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TIAGO LIMA BICALHO CRUZ
ESTUDO DOS AJUSTES LARÍNGEOS E
SUPRALARÍNGEOS NO CANTO DOS CONTRATENORES:
Dados Fibronasolaringoscópicos, Vídeo-radioscópicos,
Eletroglotográficos e Acústicos
Escola de Música
Universidade Federal de Minas Gerais
Junho/2006
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TIAGO LIMA BICALHO CRUZ
ESTUDO DOS AJUSTES LARÍNGEOS E
SUPRALARÍNGEOS NO CANTO DOS CONTRATENORES:
Dados Fibronasolaringoscópicos, Vídeo-radioscópicos,
Eletroglotográficos e Acústicos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação da Escola de Música da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Música.
Linha de Pesquisa: Música e Tecnologia
Orientador: Prof. Dr. Maurício Alves Loureiro (Escola
de Música)
Co-Orientador: Prof. Dr. Maurílio Nunes Vieira (ICEX/
Física)
Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Música
Universidade Federal de Minas Gerais
Junho/2006
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iv
Para meus pais, sogros, irmãos e Chris,
o meu agradecimento especial pela força
de sempre e apoio mesmo em
momentos conflitantes desta caminhada.
Como diz o ditado: “No final tudo dá
certo!” Obrigado! Amo Vocês!
v
AGRADECIMENTOS
À Deus por ser o pai criador do universo no qual deposito minhas esperanças e
busco forças para completar os meus projetos.
À Chris que sempre me apoiou antes do início desse projeto o qual finalizei agora.
Por todo amor por ela despendido a mim, pela compreensão, carinho, amizade e
cumplicidade nas tarefas que tive de realizar.
Aos meus pais por terem me dado a oportunidade de sempre estudar e cursar um
correto caminho pelo qual cheguei até aqui. Pelo amor e carinho mesmo nos
momentos difíceis.
Aos meus irmãos que mesmo estando em profissões diferentes da minha souberam
entender e compreender os meus objetivos de vida.
Ao meu orientador Maurício Alves Loureiro que apoiou o meu projeto e me deu a
oportunidade de ingressar no mestrado.
Ao meu co-orientador Maurílio Nunes Vieira pelos grandes momentos de
aprendizado nesses anos que o conheço, sempre pronto a ensinar e ajudar.
Ao Instituto de Otorrinolaringologia em nome da Dra. Juliana Landi pela
disponibilidade na realização dos exames de fibronasolaringoscopia.
vi
Ao Hospital Mater Dei em nome do Dr. Henrique Salvador por autorizar os exames
de vídeo-radioscopia no setor de Radiologia ao qual agradeço a todos os médicos e
técnicos que me ajudaram na operação e realização.
Ao Dr. Evandro Ribeiro da Clínica de Otorrinolaringologia Evandro Ribeiro que
possibilitou a realização do exame de fibronasolaringoscopia em Juiz de Fora.
Ao Dr. Ricardo Viana da CEDIMAGEM que possibilitou a realização do exame de
vídeo-radioscopia no Hospital Monte Sinai em Juiz de Fora.
Aos contratenores participantes desta pesquisa que prontamente se disponibilizaram
a participar de todas as etapas de avaliação sempre com grande humor e empenho.
Aos professores da UFMG que me ajudaram nesta etapa de aprendizado seja de
forma direta e indireta durantes esses dois anos.
Aos funcionários da UFMG que sempre me aturaram com humor em todas as
ocasiões de brincadeiras, dúvidas e questionamentos.
À todos o meu MUITO OBRIGADO!
vii
RESUMO
Objetivo: pesquisar os ajustes laríngeos e supralaríngeos durante o canto do
contratenor em contexto musical, buscando-se elucidar o mecanismo de produção
da voz e identificar a relação desses ajustes com as características acústicas da
fonte vocal e do filtro no falsete cantado. Métodos: quatro contratenores foram
avaliados por meio da fibronasolaringoscopia, vídeo-radioscopia e eletroglotografia,
sendo que todas as avaliações foram acompanhadas da gravação das amostras
vocais para análise acústica. Os vídeos foram analisados para se obter informações
referentes aos tipos de ajustes laríngeos e supralaríngeos ocorridos nas tarefas
realizadas para correlação com os dados obtidos na análise do EGG (coeficiente de
contato) e análise acústica (formante do cantor). Quatro tipos diferentes de tarefas
foram propostas, sendo que todas estavam inseridas em um trecho musical,
caracterizando as emissões vocais dentro de um contexto usual de canto.
Resultados: nas quatro tarefas (movimento melódico rápido, escala descendente,
salto de intervalo e crescendo em nota sustentada) os resultados foram distintos. O
comportamento laríngeo e supralaríngeo evidenciou abaixamento de laringe nas
tarefas de movimento melódico, escala descendente e crescendo e elevação
discreta nas tarefas de salto de intervalo. A predominância de abaixamento de
laringe ocorreu até a nota Ré
5
(587 Hz), sendo que a elevação foi observada na nota
Fá#
5
(740 Hz). O palato mole permaneceu fechado e elevado, a língua elevada com
pouca variação no eixo antero-posterior e os lábios em protrusão na maior parte das
emissões. O coeficiente de contato variou de 42% a 50% em média, enquanto que o
formante do cantor esteve presente em todas as tarefas, mas não para todos os
sujeitos, sendo menos presente na tarefa de salto de oitava (Fá#
4
– Fá#
5
).
Conclusões: Os contratenores lançam mão da técnica de abaixamento de laringe
que ocorre predominantemente em quase todas as situações de seu canto. Leves
constrições laterais da faringe inferior são observadas quando emitem nota acima do
5
(587 Hz). O coeficiente de contato varia entre 42% a 50% em média, mas pode
oscilar de 20% (em emissões na região grave) a um pico de 75% (em emissões de
salto de intervalo próximas ao topo da tessitura). Observou-se presença
característica do formante do cantor com picos de amplitude nas regiões de 2750 ou
3250 Hz em níveis elevados. Os contratenores utilizaram mecanismos para sintonia
de F0-F1, como abaixamento da mandíbula, ocorrendo em regiões de F0 igual ou
maior que F1, onde houve maior transferência de energia acústica para o trato vocal,
por causa da alta impedância supraglótica.
viii
ABSTRACT
Objective: To investigate the laryngeal and supralaryngeal adjustments of the
countertenor singing voice in a musical context, trying to elucidate the voice
production mechanism and to identify the relationship between these adjustments
and the acoustical characteristics of the voice source and of the filter in falsetto.
Methods: four countertenors were evaluated with videofiberscopy, video-radioscopy,
electroglottography, and acoustic analysis. Four types of tasks (fast melodic
movement, descending scales, leap interval and crescendo in a sustained note) were
performed by the participants, all tasks being inserted in an usual musical context.
The videos were analyzed, information concerning laryngeal adjustments and
supralaryngeal gestures was obtained, and these data were compared with
measures taken from the electroglottographic (closed quotient) and acoustic analysis
recordings (singer’s formant). Results: in the four tasks, the results were distinct.
The laryngeal and supralaryngeal behavior evidenced lowering of the larynx in the
fast melodic movement, descending scale and crescendo tasks, and discrete rise in
the leap interval tasks. The predominance of larynx lowering occurred up to D
5
(587
Hz), larynx rising being observed in F#
5
(740 Hz). The soft palate remained closed
and high, the tongue rose with little variation in the anteroposterior axis and the lips
were protruded during most part of the emissions. The closed quotient varied from
42% to 50%, whereas the singer’s formant was present in all tasks, but not for all the
participants, being also less present in the task of octave leap (F#
4
– F#
5
).
Conclusions: The countertenors always used the technique of larynx lowering that
predominantly occurred in almost all situations of the recordings. Small lateral
constrictions of the lower pharynx were observed when they emitted notes above D
5
(587 Hz). The closed quotient varied from 42% to 50%, on average, but it ranged
from 20% (in emissions in the lower range) to a 75% peak (in leap interval emissions
next to the top of the tessitura). The singer’s formant was commonly present, with
high amplitude levels peaks in the range of 2750-3250 Hz. The countertenors used
mechanisms for F0-F1 tuning, such as jaw lowering, in regions where F0 was equal
or larger than F1, resulting in greater acoustic energy transference to the vocal tract,
due the high value of the supraglottic impedance.
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 – DESENHO ESQUEMÁTICO DA LARINGE E DA TRAQUÉIA
NO PESCOÇO (ADAPTADO DE BEHLAU, AZEVEDO & MADAZIO, 2004)..............5
FIGURA 02 – DESENHO ESQUEMÁTICO DOS MÚSCULOS
INTRÍNSECOS DA LARINGE EM VISÃO LATERAL E SUPERIOR: CT –
CRICOTIREÓIDEO; TA – TIREOARITENÓIDEO; CAL –
CRICOARITENÓIDEO LATERAL; CAP – CRICOARITENÓIDEO
POSTERIOR; A – ARITENÓIDEO (ADAPTADO DE BEHLAU, AZEVEDO &
MADAZIO, 2004).........................................................................................................6
FIGURA 03 – DESENHO ESQUEMÁTICO MOSTRANDO A DIREÇÃO DO
FLUXO AÉREO ATRAVÉS DA GLOTE E EM CONTATO COM A COLUNA
DE AR SUPRAGLÓTICA (ADAPTADO DE TITZE, 1994)...........................................8
FIGURA 04 – REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DA TEORIA FONTE-
FILTRO DA PRODUÇÃO DAS VOGAIS. O ESPECTRO DA FONTE
LARÍNGEA, U(S), É FILTRADO PELA FUNÇÃO DE TRANSFERÊNCIA,
T(S), E O EFEITO DE RADIAÇÃO, R(S), PRODUZ O ESPECTRO DE
SAÍDA, P(S). (ADAPTADO DE KENT & READ, 1992)..............................................10
FIGURA 05 – ÁRIA LA GIUSTIZIA HA GIÀ SULL'ARCO DA ÓPERA GIULIO
CESARE DE GEORGE FREDERICK HAENDEL (TRECHO 01)..............................19
FIGURA 06 – ÁRIA LA GIUSTIZIA HA GIÀ SULL'ARCO DA ÓPERA GIULIO
CESARE DE GEORGE FREDERICK HAENDEL (TRECHO 02)..............................19
FIGURA 07 – ÁRIA LA GIUSTIZIA HA GIÀ SULL'ARCO DA ÓPERA GIULIO
CESARE DE GEORGE FREDERICK HAENDEL (TRECHO 03)..............................20
FIGURA 08 – DESENHO ESQUEMÁTICO DO APARELHO DE
FIBRONASOLARINGOSCOPIA E DO POSICIONAMENTO DO APARELHO
NA LARINGE DURANTE A AVALIAÇÃO (ADAPTADO DE VOCAL PARTS
BRASIL, 2000). .........................................................................................................24
FIGURA 09 – DESENHO ESQUEMÁTICO DO APARELHO DE
ELETROGLOTOGRAFIA E DO POSICIONAMENTO DOS ELETRODOS
NO PESCOÇO..........................................................................................................25
FIGURA 10 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UMA FORMA DE
ONDA TÍPICA (VOZ MODAL, LARINGE SAUDÁVEL) E AS
CORRESPONDENTES SEÇÕES CORONAIS DAS PREGAS VOCAIS. (1)
PRIMEIRO CONTATO SUBGLÓTICO; (2) AUMENTO DO CONTATO
VERTICAL; (3) MÁXIMO CONTATO E MÁXIMA COMPRESSÃO MEDIAL;
(4) SEPARAÇÃO DAS BORDAS INFERIORES DAS PREGAS VOCAIS; (5)
SEPARAÇÃO DAS BORDAS SUPERIORES DAS PREGAS VOCAIS; (6)
APROXIMAÇÃO DAS BORDAS INFERIORES (ADAPTADO DE VIEIRA,
1997).........................................................................................................................26
x
FIGURA 11 – POSIÇÃO DO SUJEITO EM RELAÇÃO À AMPOLA E A
PRANCHA.................................................................................................................28
FIGURA 12 – POSIÇÃO DO SUJEITO EM RELAÇÃO AOS MICROFONES...........29
FIGURA 13 – POSIÇÃO DO BIOMBO E DO GRAVADOR.......................................29
FIGURA 14 – TRAÇADO ELETROGLOTOGRÁFICO (A) COM
FLUTUAÇÃO DA LINHA BASE; (B) FILTRADA........................................................34
FIGURA 15 – TRAÇADO IRREGULAR NA ONDA EGG FILTRADA
PRESENTE NO FINAL DA ESCALA DESCENDENTE DO TRECHO 03 NA
VOGAL /O/ ANTES DA ARTICULAÇÃO DO /r/. .......................................................35
FIGURA 16 – EXTRAÇÃO DO COEFICIENTE DE CONTATO (CC) DA
ONDA EGG PELA ESTIMAÇÃO DA DURAÇÃO (AMOSTRAS) DA FASE
FECHADA (A) E DA DURAÇÃO TOTAL (AMOSTRAS) DO CICLO
VIBRATÓRIO (B). .....................................................................................................36
FIGURA 17 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
LARÍNGEOS PARA O MOVIMENTO MELÓDICO DO TRECHO 01
(SUJEITO CT3). A PRIMEIRA IMAGEM MOSTRA A AUSÊNCIA DE
CONSTRIÇÕES FARÍNGEAS EM UM PONTO NO MEIO DO MOVIMENTO
MELÓDICO DO TRECHO 01. A SEGUNDA IMAGEM MOSTRA
CONSTRIÇÃO FARÍNGEA INFERIOR EM MENOR GRAU DURANTE A
NOTA RÉ
5
(587 HZ) NA PARTE FINAL DO MOVIMENTO MELÓDICO DO
TRECHO 01..............................................................................................................56
FIGURA 18 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
SUPRALARÍNGEOS PARA O MOVIMENTO MELÓDICO DO TRECHO 01
(SUJEITO CT3). A PRIMEIRA IMAGEM MOSTRA O POSICIONAMENTO
DA LARINGE, LÍNGUA, PALATO MOLE, MANDÍBULA E LÁBIOS NO
INÍCIO DO MOVIMENTO MELÓDICO DO TRECHO 01, ENQUANTO A
SEGUNDA IMAGEM NA PARTE MAIS AGUDA, RÉ
5
(587 HZ), DO MESMO
MOVIMENTO............................................................................................................56
FIGURA 19 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
LARÍNGEOS PARA O SALTO 01 E 02 DO TRECHO 01 (SUJEITO CT3). A
PRIMEIRA IMAGEM MOSTRA A PRESENÇA DE CONSTRIÇÃO LATERAL
FARÍNGEA EM MAIOR GRAU PARA O SALTO 01. A SEGUNDA IMAGEM
MOSTRA A DIMINUIÇÃO DA CONSTRIÇÃO NO SALTO 02. NA PRIMEIRA
IMAGEM A NOTA É O FÁ#
5
(740 HZ) E NA SEGUNDA O RÉ
5
(587 HZ)................58
FIGURA 20 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
LARÍNGEOS PARA O SALTO 01 E 02 DO TRECHO 01 (SUJEITO CT3). A
PRIMEIRA IMAGEM MOSTRA O POSICIONAMENTO DA LARINGE,
LÍNGUA, PALATO MOLE, MANDÍBULA E LÁBIOS NO SALTO 01,
ENQUANTO A SEGUNDA NO SALTO 02. NA PRIMEIRA IMAGEM A NOTA
É O FÁ#
5
(740 HZ) E NA SEGUNDA O RÉ
5
(587 HZ)..............................................59
FIGURA 21 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
LARÍNGEOS PARA O CRESCENDO EM NOTA SUSTENTADA DO
xi
TRECHO 02 (SUJEITO CT3 E CT2). AS IMAGENS MOSTRAM A
AUSÊNCIA DE CONSTRIÇÃO FARÍNGEA COM CONSEQÜENTE
ABERTURA DO TUBO LARINGO-FARÍNGEO DURANTE O CRESCENDO
EM NOTA SUSTENTADA. A NOTA SUSTENTADA É O SI
4
(494 HZ).....................60
FIGURA 22 – IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS AJUSTES
LARÍNGEOS PARA O CRESCENDO EM NOTA SUSTENTADA DO
TRECHO 02 (SUJEITO CT3 E CT4). AS IMAGENS MOSTRAM O
POSICIONAMENTO DA LARINGE, LÍNGUA, PALATO MOLE, MANDÍBULA
E LÁBIOS DURANTE O PONTO DE MAIOR INTENSIDADE DO
CRESCENDO EM NOTA SUSTENTADA DO TRECHO 02. A NOTA
SUSTENTADA É O SI
4
(494 HZ). .............................................................................61
FIGURA 23 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DO MOVIMENTO
MELÓDICO RÁPIDO DO TRECHO 01 PARA O SUJEITO CT1...............................62
FIGURA 24 – LONG TERM AVERAGE SPECTRUM (LTAS) PARA O
MOVIMENTO MELÓDICO DO TRECHO 01 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................64
FIGURA 25 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DO CT4 PARA A
ESCALA DO TRECHO 01 REALIZADA DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................65
FIGURA 26 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DO SALTO 01 DO
TRECHO 01 PARA O SUJEITO CT2........................................................................66
FIGURA 27 – LONG TERM AVERAGE SPECTRUM (LTAS) PARA O
SALTO 01 DO TRECHO 01 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................68
FIGURA 28 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DO CT4 PARA O
SALTO 01 DO TRECHO 01 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................69
FIGURA 29 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DO SALTO 02 DO
TRECHO 01 PARA O SUJEITO CT2........................................................................70
FIGURA 30 – LONG TERM AVERAGE SPECTRUM (LTAS) PARA O
SALTO 02 DO TRECHO 01 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................72
FIGURA 31 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DO CT3 E CT4
PARA O SALTO 01 DO TRECHO 01 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................73
FIGURA 32 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DO CRESCENDO
DO TRECHO 02 PARA O SUJEITO CT3..................................................................74
xii
FIGURA 33 - ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DOS SUJEITOS
CT1, CT2, CT3 E CT4 PARA O CRESCENDO DO TRECHO 02
REALIZADO DURANTE A FIBRONASOLARINGOSCOPIA.....................................77
FIGURA 34 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA E LPC (LINEAR
PREDICTIVE CODE) PARA O CT4 NO INÍCIO E FINAL DA EMISSÃO DO
CRESCENDO DO TRECHO 02................................................................................79
FIGURA 35 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DO SALTO DE
OITAVA DO TRECHO 03 PARA O SUJEITO CT4. ..................................................81
FIGURA 36 – LONG TERM AVERAGE SPECTRUM (LTAS) PARA O
SALTO DE OITAVA DO TRECHO 03 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................83
FIGURA 37 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DO CT4 PARA O
SALTO DE OITAVA DO TRECHO 03 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................84
FIGURA 38 – GRÁFICO DO COEFICIENTE DE CONTATO E
ESPECTROGRAFIA DE BANDA ESTREITA AO LONGO DA ESCALA
DESCENDENTE DO TRECHO 03 PARA O SUJEITO CT2......................................85
FIGURA 39 - LONG TERM AVERAGE SPECTRUM (LTAS) PARA A
ESCALA DESCENDENTE DO TRECHO 03 REALIZADO DURANTE A
FIBRONASOLARINGOSCOPIA................................................................................87
FIGURA 40 – ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA DO CT3 E CT4
PARA A ESCALA DESCENDENTE DO TRECHO 03 REALIZADA
DURANTE A FIBRONASOLARINGOSCOPIA..........................................................88
FIGURA 41 – GRÁFICO DO NÍVEL DE AMPLITUDE DO FORMANTE DO
CANTOR (A PARTIR DA DIFERENÇA ENTRE VALORES OBSERVADOS
E ESPERADOS L3 – L1) DO CRESCENDO EM NOTA SUSTENTADA DO
TRECHO 02 PARA TODOS OS SUJEITOS...........................................................100
FIGURA 42 – GRÁFICO LTAS E ESPECTROGRAFIA DE BANDA LARGA
PARA OS CONTRATENORES E DUAS SOPRANOS. SOPRANO 01 (CD
REF. HMC 901.385.87) E SOPRANO 02 (CD REF. HMC 474.210.2)....................101
xiii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS .................................................18
TABELA 2 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA.............................................................................32
TABELA 3 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– VÍDEO-RADIOSCOPIA..........................................................................................32
TABELA 4 – EXEMPLO DE DADOS DO COEFICIENTE DE CONTATO
OBTIDOS COM EGG.EXE (NÃO FILTRADOS) E COM O SMOOTH.EXE
(FILTRADOS)............................................................................................................37
TABELA 5 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-RADIOSCOPIA – TRECHO 01
– MOVIMENTO MELÓDICO RÁPIDO ......................................................................42
TABELA 6 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-RADIOSCOPIA – TRECHO 01
– SALTO DE INTERVALO ASCENDENTE 01..........................................................44
TABELA 7 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-RADIOSCOPIA – TRECHO 01
– SALTO DE INTERVALO ASCENDENTE 02..........................................................47
TABELA 8 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-RADIOSCOPIA – TRECHO 02
– CRESCENDO EM NOTA SUSTENTADA..............................................................49
TABELA 9 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E SUPRALARÍNGEOS
– FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-RADIOSCOPIA – TRECHO 03
– SALTO DE OITAVA ASCENDENTE......................................................................51
TABELA 10 – ANÁLISE DOS AJUSTES LARÍNGEOS E
SUPRALARÍNGEOS – FIBRONASOLARINGOSCOPIA E VÍDEO-
RADIOSCOPIA – TRECHO 03 – ESCALA DESCENDENTE ...................................53
TABELA 11 – ESCALA ASCENDENTE E DESCENDENTE – TRECHO 01-
MÉDIA DO COEFICIENTE DE CONTATO (%).........................................................63
TABELA 12 – SALTO DE INTERVALO 01 – TRECHO 01 – MÉDIA DO
COEFICIENTE DE CONTATO (%)...........................................................................67
TABELA 13 – SALTO DE INTERVALO 02 – TRECHO 01 – MÉDIA DO
COEFICIENTE DE CONTATO (%)...........................................................................71
TABELA 14 – CRESCENDO – TRECHO 02 – MÉDIA DO COEFICIENTE
DE CONTATO (%)....................................................................................................75
xiv
TABELA 15 – SALTO DE OITAVA – TRECHO 03 – MÉDIA DO
COEFICIENTE DE CONTATO (%)...........................................................................82
TABELA 16 – ESCALA DESCENDENTE – TRECHO 03 – MÉDIA DO
COEFICIENTE DE CONTATO (%)...........................................................................86
TABELA 17 – RESULTADOS GERAIS PARA TODAS AS ANÁLISES –
PARÂMETROS DE MAIOR OCORRÊNCIA PARA TODOS OS SUJEITOS. ...........90
xv
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO....................................................................................1
CAPÍTULO 2 - REVISÃO DE LITERATURA...............................................................5
2.1 Anatomia e Fisiologia da Laringe.......................................................................5
2.2 Teoria Fonte-filtro da Produção das Vogais.......................................................8
2.3 Registro Vocal .................................................................................................10
2.4 Ajustes do Trato Vocal.....................................................................................12
2.5 Formante do Cantor.........................................................................................14
2.6 Extensão Vocal................................................................................................15
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA...............................................................................17
3.1 Sujeitos............................................................................................................17
3.1.1 Caracterização dos Sujeitos......................................................................17
3.2 Aquisição de Dados.........................................................................................18
3.3 Descrição dos Procedimentos .........................................................................20
3.4 Justificativa da Escolha dos Procedimentos....................................................21
3.5 Descrição da Vídeo-Radioscopia.....................................................................22
3.6 Descrição da Fibronasolaringoscopia..............................................................24
3.7 Descrição da Eletroglotografia.........................................................................24
3.8 Equipamentos Utilizados .................................................................................26
3.9 Projeto Piloto ...................................................................................................27
3.10 Análise da Configuração Laríngea e do Trato Vocal .....................................30
3.10.1 Processamento dos Vídeos da Fibronasolaringoscopia e Vídeo-
radioscopia.........................................................................................................31
3.10.2 Análise dos Vídeos..................................................................................31
3.11 Processamento dos Dados da Eletroglotografia............................................33
3.11.1 Análise dos Dados Eletroglotográficos....................................................33
3.12 Análise Acústica ............................................................................................37
3.12.1 Processamento do Sinal Acústico...........................................................38
3.12.2 Análise do Sinal Acústico........................................................................38
xvi
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS.................................................................................41
4.1 Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia...................................................41
4.1.1 Considerações ..........................................................................................54
4.1.1.1 Movimento Melódico Rápido e Escala Descendente..........................55
4.1.1.2 Salto de Intervalo................................................................................57
4.1.1.3 Crescendo em nota sustentada..........................................................59
4.2 Análise Integrada dos Dados Eletroglotográficos e Acústicos.........................61
4.2.1 Trecho 01 – Movimento Melódico Rápido.................................................61
4.2.1.1 Coeficiente de Contato .......................................................................61
4.2.1.2 Análise Acústica .................................................................................63
4.2.2 Trecho 01 - Salto 01..................................................................................65
4.2.2.1 Coeficiente de Contato .......................................................................65
4.2.2.2 Análise Acústica .................................................................................68
4.2.3 Trecho 01 - Salto 02..................................................................................69
4.2.3.1 Coeficiente de Contato .......................................................................69
4.2.3.2 Análise Acústica .................................................................................71
4.2.4 Trecho 02 – Crescendo.............................................................................73
4.2.4.1 Coeficiente de Contato .......................................................................73
4.2.4.2 Análise Acústica .................................................................................75
4.2.5 Trecho 03 – Salto de Oitava......................................................................79
4.2.5.1 Coeficiente de Contato .......................................................................79
4.2.5.2 Análise Acústica .................................................................................82
4.2.6 Trecho 03 - Escala Descendente..............................................................84
4.2.6.1 Coeficiente de Contato .......................................................................84
4.2.6.2 Análise Acústica .................................................................................86
4.3 Resumo Geral dos Resultados........................................................................89
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO ....................................................................................91
5.1 Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos................................................................91
5.2 Eletroglotografia...............................................................................................94
5.3 Análise Acústica ..............................................................................................97
5.4 Considerações Finais ....................................................................................103
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO.................................................................................105
xvii
CAPÍTULO 7 – ANEXOS ........................................................................................111
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.....................................111
Anexo 2 – Carta de Aprovação do Comitê de Ética.............................................116
Anexo 3 – Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos –
Fibronasolaringoscopia........................................................................................117
Anexo 4 – Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos – Vídeo-
radioscopia. .........................................................................................................119
CAPÍTULO 8 – REFERÊNCIAS..............................................................................123
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
A voz cantada começou a ser classificada no final do século XI com o surgimento do
termo ‘tenor’, tendo sido originado do latim tenere. Esse tipo de voz se referia à ‘vox
principalis’, normalmente aguda, mas às vezes em regiões mais características de
um barítono (GILES, 1994).
A partir do início do século XII uma segunda parte foi adicionada à melodia principal,
o vox organalis ou descant, que inicialmente situava-se abaixo do tenor,
posteriormente podendo estar acima ou abaixo dobrando em oitavas paralelas.
Ainda no século XII a vox organalis passou a ser inserida sempre acima da vox
principalis, e a partir daí, uma ornamentação mais livre começa a ser desenvolvida,
em linhas melódicas em contraponto. No final do século XII alguns compositores
adicionaram uma terceira voz à melodia e os termos vox principalis e vox organalis
foram substituídos por tenor e duplum, sendo a terceira voz denominada de triplum
(GILES, 1994).
Durante o final do século XIII uma nova linha melódica foi introduzida, o contra-tenor
ou concordans, que cruzava a linha melódica do tenor. No século XV as vozes
passaram a ser denominadas por: descant, tenor e contra-tenor. Por fim, a voz do
contra-tenor foi sub-dividida em dois tipos distintos, o contra-tenor e contra-tenor
secundus, que posteriormente passaram a se chamar de contra-tenor altus e contra-
tenor bassus. O contra-tenor altus ficava acima do tenor e o contra-tenor bassus
abaixo. No final do século XV a formação coral se constituía de quatro vozes
masculinas distintas: superius, contra-tenor altus, tenor, contra-tenor bassus. Mais
tarde o contra-tenor altus passou a ser denominado de contralto ou alto e o
2
contratenor bassus de baixo (GILES, 1994; JANDER, 2001). A nomenclatura contra-
tenor recebeu diferentes nomes em países e períodos distintos: ‘countertenor’, ‘alto’,
‘altist’, ‘falsettist’, ‘contralto’ ou ‘haute-contre’ (JANDER, 2001).
Atualmente, os contratenores são definidos como homens adultos com voz falada de
tenor ou barítono/baixo, que geralmente usam uma técnica vocal de falsete para
cantar partes de contralto (alto) ou soprano (GILES, 1982; WELCH; SERGEANT &
MACCURTAIN, 1988). A maioria dos contratenores usa ajustes laríngeos
específicos quando canta na sua mais alta extensão o que é claramente distinto da
sua voz normal de fala e da sua voz usual de canto (GOTTFRIED & CHEW, 1986). A
utilização de ajustes laríngeos e supralaríngeos específicos pelos contratenores, na
voz de falsete, causam mudanças na qualidade sonora deste registro, possibilitando
o exercício do canto lírico.
Alguns estudos enfocam exclusivamente a voz do contratenor tais, como o de
Gottfried e Chew (1986), a respeito da inteligibilidade das vogais cantadas por um
contratenor; o de Södersten e Lindestad (1987) sobre o padrão de fechamento das
pregas vocais no canto do contratenor; o de Bogg e Torpe (2000) a respeito da
qualidade vocal ao longo da tessitura e das mudanças de registro; o de Howard,
Welch e Penrose (2001) sobre evidências acústicas e da fonte vocal (pregas vocais)
para a existência de sub-registros na voz do contratenor. Entretanto, a maioria das
pesquisas envolve o estudo da voz do contratenor juntamente com outros tipos
vocais como os tenores e barítonos. Lindestad e Sördesten (1988) pesquisaram os
ajustes laríngeos e faríngeos no canto dos contratenores e barítonos; Welch,
Sergeant e Maccurtain (1988) estudaram as diferenças de dimensão do trato vocal
em tenores, barítonos e baixos e compararam com contratenores; Sundberg e
3
Högset (2001) pesquisaram as diferenças da fonte vocal (pregas vocais) através de
filtragem inversa, entre os registros modal e falsete em contratenores e barítonos;
Henrich (2001), estudou a relação dos registros vocais com os dados
eletroglotográficos durante o canto em todos os tipos vocais, incluindo contratenores.
O estudo de Henrich (2001) pesquisou dados referentes aos contratenores durante o
canto, considerando um pequeno trecho musical. Porém, considerou dados
eletroglotográficos sem abordar aspectos fisiológicos. Os demais estudos que
pesquisaram dados fisiológicos não abordaram aspectos acústicos ou
eletroglotográficos, o mesmo acontecendo com aqueles que abordaram somente
dados acústicos. Com exceção do estudo de Henrich (2001), os demais estudos
pesquisaram a voz dos contratenores fora do contexto musical, realizando apenas
emissões isoladas de canto. O presente estudo abrange dados fisiológicos,
eletroglotográficos e acústicos durante o canto do contratenor.
O objetivo principal deste trabalho é o de pesquisar os ajustes laríngeos e
supralaríngeos durante o canto do contratenor em contexto musical, buscando-se
elucidar o mecanismo de produção da voz e identificar a relação desses ajustes com
as características acústicas da fonte vocal e do filtro no falsete cantado. Com base
na extensão vocal utilizada pelos contratenores é necessário estabelecer a relação
das características ressonantais do trato vocal com as características fisiológicas da
fonação em falsete. A análise do formante do cantor em contratenores pode elucidar
a relação da dimensão do trato vocal e da posição dos articuladores com a produção
do falsete em freqüências agudas próximas às utilizadas por sopranos e mezzo-
sopranos. Considerando o fato de que o padrão de vibração das pregas vocais dos
contratenores difere do padrão de vibração dos sopranos e mezzo-sopranos devido
4
às emissões em diferentes registros vocais e que o tamanho do tubo vocal deles é
maior do que o delas, devido às diferenças físicas entre os gêneros masculino e
feminino, pode-se acreditar que haverá diferenças acústicas na produção da voz
destes contratenores em relação às sopranos e mezzo-sopranos, uma vez que
ambos, geralmente, cantam em uma mesma extensão vocal. Assim, faz-se
necessária a avaliação das configurações laríngeas e supralaríngeas, ou seja, dos
ajustes vocais realizados por contratenores no canto em falsete, para que se possa
relacioná-los com as características acústicas da voz.
5
CAPÍTULO 2 - REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Anatomia e Fisiologia da Laringe
A laringe é um órgão do corpo humano responsável por funções tais como a
respiração e a fonação (figura 01).
Figura 01 – Desenho esquemático da laringe e da traquéia no pescoço (adaptado de
BEHLAU, AZEVEDO & MADAZIO, 2004).
É na laringe que se situam as pregas vocais, responsáveis pela produção da voz.
As pregas vocais são compostas por um músculo denominado tireoaritenóideo ou
músculo vocal e diferentes tecidos que a revestem, formando camadas. Existem dois
grupos musculares com inserções na laringe: os músculos intrínsecos e os
6
extrínsecos. A musculatura intrínseca está diretamente relacionada ao controle de
vibração das pregas vocais, enquanto que a musculatura extrínseca relaciona-se à
elevação e abaixamento da laringe. Os músculos intrínsecos são os seguintes: (1)
tireoaritenóideo, responsável pelo encurtamento e enrijecimento das pregas vocais;
(2) cricotireóideo, responsável pelo alongamento e conseqüente tensionamento das
pregas vocais; (3) cricoaritenóideo lateral, responsável pela adução ou fechamento
das pregais vocais juntamente com os (4) aritenóideos; (5) cricoaritenóideo posterior,
responsável pela abdução ou abertura das pregas vocais (figura 02).
Cartilagem
cricóidea
sculos
cricotireóideos
Cartilagem
tireóidea
Ligamento
Vocal
lateral
Figura 02 – Desenho esquemático dos músculos intrínsecos da laringe em visão
lateral e superior: CT – cricotireóideo; TA – tireoaritenóideo; CAL – cricoaritenóideo
lateral; CAP – cricoaritenóideo posterior; A – aritenóideo (adaptado de BEHLAU,
AZEVEDO & MADAZIO, 2004).
A voz é produzida mediante a pressão aérea subglótica que entra em contato com a
superfície ou borda inferior das pregas vocais, inicialmente aduzidas, criando uma
7
pressão subglótica que se intensifica a ponto de ser maior do que a força de
fechamento das pregas vocais, iniciando assim, um movimento de abertura. À
medida que as bordas inferiores das pregas vocais se abrem e o ar passa entre elas
(fluxo aéreo transglótico) em direção as bordas superiores, cria-se uma queda
brusca de pressão no espaço entre as duas pregas vocais, fazendo com que as
bordas inferiores se aproximem para um novo fechamento. Ou seja, esse fluxo de ar
desloca as bordas superiores causando a sua abertura, enquanto que a queda de
pressão entre as bordas inferiores, devido à passagem acelerada do ar e o
retrocesso elástico dos tecidos, faz com que sejam aproximadas iniciando o
movimento de fechamento.
Ao passar pelas bordas superiores o fluxo aéreo transglótico encontra uma oposição
da coluna de ar na região supraglótica. Assim, devido à inércia dessa quantidade de
ar na região supraglótica, o fluxo aéreo é impossibilitado de fluir de imediato na
direção vertical, sofrendo uma expansão lateral. No momento em que a coluna de ar
supraglótica ganha aceleração, ela de certa forma puxa o ar transglótico para cima,
reduzindo mais a pressão intraglótica (figura 03). Portanto, existe uma diferença de
fase vertical relativa ao fechamento e abertura das bordas inferiores e superiores
que facilita a manutenção das oscilações das pregas vocais.
8
Figura 03 – Desenho esquemático mostrando a direção do fluxo aéreo através da
glote e em contato com a coluna de ar supraglótica (adaptado de TITZE, 1994).
2.2 Teoria Fonte-filtro da Produção das Vogais
As propriedades acústicas das vogais são descritas pela teoria fonte-filtro (FANT,
1970). A vibração laríngea, mais especificamente das pregas vocais, constitui a fonte
de energia sonora necessária à produção das vogais (KENT & READ, 1992). O som
primário gerado nas pregas vocais é chamado de fonte vocal. Esta é similar para
todos os sons vocálicos produzidos na mesma freqüência e intensidade de fonação
(SUNDBERG, 1987). Porém, quando se ouvem as vogais percebe-se uma enorme
distinção entre elas, mesmo sendo iguais em intensidade e freqüência. Assim, a
9
qualidade dos sons das vogais não são conseqüência da fonte vocal apenas. Eles
sofrem algum outro tipo de mudança que contribui para o produto final ouvido. Quem
se encarrega de modificar os sons provenientes da fonte vocal é o trato vocal que
atua como um ressoador, modificando o seu formato para produzir padrões
particulares de ressonância caracterizados pela função de transferência. Assim, uma
vez que a fonte vocal produz um som que é composto de uma rica série de
freqüências, o trato vocal amplifica seletivamente (filtra) aquelas freqüências
compatíveis com o seu formato as quais serão radiadas (efeito de radiação) pela
boca (SUNDBERG, 1987; KENT & READ, 1992; TITZE, 1994). Estas freqüências de
ressonância no trato vocal são chamadas de formantes. O trato vocal possui,
geralmente, quatro ou cinco formantes mais relevantes (SUNDBERG, 1987; KENT &
READ, 1992). No processo de radiação ocorre uma nova filtragem do tipo passa-
altas (KENT & READ, 1992). O “passa-altas” pode ser entendido pela tendência de
as altas freqüências propagarem-se em linha reta, enquanto as baixas freqüências
espalham (difratam). Assim, a uma distância “longa” do locutor, há maior
concentração de altas freqüências. A figura 04 resume de forma representativa a
teoria fonte-filtro da produção das vogais.
10
Magnitude
Magnitude
Ma
g
n
it
u
d
e
Magnitude
Freq.
Freq.
Freq.
Freq.
f
f
f
ff
f
f
f
Figura 04 – Representação diagramática da teoria fonte-filtro da produção das
vogais. O espectro da fonte laríngea, U(f), é filtrado pela função de transferência,
T(f), e o efeito de radiação, R(f), produz o espectro de saída, P(f). (Adaptado de
KENT & READ, 1992).
2.3 Registro Vocal
O termo registro vocal se refere a uma faixa de extensão vocal na qual a voz
apresenta qualidade sonora homogênea. Existem basicamente três registros: fry,
modal (subdivididos em peito, médio e cabeça) e falsete (PINHO, 1998;
SUNDBERG; HÖGSET, 2001). O registro fry abrange uma altura de B
0
a D
2
(freqüência da fundamental na faixa de 30 a 75 Hz), sendo o registro mais grave da
voz (HIRANO; BLESS, 1993). O registro modal inclui a extensão de alturas que
normalmente são utilizadas na fala e no canto. O registro de falsete inclui as notas
mais agudas da extensão vocal, tanto na voz masculina como feminina (HOLLIEN,
11
1974). O termo registro apresenta muitas controvérsias e são classificados de
diversas formas. Antigamente, o registro era relacionado a aspectos puramente
ressonantais. Hirano, Vennard e Ohala (1970) demonstraram a relação entre os
diferentes registros e a contração de grupos musculares laríngeos específicos. No
canto lírico utiliza-se o registro modal e o falsete. Segundo Hirano, Vennard e Ohala
(1970) a principal característica do registro modal é a grande atividade de ambos os
músculos tireoaritenóideo (contrator) e cricotireóideo (tensor) ao longo de toda sua
extensão.
O registro de falsete é caracterizado pelo relaxamento do tireoaritenóideo medial
(músculo vocal) e por uma hiperatividade do músculo cricotireóideo (VAN DEN
BERG, 1958), com conseqüente estiramento do ligamento vocal, deixando apenas
as margens das pregas vocais livres para vibrar (VAN DEN BERG, 1963; HIRANO,
1982; ŠVEC & PEŠÁC, 1994). O relaxamento do músculo tireoaritenóideo e de
outros músculos como o cricoaritenóideo lateral e aritenóideo, no registro de falsete,
pode levar ao aparecimento de fenda glótica ocasionando um escape de ar,
prejudicando a qualidade vocal (HIRANO, 1970; LARGE; IWATA & VON LEDEN,
1972). Pinho (2001) relatou quatro tipos de fechamento glótico na voz de falsete:
fenda paralela, fenda médio-posterior, fenda fusiforme discreta e ausência de fenda
glótica. Murry, Xu e Woodson (1998), em análise da configuração glótica em homens
e mulheres não cantores utilizando a voz no registro modal e falsete, relataram que
todos os sujeitos produziram voz de falsete com fechamento glótico incompleto.
Porém, a voz treinada pode ajustar a função do músculo produzindo um falsete
reforçado e assim, fechamento glótico mais completo no falsete para cantores
(PINHO, 2001).
12
A voz de falsete masculina foi reconhecida em três formas: (1) o falsete fino e natural
de uma voz não treinada; (2) o delicado falsete artístico que é praticado por
contratenor; (3) o pleno tom forte de uma voz de cabeça treinada com ressonância
acrescentada (LUCHSINGER; ARNOLD, 1965). Menaldi (1992) classifica os tipos de
vozes de falsete no homem em: (1) contratenor (countertenor, haute-contre,
contratenor, alto, etc); (2) Falsetto (falsetista italiano, fausset, etc); (3) castrato
(castrado, sopranista, cantori evirati, falsettist naturali, musici).
2.4 Ajustes do Trato Vocal
Algumas emissões em falsete masculino não mostram fenda glótica e a voz
produzida é bem mais potente, aguda e forte, podendo haver mais atividade do
músculo tireoaritenóideo lateral, além do cricoaritenóideo lateral e aritenóideo,
definindo-se assim, o mecanismo utilizado pelos contratenores (PINHO, 1998, 2001).
Tom e Titze (2001) identificaram fonações de um contratenor em falsete produzidas
com uma glote alongada e sem qualquer fenda glótica visível no processo vocal da
aritenóide. O contato das pregas vocais durante a vibração foi relativamente breve,
mas completo ao longo do comprimento membranoso das pregas. Estudos
xeroradiográficos das configurações do trato vocal em 9 contratenores profissionais
mostraram que a maioria deles encurtaram o trato vocal quando cantaram alturas
entre 165 a 330 Hz, enquanto que o comprimento do trato vocal permaneceu o
mesmo entre 330 a 660Hz (WELCH & MACCURTAIN, 1987).
Contratenores têm menor adução, maior fluxo aéreo na fase fechada das pregas
vocais e menor pressão aérea subglótica quando cantam no registro de falsete. O
13
uso de pressões mais baixas pode ser significativo para a técnica de canto de
contratenores (SUNDBERG & HÖGSET, 2001). Um estudo sobre as vibrações das
pregas vocais no canto de contratenores mostrou que as vibrações em forte
intensidade na voz de contratenor eram caracterizadas por total fechamento glótico e
onda mucosa
1
. Em menores intensidades, uma onda mucosa menos proeminente e
fechamento glótico incompleto com fenda glótica posterior foram identificados em 2
dos 4 contratenores (SÖDERSTEN & LINDESTAD, 1987). A voz de contratenor tem
uma rica qualidade sonora, provavelmente devido ao fato de que as vibrações das
pregas vocais são caracterizadas por completo fechamento glótico e onda mucosa
(SÖDERSTEN & LINDESTAD, 1987).
Lindestad e Södersten (1988) em estudo do comportamento laríngeo e faríngeo de
contratenores realizando escalas ascendentes de uma oitava e saltos de oitava,
observaram estreitamento do tubo laríngeo em 2 dos 4 contratenores e acentuado
estreitamento da faringe inferior em todos os 4 contratenores. Nas mudanças para o
crescendo em uma nota sustentada observaram alargamento do tubo laríngeo em 2
deles e alargamento da faringe em 3 dos 4 contratenores. Na mudança do registro
modal na voz de barítono para o registro de falsete na voz de contratenor,
observaram um alargamento do tubo laríngeo em 3 contratenores e alargamento da
faringe em 2 deles. Segundo Sundberg (1987, 1991) o abaixamento da laringe em
muitos cantores proporciona o alargamento da faringe, fazendo com que a laringe
atue como um ressoador separado com uma ressonância próxima a 2,8 kHz.
1
Movimento ondulatório da camada superficial das pregas vocais nos sentidos horizontal, longitudinal
e vertical.
14
2.5 Formante do Cantor
Sundberg (1974, 1987, 1991, 2001) descreve o formante do cantor como um
fenômeno ressonantal que pode ser produzido com uma fonte vocal normal, sendo
caracterizado por um agrupamento dos terceiro, quarto e quinto formantes, gerando
uma região de alta energia espectral próxima a 3 kHz.
Experimentos com modelos acústicos do trato vocal mostraram que o agrupamento
do terceiro, quarto e quinto formantes pode ser obtido pelo alargamento da faringe
comparada com a entrada do tubo laríngeo (SUNDBERG, 1987, 1991). Wendler e
col. (1983 apud LINDESTAD & SÖDERSTEN, 1988) utilizando técnicas de análise
de espectro médio de longa duração (Long Term Average Spectrum - LTAS)
identificaram um formante do cantor agudo em uma voz de contratenor. Enquanto
que Bogg e Thorpe (2000), pesquisando mudanças de registro em oito
contratenores através da espectrografia de banda larga, identificaram a presença do
formante do cantor compreendido entre a região de 2000 e 4000 Hz.
A freqüência de centro do formante do cantor varia dependendo da categoria vocal,
sendo em torno de 2,2 kHz, 2,7 kHz, 3,2 kHz e 2,8 kHz em baixos, barítonos,
tenores e contraltos respectivamente (SUNDBERG, 1987, 1991). Sopranos têm uma
ressonância bem menor em torno de 3 kHz do que os outros tipos de cantores,
parecendo se tratar de um terceiro ou quarto formante sem grande amplitude e não
um fenômeno significativo (SUNDBERG, 1987; WEISS; BROWN; MORRIS, 2001).
Gottfried e Chew (1986) utilizando um teste de identificação e análise acústica
examinaram a inteligibilidade das vogais cantadas por um contratenor usando a voz
15
em registro modal e falsete. O teste de identificação mostrou que as vogais eram
mais corretamente identificadas no registro de falsete do que no modal na mesma
freqüência fundamental, o que caracteriza que ajustes específicos no trato vocal
influenciam a inteligibilidade das vogais.
2.6 Extensão Vocal
Os contratenores são cantores que também podem atuar utilizando o registro modal,
cantando como baixos, barítonos ou tenores. Em vários estudos sobre contratenores
encontram-se relatadas as extensões vocais destes quando cantam na voz modal e
no falsete. Lindestad e Södersten (1988) informaram as tessituras vocais relatadas
por quatro contratenores que no registro modal eram de Sol
2
(98 Hz) a Mi
4
(329,6
Hz); Sol
2
(98 Hz) a Ré
4
(293,7 Hz); Fá#
2
(92,5 Hz) a Mi
4
(329,6 Hz); Lá
2
(110 Hz) a
Mi
4
(329,6 Hz), sendo que no registro de falsete eram de Fá
3
(174,6 Hz) a Sol
5
(784
Hz); Fá
3
(174,6 Hz) a Fá
5
(698,5 Hz); Fá#
3
(740 Hz) a Fá
5
(698,5 Hz); Sol
3
(196 Hz)
a Mi
5
(659,3 Hz). Tom e Titze (2001) informaram a tessitura vocal relatada por um
contratenor que no registro modal era de Dó#
2
(69 Hz) a Sol
4
(392 Hz), sendo que
no registro de falsete era de Ré
3
(147 Hz) a Ré
5
(587 Hz). Cruz, Hanayama e Gama
(2004) em pesquisa com nove contratenores evidenciaram a divisão do contratenor
em duas categorias: contratenor agudo (soprano) e contratenor grave (contralto),
cujas tessituras médias eram de Sol
3
(196 Hz) a Sol
5
(784 Hz) e Sol
3
(196 Hz) a Sib
5
(932 Hz), respectivamente.
Mediante o exposto neste capítulo pode-se afirmar a necessidade de desenvolver
um estudo que utilize diferentes tipos de avaliações vocais, como
16
fibronasolaringoscopia, vídeo-radioscopia, eletroglotografia e análise acústica de um
grupo de contratenores, integrando aspectos fisiológicos e acústicos. Faz-se
necessária a inserção das tarefas que serão propostas em um contexto musical pré-
definido para que se possam obter dados referentes à situações reais de canto.
17
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA
Abaixo será feita uma descrição dos sujeitos da pesquisa, bem como a descrição e
justificativa dos procedimentos escolhidos para as avaliações e para os métodos de
edição e análise dos dados obtidos.
3.1 Sujeitos
3.1.1 Caracterização dos Sujeitos
As avaliações foram realizadas com 4 contratenores, todos provenientes do estado
de Minas Gerais, que exercem exclusivamente a atividade de cantor lírico, sem
influência de outro estilo de canto, e que não tiveram nenhuma alteração vocal no
período de seis meses pregresso.
Considerando o tempo de experiência e a técnica dos contratenores, dividiu-se os
cantores nas seguintes categorias: estudante, amador e profissional. Na categoria
estudante incluiu-se o contratenor em processo de formação, cursando, ou não,
graduação em canto e com pouco tempo de experiência (entre 2 e 4 anos). Na
categoria amador incluiu-se o contratenor com experiência (acima de 4 anos), mas
que não atuam profissionalmente como cantor, exercendo outro tipo qualquer de
atividade. Finalmente, na categoria profissional incluiu-se o cantor com graduação
em canto, com grande experiência e que atuam profissionalmente como
contratenores. A tabela 1 abaixo resume as informações de cada sujeito.
18
Tabela 1 - Caracterização dos Sujeitos
Idade Tempo de Experiência Categoria Tessitura
CT1
26 2 anos e meio Estudante
3
– Fá
5
CT2
44 22 anos Amador Sol
3
– Lá
5
CT3
33 10 anos Profissional Sol
3
– Sib
5
CT4
35 12 anos Profissional Sol
3
– Sol
5
O primeiro contato com os sujeitos teve como objetivo a orientação quanto à
pesquisa a ser realizada, através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(anexo 1), que descreve todos os procedimentos a que eles foram submetidos,
tendo sido lido e assinado por concordarem com os procedimentos descritos e os
direitos que possuem.
3.2 Aquisição de Dados
Foi solicitado aos contratenores que executassem um movimento melódico rápido
com sucessão de notas ascendentes, descendentes e saltos de intervalo, além de
um salto de oitava e um crescendo em nota sustentada, baseado na metodologia de
Lindestad e Södersten (1988), com a diferença de que neste presente estudo, as
tarefas foram inseridas em contextos musicais. Trechos musicais foram
selecionados dentro do repertório barroco por ser o período de maior atuação dos
contratenores, extraídos da ária La giustizia ha già sull'arco da ópera Giulio Cesare
de George Frederick Haendel que apresentava as tarefas desejadas.
Devido ao fato de que os contratenores cantam na afinação barroca, referente ao
4
= 415 Hz (aproximadamente um semitom abaixo do Lá
4
= 440Hz), a ária que é
19
originalmente em Sol menor, foi transposta para a tonalidade de Fá# menor. Abaixo
nas figuras 05-07 os trechos da ária La giustizia ha già sull'arco já transposta para
Fá# menor.
Figura 05 – Ária La giustizia ha già sull'arco da ópera Giulio Cesare de George
Frederick Haendel (trecho 01).
Figura 06 – Ária La giustizia ha già sull'arco da ópera Giulio Cesare de George
Frederick Haendel (trecho 02).
1
2
3
1
1
20
Figura 07 – Ária La giustizia ha già sull'arco da ópera Giulio Cesare de George
Frederick Haendel (trecho 03).
As elipses indicam as partes de cada trecho da ária que serão analisadas. No trecho
1 as partes 1, 2 e 3 que serão nomeadas de: movimento melódico rápido, salto 01 e
salto 02, respectivamente, o trecho 2 a parte 1 que será nomeada de: crescendo e
no trecho 3 as partes 1 e 2 que serão nomeadas de: salto e escala,
respectivamente. No primeiro contato com os sujeitos foi fornecido o material para
ser estudado.
3.3 Descrição dos Procedimentos
Os sujeitos foram submetidos aos procedimentos em dois dias distintos. O primeiro
procedimento foi a vídeo-radioscopia realizada em Hospital no setor de Radiologia
pelos médicos responsáveis pelo serviço. O segundo procedimento foi a
fibronasolaringoscopia realizada em Clínica de Otorrinolaringologia por um médico
otorrinolaringologista. Simultaneamente a este último procedimento foi realizada uma
eletroglotografia (EGG). Em ambos os procedimentos o sinal acústico foi gravado.
1
2
21
3.4 Justificativa da Escolha dos Procedimentos
A principal justificativa pela escolha dos procedimentos adotados nessa pesquisa é a
de poder adquirir conhecimentos relativos à voz do contratenor, do ponto de vista
fisiológico e principalmente acústico, sendo que este último não se encontra bem
referido na literatura científica, proporcionando assim um melhor entendimento da
técnica de canto utilizada por esses sujeitos, bem como uma melhoria dos métodos
de ensino de canto aplicados a eles.
A opção pelo procedimento de vídeo-radioscopia como método de avaliação nessa
pesquisa baseia-se na quantidade de informações que tal procedimento pode
elucidar, visto que as imagens da laringe e do trato vocal serão colhidas em
movimento. Esse é um fator importante considerando a temporalidade que esse
procedimento acarreta, uma vez que ajuda a conduzir a análise do som gravado com
as imagens obtidas durante a coleta sonora. Através desse procedimento pode-se
saber o exato momento em que o sujeito realizou um ajuste laríngeo e/ou
supralaríngeo, visível na imagem em movimento, além de se poder identificar o
exato momento desse ajuste no sinal de áudio.
É de conhecimento dos pesquisadores a norma CNEN-NN-3.01 que se aplica a
diversos tipos de exposição radiológica, incluindo exposições médicas que incluem
sujeitos voluntários em programas de pesquisa médica ou biomédica.
O projeto dessa pesquisa foi apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Mater Dei, onde foi realizado um dos procedimentos, recebendo um parecer
22
consubstanciado e uma carta de aprovação (anexo 2). O comitê de ética do hospital
enviou o projeto ao Comitê Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).
3.5 Descrição da Vídeo-Radioscopia
Também conhecida pelo nome mais comum de videofluoroscopia, este exame tem
maior aplicabilidade nas técnicas de avaliação da deglutição. A videofluoroscopia
deriva da fluoroscopia que pode ser dividida em fluoroscopia de ecram ou
convencional e fluoroscopia em TV (COSTA e col., 1992). A videofluoroscopia
consiste no mesmo método da fluoroscopia em TV, com a única diferença de que no
primeiro as imagens são registradas em filme VHS. Decidiu-se aqui se referir à
videofluoroscopia como sendo vídeo-radioscopia pelo fato de que no método
fluoroscópico utiliza-se a injeção de contraste para melhor visualizar as estruturas
que se quer analisar, como na deglutição, por exemplo, onde os alimentos são
contrastados para que se visualize melhor o percurso da boca à faringe e esôfago e
depois ao estômago.
Neste estudo não foi utilizado nenhum tipo de contraste, pois as avaliações foram
realizadas com os sujeitos em fonação cantada. Desta forma, não era necessário
nenhum tipo de contraste, pois a própria imagem produzida pelo aparelho de Raio X
foi suficientemente boa para se visualizar as estruturas de interesse.
Com relação à dosagem de radiação, esta pode ser considerada pela dose
absorvida (D) e pela dose equivalente (H). A dose absorvida é uma medida da
energia depositada por unidade de massa do meio, ou seja, quantidade de radiação
23
que se comunica a uma determinada quantidade de matéria. A unidade física
definida é o gray (Gy). Um Gy é a energia de 1 joule por quilograma (J/kg). A dose
equivalente é uma medida da dose de radiação num tecido. A unidade física definida
é o sievert (Sv). Um Sv é a energia de 1 joule por quilograma (J/kg) (IPEMSP, 2006).
Segundo COSTA e col. (1992) a videofluoroscopia favorece a qualidade da imagem
e a diminuição da radiação quando comparada à fluoroscopia convencional. Costa e
col. (1992) relatam em pesquisa que um paciente exposto ao exame
videofluoroscopia recebeu radiação total, num exame de 10 minutos, de
aproximadamente 53,05 mGy e verificou que este valor de dose para os 10 minutos
de exame era menor que a dose recomendada pela tabela da United Nations
Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation (1977) cujo valor é de 64
mGy por minuto de exame fluoroscópico convencional. Assim, a videofluoroscopia
potencializa a redução da dose diminuindo o risco de radiação. Deve-se ressaltar
que a fluoroscopia convencional atualmente é proibida de ser realizada através da
Portaria 4.5.3, de 01 de junho de 1998, através do capítulo 6, item 6.2e da
Secretaria de Vigilância Sanitária.
Desta forma, podemos afirmar que os sujeitos desta pesquisa foram submetidos a
um procedimento seguro, uma vez que o tempo total de exame não excedeu o
tempo de 8 minutos de avaliação. Deve-se dizer que no tempo total de avaliação a
radiação não foi constante e sim de forma pulsada, pois cada trecho cantando pelos
sujeitos tinha tempo médio de 25 segundos, tendo sido necessário repetir cada um
dos três trechos aproximadamente 3 ou 4 vezes.
24
3.6 Descrição da Fibronasolaringoscopia
Este exame é realizado através de um endoscópio do tipo flexível que é introduzido
pela narina do sujeito avaliado, permitindo a fonação em fala encadeada ou fonação
cantada (figura 08).
Figura 08 – Desenho esquemático do aparelho de fibronasolaringoscopia e do
posicionamento do aparelho na laringe durante a avaliação (adaptado de Vocal
Parts Brasil, 2000).
A fibronasolaringoscopia é excelente para avaliar a função velofaríngea e visualizar
ajustes faringolaríngeos, especialmente quando estes são realizados na atividade do
canto. As orientações da realização deste exame ao sujeitos da pesquisa se
encontram no anexo 1.
3.7 Descrição da Eletroglotografia
A eletroglotografia (EGG) é um tipo de avaliação da função fonatória não-invasiva
baseada na variação da impedância elétrica translaríngea durante a vibração das
pregas vocais (figura 09).
25
Figura 09 – Desenho esquemático do aparelho de eletroglotografia e do
posicionamento dos eletrodos no pescoço.
Um sinal elétrico de alta freqüência (entre 0,3 a 2 MHz) é aplicado através de dois
eletrodos externos que são posicionados no pescoço, na altura da cartilagem
tireóide. O sinal de alta freqüência é modulado por mudanças relacionadas ao
comportamento glótico na região do pescoço entre os eletrodos. Estas informações
são decodificadas por uma demodulação (retificação e filtragem passa-baixas).
Assim, o sinal eletroglotográfico, é capaz de reproduzir as fases do ciclo glótico (fase
fechada – fechamento e abertura – fase aberta), como demonstrado na figura 10. O
sinal eletroglotográfico reproduz as características da fonte vocal, pois é
praticamente insensível à ressonância do trato vocal. Portanto, é útil para a
26
determinação da freqüência fundamental fonatória, cálculo da velocidade de
fechamento e coeficiente de contato das pregas vocais, verificação da regularidade
das vibrações das pregas vocais, dentre outros. (BAKEN & ORLIKOFF, 2000).
Figura 10 – Representação esquemática de uma forma de onda típica (voz modal,
laringe saudável) e as correspondentes seções coronais das pregas vocais. (1)
primeiro contato subglótico; (2) aumento do contato vertical; (3) máximo contato e
máxima compressão medial; (4) separação das bordas inferiores das pregas vocais;
(5) separação das bordas superiores das pregas vocais; (6) aproximação das bordas
inferiores (adaptado de VIEIRA, 1997).
3.8 Equipamentos Utilizados
No exame de fibronasolaringoscopia utilizou-se um aparelho composto por um
fibroscópio flexível da marca Machida ENT-30PII conectado a uma câmera de vídeo
da marca Toshiba IK-M43H13. Esse conjunto foi conectado a uma fonte de luz da
marca Brüel & KJA-ER. No exame de vídeo-radioscopia utilizou-se um aparelho da
marca Siemens modelo Siregraph Telecomandado. Na avaliação eletroglotográfica
utilizou-se um eletroglotógrafo da marca Glottal Enterprises modelo EG2 acoplado
27
ao gravador digital DAT (Digital Audio Tape). Para a gravação do sinal acústico foi
utilizado um gravador digital DAT da marca Tascam modelo DA-P1 conectado a dois
microfones dinâmicos, um da marca AKG modelo D 880 e outro da marca Behringer
modelo XM-8500. A utilização de dois microfones teve por objetivos principais: (1)
gravar o áudio em dois canais independentes para se garantir a qualidade em pelo
menos um dos canais; (2) facilitar a filtragem do áudio na presença de ruído, caso
necessário; (3) gravar o áudio e o EGG em canais separados no mesmo
equipamento.
3.9 Projeto Piloto
Primeiramente foi realizado um piloto com o autor com a finalidade de verificar como
ocorreria a avaliação dos sujeitos observando aspectos como: ambiente do
procedimento, espaço para colocação dos equipamentos de gravação, posição dos
equipamentos na sala, posição do sujeito durante a avaliação, presença de ruído
ambiente, condições dos equipamentos para fornecer os dados que seriam
requeridos, qualidade da imagem dos aparelhos de avaliação, definição e
adequação do protocolo de avaliação de acordo com o espaço do ambiente.
O piloto do procedimento de vídeo-radioscopia foi realizado na sala de radioscopia
do Hospital Mater Dei (Rua Gonçalves Dias, 2700). Uma segunda pessoa
acompanhou o procedimento e auxiliou na gravação sonora. Um médico residente
foi destinado a auxiliar na operação do aparelho de radioscopia. O aparelho é
composto por uma ampola por onde saem os raios X, que incidem sobre uma
prancha onde é colocado o filme para incidência dos raios. Tal prancha pode ser
28
inclinada na posição vertical e na horizontal. A posição de análise é a vertical para
que os cantores possam ficar em pé, com a face lateral direita voltada para a
prancha e a esquerda para a ampola, como mostra a figura 11.
Figura 11 – Posição do sujeito em relação à ampola e a prancha.
Dois microfones foram colocados nos pedestais frontalmente ao sujeito, em ângulo
de aproximadamente 45º em relação à boca (figura 12). A distância dos microfones
em relação à boca do sujeito durante as avaliações foi de 10 cm.
29
Figura 12 – Posição do sujeito em relação aos microfones.
Atrás dos microfones encontrava-se um biombo para proteção contra a radiação,
onde se posicionam os controles do aparelho de radioscopia. O gravador digital foi
colocado ao lado dos controles do aparelho para que a pessoa que o operasse
tivesse total visão sobre o sujeito que estava sendo avaliado (figura 13).
Figura 13 – Posição do biombo e do gravador.
30
A radiação foi constante no sujeito por um tempo de aproximadamente 30 segundos
a cada tarefa realizada. A imagem produzida em movimento foi gravada em fita de
vídeo cassete VHS (Video Home System).
O piloto do procedimento de fibronasolaringoscopia foi realizado no Instituto de
Otorrinolaringologia (Avenida Afonso Pena, 2928). Neste procedimento o sujeito
ficou sentado em uma cadeira de avaliação. O otorrinolaringologista se posicionou
lateralmente ao sujeito, ficando de frente para a televisão e o vídeo cassete que
estavam à esquerda do sujeito. As imagens produzidas foram gravadas em VHS
(vídeo cassete). À frente do sujeito foram colocados dois microfones em ângulo de
45º em relação à boca para a gravação sonora.
3.10 Análise da Configuração Laríngea e do Trato Vocal
Os sujeitos foram submetidos a vídeo-radioscopia durante a realização das tarefas
para avaliar a posição laríngea, bem como a posição das estruturas do trato vocal
como a língua, palato mole, mandíbula e abertura labial, fatores estes, que
influenciam as freqüências de formantes durante as emissões em falsete. O exame
de fibronasolaringoscopia elucidou os ajustes que não puderam ser observados na
vídeo-radioscopia como: constrição laríngea, faríngea e estruturas pertencentes a
estes segmentos. As tarefas realizadas foram as mesmas solicitadas na vídeo-
radioscopia. O EGG realizado simultaneamente à fibronasolaringoscopia permitiu
medir o coeficiente de contato das pregas vocais e verificar a fase aberta, fase de
abertura e fechamento e fase fechada.
31
3.10.1 Processamento dos Vídeos da Fibronasolaringoscopia e Vídeo-
radioscopia
Os vídeos gravados em VHS durante os procedimentos de vídeo-radioscopia e
fibronasolaringoscopia foram digitalizados através da conexão de um vídeo-cassete
a uma placa de captura de vídeo da marca ATI modelo All-in-Wonder® Radeon
instalada em um computador Pentium IV plataforma Windows. Os vídeos
digitalizados foram convertidos para o formato MPEG-2 de alta qualidade (video
bitrate: 8050 Kbit/sec) e gravados em DVD para facilitar a análise dos dados. Dentre
as diversas repetições dos trechos 01, 02 e 03 escolheu-se para análise um exemplo
de cada trecho onde o contratenor não tivesse cometido nenhuma falha durante o
canto e que tivesse a imagem nítida e o áudio sem falhas. Tais trechos escolhidos
foram editados e salvos em um novo arquivo de vídeo. Assim, obteve-se um arquivo
de vídeo para cada trecho em cada exame, somando seis arquivos no total para
cada sujeito, totalizando 24 vídeos.
3.10.2 Análise dos Vídeos
Para a análise dos vídeos foi necessária a criação de uma tabela contendo os
principais aspectos que foram os alvos de observação. Como mostrado no item 3.2
em cada trecho havia partes a serem analisadas. No trecho 01 as partes 1, 2 e 3
(movimento melódico rápido, salto 01 e salto 02); no trecho 02 a parte 1 (crescendo);
e no trecho 03 as partes 1 e 2 (salto e escala descendente). Assim, foi necessário
analisar cada parte de cada trecho em tabelas individuais, tanto para a
fibronasolaringoscopia quanto para a vídeo-radioscopia. Abaixo nas tabelas 2 e 3
32
podem-se ver os aspectos que foram analisados na fibronasolaringoscopia e vídeo-
radioscopia, respectivamente. As tabelas foram preenchidas de acordo com uma
escala de grau na qual os números de 0 a 3 foram atribuídos. O número 0 identificou
ausência de ajuste; os números 1, 2 e 3 identificaram presença de ajuste em menor,
médio e maior grau, respectivamente.
Tabela 2 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos – Fibronasolaringoscopia
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição Lateral
Constrição Circular
Epiglote: Posteriorização (Posteriorizou)
Laringe
Constrição ari-epiglótica
Constrição Lateral
Laringe: Elevação (Elevou)
Abaixamento (Abaixou)
Tabela 3 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Vídeo-radioscopia
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou)
Abaixamento (Abaixou)
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto
Fechado Posição Baixa
Fechado Posição Elevada
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou)
Anteriorizada (Anteriorizou)
Elevada (Elevou)
Baixa (Abaixou)
Mandíbula
Elevada: Pequena Abertura Labial
Abaixada: Pequena Abertura Labial
Grande Abertura Labial
Lábios
Protruídos (Protruiu)
Retraídos (Retraiu)
33
3.11 Processamento dos Dados da Eletroglotografia
Os dados da eletroglotografia gravados em DAT foram redigitalizados através do
acoplamento no computador sendo obtidos por intermédio do programa Cool Edit
2000 versão 1.0, fabricado pela Syntrillium Software Corporation. Utilizou-se taxa de
amostragem de 22050 Hz, resolução de 16 bits e conversão de canal estéreo para
canal mono. Da mesma forma que no processamento dos vídeos, os dados de EGG
foram separados por trechos para cada sujeito. Como o EGG foi realizado apenas
na fibronasolaringoscopia obteve-se a princípio 3 arquivos de EGG. Porém, para
análise individual das partes de cada trecho foi necessária uma edição dessas
partes, somando 6 arquivos de EGG por sujeito, totalizando 24 arquivos. Os
arquivos de EGG corresponderam aos arquivos de vídeo, ou seja, do mesmo trecho
escolhido, extraiu-se o arquivo de vídeo e o arquivo de EGG.
3.11.1 Análise dos Dados Eletroglotográficos
Para a análise dos dados eletroglotográficos utilizaram-se 3 softwares desenvolvidos
por Vieira (1997) para processamento dos sinais: delay0.bat, egg.exe e smooth.exe.
O software delay0.bat conjuga a ação de outros dois programas, o lxfilter.exe e o
revfile.exe. Assim, primeiramente faz uma filtragem passa-alta da onda EGG com
corte de 60 Hz e atenuação de 45 dB na faixa de rejeição. Após essa primeira
filtragem o arquivo é novamente filtrado no sentido inverso da onda com o objetivo
de reverter deformações no sinal devido a alterações de fase. O principal objetivo da
filtragem feita pelo delay0.bat é o de atenuar as flutuações de linha base existentes
na onda EGG sem causar distorção de fase. Após esse processo as ondas EGG
34
filtradas tornam-se passíveis de análise e de extração de medidas. A figura 14
mostra o sinal antes (a) e depois (b) de ser filtrado, respectivamente.
Figura 14 – Traçado Eletroglotográfico (a) com flutuação da linha base; (b) filtrada.
35
As ondas filtradas foram inspecionadas manualmente, uma a uma, com o objetivo de
se identificar traçados irregulares que poderiam comprometer a análise automática
feita posteriormente. Os traçados irregulares foram identificados, na sua maioria nos
finais de frase, e excluídos manualmente. O fonema /r/ produzido no final das sílabas
/per/ e /tor/ foi excluído manualmente para que não fizesse parte da análise
automática e pudesse influenciar os resultados. A figura 15 mostra um exemplo de
traçado irregular.
Figura 15 – Traçado irregular na onda EGG filtrada presente no final da escala
descendente do trecho 03 na vogal /o/ antes da articulação do /r/.
Após a exclusão dos traçados irregulares, as ondas EGG estavam preparadas para
a análise automática que se seguiu. O programa egg.exe foi utilizado para fazer o
cálculo do coeficiente de contato (CC) das pregas vocais, dado por:
CC =
TF
F
________________________
TC
G
x 100
onde TFF = tempo de fase fechada (em amostras)
TCG = tempo do ciclo glótico (em amostras).
36
O programa egg.exe faz o cálculo automático do coeficiente de contato em todos os
ciclos glóticos e gera dois arquivos de texto: um contendo todos os valores de
coeficiente de contato para cada intervalo de tempo (em segundos) e outro contendo
a média total do coeficiente de contato de todos os ciclos glóticos presentes em
cada arquivo EGG. Assim, foi possível determinar a proporção do tempo (em %) em
que as pregas vocais estiveram em contato (fechadas) em relação à duração do
ciclo glótico. A figura 16 mostra a aplicabilidade da fórmula empregada para o
cálculo do coeficiente de contato.
M
a
g
n
i
tu
d
e
M
a
g
n
i
tu
d
e
Figura 16 – Extração do coeficiente de contato (CC) da onda EGG pela estimação
da duração (amostras) da fase fechada (a) e da duração total (amostras) do ciclo
vibratório (b).
37
Dando continuação à análise dos dados, após o cálculo do coeficiente de contato
(CC) de todos os trechos e suas respectivas partes, foi necessário ajustar os
arquivos de texto gerados para a confecção dos gráficos da análise. A partir desse
ponto o programa smooth.exe foi utilizado para fazer dois tipos de processamento:
(a) filtragem não-linear pela mediana de 3 pontos; (b) suavização linear por um filtro
simétrico de 3 pontos. Assim, um novo arquivo de texto foi gerado contendo as
medidas do coeficiente de contato modificadas pelo smooth.exe. Esse novo arquivo
foi inspecionado manualmente, um por um, para se verificar a existência de erros de
cálculo e se eliminar os pontos onde o programa egg.exe não conseguiu realizar
uma medida satisfatória do coeficiente de contato. A tabela 4 mostra exemplos dos
dados obtidos com o egg.exe (não-filtrados) e com o smooth.exe (pós-filtrados).
Tabela 4 - Exemplo de dados do coeficiente de contato (CC) obtidos com
egg.exe (não filtrados) e com o smooth.exe (filtrados)
Coeficiente de Contato pré-filtragem Coeficiente de Contato pós-filtragem
Tempo (s) CC (%) Tempo (s) CC (%)
0,12641 47,83 0,12641 49,4575
0,12847 48,89 0,12847 49,4575
0,13051 51,11 0,13051 49,4575
0,13254 47,83 0,13254 49,05062
3.12 Análise Acústica
A gravação digital das tarefas realizadas pelos contratenores, durante a realização
da vídeo-radioscopia e da avaliação fibronasolaringoscópica, foi utilizada para
posterior análise acústica visando definir e caracterizar os formantes do contratenor.
A análise acústica foi realizada relacionando os ajustes laríngeos e supralaríngeos
observados na vídeo-radioscopia e na fibronasolaringoscopia. A idéia principal foi a
de fazer uma análise acústica do terceiro, quarto e quinto formante, na tentativa de
38
se identificar a existência de um possível formante do cantor, comparando as
características sonoras dos contratenores com sopranos, mezzo-sopranos e
contraltos. As questões relativas à inteligibilidade do canto não foram abordadas.
3.12.1 Processamento do Sinal Acústico
O sinal acústico gravado em DAT foi redigitalizado através do acoplamento no
computador sendo obtidos por intermédio do programa Cool Edit 2000 versão 1.0,
fabricado pela Syntrillium Software Corporation. Utilizou-se taxa de amostragem de
22050 Hz, resolução de 16 bits e um canal (mono). Da mesma forma que no
processamento dos vídeos e dos dados de EGG, o sinal acústico foi separado por
trechos para cada sujeito. Como ocorrido no processamento dos dados do EGG, o
sinal acústico foi editado pelos trechos e suas respectivas partes. Desta forma,
foram 6 arquivos para cada exame por sujeito totalizando 24 arquivos. Os arquivos
de áudio corresponderam aos arquivos de vídeo e EGG, ou seja, do mesmo trecho
escolhido, extraiu-se o arquivo de vídeo, o arquivo de EGG e o arquivo de áudio.
3.12.2 Análise do Sinal Acústico
Para a análise do sinal acústico utilizou-se dois softwares fornecidos gratuitamente
na Internet. São eles: Praat
2
versão 4.3.20 desenvolvido por Paul Boersma e David
Weenink do Institute of Phonetic Sciences pertencente a University of Amsterdam e
WaveSurfer
3
versão 1.8.5/0511011429 desenvolvido por Kåre Sjölander e Jonas
2
http://www.praat.org
3
http://www.speech.kth.se/wavesurfer
39
Beskow do departamento TMH (Speech, Music and Hearing) pertencente ao KTH
(Royal Institute of Technology).
As ferramentas escolhidas para a análise acústica foram o LTAS (espectro de longo
termo
4
), a espectrografia de banda larga e o LPC (Linear Predictive Coding).
O programa Praat foi utilizado para a análise LTAS, que foi realizada nos trechos 01
e 03, separando as partes existentes nesses trechos, ou seja, foi feita uma análise
tanto para o movimento melódico rápido, a escala descendente e os saltos de
intervalo. Para realizar essa análise os trechos foram convertidos para a taxa de
amostragem 11025 Hz, para facilitar a análise dos formantes até a faixa de 5000 Hz.
Essa faixa de freqüência foi considerada suficiente, pois o objetivo principal era o de
verificar se havia aumento da amplitude na região entre 3000 e 3500 Hz.
O programa WaveSurfer foi utilizado para a análise espectrográfica de banda larga e
LPC, que foi realizada no trecho 2. Como na análise dos outros trechos citados
acima, foi necessário separar a parte do crescendo e convertê-la para a taxa de
amostragem de 11025 Hz. Assim, obteve-se um espectro de banda larga onde se
pôde verificar se havia a presença do aumento da amplitude dos formantes e o
cluster do terceiro, quarto e quinto formantes na região entre as freqüências de 2500
e 3500 Hz. O comprimento do janelamento utilizado na espectrografia de banda
larga foi de 64, janelamento Hanning, lagura de banda de 172 Hz e o número de
pontos da FFT (Fast Fourier Transform) foi 512. O programa WaveSurfer ainda foi
utilizado para a análise LPC editando o sinal da mesma forma que na espectrografia
4
Somatória média de uma série de espectros de curto termo gerados pelo método FFT (Fast Fourier
Transform).
40
de banda larga. Porém, o LPC foi traçado com janelamento Hanning, FFT de 256
pontos, tendo sido analisado no início, meio e final da vogal /e/ do crescendo,
considerando se havia ou não a presença de vibrato, pois este, quando presente em
grandes oscilações, tende a dificultar a configuração do gráfico LPC devido às
oscilações frequenciais presentes nos formantes.
41
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS
Os resultados obtidos mediantes a aplicação dos métodos descritos na seção
anterior serão apresentados nesta seção. Primeiramente serão apresentados os
resultados da fibronasolaringoscopia e vídeo-radioscopia para todos os sujeitos,
posteriormente os resultados dos dados eletroglotográficos juntamente com os dos
dados acústicos. Para finalizar o capítulo um resumo de todos os resultados obtidos
será apresentado para cada contratenor individualmente, seguindo a ordem
numérica dos sujeitos.
4.1 Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Neste tópico serão apresentados, de forma conjugada, os resultados da análise dos
ajustes laríngeos e supralaríngeos observados na fibronasolaringoscopia e vídeo-
radioscopia. As observações baseadas nos itens das tabelas 2 e 3 serão aqui
descritas resumidamente nas tabelas 5 a 10. As escalas de grau utilizadas no
preenchimento das tabelas 2 e 3 foram mantidas nas tabelas abaixo no formato
descritivo. As tabelas modelo 2 e 3 preenchidas estão nos anexos 3 e 4.
42
Tabela 5 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 01 – Movimento Melódico Rápido
Posição
Laríngea
Constrição Ari-
Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionamento
do Palato Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Estável na
posição de
repouso sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
-
Lateral em menor
grau
Fechado e
elevado em menor
grau
Levemente
anteriorizada com
média elevação
Abaixamento em
menor grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de menor
grau
CT2
Abaixada em
médio grau sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
-
Circular em menor
grau
Fechado e
elevado em médio
grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
menor grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT3
Abaixada em
médio grau sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
-
Lateral em menor
grau
Fechado e
elevado em menor
grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
menor grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT4
Abaixada em
médio grau sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
-
Lateral superior e
inferior em médio
grau (média
diminuição na parte
de escala
descendente)
Fechado e
elevado em médio
grau
No meio da
cavidade oral com
média elevação
Abaixamento em
menor grau
Lábios
não-
visíveis
43
Na execução do movimento melódico rápido do trecho 01 não houve muita variação
nos ajustes laríngeos entre os contratenores. As constrições da faringe foram
similares e o principal aspecto observado foi a diminuição da constrição nos trechos
descendentes do movimento melódico, seja nos momentos de salto de intervalo ou
notas sucessivas, mostrando que há uma tendência de aumento de constrição
faríngea, seja circular inferior ou lateral superior e inferior em partes ascendentes.
Porém, tais constrições foram de menor grau porque no referente movimento
melódico a nota mais aguda é um Ré
5
(587 Hz). O palato mole permaneceu sempre
em posição fechada e elevada, enquanto o posicionamento da língua variou entre os
sujeitos. De certa forma essa variação nos permite inferir que o posicionamento da
língua é um tipo de ajuste que influenciou as diferentes emissões do movimento
melódico do trecho 01.
Todos os sujeitos realizaram esta tarefa com leve abaixamento de mandíbula e
pequena abertura labial com leve a média protrusão. Esse comportamento ocorreu
no movimento melódico do trecho 01 em uma extensão que contém notas graves e
médias da tessitura do contratenor.
44
Tabela 6 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 01 - Salto de Intervalo Ascendente 01
Posição
Laríngea
Constrição
Ari-Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionamento
do Palato Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Elevada em
maior grau
-
Lateral em maior
grau (simultâneo
ao momento da
elevação
laríngea)
Fechado e baixo
em menor grau
Levemente
anteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
médio grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT2
Elevada em
menor grau
Em menor grau
Circular inferior
de médio grau
(abertura
faríngea superior
de médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT3
Elevada em
menor grau
-
Lateral inferior
em menor grau
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento de
médio grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT4
Elevada em
menor grau
-
Circular inferior
de médio grau e
lateral superior
em menor grau
Fechado e baixo
em menor grau
Levemente
anteriorizada
com média
elevação
Abaixamento de
médio grau
Lábios não-
visíveis
45
Na execução do salto 01 do trecho 01 houve elevação da laringe em menor grau
para todos os contratenores, exceto para o CT1 onde a elevação atingiu o grau
máximo da escala. Esse fato pode ser explicado observando a tessitura do CT1 que
vai de Fá
3
(174 Hz) a Fá
5
(698 Hz), sendo que o salto 01 era de Lá
4
(440 Hz) a Fá#
5
(740 Hz). Portanto, o CT1 executou um intervalo que estava além da sua tessitura
de conforto, o que ocasionou essa grande elevação laríngea.
Apenas o CT2 apresentou constrição ari-epiglótica em menor grau, enquanto que
todos os sujeitos apresentaram constrição faríngea circular ou lateral. O CT1
apresentou constrição faríngea lateral em maior grau, condizente com a elevação
laríngea. O CT2 apresentou padrões alternados com constrição circular da faringe
inferior e boa abertura, ausente de constrições, na faringe superior. O mesmo
padrão apresentou o CT4 com a diferença de que houve leve constrição da faringe
superior. O CT3 apresentou leve constrição da faringe inferior e boa abertura,
ausente de constrições, na faringe superior. Observou-se maior facilidade na
execução do salto 01 por parte do CT3, uma vez que este apresenta a maior
tessitura relatada.
A posição do palato mole variou pouco, sendo que dois dos sujeitos, CT1 e CT4,
apresentaram posição fechada e baixa de menor grau, enquanto o CT2 e CT3
apresentaram em posição fechada e elevada de menor grau. Porém, será
considerado como ajuste similar porque, na escala adotada a variação em menor
grau para baixo ou para cima é pequena em termos de movimentação de véu
palatino.
46
O posicionamento da língua variou de forma mais consistente entre os sujeitos, onde
o mesmo padrão ocorreu para o CT1 e CT4 e para o CT2 e CT3. Porém, como
considerado acima para o ajuste do palato mole, esses padrões de posicionamento
da língua serão considerados similares, uma vez que todos os sujeitos apresentaram
elevação de mesmo grau e as variações no eixo antero-posterior foram bem
próximas entre eles.
Houve uma maior tendência a abertura da mandíbula e abertura labial no salto 01 do
que no movimento melódico do trecho 01. Isso pode ser visto como um tipo de
ajuste devido à extensão do salto 01 ser mais aguda do que a do movimento
melódico, justificando a necessidade de um aumento da cavidade oral para facilitar a
emissão das notas. Pôde-se perceber que esse aumento foi compensado com uma
maior protrusão labial.
47
Tabela 7 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 01 - Salto de Intervalo Ascendente 02
Posição
Laríngea
Constrição
Ari-Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionamento
do Palato Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Elevada em
menor grau
-
Lateral em
médio grau
(simultâneo ao
momento da
elevação
laríngea)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
anteriorizada com
média elevação
Abaixamento em
menor grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT2
Estável na
posição de
repouso sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
Em menor grau
Circular inferior
de menor grau
(abertura
faríngea superior
de médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT3
Abaixada em
menor grau
sem muitas
oscilações no
sentido vertical
- -
Fechado e
elevado em médio
grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento de
médio grau com
pouca (menor)
abertura labial
Protrusão
de médio
grau
CT4
Estável na
posição de
repouso sem
muitas
oscilações no
sentido vertical
-
Circular inferior
de menor grau e
lateral superior
em menor grau
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
anteriorizada com
média elevação
Abaixamento de
menor grau
Lábios
não-
visíveis
48
Na execução do salto 02 do trecho 01 a laringe permaneceu mais estável e sem
muitas oscilações verticais quando comparada ao seu posicionamento no salto 01.
Apenas o CT1 apresentou pequena elevação, mas a estabilidade da laringe estava
bem melhor em relação a sua posição elevada de maior grau no salto 01. Essa
melhora ocorreu pela diminuição da extensão ocorrida no salto 02 que ia de Lá
4
(440
Hz) a Ré
5
(587 Hz). Desta vez a nota mais aguda do salto estava presente de forma
confortável na tessitura do CT1. O CT2 apresentou constrição ari-epiglótica em
menor grau como no salto 01. Todos os sujeitos apresentaram algum tipo de
constrição faríngea circular ou lateral. Para o CT1 a constrição lateral faríngea
diminuiu em relação ao salto 01. O CT2 apresentou o mesmo padrão alternado de
constrição faríngea do salto 01, com diminuição da constrição circular. O CT3 não
apresentou nenhum tipo de constrição, mantendo uma boa abertura faríngea. O CT4
manteve o mesmo padrão do salto 01, também diminuindo a constrição circular
como o CT2. O comportamento do palato mole foi similar para todos os
contratenores, com fechamento completo e pequena e média elevação. O
posicionamento da língua foi idêntico ao observado no salto 01 para todos os
sujeitos, portanto tendo sido considerado um padrão similar. Houve uma diminuição
do abaixamento de mandíbula para os CT1 e CT4 e diminuição da abertura labial
para o CT3. O grau de protrusão labial foi idêntico ao identificado no salto 01.
49
Tabela 8 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 02 - Crescendo em nota sustentada
Posição
Laríngea
Constrição Ari-
Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionament
o do Palato
Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Abaixada em
menor grau
-
Lateral em menor
grau
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouco
(menor)
abaixamento
Abaixamento em
menor grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT2
Abaixada em
médio grau
-
Sem Constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouca
(menor) elevação
Abaixamento em
menor grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT3
Abaixada em
maior grau
-
Sem constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em maior grau)
Fechado e
elevado em
médio grau
Levemente
posteriorizada
com pouco
(menor)
abaixamento
Abaixamento de
maior grau com
média abertura
labial
Protrusão
de médio
grau
CT4
Abaixada em
médio grau
-
Sem Constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouco
(menor)
abaixamento
Abaixamento de
médio grau
Lábios não-
visíveis
50
Na execução do crescendo do trecho 02 houve grande modificação no
comportamento da laringe quando comparado com as outras partes. A laringe
permaneceu em posição baixa para todos os sujeitos, sendo que para o CT1 foi em
menor grau, para o CT2 e CT4 em médio grau e para o CT3 em maior grau. Para
todos os sujeitos houve uma ampliação da faringe tanto superior quanto inferior,
exceto para o CT1 que apresentou leve constrição lateral faríngea, mas ainda
mantendo boa abertura do tubo faringo-laríngeo. O palato mole permaneceu fechado
e elevado em menor e médio grau para todos os sujeitos. A língua permaneceu
levemente posteriorizada com leve abaixamento para todos os sujeitos exceto para o
CT2 que fez uma leve elevação. O crescendo foi realizado na vogal /o/ que
naturalmente tem o posicionamento de língua mais posteriorizado e levemente
abaixado. Assim, por considerar que a elevação da língua para o CT2 é em menor
grau e está conjugada com a posteriorização e que o abaixamento de mandíbula
desse sujeito foi em menor grau, o que influencia na afirmação da elevação da
língua, o posicionamento de língua de todos os sujeitos nesse crescendo será
considerado similar.
Todos os sujeitos apresentaram abaixamento de mandíbula de forma similar com
média abertura labial, exceto o CT3 que apresentou abaixamento em maior grau no
final do crescendo simultaneamente ao momento de maior abaixamento da laringe.
O grau de protrusão labial foi igual para todos os sujeitos, tendo sido em um grau
mais elevado do que no trecho 01 já descrito acima.
51
Tabela 9 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 03 - Salto de Oitava Ascendente
Posição
Laríngea
Constrição
Ari-Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionamento
do Palato Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Elevada em
médio grau
-
Lateral em maior
grau (simultâneo ao
momento da
elevação laríngea)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouca
elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Protrusão
de menor
grau
CT2
Elevada em
menor grau
-
Circular inferior de
médio grau
(abertura faríngea
superior de médio
grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouca
elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Retração de
médio grau
CT3
Elevada em
menor grau
-
Lateral inferior em
menor grau
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
anteriorizada
com pouca
(menor) elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Retração de
médio grau
CT4
Elevada em
menor grau
-
Lateral inferior em
menor grau
Fechado e baixo
em menor grau
Levemente
anteriorizada
com pouca
(menor) elevação
Abaixamento de
médio grau
Lábios não-
visíveis
52
Na execução do salto de oitava do trecho 03 a laringe se elevou em todos os
contratenores, em menor grau para os CT2, CT3 e CT4 e em médio grau para o
CT1. Da mesma forma como ocorrido no salto 01 do trecho 01, o salto de oitava que
atingia a extensão de Fá#
4
(370 Hz) a Fá#
5
(740 Hz), compreendia uma nota que
estava além da tessitura relatada pelo CT1 que era de Fá
3
(174 Hz) a Fá
5
(698 Hz),
o que ocasionou essa maior elevação laríngea. O comportamento laringo-faríngeo
foi similar ao apresentado na execução do salto 01 do trecho 01 para todos os
sujeitos. Porém, uma observação mais acurada mostra que por ser o salto de oitava
do trecho 03 mais rápido, em termos de ritmo musical, do que o salto 01 (intervalo
de 6ª menor) do trecho 01, as constrições faríngeas ocorridas no salto de oitava
foram menos intensas do que no salto 01. O palato mole permaneceu fechado e
elevado em menor grau para todos os sujeitos. O posicionamento da língua foi
parecido para os CT1 e CT2 e para o CT3 e CT4 e ocorreu de modo similar ao
observado no salto 01 do trecho 01. Todos os sujeitos apresentaram abaixamento
de mandíbula e abertura labial de médio grau. Diferentemente do observado no salto
01 do trecho 01, o CT2 e o CT3 apresentaram retração labial de menor grau,
enquanto o CT1 manteve a protrusão em menor grau.
53
Tabela 10 - Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Trecho 03 - Escala Descendente
Posição
Laríngea
Constrição Ari-
Epiglótica
Constrição
Faríngea
Posicionamento
do Palato Mole
Posicionamento
da Língua
Posicionamento
da Mandíbula
Lábios
CT1
Abaixada em
menor grau
-
Lateral em menor
grau (no início da
escala)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouca
elevação
Abaixamento em
médio grau com
média abertura
labial
Protrusão
de menor
grau
CT2
Abaixada em
médio grau
-
Sem Constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com pouca
elevação
Abaixamento em
menor grau com
pouca abertura
labial
Protrusão
de menor
grau
CT3
Abaixada em
médio grau
-
Sem Constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em maior grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
menor grau com
média abertura
labial
Protrusão
de menor
grau
CT4
Abaixada em
médio grau
-
Sem Constrição
(abertura faríngea
inferior e superior
em médio grau)
Fechado e
elevado em
menor grau
Levemente
posteriorizada
com média
elevação
Abaixamento em
menor grau
Lábios não-
visíveis
54
Na execução da escala descendente do trecho 03 todos os sujeitos apresentaram
abaixamento progressivo da laringe em menor e médio grau. Com exceção do CT1,
todos os sujeitos apresentaram abertura do tubo laringo-faríngeo em médio e maior
grau. A constrição lateral faríngea apresentada pelo CT1 no início da escala
descendente ocorreu simultaneamente à elevação laríngea. Porém, à medida que se
desceu na escala essa constrição diminuiu consideravelmente, deixando o tubo
laringo-faríngeo com boa abertura. O palato mole permaneceu em posição fechada
de menor grau. Os sujeitos CT1 e CT2 mantiveram a língua na mesma posição do
salto de oitava que antecedia a escala descendente do trecho 03, enquanto que os
CT3 e CT4 posteriorizaram a língua e abaixaram-na progressivamente. Os sujeitos
CT2, CT3 e CT4 diminuíram a abertura da boca, elevando levemente a mandíbula,
deixando-a com menor abaixamento, quando comparada ao salto de oitava que
antecedia a escala. O CT1 manteve a mesma posição de mandíbula e abertura
labial. Observou-se nos sujeitos CT2 e CT3 diminuição da retração labial (presente
no salto de oitava) no início da escala descendente e leve protrusão na parte final.
4.1.1 Considerações
A partir da descrição e análise dos dados obtidos com a fibronasolaringoscopia e
vídeo-radioscopia pode-se fazer algumas considerações acerca do comportamento
laríngeo e supralaríngeo no canto dos contratenores avaliados.
55
4.1.1.1 Movimento Melódico Rápido e Escala Descendente
Nas tarefas que envolveram o movimento melódico e a escala descendente, como
no trecho 01 e trecho 03 respectivamente, o comportamento laríngeo e
supralaríngeo foram similares para todos os sujeitos. Há tendência a um discreto
abaixamento de laringe e pequena constrição faríngea. Essa constrição ocorre mais
visivelmente em partes ascendentes, enquanto que nas partes descendentes elas
diminuem ou desaparecem, mostrando uma maior abertura do tubo laringo-faríngeo
(figura 17). As constrições faríngeas são menores ou inexistentes em ascendências
que partem de notas mais graves da tessitura como o Dó
4
(196 Hz) até notas como
o Dó
5
(523 Hz) ou Ré
5
(587 Hz). O palato permanece sempre fechado, como
esperado, e com pouca elevação. O posicionamento da língua dependeu da vogal
produzida, mas para o canto pareceu ser em menor grau do que na voz falada,
porque houve tendência à uniformização do posicionamento com pouca variação no
eixo antero-posterior e mínima variação no eixo vertical. O abaixamento de
mandíbula, a abertura labial e a protrusão labial ocorreram no grau menor da escala
de avaliação para quase todos os sujeitos nestas duas tarefas (figura 18).
56
Figura 17 – Imagens representativas dos ajustes laríngeos para o movimento
melódico do trecho 01 (sujeito CT3). A primeira imagem mostra a ausência de
constrições faríngeas em um ponto no meio do movimento melódico do trecho 01. A
segunda imagem mostra constrição faríngea inferior em menor grau durante a nota
5
(587 Hz) na parte final do movimento melódico do trecho 01.
Figura 18 – Imagens representativas dos ajustes supralaríngeos para o movimento
melódico do trecho 01 (sujeito CT3). A primeira imagem mostra o posicionamento da
laringe, língua, palato mole, mandíbula e lábios no início do movimento melódico do
trecho 01, enquanto a segunda imagem na parte mais aguda, Ré
5
(587 Hz), do
mesmo movimento.
Palato Mole Laringe Lábios
Faringe Epiglote Pregas Vocais
57
4.1.1.2 Salto de Intervalo
Nas tarefas que envolveram saltos de intervalo como no trecho 01 e no trecho 03, o
comportamento laríngeo e supralaríngeo foram similares para todos os sujeitos. Os
intervalos musicais dos saltos realizados foram: de 6ª menor e de 4ª justa para o
salto 01 e 02 do trecho 01; salto de oitava para o trecho 03. Há tendência para
discreta elevação laríngea, mais visível no salto 01 e no salto de oitava, onde a nota
mais aguda era o Fá#
5
(740 Hz). Apenas o CT1 teve elevação laríngea em maior
grau. Porém, para o salto 02 onde a nota mais aguda era o Ré
5
(587 Hz), a laringe
permaneceu estável sem muitas oscilações no sentido vertical ou levemente
abaixada. O CT2 foi o único a apresentar constrição ari-epiglótica, que ocorreu no
salto 01 e 02.
Nos salto 01 e de oitava houve tendência a uma maior constrição faríngea, seja
lateral ou circular. Porém, esta constrição era evidente na porção inferior da faringe,
sendo que na faringe superior havia ausência de constrição ou constrição lateral em
menor grau. Apenas o CT1 apresentou constrição em maior ou médio grau. No salto
02 as constrições faríngeas diminuíram consideravelmente, até mesmo para o CT1
(figura 19). O CT3 foi o único a não apresentar nenhum tipo de constrição. O palato
mole permaneceu sempre em posição fechada, como esperado, variando pouco em
altura, principalmente no salto 01 e de oitava. No salto 02 houve tendência a uma
elevação maior que nos outros saltos, mas atingiu apenas o grau médio da escala
de avaliação. O posicionamento da língua independente da vogal produzida, /u-i/
para o salto 01 e 02 e /o/ para o salto de oitava, manteve o mesmo posicionamento
no eixo vertical e apresentou poucas variações no eixo antero-posterior. Os sujeitos
apresentaram, na maioria das vezes, abaixamento de mandíbula e abertura labial
58
em grau médio. O CT2 e o CT3 apresentaram retração labial no salto de oitava.
Porém, a protrusão labial de médio grau foi o ajuste mais presente nas tarefas de
salto de intervalo (figura 20).
Figura 19 – Imagens representativas dos ajustes laríngeos para o salto 01 e 02 do
trecho 01 (sujeito CT3). A primeira imagem mostra a presença de constrição lateral
faríngea em maior grau para o salto 01. A segunda imagem mostra a diminuição da
constrição no salto 02. Na primeira imagem a nota é o Fá#
5
(740 Hz) e na segunda o
5
(587 Hz).
Constrição Faríngea
59
Figura 20 – Imagens representativas dos ajustes laríngeos para o salto 01 e 02 do
trecho 01 (sujeito CT3). A primeira imagem mostra o posicionamento da laringe,
língua, palato mole, mandíbula e lábios no salto 01, enquanto a segunda no salto 02.
Na primeira imagem a nota é o Fá#
5
(740 Hz) e na segunda o Ré
5
(587 Hz).
4.1.1.3 Crescendo em nota sustentada
Na tarefa que envolveu o crescendo em nota sustentada (trecho 02), o
comportamento laríngeo e supralaríngeo foi similar para todos os sujeitos. Todos os
sujeitos apresentaram abaixamento de laringe predominantemente de médio grau.
Apenas o CT1 apresentou constrição faríngea de menor grau, enquanto os demais
apresentaram abertura faríngea, superior e inferior, de médio a maior grau (figura
21). O palato mole permaneceu em posição fechada com elevação de menor grau.
O posicionamento predominante da língua foi levemente posteriorizada e abaixada
em menor grau. O CT3 apresentou abaixamento de mandíbula em maior grau,
enquanto os demais em menor e médio grau. Todos os sujeitos apresentaram lábios
em protrusão de médio grau (figura 22).
60
Figura 21 – Imagens representativas dos ajustes laríngeos para o crescendo em
nota sustentada do trecho 02 (sujeito CT3 e CT2). As imagens mostram a ausência
de constrição faríngea com conseqüente abertura do tubo laringo-faríngeo durante o
crescendo em nota sustentada. A nota sustentada é o Si
4
(494 Hz).
Figura 22 – Imagens representativas dos ajustes laríngeos para o crescendo em
nota sustentada do trecho 02 (sujeito CT3 e CT4). As imagens mostram o
posicionamento da laringe, língua, palato mole, mandíbula e lábios durante o ponto
de maior intensidade do crescendo em nota sustentada do trecho 02. A nota
sustentada é o Si
4
(494 Hz).
Palato Mole Língua
61
4.2 Análise Integrada dos Dados Eletroglotográficos e Acústicos
Neste tópico serão apresentados os resultados dos dados eletroglotográficos da
análise do Coeficiente de Contato (CC) para cada trecho e suas respectivas partes
individualmente, dispostos para todos os sujeitos. O parâmetro de análise para o
coeficiente de contato (CC) é o complemento do coeficiente de abertura (CA), ou
seja: CC = 100 – CA. Assim, a partir dos resultados pode se fazer uma análise
baseada tanto pelo coeficiente de contato quanto pelo coeficiente de abertura. Os
resultados da análise acústica serão apresentados em conjunto com os dados
eletroglotográficos permitindo fazer uma análise integrada dos resultados obtidos.
4.2.1 Trecho 01 – Movimento Melódico Rápido
4.2.1.1 Coeficiente de Contato
Através do programa egg.exe obteve-se dados sobre o coeficiente de contato ao
longo do tempo para o movimento melódico do trecho 01. Em média, o tempo de
realização do movimento melódico foi de 6,4 segundos. Assim, obtiveram-se dados
do coeficiente de contato ao longo do tempo total de emissão para cada sujeito.
Todos os sujeitos tiveram variação do coeficiente de contato parecida ao longo do
movimento melódico do trecho 01. Os CT3 e CT4 foram os que apresentaram, maior
variação de valores devido à presença de articulação das notas, associando a vogal
/e/ à consoante /r/. Assim, a articulação da sílaba /det/ passou a ser / “dêrrêrrê”..../.
Desta forma, houve maior movimentação laríngea no sentido de aumento do ataque
62
vocal para fechamento das pregas vocais nestes dois sujeitos. Na figura 23 pode-se
visualizar a variação dos valores do coeficiente de contato para o CT1.
Figura 23 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo do movimento melódico rápido do trecho 01 para o sujeito CT1.
Salto de 4ª justa
Sucessão de 5 notas
ascendentes
Sucessão de 7 notas
descendentes
63
O coeficiente de contato varia muito ao longo do tempo do movimento melódico
realizado pelo CT1, indo de valores próximos a 25% até 40%. Porém, percebe-se
pelo desenho do gráfico e pela verificação feita na onda EGG que os valores
aumentam quando o CT1 ascende no movimento melódico e que diminuem quando
descende. Ou seja, nos saltos ou em notas sucessivas, o desenho do gráfico reflete
as notas ascendentes e descendentes do movimento melódico do trecho 01. O
mesmo ocorreu de forma similar para os demais sujeitos, sendo que a principal
diferença foi relativa aos valores do coeficiente de contato que foi distinto entre eles.
A tabela 11 mostra a média obtida do coeficiente de contato para todos os sujeitos
referente ao movimento melódico rápido do trecho 01.
Tabela 11 – Movimento Melódico Rápido - Trecho 01
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
33,87 4,36
CT2
40,33 7,4
CT3
46,9 11,24
CT4
47,44 12,85
4.2.1.2 Análise Acústica
Na análise acústica observou-se a presença do formante do cantor mais visível para
os contratenores CT3 e CT4, menos proeminente para o CT1 e nenhuma evidência
para o CT2. Durante a execução do movimento melódico do trecho 01 a laringe
estava abaixada e a faringe com leves constrições na maioria dos sujeitos, o que
facilitou a ocorrência do formante do cantor. A figura 24 mostra os gráficos LTAS de
64
todos os sujeitos para o movimento melódico do trecho 01 executado durante a
fibronasolaringoscopia.
Figura 24 – Long Term Average Spectrum (LTAS) para o movimento melódico do
trecho 01 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
A análise do gráfico LTAS permite verificar que as curvas mais características para a
identificação do formante do cantor, onde há presença mais nítida de aumento da
energia em torno de 3 kHz, são dispostas para o CT1 e CT3. Porém através da
observação da espectrografia de banda larga disposta na figura 25 pode-se verificar
que o CT4 também apresenta concentração e aumento da energia sonora na região
em torno de 3 kHz, caracterizando o formante do cantor.
65
Figura 25 – Espectrografia de Banda Larga do CT4 para o movimento melódico do
trecho 01 realizada durante a fibronasolaringoscopia.
4.2.2 Trecho 01 - Salto 01
4.2.2.1 Coeficiente de Contato
O tempo médio de realização do salto 01 foi de aproximadamente 2,5 segundos. O
coeficiente de contato foi obtido ao longo do tempo total de emissão. Todos os
sujeitos tiveram variações distintas do traçado do coeficiente de contato. Os fatores
complicantes para avaliações de salto de intervalo são os relativos à movimentação
da laringe e à presença de vibrato, que causam oscilação no grau de fechamento
das pregas vocais. Esses fatores intrínsecos de cada sujeito não puderam ser
controlados durante a avaliação. Por isso, os valores ao longo dos saltos de
intervalo oscilaram bastante e de forma distinta para os sujeitos. Na figura 26
podem-se visualizar os valores do coeficiente de contato ao longo do salto 01 para o
sujeito CT2.
66
Figura 26 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo do salto 01 do trecho 01 para o sujeito CT2.
O coeficiente de contato tem grande variação no momento do salto de Lá
4
(440Hz)
para Fá#
5
(740 Hz). A consoante desvozeada /p/ em /per/ e /pu/, com a redução no
VOT (voice onset time) do /u/, além da menor duração do /e/ e /u/, podem explicar a
67
redução no CQ. O mesmo não foi verificado para os outros sujeitos no mesmo grau
que para o CT2. O CT1 e o CT3 apresentaram pouca mudança entre os valores do
coeficiente de contato entre /per/ e /pu/. O CT4 apresentou oscilação parecida com a
do CT2, porém em menor grau.
Entretanto, o momento após o salto onde se articula /ni/ e /re/, o coeficiente de
contato apresentou-se de maneira mais uniforme, sendo maior (54%) na nota Fá#
5
(740 Hz) na sílaba /ni/ e ligeiramente menor (52%) na nota Mi
5
(659 Hz) na sílaba
/re/. O mesmo ocorreu de forma similar para o CT3. Porém, o CT1 e CT4 não
seguiram esse padrão apresentando oscilações bem diferentes.
É importante ressaltar que cada sujeito fez sua emissão cantada de forma
característica e peculiar. Assim, é esperado encontrar comportamentos distintos
quando se faz análise dos valores do coeficiente de contato ao longo do tempo,
principalmente em trechos onde se têm mudanças de notas e oscilações de
intensidade. A tabela 12 mostra a média obtida do coeficiente de contato referente
ao salto 01 do trecho 01 para todos os sujeitos.
Tabela 12 - Salto de Intervalo 01 - Trecho 01
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
49,13 9,52
CT2
51,38 8,13
CT3
43,43 6,03
CT4
58,00 12,06
68
4.2.2.2 Análise Acústica
Na análise acústica observou-se a presença do formante do cantor mais
proeminente apenas para o CT4, ocorrendo ao longo de todo o salto. O CT4
apresentou os maiores valores de coeficiente de contato e a execução do salto foi
caracterizada pela laringe com discreta elevação e presença de constrição circular e
lateral faríngea e língua elevada e levemente anteriorizada. A figura 27 mostra os
gráficos LTAS de todos os sujeitos para o salto 01 do trecho 01 executado durante a
fibronasolaringoscopia.
Figura 27 – Long Term Average Spectrum (LTAS) para o salto 01 do trecho 01
realizado durante a fibronasolaringoscopia.
69
A análise do gráfico LTAS permite verificar que a curva mais característica para a
caracterização do formante do cantor está disposta para o CT4. O pico do aumento
da energia sonora encontra-se por volta de 2750 Hz, o mesmo do movimento
melódico do trecho 01. A espectrografia de banda larga disposta abaixo na figura 28
confirma o achado para o CT4 no salto 01 e dispõe o aumento da concentração de
energia nas regiões próximas a 2700 Hz.
Figura 28 – Espectrografia de Banda Larga do CT4 para o salto 01 do trecho 01
realizado durante a fibronasolaringoscopia.
4.2.3 Trecho 01 - Salto 02
4.2.3.1 Coeficiente de Contato
O tempo médio de realização do salto 02 foi de aproximadamente 2,4 segundos. O
coeficiente de contato foi obtido ao longo do tempo total de emissão. Da mesma
forma que no salto 01 todos os sujeitos tiveram variações distintas do traçado do
coeficiente de contato. Porém, as oscilações de valores foram menores no salto 02
do que no salto 01 provavelmente por causa da menor distância no salto de
intervalo, que era de 6ª menor no salto 01 e de 4ª justa no salto 02. Na figura 29
70
podem-se visualizar os valores do coeficiente de contato ao longo do salto 02 para o
sujeito CT2.
CT2
Trecho 1 - Salto02
Onda EGG
Figura 29 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo do salto 02 do trecho 01 para o sujeito CT2.
71
A tabela 13 mostra a média obtida do coeficiente de contato referente ao salto 02 do
trecho 01 para todos os sujeitos.
Tabela 13 – Salto de Intervalo 02 - Trecho 01
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
42,17 3,79
CT2
47,62 9,29
CT3
43,19 6,37
CT4
57,34 9,77
Comparando-se as tabelas 12 e 13 observa-se que não houve mudança significativa
nos valores médios do coeficiente de contato para os sujeitos CT3 e CT4 neste
trecho em relação ao salto 01. Uma pequena diminuição nos valores médios do
coeficiente de contato ocorreu para os sujeitos CT1 e CT2.
4.2.3.2 Análise Acústica
Na análise acústica do salto 02 observou-se um formante do cantor mais
proeminente do que no salto 01 para o CT3 e CT4. Os sujeitos CT1 e CT2
apresentaram uma mudança no espectro acústico, mas que não caracterizou de
forma consistente a presença do formante do cantor. A configuração laríngea e
supralaríngea provavelmente favoreceu o aparecimento do formante do cantor nos
sujeitos CT3 e CT4, pois ambos apresentaram abaixamento da laringe em relação à
posição observada no salto 01. Houve diminuição (CT4) e ausência (CT3) de
constrições faríngeas, elevação do palato e diminuição do abaixamento da
72
mandíbula em relação ao salto 01 (vide tabelas 06 e 07). A figura 30 mostra os
gráficos LTAS de todos os sujeitos para o salto 02 do trecho 01 executado durante a
fibronasolaringoscopia.
Figura 30 – Long Term Average Spectrum (LTAS) para o salto 02 do trecho 01
realizado durante a fibronasolaringoscopia.
A análise do gráfico LTAS do salto 02 mostra uma mudança mais acentuada na linha
do CT3 em relação ao salto 01. O CT4 praticamente manteve o mesmo tipo de
contorno da linha, porém com uma melhora acentuada na amplitude sonora da
região em torno de 1700 Hz correspondente ao segundo formante (F2). Essa
melhora também foi válida para os demais sujeitos. O formante do cantor se
manteve na região em torno de 2750 Hz para o CT4, enquanto que para o CT3 se
intensificou na região entre 3000 e 3250 Hz. A espectrografia de banda larga,
73
disposta na figura 31 abaixo, mostra o aumento da energia sonora na região do
segundo formante e a presença do formante do cantor nas regiões correspondentes
para os sujeitos CT3 e CT4.
CT
3
CT4
Figura 31 – Espectrografia de Banda Larga do CT3 e CT4 para o salto 01 do trecho
01 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
4.2.4 Trecho 02 – Crescendo
4.2.4.1 Coeficiente de Contato
O tempo médio de realização do crescendo foi de aproximadamente 4 segundos. O
coeficiente de contato foi obtido ao longo do tempo total de emissão. A dinâmica do
crescendo escrita na partitura foi realizada de diferentes formas por cada sujeito. O
comportamento do coeficiente de contato ao longo do tempo foi diferente entre eles,
estando mais próximos em relação ao traçado gráfico, para os sujeitos CT1 e CT2,
74
que alternaram pouco a dinâmica do crescendo ao invés dos sujeitos, CT3 e CT4,
que fizeram maior alternância na dinâmica. Todos os sujeitos fizeram emissões com
presença de vibrato, seja em menor ou maior amplitude. Na figura 32 podem-se
visualizar os valores do coeficiente de contato ao longo do crescendo do trecho 02
para o sujeito CT3.
Figura 32 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo do crescendo do trecho 02 para o sujeito CT3.
75
O coeficiente de contato apresentou-se de forma mais regular na emissão de nota
sustentada em crescendo. As oscilações parecem ser dependentes da intensidade,
porque com as alterações na dinâmica messa di voce
5
, houve uma relação de
aumento da intensidade com aumento de coeficiente de contato para todos os
sujeitos. A posição da laringe permaneceu abaixada estabilizada para todos os
sujeitos. Um fator que influenciou o comportamento do coeficiente de contato foi a
presença de vibrato. A tabela 14 mostra a média obtida do coeficiente de contato
referente ao crescendo em nota sustentada do trecho 02 para todos os sujeitos.
Tabela 14 – Crescendo - Trecho 02
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
36,87 1,55
CT2
52,05 3,67
CT3
54,96 11,04
CT4
50,33 10,21
4.2.4.2 Análise Acústica
Na análise acústica do crescendo do trecho 02 todos os sujeitos apresentaram o
formante do cantor em suas emissões durante a fibronasolaringoscopia e vídeo-
radioscopia. O formante do cantor foi mais proeminente para os sujeitos CT3 e CT4
e menos proeminente para o CT1 e CT2, tendo este último apresentado a menor
amplitude na região em torno de 3000 Hz. As emissões foram caracterizadas pelo
5
Crescendo e decrescendo em nota sustentada realizado de forma gradual.
76
abaixamento de laringe, leve constrição faríngea (CT1) e ausência de constrição
com conseqüente abertura do tubo laringo-faríngeo (demais sujeitos), palato mole
pouco elevado, língua levemente posteriorizada e abaixada, boa abertura
mandibular com protrusão labial (vide tabela 08). Esses fatores contribuíram de certa
forma para que o formante do cantor fosse mais presente e visível na emissão do
crescendo do trecho 02 do que nos outros trechos. A figura 33 dispõe a
espectrografia de banda larga durante a emissão do crescendo do trecho 02 para
todos os sujeitos.
77
CT
1
CT2
CT3
CT4
Figura 33 - Espectrografia de Banda Larga dos sujeitos CT1, CT2, CT3 e CT4 para o
crescendo do trecho 02 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
A análise da espectrografia de banda larga do crescendo do trecho 02 que o
aparecimento do formante do cantor pode ter ocorrido concomitantemente com a
78
sintonia ocorrida entre F0 e F1, com conseqüente aumento da intensidade. Tal
situação ocorreu com todos os sujeitos, mas foi mais visível para os sujeitos CT3 e
CT4. O segundo formante (F2) também sofreu aumento da amplitude ao longo do
crescendo. As emissões foram na nota Si
4
(494 Hz) com a vogal /o/ fazendo com
que a freqüência fundamental (F0) se aproximasse do valor esperado para o
primeiro formante (F1) em homens. Automaticamente, o segundo harmônico (988
Hz) correspondeu ao valor esperado para o segundo formante (F2). Esses fatores
caracterizaram um acoplamento acústico fonte-filtro que foi facilitado pela
configuração laríngea e supralaríngea na emissão, fazendo com que o som emitido
pelas pregas vocais fosse bem mais amplificado nas regiões dos formantes e
radiado de maneira mais eficiente (ROTHENBERG, 1986; SUNDBERG & SKOOG,
1997; TITZE, 2004, 2006).
O acoplamento acústico entre a fonte e o trato vocal é amplamente observado em
vozes femininas como a de sopranos, que têm por costume cantar em regiões onde
F0 ultrapassa o valor de F1. De fato, os sopranos utilizam alguns recursos como um
maior abaixamento da mandíbula, que faz com que o valor de F1 suba e se
aproxime do valor da F0, causando uma interação acústica entre a fonte e o trato
vocal tornando o sistema não-linear (ROTHENBERG, 1986; SUNDBERG & SKOOG,
1997; TITZE, 2004, 2006). A figura 34 mostra a espectrografia de banda larga e o
LPC (Linear Predictive Coding) para o CT4 no início e no final da emissão do
crescendo, evidenciando o acoplamento acústico.
79
Figura 34 – Espectrografia de Banda Larga e LPC (Linear Predictive Coding) para o
CT4 no início e final da emissão do crescendo do trecho 02.
A partir da observação da espectrografia de banda larga e do LPC pode-se concluir
que à medida que o CT4 fazia um crescendo na nota Si
4
(494 Hz) o formante do
cantor aparecia de maneira cada vez mais visível. O segundo formante (F2) teve
aumento em sua amplitude configurando o acoplamento acústico.
4.2.5 Trecho 03 – Salto de Oitava
4.2.5.1 Coeficiente de Contato
O tempo médio de realização do salto de oitava foi de aproximadamente 1,7
segundos. O coeficiente de contato foi obtido ao longo do tempo total de emissão.
Todos os sujeitos tiveram variações parecidas do coeficiente de contato ao longo do
80
tempo do salto de oitava. Há uma diferença fundamental entre o salto de oitava e os
outros dois saltos: não houve articulação silábica entre as duas notas do salto de
oitava, o que resultou em mais similaridade dos dados do coeficiente de contato
entre os sujeitos. Não houve muita influencia do vibrato pelo fato da segunda nota
do salto ser muito curta (semicolcheia). Na figura 35 podem-se visualizar os valores
do coeficiente de contato ao longo do salto de oitava do trecho 03 para o sujeito
CT4.
81
Figura 35 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo do salto de oitava do trecho 03 para o sujeito CT4.
O coeficiente de contato se mostrou estável ao longo da emissão da nota Fá#4 (370
Hz) para todos os sujeitos até o momento do salto. Apenas o CT3 apresentou
maiores oscilações do coeficiente de contato nessa nota devido à presença de leve
82
vibrato ao longo de toda emissão. Pode-se observar na figura 35 para o CT4 que a
oscilação aparece apenas no final da nota, pois o vibrato tendeu a crescer mais
nesse ponto. O coeficiente de contato oscila de aproximadamente entre 30% no
instante de Fá#4 (370 Hz) e 75% no alcance do salto com a emissão do Fá#5 (740
Hz), diminuindo logo em seguida com o início da escala descendente. A tabela 15
mostra a média obtida do coeficiente de contato referente ao salto de oitava do
trecho 03 para todos os sujeitos.
Tabela 15 – Salto de Oitava - Trecho 03
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
38,54 7,14
CT2
38,75 16,02
CT3
44,99 11,79
CT4
42,80 15,61
4.2.5.2 Análise Acústica
Na análise acústica do salto de oitava do trecho 03 foi observada a presença do
formante do cantor apenas para o sujeito CT4, mas de maneira menos visível e
proeminente do que em relação ao salto 01 do trecho 01. A média dos valores do
coeficiente de contato foi menor para todos os sujeitos quando comparada com os
valores médios do salto 01. O CT4 apresentou um valor alto do coeficiente de
contato no momento do salto, mas que diminuiu consideravelmente ao início da
escala descendente que se seguiu após o salto de oitava. Todos os sujeitos
apresentaram configuração laríngea e supralaríngea de maneira similar ao
83
observado no salto 01. As configurações praticamente idênticas do CT4 envolveram
pouca elevação laríngea, leve constrição faríngea lateral, palato levemente
abaixado, língua anteriorizada e boa abertura de mandíbula. A figura 36 mostra os
gráficos LTAS de todos os sujeitos para o salto de oitava do trecho 03 executado
durante a fibronasolaringoscopia.
Figura 36 – Long Term Average Spectrum (LTAS) para o salto de oitava do trecho
03 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
A análise do gráfico LTAS mostra que nenhum dos traçados configura a indicação
da presença do formante do cantor. O CT4 continuou apresentando o pico de
amplitude na região próxima de 2750 Hz, mas em intensidade bem menor do que a
apresentada no salto 01 do trecho 01. A espectrografia de banda larga (figura 37)
mostra de maneira mais visível a presença do formante do cantor para o CT4, sendo
84
mais discreto no início da emissão, na primeira nota do salto e mais evidente na nota
depois do salto.
Figura 37 – Espectrografia de Banda Larga do CT4 para o salto de oitava do trecho
03 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
A análise da espectrografia de banda larga revela que a região dos formantes em
torno de 3000 Hz possui amplitude próxima a região do primeiro (F1) e segundo (F2)
formantes. No instante depois do salto percebe-se aumento da energia nas regiões
dos formantes, tanto em F1 e F2 quanto próximo a 3000 e 3500 Hz.
4.2.6 Trecho 03 - Escala Descendente
4.2.6.1 Coeficiente de Contato
O tempo médio de realização da escala descendente foi de aproximadamente 3,7
segundos. Em geral os sujeitos apresentaram traçados gráficos similares do
coeficiente de contato ao longo da realização da escala descendente. Houve a
tendência geral de apresentar valores altos no início da escala que foram diminuindo
ao longo da descida, voltando a aumentar na última nota longa. Na figura 38 podem-
85
se visualizar os valores do coeficiente de contato ao longo da escala descendente
do trecho 03 para o sujeito CT2.
Figura 38 – Gráfico do Coeficiente de Contato e Espectrografia de Banda Estreita ao
longo da escala descendente do trecho 03 para o sujeito CT2.
86
Todos os sujeitos apresentaram oscilações nos valores do coeficiente de contato ao
longo da escala descendente, a exemplo do que pode ser visto na figura 38 e que
foram similares às presentes na figura 23 referente ao movimento melódico rápido
do trecho 01. Tais oscilações são decorrentes do modo de articulação das notas da
escala. Da mesma forma como ocorreu no movimento melódico do trecho 01, houve
tendência a se articular a vogal /o/ com a consoante /r/, formando /ôrrôrrô.../, sendo
este interrompido apenas na emissão da última nota, sustentada por uma fermata,
onde inicia um o vibrato. Os valores do coeficiente de contato variaram
aproximadamente de 60% a 30% do início ao fim da escala, passando a
aproximadamente 47% na nota final. A tabela 16 mostra a média obtida do
coeficiente de contato referente à escala descendente do trecho 03 para todos os
sujeitos.
Tabela 16 - Escala Descendente - Trecho 03
Média do Coeficiente de Contato (%)
Média (%) Desvio Padrão (%)
CT1
38,17 6,21
CT2
46,74 9,71
CT3
46,90 11,75
CT4
41,36 9,96
4.2.6.2 Análise Acústica
Na análise acústica da escala descendente do trecho 03 observou-se a presença do
formante do cantor mais evidente para os sujeitos CT3 e CT4. Porém, quando
comparado à escala descendente do movimento melódico do trecho 01, a emissão
87
da escala do trecho 03 não produziu os mesmo efeitos no espectro acústico. O
formante do cantor estava presente de forma mais discreta, apesar das médias do
coeficiente de contato terem sido próximas para os dois trechos e os ajustes
laríngeos e supralaríngeos similares. O aumento da amplitude dos formantes em
torno da região de 3000 Hz foi mais marcante no início da escala descendente.
Observou-se que por se tratar de uma escala descendente e no final da frase
musical, os sujeitos tenderam a realizá-la em decrescendo, possivelmente
diminuindo o apoio respiratório com conseqüente diminuição da pressão subglótica e
diminuição da adução, que ocorreu provavelmente pela diminuição da contração do
músculo cricotireóideo e do músculo tireoaritenóideo lateral. O gráfico LTAS na
figura 39 mostra os traçados de cada sujeito para a emissão da escala descendente
realizada durante a fibronasolaringoscopia.
Figura 39 - Long Term Average Spectrum (LTAS) para a escala descendente do
trecho 03 realizado durante a fibronasolaringoscopia.
88
A partir da análise do gráfico LTAS da escala do trecho 03 é possível verificar que os
traçados não configuram de forma clara a presença do formante do cantor. Porém,
como já foi dito acima o formante do cantor estava presente visivelmente no início da
descendência da escala e como o gráfico LTAS foi realizado para toda a escala o
traçado inclui informações de toda a emissão. A espectrografia de banda larga
disposta na figura 40 mostra de forma mais clara o formante do cantor presente para
os sujeitos CT3 e CT4.
CT
3
CT4
Figura 40 – Espectrografia de Banda Larga do CT3 e CT4 para a escala
descendente do trecho 03 realizada durante a fibronasolaringoscopia.
A partir da observação da espectrografia de banda larga da escala descendente do
trecho 03 podem-se visualizar as diferenças entre as emissões do CT3 e do CT4. A
espectrografia do CT3 mostra a presença do formante do cantor no início da escala
e diminuição nas ultimas notas da escala dispostas entre os segundos 1,6 a 2,2.
Porém, a sustentação da última nota com um subseqüente crescendo faz com que
89
haja o reaparecimento do formante do cantor. Para o CT4 a espectrografia evidencia
um decrescendo até o final da emissão da escala juntamente com um rallentando,
sendo que o formante do cantor esteve presente em todos os pontos da escala. A
diminuição da intensidade do formante do cantor no final da escala é compatível
com a diminuição da intensidade da freqüência fundamental (decrescendo). Os
sujeitos CT1 e CT2 apresentaram comportamento parecido na espectrografia de
banda larga, porém o formante do cantor estava presente de forma menos visível.
4.3 Resumo Geral dos Resultados
Os resultados gerais para todas as análises realizadas serão dispostos na tabela 17
e serão considerados os parâmetros de maior ocorrência e valores médios para
todos os sujeitos. Os resultados são apresentados para todas as partes dos três
trechos avaliados, mesmo que partes de trechos diferentes apresentem resultados
similares.
90
Tabela 17 – Resultados gerais para todas as análises - Parâmetros de maior ocorrência para todos os sujeitos.
Fibronasolaringoscopia e Vídeo-radioscopia
Eletroglotografia
Análise
Acústica
Laringe Faringe Palato Mole
Posicionamento
Língua
Posicionamento
Mandíbula
Lábios
Coeficiente de
Contato
Formante do
Cantor
Trecho 01 -
Movimento
Melódico
Abaixada
em médio
grau
Constrição
lateral em
menor grau
Fechado e
elevado
Elevada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
menor grau /
Pouca abertura
labial
Protruídos Média de 43%
Presente e bem
visível (CT3 e CT4)
Trecho 01 -
Salto 01
Elevada em
menor grau
Constrição
lateral e
circular em
médio grau
Fechado /
Pouca
movimentação
no eixo vertical
Elevada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
médio grau /
Média abertura
labial
Protruídos Média de 50%
Presente e bem
visível (CT4) / Pico
em 2750 Hz.
Trecho 01 -
Salto 02
Estável na
posição de
repouso
sem muitas
oscilações
no sentido
vertical
Constrição
circular inferior
/ Abertura
superior
Fechado e
elevado
Elevada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
médio grau /
Pouca abertura
labial
Protruídos Média de 48%
Presente e bem
visível (CT3 e CT4)
/ Picos em 2750 e
3250 Hz.
Trecho 02 -
Crescendo
Abaixada
em médio
grau
Sem
constrições /
Abertura
Faríngea
Fechado e
elevado
Abaixada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
médio grau /
Média abertura
labial
Protruídos Média de 50%
Presente e bem
visível /
Acompanhado de
aumento na
amplitude de F2
Trecho 03 -
Salto de
Oitava
Elevada em
menor grau
Constrição
lateral em
menor grau
Fechado e
elevado
Pouco Elevada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
médio grau /
Média abertura
labial
Leve
Retração
Média de 42%
Presente e não
muito visível (CT4)
Trecho 03
– Escala
Abaixada
em médio
grau
Sem
constrições /
Abertura
Faríngea
Fechado e
elevado
Elevada / Pouca
variação no eixo
ântero-posterior
Abaixamento em
menor grau /
Média abertura
labial
Protrusão Média de 43%
Presente e bem
visível (CT3 e CT4)
/ Presente e não
muito visível (CT1
e CT2)
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO
Neste capítulo os resultados obtidos serão dispostos, inicialmente, separados em
itens distintos e confrontados com dados existentes na literatura. Ao final deste
capítulo os resultados serão discutidos de modo integrado.
5.1 Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos
Sabendo das limitações da avaliação pela fibronasolaringoscopia em avaliar o
comportamento de todo o trato vocal, a vídeo-radioscopia foi empregada neste
estudo com sucesso. A partir da conjugação destes dois métodos de avaliação
pôde-se visualizar claramente o comportamento de todas as estruturas envolvidas
no processo de produção do canto. Pela a avaliação a partir da
fibronasolaringoscopia pôde-se avaliar o comportamento da laringe e da faringe
durante a realização das tarefas propostas.
Os resultados foram distintos para as quatro tarefas principais inseridas nos trechos
musicais escolhidos. Na execução do movimento melódico rápido do trecho 01 e
escala descendente do trecho 03 observou-se predominantemente abaixamento de
laringe, leve constrição faríngea inferior e abertura da faringe superior. As
constrições foram mais observadas no movimento melódico do trecho 01, pois nessa
tarefa os sujeitos alternavam em ascendência e descendência em diversos
intervalos, sendo que as constrições estavam presentes nos momentos
ascendentes.
92
Para a execução dos saltos de intervalo (salto 01, 02 e de oitava) presentes no
trecho 01 e trecho 03, os resultados foram similares entre as três execuções. Mais
similar entre o salto 01 e o salto de oitava, pois ambos atingiam a mesma nota
aguda, com a diferença de que no primeiro a passagem pela nota mais aguda, no
caso o Fá#
5
(740 Hz), era mais duradoura, o que caracterizou uma elevação da
laringe levemente maior no salto 01 do que no salto de oitava. Os resultados
referentes aos saltos de intervalo diferem em parte com os obtidos por Lindestad e
Södersten (1988). Em tal estudo, os 4 contratenores avaliados apresentaram
estreitamento da faringe inferior e superior, lateralmente, junto com elevação
laríngea. Um aspecto importante a ser observado é relativo às notas produzidas nos
saltos de oitava produzidos pelos contratenores por eles avaliados. Dos quatro
contratenores, dois produziram como nota mais aguda o Si
4
(494 Hz), outro o Dó
5
(527 Hz) e o último Mi
5
(622 Hz). Ou seja, as observações realizadas por Lindestad
e Södersten (1988) são equivalentes às nossas no salto 02 do trecho 01, cuja nota
mais aguda era o Ré
5
(587 Hz). Porém, no salto 02 observamos que os
contratenores mantiveram a laringe estável, próxima a posição de repouso, sem
fazer muitas oscilações no eixo vertical quando das articulações das sílabas no
salto. Com relação à faringe, houve presença de leve constrição circular na faringe
inferior e boa abertura, ausente de constrição lateral, na faringe superior. O CT3 foi o
único a não apresentar nenhum tipo de constrição no salto 02, provavelmente
porque a nota Ré
5
(587 Hz) não estava próxima ao topo de sua tessitura que atingia
o Sib
5
(932 Hz). Portanto, a nota mais aguda do salto 02 parece ter sido emitida por
ele sem nenhuma dificuldade e nenhum sinal de esforço vocal.
Com relação ao salto 01 e de oitava, onde ambos atingiam a nota mais aguda
avaliada, o Fá#
5
(740 Hz), observou-se maior elevação laríngea e maior constrição
93
faríngea, principalmente na parte inferior mesmo não sendo no maior grau. Essa
situação provavelmente aconteceu porque as emissões foram realizadas próximas
ao topo da tessitura dos sujeitos, principalmente para o CT1 cuja tessitura relatada
foi ultrapassada pela nota emitida. Pôde-se observar também que o CT3 foi o que
apresentou menos constrições faríngeas, provavelmente pelo fato de sua tessitura
ser maior, como descrito anteriormente.
Assim, pode-se dizer que as emissões feitas pelos contratenores deste estudo até a
nota Ré
5
(587 Hz) foram realizadas com leve presença ou ausência de constrições
faríngeas, com a laringe abaixada ou estabilizada próxima à posição de repouso,
sem muitas oscilações no eixo vertical. Mas, quando ultrapassavam essa nota,
atingindo o Fá#
5
(740 Hz) a laringe era elevada, mesmo sendo em menor grau, e as
constrições faríngeas intensificadas principalmente na porção inferior.
A principal diferença deste presente estudo em relação ao realizado por Lindestad e
Södersten (1988) foi o fato de que neste os contratenores realizaram tarefas
inseridas em contexto musical e não foram apenas solicitados a realizar um salto de
oitava, o que de certa forma pode ter interferido nas conclusões referidas por eles,
uma vez que esta não é uma situação de canto usual. Portanto, não se pode ter
certeza que a emissão de um salto de oitava fora de contexto musical condiz em
termos do mecanismo de produção a um salto realizado como tarefa, inserido dentro
de uma peça musical. Acredita-se assim que as diferenças dos resultados entre este
estudo e o de Lindestad e Södersten (1988) podem ser devidas a esse fator.
Os resultados referentes ao crescendo em nota sustentada foram condizentes aos
encontrados por Lindestad e Södersten (1988) onde se observou alargamento da
94
região faríngea. No estudo deles dois sujeitos emitiram a nota Dó
4
(262 Hz), outro o
Sol
4
(392 Hz) e o último o Si
4
(494 Hz), sendo que apenas este último não
apresentou nenhuma mudança na faringe. As notas de emissão foram distintas entre
os sujeitos, mas ocorreram na região média da tessitura onde os contratenores
geralmente não apresentam dificuldades técnicas. Assim, pode-se considerar que os
resultados são condizentes, mesmo ocorrendo para notas distintas. Neste presente
estudo, onde as emissões ocorreram na nota Si
4
(494 Hz) para todos os sujeitos,
apenas o CT1 apresentou discreta constrição faríngea inferior, enquanto os outros
sujeitos apresentaram alargamento faríngeo inferior e superior, com grande
abaixamento da laringe. Provavelmente os contratenores avaliados por Lindestad e
Södersten (1988) fizeram a emissão do crescendo em nota sustentada com a laringe
abaixada, pois o abaixamento da laringe proporciona o estiramento das paredes
laterais da faringe fazendo com que a faringe inferior seja alargada (SUNDBERG,
1987). Podemos dizer a partir das observações feitas neste estudo e dos resultados
referidos por Lindestad e Södersten (1988) que pode haver presença de
abaixamento de laringe e alargamento da faringe inferior e superior até a nota Si
4
(494 Hz) em emissão sustentada.
5.2 Eletroglotografia
Os resultados eletroglotográficos foram bem distintos na análise das quatro tarefas
propostas, tendo apresentado similaridade entre tarefas similares. Um dos fatores
que contribuíram para os diferentes achados foi o fato de considerar as articulações
silábicas das tarefas como fazendo parte dos dados. Por isso, optou-se pela análise
do coeficiente de contato ao longo do tempo e não apenas a média global do trecho
95
analisado. A partir do traçado gráfico do coeficiente de contato pôde-se verificar a
variação deste entre as diferentes tarefas, onde os sujeitos alternaram entre as
mudanças de notas e a variação de intensidade. Os valores do coeficiente de
contato ao longo da duração da execução de cada tarefa variaram de 34%
(movimento melódico trecho 01 CT1) a 58% (salto 01 trecho 01 CT4) considerando
todas as tarefas, sendo que o menor valor refere-se ao sujeito CT1. Para o
movimento melódico rápido e escala descendente o valor médio do coeficiente de
contato para todos os sujeitos foi de 43%, enquanto que para os saltos foi de 47% e
para o crescendo de 49%. Os valores obtidos são condizentes aos valores do
estudo de Shipp e col. (1988) e Welch e col. (1988; 1989) onde o coeficiente de
contato teve média de 50%. Para Howard e col. (2001) contratenores profissionais
produzem uma fase fechada que é mais longa que a fase aberta.
Durante a execução do movimento melódico rápido do trecho 01 e da escala
descendente do trecho 03, os valores do coeficiente de contato variaram entre 25%
(mínimo para todos os sujeitos) à 65% (máximo para o CT4). No estudo de Henrich
(2001) os valores para os três contratenores avaliados variaram de 20% a 50% em
tarefas envolvendo glissandos em falsete de Ré
4
(293,5 Hz) a Ré
5
(587 Hz) em
média.
Com relação aos saltos de intervalo os valores médios do coeficiente de contato
foram de 50% para o salto 01 do trecho 01, de 48% para o salto 02 do trecho 01 e
de 42% para o salto de oitava do trecho 03 (vide tabela 17). Nos saltos de intervalo
as notas partiam do Fá#
4
(370 Hz) para os saltos 01 e 02 e Lá
4
(440 Hz) para o salto
de oitava, atingindo o Ré
5
(587 Hz) no salto 02 e Fá#
5
(740 Hz) no salto 01 e de
96
oitava. Contudo, as diferenças de valores do coeficiente de contato variaram pouco
entre o mínimo e o máximo para os saltos de intervalo.
No estudo realizado por Henrich (2001) os valores do coeficiente de contato durante
o crescendo em nota sustentada para três contratenores variaram de 20% (dinâmica
piano) a 40% (dinâmica forte) para a vogal /u/ que é a que mais se aproxima da
vogal /o/ realizada neste estudo. Os valores obtidos por Henrich (2001) para as
vogais /a/ e /e/ não apresentaram valores que diferem muito dos obtidos para a
vogal /u/. Neste presente estudo os sujeitos não seguiram um padrão de dinâmica
piano – forte como apresentado por Henrich (2001), mas foi enfatizado aos sujeitos
que realizassem um crescendo ao longo da nota Si
4
(494 Hz) com um decrescendo
ao final da nota perfazendo um messa di voce. Os valores médios do coeficiente de
contato foram de 50%, sendo que apenas o CT1 apresentou valor médio de 37%
(vide tabela 14). As diferenças de valores entre o presente estudo e o realizado por
Henrich (2001) podem ser devidas às diferenças nas notas de execução do
crescendo, que para os contratenores do estudo de Henrich (2001) foi Ré
4
(293,5
Hz).
Neste presente estudo as correlações observadas por Howard e col. (1990); Howard
(1995) e Henrich (2001) relativas à freqüência fundamental e ao coeficiente de
contato são condizentes, ou seja, quanto mais alta a freqüência fundamental mais
alto é o coeficiente de contato no registro de falsete. Da mesma forma houve
correlação entre a intensidade e o coeficiente de contato (LINDSEY & HOWARD,
1989; HOWARD e col., 1990; HOWARD, 1995). Em qualquer registro vocal um
aumento na intensidade tem relação com o aumento da pressão subglótica, que
depende da quantidade de adução e do fluxo aéreo (TITZE & SUNDBERG, 1992;
97
SUNDBERG e col., 1993). Por outro lado a atividade do músculo vocal
(tireoaritenóideo medial) é extremamente dependente do registro vocal envolvido
(HIRANO e col., 1970; HIRANO, 1982). Assim, no registro de falsete a atividade do
músculo vocal é reduzida, enquanto a do músculo cricotireóideo é aumentada
(HIRANO e col., 1970; HIRANO, 1982). Porém, com a diminuição da atividade do
músculo tireoaritenóideo no registro de falsete, há aumento da pressão subglótica
em situações de elevada intensidade, estando associada ao aumento na tensão
longitudinal e contato lateral das pregas vocais. Isso confirma os resultados obtidos
no crescendo em nota sustentada onde há correlação entre a intensidade e o
coeficiente de contato.
5.3 Análise Acústica
O objetivo principal da análise acústica foi o de fazer observações relativas à
presença ou ausência do formante do cantor nas diferentes tarefas realizadas pelos
contratenores. Através da espectrografia de banda larga, do LTAS e do LPC pôde-
se verificar a configuração dos formantes, em especial o aumento da amplitude de
energia na região entre 2500 e 3500 Hz, para todas as tarefas propostas.
Bogg e Thorpe (2000) evidenciaram a presença do formante do cantor na execução
de escalas ascendente e descendente realizadas por oito contratenores. Eles
caracterizaram a voz do contratenor como tendo qualidade leve e suave, com base
em Sundberg (1987) sobre a diferença entre as amplitudes dos formantes mais
agudos em relação ao mais grave.
98
De acordo com Sundberg (2001) o nível do formante do cantor é determinado pela
diferença observada e esperada dos níveis de amplitude do terceiro e primeiro
formante, sendo L3 – L1. A teoria acústica da produção da voz (FANT, 1970) explica
que o nível de amplitude do formante aumenta se sua distância em relação a outro
formante diminui. Sundberg (2001) calculou as diferenças de L3 – L1 para falantes,
cantores eruditos masculinos e cantoras eruditas femininas. Os baixos, barítonos e
tenores apresentaram maiores valores do nível do formante do cantor, enquanto que
os sopranos apresentaram valores bem menores e muito variáveis. Neste presente
estudo, os valores relativos ao nível de amplitude do formante do cantor para as
tarefas de movimento melódico, escala e salto de intervalo realizado pelos
contratenores, com exceção dos sujeitos CT3 e CT4 (movimento melódico e escala)
e CT4 (salto), foram similares aos relatados por Sundberg (2001) para o grupo de
sopranos. Os valores são relativos às vogais /e/, /i/ e /o/. Porém, o F0 agudo
presente no salto 01 e salto de oitava e na escala do trecho 03 dificulta a
determinação dos valores de F1 e F2, o que reduz a precisão em determinar o valor
de L3 e assim a presença do formante do cantor a partir de L3 – L1 (SUNDBERG,
2001). Assim, a determinação do formante do cantor a partir de L3 – L1 neste
presente estudo torna-se difícil devido ao F0 agudo presente nas tarefas de salto 01
e oitava e escala do trecho 03.
O formante do cantor foi melhor visualizado então, para as tarefas acima, através da
análise por LTAS. Assim, a afirmação feita por Bogg e Thorpe (2000) a respeito da
voz do contratenor ser leve e suave devido à relação de L3 – L1, não condiz com os
resultados deste presente estudo, pois, dois contratenores, CT3 e CT4,
apresentaram um formante do cantor bem visível na espectrografia de banda larga e
99
pelo LTAS, sendo que suas vozes, perceptivelmente, não são de qualidade leve e
suave.
Com relação ao crescendo em nota sustentada o formante do cantor se apresenta
de forma mais visível e proeminente para todos os sujeitos. Porém, ocorre apenas à
medida que a intensidade é aumentada (crescendo) em certo ponto da emissão.
Esse fato está de acordo com as afirmações de Fant (1970), Cleveland e Sundberg
(1983) e Gauffin e Sundberg (1989) onde demonstraram que quando a intensidade
vocal é aumentada, os harmônicos de alta freqüência ganham mais em nível sonoro
do que os harmônicos em baixa freqüência. Sundberg (2001) demonstrou em
pesquisa com cantores masculinos realizando tarefas de crescendo em várias
vogais e alturas que quando o nível sonoro total aumenta 10 dB, o nível acima de
2000 Hz aumenta em média 16,3 dB. Com base no estudo de Sundberg (2001) o
nível de amplitude do formante do cantor, obtido através de L3 – L1, pôde ser
aplicado ao crescendo em nota sustentada realizado pelos contratenores deste
presente estudo com o objetivo de confirmar a presença do formante do cantor.
Porém, diferentemente de Sundberg (2001) que analisou o nível de amplitude do
formante do cantor em várias vogais, neste presente estudo o nível foi analisado
apenas na vogal /o/ referente à tarefa do crescendo do trecho 02. A figura 41 mostra
o nível de amplitude do formante do cantor para o crescendo do trecho 02 analisado
a partir dos dados de Sundberg (2001).
100
Figura 41 – Gráfico do nível de amplitude do formante do cantor (a partir da
diferença entre valores observados e esperados L3 – L1) do crescendo em nota
sustentada do trecho 02 para todos os sujeitos.
Os níveis de amplitude do formante do cantor para o crescendo em nota sustentada
foram similares aos níveis obtidos por Sundberg (2001) tanto para os cantores
masculinos e femininos analisados por ele. Em sua pesquisa o grupo masculino
apresentou nível próximo a 20 dB, enquanto dois sopranos apresentaram níveis
próximos entre 10 e 17 dB para a vogal /o/. Uma soprano apresentou nível abaixo de
0 dB, ou seja, negativo. Os valores referentes a sopranos variaram muito e tiveram
de ser analisados por LTAS, que sugeriu a inexistência do formante do cantor neste
tipo vocal. A figura 42 mostra uma análise LTAS feita com os sujeitos dessa
pesquisa e dois sopranos e uma espectrografia de banda estreita para os sopranos,
executando o trecho 02. As amostras dos sopranos foram obtidas através de
gravações, contidas em CD (ref. HMC 901.385.87 e ref. HMC 474.210.2), da ária La
101
giustizia ha già sull'arco. A parte correspondente ao trecho 02 foi extraída e
convertida da mesma forma realizada com os dados dos sujeitos dessa pesquisa.
Figura 42 – Gráfico LTAS e Espectrografia de Banda Larga para os contratenores e
dois sopranos. Soprano 01 (CD ref. HMC 901.385.87) e Soprano 02 (CD ref. HMC
474.210.2).
Sundberg (2001) relata que em F0 muito agudo o espaçamento dos harmônicos é
maior e por isso há a chance de que para algumas alturas nenhum harmônico entre
na região de freqüência do cluster. Esse fato é aplicado aos sopranos e por
conseqüência aos contratenores de certa forma porque o formante do cantor foi
menos visível ou ausente para alguns sujeitos justamente em trechos agudos, como
no salto 01 e no salto de oitava. Porém, o fato de os contratenores possuírem um
102
trato vocal de comprimento maior que o de sopranos, sendo similar ao de baixos,
barítonos e tenores (WELCH e col., 1988) pode de certa forma contribuir para o
aparecimento do formante de cantor, mesmo em regiões onde o F0 é agudo, como
aconteceu com o CT4. Porém, os ajustes laríngeos e supralaríngeos realizados por
contratenores, como o abaixamento de laringe, podem contribuir para que estes
tenham maior amplitude do formante do cantor em relação aos sopranos, se
comparando a baixos, barítonos e tenores. Como ocorrido no crescendo do trecho
02 onde houve grande abaixamento de laringe e o aparecimento de um formante do
cantor bem visível com picos entre 2750 e 3250 Hz, condizente com as afirmações
de Sundberg (1987, 1991).
O acoplamento acústico observado no crescendo do trecho 02 pode ser explicado
com base no modelo de interação acústica entre a fonte e o trato vocal
(ROTHENBERG, 1986, 1988), inicialmente descrita e exemplificada com vozes de
sopranos realizando emissões em diferentes vogais, onde o valor de F0
ultrapassava o valor de F1. Da mesma forma que os sopranos, os contratenores
utilizam mecanismos para elevar o valor de F1 próximo ao de F0 quando este é
elevado. Um destes mecanismos envolve o abaixamento da mandíbula com
conseqüente aumento da abertura labial (SUNDBERG & SKOOG, 1997), fato
observado para os sujeitos CT3 e CT4. A interação entre fonte e filtro, onde se
afirma que a pressão sonora no trato vocal interage com o movimento vibratório das
pregas vocais, possibilita um máximo de transferência de energia para o trato vocal.
O efeito da inércia da massa de ar supraglótica causa um atraso no fluxo aéreo,
sendo que esse atraso interfere (interage) com o movimento fonatório, favorecendo
o aumento da diferença de fase vertical (e da onda mucosa), resultando num
fechamento mais íngreme das pregas vocais. Como conseqüência gera um aumento
103
relativo da amplitude dos harmônicos de alta freqüência e faz com que os cantores
economizem fluxo aéreo (ROTHENBERG, 1986, 1988; TITZE, 2004, 2006).
Rothenberg (1986) afirma que o sistema de interação fonte-filtro ocorre melhor
quando há coeficiente de contato igual ou maior que 50%. Contudo, Titze (2004)
afirma que uma configuração não-interativa pode ser vantajosa nas produções do
contratenor, onde um caráter de falsete é usado e um único harmônico (o
fundamental) tem o maior destaque.
5.4 Considerações Finais
O canto do contratenor é realizado no registro de falsete onde a vibração das pregas
vocais ocorre de maneira distinta das ocorridas em registro modal, característico do
canto masculino e feminino e de situação de fala. A diminuição da contração do
músculo tireoaritenóideo no registro de falsete parece contribuir para certa perda na
qualidade vocal, pois há perda de mucosa livre para vibrar e menor adução levando
a uma menor diferença de fase e um pulso menos assimétrico com conseqüente
menor riqueza harmônica. Porém, os ajustes laríngeos e supralaríngeos realizados
por contratenores durante o canto parecem compensar, melhorando essa “perda” na
adução. De certa forma contribuem para melhorar o contato entre as pregas vocais,
adução, principalmente em freqüências mais agudas, onde se observou aumento do
coeficiente de contato em todos os sujeitos. Porém, em regiões mais graves da
tessitura onde seria necessária a contração do tireoaritenóideo para melhorar a
adução das pregas vocais, o coeficiente de contato diminuiu bastante na emissão do
falsete. Isso ocorreu pelo fato de que os contratenores tenderam a manter a voz no
registro de falsete mesmo na região grave. E como as notas graves estavam
104
próximas à região onde normalmente se utiliza o registro modal, a adução
provavelmente foi prejudicada por não haver contração do músculo tireoaritenóideo,
sendo que qualquer tentativa de aumento da adução através de um aumento na
pressão subglótica e conseqüentemente da intensidade, faria com que o
tireoaritenóideo fosse acionado, causando a mudança do registro de falsete para o
registro modal. Devido aos ajustes laríngeos e supralaríngeos, como abaixamento
de laringe, elevação do palato e protrusão labial, a voz não perdeu qualidade e
nenhum escape de ar indicando presença de fenda foi percebido. Ademais, esses
ajustes contribuem para garantir fechamento completo das pregas vocais e presença
de onda mucosa como descrito por Södersten e Lindestad (1987). Por
conseqüência, estes ajustes laríngeos contribuem para uma boa interação fonte-filtro
que pelos ajustes supralaríngeos, conferem aos contratenores emissões onde há a
presença do formante do cantor. Pelo fato de cantarem em regiões próximas às
vozes femininas, os contratenores são susceptíveis a emissões onde pode haver
ausência do formante do cantor, principalmente se for em regiões onde o F0 é
agudo, geralmente ocorrendo na região acima de Ré
5
(587 Hz). Mas, como
demonstrado nesta pesquisa o formante do cantor pode ocorrer nessas regiões
onde F0 é agudo, fato este não observado em mezzo-sopranos e sopranos.
105
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO
O contratenor vem ocupando espaço novamente no meio musical nos últimos anos
após ter desaparecido no período pós-barroco. Com o desenvolvimento tecnológico
e os avanços nas pesquisas relativas à compreensão do mecanismo da voz falada e
cantada, diversas pesquisas têm sido realizadas acerca dos diversos tipos de
cantores. O contratenor por fazer parte dos vários tipos vocais existentes no canto
erudito se tornou objeto de pesquisa mesmo que em menor escala. Alguns estudos
foram desenvolvidos enfocando a voz do contratenor. Este presente estudo teve por
objetivo pesquisar o mecanismo de produção da voz do contratenor dentro de um
contexto essencialmente musical. Apesar das limitações referentes ao número de
sujeitos avaliados, que não compõe um número estatisticamente significante,
algumas afirmações e conclusões puderam ser feitas acerca do mecanismo de canto
do contratenor. O contratenor é bem conhecido na Europa e Estados Unidos e
amplamente utilizado em óperas e concertos de música barroca. Porém, no Brasil
ainda não há um maior conhecimento e incentivo acerca da voz do contratenor, e
por este fato, houve a dificuldade de se recrutar mais contratenores que se
encaixassem no perfil da pesquisa e que estivessem dispostos a participar.
O termo contratenor tem sido empregado de forma geral para as vozes masculinas
que cantam em falsete na região aguda. No entanto, existe uma subdivisão da voz
do contratenor como ocorre para as vozes femininas. Contratenores são
classificados como contralto, alto ou male alto (contralto masculino), male mezzo-
soprano (mezzo-soprano masculino), male soprano (soprano masculino) ou
sopranist (sopranista), mas essas subdivisões não são abordadas nas literaturas
referentes a contratenores, com exceção de Bogg e Thorpe (2000) que fazem um
106
rápido comentário. Sabe-se que a classificação e subdivisão das vozes, inclusive a
do contratenor, compete ao professor de canto, porém, essa questão deveria ser
abordada em futuras pesquisas, pois as vozes de um contralto masculino, mezzo-
soprano masculino e soprano masculino diferem entre si quando cantam,
principalmente porque atuam em regiões de tessitura distintas. A voz ocorre de
maneira muito individual para qualquer tipo vocal, mas se existe classificação e
subdivisão de vozes, é sinal de que mesmo com diferenças individuais, há
semelhanças entre as vozes, que levaram os professores de canto a subdividir tipos
vocais de mesma denominação. Assim, futuras pesquisas são necessárias para se
analisar quais semelhanças, do ponto de vista fisiológico e acústico, que levam à
subdivisão vocal nas principais vozes e em especial na voz do contratenor.
Esse cantor utiliza técnicas de emissão do falsete, através de ajustes realizados na
laringe e supra-laringe para cantar com qualidade vocal de cantor lírico. Neste
presente estudo esses ajustes laríngeos e supralaríngeos foram pesquisados e
analisados juntamente com outros parâmetros relativos a acústica da voz.
Nas diferentes tarefas propostas desse estudo os contratenores tiveram
comportamentos laríngeos e supralaríngeos distintos que dependiam claramente das
diferentes emissões solicitadas. Durante a emissão do movimento melódico
observou-se que os contratenores utilizam predominante de abaixamento de laringe
de médio grau com leves constrições laterais da faringe inferior principalmente
ocorrendo nos momentos de ascendência ou em emissão de notas acima do Ré
5
(587 Hz). Na escala descendente a tendência é abaixar a laringe ou aumentar o
abaixamento já presente, diferentemente do que ocorre nos saltos de intervalo que
ultrapassam a nota Ré
5
(587 Hz) onde se observou elevação laríngea em menor e
107
médio grau com constrições laterais e circulares em menor e médio grau,
principalmente da faringe inferior. Para alturas dentro do limite da tessitura de um
contratenor a tendência é de não realizar constrições laterais da faringe superior em
médio e maior grau, o que foi observado em 3 sujeitos dessa pesquisa na emissão
do Fá#
5
(740 Hz). Com relação ao crescendo em nota sustentada houve
predominância de abaixamento de laringe em médio e maior grau durante a emissão
da nota Si
4
(494 Hz) correspondente à região média da tessitura do contratenor.
Essa emissão foi caracterizada por ausência de constrições faríngeas e laríngeas
com conseqüente aumento da abertura faríngea ao longo de todo crescendo.
O palato mole permaneceu predominantemente fechado e elevado para as
emissões do movimento melódico rápido, escala descendente, crescendo em nota
sustentada e salto de intervalo. Da mesma forma a língua teve pouca variação no
eixo ântero-posterior mesmo em diferentes vogais e oscilou predominantemente de
elevada para o movimento melódico, escala e saltos e abaixada para o crescendo. O
abaixamento de mandíbula em menor grau para o movimento melódico e escala e
em médio grau para os saltos e o crescendo. A abertura labial era aumentada à
medida que se emitia notas mais agudas como no salto 01 e de oitava e que se
aumentava a intensidade como no crescendo em nota sustentada. Os lábios
permaneceram predominantemente protruídos com exceção da emissão do salto de
oitava onde se observou pequena retração provavelmente devida ao grau de
dificuldade do salto, onde o sujeito deveria sair de uma região média da tessitura e
atingir uma região aguda.
Deve-se lembrar que estes ajustes laríngeos e supralaríngeos foram observados em
quatro contratenores realizando emissões dentro de um contexto musical pré-
108
definido e que as observações realizadas diferem em parte com as relatadas
anteriormente na literatura.
Em relação aos dados eletroglotográficos o foco deste estudo foi em relação ao
coeficiente de contato, que foi analisado nas tarefas propostas. As médias do
coeficiente de contato variaram de aproximadamente 42% a 50%, valor que é
relativamente baixo quando comparado aos valores referentes a emissões em
registro modal. Porém, são valores altos se comparados a emissões em registro de
falsete comum, sem ser cantado. O coeficiente de contato tende a aumentar com o
aumento da freqüência, fato que pôde ser observado nos saltos 01 e 02. O aumento
intensidade influi diretamente nos valores do coeficiente de contato, o que pôde ser
observado no movimento melódico do trecho 01 e crescendo do trecho 02. Porém,
os valores oscilaram bastante com a presença do vibrato que pôde ser claramente
observado nos traçados do coeficiente de contato para as diferentes tarefas. Entre
mínima e máxima variação de valores de coeficiente de contato observou-se para
todas as tarefas variação de 20% (presente na região grave do movimento melódico)
a 75% (presente nos picos máximos dos saltos). Mesmo em momentos onde o
coeficiente de contato foi relativamente baixo, caracterizando maior coeficiente de
abertura, não foi percebido nenhum tipo de escape de ar, soprosidade, aparente na
voz de nenhum cantor.
Com relação à acústica observou-se a presença do formante do cantor
predominantemente em todas as tarefas. Os sujeitos CT3 e CT4 se destacaram
apresentando o formante do cantor de forma mais visível, que pode ser condizente
com a categoria em que se enquadram, sendo eles os profissionais de maior
experiência desta pesquisa.
109
Nas emissões de notas agudas, como nos salto de intervalo, o formante de cantor
estava menos presente sendo mais visível em apenas um sujeito. Isso pode ocorrer
devido à mudança de ajuste laríngeo e supralaríngeo necessária a emissão de notas
agudas ou ao fato de nenhum harmônico ter coincidido plenamente com a região do
formante do cantor, não tendo sido suficientemente amplificado. Nas emissões do
movimento melódico rápido e escala descendente o formante do cantor foi mais
claramente visível para dois sujeitos, mas também estava presente de forma menos
visível para os outros dois. Nas emissões do crescendo e salto 02 o formante o
cantor foi claramente visível para todos os sujeitos, com picos de amplitude nas
regiões de 2750 e 3250 Hz. O aumento da energia no espectro foi observada
próxima a 3 kHz, que corresponde à região de ressonância do conduto auditivo
externo e de maior sensibilidade da percepção auditiva (HELMHOLTZ, 1863).
Considerando os ajustes laríngeos e supralaríngeos observados nos contratenores
deste estudo, pode-se pressupor ou propor certas atividades específicas ao ensino
do canto a este tipo de cantor que venha a considerar técnicas de abaixamento de
laringe como fator fundamental. Não se deve deixar de considerar os limites da
tessitura vocal, uma vez que as constrições faríngeas e elevações laríngeas tendem
a ocorrer próximas ao topo da tessitura. A voz do contratenor é normalmente dotada
de ausência de soprosidade permitindo hipotetizar a ausência de fenda glótica. Por
sua vez, o contato entre as pregas vocais diminui no extremo inferior da tessitura
vocal, uma vez que as notas são emitidas em região próxima a inevitável passagem
do registro de falsete para o registro modal, onde pode haver aparecimento de
soprosidade ou mudança involuntária de registro. Todos os aspectos observados
neste estudo podem ser utilizados para se criar uma diretiva ou uma metodologia
que facilite o ensino da voz cantada do contratenor.
110
A importância de uma análise bem detalhada da voz de um cantor é fundamental,
principalmente quando ocorre com o cantor inserido em contexto musical. As
observações e os resultados produzidos neste presente estudo diferem em parte dos
apresentados anteriormente na literatura, e deixa em questão a real necessidade de
se conduzir pesquisas voltadas ao estudo da voz, sempre considerando as tarefas a
serem realizadas como parte integrante de um contexto musical.
111
CAPÍTULO 7 – ANEXOS
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
_______________________________________________________________
I – Registro das explicações do pesquisador ao paciente sobre a
pesquisa, consignando:
Esta pesquisa faz parte de um projeto de Mestrado na área de Música e
Tecnologia, desenvolvido na Escola de Música da UFMG, que tem como
objetivo caracterizar a voz de contratenor e definir os ajustes utilizados por
estes durante o canto.
Os dados coletados conforme os procedimentos explicados abaixo serão
analisados posteriormente pelos pesquisadores que sempre manterão em
anonimato os sujeitos avaliados.
Necessito que o Senhor forneça informações através de um questionário, a
respeito do Canto e da utilização da Voz de Contratenor e seus aspectos,
devendo ocupá-lo por aproximadamente 05 minutos para completar as
respostas.
Após o preenchimento do questionário haverá também uma coleta de dados
em que serão realizados os seguintes procedimentos em dois dias
independentes:
112
1) Vídeo-radioscopia, realizada por um médico radiologista, especialista na
avaliação e diagnóstico por imagens, que consiste na filmagem lateral da
laringe (garganta) e do trato oral (boca). Esse procedimento é sem riscos uma
vez que o tempo de exposição será de aproximadamente 5 minutos, quando
comparado ao tempo de 15 a 20 minutos gasto geralmente quando da
utilização desse mesmo procedimento para avaliação da deglutição.
Garantimos que a quantidade de radiação será mínima em relação à
quantidade permitida pela Norma CNEN-NN-3.01, revisada em 17 de
dezembro de 2004.
2) Fibronasolaringoscopia, realizada por um médico otorrinolaringologista,
especialista na avaliação e diagnóstico de distúrbios vocais, que consiste na
filmagem da laringe e do trato vocal. Esse procedimento é sem riscos, mas
eventualmente pode causar os seguintes desconfortos: náusea, desconforto
nasal, tosse ou sensação de “bolo na garganta”, ocorrida por causa do
anestésico tópico (se for necessário utilizá-lo). O tempo de duração será de
aproximadamente 20 minutos.
Os procedimentos descritos acima serão acompanhados pelo registro da sua
voz através de um gravador digital com dois microfones que serão
posicionados à sua frente. Essa gravação será necessária para posterior
análise acústica, garantindo a dualidade entre a imagem e o áudio.
Sua participação não trará nenhum benefício imediato, mas os conhecimentos
adquiridos com a pesquisa poderão proporcionar um melhor entendimento da
113
técnica utilizada por você e poderá contribuir para uma melhoria dos métodos
de ensino do canto aplicados aos contratenores.
_______________________________________________________________
II – Esclarecimentos dados pelo pesquisador sobre garantias do sujeito
da pesquisa:
Informo que o Sr. tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo,
sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma
consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas
Gerais, situado na Av. Alfredo Balena 110-1, CEP 30130-100, em Belo
Horizonte – MG; fone/fax: (31) 3248-9364, e-mail: [email protected].
Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer
momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo.
Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outros
pacientes, não sendo divulgado a identificação de nenhum dos participantes.
O Sr. tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das
pesquisas e caso seja solicitado, darei todas as informações que solicitar.
114
Não existirá despesas ou compensações pessoais para o participante em
qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há
compensação financeira relacionada à sua participação.
Os dados coletados serão utilizados somente para pesquisa e os resultados
serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou
em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua
identificação.
_______________________________________________________________
III – Informação de nome, endereço e telefone do responsável pelo
acompanhamento da pesquisa, para contato em caso de intercorrência
clínica e reações adversas.
Fgo. Tiago Lima Bicalho Cruz
Rua Júlio Pereira da Silva, 719/502 – tel.: (31) 3486-7205 / 9113-9509
_______________________________________________________________
115
IV – Consentimento pós-esclarecido
Acredito ter sido suficiente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim, descrevendo o estudo: “Estudo dos Ajustes Laríngeos e
Supralaríngeos no Canto dos Contratenores: Dados Fibronasolaringoscópicos,
Vídeo-radioscópicos, Eletroglotográficos e Acústicos”.
Eu discuti com o fonoaudiólogo Tiago Lima Bicalho Cruz sobre a minha decisão
em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos
do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos,
as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.
Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho
garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer
tempo. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o
meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem
penalidade ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter
adquirido.
__________________________ Data _______/______/______
Assinatura do entrevistado
Nome:
Endereço:
RG.
Fone: ( )
__________________________ Data _______/______/______
Assinatura do pesquisador
116
Anexo 2 – Carta de Aprovação do Comitê de Ética
117
Anexo 3 – Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos –
Fibronasolaringoscopia.
Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos - Fibronasolaringoscopia
Trecho 1 – Movimento Melódico
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 1 3 1
2 (na
descendente)
Constrição Lateral 1 0
1(boa
abertura)
2 (sup. e inf.)
Constrição Circular 0 1 0 0
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 0 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 1 0 0 0
Abaixamento 1 (estável) 2 2 2
Trecho 1 - Salto de Intervalo Ascendente 01
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 0 2 (sup.) 1 (sup.) 0
Constrição Lateral 3 0 1 1 (sup.)
Constrição Circular 0 2 0 2
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 1 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 3 1 1 1
Abaixamento 0 0 0 0
Trecho 1 - Salto de Intervalo Ascendente 02
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 0 2 (sup.) 1 (sup.) 0
Constrição Lateral 2 0 0 (boa abert.) 1 (sup.)
Constrição Circular 0
1(qd. há
vibrato) 0 1
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 1 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 1 1 0 1
Abaixamento 0 1 (estável) 1 1 (estável)
118
Trecho 2 - Crescendo em nota sustentada
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 0 2 3 2
Constrição Lateral 1 0 0 0
Constrição Circular 0 0 0 0
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 0 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 0 0 0 0
Abaixamento 1 2 3 2
Trecho 3 - Salto de oitava
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 0 2 (sup.) 2 (sup.) 0
Constrição Lateral 3 (simult. elev.) 0 1 (inf.) 1 (inf.)
Constrição Circular 0 2 0 0
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 0 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 2 1 1 1
Abaixamento 0 0 0 0
Trecho 3 - Escala Descendente
CT1 CT2 CT3 CT4
Laringo-Faringe
Faringe: Abertura 0 2 3 2
Constrição Lateral
1 (desc.
Progres
0 0 0
Constrição Circular 0 0 0 0
Epiglote: Posteriorização 0 0 0 0
Laringe
Constrição ari-epiglótica 0 0 0 0
Constrição Lateral 0 0 0 0
Laringe: Elevação 0 0 0 0
Abaixamento 1 2 2 2
Legenda
0 = ajuste não observado na posição de análise
1 = ajuste em menor grau observado na posição de análise
2 = ajuste em médio grau observado na posição de análise
3 = ajuste em maior grau observado na posição de análise
NV = não visível
119
Anexo 4 – Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos –
Vídeo-radioscopia.
Tabela de Análise dos Ajustes Laríngeos e Supralaríngeos – Vídeo-radioscopia
Trecho 1 – Movimento Melódico
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 1 (estável) 0 0 0
Abaixamento (Abaixou) 1 2 1 1
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição NV NV NV NV
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 0 0 0 0
Fechado Posição Elevada 1 2 1 2
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 0 1 1 0 (meio boca)
Anteriorizada (Anteriorizou) 1 0 0 0
Elevada (Elevou) 2 2 2 2
Baixa (Abaixou) 0 0 0 0
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura
Labial 1 1 1 1
Grande Abertura Labial 0 0 0 0
Lábios
Protruídos (Protruiu) 1 2 2 NV
Retraídos (Retraiu) 0 0 0 NV
Trecho 1 - Salto de Intervalo Ascendente 01
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 3 1 1 1
Abaixamento (Abaixou) 0 0 0 0
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição
2 (junto
elevação)
1 (post. c/
elev.)
1
2 (post. e
sup.)
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 1 0 0 1
Fechado Posição Elevada 0 1 1 0
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 0 1 1 0
Anteriorizada (Anteriorizou) 1 0 0 1
120
Elevada (Elevou) 2 2 2 2
Baixa (Abaixou) 0 0 0 0
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura Labial 0 0 0 0
Grande Abertura Labial 1 2 2 2
Lábios
Protruídos (Protruiu) 2 2 2 NV
Retraídos (Retraiu) 0 0 0 NV
Trecho 1 - Salto de Intervalo Ascendente 02
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 2 1 (estável) 0 1 (estável)
Abaixamento (Abaixou) 0 1 1 1
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição NV NV NV NV
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 0 0 0 0
Fechado Posição Elevada 1 1 2 1
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 0 1 1 0
Anteriorizada (Anteriorizou)
1 (menos q no
1º)
0 0 1
Elevada (Elevou) 2 2 2 2
Baixa (Abaixou) 0 0 0 0
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura Labial 1 0 2 1
Grande Abertura Labial 0 2 0 0
Lábios
Protruídos (Protruiu) 2 2 2 NV
Retraídos (Retraiu) 0 0 0 NV
Trecho 2 - Crescendo em nota sustentada
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 0 0 0 0
Abaixamento (Abaixou) 1 2
3 (vai
abaix.)
2
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição NV NV NV NV
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 0 0 0 0
Fechado Posição Elevada 1 1 2 1
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 1 1 1 1
121
Anteriorizada (Anteriorizou) 0 0 0 0
Elevada (Elevou) 0 1 0 0
Baixa (Abaixou) 1 0 1 1
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura Labial 2 2 0 0
Grande Abertura Labial 0 0 2 2
Lábios
Protruídos (Protruiu) 2 2 2 NV
Retraídos (Retraiu) 0 0 0 NV
Trecho 3 - Salto de oitava
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 2 1 1 1
Abaixamento (Abaixou) 0 0 0 0
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição 2 NV NV NV
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 0 0 0 1
Fechado Posição Elevada 1 1 1 0
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 1 1 0 0
Anteriorizada (Anteriorizou) 0 0 1 1
Elevada (Elevou) 1 1 1 1
Baixa (Abaixou) 0 0 0 0
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura Labial 0 0 0 0
Grande Abertura Labial 2 2 2 2
Lábios
Protruídos (Protruiu) 1 0 0 NV
Retraídos (Retraiu) 0 1 1 NV
Trecho 3 - Escala Descendente
CT1 CT2 CT3 CT4
LARÍNGEOS
Laringe
Laringe: Elevação (Elevou) 0 0 0 0
Abaixamento (Abaixou)
1 (foi
abaixando)
2 (foi
abaixando)
2 (foi
abaix.)
2 (foi abaix)
Laringo-Faringe
Faringe: Constrição NV NV NV NV
SUPRALARÍNGEOS
Palato Mole
Aberto 0 0 0 0
Fechado Posição Baixa 0 0 0 0
Fechado Posição Elevada 1 1 1 1
Língua
Posteriorizada (Posteriorizou) 1 1 1 1
122
Anteriorizada (Anteriorizou) 0 0 0 0
Elevada (Elevou) 1 1 2 2
Baixa (Abaixou) 0 0 0 0
Mandíbula
Abaixada: Pequena Abertura Labial 0 1 2 1
Grande Abertura Labial 2 0 0 0
Lábios
Protruídos (Protruiu) 1 1 1 NV
Retraídos (Retraiu) 0 0 0 NV
Legenda
0 = ajuste não observado na posição de análise
1 = ajuste em menor grau observado na posição
de análise
2 = ajuste em médio grau observado na posição
de análise
3 = ajuste em médio grau observado na posição
de análise
NV = não visível
123
CAPÍTULO 8 – REFERÊNCIAS
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speech and voice. Singular Publishing Group, San Diego: Thomson Learning, 2000,
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