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APÊNDICE N - Transcrição de trechos das entrevistas com Coordenadores relacionadas à
questão: está mudando o conceito de teses e dissertações
Sujeito
Transcrição
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[...] o que está incentivando mais os orientadores a fazerem com que seus alunos partam para
esse formato alternativo, seria especificamente no caso da nossa área, não sei como são as
outras áreas.... Seria aquela “pressão” que nós temos, da CAPES para que o nosso curso tenha
uma produção boa, compatível com o conceito que nós queremos para ele.
Quando eu era coordenador de programa e nós estávamos discutindo as normas que a Pós-
graduação ia adotar para o formato alternativo cada coordenador de programa tinha uma idéia
e brigava veementemente por aquela idéia. Alguns achavam que o trabalho não tem que estar
aceito, outros perguntavam: ” o que a banca examinadora vai fazer? É um outro tipo [de
trabalho], se colocarmos ’trabalhos enviados’ todo mundo vai fazer no formato alternativo”. Mas
qual a função do formato alternativo? É mostrar para a Faculdade que só alguns professores
conseguem fazer o formato alternativo, ou é realmente para melhorar a produção do programa?
Logicamente que é melhorar [a produção do Programa]. Depois de muita discussão acabaram
decidindo que seria trabalho ‘enviado’ pelo menos, não pode ser [um trabalho] ‘a ser enviado’.
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A UNICAMP já prevê que esses capítulos podem ser artigos que o aluno já publicou, submeteu
ou está em fase de redação para submissão. O artigo segue a normas de publicação da revista.
Hoje em dia há uma grande cobrança para que as teses sejam publicadas, a própria CAPES
cobra muito isso. [...] diminuiu bastante o numero de teses que ficam na gaveta, porque o aluno
depois que se envolve com outras atividades [depois da defesa], dificilmente consegue retomar a
tese para reestruturar, porque se exige uma grande reestruturação para transformá-la em artigo,
e colocar esse trabalho nas revistas científicas, que é aonde a comunidade vai ter acesso de fato
àquele conhecimento. Então, o conhecimento gerado acabava se perdendo um pouco..., nas
gavetas. [...] Quando voltei ao Brasil eu trouxe da Suécia duas teses com esse formato com
artigos. Lá os alunos saiam da pós-graduação com a tese praticamente publicada, porque eles
consideravam isso muito importante, colocar a informação à disposição da comunidade
científica. Essa é a [melhor] maneira de democratizar o conhecimento. Começamos aqui em
1997, desde então nenhum aluno meu defendeu tese que não tivesse esse formato.
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O conceito está mudando, primeiro porque a maioria dos programas [de pós-graduação] exige
que o aluno durante o curso tenha publicações, e segundo, é que você encontra muitas teses
que foram defendidas e depois o aluno não se preocupou em mandar para publicação. Na minha
opinião é um conjunto de situações que leva a isso. Em terceiro lugar está a exigência da
CAPES em relação à publicação dos docentes, e uma das formas dos docentes publicarem,
principalmente na área biológica é publicar junto com os alunos do grupo. [...] esse modelo é
novo no Brasil, em alguns paises, eu posso citar a Bélgica, por exemplo, onde para se obter o
titulo de doutor você tem um conjunto de trabalhos que depois de publicados são apresentados
para uma banca onde se discute
e debate a linha [de pesquisa] para obter o título de doutor. [...].
Eu acho que isso é uma tendência internacional e que não estamos fugindo muito dessa
tendência.
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Este fenômeno é muito claro. A pesquisa e a ciência, para serem válidas têm que ser
divulgadas, e se chegou a uma situação em que quase toda a produção nacional estava ficando
nas prateleiras, faltava uma forma das instituições colocarem essa produção disponível para o
mundo. Era muito comum ver que uma parte da produção científica, teses e dissertações, que
acabava nunca sendo publicada, não porque não fosse aceita, mas porque não era nem enviada
para publicação. O investimento feito fica parado se não publica. [...]. Essa é uma tendência e
acho que não só da Unicamp. Principalmente a área médica tem permitido esse formato
alternativo, que contempla o artigo cientifico já publicado ou enviado para publicação em
determinado periódico, inclusive permitindo que eles se apresentem no formato e língua
originais. Na [...] já tem esse modelo, não chamado mais ‘alternativo’, mas obrigatório.
Necessariamente o trabalho deve, não digo estar publicado porque o aceite definitivo da
publicação depende da avaliação pelos pares do referee da revista, mas deve ter sido submetido
para publicação.