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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
DANIEL CAIXETA ANDRADE
FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO
NA CHINA: ASPECTOS TEÓRICOS E INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
Uberlândia
Janeiro – 2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
DANIEL CAIXETA ANDRADE
FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO
NA CHINA: ASPECTOS TEÓRICOS E INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Economia da Universidade
Federal de Uberlândia como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Economia.
Área de concentração: Economia
Orientador: Prof. Dr. Flávio Vilela Vieira
Uberlândia
Janeiro – 2006
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Universidade Federal de Uberlândia
Daniel Caixeta Andrade
FATORES CONDICIONANTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO DE LONGO PRAZO
NA CHINA: ASPECTOS TEÓRICOS E INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
Dissertação aprovada em _____ de janeiro de 2006 para obtenção do título de Mestre em
Economia.
Área de Concentração: Economia
Banca Examinadora:
____________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Flávio Vilela Vieira – IE / UFU
____________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Maria da Silveira – IE / UFRJ
___________________________________________________
Prof. Dr. Clésio Lourenço Xavier – IE / UFU
A553f
Andrade, Daniel Caixeta, 1981-
Fatores condicionantes do crescimento econômico de longo
prazo na
China: aspectos teóricos e investigação empírica / Daniel
Caixeta Andrade. - Uberlândia, 2006.
137f. : il.
Orientador: Flávio Vilela Vieira.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Uberlândia,
Programa de Pós-Graduação em Economia.
Inclui bibliografia.
1. Desenvolvimento econômico – Teses. 2. China –
Condições econômicas, 1978-2003 – Teses. 3. Econometria -
Teses. 4. Política cambial – China – Teses. I. Vieira, Flávio
Vilela. II. Universidade
Federal de Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em
Economia. III. Título.
CDU: 330.34
AGRADECIMENTOS
A realização de um trabalho nunca é exclusivamente individual. Ela conta com a
participação de várias pessoas, as quais, direta ou indiretamente, contribuem para que o
trabalho seja, enfim, apresentado no seu formato final. Em sendo assim, gostaria de deixar
registrados os agradecimentos a algumas pessoas que para mim foram de fundamental
importância para que esta etapa fosse concluída.
Em primeiro lugar, e acima de tudo, agradeço a Deus pelo dom da vida e por sempre me
acompanhar em todos os momentos. Sua presença não pode ser apreendida pelo sentido
humano, mas sim percebida pela sutileza da alma e do coração.
Agradeço aos meus pais, Antônio e Dilma, e aos meus irmãos, Eduardo e Mariana, pelo
apoio incondicional. O suporte da minha família foi imprescindível para que a minha estadia
no mestrado transcorresse da maneira mais tranqüila possível. Mesmo que eu não retribua na
mesma intensidade o carinho e a dedicação para comigo, estes me são oferecidos em qualquer
circunstância da minha vida.
Gostaria também de agradecer ao Prof. Flávio, pelo empenho e dedicação na minha
orientação. Seu domínio intelectual e suas sábias ponderações foram imensamente úteis para a
finalização deste trabalho. Além do que, o clima de amizade presente nas nossas reuniões fez
da elaboração da dissertação um processo extremamente gratificante e de grande realização
pessoal.
Agradeço, no plano institucional, ao Instituto de Economia da Universidade Federal de
Uberlândia, incluindo todos os professores e funcionários, pela infra-estrutura disponibilizada.
Agradeço também a CAPES, pelo apoio financeiro.
A Keila, um agradecimento especial pelo carinho, companheirismo e dedicação. Tê-la
ao meu lado neste período foi essencial para que eu pudesse “tirar de letra” os momentos de
maior angústia e ansiedade. A melhor maneira de agradecê-la é respeitando-a e retribuindo a
cumplicidade que temos.
A Profª. Eneida, um agradecimento especial pela amizade, apoio e orientações sempre
bem-vindas. As nossas conversas e os conselhos a mim passados foram relevantes para que eu
amadurecesse pessoal e academicamente, além do que suas características pessoais e
profissionais são, para mim, exemplos a serem seguidos.
Por fim, gostaria de agradecer a todos os meus amigos, especialmente aqueles que, por
um motivo ou outro, se tornaram mais próximos durante a minha estadia em Uberlândia. Cito
nominalmente a Diana, a Luciana, o Tiago, a Fernanda, o André Marra e o Ronaldo, sem
querer fazer injustiça aos demais cujos nomes não citei, os quais, sem dúvida, foram também
grandes companheiros de estrada. Não poderia me esquecer também dos amigos de longa data
que ficaram longe, mas nunca ausentes, durante este período.
i
RESUMO
O principal objetivo desta dissertação é analisar empiricamente a experiência de crescimento
econômico na China no período 1978-2003. Partiu-se da hipótese de que existem vários
aspectos (condicionantes) do crescimento econômico chinês das últimas décadas, dentre os
quais se destacam as altas taxas de investimento (acumulação de capital físico), a maior
abertura comercial e financeira (estímulo às exportações e à atração de investimentos
externos), o regime cambial rígido (política cambial favorável ao desempenho do setor
externo da economia) e os investimentos em capital humano. Os procedimentos
metodológicos utilizados foram a análise de regressão, a estimação de modelos VAR e o uso
dos instrumentais da análise de decomposição de variância e das funções de impulso-resposta,
além dos testes de causalidade (Granger) e testes de cointegração (Johansen). Os resultados
obtidos apontam que o investimento e a taxa de câmbio foram os principais determinantes do
crescimento econômico da China no período analisado, confirmando a hipótese inicial apenas
para estas duas variáveis. Estes resultados não indicam, porém, que a continuidade do
crescimento da economia chinesa deve se assentar apenas sobre as políticas de acumulação de
capital físico e na política cambial. É importante que se eleve a produtividade da economia
através de investimentos mais eficientes em capital humano, além do que é preciso repensar a
questão do câmbio, no sentido de que não estão claros quais serão os impactos de uma política
cambial mais flexível sobre o crescimento econômico do país caso a China ceda às pressões
de flexibilização de seu atual regime cambial.
Palavras-chave: Crescimento Econômico, China, Econometria de Séries Temporais.
ABSTRACT
The main goal of this dissertation is to empirically analyze China’s growth experience during
the period of 1978 to 2003. We have started with the hypothesis that China’s economic
growth during the last decades can be characterized by different aspects such as the
investment rates (physical capital accumulation), a higher degree of financial and trade
openness (stimulating exports and attracting external investments), a pegged exchange rate
regime (favoring export performance) and human capital investments. The methodological
procedures used were regression analysis, the estimation of a vector autoregressive (VAR)
models using variance decomposition and impulse-response function instruments, Granger
causality tests and the Johansen cointegration test. The results suggest that investment and
exchange rate are the main determinants of China’s economic growth for the period
considered, which corroborates the initial hypothesis for these two variables. These results
can not be understood as an indication that the continuity of China’s economic performance
should be centered only on capital physical accumulation and exchange rate policies. It is
important that China can increase productivity based on more efficient investments on human
capital and to rethink exchange rate management in the sense that is not clear yet the future
impact of exchange rate flexibilization on China’s economic growth once it moves towards a
more flexible exchange rate regime.
Key-words: Economic Growth, China, Econometric Time Series.
ii
SUMÁRIO
Pág.
Resumo.............................................................................................................................. i
Lista de Tabelas................................................................................................................ iii
Lista de Figuras................................................................................................................. v
Introdução......................................................................................................................... 1
Capítulo 1: Modelos de crescimento econômico.............................................................. 3
1.1 O Modelo de Solow................................................................................................. 3
1.1.1 A hipótese da convergência............................................................................... 16
1.1.2 Decomposição do crescimento econômico........................................................ 17
1.2 Modelos de crescimento endógeno.......................................................................... 18
1.3 Modelos de crescimento neoclássicos versus modelos de crescimento endógeno.. 31
Capítulo 2: Crescimento econômico na China: teoria e evidências.................................. 34
2.1 Aspectos teóricos e evidências empíricas................................................................ 34
2.2 Evolução do comércio exterior da China................................................................. 58
2.3 Política cambial e fluxos de capital na China.......................................................... 67
Capítulo 3: Análise econométrica do crescimento econômico de longo prazo na China
no período 1978-2003..................................................................................... 80
3.1 Fundamentação teórica dos testes econométricos utilizados................................... 82
3.1.1 Séries temporais, estacionariedade e testes de raiz unitária............................... 83
3.1.2 Modelos de Auto-Regressão Vetorial (VAR).................................................... 87
3.1.3 Causalidade e o teste de Granger....................................................................... 90
3.1.4 Cointegração e o teste de Johansen.................................................................... 91
3.2 Resultados Econométricos....................................................................................... 93
3.2.1 Análise de Regressão......................................................................................... 93
3.2.2 Modelos VAR.................................................................................................... 95
3.2.2.1 Análise de Decomposição de Variância....................................................... 96
3.2.2.2 Funções Impulso-Resposta.......................................................................... 99
3.2.3 Testes de Causalidade de Granger..................................................................... 103
3.2.4 Testes de cointegração de Johansen................................................................... 104
Considerações Finais......................................................................................................... 109
Referências Bibliográficas................................................................................................ 115
Apêndices.......................................................................................................................... 122
iii
LISTA DE TABELAS
Pág.
Tabela 1: Taxas de crescimento do PIB – China, Brasil, Argentina, Estados
Unidos e Mundo no período 1978-2003 (% ao ano)............................... 37
Tabela 2: Crescimento do PIB, do PIB per capita e da população na China no
período 1978-2003 (% ao ano)................................................................ 38
Tabela 3: Formação Bruta de Capital Físico (FBKF) e taxa de poupança na
China no período 1978-2003 – % do PIB............................................... 43
Tabela 4: Destinação do total de investimentos em ativos fixos na China no
período 1981-2003 (%)........................................................................... 44
Tabela 5: Gastos do governo chinês com Cultura, Educação e Saúde no período
1978-2003 (% do total de gastos do governo)......................................... 45
Tabela 6: Estudantes matriculados na escola secundária na China – período
1978-2003 (% da população total).......................................................... 46
Tabela 7: Gastos do governo chinês com Pesquisa e Ciência no período 1978-
2003 (% do total de gastos do governo).................................................. 48
Tabela 8: Trabalhadores nas áreas urbana e rural na China – período 1978-2003
(% do total de empregados)..................................................................... 49
Tabela 9: Composição do PIB da China no período 1978-2003 – % do PIB total. 54
Tabela 10: Taxa de desemprego urbano na China no período 1996-2003................ 55
Tabela 11: Taxa de inflação e taxa de juros de empréstimo na China no período
1980-2003 – em %.................................................................................. 57
Tabela 12: Grau de abertura e corrente de comércio da economia chinesa no
período 1978-2003 ................................................................................. 60
Tabela 13: Valor das exportações e importações chinesas e suas respectivas taxas
de crescimento – período 1978-2003...................................................... 61
Tabela 14: Destino das exportações chinesas no período 1981-2003 – milhões de
dólares..................................................................................................... 62
Tabela 15: Origem das importações chinesas no período 1981-2003 – milhões de
dólares..................................................................................................... 63
Tabela 16: Taxa de câmbio nominal (Yuan/US$) e índice de taxa de câmbio real
efetiva (2000=100) na China no período 1978-2003.............................. 68
Tabela 17: Reservas internacionais da China no período 1978-2003 (US$ bilhões
correntes) ................................................................................................ 74
Tabela 18: Entrada de investimentos diretos estrangeiros na China no período
1978-2003................................................................................................ 76
Tabela 19: Critérios de seleção das ordens de defasagem dos modelos VAR.......... 96
Tabela 20: Primeiro VAR (1) – Análise de Decomposição de Variância para
TCPIBC................................................................................................... 97
Tabela 21: Segundo VAR (1) (primeira versão) – Análise de Decomposição de
Variância para TCPIBC........................................................................... 97
Tabela 22: Segundo VAR (1) (segunda versão) – Análise de Decomposição de
Variância para TCPIBC........................................................................... 97
iv
Tabela 23: Teste de Causalidade de Granger (uma defasagem) para as variáveis
envolvidas na análise econométrica do crescimento chinês no período
1978-2003 ............................................................................................... 103
Tabela 24: Teste de cointegração de Johansen para o primeiro VAR (1)................. 105
Tabela 25: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, IDE e GAB.............. 106
Tabela 26: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, LTXC e GAB.......... 106
Tabela 27: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, KHEST e INOV...... 107
Tabela 28: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, KHGG e INOV....... 107
Tabela 29: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, LTXC e IDE............ 107
Tabela 30: Número de vetores cointegrantes dos testes de cointegração de
Johansen – trace e max-eigenvalue ........................................................ 108
v
LISTA DE FIGURAS
Pág.
Figura 1: Gráfico de Solow........................................................................................ 6
Figura 2: Gráfico de Solow e a função de produção.................................................. 8
Figura 3: Gráfico de Solow para o modelo AK.......................................................... 30
Figura 4: Evolução da participação do comércio chinês no comércio mundial no
período 1978-2003..................................................................................... 59
Figura 5: Evolução da relação Exportações/PIB na China no período 1978-2003
(%).............................................................................................................. 62
Figura 6: Funções Impulso-Resposta – Primeiro VAR (1)........................................ 100
Figura 7: Funções de Impulso-Resposta – segundo VAR (1) (primeira versão)....... 101
Figura 8: Funções de Impulso-Resposta – segundo VAR (1) (segunda versão)....... 102
INTRODUÇÃO
As reformas econômicas conhecidas como Políticas de Portas Abertas implementadas na
China a partir de 1978 permitiram que este país vivenciasse um dos mais formidáveis
processos de crescimento econômico já vistos, evidenciado pelas altas taxas de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita, com médias de 9,48% e 8,18% ao ano no
período 1978-2003, respectivamente. Este excepcional desempenho econômico não é apenas
único entre as economias de transição ao capitalismo, mas também tem se mostrado mais
vigoroso que o crescimento econômico dos demais países do leste asiático à época do
chamado Milagre Asiático, entre as décadas de 60 e 80.
A pujança econômica da China vem despertando atenção na comunidade internacional
não apenas pela sua intensidade, mas também pela relativa sustentabilidade de seu
crescimento, concomitante a um período em que o mundo como um todo apresentou um
crescimento econômico mediano. Além do que, o conhecimento da realidade chinesa é
imprescindível para se apreender as mudanças recentes na geopolítica mundial. Se, de um
lado, a maior integração comercial e financeira da China tem impactos sobre a distribuição
dos fluxos mundiais de comércio e de capitais, de outro, a sua crescente importância
econômica contribuirá para mudanças na hierarquia de poder entre as principais nações,
elevando a relevância do continente asiático como pólo dinâmico do capitalismo
contemporâneo. Ademais, o fenômeno de crescimento econômico chinês é de crescente
interesse acadêmico, no sentido de se verificar teórica e empiricamente os condicionantes da
excelente performance econômica da China no período pós-reforma (pós-1978).
Tendo este último ponto em vista, o objeto de estudo desta dissertação é a experiência
de crescimento econômico da China e o objetivo central é desenvolver uma análise empírica
do crescimento econômico de longo prazo deste país, apontando para os seus principais
determinantes no período 1978-2003. Para tanto, foram utilizados como procedimentos
metodológicos ferramentas da modelagem econométrica, como a estimação de modelos de
regressão e modelos de auto-regressão vetorial (VAR), além das análises de causalidade (teste
de Granger) e de cointegração (teste de Johansen).
A hipótese que norteou a realização deste estudo é de que existem vários aspectos
(condicionantes) do crescimento econômico chinês nas últimas décadas, dentre os quais se
destacam as altas taxas de investimento (acumulação de capital físico), a maior abertura
comercial e financeira (estímulo às exportações e à atração de investimentos externos), o
2
regime cambial rígido (política cambial favorável ao desempenho do setor externo da
economia) e os investimentos em capital humano. Para testar esta hipótese, incluíram-se nos
modelos estimados variáveis de formação bruta de capital fixo (FBKF), grau de abertura
comercial da economia (GAB), fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE), taxa de
câmbio e proxies para capital humano e progresso tecnológico, dentre outras, com a intenção
de verificar o papel que tais variáveis desempenharam na explicação da dinâmica da taxa de
crescimento do PIB per capita da China.
O trabalho está divido em três capítulos além desta introdução e das considerações
finais. No primeiro capítulo apresenta-se um breve resgate teórico sobre os modelos de
crescimento econômico, concentrando a análise nos modelos de crescimento neoclássicos
(Solow) e nos modelos de crescimento endógeno (Romer). No segundo capítulo, realiza-se
uma discussão sobre as evidências teóricas e empíricas do crescimento econômico na China,
de forma a ressaltar as indicações da literatura recente sobre o tema. Ainda no segundo
capítulo, apresenta-se uma discussão sobre a evolução do comércio exterior da China e sua
política cambial, focando a análise na questão da rigidez da sua taxa de câmbio e as pressões
para sua flexibilização. O terceiro capítulo refere-se à análise empírica propriamente dita,
sendo que suas seções descrevem, inicialmente, o referencial teórico sobre os testes
econométricos utilizados e, em seguida, os resultados empíricos obtidos pela análise dos
dados e estimações. Por fim, as considerações finais apresentam uma síntese dos principais
resultados e encerram de maneira sistematizada as principais lições apreendidas com a
elaboração deste trabalho.
3
CAPÍTULO 1: MODELOS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO
Este capítulo apresenta uma breve revisão sobre as teorias do crescimento econômico. O
objetivo é o de resgatar o debate teórico entre os modelos de crescimento neoclássicos, cujo
principal representante é o modelo de Solow (1956), e os modelos da chamada Nova Teoria
do Crescimento, ou modelos de crescimento endógeno.
A primeira seção traz uma resenha sobre o modelo de Solow em três versões: sem
tecnologia, com tecnologia e incluindo o capital humano. Ao final, encontram-se duas
subseções, as quais apresentam uma rápida discussão sobre a hipótese da convergência,
segundo a qual haveria uma tendência de estreitamento do hiato de renda entre os países, e
sobre a decomposição do crescimento. A segunda seção trata dos modelos de crescimento
endógeno, cuja principal contribuição para a teoria do crescimento foi a de superar a principal
limitação dos modelos neoclássicos, qual seja, a não modelagem do progresso tecnológico. Os
principais representantes deste último tipo de modelo são Romer (1990,1994)
1
. Finalizando
este capítulo, uma terceira seção objetiva sistematizar as principais conclusões que podem ser
extraídas da análise dos modelos de crescimento econômico.
1.1 O Modelo de Solow
Em primeiro lugar, apresenta-se a formalização de uma versão simples de um modelo
sem tecnologia. Em seguida, introduz-se uma variável para o progresso tecnológico e verifica-
se as implicações para o crescimento no longo prazo deste modelo com tecnologia.
Finalmente, analisa-se a incorporação feita ao modelo de Solow de uma variável para capital
humano, a fim de que este possa melhor se ajustar às evidências empíricas.
O modelo é construído em torno de duas funções fundamentais: a função de produção e
a função de acumulação de capital. A função de produção é a Cobb-Douglas e mostra como
os insumos capital e trabalho (K e L, respectivamente) são combinados para a geração do
produto (Y):
αα
==
1
),( LKLKfY (1.1.1)
1
O desenvolvimento do modelo de Solow nas três versões indicadas e dos modelos de crescimento endógeno
está baseado em Jones (2000).
4
onde
α
é um número qualquer entre 0 e 1. Importante observar que a equação (1.1.1)
representa uma função de produção com retornos constantes à escala
2
.
Nesta economia, paga-se um salário w para cada trabalhador e um aluguel r para cada
unidade de capital arrendada, de modo que o custo total de produção é dado pelo somatório
dos gastos com salário e com aluguel das unidades de capital. A função-objetivo ou o
problema a ser resolvido é dado como se segue:
(1.1.2)
As condições de primeira ordem para a solução do problema acima exigem que o salário
real seja igual ao produto marginal do trabalho e que o preço do aluguel de cada unidade de
capital se iguale ao seu produto marginal. Em termos formais:
K
Y
K
F
r
L
Y
L
F
w
α
α
=
=
=
= ,)1(
(1.1.3)
Considerando que y = Y/L e que k = K/L (produto por trabalhador e capital por
trabalhador, respectivamente) tem-se que:
α
ky = (1.1.4)
Aplicando-se log à definição de k, tem-se:
L
L
K
K
k
k
L
K
k
=
=
,logloglog
(1.1.5)
A equação (1.1.4) diz que no modelo de Solow o produto per capita (y) é função do
capital por trabalhador (k). Observe também que a referida função de produção apresenta
retornos decrescentes ao capital por trabalhador – isto é, a cada unidade adicional de capital
2
Uma propriedade geral das funções de produção com retornos constantes à escala é que não se pode auferir
lucro econômico. Em outras palavras, os pagamentos aos fatores exaurem totalmente o valor do produto gerado.
wLrKLKF
LK
),(max
,
5
fornecida ao trabalhador, o produto gerado por esse trabalhador cresce a taxas decrescentes.
A equação (1.1.5) foi obtida através da regra prática de “derivar os logaritmos”
3
, indicando
que a taxa de crescimento do capital por trabalhador é igual à taxa de crescimento do estoque
de capital menos a taxa de crescimento do trabalho. Por hipótese, considera-se que a taxa de
participação da força de trabalho é constante e que a taxa de crescimento da população é dada
por um parâmetro n exógeno ao modelo. Logo, a taxa de crescimento da força de trabalho
também é dada pelo parâmetro n.
Dado que o produto per capita é uma função do capital por trabalhador, resta saber
como se dá a acumulação de capital. Esta é dada pela seguinte equação:
dKsYK =
(1.1.6)
onde
K
representa a variação no estoque de capital. Em termos mais formais,
K
é a derivada
do estoque de capital (K) em relação ao tempo, ou seja, é a versão contínua no tempo de
tt
KK
+1
. O termo sY representa o investimento bruto, sendo que s é uma fração constante da
renda que o trabalhadores/consumidores poupam
4
. O terceiro termo da equação (1.1.6), dK,
representa a depreciação do estoque de capital que ocorre durante a produção, sendo que d
representa uma fração constante do estoque de capital que se deprecia a cada período
(independente da quantidade produzida).
Combinando-se as equações (1.1.5) e (1.1.6) pode-se reescrever a equação da
acumulação de capital em termos de capital por trabalhador:
dn
k
sy
k
k
dn
K
sY
k
k
=
=
(1.1.7)
Reescrevendo a equação acima, obtém-se a equação básica de acumulação de capital por
trabalhador:
3
Uma importante propriedade dos logaritmos é a que diz que a derivada com relação ao tempo do logaritmo de
uma variável é a taxa de crescimento dessa variável.
4
Note que a renda total dos trabalhadores é rKwLY
+
=
. Sendo a economia fechada, a poupança é igual ao
investimento e a única utilização do investimento nessa economia é a acumulação de capital.
6
kdnsyk )( +=
(1.1.8)
As equações (1.1.4) e (1.1.8) são fundamentais dentro do modelo de Solow. Isto porque
a taxa de crescimento da economia – isto é, a variação do produto per capita – é função da
taxa de crescimento do capital por trabalhador. Esta, por sua vez, é função do investimento
por trabalhador (sy), da depreciação do capital por trabalhador (dk) e do crescimento
populacional, o termo nk. Em última instância, Solow mostra que as diferenças nas taxas de
poupança (que gera o investimento) e nas taxas de crescimento populacional explicam as
diferenças nas taxas de crescimento entre os países.
A figura 1 abaixo representa o Gráfico de Solow, onde são plotadas duas curvas como
funções da razão capital/trabalho, além da curva que representa a função de produção em
função de k.
Figura1: Gráfico de Solow.
Fonte: Jones (2000)
A curva sy é o montante de investimento per capita. A curva (n+d)k representa o
montante de investimento per capita que é necessário para manter constante o montante de
capital por trabalhador. Observe que tanto o aumento da força de trabalho quanto a
depreciação tendem a reduzir o montante de capital per capita da economia.
(n+d)k
sy
k
0
k
*
k
y
7
Um processo de aprofundamento de capital se dá quando a economia está aumentando
seu montante de capital por trabalhador e que há um alargamento de capital quando o estoque
de capital da economia está crescendo, sem, contudo, alterar o capital per capita (devido ao
crescimento populacional).
No ponto k
0
da figura acima, o investimento por trabalhador é superior ao necessário
para manter constante a relação capital por trabalhador. Inicia-se um processo de
aprofundamento de capital, que continua até o ponto
*
k , onde sy=(n+d)k e 0=k
. Neste
ponto, chamado de
estado estacionário, o montante de capital por trabalhador é constante.
Caso a economia estivesse inicialmente em um ponto à direita de
*
k , o montante de
investimento por trabalhador seria menor do que o necessário para manter constante o capital
por trabalhador. Nesse caso, o termo
k
é negativo e, portanto, o montante de capital por
trabalhador começa a cair, sendo que esta queda prossegue até o ponto
*
k . A tendência
existente para que a economia se mova para o ponto de estado estacionário é ilustrada pelas
setas presentes no eixo horizontal do gráfico.
O gráfico de Solow fornece, portanto, o valor do capital por trabalhador no estado
estacionário. Este valor, por sua vez, está associado a um valor do produto por trabalhador no
estado estacionário )(
*
y . A figura 2 abaixo inclui a função de produção da equação (1.1.4) no
gráfico de Solow. Observe que o consumo por trabalhador é dado pela diferença entre o valor
de
*
y e o investimento por trabalhador no estado estacionário )(
*
sy .
Nesta versão simples do modelo, quando a economia atinge seu estado estacionário, a
taxa de crescimento do produto
per capita se estabiliza
5
- ou seja, o produto por trabalhador
cresce até o ponto onde começam a operar os efeitos dos retornos decrescentes da acumulação
de capital.
Mudanças nos valores dos parâmetros do modelo produzem um “choque” na economia,
deslocando o estado estacionário e, consequentemente, reiniciando o processo de ajustamento
da economia ao novo estado estacionário
6
. Dentre estas mudanças, pode-se citar, por
exemplo, o aumento da taxa de investimento e o aumento da taxa de crescimento
populacional. O primeiro aumento desloca para cima a curva
sy, aumentando o valor de
capital por trabalhador no estado estacionário. A economia se torna mais rica no sentido de
5
Não significa dizer que o produto Y não cresça no estado estacionário. Ele simplesmente o faz à mesma taxa n
de crescimento populacional ou da força de trabalho.
6
A economia cresce ao longo da sua trajetória de transição ao novo estado estacionário. Uma vez atingido este
novo ponto, a taxa de crescimento da economia (taxa de crescimento do produto per capita) cessa.
8
que o aprofundamento de capital ocorrido está associado a um produto
per capita maior. Já o
aumento da taxa de crescimento da população desloca para a esquerda a curva
(n+d)k,
diminuindo o estoque de capital por trabalhador do estado estacionário. Neste ponto, a
economia tem menos capital por trabalhador do que no início e está, portanto, mais pobre.
Figura 2: Gráfico de Solow e a função de produção.
Fonte: Jones (2000)
Uma expressão para o produto
per capita no estado estacionário )(
*
y pode ser obtida
encontrando-se o valor do estoque de capital por trabalhador no estado estacionário )(
*
k .
Para tanto, basta substituir a equação (1.1.4) na equação (1.1.8) e igualar a equação resultante
a zero. Este procedimento resulta na seguinte equação:
)1/(1
*
α
+
=
dn
s
k
(1.1.9)
Substituindo a equação (1.1.9) na função de produção tem-se o valor do produto
per
capita no estado estacionário:
)1/(
*
αα
+
=
dn
s
y
(1.1.10)
(n+d)k
sy
K
*
k
y
=
k
α
y*
sy*
y
9
A equação acima mostra o que o modelo de Solow diz sobre as diferenças em termos de
renda entre as nações: países com maior taxa de poupança/investimento tenderão a ser mais
ricos,
ceteris paribus. Países que possuem um maior volume de investimentos acumulam um
maior estoque de capital por trabalhador que, por sua vez, está associado a um maior produto
per capita. Por outro lado, países que têm uma maior taxa de crescimento populacional
tendem a ser mais pobres de acordo com o modelo de Solow. Isto porque uma elevada taxa de
crescimento da população requer uma maior taxa de investimento para que haja um
aprofundamento de capital.
De acordo com Jones (2000), as previsões gerais do modelo de Solow parecem ser
confirmadas por dados empíricos. Isto significa que se sustentam as constatações retiradas do
modelo de que taxa de investimento e taxa de crescimento populacional determinam em parte
o desempenho das economias em termos de crescimento econômico.
Esta versão simples do modelo de Solow, porém, não consegue explicar um fato
empírico importante: as economias apresentam crescimento sustentado da renda
per capita.
Conforme visto até agora, o crescimento do produto por trabalhador cessa quando a economia
atinge o seu estado estacionário. Entretanto, quando se introduz o progresso tecnológico no
modelo, este é capaz de gerar crescimento sustentado da renda
per capita. Isto porque com o
progresso tecnológico as melhorias na tecnologia compensam continuamente os efeitos dos
rendimentos decrescentes sobre a acumulação de capital. Em conseqüência, a produtividade
do trabalho aumenta tanto diretamente, devido às melhorias tecnológicas, quanto
indiretamente, devido à acumulação de capital adicional que estas melhorias tornam possível
(Jones, 2000).
A função de produção neste caso (com progresso tecnológico) toma a seguinte forma:
αα
==
1
)(),( ALKALKfY (1.1.11)
ou em termos de produto por trabalhador:
αα
=
1
Aky (1.1.12)
onde
A é uma variável de tecnologia, conhecida como aumentadora de trabalho ou Harrod-
neutra. O progresso tecnológico ocorre quando
A aumenta ao longo do tempo.
10
Uma hipótese importante é que o progresso tecnológico é exógeno, o que significa dizer
que a tecnologia disponível para as empresas não é afetada por suas ações, dentre elas as
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Supõe-se que
A cresça a uma taxa constante
g – isto é, g
A
A
=
.
Em termos de taxa de crescimento, a equação (1.1.12) toma a seguinte forma:
A
A
k
k
y
y
)1(
αα
+= (1.1.13)
A equação (1.1.13) mostra que no modelo de Solow com tecnologia a taxa de
crescimento do produto
per capita é uma média ponderada da taxa de crescimento do capital
por trabalhador e da taxa de crescimento do progresso tecnológico.
Como no modelo simples sem tecnologia, a economia apresenta uma tendência de se
movimentar para um estado estacionário. Entretanto, devido à introdução do progresso
tecnológico no modelo, a nova variável que se modifica ao longo da trajetória de transição ao
estado estacionário é chamada de razão capital-tecnologia
)
~
(k , cuja expressão matemática é:
ALKk /
~
ou Akk /
~
= . A função de produção em termos da variável k
~
é dada por:
α
ky
~
~
= (1.1.14)
onde AyALYy
//
~
= e é conhecida como a razão produto-tecnologia
7
. Esta última razão é
função de
k
~
, cuja taxa de crescimento é dada por:
kdgnysk
~
)(
~
~
++=
(1.1.15)
No estado estacionário, prevalece a condição
0
~
=k
, que resulta em:
7
As variáveis y
~
e k
~
, respectivamente, são conhecidas também por produto por unidade efetiva de trabalho e
capital por unidade efetiva de trabalho. Essas denominações ilustram o fato de que o progresso tecnológico é
aumentador de trabalho, sendo que AL é o montante efetivo de trabalho empregado na produção.
11
)1/(1
*
~
α
++
=
dgn
s
k (1.1.16)
onde
*
~
k é o valor da razão capital-tecnologia no estado estacionário.
O valor da razão produto-tecnologia no estado estacionário )
~
(
*
y é dado por:
)1/(
*
~
αα
++
=
dgn
s
y (1.1.17)
Finalmente, as implicações para o produto por trabalhador são:
)1/(
*
)()(
αα
++
==
dgn
s
tAty (1.1.18)
Como se vê pela expressão acima, o produto por trabalhador e a tecnologia são funções
do tempo. Conclui-se também que o produto per capita é determinado pela tecnologia, pela
taxa de investimento e pela taxa de crescimento populacional
8
.
A inclusão de uma variável para o progresso tecnológico superou a limitação do modelo
simples no sentido de que agora o modelo é capaz de explicar o crescimento sustentado do
produto per capita.
No intuito de se examinar como o modelo de Solow com tecnologia revela que o
progresso tecnológico é a fonte do crescimento sustentado do produto per capita considere a
equação (1.1.13). Quando a economia atinge o seu estado estacionário, ela entra em uma
trajetória de crescimento equilibrado, na qual capital, consumo e população crescem a taxas
constantes. Se na situação considerada o produto per capita e o capital por trabalhador
crescem à mesma taxa (g
y
e g
k
, respectivamente), percebe-se através de (1.1.13) que y e k
crescem, ambos, à taxa do progresso tecnológico – ou seja, ggg
ky
=
=
. Assim, quando se
introduz o progresso tecnológico, k deixa de ser constante no longo prazo – isto é, quando a
economia atinge o estado estacionário ela entra em uma trajetória de crescimento equilibrado,
onde o crescimento do produto per capita é igual ao crescimento do progresso tecnológico.
8
Note que quando g = 0 e A
0
= 1 (sem progresso tecnológico) retorna-se à versão simples do modelo sem
tecnologia. Neste caso, não há crescimento do produto per capita no longo prazo.
12
Assim sendo, pode-se destacar o papel central que o progresso tecnológico desempenha
nos modelos de crescimento neoclássicos. Entretanto, ele é considerado exógeno e estes
modelos não são capazes de explicar os fatores que o determinam – isto é, ao não modelar o
progresso tecnológico, estes modelos expõem a sua principal deficiência.
Outros dois resultados interessantes que se pode tirar do modelo de Solow com
tecnologia são que mudanças de política econômica que promovam, por exemplo, o aumento
da taxa de investimento da economia, têm efeitos temporários sobre a taxa de crescimento –
isto é, mudanças de política não têm efeito de crescimento no longo prazo; e que uma
mudança de política permanente pode aumentar (ou diminuir) permanentemente o nível do
produto per capita.
Este fato pode ser compreendido supondo-se uma economia que esteja no seu estado
estacionário e apresente uma taxa de investimento s. Através de uma de política de subsídio
permanente ao investimento, a taxa s aumenta permanentemente para s’. Este aumento faz
com que a economia transite para um estado estacionário mais alto,
**
~
k , por exemplo. O
aumento da taxa de investimento para s’ aumenta a taxa de crescimento temporariamente
enquanto a economia transita para o novo ponto
**
~
k e, uma vez que g é constante, o
crescimento mais rápido de
k
~
ao longo da trajetória de transição implica que o produto per
capita se eleva mais rapidamente do que a tecnologia – ou seja,
gyy >
. Este crescimento
mais veloz continua temporariamente até a razão produto-tecnologia atingir seu novo estado
estacionário, momento em que a economia retorna a seu nível de longo prazo g. Neste ponto,
o nível do produto per capita é maior.
Mankiw et al. (1992) avaliaram que as predições do modelo de Solow são, em uma
primeira aproximação, consistentes com as evidências empíricas. Ao analisarem dados
disponíveis para um conjunto de países
9
, concluíram que a poupança e o crescimento
populacional afetam a renda na maneira prevista pelo modelo de Solow. No entanto, o modelo
não prevê corretamente as magnitudes dos efeitos que a poupança e o crescimento
populacional têm sobre a renda. Os autores argumentam que os efeitos da poupança e do
crescimento populacional sobre a renda são muito elevados. Eles afirmam, ainda, que, devido
a duas razões principais, a exclusão de uma variável que capte a acumulação de capital
9
Os dados utilizados na análise de Mankiw et al. (1992) são da Real National Accounts, construídos por
Summers & Heston (1988). O conjunto de dados engloba quase todos os países do mundo (excetuando-se os de
economia centralmente planificada) e cobre o período de 1960-1985. Os países foram divididos em três
amostras, sendo que a primeira continha 98 países, a segunda 75, e a terceira 22.
13
humano pode explicar o motivo pelo qual os efeitos da poupança e crescimento são
superestimados. Primeiro, para qualquer taxa de acumulação de capital humano dada, maiores
taxas de poupança e menor crescimento populacional conduzem a maiores níveis de renda e,
por conseguinte, a um maior nível de capital humano. Em conseqüência disto, acumulação de
capital físico e crescimento da população têm maiores impactos na renda quando a
acumulação de capital humano é levada em consideração. Segundo, acumulação de capital
humano pode estar correlacionada com poupança e crescimento populacional, o que implica
que omitir acumulação de capital humano viesa os coeficientes estimados da poupança e do
crescimento da população.
Baseados nesta argumentação, Mankiw et al. (1992) sugerem que para um melhor
entendimento da relação entre poupança, crescimento populacional e renda é preciso incluir a
acumulação de capital humano no modelo, criando o que eles mesmos denominaram de
“modelo de Solow aumentado”
10
. Além disso, os autores reconhecem a importância do capital
humano no processo de crescimento econômico
11
.
A função de produção do modelo com acumulação de capital humano tem a seguinte
forma, de acordo com uma função Cobb-Douglas com retornos constantes:
αα
=
1
)(AHKY (1.1.19)
onde A representa a tecnologia aumentadora de trabalho que, tal como na versão anterior,
cresce a uma taxa exógena g, e H é o trabalho qualificado.
A acumulação de capital humano nesta economia se dá pela decisão dos agentes entre
dispender seu tempo na aquisição de novas habilidades e trabalhar. Descrevendo como u a
fração constante e exógena de mão-de-obra empenhada no aprendizado de habilidades e como
L a quantidade de trabalho (em geral), tem-se que o trabalho qualificado H é gerado de acordo
com a seguinte equação:
LeH
u
ψ
=
(1.1.20)
10
A proxy para capital humano utilizada no modelo de Mankiw et al. (1992) foi a porcentagem da população
trabalhadora que se encontrava no nível secundário de escolaridade nos anos cobertos pela análise.
11
Lucas (1988) também incorporou a acumulação de capital humano ao modelo de crescimento neoclássico.
Segundo este autor, era necessário que se incluísse uma teoria de “capital humano” dentro do modelo para que se
pudesse formalizar o modo pelo qual decisões individuais de adquirir conhecimento afetam a produtividade.
14
onde
ψ
é o quanto aumenta H quando há um pequeno aumento em u
12
.
A acumulação de capital físico se dá como na versão anterior do modelo, ou seja:
dKsK
K
=
(1.1.21)
onde
K
s é a taxa de investimento em capital físico e d é a taxa constante de depreciação
13
.
Reescrevendo a função de produção em termos de produto por trabalhador obtém-se:
αα
=
1
)(Ahky (1.1.22)
onde as variáveis representadas por letras minúsculas estão divididas pelo estoque de trabalho
não qualificado L.
Sendo u fixo, h também é constante, uma vez que
u
eh
ψ
= . Assim, o modelo é resolvido
de maneira semelhante à versão anterior – isto é, em termos das variáveis
y
~
e k
~
, sendo que,
no presente caso, AhyALhYy //
~
=
e
AhkALhKk //
~
=
14
. Tal como na versão anterior
do modelo, a função de produção e de acumulação de capital em termos das variáveis de
situação são expressas como se segue:
α
ky =
~
(1.1.23)
kdgnysk
K
~
)(
~
~
++=
(1.1.24)
Observe que as equações acima são idênticas às equações (1.1.14) e (1.1.15), de modo
que a dinâmica do modelo com tecnologia também se aplica neste caso. Os valores de
k
~
e y
~
no estado estacionário )0
~
( =k
são:
12
Formalmente,
du
Hd log
=
ψ
. As evidências empíricas internacionais demonstram que a cada ano adicional
de escolaridade aumenta os salários ganhos por uma pessoa aproximadamente em 10% - isto é,
10,0=
ψ
.
13
No modelo, assume-se que o capital humano se deprecia à mesma taxa do capital físico.
14
Essas variáveis expressam as quantidades efetivas por unidade de trabalho levando-se em conta a variável h
(AL é o montante efetivo empregado na produção). Para o modelo em questão, elas são chamadas de variáveis de
situação.
15
dgn
s
y
k
K
++
=
~
~
(1.1.25)
)1/(
*
~
αα
++
=
dgn
s
y
K
(1.1.26)
Em termos de produto por trabalhador, a equação acima toma a seguinte forma:
)()(
)1/(
*
thA
dgn
s
ty
K
αα
++
= (1.1.27)
onde foi incluído t para mostrar quais variáveis estão crescendo ao longo do tempo.
Esta última equação mostra os resultados do modelo de Solow incluindo a acumulação
de capital humano: um país será tão mais rico quanto maior a taxa de investimento em capital
físico, maior o tempo despendido em acumulação de habilidades )(
u
eh
ψ
= , menor a taxa de
crescimento populacional e maior o nível de tecnologia. Mais ainda, no estado estacionário, o
produto per capita cresce à taxa do progresso tecnológico, g, tal como na versão anterior do
modelo.
Mankiw et al. (1992) testaram o modelo de Solow aumentado (com capital humano) e
concluíram que ele é capaz de explicar por volta de 80% da variação da renda entre os países.
Os autores ainda argumentam que esta versão do modelo fornece uma explicação quase
completa do porquê de alguns países serem ricos e outros pobres. Jones (2000) também
afirma que o modelo de Solow é muito bem-sucedido no que se refere a explicar a ampla
variação da riqueza entre as nações, sendo que países que investem uma grande parcela de
seus recursos em capital físico e na acumulação de qualificações são ricos, enquanto que
países que falham em algum desses pontos têm menor potencial de crescimento.
Não obstante, o modelo de Solow aumentado ainda mantém o progresso tecnológico
como exógeno, o que é o mesmo que dizer que o modelo ainda não é capaz de explicar as
diferentes taxas de crescimento existentes entre os países, tampouco por que alguns países
investem mais do que outros e atingem níveis de tecnologia e produtividade mais elevados.
16
1.1.1 A hipótese da convergência
Um tema frequentemente estudado por teóricos do crescimento econômico é a hipótese
da convergência, segundo a qual os países pobres tenderiam a crescer mais rápido que os
países ricos e superar o hiato de renda existente entre estes dois grupos.
Uma constatação importante é que evidências empíricas parecem suportar a
convergência para países ricos; mas, quando se analisa amostras maiores, verifica-se que não
há convergência e que o hiato existente entre países pobres e ricos não está se estreitando.
Os modelos de crescimento neoclássicos apresentam uma explicação para este
fenômeno: para países que apresentam estados estacionários similares, a hipótese da
convergência se sustenta – ou seja, os países pobres crescerão mais rápido, em média, do que
os países ricos. Isto é, para países ricos, nos quais os determinantes do estado estacionário –
taxa de investimento e de crescimento populacional – são semelhantes, espera-se que haja
convergência. Entretanto, quando se considera grandes amostras, dentro das mesmas
encontra-se uma grande variedade de taxas de investimento, crescimento populacional e
níveis tecnológicos, o que faz com que a falta de convergência seja previsível, uma vez que
nem todos os países do mundo possuem o mesmo estado estacionário
15
.
Uma decorrência importante da propriedade de convergência dos modelos neoclássicos
é o princípio da dinâmica da transição, segundo o qual quanto mais abaixo do seu estado
estacionário estiver uma economia, tanto mais ela deverá crescer; e, quanto mais acima a
economia estiver do seu estado estacionário, mais lentamente ela irá crescer. Considerando
que os diversos países podem estar em diferentes pontos de suas trajetórias de transição aos
respectivos estados estacionários, este princípio explica a existência das diferentes taxas de
crescimento no mundo.
A relação inversa entre o nível inicial de renda e a taxa de crescimento prevista pelo
modelo neoclássico pode explicar o rápido crescimento dos países do leste asiático,
principalmente Coréia do Sul, Cingapura e Hong Kong. Mais recentemente, o rápido
crescimento econômico da China pode ser atribuído, dentre outros fatores, ao baixo nível de
renda inicial deste país, corroborando o princípio da dinâmica de transição previsto pelos
modelos neoclássicos. Em outras palavras, países que são “pobres” – tendo como referencial
15
Críticos afirmam que os modelos de crescimento neoclássicos falham ao prever a convergência entre países
ricos e pobres. No entanto, estes críticos esquecem que estes modelos apenas prevêem convergência para países
com estados estacionários semelhantes. Além disso, Mankiw et al. (1992) argumentam que o modelo de Solow
prevê convergência apenas após o “controle” dos determinantes do estado estacionário, fenômeno este que
deveria ser chamado de convergência condicional.
17
seus estados estacionários – tendem a crescer mais rapidamente; e os países do leste asiático
citados acima são bons exemplos disso.
Para Barro (1996), a propriedade de convergência dos modelos neoclássicos deriva dos
retornos decrescentes do capital. Economias que têm menos capital por trabalhador (em
relação ao seu nível de longo-prazo) tendem a ter maiores taxas de retorno e,
consequentemente, maiores taxas de crescimento. A convergência é condicional porque os
níveis de capital por trabalhador e produto per capita do estado estacionário dependem,
dentro do modelo neoclássico, da propensão a poupar – que é o mesmo que capacidade para
investir, uma vez que a poupança é canalizada integralmente para investimento –, da taxa de
crescimento da população e da posição da função de produção.
Barro (1996) encontrou suporte empírico para a propriedade de convergência
condicional dos modelos neoclássicos de crescimento: para dados níveis iniciais do produto
per capita, a taxa de crescimento de uma economia é tanto maior quanto maiores os níveis
iniciais de escolaridade, menor fertilidade, menor consumo do governo, melhor manutenção
da lei e da ordem, menor inflação e desenvolvimentos nos termos de comércio; e, para dados
valores dessas e outras variáveis, o crescimento é negativamente relacionado com o nível
inicial do produto per capita. Foram usados dados para quase cem países, observados no
período de 1960 a 1990
16
.
1.1.2 Decomposição do crescimento econômico
Outro tema de grande interesse empírico é o exercício de decomposição do
crescimento
17
. Solow (1957) postula a seguinte função de produção, usada para a
decomposição do crescimento em aumento do capital, aumento da mão-de-obra e aumento da
mudança tecnológica:
αα
=
1
L
BK
Y
(1.1.28)
onde B é um termo de produtividade Hicks-neutro.
16
Os dados utilizados e o detalhamento das variáveis usadas nos modelos contidos em Barro (1996) podem ser
visualizados no conjunto de dados de Barro & Lee (2000), disponível no National Bureau of Economic Research
(NBER).
17
No capítulo 2 serão revistos alguns estudos empíricos de decomposição do crescimento econômico recente da
China.
18
Reescrevendo (1.1.28) – tirando-se os logaritmos e derivando em relação ao tempo –,
obtém-se a seguinte expressão:
B
B
L
L
K
K
Y
Y
++= )1(
αα
(1.1.29)
A equação acima mostra que a taxa de crescimento do produto é uma média ponderada
do crescimento do capital e do trabalho mais uma taxa de crescimento do termo de
produtividade (B). Este último termo é conhecido como produtividade total dos fatores (PTF)
(ou crescimento da produtividade multifatorial) e é considerado um resíduo no cálculo das
fontes de crescimento. Uma interpretação desse termo do crescimento da produtividade total
dos fatores é que ele representa a mudança tecnológica e, em termos da equação (1.1.11),
α
=
1
A
B
.
De modo geral, na fase inicial do processo de crescimento dos países, principalmente
aqueles recentemente industrializados do leste asiático, a acumulação de fatores (capital físico
e capital humano) é um determinante mais importante do que o crescimento da produtividade
dos fatores. À medida que essas economias atingem uma maior maturidade nos seus
processos de crescimento, devido em parte aos efeitos de rendimentos decrescentes, o
crescimento da produtividade dos fatores tende a se tornar a principal fonte do crescimento
econômico – isto é, fatores de produtividade tendem a superar os fatores de acumulação ao
longo do processo de crescimento econômico.
1.2 Modelos de crescimento endógeno
Os modelos neoclássicos associam crescimento econômico com acumulação de capital
(físico e humano). Estes modelos também destacam a importância do progresso tecnológico,
sem o qual não há crescimento de longo prazo
18
. Entretanto, ao não apresentarem uma
modelagem do progresso tecnológico, os modelos de crescimento neoclássicos não
conseguem explicar as diferenças nos níveis de tecnologia entre os países e os determinantes
das melhorias tecnológicas. Em última instância, os modelos de crescimento neoclássicos não
18
Como visto na seção anterior, dentro dos modelos de crescimento neoclássicos a existência de progresso
tecnológico explica o crescimento sustentado do produto per capita. Pode-se dizer, portanto, que a principal
conclusão destes modelos é que o progresso tecnológico é o motor do crescimento.
19
conseguem explicar as fontes do progresso tecnológico que pavimentam o crescimento
econômico.
A grande contribuição dos modelos de crescimento endógeno ou modelos da Nova
Teoria do Crescimento está no fato de que eles procuraram construir um modelo de
crescimento no qual a tecnologia não fosse tratada como exógena – isto é, um modelo no qual
são incluídos os determinantes dos avanços tecnológicos. Em outras palavras, a Nova Teoria
do Crescimento tenta entender as forças econômicas que estão por trás do progresso
tecnológico.
Dentro da teoria do crescimento, a tecnologia é tratada como a maneira como os
insumos são transformados em produto no processo produtivo, sendo que ela é melhorada
através das idéias. Uma característica distintiva das idéias é que elas são não-rivais e
apresentam diferentes graus de exclusibilidade
19
, o que confere a elas aspectos de bens
públicos.
Uma conseqüência decorrente do fato de que as idéias são não-rivais é que elas
envolvem um custo fixo de produção e um custo marginal igual a zero. Isto significa que a
economia das idéias está estreitamente ligada à existência de retornos crescentes à escala,
sendo que, neste caso, “... a modelagem desses retornos crescentes em um ambiente
competitivo com pesquisa intencional exige necessariamente a concorrência imperfeita”
(Jones, 2000, p.66-7)
20
.
Deve-se destacar também que um fato muito importante para a economia das idéias e
para o crescimento econômico foi o desenvolvimento dos direitos de propriedade intelectual,
cujo aperfeiçoamento é responsável pelo crescente número de inovações (Jones, 2000).
Um insumo importante na função de produção de novas idéias são os recursos
destinados à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
21
. A possibilidade de auferir lucros
econômicos com a invenção de uma nova técnica de produção ou com o aperfeiçoamento de
uma tecnologia já existente faz com que as empresas destinem um volume crescente de
recursos à P&D. A ação das empresas maximizadoras na busca de novas técnicas de produção
19
De acordo com Jones (2000), a maioria dos bens econômicos é rival: o uso de um bem por uma pessoa exclui
o uso do mesmo bem por outra. Já o grau de exclusibilidade de um bem está relacionado à capacidade de o
proprietário da idéia cobrar uma taxa pelo seu uso. As idéias são apenas em parte exclusivas; o que significa que
elas podem gerar benefícios que os seus inventores não podem captar (externalidades).
20
Da microeconomia, sabe-se que com retornos crescentes à escala, o custo médio é sempre maior que o custo
marginal e, portanto, a fixação do preço pelo custo marginal resulta em lucros negativos. Se a decisão de
“produção” de novas idéias necessita da possibilidade de auferir lucro (igual a zero na concorrência perfeita), é
necessário que se considere a concorrência imperfeita.
21
Na produção de novas idéias podem ser usados outros tipos de insumos além de recursos rotulados como
P&D. Entretanto, estes últimos são considerados aqui como os principais insumos na produção de novas idéias.
20
cria o progresso tecnológico e o processo de crescimento torna-se um resultado endógeno da
economia
22
. Em outras palavras, o progresso tecnológico decorre da busca de novas idéias, na
qual os inventores captam na forma de lucros parte dos ganhos sociais gerados pelas novas
idéias.
O modelo aqui desenvolvido para representar a nova teoria do crescimento é o modelo
de Romer (1990)
23
, que como o modelo de Solow, traz dois elementos principais: uma
equação de produção e um conjunto de equações que descreve a evolução dos insumos da
função de produção ao longo do tempo. A função de produção é dada por:
αα
=
1
)(
y
ALKY (1.2.1)
onde Y é o produto , K é o estoque de capital, L
y
é o trabalho dedicado a gerar produto,
α
é
um parâmetro com valor entre 0 e 1, e A é o estoque de idéias.
A função de produção acima apresenta retornos constantes à escala para os insumos
capital e trabalho. Entretanto, ao considerar o estoque de idéias A como insumo, a função de
produção passa a exibir retornos crescentes à escala. Como visto anteriormente, a presença de
retornos crescentes à escala decorre da natureza não-rival das idéias.
A acumulação de trabalho e capital é dada tal como nos modelo neoclássicos: o trabalho
cresce exponencialmente a uma taxa exógena e constante n, enquanto que o capital se
acumula na medida em que as pessoas poupam parte da sua renda (na proporção
K
s ) e se
deprecia à taxa exógena d:
n
L
L
=
(1.2.2)
dKYsK
K
=
(1.2.3)
A grande novidade em relação aos modelos neoclássicos é a inclusão de uma equação
que descreve a acumulação do estoque de idéias A. Dentro do modelo, A(t) é o estoque de
22
Para Jones (2000, p. 92), “... uma das contribuições importantes de Romer (1990) foi a explicação de como
construir uma minieconomia de agentes maximizadores de lucros que torne endógeno o progresso tecnológico”.
23
Este modelo descreve o conjunto de países avançados, onde o progresso tecnológico é movido por atividades
de P&D. Trata-se, portanto, de um modelo que descreve o avanço da fronteira tecnológica.
21
idéias ou é o estoque de conhecimento adquirido ao longo da história até o momento t. O
termo A
, por sua vez, representa o número de novas idéias geradas em qualquer ponto do
tempo. Na versão mais simples do modelo, tem-se a seguinte equação:
A
LA
δ
=
(1.2.4)
onde A
é igual ao número de pessoas que tentam descobrir novas idéias,
A
L , multiplicado
pela taxa à qual elas descobrem novas idéias,
δ
.
A mão-de-obra pode dedicar-se à geração de produto ou de novas idéias, de modo que
vale a seguinte restrição de recursos:
LLL
YA
=
+
(1.2.5)
Quanto à taxa à qual os pesquisadores geram novas idéias
)(
δ
, há que se considerar
dois pontos: primeiro, a geração de novas idéias no momento presente é facilitada por
descobertas já realizadas, sendo que, neste caso,
δ
é função crescente de A; segundo, a
geração de idéias novas se torna cada vez mais difícil, uma vez que aquelas “mais óbvias” e
“menos custosas” foram descobertas primeiro. Neste último caso,
δ
é função decrescente de
A. Levando em conta este raciocínio, a modelagem da taxa de geração de novas idéias toma a
seguinte forma:
φ
δδ
A= (1.2.6)
onde
δ
e
φ
são constantes, sendo este último conhecido como parâmetro de transbordamento
de conhecimentos.
Nesta equação, 0>
φ
indica que a produtividade da pesquisa aumenta com o número de
idéias já geradas, 0<
φ
indica que o processo de geração de idéias se torna cada vez mais
difícil ao longo do tempo, e 0=
φ
indica que a produtividade da pesquisa independe do
estoque de conhecimento já adquirido
24
.
24
Supõe-se que 1<
φ
e que haja efeitos de transbordamento de conhecimento.
22
Considerando que o aumento do número de pessoas envolvidas no trabalho de pesquisa
aumenta a produtividade da geração de novas idéias – ou seja, modelando
λ
AA
LL = , com
λ
variando entre 0 e 1 – obtém-se a seguinte equação para a produção de novas idéias:
φλ
δ
ALA
A
=
(1.2.7)
Tendo em vista as equações acima e considerando que uma fração constante da
população esteja empregada na geração de novas idéias, o modelo de Romer (1990), assim
como os modelos neoclássicos, também atribui ao progresso tecnológico a explicação para o
crescimento do produto per capita. Representando as variáveis per capita por letras
minúsculas, e denotando
x
g a taxa de crescimento de qualquer variável per capita x ao longo
da trajetória de crescimento equilibrado, tem-se que
Aky
ggg
=
=
. É o mesmo que dizer que,
ao longo da trajetória de crescimento equilibrado, o produto per capita, o capital por
trabalhador e o estoque de idéias crescerão à mesma taxa, sendo que na ausência de progresso
tecnológico não há crescimento sustentado na economia.
O que os modelos neoclássicos não conseguiram explicar e que o modelo de
crescimento endógeno tenta mostrar é como se dá o crescimento do progresso tecnológico ao
longo da trajetória de crescimento equilibrado. Reescrevendo a equação (1.2.7) e dividindo
ambos os termos por A, tem-se:
φ
λ
δ
=
1
A
L
A
A
A
(1.2.8)
Ao longo da trajetória de crescimento equilibrado, tem-se que
A
g
será constante se, e
somente se, o numerador e o denominador do lado direito da equação acima crescerem à
mesma taxa.
Tirando os logaritmos e derivando ambos os membros de (1.2.8) e considerando que o
crescimento do número de pesquisadores deve ser igual ao crescimento populacional n,
obtém-se a seguinte expressão para
A
g :
φ
λ
=
1
n
g
A
(1.2.9)
23
Sendo
A
g o determinante do crescimento, pode-se dizer então que a economia cresce
como função dos parâmetros da equação de produção de idéias e do crescimento do número
de pesquisadores que, em última instância, é dado pela taxa de crescimento populacional.
A equação acima sugere que quando
λ
e
φ
são iguais a um e zero, respectivamente, o
crescimento da economia é função apenas do crescimento populacional n. Diferentemente do
modelo neoclássico, nos modelos de crescimento endógeno o crescimento da população
influencia positivamente o crescimento da economia, uma vez que este último leva ao
crescimento do número de pesquisadores empenhados na geração de novas idéias
25
.
Quando
1=
λ
e 0=
φ
, a produtividade dos pesquisadores é uma constante igual a
δ
,
sendo também independente do estoque de idéias geradas no passado. A função de produção
de idéias aparece na forma de
A
LA
δ
=
, sendo que quando
A
L é constante, a economia gera
um número constante de novas idéias (
A
L
δ
) a cada período. Neste caso, a taxa de crescimento
do estoque de idéias cairá ao longo do tempo, uma vez que o número de novas idéias será
cada vez menor em relação ao estoque de idéias que se acumula.
Para que haja crescimento, o número de novas idéias deve ser crescente ao longo do
tempo. Como visto anteriormente, o crescimento populacional, por exemplo, permite que
mais pessoas estejam envolvidas no esforço de pesquisa, assegurando um volume crescente de
novas idéias, sem o qual não há crescimento de longo prazo.
Há, contudo, uma versão do modelo de crescimento endógeno que é capaz de gerar
crescimento sustentado na presença de esforço de pesquisa constante. Considera-se, para
tanto, que
1=
λ
e 1=
φ
, de modo que a equação (1.2.7) seja ALA
A
δ
=
. Reescrevendo esta
equação para
A
L
A
A
δ
=
, vê-se que essa versão do modelo gera crescimento sustentado na
presença de um esforço constante de pesquisa. Nesse caso, Romer (1990) supôs que a
produtividade da pesquisa é proporcional ao estoque existente de idéias:
A
δδ
= .
Esta versão do modelo, porém, não se sustenta empiricamente. Tendo em vista que
A
L
cresce rapidamente ao longo do tempo, a formulação descrita por
A
LAA
δ
=
sugere que a
taxa de crescimento das economias avançadas deveria ter se elevado rapidamente nos últimos
25
Conforme Jones (2000), a relação entre crescimento da população e crescimento econômico sugerida por este
tipo de modelo é difícil de ser testada empiricamente, embora se tenha evidências dessa relação. Um exemplo
disso é que o crescimento sustentado da população é um fenômeno relativamente recente, tal como o
crescimento rápido e sustentado do produto per capita. Aumentos na taxa de crescimento populacional para
níveis mais significativos parecem acompanhar, de modo aproximado, a Revolução Industrial.
24
quarenta ou cem anos, o que não está de acordo com as evidências. Para evitar discrepância
entre a previsão e as evidências empíricas dentro do modelo de crescimento endógeno, é
necessário assumir 1<
φ
, o que fica compatível com a especificação da equação (1.2.9).
Tal como no modelo neoclássico, dentro dos modelos de crescimento endógeno a taxa
de crescimento de longo prazo não é afetada por políticas que alteram a taxa de investimento,
e nem mesmo por alterações na parcela da população envolvida em pesquisa. Isto se deve ao
fato de que nenhum dos parâmetros da equação (1.2.9) é afetado por mudanças na taxa de
investimento e na composição da mão-de-obra destinada à geração de P&D, por exemplo. Por
conseguinte, pode-se afirmar que, mesmo após a endogeneização do progresso tecnológico no
modelo, a taxa de crescimento de longo prazo não pode ser estimulada por meio de políticas
públicas (Jones, 2000)
26
. Uma política pública que resulte, por exemplo, no aumento
permanente da parcela da população destinada a gerar novas idéias faz com que a taxa de
progresso tecnológico se eleve temporariamente, sem que ela o faça no longo prazo. O que
acontece no longo prazo é um aumento no nível de tecnologia em conseqüência do aumento
permanente da P&D.
No estado estacionário, a razão
Ay é constante ao longo da trajetória de crescimento
equilibrado e é dada pela seguinte equação, semelhante à (1.1.18):
)1(
)1/(
*
R
A
K
s
dgn
s
A
y
++
=
αα
(1.2.10)
onde a presença do termo
)1(
R
s expressa a parcela da população que não se dedica à
pesquisa.
Reescrevendo (1.2.8) como
A
Ls
A
A
R
δ
=
, onde
LsL
RA
=
e 1=
λ
(
R
s
é a parcela da
população dedicada à P&D), ela pode ser resolvida, ao longo da trajetória de crescimento
equilibrado, para o nível de A em termos de força de trabalho. A equação resultante é:
26
Barro (1996) afirma que a taxa de crescimento e o volume de invenções tendem a não ser Pareto ótimo, devido
às distorções relacionadas à criação de novas mercadorias e novos métodos de produção. Afirma ainda que
nestes modelos o governo tem grande potencial de influenciar a taxa de crescimento de longo prazo por meio de
medidas tais como taxação, manutenção da lei e da ordem, provisão de serviços de infra-estrutura, proteção aos
direitos de propriedade intelectual, regulação do corcio internacional e dos mercados financeiros, etc.
Segundo Jones (2000, p.88), “os modelos embasados em idéias nos quais as mudanças nas políticas possam
aumentar a taxa de crescimento da economia repousam na hipótese de que
1
<
φ
, ou seu equivalente”.
25
A
R
g
Ls
A
δ
=
(1.2.11)
Combinando a equação acima com (1.2.10), obtém-se:
)()1()(
)1/(
*
tL
g
s
s
dgn
s
ty
A
R
R
A
R
δ
αα
++
=
(1.2.12)
No lado direito da equação acima, o primeiro termo é conhecido do modelo de Solow e
conclusões como a de que economias que investem mais em capital serão mais ricas
permanecem válidas. No segundo termo do lado direito de (1.2.12), o termo
R
s , que
representa a parcela da população destinada à pesquisa
27
, foi introduzido para mostrar que, de
um lado, mais trabalhadores na pesquisa significa menos trabalhadores na produção, e, de
outro, que mais pessoas envolvidas em pesquisa implica em mais idéias (efeito de oferta),
aumentando a produtividade da economia. Além disso, há ainda um efeito de demanda, ou
seja, uma economia maior oferece um mercado maior para uma idéia, aumentando o retorno à
pesquisa.
Uma das deficiências das primeiras versões dos modelos de crescimento endógeno
apontadas por Barro (1996) é que eles não mais prevêem a convergência condicional, um
comportamento que encontra forte regularidade empírica para dados de países e regiões. Para
este autor, é necessário então que se ampliem os modelos da nova teoria do crescimento, os
quais modelavam apenas as mudanças ocorridas na fronteira tecnológica.
Modelos de difusão tecnológica (Barro & Sala-i-Martin, 1995) mantêm a propriedade de
convergência dos modelos neoclássicos. Isto é, estes modelos combinam o crescimento de
longo prazo das teorias de crescimento endógeno com o comportamento de convergência
previsto pelos modelos neoclássicos.
Economias que estejam afastadas da fronteira tecnológica crescem à medida que os seus
trabalhadores aprendem a utilizar os mais avançados bens de capital já disponíveis. A função
27
Para Jones (2000), dentro do modelo a parcela da população que se dedica à P&D não é ótima, devido às
externalidades que a pesquisa produz e que o mercado não é capaz de captar.
26
de produção destes modelos
28
leva em consideração o nível de qualificação dos trabalhadores
(h), que determina a quantidade de bens de capital que a mão-de-obra pode utilizar
29
:
αα
=
1
)(hLKY (1.2.13)
O estoque de capital K é acumulado tal como nos casos anteriores, ou seja, pela renúncia
do consumo:
dKYsK
K
=
(1.2.14)
Sendo
K
s a participação do investimento no produto da economia e d uma constante maior
que zero que representa a taxa de depreciação.
A acumulação de qualificação se dá de acordo com a seguinte equação:
γγϕ
µ
=
1
hAeh
u
(1.2.15)
onde u é o tempo que uma pessoa destina à acumulação de qualificações em vez de trabalhar e
γ
é o índice de bens de capital mais avançados inventados até o momento. Supõe-se que
0>
µ
e 10 <
γ
. Dividindo ambos os lados dessa equação por h, obtém-se:
γ
ϕ
µ
=
h
A
e
h
h
u
(1.2.16)
onde se torna mais fácil ver que quanto mais próximo da fronteira tecnológica A estiver um
bem, mais difícil será o seu aprendizado. Pode-se dizer também, com base na equação acima,
que quanto mais próxima de A estiver o nível de qualificação de um trabalhador, menor será a
28
A suposição implícita na versão do modelo de difusão aqui desenvolvida é a de que um número determinado
de idéias está disponível para uso de qualquer país. A exigência que se faz, porém, é que os trabalhadores destes
países aprendam a usar as técnicas mais avançadas já disponíveis.
29
Diferentemente da análise dos modelos neoclássicos, na qual se considerava a qualificação como função dos
anos de escolaridade, usa-se aqui um conceito mais geral para o termo. Considera-se a qualificação como sendo
o conjunto de bens intermediários que os trabalhadores aprenderam a utilizar. À medida que este conjunto de
bens cresce, a economia também cresce.
27
relação
hA e menor será a velocidade de acumulação de qualificações. Supõe-se que A se
expanda a uma taxa constante g, ou seja,
gAA =
.
Antes de examinar as equações do produto e capital per capita ao longo da trajetória de
crescimento equilibrado, é necessário que sejam feitas algumas hipóteses simplificadoras.
Considera-se a taxa de investimento da economia e o tempo que as pessoas destinam à
acumulação de qualificações em vez de trabalhar como sendo exógenos e constantes, o
mesmo sendo válido para a taxa de crescimento da força de trabalho da economia.
Ao longo da trajetória de crescimento equilibrado, a taxa de crescimento de h deve ser
constante. Essa taxa, por sua vez, determina a taxa de crescimento do produto per capita,
LYy / , e do capital por trabalhador,
LKk /
. Da equação (1.2.16) sabe-se que a hh
será
constante se, e apenas se,
hA for constante, de modo que h e A precisam crescer à mesma
taxa. Tem-se, portanto, que ggggg
Ahky
=
=
=
=
, onde
x
g representa a taxa de
crescimento da variável x. A taxa de crescimento da economia é dada pela taxa de
crescimento do capital humano ou da qualificação e essa taxa de crescimento está
condicionada pela taxa de crescimento da fronteira tecnológica.
A equação de acumulação de capital implica que, ao longo da trajetória de crescimento
equilibrado, a razão capital-produto é dada por:
dgn
s
Y
K
k
++
=
*
(1.2.17)
Substituindo esses valores na função de produção, equação (1.2.13), depois de
reescrevê-la em termos de produto per capita, tem-se:
)()(
*
1/
*
th
dgn
s
ty
K
αα
++
= (1.2.18)
Nas equações acima, o sobrescrito (*) denota que as variáveis se encontram na trajetória
de crescimento equilibrado e t indica as variáveis que variam ao longo do tempo. A razão
entre o nível de qualificação da economia e a fronteira tecnológica é determinada pela
equação (1.2.16). Sendo gg
h
= , tem-se:
28
γ
ϕ
µ
/1
*
=
u
e
gA
h
(1.2.19)
Pela equação acima, percebe-se que quanto mais tempo as pessoas destinam à
acumulação de qualificações, mais próxima da fronteira está a economia.
Substituindo (1.2.19) em (1.2.18), tem-se que o produto
per capita ao longo da trajetória
de crescimento equilibrado como função de variáveis e parâmetros exógenos:
)()(
*
/11/
*
tAe
gdgn
s
ty
u
K
γ
ϕ
αα
µ
++
=
(1.2.20)
Como foi dito acima, na trajetória de crescimento equilibrado o produto
per capita
cresce no mesmo ritmo que a taxa de crescimento do nível de qualificação da força de
trabalho, sendo que esta última, por sua vez, é dada pela taxa de crescimento da fronteira
tecnológica.
O primeiro termo da equação acima mostra que, como no modelo de Solow, economias
que investem mais em capital físico serão mais ricas, enquanto que economias que
apresentam um maior crescimento populacional tenderão a ser mais pobres. O termo seguinte
mostra a acumulação de qualificações: economias que destinam mais tempo aprendendo a
usar bens de capital mais avançados estão mais próximas da fronteira tecnológica e tenderão a
ser mais ricas. Já o último termo da equação reflete a fronteira tecnológica mundial. Assim
como nos modelos de crescimento neoclássicos, dentro da nova teoria do crescimento o
progresso tecnológico também é o motor do crescimento. A “novidade” aqui é que a mudança
tecnológica está modelada e o modelo é capaz de explicar os seus determinantes, como ela é
gerada e como se dá o processo de transferência de tecnologia entre os países, através do
processo de aprendizagem do uso de bens de capital mais avançados, sendo que,
implicitamente, supôs-se que a tecnologia está disponível para todas as economias
30
.
Até aqui, supôs-se que mudanças de políticas tinham efeitos de
nível mas não mudanças
de
crescimento de longo prazo. Mais recentemente, vêm sendo desenvolvidos modelos de
crescimento endógeno nos quais mudanças de políticas podem influir na taxa de crescimento
de longo prazo.
30
Na verdade, a transferência de tecnologia é um processo muito mais complexo do que o aprendizado do uso de
bens de capital mais avançados. Para uma discussão a esse respeito, ver Jones (2000, p. 111-112).
29
Para ilustrar como é relativamente fácil a construção de modelos endógenos nos quais
mudanças permanentes nas políticas dos governos geram mudanças permanentes nas taxas de
crescimento da economia, apresenta-se, em seguida, a formalização de um modelo simples,
conhecido como modelo
AK, facilmente deduzido a partir do modelo original de Solow sem
tecnologia da primeira seção.
Fazendo
1=
α
, a função de produção da equação (1.1.1) se torna
K
Y
= . Considerando
que neste tipo de modelo é comum representar o produto como sendo proporcional ao estoque
de capital em vez de ser exatamente igual ao estoque de capital, tem-se a seguinte função de
produção para o modelo
AK:
A
K
Y
=
(1.2.21)
sendo
A uma constante positiva.
O capital é acumulado quando as pessoas poupam e investem parte do produto gerado
na economia em vez de consumi-lo:
dKsYK =
(1.2.22)
onde
s representa a taxa de investimento e d a taxa de depreciação, ambas constantes. Como
simplificação, supõe-se que a economia seja povoada por uma única pessoa, de modo que as
variáveis de estoque e
per capita coincidem. Significa dizer, portanto, que 0=n .
A figura 3 abaixo mostra como fica o gráfico de Solow para o modelo
AK. A diferença
em relação à figura 1 da seção anterior é que as curvas do gráfico original agora são
representadas por retas, o que resulta em crescimento permanente. Em outras palavras, o
investimento total
(sy) é sempre maior que o investimento necessário para repor a depreciação
do capital (linha
dk), gerando crescimento contínuo do estoque de capital (qualquer ponto à
direita de
0
K
31
).
A explicação de como este modelo gera crescimento permanente está na presença de
retornos constantes à acumulação de capital, o que significa que o produto marginal de cada
unidade de capital é sempre
A. Isso difere do modelo original de Solow, onde a acumulação
de capital se caracterizava pelos retornos decrescentes e
1
<
α
.
31
O ponto
0
K é arbitrário e supõe-se que ele representa o ponto de partida de uma economia.
30
Figura 3. Gráfico de Solow para o modelo
AK.
Fonte: Jones (2000)
Dividindo-se os termos da equação (1.2.22) por
K, tem-se que d
K
Y
s
K
K
=
e
substituindo a função de produção nesta última expressão obtém-se
dsAKK =
.
Finalmente, tirando o logaritmo e derivando a função de produção, percebe-se que a taxa de
crescimento do produto é igual à taxa de crescimento do capital. Assim:
dsA
Y
Y
g
y
=
(1.2.23)
A equação acima mostra um resultado fundamental do modelo de crescimento
AK: a
taxa de crescimento da economia é uma função crescente da taxa de investimento. Portanto,
mudanças permanentes de política, no sentido de aumentar permanentemente a taxa de
investimento, podem afetar a taxa de crescimento da economia no longo prazo. Ao se fazer
1=
α
, há uma linearidade em K e o modelo acima gera crescimento endógeno.
Segundo Jones (2000), um argumento contra o modelo
AK (com 1=
α
) é que
evidências empíricas sugerem que o expoente
α
do capital é cerca de 1/3, sendo que quando
o conceito de capital é ampliado para incluir capital humano e externalidades esse valor pode
chegar a 2/3 ou 4/5. Adicionalmente, conforme Mankiw
et al. (1992), modelos com função de
produção do tipo
A
K
Y
=
não predizem convergência de qualquer espécie entre os países, o
K
0
K
sY
dK
y
31
que está em desacordo com a evidência empírica a respeito desta hipótese. Significa, portanto,
que a literatura recente sobre o crescimento econômico estabelece uma “preferência” pelos
modelos nos quais mudanças nas políticas governamentais convencionais são modeladas
como tendo efeitos de nível em vez de efeitos de crescimento, uma vez que esta última classe
de modelo parece encontrar sustentação empírica.
Conforme Barro (1996), os modelos de crescimento endógeno em geral, os quais
incluem descoberta de novas idéias e métodos de produção, são importantes porque fornecem
explicações do crescimento de longo prazo. Entretanto, trabalhos empíricos sobre crescimento
entre países têm sido baseados nos modelos de crescimento neoclássicos. Em outras palavras,
o que Barro (1996) tenta mostrar é que os modelos de crescimento endógeno podem ser úteis
para explicar porque o mundo como um todo pode crescer indefinidamente em termos
per
capita
, mas eles têm pouco a dizer sobre a determinação das taxas de crescimento relativas
entre os países, um elemento chave estudado na maioria das análises empíricas.
1.3 Modelos de crescimento neoclássicos versus modelos de crescimento endógeno
Neste capítulo foram abordadas as principais vertentes da teoria do crescimento
econômico: a abordagem neoclássica, ou dos modelos de crescimento exógeno, cujo
representante aqui tratado foi o modelo de Solow (1956); e a da nova teoria do crescimento,
ou dos modelos de crescimento endógeno, sendo o modelo de Romer (1990) a principal
contribuição para esta abordagem.
A principal diferença existente entre as duas classes de modelos abordadas nas seções
anteriores está no tratamento dado ao progresso tecnológico: para os modelos neoclássicos,
este é um processo exógeno à economia; enquanto que, para a nova teoria do crescimento,
este é um processo endógeno. Não obstante, os dois tipos de modelos enxergam no avanço
tecnológico o
motor do crescimento econômico. Outra distinção entre os dois tipos de
modelos está na suposição quanto à acumulação de capital. Nos modelos neoclássicos, há a
presença dos
retornos decrescentes ao capital, enquanto que nos modelos de crescimento
endógeno verifica-se a presença de
retornos crescentes, dada a natureza de não rivalidade das
idéias.
As três versões do modelo de Solow analisadas (sem tecnologia, com tecnologia e
incorporando o capital humano) mostram que um país será tão mais rico quanto maior a taxa
de investimento em capital físico, maior o tempo despendido em acumulação de habilidades,
32
menor a taxa de crescimento populacional e maior o nível de tecnologia. Adicionalmente, o
produto
per capita cresce à taxa do progresso tecnológico, g, quando a economia atinge seu
estado estacionário. Este modelo, porém, não consegue explicar a origem do progresso
tecnológico, limitando-se apenas a admitir que ele existe e que é a fonte de crescimento
sustentando das economias.
Os modelos de crescimento endógeno, por sua vez, tentaram superar esta deficiência ao
incluírem nos seus modelos os determinantes das melhorias tecnológicas. Para estes modelos,
a ação das empresas maximizadoras na busca de novas técnicas de produção cria o progresso
tecnológico e o processo de crescimento torna-se um resultado endógeno da economia.
Permanece válida a conclusão de que uma economia será mais rica quanto maior for o seu
investimento em capital (físico e humano). O que há de novo é que o esforço de pesquisa, ou
seja, um maior número de pessoas se dedicando à invenção de novos métodos de produção é
capaz de afetar positivamente o crescimento econômico de uma economia. Sendo assim, o
crescimento populacional, por exemplo, pode aumentar o número de pesquisadores em uma
economia e trazer efeitos benéficos para o crescimento.
Uma importante conclusão que se pode retirar dos modelos neoclássicos e dos modelos
de crescimento endógeno com difusão tecnológica é a propriedade/hipótese de convergência,
segundo a qual países que apresentam estados estacionários semelhantes tendem a estreitar o
hiato de renda existente entre eles. Em outras palavras, países pobres tendem a crescer mais
rápido que países ricos, o que leva ao
princípio da dinâmica da transição, para o qual quanto
mais abaixo do seu estado estacionário estiver uma economia, tanto mais ela deverá crescer;
e, quanto mais acima a economia estiver do seu estado estacionário, mais lentamente ela irá
crescer.
A atratividade desta propriedade está no fato de que ela encontra sustentação empírica.
Barro (1996), por exemplo, encontrou evidências em sua análise de que o crescimento
realmente é negativamente relacionado com o nível inicial de renda
per capita. Tal
constatação pode ser útil então para o entendimento das experiências de crescimento de
alguns países do leste asiático. Tais países fornecem um bom exemplo de como economias
que se encontram abaixo do seu estado estacionário tendem a crescer mais rápido.
Um resultado comum aos dois tipos de modelos (à exceção do modelo
AK) analisados é
que mudanças de política não têm efeito de crescimento de longo prazo. Em vez disso,
mudanças nas políticas afetam a taxa de crescimento
ao longo da trajetória de transição para o
novo estado estacionário ao alterar o
nível da renda. Mesmo após a endogeneização do
33
progresso tecnológico, o que os dois modelos mostram é que a taxa de crescimento de longo
prazo não pode ser manipulada por formuladores de políticas públicas por meio de
instrumentos convencionais, como os subsídios à P&D. O que parece ser provável é que os
governos podem contribuir para o dinamismo de uma economia, no sentido de que ele pode
oferecer uma infra-estrutura adequada e um ambiente propício para a realização de
investimentos. Aliás, choques positivos na infra-estrutura de uma economia podem ajudar a
explicar a existência de milagres de crescimento.
Mas, afinal, qual o melhor tipo de modelo para descrever o processo de crescimento
econômico? A resposta é que não há consenso sobre isso. Como afirmam Mankiw
et al.
(1992), o modelo de Solow não é uma teoria completa do crescimento, uma vez que é
desejável que sejam conhecidos os determinantes da poupança, do crescimento populacional e
do progresso tecnológico – todos tratados como exógenos no modelo. Não significa, porém,
que a nova teoria do crescimento seja a última palavra em crescimento. Uma evidência disso é
que análises empíricas recentes encontram-se mais baseadas nos “velhos” modelos
neoclássicos do que nos modelos de crescimento endógeno. Para Sianesi & Van Reenen
(2000), as evidências sobre o debate
modelos neoclássicos versus modelos de crescimento
endógeno
são inconclusivas. Um ponto em comum nestes dois tipos de modelo é que ambos
prevêem que a taxa de crescimento da produção é função da taxa de crescimento do capital
humano.
CAPÍTULO 2: CRESCIMENTO ECONÔMICO NA CHINA: TEORIA E
EVIDÊNCIAS
Este capítulo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura recente sobre a
China. Na primeira seção, são revistos aspectos teóricos e empíricos já consolidados sobre o
crescimento chinês. Na segunda seção, apresenta-se uma discussão sobre o comércio exterior
chinês, enfatizando o grande crescimento das exportações e importações do país a partir das
reformas de 1978. Na terceira seção, apresenta-se uma discussão sobre a política cambial e os
fluxos de capital na China. Tal discussão é de extrema importância para o entendimento do
fenômeno de crescimento econômico na China, dado que a dinâmica da taxa de câmbio e dos
fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) inegavelmente contribuíram para o
fortalecimento dos fundamentos macroeconômicos da China.
2.1 Aspectos teóricos e evidências empíricas
Por mais de 20 anos, a economia chinesa vem apresentando uma extraordinária
performance econômica, refletida nas altas taxas de crescimento do seu Produto Interno Bruto
(PIB). Este robusto desempenho econômico apresentado pela China vem despertando
interesse no mundo inteiro, de um lado devido à capacidade de a emergência chinesa provocar
mudanças na economia mundial – seja em termos de padrões de comércio, fluxos de capitais
ou disputas geopolíticas
32
– e, de outro, também devido ao interesse empírico que este
fenômeno vem causando na comunidade acadêmica e nos formuladores de política
econômica.
As origens do crescimento da economia chinesa estão nas reformas pró-capitalistas
iniciadas em 1978, conhecidas como “Política de Portas Abertas”, implementadas sob a
liderança ideológica de Deng Xiaoping
33
. Desde então, ficou evidente a mudança de
32
Os impactos da emergência chinesa nos fluxos de comércio e de capitais refletem-se no fato de que o país é
um grande mercado consumidor (de commodities, como o petróleo, por exemplo) e um grande atraente de
capitais (mais adiante serão analisados alguns dados a este respeito). Quanto aos impactos geopolíticos, pode-se
afirmar que a emergência chinesa favorecerá a mudança de hierarquia de poder entre as economias do leste
asiático e as demais economias do globo.
33
Deng Xiaoping nasceu em 1904 e entrou para o Partido Comunista Chinês (PCC) em 1925. Em 1945 passou a
integrar o Comitê Central e, em 1956, assumiu a secretaria-geral do PCC. No ano de 1959 afastou-se de Mao
Tse-Tung, fundador do partido e líder da Revolução Chinesa de 1949, e foi perseguido durante a Revolução
Cultural (1966-1976), período conhecido pela defesa intransigente da ideologia socialista. Com a morte de Mao
em 1976, Deng encontrou espaço para a retomada de sua política de reformas, cujo gradualismo pode ser
descrito por uma metáfora a ele atribuída: “tateando as pedras enquanto se cruza o rio”.
35
concepção do Partido Comunista Chinês (PCC) em direção ao desenvolvimento econômico
(Story, 2004). Esta mudança do PCC pavimentou o caminho da transição do país para uma
economia cada vez mais mercantilizada e integrada, embora tenha havido uma clara opção
pela manutenção de um regime político fechado e centralizado.
Segundo Prasad (2004), as reformas na China podem ser dividas em cinco fases. A
primeira, de 1978 a 1984, compreende as reformas rurais, caracterizadas por profundas
mudanças nos setores agrícolas e não agrícolas e responsáveis por uma grande elevação da
produtividade no campo
34
. A segunda fase (1984-1988) foi caracterizada por reformas nos
setores industriais urbanos, dentre as quais se incluem alguma liberalização na fixação de
preços e salários nas empresas, introdução de taxação sobre as empresas e quebra do sistema
de um único banco. A liberalização de preços provocou uma onda inflacionária e, na terceira
fase (1988-1991), as autoridades reintroduziram os controles de preços e implementaram
políticas contracionistas. Tais medidas foram eficazes no controle da inflação, mas
produziram efeitos negativos para a economia como um todo, como grandes prejuízos no
setor de estatais e aumento no volume de débito entre as empresas. A quarta fase (1992-1997)
foi caracterizada pelo retorno de algumas políticas de estímulo ao crescimento e a queda no
ritmo de atividade da fase anterior foi superada. A última fase (1998 aos dias atuais) tem sido
caracterizada por um aprofundamento na abertura da economia e por sua maior integração à
economia mundial, caracterizada pela entrada da China na Organização Mundial do Comércio
(OMC) em novembro de 2001.
Segundo Sachs & Woo (1997), a tentativa de interpretar o rápido crescimento chinês
desde 1978 fez surgir duas escolas de pensamento: a escola experimentalista e a escola de
convergência. A primeira atribui o sucesso chinês à natureza evolucionista e gradual das
reformas implementadas, enquanto que a segunda argumenta que a principal explicação para
o crescimento chinês está na estrutura econômica do país no início das reformas, além do que
as instituições chinesas estão rapidamente convergindo com aquelas presentes nos demais
países do leste asiático. Esta última escola, na qual estes autores se incluem, afirma que a
China iniciou o período de crescimento acelerado com uma população altamente concentrada
em setores agrícolas de baixos salários, uma condição extremamente favorável para um
crescimento voltado para a exportação de bens intensivos em mão-de-obra, condição esta que
também estava presente na maioria dos países do leste asiático.
34
Segundo Sachs & Woo (1997), apesar do sucesso inicial das reformas rurais, o setor agrícola vivenciou uma
queda no ritmo do seu crescimento a partir de 1985, devido, principalmente, às incertezas dos agricultores sobre
o direito de uso das terras e algumas políticas adotadas pelo governo.
36
A despeito das visões divergentes, estas duas escolas de pensamento consideram
importante a expansão das instituições de mercado, a estabilidade macroeconômica, a
integração da China à economia mundial, a redução de barreiras ao desenvolvimento do setor
privado e o estabelecimento de instituições que suportem o mercado. O debate existente entre
as duas escolas procura esclarecer se a economia chinesa está se encaminhando para um
sistema único entre socialismo e capitalismo ou se ela está convergindo para uma economia
capitalista típica.
Outro debate existente diz respeito às diferenças entre os processos de reformas na
China e nos países do leste europeu. A pergunta feita por alguns especialistas é por que as
reformas permitiram que a economia chinesa lograsse alcançar altas taxas de crescimento
econômico enquanto que as economias do leste europeu, que também passaram por processos
de reformas, presenciaram declínios de produção, não raro seguidos de altas taxas de inflação.
Pomfret (1997) diz que a resposta a essa pergunta está nos objetivos das reformas
implementadas: a China buscou, principalmente, o crescimento econômico, enquanto que os
países do leste europeu objetivaram a mudança do sistema econômico e a transição de
economias centralmente planificadas para economias de mercado. Isto é, enquanto a China
buscou reformas apenas no campo econômico, privilegiando o crescimento da economia, os
países do leste europeu visaram reformas que permitissem a transição do sistema socialista
para um sistema capitalista. Uma evidência da opção de continuidade do sistema político na
China (regime fechado e autoritário) é a manutenção do poder econômico do setor de estatais
e o episódio acontecido na Praça
Tiananmem (Praça da Paz Celestial), em 1989, no qual ficou
clara a relutância do PCC em aderir práticas democráticas e sua intenção em permanecer no
poder.
Desconsiderando a discussão sobre a natureza das reformas chinesas, é consenso na
literatura que a fórmula de sucesso introduzida por Deng
35
propiciou à China apresentar altas
taxas de crescimento econômico, aumentando sua participação no comércio mundial de
menos de 1% em 1978 para algo em torno de 5,62% em 2003 e consolidando-se como uma
das principais potências econômicas do início do século XXI. Fang & Meiyan (2002) afirmam
que, caso a China consiga vencer seus desafios internos e externos e manter sua tendência de
crescimento nos próximos vinte ou trinta anos, o país pode se tornar a maior economia
mundial, suplantando os Estados Unidos (EUA).
35
A fórmula introduzida por Deng Xiaoping pode ser descrita como sendo um mix entre socialismo e
capitalismo, melhor descrito por uma economia aberta com sistema político fechado ou em “economia socialista
de mercado com características chinesas”.
37
A tabela 1 mostra a taxa de crescimento do PIB da China em comparação com alguns
países, inclusive o Brasil e o mundo. Percebe-se que, em termos médios, o crescimento chinês
nos subperíodos 1978-1990 e 1991-2003 e em todo o período é superior aos demais
mostrados na tabela. No ano de 2003, por exemplo, enquanto Brasil, Argentina, Estados
Unidos (EUA) e o mundo cresciam a -0,20%, 8,72%, 2,90% e 2,88%, respectivamente, a
China cresceu 9,10%.
Tabela 1: Taxas de crescimento do PIB – China, Brasil, Argentina, Estados Unidos e Mundo
no período 1978-2003 (% ao ano).
Anos China Brasil Argentina Estados Unidos Mundo
1978 11,70 3,23 -4,51 5,57 4,40
1979 7,60 6,77 10,22 3,21 4,13
1980 7,80 9,11 4,15 -0,24 1,81
1981 5,20 -4,39 -5,69 2,45 1,86
1982 9,10 0,58 -4,96 -2,07 0,20
1983 10,90 -3,41 3,88 4,33 2,66
1984 15,20 5,27 2,21 7,28 4,58
1985 13,50 7,95 -7,59 3,82 3,65
1986 8,80 7,99 7,88 3,37 3,33
1987 11,60 3,60 2,91 3,36 3,60
1988 11,30 -0,10 -2,56 4,16 4,63
1989 4,10 3,28 -7,50 3,50 3,73
1990 3,80 -4,30 -2,40 1,74 2,90
1991 9,20 1,30 12,67 -0,50 1,59
1992 14,20 -0,50 11,94 3,06 2,17
1993 13,50 4,90 5,91 2,67 1,72
1994 12,60 5,90 5,84 4,08 3,30
1995 10,50 4,20 -2,85 2,70 2,81
1996 9,60 2,70 5,53 3,61 3,43
1997 8,80 3,30 8,11 4,47 3,68
1998 7,80 0,10 3,85 4,32 2,42
1999 7,10 0,80 -3,39 4,14 3,10
2000 8,00 4,40 -0,79 3,78 4,00
2001 7,50 1,40 -4,41 0,25 1,38
2002 8,00 1,50 -10,89 2,43 1,84
2003 9,10 -0,20 8,72 2,90 2,88
Média 1978-1990 9,28 2,74 -0,30 3,12 3,19
Média 1991-2003 9,68 2,29 3,10 2,92 2,64
Média Geral 9,48 2,51 1,40 3,02 2,91
Fonte: World Development Indicators (WDI) 2004.
A tabela 2 abaixo sistematiza o desempenho econômico da China no período de 1978 a
2003, considerando a taxa de crescimento do PIB, PIB
per capita e da população. Percebe-se
que a média da taxa de crescimento no período 1978-1990 foi de 9,28% e 7,73%, para PIB e
PIB
per capita, respectivamente, sendo que para o período 1991-2003 esses números ficaram
em 9,68%, e 8,62%, respectivamente. Quando se considera todo o período de análise, as
médias foram de 9,48% e 8,18%, sendo que os subperíodos que registraram maior
38
crescimento do PIB foram os de 1983 a 1985 e 1992 a 1995, com taxas acima de 10%. Nos
anos de 1998 a 2001, em parte devido à crise asiática, percebe-se uma queda relativa no ritmo
de crescimento, sendo que o ano de 1999 registrou a menor taxa de variação do PIB
(excetuando-se o ano de 1981, que registrou um crescimento de apenas 5,20%) em todo o
período após o início das reformas de 1978. Em 2004, de acordo com dados mais recentes
36
, a
taxa de crescimento do PIB foi de 9,5%.
Tabela 2: Crescimento do PIB, do PIB
per capita e da população na China no período 1978-
2003 (% ao ano).
Anos Crescimento PIB Crescimento PIB per capita Crescimento população
1978 11,70 10,22 1,34
1979 7,60 6,17 1,33
1980 7,80 6,46 1,25
1981 5,20 3,86 1,28
1982 9,10 7,51 1,47
1983 10,90 9,31 1,44
1984 15,20 13,70 1,31
1985 13,50 11,96 1,36
1986 8,80 7,19 1,49
1987 11,60 9,82 1,60
1988 11,30 9,52 1,61
1989 4,10 2,52 1,53
1990 3,80 2,29 1,47
1991 9,20 7,72 1,36
1992 14,20 12,81 1,23
1993 13,50 12,20 1,15
1994 12,60 11,33 1,13
1995 10,50 9,31 1,09
1996 9,60 8,46 1,05
1997 8,80 7,69 1,02
1998 7,80 6,77 0,96
1999 7,10 6,18 0,95
2000 8,00 7,15 0,71
2001 7,50 6,72 0,73
2002 8,00 7,28 0,67
2003 9,10 8,42 0,70
Média 1978-1990 9,28 7,73 1,42
Média 1991-2003 9,68 8,62 0,98
Média Geral 9,48 8,18 1,20
Fonte: World Development Indicators (WDI) 2004.
Quanto à população chinesa, vale notar também a queda no ritmo de seu crescimento: de
um patamar de 1,3% no início das reformas, as taxas caem para algo em torno de 0,70% no
início da atual década. Nos subperíodos 1978-1990 e 1991-2003 as taxas médias foram 1,42%
36
Todos os dados disponíveis até o momento para o ano de 2004 e doravante citados foram retirados do
Statistical Communiqué of the People’s Republic of China on the 2004 national economic and social
development – National Bureau of Satatistics of China, publicado em 28 de fevereiro de 2005 (números
preliminares).
39
e 0,98%, enquanto que a média geral foi de 1,20%. Para o ano de 2004, a taxa de crescimento
da população foi de 0,59%.
Alguns autores, porém, questionam a veracidade das estatísticas de crescimento da
China. Rawski (2001), por exemplo, alerta que o crescimento econômico chinês pode estar
sendo superestimado, uma vez que as estatísticas oficiais fornecidas pelo
National Bureau of
Statistics of China
(NBS), órgão oficial de elaboração de estatísticas chinesas, não são
confiáveis
37
. Para este autor, existem inconsistências entre os números da taxa de crescimento
e as demais estatísticas da economia. Dentre elas, pode-se citar, por exemplo, o descompasso
existente entre os números do crescimento do produto e de consumo de energia. Enquanto que
no período 1997-2000 o PIB aumentou 24,7%, o consumo de energia caiu 12,8%, o que
contrasta com as experiências vividas pelas demais economias do leste asiático, que sempre
tiveram taxas de crescimento acompanhadas por grande aumento no consumo de energia.
Sendo assim, pode-se questionar a extensão do real desempenho da economia chinesa
evidenciado pelas estatísticas oficiais.
Fang & Meiyan (2002), em resposta ao trabalho de Rawski (2001), apresentaram um
estudo sobre as características do crescimento chinês, no qual refutam os argumentos
levantados contra a veracidade das estatísticas. A queda no consumo de energia, por exemplo,
é perfeitamente compatível com o aumento do produto, uma vez que o principal elemento
condutor do crescimento passou do setor estatal (alto consumidor energético) para setores
privados (poupadores de energia).
Além de desmontarem o ceticismo de Rawski (2001), Fang e Meiyan (2002) indicam
que o crescimento econômico chinês é sustentável e continuará nas próximas décadas. Isto
porque as principais fontes de crescimento (aumento no capital físico, aumento na força de
trabalho empregada, acumulação de capital humano e mobilidade da mão-de-obra de setores
de baixa produtividade para os de alta produtividade) continuarão impulsionando o aumento
do produto, permitindo que este seja realizado a taxas similares àquelas obtidas nos últimos
vinte anos.
37
Para detalhamento do funcionamento do Sistema Oficial de Estatísticas da China e seus esforços para o
melhoramento da qualidade dos dados ver Zheng (2001). Sobre os desafios para o desenvolvimento da qualidade
dos dados ver Rawski & Xiao (2001) e Xu (2004). Holz (2004) detecta problemas nas estimativas do PIB chinês,
enfatizando que os procedimentos para o cálculo de seu principal componente – consumo das famílias –
apresentam vieses, o que implica, nas palavras deste último autor, que se a estatística oficial de crescimento do
PIB para um determinado ano foi de X% não significa que a demanda final (somatório do consumo, investimento
e exportações líquidas) tenha sido X% maior que a do ano anterior.
40
Wang & Meng (2001) afirmam que o tema da credibilidade das estatísticas chinesas
sobre crescimento econômico tem recebido importância crescente nos últimos anos. Um
grande número de trabalhos aponta para a existência de erros significativos nas estatísticas do
NBS, sendo que alguns fornecem revisões para as taxas de variação do PIB [Madson (1998),
Rawski (1993) e World Bank (1997),
apud Wang & Meng (2001)]. Neste sentido, Wang &
Meng (2001) realizaram um estudo para re-estimar o crescimento econômico na China. Os
resultados encontrados mostram que o crescimento industrial chinês foi superestimado em 4,5
pontos percentuais na década de 90, sendo que esta taxa deveria ser corrigida para 9,4%
contra 13,9%. Para as taxas de crescimento do PIB, os resultados mostram que esta foi
superestimada em 1,9 ponto percentual durante o período 1953-1977, 1,3 ponto percentual
durante o período 1978-1991 e 3,2 pontos percentuais no intervalo entre 1992 e 1997. Dessa
forma, as reais taxas de crescimento do PIB chinês devem ser 7,9% para o período de
reformas (1978-1997) e 4% para o período pré-reformas (anterior a 1978) contra 9,95% e
5,9%, respectivamente
38
.
A despeito das discussões a respeito da confiabilidade das estatísticas chinesas, o fato é
que o país vem passando por um vigoroso processo de crescimento econômico desde as
reformas de 1978. Em decorrência disso, há uma vasta literatura que tenta descrever as causas
das elevadas taxas de crescimento econômico da China. Pomfret (1997), por exemplo, afirma
que o crescimento chinês no início da década de 80 pode ser atribuído ao rápido crescimento
da produção agrícola e à rápida expansão das
Townships and Villages Enterprises (TVEs)
39
.
Entretanto, os estímulos à produção rural desapareceram em 1984, sendo que, a partir de
então, o crescimento foi sustentado pela exportação de produtos manufaturados. Nesta fase, o
país contou com condições favoráveis, como a existência de uma abundante mão-de-obra
barata e desqualificada, a presença de empresas oriundas de Hong Kong e de outros países
recentemente industrializados do leste asiático e o pragmatismo do governo, que rapidamente
implementou políticas comerciais voltadas para a exportação.
38
Wang & Meng (2001) explicam que a superestimação dos dados referentes às taxas de crescimento é mais
acentuada nos anos 90 devido a razões históricas. A partir de 1992, as taxas de crescimento econômico tornaram-
se um importante critério na avaliação do desempenho de governos locais, sendo que em alguns casos foram
estabelecidas metas obrigatórias de crescimento, criando, assim, um incentivo para a falsificação estatística. Ao
mesmo tempo, houve um rápido crescimento do setor não-estatal, o qual não conta com um sistema abrangente
de coleta de dados estatísticos.
39
Segundo Sachs & Woo (1997), as TVEs representam uma forma exclusiva de instituição chinesa.
Formalmente, elas são de propriedade do governo local ou coletivamente possuídas pelos membros de uma vila.
Elas não são estatais no sentido de que são inteiramente autônomas em relação ao planejamento central e
praticamente não contam com subsídios do orçamento estatal. Todavia, elas não são consideradas empresas
privadas, uma vez que não possuem um proprietário privado formal.
41
Alguns estudos realizaram a decomposição do crescimento chinês com o objetivo de
estimar o papel dos fatores de acumulação e do crescimento da produtividade na
contabilização do desempenho da economia. A maior parte deles, porém, não inclui em seus
modelos fatores como acumulação de capital humano, sofrendo do viés de omissão de
variáveis e superestimando o papel da produtividade como resíduo na explicação do
crescimento
40
. Wang & Yao (2003) elaboraram um estudo de identificação das fontes do
crescimento da economia chinesa no período 1952-1999, no qual procuraram superar esta
deficiência. Propuseram a criação de uma série temporal para acumulação de capital humano
e a sua inclusão na função de produção total. A variável utilizada como
proxy para o estoque
de capital humano foi o fluxo líquido anual de formandos em cada nível de escolaridade
(primário, secundário
junior, secundário senior, secundário especializado e educação
superior) da população com idade entre 15-64 anos, levando-se em conta a duração de cada
ciclo escolar. Embora os autores reconheçam que a série de dados criada seja viesada em
alguns aspectos
41
, eles afirmam que a estimativa de aquisição educacional fornece uma proxy
razoável do estoque de capital humano para o período pré-reformas (1952-1977) e o período
de reformas (1978-1999).
Os resultados mostram que, na média, a acumulação de capital humano foi rápida,
alcançando um crescimento de 4,28% por ano em todo o período (1953-1999), 4,86% no
período pré-reformas (1953-1977) e 2,41% no período de reformas (1978-1999). Com relação
a sua contribuição no crescimento do produto, esta ficou em 29,8% para o período total
analisado, 46,3% no período pré-reformas e 11% no período de reformas, enquanto que a
produtividade total dos fatores (PTF) apresentou contribuições de 0,2%, -26,4% e 25,4%,
respectivamente. A acumulação de capital físico se mostrou a mais importante fonte de
crescimento do produto, com contribuições de 50,9%, 55,0% e 47,7% para todo o período,
período pré-reformas e período de reformas, respectivamente. A sua taxa de crescimento
aumentou de 5,8% ao ano durante o período de pré-reformas pra 9,0% ao ano durante o
40
De acordo com Heckman (2005), os primeiros estudos destinados a medir as fontes do crescimento econômico
consideravam ser um resíduo inexplicável o que hoje é atribuído ao capital humano. Através de estudos das
fontes do crescimento econômico de diversos países do mundo, tem-se reconhecido que o capital humano –
habilidades adquiridas pela população – desempenha um papel importante na explicação das diferenças de
produtividade entre os países. No primeiro capítulo foi visto que os modelos de crescimento neoclássicos e de
crescimento endógeno incluem o capital humano como uma variável explicativa da taxa de crescimento
econômico. Para uma discussão dos efeitos positivos da acumulação de capital humano sobre o crescimento
econômico ver Sianesi & Van Reenen (2000) e Heckman (2005, p. 53-56).
41
Entre outras deficiências, pode-se citar o fato de que a série criada não leva em conta as diferenças de
qualidade do sistema educacional chinês entre as diversas regiões do país e ao longo do tempo, além de não
considerar habilidades e experiências adquiridas após o término da educação formal.
42
período de reformas. Wang & Yao (2003) alertam que a importância relativa dos fatores de
acumulação dentro do crescimento do produto pode ser declinante em um futuro próximo.
Isto devido à lei de rendimentos decrescentes e a fatores como rápido envelhecimento da
população e limite na utilização de recursos naturais. Em conseqüência, mais atenção deve ser
dada ao crescimento da produtividade.
Krugman (1994) defende a necessidade do crescimento da eficiência no uso dos
recursos da economia. Para este autor, apenas a acumulação de fatores (mão de obra, capital
físico e capital humano) não é suficiente para garantir taxas sustentáveis de crescimento
econômico, sendo necessário que os agentes econômicos aprendam a usar de forma mais
eficiente os novos recursos acumulados. Em outras palavras, é necessário que haja
crescimento da produtividade.
Embora o estudo de Krugman (1994) não forneça resultados empíricos, o autor afirma
que a experiência vivida pelos tigres asiáticos é um exemplo de crescimento largamente
baseado na acumulação de fatores e que há pouca evidência de aumento na eficiência nestas
economias no período pós-guerra. Para a China, embora se reconheça que o país está de fato
vivenciando um período de grande crescimento econômico, o autor diz que é difícil realizar
um exercício de decomposição do crescimento. Isto devido ao fato de que as estatísticas
chinesas não são suficientemente acuradas e apresentam uma qualidade duvidosa, além do
que não está claro se análise deve partir do início das reformas pró-mercado de 1978 ou se ela
deve englobar períodos anteriores.
A tabela 3 abaixo mostra que o rápido crescimento na acumulação de capital físico na
China está associado com as altas taxas de poupança e investimento. Como pode ser visto, a
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) apresentou uma elevação significativa, passando de
uma proporção de menos de 30% do PIB nos anos iniciais das reformas para mais de 40% em
2003, sendo a média para todo período (1978-2003) igual a 32,15%. A taxa de poupança
também apresentou acréscimos em comparação com os anos iniciais: de uma média de
35,28% do PIB nos anos 1978-1990, ela mudou para um patamar médio de 41,37% no
subperíodo de 1991-2003. Considerando todo o período, a taxa média de poupança foi de
38,32%.
A tabela 4 abaixo mostra que a maior parte dos investimentos em ativos fixos na China
destinou-se à construção e instalação (60,20% em 2003). Entretanto, verifica-se o aumento
dos investimentos destinados à categoria “outros”: de 4,90% em 1981 para 17,00% em 2003.
Quanto à compra de instrumentos e equipamentos, a parcela do total de investimentos em
43
ativos fixos tem permanecido relativamente estável (pequeno decréscimo de 23,30% em 1981
para 22,80% em 2003).
Tabela 3: Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) e taxa de poupança na China no período
1978-2003 – % do PIB.
Anos FBKF Poupança
1978 29,63 37,70
1979 28,51 35,88
1980 29,17 34,96
1981 25,77 32,86
1982 28,20 34,80
1983 28,80 34,54
1984 29,64 34,38
1985 29,46 33,64
1986 30,37 34,82
1987 31,28 36,10
1988 30,97 35,75
1989 2566 35,27
1990 25,51 37,95
1991 27,48 38,11
1992 31,22 37,72
1993 37,48 41,78
1994 36,05 43,06
1995 34,71 43,13
1996 34,38 41,73
1997 33,78 42,98
1998 35,27 42,34
1999 35,92 40,50
2000 36,46 39,00
2001 37,83 40,88
2002 40,24 43,37
2003 42,16 43,17
Média 1978-1990 28,69 35,28
Média 1991-2003 35,61 41,37
Média Geral 32,15 38,32
Fonte: World Development Indicators (WDI) 2004.
Quanto ao capital humano, embora a estimativa de Wang & Yao (2003) tenha
apresentado razoável crescimento no período de 1953 a 1999 (4,28%), Heckman (2005)
chama a atenção para o desequilíbrio existente entre investimento em capital físico e capital
humano na China. A razão ente investimento anual em capital físico e capital humano é mais
elevada que na maioria dos países, sendo que no ano de 1995 a China gastou
aproximadamente 2,5% de seu PIB em escolaridade e algo em torno de 34% em acumulação
de capital físico, enquanto que nos EUA esses montantes foram de 5,4% e 17,0%. A parcela
da população com nível superior era apenas de 4,71% em 2002, muito baixa se comparada
com alguns países desenvolvidos, onde esta proporção excede os 30%.
44
A tabela 5 abaixo mostra os gastos com cultura, ciência, educação e saúde em relação ao
total de gastos do governo chinês no período 1978-2003. Como se pode ver, a proporção
analisada passou de um patamar de aproximadamente 10,14% nos anos iniciais das reformas
para 18,28% em 2003. As proporções médias para os subperíodos de 1978-1990 e 1991-2003
foram de 15,80% e 19,84%, respectivamente, sendo que a média geral ficou em 17,82%.
Tabela 4: Destinação do total de investimentos em ativos fixos
na China no período 1981-
2003 (%).
Anos
Construção e instalação
Compra de instrumentos e
equipamentos
Outros
1981 71,80 23,30 4,90
1982 70,80 23,70 5,50
1983 69,50 25,10 5,40
1984 66,40 27,80 5,80
1985 65,10 28,20 6,70
1986 66,00 27,30 6,70
1987 65,30 27,40 7,30
1988 65,20 27,50 7,30
1989 67,90 25,30 6,80
1990 66,60 25,80 7,60
1991 65,20 26,10 8,70
1992 63,90 26,30 9,80
1993 62,70 25,40 11,90
1994 63,30 25,40 11,30
1995 65,80 21,30 12,90
1996 66,00 21,50 12,50
1997 62,60 24,20 13,20
1998 62,90 23,00 14,10
1999 62,96 23,62 13,42
2000 62,40 23,70 13,90
2001 61,70 23,70 14,60
2002 61,10 22,70 16,20
2003 60,20 22,80 17,00
Média 1981-1990 67,46 26,14 6,40
Média 1991-2003 63,14 23,82 13,04
Média Geral 65,02 24,83 10,15
Fonte: China Statistical Yearbook (2001, 2004).
O argumento de Heckman (2005) é que o desequilíbrio existente entre acumulação de
capital físico e humano gera distorções, uma vez que os retornos ao capital físico são maiores
quanto mais qualificada é a mão-de-obra – isto é, quanto maior o estoque de capital humano,
mais alta será a produtividade do capital físico. Em seu estudo, o autor aponta para uma taxa
de retorno da educação na China de 4% no início da década de 90 e de 7% nos anos mais
recentes
42
, muito abaixo de uma taxa de 20% de retorno ao capital físico. Entretanto, olhando
mais atentamente para o mercado de trabalho chinês e para as restrições existentes na fixação
42
Nos EUA e em outros países, as estimativas para a taxa de retorno do capital humano estão entre 15% e 20%.
45
de salários, conclui-se que não há incentivos para que os trabalhadores adquiram qualificação,
o que subestima a verdadeira taxa de retorno do capital humano
43
.
Tabela 5: Gastos do governo chinês com Cultura, Educação e Saúde no período 1978-2003
(% do total de gastos do governo).
Anos Gastos
1978 10,04
1979 10,30
1980 12,72
1981 15,05
1982 16,01
1983 15,86
1984 15,47
1985 15,80
1986 17,23
1987 17,80
1988 19,51
1989 19,60
1990 20,02
1991 20,91
1992 21,19
1993 20,63
1994 22,07
1995 21,50
1996 21,47
1997 20,62
1998 19,95
1999 18,26
2000 17,23
2001 17,78
2002 18,04
2003 18,28
Média 1978-1990 15,80
Média 1991-2003 19,84
Média Geral 17,82
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados originais do China Statistical Yearbook (2001, 2004).
O capital humano inclui um conjunto de atributos humanos, o que torna difícil a
mensuração quantitativa do seu estoque (Barro & Lee, 2000). Não obstante a isso, estes
autores afirmam que a aquisição educacional fornece a melhor
proxy para se medir a evolução
do estoque de capital humano ao longo do tempo. A tabela 6 abaixo mostra a porcentagem de
estudantes chineses matriculados na escola secundária em relação ao total da população.
Observa-se nos últimos anos da série que há um aumento na proporção de pessoas cursando a
escola secundária: de aproximadamente 6,90% no final da década de 70 e início da de 80 para
7,44% em 2003, embora apenas a partir do ano de 1999 é que se nota um aumento nesta
43
O estudo realizado Fleisher & Wang (2004) [apud Heckman (2005, p. 62)] aponta para uma taxa de 30% a
40% de retorno do capital humano. Segundo os autores, os salários pagos aos trabalhos qualificados equivalem
somente a 10% de sua produtividade marginal, o que demonstra as conseqüências negativas da política de
fixação de salários sobre os incentivos para aquisição de qualificação.
46
relação. Esta informação de certa forma corrobora o argumento de Heckman (2005) exposto
acima, de que a China parece concentrar os seus esforços na acumulação de capital físico em
detrimento à acumulação de capital humano. Entretanto, nos anos mais recentes nota-se um
crescente interesse por temas relacionados a melhorias no sistema educacional chinês. De
acordo com French (2005), por exemplo, a China quer elevar suas maiores universidade ao
nível das melhores do mundo no prazo de uma década. Para isso, está gastando bilhões de
dólares (US$ 10,4 bilhões em 2004) para aperfeiçoar o sistema de ensino superior chinês
44
.
Tabela 6: Estudantes matriculados na escola secundária na China – período 1978-2003 (% da
população total).
Anos Estudantes escola secundária (% população total)
1978 6,90
1979 6,18
1980 5,75
1981 5,01
1982 4,63
1983 4,50
1984 4,66
1985 4,81
1986 4,95
1987 4,94
1988 4,73
1989 4,48
1990 4,47
1991 4,51
1992 4,57
1993 4,54
1994 4,76
1995 5,11
1996 5,42
1997 5,66
1998 5,88
1999 6,36
2000 6,73
2001 6,97
2002 7,21
2003 7,44
Média 1978-1990 5,08
Média 1991-2003 5,78
Média Geral 5,43
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados originais do China Statistical Yearbook (2001, 2004).
Com relação ao papel desempenhado pela produtividade no crescimento chinês, Wu
(2000) realizou um estudo que objetivou analisar o crescimento da produtividade na China, no
período 1981-1995. O crescimento da produtividade foi definido como sendo o somatório das
44
De acordo com French (2005), o modelo adotado pela China é simples: contratar especialistas chineses e sino-
americanos formados no exterior, instalá-los em laboratórios bem equipados, cercá-los dos estudantes mais
inteligentes e oferecer a eles ampla liberdade de ação.
47
mudanças na eficiência técnica e no progresso tecnológico. A primeira parcela diz respeito a
incrementos na eficiência no uso dos recursos existentes, ou seja, movimentos de
catch-up em
direção à fronteira tecnológica, enquanto que a segunda parcela se refere a mudanças na
própria fronteira tecnológica (inovação). Os resultados encontrados pelo autor mostram que,
na década de 80, o crescimento chinês se deveu principalmente a incrementos na eficiência
técnica e a fatores de acumulação. No início da década de 90, porém, o progresso tecnológico
tornou-se uma importante fonte de crescimento econômico, favorecendo a sua
sustentabilidade ao longo do tempo. Especificamente, o estudo mostrou que as reformas do
fim da década de 70 ajudaram a estimular as regiões chinesas a adotarem melhores técnicas de
produção. Entretanto, o crescimento potencial em eficiência já estava quase que totalmente
exaurido na metade da década de 90, o que significa que a continuidade do crescimento
econômico chinês deve ser assegurada principalmente por atividades de inovação.
Os dados da tabela 7 abaixo mostram a evolução dos gastos governamentais na China
para Pesquisa e Ciência. Como se observa, houve um decréscimo em termos médios dos
gastos governamentais no subperíodo 1991-2003 em relação ao subperíodo 1978-1990 para
todas as variáveis analisadas. Não se pode, porém, afirmar que não exista um esforço para
melhoria da produtividade, dado que os gastos em P&D provavelmente estão mais
concentrados no setor privado, o qual vem se tornando um setor cada vez mais dinâmico
dentro da economia chinesa
45
.
Resultados obtidos por Gapinski (2001) mostram que durante as décadas de 70 e 80 as
principais fontes do crescimento do produto chinês foram a quantidade de trabalho (milhões
de trabalhadores), seguida pela quantidade de capital (bilhões de dólares). No início da década
de 90, o estoque de capital passou a ser a principal fonte de crescimento, o qual foi sustentado
em última instância pela dinâmica dos setores industriais. Esta mudança pode ser comprovada
pelos dados do estudo, que ressaltam que a contribuição da quantidade de trabalho para o
crescimento do produto caiu de 56,6% em 1971-1975 para 27,3% em 1996-1998, enquanto
que a contribuição da quantidade de capital aumentou de 31% para 38,1%. O mesmo pode ser
dito a respeito da contribuição do comércio exterior, cuja participação no crescimento chinês
aumentou em cinco vezes, passando de apenas 3,7% no período 1971-1975 para 20,6% em
1996-1998. Segundo o autor, o grande impulso nesta fonte de crescimento foi dado em 1991-
1995, quando o sistema cambial foi unificado.
45
Não foram encontrados dados sobre os dispêndios privados com Pesquisa e Ciência.
48
Tabela 7: Gastos do governo chinês com Pesquisa e Ciência no período 1978-2003 (% do
total de gastos do governo).
Anos
Total de gastos do
governo para
Pesquisa Científica
Gastos para promoção
de Ciência e
Tecnologia (C&T)
Gastos na construção
de capital para
Institutos de C&T
Outros gastos
operacionais com
C&T
1978 4,71 2,27 0,59 0,47
1979 4,86 2,22 0,73 0,46
1980 5,26 2,24 0,92 0,50
1981 5,41 2,12 0,92 0,49
1982 5,31 2,14 0,91 0,44
1983 5,61 2,52 0,84 0,47
1984 5,57 2,49 0,87 0,45
1985 5,12 2,21 0,94 0,37
1986 5,11 2,25 0,92 0,37
1987 5,03 2,24 1,01 0,48
1988 4,86 2,17 0,79 0,47
1989 4,53 2,09 0,63 0,44
1990 4,51 2,06 0,57 0,45
1991 4,74 2,16 0,54 0,44
1992 5,06 2,39 0,66 0,48
1993 4,86 2,30 0,73 0,42
1994 4,63 1,97 0,62 0,52
1995 4,43 1,99 0,56 0,46
1996 4,39 1,95 0,61 0,45
1997 4,43 2,06 0,46 0,53
1998 4,06 1,76 0,44 0,46
1999 4,12 2,07 0,40 0,38
2000 3,62 1,75 0,39 0,30
2001 3,72 1,90 0,34 0,30
2002 3,70 1,81 0,32 0,35
2003 3,96 1,69 0,45 0,60
Média 1978-1990 5,07 2,23 0,82 0,45
Média 1991-2003 4,29 1,98 0,50 0,44
Média Geral 4,68 2,11 0,66 0,44
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados originais do China Statistical Yearbook (2001, 2004).
Os dados contidos na tabela 8 abaixo ilustram a evolução da distribuição da força de
trabalho chinesa entre mão-de-obra rural e urbana ao longo do período posterior às reformas.
Analisando-se os dados, percebe-se que a maior parte dos trabalhadores da China ainda se
encontra na área rural. Entretanto, percebe-se que há uma tendência de aumento do emprego
urbano em detrimento do emprego rural. Na média do subperíodo 1991-2003, por exemplo, a
proporção de trabalhadores na área urbana cresceu e a de trabalhadores rurais diminuiu em
relação à média do subperíodo imediatamente anterior (de 25,39% para 29,41% para os
urbanos e de 74,61% para 70,59% para os da área rural). Significa, portanto, que o emprego
urbano está adquirindo uma importância crescente dentre o total da força de trabalho chinesa.
Esta tendência de mudança do perfil da força de trabalho pode ser constatada também
pelos dados de composição da população: em 1978, 17,92% da população chinesa viviam nas
áreas urbanas e 82,08% nas áreas rurais; em 2003, 40,53% estavam nas zonas urbanas e
49
59,47% ainda viviam nas zonas rurais. Embora a maioria da população ainda esteja no campo,
o intenso fluxo de pessoas para as cidades representa um acréscimo de aproximadamente 16
milhões de consumidores potenciais por ano nas cidades, o que gera um impacto significativo
na demanda agregada.
Tabela 8: Trabalhadores nas áreas urbana e rural na China – período 1978-2003 (% do total de
empregados).
Anos Trabalhadores Urbanos Trabalhadores rurais
1978 23,69 76,31
1979 24,37 75,63
1980 24,85 75,15
1981 25,28 74,72
1982 25,23 74,77
1983 25,30 74,70
1984 25,37 74,63
1985 25,68 74,32
1986 25,92 74,08
1987 26,11 73,89
1988 26,26 73,74
1989 26,01 73,99
1990 26,00 74,00
1991 26,20 73,80
1992 26,30 73,70
1993 26,50 73,50
1994 27,40 72,60
1995 28,10 71,90
1996 28,78 71,22
1997 29,03 70,97
1998 29,56 70,44
1999 29,77 70,23
2000 29,90 70,10
2001 32,78 67,22
2002 33,60 66,40
2003 34,45 65,55
Média 1978-1990 25,39 74,61
Média 1991-2003 29,41 70,59
Média Geral 27,40 72,60
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados originais do China Statistical Yearbook (2001, 2004).
Arayma & Miyoshi (2004) apresentam um estudo no qual objetivaram contabilizar o
crescimento econômico para cada província chinesa
46
e também extrair conclusões sobre
fatores que influenciam as disparidades existentes entre as regiões do leste, centro e oeste da
China. Os resultados encontrados pelos autores mostram que as contribuições do capital, do
trabalho físico, do capital humano e da PTF para o crescimento do PIB foram de 66,4%,
46
Segundo o China Statistical Yearbook (2004), as províncias da China são: Beijing, Tianjin, Hebei, Shanxi,
Inner Mongólia, Liaoning, Jilin, Heilongjiang, Shanghai, Jiangsu, Zhejiang, Anhui, Fujian, Jiangxi, Shandong,
Henan, Hubei, Hunan, Guangdong, Guangxi, Hainan, Chongqing, Sichuan, Guizhou, Yunnan, Tibet, Shaanxi,
Gansu, Qinghai, Ningxia e Xinjiang, além das Regiões Especiais Administrativas de Hong Kong, Macao e
Taiwan.
50
22,3%, 15,2% e -4,0%, respectivamente, para a região leste, no período de 1979-1998. Para a
região central, os resultados foram de 42,1%, 26,1%, 17,9% e 13,5% para o mesmo período,
enquanto que para a região oeste os números encontrados foram de 38,4%, 31,3%, 18,1% e
11,6%. Os autores também apresentam a decomposição do crescimento para cada província
chinesa, cujos resultados permitiram encontrar quatro padrões de crescimento: (1) o
incremento no estoque de capital e o rápido crescimento da PTF têm sido as principais fontes
do crescimento (províncias de Fujian e Guandong); (2) o crescimento pode ser atribuído
exclusivamente ao estoque de capital (províncias de Shangai e Zejiang); (3) crescimento tem
sido alcançado por contribuição conjunta do capital, trabalho físico, capital humano e PTF,
acompanhado de um decréscimo substancial no emprego em setores agrícolas (províncias de
Hubei e Henan); e (4) crescimento tem sido alcançado por capital e trabalho, com
contribuições negativas ou próximas de zero da PTF (províncias de Jinaxi ou Hunan).
Uma análise mais geral dos resultados de Arayma & Miyoshi (2004) mostra que a
acumulação de capital é a principal fonte de crescimento em cada região, sendo ela mais
significativa nas regiões central e oeste. O problema é que as populações destas regiões
possuem um nível de qualificação menor, se comparadas com a população da costa leste. Para
otimizar os investimentos em acumulação de capital físico, é preciso então que se aumente os
esforços de acumulação de capital humano nestas regiões mais pobres, a fim de que estes dois
tipos de investimentos sejam equilibrados.
Jones
et al. (2003) afirmam que estudos empíricos baseados em dados agregados ao
nível de província podem ocultar importantes conclusões a respeito das desigualdades
regionais e efeitos de políticas implementadas na China. Baseados nisso, os autores
realizaram um estudo utilizando dados agregados ao nível de cidades
47
, no qual afirmam que
usando tal nível de agregação é possível perceber que diferenças de crescimento são mais
pronunciadas do que quando se leva em consideração apenas dados ao nível de províncias. A
diferença na taxa de crescimento encontrada entre as cidades de maior e menor crescimento
foi de 24 pontos percentuais, enquanto essa mesma diferença em termos de província é igual a
6,2 pontos percentuais [Dermurger
et al. (2002) apud Jones et al. (2003, p. 188)].
47
Os dados utilizados no trabalho de Jones et al. (2003) referem-se às duzentas maiores cidades da China no
período de 1989-1999. Aproximadamente 42% das cidades incluídas na amostra localizam-se no leste, 21%
estão no oeste e 37% na região central. As estatísticas descritivas de cada região geográfica mostram a variação
em taxas de crescimento e renda: nas cidades do leste, a taxa média de crescimento e a renda per capita média
são, respectivamente, iguais 9% e 3.965 yuan, enquanto que nas regiões oeste e central, estes números são 8% e
2.624 yuan e 7% e 2.721 yuan, respectivamente. Uma diferença marcante entre as três regiões estudadas diz
respeito à quantidade de IDE: no leste, a razão média IDE/PIB é igual a 8,6%, mas somente 2,5% e 2,4% para as
regiões oeste e central.
51
Jones
et al. (2003) rodaram regressões a fim de capturar a relação de algumas variáveis
(como renda inicial, taxa de poupança, taxa de crescimento da população, investimento em
capital humano, dentre outras) com a taxa de crescimento da renda
per capita. Os resultados
encontrados mostram uma relação positiva entre IDE e crescimento e uma relação negativa
entre crescimento da população e crescimento da renda
per capita. Não foram encontrados
resultados estatisticamente significativos que mostram um relacionamento entre investimento
doméstico e capital humano com crescimento, além de também não ter sido encontrada
evidência sobre convergência condicional. A interpretação oferecida pelos autores sobre a
fraca evidência sobre o relacionamento (previsível) entre investimento doméstico e
crescimento é que os fundos de investimento internos são ineficientemente alocados. Quanto
ao capital humano, os autores dizem que a insignificância estatística da relação desta variável
com o crescimento também foi encontrada em outros estudos, como o de Chen & Fleisher
(1996) [
apud Jones et al. (2003, p. 192)]. Quando se incluem variáveis que captam tratamento
preferencial, sob a forma de qualquer tipo especial de
status, como, por exemplo, Zona
Econômica Especial, os resultados obtidos sugerem que o tratamento preferencial tem um
substancial efeito, aumentando as taxas de crescimento em algo em torno de dois pontos
percentuais. Essas políticas afetam o crescimento das cidades beneficiadas ao criarem um
ambiente mais propício à produção e ao aumentarem o fluxo de IDE.
Para Ho & Tsui (2004), muitos estudos empíricos sobre o crescimento do PIB real da
China excluem a presença de choques de volatilidade condicional, o que compromete a
capacidade de previsão dos modelos utilizados. A fim de superar este viés, estes autores
empreenderam um estudo no qual procuram evidências de volatilidade condicional nos dados
trimestrais do PIB real da região da Grande China, que inclui a República Popular da China, a
Região Administrativa Especial de Hong Kong e Taiwan.
Usando o modelo ARMA-EARCH
48
, os resultados encontrados por Ho & Tsui (2004)
mostram que os dados do PIB real de Taiwan apresentam alto grau de persistência de choques
de volatilidade, sendo que para a República Popular da China e Hong Kong os números
48
O modelo EARCH, desenvolvido por Nelson (1991) [apud Ho & Tsui (2004, p.427)] é uma variante do
modelo ARCH (modelo auto-regressivo de heteroscedasticidade condicional), originalmente desenvolvido por
Engle a partir de observações de que a capacidade de previsão de algumas séries temporais, principalmente
financeiras, oscila consideravelmente de um período para outro. Segundo Gujarati (2000), este fato demonstra
que a variância dos erros de previsão não é constante, o que sugere a existência de uma espécie de
autocorrelação na variância dos erros de previsão. O raciocínio que está por trás do modelo ARCH é que a
variância de um termo de erro da regressão no instante t depende do quadrado do tamanho do termo de erro no
tempo t-1. Quanto ao esquema ARMA, este é um mescla do processo auto-regressivo (AR) e do esquema de
média móvel (MA) na geração dos termos de erro de uma regressão.
52
encontrados indicam menor presença de persistência. Segundo os autores, a presença de
expectativas heterogêneas e não uniformes entre os agentes econômicos pode explicar a
persistência da volatilidade na produção real e a sua extensão pode estar correlacionada com
circunstâncias econômicas e políticas de cada região. A maior importância relativa do
governo no desenvolvimento econômico taiwanês em comparação com o de Hong Kong
indica, por exemplo, que a persistência da volatilidade em Taiwan pode ser atribuída à
intervenção governamental. Entretanto, a intervenção do governo na República Popular da
China é intensa e os resultados mostram baixa persistência da volatilidade.
Os resultados de Ho & Tsui (2004) também indicam presença de volatilidade
assimétrica para as três economias estudadas (República Popular da China, Hong Kong e
Taiwan). Os coeficientes encontrados pelos autores sugerem que choques negativos nas taxas
de crescimento do PIB produzem volatilidade proporcionalmente maior que choques positivos
da mesma magnitude. Ademais, os resultados mostram que a economia de Hong Kong é mais
vulnerável a choques negativos do PIB. Uma explicação para esses resultados é que os
agentes econômicos se tornam mais propensos a cortar seus gastos em consumo e
investimento na presença de choques negativos, o que magnifica o efeito recessivo. Já na
presença de choques positivos, a expansão dos gastos de consumo e investimento dos agentes
se depara com a capacidade produtiva potencial da economia. Isto significa que os fatores do
lado da oferta e gargalos existentes na economia restringem um aprofundamento da expansão
iniciada pelo choque positivo. A explicação de maior vulnerabilidade de Hong Kong pode ser
dada tendo em vista o maior grau de abertura aos fluxos de comércio e capital que essa
economia apresenta em relação às outras estudadas
49
. Concluindo o trabalho, os autores
afirmam que os resultados encontrados corroboram uma maior defesa do papel do governo
como estabilizador do ambiente macroeconômico durante as recessões, além de indicarem a
necessidade de maior coordenação de políticas, dada a crescente interdependência das
economias pertencentes à grande China.
Jun (2003) enfatiza que o sucesso da China está relacionado com sua capacidade em
promover e expandir o setor industrial (setor manufatureiro, em particular). Em seu trabalho,
o autor apresenta uma análise da ligação investimento-crescimento na China em comparação
com alguns países do leste asiático que também vivenciaram um período de alto crescimento
49
Os autores reconhecem que as explicações dadas são apenas conjunturais e que um esforço de pesquisa mais
acurado é necessário para o melhor entendimento das causas da volatilidade assimétrica.
53
econômico durante as décadas de 60 a 80
50
. Para este autor, a industrialização do setor rural,
facilitada pela expansão das TVEs, desempenhou um importante papel na performance
econômica chinesa a partir de 1978. O autor afirma que a contínua expansão de pequenas
firmas no setor não-estatal e o aprofundamento da industrialização do setor rural podem
assegurar a manutenção do rápido crescimento econômico da China sem um aumento nas
relações investimento/PIB e capital/trabalho.
Jun (2003) calculou a razão incremental capital-produção (ICOR), uma medida simples
da eficiência dos investimentos em nível agregado, e mostrou que esta vem apresentando uma
tendência declinante a partir de 1979, sugerindo uma melhor performance que seus vizinhos
do leste asiático e demais países em desenvolvimento em estágio similar. Somente a partir de
1992, a ICOR chinesa apresentou um leve acréscimo, causado principalmente pelos massivos
investimentos em infra-estrutura urbana e na rede de transportes nacional.
Uma explicação de Jun (2003) para um melhor desempenho chinês é que, durante a
maior parte do período de transição institucional e de crescimento, o sucesso da China apoiou-
se primariamente na rápida entrada e expansão de pequenas firmas rurais, cuja tecnologia de
produção é intensiva em trabalho e orientada para o mercado. Embora a China ainda
mantenha maior porcentagem de investimentos públicos que os demais NICs asiáticos, a
industrialização rural e a proliferação de firmas no setor não-estatal apresentaram um
crescimento vertiginoso em comparação aos seus vizinhos.
Com relação à composição do PIB chinês no período 1978-2003, os dados da tabela 9
abaixo mostram que a parcela do PIB proveniente do setor primário apresenta uma tendência
declinante: de 28,10% em 1978 para 14,62% em 2003; ao mesmo tempo em que a parcela do
PIB do setor terciário apresentou uma elevação de 23,70% para 33,20%. Quanto ao setor
secundário, verifica-se que este apresentou uma pequena elevação na sua participação no PIB:
de 48,20% em 1978 para 52,20% em 2003. Em termos médios, as contribuições dos setores
primário, secundário e terciário foram de 24,01%, 46,70% e 29,29%, respectivamente,
considerando todo o período de análise.
Pingyao (2003) afirma que o sucesso do rápido crescimento chinês está associado com a
gradual reforma orientada para o mercado, iniciada com a mudança de ideologia do PCC. A
característica central deste processo gradual de reformas é que o setor dominante de estatais
50
Estes países, conhecidos como Newly Industrialized Countries (NICs) do leste asiático , incluem Coréia do
Sul, Cingapura e Taiwan, dentre outros (Tailândia e Malásia, mais recentemente, conhecidos como “pequenos
tigres asiáticos”). Estes países também experimentaram um período de alto crescimento econômico entre as
décadas de 60 e 80, fenômeno conhecido na literatura como “milagre do leste asiático”. A respeito desse último
tópico, ver Young (1994), Krugman (1994), Lau & Kim (1992) e Kim & Lau (1996).
54
não foi diretamente privatizado. Ao contrário, o governo escolheu introduzir forças de
mercado na economia e, ao mesmo tempo, reduzir gradualmente as restrições ao
desenvolvimento ao setor não estatal, especialmente as empresas rurais coletivas.
Tabela 9: Composição do PIB da China no período 1978-2003 – % do PIB total.
Anos PIB primário PIB secundário PIB terciário
1978 28,10 48,20 23,70
1979 31,20 47,40 21,40
1980 30,10 48,50 21,40
1981 31,80 46,40 21,80
1982 33,30 45,00 21,70
1983 33,00 44,60 22,40
1984 32,00 43,30 24,70
1985 28,40 43,10 28,50
1986 27,10 44,00 28,90
1987 26,80 43,90 29,30
1988 25,70 44,10 30,20
1989 25,00 43,00 32,00
1990 27,10 41,60 31,30
1991 24,50 42,10 33,40
1992 21,80 43,90 34,30
1993 19,90 47,40 32,70
1994 20,20 47,90 31,90
1995 20,50 48,80 30,70
1996 20,40 49,50 30,10
1997 19,10 50,00 30,90
1998 18,57 49,29 32,13
1999 17,63 49,42 33,00
2000 16,40 50,22 33,42
2001 15,80 50,10 34,07
2002 15,32 50,37 34,30
2003 14,62 52,20 33,20
Média 1978-1990 29,20 44,85 25,95
Média 1991-2003 18,83 48,55 32,62
Média Geral 24,01 46,70 29,29
Fonte: China Statistical Yearbook (2001, 2004).
Esta estratégia funcionou bem até a metade da década de 90, resultando em um
crescimento vigoroso da economia como um todo, principalmente no setor não estatal. No
entanto, a partir da segunda metade da década de 90, a economia chinesa apresentou uma
significante queda no ritmo do seu crescimento. A taxa anual de crescimento do produto caiu
da casa dos dois dígitos no período 1992-1995 (média de 12,70%) para um crescimento de
7,10% em 1999, a menor taxa registrada desde 1981. Ademais, a partir de 1997 houve
deflação e aumento no desemprego urbano, embora os dados mais recentes (2004) indicam
uma maior pressão inflacionária (3,9%), ainda que o crescimento econômico permaneça
elevado (9,5%).
55
Pingyao (2003) afirma que a diminuição relativa nas taxas de crescimento da economia
chinesa está associada com a estagnação de preços e sua principal conseqüência é o aumento
do desemprego urbano, que, pela primeira vez, passou a ser um problema persistente da
economia chinesa. Todos os anos 10 milhões de pessoas entram no mercado de trabalho, além
de mais de 5 milhões de
“xiagang”, trabalhadores afastados das empresas estatais que
esperam para serem reabsorvidos pelo mercado (Yu, 2004). Em 2003, com um crescimento
econômico de 9,10%, foram criados 8 milhões de postos de trabalho. Em 2004, houve a
reincorporação de 5,1 milhões de trabalhadores afastados e a criação de 9,8 milhões de postos
de trabalho para os residentes urbanos, 8,89% a mais do que o previsto. A taxa de desemprego
urbano foi de 4,2%, menor que a taxa de 2003 em 0,1 ponto percentual. Pelos dados da tabela
10 abaixo, percebe-se que desde 1996 houve aumento na taxa de desemprego urbano, sendo
que a partir de 2002 ela ultrapassa os 4%.
Tabela 10: Taxa de desemprego urbano na China no período 1996-2003.
Anos Taxa desemprego urbano (%)
1996 3,00
1997 3,10
1998 3,10
1999 3,10
2000 3,10
2001 3,60
2002 4,00
2003 4,30
Fonte: China Statistical Yearbook (2001, 2004).
O desemprego assume, principalmente, a forma de
“xiagang” e, embora sua
distribuição pelos setores seja irregular, está concentrado nas estatais urbanas e nos setores
industriais coletivizados. No setor de manufaturas, por exemplo, o decréscimo no número de
empregos começou em 1996, sendo que em 2001 o número de trabalhadores empregados foi
reduzido em aproximadamente dois terços. Uma redução similar de empregos aconteceu no
setor de atacado e varejo, onde as vagas decaíram em mais da metade.
Fang & Meiyan (2002) chamam a atenção para o recorrente aumento do emprego
informal, que está se constituindo como uma parcela crescentemente maior do total de
empregos. Ao mesmo tempo, o emprego não-agrícola nas áreas rurais está se tornando cada
vez mais importante na absorção do excedente de mão-de-obra. Em conseqüência, o emprego
formal urbano não mais representa o emprego total na China como um todo.
56
Uma explicação fornecida para o aumento no desemprego urbano pode ser chamada de
falha de eficiência/tecnologia. De acordo com esta explicação, a diferença tecnológica entre o
setor estatal e o não-estatal não era significativa no início do período de reformas. Em
conseqüência disto, uma pequena quantidade de subsídios era capaz de assegurar o pleno
emprego no setor das estatais, mesmo se levando em conta um maior nível salarial destas. No
entanto, ao longo do processo de reformas, as diferenças tecnológicas e de eficiência entre o
setor de estatais e não estatais se tornaram maiores, sendo que as primeiras se tornaram não
lucrativas, sobrevivendo à custa de subsídios fiscais e empréstimos bancários.
Na medida em que o Estado não era mais capaz de sustentar as empresas estatais
deficitárias, elas se viram obrigadas a decretar falência ou a demitir grande quantidade de
trabalhadores. Combinado com um decréscimo geral do ritmo de crescimento da economia
como um todo, a conseqüência foi um grande aumento no desemprego urbano. Esta
explicação é consistente com a piora dos indicadores fiscais e de lucratividade das empresas
estatais. Além disso, verificou-se um aumento no débito das empresas para com o sistema
bancário (a razão de débito das empresas estatais cresceu de 11%, em 1978, para 79% em
1994). Em conseqüência, houve um aumento na inadimplência, o que obrigou os bancos a
restringir os empréstimos para empresas estatais.
Yu (2004) mostra que em 2003 a China já estava recuperada da queda do ritmo de
crescimento verificada na segunda metade da década de 90. Embora a taxa de crescimento do
PIB ainda esteja abaixo da casa dos dois dígitos, ela atingiu 9,10% em 2003, o nível mais alto
desde 1996
51
. A inflação, medida pelo índice de preços ao consumidor, alcançou 1,2% em
2003, o que sinaliza que a economia chinesa superou a fase de deflação iniciada na segunda
metade de 1997.
De uma situação de deflação, as autoridades chinesas agora se deparam com a
possibilidade de que a taxa de inflação fique fora de controle devido ao reaquecimento da
economia. Em 2004, o crescimento da economia foi de 9,5% e a inflação ficou em 3,9%. Há o
receio de que a febre de investimentos ocorrida em 2003 piore os desequilíbrios estruturais
existentes e, em conseqüência, as expectativas de longo-prazo de crescimento da economia
chinesa. A tabela 11 abaixo mostra a evolução da taxa de inflação, medida pela variação anual
do índice de preços do consumidor (IPC), e da taxa de juros de empréstimo na China no
período 1980-2003. Como se percebe, entre 1987 e 1996 a taxa de inflação chinesa variou
51
Yu (2004) afirma que é consenso entre os economistas chineses que a taxa potencial de crescimento do
produto chinês está entre 8-9%.
57
entre entre 3,06% e 24,24%. A partir de 1997, a taxa de inflação apresentou acentuada queda,
sendo que nos anos de 1998, 1999 e 2002 houve deflação. Quanto à taxa de juros, verifica-se
que esta variável permaneceu estável a partir de 1999, apresentando uma pequena queda em
2002 de 5,85% para 5,31%, esta última mantida em 2003.
Tabela 11: Taxa de inflação e taxa de juros de empréstimo na China no período 1980-2003 –
em %.
Anos
Taxa de inflação
(variação anual do IPC)
Taxa de Juros (empréstimo)
1980 - 5,04
1981 - 5,04
1982 - 7,20
1983 - 7,20
1984 - 7,20
1985 - 7,92
1986 7,92
1987 7,22 7,92
1988 18,74 9,00
1989 18,33 11,34
1990 3,06 9,36
1991 3,54 8,64
1992 6,34 8,64
1993 14,58 10,98
1994 24,24 10,98
1995 16,90 12,06
1996 8,32 10,08
1997 2,81 8,64
1998 -0,84 6,39
1999 -1,41 5,85
2000 0,26 5,85
2001 0,46 5,85
2002 -0,77 5,31
2003 1,16 5,31
Fonte: World Development Indicators (WDI) 2004.
Procurando avaliar a real possibilidade de que a inflação possa se tornar um problema,
Yu (2004) analisa os lados da demanda e oferta da economia chinesa, concluindo que o real
perigo para a China não são as altas taxas de inflação, que não devem ultrapassar a casa dos
5%, e sim o aumento da inadimplência do setor bancário. O autor se apóia no fato de que a
principal fonte de crescimento em 2003 foi os investimentos
52
, o que fará com que a oferta
agregada aumente em um futuro próximo. Em conseqüência, grandes aumentos na demanda
agregada não necessariamente conduzirão a altas taxas de inflação nos anos seguintes.
52
A principal característica da economia chinesa em 2003 foi o crescimento “anormal” dos investimentos em
ativos fixos (26,7% em relação a 2002), sendo que o aumento dos investimentos na indústria imobiliária foi o
principal drive deste crescimento (7% de contribuição). De acordo com Yu (2004), o setor imobiliário tem se
mostrado uma indústria chave, uma vez que o incremento na renda per capita e na urbanização desempenharão
um importante papel na economia chinesa.
58
Ademais, segundo uma pesquisa recentemente publicada pelo NBS, mais de 70% dos
produtos estão em excesso de oferta ou em equilíbrio, além do que a baixa demanda
verificada em alguns bens de consumo finais não permitirá o repasse aos preços dos produtos
finais.
Apesar dessas evidências, há um temor real de que o ritmo de crescimento da economia
coloque fora de controle a escalada de preços. Em decorrência, o governo apertou a política
econômica para guiar a economia em direção a um
soft landing, utilizando-se de elevações na
taxa de juros. Yu (2004), por exemplo, aponta para a necessidade de um aperto monetário,
através do aumento da taxa de juros, para conter o aumento da demanda, ainda que este não
seja generalizado em termos dos produtos da economia. Este autor sugere que o Banco
Central da China
(People's Bank of China - PBC) adote alguma regra de política (regra de
Taylor, por exemplo), a fim de tornar clara a postura das autoridades monetárias. Em 2004,
após cinco anos de relativa estabilidade, o governo promoveu um aumento da taxa de juros,
no intuito de arrefecer o aumento de preços.
2.2 Evolução do comércio exterior da China
Quanto ao comércio exterior, a China ampliou sua participação no comércio mundial de
menos de 1% em 1978 para algo em torno de 5,62% em 2003 (figura 4). O coeficiente de
abertura da economia (exportações mais importações sobre o PIB) apresentou significativo
aumento (tabela 12): de 42,90% em 1978 para 81,31% em 2003. Na média, o grau de abertura
no subperíodo de 1978-1990 foi de 44,97%, aumentando seu valor para 51,16% no
subperíodo 1991-2003. Em todo o período de análise, o grau de abertura médio foi de
48,07%. A corrente de comércio chinesa (somatório das exportações e importações) também
apresentou um aumento substancial (tabela 12): de aproximadamente US$ 60,52 bilhões em
1978 para US$ 1,07 trilhão em 2003, um aumento de 1.671,95%. A média do subperíodo
1978-1990 foi US$ 111,48 bilhões e a do subperíodo 1991-2003 foi de US$ 460,35 bilhões.
Para o período total, a média foi de US$ 285,91 bilhões.
Embora não consensual, a literatura econômica aponta para uma relação positiva entre
grau de abertura e crescimento econômico
53
. Jin (2004), por exemplo, oferece um estudo
53
Baldwin (2003) realizou uma revisão dos principais estudos acerca da relação entre abertura comercial da
economia e crescimento econômico. O autor também sistematiza a evolução das visões dos economistas e
formuladores de política a respeito desta relação. Especial atenção é dada ao estudo de Rodriguez & Rodrik
59
sobre as relações entre o grau de abertura e o crescimento econômico na China. Usando dados
desagregados ao nível de províncias, os resultados mostram que a abertura econômica tem
uma influência positiva sobre o crescimento das províncias da costa leste. Para as províncias
localizadas no interior do país, a análise indica uma relação negativa entre abertura e
crescimento, provavelmente explicada pela baixa competitividade demonstrada por este
último grupo. Outra conclusão geral do trabalho é que, para muitas províncias, a acumulação
de capital tem um efeito positivo significante sobre o crescimento econômico, enquanto que o
trabalho tem efeitos insignificantes e, em alguns casos, negativos sobre o crescimento.
Usando uma análise para os países em desenvolvimento em geral, Greenaway
et al. (2002)
também mostram uma relação positiva entre liberalização e crescimento econômico, embora
os efeitos sejam defasados e relativamente modestos.
Figura 4: Evolução da participação do comércio chinês no comércio mundial no período
1978-2003.
0
1
2
3
4
5
6
1978
1980
19
8
2
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1
99
6
1998
2000
2002
Anos
Participação (%)
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados do World Development Indicators 2004.
(2001), o qual afirma que uma maior abertura econômica no sentido de políticas comerciais mais liberais não é
garantia de um crescimento econômico mais rápido.
60
Tabela 12: Grau de abertura e corrente de comércio da economia chinesa no período 1978-
2003.
Anos Grau de abertura (1) Corrente de comércio (2)
1978 42,90 60,52
1979 50,16 76,13
1980 48,99 80,16
1981 53,21 91,58
1982 47,61 89,41
1983 44,43 92,52
1984 46,16 110,74
1985 48,64 132,44
1986 44,36 131,43
1987 39,94 132,07
1988 40,87 150,38
1989 40,31 154,41
1990 37,08 147,45
1991 39,09 169,75
1992 40,75 202,06
1993 45,07 253,65
1994 47,22 299,23
1995 45,68 319,86
1996 41,75 320,41
1997 45,00 375,73
1998 43,96 395,72
1999 48,63 468,80
2000 57,53 599,00
2001 58,94 659,74
2002 70,16 848,18
2003 81,31 1.072,40
Média 1978-1990 44,97 111,48
Média 1991-2003 51,16 460,35
Média Geral 48,07 285,91
Fonte: elaborado pelo autor com base em dados originais do World Development Indicators (WDI) 2004.
(1) Em %, o grau de abertura representa o somatório das exportações e importações sobre o PIB;
(2) Em bilhões de dólares de 1995, a corrente de comércio representa o somatório das exportações e importações.
Nota: exportações e importações incluem bens e serviços.
As exportações chinesas também apresentaram um crescimento significativo. A tabela
13 mostra o volume das exportações e importações de bens e serviços e suas respectivas taxas
de crescimento. Adicionalmente, apresenta-se também a evolução do saldo comercial chinês e
sua variação anual no período 1978-2003. De aproximadamente US$ 38,47 bilhões e US$
22,05 bilhões, em 1978, as exportações e importações passaram para US$ 575,12 bilhões e
US$ 497,28 bilhões, respectivamente. Em termos de taxa de crescimento média, esta ficou em
11,79% e 14,39% para exportações e importações, respectivamente, para todo o período
analisado
54
. Em relação ao saldo comercial, os dados apresentados revelam que apenas no ano
de 1993 houve um déficit. Nos demais anos, a balança comercial registrou superávits, sendo
que este ficou em US$ 77,83 bilhões em 2003.
54
Em 2004, o crescimento das exportações e importações chinesas foi igual a 35,4% e 36,0%, respectivamente.
61
Tabela 13: Valor das exportações e importações chinesas e suas respectivas taxas de
crescimento – período 1978-2003.
Anos
Exportações
(1)
Crescimento
exportações
(%a.a)
Importações
(2)
Crescimento
importações
(% a.a)
Saldo Comercial
(3)
Crescimento
Saldo Comercial
(% a.a)
1978 38,47 22,05 16,42
1979 47,11 22,46 29,02 31,60 18,10 10,20
1980 50,87 7,97 29,29 0,95 21,58 19,23
1981 59,33 16,64 32,25 10,10 27,08 25,51
1982 60,41 1,82 28,99 -10,10 31,42 16,03
1983 60,01 -0,67 32,51 12,15 27,50 -12,50
1984 68,53 14,20 42,20 29,80 26,33 -4,24
1985 69,93 2,03 62,51 48,12 7,42 -71,83
1986 70,42 0,71 61,01 -2,40 9,42 26,94
1987 76,09 8,05 55,98 -8,25 20,12 113,69
1988 81,89 7,62 68,49 22,35 13,40 -33,37
1989 83,94 2,50 70,47 2,89 13,47 0,49
1990 88,30 5,19 59,15 -16,06 29,15 116,36
1991 99,84 13,08 69,91 18,18 29,94 2,72
1992 111,03 11,21 91,03 30,22 20,00 -33,19
1993 126,14 13,61 127,51 40,07 -1,37 -106,83
1994 157,89 25,17 141,34 10,84 16,55 1311,02
1995 167,97 6,39 151,88 7,46 16,09 -2,79
1996 166,79 -0,71 153,62 1,14 13,17 -18,15
1997 205,03 22,93 170,70 11,12 34,33 160,62
1998 219,71 7,16 176,00 3,11 43,71 27,34
1999 253,03 15,16 215,77 22,59 37,26 -14,75
2000 330,37 30,57 268,62 24,50 61,75 65,72
2001 362,16 9,62 297,58 10,78 64,58 4,58
2002 468,69 29,42 379,49 27,52 89,20 38,13
2003 575,12 22,71 497,28 31,04 77,83 -12,74
Fonte: World Development Indicators (2004).
(1) Valor das exportações de bens e serviços em bilhões de dólares de 1995;
(2) Valor das importações de bens e serviços em bilhões de dólares de 1995;
(3) Em bilhões de dólares de 1995.
Com relação aos destinos das exportações, os dados apresentados na tabela 14 abaixo
mostram que em 2003 os EUA foram os principais compradores de produtos chineses
(21,14%), seguidos de Hong Kong (17,41%) e Japão (13,56%). Importante observar o grande
crescimento na penetração de produtos chineses no mercado americano: no início da década
de 80 as vendas chinesas para os EUA somavam pouco mais de US$ 1,5 bilhão e no final do
período ficaram em torno US$ 92,6 bilhões. A grande entrada de produtos chineses no
mercado norte-americano subsidia o entendimento das pressões feitas pelos EUA para a
flexibilização do regime cambial da China
55
. Quanto às importações, os dados apresentados
na tabela 15 revelam que a maior parte delas é proveniente do Japão (17,96%), Coréia
(10,45%) e EUA (8,22%).
55
A análise da política cambial chinesa encontra-se desenvolvida com maiores detalhes na seqüência.
62
Tabela 14: Destino das exportações chinesas no período 1981-2003 – milhões de dólares.
Anos Hong Kong Japão EUA
República
da Coréia Alemanha Cingapura Holanda
Reino
Unido
1981 5.263 4.747 1.505 - 835 658 459 413
1982 5.181 4.806 1.765 - 773 648 294 308
1983 5.797 4.517 1.713 - 859 567 326 601
1984 6.586 5.155 2.313 - 764 1.209 317 329
1985 7.148 6.091 2.336 - 746 2.063 327 358
1986 9.776 5.079 2.633 - 1.011 1.217 463 1.437
1987 13.764 6.392 3.030 - 1.223 1.323 606 532
1988 18.239 8.046 3.399 - 1.491 1.494 749 659
1989 21.916 8.395 4.414 - 1.609 1.692 759 635
1990 27.163 9.210 5.314 433 2.062 2.016 943 664
1991 32.138 10.252 6.198 2.179 2.356 2.014 1.063 728
1992 37.511 11.699 8.599 2.438 2.447 2.031 1.200 923
1993 22.068 15.782 16.977 2.860 3.971 2.245 1.609 1.926
1994 32.365 21.490 21.421 4.376 4.762 2.563 2.272 2.414
1995 36.004 28.466 24.744 6.688 5.672 3.500 3.233 2.791
1996 32.904 30.888 26.731 7.527 5.852 3.753 3.539 3.199
1997 43.789 31.820 32.744 9.136 6.493 4.321 4.410 3.821
1998 38.782,2 29.718,1 38.000,6 6.265,8 7.350,1 3.900,7 5.162,1 4.632,5
1999 36.890,6 32.399,1 42.003,1 7.808 7.778,1 4.502,2 5.411,9 4.879,1
2000 52.930,8 43.119,3 61.637,7 11.323,3 10.238,1 5.973,9 6.830,4 6.346,8
2001 46.502,5 45.078,2 54.395,1 12.544,4 9.759,4 5.795 7.293,6 6.786,4
2002 58.483,3 48.483 70.063,8 15.508 11.382 6.968,8 9.070,2 8.059,3
2003 76.288,6 59.422,6 92.633,2 20.096,4 17.535,7 8.868,5 13.504,9 10.823,9
Fonte: Asian Development Bank – Key Indicators (vários anos).
Figura 5: Evolução da relação Exportações/PIB na China no período 1978-2003 (%).
Evolução da relação Exportações/PIB na China
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
Anos
Exportações/PIB (%)
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados do World Development Indicators 2004.
A figura 5 acima mostra a trajetória ascendente da relação entre exportações de bens e
serviços e PIB na China. De uma proporção de cerca 4,55% do PIB em 1978, o total
exportado em 2003 equivaleu a 33% do PIB. Este vigoroso crescimento é decorrente de
algumas principais mudanças no ambiente econômico chinês (Lai, 2004). São elas: reformas
econômicas orientadas para o mercado, políticas comerciais e de taxa de câmbio apropriadas,
63
investimentos diretos originados de Hong Kong e Taiwan, investimentos de corporações
multinacionais, aumento nas importações de bens de capital e aumento na eficiência nas
indústrias manufatureiras.
Tabela 15: Origem das importações chinesas no período 1981-2003 – milhões de dólares.
Anos Japão
Hong
Kong
Estados
Unidos
República
da Coréia Alemanha Rússia Cingapura Austrália
1981 6.183 1.236 4.682 - 1.337 ... 113 559
1982 3.902 1.314 4.305 - 967 ... 103 914
1983 5.495 1.710 2.753 - 1.209 ... 114 613
1984 8.057 2.830 3.837 - 1.259 ... 141 897
1985 15.178 4.782 5.199 - 2.447 ... 241 1.124
1986 12.463 5.572 4.718 - 3.627 ... 553 1.403
1987 10.087 8.437 4.836 - 3.129 ... 618 1.325
1988 11.062 12.005 6.633 - 3.450 ... 1.018 1.113
1989 10.534 12.540 7.864 - 3.379 ... 1.499 1.472
1990 7.656 14.565 6.591 236 2.980 ... 849 1.361
1991 10.032 17.543 8.010 1.066 3.049 ... 1.063 1.556
1992 13.686 20.539 8.903 2.623 4.023 3.512 1.238 1.671
1993 23.303 10.501 10.633 5.360 6.056 4.986 2.647 1.945
1994 26.319 9.488 13.977 7.318 7.136 3.466 2.481 2.448
1995 19.007 8.599 16.123 10.288 8.035 3.799 3.398 2.585
1996 29.190 7.839 16.179 12.485 7.325 5.156 3.613 3.438
1997 28.990 6.997 162.920 14.885 6.184 4.084 4.385 3.245
1998 28.306,8 6.666,7 16.997,3 15.020,6 6.998 3.626,7 4.225,5 2.693,1
1999 33.768,2 6.892,4 19.488,7 17.227,6 8.336,1 4.222,6 4.061,2 3.607,2
2000 40.083 21.616,7 21.663,1 22.451,5 10.269,1 5.412,5 5.261,1 4.968,7
2001 42.810,3 9.423,5 26.221 23.395,7 13.694,8 7.958,9 5.143,3 5.430
2002 53.489 10.787,9 27.251,4 28.581 16.433,8 8.405,5 7.054,4 5.851,8
2003 74.150,8 11.119,1 33.938,9 43.134,7 24.340,5 9.726,1 10.483,8 7.300,6
Fonte: Asian Development Bank – Key Indicators (vários anos).
O crescimento econômico da China tem mudado os padrões de comércio no leste da
Ásia, sendo que e a crescente abertura da economia chinesa significou a alocação mais
eficiente dos recursos e um maior vínculo comercial do sistema produtivo chinês com a região
do continente banhada pelo oceano Pacífico, conhecida como região Ásia-Pacífico (Story,
2004). O rápido crescimento de empresas que atuam no comércio exterior, que passou de
menos de vinte em 1978 para centenas de milhares atualmente, e a estratégia de países como
Japão, Coréia do Sul e Taiwan de fazerem do território chinês uma plataforma de montagem
para o suprimento dos mercados ocidentais são as principais causas das mudanças do
comércio entre os países da região Ásia-Pacífico, os EUA e a União Européia (UE). O
resultado desta mudança nos padrões de comércio sino-asiático foi que países que tiveram seu
mercado deslocado pelas exportações chinesas têm a oportunidade de exportação de produtos
intensivos em mão de obra para atender o próprio mercado interno chinês. A China, que se
64
afirmou como um exportador líquido para os EUA e o Japão, transformou-se,
simultaneamente, num importador líquido da Ásia (Medeiros, 2004).
A política comercial da China desenvolveu-se muito de acordo com as linhas de outros
países asiáticos, incentivando as exportações e restringindo as importações. Incentivava-se,
principalmente, o processamento e a exportação de produtos intermediários importados. As
empresas da região Ásia-Pacífico se lançaram no mercado chinês em busca de vantagens
como baixo custo da mão-de-obra e de políticas favoráveis – manutenção de baixos impostos
sobre componentes importados, por exemplo – para montagem e reexportação (“modelo dos
gansos voadores”). Em 2000, o perfil das exportações chinesas tinha se alterado, passando a
predominar as exportações de produtos manufaturados (aproximadamente 89% das
exportações totais contra 49,4% em 1985) e aumentando a proporção de bens associados a
mão-de-obra qualificada e insumos tecnológicos. Ao mesmo tempo, os manufaturados
representavam 79,2% da pauta de importações do país.
Não obstante ao fato de que as exportações chinesas alcançaram um rápido crescimento
no período pós-reformas, ainda existe um grande potencial de crescimento para o comércio
exterior do país (Lai, 2004). Segundo a argumentação deste autor, a participação chinesa nas
exportações mundiais em 2003 foi apenas 5,86%, enquanto que a população do país
corresponde a um quinto da população mundial, o que significa que o nível
per capita de
exportação da China está muito aquém do nível médio mundial, indicando que ainda existe
um grande potencial de crescimento para as próximas décadas. Entretanto, para realizar este
grande potencial, o governo chinês deve proceder a alguns ajustamentos de política.
Em primeiro lugar, deve-se buscar o uso de outros instrumentos de promoção comercial,
dado que o efeito de estímulo exportador de alguns mecanismos tradicionais tem decaído
significativamente. Um exemplo seria a exploração das negociações comerciais no âmbito da
Organização Mundial do Comércio (OMC), instituição da qual a China faz parte desde 2001.
Outro desafio para o comércio exterior chinês é estimular as exportações de bens intensivos
em capital e tecnologia, uma vez que o potencial de crescimento para a venda de produtos
intensivos em trabalho encontra-se relativamente esgotado. Para isso, o governo chinês deve
lidar com problemas como o baixo grau de especialização da produção, falta de mão-de-obra
qualificada, baixo grau de concentração da produção e predominância de grandes e
ineficientes empresas estatais em algumas indústrias.
Em se tratando de comércio multilateral, a entrada da China na OMC, oficializada na
Quarta Conferência Ministerial de Doha, é um evento de grande significância na história do
65
comércio mundial e um dos acontecimentos mais importantes ocorridos recentemente na
esfera econômica internacional (Xiaoxi, 2003). Alguns líderes chineses consideram que a
entrada do país na OMC era imprescindível para completar as reformas econômicas das
últimas duas décadas. Essa determinação está baseada na crença de que a participação das
rodadas multilaterais de comércio tornará a China um país mais forte e mais integrado à
economia mundial (Yuefen, 2003). O significativo esforço realizado no avanço do
desenvolvimento de uma economia capitalista de mercado e o vigoroso crescimento do
comércio exterior chinês credenciam o país a participar das rodadas multilaterais do comércio
mundial.
Para ser admitida na OMC, a China se comprometeu a realizar significativos avanços
nas suas regras de comércio exterior (principalmente no lado das importações) e de entrada de
capitais. Espera-se que tal liberalização comercial tenha enormes impactos nos padrões de
comércio e fluxos financeiros mundiais, sendo que os efeitos serão sentidos de maneira
distinta nos diversos países que direta ou indiretamente comercializam com a China. O
mesmo pode ser dito com relação a indústrias de uma mesma nação: enquanto algumas
poderão auferir ganhos com uma maior liberalização do comércio chinês, outras poderão
obter perdas significativas.
Conforme Prasad (2004), as análises que objetivaram quantificar os impactos na entrada
da China na OMC intensificaram-se no final da década de 90. Tais estudos trazem como
conclusão geral que a participação chinesa como membro da OMC trará ganhos de bem-estar
para o próprio país e o mundo como um todo. Entretanto, uma vez que as tarifas chinesas já
foram consideravelmente reduzidas, é provável que o aumento de bem-estar não será
significativo no futuro. Outra conclusão geral desses estudos é que os países tenderão a
ganhar (ou perder) em proporção ao grau de complementaridade entre seus próprios padrões
de comércio e os da China. Países individuais podem maximizar seus ganhos e minimizar
seus custos associados aumentando o grau de flexibilidade das suas economias através de
reformas estruturais. Uma bem-sucedida resposta à emergência chinesa envolverá uma
significativa mobilidade inter-setorial, sendo que os países mais afetados devem acelerar seus
processos de liberalização e integração, o que os permitirá melhorar a alocação de recursos e
perseguir suas próprias vantagens comparativas.
Para os países do sudeste asiático, em particular, a ascensão chinesa na OMC é apontada
em vários estudos como sendo uma ameaça, uma vez que a China conta com alguns fatores de
competitividade espúria, como baixo custo da mão-de-obra e câmbio artificialmente
66
desvalorizado. Wong (2003), por exemplo, afirma que os países vizinhos aos chineses tendem
a perder com a entrada do país na OMC, uma vez que estes países e a China são competidores
próximos nos mercados mundiais, dado que possuem dotações de fatores similares, exportam
produtos semelhantes (intensivos em trabalho) e atuam nos mesmos mercados.
Adicionalmente, devido ao tamanho do mercado chinês, a emergência do país como um
importante
player comercial assusta os demais países da região, os quais temem que uma
maior liberalização do comércio chinês represente custos para suas economias maiores que os
seus benefícios.
Wong (2003) mostra que a liberalização comercial da China pode afetar os preços dos
bens comerciáveis e, por conseguinte, o volume de comércio de vários países. Essas
mudanças, por sua vez, podem afetar o bem-estar de países do sudeste asiático. Para a
Tailândia, país utilizado na análise do autor, o estudo mostrou que a emergência chinesa pode
provocar diminuição das exportações deste país para a China, porém um aumento de suas
vendas para os EUA; enquanto que a China pode exportar mais para a Tailândia e menos para
os EUA. O autor afirma ainda que nos estudos de impacto da entrada da China na OMC não
devem ser ignorados fatores como o comércio intra-firma entre o país e o sudeste asiático e
fluxos de IDE de outros países para a China. Isto porque o comércio intra-firmas é uma
importante fonte de ganhos/perdas de bem-estar, além do que a liberalização das regras de
comércio e entrada de capital na China pode significar oportunidades para investidores do
sudeste asiático naquele país.
Uma análise dos impactos da entrada da China na OMC sobre os demais países em
desenvolvimento é feita em Shafaeddin (2004). Usando índices de vantagem comparativa
revelada e considerando uma variedade de produtos que contempla não só aqueles intensivos
em trabalho, o autor mostra que os efeitos da liberalização do comércio chinês sobre os países
em desenvolvimento colocados na literatura são superestimados. O autor afirma ainda que a
situação na China com relação ao tema de acesso a mercado vis-à-vis os principais países
importadores não mudará em algum tempo, particularmente no caso dos têxteis e vestuário.
Dessa forma, no curto e médio prazo a ascensão chinesa na OMC não melhora sua posição
competitiva a ponto de ameaçar seriamente outros países em desenvolvimento. No longo
prazo, muito dependerá de qual política os líderes chineses irão adotar em relação ao
comércio e industrialização do país. Para o Brasil em particular, espera-se que os setores que
serão mais afetados com a emergência chinesa sejam o de metal e produtos de aço no médio
prazo e equipamentos de transporte no longo prazo. Espera-se também uma parcela de
67
mercado crescente de importações chinesas e produtos produzidos por investimentos chineses
no Brasil, especialmente nos setores de eletrônicos e produtos de telecomunicações (Abreu,
2005)
56
.
2.3 Política cambial e fluxos de capital na China
A análise da política cambial chinesa é necessária dada a sua relevância na tentativa de
explicação do processo de crescimento econômico da China
57
. Por outro lado, pelo fato de o
país estar se consolidando como um importante
player comercial no cenário externo, sua
política cambial vem atraindo grande atenção no mundo.
Ao longo do processo de reformas que se inicia a partir de fins dos anos 70, o regime de
câmbio chinês evoluiu de um mecanismo centralizado de controle para um sistema dual de
taxa de câmbio (1986), seguido por um período de flutuação administrada com uma banda
restrita até o regime atual, que atrela o valor da moeda chinesa (Yuan/Renmimbi - RMB) ao
dólar (desde 1994). Ao longo do ano de 1994 e início de 1995, houve uma apreciação
cambial, onde a taxa passou de 8,7 yuan/dólar para 8,3 yuan/dólar em maio de 1995. Em
outubro de 1997 houve uma ligeira apreciação do câmbio, que passou a ter a paridade de 8,28
RMB por dólar, cotação esta mantida até julho de 2005 (tabela 16)
58,59
.
A brutal acumulação de reservas por que vem passando a economia chinesa e
reclamações de países insatisfeitos com a política cambial da China vêm trazendo pressões de
valorização sobre o câmbio. Para manter a taxa no mesmo patamar e impedir que ela se
valorize, a autoridade monetária chinesa atua recorrentemente no mercado de divisas
60
, o que
vem trazendo grandes custos de esterilização para o governo chinês, dado que para que esta
56
Ver também De Negri (2005) para uma análise do comércio bilateral Brasil-China.
57
Existe uma vasta literatura sobre a relação entre taxa de câmbio e crescimento econômico. Ver, por exemplo,
os estudos clássicos de Balassa (1964) e Samuelson (1964), nos quais se desenvolveu o argumento associado ao
conhecido efeito Balassa-Samuelson (BS) que, sinteticamente, vincula um crescimento econômico mais vigoroso
a uma apreciação da taxa de câmbio real, em função dos diferenciais de crescimento da produtividade entre os
setores de bens comerciáveis e o de bens não comerciáveis. Ver também o trabalho de Leslie & Helmers (1988).
58
Maiores detalhes sobre a cronologia das reformas ocorridas no regime cambial chinês ver Lin & Schramm
(2003, p. 266-270).
59
Devido a essa rigidez cambial, o que se tem verificado na China nos últimos anos é uma depreciação da taxa
de câmbio real concomitantemente à obtenção de altas taxas de crescimento econômico, o que invalidaria o
argumento do efeito BS apontado acima. Entretanto, deve-se ter em mente que caso a China não tivesse adotado
a rigidez cambial, a tendência clara era a de uma apreciação da taxa de câmbio real. Neste último cenário (não
rigidez cambial), porém, permanece a dúvida de qual teria sido o desempenho econômico do país.
60
Importante observar que a China investe os seus dólares acumulados em títulos de baixo rendimento do
Tesouro Americano. Isso significa que os dólares que voltam para os Estados Unidos pelas mãos dos chineses
têm financiado o crescente déficit nas contas externas do país e permitido a captação de recursos sem a
necessidade de elevação expressiva dos juros americanos.
68
compra de divisas não incorra no aumento da base monetária – e, consequentemente, em
inflação –, o governo vende títulos, cuja aceitabilidade no mercado vem caindo.
Tabela 16: Taxa de câmbio nominal (Yuan/US$) e índice de taxa de câmbio real efetiva
(2000=100) na China no período 1978-2003.
Anos
Taxa de câmbio nominal
(média do período)
Índice de taxa de câmbio
real efetiva
1978 1,68
-
1979 1,56
-
1980 1,50 289,96
1981 1,70 256,88
1982 1,89 245,31
1983 1,98 241,16
1984 2,32 215,00
1985 2,94 182,45
1986 3,45 132,86
1987 3,72 115,83
1988 3,72 96,46
1989 3,77 111,27
1990 4,78 98,94
1991 5,32 87,75
1992 5,51 78,90
1993 5,76 69,81
1994 8,62 75,90
1995 8,35 84,57
1996 8,31 92,76
1997 8,29 98,84
1998 8,28 100,81
1999 8,28 97,51
2000 8,28 100,00
2001 8,28 104,32
2002 8,28 102,64
2003 8,28 96,36
Fonte: World Development Indicators (WDI) 2004 e International Financial Statistics (2005).
Para Huang & Wang (2004), embora com custos, a política cambial chinesa vem se
mostrando satisfatória, no sentido de que a economia vem sustentando altas taxas de
crescimento econômico. Além do mais, o regime adotado em 1994, combinado com o
controle de capitais
61
, permitiu que a China resistisse à crise asiática. Diferentemente de
outras moedas, incluindo o yen japonês, o yuan/RMB não se depreciou com a crise.
As reclamações sobre a rigidez cambial na China partem principalmente dos EUA e UE,
os quais argumentam que a manutenção de uma taxa de câmbio fixa e artificialmente
desvalorizada tem repercussões desfavoráveis em termos da competitividade das exportações
norte-americanas e européias. Estes países reclamam por uma flexibilização do regime
61
Lin & Schramm (2003, p. 272-277) oferecem um resumo sobre os mecanismos de controle de capital da
China.
69
cambial chinês, cuja conseqüência imediata seria a valorização do RMB, diferentemente das
demais economias emergentes como Brasil e Argentina, que passaram por grandes
desvalorizações cambiais (nominal e real) na mudança de um regime cambial fixo para um
mais flexível.
Frankel (2005) aponta para quatro razões principais pelas quais o câmbio chinês deveria
ser flexibilizado. São elas: (a) cálculos baseados na relação de Balassa-Samuelson sugerem
que o valor do RMB é baixo não somente em relação ao dólar ou outras moedas de países
desenvolvidos, mas substancialmente abaixo do valor de equilíbrio para um país no estágio de
desenvolvimento da China; (b) embora o nível de reservas seja uma importante forma de
proteção em períodos de crises cambiais, o acúmulo de reservas por parte da autoridade
chinesa têm sido alto por vários anos, sendo que estas reservas são investidas em títulos de
baixo retorno do Tesouro Americano; (c) a economia doméstica está em iminente processo de
superaquecimento, e; (d) um país grande como a China requer um regime cambial com
alguma flexibilidade e a experiência de outros mercados emergentes indica que o abandono de
um regime fixo deve ocorrer antes que a moeda local seja vítima de um ataque especulativo.
O critério de seleção de um novo regime, do mais fixo ao mais flexível, deve levar em
conta a análise das próprias condições do país e do ambiente regional e internacional (Huang
& Wang, 2004). Tratando especificamente do caso chinês, o crescimento econômico das
últimas duas décadas vem fortalecendo seus fundamentos econômicos, embora problemas
como a alta inadimplência do setor bancário, as dificuldades no setor estatal, problemas no
setor agrícola e a falta de um adequado sistema de seguridade social, etc., ainda persistam.
Quanto ao ambiente regional e internacional, deve-se levar em conta que muitos parceiros
comerciais asiáticos da China têm adotado regimes cambiais atrelados ao dólar
62
.
A globalização inevitavelmente empurrará a China para uma maior integração financeira
e, em conseqüência, o país deve se mover em direção a um regime que garanta maior
flexibilidade à taxa de câmbio. Entretanto, o processo e o ritmo das mudanças devem ser
deliberados tendo-se em vista os erros cometidos por outros países em desenvolvimento, os
quais fizeram uma rápida abertura da sua conta capital, cuja conseqüência imediata foi o
aumento da vulnerabilidade de suas economias. Como sugestão, Huang & Wang (2004)
indicam que a estabilidade financeira deve ser vista como alta prioridade dentro do processo
de mudança do regime cambial.
62
Ver Mckinnon (2004) para uma análise sobre os regimes cambiais em outros países do leste asiático.
70
Ligang (2004) argumenta que o momento não é oportuno para uma valorização do
RMB, tendo-se em vista o frágil sistema bancário chinês, seu incipiente mercado de capitais e
uma possível formação de uma bolha financeira que expectativas de valorização da moeda
chinesa poderiam provocar. Acrescente-se, ainda, o fato de que uma apreciação do yuan
poderia apenas mudar a distribuição geográfica do déficit comercial americano, sem eliminá-
lo
63
.
Sun & Ma (2005) enumeram três argumentos que indicam a inviabilidade de uma
imediata valorização do RMB. São eles: (a) dado que recentemente a economia chinesa vem
enfrentando problemas com desemprego, uma valorização da moeda doméstica afetaria o
setor exportador, o principal absorvedor de mão-de-obra; (b) uma valorização do yuan
causaria uma crise do setor bancário, fato este que ocorreu na Coréia do Sul e no Japão, e; (c)
como a maior parte das reservas chinesas estão denominadas em dólar, a desvalorização da
moeda americana frente ao RMB levaria a perdas significativas. Não obstante, os autores
reconhecem que a literatura e a experiência econômica internacional mostram que um regime
de câmbio fixo é intrinsecamente vulnerável e que a China eventualmente flexibilizará o seu
regime cambial. A questão é saber por quanto tempo a autoridade chinesa resistirá às pressões
de apreciação do câmbio.
Usando um modelo monetário de preços fixos com mobilidade imperfeita de capitais e
substituição imperfeita de ativos, Sun & Ma (2005) sugerem que um mercado desregulado de
taxas de juros pode funcionar como um estabilizador automático para aliviar as pressões de
apreciação do câmbio. Uma implicação de política daí decorrente é que a China deve acelerar
a liberalização da taxa de juros, o que não apenas aumentará a eficiência do sistema bancário,
como também fornecerá uma sobrevida ao regime de câmbio fixo. Outra implicação
decorrente da análise empreendida pelos autores é que a China deve melhorar a qualidade dos
seus ativos, adotando medidas de redução da inadimplência bancária e de maior liquidez no
sistema bancário. Tais medidas aumentariam a substitutibilidade entre os ativos domésticos e
estrangeiros, reduzindo a vulnerabilidade do setor bancário e, consequentemente, melhorando
a estabilidade do sistema de taxa de câmbio.
63
Ligang (2004) diz que o imenso déficit comercial americano, em nome do qual os EUA reclamam a
flexibilização cambial chinesa (com apreciação do yuan como conseqüência), é causado pelos desequilíbrios
internos da economia americana existentes entre poupança e investimentos. Mckinnon (2004) afirma que os
déficits americanos são causados pelo baixo nível de poupança das famílias e déficits orçamentários do governo.
Neste contexto, os países do leste asiático, possuidores de alta poupança, são virtualmente forçados a incorrer em
superávits comerciais, no intuito de financiar a economia americana, qualquer que seja o regime cambial.
71
Ao contrário de Ligang (2004) e Sun & Ma (2005), Tung & Baker (2004) argumentam
que uma valorização do RMB é de próprio interesse da China. Para estes últimos autores, o
ajustamento ótimo da taxa de câmbio chinesa é uma
one-time maxi-valorização de cerca de
15% frente ao dólar, fixando-se aí o novo patamar do câmbio e usando-se como âncora uma
cesta de moedas dos principais parceiros comerciais.
Para Tung & Baker (2004), os riscos de uma maxi-valorização são superestimados na
literatura, enquanto que os seus benefícios são subestimados. Quanto aos riscos, os
argumentos tradicionais contra a apreciação da moeda chinesa – surgimento de pressões
deflacionárias e queda da competitividade das exportações – são exagerados. A explicação
oferecida pelos autores é que a emergência de pressões inflacionárias no período recente
elimina o primeiro argumento. Ademais, tem-se que preços mais baratos dos insumos
importados contrabalanceiam o efeito adverso de uma moeda mais forte nos preços dos bens
exportados, fazendo com que o efeito líquido de uma valorização do RMB sobre os termos de
comércio da China seja modesto, desqualificando, portanto, o segundo argumento. Quanto
aos benefícios, uma valorização do RMB forneceria um imediata melhora na renda
per capita
dos chineses em termos de dólares, fornecendo maior poder de compra para os consumidores
domésticos, incluindo os consumidores rurais.
Desconsiderando a discussão acerca da pertinência da flexibilização imediata do regime
cambial chinês, o fato é que existem pressões internas e externas para que o atual sistema de
câmbio atrelado ao dólar seja abandonado. É fato também que a autoridade chinesa dispõe de
mecanismos que não apenas lhe permitem afetar a flutuação da taxa através de mecanismos
de mercado aberto, mas também de influenciar diretamente os elementos cruciais de oferta e
demanda de divisas. Lu (2004) destaca que desde 2003 a China vem aliviando as pressões de
valorização de sua moeda através da adoção de medidas que expressam sua capacidade de
controle da taxa de câmbio
64
. Dentre outras, pode-se citar as seguintes medidas: (a) permissão
para empresas estrangeiras reterem fundos em moeda nacional nos mercado de capital
doméstico; (b) permissão para instituições financeiras internacionais emitirem títulos em
RMB nos mercados domésticos; (c) permissão para que empresas envolvidas em contratos
internacionais (mão-de-obra e serviços) retenham suas rendas em divisas estrangeiras nas suas
próprias contas bancárias; (d) relaxamento de restrições para compra de divisas pelos
64
Zhang & Pan (2004) realizaram um estudo no qual mostram que a taxa de câmbio RMB/US$ está
subvalorizada e que teria se apreciado cerca de 15 a 22% em comparação com 1996 caso não houvesse
intervenção do governo. Em outra análise, Chang & Shao (2004) mostraram que o RMB estava subvalorizado
em 22,5% em 2003, embora este resultado não seja estatisticamente significativo.
72
viajantes chineses e simplificação dos procedimentos para viajantes saírem de território chinês
com divisa; (e) permissão para bancos em Hong Kong oferecerem contas pessoais em RMB
que permitam a troca de até RMB 20.000 ao dia em divisas estrangeiras.
Todas estas medidas afrouxam os mecanismos de controle de capital utilizados no país e
funcionam como instrumentos de controle disponíveis para que a autoridade monetária
chinesa contrabalance os efeitos de entrada de
hot money e a manutenção da taxa de câmbio
atrelada ao dólar. Entretanto, tais medidas não são garantia de uma política cambial ótima,
considerando-se a possibilidade de mudanças no cenário mundial, como a recente
desvalorização do dólar frente às principais moedas do mundo. Segundo Lu (2004), o maior
desafio para as autoridades chinesas é conduzir a inevitável valorização do RMB sem riscos
para o setor bancário. Um possível caminho para este ajuste seria o alargamento da banda de
flutuação do câmbio contra o dólar e o redirecionamento para um regime de flutuação
administrada que leve em consideração uma cesta das principais moedas.
Considerando os mecanismos de controle de capital colocados em prática no território
chinês, Bin (2003) afirma que estes foram suavizados com as tentativas de amenizar as
pressões sobre o regime cambial chinês e têm desempenhado papel importante na promoção
de um crescimento equilibrado e manutenção da estabilidade macroeconômica. Para este
autor, o livre movimento de capitais, por um lado, apresenta desvantagens como o aumento da
vulnerabilidade de países em desenvolvimento e a perda de competitividade das suas
exportações (via apreciação cambial), enquanto que, por outro lado, ajuda no
desenvolvimento do bem-estar econômico. Este autor afirma, ainda, que não existe livre
movimento de capitais, tampouco completa restrição ao seu fluxo e, em decorrência disso, os
mecanismos de controle de capital são importantes, na medida em que objetivam a redução
das desvantagens do livre movimento de capital.
Existem vários critérios para a avaliação da eficiência dos mecanismos de controle de
capital. Dentre eles, pode-se citar: (a) capacidade em restringir as fugas de capital,
contribuindo para acumulação de capital; (b) capacidade de restrição dos fluxos de capital
especulativo nos mercados financeiros domésticos; (c) potencial de suavização das flutuações
das reservas cambiais, possibilitando uma maior estabilidade para a oferta de moeda; e (d)
potencial de manutenção do grau de independência da política monetária.
Baseado nestes critérios, pode-se fazer uma boa avaliação do controle de capital na
China, na medida em que eles têm garantido maior independência de política para a
autoridade monetária e uma posição externa favorável. Entretanto, um desafio para os
73
mecanismos de controle de capital é a crescente regionalização do RMB, conforme apontado
por Li (2004). Devido à crescente importância econômica da China, principalmente na região
do leste asiático, há uma crescente demanda pelo RMB por parte dos seus vizinhos, causada
basicamente pelo aumento do volume de comércio sino-asiático e pelo vigoroso crescimento
econômico e estabilidade da taxa de câmbio chinesa. Pelo fato de a China ainda não ter
realizado a conversibilidade da sua conta de capital, o país deve harmonizar o processo de
regionalização de sua moeda e a conversibilidade do RMB, a fim de reduzir os obstáculos à
regionalização e os riscos financeiros envolvidos
65
.
Mais recentemente, na segunda quinzena de julho/2005, o Banco Central da China
cedeu parcialmente às pressões internacionais: apreciou o yuan em 2,1% e determinou que
sua cotação será definida por uma cesta de moedas, cuja composição ainda não foi definida.
Acredita-se que a valorização ocorrida, abaixo da requerida pelos EUA e UE, não terá
grandes impactos sobre os déficits americano e europeu e sobre os fluxos de comércio de
outros países com a China
66
. Além disso, expectativas em relação a novas mudanças no
câmbio chinês podem aumentar ainda mais a entrada de capitais no país. Logo, espera-se que
as pressões internacionais para apreciações adicionais do RMB continuarão, o que alimentará
o debate sobre as conseqüências da mudança no regime cambial chinês.
Eichengreen (2004) afirma que a apreciação do RMB pode levar a alguma mudança da
produção de setores comerciáveis para setores não comerciáveis e também a uma maior
tendência de produção de mercadorias intensivas em mão-de-obra qualificada e
tecnologicamente avançadas. Para os outros países asiáticos, uma valorização do RMB terá
efeitos adversos: modestamente positivos para economias de baixa renda e modestamente
negativos para economias de alta renda. Para a economia americana, Krugman (2005) afirma
que a decisão de valorização do RMB pode subverter o fluxo de capitais, indicando que a fase
de investimentos chineses em títulos de baixo rendimento do Tesouro Americano pode se
acabar, o que provocaria uma alta das taxas de juros americanas, afetando alguns setores
como o mercado imobiliário, que atualmente vive um momento de supervalorização. Para o
65
Ao contrário de Li (2004), que aponta para a regionalização da moeda chinesa no leste asiático, Mckinnon
(2004) sugere que a estabilidade na região só será alcançada se cada país individualmente atrelar sua moeda ao
dólar e assumir o compromisso de mantê-la estável em relação à moeda americana.
66
Esta pequena valorização do RMB, além de não impactar significativamente os fluxos de comércio e de
capital no mundo, demonstra a relutância chinesa em adotar uma reforma mais ampla no seu regime cambial.
Deve-se destacar, porém, que este comportamento das autoridades chinesas poderá levar à adoção, por parte dos
EUA e UE, de medidas que restrinjam o comércio sino-americano ou sino-europeu, tais como barreiras tarifárias
e não-tarifárias, por exemplo. O objetivo deliberado destas medidas é o de conter o avanço dos déficits
comerciais americano e europeu com a China, dada a indicação de que as reformas cambiais chinesas terão um
caráter gradual.
74
Brasil, a alta dos juros dos EUA decorrente de valorizações extras do RMB pode afetar o
mercado de títulos externos brasileiros. Por outro lado, uma valorização do RMB pode ser
benéfica para o Brasil, no sentido de que a apreciação da moeda chinesa poderá melhorar o
saldo comercial brasileiro com a China.
O bom desempenho do setor externo chinês vem permitindo um incrível processo de
acumulação de reservas. No final de 2003, as reservas internacionais da China, decorrentes do
comércio exterior e dos fluxos de capital (IDE e capitais de curto prazo), se elevaram para
mais de US$ 400 bilhões (tabela 17). Os dados mostram que as reservas chinesas tiveram um
aumento significativo, principalmente a partir de 2000 (aumento de 39,79% entre os anos de
2002 e 2003). Em termos de importação, as reservas eram suficientes para assegurar
aproximadamente 10 meses de compras externas, em 2003. Dados mais recentes mostram que
as reservas chinesas ultrapassaram os US$ 600 bilhões, registrando um crescimento de
aproximadamente 51% em relação a 2003.
Tabela 17: Reservas internacionais da China no período 1978-2003 (US$ bilhões correntes).
Anos
Reservas totais
(inclusive ouro)
Reservas totais
(menos ouro)
Reservas totais
(em meses de importação)
1978 4,45 1,56 -
1979 8,71 2,15 -
1980 10,09 2,55 -
1981 10,11 5,06 -
1982 17,15 11,35 10,53
1983 19,83 14,99 11,33
1984 21,28 17,37 9,41
1985 16,88 12,73 4,90
1986 16,42 11,45 5,17
1987 22,45 16,30 6,72
1988 23,75 18,54 5,52
1989 23,05 17,96 5,08
1990 34,48 29,59 8,50
1991 48,17 43,67 10,11
1992 24,85 20,62 3,77
1993 27,35 22,39 3,15
1994 57,78 52,91 5,86
1995 80,29 75,38 6,33
1996 111,73 107,04 7,71
1997 146,45 142,76 9,70
1998 152,84 149,19 9,87
1999 161,41 157,73 9,09
2000 171,76 168,28 7,42
2001 220,06 215,61 8,81
2002 297,74 291,13 10,17
2003 416,20 408,15 10,84
Média 1978-1990 17,59 12,43 7,46
Média 1991-2003 147,43 142,68 7,91
Média Geral 82,51 77,56 7,73
Fonte: World Development Indicators (2004).
75
Prasad & Wei (2005), ao analisarem o comportamento das reservas internacionais
chinesas, afirmam que o seu acúmulo não está ligado exclusivamente aos superávits
comerciais e aos fluxos de IDE, principalmente quando se leva em consideração o período
mais recente. Para estes autores, as pressões para flexibilização do regime cambial chinês vem
gerando expectativas de valorização do RMB, o que estimula um grande volume de entrada
de capitais de curto prazo que buscam ganhos com a mudança do câmbio.
Também em decorrência do seu rápido crescimento, a China tem se tornado destino de
uma quantidade cada vez maior de IDEs, sendo atualmente o maior receptor de investimentos
externos do mundo. Não há dúvida que a maior parte do crescimento das exportações chinesas
pode ser atribuída às empresas estrangeiras localizadas em território chinês e/ou àquelas que
receberam investimento externo. Além disso, o crescimento da renda
per capita nas regiões
onde o IDE é mais concentrado é maior que em outras regiões (Graham & Wada, 2001)
67
.
A análise dos dados mostra que de 1978 até o fim da década de 80 a entrada de IDE na
China é modesta, sendo que apenas a partir de 1991 é que há um aumento significativo na
entrada de capitais na forma de investimento direto (tabela 18). A média do subperíodo 1978-
1990 é de apenas US$ 1,513 bilhão e a média do subperíodo 1991-2003 dá um salto para US$
36,983 bilhões. Considerando todo o período, a entrada média de IDE foi de US$ 19,248
bilhões. Pingyao (2002) afirma que até 1991 a quantidade de investimentos efetivos e
contratuais foi pequena, sendo que sua maior parte veio de empresas de tamanho médio
originárias de Hong Kong. Tais investimentos eram, em sua grande maioria, voltados para a
exportação e apresentavam pouca ligação com a economia chinesa. Entretanto, a partir de
1992, estas tendências foram completamente revertidas e os IDEs aumentaram em volume e
foram gradualmente integrados na economia chinesa. Uma importante conseqüência deste
crescimento foi que os IDEs se tornaram a principal fonte de entrada de capital na China
quando comparados com os capitais de portfolio. Em 2000, do total de capital entrantes na
economia chinesa, 80% eram provenientes de investimento direto estrangeiro (Pingyao,
2002).
67
De forma similar ao grau de abertura e à política cambial, existe um volume considerável de estudos que
tentaram captar a relação entre maior integração financeira, que pode ser apreendida pelos maiores fluxos de
IDE, e crescimento econômico. Sobre este tópico, ver, por exemplo, Obstfeld (1994) e Obstfeld (2004).
76
Tabela 18: Entrada de investimentos diretos estrangeiros na China no período 1978-2003.
Anos Entrada de IDE (milhões de dólares)
1978 0,00
1979 0,08
1980 57,00
1981 265,00
1982 430,00
1983 916,00
1984 1.419,00
1985 1.956,00
1986 2.243,73
1987 2.313,53
1988 3.193,68
1989 3.392,57
1990 3.487,11
1991 4.366,34
1992 11.007,51
1993 27.514,95
1994 33.766,50
1995 37.520,53
1996 41.725,52
1997 45.257,04
1998 45.462,75
1999 40.318,71
2000 40.714,81
2001 46.877,59
2002 52.742,86
2003 53.505,00
Média 1978-1990 1.513,36
Média 1990-2003 36.983,09
Média Geral 19.248,22
Fonte: Foreign Direct Investments (FDI) Statistics (2004) – United Nation Conference on Trade and Development (Unctad).
Levando-se em conta que a taxa de retorno do IDE na China é menor que a média
mundial (5,9% contra 6,5%), que a média dos países desenvolvidos (6,7%) e apenas
ligeiramente maior que a média dos países em desenvolvimento (4,9%), Hsiao & Hsiao
(2004) afirmam que China vem se firmando como um “estranho” magneto para investimentos
diretos estrangeiro. Ao se tomar alguns países asiáticos individualmente, as taxas de retornos
na China estão aquém das apresentadas por Hong Kong (12,5%), Malásia (12,3%), Papua
Nova Guiné (11,3%) e Filipinas (7,3%)
68
. Não obstante, a China vem aumentando seu
estoque de IDE em um período em que a quantidade de fluxos de investimentos externos no
mundo vem decaindo consideravelmente, o que demonstra, na verdade, que fundos outrora
disponíveis para os demais países em desenvolvimento estão sendo redirecionados ou
realocados para o mercado chinês.
68
As taxas de retorno dos IDEs são calculadas de acordo com a metodologia da Unctad (Conferência das Nações
Unidas para o Comércio e Desenvolvimento). Especificamente, a taxa de retorno baseia-se na renda do IDE
dividida pelo estoque médio de IDE entre os períodos inicial e final do ano.
77
Para avaliar os determinantes do IDE na China, Hsiao & Hsiao (2004) propuseram uma
análise de painel, na qual mostram que, embora a China pareça ser um “estranho” e “caótico
atraente de investimentos diretos estrangeiros, os investidores estrangeiros não são
“estranhos” e, ao contrário, são, acima de tudo, racionais. Adicionalmente, a análise mostra
que o tamanho do mercado real e os diferenciais reais de salário afetam positivamente o fluxo
de IDE para a China. Para os investidores americanos e japoneses, o tamanho do mercado é
um fator com importância relativa maior no processo de tomada de decisão de investimento,
enquanto que para os investidores de Hong Kong, Taiwan e Coréia do Sul os diferenciais de
salários são mais importantes para a decisão de investimentos na China.
Giner & Giner (2004) usaram a análise de regressão para captar os determinantes do
IDE na China no período de 1980 a 1997. Incorporando no modelo elementos de natureza
sócio-política, os autores concluíram que fatores como estabilidade política, ambiente
favorável aos negócios e orientação para exportação do país receptor do IDE contribuem de
maneira significativa para a decisão de investidores estrangeiros. Como sugestão de política
para a atração de IDE, os autores sugerem, de um lado, o aumento da estabilidade política e a
melhora no ambiente de negócios das empresas, sem deixar de lado os atrativos econômicos
fundamentais (produto e produto
per capita); e, de outro, a intensificação de políticas de
incentivo à abertura comercial.
Pingyao (2003) afirma que a principal conseqüência para o mercado chinês da grande
entrada de IDE é o aumento da concorrência em mercados de bens intensivos em capital, o
que traz os seguintes resultados: (a) aceleração do processo de expulsão do mercado das
empresas estatais ineficientes; (b) queda nos preços, o que aumentará o número de falências
de empresas domésticas ineficientes; e (c) aumento da desigualdade de renda, causada pelos
altos níveis salariais das empresas estrangeiras e maior demanda por mão-de-obra qualificada.
Além disso, a entrada de IDE tem impactado o progresso tecnológico, no sentido de que as
empresas domésticas, mais atrasadas, são levadas a adotar estratégias de imitação e limitar
seus investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Este efeito, conhecido como
crowding-out, é consistente com a baixa razão entre P&D e produto existente na China em
2003 (menos de 1%).
Os resultados encontrados por Cheung & Lin (2004) apontam em uma direção oposta;
isto é, a entrada de IDE pode aumentar a capacidade inovadora do país receptor. Através de
uma análise de regressão, os autores encontraram um efeito positivo de
spillover proveniente
78
do IDE sobre o número de pedidos de patentes, sendo este efeito mais forte nas invenções
“leves”
(external design)
69
.
Embora os trabalhos de Pingyao (2003) e Cheung & Lin (2004) pareçam contraditórios,
o fato é de que os efeitos de
crowding-out e de spillover positivos podem coexistir, sendo que,
para os últimos autores, os efeitos positivos advindos do IDE na capacidade inovadora dos
países receptores superam os seus efeitos negativos.
Em se tratando de efeitos de
spillover, Hu & Jefferson (2002) realizaram um estudo cujo
objetivo foi verificar a presença de efeitos positivos de
spillover dos IDEs nas firmas dos
setores têxtil e eletrônico. Mais especificamente, o estudo pretendia responder à seguinte
questão: “firmas domésticas localizadas em indústrias com grande presença de investimento
estrangeiro são beneficiadas (apresentam elevação de produtividade)?”. Uma resposta prévia
dada pelo autor é que os esforços do governo chinês em construir um ambiente favorável aos
investimentos externos sinalizam para a existência de efeitos positivos de
spillover
70
.
Usando dados dos censos anuais sobre empresas de grande e médio porte, Hu &
Jefferson (2002) mostram que no setor eletrônico os resultados indicam para um efeito
negativo e estatisticamente significativo de
spillover das indústrias receptoras de IDE em
relação às firmas domésticas, ao contrário do setor têxtil. No curto prazo, as firmas alvo de
investimentos externos aumentam sua produtividade, mas isso deprime a produtividade das
firmas domésticas não receptoras de IDE. No longo prazo, porém, estimativas mostram que
nos setores estudados a desvantagem inicial em termos de produtividade por parte das firmas
domésticas em relação às vantagens das firmas receptoras de IDE tendem a desaparecer. Isso
indica que em algumas indústrias as firmas domésticas chinesas que resistem à competição
inicial de firmas com capital externo são capazes de capturar
know-how tecnológico e outros
efeitos positivos.
Uma característica importante da entrada de IDE na economia chinesa é a sua íntima
ligação com o comércio na região leste da Ásia. Baseado no modelo de gansos voadores, a
69
Existem três tipos de patentes: invention, relacionada com a descoberta de uma nova técnica para um produto
ou processo, utility model, que é a descoberta de uma nova técnica para a forma ou estrutura de um produto, e
external design, que envolve um novo design para a forma de um produto e está relacionada com características
estéticas.
70
Ng & Tuan (2002) realizaram um estudo no qual constroem um ambiente ideal de promoção do investimento
externo estrangeiro na China. O objetivo foi fornecer subsídios para o governo chinês na adoção de políticas de
atração de IDE. Os autores construíram uma lista com as sete principais dimensões para descrever o maior
número possível de variáveis que determinam um ambiente de investimentos (IE, na sigla em inglês). São elas:
fatores sócio-econômicos, insumos e custos, suportes de infra-estrutura, políticas econômicas e governamentais
de IDE, restrições à operacionalidade dos negócios, governo e administração governamental e condições de vida.
Os resultados mostram que as três principais dimensões para a atração de IDE são: governo e administração
governamental, políticas econômicas e governamentais de IDE e insumos e custos.
79
entrada de IDE na China reflete uma mudança de recursos de países mais avançados (Japão,
Coréia, etc.) para a China (Pingyao, 2003). O empenho que vem sendo dispensado para
construção do território chinês como a “fábrica do mundo” tem, como já salientado,
provocado uma mudança nos padrões de comércio da região Ásia-Pacífico com os seus
principais parceiros comerciais, especialmente EUA e UE.
Importante salientar também que ao longo da década de 90 as tendências dos IDEs
testemunharam importantes mudanças (Pingyao, 2002). Primeiro, a parcela de Hong Kong no
total de investimentos apresentou grande decréscimo, enquanto que as parcelas dos EUA e
UE sofreram grandes aumentos. Segundo, os setores intensivos em capital e tecnologia estão
absorvendo crescentemente maiores quantidades de investimentos externos, em detrimento
dos setores intensivos em trabalho. Terceiro, a parcela de investimentos de empresas
totalmente estrangeiras excedeu a parcela das
joint ventures e, finalmente, as firmas
estrangeiras em solo chinês se tornaram a principal fonte do crescimento do comércio
internacional do país. Apesar dessas mudanças, a concentração espacial dos investimentos
ainda persiste. A região da costa leste e sudeste do país é a que atrai maior quantidade de
investimentos, enquanto que as partes central e oeste do país representam uma pequena
parcela do total de IDE (9,17% e 3,03%, respectivamente). Esse desequilíbrio na distribuição
dos IDEs não é causado apenas pelas diferenças em termos de vantagens locacionais, mas
também pelo fato de as políticas de atração de IDE implementadas pelo governo chinês serem
mais efetivas nas províncias costeiras (Graham & Wada, 2001).
CAPÍTULO 3: ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO CRESCIMENTO ECÔNOMICO DE
LONGO PRAZO NA CHINA NO PERÍODO 1978-2003
Este capítulo tem como finalidade apresentar os principais resultados obtidos pela
investigação econométrica do crescimento econômico de longo prazo na China no período
1978-2003. O principal objetivo da análise empreendida é compreender a dinâmica do
crescimento econômico na China no período 1978-2003, tendo como variável-foco a taxa de
crescimento do PIB
per capita. Em última instância, pretende-se apreender os principais
determinantes do desempenho desta variável, bem como apontar aquelas que tiveram papel
importante na explicação da dinâmica do crescimento econômico chinês ao longo do período
analisado.
O critério de seleção das variáveis para a análise baseou-se nas indicações dos modelos
de crescimento econômico vistos nos capítulo um (poupança/investimento, capital humano,
renda inicial, crescimento populacional e progresso tecnológico). A literatura mais
convencional sobre modelos de crescimento econômico do tipo Solow e suas extensões
(incluindo capital humano) aponta claramente para a importância de variáveis como taxa de
poupança (e sua relação com o investimento) e a taxa de crescimento populacional na
explicação do crescimento econômico. Além do mais, mesmo em modelos de inspiração
Keynesiana, com foco na demanda agregada, percebe-se a importância da taxa de
investimento como elemento catalisador da demanda agregada e, por conseguinte, das taxas
de crescimento econômico. Neste sentido, justifica-se a inclusão da variável investimento na
análise econométrica, bem como a inclusão das demais, presentes nas extensões dos modelos
de crescimento neoclássicos.
Por outro lado, reconhecendo-se a importância da política cambial e de políticas de
maior abertura comercial e financeira para o crescimento econômico, optou-se pela inclusão
de variáveis como taxa de câmbio, fluxos de IDE e grau de abertura comercial na análise.
Ainda que no capítulo dois tenham sido revistos alguns estudos que, de alguma maneira,
tentaram captar a relação destas variáveis com o recente processo de crescimento econômico
da China, a inclusão destas variáveis na análise econométrica desenvolvida teve como
embasamento teórico as indicações da literatura mais geral sobre estes temas
71
.
71
Embora ainda no próprio capítulo dois tenham sido fornecidas algumas breves referências sobre a literatura
mais geral a respeito das relações entre política cambial, a maior abertura comercial e financeira e o crescimento
econômico, optou-se por sistematizar aqui, ainda que resumidamente, as principais evidências que podem ser
81
Quando se trata, por exemplo, da relação entre taxa de câmbio e crescimento
econômico, uma referência é o trabalho de Leslie & Helmers (1988), cujo argumento central é
de que alterações na taxa de câmbio nominal, que acabam freqüentemente implicando em
mudanças na taxa de câmbio real, têm o efeito de deslocar os gastos, sendo que uma
depreciação da taxa de câmbio real acaba por favorecer o setor exportador da economia, tendo
implicações diretas sobre o crescimento econômico
72
. Adicionalmente, pode-se mencionar
também o trabalho de Dubas, Lee & Mark (2005), que desenvolveram uma análise
econométrica sobre a relação entre regimes cambiais e taxa de crescimento do PIB,
encontrando evidências de que a taxa de crescimento é maior em regimes onde o valor da
moeda é estável, situação esta que tem associação direta com o caso chinês. Novamente, Razin
& Collins (1997) analisaram a relação entre desalinhamento da taxa de câmbio real e
crescimento econômico, sendo que apenas sobrevalorizações muito altas estão associadas a
menor crescimento econômico, enquanto que subvalorizações moderadas parecem estar
associadas com um crescimento econômico mais rápido, o que poderia ajudar na explicação de
como a desvalorização real do yuan desde meados dos anos 90 pode contribuir para a
manutenção de elevadas taxas de crescimento do PIB da China.
Quanto à relação entre abertura comercial e financeira e crescimento econômico,
Obstfeld (2004) examina a relação entre globalização e desempenho macroeconômico,
sugerindo que, dentre as economias emergentes, aquelas que têm ampliado o seu grau de
integração financeira acabam atingindo taxas de crescimento mais elevadas no longo prazo,
associado a uma menor volatilidade do consumo e do produto. Adicionalmente, Sala-i-Martin
(1997), Frankel & Romer (1999) e Rodriguez & Rodrick (2001) são exemplos de estudos que
trataram sobre o efeito de uma maior integração comercial sobre o desempenho econômico de
um país. Mais recentemente, Haussmann, Pritchett & Rodrik (2004) analisaram episódios de
rápido crescimento econômico indicando que há evidência de que estes estejam
correlacionados com um aumento no investimento e no comércio externo, além de
desvalorização da taxa de câmbio real, elementos estes que estão presentes na experiência
chinesa das últimas décadas.
extraídas de alguns estudos pertencentes a esta literatura, a fim de justificar a inclusão destas variáveis na análise
econométrica.
72
No caso da China, a estabilidade do yuan em relação ao dólar e a contínua desvalorização da taxa de câmbio
real podem ser vistas como um estímulo para as exportações chinesas, contribuindo, assim, para o crescimento
econômico do país.
82
Baseado, pois, nestes argumentos, justifica-se a inclusão de variáveis de taxa de câmbio,
abertura comercial da economia e fluxos de IDE na análise econométrica. Os apêndices 1 e 2
disponibilizam os dados das variáveis utilizadas e suas respectivas descrições.
A escolha do período 1978-2003 justifica-se pelo fato de que somente a partir de 1978 o
governo chinês adotou medidas de abertura de sua economia, as quais desencadearam o
vertiginoso processo de crescimento econômico do país. Por outro lado, a análise se encerra
em 2003 devido à disponibilidade dos dados (ver apêndice 3 para a evolução das variáveis ao
longo deste período).
Iniciou-se a modelagem econométrica pela análise convencional de regressão. Após a
análise dos seus resultados, decidiu-se por uma investigação mais apurada dos dados,
lançando-se mão de algumas das principais ferramentas da econometria de séries temporais.
Procedeu-se, então, à estimação de modelos de Auto-Regressão Vetorial (modelos VAR),
utilizando-se seus principais instrumentos de análise, quais sejam, a Análise de Decomposição
de Variância (ADV) e Funções de Impulso-Resposta (FIR). Nesta etapa, o primeiro passo
adotado foi a realização de testes de estacionariedade, a fim de efetuar as transformações,
quando necessárias, das séries temporais em séries estacionárias. Em seguida, optou-se pela
elaboração de testes de Causalidade (Granger) e de testes de Cointegração (Johansen), com o
intuito de se analisar a precedência entre as variáveis utilizadas e testar a existência de
possíveis relacionamentos de longo prazo existentes entre elas.
Os resultados de cada procedimento utilizado são descritos, individualmente, na segunda
seção. Antes, porém, uma primeira seção é dedicada à fundamentação teórica das principais
ferramentas econométricas utilizadas na análise.
3.1 Fundamentação teórica dos testes econométricos utilizados
O objetivo desta primeira seção é fornecer um referencial teórico sobre o instrumental
da econometria de séries temporais utilizado neste trabalho. Inicia-se com uma breve
discussão sobre séries temporais, estacionariedade e testes de raiz unitária. Em seguida,
discute-se rapidamente a abordagem dos modelos VAR, que são sistemas verdadeiramente
simultâneos em que todas as variáveis são consideradas endógenas. Na terceira subseção,
discute-se, ainda, o teste de causalidade de Granger, o qual procura analisar se valores
defasados de uma variável auxiliam na previsão de outra variável. Ao final, uma última
subseção faz referência ao conceito de cointegração, que considera as possíveis influências
83
mútuas que trajetórias de longo prazo de séries temporais distintas possam ter uma sobre as
outras
73
.
3.1.1 Séries temporais, estacionariedade e testes de raiz unitária
Conforme Oliveira (2002), toda e qualquer variável possui um comportamento de longo
prazo chamado de
processo estocástico ou aleatório. Quando se delimita um período de
tempo para o qual se pretende analisar o comportamento desta variável, tem-se o que é
conhecido como estudo de uma amostra ou estudo de uma realização particular de um
processo estocástico subjacente. Tal realização é conhecida como
série temporal, ou seja, um
conjunto de observações de uma variável ao longo de um intervalo de tempo que expressa
uma realização particular do comportamento dessa variável. É a partir desta realização (série
temporal) que se busca realizar inferências sobre as características do processo estocástico
subjacente.
A teoria econômica faz uso de modelos teóricos/empíricos que fazem referência ao
comportamento temporal de diferentes variáveis, sejam elas consideradas individual ou
coletivamente. Em sendo assim, foram desenvolvidas técnicas estatísticas que permitem
estimar tais modelos, ou seja, que permitem estimar os valores de parâmetros que captem a
relação existente entre as séries temporais utilizadas em uma análise.
O problema é que análises econométricas – a de regressão, principalmente – envolvendo
séries temporais pressupõem que as mesmas possuam determinadas características, sem as
quais as técnicas estatísticas conduziriam a estimativas não confiáveis. Mais especificamente,
exige-se que uma determinada série temporal possua a característica de ser
estacionária. A
grosso modo, pode-se dizer que uma série temporal é (fracamente) estacionária se sua média,
variância e autocovariância (a defasagens diversas) permanecem as mesmas
independentemente do período de tempo em que sejam medidas (Gujarati, 2000), sendo que,
neste caso, a série temporal é dita como sendo um processo integrado de ordem zero
[processo
I(0)]. Caso contrário, a série temporal é chamada de não-estacionária, sendo
73
Não se pretende fornecer um tratamento econométrico formal aos testes/ferramentas utilizados. Para um
tratamento mais detalhado ver Gujarati (2000, capítulos 21 e 22), Baltagi (2001, capítulos 26, 29, 30 e 32) e
Enders (1995).
84
conhecida como processo integrado de ordem
d [processo I(d)], sendo d o número de vezes
que a série original deve ser diferenciada para que se torne em um processo
I(0)
74
.
Formalmente, se uma série temporal
Y
t
for estacionária, ela tem as seguintes
propriedades:
Média:
µ
=
)(
t
YE
Variância:
22
)()var(
σµ
==
tt
YEY
Covariância: )])([(
µ
µ
γ
=
+kttk
YYE
em que
k
γ
, a covariância (ou autocovariância) na defasagem k, é a covariância entre os
valores de
t
Y e
kt
Y
+
, ou seja, entre dois valores Y separados por k períodos.
Conforme Mills (1993), a suposição de estacionariedade deve ser feita para tornar
possíveis as inferências estatísticas sobre o processo estocástico de uma variável, realizado a
partir de uma realização particular (série temporal). O risco que se corre ao se empreender
uma análise de regressão usando-se séries temporais não-estacionárias é que podem ser
obtidos altos valores do Coeficiente de Determinação )(
2
R sem que necessariamente haja
uma relação significativa entre as variáveis. Tal fato pode ocorrer devido à possível presença
de tendência nos dados, gerando o que é conhecido na literatura como
regressão espúria
(Granger & Newbold, 1974). Quando isso acontece, os testes estatísticos
t e F para análise da
significância dos coeficientes estimados podem não ser confiáveis e fornecer resultados
enganosos.
Percebe-se, portanto, a necessidade de que sejam empreendidos testes formais para a
verificação da estacionariedade das séries temporais envolvidas em uma análise. Por
conseguinte, foram desenvolvidos alguns testes estatísticos, conhecidos como testes de raiz
unitária, que têm como objetivo verificar a ordem de integração de uma série temporal.
Dentre eles, pode-se citar os testes ADF (Augmented Dickey-Fuller), PP (Phillips-Perron) e
KPSS (Kwiatkowski, Phillips, Schmidt e Shin).
O teste de Dickey-Fuller simples (teste DF) é aplicado a um processo regressivo de
primeira ordem [AR (1)], qual seja:
74
Quando uma série temporal é não-estacionária, a variável que a representa é conhecida como uma variável
aleatória que possui raiz (es) unitária (s). Igualmente, diz-se que uma série temporal não-estacionária é uma série
temporal de passeio/caminho aleatório.
85
ttt
uYY
+
=
1
ρ
(3.1.1)
sendo a variável de série temporal
Y no instante t regredida sobre o seu valor no instante (t-1).
O termo
t
u é o termo de erro estocástico que segue as hipóteses clássicas de média zero,
variância
2
σ
constante e não-autocorrelacionado (termo de ruído branco).
Caso o coeficiente
ρ
seja igual a um, há o problema da raiz unitária e a série temporal
que representa a variável
Y é não-estacionária
75
. Portanto, testa-se a hipótese nula
1
=
ρ
(série
temporal não-estacionária) contra a hipótese alternativa de estacionariedade (
1<
ρ
), usando-
se uma estatística de teste e comparando-a aos valores críticos calculados por Mackinnon
(1991) nos níveis de significância de 1%, 5% e 10%. Se o valor absoluto calculado da
estatística
τ
(isto é,
τ
) excede os valores críticos absolutos de Mackinnon não se rejeita a
hipótese de estacionariedade. Contrariamente, se o valor absoluto da estatística
τ
for menor
que os valores críticos absolutos, conclui-se que a variável é não-estacionária
76
.
No teste DF aumentado (teste ADF), considera-se a possibilidade de que o termo
t
u seja
autocorrelacionado, o que pressupõe que a regressão utilizada para a realização do teste deve
ser modificada para se incluir termos defasados em primeira diferença a fim de que se possa
obter um ruído branco para o termo de erro:
tit
m
i
itt
YYtY
εαδββ
++++=
=
Σ
1
121
(3.1.2)
75
De acordo com Oliveira (2002), não apenas um AR (1), mas toda série AR (p) ou MA (q) (processo de média
móvel) com pelo menos um parâmetro igual a 1 denomina-se uma série com raiz unitária. A denominação “raiz
unitária” provém do “operador de lags”, definido como
2
2
1
,
==
tttt
yyLyLy , e assim sucessivamente.
Quando se escreve um processo AR (1) em forma do operador de lag, tem-se:
tttttt
eyLLyyyy
=
==
)1(
1
ρ
ρ
ρ
. Dessa forma, o processo AR (1) pode ser escrito como
tt
eyL =)(
ρ
, no qual LL
ρ
ρ
= 1)( , que é uma função linear do operador de lag. A raiz dessa função é
igual a
ρ
/1 . Assim, quando 1=
ρ
, tem-se uma raiz unitária para a função )(L
ρ
e a série temporal é não-
estacionária.
76
O software econométrico EViews fornece o valor da estatística de teste
τ
, os valores críticos de Mackinnon
(1991) e suas respectivas probabilidades (valores-p) nos níveis de significância usuais. É usual que a regressão
(3.1.1) seja representada por
ttt
uYY
+
=
1
δ
, sendo
1
=
ρ
δ
. Neste caso, a hipótese nula a ser testada é
de que
0=
δ
(série não-estacionária), que é análoga à hipótese de que 1
=
ρ
, contra a hipótese alternativa de
que
0<
δ
.
86
em que )(
211
=
ttt
YYY , )(
322
=
ttt
YYY , etc., sendo que o número de defasagens a
ser utilizado deve ser suficiente para que o termo de erro seja serialmente independente.
Observe em (3.1.2) a presença do intercepto e de uma variável de tendência
(t). Na
prática, ao realizar o teste ADF usa-se os termos de tendência e intercepto apenas se estes
apresentarem significância estatística, podendo ser desconsiderados caso se mostrem
estatisticamente insignificantes (pelo teste
t de Student convencional). A hipótese nula a ser
testada ainda é a de que
0=
δ
ou 1
=
ρ
, ou seja, existe raiz unitária e a série temporal é não-
estacionária. A estatística do teste ADF tem a mesma distribuição assintótica do teste DF
simples, de modo que podem ser usados os mesmos valores críticos. O teste ADF é mais
utilizado que o teste DF simples para a determinação de raiz unitária por estimar as equações
respeitando-se a hipótese de que o resíduo deve ser um ruído branco.
No teste PP, estima-se a regressão (3.1.1) e modifica-se a razão
t (coeficiente estimado
sobre o seu erro-padrão) do coeficiente
ρ
de modo que a correlação serial não mais possa
afetar a distribuição assintótica da estatística de teste utilizada, que é dada por:
sf
sefT
f
tt
21
0
00
2
1
0
0
2
))
ˆ
()((
~
ργγ
ρρ
=
(3.1.3)
onde
ρ
ˆ
é o coeficiente estimado,
ρ
t
a estatística t do coeficiente
ρ
, )
ˆ
(
ρ
se é o seu erro-
padrão e
s é o erro-padrão da regressão. Adicionalmente,
0
γ
é um estimador consistente da
variância do erro em (3.1.1) e
0
f é um estimador do espectro dos resíduos com freqüência
zero.
Assim como no teste ADF, há a possibilidade de se aplicar o teste PP usando-se o termo
de intercepto e a tendência. Na prática, tais termos devem ser desconsiderados caso não
apresentarem significância estatística. A hipótese nula é a de que a série temporal utilizada é
não-estacionária (existe raiz unitária). Caso o valor (absoluto) da estatística de teste for
superior aos valores críticos (em termos absolutos), rejeita-se a hipótese nula de não
estacionariedade e conclui-se que a série temporal em questão é um processo
I(0)
77
.
No teste KPSS, a hipótese nula a ser testa é de que a série é estacionária e sua estatística
de teste é baseada na regressão da série temporal
t
Y sobre as variáveis exógenas
t
x :
77
O EViews fornece o valor da estatística de teste da equação (3.1.3) e os valores críticos (com seus valores-p)
nos níveis de significância usuais.
87
ttt
uxY +=
δ
'
(3.1.4)
A estatística de teste (LM) é definida como:
)()(
0
22
fTtSLM
t
Σ
= (3.1.5)
onde
0
f é um estimador do espectro residual na freqüência zero e
)(tS
é uma função residual
cumulativa.
Diferentemente dos outros testes, se a estatística LM for menor (em termos absolutos)
que os valores críticos calculados para os níveis de significância usuais não se rejeita a
hipótese nula de estacionariedade, concluindo-se que a série temporal em questão é um
processo
I(0)
78
.
Os testes descritos acima têm como objetivo verificar a condição de estacionariedade de
séries temporais. Caso estas séries possuam tal condição, é possível a realização de
inferências sobre o seu comportamento de longo prazo, ou, de maneira análoga, sobre os
processos estocásticos dos quais as séries temporais foram extraídas. Todavia, não se leva em
conta aqui a possível inter-relação entre as séries temporais. Mais especificamente, não se
considera a maneira pela qual a trajetória de longo prazo de uma série temporal condiciona a
trajetória de outras séries temporais. Para captar estas possíveis relações entre as trajetórias
das séries temporais, usa-se o conceito de cointegração, a ser explicitado adiante.
3.1.2 Modelos de Auto-Regressão Vetorial (VAR)
O desenvolvimento da tecnologia computacional dos anos 50 propiciou um grande
crescimento no uso de modelos de equações simultâneas. Tais modelos eram constantemente
aumentados, em termos do número de variáveis e equações, na esperança de que modelos
mais detalhados tivessem uma maior aproximação com os mecanismos de geração dos dados
subjacentes. Todavia, um maior número de variáveis e equações dentro dos modelos não
necessariamente conduzia a uma maior capacidade de previsão. Ao contrário, alguns modelos
“mais simples” se mostravam muitas vezes mais poderosos – em termos de capacidade de
78
Novamente, o EViews fornece o valor da estatística de teste e os valores críticos nos níveis de significância
usuais.
88
previsão – do que modelos tidos como mais complexos. Admitiu-se, então, que estes últimos
eram representações insuficientes das interações dinâmicas em um sistema de variáveis.
Neste contexto é que surgiram críticas aos modelos de equações simultâneas utilizados
até então. Sims (1980) sistematiza o debate existente sobre a questão da previsão e advoga o
uso de modelos de vetores auto-regressivos (modelos VAR), argumentando que, se há uma
verdadeira simultaneidade entre um conjunto de variáveis, deve haver igualdade de
tratamento entre elas.
A característica marcante dos modelos VAR é que todas as variáveis são consideradas
endógenas
79
. São utilizados usualmente em sistemas de previsão de séries temporais inter-
relacionadas e para a análise do impacto dinâmico de distúrbios aleatórios. Esses modelos se
furtam da necessidade de modelagem estruturante ao considerar todas as variáveis endógenas
do sistema como sendo função de todos os valores defasados das demais variáveis
(endógenas) presentes.
A representação matemática de um modelo VAR é dada como segue:
ttptptt
BxYAYAY
ε
+
+
+
+
=
...
11
(3.1.6)
onde
t
Y é um vetor k de variáveis endógenas,
t
x é um vetor d de variáveis exógenas,
p
AA ,...,
1
e B são matrizes de coeficientes a serem estimados e
t
ε
é um vetor de inovações
que pode estar correlacionado no tempo, mas não é correlacionado com seus próprios valores
defasados e com todas as variáveis do lado direito de (3.1.6).
Uma vez que apenas valores defasados das variáveis aparecem no lado direito das
equações, o método dos mínimos quadrados ordinários (MQO) gera estimadores consistentes.
Ademais, mesmo que as inovações sejam relacionadas no tempo, tal método é eficiente e
equivalente ao método dos mínimos quadrados generalizados (GLS), já que todas as equações
possuem os mesmos regressores
80
.
A modelagem VAR apresenta vantagens e desvantagens. As vantagens são que a
estimação é simples e o método MQO usual pode ser usado em cada equação separadamente,
além do que não há necessidade de se distinguir entre variáveis endógenas de variáveis
exógenas (todas são endógenas). Entretanto, o maior desafio prático dos modelos VAR é
79
Importante salientar que tais variáveis necessitam ser (conjuntamente) estacionárias.
80
A nomenclatura modelo de auto-regressão vetorial se deve justamente ao fato de que valores defasados das
variáveis encontram-se no lado direito da equação e que há a presença de vetores de duas (ou mais) variáveis.
89
escolher a duração apropriada da defasagem. Mills (1993) sugere que esta questão pode ser
resolvida a partir do teste de razão de verossimilhança, no qual se deve escolher o VAR que
contém o menor número de defasagens e que, simultaneamente, mantenha a propriedade de
confiabilidade dos parâmetros
81
. Isto porque a escolha de um número grande de defasagens
significa a estimação de um número considerável de parâmetros, o que pode acarretar em uma
perda significativa de graus de liberdade
82
.
Dois instrumentos de análise da modelagem VAR têm se tornado bastante populares.
Tais instrumentos, conhecidos com Funções de Impulso-Resposta (FIR) e Análise de
Decomposição de Variância (ADV), são úteis no sentido de que auxiliam na análise do
comportamento do longo prazo das variáveis contidas em um modelo VAR.
A primeira (FIR) parte do princípio de que choque na
i-ésima variável não apenas afeta
diretamente os valores da
i-ésima variável, mas também é transmitido para todas as outras
variáveis endógenas através de uma estrutura dinâmica (defasada) dentro do sistema VAR.
Em outras palavras, a FIR mostra qual será o comportamento das variáveis ao longo do tempo
quando algum dos resíduos sofrer uma modificação no seu valor (choques exógenos,
conhecidos como inovações) (Enders, 1995). Portanto, a FIR pode ser considerada como uma
simulação para o comportamento de um VAR ao longo do tempo, diante de um choque em
algum dos resíduos (Oliveira, 2002).
A ADV, por sua vez, objetiva explicitar a importância relativa de cada variável do
modelo para explicação da variância dos resíduos de cada uma das demais variáveis. Sua
importância está na identificação das relações de causalidade entre as variáveis existentes no
VAR. Caso um choque exógeno nos resíduos de determinada variável não explicar nenhuma
parcela dos demais resíduos, conclui-se que esta variável é exógena ao modelo (Oliveira,
2002).
81
Na prática, seleciona-se a ordem do VAR quer apresentar os menores valores (negativos e positivos) dos
critérios de informação de Schwarz e Akaike (critérios SC e AIC, respectivamente). A noção por trás destes
critérios é prover uma medida de informação que determina um equilíbrio entre esta medida de excelência e a
especificação parcimoniosa do modelo. Formalmente,
nnknlAIC /log/2 +
=
e
nknlAIC /2/2 +=
, onde k é o número de parâmetros estimados, n é o número de observações e l é o
valor da função log-verossimilhança usando os parâmetros estimados k.
82
Formalmente, em um VAR de m equações com p valores defasados de m variáveis tem-se que estimar
)(
2
pmm + parâmetros.
90
3.1.3 Causalidade e o teste de Granger
Embora a análise de regressão pressuponha a idéia de dependência de uma variável em
relação a outras, isso não implica causação. Granger (1969) argumenta que, se uma variável
x
“causa” (sentido Granger) uma variável
y, significa que valores passados de x ajudam na
explicação dos valores correntes de
y. A variável y, neste caso, é dita como sendo causada
(sentido Granger) por
x se x ajuda na sua predição, ou, de forma similar, se os coeficientes dos
valores defasados de
x são estatisticamente significativos.
O teste de causalidade de Granger, aplicado para variáveis estacionárias, supõe que as
informações relevantes para a previsão das respectivas variáveis –
x e y, por exemplo –
estejam contidas exclusivamente nos seus dados de séries temporais. O teste envolve a
estimativa das seguintes regressões:
tjtj
n
j
iti
n
i
t
uyxy
1
11
++=
=
=
ΣΣ
βα
(3.1.7)
tjtj
m
j
iti
m
i
t
uyxx
2
11
++=
=
=
ΣΣ
δλ
(3.1.8)
O modelo representado pela equação (3.1.7) postula que o valor atual da variável
y se
relaciona com seus próprios valores passados e com os valores passados da variável
x. A
equação (3.1.8) postula comportamento similar para
x. A hipótese nula do teste é que x não
causa (no sentido Granger)
y para a primeira equação (3.1.7) e que y não causa (no sentido
Granger)
x para a segunda equação (3.1.8). Caso o valor-p seja maior que o nível de
significância adotado, não se rejeita a hipótese nula, concluindo-se que não há causalidade no
sentido Granger nesta situação
83
. Há a possibilidade de quatro tipos de resultados: (i)
causalidade unidirecional de
x para y 0(
Σ
i
α
e )0
=
Σ
j
δ
; (ii) causalidade unidirecional de y
para
x 0( =Σ
i
α
e
)0
Σ
j
δ
; (iii) causalidade bilateral (realimentação), quando os conjuntos de
coeficientes de
x e y são estatisticamente diferentes de zero em ambas as regressões, e; (iv)
independência entre as variáveis, quando o conjunto dos coeficientes de
x e y não são
estatisticamente diferentes de zero em ambas as regressões.
83
O EViews fornece a estatística de teste e sua probabilidade.
91
Conforme Gujarati (2000), como o futuro não pode prever o passado, se a variável
x
causa (no sentido Granger) a variável
y, então mudanças em x devem preceder mudanças em
y. Desta forma, numa regressão de y sobre outras variáveis (incluindo seus próprios valores
defasados), se a inclusão dos valores passados de
x melhorar significativamente a previsão da
variável
y, pode-se, então, afirma que x causa (no sentido Granger) y. Da mesma forma, um
procedimento similar se aplica se
y causa (no sentido Granger) x.
3.1.4 Cointegração e o teste de Johansen
Os testes de estacionariedade (raiz unitária) vistos acima levam em conta apenas o
comportamento individual de uma determinada série temporal, desconsiderando as possíveis
influências mútuas que trajetórias de longo prazo de séries temporais distintas possam ter uma
sobre as outras. A análise destas influências pressupõe a existência de um
equilíbrio de longo
prazo
entre elas, conceito este desenvolvido por Engle e Granger (1987). Tal conceito diz que
existe um equilíbrio de longo prazo entre as variáveis de séries temporais cujas trajetórias têm
alguma relação. Significa, pois, que elas possuem trajetórias comuns ao longo do tempo, não
indicando que tais trajetórias possam ser previstas pela teoria econômica ou que haja
necessariamente uma relação de causalidade entre elas.
A condição para que essas séries temporais ),...,,(
21 nttt
yyy apresentem este equilíbrio é
de que exista uma combinação linear entre elas, na qual resulte o seguinte:
0...
2211
=
+
+
+
ntntt
yyy
β
β
β
(3.1.9)
A equação acima estabelece que existem relações mútuas entre as séries temporais
consideradas. Há a possibilidade de que outras variáveis também influenciam na trajetória
dessas séries, indicando que a possível presença de um componente aleatório na sua
determinação. Neste caso, considera-se tal componente aleatório como uma variável
estritamente aleatória, sendo conhecido como um desvio em relação ao caminho de equilíbrio
ou um
erro de equilíbrio. Formalmente:
tntntt
eyyy
=
+
+
+
β
β
β
...
2211
(3.1.10)
92
onde o termo
t
e é o erro de equilíbrio, que é, por hipótese, uma variável aleatória.
Considerando-se, pois, o conceito de equilíbrio de longo prazo, o conceito de
cointegração é assim postulado por Enders (1995): um conjunto de variáveis
),...,,(
21 ntttt
yyyy = são cointegradas de ordem d,b, se: i. todos os componentes de
t
y são
integrados de ordem
d; ii. existe um conjunto de parâmetros ),...,,(
21 n
β
β
β
β
= cuja
combinação linear )...(
2211 ntnttt
yyyy
β
β
β
β
+
+
+= é integrada de ordem d-b, com b>0.
Alternativamente, o conceito acima pode ser assim anunciado, “... um conjunto de
séries temporais
t
y são cointegradas quando todas são estacionárias depois de d operações de
diferença (integradas de ordem
d), e se existe uma combinação linear entre elas que resulte
em uma nova variável estacionária, cuja ordem de integração é menor
(d – b)” (Oliveira,
2002, p. 63).
Como já foi dito, se uma variável de série temporal
y for regredida sobre outra variável
de série temporal
x, os resultados obtidos poderão ser duvidosos, devido à possível não
estacionariedade das séries envolvidas (regressão espúria). Neste caso, os testes
convencionais
t e F podem não ser aplicáveis. Entretanto, caso a série dos resíduos da
regressão, uma combinação linear entre
y e x, for estacionária, a metodologia tradicional de
regressão (incluindo os testes
t e F) pode ser aplicável a dados envolvendo séries temporais.
Nesta situação, diz-se que as variáveis
y e x são cointegradas, sendo a combinação linear entre
elas conhecida como
equação cointegrante.
Dentre os testes de cointegração, cujo principal objetivo é determinar se um
determinado grupo de variáveis não-estacionárias são cointegradas e se a combinação entre
elas gera uma variável estacionária, o teste de Johansen vem sendo muito utilizado em estudos
empíricos (Johansen, 1995). Isto porque ele apresenta a vantagem de se relaxar a hipótese de
que o vetor cointegrante é único, além de considerar a dinâmica de curto prazo do sistema de
variáveis. Além do que, o teste de Johansen é aplicado a variáveis em nível, sendo elas
estacionárias ou não. Este teste pode ser conduzido usando-se as duas estatísticas de teste
seguintes:
)
ˆ
1ln()(
1
i
n
ri
tr
Tr
λλ
=
Σ
+=
(3.1.11)
)
ˆ
1ln()1,(
1max +
=+
r
Trr
λλ
(3.1.12)
93
onde os valores
i
λ
ˆ
são os eigenvalues da matriz
01
1
0010
SSS
com respeito à matriz
11
S ,
decrescentemente ordenadas
)0
ˆ
...
ˆ
1(
1
>>>>
n
λλ
, onde
'
1
1
ˆˆ
jt
T
t
itij
eeTS
=
= , i,j=0,1. Os
eigenvalues podem ser obtidos através da solução da equação: 0
01
1
001011
=
SSSS
λ
.
A estatística de teste representada pela equação (3.1.11) é conhecida como
trace
statistics
e testa a hipótese nula de que o número de vetores cointegrantes é menor que ou
igual a
r contra uma hipótese alternativa geral. A estatística de teste (3.1.12), por sua vez, é
conhecida como
maximum eigenvalue statistic e testa a hipótese nula de r vetores
cointegrantes contra uma hipótese alternativa específica de
r+1.
3.2 Resultados Econométricos
Esta segunda seção tem por objetivo sistematizar os principais resultados da análise
econométrica do crescimento econômico de longo prazo na China no período 1978-2003. Na
primeira subseção apresentam-se as principais conclusões que podem ser extraídas da análise
de regressão convencional. Na seqüência, apresentam-se também os resultados obtidos pela
estimação dos modelos VAR, pela implementação dos testes de causalidade de Granger e pela
análise de cointegração
84
.
3.2.1 Análise de Regressão
O tratamento econométrico das variáveis iniciou-se com a análise de regressão
convencional. Foram construídos dois tipos de modelos de crescimento econômico para os
quais a taxa de crescimento do PIB
per capita (TCPIBC) foi considerada como variável
dependente.
No primeiro modelo, usou-se como variáveis explicativas aquelas indicadas pelo
modelo de Solow simples (sem capital humano). São elas: investimento (FBKF), crescimento
populacional (TXCPOP), progresso tecnológico (INOV) e renda inicial (YCHUS). No
segundo modelo, que desconsidera o crescimento populacional e mantém o investimento e o
progresso tecnológico, incluíram-se também a taxa de câmbio (LTXC)
85
, fluxos de IDE
(IDE), capital humano (KHEST e KHGG) e grau de abertura comercial da economia (GAB).
84
Para a obtenção dos resultados econométricos descritos nesta seção utilizou-se o software EViews (versão 4.1).
85
A taxa de câmbio foi incluída na análise na forma de logaritmo, o que justifica a notação LTXC.
94
Para o progresso tecnológico e a renda inicial foram utilizadas como
proxies os investimentos
em inovações (INOV) e a relação entre o PIB da China e o PIB dos EUA (YCHUS),
respectivamente. Para o capital humano, decidiu-se pela utilização de duas
proxies: o número
de estudantes matriculados na escola secundária (KHEST), incluída em uma primeira versão
do segundo modelo, e os gastos governamentais com cultura, ciência, educação e saúde
(KHGG), incluída em uma segunda versão do segundo modelo.
Os resultados de cada modelo de regressão estimado encontram-se no apêndice 4. O
primeiro modelo, com 584932,0
2
=R , apresenta significância estatística apenas para os
coeficientes estimados das variáveis FBKF e INOV. Além do que, os sinais dos coeficientes
estimados das variáveis FBKF e TXCPOP são os únicos que estão de acordo com as
indicações originais do modelo de Solow. Quanto ao segundo modelo, a sua primeira versão,
com 627695,0
2
=R , incluindo a variável KHEST como proxy para capital humano,
apresentou significância estatística apenas para o coeficiente estimado da variável FBKF. Para
os demais, além de não se apresentarem estatisticamente significativos, os seus sinais nem
sempre são consensuais com a expectativa teórica (INOV e KHEST, por exemplo). Para a
segunda versão do segundo modelo, 615807,0
2
=R , com variável KHGG como proxy para
capital humano, obteve-se que, novamente, o coeficiente estimado da variável FBKF
apresentou significância estatística, o que também aconteceu para o coeficiente estimado da
variável INOV, com os sinais das variável FBKF, KHGG e GAB iguais aos previstos pela
teoria, indicando que a segunda versão do segundo modelo é menos limitada que a sua
primeira versão.
Entretanto, devido à falta de consistência estatística e econômica, os resultados do
primeiro modelo e de ambas as versões do segundo modelo não fornecem evidências
econométricas robustas que possam ser tomadas como referência para se entender
empiricamente o fenômeno de crescimento chinês. Isto se deve, principalmente, a limitações
já esperadas dos modelos de regressões, possivelmente devido a não estacionariedade das
séries envolvidas. Sabe-se que a estimação de modelos de regressão envolvendo séries
temporais não-estacionárias pode gerar resultados espúrios. Por conseguinte, optou-se pela
estimação de modelos VAR, com o objetivo de superar os vieses e limitações dos modelos
acima e buscar resultados mais satisfatórios do ponto de vista estatístico e econômico
86
.
86
Não se ateve a um tratamento mais detalhado dos modelos de regressão estimados, uma vez que o objetivo
precípuo da análise econométrica empreendida foi o de centrar esforços na aplicação do instrumental da
95
3.2.2 Modelos VAR
Como já foi dito, as séries temporais utilizadas na modelagem VAR necessitam ser
(conjuntamente) estacionárias. Em função desta exigência, o primeiro procedimento adotado
foi a realização dos testes de raiz unitária descritos anteriormente. Após a implementação de
tais testes (ADF, PP e KPSS), cujos resultados estão disponibilizados no apêndice 5,
verificou-se que a única série que apresentou estacionariedade em nível foi a variável
TCPIBC. As demais não se mostraram estacionárias em nível, o que exigiu que se realizasse
um processo de diferenciação para que as mesmas se tornassem estacionárias. Dentre estas
últimas, todas se mostraram como processos
I(1), com exceção das séries INOV e YCHUS,
que são processos
I(2)
87
.
Uma vez realizadas as transformações necessárias e obtidas todas as séries estacionárias,
partiu-se para a estimação propriamente dita dos modelos VAR. Decidiu-se pela manutenção
das especificações utilizadas para a análise de regressão. Isto é, elaboraram-se dois modelos
VAR, sendo o primeiro constituído pelas variáveis clássicas incluídas no modelo de Solow
simples (TCPIBC, DFBKF, DTXCPOP, DDINOV e DDYCHUS) e o segundo, mais amplo,
constituído pelas variáveis DKHEST, DKHGG, DLTXC, DIDE e DGAB, além das variáveis
TCPIBC, DFBKF e DDINOV. Cabe lembrar que este último modelo possui duas versões: a
primeira inclui como
proxy para capital humano o número de estudantes matriculados na
escola secundária (KHEST), e a segunda utiliza como
proxy para o capital humano os gastos
governamentais com cultura, ciência, educação e saúde (KHGG).
A escolha da ordem de defasagem dos modelos VAR teve como base os critérios de
Schwarz e Akaike (testes SC e AIC, respectivamente), sendo o primeiro teste considerado
como critério relevante para a escolha da ordem de defasagem do VAR quando os resultados
se mostrarem inconclusivos.
A tabela 19 abaixo contém os resultados da aplicação dos testes SC e AIC, os quais
indicam a opção por uma defasagem, ou seja, todos os três modelos a serem estimados são
VAR (1)
88
.
econometria de séries temporais aos dados coletados. A construção de modelos de regressão, além de ser um
procedimento clássico, serviu apenas para descrever previamente o comportamento das variáveis.
87
Para a apresentação dos resultados da modelagem VAR, descritos nesta subseção, e para os resultados dos
testes de causalidade de Granger, descritos na subseção seguinte, a notação das variáveis incluirá as letras D ou
DD, indicando que elas estão sob a forma de primeira diferença ou segunda diferença, quando for o caso,
conforme indicações dos testes de raiz unitária do apêndice 5.
88
O número de observações das variáveis envolvidas na análise não permite a estimação de modelos VAR com
ordens de defasagem superiores a dois. Por outro lado, considerando a relevância da análise do comportamento
96
Tabela 19: Critérios de seleção das ordens de defasagem dos modelos VAR.
Tipos de
VAR
Variáveis
Defasagens
Critério
SC
Critério
AIC
Ordem
Escolhida
1
23,12805
21,64697
1º VAR
TCPIBC
DFBKF, DTXCPOP,
DDINOV, DDYCHUS, 2
26,45034
23,72273
VAR(1)
1
64,35820
61,59351
2º VAR
(1ª versão)
TCPIBC, DFBKF,
DIDE, DKHEST,
DGAB, DLTXC,
DDINVOV
2
65,48324 60,27599
VAR(1)
1
54,09267
51,32799
2º VAR
(2ª versão)
TCPIBC, DFBKF,
DIDE, DKHGG,
DGAB, DLTXC,
DDINVOV
2 54,21132
49,00408
VAR(1)
Selecionada a ordem de defasagem, partiu-se para a análise de dois instrumentos do
VAR (ADV e FIR) para cada tipo de modelo. Os resultados são descritos a seguir.
3.2.2.1 Análise de Decomposição de Variância
O objetivo da ADV é entender a importância relativa de cada variável dentro do modelo
VAR na explicação da variância dos resíduos das demais variáveis. Devido aos objetivos
específicos da análise, restringiu-se a apresentação dos resultados apenas para a
decomposição de variância da variável TCPIBC para quinze períodos.
Para o primeiro VAR, constituído das variáveis clássicas do modelo Solow simples, a
ADV indica (tabela 20) que o investimento (DFBKF) se apresenta como o principal
determinante da taxa de crescimento do PIB
per capita da China no período analisado
(7,65%), seguido pelo progresso tecnológico (DDINOV), este último com uma importância
reduzida (1,16%). Para as demais variáveis (crescimento populacional e renda inicial), os
resultados indicam que estas últimas não têm a relevância esperada na explicação do
comportamento da taxa de crescimento econômico da China. Importante observar também a
grande importância da própria variável TCPIBC, indicando que a trajetória de crescimento
econômico da China neste período parece estar vinculada diretamente com sua própria
dinâmica no tempo.
temporal das variáveis analisadas (interações entre valores defasados) para o entendimento do crescimento
econômico chinês, não se considerou a estimação de modelos VAR com ordem de defasagem zero. Justifica-se,
portanto, a realização dos testes de SC e AIC apenas para as defasagens um e dois.
97
Tabela 20: Primeiro VAR (1) – Análise de Decomposição de Variância para TCPIBC.
Período S.E.* TCPIBC DFBKF DTXCPOP DDINOV DDYCHUS
1 2,666969 100,0000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
5 3,405571 90,02040 7,615749 0,839291 1,148270 0,376294
10 3,412069 89,93246 7,653370 0,880856 1,157894 0,375419
15 3,412079
89,93232 7,653497
0,880870
1,157891
0,375422
* S.E. indica erro-padrão.
Para o segundo VAR (primeira versão), os resultados da ADV estão apresentados na
tabela 21 abaixo. Percebe-se que os principais determinantes da taxa de crescimento do PIB
per capita foram o investimento (11,62%), seguido da taxa de câmbio (8,58%). Para o grau de
abertura (1,84%) e para o capital humano (1,39%), os resultados indicam uma importância
relativa reduzida, enquanto que para o IDE e para o progresso tecnológico a análise não revela
importância destas variáveis para explicação da variância do crescimento econômico.
Tabela 21: Segundo VAR (1) (primeira versão) – Análise de Decomposição de Variância para
TCPIBC.
Período S.E.* TCPIBC DFBKF DIDE DKHEST DGAB DLTXC DDINOV
1 2,570165 100,0000 0000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
5 3,606418 75,03313 11,62098 0,798347 1,170199 1,827088 8,592613 0,957644
10 3,615790 74,81402 11,61579 0,813551 1,382306 1,835620 8,583102 0,955611
15 3,616419 74,80389
11,61955
0,816080
1,387870 1,835944 8,581354
0,955311
* S.E. indica erro-padrão.
Já para a segunda versão do segundo VAR, os resultados se mostraram levemente
alterados (tabela 22). Agora, a taxa de câmbio é o principal determinante da taxa de
crescimento do PIB
per capita (13,39%), seguida do investimento (9,65%). De importância
relativa menor, em seguida tem-se o capital humano (1,36%) e o progresso tecnológico
(1,07%). O grau de abertura, que na versão anterior apresentava um grau reduzido de
importância, não se mostrou significante para a explicação do crescimento econômico da
China nesta versão do modelo. O IDE, como na versão anterior, teve importância quase nula
na explicação do comportamento de crescimento de longo prazo da China.
Tabela 22: Segundo VAR (1) (segunda versão) – Análise de Decomposição de Variância para
TCPIBC.
Período S.E.* TCPIBC DFBKF DIDE DKHGG DGAB DLTXC DDINOV
1 2,521012 100,0000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000 0,000000
5 3,514833 73,02520 9,690925 0,610974 1,339131 0,926443 13,33150 1,075832
10 3,523629 72,99230 9,650440 0,611214 1,359105 0,923905 13,38839 1,074650
15 3,523708 72,99185
9,650040
0,611292
1,359240
0,923869
13,38908 1,074635
* S.E. indica erro-padrão.
98
Um ponto consensual da ADV do primeiro modelo VAR e das duas versões do segundo
é a relevância da taxa de investimento, representada pela FBKF (acumulação de capital
físico), e da taxa de câmbio como determinantes do desempenho econômico de longo prazo
chinês no período analisado. Para os dois últimos modelos, tem-se também a indicação da
importância da taxa de câmbio para o entendimento da dinâmica da taxa de crescimento do
PIB
per capita da China no período de análise. Estes resultados estão de acordo com a
literatura convencional, que ressalta a importância do investimento interno para o crescimento
do produto de uma economia. Além disso, a indicação de que a política cambial da China
também é importante para a dinâmica do seu crescimento econômico reforça as evidências
empíricas de trabalhos que apontaram para tal relação [Leslie & Helmers (1988) e Dubas, Lee
& Mark (2005)].
Por outro lado, as duas versões do segundo VAR também são consensuais no que diz
respeito ao papel do IDE e do grau de abertura comercial da economia na explicação do
crescimento econômico da China, apontando uma importância reduzida destas duas variáveis
na explicação da taxa de crescimento do PIB
per capita chinês. Entretanto, deve-se ter em
mente que a desvalorização da taxa de câmbio chinesa, decorrente da rigidez cambial,
estimula o setor exportador da China, contribuindo para o vertiginoso crescimento das vendas
externas chinesas. Consequentemente, pode-se afirmar que, de certa forma, a taxa de câmbio
já capta o estímulo ao crescimento advindo da performance do setor exportador, o que, de
alguma maneira, refletiria parte do movimento de abertura comercial, ajudando, assim, a
entender a pequena importância relativa da variável grau de abertura comercial nas tabelas
acima.
89
De maneira análoga, parte da FBKF provavelmente tem origem nos investimentos
externos recebidos por empresas localizadas em solo chinês, indicando que a influência do
IDE no crescimento econômico chinês provavelmente esteja implícita na FBKF.
Quanto ao capital humano, a ADV indica pouca importância desta variável para a
explicação do desempenho econômico chinês. Apesar dos esforços de acumulação de capital
humano na China (aumento de 44,85% no número de estudantes matriculados na escola
secundária entre os anos de 1978 e 2003 e aumento de 10,04% para 18,28% na proporção dos
gastos governamentais destinados à cultura, ciência, educação e saúde no mesmo período), os
resultados apresentados mostram que tal acumulação não foi suficiente para gerar um impacto
89
Vieira (2005), em sua análise do crescimento econômico de longo prazo da China, estima um modelo VAR
que inclui a variável grau de abertura comercial. Dentro da ADV, este autor não encontrou evidências de que
esta variável seja uma importante condicionante do crescimento chinês. Entretanto, ao substitui-la pela variável
crescimento das exportações, os resultados apontam para uma relevância significativa do desempenho do setor
exportador chinês para o crescimento econômico do país.
99
significativo nas taxa de crescimento do PIB
per capita, o que não invalida a tese de que deve
ser dada prioridade a políticas voltadas para a aquisição educacional da população chinesa,
uma vez que a relação positiva entre capital humano e crescimento foi indicada por estudos
clássicos de crescimento econômico (Mankiw
et al., 1992). Por outro lado, há que se
reconhecer que, como aponta Heckman (2005), os investimentos em capital humano na China
são geograficamente mal distribuídos, contribuindo para que a população das províncias da
costa leste (mais ricas) apresente maior nível de qualificação que a população das províncias
localizadas no interior do país (mais pobres), gerando diferenciais de produtividade dos
trabalhadores entre as regiões do país, contribuindo para o baixo retorno dos investimentos
em capital humano
90
. Ademais, citam-se também as distorções geradas pelo desequilíbrio
existente entre investimentos em capital físico e humano, tal como sugerido por Heckman
(2005), que aponta que a China tem dado maior prioridade à acumulação de capital físico em
detrimento à acumulação de capital humano
91
. Além do mais, admite-se também as possíveis
limitações que as
proxies utilizadas para capital humano apresentam, no sentido de captarem a
real magnitude do impacto da acumulação de capital humano sobre o crescimento econômico
da China no período analisado.
3.2.2.2 Funções Impulso-Resposta
Com o objetivo de simular o comportamento ao longo do tempo das variáveis
envolvidas na análise, analisou-se as funções impulso-resposta (FIR) subjacentes a cada tipo
de modelo VAR estimado acima.
Para o primeiro VAR, a análise de suas funções de impulso-resposta (figura 6) sugere a
ocorrência de efeitos positivos advindos de choques (inovações) na taxa de investimento e na
renda inicial, embora este último efeito seja pequeno e de curta duração. Para a taxa de
crescimento populacional, há a ocorrência de um efeito negativo de curto prazo, enquanto que
para a inovação há a ocorrência de efeitos negativos e positivos, indicando não ser claro o
comportamento da taxa de crescimento do PIB
per capita diante de choques tecnológicos.
90
De acordo com Heckman & Li (2004), a taxa de retorno do capital humano na China tem sido em torno de 7%
nos anos recentes, muito inferior à taxa situada entre 15% e 20% de países como os EUA.
91
Cabe ressaltar que Heckman (2005) afirma que os retornos do capital físico serão tão mais elevados quanto
maior o nível de qualificação dos trabalhadores. Em conseqüência disso, o autor sugere que os investimentos em
capital físico e humano devem ser equilibrados a fim de que se possam maximizar os seus retornos.
100
Figura 6: Funções Impulso-Resposta – Primeiro VAR (1).
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to TCPIBC
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DFBKF
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DTXCPOP
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DDINOV
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DDYCHUS
Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E.
Para a primeira versão do segundo VAR, as funções de impulso-resposta (figura 7)
revelam que a taxa de crescimento do PIB
per capita responde positivamente a choques nos
investimentos, na taxa de câmbio e grau de abertura comercial. Para o IDE e o capital
humano, o crescimento econômico responde de maneira alternada, sendo que o efeito positivo
na presença de um choque no IDE é predominante e o efeito negativo advindo de um choque
no capital humano é maior. Quanto a choques tecnológicos, o crescimento econômico
responde de maneira similar ao apresentado no modelo anterior.
Já para a segunda versão do segundo VAR, os resultados da análise das funções de
impulso-resposta (figura 8) mostraram-se similares: o crescimento econômico responde
positivamente a choques nos investimentos, na taxa de câmbio, no grau de abertura comercial
e no IDE. Choques no capital humano provocam efeitos alternados no crescimento
econômico, sendo que o choque negativo provocado pela variável DKHGG tem menor
duração que o efeito provocado pela variável DKHEST. Novamente, em reposta a choques
tecnológicos, a taxa de crescimento do PIB
per capita apresenta uma resposta inicial negativa,
que, em seguida, se torna positiva.
101
Figura 7: Funções de Impulso-Resposta – segundo VAR (1) (primeira versão).
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to TCPIBC
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DFBKF
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DIDE
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DKHEST
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DGAB
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DLTXC
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DDINOV
Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E.
Os resultados obtidos pela análise das funções de impulso-resposta estão em
consonância com aqueles já obtidos pela ADV ao mostrar que a taxa de crescimento
per
capita
apresenta respostas positivas significativas a choques na taxa de investimento e na taxa
de câmbio, reforçando a indicação de que tanto a acumulação de capital físico quanto a
política cambial foram os principais determinantes do desempenho econômico chinês no
período de 1978-2003.
Quanto ao capital humano, as funções de impulso-resposta mostram que na presença de
choques nas duas
proxies desta variável há uma pequena resposta inicial positiva do
crescimento econômico. Entretanto, este efeito torna-se negativo (para as duas
proxies de
capital humano) em seguida, fato este que pode estar relacionado às distorções nos
investimentos em capital humano já discutidas anteriormente, as quais contribuem para baixos
retornos a este tipo de investimento, ou mesmo a possíveis problemas enfrentados por esta
102
análise na tentativa de se obter
proxies adequadas para se captar o impacto do investimento
em capital humano no crescimento econômico de longo prazo na China no período de análise.
Figura 8: Funções de Impulso-Resposta – segundo VAR (1) (segunda versão).
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to TCPIBC
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DFBKF
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DIDE
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DKHGG
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DGAB
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DLTXC
-2
-1
0
1
2
3
4
2 4 6 8 10 12 14
Response of TCPIBC to DDINOV
Response to Cholesky One S.D. Innovations ± 2 S.E.
No que se refere a choques tecnológicos, as funções de impulso-resposta dos três
modelos estimados mostram que há uma resposta inicial negativa do crescimento econômico,
seguida de um efeito positivo. Este resultado pode estar associado ao fato de que a
incorporação de novas técnicas de produção ao processo produtivo pode não implicar em um
aumento imediato da produtividade dos trabalhadores. Esta última, que em última instância
define o efeito que a inovação tecnológica terá sobre o crescimento econômico, ocorrerá após
a adaptação dos trabalhadores aos novos métodos de produção decorrentes do choque
tecnológico. Cabe ressaltar, ainda, as limitações que a variável escolhida impõe em termos de
capacidade de se assimilar choques tecnológicos a partir dos dados em questão, ainda mais
103
quando se leva em conta a dificuldade de se utilizar uma
proxy alternativa (número de
patentes, por exemplo), em função das características da própria economia chinesa, onde tais
dados são inexistentes ou não se tem interesse claro na sua divulgação
92
.
3.2.3 Testes de Causalidade de Granger
O próximo passo da análise econométrica foi a implementação de testes de causalidade
de Granger. O objetivo foi o de verificar a ocorrência (ou não) de causalidade, no sentido de
que informações passadas de uma variável afetam o comportamento de uma outra variável.
Utilizou-se uma defasagem para a realização do teste, uma vez que este é o número da ordem
de defasagem do VAR.
Tabela 23: Teste de Causalidade de Granger (uma defasagem) para as variáveis envolvidas na
análise econométrica do crescimento chinês no período 1978-2003.
Hipótese Nula: F-Statistic Probabilidade
DFBKF não causa no sentido Granger TCPIBC* 3,68598 0,06856
TCPIBC não causa no sentido Granger DDYCHUS** 4,47186 0,04721
DFBKF não causa no sentido Granger DGAB* 3,70826 0,06779
DDINOV não causa no sentido Granger DTXCPOP* 3,27867 0,08524
DTXCPOP não causa no sentido Granger DDYCHUS* 2,97549 0,09996
DTXCPOP não causa no sentido Granger DIDE* 3,07556 0,09406
DKHGG não causa no sentido Granger DTXCPOP* 4,05263 0,05710
DDYCHUS não causa no sentido Granger DIDE** 4,75057 0,04141
DGAB não causa no sentido Granger DDYCHUS** 6,40787 0,01985
DKHGG não causa no sentido Granger DKHEST** 4,89337 0,03818
DKHEST não causa no sentido Granger DKHGG** 5,08229 0,03498
Notas: (1) A tabela inclui apenas os resultados que indicam causalidade no sentido Granger;
(2) * e ** indicam rejeição da hipótese nula (não causalidade) a 10% e 5%, respectivamente.
O principal resultado (tabela 23) é aquele que diz que o investimento (FBKF) apresenta
causalidade (no sentido Granger) com relação à taxa de crescimento do PIB
per capita, o que
está de acordo com os resultados apontados anteriormente pela ADV e pelas funções-impulso
resposta. Entretanto, o teste não apontou causalidade (no sentido Granger) da taxa de câmbio
para com a taxa de crescimento do PIB
per capita, resultado este apontado pelas análises
anteriores. Ademais, o teste também não indica causalidade (no sentido Granger) de nenhuma
outra variável para com a variável TCPIBC.
92
Cabe lembrar que a China é uma economia que apresenta especificidades com relação a problemas com
direitos autorais.
104
Com o objetivo de se testar a robustez dos resultados acima, implementou-se o teste de
Causalidade de Granger utilizando-se duas defasagens. Os resultados mostram que o
investimento não mais causa (no sentido Granger) a variável TCPIBC, embora a taxa de
câmbio passe a ter causalidade (no sentido Granger) sobre a taxa de crescimento do PIB
per
capita
93
, corroborando os resultados anteriores de que a política cambial foi um importante
determinante do desempenho econômico chinês durante o período 1978-2003. Para os demais
resultados, apenas três deles mostraram-se robustos, no sentido de que mantiveram as mesmas
indicações do teste anterior
94
.
3.2.4 Testes de cointegração de Johansen
A aplicação do teste de cointegração de Johansen teve como objetivo analisar a
existência de relacionamento de longo prazo entre as variáveis incluídas nos modelos
precedentes.
Em primeiro lugar, aplicou-se o teste ao conjunto de variáveis incluídas no primeiro
VAR, quais sejam: taxa de crescimento do PIB
per capita, investimento, taxa de crescimento
populacional, progresso tecnológico e renda inicial (tabela 24).
Baseados na estatística
trace, os resultados apontam para a existência de apenas uma
equação cointegrante entre essas variáveis aos níveis de 5% e 1%. Já com base na estatística
do
max-eigenvalue, os resultados indicam para a exisncia de uma equação cointegrante ao
nível de 5% e para a existência de nenhuma ao nível de 1%. Conclui-se, portanto, que existe
um relacionamento de longo prazo entre essas variáveis, cujas trajetórias estão de alguma
maneira relacionadas ao longo do tempo, sugerindo que os resultados do modelo original de
Solow se aplicam também para a China no período 1978-2003.
A realização do teste de Johansen para as duas versões do segundo VAR foi
impossibilitada pela inversão matricial do procedimento de Johansen, que acabou por indicar
a presença de matrizes próximas a matrizes singulares. Decidiu-se, porém, aplicá-lo a
subgrupos das variáveis, com o intuito de se analisar o relacionamento dessas variáveis com a
93
A estatística de teste associada à hipótese nula de que DLTXC não causa no sentido Granger TCPIBC é de
2,52262, com probabilidade de 0,10820, ligeiramente superior ao nível de 10%. Rejeita-se, portanto, a hipótese
nula e conclui-se que a taxa de câmbio causa (no sentido Granger) a taxa de crescimento do PIB per capita.
94
Os três resultados do teste de Granger que se mantiveram constantes nas duas versões (uma e duas defasagens)
foram: (i) causalidade (no sentido Granger) da variável TCPIBC para a variável DDYCHUS; (ii) causalidade (no
sentido Granger) da variável DDYCHUS para a variável DIDE, e; (iii) causalidade (no sentido Granger) da
variável DGAB para a variável DDYCHUS.
105
taxa de crescimento do PIB
per capita no longo prazo. O critério de seleção dos blocos de
variáveis incluídos em cada teste teve por base as seguintes indagações: (i) a abertura
comercial e financeira são importantes para a explicação da dinâmica do crescimento
econômico de longo prazo da China?; (ii) similarmente, a abertura comercial e a política
cambial importam para o crescimento econômico da China?; (iii) quanto ao capital humano e
ao progresso tecnológico, tais variáveis possuem relevância para o desempenho econômico
chinês?; (iv) a abertura financeira e a política cambial se relacionam com o crescimento
econômico da China no longo prazo?
Tabela 24: Teste de cointegração de Johansen para o primeiro VAR (1).
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma** 84,33196 68,52 76,07
No máximo 1 46,71881 47,21 54,46
No máximo 2 22,41569 29,68 35,65
No máximo 3 8,609916 15,41 20,04
No máximo 4 1,919202 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma* 37,61314 33,46 38,77
No máximo 1 24,30312 27,07 32,24
No máximo 2 13,80577 20,97 25,52
No máximo 3 6,690714 14,07 18,63
No máximo 4 1,919202 3,76 6,65
Notas: (1) CE (s) indica equação (ões) cointegrante (s);
(2) * e ** indicam rejeição da hipótese aos níveis de 5% e 1%, respectivamente.
Na tentativa de responder a estas questões, procedeu-se à realização dos testes de
Joahansen para cada subgrupo individualmente. Em primeiro lugar, implementou-se um teste
para as variáveis TCPIBC, IDE e GAB, com o intuito de se captar a relação do crescimento
econômico da China com os fluxos de capital e de comércio no longo prazo. Os resultados,
apresentados na tabela 25 abaixo, mostram que não existe equação cointegrante nos níveis de
significância de 5% e 1%, considerando-se tanto a estatística
trace e do max-eingenvalue,
indicando que estas variáveis não apresentam uma relação de longo prazo.
Em seguida, testou-se a existência de relacionamentos de longo prazo entre as variáveis
TCPIBC, LTXC e GAB, no sentido de se retomar a pergunta sobre a relevância da política
cambial para o crescimento, lembrando que tal política deve estar relacionada com o próprio
comportamento da variável GAB. Os resultados (tabela 26) mostram que, novamente, não há
106
presença de equações cointegrantes, considerando ambas as estatísticas (
trace e max-
eigenvalue
), apontando para a inexistência de trajetórias comuns entre essas variáveis.
Tabela 25: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, IDE e GAB.
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma 22,23992 29,68 35,65
No máximo 1 8,067090 15,41 20,04
No máximo 2 0,025010 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma 14,17283 20,97 25,52
No máximo 1 8,042081 14,07 18,63
No máximo 2 0,025010 3,76 6,65
Nota: (1) CE (s) indica equação (ões) cointegrante (s);
Tabela 26: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, LTXC e GAB.
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma 24,76008 29,68 35,65
No máximo 1 6,370561 15,41 20,04
No máximo 2 0,253993 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma 18,38952 20,97 25,52
No máximo 1 6,116568 14,07 18,63
No máximo 2 0,253993 3,76 6,65
Nota: (1) CE (s) inidica equação (ões) cointegrante (s);
Diferentemente dos resultados anteriores, o teste de Johansen apontou para a existência
de equações cointegrantes para as variáveis TCPIBC, KHEST e INOV, indicando a existência
de três e uma equações cointegrantes para os níveis de 5% e 1%, respectivamente, pela
estatística
trace, e uma equação cointegrante ao nível de 5% pela estatística do max-
eigenvalue
(tabela 27). Substituindo a variável KHEST pela outra proxy de capital humano
(KHGG), os resultados (tabela 28) são similares: há a presença de três e uma equações
cointegrantes para os níveis de 5% e 1%, respectivamente, para ambas as estatísticas. Este
resultado reforça, pois, a indicação de que as trajetórias das séries TCPIBC, KHEST, KHGG
e INOV estão de alguma maneira relacionadas no tempo.
No que se refere à última indagação, qual seja, se a política cambial e abertura
financeira possuem algum relacionamento de longo prazo com a taxa de crescimento do PIB
per capita, realizou-se mais um teste de cointegração, cujos resultados, sugeridos pela
107
indicação de três equações cointegrantes ao nível de 5% pela estatística
trace (tabela 29),
apontam para a presença de trajetórias comuns de longo prazo entre essas variáveis.
Tabela 27: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, KHEST e INOV.
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma** 29,68 29,68 35,65
No máximo 1* 15,41 15,41 20,04
No máximo 2** 3,76 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma* 24,43882 20,97 25,52
No máximo 1 10,50669 14,07 18,63
No máximo 2** 7,439042 3,76 6,65
Notas: (1) CE (s) indica equação (ões) cointegrante (s);
(2) * e ** indicam rejeição da hipótese aos níveis de 5% e 1%, respectivamente.
Tabela 28: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, KHGG e INOV.
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma** 48,83838 29,68 35,65
No máximo 1* 18,68806 15,41 20,04
No máximo 2* 4,611195 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma** 30,15032 20,97 25,52
No máximo 1* 14,07686 14,07 18,63
No máximo 2* 4,611195 3,76 6,65
Notas: (1) CE (s) indica equação (ões) cointegrante (s);
(2) * e ** indicam rejeição da hipótese aos níveis de 5% e 1%, respectivamente.
Tabela 29: Teste de cointegração de Johansen para TCPIBC, LTXC e IDE.
Nº de CE (s) hipotetizadas
Trace Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma* 48,83838 29,68 35,65
No máximo 1* 18,68806 15,41 20,04
No máximo 2* 4,611195 3,76 6,65
Nº de CE (s) hipotetizadas
Max-Eigen
Statistic
Valor Crítico a 5%
Valor Crítico a 1%
Nenhuma 30,15032 20,97 25,52
No máximo 1 14,07686 14,07 18,63
No máximo 2* 4,611195 3,76 6,65
Notas: (1) CE (s) indica equação (ões) cointegrante (s);
(2) * e ** indicam rejeição da hipótese aos níveis de 5% e 1%, respectivamente.
108
Tabela 30: Número de vetores cointegrantes dos testes de cointegração de Johansen –
trace e
max-eigenvalue.
Trace Statistic Max-Eigen Statistic
Variáveis envolvidas no teste
5% 1% 5% 1%
TCPIBC, FBKF, TXCPOP, INOV, YCHUS 1 1 1 0
TCPIBC, IDE, GAB 0 0 0 0
TCPIBC, LTXC, GAB 0 0 0 0
TCPIBC, KHEST, INOV 3 1 1 0
TCPIBC, KHGG, INOV 3 1 3 1
TCPIBC, LTXC, IDE 3 0 0 0
A tabela 30 acima fornece um resumo dos testes de cointegração realizados. Nota-se que
apenas a variável GAB, mesmo quando testada conjuntamente com a variável IDE e com a
variável LTXC, não apresenta cointegração com a variável TCPIBIC. Quanto às demais
variáveis, todas elas apresentam algum grau de cointegração com a taxa de crescimento do
PIB
per capita. Mesmo a variável IDE, que não tinha se mostrado relevante para a explicação
do crescimento econômico chinês pela ADV, quando combinada com a variável LTXC
apresentou cointegração com a variável TCPIBC. Isto indica que, pela análise de
cointegração, a taxa de crescimento do PIB
per capita da China possui algum grau de
cointegração (relação de longo prazo) com todas as variáveis incluídas na análise, à exceção
do grau de abertura da economia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A China vem se firmando como uma das economias mais dinâmicas deste início de
século. A pujança do seu crescimento econômico está refletida nas altas taxas de crescimento
do seu PIB, cuja taxa média de crescimento foi de 9,48% ao ano no período 1978-2003, muito
superior à taxa média de crescimento do PIB do Brasil e do PIB dos EUA no mesmo período,
que foram de 2,51% e 3,02%, respectivamente, e à taxa média de crescimento do PIB
mundial, que foi de 2,91%. Estes números indicam que, no mesmo instante em que economias
em desenvolvimento como Brasil ou economias já desenvolvidas apresentaram um
crescimento econômico mediano, não raro acompanhado de recessão ao longo das últimas
duas décadas, a China logrou obter um desempenho econômico excepcional, fato este que por
si só já desperta interesse acadêmico na análise teórico-empírica dos fatores que propiciaram
este país conviver com altas taxas de crescimento do seu produto por um período
relativamente longo.
A despeito das especificidades da China, a investigação teórica e empírica do seu
processo de crescimento econômico é importante no sentido de que ela contribui para o
debate sobre os fatores que determinam o crescimento de uma economia. Ademais, o estudo
da experiência chinesa de crescimento econômico auxilia os formuladores de política, na
medida em que o entendimento de sua dinâmica revela quais as interações entre o crescimento
econômico e variáveis como investimento interno e externo em capital físico, investimentos
em capital humano, câmbio, grau de abertura comercial da economia, progresso tecnológico,
etc. Além do que, o conhecimento da realidade da China torna-se hoje um imperativo, dada a
crescente importância que este país vem ocupando no cenário internacional e os benefícios
que países em desenvolvimento como o Brasil podem auferir com o crescimento da economia
chinesa em termos de oportunidades de comércio. Neste sentido, o principal objetivo deste
trabalho foi o de investigar empiricamente o crescimento econômico de longo prazo na China,
com o intuito de se apontar os principais condicionantes deste processo.
O resgate teórico sobre os determinantes do crescimento econômico foi realizado no
capítulo um, no qual foram apresentadas, resumidamente, as principais especificações e
recomendações de política associadas aos modelos de crescimento neoclássicos,
representados pelo modelo de Solow, e os modelos de crescimento endógeno ou da nova
teoria do crescimento, representados pelo modelo de Romer. A principal conclusão que se
pode extrair da análise dos dois tipos de modelo é que ambos atribuem ao progresso
110
tecnológico o motor do crescimento econômico, embora as duas abordagens lhe confiram um
tratamento diferenciado. Enquanto que nos modelos neoclássicos o progresso tecnológico é
considerado exógeno, nos modelos da nova teoria do crescimento este é um processo
endógeno. Outra distinção entre os dois tipos de modelos está na suposição quanto à
acumulação de capital. Nos modelos neoclássicos há a presença dos retornos decrescentes ao
capital, enquanto que nos modelos de crescimento endógeno verifica-se a presença de
retornos crescentes, dada a natureza de não rivalidade das idéias. Deve-se destacar também a
importância que os modelos dão à acumulação de capital físico e à acumulação de capital
humano como determinantes do crescimento econômico. Uma economia será tão mais rica
quanto maiores os investimentos na acumulação de capital físico e na aquisição educacional
de sua população, uma vez que os retornos da acumulação de capital físico em termos de
produtividade serão maiores quanto mais qualificada é a mão-de-obra.
Em se tratando das taxas de investimento e poupança, a análise do capítulo dois mostra
que houve um grande aumento da formação bruta de capital fixo na China ao longo do
período 1978-2003, a qual passou de um patamar de aproximadamente 29% do PIB nos anos
iniciais para mais de 40% do PIB nos anos finais. Simultaneamente, percebe-se também um
recorrente aumento da taxa de poupança, que foi de 43,17% do PIB em 2003, contra 37,70%
em 1978. Além do que, foi visto também que houve um significativo esforço de acumulação
de capital humano, refletido no crescimento de 44,85% no número de estudantes matriculados
na escola secundária e no aumento da proporção dos gastos do governo destinados à cultura,
ciência, educação e saúde.
Ainda no capítulo dois, verificou-se o grande salto dado pelo comércio exterior da
China, cuja participação no comércio mundial passou de menos de 1% no final da década de
70 para algo em torno de 5,62% em 2003. Neste cenário, especial destaque é dado para o
excepcional desempenho das exportações chinesas, as quais cresceram a uma taxa média de
11,79% ao ano no período pós-reforma (1979-2003). Considerando-se apenas o período após
2001, ano em que a China foi admitida na OMC, as suas exportações cresceram em um ritmo
médio de 20,58% ao ano. Quanto às importações, estas cresceram a uma taxa média de
14,39% ao ano no período 1979-2003, revelando o grande potencial consumidor do país,
principalmente para
commodities agrícolas e minerais, como o petróleo.
Uma característica marcante da economia está nas peculiaridades da sua política
cambial. Desde 1994 o país mantém a sua moeda sobredesvalorizada em termos reais e
estável em termos nominais perante o dólar americano. Esta situação de rigidez cambial vem
111
provocando uma depreciação da taxa de câmbio real, o que, juntamente com o baixo custo da
sua mão-de-obra, proporciona uma grande vantagem competitiva dos produtos chineses no
mercado internacional, levando os seus parceiros comerciais como os EUA a conviver com
recorrentes déficits com a China. Tal fato ajuda a compreender as reclamações sobre o regime
cambial chinês, vindas principalmente dos EUA e UE, que advogam uma flexibilização do
câmbio, com conseqüente valorização do yuan. A despeito dessas pressões, a China tem
conseguido manter sua política cambial quase inalterada, mesmo se levando em consideração
a pequena valorização de 2,1% da moeda chinesa ocorrida em julho/2005, deixando claro que
as reformas no sistema cambial chinês seguirão um ritmo mais lento que o esperado pelos
EUA e UE, o que pode levar estes últimos países a adotar sanções comerciais (barreiras
tarifárias, não-tarifárias e fitosanitárias) para barrar a entrada de produtos chineses nos seus
mercados.
Outra característica marcante da economia chinesa é sua intensa acumulação de
reservas, decorrentes do bom desempenho do setor externo e da grande entrada de IDE. No
final de 2003, as reservas se elevaram para mais de US$ 400 bilhões, o que equivale a mais de
dez meses de importações. Mais recentemente, o acúmulo de reservas está também
relacionado com as pressões para flexibilização do câmbio, o que vem gerando expectativas
de valorização do yuan, estimulando, assim, um grande volume de entrada de capitais de curto
prazo que buscam ganhos com a mudança do câmbio. Cabe ressaltar ainda que a China vem
se firmando como o maior receptor de investimentos diretos estrangeiros do mundo, sendo
que em 2003 a entrada de IDE foi de aproximadamente US$ 53,5 bilhões.
Quanto à investigação econométrica do crescimento econômico de longo prazo da China
no período 1978-2003, esta se iniciou com a análise de regressão convencional, cujos
resultados mostraram-se pouco satisfatórios tanto do ponto de vista estatístico e econômico,
uma vez que apenas a variável investimento se mostrou significativa nos três modelos de
crescimento estimados. Quanto às demais variáveis, ora se mostravam insignificantes do
ponto de vista estatístico, ora não apresentavam os sinais esperados, indicando que a regressão
não permitiu a realização de um diagnóstico confiável sobre os principais condicionantes do
crescimento econômico chinês no período de análise. No entanto, a estimação de modelos
VAR com uma defasagem e a utilização de seus principais instrumentais de análise (ADV e
FIR) superaram as limitações da análise de regressão e forneceram resultados que puderam
ser tomados como referência para o entendimento do crescimento chinês.
112
Para o primeiro modelo VAR estimado, constituído de variáveis presentes em modelos
simples do tipo Solow (investimento, renda inicial, crescimento populacional e progresso
tecnológico), os resultados da ADV apontaram para a taxa de investimento como o principal
determinante do crescimento chinês, seguida pelo progresso tecnológico. Os resultados não
apontam para a importância do crescimento populacional e da renda inicial para a explicação
da dinâmica do crescimento da China. A análise da FIR para este modelo apresentou
resultados similares aos da ADV, indicando que o crescimento responde de maneira mais
significativa a choques na taxa de investimento.
A primeira e a segunda versões do segundo modelo VAR estimado apresentaram
resultados homogêneos. A ADV para as duas versões indicou que os principais determinantes
do crescimento econômico da China no período analisado foram a taxa de investimento e a
taxa de câmbio, sendo que na primeira versão o investimento apresentou uma importância
relativa maior que a taxa de câmbio e na segunda versão esta ordem é invertida. Quanto ao
capital humano, os resultados não apontaram relevância desta variável para o entendimento do
comportamento da taxa de crescimento econômico da China. Estes resultados, porém, podem
estar associados ao fato de que o país apresenta ineficiências na distribuição dos
investimentos em capital humano, gerando distorções nas suas taxas de retorno, o que
provavelmente compromete a capacidade de os dados revelarem o real impacto da
acumulação de capital humano no crescimento chinês. Ademais, reconhece-se que as
proxies
utilizadas para capital humano (número de estudantes matriculados na escola secundária e
gastos governamentais com cultura, ciência, educação e saúde) apresentam limitações no
sentido de captarem o esforço chinês na melhoria da qualificação de sua população e o
impacto que isso gera no aumento de produtividade da economia como um todo. O mesmo
pode ser dito com relação ao progresso tecnológico, o qual não se mostrou relevante na
análise, o que também pode estar associado ao fato de que a
proxy utilizada não se mostrou
satisfatória. Todavia, há que se reconhecer a dificuldade na utilização de
proxies alternativas
para o progresso tecnológico, como número de patentes registradas, especialmente quando se
considera as particularidades da economia chinesa com relação a direitos autorais e de
propriedade.
Quanto ao grau de abertura comercial e aos fluxos de IDE, a ADV de ambas as versões
do segundo VAR não indica que tais variáveis foram importantes para o crescimento
econômico da China no período de análise. Estes resultados podem ser explicados na medida
em que os impactos da taxa de câmbio e o investimento têm sobre o crescimento
113
provavelmente incorporam implicitamente parte dos efeitos do grau de abertura comercial e
dos fluxos de IDE. Especificamente, a taxa de câmbio sobredesvalorizada estimula o setor
exportador chinês, refletindo em si mesma a relevância do desempenho do setor externo para
o crescimento econômico. De maneira análoga, parte do investimento interno pode advir de
empresas estrangeiras localizadas na China, revelando que os investimentos externos
destinados à economia chinesa contribuem para o crescimento econômico do país via
acumulação de capital físico.
Os resultados da análise da FIR para as versões do segundo VAR reforçaram os
resultados já obtidos pela ADV. Isto é, o crescimento econômico da China apresenta uma
maior sensibilidade a choques no investimento e na taxa de câmbio, corroborando a indicação
de que estas variáveis foram os principais determinantes da taxa de crescimento do PIB
per
capita
da China no período 1978-2003.
O teste de causalidade de Granger implementado com uma defasagem mostrou que
apenas os valores defasados da taxa de investimento são relevantes para prever o
comportamento do crescimento econômico. Em outras palavras, o teste realizado para uma
defasagem revelou que, dentre todas as variáveis utilizadas, apenas o investimento causa (no
sentido Granger) a taxa de crescimento econômico da China. Para o teste realizado com duas
defasagens, os resultados mostram que a taxa de câmbio também causa (no sentido Granger) o
crescimento econômico da China, indicando que mudanças em ambas as variáveis –
investimento e taxa de câmbio – precedem mudanças na taxa de crescimento do PIB
per
capita
chinês.
Finalmente, o último procedimento utilizado pela análise econométrica foi a análise de
cointegração. A aplicação do teste de Johansen revelou que as variáveis incluídas no primeiro
VAR estão cointegradas, indicando que o investimento, nível de renda inicial, o progresso
tecnológico e o crescimento populacional estão relacionados no longo prazo com a taxa de
crescimento da economia chinesa. Testando-se também a cointegração entre diferentes blocos
de variáveis de ambas as versões do segundo VAR, verificou-se que apenas o grau de abertura
comercial não cointegrou com nenhuma das combinações de variáveis, ou seja, não se
encontrou evidência de uma relação de longo prazo. Quanto às demais variáveis, quando
associadas de diferentes maneiras, todas apresentaram cointegração, indicando que todas elas
possuem uma trajetória de longo prazo comum à taxa de crescimento do PIB
per capita da
China.
114
Resumindo, a principal conclusão da análise econométrica foi a de que a taxa de
investimento e a taxa de câmbio foram os principais condicionantes do crescimento
econômico da China no período 1978-2003, confirmando a hipótese inicial apenas para estas
duas variáveis. Estes resultados não indicam, porém, que a continuidade do crescimento
econômico deste país deve se assentar apenas em políticas de estímulo à acumulação de
capital físico e na política cambial favorável, uma vez que apenas fatores de acumulação não
são garantia da continuidade de taxas de crescimentos robustas e sustentáveis, além do que
não se sabe se os efeitos benéficos do câmbio continuarão em um futuro próximo.
Especificamente, é necessário que a China concentre seus esforços na melhoria da sua
produtividade, através da maior qualificação da mão-de-obra empregada, a fim de que se
possam aumentar os rendimentos do capital físico já acumulado. Em outras palavras, a China
deve priorizar a qualificação dos seus trabalhadores, para que estes possam usufruir da
maneira mais eficiente possível o estoque de recursos acumulados. Por outro lado, não estão
claros quais serão os impactos de uma política cambial mais flexível sobre o crescimento
econômico do país, caso a China ceda no médio e longo prazo às pressões internacionais para
flexibilização do seu atual regime cambial.
Referências Bibliográficas
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APÊNDICES
123
Apêndice 1: Dados utilizados na análise econométrica do crescimento da China no período 1978-2003.
Anos TCPIBC TXC IDE KHGG KHEST FBKF YCHUS GAB INOV TXCPOP
1978 10,22 1,68 0,00 10,04 6.637,20 29,63 3,04 9,41 167,73 1,34
1979 6,17 1,56 0,08 10,30 6.024,89 28,51 3,17 12,21 175,88 1,33
1980 6,46 1,50 57,00 12,72 5.677,80 29,17 3,43 13,61 187,01 1,25
1981 3,86 1,70 265,00 15,05 5.014,60 25,77 3,52 16,77 195,30 1,28
1982 7,51 1,89 430,00 16,01 4.702,80 28,20 3,92 16,25 250,37 1,47
1983 9,31 1,98 916,00 15,86 4.637,70 28,80 4,17 15,76 291,13 1,44
1984 13,70 2,32 1.419,00 15,47 4.860,90 29,64 4,48 18,84 309,28 1,31
1985 11,96 2,94 1.956,00 15,80 5.092,60 29,46 4,89 24,10 449,14 1,36
1986 7,19 3,45 2.243,73 17,23 5.321,60 30,37 5,15 26,54 619,21 1,49
1987 9,82 3,72 2.313,53 17,80 5.403,10 31,28 5,56 27,32 758,59 1,60
1988 9,52 3,72 3.193,68 19,51 5.246,10 30,97 5,94 27,18 980,55 1,61
1989 2,52 3,77 3.392,57 19,60 5.054,00 25,66 5,98 26,24 788,78 1,53
1990 2,29 4,78 3.487,11 20,02 5.105,40 25,51 6,10 31,85 830,19 1,47
1991 7,72 5,32 4.366,34 20,91 5.226,80 27,48 6,69 35,52 1.023,23 1,36
1992 12,81 5,51 11.007,51 21,19 5.354,40 31,22 7,42 37,46 1.461,10 1,23
1993 12,20 5,76 27.514,95 20,63 5.383,70 37,48 8,20 35,67 2.195,85 1,15
1994 11,33 8,62 33.766,50 22,07 5.707,10 36,05 8,87 48,77 2.918,61 1,13
1995 9,31 8,35 37.520,53 21,50 6.191,50 34,71 9,54 45,68 3.299,35 1,09
1996 8,46 8,31 41.725,52 21,47 6.635,70 34,38 10,09 39,90 3.615,00 1,05
1997 7,69 8,29 45.257,04 20,62 6.995,20 33,78 10,51 41,38 3.921,94 1,02
1998 6,77 8,28 45.462,75 19,95 7.340,70 35,27 10,86 39,21 4.516,75 0,96
1999 6,18 8,28 40.318,71 18,26 8.002,70 35,92 11,17 41,49 4.485,08 0,95
2000 7,15 8,28 40.714,81 17,23 8.518,46 36,46 11,63 49,06 5.107,60 0,71
2001 6,72 8,28 46.877,59 17,78 8.901,38 37,83 12,47 48,54 5.923,76 0,73
2002 7,28 8,28 52.742,86 18,04 9.255,70 40,24 13,14 54,77 6.750,55 0,67
2003 8,42 8,28 53.505,00 18,28 9.613,80 42,16 13,94 65,00 8.624,86 0,70
Fontes: World Development Indicators (2004), China Statistical Yearbook (2001, 2004), FDI Statistics (Unctad, 2004).
124
Apêndice 2: Descrição das variáveis utilizadas na análise econométrica do crescimento da China no período 1978-2003.
Variável Descrição Unidade Fonte
TCPIBC Taxa de crescimento do PIB per capita % (variação anual) World Development Indicators (2004)
TXC Taxa de câmbio oficial (média do período) Yuan/US$ World Development Indicators (2004)
IDE Fluxo de investimento direto estrangeiro (entrada) Milhões de dólares FDI Statistics (Unctad, 2004)
KHGG Gastos do governo com cultura, ciência, educação e saúde % do total de gastos do governo China Statistical Yearbook (2001, 2004)
KHEST Número de estudantes matriculados na escola secundária 10.000 pessoas China Statistical Yearbook (2001, 2004)
FBKF Formação Bruta de Capital Fixo % do PIB World Development Indicators (2004)
YCHUS PIB da China em relação ao PIB dos EUA % World Development Indicators (2004)
GAB Grau de abertura comercial % do PIB World Development Indicators (2004)
INOV Investimentos totais em Inovação 100 milhões de Yuan China Statistical Yearbook (2001, 2004)
TXCPOP Taxa de crescimento da população % (variação anual) China Statistical Yearbook (2001, 2004)
125
Apêndice 3: Evolução das variáveis utilizadas na análise econométrica do crescimento
econômico da China no período 19782003.
126
Figura 3A: Evolução da taxa de crescimento do PIB
per capita da China no período 1978-
2003 (variação anual - %).
2
4
6
8
10
12
14
1980 1985 1990 1995 2000
Taxa de crescimento do PIB per capita da China no peodo 1978-2003
(variação anual - %)
127
Figura 3B: Evolução da taxa de câmbio nominal da China no período 1978-2003 (média anual
- Yuan/US$).
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1980 1985 1990 1995 2000
Taxa de câmbio nominal da China no período 1978-2003
(média anual - Yuan/US$)
128
Figura 3C: Evolução do fluxo de IDE para a China no período 1978-2003 (entrada, milhões
de US$).
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
1980 1985 1990 1995 2000
Fluxo de IDE para a China no período 1978-2003
(entrada, milhões de US$)
129
Figura 3D: Evolução dos gastos do governo da China com cultura, ciência, educação e saúde
no período 1978-2003 (% do total de gastos do governo).
8
10
12
14
16
18
20
22
24
1980 1985 1990 1995 2000
Gastos do governo da China com cultura, ciência, educão e saúde
no período 1978-2003 (% do total de gastos do governo)
130
Figura 3E: Evolução do número de estudantes matriculados na escola secundária na China no
período 1978-2003 (10.000 pessoas).
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
1980 1985 1990 1995 2000
mero de estudantes matriculados na escola secundária na China
no período 1978-2003 (10.000 pessoas)
131
Figura 3F: Evolução da Formação Bruta de Capital Fixo na China no período 1978-2003 (%
do PIB).
24
28
32
36
40
44
1980 1985 1990 1995 2000
Formação Bruta de Capital Fixo na China no período 1978-2003
(% do PIB)
132
Figura 3G: Evolução da relação entre o PIB da China e o PIB dos EUA no período 1978-2003
(%).
2
4
6
8
10
12
14
16
1980 1985 1990 1995 2000
Relação entre o PIB da China o PIB dos EUA no período 1978-2003 (%)
133
Figura 3H: Evolução do grau de abertura da economia chinesa no período 1978-2003 (% do
PIB).
0
10
20
30
40
50
60
70
1980 1985 1990 1995 2000
Grau de abertura da economia chinesa no período 1978-2003
(% do PIB)
134
Figura 3I: Evolução dos investimentos em inovação na China no período 1978-2003 (100
milhões de Yuan).
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
1980 1985 1990 1995 2000
Investimento em inovação na China no período 1978-2003
(100 milhões de Yuan)
135
Figura 3J: Evolução da taxa de crescimento da população da China no período 1978-2003
(variação anual - %).
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
1980 1985 1990 1995 2000
Taxa de crescimento da população na China no período 1978-2003
(variação anual - %)
136
Apêndice 4: Resultados dos modelos de regressão estimados.
1º Modelo
2309965 1,102910 0,469 0,002355 0,241184
( 2,810006) (5,312260) ( 0,135420) ( 2,795316) (0,516780)
TCPIBC FBKF TXCPOP INOV YCHUS
tstat
=
−+ +
−=
2º Modelo
(primeira versão)
21, 03710 1,160945 0,00007 0,000818 0,004273 0,617123 0,001144
( 2,447446) (5,139430) ( 0,723441) ( 0,825280) (0,024300) (0, 211853) ( 0,783092)
TCPIBC FBKF IDE KHEST GAB LTXC INOV
tstat
=− + + +
−=
2º Modelo
(segunda versão)
26,82406 1,161811 0,000053 0,90208 0,060113 0,269616 0,001956
( 3,373512) (4,948080) ( 0,526863) (0,268504) (0,355676) ( 0,085651) ( 1,1822138)
TCPIBC FBKF IDE KHGG GAB LTXC INOV
tstat
=− + + +
−=
137
Apêndice 5: Testes ADF, PP e KPSS para estacionariedade das séries temporais envolvidas na análise econométrica.
Variável t-ADF (probabilidade) Lag t-PP (probabilidade) Bandwidth LM-KPSS Bandwidth
TCPIBC -3,441290 (0,0203)** 3 -3,020948 (0,0466)** 1 0,056460*** 1
TCPIB -3,141613 (0,0380)** 3 -2,986002 (0,0500)** 1 0,093676*** 1
DLTXC -4,208124 (0,0034)*** 0 -4,186861 (0,0036)*** 2 0,262403*** 0
DLTXCNEF -2,649344 (0,0104)** 0 -2,701504 (0,0091)*** 2 0,141392*** 2
DFBKF -3,808054 (0,0005)*** 0 -3,822188 (0,0005)*** 1 0,179838*** 0
DGAB -4.728248 (0.0010)*** 0 -4,691336 (0,0011)*** 4 0,173081*** 5
GGCET -3,268040 (0,0947)* 0 -3,268149 (0,0947)* 1 0,124895** 2
DIDE -2,292828 (0,0239)** 0 -2,236232 (0,0272)** 3 0,201331*** 2
DINFDPIB -1,935785 (0,0526)* 5 -3,676330 (0,0008)*** 6 0,114358*** 3
DDINOV -4,665402 (0,0001)*** 0 -4,674834 (0,0001)*** 1 0,278073*** 1
DKHEST
-3,243101 (0,1113) 8 -1.736793 (0,0781)* 0 0,076983*** 2
DKHGG -4,053163 (0,0206)** 0 -4,094205 (0,0189)** 1 0,061853*** 0
DDYCHUS -5222672 (0,0000)*** 0 -5,290397 (0,0000)*** 3 0,077332*** 4
DTPOUP -4,549561 (0,0001)*** 0 -4,548277 (0,0001)*** 5 0,194217*** 3
DTXCPOP -3,624435 (0,0009)*** 0 -3.634160 (0.0008)*** 1 0.336122*** 0
Decidiu-se
pela utilização da variável KHEST em primeira diferença, embora o teste ADF tenha apresentado uma probabilidade maior que 10% para este
teste. Tal decisão justifica-se pelas indicações dos demais testes, que apontam que a mesma é realmente um processo I(1).
Notas: (1) *, ** e *** indicam significância estatística aos níveis de 10%, 5% e 1%, respectivamente;
(2) D e DD significam “primeira diferença” e “segunda diferença”, respectivamente;
(3) o teste ADF foi implementado usando-se 8 defasagens máximas (incluindo ou não o intercepto e a tendência) e o critério de Schwarz;
(4) os testes PP e KPSS foram implementados com Newey-West Bandwidth e o método de estimação espectral de Bartlett Kernel.
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