Na Teologia, esta convicção de acessibilidade do ideal ético-pedagógico fundava-se,
entre tantos outros, no princípio bíblico que Deus quer que todos se salvem.
Salvar-se, no plano de estudos, significava alcançar a plenitude do aluno tanto no plano
natural, do racional (propedêutico) quanto no sobrenatural, da fé, da teologia (fim), e sua
vivência: “Eu vim para que todos tenham vida e a vida em plenitude” (João, 10, 10). Por ser um
fim que o próprio Cristo indicou ao homem, Cristo como Deus-homem, o ideal jesuítico tornava-
se possível, tornando-se primordial colocar tudo o que a inteligência esclarecia como sendo os
meios mais adequados e eficientes, tanto naturais como sobrenaturais, para o objetivo do
plano pedagógico da Ratio. A fé fundamentada num plano racional, planejado, calculado:
Com o ideal de formação integral, a educação jesuítica buscava a
melhor formação possível do ser humano, para uma ação também a
melhor possível, isto é, que fosse eficaz, que de fato influísse nos
destinos da humanidade. E por isso a educação deveria formar
homens preparados, competentes, qualificados, e cuja presença
fosse sempre decisiva, em qualquer empreendimento. Seria esta a
forma como melhor poderiam colaborar com a graça divina. Se Cristo
bendisse o Pai, por ter ocultado estas coisas aos sábios e entendidos
e revelado aos pequeninos (Mt., 11, 25), também distribuiu
desigualmente os talentos e louvou os que mais receberam e com
mais tino os fizeram produzir, dizendo: Porque ao que tem muito, será
dado mais e terá mais ainda; mas ao que tem pouco ser-lhe-á tirado
(Mt., 25, 29). Os jesuítas preferiram orientar-se pelo segundo
ensinamento (CESCA, 1996, p. 175).
Para esse objetivo, o curso de Teologia seguia, fundamentalmente, o pensamento de
Santo Tomás de Aquino. Conforme a regra C-30 da Ratio, todos os alunos da Teologia,
deveriam possuir a Suma Teológica de Santo Tomás, um comentário para a consulta
particular, as conclusões do Concílio de Trento e a Bíblia, e, com o consentimento do Reitor, de
um livro de estudos clássicos e um de algum Santo Padre.
A vivência de formação do teólogo partia dos Dogmas, do entendimento do revelado,
em que se identificava a harmonia entre razão e fé, chamada na Ratio, de Teologia
Escolástica, de Teologia Racional. Era nessa que o estudo da doutrina da fé e da razão
estavam presentes e as situações em que se aplicavam na formação do ser cristão, no
universo quinhentista em desenvolvimento. Estudo identificado com a consideração entre o
absolutamente certo, a fé e a razão, e o provável, e com os casos particulares a que a doutrina
se aplicava. Tratava-se da passagem da ordem natural para a sobrenatural na vivência do
cotidiano, o entendimento do ser como criatura filho de Deus e herdeiro do céu.
Preparava-se assim, o aluno, como ser completo para a ação apostólica, missionária,
o ser cristão e, preparado intelectualmente, para exercer suas funções cotidianas do pensar e
agir diante do modo humanista, que também se apresentava no mundo quinhentista.
3.4 A Metodologia