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EXPANSÃO URBANA E MEIO AMBIENTE
NAS CIDADES NÃO-METROPOLITANAS
O caso de Franca-SP
ELISÂNGELA DE ALMEIDA CHIQUITO
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia de São Carlos/USP para
obtenção do título de mestre em Arquitetura
e Urbanismo, na área de concentração
Teoria e História da Arquitetura e do
Urbanismo, sob a orientação da Profa. Dra.
Sarah Feldman.
São Carlos
2006
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
Chiquito, Elisângela de Almeida
C541e Expansão Urbana e Meio Ambiente nas Cidades não-
metropolitanas : o caso de Franca-SP / Elisângela de
Almeida Chiquito. –- São Carlos, 2006.
Dissertação (Mestrado) –- Escola de Engenharia de
São Carlos-Universidade de São Paulo, 2006.
Área: Teoria e História da Arquitetura e do
Urbanismo.
Orientador: Profa. Dra. Sarah Feldman
1. Expansão urbana. 2. Planejamento urbano.
3. Loteamento. 4. Meio Ambiente. I. Título.
Folha de aprovação
À minha mãe Yvone
À Sofia, minha filha
AGRADECIMENTOS
Ao final desta pequena trajetória acadêmica tenho muito a
agradecer àqueles que tornaram o solitário processo investigativo
fruto de um esforço coletivo.
À professora Sarah Feldman, minha orientadora, a quem devo
meu crescimento como pesquisadora desde a iniciação, e
particularmente nesta pesquisa pela amizade, paciência, e doses
certas de rigor científico e liberdade;
Aos professores Heloisa Soares de Moura Costa e Nabil Bonduki,
pelas valiosas contribuições na banca de qualificação;
Aos geógrafos que tiveram participação fundamental neta
pesquisa: professora Neusa Vieira (Unesp-Franca) e Kátia Canil
(IPT), pelas ricas entrevistas e pelo material disponibilizado e
especialmente ao professor Aziz Ab'Saber, que me concedeu o
privilégio de entrevistá-lo, pela gentileza, disposição e essencial
contribuição para este trabalho;
Aos funcionários da Prefeitura Municipal de Franca,
particularmente à Cecília, pela disponibilização dos dados, ao
Garcia, pelo auxílio na localização dos processos de loteamentos,
e ao companheiro de pesquisa Mauro Ferreira, pela atenção
dispendida, pelas histórias francanas, documentos e pelos
“cutucões” finais;
Aos professores e amigos do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da EESC/USP;
Ao professor Ricardo Martucci, pela compreensão na reta final.
À FAPESP, pela concessão da bolsa de mestrado, fundamental
para a realização deste trabalho;
E carinhosamente,
Aos meus pais Yvone e Sidinei, pelo amor incondicional, pelo
apoio e incentivo fundamentais para a superação de mais uma
etapa. À “tia” Elisandra, por “segurar a onda” nos momentos
precisos e ao meu tio José Portes, pelo apoio solidário e
necessário;
Ao Tiago, meu esposo, pelo amor e compreensão ao longo destes
anos e pela vibração com o meu trabalho, e à Sofia, filha querida,
cuja alegria me deu luz e sentido tornando tudo mais simples.
Ler o corpo expansivo e mutável da cidade é buscar
apropriar-se do sentido geral de uma época, de uma
sociedade, de uma cultura.
(RIBEIRO et al., 2002)
RESUMO
O trabalho analisa o processo de expansão urbana de Franca-SP, através dos loteamentos
aprovados, do ponto de vista territorial, no período de 1925 a 2004, e no campo das
práticas, e sua relação com a questão ambiental. Parte-se da constatação de que, em Franca,
o processo de expansão urbana através de loteamentos está intimamente relacionado com o
agravamento de seu principal problema ambiental – as voçorocas. Revela o percurso
histórico destas questões, suas origens e a constituição dos mecanismos de controle, bem
como sua trajetória de conflitos e associações, até sua formulação como “questão
ambiental urbana”. Através do estudo de caso, detecta os principais limites à aplicação
prática do controle da expansão urbana e das voçorocas, assim como os conflitos e agentes
envolvidos. Os resultados revelam que: o processo de expansão urbana de Franca se
diferencia em diversos aspectos dos municípios inseridos em regiões metropolitanas; que a
relação entre expansão urbana e voçorocas em Franca é detectada desde o século XIX,
antes mesmo de ser formulada como “problema ambiental”; e por fim, que há uma
incorporação lenta e gradual da temática ambiental pelos órgãos de urbanismo da
administração municipal e pelos instrumentos de controle da expansão urbana, em que
Franca se revela como pioneira tendo como importante contribuição a participação dos
geógrafos no processo de planejamento urbano.
ABSTRACT
This research analyzes the process of urban expansion of Franca-SP through the approved
divisions into lots, of the territorial point of view, from 1925 to 2004, and in the field of the
practices, and the relation with the environment question. Assuming that theurban
expansion in Franca is intimately related with the aggravation of the principal environment
problem – the gully. Reveals the historical course of these subjects to understand, their
origins and the constitution of the control mechanisms as well as the trajectory of conflicts
and of association, until it formulation as an urban environmental subject. Through a case
study, detecting the principal limits on the application practice of the control from urban
expansion and the gully, just as the conflicts and agents involved.The outcomes reveals
what: the process of urban expansion of Franca, if differentiated diverse appearances from
the cities located in the metropolitan areas; what the relation among urban expansion and
gully in Franca is detecting after the century XIX, ago even of being formulate I eat
“environmental problem”; and lastly, what there is a embodies slow and gradual from
thematic environmental bristles organs of city planning of the board of directors municipal
and bristles instruments of control from urban expansion, what Franca if reveals I eat
pioneer I tend I eat important contribution the participation from the geographers into the
process of urban planning.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Taxa de crescimento da população – EstadoSP/ RMSP/ Interior (1970-2000)..........31
FIGURA 2 – Municípios com mais de 100 mil habitantes – Estado de SP.................................... 33
FIGURA 3 – Taxa de crescimento da população – Franca/ ESP/ Brasil (1940-2000).....................36
FIGURA 4 – Crescimento da população – Município de Franca (1940-2000)................................36
FIGURA 5 - População por rendimento (S.M.) – Município de Franca (1991)...............................41
FIGURA 6 - Desenho das três colinas de Franca.............................................................................46
FIGURA 7 – Anúncio de Jornal sobre venda de lotes......................................................................59
FIGURA 8 – Anúncio de Jornal sobre venda de lotes......................................................................60
FIGURA 9 – Anúncio de Jornal sobre venda de lotes..................................................................... 60
FIGURA 10 – Anúncio de Jornal sobre venda de lotes................................................................... 60
FIGURA 11 – Anúncio de Jornal sobre venda de lotes................................................................... 60
FIGURA 12 – Propaganda do Conjunto Habitacional Vicente Leporace........................................63
FIGURA 13 – Foto do Loteamento Jardim Luíza II.........................................................................71
FIGURA 14 – Foto do Loteamento Jardim Luíza II.........................................................................72
FIGURA 15 –Voçoroca da rua Margarida Fornasier........................................................................72
FIGURA 16 –Foto da Voçoroca do Jardim Aeroporto III e IV........................................................72
FIGURA 17 – Foto da voçoroca do Jardim do Líbano. ...................................................................73
FIGURA 18 – Planta do Bairro Cidade Nova. .................................................................................75
FIGURA 19 – Foto aérea do Bairro Cidade Nova. ..........................................................................75
FIGURA 20 – Mapa da cidade de Franca de 1914. .........................................................................76
FIGURA 21 – Mapa da cidade de Franca de 1943. .........................................................................77
FIGURA 22 – Publicação da Faculdade de Filosofia de Franca.......................................................95
FIGURA 23 –Residencia localizada na borda da voçoroca. Fonte: Polo (1968)..............................98
FIGURA 24 – Proposta de Ab'Saber para o Parque Municipal na voçoroca das Maritacas...........100
FIGURA 25 – Proposta de Ab'Saber para recuperação de voçorocas. ...........................................101
FIGURA 26 – Proposta de Ab'Saber para recuperação de voçorocas. ..........................................102
FIGURA 27 – Proposta para o Perímetro de Expansão Urbana - PDI............................................111
FIGURA 28 – Proposta de zoneamento de uso - PDI ....................................................................112
FIGURA 29 – Proposta de zoneamento residencial - PDI .............................................................113
FIGURA 30 – Diagnóstico das voçorocas em Franca - PDI ..........................................................114
FIGURA 31 – Requerimento de aprovação Jd. Aeroporto .............................................................125
FIGURA 32 – Foto da voçoroca do Jardim Aeroporto com loteamento ao fundo..........................135
FIGURA 33 – Metodologia utilizada para a elaboração do Mapa de Risco de Erosão. ................144
FIGURA 34 – Sistema viário inadequado às condições de Franca.................................................146
FIGURA 35 – Sistema viário adequado às condições de Franca....................................................146
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 – Município de Franca – Bacias Hidrográficas e Área Urbana........................................39
MAPA 2 – Loteamentos aprovados por década (1925-2004) – Município de Franca.....................44
MAPA 3 – Expansão urbana de Franca. (1925-1949)......................................................................48
MAPA 4 – Loteamentos X voçorocas (1925-1969).........................................................................54
MAPA 5 – Expansão urbana de Franca (1950-2004).......................................................................56
MAPA 6 – Evolução da área loteada................................................................................................57
MAPA 7 – Conjuntos habitacionais em Franca ...............................................................................62
MAPA 8 – Loteamentos-Satélites ....................................................................................................64
MAPA 9 – Voçorocas em Franca – 1969 e 1998.............................................................................70
MAPA10 – Evolução do perímetro de expansão urbana................................................................124
MAPA11 – Loteamentos satélites X perímetro de expansão urbana..............................................126
MAPA12 – Jardim Aeroporto – etapas de aprovação.....................................................................128
MAPA13 – Mapa Risco Potencial de Erosão..................................................................................145
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Loteamentos aprovados por qüinqüênio - Município de Franca (1925-1949)...........50
TABELA 2 – Loteamentos aprovados por qüinqüênio - Município de Franca (1950-2004)...........53
TABELA 3 – Produção habitacional CDHU – (1967/85)................................................................61
TABELA 4 – Loteamentos aprovados (1970-1971).......................................................................115
TABELA 5 – Loteamento Jardim Aeroporto – Etapas de aprovação ............................................127
SUMÁRIO
Introdução..............................................................................................................21
1. O processo de expansão urbana de Franca através de loteamentos
aprovados (1925-2004).....................................................................................29
As transformações na rede urbana paulista...................................................................31
A problemática de Franca...........................................................................................................
37
O processo de expansão territorial da cidade..............................................................................42
A cidade do café e o primeiro boom expansionista:
a preferência pelos espigões..........................................................................................
.45
A cidade do calçado e o segundo boom expansionista:
a ocupação indiscriminada do
território
.............................................................................................................51
2. Expansão urbana e os voçorocas:
descompasso entre a geografia e a administração...........................................67
O agravamento dos processos erosivos em Franca e os loteamentos aprovados...................69
A presença dos buracões: obstáculos ao crescimento da cidade.......................................74
A desnaturalização dos buracões: um desafio para os geógrafos......................................78
Licença para arruar: a atuação privada no parcelamento do solo
.....................................82
A aprovação de novas villas e a espera pelos melhoramentos
..........................................86
A doação de áreas públicas como obrigação do loteador
.................................................89
As voçorocas de Franca: uma questão de geografia e planejamento
...................................91
3. Expansão urbana e meio ambiente:
associação e conflito no controle do solo.......................................................104
O PDI de Franca: as voçorocas como conseqüência da expansão urbana....................106
O controle das voçorocas : ecologia da paisagem
.........................................................117
O controle de loteamentos: processos administrativos para aprovação
..............................119
A execução da infra-estrutura às custas do loteador
....................................................120
Os limites da aplicação do PDI: o caso do Jardim Aeroporto
...................................122
A 1ª etapa do loteamento e a execução da infraestrutura: responsabilidades não cumpridas.
.129
A 2ª etapa do loteamento: responsabilidades repassadas ...................................
..................131
O controle da expansão urbana e a incorporação do meio ambiente
............................136
Incorporação do termo meio ambiente pelos órgãos de urbanismo
...................................136
Expansão urbana como problema ambiental
...............................................................138
O controle da expansão urbana: instrumentos urbanísticos e ambientais
...........................139
O Parecer Técnico do IPT:
subsídios para o controle do solo em função do risco de erosão
.......................................143
Reflexões finais.....................................................................................................147
Bibliografia.....................................................................................................................153
Anexo I – Legislação...............................................................................................168
Anexo II - Tabela dos loteamentos aprovados em Franca (1925-2004)...............................175
INTRODUÇÃO
Franca é o resultado da colaboração
do fator história unido ao fator geografia;
o primeiro foi obra das bandeiras;
o segundo, a conseqüência topográfica da geologia.
O primeiro condicionou o seu aparecimento,
o segundo, a sua evolução;
ambos colaboraram no seu desenvolvimento.
(RIBEIRO, 1940)
22
23
Esta pesquisa de mestrado é resultado das questões que emergiram durante a minha
atuação como pesquisadora no projeto “Programas de Gestão Integrada para o Município
de Franca-PGI”, financiada pela Fapesp, coordenada pela Profa. Dra. Sarah Feldman e
desenvolvida no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP. Analisando, no
âmbito da PGI, o processo recente de expansão urbana de Franca nos deparamos com
especificidades que mereciam atenção especial. Primeiramente pela diferença em relação
ao processo de expansão das cidades inseridas em regiões metropolitanas. Em segundo
lugar, pela particularidade que Franca apresenta em relação ao processo de ocupação e
degradação do solo, onde a expansão urbana vincula-se diretamente ao agravamento das
voçorocas, principal problema ambiental do município, indissociabilidade esta que é
apontada pela administração municipal na Justificativa Técnica do Plano Diretor, em 1998.
Iniciamos, então, um percurso para a verificação histórica destas questões, procurando
entender suas origens e os mecanismos de controle que foram sendo construídos ao longo
do tempo, assim como a trajetória de conflitos e associações entre expansão urbana e meio
ambiente neste processo.
Os estudos sobre os processos de expansão urbana adquirem importância, no Brasil, e
particularmente no Estado de São Paulo, no final dos anos 1970, tendo como foco as
metrópoles, cuja realidade é substancialmente diferente daquela encontrada nas cidades
não metropolitanas. dentre os estudos sobre a expansão da metrópole paulistana, os
trabalhos de Bonduki (1978, 1979, 1982), Maricato (1982), Rolnik (1979,1982), Kowarick
(1979), Grostein (1987) notadamente A produção capitalista da casa (e da cidade) no
Brasil industrial, organizado por Maricato (1982), são pioneiros e constituem hoje
clássicos no campo dos estudos urbanos e regionais.
Nestes estudos são enfocados os seguintes aspectos relacionados à expansão da metrópole
paulistana: a formação do espaço urbano nas áreas periféricas, vinculando-o à acumulação
do capital e à reprodução da força de trabalho, a retenção de grandes glebas vazias com
fins especulativos, o loteamento da periferia como forma predominante de habitação da
população de baixa renda na Grande São Paulo, os agentes que participam do processo de
formação dos loteamentos, a ilegalidade no processo de produção dos loteamentos, a
conivência do poder público, e a autoconstrução como modo possível de produção da
moradia estreitamente ligada à especulação imobiliária. Em todos esses estudos, os
loteamento e os conjuntos habitacionais promovidos pelo poder público nos anos 1960 e
24
1970, através do BNH, são apontados como principais agentes do processo de expansão.
Esses trabalhos vêm servindo de paradigma para interpretação de processos de expansão
das cidades brasileiras de forma generalizada.
Apesar da questão da expansão ser mencionada em quase todos os estudos urbanos e
regionais, são raros os trabalhos que buscaram identificar especificidades de processos de
expansão urbana nas cidades de porte médio e que não se inserem em regiões
metropolitanas. Trabalhos como os de Favero (1995), Lima (1998), Gaspar (2000),
Leonelli (2003), dentre outros, que analisam as cidades paulistas de São Carlos,
Araraquara, Limeira e São Carlos apontam que o processo de expansão urbana tem sido
um dos problemas mais sérios enfrentados pelos municípios, comprometendo os padrões
de mobilidade urbana, a qualidade de vida nas cidades e os recursos ambientais. Todos eles
concluem que a falta de planejamento (e do plano diretor) é a principal causa dos impactos
ambientais e dos problemas urbanos.
Embora estes trabalhos tenham avançado no desvendamento dos problemas decorrentes da
expansão urbana, o processo de expansão urbana destas cidades é ainda um campo pouco
explorado e necessita de maior aprofundamento. Neste trabalho investiga-se quais os
fatores que estão envolvidos no processo de expansão urbana de Franca de forma a
extrapolar a conclusão que permeia a grande maioria dos trabalhos que remetem à ausência
de planejamento a causa dos problemas urbanos. Partimos do pressuposto que a
problemática das cidades de porte médio distribuídas dispersamente no território paulista é
substancialmente diferente daquela encontrada nas regiões metropolitanas e nos grandes
centros. Entende-se que as cidades devem ser analisadas, não apenas pelo seu porte, mas
pelo papel desempenhado por elas na rede urbana.
Se ao longo dos anos 1970 o referencial teórico marxista guiou grande parte da pesquisas
urbanas, à luz da dicotomia capital/ trabalho, após os anos 1980 passam a ser construídas
novas abordagens sobre o urbano, dentre elas, o enfoque ambiental. (PACHECO et al.,
1981) O agravamento dos problemas urbanos decorrentes da crença otimista em um mundo
ilimitado, na capacidade infinita de desenvolvimento econômico, fez com que
gradualmente o conceito de progresso fosse substituído pelo de crise – crise do Estado,
crise da razão instrumental, crise ecológica, contribuindo para a emergência deste novo
referencial teórico nas pesquisas sobre o urbano. Para Costa (1999) a questão urbana, como
25
era chamada nos anos 1970, foi perdendo a importância como tema dentro da teoria social
crítica, enquanto os estudos ambientais vem alargando sua base conceitual e multiplicando
da quantidade de estudos e das áreas de conhecimento envolvidas.
No entanto, Costa (1999) revela que em grande parte dos estudos ambientais a dimensão
urbana é subestimada, ou numa perspectiva mais radical, negada como não-ambiental, não
natural. Para a autora, isto ocorre em função de existir o que Harvey (1996) chama de
blindspot, um ponto-cego de enormes proporções causado pela hostilidade de longa data
do movimento ambientalista para com a própria existência das cidades. Vale destacar que,
a partir dos anos 1970, surgem os primeiros movimentos de crítica ao processo de
urbanização, inserido num debate mais amplo de crítica à própria sociedade capitalista.
Como exemplos podemos citar o movimento verde e a contraurbanização, que sugerem a
criação de comunidades orgânicas baseadas em um desejo de uma sociedade harmônica e
mais justa, e o neo-malthusianismo que atribui a degradação ambiental ao crescimento
demográfico e argumenta em favor da limitação deste crescimento – posição defendida
pelo Clube de Roma e pela Conferência de Estolcolmo. As pesquisas sob a óptica
ambientalista têm avaliado exaustivamente os impactos do urbano sobre o meio ambiente,
caracterizando o processo de urbanização como um “mal em si”, essencialmente danoso,
formulando regras para a minimização dos impactos.
Por outro lado, a problemática ambiental passa a ser incorporada progressivamente pelas
pesquisas sobre o urbano, resultando na união destes dois conceitos enquanto
“problemática ambiental urbana”. Como afirma Costa (1999), muitas vezes estes conceitos
são associados como um “casamento perfeito”, de forma que o discurso ambiental invade e
se mistura com o do planejamento e da intervenção sobre o ambiente construído, como
sempre tivessem sido a mesma coisa. Isto se fundamenta com a noção de
“sustentabilidade”, ou seja, o estabelecimento de condições para que o desenvolvimento
seja socialmente aceito, se transformando em algo bom, legítimo, desde que seja
sustentável. Esta noção se coloca como consenso na medida em que se revela, sob o
regime da necessidade econômica, como a única alternativa possível, como a solução mais
racional. Questioná-la seria contestar a própria razão. (RANCIÈRE, 1996)
Não se trata neste trabalho de afirmar mais uma vez, no caso de Franca, que o processo de
urbanização está relacionado à degradação ambiental, nem é o caso de analisar os impactos
26
provocados pelo processo de expansão urbana ou estabelecer condições e formulações para
que este processo seja mais sustentável. A questão que se coloca é inversa, ou seja, partir
desta associação para desvendar, historicamente, o processo de construção destas questões
enquanto problema para o planejamento, detectando precisamente o momento em que isto
ocorre; de que forma o poder público vem se estruturando e construindo seu arcabouço
legal para o controle deste problema; quais os limites observados na prática administrativa.
Como afirmam Pacheco et al. (1992), analisar os problemas urbanos incorporando a óptica
ambiental requer construir uma problemática distinta daquela “ecológica”. Para Costa e
Braga (2002), grande parte das questões são simultaneamente sociais e ambientais, mesmo
não formulada nestes termos. Para as autoras, o processo de expansão urbana é resultado
de conflitos sócioambientais em torno do uso e da ocupação do solo, e que este processo,
ditado pelo setor privado e obedecendo a lógica capitalista, reproduz os próprios conflitos e
contradições, na medida em que pela especulação imobiliária acontece a exclusão de
grande parte da população ao acesso a moradia e com isso, o fenômeno da ilegalidade
urbana. Este enfoque é promissor, principalmente no caso de Franca onde a legalidade no
processo de ocupação do solo não impede os problemas sócioambientais.
Em estudo recente, Costa vem desvendando a associação das questões ambiental e urbana
no processo de produção do espaço metropolitano de Belo Horizonte. A autora detecta a
apropriação da “questão ambiental” e dos elementos da natureza pelo mercado em busca
de agregar valor ao seu produto, o solo. Revela ainda que, “nesta equação, a natureza perde
progressivamente seu potencial de uso coletivo, para transformar-se em elemento
potencializador de renda diferencial, acessível a poucos, logo contribuindo para exacerbar
os processos já conhecidos de segregação e exclusão”. (Costa, 2006:120)
Para desvendar o processo de expansão urbana de Franca, os conflitos envolvidos e a
associação com a questão ambiental, a perspectiva adotada por Pacheco et al. (1992), nos
coloca uma construção teórica que considere integradamente os processos estruturais e as
ações individuais ou de grupos. Para os autores, com o deslocamento do foco da pesquisa
urbana e o questionamento dos paradigmas, o desafio que se coloca é incorporar, além dos
determinantes estruturais, outras dimensões, trazendo os sujeitos de volta aos estudos
urbanos e, com eles, novas problemáticas como comportamentos e conflitos.
27
Esta postura se alinha à de Lepetit (2001) no livro “Por uma nova história urbana”,
organizado por Heliana Angotti Salgueiro, mas especificamente no capítulo "Arquitetura,
geografia e história: os usos da escala". Neste capítulo, Lepetit coloca a variação da escala
como um recurso metodológico importante para a configuração de objetos complexos
levando-se em conta as diversas camadas que compõe a realidade social. O que estamos
habituados a pensar em termos globais, como por exemplo o fortalecimento do Estado, a
formação da sociedade industrial, podem ser lidos através das estratégias individuais. Para
o autor, a mudança de escala tem por função identificar os sistemas de contextos em que se
inscrevem os jogos sociais. (op cit, p.207)
É neste sentido que iremos construir a abordagem teórica. Por um lado, analisando a cidade
em termos físicos-territoriais, procurando contextualizá-la política e economicamente,
utilizando-se de dados estatísticos e conjunturais, como artefato cultural do espaço e do
tempo (SILVA, 2002; SALGUEIRO, 2003) e, por outro, no campo das práticas, que
envolve atores plurais e interesses difusos e individualizados (PACHECO et al., 1992;
COSTA e BRAGA, 2002), reconstruindo, assim, o processo de expansão urbana através de
loteamentos e sua associação com a problemática ambiental.
Para isto, tivemos como ponto de partida estudos já realizados no âmbito da pesquisa
“Programas de Gestão Integrada para o Município de Franca-PGI” que apresenta dados
sobre loteamentos aprovados a partir de 1976, e do trabalho de Rinaldi (1982), que
relaciona os loteamentos aprovados entre os anos de 1925 e 1975, os quais foram
compatibilizados e complementados através de levantamento na Prefeitura Municipal de
Franca. Desta forma, se pode mapear quase um século de expansão territorial. Os
processos administrativos de aprovação de loteamentos da Prefeitura Municipal de Franca
consistiram em fonte promissora, pois nos permitiram analisar a dimensão territorial do
processo de expansão urbana , como a dimensão das práticas de aprovação de loteamentos
e das ações dos agentes envolvidos.
Estes dados foram complementados por uma vasta pesquisa da legislação referente ao
controle de loteamentos, à estrutura administrativa, ao perímetro urbano e ao meio
ambiente. A pesquisa documental abrangeu ainda planos, relatórios, atas da câmara
municipal, além de mapas, plantas cadastrais, fotografias e anúncios de jornal. Para
contextualizar a análise documental foram levantados indicadores demográficos e dados
28
estatísticos e conjunturais. Foram realizadas também entrevistas com os principais atores
envolvidos com o objeto de pesquisa – técnicos da Prefeitura Municipal, geógrafos,
empreendedor. Livros, artigos, textos, teses e dissertações, entre os quais se destacam os
trabalhos dos geógrafos e dos historiadores, assim como do campo da sociologia e das
ciências aplicadas, nos deram as bases conceituais para este trabalho.
A pesquisa foi desenvolvida seguindo três eixos estruturadores. O primeiro se refere ao
processo de expansão urbana de Franca através de loteamentos, sob o ponto de vista
territorial e suas determinações estruturais. O segundo eixo busca desvendar o processo de
associação entre a questão da expansão urbana e das voçorocas, desde suas primeiras
problematizações pela geografia e pelo controle urbanístico, até o momento de sua
convergência enquanto “questão ambiental urbana”. Um terceiro eixo discute os principais
limites da aplicação prática do controle ambiental urbano, analisando o processo
administrativo relativo à aprovação de um loteamento selecionado como o mais
problemático quanto às questões estudadas.
O texto está organizado em três partes. O primeiro capítulo contempla o eixo da pesquisa
referente à análise do processo de expansão urbana. O segundo capítulo aborda as questões
“expansão urbana” e “voçorocas” antes de sua associação pelo planejamento municipal,
revelando como elas vinham sendo problematizadas pelo controle da cidade e pela
geografia. O terceiro capítulo trata do período após a associação destas questões pelo
controle do solo desde o primeiro passo no âmbito do PDI de 1972, até o momento em que
são incorporados os instrumentos de política ambiental pelo controle de loteamentos
1
O PROCESSO DE EXPANSÃO URBANA DE FRANCA
ATRAVÉS DE LOTEAMENTOS APROVADOS
(1925-2004)
Milhares de decisões pequenas e isoladas – tomadas sem
considerar a relação entre uma e outra, nem o seu impacto total –
produzem uma decisão crucial sobre o futuro de nossas cidades
e de nossa civilização, uma decisão que acabamos por chamar
de “expansão”.
2
2
Wallace, B. (1978) Biologia Social - a humanidade, suas necessidades, ambiente, ecologia. RJ: Livros
Técnicos e Científicos.
30
31
AS TRANSFORMAÇÕES NA
REDE URBANA PAULISTA
A constituição da rede urbana do Estado de São Paulo remonta ao século XIX quando, a
partir do dinamismo econômico impulsionado pelo complexo cafeeiro, o território passou
por processo contínuo e permanente de ocupação. (Caiado, 1995) No entanto, com a
emergência e o fortalecimento das atividades industriais em áreas urbanas, em meados do
século XX, a população paulista passa a se urbanizar em processo acelerado. Atualmente
93,41% da população paulista habitam áreas urbanas. (Seade, 2000) Assim, podemos
considerar a dinâmica populacional dos municípios muito próxima a das áreas urbanas
devido à participação mínima da população rural.
Nas últimas décadas vem sendo detectadas mudanças significativas na dinâmica
demográfica paulista. Comparando as taxas de crescimento populacional do Estado de São
Paulo, da Região Metropolitana de São Paulo e do interior nas décadas de 1970, 1980 e
1990, podemos verificar que, a partir dos anos 1980, a população dos municípios do
interior do Estado passa a crescer mais do que os da Região Metropolitana denotando,
assim uma acentuação no processo de urbanização do interior. (Figura 1)
FIGURA 1
Estado de SP/ Região Metropolitana de SP/ Interior SP
Taxa de crescimento da população (1970-2000)
(%)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
1970-1980 1980-1991 1991-2000
Estado de SP Região Metropolitana de SP Interior do estado de
S
Fonte: Censos FIBGE 1970, 1900, 1990, 2000
32
Neste processo de crescimento, os municípios brasileiros com mais de cem mil habitantes
apresentam as taxas mais significativas – 13,7% em 1970, 15,9% em 1980, 17,7% em 1991
–, ou seja, o crescimento populacional mais acentuado se desloca das metrópoles para os
municípios de porte considerável. (AZZONI, 1995) Destes, excluindo a capital que tem
quase 10 milhões de habitantes, há apenas sete municípios com mais de 500 mil habitantes
– Guarulhos, Campinas, Osasco, São Bernardo do Campo, Santo André, São José dos
Campos e Ribeirão Preto, quase todos inseridos em regiões metropolitanas.
(IPEA/UNICAMP/IE/NESUR, 1999; FELDMAN, 2002)
Os municípios de porte médio – com população entre 100 mil e 500 mil habitantes – foram
os que ampliaram expressivamente sua presença na rede urbana paulista: de 21 em 1970,
passaram a 30 em 1980, a 41 em 1991 e em 2000 chegaram a 54. Observando os mapas da
Figura 2, verificamos que grande parte deles gravitam em torno das metrópoles de São
Paulo, Campinas e Santos, e do centro regional de São José dos Campos, cujo
desenvolvimento está diretamente vinculado à metrópole, processo qualificado por Azzoni
(1986) como “desconcentração-concentrada”.
A outra parte destes municípios forma um conjunto de centros urbanos isolados,
distribuídos dispersamente pelo território paulista, configurando uma rede de cidades que
constituem em si importantes pólos de atração. São eles: Bauru, Presidente Prudente,
Piracicaba, Franca, Jaú, Marília, Bragança Paulista, Catanduva e Botucatu.
(IPEA/UNICAMP/IE/NESUR, 1999) Para Feldman (2002) estas são cidades com base
econômica relevante no contexto nacional e, em alguns casos, também no contexto
internacional, ou ainda cidades que abrigam universidades e centros de pesquisa que vêm
induzindo o desenvolvimento de empresas de base tecnológica em seus territórios, e que,
por sua situação geográfica, não passaram por um processo de metropolização.
33
Considerando não apenas o porte, mas também o papel que as cidades desempenham na
rede urbana, as chamadas cidades médias
3
têm características bastante diferenciadas entre
si, mesmo se tratando do universo circunscrito ao Estado de São Paulo. A pesquisa
“Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil”, coordenada pelo IPEA e
desenvolvida pelo IBGE e pelo NESUR – IE/UNICAMP, é uma grande contribuição para
pensar esta questão de maneira atualizada. Levando em conta diversos indicadores
3
Expressão que tem suas origens nos anos 1970, com a criação do “Programa Cidades Médias”, dentro do II
Plano Nacional de Desenvolvimento, para designar, principalmente, uma categoria de tamanho.
FIGURA 2
34
(demográficos, econômicos, de qualidade da infraestrutura e outros), que foram
processados visando a análise de clusters, este estudo reclassifica da rede urbana brasileira
e identifica, além das metrópoles criadas no início da década de 1970, os conjuntos de
cidades que desempenham papeis similares e específicos na rede.
Conforme o trabalho do IPEA, as cidades que nos anos 1970 foram denominadas cidades
médias passam a ser qualificadas como centros urbanos regionais, sub-regionais ou
isolados, dependendo do nível de centralidade, podendo integrar aglomerações
metropolitanas ou não. Nesta nova configuração da rede urbana, interfere a autonomia
dada aos Estados pela Constituição de 1988, que criou a possibilidade dos municípios se
juntarem em associações, consórcios, e operações interligadas. Das 54 cidades paulistas de
porte médio identificadas em 2000, 23 integram as aglomerações urbanas metropolitanas
de Campinas e São Paulo, e 31 municípios se caracterizam como não-metropolitanos.
O trabalho de Gonçalves (2002) avança no refinamento da questão do meio urbano não
metropolitano. A autora aponta que, com o avanço tecnológico, a natureza das relações
urbanas e regionais não passa necessariamente pelo tamanho e localização, pois com o
atual sistema de comunicações e a complexidade das relações pode-se superar o isolamento
físico. Se considerarmos um momento anterior às condições tecnológicas, o isolamento de
uma pessoa só poderia ser superado se ela estivesse fisicamente no meio de outras pessoas,
porque a densidade de informações dependia da densidade de população. Hoje, com o
sistema de comunicações via telemática, a densidade de informações se dissociou da
necessidade de estar-se inserido numa aglomeração de pessoas.
Neste sentido, há também uma redefinição no conceito de região e também o seu inverso,
ou seja, a concepção de local. Na literatura mais recente do campo dos estudos urbanos (e
mesmo econômicos) a dialética entre local e global é: o global refere-se a forças que
ultrapassam o Estado Nacional, que são forças do capital, mas tamm variados fluxos de
informações; e o local é um plano ambíguo no discurso, que se alterna e não se sabe bem
se é a cidade, se é a nação, se é a região. O local é elástico, é flexível, não é precisamente
definido. (GONÇALVES, 2002)
Muitas das cidades que se colocam neste universo receberam, a partir do final da década de
1970, pesados investimentos na perspectiva de torná-las receptoras de investimentos
industriais privados, como opções em relação à metrópole, no âmbito das políticas de
35
interiorização do desenvolvimento assumidas pelos governos federal e estadual.
(FELDMAN, 2002) Os objetivos básicos dessa política eram recuperar a qualidade de vida
na região metropolitana de São Paulo e em seu entorno e diminuir as diferenças de
oportunidade de desenvolvimento entre as diversas regiões do Estado. (TOLEDO, 1978)
O Programa Cidades Médias, elaborado de acordo com as diretrizes da política global de
desenvolvimento, fixadas no II PND, tinha como objetivo o estabelecimento de pólos
regionais, cujo desenvolvimento forneceria a descentralização econômica e populacional
da metrópole, através do financiamento de equipamentos e obras de infra-estrutura urbana
que viessem suprir os municípios integrantes do Programa, das condições necessárias ao
seu desenvolvimento como pólos de crescimento. Além da densidade populacional, os
critérios para a escolha dos municípios para integrar o Programa eram também a dinâmica
econômica em termos agropecuários e, principalmente, industriais. Da região de Ribeirão
Preto, foram selecionados para participar do Programa os municípios de Ribeirão Preto,
São Carlos, Araraquara, Franca, Jaboticabal, Barretos e Bebedouro. (TOLEDO, op. cit.)
O grande avanço do processo de industrialização do interior fomentado pelos incentivos
governamentais se traduziu num intenso crescimento destas cidades, tanto pelo movimento
da população vinda de outros estados, como em nível intra-estadual. (CUNHA, 1996) As
cidades onde predominavam as atividades industriais receberam maior fluxo de migrantes,
como é o caso de Franca, Barretos e São Carlos. (SEMEGHINI, 1992)
No caso de Franca, observam-se algumas especificidades após os anos 1950, período
responsável pelo grande impulso demográfico. A taxa de crescimento da população de
Franca salta de 2% ao ano na década de 1940 para 4,65% nos anos 1950. Comparando as
taxas de crescimento da população de Franca, do Estado de São Paulo e do Brasil, verifica-
se que a partir dos anos 1950, Franca passa a superar as taxas do Brasil (3,04%) e do
Estado (3,44%), mantendo esta posição atualmente. Embora tenha havido uma redução no
ritmo de crescimento de forma generalizada a partir dos anos 1970, acompanhando a
tendência da população brasileira de maneira geral, Franca ainda excede os níveis do
Estado (1,76%) em 2000. (Figura 3)
36
FIGURA 3
Franca/ Estado de São Paulo/Brasil
Taxa de Crescimento da População (1940-2000)
(%a.a.)
0
1
2
3
4
5
6
1940/50 1950/60 1960/70 1970/80 1980/91 1991/2000
Brasil Estado de São Paulo Franca
É também nos anos 1950 que inicia-se em Franca modificações na proporção entre
população urbana e rural. Com o grande incremento da população urbana a partir desta
década, tanto pela migração campo-cidade, como de população vinda de outras áreas
urbanas, detecta-se uma participação cada vez menor da população rural no total do
município, e quase insignificante em 2000. (Figura 4)
FIGURA 4
Municípiode Franca
Crescimento da população (1940-2000)
(n° hab)
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
350.000
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
urbana
rural
total
F
onte: Dia
g
nóstico
p
ara o PDI
(
1969
)
Fonte: Censos FIBGE 1970, 190, 1990, 2000
37
A PROBLEMÁTICA DE FRANCA
O município de Franca, com 312.814 habitantes (SEADE, 2004), se localiza na porção
nordeste do interior do Estado de São Paulo. Distando aproximadamente 400 km da
capital, se configura como um centro urbano isolado não-metropolitano e, de acordo com
“Regiões de Influência das Cidades (REGIC/IBGE, 1993)”
4
, possui um nível de
centralidade médio, de ordem 7. O nível de centralidade, ou seja, a capacidade de liderança
do município, vai de 1 a 8 e, quanto maior a escala, menor o nível de centralidade.
Ribeirão Preto, centro regional próximo a Franca, que constitui aglomeração urbana, se
enquadra na categoria 4 com nível muito forte de centralidade. O município de Franca faz
limites com os municípios de Patrocínio Paulista e Batatais ao sul, com Restinga, São José
da Bela Vista e Ribeirão Corrente a oeste, ao norte com Cristais Paulista, e a leste com os
municípios de Claraval e Ibiraci, no Estado de Minas Gerais.
Franca polariza cidades num raio de influência de até 60 km, situadas nos estados de São
Paulo (Restinga, Cristais Paulista, São José da Bela Vista, Patrocínio Paulista, Itirapuã,
Jeriquara, Pedregulho, Rifaina, Ribeirão Corrente) e Minas Gerais (Claraval, Ibiraci, São
Tomás de Aquino, Capetinga, Cássia). No seu entorno desenvolve-se moderna
agroindústria de açúcar e álcool e de processamento de soja, concentrada nos municípios
de São Joaquim da Barra, Orlândia, Morro Agudo, Sales de Oliveira e Batatais. Franca e
região são também centro produtor de café e desenvolvem tradicional pecuária de corte e
de leite. Tem uma tradição colonial de pólo diamantário, especializado na lapidação e
comercialização de gemas de diamante. Em decorrência de sua proximidade de Ribeirão
Preto e da fronteira com Minas Gerais (Triângulo Mineiro), é importante centro de
redistribuição de produção beneficiada na região e de produtos industrializados para os
principais centros consumidores de São Paulo e Minas Gerais. (UNICAMP/ IE/ NESUR,
1999)
4
Regiões de Influência das Cidades : porções do espaço submetidas à influência de centros
urbanos, cujos fluxos de pessoas, mercadorias e informações permitem a conformação de
estruturas territoriais relativamente estáveis no decorrer do tempo.
38
Quanto aos aspectos do meio físico, Franca se localiza em uma região de contato entre
domínios ecológicos diferenciados, entre as formações florestadas dominantes no Planalto
Ocidental Paulista e as formações de cerrado, dominantes de domínio da região do
Triângulo Mineiro. A primeira com solos férteis, provenientes do terreno Botucatu, ideal
para o café; o segundo, corresponde a solos pobres e arenosos, utilizado para pastagens.
(RIBEIRO, 1940; CANIL, 2000) Sua área urbana localiza-se na parte mais alta do
município, sobre o Planalto de Franca, com altitudes que variam de 950m a 1050m,
caracterizado como um “castelo de águas”, com uma vasta rede de drenagem
desembocando em direção aos rios Grande e Sapucaí. (MAPA 1) A maior parte da cidade
está instalada na Bacia do Sapucaí-Mirim, sendo que a APA do Rio Canoas e a serra de
Franca a leste constituem barreira para ocupação. (IPT, 1998)
O processo de expansão urbana ocorre, na maioria das cidades brasileiras, através do
parcelamento do solo na forma de loteamentos. Em Franca este processo vem se
alimentando de uma produção de lotes superior à demanda, detectada pela primeira vez nos
anos 1970 pelo Diagnóstico do Plano de Desenvolvimento Integrado – PDI, e
permanecendo até os dias atuais. Conforme a pesquisa Programas de Gestão Integrada para
o município de Franca - PGI, foram aprovados pela prefeitura de Franca, nos últimos cinco
anos, 19 projetos de loteamento residencial. Só no ano de 2001 foram feitos 16 pedidos de
diretrizes à prefeitura. (FELDMAN, 2002)
Diferentemente do caso da metrópole paulistana, cujo processo de expansão se baseou na
clandestinidade nos loteamentos, regido pelo “rito da desobediência”, em Franca ocorre
através de loteamentos aprovados pelo poder público. Para Caiado e Santos (2003), o
loteamento sem aprovação da prefeitura é o tipo mais freqüente de ocupação urbana em
área rural, observado em 19% dos municípios paulistas, num total de 1.051 loteamentos
nessa situação em todo o Estado, com maior incidência nos municípios com mais de 500
mil habitantes, com 75% de loteamentos clandestinos.
39
Mapa 1
40
Feldman (2002) verifica em Franca a existência de uma verdadeira “indústria do lote
legal”. Embora se tenha detectado no município alguns casos de clandestinidade no
parcelamento nos anos 1970 – regularizados logo no início dos anos 1980 –, atualmente a
prática do loteamento clandestino inexiste. Mas o fato dos loteamentos serem aprovados
não impede a irregularidade tanto na localização do empreendimento em área rural, quanto
no processo de aprovação de loteamentos, como iremos demonstrar no capítulo 3. Assim,
podemos considerar que nem todos os loteamentos aprovados pela prefeitura estão em
condições de regularidade, seja jurídica, seja urbanística. No entanto, o que nos interessa
para esta pesquisa é que o processo de expansão ocorre, não pela omissão, mas com o
carimbo de aprovação do poder municipal.
Mais do que a ausência da clandestinidade nos empreendimentos habitacionais, Franca não
possui favelas
5
. Conforme dados obtidos no IBGE (FIBGE, 2000), dentre os centros
isolados não - metropolitanos de Piracicaba, Franca, Jaú, Marília, Bragança Paulista,
Catanduva e Botucatu, a cidade de Franca é a única que não possui este tipo de ocupação.
Se compararmos com o processo de formação de favelas na metrópole paulistana,
caracterizado pelo "laissez faire urbano" que marcou as políticas públicas, e pela
resistência da população inquilina em se afastar das áreas centrais, em Franca detecta-se
uma aposta do poder público na ampla atuação do mercado imobiliário como forma de
resolução do problema habitacional, além de uma ausência de resistência da população em
se fixar nas áreas periféricas.
Desta equação decorre a grande oferta de lotes aprovados destinados à população de baixa
renda, que vão sendo ocupados mesmo sem a instalação de infra-estrutura através de
moradias autoconstruídas, com um padrão extremamente precário. Os empreendimentos
promovidos pelo setor privado, em sua grande maioria, não exigiam comprovação de
renda. (FELDMAN, 2002) Isto, acompanhado pelo fato da população de Franca ser
predominantemente operária, com algum rendimento que possibilitava a aquisição do lote,
pode ser uma das possíveis causas da não proliferação de favelas em Franca.
6
Conforme
5
Considerando a definição do IBGE de favelas, como um agrupamento de casas com mais de 50 unidades.
6
Em Franca houve a formação de apenas um núcleo de ocupações em área pública com menos de 50 casas,
dissolvido no início dos anos 80.
41
dados do IBGE, em 1991, apenas 2,9% dos chefes de família não possuíam renda e 54%
tinham renda até 3 SM. (Figura 5)
FIGURA 5
Município de Franca
População por rendimento (S.M.) - 1991
54%
6%
3%
2%
16%
19%
ATÉ 3
MAIS DE 3 A 5
MAIS DE 5 A 10
MAIS DE 10 A 20
MAIS DE 20
SEM RENDIMENTO
Em Franca não se detecta a especulação de grandes glebas. A localização do
empreendimento está mais vinculada à disponibilidade das terras pelos proprietários e ao
seu preço do que para fins especulativos. O que se verifica é a compra de lotes como uma
forma de investimento, ou de especulação. Em entrevistas com moradores e loteadores,
verificamos que na década de 1970 haviam pessoas que compravam quadras inteiras a
espera de valorização. Outras investiam na aquisição de lotes como maneira de assegurar o
futuro de suas próximas gerações.
7
Esta forma de investimento resulta uma grande quantidade de lotes vazios. A pesquisa
Programas de Gestão Integrada demonstrou que mais de 35% dos lotes cadastrados no
município permanecem vagos. Diferentemente do que ocorre nas cidades maiores, não se
trata de glebas vazias, mas lotes inseridos no tecido urbano consolidado, servidos por redes
de água, esgoto tratado e energia elétrica. A pesquisa revelou também, em entrevista com
loteadores, que a porcentagem de lotes vagos por loteamento varia de 20 a 50% e que
apesar disto, os lotes são vendidos quase totalmente em menos de um ano.
7
Entrevista com o Sr. João Lima, proprietário da imobiliária Enterfran, em 14/12/2004
Fonte: FIBGE, 1991
42
Disto decorre uma cidade excessivamente desconcentrada que se estende
desmensuradamente pelo território municipal, com altos custos dos serviços urbanos.
Ferreira et. al. (1998) apontam que:
Apesar de não haver problemas de regularidade fundiária, as
características difusas do crescimento da cidade são geradoras de
deseconomias, que se traduzem em custos insustentáveis para a
manutenção dos serviços e equipamentos públicos: a Prefeitura vem
enfrentando um déficit operacional de 1,3 milhão de reais mensais em
1998.
Atualmente o município apresenta 99,32% da superfície urbana servida por água potável,
97,06 % por rede de esgoto e 98,92 por coleta de lixo. (FELDMAN, 2002) O
abastecimento de água da cidade é feito através da captação do rio Canoas, um dos
principais afluentes do rio Grande, protegido pela criação da Área de Proteção Ambiental
da Bacia do Rio Canoas (Art. 55, Código do Meio Ambiente do Município de Franca).
Apesar de Franca não ter problemas com a poluição dos cursos d'água pelos esgotos
urbanos – a cidade tem quase 100% de seu esgoto tratado – verifica-se a ocorrência de
aterros sanitários em cabeceiras de drenagens erodidas para a correção de antigas
voçorocas, o que contribui para a contaminação do lençol freático.
O
PROCESSO DE EXPANSÃO
TERRITORIAL DA CIDADE
O acelerado processo de expansão urbana acontece em Franca de maneira fragmentada,
tanto nas ações – através da aprovação pontual de loteamentos, sem um plano geral de
expansão – como no território, resultando uma área urbana tipo colcha de retalhos,
conseqüência da justaposição dos loteamentos. O MAPA 2 permite visualizar este
processo. Os loteamentos foram agrupados por década em função do ano de aprovação
com base no trabalho de RINALDI (1982), que relaciona os loteamentos aprovados em
Franca no período compreendido entre 1925 e 1975, e nos resultados da Pesquisa
Programas de Gestão Integrada para o Município de Franca (FELDMAN, 2002), que
aborda os loteamentos aprovados a partir de 1976, quando se inicia a abertura de processos
43
administrativos para a aprovação. Estes dados foram compatibilizados com as informações
levantadas na Seção de Cadastro Físico da Prefeitura Municipal de Franca. As informações
sobre o processo de expansão urbana anteriores ao ano de 1925 (ano em que há o primeiro
registro de loteamento aprovado pela prefeitura – a Vila Chico Júlio), foram extraídas do
Diagnóstico do Plano de Desenvolvimento Integrado de 1972 e combinadas com os mapas
da cidade realizados no início do século XX e com a planta do loteamento Cidade Nova,
promovido pela Câmara em 1892.
A espacialização destes dados permite detectar dois momentos importantes no processo de
expansão urbana em Franca. O primeiro, na virada do século XIX, com chegada da linha
férrea e o desenvolvimento da economia baseada no cultivo do café, quando a área urbana
passa de 68,7 ha em 1893 para 162,2 em 1902, aumentando mais que duas vezes num
período apenas de nove anos. O segundo, na década de 1950, com a ampliação das estradas
de rodagem e a intensificação da atividade industrial, especificamente da indústria
calçadista, quando ocorre um verdadeiro boom da área urbana de Franca com a aprovação
de 37 loteamentos relativos à 510,21 ha, dobrando mais uma vez a área urbana. Desta
forma, pode-se dizer que a “indústria do lote legal”, detectada por Feldman (2002) no
processo recente, tem suas origens nos anos 1950, acompanhado pelo processo de
desenvolvimento econômico do município através da indústria.
Se por um lado estes dois momentos específicos se associam pela similaridade quanto aos
saltos quantitativos na expansão da cidade, por outro configuram o start de dois períodos
distintos, regidos por lógicas diferenciadas quanto à ocupação do território. O primeiro,
ocupando lentamente os terrenos mais planos ao longo dos espigões do Planalto de Franca,
desviando cuidadosamente dos condicionamentos naturais do meio físico. O segundo, se
apropriando indiscriminadamente do território, ocupando beira de erosões e solos frágeis à
procura de terrenos mais baratos, propícios à ocupação dos migrantes operários e ao
agravamento das condições sócio-ambientais do município. Neste sentido, o processo de
expansão urbana da cidade do café e da cidade do calçado merecem atenção
individualizada.
44
MAPA 2
45
A CIDADE DO CAFÉ E O
PRIMEIRO BOOM EXPANSIONISTA:
A PREFERÊNCIA PELOS ESPIGÕES
O antigo Sertão do Rio Pardo, região onde se insere Franca, foi desbravado no início do
século XVIII pelos bandeirantes paulistas. A “Rota dos Guayases” ou “estrada de
comércio” – caminho aberto em direção às minas de Goiás descobertas por Anhangüera II
– passava pelo espigão norte-sul do Planalto de Franca e constituiu, ao longo do século
XIX, privilegiado eixo de circulação interligando São Paulo a Minas Gerais, Mato Grosso
e Goiás. Originado como um dos pousos que foram se constituindo ao longo dos caminhos,
o Arraial Bonito do Capim Mimoso
8
, com sua localização privilegiada tornou-se um
importante entreposto de sal, gado e outras mercadorias para os viajantes que se dirigiam
que para a região centro-oeste. (CHIACHIRI F°, 1986)
O Planalto de Franca, por suas especificidades ecológicas, atraía a população em busca de
novas atividades econômicas. Com a decadência da atividade mineradora no início do
século XIX, a região passa a receber intenso fluxo populacional que se deslocava
principalmente da região sul de Minas Gerais e do Sertão da Farinha Podre (futuro
Triângulo Mineiro). Esgotadas as minas de ouro de aluvião, os “intrantes mineiros”
liderados pelo Cap. Hipólito Pinheiro, passam a buscar , não apenas ouro e pedras
preciosas, mas terras para a implantação de atividades agrícolas e de criação de gado.
(CHIACHIRI F°, op. cit.) Através do desenho de Vieira (1978) podemos observar as três
colinas do Planalto de Franca: a Colina Central onde se assentou núcleo inicial da cidade, à
esquerda a Colina da Estação e, à direita, a Colina Santa Rita. (Figura 6)
8
Como Franca era chamada antes da fundação da Freguesia em 1805
46
Fonte: Vieira (1978)
A região de Franca possuía características ideais para a fixação destes migrantes. Além de
sua posição estratégica integrando a rota do sal, a região integra uma zona de transição
ecológica se revelando como área de contato entre as formações florestais dominantes nos
planaltos ocidentais paulistas, que correspondem a solos mais ricos e férteis provenientes
de terreno Botucatu e ideal para o cultivo de café, e os chapadões revestidos por cerrados
dominantes no Triângulo Mineiro e no Sudoeste de Goiás, uma porção de solos pobres e
arenosos, utilizado para a criação de gado.
A chegada dos trilhos da Mogiana a Ribeirão Preto em 1883, e em 1887 à Franca, abriu
novas perspectivas para sua economia. Em 1870 Franca produzia 2534 arrobas de café
sendo que, em 1887, a produção alcançava 60.000 arrobas. (CHIACHIRI F°, op. cit.) Este
incremento da produção econômica associado ao grande aumento da população francana,
tanto pela vinda de fazendeiros e suas famílias para a cidade, quanto pela migração de
mão-de-obra – negros libertos e imigrantes vindo para trabalhar nas lavouras de café –
promoveu um intenso desenvolvimento na cidade. Neste momento, são instaladas fontes
para o abastecimento de água no centro e no bairro da Estação e lampiões para iluminação
pública – substituídos em 1905, no centro, por luz elétrica. Inauguram-se o prédio do
Fórum, o mercado municipal, a Santa Casa e a casa de Câmara e Cadeia.
(BENTIVOGLIO, 1999) Para Bentivoglio (op. cit.):
FIGURA 6
Desenho das três Colinas de Franca
47
[...] as transformações que ocorreram a partir de 1880 significaram uma
alteração radical da cidade. O aumento populacional e o necessário
incremento das atividades urbanas impeliu a cidade a expandir-se e a
urbanizar-se (...) Lentamente a cidade passa a despojar-se de suas feições
rurais. Novos loteamentos foram feitos, chácaras transformaram-se em
lotes, surgiram novos bairros, melhorou-se a infra-estrutura e os serviços
urbanos.
O intenso desenvolvimento urbano e o elevado número de migrantes que chegavam à
cidade favoreceram a aprovação, em 1892, do plano do bairro Cidade Nova. O plano,
realizado pela Câmara através do eng°. Ernesto da Silva Paranhos, estava localizado nos
terrenos do rossio, e constitui o primeiro plano de expansão urbana do solo de Franca, que
até então vinha se realizando através das concessões individuais de datas de terra. Para
Saturi (1998), mais que um plano de parcelamento, Cidade Nova precedeu a um esquema
de modernização que acabava de se introduzir no Brasil à luz dos conceitos do urbanismo
sanitarista, superando as propostas de intervenção urbana que realizavam projetos de
melhoramentos isolados ou pontuais.
DI GIANNI (1987) revela que a localização do bairro Cidade Nova foi uma estratégia do
poder local em garantir a distribuição geográfica na oferta de lotes e reação à grande
concentração de migrantes no bairro da Estação – que tinha sido demarcado e loteado pela
Câmara em 1890 – e à ameaça em se formar um centro urbano paralelo e de liderança
estrangeira, dada a concentração de italianos ali instalados. Segundo o autor,
A partir da chegada da ferrovia o povoamento se adensou o redor do
Pateo da Estação da Mogyana, pois foi justamente nessa área, ainda
desabitada mas extremamente favorecida com a chegada dos trilhos, que
se concentram os trabalhadores atraídos pela expansão cafeeira. Então,
as preocupações dos detentores do poder local em ordenar a expansão
urbana tornaram-se concretas. O centro histórico, comercial, religioso,
político e social encontrava-se ameaçado por uma desordenada ocupação
desta área distante processada pelos imigrantes, especialmente italianos
privilegiados pela densidade numérica e pela experiência urbana
anterior. [...] Rapidamente a Municipalidade reage, determina o
arruamento e compõe lotes públicos. (
DI GIANNI, op.cit.)
48
Mapa 3
49
Nas primeiras décadas do século XX, quando a cidade começa a extrapolar os limites do
rossio, surgem os primeiros planos de arruamento de iniciativa particular, dando origem ao
processo de parcelamento do solo privado. As primeiras plantas de vilas particulares
aprovadas pela prefeitura foram: a Vila Chico Júlio, na colina da Estação e a Vila
Aparecida, implantada no divisor de águas entre o Córrego dos Bagres e o Córrego
Cubatão, ambas em 1925, coincidindo com a alta do café. Nos anos seguintes são
licenciados mais duas vilas: a Vila Nicácio N°1 e a Vila Santo Antônio, em 1929.
9
Conforme podemos verificar pela Tabela 1, se compararmos as décadas de 1930 e 1940
com os cinco primeiros anos do início do processo de aprovação (1925-1929), há uma
redução no volume de empreendimentos aprovados. Entre 1925 e 1929 foram aprovados
quatro vilas correspondendo a área de 143,2 ha, enquanto a soma da área dos
empreendimentos das duas décadas posteriores correspondem a apenas 71,12ha, não
chegando nem à metade do que se havia aprovado nos primeiros cinco anos. Na década de
1930 são licenciados três empreendimentos: a Vila Monteiro, em 1933, a Vila Santos
Dumont e seu prolongamento, ambos em 1938, localizados no topo da colina da Estação.
Nos anos 1940, foram aprovados mais 20,82 ha divididos entre três novas vilas: a Vila
Flores, Vila Cel. Antonio Jacintho, Vila Jardim Consolação, localizadas nas partes mais
baixas da colina central.
A Tabela 1 demonstra quedas bruscas na aprovação dos empreendimentos nos períodos
1930-1934, com apenas uma vila de 4,7ha, e entre 1940 e 1944, com nenhuma aprovação.
A primeira retração pode estar relacionada à crise de 1929. Há que se considerar também
que, em nível local, o Código de Obras tinha sido recentemente aprovado, estabelecendo
regras mais rígidas para a aprovação de arruamentos.
9
Neste momento era utilizado o termo Vila para a denominação dos empreendimentos francanos. Somente
nos anos 1950 surge o termo Jardim e Bairro nos títulos e nos anos 1960, o termo Parque.
50
Tabela 1
Município de Franca
Loteamentos aprovados por qüinqüênio
(1925-1949)
Período N° de
loteamentos
aprovados
Área total dos
loteamentos
aprovados (ha)
1925-1929
4 143,2000
1930-1934
1 4,7000
1935-1939
2 45,6000
1940-1944
--
1945-1949
3 20,8200
Fontes: Rinaldi (1982), Arquivo da Prefeitura Municipal de Franca.
A combinação dos elementos do meio físico com o sistema de circulação regional foram
determinantes para a localização das novas vilas em Franca. As estradas e a linha férrea
tiveram papel fundamental na orientação da expansão urbana. No entanto, Ribeiro (1940)
observa que “nem todas as estradas atraíram o povoamento, apenas as que seguem os
espigões; as que atravessaram os córregos, com exceção da que se transformou em rua da
Estação, não deram ensejo a desenvolvimento. É o que se nota em relação à estrada da
Ponte Preta, da estalagem, antiga saída para Covas e antigo ponto de pouso para tropeiros,
e à estrada dos coqueiros”.
Assim, até os anos 1940, as vilas aprovadas seguiam preferencialmente os altiplanos das
colinas, onde se localizam as áreas mais planas e pobres para a agricultura – enquanto as
terras baixas eram mais férteis, utilizadas pela cultura de café, que no início do século
estava em pleno desenvolvimento –, lógica que vai ser abandonada após os anos 1950.
51
A CIDADE DO CALÇADO E O
SEGUNDO BOOM EXPANSIONISTA:
A OCUPAÇÃO INDISCRIMINADA DO TERRITÓRIO
À medida que o “complexo cafeeiro” foi se desenvolvendo, gerou-se em paralelo um
processo de crescimento de uma agricultura de alimentos e de matérias-primas, que exigiu
a montagem de um sistema de articulação regional mais sofisticado, extrapolando os
limites colocados pela linha férrea. No período 1928/55 houve avanço significativo no
sistema de transporte rodoviário, quadruplicando a extensão da rede de 113,6 mil km para
459,7 mil km. Em 1951 foi elaborado o Plano Rodoviário do Estado que procurava
viabilizar obras ligando pequenas cidades aos centros urbanos de porte médio do Oeste
Paulista e completava os grandes empreendimentos de rodovias do período 1930/50, entre
elas as vias Anchieta e Anhanguera e a Campinas-Ribeirão Preto. (NEGRI, 1996)
Neste processo de transformação, a cidade de Franca, que vinha sendo conhecida como
produtora do “melhor café do mundo” (BENTIVOGLIO, 1996), começa a se configurar, a
partir dos anos 1940, como pólo produtor de calçados. (SUZIGAN, 2000) Apesar da crise
de 1929 ter afetado profundamente a cafeicultura regional, o setor agrícola manteve a sua
predominância sobre a economia do município até a década de 1950, quando o processo de
industrialização começa a se intensificar. (GPI, 1969)
A partir dos anos 1950, inverte-se a composição da renda interna municipal e a indústria
calçadista – cuja produção industrial já representava 48,7% da produção total do município
– passa a predominar, em escala crescente, sobre a produção agropecuária. (GPI, op.cit.) A
atividade curtumeira e de fabricação de calçados que já vinha se especializando no
município se consolida com o processo de industrialização da produção e com a
proliferação das fábricas e ampliação das já existentes. Somente no ano de 1950 foram
licenciados 1877 m
2
para a instalação de novas fábricas de calçados. (FERREIRA, 1989)
A indústria calçadista torna-se, após os anos 1960, a principal atividade econômica do
município, condição esta que permanece até os dias atuais. Em 1965, dos 337
estabelecimentos industriais do município, 227 eram dedicados à fabricação de calçados de
52
couro. (GPI, op.cit.) Dentre os fatores que contribuíram para a decolagem do processo de
industrialização do município, podemos destacar o processo de substituição de
importações, incentivado pelo governo federal, que possibilitou intensificar o
reequipamento da indústria francana, e a abertura de linhas de crédito à indústria, através
do Banco do Brasil e das redes particulares. (GPI, op.cit.)
Em 1964 é criada, pelo governo federal, a GEICAL – Grupo Executivo de Calçados
(DECRETO FEDERAL N° 53586, de 21/02/1964), que estabelecia uma política para o
desenvolvimento deste setor. Neste sentido a lei federal N° 4622, de 03/05/1965 vem
determinar a isenção de impostos para importação de equipamentos destinados à indústria
de calçados. Mas antes mesmo dos incentivos federais, o governo municipal há quase dez
anos já que isentava de impostos as novas indústrias que se instalassem no município. (LEI
N° 577, de 25/09/1956) Em 1992 o número de estabelecimentos cresce para 2800, sendo
que 1150 são indústrias de calçados. Se considerarmos também as indústrias de suporte à
produção de calçados, como curtumes, solados, etc., estas atingem 85% do total das
indústrias do município. (PMF, 1992)
O acentuado desenvolvimento econômico do município, decorrente tanto dos incentivos à
industria como ao transporte
10
, contribuiu para um expressivo processo de urbanização do
território. Enquanto nos anos 1940 tinham sido loteados apenas 20,82 ha – período que,
sob a óptica estrutural, refletiam os efeitos da crise econômica de 1929 – os anos 1950
abarcam um surto quantitativo com a aprovação de 37 loteamentos equivalente a uma área
510,21 ha. (Tabela 2) Neste momento a área urbana se expande para a Colina Santa Rita,
localizada no interflúvio dos córregos Cubatão e Coqueiros, iniciando um processo de
ocupação indiscriminada do território, com a intensificação dos loteamentos nos arredores
das voçorocas, áreas que até então eram consideradas repulsivas para a urbanização. (Mapa
4)
10
Os recursos do Programa Cidades Médias eram provenientes de dois fundos: o FDTU, ou Fundo de Desenvolvimento
de Transportes Urbanos, e o FNDU, ou Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano, na proporção de 75% e 15%,
respectivamente; isso equivale dizer que 75% deveria ser empregado em sistema viário ou de transportes urbanos.
53
TABELA 2
Município de Franca
Loteamentos aprovados por qüinqüênio
(1950-2004)
Período N° de
loteamentos
aprovados
Área total dos
loteamentos
aprovados (ha)
1950-1954
11 148,4200
1955-1959
26 361,7900
1960-1964
7 92,0200
1965-1969
28 587,7100
1970-1974
13 119,2200
1975-1979
34 463,6380
1980-1984
42 874,3500
1985-1989
19 357,8464
1990-1994
28 545,0757
1995-1999
19 253,0679
2000-2004
27 495,7271
Fontes: Rinaldi (1982); PGI (2002); arquivo da PMF.
54
Mapa 4
55
Mas se na década de 1950 a ocupação se dá nos contornos da área urbanizada, na década
de 1960 a área urbana explode, lançando seus estilhaços em terras distantes, fazendo
germinar novas ocupações ao seu redor (Mapa 5). Nesta década, o número de loteamentos
praticamente se mantém nos níveis da década anterior, mas supera em relação à área
loteada (35 loteamentos totalizando uma área de 679,73 ha) ocorrendo, portanto, um
aumento na área dos empreendimentos. A expansão não segue mais o direcionamento
imposto pela geografia, se apoderando do território indiscriminadamente, em todas as
direções.
Esta explosão é deflagrada com a aprovação do loteamento “para fins populares” Jardim
Alvorada, promovido pela iniciativa privada em 1961, com uma área de 23 ha e localizado
em área rural, à margem da antiga rodovia Franca-Batatais. Este loteamento se configura
como o primeiro a induzir a expansão territorial da cidade, neste caso para o extremo sul.
Outros loteamentos se configuram como indutores deste processo: a leste, o Jardim
Brasilândia em 1966 com 52,38 ha; a oeste, a Vila Rezende, com 21,26 ha, ultrapassando
em 1967 o obstáculo configurado pela linha férrea; e ao norte, Vila Santa Terezinha, em
1968, com 32,33 ha, todos eles destinados à população de baixa renda. Todos eles
configuram-se como pioneiros no processo de ocupação indiscriminada do território,
instalando-se em locais distantes da área urbanizada e levando a extensão das redes de
infra-estrutura, fazendo germinar novas ocupações no seu entorno, espalhando assim os
fragmentos de cidade. (Mapa 6)
Considerando a incidência de população operária em Franca, de renda fixa e extremamente
baixa, podemos afirmar que ela é o foco destes empreendimentos residenciais, os quais
deveriam estar de acordo com suas possibilidades aquisitivas. Esta população que se
urbanizava era constituída basicamente por migrantes vindos dos municípios vizinhos, de
pequeno porte, de economia predominantemente rural, que buscavam trabalho não mais
nas lavouras de café, mas na promissora indústria, especificamente, a de calçados. Esta
população que se urbanizava iniciava uma grande demanda por habitação urbana. Uma
pesquisa mais aprofundada sobre esta questão em específico permitiria identificar como e
em que medida os empresários do ramo calçadista também constituíram agentes no
processo de parcelamento do solo, tema profícuo para outras pesquisas que venham a se
desenvolver.
56
Mapa 5
57
Mapa 6
58
Desta forma, inicia-se a escolha por terrenos que possibilitassem um produto de baixo
custo, que irá resultar no processo de loteamento de terrenos localizados à beira dos
“buracões”, por serem áreas repulsivas e, conseqüentemente, menos valorizadas,
resultando em lotes condizentes com as possibilidades aquisitivas dos migrantes.
Conforme revela Rinaldi (1982):
Nos primeiros anos da década de sessenta, várias áreas próximas às
boçorocas passam a ser loteadas e ocupadas. [...] Obrigados a
estabelecer-se em bairros subdotados de infra-estrutura, pela pouca
capacidade aquisitiva que possuem, os migrantes recentes que procuram
Franca, promovem a ocupação de áreas atingidas por boçorocas. (p.134)
A associação entre pobreza, expansão urbana e degradação sócioambiental (termo recente)
é feita pioneiramente por Ab’Saber (1975) quando, em sua visita a Franca em 1967,
observa que:
em sua maioria, os loteamentos descontínuos e não integrados que
acompanham as vertentes mais baixas dos córregos, pertencem às
classes de menos recursos e possibilidades financeiras. Identicamente, os
loteamentos desenvolvidos por entre as grandes boçorocas situadas nas
vertentes do alto vale dos Bagres, asilam populações pobres,
constantemente ameaçadas pelos desbarrancamentos e pela progressão
das boçorocas, e sujeitas à continuidade com tais ravinas de evolução
agressiva, incrustradas, sob a forma de perigosos terrenos baldios, no
meio do organismo urbano. (p.5)
Após o impulso das décadas de 1950 e 1960, os loteamentos do final dos anos 1970 e
início dos 1980 vão ainda mais longe. Este período se caracteriza por grandes
transformações no desenvolvimento municipal, como o surgimento das grandes fábricas
standartizadas e totalmente mecanizadas, em amplos prédios e com número elevado de
operários. Estes novos trabalhadores, que reforçavam um contingente de mão-de-obra
pouco qualificada, submetendo-se a receber baixíssimos salários, se viam impossibilitados
de adquirir terrenos em áreas próximas ao Centro e beneficiadas por infra-estrutura e
saneamento básico, dirigindo-se para novos loteamentos que possibilitavam a aquisição da
terra urbana. (BENTIVOGLIO, 1999)
59
Neste momento, com a atuação das concessionárias de água, esgoto e energia elétrica,
começam a se aperfeiçoar os sistemas de infra-estrutura urbana, até então muito deficientes
no município. A Sabesp adquire concessão dos serviços de abastecimento de água e
esgotos em 1976, acelera-se a construção da adutora do Rio Canoas, finalizada em 1985,
conclui-se as obras da Usina Peixoto para geração de energia elétrica, cria-se a EMDEF, a
Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano de Franca, responsável pelas obras de
pavimentação.
O incremento dos serviços de infra-estrutura vinha acompanhado das denuncias, através da
mídia, sobre a carência de moradias para a população operária. O artigo do jornal “Diário
da Franca”, de 14/06/78, coloca que Franca poderia ter seu “crescimento industrial
seriamente comprometido pela falta da abertura de loteamentos populares, que atendessem
à demanda de migrantes que afluíam à cidade em razão dos empregos oferecidos pela
indústria coureiro-calçadista local”. Ao mesmo tempo, proliferavam anúncios de
loteamentos nestes jornais, muitos deles ocupando páginas inteiras. (Figuras 7 a 11) Estes
anúncios ressaltavam a “ótima localização” dos loteamentos – geralmente próximos de
rodovias; a vantagem de possuir infra-estrutura – o que na maioria das vezes não se
concretizava; e a facilidade no pagamento. Conforme os anúncios, os lotes poderiam ser
financiados por entre 24 e 40 meses.
FIGURA 7 – Anúncio de jornal sobre venda de lotes.
Fonte: Jornal Diário da Franca, 24/02/1979
60
FIGURA 8 – Anúncio de vendas de lotes.
Fonte: Jornal Diário da Franca, 19/06/1978
FIGURA 9 – Anúncio de vendas de lotes.
Fonte: Jornal Diário da Franca, 17/02/1979
FIGURA 10 – Anúncio de vendas de lotes.
Fonte: Jornal Diário da Franca, 14/03/1979
FIGURA 11 – Anúncio de vendas de lotes.
Fonte: Jornal Diário da Franca, 07/02/1979
61
O período compreendido entre 1975 e 1984 foi o mais profícuo na aprovação de
loteamentos, com um novo salto quantitativo tanto em área loteada como no número de
loteamentos aprovados. Foram aprovados neste período 76 loteamentos que correspondem
a 1337,98 ha, o equivalente à área loteada nos trinta anos compreendidos entre 1945 e
1974. Conforme entrevista realizada com técnicos da Prefeitura, este número se deve
também ao fato de que no ano de 1983 ocorreu um processo de regularização de vários
loteamentos pela administração.
11
Os maiores empreendimentos habitacionais para a população de baixa renda foram
implantados em Franca entre os anos de 1975 e 1984. É neste período que o Estado irá
aumentar a produção habitacional para o setor popular através das COHAB/CDHU,
conforme demonstra a Tabela 3. Comparando os dados da Tabela 2 (p.38) e a Tabela 3,
temos que o período de maior crescimento da área loteada do município corresponde aos
anos de elevada produção habitacional estatal.
TABELA 3
Produção habitacional CDHU – 1967/85
Período Quantidade Local Recursos
predominantes
1967 – 1970 2.002 interior CEESP
1971 – 1979 13.965 interior e
grande SP
CEESP
1980 - 1985 27.248 interior BNH
Fonte: Arquivo CDHU/ março 1998.
A produção de empreendimentos públicos em Franca foi significativa. Entre os anos de
1982-2002 foram produzidos 15 empreendimentos habitacionais públicos. Com exceção do
conjunto habitacional do Bairro Santo Antonio, todos se localizam em áreas periféricas,
distribuídos pelos quatro cantos da cidade, ressaltando o caso do conjunto localizado no
loteamento Parque das Esmeraldas, à esquerda da área urbana, induzido pela implantação
do Distrito Industrial. (MAPA 7)
11
Informação obtida na entrevista com Mauro Ferreira em 14/12/2004, Franca-SP.
62
MAPA 7
63
Pela dimensão e localização em relação à área urbanizada, destacam-se dois
empreendimentos destinados à “classe popular”, chamados na época como “loteamentos-
satélites”
12
: o Conjunto Habitacional Vicente Leporace (Figura 12), promovido pelo poder
público e aprovado em 1982, e o loteamento Jardim Aeroporto, da iniciativa privada,
aprovado em 1978. (MAPA 8)
Embora os empreendimentos públicos tenham sido significativos na provisão da habitação
“popular”, o principal agente promotor do processo de expansão urbana através de
loteamentos em Franca são os loteamentos de promoção privada. Em 1984 a administração
concedeu incentivos aos “núcleos residenciais populares” através da isenção do IPTU tanto
para os empreendimentos públicos como privados. (LEI N° 2.926, de 07 de junho de 1984)
Conforme entrevista realizada com empreendedor imobiliário que atua em Franca desde a
década de 1970 e administra o loteamento Jardim Aeroporto, neste período havia uma
grande demanda por lotes “populares” e também uma facilidade na aprovação do
empreendimento pela Prefeitura, ressaltando que o processo não tramitava por “nenhum
órgão externo”.
13
12
Informação obtida em entrevista com o sr. João Luis Lima em 14/12/2004, Franca-SP e por pesquisa nos
jornais do período.
13
O sr. João Luís Lima, de Marília-SP, veio para Franca para trabalhar como gerente da Imobiliária
Enterprises, que era filial de uma rede cuja matriz era em Presidente Prudente e com uma filial em Marília. A
Imobiliária Enterprises durou de 1977 a 1990. Em 1990, o sr. João Luis Lima adquiriu a imobiliária dos
antigos proprietários, modificando o nome da empresa para Enterfran. (Entrevista realizada em 14/12/2004,
Franca-SP)
Figura 12 – Propaganda do Conjunto Habitacional Vicente Leporace
Fonte: Diário da Franca, 24/02/1979
64
MAPA 8
65
Os anos que se seguem vão dar continuidade a este processo desenfreado de aprovação de
loteamentos. A área urbana de Franca que em 1972 correspondia a 1754 ha passou para
6450 ha em 2004, aumentando em 370%. Somente na década de 1990 são aprovados 47
empreendimentos e, entre os anos 2000 e 2004, aprova-se 27 loteamentos, somando à área
urbanizada quase 1500 ha, o equivalente a mais de 25.000 lotes. (ver Anexo I) Após os
anos 1990 muda-se o foco dos empreendedores que passam a realizar condomínios para a
classe mais alta. Conforme entrevista com loteadores, isto acontece em função do aumento
de exigências para o empreendedor:
[...] é difícil realizar empreendimentos para classe popular por causa do
aumento das exigências ao loteador. Hoje o lote tem que ser vendido
com toda infra-estrutura implantada, o que encarece o preço dos lotes.
Como não consegue viabilizar um financiamento com prazo muito
extenso, as parcelas são altas e inviabiliza o empreendimento. Neste
sentido hoje o foco da administradora é o condomínio de classe mais
alta. Anteriormente a implantação era realizada através do sistema de
Contribuição de Melhoria (o loteador repassava os custos com infra-
estrutura ao comprador de lotes). Com isso, hoje o loteamento não é
mais um investimento seguro.
14
14
Informação obtida em entrevista com o sr. João Luis Lima em 14/12/2004, Franca-SP
66
2
EXPANSÃO URBANA E VOÇOROCAS:
DESCOMPASSO ENTRE A GEOGRAFIA E A
ADMINISTRAÇÃO
A terra coitada envelheceu. Uma doença
lethal lhe enfraquece o organismo,
que se abre em longas e profundas úlceras.
As feridas comem os próprios bordos. Não lhes basta
a carne frouxa e rôxa do solo.
A terra é uma pobre mendiga. Caem-lhe os trajes
verdes em pedaços sob os remendos das macegas descoradas
das barbas de bode.
De tarde, antes de se recolher ao canil,
O sol – um jaguapeva ruivo –
vem lamber as carnes roxas e frouxas
que as úlceras das bossorocas vão comendo... comendo
(BOSSOROCAS - Antonio Constantino (poeta francano), 1927)
68
69
O AGRAVAMENTO DOS PROCESSOS EROSIVOS EM FRANCA
E OS LOTEAMENTOS APROVADOS
O principal problema ambiental de Franca está relacionado aos processos erosivos
complexos – as voçorocas.
11
Estes fenômenos, que atingem muitos municípios paulistas,
têm gerado em Franca graves prejuízos através da perda de investimentos públicos em
obras de infra-estrutura e da degradação de sua área urbana.
12
Segundo Kátia Canil,
geógrafa do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), Franca está
entre os municípios paulistas que apresentam os problemas mais críticos quanto à erosão
do solo, especialmente em área urbana, juntamente com Bauru, Presidente Prudente e
Botucatu.
13
Observa-se que estes municípios, apontados por Canil como os mais
problemáticos, estão entre os centros urbanos paulistas de porte médio, não-
metropolitanos, que receberam grandes investimentos na década de 1970, no âmbito dos
planos de descentralização da indústria e desenvolvimento do interior.
Entre os diversos fatores responsáveis pelo agravamento das voçorocas, hoje o processo de
expansão urbana através da implantação de loteamentos é considerado o principal. (IPT,
1998) Sua localização em áreas não apropriadas sob o ponto de vista geotécnico, a
deficiência na instalação de infra-estrutura, a abertura em períodos chuvosos e o longo
período de exposição do solo, a deficiência do sistema de drenagem de águas pluviais e
servidas, tanto nas formas de captação como na dissipação e o traçado inadequado do
sistema viário, agravado, muitas vezes, pela falta de pavimentação, guias e sarjetas, são
fatores que estão relacionados ao agravamento dos processos erosivos. Disto decorre um
forte impacto no ambiente como a localização de moradias em área de risco nos arredores
de erosões, assoreamento de cursos d'água e perda de equipamentos públicos.
11
Para o entendimento mais aprofundado dos processos erosivos em Franca, ver o trabalho de Canil (2000)
que analisa e classifica estes fenômenos sob o ponto de vista do risco que oferecem ao processo de expansão
urbana.
12
Conforme os dados do Relatório de Situação dos recursos hídricos do Estado de São Paulo elaborado pelo
Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – SIGRH em 2000,
estima-se que haja, atualmente, cerca de sete mil voçorocas em todo o estado, cujos custos obras para
recuperação e estabilização atingiriam a ordem de 20% do orçamento.
13
Entrevisa realizada no IPT, em 3 de março de 2006.
70
Mapa 9
71
Ao longo dos últimos trinta anos os processos erosivos em Franca se ampliaram. Como se
pode observar no Mapa 9, em 1969 foram levantadas pelo Diagnóstico para o PDI de
Franca a ocorrência de 21 voçorocas na área urbana e em seu entorno. Na década de 1990,
com a expansão da área urbana, este número se ampliou para 32. (IPT, 1998) Este
problema tem gerado deseconomias para a administração municipal. Conforme o artigo do
site oficial da Prefeitura, a administração municipal de Franca e o Governo do Estado
investiram cerca de R$ 400 mil na contenção de uma única voçoroca localizada no bairro
City Petrópolis.
14
Segundo entrevista com técnicos municipais, o controle e recuperação
das voçorocas estão orçados em R$ 10 milhões.
15
Através do levantamento fotográfico realizado no âmbito da pesquisa PGI (FELDMAN,
2002), que selecionou alguns loteamentos aprovados entre 1998 e 2002 (Figuras 13 e 14), e
das fotos contidas no Parecer Técnico do IPT (1998) (Figuras 15, 16 e 17) podemos
verificar em Franca a dimensão deste problema.
FIGURA 13 – Foto do Loteamento Jardim Luíza II – traçado das ruas
perpendicular às curvas de nível.
Fonte: PGI (2002)
14
http://www.franca.sp.gov.br, acesso em 6/10/2003, notícia de 03/10/2003
15
Entrevista com a coordenadora geral das Unidades de Serviço Social da Secretaria de Assistência Social e
Participação Popular realizada em 19-05-2004
72
FIGURA 14 – Foto do Loteamento Jardim Luíza II
– uma das ruas do loteamento sem pavimentação e
com sulcos pioneiros. Fonte: PGI (2002)
FIGURA 16 – Foto da voçoroca do Jardim Aeroporto III e IV.
Fonte: IPT (1998)
FIGURA 15 - Voçoroca da R. Margarida Fornasier.
Rompimento das redes de esgoto e águas pluviais e
risco aos moradores. Fonte: IPT (1998)
73
FIGURA 17 – Foto da voçoroca do Jardim do Líbano. Infra-estrutura urbana e
moradias em risco, próximas dos taludes da erosão. Fonte: IPT (1998)
Conforme estudos específicos (DAEE, 1989; IPT, 1998), os processos erosivos consistem
no processo de desagregação e remoção de partículas de solo ou fragmentos e partículas de
rochas, pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo e/ou organismos
(plantas e animais). Estes processos podem ser naturais, quando se desenvolve em
condições de equilíbrio com a formação do solo ou acelerados quando sua formação/
evolução é superior à capacidade de recuperação do solo. (DAEE, 1989) Os processos
erosivos acelerados se subdividem em dois tipos: laminar (ou em lençol), quando
provocada por escoamento difuso das águas das chuvas, resultando na remoção progressiva
dos horizontes superficiais do solo; ou linear, quando provocada pela concentração das
linhas de fluxo das águas de escoamento superficial (enxurrada). (IPT, 1998)
Dentre os processos erosivos lineares, estão os sulcos, as ravinas e as voçorocas,
diferenciados em função do grau de complexidade. Os sulcos são processos superficiais
pouco profundos (com menos de 50cm de profundidade). As ravinas consistem a fase
seguinte, com maior profundidade mas não atingem o lençol d’água subterrâneo. Já as
voçorocas constituem a fase mais complexa, geralmente com formas ramificadas,
combinando a ação do escoamento superficial à ação das águas de subsuperfície. Esta
combinação é chamada piping, espécie de erosão interna que remove as partículas do
interior do solo, formando “tubos” vazios que provocam colapsos e escorregamentos
laterais na parede da voçoroca, promovendo o seu alargamento contínuo. (IPT, 1998)
Mas se hoje a relação entre expansão urbana através de loteamentos ao agravamento dos
processos erosivos está claramente formulada, como estes problemas vinham sendo
74
tratados antes desta associação? Em que momento o processo de expansão urbana passa a
ser o principal agravante das voçorocas? E ainda, quais são as origens destas questões que
se configuram como principal problema da administração municipal e como esta tem
atuado em relação ao seu controle? Para entender este processo de associação entre as
questões “ambiental” e “urbana” no caso de Franca recorre-se a análise histórica.
A PRESENÇA DOS BURACÕES:
OBSTÁCULOS AO CRESCIMENTO DA CIDADE
A preocupação com as voçorocas como fatores que pudessem impedir ou condicionar o
processo de expansão urbana é revelada, pela primeira vez, em 1887 através da solicitação
de encaminhamento de um ofício à Assembléia Provincial requisitando “uma verba de
vinte contos de réis para o entupimento das grandes bossorocas que existem, não só no
caminho da estação da via-férrea, como mesmo unido à cidade, onde pode causar grandes
prejuízos” (LRDP, 20 de janeiro de 1887) Chamadas de “bossorocas”, “buracões” ou
“desbarrancados”, as voçorocas nesta época eram interpretadas como acontecimentos
naturais, fenômenos desconhecidos, causando certo temor e estranhamento pela sua
magnitude. Segundo a tradição da população rural, os “buracões” eram resultados de
pragas lançadas por padres indignados contra as cidades que os maltrataram. (RAMOS,
1945)
Tal era a importância destes elementos para o processo de expansão da cidade que já no
plano de expansão do bairro Cidade Nova, detecta-se pela primeira vez sua representação
gráfica. (Figura 18) Desenhadas como manchas disformes nos contornos do parcelamento
projetado, as voçorocas não estavam identificadas, o que fizemos através da comparação
com uma foto do bairro de 1968 (Figura 19) e com documentos mais recentes, concluindo
que já existiam antes do plano de urbanização. À esquerda temos a voçoroca do Pestalozzi
e, à direita, a voçoroca das Palmeiras.
75
FIGURA 18 – Planta do Bairro Cidade Nova, 1892. Fonte: Museu Histórico de Franca
FIGURA 19 – Foto aérea do bairro Cidade Nova. Fonte: Museu Histórico de Franca
Os primeiros mapeamentos realizados para o levantamento da cidade no início do século
XX também incorporavam a representação dos “buracões”. O mapeamento da cidade
elaborado em 1914, (Figura 20) representa o traçado das ruas, localizando os principais
edifícios públicos e os buracões: ao norte, do Pestalozzi; à oeste, o buracão do
Higienópolis e outro que interceptava a atual Rua General Carneiro, interrompendo a
possível ligação entre o Centro e o Bairro da Estação; e a leste, o buracão do final da Rua
Pestalozzi
Palmeiras
Pestalozzi
Palmeiras
76
Voluntários da Franca. Para se ter uma idéia da importância de tais elementos da paisagem
para o ordenamento da cidade, basta observarmos que neste mapa, nem mesmo o córrego
dos Bagres, que fragmentava a área urbanizada, estava representado.
FIGURA 20 – Mapa da Cidade de Franca, 1914.
Fonte: Museu Histórico de Franca
77
Da mesma forma, o mapa da cidade elaborado em 1943 (Figura 21) demonstra, com uma
representação gráfica mais precisa, os arruamentos existentes, localizando os principais
edifícios e os cursos d’água dos Bagres e Cubatão e a localização dos “buracões”, em sua
grande maioria ao longo nas nascentes que vão desembocar no córrego dos Bagres. Por
estes documentos, pode-se verificar que, além das condições topográficas, estradas e
caminhos, os “buracões” tiveram papel fundamental no direcionamento do processo de
expansão urbana de Franca.
FIGURA 21 – Mapa da Cidade de Franca, 1943.
Fonte: Almanaque da Franca, 1943.
78
A DESNATURALIZAÇÃO DOS BURACÕES:
UM DESAFIO PARA OS GEÓGRAFOS
A questão das voçorocas, percebidas desde o século XIX pela administração de Franca
como um entrave para o processo de expansão da cidade, tornou-se foco de atenção a partir
dos anos 1940, primeiro no âmbito da geografia e história, como disciplinas integradas, e
após a dissociação, especificamente pela geografia. Dentre os trabalhos pesquisados sobre
o entendimento dos processos erosivos no Estado de São Paulo, de autoria de geógrafos,
todos destacam Franca como sendo um dos casos mais problemáticos.
O trabalho de Ribeiro (1940), realizado por ocasião do IX Congresso Brasileiro de
Geografia no Rio de Janeiro, foi o primeiro trabalho encontrado neste universo e estuda o
caso específico de Franca sob o ponto de vista da história e da geografia. Intitulado como
“Franca: contribuição ao estudo dos centros urbanos brasileiros”, o trabalho analisa o
desenvolvimento da cidade e sua relação com os aspectos naturais: a localização do sítio, o
clima, a vegetação, o solo. Neste trabalho, a autora revela que a questão dos processos
erosivos ainda era pouco estudada, e aponta que uma possível causa é Franca estar
instalada numa região de contato entre duas camadas geológicas diferentes: a primeira, que
forma a cobertura do planalto, arenosa, pobre e muito permeável se sobrepõe a um terreno
argiloso, impermeável.
Para Ribeiro (1940), a dualidade paisagística de Franca, ao mesmo tempo em que
favoreceu a manutenção de sua economia com a aptidão tanto para o café quanto para a
criação de gado, também determinou o aparecimento das voçorocas. A especificidade do
solo determina um caráter friável e desagregável nas áreas das vertentes dos altos
chapadões. A autora identifica a presença de “buracões” principalmente na direção dos
ribeirões dos Bagres e Cubatão, onde a declividade é mais acentuada e aponta que “os
buracões constituem um grande problema para o futuro da cidade e isso já tinha sido
percebido nos meados do século passado, segundo consta às atas da câmara”. Para Ribeiro
(1940:589), a existência de “buracões” constituiu um “um grande problema para o futuro
79
da cidade”, dificultando seu “crescimento normal, e influenciando a direção tomada pela
expansão urbana”:
por estar apertada entre duas redes de buracões, o crescimento da cidade
obedeceu mais o sentido longitudinal que o transversal.
O termo “crescimento normal” colocado pela autora, talvez tenha a intenção de significar o
que Follis (2003:54) colocou mais claramente, avaliando que:
a presença de boçorocas no meio urbano de Franca impôs [...] certos
limites à construção de uma malha urbana funcional na cidade, uma vez
que dificultou grandemente a constituição de um traçado que
proporcionasse uma articulação eficiente entre os bairros da urbe.
Em 1945, Wolny Ramos, aluno da Secção de Geografia e História da então Faculdade de
Filosofia de São Paulo (atualmente FFLCH), publica no periódico mensal do Conselho
Nacional de Geografia/IBGE, o artigo “Vossoroca – variações em torno de uma confusa
palavra da terminologia geográfica brasileira”. Neste trabalho, o autor se propõe a analisar
a terminologia da palavra “vossoroca” em função da grande atenção dos especialistas para
o problema pelas “proporções gigantescas que está assumindo”. Ramos (1945:1515)
chama atenção para este fenômeno,
que é recente no Brasil, pelo menos em tão grande quantidade como
agora existem e com a velocidade com que vão aumentando, ameaçando
mesmo tragar cidades inteiras como Garças, Casa Branca e Franca no
Estado de São Paulo.
A partir da problematização dos processos erosivos pelos geógrafos, ocorre a
desnaturalização da questão das voçorocas (até então enfocadas como elementos da
paisagem, desconhecidos e míticos) e as primeiras associações entre estes fenômenos e as
intervenções antrópicas no solo. No trabalho de Ramos (1945), que se atém principalmente
em discutir a terminologia da palavra, é feita uma primeira associação entre uso do solo e
voçorocas. Como neste momento as cidades do interior paulista tinham feições
predominantemente rurais e a agricultura e a pastagem eram ainda as bases de sua
economia, esta associação se dava em função da “ocupação humana dos solos” por
atividades agrícolas.
80
Tal fenômeno, é a resultante, em grande parte, da quebra dos processos
normais de erosão em conseqüência da ocupação humana dos solos
favoráveis a essa formação, o desflorestamento, o mau aproveitamento
do solo (queimadas e processos desaconselhados de agricultura), efeitos
da circulação (tráfego de carros de boi, carroças, gado, automóveis, etc,)
que destroem a cobertura vegetal que diminuía o índice de porosidade da
superfície do solo, e que possibilitava o escoamento superficial das
águas — são os responsáveis pela “vossoroca”. (RAMOS, 1945)
Podemos entender esta associação utilizando o recurso explicativo de Celso Furtado, que
considera a prática agrícola essencialmente predatória, pois está fundada nos interesses
econômicos da elite rural e na crença da terra abundante:
É evidente que se [a terra] fosse escassa, concluída sua ocupação, os
empresários seriam induzidos a melhorar os métodos de cultivo e a
intensificar a capitalização para aumentar rendimentos. (...) Ora, a terra
mais ainda que a mão de obra, existia em abundância [...] A preservação
do solo só preocupa o empresário quando tem fundamento econômico.
(Furtado, 1959: 162)
Poucos eram os estudos das voçorocas nesta época e muitas eram as lendas a seu respeito,
face à amplitude do fenômeno na paisagem, à sua grandiosidade cenográfica e à
criatividade de nossos povos tradicionais. Teodoro Sampaio e Plínio Airosa afirmam que a
palavra voçoroca é derivada das formas em tupi yby ou ibi, terra; e soroca, rasgão, a terra
rasgada, fendida. Para João Mendes de Almeida (Dicionário Geográfico da Província de
São Paulo) a palavra é derivada de mbaê-çorogca ou mboçoróca, coisas rasgadas,
rasgadura. De qualquer forma, estes significados se remetem à explicação lúdica dos povos
indígenas que explicam a:
terra rasgada [como resultado] das contorsões do ‘minhocão’ que vive
debaixo da terra e que por ocasião das grandes tempestades sai furioso
pelos campos rasgando morro e descascando árvores. (RAMOS, 1945)
Diversas são as formas encontradas para designar o fenômeno pelos especialistas:
bossoroca, boçoroca, vossoroca, voçoroca. Popularmente o fenômeno é conhecido como
“buracões” e “desbarrancados”. Segundo Ramos (1945), a forma “vossoroca” é a mais
antiga, pois detecta seu aparecimento como nome de um bairro da antiga Nossa Senhora da
81
Ponte (hoje Sorocaba) nos mapas do recenseamento de 1785. A forma voçoroca, que
utilizamos neste trabalho, é a forma também adotada por José Setzer em “Os solos do
Estado de São Paulo”e por Pierre Monbeig. A forma grafada com “b” – boçoroca – é
utilizada por Aziz Ab'Saber.
Na década de 1960 iniciam-se os primeiros trabalhos que se aprofundam no
desvendamento deste fenômeno. Em 1961, Barboza Leite publica, na seção “Tipos e
Aspectos do Brasil” da Revista Brasileira de Geografia, o artigo “Voçoroca, suas causas e
seus efeitos”. Leite (1961) se baseia para descrição deste fenômeno no trabalho de José
Setzer (1949)
16
:
[As voçorocas] são vales de erosão, às vêzes de grande profundidade e
extensão. Avançam contra cidades ameaçando tragá-las. Inexistentes nos
solos virgens, aparecem elas quando a, propriedades coloidais dos solos
muito permeáveis baixam a certo nível por causa das queimadas
repetidas por muitos anos. O solo então não mais retém as chuvas, e as
águas, na estação chuvosa, se acumulam nas profundidades formando
rios subterrâneos sôbre os quais desmorona toda a camada de cima.
Para entender suas origens, Leite (1961) utiliza o Manual de Conservação dos Solos, que
as associa ao uso agrícola:
A voçoroca pode ter origem em relheiras de estradas, trilhas de gado,
valas, coletoras de terraços mal construídos ou outras depressões ao
longo dos quais se concentram águas correntes.
Extrapolando a análise de suas causas e efeitos, Leite (1961) descreve este fenômeno a
partir de sua imponência como uma grande catástrofe que,
[...] ganhando mais amplitude, atravessa o tempo, dominando séculos ou
milênios até oferecer aos nossos olhos impressionantes exemplos de
“voçorocas”, na magnificência de uma cenografia grandiosa. A ação da
chuva ao rigor das intempéries, rasga a primeira ferida na face da terra,
partindo de um ponto minúsculo até às proporções de um verdadeiro
cataclismo.
16
SETZER, Jose (1949) Os solos do Estado de São Paulo - relatório técnico com consideração pratica. Rio
de Janeiro: IBGE.
82
LICENÇA PARA ARRUAR:
A ATUAÇÃO PRIVADA
NO PARCELAMENTO DO SOLO
As terras do núcleo inicial de Franca eram parte da Fazenda Santa Bárbara e foram doadas
para a Fábrica da Igreja em 1805 por seus proprietários, os irmãos Antunes Almeida, para
a criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Franca e Rio Pardo, simplificada
depois para Freguesia da Franca. Sua localização no alto do espigão da Colina Central de
Franca, entre as cotas mais altas do Planalto, tinha a imponência sobre a paisagem, preceito
básico para as edificações religiosas do período. Conforme pesquisas históricas vem
evidenciando, o marco da apropriação religiosa do território foi traçado através de um
plano inicial, em forma de cruz, que possuía em suas extremidades quatro igrejas, sendo a
matriz localizada no centro. (RIBEIRO, 1940; BENTIVOGLIO, 1999)
O plano nunca foi completamente concretizado. Em 1821 a Freguesia é elevada à condição
de Vila, com o nome de Vila Franca del Rey, que foi instalada efetivamente em 1924, com
o nome de Vila Franca do Imperador, adquirindo sua autonomia política ao emancipar-se
de Mogi-Mirim. É demarcado, então, o rossio e denominados seus primeiros logradouros:
Largos da Alegria (atual Nossa Senhora da Conceição) e da Aclamação (atual Barão da
Franca) e ruas; do Comércio, da Primavera (atual Voluntários da Franca), do Adro (atual
Monsenhor Rosa), Nova (atual Major Claudiano) e do Ouvidor. (DI GIANNI, s/d)
Com a autonomia política, a Câmara estabelece uma nova política com relação ao solo,
passando a ter domínio sobre grande parte do patrimônio religioso e a controlar a
concessão de datas, que até então era realizada pelo Fabriqueiro da Igreja, através das
Cartas de Aforamento. O trabalho de Bentivoglio (1999) revela que até 1824, os terrenos
aforados pela Igreja não possuíam nenhum tipo de normalização, e o controle do
pagamento anual do foro era muito precário. A partir do domínio do território pela Câmara
vão se estabelecendo regras e procedimentos para o controle do aforamento em leis
esparsas que, em 1833, são reunidas para se transformar no Código de Posturas.
83
O Código de Posturas de 1933 cria a figura do arruador, responsável pelos serviços de
alinhamento, e obriga os que adquiriam concessões a solicitar este serviço, estabelecendo
sanções para aqueles que não o fizerem. Além disso, define padrões na largura das ruas e
medidas dos terrenos, como se pode observar pelos artigos 1°, 3° e 4°:
Art. 1° Haverá um arruador nomeado pela Câmara, o qual vencerá 200
reis de cada data ou edifício que alinhar; terá a seu cargo o alinhamento
de todas as ruas, travessas, as quais terão 60 palmos de largura. (...)
Art. 3° Todo aquele que edificar, ou cercar um terreno sem proceder
alinhamento na forma acima será multado em 6$000, e se a obra ficar
fora do alinhamento, será demolida à sua custa.
Art. 4° Ninguém poderá edificar, nem apropriar-se de terreno algum
dentro de um quarto de légua do centro para os lados nas povoações do
município sem concessão da câmara uma vez que o terreno seja público,
e esta nunca se dará mais de 8 braças de frente, e metade dos fundos de
rua a rua. Os contraventores serão multados em 2$000 reis, e a obra
demolida à sua custa quando esteja fora do alinhamento. (Posturas
Municipaes da Câmara da Vila Franca de 1933 apud FERREIRA, 1983,
p.29-30)
Mas a atuação da Câmara, ao mesmo tempo que contribui para universalização nas práticas
das concessões, traz também a possibilidade de realização dos interesses particulares
através do “estado patrimonial”, conforme definição weberiana. Composta pelos grandes
proprietários rurais, a Câmara passa a utilizar esta prática principalmente para a fixação da
população migrante no espaço urbano, evitando assim a posse em suas propriedades, ou
para o favorecimento de seus conhecidos ou afilhados. (CHIACHIRI F°, 1986;
BENTIVOGLIO, 1999)
O processo de ocupação do solo ao longo do século XIX é marcado, portanto, por conflitos
entre a Câmara e a Igreja no que se refere ao controle sobre o território e,
conseqüentemente, sobre a construção da cidade. A Câmara, que deveria repassar parte do
valor recebido pela concessão à Igreja, muitas vezes não o fazia. Do mesmo modo, a Igreja
continuou realizando concessões sem a autorização da Câmara. A Igreja só retoma
84
efetivamente o controle sobre o patrimônio religioso e os aforamentos em 1891, com o
advento da República. (BENTIVOGLIO, 1999)
A partir de 1890 a prática das concessões começa a declinar, tendo em vista que a Câmara
já não dispunha de muitas terras remanescentes do rossio, além de encontrar mais
vantagens na venda dos lotes. Os últimos pedidos de concessões são contemplados em
1898, quando se encerra este mecanismo em Franca abrindo espaço para a implantação
efetiva do que se havia estabelecido pela Lei de Terras, em 1850. (BENTIVOGLIO, 1999)
Pode-se dizer que a concessão individual de datas de terra ao longo do século XIX consiste
na primeira forma de parcelamento do solo urbano.
A virada do século XIX constitui momento importante quanto ao processo de expansão
urbana de Franca e ao seu controle. As mudanças estruturais deflagradas pelo
desenvolvimento da economia cafeeira e a expansão da rede ferroviária refletiram no
primeiro grande avanço do processo de urbanização do município, assim como no
aprimoramento das normas para seu controle. Com o Código Municipal de Franca de 1909
são estabelecidas novas regras quanto à divisão territorial da cidade e para os novos para
arruamentos e trata, pela primeira vez, da questão das divisões dos terrenos e arruamentos
em áreas particulares. (LEI N° 253, de 24/11/1909) Entre as regras que permanecem, estão
as que dispõem sobre a concessão de datas, mesmo sendo uma prática que se encerra. A
questão da compra e venda de terrenos urbanos não estão colocadas neste momento pela
legislação.
Quanto à divisão territorial, o Código de 1909 subdivide a cidade em perímetros Central e
Suburbano, onde o perímetro Central delimita legalmente o centro da cidade, já com pistas
de um zoneamento de uso do solo na medida em que o perímetro Central compreende o
“centro commercial” e o perímetro Suburbano compreende “todas as partes arruadas da
cidade e seus bairros”. (LEI N° 253, de 24/11/1909, art. 232)
Ao engenheiro municipal se atribui a função de arruador sendo que é responsável pelas
irregularidades que praticar no serviço, sob pena de multa.
Art. 246 – Os alinhamentos, nivelamentos e demarcações serão feitos
pelo arruador, fiscal, secretário da Prefeitura e porteiro,
fazendo este os
pregões necessários e lavrando o secretário os respectivos termos.
85
§ 1° – Na cidade servirá de arruador o engenheiro municipal, quando
houver, ou, na sua falta, o funccionario municipal que tiver para isso
competencia e que fôr designado pelo Prefeito.
[...]
§ 3° – O arruador é responsável pelas irregularidades que praticar no
serviço. Multa de 20$000 (LEI N° 253, de 24/11/1909)
Por este Código, o proprietário particular somente poderia proceder o arruamento após a
aprovação da planta pela prefeitura, como pode se observar no art. 247:
art. 247 – Não será permittida a divisão de terrenos particulares em ruas,
praças ou avenidas, sem que, previamente, seja apresentada á Prefeitura
a planta em duplicata e obtida a respectiva licença, no caso de ser
aquella approvada.
§ único – A municipalidade mandará levantar a planta do projeto de
arruamento dos terrenos de patrimônio foreiro dos perímetros da cidade
e povoações do município, afim de ser regulada a continuação das
construcções da cidade ou povoação. (LEI N° 253, de 24/11/1909)
Em 1920 é aprovado um novo Código Municipal que vai ser, no geral, uma cópia do
Código de 1909, no entanto com uma mudança significativa: a demarcação do arruamento
não é mais tarefa do engenheiro municipal, passando a ser realizados por particulares
através da emissão de uma licença ou alvará, emitido pelo executivo.
86
A APROVAÇÃO DE NOVAS VILLAS E
A ESPERA PELOS MELHORAMENTOS
O Código de Obras (Acto N° 44), aprovado em 1° de novembro de 1934 na gestão do
prefeito Zenon Fleury Monteiro, consistiu numa adaptação do Código de Obras Arthur
Saboya do município de São Paulo, aprovado em 1929. Assim como o Código Arthur
Saboya, esta lei trata da organização da cidade em zonas e das normas e procedimentos de
aprovação para construções e novos arruamentos. O Código estabelece padrões de zonas
urbanas em função da disponibilidade de infraestrutura – calçamento, água encanada e
exgotos, luz e força. À medida que os serviços fossem executados, o trecho de arruamento
passaria, automaticamente, de uma zona menos favorecida à mais favorecida pelos
serviços. Desta forma, pelo art. 4° a cidade fica dividida em quatro zonas:
§ 1° – A primeira (1ª) zona ou central comprehenderá o centro
propriamente dito, ou ambos os lados das ruas que gosarem do serviço
de calçamento, qualquer que seja o typo adoptado, serviço de água e
exgotos, e luz e força, passando, automaticamente, da 2ª zona á 1ª,
sempre que se entregar ao publico novo trecho de rua que seja
beneficiado com calçamento, qualquer que seja o typo;
§ 2° – A 2ªzona, comprehenderá a zona servida, em ambos os lados das
ruas, com água encanada e exgotos, ou só água encanada, luz e força,
passando, automaticamente, da 3ª para a 2ª zona, os trechos de ruas que
forem beneficiados com os serviços de água encanada;
§ 3° – A 3ª zona comprehenderá ambos os lados das ruas na zona servida
com luz e força, passando, automaticamente, da 4ª zona á 3ª os trechos
de ruas que foram beneficiados co luz e força ou sargetamento;
§ 4° – A 4ª zona urbana comprehende toda a parte arruada da Cidade, em
ambos os lados desse arruamento, em todo o terreno loteado e arruado
nos termos do artigo 17 e seguintes, nos terrenos em que os lotes não
forem delimitados, e estiverem do lado da peripheria, comprehende-se
lotes com fundos de 50 (cincoenta) metros;
87
A abertura de villas e novos arruamentos é tratada pela Secção II do Código que
estabelece: a exigência de licença prévia da Prefeitura para a abertura de ruas; a proibição
de arruamentos em terrenos considerados insalubres ou inundáveis, antes mesmo do
Código Florestal de 1965 e focado nas questões de higiene e salubridade; e a representação
das condições naturais na “planta do terreno” para que a municipalidade pudesse orientar o
plano.
Art. 17 – É prohibida a abertura de rua sem prévia licença da Prefeitura.
§ único – Não poderão ser arruados terrenos baixos, alagadiços, ou
innundaveis, sem que, preliminarmente, sejam tomadas providencias que
garantam o perfeito escoamento, drenagem e protecção contra
innundações, e aquelles que foram aterrados com materiaes nocivos á
saúde publica.
Art. 18 – Os pretendentes a abertura de ruas no Município, deverão
requerer ao Prefeito, juntando titulo de propriedade dos terrenos e duas
vias da planta, na escala de 1:1000, assignada por Engenheiro e que
contenha:
a) As divisas dos terrenos a arruar, perfeitamente identificadas;
localização dos cursos de água; dos serviços de utilidade publica, das
arvores copadas, dos bosques ou accidentes naturaes; emfim, de tudo
quanto possa interessar a orientação geral do plano;
b) Curvas de nível de metro em metro;
c) Loteamentos visinhos em todo o perímetro, locação exacta das ruas,
espaços abertos ou edifícios existentes.
O processo de aprovação dos novos arruamentos deveria ser feito em duas etapas. A
primeira seria uma solicitação do ante-projecto do arruamento à Prefeitura, apresentando a
planta do terreno com suas condições naturais, onde a Secção de Engenharia da Prefeitura
traçaria o sistema de vias – radiais, perimetrais e diagonais –, os espaços abertos e as áreas
destinadas aos edifícios públicos. A segunda etapa seria a aprovação do plano definitivo,
que seria elaborado obedecendo rigorosamente aos elementos offerecidos pela Secção de
Engenharia na etapa prévia, contendo: o traçado das ruas secundárias, divisão das quadras
88
em lotes, perfis longitudinais e transversais de todas as ruas, arborização das ruas e praças,
esquema do escoamento das águas pluviais, indicação dos marcos de nivelamento e
alinhamento e memorial descritivo. (art. 19 e 20) O Código de Obras determina também o
prazo para a execução do projecto attendendo a extensão da área a arruar, sendo no
máximo 3 anos. (art. 21)
Quanto às regras para o traçado do arruamento, a lei determina o ajustamento das ruas às
condições topográficas, assim como sua largura mínima e declividade máxima, estabelece
a porcentagem mínima das áreas destinadas às ruas – que deveria ser 20% da gleba – e a
praças e parques – 10% do total –, e as dimensões das quadras e lotes, incorporando os
conceitos de super-quadras já colocados pelo Código Arthur Saboya. (art. 25 a 31) Outro
conceito absorvido é o de Parkway, conforme se verifica pelo art. 32:
Art. 32 – Ao longo dos cursos d’água será sempre reservado uma faixa
de serviço de “Parkway”, cuja largura variável será fixada pela
Prefeitura, não implicando esse espaço aos destinados para ruas e
parques dos artigos 30 e 31
A obrigação da execução dos serviços de infra-estrutura – condição para que um trecho da
cidade passasse de uma zona urbana para outra – ainda não estava colocada neste momento
como responsabilidade do loteador. O poder público era quem realizava tais
melhoramentos, ainda muito incipientes e focados na área central. Bentivoglio (1999)
explica o atraso da cidade nas décadas de 40 e 50 pela falta de autonomia das
administrações municipais paulistas que “esperavam pela boa vontade do governo federal e
estadual em realizar as melhorias nos municípios”. Segundo dados extraídos do
Almanaque da Franca de 1943, a luz elétrica foi inaugurada em 1904, mas a prática mais
comum era a iluminação através de lampiões; até 1931 o abastecimento de água era feito
através de fontes públicas e em 1923 foi iniciada a pavimentação das ruas com
paralelepípedos; o sistema de rede de esgotos e a pavimentação asfáltica iniciaram-se em
1939. (NASCIMENTO e MOREIRA, 1943)
No final da década de 1930 o processo de parcelamento do solo é controlado em nível
federal através do Decreto-Lei N°58 publicado em 1937. Este decreto foi,
fundamentalmente, um instrumento de normatização para o processo de compra e venda de
lotes, tendo em vista que o Código Civil em vigor permitia o “arrependimento” de
89
qualquer uma das partes antes de assinada a escritura de compra e venda e a falta de
amparo ao comprador da ação dos loteadores de má fé. Desta forma, o Decreto-Lei
estabelece que o loteador deverá ter o título de propriedade registrado em cartório do
imóvel a ser parcelado e estabelece sanções para aqueles que não o fizerem.
O aprimoramento do controle urbanístico colocado pelo Código de Obras e a
regulamentação do processo de compra e venda de lotes pelo Decreto-Lei N° 58 pode ter
sido um dos motivos da estagnação no processo de aprovação de loteamentos nas décadas
de 1930 e 1940. Vale lembrar também que, após a crise de 1929, somente nos anos 1950 o
município retoma o desenvolvimento econômico com a intensificação da atividade
industrial.
A DOAÇÃO DE ÁREAS PÚBLICAS
COMO OBRIGAÇÃO DO LOTEADOR
Diante do intenso processo de expansão urbana, a questão da infra-estrutura passa a ser um
grande problema para a administração. O poder público, que era responsável pelos
melhoramentos urbanos, não conseguia suprir os serviços na mesma velocidade com que a
cidade se estendia com a rápida progressão da área loteada o que gerava altos custos para a
administração. Em 1953, na gestão do prefeito Dr. Ismael Alonso y Alonso (1952-1955),
faz-se uma primeira tentativa em obrigar exclusivamente o loteador a enfrentar as
despesas decorrentes da ligação com as redes existentes de água, luz e esgotos nas novas
vilas e loteamentos. (Lei N° 345 de 18/11/1953) Esta lei, que inaugura a utilização do
termo loteamento em substituição a arruamento, foi revogada em 1955 e nunca foi
praticada.
Em 1962 novas regras são estabelecidas para o processo de aprovação de planos de
arruamento e loteamento – realizado então pela Secção de Engenharia –, estabelece novas
exigências, prazos e novos órgãos envolvidos. (LEI N° 1095/62) A partir de então, a
análise dos empreendimentos é realizada por dois setores da administração: o
90
Departamento de Engenharia, que é responsável pela análise urbanística, e o Departamento
Jurídico, que avalia a situação legal da propriedade. A análise continua sendo realizada em
duas etapas, fixando um prazo de 15 a 30 dias para a aprovação da etapa inicial e de 20
dias para a aprovação do plano definitivo que deveria conter, além dos itens já exigidos
anteriormente pelo Código de Obras, a indicação de galerias de águas pluviais e dos recuos
obrigatórios para as construções.
Mas o principal avanço da lei N° 1095/62 foi no sentido de vincular a emissão do alvará de
loteamento à doação oficial de áreas públicas providas de infra-estrutura. Para a execução
do loteamento era expedida uma licença a título precário após a aprovação do plano. O
Alvará do loteamento só era emitido após a doação oficial das áreas públicas, que
deveriam corresponder a 20% da gleba para o sistema viário e 10% para áreas de lazer e
institucional. A doação somente poderia ser feita após a execução de guias, sarjetas e
galerias de águas pluviais na área, o que obriga o loteador a executar estes serviços sob
pena de não obter o alvará do loteamento, ficando impossibilitado legalmente de registrar o
parcelamento e, conseqüentemente, comercializar os lotes.
Sobre a localização dos loteamentos, permanece o dispositivo que proíbe os
empreendimentos em áreas com problemas de drenagem e saneamento se tais questões não
foram previamente resolvidas, como já estabelecia o Código de Obras. No entanto, a lei N°
1095/62 revela ambigüidade na medida em que permitia empreendimentos em área rural,
como é explicitado pelo art. 2° que estabelece que “os proprietários de terras situadas fora
do perímetro urbano da cidade, que nelas quiserem proceder o loteamento ou arruamento,
deverão requerer permissão à Prefeitura Municipal”. Os loteamentos em área rural só
seriam proibidos mais tarde com a lei federal N° 6766/79.
Nota-se que o aprimoramento dos instrumentos de controle de loteamentos, foi sempre no
sentido de minimizar os custos públicos decorrentes deste processo. Um grande avanço
neste sentido vai ser dado pelo PDI em 1972, que será tratado oportunamente por este
trabalho.
91
AS VOÇOROCAS DE FRANCA:
UMA QUESTÃO DE GEOGRAFIA E PLANEJAMENTO
A expansão da cidade vinha se realizando sem a orientação de um plano geral de ocupação,
através da aprovação individual de empreendimentos particulares, sem articulação entre si,
como fragmentos justapostos de cidade. Somente no final da década de 1950 é que a
administração começa a se estruturar para o planejamento municipal.
Em 1958, na gestão do prefeito Dr. Onofre Sebastião Gosuen (1956 a 1959), é criado o
Departamento de Viação e Obras Públicas, órgão de linha vinculado diretamente ao
prefeito. (LEI N° 687 de 12/02/1958) Este Departamento era dividido entre as seções de
Obras e Melhoramentos Públicos; Urbanismo e Obras Particulares; Estradas de Rodagem;
e Plantas Cadastrais. À Seção de Urbanismo e Obras Particulares competem os trabalhos
de aprovação de loteamentos e de elaboração de planos urbanísticos, entre outras
atribuições, ficando em um mesmo setor administrativo as funções de “pensar a cidade” e
de rotina administrativa. Embora tenha-se como competência da Seção de Urbanismo e
Obras Particulares a concepção do Plano Urbanístico e do Plano de Expansão Urbana, não
se localizou nada a respeito e não se têm indícios de sua elaboração. O que se detecta é
que, no âmbito de um intenso debate urbanístico em nível nacional, e principalmente, das
realizações no âmbito da capital paulista, surge uma preocupação com a questão da
expansão urbana, que talvez nunca tenha sido neste momento materializada através de um
plano.
Somente nos anos 1960 a administração municipal dissocia as funções urbanísticas dos
órgãos de linha das funções de planejamento urbano. A LEI N° 1204 de 22.12.1963 que
colocava isto em prática foi publicada no último mês da gestão do prefeito Flávio Rocha,
antes mesmo da criação do SERFHAU
17
e do incentivo à criação dos órgãos de
planejamento. Desta forma, tem-se a criação do Departamento de Planejamento e
Urbanismo, órgão de linha, e do Conselho de Planejamento, órgão de assessoramento do
Prefeito. Ao Departamento de Planejamento e Urbanismo cabia a realização de “estudos
17
Lei N° 4380 de 21.08.1964
92
básicos para o planejamento municipal e as várias manifestações da vida comunal; elaborar
e administrar o Serviço de Topografia e Cadastro e os planos especiais com ele
relacionados; planejar as obras públicas municipais e acompanhar a sua execução;
administrar as leis de zoneamento, a aplicação do Código de Obras e a lei de controle de
loteamento e fiscalizar os serviços de utilidade pública concedidos pelo Município”. (artigo
10°)
O Conselho de Planejamento e Urbanismo, ligado diretamente ao prefeito e presidido por
ele, era constituído por representantes da administração pública – que seriam, além do
prefeito, dois vereadores, o diretor do Departamento de Viação e Obras Públicas e o diretor
do Departamento de Planejamento e Urbanismo – e representantes da sociedade – um
membro de cada uma das entidades Rotary Clube, Lions Clube, Associação Rural,
Associação do Comércio, Sindicatos de Classe e um delegado do CREA. O Conselho
deveria: opinar, obrigatoriamente, sobre os planos componentes do Plano Diretor do
Município; sugerir medidas de planejamento a serem estudadas pelo Departamento de
Planejamento e Urbanismo; propor critérios de prioridade para execução dos planos
elaborados; conhecerem grau de recursos, das decisões proferidas pelo diretor do
Departamento de Planejamento e Urbanismo em matéria de zoneamento, controle de
loteamentos e aplicação do Código de Obras; promover a divulgação dos planos e orientar
a opinião pública no sentido de uma colaboração do público na solução dos problemas
municipais, através do planejamento. (artigos 2° e 3°)
Embora tenha sido feita esta estruturação, não se tem notícias de uma ação efetiva nem
para o planejamento, nem para o controle da expansão urbana. O próximo – e decisivo –
passo vai ser dado na gestão do prefeito Hélio Pallermo (1964-1968), quando uma
conjunção de fatores levam à realização do Plano de Desenvolvimento Integrado que irá
sistematizar as questões que vinham sendo colocadas pela administração e, de forma
pioneira, contribuir com uma nova óptica na associação entre expansão urbana e
degradação ambiental pelo controle do uso e da ocupação do solo. Nesta gestão realiza-se
uma reestruturação administrativa onde as funções de controle urbanístico passam a ser
mais centralizadas. O então Departamento de Planejamento e Urbanismo é substituído pela
Assessoria de Planejamento. Este órgão de assessoramento do prefeito possuía o mesmo
nível hierárquico que as Secretarias e era responsável pelo controle urbanístico, passando
fazer a aprovação dos empreendimentos privados. (Lei N° 1560 de 01/12/1967)
93
O órgão consultivo permanece, mas agora como Conselho de Desenvolvimento Integrado
de Franca, responsável por pareceres sobre a política de desenvolvimento municipal e dos
planos setoriais. Por outro lado, sua formação se altera substancialmente em relação ao
anterior Conselho de Planejamento, na medida em que exclui a representação da câmara e
do CREA, e inclui um representante do meio acadêmico (e membro do Conselho
Municipal de Ensino Superior) e um representante da Superintendência de Água e Esgotos.
Permanecem dois representantes da administração (um da assessoria de planejamento e
outro da secretaria de obras públicas) e quatro das entidades e associações. Poderiam ser
convocados também, dependendo do assunto, dirigentes de entidades públicas e técnicos
especializados de reconhecida competência. A representação do meio acadêmico no
Conselho de Desenvolvimento Integrado de Franca revela o início da articulação entre o
processo de planejamento municipal e o debate das questões urbanísticas no âmbito
acadêmico.
A competência do Conselho de Desenvolvimento Integrado era:
- Assessorar o prefeito na formulação da política de desenvolvimento municipal
integrado;
- Opinar sobre os planos plurianuais e seus desdobramentos anuais;
- Opinar sobre problemas concernentes ao Plano Diretor Físico do Município de
Franca;
- Debater problemas relacionados com o desenvolvimento integrado;
- Promover e patrocinar atividades de difusão dos problemas do desenvolvimento
integrado do município de Franca e das suas soluções.
A década de 1960 foi profícua também para o meio acadêmico em Franca, com a criação e
o fortalecimento de diversas universidades: o reconhecimento federal em 1961 da
Faculdade de Direito de Franca, criada em 1957; a transformação em 1963 em autarquia
municipal da Faculdade de Economia de Franca (atual FACEF)
18
, criada em 1951; e a
18
A história da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Franca ( FACEF )
inicia-se no dia 20 de março de 1951, quando foi publicado o Decreto Federal nº. 29377/51, autorizando o
seu funcionamento. A princípio, funcionou na rua Campos Salles, 217, num pequeno espaço dentro do
Instituto Francano de Ensino, então conhecido como Ateneu Francano, que foi gentilmente cedido por seus
proprietários, os professores Alfredo Palermo, José Garcia de Freitas e Oliveiro Diniz da Silva. A seguir,
mudou-se para a rua Padre Anchieta, 1822, onde permaneceu de 1964 até 1968. Em 1963, a FACEF foi
94
criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca (FFF) em 1962, que adquire
importância neste trabalho, pois entre os cursos instalados inicialmente, está o curso de
Geografia que, através de seus docentes e pesquisadores, irá tornar visível para a
comunidade científica a questão das voçorocas em Franca e estabelecer um vínculo entre
universidade e poder público para o equacionamento do problema. Criada a partir dos
esforços empreendidos pelo ex-prefeito de Franca e então deputado estadual Onofre
Sebastião Gosuen, era dirigida pelo Prof. Dr. Alfredo Palermo que organizou o primeiro
corpo docente entre os profissionais da localidade. Entre eles estava o Prof. Benedito
Eufrásio Marcondes Vieira, ex-aluno de Aziz Ab'Saber no Curso de Geografia da FFLCH-
USP, especialista em geografia física, cuja tese de doutorado estuda o uso do solo rural no
planalto de Franca.
Se até o momento os trabalhos se atinham a desvendar as origens e os impactos dos
processos erosivos, no final dos anos 1960 o problema das voçorocas atinge uma nova
dimensão com o trabalho do geógrafo Aziz Ab'Saber . Sua contribuição foi pioneira tanto
no que se refere ao desvendamento do processo erosivo em si, sob a óptica da
geomorfologia, como também pela inserção da questão como problema a ser tratado pelo
planejamento municipal. Ab'Saber foi contactado em 1967, a pedido da administração
municipal, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Franca (FFF), através do Prof.
Benedito Vieira, para a realização de um trabalho que desvendasse estes processos, que
constituíam um entrave ao desenvolvimento urbano, tendo em vista o processo de
elaboração do Plano Diretor. Vale destacar que o Diretor da Faculdade era irmão do então
prefeito Hélio Pallermo. Como revela Ab'Saber:
Numa certa época, eles repararam no problema das boçorocas de Franca
e, sabendo que eu estudava geomorfologia e também o problema de
erosão de solos mais agressivos, fui convidado para fazer uma excursão
especificamente sobre as boçorocas [...] fiz um trabalho prospectivo da
área urbanizada como um todo, mas trabalhei mais propriamente com as
boçorocas. (entrevista, 03/03/2006)
transformada em Autarquia Municipal, com base nas leis 1.143, sancionada pelo prefeito municipal em
exercício Dr. Walter Anawate em 9 de outubro de 1963 regulamentada pelo prefeito Dr. Hélio Palermo em 8
de janeiro de 1964.
95
A problemática de Franca tornou-se mais visível em 1968, quando Franca foi sede da
Assembléia Nacional dos Geógrafos, organizada pela Associação Brasileira de Geografia
em conjunto com o Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Franca (FFF). O geógrafo Aziz Ab'Saber esteve presente e coordenou uma
excursão para a observação das “boçorocas” de Franca, principalmente daquelas que
estavam nos contornos da área loteada.
Os resultados dos trabalhos realizados por Ab'Saber em 1967 a pedido da administração
municipal
19
foram publicados em 1968 na Revista da Faculdade de Filosofia de Franca sob
o título “As boçorocas de Franca” (Figura 22) e, mais tarde, em 1975, na Revista Geografia
e Planejamento, divididos em dois artigos sob os títulos “O planalto de Franca: Estudos
básicos para planejamento regional” e “O sítio e a organização do espaço urbano de Franca
– notas prévias”. O trabalho de Ab'Saber (1968) integra a óptica da geomorfologia, no
desvendamentos dos processos erosivos em específico, ao planejamento municipal, na
medida em que estabelece uma “política” de recuperação e controle das áreas erodidas “no
contexto do planejamento integrado” e de articulação destas áreas ao “organismo urbano”.
19
Entrevista realizada em 03/03/2006 no IEA/USP São Paulo.
Figura 22 – Publicação da Faculdade de Filosofia de Franca. 1968.
Fonte: Biblioteca da Unesp/Franca
96
Quanto ao desvendamento das origens dos processos erosivos em Franca, Ab'Saber explica
que o start foi dado pelo intenso desmatamento ocorrido nas primeiras ocupações sob
economia predominantemente agrária, agravado pelos sulcos provocados pelas ações
antrópicas:
Pode-se ter como certo que foi a remoção generalizada das matas, que a
partir dos fundos de vales se estendiam até as vertentes médias das
encostas semi-mamelonizadas – o fator número um do desenvolvimento
das boçorocas de Franca. A transformação de tais discretas vertentes
convexas em pastos e invernadas, ampliando-se a área geral de
pastagens anteriormente estabelecidas nos cerrados dos interflúvios; o
pisoteio excessivo dos pequenos pastos dos arredores da antiga cidade
de Franca; alguns presumíveis “sulcos” artificiais feitos nas bases das
encostas desflorestadas, para empréstimo de terra ou exploração de
cascalhos; sulcos ao longo de cercas e acêros em posição descendente;
ou episódios análogos quaisquer é que, provavelmente, desencadearam o
processo local de resistasia antrópica, responsável pelo lesionamento
local e múltiplo da paisagem. (AB'SABER, 1968, p.10)
Desta forma, à suscetibilidade natural do solo soma-se o progressivo desmatamento de sua
vegetação nativa (mosaico cerrado-mata) que vai cedendo espaço às práticas agrícolas e à
formação do núcleo urbano e submetendo o solo a processos agressivos de erosão pluvial
concentrada, responsáveis pelos ravinamentos múltiplos das voçorocas. (AB’SABER,
op.cit.) Hoje a vegetação nativa de Franca, assim como do Estado de São Paulo como um
todo, foi quase totalmente suprimida pelo processo de ocupação territorial, seja pelos
cultivos agrícolas, seja pela expansão da área urbana, restando apenas alguns resquícios ao
longo dos cursos d’água. Pode-se dizer que o processo de colonização do território paulista
e o intenso desmatamento provocado pela implementação das atividades econômicas a ele
relacionadas é responsável foram as primeiras ações que contribuíram para o surgimento
dos processos erosivos em Franca. Aos desbravadores do sertão do Rio Pardo atribui-se o
pioneirismo na conquista do território e, ao mesmo tempo, no surgimento de seu principal
problema ambiental.
97
Ab‘Saber detecta em Franca a ocorrência de stone line, já verificada anteriormente na
região amazônica pelo geógrafo francês Jean Tricart, que constitui uma linha de pedras
localizadas abaixo da camada superficial do solo.
por debaixo da camada de depósito de cobertura, ou seja, o solo, existia
uma linha de pedra, chamada de “stone line” e quem sulcasse por uma
razão qualquer (o estabelecimento de uma rua, formação de uma valeta)
o depósito de cobertura e ultrapassasse a linha de pedra, começava uma
erosividade muito forte, então encaixava aos poucos e abria as paredes,
então eliminava muitos terrenos da região, simplesmente um buraco em
forma de “V” agudo. (entrevista, 03/03/2006)
Foram levantadas 21 voçorocas na área urbana de Franca, que Ab'Saber as caracteriza
como “um forte e anômalo distúrbio na fisiologia da paisagem, [...] uma lesão aberta em
plena atividade” e as associa, pela primeira vez, ao processo de expansão urbana e aos
impactos sócio-ambientais, mesmo ainda não formulados como tal. (AB'SABER, 1968)
Trata-se de verdadeiras “lesões” em processo na estrutura superficial da
paisagem, criadoras de problemas sociais, jurídicos, paisagísticos,
tecnológicos e administrativos. As “boçorocas” progridem por áreas de
loteamento urbano ou suburbano atingindo espaços e construções
pertencentes a trabalhadores e operários, ou a diferentes tipos de
proprietários de terrenos. Onde até há pouco existiam arruamentos e
lotes residenciais, hoje existe apenas o espaço de grandes buracões de 10
a 15 metros de profundidade e de 10 a 100 metros de desvão. E os
poucos que tiveram a iniciativa de construir suas casinhas nas bordas das
ameaçadoras ravinas, assistem com desespero a progressão ininterrupta
das íngremes paredes das indomáveis boçorocas.
(AB'SABER, 1968,
p. 7)
98
Figura 23 – Residência localizada na borda da voçoroca. Fonte: Polo (1968)
Em entrevista realizada, o geógrafo revela a dimensão deste problema e o associa ao
processo de desenvolvimento e à pobreza:
O mais dramático pra mim foi a pobreza ser colocada no entorno das
voçorocas que recebiam lixo onde as crianças brincavam e outros
remexiam no lixo para tirar qualquer coisa, ficou um caos. Isto mostra a
diferença entre um bom tratamento de planejamento e a falta de
entendimento das autoridades responsáveis.
20
A dupla atuação de Aziz Ab'Saber, na geografia e no planejamento, se traduziu na primeira
associação das questões urbana e ambiental, mesmo ainda não formuladas nestes termos,
pelo planejamento urbano de Franca. O trabalho de Ab’Saber foi realizado sem nenhuma
contratação formal pela administração de Franca e integralmente incorporado pelo Grupo
de Planejamento Integrado (GPI) na elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado,
desde a etapa do Diagnóstico até a Proposta de Lei.
20
Entrevista realizada em 03/03/2006 no IEA/USP São Paulo.
99
A política proposta por Ab ‘Saber para a paralisação da progressão das voçorocas e sua
integração na cidade envolvem ações de ordem técnica e jurídica. Para as áreas localizadas
à uma faixa de 20m no entorno das voçorocas propõe a desapropriação pelo poder público
para o reflorestamento com pinus. (Figuras 24 e 25) No caso desta área ter sido loteada,
propõe um sistema de fornecimento de lotes em outras áreas. (Figura 26) “Tais medidas se
impõem, mesmo porque gradativamente os loteamentos, impropriamente realizados na
área situada em torno e entre as boçorocas, estariam ameaçados de derruição”.
(AB’SABER, 1968)
Para o caso das “grandes boçorocas”, Ab'Saber (1968) considera que “há que se planejar,
ao mesmo tempo, uma cirurgia urbanística, acompanhada por um enxerto de
arquitetônica, adaptada a um tipo de sítio e dirigido para funções sociais” (grifo do autor) e
ressalta a interdisciplinaridade e a estética urbana nas intervenções:
Seria de todo aconselhável, também, que as concepções urbanísticas
supervisionadas – dentro de um espírito interdisciplinar – fossem feitas
através de projetos que observassem a um tempo o agrupamento das
boçorocas, os loteamentos que as circundam, e a estética da paisagem
urbana.
No que se refere às diretrizes para o “combate às boçorocas”, Ab’Saber propõe um plano
de ação para a administração municipal, que deveria “partir de uma ação conjunta e
integrada, apoiada em critérios múltiplos”, sugerindo a constituição de um “grupo de
trabalho composto por administradores (Prefeitura), autoridades judiciais dotadas de
sensibilidade para o problema, técnicos e assistentes sociais, médicos e professores”.(grifo
do autor) Dentre os pontos essenciais desta política estão:
- estabelecimento de critérios para intervenção nas voçorocas quanto à sua “ordem de
grandeza e à posição em relação ao organismo urbano”;
- realização de “projetos particularizados para cada caso de boçoroca”;
- medidas legais com o “objetivo de transferir os moradores que construíram suas
residências nas bordas das boçorocas”;
- cronograma das obras em função do regime pluviométrico;
- “freqüentes trocas de pontos de vistas com os assessores técnicos residentes fora de
Franca (GPI)”
100
Figura 24 – Proposta de Ab'Saber’Saber para o Parque Municipal na voçoroca das Maritacas.
Fonte: Ab'Saber (1968)
101
Figura 25 – Proposta de Ab'Saber para recuperação de voçorocas.
Fonte: Ab'Saber (1968)
102
Figura 26 – Proposta de Ab'Saber para recuperação de voçorocas.
Fonte: Ab'Saber (1968)
103
Da proposta de Ab'Saber, muito pouco foi colocado em prática. A maioria das voçorocas
urbanas existentes em áreas públicas, compradas pela prefeitura ou adquiridas como parte
da doação de áreas públicas dos loteamentos. Algumas destas voçorocas estão sendo
preenchidas com resíduos de construção civil, outra foi utilizada como aterro sanitário. A
voçoroca do Pestalozzi foi transformada em leito para continuação da Av. Major Nicácio.
Atualmente um dos maiores problemas que a administração enfrenta são moradias nas
bordas das voçorocas. O caso mais problemático é o do loteamento Jardim Dermínio,
aprovado em 1979 (Decreto N° 4046, de 30 de janeiro). Neste loteamento há 26 casas em
situação de risco, 11 famílias morando em casas de aluguel com processo em tramitação,
com custo de R$ 6.348,43 mensais para a Prefeitura (referente ao aluguel + IPTU). Em
muitas situações as famílias resistem em se mudar, permanecendo nas casas até a situação
de risco iminente, quando são retiradas e relocadas em casas de aluguel, enquanto tramita
um processo de indenização destas famílias, os quais duram cerca de 5 anos.
21
Ou seja, as
medidas de re-locação vão sendo implementadas lentamente, a medida que os problemas
se agravam ou apresentam acidentes, em caráter paliativo e não preventivo.
21
Informações obtidas em entrevista realizada com a coordenadora geral das Unidades de Serviço Social da
Secretaria de Assistência Social e Participação Popular da PMF em 19-05-2004.
3
EXPANSÃO URBANA E MEIO AMBIENTE
ASSOCIAÇÃO E CONFLITO NO CONTROLE DO SOLO
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e
também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações,
não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a
história se dá.
(Santos, 1996:51)
105
106
O PDI DE FRANCA:
AS VOÇOROCAS COMO
CONSEQÜÊNCIA DA EXPANSÃO URBANA
Com a criação do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo – Serfhau, vinculado ao
Ministério do Interior, inicia-se um processo de institucionalização do planejamento como
função de governo em nível federal. Em conjunto com o Serfhau, cria-se também o Fundo de
Financiamento de Planos de Desenvolvimento Local Integrado, que passa a financiar através
do Banco Nacional de Habitação, a elaboração de planos de desenvolvimento local integrado a
criação de órgãos de planejamento pelas prefeituras municipais. (FELDMAN, 2005)
No âmbito do Estado de São Paulo, cria-se um aparato institucional para viabilizar o processo
de planejamento, regula-se a concessão de recursos estaduais e cria-se um órgão de assessoria
técnica aos municípios. Desta forma, em 1967 é condicionado pela Lei Orgânica dos
Municípios
20
o auxílio financeiro aos municípios à existência de um plano diretor aprovado.
Cria-se neste momento o Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal –
CEPAM, junto à Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, que tinha como função
assessorar os municípios paulistas na elaboração de seus planos diretores. Embora os órgãos
federal e estadual promovessem assessoria técnica e programas de capacitação para os
técnicos municipais, a prefeitura poderia contratar empresas especializadas para a elaboração
de seus planos diretores. Neste momento há uma verdadeira proliferação de planos elaborados
por empresas de consultoria de planejamento urbano. (FELDMAN, op. cit.)
Estes planos abrangem os aspectos sociais, econômicos, físicos e institucionais - daí sua
denominação de planos integrados. Sua metodologia começava por um estudo preliminar, em
seguida era desenvolvido um plano de ação imediata e, por fim, um plano de desenvolvimento
integrado. A primeira etapa tinha por conteúdo o conhecimento geral e preliminar do
município, a identificação dos principais problemas e dos agentes mais importantes do
20
Lei Estadual N° 9842 de 19.03.1967
107
desenvolvimento local, as propostas para solução dos problemas locais mais urgentes. A etapa
subseqüente, após um diagnóstico dos principais problemas levantados na etapa anterior, tinha
por conteúdo: as alternativas de intervenção, a solução para os principais problemas, os
instrumentos legislativos, o programa de recursos e os programas setoriais relevantes. A etapa
final tinha por conteúdo: os planos setoriais ou mesmo anteprojetos, a organização local do
planejamento, o detalhamento dos instrumentos normativos, o orçamento programa.
(MINTER, 1970 e São Paulo, 1969 apud Moreira, 1986). O Plano de Desenvolvimento
Integrado de Franca situa-se neste universo.
Após as ações empreendidas na gestão do prefeito Hélio Pallermo (1964-1968) na estruturação
administrativa para o planejamento com a criação dos órgãos de planejamento com funções de
linha e de consultoria e o envolvimento da entidades de classe e da universidade local no
diagnóstico dos problema e na formulação de propostas, contrata-se uma empresa
especializada para a elaboração do plano diretor – o Grupo de Planejamento Integrado (GPI).
O produto final foi o Plano de Desenvolvimento Integrado de Franca (PDI), entregue à
administração em 1969, dividido em cinco volumes: Diagnóstico, Política de
Desenvolvimento Físico, Projeto de Lei do Plano Diretor Físico, Estudo de Viabilidade do
Distrito Industrial e Plano de Ação. Para esta pesquisa analisamos os três primeiros,
especificamente ao que concerne ao processo de expansão urbana e ao problema das
voçorocas, com o objetivo de detectar como e em que medida estas questões vinham se
associando pelo planejamento municipal antes de sua formulação como “questões ambientais
urbanas”.
Conforme já demonstramos anteriormente, estas questões já vinham sendo alvo de
preocupações pela administração antes da elaboração do PDI, desde o século XIX, mas eram
tratadas em separado. A questão da expansão urbana antes do PDI girava em torno da
responsabilidade no provimento de infra-estrutura, problematizada pela administração em
função dos altos custos decorrentes de sua instalação e da incapacidade do poder público em
atender os loteamentos que proliferavam rapidamente. A falta de infra-estrutura urbana se
agravava na mesma medida em que a cidade crescia aceleradamente, trazendo problemas
sociais e deterioração da qualidade de vida urbana. O problema dos processos erosivos vinha
108
sendo formulado pela administração como um obstáculo ao processo de expansão urbana e ao
desenvolvimento da cidade. Estas duas questões, que vinham sendo problematizadas
separadamente, são pioneiramente associadas pelo Grupo de Planejamento Integrado (GPI) na
realização do Plano de Desenvolvimento Integrado.
O principal problema para o município de Franca colocado pela equipe do GPI se refere ao
“crescimento físico da cidade” através da “expansão de loteamentos” de forma que todos os
demais problemas estão a ele relacionados: baixa densidade de ocupação, “orientação
espontânea do sistema viário”, “dificuldade na extensão dos equipamentos sociais e de
infraestrutura”, agravamento da erosão. Esta equação é muito bem formulada pela equipe, cujo
texto julgamos importante transcrever integralmente. Ele associa, pela primeira vez, o
processo de expansão urbana através de loteamentos ao agravamento dos processos erosivos e
aos altos custos sociais, econômicos e ambientais (em termos atuais).
Como foi fartamente demonstrado no Diagnóstico de Franca, há um
processo de expansão da Cidade injustificado e danoso, de características
megaloplanimétricas, cujos prejuízos às finanças públicas tendem a se
agravar se as medidas corretivas não forem adotadas a tempo. Não
corresponde às necessidades do mercado local o volume de loteamentos
aprovados. Por outro lado, a análise das áreas loteadas revela que os lotes
adquiridos pelos compradores não são ocupados em sua grande maioria.
Como conseqüência, na maior parte dos loteamentos periféricos identifica-
se acentuada predominância de quadras vagas ou de quadras ocupadas por
uma ou duas habitações, mesmo assim, na maioria das vêzes, precárias. A
presença de habitações esparsas em tais loteamentos, aprovados sem que os
responsáveis pelo empreendimento arcassem com a obrigação de dotá-los da
infra-estrutura indispensável (meio-fio, pavimentação, água, esgôto e
eletricidade), leva a que a Prefeitura, pressionada pela população
dispersamente distribuída nos mesmos, seja compelida, cêdo ou tarde, a
investir em equipamentos básicos anti-econômicos, pois o custo por
habitante não pode deixar de atingir cifras exorbitantes e incoerentes, muito
longe das possibilidades de serem cobertas pela arrecadação de impostos e
taxas.
109
Como agravante, em uma área já bastante atingida por lesões erosivas
(boçorocas), a abertura de ruas para loteamentos sem o cuidado imediato
da instalação de sistemas adequados de drenagem de águas de superfície
(guias, sarjetas, esgotos pluviais, valas impermeabilizadas e mesmo
pavimentação) leva, inevitavelmente, à formação de sulcos pioneiros que
se transformarão em novas problemáticas boçorocas. Removidos o
revestimento vegetal e a camada superficial do solo para abertura de ruas e
estas abandonadas sem o devido tratamento, a erosão não pode deixar de
processar-se em áreas que predomina o arenito Bauru, como, aliás, acontece
no sítio onde se encontra Franca. [grifo nosso] (POLÍTICA, 1969. p.3,4)
Desta forma, a problematização do processo de expansão urbana e das voçorocas sofre uma
inversão. Se até então as voçorocas eram formuladas como um “entrave”, elemento
condicionante ao crescimento da cidade, com o PDI, passam a ser consideradas uma das suas
conseqüências. Para esta nova formulação, o trabalho der Aziz Ab'Saber foi de fundamental
importância, embora não reconhecido efetivamente. Ao analisar o PDI, se tem a impressão de
que apenas foram utilizadas referências bibliográficas de Ab'Saber, cuja participação ativa só
foi detectada em entrevista com o geógrafo.
A visão de que o meio físico limitou o processo de expansão urbana de Franca exposta pelo
trabalho de Ribeiro (1940) é contestada pela equipe do GPI, que acredita que “a topografia do
sítio urbano condicionou muito mais o traçado do sistema viário principal do que a expansão
do tecido urbano de modo geral”. (Diagnóstico, 1969:199) A existência de voçorocas e a
movimentada topografia de Franca pode ter dificultado a instalação dos loteamentos, mas não
impediu sua proliferação. Pelo contrario, o processo de expansão através dos loteamentos
urbana passa a se apropriar indiscriminadamente do território e, mais que isso, a priorizar, de
certa forma, as áreas próximas às erosões, por se tratarem de terras mais baratas, atendendo
assim as possibilidades aquisitivas dos migrantes operários.
Para controle do processo de expansão urbana e, conseqüentemente, dos seus efeitos danosos,
o PDI propõe medidas que envolvem tanto o aspecto físico-territorial, como novas exigências
para os loteamentos, sendo estas: a proibição imediata de novos loteamentos e a suspensão dos
processos solicitando a aprovação de novos loteamentos já em tramitação na Prefeitura, até
110
que seja aprovada a Lei do Plano Diretor; e aprovação ipsis littere dos dispositivos da Lei do
Plano Diretor Físico, que estabelecem, em primeiro lugar, os limites do Perímetro Urbano e
das áreas urbana e de expansão urbana (Figura 27) e, em segundo lugar, as que estabelecem a
exigência de guias, sarjetas e drenagem de águas pluviais em função da forte tendência à
erosão. (Política, 1969:4)
A outra proposta considerada fundamental pelo GPI além do controle da expansão urbana
refere-se ao “Zoneamento de Uso do Solo”, instrumento capaz de “induzir uma densificação
racional da cidade, visando, ao mesmo tempo, torná-la mais humanizada e confortável, bem
como compatível com as possibilidades financeiras da municipalidade para investir
economicamente em equipamentos básicos, de conforto e comunitários”. (Figura 28 e 29) O
critério para o estabelecimento das zonas, segundo o GPI, foram os usos e equipamentos
instalados de maneira “espontânea” detectados pelo Diagnóstico.
Além das 24 zonas, foram definidas também “áreas de proteção e áreas verdes para fins
paisagísticos, sendo estas constituídas especialmente pelos terrenos em que se inserem as
boçorocas” (Política, 1969:5-9) A importância que as voçorocas assumem em relação ao
processo de expansão da cidade é novamente verificada pelo mapa apresentado no
Diagnóstico do PDI, que as identifica precisamente quanto à localização e forma. (Figura 30)
111
Figura 27 - Proposta para o Perímetro de Expansão Urbana - PDI
Fonte: GPI
(
1969
)
112
Figura 28 - Proposta de zoneamento de uso - PDI
Fonte: GPI
(
1969
)
113
Figura 29 - Proposta de zoneamento residencial - PDI
Fonte: GPI
(
1969
)
114
Figura 30 - Diagnóstico das voçorocas em Franca - PDI
Fonte: GPI
(
1969
)
115
Em 1970, antes mesmo da aprovação do PDI, a aprovação de novos loteamentos em Franca é
proibida, exceto para os loteamentos que apresentarem, previamente, três itens das infra-
estruturas de energia elétrica, água, esgoto, pavimentação, guias e sarjetas e galerias de águas
pluviais. (LEI N° 1859, de 30/04/1970)
art. 1°: Nenhum projeto de loteamento ou arruamento de áreas urbanas será
aprovado pela Prefeitura Municipal, até que entre em vigor o Plano Diretor
de Desenvolvimento Integrado do Município
[...]
par. único: Excetuam-se da proibição de que trata esta lei os loteamentos
que apresentem, previamente, no mínimo 3 (três) dos seguintes
melhoramentos: energia elétrica, água, esgoto, pavimentação, guias e
sarjetas, galeria de águas pluviais.
Vale destacar que entre a data de aprovação desta lei (30/04/1970) e a data aprovação do Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado (06/01/1972) foram aprovados 10 loteamentos (Tabela
4), restando saber se de fato todos eles se enquadram nas exceções previstas pela lei.
TABELA 4
Loteamentos aprovados (1970-1971)
Loteamento Data de
aprovação
1. Vila Santa Tereza 15/05/1970
2. Prolongamento do Jardim Progresso 18/05/1970
3. Prolongamento do Jardim Lima 18/05/1970
4. Bairro Santo Agostinho 19/05/1970
5. Prolongamento do Jardim do Éden 20/05/1970
6. Vila Teixeira 20/05/1970
7. Jardim Riviera 05/06/1970
8. Jardim Pedreiras 27/10/1970
9. Vila Pandolfo 29/10/1971
10. Vila Champagnat 24/12/1971
Fonte: Rinaldi (1982)
116
A análise do processo de aprovação do Plano Diretor Físico do Município de Franca
demonstra que o Projeto de Lei elaborado pelo GPI foi aprovado ipsis littere.
21
O projeto de
lei foi enviado à Câmara em 22 de novembro de 1971, justificado pelo disposto no artigo 1° da
Lei Orgânica dos Municípios, que estabelece que "nenhum auxílio financeiro ou empréstimo
será concedido pelo Estado ao Município que, até 31 de dezembro de 1971, não tiverem seus
programas de ação baseados num Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, ainda que
simplesmente orientado para um gradativo aperfeiçoamento, comprovando que o município
iniciou um processo de planejamento permanente". (Lei Complementar n°9, de 31 de
dezembro de 1969) O projeto de lei foi discutido em duas sessões e aprovado em 27 de
dezembro de 1971 com sete emendas, já feitas pela Comissão de Justiça, todas referentes ao
Distrito Industrial.
A aprovação do PDI significou, no caso de Franca, mudanças substanciais no que se refere ao
controle da expansão urbana. A lei estabelece a DIVISÃO TERRITORAL EM ÁREAS
INTEGRADAS que delimita o território municipal em área urbana, área de expansão urbana e
rural, utilizando como critério a existência de infra-estrutura urbana na data de 06 de janeiro
de 1969. A área urbana é definida, pelo art. 21, pelos terrenos “com edificações contíguas ou
contínuas dos aglomerados urbanos e suas partes adjacentes” e pelos terrenos situados à uma
distância máxima de 100m dos logradouros públicos servidos de, no mínimo, dois itens dos
seguintes melhoramentos: meio fio ou pavimentação, com canalização de águas pluviais; rede
de abastecimento de água potável; rede de esgotos; iluminação pública; escola primária ou
posto de saúde, numa distância máxima de 3 km. (Lei N° 2046/72, art. 21)
A área de expansão urbana compreende “os terrenos loteados e os ainda não loteados,
destinados ao crescimento normal dos aglomerados urbanos, além do perímetro urbano, que
venham a ser ocupados por edificações contínuas ou contíguas dentro dos próximos 10 anos,
contados a partir da vigência desta lei.” Utiliza como critério nesta delimitação que: os
terrenos destinados à expansão devem estar localizados até 2 km do limite da área urbana;
devem ser acessíveis por vias urbanas existentes ou previstas no plano de expansão do sistema
viário; os terrenos de expansão destinados à industrias devem se localizar à margem de
21
O Plano Diretor Físico era um dos componentes do Plano de Desenvolvimento Integrado de Franca, em conjunto com o
Diagnóstico, a Política de Desenvolvimento Físico, a Viabilidade do Distrito Industrial e o Plano de Ação.
117
rodovias ou vias expressas. (Lei N° 2046/72, art. 22) A área de expansão urbana era
delimitada pela primeira vez pela legislação municipal, cujos limites poderiam ser
reformulados por ocasião da revisão quadrienal do plano.
A área rural é constituída dos terrenos restantes no território deste Município, não destinados
a fins urbanos. Embora a lei, neste capítulo IV, fixe os limites das áreas urbana, de expansão
urbana e rural, e exclua a destinação para fins urbanos da área rural, no capítulo IX, que trata
do zoneamento de uso dos terrenos, ela entra em contradição. Neste capítulo determina pelo
art. 89 que apenas as áreas urbana e de expansão urbana serão reguladas pelo zoneamento,
sendo permitido na área rural “todos os usos de que trata esta lei, além dos especificamente
agropecuários” [grifo nosso]. (Lei N° 2046/72, art. 23)
O
CONTROLE DAS VOÇOROCAS :
ECOLOGIA DA PAISAGEM
A questão da estética urbana também é tratada pelo PDI, agora com uma abordagem diferente
do ideário de embelezamento urbano da virada do século XIX, articulado à resolução dos
problemas de saneamento e circulação. Provavelmente sob a influência do trabalho de Aziz
Ab'Saber, a estética urbana é tratada sob o ponto de vista da “ecologia da paisagem”. Ao
mesmo tempo que as voçorocas se configuravam lesões na paisagem resultados das ações
antrópicas, provocando danos econômicos e sociais, se observadas sobre uma outra óptica
compunham elementos paisagísticos marcantes, de grande beleza cênica, como já considerava
o trabalho de Barboza Leite (1961). Neste sentido, o PDI considera que:
As boçorocas, um dos principais problemas a enfrentar no desenvolvimento
da Cidade, oferecem, quando encaradas do ponto-de-vista estético,
paisagens de rara beleza. Sua beleza natural insinua a possibilidade destas
boçorocas, depois de receberem tratamento adequado, virem a oferecer
recantos aprazíveis com vasta vegetação, parques infantis, campos
esportivos e outras áreas de recreação para a a população francana.
(Diagnóstico, 1969:120)
118
Vão ser estabelecidas pela lei do PDI medidas para “conferir harmonia paisagística a Franca,
assegurar-lhe equilíbrio ecológico e propiciar áreas adequadas à recreação e ao lazer de sua
população”, preservando a paisagem e valorizando “os acidentes geográficos de características
e importância paisagística”. (Lei n° 2046/72, art. 222) Incorporando as recomendações de
Aziz Ab'Saber, a lei estabelece a “reserva de áreas para fins paisagísticos e para a preservação
da paisagem natural” nas áreas onde se encontram as voçorocas urbanas, que deverão se
transformar em áreas públicas e “desempenhar função primordial na composição harmoniosa
da paisagem de Franca e no atendimento das necessidades de recreação e de lazer da
comunidade francana”. (Lei n° 2046/72, art. 224) Desta forma são reservadas 20 áreas com
voçorocas, as quais foram levantadas e identificadas por números no mapa da Figura 30,
correspondendo as seguintes denominações:
1. Parque São Jorge
2. Maritacas
3. Vila Catocos
4. Vila Monteiro
5. Boa Vista
6. Pestalozzi
7. Jardim Conceição Leite
8. Vila Raycos
9. Ponte Preta
10. Planalto
11. Vila Samello
12. Vila Palmeiras
13. Manoel Valim
14. Scarabucci
15. Quirino
16. Chiné
17. Higienópolis
18. Adalgiso Leite
19. fundo de vale do córrego dos bagres
20. área entre o Jardim Francano e Vila Roselândia
119
Além disso, são incorporadas as normas para Áreas de Preservação Permanente tratadas
pelo recém aprovado Código Florestal (Lei Federal N° 4.771, de 15 de setembro de 1965)
o que se revela pioneiro, tendo em vista que o trabalho de Peixoto (2005) revela que a
grande maioria dos planos diretores não tratava destas restrições. Desta forma, o PDI
incorpora os dispositivos do Código Florestal que se aplicam à realidade local, sendo até
mais restritivo quanto às áreas de preservação permanente, pois estabelece como estas
áreas: faixa de 33m ao longo dos rios, riachos, córregos, lagoas, reservatórios, nascentes,
enquanto que, pelo Código Florestal, seria de 15 metros, considerando que a largura dos
cursos d’água de Franca não chegam a trinta metros; as encostas com declividade superior
a 45%; as bordas de chapadas e no topo de morros, montes ou serras; e, alem destas, “todo
o revestimento vegetal natural destinado a impedir ou atenuar a erosão”. (Lei n° 2046/72,
art. 241, 242)
O
CONTROLE DE LOTEAMENTOS:
PROCESSOS ADMINISTRATIVOS PARA APROVAÇÃO
Outro avanço proporcionado pelo PDI se refere ao processo de aprovação de loteamentos,
estabelecendo critérios mais rígidos e centralizados para aprovação dos planos e, ao
mesmo tempo, organizando os procedimentos do setor de aprovação. Uma alteração
significativa a este respeito é a abertura de processos administrativos para aprovação de
loteamentos, até então aprovados mediante a apresentação dos projetos e memoriais. Além
disso, a conclusão do processo de aprovação se daria através da emissão de decreto pelo
prefeito. Foram organizadas também as etapas de aprovação e os órgãos administrativos
envolvidos, além do estabelecimento de critérios e condições para que se pudesse proceder
a “urbanização de terrenos”, que estão fortemente vinculados às características do meio
físico, como podemos verificar:
Art. 146 A urbanização de terrenos só poderá ser permittida se êstes
tiverem localização e configuração topográfica, além de características
físicas do solo e subsolo, que possibilitem o pleno atendimento das
destinações que se lhes pretende dar e das exigências legais de
ordenamento e disciplinamento dos elementos componentes do Plano
Diretor Físico. (Lei n° 2046/72)
120
Para a aprovação, o interessado deveria apresentar à Prefeitura o plano de urbanização de
terrenos completo, compreendendo o pré-plano urbanístico, o plano urbanístico, os
projetos topográficos, de terraplenagem e de drenagem de águas pluviais, de pavimentação
e obras complementares, de rede de abastecimento de água potável, de rede de esgotos
sanitários ou do sistema de fossa séptica seguida de poço absorvente para cada edificação,
da rede de distribuição de energia elétrica e domiciliar e da arborização. (Lei n° 2046/72,
art. 185) As peças a serem apresentadas por cada projeto são minimamente detalhadas pela
lei. Como se pode verificar, o PDI constrói um verdadeiro manual de procedimentos para
aprovação de loteamentos. O projeto deverá ainda apresentar estudo de viabilidade de
execução de infra-estrutura.
O pré-plano urbanístico, primeira etapa para aprovação, deveria ser apresentado ao órgão
competente da prefeitura, que tinha prazo máximo de 30 dias para emissão do parecer e
encaminhamento ao prefeito para aprovação da etapa prévia. O plano urbanístico e o
projeto topográfico, etapas seguintes para aprovação, deveriam ser apresentados
primeiramente às autoridades sanitárias e militares, conforme a legislação federal e
estadual em vigor e, após parecer favorável de tais autoridades, deveriam ser
encaminhados aos técnicos municipais, que teriam o prazo de 60 dias para apreciação e
encaminhamento ao prefeito para aprovação. Aprovados o plano urbanístico e o projeto
topográfico, o loteador deveria encaminhar à prefeitura os projetos específicos, já
autorizados pelos órgãos externos competentes no caso de água, energia, esgotos. Após a
aprovação destes últimos, o órgão responsável pela análise deveria encaminhar ao Prefeito
para aprovação e emissão do decreto e alvará de aprovação.
A
EXECUÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA
ÀS CUSTAS DO LOTEADOR
Outra questão inovação colocada pelo PDI é a atribuição da responsabilidade pelo
provimento de infra-estrutura ao loteador, que somente seria tratada em nível federal pela
lei N°6766/79. Esta questão se torna, ao longo da segunda metade do século XX um dos
principais focos de conflitos dos processos de aprovação de loteamentos.
Com o PDI, o loteador passa a ser responsável por executar, á sua própria custa, nos prazos
fixados pela Prefeitura, a locação de todo o terreno, a abertura das vias públicas e das áreas
121
públicas paisagísticas, a terraplenagem e a drenagem, a colocação de guias e sarjetas em
todas as vias públicas e áreas públicas paisagísticas, a rêde de escoamento das águas
pluviais, a pavimentação e obras complementares, a rêde de abastecimento de águas
potável, a rêde de esgotos sanitários ou o sistema de fossa séptica coletiva ou de fossa
séptica seguida de poço absorvente para cada habitação, a rêde de iluminação pública e a
arborização dos logradouros.
Como instrumento para garantir a execução da infraestrutura, se estabelece caução de 20%
dos lotes – que seriam liberados na proporção de 50% (cinqüenta por cento), quando
concluídos os serviços e obras de terraplenagem ou de drenagem, de colocação das guias e
sarjetas e de construção da rede de escoamento das águas pluviais e os outros 50%
(cinqüenta por cento) após a conclusão dos demais serviços e obras. Além disso, a
aprovação do plano do loteamento fica condicionada à assinatura de um Termo de
Compromisso onde o loteador se obriga, entre outros itens, a executar as obras.
Como podemos verificar, com a lei do PDI multiplicam-se os órgãos envolvidos no
processo de aprovação do loteamento, aumentam as responsabilidades do loteador, a
complexidade dos projetos, assim como seu tempo de tramitação, como tentativa de
aprimorar o controle urbano e solucionar o principal problema da municipalidade: o
processo desenfreado de expansão urbana.
No que se refere à questão das voçorocas, sua incorporação pelo controle urbanístico
estabelecido pelo PDI revela uma ação precursora, em um momento em que a questão
ecológica e ambiental estava sendo formulada a partir das grandes catástrofes em nível
global, a partir dos movimentos ambientalistas. Se considerarmos a divisão da trajetória do
pensamento ambientalista no Brasil feita por Viola (1987), a tematização da questão
ambiental, , no âmbito das políticas públicas só se dá a partir de 1986, sendo que o caso de
Franca antecede até mesmo o momento de infiltração do ideário ambientalista,
caracterizado pelos movimentos de denúncias da degradação ambiental nas cidades, e da
negação do espaço urbano através da criação de comunidades alternativas rurais, que,
segundo o autor, aparece em 1974. Este pioneirismo é muito mais do que uma necessidade
latente da administração pública e vincula-se à presença de Aziz Ab'Saber na formulação
deste problema como questão de planejamento.
122
O
S LIMITES DA APLICAÇÃO DO PDI:
O CASO DO JARDIM AEROPORTO
O controle do processo “megaloplanimétrico” de expansão urbana colocado como
principal questão a ser solucionada pelo PDI revelam limitações em sua aplicação prática.
Como aponta Ferreira (1989), o PDI se transforma em letra morta ante a dinâmica da
expansão urbana:
A proibição de novos loteamentos para conter a expansão urbana
desenfreada e especulativa não foi aceita pelos loteadores e proprietários
de terras que impunham à prefeitura suas próprias exigências [...] Nada
foi respeitado, tanto pelos loteadores, quanto pelo poder público.
(Ferreira, 1989:135)
Como podemos observar pelo Mapa 10, o perímetro fixado pelo PDI para expansão urbana
já estava ultrapassada na data em que entrou em vigor. Os loteamentos aprovados no
período compreendido entre o ano de elaboração do PDI (1969) e de sua aprovação pela
Câmara (dezembro de 1971) já não obedeciam os limites colocados pela proposta e
estabelecidos pela lei sem atualização. Neste período foram aprovados 23 loteamentos,
sendo que destes, 9 estavam fora da área de expansão urbana. Após 1971 até a revisão dos
limites da área de expansão urbana foram aprovados 17 loteamentos dos quais 13 estavam
fora deste perímetro. Estes loteamentos foram incorporados em 1977, por ocasião da
revisão do PDI, e é fixado um novo limite para a área de expansão urbana, definida pelos
“terrenos loteados e não loteados destinados ao crescimento do aglomerado urbano”. (LEI
N. 2497 de 27 de dezembro de 1977)
Mas não parte apenas do setor privado esta prática. Temos como exemplo a aquisição das
terras rurais pela CECAP para a implantação do Parque Vicente Leporace, pelo poder
público, que determinou o novo desenho dos limites para a expansão urbana ao norte da
cidade pela Lei N° 2497/77. Desta maneira, a delimitação de área para a ocupação urbana
através de novos loteamentos, que deveria funcionar como fator determinante na
123
localização dos empreendimentos e orientar o processo de ocupação do solo de maneira
mais econômica e racional, acaba por regularizar a dinâmica imobiliária que não obedecia
aos limites impostos pela lei, determinando, por sua prática, a construção de seu próprio
controle. Além disso, temos que o Estado, em seu papel de promotor de habitação e
principal interessado no controle do crescimento urbano extensivo, revela seus próprios
conflitos e contradições na medida em que se constitui, muitas vezes, no próprio agente do
processo de expansão horizontal da cidade através de empreendimentos habitacionais.
Em 1983 o critério de fixar limites para o processo de expansão urbana é revisto e alterado
fundamentalmente, visto a sua inefetividade no controle da localização dos
empreendimentos imobiliários. A Lei N° 2852/83 estabelece que o limite da área de
expansão urbana, que compreende os terrenos situados a 2 mil metros dos limites da área
urbana
22
passa a ser automaticamente revisto na medida em que a área urbana se amplia
pela implantação de infra-estrutura. Ou seja, se até então os limites urbanos eram fixos,
revistos somente por ocasião de uma nova lei, a partir deste momento eles se tornam
elásticos.
No intuito de entender a prática urbana cotidiana, escolheu-se como estudo de caso o
loteamento Jardim Aeroporto a fim de desvendarmos o processo de aprovação de
loteamentos em Franca, seus atores e conflitos, o que irá contribuir para o entendimento da
inefetividade do PDI no controle da expansão urbana e revelando um novo ponto de vista
para o equacionamento da questão, entendendo suas especificidades. A seleção do
loteamento Jardim Aeroporto foi determinada por suas características e significado para o
processo de expansão urbana de Franca.
A implantação do Jardim Aeroporto se deu nas terras altas da sub-bacia do Ribeirão dos
Macaúbas, Bacia do Sapucaí-Mirim, na porção sudeste da área urbana, correspondendo à
área do entorno das cabeceiras de drenagem. A caracterização do meio físico desta área,
corresponde à formação Franca, com solo tipo latossolo vermelho-amarelo de textura
média, com declividade de até 12%, o que significa uma média suscetibilidade à erosão,
podendo agravar-se dependendo uso do solo. (IPT, 1998)
22
Entende-se aqui por área urbana os terrenos servidos pelos equipamentos de drenagem de águas pluviais, iluminação
pública e domiciliar, rede de esgotos e abastecimento de água. (lei N° 2852/83)
124
Mapa 10
125
Estas terras pertenciam à Fazenda Maria do Carmo, de propriedade do Sr. Haroldo Diniz
Junqueira e da Sra. Maria do Carmo Jacinto Junqueira, residentes em Ribeirão Preto e
foram vendidas à Imobiliária Nova Franca S/C LTDA
23
em 1977, no entanto a escritura de
compra e venda somente foi lavrada na data de 03/01/1978, após a aprovação da LEI
N.2497 em 27/12/1977, que modifica os limites urbanos estabelecidos pelo PDDI de 1972.
Consta nas escrituras que o terreno pertence à área de expansão urbana do município, mas
como podemos verificar no mapa, o perímetro de expansão urbana estabelecidos pela LEI
N.2497 não incorpora estas terras. (Mapa 11)
24
Mas isto não significou entrave para sua
aprovação. Conforme podemos verificar na solicitação de aprovação do loteamento (Figura
31), mesmo localizado em
área rural, o pedido
contraditoriamente designa
sua localização em área
urbana, sendo aprovado como
tal. Esta área não estava
incluída na área de expansão
do projeto de abastecimento
de água e de coleta de esgotos
da Sabesp, conforme declara
o eng°. José Antonio Rodda,
então gerente da Sabesp, à
prefeitura.
25
23
empresa loteadora de propriedade de Sebastião Almeida Pirajá, a qual mais tarde mudaria de nome para Imobiliária
Francana S/C LTDA
24
Escritura de compra e venda. Livro 439, fls. 172, 03/01/1978, pertencente ao 2° cartório de notas de Franca
25
PROCESSO N° 4143/78, fls.17, 19
FIGURA 31 – Requerimento de
aprovação do loteamento Jardim
Aeroporto.
Fonte: PA 1046/78 - PMF
126
Mapa 11
127
A aprovação do loteamento, caracterizado no processo como “loteamento para fins
populares”, foi realizada em cinco etapas ao longo de um período de onze anos
compreendidos entre 1978 e 1989, conforme a Tabela 5. Nesta pesquisa iremos nos ater às
três primeiras etapas do loteamento, compreendida no período de maior expansão da área
urbana.
TABELA 5
Loteamento Jardim Aeroporto – Etapas de aprovação
etapas aprovação área total (ha) n° de lotes
Jardim Aeroporto I DEC. N° 3937 13/06/1978 109,80 1491
Jardim Aeroporto II DEC. N° 4212 25/01/1980 61,00 1466
Jardim Aeroporto III DEC. N° 4747 31/01/1983 74,12 2253
Jardim Aeroporto IV DEC. N° 5825 31/08/1988 11,86 375
Prolongamento do
Jardim Aeroporto II
DEC. N° 6071 30/11/1989 5,76 136
Fonte: Prefeitura Municipal de Franca
O Mapa 12 permite a visualização deste processo. O empreendimento acrescentou 264 ha à
área urbana do município, sendo que, deste total, 93% foram loteados até o ano de 1983.
Verifica-se nas duas últimas etapas uma redução drástica no tamanho do empreendimento.
As duas primeiras etapas do loteamento Jardim Aeroporto foram aprovadas durante a
gestão do prefeito Mauricio Sandoval (1977-1982). Analisando todos os processos que
compõe a pasta de aprovação do loteamento na Prefeitura, contendo cerca de 800 páginas
que envolvem pedidos, comunicações de irregularidades, requerimentos, abaixo-assinados
dos moradores, enfim, podemos detectar que o principal conflito no processo de
implantação do loteamento gira em torno da execução de infra-estrutura do loteamento.
128
Mapa 12
129
Identificamos no estudo do loteamento Jardim Aeroporto, quem eram os agentes
envolvidos e suas responsabilidades, da forma como se segue:
Agente Atuação
Imobiliária Francana S.A proprietário e loteador
Imobiliária Enterprise S.A. administradora do loteamento
Assessoria de Planejamento da Prefeitura
Municipal de Franca
responsável pela análise dos aspectos
urbanísticos do loteamento
Procuradoria Jurídica da Prefeitura Municipal de
Franca
responsável pela análise da documentação do
loteamento
Prefeito Municipal responsável pela aprovação do loteamento
através de decreto
Secretaria da Saúde aprovação prévia do projeto
Ministério do Exército responsável pela emissão de parecer quanto à
abertura do loteamento
Ministério da Aeronáutica responsável pela aprovação prévia da
localização do loteamento na Zona de Proteção
do Aeródromo de Franca
CPFL aprovação do projeto de iluminação pública e
rede particular
Sabesp aprovação das redes de abastecimento de água
e esgotos
Cetesb aprovação das redes de esgotos e drenagem
A
1ª ETAPA DO LOTEAMENTO
E A EXECUÇÃO DA INFRAESTRUTURA:
RESPONSABILIDADES NÃO CUMPRIDAS
O projeto do loteamento Jardim Aeroporto destina 25,58% de sua área total (935.330 m
2
)
para áreas livres do loteamento (lazer + institucional), enquanto a lei N. 2497 de
27/12/1977 determina para estas áreas 13% para loteamentos acima de 30.000 m
2
. Embora
a área destinada seja muito maior que a exigida pela lei, ela corresponde às cabeceiras de
drenagem onde se localizam voçorocas.
Em conformidade com a lei do PDI, então em vigor, antes de ser protocolado o pedido de
aprovação do loteamento, esta já havia sido aprovado pela Secretaria da Saúde, pelo
Ministério do Exército e da Aeronáutica, por se localizar no entorno do aeroporto
130
municipal. No entanto, mesmo localizado em área rural, não passou pelo INCRA. O
pedido de aprovação era recebido pela Assessoria de Planejamento, órgão ligado
diretamente ao prefeito e responsável pela aprovação de loteamentos. Após pareceres
emitidos pela Assessoria de Planejamento (no que se refere aos aspectos urbanísticos) e
pela Procuradoria Jurídica (no que se refere à documentação e definição de prazos para
execução de infra-estrutura), o prefeito é o responsável pela aprovação do loteamento,
fazendo-o através do decreto N° 3937 em 13/06/1978. Após a emissão do decreto de
aprovação o loteador tinha o prazo de 90 dias para transferir à Fazenda Municipal as vias
de circulação, áreas destinadas a lazer e edifícios públicos para que seja expedido o alvará
do loteamento pela Assessoria de Planejamento. Também a partir da data do decreto de
aprovação o loteador tinha o prazo de 6 meses para aprovação dos projetos específicos
(drenagem, água, esgoto) pelos respectivos órgãos.
Conforme estabelecia a Lei do PDI, era obrigação do loteador o provimento de infra-
estrutura nos loteamentos, o que vai ser regulamentado em 1978 (Decreto N° 3937 de
13/06/1978) estabelecendo o prazo de 180 dias para a apresentação dos projetos aprovados
drenagem e galerias de águas pluviais pela Cetesb, redes de água e esgotos pela Sabesp e
iluminação pública pela CPFL. Para a execução da infraestrutura, o empreendedor teria o
prazo de: 60 dias para a locação, abertura de vias, terraplenagem, drenagem e arborização;
2 anos para guias e sarjetas, galerias de águas pluviais e redes de água e esgotos; e 3 anos
para a pavimentação das vias e iluminação pública, o que seria garantido através do
caucionamento de 363.000m
2
de uma área pertencente à fazenda de propriedade do
loteador externa ao empreendimento. Cabe ressaltar que a abertura de ruas e a falta de
pavimentação em épocas chuvosas já tinha sido colocado pelo PDI como o maior
agravante dos processos erosivos. (Decreto N° 3937 de 13/06/1978)
Em 20/06/1978, sete dias após a emissão do decreto de aprovação do loteamento, o
loteador entra com um pedido de acordo (PROCESSO N°8080/78) comunicando a
execução da locação do terrenos, das vias públicas, terraplenagem, drenagem e arborização
e a destituição da obrigação da apresentação do projeto de iluminação à CPFL conforme
previamente acertado com o engenheiro municipal. O chefe da Assessoria de Planejamento
encaminha o processo para vistoria que detecta em 27/11/1978 que o loteador somente
executou a abertura das vias e a locação do terreno. Em 08/01/1979 o processo
administrativo é retido pela ausência da apresentação dos projetos específicos (drenagem,
131
água, esgoto) aprovados pela Sabesp e pela CETESB, prazo que estava vencido desde
13/12/1978.
Em 2 de maio de 1983 foi encaminhado pelo Diretor do Departamento de Economia e
Planejamento da Prefeitura Municipal de Franca uma notificação à Imobiliária Francana
para prestar esclarecimentos sobre os descumprimentos de prazos – os quais já haviam sido
prorrogados até julho de 1983 – e das exigências da legislação em vigor. Diversas vistorias
foram realizadas e até 1984 não havia sido efetivada nenhuma obra de infra-estrutura
urbana, embora os lotes já viessem sendo comercializados e ocupados. A rede de
abastecimento de água, embora estivesse implantada, não havia sido interligada à rede da
Sabesp.
A 2ª ETAPA DO LOTEAMENTO:
RESPONSABILIDADES REPASSADAS
O pedido de aprovação da segunda etapa do empreendimento foi feito em 1979.
Diferentemente da primeira etapa, nesta consta que a área destinada ao loteamento estava
fora dos limites da área de expansão da cidade definidos pela lei N. 2497 de 27/12/1977. O
pedido do loteador, que já estava em situação irregular perante a prefeitura no que se refere
à execução da infra-estrutura da etapa anterior, foi atendido em 50 dias e aprovação se deu
pelo DECRETO N° 4212, 25/01/1980. Neste decreto os prazos para execução de infra-
estrutura da primeira etapa passam a ser mesmos estabelecidos para a segunda etapa, ou
seja, a partir da data de aprovação, o empreendedor teria 150 dias para realização da
locação, abertura de vias, terraplenagem, drenagem e arborização; 1 ano para guias e
sarjetas, galerias de águas pluviais e 3 anos para pavimentação. (Decreto N°3937, de 13 de
junho de 1978 e decreto N° 4212, de 25 de janeiro de 1980)
Ocorre que a implantação do loteamento Jardim Aeroporto faz com que a área urbana
atravesse a sub-bacia do Ribeirão dos Bagres, para onde era realizada toda a drenagem do
município, atingindo a sub-bacia do Ribeirão dos Macaúbas e trazendo dificuldades para as
redes de drenagem deste loteamento. Assim, a solução encontrada pelos loteadores e pelo
poder público para a implantação da segunda etapa do loteamento, que estava inteiramente
132
localizada na sub-bacia do Ribeirão dos Macaúbas, foi a aprovação de instalação de fossas
sépticas em cada um dos lotes, a cargo do morador, sendo que a empresa loteadora firma
um acordo com a Prefeitura onde assume todas as responsabilidades frente ao poder
municipal. (acordo 05/11/1979)
Houveram muitos problemas nos projetos das redes de água e esgoto apresentados pela
empresa, os quais foram aprovados pela Sabesp em 1980, da rede de esgotos e em 1981, da
rede de abastecimento de água. A justificativa da empresa loteadora sempre foi a
dificuldade de aprovação do projeto e da execução das redes de água e esgoto. A Sabesp,
que havia conseguido a concessão para a execução e exploração dos serviços de
abastecimento de água e de coleta e destino final de esgotos sanitários no município em
1976 (Lei n° 2412, de 27 de agosto de 1976) e estava iniciando suas operações no
município, encaminha ao Prefeito um ofício em 17/10/1983 informando a dificuldade em
realizar as obras e a parceria com o loteador na tentativa de resolução dos problemas com a
sub-adutora. (ofício 335/83)
Em 1984, frente às pressões para a interligação da rede de abastecimento de água, Foi
encaminhado um ofício pela Sabesp à Prefeitura em 17/10/1984 (ofício 322/84), que
justifica este fato pelas condições precárias das redes de abastecimento de água
implantadas pela empresa loteadora, relatando que a ligação das redes de água e esgotos
dos loteamentos à rede da Sabesp só será feita se aquela estiver em plenas condições de
serem interligadas. A Sabesp sugere, para resolver o impasse, que seja realizado um acordo
entre empresa loteadora e prefeitura para a conclusão das obras.
A grande maioria das páginas destinadas ao processo do loteamento se refere às vistorias
na execução de infra-estrutura, à comunicação de irregularidades ao loteador, às suas
justificativas e pedidos de prorrogação de prazo e a abaixo-assinados pelos moradores
pressionando o poder público para a execução das melhorias.
Sobre a responsabilidade da execução de infra-estrutura, a loteadora comunica que não
serão executadas nem a rede de drenagem – considerando ser desnecessária –, nem a
pavimentação – afirmando que a obrigação foi transferida para o comprador de lotes
através do contrato de compra e venda, mesmo assumindo a responsabilidade oficialmente
em Termo de Compromisso, na ocasião da aprovação do loteamento. A loteadora alega
que, em primeiro lugar, o loteamento aprovado em 1978 não está submetido aos
133
estabelecidos pela Lei Federal 6766/79 e que, dentre as obras assumidas, as que não foram
executadas – galerias de águas pluviais e pavimentação – a responsabilidade foi repassada
ao comprador de lote.
26
Em resposta a esta situação, o prefeito municipal declara:
é inequívoco que esta figura só realmente interessa entre as partes,
isto é, loteador e comprador de lotes. Para loteador, as
responsabilidades junto à prefeitura e às leis que regem os
loteamentos continuam as mesmas, alegando-se repasse ou não.
Isto significa que com ou sem repasse o loteador não está
desobrigado de responsabilidade legal.
27
E de forma incisiva coloca que:
alega a requerente que é lícito verificar que a Imobiliária está com
todas as suas responsabilidades praticamente cumpridas e as partes
que faltam estão sendo objeto de um plano e cronograma de
execução e entregas.’ Outro engano. Poucas foram as
responsabilidades cumpridas. Muito poucas e todas fora do prazo.
Sobre o cronograma do que falta, fico atônito em saber que ainda
está sendo objeto de um plano, quando perante a lei, tudo deveria
estar cumprido.
28
Até a efetiva instalação da infra-estrutura, todos os transtornos provenientes desta ausência
são relatados pelos moradores: falta de água, iluminação, esgoto correndo pelas ruas,
desmoronamentos, ruas precárias de terra.
29
A solução seria dada em 1988, pelo acordo
firmado entre Prefeitura, Sabesp e loteadores dos empreendimentos envolvidos nos
problemas de drenagem para execução dos sistemas em parceria, e pelo estabelecimento de
que os custos da pavimentação dos loteamentos de caráter popular seriam arcados pelos
proprietários de lotes, sob forma de Contribuição de Melhoria. (LEI N. 3358/88) As obras
de drenagem e pavimentação foram acabadas apenas em 1991.
26
PROCESSO N. 7486/83
27
PROCESSO 6455/85
28
idem
29
Sobre este aspecto, consultar o trabalho de Vaz e Dreier (2000)
134
Por outro lado, os empreendedores vendiam seus lotes muito rapidamente. Conforme
entrevistas realizadas, os compradores dos lotes eram basicamente três: operários, chefes
de família de classe média que queriam garantir patrimônio às próximas gerações e
especuladores de lotes, estes adquiriam quadras inteiras a espera de valorização.
30
O
entrevistado nos conta também que no dia do lançamento do loteamento Jd. Aeroporto II
houve tumulto pelos adquirentes, tendo que fechar um quarteirão para organizar a
população. As compras eram realizadas às prestações, facilitadas pela própria empresa,
divididas em até 60 meses nas três primeiras etapas e até 20 meses na última. O preço dos
lotes hoje no mercado tem uma grande variação, em função de sua localização e da
existência infra-estrutura urbana. Lotes da primeira etapa são comercializados com valor
em torno de 20 mil reais e da última etapa variam entre 1mil e 200 reais e 4 mil reais.
31
Desta maneira, detecta-se que o principal foco de conflito nos processos de aprovação de
loteamentos se refere à questão de infra-estrutura nos loteamentos. A ineficiência de
controle por parte do poder municipal torna evidente os problemas decorrentes, tendo
como principal o agravamento dos processos erosivos. O loteamento Jardim Aeroporto
possui três voçorocas de grande porte, localizadas nas cabeceiras das drenagens da sub-
bacia do Ribeirão dos Macaúbas, com alguns pontos de lançamento clandestino de
efluentes, todas elas agravadas após a ocupação do entorno das nascentes pelo loteamento
(IPT, 1998).
Conforme o Parecer Técnico do IPT (1998) as voçorocas do Jardim Aeroporto estão entre
as que oferecem mais risco e com maior gravidade no comprometimento de habitações e
infra-estrutura. Atualmente a área localizada no entorno das voçorocas está com boa parte
da infra-estrutura de drenagem instalada, no entantorede de esgoto lançando efluentes
na cabeceira da voçoroca, sendo que uma rua do loteamento já foi atingida, estando a parte
asfaltada a 35 m da erosão. O custo estimado para as obras de correção é de R$ 430 mil.
(IPT,1998)
A análise da prática urbana cotidiana envolvendo o processo de aprovação de loteamento
revela que as definições caso a caso como acordos, prorrogações de prazo, entre outros,
favorecendo sempre o empreendedor a despeito dos próprios custos que isso acarreta para
os cofres públicos e para a sociedade como um todo, é responsável pelo agravamento das
30
dados obtidos nas entrevistas com Mauro Ferreira e com sr. João Luis Lima, em 14/12/2004, Franca-SP.
31
Informação obtida em entrevista com o sr. João Luis Lima em 14/12/2004, Franca-SP
135
condições sócioambientais do município e, especificamente, no que se refere aos processos
erosivos e suas conseqüências nefastas para a cidade. Desta forma pode-se dizer que neste
processo, ao loteador cabe o lucro, ao poder público, os custos, e ao morador, os riscos e,
ao meio ambiente, os danos.
FIGURA 32 –Foto da voçoroca do Jardim Aeroporto com o loteamento ao fundo.
Fonte: acervo particular da autora
136
O CONTROLE DA EXPANSÃO URBANA E
A INCORPORAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Embora o PDDI tenha regulamentado todo o processo de aprovação e abertura de
loteamentos, somente com a aprovação da LEI 6766/79 é que serão estabelecidas sanções
penais para o não cumprimento das obrigações, assim como a proibição de loteamentos em
áreas rurais. A lei 6766/79 incorpora também para áreas urbanas os parâmetros ambientais
que se tinham estabelecido pelo Código Florestal como restrições ao parcelamento do solo.
O pedido de diretrizes urbanísticas para lotear com base no PDDI e na LEI 6766/79 é
regulamentado em 1980, estabelecendo que a Prefeitura forneceriam as informações como
as características das zonas em que se insere o loteamento; características,
dimensionamento e traçado das vias de circulação adequado ao plano geral do município,
das áreas verdes e das áreas institucionais.(LEI N° 4309/80)
Ao longo dos últimos trinta anos ocorre uma incorporação lenta e gradual da temática
ambiental pelo poder público municipal no que diz respeito aos instrumentos de controle
da expansão urbana. Após o passo inicial dado pelo PDI no início dos anos 1970, somente
nos anos 1990 a problemática das voçorocas e da expansão através de loteamentos e
associada pelo controle do uso do solo pela legislação ambiental e urbanística. Antes disso,
diversas foram as tentativas de incorporação da temática ambiental pela administração
municipal.
INCORPORAÇÃO DO TERMO MEIO AMBIENTE
PELOS ÓRGÃOS DE URBANISMO
Paralelo à sua institucionalização no âmbito federal, em nível local o termo “meio
ambiente” passa a ser incorporado pela estrutura administrativa. Em 1981 é feita uma
reestruturação na administração de Franca na gestão do prefeito Mauricio Sandoval (1977-
1983) que incorpora, pela primeira vez, o termo “meio ambiente” na estrutura municipal,
denominando o Departamento de Obras Públicas com a denominação de Departamento de
Obras e Meio Ambiente, responsável por executar, fiscalizar e conservar obras públicas
municipais, administrar programas de obras com recursos estaduais e federais e as
137
realizadas pelo sistema de Contribuição de Melhoria. O Departamento possuía um Setor
de Canalização de Córregos, que executava obras de regularização dos córregos, a
proteção de seus taludes e de drenos em áreas alagadiças. (DECRETO N° 4403 de
29/01/1981) Sendo assim, revela-se que a questão ambiental é associada, pela
administração municipal, aos serviços de saneamento tradicionais como retificação de
córregos, estabilização de encostas e obras de drenagem.
Como parte desta reestruturação, a então Assessoria de Planejamento, que era o órgão
responsável pela aprovação de loteamentos, se transforma em Departamento de Economia
e Planejamento (DEP), dividido entre os setores de planejamento físico, controle e uso do
solo, cadastro físico, fiscalização e orientação de obras e posturas, cujas competências
permanecem praticamente as mesmas, continuando com o controle urbanístico.
(DECRETO N° 4403 de 29/01/1981)
Em 1986, na gestão do prefeito Sidinei Franco da Rocha (1983-1988), a estrutura
administrativa se fortalece transformando os Departamentos em Secretarias. Assim, o
Departamento de Obras e Meio Ambiente, empregando até então o termo “meio ambiente”
sem sucesso e desvinculado das formulações em nível federal, passa a se denominar
somente Secretaria de Obras, com uma divisão específica para obras de saneamento e
construção de canais. O controle de loteamentos de responsabilidade do Departamento de
Economia e Planejamento, passa a ser realizado pela Secretaria de Planejamento, dividida
entre a Coordenadoria de Planejamento Físico, responsável pelo Controle de Uso do Solo
(que contempla também os serviços de fiscalização de obras e posturas) e de Cadastro
Físico, e a Coordenadoria de Projetos.
Quando Maurício Sandoval retorna para a administração, em 1989, o termo “meio
ambiente” volta a ser empregado na estrutura administrativa, agora associado ao
planejamento e controle do solo urbano, diferentemente da forma como foi colocada na
primeira gestão. Cria-se assim a Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente,
com uma Coordenadoria de Meio Ambiente, que tinha por competência: formular, dirigir e
fomentar as atividades relativas à racional utilização do solo; formular e desenvolver a
política ambiental do Município, respeitadas as competências da União e do Estado,
visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes do Município de
Franca, mediante a conservação, preservação e recuperação dos recursos naturais em geral,
138
tanto urbano quanto rural, considerando, para tanto, o meio ambiente como um patrimônio
público; entre outras. (LEI N°3537 de 09/03/1989)
Esta foi a primeira tentativa de se vincular no âmbito da administração, a questão
ambiental urbana ao controle do uso do solo, visando a preservação dos recursos naturais.
Porém não teve crédito. Em dezembro do mesmo ano a estrutura da administração se
modifica e com ela sua linha de atuação, transformando a Secretaria de Planejamento e
Meio Ambiente para Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação Popular, que passa a
focar, além do planejamento físico, a questão habitacional criando a PROHAB – Habitação
Popular S/A empresa municipal criada para atender a produção de habitação de interesse
social. (Decreto N° 6096 de 22/12/1989)
Ao mesmo tempo cria-se a Secretaria de Serviços Urbanos e Defesa Ambiental, que
vincula a questão do “meio ambiente” às operações de limpeza pública, defesa civil,
manutenção de praças, administração dos cemitérios, além de ter como objetivo o
desenvolvimento de “programas de preservação de mananciais, de combate à poluição e de
controle de ecossistemas com vistas a constante melhoria da qualidade do meio-ambiente".
(DECRETO N° 6113, de 22/12/1989)
E
XPANSÃO URBANA COMO PROBLEMA AMBIENTAL
Em 1981 a questão ambiental é institucionalizada em nível federal através da Política
Nacional de Meio Ambiente (PNMA) que cria o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) e estabelece entre seus princípios a manutenção do equilíbrio ecológico
através da ação governamental, a racionalização do uso do solo e o controle e zoneamento
das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, visando desta forma a
compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade
do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Neste sentido, entre os instrumentos da
PNMA podemos destacar: o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambientais
(AIA) e o sistema de informações sobre meio ambiente de obrigação de poder público em
produzi-las e de acessibilidade pública, de caráter prévio e preventivo ao dano; e as
penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias
139
à preservação ou à correção da degradação ambiental, de caráter reparador. (Lei Federal
No 6.938 de 31/08/1981)
Em 1986 a questão da expansão urbana passa a ser tratada pela legislação ambiental
federal. A atividade loteadora, principal motor deste processo, passa a ser considerada
potencialmente danosa ao ambiente, sendo exigido licenciamento ambiental para
empreendimentos urbanísticos acima de 100 ha, ou localizados em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais
competentes. (RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986, art. 2º)
A partir da década de 1980, com o processo de redemocratização criam-se condições
políticas e sociais favoráveis para processos de revisão das normas e formulação de novos
instrumentos urbanísticos e ambientais, culminando na promulgação da Constituição de
1988, que estabelece diretrizes para a política urbana e assegura o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, colocando como incumbência do poder público a exigência de
estudo prévio de impacto ambiental para as atividades “potencialmente causadoras de
significativa degradação do meio ambiente”. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, art. 225, par.
1°)
O CONTROLE DA EXPANSÃO URBANA:
INSTRUMENTOS URBANÍSTICOS E AMBIENTAIS
Somente na década de 1990 as questões da expansão urbana e ambiental passam a ser
associadas no âmbito da administração municipal, seja em sua estrutura, seja pelo controle
urbanístico. Após a formulação da expansão urbana como problema ambiental, o controle
de uso e ocupação do solo em Franca passa a utilizar além dos instrumentos urbanísticos,
os instrumentos de controle ambiental.
Em 1990 é aprovada a Lei Orgânica do Município que incorpora diretrizes relativas à
proteção ambiental e estabelece ações no sentido de racionalização na utilização dos
recursos naturais. Esta lei estabelece a racionalização da utilização dos recursos naturais e
a proteção ambiental como diretrizes de ação municipal. São incorporados parâmetros
ambientais também pela Política Urbana estabelecendo que o uso e a ocupação da
propriedade, além de respeitar a legislação urbanística e atender o interesse coletivo, deve
140
respeitar a proteção do patrimônio ambiental natural ou construído. Enfim, a política de
desenvolvimento urbano deverá assegurar, entre outros, “a preservação, a proteção e
recuperação do meio ambiente natural e cultural, mediante inclusive a criação de áreas de
especial interesse urbanístico, social, ambiental, histórico, turístico e de utilização
pública”. (Lei Orgânica de 5 de abril de 1990)
Outra contribuição desta lei foi o estabelecimento de diretrizes para a aprovação de
loteamentos que relacionam os loteamentos à degradação ambiental. A lei é incisiva ao
estabelecer que “nenhum loteamento será aprovado se não obedecer [as normas] de
preservação, proteção e recuperação do meio ambiente. (art. 173) Em segundo lugar,
determina que “nenhum loteamento será aprovado se o seu proprietário não se
comprometer a urbanizar a área, efetuar arruamento, instalar equipamentos para água e
esgotos e separar a área ou áreas especiais para finalidades sociais a cargo do
município”.(art .174) Sobre a infra-estrutura, coloca que os loteamentos deverão ser
providos dos sistemas públicos de água potável, coleta, asfaltamento, tratamento e
disposição das águas residuárias, e conter obras que evitem a erosão do solo, cabendo ao
responsável pelo empreendimento público ou privado, implantá-los nos prazos e forma que
o Código de Saneamento Básico vier a instituir. (art. 194 e 195)
Art. 195 Os loteamentos, pela importância que têm no desenvolvimento
urbano e potencial de impacto ambiental, deverão conter obras que
evitem a erosão do solo, sistemas de coleta, asfaltamento e tratamento de
esgoto executados na forma de lei.
Em 1992 foi estabelecido como áreas de Interesse Ambiental as áreas correspondentes às
bacias do Rio Canoas e do Córrego Pouso Alegre para efeito de proteção dos mananciais
de abastecimento da cidade (LEI 4240, de 11/12/1992) que mais tarde se constituiria na
Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio Canoas (Código do Meio Ambiente de
Franca, art. 55) Com base na Resolução CONAMA N°1/86, a ocupação desta área estará
vinculada á apresentação de EIA/RIMA, e posterior audiência pública, excetuando os
casos de loteamentos de chácaras de lazer que deverão destinar 40% da área de cada lote
para conservação e plantio e árvores nativas.
Em 1996 é associada pela primeira vez pela legislação municipal a abertura de
loteamentos e a degradação ambiental, especificamente à deflagração de processos
141
erosivos, no âmbito do Código do Meio Ambiente de Franca (CMAF). Somente no final do
século XX as voçorocas, que constituíam problemas para a administração desde o século
XIX e que nos anos 1970 foi formulada como conseqüência do processo de expansão pelo
PDI, é tratada de forma integrada pelo controle do solo, denotando um lento processo de
associação que se deu a partir da emergência do paradigma ambiental.
Entre os diversos temas relacionados ao meio ambiente tratados pelo CMAF, como
saneamento, drenagem, resíduos, etc., estão os loteamentos definidos como os principais
causadores de impacto ambiental. Para implantação desta atividade, além das autorizações
e das licenças federais, estaduais e municipais previstas na legislação, é necessária licença
prévia para localização e a licença de instalação emitidas pela Secretaria Municipal do
Meio Ambiente e Projetos Especiais. (CMAF, art. 10) Desta forma, os novos loteamentos,
condomínios, conjuntos habitacionais e assemelhados, ficam obrigados a submeterem à
aprovação da Prefeitura Municipal o respectivo projeto de drenagem o qual deve
contemplar as questões geológicas, de ocupação do solo e urbanísticas, de modo a garantir
a integridade do solo, prevenindo-o e protegendo-o dos processos erosivos. (CMAF, art.
8º)
O CMAF determina também a necessidade de EPIA/RIMA para loteamentos, com
respectiva audiência pública. Conforme este artigo, a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente e Projetos Especiais, após examinar o EPIA do empreendimento e a ata da
audiência pública poderá deixar de exigir a realização de novo estudo em âmbito
municipal. Se em âmbito estadual e federal não for determinada a realização do EPIA,
caberá à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Projetos Especiais fazê-lo no âmbito de
sua competência. Este artigo estabelece ainda que o RAP somente poderá servir de base
para dispensa do Estudo Prévio de Impacto Ambiental se não se referir a atividades
mencionadas pela CONAMA1/86. Com isto, a implantação de loteamentos com menos
de 100ha está definitivamente isenta de EPI/RIMA. (CMAF, art. 11)
Em 1998 se efetiva a internalização da questão ambiental pelo setor de urbanismo, seja
através da própria denominação da Secretaria, que incorpora as questões de Território e
Meio Ambiente, seja através da incorporação do controle ambiental pelos procedimentos
de controle de loteamentos. Desta forma a então denominada Secretaria Municipal de
Planejamento passa a chamar Secretaria Municipal de Planejamento do Território e Meio
142
Ambiente que incorpora às exigências para aprovação de loteamentos pela administração
municipal as realizações do Relatório Geotécnico e do Relatório Preliminar Ambiental
(RPA). (RESOLUÇÂO da SEPLAMA N°1) Estes documentos são elaborados a cargo do
loteador, por uma empresa especializada, que revelam as informações ambientais do local.
O RPA tem como roteiro: a caracterização do local e do empreendimento; diagnóstico
ambiental; identificação dos impactos; e medidas mitigadoras. Desta forma é inaugurada a
incorporação dos instrumentos de controle ambiental no âmbito urbanístico. Até o
momento, as questões de urbanização eram consideradas no âmbito da legislação
ambiental, mas o inverso ainda não tinha se efetivado, ou seja, a incorporação da legislação
ambiental pelo controle urbanístico.
O RPA deveria ser apresentado da seguinte forma:
1. Objetivo do licenciamento
2. Justificativa do empreendimento
3. Caracterização do empreendimento, compreendendo localização, memorial
descritivo do projeto urbanístico e implantação do empreendimento
4. diagnóstico preliminar da área de influência
5. atividades desenvolvidas na implantação e operação do empreendimento
6. identificação dos principais impactos ambientais gerados e medidas mitigadoras
e/ou de controle
7. considerações finais
8. anexos
9. equipe técnica
10. cópia do ART
O que se pode detectar da análise dos processos de loteamentos é que da maneira como é
realizado hoje, não se constitui como um instrumento eficiente. Formaram-se empresas
especializadas para este tipo de serviço, no entanto utilizam um padrão para todos os
empreendimentos que respondem superficialmente os itens da mesma maneira, alterando
apenas os dados sobre a caracterização do empreendimento. Além disso, a administração
não possui corpo técnico com formação específica para avaliá-lo, sendo considerado tanto
pelos técnicos da prefeitura, como pelos loteadores, como mero procedimento burocrático.
(Feldman, 2002) Com isso, este instrumento não consegue evitar os danos ambientais
provocados pela expansão urbana através dos loteamentos.
143
O PARECER TÉCNICO DO IPT: SUBSÍDIOS PARA
O CONTROLE DO SOLO EM FUNÇÃO DO RISCO DE EROSÃO
Os graves problemas ambientais com relação à erosão no município de Franca faz com que
em 1990, na segunda gestão de Maurício Sandoval (1989-1992), fosse firmado um
convênio com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT para
prestação de serviços técnicos e assessoria durante cinco anos. (LEI MUN. N°3829, de
31/08/1990) Este convênio resultou no Parecer Técnico Nº 7149 do IPT -"Subsídios
Técnicos para um plano de controle preventivo e corretivo de erosão para a área urbana do
Município de Franca". Este estudo se volta para a construção de informações ambientais
públicas para subsidiar o planejamento e a proposição de métodos e técnicas para dotar a
administração municipal de bases para a implementação de ações preventivas e corretivas
dos processos erosivos, auxiliando no planejamento da expansão urbana. Contempla as
áreas urbana – malha urbana consolidada - e periurbana – área periférica a malha urbana
consolidada estudada, que abrangem 228,63 ha
dos 571 ha
da área do município.
O desenvolvimento das pesquisas e da tecnologia aplicadas ao estudo dos processos
erosivos permitiram a utilização de métodos e técnicas mais sofisticadas para a
apresentação de medidas para o controle e prevenção dos processos erosivos, como a
cartografia digital como base para a elaboração do zoneamento ambiental, instrumento
fundamental para o planejamento urbano.
O Parecer Técnico considera que os processos erosivos são resultados de transformações
antrópicas decorrentes do desenvolvimento urbano, e identifica como principal fator a falta
de infra-estrutura na instalação de loteamentos. Desta forma propõe medidas corretivas e
preventivas no “combate à erosão”. Os principais produtos deste trabalho para o
planejamento da expansão urbana são: a realização do zoneamento ambiental, denominada
Carta de Risco Potencial de Erosão; e a formulação de diretrizes para ocupação das áreas
de expansão urbana de acordo com as potencialidades e limites do meio físico.
A Carta de Risco Potencial de Erosão tem como objetivos subsidiar o processo de
planejamento municipal, com orientações para a definição de áreas mais aptas à ocupação
urbana e orientar a escolha de áreas para instalação de futuros conjuntos habitacionais ou
loteamentos populares de caráter social os quais são, atualmente, as maiores fontes
144
potenciais de erosão, por estarem geralmente em terrenos de menores custos, situados em
áreas mais problemáticas sob o ponto de vista geotécnico. (IPT, 1998) O mapa foi
desenvolvido a partir da metodologia exposta na Figura 33:
Figura 33 – Metodologia utilizada para a elaboração do Mapa de Risco de Erosão.
Fonte: IPT (1998)
Desta forma são delimitadas cinco categorias de risco de erosão, levando em conta os
aspectos físicos, biológicos e sócio-econômicos da área: muito baixo (I), baixo(II),
médio(III), alto(IV) e muito alto(V), sendo que as áreas não recomendadas para ocupação
são identificadas pela classe V, que correspondem geralmente às áreas de cabeceiras de
drenagem, e I, que integram áreas de várzea e planícies inundáveis. A área mais favorável
à expansão urbana é a de classe II, sendo que as classes III e IV são possíveis de serem
urbanizadas, desde que atendam critérios e condições especiais para a prevenção de danos
ambientais. (Mapa 13)
Como critérios para a instalação de loteamentos, o IPT (1998) recomenda: que se evite a
movimentação de terra na abertura de loteamentos durante o período chuvoso, a execução
de terraplanagens extensivas e de cortes nas vertentes sem obras de contenção adequadas
(em caso de cortes e aterros, deve-se prever a revegetação imediata para proteção contra
erosão); a previsão de obras de drenagem com dissipadores de energia nas extremidades de
saída das galerias; que se assegure a execução da infra-estrutura básica na abertura de
novos loteamentos, principalmente a instalação de redes de água e esgoto, sistema de
drenagem, calçamento e vias pavimentadas; evite no traçado do sistema viário ruas de
grande extensão situadas perpendicularmente às curvas de nível e a concentração de águas
superficiais; e que se mantenha os lotes vazios sempre com cobertura vegetal.
ESBOÇO
PEDOLÓGICO
MAPA DE
DECLIVIDADE
MAPA
GEOLÓGICO
MAPA
MORFOPEDOLÓGICO
MAPA DE
FEIÇÕES DE EROSÃO E
SEDIMENTAÇÃO
MAPA DE USO E
OCUPAÇÃO DO SOLO
MAPA DE
SUSCETIBILIDADE À
EROSÃO
MAPA
DE RISCO
POTENCIAL
DE EROSÃO
145
Mapa 13
RISCO POTENCIAL DE EROSÃO
Fonte: IPT (1998)
146
FIGURA 34- Sistema viário inadequado às condições de Franca. Fonte : IPT (1998)
FIGURA 35- Sistema viário adequado às condições de Franca. Fonte : IPT (1998)
REFLEXÕES FINAIS
148
149
Este trabalho desvenda historicamente o processo de expansão urbana de Franca em termos
estruturais, desde a constituição do núcleo urbano, como artefato cultural do espaço e do
tempo (SILVA, 2002; SALGUEIRO, 2003), de maneira a identificar períodos e marcos
importantes neste processo. Parte da associação entre expansão urbana e voçorocas
enquanto “problemática ambiental urbana” para entender o processo de construção destas
questões enquanto problema para o planejamento e gestão urbana. A pesquisa demonstrou
que o processo de expansão urbana de Franca, embora se assemelhe com o processo de
expansão das cidades brasileiras de maneira geral, é marcado por um conjunto de
especificidades.
Um primeiro aspecto é em relação à dinâmica de ocupação territorial em geral, e sua
relação com os processos erosivos do solo, em particular. Observa-se que os avanços no
processo de expansão urbana são partes da associação de dois processos: grande
desenvolvimento econômico e expansão das vias de comunicação intermunicipal, através
do binômio café/ ferrovia, na virada do século XIX, e indústria de calçados/rodovias, a
partir dos anos 1950. Estes avanços deram origem a períodos substancialmente distintos
quanto à ocupação territorial. Na primeira metade do século XX a expansão da cidade
vinha ocupando lentamente o território, de maneira incipiente e seguindo os terrenos mais
planos e livres de voçorocas. Após os anos 1950, este processo se intensifica e passa a
ocupar indiscriminadamente o território. A distância da área urbanizada e a existência de
voçorocas deixam de ser empecilhos para a localização dos novos loteamentos, e se
transformam em fator de depreciação do preço dos lotes, tornando-os acessíveis à
população operária.
Outro aspecto é que, diferente do que aponta as pesquisas que enfocam as regiões
metropolitanas, que apontam a clandestinidade na abertura de loteamentos principal
problema no processo de expansão urbana, em Franca este processo se dá através de
loteamentos aprovados, isto é, com a autorização do poder municipal. O problema que se
coloca são as irregularidades no processo de aprovação relacionados à localização dos
empreendimentos - muitos deles em área rural – e à implantação e execução de infra-
estrutura, que constitui principal foco de conflito no processo de aprovação de loteamentos
e fator determinante no agravamento das condições ambientais urbanas.
Pela importância que os processos erosivos do solo assumem em Franca, a
problematização das voçorocas pode ser considerada como um terceiro fator relacionado
150
ao processo de expansão urbana. Percebe-se, no caso de Franca, que o processo de
expansão territorial urbana sempre foi atrelado à questão das voçorocas e que num
primeiro momento foi problematizado como obstáculo e, posteriormente, como
conseqüência do próprio processo de expansão.
Esta inversão de interpretação do problema ocorre no final dos anos 1960 no processo de
elaboração do PDI e se deve a uma conjunção dos seguintes fatores: o desenvolvimento
das pesquisas geográficas em relação às voçorocas, responsável pela desnaturalização
destes fenômenos até então desconhecidos e míticos; a criação do curso de geografia da
Faculdade de Filosofia de Franca e o início de sua articulação com a administração
municipal, que começava a se organizar para o planejamento urbano e atuar no sentido de
chamar a atenção dos pesquisadores para as voçorocas de Franca.
Relacionado a este conjunto de fatores deve-se destacar o papel desempenhado pelo
geógrafo Aziz Ab'Saber nos anos 1960 e inicio dos 1970, tanto pela implementação de
uma nova visão sobre o problema das voçorocas, como pela incorporação deste problema
no processo de planejamento urbano. A dupla atuação de Aziz Ab'Saber na geografia e no
planejamento, que se expressa em suas formulações ao longo do trabalho teve influência
decisiva na incorporação das questões ambientais pelo planejamento urbano de Franca,
ainda que não formuladas como tal, num primeiro momento. Este problema, considerado
até meados do século XX como um entrave ao processo de expansão, passa a ser
formulado pelo poder municipal como uma das conseqüências mais danosas das formas
assumidas pelo processo de expansão em Franca.
O processo de abertura de loteamentos e os problemas na instalação de infra-estrutura
passam a ser relacionados com os principais problemas ambientais de Franca. Nota-se um
esforço por parte da administração municipal em incorporar parâmetros urbanísticos e
ambientais em seus instrumentos e procedimentos, assim como criar órgãos voltados para
o controle ambiental e dos loteamentos, associando-os na estrutura administrativa. Nesse
sentido, destacam-se o Código do Meio Ambiente de Franca e o Parecer Técnico do IPT,
que foi subsídio para a elaboração do Macrozoneamento do Plano Diretor de Franca em
2002, assim como a atuação da Secretaria de Planejamento do Território e Meio Ambiente
(1998-2001).
Desde os anos 1960, a administração municipal vem atuando, no que se refere ao
aprimoramento dos instrumentos de controle da expansão urbana, de forma a atribuir maior
151
responsabilidade ao loteador no provimento de infra-estrutura, o que se constitui até os dias
atuais um grande problema. Várias tentativas vinham sendo feitas neste sentido até que em
1972, com a aprovação do PDI, estabelece-se – de forma pioneira se considerarmos que em
nível federal isto somente será tratado em 1979, pela Lei N.6766 – que a execução de toda
a infra-estrutura dos loteamentos deve ficar a cargo do empreendedor. O plano propõe a
criação de instrumentos para garantir esta execução, como a caução de lotes e a assinatura
de um termo de responsabilidade pelo loteador. Estes instrumentos caracterizam grande
avanço, mas somente com a Lei Federal N. 6766/79, que dispõe sobre o parcelamento do
solo urbano e dá outras providências, é que vão ser estabelecidas sanções penais para o não
cumprimento destas obrigações.
Observa-se que após a aprovação da Lei N. 6766/79, ocorre em Franca uma redução no
número de loteamentos, principalmente aqueles destinados à população e baixa renda, e na
dimensão dos empreendimentos, assim como uma mudança no foco dos empreendimentos,
que passam a ser realizados para as classes mais altas através de condomínios.
Atualmente esta discussão ganha visibilidade no cenário nacional com o projeto da Lei de
Responsabilidade Territorial Urbana (PL 3.057/00), o que revela que Franca não se
configura caso isolado mas parte de um processo que se dá com maior amplitude.
O aprimoramento no controle de aprovação e de implantação de loteamentos e a situação
de legalidade quanto à aprovação não são suficientes para resolver os problemas do
problema das voçorocas nem garantem qualidade do ambiente urbano. Através da análise
dos processos de aprovação de loteamentos, observa-se um distanciamento entre o que se
estabelece pelo planejamento através dos instrumentos e procedimentos de controle e sua
prática efetiva na gestão urbana. Os documentos revelam que as negociações são feitas
caso a caso, como por exemplo as prorrogações de prazos ad infinitum para execução de
infra-estrutura, o que demonstra uma insuficiência dos instrumentos legais.
Assim temos uma equação em que o poder público acaba não exercendo o controle efetivo
dos loteamentos ao mesmo tempo em que é pressionado pela população a resolver os
problemas de infra-estrutura urbana. O que inicialmente seria de responsabilidade do
empreendedor, a prefeitura acaba assumindo frente às pressões populares e à ineficiência
de seu controle. Atualmente, com o aprimoramento dos instrumentos e a participação do
ministério público nas questões de expansão urbana, os loteadores vêm cumprindo com
maior efetividade as exigências legais para os empreendimentos. No entanto, isto tem
152
redirecionado os investimentos do setor, que tem focado as classes mais altas e vem
agregando aos seus produtos a preservação ambiental como valor de mercado.
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165
Planos e Relatórios
PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1969) Política do desenvolvimento físico.
Franca.
GPI/PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1969) Diagnóstico para o Plano de
Desenvolvimento Integrado.
GPI/PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1969) Proposta para o Plano de
Desenvolvimento Integrado.
PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1998) Justificativa Técnica para o Plano
Diretor de Franca
PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (2002) Plano Diretor de Franca
EMDEF/ SEPLAMA/ PMF - Relatório sobre Áreas de Risco na Cidade de Franca, SP.
Fevereiro, 2000.
PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1991) Banco de Dados.
PREFEITURA MUNICIPAL DE FRANCA (1991) Pesquisa Demográfica.
Mapas e plantas
Mapa de Uso do solo das áreas urbanas e periurbanas do município de Franca – IPT
Mapa Pedológico das áreas urbanas e periurbanas do município de Franca – IPT
Mapa de Declividade das áreas urbanas e periurbanas do município de Franca – IPT
Mapa de Suscetibilidade à Erosão/ Franca – IPT
Mapa de Risco de Erosão/ Franca – IPT
Plantas cadastrais da cidade de Franca referente aos anos de 1912, 1943 e 1969.
Planta da Cidade de Franca em escala 1:20.000 datada de 23/02/1947
Plantas das cinco etapas do loteamento Jardim Aeroporto
Documentos
Livro de Registros e Diversos Pareceres - LRDP, de 20 de janeiro de 1887.
Processo de aprovação do PDI
Processos de aprovação de loteamentos 1976-2004
Documentos referentes ao loteamento Jardim Aeroporto
ESCRITURA DE COMPRA E VENDA. Livro 439. Fls. 172v. 03/01/1978. In: 2° Cartório
de Notas de Franca
ESCRITURA PÚBLICA DE PERMUTA. Livro 380. Fls. 42. 1971. In: 2° Cartório de
Notas de Franca
166
Entrevistas
Aziz Nacib Ab'Saber, geógrafo, responsável pelo trabalho desenvolvido sobre as
voçorocas de Franca nas décadas de 1960/70.
Cecília Fuentes, arquiteta, funcionária da Prefeitura Municipal de Franca.
João Luis Lima, atualmente proprietário da imobiliária Enterfran, antiga imobiliária
Interprise, atua no mercado imobiliário francano os anos 1970.
Kátia Canil, geógrafa do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, responsável pelo
trabalho técnico realizado em Franca na década de 1990.
Mauro Ferreira, arquiteto, trabalhou na administração municipal nas décadas de 70
(como técnico) e 90 (como secretário de planejamento).
Neusa Machado Vieira, geógrafa, professora da Unesp de Franca e esposa de
Bendito Marcondes Vieira (in memorian), o qual foi aluno de Aziz Ab'Saber e
responsável pela articulação entre universidade e administração pública no processo
de planejamento dos anos 60.
ANEXOS
168
Anexo I - LEGISLAÇÃO
Legislação Federal e Estadual
BRASIL, Leis, Decretos, etc. (1989) Parcelamento do solo, Loteamento, Desmembramento,
Normas Sanitárias e Ambientais, São Paulo: CETESB.
DECRETO-LEI Nº 58, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1937. Dispõe sobre o loteamento e a venda de
terrenos para pagamento em prestações.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1989) São Paulo, Imprensa Oficial do Estado S.A..
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO (1989) São Paulo, Imprensa Oficial do Estado
S.A..
LEI FEDERAL Nº 4771, de 15/09/1965 - Institui o Código Florestal
LEI FEDERAL Nº 6766, de 19/12/1979 - Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e expansão
urbana
LEI
FEDERAL Nº 10257, de 10/07/2001 - Estatuto da Cidade.
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986
LEI N° 6.938, de 31 de agosto de 1981 - Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências
DECRETO ESTADUAL Nº 13.069 de 29/12/1978 - Aprova Normas Técnicas Especiais relativas
ao Saneamento Ambiental nos Loteamentos Urbanos ou para fins Urbanos.
Legislação Municipal de Parcelamento do Solo, Infra-estrutura e Perímetro Urbano
CÓDIGO DE POSTURAS de 1888, 1890, 1972
CÓDIGO MUNICIPAL DE FRANCA de 1909 e 1920
CÓDIGO DE OBRAS de 1934
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE FRANCA de 05/04/1990
LEI Nº 345, 18/11/1953 - Dispõe sobre exigências para futuros loteamentos e abertura de novas
vilas nesta cidade.
LEI Nº 483, 30/06/1955 - Revoga a Lei nº 345, de 18/11/1953.
LEI Nº 1095, 21/12/1962 - Regulamenta o processo de aprovação de planos de arruamento e
loteamento e cria outras condições.
LEI Nº 1285, 23/12/1964 - Regulamenta o processo de aprovação de planos a arruamento e
loteamento.
LEI N° 1285, de 02/02/1965 – regulamenta o processo de aprovação de planos de arruamento e
loteamento.
LEI N° 1559, de 23/11/1967 – institui o sistema de planejamento do desenvolvimento integrado do
município de Franca e dá outras providencias.
LEI N° 1749, de 02/07/1969 – delimita o perímetro urbano da cidade de Franca.
169
LEI Nº 1859, 30/04/1970 - Proíbe a aprovação de planos de loteamentos e arruamento no Município
de Franca.
DECRETO N° 2576, de 01/06/1971 – regulamenta a lei n° 1973/1971 que dispõe sobre o
funcionamento da Superintendência de Água e Esgoto de Franca.
LEI Nº 2046, 06/01/1972 – Institui o Plano Diretor Físico de Franca, suas normas ordenadoras e
disciplinadoras e dá outras providências
DECRETO N° 3307, de 11/04/1975 – dispõe sobre aprovação de plano de urbanização de terreno.
DECRETO N° 3795, de 01/03/1977 – autoriza a instalação e o funcionamento da Sabesp neste
município.
LEI Nº 2497, 27/12/1977 - Dispõe sobre alterações de dispositivos da Lei nº 2046, de 06 de janeiro
de 1972 e dá outras providências.
LEI N° 2513, de 16/06/1978 – dispõe sobre alterações do PD Físico do Município de Franca
DECRETO N° 4054, de 20/02/1979 – dispõe sobre aprovação de plano de urbanização de terrenos
regularizando situação anteriormente existente.
DECRETO N° 4139, de 27/09/1979 – dispõe sobre aprovação de Plano de Urbanização de
loteamento de terreno, situado na área rural do município de Franca.
LEI Nº 2628, 07/01/1980 - Altera dispositivo do Plano de Desenvolvimento
Integrado do Município e dá outras providências.
DECRETO N° 4309, de 28/08/1980 – regulamenta e fixa diretrizes urbanísticas quanto ao plano de
urbanização de terrenos, parcelamento do solo e loteamentos.
LEI Nº 2852, 13/04/1983 - Modifica dispositivos da lei 2046, de 06 de
janeiro de 1972, estabelece requisitos complementares à aprovação de projetos de parcelamento do
solo e dá outras providências.
LEI N° 2926, de 12/06/1984 – concede isenção de imposto predial e territorial urbano às áreas
objeto de implantação de núcleos residenciais populares e dá outras providências.
LEI N° 3109, de 20/10/1986 – dispõe sobre aprovação de projetos de loteamentos às margens das
rodovias no município de Franca.
DECRETO N° 5940, de 11/04/1989 – aprova o novo regulamento da contribuição de melhoria.
LEI N° 3629, de 02/10/1989 – fixa limite máximo de altura para as edificações no Município de
Franca e dá outras providências
LEI N° 4517, de 02/03/1995 – dispõe sobre alterações da Lei n° 2046/72 (pd físico) e dá outras
providencias
DECRETO N° 7419, de 11/08/1997 – institui normas e procedimentos para obras de drenagem e
galerias de águas pluviais no município de Franca e dá outras providências.
DECRETO N° 7439, de 08/10/1997 – disciplina a fixação de diretrizes e aprovação prévia de
loteamentos e dá outras providências
LEI Nº 5723, 28/06/2002 - Autoriza o Poder Executivo a estabelecer como zona de expansão
urbana as áreas que especifica e dá outras providências.
LEI Nº 5791, 11/10/2002 - Autoriza o Poder Executivo a estabelecer como zona de expansão
urbana a área que especifica, de propriedade de Rafael Hygino Caleiro Palma, e dá outras
providências.
170
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE FRANCA-SP de 1990
LEI COMPLEMENTAR MUNICIPAL Nº 050, de 17/01/2003 - Institui o plano diretor do
município de Franca e dá outras providências.
Legislação Municipal sobre a Estrutura Administrativa
LEI Nº 1204, 22/12/1963 - Estabelece a estrutura e define as atribuições dos órgãos administrativos
da Prefeitura Municipal de Franca e dá outras providências.
LEI N° 1699, de 12/12/1968 – Cria cargos e modifica enquadramento de pessoal ativo e inativo do
funcionalismo público municipal.
LEI N° 1954, de 15/12/1970 – cria núcleo de orientação e coordenação administrativa junto à
assessoria de planejamento
DECRETO N° 4209, de 28/12/1979 – Dispõe sobre organização dos postos de trabalho das
unidades administrativas da Prefeitura Municipal para o exercício de 1980.
DECRETO N° 4210, de 09/01/1980 – Define a estrutura administrativa do departamento de
serviços urbanos, cria funções e dá outras providências.
DECRETO N° 4228, de 27/02/1980 – Dá nova redação ao art. 1° do dec. 4210/80.
DECRETO N° 4403, 29/01/1981 – Dispõe sobre organização e funcionamento do departamento de
Economia e Planejamento e dá outras providências.
DECRETO N° 4417, 31/03/1981 – estabelece a competência e a estrutura administrativa do
departamento de obras e meio ambiente e dá outras providências.
DECRETO N° 5488, 30/12/1986 – Cria funções atividades e os respectivos postos de trabalho na
secretaria de planejamento da prefeitura municipal de Franca.
DECRETO N° 5491, 30/12/1986 – regulamenta a estrutura da secretaria de obras e dá outras
providencias.
DECRETO N° 5514, de 16/02/1987 – regulamenta a estrutura da Secretaria de Planejamento.
DECRETO N° 5709, de 28/01/1988 – Cria o serviço de custos e fiscalização de obras e o setor de
atendimento e expediente, na secretaria de planejamento.
DECRETO N° 5945, de 26/04/1989 – cria unidade de serviço na Secretaria de Planejamento e Meio
Ambiente e dá outras providências.
DECRETO N° 6096, de 22/12/1989 – estabelece a competência e a estrutura da Secretaria de
Planejamento Urbano e Habitação Popular e dá outras providencias.
DECRETO N° 6097, de 22/12/1989 – estabelece a competência e a estrutura da Secretaria De
Saneamento e Obras Públicas e dá outras providencias.
DECRETO N° 6113, de 29/12/1989 – estabelece a competência e a estrutura da Secretaria De
Serviços Urbanos e Defesa Ambiental e dá outras providencias.
LEI N° 3537, de 09/03/1989 – altera a nomenclatura da Secretaria de Planejamento, cria nova
estrutura administrativa e dá outras providencias.
DECRETO N° 6187, de 29/05/1990 – cria unidade de serviço na secretaria de planejamento urbano
e habitação popular e dá outras providências.
171
LEI N° 3829, de 31/08/1990 – autoriza o executivo municipal a celebrar termo de convenio com o
IPT e dá outras providencias.
DECRETO N° 6680, de 18/01/1993 – estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal
de Franca e dá outras providências.
DECRETO N° 6686, de 27/01/1993 – altera a redação dos artigos 2° e 5° do decreto n° 6680/93 e
dá outras providências.
DECRETO N° 6710, de 23/03/1993 – estabelece a competência e a estrutura administrativa da
Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação Popular e dá outras providencias.
DECRETO N° 6715, 23/03/1993 – estabelece a competência e a estrutura da secretaria de obras e
serviços urbanos e dá outras providencias.
DECRETO N° 6831, 14/10/1993 – estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de
franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7056, 11/04/1995 – estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de
franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7089, 14/07/1995 – estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de
franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7357, de 14/01/1997 – estabelece a estrutura administrativa da Prefeitura Municipal
de Franca e dá outras providencias
DECRETO N° 7513, de 06/04/1998 –estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal
de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7533, de 20/05/1998 – dá nova redação ao artigo 2°, do decreto N°7513/1998 que
estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7541, de 17/06/1998 – dá nova redação aos artigos 2°e 6°, do decreto N°7513/1998
que estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7547, de 14/07/1998 – dá nova redação aos artigos 2°e 11°, do decreto N°7513/1998
que estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7554, de 09/09/1998 – altera denominações das unidades da administração
municipal direta e dá outras providencias
DECRETO N° 7618, de 23/02/1999 – dá nova redação ao artigo 2°, do decreto N°7513/1998 que
estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7631, de 18/03/1999 – dá nova redação ao artigo 2°, do decreto N°7513/1998 que
estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7645, de 07/05/1999 – dá nova redação aos artigos 2° e 3°, do decreto N°7513/1998
que estabelece a estrutura administrativa da prefeitura municipal de Franca e dá outras providencias.
DECRETO N° 7831, de 01/12/2000 – estabelece órgãos da administração municipal direta,
definidas no decreto n° 7827/2000 edá outras providencias
Legislação Municipal sobre Meio Ambiente
LEI N° 2511, de 13/06/1978 – Cria o Conselho municipal de combate à poluição e defesa do meio
ambiente, e dá outras providências.
DECRETO N° 4080, de 07/05/1979 – regulamenta a lei n° 2511/78 que criou o Conselho municipal
de combate à poluição e defesa do meio ambiente, e dá outras providências.
172
LEI Nº 3084, 20/06/1987 - Cria e regula o COMDEMA e dá outras providências.
LEI Nº 4240, 11/12/1992 - Considera de interesse especial, as áreas das bacias de drenagem do Rio
Canoas e Córrego Pouso Alegre, para efeito de proteção dos mananciais hídricos e dá outras
providências.
LEI COMPLEM. Nº 09, 26/11/1996 - Institui o CÓDIGO DO MEIO AMBIENTE do Município de
Franca, SP.
LEI Nº 4850, 03/06/1997 - Cria no Município de Franca, com a sigla COMDEMA O Conselho
Municipal de Desenvolvimento Sustentável.
LEI Nº 4862, 27/06/1997 - Dispõe sobre a criação no Município de Franca do PRÓ-RISCO -
Programa de Atendimento em Áreas de Risco e dá outras providências.
DECRETO N° 7434, de 23/09/1997 – Dispõe sobre a regulamentação da lei n° 4850/1997 que criou
o PRÓ-RISCO - Programa de Atendimento em Áreas de Risco e dá outras providências.
RESOLUÇÃO SEPLAMA N° 001/98 – Dispõe sobre a forma de apresentação do Relatório de
Impacto Ambiental – RAP e dá outras providências.
Decretos sobre o loteamento Jardim Aeroporto
DECRETO N° 3937 de 13/06/1978 – Dispõe sobre a aprovação de Plano de Urbanização de
Terreno para fins residenciais – Jardim Aeroporto
DECRETO N° 4018 de 29/11/1978 – Dispõe sobre aprovação de Plano de Urbanização de Terreno
Urbano para fins residenciais – Prolongamento do Jardim Aeroporto
DECRETO N° 4212 de 25/01/1980 – Dispõe sobre aprovação de Plano de Urbanização e Terrenos
para fins residenciais – Jardim Aeroporto II
DECRETO N° 4420 de 03/04/1981 – Concede permissão de uso, a título precário, de área de lazer
localizada no loteamento denominado Jardim Aeroporto e dá outra providências
DECRETO N° 4554 de 30/03/1982 - Dispõe sobre a prorrogação de prazo para a execução de obras
de infra-estrutura no loteamento denominado Jardim Aeroporto II e dá outras providências
DECRETO N° 4557 de 02/04/1982 – Dispõe sobre a liberação de lotes do Jardim Aeroporto
DECRETO N° 4667 de 20/10/1982 – Dispõe sobre a liberação de lotes do Jardim Aeroporto
DECRETO N° 4744 de 31/01/1983 – Dispõe sobre a prorrogação de prazo para a execução de obras
de infraestrutura nos loteamentos denominados Jardim Aeroporto I e Jardim Aeroporto II e dá
outras providências
DECRETO N° 4747 de 31/01/1983 – Dispõe sobre a aprovação do loteamento denominado Jardim
Aeroporto III
DECRETO N° 4802 de 23/05/1983 – Aprova o projeto da rede de galerias pluviais dos
parcelamentos denominados Bairro Jardim Aeroporto (Jardim Aeroporto I) e Jardim Aeroporto II e
dá outras providências
DECRETO N° 4808 de 06/06/1983 – Retifica a redação do artigo 12° do decreto N° 4747 de
31/01/1983 e dá outras providências
DECRETO N° 4834 de 18/08/1983 – Concede a prorrogação de 120 dias sobre o prazo assinado
pelo inciso I do artigo 10° do decreto N° 4747 de 31/01/1983
173
DECRETO N° 5273 de 20/11/1985 - Dispõe sobre liberação de lotes dos parcelamentos
denominados Jardim Aeroporto I e Jardim Aeroporto II
DECRETO N° 5274 de 08/11/1985 – Dispõe sobre liberação de lotes caucionados dos
parcelamentos denominados Jardim Aeroporto I, Jardim Aeroporto II e Jardim Aeroporto III
DECRETO N° 5522 de 17/02/1987 – Libera lotes caucionados do loteamento denominado
Prolongamento do Jardim Aeroporto
DECRETO N° 5540 de 31/03/1987 – Altera redação do artigo 3° do DECRETO N° 5522 de
17/02/1987
DECRETO N° 5825 de 31/08/1988 – Dispõe sobre aprovação do loteamento denominado Jardim
Aeroporto IV
DECRETO N° 6071 de 30/11/1989 – Dispõe sobre a aprovação do parcelamento denominado
Prolongamento do Jardim Aeroporto II
DECRETO N° 6317 de 14/03/1991 – Dispõe sobre a prorrogação de prazos do decreto N° 5825 de
31/08/1988 que aprovou o loteamento denominado Jardim Aeroporto IV
DECRETO N° 6400 de 28/08/1991 – Dispõe sobre a substituição da caução do Jardim Aeroporto
IV
DECRETO N° 6436 de 31/10/1991 – Dispõe sobre a liberação de lotes caucionados do
parcelamento Jardim Aeroporto III
DECRETO N° 6622 de 04/11/1992 – Dispõe sobre a substituição da caução instituída pelos
decretos N° 3937 de 13/06/1978 que aprovou o Jardim Aeroporto, decreto N° 6071 de 30/11/1989
que aprovou o prolongamento do Jardim Aeroporto II e o decreto N° 5825 de 31/08/1988 que
aprovou o Jardim Aeroporto IV, alterado pelo decreto N° 6400 de 28/08/1991
DECRETO N° 6689 de 02/02/1993 – Dispõe sobre a retificação e ratificação do DECRETO N°
6622 de 04/11/1992 que substituiu a caução instituída pelos decretos N
os
3937 de 13/06/1978 que
aprovou o Jardim Aeroporto; decreto N° 6071 de 30/11/1989 que aprovou o prolongamento do
Jardim Aeroporto II e o decreto N° 5825 de 31/08/1988 que aprovou o Jardim Aeroporto IV,
alterado pelo decreto N° 6400 de 28/08/1991
DECRETO N° 6815 de 05/10/1993 – Altera a redação da letra "e" do artigo 8° do decreto N° 4212
de 25/01/1980 que aprovou o parcelamento de solo denominado Jardim Aeroporto II
DECRETO N° 6816 de 05/10/1993 – Altera a redação da letra "e" do artigo 8° do DECRETO N°
3937 de 13/06/1978 que aprovou o parcelamento de solo denominado Jardim Aeroporto
DECRETO N° 6818 de 05/10/1993 – Altera a redação do inciso III do artigo 7° do decreto N° 6071
de 30/11/1989 que aprovou o parcelamento de solo denominado Prolongamento do Jardim
Aeroporto II
DECRETO N° 6819 de 05/10/1993 – Altera a redação do inciso IV do artigo 7° do decreto N° 4747
de 31/01/1983 que aprovou o parcelamento de solo denominado Jardim Aeroporto III
DECRETO N° 6820 de 05/10/1993 – Altera a redação do inciso IV do artigo 7° do decreto N° 5825
de 31/08/1988 que aprovou o parcelamento de solo denominado Jardim Aeroporto IV
DECRETO N° 6822 de 08/10/1993 – Altera a redação da letra "e" do artigo 7° do decreto N° 4018
de 29/11/1978 que aprovou o parcelamento de solo denominado Prolongamento do Jardim
Aeroporto
DECRETO N° 7068 de 31/05/1995 – Dispõe sobre a substituição da caução do parcelamento de
solo denominado Prolongamento do Jardim Aeroporto
174
DECRETO N° 7575 de 12/11/1998 – Dispõe substituição de caução do parcelamento do solo
denominado Prolongamento do Jardim Aeroporto e dá outras providências
DECRETO N° 8061 de 28/08/2002 – Dispõe sobre a liberação da caução do parcelamento de solo
denominado Prolongamento do Jardim Aeroporto
Processos Administrativos sobre o loteamento Jardim Aeroporto
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 4143/78 – aprovação do loteamento Jardim Aeroporto
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 8080/78 – comunicação de execução de infraestrutura
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 13252/79 – aprovação do loteamento Jardim Aeroporto II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 4193/80 – comunicação de irregularidades no loteamento
Jardim Aeroporto
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 5362/80 – comunicação de serviços executados no
loteamento Jardim Aeroporto II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 6923/80 – instalação de infra-estrutura – conflito e
informações entre Sabesp/ loteadora
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 7271/81 – requerimento para reconsideração ao
indeferimento de AVV
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 11265/81 – requerimento de moradores para execução de
infra-estrutura no loteamento Jardim Aeroporto
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 17105/81 – requerimento da Sabesp de informações sobre
prazos de infra-estrutura dos loteamentos Jardim Aeroporto I e II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 15298/81 – aprovação do projeto de rede de galerias de
águas pluviais dos loteamentos Jardim Aeroporto I e II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 3161/82 – requerimento da loteadora para liberação de 200
lotes do Jardim Aeroporto II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 8549/82 – comunicação pela loteadora de serviços de infra-
estrutura realizados
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 15324/82 – requerimento da loteadora para liberação de 118
lotes do Jardim Aeroporto I
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 9838/83 – liberação de lotes e AVV
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 4939/83 – requerimento de autorização para retirada de
tubulação
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 7486/83 – justifica da loteadora perante obrigações de
execução de infra-estrutura no Jardim Aeroporto I
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 6455/85 – requerimento da loteadora de substituição da
caução do Jardim Aeroporto III e de emissão de AVV dos loteamentos Jardim Aeroporto I e II
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 8696/87 – contribuição de melhoria
PROCESSO ADMINISTRATIVO N° 19228/91 – liberação de lotes dos Loteamentos Jardim
Aeroporto I, II e III
175
Anexo II – Tabela dos loteamentos aprovados em Franca (1925-2004)
Município de Franca
Loteamentos aprovados (1925-2004)
Ano de
aprovação
loteamento
Decreto de
aprovação*
N° de
lotes
Área
(Ha)
1
Vila Chico Júlio 21/01/1925 s/ i 29,00
2
1925
Vila Aparecida 25/10/1925
s/ i
92,80
3
Vila Nicácio nº1 29/04/1929
s/ i
11,20
4
1929
Vila Santo Antônio 08/08/1929
s/ i
10,20
5
1933 Vila Monteiro 06/04/1933
s/ i
4,70
6
Vila Santos Dumont 15/02/1938
s/ i
31,30
7
1938
Vila Santos Dumont (prol.) 24/04/1938
s/ i
14,30
8
1946 Vila Flores 05/09/1946
s/ i
4,80
9
1947 Vila Coronel Antonio Jacinto 29/12/1947
s/ i
3,00
10
1949 Vila Jardim Consolação 28/09/1949
s/ i
13,02
11
Vila Nossa Sra. das Graças 02/03/1951
s/ i
12,48
12
Jardim Francano 02/05/1951
s/ i
27,85
13
Bairro Higienópolis 02/10/1951
s/ i
21,80
14
Vila Exposição 27/12/1951
s/ i
10,98
15
1951
Vila Duque de Caxias ??/12/1951
s/ i
4,130
16
Vila Industrial ??/03/1952
s/ i
15,01
17
1952
Vila Santos Dumont (prol.) 22/03/1952
s/ i
3,80
18
Vila Raycos 17/01/1953
s/ i
18,60
19
Vila Nicácio nº2 22/04/1953
s/ i
16,95
20
Vila Nossa Senhora de Fátima 17/07/1953
s/ i
16,24
21
1953
Vila Clementino 26/08/1953
s/ i
0,58
22
Vila Santa Rita 11/11/1955
s/ i
1,50
23
1955
Vila Jardim Califórnia 25/11/1955
s/ i
13,10
24
Vila Patrício 10/01/1956
s/ i
2,30
25
Vila Imperador 27/01/1956
s/ i
28,22
26
Vila Aparecida (prol.) 23/02/1956
s/ i
2,10
27
Vila Santa Cruz 28/05/1956
s/ i
23,60
28
Vila Bairro Jesus Maria Jo 28/05/1956
s/ i
5,90
29
Jardim Conceição Leite 03/08/1956
s/ i
9,22
30
Vila Jardim Paulista 08/08/1956
s/ i
14,49
31
Jardim Consolação (prol.) 16/11/1956
s/ i
10,06
32
1956
Vila Santa Cruz (prol.) 31/12/1956
s/ i
1,50
33
Vila Samello (Cubatão) 24/01/1957
s/ i
2,36
34
Vila Jardim Samello 13/03/1957
s/ i
8,19
35
Vila Imperador (prol.) 04/06/1957
s/ i
0,64
36
Jardim Boa Esperança 08/06/1957
s/ i
27,36
37
1957
Bairro São José 13/06/1957
s/ i
97,76
176
38
Vila Scarabucci 14/06/1957
s/ i
26,10
39
Jardim Pauista (prol.) 26/07/1957
s/ i
2,24
40
Jardim Ângela Rosa 16/01/1958
s/ i
26,36
41
Vila Santa Luzia 26/04/1958
s/ i
9,10
42
Jardim América 21/05/1958
s/ i
7,72
43
1958
Vila Catocos 21/08/1958
s/ i
6,65
45
Vila Chico Júlio (prol.) 11/03/1959
s/ i
9,63
46
Vila Aparecida (prol.) 20/03/1959
s/ i
8,98
47
Vila Santa Luzia (prol.) 20/03/1959
s/ i
1,25
48
1959
Vila Santa Maria do Carmo 21/12/1959
s/ i
15,46
49
Jardim Alvorada 26/01/1961
s/ i
22,99
50
Jardim Francano (prol.) 13/07/1961
s/ i
5,08
51
Parque São Josrge 17/07/1961
s/ i
22,95
52
1961
Vila Duque de Caxias (prol.) 24/10/1961
s/ i
2,84
53
Jardim Maria Rosa 26/05/1962
s/ i
29,22
54
1962
Jardim Planalto 02/10/1962
s/ i
7,75
55
1964 Vila N. S. das Graças (prol.) 01/07/1964
s/ i
1,19
56
1965 Recreio Campo Belo 16/10/1965
s/ i
159,58
57
Vila Jardim Bethânia 28/11/1966
s/ i
6,70
58
1966
Jardim Brasilândia 30/12/1966
s/ i
52,38
59
Vila Monteiro (prol.) 03/03/1967
s/ i
1,30
60
Jardim Marília 28/04/1967
s/ i
2,42
61
Vila França 27/10/1967
s/ i
5,28
62
Vila Rezende 17/11/1967
s/ i
21,26
63
Vila Cel. Antonio Jacinto
(prol.)
23/11/1967 s/ i 1,13
64
1967
Jardim Roselândia 20/12/1967
s/ i
17,00
65
Vila Santa Rita (prol.) 10/04/1968
s/ i
5,25
66
Vila Molina 31/05/1968
s/ i
1,11
67
Bairro Higienópolis (prol.) 05/06/1968
s/ i
1,45
68
Vila Aparecida (prol.) 17/06/1968
s/ i
6,48
69
Vila Santa Therezinha 05/07/1968
s/ i
32,33
70
Jardim Dr. Antonio Petraglia 27/09/1968
s/ i
90,23
71
1968
Jardim Seminário 27/11/1968
s/ i
9,77
72
Jardim S. Francisco de Assis 14/01/1969
s/ i
0,28
73
Jardim do Éden 16/01/1969
s/ i
23,20
74
Jardim São Luiz 30/01/1969
s/ i
9,64
75
Parque Progresso 30/01/1969
s/ i
16,96
76
Vila Santa Rita (prol.2) 26/03/1969
s/ i
3,24
77
Parque Progresso - 2 - (prol.) 18/04/1969
s/ i
13,83
78
Parque Progresso - 3 - (prol.) 14/05/1969
s/ i
13,24
79
Jardim Guanabara 03/07/1969
s/ i
26,28
80
Vila Santa Therezinha (prol.) 08/07/1969
s/ i
11,32
81
1969
Jardim Lima 31/12/1969
s/ i
16,02
177
82
Vila São Sebastião 31/12/1969
s/ i
29,09
83
Bairro São Vicente de Paulo 31/12/1969
s/ i
10,82
84
Vila Jardim Riviera 28/01/1970
s/ i
14,68
85
Vila Santa Tereza 15/05/1970
s/ i
4,86
86
Jardim Progresso (prol.) 18/05/1970
s/ i
11,50
87
Jardim Lima (prol.) 18/05/1970
s/ i
6,75
88
Bairro Santo Agostinho 19/05/1970
s/ i
34,28
89
Jardim do Éden (prol.) 20/05/1970
s/ i
1,56
90
Vila Teixeira 20/05/1970
s/ i
-
91
Vila Júlio Ferraro 05/06/1970
s/ i
1,07
92
1970
Jardim Pedreiras 27/10/1970
s/ i
10,96
93
Vila Pandolfo 29/10/1971
s/ i
5,30
94
1971
Vila Champagnat 24/12/1971
s/ i
9,92
95
1972 Vila Pedigoni 18/10/1972
s/ i
6,24
96
1973 Vila Independência 1973
s/ i
3,67
97
1974 Vila Europa 1974
s/ i
8,37
1975 Jd. Francano (prol.) N° 3307, 11/04/1975 s/ i s/ i
98
Jd. Brasilândia (prol.) N° 3604, 15/03/1976 371 14,96
99
Jd. Bueno N° 3739, 27/12/1976 222 8,90
100
Jd. Veneza N° 3587, 29/01/1876 194 14,70
101
Pq. das Acácias N° 3664, 09/09/1976 80 6,97
102
Pq. dos Lima N° 3715, 22/11/1976 318 9,97
103
Pq. Francal N° 3717, 23/11/1976 314 15,75
104
Pq. Progresso da Franca (prol.) N° 3592, 05/02/1976 1133 17,97
105
Res. Nova Franca N° 3759, 30/12/1976 436 18,77
106
V.Allan Kardec N° 3674, 27/09/1976 91 5,85
107
V. Carrenho N° 3637, 30/06/1976 21 2,19
108
V. Marta N° 3593, 11/02/1976 143 8,75
109
V. Regina N° 3594, 12/02/1976 46 3,09
110
1976
Jd. Santana N° 3749, 29/12/1976 29,18
111
Jd. Centenário N° 3782, 28/01/1977 271 14,81
112
Prol. Do Jardim do Éden N° 3783, 28/01/1977 120 9,69
113
Pq. da Boa Vista N° 3856, 17/10/1977 31 6,68
114
Pq. Universitário N° 3825, 06/07/1977 342 21,38
115
V. Industrial (prol.) N° 3773, 26/01/1977 47 s/ i
116
1977
V. Santa Helena N° 3770, 21/01/1977 330 10,29
117
Bairro São Joaquim N° 3910, 07/03/1978 1353 68,96
118
Bairro São José (prol. leste) N° 3995, 19/10/1978 78 3,08
119
Bairro São José (prol. Espólio
V. Scarabucci)
N° 3970, 15/09/1978 s/ i 5,77
120
Jd. Aeroporto N° 3937, 13/06/1978 1491 92,86
121
Jd. Aeroporto (prol.) N° 4018, 29/11/1978 138 8,15
122
Jd. Castelo Soberano N° 4015, 17/11/1978 20 4,75
123
1978
Morada do Verde N° 3949, 07/07/1978 290 38,48
178
124
Pq. Vila Izabel N° 3912, 07/03/1978 347 14,07
125
Vila Santa Terezinha (prol.) N° 3960, 28/07/1978 607 24,42
126
Pq. das Águas 1978 46,68
127
Belvedere dos Cristais N° 4139, 27/09/1979 s/ i s/ i
128
Jd. Dermínio N° 4046, 30/01/1979 1333 63,30
129
Jd. do Líbano N° 4113, 31/07/1979 318 17,10
130
Pq. Sumaré N° 4138, 27/09/1979 70 5,34
131
1979
Jd. Redentor 1979 28,50
132
City Petrópolis N° 4242, 01/04/1980 1707 94,61
133
Jd. Aeroporto II N° 4212, 25/01/1980 1466 61,47
134
Jd. Brasil N° 4273, 26/06/1980 132 8,05
135
Jd. Palmeiras N° 4250, 18/04/1980 351 15,93
136
Jd. Flórida N° 4257, 09/05/1980 401 13,02
137
Jd. Martins N° 4343, 23/10/1980 457 10,60
138
Pq. Continental N° 4221, 06/02/1980 191 8,36
139
Pq. das Candeias N° 4222, 07/02/1980 26 10,63
140
Prol. da Vila Izabel N° 4227, 26/02/1980 185 5,05
141
Pq. Vitória Régia N° 4220, 05/02/1980 35 9,36
142
V. Hípica N° 4352, 12/11/1980 169 25,22
143
V. Pedigoni N° 4385, 19/02/1980 141 7,42
144
V. Tótoli N° 4327, 07/10/1980 275 15,45
145
1980
Jd. Paulistano N° 4217, 28/01/1980 s/ i 149,44
146
Jd. Jacintho Nery N° 4496, 05/10/1981 56 1,11
147
Pq. das Árvores N° 4532, 23/12/1981 71 15,91
148
Pq. do Castelo N° 4528, 17/12/1981 230 8,82
149
Pq. Santa Adélia N° 4511, 10/11/1981 361 5,32
150
Jd. Dr. Antonio Petraglia
(prol.)
N° 4472, 26/08/1981 1865 12,20
151
Recanto Bom Jardim N° 4439, 23/06/1981 43 s/ i
152
Recanto Fortuna N° 4458, 31/07/1981 124 s/ i
153
Res. Baldassari N° 4502, 20/10/1981 118 6,31
154
1981
V. Imperador (prol.) N° 4435, 12/06/1981 28 2,55
155
Jd. Barão N° 4692, 16/11/1982 185 13,73
156
Jd. Maria Rosa N° 4680, 29/10/1982 714 29,84
157
Jd. Noêmia N° 4568, 03/05/1982 1415 77,41
158
V. N. Sra. Do Carmo N° 4694, 16/11/1982 366 s/ i
159
Jd Sta Efigenia N° 4611, 09/08/1982 23,84
160
Jd. Sta eugênia N° 4611, 09/08/1982 28,13
161
1982
Jd. São Luiz II N° 4569, 03/05/1982 26,99
162
Jd. Aeroporto III N° 4747, 31/01/1983 2253 72,83
163
City Consolação N° 4811, 10/11/1983 70 s/ i
164
Jd. Francano (prol.) 4773, 25/03/1983 136 s/ i
165
Pq. Santa Hilda N° 4877, 31/10/1983 370 19,73
166
1983
V. Santa Rita (prol.) N° 4743, 28/01/1983 60 4,62
179
167
V. Europa N° 4800, 10/05/1983 244 9,95
168
V. Rezende N° 4745, 31/01/1983 512
169
V. Santa Cruz N° 4752, 31/01/1983 638
170
Village do Sol N° 4729, 07/01/1983 77 s/ i
171
Conjunto Habitacional Franca
BIII
N° 4904, 14/12/1983 4904 110,68
172
Jd. Paraty s/ i, 1983 s/ i 18,47
173
Pq. Dr. Carrão N° 4812, 10/06/1983 7,07
174
Distrito Industrial I N° 4949, 15/02/1984 819 226,04
175
Jd. Maria Gabriela N° 5133, 28/12/1984 149 5,92
176
1984
Jd. Palma N° 4947, 14/02/1984 1128 47,67
177
1985 Morada do Sol N° 5202, 18/07/1985 43 s/ i
178
1986 Pq. dos Pinhais N° 5445, 29/10/1986 355 6,22
179
Chácaras Ouro Verde N° 5606, 14/08/1987 s/ i
180
Jd. São Vicente II N° 5505, 03/02/1987 237 s/ i
181
Pq. Florestal N° 5533, 19/03/1987 26 s/ i
182
Jd. Portinari s/ i, 1987 65,75
183
1987
Vilage São Vicente N° 5505, 03/02/1987 14,63
184
Pq. das Esmeraldas N° 5768, 09/06/1988 1046 34,04
185
Pq. Piratininga N° 5733, 14/04/1988 41 13,89
186
Pq. Residencial Sta. Maria N° 5720, 23/02/1988 594 15,65
187
Jd. Ângela Rosa (prol.) N° 5792, 18/06/1988 1140 47,00
188
Res. Paraíso N° 5843, 03/10/1988 383 15,72
189
Jd. Aeroporto IV N° 5825, 31/08/1988 375 12,51
190
1988
Jd. São Gabriel N° 5767, 09/06/1988 12,74
191
Prol. do Jardim Aeroporto II N° 6071, 30/11/1989 136 6,62
192
Jd. Ipanema 6043, 19/10/1989 382 21,87
193
Jd. Miron N° 5918, 19/01/1989 35 8,75
194
Pq. do Horto N° 6036, 06/10/1989 1059 42,46
195
Prol. do Jardim Dr. Antonio
Petraglia II
N° 6003, 24/08/1989 346
196
Samello woods N° 5998, 21/08/1989 6,08
197
Jd. Samello III N° 5917, 29/01/1989 15,35
198
1989
Jd. Pinheiros N° 5925, 24/02/1989 6,91
199
Jd. Espraiado N° 6238, 10/10/1990 20 6,32
200
Jd. Integração N° 6129, 25/01/1990 379 21,31
201
Jd. Palestina N° 6229, 19/09/1990 660 25,52
202
Jd. Tropical N° 6232, 25/09/1990 935 38,68
203
Jd pinheiros II N° 6240, 12/10/1990 14,22
204
1990
Res. Jd. Vera Cruz N° 6272, 27/12/1990 30,86
205
Jd. Marambaia N° 6361, 04/06/1991 135 3,86
206
Recanto Itambé N° 6416, 18/09/1991 66 6,45
207
Res. Jd. Vera Cruz II N° 6434, 24/10/1991 832 38,01
208
1991
Res. Moreira Jr. N° 6454, 10/12/1991 410 13,28
180
209
Vale da Lua Azul N° 6395, 15/08/1991 20 3,42
210
Samell Park N° 6393, 09/08/1991 518 17,05
211
Jd. São Francisco N° 6388, 26/07/1991 13,80
212
Jd. Luiza N° 6565, 11/06/1992 1865 66,09
213
Jd. Tropical II N° 6636, 17/11/1992 1284 50,16
214
Recanto da Felicidade N° 6591, 17/08/1992 26 0,43
215
Recanto Elimar N° 6603, 16/09/1992 1767 36,15
216
Res. Nosso Lar N° 6522, 26/03/1992 233 16,48
217
1992
Jd. Primavera s/ i, 1992 16,32
218
Jd. Aviação N° 6767, 29/06/1993 580 18,58
219
Jd. Flórida (prol.) N° 6678, 07/01/1993 246 9,55
220
Jd. Milena N° 6746, 28/05/1993 65 2,02
221
Jd. Paineiras N° 6771, 04/08/1993 985 37,04
222
Res. Olavo Pinheiro N° 6775, 10/08/1993 174 7,22
223
Res. São Tomaz N° 6836, 20/10/1993 479 18,87
224
Res. Dora Maria N° 6774, 10/08/1993 39 8,92
225
1993
Jd. Panorama s/i, 1993 s/ i 29,20
226
1994 Jd. Zelinda N° 6988, 23/09/1994 375 9,60
227
Jd. Monte Carlo N° 7046, 14/03/1995 111 s/ i
228
1995
Pq. Dom Pedro I N° 7061, 09/05/1995 241 20,05
229
Jd. Eldorado N° 7259, 10/07/1996 112 7,46
230
1996
Jd. Martins (prol.) N° 7186, 16/02/1996 124 9,69
231
1997 Pq. Mundo Novo N° 7456, 21/11/1997 84 3,95
232
Pq. João Leite N° 7497, 12/02/1998 124 12,31
233
Jd. Sta. Bárbara N° 7500, 20/02/1998 411 35,23
234
Recanto Elimar II N° 7526, 05/05/1998 490 24,76
235
Res. Jovita de Mello N° 7524, 30/04/1998 234 8,65
236
Res. Osvaldo Maciel N° 7586, 07/12/1998 170 s/ i
237
Prol. Jd Santa Barbara s/ 1, 1998 s/ i 12,84
238
1998
Jd. Samello IV N° 7585, 02/12/1998 9,44
239
Chácaras Santa Maria N° 7659, 28/06/1999 s/i s/ i
240
Jardim Cambuí N° 7713, 22/11/1999 1551 49,78
241
Recanto Elimar (prol.) N° 7658, 24/06/1999 284 11,95
242
Res. Flamboyants N° 7639, 28/04/1999 56 3,12
243
Res. Sta. Emília N° 7728, 16/12/1999 60 8,70
244
Cond Green PArk s/ i , 1999 2,29
245
Jd. Simoes N° 7652,15/06/1999 9,85
246
1999
Jd. Samello V s/ i , 1999 15,54
247
Pq. Três Colinas N° 7843, 26/12/2000 229 11,58
248
Pq. Franville N° 7793, 30/06/2000 295 11,81
249
Res. Ana Dorothéa N° 7771, 12/04/2000 1014 37,27
250
Res. Jd. Canadá N° 7809, 05/09/2000 38 s/ i
251
Res. Paraizo I, II,III, IV e V N° 7765, 29/03/2000 85 5,63
252
2000
Res. Sinsaúde N° 7792, 21/06/2000 78 3,08
181
253
Res. Chico Neca N° 7823, 31/10/2000 242 9,92
254
Villa Real N° 7810, 11/09/2000 337 12,54
255
Jd. Anita N° 7881, 29/03/2001 105 6,12
256
Jd. Luiza II N° 7932, 03/09/2001 1504 67,64
257
Res. Colina do Espraiado N° 7868, 21/02/2001 250 13,31
258
Res. São Domingos N° 7945, 10/10/2001 655 39,77
259
Res. Paulo Henrique N° 7931, 03/09/2001 20 14,39
260
Res José de Carlos N° 7914, 02/07/2001 9,39
261
2001
Jd. Pulicano N° 7925, 05/12/2001 47,30
262
Chácara São Paulo N° 8124, 04/12/2002 s/i s/ i
263
Chácaras Vale Belo N° 8002, 11/03/2002 14 s/ i
264
Jd. Vera Cruz III N° 7988, 15/01/2002 406 12,58
265
Jd. Ângela Rosa II (prol.) N° 8081, 01/10/2002 82 3,58
266
Res. Amazonas N° 8107, 12/11/2002 697 45,47
267
Vila Monte Verde N° 8113, 20/11/2002 21
268
Res. Dourado N° 8132, 19/12/2002 266 12,68
269
Res. Júlio D'Elia N° 8116, 22/11/2002 569 34,58
270
Res. São Vicente N° 8131, 17/12/2002 227 9,74
271
Pólo Industrial São Bernardo N° 8007, 21/03/2002 84 s/ i
272
2002
Jd Paulo Archetti
N° 8049, 04/07/2002 8,22
273
Jd. Bonsucesso N° 8209, 05/08/2003 22,08
274
2003
Res. Itapuã N° 8234, 24/09/2003 9,35
275
Esp. Primo Meneghetti N° 8326, 14/04/2004 41,03
276
2004
Res. Engenho Queimado N° 8288, 27/01/2004 5,94
Fontes: Os dados form extraídos de Rinaldi (1982) e de Feldman(2002) e compatibilizados com os dados
levantados na Prefeitura municipal de Franca.
* Até 1975 não havia abertura de processo administrativo para aprovação de loteamentos, nem a emissão do
decreto de aprovação, portanto só temos a data de aprovação da planta. Estes procedimentos só se iniciaram
depois que o PDDI foi efetivamente colocado em prática pela administração, no ano de 1976.
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