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SORAYA APARECIDA ÁLVARES COPPOLA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – ESCOLA DE BELAS ARTES
Mestrado em Artes Visuais
2006
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SORAYA APARECIDA ÁLVARES COPPOLA
COSTURANDO A MEMÓRIA:
O ACERVO TÊXTIL DO MUSEU
ARQUIDIOCESANO DE ARTE
SACRA DE MARIANA
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Artes Visuais da Escola de Belas
Artes da Universidade Federal de Minas Gerais,
como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Artes Visuais.
Área de Concentração: Arte e Tecnologia da
Imagem.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Antônio Cruz Souza
Belo Horizonte
Escola de Belas Artes /UFMG
2006
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Coppola, Soraya Aparecida Álvares,1970-
Costurando a memória: o acervo têxtil do Museu
Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana / Soraya Aparecida
Álvares Coppola. - 2005.
220 f. : il.
Orientador: Luiz Antonio Cruz Souza
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas
Gerais, Escola de Belas Artes
1. Patrimônio Cultural – Proteção – Mariana (MG) - Teses
2.Trajes religiosos – Séc. XVII-XIX – Conservação preventiva
Teses 3. Trajes religiosos – História – Mariana (MG) – Teses
4. Trajes religiosos – Mariana (MG) - Catálogos – Teses I. Souza, Luiz
Antonio Cruz, 1962- II. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola
de Belas Artes III. Título
CDD : 069.53
SUMÁRIO
Listas de figuras, quadros, gráficos e tabelas.
Resumo/Abstract
INTRODUÇÃO 9
PARTE I 17
CAPITULO 1
OS PARAMENTOS SAGRADOS DO CULTO CATÓLICO: UMA VISÃO
GERAL
18
1.1 Breve histórico do desenvolvimento do uso dos tecidos e da confecção
dos paramentos pela Igreja Católica
18
1.2 Os paramentos sagrados e a hierarquia de uso 20
1.3 As cores litúrgicas 27
1.4 As regras dos paramentos sacros 34
1.4.1 O Concílio de Trento (1563) e as regras segundo o
“INSTRUCTIONUM
FABRICAE
ET SUPELLECTILIS ECCLESIASTICAE”
de Carlo Borromeo
(1577)
34
1.4.2 O caráter litúrgico-teológico de Borromeo 37
1.4.3 As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia 38
1.4.4 O Concílio Vaticano II 46
1.4.5 O Missal Romano atual 48
CAPITULO 2
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO: A ARQUIDIOCESE DE MARIANA E
O ACERVO TÊXTIL DO MAAS
50
2.1 Breve histórico da Arquidiocese de Mariana 50
2.2 Análise histórica dos inventários das alfaias da Catedral da Sé de
Mariana
61
CAPITULO 3
CONHERCER PARA VALORIZAR: ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO DE
COLEÇÕES
67
3.1 Os bens culturais eclesiásticos e a importância de sua preservação 69
3.2 O acervo têxtil do MAAS 72
3.3 O processo de catalogação do acervo 74
PARTE II 79
CAPITULO 4
ANÁLISES E RESULTADOS
80
4.1 Análise formal e estilística dos paramentos do acervo têxtil do MAAS 80
4.1.1 Análise formal 81
45.1.1.1 As casulas 81
4.1.1.2 As dalmáticas 86
4.1.2 Análise estilística 87
4.1.2.1 Os tecidos 87
4.1.2.2 Os desenhos, as estampas e as cores dos tecidos 93
4.1.2.3 Os ornamentos em geral 106
4.1.2.3.1 Os bordados 106
4.1.2.3.2 As guarnições 111
4.2 Análise dos materiais encontrados 116
4.2.1 Os diversos tipos de materiais têxteis e seu uso na confecção dos
paramentos
116
4.2.1.1 A seda 116
4.2.1.2 O linho e o algodão 118
4.2.1.3 Os forros 119
4.2.2 As técnicas têxteis recorrentes no acervo 120
4.2.3 Os fios metálicos 126
4.2.3.1 Análises anteriormente feitas e publicadas de algumas peças do
acervo
132
CAPITULO 5
DA ANÁLISE DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO ACERVO
138
5.1 Do edifício de acondicionamento 141
5.2 Do museu e da sala de exposição de indumentárias 145
5.3 Do acervo têxtil 151
5.3.1 Seu histórico de conservação 151
5.3.2 Seu estado de conservação 154
CAPITULO 6
CONCLUSÕES
164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 171
GLOSSÁRIO 179
ANEXOS 187
ANEXO A 188
ANEXO B 200
ANEXO C 203
ANEXO D 207
ANEXO E 218
LISTAS DE FIGURAS, QUADROS, GRÁFICOS E TABELAS
FIGURA
PÁGINA
1 Igreja de San Martino em Lucca, Itália 18
2 Diácono e subdiácono 28
3 Vestes clericais 28
4 Vestes dos Cônegos 28
5 Vestes Episcopais 29
6 Brasão e Vestes Cardinalícia 29
7 Vestes do Papa 29
8 Mapas da região da Arquidiocese de Mariana 50
9 Ficha técnica de catalogação do acervo 78
10 Desenvolvimento das casulas 82
11 Casulas do MAAS 83
12 Modelos de casulas modernas (A)alemãs (B)italianas (C)espanholas 83
13 Paramentos portugueses (Igreja do Pilar de Ouro Preto e casula chinesa)
84
14 Casula (modelagem italiana) 85
15 Casulas com cruzes nas costas 85
16 Dalmáticas francesa e italiana 86
17 Dalmática do MAAS 87
18 Tecidos lisos com fio metálico, estampados sem fio metálico e lisos
bordados
87
19 Tecidos estampados com fio metálico 88
20 Tecido de uma casula, de uma dalmática e de uma capa de asperge 88
21 Tecido de uma dalmática e uma toalha de Altar 89
22 Tecidos do século XVIII 89
23 Casulas italianas 90
24 Comparação de casulas italianas e casulas do MAAS 91
25 Casulas italianas 91
26 Casula do MAAS detalhe do tecido 91
27 Casulas (A) Mariana (B) Parma 92
28 Figuras de animais encontrados no tecido lavrado vermelho 95
29 (A) Casula do MAAS (B) desenho reproduzindo o padrão da estampa
do tecido
96
30 Pluvial de Viena 96
31 Tecido brocado vermelho 97
32 Amor perfeito, Cosmos, Dália e Malva-Rosa 97
33 Brocados diversos 98
34 Hibisco, Rodoendro, Rosa e Ardísia 98
35 Brocado rosa com fio metálico e esquema do motivo decorativo 98
36 Brocado vermelho com fio metálico e esquema do motivo decorativo 99
37 Adamascado de seda verde com esquema do motivo decorativo 99
38 Tecido do Pluvial do acervo do MAAS 100
39 Tecido adamascado de seda encontrado nas cores branco e vermelho do
acervo do MAAS
101
40 Bromélias 102
41 Bromélias 102
42 Bromélias e cipó embés na floresta tropical do sul da Bahia 103
43 Estampa de casula verde 104
FIGURA
PÁGINA
44 Flor Bico-de-papagaio e melagrana 104
45 Estampa de dalmática vermelha 104
46 Tecidos em cetim de seda bordado 109
47 Detalhe dos bordados das mitras do MAAS 109
48 Detalhe das Luvas (canhão e dorso) 110
49 Chapéus 110
50 Franjas encontradas nos paramentos de Mariana: (A) Capa de Asperge
(B) Mitras
112
51 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
113
52 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
113
53 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
114
54 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
114
55 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
114
56 (A) Galões dos paramentos do MAAS (B) Galões dos paramentos do
Palazzo Pitti
115
57 Galões dos paramentos do MAAS 115
58 Representação gráfica das armações 121
59 Rimettaggio 121
60 Tela ou tafetá 123
61 Sarja 124
62 Raso ou cetim 124
63 Veludo 125
64 Veludo 125
65 Veludo 125
66 Fios metálicos com núcleo 126
67 Fiação manual 127
68 Capa de Asperge, Velo de cálice, Escudo, Estola 133
69 Tabela das amostras dos paramentos do MAAS que foram analisados 134
70 Fios e alma de seda 134
71 Lâmina envolvendo alma de seda e fio metálico através do MEV 134
72 Tabela do resultado das análises por MEV e EDX dos fios metálicos 135
73 Tabela do resultado da cromatografia dos fios dos paramentos 136
74 Fachada da Casa do Barão 142
75 Planta baixa da casa do Barão 144
76 Fachada do MAAS 145
77 Planta baixa do segundo pavimento do MAAS 147
78 Planta da sala de exposição têxtil 148
79 Degradações encontradas no acervo 162
QUADROS
QUADRO
PAGINA
1 Os paramentos e sua hierarquia de uso 28
2 Histórico do governo da diocese de Mariana 52
3 Inventário 2002 dos paramentos de Mariana 75
TABELAS
TABELA
PAGINA
1 Inventário 2005 dos paramentos de Mariana (Casa do Barão, da sala de
indumentaria e da reserva técnica do Museu)
76
2 Cores 105
3 Tipos de objetos 156
4 Variedade de materiais 157
5 Estado de Conservação 160
6 Localização do acervo 163
GRÁFICOS
GRÁFICO
PAGINA
1 Cores 105
2 Tipos de objetos 156
3 Variedade de materiais 157
4 Estado de Conservação 161
5 Localização do acervo 163
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo primordial o estudo, conhecimento e a catalogação do
acervo têxtil do Museu Arquidiocesano de Mariana, sendo esse o primeiro passo na
preservação de sua história, que ricamente pode ser contada através das tramas de seus
tecidos. Resgate de valores, de memória, o aqui re-tecidos para a justa conservação e
exposição de peças que fizeram parte das cerimônias sagradas da região. Através da
construção de processos de investigações coordenados, buscamos conhecer o acervo, o que
nos levou a percorrer bases teóricas de áreas diversas, deixando uma riqueza de resultados,
reforçando a interdisciplinaridade necessária à abordagem de argumentos diretamente
relacionados à conservação preventiva. Resgatamos as tipologias, regras e uso aplicados aos
paramentos sagrados desde o Concílio de Trento (1563). Analisamos seu estado de
conservação e identificamos as causas de degradação desses, associadas à sua confecção e às
características internas e externas do ambiente em que são conservadas e expostas. Os tecidos
e galões foram analisados em comparação à história dos tecidos e aos principais acervos
têxteis italianos. Concluímos tratar-se de um acervo singular, de qualidade, podendo ser
comparado com grandes acervos europeus, onde os mesmos materiais podem ser encontrados.
ABSTRACT
This goal of this paper is to study, uncover and catalogue the textile archive of the Museum of
the Archdiocese of Mariana, this being the first step in the preservation of it’s history which is
richly illustrated through the threads of it’s textiles. Values and heritage are safeguarded and
are here re-woven for the preservation and exhibition of pieces that were part of the sacred
ceremonies of the region. Through the construction of the processes of coordinated
investigation, the archive is fully explored, leading to theoretical foundations in diverse areas,
and resulting in a wealth of results, as well as reinforcing the inter-disciplinary approach
necessary to the arguments directly related to preventive preservation. Typologies, rules and
uses applied to the sacred garments since the Council of Trent (1563) were utilized. Analysis
of their state of preservation led to the identification of the causes of their degradation
associated to production and to the internal and external characteristics of the environment in
which they were stored and exhibited. The fabrics and trim were analyzed in comparison to
the history of the fabrics and to the principal italian textile archives. In conclusion, the
archive is singular and can be compared with great European archives, where the same
materials can to be encountered.
9
INTRODUÇÃO
Os tecidos sempre foram ponto de referência para análises históricas, uma vez que tal
produto era, desde a antigüidade, indício de distinção social e econômica, relacionando
diretamente, senão determinando, a função do indivíduo na sociedade. No universo religioso,
os tecidos formam o principal meio através do qual se apresenta o Teatrum Sacrum, onde se
materializa a devoção e o culto, fruto da identificação cultural, religiosa e social da
coletividade. É preciso que os gestos e palavras adquiram um sentido cerimonial, formando
códigos precisos que fazem parte de um ritual, resultando na celebração do rito religioso.
As maneiras com as quais se expressam os homens, servem a tributar e obter prestígio,
fazendo circulá-los, atribuindo respeito e permitindo a valorização e a veneração dos
poderosos, como nos apresenta Ribeiro, (1998)
1
, como em uma estratégia política. E com este
intuito nasce a etiqueta, “ritual construção para a ambição de homens que querem ser reis.”
(p.16).
A importância do ritual cresce na Idade dia, onde adquire uma força maior que as
relações jurídicas, no qual apresenta a vinculação pessoal entre as partes, seja em acordos
materiais ou espirituais. Assim, o maior ritual se apresenta na adoração dos reis, aos quais é
elaborado um culto quase religioso, e a Igreja não é discordante, pois reconhece no rei as
vontades de Deus.
Deste modo, segundo o raciocínio de Ribeiro, (1998), podemos observar certos
paralelos entre o espaço e o tratamento da Corte e da Igreja, como por exemplo, a importância
que adquire a “casa”, que deveria impressionar à vista; o banquete, no qual o ritual pode ser
comparado ao cerimonial litúrgico; o nascimento dos príncipes, nos quais se determinavam as
cores com as quais se deveria ornamentar as ruas, os quartos e vestir as pessoas. Tudo estava
previsto, como nas “leis suntuárias, que determinavam os tecidos e cortes de roupa permitidos
à cada classe social.” (p.20).
Na cenografia do teatro sagrado, os paramentos apresentam um papel importante de
ligação entre o desenvolvimento litúrgico no tempo, expresso pelas diversas cores prescritas
para as diferentes épocas do ano, sua solenidade, e a expressão humana do gosto no curso da
história. Colocados, por sua natureza, em um ponto de encontro ideal entre o sagrado e
profano, testemunham no tempo a duração material e simbólica que o uso sagrado confere ao
efêmero e à vitalidade que o último leva ao primeiro.
1
Ribeiro, Renato Janine. A Etiqueta no Antigo Regime. São Paulo: Moderna, 1998, p.15-16.
10
Os paramentos sacros, no decorrer dos tempos, seguiram essa tendência, tendo uma
grande liberdade de confecção até o final do século XVI. Posteriormente ao Concílio de
Trento (1563), regras foram sugeridas e aprovadas pelos Sínodos
2
e, adaptando-se com a
prática das funções, permanecem até os nossos dias.
Não se pode imaginar um teatro sagrado sem os meios de manutenção, revisão e
renovação do aparato cenográfico necessário a qualquer teatro que aspira ao sucesso e à
continuidade de suas apresentações no decorrer do ano litúrgico.
Desta forma, observando os paramentos, sua consistência e qualidade, sua quantidade,
além de sua variável presença nos diversos lugares de culto, obteremos dados que nos indicará
crescimento ou decadência econômica, atualização ou regresso cultural, que associados à
investigação documental e histórica sobre o acervo ou região, nos apresentarão uma realidade
precisa da época.
Os atuais usos litúrgicos colocaram em parcial desuso planetas, casulas, dalmáticas e
outras manufaturas têxteis da qual era rica a celebração até o Concílio Vaticano II (1962-65).
Os modelos atuais, mesmo que com aspectos diferentes daqueles antigos, permaneceram fiéis
aos princípios simbólicos e cromáticos que regularizam esses paramentos. A valorização de
um patrimônio de arte desconhecido, quase totalmente esquecido e freqüentemente não visto e
admirado, nos permitiria considerar antigos testemunhos de arte e de fé, do qual
freqüentemente se desconhece a tipologia e a função.
O Estado de Minas Gerais apresenta, no período compreendido entre 1748 e o final do
século XIX, uma tendência natural a reter como patrimônio histórico um acervo têxtil de
grande riqueza, uma vez que sua história esteve sempre ligada, direta e ativamente, à história
da Igreja no Brasil. “Minas apesar de não ser irrepreensível na matéria foi sempre de mais
delicadas atenções para com a Igreja”
3
.
Desta forma, não é espantosa a possibilidade de se estar encontrando, em longínquas
igrejas do estado, conjuntos de paramentos de uso dos representantes de Deus e do rei de
Portugal, que deveriam apresentar-se como tais.
O Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, MAAS, de propriedade da
Arquidiocese de Mariana, tem como temática principal, a arte religiosa do barroco mineiro,
trazida de longe ou realizada em Minas Gerais na época da exploração do ouro, nas regiões
2
Os termos em itálico podem ser consultados no glossário.
3
Trindade, 1955, p. 90., quando apresenta as questões política da Colônia em relação ao Regime do Padroado e
o Vaticano.
11
limítrofes a Mariana, abrigando peças oriundas de igrejas, capelas, do Palácio Episcopal, do
antigo Seminário Menor de Mariana, objetos de doações e legados.
Em decorrência desse valioso acervo, o MAAS é considerado um dos melhores
museus de arte barroca do Brasil, como podemos ver nos dizeres de Priscila Freire, então
coordenadora do Sistema Nacional de Museus, em memorando do SPHAN n. 072, em
23/08/89, quando de sua organização:
“(…) esclarecemos que este museu possui um dos acervos de melhor
qualificação estética de Minas Gerais (século XVIII e XIX) compreendendo
grande coleção de imagens, prataria, paramentos e pinacoteca”. (p.1)
Seu acervo têxtil nos apresenta conjuntos completos de paramentos de época, que
juntamente com os paramentos da Igreja do Pilar de Ouro Preto, demonstram a opulência
atuante nas Minas Gerais desde a criação da Diocese de Mariana até o século XIX.
Pensar no acervo do MAAS é pensar em sua história. Confrontar com sua função
religiosa e social é reconhecer que desde 1748, através de seus costumes habituais, a então
diocese vem legando à região um acervo histórico/artístico imenso. Refiro-me às igrejas com
todo o seu trabalho arquitetônico, escultórico e pictórico, mas também aos objetos de uso
cotidiano dos representantes da arquidiocese. Encontramos nos bens móveis a sua maior
riqueza. Vale ressaltar que o acervo da Arquidiocese de Mariana não compreende somente o
acervo encontrado no MAAS, mas todo aquele pertencente às dioceses e paróquias que estão
compreendidas no território coberto pela atual Arquidiocese.
O trabalho de pesquisa foi divido em três fases: observação do acervo, confecção e
preenchimento das fichas de identificação elaboradas; pesquisa histórica sobre os paramentos
em geral, sobre suas regras, as confecções, os tecidos e os galões freqüentemente utilizados
em sua produção; avaliação do acervo “in loco” e levantamento de dados históricos
disponíveis no Arquivo Episcopal da Arquidiocese de Mariana.
Este acervo têxtil foi eleito pela observação feita desde 2000, quando tivemos a
oportunidade, em diversas visitas, de constatar sua riqueza e homogeneidade, assim como,
averiguar a necessidade de um urgente processo de identificação para a correta valorização
das peças de elevado valor histórico.
A metodologia foi ancorada em processos de investigação coordenados envolvendo
pesquisa histórica, levantamento de fontes primárias escritas, análises organolépticas dos
objetos, estudo técnico do acervo e visita aos espaços de guarda e exposição. O conhecer o
acervo nos levou a percorrer bases teóricas de áreas diversas, como a conservação, a história
da cultura, a história dos tecidos e da indumentária, a teologia e a liturgia, deixando uma
12
riqueza de resultados, reforçando a interdisciplinaridade necessária à abordagem de
argumentos diretamente relacionados à conservação preventiva.
Conhecer o acervo implicava em um constante ir e vir, observando os tecidos,
fotografando, desenhando, pesquisando na Cúria de Mariana sobre seu histórico, levantando
dados que nos facilitariam identificar os paramentos, determinando suas denominações, usos,
formas, suas regras e aplicações.
As fontes básicas desta pesquisa quanto às regras e paramentos foram as Instruções de
Carlo Borromeo (1577)
4
, o estudo histórico dos paramentos de Braun (1914)
5
, o dicionário
Litúrgico de Rower (1947)
6
, o livro de Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana (1749-
1904)
7
, as Constituições Primeiras da Arquidiocese da Bahia (1707)
8
, a diversificada
legislação da Igreja Católica, os Missais Romanos, os Cerimoniais dos Bispos, os decretos das
Congregações dos Bispos, as Rubricas, documentos do Concílio de Trento (1563) e do
Concílio Vaticano II (1962), além das fontes sobre a história da Igreja no Brasil, como Azzi
(1992)
9
, Hoornaert (1994)
10
, Cônego Trindade (1955)
11
, Boschi (1986)
12
, entre outros.
As duas primeiras fontes foram adquiridas na Itália, quando da realização do projeto
de pesquisa e aperfeiçoamento no exterior, patrocinado pela bolsa Virtuose do Minc, em
2002. A pesquisa realizada teve como tema base os paramentos sagrados do MAAS de
Mariana, e a especialização foi feita em restauração e conservação têxtil, em Florença, sob a
orientação da prof. Laura Zaccanini, emérita historiadora e conservadora especialista em
têxteis.
Referidas obras não foram publicadas no Brasil, sendo, inclusive no exterior
consideradas fontes raras, o estando disponíveis para venda. A obra de Borromeo me foi
presenteada quando de minha visita aos ateliers de restauro e biblioteca do Vaticano, e a obras
de Braun, me foi fotocopiada pelo pároco da cidade de Sarzana, na Toscana.
4
Borromei, Caroli. “INSTRUCTIONUM FABRICAE ET SUPELLECTILIS ECCLESIASTICAE”. Libri II (1577).
Librerie Editrice Vaticana, Axios Group, INGRAF, Milano, 2000.
5
Braun S.I., Joseph. “Handbuch der Paramentik”. Herdersche Verlagshandlung, Freiburg im Breisgau, 1914.
6
Rower, Frei Basílio (OFM). Dicionário litúrgico para uso do Revmo. Clero e dos fiéis. 3
a
. Ed. Editora Vozes
Ltda, Petrópolis, rio de Janeiro, 1947.
7
Mariana. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana;
1749-1904. Livro P-16.
8
Constituições Primeira do Arcebispado da Bahia. Ordenada por Dom Sebastião Monteiro da Vide, propostas e
aceitas pelo Sínodo diocesano de 12 de junho de 1707. São Paulo: Typographia 2 de dezembro de Antonio
Louzada Antunes, 1853.
9
Azzi, Riolando. Os Bispos reformadores. Brasília: SER, 1992
10
Hoornaert, Eduardo et all. História da Igreja no Brasil. 4
a
. Ed. Petrópolis: Vozes, 1992, Tomo II/1 e 2.
11
Trindade, Cônego Raymundo. Arquidiocese de Mariana: subsídios para a sua história. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1955, Vol. II.
12
Boschi, Caio César. Os leigos e o poder:irmandades leifgas e política colonizadora em Minas Gerais. Sao
Paulo: Atica, 1986.
13
O estudo das regras quanto aos paramentos partiram da aquisição da obra Borromeo
(1577), reeditada pelo Vaticano, pela ocasião do Jubileu 2000. Referida obra é a base de
pesquisa das fontes de reflexão teológica e normativa para as formas artísticas no âmbito
litúrgico, que olha com atenção o momento capital para a História da Igreja: o Concílio de
Trento (1563).
O texto “De iis quae pertinet ad ornatum et cultum ecclesiarum”, que foi publicado
por Borromeo no III Concílio Provincial Milanês, realizado anteriormente à publicação das
“Instructiones”, colocou em evidência a importância de referida obra para o direcionamento
das ações de conservação e restauração dos bens sacros móveis e imóveis.
O valor da obra na época da contra-reforma foi além da diocese de Milão. O Papa Pio
IV pensou em determinar obrigatória a leitura para os candidatos ao Episcopado. Em 1688, o
Cardeal Orsini, futuro Papa Benedetto XIII, a fez traduzir para o italiano, com algumas
modificações para sua diocese em Benevento. Em 1749, o Cardeal Pozzobonelli impôs a
todos os párocos e religiosos responsáveis pelas paróquias de lerem as Instruções de
Borromeo, fazendo publicar diversos exemplares.
No inicio do XIX o Cardeal Luigi Fontana convidou o arquiteto Moraglia para a
tradução do livro das “Instruções”, o qual convida o latinista Leopoldo Brioschi. Em 1855 o
Abade francês Van Daival fornecia uma versão em francês para artistas e prelados da França,
enquanto George Wigley, em 1857, o traduzia para o inglês.
Em 1931 uma 2
a
. Edição da obra é aprovada pela diocese de Milão, sendo republicada
em 1936 e 1937. Em 1952 é republicada pelo Monsenhor Carlo Castiglioni e Dom Marco
Marcora. Em 1962 a reedita a tipografia Laterza, e em 1983 outra reedição foi curada por
Gatti Perer. As diferentes reedições e o sucesso no exterior vêm determinar a importância da
ação de Borromeo ao produzir um verdadeiro guia técnico e espiritual.
As regras de Carlo Borromeo, quanto aos paramentos, encontram-se no Livro II de sua
obra. É interessante observar que alguns passos da regra nos mostram tanto a preocupação em
fazer uma detalhada prescrição, como apresentar o estado de abandono no qual deveriam se
encontrar, àquela época, as igrejas e as paróquias visitadas pelo Bispo, a ponto de pensar na
necessidade de se formular uma regra geral é facilmente realizável nas dioceses.
Borromeo se preocupou em definir os materiais que deveriam ser empregados na
confecção dos objetos, os critérios dimensionais destes e, até mesmo, sua correta manutenção
e limpeza, insistindo na importância da prevenção da degradação física da manufatura e
daquilo que de sagrado o reveste. Determina desde a direção da construção da igreja até o
correto uso de materiais, para que estes não venham a se tornar agentes de futura degradação.
14
A interpretação estilística não é de responsabilidade da Igreja e Carlo Borromeo se
limita a sugerir uma série de soluções funcionais, permitindo, assim, um correto
desenvolvimento das funções litúrgicas, segundo as novas leis da reforma tridentina. Deste
modo, as normas aceitam exceções, não sendo taxativas, desde que venha alcançado o
objetivo previsto.
A segunda fonte, a obra de Joseph Braun S.I, publicada em 1912, em Freiburg e
reeditada em 1914, foi recebida com muita expectativa pelos estudiosos de liturgia, história e
história da arte, já que este era, até então, um campo misterioso, vasto e em grande parte
inexplorado.
Os litúrgicos que até o século XIX buscaram estudar tal argumento se limitaram às
fontes escritas, sendo que era necessário ampliar o olhar, buscando as fontes que se
encontravam nas igrejas, coleções particulares, museus, conventos e monastérios. Assim,
Braun estudou os paramentos através das diversas coleções, bem como, através de suas
representações em pinturas e esculturas de época.
Escreveu referida obra pelo convite de professores de diversos seminários nos quais
lecionava. Seria esse um compendio de seu trabalho, que atendesse sacerdotes e seminaristas
que mesmo com pouco tempo de estudo, deveriam saber sobre um argumento tão amplo e
importante, podendo ter acesso a seu conhecimento através de um prático manual.
Outra obra consultada nesta mesma linha foi o Dicionário Litúrgico de Frei Basílo
Rower, O.F.M., publicado em 1947 no Brasil, e que seguia ipsis litteris, nas determinações
dos termos, a referida obra de Braun. Referente livro me foi emprestado pelo Monsenhor
Flávio C. Rodrigues, de Mariana.
As Legislações Gerais da Igreja Católica, tais como Código Canônico, decretos da
Congregação dos Ritos, Cerimonial dos Bispos, Rituais de Ordenação, entre outros, foram
consultadas na biblioteca do Instituto Santo Inácio, bem como na biblioteca da Arquidiocese
de Belo Horizonte, além do exemplar dos documentos do Concílio Vaticano II, publicado em
CD-ROW pela Editora Paulus, 2003, e de Missais Romanos atuais e antigos, posteriores e
anteriores ao Concílio Vaticano II. As fontes documentais, como o Livro de Inventário da
Fábrica da Cathedral de Mariana entre outros, foram consultadas no Arquivo da Cúria de
Mariana.
Longas conversas foram realizadas com alguns ministros sagrados, como Pde. Luiz
Antônio de Ouro Preto, o Pde. Luiz Eustáquio Santos Nogueira do Instituto de Filosofia e
Teologia Dom José Resende Costa e o Pde. Danilo da Renovação Carismática Católica da
Arquidiocese de Belo Horizonte, que me direcionaram na pesquisa, discutindo sobre as
15
questões da liturgia e teologia, iluminando o caminho percorrido e apontando novos
percursos.
No Capítulo 1 apresentamos uma visão geral dos paramentos, através de breve
histórico de desenvolvimento do uso destes e dos tecidos para sua confecção, pela hierarquia
instituída pela Igreja Católica. Posteriormente buscamos nas fontes normativas vigentes à
época (e atualmente) esta realidade de confecção e uso. Assim, apresentamos reflexões sobre
as regras publicadas e largamente difundidas por Carlo Borromeo, desde 1577, como
Arcebispo de Milão e secretário de Estado do Vaticano. Tais determinações serviram de base
para diversas congregações e ordens religiosas por longos anos, após terem sido reiteradas
pelos Sínodos, posteriormente à data de sua publicação. Analisamos ainda, os preceitos legais
encontrados no Brasil e de acesso, desde sua publicação, à então Diocese e atual Arquidiocese
de Mariana, como as Constituições da Arquidiocese da Bahia e o Missal Romano.
O Capítulo 2 abrange o desenvolvimento histórico da Arquidiocese de Mariana e de
seu acervo têxtil, buscando reflexões diretas entre os momentos históricos que envolveram a
então diocese (hoje arquidiocese) e a aquisição dos paramentos, analisando ainda (e em
relação àquele) o Livro de Inventário das fábricas da Catedral de Mariana.
O Capítulo 3 se mostra como elo entre a pesquisa histórica e o estudo e análise do
estado de conservação do acervo, apresentando os conceitos que nortearam as ões que se
seguiram como estratégias de preservação, com ênfase no princípio de “conhecer para
valorizar”.
Discutimos sobre a questão dos bens eclesiásticos através das diferentes disposições
legais decretadas pela Igreja, com o intuito de incentivar e direcionar o processo de
valorização e conservação do patrimônio eclesiástico, argumento largamente defendido pelo
Papa João Paulo II. Além disto, de apresentamos o acervo têxtil do MAAS e os
procedimentos utilizados no processo de sua catalogação.
No Capítulo 4 refletimos sobre as investigações e os resultados obtidos quanto à
identificação do acervo, através da análise formal e estilística das peças, processo este
realizado através do estudo da forma dos paramentos (tendo como base a casula e a dalmática)
e dos materiais empregados (tecidos, ornamentos e fios metálicos), além da apresentação
estilística dos tecidos (com seus desenhos e estampas) e dos ornamentos em geral (bordados e
guarnições), comparados a paramentos estrangeiros encontrados na Itália do culo XVIII até
o final do século XIX.
16
Alguns materiais empregados na confecção dos paramentos do MAAS foram
anteriormente analisados pela Dra. Claudina Moresi (1998)
13
, química da
UFMG/EBA/CECOR, e seus resultados são aqui comparados aos resultados obtidos com a
análise formal e estilística do acervo.
No Capítulo 5 abordamos as questões quanto à conservação têxtil e sua importância,
apresentando os fatores determinantes do atual estado de conservação das peças em relação ao
seu material constitutivo, ao edifício em que se encontra acondicionada e ao Museu aonde
vêm ou devem vir expostas.
Finalmente, oferecemos no Capítulo 6 as conclusões finais dos dados levantados e das
análises feitas, buscando exaurir o objetivo primordial e inerente deste trabalho, que foi o de
estudar, conhecer e catalogar o acervo têxtil do Museu Arquidiocesano de Mariana, como
primeiro passo na preservação de sua história, que ricamente pode ser contada através das
tramas de seus tecidos.
Resgate, este, de valores e de memória, fundamentais para a justa conservação e
exposição, de modo a poder apresentar uma seqüência histórica e litúrgica de peças. Valores,
assim, resultado de um trabalho interdisciplinar, tão necessário à abordagem de argumentos
diretamente relacionados à conservação preventiva.
Deste modo, apresentamos o fruto deste trabalho apaixonante e extenso, realizado
intensamente, visando responder aos questionamentos iniciais. As pesquisas se estenderam
em uma riqueza de resultados, uma vez que tão interessante assunto é, ainda, argumento
raramente tratado no Brasil. Se o fazem nos seminários, poucos são aqueles que abordam a
evolução histórica dos paramentos, pois o também poucos os especialistas na história da
liturgia antes do Concílio Vaticano II.
13
Pesquisa apresentada e publicada no Congresso da Abracor. em 1998, intitulada “Estudo preliminar do acervo
têxtil do Museu de Arte Sacra de Mariana”.
17
PARTE I
18
CAPITULO 1
OS PARAMENTOS SAGRADOS DO CULTO CATÓLICO: UMA
VISÃO GERAL
1.1 Breve histórico do desenvolvimento do uso dos tecidos e da
confecção dos paramentos pela Igreja Católica
A confecção de um hábito se tornou uma atividade complexa, exigindo pessoas
capazes e, segundo os documentos existentes, homens, que fizeram nascer entre os séculos
XII e XIV novas figuras profissionais ligadas às vestimentas, que eram identificadas de
acordo com o tipo de trabalho que executava, tais como, costureiros, alfaiates de calças,
chapeleiros, bordadores e trabalhadores de metais.
Assim como acontecia no mundo profano, exibir a suntuosidade das sedas e veludos,
pela beleza das vestes dos mantos e paramentos eclesiásticos era um sinal de sucesso e poder.
Muita atenção e dedicação foram destinadas à realização dos paramentos.
A hierarquia do bispado da Igreja ocidental se inspirou nos motivos e tecidos
apresentados por Bizâncio (Igreja oriental), que através de Ravenna e Veneza fascinaram o
mundo europeu introduzindo regras diversas às vestes eclesiásticas. Do primitivo e singular
uso das sedas para envolver as relíquias, se passou a decorar as tumbas dos santos e enfeitar
os altares e a igreja. A partir do século VIII os tecidos vinham dependurados nas paredes das
igrejas e nas colunas, hábito comum ainda hoje na Europa, na épocas de festividades cristãs,
como podemos ver na FIG.02.
A B
FIGURA 1 -
Interior da Catedral de San Martino em Lucca, Itália. Paredes e colunas sem revestimento
de tecidos (A) e paredes e colunas com revestimento de tecido (B). FONTE: “La Cattedrale di San
Martino in Lucca”, fotos de Bellato e Ghilardi, 1998, p.30 e 44.
19
O Altar, teatro do rito eucarístico, era freqüentemente enriquecido com lâminas de
ouro e de prata, sendo que na falta destes materiais seus quatro lados eram cobertos com o
Coopertorium, ou seja, um tecido ricamente ornado. Depois do século XI, com o
aparecimento e difusão do dorsal (atrás do altar) e do afastamento dos altares para as paredes
da igreja, se iniciou a decorar somente a parte anterior do altar. Este tecido que passou a
revesti-lo recebeu o nome de antealtar, frontal ou antependium a o século XV, quando
passou a ser chamado paliotto (de palliare, que significa tampar, recobrir).
Aumentado o prestígio religioso, até assumir um peso relevantemente político,
começaram a se empregar os tecidos de seda nas igrejas, nos paramentos litúrgicos, nos
estandartes, nas vestes e nos acessórios dos padres. A partir do século XII aparecem os
cânones das cores e no XIII (até o século XV) muitas das vestes são encurtadas, devido ao
custo dos tecidos utilizados na confecção das peças e ao peso das vestes devido ao uso de
lâminas de ouro e prata e à decoração com pedras preciosas, muitas vezes utilizadas para a
substituição das cores vermelho, branco e verde.
Usavam-se tecidos de cores e qualidades diversas para diferenciar os graus
hierárquicos do clero oficiante e para conferir adequado esplendor às festas que eram
celebradas. Uma das despesas mais consideráveis era com as vestes e decorações
eclesiásticas. A presença do ouro recorria à idéia da recompensa divina e os motivos
decorativos dos bordados faziam recordar os temas da fé, da divulgação da imagem de uma
Igreja poderosa e triunfante.
Veneza teve uma posição privilegiada no comércio de tecidos preciosos e na
confecção de ricos vestidos, proposto pela conhecida influência do gosto oriental, vista
claramente nas formas arquitetônicas.
A cidade italiana que foi mais conhecida pela produção, exportação e importação de
tecidos foi Lucca, de onde era muito admirado o lampasso
14
, tecido de origem dio-oriental
(Antioquia). Era um tecido que muito agradava à alta sociedade e ao clero, que o enriquecia
com fios de ouro e prata. A seda e o chermes
15
vinham do oriente, e segundo A. Mascàro,
(1928), entrou no Ocidente através da civilização grega. Na Itália, os Etruscos
16
, por volta do
século VI foram os primeiros que se ocuparam desta arte, passando posteriormente aos
14
Tecido onde a trama é lançada por trás de diversas urdiduras até retornar a aparecer na parte no anteverso do
tecido.
15
Inseto do qual era produzido o pigmento vermelho intenso.
16
Povo que vivia na região onde hoje se encontra a Toscana.
20
romanos. Para enriquecer os tecidos haviam os batedores de ouro que faziam as chamadas
orpelli e argimpelli
17
para a tecelagem dos laminados.
Na metade do século XVI o comércio no Mediterrâneo sofre uma decadência devido à
nova rota: o Atlântico. Conseqüentemente, uma imensa crise afetou os países mediterrâneos,
particularmente a Itália. Não faltaram tentativas de reações por parte dos artesãos e artistas
italianos, cuja produção ficou impossibilitada de comerciar com os países além mar. Muitos
não se renderam e aproveitando do ouro e da prata que vinham das colônias, e com a
burguesia que se lançava em empresas industriais e comerciais, dedicaram suas atividades a
pesquisar manufaturas cada vez mais preciosas e caras.
1.2 Os paramentos sagrados e a hierarquia de uso
Tendo anteriormente apresentado a importância do acervo eclesiástico, primordial
se faz o conhecimento dos tipos de paramentos apresentados pela Igreja desde os remotos
tempos até os nossos dias. Com a modernização dos tempos e a praticidade exigida na
atualidade, muitos foram os tipos que caíram em desuso, mas que continuam a fazer parte da
história da Igreja. Encontramos poucas informações específicas sobre os paramentos, seja em
fontes primárias ou secundárias, sendo que, mesmo através de uma pesquisa oral, poucos são
aqueles que conhecem com propriedade o assunto.
Extensa pesquisa bibliográfica foi feita, no Brasil e na Itália, observando-se que a
maioria das publicações antecede o século XX e o oriundas da Alemanha. Os alemães
trataram de modo amplo este argumento, de grande importância para a Liturgia católica e
presbiteriana, mas sempre embasados no texto de Borromeo (1577). Tal legado foi certamente
o mais significativo já escrito sobre o assunto na história da Igreja Contra-Reformista.
Os critérios específicos que devem ser seguidos para a confecção dos paramentos, são
por muitos leigos ignorados, conhecendo-se de forma superficial as regras prescritas. Mas
como estamos tratando de um legado histórico, fortemente ligado à história da Igreja em
Minas Gerais e no Brasil, pela importância da Diocese e atual Arquidiocese de Mariana, o
podemos ignorar o fato que esses eram critérios seguidos, mesmo se apresentando oscilante
em alguns momentos da história.
Os paramentos litúrgicos são aqueles objetos utilizados ou que servem de ornamento
nas funções sacras, sendo sua importância e riqueza minuciosamente especificados já na
17
Pele de ouro e pele de prata, dos quais se produziam fios metálicos.
21
Bíblia. Seu uso específico e seu revestimento do sagrado vêm claramente descritos em
diferentes textos, como por exemplo, no Êxodo 29, quando da Sagração dos Sacerdotes:
1 «Mas eis o que me farás também para que me sejam consagrados nos
sacerdócio. (…) 4 Fará aproximar Arão e seus filhos da porta do testemunho.
E depois que tiveres lavado com água o pai e os seus filhos, 5 revestirás Arão
com as sua vestes, isto é com a túnica de linho, com o manto, com o efod, e
com o racional, que apertarás com o cíngulo. 6 E por-lhe-ás a tiara na cabeça,
e sobre a tiara a lâmina santa. 7 E derramarás sobre a sua cabeça o óleo da
unção; e com este rito será consagrado. 8 Farás também aproximar seus
filhos e os revestirás com as túnicas de linho e cingi-lo-ás com o cíngulo. 9
assim farás a Arão e aos seus filhos, e lhes porás as mitras, e serão meus
sacerdotes para um culto perpétuo.(…) 29 E as vestes santas de que Arão
usar, te-las-ão seus filhos depois dele, para que, vestidos com elas, sejam
ungidos, e as sua mãos consagradas 30 durante sete dias usará delas aquele de
seus filhos que for constituído pontífice em seu lugar, e que entrar no
tabernáculo do testemunho para ministrar no santuário. (Êxodo 1-30. Bíblia
Sagrada, p. 108-109)
Encontramos em tantos outros textos citações que determinam ou especificam o tipo
de veste a ser usada, o material em que foi ou devem ser constituídos, os ritos de sagração
dessas vestes e a importância de sua transferência a outros sucessores no decorrer dos tempos,
como podemos ver nas passagens do Ex 39, Le 8; Eb 5:1-10; 7:26-28, da Bíblia. Tais
testemunhos são a origem do caráter de sagrado que deve ser envolvido a todo e qualquer
objeto, para a consagração do divino entre os homens.
São diversos os paramentos da Igreja. Alguns deles têm caráter decorativo, são
ornamentos, como as vestes litúrgicas e as decorações do altar, do lpito e das paredes.
Outros, porque o utilizados com freqüência, têm importância prática, como por exemplo, o
corporal e a toalha de comunhão.
O caráter decorativo prevalece nos paramentos porque parte deles é destinada a
decorar pessoas, coisas e locais litúrgicos de modo conveniente à dignidade e à santidade
destes. O seu número é grande e deve ser ordenado em grupos, sendo a função à qual são
destinados que determinará o caráter de cada um. São três os grupos principais: vestes
litúrgicas, ornamentos de altar e da igreja e os paramentos de funções especificas.
Os paramentos apresentam, ainda, um tríplice ponto de vista, sendo eles:
1- a prática atual quanto a sua forma, qualidade e uso;
2- o desenvolvimento histórico quanto a forma, qualidade e uso;
3- o significado simbólico.
22
A prática atual é determinada por expressos ordenamentos da Igreja e pela consuetude
dos usos e costumes quotidianos, principalmente quanto ao regular modo de usar os
paramentos.
Quanto à forma” e à “qualidade” pouca coisa é expressamente determinada no geral.
São emanadas pelos Sínodos e limitadas a um território, sendo inseridas nos decretos
provinciais ou diocesanos.
Após o Concílio de Trento (1563), trata o assunto o Sínodo de Praga de 1860, apoiado
nas determinações do Sínodo de Praga de 1605 e sendo influenciado pelas prescrições de S.
Carlo Borromeo (1577). Porém, para a segunda metade do século XIX, as rígidas regras de
Borromeo se tornam de um zelo exagerado, servindo o Sínodo de 1860 somente para a
província de Praga, uma vez que, o que valia para uma diocese ou província não poderia ser
introduzido em outras partes sem a aprovação do Ordinário, nem mesmo em força de
aprovação papal concedida àquela prescrição particular.
As prescrições de valor universal, feitas em Roma, quanto à forma, qualidade e uso
dos paramentos, se encontram nos livros litúrgicos, nos Missais, nos Pontificais, nos Rituais,
nos Cerimoniais dos Bispos e nos relativos decretos gerais da Congregação dos Ritos.
As diretrizes tridentinas foram de singular importância, por ter sido o primeiro eixo
tomado pela Igreja como reação à Reforma Protestante e suas determinações vieram em boa
época a colocar ordem e prescrever certas regras necessárias à Igreja.
Qualquer mudança quanto às regras predeterminadas é questão, decididamente, da
alçada do bispo e somente através de suas expressas ações se pode alterar o uso, uma vez que
este é já direcionado por outras regras. Não se deveria mudar o uso de um paramento
previamente determinado, porque seria facilmente passível de gerar confusão e “escândalo”,
segundo os hábitos da época em que eram tratados. Se essas mudanças fossem contra as
prescrições gerais, seria necessário ter o cuidado de averiguar se aquele hábito não passaria a
ter um valor de lei e se não o tinha precedentemente. Se fosse um abuso, deveria ser
imediatamente eliminado.
À Congregação dos Ritos dever-se-ia apresentar apenas questões importantes. Em
outros casos, não determinados por lei e não habitualmente usados, era primordial que fosse
avaliado e determinado segundo os princípios gerais da moral, uma vez que não era
necessário que tudo fosse minuciosamente fixado por decretos.
Muitas decisões da Congregação dos Ritos quanto à forma e qualidade dos paramentos
nos últimos séculos são respostas a questionamentos particulares. Segundo a resposta, outros
23
interessados ou aqueles que apresentam os mesmos questionamentos, podem tê-la como
norma, mas sem que seja para esse uma obrigação.
Quando faltava uma expressa decisão eclesiástica de valor geral ou particular quanto à
forma, qualidade e uso dos paramentos, dever-se-ia seguir o hábito do uso consuetudinal.
Assim, ficava determinado como lei o que para tudo o mais tinha caráter de regra geral.
O Concílio Vaticano II foi o segundo eixo tomado pela Igreja em 1962, tendo como
base o retorno à característica principal do Rito Romano: a simplicidade. Desta forma, todas
as regras com relação aos paramentos litúrgicos foram condensadas segundo o artigo 128,
“(...) O que parecer convir menos à reforma da Liturgia, seja emendado ou
abolido; o que, porém, a favorecer, seja mantido ou introduzido. Neste
assunto, especialmente quanto à matéria e forma das vestes e utensílios
sagrados, o sagrado Concílio concede às Conferências dos bispos das
várias regiões a faculdade de fazer a adaptação às necessidades e
costumes dos lugares, conforme o art. 22 desta Constituição. (Concílio
do Vaticano II, CD-Rom, 2003, ed. Paulus. Grifo nosso).
O artigo 22 faz referência à regulamentação litúrgica, determinando que:
“compete à hierarquia: §1. Regular a sagrada liturgia compete unicamente
à autoridade da Igreja, a qual reside na Sé Apostólica e, segundo as
normas do direito, no bispo; §2. Em virtude do poder concedido pelo
direito, pertence também às competentes conferências territoriais dos
bispos, de vários tipos, legitimamente constituídas, regular, dentro de
determinados limites, a liturgia; §3. Portanto, ninguém mais,
absolutamente, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa,
acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica.
(Concílio do Vaticano II, CD-Rom, 2003, ed. Paulus. Grifo nosso).
O segundo ponto de vista trata do desenvolvimento histórico quanto à forma,
qualidade e uso e é baseado em fontes diversas, como paramentos antigos, esculturas e
escritos sagrados e de litúrgicos.
As melhores fontes são os próprios paramentos antigos, sendo que do período anterior
à Idade Média temos somente vestígios e da baixa Idade Média encontramos apenas
fragmentos de vestes litúrgicas. Fontes complementares para estes períodos podem ser as
esculturas existentes ainda hoje, em que se apresentam os ministros da Igreja, analisadas com
certas ressalvas, devido à liberdade de criação dos artistas, que nem sempre representavam a
realidade da época.
As fontes escritas são muito variadas e podem ser citados alguns exemplos como, os
livros litúrgicos, os Sacramentais, os Pontificais, os Missais, os Ordinários e os
Consuetudinários, os Rituais, os escritos de antigos litúrgicos, os documentos dos Concílios
24
gerais, os decretos dos Sínodos provinciais e diocesanos, as Vitae Sanctorum
18
e, por fim, os
inventários e registros dos paramentos conservados em Sacristias e usados nas funções
sagradas.
O terceiro ponto de vista é o significado simbólico, mas esse não se apresenta de modo
singular em todas as peças. Existem sim, aquelas que são revestidas por um particular
simbolismo, por diversos motivos, mas, de maneira geral, o simbolismo é acrescido às peças
em suas específicas funções e em determinadas situações.
Dentre os três grupos principais de paramentos (as vestes litúrgicas, os ornamentos de
altar e da igreja e os paramentos de funções especificas), este trabalho privilegiará as vestes
litúrgicas e as utilizadas em funções específicas. Existem alguns paramentos que são de uso
comum a todos os representantes da Igreja. Outros tantos são de uso específico de certos
representantes, determinando claramente para todos, através da linguagem visual, a hierarquia
existente na Igreja.
Este reconhecimento visual da hierarquia apresentada o poderia, e nem pode, cair
em erro. Esta é, até os nossos tempos, uma linguagem que todos deveriam reconhecer. A
hierarquia na Igreja se apresenta de acordo com o grau da Ordem à qual pertença seu
representante, ou seja às Ordens Menores e às Ordens Sagradas.
Os Ministros Ordenados pertencem às Ordens Sagradas e são o bispo, o presbítero e o
diácono, sendo que os bispos e presbíteros podem participar de diversas funções ou ocupar
cargos que lhes conferem títulos e insígnias. As Ordens sagradas ou maiores eram três: o
subdiácono, o diácono e o presbítero, sendo o bispo instituído com poder ordinário sob a
autoridade do Papa.
Os diáconos são os religiosos que estão no último dos sete anos de estudo que levam à
carreira clerical da Igreja Católica, podendo, posteriormente, se tornarem padres (FIG.2). Os
diáconos assistentes assistirão ao bispo no trono e nas Missas pontificais. Até o Concílio
Vaticano II existia uma outra função, inferior ao diácono, que era o subdiácono
19
, mas que foi
abolida.
Os presbíteros são os sacerdotes ou rocos que governam as paróquias e são também
chamados de padres, sendo os vigários
20
os auxiliares dos párocos (FIG. 3). Padre é o nome
ecumênico dos presbíteros, indicando aquele que recebe o sacramento da ordenação, tendo se
ingressado no Seminário, se tornado diácono e feito o voto de castidade.
18
Vidas dos Santos (História da).
19
Trataremos neste trabalho das vestes dos subdiáconos, uma vez que o objetivo é o estudo de um acervo
formado anteriormente ao Concílio Vaticano II, realizado entre 1962-1965.
20
Segundo Rower (1947), p.232, vigário é quem faz as vezes de alguém.
25
Assim, os bispos, prelados de alguma igreja, são a autoridade máxima da Igreja em
ordem, jurisdição e magistério, e governam as catedrais (FIG.5). Os bispos podem ser dados
pela Santa para auxiliarem outro bispo, sendo auxiliares se o têm direito de sucessão ou
coadjutor se m direito de sucessão
21
. O bispo sufragâneo é o bispo de uma diocese que,
juntamente com outras, forma uma Província eclesiástica.
22
O bispo que governa a sede patriarcal é o patriarca, e no caso da Igreja Católica
Romana, o é o Papa. Os bispos que governam uma sede primaz são primazes e devem ter o
título de arcebispo, os que governam uma arquidiocese são arcebispos (podendo ser um bispo
ou um cardeal) e os que governam uma arquidiocese metropolitana são arcebispos
metropolitanos.
É importante ainda esclarecer que a função de arcebispo, Papa e a de cardeal são
títulos atribuídos aos bispos. Aqueles bispos que são indicados ao cardinalato e que fazem
parte da escola dos bispos podem ser votados para ser Papa. No entanto, mesmo apresentando
referidos títulos, como grau máximo das ordens sagradas, são todos bispos.
Os núncios são os embaixadores do Vaticano, ou seja, aqueles que são os
representantes papais e que exercem funções diplomáticas em diversos países estrangeiros,
com título permanente, podendo ser bispos ou cardeais.
O monsenhor é um título honorífico concedido pelo Papa aos seus camareiros, a
alguns prelados e a alguns eclesiásticos.
23
O cônego
24
é o sacerdote secular que faz parte do Cabido
25
, ou seja do conjunto de
padres (cônegos) que rezam com o bispo o culto nas igrejas (FIG.4). Os cabidos das catedrais
formam ainda o Senado e Conselho do bispo, substituindo-o quando o governo estiver vago.
O vigário-geral é o auxiliar imediato do bispo. O vigário-forâneo
26
, também chamado
de decano, arquipresbítero e arcipreste, é o sacerdote constituído pelo bispo sobre um distrito
que consta de várias paróquias. Não possuem jurisdição, mas têm o oficio de vigiar sobre a
execução das leis eclesiásticas.
Existem ainda as Ordens Menores, da qual fazem parte, depois do Concílio Vaticano
II (1962), o diácono casado, o leitor e o acólito. Anteriormente tínhamos ainda o hostiário e o
exorcista. O diácono casado exerce função semelhante ao diácono ordenado, mas o seguirá
21
O direito de sucessão o determina o Código Canônico, onde a pessoa em referida posição de coadjutor tem o
direito de substituir bispo nos casos prescritos pela lei canônica.
22
Rower, 1947, p.53
23
Novo Dicionário Brasileiro Ilustrado Melhoramentos (1968), p. 356.
24
Rower, 1947, p.72
25
Rower, 1947, p.55
26
Rower, 1947, p.232.
26
as ordens sagradas. O leitor e o acólito fazem parte dos ministérios dos leigos, ajudando o
padre durante a Missa, em funções litúrgicas, como a comunhão e a leitura. A diferença entre
o acólito e o coroinha é que este último termo diz respeito aos meninos do coro que eram
chamados a auxiliar na celebração da Missa.
Lesage (1960), faz uma divisão das vestes seguindo a hierarquia existente. Desta
forma, nos apresenta as vestes dos ministros sagrados ou seja, as vestes dos presbíteros e
diáconos, as vestes e insígnias episcopais (bispos), as insígnias dos arcebispos, as vestes e
insígnias dos cardeais e as vestes e insígnias do Soberano Pontífice (Papa). As insígnias são,
por excelência, as peças que indicam a posição ocupada na hierarquia.
As vestes dos presbíteros são a veste clerical e a veste coral. A veste clerical é a
batina. A veste coral ou veste de coro, são aquelas usadas pelos sacerdotes, cônegos, bispos e
religiosos não oficiantes, com privilégios para o coro, procissões, pregações, etc, sendo a alva,
a sobrepeliz ou a cota e o roquete.
As vestes dos ministros sagrados, usadas por todos os oficiantes – os bispos, os
presbíteros, diáconos e subdiáconos - são amito, alva e ngulo ou cordão (vestes internas).
As insígnias dos presbíteros são o manípulo, a estola, a casula e o barrete, sendo sua veste
característica a casula. As insígnias do diácono e subdiácono são, respectivamente, a tunicela
e a dalmática (vestes externas).
Para os oficiantes da liturgia há duas insígnias, o manípulo e a estola, usados, de modo
e em ocasiões diversas, pelos bispos, sacerdotes e diáconos. A capa ou pluvial é uma veste
solene sem atribuição especial, podendo ser usada por todos os membros do clero e em
diversas circunstâncias.
As vestes e insígnias episcopais são distintas dos outros clérigos da Igreja, sendo
divididas em ordinárias, coral e pontifical, estendendo, tal distinção, aos patriarcas, primazes,
arcebispos e bispos não revestidos da dignidade cardinalícia. As vestes ordinárias são a batina
e o chapéu pretos, sendo nos detalhes que os distinguimos. As vestes corais o usadas para
celebrar ou assistir a uma cerimônia litúrgica, sendo, a batina roxa ornada de seda carmesim,
as peças do traje comum, barrete roxo e roquete ornado de vermelho. Para completá-la, temos
o mantelete, a mozzeta e a capa-magna. As vestes pontificais, usadas quando o bispo celebra
a Missa cantada (Missa pontifical), são a veste coral com capa e, ao chegar ao trono, tirando
a capa, põe o barrete, lava as mãos e, em seguida, reveste-se de amito, alva, cordão, cruz
peitoral, estola, túnica, dalmática, luvas, casula, mitra e enfim o anel. No altar recebe, ainda,
o báculo e o manípulo.
27
As insígnias dos arcebispos são o pálio e a cruz arquiepiscopal, sendo distinções
honoríficas, emanadas da Sé apostólica como símbolo da mais abundante participação à
dignidade e ao poder, inerentes ao pontificado supremo.
As vestes e insígnias dos cardeais são próprias e o podem ser concebidas a outros
representantes da Igreja. São símbolos da alta dignidade dos membros do Sacro Colégio, que
constituem o Senado do Pontífice Romano. Assim, as vestes e insígnias são aquelas citadas
para os arcebispos, com os detalhes em cores vermelhos. É-lhes reservada a cor vermelho-
escarlate.
As vestes e insígnias do Soberano Pontífice são diversas, sendo as habituais a batina
branca com faixa de chamalote providas de franjas ou borlas de ouro e calota ou solidéu
branco (FIG.7). Seus paramentos de cerimônias são, quase todos, iguais aos dos bispos, sendo
três, exclusivamente reservados: a falda, o fanone, a tiara e o subcinctorium, além do uso do
anel do pescador. O pálio é idêntico ao dos arcebispos. A rula usada atualmente é a cruz
sem crucifixo, usada nas vezes que a função litúrgica exige o uso do báculo. É precedido de
cruz de prata dourada semelhante às cruzes processionais. Ao lado da sedia gestatoria levada
em procissão vão os flabelos, leques grandes de pena de pavão.
De acordo com o QUADRO 1, p.30, criado para facilitar a visão direta e objetiva da
hierarquia de uso, podemos observar segundo cada ministro sagrado, as vestes que lhes
compete, bem como as cores e insígnias (Anexo A).
1.3 As cores litúrgicas
As cores litúrgicas são aquelas prescritas para os paramentos de acordo com o tempo
ou as funções sacras. Os diversos Ritos Cristãos apresentam um cânone específico de cores,
sendo que este se diferencia de acordo com a suntuosidade ou simplicidade do Rito.
Desta forma, cinco são as cores litúrgicas: branco, vermelho, verde, violeta e preto. O
amarelo e o azul podiam ser utilizados inicialmente como substituto de certas cores, mas
depois foram retirados do Missal, sendo proibidos pela Congregação dos Ritos
27
. As regras
para o uso das cores litúrgicas são determinadas pelo Missal Romano e pelo o Ritual Romano,
sendo acrescidos os decretos das Congregações de Ritos. A relação das cores não é
inicialmente feita de modo simbólico. Cada cor tem seus dias prescritos, segundo o calendário
litúrgico.
27
Conforme Braun, 1914, p. 38, Decr. Auth., no. 2704, 2788, 3082, 3191, 3779.
28
QUADRO 1
Os paramentos e sua hierarquia de uso
VESTES
PADRE
BISPO
ARCEBISPO
CARDEAL
PAPA
CÔNEGO
DIÁCONO
SUBDIÁCONO
AMITO X X X X X X X X
CAMISA/ALVA X X X X X X X X
CINGULO/CINTO X Branco X X X
COTTA/SOBREPELIZ X X X X X X X X
FALDA X
FANONE X
INTERNAS
SUBCINTORIO X
BATINA/SOTAINA
CASULA X X X X X X
DALMATICA X X X X X
TUNICELA X X X X X
EXTERNA
PLUVIAL X X X X X
BACULO X X X
CRUZ PEITORAL X X X X
ANEL PONTIFICAL X X X Pescador
ANEL EPISCOPAL X
ESTOLA X X X X X X X
FERULA X
MANIPULO X X X X X X X X
INSIGNIAS
PALIO Branco Branco
LUVAS X X X X
MITRA Branca Branca Branca Litúrgica
RACIONAL Alguns
bispos
SANDALIAS/SAPATOS X X X X
MEIAS X X X X
ORNAMENTOS
TIARA Processional
ALMUCIA X X X X X
BARRETE Branco
CAPA-MAGNA X X X X X
MANTELINO X X X X X
MURÇA Arminho e
veludo
ROQUETE X X X X X X
ASPECTOS
RELIGIOSOS
ZUCHETTO/CALOTTA
/SOLIDEO
Branco Borla de
cor
29
FIGURA 2 – Diácono e Subdiácono.
FONTE: Loreto, 2002, p. 88.
FIGURA 3 – Vestes Clericais. (A) Desenho da autora, (B e C)
FONTE: 1º. Catalogo do Museu de Arte Sacra de Uberaba, s/d, pp .31 e 26
FIGURA 4 - Vestes dos Cônegos com mozzetta, cota e barrete. (A)
FONTE: Lorêdo, 2002, p. 84 e (B) Foto da autora
A B
B C A
30
FIGURA 5 – Vestes Episcopais dos bispos e arcebispos.
FONTE: Lorêdo, 2002, pp. 272, 268.
FIGURA 6 – (A) Brasão Cardinalício e Vestes Cardinalícias. (B)
FONTE: Lorêdo, 2002, p.273 e (C) foto da autora
FIGURA 7 – Vestes do Papa. (A)
FONTE: Lorêdo, 2002, p. 300 e (B) foto da autora.
A
B
C
A
B
31
A cor branca deve ser usada nas festas da SS. Trindade, de Nosso Senhor Jesus Cristo
(menos no dia de paixão), no Corpus Domini, da SS. Virgem, do SS. Anjos, dos santos
confessores, das santas virgens ou não, mas não mártires, do nascimento de São João Batista,
nas festas principais de São João Batista, de São Pedro in Vincoli, da Cátedra de São Pedro,
da confissão de São Paulo, de Todos os santos, no dia dedicado a Igreja e o seu aniversário, na
consagração de altar, na consagração do Papa,no aniversário da eleição e coroação do Papa,
na eleição e consagração dos bispos, nas oitavas, nas missas votivas dos santos e mistérios,
nos dias entre a Páscoa e Pentecostes (exceto festas de santos e dos esponsais), no SS.
Sacramento (incluindo procissões e bênçãos), no sepultamento de crianças mortas antes do
uso da razão (7 anos), no batizado, no SS. Viático, nas bênçãos matrimonias, ao dar o SS.
Comunhão na Igreja fora da SS. Missa (neste caso pode-se usar uma estola branca ou a da cor
do dia).
28
A cor vermelha deve ser usada nas festas da vigia, nas festas e nas oitavas de
Pentecostes, na Paixão de Nosso Senhor e do precioso sangue, das Invenções e Exaltações da
Santa Cruz, nas festas de oitavas dos Apóstolos (quando não é prescrito o branco), dos santos
mártires, na eleição do Papa, nas missas votivas dos mistérios ou santos (de cor vermelha),
SS. Inocentes se no domingo (senão o violeta), e nas oitavas.
29
O verde é prescrito para os domingos e feriados entre a Epifania e a Septuagésima, na
SS. Trindade e o Advento (se não é feriado). No dia da Tempora e vigias com jejum se usa o
violeta e nos domingos de oitava, cores próprias.
O violeta é prescrito para os domingos do Advento, o tempo entre a Septuagésima e a
Páscoa (exceto sábado santo e quinta santa, que se usa o branco), nas Tempora e vigias com
jejum (exceto Pentecostes que é vermelho), nas missas da rogação, nos votivos da paixão de
Nosso Senhor, nas missas com caráter de penitência ou suplício, para qualquer necessidade,
para remissão dos pecados, para os doentes, para o tempo de guerra e de paz, nas procissões
no dia da Purificação, nas bênçãos das fontes batismais, na administração dos sacramentos da
Penitência e da extrema unção, do exorcismo que antecipam o batismo e no exorcismo.
O negro é prescrito para as missas dos defuntos, dos pré-santificados na sexta-feira
santa e sepultura dos mortos depois do uso da razão (depois dos sete (7) anos).
Em volta ao cânone das cores podem ser acrescentadas algumas observações práticas.
É de se observar que as cores prescritas para um tempo ou uma festa são prevista para o
período canônico e não civil daquele tempo e daquela festa. As cores valem para a função à
28
Conforme Braun, 1914, p. 39, Decr. Auth., no. 2740.
29
Conforme Braun, 1914, p. 39, Rubric. Ad normam Bullae “Divino afflatu” , tit. X, no. 4 (N.d.t). !o. nov. 1911.
32
qual é determinada e para qualquer outra que ocorra durante ou imediatamente após aquela.
Existem paramentos que serão sempre sujeitos a estas regras das cores, sendo eles: a casula, a
estola, o manípulo, o pluvial, as meias, as luvas, a dalmática e a tunicela. O cíngulo e o
conopeu podem ser da cor prescrita ou sempre brancos
30
. Nem mesmo para o pálio a cor do
dia é aquela necessária.
A cor rosa pode ser utilizada no lugar da violeta
31
nos domingos Gaudete (terço do
Advento) e Laetare (quarta da Quaresma), segundo o Cerimonial romano. Mas este não pode
ser puro, devendo se aproximar do violeta claro.
As regras que determinam as cores não determinam os degradês e tons. Desta forma,
valem todos os tons claros e escuros, puros ou não, para as cores predeterminadas. O que o
pode é valer o verde para o branco ou o marrom para o violeta. Os paramentos de tecidos de
ouro podem substituir os vermelhos, os verdes, os brancos, mas nunca os violetas e negros.
Os de fios de prata podem substituir os brancos.
32
Os tecidos podem ser de cores diversas, desde que haja uma cor principal que
predomine e que esteja entre as cores litúrgicas.
33
A cor predominante deve ser a do fundo que
determina a cor característica do tecido. Se ao contrário, o desenho é predominante, a cor será
aquela do desenho. O que não deve acontecer é o uso de duas cores, deixando o paramento
indeterminado
34
, ou seja, não é predominante nem a cor do desenho e nem a do fundo, porque
ou existe uma cor predominante ou o existe nenhuma e assim o paramento não pode ser
utilizado.
As regras do cânone litúrgico valem para os tecidos e não para os ornamentos. Não é
necessário que esses tenham uma das 5 cores litúrgicas, porque são acessórios e nada mais,
podendo inclusive ser omitidos.
Os paramentos brancos ideais para o uso ordinário são aqueles em brocatel
35
na cor
creme ou, melhor, aqueles trabalhados em amarelo, desde que o desenho seja moderado, isto
porque a cor branca suja muito. São sempre preferíveis os tecidos monocromáticos lisos,
adamascados e veludos operados ou lisos.
30
Conforme Braun, 1914, p. 40, Decr. Auth., no. 2194, 3035.
31
Conforme Braun, 1914, p. 40, L.2, C.13, no.11.
32
Conforme Braun, 1914, p. 40, Decr. Auth., no. 345, 3191, 3646.
33
Conforme Braun, 1914, p. 41, Decr. Auth., no. 2769.
34
Conforme Braun, 1914, p. 41, Decr. Auth., no. 2769, 2675, 2682, 2769.
35
São tecidos que apresentam efeitos de fios paralelos e soltos que saltam formando pequenos motivos
decorativos. Os efeitos podem ser obtidos com os mesmos fios que compõem a trama e urdidura, que
permanecem soltas na parte direita do tecido, ou através de elementos suplementares aparecendo pelo direito do
tecido e permanecendo soltos no verso do tecido. Possui um lado direito. No primeiro caso teremos os falsos
brocados e no segundo os brocados propriamente ditos. A urdidura é sempre em seda.
33
Como regra geral para a escolha dos tecidos, esta deve ser de acordo com as
circunstâncias para as quais será utilizado, sendo tratado caso a caso, pois os tons dependem
do uso e de circunstâncias particulares, como por exemplo a observação do ambiente no qual
serão usados os paramentos, se muito iluminado ou muito escuro, e ainda, se muito amplo ou
muito estreito, uma vez que trais vestimentas devem ser perfeitamente identificadas a uma
certa distância pelo fiel.
Segundo Braun (1914), o primeiro rastro de cor litúrgica aparece no século IX, de um
“ordo” romano daquele tempo e do escrito “De divinis officiis” do pseudo-Alcuino, que
indicam que na procissão da Purificação e na Cerimônia da Sexta-feira Santa se vestiam de
paramentos pretos. E o uso pode ser tão antigo quanto à função.
As cores atuais se desenvolvem em Roma no século XII, sendo as regras claras em
1200. Diz-se que o cânone romano é atribuído ao Innocenzo III, mas ele descreve aquilo que
havia encontrado na Igreja romana. O cânone que se formou em Roma no século XII é
fruto do tempo no qual dominava a tendência a tudo simbolizar, mas este tipo de cânone
litúrgico das cores se forma também fora de Roma e até mesmo de modo independente do
romano.
Os cânones ingleses dos séculos XIII e XIV foram muito instrutivos para a formação
do cânone romano, onde somente para as festas tinham as cores branca, vermelha e preta,
sendo estas as cores litúrgicas. Para os outros dias as cores são indeterminadas. Pouco a pouco
se estabelece que para os outros dias se use o amarelo e o verde, e em alguns lugares até
mesmo o azul, sendo acrescida à cor negra, o violeta para as funções de caráter de penitência
menos forte.
Parece que na Idade Média as cores não tiveram uma força obrigatória, mas sim de
costume local. Foi Pio V quem insere o cânone romano entre as Rubricas geral do Missal
Romano, dando assim, força obrigatória . Na França a regra local se conservou aa metade
do século XIX, enquanto que em outros locais a regra foi aceita no início do XVIII (até
mesmo no Rito Mozarabico). Somente o Rito Ambrosiano apresentava um cânone particular,
sendo interessante ressaltar o cânone de Ellwangen de 1574, onde se admitiam sete (7) cores:
branco, vermelho, preto, verde, amarelo, violeta e cinza (usado para a Quarta-feira de Cinzas).
É importante ainda observar o que apresenta Braun (1914) quanto a relação das cores
litúrgicas e as vestes do antigo testamento, acreditando que não eram relacionadas, uma vez
que o desenvolvimento do cânone litúrgico foi gradual. O Rito Mosaico se limita ao branco,
vermelho escarlate e dois tipos de cor púrpura. O que se adotou daquele tempo foi a tendência
a exprimir também com a cor dos paramentos o caráter e o senso de solenidade.
34
O significado simbólico foi amplamente exposto por Innocenzo III, indicando o
melhor modo de expressar à população as cores litúrgicas para orientá-los a compreender a
sua significação e seu uso nas festas.
Segundo ele, a cor branca era o símbolo de integridade e pureza. A cor vermelha
significava o sangue dos rtires por Cristo, o sangue de Cristo, a língua de fogo, a caridade
de dar a vida por Cristo. O preto exprimia espírito de penitência, de expiação e dor. O violeta
era afim ao preto e o substituía, o apresentando explicação mística. É símbolo da
penitência, aflição e expiação. O verde era usado quando não se usava o branco, o vermelho e
o preto. O amarelo se usava no lugar do verde como cor afim.
1.4 AS REGRAS DOS PARAMENTOS SAGRADOS
1.4.1 O Concílio de Trento e as regras segundo o
“INSTRUCTIONUM FABRICAE ET SUPELLECTILIS ECCLESIASTICAE”
de
Carlo Borromeo (1577)
Falar sobre regras escritas quanto aos paramentos é estar mencionando San Carlo
Borromeo (1538-1584), Bispo de Milão, nascido em Arona, formado em Direito Civil e
Canônico em 1559 pela Universidade de Pavia. Sobrinho do Papa Pio IV, em 1560 foi
nomeado Cardeal diácono com o título de S. Prassede, sendo escolhido pelo Papa para ser
secretário de Estado.
A obra de Carlo Borromeo foi criada em um dos momentos capitais da história da
Igreja, marcando a saída do Concílio de Trento e a criação das instâncias sinodais de
organização a serviço da fé. Foi a primeira iniciativa quanto à preocupação de se estar
regulamentando tudo aquilo que faz parte da Liturgia católica, fazendo referência aos
paramentos sacros e à decoração têxtil.
Situando de modo preciso a datação da publicação de tal obra, nos encontramos em
plena Contra-Reforma, em uma Milão atacada pela Peste Negra (1576-1577), que desolou boa
parte da Itália, sendo ali chamada a peste de San Carlo, devido ao particular modo como o
Cardeal lutou contra a epidemia.
Na Arquidiocese de Milão encontramos uma situação singular, que é a instituição do
Rito Ambrosiano, particular forma que apresenta a litúrgica ambrosiana, usada na Igreja
Milanesa e em algumas paróquias:
35
“É oportuno, antes de mais nada, esclarecer que "rito ambrosiano" tem um
sentido mais amplo que "liturgia ambrosiana". "Rito ambrosiano" indica o
contexto peculiar da vida da igreja ambrosiana e abarca o conjunto de
normas e usos culturais, jurídicos, administrativos próprios das igrejas locais
que se reportam à igreja metropolitana de Milão. Esta, no âmbito do ocidente
cristão, gozou de autonomia jurídico-eclesial a ponto de ter existência e
atividade de escolas eucológicas que criaram, ou assimilaram de outras
fontes, os formulários das orações e o conjunto das cerimônias para a liturgia
local. "Liturgia ambrosiana", portanto, é o conjunto do depósito eucológico e
o modo de celebrar as ações litúrgicas específicas das igrejas existentes no
âmbito do território que atualmente se reduziu a quase toda a arquidiocese de
Milão e a algumas outras localidades que fazem parte de outras dioceses.
(www.uol.com.br/Jubilaeum/rito_principal, 30.03.04, 08:54).
As suas origens o atribuídas a Santo Ambrósio (340-397), que ressalta os cantos em
dois coros dos hinos sagrados e dos salmos. Diferentemente do Rito Romano, emprega o
batismo por imersão e não por infusão, adota o período do Advento de seis semanas ao invés
de quatro, e é caracterizado pelo fato dos sacerdotes celebrantes não se direcionarem nunca ao
público, enquanto que durante a Missa solene vinte pessoas idosas fazem a oferta do o e do
vinho. A benção das casas é realizada durante as comemorações natalinas e não pascais.
Milão, por sua centralização, foi lugar de intercâmbios culturais e comerciais desde a
Antigüidade. Isso teve influência sobre as origens híbridas, sobre as diversas estratificações e
contaminações, sobre as múltiplas tonalidades teológico-litúrgicas e litúrgico-espirituais
presentes na sua liturgia e na sua redação pluri-secular.
A renovação pós-conciliar que se seguiu ao Concílio Vaticano II atingiu também a
Igreja Ambrosiana, obrigada a se perguntar se era legítima sua sobrevivência ou se deveria
canalizar-se para o Rito Romano. Concluiu-se que a liturgia ambrosiana tinha em si valores
tão grandes que justificam sua permanência no hoje eclesial: salva e incrementada, deve
igualmente renovar-se, sem falsificar a própria identidade. Daí o longo processo ainda em
curso de redefinição do ano litúrgico, das festas, do missal, da Liturgia Eucarística, do
Pontifical, da estrutura lingüística e do rito.
Ainda que pertencendo a uma diocese de rito específico, podemos observar nas regras
de Borromeo que as referências não se limitavam a um rito particular, mas ao rito geral,
romano, ao qual faz parte aquele ambrosiano, sendo determinado de modo claro, quando em
certas funções ou objetos, esses deveriam ser tratados de modo diverso segundo o rito eleito.
Sua regra se apresenta, assim, com caráter geral. A ação reformadora de Carlo Borromeo na
restauração do culto católico se expressa de modo claro na publicação das diretrizes que
deveriam nortear até a mais simples das capelas.
36
Borromeo era um amante das artes e um grande mecena. Naquela época, a Europa
vivia um momento singular, com os descobrimentos do novo mundo, com a nova mentalidade
científica que estudava a naturalia” e a “artificialia”, colecionava-as, e produzia diversos
tratados sobre os mais diversos assuntos.
E foi neste espírito de época, associado à grande e às determinações do Concílio de
Trento que Borromeo produziu o texto “De iis quae pertinet ad ornatum et cultum
ecclesiarum”, que foi publicado anteriormente às “Instructiones”, no III Concílio Provincial,
incitando a necessidade de se produzir uma obra que sintetizasse as ões de conservação e
restauração dos bens sacros móveis e imóveis.
Tal obra deve também à ação de dois homens, monsenhor Ludovico Moneta, que
acompanhou Borromeo nas visitas pastorais, e Pietro Galesino, liturgista que apresentou a
versão latina do tratado escrito em vulgar por Moneta.
Podemos aqui observar que, mesmo tendo o Concílio de Trento ocorrido em meados
do século XVI, quanto ao que se refere aos paramentos e alfaias, e mesmo à parte
arquitetônica, as instruções produzidas por borromeo, baseadas nos preceitos legais do
concílio tridentino, estiveram realmente ao acesso de todos quando de suas traduções: para o
latim no final do século XVII, para o italiano em meados do século XVIII e para outras
línguas a partir da segunda metade do século XIX.
Deste modo podemos compreender porque somente no século XIX aparecem
diretrizes específicas quanto aos paramentos, determinando os materiais, a forma, a
quantidade e o decoro com que os paramentos sagrados deveriam ser produzidos.
Carlo Borromeo fornece um elenco completo de objetos necessários aos sagrados
ministérios e a cada parte da igreja, de acordo com o número dos ministros oficiantes, a
necessidade e segundo a magnitude da igreja. De acordo com a solenidade dos Ofícios e das
várias categorias, os paramentos sagrados devem ser de vários tipos, aspectos e de diversos
valores para as diferentes jornadas litúrgicas. Além disso, alguns devem ser duplos, triplos,
quádruplos, quíntuplos, ou mais numerosos, segundo a necessidade de lavá-los e de trocá-los.
Borromeo arrolou os tipos, os números e a forma dos paramentos para que sejam
adequados à solenidade à qual foi determinado, segundo as exigências das regras dos ritos e
das instruções, partindo daquelas específicas à catedral, e seguindo para o colégio, as
paróquias e as igrejas simples. Elenca de forma precisa às regras, como em um código legal,
com um número pré-determinado.
Após longa análise das regras determinadas especificamente para as catedrais, o
colégio, as paróquias e as igrejas simples, foi possível observar que encontramos
37
pouquíssimas variações de uma para a outra, quando da determinação dos paramentos, quanto
aos tipos e quantidades, de um santuário ao outro, sendo estas variações correspondentes
àquelas específicas pertencentes a cada representante da Igreja, respeitando a ordem
hierárquica existente.
1.4.2 O caráter litúrgico-teológico da obra de Borromeo
A obra de borromeo é fruto de um momento preciso e de grande valor para a história
da Igreja Católica. A situação pré-tridentina era de grave desordem. Borromeo pretendia criar
ordem e dar clareza ao ambiente ideal para a celebração litúrgica, reestruturar a diocese
milanesa e instruir os visitantes através de um manual com respostas claras às determinações
tridentinas, de ordem prática e ideológica.
É importante ressaltar que o tratado de Borromeo deve ser analisado tendo-se em
conta o tratado Rationale Divinorum Officiorum” de Durando di Mende, do século XIII
36
,
uma vez que, a busca desesperada pelo significado simbólico de cada objeto não deve
ultrapassar a alegoria à qual faz referência, dando margem a interpretações fantasiosas.
O espaço arquitetônico desenhado por Borromeo é o espaço litúrgico na medida em
que assume uma função moral, que é didática enquanto se propõe como salvação. Era
necessário que até as formas das coisas se propusessem no interior das igrejas como renovado
sinal de uma constante atuação das virtudes teologais e dos preceitos, destinados a
transformá-las em prática quotidiana
37
.
Não é o caráter formal dos objetos, mas seu valor religioso. Pela sua natureza
informativa e didática, não se poderia permitir nada que pudesse levar ao erro de
interpretação. A atenção é direcionada ao aspecto funcional da arte, enquanto a função assume
uma alta configuração ética.
Segundo Bazoli e Daglio (2000), o verdadeiro sucesso da reforma católica reside na
praxi quotidiana e na questão do ritual. As instruções de Borromeo constituem a única
aplicação do decreto tridentino ao problema da arquitetura e das alfaias com a finalidade de
reformar a fábrica eclesiástica que se encontrava em total abandono, sendo que o espaço sacro
era considerado semelhante ao espaço público urbano.
36
Cfr. L. Grassi, a.c.,pp.11-12.
37
Tibaldi, Tristano e Valeriani, 2000, p.387
38
A Igreja deveria ser o lugar onde as características espaciais, funcionais e formais
conduziria o homem ao percurso espiritual que se concluiria na adoração do Santíssimo
Sacramento. Observa-se a preocupação do ideal teológico e litúrgico da contra-Reforma: a
centralidade da eucaristia, que elimina qualquer separação que impeça o fiel de contemplar a
celebração. Concretiza-se com a estrutura da igreja como escola, na ordem hierárquica da
igreja-instituição e da divisão entre o povo e o clero.
1.4.3 As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia
Vimos anteriormente a importância e singularidade da obra de Borromeo ao século
XIX, quando o Vaticano começa a apresentar, com caráter de regra geral, algumas diretrizes
quanto aos paramentos sagrados, visto que as questões artísticas, litúrgicas e teológicas
estavam bastante envolvidas.
Buscar o histórico dos paramentos em nosso país é percorrer a singular história da
Igreja no Brasil e identificar suas relações com a Coroa portuguesa e com a Santa Sé. Além
disto, é estar individualizando outras tantas questões, que se tornam cada vez mais
particulares à medida que nos afastamos dos principais centros urbanos em direção ao interior
das regiões.
Faremos aqui uma reflexão sobre o possível conhecimento e aplicação destas regras no
Brasil, com um recorte histórico do século XVIII ao XX, desde a época da criação da diocese
de Mariana à sua elevação a Arquidiocese.
No dia 12 de Junho de 1707 foram aprovadas no Sínodo Arquidiocesano da Bahia,
pelo 5°. Arcebispo D. Sebastião Monteiro da Vide, clérigo secular e Metropolitano do Brasil,
as “Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia”, que estavam sendo trabalhadas desde
1702.
Foram feitas sob um governo absolutista de Portugal, onde os privilégios existiam,
onde poderes diversos estavam ao arbítrio do Ordinário Eclesiástico, que ditavam as regras e
tinham o privilégio do foro misto, além de estar sob o olhar do Tribunal da Inquisição, que no
governo português trabalhava com afinco, foram indicadas e adotadas pelos bispos em todo o
Brasil, apresentando alterações necessárias, de acordo com os usos e costumes de cada
diocese.
Na época da independência, vários de seus artigos estavam em desuso. Com a
Constituição Política do Império muitos outros caducaram, como por exemplo a questão do
39
foro privilegiado, que dava certa imunidade à Igreja no Brasil, mesmo sendo baseado no
Direito Canônico.
A Constituição outorgada de 1824, caracterizava-se pela concentração de poder pelo
imperador e por uma política centralizada e autoritária. Era aristocrata e elitista, excluindo
90% da população brasileira ao acesso do voto e da participação política, representando
somente a classe dominante: os fazendeiros e empresários.
Quanto à questão da Igreja Católica, referida Constituição, no artigo 5
o
. afirmava que a
religião católica continuaria a ser a religião do império, mas acrescentava que os outros tipos
de religiões seriam permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso
destinadas, sem forma alguma exterior de templo. Assim, a Igreja continuava submissa ao
Estado e os direitos do padroado e do beneplácito
38
ainda estavam em vigor, dando ao
governo imperial o direito de intervir em assuntos eclesiásticos.
Segundo Ferreira (1853), no prólogo da Constituição da Bahia, referido documento foi
adotado pelos bispos do Brasil com as alterações necessárias, acomodadas aos usos e
costumes das dioceses, sendo ainda reservados aos bispos o direito de formalizar a
constituição a seus bispados para serem aprovadas pelos Sínodos. Mesmo adotando-a com as
alterações necessárias, certo era que a cada paróquia se recomendava a sua aquisição, tarefa
dificultada à época pelo alto custo daquela publicação, feita em Portugal e pelo grande
número de paróquias existentes no Brasil, muito superior ao número de impressão.
Foi finalmente reimpressa em São Paulo em 1853, depois de apurada revisão, tendo
sido analisadas e apontadas as partes que estavam ab-rogadas e aquelas derrogadas,
atualizando, assim, à época, que o Brasil carecia de uma Constituição Eclesiástica. Fator
interessante desta reimpressão foi a manutenção e apresentação das citações, entre outras, do
Direito Canônico, dos Concílios, dos Decretos Pontificais, das Doutrinas e Constituições
Portuguesas, e das Ordenações do Reino, que muito nos auxilia a verificar o conhecimento
das determinações da Santa Sé, sua obediência, sua aplicação e suas relações com o regime do
padroado.
É interessante observar ainda, que as tão recomendadas visitas pastorais pelo Concílio
de Trento, no Brasil foram iniciadas na Bahia por Dom João Franco de Oliveira (1692-1700)
e completamente realizadas a partir da vinda do 5
o
. Bispo, Dom Sebastião Monteiro da Vide,
38
O Padroado era o privilégio que o imperador tinha de intervir na nomeação de sacerdotes, no preenchimento
dos cargos eclesiásticos e no direito de criação das igrejas. O Beneplácito era o direito do imperador de examinar
todos os atos do Vaticano que entrariam em vigor no Brasil após o “Placet”, isto é, após o consentimento
imperial. Nota: www.consulteme.com.br/historia/crisimpe.htm, 21/05/05.
40
que toma posse em 22 de maio de 1702, que em seu governo visita pessoalmente todas as
paróquias da Arquidiocese.
Antes da aprovação da Constituição da Bahia em 1707, as dioceses brasileiras eram
sufragâneas às Constituições do bispado de Lisboa, mas que, nos dizeres de Ferreira (1853),
s/p, “não podião (sic) em muitas cousas (sic) accommodar (sic) a esta tão diversa Região,
resultando dahi (sic) alguns abusos no Culto Divino, administração da vida e costumes de
nossos súditos”. Viviam, assim, segundo o costumes pré-tridentinos, sem grandes
conformidades com as novas regras e diretrizes da Igreja.
Dom Sebastião Monteiro da Vide, na folha de aprovação da Constituição da Bahia,
demonstra claramente que o clero atuante no Brasil à época, tinha o conhecimento das regras
existentes e do dever de dar obediência ao decreto tridentino, afirmando:
“E parecendo-nos em tudo conformes (sic) aos Sagrados Cânones, Decretos
do Sagrado Concilio Tridentino, Constituições Apostólicas, e as que
convêm ao serviço de Deos (sic) nosso Senhor, salvação das almas de nosso
Diocesanos, bom governo espiritual da Igreja, e observância da justiça,
resolvemos mandal-as (sic) imprimir e publicar.” (Constituições Primeiras
do Arcebispado da Bahia, 1853, s/p.)
As Constituições da Bahia são divididas em quatro livros e cada livro é dividido em
títulos e artigos. Em diversos artigos podemos observar que se faz referimento à necessidade
da observância da hierarquia da Igreja, ao tipo de paramento e sua cor de acordo com o grau
da Ordem ao qual pertença, determinando ainda o material em que devem ser feitas, podendo
ser ou o guarnecidas e, se o fossem, com que material. Assim, veremos quais são estes
artigos, que tipo de determinação apresentam e, em alguns casos, sob qual regulamentação da
Santa Sé se regem
39
.
O Livro I apresenta os Sacramentos da Igreja que são sete: batismo, confirmação,
eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem e matrimônio. No título XII, artigo 41, tratando
do primeiro sacramento, o batismo, determina-se que o sacerdote, após examinar e purificar
sua consciência, deve lavar as mãos e vestir a sobrepeliz e estola roxa.
Deve ainda, segundo este artigo, benzer a água da pia batismal na forma que dispõe o
Ritual Romano, observando as cerimônias que se manda observar, e usará a estola roxa até as
palavras “Credis in Deum”, e antes de as dizer tomará a estola branca e com ela continuará
até o fim. No artigo 42 atenta para o caso em que for fazer o batismo por efusão e não por
39
As partes específicas quanto aos paramentos, material, cor e regras colocaremos em itálico para maior
destaque.
41
imersão, devendo ir jogando a água em forma de cruz sobre a cabeça, rosto ou corpo, e não
sobre os vestidos.
No título XXVII, artigo 95, quando trata dos Sacrários, especifica quanto ao material e
a forma deste, devendo ser dourado por fora e por dentro. Se por dentro o for dourado, que
seja revestido de cetim, damasco, veludo, raso carmesim ou tafetá da mesma cor. Os
corporais serão de linho fino ou de “hollanda” (sic) muito limpos.
No título XXVIII, artigo 98, determina que os sacerdotes que forem comungar irão
com a sobrepeliz e estola, assim como os demais clérigos. Determina ainda que os leigos
ocuparão lugares distintos segundo o sexo, e que indo comungar os homens, esses chegarão
ao altar sem as armas, salvo se for Cavaleiro da Ordem Militar, mas deve estar “composto no
traje”. O ministro lhes chegará uma toalha limpa e de bom pano à boca para que não caia
nenhuma partícula da hóstia no chão, não sendo admitido que se traga a toalha de casa.
No título XXIX, artigo 106, tratando da administração da comunhão ao enfermo, faz
referência ao uso do pluvial e estola, determinando a situação e o momento em que devem ser
retirados.
No título XXXIX, artigo 156, trata do modo em que os clérigos se devem confessar,
dizendo ser de “grande indecência e escandaloso abuso” confessar-se os sacerdotes estando
em pé, ou encostados, ou revestidos para celebrarem, salvo somente se lembrar depois
algum pecado.
No tulo XLII, artigo 170, lembra aos confessores que antes de administrar o
sacramento da penitência devem considerar que naquele ato representarão a pessoa de Cristo,
e que a grandeza de seu ofício os obriga a se comportarem não somente no interior da alma,
mas também no exterior, devendo estarem vestidos com o hábito clerical decente e honesto.
No título XLVIII, artigo 198, declara que os sacerdotes quando têm que administrar a
extrema-unção deverão revestir-se de sobrepeliz e estola roxa, devendo seguir o Ritual
Romano, ungindo o enfermo com os ritos e cerimônias ordenadas pela Santa Igreja.
No título XLIX, artigo 209, apresenta os graus ou Ordens Sacramentais, quatro
menores e três sacras. As menores são Ostiário, Leitor, Exorcista e Acólito. As sacras são
Subdiácono, Diácono e Presbítero ou Sacerdote. São ordens sacras devido aos votos que
fazem de castidade, não podendo tomar outro estado secular. O Bispo é o único ministro
ordinário da ordenação (artigo 210).
O Livro II trata do sacrifício da Missa. No titulo I, artigo 325, determina que os fiéis
devem ser instruídos também no sagrado mistério da eucaristia. A celebração da Missa
consiste o verdadeiro, real e único sacrifício da Igreja Católica. Cristo como Sumo Sacerdote
42
ofereceu este sacrifício, seu corpo e seu sangue, a Deus pela redenção do mundão na Ara da
Cruz.
Todo um ritual é realizado antes da celebração da Missa. O sacerdote estará no lugar
de Cristo oferecendo o sacrifício feito por Ele para a salvação do mundo. Desta forma deve se
preparar, buscando ter toda a pureza interior de sua alma, grande piedade e devoção exterior.
Deve se confessar e rezar as orações recomendadas pelo Missal. Além do mais, devem rezar
antes da Missa a oração que o papa Gregório XIII concedeu e que consta da Constituição da
Bahia. Ao final deve rezar a oração para depois da Missa, concedida pelo papa Clemente VIII,
para a remissão de todos os defeitos que na celebração possa ter cometido.
No título II, artigo 331 se recomenda que os sacerdotes devam ter tudo o que é
necessário à celebração do Sacrifício Divino, com gravidade, modéstia, repouso, e devoção
como se recomendam os Santos Padres e Concílios, devendo dizer, onde quer que celebrem,
as orações que estão ordenadas para cada coisa. Depois de revestidos, não devem falar, nem
escutar práticas ou outra coisa que os divirtam, os “tirando o pensamento e os olhos de tudo
que os possa distrair”.
“sairão com o barrete na cabeça, levando nas mãos o Calix com os
corporais em cima, e não porão (sic) o barrete em cima do altar, nem
galhetas, nem outra cousa (sic), que não seja precisa para o sacrifício: e não
tirarão (sic) o barrete passando por outros altares, senão onde estiver o
Senhor exposto, ou se levantar a hóstia, diante do qual se ajoelharão (sic)
com o barrete na mão, e os altares, onde estiver Sacrário, se ajoelharão (sic)
com o barrete na cabeça.” (Constituições Primeiras do Arcebispado da
Bahia, 1853, art. 331, p. 135)
No artigo 333 do título III, a constituição faz referência à obrigatoriedade de se
celebrar a Missa segundo o Missal Romano reformado, não tendo o ministro nenhuma
liberdade de criar bênçãos ou outras práticas que não aquelas recomendadas. Não poderão
dizer Missa de ofício novo sem aprovação Apostólica e da Arquidiocese, nem dirão outras
orações senão aquelas das Rubricas do Missal Romano e Folhinha de reza, e não farão a
Missa sem ao menos um acólito auxiliando.
No título IX, artigo 360, determina que as Missas não poderão ser celebradas se os
materiais de certos objetos não forem aqueles determinados pelos decretos conciliares, não
sendo ainda permitido a celebração da Missa se estes objetos e as vestimentas não estiverem
consagradas e bentas (respectivamente), ou se estas estiverem rotas ou indecentes, devendo
ser na cor conforme o ofício que se deve rezar. No altar deverá ter a:
“pedra d´Ara sagrada sã, que caibão (sic) a hóstia, e Calix (sic), e corporaes
43
sagrados, sãos, e limpos com suas guardas; e além disso duas toalhas, que
cubrão (sic) todo o altar, com aquela limpesa (sic) que convém ao
ministério de que servem: o Missal não seja roto, nem as Hóstias de farinha,
senão de trigo, (...) e o vinho bom” (...) “e no altar frontal decente na cor
com que usa a Igreja naquele dia”. (Constituições Primeiras do Arcebispado
da Bahia, 1853, art. 360 e 361, p. 143)
O Livro III trata dos clérigos, das procissões, das indulgências, dos ofícios divinos, da
pregação, do provimento das igrejas, das obrigações dos rocos, da forma da doutrina cristã,
breve instrução da fé, das obrigações das dignidades, cônegos, capelães, sacristãos,
tesoureiros, juízes, procuradores da igreja e dos ermitões.
Desta forma determina no Título I, artigo 438, p.175, que os clérigos devem ser
modestos compondo suas ões na vida, costumes, vestido, gestos, passos e práticas de modo
graves, devendo ser religiosos, para que o tenham ministério de anjos e obras de
demônios.”
No Título II, artigo 440, p.176, dita que, devem se abster de toda pompa, luxo e
ornato dos vestidos, para que sendo no estado clerical, não se pareçam com os hábitos
seculares, conveniando que tragam vestidos honestos” e “decentes”, convenientes às suas
Ordens, dignidade e estado, diferenciando de tudo o que não é do seu estado, mostrando na
decência, e honestidade dos trajes exteriores a puresa (sic) interior da alma, e assim o
encomendão (sic) os Santos Padres, e dispõem os Sagrados Cânones, e o Santo Concílio
Tridentino.”
É interessante observar os artigo 441 a 449 das Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia, (1853), que nos apresenta, de modo claro, que sabiam que o Concílio
Tridentino o havia determinado quais as vestes que deveriam ser usadas por cada ministro
sagrado. Regulamenta, sobre que hierarquia teria o privilégio de uso, as condições materiais,
modos, formas, cores e quando poderiam vestir certos tipos de paramentos:
“prohibe (sic) em particular alguns, deixando os mais em arbítrio dos
Prelados, conformando-nos com a disposição de direito, costume deste
Arcebispado, e do Reino, ordenamos, e mandamos, que todo o Clero de
Ordens Sacras traga vestidos externos compridos até o artelho dos pés
pouco mais ou menos, loba fechada com cabeção levantado, e capa, mas
não poderão (sic) trazer cauda, e as mangas poderão (sic) ser do mesmo de
que forem as lobas, ou de outra cousa da mesma cor preta.” (Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 441, p. 176)
“E quanto aos vestidos interiores poderão trazer roupetas (sic), e
calções de seda, conforme a sua possibilidade, mas da cor preta, parda ou
roxa, sem guarnições, passamanes, galões, espiguilhas, alamares de ouro,
prata, dourados ou prateados, e os gibões poderão ser das mesmas cores,
ou brancos de linho, ou Hollanda (sic).” (Constituições Primeiras do
44
Arcebispado da Bahia, 1853, art. 442, p.177)
As meias poderão ser de seda, ou de lã, pretas, pardas escuras, ou
roxas, e não trarão ligas de seda com rosas, como costumão (sic) os
seculares, nem com pontas, ou rendas de ouro, prata, ou retroz, e poderão
usar fitas, ou sendaes (sic) para apertarem as meias. Não poderão trazer
sapatos picados, ou golpeados, salvo por alguma enfermidade.
(Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 443, p.177)
Os barretes serão de quatro cantos feitos de pano, sarja, ou gala, ou
cousa (sic) semelhante, forrados de tafetá negro, ou de outro forro da
mesma cor. Os chapeos (sic) serão de formas ordinárias, e com sua trança
de retroz, ou fita, mas não os trarão com as abas levantadas com presilhas
ao modo dos seculares, senão com a modéstia que requer o estado.
(Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 444, p.177)
“Quando estiverem em fazendas do campo (...) poderão usar de
vestidos de cor, com tanto que não seja vermelha, encarnada, verde clara,
nem mesclada destas três cores, e serão cumpridas até o meio da perna, e
sem as guarnições, que acima ficam prohibidas (sic).” (Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 445, p.177)
Somente as Dignidades, Conegos, Vigários, e os Clérigos que
tiverem grãos de Doutores, ou Licenciados poderão trazer um anel, o
qual tirarão quando disserem a Missa.” (Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia, 1853, art. 446, p.177)
Estando em casa poderão usar roupões de cores preta, parda, ou
roxa, azul, ou outras honestas, e não encarnada, vermelha, verde, ou
amarela, e sem as guarnições acima prohibidas (sic).” (Constituições
Primeiras do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 447, p.177)
“E os Clerigos in minoribus que trouxerem a tonsura aberta, usarão
dos mesmos trajes, que temos determinados às Ordens Sacras (...) e não
andando em habito clerical não gozarão do privilégio do foro, como está
determinado pelo Sagrado Concílio Tridentino.” (Constituições Primeiras
do Arcebispado da Bahia, 1853, art. 449, p.177)
Os Títulos seguintes determinam as proibições de atividades, lugares a serem
freqüentados, o uso de armas, de vestes curtas, de sair de noite, de participar de jogos de azar,
de danças e comédias, entre outras, de não participar estreitamente e singularmente, somente
dos rituais e da vida da Igreja.
A partir do Título XIII, artigo 488, vem tratar das procissões. No artigo 497 nos indica
que as procissões deveriam ser solenes e bem ornadas com pompa e majestade,
principalmente a do Santíssimo Sacramento, sendo que os ornatos necessários são
determinados pelo Missal Romano. No artigo 500 determina, inclusive que, as cidades no dia
da procissão devem estar limpas e ornadas com “ramos, e flores, e as janelas, e paredes
consertadas, e armadas com sedas, panos, alcatifas, tapeçarias, quadros, imagens de Santos, e
outras pinturas honestas, quanto lhes for possível.”.
No Título XIX, artigo 510, p.197, quanto às vestes do Coro, determina que aqueles
que deste devem participar na Sé, devem estar vestidos “com sobrepeliz, sem terem sobre elas
outro vestido, salvo as dignidades e cônegos, porque estes podem ter murças, e na Quaresma
45
as vestes, que nella usão (sic).
No Título XXV, artigo 525, determina que nenhuma pessoa tomará posse da igreja se
não tiver sido anteriormente colado pela arquidiocese por imposição do barrete.
Encontramos no Livro IV, Títulos XXII a XXVI, artigos 706 a 727, as determinações
quanto aos ornamentos. Desta forma, no artigo, o argumento se introduz, tratando da
quantidade de ornamentos e móveis. Afirmam não poderem dar regra certa nessa
Constituição, reconhecendo as diferenças que poderiam existir entre uma diocese e outra, tais
como tamanho e riqueza, mas vêm determinar que, mesmo assim,
“bem se póde, e deve dar em os haver” (os ornamentos e móveis)
“necessariamente em cada uma dellas para o culto de Deos (sic), celebração
da Missa, e Officios Divinos. Pelo que mandamos, que em cada uma das
Igrejas de nosso Arcebispado haja precisamente ornamentos, e moveis para
se celebrar com decencia, e limpesa” (sic). (Constituições Primeiras do
Arcebispado da Bahia, 1853, 706, p.258)
O artigo 707 inicia com a determinação das regras para os altares, para a celebração
do Santo Sacrifício da Missa, para outros Ofícios Divinos, procissões e para as Igrejas onde
houver o SS. Sacramento. No Título XXIII, artigo 708 e 709, da sagração e benção dos
altares e vasos, quando faz referência à forma como devem ser realizadas, determina que
devem seguir as regras ditadas pelo Pontifical Romano.
No artigo 710, p.260, vem especificamente tratar das vestimentas e ornamentos
pertencentes ao Santo Sacrifício da Missa, determinando que essas devem ser bentas
segundo o Pontifical e Cerimonial Romano, estendendo-se a regra àqueles ornamentos
particulares dos bispos.” Àqueles que usarem destes sem serem bentos, deverão ser
“castigados com as penas que merecer sua culpa”. Cita ainda que, outras coisas da igreja, e
incluindo as toalhas dos altares, não precisam ser bentas, mas melhor se o forem.
No Título XXIV, trata do modo como deverão ser guardados os ornamentos e quanto
ao empréstimo e outros usos, determinando no artigo 711 que devem estar sempre limpos e
concertados. No artigo 712, obriga, com prazo de três meses da publicação das Constituições
da Bahia, que as igrejas tenham nas sacristias “almarios ou caixôes (sic) grandes bem
fechados, e limpos para guardarem”.
O artigo 713 trata da proibição do uso profano das coisas da igreja, bem como do
empréstimo a outros. No artigo 714 condena o uso, pelos responsáveis da guarda dessas
coisas, em suas casas ou outro lugar profano. Aceita o empréstimo entre igrejas da mesma
cidade, ou lugar, e para as anexas e filiais, desde que sejam para o culto Divino.
46
No Título XXV trata da obrigação de fazer inventário dos bens e o Livro de Tombo e
no Título XXVI, vem tratar dos ornamentos velhos e das medidas que deveriam ser tomadas
perante esses.
Assim, no artigo 725, p.263, determina que os ornamentos que estiverem em
desacordo com as regras ou velhos, podem ser reformados com coisas novas, ou uns com os
outros, de maneira que possam servir ao uso decentemente. Se não mais servir, deve-se
“queimar e enterrar as cinzas dentro da Igreja, ou lançar nos sumidouros das pias
baptismaes”(sic). No artigo 726 determina o mesmo procedimento para os vestidos das
imagens.
Podemos afirmar que, as regras da Igreja sobre os paramentos eram de conhecimento
do alto clero brasileiro. No entanto, apresentando nosso país diferenças enormes em relação
ao Velho Mundo, não era possível aplicar rigorosamente referidas regras, nem exigir uma
homogeneidade, quanto às peças, entre todas as igrejas. Mas, vê-se que eram aqui conhecidas,
sendo por alguns seguidas, funcionando efetivamente a partir da realização das visitas
pastorais feitas pelos bispos em suas dioceses, como medidas de fiscalização.
Devemos recordar que, dioceses e arquidiocese deveriam, ainda, ter constituições
próprias, que seguiam, primeiramente, as regras gerais da Igreja ditadas pela Santa através
de suas leis e, posteriormente, as Constituições da Arquidiocese da Bahia.
1.4.4 O Concílio Vaticano II
O Concílio Vaticano II foi o segundo eixo tomado pela Igreja em 1962, tendo como
base o retorno à característica principal do Rito Romano: a simplicidade. Desta forma, todas
as regras com relação aos paramentos litúrgicos foram condensadas segundo o artigo 128,
“(...) O que parecer convir menos à reforma da Liturgia, seja emendado ou
abolido; o que, porém, a favorecer, seja mantido ou introduzido. Neste
assunto, especialmente quanto à matéria e forma das vestes e utensílios
sagrados, o sagrado Concílio concede às Conferências dos bispos das
várias regiões a faculdade de fazer a adaptação às necessidades e costumes
dos lugares, conforme o art. 22 desta Constituição.
O artigo 22 faz referência à regulamentação litúrgica, determinando que:
“compete à hierarquia: §1. Regular a sagrada liturgia compete unicamente
à autoridade da Igreja, a qual reside na Sé Apostólica e, segundo as
normas do direito, no bispo; §2. Em virtude do poder concedido pelo
direito, pertence também às competentes conferências territoriais dos
47
bispos, de vários tipos, legitimamente constituídas, regular, dentro de
determinados limites, a liturgia; §3. Portanto, ninguém mais,
absolutamente, mesmo que seja sacerdote, ouse, por sua iniciativa,
acrescentar, suprimir ou mudar seja o que for em matéria litúrgica.”
O ano litúrgico foi revisado, como nos apresenta o artigo 107 e 108, buscando
conservar-se de modo que venha a se reintegrar aos costumes e tradições dos tempos
litúrgicos, de acordo com as circunstâncias atuais, orientando os fiéis, em primeiro lugar para
as festas do Senhor, que celebram os mistérios da Salvação, em precedência às festas dos
Santos. É permitido adaptações de lugares, desde que sejam feitas segundo os preceitos dos
artigos 39 e 40 deste decreto.
Os artigos 109 e 110 determinam a importância que deve dar à quaresma,
principalmente aos sacramentos do batismo e da penitência. E o artigo 111 discorre sobre as
festas dos santos, sua importância, e que, devem ser celebradas somente “por uma Igreja
particular ou nação ou família religiosa, estendendo-se apenas à Igreja universal as que
festejam santos de inegável importância universal.”
As alfaias são tratadas no capítulo VII, da “arte sacra e alfaias litúrgicas”. No artigo
122, determina o que se compreende pela dignidade das arte sacras, que
“Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, de pleno direito,
as artes liberais, e muito especialmente, a arte religiosa e o seu mais alto
cimo, que é a arte sacra. Elas espelham, por natureza, a infinita beleza de
Deus a ser expressa por certa forma pelas obras humanas, e estarão mais
orientadas para o louvor e glória de Deus se não tiverem outro fim senão o
de conduzir piamente e o mais eficazmente possível, através das suas obras,
o espírito do homem para Deus”.
As alfaias sagradas devem contribuir “para a dignidade e beleza do culto, aceitando no
decorrer do tempo, na matéria, na forma e na ornamentação, as mudanças que o progresso
técnico foi introduzindo.”
A Liberdade de estilos artísticos é tratada nos artigos 123 a 126, deixando claro os
pontos que regem os requisitos para que um objeto seja considerado sacro ou o, que “A
Igreja nunca considerou seu nenhum estilo de arte, mas aceitou os estilos de todas as épocas,
segundo a índole e condição dos povos e as exigências dos vários ritos, criando assim no
decorrer dos séculos um tesouro artístico que deve ser conservado cuidadosamente”, contanto
que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos ritos e edifícios
sagrados.
48
Os Ordinários é que devem cuidar destas questões, “promovendo e incentivando a arte
verdadeiramente sacra, visando antes à nobre beleza que à mera suntuosidade”, sendo esta
regra aplicada também às vestes e ornamentos sagrados.
Quanto à tutela e o julgamento das obras de arte, devem os Ordinários do lugar ouvir
“o parecer da Comissão de arte sacra e de outras pessoas particularmente competentes; se for
o caso, outros eminentes peritos, bem como as Comissões de que falam os arts. 44, 45, 46”. E
assim, “os Ordinários vigiarão com todo o cuidado para que não se percam nem se alienem as
alfaias sagradas ou obras preciosas, que embelezam a casa de Deus.”
No artigo 128 o decreto do Concílio Vaticano II, determina que devem ser revistos os
regulamentos quanto à arte sacra,
“nos livros litúrgicos, conforme dispõe o art. 25, os cânones e
determinações eclesiásticas atinentes ao conjunto das coisas externas que se
referem ao culto sagrado” (...) “O que parecer convir menos à reforma da
Liturgia, seja emendado ou abolido; o que, porém, a favorecer, seja mantido
ou introduzido.”
E quanto “à matéria e forma das vestes e utensílios sagrados, o sagrado Concílio
concede às Conferências dos bispos das várias regiões a faculdade de fazer a adaptação às
necessidades e costumes dos lugares, conforme o art. 22 desta Constituição.” Determina,
ainda, que, “convém que o uso das insígnias pontificais seja reservado às pessoas eclesiásticas
que possuem a dignidade episcopal ou gozam de especial jurisdição.”
1.4.5 O Missal Romano Atual
O Missal, segundo Rower (1947) é o:“livro litúrgico, que contém os formulários a
empregar na celebração das Missas com as rubricas e cerimônias a observar.” (p.152). E o
Missal Romano seria o: “Missal que contém a Liturgia da Missa de Rito Romano.” (…) Foi
reformado por “Pio V, o qual sofreu reorganizações posteriores até Bento XV, em 1920,
sendo, porém, sempre típica a edição de Pio V.” (p.153).
Na Quinta-feira Santa de 2000, Sua Santidade João Paulo II aprovou a revisão da
Institutio Generalis Missalis Romani, o Missal Romano. Essa nova revisão substitui a edição
de 1975 da Institutio Generalis.
De início, é importante que se compreenda que a Institutio revisada aparece como um
prolongamento direto da Constituição da Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium) do
49
Concílio Vaticano II e da antiga Instrução Geral do Missal Romano (Institutio Generalis
Missalis Romani) de 1975. Assim como estes dois documentos iniciais, as prescrições da
nova Institutio
40
(Anexo B) devem ser vistas como maneiras concretas de especificar e
sublinhar a natureza e a importância da sagrada liturgia na vida da Igreja.
No que concerne aos objetos sagrados e ao calendário litúrgico, são grandes as
diferenças se olharmos o Missal da primeira metade do século XX. Hoje a Missa não requer
mais a pompa que uma vez era exigida. O ambiente simples, moderno e sem muitos objetos é
o ideal.
O documento apresenta várias modificações quanto à purificação dos utensílios
sagrados. Os utensílios são colocados na credência ou em um corporal. Depois da Missa são
purificados pelo sacerdote, diácono, um dos co-celebrantes, ou um diácono instituído (art.163
e 279). O Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística está excluído da lista de pessoas
que podem purificar os utensílios sagrados.
Descreve-se e se recomenda o uso do "sacrarium", onde se deita a água usada na
purificação dos utensílios sagrados e a roupa branca, (art.334) que se mencionou brevemente
nos documentos litúrgicos anteriores.
Os materiais de alguns objetos sagrados são ainda de relevada importância. Quanto
aos utensílios sagrados, foram adaptados os parágrafos sobre os utensílios sagrados dando
maior ênfase ao caráter sagrado como "claramente distintos dos (utensílios) de uso diário".
Pode-se usar materiais sólidos que se considerem nobres segundo a apreciação comum na
região. Sobre esse assunto a Conferência Episcopal emitirá seu critério, com confirmação da
Sé Apostólica.
A Bênção de Objetos Sagrados é de suma importância. uma ênfase mais forte em
toda a Instutio revisada no cuidado de todas as coisas para o uso litúrgico. Isto inclui tudo o
que está relacionado ao altar e os livros litúrgicos, que devem ser tratados com "reverência
dentro da ação litúrgica como sinais e símbolos do sobrenatural e, assim, manter sua
verdadeira dignidade, beleza e distinção". Por isso, o sacrário, o órgão, o púlpito, a cadeira
presidencial, as vestimentas sagradas dos sacerdotes, diáconos e ministros leigos, os utensílios
sagrados e tudo o que é destinado para o uso da liturgia deve receber a bênção necessária.
40
Missal Romano. Restaurado por decreto do Sagrado concilio Ecumenico Vaticano II e promulgado pela
autoridade do Papa Paulo VI. Rio de Janeiro: Ediçoes Paulinas-Editora Vozes, 1992.
50
CAPITULO 2
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ARQUIDIOCESE DE
MARIANA E SEU ACERVO TÊXTIL
2.1– Breve histórico da Arquidiocese de Mariana
A cidade de Mariana situa-se a 110 km a sudoeste de Belo Horizonte. Foi a primeira
capital de Minas Gerais e suas origens remontam a 1696, quando bandeirantes paulistas
descobriram ouro abundante na região, surgindo, assim, o povoado à margem do Ribeirão do
Carmo. O nome atual lhe foi dado em 1745, em homenagem à rainha Maria Ana d’Áustria,
esposa de Dom João V.
Surgiu mais tarde a diocese, em 02 de fevereiro de 1748, pela bula papal “Candor
Lucis Aeternae”, com a posse canônica de Dom Frei Manoel da Cruz, cisterciense e primeiro
bispo de Mariana. Antes da data inaugural da diocese, a Província das Minas Gerais, in
spiritualibus”, dava obediência aos bispos do Rio de Janeiro. Depois de cento e sessenta anos
foi elevada à categoria de arquidiocese, juntamente com o bispado de Belém do Pará, por um
mesmo documento pontifício (“Sempiternam Humani Generis”), de o Pio X, em 01 de
maio de 1906.
O território coberto pela diocese primaz de Minas, aproximadamente um quinto do
Estado, hoje es repartido entre seis províncias eclesiásticas e diversos episcopados,
compreendendo um total de 123 paróquias em 79 municípios e uma área de 22.680 km².
FIGURA 8 – Mapas da região da Arquidiocese de Mariana
FONTE: Arquidiocese de Mariana, Guia geral, 2000, p.13.
O L
S
N
51
Durante a história da Arquidiocese de Mariana, podemos ver no governo espiritual
oito antístites e quatro arcebispos. Destes, sete vieram de congregações religiosas
(cisterciense, dominicana, franciscana (2), lazarista, salesiana e jesuíta) e cinco eram
presbíteros da ordem secular de São Pedro. São eles:
1. Dom Frei Manoel da Cruz (1748-1764);
2. Dom Joaquim Borges de Figueroa (1772-1773);
3. Dom Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis (1773-1779);
4. Dom Frei Domingos da Encarnação Pontevél (1779-1793);
5. Dom Frei Cipriano de São José (1798-1817);
6. Dom Frei José da Santíssima Trindade (1820-1835);
7. Dom Antônio Ferreira Viçoso (1844-1875);
8. Dom Antônio Maria Corrêa de Sá e Benevides (1877-1896);
9. Dom Silvério Gomes Pimenta (1897-1922);
10. Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1922-1960);
11. Dom Oscar de Oliveira (1960-1988);
12. Dom Luciano Mendes de Almeida (1988).
É relevante esclarecermos que no período de 1748-1875 Mariana contou com bispos
estrangeiros, sendo que somente em 1877 representantes brasileiros têm acesso ao governo da
Diocese.
Ao analisarmos a relação de bispos e arcebispos no decorrer do período de 1748-2004,
segundo o QUADRO 2 podemos observar que após Dom Frei Manoel da Cruz (1748-1764),
Cisterciense, vindo do Maranhão, Mariana passou por uma vacância de sete anos (1764-
1772). Sucessivamente a este período, tomaram posse através de procuradores sem pisar o
território de Mariana, Dom Joaquim Borges de Figueroa (1772-1773), sendo transferido, logo
após, ao Arcebispado da Bahia e Dom Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis (1773-1779),
que residia na China (Macau), quando foi escolhido. Em sua viagem de regresso, deteve-se
em Portugal, de onde administrou Mariana através de procuradores, durante cinco anos e oito
meses.
O quarto representante foi Dom Frei Domingos da Encarnação Pontevél (1779-1793)
que, residente em Mariana, presenciou em seu governo o episódio da Inconfidência Mineira,
tendo por volta de oito padres do seu clero envolvidos. Viveu seus últimos anos em Ouro
52
1748 DIOCESE DE MARIANA 1906 ARQUIDIOCESE
SÉCULO XVIII SÉCULO XIX SÉCULO XX
1748
1764
1772
1773
1779
1793
1798
1817
1820
1835
1844
1875
1877
1896
1897
1922
1960
1988
1748-1764
A
1764-1772
P
1772-1773
China
1773-1777
1777-1793
A
1793-1798
1798-1817
A
1817-1820
1820-1835
A
1835-1844
1844-1875
A
1875-1877
1877-1896
A
1896-1897
1897-1922
1922-1960
1960-1988
1988-2004
Dom frei
Manuel da Cruz
+/-
8 anos
-
1 ano
+/-
6 anos
Dom frei
Domingos da
Encarnação
Pontevél
+/-
5 anos
Dom frei
Cipriano de São
José
+/-
3 anos
Dom frei Joée
da SS. Trindade
+/-
9 anos
Dom Antônio
Ferreira Viçoso
+/-
2 anos
Dom Antônio
Maria Correa de
Sá e Benevides
-
1 ano
Dom Silvério
Gomes Pimenta
Dom Helvécio
Gomes de
Oliveira
Dom Oscar de
Oliveira
Dom Luciano
Mendes de
Almeida
QUADRO 2
HISTÓRICO DE GOVERNO DA DIOCESE E ARQUIDIOCESE DE MARIANA
LEGENDA
Bispos Presente
Ausente
Dom Joaquim
Borges de Figueroa
Governou por
procuração
Dom Bartolomeu
M. Mendes dos
Reis
Governou da China
Ano de governo
1°. Arcebispo
Arcebispos
Presente
53
Preto. Após Dom Pontevél, foram cinco anos de vacância, até que tomou posse Dom Frei
Cipriano de São José (1798-1817).
Dom Frei José da Santíssima Trindade (1820-1835), o sexto bispo de Mariana, teve
uma importância singular, reabrindo o seminário desativado por nove anos. Em seu governo o
Brasil adquire sua independência política sendo, inclusive, chamado à Corte para a
consagração do novo Imperador, por razões que veremos adiante. Dom Antônio Ferreira
Viçoso (1844-1875), nascido em Portugal, chegou ao Brasil com 32 anos em 1819. Era
Lazarista e trouxe da França as Irmãs Vicentinas para cuidarem da formação feminina do
Colégio Providência.
Dom Antônio Maria Corrêa de e Benevides (1877-1896) foi o primeiro brasileiro a
ocupar o trono episcopal de Mariana. Era professor do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. O
sucede Dom Silvério Gomes Pimenta (1897-1922), nascido na diocese de Mariana
(Congonhas), e que esteve por diversas vezes em Roma e Jerusalém, tendo sido padre
Conciliar do Vaticano I e participado do Concílio Plenário Latino Americano. Foi o primeiro
Arcebispo de Mariana, em 1909, com a elevação de Mariana a Arquidiocese. A custa de
muito empenho conseguiu a preciosa colaboração de religiosos que foram bem acolhidos no
bispado.
Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1922-1960), vindo do Maranhão, era Salesiano e
seu sucessor, Dom Oscar de Oliveira (1960-1988), foi padre Conciliar no Vaticano II.
Atualmente encontramos, Dom Luciano Mendes de Almeida (1988), da Ordem dos Jesuítas,
doutor em Filosofia (1965) em Roma.
Tendo esta visão geral dos personagens célebres que estiveram à frente, e ainda estão,
como é o caso de Dom Luciano, podemos destacar alguns nomes, buscando na história
política a importância de suas presenças e realizações. São eles: Dom Frei Manuel da Cruz
(1748-1764), Dom Frei Domingos da Encarnação Pontevél (1779-1793), Dom Frei José da
Santíssima Trindade (1820-1835), Dom Antônio Ferreira Viçoso (1844-1875), Dom Antônio
Maria Corrêa de e Benevides (1877-1896), Dom Silvério Gomes Pimenta (1897-1922),
Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1922-1960).
Dividiremos este percurso histórico, que perpassa três séculos, em quatro (4) fases.
Identificaremos a primeira fase como de Formação (1748-1777), a segunda do período
Colonial (1777-1835), a terceira do período Imperial-Republicano (1835-1897) e a quarta do
período Moderno (1897-2004). Esta divisão não foi feita aleatoriamente, indo de encontro às
propostas de identificação do acervo atualmente acondicionado no Museu Arquidiocesano de
Arte Sacra de Mariana, como será demonstrado a seguir.
54
Como anteriormente citado, antes de 1748, a Província das Minas Gerais dava
obediência espiritual ao Bispado do Rio de Janeiro. Após este período, observamos que a
instituição do Bispado de Mariana coincide com o início da colonização das Minas Gerais e
com a descoberta do Ouro. Mariana era a capital das Minas Gerais, sendo formada por volta
do final do século XVII.
Encontramos no período de formação da diocese (1748-1777), com exceção do
primeiro bispo, uma fase que não apresentou grandes feitos, uma vez que a partir de 1764 os
dois governos seguintes foram vacantes, totalizando, aproximadamente, quinze (15) anos sem
um representante episcopal.
Em 06 dezembro 1745, através do “Moto Próprio Candor Lucis Aeternae”, o papa
Bento XIV (1740-1758) cria a diocese de Mariana e em 27 de fevereiro de 1748, Dom frei
Manuel da Cruz é nomeado e toma posse dando procuração a Lourenço José de Queirós
Coimbra e Vasconcelos, que até 17 de dezembro de 1748 rege a diocese. Em 28 de novembro
do mesmo ano, tem-se a entrada solene de Dom Manuel, que em 05 de dezembro faz a
profissão de e o juramento de estilo perante o presidente do Cabido Dr. Geraldo José de
Abranches, Arcipreste da Sé de São Paulo e Arcediago na Catedral de Mariana
1
.
O período que se segue é de vacância de quase oito (8) anos “e cujos danosos
resultados facilmente se avaliam, fato que se de atribuir à situação de recíproca
desconfiança, criada entre as cortes de Roma e de Lisboa pela questão dos Jesuítas”
2
, e ainda
se estende por aproximadamente mais sete (7) anos, uma vez que os dois governantes
seguintes não vieram a Mariana, governando por procuração
3
.
A segunda fase (1777-1835) se caracteriza por importantes acontecimentos o
somente em Minas Gerais, mas em relação ao Brasil, contando com três governos históricos
para a diocese, de Dom frei Domingos da Encarnação Pontevél, Dom frei Cipriano de São
José e Dom frei José da Santíssima Trindade. Vemos intercalada uma vacância entre os três
governos, por um período total, aproximado, de oito (8) anos
4
.
1
Segundo Trindade, 1955, pp. 73, 79, 80, 100, vol.2.
2
Segundo Trindade, 1955, p. 146, vol.1.
3
O segundo bispo, Dom Figueroa toma posse em 03/02/1772 por procuração ao Dr. Francisco Xavier da Rua,
não vindo jamais a Mariana. O terceiro bispo é Dom Bartolomeu que de Macau foi transferido para o Brasil em
08/03/1772. Toma posse por procuração através do Dr. Francisco Xavier da Rua de 19/12/1773 até 12/12/1775;
Dr. José Justino de Oliveira Godin de 12/12/1775 a 24/05/1778; e nego Doutoral Inácio Correia de de
24/05/1778 a 29/08/1779. In: Trindade, 1955, pp. 146, 147, 148, vol. 1.
4
Dom Pontevél foi nomeado por D. Maria I em 20/11/1777, confirmado pelo papa Pio VI em 1778, tomando
posse pelo procurador Cônego Inácio Correia de em 29/08/1779. Sua entrada solene em 25/02/1780. Falece
em 16/06/1793. Em seguida, é nomeado frei Antônio Robalo, monge de o Bernardo em junho de 1794. É de
supor que recusou porque não tem registro de sua confirmação. O sexto nomeado e quinto governante foi Dom
Cipriano, sob o qual recaiu a escolha da Rainha que o apresentou ao papa em 21/10/1796, sendo confirmado em
55
A questão das vacâncias demonstrava que a coroa considerava a nomeação do bispo
para o Brasil como parte da carreira que ia de Angola para o Brasil e, em seguida, para
Portugal.
Nesta segunda fase a Colônia presencia o movimento da Inconfidência Mineira e o de
Independência da Coroa portuguesa. Este período é marcado pela singular forma de controle
do Estado, onde a Igreja se submetida ao Regime do Padroado, que se esgotará somente
com a separação definitiva da Igreja e o Estado com a Proclamação da República. Até então, a
Igreja era subordinada ao Estado. Era um braço da Coroa.
A analise desse Regime é de suma importância para o entendimento da situação da
Igreja no Brasil perante à Coroa Portuguesa e ao Vaticano. O Padroado português é definido
como uma combinação de direitos, privilégios e deveres concedidos pelo
papado à Coroa de Portugal como patrona das missões e instituições
eclesiásticas católicas romanas em vastas regiões da África, da Ásia e do
Brasil. Esses direitos e deveres advinham de umarie de bulas e breves
pontificais, tendo começado com a Inter Caetera de Calisto III em 1456 e
culminado com a Praecelsae devotionis de 1514”. (Boxer, 2002, p.243)
O Padroado régio poderia ser entendido no contexto da história medieval
5
e estava
baseado no fato de o rei ser o grão-mestre de três tradicionais ordens militares e religiosas de
Portugal: a de Cristo, a de São Tiago da Espada e a de São Bento, a partir de 1551
6
.
Conferia o direito de administração e cobrança dos dízimos eclesiásticos ao monarca
lusitanos. Era ele quem apresentava o nome dos escolhidos para ocupar o governo das
dioceses, paróquias e benefícios eclesiásticos, além de ter o dever de construir e conservar
edifícios de culto, remunerar o clero e promover a expansão da fé. Para controlar a Igreja o
Estado dispunha ainda da Mesa da Consciência e da Ordem
7
, que procedia às nomeações
eclesiásticas. A origem do Padroado é fundamentada no Regalismo, onde se tinha a
intromissão do poder civil nos negócios eclesiásticos.
1797, toma posse por procuração pelo arcediago Antônio Álvares Ferreira Rodrigues em 20/09/1798; chantre Dr.
Francisco Pereira de Sto. Apolônia; Dr. Quintiliano Aves Teixeira Jardim (Vigário-geral). Sua entrada solene
foi em 30/10/1798, falecendo em 14/09/1817. Dom frei José da Santíssima Trindade foi o sexto governante
tomando posse em 28/09/1835.Segundo Trindade, 1955, pp. 151, 160, 161, 162, 175, vol.1.
5
Segundo Dornas Filho, 1983, p. 46, a base da fundação do princípio do padroado, era ter sido dada à Ordem de
Cristo, que foi criada pelo papa João XXIII, a pedido do rei, para impedir que os bens dos Templários de
Portugal e Algarves, ordem que estava em ruína, passassem à Ordem dos Hospitaleiros, em prejuízo do Rei,
além da vontade de formar um corpo de bravos combatentes sob a bandeira da cruz para vencer os inimigos da
fé.
6
Hoornaert, 1994, p. 12
7
Hoornaert, 1994, p.247 Suspensão dos provimentos das catedrais. Carta da Mesa a dom Manuel da cruz,
comunicando sobre a obrigatoriedade de representação à Mesa da Consciência e da Ordem (Tribunal do Império)
quanto a queixas, provimentos, paramentos, fábricas, reedificação, criação de novas igrejas, aumento de
côngruas, e “finalmente de todos os negócios espirituais” . Extinção da Mesa em 1828.
56
O clero secular deveria atender às necessidades dos sacramentos, que eram
considerados obrigatórios. Ser cristão na colônia significava adotar costumes portugueses
(cristãos por nascimento e direito).
A evangelização do Brasil se deu inicialmente através de quatro ordens religiosas,
dependentes do Padroado Real de Lisboa: os jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos,
além de duas outras ordens que dependiam da De Propaganda Fide de Roma: os capuchinhos
e oratorianos
8
, sendo que os capuchinhos eram franceses, mais precisamente bretões, antes de
1698, vindo os italianos posteriormente, enquanto que os oratorianos eram portugueses
9
.
Pombal, através de suas ações, garantiu que a Igreja estaria estreitamente ligada ao
Estado. As paróquias foram organizadas a partir da chamada “legislação pombalina”
10
de
1755
11
. Como nos apresenta Boxer (2002):
“Uma das razões principais da obsessão antijesuítica de Pombal foi sem
dúvida sua concepção, levada ao extremo, do absolutismo real e a
determinação de subordinar a Igreja, em quase todas as esferas, ao controle
rígido da Coroa. Sem consultar Roma, ele removia sumariamente qualquer
prelado que caísse no seu desagrado. (...) Pombal chamava o rei, nos
decretos oficiais, de grão-mestre da Ordem de Cristo (e de Avis e de
Santiago), embora, pela lei canônica, o monarca reinante fosse apenas
“governador e administrador perpétuo”. No texto de um decreto real
promulgado em abril de 1757, atribuía à Coroa “o poder de fundar, em
qualquer dos meus domínios, igrejas e mosteiros para as ordens reconhecidas
pela Santa Sé, sem a permissão dos bispos, párocos, ou de nenhum outro
eclesiástico”. Manteve durante dez anos o rompimento completo de relações
diplomáticas com o papado, consentindo com o reatamento em 1770. (p.201-
202)
Assim,
“Os jesuítas, por sua organização interna não podiam se articular dentro da
estrutura estatal regalista de um absolutismo ilustrado. A estrutura
centralizadora em Roma não combinava com os novos Estados nacionais e
com o regalismo neles vigentes. Os Estados combatendo os jesuítas estavam
combatendo Roma e o clericanismo em geral”.
12
Em relação ao Brasil, esta questão foi defendida por D. João V que, mesmo tendo sido
considerado o monarca mais subserviente à Santa Sé, estava disposto a lutar por seus direitos
8
Hoornaert, 1994, p. 28
9
Hoornaert, 1994, p. 35 e 36.
10
Política maranhense de grandes dimensões articulada por D. José I (1750-1777), que se chocou com o poderio
político, econômico e moral dos missionários da região, resultando com a expulsão dos jesuítas em 1759. In:
Hoornaert, 1994, p. 45.
11
Hoornaert, 1994, p. 14
12
Prien, 1978, 348, citado por Hoornaert, 1994, p.46 e 47.
57
de padroeiro do Brasil, recusando de modo inflexível, permitir que qualquer ordem religiosa
se fixasse em Minas Gerais. Segundo Boxer (2002),
“essa política de início foi adotada sob o pretexto de que frades renegados
estavam contrabandeando ouro das áreas de mineração. Sua continuidade
deveu-se, provavelmente, à determinação da Coroa de evitar a despesa de
manutenção de conventos e de mosteiros para o clero regular numa região de
onde estava decidida a extrair até a última onça de ouro do quinto real.
Houve queixas constantes ao longo do século XVIII sobre a mediocridade de
grande parte do clero secular de Minas Gerais. Até certo ponto, a culpada
dessa situação era a Coroa, que, por não fornecer a manutenção adequada
aos padres das paróquias com o dinheiro que recolhia os dízimos, forçava-os
a pedir mais dinheiro a seus paroquianos”. (p.260)
Segundo Hoornaert, (1994), os bispos residentes no Brasil não podiam corresponder-
se diretamente com Roma e “na prática nunca viajavam para a fim de realizar a tradicional
visita ad limina, por causa da distância e custos”. Praticamente não houve comunicação entre
Roma e a Igreja do Brasil, sendo que “tudo deveria passar por Lisboa a fim de preservar a
hegemonia comercial do Estado português”. (p. 67)
As relações com o Vaticano foram novamente rompidas de 1833 a 1841. Tanto a
monarquia liberal como a república anti-clerical que lhe sucedeu em 1910, embora hostis ou
indiferentes em relação à Igreja na metrópole, fizeram tudo para manter as pretensões
históricas do Padroado.
Podemos comprovar a veracidade desta realidade, pelos fatos narrados por Rubert
(1993) das ações, inúteis, feitas por Dom José Caetano da Silva Coutinho, bispo do Rio de
Janeiro desde 1808, nomeado por D. João VI que, em segredo, procurou fazer chegar aos
ouvidos do Papa Leão XII,
“a inconveniência de conceder ao imperador do Brasil os direitos plenos do
Padroado, quando em 26.08.1824, envia pessoalmente, por meio de Mons.
Vidigal, uma carta ao Papa, seguindo a 08.10.1824 uma outra a Mons.
Camilo Rossi, residente a Roma, prevenindo-o que faça chegar a instância
superior diversas objeções contra a concessão do padroado régio ao
imperador do Brasil. (…) “Em 15 de maio de 1827, o Papa Leão XII, pela
bula “praeclara”, concede a Dom Pedro I e sucessores o Iuspatronatus, sendo
admoestado expressamente a apresentar bispos e párocos dignos, conforme
as prescrições do Concílio de Trento, além de se empenhar na conversão de
numerosos índios pagãos do país”. (p.15 e19)
O rei propunha ao papa o nome daquele que ocuparia o novo cargo episcopal, ou seja
nomeava o representante episcopal que queria, devendo ser confirmado o aceite de referida
pessoa pelo papa, e em seguida, este tomaria posse direta ou por procuração, até que pudesse
58
se instalar em seu novo governo. Este era o sistema de indicação para a ocupação dos cargos
eclesiásticos no Brasil, não partindo da Santa Sé, mas do Rei de Portugal.
Deste modo vemos na indicação de Dom Frei José da Santíssima Trindade (1820-
1835) feita por Dom João VI em 1818, um fato singular: de próprio punho, após o pedido de
confirmação do Rei à Santa Sé, frei José escreve ao Vaticano, diretamente ao papa,
solicitando sua aprovação para a posse.
Segundo Oliveira (1998), o bispado de Mariana em contraste com outros bispados
mais antigos, tinha apresentado desde os dois governos precedentes a Dom José,
representantes que não eram doutores da Igreja, requisito privilegiado pela Santa Sé. Isto
contribuiu para a posse de frei José, que também não possuía doutorado, mas que se mostrou
seguidor dos princípios do Concílio Tridentino, mesmo sob o Regime do Padroado,
confirmado pela carta que escreveu ao papa, ressaltando a fidelidade manifesta ao Sumo
Pontífice e sua devoção à Santa Sé.
Foi com Dom frei José da Santíssima Trindade que vemos as primeiras visitas
pastorais em toda a diocese, entre o período de 1821 e 1825
13
. Como afirmou ao tomar posse,
“com tudo e por tudo quero ser sempre muito unido e obediente à Santa Sé Apostólica
Romana”
14
.
E assim, tentou fazê-lo, no que lhe foi possível, e através dos relatórios das visitas
pastorais, podemos conhecer a verdadeira situação das paróquias e capelas da diocese naquele
período. As visitas pastorais serviam de levantamentos detalhados elaborados através de
relatórios feitos para a Santa Sé, sendo determinado e definido pelo Concílio de Trento e
deveriam ser realizadas pelos bispos.
O relatório descreve de modo abrangente o tipo de acervo e o estado em que se
encontravam os bens eclesiásticos que estavam nas, então, 68 igrejas paroquiais e 215 capelas
curadas naquele período. No contexto de Minas Gerais, foram realizadas investindo-se de dois
aspectos: ação doutrinária e instrumentalização da política colonizadora do Estado
Português
15
.
Dos relatos deixados das visitas de Dom frei José, podemos confirmar uma outra
situação importante na diocese de Minas Gerias: a ignorância ou heterodoxismo do clero,
naquela época, em termos espirituais, como cita Oliveira, (1998), as palavras de Vieira
13
Trindade, José da Santíssima, Dom frei. Visitas Pastorais de Dom frei José da Santíssima Trindade (1821-
1825); estudo introdutório Ronaldo Polito de Oliveira, Texto de José Arnaldo Coelho de Aguiar Lima e Ronaldo
Polito de Oliveira. Belo Horizonte: Centro de estudos históricos e culturais. Fundação João Pinheiro; IEPHA,
1998.
14
Segundo Trindade, 1955, p. 183, vol.1.
15
ibidem ref. 13.
59
(1980), quando faz referência ao clero em geral, “envolvido em política, negligente em seus
deveres espirituais e flagrante violador das regras do celibato” (p.27).
Diversas são as passagens encontradas nos relatórios de Dom frei José, que vêm a
demonstrar a situação calamitosa em que se encontravam algumas das dioceses da
Arquidiocese, o que comprova, mais uma vez, o conhecimento das regras da Igreja para os
paramentos, e sua preocupação em aplicá-las. A exemplo, quando da descrição em relatório
da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Camargos,
“(…) porém muito falta de ornamentos, tanto para o comum como para o
festivo, e de roupa branca corresponde a sua pobreza, para cujo reparo deram
duas casulas para as quatro cores, toalhas para os altares e cortinado para o
sacrário, de esmolas que se pediam. (…) A meia légua da matriz, tem a
capela chamada das Bicas, bem mal paramentada” (Oliveira, 1998, p. 81-82)
Provimento:
“(…) Advertimos muito especialmente o asseio e conservação das alfaias e
dos altares. Constou-nos também estar o ornamento branco da capela de São
Bento, filial desta matriz, inteiramente dilacerado e incapaz de uso e, por
isso, se deve fazer outro a expensas do rendimento da fábrica, o que muito
recomendamos.” (ib, p. 82).
Na Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré, constatando a presença de toalhas e
paramentos de algodão, determinou o seguinte provimento:
“(…) mandando tirar para nunca mais servirem várias toalhas dos altares e
uma alva por serem de algodão, e por isso contra as bem sabidas regras da
Igreja”. (p.83)
O período de seu governo foi talvez um dos mais conturbados para a Igreja no Brasil
que sofreu grandes transformações e transtornos decorridos da Independência. Com a
declaração da Primeira Constituição do Império, em 1824, a Igreja Católica Brasileira, no
artigo 5
o
, continua a ser a religião do império, mas são permitidos os cultos de outras
religiões.
Além de continuar submissa ao Estado, não é mais a única forma de religião aceita no
Brasil. O artigo 102, §14, negava todos os atos eclesiásticos, através do beneplácito régio,
figura tipicamente regalista, que supõe necessidade de assentimento estatal para que vigorem
os atos das autoridades eclesiásticas.
Agrava a situação da Igreja a questão da maçonaria no Brasil, que além de em seu
meio encontrarmos padres adeptos a esta corrente de pensamento, os líderes do governo eram
figuras ilustres ocupando cargos importantes dentro da organização. Tendo-se em vista a
60
questão da campanha da Igreja contra a maçonaria, declarada pelo papa Pio X, em 1864, os
maçons se colocam em posição de combate aos bispos do Brasil.
Encontramos ainda, após a Independência a formação de dois partidos na Igreja. O
primeiro liderado por Antônio Feijó, que propunha a construção de uma Igreja nacional e o
fim do celibato, transformando os religiosos em sacerdotes livres. O segundo, liderado pelo
arcebispo da Bahia, Romualdo Antônio de Seixas, que propunha a formação de um clero
celibatário, mais ligado a Roma e com autonomia do poder espiritual.
A terceira fase da história da diocese se desenvolve entre os anos de 1835 e 1897. A
partir do início do segundo reinado, em 1840, surgiu um movimento dirigido pela hierarquia
eclesiástica, contra o mencionado Regime de Padroado, visando desvincular a Igreja da
coroa luso-brasileira e colocá-la diretamente sob as ordens da Santa Sé, tendo sido
incentivado desde 1808 pelos núncios apostólicos estabelecidos no Brasil como
representantes da Cúria Romana.
Este novo período vem conhecido como Romanização do Catolicismo, tendo ocorrido
em três fases: a reforma católica (2
o
. Reinado), a reorganização eclesiástica (1898-1922) e a
restauração católica (1922-1960).
Coincidindo com a primeira fase de reforma católica, a terceira fase da diocese foi de
singular importância, e vemos no governo Dom Antonio Ferreira Viçoso e Dom Antônio
Maria Corrêa de e Benevides, sendo que, entre o governo de Dom José e o de Dom
Viçoso, a diocese teve, aproximadamente, nove (9) anos de vacância, e mais dois anos entre
os dois governos.
Dom Antônio Ferreira Viçoso (1844-1875) foi um dos prelados que lideravam o
projeto de romanização do catolicismo no Brasil, chamado como bispo reformador, tendo as
seguintes principais preocupações: a reforma do clero e a reforma do povo cristão. O
resultado foi um clero de conduta rígida e puritana, com muito conhecimento da doutrina
religiosa e pouca preocupação com os problemas sócio-culturais do povo brasileiro.
Outras dioceses foram fundadas após o período imperial, dando-se preferência aos
prelados que haviam completado a formação em Roma ou em seminários europeus, afirmando
e fortalecendo a fidelidade à Santa Sé e a observância rigorosa das diretrizes da Cúria
Romana. Dom Antônio Maria Corrêa de e Benevides (1877-1896) continuou a reforma
católica iniciada por Dom Viçoso.
A reorganização eclesiástica, consiste no movimento da Igreja quando da declaração
da Constituição de 1891, que além de reafirmar a separação da Igreja do Estado e decretar a
liberdade religiosa (através do decreto 119-A/1890), institui o casamento civil (decreto
61
181/1890). A partir de 1891 a Igreja não está mais juridicamente dominada pelo Padroado e
pelo Beneplácito, devendo as associações religiosas ter personalidade jurídica próprias.
O movimento conta com as ações de Dom Silvério Gomes Pimenta (1897-1922), e lhe
dá continuidade, Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1922-1960) com a restauração católica.
Mariana exerce, assim, grande influência, tendo sido, desde a sua fundação, por muito
tempo submetida ao Estado Português através do Regime do Padroado, e posteriormente,
palco de fortes reformas na história da Igreja no Brasil, se declarando nos atos e palavras fiel
à Santa Sé.
3.2 Análise histórica dos inventários das alfaias de Mariana
A diocese de Mariana e atual arquidiocese, desde sua criação em 1748, vem
guardando muitos segredos da nossa história, através do legado de documentos que em seu
arquivo ficou conservado. Assim, buscamos nestes documentos pistas que pudessem
esclarecer diversos questionamentos que nos foi apresentado pelo acervo têxtil quando de seu
estudo.
Analisando o livro de Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana 1749-1904,
podemos observar que um número considerável de peças compunha o acervo. Estudando-o
minuciosamente vemos que, inicialmente e por um longo período, o conjunto de bens,
arrolados com minúcia, sob a guarda do sacristão-mor ou do tesoureiro-mor, era composto por
peças de luxo. Este testemunho histórico é de grande valor, uma vez que desde 1749 até 1904,
as alfaias foram inventariadas de modo preciso, deixando claro sua composição, qualidade e
riqueza dos materiais utilizados na confecção dos objetos sagrados e, principalmente, a
observância das regras tridentinas.
O referido livro, em sua primeira página, apresenta o primeiro inventário, feito em
1749
16
, sob o governo de Dom frei Manoel da Cruz, quando da vinda dos ornamentos e outros
bens de Lisboa. É interessante observar que os ornamentos, ou seja, os paramentos são os
primeiros dos bens a serem inventariados e que, esta seqüência, se repetirá até 1803, quando
os inventários passam a iniciar-se com o rol das imagens, seguido pelos objetos de prata,
estanho, cobre, ferro, madeira, os livros e, finalmente, os ornamentos.
16
Em 12 de janeiro, pelo tesoureiro mor da catedral, João de Campos Lopes Torres e o provisor do bispado, o
arcipreste Dr. José de Andrade Moraes, perante várias testemunhas.
62
Neste primeiro rol encontramos um grande número de vestes litúrgicas, sendo estas
arroladas segundo a função, cor e o material, divida em ornamentos pontificais, para uso do
Cabido, vestes internas e paramentos de altar e da igreja.
A quantidade era elevada porque deveria atender ao bispo, ao cabido, ao vigário geral
e até às cúrias coadjutores, ao altar-mor e colaterais. Desta forma, segundo o inventário de
1749 (Anexo C), temos os:
“Ornamentos Pontificais Brancos”(f.1), “Ornamentos Pontificais
Encarnados” (f.1), “Ornamentos Pontificais de Melania
Verdes”(f.1v.),“Ornamentos Pontificais de Melania Roxa e Guarnição de
Ouro” (f.1v.-2), “Ornamentos Pontificais de Damasco Preto e Guarnição
de Ouro” (f.2), “Ornamentos para o Illmo. Rvmo Cabido”“Brancos (f.2),
“Ornamentos Encarnados de Damasco e Melania com Guarnição de Ouro
e Retroz” (f.2- v.), “Ornamentos Verde de Damasco e Melania com
Guarnição de Retroz Amarelo” (f.2v.), “Ornamentos Roxos de Damasco e
Guarnição de Retroz”(f.2 v-3), “Ornamentos Pretos de Damasco” (f.3),
“Pavilhões grandes e pequenos pertencentes ao Sacrario” (f.3-v.),
“Roupas Brancas” (f.3 v.-4).
Podemos ver aqui, que as regras da Igreja, quanto aos paramentos, o eram
desconhecidas. Preocupava-se na Colônia, como na Corte, em celebrar a Missa e os Ofícios
Divinos, conformados à visão tridentina.
Tal conhecimento é confirmado pelo fato de que, mesmo existindo as Constituições
da Bahia, não poderiam estar seguindo as sua determinações, uma vez que referida lei, no que
diz respeito aos ornamentos, não determina, em nenhum de seus artigos, as quantidades
necessárias, o material, e quando o vem a determinar o faz aos subdiáconos, diáconos e
presbíteros, e de alguma forma às ordens menores.
Sua especificação, meramente exemplificativa, dos tipos de paramento litúrgicos, que
poderiam ser utilizados pelos bispos, vão muito aquém daqueles apresentados pelo inventário
de Mariana, que demonstra claramente, até mesmo pela forma de arrolamento dos bens, um
conhecimento preciso das regras e de sua aplicação prática, como foi dado segundo o exemplo
de Borromeo.
Certo é que, não foi encontrada qualquer bibliografia de Borromeo nos arquivos da
cúria de Mariana, devendo esta, se existente à época no Brasil, pertencer ao acervo pessoal
dos bispos, principalmente Dom frei Manuel da Cruz, que parece ter seguido a norma máxima
da Igreja àquela época, como podemos comprovar com a formação do Seminário de Mariana,
criado em seu governo, segundo as diretrizes tridentinas.
63
Este fato vem a ressaltar, ainda, que se tal argumento não foi devidamente tratado em
tão específica, expressiva e importante legislação para a Igreja no Brasil, é de se supor que o
motivo seria o conhecimento das regras pelos bispos e, ainda, da supremacia que teriam as
determinações dos Decretos das Congregações dos Ritos, das Rubricas e do Cerimonial dos
Bispos, sobre esta legislação local.
Certo que o primeiro inventário se tratava de um enxoval vindo de Portugal logo após
a criação desta diocese, mas não é este o motivo de sua conformidade com as regras.
Analisando o livro de Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana, vemos que até 1904,
seu acervo continuou primando pela qualidade, na forma de arrolamento, nos tipos de
paramentos, na observância das funções específicas e do material adequado a cada tipo, tendo
ainda em alguns inventários certas determinações indicando que as peças não serviam mais ou
que foram reformadas.
Segundo Trindade (1955), “a Rainha mandou para a Sé as alfaias e paramentos
necessários, e para o Palácio as baixelas, as louças, os damascos, os móveis e até carruagens”,
como descreve Diogo de Vasconcelos. No entanto, no livro de inventário da consta o
seguinte: “Ornamentos que acresceram no tempo do Exmo. e Rvmo. Sr. Bispo Dom frei
Cipriano de São José, alguns dados pelo mesmo Exmo. senhor”. O inventário não registra a
procedência, podendo ser ou não oferta da Rainha
17
.
Assim, vemos que nos inventários três foram as entradas de paramentos em
quantidade para os sacramentos litúrgicos: quando da chegada de Dom frei Manuel, sendo
estes de Lisboa; da chegada de Dom frei Cipriano, não especificando origem; e quando da
vinda do Imperador do Brasil em 1881 para participar da Semana Santa em Mariana. Não
vemos vestígios, nos outros inventários de especificação da entrada de novos paramentos,
quando, por quem e de que procedência, mas observamos que o número dos paramentos são
sempre elevados e variados segundo as cores.
Mas como poderiam estar assim conservadas durante um período que chega a totalizar
quase 150 anos? Como estas peças poderiam estar em perfeito estado de uso adequado ao
culto, sendo utilizadas constantemente? Nenhum dos bispos precedentes não levava consigo
nenhum conjunto? Todas as peças que chegavam com os bispos pertenceriam, assim, à
diocese?
Estas são questões que o foram respondidas pela análise do inventário das alfaias,
mas que certamente podem ser abordadas no futuro em uma pesquisa específica e documental
17
Trindade, 1955, pp.163 e 173.
64
e à partir das reflexões aqui apresentadas. Se analisarmos, de modo comparativo, a prática na
Europa e atualmente, vemos que os paramentos são pessoais, sendo muitas vezes, em tempos
remotos, recebidos como ofertas de reis ou encomendados pelos ricos representantes da
Igreja, que não raros eram grandes mecenas e apreciadores das artes. Hoje os paramentos o
adquiridos pessoalmente, de acordo com as posses de cada um, sendo que os ministros os
podem escolher segundo seu gosto pessoal, mas sempre em conformidade com as regras
gerais.
Quanto aos ornamentos da Igreja em geral, vemos um costume medieval na Europa e
muito comum no Brasil Colonial, que eram os ornamentos para encobrir partes da igreja e
revestir o culto, incluindo o ministrante, com uma decoração, de simbolismo religioso, como
por exemplo as sanefas, sitiais e as alfaias em geral.
Vemos que este gosto permanece no culto católico pós-tridentido, sendo dada
preferência à magnificência da ornamentação, através dos ricos materiais empregados. Os
ornamentos de altar e da igreja deveriam ser em grande número devido à necessidade de se
estar ornando, além do altar-mor, os laterais, de acordo com as cores do tempo litúrgico.
Dos tecidos citados nos inventários das alfaias de Mariana, temos a bretanha (da
França), o chamalote, o ruão (da França), a cambraia, o tafetá, a maquineta, o linho, o cetim, a
melania, o galapo, o pano de ló, o saraço, a galafre, a seda e o damasco.
Observando a relação de tecidos, analisando particularmente os tecidos do inventário
de 1825, comprovamos uma preocupação em determinar a qualidade e as características de
cada um, apresentando tecidos que vão do grosso ao mais transparente, do fosco ao mais
brilhante, do branco ao mais vivaz.
As guarnições seguem, em qualidade e variedade, os tecidos, com a finalidade primaz
de enobrecer as peças. Encontramos as rendas de tear e de bilro, os galões e as franjas de seda,
de prata e de ouro (verdadeiros ou falsos), os cordões de retrós, as espiguilhas de ouro, as
borlas e os bordados.
Vemos ainda sanefas, dosséis, pálios e umbelas que serviam em cerimônias internas e
externas, deixando claro o luxo e a suntuosidade em que deveriam ser realizados os
sacramentos litúrgicos, fruto do estilo que se adequou perfeitamente à reforma tridentina e à
suntuosidade em que deveria ser apresentado o Regime vigente no Brasil: o Padroado.
Através da linguagem visual, o ritual demonstrava claramente que o homem que
representava a igreja era uma mistura de humano, eclesiástico e divino, assim como os reis. A
Igreja era um braço do Estado português, e como tal deveria se apresentar, principalmente em
65
certas cerimônias, como é o caso da procissão do Triunfo Eucarístico, onde o “Santíssimo
Sacramento representava na realidade a Majestade do rei de Lisboa.”
18
Além do mais, não podemos nos esquecer que a diversificada simbologia que era
inserida nestes paramentos, que revestiam estas suntuosas cerimônias, poderia gerar confusão
ao leigo quanto à superior valorização do estético ao sagrado. Certo era que a estética do
barroco foi amplamente utilizada para a profusão dos ideais do Estado e da Igreja, no entanto
ela não o era sem seus significados fortemente ligados ao ritual católico desde a antiguidade.
Como justamente observamos, o estético não se sobrepõem ao sagrado, uma vez que
todo e qualquer significado sagrado é inserido nos simples paramentos através dos específicos
materiais, tais como a seda, o ouro, a prata, as pedras, entre outros, e que como determinado
pelo Concílio de Trento e reafirmado no Concílio Vaticano II (1962), nenhum estilo
específico pertence à Igreja, sendo que desde que seja digno e decoroso poderá compor e
direcionar sua produção artística.
A fábrica de Mariana reunia muitos celebrantes com rigorosa solenidade, fato
observado através do rol de paramentos e objetos sacros inventariados. Além disto, vemos
que, seguindo as determinações da Igreja, os inventários foram devidamente realizados e
conservados por muito tempo, de 1749 a 1904. Mas porque os inventários foram encerrados
em 1904? Teria algum fundamento pensar na relação deste fato com a elevação da diocese em
arquidiocese?
Buscando algum fato que pudesse explicar o porque deste ocorrido, encontramos em
Trindade (1955), algo que pode senão elucidar ao menos direcionar a criação de hipóteses que
podem ser futuramente abordadas.
O Cabido de Mariana, cuja função era de acudir a catedral nas solenidades litúrgicas,
era constituído por Dignidades, Cônegos e Ministros, sendo, quatorze (14) prebendados,
sendo quatro (4) dignidades: arcediago, arcipreste, chantre (nomeado diretamente pelo papa),
tesoureiro-mor, e mais dez (10) Cônegos; doze (12) Capelães; um (1) mestre de cerimônia;
quatro (4) moços do coro; um (1) sacristão (maior e menor); um (1) mestre de capela; um (1)
organista; um (1) porteiro de maça
19
.
Em 1836, um fato pode ser citado como exemplo dos abusos do Cabido:
“acordou o Cabido que o cerimoniário ajudasse o Cônego hedomadário
(sic), fazendo-lhe o Cálix (sic), ministrando-lhe ao ofertório as oblatas e o
incenso, e incensando na congregação. Padre JoLopes da Cruz recusa a
18
Hoornaert, 1994, p. 72.
19
Trindade, 1955, p. 299, vol.1.
66
obedecer o acórdão capitular por dizer ir contra às Rubricas e às disposições
do Santa Congregação dos Ritos. [ ] Viola disposições claras do
Cerimonial dos Bispos, e que sendo forçado à obediência de atos
antilitúrgicos, pedia sua demissão. O cabido aceita e despacha
unanimemente para servir de aviso aos insubordinados da Sé”
20
.
Com a Proclamação da República em 1889 e o ato no. 119-A de 07/01/1890,
declarando a separação da Igreja do Estado
21
,
“extinto o padroado, suprimida a subvenção oficial ao culto divino, não
podendo a Fábrica da Catedral sustentar os funcionários subalternos do
Cabido, encontrou-se este em rias dificuldades, visto como lhe era
impossível manter os ofícios diários com dignidade e decoro.”
22
Nesta conjuntura a Igreja no Brasil apela para a Sta. Sé, por intermédio da
internunciatura apostólica, que em 13/01/1893 responde, concedendo os pedidos da diocese,
ficando os Cônegos “obrigados a assistir na Catedral ou em outro lugar, quando o Exmo.
Rvmo. Sr. Bispo for para algum ato ou função pontifical”
23
.
Em 16/07/1893 cala-se a Sé. O Cabido Metropolitano é destituído, ficando fechado
durante 27 anos, 5 meses, 15 dias, voltando a funcionar em 01/10/1921 e a realizar os ofícios
divinos
24
. O cabido terá estatuto somente em 03/05/1924, se regendo até então pelo cabido do
Rio de Janeiro
25
.
Assim, uma explicação possível para a não continuação do registro dos inventários no
livro das fábricas da de Mariana, seria a destituição do Cabido, não contando a com as
dignidades necessárias e responsáveis por estes atos e registros legais.
Outra questão que se pode considerar era que, devido à precária e difícil situação
política em que se encontrava a Igreja desde o período do Império, com a proclamação da
República, o período de guerra civil interna no país e a grande guerra mundial, a questão de
aquisição por compra ou doação de paramentos e tecidos para a celebração do culto deveriam
ser assuntos menos importantes, tendo sido realizadas as cerimônias litúrgicas, dentro do
decoro possível àquela época, e com mais simplicidade.
20
Trindade, 1955, p. 325, vol.1.
21
Trindade, 1955, p.273, vol.1.
22
Trindade, 1955, p. 329, vol.1.
23
Trindade, 1955, p. 329, vol.1.
24
Trindade, 1955, p.351, vol.2.
25
Trindade, 1955, p.335, vol.1.
67
CAPITULO 3
CONHECER PARA VALORIZAR: ESTRATÉGIAS DE
CONSERVAÇÃO DE COLEÇÕES
O texto de Borromeo associado às determinações do Concílio de Trento incitaram a
necessidade de ações de conservação e restauração dos bens sacros móveis e imóveis a partir
daquela época. Com suas regras, busca de algum modo direcionar estas ações, determinando
os tipos de objetos sagrados, materiais, formas e quantidades, para que ficasse claro o que era
importante e sagrado para a Igreja Católica Ocidental.
Os bens culturais são o produto concreto e histórico de uma cultura. O patrimônio
cultural é, ao mesmo tempo, produto de uma determinada sociedade em um determinado
contexto e espaço temporal. Em uma época como a nossa, caracterizada pelo pluralismo
ideológico e ético dos indivíduos e grupos que o compõem, o único ponto de re-agregação
social é o passado, as raízes comuns, a memória, a história.
A cultura moderna direciona à história perguntas cada vez mais insistentes em relação
à dimensão temporal de sua existência, na convicção de muitos que, a historicidade
constituída, então, é o único horizonte possível para a compreensão do ser. Cada aspecto da
vida do passado se tornou, assim, um objeto da reconstrução histórica. Além de ser a pura
testemunha estética, nasce desse testemunho histórico a doutrina moderna da conservação e
da tutela global da herança cultural do passado, e esta não pode fazer referência somente a
alguns objetos hierarquicamente selecionados, mas a um conjunto cultural, ao complexo, ao
ambiente, ao sistema no qual o objeto é integrado.
Os objetos da legislação e tutela, não poderão ser somente aquelas célebres ou
assinadas obras de arte do passado, mas também os mais humildes traços da arte popular. E
tal tutela não poderá ser, nunca, dada, exclusivamente, ao poder público, impotente e incapaz
diante da vasta área de intervenção e o engenhoso empenho financeiro requerido. No entanto,
é preciso que toda a comunidade se sinta envolvida e empenhada na tutela do patrimônio
cultural, convencida que este é parte da própria forma de viver.
A conservação preventiva implica em um conjunto de medidas tomadas em relação a
um ou a vários bens patrimoniais que visem a proteção, valorização e conhecimento deste(s),
buscando a sua preservação, por um maior espaço de tempo possível, para as gerações futuras.
Como nos apresenta, de modo muito claro, Dardes (1994),
68
“ A noção tradicional de conservação tem se transformado nos últimos
anos. (…) Prevenir o dano ao invés de remediar o dano (…). Esta mudança
de ênfase (…) nos obriga, enquanto conservadores, a modificar nossa visão
em vários aspectos. Nós, agora, devemos adotar uma abordagem mais
ampla e pensarmos no bem-estar de coleções inteiras, ao invés de
pensarmos na restauração de objetos individuais que já sofreram danos. Isto
requer de nós, também uma visão de preservação das coleções a longo
prazo quando formos considerar como e onde usaremos nossos recursos.”
(p.46)
Neste sentido abordamos este trabalho de pesquisa: estamos pensando em uma coleção
de objetos têxteis e não no estudo específico de um único exemplar. Isto porque referido
acervo, nunca antes estudado, se encontra à margem das diversas coleções pertencentes ao
MAAS, e deve ser tratado visando um olhar mais amplo, que venha a preservar o valor
integral e particular da coleção, ou seja, o grande número de objetos diversos pertencentes a
corregimentos litúrgicos, e que foram utilizados na diocese e arquidiocese de Mariana,
fazendo parte de sua história.
Referido conhecimento valorizará, certamente, as peças singularmente, mas
principalmente o acervo como um todo, o que resguardará a necessidade de mantê-los juntos.
Além disto, como nos apresenta Dardes, nos da uma visão ampla da coleção e de suas
necessidades, podendo ser tratada, acondicionada e exposta, paulatinamente, e de modo
adequado, sendo as escassas verbas investidas de modo objetivo e a longo prazo.
Além da efetiva intervenção conservativa, fases preliminares são igualmente
importantes para a preservação de um acervo. Para a justa valorização de um bem
patrimonial, a primeira ação a ser feita é a investigação e conhecimento da história material
deste bem, e este foi nosso foco de atuação.
Uma questão a ser introduzida com rito nesta discussão é a importância desta fase
para valorizar uma tipologia de acervo que normalmente é preterida em relação a outros
acervos, por questões de valoração da obra de arte. Fruto de um meio e de uma época, as
obras se tornam objetos de valor. Infelizmente os têxteis vêm sendo tratados em um segundo
plano no contexto tanto museológico como museográfico, sem mencionar quando da
apresentação de projetos de ação efetiva de conservação.
Sabemos que muitos fatores concorrem para esta realidade, mas devemos também
elucidar que alguns profissionais, com formação específica, muito têm feito para a
conservação do acervo têxtil em âmbito nacional. São pequenas ões, se comparadas em
proporção às outras tipologias, mas são certamente significativas e exemplificativas.
69
Importante se faz permear na prática, nos dizerem de Toledo (1998), “a idéia de que há
um patrimônio têxtil a ser preservado.” (p.29). E acrescentamos, um patrimônio de valor,
regional e nacional. Um patrimônio que nos apresenta a relação do “fazer”, dos ofícios”
diversos, com o meio que o envolvia, restando um produto do meio, rico de seus contextos
artísticos, técnicos, econômicos, sociais, políticos e culturais, como o pôde provar o acervo
em estudo, nos capítulos anteriores.
3.1 Os bens culturais eclesiásticos
Pensando no objeto em estudo, devemos inicialmente individuar sua tipologia como
patrimônio cultural, como bem cultural material e, assim, especificamente, como bem cultural
eclesiástico.
Os bens culturais religiosos pertencem à classe dos bens culturais, segundo critérios de
conteúdo. São expressões da dimensão religiosa da vida cultural de um povo, refletindo e
documentando as formas através das quais uma cultura se abre ao mistério absoluto e celebra
a sua relação com Deus. O caráter religioso dos bens culturais vem sempre especificado,
principalmente pela sua destinação sagrada, seja esta o culto público ou privado. O conceito
de sagrado é derivado da idéia de reserva de uma coisa ou lugar para o uso profano que é
destinado à consagração exclusiva de Deus, sendo esta a sua finalidade.
A esta categoria pertencem todas as manufaturas através das quais a Igreja cristã vive,
exprime e anuncia ao mundo a sua fé no Cristo. Enquanto tal, os bens religiosos não
coincidem com os bens eclesiásticos, pois este último abrange todos os bens de propriedade
eclesiástica, os quais podem ser também de natureza não religiosa. Ainda podemos encontrar
bens religiosos de propriedade pública ou privada, e não eclesiástica.
A Igreja através de seus bens pregou sua fé e exercitou a sua doutrina diante do
mundo. Os bens culturais eclesiásticos são parte integrante de sua história e de seu presente,
sendo testemunhas subjetivas de suas ações. Os bens culturais materiais religiosos, ligados à
vida da Igreja, formam o seu patrimônio cultural específico, pela tutela da qual deve sentir-se
responsável em primeira pessoa e deve reivindicar diante da sociedade civil a sua
competência de gestão primária. Os bens podem dividir-se em artísticos, históricos, litúrgicos,
arquivísticos, literários, musicais e arqueológicos.
A custodia, a salvaguarda e a valorização dos bens culturais eclesiásticos são previstas
pelo Concílio Ecumênico Vaticano Segundo (Sacr. Concilium, 08/12/65, VII, 122-130), pela
70
Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (Sacra Congregação para a Educação Católica)
e pelas múltiplas declarações de João Paulo II. Encontramos também na Constituição
Apostólica Pastor Bonus de 28/06/88 (art. 99-104), o Supremo Pontífice, falando da
Pontifica Comissão para os bens culturais da Igreja, sublinhando a importância e a
necessidade de “conservar o patrimônio histórico-artístico da Igreja” (ib. 103).
A sensibilidade do homem contemporâneo em relação aos bens culturais é um sinal
dos tempos. O objeto de arte entrou com pleno título no circuito da nossa cultura, uma vez
que é capaz de iluminar o passado e de provocar reflexões sobre o presente, servindo, desde a
antiguidade, como instrumento pelo qual a Igreja vem exprimindo suas crenças:
“A arte para a liturgia é aquela capaz de exprimir de forma artística e digna,
a mensagem bíblica, da pátria e eclesiástica, grande patrimônio da Igreja
católica. A arte sacra é realmente bela quando a sua forma corresponde à sua
vocação, que é aquela de invocar e glorificar na e na adoração, o mistério
transcendente de Deus, beleza supra eminente, invisível, de verdade e de
amor, manifestada em Cristo (…); Beldade espiritual, refletida na Santa
Virgem Maria, Madre de Deus, nos anjos e santos (No. 2502). A arte sacra
deve levar o homem a adoração, a oração e ao amor de Deus, Criador,
Salvador, Santo e Santificador.” (Bellinati, 1994, p.07). (Tradução nossa).
Segundo estas premissas, a Liturgia é por si uma grande obra de arte, tornando-se
para a humanidade uma mensagem, não somente porque tem um seu significado iconográfico,
mas, principalmente, porque se transforma em um difuso e eloqüente meio de comunicação de
massa.
Referido autor nos propõe, ainda, a seguinte explicação para a questão de “porque a
Liturgia tem uma estreita ligação com a categoria do Belo?
26
Pelo menos por três razões:
primeiramente, porque a obra de arte faz parte do mundo da graça e da beleza, caracterizando
a presença de Cristo na ação eucarística; depois, porque a liturgia tem seu ponto mais alto na
celebração do mistério da Eucaristia (do mistério da fé) e no ofício divino (manifestando
através da arte sacra a mensagem da presença de Cristo operante através de seus sacramento);
e finalmente, porque toda a liturgia requer que as coisas pertencentes ao culto sagrado tenham
o resplendor pela dignidade, decoro e beleza (fazem parte do culto divino e são símbolos da
realidade sobrenatural). (p.9-10).
Segundo a Igreja, cada ação litúrgica é uma ação sagrada por excelência. É a adoração
do Deus Pai; a presença do amor de Cristo Salvador; o anúncio do mistério pascal; da cruz;
anúncio da mensagem da bíblia; ação das graças comunicativas de cada cristão; oração e
26
Neste sentido, em uma visão Kantiana do belo absoluto e universal, não levando em consideração as posições
relativas no que tange a História da Cultura.
71
poesia dos Salmos; uma igreja que ora e canta em volta de seu bispo e de seus sacerdotes;
uma liturgia interior e viva; para muitos uma liturgia pastoral. Nestes termos a arte exerce um
papel fundamental:
“O estudo da arte é um encontro com a beleza autêntica, reflexo da infinita
beleza de Deus, porque em Deus coexistem essencialmente Ser, Bondade,
Verdade e Beleza.” (pág. 17). Segundo Von Balthasar, (1985), “Cristo é a
Palavra, a Imagem, a Expressão e estudo e interpretação de Deus”.
(Bellinati, 1994, p. 20).
A Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, após tratar das bibliotecas e
arquivos e insistir na urgência do inventário e catalogação dos bens eclesiásticos, patrimônio
histórico-artístico móvel e imóvel, através das Cartas Circulares “Bibliotecas eclesiásticas na
missão da Igreja”, de 19/03/94, e “A função pastoral dos arquivos eclesiásticos”, de
02/02/97, vem, através da Carta Circular “A função pastoral dos museus eclesiásticos” de
15/08/01, direcionar sua atenção aos museus eclesiásticos, “a fim de conservar materialmente,
tutelar sob o ponto de vista jurídico e valorizar pastoralmente o importante patrimônio
histórico-artístico que não se usa de forma habitual” (p. 01). Tal documento, de extrema
importância, vem com o intuito de contribuir para reforçar a ação da Igreja através dos bens
culturais, tendo como encargo principal a valorização no âmbito pastoral do patrimônio
histórico-artístico da Igreja.
Sendo o museu eclesiástico a representação e um lugar de permanência da história e
vivência eclesiástica, documentando, de modo visível, os percursos da Igreja, é necessário que
se atue para que tanto os bens em uso como os bens em desuso, se inter-relacionem para
garantir uma visão retrospectiva. Uma vez que esses bens eclesiásticos se tornam um
instrumento pastoral, é de fundamental importância que seus valores sejam resgatados, que
sua história seja conhecida e sua forma seja conservada.
Nestes termos, a referida Carta Circular vem ressaltar particularmente o objeto desta
pesquisa, quando enfatiza como fim a valorização pastoral do acervo que não é mais utilizado
de forma habitual. Devemos recordar que os paramentos são os objetos litúrgicos,
primordiais, tendo sido largamente utilizados desde os remotos tempos, como objeto de
linguagem visual entre a instituição católica, representando seus dogmas e os fiéis
receptadores dessa mensagem.
Com o intuito de melhor conhecer para valorizar esse acervo, ao primeiro contato com
o conjunto de peças pertencentes ao Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana,
tornou-se claro a necessidade de inicialmente catalogá-lo, através de fichas de identificação,
72
viabilizando e facilitando seu estudo, além de garantir sua conservação através do
conhecimento do seu estado de conservação. Tal procedimento foi de singular contribuição
para a percepção do valor do acervo em questão, que mesmo sendo de conhecimento de uns
poucos, por diversos motivos, esteve sempre sendo tratado em momentos diferentes daqueles
acervos que são valorizados ou eleitos pela comunidade científica e/ou pelos responsáveis
pela conservação do patrimônio cultural brasileiro, restauradores e historiadores.
3.2 O acervo têxtil do MAAS
O acervo xtil do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana é composto por
um grande número de paramentos sacros, principalmente por vestes litúrgicas. Encontramos
alguns paramentos sacerdotais, paramentos de Altar, vestes de escultura de Santos e Nossas
Senhoras e peças que fazem parte da história da Arquidiocese, como as bandeiras.
Como era de se esperar, vemos um grande número de paramentos externos, sendo que
inexistem junto ao acervo, exemplares de vestes internas. Trata-se de uma situação
comumente encontrada em diversos museus, sejam nacionais ou estrangeiros, isto porque tais
vestes, feitas de linho, cânhamo ou algodão, e de cor branca, que inclusive eram feitas em
número maior àquelas externas, eram peças de uso pessoal, constantemente lavadas, o que
contribuiu para a grande usura dos tecidos, deteriorando-se e sendo facilmente descartadas
e/ou substituídas.
Segundo relatos de diversos funcionários e clérigos, acredita-se que o acervo reunido
na Arquidiocese de Mariana seja, na verdade, parte que restou de um grande número de peças
singulares, que ainda nas dioceses, estavam sendo queimadas ou vendidas pelos padres. Uma
vez conservados no Museu, poderiam ter a chance de preservar-se no tempo para contar parte
da história desta Arquidiocese e, ainda, nos apresentar inúmeras indagações.
Na busca de conhecer este acervo, necessário se fez recorrer ao passado, investigando
a sua história desde a fundação do bispado até os nossos dias. Estes dados, somados àqueles
práticos de análise formal e estilística, foram importantes e indicadores sobre este conjunto de
peças. As fontes primárias e secundárias foram, nesta fase, de primordial importância.
Desde 2001, acompanhamos este acervo, e esta foi a data do primeiro inventário
informal feito para a pesquisa. Alguns objetos que constavam da primeira relação não
constam das posteriores, e muitos paramentos foram adicionados, isto porque os paramentos
pertencentes ao Museu se encontram na sede em exposição, acondicionados na reserva
técnica, na igreja da Sé e na Casa do Barão de Pontal.
73
Realça-se aqui a questão da importância da catalogação e inventário dos acervos que
estão em posse e/ou em guarda de instituições públicas e privadas. Como apresentado
anteriormente, o estudo dos acervos e inventários são um dos meios utilizados pelos
pesquisadores do assunto, até mesmo porque são escassas as publicações sobre o assunto.
Diversas foram as dificuldades encontradas e não ousaríamos afirmar que, mesmo após a
realização desta pesquisa, este estudo esteja finalizado.
Mesmo sendo tombados os objetos que se encontram no Museu Arquidiocesano de
Mariana, o acervo têxtil foi objeto de um inventário oficial somente em 2005, estando apenas
algumas peças inscritas no Livro de Tombo.
Segundo os arquivos do IPHAN foi firmado um contrato, de um convênio feito com a
Fundação Pró-memória e a Fundação de Cultura da Arquidiocese de Mariana, em 19 de
setembro de 1987, visando além do inventário e catalogação das peças, a elaboração de um
programa museológico e museográfico para o Museu da Casa Capitular. Em 1989, um projeto
de revitalização do museu foi elaborado com a coordenação do SPHAN, para a devida
catalogação e classificação do acervo.
Observamos que em relatório feito em 21/01/90, por Monsenhor Flávio Carneiro
Rodrigues, então diretor dos museus da Arquidiocese, este declara o preenchimento de 950
fichas do acervo de “imaginária, pinacoteca, mobiliário, prataria, ourivesaria e porcelana”,
não citando os têxteis, declarando ainda que, não se ateve à prática o que foi delineado no
projeto, devido a problemas com a liberação de verbas por parte do governo.
Deste modo, não nos restou outra medida senão a de, com base nas peças inscritas no
Livro de Tombo e seus respectivos números, inventariarmos através das fichas de
identificação previamente concebidas, as peças encontradas em armazenamento.
Entretanto, após o preenchimento das fichas, quando de sua avaliação e comparação
com o acervo inventariado no Livro de Tombo, percebemos que outros problemas se
apresentavam, entre eles: os números nem sempre correspondiam aos objetos identificados,
pois os objetos estavam com números trocados ou sem número; o registro do livro
apresentava números sem descrição de objetos, e ainda, a descrição feita no livro era
insuficiente para a confirmação, uma vez que não especificava cor ou não determinava de
forma correta o tipo de tecido, aplique, bordado e medidas.
Cabe ressaltar que esta identificação dos objetos diz respeito aos objetos fichados em
setembro de 2002, uma vez que constantemente são inseridos neste acervo objetos novos
vindos de outras paróquias. Assim, no levantamento feito da sala de exposição e a casa do
Barão do Pontal em 2002 foi constatado um número de 186 peças.
74
Segundo o Livro de Tombo encontramos uma numeração que vai do número MAM
1095 ao MAM 1255, perfazendo um total de 163, sendo que destes, 06 números não
apresentam descrição de nenhum objeto, estando em branco. São eles: 1130, 1131, 1132,
1137, 1140 e 1196. Deste modo, dos 163 números do referido livro temos na realidade 157
objetos numerados e tombados, ou temos 163 objetos inventariados dos quais 06 não estão
identificados. Mas quais seriam estes objetos?
Nesta situação, achamos mais seguro estar criando uma seqüência de números, que
posteriormente poderia ser facilmente confirmado pelos levantamento oficial da segunda
metade do inventário do IPHAN, iniciado em 2005, do qual fiz parte. Lembrando ainda, que o
acesso que me foi dado quando da coleta de dados para a realização da pesquisa foi à Casa do
Barão e à sala de exposição.
Apesar de haver um grande número de peças, a variação do uso de materiais é
relativamente pequena. Temos sedas, alguns poucos tecidos de algodão e linho, peças
bordadas com fios de seda, fios metálicos dourados e prateados, pedras, lantejoulas, paetês,
aplicações de franjas, galões, e fitas. Apenas os dois chapéus existentes são feitos de feltro de
lã, uma capa magna com murça é feita de uma zinha e nove estandartes (provavelmente
recentes, do início do XX) feitos de algodão pintado.
Através das fichas preenchidas foi possível identificar os números relacionados na
lista do Livro de Tombo e as peças que não constavam desta relação pré-existente. Além
disto, averiguarmos que algumas peças existentes quando do primeiro levantamento dos
dados para a pesquisa em 2001, não estavam presentes junto ao acervo no momento do
inventário do IPHAN, sendo que algumas peças ou partes de peças, foram encontradas
armazenadas separadamente e em locais diferentes.
3.3 O Processo de Catalogação do acervo
Uma ficha de identificação foi elaborada com o intuito de se estar estudando as peças
e facilitando a identificação do objeto, seus materiais e suas características principais, bem
como avaliando seu estado de conservação. O estudo do acervo seria viável somente se as
peças estivessem identificadas e catalogadas, fornecendo dados precisos, que poderiam ser
a base de estudos complementares. No entanto esta não foi a realidade encontrada. O acervo
têxtil, mesmo fazendo parte do acervo tombado pelo IPHAN, nunca foi objeto de inventário
anterior.
75
Deste modo, foi necessário fazer um levantamento das peças, até mesmo para se ter
uma idéia da quantidade de objetos que seriam privilegiados com o estudo. Iniciamos com a
contagem das peças, preenchendo fichas simples e objetivas, e fotografando peças que
exemplificariam o conjunto segundo os tipos de paramentos. Foram inseridos os seguintes
itens de preenchimento: objeto, número de inventário, função social, locação, procedência,
origem, propriedade, medidas, material, apliques, cor, motivo decorativo, descrição, estado de
conservação, proposta de acondicionamento.
Esta catalogação foi feita com todas as peças dos acervo têxtil que se encontravam na
sala de exposição do museu e em acondicionamento na casa do Barão de Pontal em 2002.
Assim, com todos os dados em mãos, deixamos a numeração do Livro de Tombo do MAAS e
determinamos uma numeração para os paramentos, selecionando-os por tipo e características
principais, como podemos observar no QUADRO 3, sendo elencados por ordem alfabética.
QUADRO 3
Inventário 2002 dos paramentos de Mariana (Sala de Indumentária e Casa do Barão)
No. E OBJETO TIPO QUANT MATERIAL DECORAÇÃO COR
1-3 Bandeiras
Processionais
3
Algodão
Tecido aplicado
Diversas
4-7 Bandeiras
Países
4
Linho
Tecido aplicado
Diversas
8 Barrete
Veste
1
Seda
Não apresenta
Roxo
9- 42
Casulas
Veste Litúrgica
34
Seda
Galões, fitas,
bordados fios
metálicos, fios de
seda
Litúrgicas
43 Chapéu
Veste
1
Feltro de lã
Fita,
cordoamento e
Renda dourada
Vermelho
44- 66
Dalmática
Veste Litúrgica
23
Seda
Galões, fitas,
bordados fios
metálicos, fios de
seda
Litúrgicas
67-103
Estolas
Veste Litúrgica
36
Seda
Galões, bordados
fios metálicos,
fios de seda
Litúrgicas
104-107
Escudos
Veste
Litúrgica
4
Seda
Galões,
bordados fios
metálicos, fios
de seda
Bege,
branco
108-111
Luvas
Veste Litúrgica
3 pares + 1
luva
Seda
Galões, bordados
fios metálicos,
fios de seda
Bege, branco
112-121
Manípulo
Veste Litúrgica
10
Seda
Galões, bordados
fios metálicos,
fios de seda
Litúrgicas
76
122
Manto
Veste/ Santo
1
Veludo/Seda
Bordados, fios
metálicos e fios
de seda
Roxo
123-127
Meias
Veste Litúrgica
5
Seda
Fitas e galões
Branca e
vermelha
128-133
Mitra
Veste Litúrgica
6
Seda
Galões, Franjas,
fios metálicos,
bordados
Bege e
dourado
134- 161
Pluviais
Veste Litúrgica
28
Seda
Galões, Franjas,
bordados fios
metálicos, fios de
seda
Vermelho e
dourado
162 Solidéu
Veste 1 Seda o apresenta Branco
163-183
Toalha, Sanefa e
Sitial
Paramento
21
Seda
Fitas, franjas e
galões
Marron,
vermelho
184-186
Túnica
Vestes de
Santos
3
Seda e veludo
Lisos e Bordados
Preto, vinho,
roxo
TOTAL 186
Alguns dos itens da ficha criada não foram preenchidos, uma vez que os números de
inventário não poderiam ser identificados em todas as peças, por não encontrarmos em sua
maioria a fita com o número de identificação, além de, ter-se o desconhecimento de sua
procedência e/ou origem. A TABELA 1 nos apresenta uma idéia da quantidade real de objetos
que compõem este acervo, confirmados através do inventario do IPHAN de 2005 (Anexo D).
TABELA 1
Inventário 2005 dos paramentos de Mariana (Casa do Barão, sala de indumentária e reserva técnica do
Museu)
OBJETO QUANT
Sitial
5
Sanefa
7
Vestes Santo
7
Solidéu
6
Barrete
4
Mantos
2
Bolsa de corporal
1
Pingentes
13
Capa ostensório
1
Capa cálice
1
Caixinha
1
Canhão de luva
2
Capas de mitras
2
Umbela
1
Pálio
1
Túnicas
2
Galões
3
Corporal
1
TOTAL
272
OBJETO QUANT
Dalmáticas
39
Estolas
39
Casulas
44
Pluviais
24
Clipeus
6
Véus de cálice
17
Véu de ombros
3
Frontal
6
Tecido
2
Meias
9
Capas
2
Capa c/ murça
1
Luvas
6
Chapéus
2
Mitras
7
Aplique de cruz
1
Aplique de cruz
1
Reposteiro
1
Sebasto
3
77
Iniciamos, através de análises organolépticas, a identificar cada peça, determinando o
seu material constitutivo, os tipos de apliques (quando existentes), a cor, o motivo decorativo
dos tecidos e das tiras ou fitas (bordadas ou não), descrevendo, assim, o objeto com suas
características particulares. Em seguida avaliamos o estado de conservação das peças,
apontando as principais degradações encontradas.
A ficha de identificação, propriamente dita, foi submetida ao parecer do restaurador,
mestre e especialista têxtil, Antônio Fernando Batista dos Santos, do IPHAN, para
posteriormente, ser reproduzida para cada objeto. Após serem preenchidas, serão entregues ao
Museu, juntamente com uma cópia do fruto dessa pesquisa, que aborda, também, a parte
histórica do referido acervo.
De modo exemplificativo apresentamos um conjunto de casula e estola, sem número
de Tombo, que está em exposição na sede do Museu Arquidiocesano de Mariana, na sala de
indumentárias. A figura 9 exemplifica a ficha de identificação técnica elaborada para a
catalogação das peças têxteis do acervo do MAAS em 2002.
As duas peças são parte de um conjunto que apresenta os mesmos tecidos e
ornamentos e que se encontram na casa do Barão, na sala de indumentária, na reserva e na
igreja. São confeccionadas em tecido brocado de seda amarela, lançado com fios metálicos
dourados, apresentando motivo decorativo fitomórfo com flores e folhas de grandes
dimensões, dos quais podemos identificar, rosas e vasos estilizados, representação
amplamente utilizada no final do século XVIII e início do XIX.
Apresentam guarnições de galões e franjas, sendo os galões de seda amarela e fios
metálicos dourados, formando motivos fitomórfos de folhas de parreira e cachos de uvas. As
franjas são confeccionadas em fios de seda amarela e fios metálicos dourados, estando
presentes somente na estola.
78
OBJETO LOCALIZAÇÃO
ACERVO MUSEU ARQUIDIOCESANO DE ARTE SACRA
MARIANA/MG , RUA FREI DURÃO, 49
FOTO DO OBJETO: PROPRIETÁRIO: ARQUIDIOCESE DE MARIANA
Casula e estola confeccionada em tecido
brocado de seda amarela, lançado com fio
metálico dourado, com motivo decorativo
fitomórfo de grandes flores e folhas,
estilizadas, datado entre o final do culo
XVIII e início do XIX.
Casula confeccionada em modelo romano,
com gola em V” e guarnição de galões que
se colocam sobre as costuras de
corte,formando colunas na frente e nas costas.
Estola com guarnição de mesmo galão e
franjas de fios metálicos dourados com três
cruzes.
RESPONSÁVEL IMEDIÁTO: MARIA DA CONCEIÇÃO FERNANDES
BRITO
ACONDICIONAMENTO: NÃO
DIRETOR DO MUSEU: MONSENHOR FLÁVIO C. RODRIGUES SALA DE INDUMENTÁRIA: Encontra-se 1 casula, 1 estola e
1 manípulo.
FIGURA 9 - Ficha técnica de catalogação do acervo
IDENTIFICAÇÃO
OBJETO: Casula e Estola NÚMERO: FICHAS 28 e 70
TIPO: Paramento Sacerdotal NÚMERO ANTERIOR: Não identificado
SUBCLASSE: Veste Litúrgica ORIGEM: Desconhecida
CLASSE: Artes Visuais PROCEDÊNCIA: Desconhecida
ÉPOCA: SÉCULO XVIII/XIX MODO DE AQUISIÇÃO: Desconhecido
AUTORIA: Desconhecida DATA: Desconhecida
MATERIAL/TÉCNICA: Tecido brocado lançado de seda e fio metálico
dourado com apliques de galões e franjas
SITUAÇÃO: Mau
DOC. FOTO
PROTEÇÃO
CONDIÇÕES
DE
SEGURANÇA
ESTADO DE
CONSERVAÇÃO
DIMENSÕE
S
N°.: 128
PROTEÇÃO LEGAL ÓTIMA: EXCELENTE: CASULA:
FILME: 0 7 TOMBAMENTO: BOA: BOM: 1,40 m x 71 cm
NEGATIVO: FEDERAL X RAZOÁVEL: X REGULAR: ESTOLA:
FOTÓGRAFO:
SORAYA COPPOLA
TOMB. EM
CONJUNTO X
RUIM: MAU: X 2,20 m x 15 cm
DATA: 01/10/02 INVENTARIADA: NÃO PÉSSIMA: PÉSSIMO:
PROCEDIMENTO E RESULTADOS
ANALISE DOS MATERIAIS: ORGANOLÉPTICA
QUALIFICAÇÃO DO OBJETO: SINGULAR., RESTAURAÇÃO PARA EXPOSIÇÃO E ACONDICIONAMENTO
79
PARTE II
CAPITULO 4
80
ANÁLISES E RESULTADOS
4.1 Análise formal e estilística dos paramentos do acervo têxtil
do MAAS
Desconhecendo, objetivamente, a proveniência de cada objeto que compõe o conjunto
do acervo em estudo, a sua análise formal e estilística baseia-se nas características formais dos
objetos e nas técnicas apresentadas pelos componentes dos objetos, ou seja, os tecidos, os
ornamentos e guarnições e, quando existente, os apliques, franjas e bordados.
Não foram encontrados dados históricos sobre a procedência dos paramentos. Do
relato oral dado pela museóloga responsável, Maria da Conceição Fernandes Brito, como
visto anteriormente, todo o acervo do MAAS foi recolhido pelo bispo Dom Oscar, que
governou entre 1960 e 1988. Outros tantos objetos que não estão em uso, encontram-se
armazenados nas capelas e paróquias das inúmeras dioceses dessa Arquidiocese, ainda como
propriedade desta, mas impossibilitada de acondicioná-los ou expô-los, devido ao reduzido
espaço do atual prédio que abriga o Museu.
Com base em fontes secundárias, buscaremos precisar as características encontradas
nas peças do acervo, através de uma analise comparativa, citando ainda aquelas particulares,
que venham a apresentar-se em peças singulares.
Grande parte do acervo apresenta tecidos estampados com fios metálicos, tecidos
estampados sem fios metálicos e tecidos lisos com e sem fios metálicos. Encontramos,
freqüentemente, guarnição de galões de seda com e sem fios metálicos, rendas de fios
metálicos e fitas de seda.
Os tecidos estampados foram muito utilizados na confecção das vestes litúrgicas e
paramentos da igreja. A variação das estampas, bem como as cores, podem ser indícios da
diversidade de procedência e uso hierárquico desses paramentos, que associadas às formas e
materiais, podem vir a especificar suas prováveis origens.
As regras da Igreja regularizaram, de certo modo, a confecção dos paramentos de
modo geral. No entanto, de acordo com a prática da liturgia exercida, o tipo de clima e
costumes das comunidades antigas, os paramentos apresentavam, em países diversos,
características formais diferenciadas quanto à modelagem e ao corte da peça, aos apliques dos
bordados, e até mesmo ao gosto de estilo, nos permitindo, assim, identificá-los ou apontar
suas influências.
81
Apresentamos diversas análises comparativas através das formas das peças, dos
tecidos e guarnições dos paramentos do acervo de Mariana, em relação a paramentos
pertencentes a acervos italianos. Deste modo, buscamos estudar os tecidos e suas estampas,
com o intuito de encontrarmos indícios de épocas e proveniências diversas.
Sabemos que muitos são os tipos de paramentos usados pelos representantes da Igreja.
Porém, existem dois tipos que ao serem analisados, podem nos dar, especificamente, mais que
quaisquer outros, certas diferenças formais, entre as produções dos diversos países. São eles a
casula e a dalmática.
Analisamos, assim, as características formais e estilísticas dos paramentos, sendo que,
as primeiras, através das casulas e dalmáticas, e as segundas com todo o acervo, buscando
apresentar as diferenças encontradas. Nos atemos, para referidas análises, às formas, aos
tecidos, aos apliques e às cores, deixando claro que, uma outra análise poderia ser feita
segundo as influências dos rituais litúrgicos de cada país, uma vez que os paramentos
deveriam se adequar ao culto.
4.1.1 Análise formal
Mesmo tendo a Igreja decretado regras, direta ou indiretamente, para as formas e cores
dos paramentos, estes variaram muito no decorrer da história, de país para país e, às vezes, em
um mesmo país, variando de região para região, podendo receber influências de países
limítrofes.
Podemos apontar através destes indicativos formais, das estampas, cores e disposições,
as diferenças existentes, o que muitas vezes caracteriza e determina a proveniência ou
influência de sua confecção, sendo que, quanto aos estilos, estes seguirão as influências
determinadas de modo geral para a arte, segundo a moda vigente à sua época, devendo
acompanhar o seu tempo.
4.1.1.1 As casulas
As casulas são vestes externas de uso exclusivo dos presbíteros e bispos nas Missas,
sendo profundamente revestida dos atributos da liturgia. Os dois únicos momentos em que se
apresenta como símbolo da ordem dos presbíteros é quando as devem usar os doze padres que
assistem ao bispo na Consagração do Óleo Santo na Quinta-feira Santa e nos sacerdotes que a
vestem nas procissões do Santíssimo Sacramento.
82
Segundo observações feitas por diversos estudiosos, com base nas determinações de
Carlo Borromeo, existe uma nítida variação quanto à forma destas, nos diversos países
europeus. A base desta análise nos foi dada, principalmente por Braun (1914), que em 1907
escreveu, entre outras grandes obras, um manual de paramentos, analisando, principalmente,
as variações encontradas nos exemplos alemães, franceses, espanhóis e italianos.
Até o século XIII a casula era feita em “campana”, ou seja, um coberto com a forma
de um mantel largo, que chegava até abaixo dos joelhos, fechado em volta, com somente uma
abertura no alto para passar a cabeça, de onde deriva o nome casula. A forma foi se
encurtando e chegando àquela que conhecemos atualmente (FIG.10).
Podem apresentar as seguintes características, segundo Braun (1914):
“No tipo romano os cortes laterais da parte anterior é moderado, a abertura
para a cabeça é em forma de trapézio e desce um pouco para baixo na parte
da frente, a costura de emenda não é nos ombros mas na frente no peito. O
ornamento é uma listra vertical no meio da parte anterior, chamada de
coluna, uma espécie de T-cruz na frente e um bordo largo em torno ao colo.
No tipo alemão temos uma abertura redonda para a cabeça, na parte
posterior uma cruz a braços retos e na frente uma simples coluna, em volta
do colo um bordo estreito e a costura é nas costas. No tipo francês a
abertura é semelhante a italiana mas mais larga e mais profunda. Na parte
posterior possui uma cruz com ângulos retos, na frente uma coluna e em
volta do colo uma larga guarnição, a costura è sobre as costas como o tipo
alemão. No tipo espanhol tem tanto na frente como atrás uma coluna sem
cruz, a abertura é grande, redonda, orlada ou de larga guarnição ou de uma
borda, a costura e nas costas, a amplitude mínima e a largura vão diminuindo
de baixo para cima de modo que nas costas tem apenas uma largura de 15
cm e uma forma quase de pêra.” (p.93-94. Grifo e tradução nosso)
FIGURA 10 – Desenvolvimento das casulas. 1-Primitiva e Românica, 2- Gótica, 3- de San Borromeo,
XVI, 4- Romana, 5- Romana moderna, 6-Alemã moderna, 7- Estilo rococó espanhola.
FONTE: Braun, 1914, p. 92
83
De acordo com as características que nos apresenta o autor, podemos observar uma
grande variação nas casulas do MAAS, identificando pontos semelhantes, principalmente, ao
modelo italiano.
Encontramos no acervo uma variação quanto ao formato das casulas, sendo que o
corte de algumas peças parecem ser uma variação do modelo italiano, com influências do
modelo espanhol, mais estreita em cima e mais larga em baixo, em forma de pêra, mantendo
sempre a abertura em “V” na parte superior.
Esta variação se apresenta no formato (modelagem e corte) e na decoração, podendo
ser apontada até duas variações em uma mesma peça, o que pode nos indicar algumas
hipóteses: momentos de transições entre um estilo e outro, prováveis influências de modelos
de outros países europeus ou proximidade geográfica entre os países e regiões na Europa. Nos
aponta, também, que mesmo apresentando variações, estas são vistas sobre a base do modelo
da Santa Sé romana
A. B. C.
FIGURA 12 - Modelos de casulas modernas alemãs (A), italiana (B) e espanhola (C).
FONTE: Braun, 1914, p. 94.
FIGURA 11
-
Casulas do MAAS
.
84
É interessante observar alguns paramentos que se encontram em exposição na Igreja
do Pilar de Ouro Preto e que foram utilizados na procissão do Triunfo Eucarístico. São
paramentos tidos como de origem portuguesa, seguindo o modelo formal espanhol ou alemão,
sendo no entanto mais largo (e maior).
Ao compararmos os paramentos do acervo de Mariana com aqueles do Pilar, estes se
apresentam com formato diferenciado e com particulares motivos decorativo, como p. ex., o
esquema de bordados, as representações de flores e a Estrela de Davi rodeada com uma coroa
com 12 rosas.
Portugal teria algum tipo específico de modelo de paramento? Seriam os paramentos
do Pilar o modelo português? Havendo uma influência, qual seria esta e porquê? Porque
teríamos em Ouro Preto paramentos tão diferenciados daqueles encontrados em Mariana,
sendo alguns provavelmente da mesma época? Porque não encontramos na obra de Braun a
descrição do modelo português?
Tendo em vista a época da procissão do Triunfo Eucarístico, as regras e histórico dos
paramentos, a questão do Regime do Padroado, a singular importância da Igreja do Pilar de
Ouro Preto e, principalmente, o conhecimento do comércio que se realizava entre Portugal e
os países europeus e colônias do oriente, seria de fácil resposta ao pensarmos, principalmente,
nas relações com a produção espanhola e holandesa, muito significativa àquela época.
Podemos observar na figura 13, a proximidade do modelo do Pilar com a casula de
seda produzida em Macau, colônia portuguesa no final do século XVIII. Os estilos são
diferentes, mas vemos nos dois exemplares, o grande e largo barrado, ricamente trabalhado
com motivos fitomórfos e a faixa vertical trabalhada, chamada coluna, colocada na parte do
verso e do anverso.
A B
FIGURA 13 - Paramentos de origem portuguesa do acervo da Igreja do Pilar de Ouro Preto
(A) e casula de Macau (B) FONTE: Leite, 1994, p. 53.
85
A montagem da peça e a posição das emendas e costuras também podem indicar a
origem, visto que cada atelier tinha um modo de confecção, o que se estendeu ao país ou
região.
Assim, a semelhança das casulas do MAAS será com o modelo italiano, sendo a
costura de emenda feita na frente, na altura do peito. A abertura da cabeça também segue este
modelo, sendo em V” ou em forma de trapézio, caindo um pouco para frente. O ornamento,
ou seja, o desenho que se forma com o encontro das emendas, em sua maioria é em forma de
T-cruz na frente e uma coluna nas costas, diferindo do modelo alemão, que apresenta a coluna
na frente e a cruz nas costas.
FIGURA 14 - Casula ( modelagem italiano). Acervo do MAAS.
Encontramos algumas casulas nitidamente do século XIX e início do XX, que seguem
as formas romanas citada acima, mas apresenta como ornamento uma cruz nas costas, se
assemelhando, portanto, ao modelo alemão. Seriam estas peças características de uma liturgia
aplicada em um momento preciso? Teriam relação com o movimento da Romatização do
Catolicismo (2º. Reinando à 1960)?
FIGURA 15 - Casulas com cruzes nas costas. Acervo do MAAS.
Coluna
Cruz
Emenda e
costura
Gola em
“V”
86
Os tecidos das casulas variam muito, sendo, no entanto, sempre de alta qualidade. As
cores encontradas são o vermelho, o vinho, o verde, o branco (que muitas vezes vinha junto às
cores amarelas), o roxo e o preto, onde podemos averiguar o preciso acordo com as regras do
Missal Romano.
4.1.1.2 As dalmáticas
Nas dalmáticas encontramos uma variação de tecidos e cores semelhante às casulas,
uma vez que deveriam, conforme as regras, serem feitas do mesmo tecido e cor. Segundo
Braun (1914), assim como as casulas, podemos determinar a proveniência de uma dalmática
de acordo com a forma apresentada, existindo para este tipo de veste uma variação mais
contida que aquela das casulas.
Na Itália, as dalmáticas conservaram, de modo geral, sua forma original, onde os lados
são fechados até as mangas, enquanto que na Alemanha, França e Espanha, os lados são
sempre abertos até as mangas. Originariamente a dalmática e a tunicela eram distintas pela
forma e feitio, e o Cerimonial dos Bispos determinava que a tunicela tivesse mangas mais
estreitas e mais longas.
A. B. C.
FIGURA 16 - Dalmáticas francesa (A), França/Parma (B) e italiana (C)
FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo Pitti, “I paramenti sacri della Cappella
Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 23.
O ornamento das dalmáticas consiste em guarnições em torno das bordas da manga e
dois galões verticais na frente e atrás, ligados entre eles por outros dois galões paralelos
horizontais, colocados perto do pescoço (francês), ou nas costas (alemão), ou em baixo perto
da borda inferior (italiano). Existem dalmáticas e tunicelas que possuem um galão vertical
na frente e um só atrás, mas são raras e encontradas somente na França e Alemanha.
Desta forma, analisando as dalmáticas existentes no acervo, podemos averiguar que,
em sua maioria, encontramos os ornamentos com galões nas bordas das mangas, dois verticais
87
na frente e atrás, ligados entre eles por dois galões paralelos horizontais, próximos à borda
inferior. Quanto a abertura lateral, alguns se apresentam fechados e outros abertos.
FIGURA 17 - Dalmática do acervo do MAAS.
4.1.2 Análise estilística
4.1.2.1 Os tecidos
A técnica de confecção dos tecidos, as estampas, os motivos florais, o esquema dos
desenhos e sua disposição, podem dizer muito sobre o objeto. Outro fator são as cores que
compõem os tecidos. O tamanho das estampas, se não indicam a provável origem, certamente
determinam a época de sua fabricação.
O acervo do MAAS é composto por diversos tipos de tecidos com efeitos decorativos
surpreendentes. Dentre lisos e estampados bordados ou com fios metálicos vemos, gorgurões
diversos, com lhama, bordados, gofrados, chamalotes, cetins, brocados, brocatel, damascos,
adamascados, tafetás, veludos mistos, lãzinha, linho, algodão e couro (Anexo E).
FIGURA 18 - Tecidos lisos com fio metálico, estampados sem fio metálico e lisos bordados. Acervo
do MAAS.
88
FIGURA 19 - Tecidos brocados com fios metálicos. Acervo do MAAS.
Encontrados no acervo um tecido que é certamente o mais antigo, do segundo quartel
do século XVIII (FIG.20), tratando-se de um damasco brocado lançado com fios metálicos
dourados com alma de seda amarela, do qual temos um conjunto de 1 casula, 2 dalmática, 3
manípulos, 1 estola e 1 Capa de Asperge. Apresenta diversos motivos fitormórfos e
zoomórfos exóticos.
FIGURA 20 - Tecido damasco brocado lançado com fio metálico dourado.Acervo do MAAS.
Alguns tecidos, como os adamascados (FIG.21) e cetins bordados, que pela sua
técnica de confecção determinam o período de sua produção, não podem ser anterior ao
século XIX.
89
FIGURA 21 - Tecido adamascado em duas cores, verso e frente. Acervo do MAAS.
Outros tecidos, podem ser classificados como sendo provavelmente confeccionados
entre o final do século XVIII e início do XIX. São encontrados, apresentando-se no estilo
Rococó, com flores miúdas e espalhadas ou ainda, como de transição, com motivos de
bouquets de flores, com uvas e trigos (FIG.22). São tecidos que apresentam técnicas diversas,
conforme o uso que se fazia na Europa, sendo sempre ricamente trabalhados, em seda e fios
metálicos, como brocados lançados, brocados lançados espolinados, fundos de Gros de
Tour
27
, cetins, tafetás e damascos.
FIGURA 22 - Tecidos do século XVIII/XIX. Acervo do MAAS
27
Ponto derivado do tafetá, em que os fios da trama são remetidos, cada um de uma vez, por duas vezes, para se
obter uma perfeita separação e paralelismo nos cruzamentos da trama com a urdidura.
90
Existe no acervo uma grande quantidade (cerca de 50 peças) de paramentos feitos em
gorgurão de seda com lhama de fio metálico dourado, nas cores verde, vermelho carmesim,
amarelo e roxo romano, de uso comum no século XIX e produzidos deste o século anterior em
diversos países. Podem ser comparados a tecidos italianos, de produção florentina, como a
exemplo na casula de cor vermelha (FIG.23A), comprada em maio de 1838 para a Capella
Palatina e que hoje faz parte do acervo têxtil do Palazzo Pitti.
Vemos outro exemplar, da mesma coleção, de cor branco perolado (FIG.23B), de
Florença, datado por volta de 1780-1790, registrado na sacristia da Capela de São Bernardo
no Palazzo Vecchio em 1791 e acondicionada em 1829. Um outro paramento em laminado
roxo (FIG.23C), de manufatura italiana, pertencente ao acervo da Basílica de Santa Maria
dell´Umiltà, em Pistoia, e data da primeira metade do século XIX, assim como a casula
pertencente ao mesmo acervo, de cor rosa (FIG.23D), datado do primeiro quartel do culo
XIX.
A. B. C. D.
FIGURA 23 - Casulas italianas, tecido laminado nas cores vermelha (A), pérola (B) , roxa (C) e rosa
(D). FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo Pitti ,“I paramenti sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 31.
Como no exemplo acima, outros paramentos do acervo estudado, podem ser
comparados a acervos italianos pelas estampas apresentadas e pelos motivos fitomórfos.
Vemos na figura 24 duas casulas do acervo da Capella Palatina, de manufatura florentina,
confeccionadas por Andrea Buti em Florença (FIG.24A e B), em damasco de seda, sendo a
primeira datada do último quartel do século XVII e a segunda por volta de 1821-1823.
Comparando-as à casula de Mariana (FIG.24C), apresentam a retomada no final do
XVIII e início do XIX dos motivos florais em grandes dimensões, formando figuras de efeito,
e que foram muito utilizados como tecidos litúrgicos e de decoração de ambientes, como
91
podemos encontrar por todo o Palazzo Pitti, cortinas e revestimentos de parede, feitos em
damasco de seda de cores diferentes. Os brocados também se assemelham, como nos caso das
figuras 25 e 26, formando pequenos ramos de flores e cobrindo o tecido em toda a sua
extensão.
A. B. C.
FIGURA 24 – Casulas. Coleção Palazzo Pitti, Florença, Itália. Final do século XVII (A) e século XIX
(B). Casula do MAAS (C). A e B FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo
Pitti, “I paramenti sacri della Cappella Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 32.
A B C
FIGURA 25 - Casulas italianas. Florença, Palazzo Pitti
FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo Pitti, “I paramenti sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 34
FIGURA 26 - Detalhe do tecido da casula de Mariana da FIG.51C. Acervo do MAAS.
92
É interessante observar que uma grande parte do acervo do Palazzo Pitti, cujos
paramentos utilizamos para a análise comparativa da qualidade e datação dos tecidos de
Mariana, é oriundo de Parma e de comprovada produção florentina, o que nos aponta
percursos futuros que podem ser seguidos. Seria uma coincidência tal semelhança com o
acervo de Parma ou Mariana guarda mais segredos quanto a escolha do nome da cidade,
quando homenageou Dona Maria Anna D´Áustria?
Observando os paramentos de Parma, vemos duas características na decoração, de
grande influência alemã, o tipo de decoração com tecidos diversos daquele do fundo,
formando a singular cruz nas costas (FIG.27B). Em Mariana encontramos uma casula em
damasco de seda vermelho carmesim (FIG.27A), com tecido damasco provavelmente do
origem francesa, que apresenta aplicado na frente a coluna e nas costas a cruz em brocatel
lavrado com motivo floral.
A B
FIGURA 27 - Casulas. Mariana (A) e Parma (B) 1840-1850.
FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo Pitti, “I paramenti sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 36.
Nos inventários da fábrica da Catedral de Mariana encontramos o registro de tecidos
variados, com denominações diversas, que poderiam indicar seu local de origem, de produção
ou importação. Os tecidos sempre foram manufaturas de grande valor e muito apreciados
desde a antiguidade. Com o Antigo Regime vieram a determinar, de modo visível, a posição
social das pessoas. No Brasil os hábitos eram os mesmos da Corte, sendo os tecidos fatores
93
indicadores de posição e condição social, que hoje podem ser identificados através dos
testamentos.
O comércio era muito ativo, com podemos ver em Mól (2002), “a Colônia importou
grande quantidade de tecidos no século XVIII”, como o “baetão inglez, o pano fino inglez,
Holanda, aniagem de França, fre de Hamburgo, linho de Braga, lilá (cidade do norte da
França)”
41
. Dos produtos de importação feitos pelo Rio de Janeiro, em 1796, e apresentados
por Mòl (2002), constam um número abundante de tecidos diversos, tais como,
“baetas e baetões, serafinas, durantes, sarjas, camelões, duraques, buréis,
droguetes, cetins, bretanhas de França, bretanhas de Hamburgo, veludo da
Itália, tafetá de Castela, algodões, lona da Rússia, Brim da Holanda, Brim
de Hamburgo, pano de linho de Irlanda, pano e linho do Reino, pano e linho
da Alemanha, frés de Hamburgo”, além de produtos manufaturados, como,
“guardanapos, toalhas, rendas, sapateiros, etc. Os produtos do Reino eram
outros: alfinetes, botões de madre pérola, lenços de algodão pintado, lenços
de cambraia, vestes de seda, veludo, lhama, vestes bordadas, saias de
cambraia, saias de algodão e seda, cambraias, chitas, coletes, cobertores,
“cortes de calção de meia de seda”, “cortes de calção de meia de algodão,
fios de ouro, fitas de seda, fustões, pano de lã, pelúcia de algodão”. (p. 92).
4.1.2.2 Os desenhos, as estampas e as cores dos tecidos
Em alguns casos podemos comprovar a qualidade dos tecidos, não somente pela
aprimorada técnica têxtil empregada, mas ainda por análise comparativa das estampas.
Os desenhos dos tecidos devem seguir certos critérios para que possam ser utilizados
na confecção dos paramentos. Vemos nos desenhos encontrados na Idade Média, como
motivos zoormófos, lebres, leões, leopardos, elefantes, cervos, dragões, cães, águias,
pelicanos e aves diversas. Como motivos fitomórfos encontramos lírios, rosas, flores
campestres, folhas diversas grandes e pequenas, vinhas e outras formas do reino vegetal.
Além deste, encontramos desenhos cristãos associados a motivos pagãos. Vemos
comumente cruzes, estrelas, plumas de pavão, inscrições arábicas e latinas, coroas, pontos,
moedas de ouro, discos de ouro, torres, figuras femininas, cabeças aladas de mulheres, os,
cães mantidos com as coleiras, nuvens, sóis radiantes, crânios, etc.
Os símbolos usados na Idade Média não eram precisamente religiosos, principalmente
cristãos. Parte dos tecidos eram de origem Sarracena ou Moura e parte vinham de Lucca,
Veneza e outros centros de produção têxtil, sendo imitações dos tecidos orientais.
41
Mól, 2002, p. 90.
94
Na Itália existiam centros de produção de tecidos com símbolos cristãos, mas não
eram muito numerosos. Os motivos eram simples e ingênuos, uma vez que o que atraía e
agradava era o efeito do desenho.
No final da Idade Média aparecem as romãs, chamadas de melagranas, com mil
variações, tendo origem no Oriente, mas desenvolvendo-se e aperfeiçoando-se na Itália. Este
símbolo foi de grande uso cristão na confecção de diversos tecidos.
Nos tempos modernos os tecidos de seda trabalhados apresentam motivos com plantas
de variados tamanhos, que os cobrem com um desenho espalhado, singular ou em união
através de figuras poligonais, quadriláteros, trapézios e similares. Encontramos, ainda, romãs
alteradas semelhantes a forma de vasos de flores ou papoulas.
No século XVII (barroco europeu) aparecem desenhos de caráter mais sério, pesados e
maciços, o que difere do século XVIII (Rococó), onde vemos um naturalismo, com maços,
guirlandas de flores, rendas, frutas, paisagem, arquitetura e similares. O efeito Rococó é
caracterizado por cores tênues, vaporosas e esfumantes. Por volta do século XVIII, podemos
observar diferentes tecidos listados, ao gosto das classes em ascensão, cheio de flores em
miniaturas.
Na segunda metade do século XIX a Áustria e a Alemanha produzem tecidos de seda
que reproduzem os motivos dos desenhos cristãos realizados na Idade Media. Antigos tecidos
eram estudados, quanto às técnicas e desenhos, e posteriormente reproduzidos em Krefeld, na
Alemanha, tido como principal local de produção dos melhores tecidos de paramentos de
gênero da Idade Media.
Alguns requisitos são elencados por Braun (1914), com o intuito de determinar as
qualidades que devem ter os desenhos de um tecido para que possa ser utilizado como tecido
de paramento:
“O desenho e o fundo devem ser feitos de modo que estes produzam
realmente os efeitos de fundo e de desenho. Os desenhos devem ser
justamente proporcionais aos paramentos, ou seja, não deve ser muito
grande, pois a repetição, o ritmo e a alternância que reproduz é aquilo que dá
ao desenho o seu pleno valor. O desenho deve possuir caráter de ornamento
plano e, assim, não deve produzir efeito plástico com perspectiva, com altos
e baixos, luz e sombra. Deve ter um colorido calmo e harmônico, onde o
campo e o desenho devem destacar-se um do outro especialmente para as
cores, sem no entanto agredir aos olhos com um contraste muito estridente.
Deve ser em estilo, devendo reproduzir aquilo que é típico e universal, e
somente após ter sido modificado segundo as leis da harmonia e do ritmo,
deve deixar aquilo que lhe é de comum no real e assim reproduzir
artisticamente. Não deve ser de riqueza insolente ou modesto, não rebuscado
ou bizarro. Deve ser algo de incomum, e não um que se em todo lugar,
nas poltronas, cortinas, tapetes e coisas semelhantes. A Igreja e a casa são
95
coisas diferentes. Os Símbolos devem ser religiosos ou de decoração
decorosa e correspondente aos fins dos paramentos e, sob este aspecto, é de
se observar que os tecidos da Idade Média não podem servir de modelos.” (p.
14-15).(Tradução nossa)
O valor de um tecido vai além do preço e qualidade do material e do modo de
fabricação deste. Os paramentos devem ser resistentes, e próprios para durar muito tempo,
sendo assim, econômico para a Igreja. Portanto, os paramentos dos dias ordinários eram
sempre feitos com tecidos simples e decorosos.
As estampas encontradas nos tecidos do acervo do MAAS variam muito. Vemos
representações de flores, folhas, animais e símbolos cristãos. Esta variação nos motivos
decorativos vem sendo utilizada desde a Idade Média, tendo evoluído no tempo de acordo
com a exigência da Igreja e os diversos estilos de época.
Encontramos flores simples e outras elaboradas, folhas pequenas e grandes, pássaros e
borboletas, além de formas estilizadas. Todas as estampas determinam a alta qualidade dos
tecidos, não somente pela técnica, mas ainda pelo aprimoramento em sua confecção. Tal
observação exclui completamente a possibilidade de se estar empregando tecidos que teriam
sido empregados em outros objetos e re-aproveitados para a confecção dos paramentos. Eram
tecidos estrangeiros, de grande valor e custo, de alta qualidade e utilização específica, ao
menos no que diz respeito à hierarquia social a que se tinha que respeitar.
Vemos que no decorrer da história dos paramentos diversos motivos de animais,
flores, folhas e símbolos cristãos apareceram na decoração destes. Estas decorações poderiam
ser feitas sobre os tecidos, através de bordados ou no próprio tecido quando da tecelagem,
sendo muito comum a segunda possibilidade.
O tecido que nos chamou a atenção desde o início do trabalho, descrito anteriormente, do
século XVIII, trata-se de um damasco brocado lançado vermelho carmesim com fio metálico
dourado, apresentando pequenos movimentos, com repetições simples e de pequenas
dimensões. Além do particular modo de confecção, encontramos motivos muito singulares:
pássaros, papagaios, pavões e borboletas, que junto às flores estilizadas formam uma
específica composição (FIG.28).
FIGURA 28– Figuras de animais encontrados no tecido lavrado vermelho. Acervo do MAAS.
96
Os desenhos mostram-se rígidos como se os pássaros estivessem parados naquela
posição, prontos para serem retratados, sem a leveza que encontramos em bordados de épocas
posteriores, nos remetendo às figuras dos tecidos coptas, com seus ssaros com asas abertas
e bastante estilizados.
Temos no acervo um exemplo singular, uma casula em damasco de seda roxo e galão
de retrós brocado com fio metálico dourado (FIG.29).
FIGURA 29 - Casula do MAAS e desenho reproduzindo o padrão da estampa do
tecido.
O motivo apresentado, muito produzido no século XIX por diversas fábricas em países
diversos, apresenta aqui uma qualidade de feitio digna dos grande centros produtores e
distribuidores específicos da nobreza européia. Encontramos na Cappella Palatina do Palazzo
Pitti de Florença um pluvial feito em tecido damasco negro de estampa absolutamente
semelhante em forma e qualidade (FIG.30).
FIGURA 30 - Pluvial. Viena (?), tecido do segundo quarto do século XIX. Palazzo Pitti,
Florença. FONTE: Catálogo da Coleção do Museu das Pratas, do Palazzo Pitti, “I paramenti sacri
della Cappella Palatina di Palazzo Pitti”, 1988, p. 42
97
Se observarmos diversos acervos europeus, não será de grande surpresa se
encontramos tecidos semelhantes ou amesmo iguais, uma vez que os grandes centros de
produção, certamente com exceção dos tecidos exclusivos, feitos sob encomendas, muitos
eram destinados à nobreza e àqueles que poderiam comprá-los.
A seguir (FIG.31) vemos outro damasco brocado com motivo decorativo de flores
miúdas feitas com fios metálicos dourados em fundo com fitas estilizadas, rosas, margaridas e
diversos tipos de folhas, típicos do final do XVIII. Neste mesmo estilos encontramos outros
três exemplares.
FIGURA 31 – Tecido brocado vermelho. Acervo do MAAS.
Podemos observar a semelhança das flores estilizadas no tecido da figura 31 com as
flores da figura 32. Apesar da estilização existe uma grande semelhança. A liberdade de
criação permite, inclusive, a formação de pequenos maços de diversas flores que saem de um
mesmo ramo.
FIGURA 32 - Amor Perfeito, Cosmos, Dália e Malva. FONTE: “Flores para Canteiro”, 1994,
p. 96, 85, 86 e 80, respectivamente.
Na maioria dos tecidos brocados do acervo do MAAS, a exemplo os das figuras 33, 34
e 35, vemos flores diversas das anteriormente apresentadas. Os motivos se apresentam
ocupando grandes áreas, podendo ser repetidos. Temos hibiscos, rosas diversas, margaridas e
ramos de folhas e frutos que se entrelaçam (FIG.36). Estes eram também motivos muito
recorrentes no final do século XVIII até início do XIX.
98
FIGURA 33 – Brocados diversos. Acervo do MAAS.
FIGURA 34 – Hibisco, Rodoendro, Rosa Bacara e Ardisia Cremulata. FONTE: “Vida no
Jardim”, 2002, p. 106 e 21; “Tudo Verde”, 1999, p. 46 e “Folhas e Flores”, 1987, p. 200.
FIGURA 35 - Brocado rosa com fio metálico e esquema do motivo decorativo.
Acervo do MAAS.
99
FIGURA 36 – Brocado vermelho com fio metálico e esquema do motivo decorativo. Acervo
do MAAS.
Os damascos (FIG.37) sempre foram tecidos muito valorizados como tecido
especificamente feitos para a confecção das vestes litúrgicas, desde a sua criação na Idade
Média. Os motivos florais são sempre preferíveis, sendo que a dimensão das estampas é que
daria o efeito necessariamente rico para as funções a que se destinavam.
Mesmo que com o passar dos séculos o gosto estético se alterasse, a qualidade da
produção não poderia cair. As estampas, por serem o único efeito de decoração, não
recebendo bordados que se sobrepusessem eram, geralmente, maiores que aquelas vistas em
outras técnicas têxteis.
FIGURA 37 - Damasco de seda verde com risco do motivo decorativo
100
Encontramos em Mariana um grande número (cerca de 50) de paramentos compostos
por belíssimos tecidos damascos que apresentam grandes estampas de diferentes folhas e
flores, além de romãs que é um motivo recorrente nos tecidos italianos. Os diferentes
damascos do acervo apresentam uma grande homogeneidade na apresentação de sua
decoração, sendo encontrado uma pequena variante de um tipo para o outro.
Os tecidos antigos apresentavam uma largura relativamente estreita, em torno de 60
cm. Buscamos reproduzir a estampas destes tecidos, principalmente o mais recorrente, e
podemos verificar que o motivo completo apresenta-se com cerca de 5m de comprimento e
largura de aproximadamente 60 cm (FIG.38). Estes tecidos com estampas enormes e muito
compridos eram feitos para serem vistos de longe (FIG.39) e foram muito utilizados como
revestimento de paredes. Sua largura condiz com o desenvolvimento da tecnica têxtil utilizada
até o século XVIII.
Encontramos grandes estampas de plantas de folhas largas e exóticas. Nas figuras 39,
40 e 41, podemos observar diversos tipos de bromélias que, se comparadas ao esquema feito
da figura 39, se adequam perfeitamente, mesmo que tenham sido estilizadas. Na figura 42
encontramos o cipó embé, um tipo de trepadeira que geralmente é encontrada junto às
bromélias, quando estas estão no alto das arvores das florestas tropicais.
FIGURA 38 - Tecido adamascado de seda. Pluvial do acervo do MAAS.
101
FIGURA 39 – Tecidos adamascados nas cores vermelhas e brancas que apresentam na
estampa o mesmo motivo decorativo. Acervo do MAAS.
102
A B
FIGURA 40 - Bromélias. Bromélia-urna (A) e Vriesca Hybrida (B). FONTE: “Folhas e
Flores”, 1987, p. 187 e 196, v.13.
A B
FIGURA 41 – Bromélias. Vriesca Imperialis (A) e Vriesca Gigantea. ). FONTE: “Folhas e
Flores”, 1987, p. 196, v.13.
103
FIGURA 42– Bromélias e cipós embés na floresta tropical no sul da Bahia.
As folhas do cipó embé são largas e se abrem como se estivesse sido desfiadas.
Encontram-se abaixo das bromélias e suas raízes vão até o chão.
Uma outra variante muito recorrente encontrada nos motivos florais das estampas dos
damascos de Mariana é a presença de flores grandes com pétalas longas e finas que se abrem
como uma estrela, se assemelhando muito à flor Bico-de-papagaio, chamada na Europa de
estrela de natal. Vemos sempre acompanhando estas representações, motivos fitomórfos
variados e exóticos e romãs abertas ou fechadas, como nos apresentam as figuras 43, 44, 45.
104
FIGURA 43 - Estampa de casula verde com detalhe da semelhança com o bico-de-papagaio.
Acerco do MAAS.
FIGURA 44 – Flor bico-de-papagaio - Euphorbia Pulcherrima (A) e romã (B).
FONTE: “Plantas e Flores”, 2000, p. 100, v.5.
FIGURA 45 - Estampa de dalmática vermelha com detalhe das romãs. Acervo do MAAS.
A B
105
Quanto `as cores, encontramos no acervo uma variação muito tímida, estando
diretamente relacionadas com aquelas apresentadas no capítulo 1, predominando as cores
litúrgicas. Estas se encontram nas vestes litúrgicas e nos paramento, algumas vezes sozinhas,
outras associadas entre si.
De um modo geral, a cor predominante é o vermelho ou a cor vinho que se apresentam
associada a outras cores ou sozinha. Observamos que as vestes de cores brancas e beges
fazem parte de um mesmo grupo, e associado a este podemos inserir as de cor amarela. A cor
verde foi encontrada em diversos paramentos, sendo a sua associação, geralmente feita com
as cores bege e branco. Nos paramento de cor roxo, assim como os pretos, não encontramos
associações de outras cores.
Desta forma, podemos observar através da TABELA 2 e do GRÁF. 1, abaixo
apresentados, quais as cores encontradas nas peças e sua incidência no acervo.
TABELA 2
Cores predominantes no acervo
GRÁFICO 1
Cores predominantes no acervo
COR
GERAL
VERMELHO OU VINHO 40,0%
BRANCO OU BEGE 20,0%
VERDE 15,0%
AMARELO OU DOURADO 15,0%
PRETO E ROXO 10,0%
TOTAL 100,0%
20%
15%
10%
15%
40%
106
4.1.2.3 Os ornamentos em geral
Conforme Braun (1914), os meios utilizados para enfeitar os paramentos devem ser as
rendas, bordados, galões, franjas e fitas. O motivo nos objetos deve convir com o caráter sacro
dos paramentos. Não deve ser profano ou indigno, mas limpo e bem proporcionado. Deve
estar nos justos limites, não deve superar em preço o paramento nem substituir parte deste. O
paramento não deve ser todo ou quase todo decorado.
Na época pré-carolíngia, ao analisarmos os monumentos ainda existentes, podemos
concluir que se usava pouco ornamento. Na Idade Média os paramentos de linho que estavam
constantemente em estreito contato com o Santíssimo, como o corporal, não tinham nenhum
ornamento. No final do século X iniciou-se a enfeitar abundantemente os paramentos. Os
tempos brilhantes dos paramentos são de 1250 a 1450. Encontramos corporais e toalhas já
decoradas no século XIII.
Os enfeites devem ser sempre parte acessória, que pode ser omitida se assim o quiser
ou precisar sem trazer qualquer perda ao paramento. Devem ser convenientes para o uso da
peça e produzir efeitos contrastantes de cor, sem, no entanto, exceder a harmonia. Devem ser
visto do fundo, de perto e de longe, o devendo ser o contraste evidente, e seu material deve
se resistente e decoroso.
4.1.2.3.1 Os bordados
Os bordados são ornamentos a figura ou motivos decorativos feitos com a agulha
sobre material macio, como tecido e couro, podendo ser realizado utilizando-se pedaços de
tecidos, fios diversos de materiais diferentes, pérolas, corais, lâminas metálicas e materiais
similares.
O uso do ouro teve sua evolução, sendo que, no século XI e XII os materiais utilizados
eram lâminas de puro ouro. No século XIII, junto à seda se poderia unir exclusivamente os
fios de ouro, seja no fundo, no contorno ou nas linhas principais. No século XIV encontramos
pouco bordado com fios de puro ouro.
As técnicas de bordados variavam muito, sendo que o período forte de sua utilização e
desenvolvimento é entre os séculos XIII e XV. Entre os séculos XI e XIII encontramos
bordados planos feitos imediatamente sobre o fundo sem entretela. Em 1200 o bordado se
apresentava com muito relevo, o que se estendeu até o século XIV. No século XV vemos os
107
relevos comuns com enchimentos de estopa e cera (técnica que será retomada no século XIX,
na forma simples de enchimento com papelão).
Diferentes países da Europa lideraram, em épocas diversas, a arte do bordado. Os
séculos XIII e XIV foram dominados pela Inglaterra, e seus bordados eram conhecidos como
Opus Anglicanum. Os bordados produzidos na Alemanha, que também possuía uma ótima
atividade nesta mesma época, eram conhecidos como Opus Tentonicum, destacando as
regiões da Baixa Saxônia, o Baixo Reno e, posteriormente, Flandres no século XV. A
Espanha vem em seguida, a partir do século XVI, produzir maravilhosos exemplares.
A arte e a maestria da execução do oficio de bordar era, principalmente, atribuída aos
homens e era executada em castelos e clausuras, tendo porém muitas mulheres também a
exercitarem-na, mas fechadas em suas residências. A principal causa do desenvolvimento do
bordado foi o crescimento do gosto artístico e do sentimento religioso, além de uma cultura
mais difundida entre as diferentes classes sociais.
Até o fim da Idade Media se usava especialmente bordados com figuras
(representações humanas e animais) e motivos que eram salpicados na peça, e não bordados
puramente decorativos (motivos fitomórfos) como vemos a partir do século XIII.
Nos tempos modernos o bordado de figuras desaparece completamente nos
paramentos, com exceção feita para o período de século XVII e XVIII, quando vem retomado
sendo abordado de modo diverso. O bordado passa a ter, assim, um caráter puramente
decorativo.
Diversamente da baixa Idade Média, foram feitos bordados em ouro, planos e em
relevos, pesados e maciços, sendo os principais centros a Alemanha, a França e a Espanha.
Encontramos paramentos completamente bordados, imitando o desenho dos tecidos, que ao
final pesam excessivamente, por volta de 13 kg.
Nos finais do século XVIII a produção sofre uma queda, visto que os tecidos se
tornavam cada vez mais complexos em sua produção, dispensando qualquer tipo de adereço
complementar. Os motivos, os materiais e a técnica que se empregavam eram muitas vezes de
baixa qualidade, o que desvalorizava ainda mais o tecido. Assim, do final do XVIII a a
metade do século XIX encontraremos este tipo de tecido, posteriormente, o bordado retorna
com sua qualidade, e podemos ver uma produção de grande valor, baseada na Idade Média.
A partir da segunda metade do século XIX encontramos uma novidade, os bordados
são feitos por meio de máquinas de costuras. Para bordados de ponto plano, usavam máquinas
com agulhas que atravessavam inteiramente os tecidos e, ainda, máquinas de costura comuns,
108
que executavam também o ponto correntinha (trabalhos inferiores àqueles feitos com pontos
planos).
Os bordados podem ser classificados e identificados segundo o motivo, a matéria, os
pontos e o modo de execução. Segundo o motivo, podem ser ornamentais como desenhos ou
por figuras humanas sozinhas, em grupo, inteiras ou parciais. Estas são chamadas de pintura
feita com agulha. Segundo a matéria, podem ser utilizados ouro, prata, pérolas, corais, seda,
lã, linho, algodão, canutilho de ouro e de prata (finos tubos de finas laminas enroladas ou fios
metálicos fechados), lantejoulas (placas redondas de ouro, prata ou cobre dourado), e
bordados com fios de algodão ou seda. Segundo os pontos, estes podem, entre outros, ser
correntinha, ponto de cruz, tresponto ou ponto plano, cordãozinho e bordados alemães.
Segundo o modo de execução, podemos destinguir os bordados de contorno, isolados, cheios
e a relevo.
O acervo do MAAS apresenta como ornamento diversos tipos de bordados, que podem
ser classificados, segundo a técnica, entre o final do século XVIII ao início do século XX. São
utilizados fios de seda coloridos, fios de algodão coloridos, fios metálicos dourados com alma
de seda amarela ou branca, ou ainda com almas de algodão branco, canutilhos metálicos
dourados, fios metálicos crespos e lisos, lâminas metálicas douradas, lantejoulas, aljofres,
placas metálicas ovais e, ainda, pedras coloridas e transparentes.
Uma grande parte do acervo é bordada, são peças confeccionadas em tecidos como
veludos, damascos, cetins, gorgurões e tafetás, que receberam uma rica decoração. Temos
cerca de 55 peças que podem ser classificadas entre o final do culo XVIII e o final do
século XIX, e 10 peças que certamente são do século XX.
A título exemplificativo, apresentamos na figura 46 detalhes de uma dalmática e uma
casula confeccionadas em cetim de seda bordado ao gosto do século XIX. Nestas peças vemos
uma grande liberdade na escolha dos motivos decorativos. As flores se entrelaçam formando
arabescos com folhas, treliças e laços, apresentando uma riqueza de motivos fitomórfos,
muito estilizados. Podemos identificar, no entanto, rosas, parreiras, uvas, nozes, copos-de-
leite e trigos.
Observamos que uma homogeneidade nestas peças, como era do gosto do XVIII e
XIX, feitas com fundo claro e bordadas em cores vivas. Diversos são os tipos de bordados
matizados identificados, como o ponto chinês.
Os tecidos finos, produzidos especificamente para se confeccionar certas peças, eram,
freqüentemente bordados. Esses bordados variavam muito e deviam seguir o padrão
hierárquico daquele que se revestiria com a rica alfaia.
109
FIGURA 46 – Tecidos em cetins de seda ricamente bordados. Acervo do MAAS
A função da peça também era observada, e assim, vemos pedrarias semi-preciosas,
fios metálicos dourados e prateados, fios de seda coloridos, além de apliques de paetês e
vidrilhos metálicos dourados e prateados, como podemos observar nas mitras do acervo do
MAAS (FIG.47).
FIGURA 47 - Detalhes dos bordados das mitras pertencentes ao acervo do MAAS
Os motivos freqüentemente encontrados são fitomórfos, com flores variadas que
abrem suas pétalas. As folhas se entrelaçam formando arabescos muito trabalhados.
Emblemas e brasões são encontrados, o que personifica ainda mais o uso da peça. Os
bordados são feitos em alto relevo, através de técnicas diversas e com uso do ponto cheio.
As luvas e chapéus também são privilegiados com bordados ricamente feitos sobre a
malha de seda. Vemos no dorso das mãos o emblema de Cristo (IHS) e nas bordas das
mangas, chamada canhão, alguns motivos fitomórfos (FIG.48). O acervo conta com dois
chapéus de feltro de vermelho carmesim, que se encontram na reserva e na Casa do Barão.
110
O da Casa do Barão apresenta rendas de fios metálicos dourados e prateados com ricos
trabalhos em alto relevo, que formam pequenas bolinhas, se intercalando com paetês e
lantejoulas de metal dourado, que são aplicados sobre fitas largas de seda, e enfim, colocados
sobre as abas (FIG.49). O da reserva apresenta um longo cordão de seda carmesim.
Materiais de grande riqueza, singularmente escolhidos, permanecem até os nossos dias
a nos demonstrar que, ainda que a Igreja tenha simplificado, e muito, seus trajes e paramentos,
ela já foi, em tempos remotos, fonte de inspiração de grandes artistas e criadores.
FIGURA 48 – Luvas (Canhão e dorso). Acerco do MAAS.
FIGURA 49 – Chapéu. Acerco do MAAS.
111
4.1.2.3.2 As guarnições
Na Idade dia, as guarnições eram chamadas de Aurifrisia (frisos de ouro) e
estavam em uso desde o século VI, aparecendo primeiramente como decoração das bordas.
São os conhecidos galões que aparecem verticalmente em muitas dalmáticas e casulas nas
pinturas desde o século VI. Na época Carolíngia usou-se muito as guarnições e as franjas.
Até o século XII os galões de ouro feitos com fios de lâminas de ouro puro, eram
chamados Chrysoclavi ou Aurifrisia. Os galões são, nada mais que, estreitos tecidos, que eram
feitos em tear. À partir do século XII, aqueles de ouro puro desaparecem, substituindo-lhes
aurifrisias feitas em sarja, sendo os fios de ouro feitos com laminas de ouro ou outro tipo de
fio dourado.
A urdidura era feita de seda ou linho e a trama era de laminados de ouro ou seda
colorida. Os galões de seda e fios metálicos eram muito valorizados. Os de seda pura (trama e
urdidura) ou de linho e seda são chamados de retrós para se diferenciar daqueles preciosos.
As cores eram importantes e havia uma seqüência que era seguida: a cor vermelha
precedia a azul, que por sua vez precedia a verde, que precedia a amarela. Os azuis e os
vermelhos eram de tons brilhantes.
Os principais produtores e, conseqüentemente os mercados, eram o Oriente e a Sicília.
Posteriormente, na Itália media e setentrional crescem grandes centros produtores e
exportadores, tais como Veneza, Lucca e Florença. Na metade do século XV o Baixo Reno e
Colônia são centros fortes de produção, tendo desenvolvido uma sólida técnica e materiais de
primeira qualidade, com desenhos simples, ritmo e cores fortes e harmônicas. As figuras eram
trabalhadas nos detalhes, fora dos teares, através dos bordados. Posteriormente Krefeld vem a
produzir imitações deste estilo e técnica.
No culo XIX nasce a moda de tecer guarnições específicas para os paramentos,
principalmente na França, na Bélgica, na Holanda e na Alemanha. Na Itália isso não acontece,
permanecendo o uso conservador.
As passamanarias, fitas de seda ou tiras de renda onde o passadas pequenas fitas de
seda ou laminas metálicas, eram pouco utilizadas na Idade Média. Primeiramente, eram
aplicadas somente nas planetas ou casulas, dalmáticas e túnicas. Depois do século XVI passou
a ser usada em todos os tipos de paramentos. Eram, geralmente, feitas em metais ou seda, de
ouro puro, prata dourada, cobre dourado e semi-ouro. Não deviam ser muito largas, mas
proporcionais aos paramentos e às cores não devendo ser muito contrastantes.
112
Os cordões, amplamente utilizados no século XIX, foram na Idade Média usados
somente como acabamento. São recomendados para o manípulo, a estola, a bolsa e a casula,
dalmática e similares e seus tamanhos e cores também devem ser proporcionais ao paramento.
As franjas e laços são utilizados para dar acabamentos grandiosos. Eram feitos com
fios metálicos e seda, e aplicados nos ngulos, manípulos, estolas, véus umerais, escudos de
pluviais, dos lados das tunicelas e dalmáticas, véus, estandartes e cortinas, podendo apresentar
uma infindável variedade de modelos e formas, mais curtos ou mais cumpridos, como
podemos encontrar, em grande escala, no acervo do MAAS (FIG.50).
FIGURA 50 - Franjas de Capa de Asperges e Mitras. Acervo do MAAS.
Além dos tecidos apresentados, encontramos no acervo do MAAS os galões e rendas
de fios metálicos que também podem indicar uma origem, que o necessariamente coincide
com a origem de confecção dos paramentos, mas certamente determina a sua alta qualidade e
importância, uma vez que os centros de produção não eram variados, assim como os
mercados para sua venda.
Encontramos certos galões que representam os mesmos motivos apresentados por
outros vários galões pertencentes a acervos italianos. São folhas diversas, principalmente de
parreiras, sempre estilizadas, sendo umas mais achatadas, outras mais alongadas, que formam
uma seqüência, se intercalando com flores de números de pétalas diferentes ou cacho de uva,
que também apresentam número de uvas diversos. Observou-se que muitos paramentos
confeccionados com tecidos diferentes apresentam galões semelhantes.
Sabe-se que os galões e ornamentos eram produtos largamente comercializados em
feiras internacionais, que aconteciam em diversas regiões da Europa. Os motivos destes
galões, mesmo que feitos em locais diferentes, seguiam um certo padrão, sendo que a
diferença entre eles será determinada pela técnica e materiais.
113
O acervo do MAAS apresenta galões feitos em seda amarela com motivos fitomórfos
ou lisos, chamados de retrós, e galões decorados com fios metálicos, o que enriquece em
muito os paramentos sagrados (FIG. 51 a 57).
Devemos ainda recordar que a função destes ornamentos era de composição, devendo
ser utilizados de acordo com as cores dos paramentos, não devendo ser contrastantes, se
apresentando como um acessório que poderia ser retirado sem causar grandes perdas formais
à peça.
A B
FIGURA 51 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galões da Coleção da Cappella Palatina do
Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I Paramenti Sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p.21.
A B
FIGURA 52 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galões da Coleção da Cappella Palatina do
Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I Paramenti Sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p. 23
114
A B
FIGURA 53 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galões da Coleção da Cappella Palatina do
Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I Paramenti Sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p. 21
A B
FIGURA 54 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galãos da Coleção da Cappella Palatina do
Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I Paramenti Sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p. 22
A B
FIGURA 55 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galãos da Coleção da Cappella
Palatina do Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I
Paramenti Sacri della Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p. 22
115
A B
FIGURA 56 - Galões dos paramentos do MAAS (A) e Galões da Coleção da Cappella Palatina do
Palazzo Pitti, Florença, Itália. FONTE: Catalogo del Museo degli Argenti, “I Paramenti Sacri della
Cappella Palatina di Palazzo Pitti.” 1988, p. 22
FIGURA 57 – Galões de retrós dos paramentos do MAAS.
A semelhança comprovada neste capitulo, não vem a determinar a origem italiana dos
tecidos e galões, uma vez que estes tipos de tecidos encontrados no acervo do MAAS eram
produzidos, além da Itália, em Portugal, na Espanha, Alemanha e França. Certo é que
podemos atribuir prováveis origens, mas somente um estudo mais aprofundado poderia
determiná-la.
116
4.2 Análise dos materiais encontrados
4.2.1 Os diversos tipos de materiais têxteis e seu uso na
confecção dos paramentos
4.2.1.1 A seda
Como apresenta Braun, (1914), desde a Antigüidade a seda foi preferida para a
confecção dos paramentos, mesmo no norte da Europa, mas utilizá-la dependia mais do hábito
ou das condições que da formal prescrição. Assim, vemos somente no século XIX amplas
prescrições pela Congregação dos Ritos para o seu uso exclusivo na confecção de certos
paramentos, sendo proibidos tecidos de lã, linho e algodão.
1
A questão das determinações legais quanto aos paramentos sacros inicia-se no
Concílio de Trento (1563), quando pela primeira vez, e de modo geral, a Igreja coloca
diretrizes aos objetos sacros que deveriam ser utilizados na realização dos Sacramentos
cristãos. Somente no século XIX estas regras parece terem sido conhecidas e aplicadas.
A seda sempre foi um material muito caro e neste sentido muitas vezes deveriam ser
substituídas sem qualquer cerimônia, tendo sentido, a Igreja, a necessidade de criar regras que
determinassem quais as vestes em que não se poderia modificar um tecido por outro de
material diverso.
Os tecidos de seda eram sempre preferíveis porque apresentavam certas características
valorizadas para a confecção dos paramentos e que não são encontrados nos tecidos
produzidos com outros materiais. Eram mais resistentes e duráveis, possuíam brilho, beleza e
cores vivas, sendo ainda símbolo de dignidade e realeza. Este era o material com os quais se
confeccionavam as vestes dos reis e príncipes e, por associação, deveria ser aquele dos
representantes da Igreja, quando se revestiam do sagrado para celebrar os Sacramentos.
Nos casos em que era prescrita a seda, poder-se-ia utilizar também tecidos de fios de
prata e de ouro, excluindo aqueles, em cujo fundo, os fios de ouro apresentavam a alma de
algodão e/ou apresentavam fios de ouro sem traços de ouro. Os metais proporcionavam
certo peso ao paramento e tendo os fios metálicos com alma em algodão, este peso aumentava
ainda mais.
2
Os tecidos mistos, ou seja, seda e linho (serolin), seda e (imperial), seda e
11
Citado por Braum, 1914, p. 7. Monito della Congregazione dei Riti del 28 luglio 1881 in “Acta S. Sedis, XIV,
144 e Decreta authentica Congregazionis SS. Ritum edita sub auspiciis SS.D.N.Leonis PP.XIII/Roma 1898 e
seg., no. 2769, 3779.
2
Quanto aos fios metálicos, produção, terminologia, confecção, etc., pode-se consultar: Coppola, Soraya
Aparecida Álvares. “Nossa Senhora das Dores: Aspectos científicos do estado de conservação de uma obra
têxtil, complexidades de materiais e critérios de intervenções.” Monografia apresentada no 14
o
. Curso de
117
algodão, poderiam ser usados nos paramentos que deveriam ser de seda, desde que a trama de
seda do tecido cobrisse totalmente a urdidura que não fosse de seda
3
. Tendo em vista a prática
largamente difusa do uso de tecidos mistos, até mesmo na Itália, aceitou-se o uso destes nos
quais a seda deixava ver, mas somente em parte, aquilo que não era seda, como, por exemplo,
nos tecidos cujo fundo era de seda e o desenho era formado com urdidura de linho, algodão
ou lã, desde que o tecido não fosse de menor valor ou inadequado para a função sagrada.
Esta exigência não era sem fundamento uma vez que, se os tecidos de seda eram
preferíveis entre tantos pelas qualidades que apresentavam, nenhuma destas qualidades
deveria faltar ao se substituir parcialmente a seda por outro material. Devemos lembrar do
brilho e das cores vivas que a seda proporcionava, e estes não deveriam ser modificados com
certas substituições. Uma outra questão do uso maior ou menor da seda em diferentes regiões
da Europa está intimamente ligada ao domínio da técnica de produção, desde o
acompanhamento dos casulos, passando pela fiação à confecção dos tecidos.
Nos veludos que poderiam ser utilizados nos paramentos para os quais era prescrita a
seda, o pêlo deveria ser de seda. Veludos de algodão eram inadmissíveis para estes
paramentos, assim como os chamados veludos de “imitação”, ou seja, veludos que somente
com precisa observação se perceberia não se tratar de seda.
As técnicas de base dos primeiros tipos de tecidos de seda que apareceram no mercado
foram o tafetá, a sarja, o brocatel, o brocado e o cetim (sem muito brilho, semelhante à sarja).
Por volta do primeiro milênio depois de Cristo aparece o damasco, sendo aperfeiçoado no
século XIII, formando, até os dias de hoje, a contribuição principal para a confecção dos
paramentos, pois se apresentava como a técnica que mais se adequava às funções dos
paramentos, pelos efeitos que produz, pela associação com outras técnicas e pelo pouquíssimo
peso final da veste. O veludo aparece somente mais tarde, tendo se desenvolvido nos séculos
XV e XVI, apresentando técnicas de veludos trabalhados e brocados.
Enquanto que os tecidos de linho foram utilizados de produzidos em diversas regiões
desde a Antigüidade, a seda, no tempo do Império Romano era produzida somente no Oriente,
mais precisamente na Síria. Desenvolvendo sua produção no Ocidente por volta do século IV.
No século VI, para uso exclusivamente eclesiástico, a seda foi trazida da Pérsia, do Egito, de
Bizâncio.
conservação/restauração de bens culturais móveis, CECOR/UFMG, Belo Horizonte, 2002.
3
Decreto da Congregação dos Ritos de 23 de março de 1882, de onde se supõe que a pobreza da Igreja não
poderia se permitir tecidos de pura seda. Decret. Auth., no. 3543.
118
Na Itália foi introduzida na Sicília por volta do século X, sendo sua técnica trazida da
Grécia para ali ser fundado um centro de produção de seda, em Palermo. No século XIII a
industria da seda estabelece grande produção na Itália meridional e norte, desenvolvendo
tanto que chega a fazer concorrência com o Oriente, mandando seus tecidos com desenhos
orientais ao resto do Ocidente.
Na Espanha a seda foi trazida pelos árabes entre os séculos IX e XIII. No final da
Idade Média sua produção desenvolve-se no norte da Europa, como Paris e os Países Baixos,
sendo os veludos confeccionados segundo o modelo italiano. No século XVII o principal
mercado de seda, e em particular de tecidos para paramentos, passa a ser Lion (França),
juntamente com Krefeld (Alemanha), situação que perdura até o século XX.
Os tecidos trabalhados foram utilizados para a confecção dos paramentos sagrados
desde os mais remotos tempos cristãos. A partir do final do século X seu uso foi aplicado
principalmente na decoração das igrejas. Nas vestes litúrgicas usavam inicialmente tecidos
simples e lisos, sendo posteriormente introduzidos tecidos ricos e de cores diversas, sempre
de acordo com o desenvolvimento do comércio entre o Oriente e o Ocidente, além do
desenvolvimento da produção da seda no Ocidente.
4.2.1.2 O linho e o algodão
Braun, (1914), ao analisar um inventário do século XIV e XV, da Capela de São Pedro
em Roma, verificou que existiam diversas planetas (casulas) feitas de linho, sendo que por
volta de 1329, na sede apostólica, encontrou algumas planetas de algodão. O linho era
prescrito para os seguintes paramentos: o amito, a camisa, as toalhas de altar, o corporal, a
pala e o purificador. o algodão poderia ser utilizado para a confecção da cota, do roquete,
da toalha de comunhão, do manustérgio e das toalhas para enxugar as mãos, porém seria
convencional se fossem de linho.
Na Idade Media era maior o uso do linho e do algodão e era comum que as túnicas dos
bispos e subdiáconos, assim como as casulas, fossem confeccionadas neste material. Os
diversos tecidos de algodão estavam entre os melhores. Os tecidos byssus eram fortes,
pesados, podendo ser ornados com desenhos, com lanugem ou, ainda, e freqüentemente, eram
estampados. Devemos observar que as prescrições eclesiásticas expressas e de valor geral
sobre o uso do tecido de linho e de algodão apareceram no século XIX, mais precisamente
nos decretos das Congregações dos Ritos, a partir de 1881.
119
Os tecidos de linho para os paramentos eram a tela ordinária, a batista e o damasco. As
telas ou tafetás eram tecidos lisos com entrelaçamento fino ou grosso, dependendo da
grossura do fio.
A tela batista era feita de finíssimo fio rústico e que era clareado somente quando a
tela estivesse terminada, diferindo-o da tela ordinária pela sua maciez e delicadeza. Eram
ideais para as camisas, amitos, cotas e roquetes.
O damasco de linho era feito em procedimento idêntico àquele usado para o feitio do
damasco de seda, sendo distintos somente pela natureza da matéria. Eram utilizados para as
toalhas de altar, os corporais, a pala e o purificador.
Os tecidos de algodão eram sempre apresentados lisos como o linho ordinário e a
musselina branca, podendo ser ainda muito fino e leve como a batista da Escócia (Bretanha).
Os tecidos de meio linho, feitos de linho e algodão, não poderiam ser utilizados no lugar dos
tecidos de linho.
Como apresenta Braun (1914: 17), aquele que se encarregava de comprar o linho ou
algodão deveria estar atento ao comprá-lo, sendo que se não fosse capaz de reconhecer por si
mesmo as diferentes peças de algodão, deveria comprá-las somente de um comerciante de
confiança.
4.2.1.3 Os forros
A função dos forros era a de dar maior solidez e resistência aos paramentos,
protegendo-os e prolongando o seu tempo de uso. Eram feitos de tela simples de seda e eram
colocados somente nos melhores paramentos, desde que estes fossem de seda. Jamais vinham
colocados nos paramentos de linho. O forro deveria acordar com o tecido principal, no
entanto devera diferenciar-se deste, de modo que se distinguissem sem um contraste muito
forte. As cores complementares eram aquelas ideais, devendo ser apenas observado seus tons .
Os paramentos pesados não deviam receber forros intermediários, tais como as
entretelas de linhão e nos paramentos leves deveriam ser macios e sutis. Os forros o eram
comumente utilizados na Idade Média, sendo apenas colocado um acabamento na gola e nas
mangas, para evitar desgastes e proteger o tecido da sujeira.
120
4.2.2 As técnicas têxteis recorrentes no acervo
Para entendermos a fabricação têxtil é necessário compreender os diversos
procedimentos e as possibilidades que estes maravilhosos fios podem nos proporcionar.
Reconhecer os procedimentos e a infinitas combinações requer, no entanto, a familiarização
com uma certa terminologia têxtil. O universo desta terminologia é bastante amplo, conforme
a complexidade de trabalho empregado na confecção dos tecidos ou das técnicas de tecelagem
dos diversos tipos de fibras xteis. Estaremos introduzindo, de modo sucinto e de clara
compreensão, os principais termos utilizados, principalmente, aqueles aos quais estaremos
nos remetendo em momentos diversos.
Segundo, Puliti, s/data, o tecido pode ser descrito como:
(…) uma falda homogênea, dobrável e macia, de espessura relativamente
pequena, de largura e comprimento limitados, formado pelo entrelaçar de
fios. (p. 09)
Por produto têxtil pode-se entender uma série de artigos feitos com fibras têxteis,
como os tecidos, tapetes, arazzi, cobertas, tule, trinas diversas, Jersey, fitas, artigos para uso
industrial, etc. Entretanto, o termo tecido faz referência ao setor bem definido dos têxteis, ou
seja, todos aqueles produtos que segundo suas características mercadológicas e de uso são
destinados ao vestuário e decoração.
O comprimento do tecido será determinado por uma série de fios passados no sentido
longitudinal, chamada urdidura, dispostos, de um lado ao outro, paralelamente. Um pequeno
número de fios igual, ou melhor, pela resistência é disposto à esquerda e à direita da própria
urdidura e são chamados de ourelas.
A trama ou conjunto de fios passados no sentido transversal do tear se entrelaça com a
urdidura, de uma ourela a outra, e perpendicularmente a esta, formando a largura do tecido,
determinada pela distância entre o primeiro fio da primeira ourela e o último fio da segunda
ourela.
A tecnologia têxtil é determinada através da identificação dos tecidos, por meio de três
componentes: a matéria prima, o entrelaçamento da trama e da urdidura e a manipulação
destes tecidos. A matéria prima deve ser apreciada pela qualidade. Assim, deve determinar o
tipo de fibra (natural ou artificial) e, ainda, seu estado, ou seja, se a fibra é crua, tinta, torcida,
ou se apresenta de modo diverso.
A qualidade e a resistência de um tecido são determinadas pela combinação, na trama
e urdidura, de fios com torções iguais ou diferentes. Desta forma, a torção do fio influencia
121
diretamente na qualidade do produto final. A torção pode ser direta ou indireta (se são
torcidas no sentido horário ou anti-horário) ou mais comumente chamada, em S ou Z. Um
tecido de urdidura e trama com torções iguais, os fios se encaixam uns nos outros, o que
possibilita uma estrutura mais fechada. o tecido com fios de torções inversa e direta da
urdidura e da trama respectivamente, apresenta-se mais poroso e com maior relevo, uma vez
que os fios não se encaixam uns nos outros.
O entrelaçamento das fibras deve ser analisado segundo a tecelagem ou outra técnica
utilizada e, nesta, devem ser identificadas a produção, se por meio de liços ou não, e o seu
modo de confecção.
Diversas são as combinações possíveis entre a trama e a urdidura, sendo que estas
combinações são chamadas de armações (FIG.58). Graficamente, estas armações são
representadas por um conjunto de quadradinhos cheios e vazios. O quadradinho cheio indicará
a passagem da trama sob a urdidura, enquanto que o vazio indicará a passagem da trama sobre
a urdidura.
FIGURA 58 - Representação gráfica das armações: quadradinho cheio e quadradinho vazio.
FONTE: Zolt, s/data, p. 144.
FIGURA 59 – Remetição
4
. FONTE: Zolt, s/data, p.153
Através da identificação da armadura pode-se determinar o tipo de tecido. Os tecidos
podem, segundo a técnica, serem classificados como simples, compostos e lavrados. Os
tecidos simples são formados pelo entrelaçamento de fios da trama e da urdidura,
4
“Dá-se o nome de remetição ou passamento à operação que tem por fim dispor os fios nos liços que se
destinam à fabricação dos tecidos. Os fios de urdimento são passados pelas malhas segundo uma ordem
determinada, que se chama passamento.” Segundo Brambilla, s/data, p.23.
122
determinando armações que podem ser em tafetá (tela), em sarja e em cetim (raso), e diversos
derivados destas três armações.
Os tecidos compostos o caracterizados por sobreposição de várias séries de
elementos sobre uma base de armação. Estes são, basicamente, os diversos tipos de tecidos
dupla face, os tecidos múltiplos e os tecidos especiais, como o brocado, brocatel e o veludo.
Os tecidos lavrados são aqueles cuja superfície apresenta decoração com motivos
ornamentais obtidos através do entrelaçamento de especiais encontros dos fios de urdidura e
trama. Quando a relação supera os 24 fios em evolução diversa, o tear com liços não é mais
suficiente, sendo necessário o uso de montagens adequadas e de máquinas Jacquard, Vincenzi
ou similar que permitam o levantamento simultâneo de um elevado número de fios em
evoluções diferentes.
A manipulação diz respeito ao tratamento, superficial ou não, ao qual podem estar
sujeitos os materiais têxteis, tais como, pintura, gofragem, impressão, bordados, etc..
A decoração dos tecidos pode ser reconhecida nos diferentes estágios de produção
deste material têxtil, tais como, no fio, na tecelagem e na manipulação. Será reconhecida nos
próprios fios, através do uso de fios metálicos ou daqueles identificados quanto à qualidade da
matéria prima: pela sua natureza, ou se se apresentam crus, tintos, torcidos, etc. Na tecelagem,
o modo de confecção determinará o efeito dado pela tecelagem ou entrelaçamento da trama e
urdidura e as manipulações aplicadas serão reconhecidas diretamente sobre os tecido, como
no caso das diversas manipulações do tipo bordado, impressões, entre outras.
Os principais tipos de tecidos utilizados na confecção dos paramentos em geral são o
tafetá, a sarja, o cetim, o damasco, o brocatel, o brocado e o veludo. Destes podemos
encontrar as três armações principais e uma grande variação das derivadas, sendo que a
tecelagem é preferivelmente feita com fios de seda.
Encontramos nos paramentos do acervo do MAAS uma variedade de tecidos, que
seguem as regras apresentadas. São eles: gorgurão, gorgurão com lhama (tecidos
laminados), gorgurão com lhama bordado, gorgurão com lhama gofrado, chamalote, brocatel
de cetim (diversos motivos), damascos, adamascados, tafetá de seda, brocados lançados com
fio metálico dourado e com fios metálicos prateados, damascos brocados lançados com fios
metálicos dourados, brocado espolinado com fundo Gros de Tour misto, veludos mistos,
cetins de seda, cetins de seda bordado, lãzinha, lamê, malhas, feltros, linho e algodão.
Dentre as técnicas de tecelagem, vemos as três armações básicas, ou seja, o tafetá
(tela), a sarja e o cetim (raso), diversos derivados destas armações e algumas técnicas
específicas como o damasco e tecidos compostos como o veludo. Parte significativa do acervo
123
é composta por damascos com decorações de grande dimensões, sendo que os motivos se
repetem em tecidos de cores diversas. Muitos brocados e alguns veludos também foram
identificados, determinando assim, a alta qualidade dos paramentos.
Quanto às cores, podemos observar que seguem as cores da Liturgia, e que em alguns
paramentos foram misturados tecidos diferentes e em cores diferentes, o que demonstra uma
liberdade na montagem ou reestruturação dos paramentos.
Ao analisarmos os tecidos devemos inicialmente identificar a repetição ou o curso de
ligamentos da armação, que será a menor porção capaz de representar, completamente e em
qualquer parte, o tecido analisado. Trataremos então, de apresentar o estudo de identificação
têxtil destas técnicas citadas, determinando as armações básicas que podem ser encontradas,
de forma geral em todo o acervo.
A tela ou tafetá
Será desenhada como o jogo de damas (FIG.60), sendo que encontramos uma paridade
de filamentos e reduções, o que determina um tecido compacto e resistente. Esta armação é
muito utilizada com os fios de algodão, podendo ser feita com outras fibras. Diversos serão os
nomes dos tecidos que apresentam este entrelaçamento, de acordo com os fios, reduções e
acabamento. É geralmente chamada de tela quando se usa fios de algodão na sua confecção e,
tafetá, quando se usa a seda, mas muitos outros nomes poderiam ser citados.
FIGURA 60 – Esquema gráfico da tela. FONTE: Zolt, s/data, p.145.
A sarja
Constituída por uma sucessão de quadrados cheios dispostos na direção da diagonal do
quadrado escolhido como curso de ligamento da armação, dando um efeito oblíquo, que
ocorre a cada deslocamento do fio para a direita ou para a esquerda em todos os cruzamentos
de cada passagem de trama (FIG.61). Quando trabalhada com a seda vem com a definição de
twill. Se definirá pela soma de números que determinará a repetição do ponto, indicando o
comprimento respectivo das laças e dos cruzamentos e sua divisão na repetição.
124
FIGURA 61 - Esquema gráfico da sarja. FONTE: Zolt, s/data, p.146.
O raso ou cetim
Consiste na armadura quadrada com os quadradinhos cheios dispostos segundo uma
ordem aritmética chamada de desfalcamento (FIG.62). Desta forma, o desenho consente de
dispor em cada elemento do curso de ligamento somente um ponto de ligamento e de colocá-
lo sempre no meio de duas tiras longas que próximas escondem completamente os
ligamentos.
FIGURA 62 - Esquema gráfico do raso. FONTE: Zolt, s/data, p.147
O Veludo
Este tecido apresenta uma variação decorrente da técnica de confecção. Pode
apresenta-se com uma superfície cheia de bolinhas (veludo ondulado), com uma pelugem
característica (veludo cortado), ou com ambos os efeitos acima citados. Podem ainda, estes
diferentes efeitos, serem formados pela trama ou pela urdidura, produzindo, assim, veludos
diferenciados (FIG.63).
No artesanato foi muito utilizada uma técnica assimilada desta do veludo, mas que era
produzida com fios mais grossos ou torcidos, que valorizavam o efeito do desenho. No
renascimento foram muito valorizados os trabalhos realizados com fios metálicos trabalhados
com veludos ondulados ou torcidos, chamados de Allucciolati.
125
FIGURA 63 - Esquema gráfico do veludo. FONTE: Zolt, s/data, p.160
Os veludos de urdidura são divididos em dois grupos: os veludos com duplo nível e os
classicamente trabalhados com ferros de corte e torção (FIG.65). Os veludos com duplo nível
são tecidos em teares particulares, modernos e velozes, que produzem contemporaneamente
duas partes sobrepostas a cerca de um centímetro de distância uma da outra. As duas partes
são ligadas por uma cadeia suplementar de pelos que uma lâmina tem a função de cortar para
separar as duas partes.
FIGURA 64 - Esquema gráfico do veludo. FONTE: Zolt, s/data, p.161
O trabalho a ferro que é utilizado sobre tear industrial somente para particulares
veludos operados (FIG.66), sobrevive ainda, em Florença, Veneza e Gênova sobre teares
manuais. São tecidos que, feitos como os refinados veludos antigos, vêm praticamente
utilizados no setor de restauro, devido ao elevado custo.
FIGURA 65 - Esquema gráfico do veludo. FONTE: Zolt, s/data, p.161
O Damasco
É um tecido operado no qual o desenho é lido por efeito da parte opaca sobre o fundo
brilhante ou vice-versa. É constituído por uma armação a claro efeito de trama ou urdidura, do
raso (cetim) pesado ou leve. Desta forma, é um tecido segundo a técnica de raso (cetim) ou
sarja, nos quais uma parte (a trama) serve de fundo e a outra (a urdidura) serve de desenho ou
vice-versa. Podem ser usadas as duas faces, mas aquela onde a trama forma o desenho é o
lado direito.
126
Os Brocados
São tecidos que apresentam efeitos de fios paralelos e soltos que saltam formando
pequenos motivos decorativos. Os efeitos podem ser obtidos com os mesmos fios que
compõem a trama e urdidura, que permanecem soltas na parte direita do tecido, ou através de
elementos suplementares aparecendo pelo direito do tecido e permanecendo soltos no verso
do tecido. Possui um lado direito. No primeiro caso teremos os falsos brocados e no
segundo os brocados propriamente ditos. A urdidura é sempre em seda.
4.2.3 Os fios metálicos
Por fio metálico se entende o produto obtido com a torção e/ou o envolvimento, mais
ou menos estreito, de um fio ou uma plaqueta de ouro puro, prata dourada ou prata sobre uma
alma (núcleo) de fibra têxtil, especialmente de seda. O núcleo de seda, formado de fibras de
seda, era usualmente tingido de amarelo para ser usado com os fios de ouro, sendo que a
variação de tom do amarelo servia para os diferentes tons de ouro. A seda branca era usada
como núcleo dos fios de prata (FIG.66).
c)
a) b)
No decorrer da história dos fios metálicos, observamos que geralmente se indica como
fio dourado ou prateado, o ouro ou a prata esticados, reduzidos em lâminas e posteriormente
torcidos. Esta definição determina, duas possibilidades: a de ser a técnica desenvolvida no
século XVII, uma vez que anteriormente não se usava a lâmina oriunda do ouro esticado ou a
de ser a técnica anterior ao século XVII, em que normalmente se usava com maior freqüência
o fio de metal puro, onde por lâmina se entende, tira finamente partida das folhas de ouro.
Mascarò (1928), nos indica que:
FIGURA 66 – Fios metálicos com núcleo. a) Lâmina metálica achatada, lâmina retorcida e
núcleo interno, b) Fio metálico em “z” com núcleo, c) Fio metálico em “s” com núcleo.
FONTE – ISTITUTO CENTRALE PER IL RESTAURO, 1991, p. 76
127
“Nas cidades italianas do século XIII ao XVI a folha de ouro, inicialmente,
junto ao linho e ao cânhamo e, posteriormente, junto à seda, serviam às
maestrias femininas
5
para a produção de fios. Procedimento largamente
comprovado por inúmeros documentos.” (p.23. Tradução nossa)
No século XVII a fiação era manual (FIG.69) e lenta. Registra-se que para cada 1000
operários bate-folhas eram necessárias 7000 fiandeiras. Em 1696 vem introduzido em Milão a
“molinelli” com mais fios, o que acelerou o processo de produção.
Em Milão se desenvolveu, ainda, uma técnica para economizar a quantidade de ouro
na produção do fio, sendo capaz de dourar a tira de um lado (aquele que aparecia nos
tecidos), descrita em um tratado de 1665, de Garzoni
6
, publicado em Veneza.
Desta técnica secreta encontramos duas versões: a primeira trata-se da prata esticada,
transformada em fio, posteriormente achatada, planificada em minas sutis de certo
comprimento e, então, dourada de uma parte. A segunda versão, trata-se de folha de prata
dourada de um só lado e, posteriormente, cortada.
“(…) se faz mais sutil que a carta daquele que de batedor de ouro é
propriamente denominado e, depois se cortam as tiras finas e as fiam sobre a
seda ou outra matéria preparada (…) se costuma empilhar uma quantidade
5
Tal declaração, além de indicar o espaço temporal da aplicação de certas técnicas, refere-se, ainda, à maestria
com que as mulheres fiavam, indicando quem seria responsável por esta etapa. A gica de tal afirmação,
baseada em documentos, indica que as mulheres tinham como atividade a de preparar os fios, fiá-los e tingi-los,
para posteriormente tecer os tecidos, no ambiente privado. No entanto, na Idade Média, com a organização social
e dos meios de produção de manufaturas, encontramos os homens nos setores ligados à fiação, produção de
tecidos e confecção, quando entramos no ambiente comercial.
6
Garzoni. La piazza universale di tutte le professioni del mondo. Venezia, 1665.
FIGURA 67 - Fiação manual. Desenho de um manuscrito de 1389 (A) e Fiação manual do fio
metálico com seda. Desenho sobre placa de cobre, Wurzburg, 1711 (B).
FONTE – ISTITUTO CENTRALE PER IL RESTAURO, 1991, pp. 61 e 66.
128
de prata fina em “de libre 15”
7
e, deste, se faz uma verga quadrada,
comprida como um braço e, ainda, batida bem e esticada, posteriormente se
pega aquela quantidade de ouro que se deseja colocar, que deve ser de um
ducado (=1 moeda de ouro) por libra e, desta, se faz uma outra verga sutil,
tão larga e comprida (como a de prata) que colocada sobre uma das pontas
possa cobrir aquela feita de prata e, encostadas e aderidas, são colocadas em
um forno de carvão e soprando dentro se fazem esquentar juntas, e
esfregando bem por toda a extensão da verga, com um bastão vem marcado
em forma de unha, de Antano
8
(sic) bem seco fazendo-os unir-se e depois de
bem soldadas e sobre estas, com uma incudine
9
(sic) plana se bate para
alargar aquela matéria, voltando a parte do ouro contra o ouro, duplicando
em outras duplas, e então, com um martelo que tenha a boca muito plana se
bate tanto até que fique tão fina quanto se quer: depois recortar em quadrado,
colocando-os de modo que as mulheres
10
com um par de tesouras compridas,
flexíveis e cortantes, vão cortando-as em tiras finas que o recolhidas e
fiadas com um fuso ou por rodelas ou por outro modo sobre o fio de linho ou
de seda cobrindo bem o fio citado (de fibra) ou tinto em cor amarela ou em
outro modo, fiando-o então. (p. 662 e 663) (Tradução nossa).
A partir do século XIX podemos observar que estes fios dourados ou prateados eram
feitos de materiais diversos além do ouro, da prata dourada e da prata, sendo comumente
utilizado o cobre, o estanho e o alumínio em torno de um centro de fibras de seda ou algodão.
São lâminas douradas falsas obtidas através de máquinas elétricas, sendo a França e
Alemanha são os centros mais desenvolvidos desta produção.
Associada ao desenvolvimento das técnicas de manufatura e produção dos fios
metálicos desde a antiguidade, podemos observar grande variedade encontrada quando da
análise dos elementos de composição dos metais, de acordo com o país onde é produzido,
indicando, provável origem, por análise comparativa com dados de outros fios.
As máquinas existentes atualmente para a produção dos fios metálicos o de diversos
tipos, cada uma específica para um tipo de fio. Assim, a máquina para fio esticado ou Trait
produzia o fio redondo como o da antiga trafileira
11
. As máquinas de Lâminas produziam
lâminas obtidas com o passar dos fios esticados no laminador. A máquina de Fio ou Filet
produzia lâminas envolvidas em espiral, mais ou menos finas, sobre um fio de fibra têxtil.
Os fios chamados de Laminetas ou Meplat eram o resultado do envolvimento em
espiral das lâminas sobre uma alma composta por dois fios de algodão (ou outro) unidos e
passados depois da cobertura sobre o laminador.
7
1 libra = 16 onças = 0,45359237 Kg.
8
Material com o qual era produzido o instrumento, mas que não conseguimos identificar, por se tratar de
nomeclatura antiga.
9
Instrumento regional utilizado no processo de produção do fio metálico.
10
Indicação do trabalho feminino, na parte final da produção da lâmina metálica, que será posteriormente fiada.
11
“Trafileira” = tra + fileira. A fileira era o instrumento utilizado para estirar o metal. Ver a figura 69A.
129
Diversos são os tipos de fios dourados usados para bordar ou na tecelagem de tecidos,
de acordo com a forma, o material e a técnica utilizada para douramento. Podemos
determinar, quanto à forma, os tipos de fios comumente encontrados:
1. Trafilado: simples seções circulares.
2. Laminado: fio plano, achatado com fita muito fina e estreita, obtido laminando um
fio trafilado.
3. Fiado: obtido envolvendo a lâmina em espiral em volta de um fio têxtil de suporte
chamado alma. Pode assumir diversos aspectos e denominações de acordo com a alma
escolhida e do modo com a qual vem envolvida.
4. Cacheado ou Torcido: obtido envolvendo em espiral o fio metálico fiado sobre uma
alma muito grossa de dois ou mais fios de seda, ou mesmo retorcida. Encontramos diversos
tipos de acordo com a alma do ouro fiado ou o tipo de envolvimento escolhido.
5. Oro membranoso: era obtido cortando em tirinhas muito estreitas a pele de
membrana de tripa de animais, depois do douramento ou prateamento, constituído geralmente
de uma lâmina muito fina, obtida através de um particular processo de batimento feitos pelos
então chamados Battiloro.
6. Orpello: ouro membranoso torcido em volta de uma alma de linho, cânhamo ou
seda. No séc. XIII-XIV era mais comum encontrarmos a alma de linho, cânhamo ou accia
(seda de qualidade inferior). A partir do XV prevalece o uso de alma de seda.
7. Arginpello: igual ao orpello, mas com a prata. Pode aparecer de modo diferente
segundo a cor da seda.
Vemos que, basicamente, encontramos dois tipos de fios dourados ou prateados: os
fios metálicos e os fios membranosos. Os fios metálicos variam muito quanto à sua
composição, podendo consistir em fios de ouro sólido, geralmente puros ou envolvendo almas
de fibras têxteis ou compostos de ligas metálicas e uma camada fina de ouro na superfície,
que pode ser obtida através de diferentes técnicas. Os chamados fios membranosos são um
especial grupo de fios diversificados, que fazem parte dos fios de ouro, feitos com o
douramento de materiais diferentes, tais como, couro, pergaminho, papel ou tripa animal e,
posteriormente, cortados em tiras.
A diferença entre o ouro em folha e aquele chamado cartolino é dado pelo fato que o
primeiro vinha batido com martelos pesados e, aos poucos, depois de vários batimentos, eram
estendidos em folhas e partidos em tiras com tesouras compridas, envolvendo posteriormente
a seda, através da maestria feminina, especialistas nas duas artes. O segundo era pergaminho
dourado.
130
Historiadores
12
afirmam que os fios de ouro feitos com a técnica citada na blia
(Êxodo, 39: 2-3) foram, certamente, também produzidos na Europa. Segundo Járó, (1990),
diversas investigações feitas nos acervos europeus
13
não podem confirmar ou contradizer tal
afirmação, e sim colocar questionamentos. Os dados obtidos destas investigações
determinaram que muitos eram os modos de manufatura dos fios metálicos dourados: de ouro
puro, de ouro com pequenos traços de prata ou prata dourada. A feitura das folhas de ouro
varia muito, tendo sido descritas em diversos tratados antigos, tais como, Papyrus Leiden,
Manuscrito de Lucca e Diversarum Artium Schedula.
“se as folhas de ouro mediam um palmo de comprimento e o ajuste das tiras
cortadas era de aproximadamente 10 cm de comprimento, levaria muito tempo até
que quilômetros de fios fossem feitos”
14
.
O método de estiramento dos fios metálicos, conhecido na Idade Média, foi o mais
utilizado, pelo menos na maioria dos casos observados em referida investigação, mas diversas
análises puderam comprovar o uso do método de junção de tiras de folhas de metal.
15
A maioria dos historiadores data o aparecimento dos fios de prata dourados na Europa
por volta do século XIII e XIV. As tiras de prata eram esticadas, achatadas e, posteriormente,
douradas pelos dois lados, sendo comprovados pelos testes realizados
16
, de manufaturas deste
período, que indicaram que não havia diferença entre os dois lados das lâminas de prata
dourada.
Nenhuma menção é feita por Theophilus, autor do manuscrito Diversarum Artium
Schedula, datado de 1200, ao descrever como que a prata e a folha de ouro poderiam ser
soldados e martelados até se reduzirem em faixas. Destas faixas, finas tiras poderiam ser
cortadas para serem enroladas em volta de fibras de seda. No entanto, através deste método,
apenas um lado seria dourado. Theophilus, em seu “manual”, indica que diversos tipos de fios
metálicos poderiam ser encontrados, de acordo com o material com o qual eram produzidos:
12
Por exemplo, O.v. Falke, Kunstgeschichte der Seidenweberei”, Berlim, 1921, . Flemming, Textile Kunste”,
Berlim, 1923, H. Schmidt, Alte Seidenstoffe”, Braunschweig, 1958, F. Bock, “Goldstckereien und Webereien
in alter und neuer Zeit und das dazu verwandte Gold-gespinst”, Bayerisches Gewerbemuseum in Nuremberg,
1884, citado em Járó, Marta, “Gold Embroidery and fabrics in Europe: XI-XIV centuries”. Gold bolletin, volume
23, number 2, pp. 39-57, 1990.
13
Nurembergue, Budapeste, Lion. Jaró, 1990, p.45 e Tabela 1, p.46.
14
Jaró, 1990, p.46. Tradução nossa.
15
Explicação detalhada sobre as duas técnicas encontradas nas investigações, in: Jaró, 1990, p.47.
16
FIGS. 10 e 11a e 11b, in Jaró, 1990, p.47.
131
“Existem tecidos de fios de ouro para as pessoas pobres do mesmo modo
como para as ricas, com a diferença que para essas últimas eles são de ouro
puro”. (p.127)
17
(Tradução nossa)
Segundo Kind, (1963), o uso dos fios metálicos de prata dourada na Europa é anterior
ao século XIII, de acordo com análises feitas em um bordado Inglês, o “Opus Anglicanum”.
Jaró, (1990), resume os resultados de diversas pesquisas
18
, esclarecendo que ao comparar os
dados deve-se considerar que os resultados das análises se deram em diferentes modos.
Assim, junto com Hoke e Indicator, foi medida a concentração de elementos no verso
das lâminas de prata através da microscopia eletrônica de varredura acoplada ao detector de
energia dispersiva de raio-X. Darah usou o mesmo método, mas não indicou o local da
análise, se no verso ou reverso da lâmina. Foi sugerido por Hoke, que se fizesse a comparação
da razão entre a quantidade de ouro e de cobre encontrados nas lâminas analisadas por todos.
Quanto ao material, vimos anteriormente que os fios metálicos variam muito de
acordo com a região ou país em que foram produzidos. Segundo Hoke et al. (1977), uma
distinção entre os fios metálicos europeus e os fios metálicos feitos no leste da Europa,
poderia ser feita através da quantidade de cobre contido na prata, indicando que uma maior
proporção é encontrada nos fios europeus que nos fios do leste, no entanto os dados de Darah,
Indicator e Jaró, indicavam um equilíbrio nos dados da quantidade de cobre nas lâminas de
ambas origens.
Segundo Járó
19
, em todas as amostras dos fios examinados datados do XI-XIV, foram
encontrados a prata dourada apenas de um lado. O modo de preparação do fio de prata
dourado neste período é desconhecido, que os dados de Theophilus são dados a partir do
século XIII, mas analisando a distribuição dos diferentes elementos nos dois lados das
lâminas e os traços de mercúrio encontrados, alguns hipóteses poderiam ser dadas, mas
deveriam ser feitas outras análises mais específicas, podendo ser apontados, inclusive, tipos
diversos de fios de prata dourados.
Não se sabe ao certo quando e onde os fios de prata esticada foram introduzidos na
Europa. Este dado é ainda desconhecido, pois deveria ser necessário um estudo sistemático e
profundo sobre a origem de todos os diferentes tipos de fios de prata, capaz de produzir um
banco de dados suficiente para se fazer uma análise comparativa e chegar a conclusões.
17
Opus Anglicanum”, Catalogue by Donald Kind, London, 1963, p. 13, citado por Jaró, 1990, p.48. Outras
fontes são citadas por Jaró, como M. Flery-Lemberg, “Textile Conservatio and Reserch”, Schriften der Abegg
Stiftung, Bern, 1988, p.475.
18
Hoke e Petraschek-Heim, 1977, pp.49-62, Darah, 1987, p. 214, Indicator et al., 1988, pp. 3-22, e dados
próprios não publicados, realizados no Institute of Techinical Physics of the Hungarian Academy of Science.
19
Járó, 1990, p.50.
132
4.2.3.1 Análises anteriormente feitas e publicadas de fios
metálicos de algumas peças do acervo
Quando necessário, a investigação histórica dos tecidos com fios de ouro pode ser
completada com as análises de investigações científicas. Estas podem ser determinadas pelos
testes morfológicos e os testes dos materiais das fibras e fios, precisando, no primeiro caso, os
tipos e dimensões dos fios, a observância das técnicas usadas para a feitura destes, as cores, as
torções, os materiais e os suportes orgânicos no caso das membranas, e no segundo caso, a
composição dos metais e as técnicas de douramento
20
.
Através das análises organolépticas do acervo em estudo, observou-se que as peças
apresentam uma variação quanto aos tecidos e materiais utilizados, se homogeneizando pela
alta qualidade do conjunto. Tal observação, feita quando da realização necessária do
fichamento de cada objeto têxtil e da análise estilística e formal para estudar sua provável
origem, indicou que as investigações científicas seriam desnecessárias naquele momento, uma
vez que nos foi perfeitamente possível fazer seu estudo através de suas formas e decorações.
Porém, buscando comprovar, cientificamente a qualidade das peças, apresentamos os
resultados de um estudo preliminar do acervo têxtil do Museu de Arte Sacra de Mariana,
realizado pela química, Claudina Moresi, em 1998 e publicado nos Anais da Abracor do
mesmo ano. Podemos através dos resultados obtidos observar não somente os fios metálicos,
assim como os fios têxteis que foram analisados quanto à fibra e aos corantes.
Foram escolhidos objetos que apresentavam materiais de grande riqueza (mesmo não
sendo esta a intenção da autora) e que comportam em si componentes que podem ser
encontrados na maioria dos outros paramentos, tais como o tipo de tecido, o tipo de bordado e
o tipo de material aplicado como decoração. Além disto, o que nos é oportuno é que esses são
objetos que se encontram em exposição permanente, nos dando parâmetros para poder
analisar seu real estado de conservação.
As peças são: uma grega
21
(MAM-0917), uma estola (MAM-0920), uma capa de
asperge (MAM- 0966) e uma toalha
22
(FIG.69) e as amostras retiradas das peças selecionadas
são apresentadas segundo a Tabela I, formulada pela autora, na figura 70.
20
Um exemplo deste procedimento pode ser visto em Coppola, Soraya Aparecida Álvares. Nossa Senhora das
Dores: aspectos científicos do estado de conservação de uma obra têxtil, complexidade de materiais e critérios de
intervenção”. Monografia orientada pelo prof. Dr. Luiz Antônio Cruz Souza e apresentada no
Cecor/EBA/UFMG, em julho de 2002.
21
Na verdade referido objeto trata-se de um escudo de pluvial.
22
Trata-se de um riquíssimo véu de ombros, que se encontrava, à época da pesquisa da autora, em exposição,
forrando um pequeno altar de madeira na sala de prataria do MAAS.
133
A chamada “grega” (clipeus) é composta por cetim de seda branca, ricamente bordado
com fios de seda colorida e fios metálicos. A “toalha de altar” (véu de ombros) é um
chamalote de seda vermelha ricamente bordada com fios metálicos dourados e prateados, lisos
e crespos, canutilhos, aljofres e lantejoulas. A estola e a capa de asperge ou pluvial são
gorgurões de seda com lhama de fio metálico dourado, ricamente bordados com fios
metálicos lisos e crespos, canutilhos, aljofres e lantejoulas, sendo a primeira amarela e a
segunda vermelha. Excetuando o véu, as outras peças fazem parte de conjuntos próprios, onde
podemos encontrar outras peças de funções diversas, feitas com o mesmo tecido, na mesma
cor e mesmos bordados.
FIGURA 68 – Paramentos do acervo do MAAS.
FONTE: Fotos cedidas pela autora, Claudina Moresi.Anais da Abracor, 1998, p.328.
Dos resultados obtidos podemos observar a grande qualidade dos fios metálicos,
tratando-se de fios de prata dourados, uma vez que são compostos, basicamente, de prata e um
pequeno percentual de ouro, tendo sido identificados outros elementos que serão
posteriormente analisados, por serem já fruto do estado de conservação das peças.
134
FIGURA 69 - Tabela de amostras dos paramentos dos MAAS analisados.
FONTE: Anais da Abracor, 1998, p.328.
As fibras foram, primeiramente, analisadas no microscópio estereoscópio, com
aumento de 10 a 40X, o que permitiu classificar o tipo de fibra, têxtil, metálica ou fio com
alma de seda (FIG.70 e 71).
FIGURA 70 – Fios metálicos e alma de fibra de seda.
FONTE: Fotos cedidas pela autora, Claudina Moresi.Anais da Abracor, 1998, p.328.
FIGURA 71 – Fio metálico com alma de seda e Imagem do fio do MEV.
FONTE: Fotos cedidas pela autora, Claudina Moresi.Anais da Abracor, 1998, p.328.
O estudo da morfologia têxtil se realizou através do microscópio ótico com luz
polarizada em aumento de 100 a 200X, sendo identificadas de acordo com seu corte
longitudinal.
135
As análises dos metais, cujos resultados são apresentados na Tabela II, na figura 72,
foram realizadas através da microscopia eletrônica de varredura (SEM) acoplada à um
detector de energia dispersiva de raio-X (EDX), identificando, assim, os elementos metálicos
constitutivos dos fios, permitindo um analise quantitativa.
FIGURA 72 – Tabela II. FONTE: Anais da Abracor, 1998, p.329
Os resultados mostram que os fios metálicos apresentam a parte metálica na forma de
lâminas retangulares/achatadas e fios arredondados, ambas enroladas em almas de seda
amarela, cobrindo-as completamente.
Segundo Moresi (1998)
23
, os elementos de composição destes fios têxteis e metálicos
vêm a indicar o período da confecção dos tecidos, variando entre o final do século XIX e
início do século XX.
Os corantes das fibras têxteis coloridas são apresentados na Tabela III, figura 73,
tendo sido identificados por cromatografia líquida de alta freqüência (CLAE) com detector de
múltiplos canais no ultravioleta/visível, que possibilita detectar as substâncias orgânicas
coloridas. Verificou-se a presença de corantes naturais e sintéticos, utilizados em peças
diversas.
Na capa de asperges observamos a presença do corante sintético vermelho Fast Read
AV, CI n
o
. 15620, no tecido em tafetá de seda utilizado como forro, enquanto que nos fios
amarelos do gorgurão de seda com lhama metálica dourada foi identificado o corante Reseda
Luteola. No tecido gorgurão de seda vermelha com lhama metálica dourada da estola e no
tafetá de seda vermelho do véu de ombros (analisado como toalha de altar), vemos a
Cochonila Americana (Dactypuis Coccus). No clipeus (analisado como grega), em tecido
cetim de seda bege bordado com fios de algodão colorido, vemos nos fios coloridos o Fast
23
Moresi, Claudina et all. Estudos Preliminares do Acervo Têxtil do Museu de Arte Sacra de Mariana. In: anais
do IX Congresso da Abracor, Salvador, Bahia, 25 a 30 de outubro de 1998, pp.327 a 331.
136
Read AV, CI n
o
. 15620 (vermelho), a Cochonila Americana (vermelho), o Reseda Luteola e o
indigoide (verde), um lilás formado por um sintético complexo, provavelmente composto por
vários sintéticos associados, e um azul sintético que não foi identificado.
FIGURA 73 – Tabela III. FONTE: Anais da Abracor, 1998, p. 329
Somente o corante sintético Fast Red AV foi identificado e sua descoberta data de
1877, o que nos aponta o tafetá de seda vermelho utilizado para forro, certamente como um
tecido da segunda metade do século XIX. Os forros eram partes que, com o grande uso da
peça (principalmente das mais ricas e importantes), deveriam ser trocados para que a veste
continuasse a servir em sua função. Como o tecido principal não foi analisado, não podemos
compará-los. Certo é que a veste se apresenta com características do século XIX, mas apenas
pela analise da fibra do forro se pode afirmar, com certeza, que toda ela seja da segunda
metade do referido século.
Os corantes sintéticos não identificados são encontrados nos fios coloridos do clipeus,
que são fios de algodão utilizados no bordado chinês em ponto matiz. Referida peça,
pertencente a um conjunto de grande número no acervo, executados com os mesmos motivos
fitomorfos e com os mesmos materiais são, certamente, da segunda metade do século XIX,
segundo o estilo e o material que apresentam.
As outras duas peças, o véu de ombros e a estola, podem ser datadas entre a segunda
metade do século XVIII e início do XIX, sendo o véu certamente do XVIII e a estola,
137
pertencente a um conjunto de casula e manípulo, entre o final do XVIII e início do XIX.
Ambas apresentam corantes naturais.
O que podemos observar é que as análises vieram a reiterar o resultado desta pesquisa,
ou seja, a identificação do acervo através da análise formal e estilística, comprovando que
podemos, com conhecimento e cautela, conhecer o acervo têxtil através de dois caminhos,
pelos métodos científicos de análise ou pela análise organoléptica dos tecidos, por sua
historia, tecnologia têxtil e confecção.
Associando os resultados da análise dos materiais dos tecidos do acervo, realizada por
Moresi, às análises estilísticas e formais feitas neste trabalho, diria que os tecidos laminados
poderiam ser do segundo quartel do século XIX, tendo sido largamente produzidos desde o
final do século XVIII ao início do século XX, na Europa, principalmente, na Itália. São
ricamente bordados ao gosto do século XIX. O escudo e o véu, certamente pertencem à
mesma época, devido às suas características estilísticas e sua decoração e desenhos.
Observando o acervo em estudo, podemos afirmar que, se esteticamente os
paramentos se apresentam de forma diferente, encontramos uma semelhança quanto aos tipos
de materiais utilizados, como sedas coloridas, fios de seda coloridos, fios metálicos, lâminas
metálicas e apliques metálicos de bordado, além da qualidade de sua confecção.
Esta observação associada aos resultados encontrados pela nossa pesquisa pode nos
assegurar que, referido acervo, em sua maioria, apresenta materiais de alta qualidade,
confeccionados em seda e fios metálicos, podendo ser classificados, a capa de asperge e o
clipeus no século XIX e o véu de ombros e a estola, entre o final do XVIII e inicio do XIX.
As análises de Moresi incidiram sobre peças heterogêneas, que pertencem a épocas
distintas, mas sempre do final do XVIII ao XIX, datação esta que coincide com o restante do
acervo do MAAS.
Seria interessante, em um trabalho futuro, selecionar um tipo de tecido, característico
do acervo, ou seja, encontrado em grande quantidade, e que historicamente sua confecção
perpassa os séculos XVIII e XIX, para analisar os tipos de fios de fibras têxteis e seus
corantes, os fios metálicos e apliques, comparando os resultados às análises dos fios de um
comprovado brocado do culo XVIII e outro comprovado tecido do século XIX, compostos
pelas mesmas cores.
138
CAPITULO 5
DA ANÁLISE DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO ACERVO
Os conceitos de conservação e restauração foram amplamente discutidos e definidos
em diferentes épocas, por diferentes linhas de restauro, sendo contextualizados de modo
genérico, quanto aos tipos de acervos, ou de modo específico, quanto aos singulares materiais
que compunham estes acervos.
Não pretendemos, com esse trabalho, repetir o discurso. Analisando a bibliografia
existente na área de conservação/restauração têxtil, desde os mais remotos exemplares às
produções atuais, de casos concretos e apresentações em congressos no Brasil e na Europa,
buscamos enfatizar o objetivo primordial desta pesquisa: conhecer para valorizar. Mostramos
a ênfase dada aos processos iniciais necessários à preservação de um acervo, no caso
específico, um acervo têxtil, sabendo-se que, os modos de preservação são diversos sendo
definidos pelas atividades que concorrem ou que delas resulte a conservação de um bem
cultural.
Existem fatores constantes dos quais a preservação dos bens culturais dependem, ou
seja, fatores determinantes sobre os quais todos os profissionais envolvidos na salvaguarda
das coleções precisam atuar. Dentre esses, podemos apontar, através de um diagnóstico, os
fatores de segurança física da obra, tais como a proteção do acervo, o acesso a este, a
exposição e armazenagem, as questões ambientais, as ações de microorganismos e insetos,
enfim, aqueles capazes de determinar as condições das coleções e apontar os fatores causais e
de riscos para serem priorizados e sanados.
Além do conhecimento histórico e da busca de informações sobre os têxteis, buscou-se
o conhecimento prático do acervo em estudo através do preenchimento das fichas de
identificação, após uma observação minuciosa do acervo, no geral e no particular, apontando
itens normalmente avaliados nos diagnósticos de conservação acima elencados, determinando
as condições do acervo têxtil do MAAS atualmente.
Quando se trata de um acervo inventariado, basta consultarmos as fichas de inventário
e preencher, de modo abrangente, a ficha de identificação do objeto. Quando, no entanto, o
acervo não foi ainda objeto de inventário, deve-se buscar as informações necessárias e, então,
formular uma ficha de identificação específica àquele acervo. Essa é a realidade encontrada
na maioria das coleções têxteis no Brasil e foi o caso do acervo de Mariana.
139
H. J. Plenderleith
24
, um dos primeiro teóricos a introduzir a discussão sobre a
importância da conservação preventiva, inovando ao dedicar um capítulo aos xteis, dentre
outros argumentos apresentados, enfatiza a importância das observações preliminares.
O autor nos adverte que, o momento ideal da observação é aquele inicial, mesmo que
o objeto se encontre muito sujo e não seja possível conhecer os particulares, importante se faz
obter, através da observação, o máximo de informações que podem ser perdidas durante o
processo de tratamento. Adverte, ainda, que as observações preliminares é que determinarão
ou apontarão quais os métodos a serem adotados no tratamento.
Toledo (1998), nos recorda a passagem do romance de Allen Kurzweil
25
, quando,
explicando o conceito contido na caixa de curiosidade, objeto central da narrativa, um velho
senhor explica ao narrador o significado do memento hominem” encontrado em uma caixa
de madeira adquirida em um leilão de antigüidades, que continha um frasco de vidro, um
manequim, um cogumelo, um botão, uma sineta, um relógio, um pintarroxo, uma rola e um
compartimento vazio. Assim:
“um memento hominem registra uma vida. Cada objeto na caixa indica um
momento ou relacionamento decisivo na história pessoal de quem a montou.
Os objetos escolhidos muitas vezes são comuns; os motivos para a sua
escolha, nunca”. (p.9-11)
Podemos retirar deste trecho a referência passível com a história, a identidade cultural,
a memória e a preservação, uma vez que cada objeto de um acervo é, certamente, um
documento do momento em que foi confeccionado, é um “retrato” de sua época, do momento
de quem o confeccionou.
Chegamos a um ponto importante: o objeto como documento. Quantas informações
podemos encontrar em um objeto! Devemos, no entanto, aprender a olhar. O nosso modo de
vê-lo determina a sua correta leitura. Devemos assim, de modo científico, buscar observar
todos os dados que pudermos identificar. Neste processo de conhecimento, a justa análise
organoléptica e/ou científica do objeto, somada à precisa pesquisa em fontes primárias e
secundárias, bem como a observação do ambiente em que está inserido, vem a constituir a
fase inicial do diagnóstico de conservação do acervo.
24
Plenderleith, H. J. The conservation of antiquities and works of art: treatment, repair and restoration. London:
Oxford University Press, 1956.
25
Kurzweil, Allen. Uma caixa de curiosidades. São Paulo, Companhia das Letras, 1993.
140
Os xteis levam consigo a possibilidade de estar associados a uma variada gama de
materiais que os completam, que os dão forma. Encontramos, assim, junto a eles, e com muita
freqüência, p.ex.: o couro, os metais, os papéis, a madeira, entre outros.
Devemos observá-los em sua riqueza de composição, sendo por este motivo que o
profissional da área de conservação têxtil tem a necessidade de conhecer, além deste material,
também alguns outros, especificamente os metais. Mas o basta um conhecimento
superficial destes materiais, ele deve ser capaz de, além do que se refere às conseqüências que
esses venham a causar àqueles, estar identificando as degradações específicas de cada um e,
ainda, os levando em consideração, apontar a solução que seja ideal para o conjunto, sem dar
qualquer privilégio a um material em detrimento de outro.
É interessante reproduzir as observações relevantes que nos coloca Toledo (1998),
quando afirma que:
“o estudo de qualquer artefato para fins de conservação pressupõe um
período mínimo de convivência com ele. Examina-se cada detalhe, cada
alteração ou dano sofrido, olha-se, observa-se minuciosamente tudo. No
caso dos têxteis, quase sempre, gasta-se algum tempo para entendê-lo como
forma, como engenharia, a que num determinado dia, olha-se para ele,
mesmo quando muito fragmentado, e tudo passa a fazer sentido.” (p.85).
Neste tempo de observação, diversas perguntas vão sendo feitas e é através das
respostas, quando as encontramos, ou através de outras perguntas que nascem das primeiras,
que vamos conhecendo o objeto, desvendando seus mistérios, lendo-o com os olhos
investigativos, escrevendo sua história, valorizando-os e, assim, preservando-os.
Realizamos, com este trabalho, uma pré-análise do acervo em seu conjunto,
conhecendo-o, catalogando-o, fazendo um levantamento histórico e específico, bem como
observando seu atual estado de conservação, através de análise organoléptica e observações
quanto ao ambiente em que se encontra, àquele onde é exposto e ao modo como está
acondicionado, buscando apontar caminhos viáveis para a realização correta e eficaz de um
futuro diagnóstico de conservação, visando sua segura exposição e acondicionamento.
Os resultados observados foram analisados e apresentados através de gráficos, que
vêm indicar os problemas individuais e gerais do acervo desde o inicio de nossa pesquisa. O
conhecimento destes dados levantados são de grande importância para um futuro
acompanhamento e conservação, fundamentais para a orientação e direcionamento das
medidas de intervenções sobre o acervo.
Gostaríamos de enfatizar que este trabalho não se propôs a uma avaliação e
diagnóstico de conservação preventiva completo, mas a reunir bases concretas de informações
141
sobre o acervo, através do conhecimento, valorização e avaliação conservativa deste, como
uma fase preliminar, urgente e necessária àquela, visto que a situação em que se encontra o
acervo é inadequada, a ponto de poder, em pouco tempo, o mais existir ou, simplesmente,
contar com poucos exemplares.
Mesmo aparentemente com boa apresentação estética, o estado geral das peças é
preocupante, apresentando desde problemas estruturais do suporte até a existência de enormes
lacunas provocadas por causas diversas. Muitas delas apresentam grandes manchas e fios
desfiados. Todo o acervo se encontra em um estado de sujidade generalizada avançada, sendo
esta uma grande causa de degradação da estrutura têxtil quando associada, como é o caso, a
um ambiente de elevada umidade.
Analisar o estado de conservação do acervo inclui a observação do ambiente em que
está inserido ou acondicionado. Podemos observar diversos fatores que influenciam de modo
direto e indireto nas propriedades dos materiais que o compõem, variando segundo o tipo e
sua intensidade de influência.
Tratamos aqui de uma coleção têxtil, composta por materiais diversificados. Iniciamos
do geral ao particular a fim de observar as conseqüências e tipos de degradações que podem
ocorrer junto às peças. Todos os diferentes tipos de materiais, que podem estar fazendo parte
de um objeto têxtil, como freqüentemente os metais, sofrem na estrutura interna própria, as
conseqüências das causas de deterioração por agentes externos, devido à sua composição e a
um acondicionamento inadequado. Junto aos têxteis estas causas se somatizam, sendo que se
tornam agravantes e concorrentes entre si.
São diversos os problemas que devem ser enfrentados para se garantir a constância de
um ambiente ideal que possa estar acondicionando ou sendo expostos os acervos xteis: a
luz, o ar, a umidade relativa do ambiente, os insetos e microorganismos que podem aparecer.
Importante se faz aqui avaliar como, quando e porquê estes fatores podem afetar os têxteis e
puderam afetar o acervo têxtil do MAAS.
5.1 Do edifício de acondicionamento
O edifício de armazenagem do acervo têxtil é a antiga casa do Barão de Pontal, que se
encontra, no presente momento como lugar de acondicionamento de diversas coleções do
MAAS, tais como, o mobiliário, as cerâmicas, porcelanas, vidros e pinturas.
142
Encontramos nos arquivos permanentes do IPHAN/13ª Regional, na pasta da cidade
de Mariana, “monumento Casa do Barão de Pontal, serie 1”, diversos documentos referentes
ao histórico de conservação deste edifício, desde seu processo de tombamento.
Referido imóvel se encontra à Rua Direita, no. 50 e trata-se de um monumento
histórico de grande valor (FIG.74). A construção, atribuída a José Pereira Arouca, é datada,
em 1752 (com 19 anos) ou aproximadamente 1790 (com 38 anos), segundo o historiador
Antônio Ferreira Morais, uma vez que teria nascido Arouca em aproximadamente 1733.
O fato é que, desde sua construção ela veio sendo ocupada como residência civil,
inicialmente, e segundo relatórios do IPHAN, pelo Pe. José Simões e pelo Pe. Vigário Geral
Geraldo de Abrandos, “ainda no tempo de Vila do Carmo”, posteriormente por Manuel
França Campos, José Pereira Arouca, Inácio José Rabelo, Manuel Ignácio de Mello e Souza
dito Barão de Pontal (português), Landufo de Magalhães e Celso Arinos Motta.
FIGURA 74 – Casa do Barão do Pontal, Mariana, MG.
Na propriedade deste último se processa o tombamento e, muito tempo depois, vieram
as herdeiras a vender o imóvel ao IPHAN, que concede seu direito de preferência de compra à
Arquidiocese de Mariana (ofício 141/86), que havia pronunciado interesse em adquirir tal
imóvel para ampliação do Museu de Arte Sacra, o que podemos ver em um ofício de .
171/86, de 14 de maio de 1986, de Cláudio Augusto de Magalhães Alves, então diretor
143
regional do SPHAN a Dom Oscar, dando liberdade à Arquidiocese de providenciar os
tramites legais para a aquisição do imóvel.
O Guia dos Bens Tombados do IPHAN (s/d) assim a apresenta:
“A casa do Barão de Pontal é um dos sobrados senhoriais mais bem
conservados da cidade. Foi construído do final do século XVIII e início do
XIX. Tornou-se histórico por ter sido residência de Manuel Inácio de Melo e
Souza, o Barão de Pontal, governador da Província de Minas Gerais durante
o período regencial” (p.172)
Sua estrutura, segundo relatórios do IPHAN, Ofício 000171 de 23/02/85,
“é composta por esteios e baldames de madeira e frechais, com cunhas em
madeira e massa. As paredes de vedação são de taipa de sebe revestidas
com reboco liso e posteriormente caiadas. As beiradas são constituídas por
cimalha, cachorro e caibro corrido, quatro sacadas isoladas com piso em
pedra e parapeitos em pedra sabão. Encontramos uma porta almofadada e as
outras lisas com vergas retas. As janelas do andar superior são rasgadas por
inteiro com postigo sobreposto, com vergas e marcos. Os forros são feitos
de esteira, tabuado liso, estuque e saia-e-camisa com pintura lisa. O piso é
de tabuado liso, a cobertura de entelhamento de cerâmica de meio cilindro,
o sótão ou mirante apresenta dois cômodos. Seu estado de conservação é de
regular a bom. As sacadas são “rendadas em pedra sabão esculpidas pelo
mestre Aleijadinho (únicas no mundo)””.
Possui uma área total de 862 m², sendo que o Museu Arquidiocesano ocupa, no
primeiro pavimento, um área de 403 m². Foi tombado em 06/07/62, conforme processo n. 500
- T, inscrição n. 344, Livro de História, fls. 56. A casa foi restaurada pela Arquidiocese em
1987, após vistoria da mesma, em 07/01/86, relatório n. 02/86, que determinava estar essa
com problemas graves em determinados trechos.
Referida casa (FIG.75A) foi requerida para sediar o Museu da Música e do Canto, mas
se prestou a armazenar os bens móveis pertencentes ao Museu de Arte Sacra da Arquidiocese,
abrigando, assim, o mobiliário, os têxteis, as cerâmicas e objetos de materiais diversos.
Em 1987, com a assinatura de um convênio entre a Fundação Pró-memória e a
Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana, elaborou-se o inventário dos bens móveis e
integrados da Casa Capitular e da Casa do Barão, e em 1989 foi realizado um projeto de
revitalização do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra coordenado pelo SPHAN, data da
catalogação e classificação do acervo, observando-se que os têxteis não foram privilegiados.
O prédio, atualmente, apresenta um ambiente muito úmido e que por estar
constantemente fechado facilita o aparecimento de diversos problemas aos têxteis, como a
presença de insetos e microorganismos.
O acervo têxtil foi acondicionado de modo diverso. Em 2002 encontramos todo o
acervo na sala 1. Em 2004, os paramentos como dalmáticas, estolas e capas encontravam-se
144
dependurados na referida sala 1 e as estolas, toalhas, bandeiras, e outros, se encontravam
dobradas e envoltas por papel ácido nas salas 2 e 3 (FIG.75B), tendo sido organizada após o
processo parcial de inventário do acervo dos bens móveis (mobiliário, esculturas e pinturas),
realizado no ano de 2002/2003. em 2005 as peças foram encontradas nas salas 4 e 5 da
FIG.75B, quando referido processo de inventário deu continuidade, abordando o restante do
acervo (cerâmica, prataria e têxteis).
FIGURA 75 - Planta baixa do primeiro pavimento da Casa do Barão (A) e Planta de situação da
ocupação do acervo da Arquidiocese de Mariana (amarelo) e localização do acervo têxtil nas salas 1,
2, 3, 4, 5 (B).
Quando do início da pesquisa em 2002, encontramos o acervo xtil parcialmente
empilhado em mesas de madeira e dependurado em cabides inadequados, apesos em arames
que foram amarrados nas extremidades das paredes. As vestes encontravam-se envoltas em
papel ácido e/ou plásticos e aquelas dependuradas, devido ao peso dos cabides nos arames, se
condensavam em um único ponto, ficando completamente emboladas.
Como é de se observar, esta é a realidade em que se encontram muitos acervos têxteis.
Devido à fragilidade do material que o constitui, estes acervos guardados e fadados ao
esquecimento, podem sofrer muitos tipos de deterioração, no entanto, se estiverem
acondicionados em locais absolutamente escuros, provavelmente poderão ser salvos.
De certa forma, observando a valorização dos acervos têxteis e o estado em que se
encontra a restauração têxtil no Brasil, este esquecimento, longe de ser ideal, é favorável aos
acervos como um todo, pois se não fosse desta forma, provavelmente estes acervos o
existiriam hoje.
1
2
3
4
5
A B
145
Positiva foi a ação realizada, quando do início do processo de inventário em 2002, de
acondicionar de modo ordenado as peças que não se encontravam dependuras e trocando, na
medida do possível, os papéis ácidos que os envolviam ou separavam.
5.2 Do museu e da sala de exposição de indumentárias
A sede do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, MAAS, de propriedade
da Arquidiocese de Mariana, se encontra em um prédio, que foi, no passado, a Casa Capitular,
erguida para as reuniões regulamentares dos Cônegos do Cabido. Em 1926, este prédio foi
doado à Mitra Arquidiocesana. A Arquidiocese o aproveitou para sediar a Cúria
Metropolitana e o Arquivo até 1962 quando, por idéia do arcebispo Dom Oscar de Oliveira,
foi definitivamente aproveitado para sede do Museu, sendo inaugurado, oficialmente, aos 22
de setembro do mesmo ano e, até aproximadamente 1985, veio acolhendo as obras de arte
que, segundo relatos orais, estavam anteriormente presentes em diversas paróquias do
conjunto desta Arquidiocese.
FIGURA 76 – Vista da fachada do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana
Trata-se de um edifício rococó (FIG.76), com sua construção datada do final do século
XVIII e início do XIX, sob a competência do Mestre José Pereira Arouca, que realizou a parte
de pedra, segundo processo datado de 1802, fls. 04, encontrado no arquivo do IPHAN, dos
documentos sobre artistas e oficiais na região de Ouro Preto e Mariana (1954),
146
“arrematando a obra da Casa Capitular e apoçando nela o autor João de
Caldas Bacelar, que ajustam ambos ao Mestre Carapina Romão de Abreo
para fazer toda a obra pertencente ao ofício de carpinteiro, dando-lhe as
madeiras e ferragens precisas (…) e a quantia de 900 mil réis”
Tendo sido construída por Arouca, vemos sua estrutura semelhante à da Casa do
Barão, em pedra sabão e alvenaria, com pisos de madeira, assim como o forro do teto.
Encontramos em Mariana um ambiente muito úmido e as primeiras sensações que temos ao
entrarmos no museu são a de sentir o cheiro forte de mofo e a diferença da temperatura e
umidade interna.
O MAAS se apresenta como uma das instituições com maior riqueza de acervo
barroco, buscando, por este motivo, apresentar ao público, de modo exemplificativo, as
tipologias de coleções que possui. Desta forma, os acervos são distribuídos por temas, e são
colocados em salas separadas.
Como museu arquidiocesano, expõe nas salas os exemplares mais significativos de seu
acervo, se é que podemos selecionar de modo tão preciso esta valoração, uma vez que, como
supra citado, seu acervo tem como característica uma homogeneidade de qualidade e período
de produção das obras de arte litúrgicas. Os tecidos podem ser vistos em exposição,
associados a outras tipologias, fazendo parte constitutiva ou não de outros objetos, tais como
toalha de altar, véu de cálices, estandartes, enfim, peças bidimensionais que podem ser vistas
junto à prataria e às esculturas.
A sala de exposição do acervo têxtil se localiza no segundo pavimento do MAAS
(FIG.77 e 78), na parte posterior do museu, tendo acesso por uma porta que se localiza na
parte direita dos fundos da grande sala de exposição das esculturas policromadas (Sala de
Imaginária).
Referida sala se apresenta com medidas relativamente pequenas que relação ao museu
(aproximadamente, 100m
2
) e de amplo direito. É constituída por piso em madeira
encerada, janelas, porta e teto em madeira pintada. Apresenta mobiliário em madeira
encerada, formado por 03 armários de altura aproximada de 2m, com vidros transparentes nas
laterais e parte frontal, sendo revestidos internamente por feltro verde. Apresenta mesa
expositora em madeira e vidro, também forrada com feltro verde.
Existem duas janelas que são formadas por sistema de abertura duplo, sendo o
primeiro constituído por duas folhas de madeira que abrem internamente, e o segundo, por
duas partes com vidraça, que correm verticalmente, sendo a parte superior fixa e a inferior
móvel e sustentada, quando aberta, por borboletas de metal. Uma das janelas para os
147
fundos da igreja Matriz e a outra para os fundos do Museu, diretamente para um pequeno
jardim.
FIGURA 77 – Planta Baixa do segundo pavimento do MAAS.
148
FIGURA 78 – Planta de situação das vitrines da sala de indumentária.
Cabe ressaltar que a exposição atual da sala de indumentária é permanente desde a
organização do Museu, sendo que algumas peças de pequeno porte foram trocadas em alguns
momentos.
Pela própria dificuldade de formação de profissionais específicos na área têxtil, o
MAAS vem buscando a valorização e justo acondicionamento destas peças, seja para
exposição, seja em reserva técnica específica. No entanto, o espaço físico, de propriedade do
museu, é insuficiente para tamanho empreendimento, devendo estender esta ação à Casa do
Barão, onde hoje acondiciona a maioria dos paramentos.
A museóloga responsável pelo acervo, Maria da Conceição Brito, em incansáveis
ações, busca a participação de profissionais responsáveis e compromissados com o acervo, em
parcerias com setores públicos e privados e, principalmente, através de fomentação de
instituições de apoio à cultura, viabilizar as diretrizes necessárias à justa guarda do acervo.
Por este motivo, devemos certamente frizar, que as ações realizadas pelo MAAS
vieram a contribuir em grande parte à conservação de um conjunto o extenso, visto os
exemplos encontrados pelo nosso país, em que os acervos têxteis são cada vez menores, e na
maioria das vezes, salvo algumas exceções, compostos por exemplares únicos e muito
recentes.
Sala de
Indumentária
Vitrine 1
Vitrine 2
Vitrine 3
Vitrine 4
Vitrine 5
Sala de
Imaginária
149
As peças do acervo que se encontram em exposição, são exemplares importantes, e
foram acondicionadas dentro de armários de madeiras antigos, adaptados da melhor maneira
possível à época, para que pudessem servir como expositores. Medidas de proteção foram
tomadas, tais como revestimento do armário, colocação de placa de acrílico e papel branco
para proteger as peças da luz, e se encontram constantemente fechados com cadeados.
No entanto, desde a criação do museu, a ciência da conservação preventiva ampliou
consideravelmente seus conhecimentos para que melhor venham a atender as necessidades
das diversas tipologias de acervo dos museus. No caso dos têxteis, a área da conservação e
restauração, que possui pouco mais de 40 anos nos mais avançados países europeus, ainda
está engatinhando em nosso país.
Os profissionais especialistas da área, um número reduzido em nosso país, buscam
apresentar, em projetos de pesquisas a serem aprovados por grandes fomentadoras, quão
importante é esta tipologia e quão rico será o resultado de tamanho investimento, em
conhecer, valorizar, conservar e restaurar os acervos xteis brasileiros. E esta pesquisa é um
exemplo disto.
Deste modo, retornamos ao MAAS, buscando apresentar um diagnóstico que poderá, a
partir de então, ser observado quando da implantação de ações e reestruturação dos espaços de
exposição e acondicionamento dos têxteis. Cabe aqui fazermos uma análise atual sobre o
acervo em questão e, para tanto, devemos observar as condições ambientais em que se
encontram as peças, apresentando um quadro da situação destas em relação ao modo como é
disposto e sua valorização como objeto expositivo dentro do contexto do museu.
Vemos, ao entrar na sala, à esquerda, uma vitrine horizontal onde se encontram quatro
mitras, um barrete e um solidéu. Estas peças estão dobradas e deitadas diretamente sobre o
forro de feltro verde da vitrine. Dentro dessa encontramos um sistema de iluminação
constituído por luzes fluorescentes separadas das peças por faixa de estrutura gida coberta
com o mesmo forro verde. A vitrine se encontra constantemente fechada por cadeado, com
acesso ao visitante pela parte superior, em vidro transparente sem filtro.
No ângulo superior esquerdo da sala, entre a janela que dá para o jardim do Museu e a
janela que para os fundos da Matriz, encontramos uma das três vitrines verticais,
constituídas por armário de altura, aproximadamente, de 2m, com vidros transparentes nas
laterais e parte frontal, sendo também revestidos internamente por feltro verde. As partes
frontais e laterais das vitrines são em vidro transparente, sem filtro protetor.
Esta vitrine expõe um manto e uma túnica de uma imagem de vestir, sendo indicadas
como pertencentes a uma imagem de Nossa Senhora das Dores. Ambas as vestes se
150
encontram dependuradas, o manto sobre a túnica, e sustentadas por um cabide forrado de tela
de algodão e enchimento. A vitrine apresenta uma iluminação interna, com luz fluorescente,
situada na parte superior do armário, separada das peças por forro de papel de seda branco e
uma placa de acrílico transparente. Em seu interior apresenta, ainda, exposto algumas peças
do acervo de prata e jóias, pertencentes à referida imagem da Virgem Maria.
Os dois outros armários, semelhantes ao descrito anteriormente, apresentam em seu
interior, objetos variados e em grande quantidade. A primeira vitrine expõe uma Capa de
Asperge dependurada em cabide forrado, quatro estolas diversas, quatro manípulos diversos,
uma bolsa de corporal e objetos litúrgicos de metais e vidro. As peças pequenas estão
dobradas e colocadas nas partes laterais superior, sobre um vidro transparente suspenso.
A última vitrine expõe uma casula, uma estola, um sebasto (parte do pluvial) e oito
véus de cálice, todos dobrados e enrolados, colocados diretamente sobre o forro de feltro
verde na base interna da vitrine. Junto a eles se encontram barras de metais, indicado como
sendo material metálico, anteriormente removido em governos anteriores, de outros
paramentos e posteriormente derretido.
Além deste mobiliário, encontram-se expostos dois santos de roca pequenos, de
madeira e com vestes de túnica e batina. Apresentam-se sobre pilastras de madeira, em
vitrines abertas.
Os objetos têxteis são hoje expostos nos museus, de maneira em geral, por um tempo
cada vez maior, segundo a necessidade e procura do público. Obras que antes ficavam seguras
nos depósitos estão sendo expostas a uma grande quantidade de luz, e assim, propensas a uma
deterioração mais rápida.
As fontes de luz existentes no Museu Arquidiocesano de Mariana (de modo geral) o
a luz do sol (protegida por cortinas de algodão branco) próximo às varandas e janelas abertas,
lâmpadas incandescentes, halógenas e fluorescentes (artificiais) nas salas de exposição que
apresentam janelas fechadas.
Na sala de indumentária, observamos que o sol incide externamente durante todo o dia
(pela manhã na janela que para os fundos da Matriz e pela tarde na janela que para os
fundos do Museu). As janelas ficam constantemente fechadas, não permitindo que a luz solar
entre diretamente, mas suas paredes e janelas recebem o calor o dia todo.
A fonte de iluminação artificial da sala se encontra na parte central, através de um
lustre de cristal de época, com quatro lâmpadas incandescentes acionadas por dimer, e através
das lâmpadas internas das vitrines (fluorescentes). Referidas fontes, singularmente não podem
ser apontadas como fonte de degradação dos objetos, mas vem se somatizar aos outros fatores
151
concorrentes, criando problemas aparentes, devido à grave e irreversível deterioração que
causa.
Os objetos que se encontram em exposição permanente, além das degradações
estruturais, apresentam nítido enfraquecimento molecular das fibras. As vitrines, quando
abertas, exalam um cheiro forte de mofo e um odor insuportavelmente ácido, indicando um
intenso ataque de microorganismos e de decomposição de fibras animais.
Onde as peças se apóiam, no interior das vitrines, podemos observar em alguns locais,
que na base destas o forro verde se encontra úmido, todo salpicado de manchas brancas e com
perda do suporte têxtil. Além disto, podem ser observados excrementos de insetos xilófagos,
na parte interna dos armários.
As vitrines devem ser reformuladas e, neste sentido, o MAAS está se empenhando,
buscando aprovação de projetos de reestruturação do museu.
5.3- Do acervo têxtil
5.3.1- Seu histórico de conservação
A constante movimentação do acervo, reforma ou descarte das vestes vem
acontecendo desde o século XIX, visto o livro de Inventário da fábrica da Cathedral de
Mariana (1749-1904), que apresenta não somente o rol de paramentos existentes, como
também são declaradas, nos termos de entregas, as adições feitas, as faltas e mudanças, e até o
estado de conservação, como é o caso do inventário que se inicia à página 63, feito em
20/06/1803.
É muito interessante observar como o inventariante de 1803 classificava as peças,
declarando seu estado de conservação, escrevendo logo após à identificação da peça, se esta
se apresentava “em bom uso”, “usados”, “em muito uso”, “incapazes de servir”, sem
rendas”, “com rendas”. Claramente seu objetivo era aquele de fiscalizar, segundo as regras, se
aquele paramento era digno de ser usado nas funções sagradas. Os impróprios deveriam ser
queimados e os que se apresentavam parcialmente bons eram reformados.
Quanto ao uso dos paramentos, o livro de inventário a entender que, excetuando os
paramentos de uso exclusivo e pessoal das autoridades eclesiásticas, os diversos paramentos,
como os de Altar, os utilizados na realização dos Sacramentos, e as vestes do coro, eram de
uso comum pelos ministros e cônegos da diocese.
152
Geralmente os ministros e representantes da Igreja possuíam (como acontece ainda
hoje) seu enxoval próprio, com as peças que usariam nas celebrações e ocasiões religiosas,
sendo que muitas destas peças, ricamente ornamentadas, poderiam ter sido recebidas como
presente de autoridades como, p. ex., reis e rainhas. Estas peças especiais eram mantidas em
poder de seus proprietários, mas eram arroladas como alfaias da diocese ou arquidiocese à
qual pertenciam. Certamente, as peças arroladas deveriam ser aquelas trazidas por referidos
representantes e que eram para seu uso na igreja ou catedral.
Os paramentos pontificais que pertenceram aos bispos que governaram a diocese
anteriormente, poderiam ter sido usados, em ocasiões especiais, por autoridades eclesiásticas
diversas que os sucederam. Os outros mais simples e menos ricos, poderiam ser de uso
freqüente e geral, sendo esta uma das causas de sua deterioração, juntamente com os
empréstimos, as atitudes displicentes de não devolvê-los ou de não declará-los e os roubos.
No entanto, não foi encontrado qualquer documento que esclareça este uso pela Catedral de
Mariana.
Na página 100v. do referido livro, em documento de 1825, podemos comprovar certas
atitudes em relação aos paramentos:
“os ornamentos que faltam constantes dos anuais inventários foram dados,
uns por Dom Cipriano, outros pelo Rev.mo Cabido para as capelas pobres
deste bispado como consta dos seus despachos, e outros que haviam por
inúteis, de todo digo e outros que haviam de todas as cores, damascos e
sedas, por inúteis e velhos, foram dados para (ilegível) por ordem de Sua
Ex.ma. Rev.ma Fr. Trindade, que reformou com os mesmos as ditas capelas
como contradas (sic) listas as quais com os ditos despachos foram todos
apresentados ao muito Reverendíssimo Ministro Dr. Marco Antônio
Monteiro o qual mandou fazer esta declaração a todo tempo constar”.
Os relatos de Dom frei José da Santíssima da Trindade de suas visitas pastorais,
realizadas entre 1821-1825, mostra o quanto contribuiu para organizar as paróquias e capelas
da diocese, como no exemplo supra citado, declarando o hábito de se fazer a doação de
paramentos às capelas mais pobres, mas não esclarece a procedência destes paramentos.
Outro ato de observância do acervo é encontrado no inventário de 1835, que apresenta
na página 134 um auto de recenseamento e revista muito interessante. Encontra-se muito
riscado no sentido horizontal, com escritas sobrepostas às originais e em caligrafia diversa,
indicando uma intervenção posterior, acrescentando peças ou detalhes àquelas descritas.
Além disto, encontramos ao lado das extremidades das margens esquerdas das folhas, marcas
153
de positivo (+) e negativo (-) e grupos inteiros de paramentos riscados em forma de “~”, o
esclarecendo o porquê, sendo, provavelmente, a falta destes. Assim, vemos:
“Frontal de Melania sem guarnição e sem franja que servia para o altar do S.
Sacrário na sacristia”: “Ornamento roxo com galão legítimo”: (-) cinco
bolsas de corporais e 4 véus de cabaia (sic), com rendinha de ouro, usadas
(faltam duas bolsas que desmanchou o (ilegível) Mor [ilegível].” (p.143 v.)
“Ornamentos roxos com guarnição de retrós: (-) duas almofadas de Missal
muito velhas = não tem, (-) 1 dito de chamalote, verde no meio, muito velho
= não tem.” (p.144 v.)
Riscados em “S”:
“2 dalmáticas de damasco liso com galão de renda, 6 casulas de damasco
sem estola e manípulo, 3 bolsas de corporais, 4 véus de tafetá (Rotos), 1
estolão de damasco com galão e franja em ouro, 1 frontal de veludo com
galão e franja de ouro usado para o altar-mor”. (p.144 v.)
“Ornamentos pretos com galão de retrós: 5 pluviais, 1 casula, estola e
manípulo, 2 dalmáticas, 1 estola, 2 manípulos, 1 almofada de Missal, 2 panos
de estante de Missal, 1 almofada de ajoelhar, 1 bolsa de corporal com véu de
tafetá. Estão incapazes de servir, já acabaram de romper”. (p.144 v. e p.145)
“Roupa branca” : 16 sanguinhos de cambraia, 45 sanguinhos de linho, 36
ditos de bretanha, 6 ditos de bretanha da França”(p.145), “Manustérgios”
(p.145 v.), salta os “25 amitos em bom uso” (p.145 v.).
Encontramos ao final deste auto de revista, à gina 145 v., a declaração da venda de
uma peça, que “por ordem do Rev.mo S. Cônego Fabriqueiro, vendeu 1 alva ao Pe. Manuel
Ribeiro [ilegível] dos [ilegível].”
Quando se passava um governo da arquidiocese ao outro, ou quando era nomeado
outro sacristão-mor, se fazia um inventário das alfaias comprovando o que lhe fora passado.
Quando este se retirava do governo se fazia um outro documento, para averiguar se nenhuma
peça havia se perdido. Na página 148, referente ao inventário feito em 1843, no termo de
revista, o declarante afirma que “havia recebido com a única falta de uma estola e o
manípulo de damasco vermelho com galão e franja de ouro”, determinando a
responsabilidade ao sacristão-mor.
Algumas peças poderiam ser substituídas caso se encontrassem em péssimas
condições de uso. No inventário de 1850, à página 151, vemos uma “lista de ornamentos que
se fizeram para a Cathedral que fica pertencente a este inventário de p. 137 a 147”,
comprovando, inclusive, que na própria região existia algum tipo de atividade ou ocupação
específica que reformava ou produzia certos tipos de peças de paramentos: “5 alvas de linho
154
com renda larga, 3 alvas de linho com renda estreita, 3 amitos, 1 toalha a mão com renda, 6
toalhas (ilegível), 8 toalhas de altar, 16 sanguinhos, 1 manustérgio”.
No inventário deste mesmo ano, que se inicia logo após a citada lista, encontramos à
página 161 a seguinte declaração: “40 alvas, mas em bom uso outras mais bem usadas foram
desmanchadas para fazer toalha de altar, como ordenação de V. F [ilegível] Mor”.
O último inventário, 1904, na realidade, mais se parece com uma lista de acréscimos,
pois não é feito do mesmo modo que os anteriores. Encontramos, ainda, uma outra situação:
uma lista de paramentos, em declaração de próprio punho, datada de 30/04/1910, feita pelo
irmão do Padre Fortunato Raphael Archanjo da Silva Lessa, elencando os objetos
pertencentes à Capela de Santo Antônio de Mariana, e que, por falecimento do irmão, se
achavam em seu poder.
Assim, este histórico pode nos mostrar como foram tratados os paramentes desde
1748, podendo estes serem parte de acervos de outras dioceses, como nos apresenta os relatos
orais, ou parte do acervo da Arquidiocese de Mariana, tendo, assim, um valor
inestimavelmente maior.
5.3.2- Seu estado de conservação
Os fenômenos de deterioração constituem o elemento que, mais que qualquer outro,
influencia na escolha da técnica de intervenção no acervo e a condiciona às modalidades de
aplicação. Desta forma, buscamos avaliar de maneira coesa o estado de conservação do
acervo têxtil do MAAS, visando o ambiente em que é exposto e o ambiente em que é
acondicionado.
Existem três diferentes tipos principais de degradação têxtil: o desgaste provocado por
eventos de natureza física; a fragilidade devido ao enfraquecimento molecular das fibras; e os
danos causados por uma conservação inadequada.
Vinculados às ações de restauração, segundo a representação da estrutura das
manufaturas, os tecidos são uma tipologia muito vasta e diferenciada, enquanto materiais e
tecnologias de confecção. Existem exemplares que devem a sua específica identidade, em
primeiro lugar, às características do tecido, outros ao feitio, outros aos elementos de corte e
costura destes objetos, e outros ainda, às decorações.
As evidências históricas da qual uma manufatura é portadora, ligadas aos
acontecimentos e ao uso, os quais foram associados às mudanças em que foram envolvidas,
são fatores que devem ser avaliados, quando da elaboração de uma estratégia de intervenção.
155
É, aqui, dever da instância histórica valorizar os interesses e os valores de qualquer evidência
material bem como o grau de certeza das informações deste legado.
Encontramos, no caso do MAAS, exemplares que podem ser analisados por diversos
aspectos: pelos tecidos que determinam sua qualidade, pelos elementos de corte e costura que
determinam sua influência litúrgica e pelas riqueza de decoração aplicada, que nos mostram
um grande desenvolvimento econômico e cultural, e uma constante relação com os centros
europeus.
Apresenta-nos um acervo que foi extremamente usado, provavelmente nunca lavado e
que, após perder sua função (por diversos motivos), foi deixado de lado, sendo destinado ao
acondicionamento. Apresenta, de modo geral e em objetos diversos, os três principais tipos de
degradação têxtil descritas anteriormente, sendo que, na maioria dos casos, encontrados tipos
concorrentes em uma única peça.
Os tecidos antigos são manufaturas complexas, obtidas do trabalho de fibras naturais
de poucos tipos, como o algodão, o linho, o nhamo (tipos vegetais), a e a seda (tipos
animais). Ainda que todas essas fibras apresentem acentuada diferença entre si, existem
algumas semelhanças e modelos comuns de comportamentos, principalmente quanto aquelas
pertencentes aos mesmos grupos.
As particulares degradações, segundo o tipo da fibra, serão evidentes conforme a
gravidade do processo ao qual foi submetida. O material que compõe cada peça determinará a
vulnerabilidade à qual o objeto estará exposto, concorrendo, ainda, com o ambiente em que se
encontra.
Apresentamos os resultados desta análise, obtidos através de algumas tabelas e
gráficos que sintetizam os dados coletados sobre o acervo, que é composto por materiais
diversos. Este foi analisado e separado em grupos segundo o tipo, o material, a cor, o estado
de conservação e a sua localização à época do preenchimento das fichas (2002).
Cada gráfico foi realizado segundo um banco de dados criado (as tabelas) através das
informações obtidas das fichas preenchidas. A cada grupo foi atribuído um número e, então,
determinada a proporção em relação aos itens da própria coluna, num total de 100%. Desta
forma, podemos em seguida analisar as comparações feitas entre os grupos.
Os tipos de objetos (GRÁF. 2) estão relacionados à função da peça, de acordo com o
uso específico para o qual foi criada. No caso das bandeiras, temos dois tipos básicos, que são
as bandeiras processionais (de uso da igreja) e as bandeiras nacionais (de países diversos).
Quanto aos outros objetos, temos as vestes litúrgicas, os paramentos e as vestes de santos.
156
O acervo é composto, em sua maioria (60%), por vestes litúrgicas. São vários
conjuntos (incompletos), que são compostos por diferentes peças segundo a função a que deve
servir (casula, dalmática, pluvial, estola, manipulo, etc). Podemos encontrar alguns
exemplares únicos, como por ex. alguns manípulos, estolas e casulas.
Caracterizamos aqui uma tipologia predominante: vestes litúrgicas. Estas vestes são
objetos de confecção têxtil, tridimensionais, de tamanhos variados (peças muito grandes ou
muito pequenas), com cortes e costuras específicas. Vemos, em seguida na classificação, uma
grande quantidade de paramentos diversos, de uso litúrgico ou não, mas que podem
acompanhar as vestes litúrgicas, se apresentando nas formas tri ou bidimensionais.
TABELA 3
Tipos de objetos encontrados no acervo
GRÁFICO 2
Tipos de objetos encontrados no acervo
TIPOS
GERAL
PROCESSIONAL 5,0%
DE PAÍS (BANDEIRAS) 15,0%
VESTES LITÚRGICAS 60,0%
PARAMENTOS 15,0%
VESTES DE SANTOS 5,0%
TOTAL 100,0%
5%
15%
60%
15%
5%
157
Em seqüência, verificou-se a variedade de materiais utilizados na confecção dos
objetos (GRÁF.2), tais como linho, algodão, seda, lãzinha e veludo misto. Destes, podemos
ver a supremacia da seda, que se somada ao veludo misto (seda e algodão), conta com um
total de 75% do acervo.
TABELA 4
Variedade de materiais que compõem o acervo
GRÁFICO 3
Variedade de materiais que compõem o acervo
MATERIAL
GERAL
ALGODÃO 5,0%
LINHO 15,0%
SEDA 65,0%
LÃZINHA 5,0%
VELUDO MISTO 10,0%
TOTAL 100,0%
5%
5%
65%
10%
15%
158
Referida porcentagem pode aumentar, se pensarmos que mesmo nos paramentos onde
o material é composto por fibra diversa, os galões sempre serão de seda, além dos fios das
costuras e bordados.
Este material, de origem animal, apresenta uma maior resistência quanto às cargas de
tensão, uma vez que seu processo de formação se faz através da sua expulsão sob pressão,
feita pelo bicho da seda, formando moléculas lineares. No entanto, apresentam alguns
processos de degradações característicos e irreversíveis.
Agnes Timar-Balazsy e Dinah Eastop nos apresentam em “Chemical Principles of
Textile Conservation”
26
alguns princípios da conservação dos tecidos, principalmente quanto
ao processo de degradação associado à cada fibra especifica, devido às suas propriedades e
características e, ainda, de acordo com o tipo de tingimento ao qual o tecido foi submetido.
São dois os principais processos de degradação estrutural da seda: por hidrólise ou oxidação.
Por hidrólise, entende-se que a fibra de seda tratada com álcalis e ácidos sofre a
hidrólise da ligação peptídica entre pH 4 e pH 8. A degradação da fibra é revelada através da
perda de resistência à tensão e à variação da viscosidade de uma solução. A hidrólise é muito
mais eficaz se produzida pelos ácidos do que pelos álcalis, isto devido ao fato de que os
álcalis atacam somente as extremidades das cadeias, enquanto os ácidos distribuem o ataque
em toda o comprimento da fibra.
A oxidação é o processo no qual os agentes podem atacar as proteínas em três pontos:
nas cadeias laterais, nos resíduos terminais N e nas ligações peptídicas entre os grupos de
amidos vizinhos. Entre os maiores oxidantes encontramos o peróxido de hidrogênio (H
²
O
²
).
27
Este fenômeno vem evidenciado pelo aparecimento de manchas de coloração amarela, rosa ou
marrom.
Um processo de degradação letal aos tecidos é a incidência de luz. Eles o muito
sensíveis, porque a luz fornece energia suficiente capaz de provocar reações químicas que se
traduzem em deterioração. Porém, tal deterioração não tem lugar no vazio, ou seja, significa
que o oxigênio e a umidade são essenciais ao processo e dele participam intensamente.
A luz, então, pode ser danosa por três motivos: por ser muito intensa, por ser rica de
radiações ultravioletas ou por ser rica de radiações infravermelho. O efeito da exposição
inadequada à luz consiste na degradação da fibra e na descoloração do suporte.
26
Timar-Balazsy, Agnes & Eastop, Dinah. “Chemical principles of textile conservation”. London: Butterworth-
Heinemann, England, 2002, cap.1 e 2, pp.03 a 99.
27
Timar-Balazsy, Agnes & Eastop, Dinah, 2002. pp.44.
159
Quanto ao processo de descoloração, este é muito complexo e pode, resumidamente,
ser individualizado através de quatro tipos de processos fotoquímicos:
No primeiro tipo a tintura absorve a luz e se decompõe, porque as moléculas não são
estáveis nesta forma.
No segundo, as moléculas fotoexcitadas das tinturas são instáveis em presença de
algumas particulares substâncias com as quais reagem formando compostos.
No terceiro tipo, a tintura e outras substâncias absorvem a luz e, todas no estado de
excitação reagem entre si.
No quarto tipo, a tintura vem decomposta pelo processo fotocatalítico: a
fotocatalização absorve a luz que, no estado excitado, reage com a tintura. Alguns
processos de acabamento dos tecidos e, entre estes, particularmente a carga da seda,
podem acentuar a fotodegradação.
28
A vulnerabilidade dos corantes das fibras têxteis pode ser um fator da causa de
deterioração desde que associado ao ambiente, seja, pela descoloração por incidência da luz
ou manchas e enfraquecimento da fibra.
Assim, a umidade relativa (UR)
29
do ambiente em que se encontram os materiais
orgânicos influencia na descoloração das fibras, que clareiam em condições elevadas,
degradando mais facilmente os tecidos. As fibras, em geral, são influenciadas pela umidade
relativa. E desta se pode observar três reações: a variação da forma e dimensão, a reação
química provocada e a biodegradação.
Ao absorver a umidade a fibra sofre uma dilatação e ao perder sofre uma retração,
sendo diferentemente observadas segundo o tipo de fibra. Estes movimentos podem criar
graves tensões e conduzir ao rompimento, agravando no caso de objetos feitos por materiais
diversos, objetos feitos por várias partes do mesmo material, e objetos que apresentam
presença de cola ou materiais que se movimentam de maneira diversa. Se a umidade relativa é
muito baixa, as fibras se contraem e perdem as propriedades de flexibilidade, elasticidade e
resistência à tensão.
Quimicamente falando, segundo Sheila Landi (1992), até mesmo um nível médio de
UR pode vir a causar problemas, quando os objetos têxteis possuem metais, o que é freqüente.
Incidindo sobre os metais podem favorecer os fenômenos eletroquímicos, que envolvem,
entre os materiais utilizados, especialmente o cobre e suas ligas.
28
As informações aqui resumidas são fruto da síntese do cap. 2 de Timar-Balazsy, Agnes & Eastop, Dinah 2002,
pp.67 a 99 e anotações de sala de aula, ministradas pela professora Gianna Bacci, Florença, Itália, em 2003.
29
Quanto a este argumento ve-se Landi (1992), Timar-Balazsy (2002), Finch e Putnam (1991), Thompson
(1997) e Fleury-Lemberg (1986).
160
Em condições de uma umidade elevada, verifica-se, ainda, a maior probabilidade de
ataque de microorganismos e insetos, que são um outro fator de degradação.
Na sujeira úmida se encontram quase todos os tipos de organismos que podem atacar
os materiais têxteis e que em condições secas permanecem inertes. Quando insetos e/ou
microorganismos desenvolvem-se em um tecido, o fragilizam, seja utilizando as suas
substâncias para nutrir-se, seja depositando sobre estes excrementos que podem deteriorá-lo
30
.
Mas o porque desta explanação? A prática da observação deste conhecimento nos leva
a observarmos as degradações dos xteis do acervo do MAAS, determinando o tipo de
degradação existente, que na maioria do acervo é concorrente, ou seja, podemos encontrar
todos os problemas supra citados causados por um ambiente insalubre e acondicionamento
inadequado das peças.
O Estado de conservação geral do acervo é preocupante (GRÁF.4). Se analisarmos seu
histórico, realmente ele resistiu muito ao tipo de acondicionamento a que foi submetido,
porém a situação não é tranqüila.
Poucas peças se encontram em bom estado de conservação, precisando apenas de uma
higienização. A maioria necessita de intervenção, e muitas vezes, estrutural. Quando a
situação do suporte está comprometida, em avançada degradação, ou com partes faltantes,
classificamos como precário, uma vez que os critérios de intervenção devem ser maiores.
Regular é a situação mediadora entre estes dois extremos.
Apontando descoloração, manchas e enfraquecimento das fibras, podemos observar
que esta degradação é variável, mas se apresenta na maioria do acervo, de forma mais intensa
ou mais branda.
TABELA 5
Estado de conservação do acervo
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
GERAL
PRECÁRIO
65,0%
REGULAR
30,0%
BOM
5,0%
TOTAL
100,0%
30
Sheila Landi,1992, p. 17 a 21
161
GRÁFICO 4
Estado de conservação do acervo
Através das observações organolépticas encontramos os seguintes sintomas no acervo:
sujidade generalizada, manchas (brancas, amarelas e marrons), rompimento de fibras, rasgos e
perdas do suporte, descoloração, insetos vivos e mortos, excrementos de insetos, clareamento
dos tecidos, oxidação dos metais e fios metálicos, desprendimento dos bordados e apliques,
partes descosturadas e mau cheiro (FIG.79).
Isto, devido a um histórico de conservação não muito favorável: a uma exposição
inadequada, à permanência em um ambiente úmido, com temperaturas muito variadas, devido
à tipologia das construções onde estão inseridos e ao envolvimento dos paramentos em papel
ácido e plástico.
Somada à umidade relativa alta deve-se preocupar com o problema da exposição dos
objetos por um longo tempo, ficando sujeitos aos agentes poluidores (químicos que atacam os
tecidos) e à uma luminosidade constante, como podemos observar, nos resultados
apresentadas por Moresi (1998), onde os metais analisados, em sua maioria prata enegrecidas
e alteradas, apresentavam a presença de cloro.
5%
30%
65%
162
FIGURA 79 – Exemplos de degradações encontradas no acervo: manchas (A), ninhos (B), insetos
mortos e vivos (C), excrementos de térmites (D), ferrugens (E), manchas e oxidação do suporte (F),
ataque de térmitas nos cabides e tecidos (G), perda do suporte (H), recortes de parte dos paramentos
(I), rasgos e tecidos desfiados (J).
Singular situação pode ser observada pelo gráfico que apresenta a localização do
acervo. Faz referência às peças que se encontram permanentemente em exposição, e por tanto,
na Casa Capitular, àquelas que se encontram na Casa do Barão e as que se encontram na
reserva técnica do museu.
As peças que se encontram na Casa do Barão de Pontal, além dos problemas de
sujidade generalizada e mofo, mostram em muitos pontos, ataques de insetos xilófagos, tendo
sido encontrados ovos de barata, excrementos de cupim, teias de aranhas, entre outros.
Apresentam sérias degradações na parte superior das vestes que estavam dependuradas de
modo inadequado e em cabides feitos com materiais desaconselháveis (madeira velha e
atacada por xilófagos, metais e plásticos). Aquelas peças que se encontravam dobradas
J
H
G
F E
A
B D
C
I
163
apresentam marcas profundas das dobras constantes. Todas têm problemas de manchas,
oxidação dos fios metálicos, enfraquecimento e rompimento dos fios têxteis.
TABELA 6
Localização do acervo
LOCALIZAÇÃO
GERAL
CASA DO BARÃO 70,0%
CASA CAPITULAR 10,0%
RESERVA 20,0%
TOTAL 100,0%
GRÁFICO 5
Localização do acervo
Após as análises aqui apresentadas, dos resultados obtidos do estudo do acervo xtil
do MAAS, conclui-se que urgente se faz a necessidade de conservação adequada deste
acervo, com a confecção de móveis ideais para o acondicionamento das peças, respeitando
sua estrutura tridimensional, contribuindo para a diminuição das tensões que se formam
devido ao excessivo peso de muitos tipos de paramentos, seja para a reserva técnica como
para a sala de exposição.
10%
20%
70%
164
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
Estudar os tecidos é tarefa singular não somente no Brasil, mas em todo o mundo. São
poucos os profissionais que se dedicam ao assunto. Concluir este trabalho é mostrar o
caminho trilhado, com o intuito que outros profissionais conheçam um pouco sobre o
universo têxtil e tenham como diretrizes as medidas necessárias para a correta ação de
conservação. Tal caminho, parte do próprio processo de conhecimento do acervo e dos tecidos
de uma maneira geral, nos colocando, claramente, o objeto têxtil como fruto de uma cultura
material.
Sempre colocado à margem das produções artísticas, o trabalho de confecção têxtil,
desde a antiguidade determinava certo status social ao seu produtor, em comparação aos
outros ofícios. Visto que a cultura material trata da importância das “coisas” em relação direta
com o relacionamento estabelecido entre essa e as pessoas, é relevante que se preocupe com
os aspectos materiais e simbólicos das coisas.
Percorrendo este trabalho podemos observar que a matéria e seu significado (com
significante) foi por todo o tempo abordada, buscando apresentar a real importância dos
tecidos, no caso estruturados em paramentos litúrgicos, como meio de leitura das relações
sociais, políticas e religiosas.
Neste sentido, tendo como foco o papel social das coisas, é de extrema importância a
análise dos materiais, de suas técnicas de construção, confecção, uso e, principalmente o
descarte. Neste último o conservador/pesquisador tem um papel fundamental, pois
determinará o local destas “coisas”. No caso do acervo do MAAS, acreditamos ser o papel do
acervo têxtil, de uso e releituras em contextos museográficos, e não de descarte e perda de
memória.
Segundo Cassar (2001)
31
, para que a coleção de um museu possa ter um futuro
sustentável, não é possível seguir considerando as necessidades de conservação como um
aspecto isolado. Assim, para poder alcançar um equilíbrio entre a preservação e o uso das
coleções dos museus, se deve satisfazer aos requisitos técnicos e às prioridades institucionais,
além de se negociar soluções sustentáveis.
31
Texto “Introducción a las colecciones de los museos e sus edifícios”, retirado do site www.laconsorcio.org, em
15/12/2001, às 11:00h.
165
Quando se pensa na preservação de um acervo, imediatamente associamos esta à
prática dos critérios de conservação das coleções. Nesta prática é necessário um profissional
específico em ação, o gerente de coleções (freqüentemente presente nos grandes e exemplares
museus do mundo), que apresenta conhecimentos sobre formação de coleções, conservação
preventiva, manipulação segura de obras de arte, criatividade, engenhosidade, habilidades em
tarefas múltiplas, diplomacia e habilidades na formação de equipes.
Como critérios de conservação preventiva de coleções, o objetivo deve ser o de evitar
qualquer dano. Neste sentido, deve a coleção ser armazenada em espaço sico idôneo, com
controles adequados de ambiente e segurança, estruturas fixas de armazenagem e materiais
neutros para o acondicionamento dos objetos. Referido ambiente deve ser constantemente
atualizado, recebendo recursos que viabilizem a manutenção do salutar espaço.
Outra questão, não menos importante, é quanto à exposição dos objetos. Estruturas
sólidas devem ser providenciadas para a justa acomodação das peças, sempre levando em
consideração os planos e perspectivas de duração da mostra ao público. Para tanto se deve
pensar em estratégias que visem preservar as peças enquanto expostas, se em vitrines
fechadas ou abertas; quanto à incidência de luz no ambiente; quanto ao fluxo de visitantes;
quanto ao sistema de segurança; quanto aos controles necessários de ambiente, entre outros.
Ao propor esta pesquisa, buscamos este acervo têxtil com o intuito de estarmos
realizando seu diagnóstico de conservação, avaliando seu real estado de conservação e, assim,
apontarmos soluções passíveis de serem aplicadas à realidade do Museu Arquidiocesano de
Arte Sacra de Mariana.
Neste sentido, iniciamos a primeira fase do processo buscando colher os dados
possíveis sobre os edifícios, os funcionários, as atividades e as metas que o museu alcançaria
com esse diagnóstico. Foi então que ao buscarmos os dados sobre a coleção têxtil
constatamos a precariedade em que se encontrava o acervo, sendo, inclusive, relacionado no
Livro de Tombo de maneira que sua identificação, além de ser impossível, certamente cairia
em erro.
Assim, tivemos que conhecer o acervo que se pretendia estudarr, e para tal, foi
necessário deixar os dados que o museu apresentava no Livro de Tombo e colhermos os
próprios dados com os quais teríamos um real ponto de partida para um concreto diagnóstico
de conservação.
Foi necessário realizar um tipo de “inventario” do acervo têxtil, conhecendo-o e
organizando-o por conjuntos, pesquisando através de documentos o histórico do acervo, sua
composição, suas técnicas, a qualidade de sua confecção, identificando os materiais que o
166
compõem, observando e apontando seu real estado de conservação, bem como as prováveis
causas internas e externas de degradação do acervo.
Hoje podemos dizer que esta foi uma decisão pertinente e que possibilitou um
conhecimento vertical e profundo do acervo. Após esta etapa realizada, e com um rico
material em mãos, observamos que dentro do prazo do trabalho de mestrado, a realização do
diagnóstico completo, além de precisar de um tempo superior àquele que dispúnhamos, se
apresentava como um segundo trabalho, o qual decidimos que poderia acontecer em um
momento posterior, dando continuidade aos estudos.
Dentro de nossa proposta, comprovamos que a conservação preventiva de uma
coleção, inclui como fase inicial o conhecimento, a catalogação e o levantamento histórico,
que virá a valorizá-la, indicando e/ou contribuindo para a definição das metas que o museu
pretende alcançar, quando da realização do relatório final de um diagnóstico de conservação.
E isto nós poderíamos perfeitamente concretizar dentro do prazo que dispúnhamos.
O que ficou claro para nós e que este é um acervo composto de peças significativas,
constituídas de materiais de relevado valor, onde podemos encontrar tecidos provavelmente
da segunda metade do século XVIII à primeira metade do século XX. Dentro da realidade das
coleções têxteis do Brasil, muitas delas completamente desconhecidas e desvalorizadas, este
passa a ser um acervo com qualidades suficientes para se apresentar como objeto de estudo e
análise para diversas pesquisas futuras.
Encontramos uma variedade de tecidos, galões, fitas, bordados, apliques, costuras,
enfim, técnicas têxteis realizadas em diversas peças que nos apresentam não somente sua
evolução, como também sua importância em determinados períodos da historia. Os resultados
analisados no capítulo anterior nos apresentam dados relevantes que poderemos, aqui, melhor
explorá-los.
No capítulo 2 questionamos como poderiam estar assim conservadas, as peças do
acervo, durante um período que chega a totalizar quase 150 anos. Retornando ao inventário da
Catedral, ou seja, ao livro de Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana (1749-1904), não
registro do descarte de vestes pontificais, ou seja, vestes litúrgicas importantes utilizadas
nas Missas Pontificais, tais como casulas e dalmáticas. No entanto, vemos que peças de uso
cotidiano, como alvas e cotas, foram submetidas a intervenções, reformas e descartes, sendo
claramente registrados tais atos.
Certo que mais questionamentos e pesquisas devem ser feitos, mas avaliando o acervo
e concluindo que este é composto por um grande número de peças ou tecidos do século
167
XVIII, poderíamos afirmar que este poderia ser, sim, resquícios do acervo inventariado e
conservado de 1749 a 1904.
Outra questão colocada era como estas peças poderiam estar em perfeito estado de uso
adequado ao culto, sendo utilizadas constantemente? Para tanto, poderíamos supor que estes
paramentos arrolados eram certamente os mais ricos, tendo os ministros da Igreja, paramentos
mais simples e nas cores litúrgicas, provavelmente de enxoval particular, e que eram
utilizados nos Sacramentos diários, deixando os mais ricos para outras situações e Missas
mais importantes.
Neste sentido, questionamos ainda se, nenhum dos bispos precedentes levou consigo
algum conjunto? Está é uma possibilidade. No entanto a vemos remotamente. De acordo com
os critérios e seriedade com que os documentos foram redigidos, como acordo que faziam
entre si as partes envolvidas, o acreditamos que os paramentos ali arrolados poderiam ser
disponibilizados para uso pessoal e exclusivo, ainda que tivessem chegado à diocese pelas
mãos de seu usuário.
Cremos que uma vez arrolados ficavam pertencentes à Catedral até que se
deteriorassem. Caso, algum bispo tivesse para si alguma peça de maior importância, não faria
arrolá-la aos inventários (visto que, autoridade para esta decisão ele teria). Da mesma forma,
nos leva a crer que outros paramentos chegaram à diocese e que deveriam ser de uso pessoal e
exclusivo de seu proprietário, pois a Igreja sempre recomendou que seus representantes se
apresentassem de modo digno, e como vimos, pelas regras do Concílio Tridentino, o era
pequeno o enxoval pessoal de um bispo.
No capítulo 4, analisando a variação formal possível de ser observada no acervo, é
interessante apontar que, comparado com o histórico da diocese, esta apresentava uma forma
peculiar de relação com a sede romana, direta ou indiretamente através de outros centros de
formação cristã, como a Alemanha. Certo que a forma encontrada nos paramentos
portugueses da Igreja do Pilar de Ouro Preto, nos aponta uma gritante diversidade. Porém,
segundo o modelo alemão, podemos observar uma grande semelhança com o modelo
português, o que poderia ser explicado por uma grande influência do barroco alemão na
cultura portuguesa.
A variação formal se apresenta no formato (modelagem e corte) e na decoração,
podendo ser apontada até duas variações em uma mesma peça. Desta premissa apontamos as
seguintes hipóteses: momentos de transições entre um estilo e outro, prováveis influências de
modelos de outros países europeus ou proximidade geográfica entre os países e regiões na
Europa.
168
Devido à singular situação da Igreja no Brasil no século XVIII, acreditamos que todas
as premissas são passíveis de serem verdadeiras. As regras e influências de estilos chegavam
até nós em momento posterior àquele conhecido na Europa. Tínhamos no Brasil Colônia uma
situação de povoamento inusitada, principalmente nas Minas Gerais, devido à descoberta do
ouro. Representantes de diversos povos e regiões do mundo aqui chegaram e com eles suas
vivências, culturas e ofícios.
O modelo de paramento português exemplificado pelo conjunto do Pilar de Ouro Preto
não é singular. Em pesquisa observou-se que sua forma era pertinente à forma dos paramentos
que se encontravam em acervos portugueses. No entanto, acredito que referido modelo não é
citado na obra de Braun por ser uma variação entre o modelo alemão e espanhol.
Quanto à influência do modelo francês das dalmáticas, é coerente que o modelo
encontrado seja aquele italiano, pois o rito aplicado na França era diverso daquele romano.
Referida comparação com acervos italianos nos apresenta outros dados, também muito
importantes, como a alta qualidade geral do acervo e a comprovada origem européia dos
materiais. Tais dados, são reforçados pelo conhecimento de fatores como: a proibição da
produção de tecidos no Brasil até o século XIX; a preocupação da circulação, na colônia, dos
tecidos vindos do oriente; a decretação de leis que regularizavam o uso dos tecidos finos de
acordo com a classe social; e o alto valor dos tecidos, sendo importantes objetos de comércio,
entre outros tantos fatores que poderiam ser elencados.
Tendo observado que uma parte do acervo do Palazzo Pitti (FI), cujos paramentos
utilizamos para a análise comparativa com os tecidos de Mariana, é oriundo de Parma e de
comprovada produção florentina, podemos afirmar que tal coincidência quanto à semelhança
formal e estilística dos acervos analisados guarda um segredo que poderia ser futuramente
analisado, mesmo sabendo que a história apresentou a estreita relação entre os reinos de
Portugal e aqueles do norte europeu e os italianos.
Quanto ao estado de conservação do acervo, podemos concluir que apesar de
apresentar problemas estruturais e avançado estado de degradação em grande parte do acervo,
este ainda se encontra em total condição de ser restaurado, acondicionado e apresentado ao
público. Mas se no decorrer dos anos nenhuma providência for tomada, possivelmente
teremos apenas alguns exemplares. O acervo agrega em si, praticamente os três tipos de
degradação, o desgaste de natureza física, a fragilidade devido ao enfraquecimento molecular
das fibras e os danos causados pela conservação inadequada.
Cerca de 10% do acervo têxtil está exposto permanentemente. Tal fato agrava ainda
mais o estado de conservação destes objetos expostos, sendo os mais prejudicados, visto o
169
caso do manto e da túnica de Nossa Senhora das Dores, que se encontra em estado calamitoso
e necessitando de urgente restauro.
Outra questão relevante é aquela de não se fazer mostrar um acervo que poderia estar
sendo objeto de pesquisas diversas, não somente na área de conservação e restauração.
Ressaltamos aqui a necessidade de conscientização dos fomentadores de projetos de grande
porte, que visem valorizar e priorizar esta tipologia de acervo que foi até então descartada,
viabilizando seu correto acondicionamento e exposição.
Devemos refletir através do caso presente, sobre outros tantos acervos têxteis
espalhados por este Brasil, se encontrando ainda desconhecidos, guardados em depósitos
insalubres, ou pior, sendo distribuídos, reformados, rasgados ou descartados.
Enfatizamos novamente quanto às ações realizadas pelo MAAS, pois vieram a
contribuir em grande parte à conservação do conjunto, além de ser uma instituição que
incentiva a pesquisa e o conhecimento, abrindo suas portas, não somente aos profissionais da
área da conservação, mas também aos pesquisadores da arte em geral. Com esta ação,
viabilizou esta primeira etapa de diagnóstico de conservação, conhecendo e valorizando seu
acervo.
Pesquisa trilhada em difícil, mas prazerosa caminhada, cuja construção contou com
apoios diversos, de profissionais de diferentes áreas de conhecimento e com os funcionários
do MAAS, principalmente, na pessoa da museóloga Maria da Conceição Brito, do Diácono
Agostinho e do Monsenhor Flávio C. Rodrigues.
Este é um trabalho preliminar, com dados quantitativos e qualitativos sobre o acervo,
com pesquisa conceitual e histórica que o retira do desconhecimento total e o eleva ao grau de
potencial objeto de estudos futuros, podendo ser de ajuda tanto aos profissionais da área de
conservação e restauração, como, a historiadores, seminaristas, e a quem se interessar pelo
assunto.
Muito ainda é necessário se fazer, pois este foi, apesar de importante, um passo inicial.
Contribuição de grande valor ao MAAS que terá, a partir de então, dados suficientes para
estar apresentando, de forma coesa e precisa, o real valor de seu acervo e, principalmente,
para que possa estar podendo captar recursos para a sua conservação, acondicionamento e,
ainda, sua futura restauração, além da reformulação de sua apresentação museográfica e
museológica. Concorre ainda, para integrar a coleção têxtil ao conjunto de diferentes coleções
pertencentes ao museu, que foram por muito tempo privilegiadamente estudadas, valorizadas
e valoradas.
170
Através deste trabalho podemos percorrer o argumento sobre paramentos sacros, de
forma precisa e de fácil entendimento a todas as áreas, o que vem preencher a falta de
materiais sobre o assunto específico, uma vez que é extremamente difícil encontrar, hoje,
informações sobre a liturgia e as regras dos paramentos no período compreendido entre o
Concilio de Trento (1563) e o Concilio Vaticano II (1962).
Muitos frutos já nasceram desta pesquisa, fazendo ver a importância do conhecimento
de um acervo para sua valorização e conservação, como o inventário realizado a partir de
julho de 2005, sob a coordenação do IPHAN e da Escola de Belas Artes/UFMG
32
, tendo sido
apresentado ao público em geral, através de uma pequena exposição de peças significativas e
palestras sobre os diversos acervos do MAAS, além de uma exemplificativa publicação.
Desta forma, a partir dos resultados aqui apresentados, se pode determinar que este é
realmente um acervo têxtil de grande importância, com paramentos singulares que merecem
ser expostos, sendo certamente pertinentes quanto à demonstração da história da Igreja na
região.
Enfim, podemos concluir que é importante observarmos nos acervos têxteis, sua
consistência, qualidade e quantidade, além de sua variável presença de tecidos. Estes dados
nos indicam o crescimento ou a decadência econômica e a atualização ou o regresso cultural
local. Se ainda os acervo puderem ser associados à investigação documental e à história desse
ou da região, serão como testemunhos de uma época, da qual, comprovadamente, sua historia
poderá ser re-tecida através de seus fios. Mais uma vez valorizamos o objeto como
documento, como registro, que nos pode auxiliar na reconstrução do passado.
32
Projeto realizado no segundo semestre de 2005, contando com a equipe composta por especialistas em
conservação e restauração de bens culturais móveis, historiadores e renomado pesquisador do IPHAN. O
trabalho foi coordenado por Msc Antônio Fernando Batista dos Santos (Mestre em Artes Visuais, especialista em
conservação e restauração de bens culturais móveis e fiscal do IPHAN) e pelo professor Dr. Luiz Antônio Cruz
Souza (Vice-diretor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais e Cientista da
Conservação), gerenciado e realizado por Msc Alessandra Rosado (Mestre em Artes Visuais e especialista em
conservação e restauração de bens culturais móveis) e pela equipe Helaine Dias e Lino Yunkes (Especialistas em
conservação e restauração de bens culturais móveis), Msc Lucienne Almeida Dias, Msc Soraya Coppola e Msc
Dulce Consuelo (Mestres em Artes Visuais e especialistas em conservação e restauração de bens culturais
móveis), Olinto Rodrigues dos Santos Filho (Pesquisador do IPHAN), Dr. Célio Macedo Alves (Doutor em
História), Cláudio Nadalin (Fotografo) e Gabriel Fernandes Santos (Assistente de Fotografia).
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Textos diversos sobre história: www.l.jus.com.br/doutrina, 05.03.05
Textos diversos sobre a china: www.fundaj.gov.br/china, 05.03.05
Textos diversos sobre ministros sagrados: http//:pt.wikipwdia.org 05.03.05
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GLOSSÁRIO
ÁBACO: Credência.
ABADE: Superior de um mosteiro que recebeu a benção do bispo, concedendo-lhe o isso dos
pontificais, podendo conferir a seus súditos as ordens menores.
ABADE NULLIUS: Abade com território próprio, de três paróquias pelo menos, em que
exerce a jurisdição espiritual com os inerentes direitos, sanções e obrigações, como os bispos
na própria diocese. = prelado nullius
ALFAIAS: Objetos a serviço do culto divino.
ALAMAR: 1. Presilha na capa de Asperges 2. Cordão entrelaçado de seda ou fios de ouro
com borla, que une a estola sacerdotal sobre o peito.
ALCATIFA: Tapete.
ALMUTIA: Deu origem à Murça e à Mozzeta. Grande capuz pendente nos ombros na Idade
Média, que posteriormente se transforma em cabeção descendo ao meio do antebraço, com
capuz diminuto, servindo de enfeite.
ALVA: Veste litúrgica em forma de túnica com mangas estreitas, descendo até o chão,
regaçada por um cíngulo.
ÂMBULA: (Píxide, Cibório). Cálice para a conservação e distribuição das hóstias aos fiéis na
Santa Comunhão.
AMITO: é uma peça branca que circunda o pescoço e fica escondida debaixo da Alva. Ele
serve para encobrir as vestes usuais do padre. A oração, quando o padre veste o amito é:
“Revesti-me, Senhor, da força do Alto”.
ANEL DO PESCADOR: Anel oficial do Papa, sendo-lhe entregue ao aceitar a eleição. É
conhecido desde Clemente IV e servia para selar os Breves pontifícios.
ANEL PONTIFICAL: Anel de ouro com pedra preciosa no dedo anular da mão direita dos
Cardeais (safira), Bispos, Abades, Pronotários apostólicos (mesmo nas funções litúrgicas),
cônegos, doutores e monsenhores (menos na celebração da Missa).
ARCAZ: Armário na sacristia para guardar os paramentos, etc., e colocá-los para o sacerdote
vestir.
ARCEBISPO: (Metropolita) Chefe hierárquico de uma província eclesiástica. Sua insígnia é
o Pálio.
ARCEDIAGO: (Arcediácono) Primeiro auxiliar do Bispo, cujas vezes fazia o próprio foro, à
semelhança do vigário Geral de hoje. È título de honra que o direito de assistir o bispo na
missa pontifical.
ARMELINO: Arminho
ASPERSÓRIO ou Asperges: Usado para ritos de aspersão com água, sendo um vaso longo,
geralmente de metal, onde se põe água no seu interior e sua tampa possui orifícios para
permitir que a água saia em gotas.
ASPERGE ME: Cerimônia litúrgica, obrigatória pelo Cerimonial dos Bispos, nas catedrais,
quando o Bispo não está presente, e nas igrejas colegiadas, por costume nas igrejas paroquiais
e conventuais, nos domingos, antes da Missa cantada ou principal.
AURIFRÍSIO: Aplicação ornamental de tecidos ou bordados de seda e ouro, às vezes com
pérolas preciosas, nos paramentos litúrgicos ou no frontal do altar.
BÁCULO: É o cajado do bispo que nos lembra o Cristo Bom pastor, o pastor que conduz o
rebanho em direção ao Pai. Significa também a autoridade do Bispo em sua igreja particular.
BALDAQUINO: (Dossel, sobrecéu) Oriundo da palavra italiana baldachini = estofos
orientais de seda vindos de Bagdad e usados na confecção dos paramentos sacros. 1. Grande
pano retantangular de seda branca com sanefas franjadas, sustentado por quatro ou sei varas.
Uso obrigatório nas procissões públicas para cobrir o Santíssimo, as relíquias da S. Cruz ou
180
outros instrumentos da Paixão e para o Bispo, na recepção solene; 2. Cobertura ou dossel do
altar, em substituição do cibório; 3. Dossel do trono dos Cardeais, Bispos, Abades e Prelados
nullius. 4. Na arquitetura eclesiástica, dossel de pedra, madeira, estuque, por cima de estátuas,
sustentado pelas paredes ou colunas. Em todas as formas, è sinal de distinção e proteção ao
mesmo tempo.
BARRETE: Veste com uma parte que protege a cabeça. Cobertura quadrangular da cabeça,
que faz parte das vestes clericais e è empregada também nas funções litúrgicas. Tem ao meio
da copa uma borla de retroz preto. O romano tem três, o alemão, francês e inglês tem quatro e
o espanhol nenhum.
BATINA: Veste talar que com o cabeção, voltinha e faixa è a veste ordinária do sacerdote
secular.
BENÇÃO: Sacramental que a Igreja usa para obter certos efeitos, principalmente espirituais.
dois tipos: a invocativa, que implora sobre uma pessoa, lugar ou coisa a benção e proteção
de Deus, sem que com isto as coisas se tornem santas, e a constitutiva, que confere à pessoa,
lugar ou coisa, como qualidade inerente, um caráter ou dignidade religiosa e santa.
BISPO: Sucessor dos Apóstolos e, por instituição divina, Prelado de alguma igreja particular,
a qual rege com poder ordinário, sob a autoridade do romano Pontífice. Bispo auxiliar,
coadjutor, sufragâneo, titular.
BURSA: (Bolsa do cálice) Uma bolsa quadrangular para colocar o corporal. Consta de duas
peças duras unidas por baixo, presas nos dois lados por panos ou cadarços que permitem abri-
las até certo ponto.
CABIDO: Corpo de clérigos (cônegos), instituído para celebrar solenemente o culto nas
igrejas catedrais e colegiadas. Os cabidos catedrais formam o senado e conselho do Bispo e
fazem as suas vezes no governo da diocese quando estiverem vagas.
CÁLICE: É uma taça geralmente revestida de ouro, prata ou qualquer outro material nobre
ou inoxidável. Nele se deposita o vinho a ser consagrado.
CAMALHA: Acabamento na borla das vestes.
CAMAURO: Gorro vermelho, de seda no verão, de veludo no inverno, que usa o Papa,
quando veste a mozzeta em lugar do barrete. Não é usado na liturgia.
CAMELAUCUM: Gorro duro, feito de pelos de camelo, que usavam os Papas desde o VIII
século. Posteriormente transformou-se num gorro pontiagudo, mole e de tecido branco, que
recebeu o nome de phrygium ou pileus phrygius. Era insígnia de honra e deu origem à mitra e
tiara.
CANHÃO: Guarnição dura e larga, mais ou menos ricamente bordada, em volta da entrada
das luvas pontificais.
CAPA DE ASPERGES: (Pluvial) Manto grande sem pregas e acolchetado adiante, com uma
peça em forma de escudo (clipeus) nas costas, na qual se acha freqüentemente um monograma
mais ou menos ricamente bordado, e com tiras verticais, simples ou bordadas, nos lados da
frente. Seu nome vem do uso na aspersão dos fiéis, antes da Missa de domingo. Origina-se da
capa coral.
CAPA MAGNA: É um manto com uma longa cauda e um grande capuz que envolve toda a
parte superior do corpo, sendo próprio dos cardinais, dos patriarcas, dos bispos e de alguns
outros prelados, levada pelos clérigos chamados caudatários.
CARDEAL: Membro do colégio cardinalício que forma o senado do Papa e lhe assiste no
governo da Igreja.
CASULA: é a última peça sacerdotal a ser vestida. Fica sobre a túnica, estola, ngulo e
amito. Tem a mesma cor da estola e significa o poder de rei que Cristo tem. É uma peça que
tem quase o tamanho da alva. Jesus é O Bom Pastor e o Rei do Mundo. Quando o padre o
está usando a casula numa celebração da missa, ele é apenas o Cristo Bom Pastor, mas
quando está usando a Casula ele é o Cristo Rei do Universo, Cristo com toda a sua glória e
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todo o seu poder. A Casula é usada em missas muito especiais, para mostrar a nobreza e a
superioridade de Cristo o Rei do Universo, além de ser usada nas missas dominicais da igreja
matriz da paróquia. O sacerdote ao vestir a Casula proclama: “Serei sacerdote segundo a
ordem de Melquisedec para toda a eternidade”.
CATEDRAL: Igreja principal e Matriz de toda a diocese com a cátedra do bispo.
CAUDA: Aba comprida na Capa magna dos bispos e outros prelados.
CAUDATÁRIO: clérigo que, seguindo o Prelado quando vestido de Capa magna, leva a
cauda desdobrada.
CERIMONIAL: Livro que ensina as cerimônias. O principal é o Cerimonial dos Bispos,
redigido por Bento XIV, em 1752.
CÍNGULO: é um “cordão grosso” que o padre amarra na cintura, sobre a alva e sobre a
estola. O cíngulo é símbolo da Consagração Sacerdotal: o padre não pertence mais a si
mesmo, mas está reservado para Deus. Esta peça é amarrada na cintura, de forma que fiquem
as duas pontas do cordão pendentes uma no lado direito e a outra no lado esquerdo, isto
significa, assim como na estola, a aliança do Antigo e Novo Testamento. O cíngulo entrelaça
a humanidade com a divindade de Cristo (o lado direito como lado esquerdo do padre). Ao
vestir o Cíngulo o padre reza: “Eu não pertenço mais a mim, estou separado para Deus”.
CÍRIO PASCAL: É uma vela grande usada exclusivamente no tempo pascal e em ocasiões
como batizados. Tem introdução no tempo litúrgico com início solene na vigília pascal. Nesta
vela pode-se ler duas letras gregas: ALFA e OMEGA, significando o Cristo: começo e fim.
Pode-se ler ainda o número do ano em curso. Também sobre sua cera estão fincados cinco
Cravos que contêm em seu interior grãos de incenso que representam as cinco chagas de
Cristo. Simboliza o próprio Cristo, luz do mundo que, na vigília pascal rompe as trevas do
mundo, do pecado e da morte, para trazer a luz da salvação a toda humanidade.
CLÉRIGO: Jovem aceito no estado eclesiástico pela cerimônia da tonsura, depois de ter
principiado o estudo teológico. Indivíduo que recebeu ordenação; padre, prelado, sacerdote.
CLERYMAN: Nome pelo qual é chamado o jovem clérigo.
COBERTA: Para o genuflexório dos bispos, a ser colocado diante do altar do SS.
Sacramento e do altar-mor, nas funções pontificais. Tecido de cor verde ou roxa, e ainda
encarnada ou roxa para os Cardeais.
COGULA: Manto largo dos monges na recitação do Ofício Divino.
COLARINO: Gola solta, dura, alargando-se no meio, em forma de capuz, ricamente bordada.
CÔNEGO: é o sacerdote secular que faz parte do Cabido, ou seja do conjunto de padres
(cônegos) que rezam com o bispo o culto nas igrejas.
CONOPEU: É a cortina colocada na frente do sacrário, muitas vezes assumindo a cor do
tempo litúrgico em vigor.
CORES LITÚRGICAS: VERDE (Simboliza a esperança que todo cristão deve professar.
Usada nas missas e ofícios do Tempo Comum), BRANCO (Simboliza a alegria cristã e o
Cristo vivo. Usada nas missas missas e ofícios do Tempo do Natal e suas memórias, da
Páscoa, nas festas das memórias da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos
Santos Não-mártires, na festa de Todos os Santos, de São João Batista, de São João
Evangelista, da Cátedra de São Pedro e da Conversão de São Paulo. Nas grandes solenidades,
pode ser substituída pelo amarelo ou, mais especificamente, o dourado), VERMELHO
(Simboliza o fogo purificador, o sangue e o martírio. Usada nas missas missas e ofícios de
Pentecostes, dos Apóstolos, Santos mártires, Paixão do Senhor, Domingo de Ramos, Sexta-
feira Santa e festa dos Apóstolos e Evangelistas), ROXO (Simboliza a preparação, penitência
ou conversão. Usada nas missas missas e ofícios da Quaresma e do Advento), ROSA
pouco usada na liturgia, apenas em 2 ocasiões durante todo o ano litúrgico: no domingo
Gaudete (3º domingo do advento) e no domingo Laeterte (4º domingo da quaresma).
Simboliza uma breve pausa na tristeza e no rigor da penitência da Quaresma e na preparação
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do Advento), PRETO (Está em desuso, simboliza a morte. Usada em missas e ofícios dos
fiéis defuntos, vem sendo substituída pela cor Roxa).
CORPORAL: É uma toalhinha quadrada que é dobrada em 6 partes, sendo entendida por
inteiro sobre o altar desde a hora do ofertório até o fim da comunhão e purificação dos vasos
sagrados. Chama-se corporal porque sobre ela coloca-se o Corpo do Senhor (cálice e âmbula),
no centro do altar. Faz alusão ao santo sudário de Cristo.
COTTA: Sobrepeliz mais curta no corpo e nas mangas.
CREDÊNCIA: É a mesa auxiliar disposta ao lado, no presbitério, onde são colocados os
vasos sagrados antes de levá-los ao altar,além de livros litúrgicos e outros materiais usados
em algum momento na missa. Também pode ser usada para preparar as oferendas do altar, no
momento do ofertório na missa.
CRUZ: Sobre o altar, ao seu lado ou acima dele, existe um crucifixo para lembrar que a Ceia
do Senhor é inseparável do seu sacrifício redentor. Vemos em Mt 26,28, que Jesus deu a seus
discípulos o sangue da aliança que será derramado por muitos para o perdão dos pecados.
Geralmente a cruz localizada ao lado do altar tem um cabo maior, é móvel e é usada utilizada
nas procissões, inclusive procissão de entrada. Nestes casos recebe o nome de Cruz
Processional.
DALMÁTICA: é semelhante à casula, que a dalmática é uma veste exclusiva diaconal.
Assim como a casula, a dalmática é a última peça diaconal a ser vestida. Fica sobre a túnica e
sobre estola (a estola do diácono é cruzada do ombro direito até a cintura esquerda, à
tiracolo).
DIÁCONO: Os diáconos são os religiosos que estão no último dos sete anos de estudo que
levam à carreira clerical da Igreja Católica, podendo, posteriormente, se tornarem padres.
ESTANDARTE RELIGIOSO: Pano quadrado ou quadrilongo, de uma ou mais cores, às
vezes ricamente bordado ou pintado, com legendas, emblemas ou imagens de santos, armado
em uma verga horizontal que, presa a uma vara, forma uma cruz. Representa o estandarte a
Cristo em seu triunfo ou os santos na glória.
ESTOLA: é aquela peça colorida que o padre coloca sobre os ombros, caindo sobre o
pescoço, formando duas faixas paralelas em cima da Alva (ou túnica). Significava a dignidade
do rei, como também a dignidade do sacerdote. As duas faixas paralelas lembram o Antigo e
o Novo Testamento: as duas grande alianças que Deus fez com a humanidade. Quando o
padre veste a estola, ele reza em silêncio: Com alegria subirei ao altar do Senhor.
ESTOLA PAROQUIAL: Chama-se, em português, a estola usada pelo sacerdote sobre a
sobrepeliz. È mais larga e mais curta do que a estola da Missa, è mais ou menos ricamente
bordada e tem alamar.
ESTOLÃO: Banda box larga, sem cruz no meio, com que o diácono substitui desde o
Evangelho até a Comunhão, a planeta dobrada, durante a Quaresma e dia de penitência, nas
catedrais e outras igrejas maiores.
FÁBRICA DE IGREJA: Conjunto dos bens patrimoniais, ou dos seus rendimentos,
destinados à conservação e reparo das igrejas, bem como às despesas e à manutenção do culto
divino.
FABRIQUEIRO: O primeiro membro do Conselho da Fábrica da Igreja, que com os
Conselheiros, sob a dependência do pároco, administra seus bens e è o único representante da
pessoa física.
FALDA: Espécie de saia, de seda branca, muito ampla, com cauda, que o Papa usa, nas
Missas papais, sobre a alva.
FALDISTÓRIO: Cadeira de madeira, raramente de metal, sem espaldar, mas com encosto
para os braços, com cobertura de seda, cuja cor corresponde ao dos paramentos.
FANONE: O porta o papa. È um vestido umeral de forma oval que deve aproximar-se ao
círculo perfeito, o qual o diâmetro maior è de cerca 92 cm.
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FASCIAE: Duas faixas que presas à Mitra caem por detrás.
FÉRULA: Bastão à guisa de cetro, sendo hoje o nome do báculo que o Papa empunha em
certas ocasiões.
FLORES: Simbolizam a alegria e a gratidão da humanidade ao Deus de Amor. Em dias
festivos pode-se usar flores, não sobre o altar, mas ao lado deste. Sobre o altar usa-se
decoração com motivos litúrgicos, tais como o pão e o vinho, o trigo e a uva, além das velas e
crucifixo. No tempo da Quaresma o se usam flores; durante o Advento, admite-se seu uso
desde que seja com moderação, para não antecipar a alegria do Natal.
FORMAL: Presilha na Capa de Asperge dos Bispos e Prelados, de duas grandes chapas,
artisticamente lavradas e ornadas.
FRONTAL: Ornamento amovível que cobre a frente da base do altar. Pode ser de metal
(ouro, prata, cobre dourado), madeira, couro, pano, seda, ornados com bordados de seda,
pérolas, ouro e pedras preciosas.
FUNÇÕES LITÚRGICAS: Atos de culto divino, exercidos, pelo ministro oficial, em nome
de Cristo ou da Igreja, segundo as normas ditadas pelos livros litúrgicos, com o dúplice fim de
tributar a Deus a honra devida a alcançar para os cristãos as bênçãos celestes na ordem
temporal e espiritual. São funções sacras.
GALHETAS: São duas jarrinhas em vidro ou metal. Em uma vai a água e na outra, o vinho.
Estão sempre juntas sobre um pratinho no altar.
GAUDETE: Terceiro domingo do Advento, no qual se traduz a alegria pela próxima vinda
do Senhor.
GENUFLEXÓRIO: Como o nome já sugere (genu = joelho), é uma bancada, geralmente de
madeira, podendo ser acolchoada ou não, geralmente faz parte dos bancos da Igreja ou pode
ser uma peça separada, com a única finalidade de ajudar o povo na hora de ajoelhar-se.
GREMIAL: Pano a deitar sobre o regaço do Bispo, na Missa pontifical, durante o canto
Kyrie, Glória e Credo, para sobre ele colocar as mãos e durante as unções nas ordenações, na
distribuição das cinzas e candeias bentas, para proteger a casula.
GUARDA-PÓ: Coberta estendida sobre o altar, que as resguarde do pi, fora da Missa, e
quando o Santíssimo não está exposto.
INSÍGNIAS: Sinal distintivo, emblema.
INCENSO: Resina de aroma suave, em forma de grãos. O incenso é posto no turíbulo, sobre
as brasas e produz uma fumaça que sobe aos céus, simbolizando nossa oração que sobe a
Deus semelhantemente à fumaça do incenso que sobe aos céus.
INFÚLA: è hoje apenas denominação, pouco usada, da mitra e das faixas da mesma, quando
na Idade Média, significava os paramentos em geral, ou em particular a casula e o barrete.
INSTRUMENTOS DE ORDENAÇÃO: Chamam-se os objetos que simbolizam o ofício
litúrgico inerente à Ordem sacra a receber, cuja entrega pertence ao rito das ordenações.
JARRO e BACIA: Formam o conjunto usado para o ato de lavar as mãos, na hora do
ofertório, nas missas, expressando o desejo de purificação interior, do sacerdote que celebra.
KAMELAUKION: Barrete litúrgico do clero grego, de uso freqüente nas funções cultuais.
LAETARE: O quarto domingo da Quaresma, pela alegria da salvação.
LAMPARINA: É a lâmpada vermelha que fica geralmente ao lado do sacrário. Indica a todos
a presença real de Cristo na Eucaristia guardada no sacrário.
LECIONÁRIO: Livro que contém todas as leituras da Bíblia lidas na missa, de acordo com o
calendário oficial da igreja. Existem basicamente 3 tipos de lecionários: o lecionário
DOMINICAL dos anos A, B e C, o qual contém todas as leituras das missas do domingo do
ano A, B e C; o lecionário SEMANAL ou Ferial, o qual contém as leituras das missas dos
dias de segunda-feira ao sábado; e o lecionário SANTORAL que contém as leituras das
missas dos Santos. Quase todo o conteúdo da Bíblia foi sabiamente dividido entre os
domingos do ano, durante 3 anos (anos A, B e C). Por isso, quem participa das missas
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dominicais, ao fim de 3 anos terá lido e ouvido quase que todo o conteúdo da Sagrada
Escritura. As demais leituras o contempladas no lecionário dominical foram dispostas em
nuances dos lecionários semanal e santoral.
LITURGIA: E sentido amplo, è tudo o que pertence ao culto divino, oferecido pelo sacerdote
em benefício do povo cristão e em união com ele: Missa, Ofício, Sacramentos, tempo, lugar,
objetos de culto, etc. Em sentido estrito è o Santo Sacrifício da Missa.
MANÍPULO: Paramento litúrgico comum das Ordens sacras, mas distintivo próprio do
subdiácono. Assemelha-se à estola, sendo pequena e colocada no antebraço esquerdo.
MANTELETE: (Mantel) Manto que desce até os joelhos, aberto na frente, sem mangas, com
abertura apenas para enfiar os braços.
MANTELLONE: (Mantelão) Manto que desce até os tornozelos, aberto na frente e sem
mangas, com duas tiras largas e soltas que caem por detrás
MANUSTÉRGIO: Toalha que serve para enxugar as mãos do sacerdote, durante o ofertório.
Costuma acompanhar as galhetas.
MATRACAo instrumento de madeira que produz um barulho surdo (ferro que bate sobre
a madeira). Substitui os sinos durante a semana santa.
MENORÁ HEBRAICO: É um castiçal de 7 velas, própria da tradição judaica, incorporado à
liturgia católica, tendo sido, o seu uso, esquecido e atualmente relembrado, simbolizando as
maravilhas de Deus e seu poder infinito. É usado em missas, quando estas são celebradas por
um bispo.
MINISTROS SAGRADOS: Os representantes da Igreja que ministram a Missa sagrada.
MISSAL: É um livro que contém todo o roteiro do rito da missa e todas as suas orações, com
exceção das leituras (as quais se encontram nos lecionários). É o mesmo livro usado em toda
a igreja do rito latino (do ocidente), portanto, em qualquer igreja católica do rito latino você
irá participar da mesma missa, com os mesmos ritos e as mesmas orações. Isso traduz a
universalidade da igreja, a sua catolicidade.
MITRA: É uma espécie de chapéu em forma de cone, com uma abertura em cima e duas tiras
de panos atrás. A mitra significa que o bispo está em comunicação direta com os céus. A parte
de cima da Mitra é aberta para o céu significando que o bispo está aberto para Deus. Também
possui tiras de tecido atrás que caem sobre as costas e significa as duas revelações do Antigo e
Novo Testamento, assim como a estola e o cíngulo.
MURÇA: ( = Mozzeta)Um cabeção descendo até o meio do antebraço, com pequeno capuz
por detrás e abotoado na frente.
NAVETA: É o pequeno recipiente onde se guardam os grãos incenso, para posteriormente
pô-los no turíbulo.
OPA: Manteleta sem manga, aberta na frente, em sua respectiva cor usavam os irmãos da
irmandade, como distintivo para assistir as funções eclesiásticas ou acompanharem as
procissões.
OSTENSÓRIO ou Custódia: É onde se dispõe o corpo eucarístico de Cristo para adoração
pública, ou seja, é o vaso sagrado onde se ostenta a hóstia consagrada. Geralmente tem forma
circular semelhantemente a rios de sol, tendo a hóstia consagrada ao centro. No seu interior
existe um suporte em formato de semi-lua, onde se apóia a hóstia. Esse suporte é chamado de
LUNETA.
PADRE: Padre é o nome ecumênico dos presbíteros, indicando aquele que recebe o
sacramento da ordenação, tendo se ingressado no Seminário, e depois de se tornarem diáconos
e fazerem o voto de castidade.
PALA: É uma peça quadrada, dura (um cartão de papelão), sendo revestida de tecido
(geralmente linho). Serve para cobrir o cálice.
PÁLIO: Ornato litúrgico do papa e Arcebispos, é uma peça que circundam o pescoço e nela
estão contidas relíquias da cruz de Cristo.
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PANO PRETO: (Mortuário) Pano retangular, geralmente com cruz bordada no meio e galão,
para cobrir o féretro nas exéquias. No Brasil não existe este uso do pano preto.
PARAMENTOS LITÚRGICOS: Vestes oficiais do clero nas funções do culto divino.
PATENA: É um pratinho de metal ou qualquer material nobre, semelhantemente a um pires.
Sobre ele coloca-se a hóstia maior.
PEITORAL: Cruz peitoral.
PILÉOLO: Diminutivo de píleo, barrete clerical, sem gomos, para cobrir o alto da cabeça na
qual se ajustam perfeitamente. Chamam-no SOLIDÉU, porque è tirado somente para fazer
referência a Deus.
PLANETA: V. Casula.
PLUVIAL: É um mantelo que vai até os pés e é preso no peito com um broche. Aberto,
forma um meio círculo ou um setor semicircular. É decorado com bordas largas na orla
anterior e posterior, tendo um escudo aplicado atrás. V. Capa de Asperge.
PONTÍFICE: Bispo e Papa. Possuindo a plenitude do sacerdócio, são eles medianeiros
(construtores de pontes) por excelência entre Deus e o povo cristão.
PREDELA: 1. Supedâneo do altar; 2. base do retábulo.
PURIFICADOR: Vaso de Ablução.
RACIONAL: È um ornamento umeral do bispo, como um pálio para os arcebispos. È muito
pouco usado pelos bispos atualmente. È um ornamento distintivo mas não um símbolo.
ROQUETE: Veste branca de linho, semelhante à cotta, diferenciando por descer até os
joelhos, ter as mangas extremamente fechadas e apresentar como característica principal o uso
de rendas e bordados. È um paramento de dignidade do bispo e dos prelados. Porta-se em
coro nas procissões, no pregar, mas não ao administrar o Sacramento, que exige a sobrepeliz.
RUBRICAS: Prescrições e normas que regulam a celebração dos atos litúrgicos.
SACERDOTE: Chamado de Presbítero, nome espiritual oficialmente adotado pela Igreja, é
ordenado pelo Bispo que o nomeia o representante e ministro de N. Senhor, cuja missão
perpétua, aplicando ao povo cristão os merecimentos de Cristo, principalmente com o
Sacrifício da Missa e a administração dos Sacramentos e sendo-lhe mestre e guia, com a
anunciação da doutrina cristã; tudo isto em dependência do Bispo, de cuja autoridade
necessita para o válido ou lícito exercício de suas atribuições.
SACRÁRIO ou tabernáculo: É a urna ou caixa onde é guardada a Eucaristia após a
celebração. Deve ser construída de qualquer material nobre (madeira, rmore, metal...),
hermeticamente fechado e seguro, para evitar qualquer possibilidade de profanação.
SANGÜINHO ou Sangüíneo: É uma toalha branca e comprida, usada para enxugar e
purificar o cálice, a âmbula, a patena ou qualquer outro vaso sagrado que tenha recebido o
corpo e o sangue de Cristo.
SOBREPELIZ: Veste branca e ampla, de linho ou algodão, com mangas largas, para ser
usada sobre a batina ou bito religioso, por todos os clérigos, nos quais substitui a alva na
administração dos sacramentos, nas procissões e outras ocasiões semelhantes.
SOLIDÉU: É uma peça usada na cabeça em forma de semi-esfera, semelhante a uma meia-
cuia”. O Solidéu significa a unção apostólica, é o sinal de que a pessoa que o usa está
reservada exclusivamente para Deus. É a proteção divina no local onde o bispo recebeu o
óleo sagrado.
SUBSCINTÓRIO: Está preso dependurado ao cÍngulo utilizado pelo papa, e tem a forma do
manipulo sendo bordado na extremidade um cordeiro ou a cruz. As partes são costuradas nas
extremidades e o cíngulo passa no meio. Deve ficar no lado esquerdo.
SUBDIÁCONO: Clérigo de epístola
TAPETES: 1. Colgaduras ricas para cobrir, em dia de festa, as paredes da capela-mor,
colunas e arcos. 2. Alcatifas para cobrir os degraus do altar ou o próprio chão.
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TECA: É um pequeno recipiente de metal nobre, onde se armazenam as hóstias consagradas
para transportá-las até as casas de doentes ou para as comunidades distantes, ou seja, é um
recipiente usado basicamente no transporte das hóstias consagradas.
TIARAS: Coroa papal extra-litúrgica
TÚNICA: foi uma veste introduzida na liturgia depois da reforma protestante e legalmente
usada no Brasil, com aprovação da CNBB. Consiste numa peça de roupa de costura única,
parecida com a alva, só queo possui mangas, estas são partes integrantes da roupa.
Podemos assemelhar a túnica como um grande lençol quadrado onde tem três buracos: uma
para a cabeça e dois para os braços. Muitos padres, ao invés da alva, usam a túnica para
celebrar as missas, isto está correto em certas circunstâncias.
TUNICELA: Túnica superior do subdiácono, hoje è em tudo igual à dalmática do diácono.
TURÍBULO: É o recipiente onde se colocam as brasas e sobre estas os grãos de incenso para
fazer a incensação em missas solenes.
UMBELA: Baldaquino em forma de chapéu de sol, franjado, e que aberto, apresenta uma
superfície plana. Deve ser sustentado por cima da cabeça do sacerdote, em substituição do
pálio, quando publicamente leva o viático e quando transporta o Santíssimo.
VELAS: Sobre o altar ficam duas velas, mas se for uma missa celebrada por bispo devem
existir sete velas. A chama da vela simboliza a que recebemos de Jesus, Luz do Mundo, no
batismo e na confirmação. É sinal de que a missa só tem sentido para quem vive a fé.
Também simboliza a missão do cristão: consumir-se por inteiro para levar a luz da de
Cristo ao nosso redor.
VÉSPERAS: A última das horas canônicas.
VESTES ORDINÁRIAS: Vestes de uso diário.
VESTES CORAIS: Veste relativa ao coro.
VESTES PONTIFICAIS: Vestes que na liturgia competem aos Bispos, de acordo com o
Pontifical (Livro Pontifical), e limitadamente a outros Prelados, concedidos pela Santa Sé.
VÉU DE ACÓLITO: Larga tira de seda branca, colocada sobre os ombros, com que os
ajudantes (acólitos) seguram o báculo e a mitra nas funções pontificais. Usa-se para este fim,
também, o vu de ombros.
VÉU DE ÂMBULA: Capinha de seda branca, muitas vezes ricamente bordada, que envolve
toda a píxide.
VÉU DIANTE DO SANTÍSSIMO: Um pequeno estandarte que è colocado diante do
Santíssimo exposto quando há sermão durante a exposição.
VÉU DE CÁLICE: Pano de seda quadrado, de 45 a 50 cm, da cor dos paramentos,
freqüentemente ornamentado com bordaduras, para cobrir o cálice da Missa até ao Ofertório e
depois da Comunhão.
VÉU DE OMBROS: Pano de 60 cm de largura por 2,50 m de comprimento, de seda branca,
mais ou menos ricamente ornado no centro e nas pontas, colocado sobre os ombros e com
fecho sobre o peito, com cujas extremidades o sacerdote segura a custódia ao dar a benção
com o Santíssimo, ou com que cobre a âmbula para o mesmo fim ou para transportá-la,
quando, por exemplo, publicamente leva o viático.
VÉU DE SUBDIÁCONO: u de ombros, em sua cor de acordo com os paramentos, com
que o subdiácono, na Missa solene, leva o cálice à credência e o cobre até ao Ofertório.
VINHO: É vinho puro de uva, sem corantes ou conservantes. Assim como o pão se converte
no verdadeiro Corpo de Cristo, também o vinho se converte no verdadeiro Sangue do Senhor,
vivo e ressuscitado.
ZUCCHETTO: (Calota) È um barreto pequeno, redondo que cobre somente a extremidade
da cabeça. A do papa è branco, dos cardinais è vermelho e dos Bispos è violeta, dos outros
eclesiásticos è preta.
187
ANEXOS
188
ANEXO A
OS PARAMENTOS SAGRADOS
1. A veste clerical
A veste clerical não é outra coisa se não a batina ou sotaina, diz Lesage (1960),
“cujo nome latino subtanea, roupa de baixo, indica bem que deve ser usada
sob os paramentos sagrados, sendo muito mais próxima da nica que a toga
romana (…) È realmente a veste eclesiástica, tendo-se prevalecido o costume
de usá-la na vida corrente na França, Bélgica, Itália, Espanha, entre outros.
Nos países de maioria protestante, ela é vista somente no interior da igreja e
em locais de culto. Fora os sacerdotes usam uma indumentária civil,
geralmente preta, com um colarinho especial, sem gravata. È a veste do
clergyman. () A batina é, pois, sinal de clericato, juntamente com a
tonsura.(p. 80-81). (Tradução nossa)
As cores da batina variaram muito da Antigüidade até nossos dias. Podemos ver que
antes do Concílio de Trento, o clero secular poderia usar batinas vermelhas, roxas, brancas,
verdes ou azuis. Durante muito tempo, e até hoje, podemos constatar na Itália, que os cônegos
conservaram este privilégio. Os Concílios de Avinhão (1209) e Latrão (1215) proibiram o uso
das batinas vermelhas e verdes, deixando aos bispos o privilégio de uso destas cores, além das
azuis. São Carlo Borromeo, arcebispo de Milão ordenou, em sua arquidiocese, que seu clero
adotasse cores que tendessem ao preto, conselho este que serviu de exemplo para outros
concílios provinciais, que adotaram para os sacerdotes e clérigos inferiores, referida cor.
Quanto aos monges, estes conservam ahoje as cores usadas na Idade Média, ao menos o
branco (cistercienses, dominicanos, premonstratenses, etc.) e o pardo (carmelitas,
franciscanos, capuchinhos, etc.). Na legislação atual, o roxo é reservado aos bispos e o
vermelho aos cardeais.
2. As vestes e insígnias episcopais
As vestes ordinárias dos bispos e arcebispos são a batina e o chapéu, sendo as casas e
botões da batina em vermelhos. Levam, ainda, uma cruz peitoral suspensa por uma corrente e
a faixa de seda roxa com franjas na mesma cor. No anular da mão direita, levam um anel com
pedra preciosa que pode ser rodeada de brilhantes. Na cabeça, levam uma calota roxa. O
chapéu é preto. E têm o privilégio do uso da mitra e do báculo.
Os patriarcas e núncios levam um cordão verde e ouro no chapéu preto, os prelados
que não são bispos levam um cordão roxo e os abades mitrados levam um cordão preto. As
189
borlas são sempre da cor do cordão. Os sapatos são pretos e podem ter fivelas de ouro ou de
prata dourada.
Nas cerimônias, os bispos colocam, sobre estas vestes, um manto de seda roxa, amplo
e sem forro, atado à volta do pescoço por meio de fitas roxas. As vestes corais são a batina
roxa ornada de seda carmesim, mais as peças do traje comum e barrete roxo e roquete ornado
de vermelho. Para completá-la, temos o mantelete,a murça e a capa-magna.
A exceção do barrete e da calota, que são roxos, as vestes dos religiosos pertencentes
às grandes ordens monásticas quando promovidos ao episcopado são diversas: para a veste
coral e ordinária a cor é aquela de seu traje religioso, sem nenhum ornato roxo, sendo, preta
para os beneditinos, branca para os camaldulenses e premonstratenses, cinza para os
franciscanos, parda para os capuchinhos. Os cistercienses e cartuxos trazem batina branca,
mantelete e murça pretas, capa preta e capuz branco. Os dominicanos se diferenciam desses
últimos apenas no mantelete e murça que são ornados de branco. Os carmelitas usam batina
parda, mantelete e murça brancos e capa inteiramente branca.
3. As vestes e insígnias dos cardeais
As vestes ordinárias dos cardeais são a batina preta ornada de casas e botões
vermelhos, sendo desta mesma cor a faixa de seda, o manto de cerimônia e o colarinho, o
chapéu preto com cordão e borlas em vermelho e dourado. Seus sapatos são debruados de
vermelhos e providos de fivelas de ouro. Têm também um chapéu vermelho, orlado de galões
de ouro, para as grandes solenidades.
A veste coral é composta pela batina vermelha, calota e barrete da mesma cor, o manto
cor púrpura e, quando a cavalo, este deve ser coberto de um manto escarlate. Sobre a batina
traz uma faixa de seda chamalote vermelha com duas borlas de ouro, roquete com ornamentos
vermelhos, murça vermelha e a cruz peitoral suspensa a um cordão vermelho e ouro. As meias
e o colarinho são vermelhos. O barrete, da mesma cor, de lã no inverno e de seda no verão. As
vestes pontificais nada distinguem-se da dos bispos, excetuando-se apenas o uso do sétimo
candelabro na Missa pontifical e o porte da cruz arquiepiscopal à frente.
4. As vestes e insígnias do Soberano Pontífice
Para as audiências mais solenes, reveste o roquete de linho fino com rendas e pequena
camalha de veludo vermelho, orlado de armelino no inverno ou de cetim encarnado no verão.
A púrpura, é a cor provavelmente herdada dos imperadores romanos. Quando sai dos seus
190
aposentos traz uma estola vermelha. Seus calçados são de veludo ou vermelha com cruz
bordada de ouro. Quando sai do palácio usa um chapéu de feltro levantado dos lados,
recoberto de seda vermelha, orlado por galão de ouro e cingido de cordão com borlas de ouro.
5. As vestes internas
Amito
35
É um pedaço de tecido retangular que deve envolver a nuca, as costas e o peito. Deve
ser de 80 a 90 cm e largo 60 a 70 cm. É fixo por meio fitas e de um broche preso na
extremidade de um dos lados mais longo. As fitas que passam debaixo dos braços, se cruzam
primeiramente sobre as costas e posteriormente são conduzidos ao peito onde se amarram.
Deve ser de linho e, segundo o Missal, no centro deve haver uma pequena cruz, que deve ser
beijada antes de vesti-lo. É sempre colocado antes da alva, toda vez que esta deve ser vestida.
Nas funções de diáconos assistentes à missa, os cônegos os colocam sobre o roquete e os
sacerdotes sobre a sobrepeliz.
Alva
36
Era uma espécie de camisa grande, formada por dois panos unidos por costuras. Foi
mantida como em sua forma original, sendo a única veste que não tenha sofrido
transformações. É um vestido em forma de saco com mangas, com uma abertura para passar a
cabeça, sendo muito semelhante à túnica. As mangas devem ser justas e o comprimento,
segundo o Missal, deve ser distanciado da terra em 1 dedo, hoje bastando, para tal, um
comprimento de 1,50 a 1,60 m. Deve ser largo o suficiente para que se possa caminhar e
ajoelhar sem causar danos ao tecido, tendo a medida ideal de 3 a 3,50 m de circunferência.
Deve ser de linho, sendo permitido a decoração com bordados ou rendas. Quanto ao corte,
existem três, a (ao modo de) saco, a gheroni e a spatola. Vem sempre presa à cintura pelo
cíngulo, sendo este confeccionado de tecido ou couro. São levados por todos os oficiantes,
juntamente com o amito, sob a batina. Significa, simbolicamente, a pureza de coração com
que o sacerdote deve celebrar os Ofícios divinos.
Cíngulo
37
É a cintura litúrgica e o acessório indispensável à alva. Feito de linho, cânhamo, seda
ou lã, pode ter a cor da festa celebrada ou do tempo eclesiástico, devendo concordar com os
35
Segundo Braun (1914), p. 67-68
36
Segundo Braun (1914), p.70-77
37
Segundo Braun (1914), p.77-81
191
paramentos. Existem três tipos, em forma de cordão, em forma de faixa de 3 cm tecida em
tear ou feita com pedaços de tecidos costurados juntos, em forma de faixa em que na parte
interna são aderidos laços que servem para fechar. O comprimento varia quanto ao tipo e vai
de 2,50 m a 4 m. Na extremidade pode-se decorar com franjas e laços. Significa a virtude da
continência e da castidade.
Cota ou Sobrepeliz (veste coral)
38
É uma túnica larga de dois tipos, podendo cair até os joelhos ou até os pés, sendo feita
de tela de linho ou de algodão branco (batista ou musselina). Possui mangas largas ou pelo
menos de media largura, podendo formar asas ou nem haver mangas. A sobrepeliz tem este
nome pelo costume alemão de a usar sobre uma pele fina. É um vestido de todos os clérigos.
A usam por cima da batina ou hábito religioso, podendo substituir a alva na administração dos
Sacramentos, nas procissões e outras ocasiões semelhantes. Ambos os tamanhos se usam no
Brasil, na Itália prevalece o tipo mais curto ao qual chamam de “cotta”.
Falda
39
Veste papal. É uma longa e larga saia de seda branca, com cauda, muito ampla e
caindo de todos os lados sobre os pés. É levada por dignitários episcopais que a levantam na
frente e atrás. É usada pelo Papa quando este não celebra em pessoa, mas assiste às capelas
papais em presença dos cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos e prelados da corte pontifical.
Reveste-se primeiro do amito, da alva, do cíngulo, da falda, em seguida do roquete, da estola,
da grande capa ornada de um fecho precioso e, enfim, da mitra.
Fanone
40
O usa o Papa. É uma veste umeral (ou de ombros), de forma oval que deve aproximar-
se ao círculo perfeito, o qual o diâmetro maior é de cerca 92 cm. É uma dupla pequena capa
de seda, ou seja, duas murças sobrepostas, sendo uma mais larga, que a outra (a de cima mais
estreita que a de baixo), sendo esta diferença a medida de um palmo. As duas partes são
costuradas no centro e em volta do pescoço. Não possui forro e são ornadas com listas
paralelas, brancas, douradas, vermelhas e galão de ouro. Na parte posterior à abertura, para
passar a cabeça, deve-se haver um pequeno corte para facilitar a sua colocação e, na parte
anterior, deve haver uma cruz bordada de ouro. O papa recebe-os depois da cruz, sobre a alva.
38
Segundo Braun (1914), p.81-84
39
Segundo Rower (1947), p.104.
40
Segundo Braun (1914), p.69
192
A parte superior é levantada, cobrindo a cabeça até que os outros paramentos sejam vestidos,
descendo, por fim, esta parte superior sobre a casula.
Subcintório
41
Está preso dependurado ao cíngulo, tornando-se de uso exclusivo do papa desde o
século XV. Tem a forma do manípulo sendo bordado na extremidade um cordeiro ou a cruz.
As partes são costuradas nas extremidades e o cíngulo passa no meio. Deve ficar no lado
esquerdo. Hoje é um simples ornamento.
6. As vestes externas
Casula ou Planeta
42
Na Idade Média era chamada de Ínfula, sendo o termo moderno Casula, o diminutivo
da palavra casa (tenda). Trata-se de uma veste com forma de escapulário, com abertura para
passar a cabeça. Sofreu inúmeras modificações no decorrer da história mas, após as reformas
do final do século XVIII e algumas poucas mudanças puristas em alguns países, no século
XIX, apresenta-se como a vemos hoje, com a parte posterior com largura de 65 a 73 cm e
comprimento de 105 a 115 cm. Existem diversos tipos segundo diversos países. É a veste
exterior litúrgica do bispo e dos sacerdotes na celebração da Missa, sendo, inclusive, tida
como paramento de Missa. O termo Planeta pode determinar, muitas vezes, uma veste mais
comprida até os joelhos, de mangas longas e cobrindo os braços, que foi muito usada
substituindo a dalmática na época do Advento e na Quaresma. Devem ser feitas somente em
seda e os bordados devem se limitar à cruz, à coluna e ao contorno do pescoço.
Dalmática e Tunicela
43
São vestidos e devem ser colocados sobre as outras vestes internas. Não nenhum
referimento quanto ao tecido que deve ser utilizado, devendo ser da mesma cor da casula e do
pluvial. A dalmática é a veste litúrgica do diácono e a tunicela é a do subdiácono. Segundo o
Missal romano se coloca nas missas, nas Vésperas, nas procissões e bênçãos solenes. Não se
coloca em dia de penitência e dores. Fazem parte também dos paramentos pontificais, porém
o bispo ou outro que tenha o privilégio de usá-la, deve fazê-lo nos dias de missas solenes e
funções específicas. O uso da dalmática e da tunicela pontificais não é coligado ao dia, por
isto, os bispos a utilizam em outras datas como o Advento e a Quaresma. Devem ser
41
Segundo Braun (1914), p.77-81
42
Braun, 1914, p.93.
43
Braun, 1914, p.85.
193
colocadas depois da estola e antes da casula. A tunicela é uma alva preciosa, sendo
intermediária entre a alva e a dalmática. São mais curtas que as dalmáticas, tendo as mangas
mais longas. As dalmáticas são mais compridas e têm mangas mais curtas e mais largas,
usadas sobre outras vestes, têm as mangas abertas, podendo ser tal abertura até os joelhos ou
até debaixo dos braços. Significa a salvação, a alegria espiritual e a justiça de santidade.
O Pluvial ou Capa de Asperge
44
É um mantel ou mantelão que vai até os pés e é preso no peito com um broche.
Quando aberto, forma um meio círculo. É decorado com bordas largas na orla anterior e
posterior, tendo um escudo (clipeus) aplicado atrás. Não é obrigatório que seja de seda ou
meia seda, mas se faz sempre de seda. Seu uso é muito freqüente da parte dos bispos e
sacerdotes, pois é a veste que deve ser colocada quando não se usa a casula. Coloca-se sobre a
camisa (alva) ou sobre a cotta. Não é benta e nem possui significado simbólico, sendo
uma veste solene, usada em momentos diversos e por todos os membros do clero. Nos
concílios e assembléias de ordem é insígnia de dignidade. Chama-se Capa de Asperge porque
vem usada na aspersão dos fiéis. O nome Pluviale, Pluvial, vem do uso em procissões, tendo
antes um capuz como resguardo da pluvia (chuva). O capuz se transformou na forma que tem
nas costas, o escudo.
7. As insígnias litúrgicas
O Báculo
45
Além de insígnia episcopal é insígnia de jurisdição. Nos livros litúrgicos é sempre
desenhado como bastão pastoral, o que mostra seu simbolismo, ou seja, bastão de comando,
cetro real e cajado com o qual o pastor reúne e conduz seu rebanho, castigando-os em caso de
necessidade. É, ainda, sustentáculo durante o canto do evangelho. É correlativo à mitra, como
reza o Cerimonial dos Bispos, devendo ser usado junto a esta, salvo algumas exceções.
A Cruz peitoral e o Anel
46
São insígnias episcopais. As levam os bispos. A cruz não é sinal de jurisdição,
podendo ser levada por toda parte. O anel episcopal, usado na vida corrente, é de ouro,
símbolo da caridade, podendo ser ornado com uma pedra preciosa, cercada ou não de
brilhantes, não devendo a pedra ser safira, que é aquela reservada aos cardeais. Leva, ainda,
44
Braun, 1914, p.110.
45
Rower, 1947, p.36.
46
Rower, 1947, p.25 e 81.
194
um outro anel nas cerimônias ordinárias, o anel pontifical para os ofícios solenes. Deve ser
maior para ser colocado sobre a luva, ornado com uma pedra e não deve apresentar brilhante.
A Estola
47
É muito semelhante ao manípulo quanto à forma, ao material, ao modo de decoração e
às cores, distinguindo-se somente pelo comprimento que chega a 2,50m. É de uso do
sacerdote, do diácono e do bispo, sendo que o diácono leva-a em volta do pescoço passando
do ombro esquerdo à cintura direita, enquanto que o bispo e o sacerdote levam-na na nuca
deixando cair na frente. O bispo a deixa cair paralelamente, estando usando a cotta ou a
camisa, enquanto que, o padre a deixa cair paralelamente se usa a cotta e a cruza sobre o peito
se leva a camisa ou alva. É um símbolo diaconal e presbiterial, não havendo nenhuma outra
insígnia que marque o grau ocupado na hierarquia, além do simples modo de ser colocada.
Usa-se somente nas funções que se supõem ordens diaconais e sacerdotais. No diácono
significa a veste ndida no exercício do ministério, que é exortado a cumprir fielmente. No
sacerdote significa o julgo do senhor e a veste (inocência) da imortalidade. É ainda, símbolo
de jurisdição.
A Férula
48
É uma cruz comprida, sem crucifixo, utilizada pelo Papa que a carrega na mão todas
as vezes que a função litúrgica exige o uso do báculo, significando seu poder espiritual e
temporal.
O Manípulo
49
É uma faixa longa 1 m que se usa sobre o braço (antebraço) esquerdo de modo que as
duas extremidades caiam uma de uma lado e outra do outro lado do braço. È largo cerca de 5
a 10 cm. No meio e nas extremidades encontramos ornamentos de cruz, das quais só a cruz
central é prescrita. Na Itália para fechá-lo se usam fitas internas. Na Alemanha se usam
costurar as duas partes a uma distância de 16-17cm do punho. Na França e na Bélgica se usa
acrescentar uma fita que é presa na camisa com um alfinete. Não é necessário que seja de
seda. É de uso das ordens menores. Usa-se somente na missas e em algumas outras funções
determinadas. Segundo o Missal com o pluvial não se usa nunca o manípulo. O sacerdote o
coloca antes da estola e o bispo, no altar, depois do confiteor, o diácono e o subdiácono, o
47
Braun, 1914, p.121
48
Rower, 1947, p.106.
49
Braun, 1914, p.116.
195
colocam depois que ajudaram o celebrante a vestir-se e desses mesmos vestirem a dalmática
ou a túnica. É um símbolo subdiaconal.
O Pálio
50
É uma faixa em formato circular que fecha o umeral, a nuca e o peito, larga cerca 6
cm, possuindo uma faixa que cai na frente e nas costas, de igual largura e longa cerca de um
palmo e meio. A faixa e os apêndices são de lã branca ornada de cruzes negras de seda, sendo
quatro (4) sobre a parte circular (anel) e uma (1) em cada apêndice. Nestes são colocados
pesos de chumbo que são recobertos de seda negra para deixar o lio bem firme. Das quatro
cruzes do anel, em três delas, as do centro e a da esquerda, se colocam alfinetes preciosos em
cada uma destas.
A utilizada na feitura do pálio é, pelo menos, em parte de dois cordeiros que os
canônicos regulares lateranenses apresentam como tributo ao Capitólio de San Giovanni in
Laterano na Basílica de Sta. Agnese, em Roma, na festa da Santa, em 21 de janeiro, e que
depois da Missa pontifical são bentos solenemente no altar maior e posteriormente ofertados
ao papa. Após esta cerimônia, os cordeiros são confiados às Beneditinas de Sta. Cecília,
que o devem nutrir e tosquiar. Os pálios confeccionados são bentos na Basílica
Vaticana, em 28 de junho, na vigília dos santos Pedro e Paulo, sendo as insígnias depostas
sobre seus túmulos durante toda a noite. O simbolismo do tecido utilizado indicado por Santo
Isidoro de Pleuse, designa a pele da ovelha que o Senhor procurou, quando perdida, e
carregou nos ombros. O arcebispo, representante de Cristo deve desempenhar o mesmo papel,
carregando sobre seus ombros as misérias de seu rebanho.
É um ornamento do papa e dos arcebispos, que recebem, com o pálio, título e direitos
de Metropolitanos. Raros são os bispos que o possuem. Seu uso é muito limitado e
determinado. É um símbolo papal e arquiepiscopal significando a calma do ofício pontifical,
que tem no papa o direito divino e no metropolitano, por participar com o papa naquele
direito, na sua fração territorial.
8. Vestes de ornamento
As luvas
51
As luvas pontificais se fazem de seda. No dorso da mão é bordada a cruz grega ou um
monograma de Cristo e, na borda, um bordado ou costura. As cores são determinadas pelos
50
Braun, 1914, p.129.
51
Braun, 1914, p.137.
196
cânones, mas o existem luvas negras. Usa-se somente na Missa pontifical e os bispos as
usam até na hora do lavatório, não a recolocando até o final da missa. Apresenta uma forma
particular no punho, chamado canhão, cobrindo o punho e a borda da manga da alva. A
função é aquela de proteção das mãos, sobretudo das mãos sacerdotais em que se realizam os
mistérios do altar, o sendo características do episcopado, mas lhes sendo reservadas por
privilégios desde o século XI, no entanto, vêm mencionadas em documentos desde o século
VI, como constata Lesage (1960). Seu símbolo é, na pessoa do bispo, alusão a que fez Jesus
Cristo, que na sua Paixão se apresentou ao Pai revestido dos pecados do mundo.
A Mitra
52
É um chapéu em forma triangular. São três os tipos existentes, a simples, a
aurifregiata ou ornada e a preciosa. A simples deve ser somente em seda adamascada, de
seda branca ou de linho branco, forrado da mesma cor. Os apêndices possuem franjas
vermelhas. A aurifregiata ou ornada pode ser de seda branca como fundo e ter como
ornamento algumas pequenas margaridas ou um desenho tecido ou bordado de ouro ou
mesmo, uma tela de ouro sem outro ornamento. A preciosa é decorada de pedras preciosas,
pérolas, e lâminas de ouro e de prata, sendo ordinariamente de tecido de ouro. Compete de
direito ao Papa, ao cardial e ao bispo. Cada tipo é usado em momentos diferentes. É um
ornamento litúrgico, sendo usada não somente antes e depois, mas durante as funções
litúrgicas. Seu simbolismo, adotado pelo Pontifical Romano, é o de ser um capacete de
defesa, que deverá tornar o novo pontífice terrível aos adversários da verdade.
A mitra papal apresenta-se em três tipos: a gloriosa, ornada de pedras preciosas e de
um círculo de ouro que lhe forma a base, a segunda, igualmente rica, mas sem o círculo, a
terceira, de prata, para os ofícios fúnebres e os dias de penitência. Às vezes é substituída pela
tiara.
O Racional ou Superhumerale
53
É um ornamento umeral do bispo, como um pálio para os arcebispos. É muito pouco
usado pelos bispos atualmente, tendo sido conservado seu uso somente na Alemanha. É um
ornamento distintivo, mas não um símbolo.
52
Braun, 1914, p.147
53
Braun, 1914, p.135
197
As Sandálias e Meias Pontificais
54
Compreendem os calçados e as meias. São colocadas nas missas pontificais e o
sujeitas ao cânone das cores, não existindo meias e sapatos pretos, uma vez que não devem
ser vestidos na Sexta-Feira Santa e nas Missas de Finados. Não lhe é pré-determinado
nenhum material, mas é de hábito faze-las de seda. Os sapatos, que nada têm em comum com
os antigos calçados (sandali), senão o nome e a função de cobrir os pés, têm uma forma
original de pantufas, e não é necessário marcar com uma cruz, sendo que em Roma, somente
os sapatos dos Papas são a possuam. As meias podem ser de tecidos de seda devidamente
cortados ou tecidas em seda ou feitas ao modo de malha.
A história do uso dos calçados e meias pontificais está diretamente ligada à hierarquia
de uso na Igreja e ao simbolismo de tais vestes. Eram ornamentos significativos, reservados
àqueles que deveriam ostentar o poder que possuíam. O uso era privilégio do Papa e no século
XI fora concedido por este aos bispos, cardeais padres e diáconos e àqueles aos quais o Papa
concedia como símbolo de honra, abades e dignitários das principais catedrais.
A Tiara
55
É um objeto extra litúrgico que possui uma relação estreita com a mitra, sendo usada,
exclusivamente, pelo Papa, tendo sua origem no camelaucum papal. Apresentou desde a sua
criação uma grande variação, desde um simples barrete de tela branca, em forma de elmo,
passando a ser inserida a primeira coroa no séc. XII, a segunda coroa no séc. XIII e,
posteriormente, a terceira, encimada por uma cruz. Os pendentes ou faixas são provavelmente
a transformação dos cadarços com que era adaptado o camelaucum. A superposição das três
coroas simboliza o tríplice poder imperial, real e sacerdotal, que o sucessor de São Pedro
reúne em si.
9. Vestes com aspectos litúrgicos
A Almucia
56
A almucia é pouco usada ultimamente. É parte integrante do vestido coral e indica que
quem a porta ou é canônico ou é beneficiado pelo capitólio. Era na Idade Média um grande
capuz pendente nos ombros, usado pelos cônegos em certos Ofícios. É feita de pele na forma
de um mantelete.
54
Braun, 1914, p.141.
55
Braun, 1914, p.157 e Rower, 1947, p.221.
56
Braun, 1914, p. 161 e Rower, 1947, p.19. Ver Mozzetta ou murça, p.156.
198
O Barrete
57
Cobertura quadrangular de cabeça, que faz parte das vestes clericais e é empregada,
também, nas funções litúrgicas. Tem ao meio da copa uma borla de retrós preto. O romano
tem três, o alemão, o francês e o inglês têm quatro e o espanhol nenhum. É um barrete rígido
a quatro cantos, em três as cores, sendo, a dos cardinais vermelha, a dos bispos violeta e a dos
outros eclesiásticos é preta.
A Capa magna (veste coral episcopal)
58
É um manto com longa cauda e grande capuz que envolve toda a parte superior do
corpo, sendo próprio dos cardinais, dos patriarcas, dos bispos e de alguns outros prelados, e é
levada pelos clérigos chamados caudatários. A dos cardinais é de cor violeta (roxa) na
Quaresma e nos dia de luto, sendo vermelha nos outros dias. A dos outros é sempre violeta.
Porém, se pertencem a uma certa ordem religiosa podem levar a capa nas cores das vestes
particulares destas ordens. O capuz é forrado de lo de arminho no inverno (branco) e de
seda vermelha no verão.
O Mantelino ou Mantelete
59
É um pequeno manto, não chegando à altura dos joelhos. Não tem mangas, mas duas
fendas laterais por onde passam os braços. Cobre inteiramente o roquete, servindo a todos os
dignitários quando desprovidos de jurisdição. É uma veste honorífica.
A Mozzeta ou Murça (veste coral episcopal)
60
É um mantelino com um capuz em miniatura e fechada no peito com uma serie de
botões. É uma prerrogativa do Papa, dos cardinais, dos bispos e alguns prelates da cúria papal.
A do Papa é sempre vermelha, sendo branca na páscoa. A dos cardinais é ordinariamente
vermelha, sendo rosa nos domingos Laetare e Gauldete e, violeta na Quaresma e dia de
Penitência. A dos bispos são violeta e negra. Somente as do Papa e dos cardinais devem ser de
seda. No Brasil, costume legítimo permite aos bispos a mozzeta de seda. O nome varia porque
para alguns esta é a capa magna cortada (mozzare: cortar), para outros é a transformação da
almucia (murça).
57
Rower, 1947, p.38 e Braun, 1014, p. 162.
58
Braun, 1914, p.160.
59
Rower, 1947, p.139.
60
Braun, 1914, p.162
199
O Roqueto (veste coral)
61
É semelhante à cota, sendo que neste as mangas são extremamente fechadas e com
vivos de cor, descendo até os joelhos e geralmente com renda larga. É um paramento de
dignidade do bispo e dos prelados. Leva-se em coro nas procissões, no pregar, mas nunca ao
administrar o Sacramento. Aqueles que têm o privilegio da capa magna e da murça, m o
roquete para administração dos Sacramentos, mas usam a cotta sobre este. Aqueles que não
têm esse privilégio não podem usar a cotta nesse modo. O roqueto se distingue da sobrepeliz
apenas pela estreiteza da mangas e os vivos de cor.
O Zucchetto, Calotta, Solidéu ou Piléolo
62
É uma cobertura da cabeça na forma de pequena calota hemisférica. É um barrete
pequeno, redondo que cobre somente a extremidade da cabeça, sem ter a presilha aderente à
esta. O do Papa é branco e utilizada sob a tiara cobrindo as orelhas, dos cardinais é vermelho
e dos Bispos é violeta, dos outros eclesiásticos é preta. É uma peça usada na cabeça em forma
de semi-esfera, semelhante a uma “meia cuia”. É um barrete clerical sem gomos para cobrir o
alto da cabeça, onde se ajusta perfeitamente. O Solidéu significa a unção apostólica, é o sinal
de que a pessoa que o usa está reservada exclusivamente só para Deus. É a proteção divina no
local onde o bispo recebeu o óleo sagrado.
Porém, se pertencem a uma certa ordem religiosa podem levar a capa nas cores das
vestes particulares destas ordens. O capuz é forrado de pêlo de arminho no inverno (branco) e
de seda vermelha no verão.
61
Braun, 1914, p.158
62
Braun, 1914, p. 163 e Rower, 1947, p. 217,183
200
ANEXO B
MISSAL ROMANO ATUAL
1
I. Missa com o povo. O que é necessário preparar:
2
117. O altar seja coberto ao menos com uma toalha de cor branca. (…)
118. Preparem-se também: a) junto à cadeira do sacerdote: o missal e, se for
oportuno, um livro de cantos; b) no ambão: o Lecionário; c) na credência:
cálice, corporal, purificatório e, se for oportuno, pala; patena e, se
necessário, cibórios; pão para a Comunhão do sacerdote que preside, do
diácono, dos ministros e do povo; galhetas com vinho e água, a não ser que
todas estas coisas sejam apresentadas pelos fiéis na procissão das oferendas;
recipiente com água a ser abençoada se houver aspersão; patena para a
Comunhão dos fiéis; e o que for necessário para lavar as mãos. O cálice,
como convém, seja coberto com um véu, que pode ser da cor do dia ou de
cor branca.
119. Na sacristia, conforme as diversas formas de celebração, preparem-se as
vestes sagradas (cf. n. 337-341) do sacerdote, do diácono e dos demais
ministros: a) para o sacerdote: alva, estola e casula ou planeta; b) para o
diácono: alva, estola e dalmática, que pode ser dispensada em sua falta,
como também em celebrações menos solenes; c) para os demais ministros:
alva ou outras vestes legitimamente aprovadas. Quando se realiza a
procissão da entrada preparem-se também o Evangeliário; nos domingos e
dias festivos, o turíbulo e a naveta com incenso, quando se usa incenso; cruz
a ser levada na procissão e castiçais com velas acesas.
II. As sagradas alfaias em geral
3
325. Como na construção de igrejas, também em relação a todas as alfaias, a
Igreja admite a expressão artística de cada região, aceitando adaptações que
concordem com a índole e as tradições de cada povo, contanto que tudo
corresponda devidamente ao uso a que se destinam as alfaias. Também neste
ponto cuide-se atentamente de obter a nobre simplicidade que se coadune
perfeitamente com a verdadeira arte.
326. Na escolha dos materiais para as alfaias, admitem-se igualmente, além
dos tradicionais, aqueles que são considerados nobres pela mentalidade atual,
são duráveis e se prestam bem para o uso sagrado. Compete à Conferência
dos Bispos de cada região decidir a esse respeito (cf. n. 390).
IV. As vestes sagradas
4
335. Na Igreja, que é o Corpo de Cristo, nem todos os membros
desempenham a mesma função. Esta diversidade de funções na celebração
da Eucaristia manifesta-se exteriormente pela diversidade das vestes
1
Missal Romano. Restaurado por decreto do Sagrado concilio Ecumenico Vaticano II e promulgado pela
autoridade do Papa Paulo VI. Rio de Janeiro: Ediçoes Paulinas-Editora Vozes, 1992.
2
Missal Romano, p. 80 e 81.
3
Missal Romano, p. 84 e 85.
4
Missal Romano, p. 86 e 87.
201
sagradas, que por isso devem ser um sinal da função de cada ministro.
Importa que as próprias vestes sagradas contribuam também para a beleza da
ação sagrada. As vestes usadas pelos sacerdotes, os diáconos, bem como
pelos ministros leigos são oportunamente abençoados antes que sejam
destinados ao uso litúrgico, conforme o rito descrito no Ritual Romano137.
336. A alva é a veste sagrada comum a todos os ministros ordenados e
instituídos de qualquer grau; ela será cingida à cintura pelo cíngulo, a não ser
que o seu feitio o dispense. Antes de vestir a alva, e-se o amito, caso ela
não encubra completamente as vestes comuns que circundam o pescoço. A
alva não poderá ser substituída pela sobrepeliz, nem sobre a veste talar,
quando se deve usar casula ou dalmática, ou quando, de acordo com as
normas, se usa apenas a estola sem a casula ou dalmática.
337. A não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote
celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão
direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola.
338. A veste própria do diácono é a dalmática sobre a alva e a estola;
contudo, por necessidade ou em celebrações menos solenes, a dalmática
pode ser dispensada.
339. Os acólitos, os leitores e os outros ministros leigos podem trajar alva
ou outra veste legitimamente aprovadas pela Conferência dos Bispos em
cada região (cf. n. 390).
340. A estola é colocada pelo sacerdote em torno do pescoço, pendendo
diante do peito; o diácono usa a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo,
prendendo-a do lado direito.
341. A capa ou pluvial é usada pelo sacerdote nas procissões e outras ações
sagradas, conforme as rubricas de cada rito.
342. Quanto à forma das vestes sagradas, as Conferências dos Bispos podem
definir e propor à Apostólica as adaptações que correspondam às
necessidades e costumes da região (138).
343. Na confecção das vestes sagradas, podem-se usar, além dos tecidos
tradicionais, os materiais próprios de cada região e mesmo algumas fibras
artificiais que se coadunem com a dignidade da ação sagrada e da pessoa, a
juízo da Conferência dos Bispos (139).
344. Convém que a beleza e nobreza de cada vestimenta decorram não
tanto da multiplicidade de ornatos, mas do material usado e da forma. Os
ornatos apresentem figuras ou imagens ou então símbolos que indiquem o
uso sagrado, excluindo-se os que não se prestam bem a esse uso.
345. As diferentes cores das vestes sagradas visam manifestar externamente
o caráter dos mistérios celebrados, e também a consciência de uma vida
cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgico.
346. Com relação à cor das vestes sagradas, seja observado o uso tradicional,
a saber: a) O branco é usado nos Ofícios e Missas do Tempo pascal e do
Natal do Senhor; além disso, nas celebrações do Senhor, exceto as de sua
Paixão, da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não
Mártires, nas solenidades de Todos os Santos (1º de novembro), de São João
Batista (24 de junho), nas festas de São João Evangelista (27 de dezembro),
da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25
de janeiro). b) O vermelho é usado no domingo da Paixão e na Sexta-feira da
Semana Santa, no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do
Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações
dos Santos Mártires. c) O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo
comum. d) O roxo é usado no tempo do Advento e da Quaresma. Pode
também ser usado nos Ofícios e Missas dos Fiéis defuntos. e) O preto pode
ser usado, onde for costume, nas Missas dos Fiéis defuntos. f) O rosa pode
ser usado, onde for costume, nos domingos Gaudete (III do Advento) e
202
Laetare (IV na Quaresma). g) Em dias mais solenes podem ser usadas vestes
sagradas festivas ou mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia. No
que se refere às cores litúrgicas, as Conferências dos Bispos podem
determinar e propor à Apostólica adaptações que correspondam à
necessidades e ao caráter de cada povo.
347. As Missas rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a
festiva; as Missas por diversas necessidades, com a cor própria do dia ou do
Tempo, ou com a cor roxa, se tiverem cunho penitencial, por exemplo, n. 31,
33 e 38; as Missas votivas, com a cor que convém à Missa a ser celebrada, ou
também com a cor própria do dia ou do tempo.
V. Outros objetos usados na Igreja
5
348. Além dos vasos e das vestes sagradas, para os quais se prescreve
determinado material, as demais alfaias destinadas ao culto litúrgico(140)
ou a qualquer uso na igreja, sejam dignas e condizentes com o fim a que se
destinam.
390. Compete às Conferências dos Bispos definir as adaptações, e
introduzi-las no próprio Missal, com a aprovação da Apostólica, pontos
indicados nesta Instrução geral e no Ordinário da Missa, como: (…)
- o material para a confecção do altar e das sagradas alfaias, sobretudo dos
vasos sagrados, bem como a forma e a cor das vestes litúrgicas (cf. acima, n.
301, 326, 329, 339, 342-346).
5
Missal Romano, p. 88 e 89.
203
ANEXO C
INVENTARIO DE 1749 DO LIVRO DE INVENTARIO DA FABRICA DA
CATEDRAL DA SE DE MARIANA
6
“Ornamentos Pontificais Brancos”: 1 capa de asperges de melania
com guarnição de franja e galhão de ouro, 1 casula com estola e
manípulo de mesma melania e guarnição de ouro, 3 tunicelas de
mesma melania e guarnição, 2 panos de estante pequeno de Missal da
mesma melania e guarnição, 1 gremial de mesma melania e guarnição;
1 pano de com guarnição de ouro, 2 dalmáticas da mesma melania e
guarnição, 1 bolsa com corporais e véu da mesma melania e
guarnição, 1 par de sapatos, luvas e meias da mesma melania e
guarnição, 1 almofada de Altar da mesma melania e guarnição, 1
almofada de damasco com guarnição de retroz para S. Excia. Rv.ma
ajoelhar, 1 docel da mesma melania e guarnição, 1 paleo da mesma
melania e guarnição, 3 mitras: uma branca lisa de damasco, 1 amarela
de melania com galão de ouro e 1 rica bordada de ouro com pedras de
diferentes cores. (f.1)
“Ornamentos Pontificais Encarnados”: 1 capa de asperges de melania
com guarnição de ouro, 1 casula com estola e manípulo de mesma
melania e guarnição, 2 tunicelas de mesma melania e guarnição, 2
dalmáticas da mesma melania e guarnição, 1 gremial da mesma
melania e guarnição, 1 faldistério da mesma melania e guarnição, 1
pano de da mesma melania e guarnição, 2 dalmáticas da mesma
melania e guarnição, 1 bolsa de corporais com véu da mesma melania
e guarnição, 1 par de sapatos meias e luvas da mesma melania e
guarnição, 1 almofada para o Altar da mesma melania e guarnição, 1
docel de damasco com guarnição de retroz,1 almofada de damasco
com guarnição de retroz, 1 pano liso de damasco para cobrir a cadeira.
(f.1)
“Ornamentos Pontificais de Melania Verdes”: 1 capa de asperges com
franja, galloins e guarnições de ouro, 1 casula com estola e manípulo
com galões e guarnições de ouro, 2 tunicelas de mesma melania e
guarnição, 2 panos de estante do Missal da mesma melania e
guarnição, 1 gremial da mesma melania e guarnição, 1 faldistério da
mesma melania e guarnição, 1 bolsa de corporais com véu da mesma
melania e guarnição, 1 par de sapatos meias e luvas da mesma melania
e guarnição, 1 almofada de damasco com guarnição de retroz, 1
almofada de altar de melania e guarnições de ouro. (f. 1v.)
“Ornamentos Pontificais de Melania Roxa e Guarnição de Ouro”: 1
capa de asperges de melania com franja e galões de ouro, 1 casula com
estola e manípulo de mesma melania e guarnição, 2 tunicelas de
mesma melania e guarnição, 2 panos de estante do Missal da mesma
6
Mariana. Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Inventário da fábrica da Cathedral de Mariana;
1749-1904. Livro P-16.
204
melania e guarnição, 1 gremial da mesma melania e guarnição, 1
faldistério da mesma melania e guarnição, 1 bolsa de corporais com
seu véu da mesma melania e guarnição, 1 par de sapatos meias e luvas
da mesma melania e guarnição, 1 almofada de altar de melania e
guarnições de ouro, 1 almofada de damasco com guarnição de retroz
para o S. Ex.a. Rev.ma ajoelhar-se, 1 docel de damasco e guarnição de
retroz, 1 pano liso de damasco para cobrir a cadeira. (f.1v.-2)
“Ornamentos Pontificais de Damasco Preto e Guarnição de Ouro”: 1
capa de asperges com guarnições de ouro, 1 casula com estola e
manípulo da mesma melania e guarnição, 2 tunicelas de mesma
melania e guarnição, 2 panos de estante do Missal da mesma melania e
guarnição, 1 gremial da mesma melania e guarnição, 1 faldistério da
mesma melania e guarnição, 1 bolsa de corporais com seu véu da
mesma melania e guarnição, 1 almofada de altar de mesma melania e
guarnições, 1 almofada de damasco com guarnição de retroz para S.
Excia. (f.2)
“Ornamentos para o Illmo. Rvmo Cabido”
“Brancos”: 1 capa pluvial de melania branca com guarnição de ouro,
1 casula da mesma melania e galões de ouro, 1 pano de púlpito da
mesma melania e guarnição de ouro, 1 almofada do altar de damasco
com guarnição de retroz, 2 dalmáticas de damasco com guarnição de
retroz, 7 casulas de damasco com guarnição de retroz, 1 véu de
ombros de cetim com guarnição de retroz, 1 pano de estante do coro
de damasco com guarnição de retroz, 7 bolsas de corporais de
damasco com guarnição de retroz, 7 véus de tafetá, 7 pluviais de
damasco com guarnição de retroz, 2 panos de estante de Missal de
damasco com guarnição de retroz, 9 frontais de damasco com
guarnição de retroz, 1 pano de púlpito da mesma cor com guarnição de
retroz amarelo. (f.2)
“Ornamentos Encarnados de Damasco e Melania com Guarnição de
Ouro e Retroz”: 1 capa pluvial de melania com guarnição de ouro, 1
casula da mesma melania e guarnição, 1 pano de púlpito da mesma
melania e guarnição, 1 almofada do altar de damasco com guarnição
de retroz, 2 dalmáticas de damasco com guarnição de retroz, 7 casulas
de mesma melania e guarnição, 1 véu de ombros de cetim com
guarnição de retroz, 1 pano de estante do coro de damasco com
guarnição de retroz, 7 bolsas de corporais de damasco com guarnição
de retroz, 7 véus de tafetá, 7 pluviais de damasco com guarnição de
retroz, 2 panos de estante de Missal de damasco com guarnição de
retroz, 9 frontais de damasco com guarnição de retroz, 1 frontal de
melania e guarnição de ouro, 1 pano de púlpito da mesma cor com
guarnição de retroz amarelo, entende-se por pano de púlpito
(observação feita no livro). (f.2- v.)
“Ornamentos Verde de Damasco e Melania com Guarnição de Retroz
Amarelo”: 9 frontais de damasco com guarnição de retroz, 1 pano de
púlpito com guarnição de retroz, 7 casulas com estola e manípulos da
205
mesma melania e guarnição, 2 dalmáticas da mesma melania e
guarnição, 2 panos de estante de Missal da mesma melania e
guarnição, 1 pano de estante grande do coro da mesma melania e
guarnição, 1 véu de ombros de cetim com guarnição de retroz, 7 bolsas
de corporais de damasco com 7 véus de tafee guarnição de retroz, 3
capas de Asperge de damasco com guarnições de retroz, 9 saraço de
brim verde com 6 amarelas para cobrir os altares, 1 pano de púlpito de
damasco da mesma cor e mesma guarnição de retroz amarelo. (f.2v.)
“Ornamentos Roxos de Damasco e Guarnição de Retroz”: 4 capas
pluviais de damasco com guarnição de retroz, 8 completos casula e
estolas e manípulos da mesma melania e guarnição, 2 dalmáticas da
mesma melania e guarnição, 2 Pano de estante de Missal da mesma
melania e guarnição, 1 pano grande de estante do coro da mesma
melania e guarnição, 1 estolão da mesma melania e guarnição, 1
almofada do Altar de damasco com guarnição de retroz, 7 bolsas de
corporais de damasco com guarnição de retroz, 7 véus de tafetá, 9
frontais, 1 véu de ombros de cetim com guarnição de retroz, 2
coberturas de cruz de damasco com guarnição de ouro, Conta do
mesmo com guarnição de retroz, 1 pano grande de damasco para a
adoração da cruz na Sexta-feira da Paixão, 1 pano de púlpito de
damasco com franjas de retroz amarelo. (f.2 v-3)
“Ornamentos Pretos de Damasco”: 9 frontais de damasco com franja
e guarnição de retroz amarelo, 2 dalmáticas, 1 estolão, 7 véus de
tafetá, 7 bolsas de corporais de damasco, 3 estolas e 3 manípulos
soltos, 2 panos de estante de Missal, 3 capas pluviais, 1 almofada, 1
pano de tumba, 9 casulas da mesma melania e guarnição, menos 2
estolas e 2 manípulos. (f.3)
“Pavilhões grandes e pequenos pertencentes ao Sacrario”: 1 pavilhão
de melania encarnada com guarnição de ouro, 1 pavilhão de damasco
encarnado com guarnição de ouro, 1 pavilhão de melania branca com
guarnição de ouro, 1 pavilhão de damasco branco com guarnição de
ouro, 1 pavilhão de damasco verde com guarnição de ouro, 1 pavilhão
de damasco roxo com guarnição de ouro, 1 docel de damasco branco
de ouro com ramos e galões de ouro para expor o Santíssimo com seu
pavilhão de galafre
7
com 19 boreas de ouro, 1 Véu de custódia de
galassé branca de ouro com renda do mesmo, 2 coberturas do Píxide
de galassé branca de ouro com franja do mesmo, 2 coberturas das
âmbulas dos Santos Óleos de cetim encarnado, roxo, branco, com sua
espeguilha de ouro para o bálsamo da Quinta-feira maior, 1 coxim de
veludo roxo com galões e borlas de ouro para a adoração da cruz, 1
pano para cobrir o mesmo coxim de damasco de ouro branco com
galões e franjas de ouro, 4 véus de paz de tafetá branco, encarnado,
roxo, verde, 1 vara e ½ de fita de tela cramezim para a chave do
Sacrário, 1 vara e ½ de fita de tela branca para a chave do cofre em
quinta-feira Santa (f.3-v.)
7
Galassé, galosse ou glacê. In Trindade, 1955,
206
“Roupas Brancas”: 44 toalhas de pano de linho para lavatório, 32
toalhas de pano de linho para lavatório, 24 toalhas de ruão de cofre, 8
toalhas de bretanha lisas, 1 toalha de panico, 17 toalhas de renda, 12
toalhas finas com renda, 2 toalhas grandes com renda para a
Comunhão, 24 corporais lisos, 12 corporais de renda, 6 corporais de
renda mais finos (obs: nestes faltam o corporal de dentro que o
furtaram na Semana Santa de 1949 da Sacristia), 3 corporais pequenos
para expor o Santíssimo Sacrário, 35 palas com renda, 6 palas finas
com renda, 6 amitos com fitas de seda, 17 amitos com fita de linha, 19
amitos lisos com fitas de linha, 24 amitos, 12 alvas, 18 ditas com
renda, 18 ditas de renda fina e larga, 46 sanguinhos com renda, 92
sanguinhos, 48 manus-térgios lisos, 12 sobrepeliz com mangas de
renda. (f.3 v.-4)
“6 varas de pálio douradas, 1 cruz processional com crucifixo de prata
lavrada, 1 cruz peritoral de ouro com trancelim de retroz branco com
fio de ouro para S. Excia. Evma., 1 alcatifa de papa galho, 1 peça de
pano verde em pedaços que serve para cobrir os degraus do altar mor e
os bancos dos R.R. Cônegos quando usam deles”. (f.4)
207
ANEXO D
O ACERVO TÊXTIL DO MAAS
CJ N
O
. TIPO COR QT TECIDO GALÃO N. MAM
1 1 Dalmática Verde 1 Damasco Retrós 1145
2 Estola Verde 1 Damasco Retrós 1173
2 3 Dalmática Vermelho 1 Damasco Galão 1210
4 Dalmática Vermelho 1 Damasco Galão 1213
5 Casula Vermelho 1 Damasco Galão +
borda
1205
6 Dalmática Vermelho 1 Damasco Galão 1228
7 Dalmática Vermelho 1 Damasco Galão 1225
8 Casula Vermelho 1 Damasco Galão 1227
9 Casula Vermelho 1 Damasco Galão s/n
10 Pluvial Vermelho 1 Damasco Galão 1214
11 Pluvial Vermelho 1 Damasco Galão 1226
12 Pluvial Vermelho 1 Damasco Galão s/n
3 13 Manípulo Vermelho/
dourado
1 Brocado Galão s/n
14 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Brocado Galão s/n
15 Estola Vermelho/
Dourado
1 Brocado Galão +
borda
s/n
16 Véu Vermelho/
Dourado
1 Brocado Galão s/n
17 Casula Vermelho/
Dourado
1 Brocado Galão s/n
18 Casula Vermelho/
dourado
1 Brocado Galão s/n
19 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
20 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
21 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
22 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
23 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
24 Manípulo Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
25 Estola Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1167
26 Casula Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1061
27 Casula Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1136
208
28 Casula Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1149
29 Casula Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n/
30 Casula Vermelho/
Dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1146
31 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1198
32 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1197
33 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão s/n
34 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão 1196
35 Casula Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Retrós
franjado
1209
36 Dalmática Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
37 Dalmática Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
38 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
39 Estola
Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
40 Estola Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
41 Casula Vermelho/
dourado
1 Gorgurão/lhama Galão Igreja
4 42 Manípulo Vermelho/
branco
1 Damasco Galão 1182
43 Estola Vermelho/
Branco
1 Damasco Galão 1175
44 Casula Vermelho/
branco
1 Damasco Galão 1141
5 45 Estola Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão 1097
46 Estola Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão 1098
47 Manípulo Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
48 Clipeus Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão
c/retrós
s/n
49 Clipeus Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão
c/retrós
1165
50 Clipeus Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão
c/retrós
1166
51 Clipeus Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão
c/retrós
s/n
52 Clipeus Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão
c/retrós
0917
53 Dalmática Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
54 Dalmática Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
55 Dalmática Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
209
56 Dalmática Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
57 Casula Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão 1220
58 Pluvial Beige/cor 1 Cetim bordado s/galão s/n
59 Casula Beige/cor
cortada
1 Cetim bordado s/galão 1195
6 60 Dalmática Branca 1 Gorgorão/
chamalote
Retrós 1079
61 Dalmática Branca 1 Gorgorão/
chamalote
Retrós 1080
7 62 Dalmática Beige 1 Adamascado
francês
Galão 1202
63 Dalmática Beige 1 Adamascado
francês
Galão 1204
8 64 Casula Vermelho 1 Damasco Retrós 1151
65 Manípulo Vermelho 1 Damasco Retrós s/n
66 Pluvial Vermelho 1 Damasco Retrós s/n
9 67 Estola Amarelo 1 Gorgurão/lhama
bordado
Galão 1185
68 Véu Amarelo 1 Gorgurão/lhama
Bordado
Galão 1162
69 Casula Amarelo 1 Gorgurão/lhama
Bordado
Galão s/n
70 Dalmática Amarelo 1 Gorgurão/lhama
Bordado
Galão 1131
71 Dalmática Amarelo 1 Gorgurão/lhama
Bordado
Galão 1133
72 Dalmática Amarelo 1 Gorgurão/lhama
Bordado
Galão 1132
73 Pluvial Amarelo 1 Gorgurão/lhama
bordado
Galão Museu
Sala ind
10 74 Manípulo Vermelho/
dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão s/n
75 Manípulo Vermelho/
dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão s/n
76 Manípulo Vermelho/
dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão 1216
77 Estola Vermelho/
Dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão 1215
78 Dalmática Vermelho/
Dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão 1232
79 Dalmática Vermelho/
Dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão 1155
80 Casula Vermelho/
Dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão s/n
81 Pluvial Vermelho/
dourado
1 Damasco/Brocado/
lançado
Galão s/n
11 82 Manípulo Vermelho 1 Damasco Galão s/n
83 Casula Vermelho 1 Damasco Galão 1151
12 84 Casula Vermelho 1 Pekin Galão 1206
85 Estola Vermelho 1 Pekin Galão 1187
13 86 Estola Verde 1 Damasco Galão 1056
87
Casula Verde 1 Damasco Galão 1152
210
14 88 u Beige/florS 1 Broc.espol.gros de
tour fundo linho
seda
Galão
89 Casula Beige/florS 1 Broc.espol.gros de
tour fundo linho
seda
Galão 1135
15 90 Casula Beige 1 Gorgurão/lhama/
gofrado
Galão 1154
91 Manípulo Beige 1 Gorgurão/lhama/
gofrado
Galão 1178
16 92 Casula Roxo 1 Damasco Galão 1138
17 93 Casula Vermelho 1 Damasco Galão 1150
94 Casula Vermelho +cor 1 Damasco +
brocatel lavrado
Retrós 1207
18 95 Casula Rosa/prata 1 Brocado lançado Galão 1142
19 96 Casula Vermelho/dourado
1 Damasco brocado
espolinado
Galão s/n
97 Frontal Vermelho/dourado
1 Damasco brocado
espolinado
Galão s/n
20 98 Casula Verde 1 Gorgurão/lhama Galão 1139
21 99 Casula Vermelho 1 Gorgurão/lhama +
bordado
Galão s/n
100 Manípulo Vermelho 1 Gorgurão/lhama +
bordado
Galão Museu
sala ind
0921
101 Estola Vermelho 1 Gorgurão/lhama +
bordado
Galão Museu
sala ind
0920
22 102 Casula amarelo 1 Gorgurão/lhama Galão 1137
23 103 Dalmática Beige 1 Gorgurão/bord Renda s/n
24 104 Manípulo Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
105 Pluviais Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
106 Pluviais Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
107 Pluviais Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
108 Fragmento
tecido
Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
109 Casula Beige 1 Damasco brocado Galão 1140
110 Clipeus Beige 1 Damasco brocado Galão s/n
25 111 Dalmática Beige 1 Brocado Galão s/n
112 Dalmática Beige 1 Brocado Galão s/n
26 113 Meia Vermelha 1
(par)
Gorgurão/lhama Galão s/n
114 Meia Vermelha 1
(par)
Gorgurão/lhama Galão s/n
27 115 Meia Vermelha 1 Gorgurão/lhama Galão s/n
28 116 Meia Vermelha 1 Gorgurão/lhama Galão s/n
29 117 Meia Vermelha 1 Gorgurão/lhama Galão s/n
30 118 Meia Branca 1 lamê Galão s/n
119 Meia Branca 1 lamê Galão Reserva
1069
31 120 Meia Vermelha 1 Gorgurão/lhama Galão Reserva
1068
211
32 121 Meia Verde 1 Gorgurão/lhama Galão Reserva
33 122 Dalmática Preto/azul 1 Veludo Galão 1147
123 Dalmática Preto/azul 1 Veludo Galão 1148
124 Véu Preto/azul 1 Veludo Galão 1158
34 125 Dalmática Roxo romano 1 Damasco Retrós s/n
126 Dalmática Roxo romano 1 Damasco Retrós s/n
35 127 Estola Dourado 1 Brocado lançado Galão 1192
128 Manípulo Dourado 1 Brocado lançado Galão 1149
129 Manípulo Dourado 1 Brocado lançado Galão s/n
130 Manípulo Dourado 1 Brocado lançado Galão s/n
131 Véu Dourado 1 Brocado lançado Galão s/n
132 Véu Dourado 1 Brocado lançado Galão 1156
133 Pluvial Dourado 1 Brocado lançado Galão s/n
134 Frontal Dourado 1 Brocado lançado Galão s/n
135 Casula Dourado 1 Brocado lançado Galão Museu
sala ind
136 Estola Dourado 1 Brocado lançado Galão Museu
sala ind
137 Manípulo Dourado 1 Brocado lançado Galão Museu
sala ind
1193
138 Véu de
ombros
Dourado 1 Brocado lançado Galão Museu
sala 1
139 Dalmática Dourado 1 Brocado lançado Galão Sé 1294
Reserva
140 Dalmática Dourado 1 Brocado lançado Galão Sé 1295
Reserva
141 Estola Dourado 1 Brocado lançado Galão Igreja ?
142 Casula Dourado 1 Brocado lançado Galão Sé 1293
Reserva
36 143 Capa Fusquia 1 Tafetá s/ s/n
37 144 Capa Fusquia 1 Gorgurão s/ s/n
38 145 Capa c/
Murça
Fusquia 1 Galão 1221
39 146 Pluviais Preto/beige 1 Adamascado Galão s/n
147 Pluviais Preto/beige 1 Adamascado Galão s/n
148 Pluviais Preto/beige 1 Adamascado Galão s/n
149 Frontal Preto/beige 1 Adamascado Galão s/n
150 Dalmática Preto/beige 1 Adamascado Galão Igreja ?
151 Dalmática Preto/beige 1 Adamascado Galão Reserva
152 Dalmática Preto/beige 1 Adamascado Galão Reserva
40 153 Luvas Brancas 1
(do
par)
Malha seda
gorgurão seda
bordado
s/ 1078
154 Luvas Brancas 1
(do
par)
Malha seda
gorgurão seda
bordado
s/ 1078-01
41 155 Luva Vermelha 1 Malha seda sarja
(cetim) bordado
s/ 1079
42 156 Luva Vermelha 1 Malha seda
bordada
s/ s/n
43 157 Chapéu Vermelho 1 Renda 1066
212
44 158 Mitra Beige 1 Cetim bordado s/ s/n
45 159 Mitra Beige dourado 1 Tafetá fio metálico
= canelado?
Pedras,
brasão,
franja
Museu
sala ind
0895
46 160 Mitra Beige dourado 1 Tafetá grande =
canelado?
Pedras,
flores
Museu
sala ind
0894
47 161 Mitra Beige dourado 1 Gorgurão/lhama
bordado
Museu
sala ind
0914
48 162 Mitra Beige + cor 1 Cetim bordado Museu
sala ind
0913
49 163 Mitra amarelo 1 Gorgurão/lhama
bordado
S/f Museu
sala 2
50 164 Mitra Vermelha/beige 1 Gorgurão
chamalote
Passam
ouro
franja
seda
Reserva
51 165 Capa de
mitra
Beige 1 ? s/ Reserva
pe.
Daniel
52 166 Cruz roxa 1 Adamascado
bordado
s/ s/n
53 167 Véu Verde 1 damasco Retrós 1160
54 168 Véu Vermelho 1 Tafetá chamalote
bordado
Renda
leque
s/n
55 169 Estola Preta 1 Adamascado Retrós
beige
1159
56 170 Estola Preta 1 damasco Retrós
amarelo
1168
171 Casula Preta 1 damasco Retrós
amarelo
Reserva
57 172 Manípulo verde 1 gorgurão galão s/n
58 173 Manípulo verde 1 Brocado dourado galão 1058
174 Manípulo verde 1 Brocado dourado galão s/n
175 Estola verde 1 Brocado dourado galão 1170
176 Estola verde 1 Brocado dourado galão 1057
59 177 Estola Roxa 1 Damasco Retrós
amarelo
1180
178 Estola Roxa 1 Damasco Retrós
amarelo
1181
60 179 Manípulo Roxa e amarela 1 adamascado Retrós
amarelo
1183
61 180 Estola verde 1 damasco retrós 1172
62 181 Estola verde 1 Gorgurão
chamalote
bordado
retrós 1055
63 182 Estola Beige esverdeada 1 Brocado lançado =
~ gobelin
galão 1184
64 183 Estola Beige + cor 1 Cetim bordado s/ 1096
65 184 Estola Beige dourado 1 Gorgurão bordado galão 0256-04
213
66 185 Estola Beige dourado 1 Damasco brocado galão s/n
67 186 Reposteiro vermelho 1 Tela de lã +
crochet
s s/n
68 187 Sebasto Beige + cor 1 Cetim bordado s 1163
69 188 Tecido beige 1 Damasco brocado
lançado
galão s/n
70 189 Sitial Vermelho roxo 1 damasco Galão
escondido
s/n
71 190 Sanefa Vermelha (linda) 1 damasco retrós 1157
191 Sanefa Vermelha (linda) 1 damasco retrós Sala 2
72 192 Vermelha 1 damasco Retrós
beige
73 193 Sanefa roxo 1 Veludo roxo e tela
xadrez vermelho
galão
74 194 Vermelha
recortada
1 Damasco com
passaros
Galão
amarelo
75 195 roxo 1 Damasco grande Retrós
franja
1238
76 196 Roxo romano 1 Damasco francês
motivo renda
Retrós
amarelo
1236
77 197 Vermelho roxo 1 damasco retrós 1113
78 198 Veste NSD Roxo 1 Veludo bordado s/
79 199 Veste Sto
Batina
Preto 1 Linho s/
80 200 Bandeira EUA
201 França
202 Espanha?
203 Itália
204 Portugal
205 Inglaterra
206 Brasil 21
207 Brasil 23
81 208 solidéu beige 1 Tafetá
Papa Pio XII
s Museu
sala ind
0901
82 209 solidéu Roxo romano 1 gorgurão s Museu
sala 2
83 210 Solidéu Roxo 1 gorgurão s Reserva
pe.
Baeta
84 211 Solidéu Roxo 1 Gorgurão/couro s 1073
Reserva
pe.
Daniel
85 212 Solidéu Roxo romano 1 s Reserva
0899
86 213 Solidéu vermelho 1 tafetá s Reserva
87 214 Barrete Roxo romano
pompom
vermelho
1 Sarja forro tafetá s Museu
sala ind
1075
214
88 215 Barrete Roxo romano
pompom
vermelho
1 Sarja s Museu
sala 2
89 216 Barrete Roxo romano
pompom
vermelho
1 Gorgurão e
couro
s Reserva
90 217 Manto Vermelho
bordo
1 Veludo com
aplique de
lâmina
Renda Museu
sala ind
91 218 Túnica
NSD
Roxo 1 Veludo com
aplique
Renda Museu
sala ind
0915
92 219 Pluvial Dourado 1 Gorgurão
bordado
galão Museu
sala ind
0966
93 220 Estola Dourado 1 brocado dourado
bordado
s Museu
sala ind
94 221 Estola Roxo 1 Cetim de seda
bordado XX
Museu
sala ind
95 222 Estola Dourado 1 brocado dourado
bordado
Museu
sala ind
96 223 Galão Dourado 3
(109,111,536)
brocado Museu
sala ind
97 224 Véu Verde 1 Brocado fundo
cetim verde
Galão Museu
sala ind
98 225 Véu Verde 1 Tafetá Galão Museu
sala ind
99 226 Véu Verde 1 Gorgurão/lhama Galão Museu
sala ind
0898
100 227 Véu Beige 1 Gorgurão/lhama
gofrado
Galão Museu
sala ind
101 228 Véu Vermelho 1 Gorgurão/lhama Galão Museu
sala ind
0897
102 229 Bolsa de
Corporal
Verde 1 Damasco =~
roxo amarelo
retrós Sala 2
230 Corporal Verde 1 Damasco =~
roxo amarelo
retrós Sala 2
103 231 Véu roxo 1 Gorgurão/lhama galão Sala 2
104 232 Sanefa Vermelho 1 adamascado franja Sala 2
233 Sanefa Vermelho 1 adamascado franja Sala 2
105 234 Véu Verde 1 Gazes com fio
metálico
renda
106 235 Véu roxo 1 Gorgurão/lhama Galão
franjado
O896
107 236 Véu preto 1 Damasco
lançado
galão
108 237 Véu
grande
beige 1 = Tecido rasgado
damasco brocado
lançado
franja
215
109 238 sebasto Beige dourado 1 Cetim bordado s 1235
papel
110 239 sanefa Vermelho 1 Damasco rasgado retrós
111 240 Dalmática Beige + cor 1 Cetim bordado s 1235
papel
112 241 Dalmática Verde 1 damasco retrós 1144
113 242 Dalmática Beige 1 adamascado retrós 1143
114 243 Pluvial Roxo romano ou
vermelho
1 Gorgurão/lhama galão
115 244 Pluvial beige 1 Gorgurão bordado
e cetim
Renda
116 245 Pluvial Preta beige 1 adamascado Galão
117 246 casula Beige 1 Damasco brocado
lançado
Galão
118 247 Capa de
mitra
Beige 1 ?
119 248 Pingente
triplo
Dourado prateado
1 Madeira, tecido,
fio metálico,
cordão, argola
Franja 1289
249 Pingente
triplo
Dourado prateado
1 Madeira, tecido,
fio metálico,
cordão, argola
Franja 1289
120 254 Manípulo Vermelho 1 adamascado Galão
novo
121 255 Chapéu de
cardeal
Vermelho 1 Camurça e tafetá
Tanfani &
Bertarelli Roma.
Mons. Flávio
Pingente
122 256 Pingente dourado 1 Madeira, tecido,
fio metálico,
cordão, argola
Franja 1291
257 Pingente dourado 1 Madeira, tecido,
fio metálico,
cordão, argola
Franja 1292
258 Pingente
Triplo
dourado 1 Madeira, tecido,
fio metálico,
cordão, argola
123 262 Capa
ostensório
Azul escuro Sarja algodão
124 263 Capa
cálice
Azul escuro 1 Sarja algodão
125 264 Manto
NSD
Marron ? 1 Veludo bordado =
veste cb
Retrós
126 265 Pingente Dourado Franja dourada Fita verm
malha
1065
127 266 Caixinha
do rosário
1898
D. Silvério
vermelho 1 Veludo bordado e
rosário de cordão
e madeira
s
Rosário
1898
D. Silvério
Preto e vermelho 1 Cordão, madeira e
pingente
s
128 267 Casula Beige dourado 1 Gorgurão/lhama
bordado
renda
216
129 268 Estola Verde amarelo 1 adamascado Retrós Pal d.
Luciano
130 269 Estola Roxo amarelo 1 Adamascado Retrós Pal d.
Luciano
131 270 Estola Preta 1 Adamascado Retrós Pal d.
Luciano
132 271 Estola Vermelho 1 Adamascado Retrós Pal d.
Luciano
133 272 Estola branco 1 Adamascado Retrós Pal d.
Luciano
134 273 Casula Preto 1 Cetim bordado
novo
Retrós Pal d.
Luciano
135 274 Casula Roxo 1 Cetim bordado
novo
Retrós Pal d.
Luciano
136 275 Casula Verde 1 Cetim bordado
novo
Retrós Pal d.
Luciano
137 276 Casula Vermelho 1 Cetim bordado
novo
Retrós Pal d.
Luciano
138 277 Casula branco 1 Cetim bordado
novo
Retrós Pal d.
Luciano
278 Casula Verde 1 Brocado lançado
dourado fundo
cetim verde
galão Reserva
1153
Estandartes
Beige 9 Algodão pintado
ACERVO DO MAAS INVENTARIADO ANTERIORMENTE NA SÉ
CJ N Tipo Cor Quant.
Tecido Galão N. IPHAN
1 1 Pluvial Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0092
2 Dalmática Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0093
3 Dalmática Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0094
4 Estola Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0099
5 Estola Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0099
6 Casula Vermelho 1 Gorgurão/lhama C MG/87-
034.0098
7 Canhão de
luvas
Vermelho 1 Gorgurão/lhama S MG/87-
034.0108
2 8 Dalmática Dourado 1 Brocado C MG/87-
034.0095
9 Dalmática Dourado 1 Brocado C MG/87-
034.0096
Casula Dourado 1 Brocado C MG/87-
034.0105
10 Estola Dourado 1 Brocado C MG/87-
034.0104
3 11 Frontal de
altar
Verde 1 Brocado de veludo C MG/87-
034.0103
217
4 12 Casula Bordô 1 Adamascado C MG/87-
034.0097
5 13 Umbela Vermelho 1 Damasco C MG/87-
034.0109
14 lio Vermelho 1 Damasco C MG/87-
034.0101
6 15 Bolsa de
corporal
Preto e
branco
1 ? C MG/87-
034.0102
7 16 Frontal de
altar
Bordô 1 Adamascado C MG/87-
034.0100
8 17 Frontal de
altar
Preto/beige 1 Adamascado C MG/87-
034.0106
9 18 Sanefa de
andor
Roxo
dourado
1 Adamascado
brocado ou
gorgurão/lhama
C MG/87-
034.0107
218
ANEXO E
TECIDOS DO MAASM
Qt. Tipo Cor Galão Tecido Épo
ca
3 Dalmáticas amarela Fio dourado
=/s A B C
Gorgurão com lhama dourada XVIII
1 Véu de cálice
1162
amarela Fio dourado B Gorgurão/lhama dourada. Bordado com
lantejoulas, algofres de metal dourado,
fio liso, fio crespo, lâmina, canutilho,
placa oval com efeito de lâmina
XVIII
/
XIX
1 Casula amarela Fio dourado B
Coluna
Tec. Fundo = Chamalote. Tecido do
meio = Gorgurão/lhama dourada.
Bordado com lantejoulas, algofres de
metal dourado, fio liso, fio crespo,
lâmina, canutilho, placa oval com
efeito de lâmina
XVIII
/
XIX
1 Casula
1206
vermelha Fio dourado =/
Coluna
Brocatel de cetim de algodão com
motivo Pekin. Possivelmente italiano.
XVIII
/
XIX
1 Casula Vermelha Fio dourado =/
Coluna
Damasco brocado espolinado florzinha
possivelmente francês
XIX
1
1
Casula
1154
Manípulo
Beige Fio dourado =/
Coluna F
Cruz V
Gorgurão/lhama dourada urdidura
algodão e trama seda. Padrão
estampado gofrado imitando chamalote
XIX
2 Capas Fusquia sem Tafetá de seda pregueada, e fita
vermelha. Gola dura.
XX
1
2
1
1
2
Pluvial
Dalmáticas
Casula
Estola
Véu de cálice
1156
Amarelo
dourado
Fio dourado,
fio prateado,
franja dourada
Brocado lançado dourado. Motivos
trigo, uvas, flores, vaso,
XVIII
/
XIX
1
3
Dalmática
Pluviais
Preto/beige
(dourado?)
Fio dourado Adamascado duas cores forro seda XIX
2
1
Casulas
Véu de cálice
Vermelho Fio dourado Cetim brocado. Tecido XVIII,
provavelmente montado XIX. Flores,
trigo, rosas
XVIII
/
XIX
1
1
2
3
Casula
Pluviais
Dalmáticas
1155/1232
Manípulos
Vermelho Fio dourado
G + franja
Damasco brocado lançado com bichos,
pássaros, borboletas e flores
XVIII
1
1
Casula
Véu de cálice
Beige Fio dourado Brocado espolinado fundo gros de tour
provavelmente francês, com tecido de
fundo em linho e seda
XVIII
/
XIX
1 Casula
1142
Rosa Fio prateado Brocado lançado prateado,
possivelmente italiano. Flora exótica
XVIII
2 Dalmáticas
1204/1202
Beige Fio dourado Damasco de seda possivelmente
francês, rendilhado e flores
XIX
2
1
Dalmáticas
1148/1147
Véu de cálice
Preto Fio dourado Veludo misto urdidura de algodão,
forro de seda
XIX
2 Dalmáticas Beige dourado Fio dourado
franjado
Brocado dourado XVIII
219
1 Casula Amarela Fio dourado Gorgurão com lhama dourada em
chamalote
XIX
1 Escudo
clipeus
Beige + cor Retrós motivo
cruz
Cetim de seda bordado chinês ponto
matiz, fios metálicos dourados lisos
crespos, lâmina, motivo rosas, amor-
perfeito, flor de Liz, aletas, guilhochês
XIX
1 Escudo
clipeus
Beige + cor sem Cetim de seda bordado chinês ponto
matiz, fios metálicos dourados lisos
crespos, lâmina, motivo flores, trigo e
uvas, aletas, guilhochês com lantejoulas
XIX
2 Escudo
clipeus
Beige + cor viés Cetim de seda bordado chinês ponto
matiz, fios metálicos dourados lisos
crespos, lâmina, motivo rosas e amor
perfeito, cornucópia central, aletas,
guilhochês com lantejoulas
XIX
1
1
4
Casula
Escudo
Dalmáticas
Beige + cor sem Cetim de seda bordado chinês ponto
matiz, fios metálicos dourados lisos
crespos, lâmina, motivo laços, rosas,
lírios, folhas de parreira, aletas,
guilhochês
XIX
1 Dalmática Beige dourado Renda de
leque
Gorgurão de seda bordado com fios
metálicos lisos crespos, lâmina, algofre
dourado, motivo fitomorfo, flor de Liz,
renda de leque de fios metálicos
dourado, forro sarja de seda
XIX
1
1
3
Casula
Escudo
Pluvial
Beige Fio dourado e
escudo com
viés
Damasco brocado (lançado?)com fios
lisos, crespos e laminados. Galão final
XVIII. Flores, uvas, cravos, fitas, forma
bouquet
XIX
1 Casula Cruz F
e coluna
costas 1207
Vermelha
fundo beige
com flores
Retrós de seda
motivo floral
Damasco de seda coluna e cruz em
brocatel de seda com trama lavrada
XVIII
/
XIX
5
4
6
Casulas cruz
F coluna
costas
Pluviais
Manípulos
Vermelha Fio dourado e
fio dourado
rendado
Gorgurão lhama dourado forro tafetá
seda
XVIII
1 Casula Verde Fio dourado Gorgurão lhama dourado forro tafetá
seda
XVIII
1 Casula Vermelho Seda franjada Gorgurão lhama dourado forro tafetá
seda
XVIII
1
1
1
Casula coluna
Manípulo
Estola
(museu)
Vermelho sem Gorgurão lhama dourado com forro em
tafetá de seda bordado com fio
metalizado liso, crespo, lâmina motivo
aletas folhas e flor tipo trevo de 4
folhas
XVIII
/
XIX
2 Dalmáticas Beige Retrós com
cruz roxo e
amarelo
Gorgurão de seda chamalote XX
1 Casula
Cortada
Coluna
Beige + cor Fio dourado Adamascado de seda beige bordado
chinês ponto matiz fio de algodão
colorido, fios metálicos finos crespos,
aljofre, placas ovais efeito lâmina.
Motivo rosas, cosmos, amor-perfeito,
trigo, uva, folhas diversas, folha de
parreira, lírio?, flor de Liz?
XIX
1 Casula 1138 Roxa Fio dourado damascado de seda XVIII
1
4
Casula 1150
Pluviais
Vermelha Fio dourado damascado de seda
XVIII
1 Casula 1152 Verde Fio dourado damascado de seda XVIII
220
1 Casula Vermelho Retrós damascado de seda XVIII
1
1
Casula
Manípulo
Vermelho/
beige
Fio dourado damascado de seda XVIII
1 Casula Carmesin Fio dourado damascado de seda XVIII
1 Casula Roxo romano Fio dourado damascado de seda XVIII
6 Dalmáticas 2 roxo romano
3 carmesin
1 verde
Retrós
Fio dourado
Retrós
damascado de seda XVIII
1 Manípulo Beige G + franja Adamascado brocado XVIII
/XIX
3 Manípulo Beige G + franja Brocado dourado XVIII
/XIX
1 Manípulo Verde G + franja Chamalote XVIII
/XIX
1 Manípulo Amarelo G + franja Gorgurão seda bordado com placas e
aljofre
XVIII
/XIX
1 Manípulo Verde G + franja Brocado XVIII
/XIX
1 Manípulo Vermelho G + franja Brocado antigo flor, refeito XIX XVIII
1 Manípulo Verde G + franja Brocado XVIII
/XIX
1 Manípulo Beige + cor G + franja Cetim bordado XIX
1 Véu de
ombros
Vermelho Renda leque Tafetá de seda chamalote estilo chinês
com cordeiro no meio
XVIII
/XIX
1 Capa com
murça
Roxo romano Fio metálico
fino
lãzinha XIX
1 Estola Vermelho G + franja Gorgurão/lhama dourado XVIII
1 Estola Dourado G + franja Brocado lançado dourado XVIII
1 Estola Verde G + franja Brocado XVIII
1 Estola Vermelho G + franja Brocado bicho XVIII
1 Estola Verde G + franja Brocado XVIII
2 Estola Beige + cor G + franja Cetim bordado XIX
5
2
1
Meias
Vermelha
Branca
Verde
G + fita
gorgurão e fita
fio dourado
Gorgurão/lhama
Lamê florido
XVIII
1 Chapéu Vermelha Fio metálico,
lantejoula
XIX/
XX
Luvas Vermelhas e
brancas
Fio metálico,
lantejoula
Malhas XIX
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