RESUMO
Os biofilmes são estruturas altamente organizadas nas quais microrganismos
crescem e sobrevivem a ambientes hostis. São definidos como complexos
ecossistemas microbianos embebidos em uma matriz de substâncias poliméricas
extracelulares (EPS) aderidos a uma superfície. Biofilmes apresentam uma maior
resistência aos sanitizantes que as células livres e quando em superfícies de
processamento de alimentos podem trazer problemas relacionados à contaminação
cruzada, contaminação pós-processamento e corrosão de equipamentos. A
compreensão dos fatores e processos biológicos envolvidos no estabelecimento e
desenvolvimento dos biofilmes é de fundamental importância. Os mecanismos que
governam a adesão dependem da natureza da superfície de contato e das
propriedades superficiais dos microrganismos. O objetivo deste trabalho foi estudar
os fatores determinantes da adesão de quatro isolados diferentes de Salmonella
Enteritidis, um isolado de Pseudomonas aeruginosa e um isolado de Serratia
marcescens
em diferentes materiais utilizados no processamento dos alimentos. As
características das cepas estudadas foram correlacionadas com as taxas de adesão
e hidrofobicidade. O estudo de adesão foi realizado em aço 304, polietileno,
polipropileno e granito, materiais normalmente utilizados em superfícies de
processamento de alimentos. A medida do ângulo de contato foi empregada para
determinar a hidrofobicidade e a tensão superficial das superfícies de contato e dos
microrganismos. A técnica espectroscópica de fotoelétrons excitados por raios X
(XPS) e a análise da rugosidade foram utilizadas para análise superficial das cepas
estudadas e caracterização das superfícies de contato testadas, respectivamente.
Todas as cepas estudadas mostraram valores positivos para a hidrofobicidade e
foram consideradas hidrofílicas. Os resultados encontrados com a XPS sustentam a
similaridade dos valores de hidrofobicidade obtidos pelo ângulo de contato. P.
aeruginosa foi a cepa mais hidrofóbica e apresentava a maior quantidade de N/C. O
caráter hidrofílico da S. marcescens foi relacionado com a grande quantidade de O/C.
As diferentes cepas de Salmonella mostraram similaridade na composição da parede
celular e nas propriedades físico-químicos das superfícies. A adesão das diferentes
cepas de Salmonella as diversas superfícies foram estatisticamente diferentes. A
fonte de isolamento das Salmonella spp. não parece afetar a habilidade de adesão.
Contudo, S. Enteritidis MUSC apresentou maior capacidade de adesão às superfícies
estudadas (p<0.05). A facilidade de interação desse isolado de Salmonella as
superfícies de contato poderia ser explicado por sua grande capacidade de aceitar
elétrons. Todas as superfícies apresentaram caráter hidrofóbico e não foi possível
estabelecer nenhuma correlação na capacidade de doar elétrons e receber elétrons
sobre a interação das superfícies. Não foi encontrada uma relação entre rugosidade
dos materiais e adesão bacteriana. O polietileno apresentou os maiores valores de
rugosidade média, no entanto, foi o material no qual ocorreu a menor adesão.
Considerando todas as tentativas de explicação baseadas nas propriedades físico-
químicas das bactérias e das superfícies, não é possível estabelecer nenhuma
correlação direta e deduzir uma hipótese de um modelo racional de adesão.
Palavras chaves: adesão; Salmonella Enteritidis; superfícies; hidrofobicidade; ângulo
de contato; XPS.