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CARLOS BAPTISTA BARCAUI
Células-tronco foliculares na alopecia difusa
não-cicatricial de pacientes HIV positivos
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo para obtenção do
título de Doutor em Ciências.
Área de concentração: Dermatologia
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Mírian Nacagami Sotto
São Paulo
2005
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iii
À Julia e Clara, minhas células-filhas.
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iv
AGRADECIMENTOS
À Prof
a
. Mírian Nacagami Sotto, por ter acreditado em nossa proposta
e pela sua disponibilidade e dedicação com que conduziu este trabalho.
À bióloga Ana Maria Gonçalves da Silva pelo seu esmero no preparo
das reações imunohistoquímicas.
À técnica Cristina Galhardo pelo auxílio dado no preparo dos cortes
histológicos.
Ao colega e ex-aluno Leonardo Zacharias Gonçalves pela sua ajuda
na triagem dos pacientes investigados.
Ao amigo Bernd Genser pelas suas orientações na elaboração de
nossa análise estatística.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e
ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(472715/2003-8 e 504726/2003-0) pelo investimento financeiro em nossa
pesquisa.
v
Esta tese está de acordo com:
Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals
Editors (Vancouver)
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e
Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias.
Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A.L. Freddi,
Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso,
Valéria Vilhena. São Paulo: Serviço de Biblioteca e Documentação; 2004.
Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals
Indexed in Index Medicus.
vi
SUMÁRIO
Lista de figuras
Lista de siglas
Lista de tabelas
Resumo
Summary
1
INTRODUÇÃO................................................................................ 1
2
OBJETIVOS.................................................................................... 3
3
REVISÃO DA LITERATURA.......................................................... 4
3.1
Alopecia na infecção pelo HIV....................................................... 4
3.2
Células -tronco no epitélio folicular............................................... 6
3.3
Protuberância folicular nas alopecias............................................ 15
3.3.1
Alopecia da doença enxerto versus hospedeiro............................ 15
3.3.2
Liquen plano pilar.......................................................................... 16
3.3.3
Alopecia no lupus eritematoso discóide......................................... 17
3.3.4
Alopecia areata............................................................................... 17
3.3.5
Alopecia androgenética.................................................................. 17
3.3.6
Foliculite de células-tronco............................................................. 19
3.4
Apoptose......................................................................................... 19
3.4.1
Controle da apoptose..................................................................... 21
3.4.2 Alterações das moléculas controladoras da apoptose na infecção
pelo HIV.......................................................................................... 24
3.4.3
Apoptose e auto-imunidade............................................................ 24
3.4.4
Auto-imunidade e infecção pelo HIV.............................................. 25
3.5
Cinética tecidual da epiderme e do folículo pilo-sebáceo.
Equilíbrio entre proliferação, diferenciação e morte celular........... 26
4
MÉTODOS..................................................................................... 30
4.1
Casuística...................................................................................... 30
4.2
Análise Histológica......................................................................... 35
vii
4.3
Demonstração de apoptose de células tronco-foliculares e
células amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa
da protuberância folicular.............................................................. 36
4.4
Correlação da incidência de apoptose das células
indiferenciadas pluripotenciais da protuberância folicular no
couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos, com alopecia
difusa não cicatricial, com o grau de imunodeficiência.................. 44
5
RESULTADOS............................................................................... 45
5.1
Análise histopatológica ................................................................. 45
5.2
Demonstração de apoptose de células tronco-foliculares e
células amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa
da protuberância folicular............................................................... 49
5.3
Correlação da incidência de apoptose das células
indiferenciadas pluripotenciais da protuberância folicular no
couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos, com alopecia
difusa não cicatricial, com o grau de imunodeficiência.................. 57
6
DISCUSSÃO................................................................................... 58
7
CONCLUSÕES .............................................................................. 71
8
ANEXO........................................................................................... 72
9
REFERÊNCIAS.............................................................................. 73
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Teoria da ativação das células da protuberância....................... 11
Figura 2
Representação esquemática da unidade epidermo-pilo-
sebácea...................................................................................... 14
Figura 3 Alopecia difusa não cicatricial de paciente HIV-1 positivo.
Aspecto clínico da observação 9. Rarefação capilar difusa na
região frontal............................................................................... 32
Figura 4
Alopecia difusa não cicatricial de paciente HIV-1 positivo.
Aspecto clínico da observação 9. Paciente queixava-se de
alteração do volume e da textura capilar; região temporal
esquerda..................................................................................... 32
Figura 5
Representação esquemática da clivagem do material............... 34
Figura 6 Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 13).
Corte transversal de couro cabeludo ao nível da inserção do
músculo eretor do pêlo. Observa-se desorganização das
fibras colágenas perifoliculares (). (Tricrômico de Gomori;
aumento original x40).................................................................
46
Figura 7
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6).
Corte transversal de couro cabeludo ao nível da inserção do
músculo eretor do pêlo. Observa-se o aumento do número de
folículos telógenos e de unidades telógenas germinativas ().
(Tricrômico de Gomori; aumento original x40)...........................
46
ix
Figura 8
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6).
Detalhe da desintegração da bainha de mielina de um folículo
telógeno. (Tricrômico de Gomori; aumento original
x100)........................................................................................... 50
Figura 9 Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Corte transversal de couro cabeludo. Observa-se dupla
marcação CK19 (BCIP/NBT, azul) e TUNEL (DAB, marrom)
em células da bainha radicular externa de dois folículos
pilosos (); (aumento original x100).........................................
51
Figura 10
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Detalhe da dupla marcação CK19/TUNEL de células da
bainha radicular externa de folículo piloso; (aumento original
x400)........................................................................................... 51
Figura 11 Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Corte transversal de folículo piloso exibindo células CK19
(BCIP/NBT, azul) e TUNEL (DAB, marrom) positivas na
bainha radicular externa ao nível da protuberância folicular;
(aumento original x1000)............................................................ 52
Figura 12
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6).
Corte transversal de couro cabeludo. Presença células CK19+
apoptóticas (TUNEL positivas) na bainha radicular externa
que delimitam as projeções epiteliais características da
protuberância folicular; (aumemto original x400)....................... 52
Figura 13
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 5).
Detalhe da bainha radicular externa de um folículo piloso
exibindo queratinócitos apoptóticos (núcleos TUNEL positivos
– DAB, marrom) que não expressam CK 19 no citoplasma ()
e células da camada basal com dupla marcação; (aumento
original ×1000)............................................................................
53
Figura 14
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 1).
Corte transversal de folículo piloso exibindo células com dupla
marcação CK19 (BCIP/NBT, azul) e TUNEL (DAB, marrom)
x
em toda a circunferência da bainha radicular externa de
folículo piloso; (aumento original x400)...................................... 53
Figura 15
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 1).
Corte transversal de couro cabeludo ao nível da
protuberância. Observa-se queratinócitos apoptóticos () na
bainha radicular externa, evidenciados pelo anticorpo anti-
caspase 3 clivada; (aumento original x400)..............................
54
xi
LISTA DE SIGLAS
ADNC alopecia difusa não cicatricial
3HT timidina tritiada
AAG alopecia androgenética
AIDS síndrome da imunodeficiência adquirida
Apaf fator ativador da protease apoptótica
BCIP/NBT
nitro blue tetrazolium chloride / 5-bromo-4-cloro-3 indoyl
phosphate, toluidine salt
BRE bainha radicular externa
BRI bainha radicular interna
BSA soro-albumina bovina
CAD DNase ativada por caspase
CK19 anticorpo monoclonal anti-citoqueratina 19
DEVH doença enxerto versus hospedeiro
DISC complexo sinalizador indutor de morte
DP desvio padrão
FADD domínio mortal associado ao Fas
Fas/Fas antígeno Fas e ligante do antígeno Fas
Fas/Apo receptor de apoptose do antígeno Fas
FGF fator de crescimento fibroblástico
FLIP protna celular inibitória FLICE-símile
FPS folículo pilo-sebáceo
HAART terapia anti-retroviral altamente agressiva
HIAP proteína inibidora da apoptose H
HIV vírus da imunodeficiência humana
HLA antígeno leucocitário humano
IAP proteínas inibidoras de apoptose
ICAM molécula de adesão intercelular
ICE/ced
enzima conversora de interleucina 1β/gene relacionado à
morte celular
xii
IGF fator de crescimento insulina-símile
MEP músculo eretor do pêlo
PARP poli ADP-ribose polimerase
PBS solução salina tamponada com fosfato
P75NTR receptor de neurotrofinas de baixa atividade subunidade 75
PTHrp proteína relacionada ao hormônio similar ao da paratireóide
TAC células amplificadoras transitórias
TFR tratos fibrosos residuais
TGF fator de crescimento transformador
TGU unidades telógenas germinativas
TNF fator de necrose tumoral
TRADD domínio mortal associado ao TNF
TRAIL/APO ligante indutor de apoptose relacionada com TNF
TUNEL
terminal deoxynucleotidyltransferase d-UTP fluorescein nick-
end labeling
XIAP proteína inibidora da apoptose X
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Caracterização dos pacientes HIV-1 positivos, com
alopecia difusa não cicatricial, quanto ao sexo, idade,
nível de células CD4+ no sangue, data da
confirmação da infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana e drogas em uso na ocasião
do estudo.......................................................................
31
Tabela 2
Grupo controle – dados de sexo e idade dos
indivíduos hígidos não alopécicos.................................
33
Tabela 3
Resultados da análise histopatológica / morfométrica
nos pacientes HIV-1 positivos com alopecia difusa não
cicatricial (casos)...........................................................
47
Tabela 4 Resultados da análise histopatológica / morfométrica
de couro cabeludo de indivíduos hígidos sem alopecia
(controles)......................................................................
48
Tabela 5
Apoptose de células tronco-foliculares e células
amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa
da protuberância folicular, evidenciada pela técnica de
dupla marcação TUNEL/CK19 e pelo anticorpo anti-
caspase 3 clivada, na alopecia difusa não cicatricial de
pacientes HIV-1 positivos..............................................
55
Tabela 6
Apoptose de células tronco-foliculares e células
amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa
da protuberância folicular evidenciada pela técnica de
dupla marcação TUNEL/CK19 e pelo anticorpo anti-
caspase 3 clivada em grupo controle de couro
cabeludo normal............................................................
56
xiv
Tabela 7
Correlação da incidência de apoptose das células
indiferenciadas pluripotenciais da protuberância
folicular no couro cabeludo de pacientes HIV-1
positivos, com alopecia difusa não cicatricial, com o
nível de células CD4+ apresentado pelos
pacientes........................................................................
57
xv
RESUMO
Barcaui CB. Células-tronco foliculares na alopecia difusa não-cicatricial
de pacientes HIV positivos [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo; 2005. 89p.
INTRODUÇÃO: Aproximadamente 7% dos pacientes HIV positivos
apresentam alopecia difusa não-cicatricial (ADNC),
principalmente nos
estágios mais avançados da doença. Neste trabalho analisou-se as
alterações histológicas encontradas em cortes transversais de couro
cabeludo de pacientes HIV-1 positivos com ADNC, constatou-se a
ocorrência de apoptose das células indiferenciadas pluripotenciais da
protuberância folicular e comparou-se sua incidência com a de couro
cabeludo de indivíduos hígidos. Observou-se se houve correlação da
frequência de apoptose com o grau de imunodeficiência apresentado por
esses pacientes. MÉTODOS: Fez-se estudo de tipo caso-controle para
comparar os achados histológicos e frequência de apoptose de células
tronco foliculares e células amplificadoras transitórias, da protuberância
folicular, através de técnica de dupla marcação com anticorpo anti-
citoqueratina 19/TUNEL e técnica imuno-histoquímica com anticorpo anti-
caspase 3 clivada, em cortes transversais de couro cabeludo de 15
pacientes HIV-1 positivos com ADNC e de 12 controles sadios. Verificou-se
se havia correlação entre a freqüência de apoptose, na protuberância
folicular, com a contagem de linfócitos T CD4+ no sangue dos pacientes,
através do teste de correlação de Pearson. RESULTADOS: O exame
histopatológico demonstrou maior desorganização das fibras colágenas
perifoliculares nos casos quando comparados aos controles. A média do
número de unidades foliculares foi de 9,2 (±1,1) nos casos e de 9,8 (±1,1)
nos controles. A proporção de folículos telógenos foi maior nos casos (7%
±6%) do que nos controles (2%±12%). Não foi observado infiltrado
inflamatório perifolicular em nenhum dos casos e controles. Apoptose de
células tronco-foliculares e amplificadoras transitórias na protuberância
folicular foi demonstrada pela dupla marcação TUNEL/CK19 em 80% dos
casos e em 25% dos controles e, pelo anticorpo anti-caspase 3 clivada em
61% dos casos e 16% dos controles. Não houve correlação entre a
frequência de apoptose de células da protuberância folicular e níveis de
linfócitos T CD4+ no sangue dos pacientes HIV-1 positivos. CONCLUSÕES:
O quadro histopatológico da ADNC de pacientes HIV-1 positivos
caracterizou-se pela desorganização estrutural das unidades foliculares e
maior número de folículos telógenos quando comparado ao couro cabeludo
de indivíduos hígidos sem alopecia. Demonstrou-se apoptose de células
indiferenciadas pluripotenciais (células tronco e células amplificadoras
transitórias) da bainha radicular externa da protuberância folicular na ADNC
de pacientes HIV-1 positivos. Entretanto, a apoptose não parece ser
resultante de quadro de foliculite citotóxica, uma vez que não foram
observadas alterações inflamatórias em todos os casos estudados. O
fenômeno da apoptose das células indiferenciadas pluripotenciais (células-
xvi
tronco e células amplificadoras transitórias) presentes na bainha radicular
externa, na região da protuberância folicular, foi observado com uma
freqüência maior na ADNC de pacientes HIV-1 positivos, do que no couro
cabeludo de indivíduos hígidos, sem alopecia. A incidência de apoptose das
células indiferenciadas pluripotenciais (células-tronco e células
amplificadoras transitórias), presentes na região da protuberância folicular,
do couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos com ADNC, não guardou
relação com o grau de imunodepressão desses pacientes.
Descritores: 1.HIV 2.CÉLULAS-TRONCO 3.FOLÍCULO PILOSO
4.ALOPECIA
xvii
SUMMARY
Barcaui CB. Hair follicle stem cells in diffuse non-scarring alopecia in
HIV positive patients. [thesis]. São Paulo: Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo; 2005. 89p.
INTRODUCTION: Approximately 7% of HIV positive patients presents diffuse
non-scarring alopecia (DNSA). This kind of alopecia is observed mainly in
the late stages of acquired immune deficiency syndrome. This research
contains an analysis of the histopathological aspects observed in transverse
scalp sections of HIV-1 positive patients with DNSA. The occurrence of
apoptosis of the undifferentiated pluripotencial bulge cells was demonstrated
and its incidence was compared with a control normal group. It was verified
whether there was a correlation between the apoptosis frequency and the
immunodeficiency stage of the patients. METHODS: A case-control study
was performed in order to compare the histopathological aspects and bulge
cells apoptosis on the transverse scalp samples of 15 HIV-1 positive patients
with DNSA and 12 healthy controls. The apoptosis was demonstrated
through immunohistochemical technique using anti-cytokeratin 19/TUNEL
double labeling and cleaved caspase 3 antibody. The correlation between the
apoptosis frequency and the immunodeficiency stage of the patients was
verified through the statistical test of correlation of Pearson. RESULTS: The
histopathological analysis revealed perifollicular collagen bundles
disorganization in DNSA samples. The mean of follicular units in the cases
was 9.2 (±1.1) and, in the controls, 9.8 (±1.1). The proportion of telogen
follicles was higher in cases (7%±6%) than in controls (2%±12%). No
perifollicular inflammatory infiltration was observed neither in cases nor in the
controls. Hair follicle stem cell and transit amplifying cells apoptosis was
demonstrated through double labeling with CK19/TUNEL in 80% of the cases
and 25% of the controls, and through the anti-cleaved caspase 3 antibody in
61% of the cases and 16% of the controls. There was no correlation between
bulge cell apoptosis and the CD4+ lymphocytes blood levels in the HIV-1
positive patients. CONCLUSIONS: Through the case control study
performed, it was demonstrated that DNSA in HIV-1 positive patients was
characterized by the structural disorganization of the follicular units and a
higher number of telogen follicles. Apoptosis of the undifferentiated
pluripotencial cells (stem cells and transit amplifying cells) of the outer root
sheath at the bulge was demonstrated in DNSA HIV-1 positive patients.
Nevertheless, the apoptosis doesn’t seem to be related to a cytotoxic
folliculitis, since no inflammatory alterations were observed in any of the
studied cases. Apoptosis of the undifferentiated pluripotencial cells (stem
cells and transit amplifying cells), present at the outer root sheath at the
bulge level, proved to be more frequent in DNSA HIV-1 patients than in the
scalp of healthy non-alopecic subjects. The incidence of apoptosis of the
undifferentiated pluripotencial cells (stem cells and transit amplifying cells)
present at the bulge of HIV-1 positive patients with DNSA, showed no
correlation with the degree of immunosuppression of the patients.
Key words: 1.HIV 2.STEM CELLS 3.HAIR FOLLICLE 4.ALOPECIA
1
1. INTRODUÇÃO
Diferentes alterações capilares são relatadas na infecção pelo vírus
da imunodeficiência 1 (HIV-1). Em pacientes com síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS), os cabelos tendem a se tornar mais lisos,
finos e descolorados.
1
Apesar de se tratar de um problema eminentemente
estético, a alopecia pode afetar a auto-estima do indivíduo e
consequentemente suas relações sociais e qualidade de vida.
2
Estima-se
que aproximadamente 7% dos pacientes HIV-1 positivos apresentam
alopecia difusa não-cicatricial,
principalmente nos estágios mais avançados
da doença com níveis baixos de células CD4+.
3
Dentre os mecanismos
etiopatogênicos envolvidos temos a própria infecção pelo HIV-1, infecções
oportunistas, deficiências nutricionais, distúrbios imunológicos, endócrinos e
utilização de diversas drogas. Como consequência, há uma interrupção do
ciclo folicular seguida de um eflúvio anágeno ou telógeno, dependendo do
grau da agressão.
O folículo piloso é um micro-orgão anexo da pele de mamíferos
responsável pela produção de pêlos. Diferentemente da epiderme
interfolicular, que permanece em constante estado de auto-renovação, o
folículo piloso apresenta um comportamento cíclico. Períodos de alta
atividade mitótica e de diferenciação celular (fase anágena) são
interrompidos por uma fase de remodelação (catágena), seguidos por um
período de quiescência (fase telógena) para, em seguida, iniciar novamente
seu crescimento. Durante esses três processos evolutivos distintos, um
2
princípio básico tem que ser respeitado: o equilíbrio entre proliferação,
diferenciação e morte celular programada - apoptose. O balanço desse
equilíbrio é a chave para o controle do crescimento e regressão do folículo
piloso e é o fator determinante para o tratamento de distúrbios do ciclo
folicular.
4
A apoptose de células-tronco, apesar de parecer paradoxal, é um
fenômeno encontrado, de forma fisiológica, em outros tecidos com poder de
auto-renovação. No folículo piloso, está correlacionada com o
remodelamento estrutural que ocorre durante a fase catágena.
5
Na alopecia
difusa de pacientes HIV-1 positivos, Smith et al.
6
, em 1996, descreveram
queratinócitos apoptóticos na protuberância folicular como um achado
característico dessa forma de alopecia. Porém, até o momento, nenhum
estudo comparativo foi realizado.
Nosso principal objetivo foi constatar a ocorrência de apoptose nas
células indiferenciadas (células-tronco e células amplificadoras transitórias)
da protuberância folicular em pacientes HIV-1 positivos com alopecia difusa
não cicatricial. Através de técnicas de biologia molecular e de
imunohistoquímica aplicadas em cortes transversais de couro cabeludo
realizamos um estudo caso-controle, no qual comparamos os achados
obtidos em 15 pacientes HIV-1 positivos com alopecia difusa não-cicatricial e
12 controles hígidos sem alopecia.
3
2. OBJETIVOS
A - Analisar as alterações histológicas encontradas em cortes
transversais de couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos com alopecia
difusa não cicatricial.
B - Constatar a ocorrência do fenômeno da apoptose das células
indiferenciadas pluripotenciais (células-tronco e células amplificadoras
transitórias) da protuberância folicular do couro cabeludo de pacientes HIV-1
positivos com alopecia difusa não cicatricial.
C - Comparar a incidência de apoptose das células indiferenciadas
pluripotenciais da protuberância folicular do couro cabeludo de pacientes
HIV-1 positivos com alopecia difusa não cicatricial e do couro cabeludo de
indivíduos hígidos.
D - Correlacionar a incidência de apoptose das células indiferenciadas
pluripotenciais da protuberância folicular no couro cabeludo de pacientes
HIV-1 positivos, com alopecia difusa não cicatricial, com o grau de
imunodeficiência apresentado por esses pacientes.
4
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Alopecia na infecção pelo HIV
A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode se
apresentar com quatro fases distintas em sua evolução: infecção aguda,
período assintomático, linfadenopatia persistente generalizada e fase
sintomática, que inclui a síndrome da imunodeficiência adquirida. Em todos
os estágios da infecção podem ocorrer manifestações dermatológicas,
desde a erupção cutânea roseoliforme, vista na infecção aguda até as
alterações associadas à imunodeficiência propriamente dita, como infecções
oportunistas e o sarcoma de Kaposi. Estas últimas encontradas na fase mais
avançada da doença. Assim como a pele, os fâneros também podem
apresentar manifestações como a síndrome das unhas amarelas encontrada
na pneumocistose, alongamento dos cílios associado ao aumento da
prolactina sérica, canície precoce, alopecias e outras.
7,8
A adoção de esquemas terapêuticos combinados mais agressivos, a
chamada terapia anti-retroviral altamente ativa (“highly active antiretroviral
therapy” ou HAART), provocou uma mudança substancial na expectativa e
na qualidade de vida dos pacientes infectados pelo HIV. As classes de
drogas utilizadas compreendem os inibidores da enzima viral protease e os
inibidores da enzima transcriptase reversa nucleosídeos, não-nucleosídeos e
nucleotídeo. A HAART é capaz de reduzir a replicação viral, elevar o número
de células CD4+ e, consequentemente, diminuir a prevalência de infecções
oportunistas, a taxa de progressão da infecção pelo HIV, o número de
5
internações e de óbitos.
9-12
Com o advento da HAART também houve uma
significativa mudança na prevalência das doenças cutâneas. O número de
infecções oportunistas diminuiu, acompanhado de um aumento das reações
alérgicas medicamentosas, principalmente associadas aos inibidores de
protease. Curiosamente, a dermatite seborréica também apresentou uma
diminuição de sua intensidade e extensão, provavelmente, relacionada com
a redução da secreção sebácea e a diminuição da população de
Pityrosporum ovale ocasionadas pelo efeito retinóide-símile de alguns
inibidores de protease. Por outro lado, houve o aumento da incidência de
outras manifestações como a lipodistrofia e a lipomatose difusa. Queixas
que até então não motivavam o paciente a procurar auxílio médico, como
onicodistrofias e alopecias, passaram a constar na lista dos principais
motivos de consulta ao dermatologista.
13
Diferentes alterações capilares são relatadas na infecção pelo HIV.
Em pacientes com AIDS, os cabelos tendem a se tornar mais lisos, finos e
descolorados.
1
Apesar de se tratar de um problema eminentemente estético,
a alopecia pode afetar a auto-estima do indivíduo e, consequentemente,
suas relações sociais e qualidade de vida.
2
Estima-se que
aproximadamente 7% dos pacientes HIV positivos apresentam alopecia
difusa
3
principalmente nos estágios mais avançados da doença com níveis
baixos de células CD4+.
7
Dentre os mecanismos etiopatogênicos envolvidos,
temos a própria infecção pelo HIV, infecções oportunistas, deficiências
nutricionais, distúrbios imunológicos, alterações endócrinas e utilização de
diversas drogas. Como consequência, há uma interrupção do ciclo folicular
6
seguida de um eflúvio anágeno ou telógeno, dependendo do grau da
agressão. Outra forma de alopecia relatada em pacientes HIV positivos é a
areata, inclusive em sua forma universal.
13-15
Existem ainda na literatura
relatos de alopecia induzida pelos inibidores da protease, em particular o
indinavir, cujo mecanismo etiopatogênico parece estar relacionado com os
efeitos retinóide-símiles dessa droga.
16,17
Smith et al.
6
, em um trabalho envolvendo 10 pacientes HIV-1 positivos
com alopecia difusa não-cicatricial, relataram a presença de queratinócitos
apoptóticos na bainha radicular externa ao nível da protuberância
18,19
ou
bojo
20
(bulge), onde estão albergadas as células-tronco foliculares.
21
Os
autores também descreveram infiltração inflamatória perifolicular, leve a
moderada, como um achado significante. Baseados no fato da protuberância
também ser o sítio folicular mais acometido na doença enxerto versus
hospedeiro (DEVH),
22,23
onde as células-tronco são o principal alvo, os
autores levantaram a hipótese de que uma reação auto-imune (DEVH-
símile) pudesse ser um dos mecanismos envolvidos na patogênese dos
distúrbios causados pelo HIV, incluindo a alopecia.
3.2 Células-tronco do epitélio folicular
A manutenção da homeostase de qualquer tecido com poder de auto-
renovação depende da presença e da integridade das células-tronco ou
células-mãe. As células-tronco são células progenitoras indiferenciadas tanto
bioquímica quanto ultra-estruturalmente. Possuem um alto potencial
proliferativo e são capazes de dar origem a todos os elementos de um
7
determinado tecido (multipotentes).
24
São clonogênicas in vitro e possuem
um ciclo celular longo e lento, provavelmente para conservar seu potencial
proliferativo e minimizar as chances de erros de DNA que podem ocorrer
durante a replicação.
25
Podem ser estimuladas a proliferar em resposta à
cicatrização e a fatores de crescimento e, frequentemente, estão localizadas
em áreas bem protegidas, bem vascularizadas e inervadas.
26
Devido a seu ciclo celular ser lento, a divisão das células-tronco é um
evento relativamente raro e muito bem regulado. Em média, uma das duas
células-filhas derivadas de sua divisão irá deixar o nicho onde está situada
sua progenitora e irá se transformar em uma célula amplificadora, com
potencial proliferativo limitado, fadada à diferenciação terminal. As outras
células-filhas permanecem indiferenciadas, mantendo assim a fonte para
renovação celular do tecido. A multiplicação mitótica das células derivadas
da célula-mãe, situadas nos estágios intermediários de maturação, é
suficiente para manter o equilíbrio da cinética tecidual normal (crescimento x
diferenciação x morte celular), o que justifica o pequeno número de células-
tronco encontrado, por exemplo, na medula óssea.
27
As células oriundas das células-tronco, ao deixararem o nicho onde
se encontram, tornam-se células amplificadoras transitórias (TAC - “transit
amplifying cells”). As TAC possuem potencial proliferativo limitado e quando
esse potencial se esgota, elas se tornam pós-mitóticas. Existe uma
hierarquia entre as TAC, que vai desde a célula jovem capaz de várias
divisões, até as células mais maduras, com pouca capacidade de divisão.
Devido à dificuldade em se estabelecer um marcador específico para
8
células-tronco, vários pesquisadores lançaram mão da cinética celular para
distinguir as células de ciclo lento (tronco) das TAC, que se proliferam mais
frequentemente.
21,28,29
Essa marcação geralmente é feita com timidina
tritiada (3HT) ou bromodeoxi-uridina (BrdU), de forma que as células com
ciclo lento retêm a marcação por um período maior (4-8 semanas).
O folículo piloso é um micro-orgão anexo da pele de mamíferos
responsável pela produção de pêlos. Diferentemente da epiderme
interfolicular, que permanece em constante estado de auto-renovação, o
folículo piloso apresenta um comportamento cíclico. Períodos de alta
atividade mitótica e de diferenciação celular (fase anágena) são
interrompidos por uma fase de remodelação (catágena), seguidos por um
período de quiescência (fase telógena) para, em seguida, iniciar novamente
seu crescimento.
Um grupamento de células epiteliais relativamente indiferenciadas,
denominadas células matriciais, situadas na base do bulbo folicular foi
considerado durante muito tempo como sendo as células-tronco foliculares.
A natureza pluripotencial dessa população celular foi atribuída à sua
capacidade de originar linhagens celulares distintas (medula, córtex,
cutículas, camadas de Huxley e Henle), de acordo com sua diferenciação,
durante a fase anágena.
30
O papel das células matriciais, como células-
tronco foliculares, começou a ser questionado quando foi demonstrado que
o bulbo pode ser gerado a partir das células da bainha radicular externa
(BRE) folicular, após as células matriciais terem sido totalmente destruídas
por raios X.
31
Oliver et al.
32,33
e Ibrhaim et al.
34
, demonstraram que vibrissas
9
de ratos são capazes de se regenerar após a excisão cirúrgica de seus
bulbos que contém as células matriciais.
A pesquisa da cinética celular com 3 HT aplicada ao FPS levou, em
1990, à descoberta de que as células retentoras de marcação estão restritas
à BRE ao nível da inserção do músculo eretor do pêlo (MEP), em uma
região denominada protuberância ou bojo folicular. As células
indiferenciadas da protuberância folicular apresentam atributos importantes
que as caracterizam como células-tronco: (1) as células das porções
superiores do FPS, incluindo a protuberância, apresentam maior capacidade
de crescimento in vitro quando comparadas com células de outras porções
do FPS e da epiderme;
35,36
(2) as células, normalmente quiescentes da
protuberância, atravessam um período transitório de proliferação celular
durante o início da fase anágena ou após serem estimuladas (p.ex. por
arrancamento da haste pilosa, pela ação de ácido retinóico e forbol éster),
dando origem as TAC, de ciclo celular rápido
29,37
; (3) as células da
protuberância são relativamente indiferenciadas
21,38
; (4) a aplicação tópica
de um agente iniciador tumoral na pele de murinos, durante o início da fase
anágena (quando as células da protuberância folicular estão se dividindo),
produz um número maior de tumores do que a mesma aplicação durante a
fase telógena (quando as células da protuberância folicular estão
quiescentes). Partindo-se do princípio de que as células-tronco estão
envolvidas na formação de tumores, este fato não pode ser considerado
como uma mera coincidência e indica que as células-tronco foliculares
podem originar cânceres cutâneos, induzidos experimentalmente
39
.
10
O reconhecimento da localização exata das células-tronco no epitélio
folicular levantou a possibilidade de que interações específicas entre as
células-tronco da protuberância e as células mesenquimais da papila
folicular durante o início da fase anágena pudessem levar à “ativação” das
células quiescentes da protuberância – Teoria da Ativação das Células da
Protuberância.
40
(Figura 1) Segundo essa teoria, o FPS reinicia sua fase
anágena quando “sinais” da papila folicular ativam, de forma transitória, as
células quiescentes da protuberância de folículos telógenos, resultando na
geração das TAC. As TAC formam um novo germe secundário que, em
conjunto com a papila, formam o novo bulbo folicular. Conforme a papila é
empurrada para baixo pela projeção epitelial, as células-tronco da
potuberância retornam ao seu estado normal de quiescência. Após um
período de intensa proliferação, as TAC, de ciclo celular rápido, esgotam seu
potencial proliferativo e sofrem uma diferenciação terminal. Isso resulta na
degeneração (catágena) dos dois terços inferiores do folículo pilo-sebáceo
(FPS). Durante a fase catágena a papila folicular migra para cima e
posiciona-se na base do folículo telógeno. Essa localização ao lado da
protuberância é essencial para o re-início de outro ciclo. De todas as teorias
até então propostas para explicar a cinética do ciclo folicular, esta é
considerada a mais abrangente e amplamente aceita até o momento.
11
l
Figura 1 – Teoria da ativação das células da protuberância. Adaptado de
Sun TT, Cotsarelis G, Lavker RM. Hair follicular stem cells: The bulge
activation hypothesis. J Invest Dermatol. 1991; 98:77s–78s. As células-
tronco são ativadas/estimuladas ao final da fase telógena, pelo contato com
as células da papila folicular. Em seguida, apresentam um período transitório
de proliferação durante o início da fase anágena. A partir dessa proliferação
celular forma-se o germe secundário, que são as células existentes na
matriz, as quais sofrem uma amplificação transitória, levando à formação de
um novo bulbo e que são capazes de se diferenciar em medula, córtex e
cutícula pilar. Durante a fase anágena IV, as células da papila folicular
proliferam e apresentam uma “descondensação” transitória. O contato entre
a papila e área saliente é de fundamental importância para que haja o início
de um novo ciclo.
A
NÁGENO IIANÁGENO IV
A
tiva
ç
ão
A
tiva
ç
ão
ANÁGENO VI
CATÁGENO TELÓGENO
Porção
permanente
Ativação
ANÁGENO IV
A
NÁGENO II
*1- Unna PG. Arch Microskop Anat Entiwicklungsmech. 1846; 12:665-741.*2- Sthor P. Anat
Hefte Abt. 1903; 23:1-66.
12
A protuberância folicular, considerada anteriormente um mero
acidente anatômico, onde se dá a inserção do músculo eretor do pêlo, foi
originalmente descrita por Unna (1876)*1 e por Sthor (1904)*2 apud
Cotsarelis (1990),
21
com o nome de “Der Wulst” e, posteriormente, chamada
de “bulge”, por autores de origem anglo-saxônica.
41,42
Essa área protrusa
está situada abaixo da abertura do ducto da glândula sebácea, e delimita o
final da porção permanente do folículo piloso. Durante o período embrionário
(16-18 semanas), apresenta-se como uma estrutura proeminente,
hemisférica, composta por queratinócitos indiferenciados, podendo
ultrapassar até mesmo o tamanho do bulbo.
43
Representa o brotamento
mais inferior, encontrado na face posterior, do germe epitelial primário. Em
folículos terminais de adultos, apresenta-se como uma zona levemente
saliente da bainha radicular externa, na qual podem ser evidenciadas células
epiteliais com núcleos grandes e claros.
19
A protuberância folicular pode
apresentar variações morfológicas normais, como projeções epiteliais em
forma de vilosidades ou brotamentos, de tamanho e formato variáveis.
41
Em
determinadas condições, como na psoríase e durante a regeneração
epidérmica, também podem ocorrer alterações de sua morfologia.
44
As células epiteliais da BRE ao nível da protuberância folicular
expressam citoqueratinas, moléculas de adesão celular, citoquinas e
receptores de fatores de crescimento, que são distintos daqueles
encontrados em outras células epidérmicas.
45-47
Através da demonstração
do baixo nível da enzima telomerase, Ramirez et al,
48
em 2000,
comprovaram o baixo índice de atividade mitótica existente
13
nessa região. Ultra-estruturalmente, as células encontradas nessa região
possuem achados característicos de células indiferenciadas como
ribossomas abundantes, partículas de glicogênio e organelas
citoplasmáticas esparsas.
38
Taylor et al
29
, em 2000, demonstraram, em murinos, que as células
derivadas das células-tronco da protuberância podem dar origem a vários
compartimentos do FPS, incluindo a parte inferior da BRE, matriz e medula.
Esses achados deixam claro que as células da protuberância dão origem às
células multipotentes indiferenciadas da matriz, que são capazes de gerar a
haste pilosa. Oshima et al
49
, em 2001, demonstraram que a região da
protuberância da vibrissa de murinos, que expressa [beta]-galactosidase
quando transplantada para vibrissa de ratos normais, pode dar origem a
todas as células do epitélio folicular, assim como produzir a haste pilosa.
Recentemente,
foi demonstrado que as células da protuberância expressam
o gene da nestina e que podem dar origem ou fornecer as células endoteliais
que constituem os vasos sanguíneos da pele.
50
Lavker et al
51
demonstraram o caráter multipotente das células-tronco
foliculares e propuseram a existência de uma unidade epidermo-pilo-
sebácea, na qual as células derivadas das células-tronco da protuberância
folicular dão origem não só à haste pilosa, mas também à epiderme e à
glândula sebácea. (Figura 2) Taylor et al.
29
demonstraram que as células
originadas na protuberância folicular migram para a epiderme e continuam a
proliferar, contribuindo para a homeostase da epiderme. Morris et al.
52
e
Blanpain et al.
53
, em 2004, demonstraram que células isoladas da
14
protuberância folicular, são capazes de reconstituir todo o epitélio cutâneo.
Com base nessas informações, pode-se concluir que a protuberância
folicular é o maior reservatório de queratinócitos da pele e que, portanto,
deve ser considerada como a principal fonte de células-tronco epidérmica
54
.
Em 2002, Ito et al.
55
demonstraram que as células da protuberância
entram em apoptose após a depilação mecânica da haste pilosa. Essas
células são substituídas por células do germe secundário em um processo
que os autores denominaram de “desdiferenciação”. A protuberância sofre
uma diminuição e um remodelamento durante a fase catágena devido à
apoptose.
56
Figura 2 – Representação esquemática da unidade epidermo-pilo-sebácea.
Adaptado de: Lavker RM, Miller S, Wilson C, Cotsarelis G, Wei ZG, Yang JS,
Sun TT. Hair follicle stem cells. Their location, role in hair cycle, and
involvement in skin tumor formation. J Invest Dermatol. 1993; 101:16S–26S.
As células da protuberância através da via 1 dão origem às células
amplificadoras transitórias da matriz, capazes de formar a haste pilosa.
Através da via 2, as células da protuberância dão origem às células
progenitoras da epiderme.
15
3.3 Protuberância folicular nas alopecias
Independentemente da forma de agressão (inflamatória, traumática,
tumoral ou degenerativa), o esgotamento do potencial proliferativo das
células-tronco pode levar a uma perda irreversível da capacidade
regenerativa tecidual, cuja representação clínica, em se tratando do folículo
piloso, seria a alopecia. Segundo a “teoria da ativação das células da
protuberância”, quatro elementos são fundamentais para o controle do ciclo
folicular: ativação da protuberância, ativação da papila dérmica, potencial
proliferativo limitado das células matriciais e a migração para cima da papila
folicular. Uma alteração em qualquer um desses elementos pode resultar em
uma alteração do crescimento ou perda do pêlo.
3.3.1 Alopecia da doença enxerto versus hospedeiro (DEVH) – foliculite
citotóxica
Apesar da patogênese da doença enxerto versus hospedeiro ainda
não estar totalmente esclarecida, sabe-se que as células-alvo da resposta
imune celular na pele são as células-tronco epidérmicas encontradas nas
cristas interpapilares. Murphy et al.
23
demonstraram que, assim como as
células-tronco da epiderme interfolicular, as células-tronco da protuberância
de folículos anágenos também são seletivamente atingidas durante a fase
aguda da doença, levando a um quadro conhecido como foliculite citotóxica.
Os infiltrados de células T encontrados na região da protuberância precedem
a infiltração da epiderme interfolicular e estão associados à transição do
folículo acometido para a fase telógena. Esta observação levou os autores a
16
especularem sobre o valor do achado histopatológico da foliculite citotóxica
como indicador precoce da DEVH, mesmo antes de haver um dano
significativo da epiderme. Sale et al.
22
compararam o comprometimento da
região da protuberância com a lesão dos bulbos foliculares de 22 pacientes
com DEVH. Em 19 casos houve um dano preferencial da protuberância, dois
acometeram as duas regiões e em um nenhuma das regiões foi atingida.
3.3.2 Líquen plano pilar
O líquen plano pilar é caracterizado clinicamente pela presença de
pápulas foliculares ceratósicas que, frequentemente, evoluem com a
formação de áreas de alopecia cicatricial. Essa, em seu estágio final, não
pode ser diferenciada da alopecia decorrente de outras doenças
inflamatórias que levam à destruição do FPS e à fibrose.
Mehregan et al.
57
, após realizarem um estudo clínico-patológico de
45 casos de liquen plano pilar, observaram que a região mais atingida do
epitélio folicular parece ser o infundíbulo, sendo que o istmo é acometido em
1/3 dos casos. Em todos os casos o infiltrado inflamatório poupou a região
do bulbo folicular. Tais achados justificariam o porquê do caráter cicatricial
desta forma de alopecia, uma vez que o compartimento onde estão situadas
as células-tronco é frequentemente envolvido.
17
3.3.3 Alopecia no lupus eritematoso discóide
Assim como o líquen plano pilar, o lupus eritematoso discóide pode
levar a um quadro de alopecia cicatricial, decorrente da destruição
irreversível do epitélio folicular. O acometimento, predominantemente, do
istmo pelo infiltrado inflamatório e não da papila folicular, parece indicar a
importância da integridade das células-tronco da protuberância folicular na
gênese desta forma de alopecia.
58
3.3.4 Alopecia areata
A alopecia areata é caracterizada, fundamentalmente, pela presença
de um infiltrado inflamatório mononuclear peribulbar, pelo aumento da
expressão da molécula de adesão intercelular 1 (ICAM-1) e dos antígenos
HLA-DR na porção folicular inferior. A região da protuberância folicular é
poupada.
59
Embora seja considerada uma forma de alopecia inflamatória,
não possui um caráter cicatricial, sendo observada a repilação da área
comprometida.
3.3.5 Alopecia androgenética
A alopecia androgenética (AAG) caracteriza-se por ser um processo
espontâneo, progressivo e irreversível, no qual as células da matriz folicular
perdem o seu potencial de produzir um novo ciclo anagênico ao longo dos
anos, levando a uma miniaturização dos folículos do couro cabeludo.
Jaworsky et al.
60
, a partir de um estudo histológico, imunohistoquímico e
ultra-estrural de 4 pacientes com AAG, demonstraram que em áreas
18
transicionais (alopécicas x não alopécicas) havia infiltração de células T
ativadas ao redor da protuberância, levando à indução de antígenos de
classe II na adventícia de vênulas do tecido conjuntivo e hiperplasia de
células dendríticas CD1a positivas. Embora essa reação mediada por
células possa ser encarada como secundária à ação androgenética no
metabolismo folicular, foi sugerido que a fibrose progressiva da bainha
perifolicular, que ocorre na alopecia androgenética, possa ser decorrente da
ação de linfócitos T ativados no reservatório de células-tronco. “Apesar de
não ter sido evidenciada uma citotoxicidade direta na população de células-
tronco, é possível que mediadores solúveis resultantes do processo de
inflamação criem um ambiente local deletério às estimulações cíclicas das
células-tronco”. Assim como o acometimento da protuberância, o
espessamento da bainha de tecido conjuntivo pode levar a uma interrupção
do ciclo folicular, resultando na queda do cabelo.
Em nossa dissertação de Mestrado, após compararmos a densidade
de estruturas foliculares com a densidade de folículos que apresentavam
células CK19+ da protuberância folicular (células-tronco) das regiões
acometida e não acometida do couro cabeludo de pacientes com alopecia
androgenética, concluímos que quanto menor é a relação folículos
terminais/velos mais difícil é a identificação da área de inserção do músculo
eretor do pêlo/protuberância e, menor é o número de folículos que
apresentam células CK19 positivas.
61
Cowper et al.
62
, em 2002, relataram um aumento da expressão de
Bcl-2 nas regiões acometidas pela AAG. Foi sugerido que um aumento da
19
susceptibilidade aos mediadores da expressão do Bcl-2, ou que uma
resposta alterada dos receptores de Bcl-2, nessas regiões, possam estar
envolvidos na gênese da AAG. Os autores descreveram ainda que os sítios
TUNEL positivos encontrados na região do istmo/protuberância em couro
cabeludo de murinos, também ocorrem em humanos.
3.3.6 Foliculite de células-tronco
Kossard
63
, em 1999, relatou o caso de uma paciente de 34 anos,
com história de queda de cabelos difusa não-cicatricial, com evolução de 8
anos. No exame histopatológico do couro cabeludo foram observadas
miniaturização folicular e a presença de infiltrado inflamatório,
predominantemente linfocítico, em cunha, concentrado ao redor da
protuberância folicular. A ausência de qualquer outro dado clínico
significativo e a evolução difusa, arrastada do quadro levou o autor a cogitar
a hipótese da existência de um quadro de foliculite de células-tronco como
entidade isolada, e não como parte de processos mais complexos como a
DEVH e a alopecia areata.
3.4 Apoptose
É uma forma de morte celular, muito bem regulada, que obedece
padrões morfológicos e bioquímicos característicos. Distingue-se da
necrose por dois aspectos básicos: primeiro, porque é um processo ativo
durante o qual os constituintes celulares se reorganizam e se agrupam,
20
sendo a célula fragmentada em componentes envoltos por uma membrana
(corpos apoptóticos), os quais não sofrem autólise, mas são fagocitados por
células residentes no tecido enquanto ainda estão viáveis; o outro aspecto é
que a apoptose acomete células individualmente ou pequenos grupos
celulares.
Por acometer células de forma isolada e por não induzir exsudação de
fagócitos, a apoptose não é facilmente visível à microscopia óptica. Sua
principal característica é uma acentuada retração da célula, que chega a
perder um terço de seu volume, em alguns minutos.
64
O mecanismo
responsável por essa contração celular ainda não é totalmente conhecido,
mas está relacionado com a troca de íons e de água através da membrana
plasmática. Os característicos fragmentos ou corpos apoptóticos basofílicos,
podem ser vistos no interstício ou no interior de outras células. São
estruturas diminutas e possuem vida curta, sendo removidos do tecido em
um período de horas. Desta forma, a quantificação de um índice apoptótico
através de um exame morfológico isolado pode ser difícil. À microscopia
eletrônica, as células em apoptose são facilmente identificáveis. O núcleo
mostra cromatina agrupada, formando massas junto à membrana nuclear; o
contorno nuclear fica progressivamente irregular (aspecto cerebriforme), os
poros da membrana nuclear desaparecem e esta termina por se romper,
ficando os fragmentos nucleares dispersos no citoplasma. Este se desidrata
e condensa; as organelas agrupam-se, mas mantêm seu padrão morfológico
característico; as microvilosidades desaparecem, os aparelhos juncionais se
desfazem e surgem depressões ou fendas na membrana que
21
progressivamente separa a célula em glóbulos delimitados por membrana.
Esses podem ser observados no interstício ou no interior de células vizinhas.
Uma vez incorporados por endocitose, os corpos apoptóticos são digeridos
pela ação das enzimas lisossômicas.
65
A apoptose é encontrada nos processos chamados de morte
fisiológica, como os que ocorrem durante a morfogênese de órgãos, tanto na
vida embrionária quanto após o nascimento. Atua como um mecanismo
regulador do número de células e de defesa contra células danificadas,
infectadas por vírus ou transformadas. Pode ser observada durante a
involução da glândula mamária após a lactação ou no útero durante o ciclo
menstrual. A involução de órgãos hiperplasiados, após a cessação do
estímulo que produziu a hiperplasia, também depende da apoptose. Como
processo patológico, a apoptose é observada em lesões induzidas por
agressão imunitária celular (células T citotóxicas e natural killer), radiações
ionizantes, infecções virais (p.ex. hepatite viral e pelo HIV-1) ou por drogas
citostáticas. Particularmente marcante é a ocorrência da apoptose durante a
rejeição a enxertos.
66
3.4.1 Controle da apoptose
Independentemente do tipo celular ou sítio anatômico, a morfologia da
apoptose tende a ser estereotipada. Vias diferentes levam à ativação de um
mesmo mecanismo final.
67
Quatro receptores celulares estão envolvidos:
Fas (CD95)
68
, p55 TNF
69
, receptoresTRAIL/APO2-L (TNF “related apoptosis-
22
inducing ligand”) 1 e 2
70
. Eles se ligam respectivamente ao Fas-ligante (Fas-
L), TNF e TRAIL/APO 2-L. A ativação desses receptores mortais recruta
proteínas adaptadoras FADD (“Fas-associated death domain”),
71-73
TRADD
(TNF “receptor-associated death domain”) ou ambas
74,75
, que
sequencialmente ativam a família das enzimas caspases. Atualmente, 14
caspases são conhecidas. As caspases 3 (CPP32) e 8 (FLICE) estão
relacionadas com a apoptose mediada pelos receptores Fas, p55TNF e
TRAIL/APO.
76-81
As caspases ativadas catalisam a clivagem de outras
caspases, que por sua vez ativam várias proteases e endonucleases
celulares que clivam protnas celulares estruturais e reguladoras, assim
como o DNA nuclear, levando as alterações morfológicas e bioquímicas
vistas na apoptose. O complexo de proteínas Fas, FADD e pró-caspase 8,
que desencadeia a apoptose também é conhecido pela sigla DISC (“death
inducing signaling complex”).
64
A apoptose induzida pela via Fas está relacionada primordialmente com
as seguintes situações: morte celular induzida por linfócitos T citotóxicos
(p.ex. células infectadas com vírus), destruição de linfócitos T ativados ao
final da resposta imune e destruição de células inflamatórias em sítios
imunologicamente privilegiados.
67
Diversos estímulos, que não os mediados pelos receptores, como
proteínas virais, quimioterápicos, radiação ultravioleta e ionizante, produzem
alterações mitocondriais que provocam a liberação de proteínas reguladoras
da apoptose (citocromo-c, fator ativador da protease apoptótica - Apaf-1 e
caspase 9), levando a ativação das caspases (pró-caspase 9) e a morte
23
celular.
82-85
Embora a apoptose clássica induzida pela via Fas leve a
ativação das caspases sem envolver a via mitocondrial (Tipo 1), certos tipos
de apoptose Fas-induzidas podem requerer a ativação mitocondrial (Tipo
2).
86
Outras proteínas que estão envolvidas na inibição da apoptose são: a c-
FLIP (“cellular FLICE-like inhibitory protein”), que se liga ao FADD e previne
a ativação da caspase 8; a família das proteínas inibidoras de apoptose
(IAP), incluindo a HIAP, XIAP e outras, que atuam através da inibição da
caspase 3; o Bcl-2 e proteínas afins, como Bax, Bcl XS, Bcl XL e Bad, que
regulam sinais intracelulares que ativam ou inibem a apoptose.
87-88
Como consequência da ativação da cascata das caspases temos as
alterações nucleares encontradas na apoptose como a clivagem do DNA
celular em unidades nucleossomais. Esse processo de fragmentação do
DNA é devido às seguintes alterações: 1) inativação de enzimas envolvidas
no reparo do DNA, como a poli (ADP-ribose) polimerase ou PARP; 2)
inativação de enzimas envolvidas na replicação celular, como a DNA
topoisomerase III; 3) quebra de proteínas nucleares estruturais, como as
lamininas (caspase 6); 4) fragmentação do DNA devido a ação da enzima
DNase ativada por caspase ou CAD.
89
24
3.4.2 Alterações das moléculas controladoras da apoptose na infecção
pelo HIV
Células obtidas de pacientes infectados pelo HIV e células infectadas in
vitro pelo HIV apresentam alterações moleculares nos receptores que
induzem a apoptose. As principais são:
86
A- Aumento da expressão na membrana de Fas e Fas-L através da
diminuição das proteínas anti-apoptóticas Bcl-2 e Bcl XL e
aumento das proteínas pró-apoptóticas Bax e Bcl XS. Também há
uma diminuição dos níveis intracelulares de c-FLIP.
B- Aumento dos níveis séricos de TNF-α em pacientes sintomáticos.
A infecção de linfócitos e monócitos pelo HIV leva a um aumento
da produção de TNF-α. O TNF-α ativa a transcrição do fator NFk B,
que ativa a transcrição do HIV. Inicia-se um ciclo autócrino que
resulta em altos níveis de TNF-α e de transcrição de HIV.
C- Disfunção dos receptores TRAIL/APO2-L e do TRAIL/APO2-L.
3.4.3 Apoptose e auto-imunidade
A resposta imune a um agente externo envolve a proliferação de
linfócitos T e B. Após desempenharem seu papel, essas células devem ser
removidas da corrente sanguínea, restando apenas uma pequena população
de células de memória. Essa remoção é feita por apoptose. O não
reconhecimento dessas células, ou qualquer alteração na indução da
apoptose, podem levar a geração inapropriada de células T auto-reativas ou
auto-anticorpos.
25
Um modelo de alteração no mecanismo da apotose de linfócitos é, a
recentemente descrita, síndrome linfoproliferativa auto-imune.
90
O defeito
principal está relacionado com uma mutação nos receptores Fas e TNF,
resultando no acúmulo crônico de células linfóides não malignas nos
gânglios linfáticos e baço e no surgimento de clones auto-reativos,
responsáveis pelo desencadeamento de fenômenos de auto-imunidade.
3.4.4 Auto-imunidade e infecção pelo HIV
Pacientes infectados pelo HIV apresentam uma diminuição do número
de linfócitos CD4+ circulantes, resultando em imunodepressão e
susceptibilidade aumentada a infecções oportunistas e tumores. Embora a
produção de células CD4+ esteja comprometida, existem atualmente
evidências de que o motivo primordial para depleção de células CD4+ seja a
apoptose
86
. Apenas uma pequena fração desses linfócitos está de fato
infectada, indicando que o mecanismo que desencadeia a apoptose é outro,
e não a infecção viral das células em si. Proteínas virais (gp120, Nef, Tat,
Vpu, Vpr e protease) ligam-se ao CD4 de células não infectadas
ocasionando sua morte devido a uma reação cruzada. Os mecanismos
envolvidos estão relacionados com a ativação dos receptores de morte
celular: aumento da expressão do Fas (CD95), Fas-L (CD95L) e do TNFR-
TNF/TRAIL ; ou através da via mitocondrial: fosforilação da proteína p53,
aumento da expressão do Bax, dissipação do potencial transmembrana,
liberação do citocromo c e ativação das caspases.
91-94
26
Outro exemplo de auto-imunidade encontrada na infecção pelo HIV é
a presença de altos níveis de auto-anticorpos circulantes
95
, incluindo
anticorpos anti-nucleares, anti-fosfolipídeos, anti-músculo liso, anti-
plaquetários, anti-eritrócitos e fator reumatóide.
96-100
Manifestações clínicas
como vasculites sistêmicas,
101
síndrome de Reiter
102
, poliartrite
103
e
síndrome de Sjögren
104
também foram descritas no contexto da infecção
pelo HIV e outros vírus (p.ex. Epstein-Barr, citomegalovírus, hepatite A, B e
C).
95
3.5 Cinética tecidual da epiderme e do folículo pilo-sebáceo. Equilíbrio
entre proliferação, diferenciação e morte celular programada
A morte celular programada é o destino final dos queratinócitos
epidérmicos, do bulbo e da BRE folicular. Conforme vai ocorrendo a
diferenciação dos queratinócitos, há produção de filamentos protéicos
intermediários (queratina), enzimas (p.ex. transglutaminase) e proteínas
estruturais (p.ex. involucrina), que formam um envelope córneo rígido. A
desintegração nuclear dessas células ocorre por apoptose.
105
O folículo pilo-sebáceo (FPS) é um micro-orgão anexo do tecido
cutâneo caracterizado por sua natureza cíclica. Durante o seu
desenvolvimento e ciclo, o FPS atravessa repetidamente três padrões de
desenvolvimento. Inicialmente, durante sua morfogênese, dois grupamentos
celulares, um de células epiteliais e outro de células mesenquimais, se
entrelaçam e formam uma estrutura complexa responsável pela produção da
haste pilosa. Em segundo, durante a fase de involução (catágena) esse
27
complexo mini-orgão atravessa um processo muito bem controlado de
regressão, que leva a uma redução de seu comprimento, seguida de
reconstrução de um folículo menor que entra na fase de repouso (telógena).
Em terceiro, o FPS reinicia sua atividade, tornando novamente a fabricar a
haste pilosa (anágena).
106
Durante esses três processos evolutivos distintos,
um princípio básico tem que ser respeitado: o equilíbrio entre proliferação,
diferenciação e morte celular programada - apoptose. O balanço desse
equilíbrio é a chave para o controle do crescimento e regressão do FPS e é
o fator determinante para o tratamento de distúrbios do ciclo folicular.
104
A regressão, associada à fase catágena, é um processo único,
caracterizado pela apoptose maciça dos queratinócitos do bulbo piloso.
Mesmo durante os estágios iniciais da morfogênese do FPS, em murinos,
uma quantidade considerável de células apoptóticas pode ser detectada
através da microscopia eletrônica. A indução da apoptose vista durante o
período catágeno está relacionada com múltiplos fatores: Fas, TGF-β, TNF-
α, FGF-5, IGF-1, PTHrp, neurotrofinas e outros. Muller-Rover et al.
104
,
através de marcadores imunohistoquímicos relacionados com apoptose
(TUNEL, Bcl-2, Bax, enzima conversora da interleuquina 1-β, Fas/Apo-1, p55
TNFR e p75 NTR ), identificaram os principais sítios de apoptose no FPS
durante o ciclo folicular em murinos. Curiosamente, durante a fase anágena
(VI), células epiteliais TUNEL-positivas (apoptóticas) foram vistas na parte
distal da BRE, incluindo o istmo e a protuberância folicular, onde estão
situadas as células-tronco. Os queratinócitos nessa região mostraram-se
Bcl-2 (anti-apoptótico) positivos e Bax (pró-apoptótico) negativos. Em sua
28
discussão, os autores sugerem que a expressão de Bcl-2 talvez esteja
envolvida com a proteção da população de células-tronco contra a
diferenciação pós-mitótica, senescência e morte. Frente à quantidade
significativa de apoptose encontrada na BRE, nas porções distais ao MEP,
os autores questionaram o caráter permanente desta porção do FPS e
sugeriram que a indução da apoptose envolve o remodelamento de todo o
FPS de murinos e, não somente, as porções proximais. A apoptose de
células-tronco, em condições fisiológicas, é descrita em outros tecidos com
poder de auto-renovação. A provável causa seria o controle do número de
células ou a remoção de células danificadas, diminuindo, dessa forma, a
probabilidade de uma transformação carcinogênica.
107
A apoptose vista na
protuberância folicular durante a fase catágena pode estar simplesmente
relacionada com as alterações arquiteturais associadas com a regressão
folicular.
5
A alopecia relacionada com a infecção pelo HIV-1 é difusa e de tipo
não cicatricial. Caracteriza-se por alteração da textura e diminuição
progressiva da densidade dos cabelos. Os mecanismos patogenéticos
desse processo ainda não foram elucidados. Há um único trabalho na
literatura médica
6
que descreve a apoptose de células tronco-foliculares da
protuberância folicular, como um achado característico dessa alopecia e
propõe, para essa alopecia, um mecanismo semelhante ao observado na
DEVH. Entretanto, esses autores não realizaram estudo comparativo com
grupo controle de indivíduos hígidos não alopécicos.
29
A apoptose é evento que ocorre no processo do ciclo evolutivo e
remodelamento do FPS, particularmente na fase catágena. Na AIDS é
descrita a alteração de moléculas controladoras de apoptose, o que resulta
na facilitação desse processo.
Pareceu-nos interessante realizar estudo para caracterizar as
alterações histopatológicas e morfométricas da alopecia difusa não cicatricial
de grupo de doentes HIV-1 positivos. Assim como, demonstrar e comparar a
frequência de apoptose de células tronco-foliculares e amplificadoras
transitórias da protuberância folicular desses casos, comparando-os com
grupo controle de indivíduos não alopécicos.
30
4. MÉTODOS
4.1 Casuística
No período de janeiro de 2003 a janeiro de 2005, foram selecionados
pacientes HIV-1 positivos que, quando questionados, apresentavam como
queixa, uma diminuição do volume e/ou alteração da textura capilar e
apresentavam ao exame clínico alopecia difusa não cicatricial. Quinze
pacientes concordaram em participar do estudo. Sete pacientes eram do
sexo masculino e oito do sexo feminino, com idade variando entre 22 e 42
anos (média=35,3; DP=6,5), com níveis de CD4 variando entre 66 e 601
células/mm
3
(média=302,7; DP=134,5). Foram excluídos do estudo
pacientes que relatassem uma queda efetiva dos cabelos, ou
apresentassem qualquer outro tipo de alopecia (cicatricial, androgenética) e
eflúvio telógeno agudo. Adotamos como critério para o diagnóstico de eflúvio
telógeno agudo o teste de tração leve positivo, ou seja, o desprendimento de
mais de 10 fios capilares quando realizamos uma tração leve em todo o
couro cabeludo. (Tabela 1) (Figuras 3 e 4)
Como controle foram selecionados 12 indivíduos voluntários, hígidos,
cinco do sexo masculino e sete do sexo feminino, com idade variando entre
25 e 64 anos (média= 34,0; DP=11,0), que não apresentassem nenhum tipo
de queixa capilar ou forma de alopecia e não estivessem em uso de
qualquer medicação. (Tabela 2)
31
Tabela 1 - Caracterização dos pacientes HIV-1 positivos, com alopecia difusa não cicatricial, quanto ao sexo, idade, nível de
células CD4+ no sangue, data da confirmação da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e drogas em uso na
ocasião do estudo.
CASO
SEXO
IDADE
(anos)
CD4
(céls/mm
3
)
DIAG. HIV
DROGAS
1 M 35 356 1995 laminovudina*, estavudina**, efavirenz*
2 M 41 401 1998 laminovudina*, zidovudina* efavirenz*, sulfametoxazol+trimetropin,
metronidazol, ciprofloxacina, haloperidol, captopril
3 M 37 200 2003 rifampicina, sulfametoxazol+trimetropin, insulina NPH
4 M 42 273 1999 sulfadiazina, pirimetamina, ácido fólico
5 M 40 300 2000 nelfinavir***, DDI
6 M 44 66 2000 laminovudina*, zidovudina*, indinavir***
7 M 41 215 1982 laminovudina*, zidovudina*, efavirenz*
8 F 35 398 1999 -
9 F 42 150 1998 nelfinavir*** e DDI
10 F 28 601 2002 laminovudina*, zidovudina*, efavirenz*, sulfadiazina, acido fólico,
pirimetamina, estavudina**
11 F 34 333 NR -
12 F 31 200 1994 -
13 F 31 301 1998 ampicilina, laminovudina*, zidovudina*, efavirenz*
14 F 22 267 2000 efavirenz*, laminovudina*
15 F 27 480 1999 AZT*, laminovudina*, efavirenz*, sulfametoxazol+trimetropin, azitromicina
M - sexo masculino; F - sexo feminino; CD4 (céls/mm
3
) - número de linfócitos CD4+/mm
3
; NR - não relatado; DIAG. HIV - ano do diagnóstico da
infecção pelo HIV-1; *inibidor da transcriptase reversa; **análogo da timidina; ***inibidor de protease; DDI - nucleosídeo inibidor da transcriptase
reversa
32
Figura 3- Alopecia difusa não cicatricial de paciente HIV-1 positivo. Aspecto
clínico da observação 9. Rarefação capilar difusa na região frontal.
Figura 4- Alopecia difusa não cicatricial de paciente HIV-1 positivo. Aspecto
clínico da observação 9. Paciente queixava-se de alteração do volume e da
textura capilar; região temporal esquerda.
33
Tabela 2- Grupo controle – dados de sexo e idade dos indivíduos hígidos
não alopécicos.
CONTROLE
SEXO
IDADE
(anos)
1 M 43
2 F 25
3 F 32
4 F 26
5 F 30
6 F 25
7 F 34
8 M 28
9 M 28
10 F 64
11 M 39
12 M 34
M - sexo masculino; F - sexo feminino
Após terem sido devidamente informados a respeito da pesquisa, na
qual estariam envolvidos e expresso, por escrito, seu desejo de participar
(Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Anexo 1), os pacientes
foram submetidos à biópsia de couro cabeludo da região occipital com
“punch” de 4 mm, sob anestesia local com lidocaína a 2%. Após ser fixada
em solução tamponada de formol a 10%, por um período mínimo de 24
horas, a amostra tecidual foi clivada no sentido transversal a 0,8 cm da
junção da derme com a gordura, segundo a técnica de Headington
modificada.
61
(Figura 5) Obtivemos, dessa forma, dois fragmentos de
formato cilíndrico, que foram marcados com tinta Nanquim, nas suas
superfícies de corte (superfície inferior do fragmento superior e a superfície
superior do fragmento inferior) e processados para inclusão em um único
34
bloco de parafina, com as superfícies marcadas voltadas para baixo. O
material emblocado em parafina foi submetido à microtomia para obtenção
de cortes histológicos de 4µm de espessura (dois cortes em cada lâmina)
colhidos em lâminas de vidro tratadas com solução adesiva de 3 amino-
propyltriethoxy-silane (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO/USA, cód.
A3648). Uma das lâminas foi corada pela técnica tricrômica de Gomori e os
demais destinados às técnicas imunohistoquímicas.
Figura 5- Representação esquemática da clivagem do material. Adaptado
de: Atlas of differential diagnosis of hair loss. Whiting D e Howsden FL.
Canfield Publishing. New Jersey, USA, 1998.
JDG – junção entre derme e tecido gorduroso da hipoderme.
0,8 cm
JDG
35
4.2 Análise histopatológica
Realizou-se análise morfométrica na qual foram levadas em
consideração as seguintes estruturas, encontradas em cada corte
histológico:
Número de unidades foliculares
Número total de folículos
Número de folículos terminais
Número de folículos velos
Número de folículos anágenos
Número de folículos catágenos
Número de folículos telógenos
Número de tratos fibrosos residuais
Número de unidades telógenas germinativas
Para padronizar a coleta de dados, consideramos o maior número de
estruturas representado em um dos dois cortes histológicos presentes em
cada lâmina.
A contagem do número de unidades foliculares foi feita levando-se em
conta a quantidade de unidades foliculares anatomicamente completas
encontradas na área circunferencial da amostra. Em seguida, foi traçada
uma linha divisória no local de maior diâmetro da amostra, e as unidades
foliculares parcialmente representadas nas margens de um dos lados foram
somadas.
36
A classificação dos folículos pilosos em terminais ou velos foi baseada na
comparação entre a espessura da bainha radicular interna (BRI) folicular e o
diâmetro da haste pilosa, da seguinte maneira:
Diâmetro da haste pilosa maior que a espessura da BRI - Pêlo terminal
Diâmetro haste pilosa menor que a espessura da BRI - Pêlo velo
Para fins de classificação, não levamos em consideração a ocorrência de
pêlos intermediários. Tanto as unidades telógenas germinativas (TGU),
quanto os tratos fibrosos residuais (TFR) não foram contabilizados no
número total de folículos, mas como estruturas foliculares individuais.
O infiltrado inflamatório foi considerado presente ou ausente, de acordo
com o achado de células inflamatórias na região perifolicular.
4.3. Demonstração de apoptose de células tronco-foliculares e células
amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa da
protuberância folicular
Com a finalidade de pesquisarmos a ocorrência do fenômeno da
apoptose nas células indiferenciadas pluripotenciais (células-tronco e células
amplificadoras transitórias) presentes na região da protuberância folicular
foi realizada a técnica da dupla marcação simultânea com o anticorpo anti-
citoqueratina 19 (CK19), marcador de células-tronco e pelo TUNEL
(Terminal deoxynucleotidyltransferase d-UTP fluorescein Nick-End Labeling),
marcador de apoptose.
Como segundo marcador de apoptose foi utilizado, de forma isolada
(não em dupla marcação), o anticorpo anti-caspase 3 clivada.
37
Anticorpo monoclonal anti-citoqueratina 19 (CK19)
Devido à falta da porção terminal não-α-helicoidal em sua estrutura, a
citoqueratina 19 é uma proteína que não possui a capacidade de formar
filamentos e sua expressão é considerada como um indicador de
indiferenciação celular. Narisawa et al.
108
, baseados em três fatos que as
células-tronco são consideradas células relativamente indiferenciadas tanto
ultra-estruturalmente quanto bioquimicamente, que sua heterogenia
morfológica é interpretada como um achado indicativo de células
germinativas, e que até então não se conseguira isolar um marcador
imunohistoquímico específico para células-tronco propuseram o uso de
anticorpos monoclonais específicos para citoqueratina 19, como uma
alternativa para demonstração direta dessa subpopulação de células. Michel
et al.,
109
demonstraram, através de estudos imunohistoquímicos, que a
citoqueratina 19 atuaria como um marcador bioquímico das células
germinativas pluripotenciais cutâneas in vivo e in vitro. Esses achados
corroboraram os de Stasiak et al.,
110
que demonstraram que os
queratinócitos basais da saliência folicular expressavam o gene da
citoqueratina 19.
38
TUNEL (Terminal deoxynucleotidyltransferase d-UTP fluorescein Nick-
End Labeling)
É sistema misto de biologia molecular e imunohistoquímica capaz de
identificar as quebras das fitas de DNA simples e de dupla hélice associadas
com apoptose, através da marcação enzimática do terminal livre 3`OH com
nucleotídeos modificados. As novas terminações de DNA, que são geradas
com a fragmentação da cromatina durante a apoptose, situam-se
caracteristicamente no núcleo e nos corpos apoptóticos. Caso o dano ao
DNA seja induzido por drogas não há marcação, exceto se houver indução
do mecanismo da apoptose. Os nucleotídeos modificados são
enzimaticamente ligados ao DNA fragmentado através da ação catalizadora
da transferase deoxinucleotidil terminal (TdT). Os nucleosídeos incorporados
formam oligômeros compostos por nucleotídeos conjugados à digoxigenina
e nucleotídeos não marcados em uma sequência randômica. Os fragmentos
de DNA marcados com nucleotídeos-digoxigenina ligam-se então a
anticorpos anti-digoxigenina conjugados à peroxidase. De acordo com
McCloskey et al.
111
, o TUNEL é o método mais específico para detecção de
apoptose em células do sangue periférico em pacientes HIV-positivos.
Protocolo utilizado para realização da dupla marcação - TUNEL e CK19:
1- Cortes histológicos de quatro micrômetros (colhidos em lâminas
tratadas com a solução adesiva de 3 amino-propyltrietoxy-silane [Sigma
Chemical Co, St. Louis, MO/USA, cód A3648]) e selecionadas ao
microscópio de luz, como representativas de perfis de folículos pilosos ao
nível da protuberância, foram submetidos a desparafinização em xilol e
39
hidratação em cadeia descendente de etanol, seguida de lavagem com
água destilada e solução salina tamponada com fosfato (PBS), pH 7,2 por
cinco minutos.
2- O material foi submetido a pré-tratamento com proteinase K (Sigma
Chemical Co, St. Louis, MO/USA, P6556 ) (20µg/ml) diluída em PBS por 15
minutos, à temperatura ambiente para melhor exposição dos sítios
antigênicos; seguido de duas lavagens em água destilada de dois minutos
cada.
3- Fez-se o bloqueio da peroxidase endógena com peróxido de
hidrogênio 2% em PBS por 10 minutos; seguido de lavagem em água
corrente, três lavagens de três minutos em água destilada; uma lavagem em
PBS, por cinco minutos.
4- Submeteu-se o material a bloqueio com leite desnatado Molico
(Nestlé) 6% em PBS pH 7,4, por 30 minutos a 37ºC; seguido de três
lavagens de três minutos com PBS.
5- Fez-se, a seguir, a incubação do material sobre as lâminas com
“equilibration buffer”, por 10 segundos à temperatura ambiente;
6- A seguir, os cortes histológicos foram secos e aplicou-se o “working
strength TdT Enzyme” (diluição do “TdT Enzyme” 1:12, ou seja, 1µg de TdT
e 11µg de “Reaction Buffer”), com incubação em câmara úmida a 37ºC por
uma hora.
7- Colocou-se o material em jarras de Coplin com “working strength
stop/wash buffer”, sob agitação e fez-se, a seguir, incubação por 10 minutos
40
à temperatura ambiente, seguida por três lavagens (cinco minutos cada)
com PBS.
8- Fez-se novo bloqueio com soro albumina bovina (BSA) 2% diluída em
PBS, por 10 minutos à temperatura ambiente. A seguir, procedeu-se a três
lavagens, de três minutos, com PBS.
9- Após a secagem das lâminas, fez-se a aplicação do conjugado anti-
digoxigenina. O material foi incubado por 30 minutos à temperatura ambiente
e, após lavado por quatro vezes, por cinco minutos com PBS.
10- Fez-se a revelação da reação com 3´3 – Diaminobenzidina (DAB)
diluída a 1:100, por três a seis minutos, observando-se ao microscópio. A
seguir o material foi lavado com água destilada, três vezes, por um minuto e
a quarta lavagem, com água destilada, por cinco minutos. A seguir o material
foi lavado com PBS por cinco minutos.
11- Após os procedimentos acima, o material foi incubado com o
anticorpo anti CK-19, diluído 1:100 em PBS com 1% de BSA e incubado
“overnight” à temperatura de 4
0
C. A seguir o material foi lavado, três vezes,
por cinco minutos, com PBS.
12- Fez-se a incubação do material com o sistema de revelação Envision
AP “anti mouse/rabbit”, por 30 minutos à temperatura ambiente, que foi
seguida por três lavagens, de cinco minutos com PBS.
13- A revelação da reação foi feita com BCIP/NBT (“nitro blue tetrazolium
chloride/ 5-bromo-4-chloro-3 indoyl phosphate, toluidine salt”),
acompanhando ao microscópio. O material foi, a seguir, lavado em água
destilada, por três vezes, três minutos cada vez.
41
14- Após os procedimentos descritos, o material foi desidratado em
cadeia ascendente de etanol, diafanizado e montado com resina Permount
(FISHER Scientific Fair Lawn, cód. SP15-100, NJ/USA) e lamínulas de vidro.
Como controles positivos das reações foram utilizados cortes histológicos
de linfonodo reativo, pele com Doença de Bowen (controle de apoptose) e
cortes histológicos de couro cabeludo normal e tricoepitelioma (para
citoqueratina 19). Os controles negativos foram obtidos pela omissão da
“working strength TdT Enzyme” e do anticorpo primário anti-citoqueratina
19, nos procedimentos.
De acordo com o protocolo utilizado, foi considerado como resultado
positivo o aparecimento de coloração marrom acastanhada nos núcleos
celulares para o método TUNEL e colorão azul escura citoplasmática para
a citoqueratina 19. A reação foi analisada qualitativamente (positiva ou
negativa) de acordo com a presença ou não de células marcadas
simultaneamente, com os dois padrões descritos, e situadas na bainha
radicular externa ao nível da protuberância folicular. O número total de
folículos imunomarcados em cada corte histológico também foi
contabilizado.
Especificação dos reagentes utilizados:
ApopTag® Plus Peroxidase In Situ Apoptosis Detection Kit cod. S7101 –
CHEMICON INTERNATIONAL – Temecula, CA 92590.
Mouse monoclonal antibody anti-Cytokeratin 19 – cód. NCL-CK 19 –
NOVOCASTRA LABORATORIES LTD (Benton Lane, UK).
42
Envision® Labelled Polymer – AP Mouse/Rabbit cód. K4017, DAKO
CORPORATION (Carpinteria, CA/USA).
BCIP/NBT (nitro blue tetrazolium chloride/ 5-bromo-4-chloro-3 indoyl
phosphate, toluidine salt) Substrate System, cód. K0598, DAKO
CORPORATION (Carpinteria, CA/USA).
Protocolo para demonstração de expressão de caspase 3 clivada
(Cysteiniyl aspartate- specific protease)
Caspases são proteases de cisteína (“c”). Isto é, têm um centro ativo de
cisteína, da família ICE/Ced-3 e são sintetizadas sob a forma de precursores
que necessitam ser clivados ao nível de resíduos contíguos de ácido
aspártico para adquirirem atividade proteolítica (“asp-ase”; c + asp-ase =
caspase ). As caspases formam, portanto, uma cascata de “proteases de
cisteína aspartato-específicas”. A ICE é a caspase 1; a CPP32/apopaina é a
caspase 3. A família das caspases vem crescendo rapidamente. As
caspases são consideradas como as moléculas que representariam a via
efetora comum da apoptose.
Fez-se os procedimentos abaixo descritos para a demonstração de
caspase 3 clivada:
1- Desparafinização, hidratação e lavagem do material como acima
descrito.
2- Para a melhor exposição dos sítios antigênicos o material foi submetido a
tratamento enzimático com 25 mg de tripsina (SIGMA Chemical Co, St Louis,
MO/USA, cód. T-8253) acrescido de 134 mg cloreto de cálcio diluídos em
43
PBS 0,01M pH 7,4, por 20 minutos à temperatura ambiente. A seguir fez-se
lavagem em água corrente, destilada e em seguida com PBS 0,01 M pH 7,4.
3- Procedeu-se à incubação com anticorpo anti-caspase 3 clivada, diluído
1:100, em PBS 0,01M pH 7,4 com 1% BSA, “overnight” à 4
0
C; a seguir
fez-se três lavagens em PBS 0,01 M pH 7,4.
4- O material foi incubado com Envision AP, por 30 minutos à temperatura
ambiente e, a seguir, lavado por três vezes em PBS 0,01 M pH 7,4.
5- Fez-se a revelação com BCIP/NBT, controlando ao microscópio, seguida
por lavagem em água corrente e destilada.
6- O material foi contra-corado com “Nuclear Fast Red”, desidratado em
cadeia ascendente de etanol e montado com resina Permount (FISHER
Scientific Fair Lawn, cód. SP15-100, NJ/USA) e lamínulas de vidro.
De acordo com o protocolo utilizado, foi considerado como resultado
positivo o aparecimento de coloração azul escuro nos sítios de acoplamento
antígeno-anticorpo.
Como controle positivo para a reação foram utilizadas amostras teciduais
de linfonodo reativo e pele com Doença de Bowen. O controle negativo das
reações foi obtido por omissão do anticorpo primário.
Especificação dos regentes utilizados:
Anticorpo primário: Cleaved Caspase-3 (Asp175), CELL SIGNALING,
cód. 9661 (Beverly, MA/ USA).
Anticorpo secundário: DAKO Envision Alkaline Phosphatase
Mouse/Rabbit, cód. K4017, DAKO Corporation (Carpinteria, CA/USA).
44
Substrato: BCIP/NBT NBT (nitro blue tetrazolium chloride/ 5-bromo-4-chloro-
3 indoyl phosphate, toluidine salt) Substrate System, cód. K0598, DAKO
Corporation (Carpinteria, CA/USA).
4.4 Correlação da incidência de apoptose das células indiferenciadas
pluripotenciais da protuberância folicular no couro cabeludo de
pacientes HIV-1 positivos, com alopecia difusa não cicatricial, com o
grau de imunodeficiência
A relação entre a proporção de folículos pilosos com dupla marcação
(CK19/TUNEL) e a contagem de células CD4+ no sangue dos casos, foi
obtida através do coeficiente de correlação de Pearson. Estabeleceu-se o
nível de significância em 95%. Considerou-se como evidência do grau de
imunodeficiência a contagem de linfócitos T CD4+ no sangue dos pacientes.
Este trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de
Projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Diretoria Clínica do Hospital das
Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em
sessão de 13 de agosto de 2003, sob o número 336/03.
45
5. RESULTADOS
5.1 Análise histopatológica
O nível desejado (inserção do MEP) foi alcançado em todos os cortes
histológicos avaliados. A média do número de unidades foliculares
encontrada foi de 9,2 (±1,1) nos casos e de 9,8 (±1,1) nos controles. Do
ponto de vista morfológico, houve uma maior desorganização das fibras
colágenas perifoliculares nos casos quando comparados aos controles.
(Figura 6) A média do número total de folículos nos casos foi de 23,7(±7,1)
nos casos e de 20,5 (±3,0) nos controles. Classificando-se os folículos em
terminais e velos, observamos uma maior proporção de folículos terminais
nos casos 95% (±2%) do que nos controles 80% (±1%). Quando
classificamos os folículos de acordo com a fase do ciclo folicular,
observamos uma menor proporção de folículos anágenos nos casos 91%
(±2%) do que nos controles 96% (±1%). A proporção de folículos catágenos
foi semelhante nos casos 2% (±3%) e nos controles 2% (±4%). A proporção
de folículos telógenos foi maior nos casos 7% (±6%) do que nos controles
2% (±12%). (Figura 7) A média no número de unidades telógenas
germinativas (TGU) e de tratos fibrosos residuais (TFR) foi de 0,7 (±0,7) e
0,1 (±0,4) nos casos e de 0,7 (±0,5) e 0,2 (±0,4) nos controles,
respectivamente. Não foi encontrado infiltrado inflamatório perifolicular em
nenhum dos casos e dos controles. (Tabelas 3 e 4)
46
Figura 6 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 13). Corte
transversal de couro cabeludo ao nível da inserção do músculo eretor do pêlo.
Observa-se desorganização das fibras colágenas perifoliculares (). (Tricrômico de
Gomori; aumento original x40).
Figura 7 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6). Corte
transversal de couro cabeludo ao nível da inserção do músculo eretor do pêlo.
Observa-se o aumento do número de folículos telógenos e de unidades telógenas
germinativas (). (Tricrômico de Gomori; aumento original x40).
47
Tabela 3 - Resultados da análise histopatológica / morfométrica nos pacientes HIV-1 positivos com alopecia difusa não
cicatricial (casos).
CASO
N
0
UF
N
0
TOTAL
FOLÍCULOS
N
0
FOLÍCULOS
TERMINAIS
N
0
FOLÍCULOS
VELOS
N
0
FOLÍCULOS
ANÁGENOS
N
0
FOLÍCULOS
CATÁGENOS
N
0
FOLÍCULOS
TELÓGENOS
N
0
TGU
N
0
TFR
INF. INFLA-
MATÓRIO
IDENTIFICA-
ÇÃO MEP
1 10 26 26 0 23 0 3 1 0 Ausente +
2 10 34 32 2 33 0 1 1 0 Ausente +
3 10 15 15 0 12 1 2 0 0 Ausente +
4 10 30 29 1 30 0 0 2 0 Ausente +
5 8 25 24 1 22 2 1 0 0 Ausente +
6 10 19 18 1 13 1 5 1 0 Ausente +
7 8 13 13 0 13 0 0 0 0 Ausente +
8 10 34 33 1 33 1 0 1 1 Ausente +
9 8 22 21 1 22 0 0 0 0 Ausente +
10 10 19 17 2 18 0 1 1 0 Ausente +
11 7 25 25 0 22 0 3 2 1 Ausente +
12 8 19 15 4 17 1 1 0 0 Ausente +
13 9 14 12 2 13 0 1 1 0 Ausente +
14 10 29 27 2 25 0 4 1 0 Ausente +
15 10 32 31 1 29 0 3 0 0 Ausente +
Média
± DP
9,2
± 1,1
23,7
± 7,1
0,7
± 0,7
0,1
± 0,4
% dos tipos de
folículos pilosos ±DP
95%
± 2%
5%
± 4%
91%
± 2%
2%
± 3%
7%
± 6%
UF - unidades foliculares; TGU - unidades telógenas germinativas; TFR - tratos fibrosos residuais; MEP - músculo eretor do pêlo; + identificado
48
Tabela 4 - Resultados da análise histopatológica / morfométrica de couro cabeludo de indivíduos hígidos sem alopecia
(controles).
CASO
N
0
UF
N
0
TOTAL
FOL.
N
0
FOL.
TERMINAIS
N
0
FOL.
VELOS
N
0
FOL.
ANÁGENO
S
N
0
FOL.
CAGENOS
N
0
FOL.
TELÓGENOS
N
0
TGU
N
0
TFR
INFILT.
INFLAMATÓ
RIO
IDENTIFI-
CAÇÃO
MEP
1 9 23 20 3 22 1 0 0 0 Ausente +
2 10 20 18 2 19 0 1 0 1 Ausente +
3 8 17 15 2 16 0 1 1 0 Ausente +
4 10 19 15 4 17 2 0 1 0 Ausente +
5 11 17 16 1 17 0 0 0 0 Ausente +
6 9 25 19 6 25 0 0 1 0 Ausente +
7 10 19 13 6 18 1 0 1 0 Ausente +
8 9 16 12 4 15 1 0 0 1 Ausente +
9 12 22 15 7 21 0 1 1 0 Ausente +
10 10 25 20 5 24 0 1 1 0 Ausente +
11 11 21 18 3 21 0 0 1 0 Ausente +
12 9 22 17 5 22 5 0 1 0 Ausente +
Média
± DP
9,8
± 1,1
20,5
± 3,0
0,7
± 0,5
0,2
± 0,4
% dos tipos de
folículos pilosos
± DP
80%
± 1%
20%
96%
± 1%
2%
± 4%
2%
± 12%
UF - unidades foliculares; TGU - unidades telógenas germinativas; TFR - tratos fibrosos residuais; MEP - músculo eretor do pêlo; + Identificado;
FOL. - folículos
49
5.2 Demonstração de apoptose de células tronco-foliculares e células
amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa da
protuberância folicular
As células que exibiram dupla marcação positiva apresentavam o
núcleo marcado pelo cromógeno marrom (reação de TUNEL) e o citoplasma
marcado em azul pelo cromógeno BCIP/NBT (expressão de CK19).
Foram encontradas células com dupla marcação TUNEL/CK19
positivas na bainha radicular externa ao nível da protuberância folicular, em
pelo menos um folículo por corte histológico, em 80% dos casos e em 25%
dos controles. (Figuras 8, 9, 10, 11 e 12) A média percentual de folículos
imunoreagentes (positivos) encontrados em cada corte histológico foi de
48% (±7%) nos casos e de 26% (±13%) nos controles (Tabela 5).
Queratinócitos situados na BRE, TUNEL positivos e CK19 negativos,
foram observados, tanto nos casos como nos controles. (Figura 13) Em
alguns cortes histológicos foram observados folículos com células CK19+
e/ou CK19/TUNEL + ao redor de toda circunferência folicular e não somente
na protuberância. (Figura 14)
As células com expressão de caspase 3 clivada apresentavam o
citoplasma marcado em azul (cromógeno BCIP/NBT). Foram encontradas
células imunoreativas para o anticorpo anti-Caspase 3 na protuberância
folicular em pelo menos um folículo piloso por corte histológico em 61% dos
casos avaliados e em 16% dos controles. A média percentual de
protuberâncias foliculares imunorreagentes encontradas nos casos positivos,
foi de 99% (±6%) nos casos e de 100% (±6%) nos controles. (Figura 15) Em
50
dois casos, a amostra tecidual não foi considerada representativa para a
investigação da caspase 3 clivada, devido a não identificação da
protuberância folicular, no corte histológico avaliado.
As tabelas 5 e 6 demonstram os resultados da dupla marcação
TUNEL/CK19 e de caspase 3 clivada de células da BRE da protuberância
folicular nos casos de alopecia difusa, não cicatricial de doentes HIV-1
positivos e grupo controle normal, respectivamente.
Figura 8 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6).
Detalhe da desintegração da bainha de mielina de um folículo telógeno.
(Tricrômico de Gomori; aumento original x100).
51
Figura 9 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Corte transversal de couro cabeludo. Observa-se dupla marcação CK19
(BCIP/NBT, azul) e TUNEL (DAB, marrom) em células da bainha radicular
externa de dois folículos pilosos (); ( aumento original x100).
Figura 10 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Detalhe da dupla marcação CK19/TUNEL de células da bainha radicular
externa de folículo piloso; (aumento original x400).
52
Figura 11 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 12).
Corte transversal de folículo piloso exibindo células CK19 (BCIP/NBT, azul)
e TUNEL (DAB, marrom) positivas na bainha radicular externa ao nível da
protuberância folicular; (aumento original x1000).
Figura 12 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 6).
Corte transversal de couro cabeludo. Presença células CK19+ apoptóticas
(TUNEL positivas) na bainha radicular externa, que delimitam as projeções
epiteliais características da protuberância folicular; (aumento original x400).
53
Figura 13 -
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 5). Detalhe
da BRE de um folículo piloso exibindo queratinócitos apoptóticos (núcleos TUNEL
positivos – DAB, marrom) que não expressam CK 19 no citoplasma () e células
da camada basal com dupla marcação; (aumento original ×1000).
Figura 14 -
Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 1). Corte
transversal de folículo piloso exibindo células com dupla marcação CK19
(BCIP/NBT, azul) e TUNEL (DAB, marrom) em toda a circunferência da bainha
radicular externa de folículo piloso; (aumento original x400).
54
Figura 15 - Alopecia difusa não-cicatricial de paciente HIV-1+ (caso 1).
Corte transversal de couro cabeludo ao nível da protuberância. Observa-se
queratinócitos apoptóticos () na bainha radicular externa, evidenciados
pelo anticorpo anti-caspase 3 clivada; (aumento original x400).
55
Tabela 5 – Apoptose de células tronco-foliculares e células amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa da
protuberância folicular, evidenciada pela técnica de dupla marcação TUNEL/CK19 e pelo anticorpo anti-caspase 3 clivada, na
alopecia difusa não cicatricial de pacientes HIV-1 positivos.
TUNEL/CK19 CASPASE 3 CLIVADA
Caso N
o
de PF N
o
PF
positivas
% PF
positivas
N
o
de PF N
o
PF
positivas
% PF
positivas
1 10 6 60 17 17 100
2 9 4 44 19 19 100
3 2 2 100 0 0 0
4 24 8 33 19 19 100
5 23 7 30 15 15 100
6 11 9 82 12 12 100
7 15 7 47 14 13 93
8 13 6 46 0 0 0
9 0 0 0 0 0 0
10 0 0 0 0 0 0
11 0 0 0 25 25 100
12 9 6 67 0 0 0
13 27 7 26 0 0 0
14 25 6 24 21 21 100
15 35 30 86 32 32 100
Total 203 98 48 174 173 99
TUNEL/CK19 – dupla marcação com TUNEL e anticorpo anti-citoqueratina 19; No – número; PF – protuberância folicular
56
Tabela 6 – Apoptose de células tronco-foliculares e células amplificadoras transitórias, da bainha radicular externa da
protuberância folicular evidenciada pela técnica de dupla marcação TUNEL/CK19 e pelo anticorpo anti-caspase 3 clivada em
grupo controle de couro cabeludo normal.
TUNEL/CK19 Caspase 3 clivada
Caso N
o
de PF N
o
PF positivas % PF positivas N
o
de PF N
o
PF POSITIVAS % PF POSITIVAS
1 23 0 0 23 0 0
2 21 6 30 20 0 0
3 27 7 26 17 0 0
4 19 0 0 19 0 0
5 17 0 0 17 0 0
6 25 0 0 25 0 0
7 19 0 0 19 19 100
8 16 0 0 16 16 100
9 22 0 0 22 0 0
10 25 0 0 25 0 0
11 21 0 0 21 0 0
12 22 0 0 22 0 0
Total 257 13 5 246 35 14
TUNEL/CK19 – dupla marcação com TUNEL e anticorpo anti-citoqueratina 19; N
o
– número; PF – protuberância folicular
57
5.3 Correlação da incidência de apoptose das células indiferenciadas
pluripotenciais da protuberância folicular no couro cabeludo de
pacientes HIV-1 positivos, com alopecia difusa não cicatricial, com o
grau de imunodeficiência
Não houve correlação entre a proporção de folículos com dupla
imunomarcação e os níveis de linfócitos T CD4+ no sangue dos pacientes
(Tabela 7).
Tabela 7 - Correlação da incidência de apoptose das células indiferenciadas
pluripotenciais da protuberância folicular no couro cabeludo de pacientes
HIV-1 positivos com alopecia difusa não cicatricial, com o nível de células
CD4+ apresentado pelos pacientes.
OBSERVAÇÃO
% PF IMUNOMARCADAS
(CK19/TUNEL+)
NÍVEIS CÉL. CD4
(céls/mm
3
)
1 60 356
2 44 401
3 100 200
4 33 273
5 30 300
6 82 66
7 47 215
8 46 398
9 0 150
10 0 601
11 0 333
12 67 200
13 26 301
14 24 267
15 86 480
PF – protuberâncias foliculares; Céls. CD4 – linfócitos CD4
Coeficiente de correlação de Pearson (r = 0)
58
6. DISCUSSÃO
A análise histológica da região occipital do couro cabeludo do grupo de
pacientes HIV-1 positivos com alopecia difusa não cicatricial revelou um
número total de folículos (23,7±7,1) pouco maior que o do grupo controle
(20,5±3,0). Entretanto, ambos os grupos apresentaram menor número de
folículos pilosos que o descrito por Sperling & Lupton (1995)
112
ao analisar
cortes transversais de couro cabeludo normal de biópsias obtidas com
“punch” de quatro milímetros.
Poderíamos relacionar essa diferença com a localização da área de
couro cabeludo examinada (região occipital). Esse local, e não o vértice, foi
intencionalmente escolhido para ser excluída a possibilidade de provável
alopecia androgenética incipiente, que pudesse estar ocorrendo nos
pacientes dos grupos em estudo. Entretanto, os autores acima referidos
demonstraram não haver diferenças morfométricas de folículos pilosos das
duas regiões do couro cabeludo (vértice e occipício). Desse modo,
interpretamos essa diferença como uma variação aleatória, dentro da
normalidade.
Observamos uma desorganização, do ponto de vista estrutural, dos
folículos pilosos do grupo de casos. Essa desorganização foi refletida no
menor número de unidades foliculares identificáveis nos casos, quando
comparados com os controles. Essa desorganização estrututral é mais
comumente encontrada em alopecias cicatriciais. No entanto, em
determinadas formas de alopecias não cicatriciais, em estágios mais
59
avançados, como a androgenética e a areata, ela também pode ser
encontrada.
113
Quando comparados os dois grupos de estudo, observamos que a
proporção de folículos terminais e velos, em ambos os grupos, foi a
esperada para o couro cabeludo normal.
113
A proporção de folículos
anágenos foi de 95% nos casos e de 96% nos controles. A proporção de
folículos telógenos nos casos (7%) e nos controles (2%) está dentro dos
limites da normalidade. No couro cabeludo normal a proporção de folículos
telógenos pode variar de 0 – 15%.
114
Uma vez que a infecção pelo HIV é uma doença crônica e
consumptiva, poderíamos relacionar a alopecia difusa não cicatricial
observada nos doentes, como provável eflúvio telógeno. Entretanto, este
pode ser afastado, uma vez que a proporção de folículos telógenos deve ser
maior que 25% nessa condição.
112
Outras formas de alopecia, que devem ser consideradas na diagnose
diferencial da alopecia difusa não cicatricial em estudo, são as relacionadas
com a sífilis. A alopecia “essencial” difusa da sífilis secundária, devido a
perda de fios telógenos, pode ser afastada, pois exibe quadro
histopatológico semelhante ao do eflúvio telógeno (com mais de 25% de
folículos pilosos em fase telógena). A alopecia inflamatória difusa da sífilis
pode ser também afastada, uma vez que, nesta condição ocorre processo
inflamatório expressivo, semelhante ao observado na alopecia areata, com
infiltrado inflamatório mononuclear acometendo 100% dos folículos
60
representados, maior proporção da relação folículos catágenos/telógenos e
presença de folículos pilosos miniaturizados.
112
Ainda, na análise histopatológica e morfométrica dos casos
estudados, observamos média de 2% de folículos catágenos no couro
cabeludo dos dois grupos, o que não difere do relatado para as condições de
normalidade.
112
Apesar dos resultados da análise histopatológica e morfométrica do
couro cabeludo dos casos não diferirem, de modo expressivo, do grupo
controle, todos os doentes apresentavam alterações capilares objetivas,
como a alteração da textura e rarefação difusa dos cabelos. Esse quadro
clínico aproxima-se daquele descrito para a alopecia senil.
112,115
Nesse tipo
de alopecia ocorre diminuição progressiva da densidade e afilamento dos
cabelos, a partir dos 50 anos de idade. O quadro histopatológico descrito é
semelhante ao por nós observado no grupo de doentes HIV-1 positivos,
com alopecia difusa não cicatricial. Há leve diminuição do número de
folículos pilosos, proporção adequada de pelos terminais e velos, e o
número de folículos telógenos apresenta-se dentro dos limites descritos para
a normalidade (menos de 20%). Na alopecia senil, não há diferenças entre
os achados de biópsia tomadas do vértice e da região occipital do couro
cabeludo.
112
Embora semelhante, tanto pelo quadro clínico como pelo
histopatológico, a alopecia difusa não cicatricial de doentes HIV-1 positivos
deve ser entidade distinta da alopecia senil. A condição objeto de nosso
61
estudo ocorre em doentes HIV-1 positivos de faixa etária menor. A idade do
grupo por nós estudado variou de 22 a 44 anos (média de 35,3 anos).
Smith et al.
6
, ao estudarem grupo de 10 pacientes HIV-1 positivos
com alopecia difusa não-cicatricial, relataram a presença de queratinócitos
apoptóticos na bainha radicular externa, ao nível da protuberância folicular.
Os autores consideraram que a apoptose de queratinócitos da BRE de
folículos pilosos, seria fator de distinção da alopecia difusa da infecção pelo
HIV-1, de outras condições de estresse, causadoras de provável eflúvio
telógeno.
Demonstramos, através de técnica de dupla marcação
(CK19/TUNEL), que ocorre apoptose das células-tronco foliculares e células
amplificadoras transitórias, da BRE da protuberância folicular do couro
cabeludo de pacientes HIV-1 positivos em uma proporção maior do que em
controles sadios.
Devido à dificuldade em se obter marcadores imunohistoquímicos,
grande parte dos trabalhos com células-tronco utiliza a marcação com
radioisótopos. A CK19 pode ser considerada um marcador de
indiferenciação celular, porém sua expressão não é restrita às células-
tronco. Também é expressa pelas células amplificadoras transitórias, que
dão origem ao germe secundário. Portanto, em nosso trabalho, não
podemos afirmar que a apoptose encontrada foi restrita exclusivamente às
células-tronco foliculares. Em grande parte dos casos, assim como dos
controles, foram observadas células CK19 positivas ao redor de toda BRE e
não apenas nas projeções da protuberância folicular. Esse achado pode ser
62
justificado admitindo-se que o músculo eretor do pêlo pode envolver toda
circunferência folicular e não somente alcançar o FPS em sua face posterior.
Esse fato sugere que a interação entre protuberância-MEP é de fundamental
importância na manutenção do fenótipo das células da protuberância
folicular.
116
Realizamos também a demonstração de apoptose através do
anticorpo anti-caspase 3 clivada, para corroborar as observações pela
marcação com o método do TUNEL. Escolhemos a caspase 3 clivada como
marcador de apoptose, uma vez que essa caspase está envolvida nos
processos de apoptose deflagrados tanto por mecanismos extrínsecos (via
receptores de membrana) como pela via mitocondrial.
86
Entretanto, não
realizamos técnica de dupla marcação, uma vez que a expressão de CK19 e
da caspase 3 clivada são citoplasmáticas. Apesar de tentativas com o uso
de diferentes cromógenos, os resultados não foram satisfatórios para
assegurar a demonstração inequívoca de ocorrência concomitante de dupla
marcação. Entretanto, observamos que ocorria imunomarcação de células
da BRE ao nível da protuberância folicular, que correspondia à localização
observada quando da dupla marcação CK19/TUNEL. Outra dificuldade
encontrada foi a representada pelos níveis adequados dos cortes
histológicos para a representação das protuberâncias foliculares. Essas
estruturas foram representadas em somente cerca de três a quatro lâminas
com cortes consecutivos, de cada espécime estudado. Através do exame ao
microscópio das lâminas dos cortes de parafina sem coloração, pudemos
escolher os mais representativos da protuberância, pela identificação da
63
inserção do MEP nessas estruturas. Priorizamos os cortes mais
representativos para a realização da técnica de dupla marcação
(CK19/TUNEL). A apoptose de queratinócitos da BRE, demonstrada pelo
anticorpo anti-caspase 3 clivada, foi observada em 61% dos casos e 16%
dos controles. Pela técnica da dupla marcação CK19/TUNEL a frequência de
apoptose de células CK19+ foi de 80% e 25% respectivamente. No nosso
estudo, a técnica do TUNEL mostrou-se mais sensível para a demonstração
de apoptose.
Kishimoto et al. (1998)
117
demonstraram apoptose de células
foliculares, pela técnica do TUNEL, em três espécimes de couro cabeludo
humano normal, obtidos durante cirurgia cutânea. Os autores não
especificaram a região do couro cabeludo estudada. Observaram células
TUNEL positivas na camada de Henle próximo do bulbo folicular, em células
cuticulares da bainha radicular interna e ao nível do istmo em células logo
abaixo da camada córnea. Os autores, entretanto, não descrevem apoptose
de células tronco-foliculares, presentes na BRE ao nível da protuberância
folicular.
A apoptose de células-tronco, apesar de parecer paradoxal, é
encontrada, de forma fisiológica, em outros tecidos com poder de auto-
renovação. No folículo piloso de murinos está correlacionada com o
remodelamento estrutural que ocorre durante a fase catágena.
5
Até que
ponto a apoptose encontrada na alopecia difusa dos doentes HIV-1
positivos, estaria relacionada os seus mecanismos patogenéticos ou
simplesmente representaria uma alteração do ciclo folicular, com maior
64
regressão catágena dos folículos, ainda não está totalmente esclarecido. A
análise morfométrica do couro cabeludo do grupo em estudo não favorece
essa última possibilidade, uma vez que não encontramos aumento da
proporção de folículos catágenos nos casos estudados.
Smith et al. (1996)
6
baseados no fato da protuberância também ser o
sítio folicular mais acometido na doença enxerto versus hospedeiro (DEVH),
22,23
onde as células-tronco são o principal alvo, levantaram a hipótese de
que uma reação auto-imune (DEVH-símile) pudesse ser um dos
mecanismos envolvidos na patogênese da infecção pelo HIV, incluindo a
alopecia. Pudemos demonstrar que realmente há apoptose nas células-
tronco foliculares do couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos com
alopecia difusa não cicatricial, em uma proporção maior do que em controles
sadios. Entretanto, em nenhuma de nossas observações foi encontrado
infiltrado inflamatório ao nível da protuberância, como seria esperado numa
reação DEVH-símile.
Doze dos 15 doentes estudados estavam recebendo esquema
terapêutico anti-retroviral. De acordo com a literatura, a única droga que
pode compor esses esquemas terapêuticos e relacionada com distúrbios
capilares é o indinavir. Devido à semelhança existente na sequência de
aminoácidos entre a protease do HIV-1 e a proteína citoplasmática ligadora
de ácido retinóico tipo 1 (“cytoplasmic retinoid acid binding protein type 1” ou
CRABP-1), os pacientes HIV-1 positivos em uso de indinavir podem
apresentar efeitos colaterais retinóide-símiles como queilite, xerodermia,
granulomas piogênicos, paroníquia, lipoatrofia e alopecia. Esses efeitos
65
colaterais dermatológicos são causa de interrupção do tratamento em 10%
dos pacientes. De acordo com a literatura,
a alopecia ocorre em 12% dos
pacientes em uso de indinavir, tem início nos seis primeiros meses de
tratamento e acomete inicialmente os pêlos dos membros inferiores e, em
menor escala, o couro cabeludo.
1,16,118,119
O mecanismo provável de atuação
da droga, segundo os autores, seria um eflúvio telógeno, devido à alteração
do ciclo folicular. Ginarte et al.
17
, em 2002, baseados no fato da alopecia
indinavir-induzida nem sempre estar associada com outras manifestações
cutâneas retinóide-símiles e no fato da gravidade do quadro não estar
correlacionada com a severidade das outras manifestações muco-cutâneas,
ou com o grau de imunodepressão, levantou a hipótese do mecanismo
retinóide-símile não ser o único envolvido nesse tipo de alopecia. Nossa
observação número seis havia interrompido há um mês o uso do indinavir
quando da colheita da biópsia de couro cabeludo para exame. A droga tinha
sido utilizada por um período de aproximadamente seis meses. De acordo
com nossos critérios de inclusão, esse paciente não apresentava uma queda
acentuada de cabelos, mas relatava uma diminuição de volume e alteração
de textura dos mesmos. O paciente também não apresentava outras
manifestações cutâneas relacionadas com o efeito retinóide-símile. Os
cortes transversais de seu couro cabeludo apresentaram imunomarcação
para CK19/TUNEL (82% das protuberâncias foliculares representadas/corte)
e caspase 3 clivada (100% das protuberâncias foliculares
representadas/corte). É possível que o outro mecanismo sugerido por
66
Ginarte et al.
17
, envolvido na alopecia indinavir-induzida, seja a indução da
apoptose das células indiferenciadas da protuberância folicular.
Poderíamos relacionar a maior atividade apoptótica das células
tronco-foliculares da BRE com o nível de imunossupressão dos doentes.
Entretanto, quando tomamos a contagem de linfócitos CD4+ no sangue dos
pacientes como parâmetro de intensidade de imunossupressão não
encontramos correlação com a frequência de apoptose de queratinócitos da
BER de folículos pilosos.
Na infecção pelo HIV-1 e AIDS são descritas alterações nos
mecanismos controladores da apoptose celular, como o aumento de
expressão de receptores de membrana como o Fas-L , diminuição de
expressão de proteínas anti-apoptose como o Bcl-2 e aumento de expressão
de proteínas pró-apoptose como o Bax.
86
A lise de linfócitos T CD4+ é
propiciada por mecanismos dependentes, não somente da infecção celular
pelo HIV-1, mas também por atuação de proteínas virais e ativação dos
receptores de morte celular, como o aumento da expressão do Fas (CD95),
Fas-L (CD95L) e do TNFR-TNF/TRAIL ; ou através da via mitocondrial:
fosforilação da proteína p53, aumento da expressão do Bax, dissipação do
potencial transmembrana, liberação do citocromo c e ativação das
caspases.
91-94
Devido às alterações das moléculas indutoras da apoptose, ao
aumento dos níveis de interleucinas (4, 6, 10 e TNF alfa), e ao estresse
oxidativo que ocorre na infecção pelo HIV-1, nossa hipótese inicial era de
que uma alteração na expressão de genes pudesse levar a um quadro de
67
auto-imunidade, no qual as células-tronco foliculares fossem induzidas à
apoptose pela ação citotóxica das células inflamatórias envolvidas, como o
sugerido por Smith et al. (1996)
6
. Uma vez que nenhuma de nossas
observações apresentou infiltrado inflamatório junto da protuberância
folicular, torna-se improvável que um quadro de foliculite citotóxica DEVH-
símile seja o responsável pela indução da apoptose e pela alopecia desses
pacientes. Além disso, a agressão do reservatório de células-tronco
foliculares por células inflamatórias, provavelmente, iria culminar numa
alopecia de caráter inflamatório, seguida de alopecia de tipo cicatricial, o
que não se observa nesses pacientes.
Excluindo-se a possibilidade de apoptose das células da
protuberância folicular ser deflagrada por mecanismos dependentes de
receptores pró-apoptóticos de membrana celular (via extrínseca da
apoptose), podemos postular que o processo ocorreria pela via mitocondrial.
Existem fatores relacionados ao HIV-1, como a proteína Vpr, presente no
nucleocapsídeo do HIV, que é capaz de induzir a ativação direta da família
das caspases.
120
Além de sua ação indutora da apoptose, essa pequena
(14Kd) proteína acessória é considerada uma espécie de monitora e
desempenha funções como: (a) auxiliar no processo de replicação viral em
células que não estejam em replicação, através de sua ligação com a
carioferina-α; (b) induzir a parada do ciclo celular, através de sua ligação
com o regulador positivo (MOV34) do complexo ciclina B p34, essencial
para a transição da fase G2 para M; (c) estimular a expressão de genes
através da interação física com fatores de transcrição, e/ou através de suas
68
conseqüências sobre o ciclo celular.
121,122
Jacot et al
123
, em 2000,
demonstraram que a Vpr induz a apoptose através de sua interação física
direta com o translocador da adenina nucleotídeo (TAN), um componente da
membrana mitocondrial externa (na mesma localização do Bax), levando à
alteração da permeabilidade, ruptura da membrana e liberação de agentes
apoptogênicos.
Uma explicação plausível, na tentativa de correlacionarmos a infecção
pelo HIV-1 com o quadro de alopecia difusa não cicatricial, onde
encontramos apoptose de células da BRE ao nível da protuberância folicular,
na ausência de agressão inflamatória local, seria o da atuação do próprio
vírus através de um componente como a Vpr. Através de sua atuação
direta, essa proteína viral seria capaz de induzir a parada do ciclo celular das
células-tronco foliculares na fase G2, o que, por si só, já explicaria a
alteração do ciclo folicular levando à alopecia. Através de sua interação com
componentes da membrana mitocondrial (com consequente aumento da
expressão de Bax e diminuição da expressão de Bcl-2) induziria a apoptose
celular na BRE da protuberância folicular.
Devemos levar em consideração que a apoptose, conforme já
exposto, é um fenômeno efêmero e que sua aferição apenas através de um
método morfológico, como o que utilizamos, é difícil. Logo, o que
conseguimos identificar é apenas uma pequena amostra momentânea de
um fenômeno que, provavelmente, está ocorrendo em larga escala.
Indução de apoptose relacionada a outro fator do HIV-1 foi descrito
por Bin Shi et al.
124
, no qual a proteína viral Tat aliada ao estresse oxidativo
69
relacionado com os altos índices de TNF-α, induzem a apoptose de células
neuronais em pacientes infectados pelo HIV-1 com quadro de demência.
Corroborando nossa hipótese, a família das caspases, que constituem
o braço efetor da apoptose, estão diretamente relacionadas com a apoptose
das células foliculares e possuem um papel fundamental no controle do ciclo
folicular.
125
Embora nossa casuística seja pequena, em nosso trabalho
demonstramos que a alopecia difusa não cicatricial encontrada em pacientes
HIV-1 positivos seria resultante de interrupção do ciclo folicular que se
manifesta através de alopecia difusa, de tipo não cicatricial, e tem como
alteração histopatológica importante a apoptose de células da BRE dos
folículos pilosos. Esse processo não exibe características morfológicas de
eflúvio telógeno observado em outras condições adversas. Demonstramos
que parte da população de células indiferenciadas da protuberância entra
em apoptose em uma proporção maior do que a encontrada em controles
sadios. A incidência da apoptose não está relacionada com o grau de
imunodepressão desses pacientes. Admitindo-se que a apoptose das células
indiferenciadas da protuberância folicular esteja relacionada com a
patogenia dessa alopecia, uma vez que não há substratos morfológicos que
expliquem apoptose resultante de mecanismos de auto-imunidade,
poderíamos considerar um fator solúvel capaz de induzi-la. Devido a sua
capacidade de alterar o ciclo celular e de induzir a ativação das caspases,
propomos a proteína viral Vpr como uma possível responsável pelo processo
observado na alopecia difusa não cicatricial da infecção pelo HIV-1.
70
O nosso estudo sugere que a alopecia difusa não cicatricial que
ocorre durante a infecção pelo HIV-1 se assemelha, sob o ponto de vista
clínico e histopatológico, com a alopecia senil (Kligman, 1988; Sperling;
Lupton, 1995). Como dessa alopecia, o quadro histopatológico exibe
alterações discretas que não o distingue, de modo expressivo, do couro
cabeludo normal. Entretanto, a alopecia difusa não cicatricial dos doentes
HIV-1 positivos caracterizou-se por apoptose das células indiferenciadas da
BRE da protuberância folicular. No processo de envelhecimento cutâneo,
ocorre apoptose de queratinócitos das camadas inferiores da epiderme, o
que não se observa na epiderme de indivíduos jovens.
126
Esse processo
poderia estar ocorrendo também nas células da BRE dos folículos pilosos.
Um estudo da apoptose das células da BRE da protuberância folicular na
alopecia senil seria interessante, para comparação com o observado na
alopecia difusa não cicatricial dos pacientes HIV-1 positivos.
71
7. CONCLUSÕES
O quadro histopatológico da alopecia difusa não cicatricial de
pacientes HIV-1 positivos caracterizou-se pela desorganização estrutural das
unidades foliculares e maior número de folículos telógenos quando
comparado ao couro cabeludo de indivíduos hígidos sem alopecia.
Ocorre apoptose de células indiferenciadas pluripotenciais (células
tronco e células amplificadoras transitórias) na bainha radicular externa da
protuberância folicular na alopecia difusa não cicatricial de pacientes HIV-1
positivos. Entretanto, a apoptose não parece ser resultante de quadro de
foliculite citotóxica, uma vez que, não foram observadas alterações
inflamatórias em todos os casos estudados.
O fenômeno da apoptose das células indiferenciadas pluripotenciais
(células-tronco e células amplificadoras transitórias) presentes na bainha
radicular externa, na região da protuberância folicular, foi observado com
uma frequência maior na alopecia difusa não cicatricial de pacientes HIV-1
positivos, do que no couro cabeludo de indivíduos hígidos, sem alopecia.
A incidência de apoptose das células indiferenciadas pluripotenciais
(células-tronco e células amplificadoras transitórias), presentes na região da
protuberância folicular, do couro cabeludo de pacientes HIV-1 positivos com
alopecia difusa não cicatricial, não guardou relação com o grau de
imunodepressão desses pacientes.
72
8. ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Essas informações estão sendo fornecidas para sua participação
voluntária neste estudo, cujo objetivo é identificar a causa específica da
queda de cabelos em pacientes HIV positivos. Somente no final do trabalho
poderemos concluir a presença de algum benefício para coletividade.
Como voluntário você será submetido à retirada de um fragmento
(biópsia) de pele do couro cabeludo, de quatro milímetros. Esse
procedimento é precedido da aplicação de anestesia local, que pode causar
desconforto local, bem como pode haver um pequeno sangramento durante
o ato da retirada do material.
Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais
responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas,
assim como terá o direito de permanecer atualizado sobre os resultados
parciais obtidos. O principal investigador é o Dr. Carlos Baptista Barcaui, que
pode ser encontrado no endereço R. Enéas de Carlho Aguiar 255, 3
o
andar,
telefone 30829232.
É garantida a liberdade de retirada do consentimento a qualquer
momento e deixar de participar do estudo sem qualquer prejuízo a
continuidade de seu tratamento na instituição.
As informações obtidas serão analisadas em conjunto com a de
outros pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum paciente.
Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do
estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação
financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa
adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.
Em caso de dano pessoal, diretamente causado pelos procedimentos
ou tratamentos propostos neste estudo (nexo causal comprovado), o
participante tem direito a tratamento médico na Instituição, bem como às
indenizações legalmente estabelecidas.
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e
ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar do presente
Protocolo de Pesquisa.
__________________________
Assinatura do Paciente ou responsável
______________________________
Assinatura do pesquisador responsável
Local e data
73
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