50
pode ser corroborada por Umberto Eco em suas considerações sobre o mito do
superman. O autor chama a atenção sobre a possibilidade do sucesso do herói das
histórias em quadrinhos estar ancorado justamente no fato de ele sair das vestes de um
homem comum. Assim, estes criminosos tornados celebridades pela imprensa se
constituem naquilo que os homens comuns gostariam de ter sido, ou ainda, admiram-lhe
a audácia, coragem ou qualquer outro atributo de tez inconsciente:
“(...) um tipo aparentemente medroso, tímido, de medíocre inteligência, um
pouco embaraçado, míope (...) Através de um óbvio processo de identificação,
um accountant qualquer de uma cidade norte-americana qualquer, nutre
secretamente a esperança de que um dia, das vestes de sua personalidade,
possa florir um super-homem capaz de resgatar anos de mediocridade.” (69)
Desta forma, passamos para o terceiro ponto do tripé editorial proposto por
Muniz Sodré, o relaxamento: os sentidos dos leitores são liberados, onde a preocupação
é livrar-nos dos tormentos do dia-a-dia. Para causar determinado efeito, tudo é
construído para atingir este propósito. O aspecto gráfico desempenha aí papel
fundamental onde as imagens fotográficas, a policromia e uma esmerada paginação
alienam o leitor do texto, transformando o veículo num templo de contemplação.
Engana-se quem imagina que a exploração de fait-divers seja exclusiva da
imprensa rotulada de sensacionalista ou popular. Hoje em dia, os fait-divers
espalharam-se por toda a imprensa, não obstante existirem diferenças, no tratamento
desses temas, entre jornais populares e ‘de referência’
XX
. Quanto mais um jornal os
XX
O professor e jornalista José Amaral Argolo, nas aulas de Pós-graduação em Comunicação e Cultura,
distinguia os aspectos mais relevantes das publicações para tentar mapear sua identidade. Para tanto ele
classificava os periódicos em duas categorias, os jornais de elite, ou jornais de qualidade, e os jornais
populares. O primeiro apresenta informação que será consumida por leitores das classes A e B; possui
também, a partir da composição elitista de seus leitores, anunciantes top de linha; quantidade maior de
assinantes do que venda em bancas, destaque nas editorias política e econômica, editoriais densos,
reportagens especiais, entre outros. Já os jornais populares buscam especialmente leitores nas classes C e
D. São veículos que “desprezam” a opinião editorial, tem grande circulação e baseiam sua receita na
venda avulsa, não dependendo assim do volume de anúncios. As matérias são mais curtas, dão ênfase nas
ilustrações, trazem em suas páginas celebridades ou pessoas em evidência travestidas de colunistas,
procuram angular as matérias para o local ou regional, buscam também matérias referentes à utilidade
pública e prestação de serviços. Porém, tão importante quanto verificar nestas duas categorias estanques
onde o sensacionalismo grassa, é estudar o critério de classificação do que é notícia. A partir daí,
poderemos verificar o porquê do sensacionalismo existir tanto em jornais de elite quanto em jornais
populares, embora com as devidas ressalvas estilísticas.
Assim, com o intento de representar com mais propriedade o modo como cada jornal recorta a
realidade, é necessário verificar o estabelecimento da hierarquização das notícias. Segundo Amaral
(AMARAL, Luis. Jornalismo, Matéria de Primeira Página. Brasília: editora Tempo Brasileiro, 1978), os
temas que se revestem de maior interesse são os acontecimentos mais carregados de valor emotivo,
agrupados da seguinte maneira e nesta ordem: a) sexo – casamentos, nascimentos, divórcios, crimes
passionais e histórias picantes; b) morte – falecimento de personalidades e todas as mortes violentas; c)
destino – catástrofes (inundações, incêndios, tempestades), prodígios e fatos surpreendentes,
monstruosidades; d) dinheiro – alta e baixa dos preços, impostos, juros, dólar, falências, escroquerias;
roubos, fortunas, loteria, herança; e) tempo – fenômenos extraordinários, o tempo que está fazendo; f)
generosidade – doações espetaculares, obras de caridade, donativos, salvamentos, grandes benfeitorias