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CAROLINA BETIOLI RIBEIRO FISCH
A FORMAÇÃO DO ARTE-EDUCADOR
FRENTE À EPISTEMOLOGIA DO ENSINO DA
ARTE: RELAÇÕES, CONTRADIÇÕES E
PERSPECTIVAS
PUC-CAMPINAS
2006
Dissertação apresentada como exigência para obtenção do
título de Mestre em Educação ao Programa de Pós-
Graduação na área de Educação, Pontifícia Universidade
Católica de Campinas.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Eu
g
ênia Montes Castanho
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PONTIFíCIAUNIVERSIDADECATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAISAPLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃOEM EDUCAÇÃO
Autor (a): FISCH, Carolina BetioliRibeiro
Título: "A FORMAÇÃODO ARTE-EDUCADORFRENTEÀ EPISTEMOLOGIADO
ENSINODAARTE:RELAÇÕES,CONTRADiÇÕESE PERSPECTIVAS"
rela-
inas:
Orientadora: Prata. Dra. Maria Eugênia de L. M. Castanho
Dissertação de Mestrado em Educação
.Centro
Este exemplar corresponde à redação final da
Dissertação de Mestrado em Educação da PUC-
Campinas. e aprovada pela Banca Examinadora.
Iist6ria.
Jistemo-
:ampi-
I. 111.
Data: 05/06/2006
BANCA EXAMINADORA
~~
Prata. Dra. Maria Eugêniade L. M. Castanho
~CQ~
Prata. Dra. Célia Maria de CastroAlmeida
Prat. Dr. Newton Cesar Sal
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2
RESUMO
FISCH. Carolina Betioli Ribeiro. A formação do arte-educador frente à epistemologia do
ensino da arte: relações, contradições e perspectivas. Campinas, 2006. 100f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica de
Campinas.
Campinas, 2006.
O presente trabalho, inserido na linha de pesquisa Universidade, Docência e Formação
de Professores, pretendeu identificar quais teorias de ensino da arte embasam o
documento Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, qual o impacto deste documento
na prática pedagógica do arte-educador e quais as relações de sua utilização com a
formação superior destes professores. Para isso fez-se uma apresentação das principais
teorias de ensino da arte vigentes na atualidade e posterior análise dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte para o Ciclo II a partir dessas teorias, onde buscou-se
obter possíveis confluências e oposições conceituais. Coletaram-se opiniões de arte-
educadores sobre as relações entre sua formação superior e a aplicação dos Parâmetros
na sala de aula. Os resultados apontam que o documento se embasa principalmente na
teoria conhecida como Proposta Triangular. No entanto sofre influências de outras teorias
de ensino de arte, algumas complementares e outras até incompatíveis, comprometendo
seu entendimento. As respostas dos professores participantes sugerem que estes
consideram as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais distantes da realidade
da sala de aula e de difícil aplicação, principalmente por falta de infra-estrutura nas
escolas estaduais. Também apontam falhas em relação à sua formação superior,
principalmente no que concerne à preparação para transpor as teorias de ensino de arte
para a prática. Diante disso, conclui-se que há necessidade de reformulações nos cursos
de licenciatura em arte, principalmente no sentido de se
promover uma integração entre
as disciplinas destinadas à formação do artista e as que se destinam à formação do
professor, de
estimular a iniciação à pesquisa e de promover um amplo conhecimento da
epistemologia do ensino da arte de forma crítica e comparativa, para que o profissional
possa dispor de
subsídios para se posicionar frente a tais teorias, optando
conscientemente por uma delas e aos objetivos a que se propõe. Em relação aos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, sugere-se que sua implementação venha
acompanhada dos recursos adequados e necessários para efetiva realização de suas
3
propostas, embora cônscios de que na realidade, nenhuma padronização do ensino da
arte possa garantir, por si só, a qualidade do ensino.
Temos de indexação: ensino de arte, epistemologia, Parâmetros Curriculares Nacionais,
formação superior.
4
ABSTRACT
FISCH. Carolina Betioli Ribeiro. The art educator preparation and the epistemology of art
education: relations, contradictions and perspectives. Campinas, 2006. 100f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica de
Campinas.
Campinas, 2006.
This work, introduced in the line of research Universidade, Docência e Formação de
Professores, intended to identify what theories of art education are inserted on the
document Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, how is the impact of this document
on the teachers practice and what are the relations of its use with the teacher´s
graduation. One first presents different approaches to teaching of the arts and analyses
the Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte - Ciclo II from this theories, searching for
possible confluences and conceptual oppositions. Opinions from art educators were
collected about the relations between their graduation and the application of Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte. The results show that the document is basically based on
the theory known as Proposta Triangular, but it is influenced by other theories not always
compatible. The teacher’s answers show that they consider the Parâmetros Curriculares
Nacionais de Arte distant from the school reality, and its application difficult because of
fewer resources on public education. There are imperfections related to those teachers
initial formation too, especially in the preparation to bring the theories to practice. So it
was concluded that it must have some reformulations in art education courses, such as
integrate disciplines that form artists and those that form educators, stimulate the research
initiation and offer a huge knowledge of art education´s epistemology. Related to the
document Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, it is suggested that its
implementation comes with appropriated and necessary resources to happen, even so its
known that no standardization of art education can be capable, by this on, to guarantee
education quality.
Index terms: art education, epistemology, Parâmetros Curriculares Nacionais, graduation.
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................1
1. Problema..........................................................................................................6
2. Objetivos..........................................................................................................6
3. Plano de Desenvolvimento..............................................................................7
4. Metodologia de Pesquisa.................................................................................8
CAPÍTULO I: A HISTÓRIA DA ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL NA LEGISLAÇÃO:
OBJETIVOS EDUCACIONAIS OU POLÍTICOS?
.........................................................10
1. Reinado e Império.........................................................................................,12
1.1 A Influência da Educação Jesuítica.................................................................12
1.2 A Academia de Belas-Artes e a Missão Francesa...........................................13
1.3 Araújo Porto Alegre..........................................................................................15
2. República.......................................................................................................15
2.1 Rui Barbosa.....................................................................................................15
3. Benjamim Constant........................................................................................17
4. A Influência de John Dewey através de Anísio Teixeira................................19
5. A Lei nº 5692/71.............................................................................................21
5.1 Parecer CFE 853/71........................................................................................22
6. A nova LDB: Introduzindo a Arte como Disciplina.........................................23
7. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Uniformização do Ensino?..............26
8. Considerações Importantes...........................................................................30
CAPÍTULO II: A EPISTEMOLOGIA DO ENSINO DA ARTE A PARTIR DE ELLIOT EISNER: POSSIBILIDADES DE
ANÁLISE CONCEITUAL DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
...........................................................31
1. O Ensino da Arte e os Parâmetros Curriculares Nacionais...........................32
2. Classificação das Concepções de Ensino da Arte.........................................36
2.1 Contextualismo e Essencialismo.....................................................................36
6
3. Concepções e Práticas do Ensino da Arte segundo Elliot Eisner..................41
3.1 Arte-Educação como Disciplina.....................................................................42
3.2 Cultura Visual.................................................................................................43
3.3 Solução Criativa de Problemas......................................................................45
3.4 Auto-Expressão Criativa................................................................................47
3.5 Arte Educação como Preparação para o Mercado de Trabalho....................50
3.6 A Arte e o Desenvolvimento Cognitivo...........................................................50
3.7 Utilizando a Arte para melhorar a Performance Acadêmica..........................52
3.8 Arte Integrada................................................................................................54
4. Considerações importantes...........................................................................58
CAPÍTULO III: A EPISTEMOLOGIA DO ENSINO DA ARTE FRENTE AOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS: CONFLUÊNCIAS E OPOSIÇÕES CONCEITUAIS
– ANÁLISE DOCUMENTAL...................60
1. Metodologia de Pesquisa.................................................................................61
1.1 Análise Documental..........................................................................................61
1.1.1 Objetivos...................................................................................................62
1.1.2 O Trabalho de Análise Documental..........................................................63
1.1.3 As Concepções Teóricas e seus Reflexos nos PCN/Arte........................64
1.1.3.1 Arte-Educação como Disciplina................................................................64
1.1.3.2 Arte como Cultura Visual..........................................................................66
1.1.3.3 Solução Criativa de Problemas................................................................67
1.1.3.4 Arte como Auto-Expressão Criativa..........................................................67
1.1.3.5 Arte para o Mercado de Trabalho.............................................................68
1.1.3.6 Desenvolvimento Cognitivo através da Arte.............................................69
1.1.3.7 Arte como Promotora da Performance Acadêmica..................................69
1.1.3.8 Arte Integrada...........................................................................................70
1.1.3.9 Confluências Conceituais.........................................................................71
1.1.3.10 Oposições Conceituais.............................................................................72
2. Considerações Importantes..............................................................................73
7
CAPÍTULO IV: A FORMAÇÃO DO ARTE-EDUCADOR E OS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS: TEORIA E PRÁTICA NA REALIDADE DO EDUCADOR
...................................75
1. Análise dos Dados Empíricos...........................................................................76
1.1 Extensão da Amostra..................................................................................76
1.2 O Trabalho de Pesquisa.............................................................................76
1.3 Procedimentos............................................................................................77
1.4 Instrumento.................................................................................................78
2. Análise dos Questionários................................................................................78
2.1 Apresentação e Análise dos Dados Brutos.................................................78
2.2 Formação Acadêmica e Jornada de Trabalho............................................79
2.3 Opções Conceituais ligadas a Objetivos Educacionais..............................79
2.4 Objetivos Educacionais relacionados à Prática em Sala de Aula...............81
2.5 A Aplicabilidade e Aceitação dos PCN/Arte................................................82
2.6 Ação em Sala de Aula.................................................................................84
2.7 O Papel da Formação Superior no Desenvolvimento dos Objetivos
Educacionais...............................................................................................87
2.8 Resumo do Capítulo...................................................................................89
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................91
REFERÊNCIAS......................................................................................................96
APÊNDICES........................................................................................................101
Apêndice I: Modelo de Questionário....................................................................102
8
INTRODUÇÃO
___________________________________________
9
INTRODUÇÃO
A atual situação do ensino da arte no Brasil é alvo de preocupação para
aqueles que a consideram importante: pesquisadores da área de arte-educação
e, principalmente, os professores que lecionam Arte.
Diversas pesquisas (as quais serão abordadas mais adiante no
presente trabalho) revelam que, apesar dos esforços e medidas tomadas pelo
governo federal para instituir a obrigatoriedade do ensino da arte e manter sua
boa qualidade nas escolas através de documentos oficiais, como a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional e os Parâmetros Curriculares
Nacionais, os resultados destas ações não são observados na prática de sala da
aula.
Ao analisarmos a história do ensino de arte no Brasil, bem como as
políticas governamentais que o regulamentaram, percebemos que a maneira
como a arte e sua importância na educação são vistas partem de óticas diferentes
no decorrer dos tempos. Sendo assim, os objetivos educacionais a que a arte se
destina no âmbito da educação também se alteram, e as leis que regem o nível
de relevância e a maneira como ela deve ser trabalhada na escola obedecem a
esta lógica, quase sempre acompanhando os interesses das camadas
privilegiadas.
Observamos o porquê do preconceito que cerca a arte e seu ensino, no
sentido de relegá-los a um espaço fora da esfera do conhecimento. Há vários
fatores históricos que influenciaram na disseminação deste pré-julgamento, a
10
começar pelo ensino jesuítico, que valorizava em demasia as artes literárias em
detrimento das manuais. A prática das artes manuais pelos negros escravos
também contribuiu para que a atividade artística fosse destituída de status e, por
último, a substituição da arte rococó – tipicamente brasileira e praticada pelo povo
– pela arte neoclássica trazida pela Missão Francesa
1
ao Brasil, contribuiu para
que a arte ganhasse uma conotação de supérflua, reservada às elites.
No que se refere às políticas públicas de implementação da arte no
currículo escolar, vemos que até a reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional ou nova LDBEN (1996) e a criação dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte (1997/1998), estas continuaram se pautando na
idéia de arte como supérflua e destituída de cognição em seu processo. Tais
documentos, no entanto, representaram um grande avanço para a arte e seu
ensino, o primeiro por estabelecer a área como componente curricular obrigatório
no ensino fundamental e o segundo por admitir a arte como área de
conhecimento com conteúdos próprios a oferecer.
Neste trabalho, voltamos nosso olhar mais precisamente para os
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte para o Ciclo II (5ª a 8ª Séries), pois tal
documento fornece subsídios teóricos para que o arte-educador amparare sua
prática pedagógica, buscando diminuir a lacuna entre as teorias de ensino de arte
e a prática em sala de aula.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte para o Ciclo II
(PCN/Arte) apresentam uma proposta pautada em teorias específicas do ensino
de arte, elaboradas por especialistas brasileiros. Tem por finalidade apresentar ao
professor uma visão global dos objetivos, critérios de seleção e organização dos
1
Grupo de artistas e artífices franceses liderados por Joachim Lebreton (1760-1819), contratados pelo
embaixador de Portugal na França para vir ao Brasil e organizar o ensino das Belas-Artes e uma pinacoteca.,
chegando ao Brasil em março de 1816.
11
conteúdos e orientações didáticas e de avaliação da aprendizagem de arte para o
ensino fundamental de 5ª a 8ª Séries segundo seus elaboradores.
Nosso questionamento é: Por que razão estas medidas não surtiram
efeito na prática educacional, já que sua elaboração partiu de teóricos brasileiros
especialistas na área de arte-educação? Para Fonsêca (2001),
... os PCN têm chegado aos professores como se caíssem em suas
cabeças. Da mesma forma que sua elaboração foi feita sem a
participação da maioria dos profissionais da educação, sua
implementação tem se dado sem a devida discussão junto aos
professores. Muitos sequer receberam os documentos, outros não
tiveram a oportunidade nem condições de estudá-los, seja
individualmente seja de forma coletiva no ambiente de trabalho. Este fato
contribui para que não sejam efetivamente utilizados nas salas de
aula (Grifo nosso, FONSÊCA, 2001).
Além do fato dos PCN/Arte terem sido implementados recentemente e
de muitos professores ainda não terem tido a oportunidade de analisá-los
profundamente ou mesmo tomarem contato com seu conteúdo, acreditamos que,
conforme afirmou Fonsêca (2001), este fato contribui porém não seria o único
responsável por não estarem sendo aplicados na prática.
Os PCN/Arte, principalmente por seu grau de detalhamento e por
definirem de forma minuciosa conteúdos e estratégias de ensino, merecem uma
análise minuciosa de seu conteúdo epistemológico. Através de seu pleno
entendimento, acreditamos que possam atender a um número maior de
educadores, ainda que para discordarem de sua proposta de forma consciente e
crítica.
Sabemos que há diversas teorias no que concerne ao ensino da arte,
as quais surgiram em épocas e situações diferentes, tendo, portanto, objetivos e
metodologias de trabalho diferenciadas. À luz destas informações, nos
perguntamos: a partir de que opções conceituais a elaboração dos PCN/Arte foi
12
feita? Seriam estas opções factíveis e coerentes com a formação superior do
professor a que se destinam?
Em relação à fundamentação teórica dos PCN/Arte, Penna e Alves
(1997) afirmam que, apesar de adotarem – embora não explicitamente – os eixos
básicos da proposta triangular, suas proposições
acabam por se perder, [...] na medida em que estes são permeados por
uma visão romântica da arte, com base nos pressupostos da arte como
expressão e comunicação, com forte ênfase na transmissão e recepção
de emoções. [...] Os Parâmetros – produzidos por uma equipe que
certamente compartilhava posições mas também mantinha (produtivas)
divergências teóricas – refletem, em diversos momentos, posturas
diferenciadas” (Grifo nosso, p. 54).
Os autores detectaram, portanto, problemas na fundamentação dos
PCN/Arte, a qual apresenta influências de posturas teóricas díspares.
Outros estudos também problematizam a fundamentação dos
PCN/Arte. Com o intuito de clarear noções correntes na área de ensino de arte,
para que a ação do educador seja cada vez mais consciente e solidamente
fundamentada, Penna (1997) faz uma reflexão a respeito das noções de arte
como comunicação e linguagem, conceitos utilizados nos PCN/Arte. Em relação a
noção de comunicação, a autora explica que existe um modelo corrente baseado
na dicotomia codificação e decodificação. Segundo ela, esta visão é marcada por
um alto grau de automatismo, onde “o domínio do código garantiria uma ‘leitura’
(ou seja, uma decodificação) unívoca e sem ambigüidade” (p. 84). Penna afirma
ainda que os PCN/Arte empregam ocasionalmente o termo “código”, sem, no
entanto, levar em conta as implicações decorrentes do modelo de comunicação
do qual se originam.
13
Assim, considerando haver problemas na fundamentação teórica dos
PCN/Arte, nos propomos a aprofundar a análise epistemológica do documento a
partir de concepções correntes de ensino da arte. Com este processo,
buscaremos contribuir na compreensão do porque da não aplicação de seus
pressupostos na prática educacional.
1. Problema
A partir destes questionamentos, nos deparamos com uma situação-
problema que envolve duas perspectivas:
quais as concepções teóricas que embasam os PCN/Arte?
a formação superior dos arte-educadores proporciona subsídios para que
possam se adequar, na prática, às propostas dos PCN/Arte?
Em nossa proposta, investigaremos as relações existentes entre as
concepções de ensino da arte que embasam os PCN/Arte e a visão do arte-
educador sobre tais concepções. Relacionaremos também os PCN e a formação
superior dos professores, para que, através desta análise, possamos conceber
quais são as perspectivas para o ensino de arte na atualidade e oferecer
contribuições para o seu aprimoramento.
2. Objetivos
Em nosso trabalho nos propomos verificar:
14
I. Quais são as concepções que embasam os PCN/Arte, e se estas
concepções são coerentes entre si e com a visão de arte como
conhecimento.
II. Se estas constatações são compatíveis com a formação superior do
professor de arte segundo a visão desses professores.
III. Qual é a aplicabilidade dos PCN/Arte segundo a visão dos
professores de arte.
3. Plano de desenvolvimento
Optamos por dividir nosso trabalho em quatro capítulos. No primeiro,
apresentamos uma síntese da história do ensino da arte no Brasil na legislação,
discutindo as relações culturais e políticas que definem as metodologias
implementadas em cada momento histórico, até o momento da implementação
dos PCN/Arte.
No segundo capítulo, apresentamos uma discussão epistemológica
acerca do ensino da arte, especificando quais são as concepções vigentes na
atualidade segundo Elliot Eisner (2002a), procurando evidenciar quais são os
objetivos da arte na educação segundo cada ótica.
No terceiro capítulo, apresentamos o resultado da análise dos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte para o Ensino Fundamental, Ciclo II, a
partir das categorias conceituais de Elliot Eisner. Buscamos determinar as
possíveis influências de cada categoria conceitual no documento, bem como
confluências e oposições conceituais presentes no mesmo.
15
No quarto capítulo, apresentamos o resultado de uma pesquisa
exploratória realizada com professores de Arte da Rede Pública Estadual de
Ensino de Estado de São Paulo, Diretorias Campinas-Leste e Sumaré,
procurando delimitar as impressões destes professores acerca da aplicabilidade
dos PCN/Arte, sua prática educacional, sua formação superior e as relações entre
estas três perspectivas.
Nas considerações finais, estabelecemos relações entre a análise
documental e a pesquisa exploratória, oferecendo algumas sugestões de ações,
críticas e conclusões no intuito de estar contribuindo no aprimoramento das
reflexões sobre a arte e seu ensino.
4. Metodologia de pesquisa
Realizamos uma pesquisa de abordagem qualitativa e, para tanto,
utilizamos, além de pesquisa bibliográfica, análise de dados documentais e
empíricos. Confrontamos os resultados das respectivas análises de dados para a
obtenção das considerações finais.
Os dados documentais utilizados foram os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Arte para o Ciclo II. Analisamos os PCN/Arte a partir de categorias
de análise construídas a partir de Eisner (2002a), procurando identificar que
influências teóricas estariam presentes na fundamentação do documento.
Os dados empíricos foram coletados através de questionários
distribuídos a professores de arte da Rede Pública Estadual de Ensino do Estado
de São Paulo, pertencentes às Diretorias de Ensino das regiões Campinas-Leste
e Sumaré, com o propósito de verificar as impressões destes professores em
16
relação aos PCN/Arte, à sua formação acadêmica e à sua própria formação
superior.
O ponto de partida de nosso trabalho foi o questionamento da real
aplicabilidade dos PCN/Arte pelo arte-educador, tendo em vista a não-observação
de seus pressupostos na prática educacional.
Através deste questionamento, surgiram relações e hipóteses a serem
investigadas, as quais foram afuniladas através da pesquisa bibliográfica. Assim,
chegamos ao problema central, que envolve a concepção teórica dos PCN/Arte, a
epistemologia do ensino da arte e a formação do arte-educador.
17
CAPÍTULO I
___________________________________________
18
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL NA LEGISLAÇÃO:
OBJETIVOS EDUCACIONAIS OU POLÍTICOS?
O Ensino da Arte, hoje, no Brasil, recebe lugar de destaque nas
políticas nacionais de ensino. Parece que, finalmente, a arte foi percebida como
instrumento atrativo para o jovem aluno que, muitas vezes, não se motiva com o
conteúdo das demais áreas. Além disso, a arte como conhecimento específico de
importância crucial na formação do indivíduo foi - teoricamente - reconhecida.
Discutiremos as razões desta situação mais adiante.
No entanto, nem sempre foi assim.
Há complexas relações culturais e políticas que definem, no decorrer da
História, as metodologias do Ensino da arte vigentes no Brasil. Essas relações
definem também a legislação que tem por finalidade implementar determinadas
metodologias. Neste capítulo, procuraremos esclarecer, principalmente a partir de
Barbosa (2002c), Fusari e Ferraz (2001) e Castanho (1982), tais relações e os
objetivos que o Ensino da Arte, impostos pelas leis educacionais, deveriam
assumir de acordo com o momento histórico que o país enfrentava.
19
1. Reinado e Império
A tendência inicial da Educação brasileira era de priorizar o Ensino
Superior de Arte antes mesmo do primário e secundário, jusficando-se que este
era “a fonte de formação e renovação do sistema de ensino em geral como um
todo” (BARBOSA, 2002c, p. 15). Na realidade, durante o império e o reinado o
intuito era formar uma elite que pudesse defender a colônia dos invasores e que
“movimentasse culturalmente a corte” (BARBOSA, 2002c, p.16) e nos primeiros
anos da República, formar uma elite que pudesse governar o país.
1.1 A Influência da Educação Jesuítica
O sistema de Ensino Jesuítico, implantado desde o descobrimento até
1759, valorizava excessivamente os estudos retóricos e literários e separava as
artes liberais dos ofícios manuais ou mecânicos. A expulsão dos jesuítas do país
por razões políticas, em 1759, não significou a expurgação de suas idéias que,
pela falta de um sistema educacional devidamente estruturado, continuaram a
prosperar. Assim, o artista, não recebia a mesma valoração dos escritores e
poetas, ficando confinado a uma posição de menor prestígio.
Mesmo com a reforma educacional do Marquês de Pombal (o qual fora
responsável pela perseguição aos jesuítas), através da qual procurou recuperar
os aspectos educacionais deixados de lado pela educação jesuítica, não houve
renovação metodológica significativa no ensino da Arte.
O sistema jesuítico de Ensino, ao colocar em posição privilegiada e
portadoras de maior status as artes literárias, relegou a segundo plano as artes
20
manuais, ou seja, as artes plásticas, vistas como tipicamente “do povo”,
praticadas pelos escravos, não-dotadas de características intelectuais em seu
processo de criação.
1.2 A Academia de Belas-Artes e a Missão Francesa
O Ensino de Arte no início do século XIX (1808) fora organizado pela
chamada Missão Francesa: grupo liderado por Lebreton e composto por
franceses “importados” da Academia de Belas Artes do Instituto de França.
Segundo Barbosa (2002c), por se tratar de Bonapartistas, caíram em
desgraça com a queda de Napoleão. Sem espaço na França vieram para o Brasil
e contribuíram para a estruturação do preconceito contra o ensino da artel. A
Academia de Belas-Artes estivera a serviço do adorno do Reinado e Império,
impregnada pelo espírito neoclássico que servia à conservação do poder.
Em 1816, fora fundada, através do Decreto de 12 de agosto de 1816, a
Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, a qual posteriormente fora chamada de
Academia real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil pelo decreto de
12 de outubro de 1820. Muitas mudanças de nome ocorreram, como para:
Academia de Artes, em 23 de novembro de 1820; Academia Imperial de Belas-
Artes, em 1826, e, finalmente, após a proclamação da República, para Escola
Nacional de Belas-Artes
2
.
No Decreto de 1816 já ficava implícito o preconceito em relação ao
Ensino da Arte como sendo “um acessório, um instrumento para modernização de
2
O ano da mudança de nome para “Escola Nacional de Belas-Artes” não consta na bibliografia consultada:
BARBOSA, 2002c, p.17.
21
outros setores e não como uma atividade com importância em si mesma” (apud
BARBOSA, p. 21, 2002c).
Os membros da Missão Francesa eram de orientação neoclássica. Tal
posição estética também gerou preconceitos, pois nossa tradição, à época, era o
barroco-rococó. Houve então uma transição abrupta que provocou “suspeição e
arredamento popular em relação à Arte” (p. 19). O rococó brasileiro era praticado
também pelas camadas populares. Considerada uma arte de traços originais
brasileiros, quebrava a uniformidade do “barroco de importação”. Com isso, “as
novas manifestações neoclássicas, implantadas como que ‘por decreto’, iriam
encontrar eco apenas na pequena burguesia” (p. 19). Ou seja, “o neoclássico (...)
foi no Brasil arte da burguesia a serviço da aristocracia, a serviço do sistema
monárquico” (p. 20). Tais circunstâncias colaboraram para que ocorresse um
afastamento entre “a massa e a arte”, alimentando a idéia da arte como supérflua,
como “acessório da cultura” (p. 20).
Portanto, as características de orientação Neoclássica adotadas pela
missão francesa (legitimadas através do Decreto de 1816 que criou a Escola Real
de Ciências, Artes e Ofícios), seu caráter elitista que se opunha à tradição do
barroco-rococó popular contribuíram, de forma decisiva, para a construção de
“pré-conceitos” em relação ao ensino da arte que se encontram perceptíveis até a
atualidade nos meios educacionais. Um exemplo é a visão da Arte como algo
supérfluo e sem real importância na educação do indivíduo, tida por interessante
apenas como momento de lazer e/ou “luxo”, podendo ser facilmente descartada
do currículo sem acarretar prejuízos à formação do aluno.
22
1.3 Araújo Porto Alegre
Em 1855, tendo ocupado a diretoria da Academia Imperial de Belas-
Artes, Araújo Porto Alegre procurou “estabelecer a ligação entre a cultura de elite
e a cultura de massa” (BARBOSA, p. 28, 2002c) através do artigo 78 do título VIII
do Regulamento de 1855, promovendo um encontro entre o artesão e o artista, os
quais fariam as mesmas disciplinas básicas. No entanto, tal proposta visava
apenas enriquecer a formação elitista através do contato com o povo. O novo
sistema de educação artística não conseguiu reverter o afastamento do povo da
arte por persistir nos velhos métodos e utilizar uma linguagem sofisticada, além
de possuir um caráter de “concessão da elite à classe obreira” (p. 29).
2. República
2.1 Rui Barbosa
Rui Barbosa defendeu a necessidade do ensino do Desenho no Brasil
com finalidades industriais, admitindo suas qualidades artísticas e não apenas
técnicas, capazes “de elevar a alma às etéreas regiões do Belo” (apud
BARBOSA, p. 38, 2002c).
O jornal O Novo Mundo, publicado à época, teve papel fundamental na
divulgação e propagação das idéias de progresso industrial, sendo responsável
pela veiculação de notícias sobre o progresso artístico industrial nos EUA e em
países europeus.
23
Através dos Pareceres sobre a Reforma de Ensino Secundário e
Superior de 1882 e da Reforma do Ensino Primário de 1883, Rui Barbosa
apresentou suas concepções de ensino, as quais, segundo Barbosa (2002c),
talvez tenham sido as mais bem fundamentadas e em consonância com as
concepções e técnicas pedagógicas da época.
Sendo considerado “um dos mais fiéis intérpretes da corrente liberal
brasileira” (BARBOSA, p. 44, 2002c), Rui Barbosa deu destaque ao Desenho no
currículo escolar secundário e especialmente ao primário, acreditando que o
enriquecimento do país só poderia acontecer através do desenvolvimento
industrial e este, através da educação técnica e artesanal do povo.
O Ensino da Arte à época era, portanto, voltado para o Desenho
técnico, com ênfase no Desenho geométrico, com o intuito de preparar
profissionais que pudessem propulsionar o desenvolvimento industrial do Brasil.
Rui Barbosa se pautou, quase que exclusivamente, nas idéias de Walter Smith,
sendo o modelo americano de ensino de Arte transplantado para o Brasil.
Rui Barbosa disseminou, ainda, a idéia da Arte como educação moral
segundo a qual a arte é vista como educação do sentimento, pois “(...) a captação
da beleza da natureza era considerada sintoma de um bom espírito (...)
postulando uma harmonia mística entre o bom e o belo” (BARBOSA, p. 61,
2002c).
Embora Rui Barbosa tivesse se preocupado prioritariamente com o
crescimento industrial do Brasil e, com isso, mobilizado esforços educacionais em
relação ao ensino da Arte para atingir tais objetivos, acreditou também no
desenvolvimento de valores estéticos e espirituais através da arte (além de
educar para o trabalho). No entanto, seus planos educacionais não foram
24
devidamente aplicados, e o ensino da arte sofreu, durante muitos anos, a
influência da Academia de Belas-Artes.
3. Benjamim Constant
Benjamim Constant foi a figura que encabeçou o movimento de
positivistas brasileiros, o qual se formara em Bruxelas à época da República.
Elaborou a primeira reforma educacional republicana denominada Reforma
Benjamin Constant. Tal reforma propunha a extinção da Academia Imperial de
Belas-Artes e a disseminação do Ensino da arte como imitação, difundido em
todas as escolas públicas de todos os graus. No entanto, defensores do
liberalismo – o grupo dos irmãos Bernardelli – conseguiram garantir a
sobrevivência da Academia, mudando a denominação para Escola Nacional de
Belas-Artes sem, no entanto, alterar seus moldes arcaicos (BARBOSA, p. 65-67,
2002c).
O principal objetivo positivista para o Ensino de Arte era a obtenção de
aperfeiçoamento intelectual: “(...) a regeneração do povo através de um
instrumento que lhes educasse a mente” (p. 67), o qual só seria possível através
do método positivo, ou seja, subordinando a imaginação à observação,
“identificando as leis que regem a forma” (p. 67).
A reforma de Benjamim Constant centrou o currículo desde cedo no
ensino das ciências, e, segundo a análise de Barbosa, possuía três principais
objetivos:
1.° - promover a cientifização do ensino em contraposição à literatização
dominante até então;
25
2.° - tornar o ensino, prático, através da transmissão de noções
utilizáveis (especialmente em relação à língua nacional) em
contraposição ao excessivo conteúdo teórico (especialmente
gramatical) que dominava os currículos até então;
3.° - tornar o ensino ativo, através do método intuitivo em contraposição
ao exagerado verbalismo do ensino livresco, que perdurava apesar da
tímida tentativa para vencê-lo, feita através da Reforma Leôncio de
Carvalho, de 1879, e das propostas mais veementes e bem
fundamentadas representadas pelos trabalhos pedagógicos de Rui
Barbosa. (BARBOSA, p. 68-69, 2002c).
Neste contexto, o ensino da arte fica marcado pelo Desenho
Geométrico e pela cópia de estampas em detrimento da observação do natural,
acreditando-se que, com isso, estar-se-ia treinando melhor a observação. Tal
prática, influenciada também pelo neoclassicismo, se perpetuou até os primeiros
20 anos do século XX. Segundo Fusari e Ferraz (2001), nas primeiras décadas do
século XX:
O desenho de ornatos e o desenho geométrico eram considerados
‘linguagens’ úteis para determinadas profissões, e quando transformados
em conteúdos de ensino dava-se ênfase aos seus aspectos técnicos e
científicos (p. 29).
Acreditando-se, portanto, ser o Desenho Geométrico capaz de
promover o desenvolvimento do raciocínio, seu estudo é imposto no Brasil e,
apesar de ocorrerem mudanças na Reforma de Benjamim Constant após sua
morte através do Código Fernando Lobo em 1892, os programas de Desenho vão
se “geometrizando”. A influência positivista imprimiu, portanto, ao ensino da arte
um rigorismo extremo, pautado em idéias que desvalorizavam o “individual” e se
baseavam no princípio da ordenação das formas.
Podemos inferir, portanto, que os momentos político/históricos e de
desenvolvimento nacionais pelos quais o país passava determinavam quais
26
medidas educacionais deveriam ser implementadas para que os objetivos
ideologicamente condizentes com o momento político pudessem ser alcançados.
O modo como a arte e seu ensino podem contribuir para a propulsão dos
interesses vigentes determina, assim, a maneira de se compreender a
importância e contribuição da arte na formação do indivíduo.
4. A influência de John Dewey através de Anísio Teixeira
Os reflexos do movimento Escolanovista são sentidos no Brasil a partir
de 1930. Tal movimento, que teve suas origens no final do século XIX na Europa
e Estados Unidos, se contrapunha à educação tradicional, propondo “(...)
experiências cognitivas que devem ocorrer de maneira progressiva, ativa, levando
em consideração os interesses, motivações, iniciativas e as necessidades
individuais dos alunos” (FUSARI e FERRAZ, p. 31, 2001).
Segundo Fusari e Ferraz, o movimento escolanovista no Brasil foi
introduzido
...num momento de crise do modelo agrário-comercial, exportador, dependente, e
início do modelo nacional desenvolvimentista, industrializado. E uma época
assinalada por várias lutas políticas, econômicas, culturais e em prol da educação
pública básica (FUSARI e FERRAZ, 2001, p. 35).
As autoras destacam, como acontecimentos importantes na área
educacional, a fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE) em 1924 e
o lançamento do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932 (p. 35).
27
Anísio Teixeira, representante das idéias escolanovistas no Brasil, teria
se inspirado no ideário de John Dewey para compor suas teorias educacionais.
Teixeira teria provocado na elite econômica uma reação persecutória à medida
que defendia um ensino com compromissos políticos e sociais a fim de configurar
“uma idealizada ‘democracia socialista’” (BARBOSA, p. 56, 2002d).
Os princípios educacionais da Escola Nova, inspirados principalmente
em Dewey, tiveram suas conseqüências no ensino da Arte. Acreditando-se na
aprendizagem pautada na experiência, propõe-se um modelo de ensino onde o
aluno é o centro em detrimento da matéria ou do professor. Os autores Viktor
Lowenfeld e Sir Herbert Read podem ser também integrados como defensores
das idéias escolanovistas. Defendiam a livre-expressão infantil nas aulas de arte,
onde a criança deveria ficar livre para criar sem a interferência do professor ou do
contato com qualquer imagem artística que pudesse subverter seu espírito criador
“puro”.
De acordo com tais pressupostos
(...) a aula de arte traduz-se mais por um proporcionar condições
metodológicas para que o aluno possa ‘exprimir-se’ subjetiva e
individualmente. Conhecer significa conhecer-se a si mesmo; o processo
é fundamental, o produto não interessa. Visto como ser criativo, o aluno
recebe todas as estimulações possíveis para expressar-se
artisticamente. Este ‘aprender fazendo’ o capacitaria a atuar
cooperativamente na sociedade(FUSARI e FERRAZ, p. 40, 2001).
Através destas considerações, podemos concluir que, no contexto de
uma situação política onde pipocavam lutas por direitos sociais, as propostas
educacionais acompanhavam o movimento vigente adequando seus
pressupostos a ideais (considerados utópicos por Barbosa) de uma sociedade
mais justa. O ensino da Arte acompanhara este ideário através de práticas
28
pedagógicas que acabaram por se perder em uma liberdade exacerbada, um
laissez faire, culminando no senso comum de que o ensino da Arte não possui
conteúdo, se trata apenas de um exercício de eflúvio emocional.
5. A Lei nº 5692/71
O movimento escolanovista é substituído, entre 1960 e 1970, pela
“onda” do tecnicismo no Brasil. Tal tendência pedagógica desenvolveu-se
principalmente nos Estados Unidos e visava a preparação de indivíduos “mais
competentes” para atuarem no mercado de trabalho (FERRAZ e FUSARI, 2001).
Com o enraizamento do tecnicismo, no início dos anos 1970, é
assinada a Lei nº 5692/71, que tornara obrigatório o ensino da Arte através da
denominação Educação Artística. A lei operou mudanças significativas no ensino
das artes, transformando a área em algo “indefinido”. Segundo Fusari e Ferraz:
Os professores de Desenho, Música, Trabalhos Manuais, Canto Coral e
Artes Aplicadas, que vinham atuando segundo os conhecimentos
específicos de suas linguagens, viram esses saberes repentinamente
transformados em ‘meras atividades artísticas’. Desde a sua
implantação, observa-se que a Educação Artística é tratada de modo
indefinido, o que fica patente na redação de um dos documentos
explicativos da lei, ou seja, o Parecer nº 540/77: ‘não é uma matéria,
mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao
sabor das tendências e dos interesses’. Ainda no mesmo parecer fala-se
na importância do ‘processo’ de trabalho e estimulação da livre
expressão (Grifo nosso, p. 41-42, 2001).
Assim, tendo o ensino de Arte se transformado em “mera atividade”,
“sem contornos fixos” e não tendo o status de matéria, pode-se concluir com
facilidade o porquê da fragilidade metodológica que sucede a implementação da
Lei 5692/71. O professor, encontrando-se em situação de despreparo frente a tais
29
mudanças, se vê obrigado a multiplicar sua prática sem, no entanto, ter sido
preparado para isso em sua formação inicial.
Os professores passam, então, a apoiar-se em livros didáticos de
Educação Artística para dar aulas. De acordo com as pesquisas relatadas por
Ferraz e Fusari (2001), tais professores também possuíam pouco conhecimento
no que se refere a obras de fundamentação teórico-metodológica. O resultado
deste processo pode ser resumido em “(...) uma prática diluída, pouco ou nada
fundamentada, na qual métodos e conteúdos de tendência tradicional e novista se
misturam, sem grandes preocupações, com o que seria melhor para o ensino de
Arte” (idem, p. 43).
5.1. Parecer CFE 853/71
Segundo Castanho (1982), as confusões relativas à implementação da
Educação Artística começaram com o Parecer CFE 853/71, o qual não explicitou
claramente em que campo dos saberes a Arte estaria inserida.
Diante da proposta de uma tríplice divisão dos saberes em Ciências,
Comunicação e Expressão e Estudos Sociais, a Educação Artística não teve seu
lugar claramente estabelecido, ainda que seja dito no documento que
(...) A língua Portuguesa não pode estar separada, enquanto forma de
Comunicação e Expressão, de Educação Artística ou de um Desenho
que se lhe acrescentem, sob pena de inevitável empobrecimento [...] e,
afinal, o ato de criação é substancialmente o mesmo nestes campos e
nos Estudos Sociais (apud CASTANHO, p. 174, 1982).
30
Apesar da nítida inclusão do Ensino da Arte em Comunicação e
Expressão e sua aceitação como conhecimento demonstrado no parecer, “essa
abertura não foi compreendida deste modo nos textos que se lhe seguiram”
(CASTANHO, p. 176, 1982). Como a Educação Artística já era descrita no artigo
7º da lei 5692/71 à parte dos demais componentes curriculares, sua
implementação causou confusão e dúvida quanto às suas especificidades
teóricas.
A implementação da obrigatoriedade do ensino da Arte, portanto, ao
contrário do que possa sinalizar e obedecendo à lógica tecnicista, contribuiu para
o reforçar a idéia da Arte como área separada da cognição, com menos
relevância perante outras matérias escolares. Os profissionais da área, que
anteriormente atuavam em suas especialidades, ficaram perdidos e em
dificuldades teórico-metodológicas que acarretaram práticas sem objetivos
claramente definidos, os quais “flutuam ao sabor das tendências e dos
interesses”, conforme é dito no documento.
6. A nova LDB: Introduzindo a Arte como Disciplina
Em 1988, se inicia a reestruturação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação e, com isso, surge a ameaça de eliminação da Arte no currículo escolar
de 1º e 2º graus. Segundo Meneghetti (2005), os arte-educadores, preocupados
em melhorar a qualidade de ensino,
... buscavam aprofundar o pensamento teórico e explicitar os conteúdos
da Arte para evitar sua retirada do currículo. O discurso oficial alegava
31
que era necessário recuperar a educação brasileira ‘através dos
conteúdos’ e que ‘a arte não tem conteúdo.
Após longo período de ditadura militar, tornara-se possível investigar,
historicamente, o que havia sido realizado no país relacionado ao ensino.
Associações e núcleos de arte-educadores se mobilizaram em prol do ensino da
Arte, a fim de aprofundar estudos que pudessem embasar sua prática e assim,
garantir sua permanência no currículo (MENEGHETTI, 2005).
É então, em 1996, que o ensino da Arte passa a ser considerado
componente curricular através da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Nova LDB) – Lei Darcy Ribeiro – sancionada em dezembro (lei nº
9.394, de 20/12/1996), “(...) depois de um parto interminável e em meio a muitas
insatisfações” (DEMO, p. 9, 1997).
Segundo Penna (2001), é a partir daí que se delineia um
redirecionamento do ensino da Arte, voltando-o para seus conhecimentos
específicos. Tal proposição comprova-se ao observarmos que, ao contrário do
que é proposto na Lei nº 5692/71, a área é definida como componente curricular
obrigatório, e não mais como “atividade”. Além disso, a designação “Educação
Artística” é substituída por “ensino de arte”.
Para Demo (1997), apesar da nova LDB ter seus aspectos positivos,
apresenta muitos pontos negativos – os quais denomina “ranços” – provenientes
de políticas neoliberais que visam manter a ignorância da população, colaborando
também para a manutenção do status quo. Considera que, apesar de introduzir
elementos interessantes ao ensino predomina uma visão tradicional, “para não
dizer tradicionalista” (DEMO, p. 67, 1997). Segundo sua ótica, a visão de
educação sugerida pela LDB não ultrapassa a do mero ensino, ou seja, da “aula”
como protótipo da educação escolar, mera “instrução”.
32
Sabemos que, na visão tradicionalista-tecnicista de ensino, conforme já
discorremos anteriormente, não há lugar para o ensino da Arte enquanto saber e
sim, como mero “fazer”, acreditando-se que, com isso, haverá formação de
indivíduos mais competentes para o mercado de trabalho. A idéia do ensino da
Arte como supérfluo e, portanto, facilmente descartável na educação fica
claramente demonstrada pelo Senador Darcy Ribeiro, em reportagem da Folha de
São Paulo, onde afirma:
É equívoco muito grande o pessoal da área de artes defender a
obrigatoriedade da educação artística. Isso acabaria obrigando a
criação de escolas de arte por todo o país. O que fizemos na LDB
foi deixar essa matéria para órbita estadual (RIBEIRO apud
LOPONTE, 1996, p. 7).
Com isso, a redação final do Artigo 35, do Projeto de Lei n° 1258-B de
1988, o qual discorre sobre o ensino da Arte assim ficou estabelecido:
O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos
diversos níveis da educação básica, para desenvolver a criatividade, a
percepção e a sensibilidade estética, respeitadas as especificidades de
cada linguagem artística, pela habilitação em cada uma das áreas, sem
prejuízo da integração das artes com as demais disciplinas.
Parágrafo único - A preservação do patrimônio cultural nacional e
regional, bem como as diferentes formas de manifestações artístico-
cultural originárias do Brasil, terão tratamento especial (BRASIL, 1990, p.
28).
Segundo a análise de Loponte (1996), cabe ressaltar que o texto do
Artigo 35 “continuava reforçando apenas aspectos como criatividade, percepção e
sensibilidade estética, menosprezando a dimensão cognitiva do ensino da Arte”
(p. 6). A não-caracterização da Arte como área de conhecimento e,
conseqüentemente, destituída de formas cognitivas de atuação contribuiu para
alimentar a visão da área como mera atividade, sem conteúdo. Esta visão
33
contribuiu para a situação insatisfatória em que o ensino da Arte se insere na
atualidade. Para Loponte (1996):
Os desdobramentos da lei para o ensino da Arte, em sua prática,
são bastante conhecidos entre nós: má formação de professores,
a persistência de alguns cursos de licenciatura curta, professores
e currículos que ainda privilegiam a polivalência e a realização de
meras ‘atividades’ artísticas, desconectadas de um planejamento
mais cuidadoso e sem objetivos claros (LOPONTE, 1996, p. 6).
No entanto, a discussão em torno da arte como conhecimento tem
estado presente nos principais encontros de professores de Arte realizados nos
últimos anos. Podemos destacar como uma das principais organizações de
professores de Arte a Federação de arte-educadores do Brasil, criada em 1987
em Brasília por ocasião do I Festival Latino-Americano de Arte e Cultura, com o
propósito de “congregar as associações e núcleos regionais, dando-lhes voz em
âmbito nacional” (MENEGHETTI, 1995).
Com a proposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1996, as
discussões a respeito da epistemologia do ensino da Arte se reiniciam. Qual é o
ensino de arte “desejado”? Os PCN tem a pretensão de orientar e garantir a
coerência de políticas educacionais que propiciem uma melhor qualidade para o
ensino. Seria possível um documento garantir tais pressupostos?
7. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Uniformização do Ensino?
Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram formulados com o intuito
de regulamentar a prática educacional de professores de todas as áreas
curriculares, do ensino fundamental ao médio. Suas orientações foram articuladas
a partir de bibliografia especializada e atualizada em cada área por teóricos
34
conceituados pela comunidade científica em Educação, com o intuito de oferecer
fundamentação teórica para a prática pedagógica em todas as áreas do ensino,
buscando, assim, uma melhor qualidade.
A criação dos PCN se insere em um conjunto de medidas
governamentais que visavam a adequação do sistema educacional brasileiro a
um processo econômico de reestruturação produtiva e de globalização dos
mercados, o qual vem se dando na esteira de reestruturações dos sistemas de
ensino em diversos países e, em especial, na América Latina. Tal processo
acontece sob a orientação de organismos internacionais como o Banco Mundial
(FONSÊCA, 2001).
Fonsêca (2001) alerta que as referidas mudanças ocorridas no cenário
educacional se justificam pela necessidade de adequação às transformações de
ordem econômica, política, social e cultural que afetam a sociedade
contemporânea, marcando a inserção do Brasil num cenário de consolidação do
neoliberalismo, ou seja, valorizando-se cada vez mais a produtividade e
estimulando-se o individualismo e o consumismo.
Neste contexto, observa-se o primordial intuito dos PCN em subordinar
a política educacional brasileira aos interesses dos organismos internacionais,
operando mudanças direcionadas ao atendimento de recomendações externas
em detrimento das reais necessidades educacionais de nosso país. Segundo
Fonsêca (2001):
Não por acaso, as justificativas para a elaboração dos PCN, de
acordo com o que declara o próprio documento introdutório para
as séries iniciais, apóiam-se no argumento da necessidade de
cumprir compromissos internacionais assumidos pelo governo
brasileiro, especialmente na Conferência Mundial de Educação
para Todos (Jomtiem, Tailândia, 1990), compromissos esses que
35
resultaram na elaboração do plano decenal de Educação para
Todos – 1993/2003.
Em vista de tais informações, e, relacionando-as à proposta do
presente capítulo em analisar as políticas educacionais brasileiras e seu impacto
nas propostas e concepções de ensino de Arte, podemos inferir que, em vista da
arte não ter um status de área propensora a avanços econômicos e industriais,
não instigar a produtividade e competitividade no mercado de trabalho, propostas
neoliberais direcionadas ao seu ensino são dignas de sérias desconfianças em
relação ao seu valor social e transformador.
No presente capítulo, não pretendemos abordar a fundo os aspectos
epistemológicos dos PCN, pois não se trata de sua principal temática; no entanto,
consideramos relevante salientar no presente trabalho que, apesar das sugestões
dos PCN estarem fundamentadas em teorias educacionais consideradas pela
comunidade científica em ensino da Arte bastante apropriadas (entre elas e,
principalmente, a Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa
3
), o modo como tais
teorias são abordadas é altamente questionável. Para Penna (2005), a
abordagem dos PCN coloca-se
em sintonia com as buscas desenvolvidas no campo do ensino da
arte, refletindo o próprio percurso da área. Neste sentido, podem
ajudar a consolidar uma nova postura pedagógica e a concepção
da arte como uma área de conhecimento específico. No entanto,
há certamente um grande descompasso entre a realidade das
escolas e essa renovação pretendida pelas instâncias
regulamentadoras e pelos trabalhos acadêmicos....
3
Tal proposta se encontra ricamente detalhada no livro de Ana Mae Barbosa A imagem no ensino da arte, de
2002.
36
A questão da aplicabilidade dos PCN na sala de aula - a qual não
aprofundaremos no presente capítulo - pode ser facilmente compreendida se nos
atentarmos para o fato deles terem sido apresentados recentemente, sendo que
completaram dois anos de seu lançamento oficial no Pacio do Planalto em
outubro de 2000, não tendo chegado de imediato a todas as escolas do país.
Além disso, há a questão da proposta de se abordar as quatro
modalidades artísticas pelo professor de Arte. Segundo Penna (2005), além
destas disposições não serem claras - fica a critério das escolas “distribuir” ao
longo da escolaridade as formas artísticas – requer um professor que possua
qualificação em Artes Visuais, Dança, Artes Cênicas e Música.
Ainda sobre a qualificação do professor de Arte, Penna (2005) assinala
que a característica geral da proposta parece indicar a necessidade de
professores especializados. No entanto, não há definições claras na legislação –
PCN e LDB – a respeito da formação do professor, havendo subsídios para que a
contratação de professores da área seja submetida à corte de custos (como
mandam as lógicas neoliberal e capitalista), obviamente dificultando a
possibilidade de haver a contratação de profissionais especializados em cada
modalidade.
Penna (2005) antecipa, a partir de sua análise, três possíveis
conseqüências negativas advindas da situação exposta:
Poderá ser exigida do professor uma polivalência ainda mais
ampla - e mais inconsistente - que aquela promovida pela
Educação Artística e já tão criticada. Inclusive as provas dos
concursos para ingresso em redes públicas de ensino poderão ser
elaboradas neste formato, abordando as diversas linguagens
artísticas, como já acontece em muitos locais nos concursos para
Educação Artística.
37
As propostas dos Parâmetros serão realizadas apenas na medida
dos recursos humanos disponíveis. Assim, se o professor de Arte
de uma dada escola for formado em Música, por exemplo, será
esta a linguagem artística contemplada no currículo. Uma outra
variante desta situação, que já começa a ter lugar em
estabelecimentos particulares, é a escola escolher a(s)
modalidade(s) artística(s) que considera mais conveniente(s) para
os seus interesses, contratando um professor com formação
adequada. Neste caso, podem pesar argumentos acerca da
conveniência de evitar reclamações dos pais na hora de comprar
material para as aulas de Artes Visuais, ou então sobre como
determinado campo da arte pode contribuir para o marketing da
escola - ao produzir apresentações teatrais, por exemplo.
Ou ainda – e pior – as propostas dos PCN poderão servir como
base para planejamentos e relatórios que ficarão apenas no papel,
sem mudanças efetivas na prática educativa em sala de aula.
Assim, as perspectivas em torno da implementação dos PCN no
ensino, apesar de seus pontos positivos – como garantir a presença da arte no
currículo – sinalizam para poucas mudanças efetivas na prática pedagógica. Em
nossa visão, à luz das informações expostas, o ensino de Arte que desejamos e
que denota o caráter subjetivo e reflexivo da arte, a possibilidade de
popularização do capital cultural e o desenvolvimento de formas de pensamento
estético atualmente reservadas mais às camadas privilegiadas, em nada
combinam com os intuitos neoliberais de manutenção do status quo disfarçado de
eqüidade social. A falsa valorização da importância da Arte pela política nacional
e estadual de ensino é facilmente detectada através das contradições dos
documentos oficiais, como, por exemplo, na não designação clara da formação
que o profissional que ensina Arte deva ter, na exigência de polivalência em sua
formação acadêmica, na não especificação dos conteúdos de Arte por séries e/ou
ciclos (como ocorre com as demais áreas), entre outras. Que valorização é essa,
onde a formação do profissional que atua não é devidamente esclarecida?
38
8. Considerações Importantes
Reiteramos a reflexão apresentada no início do presente capítulo, na
qual salientamos o lugar de destaque onde a Arte hoje é posta pelos órgãos
educacionais. Quais seriam os reais objetivos ocultos em tais propostas de
valorização da arte no ensino, posto que é sabido - conforme procuramos
demonstrar – que tais propostas pouco ou nada de fato influem na realidade
escolar, apesar de serem pautadas em teorias de grande valor pedagógico.
Vemos que a “uniformidade” pedagógica dada pelos PCN em vista de uma
melhor qualidade de ensino na verdade se trata de um mecanismo de controle da
escola pública, controle este que visa enquadrar, ainda que apenas na
perspectiva documental, nosso país às políticas impostas pelos órgãos
internacionais.
39
CAPÍTULO II
___________________________________________
40
CAPÍTULO II
A EPISTEMOLOGIA DO ENSINO DA ARTE A PARTIR DE ELLIOT EISNER: POSSIBILIDADES
DE ANÁLISE CONCEITUAL DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
1. O Ensino da Arte e os Parâmetros Curriculares Nacionais
O ensino da Arte
4
hoje se encontra em situação vergonhosa. A prática
em sala de aula mostra que o professor – que denominamos hoje arte-educador –
não possui convicções teóricas capazes de embasar sua prática educacional,
trazendo, com isso, conseqüências funestas para a área (BARBOSA, 2002a).
Podemos destacar como principais conseqüências negativas da falta de
embasamento teórico de professores de Arte na prática educacional: a falta de
clareza em relação aos objetivos do ensino da Arte na escola (que benefícios traz
ao educando) e, conseqüentemente, desenvolvimento de atividades sem
objetivos definidos (ALMEIDA, 2001).
A área, que foi considerada desde sempre como componente curricular
de menor importância perante outras matérias de maior “peso” por alunos,
professores das demais áreas e até pelos próprios arte-educadores, hoje, através
de documentos federais (os quais já foram aqui abordados) é considerada como
essencial na formação plena do indivíduo.
4
Neste texto, o termo “arte” apresenta-se grafado com letra minúscula quando se refere à área do conhecimento humano,
e com maiúscula quando essa área é componente curricular.
41
No entanto, observa-se, através de pesquisas na área, que tais
constatações raramente extrapolam as linhas dos documentos para a realidade,
tanto por razões históricas – razões estas amplamente abordadas por Barbosa
(2002c) - quanto por questões práticas, observáveis no dia-a-dia da sala de aula:
Entretanto, os PCN estão resultando muito pouco. (...) Em minha
experiência tenho visto que as Artes Visuais ainda estão sendo
ensinadas como desenho geométrico, seguindo a tradição positivista, ou
continuam a ser utilizadas principalmente nas datas comemorativas, na
produção de presentes muitas vezes estereotipados para o dia das mães
ou dos pais (BARBOSA, 2002a, p.14).
Lei de Diretrizes e Bases, PCNs e Diretrizes Curriculares são
documentos oficiais que representam discursos e ações que foram
acontecendo na medida em que profissionais da educação e
especificamente das artes se mobilizaram por meio de formas de
participação mais expressivas reivindicando compromissos do Estado
neste processo de implementação do ensino de Arte nas escolas.
Entretanto, no que se refere às orientações e propostas contidas nos
referidos documentos, particularmente nos PCNs, é muito possível que
poucas saiam da página impressa (Grifo nosso,TOURINHO, 2002,
p.28).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - documento federal que teve
sua última versão publicada em 1998 - foram formulados com o intuito de
regulamentar a prática educacional de professores de todas as áreas curriculares,
do ensino fundamental ao médio. Através de suas sugestões
5
, formuladas a partir
de bibliografia especializada e atualizada em cada área por teóricos conceituados
pela comunidade científica em Educação, os educadores têm a oportunidade de
fundamentar sua prática pedagógica, buscando uma melhor qualidade de ensino.
O documento reconhece que há falta de fundamentação teórica por parte dos
arte-educadores, e, portanto, há
5
Designamos como sugestões as constatações dos Parâmetros Curriculares Nacionais por sua aplicação não ser
obrigatória no ensino.
42
necessidade de estabelecimento de um quadro de referências
conceituais solidamente fundamentado dentro do currículo escolar,
focalizando a especificidade da área e definindo seus contornos com
base nas características inerentes ao fenômeno artístico. (BRASIL, 1998,
p.22).
O documento se apresenta como uma opção para a solução do
problema da ausência de referências conceituais de professores de todas as
áreas. Porém, no caso específico do Ensino da Arte, objeto deste trabalho, tanto
na rede pública quanto na privada de Ensino, as proposições apresentadas pelos
PCN/Arte
6
não se refletem na prática do arte-educador:
(...) os PCN estão resultando muito pouco. (...) No Brasil, como vemos,
nem a mera obrigatoriedade nem o reconhecimento da necessidade
são suficientes para garantir a existência da Arte no Currículo. Leis tão
pouco garantem um ensino/aprendizagem que torne os estudantes
aptos para entender a Arte ou a imagem na condição pós-moderna
contemporânea (Grifo nosso, BARBOSA, p. 14, 2002a).
Focando o presente trabalho nos professores do Ensino Fundamental
(5ª a 8ª Séries) da Rede Pública Estadual de Ensino, sabemos que o referido
material (PCN/Arte), teoricamente
7
, se encontra disponível em todas as Unidades
de Ensino da rede pública para eventuais consultas, além de ser amplamente
utilizado em reuniões pedagógicas e capacitações de professores. A partir deste
contexto, nos perguntamos por que, tendo disponível tal material teórico,
professores não se pautam nos PCN/Arte para estabelecerem seus objetivos
educacionais (conforme procuramos demonstrar anteriormente no presente
texto)? Porque não utilizam o documento para determinar suas convicções sobre
em qual corrente ideológica se encontram inseridos, conseqüentemente, de qual
a importância do Ensino da Arte na Educação de acordo com tal visão?
6
Estaremos, a partir daqui, assim nos referindo aos Parâmetros Curriculares Nacionais/Arte, 1998 – Ensino Fundamental
de 5
ª
a 8
ª
séries.
7
Queremos dizer, com este termo, que esta é a informação oficial mas que, no entanto, não podemos garantir que ocorra
na prática.
43
Neste contexto, percebemos a necessidade de refletirmos a respeito
da(s) linha(s) teórica(s) de Arte-Educação adotada(s) no documento. Sabemos
que há inúmeras teorias no que concerne ao ensino da arte e que as mesmas
possuem visões diversas a respeito de como a arte deve ser ensinada e dos
objetivos deste ensino na educação como um todo. Assim, procuraremos
apresentar um panorama epistemológico do Ensino da Arte para que, a partir
desta síntese de idéias, possamos ter parâmetros de diálogo entre as principais
teorias que podem ser encontradas nos PCN/Arte de 5ª a 8ª Séries, as quais
serão determinadas através da análise do referido documento a partir de
categorias levantadas através de material bibliográfico.
Utilizaremos como referência para o alincamento das categorias de
análise dos PCN/Arte as concepções de ensino de arte dadas por Elliot Eisner.
No livro não traduzido para o Português, The Arts and the Creation of Mind
(2002), o autor discorre a respeito dos tipos de ensino de arte que se encontram
no meio educacional dos Estados Unidos. Como as categorias de Eisner (2002a)
se referem a estudos do ensino da arte fora do Brasil, estaremos contribuindo, em
cada uma delas, com referências de outros autores fazendo paralelos de sua
ótica educacional com teorias afins que influenciam/influenciaram o meio
educacional em nosso país.
Estaremos, portanto, buscando, através das concepções de ensino de
arte especificadas, pré-categorias de análise para analisarmos
epistemologicamente os PCN/Arte. Estamos entendendo as categorias, como
propõe Gomes (1994), como ferramentas para estabelecer classificações, ou
seja: “agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito capaz
de abranger tudo isso” (GOMES, 1994, p. 70). No caso de nossa investigação, os
44
conceitos em questão seriam as concepções de ensino de Arte mais relevantes
existentes no meio educacional do Brasil.
2. Classificação das Concepções de Ensino da Arte
Iniciaremos o diálogo epistemológico apresentando a discussão teórica
dada por Elliot Eisner em Educating Artistic Vision (1972), que divide as
concepções de Ensino de arte em contextualistas e essencialistas, inserindo
referências de diversos pesquisadores da área de arte-educação onde esta
divisão é debatida. Consideramos relevante introduzir esta discussão pois estes
termos – contextualismo x essencialismo - se encontram presentes em vasta
bibliografia do campo de estudo do ensino da arte. Citaremos algumas posições
filosóficas que sintetizam as idéias de alguns autores consultados sobre esta
classificação, explicitando nosso posicionamento frente a tais idéias.
No entanto, estes termos não fazem parte das categorias que serão
utilizadas para analisar os PCN/Arte. Tais categorias serão apresentadas no item
subseqüente deste capítulo Concepções e práticas do ensino da Arte segundo
Elliot Eisner, baseadas em publicação mais recente (2002a) do mesmo autor.
2.1. Contextualismo e Essencialismo
A proposta de classificação das concepções de ensino de Arte em
essencialista e contextualista é citada por vários pesquisadores da área de Arte-
Educação. Com isso, admitimos a teoria de Elliot Eisner em Educating Artistic
45
Vision (1972) como significativa, merecendo ser considerada no presente
trabalho.
Elliot Eisner, um dos precursores de Discipline-Based Art Education
8
(em Português, Arte-Educação como Disciplina), programa desenvolvido nos
Estados Unidos pelo Getty Center for Education in the Arts (California, EUA),
propõe a classificação em contextualismo/essencialismo do ensino da Arte. Eisner
formulou essa divisão a partir das posturas filosóficas encontradas no meio
educacional dos Estados Unidos em relação ao ensino da Arte. O autor defende a
importância de se considerar a arte como disciplina tão importante como as
demais no currículo, com contornos próprios e conteúdos específicos a oferecer
(EISNER, 2002). Tal postura teórica se opõe à visão do ensino de Arte como
mera experimentação de materiais, momento de relaxamento e/ou meio para se
obter outros benefícios educacionais “extra-arte”.
Na divisão estabelecida por Eisner, a corrente contextualista se
propõe a utilizar a arte como um meio para se atingir objetivos instrumentais não
diretamente ligados à arte, mas sim às necessidades dos educandos (contexto
psicológico) e da sociedade (contexto social). Já a corrente essencialista
entende que a arte educa enquanto arte, trazendo benefícios ao educando
próprios e exclusivos da área (EISNER, 1972):
Contextualist justifications argue the role of art education by first
determining the needs of the child, the community, or the nation. Art
education is seen as a means of meeting those needs, whether they be
needs directly related to art or not. Essencialist justifications argue the
place of art in the schools by analyzing the specific and unique character
of art itself, and by pointing out that it has unique contribution to make
and should not be subverted to other ends (Eisner apud CASTANHO,
1982).
8
Discipline-Based Art Education.
46
Para Castanho (1982), a proposta de Eisner não seria suficiente para
englobar a diversidade existente de concepções educacionais de ensino de Arte,
por não explicitar os critérios que levaram o autor a esta classificação. Toma a
divisão contextualismo-essencialismo como “falsa”, por não considerar o que
realmente importa para o educador, que seria “a maneira como a arte pode
contribuir, no que lhe é específico, para o desenvolvimento do comportamento
humano, em seus aspectos intelectuais, emocionais, sociais, etc” (p.70).
Entendemos que, para autora, o mais relevante em uma possível classificação
das concepções de ensino da Arte seria deixar claro, através dela, as
contribuições que, dentro da perspectiva de tal ou tal opção, a Arte possa trazer
ao educando em seu desenvolvimento enquanto indivíduo.
Neste contexto, a autora apresenta sua própria proposta de
classificação das correntes teóricas em arte como intuição sensível e arte como
informante do real.
A arte como intuição sensível seria a posição onde a arte é separada
das outras formas de saber, de certa forma considerada inferior, por estar ligada
“à magia, à inspiração, à sensibilidade, um campo em que a humanidade pode
livrar-se da desumanização acarretada pelas outras atividades ‘sérias’”
(CASTANHO, 1982, p. 71). Segundo a autora, tal concepção de ensino utiliza
como práticas em sala de aula o desenvolvimento da auto-expressão do
educando, a preocupação com o desenvolvimento das potencialidades e não a
formação de artistas, a valorização do processo e não do produto artístico e o
desinteresse pelo desenvolvimento da apreciação artística. Tais práticas, no
Brasil, sofrem forte influência da teoria de Viktor Lowenfeld, autor que
47
caracterizou, do ponto de vista da psicologia, os estágios regulares no
desenvolvimento da expressão artística do ser humano.
A arte como informante do real seria a posição que considera a arte
como forma de conhecimento e, como tal, deve ser incluída no âmbito
educacional. Considera a existência de um pensamento plástico, que pode e deve
ser desenvolvido como forma de explorar a realidade. Nessa concepção de
ensino as convicções decorrentes seriam a valorização da apreciação artística, a
idéia de que a arte se ensina (não é um “dom”), a valorização da pesquisa em
arte-educação e a proposta de desenvolvimento de um pensamento visual (a
partir da teoria de Pierre Francastel).
Almeida (2001), em seus estudos a respeito das concepções e práticas
artísticas presentes na escola, cita as concepções essencialista e contextualista
de ensino. Afirma que a posição contextualista é a mais comumente assumida por
professores da educação infantil e básica, quando consideram a Arte como um
fator de desenvolvimento emocional e social dos alunos. Cita Vincent Lanier como
defensor da concepção essencialista, pois tal autor reafirma os benefícios que o
ensino da arte por si só traz à educação. A autora se coloca apenas parcialmente
favorável à posição de Lanier ao afirmar que simpatiza mais com as idéias dos
autores contextualistas pois, para estes, “o ensino das artes na escola não
deveria se preocupar apenas com o desenvolvimento das habilidades,
conhecimentos e valores exclusivos da área artística, mas também com a
formação geral dos alunos” (ALMEIDA, 2001, p.13). Ao assumir tal postura diante
da classificação de Eisner, entendemos que a autora não se opõe à mesma.
Ao discorrer sobre os caminhos metodológicos em Arte-Educação, Rizzi
(2002) também cita a classificação proposta por Eisner, ressaltando ser ele um
48
dos autores de maior influência no debate conceitual do ensino da arte. A autora
afirma que adeptos desta categoria “sempre debateram e até mesmo brigaram a
respeito da importância do ensino da Arte, seus objetivos e métodos de maneiras
às vezes ainda sectária” (RIZZI, 2002, p. 65). Rizzi se insere na discussão da
epistemologia que envolve o ensino da Arte ressaltando que as escolhas
conceituais dos educadores acabam por definir suas práticas metodológicas.
Compartilhamos a posição de Castanho (1982), ao entender que a
divisão proposta por Eisner não seja suficiente para englobar as opções
conceituais existentes em Arte-Educação. Ao admitirmos que tais posturas
determinam os objetivos metodológicos empregados na prática escolar,
observamos que muitas destas práticas possuem características contextualistas e
essencialistas.
Ao utilizarmos como base os três princípios de classificação de Gomes
(1994) para estabelecermos conjuntos de categorias a partir da divisão
contextualismo x essencialismo, estaríamos fugindo do princípio de que “as
categorias do conjunto devem ser mutuamente exclusivas, ou seja, uma resposta
não pode ser incluída em mais de uma categoria” (Idem, p.72).
A partir de todas estas considerações, apresentaremos as concepções
de ensino da Arte dadas por Elliot Eisner em The Arts and the Creation of Mind
(2002). Cumpre ressaltar que não apresentaremos a classificação destas
concepções, mas sim, dispondo-as de forma inteligível ao leitor sem organizá-las
em categorias mais gerais, como seria o caso de classificá-las em essencialistas
ou contextualistas. Como já havíamos informado no presente texto, não
consideramos esta opção satisfatória para categorizar tais concepções. Portanto,
consideraremos as concepções em si como categorias para analisarmos as
49
referências teóricas de ensino da arte presentes nos Parâmetros Curriculares
Nacionais de Arte de 5ª a 8ª Séries do Ensino Fundamental, analisando a
presença ou não de influências destas concepções no documento, bem como a
presença de confluências e oposições conceituais a partir destas categorias.
Encontramos, em produções nacionais, apenas uma citação de The
Arts and the Creation of Mind
9
provavelmente por se tratar de publicação bastante
recente (2002) e principalmente por ainda não possuir uma versão em português.
Tal proposta se configurou a partir de pesquisas do autor feitas nos Estados
Unidos mas, com as devidas adaptações, acreditamos que possam se aplicar ao
ensino de Arte no Brasil, uma vez que as teorias do autor e as dos autores nos
quais se embasa já são referência para diversas obras aplicadas à Arte-Educação
de nosso país, conforme havíamos ressaltado anteriormente no presente texto.
3. Concepções e práticas do ensino da Arte segundo Elliot Eisner
Eisner afirma, em The Arts and the creation of mind (2002), que o mais
importante em qualquer campo de atuação são as forças sociais que criam
condições para que certos propósitos sejam adequados a certos momentos.
Assim, a importância dada a certas áreas do ensino se altera, do ponto de vista
político-educacional, de acordo com convenções sociais e momentos históricos
em que se encontram. Com isso fica claro o porquê da afirmação, apresentada
pelo autor, de que nem sempre os propósitos de uma área são definidos por seus
pares. É dado como exemplo o ensino da matemática, que pode acontecer
atendendo a diversos objetivos. Também opções diversas existem no ensino da
9
Encontramos uma citação da obra em artigo bastante recente de Ana Mae Barbosa: “Ver, fazer:
contextualizar”, em exemplar especial da revista Viver Mente & Cérebro: Perspectivas para o Novo Milênio,
abril de 2006.
50
Arte, pois os objetivos educacionais designados para a área podem variar de
acordo com o contexto sócio-histórico em que forem analisados.
Com isso, Eisner (2002a) se propõe - além de se ater aos aspectos
cognitivos do Ensino da Arte - a descrever separadamente algumas das visões
mais importantes da Arte-Educação de acordo com seus objetivos, sem o intuito
(declarado) de estabelecer níveis de preferência entre elas.
A seguir apresentamos uma interpretação das idéias expressas por
Eisner (2002a), o que o autor chama de “Visions and Versions of Arts Education”,
algo como Visões e versões da Arte-Educação. Paralelamente, colaboramos com
nossa visão e inserimos informações que permitem ao leitor relacionar as
informações apresentadas por Eisner com o Ensino de Arte no Brasil.
3.1 Arte-Educação como Disciplina
Esta concepção de Ensino de Arte apresentada por Eisner (2002a),
Arte-Educação como Disciplina, busca desenvolver nos alunos condições de
adquirirem algumas competências consideradas necessárias para uma
performance de alta qualidade em Arte. De acordo com esta concepção, para que
estas competências sejam adquiridas os alunos precisam desenvolver
sofisticadas formas de pensar (2002a, p. 26). Tal perspectiva de Ensino tem como
objetivos desenvolver a habilidade dos estudantes em criar e perceber a arte,
entender os contextos histórico e cultural em que as obras de arte se inserem e
se infiltrarem nas questões filosóficas da estética.
No Brasil, podemos considerar a Proposta Triangular de Ana Mae
Barbosa como uma difusora das idéias do DBAE, propondo o ensino de Arte
51
calcado na apreciação, fruição e contextualização da arte interligados entre si
(BARBOSA, 2002b). Tal proposta, apresentada inicialmente pela autora no livro A
imagem no Ensino da Arte, hoje se encontra bastante difundida no meio
educacional. No entanto, nem sempre está presente na prática, configurando
apenas uma “história documentada”, ou seja, acontece apenas nos documentos
escritos (ROCKWELL e EZPELETA, 1986), não correspondendo ao cotidiano
escolar “não documentado”.
A Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa é tida como a concepção
teórica que embasa as propostas dos Parâmetros:
As propostas para as diversas linguagens artísticas – artes visuais,
música, teatro e dança – estão submetidas à orientação geral
apresentada na primeira parte, que estabelece três diretrizes básicas
para a ação pedagógica. Tais diretrizes retomam, embora não
explicitadamente, os eixos da chamada “Metodologia Triangular” – ou
melhor – “Proposta Triangular” – defendida por Ana Mae Barbosa na
área de artes plásticas (...) (PENNA, 2001).
3.2 Cultura Visual
Tal concepção, segundo Eisner, defende o uso da Arte como promotora
do entendimento da “cultura visual”. Ou seja, fazer com que o aluno seja capaz de
decodificar os valores e idéias mascarados tanto no que se pode chamar de
cultura popular, quanto nas artes ditas “maiores”.
De acordo com esta concepção de ensino, aprender a ler as
mensagens presentes em um texto visual (imagem) é uma maneira do indivíduo
proteger seus direitos. A leitura de imagens pode proporcionar meios de se ajudar
a reverter situações de injustiça social, à medida que desvelam os interesses que
52
estão sendo privilegiados pelas imagens que nos cercam. Além disso, pode-se
desenvolver a capacidade de usar a Arte como meio de entendimento dos valores
e condições de vida daqueles que vivem em situações culturais diversas.
Tal perspectiva de ensino, permeada pelo contexto social da arte,
permite empregá-la como meio para se compreender e desvelar códigos culturais
diversos, desta forma promovendo a interpretação de significados como uma
análise social e política.
Podemos fazer uma ponte entre tais idéias e as concepções
multiculturais
10
de ensino, amplamente difundidas por Mason
11
(2001) e com
representatividade no Brasil. A autora se coloca como contextualista ao afirmar
que o Ensino da Arte deve contemplar diversos códigos culturais em sua
apresentação, promovendo o entendimento/aceitação da variação cultural através
da Educação. Assim, através da diversificação cultural do currículo de Arte, pode-
se detectar o eurocentrismo presente nas suas concepções bem como a
parcialidade no estabelecimento do que são as Artes “maiores”, pondo em
questão os “princípios estéticos universais” (MASON, p. 12, 2001) pretensamente
existentes.
Com isso, é posta abaixo a crença de que a “melhor” arte é aquela
advinda da expressão pessoal (herança das artes romântica e de vanguarda), a
“arte de ateliê”, podendo-se incluir, ao conceito de arte, as artes populares, o
folclore e as novas tecnologias.
Pode-se, com isso, observar uma clara oposição entre tais convicções e
as propostas do DBAE, pois as habilidades tradicionais da arte como o desenho e
a pintura perdem seu lugar privilegiado. Para Mason (2001):
10
O multiculturalismo na escola pode ser entendido como “... a visão de que a variação cultural deve ser representada e
transmitida no sistema escolar para que as crianças aceitem-na em qualquer sociedade” (MASON, 2001).
11
A autora revela que, atualmente, raramente utiliza o termo multiculturalismo por considerá-lo ambíguo (p. 13).
53
A arte-educação pós-moderna favorece as abordagens contextualistas,
instrumentalistas, de fronteiras de cultura e interdisciplinar para o estudo
da arte; ela traz questões internas assim como externas para a
discussão da qualidade artística e não considera a forma como único
conteúdo da arte (p. 13).
Ainda que tais abordagens possuam também pontos de confluência,
como a importância dada ao contexto histórico, político e social da arte na
maneira como o objeto artístico deva ser considerado, entendemos que as
oposições conceituais entre elas se destacam no que diz respeito às expectativas
em relação à produção artística dos alunos. Enquanto, na proposta do DBAE, é
exigida uma alta performance do aluno, na abordagem da Cultura Visual o
processo crítico que envolve a produção artística é mais valorizado.
3.3 Solução Criativa de Problemas
Nesta perspectiva de ensino, a arte é utilizada como ferramenta na
“resolução criativa de problemas
12
” no campo do design. Eisner cita como
principal exemplo desta concepção os pressupostos da escola Bauhaus, que
ofereceu um programa de estudos na Alemanha de 1919 a 1930. Os objetivos
dos membros desta linha se pautavam no uso da máquina como modelo para se
criar uma estética “limpa”, explorando as características naturais dos materiais
com os quais o designer trabalhava. A Bauhaus preparava e desenvolvia em seus
alunos condições para que se tornassem “solucionadores criativos de problemas”,
sendo as qualidades estéticas dos produtos criados consideradas muito
importantes.
12
Do inglês “creative problemsolving”.
54
O autor relata que tal perspectiva de ensino ainda possui, hoje,
seguidores nos Estados Unidos. No Brasil, a influência da escola Bauhaus não é
diretamente observada no ensino da Arte (ensino fundamental). No entanto,
podemos destacar como tendo pontos em comum, com algumas ressalvas, as
tendências educacionais do ensino de Arte difundidas por Rui Barbosa em
meados de 1882/83, e que revelam as influências do liberalismo e da revolução
industrial na política nacional (BARBOSA, 2002c).
Para Rui Barbosa, o Desenho
13
deveria ter destaque no currículo
secundário e especialmente no primário. Com o intuito de enriquecer
economicamente o país através do desenvolvimento industrial, considerava que
isto só seria possível através da educação técnica e artesanal do povo
(BARBOSA, p. 44-45, 2002c). Inspirado no modelo Americano de ensino da Arte,
acreditava que a implantação do Desenho na educação secundária poderia
render os mesmos frutos – a produção de bons desenhos de produtos industriais
– obtidos nos Estados Unidos. As medidas instituídas por Rui Barbosa
contribuíram para a proliferação de Liceus de Artes e Ofícios no Brasil, e as suas
idéias sobre Educação Artística – pautadas em Walter Smith – passaram a ser
defendidas como sustentáculo do progresso, educando o povo para o trabalho
industrial (BARBOSA, p. 53, 2202c).
Cumpre ressaltar que a confluência de pressupostos entre a Bauhaus e
as concepções de Desenho difundidas por Rui Barbosa se resume apenas na
utilização do desenho para fins industriais, mesmo porque ocorreram em períodos
históricos totalmente distintos. A proposta da Bauhaus valorizava a criatividade do
aluno, possuindo cânones estéticos próprios, enquanto Smith dava, ao desenho
13
O termo “desenho” apresenta-se grafado com letra minúscula quando se refere ao ato genérico de desenhar, e com
maiúscula quando se refere a um componente curricular.
55
geométrico, status de base para a realização de qualquer desenho, inclusive o
artístico. Seu método de ensino consistia na apresentação, pelo professor, de
modelos e esquemas para a realização de desenhos pelos alunos, sem que estes
pudessem utilizar sua criatividade.
3.4 Auto-Expressão Criativa
A Auto-Expressão Criativa é a quarta visão da Arte-Educação
apresentada por Eisner (2002a). Foi articulada por Viktor Lowenfed e Sir Herbert
Read - que, segundo o autor, são “dois dos mais influentes arte-educadores do
mundo” (2002a, p. 32) - e propõe o desenvolvimento da arte através da auto-
expressão criativa do aluno. Segundo Eisner (2002), Lowenfeld e Read
formularam suas teorias em contrapartida ao sistema educacional opressor
existente no período da Segunda Guerra Mundial na Alemanha.
Para Eisner (2002a), ambos autores acreditam que maneiras de
expressão não são “ensináveis”, e que qualquer tentativa de se oferecer técnicas
ou padrões no ensino acaba produzindo inibições e frustrações à capacidade
criadora. Tal perspectiva se pauta na psicologia, sofrendo influências de Jung e
de Freud a partir das visões de Read e Lowenfeld, respectivamente
14
.
14
Both Lowenfeld´s and Read´s ideas about human nature had a psychodynamic quality. In Read´s
case the influence came from Carl Jung, in Lowenfeld´s from Freud. Both thought the artistic
impulse resided in the unconscious and that it was the business of teachers, especially art
educators, not to interfere with this natural process. For Read, art was not so much taught as
caught. The teacher was to be a kind of midwife to the child creative nature. For Lowenfeld, the
arts were a corrective to school practices that were repressive. Both men regarded the arts as a
means of human development (EISNER, 2002a, p. 33).
56
Ou seja, Read e Lowenfeld acreditam que os impulsos criativos se
encontram no inconsciente e que é dever do professor, especialmente do arte-
educador, estimular seu afloramento sem, no entanto, interferir no seu processo
natural. A função do professor, nesse caso, seria atender, guiar, inspirar, dar
apoio psicológico ao educando. Eisner (2002) não se estende na explicação de
como a psicanálise influenciou as teorias de Lowenfeld e Read, apenas cita que
as teorias educacionais destes autores têm como princípio a crença de que os
impulsos criativos estejam no inconsciente.
Podemos encontrar influências da Auto-Expressão Criativa no ensino
da Arte no Brasil. Entre nós a auto-expressão ainda possui muitos adeptos, sendo
a mais enfatizada na educação escolar até a década de 90, tendo se popularizado
através do movimento conhecido por Escolanovismo ou Escola Nova,
principalmente a partir de 1930 (FUSARI e FERRAZ, 2001).
Segundo Fusari e Ferraz (2001), Lowenfeld, seguindo os princípios de
seu livro Creative and Mental Growth de 1947 (publicado em Português em 1977),
via a Arte como “meio para se compreender o desenvolvimento individual em
suas diferentes fases e como desenvolvimento da consciência estética e criadora
do indivíduo” (FUSARI e FERRAZ, p. 38, 2001). As autoras ainda enfatizam que
desenvolveu, através de suas pesquisas, oito critérios para a classificação da
criatividade.
Fusari e Ferraz (2001) reforçam a idéia de que John Dewey, um dos
idealizadores da Escola Nova (a partir de 1900), representou, juntamente com
Lowenfeld (1939) e Read (1943), influência marcante na transformação da prática
do Ensino de Arte no Brasil. Dewey alertava para a função educativa da
57
experiência, enfatizando sua importância no processo de aprendizagem (FUSARI
e FERRAZ, p. 36, 2001).
Castanho (1982), ao discorrer a respeito da influência da obra de
Lowenfeld no Brasil, atenta para o fato de o campo da arte-educação, por ser de
discussão científica ainda incipiente
15
, pode sofrer mais facilmente influências de
construções teóricas bem acabadas e, com isso, ganhar adeptos desavisados (p.
82).
A crença, ainda muito difundida no Brasil, na “virgindade expressiva” da
criança, é altamente combatida por alguns autores, em especial por Ana Mae
Barbosa. A autora afirma ser a contextualização da obra de Arte extremamente
importante, principalmente por combater a idéia dos cânones artísticos serem
neutros. Afirma ainda que a criança, mesmo não escolarizada, possui juízos de
valor formados a partir de sua criação familiar, pelos meios de comunicação a que
tem acesso e pela cultura local. Sendo assim, a orientação estética do professor
de Arte não estaria, de forma alguma, violando seu pretenso potencial criador
puro de influências, pois este não existe.
Voltando a Eisner (2002), apesar das visões da Bauhaus e de
Lowenfeld, Read e Dewey se pautarem na criatividade, apresentam abordagens
totalmente distintas. Enquanto a primeira se foca na solução de problemas
práticos utilizando materiais diversos, a segunda encoraja crianças a esculpir e
pintar, buscando extrair expressões criativas de suas experiências pessoais,
incluindo suas fantasias infantis. A influência do professor é mínima, com pouca
ou nenhuma atenção ao contexto histórico da arte. No entanto, uma idéia
dominante nas duas abordagens é considerar que a criança e sua arte se
15
À época de sua pesquisa – 1982 – tais discussões eram ainda mais escassas do que atualmente, e a Arte ainda não era
considerada área do saber e sim “atividade escolar”.
58
desenvolvem muito mais de dentro para fora do que de fora para dentro (EISNER,
2002a, p.33).
3.5 Arte Educação como Preparação para o Mercado de Trabalho
A quinta visão da Arte-Educação identificada por Eisner usa a Arte para
desenvolver as habilidades e atitudes necessárias ao ambiente de trabalho.
Muito se fala sobre a melhora da escola para que isso fortaleça a
competitividade econômica de um país frente à economia mundial. Nos Estados
Unidos, tal concepção é muito forte, atingindo até mesmo o ensino da Arte.
Segundo o autor, os que assumem tal postura acreditam que a
experiência em Arte desenvolve a iniciativa e a criatividade, estimula a
imaginação, desenvolve a capacidade criadora, e em alguns campos da arte
ajuda os jovens a aprenderem a trabalhar em grupo.
Para muitos, a justificativa de se utilizar a Arte como forma de
preparação para o trabalho é a mais persuasiva existente, com o argumento de
que a experiência estética pode ser de alguma valia, porém há meios de ser
assegurada fora da escola. Já a preparação para o trabalho é algo que será
necessário a todo estudante um dia.
3.6 A Arte e o Desenvolvimento Cognitivo
Esta visão enfatiza as conseqüências cognitivas do trabalho com Arte,
ao acreditar que contribui no desenvolvimento de complexas e sutis formas de
59
pensamento. Ironicamente, segundo Eisner, nem sempre a Arte esteve ligada à
cognição.
Num tempo em que o desenvolvimento das habilidades mentais é
particularmente importante, e, segundo o autor, onde as escolas devem preparar
pessoas para trabalharem com mais de uma ocupação durante a vida, a presença
de um programa que adote a flexibilidade, promova a tolerância pela
ambigüidade, e dependa do exercício do julgamento, numa esfera de regras
escolares pode ser um valoroso recurso.
Eisner sugere que o modo como experienciamos o mundo é
influenciado pela cultura, pela linguagem e pelas crenças e, ao mesmo tempo,
moderado pela nossa individualidade, nossa própria maneira de apreender a
realidade. O autor explica que, através da representação podemos tornar
concretas as imagens ou idéias que produzimos através das nossas experiências.
A representação, para Eisner, é um evento cognitivo, que se dá através da
gravação (inscription), da edição (editing), comunicação (comunication) e
surpresa (surprise). A inscrição seria o modo de se preservar a idéia ou imagem
tida (nunca da exata forma em que foi originalmente experienciada) em algo
durável e concreto. Através da edição prestamos atenção às relações, aos
detalhes, sendo um aspecto crucial do processo criativo, um meio de eliminarmos
as falhas. A comunicação, terceira função cognitiva da representação, transforma
a consciência em uma forma pública. A surpresa, que, segundo o autor, seria a
principal recompensa de todo trabalho criativo, sendo, através dela (surpresa)
possível que uma pessoa se surpreenda com algo feito por ela, e que não saiba
como repeti-lo da mesma forma (p. 6 a 8, 2002a).
60
Para Eisner, a comunicação propicia trocas de contribuições entre
indivíduos, configurando uma relação simbiótica. É através destas relações que
nos desenvolvemos, trocamos experiências com o outro. Assim, a educação deve
propiciar tais relações simbióticas para que possamos desenvolver habilidades
distintas e complementares às nossas.
Podemos citar como representantes desta concepção, Rudolph Arnhein
e Ulric Neisser, que também viam a percepção como um evento cognitivo.
O autor enfatiza que qualquer trabalho de qualidade em arte requer
sutis e sofisticadas formas de pensamento, mas há abordagens mais apropriadas
para promover o desenvolvimento cognitivo. Exemplifica com programas que
façam o estudante contextualizar seus próprios propósitos nas formas artísticas
com as quais vai trabalhar, programas que façam o aluno refletir a respeito de seu
próprio processo de criação e aqueles que encorajem o aluno a articular suas
produções com seus julgamentos sobre arte.
A chave desta abordagem é desenhar o currículo baseando-se nas
formas de cognição e entendimento que se pretende desenvolver através da Arte.
3.7 Utilizando a Arte para Melhorar a Performance Acadêmica
Esta sétima versão está relacionada à justificação do Ensino da Arte
pela sua (possível) contribuição no auxílio a outras matérias ditas básicas
16
.
Como já havia sido mencionado, a receptividade da sociedade pelos objetivos de
um campo de estudo está altamente relacionada com o que realmente se
consegue executar destes objetivos. Este é certamente o caso de se tentar usar a
16
Aqui o autor se refere as disciplinas de Ciências e Matemática. No Brasil, as matérias consideradas básicas são
Português e Matemática.
61
arte para auxiliar na performance acadêmica dos estudantes. Isso envolve a
premissa de que quanto mais cursos de arte crianças e jovens tenham, melhores
serão suas performances na escola. Na área de música temos o que é chamado
“Mozart effect”
17
. Bebês e crianças em idade pré-escolar expostas à música
clássica várias vezes na semana se saem melhor em testes de habilidade
espacial do que outras não expostas. Alguns acreditam que este resultado possa
significar que a música torna as pessoas mais “espertas”
18
.
Outro dado, proveniente de uma pesquisa em maior escala, mostra que
estudantes matriculados em cursos de arte no segundo grau
19
conseguem notas
sigficativamente maiores no Scholastic Achievement Test
20
do que os que não os
fazem; quanto mais cursos de arte, maior a nota no SAT. No entanto, mais cursos
em qualquer campo do saber podem ser associados ao alto desempenho em
avaliações. Na verdade, disciplinas relacionadas às áreas de Ciências e
Matemática são consideradas mais diretamente relacionadas com o bom
desempenho no referido teste. Pondo de lado por enquanto a adequação da
pesquisa descrita, o objetivo proposto por esta visão é usar a arte como um meio
para aprimorar o que alguns consideram mais importante: notas maiores em
Matemática e Ciências.
Para Eisner, as razões para tal objetivo parecem por demais claras.
Tantos esforços têm sido feitos para melhorar a performance acadêmica dos
estudantes, que se está perdendo a razão em busca disso. Depois de diversas
17
Em Português algo como “Efeito Mozart”, Frances Rauscher e Gordon Shaw, Perceptual and Motor Skills, 1998.
18
Do inglês smarter.
19
Nos EUA, os estudantes que cursam o equivalente ao segundo grau no Brasil podem optar por algumas das matérias
que desejam cursar.
20
Teste similar ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do Brasil, pois são realizados por estudantes em idade
escolar próxima.
62
tentativas frustradas durante os anos oitenta
21
, tem-se a sensação de que
nenhum destes esforços surtiu efeito. A partir destas circunstâncias, as pessoas
se perguntam: “Por que não tentar a arte?”.
Eisner afirma que, para alguns arte-educadores, principalmente os que
se sentem profissionalmente marginalizados, esta nova utilidade da arte serve
como um bote salva-vidas. O autor coloca algumas questões à luz destas
considerações:
Pode um campo do saber fazer sua contribuição mais importante
através da busca de resultados que outros campos deveriam atingir
por si sós?
Seria possível obter dados que comprovem os efeitos da arte na
performance de outras disciplinas?
O que acontece com as razões para a existência de um campo do
saber na escola se uma pesquisa mostra que seus objetivos estão
desatualizados, ou que seus pressupostos são fracos, ou que outra
proposta de aprimoramento da performance escolar seja
considerada mais eficiente?
Diante destes questionamentos, é clara a postura crítica de Eisner
quanto a esta visão de ensino.
3.8 Arte Integrada
Outra visão da Arte-Educação dada por Eisner (2002) concebe o
currículo em Arte como integrante do currículo de outras artes e outras áreas.
21
São aqui descritas pelo autor diversas políticas norte-americanas de tentativas de aprimoramento dos índices de
performance escolar.
63
Esta concepção, denominada por Eisner de “integrated arts” (artes integradas), é
comumente usada como forma de aprimoramento da experiência educacional do
estudante. O Currículo de “Artes Integradas” é tipicamente organizado a partir de
uma possibilidade curricular dentre quatro estruturas possíveis.
Primeiramente, a arte é utilizada como ferramenta no entendimento de
um momento histórico particular ou cultura. Por exemplo, o estudo de uma Guerra
Civil poderia incluir as fotografias da época (se houver) ou a música e arquitetura
do período. Poderiam ser exploradas as formas de vestimenta de pessoas
pertencentes a diferentes classes sociais e resgatar a literatura da época. O
objetivo é aprofundar a amplitude do entendimento do aluno através da utilização
de materiais relacionados ao período histórico estudado que, ao final, podem falar
mais do que meros textos escritos. Portanto arte, música, literatura e história se
unem ao redor de um período histórico particular.
Uma segunda forma de integração, esta no âmbito da própria arte,
pretende auxiliar os alunos a identificarem as similaridades e as diferenças entre
as diversas formas de arte. Por exemplo, todas as artes estão relacionadas à
criação de formas expressivas, mas os meios utilizados para atingir tal objetivo
não são os mesmos em cada uma delas. A partir desta proposta, os estudantes
têm a oportunidade de descobrir o que as artes têm em comum e também o que
as distingue.
Uma terceira abordagem é identificar um tema ou idéia gerador(a) que
possa ser explorado(a) através do trabalho não somente com arte, mas também
com outras áreas do saber. O conceito de metamorfose, por exemplo, pode ser
ilustrado pelo modo como uma melodia é alterada em uma sinfonia ou pela
mudança em uma seqüência de imagens em um filme.
64
Uma quarta estrutura para a integração das artes está relacionada à
prática de solução de problemas. Os alunos podem ser convidados a definir um
problema que requisite a participação de diversas disciplinas, incluindo a arte. Por
exemplo, a montagem de uma peça teatral onde precisem determinar a
construção e desenvolvimento dos objetivos, aspectos físicos dos materiais,
roteiro, aspectos estéticos que serão considerados, etc. Em outras palavras, o
problema em si terá múltiplas perspectivas que precisarão ser integradas num
todo para que a peça possa acontecer com sucesso.
Tal perspectiva, possui similaridades com propostas no Brasil, tais
como de ensino por projetos e interdisciplinaridade, como procuraremos
demonstrar a seguir.
Hoje encontramos os termos pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade, cada um possuindo significados próprios. Segundo Pereira
e Hannas:
a pluridisciplinaridade ou multidisciplinaridade refere-se às
disciplinas específicas;
a interdisciplinaridade refere-se à correlação entre os conteúdos das
disciplinas;
a transdisciplinaridade transcende as disciplinas, levando em conta
não somente sua abordagem, mas sobretudo, propondo uma
abertura de todas para o que ocorre nelas e além delas. A
abordagem transdisciplinar é aberta para o que vai além do campo
das ciências exatas, reconciliando-as com as humanidades, ciências
sociais, literatura, arte, poesia, experiência interior (p. 180, 2000).
65
Cumpre ressaltar que nosso intuito não é nos posicionarmos frente a
tais conceitos. No entanto, fica clara a posição das autoras ao se estenderem na
definição do conceito de transdisciplinaridade. Podemos notar as similaridades
entre tais propostas e a visão da Arte integrada de Eisner. Ambas propõem,
grosso modo, trocas e complementações entre as áreas do saber de modo a
enriquecer a aprendizagem do aluno. É interessante também observar que as
autoras se “pré-defendem” da acusação de estarem colaborando com um
modismo ao citarem uma frase de Ubiratan D’Ambrósio que diz, da
transdisciplinaridade: “Nem é, como alguns insistem em mostrá-la, um modismo”
(p. 181).
A pedagogia de projetos é definida não somente como a “escolha de
um tema para trabalhar em todas as áreas”, mas reflete “uma visão da educação
escolar, na qual a experiência vivida e a cultura sistematizada interagem, na
medida em que os alunos vão estabelecendo relações entre os conhecimentos
construídos em sua experiência escolar e na vida extra-escolar” (Brasil, p.61,
1998). Tal definição, encontrada nos Cadernos da TV Escola, material
disponibilizado na Internet pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo,
reflete as tendências de ensino defendidas hoje pelo estado. Podemos perceber,
com clareza, a proximidade entre tais tendências e a Prática de Soluções de
Problemas observada por Eisner, onde alunos e professor(es) se mobilizam sobre
um tema e, através dele, possam desenvolver atividades que abracem diversas
áreas do saber e promovam um ambiente de aprendizagem que contemple uma
pluralidade de dimensões.
66
4. Considerações Importantes
O propósito deste capítulo foi promover uma discussão epistemológica
onde, através da proposta de Elliot Eisner (2002a) em nomear e descrever as
principais visões correntes do ensino da Arte, pudéssemos estabelecer categorias
para analisarmos as concepções teóricas que embasam as propostas dos
PCN/Arte.
No capítulo subseqüente, estaremos apresentando a referida análise
documental, tomando cada uma das categorias e demonstrando sua influência
através de exemplos de trechos dos PCN, bem como as confluências e oposições
conceituais entre elas.
67
CAPÍTULO III
___________________________________________
68
CAPÍTULO III
A EPISTEMOLOGIA DO ENSINO DA ARTE FRENTE AOS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS: CONFLUÊNCIAS E OPOSIÇÕES CONCEITUAIS – ANÁLISE DOCUMENTAL
1. Metodologia de pesquisa
1.1 Análise Documental
Analisamos os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte para o
Ensino Fundamental, Ciclo II (5ª a 8ª Séries), publicação de 1998, através de
abordagem qualitativa de pesquisa. O documento é de extensão federal,
oferecendo orientações para fundamentar a prática do professor de Arte.
Os PCN/Arte foram analisados a partir das categorias conceituais de
Elliot Eisner apresentadas em The Arts and the Creation of Mind (2002). Buscamos
identificar a possibilidade da presença de cada uma das categorias no documento,
e as possíveis confluências e oposições conceituais aí constantes.
O documento apresenta, na primeira parte, uma fundamentação e
orientação gerais para a área de Arte, e, na segunda parte, as propostas para cada
linguagem específica, a saber: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. Em sua
primeira parte, traz uma caracterização geral da área, com uma visão histórica do
desenvolvimento do ensino da arte no Brasil, além de uma fundamentação teórica
denominada “A arte como conhecimento” (p.30).
69
É apresentada, ainda, uma orientação para a prática pedagógica em
Arte em termos globais, voltada para esclarecer objetivos, conteúdos e critérios de
avaliação da área.
Há também um item específico sobre o tratamento que deve ser dado
aos chamados “temas transversais”, denominado “Arte e questões sociais da
atualidade: os temas transversais” (p.37), a saber: Ética, Pluralidade Cultural,
Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo.
Optamos por analisar a 1ª parte na íntegra e os itens da 2ª parte: “Arte
no terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental” e, das linguagens artísticas,
selecionamos apenas o item “Artes Visuais” (p.63-69). A razão desta opção se
deve, primeiramente, ao fato de nossa especialidade em artes se voltar ao campo
das Artes Visuais. Além disso, as categorias de Eisner (2002a) que utilizamos para
analisar o documento também se direcionam mais especificamente para esta
linguagem. Outra razão é acreditarmos que cada linguagem artística (Artes Visuais,
Dança, Música e Teatro) mereça abordagens epistemológicas que abracem sua
especificidade, o que aumentaria muito a amplitude do estudo, no caso de nos
comprometermos a englobar todas elas.
1.1.1. Objetivos
Tivemos como objetivos principais em nossa análise dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, Ciclo II:
Evidenciar as linhas conceituais de Arte-Educação que podem ter
influenciado a construção epistemológica que embasa os
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte;
70
Evidenciar confluências teóricas entre as linhas conceituais
encontradas, buscando promover reflexões a respeito de
possibilidades de interpretação dos PCN/Arte;
Evidenciar oposições teóricas entre as linhas conceituais
encontradas, auxiliando na compreensão/resolução de possíveis
impasses teóricos;
Estabelecer relações entre os resultados da análise e a formação
acadêmica de professores de Arte.
1.1.2. O Trabalho de Análise Documental
A partir da publicação The Arts and the creation of Mind de Elliot Eisner
(2002), procuramos levantar categorias de análise que pudessem ser utilizadas na
análise das concepções de ensino de Arte presentes nos PCN/Arte para o 3º e 4º
Ciclos do Ensino Fundamental. Elegemos a proposta do autor como parâmetro
para nosso estudo por se tratar de um teórico amplamente citado em bibliografia da
área. Assim, elegemos como categorias:
I. Arte-Educação como Disciplina
II. Arte como Cultura Visual
III. Solução Criativa de Problemas
IV. Arte para o Mercado de Trabalho
V. Desenvolvimento Cognitivo através da Arte
VI. Arte como Promotora da Performance Acadêmica
VII. Arte integrada
71
Tal classificação foi utilizada como instrumento conceitual facilitador na
compreensão dos pressupostos teóricos que se encontram inseridos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte, ainda que de forma não declarada.
Com isso, a aceitação/adoção dos PCN por parte do professorado a que se
destina pode acontecer de forma mais consciente e crítica, atendendo a objetivos
educacionais específicos com os quais o educador deseja se comprometer.
Assim, apresentaremos a análise dos Parâmetros Curriculares
Nacionais de Arte para os 3° e 4° Ciclos do Ensino Fundamental com base nas
categorias eleitas em nosso estudo, com o objetivo de evidenciar a presença ou
não de influências de cada uma delas nas concepções teóricas do documento e
as confluências e oposições conceituais a que fazemos referência no título deste
capítulo.
1.1.3. As Concepções Teóricas do Ensino da Arte e seus Reflexos nos PCN/Arte
1.1.3.1 Arte-Educação como Disciplina
Como já havíamos especificado no capítulo anterior, a linha conceitual
da Arte-Educação como Disciplina se tornou conhecida no Brasil através da
Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa (advinda das idéias da Discipline Based
Art-Education), a qual propõe o ensino da arte calcado no fazer artístico, na
história da arte e na análise de obras de arte (BARBOSA, 2002b).
72
A proposta metodológica dos PCN/Arte se fundamenta basicamente na
Proposta Triangular, estabelecendo três eixos de aprendizagem norteadores:
“produzir, apreciar e contextualizar” (BRASIL, 1998, p.49). É observável a
correspondência entre as propostas, a saber: fazer artístico/produzir, história da
arte/contextualizar e análise de obras de arte/apreciar.
A adesão dos PCN aos pressupostos teóricos da Proposta Triangular já
se manifesta na Introdução do documento ao assumir que o desenvolvimento da
cultura de arte do aluno se dá “(...) fazendo, conhecendo e apreciando produções
artísticas” (BRASIL, 1998, p.19), e se confirma, principalmente, no subtítulo
“Caracterização geral e eixos de aprendizagem” (p.49), onde os chamados “eixos
de aprendizagem” são definidos um a um:
Produzir refere-se ao fazer artístico (como expressão, construção,
representação) e ao conjunto de informações a ele relacionadas, no
âmbito do fazer do aluno e do desenvolvimento de seu percurso de
criação. O ato de produzir realiza-se por meio da experimentação e
uso das linguagens artísticas.
Apreciar refere-se ao âmbito da recepção, incluindo percepção,
decodificação, interpretação, fruição de arte e do universo a ela
relacionado. A ação de aprender abrange a produção artística do
aluno e a de seus colegas, a produção histórico-social em sua
diversidade, a identificação de qualidades estéticas e significados
artísticos no cotidiano, nas mídias, na indústria cultural, nas
práticas populares, no meio ambiente.
Contextualizar é situar o conhecimento do próprio trabalho
artístico, dos colegas e da arte como produto social e histórico, o
que desvela a existência de múltiplas culturas e subjetividades”
(Grifo nosso, BRASIL, 1998, p. 50).
Portanto, as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte
para 5ª a 8ª séries estão submetidas à orientação geral apresentada na primeira
parte do documento: “Arte no ensino fundamental” (p. 19-54), cujas diretrizes se
73
fundamentam nos eixos de aprendizagem da Proposta Triangular e devem ser
estendidas às diversas linguagens artísticas: artes visuais, música, teatro e
dança. No entanto, são observadas, também, influências de outras concepções
teóricas do ensino da arte em alguns trechos do documento, conforme
demonstraremos.
1.1.3.2 Arte como Cultura Visual
A perspectiva conceitual da Arte como Cultura Visual se manifesta
amplamente nas propostas dos PCN, diluída na maioria dos tópicos abordados.
A questão da importância de se enfatizar as diferenças culturais das
múltiplas sociedades humanas por meio do ensino da arte é sugerida em diversos
momentos, além do comprometimento que a arte deve ter em auxiliar o aluno a
interpretar a diversidade de valores presente na sociedade, combatendo
preconceitos e a exclusão social, ou seja: contribuindo para que o aluno possa
defender seus direitos e proporcionando meios para reverter situações de
injustiça social. A seguir alguns exemplos de trechos dos PCN:
Produzindo trabalhos artísticos e conhecendo essa produção nas outras
culturas, o aluno poderá compreender a diversidade de valores que
orientam tanto seus modos de pensar e agir como os da sociedade
(Grifo nosso, p. 19).
Além disso, os alunos tornam-se capazes de perceber sua realidade
cotidiana mais vivamente, reconhecendo e decodificando formas, sons,
gestos, movimentos que estão à sua volta(Grifo nosso, p.19).
A área de Arte contribui, portanto, para ampliar o entendimento e a
atuação dos alunos ante os problemas vitais que estão presentes na
sociedade de nossos dias (Grifo nosso, BRASIL, 1998, p. 38).
74
Identificar, relacionar e compreender a arte como fato histórico
contextualizado nas diversas culturas conhecendo, respeitando e
podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as
demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a
existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos de
diferentes grupos culturais (Grifo nosso, p. 48).
1.1.3.3 Solução Criativa de Problemas
Não encontramos influências desta corrente teórica nos PCN/Arte.
Apesar de haver muitas menções a respeito da criatividade no processo de
criação artística, o próprio documento critica a justificação da arte no currículo
apenas com o intuito de desenvolvê-la (a criatividade):
(...) muitos dos objetivos arrolados nos planejamento dos professores de
arte poderiam compor outras disciplinas do currículo, como desenvolver
a criatividade, a sensibilidade, o autocontrole, etc”(BRASIL, 1998, p. 22).
1.1.3.4 Arte como Auto-Expressão Criativa
A ênfase na emoção, na intuição, na sensibilidade, na personalidade do
artista denota influências das correntes teóricas que enfatizam a livre-expressão.
Com isso há certa mistificação da obra de arte que, segundo Penna e Alves
(2001):
E esta mistificação em nada contribui para a compreensão da arte ou de
seu ensino, pois os fatores que, segundo esta concepção, determinam a
atividade artística independem totalmente de uma ação pedagógica
(PENNA e ALVES, 2001).
Em seus estudos sobre a fundamentação teórica dos PCN de Arte do
Ciclo I (1ª a 4ª séries), Penna e Alves concluíram haver uma grande influência da
concepção romântica de arte: “Nos PCN-Arte para as séries iniciais, a forte
influência da concepção romântica de arte é bastante evidente: há uma
supervalorização da emoção, com ênfase na sensibilidade inventiva (...)” (2001).
75
Os autores destacam ainda a influência do romantismo nas correntes
da arte-educação que enfatizam a livre expressão, “repudiando qualquer
interferência no desenho da criança e defendendo uma visão romântica da
infância” (PENNA e ALVES, 2001).
Há vários trechos nos PCN/Arte de 5ª a 8ª séries onde também
podemos encontrar traços da influência da Auto-Expressão Criativa, com ênfase
na personalidade do artista e na sua emoção:
O motor que organiza esse conjunto é a sensibilidade, a intuição, a
imaginação, os conhecimentos, a emoção, que desencadeiam o
dinamismo criador do artista (Grifo nosso, BRASIL, 1998, p. 34).
Diante de uma obra de arte, intuição, raciocínio e imaginação atuam
tanto no artista como no espectador(Grifo nosso, p. 33).
Assim, a fundamentação dos PCN/Arte possui marcas da tendência da
livre-expressão criativa, cujas bases teóricas são incompatíveis com os
pressupostos expostos na 1ª categoria. Tais oposições serão exploradas em item
subseqüente deste capítulo.
1.1.3.5 Arte para o Mercado de Trabalho
Há apenas uma menção da possível contribuição da arte para o
mercado de trabalho nos PCN/Arte para o Ciclo II:
A ação artística também costuma envolver criação grupal: nesse
momento a arte contribui para o fortalecimento do conceito de grupo. O
aluno pode compreender o outro intelectual e afetivamente e pode ter
atitudes cooperativas nos grupos de trabalho (BRASIL, 1998, p. 61).
76
Não consideramos esta influência marcante nas concepções teóricas
dos PCN/Arte, pois a menção a “grupos de trabalho” pode ser interpretada como
grupos de trabalho escolares e não no campo propriamente profissional.
1.1.3.6 Desenvolvimento Cognitivo através da Arte
Enfatizando as conseqüências cognitivas do trabalho com Arte, e
acreditando que a arte contribua no desenvolvimento de complexas e sutis formas
de pensamento, esta categoria assume a representação como um evento
cognitivo.
Para Eisner, a representação se dá através de processos denominados
gravação, edição, comunicação e surpresa. Esta forma de ver a arte não apenas
como área de conhecimento, mas como promotora de eventos cognitivos
unicamente provenientes da representação artística não está presente nos
PCN/Arte, mas já pode ser considerada uma tendência no ensino de arte no
Brasil:
O movimento Arte/Educação como cognição se impõe no Brasil. Através
dele se afirma a eficiência da arte para desenvolver formas sutis de
pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber
possibilidades, construir, formular hipóteses e decifrar metáforas
(BARBOSA, 2006, p. 16).
1.1.3.7 Arte como Promotora da Performance Acadêmica
Esta perspectiva do ensino da arte tem como ponto chave justificar a
presença da arte no currículo, pela possível contribuição às outras disciplinas
consideradas “básicas”.
77
A proposta dos PCN considera a Arte como disciplina com conteúdos
próprios e importância em si:
(...) a atual legislação brasileira reconhece a importância da arte na
formação e desenvolvimento de crianças e jovens, incluindo-a como
componente curricular obrigatório da educação básica. No ensino
fundamental a Arte passa a vigorar como área de conhecimento e
trabalho coma as várias linguagens e visa à formação artística e estética
dos alunos (BRASIL, 1998, p. 19).
No entanto, é mencionada a possível contribuição da arte na
performance de outras disciplinas no trecho a seguir:
(...) ao fazer e conhecer arte, o aluno percorre trajetos de aprendizagem
que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o
mundo. Além disso, desenvolvem potencialidades (como percepção,
observação, imaginação e sensibilidade) que podem contribuir para a
consciência do seu lugar no mundo e para a compreensão de
conteúdos de outras áreas do currículo (Grifo nosso, BRASIL, 1998,
p. 43).
Assim, apesar de não considerarmos marcante esta influência teórica
nos PCN/Arte, salientamos, mais uma vez, a presença de noções com bases
teóricas incompatíveis no documento.
1.1.3.8 Arte Integrada
Nesta perspectiva de ensino, alunos e professor(es) se mobilizam sobre
um tema para que possam desenvolver atividades que abracem diversas áreas
do saber. Assim, promovem um ambiente de aprendizagem que contemple uma
pluralidade de dimensões.
78
A proposta dos PCN/Arte para o tratamento dos temas transversais
através da arte considera a área como “campo privilegiado” para esta
incumbência, contribuindo para a contextualização destes temas.
No tópico “Arte e questões sociais da atualidade: os temas transversais”
(BRASIL, 1998, p.37), são sugeridas formas para os temas transversais serem
trabalhados através da arte e em conjunto com as outras áreas do conhecimento.
Os temas propostos são: “ética, meio ambiente, orientação sexual, saúde,
trabalho, consumo e cidadania, comunicação e tecnologia informacional,
pluralidade cultural, além de outros temas locais definidos na organização
escolar” (BRASIL, 1998, p. 38).
A correspondência entre a proposta para os temas transversais e a
categoria Arte integrada é clara, ao considerar a arte como condutora de um
projeto de trabalho onde são contempladas várias áreas do currículo em torno de
um tema comum.
1.1.3.9 Confluências Conceituais
As categorias eleitas possuem suas especificidades tendo, no entanto,
pontos em comum. Podemos tomar como exemplo as categorias Arte-Educação
como Disciplina e Arte como Cultura Visual, pois ambas contemplam a
importância de se considerar os contextos social e histórico da arte no ensino. No
caso da categoria Arte-Educação como Disciplina, percebe-se a importância dada
à valorização da contextualização das produções artísticas. Na categoria Arte
como Cultura Visual observa-se a importância dada às diferenças de códigos
79
culturais presentes nas produções, diferenças ocasionadas pelas variações
sociais e históricas existentes entre as diversas sociedades que produzem arte.
Podemos considerar, também, uma aproximação entre a categoria
principal Arte-Educação como Disciplina e Desenvolvimento cognitivo através da
Arte, ainda que a segunda não manifeste sua influência nos PCN/Arte. Esta
concepção, desenvolvida por Eisner (2002a), de que arte proporciona ao
educando o desenvolvimento de formas de pensamento ligadas a representação
artística típicas e exclusivas deste campo do saber, não deixa de ser
complementar à idéia de arte como área de conhecimento que se impõe através
da Arte-Educação como Disciplina.
1.1.3.10. Oposições Conceituais
Os PCN/Arte possuem suas bases teóricas fundamentadas na Proposta
Triangular, a qual possui grande afinidade com a concepção de Arte-Educação
como Disciplina. No entanto, apresentam também influências de outras linhas
teóricas, às vezes incompatíveis.
Consideramos como principal oposição conceitual presente nos
PCN/Arte a que se revela entre a visão da Arte como Auto-Expressão Criativa -
expressa em trechos onde se enfatiza a emoção, a intuição e a personalidade do
artista - e a da arte como conhecimento defendida pela Arte-Educação como
Disciplina, onde o caráter específico da área é enfatizado, e a apreciação e
contextualização da imagem artística se tornam indispensáveis.
A apreciação e a contextualização da imagem são incompatíveis com a
proposta pedagógica da Auto-Expressão Criativa, pois esta se pauta na crença da
80
virgindade expressiva do aluno, sendo quaisquer estímulos externos
considerados inibidores desta expressão pretensamente pura e verdadeira.
Assim, a fruição e contextualização de imagens seriam “proibidas” nesta
abordagem.
Outras concepções teóricas presentes, ainda que de maneira sutil, nos
PCN/Arte e que se chocam com a proposta geral pautada na concepção de Arte-
Educação como Disciplina são: Arte para o mercado de trabalho e Arte como
promotora da Performance Acadêmica. Ainda que as influências destas
concepções nos PCN sejam pouco significativas, são observadas em trechos
isolados (conforme já exemplificamos neste mesmo capítulo) do documento.
Estas duas concepções de ensino vêem como principal objetivo de se ensinar
arte alcançar benefícios ao educando fora do contexto da própria arte, não
reconhecendo a área como campo do saber com benefícios próprios a oferecer.
2. Considerações importantes
Pudemos considerar, através dos resultados da análise feita dos
PCN/Arte a partir das categorias de Eisner (2002a), que há pontos que poderiam
ser aprimorados no que concerne ao referencial teórico dos PCN/Arte. Segundo
nossa visão, o texto que fundamenta o documento é permeado por diversas
linhas conceituais, às vezes opostas.
Como um dos objetivos principais de nosso estudo é verificar as
relações entre os PCN/Arte, a epistemologia do ensino de Arte e a formação do
Arte-educador, apresentaremos no capítulo subseqüente os dados empíricos de
nossa pesquisa e sua análise para que, nas considerações finais, possamos
81
estabelecer relações entre as duas abordagens e apresentar também os
resultados finais de nosso trabalho.
82
CAPÍTULO IV
___________________________________________
83
CAPÍTULO IV
A FORMAÇÃO DO ARTE-EDUCADOR E OS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS: TEORIA E PRÁTICA NA REALIDADE DO EDUCADOR
1. Análise de Dados Empíricos
1.1. Extensão da Amostra
O universo considerado nesta pesquisa exploratória foi constituído por
professores de Arte do ensino Fundamental de 5ª a 8ª Séries, nos anos letivos de
2005 e 2006, da rede pública Estadual de Ensino, das Diretorias de Ensino de
Sumaré e Campinas/Leste.
O número de professores participantes foi 24, de um universo possível
de 194 professores pertencentes às Diretorias de Sumaré e Campinas/Leste.
1.2 O Trabalho de Pesquisa
A coleta de dados se deu de três formas diferenciadas, com o propósito
de ampliar ao máximo o número de sujeitos, a saber:
84
15 questionários foram distribuídos em escolas da Diretoria de Sumaré,
dos quais 4 foram respondidos.
25 questionários foram distribuídos em Vídeo-Conferência de Arte assistida
por professores da Diretoria de Ensino de Sumaré, dos quais 3 foram
respondidos.
30 questionários foram distribuídos em orientação técnica (capacitação)
oferecida pela Diretoria de Ensino Campinas-Leste, dos quais 17 foram
respondidos.
1.3 Procedimentos
A amostra ficou composta de 24 professores da rede pública de ensino
do Estado de São Paulo, 17 lecionam em escolas pertencentes a Diretoria de
Ensino da região Campinas-Leste e 7 fazem parte da Diretoria de Ensino de
Sumaré.
Escolhemos esta amostra tendo em vista as condições favoráveis a que
tínhamos acesso para coletar os dados necessários para nossa pesquisa nestas
Diretorias, já que os recursos humanos de que dispúnhamos tornavam inviável a
visita a todas as escolas públicas estaduais da região de Campinas.
Obtivemos portanto uma amostra de 24 professores de um total de 194,
o que corresponde a, aproximadamente, 12,4% do total de professores do
universo pesquisado. Embora nossa amostra seja pequena dentro do universo
considerado (Diretorias de Ensino regiões de Sumaré e Campinas-Leste), por se
tratar de pesquisa qualitativa, consideramos que os dados sejam significativos
para nossa problemática.
85
1.4 Instrumento
Utilizamos como instrumento para coleta dos dados um questionário
que constava de perguntas abertas e fechadas, englobando os seguintes
aspectos:
Formação inicial
Formação continuada
Jornada de trabalho
Opções conceituais do trabalho com arte
Seus objetivos nas aulas de arte
Opinião sobre os PCN/Arte
Relação sua formação superior X PCN
Relação dos objetivos com a prática em sala de aula
Impressões pessoais (livre)
Optamos por identificar cada sujeito participante da pesquisa por
numeração simples colocada aleatoriamente (ex: sujeito 1, sujeito 2, etc) com o
propósito de facilitar a análise dos dados e manter o sigilo em relação às suas
identidades.
2. Análise dos Questionários
2.1 Apresentação e Análise dos Dados Brutos
Realizamos pesquisa com abordagem qualitativa, e optamos por
apresentar os dados brutos expressando-os por números absolutos e não
86
percentuais, pois o número de sujeitos participantes é reduzido. Também
optamos por agrupar os dados relativos às Diretorias participantes por não termos
observado diferenças significativas entre seus resultados.
2.2 Formação Acadêmica e Jornada de Trabalho
Em relação à formação acadêmica e a jornada de trabalho dos sujeitos
participantes, chegamos ao seguinte resultado: do total de 24 professores
participantes, 1 cursava o último ano da graduação, 16 concluíram a graduação
(dentre estes 1 em Publicidade e Propaganda), 7 além da graduação concluíram
ou estavam cursando especialização e 1 tinha mestrado incompleto. Do total, 4
declararam ter feito outras graduações e 7 declararam exercer outra profissão
além da docência.
2.3 Opções Conceituais ligadas a Objetivos Educacionais
Os sujeitos foram indagados a respeito de seus objetivos educacionais,
sendo convidados a escolher uma ou mais opções entre 6 pré-definidas, além de
uma opção “outros”, onde poderiam escrever seus objetivos (caso nenhuma das
opções se aproximasse do que gostariam de responder).
As opções de objetivos que oferecemos correspondiam, grosso modo,
às categorias de ensino de arte de Eisner (2002a) explicitadas no capítulo
anterior.
Tivemos como resultados 6 respostas referentes às propostas da Arte-
Educação como Disciplina, 6 em Cultura Visual, 7 em Auto Expressão Criativa, 11
87
em Arte para o Mercado de Trabalho, 3 para Desenvolvimento cognitivo através
da Arte e nenhuma assinalação em Arte como promotora da Performance
Acadêmica.
Houve dois casos de preenchimento do campo “outros” (onde o
professor deveria escrever objetivos que não tivessem sido citados), mas
consideramos que os objetivos descritos se encaixavam respectivamente em
Cultura Visual e Auto-Expressão Criativa, portanto não foram considerados como
“outros”. A seguir os objetivos descritos pelos referidos professores:
Ampliar o repertório cultural e artístico do aluno, desenvolvendo
capacidade crítica de percepção e conhecimento da realidade em que
vive, através da linguagem artística, decodificando seus diversos
signos (Grifo nosso, sujeito 5).
Trabalhar a auto-expressão desenvolvendo a percepção e a imaginação
(sujeito 18).
Pudemos perceber pelas respostas assinaladas que há uma grande
diversidade de visões educacionais por parte dos sujeitos, e, em particular, uma
preocupação em preparar o aluno para o mercado de trabalho, manifestada em
11 respostas.
A proposta da Arte-Educação como Disciplina, considerada em nosso
trabalho como o principal (porém não único) referencial teórico dos PCN/Arte, foi
a terceira mais assinalada, ficando atrás de Arte para o Mercado de Trabalho (11)
e Auto Expressão Criativa (7). Tal resultado sinaliza para duas possibilidades de
interpretação: a opção desses educadores pela não adoção dos pressupostos
teóricos dos PCN/Arte ou o desconhecimento das propostas neles inseridas.
Outro aspecto que consideramos importante ressaltar foi a opção feita
por 7 dos sujeitos participantes em Auto Expressão Criativa. Este resultado
88
sugere que, dentro desta amostragem, ainda há uma alta adesão à idéia de arte
como eflúvio emocional, sensibilidade, e não como forma de conhecimento.
2.4 Objetivos Educacionais Relacionados à Prática em Sala de Aula
Ao serem questionados a respeito do atendimento aos objetivos
educacionais a que se propõem, 8 sujeitos responderam atingir plenamente,
enquanto 16 declararam atingir seus objetivos parcialmente.
As justificativas dadas para o não atendimento pleno dos objetivos
educacionais foram variadas, mas as razões citadas mais recorrentes foram a
falta de interesse dos alunos (bagunça, indisciplina, falta de participação e falta de
concentração) manifesta em 8 respostas, e a falta de infra-estrutura para o
trabalho (falta de material, falta de um espaço adequado, salas super-lotadas e
falta de tempo) manifesta em 5 respostas. Além disso, os professores
participantes citaram outras situações que comprometem o atendimento pleno de
seus objetivos como: a falta de preparo para lidar com os casos de inclusão (1), a
falta de estabilidade por parte dos professores contratados, que por isso têm
dificuldade em finalizar seus projetos (1), necessidade de adequação de suas
idéias à realidade dos alunos (1) e a falta de integração/parceria entre
professores, direção e coordenação pedagógica (2).
Observamos que apenas uma das justificativas dadas sinaliza para uma
preocupação dos sujeitos com o seu preparo para lidar com situações
problemáticas no que se refere ao cumprimento de seus objetivos. O caso da
resposta “Necessidade de adequar os ideais à realidade dos alunos” (sujeito 11) é
89
um exemplo. Todas as outras justificativas remetem a fatores externos
(indisciplina, falta de infra-estrutura, etc), que fogem ao controle do professor.
2.5 A Aplicabilidade e Aceitação dos PCN/Arte
Ao serem indagados a respeito do conhecimento dos conteúdos dos
PCN/Arte, 11 sujeitos declararam conhecê-los plenamente e 12 parcialmente.
Quando questionados sobre concordar ou não com os pressupostos contidos no
documento, 5 professores declararam concordar plenamente, 16 concordam
parcialmente e 4 responderam não saber opinar.
Quando solicitados a justificar o porquê da aceitação apenas parcial
dos PCN/Arte, 6 sujeitos alegaram falta de infra-estrutura, 4 consideram as
propostas dos parâmetros desconectadas da realidade da sala de aula, 3
alegaram ter dificuldades em transpor a teoria para a prática, 1 não teve acesso
aos PCN, 1 cita o desinteresse dos alunos, 1 considera as propostas
apresentadas ultrapassadas, 1 sujeito criticou o formato “pré-determinado” do
documento e 1 professor considerou as propostas “relevantes mas sem
possibilidades de aplicação na íntegra, pois requerem que o professor seja um
‘muti-tarefa’. A formação atual dos professores é em uma ou no máximo duas
áreas de especialização. Como cobrir as necessidades das quatro?” (sujeito 3).
Consideramos interessante observar que apenas 9 respostas foram
direcionadas ao conteúdo teórico do documento. Destas, em apenas 2 os sujeitos
respondentes especificaram o motivo da não concordância com este conteúdo.
Podemos dar como exemplo o caso do professor que considera o formato dos
Parâmetros como pré-determinado:
90
Um formato pré-determinado - desde projetos ou formas de nivelar o
conhecimento - sempre deixa uma lacuna, porque cada sala de aula é
diferente, cada escola é diferente uma da outra e cada aluno responde
de uma forma. Algo pré-determinado é vago já que vivemos várias
realidades e temos que ter jogo de cintura para enfrentá-las e estar
sempre abertos para novos começos e atitudes (sujeito 7).
O sujeito 3 também especificou em sua resposta o porquê da
discordância, alegando não concordar com a exigência do professor trabalhar as
quatro linguagens artísticas.
Este resultado sinaliza para algumas considerações acerca do
conhecimento que os sujeitos da amostra têm dos conteúdos dos PCN. Como
poucos atrelaram a não aceitação dos PCN aos seus conteúdos teóricos e sim,
novamente, a fatores externos (falta de infra-estrutura, não ter acesso ao
documento, desinteresse dos alunos), uma possível interpretação seria a que
muitos possuem pouco conhecimento destes conteúdos, não conseguindo
debater sobre eles.
Também não podemos ignorar que a demasiada preocupação dos
professores com a falta de infra-estrutura, apesar de ser um elemento que foge a
questão do conhecimento/aceitação dos PCN/Arte, remete para o fato de que a
implementação de novas propostas educacionais pelo governo não vêm
acompanhadas de recursos adequados para que estas propostas se concretizem.
Resta aos profissionais se adaptarem a elas da maneira que esteja ao seu
alcance, muitas vezes simplesmente não adotando tais propostas.
2.6 Ação em Sala de Aula
Os sujeitos foram convidados a descrever como costumam desenvolver
atividades em sala de aula. Esta questão teve como objetivo principal verificar se
91
a atuação descrita pelos professores condizia com os objetivos educacionais que
haviam assinalado em questão anterior, e se esta atuação se aproximava das
propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Dentre a amostra, 4 sujeitos não responderam a questão, restando 20
respostas para análise.
Em relação a correspondência entre os objetivos educacionais que
cada sujeito optou e as atividades que costumam desenvolver em sala de aula,
consideramos que 9 sujeitos descreveram atividades que não condizem com seus
objetivos, como, por exemplo, o sujeito 2, que declarou desenvolver “atividades
que levam o aluno ao conhecimento da história da arte, através de releituras e
pesquisas” (Grifo nosso) e, no entanto, assinalou os objetivos relacionados ao
desenvolvimento da Auto Expressão Criativa, onde se lia “Trabalhar a arte através
da auto-expressão criativa do aluno, propiciando eflúvio emocional através do
impulso criativo, acreditando que este resida no inconsciente e, portanto, não
deva sofrer interferências do professor de arte para não ser distorcido,
devendo ser totalmente livre”. Consideramos clara a oposição conceitual entre as
proposições descritas, pois a atividade relatada pelo sujeito remete para a
contextualização e apreciação de imagens, interferência considerada inapropriada
na concepção do ensino de arte como Auto Expressão Criativa.
Outros 3 sujeitos, dentre aqueles 9 acima especificados, assinalaram a
opção relacionada aos objetivos da Auto Expressão Criativa e, no entanto,
relataram o uso da apreciação artística e contextualização de obras de arte em
suas aulas, demonstrando desconhecimento ou interpretação equivocada dos
objetivos relacionados a esta abordagem pedagógica.
92
De todos os respondentes, 5 sujeitos descrevem atividades que não se
opõem aos objetivos declarados, porém não deixam claro como pretendem atingir
estes objetivos a partir destas atividades, e, finalmente, 6 sujeitos descreveram
atividades que condizem com os objetivos por eles declarados.
Consideramos que estes últimos 6 participantes da pesquisa, que
adequaram seus objetivos à aula descrita, demonstraram clareza na transposição
dos objetivos para a prática, como procuraremos exemplificar com os seguintes
relatos:
Assunto abordado: Semana da Arte Moderna de 1922. Introdução ao
assunto: discorrer sobre a importância do movimento ressaltando os
principais artistas e suas idéias revolucionárias. Estratégias: Atividades
sobre as obras A estudante Russa da artista Anita Malfatti, Operários e
Abaporu de Tarsila do Amaral (sujeito 13).
O sujeito 13 assinalou duas opções de objetivos, Arte Educação como
Disciplina e Desenvolvimento cognitivo através da Arte, e, na descrição de uma
possível aula, faz menção à apreciação artística, à contextualização da obra de
arte e à prática artística, que são características da primeira opção.
Já o sujeito 11 descreve uma aula da seguinte maneira:
Procuro primeiro aquietar as mentes voltando a atenção para o próprio
ser. O ar que respiramos, os sons que escutamos, uma palavra, um
ideal, um sonho. A partir de um simples ponto, fazer com que os alunos
despertem o interesse para a simplicidade e ao mesmo tempo para a
complexidade deste ponto, e criar uma aula por exemplo sobre o que é
abstrato e como abstrair a partir de um ponto (no desenho, na música ou
nas palavras).
Na descrição de sua aula, o sujeito 11 utiliza termos que sugerem a
prática de uma certa preparação dos alunos para trabalharem com arte, quando
diz que procura primeiro “aquietar as mentes voltando a atenção para o próprio
ser”. Esta preparação, bem como alguns outros elementos presentes em trechos
da descrição, sugere uma preocupação com o lado sensório/sensível do aluno,
93
como quando menciona “o ar que respiramos, os sons que escutamos, uma
palavra, um ideal, um sonho”. Estes princípios condutores da aula de arte, onde
os aspectos sensíveis (o ar que respiramos, os sons que escutamos) e pessoais
(a atenção sobre o próprio ser) do aluno são valorizados, se adequam à
perspectiva do ensino de arte como Auto Expressão Criativa. Tendo sido esta a
opção assinalada, este sujeito demonstrou saber adequar, pelo menos no que
concerne ao discurso, sua teoria à prática.
O resultado destas análises nos possibilita diversas interpretações em
relação à correspondência de ações dos professores em sala de aula e os
objetivos que declararam buscar atingir.
Uma parcela significativa dos sujeitos participantes (9 dentre 20 que
responderam a questão) demonstrou não ter clareza em relação à transposição
dos objetivos pretendidos para o ensino de arte e a prática em sala de aula. Esta
falta de clareza pode estar relacionada a:
1. Falta de conhecimento das teorias de ensino de arte e seus respectivos
objetivos;
2. Construção de um discurso que propõe uma imagem de professor que não
condiz com a realidade;
3. Uma certa dificuldade de expressão através da linguagem escrita.
Relacionando estas possibilidades com as propostas dos PCN/Arte
podemos inferir que:
94
1. Parte dos professores participantes tem pouco conhecimento das teorias e
conseqüentemente dos objetivos propostos pelos PCN/Arte;
2. Parte dos professores participantes tem um certo conhecimento da
proposta dos PCN/Arte e declaram aplicá-la, no entanto na prática isso não
acontece.
3. Parte dos professores participantes tem um certo conhecimento da
proposta dos PCN/Arte, declaram aplicá-la e demonstram ter ciência de
como desenvolver os objetivos nela propostos na prática.
4. Parte dos professores participantes tem um certo conhecimento da
proposta dos PCN/Arte, mas não a aplicam por não concordarem com seus
pressupostos ou por falta de recursos estruturais que impossibilitam seu
cumprimento na íntegra.
2.7 O Papel da Formação Superior no Desenvolvimento dos Objetivos Educacionais
As conclusões possíveis, obtidas no que se refere à prática do
professor de arte e sua relação com a aplicação ou não dos PCN/Arte, nos levam
a questionar se o arte-educador teria, em sua formação inicial, recebido subsídios
teóricos que propiciassem uma análise crítica dos PCN e, consequentemente, se
estaria preparado em sua formação inicial para utilizar os PCN em sua prática
educacional.
Ao serem questionados a respeito do papel da sua formação superior
em relação a sua prática educacional, 2 dos 24 sujeitos participantes não
responderam, 10 deram respostas dissociadas à indagação, ora relatando seus
95
objetivos educacionais, ora avaliando seu próprio desempenho como professores,
além de outros tipos de respostas.
Outros 6 sujeitos mostraram considerar sua formação falha através dos
seguintes depoimentos:
No ensino superior você não aprende nada para ser professor, aprende
arte em seu valor histórico, a metodologia de ensino é falha (sujeito 6).
Minha formação superior contribuiu pouco para o atendimento de meus
objetivos no ensino de Arte, a faculdade foi voltada para a formação do
artista visual se esquecendo da formação do professor de Artes (sujeito
15).
Se dependesse só da formação em Artes Plásticas minhas aulas seriam
pobres. Acredito que as matérias extracurriculares em dança,
antropologia, lingüística e teatro, menos os PCN, ampliaram meu
repertório e método no ensino de Artes (sujeito 19).
Formei-me em 84 e, como está nos PCN, o pessoal de 70 a 82 ou 84
teve tudo muito jogado e solto, pois para não interferir na criatividade,
quase que nem explicações tivemos, ficou tudo muito jogado. Foi através
da busca individual que consegui algumas coisas e me aprofundei
(sujeito 14).
Tive ótimos professores na minha faculdade, só que hoje a vejo como
uma grande divisão, em um momento voltada para uma formação de
artista plástico outra com noções do ensino através da Didática e
Psicologia. Quando assumi uma sala de aula me senti muito perdido, e
foi um ano difícil tentando encontrar um caminho. Hoje, com cinco anos
lecionando, já tenho um caminho dentro de todas as dificuldades
encontradas no dia-a-dia e que a faculdade não mostrou no decorrer do
curso, mesmo tendo feito estágio ficou uma lacuna (sujeito 7).
Embora tenha feito Licenciatura Plena em Educação Artística
Habilitação em Artes Plásticas, acredito ser muito diferente o que você
aprende na Universidade e a realidade da sala de aula. Sempre coloco
que a teoria é simplesmente linda, um sonho; já a prática é a realidade,
pois nem sempre conseguimos atingir nossos objetivos, como por
exemplo passar todo o nosso conhecimento para os alunos (sujeito 1).
Através destes depoimentos podemos emitir as seguintes observações
no que concerne a falhas na formação superior do professor de arte:
96
1. A faculdade oferece uma formação voltada para o artista plástico, não para
o professor de arte;
2. As matérias relacionadas ao ensino de arte são desconectadas das
relacionadas à formação do artista;
3. A faculdade não prepara o professor para transpor a teoria pedagógica
para a prática em sala de aula.
Dos demais sujeitos, 2 demonstraram estar satisfeitos com sua
formação inicial e 4 parcialmente satisfeitos, ressaltando a necessidade que
tiveram de buscar novos conhecimentos e de se especializar.
Assim, dentre o total de respostas consideradas (12), uma parcela
significativa dos sujeitos (10) considera que sua formação superior, por si só, não
é suficiente para que atinjam seus objetivos educacionais.
2.8 Resumo do Capítulo
A partir da análise dos questionários respondidos por 24 professores da
rede pública estadual de ensino do Estado de São Paulo, pertencentes às
diretorias Campinas-Leste e Sumaré, chegamos às seguintes considerações
acerca das relações entre a fundamentação teórica, a prática educacional e a
formação superior destes professores:
Há uma grande diversidade de visões educacionais por parte dos
professores, e, em particular, uma preocupação em preparar o aluno para
o mercado de trabalho.
97
Ainda há uma alta adesão à idéia de arte como eflúvio emocional, como
promotora da sensibilidade, e não como forma de conhecimento.
As razões dadas para o não atendimento pleno dos objetivos educacionais
são variadas, mas quase todas remetem a fatores externos (indisciplina,
falta de infra-estrutura, etc), que fogem ao controle do professor.
Muitos professores demonstraram não ter clareza em relação à
transposição dos objetivos pretendidos para o ensino de arte e a prática
em sala de aula.
Uma parcela significativa dos professores considera que sua formação
superior, por si só, não é suficiente para que atinjam seus objetivos
educacionais.
A aplicação dos PCN/Arte é pequena pois muitos educadores optam pela
não adoção de seus pressupostos teóricos, seja por não concordarem com
sua abordagem, seja por não terem subsídios (infra-estrutura adequada)
para atender suas propostas ou mesmo por desconhecerem tais propostas.
Considerando estas conjecturas, abordaremos em nossas
considerações finais as relações desta análise com a análise conceitual feita dos
Parâmetros Curriculares Nacionais/Arte segundo nossa visão. Ofereceremos
sugestões que visam contribuir para a melhoria do ensino de arte em nosso país.
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
___________________________________________
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os PCN se apresentam como possíveis orientadores teóricos para
garantir a qualidade na Educação. Ao mesmo tempo, consideram sua proposta
flexível, permitindo ao professor fazer as adaptações que lhe aprouver, podendo
adaptar suas sugestões às necessidades de cada escola, turma, aluno, e suas
próprias convicções. No entanto, nos parece que muitos professores não estão
aptos para a utilização desta teoria, por não terem sido adequadamente
preparados para fazer opções conceituais e por terem dificuldades para aplicar
estas teorias em sala de aula.
Apesar de apresentarem uma proposta muito abrangente e buscarem
resgatar os conhecimentos específicos da arte, os PCN/Arte de 5ª a 8ª Séries, ao
longo do texto de fundamentação, apresentam trechos onde se entrecruzam
noções de ensino da arte com bases teóricas diferenciadas ou mesmo
incompatíveis.
A opção teórica dos PCN/Arte foi a de embasar os seus eixos
norteadores na Proposta Triangular, havendo, no entanto, momentos onde são
observadas influências de teorias distintas e mesmo opostas, como, por exemplo,
a de arte como Auto Expressão Criativa, comprometendo seu entendimento e
realização.
Não estamos aqui desconsiderando a importância dos PCN/Arte, pois
colaboram na legitimação da presença da arte na escola e são uma tentativa de
redirecionamento do seu ensino, trazendo grandes contribuições. No entanto,
100
entendemos ser necessário rever as noções teóricas utilizadas no documento,
para que a sua finalidade – oferecer fundamentos teóricos para embasar a prática
pedagógica dos professores de arte – possa ser mais facilmente atingida.
Como procuramos demonstrar nos capítulos anteriores, hoje é patente
a necessidade de uma reformulação curricular nos cursos de Licenciatura em Arte
por haver uma situação de confusão conceitual por parte dos arte-educadores, os
quais sentem dificuldade de transpor a teoria para a prática, situação que não foi
revertida com o acesso aos PCN/Arte.
Apesar dos avanços que vêm sendo conquistados para a área, há um
ponto de discussão que merece destaque: “cada tempo produz sua arte e o
currículo de ensino da arte deve ser mudado a cada tempo” (PIMENTEL, 1999,
p.21).
Tal ponto sinaliza para a necessidade de um currículo flexível que
permita ao professor fazer adequações que julgue necessárias aos seus objetivos
e intenções pedagógicas.
No entanto, segundo Pimentel (1999), não se conseguiu ainda delinear
qual seria o perfil desejável do educador em arte de nosso tempo e nem posições
claras do que se pretende com a arte inserida na educação. Neste contexto, como
poderia o arte-educador ter posições ideológicas consistentes a ponto de tomar
decisões frente a um currículo flexível, ou, decidir que linha conceitual seguir em
sua prática educacional?
À luz destas considerações, acreditamos que as reformulações que se
fazem necessárias nos cursos de Licenciatura em Arte são:
101
Promover uma integração entre as disciplinas destinadas à formação do
artista e as que se destinam à formação do professor, dando a este
subsídios para transpor seus objetivos da teoria para a prática em sala de
aula;
Promover e estimular a iniciação à pesquisa, desenvolvendo a criticidade,
a capacidade de reflexão e de articulação de idéias – características
necessárias à busca de informações e aprimoramento;
Promover um amplo conhecimento da epistemologia do ensino da arte de
forma crítica e comparativa, para que o professor tenha subsídios para se
posicionar frente a tais teorias, optando conscientemente por uma delas e
aos objetivos a que se propõe.
No que se refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (Ciclo
II), o resultado de nossa pesquisa sugere que grande parte dos professores
considera as propostas dos Parâmetros distantes da realidade da sala de aula e
de sua formação acadêmica, não se considerando preparados para aplicar essas
propostas na prática. Relacionando esta situação com a análise conceitual dos
PCN/Arte, acreditamos que o documento poderia ser aprimorado em dois pontos:
1. Apresentar diversas concepções de ensino de arte e seus respectivos
objetivos, cabendo ao professor optar por uma delas, e não apenas uma
proposta fechada (ainda que se abra campo para possíveis adaptações de
acordo com a realidade em que o professor atua);
102
2. Permitir que o professor opte por qual ou quais linguagens artísticas (Artes
Visuais, Dança, Música e Teatro) deseja trabalhar, assim realmente
valorizando cada uma delas em sua especificidade.
Retomando a afirmação de Pimentel (1999) de que “cada tempo produz
sua arte e o currículo de ensino da arte deve ser mudado a cada tempo” (p. 21),
podemos pensar que, na realidade, como um dos professores participantes da
pesquisa sugeriu, nenhuma padronização do ensino da arte parece dar conta de
garantir a qualidade do ensino, mesmo porque a arte e a cultura não são
estanques, mudam a cada tempo, assim como as necessidades da sociedade e,
conseqüentemente, as da educação.
Assim, acreditamos que a chave para a grande mudança no ensino da
Arte esteja no aprimoramento da formação do arte-educador, de forma que esta
proporcione meios para que o professor seja auto-suficiente para fazer suas
próprias escolhas e colocá-las em prática.
Acreditamos que estes meios estejam ligados à pesquisa em Arte-
Educação, atividade ainda de pouca representatividade no universo da pesquisa
educacional como um todo, mas que vem crescendo à custa do trabalho e
insistência de alguns professores-pesquisadores que acreditam na importância da
arte na vida do ser humano.
O presente estudo representa uma tentativa de aclarar algumas
questões. Certamente, há outras e o papel da pesquisa não é outro senão o de
abrir sempre novas sendas aos investigadores.
103
REFERÊNCIAS
___________________________________________
104
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normas básicas para sua implantação. São Paulo: SE/CEMP, 1998.
TOURINHO, Irene. “Transformações no ensino da arte: algumas questões para
uma reflexão conjunta”. In: BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e
mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002a. p. 27- 34.
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APÊNDICES
1. Qual das opções abaixo melhor descreve o objetivo educacional que deseja alcançar através
do Ensino da Arte? (Favor marcar uma ou no máximo duas ODeões,a(s) que mais se
aproxima(m) de suas convicções).
QUESTIONÁRIO)
( ) Desenvolver a habilidade do estudante em criar e perceber a arte, entender os contextos histórico
e cultural no qual se insere e se infiltrar nas questões filosóficas da estética; buscar uma alta
performance em arte, acreditando que o trabalho artístico requeira sofisticadas formas de
pensamento para acontecer.
( ) Fazer com que o aluno seja capaz de decodificar valores e idéias mascarados na "cultura de
massa" (propagandas, filmes, desenhos animados, músicas, etc) tão bem como nas artes tidas como
"maiores" (pintura, desenho, escultura, gravura, etc).
( ) Trabalhar a arte através da auto-expressão criativa do aluno, propiciando eflúvio emocional
através do impulso criativo, acreditando que este (impulso criativo) resida no inconsciente e,
portanto, não deva sofrer interferências do professor de arte para não ser distorcido, deve ser
totalmente livre.
( )Desenvolver a iniciativa, a criatividade, estimular a imaginação, desenvolver a capacidade
criadora como formas de preparação para o mercado de trabalho.
( ) Desenvolver, através do trabalho com arte, a cognição do aluno, contribuindo no
desenvolvimento de complexas formas de pensamento inerentes à arte; acreditando que o processo
de criação artística envolva a cognição por si só, pois a própria percepção visual é uma forma de
cognição.
( ) Utilizar a Arte para auxiliar na melhora da performance acadêmica dos estudantes em outras
disciplinas consideradas (por alguns) mais importantes, como Português e Matemática.
( ) Outro (s). Especifique:
2. Considera que atinge o(s) objetivo(s) (que assinalou no item 1 deste questionário) nas suas
aulas de Arte?
( ) Sim,nlenamente.
( ) Atinjo meus objetivos apenas parcialmente.
( ) Não, em nada.
I Se os espaços destinados às respostas não forem suficientes, o verso das folhas pode ser utilizado,
colocando o número da questão e continuando a resposta.
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6. Descreva, da maneira que considerar mais apropriada, uma ou mais atividades que costuma
desenvolver em sala de aula, ressaltando os obietivos educacionais que procura alcançar com
tais atividades.
7. Deixe, neste espaço, quaisquer manifestações que julgar apropriadas (como críticas, sugestões,
depoimentos, relato de experiência, desenhos, poesia, etc).
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