Download PDF
ads:
ROSILENE AMÉLIA DE CAMPOS
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO DO
EDUCADOR CRÍTICO: ESTUDO DE CASO EM
UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA
PUC-Campinas
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
ROSILENE AMÉLIA DE CAMPOS
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO DO
EDUCADOR CRÍTICO: ESTUDO DE CASO EM
UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA
Dissertação apresentada como exigência para
obtenção do título de Mestre em Educação junto
ao Programa de Pós-Graduação em Educação
na área de Ensino Superior do Centro de
Ciências Sociais Aplicadas da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas, sob
orientação da Profa. Dra. Dulce Maria Pompêo
de Camargo.
PUC-Campinas
2006
ads:
t
J
PONTIFíCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAISAPLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃOEM EDUCAÇÃO
Autor (a): PINTO, Rosilene Amelia de Campos Guimarães
Título:
"A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR CRíTICO:
ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA"
Orientadora: Prota. Ora. Dulce Maria Pompêo de Camargo
. Dissertação de Mestrado em Educação
I.
Este exemplar corresponde à redação final da
Dissertação de Mestrado em Educação da PUC-
Campinas, e aprovada pela Banca Examinadora.
Data: 04/08/2006.
BANCA EXAMINADORA
,-
" \-
-- I.
1
",
\.
~
,. '". ",' , - . " .-~
. '-~_\ '- ~'\.. .. "-,-'--.' . \
Prota. Ora. Dulce Maria Pompêo de Camargo
'- o_o:/"/~,. ___
Prota. Ora. MariaGuibmar Carneiro Tomazello
~
-;.-/
.-------
Prot. Dr. Jairo-aéAray1o Lopes
/
2
Para Maria José, mãe, exemplo de dignidade e sabedoria.
Para os sempre presentes Prof. Campos e Ms.Clélio
Thomaz.
Para Deus, onipotente e onipresente.
3
Agradeço ao Professor Doutor Jairo de Araújo
Lopes e às Professoras Doutoras Dulce Maria
Pompêo de Camargo, Sônia da Cal Seixas Barbosa
e Maria Guiomar Tomazello.
Agradeço de forma especial aos professores que
colaboraram com esta pesquisa e funcionários do
Programa de Mestrado em Educação, PUC-
Campinas
.
4
RESUMO
CAMPOS, Rosilene Amélia de. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A FORMAÇÃO
DO EDUCADOR CRÍTICO: estudo de caso em uma escola da Rede
Pública. Dissertação de Mestrado em Educação. PUC-Campinas, 2006, 110 p.
Orientadora: Profa. Dra. Dulce Maria Pômpeo de Camargo.
O presente trabalho objetiva contribuir para práticas pedagógicas relacionadas
à formação continuada de professores, promovendo, através da escola, a
compreensão sócio-política das questões ambientais, a partir dos pressupostos
da Educação Ambiental crítica. A pesquisa, realizada por meio de estudo de
caso em uma escola pública que atende alunos do Ciclo II (5ª a 8ª séries do
Ensino Fundamental) da Rede Estadual de Ensino, na cidade de Campinas,
região sudeste do Estado de São Paulo analisou, especificamente, o projeto
“Água hoje e sempre: consumo sustentável” da Secretaria Estadual de
Educação. Nossa opção teórico-metodológica está estruturada em Guimarães
(2000), Tozoni-Reis (2004) e Jacobi (2005). Utilizamos, como instrumental de
investigação e coleta de dados com os sujeitos participantes, diário de campo e
questionário semi-estruturado, com perguntas abertas e fechadas
encaminhadas aos docentes da Unidade em estudo, atuantes no projeto
mencionado. Como resultado desta investigação, constatamos a partir da
proximidade com esses sujeitos, visões ambíguas, especialmente em projetos
de Educação Ambiental, quando procuramos detectar se a prática pedagógica
está em consonância com os pressupostos da Educação Ambiental crítica. Há
ainda, dificuldade em delimitar uma postura crítica ou conservadora dos
professores, que acreditamos estar relacionada a um processo de construção
de novas propostas pedagógicas, nas quais as tendências ainda estão sendo
definidas. Consideramos necessário que seja incentivado na escola um
trabalho coletivo, capaz de desencadear reflexões e ações, levando o professor
a compreender a complexidade das questões ambientais, em um processo
contínuo de formação do professor crítico.
Palavras-chave: Formação de professores, Educação Ambiental, Professor
Crítico.
5
ABSTRACT
CAMPOS, Rosilene Amélia de. THE AMBIENT EDUCATION AND THE
FORMATION OF THE CRITICAL EDUCATOR: study of case in a school of the
Public Net. 110, Teacher Dra. Dulce Maria Pômpeo de Camargo.
The present objective work to contribute for practical pedagogical related to the
continued formation of teachers, promoting, through the school, the social
political understanding of the ambient questions, from the estimated ones of the
critical Ambient Education. The research, carried through by means of study of
case in a public school that takes care of pupils of cycle II (5ª 8ª series of Basic
Ensino) of the State Net of Education, in the city of Campinas, southeastern
region of the State of São Paulo analyzed, specifically, the project “Water today
and always: sustainable consumption” of the State Secretariat of Education.
Our option theoretician-metodológica is structuralized in Guimarães (2000),
Tozoni-Reis (2004) and Jacobi (2005). We use, as instrumental of inquiry and
collects of data with the participant citizens, daily of field and half-structuralized
questionnaire, with open and closed questions directed to the teachers of the
Unit in study, operating in the mentioned project. As result of this inquiry, we
evidence from the proximity with these citizens, ambiguous vision, especially in
projects of Ambient Education, when we look for to detect if practical the
pedagogical one is in accord with the estimated ones of the critical Ambient
Education. It still has, difficulty in delimiting a critical position or conservative of
the teachers, who we believe to be related to a process of construction of new
pedagogical proposals, in which the trends still are being defined. We consider
necessary that a work collective is stimulated in the school, capable to unchain
reflections and action, leading the professor to understand the complexity of the
ambient questions, in a continuous process of formation of the critical teacher.
Word-key: Formation of professors, Ambient Education, Critical
Professor
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................07
CAPÍTULO I
A
EDUCAÇÃO E SUA DIMENSÃO AMBIENTAL
1.
QUESTÃO AMBIENTAL E OS PROBLEMAS CONTEMPORÂNEOS.................................14
2.
OLHAR(ES) SOBRE AS CONFERÊNCIAS AMBIENTAIS.............................................17
3.
ENTRE AVANÇOS E RETROCESSOS....................................................................25
CAPÍTULO II
OS
EDUCADORES E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL
1.
REFLETINDO SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR..............................................34
2.
A FORMAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL...........................................................44
3.
DESAFIOS PARA A FORMAÇÃO DO EDUCADOR CRÍTICO.........................................50
CAPÍTULO III
ARTICULANDO
ENSINO E PESQUISA
1. DAS MOTIVAÇÕES DA PESQUISA AO EDUCADOR-PESQUISADOR.............................55
2.
DO CONTEXTO DA PESQUISA.............................................................................58
3.
OPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA.....................................................................: 61
4.
TRAJETÓRIAS E VIVÊNCIAS EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL......................63
5.
DA SOCIALIZAÇÃO DOS RESULTADOS À NECESSIDADE DE FORMAÇÃO
CONTINUADA........................................................................................................69
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................83
ANEXOS............................................................................................................89
7
INTRODUÇÃO
A partir do advento da Revolução Industrial, inicia-se a consolidação
do modelo capitalista baseado no sistema de fábrica e no trabalho assalariado.
Introduziram-se, assim, novas formas dos homens relacionarem-se entre si e
com o mundo, trazendo, de um lado, uma série de inovações tecnológicas e,
de outro, efeitos negativos, como a exploração do trabalho operário e a
degradação dos recursos naturais.
Instala-se a partir desse contexto, o sistema capitalista que mantem o
ímpeto da exploração do trabalho e dos recursos naturais. Esses fatos
desencadeiam uma série de problemas econômicos e sócio-ambientais, que se
acirram no decorrer do século XX e passam a ser discutidos pela comunidade
internacional, governos e empresários, que também estabelecem debates
sobre o modelo de desenvolvimento capitalista.
Em decorrência, vivemos em um estado de crise de um modelo de
civilização, que não refletiu sobre o modo de produção erigido desde a
Revolução Industrial e, neste sentido, o sistema sociocultural bem como o
educacional encontram-se afetados em seu conjunto pela crise generalizada do
mundo atual, que, como uma situação-limite, coloca a necessidade de
refletirmos sobre os modelos atuais, buscando alternativas que possam
proporcionar condições de substituir as cruéis estruturas do sistema vigente.
Em específico, no âmbito da escola, esta crise contínua e prolongada
tem levado a reformas recorrentes que, a juízo da sociedade, dos responsáveis
políticos, dos agentes educativos e dos próprios usuários do sistema, não têm
conseguido alcançar os objetivos para a melhoria qualitativa da educação.
A insatisfação com a escola parece ser a característica comum de
todas as diversas reformas produzidas e implementadas. A vertiginosa rapidez
8
das transformações sociais da época contemporânea, derivadas de mudanças
econômicas, tecnológicas e produtivas, situa-nos, assim, ante um horizonte
desejoso de freqüentes readaptações e atualizações educacionais e sociais.
Essas considerações são elementos necessários para situar e
entender a necessidade da Educação Ambiental no ensino fundamental, num
contexto geral de transformações sócio-econômicas e de expectativas futuras
em relação à sobrevivência da humanidade.
Em outros termos, entendemos a Educação Ambiental não somente
como resposta aos desafios atuais, mas também na perspectiva de uma
educação crítica e transformadora, capaz de incentivar o desenvolvimento de
valores e atitudes que conduzam os sujeitos da educação a se inserir em
processos democráticos de transformação das modalidades de uso dos
recursos naturais e sociais.
Surge, assim, a necessidade da realização de processos de formação
continuada de professores, para que se reflita posteriormente nas ações
implementadas no cotidiano da escola, partindo do viés Meio Ambiente, tema
transversal
1
constante dos Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo possível
oferecer uma proposta formadora crítica, por inserir o professor-aluno no
processo de autoconstrução do conhecimento.
Concordamos com Jacobi (2005) em que a Educação Ambiental
crítica, como parte componente de um processo educativo, reforça um
repensar da educação orientado para refletir a Educação Ambiental num
contexto de crise ambiental, de crescente insegurança e incerteza face aos
riscos produzidos pela sociedade global, o que, em síntese, pode ser resumido
como uma crise civilizatória de um modelo de sociedade.
Propiciar novas atitudes e comportamentos frente ao consumo na
nossa sociedade e estimular a mudança de valores individuais e coletivos
(JACOBI, 1997) requer um pensamento crítico da Educação Ambiental e,
portanto, a definição de um posicionamento ético-político, estabelecendo o
1
Aqui entendido como conhecimento teórico adquirido mais os conhecimentos sobre questões do
cotidiano, podendo possibilitar a formação desse educador-pesquisador crítico, ou como definem os PCN
‘que esses temas integrem as áreas convencionais de forma a estarem presentes em todas elas,
relacionando-os às questões da atualidade e que sejam orientadores também do convívio escolar (BRASIL,
1998, P.27).
9
ambiente conceitual e político em que a Educação Ambiental pode buscar sua
fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a
sociedade.
Com estas preocupações, no contexto sócio-educacional vivido e
percebido, desenvolvemos nossa pesquisa a partir de um estudo de caso,
realizado em 2005, em uma escola pública da Rede Estadual de Ensino que
atende alunos do Ciclo II (5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental), na cidade de
Campinas, região sudeste do Estado de São Paulo. A partir de vivências em
projetos com ênfase na dimensão ambiental, na unidade escolar em estudo,
focamos a análise no projeto “Água hoje e sempre: consumo sustentável”,
implementado pela Secretaria Estadual de Educação e desenvolvido na Rede
Estadual de Ensino a partir do ano de 2005.
Objetivamos contribuir para o desenvolvimento de práticas pedagógicas
relacionadas à formação continuada de professores, as quais almejamos
transformadoras e emancipadoras, a partir dos pressupostos da Educação
Ambiental crítica.
Nossa opção de pesquisa nasceu das vivências e experiências em
projetos de educação ligados à questão ambiental. Esse percurso teve início no
Curso de Especialização Cidade e Gestão: uma abordagem interdisciplinar, em
uma Instituição de Ensino Superior Privada da cidade de Campinas, no ano de
1997, através da disciplina Ambiente e Desenvolvimento
2
. Esse contato
acadêmico delineou-se como um importante passo na construção do ‘ser
educador’, capaz de interagir com diferentes temas atuais sem perder de vista
a área de formação, percebendo as interrelações entre os aspectos sócio-
econômicos, políticos e naturais que um estudo com enfoque ambiental poderia
suscitar. Posteriormente, a partir do ano 2000, a atuação na docência da Rede
Estadual de Ensino (São Paulo) e na Rede Municipal de uma cidade de
pequeno porte na região metropolitana de Campinas propiciaram vivenciar na
prática determinadas teorias e questões até então vistas pelo ponto de vista
teórico.
Isso nos levou a pesquisar a situação do docente na realidade
educacional brasileira, a partir de observações no âmbito da Rede Estadual de
2
Ministrada pela professora Drª Sonia da Cal Seixas Barbosa em parceria com o professor
Thales de Andrade.
10
Ensino, em especial em uma Unidade de Ensino que atende em sua maioria
alunos oriundos do Parque Oziel e Jardim Monte Cristo (Campinas, SP),
situados na maior ocupação urbana da América Latina. Tal peculiaridade
incitou-nos a questionar e perceber as posturas docentes em projetos
delineados com ênfase na Educação Ambiental.
Construir caminhos como educador-pesquisador é algo que
defendemos, pois acreditamos na existência deste profissional na essência de
cada docente questionado e observado.
Outro fator que nos auxiliou nesse processo de pesquisa em busca de
subsídios para a elaboração de nossa dissertação foi a participação, a partir do
ano de 2004, no Grupo de Pesquisa do Laboratório de Ensino, Sociedade e
Cultura (LESC)
3
.
As pesquisas e atividades realizadas no Grupo de Pesquisa
contribuíram para reflexões teórico-metodológicas, no que se refere à formação
inicial e continuada de professores através de novas perspectivas, de
propostas educativas inovadoras e de novas metodologias de ação. Seus
resultados têm sido socializados em publicações e eventos nacionais e
internacionais e nos encontros quinzenais do grupo, que, através de
discussões teóricas e apresentação de seminários relacionados ao nosso tema
de estudo, contribuíram para o amadurecimento de nossa proposta de
pesquisa.
Procuramos desenvolver, durante o Capítulo I, um olhar crítico sobre as
Conferências Internacionais sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
organizadas pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e
Cultura - UNESCO
4
(Estocolmo-1972 a Rio+10-2002), objetivando destacar o
caráter acrítico ou conservador que a Educação Ambiental pode assumir dentro
dos discursos oficiais e governamentais, fugindo assim de um projeto coletivo
que leve em conta a transformação do trabalho pedagógico e da sociedade.
Entretanto, é importante considerar as discussões atuais referentes à questão
ambiental, trazidas à tona após a realização das referidas conferências.
3
O Grupo de Pesquisa do Laboratório de Ensino, Sociedade e Cultura tem como líder a Professora
Dra.Dulce Maria Pompêo de Camargo da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Mestrado em
Educação, PUC-Campinas.
4
A Unesco é o organismo da ONU responsável pela divulgação e realização dessa nova perspectiva
educativa e realiza seminários regionais em todos os continentes, procurando estabelecer os seus
fundamentos filosóficos e pedagógicos (REIGOTA, 1994, p. 15).
11
Da análise das Conferências Internacionais sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, passando a um estudo dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e Temas Transversais, que trazem em certa medida novas
possibilidades pedagógicas ou caminhos para a construção do conhecimento,
notamos a possibilidade de construir propostas ao percebemos o caráter
ambíguo de determinadas resoluções, isto é, a partir de uma determinação de
governo pode-se implantar uma prática inovadora.
Procedemos, posteriormente, ao estudo das resoluções estabelecidas,
questionando em que medida elas trazem novas possibilidades pedagógicas,
caminhos para a construção do conhecimento ou se simplesmente estão
atuando a serviço da manutenção do status quo prescritos pelos organismos
multilaterais (FMI e BIRD)
5
.
Propomos ainda, no Capítulo I, a análise das abordagens educacionais
conservadora-tradicional e histórico-critica, a partir de autores como Guimarães
(2000), Tozoni-Reis (2004) e Jacobi (2005), refletindo para além de modismos,
percebendo o que é avanço ou retrocesso em um processo de construção do
professor reflexivo.
Levando em conta nesse contexto a figura do professor crítico como
pressuposto para construção do perfil do educador ambiental, refletimos, no
Capitulo II, sobre a formação de professores, a partir da figura do professor
crítico-reflexivo. Uma vez que é possível verificar que propostas e projetos para
a escola não contam com a participação dos professores em sua elaboração,
e, no entanto, cobra-se deles a aplicação de práticas que nem sempre
respondem às necessidades por eles sentidas no cotidiano.
Daí a importância do componente ‘reflexivo’ da educação, muito mais
importante do que o componente, presente no modelo tecnicista e conteudista,
do professor como mero transmissor de conteúdo.
Buscamos, portanto, a formação do professor crítico e reflexivo,
privilegiando a reflexão coletiva e a troca de experiências que venham
contribuir para a transformação de vivências automatizadas que não levam em
conta o contexto histórico vivido.
5
Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) ou Banco Mundial e Fundo
Monetário Internacional (FMI).
12
Por ser um tema imprescindível, abordamos ainda, no Capítulo II, a
política de ensino estabelecida na educação brasileira
6
com relação ao nosso
tema, que interfere na prática pedagógica e na formação de professores e
profissionais da educação atuantes no ensino fundamental e médio,
independentemente de sua área de atuação, principalmente os que manifestam
interesse pelo tratamento do tema transversal
7
: meio ambiente. Esse resgate
parece-nos legítimo na medida em que nosso compromisso e intenção
pretendem contribuir para a reflexão sobre o caráter crítico da educação em
sua dimensão ambiental.
Consideramos que na formação continuada a própria prática
pedagógica do professor é o ponto de partida e o ponto de chegada, localiza-
se aí a importância de se dialogar direta e criticamente com os professores e
seu trabalho pedagógico. A escola, como parte deste processo, pode ter um
papel decisivo e diferenciado, muito mais substantivo do que aquele que vem
tendo. Ela precisa, mais do que se curvar ao mundo do consumo, procurar
desenvolver processos de formação que possam gerar, senão recriar,
indivíduos críticos.
No Capítulo III, delineamos nosso percurso através da atuação
docente na Rede Pública Estadual, sobre as trajetórias e vivências em projetos
e atividades com ênfase na dimensão ambiental, procurando traçar de forma
linear, a partir do ano de 2003, a realização do Projeto Tom do Pantanal e,
posteriormente, em 2004, em atividades de Educação Ambiental em parceria
com uma universidade local. Nos dois momentos, o aspecto principal era a
educação ambiental e percebemos o envolvimento entre professor e aluno em
um movimento de interação a fim de refletir e superar os desafios presentes no
cotidiano.
A partir dessas práticas pedagógicas, na tentativa de contribuir com
posturas pedagógicas ligadas a uma educação transformadora,
operacionalizamos a pesquisa acadêmica, quando, no ano de 2005, foi
6
PNEA - Lei N
o
9795/99 - Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação
Ambiental
.
7
Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, Meio Ambiente MEC/SEF, 1997.
13
realizada a implementação do Projeto “Água hoje e sempre: consumo
sustentável”, sendo que pudemos compartilhar, com 12 docentes da Unidade
de Ensino, perspectivas e ações futuras ligadas aos pressupostos da Educação
Ambiental crítica.
Trouxemos, finalmente no Capítulo III, a reflexão e análise das
trajetórias e vivências dos referidos projetos com ênfase na dimensão
ambiental, através do diálogo expresso com depoimentos coletados com
docentes da Unidade de Ensino ora pesquisada, e relatos e observações, com
base na Avaliação da implementação do Projeto “Água hoje e sempre:
consumo sustentável” realizada pela Diretoria de Ensino Campinas-Leste, no
início de 2006, procurando verificar a presença do educador-pesquisador crítico
no docente da Rede Pública Estadual.
Nas considerações finais, procuramos apresentar as percepções e
reflexões possibilitadas pela pesquisa, levando em conta a visão do professor
com relação à importância do seu compromisso político enquanto educador e
do seu papel crítico como agente de transformação social. Para tanto, os
docentes consideram necessário que seja incentivado um trabalho coletivo,
desencadeando reflexões e ações, levando a compreender as questões
ambientais em um processo contínuo de formação crítica.
Percebemos que não basta propor maior participação nas mudanças,
esta participação tem que ser praticada e refletida. A participação traz como
conseqüência a responsabilidade pelos próprios atos, tornando a ação docente
uma ação consciente e compromissada com as mudanças.
14
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO E SUA DIMENSÃO AMBIENTAL
Acreditamos que já lançamos a estrela, e
quem souber enxergar, poderá vive abraçado
nela (Pablo Milânes e Chico Buarque de
Holanda – In Canción por la Unidad Latino
América).
1 Questão ambiental e os problemas contemporâneos
Pensar sobre a questão ambiental no limiar do século XXI, levando em
conta conceitos como Educação Ambiental e Meio Ambiente, se torna
necessário, pois acreditamos que as bases da educação, assim como o
modelo sócio-econômico no qual nossa sociedade está organizada, se
tornaram insustentáveis no decorrer do século XX.
Segundo Jacobi (2005), vive-se, no início do século XXI, uma crise de
estilo de pensamento, dos ideários sociais, dos pressupostos epistemológicos
e dos conhecimentos que sustentam a modernidade. Uma crise do ser no
mundo que se manifesta em toda sua plenitude: nos espaços internos do
sujeito, e nos espaços externos, na degradação da natureza e da qualidade de
vida das pessoas.
15
O século XX nos apresentou fatos e conflitos, em um planeta que se
desenvolveu tecnologicamente, mas não do ponto de vista sócio-ambiental. A
educação, nesse contexto, tem sido apontada como solução para os problemas
que afligem a humanidade. Entretanto, encontra-se inserida numa sociedade
capitalista, urbano-industrial, em que a escola, segundo Enguita (1989), como
uma instituição gerada dentro do e para o sistema capitalista, acaba
reproduzindo as relações existentes na sociedade.
Essas observações preliminares têm por finalidade mostrar que a
problemática ambiental deve ser tratada na agenda política nacional e
internacional para que as ações decorrentes sejam refletidas e sentidas nos
diversos níveis da atuação humana.
Guimarães (2004) ressalta: “forjamos uma sociedade de extremos e
somos forjados nela”, pois assiste-se à disseminação de um padrão de
consumo acompanhado por um processo de escassez de recursos naturais,
que cria, assim, a degradação ambiental como reflexo de um modelo, ou seja,
processo e produto da sociedade moderna. Portanto, a sociedade deve ser
apreendida como um processo em construção e a escola podendo ter um papel
decisivo, diferenciado, muito mais substantivo do que o que vem tendo. Mais
do que se curvar ao mundo do consumo, a escola deveria desenvolver
processos de formação que possam gerar, senão recriar, indivíduos críticos.
A inserção da educação em uma dimensão ambiental, junto a
educadores e educandos, tendo a escola/universidade como locus da formação
do indivíduo, auxiliará na construção de um conhecimento crítico, a partir de
uma visão ampla da realidade em que se vive. Por isso, é imprescindível a
criação de espaços de diálogos e discussões na escola/universidade, dada a
importância da construção do conhecimento e formação de cidadãos que ali se
encontram.
Pensar em uma escola transformadora da realidade e ir, portanto, na
contramão da função reprodutivista, é tarefa árdua de uma educação que
adjetivamos de ambiental.
Carvalho (1998) aponta que o adjetivo ambiental é utilizado para
designar o conjunto heterogêneo de atores e a diversidade de práticas, crenças
e valores, sendo necessário compreender as várias dimensões da questão
ambiental e refletir sobre o percurso que levou o planeta ao atual estado de
16
degradação, tanto do ponto de vista dos recursos naturais, quanto no que
tange ao ser humano.
As várias pedagogias
8
que têm atravessado o pensamento educacional
trazem embutido o humanismo tradicional e a crise ambiental é vista como algo
à parte; isto faz com que não ocorra avanço do ponto de vista da produção do
conhecimento e muito menos da reflexão crítica sobre os problemas sócio-
ambientais. Mantêm, ainda, uma estrutura de valores pautada em abordagens
reducionistas da realidade: aquelas que apresentam uma visão fragmentada e
acrítica da questão sócio-ambiental; aplicam metodologias disciplinares não
participativas e de baixa criatividade; propõem respostas comportamentais e
tecnológicas para problema complexos, desprezando aspectos políticos, éticos
e culturais (LIMA, 2003).
Percebemos, em nossos estudos, que as Conferências Internacionais
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizadas pela Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO
9
, levam em conta
o caráter oficial das propostas atreladas a uma concepção de Educação
Ambiental, de acordo com a visão dos países participantes, que, embora
tragam discursos inovadores, direcionam suas expectativas aos interesses
econômicos, em detrimento da questão sócio-cultural.
Esse resgate é justificado devido à necessidade de refletirmos sobre o
caráter crítico da educação em sua dimensão ambiental. Entendemos que esta
se dá como resposta aos desafios atuais, no âmbito da educação, numa visão
ligada a um compromisso ético, em contraposição à educação conservacionista
ou pontual, ligada a uma visão tradicional de transmissão de conteúdos.
Por ser imprescindível, abordaremos, portanto, no Capítulo II, a política
de ensino estabelecida na educação brasileira que, por guardar relação com
nosso tema, interfere na prática pedagógica e na formação de professores e
profissionais da Educação Básica, independentemente da área de atuação, já
8
Superação das Pedagogias Tradicionais - Superação da Pedagogia Tradicional, propriamente dita – por
sua ênfase na organização, no ensino baseado no professor, no planejamento, na avaliação objetiva e
quantificável e do Pragmatismo (escola nova) – por sua ênfase na psicologia infantil, na aprendizagem
centrada no aluno, no empírico, na mudança de comportamento como um ato individual livre de restrições
sociais (LOUREIRO, 2004).
9
A partir desses seminários, um grande número de textos, artigos e livros foram publicados pela UNESCO
em diversas línguas (REIGOTA, 1995, p. 15).
17
que é esperado que desenvolvam trabalhos ligados ao tema transversal meio
ambiente.
Nesta perspectiva, contextualizamos as Conferências Ambientais
Internacionais, realizadas no período de 1972 a 2002
10
, e passamos,
posteriormente, a um estudo-síntese das resoluções estabelecidas,
questionando em que medida trazem novas possibilidades pedagógicas,
caminhos para a construção do conhecimento ou verificando se simplesmente
estão ocorrendo a serviço da manutenção do status quo prescrito pelos
organismos multilaterais (NORONHA, 2002).
2 Olhar(es) sobre as Conferências Ambientais
Ao apresentarmos um estudo-síntese das Conferências Ambientais
realizadas a partir da década de 70, é importante refletirmos sobre os
elementos sócio-econômicos trazidos à tona para explorarmos a maneira como
a questão ambiental vem sendo construída, via órgãos governamentais, e a
forma como a Educação Ambiental vem sendo inserida nos projetos escolares.
É preciso refletir sobre a viabilidade e aplicabilidade de documentos e leis
aprovados no período analisado, principalmente o intitulado Agenda 21
11
, cuja
análise auxiliará em nosso objeto de estudo, que tem como um dos principais
desafios e propostas no Brasil:
Implementar a formação continuada em Agenda 21. Promover
a educação para a sustentabilidade através da disseminação e
intercâmbio de informações e experiências por meio de cursos,
seminários, workshops e de material didático (
CNUMAD,
1992).
10
Convocadas pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU): 1972 - Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, Estocolmo; 1975 - Seminário Internacional sobre
Educação Ambiental, Belgrado, Iugoslávia; 1977 - Conferência Intergovernamental sobre Educação
Ambiental em Tbilisi, Geórgia – URSS; 1992 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, Rio de Janeiro, Brasil e a Cúpula Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável – Rio +10, 2002 em Joanesburgo. África do Sul.
11
A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por organizações do
sistema das Nações Unidas, governo e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana
impacta o meio ambiente. Abordaremos principalmente o capítulo 36 referente à Promoção do Ensino, da
conscientização e do treinamento (
CNUMAD, 1992).
18
De acordo com Leff (2001), a questão ambiental, com sua
complexidade, surge no último terço do século XX (final dos anos 60 e começo
da década de 70), compartilhando o sintoma de uma crise de civilização que se
manifesta pelo fracionamento do conhecimento e pela degradação do
ambiente, guiados pela racionalidade tecnológica e pelo livre mercado.
Justifica-se, portanto, como nosso recorte temporal a década de 70,
marcada pelo fortalecimento do movimento ambientalista, principalmente após
a realização de discussões em âmbito mundial relacionadas à temática Meio
Ambiente, Desenvolvimento e Educação, chegando inclusive a um consenso
quanto às estratégias para a educação e para um modelo de desenvolvimento.
Não obstante, podemos encontrar trabalhos pioneiros, como a obra “A
Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, cientista e ecologista americana,
lançada em 1962, considerada um marco na literatura ambiental. A autora
desenvolve um questionamento crítico e precursor, ao tratar do uso
indiscriminado de substâncias tóxicas na agricultura, alertando para a
crescente perda da qualidade de vida e, conseqüentemente, para os
desequilíbrios ecológicos dele resultantes. Tal alerta contribui para chamar a
atenção para a necessidade da sociedade se preocupar com problemas de
conservação de recursos naturais, em que a dimensão técnica extrapola para a
questão social. Entre outras publicações, por exemplo, o trabalho de Paul
Ehrlich -The population Bomb,de1966 - relaciona a degradação ambiental e a
dos recursos naturais ao crescimento populacional, alertando para o
crescimento exponencial da população mundial e para a inviabilidade da
civilização moderna.
Nesse contexto, é importante ressaltar que, até então, a questão
ambiental era tratada do ponto de vista naturalista
12
e que o ano de 1968 é
marcado por alguns acontecimentos como a publicação do Relatório do “Clube
de Roma”
13
, onde o tema extrapola o meio científico e a crise ambiental
começa a ganhar seu espaço no meio empresarial. Considerado alarmista, o
12
Visão que leva em conta somente os aspectos técnicos e naturais dos problemas ambientais.
13
Em 1968, estimulados por um industrial italiano, um grupo de 30 pessoas, procedentes de 10 países e
exercendo diferentes atividades profissionais, se reuniu para debater ‘os dilemas atuais e futuros da
espécie humana’(AMARAL, 1999, p. 2).
19
relatório ‘Limites do Crescimento’ observava que os limites mais cruciais para o
crescimento sócio-econômico da humanidade eram: população, recursos
naturais, produção agrícola, poluição e produções industriais. Este relatório
apontava rumos catastróficos sobre o futuro da humanidade, e argumentava de
forma alarmante que a sociedade se confrontaria dentro de poucas décadas
com os limites do seu crescimento por causa do esgotamento dos recursos
naturais. Com a pretensão de ‘relocalizar’ o capitalismo em escala mundial, foi
duramente criticado pelos então chamados ‘países do Terceiro Mundo’, pois
apontava para um cenário de impossibilidade da perpetuação do crescimento
econômico em razão da exaustão dos recursos naturais por ele acarretada,
levantando, assim, a proposta de um crescimento econômico ‘zero’, ou seja, os
países desenvolvidos querendo ‘fechar a porta’ do desenvolvimento aos países
pobres, com uma justificativa ecológica.
Os sérios problemas ambientais que afetavam o mundo naquele
momento foram as causas, em 1968, da convocação, pela Assembléia Geral
da Organização das Nações Unidas (ONU), da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que veio a se realizar em junho de
1972 em Estocolmo. Essa Conferência chamou a atenção das nações para o
fato de que a ação humana estava causando séria degradação da natureza e
criando severos riscos para o bem-estar e para a própria sobrevivência da
humanidade. Entretanto, foi marcada por uma visão antropocêntrica de mundo,
em que o homem é tido como o centro de toda a atividade realizada no planeta,
desconsiderando o fato da espécie humana ser parte da cadeia ecológica que
rege a vida na Terra, sem apresentar, portanto, uma visão integrada de mundo.
A importância da Conferência de Estocolmo, ao nosso ver, está no fato
de ter sido a primeira vez em que a comunidade internacional se reuniu para
discutir o meio ambiente global e as necessidades de desenvolvimento.
Reuniu, também, pela primeira vez, países industrializados e em
desenvolvimento, o que deu início, posteriormente, a uma série de
Conferências da ONU que trataram de áreas específicas, como Educação
Ambiental, alimentação, moradia, populão, direitos humanos e gênero. A
Conferência levou à criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) e a uma maior compreensão da necessidade de direcionar
o modo como olhamos para o meio ambiente.
20
Chama-nos a atenção, nesse contexto, a Educação Ambiental que
ganha status de assunto oficial na pauta de organismos internacionais.
Segundo Grün (1996), na recomendação número 96 da Declaração de
Estocolmo, a Educação Ambiental tem uma importância estratégica na busca
pela qualidade de vida.
A referida Conferência (Estocolmo) foi marcada, entretanto, pelo
confronto entre as perspectivas dos países desenvolvidos, estruturados a partir
de um modelo de desenvolvimento econômico e as dos países em
desenvolvimento, que buscam o atingir o mesmo modelo. Os países
desenvolvidos estavam preocupados com os efeitos da devastação ambiental
sobre a Terra, propondo um programa internacional voltado para a
conservação dos recursos naturais do planeta, pregando que medidas
preventivas teriam que ser encontradas imediatamente para que se evitasse
um grande desastre, podendo inclusive inviabilizar o modelo de acumulação
existente. Por outro lado, os países em desenvolvimento argumentavam que
se encontravam assolados pela miséria, com graves problemas de moradia,
saneamento básico, atacados por doenças infecciosas e que necessitavam
desenvolver-se economicamente, ou seja, buscavam esse modelo para si e
rapidamente. E, neste contexto, questionavam a legitimidade das
recomendações dos países ricos que já haviam atingido o poderio industrial
com o uso predatório de recursos naturais e que queriam impor complexas
exigências de controle ambiental que poderiam encarecer e retardar a
industrialização dos países em desenvolvimento.
Ficam evidentes, nesse período, as divergências mundiais sobre a
exploração dos recursos naturais, a industrialização e a expansão demográfica.
Nesse contexto, em pleno regime militar (1964-1985), o Brasil manifestou-se no
sentido de que a pior poluição é a miséria. Surge, assim, a explosão de
problemas ambientais como: o impacto da construção da Rodovia
Transamazônica, da poluição da rede hidrográfica paulista, das atividades do
Pólo Petroquímico de Cubatão, entre outros (AMARAL, 1995).
Ainda que de forma pontual, no Brasil, no início dos anos 70, começam
as primeiras ações ambientalistas. Com a anistia, em 1979, exilados políticos
puderam retornar ao Brasil, trazendo consigo a vanguarda do debate ecológico
21
europeu. O fim da ditadura e o processo de democratização possibilitaram um
aumento na quantidade de informações disponíveis, atingindo um público que
antes desconhecia o problema. A entrada de idéias provenientes de países
onde a questão ambiental já estava mais desenvolvida contribuiu para
enriquecer o nascente movimento ecológico brasileiro.
Conforme entendimento de Brugger (1994), a discussão ambiental
surge, no Brasil, no contexto da ditadura militar, momento em que a esquerda
acreditava numa revolução antiimperialista, de caráter popular, com apoio da
burguesia nacional. Entretanto, esta burguesia também acreditava que a pior
forma de poluição era a pobreza e tentou atrair capital externo. As empresas
estrangeiras colocaram exigências para a realização de investimentos no Brasil
e declararam que sem preservação não haveria dinheiro. Assim, antes mesmo
que se houvesse enraizado um movimento ecológico aqui, o Estado tratou de
criar diversas instituições para gerir o meio ambiente, a fim de possibilitar a
entrada dos investimentos pleiteados.
Segundo Tozoni-Reis (2004), a década de 60 pode ser considerada
como uma referência quanto à origem das preocupações com as perdas da
qualidade ambiental e, nesse contexto, 1972 é considerado um ano histórico
para o movimento ambientalista mundial com a realização da Conferência de
Estocolmo. A partir daí, a UNESCO assumiu a organização de discussões
regionais e internacionais de Educação Ambiental realizando, entre outros
eventos, o Seminário Internacional sobre Educação Ambiental em Belgrado,
Iugoslávia, em 1975 e a Conferência Intergovernamental sobre Educação
Ambiental em Tbilisi, Geórgia - URSS, em 1977, eventos previstos quando da
realização da Conferência de Estocolmo.
Em 1975, a UNESCO, no seminário em Belgrado, reuniu especialistas
em educação e áreas afins ligadas ao meio ambiente. Nessa reunião, foi
elaborado o documento básico da Educação Ambiental, conhecido como Carta
de Belgrado, assinada por representantes de 65 países e que definia a
estrutura e os princípios básicos da Educação Ambiental, identificando o
crescimento econômico com controle ambiental como o conteúdo da nova ética
global.
De acordo com Tozoni-Reis (2004), no Seminário de Belgrado (1975),
discutiu-se a necessidade de se desenvolver programas de Educação
22
Ambiental em todos os países membros da ONU. A principal preocupação,
naquele momento, foi divulgar a necessidade de uma política de Educação
Ambiental de abrangência regional e internacional a partir de diretrizes gerais
enfatizando a importância das ações regionais. A Educação Ambiental é
colocada, portanto, como um dos elementos fundamentais para a investida
geral contra a crise ambiental alardeada pelo Clube de Roma. No entanto, a
construção dessa nova ética, como meta educativa tem, nesse documento,
caráter individual e pessoal. Os objetivos da Educação Ambiental ali expressos
são conscientização, conhecimento, atitude, habilidade, capacidade de
avaliação e participação.
Em Tbilisi
14
(1977), uma conferência mundial voltada especificamente
para a Educação Ambiental, novamente o discurso oficial define a Educação
Ambiental como uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação,
orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente e de
uma participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade
15
, isto
é, são reiterados os princípios estabelecidos em Estocolmo, reforçando a
recomendação 96
16
sobre o papel estratégico da Educação Ambiental. A
declaração produzida nessa reunião contém ainda objetivos, estratégias,
características, princípios e recomendações para a Educação Ambiental que
foram aperfeiçoados em publicações posteriores da UNESCO. Nesse
documento, encontram-se, por exemplo, recomendações para que a Educação
Ambiental aconteça tanto ao nível da educação formal quanto da informal,
envolvendo pessoas de todas as idades.
Essa Conferência destacou-se das demais por criar um quadro teórico-
metodológico para a concretização da Educação Ambiental, sugerindo uma
reorientação do processo educacional, com um plano de ação para a
implementação da Educação Ambiental ao longo da década de 90. Segundo
Grün (1996, p. 18), a Conferência de Tbilisi tem sido apontada como um dos
14
Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental Aos Países Membros - Tbilisi, Geórgia,
URSS, de 14 a 26 de outubro de 1977.
15
Recomendação nº 1 – outubro de 1977 – Tbilisi.
16
A Recomendação 96 da Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano nomeia o
desenvolvimento da Educação Ambiental como um dos elementos mais críticos para que se possa
combater rapidamente a crise ambiental do mundo. Esta nova Educação Ambiental deve ser baseada e
fortemente relacionada aos princípios básicos delineados na Declaração das Nações Unidas na Nova
Ordem Econômica Mundial. Fonte Carta de Belgrado – disponível no site
<http://www.pr.gov.br/meioambiente/educ_carta.shtml>, acessado em 20/05/2006.
23
eventos mais decisivos nos rumos que a Educação Ambiental vem tomando
em vários países do mundo, inclusive no Brasil.
Em 1983, a ONU criou a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, presidida pela primeira ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland. Como resultado de suas pesquisas, a Comissão publicou em 1989,
o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, o qual recomendava a realização de uma
Conferência que tratasse principalmente do tema “Desenvolvimento
Sustentável”. Surgem, nesse contexto, os termos ‘nova ordem mundial’ e
‘sustentabilidade’, que foram introduzidos na discussão ambientalista.
O relatório ‘Nosso Futuro Comum’ preparou o terreno para a realização
da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento –
CNUMAD -, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992, conhecida também como
Cúpula da Terra, Conferência do Rio ou simplesmente Rio-92. Nesse evento,
revisitou-se o documento de Tbilisi para a Educação Ambiental na Agenda 21,
em especial o Capitulo 36, retomando, recontextualizando e ampliando
princípios e recomendações. No documento encontramos três eixos de
organização da Educação Ambiental em nível internacional: reorientação do
ensino para o desenvolvimento sustentável, aumento da consciência pública e
promoção do treinamento
17
. Com essa preocupação, a proposta foi a de
reorientar o ensino formal e informal modificando atitudes e comportamentos
pela aquisição de conhecimentos e valores.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD) – Rio 92 – constitui-se em um momento
importante para a institucionalização da problemática ambiental, sendo que os
temas da sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável foram adotados
como referenciais que presidiram todo o processo de debates, declarações e
documentos formulados. Apesar do objetivo ter sido a institucionalização da
problemática ambiental, os resultados da Conferência ficaram aquém dos
pretendidos pelos organismos proponentes, e a discussão ambiental sofreu
uma refração em que, de um lado, se consagra a separação entre negociações
em torno de acordos ambientais globais e aquelas referentes à implementação
17
O ensino, inclusive o ensino formal, a conscientização pública e o treinamento devem ser reconhecidos
como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podem desenvolver plenamente suas
potencialidades (Agenda 21, Capítulo 36).< disponível em www.amavida.org.br/agenda21.php,> acessado
em 01/3/2006.
24
de projetos de desenvolvimento sustentável de âmbito nacional, notadamente a
Agenda 21.
Reigota (1999), por outro lado, menciona que esses encontros
(Estocolmo-972 a Rio-92) permitiram debates e trocas de experiências entre os
especialistas de todo o mundo; entretanto, pela própria característica da
UNESCO, os trabalhos apresentados foram os realizados nas esferas oficiais
com propostas e perspectivas sobre Educação Ambiental pela visão restrita
dos governos dos respectivos países, ou seja, as Conferências ambientais
foram elaboradas e discutidas apenas por vias governamentais, em detrimento
da sociedade civil.
Nesse sentido, continuando nosso trabalho-síntese, é importante
ressaltar a realização concomitante, durante a Rio-92, do Fórum Internacional
das ONGs que pactuaram o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global. Esse documento merece destaque
por se constituir de posições não-governamentais, isto é, de posições da
sociedade civil, organizada em entidades ambientalistas, que reconhece a
educação:
Como direito dos cidadãos e firma posição na educação
transformadora, convocando as populações a assumirem
suas responsabilidades, individual e coletivamente e a
cuidar do ambiente local, nacional e planetário. Para isso a
Educação Ambiental tem como principais objetivos contribuir
para a construção de sociedades sustentáveis e eqüitativas
ou socialmente justas e ecologicamente equilibradas e
gerar, com urgência, mudanças na qualidade de vida e
maior consciência de conduta pessoal, assim como
harmonia entre os seres humanos e destes com outras
formas de vida (TOZONI-REIS, 2004, p. 86).
O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global, que estabelece 16 princípios fundamentais da
educação para as sociedades sustentáveis, enfatiza a necessidade de um
pensamento crítico, de um fazer coletivo e solidário, da interdisciplinaridade, da
multiplicidade e diversidade. Estabelece, igualmente, um conjunto de
compromissos coletivos para a sociedade civil planetária (JACOBI, 2005).
25
Em outros termos, o Tratado afirma que a Educação Ambiental não é
neutra, mas ideológica, colocando-a numa perspectiva holística e ressalta que
a interdisciplinaridade é de fundamental importância para que a educação
possa assumir seu papel na construção de sociedades sustentáveis, pela
promoção do pensamento crítico e inovador dos sujeitos/educandos,
respeitando a diversidade cultural e promovendo a integração entre as culturas.
A Educação Ambiental deve estar organizada, segundo a recomendação do
documento, na educação formal, não-formal e informal e para todas as idades,
exigindo a democratização dos meios de comunicação e integrando
conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações.
Esse documento, produzido pelas ONGs, enquanto representantes da
sociedade civil organizada, apresenta um discurso mais avançado e
independente e tem sido usado como uma das principais referências ético-
políticas e teóricas pelos estudiosos da questão.
3 Entre Avanços e Retrocessos
As expectativas geradas com os avanços ocorridos no contexto da Rio-
92 se reduzem significativamente antes e depois da mais recente Cúpula
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Rio +10,
realizada em 2002 em Joanesburgo, na qual não se concretizaram os objetivos
de aprofundar o debate em torno do desenvolvimento sustentável e
praticamente não foram acordados novos passos nem no plano teórico, nem no
das medidas práticas.
Conforme leitura de Tozoni-Reis (2004) e Guimarães (2004), apesar
dos avanços ocorridos em alguns setores, os princípios de proteção ambiental
continuam a ser considerados um entrave para o crescimento econômico, e os
resultados estão à mostra: perda de biodiversidade, degradação da qualidade
sócio-ambiental nas grandes cidades dos países em desenvolvimento e
redução dos recursos não renováveis. Em nosso entendimento, partindo de
Estocolmo (1972), onde a discussão ambientalista começa a tomar forma e
26
conteúdo em nível mundial, a reflexão ética e social sucumbe novamente à
questão econômica, visto que o embate para uma mudança de valores e
compromissos esbarra na realidade concreta via degradação ambiental e
interesses econômicos.
Cabe ressaltar, entretanto, que a proliferação de posições favoráveis
ou contrárias é um sintoma positivo, já que os debates atuais sobre a
problemática ambiental eram impensáveis há alguns anos. Isto mostra que as
mudanças são possíveis, e que a questão da sustentabilidade tem muitas
leituras, algumas contraditórias e outras convergentes, apesar de poderem ser
apropriadas de forma diferenciada pelos grupos e pessoas que atuam numa
perspectiva de propor uma sustentabilidade articulada a novas realidades
materiais e novas posições epistemológicas (JACOBI, 2005).
De um modo geral, o conjunto de documentos oficiais elaborado nas
Conferências é aceito, conforme nosso entendimento, como referências
neutras e legítimas e utilizadas de uma forma relativamente acrítica por grande
número de agentes sociais envolvidos com a questão ambiental. No entanto,
há estudiosos, como Lima (2003) e Novaes (1993), que os analisam
criticamente, chamando a atenção para suas contradições, nem sempre
aparentes, suas omissões e principais norteametos ideológicos.
Nesses 40 anos, desde Estocolmo a Joanesburgo, (Rio+10), nota-se
uma certa despolitização e diluição do debate ambiental: temas como
condenação do colonialismo e do apartheid (então vigentes na África do Sul) e
o apelo à eliminação de armas de destruição são deixados de lado nas
discussões da Rio+10.
Novaes (1993), comparando as propostas da Conferência de Tbilisi, de
1977, com aquelas do Fórum das Ongs e Movimentos Sociais de 1992 -
Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis - conclui
que, embora as referências básicas de Tbilisi tenham sido mantidas, alguns
avanços importantes merecem registro. Destaca a incorporação de elementos
da educação popular que aprofunda as questões sócio-políticas no interior da
proposta de Educação Ambiental. Ressalta, ainda, a crítica ao modelo de
desenvolvimento capitalista, que se expressa na substituição do conceito de
desenvolvimento sustentável pelo de sociedade sustentável.
27
Lima (2003) tece críticas ao discurso da sustentabilidade e alerta para
uma ‘sustentabilidade de mercado’ que não responde necessariamente à crise
social, já que a racionalidade inerente ao mercado se orienta para a
concentração e não para a distribuição de riquezas e oportunidades (p.106)
Considerando ser a Educação Ambiental de extrema importância para
o equilíbrio desejado na sociedade contemporânea, resta-nos uma questão
crucial: como conseguir o apoio e a compreensão pela grande maioria da
população mundial, ou seja, medidas governamentais ou de ONGs terão pouco
impacto se não forem acompanhadas do apoio popular. Tal compreensão e
apoio demandam conhecimento, ou ainda são dependentes de processos
educacionais em que façam parte a formação continuada, informação,
discussão e debate das questões que afetam o ecossistema do planeta,
contemplando temas como: ética, justiça socioambiental e padrões de
consumo.
Brugger (1994), analisando propostas oficiais do documento “Estratégia
Internacional de Ação em Matéria de Educação e Formação Ambientais para o
decênio de 1990”
18
, do PNUMA/UNESCO, aponta sua tônica de predomínio
técnico e naturalizante em detrimento dos aspectos éticos e políticos da
questão ambiental. Segundo a autora, o conteúdo do documento revela uma
tendência a uma educação adestradora que ela define como “uma instrução de
caráter, essencialmente técnico, fruto de uma visão de mundo cientificista e
unidimensional” (BRUGGER,1994, p.14). Esclarece, ainda, que, sob a fachada
de um saber ‘técnico’, pode-se ocultar uma decisão política.
Cabe ressaltar que o estudo da educação com ênfase na dimensão
ambiental tem caráter multifacetado e pluridimensional, como afirma Lima
(1999):
(...) a questão ambiental revela o retrato de uma crise
pluridimensional que aponta para a exaustão de um determinado
modelo de sociedade que produz, desproporcionalmente, mais
problemas que soluções e em que as soluções propostas, por
sua parcialidade, limitação, interesse ou má fé, acabam por se
constituir em novas fontes de problemas” (p.110).
18
PNUMA –Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Este documento foi apresentado em duas
partes: a primeira de caráter histórico-avaliativo e a segunda sobre o plano de ação. Algumas ações
prioritárias foram indicadas: o intercâmbio de informações, experiências e pesquisas; a formação de
pessoal docente e a avaliação sistemática dos planos de estudo dos currículos escolares – disponível no
site < http://www.pea.uem.br/teia/2000-dez/5.html>, acessado em 02/10/2005.
28
Portanto, em virtude dos problemas sócio-ambientais e da sua
abrangência, consideramos que a incorporação da dimensão ambiental em
projetos de educação, compreendendo diversas áreas do conhecimento, é
tarefa necessária a ser construída. O aprofundamento e reflexão de processos
educativos se apresentam como uma condição sine qua non para construir
uma nova racionalidade ambiental que possibilite modalidades de relações
entre sociedade e natureza, entre o conhecimento científico e as intervenções
técnicas no mundo, nas relações entre os grupos sociais diversos e entre os
diferentes países em um novo modelo ético, centrado no respeito e no direito à
vida em todos os aspectos.
Sem a pretensão de assumir uma postura maniqueísta ou dualista, ao
separar, de um lado, as propostas governamentais, de onde partem resoluções
oficiais, e, de outro, as propostas da sociedade civil organizada (ONGs por
exemplo), propomos um diálogo entre as partes para, assim, construirmos
propostas profícuas a partir de um referencial teórico que possibilite a
educação crítica e emancipadora, para avançarmos na construção de práticas
pedagógicas em consonância com uma mudança de valores e
comportamentos. Reiteramos ainda que, no atual estado do mundo, dentro da
ótica capitalista neoliberal, uma série de questões não se afinam minimamente
pelo direito à vida, muito menos pela educação de qualidade e que objetiva a
participação do cidadão na solução dos problemas que afetam a humanidade.
Nesse contexto, Guimarães (2004) ressalta:
De um lado, a opulência da riqueza e do consumo, com sua sede
insaciável de exploração de recursos naturais a qualquer custo
(socioambiental), transformando os recursos em bens materiais e
descuidando-se dos resíduos do processo e do descarte dos
produtos consumidos. Do outro, a debilidade da miséria com sua
insalubridade e um modo de vida sem oportunidades, em que só
resta a luta pela sobrevivência a qualquer custo ( socioambiental) (p.
37)
Nesse sentido, são oportunas as idéias de Orr (1992) ao mencionar
que os ideais ambientais requerem uma nova postura da sociedade, ou como
ressalta, tornada possível através da educação do povo naquilo de que ele
necessita para viver e com responsabilidade num mundo com recursos naturais
finitos. Argumenta, ainda, que, na medida em que o povo vem conhecendo o
29
fracasso do capitalismo através do processo de conscientização ambiental,
mais esses ideais ganharão evidência, ou seja, aponta a necessidade de
mostrar o fracasso do capitalismo via degradação ambiental.
Entendemos que o processo de conscientização, análise e reflexão que
pode ser construído no espaço escolar se dará a partir do momento em que a
relação educador/educando possibilite o conhecimento crítico, frente ao
complexo modelo de desenvolvimento vigente. Consideramos, ainda, que essa
relação pode propiciar mudanças de atitudes e valores, que vão além de
somente tecer crítica. Portanto, a escolha por uma Educação Ambiental crítica
determina também uma concepção de educação que é uma decisão política a
ser tomada pelos educadores.
Nesta perspectiva crítica, a Educação Ambiental constróe-se pelo
estabelecimento de um caráter contra-hegemônico como oposição ao
paradigma cartesiano, cientificista, mecanicista e conservador, ligado à
sociedade urbana industrial, tecnológica e globalizada. A visão conservadora,
segundo Guimarães (2004), refere-se ao caráter antropocêntrico de nossa
civilização, onde a lógica prevalecente é a do homem separado da natureza e
não pertencente a ela. Guimarães (2000) ressalta que a Educação Ambiental
intitulada conservadora prima pelo individualismo – no qual as relações sociais
são secundarizadas no trabalho pedagógico.
Para Grün (1996), a busca da superação do cartesianismo no discurso
científico contemporâneo tem-se dado de forma apressada, sendo que a
procura de um novo paradigma é a maior preocupação da ou para a educação
ambiental. Pensamos que Educação Ambiental é também educação. Educação
em suas várias dimensões. Portanto, é preciso considerar a formação do
homem no espaço educacional mais amplo ou no espaço educacional mais
restrito - a escola. Em ambos os sentidos é preciso levar em conta o caráter
sócio-histórico do homem.
Ao diferenciarmos as concepções de Educação Ambiental
apresentadas, podemos perceber a apropriação ideológica que dela podem
fazer grupos dominantes de acordo com seus interesses, deixando em
segundo plano considerações éticas e políticas associadas a valores
biocêntricos de participação política e justiça social (LIMA, 2003, p. 108). Para
30
contrapor a educação conservadora à crítica, deve-se estar ligado a um
processo social que possibilite a formação de cidadãos comprometidos com a
questão sócio-ambiental (GUIMARÃES, 2004).
Fala-se muito sobre a importância da preservação da natureza, o que
nos parece um consenso. Contudo, a sua importância parece antes responder
a uma lógica capitalista de mercado do que a uma conscientização em relação
à vida.
Ter em nossos dias a visão de consenso sobre a problemática
ambiental não significa que haja uma visão única para a resolução e reflexão
dos mesmos.
Nesse sentido, Carvalho (2001), ao refletir sobre o embate em torno da
Educação Ambiental, anuncia que o horizonte histórico-cultural desse debate
está irremediavelmente atravessado por uma multiplicidade de interesses e
projetos sociais que vão disputar diferentes interpretações sobre o ambiental.
Percebemos que a visão de consenso interessa ao discurso
educacional relacionado ao projeto conservador neoliberal, ou seja, aquele que
atende às necessidades do mercado para o desenvolvimento estritamente
econômico. Portanto, o debate sobre a relação entre educação e meio
ambiente se desenvolve no contexto de problematização da própria crise
ambiental e se institucionaliza através da iniciativa da Organização das Nações
Unidas - ONU, e de seus países membros, que promoveram os primeiros
encontros internacionais para discutir, estabelecer diretrizes, normas e
objetivos para o problema.
Carvalho (1998) observa o debate ecológico dos anos 70 como uma
disputa de forças que busca afirmar uma determinada interpretação do
problema socioambiental, e apresenta o discurso ecológico oficial - produzido
pelos organismos governamentais nacionais ou internacionais - como um
mecanismo para instituir, mundialmente, uma interpretação da crise ecológica
como uma única verdade. É preciso dar voz a outros setores, para dialogarmos
com outras possibilidades de ação e formação; pois:
31
Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, ficou claro que a
preocupação dos organismos internacionais quanto ao meio
ambiente era produzir uma estratégia de gestão desse ambiente,
em escala mundial, que entendesse a sua preservação dentro de
um projeto desenvolvimentista. Dentro dessa perspectiva
produtivista, o que se queria preservar de fato era o modelo de
acumulação de riquezas onde o patrimônio natural passava a ser
um bem. O apelo à humanidade e ao bem-estar dos povos era
usado como álibi, sempre citado ao lado dos objetivos de
crescimento econômico, emprestando uma preocupação humanista
a intenções não tão nobres (CARVALHO apud RIBEIRO,1991: 79).
Nessa mesma direção, Guimarães (2000) ressalta que a visão de
consenso pode ocultar um novo discurso educacional do projeto conservador-
neoliberal, postura esta que serve (ou está a serviço) a uma concepção de
sociedade e seu projeto de educação hegemônico. Reitera, ainda, que o
discurso oficial, no viés da educação ambiental, imprime aos indivíduos e à
coletividade uma cidadania planejada e bem comportada, pois tem como
referência os limites da democracia liberal, ou seja, uma democracia e
cidadania ditadas pela lógica capitalista. Nesse sentido, a cidadania e a
participação social são invocadas no debate sobre a educação ambiental, mas,
em geral, trata-se de uma cidadania passiva e tutelada (LIMA, 2003).
Um exemplo desse caráter neoliberal da educação pode ser
encontrado nas orientações de Tbilisi, quando sinalizam um projeto educativo
do discurso ecológico oficial, ou seja, o indivíduo como responsável pelo futuro
do planeta, dependendo de seu livre-arbítrio a condução das questões
ambientais (CARVALHO, 2001). A autora em pauta, ressalta que neste
discurso está implícita uma visão liberal de sociedade, em que o indivíduo é o
grande responsável pelo futuro do planeta.
Com relação a esse tema, Lima (2003) reflete sobre o que ele define
como privatização de benefícios e socialização das perdas:
Um apelo recorrente à participação dos indivíduos, à colaboração
pública e à cidadania... Isto porque no momento de formular as
políticas estatais e privadas de crescimento que induziram à crise
ambiental, os indivíduos e o público não foram consultados nem
convidados a participar e, agora, que se trata de reparar os danos
causados, são estimulados a colaborar com as reformas (p. 114).
32
Questionamos, portanto, o fato de se limitar a Educação Ambiental
como uma das respostas à crise ambiental. Conforme diálogo com autores
citados neste trabalho, sabemos que não se trata de uma crise específica da
questão ambiental, mas de uma crise civilizatória, ou seja, a crise de um
modelo de desenvolvimento, do modo de produção capitalista neoliberal que
carrega em seu bojo contradições e conseqüências. O mundo em que vivemos
é a moldura na qual se insere e toma corpo a crise de sentido da educação e,
por decorrência, da própria escola. Uma crise demarcada em sua essência por
uma dificuldade em dialogar, por um lado, com as mudanças em curso e, por
outro, pela emergência de novos espaços de formação humana, além daqueles
prescritos e institucionalizados nas escolas.
Dada a força das palavras, o que percebemos são discursos que se
apropriam apenas de termos ligados a uma Educação Ambiental crítica e
emancipatória e, como conseqüência, os projetos institucionalizados nas
escolas, em geral, são marcados por práticas de Educação Ambiental
conservadoras, descontextualizadas social e politicamente. Essa apropriação
pode ser vista quando são executadas atividades pontuais
19
de Educação
Ambiental, sem o devido questionamento (visão tecnicista e conservadora),
situação em que o cidadão é visto apenas como consumidor e não como
sujeito histórico.
Enfim, concordamos com Reigota (1995, p.10) em que a Educação
Ambiental deve ser entendida aqui como educação política, no sentido de que
ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania
nacional e ética nas relações sociais e com o meio natural, podendo assim
contribuir para a formação dos cidadãos e a construção de uma sociedade
democrática. Daí a importância dos processos pedagógicos na efetivação da
educação comprometida com os princípios mencionados.
Nossa opção, portanto, está vinculada a uma prática pedagógica que
pretende estabelecer rupturas no modo de representar/pensar o mundo em que
vivemos, de fazer ciência compromissada com as questões sociais, e de
organizar sistemas educacionais levando em conta que o processo de
19
Um exemplo são as datas comemorativas, por exemplo: plantio de árvores e produção de cartazes no
Dia do Meio Ambiente, Dia da Árvore, Dia do Índio, Dia da Água, entre outros, que são importantes,
contudo acabam por ser entendidas mais como um evento/festa do que relacionadas à incorporação de
valores e mudança de postura.
33
formação do educador ambiental deve ser estabelecido a partir dessas
posturas e questionamentos.
Enfim, independentemente das denominações que este tipo de
educação adquira - Educação Ambiental, Educação para o Desenvolvimento
Sustentável, Educação para o Futuro Sustentável, o importante é encontrarmos
o caminho para as bases de uma educação capaz de promover um
desenvolvimento humano integral e que, como um todo, se encaminhe na
procura de sentido e significação da existência humana, ou seja, uma
educação para a vida. Como ressaltam Tomazello e Ferreira (2001):
Neste início de novo século, a Educação Ambiental deve ser capaz
de gerar propostas adequadas, baseadas em valores e condutas
sociais ambientalmente favoráveis para um mundo em rápida
evolução (p.201).
No que diz respeito à atuação docente e a Educação Ambiental,
Tomazello e Ferreira (2001) observam:
Do ponto de vista dos professores, algumas competências novas
devem ser reconhecidas e avaliadas, tais como a capacidade de
elaborar, concluir e participar de um projeto interdisciplinar e/ou
transdisciplinar; capacidade de integrar os objetivos da Educação
Ambiental nas diferentes disciplinas e determinar um marco
conceitual comum; capacidade de apreciar e responder às
necessidades da comunidade local com a perspectiva de um
desenvolvimento sustentável, e a capacidade de introduzir uma
dimensão mais global da Educação Ambiental (p.206).
34
CAPÍTULO II
A FORMAÇÃO DO EDUCADOR AMBIENTAL
“Ninguém nasce educador, ou marcado para
ser educador. A gente se faz educador, a
gente se forma, como educador,
permanentemente, na prática e na reflexão da
prática". (FREIRE, 1991, 58).
1 Refletindo sobre a formação do professor
Nos últimos anos, a formação dos educadores vem sendo alvo de
muitas discussões e descontentamentos. Pesquisas educacionais apontam
para a necessidade de formação de professores reflexivos, ou seja,
educadores que apresentem um fazer pedagógico coerente com concepções
progressistas de educação. Ressaltam, ainda, a importância que deve ser dada
à relação teoria e prática nos Cursos de Licenciaturas (formação inicial) e nos
cursos de formação continuada, considerada fator essencial para a melhoria da
qualidade do trabalho pedagógico e conseqüentemente do ensino de modo
geral.
Em uma breve revisão da literatura sobre a formação de professores,
seja em teses e dissertações ou artigos publicados em revistas especializadas
em Educação, a questão da formação continuada tem merecido destaque.
Emergem, nesse contexto, como temáticas privilegiadas, as discussões e
investigações sobre a formação de professores reflexivos, autônomos e
35
pesquisadores, em uma opção claramente definida para o estudo das práticas
de sala de aula, valorizando o cotidiano da escola.
Na formação continuada tem-se a oportunidade de lidar com a própria
prática pedagógica do professor que, segundo Gouveia (1992), é o ponto de
partida e o ponto de chegada, ressaltando a importância de se dialogar direta e
criticamente com os professores e seu trabalho pedagógico. Trabalho
pedagógico que transcenda a rotina da sala de aula, que envolva alunos,
professores e a totalidade da escola.
Entretanto, diante das condições reais que vivenciamos na escola
pública hoje, percebemos um desafio para os educadores: reformar a escola
desde as bases para prepará-la para a modernidade. Como nos explicita
Nóvoa (1991):
Grande parte do potencial cultural (e mesmo técnico e científico) das
sociedades contemporâneas está concentrado nas escolas. Não
podemos continuar a desprezá-lo e a menorizar as capacidades de
desenvolvimento dos professores. O projeto de uma autonomia
profissional, exigente e responsável, pode recriar a profissão
professor e preparar um novo ciclo na história das escolas e dos
seus atores (p. 29).
Nessa mesma direção, Noronha (2002) nos alerta:
Há uma necessidade histórica urgente de se requalificar a escola.
Isto porque no contexto atual das políticas neoliberais, ela não é
viável como projeto pedagógico. É necessário então que a escola
seja repensada para que ela possa transformar a informação em
conhecimentos socialmente significativos para o conjunto da
população (p. 117).
Para Candau (2000), a escola é uma construção social fortemente
condicionada pelos diferentes momentos históricos, sociedades e culturas. Ela
faz parte da história de vida das pessoas, trazendo lembranças de seu
cotidiano, vivenciado positiva ou negativamente. A autora ressalta, ainda, a
necessidade de reinventar a escola. Surge daí a necessidade dessa revisão
como desejo, como projeto e caminho a ser construído, tendo como eixos a
serem privilegiados a formação (inicial e continuada) e a socialização dos
profissionais da educação.
36
Nesse contexto, a LDB (BRASIL, 1996), em seu capítulo VI, prevê a
formação continuada (art. 28), levando em conta os profissionais da educação
básica em diversos níveis, sendo organizados de modo a permitir a atualização
profissional. É interessante ressaltar que, na contrapartida da promulgação da
referida Lei, realizaram-se e realizam-se inúmeros debates e enfrentamentos,
pois esta ação integra o conjunto de reformas – econômicas, sociais e políticas
– estabelecidas pelo modelo neoliberal que, hegemonicamente, vem sendo
implantado no Brasil desde o início dos anos 90, prescritos por organismos
multilaterais. Esta lei deu condições ao Ministério da Educação e Cultura para a
formulação e o desenvolvimento de políticas públicas para a educação de
cunho fortemente homogeneizador. Entre elas, estão a Formação dos
Profissionais da Educação, como marcas do modelo regulador do Estado ou,
ainda, o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF), os
programas de Avaliação dos Sistemas de Ensino (Educação Básica e Ensino
Superior)
Melo (1999), analisando programas oficiais para a formação dos
professores da Educação Básica, situa o tema ‘formação de professores’ no
texto oficial da LDB e acentua as novas dimensões que esta adquire em seu
processo de regulamentação face às exigências do Banco Mundial.
Diante dessas constatações, necessitamos fortalecer os processos de
formação continuada, nos quais o profissional da educação, como ser político,
aprende e reaprende, constrói e reconstrói suas práticas, em uma visão crítica
da realidade, rumo à autonomia profissional.
Nóvoa (1995) observa que o aprender contínuo e essencial se
concentra em dois pilares: a própria pessoa como agente de transformação, e
a escola, como lugar de crescimento profissional permanente. Assim, para o
autor, a formação continuada ocorre de maneira coletiva e depende da
experiência e da reflexão como instrumentos contínuos de análise. Nessa
perspectiva, o professor constrói sua formação, fortalece e enriquece seu
aprendizado. Por isso, é importante ver a pessoa do professor e valorizar o
saber de sua experiência. Para o autor, a troca de experiências e a partilha de
saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é
chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de
formando (1995, p. 26).
37
Defendemos, portanto, a formação continuada no âmbito da ação
coletiva, da troca de experiências, desde que sejam dadas condições concretas
para essa formação, considerando como pressuposto a presença de um
sujeito/professor apto para enfrentar os desafios do magistério e mundo atuais.
Sato (2001) faz uma análise reflexiva referente a termos e conceitos
que envolvem a temática referente à formação continuada de professores
(reciclagem, treinamento, capacitação, formação e educação continuada) e
opta pelo termo educação continuada com a idéia de contribuir para a
formação de educadores ambientais, em suas práticas pedagógicas, a partir da
construção contínua de sua educação.
Garcia (1995) ressalta que, mais do que os termos aperfeiçoamento,
reciclagem, formação em serviço, formação permanente, é necessário
prestarmos atenção ao conceito de desenvolvimento profissional dos
professores, por ser este o que melhor se adapta à concepção atual do
professor como profissional de ensino.
Jacobi (2005) também refletiu sobre esses conceitos, afirmando que,
inicialmente, nos cursos de formação continuada, os formadores contentavam-
se em reciclar o educador, descartando o seu conhecimento real, introduzindo
o novo desconectado do velho, oferecendo cursos rápidos e
descontextualizados. Posteriormente, segundo o autor, surge nesses cursos o
termo treinar, tendo como eixo central a modelagem de comportamentos que
desencadeiam ações apenas com finalidades mecânicas. Nessa perspectiva, a
tarefa definida ao educador é a de fazer e não a de pensar, é seguir modelos,
receitas e técnicas.
Buscando superar a dinâmica das formações anteriores, surgem, na
década de 80, novos conceitos de se pensar/fazer tal processo:
aperfeiçoamento e capacitação de educadores. Mas, mesmo nessas novas
ações propostas, tais estratégias de formar ainda não respondiam às
demandas de uma prática pedagógica transformadora, pois, se a Educação
Ambiental nasce da crise ambiental, é necessária uma educação
transformadora, não reprodutora das mesmas condições que produziram a
crise.
Transformadora, no sentido de que proponha, em um contexto da
educação crítica, a pedagogia da práxis ligada à educação que visa atuar
38
criticamente na superação das relações sociais vigentes, na conformação de
uma ética que possa se afirmar com ‘ecológica’ e na objetivação de um
patamar societário que seja a expressão da ruptura com os padrões
dominadores que caracterizam a contemporaneidade, devendo considerar o
homem um ser incompleto, inconcluso e inacabado e, por isso, um ser criador,
sujeito da história, que se transforma na mesma medida em que transforma o
mundo (FREIRE, 1997).
Parafraseando Freire (1997, p.61), a inconclusão que se reconhece a si
mesma implica necessariamente a inserção do sujeito inacabado num
permanente processo social de busca.
Na intenção de ultrapassar concepções fragmentárias, exclusivas,
maniqueístas ou polarizadoras de formação, delineia-se, portanto, outro tipo de
formação: a formação permanente. Este termo pontua como eixo central a
pesquisa em educação, valorizando o conhecimento do professor em um
processo reflexivo que busca contribuir para uma análise do próprio fazer
docente. Ou seja, o professor constrói seu conhecimento, que é feito na
experiência e na reflexão sobre essa experiência (NÓVOA, 2001).
Tal formação, baseada em um processo reflexivo de construção do
conhecimento, portanto, é coerente com uma prática pedagógica
transformadora que busca ultrapassar a visão fragmentada da realidade,
levando as pessoas a superar o individualismo que está atrelado a uma visão
conservadora e racionalista de educação, através da cooperação, de soluções
coletivas, avançando de uma consciência ingênua para uma visão crítica, que
questione o próprio sistema e transforme a realidade. Portanto, nosso objeto de
pesquisa está ligado ao trabalho pedagógico que pressupõe um educador
crítico que alie a sua prática não somente à sala de aula, mas, também, ao
cotidiano da escola e seu entorno.
O educar e formar nessa nova perspectiva, conforme defende Nóvoa
(1991), considera os professores a partir de três eixos estratégicos, ou seja, a
pessoa do professor e sua experiência, a profissão e seus saberes e a escola e
seus projetos.
Para além de conceitos e críticas, é importante contextualizarmos a
figura do professor do ponto de vista sócio-político e o seu papel como agente
de transformação social. Profissionalmente, encontra-se desmotivado no
39
exercício de uma profissão, no momento, socialmente desprestigiada. Vive
situações, no cotidiano da sala de aula, extremamente ambíguas e
contraditórias em uma Instituição de Ensino (escola) influenciada política e
socialmente pelos Sistemas Nacionais de Ensino, entre outros, para além dos
modismos ditados pelo ambiente externo ao país.
Neste contexto, é possível mencionar que propostas e elaborações de
projetos para a escola não contam com a participação dos professores, os
quais, no entanto, são cobrados posteriormente durante a aplicação de práticas
pedagógicas, muito mais como um componente ‘comportamental’, tecnicista,
ao invés da importância da reflexão e participação.
Giroux (1997) ressalta que no modelo tecnicista o professor tem a
função de ‘administrar programas curriculares’ e defende a idéia de que o
trabalho docente é trabalho intelectual, ou seja, aquele em que a integração
entre pensamento e prática contribui para o docente como ‘profissional
reflexivo’. Esse profissional está imerso, portanto, em um universo que envolve
conhecimentos específicos, experiências práticas, valores, afetos, interesses
sociais e políticos. E, portanto, se torna receptivo e crítico, refletindo sobre o
contexto social e político vivido e apreendido como suporte para uma melhor
atuação.
Consideramos oportuno mencionar que o termo reflexão é, na
atualidade, um conceito utilizado com freqüência por pesquisadores, quando se
referem às novas tendências da formação de professores e, de certo modo,
este conceito está sempre presente como elemento estruturador.
Schön (1997), idealizador do conceito de professor prático-reflexivo,
percebeu que em várias profissões, não apenas na prática docente, existem
situações conflitantes, desafiantes, em que a aplicação de técnicas
convencionais simplesmente não resolve problemas.
Não se trata aqui de abandonar a utilização da técnica na prática
docente, mas haverá momentos em que o professor estará em situações
conflitantes e ele não terá como se guiar somente por modelos ou critérios
técnicos pré-estabelecidos.
O autor defende a substituição do modelo tecnicista por outro que
capacite o professor a refletir sobre suas ações. Em outros termos, o professor
não deve ser o especialista que aplica conhecimentos, mas que tenha uma
40
prática reflexiva, agindo e tomando decisões a partir da avaliação dos
problemas que surgem no decorrer de seu trabalho em sala de aula.
Sintetizando, é possível entender que a formação não deve ocorrer em
momentos distintos, ou seja, primeiro uma formação teórica e depois a
experiência prática, mas sim com diálogos da prática com a teoria. Nesse
sentido, Schön (1997) tem o seguinte posicionamento:
(...) Nessa perspectiva o desenvolvimento de uma prática reflexiva
eficaz tem que integrar o contexto institucional. O professor tem de
se tornar um navegador atento à burocracia. E os responsáveis
escolares que queiram encorajar os professores a tornarem-se
profissionais reflexivos devem criar espaços de liberdade tranqüila
onde a reflexão seja possível. Estes são os dois lados da questão –
aprender a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar no
qual seja possível ouvir os alunos – devem ser olhados como
inseparáveis (p. 87).
Zeichner (1993) afirma que o professor, além de refletir sobre sua
prática, necessita também analisar as condições de produção desse trabalho
nas suas dimensões políticas e educativas. Este autor, analisando as
modalidades de treinamento prático de futuros professores, aponta as
limitações e possibilidades oferecidas por diferentes espaços em escolas com
composições multiculturais de estudantes, ou com outras condições especiais.
A seu ver, todos os participantes vêem-se como estudantes, investigadores e
reformadores, sendo preciso basear esses estudos teóricos no contexto da
prática de ensino e envolver tanto professores experientes como novos
professores na análise reflexiva de seu trabalho.
Busca-se, portanto, a formação do professor crítico e reflexivo,
privilegiando a reflexão coletiva e a troca de experiências que venham
contribuir para a transformação de vivências automatizadas, isto é, que não
levam em conta o contexto histórico, social e político vivido.
Nessa direção, concordamos com Nóvoa (1997) quando afirma que a
formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de
técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as
práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal.
Portanto, é preciso respeitar os professores como pessoas, seres
incompletos e eternos aprendizes que, a partir de uma formação
contextualizada, buscam transformar-se, entender o grupo no qual estão
41
inseridos e ressignificar as suas práticas pedagógicas. Assim, consideramos
que o objetivo central da formação continuada é desenvolver o
educador/pesquisador que difere daquele obcecado pela academia ou pela
cientificidade, enfim, desenvolver um profissional que paute sua ação e
atuação pedagógica pela criticidade e reflexividade da sua prática. Um
profissional que (re)aprenda a se apropriar dos conhecimentos disponíveis e
produzir conhecimentos próprios.
É necessária, nesse sentido, uma prática transformadora constituída
pela teoria e pela ação, formando uma proposta pedagógica que não concebe
as pessoas como 'destinatárias' mas como sujeitos da própria atividade política
(MARIN, 1995).
Enfim, é fundamental que o educador seja auxiliado a refletir sobre sua
prática, a organizar suas próprias teorias, a compreender as origens de suas
crenças para que possa tornar-se pesquisador de sua ação, um profissional
reflexivo que, melhorando o seu trabalho em sala de aula, recria
constantemente sua prática, ampliando a percepção de seu trabalho
pedagógico, num caminhar que, mesmo conflitante, leve em conta a reflexão e
entendimento dos processos.
A formação, ao nosso ver, oportuniza ao professor não só o saber/fazer
em sala de aula. Ele precisa conhecer as questões da educação, as diversas
práticas analisadas na perspectiva histórica e sócio-cultural. E, ainda, precisa
conhecer o desenvolvimento do aluno nos seus múltiplos aspectos: afetivo,
cognitivo, e social, bem como refletir criticamente sobre seu papel diante dos
alunos e da sociedade.
A formação continuada do professor deve levar em conta, também, as
rápidas mudanças ocorridas na sociedade e na educação, no âmbito de
políticas públicas educacionais, implementadas na última década. Nesse
sentido, a implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN
(BRASIL, 1997) no ensino fundamental, além dos parâmetros específicos de
cada disciplina usual, criou os chamados temas transversais
20
, com a finalidade
20
Neste novo cenário, destinou-se à Educação Ambiental um papel importante, esta foi introduzida no
âmbito dos temas transversais, sob a designação de Meio Ambiente, junto com mais cinco temas (Saúde;
Orientação Sexual; Pluralidade Cultural; Ética; Trabalho e Consumo), procurando-se garantir sua
disseminação pelas demais disciplinas
.
42
de atenuar as fronteiras entre essas disciplinas. O tema Meio Ambiente
recomenda que o professor e a escola como um todo devem proporcionar
ocasiões de ensinar procedimentos de modo que os alunos possam tomar
decisões, atuar de fato e exercer posturas que demonstrem a aquisição e o
exercício de valores relativos à proteção ambiental e à garantia da qualidade
de vida para todos (1997, p. 65).
Segundo o texto do Ministério da Educação e Cultura - MEC, a
principal finalidade do tema transversal Meio Ambiente é “(...) contribuir para a
formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na
realidade sócio-ambiental, de um modo comprometido com a vida, com o bem
estar de cada um e da sociedade local e global” (BRASIL,1997, p.13). Nesse
mesmo texto, para se atingir tal finalidade: é preciso que o aluno compreenda
“as múltiplas dimensões dos problemas ambientais, para além da segmentação
do saber em disciplinas, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais,
assim como as articulações entre as escalas locais e planetária desses
problemas” (p.17).
Amaral (1999) considera essa política curricular centralizada e
padronizada nacionalmente para o currículo do ensino básico. Entretanto,
ressalta que não se pode negar que a concepção de ambiente imprimida aos
PCN representa um salto qualitativo em relação às práticas pedagógicas e
livros didáticos convencionais.
Contudo, apesar do que poderia ser considerado avanço, à medida
que os PCN atentam para as questões ambientais, incluindo elementos das
dimensões sociais, econômicas e culturais, há em seus encaminhamentos
posições conservadoras, no sentido de que se excluiu abordagens de
questões políticas, filosóficas e ideológicas. Neste contexto, as relações entre
ciência e ambiente perdem espaço para as da tecnologia, promovendo um
realce tecnicista na imagem ambiental (AMARAL, 1999).
Essa postura acompanha a posição de autores, citados nesse
trabalho, que consideram que ‘conhecer para preservar’ é insuficiente para a
promoção de uma educação que se pretenda crítica e transformadora da
realidade. Isto significa que a escola tem que levar o aluno para além do
discurso, incluindo em seu planejamento ações educativas que levem a
reconhecer e a evitar a degradação, ao mesmo tempo em que promovam a
43
consolidação de hábitos de reflexão sobre questões éticas e políticas da
questão ambiental.
Contudo, Nóvoa (1995) aponta que as mudanças vividas pelos
professores em seu cotidiano escolar têm acarretado forte tensão entre eles,
que se vêem diante de reformas no currículo, aumento de reuniões e
discussões, entre outras, que intensificam o trabalho cotidiano, mas que não
alteram: as condições de trabalho na escola para desenvolver projetos que
verdadeiramente promovam uma educação que se quer transformadora e
cidadã; os salários insuficientes, que colocam o professor numa posição de
‘quase máquina’, exercendo a docência em várias escolas, com mais de um
cargo ou assumindo outras funções para garantir uma vida digna.
Nóvoa (2001) acrescenta ainda que, para agravar mais a crise de
identidade do educador, a sociedade e alguns governantes chegaram à
conclusão simplista que o professor é responsável direto pelas lacunas
existentes no processo de ensino, e, conseqüentemente, pelo fracasso escolar,
sem levar em conta a falta de uma política educacional consistente que possa
suprir as necessidades básicas do ensino, como a falta de materiais didáticos,
pedagógicos e o baixo salário dos professores.
De acordo com Pimenta (1999), a desvalorização do professor está
ligada às concepções que o consideram como um simples técnico reprodutor
dos conhecimentos pré-elaborados. E a sociedade contemporânea, cada vez
mais, necessita do professor/educador que seja mediador nos processos
constitutivos da cidadania dos alunos, no sentido de superar as desigualdades
escolares.
O educador está no meio de um fogo cruzado e/ou talvez no olho do
furacão, pois, de um lado, o extraordinário avanço das ciências e a
transformação das exigências sociais requerem mudanças profundas dos
conteúdos curriculares e de sua atuação no cotidiano da sala de aula, e, de
outro, a falta de investimento em educação acaba produzindo um estado de
coisas que denota um desinteresse por parte do educador, o que, entretanto,
não condiz com a realidade concreta. Todo esse quadro gerou não apenas a
desvalorização do professor pela escola, mas, o que é pior, gerou um
sentimento de inferioridade, de perda de seu papel social no mundo moderno.
44
Portanto, faz-se necessário repensar a formação inicial e continuada
dos professores, analisando as práticas pedagógicas destes docentes,
auxiliando no processo de superação diante das condições apresentadas.
Neste sentido, Tomazello e Guimarães (2003) argumentam:
Não é lógico exigir que um professor trabalhe idéias, conceitos,
valores, habilidades e atitudes que colaborem com a formação de
uma sociedade ambientalmente responsável, se ele não foi assim
formado e nem recebeu uma formação continuada (p.58).
2 A formação do educador ambiental
Observarmos hoje uma forte tendência em atribuir ao processo
educativo uma possibilidade de provocar mudanças e alterar o atual quadro de
degradação do ambiente com o qual nos deparamos. Independentemente do
modelo adotado ou imposto para explicar o atual estado de agressão à
natureza, o processo educativo sempre é apresentado como um agente eficaz
de transformação e de resolução de problemas ambientais. As mudanças
almejadas acabam por ser supervalorizadas, levando facilmente à idealização
ou à mistificação. No entanto, apesar desse risco, entende-se que o
desenvolvimento de atividades dessa natureza é hoje uma exigência no sentido
de que o processo educativo cumpra sua função social.
Procede, portanto, a nossa preocupação acerca da questão ambiental,
aqui entendida não como uma nova modalidade de ensino, mas com o caráter
impresso na atuação docente, ressaltando as posturas críticas, reflexivas,
ligadas a uma prática pedagógica transformadora, voltada para a relação entre
teoria e prática.
Grün (1996) explicita que a educação, a partir do momento que não
deu conta de resolver determinadas questões, passou a ser adjetivada ou mais
uma vez compartimentalizada. Temos, por exemplo, Educação para o Trânsito,
Educação Sexual e também Educação Ambiental. Defende, entretanto, que
45
essa ação acabou por se tornar necessária, já que a educação tradicional, aqui
entendida como conservadora e tecnicista, não contemplava o caráter crítico
da questão ambiental.
Dada as preocupações com a temática ambiental, as ações de ensino
nas escolas são focadas com a conseqüente incorporação de atividades com o
adjetivo de ‘ambiental’. Ora, a simples adjetivação de determinadas práticas
não define ao certo de que ‘ambiente’ se está falando ou que tipo de ação se
pretende. Nesse sentido, o nosso trabalho tem privilegiado a reflexão sobre
esse tema, pois o que podemos constatar através de observações e leituras é
que muitas vezes o adjetivo ‘ambiental’ pode trazer implícita uma ideologia com
a qual não concordamos ou que não está necessariamente em consonância
com o trabalho que pretendemos propor.
Outro prefixo muito utilizado nesses contextos é o ‘eco’, constituindo,
para nós, motivo de preocupação que procede, pois a partir do boom de
práticas ditas ambientalistas ou ecológicas, toda e qualquer atividade ou
postura com essa colocação passa a ser objeto de consumo sem que
percebamos, mais uma vez, o caráter com que o neoliberalismo muda de face
para adequar-se às artimanhas mercadológicas (exemplos: ecoturismo,
ecopousada). Não nos cabe aqui aprofundar a análise desses tipos de prática,
entretanto, nossa preocupação com a temática questiona que ações de ensino
têm ocorrido nas escolas, com a conseqüente incorporação de atividades, com
o adjetivo de ‘ambiental’. Projetos delineados com perfil ecológico têm
cumprido a função reprodutivista ou transformadora?
O fato de designar uma determinada proposta como sendo de
Educação Ambiental não garante (e, de fato, isto não poderia deixar de ser
assim) que estejamos todos adotando um mesmo modelo pedagógico ou que
estejamos todos nos associando às mesmas tendências pedagógicas.
Diferentes modelos trazem consigo diferentes interpretações sobre os fins e os
propósitos do trabalho educativo.
Defendemos que, a partir das categorias ‘professor crítico’ e ‘professor
reflexivo’, com base nos autores que dão suporte a esse estudo, delineia-se o
perfil do profissional que poderá atuar em projetos educativos na Educação
Básica com ênfase na questão ambiental. No caso específico da formação
continuada de professores, esse fato evidencia-se na valorização da orientação
46
para estudos que discutem a prática reflexiva dos docentes em ação,
privilegiando os saberes construídos nessa prática como essenciais para a
construção da profissão docente e da formação do educador crítico.
Não se objetivou uma análise extensiva de possibilidades de
operacionalização em Educação Ambiental. O que nos propusemos foi verificar
em que medida essas possibilidades levam em conta uma prática pedagógica
transformadora e quais as possibilidades de implantação.
Dentre os trabalhos sobre este tema, ressaltamos como relevante
neste estudo a atuação de órgãos como a Coordenação Geral de Educação
Ambiental
21
, que, em 1999
22
, já alertava para a ausência de uma política
pública de Educação Ambiental, ressaltando, como sua missão, a
implementação de políticas públicas nos sistemas de ensino que contemplem a
Educação Ambiental no ensino fundamental. O objetivo, portanto, era contribuir
para a melhoria da qualidade de ensino ao promover, incentivar e contribuir
para a implementação dessas políticas.
Um projeto relevante para essa dissertação é o denominado “Tom do
Pantanal”, que visava a Educação Ambiental e musical, desenvolvido numa
parceria entre Furnas Centrais Elétricas, Instituto Antônio Carlos Jobim e
Fundação Roberto Marinho. Consistiu inicialmente, na concepção, produção e
implementação pedagógica de um kit educativo distribuído em 800 escolas da
rede pública estadual, dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São
Paulo, Amazonas, Tocantins, Paraná, Goiás e Distrito Federal. O projeto teve
como objetivos principais promover a Educação Ambiental e musical nas
escolas, sensibilizando a sociedade para a importância de preservar o Pantanal
e disseminar o conhecimento de sua cultura regional.
É importante ressaltar que este projeto faz parte de um projeto maior
que já havia trabalhado o ecossistema Mata Atlântica intitulado “Tom da
Mata”
23
. Usando a água como fio condutor, o projeto “Tom do Pantanal”
abordou aspectos sócios-ambientais como a flora, a fauna, a pesca, a cultura
regional e o ecoturismo. O fato de nos atermos na descrição mais atenta desse
projeto é que, a partir de 2003, a Unidade de Ensino, objeto de nossa pesquisa,
21
Órgão ligado a Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação.
22
Panorama da Educação Ambiental no ensino fundamental. Brasília: MEC; SEF, 2001
23
Ver site < www.tomdamata.org.br/ > acessado em 02/5/2005
47
após inscrição no projeto denominado “Tom do Pantanal”
24
, encaminhou dois
docentes
25
para participar do processo de capacitação de 40 horas, na
Diretoria de Ensino Leste. A partir desse projeto, outras ações com ênfase na
dimensão ambiental delinearam-se na referida unidade de ensino pesquisada,
localizada em Campinas, Estado de São Paulo.
Contextualizando, mencionamos o trabalho da Secretaria de Estado
da Educação - SEE, através da Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas – CENP, que no ano de 2004, lançou o projeto “Água hoje e
sempre: consumo sustentável”, alegando que a referida proposta vinha ao
encontro da preocupação com a questão ambiental e da necessidade das
escolas buscarem inserir o tema em suas propostas e currículos. Publicou-se,
no mesmo ano, um livro com o mesmo título do projeto (Água hoje e sempre:
consumo sustentável), cujos temas principais são: Educação Ambiental,
recursos hídricos, agenda ambiental escolar, entre outros.
Dado o objeto da pesquisa, selecionamos para análise a ênfase dada
à publicação, em específico ao tema recursos hídricos, que leva informações
ao docente da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, visando
destacar formas de abordagem do tema na escola.
Para a SEE/CENP
26
, as ações envolvidas neste projeto têm a
intenção de propiciar uma aprendizagem significativa a todos os alunos para
que eles possam atuar criticamente em diferentes situações.
A proposta principal, de acordo com a SEE/CENP, é a de elaboração
de uma agenda ambiental escolar, visando a melhoria da qualidade de vida.
Entre os objetivos por ela relacionados para a execução do projeto estão: dar
subsídios às escolas com o objetivo de inserir a temática ambiental de forma
transversal, fornecer documentos e informativos aos profissionais da educação
para que, ao trabalharem novos conceitos, adquiram autonomia profissional
24
Detalhes referente o Projeto disponível no site < http://www.tomdopantanal.org.br>
25
É importante, nesse contexto, citar a minha participação como docente enviada a Diretoria de Ensino
juntamente com outra docente da área de Ciências. Durante a capacitação, fomos incentivados a adequar
o material à realidade local e recebemos orientação para o planejamento de ações ambientais na escola.
Atuamos como multiplicadores na Unidade de Ensino, que recebeu um kit contendo material pedagógico
voltado para o meio ambiente do Pantanal, composto por fitas de vídeo, CDs de música do cantor Tom
Jobim, CDs com legislações ambientais, cadernos de orientação metodológica para o professor, mapas, e
um caderno de iniciação musical
.
48
diante dos problemas da sociedade contemporânea; auxiliar professores na
realização de atividades investigativas para que, juntamente com seus alunos,
tenham ações voltadas para a transformação de suas realidades e ainda
contribuam para a implementação de programas de uso racional da água,
sensibilizando a equipe escolar, alunos e comunidade, fazendo da escola
espaço de mobilização.
As ações encaminhadas às escolas, via orientações técnicas das
Delegacias de Ensino para o ano de 2005, propunham a criação da agenda
ambiental nas escolas. Esta ação, porém, vem em consonância com a
proposta inicial, elaborada pelo Programa Nacional de Educação Ambiental-
PNEA (BRASIL, 1999), órgão ligado ao Ministério de Meio Ambiente. De
acordo com essa proposta, a Agenda
27
deve sintetizar o compromisso dos
educadores, visando a participação de diferentes atores e interesses.
Nesse sentido, percebemos que a Agenda proposta, em nível federal,
pelo PNEA, não é um documento estanque e único, podendo, pois, refletir a
realidade local (cultura) e ser continuamente trabalhada e revista tanto pela
equipe pedagógica, quanto administrativa.
Em nível Federal, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil produziu,
em 2001, um material que apresenta as etapas de elaboração de uma agenda
ambiental escolar. E, ainda, o Ministério da Educação - MEC lançou no mesmo
ano um kit composto por livros e fitas para o professor, denominado ‘Programa
Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola’, que, na primeira parte do
‘Guia de atividades’ em sala de aula, apresenta diretrizes para se fazer um
diagnóstico socioambiental local.
Em relação aos trabalhos de Educação Ambiental desenvolvidos em
escolas para a construção de uma agenda escolar ambiental, é importante a
utilização de documentos norteadores das diretrizes da Agenda 21 Global e do
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global.
26
As siglas correspondem a Secretaria de Estado da Educação – SEE e Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas – CENP/SP
27
Utilizaremos o termo Agenda, com a inicial maiúscula, no decorrer do trabalho, referindo-nos a AGENDA
AMBIENTAL ESCOLAR.
49
Embora a Agenda 21 Global sugira uma Educação para o
Desenvolvimento Sustentável, optou-se por analisar os trabalhos a partir da
ótica da Educação Ambiental, ligados à construção de práticas pedagógicas
transformadoras, levando em conta o contexto local, os esforços de docentes
em ação e os trabalhos de Educação Ambiental realizados dentro das escolas.
O processo de implantação da Agenda 21 Escolar abrange as
seguintes etapas: a sensibilização, a capacitação/formação da comunidade
escolar para o projeto, a realização de um diagnóstico socioambiental local –
da escola ou do entorno da mesma – e o plano de ação para a resolução dos
problemas, além da avaliação, retroalimentação, e abertura de canais de
participação (OLIVATO, 2004).
Sob a ótica da SEE/CENP, essa temática deve se desenvolver
através de atividades por projetos, afirmando que nesse tipo de ação não há
fragmentação do objeto de estudo, ou seja, a idéia é integrar todos aspectos da
situação estudada.
Contudo, no âmbito curricular na Educação Básica, constatamos que
há uma fragmentação dos valores e saberes das ciências e das ações dos
diversos profissionais da educação compartimentalizados por campos
específicos de conhecimento.
Entendemos que a fragmentação da Educação pressupõe práticas
conservadoras, apolíticas, que não estimulam a reflexão e, como já
ressaltamos anteriormente, o professor sente-se desamparado diante da
emergência da implementação de tais propostas em seu cotidiano. Muitas
vezes, o professor se entusiasma com propostas diferenciadas de um novo
curso ou de um livro, mas, depois, percebe que a realidade da escola onde
atua é diferente em relação às propostas sugeridas, e que, ao invés de discutir
soluções para um problema, outros são criados. Contudo, não devemos perder
a noção de que o conflito já existe desde a elaboração dos sistemas de ensino
à publicações de livros didáticos e, por vezes, pode ocorrer a prescrição de
projetos institucionais que atendem a interesses diversos e normalmente
desconsideram a realidade da Rede Pública Estadual.
3 Desafios para a formação do educador crítico
50
Nossas reflexões caminham no sentido de compreender que, nos
processos de formação continuada, não houve tempo suficiente para o
amadurecimento de temas emergentes
28
, pois as instituições formadoras vivem
ainda o dilema de uma estrutura de formação multidisciplinar, não
proporcionando ainda espaços para que o professor trabalhe sob abordagens
de ensino por projetos interdisciplinares , como recomendam os PCN
(BRASIL,1997).
A LDB (BRASIL, 1996) é clara nos aspectos relacionados à formação
de professores em seu artigo 61:
A formação de profissionais da educação de modo a atender aos
objetivos dos diferentes níveis de modalidades de ensino e as
características de cada fase de desenvolvimento do educando, terá
como fundamentos: inciso I – associação entre teorias e práticas,
inclusive mediante a capacitação em serviço;
Entretanto, tecemos aqui críticas de que esse direito não é observado,
visto que, antes de responder aos anseios dessa classe profissional, necessita-
se atender aos condicionantes impostos para as políticas educacionais
definidas pelo Banco Mundial.
O objetivo da formação de professores com ênfase na dimensão
ambiental deve visar o preparo de um docente que estabeleça o diálogo com
os estudantes. Não um docente com formação aligeirada ou motivada apenas
pela boa vontade ou por um ideal, mas um profissional atuante e consciente do
contexto sócio-político em que atua. Loureiro(2002) chama a atenção nesse
sentido para a prática pedagógica:
Na observação da prática de professores que se preocupam com o
bom profissionalismo, no que se refere à competência técnica, mas
ignoram suas atribuições e compromissos sociais e políticos junto
aos sujeitos com os quais se relacionam (a comunidade escolar).
(p.90).
28
Chamamos de temas emergentes aqueles ligados a problemas contemporâneos: Meio Ambiente, Saúde,
Gênero, entre outros.
51
A reflexão acima remete-nos à inserção da crítica que priorize que, em
uma formação continuada, além das questões ‘sobre’ o ambiente, ele seja
capacitado para perceber as questões ‘para’ o ambiente, ou seja, o professor
com um olhar crítico para um problema ambiental. Enfim, o educador crítico é
aquele que, sendo capacitado para isso, a partir de um processo formação-
ação-reflexão, desenvolva uma percepção diferenciada. Ou seja, um educador,
além de verificar a importância da preservação da fauna, flora, água, que é o
conhecimento técnico, precisa saber por exemplo que geralmente a água falta
só para os pobres e que os ricos vão ter água, ou seja, para uma grande
parcela da população os problemas ambientais afetam mais que outras, aí vem
a necessidade da visão sócio-politica e ética.
Partimos da contestação do cartesianismo, onde o caráter técnico da
educação pode ser visto de forma mais clara na separação
pesquisador/professor. O primeiro elabora propostas, planos, programas e
modelos, enquanto o segundo apenas executa as ações planejadas pelo
primeiro.
Nas últimas décadas, o modelo educacional fundado na racionalidade
técnica vem sendo questionado por vários motivos. Primeiro, porque parte de
modelos preestabelecidos, onde o professor é mero transmissor de conteúdos
específicos; segundo, porque a amplitude das questões ambientais
contemporâneas necessita de um docente crítico atento à fragmentação do
saber imposta pelo pensamento moderno. O que é reforçado por Loureiro
(2002):
Pelos ditames da formação docente brasileira hegemônica, os
professores demonstram capacidade de implementação de
programas curriculares e transmissão de conteúdos formais, mas
incapacidade na apropriação e desenvolvimento de currículos que
atendam aos objetivos pedagógicos de construção de cidadãos que
constituam sujeitos do processo de mudança histórica. (p.91)
Brugger (1994), por sua vez, ao enfatizar a diversidade de abordagens
da questão ambiental na educação, distingue duas tendências gerais. A
primeira, mais ligada ao ensino formal, defende propostas educacionais
oferecidas pelas Ciências Humanas, onde fatores históricos e sociais são
ressaltados em detrimento dos aspectos técnicos e naturais da questão
52
ambiental. A segunda tendência concentra sua abordagem, quase que
exclusivamente, sobre os aspectos técnicos e naturais dos problemas
ambientais. Essa tendência destaca os temas ecológicos, que, segundo a
autora, prevalecem sobre a tendência anterior. A autora atribui essa divisão à
histórica fragmentação do saber, que divide as Ciências Sociais e Naturais, e à
dimensão instrumental do conhecimento institucionalizado pela sociedade
industrial.
Grün (1996) concorda em que existe o predomínio de uma perspectiva
biológica nas propostas de educação para o ambiente e pondera que, ao
confinar a Educação Ambiental quase exclusivamente ao ensino de Biologia,
acabam por reduzir a abordagem necessariamente complexa, multifacetada,
ética e política das questões ambientais aos seus aspectos biológicos (p. 105).
Em outros termos, como o nosso objetivo é refletir sobre o projeto
“Água hoje e sempre: consumo sustentável” e o trabalho docente, propomos
trazer uma contribuição a todos aqueles que, desenvolvendo o tema Educação
Ambiental, buscam idéias inovadoras e se dispõem a enfrentar os desafios
diante de uma prática transformadora, aqui entendida como aquela que dá ao
educador a possibilidade de assumir-se entre os produtores do saber,
reconquistando o poder de tomada de decisões, para o pleno exercício da
participação democrática. Segundo Gouveia (1998):
Não basta propormos maior participação nas mudanças, esta
participação tem que ser praticada. A participação traz como
conseqüência, a responsabilidade pelos próprios atos, tornando a
ação docente uma ação consciente e compromissada com as
mudanças. (p.8)
Pensamos, também, na importância de construir uma abordagem na
educação em que o ambiente seja analisado tanto em seus aspectos físico-
naturais como sócio-econômicos, que perpassem a prática docente
independentemente da área de ensino específica. Nesse caso, o ambiental não
será analisado como simples natureza objetificada (GRÜN, 1996, p. 43), mas
se pautará na superação do técnico e do instrumental para, assim,
caminharmos para uma mudança de paradigma da prática docente,
estabelecendo um diálogo na multiplicidade das áreas como uma construção
permanente, afinando as práticas educativas, provocando assim, uma inter-
53
relação entre fatores históricos-sociais e os aspectos técnicos e naturais da
questão ambiental.
Sabemos que a educação não transforma a sociedade, mas, sem ela,
tampouco, a sociedade muda (FREIRE, 1997, p.67). Portanto, a educação não
pode ser tida como uma resposta capaz de solucionar todos os problemas
sociais, mas, também, consideramos não ser possível pensar e exercitar a
mudança social sem integrar a dimensão educacional.
Como as mudanças sócio-ambientais nos afetam em nível regional e
mundial temos que buscar subsídios para a atuação e o diálogo entre as áreas,
em diferentes espaços e tempos. A questão ambiental e sua problemática
deixaram de ser assunto apenas de biólogos, ambientalistas e passou a fazer
parte do cotidiano de todos os cidadãos.
Acreditamos, portanto, que a Educação Ambiental traz uma
possibilidade de motivar as pessoas a transformar a realidade local na defesa
da qualidade de vida, onde relacionamos cidadania com pertencimento e
Educação Ambiental com uma nova forma do homem relacionar-se com o
mundo, com os recursos naturais e com o próprio homem, possibilitando a
participação para a construção de uma sociedade sustentável.
A concretização dessa proposta necessita ainda de estudos relevantes,
visto que a possibilidade de criar propostas pedagógicas em micro-espaços,
pode levar à concretização de uma educação que transforme a realidade e não
somente a subjugar por mecanismos legais e institucionais. Dessa forma, a
figura do professor passa a ser valorizada como um dos agentes de
transformação desse processo e não somente como um seguidor de normas e
padrões instituídos.
A importância da formação de uma consciência crítica conduz o
professor a uma reflexão e ao desvelamento do discurso ideológico neoliberal
que nega, inclusive, a humanização das relações sociais. Contudo, a
percepção docente de que a mudança no ensino e na educação, em geral,
depende muito mais do desejo, da vontade firme, do compromisso de todos os
responsáveis, pelo processo de ensino-aprendizagem, do que das decisões
governamentais.
As contradições que a Educação Ambiental possivelmente enfrentará
são ainda mais complexas do que a simples dicotomia entre uma dimensão
54
ambiental e outra não-ambiental da educação. Neste sentido, Jacobi (2000)
menciona que:
Quando nos referimos à Educação Ambiental, a situamos num
contexto mais amplo, o da educação para a cidadania,
configurando-se como elemento determinante para a consolidação
de sujeitos cidadãos(p.11).
Encontramos, na Educação Ambiental uma educação política para a
cidadania, uma possibilidade de motivar as pessoas para que possam
transformar a realidade local na defesa da qualidade de vida.
Assim como Guimarães (2001), defendemos a necessidade da
presença da dimensão ambiental na educação, a qual consideramos poder
contribuir para a formação crítica do professor, bem como possibilitar a
reconstrução de propostas e ações descontextualizadas de Educação
Ambiental, o que é muito comum na formação acadêmica em geral.
Neste sentido, parece ser consenso que a importância da educação
para a implementação de novas estratégias de desenvolvimento e de projetos
ambientais é fundamental. Surge daí a concepção de uma educação dita
‘ambiental’. Para Viezzer (1994), a Educação Ambiental, como percebemos
hoje, vem da emergência de uma percepção renovada de mundo em uma
forma íntegra de ler a realidade e atuar sobre ela.
Caminhamos, portanto, na direção assumida por Reigota (1995, p.10),
que define que a educação visa não só a utilização racional dos recursos
naturais, mas, basicamente, a participação dos cidadãos nas discussões e
decisões sobre a questão sócio-ambiental e completamos com Loureiro (2004)
que afirma “é fundamental associarmos processos educativos formais às
demais atividades sociais de luta pela qualidade de vida e sustentabilidade
(p..93).
55
CAPÍTULO III
ARTICULANDO ENSINO E PESQUISA
1 Das motivações da pesquisa ao educador-pesquisador
A formação de professores é a estratégia básica para o
desenvolvimento de práticas de Educação Ambiental definidas pela Política
Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), e expressa nos documentos
internacionais relacionados nesse trabalho
29
, além de um direito do professor
definido pela LDB/96.
Portanto, vemos na formação continuada uma forma de desenvolver a
Educação Ambiental em propostas e ações institucionais. Essa formação,
entretanto, deve ser pensada no contexto da escola, com ênfase na formação
do professor crítico, numa visão transformadora da realidade. De acordo com o
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global (1992), a Educação Ambiental é um ato político,
baseado em valores para a transformação social.
Observamos que, a partir do momento em que o educador adquire um
olhar diferenciado para a questão ambiental, amplia sua atuação no cotidiano
29
Referimos, em especial, aos documentos já citados neste trabalho: Agenda 21 (1992) e Tratado de
Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis (1992).
56
da sala de aula, o que contribui para uma maior motivação e participação no
processo de ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, nosso foco de análise, ou seja, a atuação docente em
uma unidade de ensino da Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo,
possibilitou-nos perceber os limites e as possibilidades das ações, através de
projetos implementados na Rede Pública de Ensino. Visamos, portanto, a
formação do professor crítico, que leve em conta a peculiaridade de sua
disciplina, mas que, atento às modificações sociais e a temas emergentes,
esteja comprometido com uma prática pedagógica transformadora, prática esta
que ultrapasse a visão fragmentada da realidade, supere o individualismo,
questione o próprio sistema e transforme a realidade, conforme ressaltamos no
capítulo II.
São essas as ações ou características do educador-pesquisador que
defendemos pelo viés da Educação Ambiental crítica e da formação continuada
de professores, ressaltando a importância do diálogo para a construção de
caminhos pedagógicos diferenciados.
Consideramos importante introduzir a discussão ambiental na
Educação Básica, sendo que esta temática tem compromisso com a
transversalidade, ou seja, ao mesmo tempo em que a Educação Ambiental
necessita do conhecimento de disciplinas tais como: História, Geografia,
Matemática, Português, entre outras, nenhuma área do conhecimento
isoladamente é suficiente para abordá-la, pois a temática atravessa diferentes
disciplinas.
Os PCN reiteram que a transversalidade diz respeito:
...à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa uma
relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados
(aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua
transformação (aprender a realidade da realidade) (BRASIL, 1998,
P. 30
)
O artigo 9, Parágrafo Único da Lei nº 9.795/99 sobre Educação
Ambiental diz que “os professores em atividade devem receber formação
complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender
57
adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional
de Educação Ambiental”
Delineamos assim nosso compromisso, que, juntamente com a
análise das vivências
30
, no cotidiano da escola, pode apontar caminhos para
práticas pedagógicas futuras que queremos transformadoras e emancipadoras,
construindo espaços de diálogo, formação ou de educação continuada.
Percebemos, no percurso desse trabalho de pesquisa, o caráter
multifacetado que a questão ambiental apresenta, pois esta nos tem
proporcionado uma riqueza de análises, e muitas vezes respondido a anseios
na execução de um trabalho pedagógico diferenciado. Um trabalho educativo
que leve em conta a visão ambiental pressupõe que tudo é ambiente, da casa
à escola, do bairro ao mundo, do local ao global, então, todos os movimentos e
ações deveriam estar envolvidos com estas questões, inspirados em um
movimento de crítica aos valores estabelecidos pela sociedade neoliberal.
Contribuir para a formação continuada de professores ligados à
Educação Básica, ação esta que perpasse a prática do docente,
independentemente de sua área de atuação, faz parte dos objetivos desta
pesquisa.
Como alerta Noronha:
A questão que se tem apresentado na política de formação de
professores no Brasil é que as reformas acontecem sem que sejam
alteradas as condições objetivas da sociedade. Sem contar que as
políticas de formação atuais desqualificam o professor como
pesquisador, ao separar ensino de pesquisa (2002, p.118).
É importante ressaltar que, em um processo de educação em que o
professor não reflete sobre o meio em que está inserido, a sua própria
condição profissional fica sem sentido, ou seja, partirá da premissa da
racionalidade técnica onde a teoria é que deve prevalecer sobre a prática. Ou
seja, suas ações devem ser estabelecidas no diálogo da prática com a teoria
(SCHÖN, 1997). Para isso, abordaremos as ações dos professores, partindo
de ações realizadas no âmbito da escola pública e seu entorno.
30
Da vivência em projetos de Educação Ambiental na Rede Estadual de Ensino: Projeto Tom do Pantanal
(2003), Parceria escola-universidade(2004) e Projeto Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável(2005).
58
2 Do contexto da pesquisa
A unidade de ensino estudada atende alunos da chamada ‘maior
ocupação urbana da América Latina’ constituído pelo Parque Oziel
31
e Jardim
Monte Cristo, localizada às margens da rodovia Santos Dumont, que liga
Campinas a Sorocaba - SP.
No início da ocupação, chegou-se a falar em 30 mil famílias ocupando
o local. Acredita-se que os números foram superestimados pelos movimentos
políticos como forma de pressão e negociação. A área de mais ou menos 1,5
milhão de metros quadrados é parte do gigantesco e irregular complexo de
moradias que compõem o cenário colorido e caótico que foi se delineando ao
longo dos últimos oito anos e meio às margens da Rodovia Santos Dumont.
Conforme os dados atualizados pela imprensa local
32
revelam em torno de 25
mil habitantes que esperam a concretização do projeto de transformar esta
ocupação em bairros regulares: o Parque Oziel, o Jardim Monte Cristo e a
Gleba B.
Segundo levantamentos, o início da ocupação aconteceu em 1997,
quando um loteamento da antiga Fazenda Taubaté foi invadido. Houve grande
repercussão, com a situação saindo fora de controle por parte do Poder Público
Municipal e atraindo pessoas de várias partes do país, conforme dados de
2003 da assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Habitação e a
Companhia de Habitação Popular (COHAB) de Campinas. Há estudos para
destinar toda esta área do Complexo Oziel, Monte Cristo e Gleba B como de
interesse social, para moradia de famílias de baixa renda.
Atualmente, o Parque Oziel e os vizinhos Monte Cristo e Gleba B
passam por uma nova etapa. A Prefeitura de Campinas está regularizando a
situação e 96,6% dos proprietários das terras já entraram em acordo para
vender os terrenos para a Administração Municipal.
31
As ocupações tiveram início sob a bandeira da luta popular, tanto que o nome da primeira é uma
homenagem ao sem-terra Oziel da Silva, um dos 19 mortos em Eldorado dos Carajás (PA), em abril de
1996, no massacre cometido pela PM.
32
Correio Popular – Caderno Cidades - 24/06/2004.
59
É importante ressaltar as particularidades desse processo, pois a
escola não está localizada nesses bairros, está localizada no entorno, bairro
Jardim do Lago. Entretanto, 90% dos alunos matriculados na unidade provém
dos bairros da ocupação, e, atendendo às especificidades desse meio, bem
como dos alunos dele provenientes, é que se deu a construção de trabalhos
com o tema Cidadania e Qualidade de Vida. Ressaltamos a seguir as
particularidades desse meio, envolvendo alunos e professores da unidade
escolar do ponto de vista sócio-ambiental:
33
9 A maioria das melhorias é feita em forma de mutirão que, para eles,
além de melhorar a qualidade de vida, são benfeitorias que funcionam
como atestado de cidadania;
9 Com quase 9 anos de existência, os sinais de auto-urbanização,
perceptíveis nos semibairros são características das ocupações urbanas
que conseguem persistir no Brasil, como um centrinho, cortado por uma
via de terra mais larga que faz, às vezes, de avenida. Às margens,
prosperam bares, mercadinhos, lojas de roupas, e até uma
videolocadora. A prevalência, porém, é de comércios de materiais de
construção e de móveis usados. Só 15% das casas ainda são barracos;
a maioria delas já é de alvenaria;
9 Os bairros localizam-se no entorno do córrego Taubaté, que é um
afluente do Rio Capivari;
9 Como já ocorre em vários meios urbanos, nas cidades da Região
Metropolitana de Campinas
34
, o crescimento populacional e industrial
não contou com planejamento urbano
35
que levasse em conta a
recuperação e manutenção dos recursos naturais da região;
33
Os dados coletados foram pesquisados na Imprensa Local - Jornal Correio Popular e coleta de dados
através de Diário de Campo - referente aos anos 2003, 2004 e 2005, além de depoimentos informais de
alunos e comunidade local, nos mesmos anos citados.
34
RMC – formada pelos municipios de Campinas, Americana, Artur Nogueira, Cosmópolis, Engenheiro
Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia,
Pedreira, Santa Bárbara D’Oeste, Santo Antonio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
35
Nesse sentido, problemas como: água contaminada e sem tratamento percorre as ruas dos bairros, a
falta de calçamento e asfaltamento nas ruas o que ocasiona alagamentos e a intransitabilidade de veículos
na época das chuvas, a falta de nivelamento dos terrenos o que ocasiona deslizes, a falta de eletricidade e
água para parte dos moradores. Disponível em <http://www.wezen.com.br/oziel/index.htm>, acessado
em dezembro/2005.
60
9 De acordo com as informações, aproximadamente 4000 moradias estão
construídas em áreas de risco de desabamentos e enchentes ou em
área de proteção ambiental. Ocorre, ainda, na região, a extração de
areia, o despejo de lixo e entulhos no córrego.
É importante a contextualização do ambiente a ser trabalhado, levando
em conta as condições de vida dos alunos para realizar um trabalho de
Educação Ambiental, pois a forma como estão expostos aos problemas
sócioambientais diferem de outros contextos. Após trabalhos com populações
carentes, Bueno (2005) ressalta:
Historicamente nosso ambiente construído apresenta uma
urbanização incompleta. As casas também são incompletas,
disfuncionais e insalubres. Há uma enorme quantidade de lares onde
moram pessoas de todas as idades, que não tem banheiro interno
(1,4 milhões de domicílios) e que não têm rede alguma de esgoto
(5,4 milhões de domicílios). Em 3,3 milhões de lares, duas ou mais
famílias moram juntas porque não têm alternativa (a chamada
coabitação voluntária). Temos 2 milhões de domicílios onde dormem
3 ou mais pessoas no mesmo quarto (p.14).
Nesse contexto, acreditamos na articulação da Educação Ambiental
crítica e na potencialidade de um trabalho reflexivo, pois, diante de tantas
diversidades nacionais, regionais e históricas e adversidades sócio-
econômicas, encontramos na Região Metropolitana de Campinas um
laboratório a céu aberto de questões que ocorrem tanto no território nacional,
como no estadual e no municipal, e, certamente, no âmbito da comunidade
local e sua diversidade familiar. As regiões metropolitanas apresentam os
mesmos problemas, ou seja, a degradação do meio natural, a contaminação da
água, a falta de moradia, insuficientes centros de saúde pública, crianças
atuando no trabalho informal, entre outros.
Ressaltamos que, diante dos problemas ambientais dos grandes
centros, o professor precisa se sensibilizar, compreender e atualizar de forma a
entender o grupo com o qual está atuando, para ressignificar as suas práticas
pedagógicas. Assim, o objetivo central da formação continuada é desenvolver o
educador-pesquisador, como profissional que tem uma atitude cotidiana de
reflexividade da sua prática. Conforme abordamos no capítulo II, trata-se de um
profissional que aprende a refletir e a se apropriar dos conhecimentos
61
disponíveis, produzindo conhecimentos próprios, diante da realidade sócio-
econômica com que se depara, percebendo que os problemas ambientais
afetam as pessoas de forma diferenciada.
3 Opção Teórico-Metodológica
Nossa pesquisa desenvolveu um estudo de caso em uma unidade de
ensino da Rede Pública Estadual, ligada à Diretoria Regional de Ensino Leste,
da Cidade de Campinas, Estado de São Paulo, com o objetivo de contribuir
para os estudos e práticas dos docentes interessados nessa temática.
Como parte integrante desta dissertação, temos os relatos das
vivências desenvolvidas nos anos de 2003, 2004 e 2005, com docentes
atuantes na Unidade de Ensino estudada, refletindo sobre as experiências em
projetos de Educação Ambiental realizadas e em especial resultados de
análises sobre o projeto “Água hoje e sempre: consumo sustentável”,
implementado em 2005, que contempla a implantação da Agenda 21 escolar.
Utilizamos para a coleta de dados, visando proceder a uma análise
qualitativa e quantitativa, questionário semi-estruturado (anexo A),
encaminhado a 20 docentes da unidade em estudo, bem como as anotações
do diário de campo, que contêm lembretes, idéias, experiências, observações
sobre conversas informais e práticas dos docentes na Unidade de Ensino. O
referido questionário serviu-nos como referencial sobre conhecimentos dos
professores com relaçao ao tema: práticas pedagógicas em Educação
Ambiental.
Para convergência de informações, auxiliou-nos nessa pesquisa,
visita à reunião de orientação técnica
36
sobre avaliação da implementação e
das atividades realizada em 2005, referente ao projeto “Água hoje e sempre:
consumo sustentável”, realizada em março de 2006, onde participaram
36
Termo utilizado para capacitações na Diretoria de Ensino a partir do ano de 2005.
62
docentes representantes (multiplicadores) das escolas ligadas à Diretoria de
Ensino Leste.
37
Para tratamento do material, utilizou-se a técnica de análise de
conteúdo (Bardin, 1979). A classificação dos dados dos questionários e da
observação livre centrou-se na categorias “professor crítico”.
Bardin (1979) define análise de conteúdo da seguinte forma: um
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas
mensagens (p. 42).
A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos.
Bardin (1979) comenta que o analista é como um arqueólogo, que busca, a
partir de vestígios, montar toda a estrutura do objeto encontrado (p.39).
Segundo Reigota (1995), a análise de conteúdo consiste numa busca
do sentido contido nas informações coletadas ou nos conteúdos de diversas
formas de textos e entrevistas, de maneira a permitir compreender o acesso à
informação de certos grupos e à forma como esses grupos a elaboram e
transmitem (p. 73).
O procedimento metodológico adotado foi o estudo de caso, que é
entendido por Trivinõs (1987) como a categoria de pesquisa cujo objeto de
estudo é uma unidade analisada em profundidade para que as circunstâncias
específicas e as múltiplas dimensões que se apresentam nesta situação
possam permitir a compreensão do todo.
De acordo com Putnam (1996), o estudo de caso necessita ser
efetuado em um processo de "impregnação e investigação", em que o
pesquisador precisa embeber-se das minúcias de uma instituição a fim de
conhecer seus costumes e suas práticas, seus pontos fortes e fracos, tal como
fazem os que vivem seu dia-a-dia. Essa imersão, segundo Putnam, aguça as
intuições do pesquisador e fornece muitas pistas para entender o objeto
estudado. Nessa pesquisa, essa afirmação, privilegiou-nos por ser docente da
Unidade em estudo e atuante em projetos de Educação Ambiental.
37
Na ocasião foram formados grupos para avaliarem os pontos positivos e negativos do referido projeto,
orientados por uma Assistente Técnico-Pedagógica que conduziu a reunião, em março de 2006.
63
A referida unidade de ensino, fundada em 01/02/1985, conta com um
quadro de 24 professores e 394 alunos, atendendo atualmente o ciclo II (5ª a 8ª
séries), com três salas por série, sendo 193 alunos no período manhã e 201 no
período da tarde.
Nesta unidade de ensino, a trajetória referente à temática ambiental
se compreende não apenas por projetos, estipulados pela Secretaria Estadual
de Educação, mas esforços e parcerias, que ultrapassam assim as propostas
institucionais.
Observamos que o educador que atua em contextos de exclusão
social, como a escola pesquisada, se vê imbuído da preocupação em melhorar
a realidade vivida pelo educando, ultrapassando muitas vezes as questões
profissionais, envolvido pela vontade pessoal de mudar a realidade sócio-
econômica que encontra. Conforme aponta Ab'Saber (1994), o enfrentamento
da desigualdade social como função da Educação Ambiental, confere-lhe um
caráter essencialmente político.
4 Trajetórias e Vivências em projetos de Educação Ambiental
Para melhor entendimento, nossos relatos serão divididos em três
partes sendo que cada um refere-se a uma atividade realizada em anos
diferentes, entretanto com a mesma proposta: Educação Ambiental. Para
melhor esclarecer nossos relatos, sistematizamos apenas as informações
pertinentes que dão ênfase à participação dos professores em atividades
coletivas, e, posteriormente, apresentaremos os resultados das análises sobre
o projeto “Água hoje e sempre: consumo sustentável”, implementado em 2005.
64
ANO 2003 – TOM DO PANTANAL
Iniciamos os registros dos relatos de experiências a partir do ano de
2003, ocasião em que a unidade de ensino, após prévia inscrição no projeto
denominado “Tom do Pantanal”
38
, nos encaminhou, como docente da Unidade
de Ensino, juntamente com a professora de Ciências, para participar do
processo de capacitação de 40 horas, na Delegacia de Ensino Campinas
Leste, cuja equipe de capacitadores era formada por um grupo de educadores
atuantes em projetos educacionais com a Fundação Roberto Marinho.
Após a capacitação organizamos a apresentação do tema, na unidade
de ensino, durante os HTPCs
39
, a qual contou com os seguintes passos: a)
apresentação do projeto e do material recebido; b) socialização das dinâmicas
e informações referentes à questão ambiental; c) entrega de formulário,
solicitando aos professores refletirem e localizarem, a partir da visão de cada
um, em que medida, dentro de sua área de atuação, poderiam trabalhar o
tema.
A construção da proposta a ser trabalhada na escola contou com a
análise das respostas dos professores, levando em conta a visão coletiva. A
nosso ver, o fato de partir de opiniões do grupo, ou seja, a criação de uma
proposta coletiva
40
(conforme anexo C), fez com que a atividade obtivesse
frutos importantes, dentro dos limites e possibilidades de cada um.
Ressaltamos a participação dos docentes, por meio de opiniões e posturas
pedagógicas, pois, na perspectiva de uma Educação Ambiental crítica, a
formação incide sobre as relações indivíduo-sociedade que só fazem sentido
se pensadas em relação ao meio em que atuam.
Naquela ocasião, selecionamos trechos de falas expressas
41
pelos
professores e registrados em diário de campo:
38
Verificar resumo do projeto - anexo B.
39
Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo – o professor cumpre essas horas de acordo com carga horária
estabelecida pela Secretaria Estadual de Educação, seu cumprimento é obrigatório.
40
Proposta de utilização do projeto Tom do Pantanal.
41
Pela relevância dos depoimentos, acreditamos ser importante citarmos esses depoimentos, entretanto
os professores da época, não fazem parte do grupo analisado em 2005.
65
Acho importante trabalhar com a cultura do estado em que os
alunos nasceram, a maneira de falar, danças e comidas típicas da
região, costumes e crenças e o clima.
Outro professor fez observações com relação aos recursos naturais
existentes:
Dizem haver na região o córrego Taubaté, a terra é arenosa e há
diferentes tipos de rocha. Antes da ocupação havia muita erosão.
Além da região do lado de lá da pista, temos o lado de cá, que fica
atrás da escola, onde chamamos Ilha do Lago, onde tem um córrego
e até uma região verde (bosquinho).
A partir dessa proposta coletiva, relacionamos a temática Cidadania e
Qualidade de Vida, às peculiaridades locais, e em específico às do entorno da
escola. Encontramos, nos depoimentos desses docentes, um processo de
construção do conhecimento com características ligadas à cultura e aos
recursos naturais locais.
Nessa atividade, percebemos as sementes de um processo crítico-
reflexivo em constante construção, porque, a partir dessa proposta, houve mais
receptividade do grupo para atividades coletivas.
ANO 2004 – ATIVIDADE ILHA DO LAGO
A área fica no entorno da escola, no Jardim do Lago, ou seja, a Ilha
do Lago é uma extensão deste bairro, às margens da Rodovia Santos Dumont.
É um local que necessita, inclusive, de remoção de algumas famílias e a
abertura de vielas; também estão previstas a pavimentação das ruas e
medidas de contenção das margens do córrego Taubaté, que recebe esgoto
dos imóveis de áreas próximas. O córrego Taubaté recebe muitos detritos e
lixo doméstico que entopem a parte canalizada, provocando o transbordamento
dele e, conseqüentemente, a inundação de casas. Trata-se de um local que
não recebe atenção devida do poder público.
66
As atividades no ano de 2004, foram realizadas em dois momentos, a
partir de contato de uma Universidade local com a escola. O primeiro em
fevereiro, com a atividade “trote solidário”, e o segundo em outubro, que
abrangeu comunidade e a escola.
O primeiro momento envolveu alunos e professores da Unidade de
Ensino estudada, os quais juntamente com alunos da Universidade local,
fizeram o mapeamento da área definida como praça, que fica no entorno da
escola, sendo a atividade chamada de "Projeto de Praça para Comunidade Ilha
do Lago". Crianças da escola em estudo, também participaram de com
atividades preparadas pelos orientadores.
Em um segundo momento, a mesma Universidade participou da
"Festa da Criança", que uniu escola e comunidade. Na Unidade de Ensino em
análise, foi realizada a ‘Oficina de peixes’, atividade na qual os alunos da
escola em estudo, juntamente com os monitores (alunos da Universidade),
localizaram as bocas de lobo do entorno da escola e demarcaram, organizando
a pintura de peixes lembrando que a drenagem urbana alimenta os córregos e
as nascentes.
Foi realizada uma exposição de trabalhos confeccionados pelos
alunos da escola orientados pelos professores, sobre espécies de peixes que
haviam no córrego Taubaté, entre outros temas e palestras no próprio local.
Houve também apresentação de capoeira e de um grupo musical. Como
resultado final, foi entregue, para a comunidade
42
, um projeto para a
construção de uma sede e readequação da praça.
Essas ações, a nosso ver, contribuem para estreitar os laços da
escola com a sociedade, minorando o estigma da escola fechada/murada, e
refletem no ambiente escolar o sentimento de pertencimento da comunidade
em relação ao espaço – escola e vice-versa. São ações que reforçam nossa
percepção, pois, a partir dessa experiência, a referida praça que em outros
momentos foi alvo de atos de vandalismo, como depósito de entulhos, lixo,
entre outros, passou a ser chamada pelo primeiro nome da escola.
Essas experiências - Tom do Pantanal (2003) e Ilha do Lago (2004) -
em que atuamos como professora multiplicadora, possibilitou-nos ampliar
42
Através de representantes da Associação de Moradores da Ilha do Lago.
67
nossa visão e apontar não só sugestões para o aprimoramento contínuo,
privilegiando principalmente os caminhos, mas também as dificuldades para o
desenvolvimento de uma Educação Ambiental crítica no cotidiano escolar.
ANO 2005 – PROJETO ÁGUA HOJE E SEMPRE
Em 2005, a Diretoria de Ensino Campinas Leste, deu início a um
trabalho de capacitação de professores, referente ao projeto “Água hoje e
sempre: consumo sustentável”
43
, cujas peculiaridades estão em propor a
criação da Agenda Ambiental Escolar, visando à melhoria da qualidade de vida,
e pelo fato inovador de que o professor, representante da unidade de ensino,
poderia ser de qualquer área de atuação e não somente de Ciências e
Geografia, como determinado em capacitações de anos anteriores.
Consideramos um avanço, já que o tema transversal Meio Ambiente deve ser
trabalhado nas questões diárias de cada disciplina escolar, desmistificando
quem deve trabalhar o tema.
Na Unidade em estudo, o projeto teve início após a docente
representante (professora de Ciências) participar de orientações técnicas na
Diretoria de Ensino, passando, como professora multiplicadora, as
informações, documentos e resoluções sobre o tema para os demais
professores em HTPCs.
Considerando a visão da Secretaria de Estado da Educação – SEE,
vinculada ao projeto “Água hoje e sempre: consumo sustentável” e a
conseqüente inserção do tema no âmbito do cotidiano da escola fizemos, como
docente e pesquisadora
44
, uso da ‘observação livre’, sem separar esta ação do
seu contexto, para que, em sua dimensão singular, fossem estudados atos,
atividades, significados e relações (TRIVIÑOS, 1987).
A Diretoria de Ensino Campinas Leste encaminhou, posteriormente,
para análise do corpo docente da unidade em estudo, a publicação referente
ao projeto, para debate e construção da Agenda Ambiental na Escola, com
ênfase no tema água, com o intuito de estimular mudanças duradouras na
escola.
43
Ver anexo D.
44
Neste projeto atuei como professora na disciplina História e não como docente responsável.
68
Ressaltamos que tal Agenda é baseada no documento Agenda 21,
proposto durante a Rio 92. De acordo com o explicitado na publicação da
SEE/CENP (2004), uma agenda escolar é composta de várias abordagens, que
incluem temas como: lixo, violência, energia, conservação do patrimônio, entre
outros (p. 245).
Nas reuniões feitas nos HTPCs, os professores decidiram trabalhar o
tema: Água – uso cotidiano, relacionando somente às ações escolares, mas,
nas discussões coletivas, optaram por abrangê-lo e integrá-lo ao entorno vivido
e percebido pelos alunos.
Surgiram questionamentos, que denotam a preocupação do educador
com a realidade local e sua relação no contexto socioambiental, como
expressa o depoimento
45
:
É engraçado, mas às vezes de acordo com os alunos eles ficam
semanas sem água, principalmente no Monte Cristo, aí a gente fala
sobre economia de água (P.3).
Em outro momento, pudemos observar depoimentos onde a noção e
percepções de particularidades locais estão presentes:
Como falar de coleta seletiva de lixo se no Oziel existe depósito
clandestino de lixo (...) Os alunos riram, quando eu perguntei se eles
conheciam depósito clandestino de lixo, eles moram ao lado (P.4).
Percebemos o envolvimento dos professores com o tema ‘água’
através da inserção da dimensão ambiental em suas práticas pedagógicas. Na
interação professor-aluno, foram produzidos pôsteres, rapps (músicas),
paródias, histórias em quadrinhos, entre outros. No final do ano de 2005, o
material produzido pela escola foi levado para exposição, em um local
determinado pela Delegacia de Ensino.
Em dezembro de 2005, procedemos à aplicação do questionário
semi-estruturado, com perguntas fechadas de múltipla escolha e abertas,
partindo de observações, realizadas a priori, em reuniões de planejamento,
HTPCs e ‘observação livre’. As respostas ao questionário (anexo A), aplicado a
45
Os docentes da Unidade de Ensino serão denominados pela letra P. e um número , conforme o exemplo
P.1, P.2, e assim sucessivamente, tanto em depoimentos anotados em diário de campo, como no
questionário aplicado em dezembro de 2005.
69
20 docentes
46
da Unidade Escolar e o material coletado, juntamente com as
anotações e depoimentos registrados na orientação técnica realizada em
março de 2006, foram de grande valia para a reflexão e análise dos dados, que
ocorreram na sequência.
5 Da socialização dos resultados à necessidade da formação continuada
Como dissemos, este trabalho tem como principal objetivo contribuir
para as práticas pedagógicas relacionadas à formação continuada de
professores, as quais almejamos transformadoras e emancipadoras, a partir
dos pressupostos da Educação Ambiental crítica. Em outros termos, buscamos
compreender as formulações e posturas que fundamentam a prática dos
educadores que trabalham a dimensão ambiental em uma escola da Rede
Pública de Campinas - Estado de São Paulo.
Essa formação necessariamente deve possibilitar reflexões acerca da
problemática ambiental e da Educação Ambiental numa perspectiva mais
ampla do que a dimensão biológica ou de ações pontuais, como tem sido
salientado em trabalhos como os de Reigota (1995); Grün (1996); Tozoni-Reis
(2004) e Jacobi (2005).
Os depoimentos coletados
47
foram trabalhados a partir da análise de
conteúdo. Nesse sentido, exploramos os entendimentos a respeito da temática
em estudo, e percebemos a amplitude da visão dos professores questionados,
ultrapassando nossas premissas iniciais. Dentre eles, alguns apresentavam
respostas consistentes, vinculadas a atitudes, valores e tendências dos
professores que têm motivações para o trabalho com as questões ambientais, em
detrimento de outras com características e ações pontuais em Educação
Ambiental.
46
Esclarecemos que, da coleta de dados com os 20 docentes, obtivemos retorno de 12 questionários,
sendo que destes, 04 atuaram em projetos de Educação Ambiental nos anos de 2004 e 2005, mas não
fazem mais parte do quadro de docentes da escola a partir de 2006.
47
Com os professores atuantes na Unidade de Ensino pesquisada.
70
Essa percepção foi obtida, a partir de observações da rotina escolar
48
,
principalmente nas análises das falas, nas quais os professores demonstraram
estar sensibilizados com o tema em estudo e motivados para desenvolver em
suas práticas pedagógicas atividades que inserissem a dimensão ambiental.
Desse grupo de 12 professores, 2 têm formação acadêmica em
Ciências Biológicas e uma em Geografia e 9 afirmam não ter participado de
curso de capacitação em Educação Ambiental, entretanto, assinalaram
interesse em participar.
Com relação ao perfil desses docentes, os resultados gerais estão
sistematizados no quadro-síntese 1 (anexo E). Deste perfil, encontramos
características relevantes para nosso foco de análise, das quais destacamos: 5
professores atuam no magistério há mais de 15 anos; destes, 3 até o momento
não participaram de capacitação referente o tema Meio Ambiente. Há nas
respostas dos docentes um certo desamparo com relação à formação
continuada de temas emergentes, pois todos assinalam interesse em participar
desses processos. Dos 5 professores com as características descritas acima, 1
tem pós-graduação Lato Sensu e outro realizou uma segunda faculdade no
curso de Pedagogia, ocupando cargo de direção por vários anos na Rede
Municipal de Ensino.
Do total de 12 professores, 5 acumulam cargo, isto é, trabalham em
outra rede de Ensino, que não a estadual (municipal ou particular); isto pode
ser constatado ao observarmos o quadro-síntese 1 (anexo E), 6 professores
atuam em Ensino Médio, do que se pode concluir que a carga-horária destes
professores é extensiva a outros espaços e não somente ao espaço estudado.
Traçado este perfil, levamos em conta, em um primeiro momento, as
informações coletadas sobre o conhecimento da realidade ambiental e
identificação de sua dimensão sócio-política, pois consideramos estas
importantes para a formação dos professores como educadores na escola.
Para a interpretação e análise das informações coletadas, nos baseamos em
Zeichner (1993), que ressalta a importância da reflexão como ato dialógico e
como uma das dimensões do trabalho pedagógico. Levamos em conta, para
48
Observações realizadas no período de maio a novembro de 2005.
71
uma melhor compreensão da figura do professor, as condições de produção
desse trabalho, isto é, a sua vinculação com as condições sociais, políticas e
econômicas.
Consideramos, ainda, na análise dos depoimentos as atividades
pontuais descontextualizadas, ou seja, as que se referem a ‘economia da
água’, sem levar em conta o contexto sócio-econômico vivido, como a
dimensão transversal alcançada nas atividades de Educação Ambiental e,
ainda, em que medida elas se alinham às práticas conservadoras ou críticas do
contexto histórico vivido.
Dentre as questões elaboradas, a questão 10 é importante na medida
em que todos os professores assinalaram que procuram inserir o tema no
decorrer das aulas, dando a conotação transversal à temática, como podemos
verificar nas respostas. Por outro lado, nessas respostas observamos que,
comparados a conceitos como conscientização e sensibilização, os termos
preservação, economia e desperdício demonstram posições ligadas a práticas
pedagógicas isoladas, fragmentadas e descontextualizadas do entorno sócio-
econômico vivido, que está ligado à exclusão social e pobreza. As falas que
seguem confirmam nossa observação :
Nas disciplinas ciências e biologia as questões ambientais são
recorrentes. Por exemplo, temas como: desmatamento, poluição da
água e do ar, camada de ozônio, lixo e reciclagem sempre são
lembrados e discutidos mesmo em atividades corriqueiras (P.1).
Por exemplo: ao ensinar a dissertação uso como tema algo
relacionado ao meio ambiente – água, florestas,ar etc. (P.2).
Com a utilização de gráficos e tabelas procuro discutir a temática com
os alunos (P.3
).
Procuro de acordo com o conteúdo a ser trabalhado inserir o assunto
em pauta. Por exemplo: matemática – gráficos, ciências – textos
atuais e reportagens (P.4).
Procuro sempre trabalhar com a temática relacionada ao meio
ambiente com os alunos (as) em sala de aula, principalmente
abordando o assunto com o cotidiano e a realidade da comunidade
local, demonstrando assim que a “ciência” é um processo inacabado e
que necessita de uma abordagem cotidiana. Esse projeto tem por
objetivo trabalhar com temas relacionados ao meio ambiente,
principalmente a água que é um bem necessário a todos os seres
vivos, melhorando assim o meio onde estão inseridos, englobando
todas as disciplinas (P.6).
72
Através de gráficos e tabelas.(P.7).
Através do estudo do meio, motivando os alunos a observar o seu
lugar de vivência para poder compara-lo com outros lugares (P.9).
As atividades propostas são direcionadas ao tema. Os temas
ambientais são inseridos em textos (narrativos, descritivos e
dissertativos) e através de filmes, pesqas e trabalhos (seminários,
teatro, etc.) (P.10).
Nada em educação é compartimentalizado e podemos relacionar
todos os conteúdos dentro do contexto, por exemplo: história da água,
pesquisa sobre saneamento básico, rios da região e etc.(P.11).
Nos depoimentos dos professores P.6, P.9 e P.11, observamos a
existência de reflexões que procuram ampliar para o contexto local as suas
práticas educativas. Entretanto, encaminham, de modo geral, as atividades de
forma descontextualizada, desconsiderando os aspectos sócio-históricos dos
problemas detectados, bem como uma visão biologizante do tema,
desconsiderando-se aí a realidade local e os sérios problemas sócio-
ambientais existentes. Pode-se, conforme Reigota (1995), classificar essas
representações associadas à noção de meio ambiente do tipo naturalista: que
se caracteriza por evidenciar somente os aspectos naturais do ambiente;
Percebemos que o entendimento destes professores sobre
conscientização e preservação apóia-se no tripé: informação, atitude individual
e sensibilização, em detrimento da dimensão política do processo educacional,
conforme nos alerta Tozoni-Reis (2004):
Constatada a crise da utilização dos recursos naturais pelo
desenvolvimento dos conhecimentos ambientais, conquistado pelas
ciências da natureza, a lógica que emerge do próprio
desenvolvimento é a utilização racional desses recursos. Então, a
Educação Ambiental tem como função adaptar os indivíduos à
sociedade e esses às condições limitadas do ambiente natural. Essa
adaptação se faz a partir da preparação intelectual:
transmissão/aquisição de conhecimentos científicos acerca do
ambiente. Aos educadores ambientais cabe, então, a função de
transmissão, mecânica, de tão importantes conhecimentos (p. 103).
73
Nos depoimentos referentes a questão 12
49
, há elementos pertinentes,
para nos situarmos e entender suas percepções, ou seja o que julgam
importante para uma atividade educativa com ênfase na dimensão ambiental:
Os alunos jogavam papel no chão o tempo todo, (papéis de bala)
levei para a sala de aula um pote e o deixei sobre minha mesa, ali
eles colocavam os papeis de bala. Depois, montamos um planeta
Terra, estilo mosaico, com papéis de bala amassado. O resultado foi
interessante e os alunos observaram de uma forma diferente, não
sei explicar o que percebi naquele momento, foi uma mudança de
comportamento. Não sei se vai durar sempre essa mudança de
comportamento, pelo menos é um insight para eles refletirem (P.1).
Como já mencionei o trabalho com textos dissertativos/opinativos
com o tema foi bastante significativo pois, a partir deles , foi possível
ver as opiniões e sugestões dos alunos, partindo do conhecimento
deles sobre o assunto (P.2).
Foi um teatro elaborado pelos alunos, relatando a diferença de
quando temos água e da seca. Houve a apresentação deste teatro
para a escola e para a comunidade. E danças com o tema água,
parece que eles se envolvem mais (P.3).
Participei uma vez de uma visita a uma fonte de água mineral. Lá
pude presenciei desde a extração até o carregamento dos
caminhões com os galões. Tudo muito organizado e especial, tanto
para mim como para meus alunos que também foram (P.4).
Tanto a montagem de painéis, abordando o tema meio ambiente,
onde os alunos realizaram uma pesquisa de dados e coleta de
informações com a comunidade (terrenos baldios, lixos, arborização
local) onde posteriormente foram elaborados pelos alunos um
trabalho sobre melhorias locais para a comunidade - reciclagem ,
coleta de lixo, - horta na U.E, limpeza do terreno da própria casa,
conscientização quanto ao consumo exagerado de água no dia-a-
dia (P.6).
No Projeto Educação Fiscal, onde trabalhamos sobre consumo de
água,fizemos gráficos, foi realmente um processo de
conscientização (P.7).
No uso cotidiano da água apresentei atividades que se destinavam
a sensibiliza-los para o tema a partir de uma problematização sobre
o papel da água no cotidiano, a partir daí os alunos viram que é
possível economizar água (P.9).
49
“Em sua prática pedagógica (no cotidiano da sala de aula), cite uma atividade com ênfase à questão
ambiental que foi significativa para você e seus alunos”.
74
No Projeto água um dos temas era a conscientização do
desperdício e os alunos se envolveram de tal forma que passaram a
ser vigilante na comunidade, elaborando cartazes e conversavam
com as pessoas (colegas, professores, pais) sobre o assunto. Essa
experiência foi com alunos de 6ª série do ensino Fundamental
(P.11).
Nesses depoimentos é possível ler o caráter contraditório das
atividades e dos processos com ênfase na dimensão ambiental. Há momentos
em que se nota posturas e falas críticas, em outros, percebe-se um
entendimento mais conservador, ambíguo e contraditório. Por outro lado, é
interessante ressaltar que o elemento lúdico tem sido utilizado como
instrumento pedagógico, como no exemplo dos papéis de balas e elaboração
de teatro (P.1 e P.3), que levam em conta não somente a questão política da
Educação Ambiental, mas sensações e valores. Com isso, estimula-se tanto no
docente, como no aluno, o desejo de inserir no ambiente educativo o contexto
socioambiental. Observa-se, ainda, depoimentos (P.3 e P.1) que demonstram a
presença de sentimentos, como uma forma de vincular o cognitivo ao lúdico,
Contudo, percebemos em um depoimento (P.1) uma desmotivação no
trabalho docente, o que acreditamos estar ligadas às condições profissionais
concretas:
(...) Na minha opinião o Projeto Ilha do Lago foi complicado, não senti
a integração da escola com a Universidade, não houve uma troca.
Acreditei no projeto, mas acho que deveria ser reformulado porque
trata do tema qualidade de vida, mas, não da forma como veio sendo
aplicado, ou seja, a escola assume o projeto, como um todo, no final
quem trabalha são os professores. A Universidade não valoriza a
participação da escola. A sensação que fica no ar é de que somos
usados. Não descarto nenhum projeto, mas acho importante avaliar
qual trará benefício e significado para a realidade da escola. Agora
esse projeto da Água, a única coisa que vi foi o material mais nada,
não adianta a gente se enganar. Porque é assim que acontece,
depois vem a cobrança. Com relação ao Projeto Água hoje e sempre
a única coisa que chegou até nós foi o livro, fica difícil assim (P.1).
Nos depoimentos que seguem, procuramos compreender os sentidos
produzidos nas práticas educativas dos professores, procurando perceber
75
opiniões e envolvimento sobre o projeto de Educação Ambiental vivenciado em
2005, “Água hoje e sempre”, da Secretaria de Estado da Educação
50
:
Conheço-o por estar na rede estadual e ter que aplicá-lo com minhas
turmas ( P.1).
Trabalhamos com temas relacionados ã preservação da água –
cartazes, redações e pesquisas ( P.2).
É um projeto para conscientizar os alunos ã mudar a maneira de
utilização da água, evitando o desperdício em casa, na escola, etc.
(P.3).
É um projeto ótimo onde procura conscientizar a comunidade escolar
e os familiares da importância da preservação dos recursos hídricos,
necessários à nossa sobrevivência ( P.4).
Esse projeto tem por objetivo trabalhar com temas relacionados ao
meio ambiente, principalmente a água que é um bem necessário a
todos os seres vivos, melhorando assim o meio onde estão inseridos,
englobando todas as disciplinas (P.6).
Fala da conscientização sobre o desperdício (P. 7).
Esse projeto apresenta atividades interdisciplinares que vão contribuir
para o trabalho do professor na formação de cidadãos consciente
relação à necessidade de redução do consumo de água e da
conservação da qualidade desse bem essencial à humanidade (P.9).
Trabalhei com temas referente a água, é um projeto da Secretaria
Estadual de Educação (P.11).
Observamos que o projeto “Água hoje e sempre”, assim como outros
projetos implementados pela Secretaria Estadual de Educação, parecem ser
conduzidos como uma obrigação, o que interfere e traz dificuldade de
implementação/avaliação/assimilação. A dificuldade de implementação dessas
atividades na escola estudada, mesmo para os professores efetivos no cargo,
está relacionada, ao nosso ver, a fatos como: depender de horas de trabalho
na maioria das vezes sem remuneração, bem como não haver nenhum retorno
institucional pelo trabalho realizado, muitas vezes, com recursos e motivações
próprias:
50
Referente a questão 11 “O que você sabe sobre o Projeto Água hoje e sempre, da Secretaria de Estado
da Educação?”
76
A maioria dos meus trabalhos eu mesmo preparo, tiro cópia, mas, no
momento de apresentar os trabalhos aí vai o nome da escola, da
Direção. Acho que é somente a vontade de fazer que nos motiva, a
vontade pessoal, porque se depender do Estado (...)(P.4).
Sem o apoio da Direção e da Coordenação, sem apoio financeiro. O
professor tira dinheiro do próprio bolso para realizar atividades
diferenciadas (P.9).
Foi entregue material, mas o número é insuficiente, partia mais de
uma vontade pessoal. A escola já é carente e o professor tem que
tirar xerox (P.3).
Observamos que na reunião de orientação técnica para avaliação do
Projeto “Água hoje e sempre: consumo sustentável”, realizada em março de
2006, em que participaram professores multiplicadores das escolas ligadas à
Diretoria de Ensino Campinas Leste, embora expressem um consenso com
relação à viabilidade do projeto, as falas expressam descontentamento de que
o professor multiplicador fica sozinho para desenvolver sua parte e que há
resistências, desde o professor até a Direção. Há ainda falas mais incisivas,
que ressaltam a necessidade de mudar nosso papel como educadores.
Na visão da SEE/CENP (2004), há uma exigência fundamental que
define que a direção da escola precisa querer investir na proposta e ter um
comprometimento total em todo o processo. Contudo, os professores rebatem,
de forma crítica, que a Secretaria da Educação volta seu olhar apenas para a
escola, e que poderia entrar em contato com as ONGS para ampliar suas
ações. Ressaltam, ainda, que essas organizações, os setores públicos e o
privado vêem a escola tanto como o espaço para a formação do indivíduo, mas
também para transmissão de suas idéias/ideais
51
.
De uma maneira geral, verificamos que existe uma preocupação por
parte dos professores entrevistados em desenvolver atividades a serem
trabalhadas durante todo o ano letivo, contudo, muitos deles não conseguem
relacionar a Educação Ambiental aos conteúdos curriculares. Isto ocorre
porque os conceitos de Educação Ambiental e transversalidade não estão bem
definidos para esses professores, os quais, acreditamos, necessitam de
espaços de diálogo e formação.
51
Anotações realizadas em março de 2006,durante reunião de Avaliação do Projeto.
77
Os professores de Português, Ciências e Geografia, da unidade
estudada, são o que mais demonstram interesse em atividades de Educação
Ambiental. Os professores de Matemática mostraram, nos depoimentos, que
atribuem importância ao tema como conteúdo transversal.
Em outra questão, referente à forma como se obtém informação com
relação ao tema transversal meio ambiente (quadro-síntese 2 - anexo E), 5 dos
professores assinalaram o item referente ao HTPC. Entretanto, demonstram
em suas falas, descontentamento com a qualidade e quantidade desse tempo.
O que fica claro, é que esse momento, além de acontecer num período
relativamente curto de tempo
52
para a construção de um tema ou proposta, não
se constitui espaço de diálogo e reflexão coletiva, como é ressaltado:
Não há tempo para discussão dos problemas e nem das soluções.
Quando ocorre um problema o professor se vira sozinho (P.1,2005).
O projeto é superviável em todos os níveis. A dificuldade é a jornada
de trabalho, nos HTPCs, não temos espaço, pois há outros temas
tratados. Isso sobrecarrega sempre um professor (P.2,2005).
Parte sempre da vontade do professor, as condições objetivas não
são dadas, nem tempo para discussão coletiva (P.5,2005).
...(...) pelo menos nos encontramos, quem tem interesse no assunto
procura o colega, para debater depois. Pergunto: quando?
Depois?(P.6,2005).
(...) é importante mostrar para as áreas como pode trabalhar. Falta
tempo viável para discussão dos projetos da Unidade de Ensino. O
Diretor tem medo de parar a aula (P.7, 2006).
Outro fator que nos chamou a atenção foi a proposta de trabalho da
Agenda 21 Escolar, parte de um documento aprovado na Rio-92, que
apresenta algumas iniciativas para o âmbito local. No processo de elaboração
e implantação da Agenda 21 Escolar, as ações docentes são realizadas
através de conhecimento empírico sobre o tema, pois percebemos que, quando
os professores são questionados sobre esse documento, grande parte o
conhece parcialmente (quadro-síntese 2 - anexo E). O mesmo observamos em
relação às leis e documentos ligados à educação e especificamente à
Educação Ambiental, que a maioria dos professores desconhece.
52
Por exemplo: Jornada Básica de Trabalho Docente, com 25 horas/aula com alunos, 2 horas/aula de
HTPC.
78
Com relação à atividade docente, muitas vezes as práticas não são
avaliadas e registradas, individual ou coletivamente, a fim de servirem de
subsídio para futuras ações ligadas ao ensino e pesquisa e, quando ocorrem,
são em forma de exposição dos trabalhos realizados pelos alunos, sem a
devida valorização, conforme fala da professora multiplicadora: ‘A
apresentação do ano passado ficou de nós para nós. Os alunos não viram, a
sociedade, a imprensa, ninguém’ (P.6).
Assim, trabalhar com o projetoÁgua hoje e sempre: consumo
sustentável” e a implementação inicial da Agenda 21 Escolar trouxe à tona os
problemas socioambientais da escola em análise e da comunidade, mas
também a complexidade das relações envolvendo questões profissionais e
pessoais ligadas à formação continuada de professores. Julgamos, portanto,
que entre o desamparo e a vontade, não se concretizam espaços de formação
ou informação que subsidiem as práticas pedagógicas de professores.
Tais constatações referem-se, não pela falta de interesse dos
professores, mas a algumas dificuldades citadas, fato constatado nos
depoimentos, nos quais os professores assinalam que não participaram de
cursos, até o momento, mas há interesse. Por isso, nos parece existir um
vácuo, uma distância, entre o querer e o fazer.
Poucos professores assumem que o tema está pouco vinculado às
suas disciplinas; percebem, contudo, que a questão ambiental é um problema
que deve ter conotação transversal. Ou seja, por ser uma postura que pode
permear sua prática pedagógica, esta questão não é de responsabilidade de
uma disciplina ou deste ou daquele professor. Contudo, no momento da
execução prática acabam por atribuir a tarefa da Educação Ambiental para
professores de Ciências e Geografia. Nesse contexto, entretanto, observamos
que este fato está ligado mais às dificuldades de apresentação adequada da
temática do que à falta de vontade do professor.
Por fim, acreditamos que projetos com ênfase na dimensão ambiental
podem ser um importante subsídio para a construção do Projeto Político-
Pedagógico das instituições de ensino, pois se constitui em uma tentativa para
a inserção das questões socioambientais locais no ambiente escolar, desde
que acompanhada da reflexão coletiva dos professores sobre a realidade em
que estão inseridos.
79
De forma geral, há nos depoimentos dos professores noções de
interdisciplinaridade e posturas crítica ao processo educativo. Para uma análise
adequada desses depoimentos, considerando o rigor científico, optamos por ler
estas informações, ou retiramos delas aspectos e elementos comuns, os quais
possibilitaram a construção de uma categoria, ou seja, verificamos o que as
une, a partir da categoria de análise “professor crítico”, tendo como base os
autores que dão suporte a esse estudo.
Intencionando delinear o perfil do profissional que poderá atuar em
projetos educativos na Educação Básica, com ênfase na questão ambiental,
recorremos a Loureiro (2004), que ressalta a importância da competência
técnica, mas chama a atenção para o fato de que o professor crítico não pode
ignorar suas atribuições e compromissos sociais e políticos junto aos sujeitos
com os quais se relacionam. Daí, a necessidade, no caso específico da
formação continuada de professores, de evidenciar a valorização da orientação
para estudos que discutem a prática reflexiva dos docentes em ação,
privilegiando os saberes construídos nessa prática como essenciais para a
construção da profissão docente.
Portanto, o trabalho com as questões ambientais na perspectiva da
formação de professores, num momento de inquietação e de grandes
transformações, não pode se eximir de suas implicações políticas e sociais, e,
como tal, em suas práticas metodológicas e didáticas há que enfatizar os
aspectos relacionados ao porquê devemos ou não fazer uma determinada
coisa, e não apenas aceitar as receitas e soluções através das quais iremos
aprender/ensinar o como fazer. Em outros termos, o trabalho com essas
questões pressupõe a adesão da Educação Ambiental, como educação política
(Reigota, 1995 e Loureiro, 2004). Partindo desta premissa, a escola se constitui
em um importante , e talvez o único, território para a realização e reflexão da
Educação Ambiental, desde que se dê oportunidade à criatividade de
educandos e educadores.
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Trabalhar a questão ambiental no processo educativo no cotidiano da
escola e, em especial, no contexto da Rede Pública Ensino do Estado de São
Paulo, no município de Campinas, abriu-nos possibilidades de reflexão,
constatações e descobertas.
No contato mais próximo com os professores, observamos que estes
relatam suas agruras e desmotivações, mas também expectativas em um
processo constante de busca do novo, procurando responder a seus anseios
profissionais e pessoais.
Se a LDB 9394/96 traz a necessidade de consolidação de espaços de
formação continuada e determina outras mudanças educacionais que afetam o
cotidiano dos profissionais da educação, é necessário auxiliar esses
profissionais a terem mais segurança. Constatamos ainda, e a partir dessa
proximidade com esses sujeitos, visões ambíguas, especialmente em projetos
de Educação Ambiental ou quando procuramos detectar se a prática
pedagógica está em consonância com os pressupostos da Educação
Ambiental crítica. E há dificuldade em delimitar uma postura crítica ou
conservadora dos professores, que acreditamos estar relacionada a um
processo de construção de novas propostas pedagógicas, nas quais as
tendências ainda estão sendo definidas.
Trouxemos essa observação à tona, pois, muitas vezes, os projetos
com ênfase na dimensão ambiental têm, em seus discursos, propostas
renovadoras e transformadoras. Entretanto, o que assistimos na prática é que
os mesmos propalam mudanças, mas deliberam ações pontuais, perpetuando
assim o caráter conservador e reprodutivista para a educação.
Acreditamos que isso se deve ao fato de que, assim como não existe
uma escola ideal, idealizarmos projetos utópicos e/ou a figura de um professor
81
irreal, criada a partir de estereótipos, não auxiliará na contribuição para a
formação do educador crítico, como agente de transformação social.
Percebemos, no contato e convivência com docentes da Rede Pública
Estadual, que, embora carreguem um estigma e estereótipos - despolitizados
e despreparados –, expressam em suas falas ser necessária uma atenção
maior ao docente em exercício, até porque os poderes públicos e privado
defendem seus interesses próprios, o que na atualidade não condizem com os
dos professores. É importante, nesse contexto, (re)aproximar professor e
Secretaria Estadual de Educação, propondo um diálogo entre as partes, para
caminharmos na construção de propostas profícuas.
Acreditamos, dentro dos limites e possibilidades dessa pesquisa, na
necessidade de incentivar na escola um trabalho coletivo, capaz de
desencadear reflexões e ações que levem o professor a compreender as
questões ambientais para além de suas dimensões biológicas, refletindo sobre
aspectos políticos sócio-econômicos e éticos, em um processo contínuo de
formação do professor crítico.
Ressaltamos aqui, como um problema detectado, a necessidade de
maior atenção para o horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPCs), pois,
como observamos nos depoimentos, além de ocorrer num período menor de
tempo para a construção de um tema ou proposta, não se tem outro espaço
para diálogo e reflexão. Um dos grandes desafios é que o professor é cobrado
por um trabalho que deve ser coletivo, mas, no entanto, as condições de
trabalho o limitam, dificultando, assim, uma atuação didático-pedagógica de
qualidade.
Observamos que predominam no cotidiano da escola aspectos
conservadores, que mantêm as estruturas prescritas pelos organismos
multilaterais. Constatamos que essa característica ressalta o fato de estarmos
dentro de um modelo de racionalidade técnica, daí a dificuldade em
implementar propostas diferenciadas. A esse movimento, Guimarães (2004)
denominou de ‘armadilha paradigmática’.
Não cair nessa armadilha, ou romper com a mesma, parte de um
movimento individual que, em diálogo com o coletivo e o pensamento crítico,
reforçará um movimento contra-hegemônico a partir da educação.
82
Em nosso entender, esse movimento deverá partir da troca de
experiências na escola, partilhando-se saberes, informações e incertezas,
constituindo-se, assim, um espaço de formação coletiva. Consolidando
espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a
desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando
(GUIMARÃES,1995).
Nesse contexto, a escola como espaço de formação coletiva do
professor poderá se constituir como local de troca, reflexão e pesquisa,
ultrapassando a visão fragmentada da realidade, superando o individualismo,
que leva a uma concepção conservadora de educação.
O trabalho pedagógico pressupondo o educador que tenha uma visão
ampliada da realidade levará à criticidade, refletindo sobre o contexto sócio-
econômico e histórico em que está envolvido. Este perfil relaciona-se com o
educador-pesquisador que procura desenvolver uma prática pedagógica ligada
à dimensão ambiental.
Nesse sentido, e levando em conta os determinantes político-
econômicos que ditam as regras para a educação, propomos, a partir da
escola, uma alternativa de formação permanente do professor. Não uma
mudança do lugar de formação, tirando aí o papel do Estado em fomentar
políticas públicas para formação continuada de professores, mas situar a
formação para construção de propostas coletivas, dando maior autonomia à
escola numa reconstrução da cultura como objetivo primordial em um processo
de participação, envolvimento e pertencimento.
Acreditamos não ser tarefa fácil, diante da realidade com que os
professores se deparam. Entretanto, devemos, apesar das condições
profissionais e estruturais atuais, nos unir, no sentido ético-profissional, para
fortalecermos nossas concepções e lutarmos, a partir dos pressupostos da
Educação Ambiental crítica, para as transformações e rupturas que almejamos,
ou seja, uma atitude de diálogo, na intenção de ultrapassar concepções
pontuais, para uma formação que valorize o conhecimento do professor em um
processo reflexivo que busca contribuir para uma análise do próprio fazer
docente. Necessita-se, assim, construir novos caminhos, com novos valores e
novas relações entre sociedade e natureza.
83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB´SABER, A.N. (Re)conceituando Educação Ambiental In: MAGALHÃES,
L.E. A questão ambiental. São Paulo: Terra Graph, 1994.
AMARAL, I.A. Onde se oculta o ambiente no currículos escolares.
Campinas, Faculdade de Educação / UNICAMP, mimeo, 1999.
AMARAL, I.A. Em busca da planetização: ensino de ciências para a
educação ambiental. 434 f. Tese (Doutorado em Pedagogia) – Faculdade de
Educação - Universidade Estadual de Campinas, BRASIL, 1995.
BARDIN, L.. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília,DF: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura; Lei 9.394, Estabelece as Diretrizes
e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF,dez. 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura; Parâmetros curriculares
nacionais. Brasília: MEC, 1997 (2ª versão).
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura; Parâmetros curriculares
nacionais terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos
parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998.
BRASIL, Lei 9.795/99; Política nacional de educação ambiental, Brasília,
MEC, 1999
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura; Panorama da Educação
Ambiental no Brasil. Brasília,DF: MEC/SEF,2001.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, Programa parâmetros em ação,
meio ambiente na escola: guia do formador. Brasília: MEC/SEF, 2001.
84
BUENO, L.M.M. Agua, pobreza e degradação. (p.14-15) in Educação
Ambiental: um olhar atento, crítico e articulado. Campinas; Cadernos de
Extensão Puc-Campinas, nº02, 2005, p.14-15.
BRÜGGER, P. Educação ou Adestramento Ambiental? Florianópolis: Letras
Contemporâneas, 1994 (coleção Teses).
CANDAU, V.M. (Org.) Reiventar a escola. Petrópolis:Vozes, 2000.
CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico.
São Paulo: Cortez, (Coleção Docência em Formação), 2004.
CARVALHO, I.C.M. A invenção ecológica. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2001.
CARVALHO, I.C.M. Em direção ao mundo da vida: Interdisciplinaridade e
Educação Ambiental. São Paulo: SEMA & IPÊ, 1998.
CARVALHO, I.C.M. Territorialidades em luta: uma análise dos discursos
ecológicos. Série registros, nº 9, p. 1-56, São Paulo: Instituto Florestal,
Secretaria do Meio Ambiente, 1991.
CASCINO, F. JACOBI, P., OLIVEIRA, J. F. Educação, meio ambiente e
cidadania: Reflexões e Experiências. São Paulo: SEMA, CEAM, 1998.
ENGUITA, M. F. A face oculta da escola. Educação e Trabalho no
Capitalismo; Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FERREIRA, L.C. & VIOLA, E. (Orgs.) Incertezas da Sustentabilidade na
Globalização. Campinas: Ed. Unicamp, 1995.
FREIRE, P. & GUIMARÃES, S. Sobre educação (Diálogos), Vol 1. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo, Cortez, 1991,
85
FREIRE, P., Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do
Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997
GARCIA C. M. A formação de professores: novas perspectivas baseadas na
investigação sobre o pensamento do professor. In.:NÓVOA, A. (coord.) Os
professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. pag.54-68.
GIROUX, H. Os professores como intelectuais . Porto Alegre: Artes Médicas,
1997.
GOUVEIA, M.S.F. Formar - Ciências - Parâmetros teóricos - metodológicos
para pesquisa no campo da formação de professores de Ciências. Documento
formulado para discussão. Campinas, 1999
GRÜN, M. Ética e educação ambiental - A Conexão Necessária. Campinas:
Papirus, 1996.
GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas:
Papirus, 2004.
GUIMARÃES, M. A ética da sustentabilidade e a formulação de políticas de
desenvolvimento. In: VIANA, G. et al. (Org.) O desafio da sustentabilidade.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.pag.51
GUIMARAES, M. Educação Ambiental: no consenso em embate? Campinas:
Papirus, 2000.
GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação. Campinas: Papirus,
1995.
JACOBI, P. Educação Ambiental: o desafio da construção de um pensamento
crítico, complexo e reflexivo; Educação e Pesquisa, v. 31, n. 2, p. 233-250,
São Paulo: 2005.
JACOBI, P. Educação: Ampliação da Cidadania e Participação. Educação e
Pesquisa, Revista da Faculdade de Educação da USP, SP,: v. 26, n. 2, p. 11-
29, jul./dez., 2000.
86
JACOBI, P. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a
reflexão. In: CAVALCANTI, C. (Org.). Meio ambiente, desenvolvimento
sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez Editora, 1997.
LEFF, E. La pedagogia del ambiente. In Formación Ambiental, v. 6, n. 12,
p.18 - 21, 1995.
LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.
LIMA, G. C. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a
educação. Ambiente & Sociedade, Campinas: NEPAM/UNICAMP, vol. 6, nº2,
jul-dez, p. 109-120, 2003.
LIMA, G. C. Questão ambiental e educação: contribuições para o debate.
Ambiente & Sociedade. Ano 2, N° 5, p. 135-153, Campinas: 1999.
LOUREIRO, C. F. B.Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São
Paulo: Cortez, 2004.
LOUREIRO, C. F. B. Crise ambiental, educação e cidadania. In:
LAYRARGUES, P. P. Castro, R. S; LOUREIRO, C. F. B. (orgs) Educação
ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002.
MARIN, A.J. Educação continuada: introdução a uma análise de termos e
concepções. Cadernos CEDES, nº 36,1995.
MELO, M.T.L. Educação e Sociedade vol.20 n.68 Campinas, 1999 in
http://www.scielo.br/scielo.php/lng_en
NOBRE, M.; AMAZONAS, M. Desenvolvimento sustentável: a
institucionalização de um conceito. Brasília: Edições IBAMA, 2002.
NORONHA, O. M., Políticas neoliberais, conhecimento e educação,
Campinas: Editora Alínea, 2002.
NOVAES, R.C. Educação ambiental. “Tbilisi, 1977 – Rio de Janeiro, 1992.
Análise comparativa de documentos internacionais”. In: Meio Ambiente Ecos da
Eco, 1993.
87
NÓVOA, A. Professor se forma na escola. Nova escola, 142. 2001
NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Portugal: Publicações Dom
Quixote Ltda., 1995.
NÓVOA, Antonio (org.). Profissão professor. 2ª edição. Porto: Porto Editora.
1991.
OLIVATO, D. Escolas do Rio e de Minas implantam a Educação Ambiental
de forma diversificada. Rede Brasileira de Educação Ambiental. São Paulo.
Mai.2004. Disponível em <http://www.rebea.org.br>.
ORR, D. Ecological Literacy - Education and the Transition to a Postmodern
World. Albany: State University of New York Press, 1992.
PIMENTA, S. Garrido (org.) Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São
Paulo: Cortez, 1999.
PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia. A experiência da Itália moderna.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996
REIGOTA, M. Meio Ambiente e Representação Social. São Paulo: Cortez, n.
41, 1995, ( Questões da Nossa Época).
REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 1994,
(Coleção Primeiros Passos).
REIGOTA, M. Ecologia, elites e intelligentsia na América Latina: um estudo
de suas representações sociais. São Paulo: Annablume, 1999.
RIBEIRO, G.L. Ambientalismo e desenvolvimento sustentado: nova/utopia do
desenvolvimento”. Revista de Antropologia, nº 34, 59-101, São Paulo: USP,
1991.
SÃO PAULO (Estado) Secretaria de Meio Ambiente. Conceitos para se Fazer
Educação Ambiental. São Paulo: COEA/SEMA, 1999.
SATO, M., Formação em Educação Ambiental –da escola à comunidade. In:
Panorama da Educação Ambiental no ensino fundamental. Brasília: MEC;
SEF, 2001.
88
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo. Porto Alegre: Artes Médicas,
2000.
SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA
(org.). Os professores e sua formação. Lisboa. Dom Quixote. 1997.
SEE/CENP. Água hoje e sempre: consumo sustentável”, Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, São Paulo,
2004.
TOMAZELLO, M.G.C. FERREIRA, T.R.C. Educação Ambiental: que
critérios adotar para avaliar a adequação pedagógica de seus projetos.
Ciência & Educação. Piracicaba, 2001.
TOMAZELLO, M. G. C. GUIMARÃES, S.S.M. A Formação Universitária para o
Ambiente: Educação para a Sustentabilidade. Ambiente & Educação, Rio
Grande: Editora da FURG v. 8, p. 55-72 , 2003.
TOZONI-REIS, M.F.C. Educação Ambiental: natureza, razão e história, São
Paulo: Autores Associados, 2004.
TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
VIEZZER, M.L. & OVALLES, O. Manual Latino-Americano de Educação
Ambiental. São Paulo: Gaia, 1994.
ZEICHNER, K. A formação reflexiva do professor: Idéias e Práticas. Trad.
Maria Nóvoa. Lisboa: Educa, 1993.
ZEICHNER, K. Para além da divisão entre professor-pesquisador e
pesquisador-acadêmico. In: FIORENTINI, GERALDI E PEREIRA (orgs.).
Cartografias do Trabalho Docente. Campinas: Mercado de Letras. 1998.
ANEXOS
ANEXO A
Educação Ambiental Crítica: Contribuições Para Formação De Professores
CAMPOS, Rosilene A.; CAMARGO, Dulce Maria Pompêo de. Programa de
Pós-Graduação em Educação da PUC-Campinas-SP.
ESCLARECIMENTOS
Como aluna do Programa de Pós Graduação em Educação da PUC – Campinas,
procurando analisar para práticas pedagógicas e pesquisas em educação
ambiental, solicito sua contribuição, respondendo às questões propostas. Suas
informações são extremamente importantes e serão utilizadas para a pesquisa.
Em nenhum momento identificaremos quem respondeu. Nos colocamos à
disposição para eventuais sugestões e esclarecimentos.
IDENTIFICAÇÃO
1) Sexo: masculino ( ) feminino ( )
2) Tempo de atuação no Magistério:_____________
3) Formação acadêmica:
( ) Graduação (área________________________)
( ) Pós-graduação – Lato Sensu _______________
( ) Pós-graduação – Stricto Sensu______________
4) Atuação:
( )Rede Pública l Estadual ( ) Rede Pública Municipal
( ) Rede Particular ( ) Ensino Fundamental
( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior
5) Disciplina(s ) que leciona _______________________________________
QUESTÕES ESPECÍFICAS
6) Realização de cursos de capacitação vinculados à questão ambiental:
( ) já participou - Qual (is) _____________________________________
( ) nunca participou ( ) tem interesse ( ) não tem interesse
7) Informações sobre o tema transversal - meio ambiente:
( ) PCNs ( ) HTPCs ( ) Pesquisas
( ) Prof. Multiplicador (que participa de capacitações) ( ) Outros______________
8) Assinale a lei/documento que você conhece:
a) LDB 9394/96 ( ) na íntegra ( ) parcial ( ) não conhece
b) PCN/98 ( ) na íntegra ( ) parcial ( ) não conhece
c) PNEA 1999 ( ) na íntegra ( ) parcial ( ) não conhece
d)Agenda 21 – 1992 ( ) na íntegra ( ) parcial ( ) não conhece
e) Tratado de EA p. Soc. Sustentáveis – 92
( ) na íntegra ( ) parcial ( ) não conhece
9) Com relação ao tema Agenda 21 escolar, você:
( ) conhece ( ) desconhece
( ) já trabalhou com o tema ( ) não trabalhou com o tema
10)Para desenvolver seu trabalho pedagógico relacionado às questões
ambientais, você:
( ) interrompe o conteúdo de sua disciplina
( ) procura inserir a temática no decorrer das aulas
Justifique sua resposta, se possível com exemplos.
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
____________
11) O que você sabe sobre o Projeto Água hoje e sempre, da Secretaria de
Estado da Educação?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
______
12 ) Em sua prática pedagógica (no cotidiano da sala de aula), cite uma
atividade que foi significativa para você seus alunos com ênfase na questão
ambiental
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________
ANEXO B
TOM DO PANTANAL
O Instituto Antonio Carlos Jobim nasce da necessidade de preservar e disponibilizar
para o público, especialmente os estudantes e pesquisadores, além da obra musical e
poética do artista, o seu pensamento, admiração e preocupação com a natureza do
Brasil.
O Instituto tem como meta principal preservar e divulgar, no Brasil e no exterior, a obra
e o acervo pessoal e musical de Antonio Carlos Jobim, assim como os valores
culturais manifestados em vida pelo compositor; atuar na preservação de sua memória
e oferecer o acesso completo, especialmente para estudantes e pesquisadores, da
produção e do pensamento do artista, assim como desenvolver e/ou promover
projetos e pesquisas nas áreas de educação musical brasileira, arte e ecologia.
O primeiro objetivo do Instituto é a duplicação deste acervo composto de partituras,
arranjos, estudos de letra e música, depoimentos, textos, entrevistas, fitas gravadas,
fotografias, filmes e vídeos, através da microfilmagem e digitalização deste material,
para que possa ser consultado na Internet ou em CD ROMs e distribuído para as
principais escolas de música no Brasil e no mundo.
É inegável a importância de Antonio Carlos Jobim para a produção artística brasileira,
tendo deixado uma obra de extrema importância, que nos remete a dados importantes
das múltiplas atividades musicais, poéticas, ecológicas, urbanísticas e culturais
centralizadas no maestro, que se confundem com a história moderna do Rio de
Janeiro.
A catalogação, a conservação , a digitalização, a indexação e a duplicação deste
acervo têm o objetivo de capacitar o Instituto Antonio Carlos Jobim para desempenhar
o papel de intermediário entre documentários e usuários, a partir do desenvolvimento
de atividades educativas e tecnológicas que permitam a ampla e eficaz divulgação das
informações ali contidas, como também a preservação e conservação do acervo
devido à herança histórica e cultural que representa: o homem, a obra e seu meio
ambiente.
A adequada capacitação deste material como fonte de informação, de pesquisa
musical e instrumento de transmissão de conhecimento, demanda a preservação e
difusão deste acervo e a dinamização de seus serviços como centro de reflexão,
produção e disseminação de conhecimento da cultura brasileira.
Na área ecológica o Instituto Antonio Carlos Jobim desenvolve, desde 1997, com a
Fundação Roberto Marinho e Furnas Centrais Elétricas, o "Tom da Mata" e agora o
"Tom do Pantanal", um projeto de educação ambiental e musical para as escolas da
rede pública do Brasil, centrado no ecossistema do Pantanal.
O Pantanal ocupa 1,8% do território nacional e ostenta um mosaico de ecossistemas
terrestres. Ambiente de fauna inigualável, é uma região declarada Patrimônio Nacional
pela Constituição e Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Este é mais um passo
na preservação do patrimônio ambiental brasileiro e vai atender a 800 escolas,
localizadas na região Centro Oeste, inclusive o Distrito Federal, os estados de São
Paulo, Paraná, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazônia.tuto
Antonio Carlos Jobim - Disponível em
http://www.tomdopantanal.org.br/sobre_projeto/iacj.asp
ANEXO C
ANEXO D
Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável
Introdução
Os problemas relacionados ao uso, exploração e degradação do meio ambiente fazem parte de
uma agenda global de discussões. Há cem anos, quem poderia pensar que estaríamos
discutindo os efeitos da poluição dos países mais desenvolvidos do hemisfério norte nas
geleiras da Antártida? Como poderíamos pensar que o desmatamento da Amazônia poderia se
tornar assunto de rodas de discussão entre habitantes da Suécia ou da Alemanha?
Sem percebermos, a sociedade atual caminhou para um cenário em que as ações ultrapassam
fronteiras no tempo e no espaço. A exploração excessiva dos recursos ambientais no século 20
gerou efeitos de grande impacto para a sociedade contemporânea. Na década de 1970, foi o
aumento do preço do petróleo que balançou a economia mundial. Nas décadas seguintes,
tomamos contato com o buraco na camada de ozônio. No Brasil de hoje, convivemos com a
poluição, com a escassez da energia elétrica e da água potável.
Tudo isso fez florescer nossa consciência ecológica, pois a Terra pode ser pensada como um
grande organismo, onde tudo se conecta a tudo. Água, ar, minerais, vegetais, animais, seres
humanos integram um amplo e mesmo sistema complexo, influenciando-se mutuamente. A
interferência do homem nos ecossistemas gerou desastres que logo se mostraram presentes
também em outros setores da Terra. O excesso de certos veículos e indústrias modificou nossa
atmosfera, nossa hidrosfera e afetou nossa saúde. A extração mineral predatória degradou o
solo.
Hoje convivemos com a difícil tarefa de mudar nossa forma de nos relacionar com o meio
ambiente, pois vivenciamos as conseqüências de um uso indiscriminado dos recursos naturais
a nossa disposição. Teremos de aprender a regular nossas ações não apenas em termos de
nossas próprias necessidades, considerando as condições comunitárias e locais, como
também refletir sobre as necessidades de todo o planeta. Temos de tornar nosso ambiente
sustentável para o presente e para as futuras gerações, para os seres humanos e para os
seres vivos.
O ano de 2003 foi declarado o ano internacional da água potável. Essa iniciativa se insere nos
esforços de tornar nosso meio ambiente sustentável. “A falta de acesso à água – para beber,
para higiene e para a segurança alimentar – causa enormes dificuldades a mais de um bilhão
de membros da família humana”, declarou o Secretário-Geral da ONU Kofi Annan no evento do
lançamento do Ano Internacional para a Água Potável – 2003, em dezembro de 2002. A água
não pode mais ser considerada como um recurso inesgotável. Assim como o petróleo, a água
doce disponível para consumo poderá acabar um dia, gerando prejuízos infinitamente maiores.
Os problemas ambientais relacionados à escassez, saneamento ou distribuição e uso de água
no Estado de São Paulo sugerem uma necessária conscientização da sociedade para enfrentá-
los. Nesta empreitada, uma parte considerável das tarefas é devida aos governos, outra, aos
cidadãos. Por meio das políticas públicas e seus parceiros, nos últimos anos, reali-zou-se
extenso estudo das microbacias. Os resultados ajudam a esclarecer as disputas travadas pelos
municípios em torno da água potável ou das contaminações dos rios e de outros mananciais. E
na região metropolitana, um maior risco de desabastecimento não é novidade no ano da água
potável. A educação escolar não está alheia a isso tudo e vem introduzindo o tema Água em
diferentes propostas e projetos.
Portanto, tendo em vista tanto aspectos globais como locais, é necessário mudar nossa relação
com o meio ambiente, em geral, e com a Água, em particular, de forma a viabilizar os cuidados
necessários, concretamente, nas ações cotidianas, manifestando o sentimento para com aquilo
que garante nossa existência, nossas interações com
o meio ambiente, em sociedade. Esses pontos sensíveis não estão alheios à Escola e sua
equipe pedagógica e administrativa. Por isso, várias temáticas ambientais são objeto de
trabalho nas escolas, em diferentes planos de trabalho e em distintas formas de gestão escolar.
Nas presentes orientações, o tema “Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável” é tratado
dentro de certos recortes temáticos, em propostas voltadas para o ensino médio, o ciclo II ou
ciclo I, tendo como finalidades convergentes a formação de atitudes para a redução do
consumo e a discussão sobre o uso sustentável da água, em amplo tratamento crítico.
Abordando tanto aspectos gerais e globais como os locais e particulares, os estudos são ora
mais conexos a determinadas disciplinas das áreas de Ciências da Natureza, ou de Ciências
Humanas e suas tecnologias, ora pertencem a um espectro inter e multidisciplinar – como por
exemplo, o estudo do conceito chave de sustentabilidade, que por sua complexidade deve ser
mencionado e especificamente tratado por diferentes especialidades ao longo da Educacão
Básica. A participação da área de Linguagens colabora para ampliar o significado cultural do
tema, além de gerar oportunidades de aprendizagem contextualizada de seus conhecimentos
próprios.
Também são apontados estudos que dependem de busca de informação no local específico da
Escola, de forma que as equipes gestoras possam adaptar as atividades a sua própria
realidade. Abrem-se oportunidades para que investigação e ação envolvam a escola e a
comunidade como um todo, num projeto educacional específico que comporta possibilidades
de duração curta ou média, durante o aproveitamento das propostas pelos professores, ou de
longa duração, pela implementação da Agenda 21 da Água na Escola.
Diante do exposto, os objetivos das presentes orientações são:
Subsidiar a escola a inserir a temática ambiental no projeto pedagógico, de forma transversal e
interdisciplinar, para ampliar e dar continuidade aos projetos bem-sucedidos na escola.
Fornecer documentos informativos aos técnicos e professores para que adquiram novos
conhecimentos sobre a questão ambiental, propiciando a autonomia profissional para enfrentar
os novos desafios educacionais na sociedade contemporânea.
Auxiliar os professores na realização de atividades investigativas de cunho socioambiental com
os alunos, com ações voltadas à transformação de suas realidades, tendo como eixo norteador
o desenvolvimento de competências e saberes de suas áreas de conhecimento que integram a
Educação Básica.
• Contribuir para a implementação do programa de uso racional de água nas escolas, por meio
de sensibilização na formação de técnicos pedagógicos, equipe escolar, alunos e comunidade
para que a escola seja um espaço de mobilização dessa comunidade.
Para a realização desses objetivos na Escola, é essencial o trabalho reflexivo e propositivo de
sua equipe pedagógica e administrativa, que, com o estudo do material, poderá adequá-lo à
sua realidade, às demandas e às características locais. Neste processo, é fundamental garantir
a busca dos melhores resultados para sua própria comunidade, na perspectiva de mudanças
efetivas em relação ao uso sustentável da água.
ORGANIZAÇÃO E USOS DO MATERIAL
As orientações encontram-se expostas em quatro partes:
1. Proposta de projetos para dois recortes temáticos: “Redução de consumo de água na
escola” e “Água ao longo da história”. Pensados inicialmente para orientar ações no Ensino
Médio e no Ciclo II, os projetos estão organizados didaticamente em separado, para melhor
aprofundar conceitos, procedimentos e atitudes. Entretanto, por serem complementares, é
fundamental garantir o desenvolvimento de ambos, inserindo-os na proposta pedagógica da
escola. Para os professores de Ciclo I, o material é destinado a estudo pessoal e a reflexão
coletiva.
Uma outra articulação deve ser observada pela equipe que examina o material: as orientações
aos Projetos completam-se com aquelas oferecidas nos Planos de trabalho multidisciplinar.
Caso a equipe decida orientar sua prática pelos Projetos, os professores das diferentes
especialidades poderão selecionar as atividades descritas a partir do capítulo 4, compondo as
investigações propostas.
2. Seqüência de atividades para o Ciclo I, sobre três recortes temáticos: “Água: de onde vem,
para onde vai?”, “Rios da cidade” e “Uso cotidiano da água”. As seqüências são conjuntos
articulados de atividades para serem realizadas em classes de professores polivalentes. Nelas,
encontram-se orientações e informações das disciplinas Arte, Geografia, História, Educação
Física, Ciências, Língua Portuguesa e Matemática para o encaminhamento das etapas de
sensibilização, conhecimento e sistematização sobre os temas. Na elaboração e seleção das
atividades buscamos sua adequação e pertinência em relação ao momento da escolaridade
dos alunos que estão começando a educação básica, bem como a diversificação dos enfoques
e das habilidades em desenvolvimento.
Planos de trabalho multidisciplinar para o Ciclo II e Ensino Médio, abordando conteúdos
originalmente presentes em várias disciplinas. Os três temas desenvolvidos são os mesmos do
Ciclo I: “Água: de onde vem, para onde vai?”, “Rios da cidade” e “Uso cotidiano da água”. Mais
sugestões de atividades para as disciplinas de Arte e Ciências complementam essa parte.
Os professores podem optar por desenvolver as atividades dos planos de forma individual, ou
formar um grupo multidisciplinar, opção interessante do ponto de vista pedagógico e da própria
temática ambiental, que prescinde, para o conhecimento de sua complexidade, da contribuição
das várias áreas do conhecimento. As atividades propostas podem ser alteradas, ter sua ordem
modificada, ter atividades excluídas em função do contexto escolar no qual serão utilizadas.
Aplicadas durante a realização dos Projetos já mencionados, as atividades tornam-se mais
contextualizadas e fortes na rede de significados culturais, científicos e sociais que emergem
do tema síntese dessas orientações – Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável.
Proposta da Agenda Ambiental na Escola, elaborada pelo Programa Nacional de Educação
Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, em que se especificam as ações de curto, médio e
longo prazo necessárias à formação de atitudes para a redução de consumo e a discussão
sobre o uso sustentável da água – as duas finalidades convergentes destas orientações. Uma
proposta unificadora para a escola, a Agenda sintetiza os compromissos dos educadores e
sinaliza para a participação de diferentes atores e interesses. A Agenda é um programa de
atividades para que a questão da água se mantenha viva no âmbito escolar, devendo ser
continuamente trabalhada pela equipe pedagógica e administrativa.
Secretaria de Estado da Educação
Disponível em http://cenp.edunet.sp.gov.br/Agua/introducao.asp
ANEXO E
(QUADROS-SÍNTESE)
QUADRO-SÍNTESE 01 – IDENTIFICAÇÃO
PROF.
SEXO
TEMPO
DE
ATUÃO
FORMAÇÃO
ACADÊMICA
ATUÃO
LECIONA
P.1 Masc. 13 anos Ciências Biológicas Rede Estadual –
ensino fundamental
e médio
ciências e
biologia
P.2 Fem. 04 anos Letras Rede Estadual –
ensino fundamental
Rede particular –
ensino médio
língua portuguesa
P.3 Fem. 05 anos Matemática
p.g.l.s. matemática e
informática
estadual
ensino fundamental
matemática
P.4 Fem. 04 anos Ciências e Matemática
pos.grad.l.sensu -
tópicos avançados do
ensino fundamental
Rede Estadual –
ensino fundamental
ciências e
matemática
P.5 Fem. 23 anos Letras Rede Estadual
Ensino fundamental
e médio
português
P.6 Fem. 10 anos Ciências Biológicas Rede Estadual –
ensino fundamental
ciências
P.7 Fem. 05 anos Matemática Rede Estadual –
ensino fundamental
matemática
P.8 Fem. 02 anos Letras Rede Estadual -
ensino fundamental
e Rede Particular
inglês
P.9 Fem. 19 anos Ciências e Matemática
pos.grad.l.sensu - não
especificou o curso
Rede Estadual –
ensino fundamental
e médio
matemática e
biologia
P.10 Fem. 17 anos português (letras) estadual – ensino
fundamental
português
P.11 Fem. 24 anos História/Pedagogia Rede Estadual –
ensino fundamental
e médio
história/geografia
P.12 Fem. 10 anos Geografia Rede Estadual
ensino fundamental/
geografia
QUADRO-SÍNTESE 02 – CURSOS/CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
PROF.
CURSOS DE
CAPACITAÇÃO
TEMAS
TRANSV. M.A.
LEI/DOCUMENTO AGENDA 21
ESCOLAR
P.1 sim. educação
ambiental – ilha
Anchieta – Ubatuba
Pcns, pesquisa,
leituras
parcial – LDB/96, Pcns
e agenda 21
não conhece –
Pnea e Tratado
conhece , não
trabalhou com o
tema
P.2 nunca participou – tem
interesse
htpcs, pesquisas parcial - LDB/96 e
Pcns
não conhece – Pnea,
agenda 21 e Tratado
desconhece, não
trabalhou com o
tema
P.3 nunca participou – tem
interesse
Pcns, prof.
multiplicador e
htpcs
parcial – agenda 21,
LDB/96 e Pcns
não conhece - Pnea e
Tratado
desconhece, não
trabalhou com tema
P.4 nunca participou – tem
interesse
Pcns, prof.
multiplicador e
htpcs
parcial – LDB/96/ Pcns
e agenda 21
não conhece - Pnea e
Tratado
conhece, não
trabalghou com o
tema
P.5 nunca participou – tem
interesse
Pcns parcial – ldb e Pcns
não conhece – Pnea,
agenda 21, Tratado
não assinalou
P.6 participou – curso de
férias Unicamp,
capacitações fornecidas
pelo Estado (SEE)
Pcns, pesquisa,
prof.
multiplicador e
capacitações
parcial – LDB/96,
Pcns, Pnea e agenda
21 - não conhece –
Tratado
não assinalou se
conhece, mas não
trabalhou com o
tema
P.7 nunca participou – tem
interesse
tv, revistas parcial – LDB/96 e
Pcns
não conhece – Pnea,
agenda 21,Tratado
desconhece o tema
P.8 nunca participou, não
assinalou se tem
interesse
Pcns e htpcs parcial – LDB/96/ Pcns
na íntegra – agenda
21 , Tratado – não
conhecee
Pnea – não assinalou
já trabalhou com o
tema
P.9 já participou/ seminário
unicamp
Pcns, htpc,
pesquisa, prof.
multiplicador
na integra – LDB/96 e
Pcns
parcial – agenda 21
Pnea e Tratado – não
assinalou
conhece/ já
trabalhou com o
tema
P.10 nunca participou, tem
interesse
Pcns parcial – LDB/96, Pcns
e agenda 21
não conhece– Tratado
Pnea – não assinalou
desconhece, não
trabalhou com o
tema
P.11 nunca participou, tem
interesse
Pcns, htpcs e
pesquisa
na integra – LDB/96 e
Pcns
parcial – Pnea,
agenda 21 e Tratado
conhece, já
trabalhou com o
tema
P.12 nunca participou, tem
interesse
Pcns, leituras na integra – LDB/96 e
Pcns
Pnea, agenda 21 e
Tratado – não
assinalou
não respondeu
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo