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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
CORRELAÇÕES ENTRE PROPRIEDADES DINÂMICO-MECÂNICAS E
DURABILIDADE SOB FADIGA MECÂNICA EM COMPÓSITOS DE
POLIPROPILENO/POLIPROPILENO MALEIFICADO/FIBRA DE VIDRO
Michelle Christina Avezum da Cruz
São Carlos
Ano 2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS
CORRELAÇÕES ENTRE PROPRIEDADES DINÂMICO-MECÂNICAS E
DURABILIDADE SOB FADIGA MECÂNICA EM COMPÓSITOS DE
POLIPROPILENO/POLIPROPILENO MALEIFICADO/FIBRA DE VIDRO
Michelle Christina Avezum da Cruz
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciência
e Engenharia de Materiais como requisito
parcial à obtenção do título de MESTRE
EM ENGENHARIA DE MATERIAIS
Orientador: Dr. José Alexandrino de Sousa
Agência Financiadora: CAPES
São Carlos
Ano 2006
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
C957ce
Cruz, Michelle Christina Avezum da.
Correlações entre propriedades dinâmico-mecânicas e
durabilidade sob fadiga mecânica em compósitos de
polipropileno/polipropileno maleificado/fibra de vidro /
Michelle Christina Avezum da Cruz. -- São Carlos: UFSCar,
2006.
213 p.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2006.
1. Compósitos poliméricos. 2. Durabilidade. 3. Fadiga
mecânica. 4. Propriedades mecânicas. 5. Compatibilizante
interfacial. I. Título.
CDD: 620.118 (20
a
)
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as pessoas que me ajudaram de maneira direta
ou indireta em alguma etapa ou durante todo o caminho trilhado até a sua
conclusão. Principalmente a quem sempre tentou levantar minha cabeça nos
momentos difíceis e me fez lembrar e acreditar que todo e qualquer trabalho que
seja realizado com amor, dedicação e empenho sempre terá seu reconhecimento e
seu valor.
Também gostaria de agradecer especialmente aos meus pais Décio e
Cristina, meu irmão Felipe, minhas tias Rita, Bernadete e Regina, meu namorado
Wellington, além de todos os amigos que acompanharam e contribuíram para a
execução deste trabalho.
VITAE DA CANDIDATA
Engenheira de Materiais, com ênfase em polímeros, pela Universidade
Federal de São Carlos - UFSCar (2003).
i
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE
MICHELLE CHRISTINA AVEZUM DA CRUZ
APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E
ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO
CARLOS, EM 06 DE SETEMBRO DE 2006.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. José Alexandrino de Sousa
Orientador
DEMa/UFSCar
Prof. Dr. Elias Hage Júnior
DEMa/UFSCar
Prof. Dr. Dirceu Spinelli
DM-EESC/USP
ii
iii
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus e à toda minha família pela ajuda,
compreensão, amizade, amor e apoio, fundamentais em todas as etapas da
minha vida.
Agradeço ao Professor Dr. José Alexandrino de Sousa pela ajuda,
incentivo, orientação, paciência, por ajudar na execução desta dissertação e
por acreditar na minha capacidade de realizar um trabalho deste porte.
Agradeço também aos colegas do nosso grupo de estudos (Carolina, Amauri,
Paulo, Joice, Débora, Lucas e Breno) pelo trabalho em equipe e ajuda
constante.
Aos meus amigos, colegas do DEMa, estudantes, funcionários
administrativos, técnicos e professores pela amizade, paciência, incentivo,
colaboração, ensinamentos, compreensão e confiança.
Em especial aos Professores Drs. Walter Libardi, Elias Hage Júnior,
Carlito Calil Júnior (EESC USP), Elisabeth Frollini (EESC USP), Benedito
Bueno (EESC USP), ao aluno Wanderson e aos técnicos: JoLuís (DEMa),
Clever (EESC USP), Mário Miranda (DEMa) e Leumar (DEMa), por toda
colaboração fundamental para o sucesso do trabalho.
À CAPES pela bolsa de mestrado.
Às empresas Suzano-Poliolefinas (ex-Polibrasil), Saint-Gobain–Vetrotex
e Uniroyal Química (Crompton) pelo fornecimento de todos os materiais
utilizados neste trabalho de mestrado.
iv
v
RESUMO
Apesar de ser conhecida a influência da adesão interfacial no
desempenho mecânico de curta duração dos compósitos termoplásticos, pouco
se sabe sobre a influência da natureza da interface/interfase fibra-polímero na
resistência à fadiga destes materiais. Esta propriedade de longa duração é de
suma importância em aplicações de engenharia, onde os compósitos moldados
por injeção de polipropileno (PP) reforçado com fibra de vidro curta (FV)
começam a encontrar grande relevância e atuação, em função de desempenho
superior alcançado com uso de compatibilizantes interfaciais. Assim, neste
trabalho, buscou-se investigar a influência da adição do compatibilizante
interfacial de PP funcionalizado com anidrido maleico (PP-g-MAH) no
comportamento mecânico sob fadiga cíclica em compósitos de PP reforçado
com 30% em peso de FV. Os ensaios de fadiga foram realizados em flexão
quatro-pontos sob deformação controlada na freqüência de 1 Hz e ciclo
completo reverso com tensão média zero.
Com o objetivo de obter rapidamente informações indicativas sobre a
influência do teor de PP-g-MAH na durabilidade sob fadiga mecânica destes
compósitos, apresenta-se neste trabalho uma metodologia experimental que
busca correlacionar as propriedades obtidas por análise térmica dinâmico-
mecânica (DMTA) dos compósitos, sem e com envelhecimento por curto tempo
sob fadiga, com o experimentalmente determinado desempenho sob fadiga
mecânica destes materiais. A principal conclusão deste trabalho demonstra que
a propriedade de amortecimento mecânico (tan δ), associado ao atrito
interfacial do compósito, diminui com aumento no teor do compatibilizante de
PP-g-MAH incorporado, sendo este efeito melhor evidenciado nos compósitos
pré-envelhecidos sob fadiga. Esta redução no valor de tan δ do compósito
indica claramente um aumento no grau de compatibilização interfacial fibra-
polímero e reflete de forma coerente e inversamente proporcional ao número
de ciclos até falha verificada nos ensaios de longa duração sob fadiga
mecânica, proporcionando um aumento na durabilidade dos compósitos de PP
em análise.
vi
vii
CORRELATIONS BETWEEN DYNAMIC-MECHANICAL PROPERTIES AND
FATIGUE LIFE OF GLASS FIBER-REINFORCED POLYPROPYLENE
COMPOSITES COMPATIBILIZED WITH MALEATED POLYPROPYLENE
ABSTRACT
Although the influence of interfacial adhesion on short-term mechanical
performance of fiber-reinforced thermoplastic composites has been well
established, very little published information is available on the influence of the
composite interface/interphase characteristics on fatigue properties of these
materials. Fatigue life determination is of paramount importance for engineering
applications of injection moulded short glass fiber (GF) reinforced polypropylene
(PP) composites. Thus, this work is related to an investigation on the influence
of maleated polypropylene (PP-g-MAH) interfacial compatibilizer on the fatigue
resistance properties of 30 percent GF-reinforced PP composites. The
mechanical fatigue analysis was carried out using four-point bending tests
under deformation controlled mode at frequencies of 1 Hz and complete reverse
cycle (R = - 1).
In order to obtain quick comparative data on PP-g-MAH compatibilizer
performance on the fatigue life of these composites, an experimental procedure
was elaborated in order to correlate the properties determined by dynamic-
mechanical thermal analysis (DMTA) of composite samples, both pristine or
subjected to short-term cyclic loading, with the experimentally determined
fatigue life of these materials. The main conclusions of this work indicate that
the mechanical damping (tan δ) values, related to the fiber-polymer interfacial
friction, reduce with compatibilizer content; this effect being better evidenced in
the fatigued samples. The decrease in tan δ values with compatibilizer content
clearly indicate an increase in the composite interfacial compatibility and were
found to be inversely proportional to the number of cycles to failure determined
by long-term fatigue testing, thus, promoting an increase in the fatigue life of the
investigated PP/PP-g-MAH/30%GF composites.
viii
ix
PUBLICAÇÕES
CRUZ, M. C. A.; LOPES, P. & SOUSA J. A. - Influência de Polipropileno
Maleificado no Envelhecimento Higrotérmico de Compósitos de PP/PP-g-
MAH/Fibra de Vidro, Anais em CD-ROM do Congresso Brasileiro de
Polímeros (8º CBPol), Águas de Lindóia, Nov. (2005).
x
xi
SUMÁRIO
BANCA EXAMINADORA ..........................................................................................i
AGRADECIMENTOS..............................................................................................iii
RESUMO .................................................................................................................v
ABSTRACT............................................................................................................vii
PUBLICAÇÕES.......................................................................................................ix
SUMÁRIO ...............................................................................................................xi
ÍNDICE DE TABELAS...........................................................................................xiv
ÍNDICE DE FIGURAS.........................................................................................xviiii
SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES ...........................................................................xviiii
1 INTRODUÇÂO..................................................................................................... 1
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS.............................................................................. 5
2.1
C
OMPÓSITOS
P
OLIMÉRICOS
........................................................................................5
2.2
T
EORIA DO
R
EFORÇAMENTO
M
ECÂNICO DOS
C
OMPÓSITOS
......................................7
2.2.1 Micromecânica de Reforçamento de Polímeros com Fibras de Alto
Módulo ...........................................................................................................................8
2.2.1.1 Previsão teórica das Constantes Elásticas dos Compósitos
Unidirecionais ...............................................................................................................9
2.2.1.2 Resistência à Tração dos Compósitos Unidirecionais (Direção
Longitudinal)................................................................................................................14
2.2.1.3 Transferência de Tensão em Termoplásticos Reforçados com
Fibras Curtas ..............................................................................................................17
2.2.1.4 Previsão da Resistência de Compósitos Reforçados com Fibras
Curtas...........................................................................................................................19
2.2.1.4 Módulo de Compósitos com Fibras Curtas ..............................................29
2.2.2 Tenacidade em Compósitos POLIMÉRICOS..............................................32
2.3
A
SPECTOS
G
ERAIS SOBRE A
I
NTERFACE
F
IBRA
/M
ATRIZ
..........................................35
2.3.1 Interface / Interfase..........................................................................................35
2.3.2 Adesividade e Molhabilidade .........................................................................37
2.3.3 Agentes de Acoplagem e Compatibilizantes Interfaciais...........................42
2.3.3.1 Funcionalização do Polipropileno ..............................................................47
2.4
A
SPECTOS GERAIS SOBRE
A
NÁLISE
D
INÂMICO
-M
ECÂNICA
(DMTA)........................51
2.5
D
URABILIDADE A
L
ONGO
P
RAZO
................................................................................55
2.5.1 Limites de Durabilidade...................................................................................56
2.5.2 Durabilidade sob Carregamento Mecânico Periódico – Fadiga...............57
2.5.3 Técnicas de Análise do Comportamento sob Fadiga ................................66
2.5.3.1 Representação Geral de Fadiga: Curvas S-N .........................................66
2.5.3.2 Propagação de Trinca por Fadiga Dinâmica............................................67
2.5.4 Limites de Resistência ....................................................................................71
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................... 73
3.1
C
OMPATIBILIZAÇÃO
I
NTERFACIAL
...............................................................................73
xii
3.2
P
ROPRIEDADES
M
ECÂNICAS DE
L
ONGA
D
URAÇÃO
F
ADIGA
M
ECÂNICA
................ 80
3.3
C
ARACTERIZAÇÃO DA ADESÃO INTERFACIAL POR
DMTA......................................... 90
4 MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS....................................................95
4.1
M
ATRIZ
P
OLIMÉRICA
:
A
SPECTOS
G
ERAIS
................................................................. 95
4.1.1 Relação entre Estrutura, Propriedades e Aplicações da Matriz
Polimérica................................................................................................................... 97
4.1.2 Fibras de Vidro................................................................................................. 99
4.1.3 Características do Reforço Fibroso............................................................ 101
4.1.4 Compatibilizante Interfacial de Polipropileno ENXERTado com
Anidrido Maleico (PP-g-MAH) ............................................................................... 102
4.2
M
ETODOLOGIA
E
XPERIMENTAL
............................................................................... 105
4.2.1 Plano de Trabalho......................................................................................... 105
4.2.2 Caracterização das Matériais-Primas ........................................................ 106
4.2.2.1 Titulometria Ácido-Base............................................................................ 106
4.2.2.2 Medidas de Índice de Fluidez (MFI)........................................................ 109
4.2.3 Preparação das Composições .................................................................... 109
4.2.4 Preparação dos Corpos-de-Prova.............................................................. 102
4.2.5 Teor de fibra após Extrusão e Injeção....................................................... 113
4.2.6 Caracterização da Distribuição de Comprimentos de Fibra em
Compósitos............................................................................................................... 114
4.2.6.1 Procedimento de Preparação da Lâmina............................................... 114
4.2.6.2 Procedimento de Medição de Comprimentos da Fibra........................ 115
4.2.7 Propriedades Mecânicas de Curta Duração – Ensaios de Flexão em
Quatro-Pontos.......................................................................................................... 116
4.2.8 Metodologia dos Ensaios de Fadiga .......................................................... 125
4.2.9 Análise Térmica Dinâmico-Mecânica (DMTA).......................................... 130
4.2.10 Análise Microestrutural (MEV)................................................................... 131
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .....................................................................133
5.1
I
NTRODUÇÃO
............................................................................................................ 133
5.2
T
ITULOMETRIA
Á
CIDO
-B
ASE
.................................................................................... 134
5.3
TEOR DE FIBRA APÓS
E
XTRUSÃO E
I
NJEÇÃO
........................................................... 134
5.4
C
ARACTERIZAÇÃO DA
D
ISTRIBUIÇÃO DE
C
OMPRIMENTOS DE
F
IBRA NOS
C
OMPÓSITOS
.................................................................................................................. 135
5.5
P
ROPRIEDADES
M
ECÂNICAS DE
C
URTA
D
URAÇÃO
E
NSAIOS DE FLEXÃO EM
QUATRO
-
PONTOS
............................................................................................................ 137
5.6
P
ROPRIEDADES
M
ECÂNICAS DE
L
ONGA
D
URAÇÃO
E
NSAIOS DE FADIGA
............ 145
5.7
A
NÁLISE
D
INÂMICO
-M
ECÂNICA
(DMTA)................................................................. 161
6 CONCLUSÕES ................................................................................................179
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS................................................181
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................183
Apêndice A..........................................................................................................193
Apêndice B..........................................................................................................195
Apêndice C..........................................................................................................197
xiii
Apêndice D.......................................................................................................... 201
Apêndice E.......................................................................................................... 207
Apêndice F.......................................................................................................... 211
xiv
xv
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 2. 1 - Parâmetros tradicionais utilizados na equação 2.45 para
compósitos com fibras curtas. ...............................................................................31
Tabela 4. 1 - Composição química aproximada de alguns tipos de FV..........100
Tabela 4. 2 - Condições do processamento para injeção dos corpos-de-prova
de flexão..............................................................................................................112
Tabela 5. 1 - Teores de fibra médios medidos após extrusão e após a injeção
dos CPs...............................................................................................................135
Tabela 5. 2 - Comprimentos médios, numérico, e ponderal, e dispersão para
todos os compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV...................................................136
Tabela 5. 3 - Propriedades mecânicas do compósito de PP/30%FV em duas
velocidades no ensaio de flexão estático em quatro pontos (célula de 5kN).......138
Tabela 5. 4 - Propriedades do ensaio de flexão (estático em quatro pontos) dos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV em função do teor de PP-g-MAH
(V
T
= 1636 mm/min).............................................................................................141
Tabela 5. 5: Valores de deflexão, deformação e carga máxima medidos no
centro dos CPs através de um extensômetro com raio laser (V
T
= 6 mm/min)....145
Tabela 5. 6 - Dados da Tg e do módulo de armazenamento relativo (E’
c
/E’
m)
dos compósitos de PP em várias temperaturas...................................................164
Tabela 5. 7 – Comparação entre os valores do módulo de armazenamento das
amostras não envelhecidas e pré-envelhecidas sob fadiga.................................172
Tabela 9. 1 - Propriedades do PP VM 6100K.................................................193
Tabela 9. 2 - Propriedades físicas da fibra tipo E ..........................................193
Tabela 9. 3 - Perfil de temperatura ajustado durante o processamento em
extrusão...............................................................................................................195
Tabela 9. 4 - Perfil de temperatura real da extrusora durante o
processamento. ...................................................................................................195
Tabela 9. 5 - Valores de porcentagem de umidade presente na superfície da
fibra, utilizados na correção para determinação dos valores reais de porcentagem
de fibra de vidro presentes nos compósitos.........................................................197
xvi
Tabela 9. 6 - Determinação da concentração real de fibra de vidro nos
compósitos após extrusão................................................................................... 198
Tabela 9. 7 - Determinação da concentração real de fibra de vidro nos
compósito após injeção....................................................................................... 199
Tabela 9. 8 - Obtenção da normalidade da solução básica de KOH em
metanol. .............................................................................................................. 201
Tabela 9. 9 - Obtenção da normalidade da solução de MAH em acetona..... 202
Tabela 9. 10 - Obtenção da normalidade da solução básica de KOH em
metanol. .............................................................................................................. 203
Tabela 9. 11 - Obtenção da normalidade da solução de PP-g-MAH em
xileno................................................................................................................... 204
xvii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 2. 1 - Modelos: a) isodeformação (Modelo de Voigt) e b) isotensão (Modelo
de Reuss).............................................................................................................. 10
Figura 2. 2 - Dependência do módulo elástico longitudinal (E
11
) e transversal (E
22
)
em relação à fração volumétrica de fibras (φ
φφ
φ
f
) ...................................................... 13
Figura 2. 3 - Frações volumétricas mínima (
φ
φφ
φ
fmin
) e crítica (
φ
φφ
φ
fcrit
) para
reforçamento ........................................................................................................ 17
Figura 2. 4 - Esquema de uma fibra de alto dulo, embebida em uma matriz de
baixo módulo......................................................................................................... 18
Figura 2. 5 - (a) e (b) Variação de tensão e tensão de cisalhamento interfacial em
fibras com diferentes comprimentos (compósito submetido à mesma tensão) e (c)
Influência de mudança na tensão no compósito em uma fibra mais longa que o
comprimento crítico............................................................................................... 24
Figura 2. 6 - Principais fatores que afetam a resistência de termoplásticos
reforçados. ............................................................................................................ 27
Figura 2. 7 - Efeito da interface fibra-polímero no avanço da trinca: (a) resistência
adesiva da ligação igual à resistência coesiva da matriz; (b) resistência adesiva da
ligação muito menor que a resistência coesiva da matriz..................................... 35
Figura 2. 8 - Equilíbrio das forças em sistema consistindo de uma gota sobre
substrato sólido..................................................................................................... 39
Figura 2. 9 - Ângulo de contato θ
θθ
θ entre a gota de uma resina e a superfície rugosa
inclinada da fibra (a); Configurações metaestáveis da resina líquida em uma
superfície rugosa da fibra (b). ............................................................................... 43
Figura 2. 10 - Reações e funções do agente de acoplagem silano: a) hidrólise do
silano para trihidroxisilanol; b) pontes de hidrogênio entre as hidroxilas do silanol e do
vidro; c) polisiloxano ligado à superfície de vidro; d) grupos funcionais R compatíveis
com o polímero após reação com a matriz. .......................................................... 46
Figura 2. 11 - a) Ligação reversível de Plueddemann associada à hidrólise; b)
Deslocamento cisalhante na interface vidro-polímero sem ruptura permanente da
ligação................................................................................................................... 47
Figura 2. 12 - Estrutura molecular do anidrido maleico (MAH)........................ 49
xviii
Figura 2. 13 - Mecanismos de reação possíveis para enxertia de anidrido maleico
na cadeia do PP no estado fundido na presença de peróxido orgânico................51
Figura 2. 14 - Relação entre tensão, deformação, freqüência e ângulo de fase em
DMTA de material viscoelástico (tensão média igual a zero) ................................53
Figura 2. 15: Exemplo de comportamentos elásticos e viscoelásticos de materiais
submetidos a análise térmica dinâmico-mecânica.................................................55
Figura 2. 16 - Exemplo da influência da freqüência na falha térmica e mecânica
em poliacetal..........................................................................................................61
Figura 2. 17 - Curvas de resistência à fadiga sob flexão de PA 66 com e sem
reforço de fibra de vidro, testado a 23 °C e f = 0, 5 Hz e tensão média zero. ........62
Figura 2. 18 - Curvas de fadiga de PA 66 (Durethan A30S) reforçado com 30%FV
em corpos-de-prova com e sem efeito concentrador de tensão (furo de 3 mm),
testados à 23 °C e f = 7 Hz e tensão média zero. .................................................63
Figura 2. 19 - Polipropileno: tempo de vida em função da freqüência cíclica (auto-
aquecimento acima de 1 Hz).................................................................................64
Figura 2. 20 Corpos-de-prova ASTM D - 671 para testes de fadiga com tensão
constante...............................................................................................................66
Figura 2. 21 - Amplitude de tensão versus logaritmo do número de ciclos para
falha (N) para (a) material que apresenta limite de fadiga e (b) material que não
apresenta limite de fadiga......................................................................................68
Figura 2. 22 - Três regiões distintas no comportamento de propagação de trinca sob
fadiga.....................................................................................................................71
Figura 3. 1 - Compatibilizante PP-g-MAH reagido com o grupo funcional amino
do polisiloxano da FV e emaranhado com a matriz de PP Modelo de “Escova
Polimérica” num sistema PP/FV............................................................................ 77
Figura 3. 2 - Resistência à tração versus concentração de MAH por unidade de
área superficial de fibra para três concentrações de fibra (20, 30 e 40%FV)........ 79
Figura 3. 3 - Posições possíveis da tensão média conforme se varia R.......... 82
Figura 3. 4 - Módulo normalizado (E/E
0
) versus número de ciclos normalizado
(N/N
0
). R = 0,25, T = 25 ºC e f = 10 Hz. ................................................................ 83
Figura 3. 5 - Desgaste observado no apoio de aço.......................................... 86
xix
Figura 3. 6 - Evolução típica da queda na força durante a ciclagem (escala
linear, com deflexão de 0,5 mm)............................................................................87
Figura 3. 7 - Efeito da freqüência na vida sob fadiga de compósitos de
PP/talco . ...............................................................................................................88
Figura 3. 8 - Fotografias de CPs do compósito PP/40%talco testados com
diferentes freqüências com um pico de tensão em fadiga de 85% da tensão de
ruptura do material. a) 0,5 Hz/ b) 1 Hz/ c) 2 Hz/ d) 5 Hz/
e) 10 Hz e
f) 20 Hz . ................................................................................................................89
Figura 4. 1 - Estrutura química ilustrativa do PP enxertado com anidrido
maleico. ...............................................................................................................103
Figura 4. 2 - Modelo Cinético mais completo para Formação d
Imida....................................................................................................................104
Figura 4. 3 - Esquema ilustrativo da acoplagem reativa entre os grupos de MAH
e os grupos amino-funcionais do siloxano na superfície da FV...........................104
Figura 4. 4 - Esquema do ensaio de flexão em quatro pontos de barras
retangulares. Os cilindros representam os apoios para os corpos-de-prova.......117
Figura 4. 5 - Esquema do ensaio de flexão em quatro pontos com a
configuração adaptada. Os cilindros representam os roletes que, movimentando-se
em torno de seu eixo, minimizam a introdução de tensões de tração no corpo-de-
prova durante o ensaio. .......................................................................................118
Figura 4. 6 - Foto do dispositivo desenvolvido para a realização dos ensaios
estáticos e dinâmicos em flexão quatro pontos. ..................................................119
Figura 4. 7 - Foto da Máquina Universal Instrumentada de Ensaios Instron
modelo 8802........................................................................................................120
Figura 4. 8 - Esquema demonstrativo da distribuição de tensão ao longo da
barra retangular durante um ensaio de flexão em quatro pontos.........................120
Figura 4. 9 - Diferença entre o deslocamento do pistão e o deslocamento real
no centro do corpo-de-prova durante o ensaio de flexão em quatro pontos........123
Figura 4. 10 - Varredura linear sobre uma superfície irregular; formação da
imagem e relação de aumento.............................................................................132
Figura 5. 1 - Histogramas de distribuição de comprimentos de FV nos compósitos
de PP/PP
-g-MAH/30%FV......................................................................................137
xx
Figura 5. 2 - Influência da velocidade da travessa no ensaio de flexão em
quatro pontos Gráfico de tensão versus deflexão aparente para o compósito
PP/30%FV. ......................................................................................................... 139
Figura 5. 3 - Influência da velocidade da travessa no ensaio de flexão em
quatro pontos Gráfico de tensão versus deformação aparente para o compósito
PP/30%FV. ......................................................................................................... 140
Figura 5. 4 - Curvas tensão versus deformação aparente (no ponto de
aplicação de tensão) nos ensaios de flexão em quatro pontos para os compósitos
de PP/PP-g-MAH/30%FV. .................................................................................. 142
Figura 5. 5 - Fotomicrografias de MEV dos compósitos de PP/30%FV com
teores de PP-g-MAH de a) 0%; b) 0,5%; c) 1%; d) 2% e e) 5%.......................... 143
Figura 5. 6 - Amplitude de tensão versus número de ciclos para os compósitos
de PP/PP-g-MAH/30%FV (f = 1 Hz).................................................................... 147
Figura 5. 7 - Amplitude de posição versus número de ciclos para PP/PP-g-
MAH/30%FV (f = 1 Hz). ...................................................................................... 147
Figura 5. 8 - Amplitude de posição versus número de ciclos para os compósitos
de PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f = 1 Hz). ............................................................. 148
Figura 5. 9 - Amplitude de tensão versus número de ciclos para os compósitos
de PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f =1 Hz)................................................................ 149
Figura 5. 10 - Amplitude de posição versus número de ciclos para os
compósitos de PP/30%FV (f = 1 Hz)................................................................... 150
Figura 5. 11 - Amplitude de tensão versus número de ciclos (N) para falha de
compósitos de PP/30%FV (f = 1 Hz)................................................................... 151
Figura 5. 12 - Amplitude de tensão versus número de ciclos (N) para falha de
compósitos de PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f = 1 Hz). .......................................... 152
Figura 5. 13 - Amplitude de tensão versus número de ciclos: efeitos da adição
de FV e PP-g-MAH nas propriedades de fadiga (f = 1 Hz)................................. 154
Figura 5. 14 - Amplitude de tensão versus número de ciclos: efeitos da adição
de vários teores de PP-g-MAH nas propriedades de fadiga (f = 1 Hz). .............. 155
Figura 5. 15 - Influência da adição de PP-g-MAH nas propriedades de fadiga
mecânica, neste caso, número de ciclos para falha dos compósitos.................. 158
xxi
Figura 5. 16 - Escolha do número de ciclos para envelhecimento dos
compósitos (com base nas propriedades do compósito PP/30%FV) a serem
posteriormente analisados em DMTA. ................................................................160
Figura 5. 17 - Módulo de armazenamento (E’), em função da temperatura, para
o PP controle e para os diversos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV.............162
Figura 5. 18 - Módulo de perda (E’’), em função da temperatura, para o PP
controle e para os diversos compósitos de PP/ PP-g-MAH/30%FV....................165
Figura 5. 19 - Módulo de perda (E’’) para o PP controle e para os diversos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV, no intervalo de 60 a 100 ºC....................166
Figura 5. 20 - Amortecimento mecânico (tan δ) para o PP controle e os diversos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV, em função da temperatura.....................167
Figura 5. 21 - Amortecimento mecânico (tan δ
δδ
δ) para o PP controle e os
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV no intervalo de temperaturas entre 60 e
100 ºC..................................................................................................................169
Figura 5. 22 - Valores de tan δ
δδ
δ dos compósitos não envelhecidos de PP/PP-g-
MAH/30%FV em função da adição de PP-g-MAH ao compósito, nas temperaturas
de 60, 70 e 80 ºC.................................................................................................170
Figura 5. 23 - Módulos de armazenamento (E’) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da
temperatura.........................................................................................................171
Figura 5. 24 - Módulos de perda (E’’) dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV
envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da temperatura..................172
Figura 5. 25 - Amortecimento mecânico (tan δ
δδ
δ) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da
temperatura.........................................................................................................173
Figura 5. 26 - Amortecimento mecânico (tan δ) para o PP controle e para os
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV pré-envelhecidos, no intervalo de
temperaturas entre 60 e 100 ºC. .........................................................................174
Figura 5. 27 - Amortecimento mecânico (tan δ) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função do teor de PP-g-
MAH no compósito. .............................................................................................176
xxii
Figura 5. 28 - Relação entre N
f
e tan δ determinada na temperatura de 80 ºC
para os compósitos de PP/PP-g-MAH/FV não envelhecidos e pré-envelhecidos
sob fadiga, em função do teor de PP-g-MAH no compósito. .............................. 176
Figura 9. 1 - Perfil de rosca utilizado neste trabalho...................................... 195
Figura 9. 2 Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os PPs
controle. .............................................................................................................. 207
Figura 9. 3 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os
compósitos de PP/30%FV................................................................................... 207
Figura 9. 4 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os
compósitos de PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH........................................................ 208
Figura 9. 5 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os
compósitos de PP/30%FV/1%PP-g-MAH........................................................... 208
Figura 9. 6 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os
compósitos de PP/30%FV/2%PP-g-MAH........................................................... 209
Figura 9. 7 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os
compósitos de PP/30%FV/5%PP-g-MAH........................................................... 209
Figura 9. 8 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP controle. ........................................................................................................ 211
Figura 9. 9 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV. ......................................................................................................... 211
Figura 9. 10 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs
de PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH........................................................................... 212
Figura 9. 11 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs
de PP/30%FV/1%PP-g-MAH.............................................................................. 212
Figura 9. 12 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs
de PP/30%FV/2%PP-g-MAH.............................................................................. 213
Figura 9. 13 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs
de PP/30%FV/5%PP-g-MAH .............................................................................. 213
xxiii
SÍMBOLOS E ABREVIAÇÕES
AA - ácido acrílico
c.u. - célula unitária
cp - calor específico
CP - corpo-de-prova
APS - aminopropiltrietoxisilano
DMTA - análise térmica dinâmico-mecânica
EESC - Escola de Engenharia da USP São Carlos
HDPE - polietileno de alta densidade
HDT - temperatura de distorção térmica
ISS - propriedade de resistência ao cisalhamento interfacial
FC - fibra de carbono
FK - fibra de Kevlar
FV - fibra de vidro
FVc - fibra de vidro curta
LVDT - linear voltage diferential transformer
MAH - anidrido maleico
MEV - microscopia eletrônica de varredura
MFI - índice de fluidez
PM - peso molecular
PP - polipropileno
PP-g-MAH - polipropileno enxertado com anidrido maleico
RF - resistência à flexão
RI - resistência ao impacto
RT - resistência à tração
TPRFVc - termoplásticos reforçados com fibra de vidro curta
TRC - tubo de raios catódicos no microscópio eletrônico de varredura
%fibra corrigida - teor de fibra obtido através dos ensaios de perda ao fogo
%umidade - porcentagem de umidade presente na superfície da fibra
δ - ângulo de fase
θ - ângulo de molhamento
xxiv
ε - deformação
ρ - densidade do material (g/cm
3
)
ξ - fator empírico, medida do reforçamento que depende das condições de
contorno (geometria da fibra, distribuição das fibras, e condições de
carregamento)
ω - freqüência angular
β - parâmetro de transferência de carga
σ - tensão
τ - tensão de cisalhamento interfacial
(σ
f
)
max
- tensão máxima na fibra que ocorre na metade do seu comprimento
α’ - transição secundária
α’ - transição térmica secundária do polímero
ε
m
- deformação na matriz “in situ” na deformação correspondente à resistência
à tração máxima suportada pela fibra no compósito
σ
m
- tensão na matriz “in situ” na deformação correspondente à resistência à
tração máxima suportada pela fibra no compósito
ε
0
- amplitude de deformação
σ
0 -
amplitude de tensão
θ
0
- ângulo intrínseco
η
0
- constante de orientação das fibras
ν
12
- razão de Poisson
θ
a
- ângulo de avanço
σ
alt
- tensão alternante sobreposta
ε
c
- deformação no compósito
ε
cl
- deformação no compósito na direção longitudinal das fibras
σ
cl
- tensão no compósito na direção longitudinal
σ
clu
- resistência à tração do compósito na direção longitudinal
ε
ct
- deformação no compósito na direção transversal das fibras
σ
ct
- tensão no compósito na direção transversal
σ
cu
- resistência à tração do compósito
π
e
- pressão de espalhamento de equilíbrio do vapor no substrato
xxv
ε
f
- deformação na fibra
φ
f
- fração volumétrica de fibra no compósito
ν
f
- razão de Poisson da fibra
σ
f
- tensão na fibra
σ
f media
- tensão média na fibra
φ
fcrit
- concentração crítica de fibra
φ
fmáx
- concentração máxima de fibra
φ
fmin
- concentração mínima de fibra
ε
fu
- deformação de ruptura da fibra
σ
fu
- resistência à tração da fibra
σ
i
- intervalo de tensões
τ
i
- tensão de cisalhamento interfacial ou tensão de escoamento da matriz em
cisalhamento
K- fator de intensidade de tensão
K
t
- fator de intensidade de tensão abaixo do qual a propagação da trinca não
é observada
K
th
- fator de intensidade de tensão suficiente de atividade na região da ponta
da trinca para causar sua propagação
η
l
- constante de comprimento das fibras
l - deslocamento na direção longitudinal
γ
LS
- energia superficial específica do contato quido-sólido
γ
LV
- energia superficial do contato líquido-vapor
ε
m
- deformação na matriz
φ
m
- fração volumétrica de matriz no compósito
ν
m
- razão de Poisson da matriz
σ
m
- tensão média
σ
m
- tensão na matriz
σ
max
- tensão máxima
σ
max
- tensão máxima
σ
min
- tensão mínima
xxvi
σ
mu
- resistência à tração da matriz
θ
r
- ângulo de recuo
γ
SV
- energia superficial do contato sólido-vapor
t
c
- deslocamento do compósito na direção transversal
t
f
- deslocamento da fibra na direção transversal
t
m
- deslocamento da matriz na direção transversal
θ
W
- ângulo de Wenzel
φ
x
- concentração de fibras com comprimentos subcríticos
φ
y
- concentração de fibras com comprimentos supercríticos
τ
y
- tensão de escoamento da matriz em cisalhamento
a - comprimento da trinca
A* - fator de adesão
A
c
- área da seção transversal do compósito
A
f
- área seção transversal de todas as fibras
a
f
- tamanho crítico de trinca
a
i
- tamanho inicial de trinca
A
m
- área da seção transversal matriz
A
s
- área de superfície
A
s
’- área de superfície aparente
b - largura do CP
D - deflexão
d - espessura do CP
D
1
- deflexão aparente, medida nos pontos de aplicação de carag nos ensaios
de flexão quatro-pontos
D
2
- deflexão real medida no centro do CP nos ensaios de flexão quatro-pontos
d
f
- diâmetro da fibra
D
máx
- deflexão máxima
D
min
- deflexão mínima
D
n
- amplitude de deflexão nominal
D
rosca
- diâmetro da rosca da extrusora
E - módulo de elasticidade, módulo elástico ou módulo de Young sob tração
E - módulo dinâmico de armazenamento em tração
xxvii
E* - módulo complexo em tração
E - módulo dinâmico de perda em tração
E
0
- módulo elástico no início do ensaio de fadiga mecânica
E
1
- equivalente em gramas (g/mol)
E
11
- módulo do compósito na direção longitudinal
E
22
- módulo do compósito na direção transversal
E
c
- módulo do compósito
E
f
- módulo da fibra
E
m
- módulo da matriz
f - freqüência
G - módulo elástico sob cisalhamento
G* - módulo complexo em cisalhamento
G’ - módulo dinâmico de armazenamento em cisalhamento
G - módulo dinâmico de perda em cisalhamento
G
m
- módulo elástico sob cisalhamento da matriz
J’’ - compliance de perda ou flexibilidade de perda do polímero
K - parâmetro de orientação das fibras
K
c
- fator de intensidade de tensão crítico
K
c
- tenacidade à fratura do material
K
Ic
- fator de intensidade de tensão crítico para o modo I de fratura (sendo I
uma designação de tração; o índice II indicaria o modo em cisalhamento e III
o modo em torção)
l - comprimento
L - distância de apoio nos ensaios estáticos e dinâmicos de flexão quatro-
pontos
l
c
- comprimento crítico da fibra
L
d
- comprimento médio de fibra que sofreu desacoplamento (“debonding”)
l
f
- comprimento da fibra
L
n
- comprimento numérico médio das fibras
L
rosca
- comprimento da rosca da extrusora
l
t
- comprimento de transferência de tensão da fibra
L
w
- comprimento ponderal médio das fibras
xxviii
m - massa
M - massa molar
m’ - inclinação da tangente da porção inicial linear da curva força versus
deflexão nos ensaios estáticos de flexão quatro pontos
M
n
- peso molecular numérico médio
M
W
- peso molecular ponderal médio
N - número de ciclos para falha
n - número de hidroxílas ou hidrogênios ionizáveis
N
A
- normalidade da solução ácida
N
B
- normalidade da solução básica
N
f
- durabilidade, vida útil em fadiga ou número de ciclos para falha
P - força aplicada
P
c
- força aplicada no compósito
p
c
- propriedade do compósito
Peso
cadinho
- peso do cadinho
Peso
cadinho+compósito
- peso do cadinho mais o peso do compósito
Peso
cadinho+compósito após queima
- peso do cadinho mais o peso do compósito após
a perda ao fogo
Peso
cadinho+fibra
- peso do cadinho mais o peso da fibra de vidro
Peso
cadinho+fibra após queima
- peso do cadinho mais o peso da fibra de vidro após
realizada a perda ao fogo
P
f
- força aplicada na fibra
pH - potencial de hidrogênio
P
m
- força aplicada na matriz
p
m
- propriedade da matriz
r - fator de rugosidade
R - razão entre as amplitudes das tensões mínima e máxima
R
*
- raio de um cilindro de matriz concêntrico que envolve a fibra
R’ - grupos organofuncionais
R
c
- razão de aspecto crítica das fibras
r
f
- raio da fibra
R
x
- razão de aspecto das fibras subcríticas
xxix
R
y
- razão de aspecto das fibras supercríticas
T - temperatura (ºC)
tan δ - tangente de perda ou amortecimento mecânico
tan δ
adh
- medida relativa de energia dissipada devido a uma fraca adesão
interfacial
tan δ
c
- tangente de perda ou amortecimento mecânico do compósito
tan δ
calc
- amortecimento mecânico calculado para o compósito
tan δ
exp
- amortecimento mecânico experimentalmente determinado para o
compósito
tan δ
f
- tangente de perda ou amortecimento mecânico da fibra
tan δ
m
- tangente de perda ou amortecimento mecânico da matriz
tan δ
Tg
- amortecimento mecânico medido na Tg do compósito
Tg - temperatura de transição vítrea
Tm - temperatura de fusão cristalina
V - volume
V
A
- volume da solução ácida
V
B
- volume da solução básica
V
T
- velocidade da travessa nos ensaios estáticos de flexão quatro-pontos
W
ad
- trabalho de adesão
W
debonding
- trabalho de desacoplamento (“debonding”) da fibra
W
f
- trabalho de fratura da fibra
W
if
- trabalho de fratura na interface
W
m
- trabalho de fratura da matriz
W
pull-out
- trabalho específico de fratura no arrancamento (“pull-out”) da fibra
W
redist
- trabalho de fratura devido à redistribuição da energia de deformação,
atribuído à energia de deformação perdida na fibra
W
superfície
- trabalho relacionado à energia absorvida em novas superfícies
criadas na fibra, matriz e interface
x - distância ao longo da interface à partir de uma extremidade da fibra
X - grupos hidrolisáveis
Y - fator da geometria estrutural da trinca
xxx
Z e m - constantes do material variando com a temperatura, meio ambiente e
freqüência
1 INTRODUÇÂO
A utilização de compósitos de polipropileno (PP) reforçado com fibras de
vidro curtas (FVc), como uma opção técnico-econômica para aplicações de
engenharia na indústria automobilística, engenharia mecânica leve e de
eletrodomésticos, tornou-se uma realidade a partir da combinação eficiente de
adequados agentes de acoplagem e compatibilizantes interfaciais, buscando-se
aprimorar a adesão interfacial fibra-polímero. Este aprimoramento na adesão
interfacial num compósito de matriz termoplástica quimicamente inerte, como é o
caso do PP, contribuiu de forma marcante para que o seu desempenho mecânico
se tornasse competitivo em relação aos termoplásticos de engenharia, como as
poliamidas e poliésteres reforçados, devido a sua ótima relação
custo/desempenho mecânico em ambientes quimicamente agressivos [1, 2, 3].
Uma variedade de publicações foi apresentada na última década sobre
compósitos de PP reforçado com FV e compatibilizado com polipropileno
funcionalizado com anidrido maleico (PP-g-MAH), buscando explorar o tema sobre
a influência de compatibilização interfacial fibra-polímero nas propriedades
mecânicas de curta duração destes materiais, tais como as obtidas nos ensaios de
resistência à tração, flexão e ao impacto [4, 5, 6]. Estudos sobre o tema têm
demonstrado que existe uma concentração ótima do compatibilizante de PP-g-
MAH que contribui para maximização das propriedades mecânicas de curta
duração dos compósitos de PP/FVc. Esta concentração ótima de compatibilizante
é alcançada quando ocorre a saturação da interface fibra-polimero com a
formação de um copolímero de PP-co-siloxano, gerando uma interfase cujas
características dependem de alguns fatores tais como: (i) a concentração relativa
de grupos funcionais correativos de anidrido maleico do compatibilizante e grupos
aminas do siloxano, presente na superfície da FV, (ii) compatibilidade entre a
massa molar do compatibilizante e da matriz de PP, etc. [1, 7].
Entretanto, pouca literatura divulgada existe sobre a eficiência deste
processo de compatibilização interfacial no desempenho mecânico de longa
2
duração de compósitos de PP/FVc. Obtenção de dados sobre o comportamento
mecânico de longa duração é um fator importante visto que estimativas na
literatura indicam que um grande número de falhas em peças de compósitos
termoplásticos empregado em aplicações de engenharia pode ser atribuído à
queda na sua resistência à fluência ou fadiga mecânica sob solicitação cíclica [8].
Um dos principais problemas na obtenção de dados sobre o
comportamento mecânico de longa duração de compósitos termoplásticos, está
associado ao fato que existem muitas variáveis que afetam os resultados dos
ensaios de resistência à fluência e fadiga. Assim, a tentativa de caracterizar o
desempenho mecânico de longa duração de qualquer tipo de material com uma
única metodologia é uma tarefa relativamente difícil. Dados de ensaios de fadiga
que se assemelham às condições reais de uso são úteis no entendimento do
desempenho sob fadiga mecânica de componentes plásticos, classificando os
materiais e servindo como um guia qualitativo para projetos de dimensionamento
estrutural dos mesmos para aplicações de engenharia. Estes dados são também
importantes no entendimento da influência das variáveis materiais e operacionais,
tais como tipo de compósito polimérico (matriz e reforço), freqüência da
solicitação, temperatura e condições de carregamento no desempenho sob fadiga
de plásticos [8]. Isto implica numa análise elaborada e demorada na
caracterização do comportamento mecânico sob fadiga de compósitos
termoplásticos, o que explica a escassez de dados de longa duração destes
materiais.
A resistência à fadiga mecânica sob solicitação cíclica de compósitos
poliméricos depende, não apenas da eficiência de reforçamento, dependendo do
tipo de reforço empregado, mas também das características de dissipação de
energia viscoelástica dos compósitos. Esta energia viscoelástica seria gerada
devido à histerese mecânica atribuída tanto à resposta viscoelástica da matriz
polimérica como ao atrito interfacial fibra-polímero, em função do grau de
compatibilização interfacial. Assim, sob fadiga mecânica, o compósito
termoplástico poderá falhar por amolecimento térmico quando a resposta
3
viscoelástica da matriz polimérica predominar, enquanto a falha mecânica ocorrerá
essencialmente por propagação de trincas, associada ao gradual desacoplamento
interfacial fibra-polímero com o tempo de ciclagem mecânica. Portanto, a falha
mecânica por propagação de trincas poderá ser diretamente associada ao grau de
dissipação viscoelástica atribuído ao atrito interfacial fibra-polímero, em função da
compatibilização interfacial alcançada no compósito.
As características de dissipação viscoelástica do compósito associada a
esse atrito interfacial fibra-polímero podem ser relacionadas com a propriedade de
amortecimento dinâmico-mecânica (tan δ) do compósito, monitorada nos ensaios
mecânicos de curta duração por análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA) [9,
10]. Publicações científicas têm buscado relacionar a redução no valor de tan δ,
determinado a temperaturas acima do ambiente quando as tensões térmicas
interfaciais do compósito são anuladas, com o aumento efetivo no grau de adesão
interfacial do compósito [7]. Assim, espera-se que esta propriedade dinâmico-
mecânica (tan δ) melhor reflita a influência da compatibilização interfacial fibra-
polímero de PP-g-MAH no comportamento mecânico de fadiga em compósitos de
PP reforçado com FVc.
Portanto, com o objetivo de encurtar o tempo necessário para obtenção de
informações sobre a influência do teor de PP-g-MAH na durabilidade sob fadiga
mecânica de compósitos de PP reforçado com 30% em peso de FVc, propõe-se
neste trabalho implementar uma metodologia experimental que busque
correlacionar os dados das propriedades mecânicas de curta duração, obtidas por
análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA) de compósitos de PP com o efetivo
desempenho sob fadiga mecânica por propagação de trinca dos compósitos em
análise.
4
5
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Neste tópico serão abordadas algumas bases teóricas sobre compósitos,
como as teorias de reforçamento mecânico, bem como o uso de equações
empíricas como a de Halpin-Tsai na predição das propriedades mecânicas, além
da influência do comprimento médio e distribuição de comprimentos da FV na
resistência mecânica de compósitos poliméricos. Também serão abordados
fundamentos teóricos sobre a compatibilização interfacial fibra-polímero,
comportamento dinâmico-mecânico e fadiga mecânica sob solicitação cíclica em
compósitos termoplásticos.
2.1 COMPÓSITOS POLIMÉRICOS
De modo geral, os materiais compósitos ou conjugados podem ser
definidos como materiais gerados pela combinação macroscópica de dois ou mais
materiais quimicamente e/ou fisicamente distintos, possuindo uma interface bem
definida entre eles [11]. Já uma definição mais específica diria que os materiais
compósitos são materiais gerados pela mistura ou combinação racional de dois ou
mais materiais macroconstituintes, diferindo em composição química e/ou forma, e
que estes sejam essencialmente insolúveis entre si [12].
Para que as propriedades desejadas em um material compósito sejam
alcançadas, cada elemento constituinte (matriz, reforço e a interface formada por
eles) deve apresentar características apropriadas, atingindo-se a máxima
eficiência de reforçamento nas propriedades almejadas. Assim, as propriedades
dos compósitos dependerão, portanto, das propriedades e características dos
seus constituintes (estrutura morfológica da matriz e os fatores relacionados à
fibra, aqui responsável pelo reforçamento mecânico), da concentração relativa
6
destes, da eficiência no processo de composição/compostagem (condições de
processamento, como temperatura, vazão, torque, perfil da rosca) e do processo
de transformação (moldagem por injeção, por exemplo) em assegurar a melhor
morfologia desejada no compósito final e das características da região interfacial.
A eficiência de reforçamento mecânico obtido depende, entre outros
fatores, da escolha do elemento de reforço. De forma geral, as fibras de vidro
(FV), carbono (FC) e aramida (Kevlar – FK) apresentam desempenho superior em
compósitos poliméricos em relação a outras cargas como os carbonatos de cálcio
natural e precipitado, caulim e sílica. Isto porque a maioria dos materiais é mais
resistente e mais rígida na forma de fibras do que em qualquer outra forma.
De forma geral, as principais vantagens na utilização de fibras e cargas
reforçantes em termoplásticos podem ser resumidas por [13]:
1) Aumento substancial no módulo de elasticidade/rigidez do compósito;
2) Aumento na resistência mecânica (tração, flexão ou compressão) e às
vezes nas propriedades de tenacidade/resistência ao impacto do compósito,
dependendo do tipo de carga e matriz polimérica em questão. Por exemplo,
quando um polímero é reforçado com um tipo de fibra de módulo elástico maior do
que o módulo da matriz, e quando se consegue uma boa adesão interfacial, boa
parte da tensão que será aplicada ao compósito será transmitida pela matriz,
através da interface, para a fibra, o que gerará um aumento na resistência
mecânica do compósito em relação á da matriz. Além disso, a presença da fibra
provavelmente aumentará também a resistência ao impacto do compósito em
relação á resistência ao impacto da matriz. Isto porque o arrancamento das fibras
ou também o seu desacoplamento da matriz serão mecanismos que dissipação de
energia que aumentarão a resistência ao impacto deste material de matriz frágil.
3) Melhoria substancial na resistência à fluência (isto é, deformação
lenta), alterando às vezes levemente as características viscoelásticas da matriz
polimérica;
7
4) Melhoria na resistência mecânica a longo prazo (durabilidade e
resistência à fadiga), dependendo do tipo de reforço e da natureza das interações
interfaciais;
5) Aumento na temperatura de distorção térmica (HDT);
6) Aumento na estabilidade dimensional (redução da expansão térmica e
encolhimento de moldados);
7) Modificação nas características reológicas, elétricas e de
permeabilização dos compósitos.
As propriedades mecânicas dos compósitos são parâmetros caracterizados
pela resposta destes materiais quando submetidos a esforços de tensão ou
deformação. As tensões ou deformações são correlacionadas a partir de
constantes de proporcionalidade dependentes do tempo, da temperatura e do
nível de solicitação mecânica aplicada, e também dependem indiretamente de
alterações físicas e/ou químicas ocorridas na estrutura morfológica, resultante de
condições de processamento e das interações interfaciais alcançadas. As
principais propriedades mecânicas a serem avaliadas em um compósito são o
módulo de elasticidade (E), a resistência à tração (RT), a deformação na ruptura
(ε), a resistência ao impacto (RI) e sua resistência à flexão (RF). Para se avaliar
estas propriedades, os ensaios podem ser realizados estática ou dinamicamente,
podendo ser de curta ou de longa duração, como os ensaios de fadiga, que serão
posteriormente discutidos.
2.2 TEORIA DO REFORÇAMENTO MECÂNICO DOS COMPÓSITOS
A micromecânica examina em escala microscópica a interação dos
materiais constituintes de um compósito, favorecendo o estudo detalhado do seu
comportamento mecânico [3]. Com já mencionado, o principal efeito da
incorporação da fibra de reforço numa matriz polimérica é o de aumentar o módulo
8
de rigidez e a resistência do polímero. O tratamento teórico mais simplificado
destes efeitos é baseado na simples “Regra de Misturas”, onde numa primeira
aproximação, o módulo elástico longitudinal do compósito, na direção paralela às
fibras é dado por:
)1(
fmffc
EEE
φ
φ
+
=
(2.1)
Onde E
c
, E
f
e E
m
são os módulos do compósito, da fibra e da matriz,
respectivamente e
φ
f
é a fração em volume da fibra. A equação (2.1) é válida para
fibras longas (ou contínuas), todas alinhadas numa única direção e ensaiadas na
direção de orientação das fibras, sendo que se considera neste caso: uma adesão
perfeita entre os componentes; que as seções planas do compósito permanecem
planas após a deformação; que não existem vazios no compósito; que a fibra e a
matriz têm comportamento elástico linear até a ruptura, e que cada componente
possui a mesma razão de Poisson, diminuindo-se um pouco a complexidade da
análise. A Regra de Misturas considera as propriedades mecânicas do compósito
como médias ponderadas em volume das propriedades características de cada
componente individualmente, com seus tamanhos, distribuição e arranjos
geométricos. Ela prevê propriedades relativamente insensíveis à microestrutura,
como no caso do módulo de elasticidade, porém há restrições para a previsão da
resistência à tração (RT), pois esta é uma propriedade altamente sensível à
microestrutura e à interação interfacial [11].
2.2.1 MICROMECÂNICA DE REFORÇAMENTO DE POLÍMEROS COM FIBRAS
DE ALTO MÓDULO
Quando uma solicitação mecânica é aplicada a um compósito de matriz
polimérica reforçada com fibras, matriz e reforço vão compartilhar a carga
aplicada. Em termos comparativos e na maioria dos casos, a matriz polimérica é o
componente de relativa baixa rigidez e resistência, razoavelmente tenaz ou dúctil,
9
de baixa densidade e coeficiente de expansão térmica superior ao do componente
de reforço, que por sua vez possui alto módulo e resistência e é normalmente
frágil. A matriz polimérica deve proteger as fibras contra abrasão e contra a
exposição à umidade e penetração de líquidos, sendo que estas funções são
também promovidas pela interface através do uso de agentes de acoplamento
(acoplagem) interfacial. Portanto, é a fibra que deve, idealmente, suportar a maior
parte da carga mecânica ou tensão aplicada ao sistema, enquanto é função da
matriz polimérica transmitir e distribuir as tensões para as fibras ou partículas de
reforço individualmente. Este é o princípio básico que determina a eficiência de
reforçamento de compósitos poliméricos, desde que a adesão interfacial fibra-
polímero seja mantida integralmente.
2.2.1.1 PREVISÃO TEÓRICA DAS CONSTANTES ELÁSTICAS DOS
COMPÓSITOS UNIDIRECIONAIS
A partir da consideração de dois modelos de arranjos geométricos em um
compósito com fibras unidirecionais, conforme mostrado na Figura 2.1, assume-se
que as secções planas deste compósito permaneçam planas após a deformação.
Aplicando-se uma força P
c
na direção da fibra (ver Figura 2.1 a) e
assumindo-se que os dois componentes estão aderidos perfeitamente e que eles
possuem a mesma razão de Poisson (razão entre a deformação transversal e a
longitudinal), cada componente sofrerá o mesmo deslocamento longitudinal
l.
Assim, a deformação em cada componente (fibra, matriz e compósito,
respectivamente) será igual:
l
l
clmf
===
εεε
(2.2)
Onde
ε
cl
é a deformação no compósito na direção longitudinal.
10
Esta situação é chamada de estado de isodeformação ou Critério de Voigt.
Se a fibra e matriz forem elásticas, pode-se relacionar a tensão nos dois
componentes com a deformação, através do módulo de Young:
clff
E
ε
σ
=
e
clmm
E
ε
σ
=
(2.3)
Figura 2. 1 - Modelos: a) isodeformação (Modelo de Voigt) e b) isotensão (Modelo
de Reuss) [11].
Considerando-se A
c
a área da seção transversal do compósito, A
m
a área
da matriz e A
f
a área de todas as fibras, então a partir do equilíbrio de forças na
direção da fibra (longitudinal do compósito), tem-se:
mfc
PPP
+
= (2.4)
mmffcc
AAA ...
σ
σ
σ
+
=
(2.5)
Das equações (2.4) e (2.5), tem-se:
clmmffccl
AEAEA
ε
σ
)...(.
+
=
(2.6)
Ou, dividindo por A
c
:
+
==
c
m
m
c
f
f
cl
cl
A
A
E
A
A
EE .
11
ε
σ
(2.7)
Para um dado comprimento de compósito, A
f
/A
c
= φ
f
e A
m
/A
c
= φ
m
, então a
equação (2.7) pode ser simplificada, obtendo-se o valor limite superior do módulo
elástico do compósito na direção paralela à direção das fibras:
11
)1(
11 fmff
EEE
φ
φ
+
=
(2.8)
Onde os índices m e f referem-se, respectivamente, à matriz e à fibra,
φ
f
é a fração
volumétrica de fibras no compósito e E
11
refere-se ao módulo do compósito na
direção longitudinal.
Quando E
f
>> E
m
e φ
f
é alto, a contribuição da matriz para o módulo
longitudinal pode ser insignificante. A fração volumétrica da matriz será
φ
m
= 1- φ
f
,
quando o nível de porosidade apresentado pelo compósito for praticamente nulo.
A equação (2.8) é conhecida como “Regra de Misturas”, como citado
anteriormente. Esta equação mostra que o módulo do compósito na direção
longitudinal é proporcional à fração volumétrica dos componentes individuais, e
pode ser utilizada para prever outras propriedades do compósito como: densidade,
condutividade térmica e elétrica na direção da fibra.
Uma expressão similar poderia ser obtida para a tensão em tração
longitudinal do compósito (
σ
cl
) de mesmo comprimento (em isodeformação)
dividindo-se a equação (2.5) pela área A
c
:
mmffcl
φ
σ
φ
σ
σ
.'.
+
=
(2.9)
Onde
σ
m
é a tensão na matriz “in situ” na deformação correspondente à
resistência à tração máxima suportada pela fibra no compósito (para
ε
m
=
ε
f max
).
Em geral, a deformação na fratura da fibra é menor que a deformação na
fratura da matriz. Assumindo que todas as fibras possuem a mesma resistência, a
tensão de ruptura das fibras precipitará a tensão de ruptura no compósito. Assim,
através da equação 2.9, a resistência à tração longitudinal (
σ
clu
) de um compósito
com fibras contínuas unidirecionais pode ser estimada pela equação 2.16.
Como exemplo de ordem de grandeza, para um compósito de epóxi/FV
alguns valores importantes são:
σ
mu
= 89 MPa, E
m
= 0,7 GPa,
σ′
m
= 17 MPa, E
f
=
69 GPa,
σ
fu
= 1,72 GPa,
ε
fu
= 0,025 e
φ
f crit
= 0,0303 ou 3,03% [14], onde E
m
é o
módulo da matriz, E
f
é o módulo da fibra,
σ
mu
e
σ
fu
são as tensões de tração
máxima suportada pela matriz e pela fibra no compósito, respectivamente,
ε
fu
é a
12
deformação máxima suportada pela fibra no compósito e
φ
f crit
é a fração
volumétrica crítica.
Para as propriedades na direção transversal, pode-se representar um
compósito unidirecional como o da Figura 2.1 b. Aplicando-se ao compósito uma
força na direção transversal à direção das fibras tem-se a condição em que as
tensões são iguais, tanto na fibra quanto na matriz, representando o chamado
estado de isotensão ou Critério de Reuss.
Assim:
mfct
σ
σ
σ
==
e
fmct
ε
ε
ε
+
=
(2.10)
Onde
σ
ct
e
ε
ct
são respectivamente a resistência e deformação do compósito na
direção transversal.
O deslocamento do compósito
t
c
na direção de sua espessura t
c
será a
soma dos deslocamentos das componentes, ou seja,
t
c
=
t
m
+
t
f
. Dividindo-se
por t
c
, temos a deformação do compósito na direção transversal:
+
=
=
c
f
c
m
c
c
ct
t
t
t
t
t
t
ε
(2.11)
Sendo
t
c
=
ε
m
+ t
m
e
t
f
=
ε
f
+ t
f
:
+
=
c
f
c
m
mct
t
t
t
t
.
εε
(2.12)
Para uma dada seção transversal do compósito, as frações volumétricas da
matriz e da fibra são:
=
c
m
m
t
t
φ
e
=
c
f
f
t
t
φ
. Obtém-se, então que:
ffmmct
φ
ε
φ
ε
ε
..
+
=
(2.13)
Considerando que os componentes (polímero e reforço fibroso), no
comportamento linear tensão-deformação, são elásticos e que
σ
ct
=
σ
f
=
σ
m:
m
m
f
f
EEE
φ
φ
+=
22
1
(2.14)
ou
13
)1(
22
fffm
mf
EE
EE
E
φφ
+
=
(2.15)
A Figura 2.2 mostra as curvas para os dois modelos, sendo o modelo de
Voigt representado pela curva de E
11
e o modelo de Reuss representado pela
curva de E
22
. Estes são respectivamente, os valores máximo e mínimo de rigidez
do compósito a uma dada concentração de fibras [11]. Deve-se lembrar que estas
relações são obtidas a partir de aproximações simplificadas, desconsiderando-se,
por exemplo, a existência de vazios no compósito.
Embora matriz e fibra sejam constituídas por materiais isotrópicos, o
compósito resultante é anisotrópico, isto é, as propriedades, no caso
exemplificado os módulos elásticos, dependerão da direção considerada.
Figura 2. 2 - Dependência do módulo elástico longitudinal (E
11
) e transversal (E
22
)
em relação à fração volumétrica de fibras (
φ
f
) [11].
Na Figura 2.2, observa-se que com 50% em volume de fibras, consegue-se
elevar o módulo longitudinal do compósito para mais de cinco vezes em relação
ao da matriz. Teoricamente, o módulo transversal do compósito também poderia
ser elevado de cinco vezes, mas isso a custa de uma concentração volumétrica de
fibras de 90%, o que não é tecnicamente aplicável. Assim, observa-se que as
fibras não contribuem muito para o módulo transversal do compósito, a menos que
a sua concentração volumétrica seja muito alta [13].
14
2.2.1.2 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO DOS COMPÓSITOS UNIDIRECIONAIS
(DIREÇÃO LONGITUDINAL)
Pode-se mostrar que os compósitos devem ter uma fração volumétrica
mínima (
φ
min
) para apresentar um reforçamento mecânico real. Assumindo-se que
as fibras são idênticas e uniformes, ou seja, as fibras possuem a mesma
resistência à tração máxima, pode-se calcular a resistência à tração máxima do
compósito (
σ
clu
) que será idealmente atingida na deformação na qual haverá a
fratura das fibras. Assim, pode-se escrever da equação de Regra de Misturas que:
)1(
'
fmffuclu
φσφσσ
+=
(2.16)
Onde
σ
fu
é a tensão de tração máxima suportada pela fibra no compósito,
σ
m
,
como já citado, é a tensão na matriz “in situ” na deformação correspondente à
resistência à tração máxima suportada pela fibra no compósito (para
ε
m
=
ε
f max
).
A baixas frações volumétricas de fibras (abaixo de
φ
f min
), a matriz controla a
resistência do compósito (pois não há um número suficiente de fibras para tal),
suportando toda a carga do compósito, quando todas as fibras quebram. Assim, a
matriz será capaz de suportar uma carga adicional, com um aumento na
deformação. Geralmente se assume que as fibras não suportam nenhuma carga
(
σ
f
= 0) na deformação do compósito maior que a deformação na fratura das
fibras. O compósito eventualmente falha quando a tensão na matriz se iguala à
sua resistência (
σ
m
=
σ
mu
). Assim, a resistência do compósito com uma fração
volumétrica menor que
φ
f min
é dada por:
)1(
fmucu
φ
σ
σ
=
(2.17)
Neste caso, a matriz estará suportando a maior parte da carga aplicada ao
compósito, mesmo depois de todas as fibras terem sido rompidas. Assim, o
compósito irá romper quando a tensão aplicada atingir o limite de resistência da
Contribui
ç
ão máxima da matriz.
15
matriz. Esta resistência pode ser observada na Figura 2.3, em função da fração
volumétrica de fibra no compósito.
A seguinte relação deveria ser satisfeita para se obter um reforçamento real
do compósito:
)1()1(
'
fmufmffucu
φσφσφσσ
+= (2.18)
A igualdade desta expressão fornece a fração volumétrica mínima de fibra
(
φ
f min
) que deverá ser excedido para se obter o reforçamento real do compósito.
'
'
min
mmufu
mmu
f
σσσ
σσ
φ
+
=
(2.19)
Nota-se desta equação que o valor de
φ
f min
aumenta com o decréscimo da
resistência da fibra. Na realidade procura-se que a resistência do compósito seja
maior que a resistência à tração máxima da matriz isolada (
σ
mu
). Pode-se, então,
definir uma fração volumétrica crítica (
φ
f crit
) que deve ser excedida. Assim,
mufmffucu
σφσφσσ
+= )1(
'
(2.20)
A igualdade na equação (2.20) fornece o valor de
φ
f crit
que aumenta com o
aumento do reforçamento da matriz (
σ
mu
-
σ
m
).
'
'
mfu
mmu
criíf
σσ
σσ
φ
=
(2.21)
A Figura 2.3 mostra graficamente a determinação de
φ
f min
e
φ
f crit
. Nota-se
que
φ
f crit
é sempre maior que
φ
f min
. Além disso, quando
φ
f
for menor que
φ
f min
, a
resistência do compósito será controlada pela deformação da matriz e será menor
que a resistência da matriz, como já citado. Já quando
φ
f
for maior que
φ
f min
, e
menor que
φ
f crit
, a resistência do compósito será controlada pela deformação da
fibra, mas a resistência do compósito ainda será menor que a resistência inerente
da matriz. Quando o valor de
φ
f
exceder o
φ
f crit
, o compósito ganhará a resistência
do reforço fibroso, sendo a resistência do compósito controlada pela deformação
da fibra.
16
Além disso, pode-se concluir das equações (2.19) e (2.21) que a fração
volumétrica mínima e a crítica diminuem com o aumento da resistência à tração da
fibra e aumentam à medida que a resistência à tração da matriz se aproxima
daquela da fibra, ou seja,
σ
mu
σ
m
.
A fração volumétrica crítica é uma propriedade do sistema fibra-polímero
muito mais importante do que a fração volumétrica mínima (normalmente
φ
f min
não
possui significado técnico para polímeros reforçados).
Figura 2. 3 - Frações volumétricas mínima (
φ
fmin
) e crítica (
φ
fcrit
) para reforçamento
[11].
17
2.2.1.3 TRANSFERÊNCIA DE TENSÃO EM TERMOPLÁSTICOS REFORÇADOS
COM FIBRAS CURTAS
Um esquema de uma fibra de alto módulo, embebida em uma matriz de
baixo módulo pode ser observado na Figura 2.4.
Figura 2. 4 - Esquema de uma fibra de alto módulo, embebida em uma matriz de
baixo módulo [11].
Esta Figura 2.4 mostra a situação antes da aplicação de uma força externa.
Assume-se que a fibra e a matriz estão perfeitamente ligadas e que a razão de
Poisson é a mesma para as duas. Pode-se imaginar linhas contínuas no estado
não tencionado como mostrado na Figura 2.4 a. Carregando-se este compósito
uniaxialmente, como mostrado na Figura 2.4 b, a fibra e a matriz sofrerão
deslocamentos axiais localmente diferentes devido à diferença no módulo elástico
dos componentes. Diferenças em deslocamentos axiais das fibras e da matriz
significam que deformações cisalhantes são produzidas na matriz em planos
paralelos ao eixo da fibra e em uma direção paralela a este eixo. Assim, as linhas
paralelas agora se apresentarão distorcidas, como mostrado na Figura 2.4 b.
Portanto, a transferência da tensão aplicada ocorre por esta deformação
cisalhante na matriz. Existem dois casos importantes nesta transferência: (1)
quando as fibras e a matriz apresentam comportamento elástico, e (2) quando a
matriz possui comportamento plástico e as fibras comportamento elástico, caso
onde se enquadram os termoplásticos semicristalinos reforçados com fibras de
vidro curtas (TPRFVc). Quando as fibras são elásticas e a matriz plástica, e
assumindo-se que a fibra e a matriz estejam perfeitamente aderidas (sem
18
escorregamento) e que os coeficientes de Poisson sejam semelhantes (não há
tensão transversal quando a carga é aplicada ao longo da direção da fibra),
espera-se que a resistência do compósito seja alcançada pela resistência das
fibras e que o módulo elástico seja similarmente controlado pela fibra, mas
também afetado pela matriz, sendo que a deformação na falha será determinada
pelos módulos relativos da fibra e da matriz.
Já para o caso onde a matriz e as fibras apresentam comportamento
elástico, temos:
)2/cosh(
)2/(
2
f
fff
l
xlsenhrE
β
β
εβ
τ
=
(2.22)
onde
2/1
*
2/1
)/ln(
2
=
=
fff
m
ff
rRAE
G
EA
B
π
β
(2.23)
E o máximo valor possível de deformação na fibra é a deformação imposta
ε
,
assim a tensão máxima é
ε
E
f
. Já r
f
e l
f
são o raio e o comprimento da fibra,
respectivamente,
τ
é a tensão de cisalhamento interfacial, x é a distância ao longo
da interface a partir da extremidade da fibra, G
m
é o módulo de cisalhamento da
matriz, R
*
é o raio de um cilindro de matriz concêntrico que envolve a fibra, A
f
é a
área da secção transversal da fibra,
)/ln(
2
*
f
m
rR
G
B
π
= ,
β
é o parâmetro de
transferência de carga e
τ
é a tensão de cisalhamento.
A tensão de cisalhamento máxima será a menor das seguintes tensões: (1)
a tensão de cisalhamento no escoamento da matriz ou (2) a resistência ao
cisalhamento da interface fibra/matriz. A tensão que for atingida primeiro
controlará o fenômeno de transferência de tensão e deverá ser usada na equação
(2.22). O valor de R
*
/r
f
na equação (2.23) é uma função do empacotamento da
fibra. Pode-se definir
)/ln(
2
1
)/ln(
max
*
fff
rR
φφ
= , onde
φ
fmáx
é a concentração
máxima de fibra. Substituindo-se na equação (2.22), tem-se:
19
2/1
)/ln(
4
=
f
máx
fff
m
AE
G
φφ
π
β
(2.24)
Quanto maior é o valor da razão G
m
/E
f
, maior é o valor de
β
e mais rápido a
tensão aumenta na fibra a partir de cada extremidade, lembrando que esta
correlação não é válida para o sistema PP/FV.
2.2.1.4 PREVISÃO DA RESISTÊNCIA DE COMPÓSITOS REFORÇADOS COM
FIBRAS CURTAS
Este tipo de previsão é realizado para compósitos de matrizes estritamente
plásticas reforçadas com reforço elástico.
Em compósitos, a carga não é aplicada diretamente na fibra, mas sim
aplicada à matriz e transferida para as fibras através dos finais destas e também
através da superfície cilíndrica das fibras. Quando o comprimento da fibra é muito
maior que o comprimento acima do qual a transferência de tensão ocorre, os
efeitos das extremidades de fibras podem ser negligenciados e a fibra pode ser
considerada contínua. No caso de compósitos com fibras curtas, os efeitos finais
não podem ser negligenciados e as propriedades do compósito são funções do
comprimento da fibra. Os efeitos dos finais das fibras influenciam
significativamente o comportamento e os efeitos de reforçamento em compósitos
com fibras descontínuas. Para se entender o comportamento de compósitos com
fibras descontínuas, torna-se necessário o entendimento do mecanismo de
transferência de tensão.
20
A distribuição de tensão ao longo do comprimento da fibra pode ser
entendida considerando-se o equilíbrio de um elemento de fibra. O equilíbrio de
forças de um comprimento infinitesimal dz requer que:
()
()
(
)
(
)
fffff
drdzrr
σσπτπσπ
+=+
2
2
2
(2.25)
Ou
f
f
rdz
d
τ
σ
2
=
(2.26)
Onde
σ
f
é a tensão na fibra na direção axial;
τ
é a tensão de cisalhamento na
interface cilíndrica fibra-matriz e r
f
é o raio da fibra. A equação 2.26 indica que
para fibras de raios uniformes, a taxa de crescimento da tensão na fibra é
proporcional à tensão de cisalhamento na interface e pode ser integrada para a
obtenção da tensão na fibra na seção transversal a uma distância x da
extremidade da fibra.
Um método de aproximação freqüentemente usado para se determinar a
tensão na fibra assume que a matriz ao redor das fibras é um material rígido
perfeitamente plástico
(com a tensão de cisalhamento não variando com a
deformação em cisalhamento). Para este caso, a tensão de cisalhamento
interfacial é constante ao longo do comprimento da fibra e é igual à tensão de
escoamento da matriz em cisalhamento,
τ
y
. Tem-se, então:
f
y
f
r
x
τ
σ
2
=
(2.27)
Para fibras curtas, a tensão máxima na fibra ocorre na metade do
comprimento da fibra (x = l/2). Portanto,
()
f
fy
f
r
l
τ
σ
=
max
(2.28)
Onde l
f
é o comprimento da fibra. Porém, se a tensão na fibra tiver um valor
limitante, a equação (2.28) não pode prevê-la. O valor limitante da tensão na fibra
é a tensão que poderia ser aceita por uma fibra contínua ou com comprimento
infinito, para uma dada tensão aplicada no compósito. Assumindo-se que
ε
c
=
ε
f
=
21
ε
m
, para fibras contínuas carregadas ao longo de seus eixos, pode-se mostrar que
a tensão máxima na fibra é dada por:
(
)
c
c
f
f
EE
σ
σ
=
max
(2.29)
Onde
σ
c
é a tensão aplicada no compósito, sendo que o módulo do compósito, E
c
,
pode ser calculado pela regra de misturas (equação (2.1)). O comprimento mínimo
de fibra, no qual a máxima tensão na fibra, (
σ
f
)
max
, pode ser atingido, pode ser
definido como um comprimento de transferência de tensão, l
t
. Acima deste
comprimento a carga é transferida da matriz para a fibra. Este comprimento é
dado por:
(
)
(
)
i
ccf
i
f
f
t
EE
d
l
τ
σ
τ
σ
2
/
2
max
==
(2.30)
Onde d
f
(= 2r
f
) é o diâmetro da fibra e (
σ
f
)
max
é dado pela equação (2.29) e
τ
i
resistência ao cisalhamento interfacial fibra-matriz ou a tensão de escoamento da
matriz. Como (
σ
f
)
max
é uma função da tensão aplicada, o comprimento de
transferência de tensão é também função da tensão aplicada [15]. .
Um comprimento de fibra crítico, l
c
, independente da tensão aplicada, pode
ser definido como o comprimento mínimo de fibra no qual a tensão máxima
permitida na fibra (ou a resistência da fibra),
σ
fu
, pode ser atingida [15]. Assim,
com (
σ
f
)
max
= σ
fu
:
i
fu
c
f
f
d
l
τ
σ
2
=
(2.31)
A equação (2.31), conhecida como a equação de Kelly-Tyson, mostra que
quanto maior for o valor da resistência ao cisalhamento interfacial fibra-matriz ou a
tensão de escoamento da matriz (
τ
i
), obtido pelo aprimoramento da adesão
interfacial, menor será o valor da razão de aspecto crítica (l
c
/d
f
) da fibra (menores
comprimentos médios de fibra) necessária para um reforçamento eficiente no
compósito, e que o comprimento de transferência de tensão, l
t
, para um dado
diâmetro de fibra, deve ser igual ou maior que l
c
, para que a fibra seja carregada
22
até a tensão máxima na falha do compósito (
σ
fu
). Se l
t
< l
c
, a matriz se deformará
plasticamente ao redor da fibra e a carregará na sua porção central até um valor
de tensão inferior ao seu máximo, ou seja:
fu
f
f
f
d
l
στσ
= 2
(2.32)
Pode-se notar que o comprimento crítico de fibra é o valor máximo do
comprimento de transferência de tensão.
Assim, pelas equações 2.30 e 2.31, podem-se fazer as seguintes
observações:
1. Para l
t
< l
c
, a tensão máxima na fibra pode nunca atingir a resistência
à tração da fibra (Figura 2.5 a). Neste caso, a ligação interfacial fibra/matriz ou a
matriz pode falhar antes da fibra atingir sua resistência potencial;
2. Para l
t
> l
c,
a tensão máxima na fibra pode atingir a resistência à
tração da fibra (Figura 2.5 c). Porém, abaixo de uma distância de l
c
/2 de cada
extremidade, a fibra permanece inefetiva;
3. Para um reforçamento efetivo, isto é, para a fibra ser usada em sua
resistência potencial, deve-se selecionar l
t
>> l
c;
4. Para um dado diâmetro e uma dada resistência de fibra, l
c
pode ser
controlado aumentando-se ou decrescendo-se
τ
i
. Um agente de acoplagem
compatível com a matriz pode aumentar
τ
i
, diminuindo o valor de l
c
. Se l
c
pode ser
reduzido, o reforçamento efetivo pode ser atingido sem se mudar o comprimento
original da fibra [14].
A distribuição de tensão (tensão na fibra e tensão de cisalhamento
interfacial) em fibras com diferentes comprimentos está mostrada na Figura 2.5
para uma dada tensão no compósito. A Figura 2.5c mostra a variação da tensão
na fibra para uma tensão no compósito crescente, para um comprimento de fibra
maior que o comprimento crítico. Pode-se observar que com comprimentos
pequenos, a extremidade da fibra é tracionada com uma tensão menor que a
máxima tensão na fibra. Isto afeta a resistência e o módulo elástico do compósito.
23
Quando a fibra possui um comprimento muito maior que o comprimento de
transferência de tensão, o comportamento do compósito se aproxima do
comportamento de compósitos reforçados com fibras contínuas.
Examinando-se a Figura 2.5 nota-se que a tensão de cisalhamento é
máxima nas extremidades da fibra, assim a falha interfacial é mais provável de
ocorrer nestas extremidades.
Figura 2. 5 - (a) e (b) Variação de tensão e tensão de cisalhamento interfacial em
fibras com diferentes comprimentos (compósito submetido à mesma tensão) e (c)
Influência de mudança na tensão no compósito em uma fibra mais longa que o
comprimento crítico [15].
a)
b)
c)
24
Nesta figura, nota-se que mesmo para (l
f
/d
f
) > (l
f
/d
f
)
c
, a tensão média na
fibra (
σ
f média
) será menor que a tensão máxima para a qual a fibra é carregada em
sua região central (
σ
fu
):
(
)
[]
ffcff
f
fmédia
ll
l
βσσσσ
=
1
(2.33)
ou
=
cf
ffméda
ll /
1
1
β
σσ
(2.34)
Onde
βσ
f
é a
σ
f média
sobre uma porção l
c
/2
do comprimento da fibra em ambas as
extremidades e
β
o fator de transferência de tensão, sendo que este será 0,5 para
um material idealmente plástico, ou seja, o aumento da tensão na fibra ao longo
da porção l
c
/2 será linear.
Assim, para a resistência de um compósito com fibras curtas, pela Regra
das Misturas, pode-se escrever:
mmffmédiac
φσφσσ
'
+= (2.35)
)1(
/
1
1
'
fm
cf
ffc
ll
φσ
β
φσσ
+
=
(2.36)
Se
β
, fator de transferência de tensão, for igual a 0,5:
)1(
2
1
'
fm
f
c
ffc
l
l
φσφσσ
+
=
(2.37)
Onde
σ
m
é a tensão da matriz máxima “in situ” na deformação considerada [11].
A hipótese de que todas as fibras se encontram orientadas na mesma
direção não é a situação mais comum em compósitos com fibras descontínuas,
pois a orientação varia de uma fibra para outra. Normalmente tem-se uma
distribuição de orientação de fibras no compósito. A estimativa, nesse caso, é
muito mais complicada. Numa análise mais simplificada, pode-se chegar a uma
equação como a (2.38) para calcular a resistência longitudinal de um compósito
reforçado com fibras curtas, em função de um parâmetro de orientação das fibras
25
K. Para uma orientação das fibras aleatória no plano longitudinal, tem-se, por
exemplo, K = 0,33; para uma orientação aleatória tri-dimensional, o valor é de
0,18.
)1()
2
1(
'
fmf
f
c
fuclu
l
l
K
φσφσσ
+=
(2.38)
As equações (2.37) e (2.38) fornecem estimativas para a resistência à
tração longitudinal do compósito com fibras descontínuas, controlada pela ruptura
das fibras, desde que a fração volumétrica de fibras seja maior do que um valor
crítico, definido de modo análogo àquele usado no caso de fibras contínuas. Assim
sendo, no caso de fibras curtas a fração volumétrica mínima e a crítica assumirão
os valores dados pelas equações (2.39) e (2.40).
'
'
min,
)
2
1(
mmu
f
c
fu
mmu
f
l
l
σσσ
σσ
φ
+
= (2.39)
'
'
)
2
1(
m
f
c
fu
mmu
fcrit
l
l
σσ
σσ
φ
=
(2.40)
Nessas equações,
σ
fu
e
σ
mu
, representam, respectivamente, as resistências
à tração de fibras e matriz e
σ
m
é a tensão na matriz na deformação de ruptura
das fibras. Fica evidente que os valores das frações volumétricas mínima e crítica,
para um mesmo sistema fibra-polímero, são ligeiramente maiores para um
compósito de fibras curtas em comparação com o de fibras contínuas; à medida
que o comprimento da fibra (l
f
) aumenta, ou seja, à medida que a relação (l
c
/l
f
)
tende para zero, esses valores se aproximam. No caso de compósitos com
comprimento de fibras menor do que o valor crítico, evidentemente, a falha do
compósito não será mais controlada pela ruptura das fibras, pois a tensão máxima
na fibra vai ser sempre menor do que a sua tensão de ruptura. Nesse caso, há
duas possibilidades de falha no compósito: a) falha na ligação interfacial entre
fibra e matriz, com o correspondente arrancamento (“pull-out”) da fibra da matriz,
ou b) falha da matriz em tração. Na primeira alternativa, a resistência à tração
26
longitudinal do compósito será dada pela equação (2.41); na segunda, pela
equação (2.42).
)1(
''
fmf
f
f
clu
d
l
φσφ
τ
σ
+
= (2.41)
()
fmuf
f
y
clu
d
l
φσφ
τ
σ
+
= 1
(2.42)
Onde
τ
é a resistência ou tensão de cisalhamento na interface fibra/matriz e
σ
m
é
a tensão na matriz no desacoplamento da fibra
τ
y
é a tensão de escoamento sob
cisalhamento da matriz e
σ
mu
é a resistência à tração da matriz.
Figura 2. 6 - Principais fatores que afetam a resistência de termoplásticos
reforçados [13].
Conforme descrito na equação (2.37) sobre a teoria de reforçamento
simplificada de compósitos poliméricos, resumimos na Figura 2.6 de forma clara, a
influência dos principais parâmetros materiais que influenciam em maior ou menor
grau na eficiência de reforçamento de termoplásticos com fibras curtas. Pode-se
verificar neste gráfico que a resistência do compósito desloca ao longo da curva
sigmoidal, através do ponto de referência na curva em “S” para valores maiores ou
menores em função do comprimento da fibra. Um aumento na concentração e
grau de orientação da fibra desloca a curva verticalmente para cima. Esta curva
também é deslocada horizontalmente à esquerda para comprimentos menores da
27
fibra com aumento da adesão interfacial fibra-polímero, conforme as equações
(2.31) e (2.37) já demonstradas. Quando a adesão interfacial é incrementada pelo
uso de uma agente de acoplagem interfacial no tratamento superficial da fibra
numa matriz polimérica funcional (ex.: nylons ou poliésteres) ou no caso de uma
matriz inerte como de PP em combinação com um compatibilizante interfacial
polimérico (normalmente, a própria matriz de PP funcionalizada com anidrido
maleico ou ácido acrílico), a curva inteira é deslocada para a esquerda e com
desempenho superior do compósito, conforme estipulado na equação (2.31) de
Kelly-Tyson. Portanto, é importante ressaltar a influência marcante do processo de
compatibilização interfacial fibra-polímero para aumentar a eficiência de
reforçamento de termoplásticos reforçados.
As fibras de vidro longas (l
f
> 5-10 mm) proporcionam resistência superior
ao compósito do que as fibras curtas (l
f
= 0,2 – 1,0 mm), pelo fato das primeiras se
aproximarem do comportamento de fibras contínuas [13].
Assim, as propriedades mecânicas dos compósitos serão dadas pela soma
das contribuições das fibras curtas nas duas situações de l
f
l
c
e l
f
< l
c
, visto que
existirão estas condições após a sua fabricação no processo de
composição/compostagem, associadas às características resultantes da interface.
A maioria dos compósitos termoplásticos reforçados com fibras curtas
(TPRFVc) contém fibras com uma larga distribuição de comprimentos dispersos
com uma orientação semi-aleatória, mais próxima de uma orientação aleatória
planar. Entretanto, o fluxo durante o seu processo de moldagem em produtos
acabados normalmente resulta em distribuições de orientações mais complexas,
dependentes da geometria do componente e dos parâmetros de moldagem. Para
tratar o problema da variação de comprimentos, é necessário determinar a
distribuição da razão de aspecto das fibras. Então, se a resistência ao
cisalhamento for conhecida, a eficiência de cada fibra poderá ser determinada
usando-se o modelo de Kelly-Tyson. O procedimento mais simples é usar a razão
de aspecto e os dados de orientação para produzir duas constantes que podem
ser aplicadas na equação de Voigt de isodeformação:
28
)1(
0 fmfflc
EEE
φ
φ
η
η
+
=
(2.43)
Onde
η
l
e
η
0
são as constantes de comprimento e de orientação, respectivamente.
Elas possuem o valor máximo de 1 (quando as fibras contínuas estão alinhadas
longitudinalmente), sendo a eficiência do reforço igual à de fibras contínuas. Para
compósitos TPRFVc moldados, valores entre 0,3 e 0,5 são típicos.
Uma metodologia apresentada por Bowyer-Bader pode ser usada para
predizer a resposta tensão – deformação dos TPRFVc. Seguindo a análise de
Kelly-Tyson, a tensão no compósito (
σ
c
) numa dada deformação
ε
c
pode ser
computada ajustando-se a resposta a uma forma como a da equação (2.43) com
dois parâmetros: o fator de orientação das fibras,
η
0
, e a resistência ao
cisalhamento interfacial
τ
.
)1(
4
1
0
0 fmc
Rc
Rc
y
fc
yfcxxc
E
R
E
ER
φε
τ
ε
φετφησ
+
+=
∑∑
(2.44)
Onde R
c
= l
c
/d
f
é a razão de aspecto crítica das fibras (R
y
> R
c
> R
x
), R
x
é a razão
de aspecto das fibras subcríticas, R
y
é a razão de aspecto das fibras supercríticas,
e l
c
é o comprimento crítico da fibra.
Desde que a distribuição de tamanhos de fibras não seja estreita e R
c
função de
ε
c
, o termo
τφ
x
Rc
x
R
0
será a contribuição das fibras subcríticas e o termo
τ
ε
φε
y
fc
yf
Rc
c
R
E
E
4
1
será a contribuição das fibras supercríticas. A contribuição da
matriz será
)1(
fmc
E
φ
ε
[3].
No caso específico de termoplásticos reforçados com fibras curtas, a
eficiência da fibra no reforço da matriz termoplástica depende da relação de
módulos fibra-matriz (E
f
/E
m
). A relação ótima sugerida é de 50:1 [16]. A explicação
para este fato pode ser obtida pela análise da equação (2.24), onde o aumento
substancial na relação de módulos E
f
/E
m
do compósito contribui para elevado nível
de tensões na interface e, inevitavelmente, levando a falha por cisalhamento da
29
matriz polimérica na interface polímero-fibra. Assim, a matriz de baixa resistência
fica impedida de transferir eficientemente a tensão para a fibra de alto reforço [13].
A resistência do compósito pode ser melhorada transmitindo-se a força
aplicada para as fibras através da resistência ao cisalhamento na interface fibra-
matriz. Conseqüentemente, a resistência do compósito é altamente influenciada
pela resistência ao cisalhamento na interface. Quando uma tensão é aplicada na
direção de orientação das fibras, resistência ao cisalhamento na interface (
τ
) é
maior nos finais de fibra e decai a zero coma distância a partir do final da fibra até
o centro desta, e vice-versa: a tensão na fibra (
σ
f
) é zero no final e atinge um valor
de platô a certa distância da extremidade. O comprimento da fibra no qual
σ
f
pode
atingir o platô é o comprimento crítico de fibra l
c
, já citado anteriormente (equação
2.31).
O comprimento crítico é dependente da temperatura, aumentando com o
aumento desta. Este efeito é causado pela dependência em relação à temperatura
da resistência ao cisalhamento da matriz, a relaxação de tensão térmica, e
ligações secundárias na interface.
2.2.1.4 MÓDULO DE COMPÓSITOS COM FIBRAS CURTAS
As relações e variantes da regra de misturas são obtidas através de
aproximações simplificadas de resistência dos materiais. Assim, para a obtenção
das constantes elásticas dos compósitos fibrosos devem ser usados modelos
micromecânicos mais compreensíveis, baseados na teoria de elasticidade.
Diversas equações empíricas foram desenvolvidas e propostas, fornecendo
resultados bastante satisfatórios, quando comparados com os das soluções
exatas, para as propriedades mecânicas de compósitos fibrosos. Dentro dessa
categoria, um conjunto de equações das mais conhecidas e utilizadas é o que
corresponde às equações de Halpin -Tsai. Além destas poderem prever os
30
módulos longitudinais e transversais de compósitos unidirecionais, elas também
podem ser usadas para estimar os módulos longitudinal e transversal do
compósito com fibras curtas, orientadas na direção de carregamento. Uma
expressão geral para essas equações pode ser dada pela equação (2.45), onde
p
c
, p
m
e p
f
são representam o módulo do compósito (E
11
, E
22
, G
12
ou G
23
), da
matriz e da fibra, respectivamente.
f
f
m
c
p
p
ηφ
ξ
η
φ
+
=
1
1
(2.45)
A função
η
foi construída de modo a satisfazer as condições extremas, isto
é, quando a fração volumétrica de fibras for igual a zero, deve-se ter,
obrigatoriamente, p
c
= p
m
; no outro extremo, quando a fração volumétrica de fibras
for igual à unidade, deve-se ter p
c
= p
f
. A equação (2.46) representa essa função.
ξ
η
+
=
)(
1)(
m
f
m
f
p
p
p
p
(2.46)
O termo
ξ
é uma medida do reforçamento que depende das condições de
contorno (geometria da fibra, distribuição das fibras, e condições de
carregamento). Este é um fator empírico que é usado para fazer a equação (2.46)
se ajustar aos dados experimentais.
Assim,
ξ
assume valores diferentes, conforme a geometria e a distribuição
das fibras e as condições da solicitação do compósito. Observe-se que se
ξ
= 0,
valem os resultados do inverso da regra das mistruras, isto é, a propriedade do
compósito é dada por uma expressão do tipo da equação (2.14), e se
ξ
= , a
propriedade é calculada com uma expressão equivalente à equação da regra das
misturas, ou equação (2.1). Assim, valores de
ξ
entre 0 e fornecerão expressões
para p entre estes extremos. Já se
φ
f
= 0, p
c
= p
m
e se φ
f
= 1, p
c
= p
f
. Halpin e Tsai
sugeriram esta equação geral pode ser modificada substituindo-se
ξ
= 2(l
f
/d
f
) para
se obter o módulo longitudinal do compósito (substituindo-se também p
m
por E
m
31
(módulo da matriz) e p
c
por E
c
, módulo do compósito). Outro caso seria a
substituição de
ξ
por 2 (dependendo do arranjo das fibras), obtendo-se assim o
módulo transversal do compósito. Assim, eles previram que o módulo transversal
de um compósito reforçado com fibras curtas alinhadas não é influenciado pela
razão de aspecto da fibra (l
f
/d
f
) sendo seu valor igual ao do módulo transversal de
compósito reforçados com fibras contínuas [15]. Resumindo, temos na Tabela 2.1
os parâmetros que são comumente utilizados para se calcular os módulos
longitudinais e transversais em tração, o módulo de cisalhamento longitudinal e a
razão de Poisson.
Tabela 2. 1 - Parâmetros tradicionais utilizados na equação 2.45 para compósitos
com fibras curtas [17].
P Pf Pm
ξ
Comentário
E
11
E
f
E
m
2(l
f
/d
f
) Módulo longitudinal
E
22
E
f
E
m
2 Módulo transversal
G
12
G
f
G
m
1 Módulo de cisalhamento
ν
12
Razão de Poisson, = ν
f
.φ
f
+ ν
m
. φ
m
A seguinte equação empírica [16] é usada para se prever o módulo elástico
de compósitos contendo fibras orientadas aleatoriamente no plano:
2211
8
5
8
3
EEE
aleatório
+= (2.47)
L. E. Nielsen [16] modificou as equações de Halpin-Tsai incluindo a fração
de empacotamento máximo do reforço na estimativa do módulo elástico. As
equações, para o caso do módulo elástico, são:
f
f
m
c
E
E
φη
ζ
η
φ
Ψ
+
=
1
1
(2.48)
ζ
η
+
=
mf
mf
EE
EE
/
1/
(2.49)
32
f
máx
máx
φ
φ
φ
+Ψ
2
1
1
(2.50)
Onde
φ
máx
é o fator de empacotamento máximo. Este permite considerar a fração
máxima de empacotamento. Para um arranjo cúbico das fibras contínuas,
φ
máx
=
0,785, enquanto que para um arranjo hexagonal,
φ
máx
= 0,907. Em geral, φ
máx
está
entre estes dois extremos e próximo do arranjo aleatório,
onde φ
máx
= 0,82 [11].
2.2.2 TENACIDADE EM COMPÓSITOS POLIMÉRICOS
A tenacidade do compósito pode ser definida como a energia absorvida ou
dissipada durante a propagação da trinca. A energia pode ser absorvida ou
dissipada deformando-se a interface e a matriz, pela ocorrência de
desacoplamento (“debonding”) da interface e finalmente puxando-se a fibra
desacoplada da matriz (“pull-out). A presença de fibras num sistema sob
carregamento faz com que a energia imposta pela solicitação mecânica seja
distribuída no sistema através de alguns mecanismos como o de desacoplamento
(“debonding”), quando a matriz se separa da fibra em energia que absorve o
deslizamento da matriz contra a fibra, seguida da energia de arrancamento (“pull-
out”), que se refere especificamente àquelas fibras que são arrancadas após o
crescimento da trinca na matriz.
O trabalho específico de fratura no arrancamento (“pull-out”) da fibra pode
ser formulado assumindo-se fratura aleatória da fibra, tal que o comprimento
médio de fibra exposta na superfície de fratura seja l
c
/4, constante resistência ao
cisalhamento e ausência de fluxo plástico na matriz. A fórmula proposta por A. H.
Cottrel [18] e A. Kelly [19] é:
τ
σφσφ
2412
2
fffcff
outpull
dl
W ==
(2.51)
33
O trabalho de fratura é atribuído ao trabalho friccional em puxar a fibra
quebrada.
Não-uniformidades na resistência ao cisalhamento interfacial foi
posteriormente considerada, baseada na análise de H. L. Cox [20] para a
distribuição de tensão cisalhante ao longo da interface. Para compósitos nos quais
as fibras são menores que o comprimento crítico de fibra, o trabalho de fratura
será:
()
dxxxx
dl
W
x
f
outpull
)(2/1
8
2/1
0
τ
φ
=
=
para l
f
l
c
(2.52)
Quando o comprimento da fibra é maior que o comprimento crítico,
dxxxx
l
l
l
dl
W
x
c
f
c
f
outpull
)(
2
8
2/1
0
τ
φ
=
=
para l
f
l
c
(2.53)
Estas equações predizem que o trabalho de fratura será maior quando o
comprimento de fibra é igual ao comprimento crítico l
c
.
O trabalho de fratura na interface W
if
descrito por C. Gurney [21] é:
f
ff
if
E
d
W
8
2
σ
=
(2.54)
Onde E
f
denota o módulo de Young da fibra e
σ
f
é a tensão aplicada à fibra. O
processo de desacoplamento (“debonding”) pode ser expresso pela equação de
M. C. Murphy e J. O. Outwater [22], que é derivada equacionando-se a energia
para deformação em um comprimento de fibra sob tensão para o trabalho de
fratura.
f
df
debonding
E
L
W
2
2
φσ
=
(2.55)
Onde L
d
é o comprimento médio de fibra que sofreu desacoplamento
(“debonding”).
Quando ocorre a fratura da fibra, a energia de deformação é redistribuída
da fibra para a matriz. O trabalho de fratura devido à redistribuição da energia de
34
deformação é atribuído à energia de deformação perdida na fibra. M. J. Piggott
[23] propôs a seguinte equação:
τ
σφσφ
f
fff
f
cff
redist
E
d
E
l
W
63
32
==
(2.56)
Uma outra equação, que leva em consideração a energia absorvida em
novas superfícies criadas na fibra, matriz e interface [24] é:
τ
σ
φ
φφ
φ
φφ
2
)1()1(
sup
ifff
mfff
f
ifcf
mffferfície
W
WW
d
Wl
WWW
++=++=
(2.57)
Onde W
f
é o trabalho de fratura da fibra e W
m
é o trabalho de fratura da matriz
[25].
Figura 2. 7 - Efeito da interface fibra-polímero no avanço da trinca: (a) resistência
adesiva da ligação igual à resistência coesiva da matriz; (b) resistência adesiva da
ligação muito menor que a resistência coesiva da matriz [26].
35
Se a resistência adesiva da interface fibra-polímero estiver próxima da
resistência coesiva do polímero, as fibras permitirão a passagem da trinca, ou
seja, a propagação de trinca ocorrerá através da matriz e as fibras, sem a
ocorrência de desacoplamento (“debonding”) na interface, ou seja, a interface
presente do outro lado do plano da trinca permanecerá intacta (Figura 2.7-a). Já
se a resistência adesiva for menor que a resistência coesiva da matriz, as tensões
paralelas na ponta da trinca causarão desacoplamento na interface com o avanço
da trinca. A propagação de uma trinca secundária depende de tensões residuais
na interface. A propagação da trinca interfacial pode causar uma terminação
completa da trinca primária ou a reiniciação desta em um outro nível (Figura 2.7
b). Isto foi interpretado usando-se W
pull-out
(equação 2.51) em conjunção com a
dependência do comprimento crítico de fibra na resistência ao cisalhamento
interfacial (equação 2.31). Além disso, a resistência adesiva será afetada pela
presença de um compatibilizante interfacial. A presença do compatibilizante
mudará a energia interfacial superficial para fratura, já que com a presença do
compatibilizante interfacial teremos a presença de ligações químicas na região
interfacial. Estas ligações químicas são ligações bem mais fortes que o simples
intertravamento mecânico, resultante da contração diferencial dos materiais. Estas
ligações químicas farão com que maiores níveis de energia sejam requeridos para
que haja um desacoplamento da fibra [26].
2.3 ASPECTOS GERAIS SOBRE A INTERFACE FIBRA/MATRIZ
2.3.1 INTERFACE / INTERFASE
A interface é a região de contato entre os componentes do compósito; ela é
o fator crítico que determina até que ponto as propriedades mecânicas em
36
potencial do compósito serão atingidas e mantidas durante seu uso em serviço, ou
seja, é a principal responsável pela transferência da solicitação mecânica da
matriz para o reforço. As tensões localizadas se concentram normalmente nas
proximidades da interface e dependendo da natureza das interações entre o
polímero e o elemento de reforço nesta, as tensões podem funcionar como um
foco para falha prematura do compósito. A interface deve, portanto, apresentar
características físicas e químicas adequadas para promover uma eficiente
transferência de tensão da matriz para o elemento de reforço. O desempenho de
um compósito é resultado do comportamento conjunto da fibra ou do elemento de
reforço, da matriz e da interface.
A interface é comumente definida como uma superfície matematicamente
bidimensional, dividindo duas fases ou componentes distintos em um compósito. A
interface, para compósitos poliméricos, é caracterizada por uma mudança nas
propriedades mecânicas e, freqüentemente, na composição química. Esta
superfície bidimensional não possui nenhuma propriedade sozinha. Pode-se
considerar que a transferência de tensão acontece na interface, que é então
caracterizada por uma única propriedade que é a resistência ao cisalhamento
interfacial. Esta aproximação é freqüentemente usada quando há uma ênfase na
ligação química entre os constituintes como um parâmetro de controle da resposta
mecânica do compósito [27].
Já a interfase é uma camada tridimensional na vizinhança imediata da
superfície da fibra, possuindo propriedades físicas diferentes das duas fases
principais em um compósito. Geralmente este termo é limitado a camadas
introduzidas intencionalmente de uma maneira controlada, realizando uma
engenharia das camadas de interfase. Nestas camadas, também pode existir um
gradiente de composição química e de propriedades físicas. Uma das principais
dificuldades é a definição e a avaliação da espessura da interfase e suas
propriedades, principalmente rigidez e resistência à fratura [27]
A presença do agente de acoplagem na interface pode ser a melhor
maneira de assegurar otimização das propriedades físicas e químicas do
37
compósito, como também da manutenção destas propriedades quanto da
exposição às intempéries e ao envelhecimento.
A adesão entre matriz e reforço na região interfacial depende de dois
fatores: o grau de contato (molhabilidade) das diferentes superfícies na interface e
das forças coesivas (adesividade interfacial) nesta mesma região [28].
2.3.2 ADESIVIDADE E MOLHABILIDADE
Uma boa adesão é resultante da formação de ligações atômicas e
moleculares, uniformemente ao longo de toda a interface entre fibra e matriz. A
resistência dessa adesão, entretanto, pode variar com fracas ligações tipo van der
Waals, até as fortes ligações covalentes ou iônicas.
É importante controlar o grau de ligação entre a matriz e o reforço.
Diferentes mecanismos de ligação (por exemplo: ligação mecânica, química, etc.)
podem ser identificados, os quais podem agir separadamente ou conjuntamente.
Ligações puramente por “intertravamento mecânico” podem ser resultantes de
uma contração da matriz sobre a fibra durante o processo de moldagem. Na
maioria dos casos, entretanto, esse intertravamento mecânico não é suficiente
para uma boa adesão, pois a uma temperatura mais elevada ou sob carregamento
mecânico, as diferenças de expansão de fibra e matriz podem aliviar esse
intertravamento. Apesar de sozinho o intertravamento não ser suficiente na grande
maioria dos casos, este se mostra bastante eficiente na transferência de tensão da
matriz para a fibra de reforço, quando a tensão aplicada é paralela à interface. No
caso de ocorrência de ligação química, pode ocorrer a formação de uma solução
sólida molecular ou de um composto, na interface, resultando numa zona
interfacial com certa espessura, normalmente denominada de interfase [29].
Já a molhabilidade está relacionada à extensão na qual o contato é possível
em nível molecular. Este termo é usado para descrever quanto o sólido é molhado
38
pelo líquido ou quando um líquido se espalha numa superfície sólida. No caso do
compósito, o líquido corresponde à resina (matriz) e a superfície sólida à fibra.
Pode-se medir a molhabilidade, considerando o equilíbrio de forças em um
sistema constituído por uma gota de líquido, em repouso, sobre uma superfície
sólida, como mostra o esquema da Figura 2.8.
Figura 2. 8 - Equilíbrio das forças em sistema consistindo de uma gota sobre
substrato sólido [29].
Uma gota vai se espalhar numa superfície sólida somente se isso resultar
em uma redução da energia livre do sistema; nesse caso, uma parte da interface
inicial sólido-vapor será, então, substituída por uma interface líquido-sólido, e isso
só acontecerá se a relação dada pela equação (2.58) for satisfeita, sendo
γ
LS
a
energia superficial específica do contato líquido-sólido,
γ
LV
a energia superficial do
contato líquido-vapor e
γ
SV
do contato sólido-vapor. Se essa condição não for
satisfeita, não ocorrerá molhamento espontâneo da superfície sólida pelo líquido.
γ
SL
+ γ
LV
< γ
SV
(2.58)
O líquido vai se espalhar até que um balanço de forças, atuando na
superfície, seja atingido; nesse caso tem-se um molhamento que pode ser definido
pelo ângulo
θ
(chamado ângulo de molhamento). Esse ângulo seria aquele que a
gota de líquido faz com a superfície sólida, como mostrado na Figura 2.8. De um
equilíbrio de energias tem-se a relação (2.59), com a qual se determina o ângulo
θ
.
γ
SL
+ γ
LV
cos θ = γ
SV
(2.59)
LV
SLSV
γ
γ
γ
θ
=cos
(2.60)
39
O ângulo de molhamento depende da natureza da superfície sólida, da
existência ou não de gases absorvidos ou de filmes de óxidos, da temperatura e
da rugosidade superficial. Esta última diminui o ângulo de molhamento, como
ilustra a expressão (2.61), onde r é o fator de rugosidade.
LV
SLSV
r
γ
γ
γ
θ
=
cos
(2.61)
Quase todos os líquidos têm a sua tensão superficial (
γ
LV
) diminuída com o
aumento da temperatura, aumentando, portanto, sua molhabilidade [11]. A tensão
superficial de polímeros fundidos (
γ
LV
) praticamente tem seu valor diminuído
“linearmente” quando a temperatura de molhamento é aumentada, ocorrendo
assim uma maior interação como o reforço [29].
A adsorção de um vapor líquido em um sólido diminuirá a tensão superficial
do sólido. Isto ocorre quando o vapor possui uma tensão superficial similar ou
menor que a do sólido. A pressão de espalhamento (aumento da área superficial
da interface pelo movimento da frente líquida), na condição de equilíbrio (
π
e
) é
dada pelo decréscimo da tensão superficial devido à adsorção de vapor.
O equilíbrio mecânico entre as forças interfaciais atuantes nas condições de
contorno da Figura 2.8 considera que a resultante dos componentes verticais é
balanceada pela tensão elástica induzida no sólido
γ
LV
.sen θ, e considerando a
superfície rígida, a deformação é muito pequena, bem como o efeito
termodinâmico da gravidade.
Se este processo de substituição da interface sólido-vapor implica em um
aumento na energia livre do sistema, então um molhamento espontâneo completo
não acontecerá sob tais condições, onde o líquido se espalhará na superfície
sólida até que um balanço de forças atuantes na superfície seja alcançado, ou
seja, ocorrerá um equilíbrio com molhamento parcial. Para que ocorra um
molhamento completo durante a etapa de incorporação da fibra, a energia
superficial da matriz deve ser menor do que a energia superficial crítica da
superfície do reforço.
40
Um baixo ângulo de molhamento entre o líquido e o substrato indica boa
molhabilidade. O ângulo
θ
tenderá a zero à medida que o líquido aumenta o seu
grau de molhabilidade sobre o substrato até o ângulo
θ
se igualar a zero, quando
ocorrerá o “molhamento perfeito”, e o vapor adsorvido no sólido será apenas
suficiente tal que
π
e
= γ
S
- γ
LV
-γ
SL
e γ
SV
- γ
LV
-γ
SL
= 0, onde
π
e
é a pressão de
espalhamento de equilíbrio do vapor no substrato.
Estes parâmetros de molhamento, dentro das hipóteses consideradas
anteriormente para condição em equilíbrio, podem ser correlacionados com a
energia de adesão através do trabalho de adesão (W
ad
). Considerando que o
líquido esteja em equilíbrio com seu próprio vapor saturado e o sólido em
equilíbrio com o vapor saturado do líquido, o trabalho de adesão pode ser definido
como sendo [29]:
W
ad
= γ
SV
+ γ
LV
-γ
SL
= γ
LV
.(1 + cos θ) (2.62)
Através da equação (2.62), pode-se afirmar que o trabalho de adesão entre
o reforço e a matriz (interface) iguala ou supera o trabalho de coesão da resina,
quando o ângulo de molhamento
θ
for igual a zero (molhamento perfeito). A matriz
polimérica molha a superfície sólida da fibra, quando as forças de atração fibra-
matriz (forças adesivas) igualam ou superam as forças de atração líquido-líquido
(forças coesivas na resina).
Boa adesividade implica que ligações atômicas (ou moleculares) devem ser
formadas uniformemente ao longo de toda a interface. A resistência da ligação
interfacial pode variar desde fracas ligações secundárias de van der Waals até
fortes ligações primárias covalentes. Um contato mais íntimo a nível atômico ou
molecular ajuda na adesividade.
A influência da fase sólida sobre o ângulo de molhamento pode ser
representada por três fatores: tensão superficial de reforço (
γ
SV
), rugosidade da
superfície e temperatura de molhamento. A tensão superficial do reforço (
γ
SV
)
depende das forças interatômicas ou intermoleculares na superfície. Estas forças
podem ser modificadas através de tratamentos superficiais, como por exemplo,
41
reação química por uma melhor compatibilização interfacial fibra-matriz que
proporcione diferentes características de molhabilidade.
A rugosidade superficial afeta a molhabilidade. A gota de um líquido em
uma superfície pode residir em dois tipos de equilíbrio: estável, quando o estado
de energia é mínimo; metaestável, quando a energia é separada por barreiras de
energia entre estados vizinhos. O ângulo de molhamento em equilíbrio obtido em
uma superfície idealmente lisa é o “ângulo de Young”, sendo que, com a
minimização da energia livre do sistema, será igual ao ângulo chamado de
“intrínseco” (
θ
0
), conforme visto na Figura 2.9 [29].
Em uma superfície rugosa, a existência de numerosos estados
metaestáveis próximos, resulta em histerese, que é representada pela diferença
entre os ângulos
θ
a
-
θ
r
de uma superfície inclinada conforme a Figura 2.9 – a,
onde
θ
a
seria o ângulo de avanço e
θ
r,
o ângulo de recuo, que aparecem devido à
inclinação do substrato. Na Figura 2.9 – b temos a relação entre o ângulo
intrínseco local (
θ
0
) e o ângulo macroscópico (
θ
) entre as duas fases.
Na superfície rugosa, a razão entre a área de superfície (A
s
), levando em
consideração os picos e os valores na superfície, e a área de superfície aparente
(A
s
) é definida como o fator de rugosidade (r) da superfície. Assim, a equação de
Wenzel é obtida: r = A/A’
r . dA
LV
= cos θ . dA
SL
, então:
0
cos
cos
θ
θ
W
r =
é o fator de rugosidade da superfície (2.63)
Onde
θ
W
é o ângulo de Wenzel e
θ
0
é o ângulo de contato intrínseco.
Se
θ
0
< 90º, logo o ângulo de Wenzel (θ
W
) diminui com o aumento da
rugosidade (r) e um molhamento espontâneo completo ocorrerá à uma rugosidade
crítica igual a
0
cos
1
θ
=
c
r
. A fibra de vidro tratada com silano apresenta uma
superfície de profundidade e largura da rugosidade em torno de 0,33 e 3,4 nm,
respectivamente [29].
42
Figura 2. 9 - Ângulo de contato θ entre a gota de uma resina e a superfície rugosa
inclinada da fibra (a); Configurações metaestáveis da resina líquida em uma
superfície rugosa da fibra (b) [29].
2.3.3 AGENTES DE ACOPLAGEM E COMPATIBILIZANTES INTERFACIAIS
A principal razão para o aumento no uso dos agentes de acoplagem em
compósitos reforçados com fibras de vidro advém da necessidade de uma
eficiente transferência de tensão mecânica da matriz polimérica para o reforço
fibroso via fortes ligações adesivas na interface polímero/fibra de vidro, que
possuem origens químicas bem diferentes.
Vários fatores são responsáveis pela aproximação no desempenho entre os
compósitos de plásticos de engenharia e os compósitos com resinas de PP. Os
resultados das pesquisas sobre a acoplagem interfacial nos compósitos de PP/FV
mostram que estes apresentam propriedades mecânicas que se aproximam do
limite de perfeita acoplagem, podendo assim ser descritos como plásticos de
engenharia [30].
A maioria das cargas e reforços utilizados como reforços possui caráter
polar. O polipropileno, por outro lado, tem caráter apolar. Assim, uma pobre
43
adesão entre a superfície dos reforços fibrosos e a matriz de PP impede o
molhamento das fibras pelo polímero fundido. Esta falha leva a um reforçamento
não muito eficiente, fazendo com que o compósito apresente baixas propriedades
mecânicas. Existem vários procedimentos que podem ser realizados para se
superar estes problemas. Um método freqüentemente usado seria tratar as fibras
com algum tipo de tratamento superficial, com o uso de silanos, por exemplo, que
tornariam sua superfície mais hidrofílica. As substâncias usadas no tratamento
superficial reagem com a superfície dos reforços e com o polímero (se este
possuir grupos reativos, o que não ocorre com o PP) para aumentar a adesão
entre os dois. Uma outra alternativa seria modificar quimicamente o PP com a
adição nesta matriz de cadeias com grupos polares reativos, como é o caso do
uso de ácido acrílico ou anidrido maleico, já que a reatividade do PP é baixa [30].
Agentes de acoplagem são constituídos de moléculas que possuem dois
tipos diferentes de funcionalidade, promovendo maior adesão pela modificação
química interfacial, favorecendo a ligação covalente entre duas superfícies. São
utilizados normalmente em fibras de vidro empregadas para reforçamento de
polímeros, melhorando a adesividade entre os componentes e a molhabilidade
das fibras pela resina e permitindo transferência de tensão da matriz para a fibra
mais eficiente. Portanto, o uso de agentes de acoplagem deve melhorar as
propriedades mecânicas do compósito, aumentando assim o seu desempenho. Os
promotores de adesão mais utilizados em superfícies inorgânicas, como a das FV,
são à base de silanos organofuncionais, titanatos ou zirconatos, caracterizados
pela dupla funcionalidade. Várias teorias de promoção de adesão por silanos
foram propostas, sendo que a teoria por ligação química permanece a mais
aceitável [29].
As moléculas do silano são grupos multifuncionais, com uma estrutura geral
R’-SiX
3
, onde X são os grupos hidrolisáveis (por exemplo, C
2
H
5
ou CH
3
) ligados ao
átomo de silício e R’ são os grupos organofuncionais (epóxi, amino, etc.)
hidrolisados em “sizing” de solução aquosa contendo silano compatíveis com o
44
polímero orgânico a ser associados às fibras, resultando em silanóis com
trihidroxilas (r-Si (OH)
3
), chamados silanotrióis, como mostrado na Figura 2.10 a.
No mecanismo de acoplagem, primeiro os silanos são hidrolisados em água
gerando os trihidroxisilanóis. (Figura 2.10 a). Existe então a geração das ligações
por pontes de hidrogênio formadas entre os grupos hidroxilas presentes na
superfície do vidro com os grupos silanóis do silano (Figura 2.10 b), formando
monocamadas ou multicamadas dependendo da concentração da solução (0,1 a
2%) e da condição do tratamento superficial. Essa hidrólise geralmente é
catalisada, ajustando o pH para aproximadamente 3,5 com ácido acético. O
mecanismo de hidrólise é reversível, sendo que durante a secagem das fibras ou
imersão prolongada em água à temperatura ambiente, duas reações químicas
ocorrem simultaneamente: condensação entre os grupos silanóis do silano e da
superfície do vidro para formar a ligação éter entre o silano e o vidro na primeira
camada de acoplagem (com dimensões nanométricas) e a reação de
condensação entre os grupos silanóis de moléculas adjacentes do silano para
formar uma camada de polisiloxano (com dimensões micrométricas) ligada
covalentemente à superfície do vidro, como mostrado na Figura 2.10 c; isto é,
reação de condensação entre os silanos hidrolisados ligados à superfície do vidro.
E vice-versa no caso da secagem das fibras. Por último, o grupo funcional
orgânico R’ reage quimicamente com a resina (ligação covalente forte) ou se une
às cadeias poliméricas através de entrelaçamento (forças de van der Walls),
Figura 2.10 d.
A teoria da ligação ou ponte química, embora sendo a mais conhecida
dentre as teorias para explicar o funcionamento do silano, tem certas restrições. O
modelo de interface mostrado na Figura 2.10 b resultaria numa força de ligação
excepcional nessa região (50 a 100 kcal/mol), o que levaria a falhas na interface
mesmo a baixas deformações [29]. Além disso, sob condições industriais de
aplicação de agente silano a partir de soluções aquosas, ligações covalentes entre
o agente e a superfície da fibra de vidro não ocorreriam a menos que aminas
primárias ou secundárias estivessem presentes.
45
Figura 2. 10 - Reações e funções do agente de acoplagem silano: a) hidrólise do
silano para trihidroxisilanol; b) pontes de hidrogênio entre as hidroxilas do silanol e
do vidro; c) polisiloxano ligado à superfície de vidro; d) grupos funcionais R
compatíveis com o polímero após reação com a matriz [11].
Embora se tenha mostrado que os silanos podem formar ligações
covalentes com a superfície do vidro, sabe-se que estas ligações são hidrolisáveis
pela água. Em condições extremamente críticas, nas quais o silano é aplicado à
fibra de vidro a partir de soluções aquosas, sugere-se que pontes de hidrogênio
entre os silanóis do agente de acoplagem e a superfície do vidro sejam o modo
predominante de interação [29]. Considera-se que as ligações de pontes de
hidrogênio entre o “sizing” e a fibra são ligações eficientes, porém, não se garante
que haja um recobrimento completo da superfície da FV, podendo, portanto, haver
falhas ao longo da camada depositada.
Segundo E. P. Plueddemann [31], apesar das ligações covalentes entre o
silano e a fibra de vidro poderem ser destruídas por hidrólise, as interações entre
esses materiais podem ser reversíveis mediante o deslizamento entre eles,
46
estabelecendo-se assim, uma espécie de equilíbrio dinâmico. A presença de água
na interface faz com que a ligação covalente M-O seja hidrolisada (Figura 2.11 a).
Se ocorrer cisalhamento paralelo na interface, polímero e fibra de vidro podem
deslizar um sobre o outro, estabelecendo novas interações interfaciais sem que
ocorra uma permanente ruptura da ligação. Essa teoria de Plueddemann é
chamada mecanismo de ligação reversível após hidrólise.
Além desta, existem outras teorias para tentar explicar o mecanismo de
adesão: teoria da camada deformável, teoria da molhabilidade superficial e teoria
da camada restringida [3].
Figura 2. 11 - a) Ligação reversível de Plueddemann associada à hidrólise; b)
Deslocamento cisalhante na interface vidro-polímero sem ruptura permanente da
ligação [11].
Os promotores de adesão devem ter boas propriedades físicas para serem
efetivos em qualquer sistema, incluindo resistências coesiva e adesiva,
características de formação de filmes, compatibilidade de ligação e serem
47
facilmente molhados pela resina. A quantidade de grupos funcionais ou óxidos
(-Si-OH ou Si-O-Si) na superfície da fibra depende da sua composição química e
do grau de hidratação. A fibra de vidro tipo E, normalmente utilizada, se hidrata
quase imediatamente em exposição à umidade devido a ~50% de óxidos alcalinos
diferentes de SiO
2
(sílica), que são higroscópicos, ou seja, a adsorção da água no
vidro é pela hidratação destes óxidos microheterogêneos.
A adição na interface de um polímero funcionalizado, ou peróxido, em
combinação com grupos funcionais reativos do silano, promove alguns benefícios
substanciais nas propriedades mecânicas de compósitos, como exemplo, de
polipropileno maleificado reforçado com fibras de vidro curtas, moldado por
injeção. A combinação da adição de PP funcionalizado com grupos carboxílicos
(anidrido maleico ou ácido acrílico), ou de um peróxido em pequenas quantidades
(0,001, a 0,1 em fração molar), com um silano insaturado, é uma das melhores
opções para a adesão e molhabilidade das fibras de vidro pelo PP [11].
Polipropileno enxertado com anidrido maleico (PP-g-MAH) é usado como
agente de acoplagem químico, ou melhor, como um compatibilizante interfacial em
compósitos de polipropileno reforçado. Esta adsorção do PP-g-MAH junto à
superfície da FV propicia um aumento da adesão interfacial entre a fibra e a matriz
polimérica [4]. Esta acoplagem envolve dois tipos de interações, a física e a
química, que propiciam a transferência de tensão efetiva da matriz de PP para o
reforço de FV, melhorando as propriedades térmicas e mecânicas do compósito.
Há, então, a formação de uma terceira fase, denominada interfase, por onde
ocorre a transferência de tensão da matriz para a FV.
2.3.3.1 FUNCIONALIZAÇÃO DO POLIPROPILENO
Polipropileno enxertado ou graftizado com anidrido maleico (PP-g-MAH) e o
PP enxertado com ácido acrílico (AA) são usados como agentes de acoplagem em
48
polipropileno reforçados e carregados. Estes agentes de acoplagem químicos
promovem uma melhor adesão interfacial entre as fibras ou partículas de carga e
a matriz polimérica. A acoplagem química envolve dois tipos de interações que
promovem a transferência de tensão efetiva da relativamente fraca matriz
polimérica para o reforço para melhorar as propriedades mecânicas e térmicas
dos compósitos. A primeira seria a interação física entre os finais da cadeia do
compatibilizante e a matriz polimérica e a segunda seria a interação química entre
os grupos funcionais presentes na superfície da fibra e os grupos reativos do
compatibilizante interfacial.
A funcionalização (enxertia) do PP é obtida através do processo de
extrusão reativa (com a degradação controlada do PP), pela incorporação de
monômeros funcionais, tais como o anidrido maleico (MAH), que conferem
propriedades únicas ao PP. Estes grupos funcionais polares promoverão uma
maior interação à superfície das FV pela sua reação química com os grupos
funcionais amino e hidroxila presentes na superfície da FV. A enxertia do
monômero funcional ao PP também pode ser conseguida por outras técnicas,
como ativação térmica ou em solução (este processo é caro, pois necessita de
posterior separação do solvente e do excesso de anidrido maleico) [30].
O anidrido maleico derivado dos ácidos carboxílicos [OCOCH:CHCO]
através da eliminação de água é apresentado na forma sólida, com massa
molecular de 98,06 g/mol ponto de fusão de 52,8 e de evaporação de 202 ºC [32].
A Figura 2.12 mostra sua estrutura molecular.
Figura 2. 12 - Estrutura molecular do anidrido maleico (MAH) [33].
49
As seqüências reais das mudanças físicas e químicas durante o processo
de extrusão não são ainda muito entendidas pelos cientistas e fabricantes de
compostos.
Qualquer processo de funcionalização baseia-se na iniciação por peróxido e
a adição de um monômero enxertado. A cisão
β da cadeia do PP (mostrada na
Figura 2.13), que leva à quebra a cadeia com aumento no índice de fluidez, é um
exemplo de reação lateral indesejável. Igualmente, a homopolimerização dos
monômeros em oligômeros é uma fonte de desperdício, pois a monosubstituição
dos grupos funcionais é preferida na melhoria da adesão da cadeia polimérica à
superfície da FV.
Ainda existem algumas controvérsias a respeito do mecanismo exato de
enxertia e sobre a estrutura química resultante deste mecanismo. Um resumo dos
mecanismos de reação possíveis está ilustrado na Figura 2.13.
Para o PP, é aceito que dois radicais livres, produzidos pela decomposição
de cada peróxido orgânico por cisão homolítica, atacam o átomo do hidrogênio no
carbono terciário da cadeia polimérica. O radical polimérico resultante causa cisão
β e redução de peso molecular do polímero, como mostrado no caminho A.
Se existir um monômero insaturado de MAH presente para reagir com o
radical polimérico, a enxertia pode ocorrer antes da cisão
β da cadeia polimérica,
como mostrado no caminho B. Isto resultará num grupo funcional ligado de forma
pendente à cadeia polimérica, como mostrado no caminho C. Esta reação C
parece improvável como uma conseqüência da estabilidade do radical anidrido,
mas a seqüência B + C é, de fato, indistinguível da seqüência A + H (mostrada a
seguir).
O caminho D pode levar à enxertia por n-reações, mas para isso, muitas
condições são necessárias para fornecer estas reações, tais como, PM muito
baixo (M
n
= 1000) para promover alta concentração de terminais de cadeias com
ligações duplas, alta concentração de MAH (20% em peso), alta temperatura
(225 ºC) e pressão, e longo tempo de reação (4 horas).
50
Figura 2. 13 - Mecanismos de reação possíveis para enxertia de anidrido maleico
na cadeia do PP no estado fundido na presença de peróxido orgânico [34].
Existem várias reações que podem ocorrer se a enxertia for possível. Estas
reações são denominadas de depolimerização (caminho E) significante apenas
acima de 300 ºC, de transferência (caminho F), e de recombinação (caminho G).
Estes dois últimos caminhos não podem ser automaticamente descartados,
necessitando serem discutidos. O caminho H mostra o radical polimérico
51
resultante podendo levar a uma enxertia. Neste caso, o monômero de MAH será
enxertado no terminal da cadeia polimérica do PP. Depois de enxertar no final da
cadeia, várias reações de terminação podem ocorre (caminhos I, J e K), onde
estes três caminhos são sujeitos à controvérsias. O radical do polímero e a
estrutura enxertada podem então proceder através de vários mecanismos de
terminação [34]. Vale ressaltar aqui que segundo o fabricante do compatibilizante
interfacial, com efetivo controle do processo de funcionalização conseguido nos
dias atuais, é possível se introduzir os grupos MAH com maior freqüência nos
terminais da cadeia do PP do que em qualquer outra posição na cadeia.
2.4 ASPECTOS GERAIS SOBRE ANÁLISE DINÂMICO-MECÂNICA (DMTA)
As propriedades dinâmico-mecânicas em compósitos são determinadas
pelas propriedades dos seus componentes, pela morfologia do sistema e
principalmente pela natureza da interface reforço-matriz polimérica, sendo o grau
de adesão entre as fases uma propriedade da interface de alta importância para o
bom desempenho dinâmico-mecânico de compósitos poliméricos [9].
Os materiais poliméricos são materiais que apresentam comportamento
viscoelástico, ou seja, apresentam simultaneamente comportamentos elástico e
viscoso sob condições deformacionais. Assim, quando um polímero é solicitado
com uma tensão cíclica senoidal, a resposta na forma de deformação será
também senoidal, mas estará atrasada em relação à tensão (ou seja, fora de
fase), ou vice-e-versa, como apresentado na Figura 2.14. Isto é resultado do
tempo necessário para que ocorram rearranjos moleculares (acomodação) ligados
ao tempo de relaxação da cadeia polimérica, segmentos dela ou também de
grupos laterais ou partes deles.
52
Figura 2. 14 - Relação entre tensão, deformação, freqüência e ângulo de fase em
DMTA de material viscoelástico (tensão média igual a zero) [35].
A análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA) testa o material em uma
região em que a resposta viscoelástica é linear, onde a tensão é diretamente
proporcional à deformação, fornecendo um valor de módulo elástico (E =
σ / ε)
constante. Deve-se, portanto, manter o nível de deformação aplicada em valores
baixos, principalmente em temperaturas baixas, onde os materiais são rígidos,
com um alto módulo de armazenamento elástico e baixa habilidade de
amortecimento mecânico. Assim, a razão entre tensão e deformação forneçará um
valor constante de módulo, em tração (E) ou em cisalhamento (G), com o módulo
independente da deformação comandada. Se isto não ocorrer, o material
começará a sofrer deformação plástica, o que indicará que uma deformação crítica
foi atingida. Após esta deformação crítica, o material sofrerá mudanças em suas
propriedades e as equações usadas para avaliar sua resposta não serão mais
válidas.
Quando um material polimérico é deformado, parte da energia é
armazenada como energia potencial e parte é dissipada como calor, sendo esta
manifestação o amortecimento mecânico ou atrito interno. Os resultados desta
análise são informações da relação entre as propriedades mecânicas do material
e seus parâmetros estruturais, tais como cristalinidade, orientação molecular,
entre outras, com variáveis externas (temperatura, tensão, freqüência, tempo,
53
etc.). Assim, parâmetros experimentais como freqüência, amplitude, taxa de
aquecimento, entre outros, além do tipo de ensaio (tração, flexão ou
cisalhamento), influenciam fortemente nos resultados. A análise DMTA possibilita
então a medição da dependência do material polimérico viscoelástico com a
temperatura através do módulo dinâmico de armazenamento (E
no caso de
ensaios em tração ou flexão ou G’ no caso de ensaios em cisalhamento),
relacionado à energia elástica armazenada como energia potencial; do módulo de
perda (E no caso de ensaios em tração ou flexão ou G’’ no caso de ensaios em
cisalhamento), associado à dissipação de energia na forma de calor quando os
materiais são deformados e, conseqüentemente, do amortecimento mecânico (ou
tangente de perda) do material (tan
δ
= E/E’ ou tan
δ
= G/G’, razão
adimensional), sendo a resposta (deformação de um material) avaliada em relação
às forças periódicas (tensão) aplicadas, ou vice-e-versa. O módulo de
armazenamento dinâmico indica a rigidez de um material sob condições de
solicitação dinâmica. Pode ser o módulo de cisalhamento (G’), de flexão ou de
tração (E’), dependendo da técnica de investigação.
Os materiais poliméricos apresentam um comportamento viscoso em
adição a uma resposta elástica, onde os parâmetros que descrevem as forças
dissipativas podem ser determinados pela quantidade de energia dissipada pela
relação entre tensão e deformação. Quando uma tensão é aplicada a um sólido
perfeitamente elástico, a deformação ocorre exatamente em fase com a tensão
aplicada. Na Figura 2.15, tem-se apresentado de maneira ilustrativa os dois
comportamentos distintos de materiais elásticos e materiais viscoelásticos, que
apresentam um amortecimento mecânico diferente de zero. No caso de um
material completamente viscoso, este responderá com a deformação em atraso de
90º com a tensão aplicada. Logo, o equipamento utilizado para análise DMTA
impõe uma tensão senoidal na amostra submetida à flexão em três pontos,
cisalhamento ou tração, onde se determinam os módulos e o tan
δ
como funções
da temperatura e da freqüência.
54
Figura 2. 15: Exemplo de comportamentos elásticos e viscoelásticos de materiais
submetidos a análise térmica dinâmico-mecânica [35].
Para um comportamento viscoelástico linear, a tensão (
σ
) e a deformação
(
ε
) podem ser expressas por:
t
ω
ε
ε
sen.
0
=
(solicitação) (2.64)
)sen(.
0
δ
ω
σ
σ
+= t
ou
tsentsen
ω
δ
σ
ω
δ
σ
σ
coscos
00
+=
(resposta) (2.65)
Onde
ω
é a freqüência angular e
δ
é o ângulo de fase.
Em materiais viscoelásticos, a deformação resultante estará defasada da
tensão por um ângulo de fase (
δ
) menor que 90º e é função das magnitudes dos
picos e dos valores encontrados. Neste caso, a força aplicada e a deformação
resultante variam em forma senoidal com o tempo, a uma taxa especificada pela
freqüência em ciclos por seguindo.
A tensão possui duas amplitudes de resposta:
1)
σ
0
. cos
δ
componente em fase com a deformação;
2)
σ
0
. sen
δ
componente defasado com a deformação.
Elásticos
(tan δ = 0)
Viscoelásticos
(
tan δ >0)
Elásticos
(tan δ = 0)
Elásticos
(tan δ = 0)
Viscoelásticos
(
tan δ >0)
Viscoelásticos
(
tan δ >0)
55
Quando a tensão é dividida pela deformação, o módulo pode ser obtido
pela componente da tensão em fase (módulo “real”
E
) e pela componente da
tensão defasada (módulo “imaginário”
E).
tsen
t
sen
tsen
tsen
tsen
tsen
E
ω
ω
δ
ε
σ
δ
ε
σ
ϖε
ω
δ
σ
ωε
ω
δ
σ
ε
σ
cos
cos
coscos
*
0
0
0
0
0
0
0
0
+=+==
(2.66)
δ
ε
σ
cos.'
0
0
=E e
δ
ε
σ
sen.''
0
0
=E (2.67)
Similarmente, as relações entre os picos de tensão e de deformação para
outros tipos de deformação obedecem à relação:
'''*
iEEE +=
, sendo E* o
módulo complexo, ou
'''*
iGGG += . A faixa de freqüência utilizada na análise
térmica dinâmico-mecânica (DMTA) de materiais poliméricos é de 0,01 a 10
4
Hz,
sendo a mais usual na maioria dos materiais poliméricos de 1 Hz [35].
Assim, tan delta será definida como:
δ
δ
δ
ε
σ
δ
ε
σ
δ
cos
cos
'
''
tan
0
0
0
0
sen
sen
E
E
===
(2.68)
Não esquecendo que tan
δ, E e E são propriedades de polímeros amorfos
ou de fases amorfas.
2.5 DURABILIDADE A LONGO PRAZO
O conhecimento da resistência mecânica dos materiais a longo prazo, ou
seja, a sua capacidade de resistir a solicitações mecânicas contínuas ao longo do
tempo sob a influência de diversos ambientes sem apresentar falha em serviço, é
56
um fator importante que deve ser conhecido nos projetos de dimensionamento
estrutural de peças técnicas de materiais plásticos.
Como em carregamento estático, existem várias maneiras de se realizar um
carregamento dinâmico para avaliação desta resistência mecânica a longo prazo.
O material pode ser carregado uniaxialmente em tração - compressão, flexão,
cisalhamento ou torção (torcional). A taxa de carregamento pode ser senoidal, em
etapas ou em forma de rampa. A carga pode ser aplicada de maneira periódica ou
não, podendo ser uma carga complexa, ou seja, com mais de uma forma de
carregamento (em tração, flexão ou torção). Além disso, a complexidade do teste
pode ser conseguida por uma combinação de carregamento e efeitos ambientais,
como temperatura [36].
2.5.1 LIMITES DE DURABILIDADE
Os critérios para se estabelecer os limites de durabilidade dos
termoplásticos estão baseados nos seguintes mecanismos de falha [13]:
1) Fratura
: falha macroscópica que pode ser frágil ou dúctil.
2) Não - homogeneidades microlocalizadas
:
a) “Microfibrilamento sob tensão” (stress crazing): as superfícies das micro-
fissuras formadas devido à deformação plástica são interligadas por fibrilas
poliméricas. Apresentam uma estrutura altamente porosa;
b) “Micro-escoamento sob cisalhamento” (shear yielding): formação de
bandas de cisalhamento em torno dos pontos de alta concentração de tensão.
Não geram porosidades e têm capacidade de dissipar energia deformacional,
dependendo da estrutura do polímero;
c) “Embranquecimento” (ou esbranquiçamento) sob tensão (stress
whitening): o material se apresenta embranquecido devido a variações
microlizadas no índice de refração devido à formação de micro-cavitação em
57
grande escala induzida pelos mecanismos de deformação (a), (b) ou pela
desacoplagem interfacial de fibras em polímeros reforçados com fibras;
d) “Fissuramento sob tensão” (stress cracking): estágios de deformação
posteriores aos de formação de “microfibrilações” ou “bandas de cisalhamento”
quando se formam fissuras verdadeiras no material.
2.5.2 DURABILIDADE SOB CARREGAMENTO MECÂNICO PERIÓDICO –
FADIGA
O carregamento cíclico de qualquer material sob solicitação mecânica que
leva à falha depois de um certo número de ciclos é chamado fadiga dinâmica ou
simplesmente fadiga.
A compreensão da deformação e do comportamento de plásticos
submetidos a carregamentos cíclicos é necessária para se predizer o tempo de
vida provável de estruturas fabricadas com estes materiais [37]. Sob estas
circunstâncias de carregamento cíclico é possível a ocorrência de uma falha em
um nível de tensão consideravelmente inferior ao limite de resistência à tração ou
ao limite de escoamento para uma carga estática. Uma explicação para tal seria
que sob carregamento cíclico, a deformação plástica formada na ponta da trinca
não tem tempo de relaxar durante os períodos de carregamento. Por este
mecanismo, o crescimento da deformação plástica é controlado e o começo da
falha prematura é acelerado. Mesmo em baixas freqüências, ocorre a redução no
tempo de vida do componente.
Heterogeneidades inerentes à microestrutura da maioria dos materiais
resultam em um campo de defeitos aleatório cuja geometria, tamanho e orientação
também são aleatórios. Tal campo aleatório de defeitos, influenciado pela tensão
imposta, causa o aparecimento de um processo complexo de crescimento e
interação de defeitos, que levará à iniciação de trincas macroscópicas. Uma trinca
58
primeiramente se propaga de maneira estável até um estágio no qual começa uma
transição para uma propagação instável ou sem controle [8]. O processo de falha
ocorre então pela iniciação e propagação de trincas, e em geral a superfície de
fratura é perpendicular à direção da tensão aplicada [38].
A falha por fadiga é reconhecida como uma das maiores causas de fratura
em metais. Porém, como os materiais plásticos são susceptíveis a uma escala de
mecanismos de falhas sob fadiga ainda maior, isto nos leva a acreditar que os
estudos sobre este tema ainda devem ser bastante abordados. No caso de fadiga
em polímeros, a estrutura molecular completamente diferente deste material
provavelmente não levará a um tipo similar de processo de iniciação de trinca do
presente em metais, porém, é possível que após esta iniciada, a subseqüente fase
de propagação deva ser similar [39].
Existem vários fatores que fazem a fadiga de polímeros um tópico
complexo. A natureza do carregamento implica em variação simultânea de tensão
e deformação. O comportamento viscoelástico não-linear dos materiais faz com
que a taxa de deformação (ou freqüência) seja um fator importante. Existem
também variáveis especiais peculiares a este tipo de teste tais como o tipo de
solicitação (deformação controlada ou carga controlada) o nível de tensão média
ou de deformação média, o formato da onda cíclica, etc. Para adicionar a essa
complexidade, o amortecimento inerente, a baixa condutividade térmica e a alta
histerese mecânica dos plásticos causam aumento de temperatura durante a
fadiga. Isto pode causar a deterioração das propriedades mecânicas do material
ou causar falha por amolecimento térmico.
Assim, a falha sob fadiga de materiais plásticos pode ser de dois tipos:
1) Falha por amolecimento devido ao aquecimento por histerese mecânica
(falha térmica);
2) Falha por propagação de trinca (falha mecânica).
A magnitude do aquecimento por histerese em cada ciclo em um
carregamento senoidal pode ser representada por:
59
''2
JEnergia
σπ
= ou
.
E
nergia = π f J’’ função (f, T) σ
2
(2.69)
Onde J’’ é a compliance de perda ou flexibilidade de perda do polímero, f é a
freqüência e
σ é a tensão aplicada. O aumento na temperatura por unidade de
tempo pode então ser escrito como:
p
c
TfJf
T
),(''
2
.
ρ
σπ
=
(2.70)
Onde
ρ
é a densidade do material e c
p
é seu calor específico. Aparentemente,
efeitos térmicos são predominantes nos estágios finais do teste de fadiga. Em
baixas freqüências e baixos níveis de tensão, a temperatura no corpo-de-prova
polimérico aumentará e eventualmente atingirá um equilíbrio térmico quando o
calor gerado pela combinação de fricção interna ou calor por histerese mecânica
se iguala ao calor removido do corpo-de-prova por condução. Com aumento na
freqüência do teste, o aquecimento viscoso é gerado mais rapidamente, levando a
um aumento ainda maior na temperatura. Depois de atingido o equilíbrio térmico, o
corpo-de-prova eventualmente falha por fratura frágil convencional, pois neste
caso, a temperatura alcançada não atingiu a temperatura de transição térmica
crítica para a rigidez do polímero (Tg para polímeros amorfos e Tm para polímeros
semicristalinos). Porém, se a freqüência ou o nível de tensão for aumentado acima
deste, a temperatura aumentará até o ponto em que o corpo-de-prova amolece e
rompe antes de atingir o equilíbrio térmico. Este modo de fratura é usualmente
referido como fadiga térmica. Este efeito está claramente demonstrado na Figura
2.16. Os pontos marcados com “T” denotam a falha devido à fadiga térmica do
corpo-de-prova. Os outros pontos representam os corpos-de-prova que falham por
falha convencional (fadiga mecânica), normalmente por propagação de trincas.
Para desprezar o efeito de fadiga térmica, testes cíclicos com polímeros devem
ser realizados a baixas freqüências [37].
Alguns fatores que afetam o aquecimento por histerese mecânica são:
freqüência do teste, espessura do componente ou corpo-de-prova, a flexibilidade
de perda (J’’) do material (quanto maior a flexibilidade de perda, maior será o
60
aumento na temperatura sob carregamento cíclico). Além disso, a flexibilidade de
perda J’’ aumenta com o aumento na temperatura, havendo uma auto-aceleração
da energia por histerese.
O polipropileno é um material que apresenta alto J’’ (entre 0,5 e 5 x 10
-11
cm
2
/dina), ou seja, a falha sob carregamento dinâmico para este material será
quase que exclusivamente por aquecimento por histerese. Como pode ser notada
na Figura 2.16, a falha mecânica parece ser independente da freqüência, ao
contrário da falha térmica [40]. Assim, a ocorrência de falha térmica em plásticos
depende não apenas da freqüência dos ciclos e do nível de tensão aplicado, mas
também das características térmicas e de amortecimento do material.
Figura 2. 16 - Exemplo da influência da freqüência na falha térmica e mecânica em
poliacetal [37].
A usinagem de um artigo de plástico provavelmente introduzirá falhas
superficiais que serão capazes de se propagar, e a fase de iniciação da falha
poderá ser então desprezível. Já se o artigo for moldado, isto tende a produzir
uma camada superficial de proteção que inibirá a iniciação/propagação da trinca.
Nestes casos a iniciação das trincas capazes de propagação deve ocorrer através
61
do escorregamento das moléculas, se o polímero for cristalino. Plásticos moldados
terão os locais de iniciação das trincas criados por defeitos de moldagem tal como
linhas de solda, entradas à cavidades de moldes, etc. e partículas como
pigmentos, estabilizantes, etc. e claro, concentradores de tensões causados por
descontinuidades geométricas serão as maiores fontes de trincas de fadiga [39].
Alguns estudos já foram realizados a fim de salientar a influência de fatores
materiais importantes na vida em fadiga de polímeros e de compósitos
poliméricos, como por exemplo, a influência da orientação das fibras e dos efeitos
concentradores de tensão nas propriedades de resistência à fadiga [14],
mostrados como exemplos nas Figuras 2.17 e 2.18. Mas ainda hoje poucos
resultados foram divulgados sobre a influência das características da adesão
interfacial fibra-matriz nas propriedades de fadiga mecânica sob solicitação cíclica.
Figura 2. 17 - Curvas de resistência à fadiga sob flexão de PA 66 com e sem
reforço de fibra de vidro, testado a 23 °C e f = 0,5 Hz e tensão média zero [41].
Em polímeros, a falha por fadiga se inicia em microvazios (originados a
partir do fluxo viscoso) ao redor das moléculas repetitivamente tencionadas. Estes
microvazios unem-se para formar microtrincas. Dependendo da natureza do
polímero, estas microtrincas eventualmente se manifestam como
62
embranquecimento, microfibrilamento ou em bandas de escoamento. Assim, para
polímeros, a falha pode não ocorrer de forma catastrófica. Bandas de escoamento,
embranquecimento ou outros efeitos podem ser um sinal de final efetivo de vida
útil do produto. Em uma tensão repetitiva fixa, a iniciação da trinca pode ocorrer
bem antes da falha final.
Em um ciclo de tensões alternantes com onda senoidal, a amplitude de
tensão alterna em torno de uma tensão média
σ
m
, que é definida como sendo a
média entre as tensões máxima e mínima no ciclo
+
=
2
minmax
σσ
σ
m
.
Adicionalmente, o intervalo de tensões
σ
i
é a diferença entre σ
max
e σ
min
. A
amplitude da tensão
σ
0
é a metade deste intervalo de tensões
=
2
minmax
σσ
σ
.
Já a razão de tensões R é a razão entre as amplitudes das tensões mínima e
máxima
=
max
min
S
S
R
. O ciclo em fadiga é normalmente caracterizado por uma
tensão média
σ
m
com uma tensão alternante sobreposta σ
alt
[38].
Figura 2. 18 - Curvas de fadiga de PA 66 (Durethan A30S) reforçado com 30%FV
em corpos-de-prova com e sem efeito concentrador de tensão (furo de 3 mm),
testados à 23 °C e f = 7 Hz e tensão média zero [41].
63
Os fatores descritos anteriormente consideram tensão média (
σ
m
) igual a
zero. Porém, uma grande parte dos componentes poliméricos é submetida a
carregamentos cíclicos que têm outras cargas e amplitudes de tensão aplicadas a
eles, levando a tensões médias diferentes de zero. Esta superposição de dois
tipos de carregamento irá levar a uma combinação de fluência, causada pela
tensão média, e fadiga, causada pela tensão cíclica. Resultados dos testes dos
experimentos com carregamento cíclico e tensão média diferente de zero são
complicados pelo fato de que alguns corpos-de-prova falham devido à fluência e
outras devido à fratura frágil por fadiga [36].
Figura 2. 19 - Polipropileno: tempo de vida em função da freqüência cíclica (auto-
aquecimento acima de 1 Hz) [36].
Um exemplo do efeito da freqüência no tempo de vida em fadiga es
mostrado na Figura 2.19, onde polipropileno foi submetido à ciclagem com tensão
controlada variando de 0 a 20,7 MPa. Acima de 1 Hz, observa-se que o tempo de
vida decai devido ao aquecimento por histerese, levando à falha térmica. Para
30 Hz, a temperatura da superfície aumentou 30 ºC, enquanto para 1 Hz a
temperatura aumentou poucos graus. Porém, para freqüência abaixo de 1 Hz o
64
tempo de vida também diminui, mas por uma razão diferente: interação fadiga –
fluência, citada anteriormente [36].
As normas conhecidas para testes em fadiga de materiais poliméricos são a
ASTM – D 671 e a DIN 50100. Na norma ASTM – D 671, uma viga, cujas
dimensões padrões estão mostradas na Figura 2.19, é engastada em um ponto e
flexionada na outra extremidade (“cantilever”). Esta possui orifícios que são
conectados a uma haste excêntrica de rotação variável (deformação por flexão
com uma extremidade fixa). Esta geometria triangular mostrada na Figura 2.20
permite uma tensão constante com a distância a partir do ponto de aplicação da
carga. Este teste é chamado de teste de tensão controlada.
Como os polímeros são maus condutores de calor, com o aumento da
temperatura da amostra, a dissipação de calor não será muito eficiente, e assim, o
módulo local decairá. Como o teste controla a tensão aplicada, a deflexão
aumentará com este decaimento. Com já mencionado, isto aumenta a geração de
energia dissipada por histerese mecânica. O resultado é uma auto-aceleração do
efeito da temperatura que inibe o material de suportar a carga aplicada na
deflexão máxima do processo.
A norma define a falha por fadiga térmica como o número de ciclos no qual
o módulo aparente decai em 70% do módulo original, determinado no início do
teste. A ASTM D-671 também restringe a freqüência do teste em não mais que 30
Hz (30 ciclos por segundo). Além disso, neste teste de tensão controlada pode
haver uma sobreposição dos efeitos de fadiga e fluência, já que durante o ensaio
com controle de carga, a resposta do material na forma de deformação cíclica
aumenta similarmente à deformação por fluência sob tensão constante.
Portanto, um outro tipo de teste de fadiga por flexão é proposto para
minimizar o problema do aquecimento por histerese. Este seria um teste de
deflexão controlada, no qual o decaimento da tensão é medido como função do
número de ciclos. A falha é considerada quando o nível de tensão instantâneo
decai a 70% do valor inicial. Neste caso, como a tensão decai com o aumento o
número de ciclos, o aquecimento por histerese por ciclo diminuirá. Portanto, um
65
menor número de falhas pode ser classificado como causado completamente pela
fadiga térmica. O teste mais familiar de deformação controlada é o teste de
tração/compressão. Com o teste de deflexão controlada não há aquecimento por
histerese e então a falha ocorrerá apenas mecanicamente por propagação de
trincas [40]. Para os testes com controle de deflexão ou deformação uma
relaxação de tensão (amolecimento) significante pode ocorrer, algumas vezes
resultando em ausência de falha por fadiga [36].
Figura 2. 20 – Corpos-de-prova ASTM D - 671 para testes de fadiga com tensão
constante [37].
66
2.5.3 TÉCNICAS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SOB FADIGA
Existem duas técnicas distintas para se tratar e medir a fadiga em
polímeros. A primeira aproximação seria através da medida tradicional do número
de ciclos para a falha (N) em função da flutuação de carga ou tensão (
σ) – curvas
S-N. Neste caso, a “carga” controlada seria a força mínima e máxima ou um
deslocamento na tensão ou flexão. As flutuações têm certa freqüência e uma
forma de onda. A outra técnica seria a medida da propagação cíclica de uma pré-
trinca. Neste caso, o uso de mecanismos de fratura em fadiga cíclica envolve a
medida da taxa de crescimento da trinca por número de ciclos em função do fator
de intensidade de tensão.
2.5.3.1 REPRESENTAÇÃO GERAL DE FADIGA: CURVAS S-N
Neste caso, os ensaios são realizados a uma amplitude de tensão máxima
relativamente grande (
σ
max
), geralmente da ordem de dois terços do limite estático
de resistência à tração; o número de ciclos é, então, contado. Este procedimento é
repetido com outros corpos de prova de acordo com amplitudes máximas de
tensão progressivamente menores. Os dados são plotados na forma de uma
tensão (
σ) em função do logaritmo do número de ciclos (N) até a falha, para cada
um dos corpos de prova.
Os valores de
σ (tensão) são normalmente tomados na forma de amplitudes
de tensão (
σ
0
). Em alguns plásticos a curva de falha por fadiga se torna quase
horizontal em altos valores de N. O nível de tensão no qual isto ocorre é
claramente importante para projetos e é conhecido como limite de resistência à
fadiga, ou limite de resistência. Abaixo deste limite, a falha por fadiga não irá
ocorrer. Já a resistência à fadiga é definida como sendo o nível de tensão no qual
67
a falha irá ocorrer para um dado número de ciclos. Um outro dado importante que
caracteriza o comportamento de fadiga de um material é a vida útil sob fadiga (N
f
).
Este é o número de ciclos necessários para causar a falha em um nível de tensão
específico. A Figura 2.21 (a e b) ilustra estes parâmetros no gráfico S-N.
Figura 2. 21 - Amplitude de tensão versus logaritmo do número de ciclos para
falha (N) para (a) material que apresenta limite de fadiga e (b) material que não
apresenta limite de fadiga [38].
2.5.3.2 PROPAGAÇÃO DE TRINCA POR FADIGA DINÂMICA
Mecanismos de fratura podem ser usados para a predição do tempo de vida
de componentes. Uma característica adicional importante é a compreensão do
crescimento de trincas através de medidas da taxa de crescimento de trinca por
ciclo (da/dN) em função do fator de intensidade de tensão (
K). Apesar do fato de
que plásticos são materiais com comportamento dependente do tempo, e de que o
mecanismo de fratura linear é aplicado estritamente para materiais elásticos, nota-
se que as taxas de propagação de trinca em vários polímeros podem ser
correlacionadas com
K.
68
Durante o processo de fadiga, a amplitude de tensão (
σ
0
) geralmente
permanece constante, e a falha ocorre como resultado do crescimento de pré-
trincas de um tamanho inicial e subcrítico até um tamanho crítico relacionado à
tenacidade à fratura (K
c
) do material. O tempo de vida de um componente é assim,
dependente do tamanho inicial da trinca, da taxa de propagação de trinca e do
tamanho crítico de trinca. A relação, na forma de lei de potências (equação
conhecida como equação de Paris-Erdogan), será:
m
KZ
dN
da
=
(2.71)
Onde Z e m são constantes do material variando com a temperatura, meio
ambiente e freqüência. A variação do fator de intensidade de tensão é dada por:
aSYK )(= (2.72)
Onde Y é um fator da geometria estrutural da trinca e a é o comprimento da trinca.
Como mostrado no gráfico da Figura 2.22, o comportamento típico de
fadiga por propagação de trinca possui três regiões típicas: crescimento lento da
trinca, rápido e estável crescimento da trinca, e crescimento instável. A porção
linear da curva ou a região de crescimento estável é usada para interpretar a
resistência à fadiga. Um decréscimo na inclinação da região linear indica melhora
na resistência à fadiga (diminuição na taxa de crescimento da trinca no mesmo
nível de intensidade de tensão). Similarmente, um deslocamento na curva para a
direita indica melhora na resistência à fadiga (maior intensidade de tensão para
promover a mesma taxa de crescimento de trinca). Um valor crítico do fator de
intensidade de tensão, convencionalmente designado por K
c
, pode ser usado para
definir a condição crítica de tensão na ponta da trinca para falha. Este fator, no
ensaio de propagação de trinca torna-se muito próximo de K
Ic,
fator de intensidade
de tensão crítico para o modo I de fratura (sendo I uma designação de tração; já o
índice II indicaria o modo em cisalhamento e III o modo em torção). Assim, para
melhor determinação desta propriedade do material, geralmente se realizam
testes específicos para este fim, sendo que o teste de K
Ic
se adequa melhor a
materiais com comportamento elástico.
69
Na Figura 2.22 observa-se a região denominada região I, que começa com
um valor próximo do fator de intensidade de tensão (
K
t
), abaixo do qual a
propagação da trinca não é observada. O valor de
K
th
é atribuído à consecução
de um nível suficiente de atividade na região da ponta da trinca para causar sua
propagação. A inclinação inicial da região I é geralmente muito íngrime. Conforme
a trinca começa a crescer, ou seja,
K aumenta, ocorre a redução da aceleração
da trinca, levando à região II. A curva de propagação de trinca sob fadiga é, na
maioria dos casos, efetivamente linear na região II. Essa linearidade comum na
região II promove a aceitação do modelo de Paris-Erdogan na descrição do
fenômeno. A perda de linearidade em alguns polímeros é imediatamente
perceptível quando o teste é conduzido em um escala ampla de
K. Contudo, o
modelo de Paris pode ainda ser usado para avaliar a resistência relativa dos
materiais à propagação de trinca sob fadiga (FCP – Fatigue Crack Propagation).
Isto pode ser conseguido examinando-se a taxa de FCP em um valor particular de
K. Quanto maior for a relação da/dN, menor é a resistência à FCP.
Alternativamente, quanto maior for
K, para uma dada da/dN, mais resistente o
material se apresenta. A taxa da FCP se aproxima de um valor assintótico em K =
K
C
, onde ocorre a transição de uma condição estável para um crescimento rápido
e instável da trinca (região III) [8].
Estudos recentes [42, 43] têm descrito os efeitos de variáveis externas e
internas na taxa de propagação de trinca em polímeros. Estas variáveis incluem
freqüência, temperatura de teste, meio ambiente, tensão média, propriedades
moleculares, e composição. A mudança de comportamento térmico (aquecimento
por histerese) para comportamento mecânico tem sido considerada para
geometrias regulares e entalhadas. Do ponto de vista de propagação de trinca, a
zona de material altamente tracionada está localizada na ponta da trinca. O
material na zona danificada na ponta da trinca e a sua vizinhança podem ser
capazes de conduzir calor suficiente para evitar um aumento significante na
temperatura. Assim, é importante se considerar o efeito da freqüência no
70
crescimento da trinca. O aumento na freqüência não é tão prejudicial quanto seria
se a dissipação térmica fosse dominante. Razões para queda na taxa de
crescimento de trinca com aumento da freqüência podem estar relacionadas ao
aquecimento na ponta da trinca, efeitos mecânicos dependentes do tempo ou
efeitos químicos, ou deformação heterogênea por microfibrilamento (“crazing”) ou
por micro-escoamento sob cisalhamento (“shear yielding”), dependendo do
mecanismo dominante. Em qualquer caso, informações sobre a taxa de
crescimento de trinca podem fornecer um entendimento fundamental das
influências importantes no tempo de vida útil de componentes de materiais
plásticos.
Figura 2. 22 - Três regiões distintas no comportamento de propagação de trinca
sob fadiga [8].
71
Tempo de vida útil sob fadiga de componentes plásticos pode ser calculado
para propósitos de projeto por:
2/mmm
aSAY
dN
da
=
(2.73)
Assumindo que o fator de geometria Y não muda com o crescimento da
trinca, esta equação pode ser integrada para fornecer o número de ciclos para
falha (N
f
) que é necessário para a trinca crescer de um tamanho inicial a
i
para o
tamanho crítico a
f
, para m2.
=
2/)2(2/)2(
11
)2(
2
m
f
m
i
mm
f
aa
SAYm
N
(2.74)
Esta expressão pode ser usada para previsão do tempo de vida útil sob
fadiga de um componente com um defeito inicial de tamanho conhecido [36].
2.5.4 LIMITES DE RESISTÊNCIA
Compósitos reforçados com fibras são rígidos e menos susceptíveis à falha
por fadiga. Plásticos reforçados também têm apresentado menores efeitos de
aquecimento por histerese, fazendo com que eles sejam menos susceptíveis à
fadiga térmica. Para materiais nos quais a falha em fadiga continua a ocorrer
mesmo em relativamente baixos níveis de tensão, é necessário definir um limite
de resistência, isto é, o nível de tensão no qual não poderia ser causada falha por
fadiga até um grande número de ciclos de tensão aceitável. Nos compósitos, a
fratura por fadiga é geralmente precedida pelo trincamento do CP, o que fornece
um aspecto visual de fratura eminente [37]. Já se observou que as trincas se
iniciam na interface fibra - polímero, sendo posteriormente propagadas através do
resto do compósito, até a falha total ocorrer [44].
Além disso, nestes materiais uma área com pobre ligação entre as fibras e
a matriz causará a falha interfacial em baixos níveis de tensão, e as
72
descontinuidades resultantes na interface também atuarão como concentradores
de tensões. Melhoras significantes no desempenho de termoplásticos reforçados
com fibras de vidro ressaltam a importância dos agentes de acoplagem, ou dos
compatibilizantes interfaciais que geram camadas interfaciais entre a matriz e o
reforço (podendo ser aplicado diretamente ao reforço ou como uma mistura com a
matriz). Esta melhora nas propriedades pode atingir 200% em alguns casos.
Dados de aumento nas propriedades de flexão ilustram a importante influência da
qualidade da interface fibra-polímero na resistência à falha de materiais
compósitos sob certas condições de carregamento. Para contabilizar estas
melhoras nas propriedades físicas, o seguinte mecanismo de acoplagem foi
proposto: (1) os agentes de acoplagem aumentam a resistência adesiva da
interface fibra-polímero; (2) estes proporcionam a existência de uma interface
flexível, com baixo módulo e (3) promovem uma melhor molhabilidade entre a
matriz polimérica e a superfície do reforço, ou reduzem os vazios existentes na
interface [26].
A incorporação de fibras e cargas de alto módulo aumenta
substancialmente a resistência à fadiga de materiais termoplásticos. As curvas de
tensão de falha para os termoplásticos semicristalinos reforçados tendem a
apresentar um valor limite de resistência em torno de 10
6
ciclos. No caso de
termoplásticos amorfos, as curvas tendem a decrescer continuamente com o
tempo sem apresentar um limite de resistência. Evidentemente, fica claro que é
vantajoso projetar peças técnicas com materiais que apresentam um limite de
resistência, pois utilizando níveis de tensão de projeto inferiores ao valor limite do
material, assegura-se uma vida útil para a peça que, teoricamente, será muito
maior sob condições de fadiga dinâmica [13].
73
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Realizou-se aqui uma revisão bibliográfica que permitisse um conhecimento
do estado da arte, com a seleção dos principais trabalhos selecionados na área de
compatibilização interfacial em compósitos de PP/FV (como método de
preparação do compósito, influência de peso molecular e concentração de grupos
MAH do compatibilizante interfacial PP-g-MAH), sua influência nas propriedades
mecânicas finais de compósitos de PP reforçados com fibras de vidro, além das
propriedades de fadiga de compósitos poliméricos reforçados com fibras de vidro.
As fontes principais de obtenção destes artigos foram as bases de dados nos
endereços eletrônicos da CAPES, SCIENCE DIRECT e WEB OF SCIENCE, além
das revistas da ANTEC.
3.1 COMPATIBILIZAÇÃO INTERFACIAL
Os artigos seguintes referem-se ao processo de interação/compatibilização
interfacial, seu modelo e algumas propriedades que caracterizam diretamente a
compatibilização interfacial (associada à resistência ao cisalhamento interfacial)
dos compósitos.
P. Peltronen e colaboradores [45] testaram compósitos de PP/FV com
40% de FV longas e curtas, e notaram, através de testes de DSC, que os
promotores de adesão não afetaram a temperatura de fusão do polímero, mas
tiveram um pequeno efeito na temperatura de início da cristalização. Com relação
às propriedades mecânicas, a adição de anidrido maleico teve um grande efeito
na resistência à flexão do compósito, mas teve pouca influência nos módulos,
sendo estes mais influenciados pela fração volumétrica de fibras no compósito.
Além disso, a adição dos promotores de adesão à matriz de PP não teve efeito na
74
distribuição de comprimentos da fibra medida nos corpos-de-prova injetados,
indicando que as melhores propriedades mecânicas não foram conseqüência de
maiores comprimentos de fibras, e então, a razão para tal seria a melhor adesão
atingida. A mais efetiva adesão encontrada na interface de PP/FV foi com o
promotor de adesão contendo 5% de anidrido maleico em peso no compósito.
R. C. Constable e colaboradores [4] testaram a eficiência de diferentes
agentes de acoplagem, utilizando para tal três tipos de polipropilenos
homopolímeros comerciais modificados com anidrido maleico (com variações de
MFI e %MAH), comparando-se as propriedades mecânicas do compósito de
PP/FV
c
. Em outro trabalho [5], o compatibilizante interfacial Polybond PB3150, se
mostrou um excelente agente de acoplagem químico para PP/FV. Este agente
forneceu um nível de funcionalidade e reatividade que permitiu ser usado a baixos
níveis de adição (tipicamente de 1 a 2% em peso no compósito). Já neste
trabalho, eles observaram que para se atingir uma resistência à tração comparável
a 1% em peso de PB 3150, apenas 0,25% em peso de PB 3200 seria necessário.
Isto demonstra que o PB 3200 é um agente de acoplagem mais eficiente
quimicamente que o PB 3150 e que o PB 3001 (aumentando-se a funcionalidade
no agente de acoplagem, consegue-se a utilização de menores quantidades).
Porém, se os níveis de anidrido maleico nestes forem comparáveis, outros fatores
torna-se importantes, já que os gráficos mostram que o PB 3200 permite maiores
propriedades físicas para níveis equivalentes de anidrido maleico no compósito.
Portanto, existem outros fatores que podem levar a melhora no desempenho, tal
como diferenças em peso molecular dos compatibilizantes, quantidade de anidrido
maleico livre para reagir, reatividade do grupo funcional, quantidade e qualidade
da ligação interfacial entre a fibra e a resina.
H. Hamada et. al. [46] conduziram um estudo da interfase em
compósitos de PP/FV em função das condições de mistura e do compatibilizante
interfacial nos compósitos com 20% de FV curtas. A matriz polimérica utilizada foi
um PP isotático modificado com 0,1% de anidrido maleico (MAH) e PP
homopolímero. Os sizing químicos para o tratamento superficial das fibras de vidro
75
eram constituídos de aminosilanos combinados com vários compatibilizantes,
sendo estes emulsões de PP-g-MAH, emulsões de copolímero acrilo/estireno,
emulsões de PP não modificado e emulsões de PP clorados. Os vários materiais
foram preparados em uma extrusora de rosca dupla com condições de alto e baixo
nível de mistura cisalhante.
Como uma maneira de caracterizar a reposta mecânica de um dado tipo de
interfase (variado conforme a variação do compatibilizante interfacial), mediu-se a
resistência à tração e o comportamento sob fadiga mecânica. Segundo este
trabalho, existem dois tipos de interfaces, entre as fibras e o compatibilizante e
entre este e a matriz. Estas foram chamadas de interfase. Em todas as
combinações de compatibilizante-matriz, a condição de mais alto nível de mistura
na extrusão proporcionou a maior resistência interfacial comparada com a
condição de baixo nível de mistura. A melhor compatibilização interfacial foi
alcançada com um processo de extrusão com alto nível de mistura cisalhante,
combinado com o uso da FV pré-tratada com a emulsão de PP funcionalizado com
anidrido maleico (sizing de PP funcionalizado com MAH) e usando-se a matriz de
PP quimicamente modificada com MAH. Este resultado também foi confirmado em
outro trabalho do mesmo autor, pela verificação de aumento na resistência ao
cisalhamento interfacial através do teste de arrancamento de fibra (“fiber pull-out”)
[47]. Esta compatibilização interfacial resultou em máxima resistência à tração e
mais alta resistência à fadiga por propagação de trinca.
K. M. McLoughlin & S. J. Elliot [48] investigaram os efeitos de PP
funcionalizado com anidrido maleico e seu índice de fluidez (MFI) nas
propriedades dos compósitos de PP/FV. Examinaram-se os efeitos individuais da
concentração de MA e do MFI medindo-se a resistência à tração dos compósitos
com 30% de FV. Em todas as concentrações, compósitos contendo PP-g-MAH
com o mais baixo teor de anidrido maleico (MAH) e de MFI, tiveram menores
resistências à tração. Contrariamente, com maiores valores de MAH e de MFI, os
maiores valores foram obtidos. Em concentrações acima de 3% de PP-g-MAH, os
76
compósitos de PP/FV/PP-g-MAH apresentaram um platô na resistência à tração,
que parecia não ser dependente do tipo de PP-g-MAH utilizado.
H. G. Karian [34] considerou que o modelo apresentado na Figura 3.1
elucida bem a presença de uma interfase formada entre a matriz de PP e a FV
pré-tratada com silano, que é composta de copolímero de PP-co-siloxano. Na
presença do compatibilizante interfacial, o grupo funcional anidrido maleico (MAH)
reage quimicamente com o grupo organofuncional do siloxano na superfície da FV
e fisicamente através do emaranhamento molecular com a matriz de PP.
X. Zhou e colaboradores [49] estudaram a influência do uso de
poliolefinas modificadas com anidrido maleico, da matriz e das condições de
composição na resistência interfacial dos compósitos de PP, através da medida da
resistência ao cisalhamento interfacial por teste de fragmentação de fibras.
Quando as fibras pré-tratadas com poliolefinas modificadas foram compostas com
PP, fortes enroscos foram formados devido à interdifusão segmental entre as
poliolefinas modificadas e a matriz de PP.
Figura 3. 1 - Compatibilizante PP-g-MAH reagido com o grupo funcional amino do
polisiloxano da FV e emaranhado com a matriz de PP – Modelo de “Escova
Polimérica” num sistema PP/FV [34].
77
Assim, o grau de adesão fibra/matriz foi melhorado. Verificou-se então que se
aumentando o grau de enxertia da poliolefina modificada, o número de ligações
químicas entre a poliolefina funcionalizada e o agente de acoplagem, aumentava-
se conseqüentemente a ISS. Portanto, a resistência da ligação interfacial do
compósito pode ser melhorada com modificações especiais na fibra com
poliolefinas funcionalizadas com anidrido maleico. Este comportamento é
favorável quando:
a) o grau de enxertia de MAH das poliolefinas funcionalizadas for maior;
b) a compatibilidade da poliolefina funcionalizada com a matriz é boa;
c) o comprimento da cadeia da poliolefina funcionalizada é longo.
P. E. Lopes & J. A. Sousa [7] investigaram a influência do peso
molecular e da concentração de MAH de diversos tipos comerciais do
compatibilizante de PP-g-MAH (com distintos pesos moleculares - com valores
altos, médios e baixos de MFI, e porcentagens de MAH enxertado) nas
propriedades mecânicas de compósitos de PP/FV
c
(com fibras pré-tratadas com
aminosilano) com variadas concentrações de fibras. Determinou-se a eficiência de
compatibilização pelas propriedades de resistência à tração e resistência ao
impacto Izod, sendo que foi definida uma concentração ótima de compatibilizante
como sendo a mínima concentração de MAH que proporcionou a máxima
propriedade mecânica.
Concluiu-se que em uma dada concentração de fibra, o aumento na
concentração do compatibilizante levou a uma melhora nas propriedades de
tração e impacto em uma concentração mínima crítica, acima da qual estas
propriedades nivelaram, como mostrado para RT na Figura 3.2.
Esta concentração ótima, expressa em termos de teor de MAH (mg) por
unidade de área superficial de fibra (m
2
), corresponde ao nível de saturação da
superfície da fibra com o copolímero de PP-co-siloxano formado na interfase.
Observa-se na Figura 3.2 que aumento no teor de FV no compósito implica
numa diminuição na concentração ótima de MAH, o que pode ser atribuído a uma
maior migração de PP-g-MAH para a superfície das fibras, aumentando-se a
78
probabilidade estatística para a saturação da interfase com a formação do
copolímero PP-co-siloxano formado in-situ. Além disso, usando-se este critério de
concentração ótima, o tipo de PP-g-MAH com menor M
W
e maior concentração de
MAH (PB3200) apresentou a melhor eficiência de compatibilização, tipo de
compatibilizante também destacado por R. C. Constable [4, 5].
Quando os dados foram apresentados em função da concentração de MAH
por unidade de área superficial de fibra (mg/m
2
), obteve-se uma curva mestre,
independentemente do tipo do compatibilizante usado, indicando que o aumento
nas propriedades mecânicas é essencialmente uma função da concentração de
MAH eficientemente reagida com os grupos funcionais do aminosilano na
superfície da fibra. Neste caso, observou-se novamente que um aumento na
concentração de MAH levou a um aumento substancial nas propriedades
mecânicas, até uma concentração ótima, acima da qual estas tenderam a nivelar.
Figura 3. 2 - Resistência à tração versus concentração de MAH por unidade de
área superficial de fibra para três concentrações de fibra (20, 30 e 40%FV) [7].
79
Em concentrações constantes de MAH do compatibilizante, a redução do
M
W
do PP-g-MAH levou a um pequeno aumento nas propriedades de tração e
impacto. Esta pequena melhora foi atribuída à maior difusão das cadeias de PP-g-
MAH de menor PM através da matriz polimérica e à sua fácil penetração na rede
de polisiloxano formada na superfície da fibra, durante sua procura por grupos
amino funcionais para a formação de ligações imida.
Em uma dada concentração de fibra, as propriedades de resistência à
tração e ao impacto aumentaram substancialmente com a concentração de MAH,
indicando claramente que o comprimento crítico da FV foi reduzido com o
aumento na resistência ao cisalhamento interfacial, atingida com a camada de
copolímero PP-co-siloxano formada na interfase. Na concentração ótima de MAH,
toda a superfície da fibra é saturada com o copolímero PP-co-siloxano, e assim,
as propriedades mecânicas tendem a nivelar. A concentração ótima de
compatibilizante pode ser reduzida com o aumento na concentração de fibra no
compósito, indicando que a eficiência do compatibilizante também é dependente
da probabilidade estatística das moléculas de PP-g-MAH migrarem para a
superfície da FV, sendo que quanto maior for o conteúdo de fibra, maior será a
probabilidade estatística de se atingir a compatibilização interfacial no compósito.
Além disso, o aumento simultâneo nas propriedades de tração e impacto pode ser
atribuído à maior adesão interfacial e à natureza dúctil da interfase, características
que foram confirmadas pelas análises das superfícies criofraturadas dos
compósitos. Como informação adicional, a espessura da interfase estimada por P.
E. Lopes por microscopia eletrônica de varredura para os compósitos de PP/FV foi
de 1 a 2
µm.
Nota-se nos artigos apresentados que existe uma certa controvérsia a
respeito da influência do peso molecular do compatibilizante de PP-g-MAH na
compatibilização interfacial, já que um alto PM proporciona uma melhor interação
com as cadeias da matriz polimérica, mas dificulta que os grupos funcionais
consigam chegar facilmente à superfície da fibra. Apesar disso, existe um
consenso na literatura que o fator primordial que contribui para melhoria nas
80
propriedades interfaciais do compósito é efetivamente o teor relativo dos grupos
correativos de MAH/NH
2
disponíveis no sistema e que os demais parâmetros
como PM do compatibilizante e outros são secundários na eficiência de
compatibilização interfacial de compósitos de PP/FV.
3.2 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LONGA DURAÇÃO – FADIGA
MECÂNICA
Os artigos seguintes estão ligados às propriedades mecânicas de longa
duração (fadiga) e a sua relação com o processo de compatibilização interfacial.
J. A. M. Ferreira e colaboradores [42] consideraram os efeitos da
freqüência e da razão entre a tensão mínima e máxima (R) nas propriedades de
fadiga em compósitos de PP/FV, usando-se uma malha bidirecional de fibras de
vidro do tipo E, com uma fração volumétrica de fibras igual a 0,338. Além disso,
avaliou-se o aumento da temperatura (utilizando-se um sistema com 3
termômetros localizados na região de falha) e a queda da rigidez (fator utilizado
como critério de falha) durante os testes. Os testes de fadiga foram realizados
com ondas senoidais de amplitude constante em testes de tensão-tensão. Os
parâmetros utilizados foram R = 0 (com
σ
min
= 0) e 0,25, f = 2 e 10 Hz e T = 25 e
60 ºC.
Observou-se que o aumento na temperatura superficial dos corpos-de-
prova foi insignificante em f = 2 Hz. A 10 Hz, a temperatura atingiu seu máximo na
falha (entre 10 e 30 ºC). À temperatura ambiente, observou-se um decréscimo
significativo na resistência à fadiga quando R foi aumentado de 0 para 0,25. Isto
porque, como pode ser visto na Figura 3.3, com R
0 temos tensões positivas ou
negativas agindo no corpo-de-prova. Assim, conforme se aumenta o valor de R,
tem-se a sobreposição do efeito de fluência causado devido à existência de uma
tensão média diferente de zero.
81
Figura 3. 3 - Posições possíveis da tensão média conforme se varia R [50].
Já para R = 0, também se observou um decréscimo na resistência à fadiga
quando a temperatura de teste foi aumentada de 25 para 60 ºC. Na temperatura
ambiente, para R = 0,25, a queda na rigidez (E/E
0
), sendo E
0
o módulo no início
do teste de fadiga, foi manifestada cedo na vida sob fadiga (em baixos números
de ciclos) havendo uma queda acentuada (10%) na rigidez (E/E
0
) durante 10-20%
da vida em fadiga (relaxação de tensão) que posteriormente tornou-se constante
até a falha, como pode ser observado na Figura 3.4.
Em outro trabalho, J. A. M. Ferreira e colaboradores [51] realizaram
testes de fadiga em modo de deformação controlada (a deformação, no modo de
deformação constante, foi imposta pela excentricidade de um pistão por um
sistema de manivela e medida usando-se um extensômetro dinâmico axial fixado
no corpo-de-prova) e em amplitude de tensão controlada.
82
Figura 3. 4 - Módulo normalizado (E/E
0
) versus número de ciclos normalizado
(N/N
0
). R = 0,25, T = 25 ºC e f = 10 Hz [42].
Estes testes foram realizados em uma máquina eletromecânica onde a
freqüência e a razão de tensões podia ser mudada e a carga era controlada por
uma célula de carga. Todos os testes foram realizados com R = 0 e 0,025 e
freqüência = 10 Hz em temperatura ambiente. Periodicamente o procedimento era
interrompido para a realização dos testes estáticos para a determinação do
módulo.
O aumento na temperatura se apresentou dependente da amplitude de
tensão, especialmente perto da falha (este ficou entre 25 – 75 ºC). Porém, não
existe uma correlação evidente entre o aumento na temperatura e a amplitude de
tensão. Comportamento similar ocorre para os dois tipos de modo de
carregamento do ensaio de fadiga.
Notou-se uma queda significativa do módulo durante os primeiros ciclos em
fadiga (uma queda de 5% durante os primeiros 5% da vida em fadiga), sendo que
a rigidez (módulo) decaiu lentamente até próximo à falha final. Durante os últimos
5% da vida em fadiga, o módulo decaiu repentinamente. Durante os primeiro 20%
da vida em fadiga um decréscimo mais pronunciado na rigidez foi observado nos
ensaios com modo de controle por deformação em relação ao modo de controle
83
de tensão. A causa mais importante deve ser a queda na tensão sustentada pelo
material durante este período (relaxação de tensão).
Testes conduzidos pelos autores mostram que esta perda de tensão à
temperatura ambiente é muito significante durante os primeiros 10 minutos de
aplicação de carga. Tal comportamento pode ajudar a explicar a queda repentina
na rigidez observada no primeiro estágio em fadiga. Depois deste primeiro
período, os resultados obtidos para as duas condições de teste foram similares.
Outros parâmetros como aumento na temperatura e delaminação interna
contribuem para a queda no módulo.
Plotando-se a amplitude de tensão contra o número de ciclos para falha,
para o ensaio no modo de controle de deformação, a amplitude de tensão foi
calculada para o primeiro ciclo de fadiga. Apenas uma pequena tendência de
aumento no tempo de vida em fadiga foi observada no caso de controle de
deformação. Apesar da perda de tensão esperada em controle de deformação, e
da queda na amplitude de tensão causada pela queda no módulo, o aumento na
resistência à fadiga foi muito pequeno (menos de 5%).
E. K. Gamstedt e colaboradores [52] estudaram os efeitos da resistência
interfacial no desempenho em fadiga de compósitos de PP e PP/PP-g-MAH (90/10
em peso) reforçados com fibras contínuas longitudinais (tratadas com um sizing
compatível com a matriz de PP). O ensaio de fadiga foi executado com uma onda
cíclica triangular em modo de tensão-tensão com R = 0,1 e taxa de deformação
absoluta constante em 10
-2
s
-1
, para vários níveis de deformação; sendo o nível de
deformação o pico de deformação inicial (primeiro ciclo) que foi calculado do pico
de carga aplicada. Termômetros mediram a temperatura dos corpos-de-prova,
sendo que o aumento desta não ultrapassou os 2 ºC, e as propriedades
interfaciais dos dois sistemas com diferentes matrizes foi investigada usando-se
fractografias.
O comportamento macroscópico em fadiga foi caracterizado em termos da
redução na rigidez e pelas curvas S-N. Os resultados mostraram que o módulo de
Young longitudinal decaiu mais rapidamente para os compósitos PP/FV, o que foi
84
causado por um maior grau de crescimento do dano e sua acumulação. Os
compósitos PP-g-MAH/FV exibiram um comportamento de declínio diferente, onde
o módulo permaneceu constante até a queda eminente. Isto implica em dano
localizado em pequena escala, que pode ser explicado por uma ligação mais
efetiva entre fibra e matriz pela modificação com anidrido maleico. A melhora na
resistência no ensaio sob solicitação estática foi insignificante, mas a vida em
fadiga foi prolongada por aproximadamente dez vezes para os compósitos com
interface mais forte pelo uso PP-g-MAH na matriz de.PP. Nos testes estáticos de
tração, não houve diferença significativa entre os dois tipos de compósitos. Das
observações microscópicas concluiu-se que a melhor resistência à fadiga dos
compósitos de PP-g-MAH/FV pode ser atribuída à melhor resistência interfacial e
resistência à propagação do desacoplamento interfacial fibra-polímero. A vida útil
sob fadiga foi prolongada por quase uma ordem de grandeza em número de ciclos
com a interface forte, gerada pela modificação da matriz de PP com PP-g-MAH.
Em virtude da interface mais forte nos compósitos PP-g-MAH/FV, o
desacoplamento é suprimido durante a fadiga, a acumulação dos danos se torna
mais restrita e localizada. A interface mais fraca seria, então, a causa para a maior
taxa de propagação dos danos nos compósitos de PP/FV. Através da análise de
fractografia destes compósitos foi verificado que uma grande distribuição e um
crescimento progressivo dos desacoplamentos juntamente com a quebra das
fibras levaram a uma queda acelerada da rigidez. Esta degradação indicou uma
taxa maior de acumulação dos danos e subseqüentemente uma menor vida em
fadiga. Sucessivas quebras de fibra foram observadas nos compósitos de PP/FV,
de onde o crescimento do desacoplamento causou um aumento nos
comprimentos de fibras inefetivos e, portanto a redução gradual na rigidez
longitudinal. Neste contexto, pode-se estabelecer uma correlação qualitativa entre
a modificação química a nível molecular interfacial e as propriedades
macroscópicas de fadiga.
Assim, os compósitos de PP-g-MAH/FV demonstraram danos localizados,
sem mecanismo de propagação, sendo que as pequenas trincas na matriz
85
formadas por vazios eram geralmente interrompidas pelas fibras adjacentes. Isto
resultou em uma maior resistência à fadiga. Na fadiga de compósitos
unidirecionais, as características da interface são mais importantes que para as
propriedades estáticas. A propensão à propagação do desacoplamento causada
pela fraca interface tem um efeito adverso no desempenho sob fadiga.
W. Van Paepegem e colaboradores [43] verificaram o efeito da fricção
entre o corpo-de-prova (CP) e as garras da máquina, durante o ensaio de fadiga
em flexão em três pontos, na variação da forma das curvas de histerese (curvas
de força de flexão (N) versus deflexão (mm)). Concluíram que a área desta curva
não poderia ser uma representação direta da dissipação de energia do material, já
que esta será afetada pelo calor gerado pelo atrito entre os dois materiais. Neste
trabalho também se observou o desgaste provocado pelo atrito existente entre os
CPs e as garras da máquina de fadiga, como pode ser observado na Figura 3.5.
Figura 3. 5 - Desgaste observado no apoio de aço [43].
F. Rodet e colaboradores [53] analisaram o comportamento de
compósitos laminados unidirecionais de Epóxi/FV sob fadiga em condições de
solicitações predominante em cisalhamento e significante tensão/compressão,
usando testes de flexão em três pontos. Os ensaios foram conduzidos por controle
de deslocamento do atuador da máquina (deformação controlada), com uma onda
senoidal e amplitude de deslocamento do atuador constante (chamada amplitude
de deflexão nominal, D
n
), D (deflexão) = D
min
/D
máx
= 0,1 e f = 10 Hz. Os ensaios de
fadiga foram conduzidos até a falha ou até 10
7
ciclos (o que fosse atingido
86
primeiro). Como os ensaios foram conduzidos sob controle de deflexão nominal, a
queda na força durante a ciclagem foi considerada um fator indicativo de danos no
material, correspondendo a um indicador da queda na rigidez do compósito.
Plotando-se linearmente a queda na força versus o número de ciclos obteve-se
uma curva com três regiões distintas. Na primeira região a força sofre uma queda
brusca no estágio inicial da vida sob fadiga (parte 1 da Figura 3.6). Esta
corresponde a um abaulamento no CP na região sob os apoios. Posteriormente, a
força decai de maneira menos acentuada (parte 2 da Figura 3.6), onde não se
observou nenhum dano a olho nu, provavelmente devido a danos microscópicos
difusos. Finalmente, depois de um longo período de danos microscópicos, o CP
quebra e a força decai drasticamente (parte 3 da Figura 3.6).
Figura 3. 6 - Evolução típica da queda na força durante a ciclagem (escala linear,
com deflexão de 0,5 mm) [53].
As superfícies de fratura foram observadas em MEV, onde se constatou
que as fibras quebradas e desacopladas estavam localizadas essencialmente nas
proximidades dos apoios, onde a tensão compressiva é maior.
Os autores adotaram neste trabalho um critério de falha de 5% a 10% de
queda na força (critério comumente usado em fadiga de compósitos de Epóxi/FV.
Segundo este trabalho, o critério de falha adotado deve definir o mais
87
proximamente possível o número de ciclos para ruptura experimental. Neste caso,
este critério foi adotado, pois:
- Com 5% de queda na força o dano no material é irreversível, mas ainda é
possível se identificar os mecanismos.
- Acima de 10% de queda na força muitos mecanismos ocorrem ao mesmo
tempo, e torna-se difícil identificá-los.
Y. Zhou & P.K. Mallick [54] estudaram o comportamento sob fadiga em
compósitos de PP/40%talco em corpos-de-prova moldados por injeção. Eles
buscaram analisar efeitos de orientação relativa à direção de fluxo, linhas de
solda, concentradores de tensão e freqüência de ensaio.
Os ensaios de fadiga foram realizados por controle de carga em tensão-
tensão e com R = 0,1. Para a obtenção de curvas S-N nas análises de efeitos de
orientação, linhas de solda e concentradores de tensão foi utilizado uma
freqüência de 1 Hz, com níveis de tensão de 70 a 95% da resistência à tração
obtida em ensaios de tração (com velocidade de 0,05 mm/min). Já para análise da
influência da freqüência de ensaio foram utilizados de 80 a 85% da resistência à
tração do material com freqüências variadas (0,5
; 1; 2; 5; 10 e 20 Hz).
Figura 3. 7 - Efeito da freqüência na vida sob fadiga de compósitos de
PP/talco [54].
88
Figura 3. 8 - Fotografias de CPs do compósito PP/40%talco testados com
diferentes freqüências com um pico de tensão em fadiga de 85% da tensão
de ruptura do material. a) 0,5 Hz/ b) 1 Hz/ c) 2 Hz/ d) 5 Hz/ e) 10 Hz e
f) 20 Hz [54].
89
Neste trabalho observou-se que a falha em fadiga foi influenciada pela
freqüência de solicitação. Para freqüências menores ou iguais a 2 Hz (0,5
; 1; e 2),
observou-se que o modo de falha dos compósitos de PP/40%talco foi mecânico,
sendo que a vida sob fadiga aumentou com o aumento da freqüência. Porém, para
freqüências maiores ou iguais a 5 Hz, a falha dos compósitos foi devido
amolecimento térmico (Figura 3.8). Além disso, neste caso a vida em fadiga
pareceu não ser influenciada pela freqüência (Figura 3.7).
Em relação aos artigos selecionados sobre o tema fadiga em compósitos
poliméricos, nota-se que não houve ainda uma forte investigação sobre a
influência do tipo de interface/interfase formada nesta propriedade, como por
exemplo, com a utilização de diferentes teores de compatibilizante interfacial,
como foi realizado na avaliação das propriedades de curta duração por P. E.
Lopes [7, 33]. Além disso, a grande maioria dos trabalhos realizou este ensaio em
modo de tração-tração. Apesar deste tipo de teste ser aceito por normas
internacionais (como a ASTM D 3479), o ensaio que possui mais aceitação em
pesquisas é o ensaio em flexão [43]. Neste tipo de ensaio pode-se trabalhar com
tensões (ou deformações) alternantes, ou seja, com R = -1, o que minimiza a
sobreposição do efeito da fluência para a falha do material, fato que não pode ser
realizado em ensaio de tração-tração, onde na maioria dos casos se trabalha com
R = 0,1 (razão entre tensões onde existem apenas tensões positivas ou negativas,
como já mostrado na Figura 3.3)
Além disso, poucos trabalhos foram realizados com compósitos reforçados
com fibras curtas, apesar destes compósitos serem utilizados em vários tipos de
componentes que sofrem influências de solicitações cíclicas.
Verificou-se também através desta pesquisa que em fadiga sob solicitação
cíclica de compósitos termoplásticos, a falha térmica salienta as propriedades da
matriz (que possui propriedades muito dependentes da temperatura), enquanto a
falha mecânica por propagação de trincas nos permitirá investigar a influência de
parâmetros materiais que influenciam as interações interfaciais nos compósitos de
PP/FV.
90
3.3 CARACTERIZAÇÃO DA ADESÃO INTERFACIAL POR DMTA
Os três artigos a seguir se referem à caracterização da adesão interfacial
utilizando a técnica de análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA).
P. S. Chua [10] buscou a caracterização da adesão interfacial em
compósitos de poliéster insaturado reforçado com fibras de vidro através da
técnica de DMTA. Este tipo de análise se mostrou ser uma ferramenta importante
em correlações de efeitos viscoelásticos com estrutura molecular e morfologia, e
também útil na determinação da adesão interfacial através de medidas da perda
de energia mecânica (tan
δ
) usando uma das relações:
exp
tantantan
δ
δ
δ
=
calcadh
(3.1)
+
+
=
mmff
mmmfff
calc
EE
EE
φφ
φδφδ
δ
tantan
tan
(3.2)
Onde tan
δ
adh
é a medida relativa de energia dissipada devido a uma fraca adesão
interfacial, tan
δ
exp
é a medida de perda de energia experimentalmente
determinada para o compósito, e tan
δ
calc
é a perda de energia calculada para o
compósito, a partir da equação (3.2). E é o módulo de elasticidade e
φ
representa
a fração volumétrica. Os subscritos f e m se referem à fibra e à matriz
respectivamente.
Nos testes de DMTA também se observou que o alinhamento das fibras
resultou em anisotropia do compósito. Foi realizada uma comparação entre tan
δ
Tg
(na Tg do compósito) e a resistência ao cisalhamento interfacial (ISS), mostrando
que os agentes de acoplagem usados nas fibras diminuem o valor de tan
δ
Tg
medido e aumentam a ISS e, como conseqüência, há uma melhora na adesão
interfacial. Assim, uma boa adesão interfacial estará relacionada com uma baixa
dissipação de energia e conseqüentemente com baixo tan
δ
Tg
.
91
Foi mostrado que o tan
δ
Tg
é afetado pela reatividade do organosilano com
a matriz polimérica, pela quantidade de organosilano, fração volumétrica da fibra e
diâmetro da fibra (reduzindo-se o diâmetro, ocorreu um aumento da área de
adesão superficial), sendo que o valor de tan
δ
Tg
é reduzido consideravelmente
com o aumento da concentração de fibra de vidro no compósito. A qualidade da
interface fibra-matriz pode ser então, caracterizada pelo tan
δ
Tg
. Ele mostrou,
portanto que o tipo e a quantidade do sizing influenciam o tan
δ
na temperatura de
transição vítrea (tan
δ
Tg
).
Segundo J. Kubát et. al. [9], as interações na interface podem levar a
uma região de interfase próxima à superfície das partículas de carga, com
propriedades diferentes daquelas da matriz polimérica. Como uma primeira
observação em seu trabalho com esferas de vidro utilizadas como reforço de
HDPE, pôde-se assumir que o fator de perda mecânica do compósito tan
δ
c
pode
ser escrito como:
tan
δ
c =
φ
f
tan δ
f
+ φ
i
tan δ
i
+φ
m
tan δ
m
(3.3)
Onde os índices f, i e m representam o reforço, a interfase e a matriz polimérica
respectivamente e
φ
as frações volumétricas. Esta equação não fornece uma
predição detalhada da perda mecânica do compósito, visto que o tan
δ
c
envolve
uma combinação dos comportamentos viscoelásticos em “série” e em “paralelo”.
Contudo, a equação acima é útil para comparar a influência de diferentes
tratamentos superficiais no grau de adesão interfacial entre as fases envolvidas.
As características das interações interfaciais que ocorreram entre o reforço e a
matriz foram representadas através do fator de adesão A
*
.
Assumindo que tan
δ
f
= 0 e que a fração volumétrica na interfase é pequena
demais em relação aos principais constituintes do compósito, a equação (3.3)
pode ser reformulada para fornecer:
*)1)(1(
tan
tan
A
f
m
c
+
φ
δ
δ
(3.4)
com
92
m
i
f
i
A
δ
δ
φ
φ
tan
tan
1
*
=
(3.5)
A equação (3.4) pode ser escrita como:
1
tan
tan
1
1
*
=
m
c
f
A
δ
δ
φ
(3.6)
Se há a ocorrência de fortes interações entre as partículas de reforço e a
matriz na interface, a mobilidade macromolecular nas vizinhanças da superfície do
reforço é reduzida, diminuindo-se o valor de tan
δ
i
e, conseqüentemente, o valor
de A
*
. Assim, baixos valores de A
*
indicam um alto grau de interação ou adesão
entre as fases na interface fibra-matriz.
Concluiu-se, então que o tratamento superficial das partículas influencia o
fator de perda mecânica e que o uso de agentes de acoplagem com ligações
covalentes para melhorar a adesão interfacial pode reduzir significativamente o
fator de perda dos compósitos (neste caso de HDPE reforçado com esferas de
vidro) em temperaturas mais elevadas, provavelmente devido à redução da fricção
polímero/partícula na interface.
A. Afaghi-Khatibi & Y.-W. Mai [55] conduziram um estudo experimental
para examinar a influência do carregamento cíclico nas propriedades interfaciais
de compósitos laminados de Epóxi/FC. Utilizaram-se dois sistemas que diferiram
apenas nos tratamentos superficiais das fibras (oxidada e tratada com sizing e
não-tratada). A existência de diferentes interfases nestes materiais foi estudada
usando-se a técnica de DMTA. Além disso, foram conduzidos testes de fadiga a
vários níveis de carga e posteriormente utilizou-se o DMTA para caracterizar a
degradação interfacial. Os testes de fadiga foram conduzidos nos laminados
unidirecionais e nos laminados com fibras bidirecionais (transversal e longitudinal)
com R = 0,1 e f = 5 Hz, em diferentes níveis de carga para se avaliar a vida em
fadiga destes sistemas. As medidas em DMTA foram realizadas em uma
configuração de flexão em 3 pontos, com taxa de aquecimento de 3º C/ min a
1 Hz.
93
Os resultados da DMTA das amostras que haviam sido submetidas aos
ensaios de fadiga dinâmica mostraram que a fadiga sob carregamento cíclico não
afetou as propriedades interfaciais dos laminados. Além disso, os compósitos com
fibras tratadas apresentaram menor degradação interfacial comparado ao que
utilizou as fibras não-tratadas. Assim, observou-se que o amortecimento mecânico
na Tg para o compósito unidirecional sem tratamento da FC foi muito maior que
para o com FC tratadas. Esta diferença pode ser atribuída ao aumento de
mobilidade das cadeias poliméricas no compósito com pobre adesão interfacial.
Os resultados dos testes de fadiga indicaram que os laminados tratados, ou
seja, com a adesão interfacial otimizada, apresentaram maiores tempos de vida
útil sob fadiga nos níveis de tensão examinados neste estudo. A temperatura
superficial das amostras foi medida durantes os testes de fadiga nos compósitos
com um concentrador de tensão (furo) usando-se um termômetro anexado ao
corpo-de-prova. A temperatura dos corpos-de-prova com tratamento manteve-se
praticamente constante, enquanto para os outros compósitos (não tratados), a
temperatura aumentou, fato que pode ser atribuído à fricção entre as fibras que
sofreram desacoplamento e a matriz, além da delaminação entre as camadas.
Nos trabalhos de P. S. Chua [10], J. Kubát et. al. [9] e A. Afaghi-Khatibi [55],
a análise por DMTA (a 1 Hz de freqüência) mostrou-se uma ferramenta útil na
determinação das características da região interfacial fibra-polímero. Verificou-se,
através desta revisão que o grau de adesão interfacial pode então ser
caracterizado pela propriedade da tangente de perda mecânica (tan
δ). Os autores
observaram que a melhora nesta adesão levaria a uma redução na movimentação
molecular nas regiões próximas à superfície do reforço, diminuindo, portanto a
perda mecânica no compósito, ou seja, diminuindo seu tan delta. Assim, esta
análise se apresentou muito condizente com os objetivos deste trabalho, já que
aqui seriam analisadas as propriedades de compósitos de PP reforçados com FV
com diferentes teores de PP-g-MAH e conseqüentemente diferentes
concentrações de MAH no compósito. A alteração nos teores de PP-g-MAH nos
94
compósitos influenciaria no grau de adesão fibra-polímero e conseqüentemente
nas propriedades dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV.
Desta maneira, como havia a plena consciência de que para se privilegiar a
falha mecânica por propagação de trinca nos ensaios de fadiga dos compósitos de
PP seria necessária a utilização de baixas freqüências, o que estenderia muito o
tempo de realização dos ensaios de fadiga até a falha, realizaram-se ensaios de
DMTA em amostras pré-fadigadas, a fim de que fosse estabelecida uma
correlação entre a resposta de interfase dos compósitos e os resultados de fadiga
obtidos através de ensaios realizados até a falha mecânica dos materiais.
Assim, os principais objetivos desta pesquisa foram investigar em
compósitos de polipropileno homopolímero (PP) reforçado com fibras de vidro
curtas:
1) A influência das características da interfase polímero-reforço, através da
variação na concentração do compatibilizante interfacial de PP funcionalizado com
anidrido maleico, nas propriedades de fadiga mecânica sob solicitação cíclica com
ensaios de flexão em quatro-pontos sob deformação controlada.
2) Utilizar a técnica de análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA) na
avaliação das características interfaciais antes e após a solicitação cíclica, com o
objetivo de estabelecer uma relação entre propriedades dinâmico-mecânicas e a
durabilidade sob fadiga dos compósitos. Neste caso, buscou-se minimizar o tempo
necessário para avaliar comparativamente a influência da compatibilização
interfacial de compósitos no desempenho sob fadiga, sem submeter os mesmos a
longos períodos de solicitação cíclica.
95
4 MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS
4.1 MATRIZ POLIMÉRICA: ASPECTOS GERAIS
As matrizes usadas na confecção de compósitos poliméricos podem ser
termoplásticas ou termorrígidas. Algumas das vantagens dos materiais
termoplásticos seriam: facilidade de processamento, possibilidade de
reprocessamento, ciclo de processamento curto e boa confiabilidade na
reprodução das peças, fatores que justificam, por exemplo, o uso dos polímeros
olefínicos, como matrizes em compósitos.
No início da década de 1950, Ziegler desenvolveu com sucesso um
catalisador complexo para a polimerização do monômero etileno. Natta aplicou
este catalisador de Ziegler no monômero de polipropileno (PP). Natta modificou o
sistema catalítico de Ziegler, formando um sistema catalítico estereoespecífico
capaz de levar à obtenção de polímeros de polipropileno de alto peso molecular
(80.000 a 500.000) e semicristalino (60 a 70% de cristalinidade). Um catalisador
estereoespecífico é aquele que controla a posição de cada unidade monomérica à
medida que se adiciona à cadeia polimérica, dando assim lugar à formação de um
polímero final de estrutura regular a partir de um monômero assimétrico como o
propileno [56]. Atualmente todos os processos de polimerização do PP utilizam
catalisadores Ziegler-Natta com alta atividade e estereoespecificidade. Podem ser
usados catalisadores Ziegler-Natta heterogêneos, que são baseados em
compostos organo-metálicos e metais de transição e mais recentemente a nova
geração de catalisadores metalocênicos, baseados em compostos
ciclopentadiênicos de metais de transição [57].
Quatro anos após a descoberta de Natta, o PP começou a ser
comercializado com os catalisadores estereoespecíficos que controlam a
configuração polimérica, sendo que a isotaticidade do PP estaria diretamente
relacionada à área superficial do catalisador.
96
O PP pode se apresentar em três formas quanto à taticidade: isotático,
sindiotático e atático. A taticidade é a regularidade com que os grupos laterais são
localizados, com relação ao plano definido através dos átomos da cadeia principal
do polímero. Na estrutura isotática, que é a forma comercial mais comum do PP e
também a que será utilizada neste trabalho, os grupos metila dispõem-se do
mesmo lado da cadeia principal estendida [33].
A estrutura regular do PP isotático leva as moléculas do polímero a se
aproximarem fortemente. Existe uma estreita relação entre a regularidade da
estrutura molecular e a cristalinidade de materiais poliméricos. A presença de
grupos metila limita um pouco o movimento das moléculas do polímero e por isso
a cristalização raramente excede 65 – 70%, mesmo quando o material apresenta
uma isotaticidade de 95 – 97%.
O grau de cristalinidade e a morfologia do material têm profundos efeitos
sobre o comportamento mecânico do polímero, e estes fatores podem variar numa
larga faixa. Assim, as propriedades físicas deste material dependem do peso
molecular, do grau de cristalinidade e da porcentagem de material isotático
presente. A maioria dos polipropilenos disponíveis no comércio tem
aproximadamente a mesma isotaticidade, enquanto a cristalinidade de uma dada
amostra, de dada isotaticidade, depende de sua história térmica.
A cristalização do PP a partir do fundido ocorre pela formação dos
esferulitos, com nucleação heterogênea (a partir de impurezas) ou homogênea (a
partir de pequenas regiões ordenadas produzidas por flutuações de densidade).
Assim, morfologia do PP cristalino é caracterizada por uma estrutura esferulítica
lamelar, formada por moléculas dobradas repetidamente sobre si mesmas em
uma ordem tridimensional. A estrutura cristalina do PP geralmente é formada por
estados esferulíticos compostos por células unitárias de forma monoclínica (
α
),
podendo cristalizar-se também na forma hexagonal (
β
) por condições de
resfriamento que ocorre em certas formações de esferulitos. Cada célula unitária
(c.u.) possui quatro cadeias poliméricas e doze unidades monoméricas, sendo que
97
cada cadeia possui uma conformação helicoidal tríplice e densidade cristalográfica
(fase cristalina) de 0,9376 g/cm
3
.
Globalmente, a maior parte dos monômeros deriva do craqueamento
térmico do petróleo, usando a nafta, uma fração disponível do óleo cru.
Usualmente, o produto do craqueamento é o monômero de etileno. A segunda
grande produção do PP vem do processo de refinamento da gasolina. Finalmente,
e mais recentemente, um novo processo no qual o propano é desidrogenado a
monômero de PP tem sido usado para a produção deste polímero. Uma vez
produzido, o PP é purificado através da remoção do catalisador residual, tornando-
se apto para obter a qualidade desejada da matéria-prima final [58].
4.1.1 RELAÇÃO ENTRE ESTRUTURA, PROPRIEDADES E APLICAÇÕES DA
MATRIZ POLIMÉRICA
O PP possui um excelente balanço de propriedades físicas quando
comparado a outros termoplásticos de baixo custo. O módulo do PP semicristalino
é dependente principalmente do grau de cristalinidade entre a temperatura de
transição vítrea Tg e a temperatura de fusão cristalina (transição de primeira
ordem) Tm. Abaixo da Tg, a fase amorfa também se torna rígida e o polímero
apresenta um comportamento tipicamente frágil (vítreo). O intervalo de
temperatura para seu uso é limitado entre suas temperaturas Tg, que varia entre –
10 e 10 ºC, função da influência da taticidade, peso molecular e das técnicas
experimentais utilizadas (ex. DMTA, DSC, etc.), uma transição secundária (
α’),
que geralmente aparece como um “ombro” nas curvas de tan delta obtidas por
DMTA, sendo relacionada à relaxação das cadeias de longas interligações entre
os domínios cristalinos do PP, e a Tm do PP puro isotático e isotermicamente
cristalizado é de ~187 ºC, sendo 23 a 28 ºC maior que o determinado nos PP’s
comerciais [59].
98
O PP possui uma estrutura essencialmente de cadeias lineares, é apolar e
semicristalino, com aparência transparente ou translúcida, dependendo da
natureza e do grau de cristalinidade. Devido ao seu caráter cristalino, é solúvel
apenas em temperaturas elevadas (acima de 80 ºC) em solventes aromáticos,
como xileno, tolueno e tricloroetileno. Possuem excelente resistência à água e
soluções aquosas, solventes orgânicos e álcali.
Este polímero, devido ao seu bom balanço de propriedades, tem
encontrado uma utilidade interessante na indústria automotiva. A penetração do
PP neste mercado deve-se primeiramente à sua fácil coloração para aplicações no
interior de veículos, e é um material de baixo custo. O PP pode também ser
modificado com vários aditivos, como as fibras de vidro para melhora na
resistência mecânica, negro de fumo e partículas/fibras de aço, para melhora nas
propriedades de condução térmica e elétrica e com carbonato de cálcio, talco e
mica para melhoras na rigidez e outros aditivos para produção de outros efeitos no
composto [30]. O PP tem apresentado um crescimento significante durante os
últimos 45 anos, devido à sua versatilidade, sua habilidade de ser modificado para
aplicações específicas, seu balanço entre propriedades físicas, mecânicas,
elétricas, químicas e térmicas, e seu preço competitivo [30]. Adicionalmente,
materiais com base em PP têm boa estabilidade em uma ampla faixa de
temperaturas, além de manter boa parte de suas propriedades mecânicas após
reciclagem. Este polímero pode ser processado em uma grande variedade de
equipamentos, sendo possível a produção de artigos diversos, além de possuir
uma baixa densidade em relação aos outros plásticos de engenharia, sendo este
um fator fundamental para a obtenção de alta resistência específica
(resistência/densidade) para aplicações estruturais de baixo custo.
O material polimérico que irá ser utilizado nesse trabalho é um polipropileno
homopolímero isotático na forma de “pellet”, fabricado pela Polibrasil VM 6100K,
indicado pelo fornecedor como um dos PP’s mais apropriados para uso em
compostagem com FV curtas (ver Apêndice A). Este tipo de resina também foi
escolhido em função da sua relação custo/benefício sob condições de
99
reforçamento com FV. Este polímero está sujeito à degradação oxidativa em
temperaturas elevadas de processamento, mas a adição de pequenas
quantidades de antioxidante pode estabilizá-lo [56].
4.1.2 FIBRAS DE VIDRO
Apenas muito tempo depois da descoberta do vidro pelos egípcios (3000
anos a.C.), mais precisamente em 1713, o cientista René Antoine de Rèaumur
previu que o vidro poderia ser fiado. Já em 1931, a Owens Illinois Company
desenvolveu um processo comercialmente viável para esta fiação e em 1938
aperfeiçoou o método para a obtenção de fios contínuos de vidro. Já nesta época
ela se uniu à Corning Glass Works para a formação da Owens-Corning Fiberglass
Industry [57].
A composição das fibras de vidro varia de acordo com o tipo de vidro a ser
obtido, com os tipos de óxidos utilizados na fabricação, com a temperatura e com
a taxa de resfriamento, fatores que controlam a qualidade do material formado. As
matérias-primas para a fabricação das fibras de vidro podem ser a areia, argila ou
vidro recuperado. Na composição, o óxido mais importante e em maior
concentração é a sílica (SiO
2
). No processo de fabricação, utiliza-se o óxido de
sódio (Na
2
O) para se conseguir a fusão da sílica a temperaturas mais baixas. Já a
adição de óxido de cálcio (CaO) estabiliza a fragilidade do material à corrosão e
minimiza a propagação de microtrincas, mas sujeita o vidro à devitrificação.
Pequenas quantidades de alumina (Al
2
O
3
) evitam esta devitrificação, porém
causam um aumento na viscosidade de trabalho do material.
100
Tabela 4. 1 - Composição química aproximada de alguns tipos de FV [60].
Constituintes Tipo E Tipo S Tipo C
SiO
2
55,2 65,0 65,0
Al
2
O
3
8,0 25,0 4,0
MgO
4,6 10 3,0
Na
2
O
0,3 0,3 8,5
K
2
O
0,2 -- --
B
2
O
3
7,3 -- 5,0
A uma temperatura de 1.260 ºC, o vidro fundido e viscoso passa por uma
fieira com placa de platina e rádio, com uma quantidade de furos de 400 a 2000,
com diâmetros que variam de 0,8 a 3,2 mm. As fibras são então estiradas
rapidamente, ficando com um diâmetro de 3 a 20 mícrons. No resfriamento, lança-
se um jato de água sobre o fixe de filamentos, fazendo com que o vidro não tenha
tempo de cristalizar. Uma camada protetora (sizing) é então aplicada a cada
filamento individualmente, antes deles serem agrupados em um fio (strand) que é
enrolado em um carretel. O sizing, como é chamada a aplicação desta proteção,
tem a função de proteger a fibra da umidade e da abrasão, além de funcionar
como um promotor de adesão e proteger os filamentos durante o processamento e
permitir uma boa molhabilidade da fibra pela resina.
A camada de proteção é uma mistura de lubrificantes (que previnem a
abrasão entre os filamentos), agentes antiestáticos (que reduzem o atrito estático
entre os filamentos) e um ligante, “binder”, que facilita a junção dos filamentos
para a formação do fio “strand”. Eventualmente, o “sizing” pode conter pequenas
porcentagens de um agente de acoplagem, que promova a adesão entre as fibras
produzidas e a matriz específica para a qual essas fibras estão sendo
fabricadas [13].
Algumas dificuldades do processo produtivo são a falta de homogeneidade
na composição, a ocorrência da cristalização do vidro e a utilização de altas
temperaturas de fabricação.
101
4.1.3 CARACTERÍSTICAS DO REFORÇO FIBROSO
A descrição de um compósito como um sistema, além de incluir os
materiais constituintes e suas propriedades, necessita das características do
reforço, em termos da forma geométrica, tamanho, distribuição de concentração e
de orientação.
Em geral, partículas não são tão eficientes quanto as fibras na melhoria de
propriedades, pois a maioria dos materiais é mais resistente e mais rígido na
forma fibrosa. O uso de fibras em materiais de alto desempenho é baseado em
três características:
a) fibras de pequeno diâmetro apresentam menor probabilidade de
defeitos e, portanto, maior fração da resistência teórica do material pode ser
atingida;
b) alta razão de aspecto (relação comprimento/diâmetro – l
f
/d
f
) permite
que elevada fração de carga aplicada ao compósito seja transferida para o reforço
fibroso rígido e de alta resistência;
c) alto grau de flexibilidade das fibras, o que facilita a fabricação dos
compósitos, sendo viável o emprego de várias técnicas para tal.
As fibras de vidro apresentam como vantagens baixo custo e alta
resistência à tração e rigidez por unidade de massa. Além disso, elas possuem
boas propriedades térmicas, boa estabilidade dimensional e baixas constantes
dielétricas. Sobre as desvantagens das fibras de vidro pode-se citar baixo módulo
em tração, adesão complicada à matriz polimérica, principalmente na presença de
umidade, e baixa resistência à abrasão.
As fibras de vidro correspondem a 90% de todos os reforços utilizados com
matrizes poliméricas.
O reforçamento nas propriedades mecânicas do polímero pela incorporação
da FV depende do efeito combinado da sua fração volumétrica e do seu arranjo
(distribuição e orientação) na matriz. As mais altas resistências e rigidez são
102
obtidas quando as fibras estão paralelas umas às outras, com a carga aplicada
nesta direção.
A FV para uso como reforço em termoplásticos é fornecida de duas formas:
através de filamentos contínuos, ou seja, fibras longas (“Continuous Roving”) ou
na forma de filamentos picados, fibras curtas (“Chopped Strand”), forma que será
utilizada neste trabalho. Geralmente o comprimento das fibras curtas varia de 3 a
12 mm e seu diâmetro está entre 10 e 15 mícrons, sendo sua densidade (Tipo E)
de aproximadamente 2,6 g/cm
3
.
A fibra de vidro a ser utilizada neste trabalho será a fibra do tipo E,
fabricada pela Saint Gobain – Divisão Vetrotex do Brasil (ver Apêndice A). A
designação da fibra é EC 13 4,5 P337, onde E é o tipo de vidro, C significa
processo contínuo, 13 é a dimensão em mícrons do diâmetro nominal do filamento
básico, 4,5 é o comprimento nominal das fibras em milímetros, e P337 é um tipo
de sizing específico da Vetrotex para tratamento superficial das FV a base de
aminopropiltrietoxisilano (APS) – H
2
N(CH
2
)
3
Si(OC
2
H
5
)
3,
adequado para uso em
matrizes de PP.
4.1.4 COMPATIBILIZANTE INTERFACIAL DE POLIPROPILENO ENXERTADO
COM ANIDRIDO MALEICO (PP-G-MAH)
Como o PP é um polímero apolar, uma de suas limitações é a falta de sítios
reativos para promover a sua compatibilização em compósitos com FV. A
modificação química do PP através da funcionalização da molécula é um meio
eficiente para que propriedades desejáveis sejam introduzidas ao PP sem afetar a
natureza de sua cadeia principal. Esta funcionalização é introduzida, mais
comumente, através do processo de extrusão reativa, como citado anteriormente.
Existem algumas controvérsias sobre a posição exata da ligação do
anidrido maleico à cadeia polimérica (ligação no final da cadeia ou pendente ao
103
longo desta), sendo que várias teorias têm surgido para explicar o mecanismo de
enxertia, sendo que a maioria indica que o MAH enxertado na cadeia do polímero
após a cisão
β (Figura 2.13) [30]. A Figura 4.1 mostra a estrutura química final
mais provável (geralmente sugerida pela maioria dos pesquisadores) e
representativa da enxertia de MAH na cadeia polimérica, sendo esta assumida nos
estudos junto à interface fibra-matriz, porém, na realidade, este grupo pode estar
presente em outros lugares na cadeia polimérica do PP.
O anidrido maleico altera as propriedades físicas e reológicas da matriz,
contribuindo para a melhor dispersão e adesão das fibras de vidro junto à matriz
[30]. Este grupo reage com os grupos funcionais presentes na superfície das
partículas para formar ligações químicas como um mecanismo de interação
primário, esquema ilustrado nas Figuras 4.2 e 4.3. Dependendo do tipo de
partícula de reforço, vários tipos de funcionalidade superficiais são disponíveis
para a reação com o anidrido. O outro tipo de interação seria entre os finais livres
das cadeias do compatibilizante e as cadeias da matriz polimérica.
Figura 4. 1 - Estrutura química ilustrativa do PP enxertado com anidrido maleico
[30].
Conforme literatura [61] existe duas etapas de reações químicas mais
prováveis que podem ocorrer na superfície da FV entre os grupos funcionais MAH
e NH
2
nos compósitos PP/PP-g-MAH/FV, que estão apresentadas na Figura 4.2 e
resumidas na Figura 4.3. A Figura 4.2 mostra a formação dos grupos amida e
posteriormente dos grupos imida, que estão ampliados resumidamente na Figura
4.3, sendo que no final tem-se a reação entre os grupos MAH e os grupos amino-
104
funcionais do siloxano na superfície da FV, gerando um copolímero de PP-co-
siloxano na interface fibra-polímero.
Figura 4. 2 - Modelo Cinético mais completo para Formação da Ligação Imida [61].
Figura 4. 3 - Esquema ilustrativo da acoplagem reativa entre os grupos de MAH e
os grupos amino-funcionais do siloxano na superfície da FV.
O comportamento da interfase tem uma função preeminente na sua
habilidade de transferir tensões da matriz aos reforços, na estabilidade hidrolítica e
no comportamento à fratura do compósito. A transferência de tensão eficiente da
105
matriz polimérica para a fibra de vidro implica num envolvimento maior da matriz
polimérica e não apenas uma adesão no contorno da interface fibra/matriz.
Neste trabalho o agente compatibilizante que será utilizado é o Polybond
PB 3200 (M
n
= 51,5.10
3
g/mol, M
w
= 124 . 10
3
g/mol e % MAH
nominal
= 1,0),
fornecido pela Uniroyal Química (Crompton) com denominação de “Polybond
Modified Polyolefin”, indicado para aplicações de PP reforçado e em blendas
poliméricas. A escolha deste compatibilizante foi baseada na análise de resultados
apresentados em vários trabalhos [33, 4, 5, 7] citados no Capítulo 3, sendo que
nestes pode ser observado sua eficiência em relação aos outros tipos disponíveis
no mercado.
4.2 METODOLOGIA EXPERIMENTAL
4.2.1 PLANO DE TRABALHO
O desenvolvimento experimental deste trabalho foi dividido em:
1) Caracterização das matérias-primas;
2) Preparação das composições;
3) Preparação dos corpos de prova;
4) Avaliação das propriedades mecânicas de curta duração (ensaios
estáticos de flexão em quatro pontos);
5) Avaliação das propriedades mecânicas de longa duração (ensaios de
fadiga por flexão em quatro pontos sob deformação controlada)
6) Análise dinâmico-mecânica (DMTA) e análise microestrutural (MEV) dos
materiais.
106
4.2.2 CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAIS-PRIMAS
4.2.2.1 TITULOMETRIA ÁCIDO-BASE
A determinação da quantidade de anidrido maleico reagido na cadeia do PP
do PP-g-MAH por titulometria foi realizada baseando-se na técnica desenvolvida
por X. Zhou et al (indicador de fenolftaleína) [62], também utilizada nos trabalhos
de S. H. P. Bettini [32] e P. E. Lopes [33].
Na titulometria determina-se a concentração (normalidade) através da
mistura de uma solução de concentração conhecida (B) básica (N
B
) que reage
quimicamente com outra solução de concentração desconhecida (A) ácida (N
A
),
onde as concentrações são inversamente proporcionais aos volumes (V) das
soluções, ou seja, N
A
.V
A
(líq.) = N
B
.V
B
(líq.). O volume exato da solução de
concentração básica conhecida (V
B
) que foi adicionado ao volume da solução
ácida (V
A
) suficiente para completar a reação ácido-base é determinado, por
exemplo, através de mudança de cor, através da introdução de um indicador
ácido-base.
Como no compatibilizante interfacial fornecido existe a presença de grupos
anidrido exertados ou não na cadeia do PP, antes da titulação foi realizada uma
extração dos grupos não incorporados ao polímero, presentes no PP-g-MAH, em
um “Soxhlet” com acetona (solvente do anidrido maleico). Para tal, colocou-se 20g
de PP-g-MAH em um “saquinho” feito de papel de filtro, e este foi então colocado
em um extrator Soxhlet com acetona para extração do anidrido maleico por 12
horas. Esta amostra foi posteriormente colocada em estufa à vácuo a 130 ºC por
100 horas para a remoção da acetona, e para se garantir a conversão completa
dos grupos carboxílicos à anidridos maleicos, para a realização da titulação. Este
procedimento é necessário visto que nas amostras de PP-g-MAH existem
moléculas na forma de grupos ácidos e anidridos, necessitando convertê-los a um
único grupo para assegurar apenas uma única estequiometria de reação.
107
Antes da titulação propriamente dita, foi realizada a padronização da base,
utilizando-se para tal uma solução 0,005N de biftalato de potássio (que possui um
elevado equivalente em grama (E
1
), o que possibilita minimizar o erro decorrente
da pesagem do KOH). Para a preparação da solução de biftalato de potássio em
água destilada utilizaram-se as seguintes equações:
VNEm ..
1
=
(4.1)
n
M
E
=
1
(4.2)
Sendo m a massa em gramas, E
1
o equivalente em gramas (g/mol), N a
normalidade, V o volume em litros, M a massa molar do material e n o número de
hidroxílas ou hidrogênios ionizáveis. No caso do biftalato, N = 0,005N, E
1
= 204,22,
V = 5mL, M = 204,22 g/mol e n = 1. Assim, da equação 4.1, encontra-se que a
massa necessária para a preparação desta solução seria de 0,00510g.
Assim, foram preparados três soluções com mesmos volumes (5,0 mL) de
mesma concentração (0,005N) de biftalato de potássio em água destilada. A estas
soluções foram adicionadas 5 gotas de uma solução com 1% em volume de
fenolftaleína em metanol, para a indicação do ponto de viragem (mudança da
coloração da solução de biftalato de incolor para rósea).
Já a solução básica de KOH em metanol foi preparada utilizando-se
também as equações. Neste caso, para o KOH, N = 0,005N, E
1
= 56,0982,
V = 0,5L, M = 56,0982 g/mol e n = 1. Portanto, a massa necessária para a
preparação desta solução foi de 0,14024g.
Realizou-se, então a padronização da solução básica de KOH a 0,005N em
metanol. Para a realização da padronização, a solução de KOH foi colocada em
uma microbureta com capacidade para 5mL e precisão de 0,01mL. Esta solução
foi gotejada nos erlenmeyers contendo a as soluções de biftalato de potássio com
o indicador. Este gotejamento ocorreu até que a solução de biftalato de potássio
apresentasse uma coloração rósea após agitação. Esta padronização foi realizada
108
três vezes para que se fosse obtida uma média da normalidade da solução de
KOH.
Com a padronização, calculou-se o N
B
real da solução de KOH através da
equação N
A
V
A
= N
B
V
B
, onde N
A
é a normalidade da solução de biftalato de
potássio (estipulada em 0,005N, já que a estequiometria desta padronização seria
de 1:1) e V
A
o volume das soluções (5,0 mL). Já V
B
é o volume gasto da base
durante a padronização.
Após a padronização (realizada 1h antes da titulação para se minimizar
possíveis erros), foi realizada a titulação à quente em meio não-aquoso dos
grupos ácidos derivados dos anidridos presentes na amostra de PP-g-MAH para a
quantificação do anidrido maleico reagido na cadeia do PP:
Pesaram-se 1,85g de PP-g-MAH (com precisão de 1.10
-4
g) para um
balão de 500mL (balão de 3 bocas, com especificação de 24/40 para cada boca);
Adicionaram-se 150 mL de xileno por pelo menos 1 hora sob refluxo
(em 130 ºC), até a completa solubilização do PP-g-MAH.;
Interrompeu-se o aquecimento e, após um rápido resfriamento (até
90 ºC), adicionou-se pelo topo do condensador 1mL de água destilada para se
hidrolisar as funções anidrido (realizando a abertura do anel deste grupo)
presentes na solução, transformando-os em ácidos carboxílicos (COOH);
Retornou-se o aquecimento por no mínimo 1 hora (ou em um tempo
necessário para completa solubilização da amostra);
Titularam-se imediatamente os grupos ácidos, antes de esfriar, com
solução básica conhecida de 0,005 N de hidróxido de potássio (KOH) em metanol
em um dosímetro Metrohm, modelo 665 Dosimat, após a adição de 5 gotas de
solução indicadora a 1% de fenolftaleína em metanol. Quando toda a solução
ácida (COOH) reagir com toda a solução básica (KOH) haverá a neutralização,
sendo que uma gota a mais da solução básica adicionada à solução ácida tornará
o meio básico, ocorrendo mudança de cor (a fenolftaleína é vermelha em meio
básico). O ponto de viragem ocorre quando a coloração rósea permanece por
109
mais de 1 minuto. Deve-se lembrar que o PP-g-MAH deve estar solúvel à
temperatura de refluxo e não deve precipitar durante a titulação.
O resultado da titulação é o volume da solução básica de KOH gasto até o
ponto de viragem. Com este valor calcula-se a concentração de COOH obtido por
esta análise, respeitando-se a estequiometria da reação.
4.2.2.2 MEDIDAS DE ÍNDICE DE FLUIDEZ (MFI)
As medidas de índice de fluidez (MFI) foram realizadas em um plastômetro
manual no qual se mede o deslocamento do pistão em um dado tempo. Este
ensaio é padronizado pela norma ASTM D1238. As amostras de PP e PP-g-MAH
foram testadas na temperatura de 230 ºC e submetidas a um peso de 2,16 kg.
Considerando-se a densidade do fundido (0,74 g/cm
3
para o PP) calculou-se a
taxa de fluidez em gramas a cada 10 minutos para as amostras. Para o PP
obteve-se um MFI de aproximadamente 20 g/10 min e para o PP-g-MAH, apesar
da dificuldade no procedimento deste teste para este material, já que este é um
material de alta fluidez, encontrou-se um valor maior que 170 g/10 min.
4.2.3 PREPARAÇÃO DAS COMPOSIÇÕES
A preparação das composições foi realizada em uma extrusora dupla-rosca
corrotacional, interpenetrante, modelo ZSK-30, da Werner-Pfleiderer (D
rosca
= 30
mm e L
rosca
/D
rosca
= 35), com um perfil de rosca de alto cisalhamento para mistura,
utilizado por P. E. Lopes [33] e mostrado no Apêndice B, transformando o material
em forma de grânulos (“pellets”).
110
O barril desta extrusora possui treze segmentos, sendo que no último acopla-
se o cabeçote, e neste encaixa-se a matriz. No barril existem seis zonas de
aquecimento por resistência elétrica. Nesta extrusora existem dois alimentadores
gravimétricos automáticos da K-Tron. O primeiro utilizado para controle da taxa de
entrada e transporte dos grânulos (pellets) de PP misturados ao PP-g-MAH no
primeiro barril, e o outro um alimentador lateral (side feeder) localizado no oitavo
barril (início da zona de mistura/malaxagem) para a incorporação forçada da FV
curta. Esta região é onde ocorre a molhabilidade, a dispersão e a quebra das FV,
parâmetros que refletem diretamente nas propriedades do compósito.
A rosca dupla da extrusora possui vários elementos que são empregados em
diversas funções (como a fusão, mistura e a condução do fundido polimérico),
sendo que as dimensões destes podem ser variadas, ou eles podem ser
posicionados de acordo com as características finais de mistura desejadas do
extrudado.
Antes da extrusão, os materiais PP e FV foram secos a 90 ºC durante 2
horas e o PP-g-MAH foi submetido a uma temperatura de 120 ºC por 3 horas [33].
Houve uma mistura prévia do PP com estabilizantes térmicos e antioxidantes
(produtos que previnem a cisão de cadeias do PP, e, também, devido à resíduos
de catálise, as oxidações no carbono terciário do PP nas altas tensões de
cisalhamento, e à alta temperatura de processamento, evitando a degradação do
PP durante o processamento), gerando um concentrado na proporção
PP/estabilizantes de 3:1. A proporção utilizada entre os estabilizantes Irganox
1010 (à base de fenóis que atuam como antioxidantes primários, interrompendo a
reação de propagação em cadeia) e Irgafos 168 (à base de fosfitos, que agem
como estabilizante secundários, reagindo com hidroperóxidos por mecanismo
iônico, formando produtos não-radicais) foi de 1:2, respectivamente (relação
especificada por fornecedor).
Este concentrado foi posteriormente utilizado na estabilização de todas as
composições, sendo utilizado 0,5% de estabilizantes em peso sobre o PP + PP-g-
MAH (ou 2% em peso de concentrado), misturado manualmente com estes
111
materiais, antes de colocados no sistema de alimentação da extrusora. Para todas
as extrusões houve um controle rigoroso das concentrações em peso dos
componentes das misturas.
A taxa de produção (vazão total) e a rotação da extrusora utilizadas foram
as mesmas otimizadas em um trabalho anterior [33] (15 kg/h e 200 rpm,
respectivamente), parâmetros que foram determinados para que fosse alcançado
um tempo de residência mínimo necessário para uma boa mistura/malaxagem das
fibras com o polímero fundido, garantindo que o extrudado estivesse uniforme,
sem degradação da matriz de PP e para que o polímero interagisse com as fibras
sem que houvesse uma quebra excessiva destas, proporcionando uma maior
molhabilidade (bom encapsulamento das fibras pela matriz) e melhor dispersão e
promovendo as reações de compatibilização interfacial polímero-reforço.
A porcentagem de fibra (30% em peso no compósito) não foi alterada
durante a preparação das composições, e o grau de adesão alcançado foi variado
em função do teor de anidrido maleico em peso no compósito adicionado. A
escolha dos teores de PP-g-MAH que seriam adicionados aos compósitos foi
realizada de acordo com os resultados obtidos anteriormente por P. E. Lopes [7].
Neste trabalho [7], para as análises de propriedades de curta duração, foram
utilizados os teores de 0; 0,25; 0,5; 1; 2; 5 e 10% de PP-g-MAH em peso no
compósito, misturados manualmente com o PP, para alimentação gravimétrica.
Estes resultados indicaram que o aumento na concentração relativa de MAH/FV
contribuiu para o aumento das propriedades de RT e RI até alcançar uma
concentração mínima crítica de MAH, acima da qual estas nivelariam. Para a
propriedade de RT, o teor de PP-g-MAH ótimo seria de 2% e para a propriedade
de RI seria de 5% em peso. Esta concentração ótima corresponderia ao ponto de
saturação da superfície da FV, com a formação do copolímero de PP-co-siloxano
na interfase. Com base nestes resultados foram escolhidos os teores de 0; 0,5; 1;
2 e 5% em peso no compósito para serem aqui analisados. Assim seriam
observados três pontos com teores inferiores, o ponto de concentração mínima
crítica (2% e 5%) para RI e RT, respectivamente, e um ponto acima para a
112
propriedade de RT, abrangendo-se assim todos os pontos da curva de resistência
à tração versus teor de PP-g-MAH. Outros pontos poderiam ser analisados, mas
infelizmente havia uma quantidade limitada de material para a compostagem dos
materiais compósitos.
Corpos de prova para ensaios de fadiga de todas as composições foram
moldados por injeção para a realização dos ensaios de resistência à fadiga por
flexão em quatro pontos.
4.2.4 PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA
Após serem extrudados e picotados, os compósitos foram previamente secos
em uma estufa (90 ºC durante 2 ou 3 horas) antes de serem alimentados na
injetora [33]. A máquina utilizada na preparação dos corpos-de-prova para os
ensaios de flexão, na forma de barras retangulares segundo a norma ASTM D
6272, foi a injetora automática Arburg Allrounder, modelo 270 V/300-120, do tipo
rosca recíproca, com diâmetro de rosca de 25 mm.
Tabela 4. 2 - Condições do processamento para injeção dos corpos-de-prova de
flexão
Temperatura do Barril (ºC)
Zonas
Temp. do
molde (ºC)
Pressão
de
Injeção
(bar)
*
Dosagem
(cm
3
)
Pressão
de
Recalque
(bar)
*
Veloc.
de
Injeção
(cm
3
/s)
1 2 3 4 5
190 210 230 240 240
70 1.300 24 500 10
* Valor Nominal
113
4.2.5 TEOR DE FIBRA APÓS EXTRUSÃO E INJEÇÃO
Uma análise do teor de cinzas de diversas formulações foi realizada, após a
extrusão para se verificar e confirmar as porcentagens de cada componente nas
formulações, sendo que esta análise foi realizada em um forno microondas de
marca CEM, modelo AW7000 a uma temperatura de 620 ºC por 30 minutos, para
que toda a matéria orgânica (composta pela matriz e pelo tratamento da fibra)
fosse decomposta, restando apenas a parte inorgânica, referente às fibras de
vidro.
O procedimento utilizado para a obtenção real de fibra de vidro presente no
compósito esta detalhado abaixo.
Pesagem dos cadinhos e das amostras antes da queima (cadinho e
cadinho + amostra);
Queima por 30 minutos a 620 ºC;
Descanso no dessecador por 20 minutos;
Pesagem do cadinho mais a amostra após a queima (cadinho + amostra
após queima)
OBS: A análise para determinação da concentração em peso do tratamento
superficial da fibra de vidro foi realizada seguindo-se os mesmos procedimentos,
porém queimando-se apenas fibras não processadas.
Assim, foi possível se calcular a porcentagem de reforço presente no
compósito, através da equação 4.4. As pesagens foram realizadas em uma
balança de precisão de 10
-3
gramas. O mesmo procedimento foi adotado para os
corpos-de-prova injetados.
.100*100%
=
+
+
cadinhofibracadinho
cadinhofibracadinho
PesoqueimaapósPeso
PesoPeso
umidade
(4.3)
114
()
cadinhocompósitocadinho
cadinhocompósitocadinho
corrigida
PesoqueimaapósPeso
umidade
PesoPeso
fibra
+
=
+
+
100
%
1*
%
(4.4)
Esta temperatura de 620 ºC foi escolhida pois acima de 650 ºC as fibras de
vidro sofrem um processo de devitrificação, tornando-se frágeis, o que poderia
afetar posteriormente o manuseio das fibras (aumentando a quebra durante a
preparação das lâminas para caracterização dos comprimentos de fibra presentes
nos compósitos) [63].
4.2.6 CARACTERIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE COMPRIMENTOS DE FIBRA
EM COMPÓSITOS
4.2.6.1 PROCEDIMENTO DE PREPARAÇÃO DA LÂMINA
Previamente as lâminas de vidro a serem utilizadas foram lavadas com
água e limpas com álcool. Preparou-se, então, em um becker uma solução de
água destilada + álcool na proporção de 1:1. Nesta solução dispersaram-se as
fibras de vidro (FV) contidas no cadinho, extraídas do compósito por queima (ver
item 4.4.5) com agitação vigorosa, não utilizando para tal nenhum utensílio (para
evitar a quebra excessiva das fibras durante esta preparação). Durante a agitação
algumas gotas desta suspensão foram retiradas e pipetadas na lâmina já limpa.
Após o espalhamento das gotas com uma espátula de metal, colocou-se a lâmina
com as fibras espalhadas para secar numa placa quente, até a total evaporação
do álcool e da água. A amostra foi então identificada.
115
4.2.6.2 PROCEDIMENTO DE MEDIÇÃO DE COMPRIMENTOS DA FIBRA
Para a medição de comprimentos das fibras foi utilizado um microscópio
ótico LEICA acoplado a um analisador de imagens (software ImageProPlus). Este
analisador de imagens foi calibrado com escala graduada para dimensões (em
décimos e centésimos de milímetro) na faixa de comprimentos de fibras esperada
na amostra (foi realizada uma calibração para cada aumento utilizado no
microscópio). Colocou-se a lâmina no microscópio e ajustou-se o foco e o
aumento da lente com o objetivo de captar tanto fibras curtas e longas. Capturou-
se a imagem da amostra de fibras no analisador de imagens e mediram-se os
comprimentos de todas as fibras com uma razão de aspecto (relação entre
comprimento e diâmetro da fibra) a partir de 2:1*
1
para cima, com ajuda do cursor
do analisador de imagens. Estabeleceu-se o critério de medir um número mínimo
1.200 fibras (*
1
- para análise quantitativa empregada na determinação de
resistência ao cisalhamento interfacial fibra-polímero ou comprimento mínimo
crítico da FV);
Durante este procedimento evitou-se medir fibras que estavam sobrepostas
uma ao lado da outra na mesma direção ou de fibras cujo comprimento estivesse
interrompido na borda da imagem da amostra.
As medidas dos comprimentos das FV foram salvos e os dados foram
transferidos para um programa de PC (Excel) para se calcular os valores de
comprimento médio numérico (L
n
) e ponderal (ou volumétrico - L
w
) e a dispersão
de comprimentos (
n
nw
L
LL
) e também para que fossem plotados os histogramas
de distribuição de comprimentos da FV.
O cálculo dos comprimentos médios L
n
e L
w
e sua dispersão são dados por:
=
i
ii
n
n
nl
L
.
;
=
ii
ii
w
nl
nl
L
.
.
2
e
n
nw
L
LL
Dispersão
=
(4.5)
116
Onde, n
i
é o número de fibras com um determinado comprimento l
i
(isto é, dentro
de um especificado intervalo de comprimentos próximos a l
i
). O valor de
comprimento médio numérico (L
n
) é sempre menor que o comprimento médio
ponderal (L
w
). O comprimento médio das fibras baseado no valor de L
w
é de maior
relevância, visto que o mesmo reflete a proporção do teor total de fibras de um
dado comprimento.
4.2.7 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CURTA DURAÇÃO – ENSAIOS DE
FLEXÃO EM QUATRO-PONTOS
A escolha dos ensaios de flexão em quatro pontos em detrimento dos
ensaios em três pontos ocorreu com base nos objetivos centrais do trabalho.
Como se pretendia envelhecer alguns corpos-de-prova em fadiga para posterior
análise em DMTA, o dispositivo utilizado durante os ensaios de flexão estáticos e
principalmente o ensaio de fadiga mecânica deveria possibilitar que uma porção
significativa do CP (de pelos menos 50 mm de comprimento) não fosse danificada
pelo atrito com o contato dos apoios. Assim, os ensaios de flexão em três pontos
foram imediatamente descartados, já que o ponto de aplicação da carga,
localizado no centro do CP, geraria defeitos superficiais que impossibilitariam a
utilização desta região dos corpos-de-prova nas análises posteriores. Por outro
lado, os ensaios de flexão em quatro-pontos submeteriam a região central dos CP
a uma tensão constante e sem defeitos introduzidos em sua superfície,
aumentando a confiabilidade e a reprodutibilidade dos ensaios.
O ensaio de flexão em quatro pontos consiste basicamente na aplicação de
uma carga (P), em dois pontos, com uma velocidade constante sobre um corpo de
prova na forma de uma barra retangular (largura “b” e espessura “d”) apoiado a
uma distância de apoio (L), resultando numa deflexão ou flexão (D) (Figura 4.4). O
117
ensaio produz uma curva de carga (P) x deflexão (D), sendo que a inclinação da
tangente (m) na porção inicial linear da curva carga-deflexão pode ser calculada
para obtenção do módulo em flexão em quatro pontos.
Figura 4. 4 - Esquema do ensaio de flexão em quatro pontos de barras
retangulares. Os cilindros representam os apoios para os corpos-de-prova.
No caso deste trabalho, esta configuração de ensaio teve que ser adaptada,
pois o mesmo tipo de configuração deveria ser utilizado nos ensaios dinâmicos de
fadiga em flexão em quatro-pontos, no qual se buscava uma tensão média zero,
ou seja, R = -1 (isto é, ensaio com tensões máximas positivas e negativas [42]).
Deste modo, os ensaios de fadiga deveriam ser realizados de modo que o material
fosse conduzido até os extremos de deformação máxima (positiva) e mínima
(negativa), passando por um zero, mesmo que devido à viscoelasticidade dos
materiais poliméricos ou devido ao amolecimento resultante de um possível
aquecimento por histerese após um dado número de ciclos, ele não respondesse
mais de forma elástica. O efeito da viscoelasticidade inerente dos materiais
poliméricos resultaria, após uma solicitação em tensão ou em deformação, em
uma resposta defasada em relação à solicitação imposta, como já apresentado na
Figura 2.14. Isto provavelmente aumentaria a quantidade de ruídos registrados
pelo equipamento durante os ensaios dinâmicos.
118
Assim, foi desenvolvido um dispositivo para substituir as garras
tradicionalmente usadas para os ensaios de flexão em quatro pontos. Os apoios
originais foram substituídos por um conjunto de roletes móveis (mantendo-se o
diâmetro determinado pela norma ASTM D 6272), para evitar a geração de outros
tipos de tensões na direção paralela à direção longitudinal do CP. Portanto, foram
introduzidos outros quatro roletes (dois superiores e dois inferiores) para que fosse
garantido que os corpos-de-prova realmente fossem conduzidos por estes roletes
até os valores de deformação limite (Figura 4.5), já que os ensaios de fadiga
seriam controlados por deslocamento do atuador da máquina do ensaio de fadiga
(ensaios em modo de controle de deformação).
Figura 4. 5 - Esquema do ensaio de flexão em quatro pontos com a configuração
adaptada. Os cilindros representam os roletes que, movimentando-se em torno de
seu eixo, minimizam a introdução de tensões de tração no corpo-de-prova durante
o ensaio.
O dispositivo desenvolvido para a realização dos ensaios estáticos e
dinâmicos está apresentado na Figura 4.6.
Os ensaios de flexão estáticos em quatro pontos foram realizados na
Máquina Universal Instrumentada de Ensaios Instron modelo 8802 (acoplada ao
software Merlin e mostrada na Figura 4.7), segundo a Norma ASTM D 6272, de
acordo com as seguintes condições: dimensões do corpo de prova na forma de
119
uma barra retangular de 127 x 12,7 x 3,2 mm e, L/d de 32/1 (distância entre os
suportes de 102,4 mm, distância entre os pontos de aplicação da carga de 51,2
mm) e célula de carga de 5 kN.
Figura 4. 6 - Foto do dispositivo desenvolvido para a realização dos ensaios
estáticos e dinâmicos em flexão quatro pontos.
O L/d de 32/1 e a distância de aplicação da carga igual à metade da
distância de apoio foram escolhidos para que a configuração das garras fosse
facilmente confeccionada, e também porque esta configuração deveria ser
mantida nos ensaios de fadiga em flexão em quatro pontos, sendo que destes
últimos seriam retirados amostras dos os corpos-de-prova que seriam pré-
envelhecidos em um dado número de ciclos para a realização de ensaios de
DMTA na região de tensão constante, ou seja, entre os pontos de aplicação de
carga, como mostra a Figura 4.8.
Corpo-de-prova
120
Figura 4. 7 - Foto da Máquina Universal Instrumentada de Ensaios Instron modelo
8802.
Figura 4. 8 - Esquema demonstrativo da distribuição de tensão ao longo da barra
retangular durante um ensaio de flexão em quatro pontos [64].
121
A velocidade da travessa (V
T
) para os ensaios estáticos foi num primeiro
momento calculada de acordo com a norma ASTM D6272 de flexão em quatro
pontos, sendo igual a 6,06 mm/min (para a distância de aplicação da carga igual à
metade da distância de apoio). Partindo-se desta velocidade, encontrou-se, para
cada material, a deflexão resultante na resistência à flexão dos CPs. Porém,
considerando que em polímeros viscoelásticos, a velocidade de carregamento, a
duração de carregamento e não-carregamento e a extensão da carga são todos
fatores que determinarão como o polímero irá responder à carga aplicada [36],
esta velocidade deveria ser corrigida, já que os ensaios estáticos e dinâmicos
deveriam ser realizados na mesma ordem de grandeza de velocidade. Assim,
foram realizados alguns ensaios preliminares de fadiga por controle de
deformação a 1 Hz em 90% do valor máximo de deflexão atingido no ensaio
estático. Calculou-se então a velocidade da travessa nestes ensaios dinâmicos
dada pela relação
(min)
)(
todeslocamennogastotempo
mmtravessadatodeslocamen
V
T
=
.
Esta velocidade de travessa (1.636 mm/min) foi então efetivamente utilizada
nos ensaios de flexão estáticos, garantindo-se a mesma velocidade nos dois
ensaios (dinâmico e estático).
Nos ensaios de flexão estáticos e dinâmicos o alinhamento dos roletes foi
conseguido observando-se o deslocamento do atuador. Este alinhamento foi
determinado movimentando-se o atuador, já com o CP apoiado nos roletes, até
que se fosse registrada uma carga padronizada de 0,01 kN pela célula de carga
de 5 kN. Além disso, vários outros cuidados foram tomados nestes ensaios e
também nos ensaios dinâmicos para que fosse conseguida uma boa
reprodutibilidade de resultados. Deste modo, em todos os ensaios verificou-se a
posição em que se colocava o CP, seu alinhamento, as condições aparentes dos
CPs e o aperto dos roletes inferiores e superiores. Os roletes deveriam ser apenas
encostados nos CPs, e não fortemente apertados, para que fosse permitido o
movimento horizontal de deslocamento dos CPs durante a sua flexão no ensaio,
evitando a geração de tensões de tração durante os ensaios de flexão. Também
122
foram observados os efeitos das marcas salientes dos pinos extratores nas barras
retangulares moldadas quanto ao possível emperramento dos CPs nos apoios
durante o ensaio de fadiga por flexão, já que os CPs eram apoiados nos roletes
justamente nestas marcas. Felizmente não foi observado nenhum variação
significativa em CPs lixados para a remoção destas marcas dos pinos extratores e
não lixados durantes os ensaios estáticos e dinâmicos.
Como resultado da flexão da barra retangular no ensaio estático, sua
superfície superior sofre compressão e a superfície inferior sofre tração, sendo
que para ensaios de flexão em polímeros a deformação máxima permitida é 5%
ou 5 mm/mm [65]. Desse ensaio estático podem ser determinadas informações
importantes, como o módulo de elasticidade em flexão, a resistência à flexão, a
deformação, a deflexão em flexão e a tensão máxima entre os apoios. O módulo
de elasticidade tangente em flexão (E
FL
), cujo valor é empregado como critério
mais importante para a avaliação da rigidez dos materiais poliméricos é calculado
através da equação [65]:
3
'3
17,0
bd
mL
E
FL
= (4.6)
Sendo L a distância de apoio (102,4 mm, neste caso), b a largura do CP em mm, d
a espessura do CP em mm e m
a inclinação da tangente da porção inicial linear
da curva força versus deflexão. O módulo de elasticidade secante seria a razão
entre a tensão e a correspondente deformação em um dado ponto na curva
tensão - deformação ou a inclinação da linha reta que une a origem do gráfico e
um ponto selecionado na curva tensão-deformação. Ele é calculado também pela
equação 4.6, substituindo-se o m
pela inclinação da secante.
Já a tensão máxima entre os apoios para os ensaios de flexão em quatro-
pontos (com uma distância de aplicação de carga igual à metade da distância de
apoio), ou a tensão máxima na fibra externa pode ser calculada pela equação 4.7,
também de acordo com a norma ASTM D 6272 [65].
2
4
3
bd
PL
=
σ
(4.7)
123
Onde L, b e d são os mesmos parâmetros usados na equação 4.6 e
σ (em MPa) é
a tensão na fibra externa entre os pontos de aplicação de carga e P (em N) é a
força na curva força versus deflexão.
Foi observado em ensaios preliminares que o deslocamento no centro do
CP era diferente do deslocamento dos pontos de aplicação de carga, já que nos
ensaios de flexão em quatro pontos a deformação registrada pela máquina está
relacionada ao deslocamento do atuador (D
1
), tratando-se, portanto de uma
deformação aparente, já que não corresponderia verdadeiramente à deformação
da região central do corpo-de-prova, deflexão D
2
, como pode ser observado na
ilustração da Figura 4.9.
Figura 4. 9 - Diferença entre o deslocamento do pistão e o deslocamento real no
centro do corpo-de-prova durante o ensaio de flexão em quatro pontos.
A norma ASTM D 6272 informa que a deformação máxima na fibra externa
que ocorre no ponto médio entre os apoios em ensaios de flexão em quatro
pontos pode ser expressa pela equação 4.8 [65].
2
2
..36,4
L
dD
r =
(4.8)
Onde D
2
é a deflexão máxima no centro da barra em mm, r é a deformação
máxima na fibra externa em mm/mm, L é a distância de apoio e d a espessura em
mm.
124
Portanto, para que fosse estimada a deformação real no centro dos CPs
(D
2
), alguns ensaios de flexão em quatro pontos foram realizados nos compósitos
e no PP controle no Laboratório de Geossintéticos da EESC (USP - São Carlos)
em uma máquina universal de ensaios mecânicos, uma máquina de capacidade
máxima de 100 kN, DL 10000 da marca Emic. Neste laboratório foi desenvolvido
um dispositivo que funciona como um extensômetro à laser que registra o
deslocamento de um ponto em uma superfície qualquer onde haja a mudança
brusca de reflexão/não-reflexão do raio laser, registrada pelo equipamento.
O sensor a laser funciona em linhas gerais da seguinte forma: o dispositivo
a laser, é composto de um emissor de luz e de um sensor. O emissor emite o
facho de laser continuamente. O sensor, por sua vez registra o recebimento da
luz refletida a partir de um alvo. Enquanto o sensor está recebendo a luz refletida,
o sistema permanece parado. Quando deixa de receber, significa que o alvo subiu.
Neste caso, o motor é acionado, elevando o sistema até que o sensor receba
novamente a luz refletida. Além disso, registram-se no equipamento a distância
percorrida até se reencontrar a reflexão da luz. A deformação é calculada a partir
da diferença ente os valores de distância, registrados em cada tempo, dividida
pela distância inicial entre miras, que o aparelho automaticamente calcula.
Para se conseguir esta mudança de reflexão na superfície do corpo-de-prova,
estes foram preparados para o ensaio colando-se em sua lateral uma fita isolante
em sua meia espessura inferior e um pedaço de papel alumínio com fita adesiva
na meia espessura superior, gerando uma diferença brusca de reflexão entre as
duas superfícies, fazendo com que fosse fácil o registro da superfície de
eminência de reflexão.
Assim, durante o ensaio de flexão em quatro pontos, o suporte onde o laser
é fixo acompanha o deslocamento do corpo-de-prova durante ensaios mecânicos,
com uma velocidade bem próxima à velocidade de ensaio, que neste caso teve
que ser de 6,06 mm/min, pois o equipamento não permitia o uso da velocidade
corrigida (1.636 mm/min), já que esta estaria muito acima da capacidade de
125
deslocamento do laser. Para a obtenção dos resultados desejados nestes testes,
foram ensaiados quatro CPs de cada composição.
O registro do deslocamento do laser tornou possível a determinação da
deformação máxima real no centro do CP de todas as composições.
4.2.8 METODOLOGIA DOS ENSAIOS DE FADIGA
No trabalho de mestrado aqui apresentado, as propriedades em fadiga
mecânica sob solicitação cíclica foram observadas em compósitos reforçados com
fibras curtas, buscando-se privilegiar a falha mecânica por propagação de trinca e
também minimizar o atrito sofrido pelos corpos-de-prova nos apoios. As
propriedades de fadiga dos materiais foram obtidas mantendo-se a tensão média
nula (R = -1), buscando-se assim evitar o efeito da sobreposição de fluência para
a falha dos materiais compósitos de PP/PP-g-MAH/30FV.
Neste trabalho, os ensaios de fadiga foram realizados na Máquina Universal
Instrumentada de Ensaios Instron modelo 8802 (acoplada ao software Fast Tech),
com a utilização de uma célula de carga dinâmica de 5 kN.
A fim de se desenvolver uma metodologia de ensaios e de se conhecer o
comportamento dos materiais durante as solicitações cíclicas, primeiramente
alguns ensaios de fadiga foram realizados em modo de controle de força imposta
ao material, em vários níveis diferentes de carga (como 90, 80, 70, 60 e 50% da
carga máxima de ruptura), sendo que estes valores de carga foram obtidos em
ensaios estáticos para cada composição. Estes valores de níveis de carga foram
escolhidos de acordo com o que é apresentado na literatura sobre o assunto [8, 3,
14, 42, 43, 53, 54].
Nestes ensaios preliminares pôde-se observar que não foi conseguido um
ajuste ótimo da máquina para a realização dos ensaios de fadiga em modo de
controle por força, havendo uma perda significativa entre os valores estabelecidos
126
para ciclagem e os valores realmente empregados aos CPs pela máquina. Além
disso, notou-se também que para uma freqüência baixa (1 Hz), os ensaios
realizados a baixos níveis de carga (50 e 60% da carga máxima de ruptura obtidos
em ensaios estáticos) seriam inviáveis, já que demandariam um tempo de
realização extremamente excessivo, sendo que cada ensaio poderia demorar
cerca de 2 semanas até a sua conclusão. Esta extensão na realização dos
ensaios de fadiga mecânica poderia ser prejudicial, já que a máquina poderia estar
mais susceptível a qualquer alteração na rede elétrica (o que facilitaria a perda
dos dados), além de ser impossível de ser realizada para todas as composições,
já que a máquina era de uso comum entre os alunos do departamento e de outros
alunos autorizados. Esta mesma dificuldade foi encontrada quando foram
realizados os primeiros ensaios com controle de deslocamento do atuador da
máquina utilizando-se os níveis de 50 e 60% da deflexão de ruptura dos materiais.
Após a realização dos ensaios preliminares chegou-se a conclusão de que
os melhores ajustes teriam sido conseguidos utilizando-se o modo de controle por
deslocamento do atuador, sendo que os valores registrados pelo equipamento se
mantiveram muito próximos do esperado, com uma flutuação quase insignificante.
Assim, todos os ensaios foram realizados de modo a se tentar minimizar os efeitos
adversos de aquecimento por histerese e da fluência, minimizando também a falha
térmica e priorizando a falha mecânica por propagação de trinca, mais adequada
para investigar a influência da compatibilização interfacial em compósitos de
PP/PP-g-MAH/30FV.
Desta maneira, os ensaios de fadiga foram realizados em flexão em quatro
pontos, após a confecção das quatro garras contendo dois roletes cada (um para
apoio e outro para “fixação”), como já mencionado no item 4.2.7. A geometria dos
corpos-de-prova foi a mesma utilizada nos ensaios de flexão estáticos: barra de
3,2 mm de espessura, 12,7 mm de largura e 127 mm de comprimento.
Sabe-se que forma da onda cíclica pode ter influência no tempo de vida em
fadiga dependendo do mecanismo de falha. A forma de onda mais comum é a
senoidal, mas as ondas quadradas e a rampa (linear) representam extremos que
127
podem ser ligados ao tempo de vida em fadiga. Para falhas por amolecimento
térmico, as ondas quadradas resultam em dissipação máxima de energia por ciclo
e assim, tem-se uma menor amplitude de tensão onde ocorre a falha térmica. Para
formas de onda triangular, existe uma mínima dissipação de energia por ciclo, e
assim maiores tensões são conseguidas antes da ocorrência de falha térmica. As
formas de ondas senoidais representam um nível intermediário de dissipação de
energia. A forma de onda cíclica pode também ter influência no mecanismo de
falha de fluência – fadiga e no processo falha pela taxa de crescimento de trinca
[36]. Neste caso, a forma de onda escolhida para os ensaios foi a senoidal, devido
à larga difusão de utilização em ensaios de fadiga e porque esta forma de onda
permitiria a correlação entre os dados de resistência à fadiga e as propriedades
dinâmico-mecânicas obtidas por DMTA (que utilizam onda senoidal).
Nos ensaios de fadiga também foi utilizada uma freqüência fixa de 1 Hz.
Esta freqüência foi escolhida, pois vários trabalhos [36, 54] citam que em
compósitos de polipropileno, o uso de uma freqüência de 1Hz não leva a falha
térmica e, além disso, utilizando-se a curva de desempenho da máquina de
ensaios dinâmicos Instron 8802, que informa a freqüência ideal para uma dada
amplitude de deslocamento utilizada nos ensaios, verificou-se que esta freqüência
poderia ser utilizada normalmente nos ensaios, mesmo com grandes amplitudes
de deformação. Durante alguns ensaios preliminares também foi utilizada uma
freqüência de 0,5 Hz, além da já citada 1 Hz. Com esta freqüência baixa,
verificou-se que o número de ciclo para falha nos compósitos tornou-se
extremamente diminuído em relação aos obtidos para a freqüência de 1 Hz. Isto
ocorreu porque provavelmente estaria ocorrendo a sobreposição dos efeitos de
fluência em conjunto com os efeitos da fadiga propriamente dita. Assim, foi
descartada a utilização desta freqüência nos ensaios de fadiga mecânica sob
solicitação cíclica.
Nos ensaios de fadiga por controle de deslocamento do atuador, a deflexão
resultante dos ensaios estáticos para o compósito PP/30%FV (sem
compatibilizante) foi o parâmetro de referência para todas as demais
128
composições, com teores variados do compatibilizante de PP-g-MAH. Este
compósito foi o escolhido como referência, pois no trabalho de P. E. Lopes [33]
observou-se que o módulo elástico em tração se manteve praticamente inalterado
nas diversas composições. Desta maneira, empregando-se um valor fixo de
deflexão no ensaio de fadiga sob flexão, correspondente ao do compósito de pior
desempenho sob fadiga, apenas a tensão em flexão seria a variável investigada
nas diversas composições de PP/PP-g-MAH/30FV, em função do grau de adesão
interfacial alcançado nestes compósitos com o teor do compatibilizante
empregado. Além disso, era esperado que o tempo para o envelhecimento sob
fadiga dos compósitos que seriam posteriormente levados para a análise em
DMTA fosse minimizado, já que se acreditava que este compósito referência
viesse a falhar em um número de ciclos menor que os compósitos com
compatibilizante. A partir dos resultados em fadiga mecânica dos compósitos de
PP/30%FV sem compatibilizante foi escolhido o número de ciclos que seria
utilizado para o envelhecimento das amostras para análise posterior em DMTA
(8500 ciclos), sendo que a justificativa da escolha do N para envelhecimento es
detalhada após a apresentação dos resultados dos ensaios de fadiga (no ítem
5.6).
Assim, os ensaios de fadiga foram conduzidos a 70% da deflexão de
ruptura do compósito referência, sendo este valor não tão próximo da deflexão de
ruptura deste material, para que quaisquer tipos de defeitos (como vazios, por
exemplo) não influenciassem significativamente na resistência à fadiga, anulando
os efeitos de melhora na adesão interfacial com a adição do compatibilizante
interfacial . Além disso, com esta condição de amplitude de deslocamento (em
torno de 6 mm) não teríamos um tempo muito longo de ensaio (no máximo de 9
horas para cada CP), como chegou a ocorrer anteriormente. Com estas condições
(amplitude de deslocamento de 6 mm e f = 1 Hz) não estaríamos fora da curva de
desempenho da máquina, o que viabilizaria a realização dos ensaios.
Este valor de deflexão foi então mantido constante para todos os ensaios
de fadiga, em todas as composições de PP/PP-g-MAH/30FV, sendo que esta
129
deflexão foi monitorada a partir do deslocamento do atuador da máquina, por não
se dispor em tempo hábil de nenhum tipo de extensômetro dinâmico adequado
para a realização dos ensaios de fadiga.
Já a temperatura dos corpos-de-prova foi monitorada continuamente
durante os experimentos com a utilização de um termômetro de raio laser, para
que o aquecimento fosse quantificado, caracterizando ou não a falha mecânica, de
principal interesse. Foi verificado durante as medições, que a temperatura dos
CPs não sofreu aumento significativo. Vale aqui destacar que o ambiente de
realização dos ensaios não possuía controle de temperatura, sendo esta sujeita às
variações ambientais diárias. Apesar deste fator, os ensaios foram realizados em
dias com condições ambientais semelhantes, e não em dias de excessivo calor ou
extremo frio, o que poderia influenciar nos resultados, já que a matriz dos
compósitos (polipropileno) possui sua temperatura de transição vítrea (Tg) bem
próxima à temperatura ambiente.
Nos ensaios realizados na configuração de flexão quatro-pontos, a tensão é
máxima e constante entre os pontos de aplicação de carga. Nestes ensaios é
evidente que o ponto de apoio nos CPs tem um efeito concentrador de tensão que
influencia significativamente nas propriedades de longa duração dos materiais em
análise. Desta maneira, seria bem provável que a falha dos materiais ensaiados
neste tipo de configuração ocorresse exatamente nestes pontos de aplicação de
carga. Conforme se assegura que a falha ocorra nestes pontos de aplicação de
carga, a metodologia para pré-envelhecimento dos CPs para posterior análise em
DMTA torna-se aplicável, já que a não ocorrência da falha na região central do CP
possibilita o uso posterior desta região pré-envelhecida sob ciclagem mecânica
para ser analisada em DMTA. Apesar disso, desta-se que a influência deste efeito
concentrador de tensão não possibilita a análise do real comportamento dos
materiais em fadiga mecânica, já que a presença deste fator antecipa a falha dos
materiais sob ciclagem. Assim, neste trabalho a análise de durabilidade sob fadiga
dos compósitos de PP/30%FV/PP-g-MAH torna-se uma análise de caráter
comparativo.
130
O pré-envelhecimento dos materiais foi conduzido sob as mesmas
condições utilizadas nos ensaios de fadiga mecânica, com freqüência de 1Hz em
flexão quatro-pontos. Já o número de ciclos para este envelhecimento foi
escolhido com base na análise das propriedades do compósito de PP/30%FV sem
compatibilizante interfacial, como será melhor detalhado nos resultados
experimentais. Esta metodologia empregada teve como principal objetivo
estabelecer uma correlação entre as propriedades de longa duração (fadiga
mecânica) dos materiais e as propriedades de curta duração, representadas pelo
amortecimento mecânico (tan
δ) obtido pela análise térmica dinâmico-mecânica
(DMTA) das amostras não envelhecidas e pré-envelhecidas sob fadiga. Assim,
seria obtida a resposta medida na região viscoelástica linear através da análise
em DMTA dos materiais que sofreram uma história de solicitação na região
viscoelástica não linear pelo pré-envelhecimento. Assim, espera-se que uma boa
correlação seja obtida entre as propriedades de fadiga e as propriedades
dinâmico-mecânicas de curta duração das amostras pré-envelhecidas sob fadiga.
4.2.9 ANÁLISE TÉRMICA DINÂMICO-MECÂNICA (DMTA)
As medidas dinâmico mecânicas foram realizadas no laboratório de Físico-
química da EESC (USP - São Carlos), em um equipamento da TA Instruments,
modelo DMA 2980, utilizando-se um suporte (“frame”) do tipo grande (devido à
grande espessura da amostra – 3,2 mm e seu alto módulo elástico). Para a
realização dos ensaios, escolheu-se uma geometria “dual cantilever” ou bi-
engastada (onde o corpo-de-prova – CP - em forma de barra é preso em suas
extremidades e um dispositivo móvel preso ao centro do CP movimenta-se de
forma cíclica), mantendo-se a deformação constante (em 64 mícrons). Neste
ensaio se utilizou a porção central do corpo-de-prova do ensaio de flexão em
quatro pontos, sendo seu comprimento um pouco reduzido para possibilitar sua
131
fixação no suporte. Foi utilizado um intervalo de temperatura de – 40 ºC a 100 ºC,
com taxa de aquecimento de 3 ºC/min e freqüência de 1 Hz.
4.2.10 ANÁLISE MICROESTRUTURAL (MEV)
A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é utilizada geralmente para
observação de amostras espessas, ou seja, não transparentes ao feixe de
elétrons. Por esta análise consegue-se uma alta resolução, tipicamente na faixa
de 3,0 nm com uma grande profundidade de foco (da ordem de 300 vezes melhor
que a conseguida no microscópio ótico), resultando em imagens com aparência
tridimensional. O MEV consiste basicamente de uma coluna ótico-eletrônica, da
câmara para a amostra, sistema de vácuo, controle eletrônico e um sistema de
imagem. As imagens no MEV são construídas ponto a ponto, do modo similar à
formação de uma imagem de televisão. Um feixe de elétrons de alta energia é
focalizado num ponto da amostra, o que causa emissão de elétrons com grande
espalhamento de energia, que são coletados e amplificados para fornecer um
sinal elétrico. Este sinal é utilizado para modular a intensidade de um feixe de
elétrons num tubo de raios catódicos (TRC). Para construir a imagem completa, o
feixe de elétrons é varrido sobre uma área da superfície da amostra enquanto um
feixe no TRC é varrido sincronicamente sobre um rastro geometricamente similar.
A Figura 4.10 esquematiza uma varredura linear sobre uma superfície
irregular, com as possíveis trajetórias dos elétrons utilizados para formar a
imagem e a relação de aumento. Pode-se notar que muitos elétrons não
conseguem atingir o detector, sendo que para formar a imagem, a intensidade do
feixe no TRC é modulada proporcionalmente à intensidade do sinal de elétrons. A
imagem observada será, portanto, equivalente ao posicionamento de nossos olhos
na linha do detector, com o feixe de elétrons iluminando a amostra. O aumento
será simplesmente a relação entre o comprimento da linha de varredura sobre o
132
TRC e o comprimento da linha de varredura sobre a amostra. Aumentos maiores
são obtidos com a diminuição da área varrida sobre a superfície da amostra [66].
Figura 4. 10 - Varredura linear sobre uma superfície irregular; formação da
imagem e relação de aumento [66].
Neste trabalho, a análise fractográfica foi realizada no microscópico
eletrônico de varredura da Zeiss, modelo DSM 940ª em 15kV. As amostras não
submetidas à fadiga foram previamente criofraturadas por imersão em nitrogênio
líquido a uma temperatura de aproximadamente –165 ºC durante 2 horas, secas
superficialmente e fraturadas no entalhe no equipamento de impacto Izod da
Ceast, garantindo a não deformabilidade da matriz na criofratura (bem abaixo da
sua Tg). Não foi necessária a realização de um pré-estiramente para a análise
destas amostras. Posteriormente, tanto as amostras foram então coladas no
“porta-amostras” com araldite e as superfícies de análise das amostras foram
revestidas com uma fina camada condutora de pó de ouro num vaporizador à
vácuo “Sputter Coater”, para melhorar a condução dos elétrons durante a
observação no MEV.
133
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 INTRODUÇÃO
Aqui serão apresentados e discutidos os resultados obtidos segundo a
metodologia experimental descrita no Capítulo 4. As discussões serão elaboradas
buscando-se correlacionar os resultados dos ensaios realizados com os objetivos
da proposta deste trabalho, fundamentados teóricos e na revisão bibliográfica, já
apresentados.
A proposta principal deste trabalho foi basicamente a de avaliar a influência
do teor do compatibilizante interfacial de PP funcionalizado com anidrido maleico
(PP-g-MAH) nas propriedades de fadiga mecânica sob solicitação cíclica de
compósitos de PP reforçados com 30 % de FV curta, buscando-se relacionar esta
propriedade com as características dinâmico-mecânicas da interfase formada. Em
outras palavras, como o tempo necessário para obtenção de dados sobre o
comportamento de resistência à fadiga dinâmica de compósitos é normalmente
longo, buscou-se neste trabalho obter informações sobre esta propriedade de
longa duração em tempo curto de análise. Assim, serão estabelecidas correlações
entre as características de perda mecânica (tan
δ) da interface fibra-polimero
determinada por DMTA dos compósitos de PP pré-envelhecidos por tempos curtos
de solicitação sob fadiga (inferiores ao tempo necessário para falha por fratura)
com a efetiva vida útil até falha sob fadiga dos mesmos, determinada nos ensaios
de fadiga sob flexão em quatro pontos em modo de deformação controlada.
134
5.2 TITULOMETRIA ÁCIDO-BASE
Apesar da vantagem desta técnica ser uma medida absoluta para a
determinação do teor de grupos anidrido efetivamente reagida nas cadeias de PP
do compatibilizante interfacial de PP-g-MAH, vale ressaltar que existem algumas
dificuldades inerentes a esta, como a dificuldade de solubilização do PP-g-MAH
em xileno na sua temperatura de ebulição sob refluxo e a dificuldade na
visualização do ponto de viragem na titulometria
Os resultados das titulações indicam que o teor de anidrido maleico
(%MAH) não incorporado às cadeias de PP como sendo de 0,137% e %MAH
efetivamente incorporado ao PP-g-MAH de 1,2 %. Este último valor se encontra
dentro do limites máximo e mínimo aceitáveis para o tipo de PP-g-MAH
empregado neste trabalho (PB 3200, fornecido pela Uniroyal). De acordo com a
literatura [34] e com as informações do fabricante, este valor deveria se encontrar
entre 0,8 e 1,2%; o que realmente foi observado.
5.3 TEOR DE FIBRA APÓS EXTRUSÃO E INJEÇÃO
Os teores de fibra obtidos após a queima dos corpos-de-prova e dos
grânulos extrudados foram calculados a partir da equação 4.3 e encontram-se
detalhados no Apêndice C. Nota-se que todos os valores médios apresentados na
Tabela 5.1 encontram-se próximos dos valores nominais ajustados nos
alimentadores (30% em peso no compósito) durante o processo de compostagem
por extrusão dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30FV, com exceção do compósito
de PP/0,5%PP-g-MAH/30FV em CPs que se apresentou um pouco abaixo, devido
principalmente a pouca quantidade de material fibroso disponível para
135
processamento, ocasionando uma certa instabilidade do alimentador gravimétrico
da extrusora.
Tabela 5. 1 - Teores de fibra médios medidos após extrusão e após a injeção dos
CPs.
PP/30%FV
PP/30FV/0,5%
PP-g-MAH
PP/30FV/1%
PP-g-MAH
PP/30FV/2%
PP-g-MAH
PP/30FV/5%
PP-g-MAH
Teor
após
extrusão
(%)
28,3 ± 0,3 26,8 ± 1,6 28,9 ± 0,1 29,0 ± 2,8 29,4 ± 0,2
Teor
após
injeção
(%)
28,6 ± 0,3 26,8 ± 1,6 28,8 ± 0,2 29,0 ± 2,8 29,4 ± 0,2
5.4 CARACTERIZAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE COMPRIMENTOS DE FIBRA
NOS COMPÓSITOS
A fim de verificar a influência do teor de PP-g-MAH nos compósitos de
PP/30%FV na preservação ou não do comprimento das FV estão apresentados os
dados de comprimento numérico médio (L
n
) e ponderal médios (L
w
) das fibras de
vidro de todas as composições. Conforme procedimento descrito no Capítulo 4, as
amostras para esta caracterização foram retiradas da região central dos corpos-
de-prova de flexão moldados por injeção após queima em forno de microondas e
devem, portanto, refletir diretamente nas propriedades mecânica em avaliação dos
compósitos.
Após serem medidos e calculados, os comprimentos médios numéricos
(L
n
), ponderais (L
w
) e a dispersão dos comprimentos estão apresentados na
Tabela 5.2.
136
Observa-se pelos valores de comprimento de fibras apresentados na
Tabela 5.2 que não houve uma mudança significativa nos valores de comprimento
médios numérico e ponderal.
Tabela 5. 2 - Comprimentos médios, numérico, e ponderal, e dispersão para todos
os compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV.
PP/30%FV
PP/30FV/0,5%
PP-g-MAH
PP/30FV/1%
PP-g-MAH
PP/30FV/2%
PP-g-MAH
PP/30FV/5%
PP-g-MAH
L
n
(µm)
366,1 360,7 363,9 364,8 369,4
L
w
(µm)
535,6 536,4 517,2 518,1 540,0
Dispersão
0,463 0,487 0,421 0,420 0,462
A partir dos resultados obtidos, foram plotados os espectros de distribuição
de comprimentos por meio de histogramas, conforme apresentado na Figura 5.1
para todas as composições aqui estudadas.
Aumentando a proporção dos grupos funcionais polares de MAH dispersos
na matriz de PP, é de se esperar que estes grupos proporcionem uma maior
ligação física de entrelaçamento entre as cadeias moleculares de PP-g-MAH e as
da matriz de PP e mais sítios reativos para reação química com os grupos amina e
hidroxilas presentes na superfície da FV, gerando grupos imidas que resultam na
formação do copolímero de PP-co-siloxano na interfase. Assim, uma maior
interação (adesão) interfacial proporciona a presença de concentrações
crescentes de fibras com comprimentos maiores, (próximos à faixa entre 1.000 e
2.000
µm) nas composições de PP/30%FV/2%PP-g-MAH e PP/30%FV/5%PP-g-
MAH, conforme verificado nos histogramas da Figura 5.1. Pode-se, portanto,
inferir por estes resultados que a presença de fibras com comprimento superiores
a 1600
µm nos compósitos com maior teor de PP-g-MAH (2 e 5%) pode ser
atribuído ao maior grau de molhabilidade e mais rápido e eficiente
encapsulamento das fibras pela matriz polimérica, advinda da redução na tensão
interfacial fibra-polímero com a introdução de pequenas quantidades de grupos
polares anidridos do PP-g-MAH na matriz apolar de PP [5, 14, 67].
137
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
PP/30%FV
Número de Fibras
Comprimento de fibra (µm)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
PP/30%FV/1% PP-g-MAH
Comprimento de fibra (µm)
Número de Fibras
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
PP/30%FV/2% PP-g-MAH
Número de Fibras
Comprimento de fibra (µm)
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
PP/30%FV/5% PP-g-MAH
Número de Fibras
Comprimento de fibra (µm)
Figura 5. 1 - Histogramas de distribuição de comprimentos de FV nos compósitos
de PP/PP-g-MAH/30%FV.
5.5 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE CURTA DURAÇÃO – ENSAIOS DE
FLEXÃO EM QUATRO-PONTOS
Como apresentado no Capítulo 4, foram realizados ensaios de flexão em
quatro-pontos em duas velocidades de travessa (V
T
) para o compósito PP/30%FV
sem compatibilizante interfacial, a fim de verificar a influência deste fator nas
138
propriedades mecânicas deste compósito e para que fosse determinada sua
deflexão na máxima tensão nas duas velocidades. Neste caso, as velocidades
seriam: 1) a velocidade recomendada pela norma ASTM D 6272 (6,06 mm/min)
para ensaios estáticos em flexão quatro pontos e para a configuração de distância
de aplicação da carga igual à metade da distância de apoio e 2) a velocidade
correspondente à velocidade que seria utilizada nos ensaios dinâmicos (1.636
mm/min).
Como pode ser observado na Figura 5.2 e 5.3, conforme se aumentou a
velocidade de deslocamento do atuador da máquina (V
T
) de 6,06 mm/min para
1.636 mm/min houve um ligeiro aumento nos valores de resistência à flexão, com
pouca influência nos resultados de módulo elástico em flexão (considerando-se o
desvio obtido para a V
t
de 1.636 mm/min) e na deflexão aparente (e
correspondente deformação), apresentados na Tabela 5.3. Esta deflexão é
chamada de aparente, pois se trata da deflexão relativa ao deslocamento do ponto
de aplicação da força de flexão no CP, e registrada pelo movimento do atuador
(D
1
na Figura 4.9), ao contrário da deflexão efetiva, que seria aquela que ocorre
no centro do CP (D
2
na Figura 4.9). Este era um resultado previsto, principalmente
devido à natureza viscoelástica inerente dos materiais poliméricos, característica
que faz com que as propriedades dos materiais poliméricos sejam muito
dependentes do tempo de solicitação.
Tabela 5. 3 - Propriedades mecânicas do compósito de PP/30%FV em duas
velocidades no ensaio de flexão estático em quatro pontos (célula de 5kN).
Carga
Máxima
(N)
Tensão
máxima
(MPa)
Módulo em
Flexão – E
FL
(GPa)
Deflexão
aparente (mm)*
Deformação
aparente (%)*
PP/30%FV –
V = 6,06
mm/min
304 ± 9 183 ± 8 7,3 ± 0,9 8,6 ± 0,6 1,1 ± 0,1
PP/30%FV –
V = 1636
mm/min
353 ± 9 211 ± 6 7,2 ± 0,9 8,4 ± 0,5 1,0 ± 0,0
* Valores obtidos na máxima carga registrada pelo atuador da máquina.
139
Observa-se também que o formato das curvas de tensão em relação à
deflexão aparente ou a deformação aparente não é muito alterado, lembrando que
os valores de deflexão e de deformação foram, neste caso, calculados conforme o
deslocamento do atuador da máquina, e não realmente a deformação ou deflexão
no corpo-de-prova, como já dito no Capítulo 4.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
50
100
150
200
250
Tensão (MPa)
Deflexão (mm)
PP/30% FV - V = 6,06 mm/min
PP/30% FV - V = 1636 mm/min
Tensão versus Deflexão - Flexão quatro pontos (PP/30%FV)
Figura 5. 2 - Influência da velocidade da travessa no ensaio de flexão em quatro
pontos – Gráfico de tensão versus deflexão aparente para o compósito
PP/30%FV.
140
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
0
50
100
150
200
250
Tensão (MPa)
Deformação (%)
PP/30% FV - V = 6,06 mm/min
PP/30% FV - V = 1636 mm/min
Tensão versus Deformação - Flexão quatro pontos (PP/30%FV)
Figura 5. 3 - Influência da velocidade da travessa no ensaio de flexão em quatro
pontos – Gráfico de tensão versus deformação aparente para o compósito
PP/30%FV.
As propriedades mecânicas de curta duração, neste caso representadas
pelas propriedades de flexão em quatro-pontos, dos diversos compósitos de
PP/PP-g-MAH/30%FV em função da concentração de PP-g-MAH (% em peso no
compósito), estão apresentas na Tabela 5.4 e na forma das curvas de tensão-
deformação (registrada pelo movimento de atuador da máquina) na Figura 5.4.
Observa-se a partir dos resultados apresentados na Tabela 5.4 e na Figura
5.4 que conforme se aumenta o teor de PP-g-MAH introduzido no compósito, tem-
se uma melhora significativa nas propriedades de flexão em quatro pontos dos
compósitos de PP com 30% de fibra de vidro. Esta melhoria pode ser atribuída ao
aumento no grau de compatibilização interfacial obtido no compósito, conforme
verificado claramente nas micrografias obtidas por MEV das superfícies
criofraturadas destes compósitos da Figura 5.5.
141
Segundo resultados de um trabalho anterior [33], onde foi utilizada a
mesma FV, lotes diferentes do compatibilizante interfacial de PP-g-MAH e do PP
(matriz), e a mesma história térmica de cisalhamento na extrusora, mostram que
os valores de módulo elásticos em tração para o mesmo sistema PP/PP-g-
MAH/30%FV se encontram, na média, em torno de 6 GPa. Aqui, os valores de
módulo elástico em flexão quatro-pontos se encontram em torno de 7 GPa. Este
módulo maior, no caso dos ensaios estáticos em quatro-pontos poriam ser
atribuídos ao efeito de anisotropia dos compósitos, onde as camadas do CP mais
próximas à superfície (que possuem maior grau de orientação na direção da
espessura) contribuem mais para este valor. Além disso, destaca-se que neste
caso, devido à indisponibilidade de acessórios, os ensaios estáticos não foram
realizados na presença de extensômetros de contato, e a presença de apoios
superiores (mesmo que não estivessem fortemente em contato com os CPs)
poderiam ter influenciado nos dados apresentados.
Tabela 5. 4 - Propriedades do ensaio de flexão (estático em quatro pontos) dos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV em função do teor de PP-g-MAH (V
T
= 1636
mm/min).
Tipo de
Compósito
Carga
Máxima (N)
Tensão
Máxima
(MPa)
Módulo em
Flexão –
E
FL
(GPa)
Deflexão
aparente*
(mm)
Deformação
aparente*
(%)
PP puro
196 ± 5
121,0 ± 3,0 2,3 ± 0,0 14,0 ± 0,4 1,8 ± 0,1
PP/30%FV
354 ± 12
211,0 ± 6,5 7,2 ± 0,9 08,5 ± 0,5 1,1 ± 0,0
PP/30%FV/0,5%
PP-g-MAH
400 ± 15
235,6 ± 8,9 7,4 ± 0,9 08,6 ± 0,1 1,1 ± 0,0
PP/30%FV/1%
PP-g-MAH
496 ± 15
298,3 ± 8,4 7,8 ± 0,4 09,5 ± 0,2 1,2 ± 0,0
PP/30%FV/2%
PP-g-MAH
550 ± 12
322,2 ± 11 7,7 ± 0,2 10,4 ± 0,2 1,4 ± 0,0
PP/30%FV/5%
PP-g-MAH
565 ± 11
333,1 ± 6,7 7,3 ± 0,9 10,6 ± 0,2 1,4 ± 0,0
* Valores obtidos na máxima carga registrada pelo movimento do atuador da máquina.
142
0,00,51,01,52,02,53,0
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Tensão (MPa)
Deformação (registro do atuador) (%)
PP controle
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Tensão versus Deformação em quatro pontos
Figura 5. 4 - Curvas tensão versus deformação aparente (no ponto de aplicação
de tensão) nos ensaios de flexão em quatro pontos para os compósitos de PP/PP-
g-MAH/30%FV.
Na próxima Figura (5.5-a), observa-se uma interface nitidamente
desacoplada, havendo apenas o ancoramento mecânico obtido pela contração
térmica diferencial entre a matriz e a FV, com pouca molhabilidade e adesão da
FV pela matriz (gerada apenas pela presença do siloxano na superfície da fibra).
Já nas Figuras (5.5 – b, c, d, e) observa-se o efeito da adição do compatibilizante
interfacial PP-g-MAH no aumento da molhabilidade da FV, alcançando uma ótima
adesão interfacial pela camada espessa da interfase de PP-co-siloxano obtida
através da reação química dos grupos aminas do aminosilano com o PP-g-MAH
na matriz do compósito.
143
(a) (b)
(c) (d)
(e)
Figura 5. 5 - Fotomicrografias de MEV dos compósitos de PP/30%FV com teores
de PP-g-MAH de a) 0%; b) 0,5%; c) 1%; d) 2% e e) 5%.
Região de fraca
adesão interfacial
Região de ótima
adesão interfacial
144
Com este aumento na adesão interfacial alcançada em função do teor de
PP-g-MAH presente no compósito, tem-se uma diminuição no valor do
comprimento crítico da FV para transferência de tensão, fazendo com que um
número maior de fibras presentes no compósito passe a contribuir para o
reforçamento, aumentando gradativamente os valores de resistência em flexão
com aumento no teor de PP-g-MAH.
Ressalta-se que nos resultados estáticos realizados em flexão quatro-
pontos aqui apresentados, a influência da presença de crescentes teores do
compatibilizante interfacial PP-g-MAH não altera significativamente o módulo
elástico em flexão quatro pontos dos compósitos aqui estudados, sendo a
variação inferior a 10%, fato também observado por P. E. Lopes [33]. Este foi um
fato muito importante na garantia de que todos os compósitos seriam submetidos
a um mesmo nível de tensão nos ensaios de fadiga mecânica realizados em modo
de controle de deformação, e que as falhas, neste caso seriam quase que
exclusivamente associadas às características estruturais de cada composição.
Foram realizados também outros ensaios estáticos em uma máquina
Universal de Ensaios Mecânicos, com capacidade máxima de 100 kN, DL 10000
da marca Emic, no Laboratório de Geossintéticos da EESC (USP - São Carlos), a
fim de se calcular o valor real da deflexão (ou deformação) da região central dos
corpos-de-prova (D
2
) durante os ensaios estáticos e, portanto, alcançar uma
estimativa dos valores de deformação (pela equação 4.8) dos compósitos nos
ensaios de fadiga. Além disso, os valores de carga máxima, neste caso, foram
obtidos com uma célula de carga disponível de 250 kgf de capacidade, sendo que
os valores anteriores forma obtidos com uma célula de carga de 5 kN, cujos
valores estão apresentados na Tabela 5.4. A Tabela 5.5 fornece estes valores.
Como esperado, os valores de deflexão efetiva na carga máxima ou de
deformação efetiva na tensão máxima medidos no centro dos CPs foi superior aos
valores obtidos através do deslocamento do atuador nos apoios, como previsto e
mostrado na Figura 4.9.
145
Tabela 5. 5: Valores de deflexão, deformação e carga máxima medidos no centro
dos CPs através de um extensômetro com raio laser (V
T
= 6 mm/min).
PP
controle
PP/30%
FV
PP/30%
FV/0,5%
PP-g-MAH
PP/30%
FV/1%
PP-g-MAH
PP/30%
FV/2%
PP-g-MAH
PP/30%
FV/5%
PP-g-MAH
Carga
máxima (N)
179 ± 18 307 ± 2 339 ± 6 394 ± 4 415 ± 11 442 ± 6
Deflexão
real (mm)*
15,6 ± 0,9
10,9 ±
0,2
11,0 ± 0,8 11,9 ± 0,6 12,6 ± 0,7 13,4 ± 0,6
Deformação
real (%)*
2,0 ± 0,1 1,4 ± 0,0 1,5 ± 0,1 1,6 ± 0,1 1,7 ± 0,1 1,8 ± 0,1
* Valores determinados na máxima carga registrada.
Além disso, estes resultados ainda confirmam o que foi discutido acima, em
relação à melhora nas propriedades mecânicas de curta duração com o aumento
no teor de PP-g-MAH introduzido ao compósito.
5.6 PROPRIEDADES MECÂNICAS DE LONGA DURAÇÃO – ENSAIOS DE
FADIGA
Como já explicado, os ensaios de fadiga aqui realizados foram efetuados
com amplitude de deflexão constante, cujo valor de deflexão máxima positiva (ou
mínima negativa, já que R = -1) foi obtido anteriormente nos ensaios estáticos de
flexão em quatro pontos. A fim de padronizar os ensaios e os parâmetros de
ajuste da máquina, para que fossem obtidos resultados passíveis de comparação
e de discussão, os compósitos de PP/30%FV sem compatibilizante foram
escolhidos como os padrões, ou seja, o valor de deformação de 70% da deflexão
aparente de ruptura do compósito de PP/30%FV (em torno de 6 mm) seria tomado
com um valor referência para todos os ensaios de fadiga mecânica sob solicitação
cíclica. Isto porque em ensaios estáticos este compósito demonstrou um
comportamento de falha (tensão e deformação de ruptura) inferior ao dos
146
compósitos que continham o compatibilizante interfacial PP-g-MAH, como já
explicado.
Os principais parâmetros de ajuste da máquina foram: vazão da
servoválvula; ganho proporcional, sendo este um valor de estimativa complexa,
pois está relacionado à vários fatores, como rigidez do material, tipo de ensaio
(flexão, tração, etc.); tipo de controle (por carga ou por posição) e condições de
ensaio, como freqüência.
Primeiramente, para que se fosse analisada a reprodutibilidade e os
parâmetros a serem ajustados nos ensaios de fadiga, foram testados apenas duas
composições (PP/30%FV e PP/30FV/2%PP-g-MAH) com seis corpos-de-prova
cada em uma freqüência de ensaio de 1 Hz. Para cada uma destas composições
foram obtidos valores de tensão máxima e mínima medida entre os apoios,
deflexão máxima e mínima e número de ciclos. A partir destes dados foram
obtidas os gráficos apresentando as curvas da amplitude de tensão (
σ
0
=
2
mínimamáxima
σσ
) versus número de ciclos (N) e amplitude de posição (P
a
=
2
mínimamáxima
PP
) versus número de ciclos para os seis CPs de cada composição,
sendo que todos os CPs foram testados até a falha por fratura completa. Nas
Figuras 5.6 e 5.7 estão apresentados estes dados para o compósito de PP/30%FV
(sem compatibilizante) e nas Figuras 5.8 e 5.9 para o compósito de
PP/30%FV/2%PP-g-MAH.
Nos gráficos destes ensaios preliminares foi verificado que a queda brusca
na amplitude de tensão no final do ensaio de fadiga se tratava de uma reflexão
natural da fratura do CP após a propagação das trincas geradas durante a
ciclagem mecânica sob fadiga. Além disso, não foi observada nenhuma alteração
significativa na temperatura dos CPs durante os ensaios, mesmo para o compósito
sem incorporação intencional de compatibilizante interfacial (PP/30%FV), sendo a
superfície de fratura referente a uma falha mecânica, e não a uma falha por
amolecimento térmico.
147
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
Amplitude de Tensão - PP/30%FV (D = 70%DrupPP/30%FV) (f = 1Hz)
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
CP 5
CP 6
Figura 5. 6 - Amplitude de tensão versus número de ciclos para os compósitos de
PP/PP-g-MAH/30%FV (f = 1 Hz).
1 10 100 1000 10000 100000
4,0
4,2
4,4
4,6
4,8
5,0
5,2
5,4
5,6
5,8
6,0
6,2
Amplitude de Posição (mm)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
CP 5
CP 6
Amplitude de Posição - PP/30FV (D = 70%DrupPP/30%FV) (f = 1Hz)
Figura 5. 7 - Amplitude de posição versus número de ciclos para PP/PP-g-
MAH/30%FV (f = 1 Hz).
148
Observou-se também que a falha sempre ocorria nos pontos de aplicação
da carga, apesar da tensão ser a mesma (constante) ao longo de todo o
comprimento entre os pontos de apoio (ver Figura 4.8). Isto ocorria,
provavelmente, porque nestes pontos havia a geração de defeitos superficiais
devido ao atrito entre os apoios e os CPs ensaiados. Assim, nestes locais seria
mais provável a geração de trincas superficiais, aumentando a probabilidade de
falha nesta região.
1 10 100 1000 10000 100000
4,0
4,2
4,4
4,6
4,8
5,0
5,2
5,4
5,6
5,8
6,0
6,2
Amplitude de Posição (mm)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
CP 5
CP 6
Amplitude de Posição - PP/30FV/2%PP-g-MAH (D = 70%DrupPP/30%FV)
Figura 5. 8 - Amplitude de posição versus número de ciclos para os compósitos de
PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f = 1 Hz).
Nas Figuras 5.6 a 5.9 pode-se observar que apesar do número de CPs
ensaiados, não foi obtida uma boa reprodutibilidade das curvas de amplitude de
posição e de amplitude de tensão para ambas as composições. Observa-se a
partir das Figuras 5.6 e 5.8 neste caso, que os valores ajustados da posição de
deslocamento do atuador da máquina (que seriam posição máxima positiva =
posição mínima negativa = 6 mm) como sendo constantes nos ensaios de fadiga
149
em controle de deslocamento não foram alcançados já no inicio dos ensaios,
havendo um número de ciclos para ajuste da máquina até ser atingida a amplitude
de posição máxima positiva e mínima negativa requerida. Além disso, nota-se uma
variação neste número de ciclos para equilíbrio, mesmo entre os CPs de uma
única composição.
Como resultado desta variação, o formato das curvas de amplitude de
tensão versus número de ciclos foi bastante alterado, tanto no registro da
amplitude máxima como no número de ciclos para falha (N
f
) entre os CPs de uma
única composição. Neste caso, a variação entre as curvas dos CPs de uma
composição estaria quase sobrepondo com a variação das curvas da outra
composição (PP/30%FV e PP/30%FV/2%PP-g-MAH).
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
Amplitude de Tensão - PP/30%FV/2%PP-g-MAH (D = 70%DrupPP/30%FV) (f = 1Hz)
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
CP 5
CP 6
Figura 5. 9 - Amplitude de tensão versus número de ciclos para os compósitos de
PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f =1 Hz).
Considerou-se, portanto que alguns parâmetros de ajuste da máquina onde
foram realizados os ensaios dinâmicos deveriam ser modificados, buscando-se
talvez melhorar ou minimizar o tempo para que fosse alcançado o valor de
amplitude de posição estabelecido, e assim, melhorar a reprodutibilidade de
resultados dos ensaios de fadiga para uma mesma composição.
150
A partir deste instante, conhecendo-se melhor o equipamento, tentou-se
trabalhar para ajustar os parâmetros que melhor se adaptariam ao ensaio com
1 Hz de freqüência. Com a ajuda de algumas ferramentas do software como a
opção LoopTunning e AutoTunning os valores de ganho da máquina foram
trabalhados e ajustados para as condições desejadas de ensaio. O valor de ganho
que foi sugerido por estas ferramentas seria de 35,5 e a vazão de óleo na
servoválvula seria utilizada em 50% de sua capacidade, sendo reduzida para
20L/min.
A seguir estão apresentados os resultados de reprodutibilidade em novos
ensaios de fadiga para os compósitos de PP/30%FV sem compatibilizante
interfacial, agora com novos parâmetros de calibração da máquina acima citados.
1 10 100 1000 10000 100000
5,80
5,85
5,90
5,95
6,00
6,05
6,10
6,15
6,20
Amplitude de Posição - PP/30FV (D = 70%DrupPP/30%FV) (1Hz)
Amplitude de Força (KN)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 5. 10 - Amplitude de posição versus número de ciclos para os compósitos
de PP/30%FV (f = 1 Hz).
Pode-se observar nas Figuras 5.10 e 5.11 a melhora no tempo (ou número
de ciclos) para se atingir a amplitude requerida para o ensaio e, por conseqüência,
na reprodutibilidade nos números de ciclos para falha, comparados às Figuras 5.6
e 5.7.
151
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30%FV (D = 70%DrupPP/30%FV) (f = 1Hz)
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 5. 11 - Amplitude de tensão versus número de ciclos (N) para falha de
compósitos de PP/30%FV (f = 1 Hz).
Sendo assim, esta condução otimizada de operação da máquina de
ensaios de fadiga foi utilizada para todas as composições, podendo-se verificar
agora realmente a influência da compatibilização interfacial nas propriedades de
fadiga mecânica nos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV. Apesar das melhoras
obtidas, vale salientar que o fato de se utilizar aqui um extensômetro do tipo
“LVDT” (linear voltage diferential transformer) para controle de deslocamento do
atuador da maquina como único controle da deflexão nos ensaios de fadiga, em
vez de um extensômetro de contato dinâmico específico para controle de deflexão
(ou deformação) dos CPs nestes ensaios, pode também ter contribuído para a
falta de reprodutibilidade adequada das curvas obtidas como resultado destes
experimentos de fadiga, já que o módulo do material não sofre alteração
significante para resultar em diferenças nos níveis de amplitude de tensão, como
os apresentados na Figura 5.11. Apesar do fato observado, verificou-se que estas
diferenças nos níveis de amplitude de tensão, apresentadas nas Figuras 5.11 e
152
5.12, não alteraram significativamente o número de ciclos para a falha sob fadiga
dos compósitos, o que motivou a continuidade do trabalho.
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30%FV/2%PP-g-MAH (D = 70%DrupPP/30%FV) (f = 1Hz)
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 5. 12 - Amplitude de tensão versus número de ciclos (N) para falha de
compósitos de PP/30%FV/2%PP-g-MAH (f = 1 Hz).
A vida em fadiga ou a durabilidade do material (número de ciclos suportado
pelo material até a sua falha - N
f
) é uma das propriedades mais importantes
obtidas a partir dos ensaios de fadiga dinâmica dos materiais. Ensaios em fadiga
realizados em modo por controle de deformação nos quais os materiais ensaiados
são submetidos a níveis de deformação fixos, o comportamento dos materiais que
apresentam módulos elásticos diferentes será bem distinto, sendo que os
materiais com módulo elásticos inferiores serão submetidos a menores tensões
em comparação aos materiais que apresentem módulos elásticos superiores.
Assim, o nível de tensão sob fadiga suportado numa dada deformação é
efetivamente proporcional ao módulo do material. Este fato geraria uma vantagem
nas propriedades de longa duração para os materiais com módulos menores,
fazendo com que sua vida em fadiga ou durabilidade seja ampliada em relação à
dos materiais que apresentam módulos superiores [16]. Este fato pode ser
153
observado na Figura 5.13, quando se observa o comportamento do PP controle e
dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV. Nota-se que o PP controle, com
módulo elástico em flexão (E
FL
) inferior em relação ao dos outros materiais (como
apresentado na Figura 5.4 e na Tabela 5.4) apresenta um tempo de vida em
fadiga superior ao dos compósitos.
Além disso, os efeitos da introdução de fibra de vidro e do compatibilizante
interfacial nas propriedades de fadiga mecânica sob deformação constante
indicam claramente que a adição de fibra de vidro ao PP por si só induz a falha
deste material em um número de ciclos inferior ao do material não reforçado. Isto
se deve ao fato de que sendo o compósito um material heterogêneo, as fibras de
alto módulo atuam como concentradores de tensão no material e contribuem para
maior geração de trincas no compósito. Apesar deste fato observado, torna-se
mais significativo o aumento no nível de tensão suportado até a falha pelos
compósitos de PP, em relação ao termoplástico não reforçado. Neste caso, o nível
de tensão suportado pelo compósito PP/P30%FV é mais do que o dobro do nível
de tensão suportado pelo PP controle. Sendo assim, a simples adição de FV a um
material propicia ganhos substanciais no nível de tensão suportado pelo material
durante sua solicitação cíclica.
Melhoras significantes no desempenho de materiais termoplásticos
reforçados com fibras de vidro ressaltam a importância dos agentes de
acoplagem, e dos compatibilizantes interfaciais, que possam aprimorar as
interações interfaciais entre a matriz e o reforço.
No compósito com compatibilizante interfacial (PP/30%FV/2%PP-g-MAH)
teremos uma forte interação interfacial, ao contrário do compósito sem
compatibilizante (PP/30%FV) que apresenta uma pobre ligação entre as fibras e a
matriz. A existência de fortes ligações interfaciais com a presença do PP-g-MAH,
além de aumentar o nível de tensão suportado pelo compósito, também
contribuem para que o número de ciclos para falha catastrófica deste compósito
seja mais que o dobro do número de ciclos para a falha do compósito PP/30%FV,
como está mostrado na Figura 5.13.
154
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
140
Amplitude de Tensão - D= 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz )
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
PP controle
PP/30% FV
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
Figura 5. 13 - Amplitude de tensão versus número de ciclos: efeitos da adição de
FV e PP-g-MAH nas propriedades de fadiga (f = 1 Hz).
Ainda analisando a Figura 5.13, podemos verificar que a presença de três
estágios distintos de comportamento nas curvas de amplitude de tensão dos
compósitos em análise, em função do número de ciclos sob fadiga. No 1º estágio
observa-se um patamar constante (região de platô), onde os materiais ainda se
apresentam em boas condições, não sofrendo tanto a influência da ciclagem
mecânica. Já no 2º estágio temos uma região intermediária, onde há uma queda
suave na tensão sustentada pelo material, e onde provavelmente, começam a ser
geradas as trincas com propagação ainda estável. O 3º estágio seria a fase
terminal, onde ocorre a queda brusca no nível de tensão suportada pelos
compósitos, culminado com a propagação de uma trinca rápida através dos CPs
em fadiga.
Analisando-se agora a influência propriamente dita da presença de variados
teores em peso do compatibilizante interfacial PP-g-MAH nos compósitos de
PP/PP-g-MAH/30%FV será apresentada a Figura 5.14 para discussão.
155
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
140
Amplitude de Tensão - D= 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz )
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
PP controle
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 14 - Amplitude de tensão versus número de ciclos: efeitos da adição de
vários teores de PP-g-MAH nas propriedades de fadiga (f = 1 Hz).
Na análise da influência da adição do compatibilizante interfacial nas
propriedades de fadiga, cada composição teve quatro corpos-de-prova ensaiados,
e a partir dos resultados destes ensaios gerou-se uma curva média, que após ser
suavizada para a eliminação dos ruídos, está apresentada na Figura 5.14. Nota-
se, primeiramente, como citado anteriormente, o efeito da adição de fibra de vidro
nas propriedades de fadiga. Posteriormente, poderemos agora discutir um pouco
sobre a influência da adição do PP-g-MAH.
Considerando-se que a eficiência do compatibilizante interfacial no
mecanismo de reforçamento mecânico dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV
pode ser definida como uma função do máximo ganho na propriedade de
resistência à fadiga alcançada com mínima concentração de PP-g-MAH, a análise
dos dados da Figura 5.15 indica que um aumento na concentração de MAH leva a
um ganho nas propriedades durabilidade sob fadiga. Traçando-se uma curva de
ajuste nota-se que há uma tendência de nivelamento nesta propriedade com o
156
aumento do teor de PP-g-MAH presente no compósito. Esta tendência foi
observada utilizando-se um teor máximo de PP-g-MAH adicionado ao compósito
de 5%, sendo que no caso de P. E. Lopes [7, 33] foi utilizado 10% de PP-g-MAH
para que fosse demonstrado com clareza esse efeito de concentração ótima. Além
disso, as propriedades analisadas por P. E. Lopes foram propriedades mecânicas
de curta duração, que seriam, provavelmente, menos sensíveis à influência de
variação na espessura da camada da interfase formada pela adição do
compatibilizante.
Apesar da tendência observada, com o número limitado de composições
ensaiadas torna-se um pouco imprecisa a informação de qual seria exatamente o
teor de MAH que corresponderia à saturação da superfície da FV com o
copolímero PP-co-siloxano formado in situ para esta propriedade. Observa-se que
se aumentando o teor de PP-g-MAH de 2 para 5% o ganho na resistência à fadiga
não é tão significativo como foi de 1 ou 0,5 para 5%. Mas não se pode inferir que a
concentração de 5% seria a concentração ótima, acima da qual nenhuma
alteração seria observada. Assim, seria necessária uma análise mais detalhada,
com composições em teores diferentes dos que foram aqui analisados,
complementando-se os resultados obtidos neste trabalho.
Apesar disso, é fácil se notar o aumento no número de ciclos até a falha (N
f
)
com relação ao aumento no teor do compatibilizante interfacial presente no
compósito. A adição do teor máximo de compatibilizante interfacial (5% de PP-g-
MAH) chega a quase triplicar o número de ciclos até a falha em relação ao
compósito que não apresenta introdução de PP-g-MAH (PP/30%FV), o que nos
leva a inferir que na obtenção de uma interface com pobres ligações interfaciais,
temos um maior número de fibras com comprimentos inferiores ao comprimento
crítico sendo desacopladas, já que estas não estão fortemente aderidas à matriz.
Sendo assim, a transferência de tensão da matriz para a fibra nestes materiais
onde as ligações interfaciais são pobres não é muito boa e, um grande número de
fibras se apresentariam desacopladas ou arrancadas, gerando a falha prematura
do compósito.
157
Já a presença do compatibilizante interfacial afeta a adesão entre fibra e
matriz. Como já dito anteriormente, se a resistência adesiva da interface fibra-
polímero for aumentada, com um melhor molhamento da fibra pela resina, e se
esta estiver próxima da resistência coesiva do polímero, as fibras permitirão a
passagem da trinca, ou seja, a propagação de trinca ocorrerá através da matriz e
as fibras, sem a ocorrência de desacoplamento (“debonding”) na interface (a
interface presente do outro lado do plano da trinca permanecerá intacta (Figura
2.7 a)) [26]. Ou seja, o aumento no teor de compatibilizante interfacial no
compósito gera um maior molhamento das fibras pela resina, aumentando a
resistência adesiva da interfase e fazendo com que a transferência de tensão para
a fibra seja eficiente. Assim, neste caso, as fibras contribuem para aumentar a
resistência do material, necessitando de maiores energias ou de maior tempo de
solicitação para arrancamento e desacoplamento excessivo das fibras, devido à
existência de uma zona interfacial mecanicamente forte. Desta maneira, apesar de
haver a formação de trincas, sua propagação estável é mais lenta, prolongando a
vida em fadiga do material, fazendo com que ele falhe em números de ciclos
superiores. Além disso, também se pode inferir que o número de ciclos para falha
nos compósitos aumenta em função da redução do efeito concentrador de tensão
da FV no compósito com o aumento da espessura da interface/interfase formada
na presença do copolímero PP-co-siloxano. Neste caso, existe também a
contribuição de maiores energias dissipativas no trabalho de deformação
cisalhante da interfase, da matriz próxima da região da interfase formada e no
arrancamento das fibras da matriz (pull-out).
Um fato importante que deve ser levado em consideração neste trabalho
seria a dispersão nos resultados observada nos ensaios de fadiga mecânica em
flexão quatro-pontos e apresentada na Figura 5.15.
Apesar dos valores de amplitude de força média mostradas na Figura 5.15
nos mostrar que existe uma melhora na resistência à fadiga dos compósitos
conforme se aumenta o teor de PP-g-MAH no compósito, este aumento no
número de ciclos para falha foi menor que o esperado e verificado por exemplo
158
por E. K. Gamstedt [52], onde a vida em fadiga foi prolongada por
aproximadamente dez vezes para os compósitos com interface mais forte (que
possuíam PP-g-MAH em sua composição) e além disso observa-se na Figura 5.15
que estes valores apresentaram uma dispersão significativa.
Figura 5. 15 - Influência da adição de PP-g-MAH nas propriedades de fadiga
mecânica, neste caso, número de ciclos para falha dos compósitos.
K. K. Chawla [11] já ressaltou a dificuldade em relacionar os dados obtidos
em ensaios de fadiga realizados em laboratórios e as propriedades apresentadas
pelos materiais compósitos quando submetidos a aplicações reais de uso, devido
principalmente à inerente heterogeneidade e anisotropia natural destes materiais.
O comportamento em fratura dos materiais compósitos é caracterizado pela
multiplicidade de modos de danos, como: microfibrilamento sob tensão (crazing)
da matriz (em uma matriz polimérica), trincamento da matriz (em matrizes frágeis),
fratura da fibra, delaminação, desacoplamento, crescimento de vazios, e
trincamento multidirecional, sendo que estes mecanismos se manifestam cedo na
159
vida em fadiga de compósitos. No caso de materiais isotrópicos, uma única trinca
se propaga na direção perpendicular à direção de carregamento. Já em
compósitos reforçados, uma variedade de mecanismos de danos subcríticos leva
a formação de uma zona de danos altamente difusa. Isto nos leva a concluir que o
mecanismo de falha nos materiais compósitos é muito complexo, e pode ser
atribuído a vários fatores, o que poderia justificar a existência de uma dispersão
significativa obtida neste trabalho.
Além disso, ainda pode-se inferir que a realização dos ensaios de fadiga
mecânica, conduzidos a 70% da deflexão de ruptura do compósito referência
(PP/30%FV), privilegiou de alguma maneira a influência de quaisquer tipos de
defeitos presentes nos materiais moldados, fazendo assim com que a diferença
entre o comportamento (N
f
) dos materiais reforçados com a presença do
compatibilizante interfacial PP-g-MAH, apesar de ter sido aproximadamente três
vezes superior em número, não forneceu ganhos significativos e esperados. Este
privilégio de defeitos também pode ter influído na dispersão já apresentada na
Figura 5.15.
Além disso, para que a metodologia dos ensaios fosse aprimorada,
também deveria ser utilizado um sistema de extensômetros dinâmicos ou também
strain gages, para que a deformação nos CPs fosse realmente obtida durante o
ensaio, garantindo-se assim a medida em tempo real das deformações ou
deflexões, além desta utilização disponibilizar a realização dos ensaios em
controle de carga, melhorando o registro da deformação.
Seguindo com os objetivos deste trabalho, alguns corpos-de-prova dos
compósitos reforçados com 30% de FV foram envelhecidos em fadiga para
verificar se seria possível se realizar alguma previsão comparativa da vida útil sob
fadiga com tempos de ensaios mais curtos, agilizando a obtenção de informações
sobre as propriedades de fadiga dos materiais. Para tal, estes CPs pré-
envelhecidos seriam posteriormente submetidos a análise dinâmico mecânica
(DMTA), para que fosse verificado o comportamento dos materiais após o alívio
das tensões térmicas interfaciais existentes após moldagem.
160
1 10 100 1000 10000 100000
40
60
80
100
120
140
Escolha do Número de Ciclos para envelhecimento (8500 ciclos)
Ponto de encontro entre as inclinações do 1º e do 3º
estágios, correspondente a 8500 ciclos
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
PP/30% FV
Figura 5. 16 - Escolha do número de ciclos para envelhecimento dos compósitos
(com base nas propriedades do compósito PP/30%FV) a serem posteriormente
analisados em DMTA.
A escolha do tempo de envelhecimento também foi baseada no
comportamento sob fadiga do compósito de PP/30%FV sem compatibilizante
interfacial. Como já citado anteriormente, observou-se a presença de três estágios
distintos nos dados de amplitude de tensão versus número de ciclos para os
compósitos. Para a escolha do número de ciclos para o envelhecimento das
amostras que seriam conduzidas a ensaios em DMTA, foi utilizada a
intersecção das inclinações do 1º e do 3º estágio, sendo uma região onde já
teríamos a presença de alguns danos, mas ainda não seria atingida a falha
completa do CP, possibilitando a sua utilização nos ensaios dinâmicos de curta
duração. Assim, como mostrado na Figura 5.16, o número de ciclos definido para
envelhecimento foi de 8500 ciclos.
161
5.7 ANÁLISE DINÂMICO-MECÂNICA (DMTA)
Como um dos principais objetivos deste trabalho seria o de obter
informações, em tempos curtos, que fornecessem indicativas sobre o
comportamento sob fadiga mecânica de compósitos de PP reforçado com 30% de
FV, apresentam-se, neste tópico, os resultados obtidos na busca de uma
correlação entre a tangente de perda (tan
δ), obtida por DMTA, e os resultados
reais de durabilidade sob fadiga mecânica. Esta correlação pôde ser realizada,
pois já se sabe que o atrito interfacial fibra-polímero sob solicitação cíclica,
conforme discutido no item 3.3 da Revisão Bibliográfica, pode ser ampliado ou
reduzido em função do grau de interação ou adesão interfacial, podendo ser
traduzido pelo parâmetro de perda mecânica ou tangente de perda (tan
δ) do
compósito durante a análise por DMTA [9, 10, 33, 55].
Ressalta-se aqui que o efetivo desempenho sob fadiga mecânica destes
materiais já foi determinado por ensaios de fadiga em flexão quatro-pontos sob
modo de controle por deformação e freqüência de 1 Hz, sendo os dados
apresentados no item 5.6.
Neste sentido, a análise por DMTA permitiria observar o desempenho
mecânico dos compósitos envelhecidos e não envelhecidos em fadiga, verificando
suas propriedades características (E’, E’’ e tan
δ) com a influência da ciclagem
mecânica no atrito interno do compósito.
Nesta análise por DMTA, seria obtida a resposta medida na região
viscoelástica linear dos materiais que não foram pré-envelhecidos e dos materiais
que sofreram uma história de solicitação na região viscoelástica não linear pelo
pré-envelhecimento sob fadiga. Assim, espera-se que a melhor correlação seja
obtida entre as propriedades efetivas de fadiga mecânica (durabilidade ou vida útil
em fadiga) e as propriedades dinâmico-mecânicas de curta duração das amostras
pré-envelhecidas sob fadiga.
162
Sabe-se que a geração de calor pode ser também um fator muito
importante na queda da vida útil em fadiga, principalmente a altas freqüências e
altas tensões. L. E. Nielsen [16] observou que conforme as trincas são reveladas
tem-se um aumento no atrito interno, principalmente próximo à interface, o que
causa a geração de calor, ou aumento na temperatura, que não pode ser
dissipado facilmente. Isso faz com que a resistência do polímero e o módulo
elástico diminuam, sendo que a falha catastrófica pode ocorrer rapidamente [16].
Assim, espera-se que os ensaios dinâmico-mecânicos (DMTA) possam ser
considerados como uma técnica aplicável no monitoramento da fadiga nos
materiais.
Neste caso, pretendem-se obter, através da análise dinâmico-mecânica,
algumas informações sobre a influência da adição do compatibilizante interfacial
na interação ou adesão interfacial fibra-polímero dos compósitos e tentar ampliar o
efeito desta compatibilização interfacial através do pré-envelhecimento sob fadiga
dos compósitos.
-40 -20 0 20 40 60 80 100
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
Módulo de Armazenamento - amostras não envelhecidas - f = 1Hz
Temperatura (ºC)
Módulo de Armazenamento (MPa)
PP
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 17 - Módulo de armazenamento (E’), em função da temperatura, para o
PP controle e para os diversos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV.
163
Na Figura 5.17 estão apresentadas as curvas do módulo de
armazenamento (E’) do PP controle e dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV
em função da varredura de temperatura na faixa de -40 a 100 ºC, obtidos em
DMTA com amplitude de deformação e freqüência constantes. Estas curvas
correspondem a curva média de dois ou três CPs para cada composição
analisadas por DMTA.
Observa-se explicitamente uma queda do módulo de armazenamento com
aumento da temperatura, sendo que o início da queda mais acentuada ocorre em
torno de 10 ºC, ou próximo à temperatura de transição vítrea (Tg) da matriz
polimérica de PP homopolímero.
Além disso, na Figura 5.17 é marcante o efeito, já comentado anteriormente
nos ensaios de fadiga, da adição da fibra no módulo de armazenamento dos
materiais. Percebe-se, que neste caso, que na temperatura ambiente o módulo
dos compósitos se apresenta, na melhor condição, (que seria para o compósito
com 5% de PP-g-MAH), quase três vezes superior ao módulo do PP controle,
evidenciando o efeito reforçativo das fibras de vidro nos compósitos. Ainda nota-se
que as diversas curvas do módulo de armazenamento (E’) dos compósitos de
PP/PP-g-MAH/30%FV, em função do teor de PP-g-MAH incorporado, ficam
distribuídas de uma maneira não muito coerente acima da temperatura da
transição
α’ do PP (em torno de 40 °C), onde a influência da compatibilização
interfacial se torna praticamente nula na propriedade do módulo de
armazenamento elástico do compósito (E’).
Na Tabela 5.6 buscou-se demonstrar o aumento “efetivo” verificado no
módulo dos compósitos, em função do grau de compatibilização interfacial com
PP-g-MAH, sendo que para tal foi realizada uma relação entre o módulo das
diversas composições do compósito de PP/PP-g-MAH/30%FV e o módulo do PP
controle (matriz), processado com a mesma história térmica recebida pelos
compósitos.
164
Observou-se nos resultados apresentados na Tabela 5.6 que o efeito da
maior adesão interfacial não proporcionou nenhum aumento no módulo relativo
dos compósitos, mantendo-se este quase que inalterado em relação ao compósito
de PP/30%FV sem compatibilizante, nas temperaturas acima de 60 ºC (após
relaxação das tensões térmicas interfaciais). Este fato também foi observado nos
ensaios estáticos de flexão em quatro-pontos. Portanto, pode-se inferir que acima
da temperatura de transição vítrea da matriz polimérica, a influência da
compatibilização interfacial torna-se nula no módulo de engenharia dos
compósitos de PP.
Tabela 5. 6 - Dados da Tg e do módulo de armazenamento relativo (E’
c
/E’
m)
dos
compósitos de PP em várias temperaturas.
Módulo Relativo Dinâmico (E’
c
/E’
m
) Temperatura
Amostras
23 ºC 40 ºC 60 ºC 80 ºC Tg Tg (ºC)*
PP controle - E
(valor absoluto em GPa)
2,74 2,04 1,31 0,79 3,75 7,9
PP/30%FV
2,54 3,02 3,97 5,42 7,99 9,2
PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH
2,64 3,09 4,05 5,57 8,45 8,7
PP/30%FV/1%PP-g-MAH
2,38 2,86 3,77 5,21 7,64 8,1
PP/30%FV/2%PP-g-MAH
2,51 2,96 3,88 5,32 7,90 9,4
PP/30%FV/5%PP-g-MAH
2,72 3,16 4,04 5,52 8,59 8,9
* obtida da curva de E’’.
Sabe-se que no resfriamento dos materiais, durante a sua moldagem por
injeção, tem-se uma contração térmica diferencial inerente entre a matriz e as
fibras, que conduz a um intertravamento mecânico das fibras pela matriz devido às
tensões térmicas interfaciais, mesmo não havendo interações químicas na
interface fibra-polímero [29]. A partir desta constatação deve-se destacar que para
os resultados aqui apresentados, só será possível se analisar de maneira coerente
a influência do compatibilizante interfacial na medida das propriedades dinâmico-
mecânicas, obtidas por DMTA dos compósitos de PP, em temperaturas quando as
165
tensões térmicas interfaciais se tornam nulas, neste caso acima da faixa de 40 a
60 ºC.
-40 -20 0 20 40 60 80 100
250
300
350
400
450
500
550
600
650
Módulo de Perda - amostras não envelhecidas - 1Hz
Módulo de Perda (MPa)
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 18 - Módulo de perda (E’’), em função da temperatura, para o PP
controle e para os diversos compósitos de PP/ PP-g-MAH/30%FV.
Na Figura 5.18, observa-se um aumento no valor de E’’ inversamente
proporcional, na maioria dos compósitos, ao aumento no teor de PP-g-MAH, em
função do aumento na temperatura, principalmente acima de 60 ºC. Isto porque,
quando a adesão interfacial não é muito forte, os valores dos fatores de perda
mecânica (E’’) que são associados à movimentação molecular do polímero na
interface fibra-polímero, aumentam com o aumento da temperatura, tal como
ocorreu para o compósito de PP/30%FV sem compatibilizante. Assim, observou-
se que com o aumento no grau de interação interfacial induzido pelo teor
crescente do compatibilizante empregado no compósito diminuiu a energia
dissipada da componente viscosa sob solicitação cíclica por deformação em flexão
do compósito.
166
Apesar disso, o aumento no teor de PP-g-MAH no compósito reduziu o
valor de E’’, até um teor de 2% de PP-g-MAH. Acima deste, ou seja, com 5% de
PP-g-MAH, houve um aumento em E’’ em relação ao de 2% de PP-g-MAH e até
mesmo em relação ao compósito com 1% do compatibilizante interfacial
funcionalizado com anidrido maleico.
Este aumento pode ser conferido de forma mais clara e ampliada nas
temperaturas acima de 60 °C, após alívio das tensões térmicas interfaciais,
conforme demonstrado na Figura 5.19.
60 70 80 90 100
250
300
350
400
Módulo de Perda - amostras não envelhecidas - 1Hz
Módulo de Perda (MPa)
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 19 - Módulo de perda (E’’) para o PP controle e para os diversos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV, no intervalo de 60 a 100 ºC.
Portanto, nesta concentração de PP-g-MAH (5%) no compósito, pode-se
inferir que o aumento de E’’ deva ser atribuído à formação de uma interfase mais
espessa de copolímero de PP-co-siloxano, acima da concentração mínima
(concentração ótima) necessária para saturação de toda a superfície da FV,
conforme estipulado por P. E. Lopes et al [7, 33]. Assim, conforme se aumenta a
167
espessura e, consequentemente o volume, desta interfase, maior será a sua
contribuição para o módulo de perda do compósito.
Na Figura 5.20 estão apresentadas as curvas de tangente de perda
mecânica, ou amortecimento mecânico (tan
δ) dos compósitos, obtidos da relação
dos módulos de perda (E’’) e armazenamento (E’) destes materiais, mostrando a
relação entre os dois componentes anteriormente discutidos em um só gráfico e
eliminando desta maneira influência de quaisquer fatores externos nestas
propriedades individuais.
-40-200 20406080100
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
0,14
0,16
Tan delta - amostras não envelhecidas - 1Hz
Tan delta
Temperatura (ºC)
PP
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 20 - Amortecimento mecânico (tan
δ) para o PP controle e os diversos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV, em função da temperatura.
Nesta propriedade pode-se observar enfaticamente o efeito da substituição
de parte da matriz (com propriedades viscoelásticas) por um material considerado
por J. Kubát [9] como perfeitamente elástico (apresentando tan
δ = 0), como é o
caso da fibra de vidro, que foi usada aqui como reforço. Este fato está
168
explicitamente apresentado pela diferença nos valores de tan delta das amostras
de PP controle e do compósito de PP/30%FV sem compatibilizante. Nota-se
claramente a diminuição no valor de tan delta do compósito, ou tangente de perda
mecânica, com a introdução de 30% de fibra de vidro no compósito, em relação ao
tan
δ da matriz pura. Isto porque no PP controle temos a presença de 100% de
material viscoelástico, que possui comportamento viscoso e elástico ao mesmo
tempo (ou seja, que apresenta quando solicitado uma dissipação de energia
viscosa), e no compósito, 30% em peso deste material viscoelástico foi substituído
por um material elástico, que não apresenta perda de energia viscosa durante a
solicitação (a tensão, ou deformação, aplicada não será defasada uma em relação
à outra).
Analisando o comportamento de tan
δ dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV em função do grau de compatibilização interfacial com o teor de PP-
g-MAH, na Figura 5.20 pode-se verificar que o valor de tan
δ do compósito de
PP/30%FV sem compatibilizante apresenta um crescimento contínuo com o
aumento da temperatura, se afastando bastante dos demais compósitos
compatibilizados com PP-g-MAH.
Este aumento progressivo no tan
δ advém da alta dissipação de energia
viscosa devido ao atrito interfacial no compósito com movimentação das cadeias
moleculares, na ausência de boa compatibilização interfacial neste compósito de
PP/30%FV sem o compatibilizante interfacial de PP-g-MAH.
Este efeito é mostrado de forma ampliada na Figura 5.21, na faixa de
temperaturas entre 60 e 100 ºC.
Desta maneira, a adesão interfacial fibra-polímero, que influi diretamente na
mobilidade molecular polimérica na região da interfase, levaria também, por
conseqüência, a um maior amortecimento mecânico (tan
δ) para os compósitos
que não apresentam uma boa compatibilização interfacial, conseguida em função
do teor do compatibilizante interfacial de PP-g-MAH presente no compósito de
PP/30%FV [29].
169
60 70 80 90 100
0,06
0,08
0,12
0,14
Tan delta - amostras não envelhecidas - 1Hz
Tan delta
Temperatura (ºC)
PP
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 21 - Amortecimento mecânico (tan
δ) para o PP controle e os compósitos
de PP/PP-g-MAH/30%FV no intervalo de temperaturas entre 60 e 100 ºC.
Apesar disso, não se nota uma tendência estritamente direta entre o
aumento na compatibilização interfacial gerada pelo aumento do teor de PP-g-
MAH no compósito e a redução no valor de tan delta, mesmo acima de 60 ºC,
já que o valor de tan
δ para o compósito com 5% de PP-g-MAH volta a aumentar e
se localizar acima do compósito com 2%, como também ocorreu para a
propriedade de módulo de perda (E’’).
Apesar deste fato, pode-se fazer uma análise de tendência entre o
comportamento da propriedade de tan
δ dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV
e a concentração do compatibilizante interfacial de polipropileno maleificado
nestes compósitos. A Figura 5.22 mostra esta tendência nas temperaturas onde
as tensões térmicas interfaciais são anuladas.
170
012345
0,0625
0,0650
0,0675
0,0700
0,0725
0,0750
0,0775
0,0800
Valores de Tan δ
% de compatibilizante PP-g-MAH no compósito
T = 60ºC
T = 70ºC
T = 80ºC
Relação entre Tan δ e % de PP-g-MAH
Figura 5. 22 - Valores de tan δ dos compósitos não envelhecidos de PP/PP-g-
MAH/30%FV em função da adição de PP-g-MAH ao compósito, nas temperaturas
de 60, 70 e 80 ºC.
Observa-se na Figura 5.22 que existe um desvio significativo nas curvas de
ajuste para T = 60, 70 e 80 ºC, mas que realmente há uma tendência geral de
queda nos valores de tan
δ quando se PP-g-MAH ao compósito, sendo que com o
ajuste, esta queda praticamente chega a nivelar entre os teores de 2 e 5% de PP-
g-MAH, principalmente para as temperaturas superiores (melhor representada
pela curva a 80 ºC).
Este nivelamento também foi observado por P. E. Lopes [7, 33], nos
ensaios dinâmico-mecânicos de DMTA, mas principalmente nas propriedades de
curta duração de resistência à tração (RT) e resistência ao impacto (RI). Assim, os
resultados das propriedades dinâmico-mecânicas avaliadas neste trabalho são de
uma forma geral, muito similares aos apresentados por P.E. Lopes. Apesar dos
equipamentos utilizados e as configurações empregadas nos ensaios das duas
171
análises por DMTA não serem efetivamente os mesmos, esta similaridade no
comportamento dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV demonstra um bom
grau de confiabilidade dos resultados de DMTA apresentados neste trabalho.
Na tentativa da obtenção de informações relevantes sobre o
comportamento sob fadiga mecânica dos materiais, com uma diminuição no tempo
necessário para a análise efetiva do comportamento dos compósitos submetidos à
fadiga sob solicitação cíclica, algumas amostras foram pré-envelhecidas sob
curtos tempos de solicitação cíclica e analisadas em DMTA. A seguir, estão
apresentados estes resultados.
-40-200 20406080100
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
Módulo de Armazenamento - amostras envelhecidas - 1Hz
Módulo de Armazenamento (MPa)
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 23 - Módulos de armazenamento (E’) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da temperatura.
Na Figura 5.23 nota-se que com o envelhecimento sob fadiga tem-se uma
pequena diminuição de E’ em relação aos valores obtidos sem envelhecimento,
mostrados anteriormente na Figura 5.17, como pode ser claramente observado na
Tabela 5.7. Isto porque provavelmente, apesar do tempo de envelhecimento não
ter sido elevado, este teria sido suficiente para que as fibras menores presentes
172
nos compósitos fossem desacopladas, fazendo com que a rigidez em todos os
compósitos pré-envelhecidos fosse reduzida.
Tabela 5. 7 – Comparação entre os valores do módulo de armazenamento das
amostras não envelhecidas e pré-envelhecidas sob fadiga.
Módulo de Armazenamento (E’)
0 ºC 20 ºC 80 ºC
Amostras
Não Env.* Env.** Não Env.* Env.** Não Env.* Env.**
PP controle
4294 - 2895 - 791 -
PP/30%FV
8615 7933 7143 6332 4290 3530
PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH
9173 7315 7428 5803 4405 3461
PP/30%FV/1%PP-g-MAH
8261 7581 6708 6010 4123 3589
PP/30%FV/2%PP-g-MAH 8553 7146 7076 5660 4211 3411
PP/30%FV/5%PP-g-MAH
9247 7179 7659 5687 4366 3465
* Amostras que não foram envelhecidas em fadiga para análise em DMTA
** Amostras envelhecidas em 8500 ciclos e analisadas em DMTA
-40-200 20406080100
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
Módulo de Perda - amostras pré-envelhecidas - f = 1Hz
Módulo de Perda (MPa)
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 24 - Módulos de perda (E’’) dos compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV
envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da temperatura.
173
Já na Figura 5.24 temos apresentado o módulo de perda (E’’) dos
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV pré-envelhecidos. Nesta Figura observa-se
que o compósito com maior teor de PP-g-MAH (5%) apresentou o menor valor de
E’’ e na faixa de temperaturas onde as tensões térmicas interfaciais são aliviadas,
mas é notório que estes valores se encontram muito próximos e quase
sobrepostos aos dos encontrados pelos compósitos com 2% em peso de PP-g-
MAH. É interessante também poder se observar nesta propriedade um
agrupamento entre os compósitos com 0,5 e 1% de PP-g-MAH e entre os que
possuem 2 e 5% de PP-g-MAH acima de 40 ºC. Este exato agrupamento também
foi observado nos resultados de durabilidade ou número de ciclos para falha (N
f
)
nos ensaios de fadiga mecânica sob solicitação cíclica, mostrando uma grande
similaridade de comportamento entre os dois ensaios.
-40 -20 0 20 40 60 80 100
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,10
Tan delta - amostras pré-envelhecidas - f = 1Hz
Tan delta
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 25 - Amortecimento mecânico (tan
δ) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função da temperatura.
Na Figura 5.25 temos apresentado o amortecimento mecânico, ou tan
δ,
que nada mais é do que a relação entre os módulos de perda e de
174
armazenamento, para os compósitos que foram pré-envelhecidos. Os valores de
tan
δ abaixo de 40 ºC não apresentaram muita coerência, porém acima desta
temperatura (onde as tensões térmicas interfaciais já começam a ser aliviadas)
nota-se uma relação inversa entre o valor de tan delta e o teor de PP-g-MAH no
compósito. Conforme se aumenta o teor de PP-g-MAH observa-se a queda no
valor de tan delta para os compósitos, o que também reflete bem os resultados de
N
f
sob fadiga mecânica.
Deve-se observar também em destaque o comportamento do compósito
PP/30%FV sem compatibilizante. Seus valores de tan
δ dispararam
crescentemente com o aumento da temperatura, como melhor observado na
ampliação mostrada da Figura 5.26.
60 70 80 90 100
0,06
0,07
0,08
0,09
0,10
Tan delta - amostras fadigadas - 1Hz
Tan delta
Temperatura (ºC)
PP/30% FV
PP/30% FV/0,5% PP-g-MAH
PP/30% FV/1% PP-g-MAH
PP/30% FV/2% PP-g-MAH
PP/30% FV/5% PP-g-MAH
Figura 5. 26 - Amortecimento mecânico (tan
δ) para o PP controle e para os
compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV pré-envelhecidos, no intervalo de
temperaturas entre 60 e 100 ºC.
Este crescimento se apresentou notoriamente mais acentuado do que
aquele observado nas amostras não envelhecidas. Certamente temos aqui um
175
maior número de fibras com comprimentos sub-críticos sendo desacopladas,
devido à solicitação ou ao pré-envelhecimento sob fadiga das amostras, fato que
seria refletido em um maior número de danos interfaciais fibra-polímero
principalmente pela existência de uma ligação fibra-polímero não tão eficiente
nestes compósitos de PP/30%FV sem compatibilizante interfacial. Já os
compósitos que possuem o compatibilizante interfacial de PP-g-MAH apresentam
seu valor de tan delta praticamente nivelado a partir de 80 ºC, sendo que para os
compósitos com 2 e 5% de PP-g-MAH em peso, estes valores chegam a
ligeiramente cair acima da temperatura de 90 ºC. Ou seja, adição crescente de
PP-g-MAH ao compósito, traduzida em termos de aumento na adesão fibra-
polímero, mostra-se presente na forma de um quase nivelamento nos valores de
tan
δ acima de 60 ºC.
Na Figura 5.27, os valores de tan
δ das amostras pré-envelhecidas sob
solicitação mecânica cíclica são apresentados, no intervalo de temperaturas entre
60 e 80 ºC, quando as tensões térmicas interfaciais são nulas.
Observa-se nesta Figura 5.27 que o ajuste das curvas aos dados de tan
δ
das amostras pré-envelhecidas, em função do teor de PP-g-MAH no compósito, é
visivelmente melhor do que o mesmo verificado nas amostras não envelhecidas
dos mesmos compósitos, conforme apresentado anteriormente na Figura 5.22.
Esta menor dispersão nos dados de tan
δ das amostras pré-envelhecidas aumenta
a confiabilidade na interpretação desta propriedade que monitora a intensidade do
atrito interfacial fibra-polímero, em função do grau de interação interfacial
alcançado com o teor de compatibilizante de PP-g-MAH. Portanto, avaliando o
comportamento da curva de tan
δ em função do teor de compatibilizante, pode-se
evidenciar de forma mais clara nestas amostras pré-envelhecidas sob fadiga a
existência de uma concentração ótima do compatibilizante, em torno de 2 % de
PP-g-MAH, acima da qual se verifica nenhuma melhoria no grau de adesão
interfacial do compósito.
176
012345
0,070
0,075
0,080
0,085
0,090
0,095
Tan δ
% de PP-g-MAH no Compósito
T = 60ºC (pré-envelhecidos)
T = 70ºC (pré-envelhecidos)
T = 80ºC (pré-envelhecidos)
Tan δ em função da % de PP-g-MAH (pré-envelhecidos sob fadiga)
Figura 5. 27 - Amortecimento mecânico (tan
δ) dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV envelhecidos sob fadiga em 8500 ciclos, em função do teor de PP-g-
MAH no compósito.
012345
0,060
0,065
0,070
0,075
0,080
0,085
0,090
0,095
T = 80ºC (não envelhecidos)
T = 80ºC (pré-envelhecidos)
% de PP-g-MAH em peso no compósito
Tan δ
Relação entre N
f
e tan δ das amostras não envelhecidas e pré-envelhecidas
10000
15000
20000
25000
30000
Número de Ciclos para Falha (N
f
)
Figura 5. 28 - Relação entre N
f
e tan δ determinada na temperatura de 80 ºC para
os compósitos de PP/PP-g-MAH/FV não envelhecidos e pré-envelhecidos sob
fadiga, em função do teor de PP-g-MAH no compósito.
177
Na Figura 5.28 estão apresentadas as curvas de ajuste para as
propriedades de tan
δ das amostras não envelhecidas e pré-envelhecidas sob
fadiga em combinação com os dados efetivos de fadiga mecânica, representados
em termos do número de ciclos para falha (N
f
), para os compósitos de PP/PP-g-
MAH/30%FV. Neste gráfico, podemos verificar que a propriedade de
amortecimento mecânico ou tangente de perda mecânica (tan
δ) se mostrou
inversamente proporcional em relação à durabilidade ou número de ciclos para
falha (N
f
) em fadiga para todos os compósitos de PP/PP-g-MAH/30%FV. Apesar
deste comportamento ser observado, de forma geral, em ambos os compósitos
não envelhecidos e pré-envelhecidos sob fadiga mecânica, verifica-se que nos
compósitos pré-envelhecidos o teor ótimo do compatibilizante interfacial ocorre em
concentrações de PP-g-MAH quase equivalentes, tanto para a propriedade de tan
δ quanto na vida útil sob fadiga (N
f
), demonstrando que esta correlação entre as
propriedades dinâmico-mecânicas de curta e longa duração é melhor alcançada
com as amostras pré-fadigadas. Apesar desta correlação ser essencialmente de
natureza qualitativa, espera-se que previsões mais precisas e de natureza
quantitativa possam ser estabelecidas quando os ensaios de fadiga forem
realizados em baixos níveis de deformação, na região onde os materiais
poliméricos se comportam de maneira viscoelástica linear. Neste caso, os
aumentos expressivos no tempo de vida útil sob fadiga, esperados com a melhora
no grau de compatibilização interfacial destes compósitos, poderiam evidenciar de
forma mais conclusiva a existência de uma concentração ótima do
compatibilizante de PP-g-MAH em compósitos de PP/FVc e também permitir
melhores correlações entre os dados das propriedades dinâmico-mecânicos de
curta e longa duração, investigada através desta metodologia experimental.
Assim, não deixando de lado todas as limitações verificadas e os possíveis
refinamentos ainda necessários à metodologia experimental adotada neste
trabalho, pode-se afirmar de forma geral que foi estabelecida uma boa correlação
entre as propriedades de fadiga e a propriedade de amortecimento mecânico (tan
δ) das amostras pré-envelhecidas por curtos tempos de ciclagem mecânica,
178
indicando que esta linha de estudos poderia ser melhor explorada, tornando esta
metodologia de extrema utilidade para a predição em curtos tempos de análise
das propriedades mecânicas de longa duração de compósitos termoplásticos.
179
6 CONCLUSÕES
Como o objetivo principal deste trabalho foi analisar a influência do teor de
compatibilizante PP-g-MAH nas propriedades de fadiga mecânica de compósitos
de PP reforçados com 30% em peso de FV curtas, e buscar informações
indicativas sobre o comportamento de resistência à fadiga dinâmica através de
análises dinâmico-mecânicas de curta duração, as principais conclusões
alcançadas neste trabalho de mestrado foram:
1) A incorporação de teor crescente do compatibilizante interfacial de PP-g-
MAH nos compósitos confirmou o esperado ganho nas propriedades
mecânicas de flexão sob solicitação estática, propiciando aumentos na
resistência à flexão e na deformação de ruptura, porém sem alterações
significativas no módulo elástico de flexão (E
FL
).
2) Os dados dos ensaios de fadiga mecânica por flexão em quatro-pontos e
sob deformação controlada, na forma de curvas de amplitude de força
versus número de ciclos (N), apresentaram três estágios distintos: o 1º
estágio apresenta uma força constante (patamar), o 2º uma região
intermediária, onde ocorre uma queda suave na força e, por último, o 3º
estágio de fase terminal do ensaio, onde ocorre a queda brusca no nível de
força, culminado com a fratura dos compósitos num número definido de
ciclos até falha (N
f
).
3) A durabilidade sob fadiga dos compósitos, expressa em termos de número
de ciclos para falha mecânica (N
f
), aumenta com o teor crescente do
compatibilizante de PP-g-MAH no compósito. O compósito com maior teor
de compatibilizante (5% de MAH) apresentou um tempo de vida útil (N
f
=
3.10
3
) aproximadamente 2,5 vezes superior ao do compósito sem
compatibilizante (N
f
=1,2.10
3
).
180
4) Através da análise térmica dinâmico-mecânica (DMTA) foi possível verificar
que o valor de tan delta dos compósitos, propriedade que reflete no grau de
adesão fibra-polímero, reduz com aumento no teor do compatibilizante
interfacial; tendendo a nivelar a concentrações de aproximadamente 2% de
PP-g-MAH. Esta concentração ótima é melhor identificada nas amostras
pré-envelhecidas sob fadiga do que nas amostras sem envelhecimento.
5) Foi verificada uma boa correlação entre a propriedade de tan
δ,
determinada por DMTA, com a efetiva durabilidade sob fadiga dos
compósitos. Esta correlação se apresentou lógica e inversamente
proporcional em função do aumento do grau de compatibilização interfacial
fibra-polímero. Ou seja, redução no tan
δ proporcionando um aumento no
número de ciclos até falha mecânica por propagação de trinca nos
compósitos de PP em análise.
181
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Para dar continuidade ao trabalho aqui desenvolvido sobre as correlações
entre propriedades de fadiga mecânica sob solicitação cíclica e análise dinâmico
mecânica em compósitos de PP reforçado com FVc e compatibilizados com PP-g-
MAH, sugere-se:
1) Utilizar extensômetros dinâmicos de contato diretamente nos corpos-
de-prova, buscando melhorar a reprodutibilidade dos resultados obtidos nos
ensaios de fadiga dos compósitos em análise e, assim, avaliar de forma
mais conclusiva a existência da concentração ótima do compatibilizante de
PP-g-MAH na durabilidade sob fadiga mecânica destes materiais.
2) Refinar a metodologia experimental empregada nos ensaios de fadiga
mecânica, utilizando outros níveis de deformação cíclica (por exemplo, a 65
e 60% de deformação de ruptura dos CPs), com o objetivo de evidenciar de
forma mais clara a influência do grau de compatibilização interfacial na
efetiva vida útil sob fadiga (número de ciclos para falha) verificada nos
compósitos em análise.
3) Estabelecer as mesmas correlações entre as propriedades dinâmico-
mecânicas e a efetiva durabilidade sob fadiga dos compósitos de PP/PP-g-
MAH/FV para outras composições com teores de reforço entre 20 e 40 %
em peso.
4) Realizar ensaios de fadiga em modo de controle de tensão, visando.
obter curvas de Wöhler de resistência à fadiga em função de número de
ciclos para falha, com intuito de obter dados de engenharia para fins de
dimensionamento estrutural preciso de peças moldadas por injeção de
compósitos de PP reforçado com FVc.
182
183
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APÊNDICE A
Características dos materiais utilizados no trabalho.
Tabela 9. 1 - Propriedades do PP VM 6100K.
Propriedade Norma Valor Médio
MFI (g/10min)
ASTM – D1238 (2,16 kg e
230 ºC)
20,0
Módulo em flexão (GPa) ASTM – D790 (Método I/A) 1,30
Tensão no escoamento sob tração
(MPa)
ASTM – D 638 (50 mm/min) 33,0
Dureza Shore D ASTM – 2240 (1s) 70
23 ºC 30
Resistência ao Impacto Izod (J/m) ASTM – D256
-20 ºC _
0,45 MPa 105
HDT (ºC) ASTM – D648
1,8 MPa 63
Ponto de Amolecimento Vicat (ºC) ASTM – D1525 (10 N/taxa A) 150
Tabela 9. 2 - Propriedades físicas da fibra tipo E [60].
Propriedades Típicas das FV Tipo E Valores
Densidade (g/cm
3
) (filamento - ASTM C 693) 2,60 g/cm
3
Resistência à tração do filamento virgem (ASTM D 2343) 3400 MPa *
Resistência à tração do fio impregnado no compósito (ASTM D 2343) 2400 MPa
Módulo de Elasticidade (ASTM D 2101) 73 GPa
Deformação na Ruptura (ASTM D 2101) 4,5%
Condutividade Térmica (λ)
1,0 W/m.k
Coeficiente de Expansão térmica Linear (entre 20 e 100 ºC)
ASTM D 696
5.10
-6
m/m/K
Flamabilidade inflamável
* Danos nas superfícies produzidos pela abrasão resultante do contato fibra-fibra ou fibra-
equipamento de fabricação, reduzem essa resistência para uma faixa de 1,7 a 2,1 GPa.
194
195
APÊNDICE B
Figura 9. 1 - Perfil de rosca utilizado neste trabalho [33].
Tabela 9. 3 - Perfil de temperatura ajustado durante o processamento em
extrusão.
Zonas Zona 1 Zona 2 Zona 3 Zona 4 Zona 5 Cabeçote
Temp. (ºC)
210 230 250 260 260 250
Tabela 9. 4 - Perfil de temperatura real da extrusora durante o processamento.
Temperatura das zonas da extrusora (ºC)
Zona
1
Zona
2
Zona
3
Zona
4
Zona
5
Cabeçote
Temperatura
da massa (ºC)
Torque
(%)
PP
controle
192 228 248 259 260 245 254 75 - 80
PP/30FV
207 230 250 260 261 249 249 65 - 70
PP/30FV/
0,5%PP-
g-MAH
207 230 250 260 261 250 249 65 -70
PP/30FV/
1% PP-g-
MAH
209 228 250 260 260 250 248 65 -70
PP/30FV/
2% PP-g-
MAH
201 226 248 257 262 250 249 65 -70
PP/30FV/
5% PP-g-
MAH
197 228 248 256 262 250 249 65 -70
196
197
APÊNDICE C
Tabela 9. 5 - Valores de porcentagem de umidade presente na superfície da fibra,
utilizados na correção para determinação dos valores reais de porcentagem de
fibra de vidro presentes nos compósitos.
Amostra
Peso do
cadinho
(g)
Peso do
cadinho +
amostra
(g)
Peso do
cadinho +
amostra
após queima
(g)
Concentração
de FV (%)
% água
eliminada
na
queima
0,8490 1,5471 1,5420 99,26945 0,730554
0,9199 1,6927 1,6849 98,99068 1,009317
0,8260 1,3074 1,3042 99,33527 0,664728
FV pura
0,9476 2,0289 2,0232 99,47286 0,527143
Média 0,733*
198
Tabela 9. 6 - Determinação da concentração real de fibra de vidro nos compósitos
após extrusão.
Amostra
Peso do
cadinho (g)
Peso do
cadinho +
amostra (g)
Peso do
cadinho +
amostra
após queima
(g)
Concentração
de FV (%)
% de FV Média
corrigida
0,9968 2,4275 1,4102 28,8949 29,11
0,9841 2,1622 1,3168 28,2404 28,45
0,9740 2,1469 1,3061 28,3144 28,52
0,9997 2,2891 1,3607 27,9960 28,20
PP/30FV
0,9771 2,2449 1,3390 28,5455 28,75
Média
28,61 ± 0,34
0,9537 2,4748 1,3441 25,6656 25,85
0,9775 2,2146 1,2917 25,3981 25,58
0,9970 2,6675 1,4229 25,4924 25,68
0,9568 2,0881 1,2786 28,4452 28,65
PP/30FV/0,5%
PP-g-MAH
0,8786 2,3181 1,2853 28,2529 28,46
Média
26,85 ± 1,57
0,9835 2,2028 1,3327 28,6394 28,85
0,9920 2,4138 1,3986 28,5975 28,81
0,9790 2,4140 1,3938 28,9059 29,12
0,9858 2,0880 1,3016 28,6482 28,86
PP/30FV/1%
PP-g-MAH
0,9815 2,5060 1,4175 28,5982 28,81
Média
28,88 ± 0,13
0,9026 2,1689 1,3118 32,3146 32,55
0,8998 3,1313 1,4892 26,4127 26,61
0,9587 2,4863 1,3652 26,6097 26,80
PP/30FV/2%
PP-g-MAH
0,8626 2,2257 1,2692 29,8290 30,05
Média
29,00 ± 2,84
0,9828 2,1976 1,3392 29,3382 29,55
0,9630 2,5655 1,4327 29,3104 29,52
0,9859 3,1006 1,6013 29,1010 29,31
0,9204 2,5872 1,4058 29,1241 29,33
PP/30FV/5%
PP-g-MAH
0,9942 2,3273 1,3798 28,9258 29,14
Média
29,37 ± 0,17
* Porcentagem de água presente na superfície da fibra, usada na correção das
porcentagens de fibra para todos os compósitos.
199
Tabela 9. 7 - Determinação da concentração real de fibra de vidro nos compósito
após injeção.
Amostra
Peso do
cadinho
(g)
Peso do
cadinho +
amostra (g)
Peso do
cadinho +
amostra após
queima (g)
Concentração
de FV (%)
% de FV
Média
corrigida
0,9968 2,4275 1,4102 28,8949 29,11
0,9841 2,1622 1,3168 28,2404 28,45
0,9740 2,1469 1,3061 28,3144 28,52
0,9997 2,2891 1,3607 27,9960 28,20
PP/30FV
0,9771 2,2449 1,3390 28,5455 28,75
Média
28,61 ± 0,34
0,9537 2,4748 1,3441 25,6656 25,85
0,9775 2,2146 1,2917 25,3981 25,58
0,9970 2,6675 1,4229 25,4924 25,68
0,9568 2,0881 1,2786 28,4452 28,65
PP/30FV/0,5
% PP-g-MAH
0,8786 2,3181 1,2853 28,2529 28,46
Média
26,85 ± 1,57
0,9835 2,2028 1,3327 28,6394 28,85
0,9920 2,4138 1,3986 28,5975 28,81
0,9790 2,4140 1,3938 28,9059 29,12
0,9858 2,0880 1,3016 28,6482 28,68
PP/30FV/1%
PP-g-AMH
0,9815 2,5060 1,4175 28,5982 28,81
Média
28,89 ± 0,16
0,9026 2,1689 1,3118 32,3146 32,55
0,8998 3,1313 1,4892 26,4127 26,61
0,9587 2,4863 1,3652 26,6097 26,80
PP/30FV/2%
PP-g-MAH
0,8626 2,2257 1,2692 29,8290 30,05
Média
29,00 ± 2,84
0,9828 2,1976 1,3392 29,3382 29,55
0,9630 2,5655 1,4327 29,3104 29,52
0,9859 3,1006 1,6013 29,1010 29,31
0,9204 2,5872 1,4058 29,1241 29,33
PP/30FV/5%
PP-g-MAH
0,9942 2,3273 1,3798 28,9258 29,14
Média
29,37 ± 0,17
* Porcentagem de água presente na superfície da fibra, usada na correção das
porcentagens de fibra para todos os compósitos.
200
201
APÊNDICE D
Cálculos realizados na determinação do teor de MAH incorporado e não
incorporado ao compatibilizante PP-g-MAH (PB 3200).
Titulação da Acetona (MAH não incorporado ao PP):
1) Padronização da solução básica de KOH em metanol para titulação da solução
de acetona/MAH:
Para a obtenção da concentração da solução de KOH utilizou-se a seguinte
equação V
A
.N
A
= V
B
.N
B
, sendo V
A
e N
B
o volume e a normalidade da solução de
biftalato, respectivamente, e V
B
e N
B
o volume e a normalidade da solução de
KOH em metanol. Neste caso, como a estequiometria de reação entre grupos
ácido do biftalato e grupos básicos do KOH obedece à proporção de 1:1, a
concentração da solução de KOH foi obtida diretamente da equação que relaciona
concentração e volume. Estes resultados estão apresentados na Tabela 9.8.
Tabela 9. 8 - Obtenção da normalidade da solução básica de KOH em metanol.
V
solução biftalato
(mL)
N
solução
biftalato
V
titulante da solução de KOH
(mL)
N
solução de KOH
5 0,00538 5,41 0,0049723
5 0,0051 3,98 0,006407
5 0,0051905 4,95 0,0052429
5 0,005876 4,41 0,0066621
5 0,0072471 4,79 0,0075648
5 0,0054843 5,4 0,0050781
Média da normalidade da solução básica N
KOH
= 0,0056725 mol/L
202
2) Titulação da solução de acetona/MAH:
Para a obtenção da concentração da solução de acetona utilizou-se a
mesma equação que relaciona concentração e volume de duas soluções V
A
.N
A
=
V
B
.N
B
, sendo V
B
e N
B
o volume e a normalidade da solução de KOH,
respectivamente, e V
A
e N
A
o volume e a normalidade da solução de acetona.
Porém, como a estequiometria de reação entre grupos ácido e grupos básicos
neste caso obedece à proporção de 2 (KOH) :1 (MAH), ou seja, 1 MAH em
presença de água (hidrolisado, com anel aberto) gera dois COOH (ácidos
carboxílicos)
que precisam reagir com 2 KOH para obter a reação de
neutralização, ou seja, como
=
OH
MAH
N
N
2
, teremos que a concentração da
solução de acetona deverá ser dividida por dois para se manter a estequiometria
da reação entre ácido e base.
A Tabela 9.9 apresenta os valores de concentração e volume, já
respeitando este fato da estequiometria da reação obedecer à proporção de 2:1,
ou seja, seguindo a seguinte equação:
MAHacetona
MAHacetona
KOH
V
N
V
/
/
KOH
.
2
.N =
.
Tabela 9. 9 - Obtenção da normalidade da solução de MAH em acetona.
V
titulante da solução de KOH
(mL)
N
solução de KOH
V
solução da
acetona
(mL)
N
solução de acetona
0,79 0,0056725 2,5 0,00358502
0,84 0,0056725 2,5 0,00381192
0,82 0,0056725 2,5 0,00372116
0,85 0,0056725 2,5 0,0038573
Média da normalidade da solução de acetona N
Acetona
= 0,00374385 mol/L
Como m = N.E
1
.V, para um volume inicial de 150 mL de solução de acetona
teremos que a massa de MAH será de 0,02753 g MAH, sendo E
1
= 98,06/2 =
203
49,03. Assim, lembrando que a massa inicial de PP-g-MAH que sofreu a extração
na acetona foi de 20g, a porcentagem de MAH não incorporado ao PP será:
%MAH não incorporada =
100.
20
0,02753
= 0,137%
Titulação da solução de PP-g-MAH em xileno (MAH incorporado ao
PP):
1) Padronização da solução básica de KOH em metanol para titulação da
solução de xileno/PP-g-MAH:
Como no caso de padronização anterior, para a obtenção da concentração
da solução de KOH utilizou-se a seguinte equação V
A
.N
A
= V
B
.N
B
, sendo V
A
e N
A
o
volume e a normalidade da solução de biftalato, respectivamente, e V
B
e N
B
o
volume e a normalidade da solução de KOH em metanol. Neste caso, como a
estequiometria de reação entre grupos ácido do biftalato e grupos básicos do KOH
obedece à proporção de 1:1, a concentração da solução de KOH foi obtida
diretamente da equação que relaciona concentração e volume. Estes resultados
estão apresentados na Tabela 9.10.
Tabela 9. 10 - Obtenção da normalidade da solução básica de KOH em metanol.
V
solução biftalato
(mL)
N
solução
biftalato
V
titulante da solução de KOH
(mL)
N
solução de KOH
5 0,005876 5,41 0,0054307
5 0,0067574 6,07 0,0055662
5 0,0041132 3,77 0,0054552
Média da normalidade da solução básica N
KOH
= 0,005484 mol/L
204
2) Titulação da solução de xileno/PP-g-MAH:
Para a obtenção da concentração da solução de xileno, utilizou-se
também a equação que relaciona concentração e volume de duas soluções
V
A
.N
A
= V
B
.N
B
, sendo V
B
e N
B
o volume e a normalidade da solução de KOH,
respectivamente, e V
A
e N
A
o volume e a normalidade da solução de xileno.
Porém, como aqui também a estequiometria de reação entre grupos básicos e
grupos anidridos neste caso obedece à proporção de 2:1, ou seja, cada anidrido
em presença de água gera dois grupos H
+
e cada base gera um grupo OH
-
,
teremos que a concentração da solução de xileno deverá ser dividida por dois
para se manter a estequiometria da reação entre ácido e base, ou seja,
MAHxileno
MAHxileno
KOH
V
N
V
/
/
KOH
.
2
.N =
.
A Tabela 9.11 apresenta os valores de concentração e volume, já
respeitando este fato da estequiometria da reação obedecer à proporção de 2:1.
Tabela 9. 11 - Obtenção da normalidade da solução de PP-g-MAH em xileno.
V
titulante da solução de KOH
(mL)
N
solução de KOH
V
solução de xileno
(mL)
N
solução de xileno
0,63 0,005484 2 0,00345492
0,6 0,005484 2 0,0032904
0,9 0,005484 3 0,0032904
2,61 0,005484 10 0,002862648
2,7 0,005484 10 0,00296136
Média da normalidade da solução de xileno N
xileno
= 0,0031172 mol/L
Como m = N.E
1
.V, para um volume adicionado de 150 mL de xileno
teremos que a massa de MAH no xileno será de 0,02292g (para E
1
= 49,03).
Assim, lembrando que a massa inicial de PP-g-MAH que foi realmente dissolvida
em 150 mL de xileno foi de 1,85 g, teremos que 1,85 g de PP-g-MAH teriam
205
0,02292g MAH. Portanto, em 20g de PP-g-MAH (massa inicial colocada para
extração em acetona) teremos 0,248 g de MAH.
Assim, a porcentagem de MAH incorporado ao PP será:
%MAH incorporado =
100.
20
0,248
= 1,2 %
206
207
APÊNDICE E
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-80
-60
-40
-20
0
20
40
60
80
Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
Tensão versus Número de Ciclos - PP controle - D = 70%D rupPP/30%FV (f = 1Hz)
Figura 9. 2 – Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os PPs
controle.
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-160
-120
-80
-40
0
40
80
120
160
Tensão - PP/30%FV - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
CP 4 - Tensão máxima
CP 4 - Tensão mínima
CP 4 - Tensão média
Figura 9. 3 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os compósitos
de PP/30%FV.
208
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-160
-120
-80
-40
0
40
80
120
160
Número de Ciclos
Tensão (MPa)
Tensão - PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
CP 4 - Tensão máxima
CP 4 - Tensão mínima
CP 4 - Tensão média
Figura 9. 4 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os compósitos
de PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH.
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-160
-120
-80
-40
0
40
80
120
160
Número de Ciclos
Tensão (MPa)
Tensão - PP/30%FV/1%PP-g-MAH - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
CP 4 - Tensão máxima
CP 4 - Tensão mínima
CP 4 - Tensão média
Figura 9. 5 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os compósitos
de PP/30%FV/1%PP-g-MAH.
209
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-160
-120
-80
-40
0
40
80
120
160
Amplitude de Tensão - PP/30%FV/2%PP-g-MAH - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
CP 4 - Tensão máxima
CP 4 - Tensão mínima
CP 4 - Tensão média
Figura 9. 6 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os compósitos
de PP/30%FV/2%PP-g-MAH.
1 10 100 1000 10000 100000 1000000 1E7 1E8
-160
-120
-80
-40
0
40
80
120
160
Número de Ciclos
Tensão (MPa)
Tensão - PP/30%FV/5%PP-g-MAH - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
CP 1 - Tensão máxima
CP 1 - Tensão mínima
CP 1 - Tensão média
CP 2 - Tensão máxima
CP 2 - Tensão mínima
CP 2 - Tensão média
CP 3 - Tensão máxima
CP 3 - Tensão mínima
CP 3 - Tensão média
CP 4 - Tensão máxima
CP 4 - Tensão mínima
CP 4 - Tensão média
Figura 9. 7 - Registro de tensão durante os ensaios de fadiga para os compósitos
de PP/30%FV/5%PP-g-MAH.
210
211
APÊNDICE F
1 10 100 1000 10000 100000
10
20
30
40
50
60
70
Amplitude de Tensão - PP controle - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
Amplitude de tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
Figura 9. 8 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de PP
controle.
1 10 100 1000 10000 100000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30%FV - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
Amplitude de tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 9. 9 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV.
212
1 10 100 1000 10000 100000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30FV/0,5%PP-g-MAH - 70% (1Hz)
Amplitude de tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 9. 10 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV/0,5%PP-g-MAH.
1 10 100 1000 10000 100000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30FV/1%PP-g-MAH - 70% (f = 1Hz)
Amplitude de tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 9. 11 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV/1%PP-g-MAH.
213
1 10 100 1000 10000 100000
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30%FV/2%PP-g-MAH - D = 70%DrupPP/30%FV (f = 1Hz)
Amplitude de Tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 9. 12 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV/2%PP-g-MAH.
1 10 100 1000 10000 100000
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Amplitude de Tensão - PP/30FV/5%PP-g-MAH - 70% (f = 1Hz)
Amplitude de tensão (MPa)
Número de Ciclos
CP 1
CP 2
CP 3
CP 4
Figura 9. 13 - Amplitude de tensão durante os ensaios de fadiga para os CPs de
PP/30%FV/5%PP-g-MAH
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