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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO - EESP
JOÃO MARCELO GROSSI FERREIRA
EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA
Por que não houve recuperação das taxas de investimento no país após a
estabilização da inflação em 1994?
São Paulo
2005
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JOÃO MARCELO GROSSI FERREIRA
EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA
Por que não houve recuperação das taxas de investimento no país após a
estabilização da inflação em 1994?
Dissertação apresentada à Escola de Economia de
São Paulo da Fundação Getúlio Vargas – EESP-
FGV, como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Economia.
Campos de Conhecimentos: Investimentos,
Crescimento Econômico, Carga Tributária,
Econometria.
Orientador: Prof. Dr. Samuel Abreu Pessôa.
Co-Orientadora: Prof
a
. Jolanda E. Ygosse Battisti.
São Paulo
2005
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JOÃO MARCELO GROSSI FERREIRA
EVOLUÇÃO DOS INVESTIMENTOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA
Por que não houve recuperação das taxas de investimento no país após a
estabilização da inflação em 1994?
Dissertação apresentada à Escola de Economia de
São Paulo da Fundação Getúlio Vargas – EESP-
FGV, como requisito para a obtenção do título de
Mestre em Economia
Data de aprovação:
__/__/____
Banca examinadora:
_______________________________________
Prof. Dr. Samuel Abreu Pessôa (Orientador)
FGV-RJ
_______________________________________
Prof. Dr. Edmar Lisboa Bacha
NuPE/CdG-RJ
_______________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Julia Alice Sofia von Maltzan Pacheco
FGV-EESP
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por eu ter encontrado a força para dedicar-me e a inspiração
necessários à conclusão deste trabalho.
Agradeço à minha esposa e meus familiares (pais e irmãos) que sempre me
apoiaram e me incentivaram nessa longa e difícil jornada, mesmo quando tudo
parecia difícil, não me deixando desanimar ou desistir frente às dificuldades.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Samuel, que primeiramente confiou na minha
capacidade e aceitou me orientar em um tema difícil como este (mesmo que à
distância, pois é professor da FGV-RJ), me ajudou a elaborar as idéias principais de
forma mais clara e sempre se mostrou disposto a ajudar na medida do possível.
Agradeço a todos os professores do MPFE, mas em especial à Prof
a
Jolanda, que
me co-orientou nesse trabalho, ajudando diretamente na melhoria do conteúdo do
trabalho, dando dicas e fazendo correções valiosas na obtenção do resultado final
aqui apresentado.
Agradeço também à Prof
a
Dra. Maria Carolina, coordenadora do MPFE, que também
me ajudou na escolha do tema e do orientador e sempre esteve disponível a ajudar,
além de ter sido a responsável por meu primeiro contato muito positivo e inspirador
com a macroeconomia.
Agradeço ao banco Itaú-BBA, por ter me incentivado e me financiado no curso e
sem o qual fazer este curso não seria possível.
Agradeço ao meu chefe no Itaú-BBA, Marcelo Battisti, que sempre me incentivou e
foi compreensivo nos momentos em que o mestrado me consumia tempo que
poderia ser dedicado ao trabalho no banco caso eu não estivesse envolvido nessa
empreitada pessoal de me tornar mestre em economia.
Agradeço também a todos os colegas do MPFE que foram companheiros e amigos
nas intermináveis horas de aulas (inclusive aos sábados!), trabalhos, estudos em
conjunto e momentos de lazer!
Por fim, agradeço a todos aqueles que me ajudaram na obtenção de dados,
fundamentais na elaboração de um trabalho empírico como este.
RESUMO
Estudos empíricos sobre os determinantes de investimentos privados em países em
desenvolvimento, incluindo vários estudos para o Brasil, mostraram o impacto
negativo de elevadas taxas de inflação sobre os investimentos privados. No entanto,
a experiência brasileira recente mostra claramente que a estabilização por si só não
é capaz de fazer com que as taxas de investimento se recuperem.
Este trabalho objetiva a busca de respostas em evidências empíricas sobre quais
teriam sido os principais fatores responsáveis pela não recuperação dos
investimentos no Brasil pós-plano Real, apesar do controle inflacionário, no período
1995-2004. Para isso, foi estimado um modelo de investimento privado em nível de
longo prazo (1970-2003) com dados anuais. Estas estimações mostram evidência
emrica de crowding-in dos investimentos públicos em infra-estrutura sobre os
investimentos privados e do efeito de crowding-out dos demais investimentos
públicos (que não são em infra-estrutura) sobre os investimentos privados. Para
obter evidências empíricas do impacto negativo da carga tributária e dos preços
relativos dos bens de capital sobre as taxas de investimento foi estimado um modelo
trimestral com dados de 1995-2004.
Uma análise mais detalhada sobre a carga tributária brasileira e sua composição
mostrou ainda que, além de sua magnitude elevada, a carga tributária brasileira tem
uma alocação desfavorável ao investimento privado, pois seu peso é muito maior
sobre o setor produtivo do que sobre renda e patrimônio. Além disso, a despeito da
arrecadação crescente nos últimos 10 anos, os gastos do governo têm se
concentrado em gastos pouco ou não produtivos e tem diminuído a participação
relativa dos investimentos públicos em infra-estrutura, que são gastos produtivos e
estimuladores de investimentos privados (efeito de crowding-in).
Palavras-Chave: Investimentos, Crowding-in, Crowding-out, Econometria, Carga
Tributária, Gastos do Governo.
ABSTRACT
Empirical studies on the determinants of private investments in development
countries, including several studies on Brazil, have shown that there is a negative
impact of high inflation on private investments. However, the recent Brazilian
experience shows clearly that stabilization by itself is not sufficient to generate higher
investments ratios.
The main goal of this thesis is to find empirical evidence that explains why private
investment and the investment ratio did not recover after the Real-plan, even though
inflation was under control in the 1995-2004 period. In order to achieve this goal
econometric estimations were done for long-term private investments in level (1970-
2003), using annual data. These estimations show empirical evidence of the
crowding-in effect of public investments in infrastructure on private investments and
also of the crowding-out effect of public investments in other areas than infrastructure
on private investments.
In order to find empirical evidence of the negative impact of both increased
government revenues as well as the increase of relative prices of capital goods on
private investments since 1995 a model using quarterly data for 1995-2004 was
estimated.
A more detailed analysis of the Brazilian tax burden and its composition has shown
that the tax burden is, not only very high but also not optimally allocated. Tax revenue
comes mainly from taxing production (goods and services) and less from taxing
income and property.
Moreover, although tax revenue has increased over the last ten years, government
spending has become more inefficient, largely in the form of low or non-productive
spending while productive government expenditure, including government spending
on infrastructure, has fallen.
Keywords: Investments, Crowding-in, Crowding-out, Econometrics, Tax Burden,
Government Expenditure.
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO...................................................................................................... 8
2 – REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................12
3 – RESULTADOS EMPÍRICOS – MODELO COM DADOS ANUAIS 1970-2003 ...22
3.1 – Descrição dos dados anuais 1970-2003...............................................22
3.2 - Resultados das regressões com dados anuais 1970-2003 .................25
3.2.1 - Testes de estacionaridade.............................................................25
3.2.2 – Forma funcional final para dados anuais – 1970-2003 .................27
4 – RESULTADOS EMPÍRICOS – MODELO COM DADOS TRIMESTRAIS 1995(1)-
2004(3)......................................................................................................................37
4.1 – Investimentos totais: boa proxy para investimentos privados
trimestrais no período 1995 – 2004 ...............................................................37
4.2 – Descrição dos dados trimestrais 1995(1)-2004(3)...............................40
4.3 - Resultados das regressões com dados trimestrais 1995 - 2004 ........41
5 - DISCUSSÃO SOBRE CARGA TRIBUTÁRIA E GASTOS DO GOVERNO NO
BRASIL.....................................................................................................................53
5.1 – Carga tributária: elevada magnitude associada a alocação
desfavorável aos investimentos....................................................................53
5.2 – Gastos do governo: evolução recente mostra aumento de gastos
não produtivos em contrapartida de redução de gastos produtivos.........60
6 – CONCLUSÕES ...................................................................................................64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................67
ÍNDICE DE TABELAS...............................................................................................70
ÍNDICE DE GRÁFICOS.............................................................................................71
ANEXO A.1 ...............................................................................................................72
ANEXO A.2 ...............................................................................................................73
ANEXO B..................................................................................................................75
8
1 - INTRODUÇÃO
Nos últimos 10 anos o Brasil experimentou um ambiente macroeconômico estável,
com baixas taxas de inflação. Estudos empíricos sobre explicação de investimentos
privados em países em desenvolvimento, incluindo vários estudos para o Brasil,
mostraram o impacto negativo da instabilidade macroeconômica e de elevadas taxas
de inflação sobre os investimentos privados. Esses estudos enfatizam a importância
da estabilidade como uma pré-condição para que haja um ambiente propício ao
estímulo de investimentos. A estabilidade contribui com a redução de incerteza e de
risco e isso facilita a tomada de decisões de médio e longo prazo pelos investidores.
A noção de que os investimentos físicos são em sua grande maioria irreversíveis
enfatiza a importância da redução de incerteza e risco sobre o estímulo ao
investimento, já que com alta incerteza e risco os investidores tendem a postergar
seus investimentos. A inflação é freqüentemente usada como um indicador de
instabilidade macroeconômica nesses estudos. No entanto, a experiência brasileira
recente mostra claramente que a estabilização da inflação por si só não é capaz de
fazer com que as taxas de investimento se recuperem. Como pode ser visto no
gráfico 1, enquanto as taxas de inflação mantiveram-se baixas desde 1995, as taxas
de investimento não se recuperaram para os níveis dos anos 70, antes da “década
perdida” dos anos 80.
0.0
500.0
1000.0
1500.0
2000.0
2500.0
3000.0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
10.0%
12.0%
14.0%
16.0%
18.0%
20.0%
22.0%
24.0%
Taxa de inflação (IGP) Taxa de investimento privado (I_pr/Y)
Gráfico 1: Taxas de inflação (IGP-DI) e de investimentos privados em relação ao PIB
anuais (1970-2003)
Fonte: IPEAdata
IGP% a.
a
.
I_pr/Y %
9
Durante a década de 70, no chamado “milagre brasileiro”, a taxa de investimento foi
excepcionalmente elevada. Mas com a crise da dívida externa na década de 80 a
taxa sofreu uma queda sensível. Com o advento do plano Real houve uma ligeira
recuperação em relação às taxas muito deprimidas do final do período inflacionário.
Porém, uma análise mais detalhada no gráfico 2 abaixo revela que a recuperação
não se manteve. No gráfico 2 é possível ver que enquanto a inflação ficou entre
-1,0% a.t. e 7,7% a.t. no período 1995-2004 (com exceção do período das eleições
de 2002), as taxas de investimento têm mostrado uma ligeira tendência de queda.
-2.0
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
12.0
14.0
mar/95
m
ar/
96
mar
/
97
mar
/
98
mar/99
m
ar/
00
m
a
r
/
01
mar
/
02
mar/03
m
ar/0
4
15.0%
17.0%
19.0%
21.0%
23.0%
25.0%
Taxa de inflação (IGP) Taxa de investimento total (I_tot/Y)
Gráfico 2: Taxas de inflação (IGP-DI) e de investimentos totais em relação ao PIB
trimestrais - 1995(1)-2004(3).
Fonte: IPEAdata.
A alta taxa de investimento nos anos 70 (média de 19,8% a.a. de 1970-1979)
coincidiu com uma alta taxa de crescimento médio do PIB de 8,8% (1970-1979),
muito maior que a taxa de crescimento médio do PIB de 2,1% recente (1995-2003).
Dado que investimento físico (acumulação de capital) é uma das variáveis-chaves
para o crescimento econômico, entender quais foram os principais fatores da não
retomada das taxas de investimento desde o controle da inflação pós-plano Real
pode contribuir no entendimento dos pontos chaves que ainda estão impedindo a
economia brasileira de obter melhores resultados de crescimento do PIB.
O objetivo deste trabalho é analisar quais são os principais fatores responsáveis pela
não recuperação dos investimentos no Brasil pós-plano Real. Para isso, estão
IGP% a.t.
I_tot/Y %
10
estimados um modelo de investimentos privados em nível de 1970-2003 com dados
anuais e um modelo de taxa de investimento (total) no período 1995(1) – 2004(3).
As seguintes variáveis foram incluídas nos modelos empíricos como fatores
principais que podem explicar a não recuperação da taxa de investimento:
a carga tributária, que no período recente (1995-2004) tem apresentado evolução
crescente associada a uma utilização dos recursos advindos desta arrecadação em
gastos governamentais pouco produtivos ou não produtivos, sendo destinada uma
parcela de gastos cada vez menor para investimentos públicos em infra-estrutura
(produtivos), que são aqueles que causam o efeito de crowding-in de investimentos
privados; o preço relativo dos bens de capital, que aumentaram o custo relativo dos
investimentos na economia. Isto pode estar associado a uma estrutura ainda
oligopolizada em setores chaves da economia permitindo a manutenção de preços
elevados; a utilização de capacidade industrial média, dado que houve a
manutenção de uma ociosidade média na economia elevada no período recente
(1995-2004), com estagnação no nível médio de utilização de capacidade industrial.
De forma a testar esta hipótese da não recuperação da taxa de investimento pós-
plano Real tendo como variáveis explicativas chaves as citadas anteriormente, os
próximos capítulos serão apresentados da seguinte forma:
O capítulo 2 apresenta uma revisão de literatura sobre o tema acerca de estimações
de equações de investimento para o Brasil e também para outros países. Dessa
forma, procurou-se observar o que já foi feito por outros pesquisadores sobre o tema
e ganhar subsídio sobre quais seriam as variáveis candidatas mais comumente
usadas para explicar investimentos.
O capítulo 3 apresenta a estimação de um modelo empírico com dados anuais de
1970-2003, para investimentos privados no Brasil. A utilização desse modelo tem
como objetivo principal testar a hipótese do efeito de crowding-in dos investimentos
públicos em infra-estrutura sobre os investimentos privados. O período anual mais
longo foi escolhido para buscar captar o efeito de crowding-in, que normalmente se
dá com alguma defasagem.
O capítulo 4 apresenta os resultados de um modelo empírico trimestral com dados
de 1995-2004 para estimar a taxa de investimento (isto é, investimento como
porcentagem do PIB), no período pós-introdução do plano Real e no qual o Brasil
apresentou estabilidade da inflação. Assim, este modelo foi fundamental para
11
responder a questão-chave deste trabalho, a busca por respostas à não retomada
consistente dos investimentos pós-estabilização macroeconômica.
Dada a evidência empírica obtida no capítulo 4 para o efeito negativo da carga
tributária sobre os investimentos, o capítulo 5 apresenta uma análise mais detalhada
sobre a carga tributária brasileira entre seus diversos componentes e sobre o fato de
seu peso ser muito maior sobre o setor produtivo do que sobre renda e patrimônio, o
que é mais um fator de desestímulo ao investimento privado. Além disso, o capítulo
5 discute a composição dos gastos do governo e o fato de que, a despeito da
arrecadação crescente, os gastos do governo têm se concentrado em gastos pouco
produtivos ou não produtivos e tem diminuído a participação relativa dos
investimentos públicos em infra-estrutura, que como mostra a evidência empírica do
capítulo 3, são estimuladores de investimentos privados.
No capítulo 6 estão descritas as principais conclusões do trabalho.
12
2 – REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo são apresentados resultados econométricos obtidos em outras
pesquisas referentes ao tema de investimentos e seus determinantes no Brasil e em
outros países. São apresentados, assim, os resultados empíricos de uma seleção de
trabalhos chaves relativos ao tema em questão.
As tabelas 1 e 1.b resumem os trabalhos utilizados como base de pesquisa empírica
nesta dissertação. Em seguida, esses trabalhos e um outro que não estima
diretamente equação de investimento (Bacha e Bonelli, 2004) são individualmente
comentados em seus resultados-chaves.
13
Tabela 1: Resumo de resultados empíricos obtidos em outros estudos sobre equações de investimento
Características da pesquisa
Studart
(1992)
Rocha e Teixeira
(1996)
Monteiro Melo e
Rodrigues Júnior
(1998)
Serven
(1998)
Pereira
(1999)
instituição da publicação
PUC-RJ UnB IPEA The World Bank IPEA
países da amostra
Brasil Brasil Brasil 94 países (panel data) Brasil
período da amostra
1972-1989 1965-1990 1970-1995 1970-1995 1980-1998
periodicidade da amostra
Anual Anual Anual Anual Trimestral
modelo econométrico OLS OLS e ECM OLS e ECM
OLS, 2SLS, Fixed
effects, system GMM,
dif GMM, GARCH
OLS, GARCH
Variável endógena
I_pr / Y
_I_pr
I_pr I_pr I_tot
Variável de demanda / efeito acelerador
UCAP (++)
_Y (++)
Y (++) Y (+) Y (+)
Investimento setor público
I_pb / Y (--)
_G(-2)
I_pb omitida omitida
Preço dos fatores
Prel
_r(-1)
r (-) Prel (-) ; r Prel (+) ; E(+)
Disponibilidade de crédito
_BNDES (++)
omitida omitida CR / Y (+) omitida
Instabilidade / Incerteza
IGP (--) omitida IGP (-) UNC (-) UNC (-)
Dummys (crises)
omitida omitida omitida omitida omitida
Índice determinação regressão
0,98 0,85 0,89 N/A N/A
variáveis em log
sim sim (exceto r) sim (exceto r) sim (exceto r) não
Fonte: elaboração do autor
14
Tabela 1.b: resumo de resultados empíricos obtidos em outros estudos sobre equações de investimento
Características da pesquisa
Lenderman, Perry, Menéndez,
Stiglitz (2000)
Serven
(2002)
Rossiter
(2002)
Aysan, Pang e
Varoudakis
(2004)
instituição da publicação
The World Bank The World Bank Ohio University
University of Maryland
(USA) e Universi
d´Auvergne (France)
países da amostra
México 61 países (panel data) Estados Unidos 40 países (panel data)
período da amostra
1980-1999 1970-1995 1954.1 - 1998.4 1973/80-1999
periodicidade da amostra
Trimestral Anual Trimestral Anual
modelo econométrico
GMM system GMM, GARCH Johansen Cointegração OLS e ADF tests
Variável endógena
_I_tot
I_pr / Y I_pr I_pr / Y
Variável de demanda / efeito acelerador
_Ytr (++) e D_Yntr (++)
omitida
UCAP,
_Y
_Y (++)
Investimento setor público
omitida omitida I_pb_Equip(--); I_pb_struct(+) Infra
Preço dos fatores
_Prel (-) ; r (-) ; US_r (-)
Prel (-) ; r (-) omitida r (--)
Disponibilidade de crédito
_CR_tot (+) ; D_CR_pr (+)
CR / Y (+) Cash flow SR (++)
Instabilidade / Incerteza
σ
2
(E) (-)
UNC (-) omitida MS, ES (--), Vol
Dummys (crises)
presente (1982:Q3 - 1983:Q4 e
1995)
omitida omitida
presente (country specific
dummys)
Índice determinação regressão
N/A N/A N/A 0,65
variáveis em log
sim (exceto r) sim (exceto r) sim
não (exceto I_pr / Y que é
em log)
Fonte: elaboração do autor
15
Legendas das tabelas 1 e 1.b:
I_pr: Investimento privado
I_pb: Investimento público
I_tot: Investimento total
I_pb_Equip: Investimento público em equipamentos
I_pb_struct: Investimento público em estruturas
Y: Produto interno bruto (PIB)
UCAP: Utilização de capacidade da indústria
BNDES: Empréstimos desembolsados pelo BNDES
Prel: Preço relativo dos bens de capital (igual ao deflator
implícito de investimento / deflator implícito do PIB)
IGP: Variação do índice geral de preços
r: Taxa real de juros
E: Câmbio real
CR: Disponibilidade total de crédito na economia
UNC: Indicador de incerteza
Infra: Indicador de infra-estrutura
SR: Structural reforms
MS: Macroeconomic stability
ES: External stability
Cash Flow: Corporate profits after taxes
(+) ou (-) : significativo ao nível de 5%
(++) ou (--) : significativo ao nível de 1%
16
Studart (1992) centrou atenções na busca pelo efeito de crowding-out do
investimento público sobre investimento privado na economia brasileira. As
regressões feitas evidenciam um forte efeito de deslocamento dos investimentos
privados pelos investimentos públicos. Studart obteve um coeficiente
estatisticamente significante de -0,71, ou seja, um aumento de 1% no investimento
público diminuiria em 0,71% o investimento privado. Ele controlou por outros fatores
tipicamente usados em equações de determinação de investimento (vide tabela 1).
Além disso, o trabalho procurou distinguir entre efeitos de investimentos públicos em
infra-estrutura e em demais áreas que não infra-estrutura e procurou obter um
possível efeito de crowding-in que poderia haver entre investimentos públicos em
infra-estrutura e os investimentos privados, efeito esse que poderia estar mascarado
ao se olhar o agregado dos investimentos públicos. Os investimentos públicos não
infra-estrutura (conforme definidos por Studart) apresentaram um coeficiente mais
negativo que o do investimento público infra-estrutura, ou seja, os investimentos
públicos em infra-estrutura deslocariam menos os investimentos privados que os
demais, mas não chegariam a constituir um efeito de crowding–in. Vale dizer que
ressalvas do ponto de vista econométrico podem ser feitas aos resultados das
regressões de Studart. O estudo está baseado em uma amostra muito pequena (18
observações) e o número de variáveis explicativas é muito grande (poucos graus de
liberdade). Além disso, nenhuma consideração sobre estacionaridade das variáveis,
cointegração e modelo de correção de erros (ECM) é feita.
Rocha e Teixeira (1996) também procuraram evidências empíricas da relação de
crowding-out do investimento público sobre o investimento privado. No modelo
econométrico os autores controlaram pelas variáveis explicativas clássicas (PIB e
juro real), além dos investimentos públicos. Os resultados obtidos por Rocha e
Teixeira sugeriram possível co-integração das variáveis (investimentos privados,
investimentos públicos, juros reais e PIB). O modelo de correção de erros estimado
sugeriu (embora com baixa significância estatística, t=1,71) um efeito de
deslocamento dos investimentos públicos (crowding-out), com 2 defasagens, sobre
investimentos privados (com coeficiente = -0,18). No entanto, na equação de longo
prazo, o efeito obtido para os investimentos públicos teve o sinal contrário (positivo),
a favor do efeito de crowding-in. Ou seja, aparentemente sem a separação de
17
investimentos públicos em infra-estrutura e demais investimentos públicos este
estudo acha um efeito líquido de crowding-in.
Monteiro Melo e Rodrigues Júnior (1998) estimaram uma equação de investimento
privado para o Brasil usando dados anuais de 1970 a 1995, com variáveis
explicativas padrões, mas com foco principal no efeito da inflação como variável
proxy para a incerteza. A idéia apresentada é que a inflação acelerada da década de
80 teria elevado o grau de incerteza e reduzido o apetite por investimento privado, e
que, portanto, a variável de inflação (variação anual do IGP-DI) apresentaria um
sinal negativo significativo. Os autores ajustaram a série de investimento “público”
(administração pública) divulgada pelo IBGE, incluindo nesta os investimentos das
empresas estatais, que normalmente são colocados pelo IBGE junto aos
investimentos “privados” (empresas e famílias) e excluindo esses investimentos da
série de investimentos privados. Com isso, o efeito de crowding-out pôde ser mais
bem captado. O trabalho mostrou que todas as séries usadas podiam ser
consideradas integradas de ordem um ( I(1) ) segundo os testes de Dickey-Fuller, e
que, por isso podiam ser co-integradas. Os resíduos da co-integração mostraram-se
estacionários e o ECM apresentou o sinal negativo esperado do termo de
ajustamento. Com isso, a equação OLS estimada pôde ser considerada não-espúria
e os coeficientes ali estimados puderam ser entendidos como superconsistentes. Os
resultados básicos obtidos para a estimação da variável de investimentos privados
mostraram coeficientes significativos (ao nível de 5%) e com os sinais esperados
para as seguintes variáveis explicativas: o PIB para capturar o efeito acelerador, com
um coeficiente de 1,15; a inflação para capturar o efeito “incerteza”, com um
coeficiente de - 0,072 e juro real para capturar o efeito custo de capital, com um
coeficiente de -0,004. No ECM obteve-se um coeficiente significativo para o termo de
investimentos públicos. O trabalho confirmou um efeito de crowding-out, com um
coeficiente de -0,33, o que significa um deslocamento no investimento privado
equivalente a 1/3 do capital público investido, no curto prazo.
Sérven (1998) apresentou um trabalho pioneiro no que diz respeito à análise do
efeito incerteza sobre os investimentos privados, usando um painel de 94 países
com dados anuais de 1970 a 1995. O autor fez uma distinção entre variabilidade de
certas variáveis (que comumente são usadas como proxies para incerteza de forma
18
ad hoc) e a incerteza por si, que neste trabalho foi calculada através da parcela não
prevista de variância de um modelo GARCH para diversas variáveis (câmbio real,
preço dos bens de capital, variação do PIB, inflação). O autor mostrou, usando
diferentes metodologias econométricas (OLS com efeito fixo no componente de
erros, método generalizado dos momentos (GMM) em primeira diferença, GMM em
sistema – esta última a mais adequada segundo ele) que a incerteza é
estatisticamente significante e se relaciona negativamente ao investimento,
principalmente a incerteza ligada a câmbio real, inflação e taxa de juros que se
mostraram individualmente significantes nas estimações.
Pereira (1999) utilizou a metodologia de Sérven para estimar uma proxy de incerteza
e a aplicou ao Brasil, usando dados trimestrais de investimento total de 1980 a 1998.
O trabalho apresentou um modelo de ajustamento quadrático de custos. A variável
de incerteza usada foi uma média entre as variâncias condicionais obtidas em
modelos GARCH para câmbio real, preço dos bens de capital e juros reais. O
trabalho concluiu que há evidência estatística no Brasil de que a incerteza está
negativamente relacionada ao investimento.
Lederman, Menéndez, Perry e Stiglitz (2000) explicaram os principais determinantes
dos investimentos privados no México, com especial atenção para o período pós-
crise de 1995. Os dados usados são trimestrais de 1980 a 1999. Eles estimaram a
equação de investimentos privados com GMM e usaram dummies para buscar
explicar efeitos de confiança (“confidence effects”) durante os períodos de crise
(1982(3) a 1983(4) e 1995). Uma característica específica da função estimada foi a
separação do PIB (efeito multiplicador) em PIB tradables e PIB non-tradables. As
conclusões principais obtidas foram as seguintes: o efeito multiplicador dos tradables
é muito superior ao dos non-tradables no caso do México; o efeito da volatilidade do
câmbio real mostrou-se negativo, mas muito próximo a zero; já o efeito dos preços
dos bens de capital mostrou-se negativo e significante a 5% (coeficiente = -0,33); a
taxa de juros real mostrou o sinal negativo esperado e estatisticamente significante
(coeficiente = -0,08). O trabalho apresentou também um modelo com amostra
reduzida (1980-1994) com o objetivo de calcular multi-steps forecasts a partir desse
modelo de amostra reduzida (que apresentou coeficientes bastante semelhantes aos
do modelo de amostra completa) e comparar as previsões do modelo ao que
19
efetivamente ocorreu no pós-crise de 1995. Um modelo estendido adicionou a taxa
de juros real americana para testar a hipótese de Krueger-Tornell de que o acesso
ao mercado de crédito americano é um determinante importante para os
investimentos no México. O coeficiente da taxa de juros real americana mostrou-se
negativo e significante, corroborando a hipótese de Krueger-Tornell. Uma
especificação alternativa com variável de disponibilidade de crédito foi testada e
também mostrou resultados de acordo com o esperado (sinal positivo e
estatisticamente significante para disponibilidade de crédito). Das dummies de
efeitos de confiança apenas a primeira (do período 1982(3) – 1983(4)) mostrou-se
significante, alterando o sinal da taxa de juros
1
. Um efeito de confiança positivo
significa que em certos períodos (como parece ser o caso de 1982(3)-1983(4) no
México) o aumento da taxa de juros real leva ao aumento do investimento privado,
pois o aumento da taxa de juros real é interpretado pelos agentes de mercado como
um compromisso das autoridades monetárias em defender o câmbio e a inflação,
protegendo assim empresas multinacionais de perdas de patrimônio em moeda
estrangeira e de efeitos de incerteza. Finalmente, um modelo de VAR foi usado para
medir efeitos de variações no câmbio real sobre o investimento, já que a volatilidade
do câmbio real não apresentou um coeficiente significativo no modelo de
investimento mais estruturado. Os resultados mostraram que o efeito renda
predomina no curto prazo, ou seja, apreciações levam a aumento dos investimentos
no curto prazo, mas o efeito substituição domina no médio/longo prazo diminuindo
os investimentos. Os autores concluíram que os investimentos no México caíram
drasticamente em 1995 em função da desvalorização cambial e seu efeito nos
preços relativos e efeito renda de curto prazo, mas se recuperaram nos anos
seguintes puxados pelo elevado efeito multiplicador do PIB de tradables e taxas de
juros reais declinantes tanto no México quanto nos EUA.
Servén (2002) investigou os efeitos de incerteza na taxa de câmbio real sobre os
investimentos privados em países em desenvolvimento. Trata-se de uma estimação
de painel, com 61 países e dados de 1970-1995. O autor construiu uma medida de
incerteza do câmbio real via variância condicional do modelo GARCH do câmbio no
período, de acordo com seu trabalho anterior de 2000. Os resultados obtidos
1
Trata
-
se de uma dummy multiplicativa do juro real no modelo
.
20
corroboram que de fato a incerteza sobre o câmbio real tem forte impacto negativo
sobre os investimentos. Além disso, extensões do modelo sugerem que esses
efeitos de incerteza são mais fortes e evidentes em países de economia mais aberta
e com mercados financeiros menos desenvolvidos.
Rossiter (2002) investigou a relação entre investimento público, desagregado em
investimentos públicos em equipamentos e investimentos públicos em estruturas, e
investimento privado usando um modelo de cointegração. Trata-se de uma
estimação com dados trimestrais da economia dos EUA de 1954 a 1998, baseada
em um modelo modificado de acelerador do PIB, que usou como variáveis
explicativas a variação do PIB, a utilização da capacidade industrial, o fluxo de caixa
de empresas (medido como lucro das empresas depois de impostos) e as variáveis
de investimento público desagregado. Seguindo o procedimento de Johansen para
testar cointegração, o autor confirma a hipótese de haver vetores de cointegração
entre as variáveis de investimento público e o investimento privado. O resultado final
do modelo de longo prazo de cointegração forneceu evidência estatística da
presença de crowding-in de investimentos públicos em infra-estrutura. No entanto, o
coeficiente negativo para a variável que captura investimentos públicos em
equipamentos sugeriu haver um efeito de crowding-out dos investimentos públicos
em equipamentos. No agregado os investimentos públicos como um todo teriam
efeito de crowding-out dado o valor em módulo muito mais elevado do coeficiente
dos investimentos públicos em equipamentos.
Aysan, Pang e Véganzonés-Varoudakis (2004) procuraram explicar o baixo
crescimento dos investimentos privados na região do sudoeste da Ásia e norte da
África (os chamados países MENA
2
) principalmente nas décadas de 80 e 90. O
trabalho usou um painel de 40 países em desenvolvimento – dentre os quais 5 da
MENA (Egito, Irã, Jordânia, Marrocos e Tunísia) – para estimar uma equação de
determinantes de investimento e concluiu que, além dos tradicionais efeitos
modelados nas equações de determinantes de investimento (acelerador do PIB, juro
real, etc), políticas governamentais e estabilidade macroeconômica são pontos
fundamentais para os investimentos privados. O autor usou como variáveis
2
Middle East & North African, MENA
21
explicativas (além de controlar pelas variáveis tradicionais) indicadores para:
reformas estruturais (SR), referentes principalmente ao grau de abertura do mercado
e de desenvolvimento do mercado financeiro; estabilidade macroeconômica (MS),
baseada em medidas de inflação e déficit público como porcentagem do PIB;
estabilidade externa (ES), baseada na relação dívida externa sobre PIB; volatilidade
(Vol), baseada na variância do crescimento do PIB.
Os resultados mostraram significância estatística a um nível de 5% para as variáveis
SR e ES com coeficientes positivos, conforme esperado. Com isso, concluiu-se que
reformas econômicas estruturais (em busca de maior abertura da economia,
desenvolvimento do sistema financeiro, etc) são fundamentais para estimular o
investimento privado e que a baixa taxa de acumulação de capital fixo dos países
MENA no período se deveu principalmente à falta dessas reformas.
Bacha e Bonelli (2004) procuraram obter explicações para as características de
longo prazo de crescimento e investimento na economia brasileira com dados de
1940 a 2002 e explicar o porquê da queda considerável tanto em crescimento
quanto em investimentos desde 1980 quando comparado ao período anterior
(1940—1979). Inicialmente é apresentado que de fato há uma correlação elevada
entre crescimento e investimentos. A argumentação posterior é que as taxas de
poupança não são capazes de explicar, por si só, a forte queda de crescimento e de
investimentos que se observou no Brasil pós-1980. O trabalho conclui que as
variáveis que melhor explicariam esse comportamento são: o preço relativo dos bens
de capital, que cresceram de forma acelerada no Brasil pós-1980 descolando
totalmente dos preços relativos dos bens de capital médio mundial; a evolução de
queda da taxa de PIB sobre capital em uso, interpretada como efeito da queda de
produtividade da economia brasileira desde o processo de substituição de
importações da década de 50; uma baixa utilização de capacidade instalada
(ociosidade elevada) após 1980. Bacha e Bonelli comentam que a ociosidade de
capacidade média de 1940-1979 foi de 3,4% enquanto de 1980-2002 foi de 7,6%,
quase o dobro.
22
3 – RESULTADOS EMPÍRICOS – MODELO COM DADOS ANUAIS 1970-2003
Neste capítulo é apresentado um modelo de investimento em nível. O objetivo
principal é testar a hipótese do efeito de crowding-in dos investimentos públicos em
infra-estrutura sobre os investimentos privados. Foi escolhido um período mais longo
(1970-2003) e com dados anuais para captar esse efeito, já que ele normalmente se
dá com defasagens e períodos muito curtos dificilmente poderiam captá-lo.
3.1 – Descrição dos dados anuais 1970-2003
Para explicar o investimento privado em nível foram escolhidas como variáveis pré-
candidatas a fazerem parte da forma funcional final: o PIB, a utilização de
capacidade industrial, os investimentos públicos em infra-estrutura, os investimentos
públicos nas demais áreas que não infra-estrutura, o juro real, o preço relativo dos
bens de capital, a inflação, uma proxy para disponibilidade de crédito e a carga
tributária. A seguir, descreve-se o porquê da escolha de cada uma dessas variáveis.
O PIB e utilização de capacidade industrial são variáveis comumente usadas em
especificações de equações para investimento privado em nível, dado que refletem
as condições de demanda da economia e que são usadas para captar o efeito
acelerador do investimento e de possíveis ciclos econômicos. Economias
tipicamente pró-cíclicas, como são em geral as economias de países em
desenvolvimento, tendem a apresentar forte correlação entre os investimentos
privados e essas variáveis de demanda.
Para medir o impacto dos investimentos públicos sobre os investimentos privados
foram utilizados os investimentos públicos de forma desagregada, separando entre
investimentos públicos que são em infra-estrutura e aqueles que não são em infra-
estrutura. Considerou-se neste trabalho como investimentos públicos em infra-
estrutura aqueles investimentos feitos em energia elétrica, telecomunicações e
transportes – rodovias, ferrovias e portos. Todos os demais investimentos públicos
foram considerados como não infra-estrutura. É fundamental procurar verificar se
evidência empírica do teórico efeito de crowding-in dos investimentos públicos em
23
infra-estrutura sobre os investimentos privados no Brasil, e se, de modo contrário,
ocorre o esperado efeito de crowding-out dos investimentos públicos que não são
em infra-estrutura.
O possível efeito de crowding-in do investimento público em infra-estrutura sobre o
investimento privado é teoricamente explicado pelo fato de que tais investimentos
aumentam a produtividade do capital a ser futuramente investido e poupam aos
investidores privados investimentos adicionais que outrora eles obrigatoriamente
teriam que fazer nessas áreas, já que elas são essenciais. Já o crowding-out dos
investimentos públicos que não são em infra-estrutura sobre os investimentos
privados é teoricamente explicado pela competição entre eles por recursos escassos
disponíveis para investimentos.
A variável mais básica para teoricamente explicar investimentos privados é o juro
real, primeira proxy teórica do custo de oportunidade do capital. Isso justifica sua
escolha como variável pré-candidata a compor a forma funcional final. Apesar disso,
seu resultado em modelos empíricos em muitos casos é pouco significativo ou de
coeficientes muito baixos. Isso pode ser explicado por ser muito difícil medir a taxa
de juros real efetivamente aplicável ao setor investidor, já que há créditos a taxas
muito diferenciadas para empresas que representem bons riscos de crédito e que
tenham fácil acesso a mercados externos e a mercados de capitais, taxas essas que
podem ser bem diferentes da taxa real de juros calculada usando-se a taxa básica
de juros selic. Mesmo assim, o juro real foi incluído como uma das variáveis de
controle.
O preço relativo dos bens de capital também é uma variável fundamental nas
decisões de investimento por afetar diretamente o custo de oportunidade do capital.
Ele pode capturar efeitos de pouca concorrência na indústria de bens de capital que
resultem em um aumento dos preços desses bens acima do aumento de preços do
restante da economia, o que impactaria negativamente os investimentos. Por isso é
também uma variável freqüentemente usada em estudos sobre investimentos
privados.
A inflação é uma variável tipicamente usada como proxy de incerteza em economias
de países em desenvolvimento. Ela foi incluída no estudo de Monteiro Melo e
24
Rodrigues Júnior (1998) para capturar o impacto sobre os investimentos da
estabilidade macroeconômica no Brasil e também está na lista de variáveis pré-
candidatas à forma funcional final.
Uma variável proxy para disponibilidade de crédito na economia também costuma
ser utilizada em estudos sobre investimentos, especialmente em países em
desenvolvimento, em que o acesso a crédito de muitos agentes é limitado. A
obtenção ou não da concessão de crédito é, em muitos projetos, um ponto chave
para que o mesmo possa efetivamente ser levado à frente ou não. Dessa forma, o
nível de abundância ou escassez de crédito deve também estar considerado através
de alguma medida como variável pré-candidata. Neste trabalho considerou-se para
esse fim o volume de desembolsos anuais do BNDES como proxy no Brasil da
disponibilidade de crédito. Essa variável já foi usada em outros trabalhos empíricos
no Brasil, conforme comentado no capítulo 2.
A carga tributária total (em percentagem do PIB) deve ser usada como possível
variável explicativa de investimentos privados, já que teoricamente se relaciona
negativamente aos investimentos privados. Poucos trabalhos empíricos utilizam
essa variável, mas é possível que ela possa ser relevante no caso brasileiro,
principalmente nos últimos anos em que a carga tributária total cresceu de forma
significativa. Além disso, motivam a utilização dessa variável como candidata a fazer
parte da forma funcional as permanentes declarações de agentes dos setores
públicos e privados de que o peso excessivo da carga tributária brasileira seria um
dos principais motivos do desestímulo ao investimento privado.
A tabela 2 a seguir mostra de forma resumida as varveis pré-candidatas usadas
para explicar o investimento privado no Brasil em séries anuais desde 1970 e os
sinais esperados da relação de cada uma delas com os investimentos privados.
25
Tabela 2: Variáveis pré-candidatas a explicarem investimento privado no Brasil no
modelo anual desde 1970 e sinais esperados teoricamente
Variável pré candidata sinal esperado
PIB real +
Utilizão de capacidade industrial média +
Investimento público em infra-estrutura real +
Investimento público que não em infra-estrutura real -
Juro real -
Preço relativo dos bens de capital -
Inflação -
Desembolsos do BNDES real +
Carga tributária como % do PIB -
Fonte: elaboração do autor
Todas as séries em R$ foram utilizadas em valores R$ de 2003
Os anexos A.1 e A.2 detalham a base de dados utilizada, descrevendo para todas
as variáveis as fontes dos dados e as manipulações e cálculos feitos em cada caso
para se obter as séries finais que foram utilizadas nas regressões.
3.2 - Resultados das regressões com dados anuais 1970-2003
3.2.1 - Testes de estacionaridade
Inicialmente foram feitos testes de estacionaridade (ADF tests) para todas as
variáveis pré-candidatas, em nível e em primeira diferença. Os testes buscam exibir
evidências estatísticas da ordem de integração das variáveis e são pré-testes para a
cointegração, já que teoricamente apenas variáveis com a mesma ordem de
integração podem cointegrar. A tabela 3 a seguir resume os resultados dos testes de
estacionaridade. Todas as variáveis com exceção do juro real estão transformadas
em logaritmo natural.
26
Tabela 3: Resultados dos testes de estacionaridade para as variáveis pré-candidatas
no modelo de investimentos privados usando dados anuais de 1970-2003
Variável t-adf formulação
tmín para 5%
significância
tmín para 1%
significância
nível de significância
n lags escolhida
crit. AIC
LY -2.823 K+trend -3.57 -4.31 não significativo 0
LInvest_privado -3.578 K+trend -3.57 -4.31 5% 2
LInvest_público_Infra -0.743 K+trend -3.57 -4.31 não significativo 3
LInvest_público_Não-Infra -3.174 K+trend -3.57 -4.31 não significativo 0
LUCAP -2.383 K -2.97 -3.68 não significativo 0
r -2.497 K -2.97 -3.68 não significativo 1
LP_rel_bens_K -1.839 K -2.97 -3.68 não significativo 0
LIGP -1.258 K -2.97 -3.68 não significativo 4
LEmprést_BNDES -1.842 K -2.97 -3.68 não significativo 1
Lt 2.208 K -2.97 -3.68 não significativo 3
DLY -4.215 K+trend -3.57 -4.31 5% 0
DLInvest_privado -4.581 K+trend -3.57 -4.31 1% 3
DLInvest_público_Infra -7.137 K+trend -3.57 -4.31 1% 2
DLInvest_público_Não-Infra -6.652 K+trend -3.57 -4.31 1% 0
DLUCAP -5.02 K -2.97 -3.68 1% 0
Dr -7.475 K -2.97 -3.68 1% 0
DLP_rel_bens_K -4.657 K -2.97 -3.68 1% 2
DLIGP -3.982 K -2.97 -3.68 1% 1
DLEmprést_BNDES -4.2 K -2.97 -3.68 1% 0
DLt -5.137 K -2.97 -3.68 1% 2
Variáveis em nível
Variáveis em primeira diferença
Fonte: Veja para as fontes específicas e as siglas de cada variável os anexos A.1 e A.2
Nota: elaborão do autor
Pode-se perceber que os testes de raízes unitárias para as variáveis selecionadas
em nível não rejeitaram a possibilidade de haver raiz unitária em todos os casos a
um nível de 1%, e a 5% apenas para o juro real (r) houve rejeição. Ou seja, não
evidências estatísticas de que as variáveis sejam I(0). Os testes em primeira
diferença das variáveis confirmam as expectativas de rejeição da presença de raiz
unitária a um nível de 1% de significância (exceto para o PIB, em que isso ocorreu a
um nível de 5% de significância). Baseado nisso, pode-se afirmar que há evidências
estatísticas de que as variáveis em questão possam ser tratadas todas como I(1) e
que regressões em seu nível (log do nível, no caso da especificação usada aqui) são
possíveis e não mostrarão resultados espúrios, desde que se verifiquem as
condições de cointegração (a serem detalhadas nas regressões).
A teoria sugere a possibilidade de uma tendência, além da constante, para as
formulações dos testes de raiz unitária para o PIB e o investimento e isso foi
devidamente considerado.
27
3.2.2 – Forma funcional final para dados anuais – 1970-2003
Foi usado o método de seleção de modelo do geral ao específico na busca da
melhor forma funcional do modelo de investimento privado em nível. Ou seja, iniciou-
se com uma forma funcional com todas as variáveis pré-candidatas a explicarem os
investimentos privados, passando a eliminações das variáveis que apresentaram
baixa significância.
O modelo inicial apresentou resultados de baixa significância para as variáveis de
desembolsos anuais do BNDES (LEmprést_BNDES), preços relativos dos bens de
capital (LP_rel_bens_K) e carga tributária (Lt), o que sugeriu a eliminação dessas
variáveis na formulação do modelo final. Testes F de variáveis omitidas do modelo
foram feitos para verificar que de fato sua exclusão do modelo não traria prejuízos à
sua explicabilidade
3
.
Além disso, foi especificado um modelo dinâmico – incluindo defasagens de algumas
variáveis - pois com a utilização apenas de variáveis contemporâneas o modelo
apresentaria problemas de auto-correlação dos resíduos. Uma variável defasada
comumente usada em outros trabalhos empíricos é a 1ª defasagem do investimento
privado, dada a característica de alguns investimentos que não podem ser
completados em apenas um ano, o que explica o uso dessa variável para captar
esse efeito de “inércia” dos investimentos. Nesse sentido foi feito um teste de
variável omitida para o log do investimento privado com uma defasagem, com
resultado bastante significativo
4
.
Adicionalmente, faz sentido do ponto de vista teórico imaginar que haja uma
defasagem entre a realização do investimento público em infra-estrutura e seu
impacto de incentivo sobre o setor privado para seus novos investimentos, até
mesmo maior que um ano. Ao contrário dos investimentos públicos que não são em
infra-estrutura, que pelo argumento de competirem por recursos com o setor privado
podem causar o deslocamento contemporâneo de investimentos privados. Assim, foi
3
Os resultados dos testes F para a omissão das variáveis do modelo final anual foram os seguintes:
omissão do índice_privatização: F(1,26) = 0.851475 [0.3646]
omissão dos desembolsos anuais do BNDES: F(1,26) = 0.221642 [0.6417]
omissão da carga tributária como percentual do PIB: F(1,26) = 3.40955 [0.0762]
omissão dos preços relativos dos bens de capital: F(1,26) = 0.423406 [0.5210]
4
omissão de investimentos privados defasados de 1 lag: F(1,25) = 9.30881 [0.0053] **
28
procurada uma formulação incluindo também defasagens da variável de
investimentos públicos em infra-estrutura.
Foi obtido, dessa forma, um modelo final conciso, com todos os coeficientes
significativos e de sinais esperados pela teoria. Além disso, o modelo final obtido não
rejeitou as hipóteses de normalidade, homocedasticidade e de ausência de auto-
correlação nos resíduos. O seu grau geral de explicabilidade (R
2
=0,95) também foi
satisfatório. A tabela 4 a seguir mostra os resultados obtidos no modelo final para
dados anuais desde 1970 (comentários sobre os resultados estão na pág. 35):
Tabela 4: Estimação do modelo para equação de investimento privado em nível com
dados anuais de 1970-2003 para o Brasil
variável explic. Xi coef. p-value
sinal esperado
pela teoria
sinal obtido
Constante -7.398 ** 0.003
(3.35)
Investimento público Infra real (2 defasagens)
a
0.138 ** 0.000 + +
(4.34)
Investimento público Não-Infra real
a
-0.178 ** 0.000 - -
(4.69)
Inflação - IGP
a
-0.0232 * 0.021 - -
(2.47)
Juro real -0.00253 * 0.011 - -
(2.76)
PIB real
a
0.724 ** 0.000 + +
(7.86)
Utilização de capacidade industrial
a
1.532 ** 0.000 + +
(5.49)
Investimento privado real (1defasagem)
a
0.291 ** 0.003 + +
(3.26)
número de observações 32
R^2 0.952
DW 2.23
F(7,24) 68.45 [0.000]**
AR 1-2 test: F(2,22) = 0.40543 [0.6716]
ARCH 1-1 test: F(1,22) = 0.0094558 [0.9234]
Normality test: Chi^2(2) = 1.1075 [0.5748]
hetero test: F(14,9) = 1.9193 [0.1637]
RESET test F(1,23) = 2.5732 [0.1223]
Modelo anual final - 1970-2003
variável dependente = Investimento privado real
a
Fonte: elaboração do autor
Notas: Uma estrela (*) denota significância estatística a um nível de 5% e duas estrelas (**) denota
significância estatística a um nível de 1%. Estatísticas t mostradas abaixo dos coeficientes entre
parênteses
a. dados expressos em logs.
29
O gráfico 3 a seguir mostra o bom ajustamento desse modelo às observações
efetivamente realizadas de investimentos privados no período de 1970-2003:
1975 1980 1985 1990 1995 2000
2005
18.5
18.6
18.7
18.8
18.9
19.0
19.1
19.2
19.3
19.4
LI_pr Fitted
Gráfico 3: Valores do modelo anual final 1970-2003 x valores realizados para log
Investimentos Privados
Fonte: elaboração do autor
Foram feitos os testes de estacionaridade dos resíduos do modelo anual final 1970-
2003 obtendo-se os resultados resumidos na tabela 5 abaixo:
Tabela 5: Teste de estacionaridade dos resíduos do modelo anual 1970-2003 para
investimentos privados
Variável t-adf formulação
tmín para 5%
significância
tmín para 1%
significância
nível de significância
n lags escolhida
crit. AIC
Resíduo_modeloanual -5.728 K -2.97 -3.68 1% 0
Resumo do teste de estacionaridade dos resíduos do modelo anual final (ADF Tests)
Fonte: elaboração do autor
Os resultados da tabela 5 mostram que os resíduos são estacionários e que,
portanto, a cointegração entre as variáveis consideradas no modelo é possível.
O gráfico 4 a seguir mostra que os resíduos não rejeitaram a hipótese de
normalidade e os gráficos de função auto correlação (ACF) e
30
função auto correlação parcial (PACF) dos resíduos sugerem que a estrutura de
defasagens escolhida está adequada, não restando outros efeitos indesejados de
auto-correlações de resíduos.
1970 1980 1990 2000
-1
0
1
r:LI_pr (scaled)
-3 -2 -1 0 1 2 3
0.2
0.4
Density
r:LI_pr N(0,1)
0 1 2 3 4 5 6
-0.5
0.0
0.5
1.0
ACF-Res_modeloanual
0 1 2 3 4 5 6
-0.5
0.0
0.5
1.0
PACF-Res_modeloanual
Gráfico 4: Resíduos do modelo anual em escala normal, ACF e PACF dos resíduos
Fonte: elaboração do autor
Montou-se também o modelo de correção de erro (ou de equilíbrio) , denominado
ECM, do modelo anual final para verificar se de fato as condições de cointegração
são todas atendidas e se o modelo é estável no curto prazo. O ECM pode ser
entendido como o modelo de ajustes de curto prazo (CP) das variáveis em relação
ao equilíbrio de longo prazo (LP). Nesse caso, a relação de LP entre as variáveis é o
modelo de cointegração, que no nosso caso é a regressão entre as variáveis I(1) em
nível, já apresentada na tabela 4. Os resultados obtidos no modelo de ECM
corroboram a possibilidade de cointegração entre as variáveis em nível, dado um
ajustamento de curto prazo estável obtido. A tabela 6 a seguir apresenta os
resultados do ECM:
31
Tabela 6: Modelo de ECM para a formulação obtida de investimentos privados em
nível
variável explic. Xi coef. p-value
sinal esperado
pela teoria
sinal obtido
Constante -0.017 ** 0.334
(0.99)
Resíduo modelo anual final (1 defasagem) -1.06 ** 0.000 - -
(4.58)
Investimento público Infra real (2 defasagens)
a,b
0.107 0.066 + +
(1.94)
Investimento público Não-Infra real
a,b
-0.19 ** 0.000 - -
(5.80)
Inflação - IGP
a,b
-0.0337 ** 0.010 - -
(2.83)
Juro real
b
-0.00198 * 0.030 - -
(2.31)
PIB real
a,b
1.19 * 0.012 + +
(2.75)
Utilização de capacidade industrial
a,b
0.871 0.076 + +
(1.86)
Investimento privado real (1defasagem)
a,b
0.286 ** 0.010 + +
(2.84)
número de observações 31
R^2 0.876
DW 1.85
F(8,22) 19.47 [0.000]**
AR 1-2 test: F(2,20) = 1.4552 [0.2570]
ARCH 1-1 test: F(1,20) = 0.43749 [0.5159]
Normality test: Chi^2(2) = 0.42853 [0.8071]
hetero test: F(16,5) = 0.39499 [0.9283]
RESET test F(1,21) = 2.0859 [0.1634]
Error Correction Modelo do Modelo anual final - 1970-2003
variável dependente = Investimento privado real
a,b
Fonte: elaboração do autor
Notas: Uma estrela (*) denota significância estatística a um nível de 5% e duas estrelas (**) denota
significância estatística a um nível de 1%. Estatísticas t mostradas abaixo dos coeficientes entre
parênteses
a. dados expressos em logs.
b. dados em primeira diferença
Vê-se na tabela 6 que foi obtido o sinal negativo e significativo do termo de correção
de erros (o resíduo do modelo anual com uma defasagem), condição que é
necessária para que o ECM seja estável e convergente em direção ao equilíbrio de
LP da relação de cointegração das variáveis em nível. Além disso, todos os sinais e
magnitudes das variáveis explicativas em primeira diferença estão coerentes com os
resultados da regressão em nível e também com os sinais esperados teoricamente.
D
ois comentários adicionais
a
cerca dos resultados da tabela
6
estão feitos a seguir
:
32
No caso da variável de log do investimento público em infra-estrutura o sinal é o
correto (positivo) e a magnitude é ligeiramente inferior à encontrada no modelo de
LP de cointegração (coeficiente de 0,107 no modelo de CP de ECM contra 0,138 no
modelo de LP de cointegração). Isso sugere que o impacto do crowding-in de CP do
investimento público em infra-estrutura (ocorrido com 2 anos de defasagem) é
complementando por crowding-ins adicionais (de magnitudes bem menores) nos
anos seguintes.
Já quanto à variável de log dos investimentos públicos que não são em infra-
estrutura, o sinal obtido também é o correto (negativo) e a magnitude é ligeiramente
superior (em módulo) à encontrada no modelo de LP (coeficiente de -0,190 no
modelo de CP de ECM contra -0,178 no modelo de LP de cointegração). Isso sugere
que o impacto do crowding-out de CP do investimento público que não é em infra-
estrutura (ocorrido contemporaneamente) é complementando por crowding-ins
adicionais (de magnitudes bem menores) nos anos seguintes, reduzindo
ligeiramente o crowding-out mais significativo inicial. Esse fato também vai de
encontro à teoria, já que, passado o efeito inicial perverso de competição por
recursos com o investimento privado do investimento público que não é em infra-
estrutura, supõe-se que esses investimentos também possam contribuir (mesmo que
de forma mais reduzida se comparado ao investimento em infra-estrutura) com o
aumento da produtividade do capital privado futuramente investido (servem como
exemplos os investimentos públicos em educação, saúde, habitação, etc).
A seguir, mostra-se no gráfico 5 os resultados dos testes de constância dos
parâmetros (testes de Chow) dos coeficientes obtidos no modelo anual final,
destacando os coeficientes de investimentos públicos em infra-estrutura e dos
investimentos públicos que não são em infra-estrutura (comentários acerca desses
resultados estão na pág. 36).
33
1990 1995
-0.3
-0.2
-0.1
LI_pb_NInf × +/-2SE
1990 1995
0.0
0.1
0.2
0.3
LI_pb_Inf_2 × +/-2SE
1990 1995
-5.5
-5.0
-4.5
t: LI_pb_NInf
1990 1995
2.0
2.5
3.0
t: LI_pb_Inf_2
1990 1995
-0.1
0.0
0.1
Res1Step
1990 1995
0.5
1.0
1up CHOWs 1%
1990 1995
0.50
0.75
1.00
Ndn CHOWs 1%
1990 1995
0.50
0.75
1.00
Nup CHOWs 1%
Gráfico 5: Testes de Chow de estabilidade de parâmetros para as variáveis de
investimento público em infra-estrutura e investimentos públicos que não são em
infra-estrutura
Fonte: elaboração do autor
A seguir é apresentado o cálculo dos efeitos cumulativos do impacto de uma dada
variável explicativa sobre os investimentos privados, já que o modelo de
cointegração final obtido apresenta um termo de defasagem de investimento
privado, o que gera um efeito iterativo dada uma variação de alguma outra variável
explicativa do modelo. Serão analisados efeitos iterativos de LP para variações de
investimentos públicos em infra-estrutura e variações de investimentos públicos que
não são em infra-estrutura.
Da relação do modelo anual final (tabela 4) foram utilizados, primeiramente, apenas
os termos e coeficientes de investimento privado e investimento público em infra-
estrutura, contemporâneos e defasados:
InfIpbLIprLIprInfIpbLIpr _*)138,0*]291,01([*291,0_*138,0
212
=+= (1) ,
para:
34
=Ipr
investimentos privados contemporâneos;
=InfIpb _
investimentos públicos em infra-estrutura;
=)(vL
d
operador defasagem aplicado d vezes a uma variável v qualquer.
Da teoria de equações por diferenças discretas, sabe-se que:
...1]1[
4433221
+++++=
LaLaLaaLaL
(2)
Substituindo a equação 2 em 1 obteve-se:
InfIpbLLLLIpr _*...)0034,00117,00402,0138,0(
5432
++++= (3)
Os sinais obtidos são todos positivos, e de magnitude decrescente, conforme
esperado, ou seja, há crowding-ins sucessivos e de magnitudes cada vez menores.
Se for feita a hipótese de que uma dada variação no investimento público em infra-
estrutura seja de caráter permanente, ou pelo menos que esse novo nível de
investimentos se mantenha nos períodos imediatamente subseqüentes,
(
...)2(_)1(_)(_ === tInfIpbtInfIpbtInfIpb
), o efeito cumulativo iterativo de
longo prazo será:
InfIpbIpr _*...)0034,00117,00401,0138,0( ++++=
, ou seja,
InfIpbIpr _*1946,0=
(4)
Analogamente obtém-se o efeito iterativo de longo prazo para os investimentos
públicos que não são em infra-estrutura sobre os investimentos privados:
NInfIpbLLLIpr _*...)00438,00151,00518,0178,0(
32
=
(5)
Novamente, se for feita a hipótese de investimentos públicos que não são em infra-
estrutura idênticos ao longo de períodos imediatamente subseqüentes
(
...)2(_)1(_)(_ === tNInfIpbtNInfIpbtNInfIpb
), o efeito cumulativo iterativo de
longo prazo se:
NInfIpbIpr _*2510,0=
(6)
35
As conclusões principais da modelagem empírica com os dados anuais
corroboraram a chamada hipótese da infra-estrutura, isto é, a hipótese de crowding-
in dos investimentos públicos em infra-estrutura sobre os investimentos privados.
Destacam-se os seguintes comentários sobre o modelo final anual (tabela 4):
Verificou-se da relação de cointegração em nível (tabela 4) que ocorre o efeito de
crowding-in do investimento público em infra-estrutura com defasagens de 2 anos e
na proporção de 7,2:1 (aumento de 1% no investimento público em infra-estrutura
leva a um aumento de 0,138% no investimento privado, com defasagem de 2 anos).
Verificou-se a ocorrência de um efeito de crowding-out do investimento público que
não é em infra estrutura, contemporânea e na proporção de 5,6:1 (aumento de 1%
no investimento público que não é em infra-estrutura leva a redução de 0,178% do
investimento privado, contemporânea), ou seja, a magnitude do efeito de crowding-
out é superior à do efeito de crowding-in.
Ocorrem os já esperados efeitos fortes de demanda, com coeficiente positivo e
elevado (0,724) para a variável de log do PIB real.
Verificou-se o caráter extremamente pró-cíclico da economia brasileira, com
coeficiente positivo e elevado (1,53) para a variável de log da utilização da
capacidade industrial.
O efeito de inércia dos investimentos privados mostrou-se significativo, já que há
projetos de investimentos que levam mais que 1 ano para serem totalmente
implementados (coeficiente de 0,29 da variável de log investimentos privados
defasada).
A taxa de juros real e a inflação mostraram-se significativos e com o esperado sinal
negativo, mas de magnitudes pequenas - principalmente o juro real (coeficiente de -
0,0232 para log do IGP e de -0,00254 para log do juro real).
Os testes estatísticos realizados revelaram que não há evidências estatísticas de
auto-correlações de resíduos ou de heterocedasticidade no modelo (vide tabela 5 e
gráfico 4).
As relações de CP obtidas através do modelo de ECM mostraram estabilidade e
suportam a cointegração das variáveis do modelo em nível (vide tabela 6).
36
Os testes de Chow feitos revelaram que não há evidência estatística de não
constância dos parâmetros estimados (vide gráfico 5).
Os parâmetros obtidos através do efeito iterativo e cumulativo de longo prazo nos
investimentos privados reforçam a hipótese de que a magnitude do efeito de longo
prazo de crowding-out dos investimentos públicos que não são em infra-estrutura
sobre os investimentos privados (-0,25) é superior à magnitude do efeito de
crowding-in dos investimentos públicos em infra-estrutura (+0,19).
37
4 – RESULTADOS EMPÍRICOS – MODELO COM DADOS TRIMESTRAIS 1995(1)-
2004(3)
O modelo com dados anuais forneceu um insight interessante da importância dos
investimentos públicos em infra-estrutura como estimulador dos investimentos
privados (crowding-in), ao contrário dos investimentos públicos que não são em
infra-estrutura, que acabam por deslocar os investimentos privados (crowding-out).
Mas ainda falta uma investigação mais detalhada dos investimentos no período pós-
plano Real para procurar a resposta à questão mais fundamental que este trabalho
propôs-se a responder: por que não houve recuperação nas taxas de investimento
brasileiras com a estabilização da inflação alcançada com o plano Real? Quais são
os vilões que ainda impedem um crescimento das taxas de investimento no Brasil,
posto que o desafio de estabilização macroeconômica foi alcançado desde 1994
com o plano Real e o tripé macroeconômico básico (câmbio flutuante, superávit
fiscal coerente, e política monetária de inflation targeting) está montado desde o
início de 1999?
Usando dados trimestrais de 1995(1) a 2004(3) procurou-se obter um modelo
econométrico explicativo para a razão de investimento real sobre PIB real
5
para
procurar uma resposta via dados empíricos a essa questão importante.
4.1 – Investimentos totais: boa proxy para investimentos privados trimestrais
no período 1995 – 2004
Uma primeira dificuldade no uso de séries trimestrais para investimentos privados é
o fato de que o IBGE divulga trimestralmente apenas investimentos totais, não
dividindo em séries trimestrais de investimentos públicos e investimentos privados.
Por isso foi usada neste modelo a série de investimento total como proxy para
investimento privado. Em 2003 os investimentos privados representaram 82,5% dos
investimentos totais. Esta seção procura mostrar que nesse período considerado as
séries de investimentos privados e investimentos totais cointegram e que, dessa
forma, a proxy de uso de investimentos totais para investimentos privados pode ser
usada sem grandes problemas nesse período. A justificativa de que essa proxy
5
Foi utilizada uma transformação da taxa de investimento em logaritmo (LI/Y ). Para obter investimento real e
PIB real foram usados deflatores diferentes, conforme descrito na tabela no anexo B.
38
usada é adequada é importante porque se sabe que as decisões de investimento
privado têm lógica e motivação bem diferenciados da decisão de investimento
público. As tabelas 7 e 8 mostram que há cointegração entre os investimentos totais
e privados a partir de 1990:
Tabela 7: Estimação do modelo de investimentos totais tendo como variável
explicativa os investimentos privados no período de 1990-2004
variável explic. Xi coef. p-value
sinal esperado
pela teoria
sinal obtido
Constante 8.76 ** 0.000
(10.20)
Investimento privado real
a
0.556 ** 0.000 + +
(12.50)
número de observações 14
R^2 0.928
DW 1.95
F(1,12) 155.6 [0.000]**
AR 1-2 test: F(2,10) = 0.87835 [0.4452]
ARCH 1-1 test: F(1,10) = 0.015224 [0.9042]
Normality test: Chi^2(2) = 1.9909 [0.3696]
hetero test: F(2,9) = 7.7043 [0.0112]*
RESET test F(1,11) = 3.6327 [0.0831]
Modelo de cointegração Investimentos privados x Investimentos totais 1990-2004
variável dependente = Investimento total real
a
Tabela 8: Modelo de ECM para a formulação de investimentos totais
variável explic. Xi coef. p-value
sinal esperado
pela teoria
sinal obtido
Constante 0.0014 0.892
(0.14)
Resíduo modelo cointegração Invest total x Invest
privado (1 lag)
-1.065 * 0.028 - -
(2.56)
Investimento privado real
a,b
0.573 ** 0.000 + +
(5.33)
número de observações 13
R^2 0.748
DW 2
F(2,10) 14.82 [0.001]**
AR 1-2 test: F(1,9) = 2.8072 [0.1282]
ARCH 1-1 test: F(1,8) = 0.056244 [0.8185]
Normality test: Chi^2(2) = 1.5405 [0.4629]
hetero test: F(4,5) = 0.71961 [0.6139]
RESET test F(1,9) = 0.091421 [0.7692]
Error Correction Modelo do Modelo de cointegração Investimentos privados x Investimentos totais 1990-2004
variável dependente = Investimento total real
a,b
Fonte: elaboração do autor
Notas: Uma estrela (*) denota significância estatística a um nível de 5% e duas estrelas (**) denota
significância estatística a um nível de 1%. Estatísticas t mostradas abaixo dos coeficientes entre
parênteses.
a. dados expressos em logs
.
b. dados em primeira diferença
39
A tabela 9 a seguir mostra o teste de estacionaridade dos resíduos da formulação de
cointegração entre investimentos totais e investimentos privados pós-1990. Os
resíduos são estacionários de forma estatisticamente significativa, o que corrobora a
cointegração.
Tabela 9: Resíduos do modelo de cointegração entre investimentos totais e
investimentos privados no período 1990-2004
Variável t-adf formulação
tmín para 5%
significância
tmín para 1%
significância
nível de significância
n lags escolhida
crit. AIC
Res_modelo_cointegração
Invest_totais x Invest_privados
-4.894 K -2.97 -3.68 1% 1
Resumo do teste de estacionaridade dos resíduos do modelo de cointegração Investimentos totais x Investimentos privados de
1990-2004 (ADF Tests)
Fonte: elaboração do autor
As tabelas 7, 8 e 9 mostram que os investimentos privados explicam bem os
investimentos totais no modelo em nível (modelo de cointegração de LP) e que o
modelo de correção de erros (CP) é estável, dado o coeficiente negativo e
significativo do termo de correção de erros (resíduo defasado do modelo de
cointegração).
Isso justifica a utilização da série de investimentos totais trimestrais como proxy para
os investimentos privados, O gráfico 6 está ilustrando que as séries de investimentos
totais e investimentos privados “caminham juntas” desde 1990.
18.6
18.8
19
19.2
19.4
19.6
19.8
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
log Investimento privado (LI_pr) log Investimento total (LI_tot)
Gráfico 6: Investimentos totais e privados anuais em log
Fonte: IPEAdata (dados anuais)
40
4.2 – Descrição dos dados trimestrais 1995(1)-2004(3)
As variáveis pré-candidatas ao modelo com dados trimestrais a partir de 1995 são
essencialmente as mesmas usadas no modelo anual com algumas ressalvas.
Imaginou-se usar para a regressão com dados trimestrais a partir de 1995 uma
formulação em que a variável dependente é a taxa de investimento em relação ao
PIB e não o investimento em nível, já que se procura responder à pergunta de por
que essas taxas de investimento não se recuperaram mais fortemente após o plano
Real e a estabilização econômica em 1994. Dado que a variável dependente nesse
caso é por definição estacionária
6
procurou-se utilizar como variáveis explicativas
variáveis que possam ser consideradas também estacionárias do ponto de vista
teórico, mesmo que no período observado – que é curto – apresentem alguma
tendência. Dessa forma, supõe-se estacionaridade no modelo apresentado neste
capítulo.
Em comparação com os dados utilizados no capítulo 3, há algumas variáveis como
os investimentos públicos em infra-estrutura e não infra-estrutura e os desembolsos
do BNDES que não puderam ser utilizados na formulação trimestral, pois sua
divulgação é anual e a tentativa de se usar séries suavizadas estatisticamente de
forma trimestral não mostrou resultados satisfatórios.
A carga tributária como porcentagem do PIB (t) foi incluída novamente nas
estimações deste modelo trimestral, pois se observou nessa variável após o plano
Real um grande acréscimo. Esse acréscimo pode ter tido efeito de desestímulo ao
investimento nos últimos anos.
O preço relativo dos bens de capital, medido como a razão entre os deflatores do
investimento e do PIB, também foi incluído no modelo trimestral 1995-2004, apesar
de sua baixa significância no modelo anual desde 1970. A baixa significância no
modelo anual pode ter sido devida a comportamentos muito distintos dessa variável
nas décadas de 70 e 80. Na década de 70 esse preço relativo manteve-se
razoavelmente estável (período do “milagre brasileiro”), mas cresceu de forma
atípica na década de 80 (período de hiperinflação). No entanto, é uma variável
essencial na composição do custo de oportunidade do capital e deve ser
considerada na formulação.
6
Taxas de investimento em relação ao PIBo podem crescer ou decrescer indefinidamente.
41
A tabela 10 abaixo mostra de forma resumida as variáveis pré-candidatas usadas
para explicar a taxa de investimento em relação ao PIB no Brasil (em séries
trimestrais de 1995 a 2004) e os sinais esperados da relação de cada uma delas
com a taxa de investimento.
Tabela 10: Variáveis pré-candidatas a explicarem taxa de investimento no Brasil no
modelo trimestral de 1995-2004 e sinais esperados teoricamente
Descrição sinal esperado
Utilização de capacidade industrial média +
Juro real -
Preço relativo dos bens de capital -
Inflação -
Carga tributária como % do PIB -
Fonte: elaboração do autor
Todas as séries em R$ foram utilizadas em valores R$ de 2004
À exceção da utilização de capacidade industrial média, que em teoria tem
correlação positiva com a taxa de investimento em relação ao PIB (para economias
pró-cíclicas), as demais variáveis – juro real, inflação, preço relativo dos bens de
capital e carga tributária - teoricamente afetam negativamente as taxas de
investimento.
O anexo B mostra em detalhes a base de dados trimestral utilizada, descrevendo
para todas as variáveis as fontes dos dados e as manipulações e cálculos feitos em
cada caso para se obter as séries finais que foram utilizadas nas regressões.
4.3 - Resultados das regressões com dados trimestrais 1995 - 2004
Foi também usado o método de seleção de modelo do geral ao específico na busca
da melhor formulação do modelo para a taxa de investimento pós 1994.
A estacionaridade das variáveis foi uma imposição baseada em argumentação
teórica acerca das variáveis escolhidas, mesmo que algumas variáveis apresentem
alguma tendência no prazo das observações. Por exemplo, a carga tributária
nitidamente é uma variável teoricamente I(0), pois não pode apresentar uma
tendência de crescimento ou de decrescimento no longo prazo. No entanto, sua
observação no Brasil de 1995 a 2004 certamente apresenta uma tendência
42
crescente, o que faria com que os testes ADF de raiz unitária apresentassem um
resultado significativo sugerindo não estacionaridade, não condizente com a teoria.
Inicialmente montou-se um modelo “cheio”, com todas as variáveis pré-candidatas a
explicativas, efetuando-se posteriormente a exclusão das variáveis menos
significativas. Vale destacar a baixíssima significância da inflação (IGP) como
variável explicativa no período, o que mostra que o controle da inflação fez com que
essa variável deixasse de ser significativa em afetar de forma negativa os
investimentos, como ocorria anteriormente (vide Monteiro Melo e Rodrigues Júnior,
1998). Na Tabela 11 a seguir pode-se ver os coeficientes do modelo “cheio” e do
modelo final, que ilustram o efeito da baixa significância da inflação no período pós-
plano Real:
43
Tabela 11: Estimações iniciais de equações de taxa de investimento em relação ao
PIB para o Brasil usando dados trimestrais de 1995 a 2004
Modelos trimestrais iniciais - 1995 (1) - 2004 (3)
variável dependente = Taxa de investimento em relação ao PIB
a
variável explic. Xi coef. p-value coef. p-value
Constante 1.359 0.269 1.735 0.114
(1.13) (1.63)
Taxa de investimento em relação ao PIB (1 defasagem)
a
0.526 ** 0.000 0.479 ** 0.000
(4.07) (4.16)
Utilização de capacidade industrial (%)
a
0.668 * 0.019 0.677 ** 0.008
(2.50) (2.84)
carga tributária - % PIB
a
-0.027 0.729
(0.35)
carga tributária - % PIB (1 lead)
a,b
-0.122 0.127 -0.156 * 0.014
(1.58) (2.60)
Juro real -0.0074 0.142 -0.0033 * 0.037
(1.51) (2.18)
Juro real (1 defasagem) 0.003 0.530
(0.64)
inflação - IGP -0.0036 0.452
(0.76)
inflação - IGP (1 defasagem) 0.0007 0.886
(0.14)
Preço Relativo bens de Capital
a
-0.271 * 0.016 -0.324 ** 0.001
(2.59) (3.75)
Preço Relativo bens de Capital (1 defasagem)
a
-0.228 0.078 -0.23 * 0.040
(1.78) (2.14)
número de observações 37 37
R^2 0.912 0.902
DW 2.57 2.2
AR 1-3 test: F(3,23) = 3.5579 [0.0300]* F(3,27) = 1.1184 [0.3590]
ARCH 1-3 test: F(3,20) = 0.11793 [0.9485] F(3,24) = 0.028759 [0.9933]
Normality test: Chi^2(2) = 8.8564 [0.0119]* Chi^2(2) = 12.957 [0.0015]**
hetero test: F(20,5) = 0.36571 [0.9514] F(12,17) = 0.53821 [0.8606]
RESET test F(1,25) = 0.091825 [0.7644] F(1,29) = 0.24129 [0.6270]
excluída
excluída
modelo exclui menos
significativas
modelo "cheio"
excluída
excluída
Fonte: elaboração do autor
Notas: Uma estrela (*) denota significância estatística a um nível de 5% e duas estrelas (**) denota
significância estatística a um nível de 1%. Estatísticas t mostradas abaixo dos coeficientes entre
parênteses
a. dados expressos em logs.
b. 1 lead equivale a -1 defasagem, ou seja, a variável explicativa do próximo período afeta a variável
dependente hoje
No entanto, os resultados desses modelos iniciais (mesmo o que exclui as variáveis
menos significativas) apresentaram um problema evidente de não normalidade dos
resíduos denotado pela estatística altamente significativa do teste de chi-quadrado,
como mostrado na tabela 11. Através do gráfico dos valores fitted pelo modelo inicial
(com variáveis excluídas) x valores efetivamente realizados pode-se observar a
presença de outliers no 1
0
semestre de 2003:
44
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2.9
3.0
3.1
LI/Y Fitted
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
-2
0
r:LI/Y (scaled)
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3
0.2
0.4
0.6
Density
r:LI/Y N(0,1)
Gráfico 7: Presença de outlier mo modelo trimestral inicial (dados de 1995-2004)
Fonte: elaboração do autor
A explicação que se encontrou para o evidente outlier que está causando a não
normalidade no modelo é a seguinte: no primeiro semestre de 2003 houve uma
queda abrupta da taxa de investimentos em relação ao PIB, como mostra a tabela
12 a seguir, muito superior a qualquer outra queda da taxa de um semestre contra
semestre anterior desde 2000:
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
45
Tabela 12: Variações das taxas de investimento em relação ao PIB
data I/Y cresc vs tri anterior cres semestre
mar/00 20.3 -1.9%
jun/00 20.9 3.0% 1.0%
set/00 20.9 0.0% 3.0%
dez/00 21.6 3.3% 3.3%
mar/01 21.6 0.0% 3.3%
jun/01 20.9 -3.2% -3.2%
set/01 21 0.5% -2.8%
dez/01 20 -4.8% -4.3%
mar/02 19.6 -2.0% -6.7%
jun/02 19.3 -1.5% -3.5%
set/02 19.7 2.1% 0.5%
dez/02 20 1.5% 3.6%
mar/03 19.3
-3.5%
-2.0%
jun/03 17.5
-9.3% -12.5%
set/03 18.2 4.0% -5.7%
dez/03 19.1 4.9% 9.1%
mar/04 18.9 -1.0% 3.8%
jun/04 18.9 0.0% -1.0%
set/04 20.5 8.5% 8.5%
Fonte: IPEAdata (dados trimestrais)
Isso ocorreu em função do que chamaremos “período de ganho de credibilidade” do
governo Lula em relação à manutenção dos pilares básicos do modelo econômico
que vinha sendo praticado desde 1994, no 1
0
mandato de Fernando Henrique
Cardoso. Em função do histórico político de Lula, que chegou a defender posições
radicais à esquerda em campanhas eleitorais anteriores, os investidores certamente
postergaram suas decisões de investimento a fim de obter maior nível de informação
sobre qual seria a política econômica do governo Lula, de acordo com a teoria de
Dixit e Pindyck de opções reais para investimentos.
Em função disso, adotou-se nas regressões uma dummy chamada “dummy início
governo Lula, que é igual a 1 apenas nos 2 primeiros trimestres de 2003 e igual a
zero nos demais trimestres. O resultado da regressão melhorou sensivelmente, e
obteve-se com isso o modelo final para estimação da taxa de investimentos em
relação ao PIB usando dados trimestrais de 1995(1) a 2004(3).
Esses resultados estão apresentados na tabela 13 a seguir (comentários detalhados
sobre os coeficientes obtidos estão nas págs. 51 e 52):
46
Tabela 13: Estimação do modelo final para equação taxa de investimento em
relação ao PIB usando dados trimestrais de 1995-2004 para o Brasil
variável explic. Xi coef. p-value
Constante 3.009 ** 0.001
(3.79)
Taxa de investimento em relação ao PIB (1 defasagem)
a
0.382 ** 0.000
(4.55)
Utilização de capacidade industrial (%)
a
0.495 ** 0.008
(2.85)
carga tributária - % PIB (1 lead)
a,b
-0.197 ** 0.000
(4.16)
Juro real (1 defasagem) -0.0036 ** 0.006
(2.93)
Preço Relativo bens de Capital
a
-0.331 ** 0.000
(5.20)
Preço Relativo bens de Capital (1 defasagem)
a
-0.231 ** 0.006
(2.95)
dummy início governo Lula -0.0962 ** 0.000
(6.08)
número de observações 37
R^2 0.95
DW 2.58
F(7,29) 78.97 [0.000]**
AR 1-3 test: F(3,26) = 2.1176 [0.1223]
ARCH 1-3 test: F(3,23) = 0.13305 [0.9394]
Normality test: Chi^2(2) = 0.64448 [0.7245]
hetero test: F(13,15) = 1.2635 [0.3292]
RESET test F(1,28) = 0.23412 [0.6322]
Modelo trimestral final - 1995 (1) - 2004 (3)
variável dependente = Taxa de investimento em relação ao PIB
a
Fonte: elaboração do autor
Notas: Uma estrela (*) denota significância estatística a um nível de 5% e duas estrelas (**) denota
significância estatística a um nível de 1%. Estatísticas t mostradas abaixo dos coeficientes entre
parênteses
a. dados expressos em logs.
b. 1 lead equivale a -1 defasagem, ou seja, a variável explicativa do próximo período afeta a variável
dependente hoje
Verificou-se ainda se o acréscimo de algumas variáveis - que costumam também ser
usadas em modelos para estimar investimento - ao modelo final apresentado na
tabela 13 melhoraria seu resultado. Essas variáveis são: o percentual de pessoas
acima de 10 anos sem primário completo, que é uma proxy para o nível de capital
47
humano, as relações dívida pública total em relação ao PIB e dívida pública externa
em relação ao PIB, indicadores ligados ao nível de estabilidade macroeconômica e
uma dummy para o período de racionamento de energia elétrica em 2001, que é um
evento não recorrente que pode ter prejudicado investimentos por conta do corte de
oferta de energia. Os resultados dos testes de omissão dessas variáveis foram todos
não significativos
7
.
O gráfico 8 abaixo mostra o bom ajuste do modelo trimestral final aos valores
efetivamente realizados:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
2.90
2.95
3.00
3.05
3.10
3.15
LI/Y Fitted
Gráfico 8: Valores do modelo trimestral final 1995-2004 x valores realizados para log
das taxas de investimento em relação ao PIB
Fonte: elaboração do autor
Foram feitos também os testes de estacionaridade dos resíduos dessa formulação
trimestral final obtendo-se os resultados apresentados na tabela 14 a seguir:
7
Os resultados dos testes F para variáveis omitidas do modelo final trimestral foram os seguintes:
omissão do percentual de pessoas acima de 10 anos sem primário completo: F(1,28) = 0.279634 [0.6011]
omissão da dívida pública total em relação ao PIB: F(1,28) = 0.120877 [0.7307]
omissão da dívida pública externa em relação ao PIB: F(1,28) = 0.319094 [0.5767]
omissão de
uma dummy para o período do racionamento de energia elétrica em 2001: F(1,28) = 0.1772 [0.676]
48
Tabela 14: Teste de estacionaridade dos resíduos do modelo trimestral final 1995-
2004 para taxas de investimento em relação ao PIB
Varvel t-adf formulação
tmín para 5%
significância
tmín para 1%
significância
nível de significância
n lags escolhida
crit. AIC
Res. modelo
trimestral
-7.173 K -2.97 -3.68 1% 0
Resumo do teste de estacionaridade dos resíduos do modelo trimestral final (ADF Tests)
Fonte: elaboração do autor
Os resultados da tabela 14 mostram que os resíduos são estacionários e que,
portanto, a regressão do modelo trimestral final mostrada na tabela 13 não contém
resultados espúrios.
O gráfico 9 abaixo mostra que os resíduos não rejeitaram a hipótese de normalidade
e os gráficos de ACF e PACF dos resíduos sugerem que a estrutura de defasagens
escolhida está adequada, não restando outros efeitos indesejados de auto-
correlações de resíduos.
0 5 10
-1
0
1
r:LI/Y (scaled)
-3 -2 -1 0 1 2 3
0.2
0.4
Density
r:LI/Y N(0,1)
0 5
-0.5
0.0
0.5
1.0
ACF-Res_modelo_trimestral
0 5
-0.5
0.0
0.5
1.0
PACF-Res_modelo_trimestral
Gráfico 9: Resíduos do modelo trimestral final em escala normal, ACF e PACF dos
resíduos
Fonte: elaboração do autor
49
O teste de Chow para o modelo trimestral final também apresentou resultados
satisfatórios, confirmando constância dos parâmetros. No gráfico 10 a seguir
mostramos o teste para as variáveis de carga tributária e de preço relativo dos bens
de capital:
5 6 7 8 9
-0.3
-0.2
-0.1
Lt_(%)_-1 × +/-2SE
5 6 7 8 9
-0.4
-0.2
0.0
LPrel × +/-2SE
5 6 7 8 9
-4.0
-3.5
-3.0
t: Lt_(%)_-1
5 6 7 8 9
-4
-3
t: LPrel
5 6 7 8 9
-0
.02
5
0
.00
0
0
.02
5
Res1Step
5 6 7 8 9
0.5
1.0
1up CHOWs 1%
5 6 7 8 9
0.25
0.50
0.75
1.00
Ndn CHOWs 1%
5 6 7 8 9
0.5
1.0
Nup CHOWs 1%
Gráfico 10: Testes de Chow de estabilidade de parâmetros para as variáveis de
carga tributária (1 lead) e preços relativos dos bens de capital
Fonte: elaboração do autor
De forma análoga ao que foi feito no capítulo 3, serão analisados efeitos iterativos
de LP dado o modelo final com dados trimestrais. Serão analisados tais efeitos para
as variáveis de utilização de capacidade, carga tributária em relação ao PIB e preço
relativo dos bens de capital.
Da relação do modelo trimestral final (tabela 13) foram utilizados, primeiramente,
apenas os termos e coeficientes de taxa de investimento em relação ao PIB (i) e
utilização de capacidade industrial (UCAP):
UCAPLLLiUCAPLii *...)0276,00722,0189,0495,0(495,0382,0
32
++++=+=
(7)
50
Se for feita a hipótese de que uma dada variação na utilização de capacidade
industrial seja de caráter permanente, ou pelo menos que esse novo nível de
utilização de capacidade se mantenha nos períodos imediatamente subseqüentes,
(
...)2()1()( === tUCAPtUCAPtUCAP
), o efeito cumulativo iterativo de longo prazo
será:
UCAPi *8009,0=
(8)
Fazendo cálculos análogos para as variáveis de carga tributária em relação ao PIB
(t) e de preços relativos de bens de capital (Prel) obteve-se:
Equações iterativas de LP para o efeito da carga tributária em relação ao PIB sobre
taxa de investimento em relação ao PIB:
tLLLiLitLi *...)0109,00287,00752.0197,0(382,0197,0
211
=+=
(9)
ti *31877,0=
(10)
Equações iterativas de LP para o efeito do preço relativo dos bens de capital sobre
taxa de investimento em relação ao PIB:
elLLLiLielLeli Pr*...)0521,01365,03574,0331,0(382,0Pr231,0Pr331,0
32
=+=
(11)
eli Pr*9093,0= (12)
As conclusões principais da modelagem empírica com os dados trimestrais (modelo
trimestral final apresentado na tabela 13) são que há suporte para a hipótese de que
o crescimento da carga tributária desde 1994 foi um dos principais vilões que
impediu a retomada do crescimento das taxas de investimento em relação ao PIB,
aliado a um aumento do custo relativo dos investimentos (medido pela variável de
preços relativos dos bens de capital).
São comentados a seguir cada um dos coeficientes do modelo trimestral final (tabela
13).
51
O coeficiente positivo e significativo para a taxa de investimento com uma
defasagem (+0.382) mostra que de fato há um forte componente de inércia para as
taxas de investimentos, ou seja, há uma certa inércia devido ao fato de que certos
investimentos não se complementam em apenas um trimestre. Assim, um aumento
nas taxas de investimentos do trimestre anterior acaba por afetar positivamente,
devido a esse efeito de inércia as taxas de investimentos do trimestre subseqüente.
O coeficiente positivo e significativo para a variável de utilização de capacidade
industrial suporta a tese de que os investimentos na economia brasileira são
altamente pró-cíclicos, ou seja, em momentos de elevada utilização de capacidade
os investimentos são maiores e vice-versa. Pelo coeficiente obtido um aumento de
1% na utilização de capacidade leva a um aumento de 0,495% na taxa de
investimento.
O coeficiente negativo e altamente significativo para a carga tributária com uma lead
mostra que de fato a escalada da carga tributária no Brasil desde 1994 afetou
negativamente a taxa de investimentos privados em relação ao PIB. O coeficiente
sugere que um aumento de 1% na carga tributária no trimestre que está por vir faz
com que haja uma queda de 0,197% na taxa de investimento contemporânea. É
interessante notar que o resultado obtido embute a hipótese de expectativas
racionais e que os agentes têm um certo grau de antecipação do aumento da carga
tributária reagindo negativamente com um trimestre de antecedência. Isso faz
sentido, na medida em que mudanças de alíquotas, por exemplo, normalmente são
pré-anunciadas antes de sua entrada efetiva em vigor.
As variáveis de preços relativos de bens de capital (contemporânea e com uma
defasagem) mostraram-se bastante significativas e com o sinal negativo esperado, já
que medem o aumento relativo do preço dos investimentos. Esse efeito é importante
em momentos em que inflação é mais acelerada na indústria de bens de capital que
na média de preços da economia. Algumas explicações plausíveis para esse efeito
levantadas por Bacha e Bonelli (2004) para a evolução dos últimos 50 anos dos
preços relativos dos bens de capital no Brasil ainda são importantes no
entendimento do efeito negativo dos preços relativos dos bens de capital sobre as
taxas de investimentos no período 1995-2004. O poder de oligopólios em algumas
indústrias importantes que produzem tanto bens intermediários quanto bens finais,
como a indústria do cimento por exemplo, que ainda é fortemente presente na
indústria brasileira, e a ineficiência na produção interna de bens de capital. No
52
entanto, de fato resta buscar argumentos econômicos mais específicos ao período
de 1995-2004 que expliquem esse efeito de preços relativos de forma mais clara.
A taxa de juros real apresentou resultado significativo e de sinal negativo conforme
esperado, com coeficiente de magnitude bastante reduzida, da mesma ordem de
grandeza do coeficiente obtido para a formulação em nível de investimentos
privados do modelo anual para dados de 1970-2003, o que sugere que de fato a
magnitude obtida para juros reais deva ser pequena se comparada com outros
efeitos sobre os investimentos (o da carga tributária, por exemplo).
A dummy do início do governo Lula (1
0
semestre de 2003) mostrou sinal significativo
e negativo (-0,09), o que sugere ter havido um período de obtenção de credibilidade
do governo Lula durante seus 6 primeiros meses. Assim, nesse período, os
investidores postergaram investimentos por acreditarem que valia a pena esperar
por novas informações advindas do governo quanto à manutenção do modelo
econômico até então vigente, em linha com a teoria de Dixit e Pindyck sobre opções
reais de investimento.
Os testes estatísticos realizados revelam que não há evidências estatísticas de auto-
correlações de resíduos ou de heterocedasticidade no modelo.
Os testes de Chow revelam que não há evidência estatística de não constância dos
parâmetros estimados.
53
5 - DISCUSSÃO SOBRE CARGA TRIBUTÁRIA E GASTOS DO GOVERNO NO
BRASIL
5.1 – Carga tributária: elevada magnitude associada a alocação desfavorável
aos investimentos
O grande aumento da carga tributária no Brasil só se deu a partir de 1994, com o
início do período FHC, como vemos no gráfico abaixo. Isso se deveu aos “efeitos
colaterais” do controle da inflação, pois esse controle exigiu uma política de juros
elevados durante todo o período e não havia mais espaço para que o orçamento do
governo (incluindo juros) se financiasse via endividamento adicional sem que
houvesse descontrole inflacionário. Assim, esse financiamento passou a utilizar-se
cada vez mais de recursos arrecadados via tributação.
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
t
Gráfico 11: Evolução da carga tributária total no Brasil (% PIB) – dados de 1970-
2003
Fonte: IPEAdata (dados anuais)
54
No modelo apresentado no capítulo 4 observou-se que há evidência estatística de
um impacto negativo do aumento da carga tributária sobre as taxas de investimento
no Brasil pós-1994.
Este trabalho, no entanto, não sugere com isso que o governo deva adotar uma
política de diminuir abruptamente o valor da carga tributária para estimular
investimentos, pois isso faria com que o país voltasse a ter déficits primários e
colocaria em risco a estabilização da economia conquistada desde o plano Real e
uma perspectiva de se conquistar uma trajetória de crescimento de longo prazo. A
análise da composição e dos tipos impostos neste capítulo é feita para obter um
melhor entendimento de qual seria a raiz do impacto negativo dessa carga tributária
sobre os investimentos. Isso facilita verificar se a alocação dos impostos atual
poderia ser de alguma forma melhorada para incentivar investimentos, mesmo que a
magnitude dessa carga tributária ainda permaneça elevada por algum tempo.
Nesse sentido, levantou-se a composição da carga tributária brasileira e pode-se
observar que há uma distribuição da carga tributária desfavorável aos investimentos,
com peso excessivo sobre o setor produtivo, o que reduz a competitividade
brasileira.
A tabela 15 abaixo mostra que, além do forte aumento da carga tributária desde o
início do plano Real (1994), a alocação dos tributos brasileiros é desfavorável aos
investimentos. A alocação é bastante desigual e muito pesada em tributos sobre
bens e serviços, pesando muito pouco a tributação sobre o patrimônio e a renda.
55
Tabela 15: Abertura da carga tributária brasileira por natureza de receita
Natureza da Receita
% PIB % do total % PIB % do total % PIB % do total % PIB % do total % PIB % do total % PIB % do total
Tributos sobre comércio exterior 0.7 2.9% 0.41 1.7% 0.39 1.6% 0.52 1.7% 0.81 2.6% 0.52 1.4%
Tributos sobre bens e serviços 10.67 43.5% 9.04 37.1% 10.95 45.5% 15.43 51.8% 14.74 46.5% 16.96 47.2%
ICMS 4.87 19.9% 5.29 21.7% 6.41 26.6% 7.33 24.6% 6.97 22.0% 7.83 21.8%
IPI 2.19 8.9% 1.4 5.8% 2.21 9.2% 2.22 7.5% 1.67 5.3% 1.28 3.6%
IOF 0.94 3.8% 0.86 3.5% 0.16 0.7% 0.69 2.3% 0.5 1.6% 0.29 0.8%
COFINS (ex-Finsocial) 0.57 2.3% 1.1 4.6% 2.56 8.6% 3.17 10.0% 4.39 12.2%
PIS/PASEP 0.64 2.7% 1.07 3.6% 0.97 3.1% 1.1 3.1%
IPMF/CPMF 1.06 3.6% 0.82 2.6% 1.49 4.2%
ISS 0.26 1.1% 0.29 1.2% 0.33 1.4% 0.43 1.4% 0.6 1.9% 0.55 1.5%
outros 2.41 9.8% 0.63 2.6% 0.1 0.4% 0.07 0.2% 0.04 0.1% 0.03 0.1%
Tributos sobre patrimônio 0.27 1.1% 0.21 0.9% 0.12 0.5% 0.39 1.3% 0.94 3.0% 1.06 3.0%
IPTU 0.25 1.0% 0.2 0.8% 0.07 0.3% 0.21 0.7% 0.43 1.4% 0.51 1.4%
IPVA 0 0.0% 0 0.0% 0.05 0.2% 0.18 0.6% 0.46 1.4% 0.5 1.4%
outros 0.02 0.1% 0.01 0.0% 0 0.0% 0 0.0% 0.05 0.2% 0.05 0.1%
Tributos sobre a Renda 3.01 12.3% 4.76 19.6% 5.15 21.4% 4.8 16.1% 6.36 20.0% 7.35 20.5%
IR 3.01 12.3% 4.76 19.6% 4.94 20.5% 3.83 12.9% 5.67 17.9% 6.24 17.4%
CS 0.0% 0.0% 0.21 0.9% 0.97 3.3% 0.69 2.2% 1.11 3.1%
Tributos sobre a Mão-de-obra 7.44 30.3% 7.36 30.2% 6.55 27.2% 7.32 24.6% 7.83 24.7% 8.74 24.3%
Previdência 4.66 19.0% 4.91 20.2% 4.63 19.2% 4.82 16.2% 5.36 16.9% 6.15 17.1%
FGTS 2.32 9.5% 2.01 8.3% 1.41 5.9% 1.78 6.0% 1.79 5.6% 1.6 4.5%
outros 0.46 1.9% 0.44 1.8% 0.51 2.1% 0.72 2.4% 0.68 2.1% 0.99 2.8%
Demais 2.43 9.9% 2.56 10.5% 0.92 3.8% 1.31 4.4% 1.05 3.3% 1.27 3.5%
Total 24.5 100.0% 24.3 100.0% 24.1 100.0% 29.8 100.0% 31.7 100.0% 35.9 100.0%
1980 1984 1989 1994 1999 2004
Fontes: IBGE, Secretaria da Receita Federal
56
A participação do segmento de tributos sobre bens e serviços nitidamente aumentou
na década de 90 (vide tabela 15 acima) e encontrava-se em 2004 em um patamar
de 47,2% do total arrecadado. Dentre os principais impostos que compõem esse
grupamento, com base no total arrecadado em 2004, estão: ICMS (21,8% do total),
COFINS (12,2% do total), CPMF (4,2% do total), IPI (3,6% do total) e PIS/PASEP
(3,1% do total). A cumulatividade desses impostos e o peso que eles trazem ao setor
produtivo é prejudicial ao estímulo dos investimentos e também à eficiência da
economia como um todo, já que estimulam a verticalização de operações produtivas,
o que acaba por se transformar em menor concorrência, e também distorcem a
formação de preços relativos na economia.
O principal imposto do país em termos de arrecadação é um imposto sobre valor
adicionado e estadual, o ICMS (21,8% do total). Assim, esse imposto é regido por
leis subnacionais (estaduais), o que dificulta muito sua harmonização e acaba
gerando “guerras fiscais” entre os estados na competição por investimentos. Além
disso, os diferenciais de alíquotas entre os estados facilitam esquemas de
sonegação em diversos setores da economia.
Em contrapartida, a tributação sobre o patrimônio, apesar de ter aumentado
significativamente no período pós-plano real em função do controle inflacionário,
passando de 0,5% do total arrecadado em 1989 para 1,3% em 1994 e 3% em 1999
e em 2004, ainda é extremamente baixa em relação à arrecadação total.
A arrecadação sobre a renda também se mantém estagnada em um patamar
próximo a 20% do total arrecadado nos últimos anos, valor ainda baixo se
comparado ao de países desenvolvidos, em que a arrecadação sobre a renda chega
a atingir 50% do total de impostos.
Certamente haveria espaço para uma arrecadação melhor distribuída, pesando
menos sobre o setor produtivo e mais sobre patrimônio e renda.
O nível de sonegação fiscal em termos de IR sobre pessoas físicas no Brasil ainda é
muito elevado, principalmente entre as classes mais altas, e a tributação do
patrimônio é irrisória.
Além disso, a eliminação de cumulatividade de impostos sobre bens e serviços com
a criação de um sistema mais simples facilitaria o controle da arrecadação, reduziria
custos administrativos e permitiria diminuição de sonegação no próprio setor
produtivo, permitindo assim uma redução da carga tributária nesse segmento em
particular.
57
Nas tabelas 16 e 17 a seguir mostra-se que de fato há maior tributação sobre
patrimônio e renda em países mais desenvolvidos, em contrapartida de uma menor
tributação sobre bens e serviços, medida que desonera a produção:
Tabela 16: Comparativo de cargas tributárias entre países por natureza de receita –
valores em % do PIB
General Government (inclui governo central, estados e municípios)
valores em % PIB de cada país
País Ano
Carga Trib.
Total
Prev.
Social
Carga
excluída
Prev. Soc.
Imposto
sobre
propried.
Imposto
sobre
renda
Bens e
Serviços
Comércio
Internacio-
nal
Outros
EUA 2003 25.76 7.03 18.73 3.08 11.03 4.43 0.19
Canadá 2003 34.33 5.74 28.59 3.51 15.47 8.54 0.24 0.83
Austrália 2003 30.9 0.4 30.5 2.74 16.86 8.52 0.72 1.66
Áustria 2002 45.3 16.57 28.73 0.55 13.41 12.58 2.19
Bélgica 2002 47.81 16.74 31.07 2.87 16.93 11.14 0.13
Finlândia 2003 44.5 12.12 32.38 1.05 17.37 13.93 0.03
França 2003 45.27 18.45 26.82 4.34 10.27 11.11 0.01 1.09
Alemanha 2003 41.38 18.57 22.81 0.79 11.49 10.53
Itália 2000 42.54 12.72 29.82 0.91 14.2 12.79 1.92
Luxemburgo p 2003 42.56 12.9 29.66 1.59 15.05 12.97 0.05
Holanda 2003 39.78 15.52 24.26 1.79 9.83 12.31 0.24 0.09
Portugal 2001 35.99 11.92 24.07 0.51 9.54 13.26 0.76
Espanha p 2002 35.86 13.35 22.51 2.49 10.33 9.69
Dinamarca 2003 49.8 2.73 47.07 1.82 29.17 15.86 0.22
Noruega 2003 43.88 9.93 33.95 0.51 20.09 13.18 0.12 0.05
Suécia 2002 50.59 15.42 35.17 1.42 17.77 12.98 3
Suíça 2001 29.99 7.66 22.33 2.71 12.67 6.71 0.24
Inglaterra 2003 36.58 7.79 28.79 1.79 13.25 13.33 0.42
África do Sul p 2003 27.73 0.62 27.11 1.99 14.11 9.58 0.58 0.85
Hong-Kong 2002 9.32 .... 9.32 1.48 5.76 1.93 0.06 0.09
Thailândia p 2003 17.43 0.77 16.66 0.33 5.6 8.74 1.9 0.09
República Tcheca 2003 38.26 16.07 22.19 0.56 9.91 11.28 0.43 0.01
Polônia 2002 33.19 13 20.19 1.35 6.37 11.65 0.49 0.33
Rússia 2003 30.81 8.34 22.47 1.43 7.79 9.8 3.41 0.04
Irã p 2003 11.76 3.52 8.24 0.32 2.89 0.98 2.93 1.12
Israel 2002 40.38 7.74 32.64 3.1 13.68 13.85 0.28 1.73
Chile 2003 19.35 1.46 17.89 0.73 4.41 11.27 0.64 0.84
Bolívia 2003 19.33 2.37 16.96 3.03 1.81 10.77 0.94 0.41
Costa Rica 2003 21.26 7.35 13.91 0.62 3.36 8.87 1.03 0.03
El Salvador 2003 13.73 2.31 11.42 0.28 3.33 6.6 1.21
Brasil
2004
35.9
6.15
29.75
1.06
7.35
16.96
0.52
3.86
Fonte: International Monetary Fund. Government Finance Statistics Yearbook, 2004
58
Tabela 17: Comparativo de cargas tributárias entre países por natureza de receita –
valores em % da carga total excluída a previdência social
General Government (inclui governo central, estados e municípios)
% da carga total ex-previdência
País Ano
Carga Trib.
Total
Carga
excluída
Prev. Soc.
Imposto
sobre
propried.
Imposto
sobre
renda
Bens e
Serviços
Comércio
Internacio-
nal
Outros Total
EUA 2003 25.76 18.73 16% 59% 24% 1% 0% 100%
Canadá 2003 34.33 28.59 12% 54% 30% 1% 3% 100%
Austrália 2003 30.9 30.5 9% 55% 28% 2% 5% 100%
Áustria 2002 45.3 28.73 2% 47% 44% 0% 8% 100%
Bélgica 2002 47.81 31.07 9% 54% 36% 0% 0% 100%
Finlândia 2003 44.5 32.38 3% 54% 43% 0% 0% 100%
França 2003 45.27 26.82 16% 38% 41% 0% 4% 100%
Alemanha 2003 41.38 22.81 3% 50% 46% 0% 0% 100%
Itália 2000 42.54 29.82 3% 48% 43% 0% 6% 100%
Luxemburgo p 2003 42.56 29.66 5% 51% 44% 0% 0% 100%
Holanda 2003 39.78 24.26 7% 41% 51% 1% 0% 100%
Portugal 2001 35.99 24.07 2% 40% 55% 0% 3% 100%
Espanha p 2002 35.86 22.51 11% 46% 43% 0% 0% 100%
Dinamarca 2003 49.8 47.07 4% 62% 34% 0% 0% 100%
Noruega 2003 43.88 33.95 2% 59% 39% 0% 0% 100%
Suécia 2002 50.59 35.17 4% 51% 37% 0% 9% 100%
Suíça 2001 29.99 22.33 12% 57% 30% 1% 0% 100%
Inglaterra 2003 36.58 28.79 6% 46% 46% 0% 1% 100%
África do Sul p 2003 27.73 27.11 7% 52% 35% 2% 3% 100%
Hong-Kong 2002 9.32 9.32 16% 62% 21% 1% 1% 100%
Thailândia p 2003 17.43 16.66 2% 34% 52% 11% 1% 100%
República Tcheca 2003 38.26 22.19 3% 45% 51% 2% 0% 100%
Polônia 2002 33.19 20.19 7% 32% 58% 2% 2% 100%
Rússia 2003 30.81 22.47 6% 35% 44% 15% 0% 100%
Irã p 2003 11.76 8.24 4% 35% 12% 36% 14% 100%
Israel 2002 40.38 32.64 9% 42% 42% 1% 5% 100%
Chile 2003 19.35 17.89 4% 25% 63% 4% 5% 100%
Bolívia 2003 19.33 16.96 18% 11% 64% 6% 2% 100%
Costa Rica 2003 21.26 13.91 4% 24% 64% 7% 0% 100%
El Salvador 2003 13.73 11.42 2% 29% 58% 11% 0% 100%
Brasil
2004
35.9
29.75
4%
25%
57%
2%
13%
100%
Fonte: International Monetary Fund. Government Finance Statistics Yearbook, 2004
Nos Estados Unidos, por exemplo, a tributação sobre patrimônio e renda somou em
2003 14.11% do PIB, o equivalente a 75% da carga tributária total excluída a carga
previdenciária, e a carga sobre bens e serviços atingiu 4,43% do PIB, o equivalente
a 24% da carga total ex-previdência. Em contrapartida, no Brasil a carga sobre
patrimônio e renda ainda é muito limitada e somou em 2004 apenas 8,41% do PIB, o
equivalente a 28% da carga total ex-previdência, enquanto a carga sobre bens e
serviços somou 16,96% do PIB, o equivalente a 57% da carga total ex-previdência.
O gráfico abaixo ilustra o posicionamento do Brasil em termos de distribuição da
carga tributária entre (patrimônio + renda) versus bens e serviços. Criamos um
índice que mede a razão da carga tributária arrecadada da renda e patrimônio pela
carga tributária arrecadada de oneração sobre bens e serviços.
59
Índice de (carga trib patr + renda)/(carga trib bens e serv.)
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
2.50
3.00
3.50
4.00
Hong-Kong
Irã p
EUA
Austrália
Suíça
Canadá
Dinamarca
Bélgica
África do Sul p
Noruega
Suécia
Espanha p
Finlândia
França
Luxemburgo p
Israel
Itália
Alemanha
Inglaterra
Áustria
Holanda
Rússia
República Tcheca
Portugal
Thailândia p
Polônia
El Salvador
Brasil
Chile
Bolívia
Costa Rica
Gráfico 12: Índice que mede relação entre a participação da carga tributária sobre
produção em relação à carga tributária sobre patrimônio e renda
Fonte: elaboração do autor
O Brasil está em nível próximo a Chile, Bolívia e Costa Rica nessa distribuição, mas
tem uma alocação menos favorável se comparada à de outros países emergentes
como Israel, África do Sul e El Salvador. Isso mostra que de fato há ainda muito
espaço para avançar em termos de aumento da participação de tributação em
patrimônio e renda no Brasil em porcentagem da arrecadação total como
contrapartida de desonerar o setor produtivo.
Tudo o que foi anteriormente comentado refere-se à sempre debatida e necessária
reforma tributária no Brasil, que ainda não ocorreu nos moldes necessários à
melhoria significativa do sistema tributário. É importante destacar que esse tipo de
reforma é extremamente complexo e de difícil implementão, por exigir aprovação
legislativa que necessita de grande coalizão política. Como é muito difícil que a
60
unificação de impostos e exclusão da não cumulatividade mantenha, em um
momento inicial, condições de arrecadação compatíveis com gastos para todas as
unidades da federação (união, estados e municípios), alguns interesses serão
feridos a princípio nesse processo. É exatamente isso que dificulta muito a coalizão
política anteriormente citada. Assim, os projetos de reformas tributárias acabam
sendo de tal forma mutados em seu processo de aprovação legislativa que, ao final,
pouco ou nada contribuem para o objetivo maior que seria reduzir o peso tributário
sobre o setor produtivo e melhorar a progressividade da tributação (maior peso
sobre os indivíduos de maior renda e patrimônio).
Há ainda a questão do peso também elevado da tributação sobre as folhas de
pagamento (salários) – FGTS e previdência somaram 21,6% do total arrecadado em
2004. Isso cria uma grande cunha entre o custo do trabalhador para a empresa e o
salário que este recebe, incentivando a informalização das relações trabalhistas e,
com isso, desestimulando investimentos no setor formal e reduzindo a base de
arrecadação desses tributos. A solução desse problema é ainda mais complexa, pois
envolve a questão do financiamento previdenciário e seu equacionamento. Há um
trade-off claro nessa questão que deve ser analisado pela sociedade, em especial
pelo Congresso: o benefício para as atividades produtivas e conseqüentemente para
o emprego formal da redução dessa carga tributária sobre as empresas vis-à-vis o
problema de reduzir o amparo governamental aos idosos e deficientes, que são os
beneficiários da previdência. O fato é que, em médio prazo, a questão previdenciária
terá que ser equacionada, dado que hoje a previdência é crescentemente deficitária.
Nesse momento, seria interessante e apropriado já envolver na discussão a questão
tributária acima exposta.
5.2 – Gastos do governo: evolução recente mostra aumento de gastos não
produtivos em contrapartida de redução de gastos produtivos
Conforme foi discutido na seção anterior, a carga tributária brasileira vem crescendo
desde 1994 e sua alocação é desfavorável aos investimentos, com peso grande
sobre o setor produtivo, o que tem afetado negativamente os investimentos privados.
A questão a ser discutida nesta seção é como vêm evoluindo os gastos
governamentais como contrapartida dessa volumosa arrecadação.
61
O gráfico 13 a seguir tem exatamente esse intuito:
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Invest público Não_Infra Invest público Infra Gastos com Previdência
Despesas Financeiras totais Consumo Governo Gasto Total
Carga tributária total NFSP Ajustes
Gráfico 13: Evolução dos gastos do governo no Brasil por natureza de gasto – 1995-
2003
Fonte: elaboração com autor, com base em dados coletados no IPEAdata
Pode-se ver do gráfico 13 acima que os gastos do governo com despesas
financeiras de dívida (interna + externa) cresceram consideravelmente desde 1995
como porcentagem do PIB, passando de 1,82% do PIB em 1995 para 3,4% do PIB
em 2003. Tais gastos são por definição gastos não produtivos.
As despesas com previdência como porcentagem do PIB também foram crescentes,
passando de 6.3% do PIB em 1995 para 7.9% do PIB em 2003. Isso demonstra o
desequilíbrio da estrutura previdenciária brasileira, problema que também necessita
ser atacado com relativa urgência, pois as perspectivas são que esse segmento
drene cada vez mais caixa arrecadado pelo governo à medida que a população
brasileira está se tornando mais velha e a porcentagem de idosos e aposentados vai
aumentando na população total. Como já foi mencionado anteriormente, gastos
previdenciários são também gastos não produtivos.
% PIB
62
Já os gastos de investimentos totais do governo caíram consistentemente como
porcentagem do PIB, passando de 4.2% do PIB em 1995 para 3.09% em 2003. Mas
o ponto mais relevante é que os gastos que foram reduzidos mais drasticamente
foram os investimentos em infra-estrutura, que passaram de 1.32% do PIB em 1995
para 0.33% do PIB em 2003. Já os investimentos públicos que não são em infra-
estrutura praticamente não sofreram alteração, passando de 2.88% do PIB em 1995
para 2.76% do PIB em 2003. O gráfico 14 abaixo ilustra de forma mais clara essa
tendência:
0.00%
0.50%
1.00%
1.50%
2.00%
2.50%
3.00%
3.50%
4.00%
4.50%
5.00%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Investblico Não_Infra Invest público Infra Invest público Não_Infra Investblico Infra
Gráfico 14: Evolução dos investimentos do governo em infra-estrutura e não infra-
estrutura no Brasil – 1995-2003
Fonte: elaboração do autor, com base em dados coletados no IPEAdata
Cabe aqui a ressalva de que o processo de privatização da década de 90 privatizou
muitas empresas estatais dos setores de energia elétrica e telecomunicações. Mas o
argumento que se coloca é que mesmo assim os investimentos em infra-estrutura no
Brasil não foram suficientemente cobertos pelo apetite do investidor privado, haja
visto o racionamento de energia ocorrido em 2001 e os gargalos atuais que o país
enfrenta do ponto de vista de escoamento de produção para exportações, sem
mencionar a possibilidade de um novo racionamento de energia para 2008/2009
% PIB
63
colocada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Etrico) dada a paralisação de
investimentos em geração nos últimos anos.
O fato é que investimentos públicos em infra-estrutura foram os mais prejudicados
com o aumento de gastos não produtivos principalmente em despesas financeiras
de dívida pública e despesas com previdência. Vale destacar que, como foi
mostrado empiricamente no capítulo 3, seriam exatamente os investimentos públicos
em infra-estrutura que trariam maiores benefícios em termos de ganhos de
produtividade para a economia do país podendo incentivar maiores investimentos
privados, ao contrário de investimentos públicos que não são em infra-estrutura que,
de acordo com os resultados do capítulo 3, causam crowding-out dos investimentos
privados.
64
6 – CONCLUSÕES
Através dos modelos empíricos anual de 1970-2003 e trimestral de
1995(1) - 2004(3) foi possível obter evidências empíricas que subsidiam uma
resposta para a questão principal deste trabalho, o porquê da não recuperação das
taxas de investimento após o controle inflacionário alcançado com o plano Real.
O modelo anual de 1970-2003 permitiu obter evidências empíricas que corroboram a
chamada hipótese de infra-estrutura, ou seja, o fato de haver o crowding-in de
investimentos públicos em infra-estrutura sobre investimentos privados. Além disso,
esse modelo mostrou que os demais investimentos públicos têm efeito de crowding-
out sobre os investimentos privados, de coeficiente superior ao do efeito de
crowding-in dos investimentos públicos em infra-estrutura. Isso explica porque a
maioria dos estudos empíricos na área para o Brasil, que não desagregam os dados
de investimentos públicos entre aqueles que são em infra-estrutura e os que não
são, obtêm normalmente apenas o efeito de crowding-out total. Esse resultado é
importante na defesa do argumento de que há um impacto negativo nas taxas de
investimento devido à evolução recente dos gastos do governo no Brasil, que
mostram um aumento relativo de participação em gastos pouco ou não produtivos
em contrapartida de uma redução relativa de gastos produtivos, especialmente uma
redução relativa dos investimentos públicos em infra-estrutura.
O modelo trimestral com dados do período pós-plano Real (1995(1)-2004(3))
encontrou evidências empíricas significantes para alguns dos possíveis “candidatos”
levantados como explicadores da não recuperação das taxas de investimento.
Foram encontradas fortes evidências empíricas de um impacto negativo da carga
tributária sobre a taxa de investimentos com uma lead de um trimestre, o que traz à
tona o argumento de que os agentes teriam algum grau de antecipação do aumento
da carga tributária, reduzindo com essa antecipação seus investimentos. Isso faz
sentido, na medida em que notícias de aumento de alíquotas ou criação de novos
impostos normalmente são antecipadas ao mercado em relação à sua efetiva
entrada em vigor.
Encontrou-se também evidências de um forte impacto negativo do aumento do custo
do preço relativo dos bens de capital, medido como a razão entre deflator da
65
formação bruta de capital fixo e o deflator do PIB, sobre as taxas de investimento em
relação ao PIB. Isso mostra que esse preço relativo manteve um amento no período
de 1995-2004 (apesar de não tão pronunciado quando o aumento verificado na
década de 80) impactando negativamente os investimentos. O aumento do preço
relativo dos bens de capital no período 1995-2004 pode ainda estar ligado a
estruturas de oligopólios em setores relevantes da economia brasileira que levariam
a preços mais elevados e a ineficiências de produtividade.
Houve também evidência do efeito positivo da maior utilização de capacidade
industrial sobre as taxas de investimento, o que explicaria um caráter fortemente pró-
cíclico da economia brasileira em que os investimentos seriam maiores em
momentos de maior utilização da capacidade instalada existente. Sendo assim, a
manutenção de um nível de ociosidade média relativamente elevado durante o
período de 1995-2004 também seria um dos motivos da não recuperação das taxas
de investimento. Desde o início de 2005 essa ociosidade diminuiu drasticamente, o
que leva a crer que isso possa ser um impulsionador recente para as taxas de
investimento.
Um ponto importante a se destacar é que, tanto no modelo anual de longo prazo
quanto no modelo trimestral com dados recentes (pós-plano Real), foi encontrada
evidência empírica do efeito negativo da taxa de juro real sobre os investimentos
privados e totais, mas de magnitude muito pequena quando comparada aos efeitos
anteriormente descritos.
Outro ponto em comum dos resultados das duas formulações é a obtenção de
evidência para o efeito de inércia forte nos investimentos, com resultados bastante
significativos e de magnitudes relevantes para as variáveis de investimento com uma
defasagem.
Há ainda o fato de que a variável de inflação foi significativa no modelo anual mais
longo, mas perdeu significância estatística no modelo com dados trimestrais mais
recentes, no período de estabilização macroeconômica pós-plano Real.
Finalmente, dada a forte evidência empírica do efeito negativo da carga tributária
sobre os investimentos, fez-se um levantamento de caráter comparativo entre as
cargas tributárias de diversos países no que diz respeito à natureza de incidência
dos impostos arrecadados, separando entre impostos sobre bens e serviços
66
(produção) e impostos sobre patrimônio e renda. O levantamento mostra que o
Brasil é um dos países com maior peso de arrecadação sobre o setor produtivo
(57%) e peso muito pequeno sobre patrimônio e renda (29%), ao contrário de países
como os EUA, em que a arrecadação sobre patrimônio e renda é a parcela mais
representativa (chega a 73%). Assim, defende-se o argumento de que além da
magnitude elevada da carga tributária brasileira, sua alocação é desfavorável aos
investimentos privados, pesando muito sobre o setor produtivo e incentivando a
informalidade.
Neste trabalho foram obtidas evidências empíricas para alguns fatores que
consideramos fundamentais para explicar a não recuperação das taxas de
investimento pós-1994, mesmo com o controle inflacionário desde então e com o
tripé macroeconômico básico - câmbio flutuante, superávit primário consistente e
inflação controlada - desde 1999. Mas não é intuito desse trabalho esgotar todas as
possibilidades de explicação para essa evidência dos investimentos, até porque as
possibilidades de explicação possíveis são muitas. Novas evidências empíricas de
outras possíveis variáveis explicativas seriam tema para uma extensão deste
trabalho.
67
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nº 583: IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 1-55. Acesso 05 Ago
2005, em http://www.ipea.gov.br/pub/td/td0583.pdf
.
Wooldridge, J.M. (2003). Introductory Econometrics (2nd ed.) Ohio, Estados Unidos:
South-Western.
70
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Resumo de resultados empíricos obtidos em outros estudos sobre
equações de investimento.........................................................................................13
Tabela 2: Variáveis pré-candidatas a explicarem investimento privado no Brasil no
modelo anual desde 1970 e sinais esperados teoricamente.....................................25
Tabela 3: Resultados dos testes de estacionaridade para as variáveis pré-candidatas
no modelo de investimentos privados usando dados anuais de 1970-2003 .............26
Tabela 4: Estimação do modelo para equação de investimento privado em nível com
dados anuais de 1970-2003 para o Brasil.................................................................28
Tabela 5: Teste de estacionaridade dos resíduos do modelo anual 1970-2003 para
investimentos privados..............................................................................................29
Tabela 6: Modelo de ECM para a formulação obtida de investimentos privados em
nível...........................................................................................................................31
Tabela 7: Estimação do modelo de investimentos totais tendo como variável
explicativa os investimentos privados no período de 1990-2004...............................38
Tabela 8: Modelo de ECM para a formulação de investimentos totais......................38
Tabela 9: Resíduos do modelo de cointegração entre investimentos totais e
investimentos privados no período 1990-2004..........................................................39
Tabela 10: Variáveis pré-candidatas a explicarem taxa de investimento no Brasil no
modelo trimestral de 1995-2004 e sinais esperados teoricamente............................41
Tabela 11: Estimações iniciais de equações de taxa de investimento em relação ao
PIB para o Brasil usando dados trimestrais de 1995 a 2004.....................................43
Tabela 12: Variações das taxas de investimento em relação ao PIB.......................45
Tabela 13: Estimação do modelo final para equação taxa de investimento em
relação ao PIB usando dados trimestrais de 1995-2004 para o Brasil......................46
Tabela 14: Teste de estacionaridade dos resíduos do modelo trimestral final 1995-
2004 para taxas de investimento em relação ao PIB ................................................48
Tabela 15: Abertura da carga tributária brasileira por natureza de receita................55
Tabela 16: Comparativo de cargas tributárias entre países por natureza de receita –
valores em % do PIB.................................................................................................57
Tabela 17: Comparativo de cargas tributárias entre países por natureza de receita –
valores em % da carga total excluída a previdência social .......................................58
71
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Taxas de inflação (IGP-DI) e de investimentos privados em relação ao PIB
anuais (1970-2003) .................................................................................................... 8
Gráfico 2: Taxas de inflação (IGP-DI) e de investimentos totais em relação ao PIB
trimestrais - 1995(1)-2004(3)...................................................................................... 9
Gráfico 3: Valores do modelo anual final 1970-2003 x valores realizados para log
Investimentos Privados..............................................................................................29
Gráfico 4: Resíduos do modelo anual em escala normal, ACF e PACF dos resíduos
..................................................................................................................................30
Gráfico 5: Testes de Chow de estabilidade de parâmetros para as variáveis de
investimento público em infra-estrutura e investimentos públicos que não são em
infra-estrutura ............................................................................................................33
Gráfico 6: Investimentos totais e privados anuais em log..........................................39
Gráfico 7: Presença de outlier mo modelo trimestral inicial (dados de 1995-2004)...44
Gráfico 8: Valores do modelo trimestral final 1995-2004 x valores realizados para log
das taxas de investimento em relação ao PIB...........................................................47
Gráfico 9: Resíduos do modelo trimestral final em escala normal, ACF e PACF dos
resíduos.....................................................................................................................48
Gráfico 10: Testes de Chow de estabilidade de parâmetros para as variáveis de
carga tributária (1 lead) e preços relativos dos bens de capital.................................49
Gráfico 11: Evolução da carga tributária total no Brasil (% PIB) – dados de 1970-
2003...........................................................................................................................53
Gráfico 12: Índice que mede relação entre a participação da carga tributária sobre
produção em relação à carga tributária sobre patrimônio e renda ............................59
Gráfico 13: Evolução dos gastos do governo no Brasil por natureza de gasto – 1995-
2003...........................................................................................................................61
Gráfico 14: Evolução dos investimentos do governo em infra-estrutura e não infra-
estrutura no Brasil – 1995-2003 ................................................................................62
72
ANEXO A.1
Descrição das variáveis coletadas, fontes e cálculos usados nas construções das
séries finais utilizadas para dados anuais de 1970-2003
Nome na base
Sigla nas regressões
Séries Comentários
PIB nominal
PIB - Anual - R$(mil) - IBGE/SCN Anual -
Scn_PIBN
Fonte: IBGE/SCN Anual - Scn_PIBN. Obs: Para 1947-1989:
Sistema de Contas Nacionais Consolidadas. Para 2004:
resultados preliminares estimados a partir das Contas
Nacionais Trimestrais. Obs.: Produto Interno Bruto (PIB).
PIB defl
PIB - deflator implícito - var. anual - Anual -
(% a.a.) - IBGE/SCN Anual - Scn_DIPIBG
Fonte: IBGE/SCN Anual - Scn_DIPIBG. Obs: Para 1947-
1990: Sistema de Contas Nacionais Consolidadas. Para 2004:
resultados preliminares estimados a partir das Contas
Nacionais Trimestrais. Obs.: O valor para 1990 difere daquele
divulgado pelo Antigo Sistema de Contas Nacionais por ter
sido
PIB defl índ acum
PIB real Y
UCAP UCAP
Utilização da capacidade - indústria -
média - Anual - (%) - FGV/Conj.
Econômica - Ce_CUTIND
Fonte: FGV/Conj. Econômica - Ce_CUTIND
FBKF nominal
Capital fixo - formação bruta - Anual -
R$(mil) - IBGE/SCN Anual - Scn_FBKFN
Fontes: IBGE/SCN Anual - Scn_FBKFN. Obs:Para 1947-1989:
Sistema de Contas Nacionais Consolidadas. Para 2004:
resultados preliminares estimados a partir das Contas
Nacionais Trimestrais.
FBKF defl
Capital fixo - formação bruta - deflator
implícito - índice encadeado (média 1980
= 100) - Anual - IBGE/SCN Anual -
Scn_DIFBKF
Fonte: IBGE/SCN Anual - Scn_DIFBKF. Obs:Para 1970-1990:
Sistema de Contas Nacionais Consolidadas. Nesse período a
série foi construída pela evolução dos índices de base fixa
aplicada ao valor corrente de 1980. A partir de 1991: série
encadeada pela taxa de variação real anual da série a preços
do ano anterior (base móvel). Para 2004: resultados
preliminares estimados a partir das Contas Nacionais
Trimestrais.
FBKF real
FBKF AP nominal
Capital fixo - formação bruta - adm.
pública - Anual - R$(mil) - IBGE/SCN
Anual - Scn_FBKFGN
Fonte: IBGE/SCN Anual - Scn_FBKFGN. Obs:Para 1970-
1989: Sistema de Contas Nacionais Consolidadas.
FBKF AP real
FBKF EST nominal (1970 -
1989) - Cr$ mil
Capital fixo - formação bruta - empresas
estatais - Anual - Cr$ mil de 1980
Fonte: tese de Guilherme Studart - PUC-Rio - 1992
FBKF EST real 1 p1
FBKF EST real 1 p2
FBKF em R$ de 2003 deflacionado por
FBKF defl
Fonte: Ministério do Planejamento
FBKF PUB real
Capital fixo - formação bruta - setor
blico - método de deflação pelo
FBKF defl
é obtido pela soma: FBKF PUB real 1 = FBKF AP real 1 +
FBKF EST real 1
FBKF PR real Invest_priv
Capital fixo - formação bruta - setor
privado - método de deflação pelo
FBKF defl
é obtido por diferença: FBKF real 1 - FBKF AP real 1 -
FBKF EST real 1
FBKF PUB real Infra Invest_púb_Infra
Capital fixo - formação bruta - setor
blico - investimentos em infra-
estrutura -método de deflação pelo PIB
defl
Fonte: FGV/RJ - EPGE 1996 - paper, pós 1996 balanços
das empresas do setor elétrico e da Telebrás, ministério
dos transportes
FBKF PUB real Ninfra Invest_púb_Não-Infra
Capital fixo - formação bruta - setor
blico - investimentos que não são
em infra-estrutura
é obtido por diferença: FBKF PUB real - FBKF PUB real
Infra
FBKF adm pub a preços de 2003 deflacionado por FBKF defl
FBKF em R$ de 2003 deflacionado por FBKF defl
acumula variação real do PIB defl considerando índice=100 para 1947
PIB a preços de 2003 deflacionado por PIB defl índ acum
FBKF a preços de 2003 deflacionado por FBKF defl
Fonte: elaboração do autor (continua)
Obs: para as séries de PIB, UCAP, FBKF total, FBKF AP (administração pública) estão mostrados na
tabela acima as fontes originais postadas no IPEAdata, mas os dados foram coletados diretamente do
si
te do IPEAdata (http://www.ipeadata.gov.br).
73
ANEXO A.2
Descrição das variáveis coletadas, fontes e cálculos usados nas construções das
séries finais utilizadas para dados anuais de 1970-2003
Nome na base
Sigla nas regressões
Séries Comentários
IGP-DI IGP
Inflação - IGP-DI - Anual - (% a.a.) -
FGV/Conj. Econômica - Igp_IGPDIG
Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI).
Obs.: Compreende o período entre o primeiro e o último
dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços
captada pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), Índice
de Preços ao Consumidor (IPC-FGV) e Índice Nacional de
Preços da Construção Civil (INCC).
juro nom CDB
Taxa de juros - CDB - Mensal - (% a.m.) -
BCB Boletim/M.Finan. - Bm12_TJCDBN12
- O valor anual foi obtido pela acumulação
das taxas mensais (vide apoio)
Quadro: Rendimentos nominais das principais aplicações
financeiras. Obs.: Certificado de Depósito Bancário (CDB).
Variação em final de período. Estimativa para o mês, com
base em informões coletadas pela mesa do Depto. de
Operações de Mercado Aberto (De
juro real r
desemb BNDES
R$ mil de 2001 de 1953 a 2001; R$
correntes de 2002 a 2004
Fonte: site do BNDES
desemb BNDES real Emprést_BNDES
Preço rel Bens K P_rel_bens_K Preço relativo dos bens de capital é obtido pela razão: FBKF defl / PIB defl
índice de privatizações índice_privatização
% do montante total de privatizações
realizadas (US$ MM) - índice
acumulado
Fonte: BNDES - 50 anos - Privatizações no Brasil
carga trib t carga tributária total como % do PIB Fonte: Secretaria da Receita Nacional e IBGE
Deflacionado pelo PIB defl para R$ de 2003
calculado por: 100*((1+ juro nom CDB)/(1+IGPDI)-1)
Fonte: elaboração do autor (continuação)
Obs: para as séries de IGP-DI, juro nominal de CDB e carga tributária (t) estão mostrados na tabela
acima as fontes originais postadas no IPEAdata, mas os dados foram coletados diretamente do site
do IPEAdata (http://www.ipeadata.gov.br).
Vale destacar que nas regressões usou-se o log das variáveis na forma funcional,
prática econométrica costumeira e que permite melhor interpretação econômica dos
resultados em termos do impacto da variação percentual de uma variável explicativa
sobre a variável explicada (elasticidades), além de melhor ajuste nas regressões
nesse caso. A notação LX
i
indicará o log de uma variável X
i
qualquer.
Merecem maiores detalhes as coletas dos dados para montar as séries de
Invest_público_total, Invest_público_Infra e Invest_público_Não-Infra.
Para formar a série de Invest_público_total era necessário obter as séries dos
investimentos públicos em empresas estatais, que não são divulgadas pelo IBGE (o
IBGE divulga apenas o investimento público em administração pública). Melo e
Júnior (1998) relatam essa mesma dificuldade na montagem da série, mas não
74
explicitam sua obtenção de tais dados ou como construíram sua série de
investimentos públicos em empresas estatais. Em pesquisa em busca desses dados,
conseguimos obter duas fontes para tais dados que se complementaram (em termos
de períodos): a primeira cobriu o período de 1970-1989 (tese de Studart, PUC-RJ
1992), e a segunda foi o próprio Ministério do Planejamento, que atualmente tem
uma base de dados para esses valores de 1990-2004, que nos foi passada. Com
isso, montamos nossa série de investimento público total.
O segundo passo era buscar quebrar essa série de investimentos públicos em uma
parcela de investimentos públicos em infra-estrutura e uma parcela que não é em
infra-estrutura. Nesse sentido, utilizamos 3 fontes na construção da série: a primeira,
paper da FGV-RJ de Ferreira, P.C. e Malliagros, T.G., “Investimentos, Fontes de
Financiamento e Evolução do Setor de Infra-estrutura no Brasil: 1950-1996”, 1999.,
continha dados de investimentos nos setores de energia elétrica, telecomunicações
e transportes (rodovias, ferrovias e portos) para o período de 1950-1995 a R$ de
1995; a segunda fonte foi coleta em balanços das principais empresas do setor
elétrico e no balanço da Telebrás dos valores de capex (capital expenditures),
levando em conta a data de privatização de cada uma delas (vide anexos), cobrindo
o período de 1995-2003; a terceira fonte foi obtida junto ao ministério dos
transportes para os dados de investimentos em rodovias, ferrovias e portos de 1995-
2003. Todas os dados foram devidamente transformados em R$ MM de 2003 pelo
deflator do PIB nesse caso.
75
ANEXO B
Descrição das variáveis coletadas, fontes e cálculos usados nas construções das
séries finais utilizadas para dados trimestrais de 1995(1)-2004(3)
Nome na base
Sigla nas regressões
Séries Comentários
PIB PM nominal
PIB - preços de mercado - Trimestral -
R$(milhões) - IBGE/SCN Trimestral -
Scn4_PIBPMV4
Fonte: IBGE/SCN Trimestral - Scn4_PIBPMV4
PIB PM índice encadeado
PIB - preços de mercado - índice
encadeado (média 1990 = 100) -
Trimestral - IBGE/SCN Trimestral -
Scn4_PIBPM4
Fonte: IBGE/SCN Trimestral - Scn4_PIBPM4
PIB defl índ acum
PIB real Y
FBKF nominal
Capital fixo - formão bruta - Trimestral -
R$(milhões) - IBGE/SCN Trimestral -
Scn4_FBKFN4
Fonte: IBGE/SCN Trimestral - Scn4_FBKFN4
FBKF índice encadeado
Capital fixo - formão bruta - índice
encadeado (média 1990 = 100) -
Trimestral - IBGE/SCN Trimestral -
Scn4_FBKFI4
Fonte: IBGE/SCN Trimestral - Scn4_FBKFI4
FBKF defl índice acum
FBKF real I
Taxa de investimento em
relação ao PIB
I/Y
Utilização de capacidade
industrial
UCAP
Utilização da capacidade - indústria -
média - Trimestral - (%) - FGV/Conj.
Econômica - Ce4_CUTIND4
A Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação
(FGV) é uma pesquisa qualitativa, realizada
trimestralmente, nos meses de janeiro, abril, julho e
outubro. Obs.: Avaliação relativa ao mês de referência.
IGP-DI IGP
Inflação - IGP-DI - Mensal - (% a.m.) -
FGV/Conj. Econômica -
Igp12_IGPDIG12. O valor trimestral é
obtido acumulando-se os valores
mensais (vide apoio).
Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI).
Obs.: Compreende o período entre o primeiro e o último
dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços
captada pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), Índice
de Preços ao Consumidor (IPC-FGV) e Índice Nacional de
Preços da Construção Civil (INCC).
juro nom CDB
Taxa de juros - Over / Selic - Mensal - (%
a.m.) - BCB Boletim/M.Finan. -
Bm12_TJOVER12
Fonte: BCB Boletim/M.Finan. - Bm12_TJOVER12. Obs.: A
taxa Overnight / Selic é a média dos juros que o Governo
paga aos bancos que lhe emprestaram dinheiro. Refere-se à
dia do mês. Serve de referência para outras taxas de juros
do país. A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia.
juro real r
Preço rel Bens K P_rel_bens_K Preço relativo dos bens de capital
é obtido pela razão: FBKF defl índici acum / PIB defl
índice acum
carga trib t carga tributária total como % do PIB Fontes: Secretaria da Receita Nacional, IBGE e IPEAData
calculado por (PIB PM nominal)/(PIB PM índice encadeado)
PIB a preços de 2004 deflacionado por PIB defl índ acum
FBKF a preços de 2004 deflacionado por FBKF defl
calculado por: 100*((1+ juro nom CDB)/(1+IGPDI)-1)
calculado por (FBKF nominal)/(FBKF índice encadeado)
calculado por I/Y
Fonte: elaboração do
Obs: para as séries de IGP-DI, juro nominal de CDB e carga tributária (t) estão mostrados na tabela
acima as fontes originais postadas no IPEAdata, mas os dados foram coletados diretamente do site
do IPEAdata (http://www.ipeadata.gov.br).
76
Não há dados divulgados em base trimestral para a carga tributária global como
percentual do PIB (apenas anualmente). O que fizemos para obter uma série
trimestral de números comparáveis de carga tributária foi levantar séries mensais
dos principais impostos que compõem a carga tributária brasileira e somá-las, para
obter séries trimestrais. Essas séries disponíveis de impostos individuais são as
seguintes: impostos sobre importação, impostos sobre exportação, IOF, IPI, CPMF,
COFINS, PIS/PASEP, Cide, ICMS, IR, CS, IPVA, FGTS e recebimentos da
previdência. Todas essas séries foram coletadas em base mensal no site do
IPEAdata (http://www.ipeadata.gov.br).
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