamento sistemático Quebra uma tarefa maior em sub-tarefas, ou sub-objetivos, antecipa
obstáculos, avalia alternativas
7- Monitoração Desenvolve ou usa procedimentos para assegurar que o trabalho seja
realizado ou que o trabalho atinja padrões de qualidade
COMPROMISSO COM OS OUTROS
8- Compromisso com o contrato de
trabalho
Faz um sacrifício pessoal ou esforços extraordinários para completar um
trabalho, junta-se aos trabalhadores ou trabalha em seus lugares para
completar o serviço
9- Reconhecimento da importância
das relações de negócios
Age para construir empatia ou relações amistosas com clientes, enxerga as
relações interpessoais como um recurso fundamental do negócio, prefere boa
vontade a longo prazo ao invés de ganhos de curto prazo
Fonte: McClelland in GIMENEZ, F. A. P. & MACHADO, H. P. V. & BIASIN, C. C. A mulher
empreendedora: um estudo de caso no setor de confecções. In: 1998 Balas Proceedings, Volume 1, 1998, p.
311-322.
O sucesso é um termo muito subjetivo, podendo ser julgado sobre diversos aspectos. O
desempenho do empreendimento, segundo Kay (1996), pode ser medido pela sobrevivência
básica da empresa, pelo tamanho, pela taxa de retorno sobre o capital, sobre o investimento ou
70
sobre as vendas. Outras vezes, o sucesso é avaliado pelo crescimento, refletido no aumento
da produção, pela participação no mercado, pelo valor no mercado de ações. Ainda, o sucesso
e o bom desempenho do empreendimento pode ser avaliado, também, pelo nível de satisfação
do empreendedor com ele próprio e com a empresa.
Assim, uma empresa que atingiu grande porte e é lucrativa, mas que não satisfaz o
empreendedor pode ser considerada malsucedida, enquanto uma pequena e desconhecida,
cujo empreendedor está satisfeito pode ser considerada como bem-sucedida (VIDIGAL,
2000). Neste contexto, uma empresa ativa e rentável pode ser considerada fracassada pelo
empreendedor e por seus sócios, se esta não trazer felicidade e satisfação ou se for motivo de
discórdia entre eles. Assim, o sucesso e o fracasso de um empreendimento não pode ser
avaliado simplesmente pelo seu bom desempenho ou pelo encerramento das suas atividades,
mas também pelo nível de satisfação que o mesmo proporciona aos que estão em sua volta.
2.5 AMBIENTE CULTURAL COMO ELEMENTO FUNDAMENTAL NA FORMAÇÃO
DO EMPREENDEDOR
O comportamento empreendedor, segundo Drucker (1986), está vinculado ao cultural,
ao psicológico, bem como ao tecnológico. Desta forma, existem contextos onde a tendência
ao empreendedorismo é maior do que em outros, o que possibilita inferir que a cultura e os
valores são fundamentais para a formação do empreendedor. A tese de que os
empreendedores nascem feitos, são frutos de herança genética, não é mais aceita pelos
estudiosos da área. Os seguidores do meio científico acreditam que é possível que as pessoas
aprendam a ser empreendedoras, dentro de um sistema de aprendizagem que estimule e
desenvolva as características básicas inerentes aos empreendedores de sucesso.
De acordo com Dolabela (1999a), existem três níveis de relações, o primário, o
secundário e o terciário. O primário é constituído por familiares, amigos, conhecidos, ou seja,
71
pessoas que mantêm ligações em torno de mais de uma atividade. Esse nível de relações é a
principal fonte de formação de empreendedores. O nível secundário é constituído por pessoas
que tem ligações em torno somente de uma determinada atividade, formando rede de ligações.
O nível terciário é formado por cursos, livros, viagens, feiras e congressos e podem também
ser importantes na geração de empreendedores. Baseado neste contexto, pode-se dizer então,
que empreendedores que nascem prontos são porque o nível primário de relações o
influenciou e desconsiderar as razões genéticas.
Na visão de Dolabela “o empreendedor é um ser social, produto do meio em que vive
(época e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente em que ser empreendedor é visto como
algo positivo, então terá motivação para criar seu próprio negócio” (DOLABELA, 1999a,
p.28). O meio social, ou seja, a família, a escola, os amigos com os quais a pessoa convive,
contribuem para a formação do seu auto conceito (Filion, 1991). Quando há na família
pessoas que trabalham de forma autônoma ou que possuem seu negócio próprio, a tendência
de surgir novos empreendedores é maior do que em famílias cujos membros sempre
assumiram cargos de empregados, pois o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja,
empreendedores nascem por influência do meio em que vivem (hábitos, práticas e valores das
pessoas).
Segundo Filion (2000) os “modelos de influência” são de grande importância para
explicar os comportamentos empreendedores, pois a maioria dos empreendedores se tornou
empreendedor graças à influência de um modelo no seu meio familiar ou próximo, um
modelo com o qual ele se identificou. Os seres humanos tendem a reproduzir os seus próprios
modelos e a existência de um modelo tem papel fundamental na decisão de fundar um
negócio (FILION,1999b). Os empreendedores, segundo o autor, adquirem uma cultura
empreendedora pela prática, por assim dizer, no seio da família.
72
Saindo do âmbito familiar, pode-se alongar o nível de influência e dizer que o
empreendedorismo é um fenômeno regional e local, ou seja, existem cidades, regiões, países
mais – ou menos – empreendedores do que outros, e os indivíduos, por sua vez, refletem as
características do período e do lugar em que vivem. Segundo Filion (1999b), as culturas, as
necessidades e os hábitos de uma região determinam os comportamentos de seus habitantes,
fazendo do empreendedorismo um fenômeno, acima de tudo, regional. Uma pesquisa
realizada anualmente pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) - instituição formada pela
London Business School, o Babson College de Boston e a Fundação Kauffman, aponta o
Brasil como o país mais empreendedor do mundo, inclusive a frente dos Estados Unidos.
Além disso, o desejo de implantar o seu próprio negócio é uma traço característico do
brasileiro, já detectado em diversas pesquisas (e-commerce.org.br, acesso em 26/09/2002)).
Desta forma, pode-se dizer que o perfil do empreendedor – características individuais, fatores
do comportamento e atitudes que contribuem para o sucesso - pode variar de um lugar para
outro.
Leite, E.P.C. (2001) discorda um pouco de Dolabela quando diz que a oferta de
empreendedores é enormemente diversificada e variável ao longo do tempo e é influenciada
em parte pela genética, pela formação familiar, pelas experiências profissionais anteriores e
pelo ambiente econômico e social. Dolabela (1999a) coloca que o empreendedor é
influenciado sim pelo ambiente social, familiar e cultural, mas que o espírito empreendedor
não está no sangue, ou seja, nada tem haver com o fator genético.
O clima sócio-econômico (no caso de empreendedores ‘externos’) e o ambiente
corporativo (no caso de empreendedores ‘internos’ ou intraempreendedores) também podem
influenciar significativamente o surgimento de empreendedores e da atividade
empreendedora. As organizações estão avaliando o seu ambiente macro (política fiscal e
econômica, insumos a alto ou baixo custo) quanto ao apoio ou desestímulo à capacidade
73
empreendedora. Da mesma forma o empreendedor interno (intraempreendedor) avalia as
condições que a corporação fornece quanto aos incentivos às suas atividades.
Segundo Filion (2000, p.33), “o Brasil está sentado em cima de uma das maiores
riquezas naturais do mundo, ainda relativamente pouco explorada: o potencial empreendedor
dos brasileiros”. E que para aflorar e disseminar a cultura empreendedora os brasileiros
precisam vencer alguns obstáculos, como: falta de autoconfiança e de confiança mútua, falta
de disciplina, excesso de burocracia, e, principalmente, a falta de desenvolvimento de
abordagens próprias, não derivadas dos Estados Unidos e da Europa.
Para conseguir difundir o fenômeno empreendedor, os brasileiros devem se libertar
desses obstáculos. Após a libertação de certas barreiras há a necessidade de estimular essa
cultura, no sentido de fazer reproduzir o sentimento empreendedor. Dolabela (1999b), coloca
alguns motivos pelos quais é importante estimular a cultura empreendedora, as quais são
apresentadas no quadro 12, a seguir:
Quadro 12: Razões para disseminar a cultura empreendedora
RAZÕES MOTIVOS
Auto-realização Pesquisas indicam que o empreendedorismo oferece graus elevados de realização
pessoal. A atividade empreendedora faz com que trabalho e prazer andem juntos.
Estimular o
desenvolvimento
O desenvolvimento econômico de uma comunidade é função do grau de
empreendedorismo que ela tem. O empreendedor é fator de inovação tecnológica e
crescimento econômico.
Incidir no
desenvolvimento
local
Há uma forte relação entre o empreendedorismo e o desenvolvimento econômico local.
As PME são dependentes da comunidade local, pois é nela que nascem e se formam,
encontram recursos humanos e materiais dos quais depende o seu dinamismo e
estabelecem sua rede básica de relações.
Apoiar as pequenas
empresas
Elas nascem em função de lacunas de necessidades não atendidas pelas grandes
empresas e são elas as responsáveis pelas taxas crescentes de emprego, de inovação
tecnológica, de participação no PIB, de exportação.
Ampliar a base
tecnológica
As empresas de base tecnológica surgem no final do século 20 como uma das principais
forças econômicas. A universidade como um todo apresenta alto potencial para a
criação de novos empreendimentos baseados no conhecimento.
Responder ao
desemprego
O empreendedorismo induz a sociedade a formar empregadores, pessoas com uma nova
atitude diante do trabalho e com uma nova visão do mundo.
Apontar armadilhas
a serem evitadas
Não basta que exista a motivação para empreender, é necessário que o empreendedor
esteja preparado para isto, que conheça formas de análise do negócio, do mercado e de
si mesmo para perseguir o sucesso com firmeza.
Reorientar o ensino
brasileiro
Os valores do ensino brasileiro ainda estão voltados para a formação de profissionais
que irão buscar emprego no mercado de trabalho, bem como os cursos de administração
são voltados para o gerenciamento de grandes empresas e não de pequenos negócios.
Fonte: Elaborado com base em DOLABELA, F. C. Oficina do empreendedor: a metodologia do ensino que
ajuda a transformar conhecimento em riqueza. o Paulo: Cultura editores associados, 1999b.
74
Segundo Filion (1999b), quanto mais empreendedores uma sociedade tiver e quanto
maior for o valor dado, nessa sociedade, aos modelos empresariais existentes, maior será o
número de jovens que optarão por imitar esses modelos, escolhendo o empreendedorismo
como uma opção de carreira. É preciso estimular os espíritos empreendedores e acalentar
todos aqueles que manifestem interesse em criar seu próprio negócio. É preciso ser receptivo
à energia e ao talento em ascensão (LEITE, 2002).
2.5.1 Fatores que inibem o comportamento empreendedor
Existem forças restritivas que são capazes de inibir a ação criativa dos
empreendedores e dificultar suas atitudes relacionadas à criação de empresas. Santos (1983),
diz que estas dificuldades podem ser categorizadas como:
Dificuldades de Conjuntura Econômica: As políticas econômicas praticadas na atualidade
implica em uma das maiores dificuldades encontradas pelo empreendedor. Na maioria das
vezes as idéias do empreendedor são barradas pela dificuldade de captar recursos devido
as elevadas taxas de juros praticadas no mercado financeiro e a escassez de linhas de
créditos para financiamento. Estes fatores forçam os empreendedores a se arriscarem
suportar o alto custo ou muitas vezes a desistir do seu empreendimento.
Dificuldades de localização: A definição do local para instalação da empresa é outro fator
que dificulta o processo de criação de novas empresas. Isso ocorre devido a escassez de
terrenos dotados de infra-estrutura, cujos preços de aquisição ou locação sejam acessíveis
para quem está começando um novo empreendimento.
Dificuldades Burocráticas: As dificuldades burocráticas são aquelas que permeiam,
muitas vezes até barrando, as ações do empreendedor durante a fase de elaboração e
registro do processo formal de constituição do novo empreendimento. Para atender todas
75
as formalidades, o empreendedor deve satisfazer as exigências de vários órgãos como a
Receita Federal, Receita Estadual, Prefeitura, entre outros, o que ocasiona entraves à
constituição legal do empreendimento. Uma das barreiras é a demora que o processo de
legalização proporciona, mantendo o empreendedor inativo por algum tempo, arcando
com maiores custos.
Dificuldades Tecnológicas: A constituição de uma empresa requer do empreendedor a
tomada de decisão com relação a tecnologia a ser utilizada. Na ausência de experiência ele
enfrenta a dificuldade de decidir técnicas, processos e equipamentos adequados para sua
produção.
Dificuldades Mercadológicas: Os empreendedores se deparam com a dificuldade de
penetração da empresa ou do produto no mercado, sendo este o fator que irá manter o
sucesso do seu novo empreendimento. A idéia do empreendedor pode ser boa mas não é o
suficiente, é necessário que haja a aceitação do mercado. E, para isso o empreendedor
precisa dispor de um eficiente sistema de informação e coleta de dados.
Dificuldades de Concorrência: O mercado atual se apresenta como um ambiente de
grandes desafios e perspectivas para novos empreendimentos. É necessário que o
empreendedor, antes de criar uma empresa, procure reunir informações sobre a
concorrência. Essas informações vão possibilitar a definição do Mix de produtos a serem
fabricados e a elaboração das estratégias mercadológicas competitivas. Os
empreendedores se deparam com o desafio de disputar consumidores e de criar uma
empresa verdadeiramente competitiva. A competitividade inibi a capacidade de criação do
indivíduo que é pressionado a atender as exigências do mercado.
Dificuldades Financeiras: Por falta de incentivos na captação de recursos, as novas
empresas (de pequeno e médio porte) são penalizadas em relação aos aspectos financeiros.
Pela falta de estrutura e tradição, as novas empresas não conseguem ter acesso à linhas de
76
crédito para financiar seu capital de giro e enfrentam dificuldades de sobrevivência diante
das elevadas taxas de juros vigentes no mercado.
Dificuldades do período inicial de operação da nova empresa: A fragilidade da empresa
nova e a insegurança do próprio empreendedor pode colocar em risco a sobrevivência da
nova organização. Devido a este fator muitas empresas são paralisadas antes mesmo de
completar um ano de atividade.
Para não ser surpreendido por estas e outras dificuldades, o empreendedor precisa de
um planejamento para ter segurança de estar percorrendo o caminho certo. Um planejamento
traça os objetivos e os caminhos para atingi-los, de forma flexível e fundamentada em
conhecimentos, estimativas e finalidades.
Apesar do empreendedor se esbarrar com diversas dificuldades, existem forças que o
impulsionam enquanto agente do processo de criação de empresas. A família representa uma
fonte repleta de apoio e estímulo, pois o empreendedor obtém sua ajuda de diversos tipos,
como por exemplo, ajuda financeira, ajuda com a incorporação da família na equipe de
trabalho, ajuda na obtenção de informações e tomadas de decisões. Ela dá uma visão mais
abrangente e realista do negócio em si, percebendo algo que muitas vezes passa despercebido
pelo empreendedor pelo fato dele estar totalmente envolvido no negócio. Os amigos que já
operam com atividades empresariais influenciam positivamente o empreendedor, auxiliando-o
e estimulando a concretização de sua iniciativa empresarial. Depois de iniciado o negócio dão
aconselhamento especializado e indicações que ajudam nas decisões.
A família e os amigos fornecem ao empreendedor o que ele mais precisa no momento
de tomar uma iniciativa, o apoio moral. Essas figuras o fazem acreditar na idéia quando é para
ser acreditada e desistir dela quando a idéia não é realmente boa. O empreendedor tem nos
seus amigos e família uma fonte de apoio durante as diversas fases de constituição e
consolidação do seu negócio.
77
Eles representam uma palavra verdadeira na qual o empreendedor sabe que pode
confiar. São nessas pessoas que o empreendedor busca força para apostar em sua inovação, e
é por isso que as pessoas devem tomar cuidado para não inibir um espírito empreendedor que
possa existir em suas famílias, sem ao menos perceberem.
2.6 CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS ANALISADAS NA PESQUISA
Algumas características empreendedoras são decisivas para quem pretende se
aventurar pelo mundo dos negócios. No entanto, analisar essas características no indivíduo é
uma tarefa complicada, afinal muitas delas são características de personalidade e, quando não
se conhece o indivíduo pesquisado, tem-se que acreditar na sua auto-análise. Para o
cumprimento dos objetivos da pesquisa, as características empreendedoras analisadas neste
estudo são as que seguem:
Ambiente de relação do empreendedor: é o nível primário de relação, ou seja, são as
pessoas com as quais o indivíduo mantém ligações em torno de mais de uma atividade.
Geralmente, são os familiares e amigos próximos. Segundo Dolabela (1999a), este nível de
relações é a principal fonte de formação de empreendedores e, assim, se há na família pessoas
que trabalham de forma autônoma ou que possuem seu próprio negócio, a tendência de surgir
novos empreendedores é maior do que em famílias cujos membros sempre assumiram cargos
de empregados.
Habilidade empresarial: O empreendedor, além de ter imaginação para conceber
idéias, criatividade para transformá-las em uma oportunidade, capacidade iniciativa para
montar um negócio, motivação para conduzi-lo, capacidade para perceber a mudança como
uma oportunidade e flexibilidade para se adaptar a elas, deve possuir experiências que
possibilitem o bom funcionamento do seu empreendimento, tornando-o lucrativo. Segundo
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Zaccareli (2000), a habilidade empresarial só é adquirida através da experiência, obtida na
atuação de outras empresas ou organizações.
Conhecimento do ramo: Conhecer o mercado e o ramo em que se pretende atuar é
essencial para perceber as chances de sucessos e prevenir-se em relação aos imprevistos. Este
conhecimento pode ser adquirido pela própria experiência do empreendedor no negócio, pelo
contato com outros empreendedores do ramo, bem como por informações buscadas em
revistas, informativos, associações, sindicatos, cursos, palestras, feiras, etc.
Comprometimento: comprometimento, segundo McClelland, implica em fazer um
sacrifício pessoal ou despender um esforço extraordinário para completar uma tarefa;
colaborar com os empregados ou se colocar no lugar deles se necessário para terminar um
trabalho; e se esmerar em manter os clientes satisfeito, colocando em primeiro lugar a boa
vontade a longo prazo, acima do lucro a curto prazo (SEBRAE, 1990). Comprometimento
consiste em assumir responsabilidades com o empreendimento, se dedicando quase que
exclusivamente a ele.
Inovação: A inovação é o instrumento pelo qual os empreendedores exploram a
mudança como uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente,
podendo ser apresentada como uma disciplina, ser aprendida e ser praticada (Drucker, 1987).
É a introdução de algo novo e diferente que faz com que um empreendimento se diferencie
dos demais e agregue valor. É a inserção de mudanças, seja no produto, serviço, atendimento
ao cliente, processo produtivo, práticas de preço, enfim, qualquer mudança que cause uma
ruptura no sistema até então utilizado pela empresa. Segundo Leite (2001; 2002:29), a
inovação é o sangue da longevidade empresarial.
Capacidade de delegação: delegar implica em dividir responsabilidades com os
outros membros da equipe. Segundo Pati (1995:50) o empreendedor deve ser capaz de confiar
na capacidade do outro e de delegar responsabilidades aos membros de sua equipe, evitando
79
trazer responsabilidade de qualquer trabalho individual para si, sobrecarregando-se de
pequenas coisas e não tendo tempo e disponibilidade para o que é realmente necessário.
Delegar não significa abdicar, mas transferir decisões e ações a pessoas capacitadas a
desenvolvê-las, motivando-as a alcançarem os resultados esperados.
Exigência de qualidade e eficiência: segundo McClelland, significa encontrar
maneiras de fazer as coisas melhor, mais rápido, ou mais barato; agir de maneira a fazer as
coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência; e desenvolver ou utilizar
procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda
padrões de qualidade previamente combinados (SEBRAE, 1990).
Capacidade de reação a frustrações e situações “stressantes”: Os empreendedores
convivem com aspectos que são inerentes à sua atuação, tais como a imprevisibilidade,
tolerância ao risco e a instabilidade financeira e social, que possibilitam caracterizar esta
ocupação como de alto potencial estressante (Ayres et al, 2001). Ele tem a capacidade de
suportar situações de não satisfação de necessidades pessoais ou profissionais, sem se
comportar de maneira derrotista, negativa ou confusa. Tem capacidade de rápida superação e
consegue achar maneiras de reagir e combater o stress. Essa característica pode ser resultante
do nível de persistência do empreendedor com relação aos seus objetivos.
Necessidade de realização: Em 1983, Boyd & Gumpert, em uma pesquisa com 450
empreendedores sobre stress de pequenos empresários, mostraram que os dois pontos
positivos do negócio próprio foram as recompensas psicológicas de controle e a realização
(apud Ayres et al, 2001). Uma das características do empreendedor é estar disposto a
dispensar seu emprego seguro, seu salário e sua vida confortável em busca da sua realização
pessoal. Para ele, fazer o que gosta é o melhor retorno que pode obter, pois considera o
dinheiro como uma conseqüência do seu desempenho. O segredo do empreendedorismo é
80
fazer o que você gosta, fazer bem feito e naturalmente virão os resultados financeiros e os
reconhecimentos.
Independência, liberdade e autoconfiança: segundo McClelland, é a capacidade de
buscar autonomia em relação a normas e controles de outros; manter seu ponto de vista
mesmo diante da oposição ou de resultados desanimadores; e expressar confiança na própria
capacidade de completar uma tarefa difícil ou de enfrentar um desafio (SEBRAE, 1990).
Autoconfiança é ter consciência de seu valor, sentir-se seguro em relação a si mesmo e, com
isso, poder agir com firmeza e tranqüilidade. A crença em si mesmo, ou seja, a autoconfiança
faz o indivíduo arriscar mais, ousar, oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras. O desejo de
liberdade e independência, quando associado a autoconfiança, leva o empreendedor a trocar a
segurança do assalariado pelo risco de um negócio próprio.
Busca de oportunidades e iniciativa: esta característica, segundo McClelland,
envolve certas atitudes do empreendedor, como, fazer as coisas antes do solicitado; atuar para
expandir o negócio; e aproveitar oportunidades fora do comum para iniciar um negócio
(SEBRAE, 1990). Identificar oportunidades é fundamental para quem deseja ser
empreendedor, e consiste em aproveitar todo e qualquer ensejo para observar negócios. Além
de identificar as oportunidades, o empreendedor deve ter iniciativa, que é a capacidade de se
antecipar às situações, agindo de maneira oportuna e adequada sobre a realidade,
apresentando soluções e influenciando os acontecimentos. Sem iniciativa não pode haver
empreendimento e sem vontade e persistência não se pode atingir o sucesso.
Estabelecimento de metas: segundo McClelland, envolve certas atitudes do
empreendedor, como: estabelecer metas e objetivos que são desafiantes e que têm significado
pessoal; definir metas de longo prazo, claras e específicas; e estabelecer objetivos de curto
prazo mensuráveis (SEBRAE, 1990).
81
Planejamento e monitoramento sistemático: segundo McClelland, através dessa
característica, o empreendedor é capaz de dividir tarefas de grande porte em sub-tarefas com
prazos definidos; revisar seus planos constantemente, levando em conta os resultados obtidos
e mudanças circunstanciais; e mantém registros financeiros, os utilizando para tomar decisões
(SEBRAE, 1990). O empreendedor tenta antecipar situações e preparar-se para elas. É alguém
com capacidade de observação e de planejamento. Capacidade para mapear o meio ambiente,
analisar recursos e condições existentes, buscando estruturar uma visão de longo prazo dos
rumos a serem seguidos para se atingir os objetivos. O empreendedor faz um planejamento
através da elaboração do plano de negócios do seu empreendimento. Com esse documento
consegue avaliar o negócio, monitorar através de um acompanhamento sistemático e
comparativo, e consegue atrair investidores para o seu projeto, ou seja, buscar recursos
financeiros.
Persistência: ser persistente, segundo McClelland, significa agir diante de um
obstáculo significativo; agir repetidamente ou mudar de estratégia, a fim de enfrentar um
desafio ou superar um obstáculo; e assumir responsabilidade pessoal pelo desempenho
necessário ao atingimento de metas e objetivo (SEBRAE, 1990). Persistência é a energia que
leva o empreendedor a agir de diferentes formas até alcançar aquilo que deseja. Tendo
definido claramente seus objetivos e metas, o empreendedor aprende com seus fracassos,
reformula estratégias e persiste no seu desejo, até ser alcançado. A persistência não deve ser
confundida com a teimosia, pois o indivíduo teimoso busca alcançar seus objetivos sempre
utilizando as mesmas estratégias, mesmo que não estejam dando certo. Já o persistente não
desiste dos objetivos, mas busca alcançá-los de formas diferentes, ou seja, uma vez que uma
estratégia não tenha dado certo ele muda a estratégia e começa tudo de novo, até conseguir
atingir o esperado.
82
Aprender com os erros e fracassos: O empreendedor aprende com os erros e não se
abate perante um insucesso. Considera o fracasso um resultado como outro qualquer. Fará
tudo o que for necessário para não fracassar, mas não é atormentado pelo medo paralisante.
Pessoas com medo do fracasso preferem não tentar correr o risco de não acertar, ficando,
então, paralisadas. Já o empreendedor prefere correr o risco do que ficar paralisado. Segundo
Leite (2002:87), o sucesso do empreendedor está associado à sua capacidade de perceber com
clareza seus próprios erros, e de corrigi-los mais rapidamente do que outras pessoas no
mercado.
83
CAPÍTULO 3
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Nesta seção, a intenção foi mostrar como a pesquisa foi conduzida para melhor
alcançar os objetivos por ela definidos. O objetivo de descrever a metodologia implicou em
mostrar o modelo de pesquisa que foi realizada, os métodos da pesquisa empregados, os
instrumentos utilizados e as técnicas de coleta e tratamento dos dados. Aqui se mostrou,
também, a unidade de análise e delimitação da pesquisa em questão. O modelo metodológico
da pesquisa e as técnicas utilizadas foram resumidas e apresentadas nas figuras 2 (p.91) e 3
(p. 97), respectivamente.
3.1 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA
Dentre as diversas classificações de níveis de pesquisas encontram-se as de Cervo &
Bervian (1983), que as dividem em Bibliográfica, Experimental e Descritiva, e esta última em
outras seis: exploratória, descritiva, pesquisa de opinião, de motivação, estudo de caso e
pesquisa documental. Malhotra (2001) e Gil (1999) utilizam uma classificação que divide a
pesquisa em exploratória, descritiva e causal. Na mesma linha de pensamento, Cooper &
Schindler (2000) classifica a pesquisa em exploratória e formal, e esta em descritiva e causal,
como mostra o Quadro 13, a seguir.
84
Quadro 13: Comparação entre as concepções básicas de pesquisa.
FORMALPESQUISA EXPLORATÓRIA
DESCRITIVA
CAUSAL
Começa onde a exploração termina: com a hipótese ou
pergunta da pesquisa.
Características Estrutura frouxa, flexível,
generalizada;
Estudo preliminar para
qualquer pesquisa.
Marcada pela formulação
prévia de hipóteses específicas.
Elemento essencial é
que A “produz” B e B
somente é produzido por A,
ou, A leva B a acontecer e B
só acontece na presença de
A.
Objetivos Descobrir futuras tarefas de
p
esquisa;
Desenvolver hipóteses ou
p
erguntas para futuras
p
esquisas.
Descreve fenômenos ou
características associadas com
u
ma população-sujeito;
Estimar proporções da
p
opulação que apresentam essas
características;
Descobrir associações
entre variáveis diferentes.
Determinar a relação
de causa e efeito entre as
v
ariáveis.
Métodos da
Pesquisa
Técnicas qualitativas;
Análise de dados
secundários;
Investigação de
E
xperiências.
Pesquisa;
Dados secundários;
Dados de observação e
outros dados;
Investigação.
Experimentos;
Técnicas de controle
sobre as variáveis.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em COOPER, D. R. & SCHINDLER, P. S. Business research methods.
McGraw-Hill. Irwin, 2000.
A pesquisa exploratória “é um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo o
fornecimento de critérios sobre a situação–problema enfrentado pelo pesquisador e sua
compreensão” (MALHOTRA, 201, p. 106). Ela é utilizada, geralmente, no início de qualquer
estudo, para que o pesquisador compreenda melhor o assunto a ser tratado. O conceito de
causa, segundo Cooper & Schindler (2000), é que uma variável sempre causa uma outra e
nenhuma outra variável tem o mesmo efeito causal. É quando dois ou mais casos de um dado
fenômeno tem uma e somente uma condição em comum, e então tal condição pode ser
considerada como a causa (ou efeito) do fenômeno. De forma mais explicativa, o elemento
essencial da causa é que A “produz” B ou A “força” B a acontecer, e B somente acontece na
presença de A.
A pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tem como característica principal a
descrição de algo – características, fenômenos ou função de uma população ou do mercado
(MALHOTRA, 2001). Uma pesquisa descritiva visa uma variedade de objetivos: a)
85
descrições de fenômenos ou características associadas a uma população; b) estimativas das
proporções de uma população que tem essas características, e; c) descoberta de associações
entre variáveis diferentes. Enquanto que estudos causais têm como objetivo a descoberta e
medida das relações causa e efeito entre variáveis (COOPER & SCHINDLER, 2000).
Desta forma, seguindo a classificação de Cooper & Schindler (2000), o presente
estudo não pôde ser caracterizado como causal, mas sim como “pesquisa exploratória e
descritiva”. Diz ser exploratório porque, primeiramente, foi necessário efetuar uma pesquisa
que levantasse as principais características e habilidades determinantes do perfil
empreendedor. E descritivo, porque buscou descrever, analisar e comparar o perfil do
empreendedor bem sucedido e mal sucedido no âmbito empresarial. A pesquisa descritiva
busca testar uma hipótese ou responder a pergunta do estudo e, neste caso, a pergunta que a
pesquisa buscou responder é se havia alguma diferença entre o perfil empreendedor de dois
grupos de análise: empreendedores com empresas extintas e empreendedores com empresas
ativas no mercado.
Embora o modelo teórico da pesquisa estivesse delineado, tornou-se necessário um
planejamento da pesquisa em uma dimensão mais ampla e profunda. Para tanto, foram
definidos os métodos da pesquisa, suas devidas técnicas de coleta de dados, os instrumentos
por ela utilizados e suas devidas delimitações.
3.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS DA PESQUISA
Todas as ciências sejam elas sociais, exatas, biológicas, etc., são caracterizadas pela
utilização de métodos científicos, embora nem todos os ramos de estudo que se utilizam
desses métodos podem se considerados como ciências. O que se pode afirmar é que não há
ciência sem o emprego de métodos científicos. “A palavra método é de origem grega e
86
significa o conjunto de etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na investigação
dos fatos ou na procura da verdade” (RUIZ, 1996, p.137). É o traçado fundamental do
caminho a percorrer na pesquisa científica. Segundo Lakatos & Marconi (1991, p.83) método
é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia,
permite alcançar o objetivo da pesquisa, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e
auxiliando as decisões do pesquisador. A importância do método é enfatizada no aspecto de
ser necessário para se atingir resultados confiáveis conforme objetivos pretendidos e para que
um estudo possa ser considerado verdadeiramente científico.
3.2.1 Método de abordagem
O método de abordagem se caracteriza por uma abordagem mais ampla, em nível de
abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade, e também pela sua ação
na etapas menos concretas da investigação (LAKATOS & MARCONI, 1991: 106). Para fins
de trabalho científico, existe um grande número de métodos de abordagem, classificados por
estudiosos, tais como Cervo & Bervian (1983), Lakatos & Marconi (1991), Ruiz (1996), Gil
(1999), Cooper & Schindler (2000). Eles apresentam procedimentos que devem ser seguidos
no processo de investigação científica, seja da sociedade ou da natureza. Gil (1999) é quem
apresenta uma maior classificação de métodos de abordagem, destacando:
a) Método dedutivo: o método é dedutivo quando, a partir de enunciados ou
premissas mais gerais chega a uma conclusão particular ou menos geral
(RUIZ, 1996, p.38), ou seja, é aquele que parte de uma teoria geral para
explicar o particular;
b) Método Indutivo: é um processo de raciocínio inverso ao dedutivo.
Caminha da observação de fatos particulares para tirar conclusões
87
ampliadas, em enunciados mais gerais (RUIZ, 1996, p.139). É o processo
por meio do qual parte-se de dados particulares, suficientemente
constatados, e projeta-se uma conclusão geral, estendendo para uma verdade
universal e formando uma teoria.
c) Método hipotético-dedutivo: é aquele que a partir do conhecimento prévio
ou teorias existentes, observa uma contradição ou problema, formula
hipóteses que serão testadas ou falseadas. A análise dos resultados pode
refutar (rejeitar) as hipóteses ou corroborá-las (não rejeitá-las). Se não
houver rejeição, surge uma nova teoria (LAKATOS & MARCONI, 1991,
p.96);
d) Método dialético: este método interpreta a realidade fundamentando-se nos
princípios da ação recíproca (“tudo se relaciona”), mudança dialética ou
negação da negação (“tudo se transforma”), passagem da quantidade à
qualidade (“mudança qualitativa”) e interpenetração dos contrários ou
contradição (LAKATOS & MARCONI, 1991, p.100). Este método
considera que os fatos não podem ser entendidos de forma isolada ou
retirados de suas influências culturais, políticas, econômicas, distinguindo-se
da ótica “positivista” (DUTRA, 2002);
e) Método fenomenológico: consiste em mostrar o que é dado e a esclarecê-lo.
A realidade é o que é compreendido, podendo haver tantas realidades
quantas forem suas interpretações (DUTRA,2002).
Analisando o modelo da pesquisa pôde-se concluir que ela caracterizou-se como
método indutivo, por coletar dados em uma amostra representativa de empresas, para chegar
a conclusões gerais sobre a diferença entre o perfil do empreendedor de sucesso e de fracasso
empresarial. Através deste método, foi possível observar alguns casos particulares e tirar uma
88
conclusão geral sobre o problema. A conclusão foi obtida explicando os fatos, a partir de
evidências obtidas. O problema concreto, os fatos e dados coletados e as evidências obtidas
constituíram a base para sustentar a conclusão. Nesta pesquisa, foram analisados alguns perfis
de empreendedores que tiveram suas empresas extintas e alguns dos perfis de empreendedores
que conseguiram a sobrevivência de suas empresas. Os perfis desses empreendedores ou
empresários foram comparados a fim de analisar se eles podiam ser um dos fatores que
levaram à mortalidade ou à sobrevivência empresarial. Foi tirada uma conclusão geral, que
pôde ser estendida para os demais casos, sendo caracterizada então como uma pesquisa de
caráter indutivo.
3.2.2 Métodos de procedimento
Os métodos de procedimento constituem etapas mais concretas da investigação, com
finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratos.
Pressupõe uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitados a um domínio
particular (LAKATOS & MARCONI, 1991, p.221). Segundo os autores, os principais
métodos de procedimentos utilizados nas ciências sociais são:
a) Método histórico: consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições
alcançaram suas formas atuais influenciadas pelo contexto cultural particular de cada
época.
b) Método comparativo: realiza comparações, com a finalidade de verificar similitudes
e explicar divergências entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos, seja no
presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado. Pode ser utilizado em
todas as fases e níveis de investigação. Ex: modo de vida rural e urbano.
89
c) Método monográfico: consiste no estudo em profundidade de determinados
indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidade, com a
finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido,
observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus
aspectos. Ex: estudos regionais e de aldeias.
d) Método estatístico: significa redução de fenômenos sociológicos, políticos,
econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite
comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua
natureza, ocorrência ou significado. Ex: explicar a correlação entre duas variáveis.
e) Método tipológico: compara fenômenos sociais e cria modelos ideais, construídos a
partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno. A característica principal do
modelo ideal é não existir na realidade, mas servir de modelo para a análise e
compreensão de casos concretos, realmente existentes.
f) Método funcionalista: estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas
unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades, pois leva em
consideração que a sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, inter-
relacionadas e interdependentes, que podem melhor ser entendidas compreendendo as
funções que desempenham no todo.
g) Método estruturalista: investiga um fenômeno concreto, eleva-o ao abstrato,
constituindo um modelo que represente o objeto de estudo, e retorna por fim ao
concreto, para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos. Ex: verifica as
leis que regem o casamento e o sistema de parentesco das sociedades primitivas, ou
modernas, através da construção do modelo que represente os diferentes indivíduos e
suas relações, no âmbito do matrimônio e parentesco.
90
Diferenciado-se do método de abordagem, os métodos de procedimento muitas vezes
podem ser utilizados em conjunto, com a finalidade de obter vários enfoques do objeto de
estudo. Nesta pesquisa foram utilizados diversos métodos de procedimentos, como mostra a
figura 2 (p.91), cada qual cumprindo sua finalidade para o devido atendimento do objetivo da
pesquisa: para analisar o papel que os empreendedores desempenham na sociedade,
pesquisou-se sua origem, desenvolvimento e a forma em que aparece atualmente, através do
método histórico; na investigação das características que formam o perfil do empreendedor
de hoje, foi empregado o método tipológico, através do qual se montou um “modelo ideal” de
empreendedor, que foi utilizado para analisar o perfil dos empreendedores; os dados coletados
na pesquisa de campo receberam tratamento através do método estatístico, utilizando a
estatística descritiva para apresentar os resultados de ambas as amostras; e, em última análise,
o método comparativo foi utilizado para analisar as similaridades e divergências do perfil
dos empreendedores que tiveram suas empresas extintas e o perfil dos empreendedores que
conseguiram fazer suas empresas sobreviverem no mercado. Assim, um conjunto de métodos
de procedimentos foi empregado, cada um de forma específica e restrita, a fim de se cumprir
cada uma das etapas mais concretas da investigação.
O modelo metodológico da pesquisa consistiu no agrupamento de todos os métodos
descritos nos itens 3.1 e 3.2, que se apresenta resumido na figura 2. Esta figura tem o objetivo
de mostrar os caminhos seguidos pela pesquisa, desde a classificação da ciência na qual esta
pesquisa se enquadra (empírica e sociais), passando pelo modelo teórico da pesquisa
(exploratório e descritivo), até os métodos científicos da pesquisa (método de abordagem
indutivo e métodos de procedimentos histórico, tipológico, estatístico e comparativo).
91
Figura 2: Modelo metodológico da pesquisa
Fonte: Elaborado com base em Cooper & Schindler (2000), Ruiz (1996), Lakatos & Marconi (1991) e Previdelli
(1996). Obs: As zonas sombreadas caracterizam o caminho utilizado pela pesquisa.
CLASSIFICAÇÃO
DAS CIÊNCIAS
FORMAIS
EMPÍRICA
SOCIAIS
NATURAIS
NÍVEIS DA PESQUISA
EXPLORATÓRIA
DESCRITIVA
CAUSAL
MÉTODOS CIENTÍFICOS
MÉTODO DE ABORDAGEM
Indutivo
Dedutivo
Hipotético-
Dedutivo
Dialético
Fenomenológico
MÉTODOS DE PROCEDIMENTO
Histórico
Ti
p
oló
g
ico
Com
p
arativo
Estatístico
Mono
g
ráfico
Funcionalista
Estruturalista
Classificação da
Pesquisa
Trata da divisão
da ciência em
diversos ramos de
estudo, diante da
complexidade do
universo e da
diversidade de
fenômenos que
nele se
manifestam.
Níveis da
Pesquisa
Determina a
concepção e os
objetivos da
pesquisa.
Abordagem
e Procedimentos
Método de
Abordagem
Proporciona uma
abordagem ampla,
em nível de
abstração mais
elevado dos
fenômenos da
natureza e da
sociedade.
Métodos de
Procedimento
Tem finalidade
mais restrita e atua
nas etapas mais
concretas da
investigação
92
3.3 INSTRUMENTOS DA PESQUISA
Delineado o modelo teórico da pesquisa e o método científico da pesquisa, foi
necessário definir o modo de investigação. Esta etapa foi composta pela definição de alguns
instrumentos que ajudaram a compreender melhor a forma como a pesquisa foi realizada. Para
isso, segundo (COOPER & SCHINDLER, 2000, p.134-139) foi necessário determinar as
características quanto:
9 Controle das variáveis pelo pesquisador: em termos de habilidade do pesquisador em
manipular variáveis, a pesquisa pode ser diferenciada em pesquisas experimentais e
pesquisas ex post facto. Na pesquisa experimental o pesquisador controla e/ou manipula as
variáveis de estudo. É adequado quando se deseja descobrir se certas variáveis produzem
efeitos em outras variáveis. Já a pesquisa pode ser considerada ex post facto quando não
há controle sobre as variáveis no sentido de serem capazes de manipulá-las. Neste caso,
segundo Cooper & Schindler (2000), o pesquisador fica limitado a manter os fatores
constantes e apenas relatar o que acontece no seu ambiente real. Dentro deste contexto, a
pesquisa foi considerada ex post facto, pois as variáveis em estudo são intrínsecas e não
manipuláveis, não podendo, portanto, haver um controle por parte do pesquisador.
9 Dimensão do tempo: quanto à dimensão do tempo, o estudo pode ser considerado
transversal ou longitudinal. Estudos transversais são realizados uma vez e representam
uma foto instantânea de um ponto no tempo, enquanto que, estudos longitudinais são
repetidos por um extenso período, tendo a vantagem de detectar mudanças com o passar
do tempo (COOPER & SCHINDLER, 2000; MALHOTRA, 2001). O estudo transversal
pode ser único, no qual é extraída somente uma amostra de elementos da população, ou
múltiplo, no qual há duas ou mais amostras de elementos (COOPER & SCHINDLER,
93
2000; MALHOTRA, 2001). Assim, considerou-se este estudo como transversal
múltiplo, pois envolveu a coleta de informação de duas amostras, que foram obtidas
somente uma vez, representando um acontecimento para um determinado período de
tempo.
9 Âmbito tópico da pesquisa: quanto ao âmbito da pesquisa, pode-se classificar em estudo
estatístico ou estudo de caso, sendo caracterizado pela amplitude ou profundidade,
respectivamente. O estudo de caso põe ênfase em uma completa análise textual de menos
eventos, ou seja, estuda-se menos casos em uma profundidade mais elevada. O estudo
estatístico é destinado para a amplitude em vez de profundidade. Estudos de amplitude
tentam capturar as características da população através de inferências das características
de uma amostra. Deste modo, esta pesquisa se caracterizou como pesquisa estatística,
pois foi realizado um estudo de amplitude, que envolveu a retirada de uma amostra
representativa da população.
9 Qualidade da pesquisa: Estudos qualitativos são, geralmente, utilizados no estudo de
caso, que são estudos mais profundos. Nas pesquisas estatísticas, como neste caso, os
estudos são quantitativos, nos quais generalizações sobre constatações são apresentadas
baseadas na representatividade da amostra. Embora este estudo tenha sido classificado
como quantitativo, os dados analisados se dividem entre quantitativos e qualitativos, pois
tratou-se da análise de características, habilidades e competência pessoal de indivíduos.
9 Ambiente da pesquisa: quanto ao ambiente da pesquisa, elas ocorrem sob condições
ambientais reais (de campo) ou condições de laboratório. Nesta pesquisa o ambiente
utilizado foi sob condição de campo, pois foi realizada sob condições ambientais reais e
não através de simulações como ocorre em condição de laboratório.
94
9 Percepção do sujeito da pesquisa: quanto à percepção do sujeito sobre o assunto, ele
percebeu que a pesquisa estava sendo conduzida, afinal ela foi realizada por meio de
questionários, que ele mesmo respondeu.
3.4 TÉCNICAS DE PESQUISA
Técnica, segundo Ruiz (1996, p.138), é a instrumentação específica da ação da
pesquisa. Significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares
a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método. Para Lakatos & Marconi
(1991, p.174), técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou
arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas; é a parte prática. As técnicas
aplicadas nesta pesquisa foram descritas de acordo com a classificação utilizada por Lakatos
& Marconi (1991), por considerá-la mais abrangente, detalhada e explicativa. Na página 97
encontra-se a figura 3, que mostra as técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo.
3.4.1 Documentação indireta
Esta foi a fase da pesquisa realizada com o intuito de recolher informações prévias
sobre o campo de interesse, através do levantamento de dados de fontes variadas. O
levantamento de dados é a primeira etapa de qualquer pesquisa científica, podendo ser
realizada de duas formas:
a) Pesquisa documental: na qual a fonte de coleta de dados está restrita a documentos,
escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias: documentos de
arquivos públicos ou privados, leis, relatórios, cartas, contratos, estatísticas (censos),
95
fotografias, gravações, filmes, mapas, balanços, diários, autobibliografias, relatos de
visitas ou viagens, etc.
b) Pesquisa bibliográfica: abrange o estudo em toda a bibliografia já tornada pública em
relação ao tema de estudo. Tem como finalidade colocar o pesquisador em contato
direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto,
permitindo o reforço na análise da pesquisa ou na manipulação das informações
(LAKATOS & MARCONI, 1991, p.183).
Com base nestes dois tipos de documentação indireta, pode-se dizer que a primeira
técnica de coleta de dados utilizada foi a pesquisa bibliográfica (figura 3, p. 97), na qual
foram levantados dados teóricos sobre a evolução do termo empreendedorismo, sobre as
características empreendedoras e as atitudes comportamentais que formam o perfil do
empreendedor, entre outros assuntos pesquisados que juntos formaram o embasamento teórico
da pesquisa, contido no Capítulo 2. A pesquisa bibliográfica compreendeu a busca sobre o
assunto específico e assuntos correlatos em livros, artigos em revistas especializadas, teses,
dissertações, monografias, anais de congressos e publicações virtuais em endereços
eletrônicos. Nestas fontes buscou-se adquirir conhecimento teórico sobre o assunto
pesquisado e analisar as generalizações já alcançadas por outros autores. Não representou uma
repetição do que já foi escrito sobre o assunto, mas propiciou a análise do tema,
empreendedorismo, sob um novo enfoque.
3.4.2 Documentação direta
A documentação direta, segundo Lakatos & Marconi (1991), constitui-se no
levantamento de dados no próprio local onde os fenômenos ocorrem. Esses dados podem ser
obtidos de duas maneiras:
96
a) Pesquisa de laboratório: é um procedimento de investigação mais difícil, porém mais
exato. Descreve e analisa o que será ou ocorrerá em situações controladas pelo
pesquisador. Exige instrumental específico, preciso, e ambientes adequados.
b) Pesquisa de campo: é utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou
conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma reposta, ou de uma
hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as
relações entre eles (LAKATOS & MARCONI, 1991, p.186).
Quanto à documentação direta, este estudo pôde ser categorizado como pesquisa de
campo, pois, como já foi especificado no Instrumento da Pesquisa, item 3.3., consistiu na
observação de fatos tal como ocorre em condições ambientais reais, buscando descobrir
relações entre duas variáveis que ocorrem espontaneamente.
3.4.3 Observação direta
A observação direta pode ser intensiva ou extensiva. A observação direta intensiva é
realizada através de duas técnicas: observação e entrevista. A observação consiste em ver,
ouvir e examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar, se dividindo em observação não
estruturada/não planejada, observação estruturada/planejada, observação não-participante,
observação participante, observação individual, observação em equipe, observação na vida
real, observação em laboratório. Já a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de
que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional e assim coletando os seus dados de análise (LAKATOS
& MARCONI, 1991, p.196). Na observação direta extensiva, os dados são coletados através
de questionário, formulário, medidas de opinião e atitudes e de técnicas mercadológicas
(LAKATOS & MARCONI, 1991).
97
Para a coleta de dados desta pesquisa foi empregada a técnica da entrevista, seguindo
a classificação de entrevista padronizada ou estruturada (figura 3), pois o pesquisador
seguiu um roteiro previamente estabelecido, com perguntas pré-determinadas. O motivo da
padronização, segundo LAKATOS & MARCONI (1991, p.197), é obter, dos entrevistados,
respostas às mesmas perguntas, permitindo que todas elas sejam comparadas com o mesmo
conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir diferenças entre os respondentes e
não diferenças nas perguntas. Na entrevista estruturada, o pesquisador não é livre para
acrescentar, alterar ou adaptar perguntas, permitindo assim que as respostas recebam
tratamentos estatísticos.
Figura 3: Desenho das técnicas de pesquisa utilizadas neste estudo.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lakatos & Marconi (1991).
TÉCNICA DE PESQUISA
DOCUMENTAÇÃO INDIRETA
DOCUMENTAL
BIBLIOGRÁFICA
DOCUMENTAÇÃO DIRETA
OBSERVAÇÃO
DIRETA INTENSIVA
OBSERVAÇÃO
DIRETA EXTENSIVA
Observação
Entrevista
Estruturada Não Estruturada Painel
Questionário
Formulário
Medidas de Opinião
Testes
Sociometria
Análise de Conteúdo
História de Vida
Pesquisa de Mercado
98
As entrevistas foram realizadas através do método telefônico tradicional e do método
pessoal. No método telefônico tradicional o entrevistador telefona para uma amostra e faz
uma série de perguntas padronizadas. O entrevistador usa um questionário e registra as
respostas (MALHOTRA, 2001). O questionário utilizado para as entrevistas com as empresas
fechadas encontra-se no Anexo I. Este método foi utilizado para entrevistar a amostra de
empreendedores que tiveram suas empresas encerradas, pois a maioria deles foi entrevistada
em suas residências. Para conseguir o telefone residencial desses empreendedores utilizou-se
uma listagem fornecida pela prefeitura. Os telefones da lista, parte eram das empresas, que já
estavam fechadas e os telefones desligados, parte eram dos escritórios que faziam a
contabilidade das empresas. Ao ligar para os escritórios, alguns forneciam o telefone
residencial do empreendedor, mas muitos se negavam, ou porque realmente não tinham ou
porque não tinham permissão para fornecer. Uma outra forma utilizada para conseguir os
telefones residenciais foi o auxílio à lista telefônica, pois na listagem fornecida pela
prefeitura, a razão social de algumas empresas era o nome ou sobrenome do empreendedor.
Para a coleta de dados da amostra de empresas abertas utilizou-se também do método
telefônico tradicional, uma vez que o telefone da listagem ou era do escritório que faz a
contabilidade da empresa ou era da própria empresa. No entanto, utilizou-se também do
método pessoal, no qual os entrevistados são procurados pessoalmente e a tarefa do
entrevistador é contatar os entrevistados, fazer as perguntas e registrar as respostas
(MALHOTRA, 2001). Este método também foi utilizado por haver uma certa restrição por
parte do empreendedor em fornecer informações por telefone, pelo fato da empresa estar em
atividade. O questionário utilizado nas empresas abertas encontra-se no Anexo II.
99
3.4.1 Questões utilizadas para atender aos objetivos da pesquisa
As questões do questionário foram selecionadas com o objetivo de atender aos
objetivos da pesquisa. Cada objetivo específico foi alcançado com base em uma ou mais
questões, que se encontram nos questionários, nos anexos I e II. Buscando facilitar o
entendimento do questionário e estabelecer uma ligação entre o mesmo e os objetivos da
pesquisa, o quadro 14 mostra os objetivos da pesquisa e as devidas questões formuladas para
atendê-los:
Quadro 14: Questões que respondem aos objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa Questões da pesquisa
1. 1. Caracterizar os empreendedores
maringaenses quanto ao sexo, idade e nível de
escolaridade;
Informações gerais sobre o empreendedor: Idade, Sexo,
Escolaridade.
2. Analisar o nível de conhecimento e
experiência na área empresarial e no ramo do
negócio;
Qual atividade exercia antes de criar sua empresa?
Se trabalhava ou era proprietário de outra empresa, qual
o ramo de atividade?
3. Analisar o ambiente de relação do
empreendedor maringaense;
Tem alguém na família ou amigos próximos que já teve ou
tem uma empresa?
4. Analisar o nível de comprometimento e
dedicação do empreendedor com o seu
empreendimento;
O senhor (a) desempenha (desempenhava) alguma outra
atividade além dessa empresa?
5. Analisar a capacidade de inovação do
empreendedor;
O senhor (a) introduziu algum tipo de inovação dentro da
sua empresa?
6. Analisar o nível de centralização e delegação
de autoridade do empreendimento;
Quem toma (tomava) as decisões dentro da sua empresa
7. Analisar o nível de exigência de qualidade e
eficiência do empreendedor;
A qualidade dos seus produtos/ serviços pode (podia) ser
considerada como: excelente, boa, razoável, ruim, péssima?
A qualidade do trabalho dos seus funcionários pode
(podia) ser considerada como: excelente, boa, razoável,
ruim, péssima?
8. Analisar o nível de realização e satisfação
com o trabalho por parte do empreendedor;
O trabalho na sua empresa traz (trazia) realização: sempre, a
maioria das vezes, às vezes, raramente nunca?
9. Analisar o processo de criação da empresa:
motivos de abertura, busca de informações,
planejamento inicial e monitoramento;
Qual o principal motivo que o levou à abertura da
empresa?
Ao criar sua empresa, o senhor (a) elaborou um
planejamento, realizando pesquisas de mercado?
Estabeleceu metas a longo prazo?
Quanto tempo foi utilizado para o planejamento da sua
empresa, antes do início das atividade da mesma?
Durante o período de atividade da sua empresa, o senhor
(a) realizou pesquisas de monitoramento?
10. Analisar os motivos do encerramento da
empresa e o nível de persistência com relação
a ele;
Qual o principal motivo pelo fechamento da empresa?
A empresa, antes de encerrar suas atividades procurou
assistência ou assessoria de algum profissional ou
entidade?
O senhor(a) começaria o seu negócio novamente?
Se fosse começá-lo novamente, mudaria alguma coisa
nele?
100
Apesar de serem estas as questões que realmente atenderam aos objetivos da pesquisa,
algumas outras questões foram efetuadas, buscando conhecer melhor o empreendedor e
também para dar entrada ou continuidade aos assuntos específicos, de forma que a entrevista
se transformasse numa conversa agradável e convencesse o empresário a concluir a entrevista.
Da mesma forma, algumas questões foram subdivididas em várias outras com o intuito de
realmente alcançar a resposta, como no caso das questões sobre planejamento e
monitoramento, que inclui pesquisas com clientes, análise de viabilidade econômico-
financeira, elaboração de plano de negócios, análise da concorrência, fornecedores,
funcionários e conhecimento tecnológico. Esses e outros detalhes do questionário, podem ser
analisados nos anexos I e II.
3.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
Delimitar a pesquisa significa estabelecer limites para a investigação. Essa limitação
ocorre em relação ao assunto, à extensão, ao tempo, ao espaço, entre outros fatores que
possam melhor delinear e especificar a pesquisa.
3.5.1 Unidade de análise
A unidade analisada foi uma amostra de empresários cujas empresas tinham sido
fechadas com até três anos de atividade e uma amostra, na mesma proporção, de empresários
que mantinham suas empresas abertas a mais de três anos, no município de Maringá. O
assunto analisado foi o perfil empreendedor dos empresários de ambas as amostras.
101
3.5.2 Delimitação do universo da pesquisa
O universo ou população é o conjunto de elementos que apresentam pelo menos uma
característica em comum. Sua delimitação consiste em explicitar que pessoas, coisas ou
fenômenos foram pesquisados, enumerando suas características em comum. Nesta pesquisa, a
característica em comum do universo pesquisado era: um grupo composto de pessoas que
possuíam empresas, e no outro pessoas que já possuíram uma empresa, mas que, no momento
da pesquisa, não as possuíam mais. Quanto ao espaço da pesquisa, ela foi realizada na cidade
de Maringá, ou seja, junto a empreendedores cujas empresas estavam situadas na cidade de
Maringá.
Para relacionar o universo de empresas dos dois grupos foi preciso identificar qual era
a melhor fonte de informação. Inicialmente, procurou-se a Associação Comercial e Industrial
de Maringá – ACIM- que precisou ser descartada como fonte de informação, pois possuía
somente um cadastro de empresas afiliadas e não havia um controle das empresas que
fecharam. Ao entrar em contato com a Junta Comercial de Maringá, descobriu-se que este
órgão envia os cadastros das empresas locais para a cidade de Curitiba, onde ficam
arquivados. Entrando em contato com a Junta Comercial de Curitiba, a informação obtida foi
que somente seria possível fornecer a razão social da empresa e o endereço, e não o número
do telefone, essencial como veículo de contato para a pesquisa.
Procurou-se então, obter informações junto à Prefeitura Municipal de Maringá. Neste
local, mais especificamente na Secretaria da Fazenda, estavam registradas as empresas em
atividade e também as inativas. Segundo a funcionária deste setor, esta base de dados não
estava completa por dois motivos principais: a) muitas empresas trabalham informalmente, ou
sejam, não se registram, portanto, a base de dados de empresas abertas estava incompleta,
podendo haver muito mais empresas em Maringá do que as cadastradas; b) muitas empresas
102
não dão baixa formal devido a burocracia, ao custo ou a esperança de reativar a empresa,
podendo assim, haver mais empresas fechadas do que as registradas. Apesar de não ser
totalmente completo, optou-se trabalhar com o universo da base de dados oficiais existentes
no sistema eletrônico de informação da prefeitura de Maringá, pois considerou-se o melhor
dentre as opções.
No setor de expedição foi solicitado duas listagens de empresas, uma de empresas
inativas que iniciaram suas atividades em 1997, 1998 e 1999, e outra de empresas ativas que
iniciaram suas atividades no mesmo período de 1997, 1998 e 1999. Após conseguir as
listagens das empresas, processo que demorou cerca de dois meses desde o pedido até a
expedição, alguns critérios básicos foram estabelecidos como condição para seleção das
organizações:
a) as organizações deveriam ter seu alvará de abertura e seu encerramento concedidos pela
prefeitura do município de Maringá;
b) as organizações deveriam fazer parte de uma das seguintes atividades: indústria, comércio
serviços, excluindo o grupo de profissionais liberais e afins, pois estas pessoas registram
suas “firmas” como uma exigência para estarem legalizados com a legislação, e assim
poderem emitir notas fiscais de serviços que executam;
c) o período de atividade formal (fiscal) das empresas em atividade deveria ser maior do que
três anos;
d) o período de atividade formal (fiscal) das empresas encerradas deveria ser de até três anos,
ou seja, empresas abertas em 1997, 1998, 1999 deveriam ter sido encerradas até 2000,
2001 e 2002, respectivamente. Esta seleção foi realizada no momento da entrevista;
e) as organizações deveriam ser de micro e pequeno porte.
Na listagem emitida pela prefeitura, não estava especificado se a empresa era de
micro, pequeno, médio ou grande porte. Assim, as empresas foram selecionadas no momento
103
da entrevista, eliminando e não coletando dados daquelas de médio e grande porte. Existem
diversos critérios para a definição de micro e pequenas empresas. Dentro do critério
escolhido, existem subdivisões e classificações que variam conforme quem o utiliza. Quanto a
essa caracterização, a pesquisa utilizou o critério em vigor adotado pelo Sebrae (2002),
conforme segue:
a) microempresa: na indústria até 19 empregados e no comércio/serviço até 09
empregados;
b) pequena empresa: na indústria de 20 a 99 empregados e no
comércio/serviço de 10 a 49 empregados;
c) média empresa: na indústria de 100 a 499 empregados e no
comércio/serviço de 50 a 99 empregados.
Para termos de comparação, a pesquisa foi realizada em dois grupos de população. No
primeiro grupo foram analisadas as empresas que não sobreviveram por mais de três anos no
mercado, ou seja, que foram criadas em 1997, 1998 e 1999 e encerraram suas atividades antes
dos três anos de existência. No segundo grupo foram analisadas as empresas que nasceram no
mesmo período das empresas do primeiro grupo de análise (1997, 1998 e 1999) e que, por sua
vez, conseguiram sobreviver. O universo dos dois grupos de análise, obtidos junto à Prefeitura
Municipal de Maringá, pode ser visto na tabela 1.
Tabela 1: Relação das empresas e tamanho do universo da pesquisa
1º Grupo: empresas extintas 2º Grupo: empresas em atividade
Ano de criação freqüência % Ano de criação freqüência %
1997 1.976 37,65 1997 877 28,45
1998 1.698 32,34 1998 981 31,82
1999 1.575 30,01 1999 1.225 39,73
Total 5.249 100,00 Total 3.083 100,00
Fonte: Secretaria da Fazenda da Prefeitura Municipal de Maringá, jan. 2003.
Com os dados da tabela acima se pode notar que no período de 1997 a 1999 nasceram
8.332 empresas em Maringá, mas dessas apenas 3.083 empresas estavam vivas no momento
104
da pesquisa. O percentual de empresas que conseguiram sobreviver por mais de três anos no
mercado era muito baixo, correspondia a 37%. Segundo informações da prefeitura de
Maringá, na relação de empresas fornecida constava apenas as empresas que deram baixa,
sendo que as empresas que não se atualizaram eram consideradas como se estivessem em
atividade. Isto significa que o percentual de empresas extintas podia ser ainda maior do que
63%, pois de acordo com a funcionária da secretaria da fazenda o índice de empresas que
fechavam, mas não davam baixa na prefeitura, era bastante elevado.
Para efeito de comparação, a tabela 2 apresenta o universo dividido entre comércio,
indústria e serviço, permitindo assim uma melhor visualização da quantidade de empresas
vivas e extintas, por atividade.
Tabela 2: Empresas validadas, abertas no Município de Maringá entre 1997 e 1999
Empresas Ativas Empresas InativasAtividade
Frequência % Frequência %
Comércio 1306 42,36 2779 52,94
Serviço 1535 49,79 2067 39,38
Indústria 242 7,85 403 7,68
Total 3083 100,00 5249 100,00
Fonte: Secretaria da Fazenda da Prefeitura Municipal de Maringá
Os dados da tabela 2 referem-se às organizações que iniciaram formalmente suas
atividades entre 1997 e 1999, na Prefeitura Municipal de Maringá, entretanto, no momento da
entrevista pôde ser percebido que muitas destas empresas já estavam atuando, informalmente,
no mercado. Desta forma, pode-se encontrar neste universo, organizações que há anos tinham
sido abertas, mas que somente neste período se registraram na prefeitura. Durante, a coleta de
dados de empresas encerradas, o tempo de atividade foi questionado no início da entrevistas e
as que atuaram por mais de 3 anos foram excluídas para garantir a validação da pesquisa. Da
mesma forma as empresas que já estavam fechadas informalmente, mas que não deram baixa
na prefeitura, estando formalmente abertas, também foram excluídas no ato da entrevista.
105
3.5.3 Tipo de amostragem
Como o universo pesquisado era bastante extenso, não havia a possibilidade de
analisá-lo em sua totalidade, havendo assim a necessidade de investigar apenas uma parte
dessa população. À essa parte da população dá-se o nome de amostra, que é uma parcela ou
um subconjunto selecionado do universo e representativo do todo. O tipo de amostragem
utilizado pela pesquisa foi a Amostragem Probabilística Estratificada, que segundo
Malhotra (2001, p.310) é um processo de dois estágios para dividir a população em
subpopulações ou estratos. Os estratos devem ser mutuamente excludentes e coletivamente
exaustivos, no sentido de que cada elemento da população deve ser atribuído a um único
estrato, e nenhum elemento da população deve ser omitido. A seguir, os elementos são
selecionados de cada estrato por um processo aleatório (MALHOTRA, 2001).
Apesar da existência de várias fórmulas, a amostra varia muito de pesquisa para
pesquisa. Para determinar o tamanho da amostra, além da aplicação de uma fórmula, algumas
observações devem ser levadas em consideração (DUTRA, 2002):
a) quanto maior o número de elementos numa amostra, menor os desvios dos parâmetros
em relação ao valor esperado da população;
b) quanto maior o número de elementos, maior a aproximação da distribuição amostral à
curva normal;
c) quanto maior a homogeneidade da população, menor será a amostra a ser pesquisada.
Existem inúmeras fórmulas para se apurar o tamanho da amostra, variando de autor
para autor. A fórmula que foi utilizada nesta pesquisa é aplicada para uma amostragem
probabilística e para uma população finita, ou seja, quando o universo é composto por menos
de 100 mil casos (VIEGAS, 1999):
106
Onde:
n = tamanho da amostra
σ
2
= nível de confiança em quantidade de desvios padrões
p = proporção do universo que possui a propriedade pesquisada
q = proporção do universo sem a propriedade pesquisada (q=100-p)
e = erro de estimação (em valores percentuais)
N = população
Valores utilizados:
σ
2
= 2 (95% de confiança corresponde a 2σ )
p = 50 (usando o valor 50 para p, maximiza-se o numerador, aumentando a segurança
da amostra)
q = 50 (q=100-p)
e = 10 (margem de erro de 10%)
Através da aplicação da fórmula obtiveram-se as seguintes amostras:
Tabela 3: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)
Empresas Ativas Empresas Inativas
Atividade
Freq. % Freq. %
Comércio 41 42,36 52 52,94
Serviço 48 49,79 39 39,38
Indústria 8 7,85 7 7,68
Total 97 100,00 98 100,00
As amostras encontradas, A
1
(empresas ativas) = 97 e A
2
(empresas inativas) = 98,
foram subdivididas entre comércio, indústria e serviço nas mesmas proporções que estes
segmentos representam da população. O setor de serviço, por exemplo, representava 49,79%
da população das empresas ativas e 39,38% das empresas inativas. Esses percentuais foram
aplicados sobre as amostras, A
1
e A
2
, para se obter as quantidades amostrais do setor.
Depois de extraída as amostras, passou-se para a etapa de aplicação da pesquisa, na
qual um questionário foi elaborado para estruturar a entrevista (os questionários encontram-se
nos anexos I e II). Seguiu-se a aplicação do pré-teste, no qual aplicou-se 10 entrevistas,
avaliando-se o feedback. Realizou-se alguns ajustes no questionário e na técnica de entrevista
n = σ
2
pq. N____
e
2
(N-1) + σ
2
pq
107
e de abordagem ao entrevistado. Após o método de coleta de dados mostrar-se confiável deu-
se início à pesquisa de campo.
As entrevistas foram realizadas por quatro pesquisadores de campo, sendo um deles a
autora do estudo. Os pesquisadores de campo foram treinados com aulas expositivas e
simulações de entrevistas, na qual alguns pontos foram discutidos no sentido do entrevistador
não influenciar ou direcionar a resposta do entrevistado. Durante todo o processo de coleta de
dados a autora se manteve presente para auxiliar e supervisionar os auxiliares, bem como para
garantir que alguns passos fossem seguidos:
1) Destacar na listagem fornecida pela prefeitura, as empresas que possuíam telefones.
Observação: a quantidade de empresas sem número de telefone era de apenas 5%.
2) Fazer a ligação para os telefones destacados no passo 1. A maioria dos telefones eram dos
contadores que fizeram a abertura da firma, na prefeitura.
3) Identificar-se, explicar a razão da pesquisa e o efeito da contribuição do entrevistado para
futuros empreendedores. No caso do atendente ser o próprio empreendedor, sensibilizá-lo
a responde o questionário. Sendo o contador ou funcionários do escritório, sensibilizá-los
a fornecer um contado com o empreendedor;
4) Utilizar o auxílio da lista telefônica quando a razão social da empresa for o nome de uma
pessoa física, pois a probabilidade do nome ser do proprietário é grande. Observação: este
critério foi bastante utilizado com as empresas fechadas, pois se os números contidos na
listagem fossem das empresas, já estavam desligados e se fossem dos contadores eles não
sabiam ou não podiam fornecer o telefone residencial atual do proprietário;
5) Quando conseguir contatar o proprietário, questionar primeiramente sobre o porte da
empresa. Deveriam ser descartadas as de médio e grande porte, desculpando-se com o
entrevistado e explicando o motivo;
108
6) No caso de empresas fechadas, questionar o tempo de permanência no mercado. Deveriam
ser descartadas as que ficaram ativas por mais de 3 anos;
7) No caso de empresas abertas, questionar o tempo de atividade. Deveriam ser descartadas
as que estão ativas por menos de 3 anos e as que estão fechadas mas não deram baixa na
prefeitura.
Um fato que se pôde constatar foi que muitas do grupo de empresas fechadas não
haviam encerrado suas atividades realmente, mas apenas mudado de endereço ou de nome.
Ao entrar em contato com a funcionária da prefeitura, responsável pela emissão das listagens,
obteve-se a informação de que quando uma empresa muda de endereço, muda de nome,
adiciona um sócio ou faz qualquer alteração no seu registro, é dado baixa no registro antigo e
feito um novo registro. E, na base de dados é como se ela tivesse encerrado as atividades e,
em seguida, reiniciado. Assim, a amostra das empresas fechadas se mostrou menor do que a
calculada, mas como não havia uma forma de obter os dados reais, a não ser através do
contato com a empresa, utilizou-se a amostra com base no universo fornecido pela prefeitura.
3.5.4 Limitações da Pesquisa
Mesmo com a ajuda dos contadores, verificou-se grande dificuldade em encontrar os
telefones. Para não diminuir a dimensão amostral, a maioria dos telefones dos entrevistados
foi obtida através da lista telefônica, por meio da razão social constante na listagem da
prefeitura. Pode-se dizer que a fase de busca dos entrevistados foi a mais trabalhosa de toda a
pesquisa, tanto que o cronograma inicialmente calculado para 20 dias estendeu-se para 2
meses. Os principais obstáculos para encontrar os proprietários foram:
a) telefones desativados: a maioria dos telefones constantes nas listagens eram dos
contadores. Quando não eram, conseguia-se os contatos com as empresas ativas,
109
no entanto os telefones das empresas extintas estavam desativados, pois a empresa
não estava operando;
b) não fornecimento do telefone por parte do escritório de contabilidade: ao constatar
que o número do telefone pertencia ao escritório que fazia a contabilidade da
empresa, tentava-se obter o número do telefone do empresário (da empresa, no
caso de empresas ativas, e da residência, no caso das inativas). O contador às vezes
fornecia, quando se tratava de empresas abertas. Já, quando se tratava de empresas
fechadas, ou não fornecia porque realmente não possuía ou porque não tinha
autorização;
c) falta de retorno da pessoa de contado: muitas vezes, quando conseguia-se o
número do telefone e, depois de algumas tentativas de contato, pedia-se para
retornar a ligação, o retorno não era obtido.
O questionário, por sua vez, demonstrou ser razoavelmente longo, entretanto, quando
se conseguiu contatar o proprietário, aproximadamente 95% deles foram prestativos e
responderam o questionário até o final. Apesar das dificuldades em obter contato com os
empresários, principalmente ao se tratar das empresas inativas, a pesquisa conseguiu atingir as
amostras estipuladas. Assim, pode-se dizer que a pesquisa capturou as características das
populações através da inferência das características das amostras, e que as generalizações
sobre as constatações são apresentadas baseadas na representatividade dessas amostras.
110
CAPÍTULO 4:
RESULTADOS DA PESQUISA
Este capítulo tratou da análise dos dados coletados e teve como objetivo explorá-los
em maior profundidade, comparando os dois grupos de análise: empreendedores cujas
empresas nasceram em 1997, 1998 e 1999 e se extinguiram do mercado com até três anos de
atividade e empreendedores cujas empresas nasceram no mesmo período e conseguiram
sobreviver por mais de três anos. A tabela 4 apresenta os dados com a distribuição do ramo de
atividade das empresas observadas. A baixa participação do ramo “indústria” demonstrada no
universo da pesquisa também se manifesta na amostra e é explicada pelo perfil econômico do
município. A atividade econômica de Maringá por muito tempo esteve orientada para a
agropecuária, impulsionando o desenvolvimento do setor de comércio e serviço e deixando a
industria em segundo plano, pois é um setor que necessita de maior investimento e tecnologia.
Tabela 4: Quantidade de empresas da amostra (empresas ativas e inativas)
Empresas Ativas Empresas Inativas
Atividade
Freq. % Freq. %
Comércio 41 42,36 52 52,94
Serviço 48 49,79 39 39,38
Indústria 8 7,85 7 7,68
Total 97 100,00 98 100,00
No Capítulo 3, item 3.5.2, está detalhada a origem dos dados, obtidos na base do
sistema de informações da Prefeitura Municipal de Maringá. E no item 3.5.3, do mesmo
capítulo, estão os detalhes do processo de amostragem. É importante registrar que a amostra,
constituída por 195 empresas, sendo 97 empresas ativas e 98 empresas inativas, foi
devidamente alcançada e os 195 questionários foram devidamente preenchidos e utilizados
para a análise, presente neste capítulo.
111
Neste contexto, os dados foram submetidos ao tratamento estatístico descritivo,
através do qual resultaram tabelas, gráficos e figuras ilustrativas, bem como em textos
descritivos e comparativos. Este procedimento atendeu ao objetivo de uma investigação mais
rigorosa e a descrição detalhada dos aspectos da pesquisa encontra-se explicitada no terceiro
capítulo. Cabe ressaltar que este estudo não teve como objetivo estabelecer inter-relações
entre as variáveis, mas sim fazer uma comparação entre as variáveis dos grupos de análise.
4.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR
Nas pesquisas em ciências sociais, é muito comum iniciar-se as apresentações com
dados demográficos ou sócio-econômicos. Este trabalho também optou por este
procedimento, objetivando primeiramente identificar as características básicas dos grupos de
análise, para facilitar a ordenação e organização das idéias do pesquisador. Neste primeiro
momento procurou-se identificar o empreendedor, classificando-o quanto à idade, sexo e nível
de escolaridade.
4.1.1 Idade do empreendedor
A idade do empreendedor é aquela correspondente ao momento da pesquisa, ou seja,
os dados apresentados implicam a idade do empreendedor no momento em que foi
entrevistado. A classificação da idade do empreendedor foi obtida através da estipulação de
faixas etárias de cinco anos, como mostra a figura 4:
112
A idade dos empreendedores, cujas empresas permanecem em atividade, se concentra
entre 36 e 50 anos, somando 57% dos entrevistados, sendo que, 21% deles têm de 46 a 50
anos. Já, um quarto praticamente dos empreendedores cujas empresas foram extintas do
mercado tem idade acima de 50 anos (24%). O percentual de jovens empreendedores, de até
25 anos, e bem sucedidos é muito baixo, cerca de 9% apenas, enquanto que, o percentual de
empreendedores de até 25 anos que já tiveram suas empresas encerradas é menor ainda, 6%.
Tanto nas empresas em atividade quanto nas encerradas a faixa de idade está acima de 36
anos, mostrando a atuação de dirigentes com maior experiência de vida e na área empresarial.
4.1.2 Sexo do empreendedor
Figura 4: Idade do Empreendedor
9%
10%
17%
19%
11%
9%
24%
21%
13%
6%
12%
11%
19%
19%
0%
10%
20%
30%
40%
até 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 acima
de 50
Empresa aberta
Empresa fechada
Figura 5: Sexo do Empreendedor
58%
42%
52%
48%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
masculino feminino
Empresas abertas
Empresas fechadas
113
Quanto à classificação do sexo do empreendedor, a maioria dos empreendedores, tanto
das empresas ativas quanto das inativas, é do sexo masculino, 58% e 52%, respectivamente.
Embora a diferença não seja grande ela pode estar distorcida, pois o fato de haver mais
mulheres entre as empresas encerradas pode ser explicado. As entrevistas com os
proprietários de empresas encerradas foram feitas por meio do telefone residencial e a
probabilidade de encontrar as mulheres em casa durante o dia pode ser maior do que a de
encontrar homens, pois os mesmos, muitas vezes já tinham conseguido outro emprego, não
sendo possível entrevistá-los.
4.1.3 Nível de escolaridade do empreendedor
Com relação à escolaridade, o nível dos empreendedores de empresas bem sucedidas é
um pouco mais elevado do que o nível dos empreendedores de empresas mal sucedidas. Isto
pelo fato do percentual de empreendedores com nível de 2º grau, 3º grau e pós-graduação ser
maior entre os empreendedores cujas empresas sobreviveram no mercado, cerca de 76%,
quando comparado com os 60% de empreendedores cujas empresas não conseguiram
sobreviver.
Figura 6: Nível de Escolaridade do Empreendedor
0%
3%
38%
13%
16%
6%
5%
0%
11%
13%
30%
18%
12%
7%
9%
19%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Sem
Escolaridade
1º Grau
incompleto
1º Grau
completo
2º Grau
incompleto
2º Grau
completo
3º Grau
incompleto
3º Grau
completo
Pós-
graduado
Empresas abertas
Empresas fechadas
114
Outro fator de contraste é que entre os empreendedores das empresas em atividade não
há nenhum sem escolaridade e 6% deles tem nível de pós-graduação, enquanto que, entre os
empreendedores de empresas fora de atividade o contrário acontece, não há nenhum com
nível de pós-graduação e 5% deles não tiveram nenhum contato escolar.
Entre as empresas ativas, 28% tem formação superior ou pós-graduação voltada para a
área empresarial ou para o ramo do negócio e 8% fizeram o 3º grau ou pós-graduação em
áreas que não correspondem com o ramo do negócio e que não são voltados para a atividade
empresarial. Já, entre as empresas encerradas, somente 14% dos empreendedores fizeram um
curso superior ou a pós-graduação na área empresarial ou voltado para o ramo do negócio e,
16% o fizeram em áreas que não contribuem com conhecimento sobre o ramo do negócio,
nem com conhecimento empresarial ou administrativo.
Entre os que adquiriram conhecimento no ramo do negócio, estão os profissionais de
educação física que abriram academia, os profissionais de informática que montaram lojas de
equipamentos de informática e prestam serviços de assistência e programação na área, os
nutricionistas que abriram restaurantes e panificadoras, os farmacêuticos, os educadores que
Figura 7: Área de formação em curso superior e pós-graduação
19%
16%
8%
64%
9%
11%
3%
70%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
área
empresarial
ramo do
negócio
fora da área
empresarial
e do ramo
do negócio
sem curso
superior
Empresas abertas
Empresas fechadas
115
montaram escolas particulares, entre inúmeros outros. Esses profissionais, apesar de não
terem adquirido conhecimento administrativo e empresarial, adquiriram conhecimento sobre o
seu ramo de atividade, que é um ponto fundamental para o sucesso de um empreendimento.
4.2 AMBIENTE DE RELAÇÃO DO EMPREENDEDOR
O comportamento empreendedor, segundo Drucker (1986), está vinculado ao cultural,
ao psicológico, bem como ao tecnológico. Assim, existem contextos onde a tendência ao
empreendedorismo é maior do que em outros, o que possibilita inferir que a cultura e os
valores são fundamentais para a formação do empreendedor. Desta forma, procurou-se
comparar o ambiente de relação dos dois grupos de empreendedores, buscando analisar se
ambos convivem dentro de uma cultura empreendedora.
O que se pôde perceber é que a maioria dos empreendedores das empresas ativas,
76%, tem familiares e amigos próximos convivendo no meio empresarial, enquanto que, no
grupo de empreendedores que encerraram as atividades das suas empresas somente 41% tem
contato próximo com pessoas da área empresarial. Os familiares e amigos próximos formam o
nível primário de relação, ou seja, são pessoas que mantêm ligações em torno de mais de uma
atividade e, este nível de relações é a principal fonte de formação de empreendedores
Figura 8: Empreendedores com família ou amigos próximos
envolvidas na área empresarial
76%
24%
41%
59%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Possui
Não
Possui
Empresas abertas
Empresas fechadas
116
(DOLABELA, 1999a). Segundo o autor, o empreendedor é um produto do meio em que vive
e, então se há na família pessoas que trabalham de forma autônoma ou que possuem seu
próprio negócio, a tendência de surgir novos empreendedores é maior do que em famílias
cujos membros sempre assumiram cargos de empregados.
Os empreendedores, segundo Filion (1999b), adquirem uma cultura empreendedora
pela prática, no seio da família e, a maioria daqueles que se tornaram empreendedores foi
graças à influência de um modelo no âmbito familiar ou próximo, que o influenciou. Pode-se
dizer então que a tendência do empreendedor ser bem sucedido é maior nos casos em que há
um ambiente de relação voltado para o empreendedorismo e, os 76% de empreendedores bem
sucedidos que possuem tal ambiente contra os 41% dos empreendedores que tiveram suas
empresas extintas vai de encontro a tais teorias.
Quando o empreendedor convive num ambiente cultural voltado para o
desenvolvimento de negócios próprios e de descobertas de novas oportunidades de negócio,
estas habilidades são adquiridas por ele e inseridas em seu perfil como uma atividade normal
e prazerosa. Isto faz com que o empreendedor tamm busque suas oportunidades, crie seu
próprio negócio e seja bem sucedido e bem realizado com ele, alcançando assim o sucesso
empresarial.
4.3 NÍVEL DE EXPERIÊNCIA NA ÁREA EMPRESARIAL E NO RAMO DO NEGÓCIO
O empreendedor, além de ter imaginação para conceber idéias, criatividade para
transformá-las em uma oportunidade, capacidade iniciativa para montar um negócio,
motivação para conduzi-lo, capacidade para perceber a mudança como uma oportunidade e
flexibilidade para se adaptar a elas, deve possuir habilidades empresariais que possibilitem o
bom funcionamento do seu empreendimento, tornando-o lucrativo. O conhecimento
117
administrativo pode ser conseguido através do estudo, mas a habilidade empresarial só pode
ser adquirida de uma forma: através da experiência (ZACCARELLI, 2000). Com o intuito de
saber se os empreendedores dos dois grupos de análise tinham alguma experiência
empresarial, antes de dar início ao seu empreendimento, elaborou-se a seguinte questão “Qual
atividade exercia antes de criar a sua empresa”.
As respostas para esta questão estão na figura 9, a qual mostra que um percentual
maior dos entrevistados (44% dos empreendedores de empresas abertas e 42% dos
empreendedores de empresas fechadas) era funcionários de empresas privadas, antes de
iniciar seu próprio negócio. Portanto, já tinha algum conhecimento empresarial anterior. Em
segundo lugar estão os que eram proprietários de outras empresas (19%) no grupo de
empreendedores de empresas em atividade e os que exerciam outras atividades (19%) no
grupo dos empreendedores cujas empresas se extinguiram do mercado. Neste grupo de outras
atividades estão os agricultores, construtores, dona de casa, costureira, caminhoneiro,
empregada doméstica, diarista, ou seja, pessoas que nunca tiveram contato com uma empresa.
E – Estudante A – Autônomo
FP – Funcionário Público FB – Funcionário Bancário
FEP – Funcionário de Empresa Privada P – Proprietário de outra empresa
Figura 9: Atividade anterior à criação da empresa
5%
6%
19%
10%
12%
9%
19%
6%
10%
44%
9%
5%
4%
42%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
EF PF E PAF BPOutra
Empresa aberta
Empresa fechada
118
Outro fator observado foi o conhecimento do ramo de atividade por parte do
empreendedor, pois conhecer o mercado e o ramo em que se pretende atuar é essencial para
perceber as chances de sucessos e prevenir-se em relação aos imprevistos. Para tanto,
procurou-se analisar, entre os entrevistados que trabalhavam em outra empresa anteriormente,
quantos trabalhavam no mesmo ramo em que abriu sua empresa, pois o conhecimento do
ramo pode ser adquirido pela própria experiência do empreendedor no negócio, pelo contato
com outros empreendedores do ramo, bem como por informações buscadas em revistas,
informativos, associações, sindicatos, cursos, palestras, feiras, etc.
mesmo da atual
diferente da atual
41%
59%
66%
34%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Figura 10: Ramo de atividade da empresa anterior
Empresas abertas
Empresas fechadas
Esta pergunta foi realizada para os funcionários de empresa privada, para os
autônomos e para os proprietários de outras empresas, que juntos constituem 73% dos
empreendedores com empresas ativas e 63% dos empreendedores com empresas que
encerraram suas atividades. Dentre estes entrevistados, constatou-se que, 66% dos
empreendedores, cujas empresas permanecem abertas, trabalhavam no mesmo ramo em que
decidiu abrir seu negócio e, muitos deles abriram um negócio bem similar ao da empresa em
que trabalhava. Outros acabaram se tornando sócio ou adquirindo a empresa, na qual
119
introduziu algumas mudanças e inovações. Já, entre os empreendedores cujas empresas se
encerraram, a maioria (59%) trabalhavam em empresas que não eram do mesmo ramo de
atividade, ou seja, não possuíam conhecimento prévio do ramo do negócio. Embora pudessem
ter conhecimento na área empresarial, a falta de conhecimento sobre o ramo do negócio pode
ter sido um dos fatores do encerramento das empresas para estes 59% de empreendedores.
4.4 COMPROMETIMENTO E DEDICAÇÃO AO EMPREENDIMENTO
O comprometimento é uma forte característica do empreendedor, identificada por
David McClleland e implica em despender um esforço extraordinário para completar uma
tarefa, colaborar com os empregados e se esmerar em manter os clientes satisfeitos (SEBRAE,
1990). Além de se comprometer com o empreendimento, o empreendedor também se
autocompromete, assumindo responsabilidades consigo mesmo e se dedicando quase que
exclusivamente com o empreendimento. Para analisar o nível de comprometimento do
empreendedor com o seu empreendimento, fez-se a seguinte pergunta: “Após a criação da
sua empresa, exercia alguma outra atividade, acumulando tarefas?”. Para esta pergunta
obteve-se as respostas apresentadas na figura 11, que segue.
Figura 11: Dedicação ao empreendimento
84%
66%
34%
16%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Dedicação
exclusiva
Dedicação
parcial
Empresas abertas
Empresas fechadas
120
Nota-se que, entre os empreendedores das empresas sobreviventes no mercado, 84%
não exercem outras atividades além do seu empreendimento, ou seja, mantêm dedicação
exclusiva à sua empresa, excluindo a dedicação à família, normalmente. Enquanto que, entre
os empreendedores das empresas não sobreviventes, a proporção daqueles que se dedicavam
exclusivamente ao empreendimento, é menor: 66%. Alguns empreendedores deste grupo
(34%), dividiam seu tempo entre a empresa e outras atividades, como representantes
comerciais, estudo, trabalho autônomo, serviços domiciliares ou exercendo a profissão na
qual tiveram formação superior, por exemplo, advogado que exercia sua profissão, mas
também tinha uma fábrica de confecção; contador que dividia seu tempo entre seu escritório e
sua loja no shopping, entre outros casos.
4.5 CAPACIDADE DE INOVAÇÃO
A inovação é o instrumento pelo qual os empreendedores exploram a mudança como
uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente, podendo ser
apresentada como uma disciplina, ser aprendida e ser praticada (DRUCKER, 1987). Ela pode
representar o fator primordial da longevidade empresarial, desde que se integre com a
pesquisa e desenvolvimento, que é o que alimenta o processo de transformação, podendo
garantir assim o desenvolvimento empresarial. Já isolada, perde as propriedades competitivas.
Segundo Carland et al (1984, apud Souza, 2001, p.32) “a diferença entre um negócio e um
empreendimento de sucesso é a inovação, sendo, pois, uma gestão empreendedora aquela que
combina as características pessoais do empreendedor, a estrutura que ele implementar e a
busca constante da inovação”. É preciso disseminar e propiciar ambientes favoráveis às
inovações, a fim de que os resultados se aproximem, correspondam ou superem expectativas
desenhadas.
121
Dentro deste contexto, procurou-se analisar se os empreendedores das micro e
pequenas empresas maringaenses, tanto de empresas ativas como de inativas, introduziram
algum tipo de inovação em suas empresas, que as diferenciassem dos concorrentes. Para
tanto, obteve-se respostas não muito satisfatórias, como podem ser vistas na figura 12.
Figura 12: Inovações introduzidas na empresa
30%
14%
5%
26%
14%
71%
3%
22%
0%
5%
1%
9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Produto
Serviço
Processo
produtivo
Atendimento
ao cliente
Outros
o inovou
Empresas abertas
Empresas fechadas
Dos empreendedores das empresas encerradas, 71% não introduziram nenhum tipo de
inovação, enquanto que, das empresas em atividade somente 26% não inovaram ou deixaram
fluir alguma inovação. Assim, as inovações mais introduzidas entre os empreendedores de
ambos os grupos de análise foram: no produto, no serviço e no atendimento ou
relacionamento com cliente, somando 66% entre os empreendedores de empresas ativas e
apenas 28% entre os empreendedores das empresas inativas. Entre a opção “outros” se
encontra respostas como, inovação no preço, na qualidade, na entrega, nas promoções e no
público-alvo, embora seja uma proporção pequena: 5% nas empresas ativas e 1% nas inativas.
Inovar para David McClelland é identificar oportunidades, sendo capaz de colocar um
adicional ou diferencial, para agregar valor ao produto ou serviço (SEBRAE, 1990). E, o que
se pode constatar neste estudo é que, o grupo de empreendedores com empresas ativas
122
apresenta mais características inovadoras do que o grupo de empreendedores das empresas
inativas, tendo, portanto, maiores chances de sobreviverem num mercado cada vez
competitivo.
4. 6 NÍVEL DE CENTRALIZAÇÃO E DELEGAÇÃO DE AUTORIDADE
Delegar responsabilidades e descentralizar a tomada de decisão é uma função
necessária, desde que os membros da organização aceitem tais delegações. Segundo Pati
(1995, p. 50) o empreendedor deve ser capaz de confiar na capacidade do outro e de delegar
responsabilidades aos membros de sua equipe, evitando trazer responsabilidade de qualquer
trabalho individual para si, sobrecarregando-se de pequenas coisas e não tendo tempo e
disponibilidade para o que é realmente necessário. Sheedy (1996, p.74) diz que delegar “é
uma habilidade que se aprende, e é o que diferencia uma empresa próspera e em expansão de
seu oposto”. Tendo em vista analisar o nível de centralização entre os grupos de
empreendedores da pesquisa, perguntou-se: Quem toma ou tomava as decisões na empresa?
Para tal pergunta tinha-se as seguintes alternativas de respostas: somente o entrevistado, o
entrevistado e parentes, o entrevistado e os sócios, o entrevistado e o gerente, todos os
funcionários tomam decisões condizentes às suas funções e outros. As respostas obtidas são
as que seguem na figura 13:
Figura 13: Tomador de decisão
37%
43%
4%
62%
9%
28%
4%
12%
1%
0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Somente o
entrevistado
O
entrevistado
e parentes
O
entrevistado
e sócios
O
entrevistado
e o gerente
Todos os
funcionários
Empresas abertas
Empresas fechadas
123
Pode ser observado que a maioria, ou seja, 63% dos empreendedores com empresas
abertas dividem as decisões com outras pessoas, seja parentes, sócios, gerentes ou
funcionários, enquanto que, a maioria dos empreendedores das empresas fechadas, 62%,
tomava sozinho as decisões na sua empresa. Embora a pesquisa tenha sido realizada nas micro
e pequenas organizações, que tem como característica um número pequeno de funcionários e
o proprietário como único dirigente, observou-se uma diferença considerável nos dois grupos
de análise, no que diz respeito a delegar autoridade e responsabilidade, ou seja, descentralizar
as decisões. Pode-se dizer que os empreendedores das empresas ativas são mais
descentralizadores e delegam mais as decisões, uma vez que delegar não é abdicar, mas
transferir decisões e ações a pessoas capacitadas a desenvolvê-las. É transferir poder, apoiar e
motivar o indivíduo a alcançar os devidos resultados.
4.7 EXIGÊNCIA DE QUALIDADE E EFICIÊNCIA
A exigência de qualidade e eficiência são características empreendedoras,
identificadas por David McClelland e, através delas, o empreendedor encontra maneiras de
fazer as coisas melhor, mais rápido, ou mais barato; age de maneira a fazer as coisas que
satisfazem ou excedem padrões de excelência; e desenvolve ou utiliza procedimentos para
assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou que o trabalho atenda padrões de
qualidade previamente combinados (SEBRAE, 1990). Desta forma, procurou-se analisar se
estas características estão presentes nos empreendedores maringaenses, tanto nos que
possuem como nos que possuíram uma empresa. Os resultados estão apresentados na figura
14 e 15, sendo obtidos de acordo com a percepção dos empreendedores.
124
Figura 14: Qualidade dos produtos ou serviços
45%
54%
0%
4%
0% 0%0%
1%
41%
55%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Excelente
Boa
Razoável
Ruim
Péssimo
Empresas abertas
Empresas fechadas
Quase a totalidade dos empreendedores de ambos os grupos considera a qualidade dos
seus produtos e serviços entre excelente e boa, ficando os empreendedores das empresas
abertas com 99% e os empreendedores das empresas fechadas com 96%. Na percepção desses
empreendedores, seus produtos e serviços atendiam ou atendem os padrões de qualidade
estabelecidos.
Figura 15: Qualidade do trabalho dos funcionários
43%
52%
19%
64%
6%
5%
0%
0%
5% 6%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Excelente
Boa
Razoável
Ruim
Péssimo
Empresas abertas
Empresas fechadas
Quanto à qualidade do trabalho dos funcionários, a maioria dos empreendedores
também considera entre excelente e boa (95% entre os empreendedores das empresas abertas
e 83% entre os empreendedores das empresas fechadas). No entanto, o nível de excelência na
qualidade do trabalho ocorreu somente para 19% dos empreendedores que encerraram as
atividades das suas empresas, enquanto que, para os funcionários com empresas em atividade
125
ocorre para 43%. No nível entre ruim e péssimo, 11% dos empreendedores cujas empresas já
fecharam, classificam a qualidade do trabalho dos funcionários, contra nenhum dos
empreendedores que mantêm ativos seus empreendimentos. E, como razoável, 5% dos
empreendedores com empresas ativas e 6% dos empreendedores com empresas inativas
julgam ser a qualidade do trabalho dos funcionários das suas empresas.
4.8 CAPACIDADE DE REAÇÃO
Os empreendedores convivem com aspectos que são inerentes à sua atuação, tais como
a imprevisibilidade, tolerância ao risco e a instabilidade financeira e social, que possibilitam
caracterizar esta ocupação como de alto potencial stressante (AYRES et al, 2001). Eles têm a
capacidade de suportar situações de não satisfação de necessidades pessoais ou profissionais,
sem se comportar de maneira derrotista, negativa ou confusa. Têm capacidade de rápida
superação e conseguem achar maneiras de reagir e combater o stress. Diante desta capacidade
do empreendedor, procurou-se analisar o tempo que os empreendedores maringaenses
levavam ou levam para superar tais situações, e o resultado pode ser observado na figura 16,
que segue:
Figura 16: Tempo de reação à situações stressantes
70%
49%
29%
16%
6%
25%
4%
1%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
até 1
dia
de 2 a 3
dias
de 4 a 7
dias
mais de
1
semana
Empresas abertas
Empresas fechadas
126
Nota-se que o tempo de superação a situações stressantes é mais rápido entre os
empreendedores cujas empresas estão em atividade, pois 70% deles superam em até 1 dia,
25% entre 2 a 3 dias e somente 5% leva mais de 4 dias para se recompor diante de situações
difíceis. Enquanto que, entre os empreendedores cujas empresas se extinguiram 49% levam
até 1 dia, 29% levam de 2 a 3 dias e 22% demoram mais de 4 dias para recuperar a estima
depois de uma frustração ou decepção. Assim, a capacidade de reação e de superação a
frustrações se mostra maior entre os empreendedores que mantém suas empresas atuantes,
tanto que dentre os empreendedores das empresas encerradas, apenas 34% voltaram a ter
alguma ligação com outras empresas e 66% não mais procuraram emprego na área
empresarial.
4.9 NÍVEL DE REALIZAÇÃO
Em 1983, Boyd & Gumpert, em uma pesquisa com 450 empreendedores sobre stress
de pequenos empresários, mostraram que os dois pontos positivos do negócio próprio foram
as recompensas psicológicas de controle e a realização (apud AYRES et al, 2001). Estar
disposto a dispensar um emprego seguro, salário e vida confortável em busca da sua
realização pessoal é uma tendência do empreendedor. Fazer o que gosta é o melhor retorno
que se pode obter, pois o dinheiro é uma conseqüência do desempenho. Assim procurou-se
saber se o trabalho na empresa traz realização para os empreendedores ativos e se trouxe
realização para os empreendedores durante o período em que tiveram uma empresa.
127
Figura 17: Nível de realização com o empreendimento
64%
27%
0%
20%
16%
11%
0%
9%
19%
34%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Sempre
A maioria
das vezes
Às vezes
Raramente
Nunca
Empresas abertas
Empresas fechadas
O resultado, mostrado na figura 17, revela que quase a totalidade dos empreendedores
que permanecem com suas empresas se sente sempre ou a maioria das vezes realizada com ela
(91%) e que apenas 9% se sentem somente às vezes realizados com seus empreendimentos. Já
entre os empreendedores que tiveram suas empresas encerradas, apenas 53% se sentiam
sempre ou a maioria das vezes realizados, 20% às vezes e 27% nunca ou raramente sentiu
realização e satisfação com seu trabalho. Percebe-se que o nível de realização ou satisfação
com o trabalho é maior entre os empreendedores que permanecem ativos com seus
empreendimentos. O contrário também pode ser dito, que tais empreendimentos permanecem
ativos porque seus empreendedores se sentem realizados ou satisfeitos com eles. Uma
vantagem é fazer o que se gosta de fazer, pois assim o trabalho sai bem feito e naturalmente
virão os resultados financeiros e os reconhecimentos.
4.10 PROCESSO DE CRIAÇÃO DA EMPRESA
Esta parte da entrevista tem o objetivo de identificar o motivo que levou o
empreendedor a abrir uma empresa, quanto tempo ele levou para planejar o empreendimento,
128
quais os tipos de pesquisa que ele efetuou antes da abertura do negócio, bem como quais as
pesquisas que realizou durante o período de atividade da empresa. No final desta seção
perguntou-se ao empreendedor o que ele achava que era o principal fator de sucesso de um
empreendimento, buscando analisar se ele se baseou nesta consideração, ao montar sua
empresa.
4.10.1 Motivo de abertura do empreendimento
A abertura de uma empresa não deve ser considerada como um fator qualquer, mas
sim algo que requer alguns procedimentos fundamentais. Uma empresa não deveria ser aberta
somente pelo fato do proprietário ter tempo ou recursos disponíveis ou estar necessitado em
gerar lucros. Não deveria ser gerada somente por uma falta de opção de trabalho ou com a
expectativa de gerar trabalho para a família e amigos. A abertura de uma empresa deveria
estar fundamentada em um motivo muito maior, que é a identificação de uma boa
oportunidade de negócio. A identificação de oportunidades para Degen (1989, p. 21) pode
ocorrer de várias maneiras: através da identificação de necessidades no mercado, da
observação de deficiências que podem ser melhoradas, da observação de tendências, da
derivação da ocupação atual, da procura de outras aplicações para um produto ou serviço já
existente, da exploração de hobbies, lançamento de moda, e da imitação do sucesso alheio.
Com o intuito de saber o principal motivo que levou os empreendedores maringaenses
a abrirem uma empresa, deu-se as opções abaixo relacionadas, mas com a abertura para
indicarem alternativas que não se encontram nesta relação.
129
Tabela 5: Principal motivo de abertura da empresa
MOTIVOS Empresas em
atividade(%)
Empresas
inativas(%)
Conhecimento do ramo de atividade
26 15
Identificação de oportunidade de negócio
24
6
Falta de oportunidade de trabalho 5
23
Recursos financeiros disponíveis 0 11
Tempo disponível 1 6
Desejo de liberdade, independência
19
10
Vontade de ganhar dinheiro 5
27
Realização profissional 18 1
Pouca concorrência para a empresa 2 0
Outros 0 1
Total 100% 100%
Pode-se notar que entre os empreendedores das empresas ativas o motivo de abertura
mais indicado foi o conhecimento do ramo de atividade, com 26% das respostas. Fica
explícito que muitos desses empreendedores trabalhavam em empresas do mesmo ramo de
negócio, como mostrado no item 4.3, que relata que entre os empreendedores ativos que
trabalhavam ou era proprietário de outra empresa, ou que trabalhava de forma autônoma, 66%
era do mesmo ramo de negócio da empresa atual, ou seja, já tinham conhecimento tanto na
área empresarial como no ramo de atuação da empresa. Em segundo lugar, com 24% das
respostas, fica a identificação de oportunidade de negócio, que pode ser vista como a soma de
uma necessidade, seja individual, grupal ou da sociedade, com a capacidade de satisfazê-la,
através de favoráveis condições ambientais, econômicas, sociais e individuais. E, em terceiro
lugar, com 19%, fica o desejo de liberdade e independência por parte do empreendedor, que
segundo David McClelland é uma das características do empreendedor, significando a
constante busca pela autonomia em relação a normas e controles de outros (SEBRAE, 1990).
O motivo principal pelo qual a maioria dos empreendedores das empresas extintas
abriu suas empresas foi a vontade de ganhar dinheiro, com 27% das respostas, e o segundo
motivo mais indicado, com 23%, foi a falta de oportunidade de trabalho, ou seja, 50% dos
empreendedores que tiveram suas empresas encerradas, abriram suas empresas baseadas em
fatores não aceitos pelos estudiosos de empreendedorismo, como Dolabela, Degen, Filion,
130
Drucher, Debelak, entre outros. Somente o terceiro motivo mais votado, conhecimento do
ramo de atividade com 15%, que é parcialmente aceito pelos estudiosos. Parcialmente porque
este fator é um dos quesitos básicos para se montar uma empresa, mas não o quesito principal
e único.
Assim pode-se dizer que os empreendedores das empresas ativas tiveram como base
motivos mais fundamentados no processo de empreendedorismo do que os empreendedores
das empresas encerradas, pois se basear em conhecimento do ramo, identificação de
oportunidade de negócio e desejo de independência, ao montar uma empresa, fornece uma
tendência maior de sucesso do que montar uma empresa baseada na vontade de ganhar
dinheiro e na falta de oportunidade de trabalho. O mercado competitivo aceita e dá chances às
empresas que se baseiam no seu fundamento e não àquelas que se baseiam em objetivos
individuais, ou seja, o mercado aceita e faz crescer aquilo que o serve e não aquilo que serve a
um único indivíduo. Os dois motivos mais votados pelos empreendedores de empresas ativas
são baseados no mercado, ou seja, ter conhecimento do ramo é uma vantagem competitiva,
assim como identificar uma oportunidade de mercado também é, e mais ainda. Já os dois
motivos de abertura mais votados pelos empreendedores das empresas extintas (vontade de
ganhar dinheiro e falta de oportunidade de trabalho) não são fatores competitivos para se
entrar no mercado, mas sim para satisfação do proprietário.
4.10.2 Processo de planejamento do negócio
Planejar significa antecipar situações e preparar-se para elas, ou seja, é a capacidade de
observar e mapear o meio ambiente, identificar situações de ameaças e de oportunidades,
analisando recursos existentes e buscando estruturar os caminhos para se alcançar os
objetivos. O planejamento para abertura de uma empresa pode ser realizado através da
131
elaboração de um plano de negócios, no qual se faz uma avaliação do negócio, produto ou
serviço a ser oferecido ao mercado; uma avaliação dos concorrentes, fornecedores e clientes;
avalia-se a tecnologia a ser empregada e faz-se uma análise da viabilidade econômico-
financeira do empreendimento. Diante de tantas análises e avaliações a serem realizadas,
segundo Dolabela (1999a), o empreendedor leva de 12 meses pra mais para elaborar um bom
plano de negócios. Assim, procurou-se comparar o tempo que os empreendedores dos dois
grupos de análise despenderam para o planejar os seus empreendimentos.
Tabela 6: Tempo de planejamento para a criação da empresa
TEMPO DE PLANEJAMENTO DO NEGÓCIO
1
Até 1
mês
De 1 a 3
meses
De 3 a 6
meses
De 6 a 9
meses
De 9 a 12
meses
Mais de 12
meses
Total
(%)
ABERTAS 8,75 11,25 13,75
17,5 20 28,75 100
FECHADAS
28,75 35 22,5
7,5 3,75 2,5
100
1
Tempo utilizado para o planejamento do negócio antes do início das atividades.
Observou-se que 66,25% dos empreendedores das empresas ativas planejaram seus
empreendimentos por mais de 6 (seis) meses, sendo que, destes, 28,75% planejaram por mais
de 12 (doze) meses. Destes empreendedores apenas 33,75% planejaram seus negócios por
menos de 6 (seis) meses, contra 86,25% dos empreendedores das empresas extintas. Em
contraste com os 28,75% dos empreendedores de empresas ativas que levaram mais de 12
meses para planejar seus negócios estão os 2,5% dos empreendedores de empresas inativas.
Em geral, os empreendedores cujas empresas permanecem em atividade planejaram seus
empreendimentos bem mais do que os empreendedores cujas empresas já saíram de atividade.
Os negócios, quando bem planejados, tendem a permanecerem competitivos no mercado por
mais tempo, pois já houve uma previsão dos riscos que poderiam ocorrer e das alternativas
para enfrentá-los.
Além de analisar o tempo dedicado ao planejamento do negócio, analisou-se também,
quais os tipos de pesquisas que foram realizadas e o que foi avaliado antes da abertura da
empresa. Para isso perguntou-se aos empreendedores de ambas as amostras se haviam
132
realizado estudos de viabilidade econômico-financeira, se haviam estabelecido rede de
contatos com fornecedores, clientes e com pessoas que poderiam auxiliar no negócio, se
haviam feito uma análise dos concorrentes e da tecnologia a ser empregada no
empreendimento. As respostas para tais perguntas estão apresentadas na figura 18:
A demonstração da figura acima mostra que, em todos os aspectos de planejamento
analisado, o percentual de empreendedores das empresas ativas é maior do que o percentual
de empreendedores de empresas inativas. A média de planejamento está em 12% para os
empreendedores de empresas inativas e 64% para os empreendedores de empresas ativas, ou
seja, tirando uma média dos empreendedores que planejaram todos os aspectos temos esses
percentuais. Os pontos mais marcantes foram com relação à elaboração de um plano de
negócios, no qual 54% dos empreendedores das empresas ativas disseram que elaboraram,
contra apenas 6% dos empreendedores de empresas inativas; com relação à análise da
concorrência, que é um fator fundamental para a abertura de uma empresa, na qual 78% dos
empreendedores das empresas ativas fizeram e apenas 10% dos empreendedores das empresas
inativas a realizaram; com relação à pesquisa de aceitação com clientes, na qual 65% das
Figura 18: Nível de planejamento antes da criação da empresa
54%
49%
63%
78%
53%
8%
10%
21%
16%
8%
10%
3%
30%
71%
65%
76%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
PN
VEF
RCF
PC
RCA
AC
MLP
CT
Empresas abertas
Empresas fechadas
PN= Plano de Negócios RCA= Rede de Contato com Auxiliares
VEF= Viabilidade Econômico-Financeiro AC= Análise da Concorrência
RCF= Rede de Contato com Fornecedores MLP= Metas a Longo Prazo
PC= Pesquisa com Clientes CT= Conhecimento Tecnológico
133
empresas ativas analisaram contra 16% dos empreendedores das empresas inativas; com
relação ao estabelecimento de metas a longo prazo, no qual 53% dos empreendedores em
atividade fizeram e somente 3% dos empreendedores de empresas encerradas estabeleceram
metas a longo prazo; entre os outros aspectos que também mostraram percentuais bem
diferentes para os dois grupos em análise.
Após analisar o planejamento antes da abertura da empresa, procurou-se analisar o
nível de planejamento durante as atividades da empresa, pois, segundo McClelland,
planejamento é o ato de antecipar situações e também de revisar os planos e objetivos
constantemente, levando em conta os resultados obtidos e as mudanças circunstanciais
(SEBRAE, 1990). O planejamento elaborado por meio de um plano de negócios é um
documento que permite ao empreendedor avaliar o negócio e monitorá-lo através de um
acompanhamento sistemático e comparativo. Ele serve também como um instrumento de
medição, através do qual pode-se comparar os resultados obtidos com aqueles que se
pretendia obter, analisando os desvios ocorridos e estabelecendo novas diretrizes.
Assim, durante o período de atividade da empresa, também é necessário que o
empreendedor realize pesquisas e faça avaliações para manter o monitoramento do negócio,
assim como é necessário que o empreendedor esteja constantemente planejando. Com o
objetivo de analisar se os empreendedores de ambas as amostras monitoraram ou monitoram
seus negócios, foi realizada uma questão incluindo os tipos de pesquisas que o empreendedor
pode fazer para avaliar o andamento do seu empreendimento, através da qual obteve-se as
respostas contidas na figura 19:
134
Pôde-se perceber que bem menos empreendedores de empresas inativas fizeram
pesquisas para monitorar suas empresas do que empreendedores das empresas ativas. Em
média, 51% dos empreendedores das empresas em atividade fizeram pesquisas com clientes,
fornecedores, concorrentes, funcionários, análise financeira do negócio e pesquisa para saber
a posição da empresa do mercado, enquanto que, apenas 11% em média, dos empreendedores
das empresas que encerraram suas atividades fizeram pesquisas para analisar tais aspectos e
monitorar seu empreendimento. Nenhum dos empreendedores das empresas extintas procurou
saber o nível de satisfação dos seus funcionários, enquanto que, 51% dos proprietários das
empresas ativas se preocuparam com esta questão, apesar de também ser um percentual
considerado baixo quando comparado com a importância deste tipo de análise. Atender bem
os funcionários resulta em um bom atendimento ao cliente, pois funcionários que trabalham
insatisfeitos, geralmente, tratam os clientes de forma insatisfatória.
Outro aspecto importante e que necessita de constante avaliação é situação econômica-
financeira da empresa, mas que mereceu atenção de apenas 11% dos empreendedores das
Figura 19: Nível de planejamento durante as atividades da
empresa
51%
40%
28%
11% 11%
0%
6%
31%
61%
70%
48%
8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
PSC
PSF
PC
AEF
PSFU
PEM
Empresas abertas
Empresas fechada
s
PSC= Pesquisa da Satisfação do Cliente PSF= Pesquisa sobre os Fornecedores
PC= Pesquisa dos Concorrentes AEF= Análise Econômica Financeira
PSFU= Pesquisa da satisfação dos funcionários PEM= Posição da Empresa no Mercado
135
empresas inativas, ou seja, 89% destes empreendedores não procuraram monitorar a situação
financeira da empresa e quando a perceberam não havia mais tempo de recuperar. Já entre os
empreendedores das empresas ativas, 70% se preocupam com este tipo de monitoramento.
Com relação à satisfação dos clientes, somente 28% dos empreendedores das empresas
inativas realizaram, mesmo que informalmente, uma pesquisa do gênero, enquanto que, entre
os empreendedores das empresas ativas, 68% procuram saber e avaliar se seus clientes estão
satisfeitos com o produto ou serviço oferecido. Tais empreendedores vêem nos clientes uma
valiosa fonte de informação sobre a qualidade dos produtos e serviços e até mesmo sobre a
forma de atendimento e sobre técnicas de venda.
De forma geral, os empreendedores das empresas ativas mostram a característica
“busca de informações”, identificada por McClelland, em uma proporção maior do que os
empreendedores das empresas inativas. Com essa característica o empreendedor dedica-se
pessoalmente a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes (SEBRAE, 1990).
Saber a importância de analisar o mercado, não somente antes da abertura da empresa, mas
também no decorrer da sua vida, pode ser um dos fatores fundamentais para superar a
competitividade acirrada que envolve o meio empresarial.
4.10.3 Consideração do empreendedor sobre o principal fator de sucesso do
empreendimento
Para finalizar a etapa que trata do processo de abertura da empresa, procurou-se
analisar o fator que os empreendedores consideram mais importante para o sucesso do
empreendimento. Ao iniciar um negócio, o primeiro fator de sucesso é a idéia estar
fundamentada numa boa oportunidade de mercado. Além deste fator a empresa ou o
empreendedor necessita de conhecimento no ramo do negócio, conhecimento de gestão de
empresa, bom atendimento e relacionamento com clientes, realização com o trabalho, entre
136
outros, para manter o sucesso do empreendimento. Os fatores financeiros, como o capital de
giro, por exemplo, são conseqüências destes fatores principais. Entretanto, fatores
relacionados a capital aparecem como principais fatores de sucesso, na percepção de
empreendedores, como apresenta a tabela 7:
Tabela 7: Principal fator para o sucesso do empreendimento na visão dos empreendedores
FATOR Empresas abertas
(%)
Empresas fechadas
(%)
Conhecimento da tecnologia a ser empregada 7
27
Conhecimento de gestão de empresas 9
10
Crédito e ajuda de fornecedores 4 5
Apoio governamental 1 3
Apoio da família 6
10
Boa oportunidade de negócios
12
9
Capital disponível para iniciar o negócio 6
21
Capital de giro
10
8
Conhecimento do ramo
25
7
Dedicação exclusiva 1 0
Bom atendimento/relacionamento com cliente 9 0
Realização com o trabalho 5 0
Qualidade do produto/serviço 4 0
Outros 1 0
Total 100 100
A tabela 7 mostra que para os empreendedores cujas empresas estão encerradas, o
principal fator de sucesso empresarial é ter conhecimento da tecnologia a ser empregada no
empreendimento, com 27% das respostas. O segundo fator mais votado foi ter capital
disponível para iniciar o negócio, com 21% das respostas e, em terceiro lugar ficou o apoio da
família e o conhecimento sobre gestão de empresas, ambos com 10% das indicações. Apenas
9% dos entrevistados apontaram a identificação de uma boa oportunidade de negócio como o
principal fator de sucesso e nenhum deles indicou a realização com o trabalho. Observa-se
também que os empreendedores deste grupo não abriram suas empresas, baseados nos fatores
que consideram ser o principal motivo de sucesso de um empreendimento. Enquanto
consideram como os principais fatores de sucesso empresarial o conhecimento tecnológico,
137
ter capital disponível para iniciar o negócio, ter conhecimento de gestão e apoio familiar,
abriram suas empresas pela vontade de ganhar de dinheiro, pela falta de oportunidade de
trabalho e por terem conhecimento do ramo do negócio, como mostra a tabela 5, no item
4.10.1.
Entre os empreendedores das empresas em atividade o motivo principal de sucesso
empresarial, mais indicado por estes empreendedores, foi o conhecimento do ramo de
atividade, com 25% das opiniões. Na segunda posição, com 12% aparece a boa oportunidade
de negócios e, na terceira, o capital de giro, com 10% das indicações. Os 53% restantes se
dividem em, principalmente, conhecimento de gestão de empresas, bom atendimento e
relacionamento com clientes, conhecimento tecnológico e vão se diluindo entre as demais
alternativas.
Percebe-se, que este grupo de empreendedores com empresas ativas abriram seus
negócios, mais baseados nos motivos que consideram ser o causa do sucesso empresarial do
que o grupo de empreendedores com empresas extintas do mercado. Eles consideram ser
motivos de sucesso do negócio, o conhecimento do ramo, a boa oportunidade de mercado e o
capital de giro da empresa (como mostra a tabela 7, do item 4.10.3), e abriram suas empresas
baseados também no conhecimento que tinham sobre o ramo do negócio, na identificação de
uma oportunidade e no desejo de liberdade e independência. Somente o 3º motivo que não são
compatíveis e que o desejo de liberdade e independência é um fator mais importante do que
ter capital de giro, no momento da abertura de um negócio, pois é uma característica
empreendedora identificada por McClelland, e através da qual o empreendedor solta as
amarras e determina sozinho seus próprios objetivos e caminhos a serem seguidos.
138
4.11 ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES
Esta parte da pesquisa foi desenvolvida para coletar dados apenas dos empreendedores
das empresas que já se extinguiram do mercado. O objetivo desta última etapa da entrevista é
analisar os motivos que levaram as empresas ao encerramento das atividades, segundo a
percepção dos seus empreendedores; analisar se tais empreendedores persistiram nas
empresas, ou seja, se tentaram de alguma forma manter a empresa em atividade; analisar se
eles começariam o negócio novamente e, se fosse começar, se mudariam alguma coisa nele.
Neste último ponto busca-se analisar se os empreendedores têm a percepção de onde ocorreu
o erro, que levou ao encerramento das suas empresas.
A primeira questão de análise, nesta última parte, é o motivo pelo qual as empresas
fecharam, segundo a visão dos seus empreendedores. As respostas podem ser conferidas na
tabela 8:
Tabela 8: Motivo pelo fechamento das empresas, na opinião dos empreendedores
PRINCIPAL MOTIVO DO FECHAMENTO Em %
Problemas financeiros
33
Falta de crédito 3
Inadimplência 5
Carga tributária muito elevada 1
Concorrência muito forte 6
Falta de profissionais qualificados 0
Falta de clientes
9
Crise econômica
11
Falta de conhecimento técnico sobre o negócio 0
Problemas particulares do(s) sócio(s)
15
Preços acima do mercado 0
Qualidade dos produtos/serviços 0
Falta de habilidades empreendedoras 0
Falta de competência administrativa e gerencial 0
Outros motivos
1
18
Total 100%
1
Entre os outros motivos estão: mudança de cidade, oportunidade boa de venda da empresa,
nova oportunidade de emprego.
139
O principal motivo do encerramento da atividade, apontado por 33% dos
empreendedores entrevistados está relacionado a problemas financeiros, como endividamento
da empresa, do proprietário ou dos sócios. Com 18% das indicações, a opção “outros
motivos” aparece em segundo lugar. Nesta opção, foram inseridos os empreendedores que
responderam que o motivo do fechamento da empresa foi: uma boa oportunidade de venda;
mudança da cidade, nova oportunidade de emprego, perda de interesse pela empresa, cansaço
com relação ao trabalho da empresa. Em terceiro lugar, com 15% das respostas, aparece a
alternativa “problemas particulares dos sócios”, na qual se enquadra, principalmente,
desentendimentos entre os proprietários, divórcio do casal, desentendimento entre os
membros da família e aqueles que se recusaram a especificar seus motivos particulares. Além
dos três primeiros lugares, 11% indicou ser a crise econômica o principal motivo do
fechamento da empresa e 9% a falta de clientes.
Nota-se que os problemas são atribuídos a diversos fatores relacionados à empresa,
mas que nenhum dos empreendedores tomaram para si a responsabilidade, ou seja, nenhum
dos entrevistados respondeu que o principal motivo pelo fechamento da empresa foi a falta de
conhecimento técnico, falta de habilidades empreendedoras ou a falta de competência
administrativa e gerencial do proprietário. Os motivos apontados pelos empreendedores como
causas do fechamento das suas empresas podem, na verdade, serem as conseqüências da falta
de características empreendedoras, que englobam o conhecimento técnico ou do ramo, e o
conhecimento ou experiência na área empresarial. O indivíduo tende, muitas vezes, a culpar
as circunstâncias, e não a si próprio, pelos erros, fato que o impede a aprender com os
resultados negativos. Certamente que, em algumas situações, o inesperado acontece, mas um
planejamento bem elaborado faz com que muitos fatos considerados imprevisíveis possam ser
previstos e controlados.
140
Quando um plano de negócio é elaborado, como uma forma de planejamento, o
empreendedor consegue identificar certos riscos, como: inviabilidade financeira, concorrência
acirrada, falta de clientes potenciais, inadimplência etc., e desta forma buscar alternativas de
eliminação dos riscos ou formas de administrá-lo. O planejamento é uma das características
empreendedoras, assim como enfrentar riscos e adversidades tamm é. Visto desta forma,
nestes casos em que fatores diversos são apontados como causas da mortalidade das
empresas, o problema pode ser ainda mais profundo: a falta de características empreendedoras
que formam o perfil do empreendedor.
Este fator se fortalece ao observar que apenas um (1) dos entrevistados procurou ajuda
na busca de tentar salvar e recuperar seu empreendimento. Tal entrevistado se dirigiu ao
Banco do Brasil na tentativa de um financiamento, mas por ser recusado não resistiu a pressão
do mercado e fechou sua empresa. Buscando analisar uma outra característica empreendedora,
a persistência, perguntou-se aos empreendedores deste grupo quantos deles começariam
novamente o seu negócio. As respostas obtidas são apresentadas na figura 20:
Figura 20: Empreendedores que reiniciariam seu negócio
9%
23%
24%
44%
Sim, com certeza
Talvez
Não sabe
Não, com certeza
Dos respondentes, 44% não reiniciaria seu negócio com toda certeza, 24% o reiniciaria
sem nenhum problema e 32% ficam na dúvida e teriam que estudar a hipótese de forma mais
profunda. A persistência é uma característica que faz com que o empreendedor seja capaz de
perseverar, ou seja, manter-se firme e constante em seus propósitos, porém com tenacidade,
141
sem perder a objetividade e clareza frente às situações e sem extrapolar os limites. Ser
persistente, característica identificada por McClelland que aparece em apenas 24% desses
empreendedores, significa agir diante de um obstáculo, agir repetidamente ou mudar de
estratégia, a fim de enfrentar um desafio (SEBRAE, 1990). É a energia que faz o indivíduo
reformular suas estratégias e agir de diferentes formas até alcançar aquilo que almeja. No
entanto, ela se difere de teimosia, pois enquanto um indivíduo teimoso tenta alcançar seus
objetivos utilizando sempre as mesmas estratégias, o indivíduo persistente analisa seus erros e
aprende com eles, utilizando-os como base de referência para não cometê-los novamente.
Procurando analisar se os empreendedores entrevistados são persistentes ou teimosos, fez-se a
seguinte pergunta: “Se você fosse começar o seu negócio novamente, você mudaria alguma
coisa nele?” As respostas podem ser analisadas através da figura 21, que segue:
29%
27%
44%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Figura 21: Empreendedores que fariam mudanças no
empreendimento
Mudaria
Não mudaria
Não começaria
Para aqueles que responderam que não começariam de jeito algum, esta pergunta não
foi feita e a entrevista se encerrou na questão que a precede. Esta pergunta foi feita somente
para aqueles que responderam que abririam com certeza, que talvez abririam e que não sabem
se abririam. Dos 56% dos empreendedores que reiniciariam seu negócio, 29% introduziriam
alguma mudança nele. As mudanças vão desde uma reestruturação global na empresa até uma
simples mudança na localização. Isto porque tais empreendedores perceberam que o negócio
se extinguiu por alguma falha não identificada no período em que a empresa estava ativa e
142
que, se fosse corrigida, talvez pudesse ser reiniciada e se reposicionar perante o mercado.
Uma melhora na qualidade do produto ou serviço, um atendimento mais personalizado, um
ambiente de trabalho mais agradável, uma melhora na imagem da empresa são fatores simples
de serem realizados e que fazem a diferença para a competitividade da micro e pequena
empresa.
Já, 27% não mudaria nada no seu negócio, apenas o abriria novamente, da mesma
forma que fechou, mostrando assim que, esses 27% não são persistentes, mas sim teimosos. O
fato de um empreendimento ter chegado a ponto de encerrar suas atividades é por que alguma
coisa nele não estava caminhando bem, e o fato de seu empreendedor abri-lo novamente, sem
nem ao menos analisar quais os fatores que teriam que ser repensados, faz deste
empreendedor um indivíduo teimoso, que não aprendeu com os seus erros ou que está
tentando se livrar da responsabilidade, jogando-a para as situações externas que envolvem a
empresa.
Assim, além dos 44% de empreendedores que preferem não se arriscar em abrir
novamente seus negócios, existe os 27% que se arriscariam, mas não calculariam seus riscos,
ou seja, abririam seus negócios sem analisar o risco que estariam correndo por não
introduzirem nenhuma melhora ou não realizarem nenhuma alteração. Ao contrário desta
visão, os empreendedores são pessoas são persistentes em busca das suas realizações, mas
com responsabilidade individual e também empresarial, portanto, tomam decisões baseadas
em riscos calculados e no conhecimento das alternativas de resultados.
143
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração deste estudo permitiu perceber que embora o empreendedorismo tenha
atingido grande repercussão somente nos últimos vinte anos, o espírito empreendedor sempre
esteve presente na história da humanidade, fazendo com que a cultura empreendedora cada
vez mais se fortalecesse e se enraizasse na nossa civilização. O empreendedorismo vem sendo
estudado desde o século XII, mas mereceu maior importância a partir do século XVIII, ao ser
estudado por alguns economistas de renome, como Richard Cantillon (1725), Jean Baptist Say
(1803) e Joseph Schumpeter (1912), que associaram o empreendedor à inovação e às forças
direcionadoras do desenvolvimento econômico.
Os economistas conseguiram identificar qual era a atividade do empreendedor e o que
ele significava para o desempenho econômico, mas não conseguiram criar uma ciência
baseada no comportamento dos empreendedores, ou seja, não conseguiram identificar as
características que faziam do indivíduo um ser empreendedor. Isso foi o que levou o estudo
do empreendedorismo a voltar-se para os comportamentalistas, na busca do entendimento do
comportamento e atitudes do empreendedor, bem como na identificação das características
que os guiam. Uma das mais primeiras e mais importantes pesquisas das raízes psicológicas
sobre empreendedorismo foi exposta no início dos anos 60 por David McClelland, através da
qual identificou dez características empreendedoras: busca de oportunidades e iniciativa,
persistência, correr riscos calculados, exigência de qualidade e eficiência, comprometimento,
busca de informações, estabelecimento de metas, planejamento e monitoramento sistemático,
persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança.
A abordagem comportamentalista dominou o estudo do empreendedorismo por mais
ou menos vinte anos e nos anos 80 o empreendedorismo atraiu a atenção de outras ciências,
crescendo e espalhando-se por quase todas as áreas de conhecimento. O empreendedorismo se
144
tornou um dos raros assuntos que atraem especialistas de grande variedade de disciplinas e
tem sido estudado sob diversos aspectos, envolvendo temas dos mais variados possíveis.
Trazendo como base a abordagem comportamental, esta pesquisa procurou analisar o
perfil dos empreendedores maringaenses, buscando estabelecer um comparativo entre aqueles
empreendedores cujas empresas estão ativas no mercado e aqueles cujas empresas já
encerraram suas atividades. Tentou-se analisar quase todas as características expostas por
David McClelland, objetivando comparar qual dos dois grupos de empreendedores possuem
uma proporção maior de características empreendedoras. Através da coleta de dados alguns
resultados foram obtidos:
Com relação à “Busca de oportunidade e Iniciativa”, pôde-se constatar que os
empreendedores das empresas ativas têm esta característica mais desenvolvida do que os
empreendedores das empresas inativas, pois um percentual maior deles se baseou na
identificação de oportunidades de negócios para abrir suas empresas e consideram este fator
um dos principais motivos de sucesso de um empreendimento. Além disso, buscar
oportunidades também se refere à inovação, que nada mais é do que buscar oportunidades
para a empresa em andamento. Neste sentido, os empreendedores das empresas ativas são
mais inovadores e direcionam a inovação para os produtos, atendimento ao cliente e nos
serviços.
Para analisar a característica “Persistência”, pesquisou-se a capacidade de reação às
situações de frustração. Observou-se que os empreendedores das empresas ativas se
recuperam mais facilmente e mais rapidamente do que os empreendedores das empresas
inativas, persistindo nos seus objetivos. Um outro ponto que se pôde observar é que a maioria
dos empreendedores das empresas encerradas não persistiu nos seus empreendimentos, pois
não procurou nenhuma ajuda na tentativa de salvar seu empreendimento e recuperar sua
competitividade no mercado. Somente um empreendedor procurou obter um empréstimo no
145
Banco do Brasil para tentar recuperar o controle financeiro do empreendimento. Com isso
também se analisa a “Capacidade de correr riscos calculados” por parte do empreendedor,
notando-se que a maioria deles não se arriscaria em colocar seu negócio novamente no
mercado, mesmo já sabendo as possibilidades de sucesso e fracasso do empreendimento.
A característica “Exigência de Qualidade e Eficiência” foi analisada perguntando aos
empreendedores como eles consideravam a qualidade do trabalho dos seus produtos e
serviços e também a qualidade do trabalho dos seus funcionários. Quanto à qualidade dos
produtos e serviços quase a totalidade dos empreendedores, tanto das empresas abertas quanto
das empresas fechadas, consideram entre excelente e boa, não havendo diferença entre os
empreendedores com relação a esta característica. Com relação à qualidade do trabalho dos
funcionários a maioria dos empreendedores dos dois grupos também considera entre excelente
e boa, havendo um pequeno percentual que considera como razoável. Somente um pequeno
percentual dos empreendedores das empresas inativas considera que os serviços dos
funcionários podiam ser classificados como ruins e péssimos.
Para analisar o “Comprometimento” dos empreendedores com seus empreendimentos,
buscou-se verificar se o nível de dedicação que lhes eram ou são atribuídas. Para isso, foi
pesquisado se os empreendedores se dedicavam ou dedicam exclusivamente ao
empreendimento ou se eles dividiam ou dividem seu tempo com outras atividades. Observou-
se que uma percentagem maior dos empreendedores com empresas em atividade não exercem
outra atividade além da sua empresa, ou seja, mantém a atenção e o tempo voltados
exclusivamente ao empreendimento. Pode-se dizer que os empreendedores das empresas
ativas se comprometem mais com seus empreendimentos do que os empreendedores das
empresas que já fecharam se comprometiam.
Com relação à característica “Busca de informação”, analisou-se se os
empreendedores buscaram obter informações sobre o produto ou serviço, processo de
146
fabricação e tecnologia empregada, que são informações obtidas através do plano de
negócios. Para uma melhor especificação, apesar de tais informações também estarem
contidas no plano de negócios, foi questionado se os empreendedores realizaram pesquisas
para analisar clientes, concorrentes e fornecedores. O que se pôde perceber é que existem
diferenças consideráveis entre os empreendedores que procuraram obter tais informações e os
que não procuraram. A grande maioria dos empreendedores das empresas ativas buscou
adquirir essas informações antes de iniciar suas empresas, enquanto que os empreendedores
das empresas inativas que se preocuparam com essa questão não atingiram um quarto dos
entrevistados. Pode-se dizer que os empreendedores das empresas ativas buscaram mais
informações sobre o mercado e o produto do que os empreendedores das empresas inativas.
A característica “Estabelecimento de Metas”, que significa estabelecer metas de longo
prazo, claras e específicas, e objetivos de curto prazo de forma mensurável, aparece na
maioria dos empreendedores das empresas ativas, no entanto, nos empreendedores das
empresas encerradas o aparecimento desta característica é praticamente insignificante. O
estabelecimento de metas foi analisado na questão sobre o planejamento do negócio, na qual
se perguntou se o empreendedor havia estabelecido metas de longo prazo para o
empreendimento.
Para analisar a característica “Planejamento e Monitoramento Sistemático”
questionou-se o período gasto com o planejamento inicial do empreendimento, se os
empreendedores fizeram pesquisa de mercado, buscando analisar clientes, concorrentes,
fornecedores, localização (fatores que fazem parte do conjunto de busca de informações), e se
fizeram uma análise da viabilidade econômica-financeira do empreendimento. Notou-se que
os empreendedores das empresas ativas planejaram por mais tempo e em maior profundidade
seus empreendimentos do que os empreendedores das empresas inativas, e também que
buscaram mais informações do mercado e analisaram melhor a viabilidade da implantação
147
dos seus negócios. Quanto ao monitoramento, a maioria dos empreendedores das empresas
ativas, ao contrário das inativas, está sempre reavaliando suas empresas, pois constantemente
realiza pesquisas com o mercado, mesmo que informalmente, avalia a viabilidade do negócio
e sua posição no mercado, face aos concorrentes.
A característica “Persuasão e rede de contatos” também apareceu mais entre os
empreendedores das empresas em atividade, pois a grande parte deles buscou estabelecer uma
rede de contatos com pessoas que poderiam auxiliá-lo, incluindo funcionários, especialistas
em áreas distintas, entre outras pessoas que pudessem servir para o bom funcionamento do
empreendimento. Enquanto que, entre os empreendedores das empresas que já encerraram
suas atividades, o percentual que estabeleceu uma rede de contatos é quase que insignificante.
Com relação à “Independência e Autoconfiança” uma grande parte dos
empreendedores com empresas ativas se basearam na necessidade de ser independente, ao
abrir sua empresa, buscando a auto-realização. O desejo de liberdade, independência e busca
constante pela autonomia em relação a normas e controles, fez com que muitos dos
empreendedores abrissem suas empresas e se esforçassem em mantê-las ativas no mercado. Já
a maioria dos empreendedores das empresas inativas abriu suas empresas por falta de
trabalho, com o objetivo de obter lucros para aumentar a renda familiar.
Além dessas características, expostas por David McClelland, algumas outras também
se destacaram como variável importante do perfil do empreendedor. O grupo de
empreendedores das empresas ativas tem um percentual maior de empreendedores com nível
maior de escolaridade, fator que associado à experiência de vida proporciona melhores
resultados para o empreendimento; tem mais empreendedores com nível de formação superior
voltado para a área empresarial e para o ramo do negócio, o que proporciona melhor
conhecimento interno (administrativo) e externo (do mercado no qual se pretende atuar), além
de ter mais empreendedores com experiência na área empresarial e conhecimento do ramo do
148
negócio; tem um percentual maior de empreendedores com a rede relações primária (família e
amigos próximos) envolvida com a área empresarial, o que permite que o empreendedor tenha
modelos que possam guiá-lo; tem mais empreendedores com empresas descentralizadas, o
que permite que as decisões principais sejam tomadas com calma e tranqüilidade ao invés da
pressão; tem mais empreendedores realizados e satisfeitos com o trabalho na empresa, o que
além de gerar recompensas pessoais, traz a recompensa financeira como uma conseqüência;
tem mais empreendedores que planejaram seus empreendimentos; e, mais empreendedores
que abriram suas empresas baseados em fatores que consideravam ser os principais motivos
de sucesso de um empreendimento, pois são mais voltados para o processo empreendedor.
Desta forma, pôde-se dizer que praticamente todas as características analisadas, os
empreendedores das empresas em atividade apresentaram em proporções maiores do que os
empreendedores das empresas extintas. A consideração que se pôde fazer é que a falta de
características empreendedoras pôde ter sido um dos fatores que impulsionou o encerramento
de tais empreendimentos, pois empresas abertas nos mesmos anos, com as mesmas condições
de mercado tiveram destinos totalmente contrários. Não se pôde dizer que o perfil
empreendedor é o fator condicionante da mortalidade dessas empresas, pois são inúmeras as
variáveis internas e externas, que influenciam na longevidade empresarial. Entretanto, fica
evidente que, quando empresas são colocadas nas mesmas condições externas e tomam rumos
diferentes, o causador pode ser um dos fatores internos. O fato é que este fator interno que
influencia no sucesso e no fracasso do empreendimento pode estar relacionado com as
características individuais que formam o perfil do empreendedor.
149
6 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS
Este estudo abre caminhos para novas investigações a respeito da influência do perfil
empreendedor para o sucesso de um empreendimento. Uma delas diz respeito ao
levantamento de todos os fatores que podem causar o fracasso de um empreendimento,
inclusive o perfil do empreendedor, e a análise de qual deles é o fator mais determinante, pois
muitas pesquisas têm atribuído os motivos de fracasso empresarial à diversos fatores
relacionados com a empresa, entretanto, nenhuma delas atribui as causas da mortalidade à
falta de características e habilidades empreendedoras.
Esta pesquisa propõe um projeto incentivador do estudo do empreendedorismo, no
sentido de estimular os micro e pequenos empresários a desenvolverem habilidades
empreendedoras e a praticarem a existência de características intrínsecas, formadoras do perfil
empreendedor. Para isso é necessário desenvolver uma pesquisa prévia que compare locais
onde existem projetos de incentivo ao empreendedorismo com locais onde não existem,
analisando se há diferenças na longevidade empresarial e se, nos locais onde há incentivo, as
empresas resistem por mais tempo as pressões do mercado.
Tendo como base que o perfil empreendedor pode influenciar na mortalidade das
empresas maringaenses, este estudo abre as portas para o desenvolvimento de um projeto
disseminador da cultura empreendedora local. Um projeto prático seria o desenvolvimento de
um treinamento, direcionado àqueles que derem entrada na prefeitura do município, visando
abrirem suas empresas. Esse treinamento serviria como uma auto-análise, para o indivíduo
analisar se possui ou não características empreendedoras, e o auxiliaria na elaboração de um
plano de negócios eficiente. Através do plano de negócio, o candidato a empreendedor
poderia observar se o seu negócio é viável antes de implementá-lo, e não na prática, algum
tempo depois.
150
Um outro estudo que poderia ser desenvolvido no município de Maringá, seria uma
análise do perfil empreendedor dos acadêmicos do último ano de administração de todas as
faculdades existentes no município e também da Universidade Estadual de Maringá. Um
estudo desse gênero analisaria se os administradores estão saindo das faculdades, com perfis
voltados para empregados ou para empreendedores. Uma justificativa desse estudo é o fato de
as empresas maringaenses serem, em sua maioria, familiares e a busca de emprego para os
formados em administração ser uma busca cada vez mais difícil e frustrante. Neste sentido, se
faz necessário esse estudo para mostrar o quanto é preciso que se insira disciplinas de
empreendedorismo não somente nos cursos de administração, mas tamm em todos os outros
curso de graduação, uma vez que, ensinando empreendedorismo se está dando novas
oportunidades de ingresso ao trabalho, para o recém formado.
Além de sugestões para novos estudos e pesquisas, este trabalho traz também algumas
recomendações, principalmente no sentido de facilitar futuras pesquisas. Uma delas é a
atualização do programa que forma a base de dados das empresas, na Prefeitura Municipal de
Maringá. Propõe-se que seja coletado o maior número de informações possíveis a respeito do
empresário, como por exemplo, telefone da empresa e residencial, nome fantasia da empresa,
porte da empresa (micro, pequena, média ou grande empresa) baseado numa classificação
pré-determinada, datas de abertura e de encerramento da empresa. Uma outra recomendação
para a prefeitura é que se faça cadastros únicos para a empresa, nos quais podem ser feitas
todas as alterações possíveis, quanto a mudança de endereço, entradas e saídas de novos
sócios, alteração de dados do proprietário, mudança de proprietário, etc..
A recomendação para os contadores é que coletem o maior número de informações
possíveis dos seus clientes, como telefone da empresa, telefone residencial e outro de contato,
endereço da empresa, endereço residencial e outro de contato, para que não perca a
comunicação com os seus clientes, pois muitos contadores de empresas já encerradas não
151
sabiam como entrar em contato com os proprietários, que muitas vezes ficaram pendentes
com seus contadores.
Para a Junta Comercial, a recomendação feita é que também se mantenha no
município as informações a respeito das empresas locais, pois, atualmente, todos os cadastros
das empresas paranaenses são enviados para a Junta Comercial de Curitiba, não ficando
nenhuma informação na Junta Comercial local, onde a empresa está instalada.
Essas são apenas algumas sugestões e recomendações com o intuito de facilitar
pesquisas futuras no ramo empresarial, e não tem como objetivo estabelecer nenhuma crítica a
tais órgãos. Ao contrário, tem-se muito a agradecê-los pela atenção e apoio dado no
desenvolvimento desta pesquisa, pois sem a ajuda desses órgãos ela não teria sido concluída.
152
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ANEXOS
158
ANEXO 1: QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS ENCERRADAS
PARTE I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
1. DADOS GERAIS
Nome da empresa:
Endereço:
Cidade:
Estado: CEP:
Telefone: Fax:
E-mail:
Setor Econômico:
Ramo de Atividade:
2. TEMPO DE PERMANÊNCIA NO MERCADO
2.1.Data de Abertura 2.2.Data de Fechamento
2.1.1. 1997
2.1.2. 1998
2.1.3.1999
2.2.1. 2000
2.2.2. 2001
2.2.3. 2002
PARTE II - PERFIL DO EMPREENDEDOR
3. INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR
3.1. Idade:
3.1.1. até 25 anos
3.1.2. de 26 a 30 anos
3.1.3. de 31 a 35 anos
3.1.4. de 36 a 40 anos
3.1.5. de 41 a 45 anos
3.1.6. de 46 a 50 anos
3.1.7. acima de 50 anos
3.2. Sexo:
3.2.1. masculino
3.2.2. feminino
3.3. Escolaridade:
3.3.1. 1º grau incompleto
3.3.2. 1º grau completo
3.3.3. 2º grau incompleto
3.3.4. 2º grau completo
3.3.5. Superior incompleto
3.3.6. Superior completo
3.3.7. Pós-Graduado
Se tem curso superior, qual a área?
...................................................................................................................................
4. AMBIENTE DE RELAÇÃO
4.1.Tem alguém na família ou amigos próximos que já teve ou tem uma empresa:
Sim
Não
5. QUEM PROMOVEU A CRIAÇÃO DA EMPRESA?
5.1. Somente o entrevistado;
5.2. O entrevistado e parentes (seus ou da sua esposa);
5.3. O entrevistado e outros sócios (não parentes);
5.4. O entrevistado e amigos;
5.5. O entrevistado e amigos da empresa
anterior;
5.6. Comprou a empresa em andamento;
5.7. Outros (especifique): .................................
159
6. PARTICIPOU NA CRIAÇÃO DE OUTRAS EMPRESAS ANTERIORMENTE?
6.1. Sim
6.2. Não
Se positivo, qual o seu papel nela? Especifique .....................................................
7. QUAL ATIVIDADE EXERCIA ANTES DE CRIAR SUA EMPRESA:
7.1. Estudante
7.2. Funcionário Público
7.3. Funcionário de empresa privada
7.4. Autônomo
7.5. Funcionário bancário
7.6. Proprietário de outra empresa
7.7. Outra: Especifique ..........................................
Se trabalhava ou era proprietário de outra empresa, qual o ramo de atividade? ________________________
era o mesmo da atual não era o mesmo da atual
8. APÓS A CRIAÇÃO DA SUA EMPRESA, CONTINUOU A DESEMPENHAR ALGUMA OUTRA
ATIVIDADE, ACUMULANDO TAREFAS?
8.1. Sim 8.2. Não
Se positivo, quais? ..............................................................................................................................
9. O SENHOR (A) INTRODUZIU ALGUM TIPO DE INOVAÇÃO DENTRO DA SUA EMPRESA, QUE A
DIFERENCIASSE DOS CONCORRENTES?
9.1. Sim
9.2. Não
Se positivo, quais?
9.1.1. No produto
9.1.2. No serviço
9.1.3. No processo produtivo
9.1.4. No atendimento aos clientes
9.1.5. No preço
9.1.6. . Outros. Especifique:
10. QUEM TOMAVA AS DECISÕES NA SUA EMPRESA?
10.1. Somente você
10.2. Você e parentes (esposo, esposa, filhos, etc.)
10.3. Você e os sócios
10.4. Você e o gerente
10.5. Todos os funcionários tomam decisões condizentes às suas funções
10.6. Outros. Especifique:
11. AO TOMAR UMA DECISÃO É COMUM O SENHOR (A) VOLTAR ATRÁS?
11.1. Nunca volta atrás
11.2. Volta atrás somente se provarem que está errado (raramente)
11.3. Está sempre aberto a rediscuti-la (às vezes)
11.4. Sempre volta atrás
12. DURANTE O PERÍODO EM QUE A EMPRESA ESTEVE ABERTA, HOUVE ALGUM DESSES
CONFLITOS?
12.1. Entre você e os funcionários
12.2. Entre você e os fornecedores
12.3. Entre você e os clientes
12.4. Entre os funcionários
12.5. Entre os funcionários e os clientes
12.6. Outros. Especifique:
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
13. QUANTO A QUALIDADE DOS SEUS PRODUTOS/SERVIÇOS, PODIA SER CONSIDERADA COMO:
13.1. Excelente
13.2. Boa
13.3. Razoável
13.4. Ruim
13.5. Péssima
160
14. QUANTO A QUALIDADE DO TRABALHO DOS SEUS FUNCIONÁRIOS, PODIA SER
CONSIDERADA COMO:
14.1. Excelente
14.2. Bom
14.3. Razoável
14.4. Ruim
14.5. Péssimo
15. QUANDO OCORRE UMA SITUAÇÃO MUITO STRESSANTE, QUE O DEIXA FRUSTRADO OU
DECEPCIONADO, QUANTO TEMPO (DIAS) VOCÊ DEMORA PARA SE SUPERAR:
15.1. Supera rapidamente (em algumas horas até 1 dia)
15.2. Supera moderadamente (em 2 ou 3 dias)
15.3. Supera vagarosamente (em até 1 semana)
15.4. Demora a superar (semanas)
16. O TRABALHO NA SUA EMPRESA TROUXE REALIZAÇÃO?
16.1. Sempre
16.2. A maioria das vezes (freqüentemente)
16.3. À vezes
16.4. Raramente
16.5. Nunca
PARTE III – PROCESSO DE CRIAÇÃO DA EMPRESA
17. QUAL O PRINCIPAL MOTIVO QUE O LEVOU A ABERTURA DA EMPRESA
17.1. Conhecimento do ramo de atividade
17.2. Identificou uma oportunidade de mercado
17.3. Falta de oportunidade de trabalho
17.4. Tinha uma idéia inédita, sem similar
17.5. Tinha recursos financeiros disponíveis
17.6. Tinha tempo disponível
17.7. Desejo de liberdade, independência
17.8. .Vontade de ganhar dinheiro
17.9. Realização profissional
17.10. Incentivos governamentais
17.11. Facilidade na obtenção de crédito
(financiamento)
17.12. Tinha uma equipe gerencial eficaz
17.13. Havia pouca concorrência para a
empresa/produto/serviço
17.14. Outros. Especifique:
18. AO CRIAR SUA EMPRESA, O SENHOR (A):
18.2. Realizou/encomendou uma pesquisa de mercado
18.3. Realizou/encomendou estudos de viabilidade econômico-financeiro do negócio
18.4. Elaborou um plano de negócios
18.5. Estabeleceu uma rede de contatos com fornecedores
18.6. Estabeleceu uma rede de contatos com possíveis clientes
18.7. Estabeleceu uma rede de contatos com pessoas que poderiam auxiliá-lo
18.8. Analisou os pontos fortes e fracos dos concorrentes
18.9. Estabeleceu metas de longo prazo
18.10. Tinha conhecimento a respeito da tecnologia a ser empregado na empresa
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
19. O QUE O SENHOR (A) ESPERAVA COM A IMPLANTAÇÃO DA EMPRESA:
19.1. Obter lucros e aumentar a renda da família
19.2. Gerar empregos
19.3. Alcançar sua realização pessoal
19.4. Alcançar a realização profissional
19.5. Ser independente
19.6. Realizar um sonho
19.7. Ocupar o tempo disponível
19.8. Outros. Especifique:
161
20. QUANTO TEMPO FOI UTILIZADO PARA O PLANEJAMENTO DA SUA EMPRESA, ANTES DO
INÍCIO DAS ATIVIDADES DA MESMA:
20.1. Até um mês
20.2. De um mês a três meses
20.3. De três a seis meses
20.4. De seis meses a nove meses
20.5. De nove meses a doze meses
20.6. Mais de doze meses
21. O CAPITAL UTILIZADO PARA A CRIAÇÃO DA EMPRESA FOI PROVENIENTE DE QUE FONTE
21.1. Poupança própria
21.2. Poupança dos sócios
21.3. Empréstimo obtido com familiares
21.4. Financiamento de órgãos do governo
21.5. Empréstimos bancários
21.6. Crédito de fornecedores
21.7. Outros:
22. DURANTE O PERÍODO DE ATIVIDADE DA SUA EMPRESA, O SENHOR (A):
22.1.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre a satisfação dos
clientes
Sim Não
22.2.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre a satisfação dos
fornecedores
Sim Não
22.3.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre os pontos fortes e
fracos dos concorrentes
Sim Não
22.4.Realizou/encomendou análise da situação econômica-financeira da empresa
Sim Não
22.5.Realizou/encomendou pesquisa para saber sobre a satisfação dos funcionários
Sim Não
22.6.Realizou/encomendou pesquisa para saber sobre a posição da empresa no mercado
Sim Não
23. O QUE VOCÊ CONSIDERA O FATOR MAIS IMPORTANTE PARA O SUCESSO DA EMPRESA
23.1. Ter conhecimento da tecnologia a ser empregada
23.2. Ter conhecimento de gestão de empresas
23.3. Ter crédito e ajuda de fornecedores
23.4. Ter apoio governamental
23.5. Ter apoio da família
23.6. Ter uma boa oportunidade de mercado
23.7. Ter capital disponível para iniciar o negócio
23.8. Ter capital de giro
23.9. Ter conhecimento do ramo
23.10. Dedicação Exclusiva
23.11. Bom atendimento/relacionamento com o cliente
23.12. Gostar do que faz (realização com o trabalho)
23.13. Qualidade
23.14. Outros:
162
PARTE IV – DO ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES
24. QUAL O PRINCIPAL MOTIVO PELO FECHAMENTO DA EMPRESA:
24.1. Problemas financeiros
24.2. Falta de crédito
24.3. Inadimplência
24.4. Carga tributária muito elevada
24.5. Concorrência muito forte
24.6. Falta de profissionais qualificados
24.7. Falta de clientes
24.8. Crise econômica
24.9. Falta de conhecimento técnico sobre o negócio
24.10. Problemas particulares do(s) sócio(s)
24.11. Preços acima do mercado
24.12. Qualidade dos produtos/serviços
24.13. Outros. Especificar:_____________________
25. A EMPRESA, ANTES DE ENCERRAR SUAS ATIVIDADES PROCUROU ASSISTÊNCIA OU
ASSESSORIA DE ALGUM PROFISSIONAL OU ENTIDADE ABAIXO RELACIONADOS:
25.1. Empresa de consultoria, consultor ou contador
25.2. Associação de empresas do ramo
25.3. SEBRAE
25.4. SENAC/SESI
25.5. Pessoas que conheciam o ramo
25.6. Não procurou ajuda
25.7. Outra:
26. COMO VOCÊ CONSIDERA O FECHAMENTO DO SEU NEGÓCIO?
26.1. Como um acontecimento normal
26.2. Como um aprendizado
26.3. Como um fracasso
27. VOCÊ COMEÇARIA SEU NEGÓCIO NOVAMENTE?
27.1. Sim, com certeza absoluta
27.2. Não, com certeza absoluta
27.3. Talvez daqui alguns meses/anos
27.4. Não sabe
28. SE FOSSE COMEÇÁ-LO NOVAMENTE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA COISA NELE?
28.1. Sim O quê:...............................................................................................................................................
28.2. Não
163
ANEXO 2: QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS EM ATIVIDADE
PARTE I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
1. DADOS GERAIS
Nome da empresa:
Endereço:
Cidade:
Estado: CEP:
Telefone: Fax:
E-mail:
Setor Econômico:
Ramo de Atividade:
2. TEMPO DE PERMANÊNCIA NO MERCADO
Data de Abertura da Empresa
2.1. 1997
2.2. 1998
2.3. 1999
PARTE II - PERFIL DO EMPREENDEDOR
3. INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O EMPREENDEDOR
3.1. Idade:
3.1.1. até 25 anos
3.1.2. de 26 a 30 anos
3.1.3. de 31 a 35 anos
3.1.4. de 36 a 40 anos
3.1.5. de 41 a 45 anos
3.1.6. de 46 a 50 anos
3.1.7. acima de 50 anos
3.2. Sexo:
3.2.1. masculino
3.2.2. feminino
3.3. Escolaridade:
3.3.1. 1º grau incompleto
3.3.2. 1º grau completo
3.3.3. 2º grau incompleto
3.3.4. 2º grau completo
3.3.5. Superior incompleto
3.3.6. Superior completo
3.3.7. Pós-Graduado
Se tem curso superior, qual a área?
...................................................................................................................................
4. AMBIENTE DE RELAÇÃO
4.1.Tem alguém na família ou amigos próximos que já teve ou tem uma empresa:
Sim
Não
5. QUEM PROMOVEU A CRIAÇÃO DA EMPRESA?
5.1. Somente o entrevistado;
5.2. O entrevistado e parentes (seus ou da sua esposa);
5.3. O entrevistado e outros sócios (não parentes);
5.4. O entrevistado e amigos;
5.5. O entrevistado e amigos da empresa
anterior;
5.6. Comprou a empresa em andamento;
5.7. Outros (especifique): .................................
164
6. PARTICIPOU NA CRIAÇÃO DE OUTRAS EMPRESAS ANTERIORMENTE?
6.1. Sim
6.2. Não
Se positivo, qual o seu papel nela? Especifique .....................................................
7. QUAL ATIVIDADE EXERCIA ANTES DE CRIAR SUA EMPRESA:
7.1. Estudante
7.2. Funcionário Público
7.3. Funcionário de empresa privada
7.4. Autônomo
7.5. Funcionário bancário
7.6. Proprietário de outra empresa
7.7. Outra: Especifique ..........................................
Se trabalhava ou era proprietário de outra empresa, qual o ramo de atividade? ________________________
era o mesmo da atual não era o mesmo da atual
8. O SENHOR (A) DESEMPENHA ALGUMA OUTRA ATIVIDADE ALÉM DESSA EMPRESA?
8.1. Sim 8.2. Não
Se positivo, quais? ..............................................................................................................................
9. O SENHOR (A) INTRODUZIU ALGUM TIPO DE INOVAÇÃO DENTRO DA SUA EMPRESA, QUE A
DIFERENCIASSE DOS CONCORRENTES?
9.1. Sim
9.2. Não
Se positivo, quais?
9.1.1. No produto
9.1.2. No serviço
9.1.3. No processo produtivo
9.1.4. No atendimento aos clientes
9.1.5. No preço
9.1.6. . Outros. Especifique:
10. QUEM TOMA AS DECISÕES NA SUA EMPRESA?
10.1. Somente você
10.2. Você e parentes (esposo, esposa, filhos, etc.)
10.3. Você e os sócios
10.4. Você e o gerente
10.5. Todos os funcionários tomam decisões condizentes às suas funções
10.6. Outros. Especifique:
11. AO TOMAR UMA DECISÃO É COMUM O SENHOR (A) VOLTAR ATRÁS?
11.1. Nunca volta atrás
11.2. Volta atrás somente se provarem que está errado (raramente)
11.3. Está sempre aberto a rediscuti-la (às vezes)
11.4. Sempre volta atrás
12. JÁ HOUVE ALGUM DESSES CONFLITOS EM SUA EMPRESA?
12.1. Entre você e os funcionários
12.2. Entre você e os fornecedores
12.3. Entre você e os clientes
12.4. Entre os funcionários
12.5. Entre os funcionários e os clientes
12.6. Outros. Especifique:
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
165
13. QUANTO A QUALIDADE DOS SEUS PRODUTOS/SERVIÇOS, PODE SER CONSIDERADA COMO:
13.1. Excelente
13.2. Boa
13.3. Razoável
13.4. Ruim
13.5. Péssima
14. QUANTO A QUALIDADE DO TRABALHO DOS SEUS FUNCIONÁRIOS, PODE SER
CONSIDERADA COMO:
14.1. Excelente
14.2. Bom
14.3. Razoável
14.4. Ruim
14.5. Péssimo
15. QUANDO OCORRE UMA SITUAÇÃO MUITO STRESSANTE, QUE O DEIXA FRUSTRADO OU
DECEPCIONADO, QUANTO TEMPO (DIAS) VOCÊ DEMORA PARA SE SUPERAR:
15.1. Supera rapidamente (em algumas horas até 1 dia)
15.2. Supera moderadamente (em 2 ou 3 dias)
15.3. Supera vagarosamente (em até 1 semana)
15.4. Demora a superar (semanas)
16. O TRABALHO NA SUA EMPRESA TRAZ REALIZAÇÃO?
16.1. Sempre
16.2. A maioria das vezes (freqüentemente)
16.3. À vezes
16.4. Raramente
16.5. Nunca
PARTE III – PROCESSO DE CRIAÇÃO DA EMPRESA
17. QUAL O PRINCIPAL MOTIVO QUE O LEVOU A ABERTURA DA EMPRESA
17.1. Conhecimento do ramo de atividade
17.2. Identificou uma oportunidade de mercado
17.3. Falta de oportunidade de trabalho
17.4. Tinha uma idéia inédita, sem similar
17.5. Tinha recursos financeiros disponíveis
17.6. Tinha tempo disponível
17.7. Desejo de liberdade, independência
17.8. .Vontade de ganhar dinheiro
17.9. Realização profissional
17.10. Incentivos governamentais
17.11. Facilidade na obtenção de crédito
(financiamento)
17.12. Tinha uma equipe gerencial eficaz
17.13. Havia pouca concorrência para a
empresa/produto/serviço
17.14. Outros. Especifique:
18. AO CRIAR SUA EMPRESA, O SENHOR (A):
18.2. Realizou/encomendou uma pesquisa de mercado
18.3. Realizou/encomendou estudos de viabilidade econômico-financeiro do negócio
18.4. Elaborou um plano de negócios
18.5. Estabeleceu uma rede de contatos com fornecedores
18.6. Estabeleceu uma rede de contatos com possíveis clientes
18.7. Estabeleceu uma rede de contatos com pessoas que poderiam auxiliá-lo
18.8. Analisou os pontos fortes e fracos dos concorrentes
18.9. Estabeleceu metas de longo prazo
18.10. Tinha conhecimento a respeito da tecnologia a ser empregado na empresa
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
19. O QUE O SENHOR (A) ESPERAVA COM A IMPLANTAÇÃO DA EMPRESA:
19.1. Obter lucros e aumentar a renda da família
19.2. Gerar empregos
19.3. Alcançar sua realização pessoal
19.4. Alcançar a realização profissional
19.5. Ser independente
19.6. Realizar um sonho
19.7. Ocupar o tempo disponível
19.8. Outros. Especifique:
166
21. QUANTO TEMPO FOI UTILIZADO PARA O PLANEJAMENTO DA SUA EMPRESA, ANTES DO
INÍCIO DAS ATIVIDADES DA MESMA:
20.1. Até um mês
20.2. De um mês a três meses
20.3. De três a seis meses
20.4. De seis meses a nove meses
20.5. De nove meses a doze meses
20.5. Mais de doze meses
21. O CAPITAL UTILIZADO PARA A CRIAÇÃO DA EMPRESA FOI PROVENIENTE DE QUE FONTE:
21.1. Poupança própria
21.2. Poupança dos sócios
21.3. Empréstimo obtido com familiares
21.4. Financiamento de órgãos do governo
21.5. Empréstimos bancários
21.6. Crédito de fornecedores
21.7. Outros:
22. DURANTE O PERÍODO DE ATIVIDADE DA SUA EMPRESA, O SENHOR (A):
22.1.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre a satisfação dos
clientes
Sim Não
22.2.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre a satisfação dos
fornecedores
Sim Não
22.3.Realizou/encomendou pesquisa de mercado para saber sobre os pontos fortes e
fracos dos concorrentes
Sim Não
22.4.Realizou/encomendou análise da situação econômica-financeira da empresa
Sim Não
22.5.Realizou/encomendou pesquisa para saber sobre a satisfação dos funcionários
Sim Não
22.6.Realizou/encomendou pesquisa para saber sobre a posição da empresa no mercado
Sim Não
23. O QUE VOCÊ CONSIDERA O FATOR MAIS IMPORTANTE PARA O SUCESSO DA EMPRESA
23.1. Ter conhecimento da tecnologia a ser empregada
23.2. Ter conhecimento de gestão de empresas
23.3. Ter crédito e ajuda de fornecedores
23.4. Ter apoio governamental
23.5. Ter apoio da família
23.6. Ter uma boa oportunidade de mercado
23.7. Ter capital disponível para iniciar o negócio
23.8. Ter capital de giro
23.9. Ter conhecimento do ramo
23.10. Dedicação Exclusiva
23.11. Bom atendimento/relacionamento com o cliente
23.12. Gostar do que faz (realização com o trabalho)
23.13. Qualidade
23.14. Outros:
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