“Como líderes em potencial de comunidades rurais,
professores, padres, agrônomos, veterinários, médicos,
farmacêuticos rurais e, até certo ponto, magistrados e
advogados – em geral, transeuntes nos meios rurais, ainda
mais que as professoras e os padres – em vez de se
comportarem nessas comunidades como exilados de olhos
voltados nostalgicamente para meios urbanos, devem
integrar-se o mais possível nelas. Dada a atual disparidade
entre meios urbanos e meios rurais no Brasil, tais
atividades guardam ainda, quando exercidas em meios
rústicos, alguma coisa de ação ou esforço missionário. E a
atividades desses missionários deve ser a de profunda
identificação e simpatia com os meios rurais, com sua
gente, seus problemas, suas angústias, com as artes
domésticas, populares, folclóricas peculiares a esses
meios, como a da renda em Caruaru, por exemplo, a da
cerâmica em Taquaratinga, a de trabalhos de palha em
Águas Belas, a de bonecas de pano em vários povoados
do Nordeste, e também de identificação uns com os outros
– agrônomos com padres, veterinários com professores,
médicos com zootécnicos, farmacêuticos com advogados
– pois nenhum desses trabalhos em meio rural alcançará
êxito, senão sob a forma de esforços que de técnicos se
alarguem em campanhas sociais: esforços de cooperação
sociologicamente orientados e para os quais deve
concorrer toda gente mais culta” (FREYRE, 1968: 87-88).
Freyre pedia que se propagasse a origem rural de grandes homens, como Santos
Dumont, Prudente de Morais, Joaquim Nabuco, Epitácio Pessoa, entre outros, além da
“inspiração rural ou agreste de grande parte da música de Villa-Lobos” (FREYRE, 1968:90).
O esforço de valorização de tais homens “autenticamente grandes” e de suas criações,
“autenticamente brasileiras em seus motivos, em suas raízes, em seus efeitos mais profundos”
(idem: 91), era o resgate do que se constituía no mais genuíno da cultura brasileira. Para o
autor, valorizando-se o rural da cultura brasileira em detrimento do esquecimento desse em
razão da glorificação dos elementos urbanos de importação, estaríamos conservando ao
mesmo tempo elementos éticos e de possibilidades intelectuais e estéticas rusticamente
brasileiros, guardados pela gente rural. Tais elementos, alimentados pelas constâncias rurais
da nossa vivência, eram constantes e não transitórios. Deveríamos, então, exaltar elementos
de valor permanente e não reflexo de modas ou caprichos metropolitanos que importávamos
de outras civilizações e que não vinham correspondendo ao desenvolvimento simplesmente
material ou técnico que nos dava a aparência (FREYRE, 1968).
O sociólogo pernambucano sugeria também que, para a divulgação dessa cultura
nacional, era preciso que, além da moderna expansão do rádio, do cinema, do tráfego aéreo e
terrestre – com a melhoria das estradas de chão e de ferrovias – nos sertões de países da
extensão do Brasil, os governos e particulares, donos de empresas ou indústrias rurais,