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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Renata Manjaterra
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE
PRODUÇÃO E USO DA INFORMAÇÃO
Campinas
2006
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Renata Manjaterra
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE
PRODUÇÃO E USO DA INFORMAÇÃO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós – Graduação em Ciência da
Informação, da Pontifícia Universidade Católica
de Campinas, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Ciência da
Informação.
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima
Gonçalves Moreira Tálamo
Campinas
2006
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Data: 21/12/2006.
PONTIFicIA UNIVERSIDADE CATÓLfCA DE CAMPINAS
CENTRO DE CI~NCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Autor (a): MANJATERRA, Renata Maria Zamboni
Título: "CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E PUBLICIDADE PRODUÇÃO E USO DA
INFORMAÇÃO" .
Orientador (a): Prof8. Ora. Maria de Fátima Gonçalves Moreíra Tálamo
Dissertação de Mestrado em Ciência da Informação
Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação
de Mestrado em Ciência da Informação da PUC-Campinas,
e aprovada pela Banca Examinadora.
BANCA EXAMINADORA
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Prof". Ora. Marlà de Fátima
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Prot. Dr. José Luis dos Santos
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Prot. Dr. Ro
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Para Rita,
minha irmã,
ela sabe por que.
AGRADECIMENTOS
Quando se volta à academia, após certo período de mercado de
trabalho, é inevitável perceber o quanto o ambiente acadêmico
difere da “vida lá fora”.
Falo da amizade, compreensão e apoio de que fui alvo nesses dois
anos de mestrado.
Falo do carinho dos meus colegas de classe; Betão, Nabor,
Chicória, Marcela, Isaías, Rodolfo, Regiane, Mateus, Aninha,
Márcio, Oscar, Rubinho, Rogério, Sérgio, Marlene e Edílson.
Eles fizeram dos meus dias de curso, espaços únicos de afeto
e camaradagem.
Falo da acolhida do Prof. Dr. Raimundo Nonato, sua dedicação e
disponibilidade ímpares , e da amizade que vai ficar para sempre.
Falo do Prof. Dr.Rogério Bazi,a quem devo as melhores avaliações
do meu trabalho.
Falo, sobretudo, da Profª Drª Fátima Tálamo, minha orientadora
e amiga, com quem partilhei absolutamente todos os momentos
desses dois anos.
E por falar em gratidão, tem a Celinha e sua infinita paciência
comigo.
Por fim,esse meu mestrado não teria acontecido sem o aval da PUC
Campinas, nas figuras dos Diretores do CLC, que, prontamente,
endossaram minhas atividades: Profª Drª Ana Helena Beline
Prof. Me. Wagner Geribelo
A todos e a cada um, devo agradecimentos especiais.
Pelas pessoas que são, pelo que representaram nessa minha
trajetória e, principalmente, pelo que passam a significar para
mim, pela vida afora.
5
[...] Meu lenço e meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
Seja negar a minha
Identidade. Eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio.
Ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias p
érgulas piscinas
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética? [...].
Eu,Etiqueta.Carlos Drumond de Andrade, 1984.
RESUMO
Esta pesquisa tem como propósito a análise do briefing como um instrumento de
informação e o publicitário como agente mediador da informação na medida em que
usa a linguagem publicitária para obter do receptor-consumidor conhecimento dos
benefícios, explícitos ou implícitos, da aquisição de um produto ou serviço. O
procedimento metodológico adotado foi a pesquisa bibliográfica e documental
apoiada em conceitos da Ciência da Informação e da Ciência da Comunicação,
numa abordagem qualitativa. A pesquisa parte do pressuposto de que a publicidade,
a pretexto de comunicar a presença de produtos e serviços, utiliza o repertório pré-
existente no imaginário dos destinatários para construir conhecimentos que vão além
da existência dos bens anunciados. Nessa perspectiva, os estudos revelaram que o
briefing representa um instrumento informativo apto para produzir e alimentar o
discurso com base em códigos híbridos próprios da publicidade, base do processo
de criação, visto que produz informações que fomentam a produção de sentido.
Palavras-chave: informação; comunicação, publicidade
ABSTRACT
This research has as the main purpose the analysis of briefing as an instrument of
information and the publicist as the agent who deals with the information, once it
uses the publicity language to achieve implicit or explicit benefits through the client
acquirement of a product or service. The methodology used was the bibliographic
and documental research based on conceptions of the “Information Science” and the
“Communication Science” in a qualitative view. The study assumes that the publicity,
by using the pretext of announcing products and services, works with the client
expectation to build knowledge and bonds that go beyond the announced products
existence. In this view, the studies revealed that the briefing represents an
informative instrument able to produce and enhance the characteristic language of
publicity based on hybrid code, which is the basis of the creation process, once it
generates information that magnifies the sense production.
.
Key- words: information, communication, publicity
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................... 9
CAPÍTULO I ............................................................................................ 17
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO .................................................................. 17
1.1. Informação e conhecimento: a atuação do sujeito............................ 17
1.2. Processos de produção da informação e conhecimento .................. 26
CAPÍTULO II ........................................................................................... 32
INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE.............................. 32
2.1. As interlocuções entre informação, comunicação e publicidade....... 32
2.2. Publicidade e Consumo.................................................................... 44
2.3. Mecanismos da produção publicitária............................................... 56
2.4. A informação na mensagem publicitária........................................... 60
CAPÍTULO III........................................................................................... 65
A ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO NA PUBLICIDADE.................... 65
3.1. A construção de um instrumento informativo para mensagem publicitária
................................................................................................................. 65
3.2. O processo de desenvolvimento do briefing..................................... 75
3.2.1. O briefing como instrumento de coleta e organização da
informação................................................................................77
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 101
INTRODUÇÃO
A publicidade persegue a atribuição de sentido à mensagem, enquanto
linguagem de indução e sedução através do uso de representações,
caracterizadas nos aspectos de recepção, geração e transferência. Trata-se,
portanto, de um fenômeno informacional.
Sendo a informação um elemento que provoca transformações nas
estruturas, (BROOKES, 1980), o envio de um conjunto de informações que
caracteriza uma mensagem publicitária com base em códigos conhecidos e
compartilhados, tanto pelo emissor, quanto pelo receptor, será sempre passível
de uma interpretação, a qual lhe conferirá um sentido. Nas mensagens
publicitárias, esse sentido acaba por informar o sujeito sobre uma dada
situação, ou estado de mundo, que, reconhecido e assimilado subjetivamente,
gera conhecimento, entendido como alteração da estrutura cognitiva do
indivíduo.
Nas construções das mensagens publicitárias, além do apelo de compra
de produtos e/ou serviços a que servem, existem referências ao meio e ao
comportamento característicos dos grupos a que se destinam. Essas
referências são informações que acabam por modificar as consciências dos
indivíduos e da sociedade como um todo.
A partir desses pressupostos, a intenção deste estudo é discutir as
mensagens publicitárias sob a ótica de seu processo, procedimento, teoria e
técnica enquanto meios de concepção de produtos, buscando identificar
elementos que evidenciem sua natureza informacional e sua função mediadora
do processo de conhecimento. Pretende-se analisar criticamente a cadeia de
produção, circulação e uso da informação como um componente das
mensagens publicitárias a partir da hipótese a seguir explicitada.
10
A importância da relação entre o fenômeno comunicativo e o contexto
social, segundo Wolf (1999), está mais na relevância das conseqüências
objetivamente observáveis e menos nos supostos efeitos intencionais contidos
na comunicação. Vale dizer; os produtos ou serviços que a publicidade vende
são menos importantes que os modos de vida que ela propaga como
vantajosos.
Assim, através de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa,
este estudo pretende observar como a publicidade – na forma e nos elementos
de que se utiliza, à medida que, sempre da ótica do receptor, “vende” muito
mais que os objetos de seus anúncios, interferindo e construindo valores do
grupo, a partir de interesses de mercado.
Nessa perspectiva, ao produzir sentido para o receptor a mensagem
publicitária reúne elementos que a conduzem ao papel de mediadora no
processo de conhecimento.
Segundo Brookes (1980), a passagem de um estado de conhecimento
para um novo estado de conhecimento se deve à contribuição de um
conhecimento novo; esse, extraído de uma informação. Dessa equação resulta
o conhecimento modificado.
Ao utilizar a informação para equacionar determinado problema ou
situação, o sujeito social produz conhecimento porque dele depende a criação
de um novo estado de conhecimento, uma transformação de estrutura da visão
de mundo.
Desse modo, a transformação possível está inicialmente relacionada à
estrutura cognitiva do sujeito receptor, daí a necessidade de que as
mensagens, seus significados e significantes, estejam em consonância aos
modelos do receptor da informação.
A publicidade, por sua vez, reconhece a importância do receptor como o
único instrumento de eficácia da mensagem. Suas aspirações, seus valores e
seus códigos são cuidadosamente levados em conta na determinação da forma
pela qual se criam, processam e veiculam as mensagens.
11
Chamado de “público-alvo”, o receptor da informação publicitária é
levado a decodificar a mensagem muito mais pelos elementos secundários que
ela contém do que pelo apelo explícito à compra.
A informação, como matéria das mensagens publicitárias, tem caráter de
bem público, uma vez que é consumida por vários indivíduos cuidadosamente
agrupados em classes psicograficamente determinadas. Para além dos
produtos e / ou serviços que vendem, têm como objetivo estabelecer padrões
de comportamento, idéias e atitudes que corroborem necessidades cujas
resoluções se expressam na aquisição do que é anunciado.
O produto / serviço que se anuncia tem a função de conferir, ao
indivíduo que vai adquiri-lo, o bem estar e a sensação de pertinência de que o
grupo precisa para legitimar a estrutura social. Para isso, a informação que se
constrói, transcende a notificação sobre a existência do bem e estabelece
padrões de comportamento e valores, só atingíveis mediante a aquisição do
bem.
Nesse sentido, o bem – objeto principal da mensagem – cumpre a
função de condutor dos argumentos sobre estilos de vida, imagem de mundo e
pertinência. O receptor (público-alvo) é o construtor do conhecimento contido
na publicidade, o qual incorpora como necessário e passa a considerar como
seu, à medida em que está apto a decodificar a mensagem em todos os seus
aspectos, perfeitamente adaptada aos seus códigos de comportamento.
Quando a publicidade informa o público da existência de um
determinado produto ou serviço, não o faz somente a título de notificação.
Lança mão de elementos coadjuvantes que, longe de serem secundários, são
a verdadeira expressão do estado de conhecimento que se deseja instaurar. A
informação contida na publicidade é, portanto, agente mediador na produção
de um conhecimento determinado.
A publicidade objetiva a venda de produtos e serviços, enquanto
atividade de mercado. Às vezes imprescindíveis, às vezes supérfluos, esses
produtos ou serviços são sempre mostrados como extremamente necessários.
Desenhar essa necessidade passa pelo entendimento de que informações
12
podem gerar, no público-alvo, o estado de conhecimento dessa nova situação
onde o produto ou serviço sejam, de fato, indispensáveis.
Ao se considerar que as possibilidades de transformação, via
informação, têm início na prática informacional da recepção, estabelece-se a
importância de que a informação contida na publicidade contemple a realização
das funções a ela atribuídas, sob ótica funcionalista, quais sejam:
- Reforço de prestígio: ao informar sob quais circunstâncias é possível
possuir um produto ou usufruir um serviço, a mensagem publicitária provê os
elementos necessários à nova construção de mundo e o torna desejável ao
público alvo (receptor).
- Reforço às normas sociais: a interpretação de valores culturais,
segundo interesses de mercado, concorre para a manutenção de sistemas e
valores já estabelecidos, e os apresenta como atraentes e necessários.
Conforme afirma Barreto (2005), é possível agregar valor à informação
no estágio de transferência para o usuário (receptor ou público alvo). A
publicidade, objetivando compatibilizar a qualidade da informação à qualidade
do contexto em que pretende que essa informação seja aceita, instiga a
geração do conhecimento. Esse conhecimento é de ordem muito particular:
serve às necessidades e imperativos funcionais do sistema social no qual está
inserido:
A indústria de informação tem se desenvolvido junto aos instrumentos de
globalização, absorvendo assim suas características marcantes. São
utilizadas técnicas próprias de redução estrutural da informação. Nesse
processamento redutor, novas linguagens são empregadas, linguagens
estabelecidas pelos instrumentos transformadores da indústria da
informação. (BARRETO, 2005)
A publicidade, ao criar, usar e transformar a informação para fins de
estruturar um conhecimento que a favoreça, a partir da ótica do receptor, ao
qual denomina seu alvo, serve a imperativos funcionais do sistema social onde
está inserida.
Quer construindo necessidades ou partindo do pressuposto da
existência embrionária delas, a publicidade, a pretexto de comunicar a
13
presença de produtos e serviços, utiliza noções pré-existentes no imaginário
dos destinatários das mensagens para construir um conhecimento que vai além
da notificação da existência do bem que lhe é objeto; “reforça ou enfraquece
uma relação de tipo instrumental, afetivo ou interativo, com um referente que
pode ser o próprio indivíduo, a família, o grupo de amigos ou as instituições”,
conforme ponderam Katz-Gurevitc-Hass (1973) e bem poderia ser encarada
como um dos expedientes mais sofisticados de manutenção do sistema de
produção capitalista.
Pensar a publicidade como um produto informacional, desde sua
construção até seus resultados, tanto da ótica de mercado quanto do ponto de
vista das transformações sociais que provoca, requer reflexões sobre o uso
que a mensagem publicitária faz de signos e significantes com propósitos
claramente definidos. Se e como geram informação, a partir de um
determinado conhecimento é o objetivo deste trabalho.
Os conceitos de representação da informação – linguagens
documentárias - serão bases para o estudo do objeto, uma vez que legitimam a
idéia de que representações são baseadas em ideologias e culturas e, mesmo
se aproximando da realidade, são passíveis de leituras diversas.
No que diz respeito à análise do objeto deste trabalho, o levantamento
bibliográfico e documental possibilita o estudo da interface Ciência da
Informação e Ciência da comunicação, enfocando especificamente a
publicidade, considerada como uma atividade ou saber que atua no âmbito da
tradução dos dados para uma linguagem aceitável ao entendimento do emissor
da mensagem publicitária frente às reações do receptor pretendido (público-
alvo), atuando, portanto, na mediação do processo informativo.
Por último, a proposta de se trabalhar com estrutura e representação de
forma interdisciplinar, vai requer um olhar especial sobre o que vêm a ser os
processos de construção da informação e do conhecimento, a partir e para
além da área documentária.
14
A técnica utilizada será análise da produção das mensagens publicitárias
por intermédio da construção ou elaboração do briefing, instrumento
fundamental para a criação na publicidade:
(...) quando o interesse do pesquisador é estudar o problema a partir da
própria expressão dos indivíduos, ou seja, quando a linguagem dos sujeitos
é crucial para a investigação. Nesta situação incluem-se todas as formas de
produção do sujeito em forma escrita, como redações, dissertações, testes
projetivos, diários pessoais, cartas, etc (ANDRÉ & LUDKE apud HOLSTI,
2001, p.39).
Nesta investigação, portanto, buscam-se identificar informações factuais
nesse instrumento (o briefing), a partir da hipótese ou questões pertinentes ao
tema proposto (CAULLEY apud ANDRÉ & LÜDKE, 1981), conforme já
explicitado. Em outras palavras, buscam-se evidências para o estudo da
publicidade como meio de informação, de conhecimento do sujeito.
O briefing, tomado como um documento básico da formulação da
mensagem publicitária, constitui-se, assim, fonte estável e rica para os
propósitos deste estudo. Nessa perspectiva, André & Lüdke (2001, p.39)
ponderam que:
Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem
ser retiradas evidências que fundamentem afirmações e declarações do
pesquisador. Representam ainda uma fonte “natural” de informação. Não
são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num
determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto.
A apreciação dos dados obtidos se dará por intermédio da análise de
conteúdo, abordando-se dois modelos de briefing, suas estruturas lógicas sob
o aspecto da decodificação da comunicação, explorando-se como unidade de
análise, o contexto em que ocorrem.
Nessa perspectiva se apóia na afirmação de André & Lüdke (2001, p.42)
quando assinalam que “[...] Mais uma vez o método de codificação vai
depender da natureza do problema, do arcabouço teórico e das questões
específicas da pesquisa”.
15
Serão tomados como unidade de investigação dois modelos de briefing.
Um do segmento automobilístico e o outro do segmento de beleza e higiene
pessoal. Essas categorias foram eleitas em razão da influência cultural que os
produtos gerados por esses segmentos têm no comportamento social das
pessoas, em razão do fascínio que exercem e pelas necessidades de consumo
que criam no modo de vida da sociedade capitalista. Notadamente, nas
pessoas pertencentes à denominada classe média, ditando comportamentos e
atitudes, interferindo na produção ou na dinâmica dos valore sociais.
Após a coleta e sistematização dos dados, o método de análise se
apoiará em conceitos da Ciência da Informação aplicados na decodificação das
mensagens publicitárias, com vistas a inferir se a publicidade, enquanto
processo ou ato de comunicação, constrói um produto passível de ser tratado
como o informar e produzir conhecimento.
A abordagem do objeto proposto para esta investigação também se
utiliza o levantamento bibliográfico ao pretender analisar a interface entre
Ciência da Informação e da Ciência da Comunicação, mais especificamente da
Publicidade. O levantamento bibliográfico, por sua vez, propicia a formulação
de um quadro de análise, conferindo densidade e rigor científico. Esse traço
pode ser verificado na abordagem que se faz nessa pesquisa, comprometida
com a abrangência de complexidade das relações sociais e do conhecimento
no mundo contemporâneo.
Este estudo se assenta na área de publicidade, predominantemente, nos
aspectos da interface da Comunicação com a Ciência da Informação.
Evidencia-se, assim, a natureza interdisciplinar desta investigação, na qual o
pesquisador assume o papel de intérprete de várias linguagens, que propiciam
uma leitura plural do objeto, a partir de diferentes ângulos, tendo em conta um
rol de referências distintas, heterogêneas e não redutíveis umas as outras. Em
outras palavras, trata-se de uma aproximação do objeto desvinculada de
reducionismos alienantes (BORBA, 1998)
Sob essa perspectiva o quadro teórico de referência apóia-se em
Brookes (1980), Barreto (2005) no que tange aos princípios da Ciência da
16
Informação, Saracevic (1992) no que diz respeito à interface entre
conhecimento e Ciência da Informação e em Pinho (1995), Ramos (1990) e
Araújo (2001), no que se refere ao campo e atuação e publicidade e seus
saberes.
A concepção desta proposta investigativa compreende três capítulos, a
saber: CAPITULO I – CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, no qual se revisa a
idéia/conceito de informação e da equação do conhecimento que fundamenta
esse conceito no âmbito da disciplina; CAPITULO II – INFORMAÇÃO,
COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE onde se analisam os conceitos e saberes
da publicidade e da comunicação; os mecanismos da produção e os modos de
acesso e uso da mensagem na publicidade. CAPITULO III – A ARQUITETURA
DA INFORMAÇÃO EM PUBLICIDADE que delineia o processo de construção
da investigação; o conhecimento como produção social e a análise das
mensagens publicitárias, com conseqüente construção de quadro de
referência. E, ainda, as CONSIDERAÇÕES FINAIS, em que são apresentadas
as ponderações provisórias desta investigação.
CAPÍTULO I
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
1.1. Informação e conhecimento: a atuação do sujeito
Saracevic (2004, p.5) pondera que um campo de estudos é definido
pelos problemas enfrentados e, nessa perspectiva, a Ciência da Informação é
um campo que se define pelo questionamento científico e da prática
profissional, pelos problemas que enfrenta e pelos métodos eleitos para
resolvê-los.
Entretanto, o mesmo autor considera que a Ciência da Informação,
como área do conhecimento científico, tem três características gerais que
orientam sua existência bem como seu processo evolutivo. São elas: primeiro,
sua natureza interdisciplinar; segundo, sua conexão inexorável com a
tecnologia da informação e, terceiro, sua participação ativa e deliberada na
evolução da sociedade da informação (assim como outros campos do
conhecimento), ou seja, sua dimensão social e humana que se coloca acima e
além da tecnologia.
A busca do significado etimológico da palavra informação já fornece
importantes pistas de sua complexidade. Com efeito, a palavra informação
deriva do latim “informare” que significa dar forma, colocar em forma, criar,
representar, construção de algo, conforme assinala Araújo (2001, p.1):
A partir de sua origem etimológica podemos perceber dois sentidos
complementares para este conceito. Assim temos que, a informação pode
ser compreendida como processo de atribuição de sentido. Em termos de
práticas informacionais diríamos que esse processo se dá através das
ações de recepção/seleção das informações recebidas.
18
A mesma autora prossegue discorrendo sobre os sentidos decorrentes
da compreensão etimológica da palavra:
Outra compreensão pode ser formulada se considerarmos a informação
como processo de representação, objetivando com isso comunicar sentido
dado à mesma. Este processo ocorre através de ações de codificação,
emissão, decodificação/uso de informação. Em termos de práticas
informacionais, diríamos que este processo estrutura-se através das ações
de geração e transferência de informão. Assim, a partir de uma visão
etimológica, a informação pode ser conceituada como uma prática social
que envolve ações de atribuição de sentido (ARAÚJO, 2001, p.1).
Dessa elaboração sobre a etimologia da palavra informação decorrem
duas possibilidades: a informação como processo de atribuição de sentido e
como processo de representação para a comunicação, sendo que em ambas
sobressai-se um elemento em comum: apreensão de sentido. É na busca pela
compreensão não reducionista desses sentidos que a Ciência da Informação
tem caminhado.
Wurman (1991, p.42) assinala que a palavra informação sempre foi
ambígua e liberalmente empregada, utilizada na definição de diversos
conceitos. Entretanto, a definição mais comum da palavra informação é como
ação de informar, formação ou moldagem da mente ou do caráter, treinamento,
instrução, ensinamento, comunicação de conhecimento instrutivo. E assim
permaneceu com certa constância até depois da Segunda Guerra Mundial,
quando então:
[...] entrou em voga utilizar “informação” como um termo tecnológico para definir
qualquer coisa que fosse transmitida por um canal elétrico ou mecânico. A palavra
tornou-se parte do vocabulário da ciência das mensagens. Então, de repente, podia
ser aplicada a algo que, a rigor, não era necessariamente informativo. Seu uso foi
extrapolado para o uso geral, designando algo dito ou comunicado, fizesse ou não
sentido para o receptor [...].
A Ciência da Informação teve seu surgimento estreitamente ligado à
teoria matemática no que tange à definição de seu objeto de estudo.
Entretanto, a crescente complexidade das transformações nas relações sociais
e a própria revolução tecnológica, associada ao desenvolvimento científico
dessa área de conhecimento e na aproximação e interlocução com outros
saberes, tem provocado uma ampliação de seus limites.
19
Assim, surgiram novas definições de Ciência da Informação, de certa
forma como resultado dessa aproximação. Yuexiao (1988), por exemplo,
definiu-a como uma ciência ainda em formação “com contornos de
metaciência, aglutinando várias disciplinas afeitas ao estudo da informação”.
Zeman (1970), por sua vez, trouxe as contribuições do materialismo dialético
para o campo da Ciência da Informação, ao lhe conferir a “qualidade de
realidade material a ser organizada”, concluindo que ela não ocorre fora do
tempo e do processo.
Zeman (1970), ainda, reforça o caráter não pragmático e não
reducionista da Ciência da Informação ao afirmar que ela não se debruça
unicamente sobre a quantificação, não se reduz a um conceito puramente
matemático, de medida da organização. Sua natureza deve ser apreendida sob
a perspectiva da própria organização, “enquanto processo resultante de fatores
de ordens diversas” (social, cultural, moral, ético, etc.), conforme pondera
Azevedo Netto (1999, p. 91).
A informação é, pois, a qualidade da realidade material de ser organizada (o
que representa, igualmente, a qualidade de conservar este estado
organizado) e sua capacidade de organizar, de classificar um sistema, de
criar (o que constitui igualmente sua capacidade de desenvolver a
organização). É, justamente com o espaço, o tempo e o movimento, uma
outra forma fundamental de existência da matéria – é a qualidade de
evolução, a capacidade de atingir qualidades superiores. Não é um princípio
que existiria fora da matéria, independentemente dela (como são, por
exemplo, o princípio idealista da entidade ou o termo da “entelequia”) e sim
inerente a ela, inseparável dela (ZEMAN apud AZEVEDO NETTO, 1999,
p.91)
Belkin e Robertson (1976, p.201) promovem a associação entre texto e
informação ao assinalarem que a informação seria a “[...] estrutura de qualquer
texto, que é capaz de modificar a estrutura-imagem (do mundo) do receptor”. A
luz dessa conceituação, texto se constitui numa “[...]coleção de signos
propositadamente estruturada por um emissor com intenção de mudar a
estrutura-imagem do receptor.” A informação, então, atuaria como um fator
apto a promover alterações na estrutura do receptor. De tal modo que se não
houver mudança, não há informação, mas tão somente o texto.
Barreto (2005) pondera que a informação referencia a vida do homem e
o seu destino, permeando sua existência desde a construção de seu mapa
20
genético, identificando, ainda, com a organização de vários sistemas de seres
vivos racionais.
No que tange ao fenômeno da informação entre os seres humanos este
se encontra circunstanciado pelo espaço social, político e econômico, em que
operam os elementos constituintes: a fonte geradora (emissor da informação),
um canal de transferência com um código comum e um receptor ou destinatário
de uma mensagem, apto a apreender o seu significado, conforme demonstra
graficamente a figura 1.
Figura 1
:
Representação do fluxo da informação.
Com base na formulação elementar da equação que compõe o
fenômeno da informação, este vem sendo caracterizado como “a adequação
de um processo de transferência de um conteúdo, que se efetiva entre o
emissor e o receptor e pode gerar conhecimento” (BARRETO, 2005, p.1).
Segundo Barreto (2005, p.1), as conceituações construídas para
informação “tendem a se localizar no começo e no fim deste processo de
transferência”. De tal modo, ao fazê-lo evidenciam e reforçam “a intenção de
passagem, adjetivando o conceito com o significado da mensagem, seu uso
efetivo e a ação resultante da sua distribuição”, ou seja, ao conhecimento que
desencadeia.
Emissor Receptor
Mensagem
C
O
N
H
E
C
I
M
E
N
T
O
CONTEXTO
21
São as definições que relacionam a informação à criação de
conhecimento no indivíduo aquelas que segundo o mesmo autor:
[...] melhor explicam a natureza do fenômeno, em que termos finalistas,
associando-o ao desenvolvimento e à liberdade do indivíduo, de seu grupo
de convivência e a da sociedade como um todo. Aqui a informação é
qualificada como um instrumento modificador da consciência do indivíduo e
da sociedade como um todo. Entre seres humanos deixa de ser uma
medida de organização para ser a própria organização em si, quando
referencia o indivíduo ao seu passado, as suas perspectivas de futuro e ao
seu lugar presente.
Ao que acrescenta que “o conhecimento só se realiza se a informação é
percebida e aceita como tal e coloca o indivíduo em um estágio melhor dentro
do mundo em que sua história individual se desenrola” (BARRETO, 2005, p. 1-
2).
De modo que a informação adequadamente assimilada pelo receptor
provoca uma alteração em seu arsenal de informações, produzindo
conhecimento novo. É, portanto, “como agente mediador na produção do
conhecimento, que a informação mostra as suas qualidades, de forma e
substância, como: estruturam simbolicamente significantes com a (in) tensão
de gerar conhecimento no indivíduo em seu grupo e na sociedade” (Destaque
do autor. BARRETO, 2005, p.2).
Com efeito, desde o final dos anos 70, a presença da perspectiva
cognitiva vem tomando corpo nos estudos em Ciência da Informação, fruto da
ruptura com o modelo cientificista e positivista que marcou a produção do
conhecimento científico:
Las últimas décadas del siglo XX constituyen para la Ciencia da Información
uma fase de ruptura y diferenciación como expresión de uma ciência en
formación, enmarcada en cirscunstancia económicas, cientificas,
tecnológicas e informacionales raigalmente distintas a la etapa precedente.
22
[...] La vigencia del modelo naturalista, cientifista y positivista em el terreno
del conocimiento declina a lo largo del siglo XX. Esta crisis abarca el
sistema global de los conocimientos y de las ciencias, y particularmente las
Ciencias Sociales reproducen, desde su realidad, las turbulencias que
afectan la totalidad del saber (LINARES, 2004, p.2-3) .
Um dos aspectos desse movimento de ruptura no campo das Ciências
Sociais foi o resgate do papel da subjetividade humana na compreensão dos
problemas sociais. De modo geral, as Ciências Sociais se voltaram para o
sujeito e para a subjetividade e esse movimento também atingiu a Ciência da
Informação, mais propriamente no final do século XX, quando a perspectiva
cognitiva passou a interessar aos pesquisadores dessa área do conhecimento.
Essa aproximação da perspectiva cognitiva deu-se pelas contribuições
da sociologia cognitiva na abordagem dos processos mentais como atenção,
percepção, memória, linguagem, racionalização e representações, que se
desenvolvem no modo de conhecer dos seres humanos.
O precursor desse enfoque cognitivo nas Ciências da Informação foi
Brookes (1980), que propôs a equação, denominada de equação cognitiva,
para expressar a sua concepção de informação como um elemento que
provoca transformações nas estruturas:
K (S) + D (I) = K (S + DS)
Os elementos dessa equação são assim designados: K (S) representa
uma estrutura de conhecimento, K (S + DS) representa uma estrutura de
conhecimento modificada e D (I) constitui-se no elemento que modifica a
estrutura do conhecimento, ou seja, a informação.
Sob o enfoque cognitivo, de certo modo, amplia-se a participação do
receptor, do sujeito destinatário da informação, que a compreende a partir de
seu contexto. Em outras palavras, quando o emissor envia uma mensagem
(uma estrutura de informações) a um sujeito consciente (receptor), com base
num código conhecido por ambos (emissor e receptor), esta mensagem pode
ser interpretada, adquirindo sentido a partir da interlocução feita pelo receptor,
quando este se apropria da informação (atribuindo-lhe sentido).
23
De tal modo, o fluxo da informação não almeja apenas o trânsito, uma
passagem (conforme representado na figura 2):
Ao atingir o público a que se destina deve promover uma alteração; aqueles
que recebem e podem elaborar a informação estão expostos a um processo
de desenvolvimento, que permite acessar um estágio qualitativamente
superior nas diversas e diferentes gradações da condição humana. E esse
desenvolvimento é repassado ao seu mundo de convivência (BARRETO,
1998, p. 122).
Figura 2
:
Representação do fluxo da informação significando mais que passagem,
mas transformação na estrutura cognitiva do receptor.
A Ciência da Informação pretende, assim, “criar condições para reunião
da informação institucionalizada, sua distribuição adequada para um público
que, ao julgar sua relevância, a valorize para uso [...]”, conforme ensina Barreto
(1998, p. 122).
Eleva-se, assim, a participação do sujeito apto e capaz de assimilar a
informação e transformá-la num novo conhecimento. Segundo esse
entendimento, o fluxo de informação somente funciona adequadamente se o
conhecimento expresso na mensagem transmitida é legitimado pelo público,
agregando um novo conhecimento, submetido ao crivo de seus valores,
socializando-o.
Estrutura de
Conhecimento
Informação
Sujeito
Nova estrutura
de
conhecimento
24
Esse processo de ênfase no sujeito; sua capacidade cognitiva e sua
atuação no fluxo de informação, encontra-se inscrito na busca da Ciência da
Informação como conhecimento científico, no sentido de ir além de definições
estreitas do conceito de informação para encontrar um modo de inserir uma
determinada idéia do que é a informação, não limitadora.
De todo modo, para este trabalho, a informação se insere no âmbito das
produções humanas, vinculada a uma estrutura ou ao contexto social, cultural e
histórico, legitimado a partir do momento em que é interpretada e percebida
pelo sujeito. Essa idéia de informação que permeia essa pesquisa encontra-se
fundamentada no pensamento de Brookes (1980), visto que aqui importa o
tempo, o espaço e o modo de produção da informação, também interpretada
pelo sujeito dentro de um determinado tempo, um espaço, um contexto.
Entretanto, tratando-se a informação de um produto social, nada impede que,
mesmo produzida num determinado contexto, ela prossiga seu caminho, sendo
sempre recontextualizada, submetida a novas interpretações, resultantes de
novas interlocuções com os receptores, conforme assinala Azevedo Netto
(1999, p. 92):
Concordando-se explicitamente com a visão da informação enquanto
artefato, vendo-a como resultado da ação intencional de uma forma de
registro, esta informação passa por diversos níveis de interpretação, por
conseguinte de contextualização, dentro do processo (...) de interlocução,
no qual a experiência-distante passa a ser a experiência-próxima.
Reconhecendo-se que nesta recontextualizaçao deve-se levar em conta
dois fatores de afastamento para o entendimento das novas interpretações
dessa informação, tempo e o espaço [...].
Portanto, a idéia de informação que orienta esta investigação é a de
construção social, a mesma sintetizada com propriedade por Azevedo Netto
(1999, p. 93):
[...] é aquela que diz respeito a uma produção de significados socialmente
aceitos. É aquele fenômeno em que há não só a produção de um bem
simbólico, mas também sua disseminação e consumo, que implica na sua
própria reprodução, já que a dimensão espacial é extremamente dinâmica,
dentro da sua recontextualização.
É essa natureza de produção social, dinâmica, que implica em
significação e (re) significação, que torna o processo informacional tão rico e
25
fecundo, passível de ser apropriado em vários contextos, como o desafio aqui
proposto, qual seja; o de observar a construção da mensagem publicitária sob
o enfoque da Ciência da Informação, entender como o publicitário, atua como
agente mediador da informação, no trabalho da linguagem, de acordo como um
modelo (briefing) para obter um novo conhecimento do consumidor (receptor)
na medida em que este atribui significado à informação que recebe sobre um
produto ou serviço. Assim, o briefing é considerado como uma estrutura que
comporta as práticas de recepção e geração de informação.
26
1.2. Processos de produção da informação e conhecimento
Neste tópico serão recuperados alguns conceitos teóricos no domínio
dos processos de produção da informação e da teoria do conhecimento,
sempre fazendo as interlocuções com a comunicação, especialmente no que
tange ao objeto desta investigação. A redação deste tópico está permeada pela
questão da linguagem, posto que conhecimento e informação não podem ser
compreendidos fora dos sistemas de significação. Essa abordagem torna-se
necessária, pois conhecimento e informação são produções culturais e dos
sistemas simbólicos que os compõem.
A ciência sempre se encontra sujeita aos períodos de estabilização e
rupturas. Essa dinâmica descontinuidade pode ser observada quando se
estudam os movimentos filosóficos como o empirismo, o racionalismo, etc. O
conhecimento científico, portanto, encontra-se mergulhado nesse universo.
A questão do conhecimento, a reflexão sobre os limites e as
possibilidades do conhecimento tem caracterizado a Filosofia moderna e
contemporânea, especialmente no que diz respeito ao saber científico. Assim,
tem sido desde Descartes (1596 a 1650), quando a Filosofia passou a se
preocupar mais com a possibilidade do pensamento. Em outras palavras,
quando se preocupou com a formulação de teorias sobre o conhecimento.
Conhecer é trazer para a consciência algo que se supõe ou se
pressupõe fora dela. Conhecer é uma conquista do pensamento, é trazer para
o sujeito algo que se põe como objeto. Não a realidade em si mesma, mas a
sua representação, tal como ela é construída pelo sujeito:
Quando consultamos uma palavra no dicionário, encontramos uma definição
ou um sinônimo daquela palavra. Em nenhum dos casos, o dicionário
simplesmente apresenta a “coisa” mesma ou o “conceito”. A definição
simplesmente nos remete para outras palavras, ou seja, para outros signos.
A presença daquilo que procuramos é indefinitivamente adiada: ela só
existe como traço de uma presença que nunca se concretiza, além disso, na
impossibilidade da presença, um determinado signo só é o que é porque ele
27
não é um outro, nem outro. O dicionário, na maioria das vezes, atua como
mediador de conceitos e nos direciona a compreender tais conceitos com
base em outros que já conhecemos (MATOS, 2003, p.2).
Há algo, portanto, que atua como mediador do conhecimento. No
exemplo utilizado pela autora, o dicionário cumpre essa função ao informar
uma definição ou um sinônimo da palavra procurada, desencadeando a partir
daí um esforço para elucidação do que está oculto, a partir de um repertório
comum, já existente no sujeito. Em outras palavras, o sujeito utiliza a
informação para desvendar o novo:
[...] Só depois de compreendido em seu modo de ser é que um objeto pode
ser considerado conhecido. Adquirir conhecimento não é compreender a
realidade retendo informações, mas utilizando-se destas para desvendar o
novo e avançar, porque, quanto mais competente for o entendimento do
mundo, mais satisfatória será a ação do sujeito que a detém (MATOS, 2003,
p.2).
Conforme assinalado no tópico anterior, a partir de 1970 ficou
claramente delimitada, no campo teórico, a ênfase no potencial cognitivo da
informação, decorrente de sua relação com a mudança da estrutura do
receptor, de acordo com o que ensinam Belkin e Robertson (1976), Belkin
(1977) e Brookes (1980).
Sob essa perspectiva, Ingwersen (apud FERNÁNDEZ-MOLINA, 1994, p.
327) aponta algumas conclusões:
1) Se o receptor não receber a informação potencial, a
informação permanecerá como dado para o receptor concreto
e como informação para outros possíveis receptores e
emissores.
2) A percepção é controlada pela estrutura de conhecimento
atual e pelo espaço - problema atual.
3) A informação pode transformar o espaço – problema e o
espaço de conhecimento, causando decisões, ações,
intenções, introduzindo um efeito.
28
4) A informação é uma transformação de estruturas de
conhecimento.
De tal modo, difícil é dissociar as idéias de homem, informação e
conhecimento dada a interação dialética em que vivem. Entretanto, o estado da
informação não é unívoco. Nessa perspectiva, Buckland (1991, p.3-4)
considera que a informação é utilizada em diversos sentidos, identificando três
modos de uso da palavra:
1) Informação como processo – que significa comunicar
conhecimento ou noticiar um fato ou ocorrência.
2) Informação como conhecimento – significando o conhecimento
comunicado que se relaciona a um fato, um sujeito ou evento
particular.
3) Informação com coisa – sentido atribuído a dados e
documentos.
O processo de construção de conhecimento envolve os dados, os quais
representam a "matéria-prima" bruta, a partir dos quais as operações lógicas
criam informações e, finalmente, estas últimas são interpretadas para gerar
conhecimento. É o que está resumido no diagrama abaixo.
Dados Informação Conhecimento
Operações Lógicas Interpretação
29
Figura 3: Representação do processo de transformação de dados em informação e de
informação em conhecimento.
De tal modo, dados são registros daqueles aspectos do fenômeno
estudado que um determinado investigador pôde captar. Correspondem a uma
anotação bastante direta das observações, ou seja, com relativamente pouca
elaboração ou tratamento. Uma vez coletados, são compreendidos como um
reflexo razoavelmente confiável dos acontecimentos concretos. Moresi (2000,
p. 18) pondera que dados são “sinais que não foram processados,
correlacionados, integrados ou interpretados de qualquer forma”, disponíveis
em grande quantidade no ambiente. É, pois, da relação entre os dados e o
processo de análise realizado pelo ser humano que se produz a informação e o
conhecimento surge justamente dessas informações absorvidas e assimiladas
pelo indivíduo.
Para Davis e McCormack (apud WURMAN, 1991, p. 42) dados são fatos
e informação é o sentido que os homens atribuem a eles. Desse modo,
afirmam que “elementos individuais de dados pouco significam por si mesmos;
é só quando esses fatos são de alguma forma agrupados ou processados que
o significado começa a se tornar claro.”
Ao que o próprio Wurman (1991, p. 42) acrescenta que ”dados brutos
podem ser informação, mas não necessariamente. A não ser que sejam
usados para informar, não têm valor intrínseco. Eles devem ser imbuídos de
forma e aplicados para se tornar informação significativa [...]”.
A informação, por sua vez, é o resultado de uma organização,
transformação e / ou análise de dados, ou seja, do seu tratamento de modo a
produzir deduções e inferências lógicas confiáveis. Constitui uma leitura
daquilo que o conjunto dos dados parece indicar. Conhecimento são
argumentos e explicações que interpretam um conjunto de informações.
Tratam-se de conceitos e raciocínios lógicos essencialmente abstratos que
interligam e dão significados a fatos concretos. Le Coadic (1996, p.6) considera
que “a informação é um conhecimento inscrito gravado sob a forma escrita
(impressa ou numérica), oral ou audiovisual [...] é um significado transmitido a
30
um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte
temporal [...].”
De tal modo, é a compreensão, é ação do pensamento do homem sobre
os dados que faz a diferença, que produz o conhecimento. De acordo com
Wurman (1991, p.45-54), “[...] a compreensão constitui a ponte entre os dados
e o conhecimento – é o objetivo da informação”. Ao que o mesmo autor
acrescenta “a compreensão da diferença entre dados brutos e aqueles que
podem ajudar na compreensão e aumentar o conhecimento, entre informação
como coisa e informação como significado, tornará você um processador de
informação mais competente [...]”.
Diante do exposto, depreende-se que a aquisição ou a construção de
conhecimento não se faz pela simples retenção de informações, mas antes,
essas são meios, caminhos para desvendar o novo. E quanto mais competente
for essa apropriação pelo sujeito, mais apta será sua ação e sua capacidade de
utilizar o conhecimento para compreender o mundo.
Barreto (2002, p. 68), por sua vez, entende o conhecimento “como um
fluxo de acontecimentos, isto é, uma sucessão de eventos, que se realiza fora
do estoque, na mente de algum ser pensante e em determinado espaço social”.
Segundo o autor, trata-se de um “caminho subjetivo diferenciado para cada
indivíduo”:
Quando se fala em inteligência supõe-se a ação da introdução dinâmica de
um conhecimento assimilado na realidade do receptor; pode ser
caracterizada como uma ação social, política, econômica ou técnica;
representa um conjunto de atos voluntários pelo qual o indivíduo re-elabora
seu mundo e tenta modificar seu espaço. Trata-se de um início do que não
se realizou antes e que só se completa na pluralidade da política e resultará
sempre em uma modificação como resultado da ação; ainda que possa
ocorrer uma volta, para uma permanência ao estado inicial, o processo em
si terá modificado a realidade.
O autor fala em saber quando pensa no conhecimento que aceitou e
acumulou nos recipientes de sua mente. É um estoque que se pode chamar
para re-elaborar. É um acervo pessoal; mas em uma comunidade adiciona-
se, implicitamente, para dar sinais do estado de aprimoramento ou
desenvolvimento social e cultural atingidos (BARRETO, 2002, p.68).
31
De todo modo, conhecimento e informação não podem ser
compreendidos dissociados dos sistemas de significação. Pertencem, pois, ao
mundo da cultura e dos sistemas simbólicos que os constituem (LUCKESI E
PASSOS, 1996).
Conhecimento e informação são, portanto, atos lingüísticos, estando
assim submetidos às propriedades que caracterizam a linguagem. A
linguagem, por sua vez, como um sistema de signos, é um sistema de
diferenças, conforme aponta Saussure (1973):
Os signos que constituem uma língua não têm nenhum valor absoluto em si,
não fazem sentido se considerados isoladamente. Ao considerarmos
apenas o aspecto material de um signo, seu aspecto gráfico ou fonético,
não encontramos nele nada intrínseco que remeta aquela coisa que
reconhecemos como sendo uma palavra. O mesmo ocorre se consideramos
o significado que constitui um determinado signo, isto é, se considerarmos
seu aspecto conceitual (MATOS, 2003, p. 2).
O signo apresenta-se, assim, como algo que não tem significado por si
mesmo, estando sempre no lugar de uma coisa concreta ou abstrata. A
linguagem, como um sistema de signos, depende da existência de um
repertório, um conjunto de signos que a compõe, escolhidos dentre tantos
outros. Esse repertório, por sua vez, está sujeito a determinadas regras de
combinação e regras de uso. De tal modo, somente quando o sujeito domina o
repertório, as regras de combinação e de uso é que se pode afirmar que ele
domina a linguagem (ARANHA e MARTINS, 1993).
Desse modo ocorre com a publicidade, considerada como uma
linguagem (verbal e visual), que se desenvolve a partir de uma estrutura e por
intermédio dela influencia a percepção da realidade, o nível de abstração e de
generalização do pensamento (SCHAFF, 1974, p.252). Trata-se, ainda, de
linguagem flexível, capaz de se estruturar e reestruturar em função de projetos
específicos, sofrendo mudanças em razão das modificações culturais.
32
CAPÍTULO II
INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE
2.1. As interlocuções entre informação, comunicação e publicidade
O modelo de comunicação desenvolvido por Shannon & Weaver (1949),
concebido como um desenho para emissão e recepção de sinais telefônicos
tornou-se referência da comunicação humana. De acordo com aquele modelo,
a informação deve incluir os seguintes elementos: a) uma fonte geradora; b)
um codificador, c) uma mensagem; d) um canal; e) um decodificador e f) um
receptor.
De fato, a Comunicação e a Ciência da Informação como áreas de
conhecimento contemporâneas, surgidas no pós-guerra, assimilaram a
estrutura proposta por Shannon & Weaver (1949) para explicar seus processos
de desenvolvimento:
Um ato se efetiva quando um emissor ou remetente envia uma informação a
um destinatário ou receptor. Para existir de forma eficaz, a informação
necessita de um contexto de referência que precisa ser acessível ao
receptor. Este contexto deve ser verbal ou passível de ser verbalizado. É
necessário ainda um código, total ou parcialmente comum, ao emissor e ao
receptor, e, finalmente, um contato, isto é, um canal físico e uma conexão
psicológica entre o emissor e o receptor que os capacitem a entrar e a
permanecer em contato (BARRETO, 2005, p.4).
Azevedo Netto (1999, p.77), por sua vez, a esse respeito assinala sobre
o surgimento da Ciência da Informação que:
[...] a definição de seu objeto de estudo estava ligada e determinada pela
teoria matemática de transmissão de informação, como é colocado por
Epstein (1988). Mas no seu desenvolvimento, outras questões foram
destacadas como fundamentais para o entendimento de processos e
sistemas informacionais, partindo assim para uma abordagem mais aberta
do seria a informação. Com esta crescente complexidade, esta ciência
percebeu que o seu objeto estava muito aquém de uma delimitação
33
rigorosa, já que este novo prisma permitia uma multiplicidade de
conceituações, muitas vezes divergentes, sobre o que seria o fenômeno
informacional. Isto sem mencionar, as questões de sua inserção,
modificação, consumo etc.
Assim, na busca pela autonomia epistemológica cada uma dessas áreas
de conhecimento, Ciência da Comunicação e Ciência da Informação, vem
procurando reafirmar e delimitar seus objetos e métodos de estudo. De acordo
com Barreto (2005, p.4):
Começa, porém, a existir neste novo século, uma estranheza contra o
pressuposto de que as áreas de ciência da informação e de comunicação
se entrelaçam em intimidades de construção histórica, características e
destino final. Como se tivessem a mesma história comum, o mesmo
desenvolvimento e igual operacionalização de suas práticas e teorias. Os
objetos das duas áreas são diferentes. Existe de semelhança uma junção
artificial para conveniência organizacional de agências reguladoras; uma
mistura irregular de temas, história e métodos diferenciados.
Barreto (2005, p. 4) sintetiza algumas diferenças entre ambas, quando
assinala, considerando os elementos fato gerador, receptor, mensagem e
canal. O autor afirma que, na comunicação, o gerador é representado, na
maioria das vezes, por uma instituição ou um grupo, o receptor constitui-se
num aglomerado de pessoas, um público, um todo que se pretende seja
homogêneo. A relação entre os atores do fenômeno da comunicação é
marcada pela impessoalidade, enquanto a mensagem “é uma decorrência do
canal” e uma vez desencadeada “fatalmente vai sair na outra para ser
assimilada ou não pelo receptor”, sempre com “a (in) tensão de que alcance
um maior público comum que a entenda”.
A comunicação trata das relações humanas recíprocas; a articulação do ser
em compreensão com outros seres humanos. Nunca entre autômatos.
Operacionalmente, a comunicação se ajusta a “mensagem”, a notícia, ao
recado verbal ou escrito do fato ou idéia, provocando uma ruptura na aflição
do passar o tempo. A mensagem dever ser transmitida, rapidamente, depois
do acontecido e deve apresentar algo que o receptor ainda não tenha
conhecido. Mas é o canal que domina e subordina todo o resto do processo.
O conteúdo da mensagem é um conteúdo semanticamente fraco, amplo e
fragmentado e, na maioria das vezes, não possui autoria. Este conteúdo é
escravo de um público que condescende ao espetáculo e idéias. A
comunicação transfere mensagens para atingir um maior público
homogêneo com a intenção de propagar idéias, moldar e influenciar a sua
opinião ou entreter.
O pensamento de Berlo (1999, p. 12) segue essa mesma orientação,
quando pondera sobre o objetivo da comunicação:
34
[...] Nosso objetivo básico na comunicação é nos tornar agentes influentes,
é influenciarmos outros, nosso ambiente físico e nós próprios, é nos tornar
agentes determinantes, é termos opção no andamento das coisas. Em
suma, nós nos comunicamos para influenciar – para influenciar com
intenção
.
Ainda de acordo com Barreto (2005), na Ciência da Informação, por sua
vez, o elemento gerador caracteriza-se pela nomeação de seus autores, pelo
estudo de suas necessidades e pela definição de um perfil do receptor, que
pode ser um indivíduo ou um grupo coeso, com interesses comuns efetivos.
Quando se fala em transferência de informação, evidencia-se a idéia de
deslocamento, “uma mudança de dados de uma área ou meio de
armazenamento para outra área ou meio de armazenamento”, objetiva-se a
distribuição eficaz e a “conseqüente apropriação da informação considerando a
natureza de seu conteúdo” (BARRETO, 2005, p.4).
Mcluhan (1969) afirma que na comunicação o meio é a mensagem muito
mais que o conteúdo, sem querer indicar que o conteúdo não representa um
papel no processo, mas tão somente que o conteúdo tem um papel diferente e
não tão fundamental quanto ao exercido pelo canal. Diferentemente, portanto,
do que acontece no processo de transferência da informação, onde o conteúdo
“domina todas as ações subseqüentes e determina todo o processo de união
entre gerador e receptor” para criar conhecimento. De tal modo que, não “basta
atingir o receptor há que criar conhecimento para o desenvolvimento da
realidade” (BARRETO, 2005, p.5).
Para Saracevic (2004, p.6) a Ciência da Informação:
[...} é um campo dedicado ao questionamento científico e prática profissional
com relação aos problemas da comunicação efetiva de conhecimento e
arquivo de conhecimento entre humanos no contexto do uso social,
institucional e/ou individual e necessidade de informação [...]
De acordo com Barreto (2005, p.5), Informação e Comunicação são
áreas de conhecimento com objetos, objetivos e conteúdos diferenciados,
especialmente no momento de transferência da informação, tendo em comum
apenas “o fato de que a mensagem comunicada por ser, eventualmente,
35
tratada como informação relevante para gerar conhecimento em determinado
indivíduo ou grupo de pessoas”.
A Ciência da Informação, assim como as demais áreas do
conhecimento, têm se debatido, com suas concepções, objeto, princípios e
métodos, diante da complexidade do mundo contemporâneo. De tal modo, e
ainda, no âmbito da “rarefação de limites” a que se refere Azevedo Netto (1999,
p.78), tem procurado “ampliar suas discussões” para refletir sobre as questões
pertinentes aos meios e veículos através dos quais a informação é distribuída,
“bem como o caráter de contextualização de sua produção e quem, qual e
como o consumo desta informação está configurado”.
É, pois, essa ampliação de limites que possibilita a Ciência da
Informação confrontar e dialogar com “conceitos das mais diversas áreas” do
conhecimento (AZEVEDO NETTO, 1999, p.78-79). Essa ampliação de limites
também afeta suas relações com a Comunicação, na medida em que repercute
no estudo da questão da transferência da informação, conforme o mesmo autor
assinala, “um dos aspectos inerentes ao processo comunicacional”.
Saracevic (2004, p.10) em texto que traça a origem e evolução histórica
da Ciência da Informação através dos problemas enfrentados ao longo do
tempo e seu papel social na sociedade da informação, enfatiza a
interdisciplinaridade como um de seus traços característicos. Nesse texto, o
autor se debruça sobre a evolução dessas relações interdisciplinares, entre a
quais aborda aquelas mantidas com a comunicação. O autor sinaliza para a
polissemia da palavra comunicação, o mesmo que acontece com o termo
informação:
Se houver palavra que sozinha possua maior número de sentidos, mais
usos em contextos completamente diferentes e que cause mais confusão
que “informação”, essa palavra é “comunicação”. Primeiro, há confusão
entre o processo de comunicação como objeto de investigação e
comunicação como nome de um campo onde esse processo é investigado
[...]. Quase todo texto sobre comunicação começa com uma delineação dos
usos da palavra. O sentido de “comunicação”, assim como o sentido de
“informação” é uma ampla argumentação em si mesmo. Mesmo sendo
interessantes e divertidos, esses argumentos não geraram nenhum
resultado notável, portanto, não vale a pena segui-los. Contudo, a discussão
e os estudos acadêmicos sobre a relação entre comunicação como um
fenômeno e comunicação como um processo são importantes e devem ser
considerados, uma vez que cada conceito nos leva por caminhos complexos
36
ao outro, caminhos esses que ainda não estão totalmente elaborados,
compreendidos ou mesmo investigados profundamente [...].
Nesta perspectiva, cabe lembrar a advertência feita por Santaella & Nöth
(2004, p.33):
Entretanto, não nos interessa aqui refletir sobre os sentidos correntes de
comunicação, mas sobre aqueles que foram e continuam sendo construídos
através da tradição da pesquisa que foi levando gradativamente à
construção de um campo de saber relativamente autônomo que, sob o
nome de comunicação, é tomado como referencia e é levado adiante por
comunidades de investigadores. Por isso mesmo, a questão não é simples.
A comunicação nunca foi e está longe de ser um campo unificado, como, de
resto, a unificação do conhecimento deixou se ser uma ambição em
qualquer área das ciências. As teorias e métodos cresceram de tal maneira,
no último século, em todas as áreas, que o confronto e, por vezes, o conflito
de concepções e abordagens tornaram-se regra.
Por isso, os autores referem-se à comunicação como um campo de
conhecimento em construção. Nessa perspectiva, identificam três campos de
estudos da comunicação. Todos eles “devidamente constituídos com conceitos
próprios e literatura correspondente”. São eles: a) a investigação deve
abranger todos os processos de comunicação; b) a investigação deve abranger
a identificação da comunicação com as teorias dos meios de comunicação e
mais recentemente, das mídias em geral; c) a investigação que leva em
consideração a comunicação “como parte da realidade sócio-histórica
humana”, quando o estudo da comunicação enfoca os processos, enfatiza a
“relação, transmissão, agenciamento, influência, troca e interação” (2004,
p.36).
Num tal estudo, a comunicação se dá entre emissor e receptor, mas o
enfoque não ocorre no fenômeno da comunicação em si, mas no processo de
transmissão da mensagem, no momento em que se dá a troca e a interação
entre emissor e receptor, conforme demonstra a figura 4.
37
Figura 4: Representação da comunicação como processo.
Essa tríade reproduz o modelo clássico elaborado por Shannon &
Weaver (1949). Assim, conforme assinala Saracevic (2004, p.11-12):
[...] a crescente relação entre ciência da informação e comunicação possui
várias dimensões: um interesse compartilhado sobre comunicação humana,
junto com um aumento na percepção que informação como um fenômeno e
comunicação como um processo precisam ser estudas junto; uma
confluência de certas linhas de pesquisa; algumas mudanças de foco
acadêmico, e um potencial para cooperação na área de prática profissional
e interesses empírico-comerciais.
Epistemologicamente, a publicidade encontra-se inserida no campo da
Ciência da Comunicação e sua relação com a Ciência da Informação pode ser
compreendida em dois momentos nos termos do objeto dessa investigação:
quando a publicidade cria um produto informacional (uma campanha
publicitária, por exemplo) ou quando recupera a informação (ao suscitar no
público alvo o desejo de consumo, de compra).
Porém, há que se considerar que o processo comunicacional e
informacional humanos são contextualizados culturalmente. De modo a
compreender essa afirmação, é necessário adentrar, ainda que não de modo
aprofundado, ao campo da teoria semiótica para situar o conceito de sinal e
signo.
Emissor Receptor
Mensagem
Processo
38
Com efeito, por sinal, segundo Azevedo Netto (1999, p. 79) “entende-se
qualquer forma gráfica, sonora, geológica, astronômica etc. de assinalação,
sem que para tal incorra qualquer relação com uma possível construção de
significado. O sinal é uma entidade destituída de mecanismos para a
construção de significados (....)”.
O signo, por sua vez, representa o “reconhecimento da possibilidade de
construção de um significado” sob ótica do observador humano. De tal modo, a
idéia de signo deve ser compreendida a partir de suas entidades componentes:
o interpretante, aquele que possui em si o atributo de produzir significado, o
objeto e o veículo. Elementos que compõem o que Azevedo Netto (1999, p. 81)
denomina relação triádica que se desenvolve no signo, entidade abstrata, não
palpável:
[...] a entidade signo é um feixe de relações em que ocorre uma relação
triádica entre o objeto, veículo e interpretante, dentro da construção da
significação e do processo de comunicação. Já que o signo-objeto não
pertence ao mundo real, mas se origina na percepção, que remete a um
signo-veículo, fruto da transmissão de uma idéia, que se instala em um
signo-interpretante, resultante das semioses de construção de significado e
que remete ao seu objeto, criando assim uma cadeia de relações entre as
esferas do signo, ou seja, o mesmo objeto produz determinado signo no
transmissor, emitido em forma de um segundo signo até o receptor, que
produz um terceiro signo, com referência ao mesmo objeto.
Assim, o signo está presente na vida humana, tanto no processo de
comunicação, como na construção do conhecimento. Um signo tem a
capacidade infinita de produzir outros e novos signos por intermédio da
interlocução, “que é característica da comunicação, é condição primordial para
a existência do signo, já que este somente existe enquanto age sobre o
interpretante.” Por interlocução, por sua vez, entende-se “o fato de que há uma
necessidade intrínseca de se “jogar” com os signos para a criação de seu
significado, e conseqüentemente sua reprodução.” (AZEVEDO NETTO, 1999,
p. 82).
A interlocução, por seu turno, se realiza num dado contexto cultural e,
assim mediada pelos conceitos de experiência-próxima e experiência-distante
elaborados por Geertz (1983), propiciam a construção “de visões de mundo e
de modos de vida entre indivíduos e/ou grupos de indivíduos” e a compreensão
39
da interlocução entre pessoas de uma mesma cultura e entre aqueles
pertencentes a culturas diferentes (AZEVEDO NETTO, 1999, p. 83).
1
Essa distinção entre experiência-próxima e experiência-distante é
meramente conceitual, já que a dinâmica do processo comunicacional tende a
converter o distante em próximo, na medida em que um passa a vivenciar a
experiência do outro.
Entretanto, para que aconteça essa conversão da experiência-distante
em experiência próxima, fenômeno compreendido “como conhecimento,
informação e vivências”, é necessário que esteja presente “a vontade de
consumir determinado produto”. Em outras palavras, a interlocução se dá
direcionada “pelo interesse de se consumir ou não determinada forma de
experiência, de acessar determinados signos de significação social”
(AZEVEDO NETTO, 1999, p. 84).
2
De tal modo, ao confrontar o pensamento de Geertz (1983) e de Canclini
(1995), Azevedo Netto (1999, p. 84), conclui que a conversão de uma
experiência-distante em uma experiência-próxima se dá “pelo interesse em se
estabelecer um processo de comunicação entre duas formas de experiências
distintas, não necessariamente de culturas diferentes, mas mesmo entre
participantes de uma mesma cultura”.
1
Geertz (1983) elaborou os conceitos de experiência-próxima e experiência-distante como modo de
compreender e interpretar a vida social. Segundo Azevedo Netto (1999, p.83), esses conceitos “são
meios de instrumentalizar as formas de interpretação dos contatos sociais entre diferentes atores e
em diferentes contextos, onde: o conceito de experiência-próxima é, aproximadamente, aquele em
que alguém [...] pode ser usado para, natural e esforçadamente, definir o que ele ou seus
companheiros vêem, sentem, pensam, imaginam e assim por diante, e o que ele poderia rapidamente
entender quando aplicado de forma semelhante por outros. O conceito de experiência-distante é
aquele em que um especialista de um tipo ou outro [...] empregam para atingir seus objetivos,
científicos, filosóficos ou práticos”.
2
A noção de consumo utilizada por Azevedo Netto (1999) é aquela definida por Canclini (1995) como
a idéia de acessar qualquer produto situado na esfera do simbólico-estético-social: [...] boa parte da
racionalidade das relações sociais se constrói, mais do que na luta pelos meios de produção, da
disputa pela apropriação dos meios de distinção simbólica. Há uma coerência entre os lugares onde
os membros de uma classe se alimentam, estudam, habitam, passam as férias, naquilo que lêem e
desfrutam, em como se informam e no que transmitam aos outros. [...] a lógica que rege a
apropriação dos bens enquanto objetos de distinção não são da satisfação de necessidades, mas sim
da escassez desses bens e da impossibilidade de que outros o possuam” (CANCLINI apud
AZEVEDO NETTO, 1999, p. 84).
40
É nesse âmbito que se insere a atuação da publicidade, na medida em
que age no sentido de comunicar experiências-distantes e despertar o desejo
de torná-las experiências-próximas.
Esta investigação parte, portanto, do pressuposto de que a publicidade,
como modo de comunicação, reforça padrões e comportamentos estabelecidos
pela sociedade de forma idealizada, atuando com uma mensagem sedutora e
motivadora de ações positivas de consumo por meio de situações
estereotipadas como status, beleza, sucesso, etc:
[...] configura-se como co-responsável pelas sensações de aceitação e de
pertencimento do indivíduo a um ou mais grupos sociais, uma vez que tais
ideais transferem, para o uso do produto, a significação simbólica de status
social (PINHEIRO, 2006, p.1
)
Antes, porém, de adentrar propriamente nessa questão em particular,
que interessa de perto a este estudo, convém deter-se, ainda que de modo
breve, na análise das palavras publicidade e propaganda.
Embora usados como sinônimos no cotidiano, os vocábulos publicidade
e propaganda não significam, rigorosamente a mesma coisa. Existe uma
distinção teórica entre ambos, embora não sejam claros esses sinais de
diferenciação, o que torna seus significados achatados pelo mercado
publicitário, conforme assinala Pinheiro (2006, p.1).
Publicidade deriva de público (do latim publicus) e designa a qualidade
do que é público. Significa o ato de vulgarizar, de tornar público um fato ou uma
idéia. Entretanto, depois do século XIX passou a significar “qualquer forma de
divulgação de produtos ou serviços, através de anúncios geralmente pagos e
veiculados sob a responsabilidade de um anunciante identificado com objetivos
de interesse comercial” (RABAÇA, BARBOSA apud PINHO, 1995, p.16).
Desde então a palavra publicidade vem sendo utilizada com o sentido de
ações que promovam o lucro e estimulem a venda. Atualmente, o termo é
utilizado de forma específica para se referir aos segmentos, como por exemplo,
publicidade coorporativa, de varejo, etc. É justamente esse aspecto conceitual
que interessa nesse estudo, por isso optou-se pela sua utilização, em razão de
41
enfatizar o uso das técnicas de comunicação para seduzir e persuadir o
público-alvo.
3
Já o termo propaganda é definido como propagação de princípios ou
teorias; traduzido pelo Papa Clemente VII, quando da fundação da
Congregação da Propaganda, com a função de propagar a fé católica no
mundo (PINHO, 1995).
Deriva igualmente do latim (propagare) que significa reproduzir,
propagar, multiplicar, estender, difundir. Propagare, por sua vez, deriva de
pangere, que significa enterrar, mergulhar, plantar. Propaganda é, portanto, a
propagação de princípios, valores e idéias relativas a modos de vida.
Segundo Pinho (1995, p.20), fazer propaganda é propagar idéias,
crenças, princípios e doutrinas. Inicialmente, coube a Igreja Católica a primazia
de sua utilização em sua campanha pela difusão da fé. Entretanto, diversos
fatores, especialmente a Revolução Industrial, popularizaram a utilização do
termo por outras organizações econômicas, sociais e políticas:
Com o decorrer do tempo, sua definição ficou estabelecida como conjunto
de técnicas e atividades que, destinadas a influenciar opiniões, sentimentos
e atitudes de um público receptor, têm como base um sistema de
informação e persuasão. A propaganda hoje, assim como a publicidade,
também se divide em mais de um tipo e função, ou seja, propaganda
ideológica, propaganda política, propaganda eleitoral, propaganda
governamental, propaganda institucional, propaganda corporativa,
propaganda legal, propaganda religiosa e propaganda social (SILVA, 2006,
p.6).
Enquanto a publicidade se ocupa de tornar público, a propaganda fará
com que o fato ou idéia divulgados sejam incluídos como crença nas mentes
dos indivíduos aos quais se dirige.
Do ponto de vista comercial, no entanto, anunciar visa promover vendas
e, para vender, é necessário implantar na mente das massas uma idéia sobre
um determinado produto ou serviço. Daí o uso, muitas vezes indistinto, dos
termos publicidade e propaganda (SANT’ANNA, 1998, p. 75).
3
Apesar dessa opção, preserva-se a utilização originalmente feita pelos autores citados na pesquisa,
mantendo-se as referências existentes em suas obras ao termo propaganda.
42
A publicidade comercial, tal como hoje é entendida e sentida, teve sua
origem em dois acontecimentos, interligados de certa forma, quais sejam, o
aperfeiçoamento dos meios físicos de comunicação e o aumento da produção
industrial dado ao aperfeiçoamento tecnológico.
Antes do impetuoso avanço da tecnologia, as fábricas se limitavam a
produzir bens de que o consumidor realmente necessitava e estava em
condições de adquirir. Aí a publicidade cumpria o papel de divulgar ao mercado
disponibilidade de determinado bem. Com o advento da produção em massa,
já num mercado que principiava a superar a fase de consumir apenas o
essencial, viram-se as indústrias forçadas a encontrar meios mais rápidos e
convincentes de escoar o excesso de produção das máquinas, cada vez mais
aperfeiçoadas e velozes.
Ainda que o recurso da voz, de música, do texto e do canto para vender
seja um expediente que remonta à época dos arautos, foi o surgimento e a
crescente especialização do rádio, jornais e televisões que viabilizou que a
publicidade deixasse de ser um simples instrumento de venda para se
transformar em fator social e econômico relevante.
Só a publicidade poderia, com suas técnicas aprimoradas de persuasão,
induzir as grandes massas consumidoras a aceitar novos produtos, saídos em
série das fábricas, mesmo que não correspondentes à satisfação das suas
necessidades básicas. Representa segundo Galbraith, (1983), em O Novo
Estado Industrial, o momento de “controle da demanda pelos industriais”.
Esse controle só pode ser feito através dos meios de comunicação. Por
esses canais devem fluir as mensagens provocadoras de um consumo cujos
índices têm que se elevar continuamente para garantia da própria sociedade
industrial. Revela-se, desse modo, a publicidade, como um símbolo de
abundância de produtos e serviços que o progresso tecnológico coloca
diariamente à disposição de todas as classes sociais.
Lyra (2001, p.1) assinala que “a televisão e os demais meios de
comunicação, através do discurso publicitário direto e indireto, exercem grande
pressão para que consumamos”, expressando a relação da comunicação com
43
o mercado. Ao que acrescenta que “a necessidade de adquirir mercadorias e
serviços é atualmente produzida com grande força, através da relação
existente entre as mídias e a sociedade”, o que nos levará a uma aproximação
mais detalhada dessa relação.
44
2.2. Publicidade e Consumo
A publicidade, antes meramente informativa da existência de bens de
consumo, passa a ser parte integrante do processo de desenvolvimento
econômico de uma sociedade, sustentada no crescimento com a procura
incessante de novos consumidores para produtos e serviços cuja necessidade
constrói com base no direcionamento de costumes. Cria a idéia de um “estado
de ser” conferida pela aquisição de bens a cuja imagem atribui valores como
conforto, lazer, pertinência.
Considerada originalmente como simples auxiliar de vendedores que,
através de anúncios simples, poderiam atingir um consumidor em potencial,
não previamente identificável, a publicidade – pela própria evolução de suas
técnicas – adquire nova e importante dimensão: torna-se um fenômeno
econômico e social capaz de influenciar e modificar hábitos de uma população
no seu conjunto.
Segundo Toscani (1996) a publicidade teve sua origem de um antigo
flerte entre a arte e o mercado. E quando a própria arte estreitou seus laços
com o mercado, assumindo a forma de mercadoria, “a publicidade acabou por
aderir à lógica do mercado, consolidando-se como um discurso de adesão ao
consumo”, abandonando sua dimensão artística, confinando-se às leis do
mercado (PEREIRA, 2002, p.7).
No Brasil, a publicidade surgiu juntamente com a imprensa, quando da
chegada da família real ao país. Em sua origem, segundo relata Pereira (2002,
p.7), consistia na descrição detalhada de um serviço ou produto disponibilizado
para venda, publicado na seção de classificado dos antigos jornais.
Anunciavam-se, então, “sem distinção, cestos, casas, cavalos e escravos –
adultos e crianças”, mas faltava nesses anúncios o elemento da persuasão,
apresentando-se como simples comunicados. Esse era o cenário da maioria
dos anúncios datados da primeira metade do século IX (PEREIRA, 2002, p.7):
45
Aos poucos, passaram a articular textos (ainda extensos) com imagens
ilustrativas, geralmente caricaturas, arte muito em voga na virada do século
XIX para o XX. Jornais, revistas, almanaques, pasquins, cartazes,
calendários, folhinhas. A publicidade do século XX estrutura-se com
imagens coloridas, caráter persuasivo e uma linguagem de prontidão
(Benjamin, 1987; Pasolini, 1990), expressa nos jingles e principalmente os
slogans.. Cinema, rádio, televisão, multimídia. Experimentando diferentes
formas, suportes e linguagens, a publicidade brasileira foi incorporando e
redefinindo inúmeros aspectos da cultura brasileira – marcas, produto e
linguagens que contam nossa história: as relações com o estrangeiro, as
políticas higienista, as correntes artísticas e os padrões estéticos de cada
época se descreviam.
De tal modo, pode-se pensar a evolução da publicidade no Brasil sob o
viés da transposição da fase pré-capitalista para o sistema capitalista com
todas as transformações que este processo de transição provocou na cultura,
nos meios de comunicação e nos modos de se comunicar.
Assim, a publicidade no Brasil encontra-se associada ao crescimento
industrial. Sem ela, não seria possível o surgimento de grandes mercados de
consumo que sustentam a fabricação em série – base do desenvolvimento da
indústria moderna. Nessa perspectiva Berlo (1999, p.4) assinala que:
[...] No tempo de nossas avós, a maior parte das pessoas ganhava a vida
manipulando coisas não manipulando símbolos. Progredia o homem capaz
de forjar uma ferradura melhor, de colher o melhor produto agrícola, de
construir a melhor ratoeira. A comunicação era importante também naquele
tempo, é claro, mas era menos relevante para a carreira do homem,
E prossegue referindo à evolução industrial “[...] Os tempos mudaram e
continuam mudando. Na indústria a revolução tecnológica e o
autodesenvolvimento da força operária deram maior confiança aos símbolos e
menor as coisas” (Destaque do autor. BERLO, 1999, p.4).
Vê-se, pois, que a incorporação da persuasão como objetivo da
comunicação deu-se em razão das mudanças havidas nos modos de produção
capitalista, propiciados grandemente pela revolução tecnológica.
De modo geral, a evolução das teorias da comunicação tem se cingido a
três objetivos da comunicação que ora são conjugados ora polarizados. São
eles: informar – persuadir – divertir. Segundo Berlo (1999, p.9):
46
A distinção informar-persuadir-divertir causou ainda outra forma de
confusão. Tem havido tendência a interpretar esses propósitos como
exclusivos: alguém não dando informação quando está divertindo, não está
divertindo quando está persuadindo, etc. Evidentemente, não é assim. No
entanto, essa distinção é freqüente.
Esses objetivos não podem ser compreendidos de modo reducionista,
estanque e limitado, pois, conforme pondera Berlo (1999, p.12):
Nosso objetivo básico na comunicação é nos tornar agentes influentes, é
influenciarmos outros, nosso ambiente físico e nós próprios, é nos tornar
agentes determinantes, é termos opção no andamento das coisas. Em
suma, nós no comunicamos para influenciar – para influenciar com intenção.
(Destaque do autor).
Contudo, esse propósito quando aplicado ao extremo no contexto da
sociedade de consumo (BAUDRILLARD, 1995) forjou a definição do objetivo
da publicidade em outro verbo: vender, considerado num sentido amplo, de
levar aos outros a mensagem capaz de interessá-los em determinada ação,
então, a finalidade principal da publicidade tem sido mesmo vender.
Segundo Baudrilard (1995), o consumo invade a vida das pessoas, suas
relações, envolvendo toda a sociedade e determinando as satisfações
pessoais. A sociedade de consumo é apresentada como expressão do
capitalismo contemporâneo:
Neste contexto, e dentro da visão do autor, o desenvolvimento se
estabelece através da incessante produção dos chamados bens de
consumo duráveis, tais como os automóveis e os eletro-eletrônicos. Embora
estes produtos tenham hoje uma qualidade maior, é uma exigência do
sistema que possuam durabilidade ou obsolescência programadas para que
sejam novamente adquiridos e substituídos em uma autêntica roda-viva
(LYRA, 2001, p.3).
A publicidade estimula e motiva a venda porque convence dos
benefícios de determinada compra, criando a predisposição ao consumo. É
nessa predisposição que se insere o aceite do que não é, propriamente, o
objeto do anunciado.
De tal modo, o consumo encontra-se lastreado nas relações
estabelecidas entre os objetos e os sujeitos. Num tal contexto, os objetos são
cada vez mais valorizados pelas pessoas graças a um sistema de crenças e
desejos instaurados na sociedade:
47
Trata-se de um sistema no qual os sujeitos encontram-se mergulhados. No
plano simbólico, o consumo atinge a todos, pois as classes médias e os
trabalhadores mais pobres sofrem o mesmo tipo de pressão para que
consumam. Ambos desejam ou necessitam a participação neste mesmo
sistema, independente de suas condições materiais (LYRA, 2001, p.4).
A participação da publicidade foi fundamental para instauração desse
sistema, difundindo mercadorias consensualmente consideradas como objetos
de desejo (LYRA, 2001).
Letreiros, luminosos, logotipos, outdoors, banca de revistas, slogans,
marcas, panfletos, jingles, imagens, sedução. Na sociedade de consumo a
cidade se oferece em forma de vitrine e ser cidadão é habitar esse mundo
com o desprendimento de quem vai às compras. Esse desprendimento,
mais que revelar uma simples sensação, é denunciador do quanto a cultura
do consumo, como expressão do capitalismo pós – industrial tem levado a
efeito sua intenção educativa (PEREIRA, 2002, p.4).
Como aconteceu no mundo todo, a televisão – mais que o rádio –
revolucionou a cultura, o comportamento e a economia e, conseqüentemente, a
publicidade brasileira. Do desafio de dar voz às mensagens publicitárias
através do rádio, passou-se à possibilidade de construí-las com movimento,
recorrendo-se à imagem. Assim, a televisão se impôs como um meio de
comunicação hegemônico, possibilitando “uma uniformização dos padrões
referenciais de consumo, nos quais praticamente as mesmas mercadorias
seriam desejadas, independentemente do grupo ao qual o indivíduo pertença”
(LYRA, 2001, p.4).
“Dentre todas as mídias veiculadoras de publicidade na
contemporaneidade, a televisão é a mais significativa de todas. Sua
participação na verba publicitária, em 1996, atingiu 59% do total dos
investimentos feitos no período (Meio & Mensagem, 1997)”, assinala Faria e
Souza (2000, p. 23).
Da parte da indústria brasileira, iniciam-se décadas de competição
acirrada por mercados ainda a serem criados e desenvolvidos e, por isso,
mensagens que tinham até então funções meramente informativas da
existência de produtos ou serviços passam a ter como objetivo a briga por
fatias de mercado e pela preferência do consumidor.
48
A indústria tem mudado também em outros aspectos com a difusão da
tecnologia, o produto de uma companhia tornou-se tão similar ao produto de
companhias concorrentes que muitas vezes não há como distingui-los.
Assim, as empresas precisam criar diferenças de nomes e marcas para
produtos equivalentes. O resultado é a crescente importância da “imagem
da marca” como técnica de venda, exigindo a elaboração e a emissão de
mensagens que dêem valor psicológico ao produto. Sabão é sabão – mas
Omo é muito de Viva (BERLO, 1999, p.4-5 - destaques do autor).
Esse consumidor que, agora, tem à disposição produtos e serviços cada
vez mais similares, deve ser informado não só de que um determinado bem
existe, mas, e principalmente, de que uma determinada aquisição trará, para
além do bem adquirido, sensações, aparências, reconhecimentos e aceites:
Lyra (2001, p.4) assinala com propriedade esse cenário quando afirma
que as práticas de consumo têm grande relevância nas relações
comunicacionais estabelecidas na sociedade contemporânea justamente ao
transmitirem aos grupos sócio-culturais o desejo de possuir determinadas
mercadorias que atuam como elementos de distinção, transmitindo
determinadas mensagens aos meios em que estão inseridas.
O tom confidencial das garotas-propaganda dos anos 50, seu jeito
doméstico de conversar com as donas de casa, sua linguagem coloquial, são
avanços em relação aos apelos formais da publicidade feita até então. Esse e o
sentido apreendido na ponderação de Pereira (2002, p.8):
Já consolidada nas ondas do rádio, a publicidade começou a ser veiculada
de maneira tímida, tanto porque as técnicas e os recursos necessários para
a construção das peças audiovisuais ainda eram desconhecidas dos
profissionais da publicidade, quanto pela incerteza das empresas em
oferecerem seus produtos nesse meio ainda muito novo. Assim, do mesmo
modo que a programação das rádios foi transposta para a televisão, a
publicidade conquistou o espaço da tela e lançou uma figura muito
particular: a garota propaganda, que continuava a apresentar os produtos
descrevendo-os pormenorizadamente, mas agora podendo mostrá-los,
acaricia-os em frente ao espectador: “não e uma tentação”?
4
A publicidade vende eletrodomésticos, a partir da construção de um
conhecimento acerca que seja o ideal de vida moderna. Assim,
contemporaneamente, por exemplo, o telefone celular consiste num objeto de
desejo “fundamental para todas as classes sociais”:
4
Aqui a autora se refere ao bordão utilizado por Rosamaria, garota-propaganda de Marcel Modas,
que apresentava o quadro “Tentação do Dia”, nos anos 50 e 60.
49
Para um médico ou para uma empregada doméstica, este objeto possui
praticamente o mesmo valor simbólico, pois sua posse os inclui nesta
mesma ordem. A diferença se estabelece na concretização deste desejo.
De modo geral, os médicos podem adquirir modelos mais sofisticados
(LYRA, 2001, p.4-5).
Num tal sentido, os grupos sócio–culturais desejam determinados
signos, decorrente dos valores simbólicos, que muitas vezes colocam o valor
de uso, a utilidade da mercadoria ou produto em segundo plano. Em outras
palavras, esses signos são desejados, pois significam ou representam um
elemento de inclusão social, de distinção, de status.
Assim, no plano simbólico, possuir um carro com ar-condicionado o
diferencia dos demais membros que ainda não o tem. Obviamente, isto se
aplica quando o problema é visto por quem não possui ou pode ter objeto
semelhante. Nesta ótica, o seu “feliz” possuidor passa a ser considerado
pela sociedade, segundo a lógica desse sistema, como um indivíduo em
posição de destaque. Obviamente, isto dura até o momento da banalização
de uso de determinado produto. As necessidades de possuí-los, adquiri-los
e portá-los relacionam-se às suas disponibilidades mercantis. Não se
deseja, pelo menos de modo orgânico, o que o sistema produtivo local ou
externo não pode colocar no mercado (LYRA, 2001, p.7).
Sob a perspectiva de Baudrillard (1995), qualquer bem, produto,
mercadoria ou serviço para inserir-se na sociedade de consumo precisa
primeiramente transformar-se num signo. Nesse sentido, o processo de
consumo vai além da mera satisfação das necessidades de uso e troca.
Assim, os desejos de consumo são construídos histórico-social e
culturalmente. E a publicidade constitui-se num “dos fatores mais importantes
na determinação do comportamento dos indivíduos quanto ao consumo”,
conforme assinala Lyra (2001, p.8). A publicidade configura uma importante
pratica de consumo simbólico. De fato:
A todo tempo ela “induz” às necessidades, mas, na maior parte dos casos, o
faz considerando o conjunto da realidade econômica e cultural. Os anúncios
publicitários terão maior ou menor sucesso comercial a partir do nível de
suas correspondências com o entorno social (LYRA, 2001, p.8).
A publicidade em televisão, nos anos 50, era a expressão eletrônica do
modo de vida conservador do consumidor daqueles anos, muito mais que
registro de venda de produtos ou serviços lançados no mercado de então.
50
A tendência da comunicação informativa dessa época foi sustentada
exatamente pelo conhecimento do que seja a mulher “do lar”. Aquela que fica
em casa, conversando com garotas-propaganda ou vai aos paraísos das
compras – os recém criados super mercados – que induzem, a pretexto de
informar, as grandes novidades com que as indústrias abarrotam o mercado.
A publicidade constrói – através da exposição de valores e modos de
vida - a versão da mulher moderna: a que sabe fazer compras e domina o uso
dos mais novos lançamentos eletrodomésticos. Uma vez mais, a publicidade
reproduz e sustenta mudanças culturais que se impõem.
A publicidade começa a solidificar na sociedade o papel que tem até os
dias atuais: de espelho no qual todos se olham e onde se encontra uma
referência aceita e comum de quem se é, do que se deve fazer, do que é
moderno e do que não se pode perder, sob pena de ficar fora dos avanços da
história.
A partir dos anos 60, a rapidez das mudanças e o conseqüente volume
crescente de informação (chegada do homem à lua, anticoncepcionais,
revolução dos costumes, shopping centers, integração via satélites,
movimentos culturais e seus questionamentos, aceleração industrial) passam a
ser expressos e orientados na publicidade através do mosaico em que se
transforma a linguagem gráfica da qual ela se utiliza até hoje.
A televisão, principal veículo da mensagem publicitária, solidifica-se
como o grande meio de comunicação e cultura – uma cultura diversa da
acadêmica – denominada cultura de massa. “De massa” porque não mais
difundida para poucos, nos bancos da escola, mas para muitos, de forma
homogênea e nivelada pela média. Uma cultura não mais voltada para o saber
acadêmico, mas para o prosaico e o cotidiano.
Essa cultura de massa é o contexto em que a informação sobre “estados
de vida” se constrói com tanta eficácia, porque tal cultura não visa à construção
do conhecimento científico, visa, em primeira instância, informar e divertir.
Nessa perspectiva, a televisão ainda ocupa um lugar de destaque:
51
[...] a televisão é muito mais do que um aglomeramento de produtos
descartáveis destinados ao entretenimento de massa. No Brasil, ela
consiste num sistema complexo que fornece o código pelo qual os
brasileiros se reconhecem brasileiros. Ela domina o espaço público (ou a
esfera pública) de tal forma, que, sem ela, ou sem a representação que ela
propõe do país, torna-se quase impraticável a comunicação – é quase
impossível o entendimento nacional. [...] O espaço público, no Brasil,
começa e termina nos limites postos pela televisão. [...] O que é invisível
para as objetivas da TV não faz parte do espaço público brasileiro. O que
não é iluminado pelo jorro multicolorido dos monitores ainda não foi
integrado a ele (BUCCI apud PEREIRA, 2002, p.5).
Hoje, dado aos avanços tecnológicos, à universalização do
conhecimento e à disputa por mercados cada vez mais abrangentes, alcançar
a similaridade entre produtos e serviços tem sido somente uma questão de
tempo. De curtíssimo espaço de tempo. O argumento de venda deve, portanto,
recair sobre algo além do próprio produto ou serviço, já que são cada vez mais
similares entre si.
Devem-se vender idéias que os produtos ou serviços contêm e a
publicidade passa, então a atuar sobre noções a respeito do que anuncia, não
só sobre os produtos ou serviços propriamente. Trata-se de criar o “espírito do
produto”. Um mecanismo onde a informação deixa de ser um bem em si (dados
sobre os produtos) para servir como um meio, um instrumento de venda (dados
sobre os “estados de vida”).
Lyra (2001, p.8) pondera, analisando o pensamento de Baudrillard
(1993) sobre a publicidade que:
[...] a mensagem publicitária não convenceria aos indivíduos. Funcionaria
como uma espécie de fábula, na qual as pessoas estariam preocupadas em
analisar a veracidade do seu discurso. Na verdade, elas seriam seduzidas
por este. De acordo com Baudrillard, a publicidade atuaria diretamente no
plano das crenças e dos desejos dos grupos sócio – culturais. Ainda, de
acordo com o autor francês, “a publicidade é antes consumida do que
destinada ao consumo”.
De tal modo, as necessidades criadas pela publicidade não só
representam os interesses econômicos das grandes empresas em vender seus
produtos, mas também exploram e se constroem sobre os sonhos do público –
alvo. Assim, noticiar uma população da existência de um bem já não basta à
publicidade. É preciso que, além disso, haja o esforço informativo de persuadir
52
com argumentos além do bem, porque o desejo de compra deve ocorrer de
imediato, sob pena de a escolha recair sobre um bem similar.
A mensagem publicitária não está mais restrita às informações sobre
produtos ou serviços que objetiva vender. É alusiva a estilos de vida, situação
pessoal, indícios de sucesso, bem estar, revelando os valores, as regras de
conduta e as visões de mundo de um grupo socialmente dominante, os donos
dos meios de produção.
Não só se faz importante saber sobre o que se vende, mas, e
principalmente, saber sobre o que motiva a compra. Quais comportamentos,
valores e emoções servirão ao uso estratégico que a mensagem publicitária
fará para que, num determinado contexto, se consumam determinados
produtos.
O saber publicitário deve orientar para a satisfação de necessidades
criadas a partir do uso da informação como um código de obtenção das
emoções que ele próprio atribui ao objeto de seu anúncio.
A persuasão é justamente a informação sobre o “espírito do produto”;
construída pela publicidade para servir de mensagem principal, às vezes até
alijada do próprio produto ou serviço, porque é o “espírito” que realmente se
compra. É a imagem no domínio do processo de consumo. Não mais se
consome por necessidades básicas. Constroem-se necessidades simbólicas,
assentadas em informação e quais arquétipos são mais convenientes á
convivência entre grupos.
Essa persuasão buscada pela mensagem publicitária esta inscrita no
discurso que utiliza. Reboul (2004) define discurso como o componente da
retórica, constituindo-se em toda produção verbal, escrita ou oral que
apresenta uma certa unidade de sentido. Para Reboul (2004), entretanto, a
retórica não e aplicável a todo tipo de discurso, mas tão somente aquele que
almeja persuadir.
A mensagem publicitária, então, serve-se de argumentos de ordem
racional e afetiva para persuadir o receptor “a linguagem, poderosa ferramenta
53
de persuasão e sedução utilizada pela propaganda, apresenta os principais
tipos de manipulação de uma narrativa: a tentação, a intimidação, a sedução e
a provocação” (SILVA, 2006, p.26).
Persuadir, portanto, pressupõe um amplo repertório por parte do
receptor para que compreenda a mensagem. Se esse repertório for
insuficiente, a mensagem publicitária não será compreendida.
Se antes a informação podia ser vista como um instrumento para a
produção de mercadorias ou serviços, hoje ela é, em si, o próprio produto, já
que sua instrumentalização possibilita a venda de bens de qualquer espécie. A
informação, assim definida, é a matéria prima da produção publicitária.
O caminho, o fluxo da informação tradicional, segundo Barreto (1988,
p.125), possui traços marcantes e “uma ideologia interna que está sedimentada
há cerca de 50 anos”.
As características a que se refere o autor são as seguintes:
1. Unidirecionamento: o receptor da informação tem acesso a um
estoque de informação a cada interação, ou cada tempo de
interação o receptor tem acesso a um acervo físico por vez.
2. A estrutura de informação possui a mesma característica em
sua totalidade: ou é uma estrutura textual com figuras, mas de
estrutura linear, ou um objeto, som ou imagem.
3. Existe sempre a mediação de um profissional de interface para
o receptor interagir com o fluxo de informação, ou em sua
questão inicial, ou na avaliação do produto final.
4. O encadeamento interno dos eventos é povoado por rituais de
ocultamento da informação. Esses protocolos de segredo se
verificam em várias fases da organização interna da informação
para armazenamento e recuperação. O primeiro se dá quando
54
o conteúdo do documento é substituído por indicadores que,
supostamente, substituem o total da informação contida em sua
forma original por palavras-chave ou artimanha semelhante. O
segundo ritual de segredo ocorre quando esses indicadores
são cifrados em uma metalinguagem de indexação que
substitui a linguagem natural. Esse ocultamento da informação
se dá na entrada da informação no fluxo e quando da interação
do receptor na sua procura por informação.
5. O julgamento da relevância da informação é feito pelo receptor
sempre em uma condição ex-post, após a sua interação com o
fluxo de informação.
Figura 5: Fluxo tradicional de Informação
Fonte: BARRETO, Aldo de Albuquerque, 1998
.
Dessa figura depreende-se que no fluxo tradicional de informação, “os
fatos e idéias gerados no contexto são repassado através do canal – A- para o
receptor através do sistema de comunicação; de outra forma, atingem o
receptor através do canal – B – diretamente” (BARRETO, 1998, p. 125).
Geração de
Informação
Processame
nto da
Informação
Difusão
Disseminação
Armazenamento
e Recuperação
Uso
Receptor
Assimilação
B
Retroalimentação
A
memória
C
seleção
Contexto
Documento
Documentação
Saída
Produtos
Serviços
Informação
55
Na figura 5 o fluxo normal vai do documento para a documentação e,
finalmente, para a comunicação. E em todos os canais, “verifica-se uma
mediação dos profissionais de interface, os quais operam com mais vigor no
fluxo completo, em – C” (BARRETO, 1998, p.125).
Entretanto, houve uma mudança estrutural nesse fluxo que alterou
sensivelmente o seu tempo de duração e seu espaço de atuação a partir de
sucessivas transformações nos modos de transmissão, de comunicação da
informação, fases ou etapas que Barreto (1998) denomina de revolução da
linguagem, revolução da escrita, revolução da imprensa e revolução do
computador.
Na mensagem publicitária os papéis no processo de comunicação são
claramente identificáveis
O emissor é o anunciante e o receptor é o leitor; o significado transmitido
refere-se ao produto (mais especificamente, uma tentativa de induzir o leitor
a adquirir o produto), o código (no caso de anúncio impresso) e a
linguagem, mas também uma certa espécie de código visual, o canal
consiste em publicações impressas, o contexto inclui aspectos como a
situação do leitor, (já tem o produto? Tem condições de adquiri-lo?, etc.), a
publicação em que o anúncio aparece e – por último, mas não menos
importante – o conhecimento de que o texto é um anúncio (VESTERGAARD
e SCHRODER apud SILVA, 2006, p.31).
De tal modo, a publicidade comunica, informa, levando a um público
determinado uma mensagem persuasiva e essencial para a efetivação do
consumo, utilizando-se de recursos, meios e técnicas para tentar mudar a
atitude do receptor.
56
2.3. Mecanismos da produção publicitária
A publicidade não pode pretender anunciar algo que não conheça
inteiramente. É o domínio sobre todas as informações sobre o produto ou
serviço que se pretende tornar público que permite, de um lado a exacerbação
proposital de aspectos considerados convenientes à aquisição deles e, de
outro, a omissão igualmente proposital de aspectos que, de alguma forma,
possam minimizar o apelo de compra que a publicidade intenta despertar.
Desse modo, o conhecimento total do produto para o qual a mensagem
será criada, é uma necessidade para o profissional de publicidade, que deve
conhecer itens relativos ao objeto do anúncio, tais como, nome, marca
composição, proposição de uso, condições de pagamento, garantia etc. E,
ainda, sobre o público-alvo.
Legalmente, a veracidade desses dados é de responsabilidade do “dono
do produto”, seu fabricante, embora não se descarte a responsabilidade ética
do profissional ao qual cabe a transmissão deles ao mercado abrangente.
Entretanto, em que princípios a publicidade se ancora para cumprir sua
função? Um deles é sua atuação com base no conhecimento do cliente. A
publicidade se assenta no princípio de que, quanto melhor se conhece o
interlocutor (público-alvo da mensagem publicitária) mais perto dele é possível
chegar. Dessa maneira, técnicas de pesquisa são instrumentos valiosos no que
diz respeito ao delineamento do “perfil do consumidor”, seus hábitos,
comportamentos específicos e almejados.
Ao procurar estabelecer o perfil do cliente, a publicidade percorre
caminhos que se entrelaçam com os de outras ciências, como a estatística e a
psicologia, para traçar padrões de atitudes dos indivíduos aos quais se dirige,
divididos ora em classes sócio econômicas, ora em segmentos mais
detalhados segundo critérios culturais, religiosos, étnicos etc.
57
Para a publicidade não é suficiente detectar quais hábitos o consumidor
tem em relação ao produto ou serviço a ser anunciado. Esses, somente darão
ao profissional da publicidade a noção de como, quando e onde o bem
anunciado pode ser consumido ou usado.
Em publicidade é mais relevante saber quais hábitos o consumidor
possui que não dizem respeito diretamente ao produto ou serviço a ser
vendido, pois é na forma de alusão sutil a esses hábitos não relativos ao
produto, que a mensagem publicitária terá efeito como indução à compra. Vale
dizer, as informações contidas na mensagem publicitária estão muito mais na
forma que no conteúdo. É o como se diz e não o que se diz.
Por isso a publicidade mapeia modos de vida, gostos, valores,
aspirações, enfim, tudo o que possa informar o consumidor da identidade que
se pretende que exista entre o produto ou serviço anunciado e a maneira como
o público alvo quer ser visto através do que consome ou usa. Essa é a técnica
que a publicidade usa para obter a eficácia do seu recado.
Outro princípio fundamental é o conhecimento do mercado. Informações
sobre o mercado em que se insere a operação anúncio / venda são decisivas
para o sucesso do produto da produção publicitária.
É imprescindível fazer a adequação entre fatores afetos ao produto ou
serviço e a capacidade de compra do mercado ao qual se destina. Esse
mercado muda constantemente e requer medições ininterruptas, frutos de
apuradas técnicas de pesquisa, que direcionam, desde alterações no produto
ou serviço, até mudanças na própria comunicação da existência deles.
Informações contidas na mensagem publicitária estão sempre
condicionadas às informações sobre o mercado alvo da venda, por isso, a
publicidade não pode dispensar uma estreita relação com pesquisas sobre a
realidade em que atua. Sejam informações quantitativas ou qualitativas, tudo
vai concorrer para compor o produto final da publicidade.
A publicidade faz uso de veículos (meios) como jornal, rádio, televisão,
Internet etc. São canais através dos quais os consumidores tomam
58
conhecimento do que está sendo anunciado. É necessário que a produção
publicitária, no seu produto acabado (anúncio) se ajuste perfeitamente ao meio,
já que cada um dos veículos tem perfil diferente no que diz respeito aos
receptores das mensagens que veiculam.
Isso demanda cuidadosa seleção dos meios a serem empregados na
transmissão da mensagem, tanto no que diz respeito aos seus destinatários
enquanto classe social, econômica, nível cultural etc., quanto – e
principalmente – à credibilidade que se pretenda agregar à mensagem, uma
vez que o meio empresta sua imagem à mensagem.
Quanto mais crível o meio, maior a credibilidade atribuída à mensagem,
porque a publicidade sabe que públicos distintos exigem distintos níveis de
veracidade. Vale dizer: a legitimidade que o meio empresta à mensagem objeto
de consideração da publicidade, que faz desse um aspecto a mais da busca
por eficácia.
Outra diretriz que orienta a atuação da publicidade é o foco no
interlocutor. Para se fazer entender com sucesso, a publicidade só pode lançar
mão da linguagem do público a quem se dirige. É uma questão de
decodificação. Por isso, é preciso comunicar segundo códigos idênticos aos do
receptor, as informações devem encontrar eco, ser palatáveis à capacidade de
entendimento do interlocutor. Tanto os dados que se referem ao produto ou
serviço, quanto e, principalmente, os que pretendem ambientar o bem
anunciado nas situações de desejo do consumidor, precisam conter elementos
identificadores que sinalizem para os benefícios da compra.
A publicidade também orienta sua atuação na finalidade, no fim a que se
propõe a atingir. Os apelos contidos no produto da produção publicitária não se
restringem às mensagens imperativas do tipo “compre”, “aproveite” etc. Estão
muito mais nas informações que são passadas ao consumidor através de
dados periféricos às mensagens em si.
Como se disse, são informações sobre modos de vida, ideologias,
sensações etc. que desempenham o papel mais importante na persuasão que
a publicidade persegue. Atualmente, e cada vez mais, a publicidade informa as
59
pessoas da necessidade de se portar como, sentir como, ser como. Essa é a
informação contida fora do apelo principal do anúncio. Ela está no uso
estratégico do repertório do receptor, por parte do profissional de publicidade,
com auxílio de mecanismos emprestados a outras áreas do conhecimento, das
quais a publicidade não pode prescindir.
2.4. A informação na mensagem publicitária
Do jornal à Internet, os meios de comunicação vêm desempenhando,
cada vez mais, papéis importantes na significativa transformação social,
cultural e econômica de todos os grupos sociais. Porque eles veiculam idéias,
conceitos, opiniões que, orientam e modificam os modelos de interação do
homem com seu meio.
A aldeia global, preconizada por Marshall McLuhan no aos 60 tornou-se
realidade a partir dos anos 90, quando a inevitabilidade dos mercados
globalizados mudou a face do planeta. O desenvolvimento das
telecomunicações encurtou as fronteiras e o mundo transformou-se em
escala planetária, mediado pelos meios de comunicação. As vantagens do
mundo globalizado foram defendidas pelos porta-vozes da economia
mundializada, desterritorializada, em que as identidades foram
profundamente afetadas por interesses hegemônicos e o consenso
fabricado determinou o comportamento e atitudes de indivíduos
influenciados pela indústria cultural do american way of life [...]. (CALDAS,
2004)
A publicidade, permeando todo e qualquer conteúdo veiculado por
quaisquer meios, pretende tornar públicas leituras da realidade onde, implícitas
ou nem tanto, estão contidos preceitos de como viver, o que consumir como
parecer etc. São elementos de transmissão da informação que possibilitam o
compartilhamento de experiências e o experimento de novas formas de
sociabilidade. São veículos ativos no processo de (re) significação da
realidade.
É exatamente a importância que os meios de comunicação adquirem
enquanto meios extensionais de mensagens que justifica uma abordagem do
próprio processo comunicacional em que a informação pode e vai interferir na
construção de um mundo cultural diferentemente ordenado e significativo.
Nessa perspectiva Berlo (1999, p.15) afirma que em:
Qualquer situação de comunicação humana compreende a produção da
mensagem por alguém, e a recepção dessa mensagem por alguém.
Quando alguém escreve, alguém deve ler o que foi escrito; quanto alguém
pinta, alguém deve ver o quadro; quando alguém fala, alguém deve ouvir.
61
Qualquer análise do objetivo de comunicação, ou do êxito na obtenção da
reação pretendida, precisa levantar e responder a questão de a quem ela se
destinou.
O mesmo autor sinaliza a importância de conhecer a fundo o receptor da
mensagem:
Uma das dimensões de qualquer análise de propósito comunicativo é a
descoberta do receptor a quem se destinou a mensagem. O comunicador
pode destinar a mensagem a si mesmo ou a outros. Outros que a recebam,
podem ser ou não aqueles a quem se destinava. Ao produzir, receber ou
criticar qualquer comunicação, deve-se formular a determinação do objetivo
do comunicador nos seguintes termos: como o comunicador pretendia
atingir, e a quem? Objetivo e audiência são inseparáveis. Todo
comportamento de comunicação tem como objetivo a obtenção de uma
reação específica de uma pessoa específica (ou grupo de pessoas).
(Destaque do autor, BERLO, 1999, p.17).
Do mesmo modo, e também inserida no processo de comunicação,
apresenta-se a necessidade de conhecer ou estabelecer o conteúdo da
mensagem a ser transmitida. Berlo (1999, p.60-61) pondera com propriedade
que:
Podemos definir conteúdo como o material da mensagem, escolhido pela
fonte para exprimir seu objetivo. [...] O conteúdo, como código, tem
elementos e estrutura. Se tentarmos apresentar três peças de informação,
teremos de apresentá-las em alguma ordem. Uma deve vir primeiro e outra
por último. Se tivermos cinco afirmações a fazer, devemos estruturá-las –
devemos impor-lhes esta ou aquela ordem. Cada afirmativa pode ser
considerada como um elemento do conteúdo (naturalmente, cada uma é,
por si, resultante da estruturação de elementos de nível inferior). As formas
escolhidas para dispor as afirmações determinam em parte a estrutura do
conteúdo.
Em publicidade a mensagem é constituída, basicamente de dois focos.
O foco principal, explícito, diz respeito ao produto ou serviço que se pretende
anunciar. São geralmente colocados em destaque, quer sonora ou
ilustrativamente com o objetivo de que o consumidor se informe do que trata o
anúncio e tenha condições de identificar o produto ou serviço no ponto de
venda, quando e se decidir adquiri-lo. O foco secundário deve conter
elementos que despertem o consumidor para a necessidade do produto ou
serviço, bem como – e principalmente – para o desejo de satisfazê-la.
Uma vez despertada a necessidade e conhecido o objeto que pode
satisfazê-la, acorda dentro do indivíduo o desejo pelo mesmo. Para que esse
62
desejo se construa com vigor suficiente para levar o consumidor à compra, é
que se faz necessário aludir a noções que nada têm de correlatas ao objeto
propriamente. São idéias sobre estados de vida que adviriam da posse do
objeto. Aí, a mensagem é muito mais elucidativa de valores comportamentais,
culturais e econômicos.
Ao acenar para o consumidor com elementos escolhidos para ambientar
o produto ou serviço a serem vendidos, a publicidade visa construir um
conhecimento sobre modos de vida, baseado em informações que retira do
meio e para ele devolve, agora codificadas e com valor atribuído. É a
publicidade que vai dizer aos consumidores que valores estão atribuídos ao
uso deste ou daquele produto. Ela vai informar sobre padrões comportamentais
segundo códigos de consumo. E faz isso de modo quase subliminar:
Ao público interessa muito mais a satisfação que pode obter com o produto,
que o próprio produto... A questão é ter imaginação, é ser engenhoso,
criando valores que permitam aos clientes ‘enxergarem’ um valor que eles
não tinham visto antes [...]. (VANUCHI, 2005)
A publicidade é, geralmente, formatada segundo as necessidades do
mercado no que diz respeito ao tempo de exposição das mensagens, meios
pelos quais são veiculadas e territórios (praças) onde a mensagem deve atingir
os consumidores.
Um determinado produto ou serviço tem sua área de abrangência
circunscrita à logística de seu fabricante. Vale dizer, fabricam-se produtos ou
formatam-se serviços com a finalidade de serem adquiridos por um
determinado grupo de indivíduos, numa determinada região e durante um
tempo igualmente determinado.
Ao esforço de vendas se denomina campanha. É uma empreitada que
congrega meios para consecução de fins pré-estabelecidos. Nessa
perspectiva, a publicidade cria um produto informacional, aqui representado
pela campanha publicitária, destinada a recuperar a informação, na medida em
suscita no público alvo o desejo de compra.
63
Aos veículos cabe a tarefa de tornar público o teor das mensagens
produzidas pela publicidade. O rádio, a televisão, o jornal, o outdoor, a internet
são os mais comumente usados, mas não são os únicos. Em publicidade se
persegue o que se chama de “mídia criativa”, isto é o uso de quaisquer novos
meios para difundir mensagens.
A vantagem aludida é a de que, um veículo menos convencional será
notado sempre antes dos usuais, já que os consumidores se aclimatam aos
meios comumente utilizados. Na busca constante de meios diferenciados, a
publicidade torna usuais meios que, num momento primeiro tinham a favor de
si o ineditismo do uso, como, por exemplo, painéis em campos esportivos, em
transportes coletivos etc.
Campanha e veículos estão intimamente conectados, uma vez que, a
cada veículo corresponde um perfil de consumidores e uma campanha objetiva
alcançá-los de modo a não dispersar os esforços e verbas abrangendo perfis
periféricos ao pretendido. Uma campanha será composta, portanto, de tantas
peças publicitárias quantos forem os veículos escolhidos para publicitá-la. E os
veículos serão tantos quantos forem necessários para “cercar” o consumidor
onde quer que ele se encontre.
Ainda que a mídia impressa e a televisão sejam os meios mais
comumente usados, reforços de mensagens podem e são disparados, por
meios secundários, porque a publicidade não pode abrir mão de sua pretensão
de abrangência.
Ao longo do tempo, anúncios de produtos e serviços, registrados em
jornais e revistas, guardam em si dados relevantes e ilustrativos dos costumes,
dos hábitos e do modo de decodificar a realidade da época em que foram
usados para informar, além da existência dos produtos de que falam a que
argumentos e valores aludem para exercer o convencimento do consumidor.
Nesse sentido, são documentais do comportamento e, por
conseqüência, das informações que se tem e que se usa para contar, a partir
de um conceito, de uma ilustração ou de um texto, quais os elementos
relevantes ao convencimento a que se propõem.
64
Campanhas veiculam informações através de meios escolhidos e a
construção dessa informação passa pela documentação do que já é do
conhecimento do público a que se destina. Campanhas publicitárias vão mais
longe. Sobre informações dadas, constroem outras. Sobre um dado
conhecimento, aceito e praticado pelo público-alvo da mensagem, constroem
outro, que lhe é correlato e que serve explicitamente ao propósito de mercado.
Assim, campanhas de produtos e serviços guardam, nos anúncios que
os compõem, indícios claros de que informação se pretende construir, a partir
de que outras e com que finalidade.
Observar campanhas, no que têm de informativo, pode ser um caminho
para compreender os critérios de comportamento e modo de viver de um
determinado grupo frente à determinada necessidade de mercado.
À luz da teorização apresentada neste capítulo, a publicidade assume os
contornos de um sistema que cria conhecimento subjacente à produção
publicitária, visto que, ao utilizar uma estrutura para coletar informações,
permite que o mercado reconheça a informação que está agregada à
mensagem publicitária.
De tal modo, o publicitário, agente mediador da informação, trabalha a
linguagem de acordo com um modelo para obter o resultado esperado, ou seja,
que o consumidor (receptor) tome conhecimento dos “benefícios” da aquisição
de um produto ou serviço.
O modelo de instrumento de informação utilizado pelo agente mediador
na publicidade e denominado briefing, um quadro de referência de que se vale
para colher dados e tratá-los para que gerem conhecimento no público-alvo. É
por intermédio dele que os dados são colhidos, classificados e se transformam
em informações. Em sua acepção mais simples, briefing significa a passagem
de informação de uma pessoa para outra, um processo sistematizado, dotado
de objetividade e com metodologia própria. Esse é o tema a ser tratado mais
profundamente no capítulo seguinte.
65
CAPÍTULO III
A ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO NA PUBLICIDADE
3.1. A construção de um instrumento informativo para mensagem
publicitária
Kotler (2002) pondera que são muitos os fatores que influenciam a
decisão da pessoa em adquirir produtos ou serviços. Influenciar, persuadir não
são prerrogativas da mensagem publicitária, que se constitui apenas num
estímulo. Há, segundo o autor, um conjunto de fatores que atuam sobre o
consumidor. São fatores de natureza cultural, social, pessoal e psicológica,
conforme descrito no quadro 1.
Culturais Sociais Pessoais Psicológicos
Cultura
Subcultura
Classe Social
Grupos de referência
Família
Papéis e posições
sociais
Idade e estágio do
ciclo e vida
Ocupação
Condições
econômicas
Estilo de Vida
Motivação
Percepção
Aprendizagem
Crenças e atitudes
Quadro 1: Representação dos fatores de influência na decisão de compra.
Fonte: Kotler, 2002.
66
Entretanto, a mensagem publicitária, uma linguagem híbrida, sígnica,
capta todas essas influências, conforme assinala Silva (2006, p.8):
Todas essas influências, mesmo que em níveis diferentes
de importância, são consideradas e identificadas pela
atividade publicitária, principalmente, na segmentação de
seu público consumidor, no planejamento de suas ações e
na escolha da estratégia criativa. No entanto, são nas
características psicológicas e nos seus quatro fatores mais
importantes – motivação, percepção, aprendizagem,
crenças e atitudes – que o processo persuasivo de
construção da mensagem publicitária concentra sua
atenção.
Aranha e Martins (1993, p. 50) asseveram nesse mesmo sentido que:
A partir de estudos sobre a sociedade norte-americana nos anos 50,
descobriu-se que os consumidores raramente eram levados a comprar
alguma coisa movidos por apelos estritamente racionais. Esses estudos
levaram à pesquisa das motivações inconscientes e irracionais que
mobilizam o consumidor.
Entre os fatores irracionais, vamos encontrar necessidades e aspirações
que dependem da imagem que cada um tem de si e da imagem que quer
manter perante os outros. A publicidade vai agir no sentido de apresentar os
produtos como meios eficazes para satisfação dessas necessidades e
aspirações. Basta comprar o cigarro de marca tal, o relógio x, o jeans y, e as
meias w para conseguir sucesso profissional, segurança, charme,
inteligência e o que mais desejar.
O que a publicidade vende, portanto, é muito mais que o produto; é a
promessa de satisfação de uma necessidade ou aspiração que extrapola,
em muito, as possibilidades do produto.
O exemplo de mensagem veiculada em um anúncio publicitário
apresentado pelas mesmas autoras é bastante elucidativo:
O anúncio veiculado em revistas femininas “classe A”, apresenta duas
mulheres loiras de costas, com acentuado decote. Uma tem a pele bem
branca e a outra, a pele bronzeada e marcas de maiô. A chamada, em
letras grandes, diz: “Você já sabe qual das duas tem uma lava-louças x”.
Ora, o máximo que o produto anunciado pode nos prometer é louça bem-
lavada. A promessa, implícita na imagem, de tempo de lazer, local para
tomar sol, aparência (segundo à moda) bronzeada e saudável de “férias”,
ultrapassa em muito o que o produto concretamente oferece (ARANHA e
MARTINS, 1993, p. 51).
Silva (2006, p.8) complementa, ainda, sobre o âmbito de influência da
publicidade que:
67
O que efetivamente move as pessoas a tomar atitudes que as façam atingir
suas realizações pessoais é a motivação: um conjunto de necessidades e
desejos internos que precisam ser satisfeitos. Para cada indivíduo, uma lista
pessoal de metas que motivam e impulsionam a tomada de certas decisões.
Quando uma necessidade é satisfeita, outra se coloca em seu lugar e assim
sucessivamente, gerando outras motivações durante toda sua vida (SILVA,
2006, p.9)
As necessidades que motivam os consumidores, por sua vez, são
estimuladas internamente por fatores fisiológicos e sociais, explorados
comercialmente pela publicidade. A publicidade atua, portanto, no âmbito dos
estímulos de natureza fisiológica, emocional e cognitiva (KOTLER, 2002).
É importante que se registre que mesmo na órbita dos estímulos
fisiológicos (frio, fome, etc.), aquelas que se colocam como necessidades
essenciais para sobrevivência humana, percebe-se nitidamente a presença da
publicidade no estreitamento desses elementos. Embora não haja consenso
entre os estudiosos, é visível a atuação publicitária nos segmentos econômicos
que atuam na satisfação dessas necessidades básicas, persuadindo no sentido
de colocar o próprio alimento em segundo plano, dando destaque à marca x ou
y. No que diz respeito ao estímulo emocional Silva (2006, p.9-10) considera
que:
[...] baseia-se nas aspirações das pessoas, no objetivo de se alcançar ou
possuir algo. Nesse caso, cabe à propaganda apenas apresentar caminhos
para que o consumidor, impelido a buscar meios de satisfazer suas
necessidades – um novo carro que o ajude a ter status ou uma jóia que
conquiste o amor de sua vida – transforme seus sonhos em realidade.
O estímulo cognitivo, por sua vez, baseia-se num “conhecimento ou
experiência pré-existente na pessoa, despertando a vontade no consumidor de
resgatar e reviver esses momentos, mesmo que por meio de um produto ou
serviço” (SILVA, 2006, p.10).
Essa perspectiva tem sido referência para definição de estratégias
mercadológicas, notadamente embasados nos estudos elaborados por Maslow
(apud SILVA, 2006, p.10), para quem as necessidades humanas encontram-se
hierarquizadas, conforme demonstra a figura abaixo.
68
Figura 6: Pirâmide de Maslow.
Fonte: Ricardo Pedrosa. O ato de venda segundo Maslow. Quem diria? 2004.
www.gentteficaz.com.br
De acordo com estudo efetuado por Maslow (1970), as necessidades
humanas podem ser classificadas em cinco níveis (figura 6). Na base da
pirâmide estão alocadas as necessidades básicas, elementares e na medida
em que essas são satisfeitas, o interesse humano desloca-se, de modo
progressivo, para os níveis mais altos. Entretanto, o consumidor também pode
não se identificar com o conteúdo das mensagens publicitárias, seja pelo
excesso de estímulos, que acabam provocando o desinteresse e/ou pela não
identificação com o produto ou serviço. Em outras palavras, o consumidor
também atua efetivamente no processo de escolha, visto que recebe,
seleciona, organiza e interpreta as informações que recebe (SILVA, 2006).
A ênfase da publicidade é, pois, na persuasão e não no convencimento,
o que remete para a consideração de Reboul (2004) sobre a retórica
persuasiva. Para esse autor, a retórica é constituída pelo discurso,
compreendido como toda produção verbal, escrita ou oral dotada de uma certa
unidade de sentido. A retórica, porém, se encontra unicamente nos discursos
que têm como finalidade persuadir. Esse é o caso do discurso publicitário
(SILVA, 2006, p. 23).
69
O discurso persuasivo fundamenta-se em argumentos de ordem racional
(logos) e de ordem afetiva (ethos e pathos). Assim, na retórica persuasiva
sentimentos e razão são indissociáveis. No logos, como o próprio nome indica,
a retórica atua no âmbito dos argumentos lógicos, racionais. No ethos a
argumentação atua no campo afetivo operando “na transferência de uma
suposta credibilidade de seu autor ou locutor para o discurso” do mesmo modo
que o pathos apelando “para a emoção do auditório como técnica persuasiva,
um tipo de argumentação que a publicidade está repleta de exemplos (amor,
humor e terror)” (SILVA, 2006, p. 23).
Assim,
A linguagem, poderosa ferramenta de persuasão e sedução utilizada pela
propaganda, apresenta os principais tipos de manipulação de uma narrativa:
a tentação, a intimidação, a sedução e a provocação. Essa narrativa se
constitui da argumentação, de uma retórica construída por figuras de
linguagem que emprestam ao discurso uma maior expressividade (SILVA,
2006, p. 26).
De tal modo, para que a mensagem publicitária seja compreendida, faça
sentido para o receptor, para que este esteja suscetível à persuasão exige
desse mesmo receptor uma condição, conforme adverte Silva (2006, p.27):
Persuadir pelo discurso publicitário, utilizando as figuras de linguagem,
pressupõe um vasto repertório por parte do receptor (destinatário) para o
entendimento da mensagem. Quando esse repertório é insuficiente
certamente a propaganda não será compreendida e, portanto, seu efeito
será nulo.
Com base na relação tripartite proposta por Pierce (1990), em sua teoria
semiótica, a análise do processo da comunicação pode ser compreendida ou
estudada a partir de três perspectivas: 1) a função da comunicação; 2) a
estrutura ou forma da comunicação e 3) o significado. A apreensão do
significado envolve, necessariamente, pelo menos duas pessoas: o emissor
(aquele que fala) e o receptor (aquele a quem se fala). O significado encontra-
se entre esses dois sujeitos da relação comunicativa “materializado em algum
código, que, por sua vez, acontece em um canal que carrega a comunicação”
(SILVA, 2006, p.30).
70
Na mensagem publicitária esses papéis (emissor, receptor, significado,
canal, código, contexto) são claramente identificáveis:
O emissor é o anunciante e o receptor é o leitor, o significado transmitido
refere-se ao produto (mais especificamente uma tentativa de induzir o leitor
a adquirir o produto), o código (no caso do anúncio impresso) é a
linguagem, mas também uma certa espécie de código visual, o canal
consiste em publicações impressas e o contexto inclui aspectos como a
situação do leitor (já tem o produto? Tem condições de adquiri-lo?, etc.), a
publicação em que o anúncio aparece e – por último, mas não menos
importante – o conhecimento de que o texto é um anúncio (VESTERGAARD
e SCHRODER apud SILVA, 2006, p.31).
De tal modo, como assinala Silva (2006, p.32):
A publicidade efetivamente comunica, informa (denota) e, por pressuposto,
também leva, a um público específico, uma mensagem persuasiva e,
naturalmente, necessária para efetivação do consumo [...].
Além de informativo, o conteúdo da publicidade é repleto de insinuações
(deduções), isto é, de mensagens figuradas que levam o consumidor a uma
atitude implícita (consumo).
Silva (2006, p. 33), assevera que “portanto, com base nessa teorização,
a função persuasiva da linguagem publicitária consiste, basicamente, em tentar
mudar a atitude do receptor que, juntamente com outras técnicas [...], cria a
consonância da mensagem com seu consumidor [...].”
A elaboração da mensagem publicitária, desse modo, constitui-se num
processo complexo, dependendo, para sua estruturação, organização e
eficiência, de instrumentos que reúnam dados, que se transformam em
informação e depois em conhecimento por parte dos criadores da mensagem
publicitária. Nessa perspectiva, a publicidade é um fenômeno informacional, na
medida em que objetiva transformar a estrutura cognitiva do consumidor;
informando-o sobre o produto ou serviço. Em outras palavras, a mensagem
publicitária, mesmo atrelada ao apelo do consumo, refere-se a valores do meio
social para modificar consciência, instaurando modos de ver o mundo,
comportamentos e atitudes em seus receptores.
Diante do exposto, há que se questionar como se dá esse processo,
como assegurar que se está utilizando códigos, linguagem que serão
decodificadas corretamente pelo consumidor, fazendo com que este atribua
71
sentido à mensagem? Essa é a questionamento basilar dessa investigação, na
medida em que compreende o publicitário como agente mediador da
informação, uma vez que trabalha a linguagem, de acordo com um modelo –
briefing – para obter como resultado o conhecimento do consumidor sobre os
benefícios da aquisição de determinado bem.
De fato, o publicitário constrói um quadro de referência que serve de
base para a construção da mensagem publicitária e para a definição de
estratégias para a divulgação ou a promoção de um produto ou serviço.
O processo de criação de uma mensagem publicitária envolve um
conjunto de atividades e um ordenamento próprio, fases específicas,
envolvendo uma metodologia adequada. Há uma preparação que propicia o
trabalho criativo, que culmina com uma campanha, um anúncio ou qualquer
outro tipo de mensagem publicitária.
O planejamento das ações, as estratégias adotadas e a eficiência na
utilização da linguagem apropriada, a definição dos destinatários e a escolha
dos canais de comunicação a serem utilizados partem de algum lugar, tem uma
base estrutural, da qual decorre o processo de criação da mensagem
publicitária. Esse momento inicial é representado pelo briefing, que se
apresenta como um instrumento de informação, com objetivo de obter dados
significativos que ajudarão a entender o produto, seu público-alvo e suas
necessidades, o contexto em que se encontra inserido, e reconhecer os
elementos que podem representar um problema para a consolidação da
mensagem. Nessa perspectiva, essa etapa do processo se aproxima bastante
do papel desempenhado pelo analista quando o objetivo é desenvolver um
sistema de software, na medida em que este profissional deve se aproximar do
usuário para reunir dados significativos sobre suas necessidades,
abandonando quaisquer posturas pré-concebidas.
O briefing, de modo geral, designa a passagem da informação de um
ponto para outro. Trata-se de um instrumento ou meio de organização de
dados sobre um produto ou serviço, assegurando que a passagem da
informação se dê corretamente, reduzindo o grau de incerteza quanto ao
72
sucesso da mensagem publicitária, possibilitando a decisão correta. Funciona
como um levantamento de dados sobre o produto, de modo quantitativo, mas
organizados de modo a propiciar a extração da informação e mudança na
estrutura cognitiva.
De tal modo, o profissional responsável pela coleta desses dados deve
adotar uma forma de comunicação ampla e significativa com o cliente, de modo
a garantir que todos os aspectos importantes sejam ressaltados, externalizados
e formalizados.
A natureza das mensagens publicitárias, como fenômeno
comunicacional, permite a definição de alguns itens a serem considerados no
momento de coleta de informações, permitindo a elaboração de um roteiro a
ser observado na construção desse instrumento, lembrando que comunicar é
também compartilhar elementos de comportamento, modos de vida, segundo
um conjunto de regras comuns entre emissor e receptor.
Nos estudos de comunicação se destacam duas grandes correntes
teóricas: uma que compreende a comunicação, sobretudo, como um fluxo de
informação, como um processo e a segunda que a compreende como um
fenômeno que abarca a produção e troca de sentidos, voltada, pois, aos
estudos semióticos (FIDALGO, 1999).
A corrente processual enfatiza o elemento transmissão de mensagem
entre emissor e receptor, a partir do pressuposto de que as mensagens já
contêm o seu significado determinado. A corrente semiótica, por sua vez,
enfatiza a formação da mensagem, a criação dos significados. De tal modo,
para que a comunicação exista é preciso criar uma mensagem a partir de
signos, passíveis de serem compreendidos pelo receptor. Para corrente
semiótica o conteúdo e o processo de comunicação são indissociáveis. Assim,
não se estuda a comunicação sem passar pelo estudo das relações sígnicas,
dos códigos criados culturalmente.
A análise que nessa investigação se faz sobre o briefing como
instrumento de informação, não é reducionista, mas em razão do elemento
persuasivo presente na mensagem publicitária, muitas vezes é preciso enfocar
73
mais o sistema estruturado de signos e códigos, de modo a reduzir incertezas e
eliminar as possibilidades de distorções.
Trata-se de uma proposta de estudo focada, portanto, na Ciência da
Informação, visto que compreende “o estudo das propriedades gerais da
informação e a análise dos processos de sua construção, sua comunicação e
seu uso” (LE COADIC, 1996, p. 516). E na Ciência da Comunicação uma vez
que se debruça sobre um tipo específico de mensagem.
É, portanto, o momento de confluência entre esses saberes que permite
expandir a compreensão do briefing como um instrumento que sistematiza a
informação, uma vez que compreende um conjunto de componentes que
coleta, processa, armazena e distribui informações destinadas a apoiar a
tomada de decisões, a coordenação não de uma organização, mas de
estratégias de aproximação com o mercado, por intermédio da publicidade.
Com efeito, antes de traçar as estratégias publicitárias mais apropriadas
ao produto ou serviço, é necessário formalizar um conjunto de informação,
atendendo a certos requisitos técnicos, de modo a descrever e situar alguns
aspectos essenciais para a compreensão e definição das etapas subseqüentes
do processo de produção publicitária.
Essa etapa desenvolve-se entre o profissional responsável pelo
Atendimento numa agência de publicidade e o cliente. Trata-se, conforme já
assinalado anteriormente, de um momento dedicado ao levantamento de dados
que depois de processados podem ser significativos: Lembrando que:
[...] enquanto objeto da Ciência da Informação, a informação aparece como
produto de um processo intencional, como algo construído, portanto, cujo
propósito é o de promover a adequação significativa dos conteúdos
(TÁLAMO, 2002, p. 11).
Ou nas palavras de Le Coadic (1996, p.5) quando afirma que:
A informação comporta um elemento de sentido. É um significado
transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um
suporte espaço-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc.
74
Nesse processo inicial da publicidade é possível identificar o campo de
interesse de estudo para a Ciência da Informação, uma vez que esta nas
palavras de Shera e Cleveland (apud BATISTA 2003, p.27):
[...] é a ciência que investiga as propriedades e comportamento da
informação, as forças que regem o fluxo da informação e os meios de
processamento da informação para uma acessibilidade e usabilidade
ótimas. Os processos incluem a origem, disseminação, coleta, organização,
recuperação, interpretação e uso da informação [...].
São essas informações que possibilitarão:
[...] um novo ponto de vista para a interpretação de eventos ou objetos, o
que torna visíveis significados antes invisíveis ou lança luz sobre conexões
inesperadas. Por isso, a informação é um meio ou material necessário para
extrair e construir conhecimento. Afeta o conhecimento acrescentando-lhe
algo ou o reestruturando (MACHLUP apud BARRETO, 1994, p.7).
Considera-se, assim, esse momento como o início do processo
informativo, comunicativo e criativo, conforme será abordado no próximo
tópico, enfocando a arquitetura da informação na mensagem publicitária, tendo
como ponto fundamental, a elaboração do briefing.
3.2. O processo de desenvolvimento do briefing
Para os profissionais de publicidade, o briefing se assemelha a um guia,
um instrumento que confere validade e cria critérios para escolhas corretas
sobre a criação de uma mensagem publicitária. Sua relevância, seus princípios
se aplicam a outras áreas da comunicação, de marketing e promoção de
vendas.
A sistematização das informações num briefing não se constitui numa
tarefa simples. O instrumento precisa conter informações precisas, nem
demais, nem de menos, não pode ser muito extenso, nem curto de demais, não
deve ser dogmático (apresentando idéias pré – concebidas), interpretar dados
de modo claro. O briefing e o planejamento em publicidade são etapas
inseparáveis. De modo geral, o planejamento, assentado no briefing, é que
fornece os objetivos a serem atingidos, de modo claro e definido.
A elaboração de um briefing constitui-se num processo de investigação,
levantamento sistemático, troca de informações, análise, seleção, mantendo o
que for relevante e descartando o que não for essencial para o
desenvolvimento da mensagem publicitária, colhendo dados relevantes para
determinar informações claras sobre o produto, o mercado e o público -alvo.
Como um processo de organização da informação, a elaboração do
briefing dispõe de procedimentos específicos como o questionamento seletivo
com toda a equipe responsável pelas diversas áreas da agência de
publicidade; a aplicação de questionários-padrões, preenchidos pelos gerentes
de produto ou pelos responsáveis pela área de marketing do anunciante,
agrupando as informações requeridas em vários tópicos, numa atividade
predominantemente de escuta.
Os dados normalmente são colhidos junto às áreas de marketing e a
transformação em informação deve ser responsabilidade da área de
76
publicidade. Numa perspectiva bastante sintética, as responsabilidades são
assim definidas:
Áreas de marketing
a) tornar as informações relevantes sobre os produtos e mercados
acessíveis para área de publicidade;
b) auxiliar a área de publicidade a formular os objetivos a serem
atingidos adequados aos fins do marketing e de rentabilidade
do produto;
c) aprovar os objetivos, planos e custos preparados e
apresentados pela área de publicidade;
d) decidir, se for o caso, sobre o planejamento estratégico.
Área de publicidade do anunciante
a) garantir que as ações de publicidade contribuam positivamente
com o plano de marketing;
b) obter as informações necessárias para formulação dos
objetivos, inclusive informações adicionais buscadas em
pesquisa, dados publicados, etc;
c) formular os objetivos a serem atingidos, ajustando-os de
acordo com as contribuições dos demais participantes do
processo, de modo a torná-los compatíveis com a verba
disponível;
d) preparar um briefing preliminar, contendo as informações sobre
o produto, o mercado e o consumidor e apresentar os objetivos
a serem atingidos;
77
e) disponibilizar para a agência de publicidade todas informações
adicionais necessárias à formulação e execução do
planejamento;
f) aprovar o planejamento e o plano de trabalho elaborados pela
agência de publicidade e submetê-los, se necessário, à
apreciação da área de marketing.
Agência de publicidade
a) aconselhar e dar suporte à área de publicidade na formulação
dos objetivos;
b) obter seja da área de publicidade ou por suas próprias fontes
todas as informações pertinentes ao produto;
c) realizar o planejamento estratégico, o plano de trabalho e o
orçamento e submetê-los ao cliente;
d) realizar as tarefas aprovadas, sob a supervisão da área de
publicidade do cliente.
De um modo geral, pode-se organizar o processo de desenvolvimento
de um briefing, a partir da abordagem de alguns tópicos essenciais, tendo
sempre como balizas princípios como eficácia e objetividade, tais como:
Produto
Nome, razões, logotipia, logomarca, slogan.
Categoria.
Local / modo de uso.
Embalagem.
78
Composição.
Imagem de mercado.
Diferenças em relação à concorrência.
Pontos positivos.
Pontos negativos.
Influências as quais está exposto.
Mercado
Tamanho.
Mercados principais / secundários.
Participação do produto no mercado.
Evolução do mercado.
Sazonalidade.
Consumidor
Quem consome (perfil)?
Hábitos do consumidor – relativos ao produto / não relativos ao
produto.
Influências às quais está exposto.
Quem compra?
Onde compra?
Quem decide a compra?
Distribuição
79
Quais canais?
Há restrições à distribuição?
Como melhorá-los?
Preço
Qual a relação com o preço do concorrente (similar)?
Há restrições ao estabelecimento do preço?
Qual a relação do consumidor com o preço?
Compra porque é caro / não compra porque é caro?
Compra porque é barato / não compra porque é barato?
Razões de Compra
Racionais? Quais?
Emocionais? Quais?
Qual prevalece?
Que benefícios o consumidor espera do produto?
Concorrência
Quais os concorrentes diretos?
Quais seus preços?
Qual sua política de vendas?
Quais seus pontos positivos?
Quais seus pontos negativos?
80
Quais suas principais campanhas?
Pesquisa
Há pesquisas? Se houver, comente os resultados.
Objetivos de mercado
Aumento de participação / venda.
Manutenção da participação / venda.
Objetivos de comunicação
Que pessoas devem vir a conhecer o produto?
Sob quais aspectos e por quê?
Conteúdo de Comunicação
Qual o conteúdo básico a ser transmitido?
Que pontos ressaltar?
Que pontos imitir?
Mídia
Quais os veículos recomendados?
Qual a verba disponível?
Qual período?
Qual praça?
Promoção
81
Deve haver? Por quê?
Quais as peças recomendadas?
Na elaboração do briefing há, portanto, uma fase de definição. Nessa
fase o profissional de publicidade deve identificar informações que serão
processadas, elaboradas e exploradas pelos agentes responsáveis pela
criação dos anúncios. É nessa fase que se dá a coleta de dados e sua
transformação em informação, quando são dispostos de modo sistemático, a
fim de ganharem significação, eliminando elementos que podem distorcer ou
desviar dos objetivos traçados. Nessa etapa, os dados estruturados começam
a ser traduzidos na linguagem própria. Depois, essas informações servirão de
base para as definições das fases posteriores, conforme demonstra a figura 7.
Figura 7: Representação gráfica do fluxo da informação na elaboração do briefing
O fluxo informacional contido no briefing é intensivo e qualquer
interpretação errônea ou omissão de informações relevantes pode acarretar
dificuldades no desenvolvimento e na recepção da mensagem publicitária pelo
público-alvo.
Coleta de dados
Atribuição
de
Significado
Informação
Sistematização
Briefing
82
3.2.1. O briefing como instrumento de coleta e organização da informação
para produção de sentido
O briefing enquanto instrumento de trabalho, na produção da publicidade,
propõe uma estrutura de organização das informações acerca do produto ou serviço,
do mercado e do consumidor de modo a tratá-las com vistas à produção de sentido
do que seja motivador para que a publicidade obtenha seu propósito de venda de
bens.
A seguir apresenta-se um modelo de briefing, elaborado a partir da campanha
do sabonete Dove, fabricado pela Unilever, e do automóvel Stilo, fabricado pela Fiat,
como exemplos práticos de dados colhidos para elaboração dos anúncios
publicitários, conforme tem sido descrito teoricamente ao longo deste trabalho de
dissertação.
83
PRODUTO
Nome: não é só uma citação do nome pelo qual o produto/serviço é conhecido.
É uma análise objetiva do seu significado que traduz a imagem que se
pretende seja a do consumidor a respeito do produto/serviço. Analisa-se
também o modo como esse nome é grafado, isto é como a transcrição do
nome pode servir à decodificação – da parte do consumidor – dos atributos do
produto / serviço.
DOVE = pomba, suavidade, maciez, leveza.
Logotipia = tipologia cursiva, leve, azul, com movimento.
STILO = modo de vida socialmente almejado.
Logotipia = tipologia sóbria, elegante.
Categoria: define-se, por exclusão, a categoria a que pertencem o
produto/serviço, de modo a que se elabore uma lisa de atributos cada vez mais
exclusivos.
DOVE = cosmético, sabonete, cremoso, perfumado.
STILO = automóvel, esportivo, com acabamento luxuoso e profusão de
acessórios.
84
Modo de uso: Aqui, se dividem os modos de uso em modo proposto, ou seja,
a maneira convencional e lógica de uso do produto/serviço, e o modo chamado
“real”, isto é, o porquê do uso do produto/serviço.
DOVE = uso proposto: limpeza e recondicionamento da pele
uso real: obtenção de aparência jovem, conforme o modelo
socialmente aceito.
STILO = uso proposto: locomoção, conforto e tecnologia.
uso real: distintivo de posição social, definição de imagem análoga à do
produto.
Composição: relaciona-se à composição física do produto/serviço com vistas a
determinar a existência ou não de valores agregados, como marca, conceitos
etc.
DOVE = ceclofenato de sódio, ácido estamínico sulfato de iôdo, água, atc. +
creme hidratante. Credibilidade da marca, pioneira neste tipo de produto.
STILO = Motor 1.8V Flex, drive by wire, banco traseiro bi partido, vidros
elétricos, computador de bordo. Fator de diferenciação pelo preço e pelo
design.
Imagem de mercado: especula-se a respeito da convergência entre a imagem
proposta , desde o lançamento, até a imagem atual que o produto/serviço
suscita na mente do consumidor. No caso de lançamento de produto/serviço,
neste item se faz constar a imagem a ser construída junto ao público alvo.
85
DOVE = qualidade, excelência, tradição.
STILO = status diferenciado, superioridade, tecnologia.
Diferenças em relação à concorrência: procura-se notar que pontos podem
ser ressaltados frente aos produtos / serviços similares que os diferencie
positivamente ou não dos concorrentes.
DOVE = primeiro sabonete de creme hidratante, marca tradicional Unilever.
STILO = único na sua categoria (modelo/preço), aceitação da marca Fiat.
MERCADO
Definem-se aqui os mercados primários e secundários dos produtos/serviços
em termos de possibilidades de segmentação do público alvo.
DOVE = mercado principal: mulheres de classe A/B, de 18 a 60 anos.
mercado secundário: homens, de classe A/B, de 30 a 50 anos.
STILO = mercado principal: homens de classe A/B, de 20 a 50 anos.
mercado secundário: homens e mulheres de classe A/B,
de 30 a 50 anos.
Participação do produto no mercado:
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Qual o percentual que representa a adesão do produto/serviço, no mercado
composto pelo universo de similares?
DOVE = 60% do mercado de sabonetes hidratantes.
STILO = 40% do mercado de automóveis 1.8, com idêntica tecnologia.
Sazonalidade:
Períodos propícios à aquisição do produto/serviço.
DOVE = maior incidência de compra no verão devido à exposição da pele
ao sol.
STILO = maior incidência de compra no final de ano devido à maior circulação
de dinheiro neste período e ao lançamento de modelos novos.
CONSUMIDOR
Quem consome: definição abrangente
DOVE: mulheres de todas as idades, classe A/B.
STILO = homens e mulheres, classe A/B.
Hábitos do consumidor: aqui, mais importante que os hábitos do consumidor
em relação ao produto/serviço, são os hábitos não relativos ao produto/serviço,
porque será através desses que a mensagem da propaganda visará atingí-lo.
Relativos ao produto:
87
DOVE = uso diário, individual, usa-se até o último pedaço.
STILO = locomoção, demonstração de prosperidade e contemporaneidade.
Não relativos ao produto:
DOVE = lêem revistas de moda, assistem televisão, gostam de atualidades,
visitam shopping centers, estão atualizadas com procedimentos estéticos,
praticam caminhadas, ouvem música popular.
STILO = lêem revistas de esportes, assistem programas noticiosos e
esportivos, interessam-se por carros em geral, estão atualizados com novas
tecnologias, ouvem música moderna.
Quem compra e quem decide a compra: considera-se que, nem sempre o
consumidor final do produto/serviço é quem decide a compra, assim é
necessário identificá-los, para que a publicidade os contemple igualmente, de
modo a facilitar a realização do impulso de aquisição do bem.
DOVE = as mulheres (usuárias) compram.
As mulheres (do grupo de referência) decidem a compra através da
imposição de padrões propostos pelo produto.
STILO = os homens (usuários) compram.
O grupo de referência (homens e mulheres) decide a compra através
da aceitação que demonstram do estado de vida do usuário do bem.
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Distribuição
Desenha-se, neste item o trajeto que o bem percorre até o consumidor final,
estudam-se possíveis restrições e se sugerem melhorias, sempre com vistas à
satisfação do consumidor já definido.
Quais canais?
DOVE = farmácias, supermercados, lojas de conveniência.
Como melhorá-los? Adotando displays chamativos nos pontos de
venda. Distribuindo amostras.
STILO = concessionárias da marca, lojas especializadas
Como melhorá-los? Instituindo test drives a partir dos pontos de
venda, que poderiam abranger lugares de trânsito de consumidores
em potencial (clubes, condomínios etc.)
Preço
Relação com o preço do concorrente ou similar: estabelece-se a relação
com base na existência ou não de diferenciais que a justifiquem.
DOVE = mais caro, em função da distribuição eficaz e marca conceituada.
STILLO = mais caro, em função do diferencial da marca.
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Relação do consumidor com o preço: como o consumidor decodifica o valor
do preço do produto/serviço. Aqui, usam-se quatro categorias para
classificação do comportamento do consumidor frente ao bem anunciado:
1. o consumidor compra porque é caro – quando o que está à venda é,
principalmente o status agregado ao bem, então é o valor agregado que se
cobra. É o caso dos produtos “de marca”.
2. o consumidor não compra porque é caro – quando o status que se pretende
atribuir ao bem não justifica o preço que se lhe dá. É o caso de marcas não tão
famosas que não chegam a atribuir diferenciação a que as usa/consome.
3. o consumidor compra porque é barato – quando o bem tem caráter de
uso/consumo transitórios, é passível de substituição. É o caso dos produtos
descartáveis.
4. o consumidor não compra porque é barato – quando o baixo preço do bem
leva o consumidor a supor a ineficiência do seu desempenho ou qualidade. É o
caso de alimentos, roupas etc.
DOVE = compra apesar de caro, porque persegue a promessa de bem estar
contida no uso do produto .
STILO = compra porque é caro já que persegue a promessa de status
diferenciado contida na exposição do produto.
Razões de compra: Toda aquisição se dá por razões emocionais e racionais.
Cabe à publicidade discernir qual a natureza dessas razões e motivações e
qual delas prevalece para que o discurso não se perca em argumentos vagos.
90
Racionais, quais?
DOVE = tratamento de hidratação da pele, manutenção da aparência saudável.
STILO = uso de um automóvel eficiente, ágil, econômico e de desigh
contemporâneo.
Emocionais, quais?
DOVE = busca do padrão ideal, aceitação, beleza.
STILO = sentimento de superioridade, predominância sobre os demais,
imagem de atualidade e prosperidade.
Qual prevalece? *
DOVE = prevalecem as emocionais.
STILO = prevalecem as emocionais.
* essa prevalência deve, sempre, coincidir com os benefícios esperados pelo
consumidor, o que corrobora o acerto na escolha dos conteúdo da
comunicação.
Concorrência
Definem-se quais os concorrentes diretos e indiretos, quer sejam similares ou
não, ,isto é, concorre com o produto/serviço em pauta, todo ítem que, de
qualquer forma, satisfaz as mesmas necessidades do consumidor.
Definem-se, igualmente os preços e as políticas de venda dos concorrentes,
seus pontos positivos e negativos frente às pretensões de mercado e quais
suas principais campanhas.
91
Por principais campanhas se entende sob que argumentos o concorrente foi
anunciado, independentemente dos seus atributos reais.
DOVE = concorrente: Francis Hidratta.
Menor preço, distribuição menos eficiente (menos pontos de venda)
Argumento de campanha: “Francis, para o corpo e para a alma”.
STILO = concorrente: VW Golf.
Maior preço, credibilidade da marca
Argumento de campanha: “Você conhece, você confia”.
Objetivos de mercado
Definem-se os objetivos de mercado entre aumento ou manutenção de venda e
de participação.
Venda significa número de unidades a serem comercializadas (share of market)
Participação significa resíduo de lembrança do produto na mente do
consumidor (share of mind).
DOVE = manutenção de venda e aumento de participação.
STILO = aumento de venda e aumento de participação.
Objetivos de comunicação
92
Que pessoas devem vir a conhecer o produto/serviço? Sob que aspecto?
Por quê?
DOVE = mulheres, classe A/B, de 50 a 60 anos.
Sob o aspecto do rejuvenescimento que a hidratação confere à pele.
Porque esse público procura parecer mais jovem.
STILO = mulheres, classe A/B, de 30 a 40 anos.
Sob o aspecto do status atribuído ao proprietário do carro.
Porque esse público tende a exibir sinais de sucesso.
Conteúdo da comunicação
Que pontos ressaltar? Que pontos omitir?
DOVE = ressaltar a responsabilidade em parecer mais jovem.
omitir o preço do produto (o mais caro da categoria).
STILO = ressaltar o design e a originalidade.
omitir o preço ( baixa relação custo/benefício).
Mídia
Definem-se os meios, através dos quais, a mensagem deve ser veiculada,
levando-se em conta a presença do público alvo, suas preferências e a
logística do produto.
93
Considera-se igualmente, a credibilidade do veículo a ser usado, uma vez que
o meio interere na recepção da mensagem, emprestando a ela a veracidade de
que é alvo por parte dos consumidores que lhe são próprios.
DOVE = revistas de atualidades, moda.
televisão: programação de entretenimento.
STILO = revistas de esportes e motores.
televisão: programação de notícias e esportes.
A análise desse modelo permite algumas considerações sobre a
mensagem publicitária e sobre a função informativa do briefing, que se coloca
como um elemento do processo de criação publicitária, quando se dá
efetivamente o processo de produção de sentido.
Nesta direção, Kowarick (2002, p.2) considera que:
O processo de criação publicitária é, sem dúvida, um processo de produção
de sentido: alguns sistemas de linguagem precisam interagir, ou melhor, são
utilizados para a elaboração de uma peça de comunicação publicitária.
Mesmo que esse processo ocorra, via de regra, em agências de
Comunicação, essa clausura não implica em um isolamento. Ao contrário, o
processo de criação publicitário está em relação com o mundo, pois a peça
de comunicação ou texto publicitário deve, depois de finalizada, produzir um
sentido em um mercado-alvo previamente escolhido.
Ao que a autora acrescenta:
Por outro lado, o processo de criação publicitária é uma parte do discurso
da comunicação publicitária. Um discurso é um conjunto textual com uma
certa abordagem. E o que define um discurso é o conjunto de textos e
práticas textuais que vinculam um mesmo acontecer. O discurso da
94
comunicação publicitária é composto pelas peças de comunicação
publicitária, por documentos – como o briefing geral, o planejamento, o
plano de mídia, o briefing, entre outros – que participam do processo de
criação publicitário, pelos livros e artigos publicados sobre o tema e
também, pelas disciplinas acadêmicas ministradas nas faculdades de
Comunicação Social, por palestras, programas de televisão, de rádio e, até,
pelos comentários que abordam o assunto (KOWARICK, 2002, p.2).
Compreendido como um campo de produção complexo e situado na
confluência de vários saberes, a comunicação publicitária tem, em sua
composição, o viés da informação, definida como qualidade da realidade
material de se organizar e de se permitir classificar em um sistema . (ZEMAN
apud AZEVEDO NETTO, 1999).
E, ainda, quando se pensa na associação entre texto e informação, o
briefing se apresenta como uma estrutura de texto capaz de modificar a visão
de mundo do receptor. Uma coleção de signos propositadamente estruturada
por um emissor para provocar mudanças na estrutura-imagem do receptor
(BELKIN e ROBERTSON, 1976).
As informações reunidas no briefing podem ser observadas no começo
e/ou no final do processo de transferência da comunicação publicitária, na
medida em que a informação passa a ter significado para o receptor,
desencadeando o conhecimento, introduzindo um conhecimento novo
(BARRETO, 2005).
Trata-se, como se disse anteriormente, de um processo dotado de
complexidade, pois o fluxo da informação não é um fenômeno mecânico, pelo
contrário, encontra-se envolvido pelo contexto social, político e histórico no qual
se situam os sujeitos (emissor e receptor). De tal modo, o profissional de
publicidade encontra seu espaço de atuação, mediando as relações entre a
comunicação publicitária, a sociedade e o mercado:
A ‘institucionalização’ do discurso da comunicação publicitária gera uma
indústria publicitária. Autoriza o agente discursivo a reter o conhecimento
sobre o ‘saber-fazer’ comunicação publicitária. Desse modo, o agente
publicitário redefine a relação entre empresas e sociedade; torna-se
provedor das escritas publicitárias, participando da rede de informação e
pesquisa que busca diagnosticar os problemas de mercado e indicar
estratégias de ação mercadológica-comunicacional para a penetração de
empresas no mercado-alvo escolhido (KOWARICK, 2002, p.4-5).
95
Por outro lado, a análise do processo de produção da mensagem
publicitária constitui a base do processo de criação. Nessa perspectiva, é
possível também apreender o processo de produção da mensagem publicitária
“com base nos códigos que o articulam e nas marcas discursivas encontradas
nas escritas da comunicação publicitária” (KOWARICK, 2002, p.6).
À luz desse entendimento, a autora acrescenta que:
Vale lembrar que o código constitui um conjunto de regras que não buscam
um fechamento, ao contrário articulam-se como uma matriz. São os códigos
que, como uma rede, possibilitam a construção de sentido [...].
Os códigos que tramam a produção do discurso de comunicação publicitária
são encontrados, como marcos textuais, no briefing. Devem apresentar-se
também como marca textual nas peças da comunicação publicitária
(KOWARICK, 2002, p.7).
Aliás, a autora vai mais longe ao propor reconhecer a presença do
elemento criativo desde o início do processo de produção da mensagem
publicitário, ou seja, desde o momento em que a informação se constitui:
[...] Posso, por isso, questionar se a criativa de encontra exclusivamente no
processo de feitura da peça de comunicação. Desse questionamento surge
uma segunda pista sobre a criatividade: proponho que seja vista como
base, ou matéria prima, de todo processo de produção de sentido
publicitário: existe possibilidade de criatividade no trabalho realizado no
departamento de atendimento – na elaboração do briefing, no departamento
de mídia – nas escolhas dos veículos, e nos departamentos de produção –
na produção (realização material) das escritas publicitárias (KOWARICK,
2002, p.10).
De tal modo, na proposição acima, o briefing “cumpre um duplo papel:
restringir e fomentar o processo de criação” e porque não dizer também o
processo de produção de sentido (KOWARICK, 2002, p.10).
Entretanto, a concepção do briefing, como um instrumento informativo,
pode ser apreendida, também, sob a perspectiva do receptor da mensagem
publicitária, ao se considerar que:
96
O consumidor não representa mais um território de conquista sobre o qual
as empresas se lançam para plantar tantas bandeiras quantas for possível,
mas se encontra, como a empresa no interior de fluxos de comunicação que
tendem a alterar a ambas (DI NALLO apud CASAQUI, 2003, p.3-4).
Segundo Casaqui (2003, p.4):
Extraímos do trecho acima a idéia de que, na comunicação, inclusive na
publicitária, há um campo simbólico de interinfluência. Há as imagens do
anunciante e do público-alvo que atravessam todo o processo publicitário,
que estão em relação contínua e que se ajustam a cada nova tomada de
voz. São imagens sustentadas discursivamente no modo de um parecer que
constitui a identidade/identificação de ambos.
À luz dessa compreensão, o consumidor-receptor tem um perfil não
homogêneo que precisa ser estudado de modo não estereotipado, visto que no
mundo contemporâneo o indivíduo transita por inúmeros ambientes sociais e
dialoga em inúmeras variantes de relação de poder. Essa característica torna a
comunicação uma tarefa complexa. Dito de outro modo, o público-alvo tem
estilos de consumo transitórios, assim como seus gostos e comportamentos:
Os produtos se comunicam com as pessoas. Revestidos pela linguagem,
inseridos em contextos comportamentais edificados em sistemas de
significação, sua ostentação é uma maneira de expressar valores a que se
está identificado. Seu consumo sígnico, independente da aquisição do
produto, é uma maneira de alinhar a determinado estilo de vida,
simbolicamente. Questão de construção de uma identificação que se
dissemina cada vez mais, em um mundo em que o poder econômico é
soberano. O que torna imperativa a construção da diferença, para produtos,
pessoas, credos, idéias e movimentos sociais, através da fixação de uma
marca. Questão de sobrevivência no mercado simbólico (CASAQUI, 2003,
p.7).
Nessa perspectiva, a percepção do consumidor é enfatizada, segundo
uma concepção onde o produto conquista:
[...] um lugar na mente do receptor e poderá ser reconhecido em partículas
de suas ações, se tiver construído competentemente um repertório desse
lugar enunciativo em seu consumidor, através dos tempos – em processo
de renovação constante, numa operação de adequação interdiscursiva, em
relação dinâmica com os movimentos da concorrência, com os discursos
em transito social, num determinado momento histórico, com as demandas
do mercado e com os sinais emitidos pelos consumidores, através de
índices como resultados de vendas, reclamações, processos judiciais
(CASAQUI, 2003, p.7).
97
O consumidor-receptor tem, então, um “poder” sobre a comunicação
publicitária, na medida em que “alimentam” o processo com suas atitudes,
comportamentos, gostos, etc. O público-alvo se constitui em matriz:
[...] dos argumentos e do repertório movimentado pela comunicação para
seduzir, envolver, estimular ao consumo. Sendo assim, o público-alvo
inscreve-se na própria mensagem que lhe é destinada, numa interação que
é construída pela publicidade com a imagem projetada do anunciante, da
marca, da instituição, do produto que é revestido de valores compatíveis
com a visão de mundo do público-alvo [...] (CASAQUI, 2003, p.7).
Ainda que esse “poder” do público-alvo seja supervalorizado, é possível
identificar no briefing elementos bastante objetivos, aptos a captar esses
indicadores (sociais, antropológicos, psicológicos, etc.), que podem revelar
tendências, inaugurando um processo de retroalimentação no fluxo da
informação, o que ressalta a natureza informativa do instrumento aqui
estudado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos propostos nessa investigação, em síntese, foram:
1. Discutir se as mensagens publicitárias veiculadas pelos mais
diferentes canais geram, e como geram, a informação, na medida em que
instauram - mais que a necessidade do produto ou serviço - comportamentos,
idéias e atitudes, atingíveis mediante a aquisição do bem.
2. Identificar os diferentes patamares da informação na publicidade,
focando, nessa modalidade de mensagens, o componente informacional que
garanta a sua permanência no ato mercadológico que a mesma visa.
Nessa perspectiva, o problema estudado foi a atuação da publicidade,
ou melhor, do publicitário como agente mediador da informação, visto que
trabalha a linguagem, de acordo com um modelo – o briefing – para obter o
resultado almejado, ou seja, de que o consumidor tome conhecimento dos
benefícios implícitos e explícitos que a aquisição do bem pode proporcionar,
instaurando modelos de atitudes e comportamentos, que atravessam o
processo de transformação da informação em conhecimento.
Com efeito, nesse estudo considerou-se o briefing como um instrumento
informativo na medida em possibilita a construção de um quadro de referência,
basicamente informativo, que almeja, no processo, gerar conhecimento no
público-alvo.
No âmbito da Ciência da Informação, a publicidade, por intermédio do
briefing, o agente mediador, então, cria um produto, um artefato informacional,
representado pela campanha ou anúncio, carregados de códigos a serem
decodificados, destinados a fazer sentido para os receptores, suscitando nos
mesmos o desejo de possuir o bem, instaurando a necessidade, criando ou
fomentando atitudes, comportamentos, modos de ser e visões de mundo.
99
Nessa ótica, a publicidade se coloca como um sistema, uma linguagem
sígnica, híbrida, que possui um componente informacional, na medida em que
cria conhecimento subjacente à própria produção publicitária, porque usando
uma estrutura de coleta de informações permite que o mercado (público-alvo)
reconheça, graças a um repertório comum, a informação agregada à
mensagem publicitária, elaborando e acrescentado algo novo à estrutura
cognitiva do receptor. De tal modo que se pode afirmar que se a mensagem
publicitária não é consumida, decodificada, interpretada, não fizer sentido, ela
não existe.
Essas considerações devem ser compreendidas sob o foco do
questionamento científico e da atuação do profissional de publicidade no
âmbito do problema proposto nesta pesquisa e como decorrentes dos métodos
escolhidos para percorrer o caminho da construção das mensagens
publicitárias.
De tal modo, buscaram-se elementos que possibilitassem considerar na
mensagem publicitária, ou melhor, no processo de sua produção, a qualidade
da realidade de ser organizada, sistematizada, classificada, para transferí-la ao
receptor, que tem os recursos para transformá-la em conhecimento.
Escolheu-se o briefing como unidade de análise, visto que contempla a
natureza de produção social, dinâmica, que implica em significação e (re)
significação possível de ser apropriada pelos receptores.
Nesse enfoque, a construção da mensagem publicitária propicia que o
receptor traga para si algo que antes se pressupunha fora dele, fora de sua
visão de mundo. No caso da publicidade; um conjunto de qualidades e
benefícios, implícitos ou explícitos, do bem.
A publicidade tem como emissor o anunciante e como receptor o
público-alvo, transmitindo um significado que se refere ao produto, utilizando
um código, um canal, reúne condições de propiciar o surgimento de
100
conhecimento. De tal modo, a publicidade informa, comunica, levando ao
receptor uma mensagem persuasiva e essencial para a efetivação do
consumo.
O conteúdo da mensagem publicitária tem uma estrutura, construída a
partir de um instrumento informativo que reúne, coleta e classifica dados que
serão posteriormente utilizados e transformados em informação e inseridos na
mensagem, a fim de provocarem alterações no estado do receptor -
responsável pelo processo de produção de sentido e expressão da criatividade
desde o seu começo. Foi esse o caminho percorrido nesse estudo que,
contudo, não esgota e tampouco reduz as possibilidades de novas construções
e elaborações, de modo a enriquecer o conhecimento, principalmente na
confluência entre Ciência da Informação e Ciência da Comunicação.
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