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MARCELO ANDRADE AMORIM
Estudo da sedimentação recente na Várzea do Lago
Grande do Curuai, Pará, Brasil.
Dissertação apresentada ao curso de
Pós-Graduação em Geoquímica
Ambiental da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre.
ORIENTADORA: PATRÍCIA FLORIO MOREIRA-TURCQ
Niterói
2006
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A524 Amorim, Marcelo Andrade.
Estudo da sedimentação recente na Várzea do Lago
Grande do Curuai, Pará, Brasil / Marcelo Andrade Amorim. – Niterói: [s.n.],
2006
150 f.:il.,30cm.
Dissertação (Mestrado em Geoquímica Ambiental –
Universidade Federal Fluminense, 2006).
1. Sedimentação. 2.Material orgânico. 3. Mineralogia.4 5.
Várzea. 6. Amazônia. 7. Tese. 8. Produção intelectual. I.
Título.
CDD551.303
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MARCELO ANDRADE AMORIM
Estudo da sedimentação recente na Várzea do Lago Grande do Curuai,
Pará, Brasil.
Dissertação apresentada ao curso de
Pós-Graduação em Geoquímica
Ambiental da Universidade Federal
Fluminense,como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre.
Aprovada em fevereiro de 2006.
Banca Examinadora:
Prof. Dra. Patrícia Florio Moreira-Turcq – Orientadora – IRD/UFF
Prof. Dr. Bruno Turcq – IRD/UFF
Prof. Dr. Renato Campello Cordeiro – UFF
Prof. Dr. Arnaldo Carneiro – INPA
Niterói, 22 de fevereiro de 2006
AGRADECIMENTOS
À Patricia Turcq, pela orientação, pelas boas conversas e pela amizade
Aos Professores Bruno Turcq, pela grande ajuda ao longo de todo o trabalho; Marcelo
Bernardes pelas conversas, coletas e conversas esclarecedoras no campo, e Renato
Cordeiro pela ajuda no laboratório, no campo e pela amizade.
A Professora Ana Luiza por ceder o laboratório e por me apresentar ao grupo o qual
trabalho
Aos Professores Patrick Seyler e Laurence Maurice-Bourgain e Marie Poule Bennet por
me ajudarem no campo e pelas fundamentais informações.
Á Lilian dos Santos pela fundamental ajuda no laboratório, em campo e pelas boas
conversas.
Á Livia Gebara pela presença, compreensão e ajuda em vários momentos dessa
jornada.
A Andrea Brandão Princivalli por me ajudar em boas horas e pela revisão do texto
A Trine Lyngvig pelo convívio e ajuda na reta final.
Á Marcela Pérez pela ajuda e pelo convívio
Ao Geórgenes Cavalcante pelas idéias e sugestões ao longo do trabalho.
Rodrigo Rodrigues, pela ajuda da discussão do trabalho.
À equipe do Barco Quadros Netos pelos bons momentos e ajuda.
Aos amigos e colegas da Geoquímica que cativei e que foram de extrema valia ao longo
desse período! Pelas boas horas juntos, pelas viagens e risadas! Obrigado por me
acompanharem no desenvolvimento desse trabalho
Á Minha mãe, por tudo!
Ao Sol.
SUMÁRIO
Folha de aprovação..................................................................................................
Agradecimentos.......................................................................................................
Sumário.....................................................................................................................
Lista de figuras........................................................................................................
Lista de tabelas.........................................................................................................
Resumo....................................................................................................................
Abstracts.................................................................................................................
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................13
2. ÁREA DE ESTUDO.....................................................................................16
2.1 – A BACIA AMAZÔNICA........................................................................17
2.1.1 – Geologia...................................................................................18
2.1.2 – Pedologia.................................................................................21
2.1.3 – Hidrografia...............................................................................22
2.1.4 – Climatologia.............................................................................25
2.1.5 – Vegetação.................................................................................28
2.1.6 – Compreendendo o sistema Amazônico................................30
2.2 – AS PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO.......................................................31
2.2.1 – Compreendendo o sistema de Várzea..................................31
2.2.2 – Formação.................................................................................32
2.2.3 – Controle hidrológico das Várzeas.........................................33
2.2.4 – Características geoquímicas das Várzeas............................35
2.3 – A VÁRZEA DO LAGO GRANDE DO CURUAI....................................36
3. AMOSTRAGEM E METODOLOGIAS.........................................................42
3.1 – AMOSTRAGEM...................................................................................42
3.1.1 – Material em Suspensão...........................................................42
3.1.2 – Sedimentos...............................................................................43
3.2 – METODOLOGIAS................................................................................44
3.2.1 – Estudo da caracterização do Material em Suspensão e dos
Sedimentos superficiais............................................................44
4. RESULTADOS.............................................................................................51
4.1 – MATERIAL EM SUSPENSÃO.............................................................51
4.2 – GRANULOMETRIA DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS..................55
4.3 – ESTUDO DA DINÂMICA SEDIMENTAR.............................................77
4.3.1 – Lago do Salé (agosto de 2004).................................................77
4.3.2 – Lago Santa Ninha em altas águas (agosto de 2004)..............81
4.3.3 – Lago Santa Ninha em baixas águas (novembro de 2004).....85
4.4 – MINERALOGIA ....................................................................................89
4.5 – MATÉRIA ORGÂNICA..........................................................................94
4.5.1 – Composição Elementar em Carbono e Nitrogênio................94
4.5.2 – Razão C/N..................................................................................97
4.5.3 – Isótopos estáveis da Matéria Orgânica (δ
13
C e δ
15
N)............99
5. DISCUSSÃO................................................................................................105
6. CONCLUSÕES............................................................................................119
7. REFERÊNCIAS ...........................................................................................121
8. ANEXOS........................................................................................................131
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- localização da região Amazônica...........................................................................16
Figura 2 – Bacia Amazônica – Rio Amazonas e seus principais tributários..........................18
Figura 3: As principais formações montanhosas na região Amazônica................................21
Figura 4: Hidrograma monomodal do Rio Amazonas. Variação interanual da vazão do Rio
Amazonas a partir das medições realizadas pela ANA (Agência Nacional de Águas) na
cidade de Óbidos, durante os anos de 1970 a 1999.......................................................23
Figura 5: Descarga liquida média dos tributários do Rio Amazonas.....................................25
Figura 6 – Mapa de precipitações médias anuais sobre a bacia Amazônica (fonte: Molinier
et all. 1997)......................................................................................................................26
Figura 7 – Localização da Várzea do Lago Grande do Curuai.............................................36
Figura 8 – Mapa da Vegetação da região da Várzea do Lago Grande do Curuai
(Fonte:Martinezet all. 2003)............................................................................................37
Figura 9 -Vázea do Lago Grande do Curuai e seus respectivos lagos: 1 – Curumucuri; 2 –
Salé; 3 – Lago Grande do Poção; 4 – Açaí; 5 – Santa Ninha; 6 –Poção; 7 – Lago
Grande; e 8 – Rio Amazonas...........................................................................................39
Figuras 10- Curvas monomodais da variação anual do nível de água entre Várzea do Lago
grande do Curuai e o Rio Amazonas...............................................................................40
Figura 11: Garrafa de Van Dorn para coleta de água a partir de uma voadeira....................42
Figura 12 - Draga de Eckman utilizada para a amostragem do sedimento superficial..........43
Figura 13 : Uso de peneiras para a separação granulométrica inferior e superior a 63
µm....................................................................................................................................46
Figura 14: Esquema de funcionamento do Analisador de Partículas por difração à laser
CILAS 1064.(Fonte:http://www.particle-size-analyzer.com/cilas_1064_particle.htm#
)....48
Figura 15 – exemplo do espectro retirado da amostra e do espectro calculado no
Programa Excell.....................................................................................................................49
Figura 16 – Gráfico representando o material em suspensão de acordo com o nível
de água ao longo quatro anos de medição............................................................................51
Figura 17 – Mapa do canal que liga o Rio Amazonas ao Lago do Salé, pontos de coleta e
valor da concentração do Material em Suspensão..........................................................54
Figura 18 – Mapa indicando pontos de coleta para o estudo de granulometria....................56
Figura 19 – Mapa do Lago Grande, suas estações e os valores das frações
granulométricas................................................................................................................59
Figura 20 – triângulo de Shepard referente as estações do Lago Grande............................60
Figura 21 – Mapa do Lago Grande, suas estações e os valores das frações
granulométricas.............................................................................................................62
Figura 22 – triângulo de Shepard referente as estações do Lago Grande do Poção............63
Figura 23 – Mapa do Lago Santa Ninha, suas estações e os valores das frações
granulométricas.............................................................................................................65
Figura 24 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago Santa Ninha...................64
Figura 25 – Mapa do Lago do Poção, suas estações e os valores das frações
granulométricas............................................................................................................68
Figura 26 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago Santa do
Poção....................................................................................................................................67
Figura 27 – Mapa do Lago do Salé, suas estações e os valores das frações
granulométricas.............................................................................................................71
Figura 28 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago do Salé...........................70
Figura 29 – Mapa do Lago Curumucuri, suas estações e os valores das frações
granulométricas.............................................................................................................74
Figura 30 – Triângulo de Shepard referente as estações do Lago Curumucuri....................73
Figura 31 – Mapa do Lago Açaí, suas estações e os valores das frações
granulométricas......................................................................................................................76
Figura 32 – estações do perfil longitudinal ao longo do Lago do Salé...................................79
Figura 33 - Triângulo de Shepard referente às estações do perfil longitudinal no Lago do
Salé..................................................................................................................................80
Figura 34 – Gráfico referente à distribuição de material granulométrico nas estações do
perfil longitudinal do Lago do Salé...................................................................................81
Figura 35 – Estações do perfil longitudinal ao longo do Lago Santa Ninha em altas
águas...............................................................................................................................83
Figura 36 - Triângulo de Shepard referente às estações do perfil longitudinal no Lago Santa
Ninha em altas águas......................................................................................................84
Figura 37 - Gráfico referente a distribuição de material granulométrico nas estações do perfil
longitudinal do Lago Santa Ninha em altas águas...........................................................85
Figura 38 - Estações do perfil longitudinal ao longo do Lago Santa Ninha em baixas
águas...............................................................................................................................87
Figura 39 - Triângulo de Shepard referente as estações do perfil longitudinal no Lago Santa
Ninha em baixas águas....................................................................................................88
Figura 40 - Gráfico referente à distribuição de material granulométrico nas estações do perfil
longitudinal do Lago Santa Ninha em altas águas...........................................................88
Figura 41 – Mapa da Várzea do Lago Grande do Curuai, suas estações e os valores
percentuais dos argilo-minerais.......................................................................................91
Figura 42 – Estações e Valores percentuais de carbono total ao longo da Várzea do Lago
Grande do Curuai..................................................................................................................96
Figura 43 – Estações e Valores da razão C/N ao longo da Várzea do Lago Grande do
Curuai..............................................................................................................................98
Figura 44 – Estações e Valores de δ
13
C ao longo da Várzea do Lago Grande do
Curuai.............................................................................................................................101
Figura 45 – Estações e Valores de δ
15
N ao longo da Várzea do Lago Grande do
Curuai.............................................................................................................................104
Figura 46 – Mapa da várzea indicando a entrada de material em suspensão pelos canais
principalmente nos lagos próximo ao Rio Amazonas....................................................107
Figura 47 – Esquema representando o perfil entre o Rio Amazonas, a várzea e um lago de
águas pretas...................................................................................................................109
Figura 48 – Mapa da várzea com gráficos indicando as frações granulométricas dos lagos
de Grande, Salé, do Poção e Santa Ninha....................................................................109
Figura 49 – mapa da várzea com gráficos indicando as frações granulométricas dos lagos
de Curuai, Grande do Poção, Curumucuri e de um igarapé..........................................110
Figura 50 – Gráfico com valores da razão C/N e
13
C demonstrando a predominância de
matéria orgânica nos sedimentos da Várzea do Lago Grande co Curuai. Adaptado de
Meyers, 1994.................................................................................................................114
Figura 51 – Gráfico referente aos valores de total de Carbono e de Nitrogênio, indicando a
diferença entre as estações no meio do lago com a estações que sofrem influencia de
macrófitas......................................................................................................................115
Figura 52 – Gráfico para os dados de
15
N e
13
C da Várzea do Lago Grande do
Curuai.............................................................................................................................117
LISTA DE TABELAS
Tabela I: Potencial hidroelétrico em algumas principais localizações da bacia Amazônica.. 24
Tabela II – Comportamento das águas da várzea ao longo de um ciclo hidrológico.............41
Tabela III – dados de concentração de Material em Suspensão e suas respectivas
estações.........................................................................................................................53
Tabela IV – valores médios das frações granulométricas e seus respectivos lagos..............57
Tabela V – estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal
ralizado no Lago do Salé...............................................................................................78
Tabela VI – Estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal
ralizado no Lago Santa Ninha em altas águas..............................................................82
Tabela VII – Estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal
ralizado no Lago Santa Ninha em baixas águas...........................................................86
Tabela VIII – valores percentuais médios de argilo-mineral presentes nos lagos da Várzea
do Lago Grande do Curuai e razão esmectita/caolinita.................................................92
Tabela IX – dados referentes a diferentes trabalhos, e em diferentes áreas comparados com
relação a razão C/N e δ
13
C..........................................................................................116
RESUMO
As várzeas são ecossistemas extremamente ricos, em termos de biodiversidade e de
produtividade (Junk, 1997), na Amazônia. Embora muito pouco se conheça sobre a
dinâmica sedimentar no interior destes sistemas de várzeas, eles parecem desempenhar um
papel importante tanto no que diz respeito ao transporte sedimentar, quanto nos ciclos dos
elementos dissolvidos e particulados.
Este estudo possibilitará, através de uma caracterização sedimentológica da várzea,
a compreensão dos principais processos que determinam a deposição e/ou remobilização
dos sedimentos superficiais nestes sistemas. O que de uma maneira mais ampla será
extremamente importante para determinarmos a natureza do material sedimentar (orgânico
e mineral) e conhecermos a atual dinâmica dos sedimentos, desde sua entrada nos lagos
até sua deposição, assim como os processos que regem esta deposição e a provável
ressuspensão. A várzea escolhida para este estudo foi a Várzea do Lago Grande do Curuai,
situada próxima à cidade de Óbidos, no estado de Pará, a 850 km a montante da
desembocadura deste no Oceano Atlântico. Para a realização deste estudo diferentes
pontos de coleta de sedimento foram amostrados e os parâmetros a seguir foram
analisados: concentração em material em suspensão, granulometria, mineralogia, teor em
carbono e nitrogênio orgânico, a razão C/N e a composição isotópica do carbono e
nitrogênio (δ
13
C e δ
15
N ).
Os resultados mostram que com relação à caracterização granulométrica, foi
verificado que os lagos próximos ao rio Amazonas apresentam uma granulometria mais fina
devido ao material que chega pelas águas do rio Amazonas. Os lagos próximos a terra
firma, são caracterizados por maiores teores de areia. Essa areia seria proveniente de
igarapés que deságuam nestes lagos e trazem consigo um material mais grosseiro.
A
várzea de um modo geral apresenta-se como siltosa, variando entre silte médio a fino.
Alguns lagos são um pouco arenosos, como é o caso do Lago Curumucuri, isolado do
sistema, de águas pretas e com um igarapé desaguando sobre ele.
Os Minerais presentes
na Várzea são: a caolinita, a esmectita, o quartzo, a sílica amorfa. Apresentando como o
argilo-mineral mais presente a esmectita. Os lagos com maiores teores em matéria orgânica
são os lagos de águas pretas. A matéria orgânica presente nos sedimentos dos lagos
parece ter basicamente duas fontes: o Rio Amazonas e a atividade biológica local
(macrófitas, fitoplâncton e perifito). Mas de uma maneira geral a componente fitoplanctônica
parece ser muito bem preservada nos sedimentos da várzea.
ABSTRACTS
Flood plains are extremely rich ecosystems of Amazonia in terms of biodiversity
and high production (Junk, 1997). Furthermore, they play an important role in sedimental
transportation as well as for the cycles of dissolved and particular elements. Várzea of Lago
Grande de Curuai is located on the southern banks of the Amazon River, 850 km in length
until the mouth of the river in the Atlantic Ocean. Through a full sedimentological
characterization of the flood plain, this study will enable the understanding of the main
processes, that determine the bulk and/or remobilization of the superficial sediments in these
systems. This will be extremely important for us to determine the nature of sedimental
material (organic and mineral) and to know the present dynamics of the sediments, the
organic material and the potential of accumulation of carbon in these systems. For the study
of the recent sedimentation in the area, a sedimental collection was made at several spots
along Várzea. For the comprehension of these, sedimentological and grainsize studies of the
material in suspension and the origin of the organic material, with a total of carbon, nitrogen,
its reason and isotopic composition δ
13
C e δ
15
N, were made.
In relation to the grainsize characterization, it was verified that lakes nearby the
Amazon River show smaller grainsize due to the fine material brought by the water of the
river. In lakes close to the forests, one can find find higher concentrations of sand. than in
others. This sand comes from igarapés, which flows into these lakes, bringing with it thick
material like sand. In general the flood plain presents silty, varying from medium to small silt.
Some lakes, such as Lago Curumucuri have less sand. Morover, it is isolated from the
system, containing black water and an igarapé flowing into it. The present minerals found in
the Várzea are: kaolinite, smectite, quartz, and amorphous silic. Presenting as a clay-
mineral, the most present material is esmectita. The organic material present in the
sediments of the lakes is the main consequence of the phytoplanktonic activity in situ.
1 INTRODUÇÃO:
A Bacia Amazônica, com aproximadamente 6,1 x 10
-6
km
2
, é a maior bacia
hidrográfica do planeta. De dimensões continentais esta bacia está situada na zona
intertropical, recebendo precipitações médias anuais de 2460 mm. A descarga
líquida média do Rio Amazonas é estimada em 209.000 m
3
. s
-1
(MOLINIER et al.,
1997). O aporte médio de sólidos em suspensão do Rio Amazonas ao Oceano
Atlântico é estimado em cerca de 600 milhões de toneladas por ano (FILIZOLA,
2005). Devido às suas dimensões geográficas, a Bacia Amazônica é afetada por
variações climáticas globais. A previsão de acontecimentos hidrológicos extremos é
de suma importância para o desenvolvimento regional. As grandes inundações, por
exemplo, constituem fator limitante para a pecuária e a ocupação das áreas de
várzea.
As várzeas, também chamadas planícies de inundação, são áreas úmidas –
florestas, campos e lagos – que são periodicamente inundadas. A várzea é um
ecossistema rico e único na Amazônia em termos de biodiversidade e produtividade
(JUNK, 1997). Isso ocorre por causa dos pulsos de inundação, através dos quais as
partículas orgânicas e minerais, assim como os elementos nutritivos transportados
pelos rios de águas brancas são introduzidos e podem ser depositados nos
sedimentos dos lagos destes sistemas.
Considerando o balanço hidrológico e sedimentar do Rio Amazonas, as zonas
de inundação têm um papel de armazenamento temporário ou permanente do
material dissolvido e particulado; sendo que o tempo de armazenamento pode variar
de alguns meses (água e substâncias dissolvidas) à algumas centenas a milhares de
anos (sedimentos). Estima-se que 80% do material transportado pelo Rio Amazonas,
transita pelas várzeas (MERTES et al., 1996 ; DUNNE et al., 1998). As várzeas
constituem zonas preferenciais de deposição de sedimentos e de matéria orgânica
(MOREIRA-TURCQ et al., 2004). Para uma melhor compreensão do balanço de
massas do sistema, e para avaliarmos a importância deste na Bacia, é necessário
estudarmos a fundo um complexo de lagos, e posteriormente acoplá-lo ao sistema.
A várzea do Lago Grande de Curuai foi escolhida devido, a sua estrutura
(rede de lagos com diferentes graus de conexão ao rio), pelas suas dimensões (70
km x 100 km) representativa das várzeas presentes entre Manaus e o estuário e
pelo fato do sistema ser composto por lagos de águas brancas, claras e negras
permitindo desta maneira estudarmos os processos de deposição simultaneamente
nestes três ambientes.
A partir do estudo da dinâmica sedimentar em várzeas, em especial na
Várzea do Lago Grande do Curuai, situada próxima à cidade de Óbidos, no estado
de Pará, procurar-se-á entender a origem do sedimento, sua composição
mineralógica e orgânica, a dinâmica destes sedimentos desde sua entrada nos lagos
até sua deposição, assim como os processos que regem a deposição e a provável
ressuspensão.
Este trabalho tem como principais objetivos:
- a compreensão dos principais processos que regem a sedimentação e
remobilização (granulometria, intensidade e direção dos ventos, hidrodinâmica, etc)
dos sedimentos superficiais na Várzea do Lago Grande de Curuai.
- a determinação da natureza do material sedimentar. Que será também relacionada
à capacidade de transporte e as variações sazonais que possam ocorrer ao longo de
um ciclo hidrológico.
Este estudo vai permitir uma compreensão melhor do sistema de várzea e a
importância deste em relação à Bacia Amazônica. Inserindo-se em um estudo maior
que está sendo realizado pelo projeto franco-brasileiro, chamado de “Hidrologia e
Geoquímica da Bacia Amazônica”, Hibam, que tem por objetivo principal a
determinação dos fluxos (dissolvidos e particulados) assim como os principais
processos que possam influenciar sobre estes fluxos na Bacia Amazônica.
Para conhecermos sua real importância e seu verdadeiro papel para o
planeta, vários estudos estão sendo realizados na Amazônia. Com essas
informações, o manejo deste sistema poderá ser facilitado e mais facilmente
poderar-se-á avaliar os efeitos decorrentes de problemas como: mineração,
desmatamentos, queimadas e transformação de áreas florestais em pastos e em
plantio de soja.
2 ÁREA DE ESTUDO
A Amazônia
A região Amazônica engloba nove diferentes países da América do Sul:
Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, França (Guiana Francesa), Peru,
Suriname e Venezuela (Figura 1). Esta região é o domínio das mais exuberantes
florestas tropicais úmidas, que ultrapassa a fronteira sul americana, se estende pela
América Central e acaba na península de Yucatán, no México, já na América do
Norte. De acordo com Gibbs (1967), a bacia Amazônica corresponde a 5% da
superfície terrestre, representando 45% do continente sul-americano, cujo 63%
localizam-se em território brasileiro e o restante pela Bolívia, Colômbia, Equador,
Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.
Figura 1- localização da região Amazônica. (fonte -
http://www.moore.org/program_areas/environment/initiatives/amazon-andes/initiative_amazon-
andes.asp )
A Amazônia é uma região na América do Sul, definida pela bacia do rio
Amazonas e coberta em grande parte por floresta tropical, também denominada de
Floresta Equatorial da Amazônia ou Hiléia Amazônica. No Brasil, para efeitos de
governo e economia, a Amazônia é delimitada por uma área chamada Amazônia
Legal, cobrindo 60% do território em um total de cinco milhões de km
2
. Ela abrange
os estados do Amazonas, Acre, Amapá, oeste do Maranhão, Mato Grosso,
Rondônia, Pará, Roraima e Tocantins.
A extensão da floresta Amazônica é de, aproximadamente, 5,5 x 10
6
km²,
sobrepondo-se à área da bacia hidrográfica Amazônica com 6,1 x 10
6
km². A bacia
Amazônica situa-se entre 5º de latitude Norte e 20º de latitude sul e se estende
desde 46º a 79º de longitude oeste (SIOLI, 1984).
A Amazônia corresponde à cerca de um terço das florestas tropicais e
apresenta-se como um ecossistema extremamente complexo e delicado. Com
relação a sua diversidade, a Amazônia apresenta cerca 10% da biota do planeta;
ecossistemas complexos; populações de espécies diversas e uma grande
diversidade genética.
2.1. A BACIA AMAZÔNICA
A Bacia Amazônica compreende mais de 20% de toda água fluvial escoada
para o oceano (Figura 2). O principal rio, o Amazonas, é formado pela confluência do
rio Solimões, originário da confluência dos rios Ucayali e Marañon, no Peru,
nascidos nos Andes, com o rio Negro, vindo do escudo das Guianas atravessando a
extensa planície pediplanizada com baixo desnível altimétrico e com vastas
cobertura florestal. Duzentos quilômetros a jusante, o Rio se encontra com o Rio
Madeira, vindo dos Andes bolivianos. Os tributários que encontram o Rio no médio
Amazonas, Trombetas, Tapajós e Xingu, são oriundos do escudo brasileiro. Esses
tributários são classificados, segundo Sioli (1984) de acordo com a presença de
matéria orgânica dissolvida e material em suspensão caracterizando suas
colorações. O rio Negro e outros tributários de águas pretas são caracterizados por
um alto nível de substâncias húmicas dissolvidas e baixo nível de material
particulado em suspensão. Os rios de águas brancas, como o Solimões e o Madeira
têm pouca matéria orgânica e um alto nível de sólidos em suspensão devido ao
processo erosivo dos Andes. Os rios de águas claras como o Xingú, Tapajós e
Trombetas são caracterizados por uma alta produção fitoplanctônica, comparável
com os lagos das várzeas.
Figura 2 – Bacia Amazônica – Rio Amazonas e seus principais tributários. (Fonte -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bacia_Amaz%C3%B4nica)
2.1.1. Geologia
A região da bacia Amazônica está situada entre velhos escudos
Précambrianos. Ao norte, o escudo das Guianas e ao sul o escudo Brasileiro. Ao
oeste, está o arco Andino. Este é uma alta área montanhosa emergida através da
colisão das placas de Nazca e Sulamericana desde o Mioceno. À região do alto
Amazonas é coberta por sedimentos erodidos vindos dos Andes.
Com a separação da Gondwana, na era Mesozóica, provocando a formação
do oceano Atlântico e a separação dos continentes da América do Sul e África,
(processo denominado de deriva continental), houve, o deslocamento da América do
Sul para oeste, com o deslocamento da placa Sulamericana fez com que essa se
colidisse com a placa de Nazca, provocando assim a elevação da cordilheira dos
Andes. A placa de Nazca deslizou sob a placa sul-americana empurrando-a para
cima formando assim a cordilheira no Plioceno (PUTZER, 1984).
Na região onde hoje está soerguida a cordilheira dos Andes, era encontrado
uma grande região, um imenso sistema de lagos (Lago Pebas) que cobria toda a
região amazônica oriental no mesmo nível que o mar, tendo talvez uma possível
conexão com o mar (Portão de Guayaquil). Esta barreira impediu o fluxo livre das
águas que circulavam entre os atuais Oceanos Atlântico e Pacífico, e a Bacia
Amazônica tornou-se o maior ecossistema lacustre pantanoso que a terra já
conheceu. Os rios que drenavam o recém soerguido Andes despejavam seus
materiais nesse lago, transportando quantidades enormes de argilas, como
esmectitas, formando assim as planícies aluviais (RÄSÄNEN, 1988).
Com o soerguimento definitivo dos Andes Equatorianos, houve o
fechamento do “Portão de Guayaquil”, que bloqueou a drenagem para leste pela
junção dos planaltos do Brasil e das Guianas. Desde a elevação dos Andes, os rios
desta região da bacia transportam suas águas para leste, para o Oceano Atlântico e
depositam seus sedimentos na planície de enchente da bacia Amazônica (PUTZER,
1984).
No Pleistoceno, alterações climáticas provocaram mudanças de clima na
região, durante períodos de glaciações, a descida do nível do mar fez com que os
rios da região amazônica deslocassem suas massas de água com uma maior
velocidade devido ao desnível gerado, fazendo com que seus leitos sofressem
erosões, carreando esse material sedimentar para fora do sistema. Um novo
aumento do nível do mar, de 18.000 a 6.000 anos, fez com que esse desnível se
normalizasse, e em conseqüência o sedimento carreado dos Andes voltou a se
depositar na bacia amazônica, gerando a paisagem atual que pode ser vista hoje em
dia na Amazônia Brasileira (PUTZER, 1984)
As primeiras cachoeiras de cada afluente do Amazonas, testemunhas das
épocas geológicas mais antigas da Amazônia, são os pontos por onde passam as
divisórias entre o pavimento cristalino de origem PréCambriana e a bacia sedimentar
Quaternária. Os Inselbergs, com suas formas e tamanhos variados, são deste
período. As terras situadas entre o pavimento cristalino e os depósitos sedimentares
do Quaternário estão sobre solos Terciários. Atualmente, este é o domínio das
florestas de terra-firme, que jamais são inundadas. As áreas alagadas ocorrem na
zona caracterizada por depósitos flúvios-lacustres do Quaternário; estas terras
baixas, entre 0-20 m acima do nível do mar, são o domínio das várzeas.
A planície Amazônica, baseada na estrutura geológica, pode ser identificada
por três unidades geológica: Escudos cristalinos, a Cordilheira dos Andes e uma
cobertura sedimentar de caráter fluvial lacustre (Figura 3).
- Os Escudos - estes são formados por rochas cristalinas bastante erodidas,
com o relevo muito pediplanizados e nivelado. O Escudo das Guianas é
caracterizado por ondulações mais suaves, seguida de montanhas próximas a
fronteira com a Venezuela. É neste escudo onde se encontram as maiores
elevações do país, como o ponto mais alto do Brasil, o Pico da Neblina (3.014 m) e o
Pico 31 de março. Já o Escudo Brasileiro, caracterizado por superfícies onduladas
de baixo relevo já bastante erodido com o passar do tempo (PUTZER, 1984).
- Cordilheira do Andes – originária do encontro das placas Sulamericana
com a de Nazca o que provocou o seu soerguimento. Desenvolveu-se a partir de
rochas sedimentares e vulcânicas. Possui um relevo bastante elevado e acidentado.
É uma grande fonte de sedimento para a formação da bacia amazônica e ainda hoje
fornece altas taxas de material sedimentar para a bacia devido a processos erosivos
que ocorrem devido a alta declividade dos Andes (GUYOT et al, 1992).
- Cobertura sedimentar da Amazônia – a Planície sedimentar da Amazônica
apresenta baixa declividade. Sua composição vem essencialmente de material
sedimentar proveniente de rochas magmáticas e sedimentares erodidas dos Andes.
Apresenta uma baixíssima declividade, pouco acima do nível do mar. Sua região
superficial apresenta períodos em que é temporariamente alagada e terraços
pleistocênicos, antigos, formados em períodos que o nível da água dos rios esteve
um pouco acima do atual nível (PUTZER, 1984).
Figura 3: As principais formações montanhosas na região Amazônica.
2.1.2. Pedologia
Os Latossolos são os solos mais comuns na bacia amazônica, cobrindo 220
milhões de ha ou 45,5% de sua área total (inclusive áreas fora do Brasil); a maioria
da área restante está coberta por solos classificados como Podzólicos (como o
Podzólico Vermelho-Amarelo da nomenclatura brasileira), cobrindo 142 milhões de
ha ou 29,4% de sua área (COCHRANE e SÁNCHEZ, 1982). Os latossolos têm
como característica uma excelente textura granular, baixíssima fertilidade natural,
apresentando propriedade uniforme em sua profundidade. Já os Podzólicos, por
horizontes de acumulação de argila, propriedade física menos favorável para
agronomia e baixa fertilidade natural
. Os solos são derivados de depósitos
sedimentares do fundo de um mar raso que ocupou o centro da bacia amazônica
durante o Terciário (FALESI, 1974; DAEMON, 1975; JORDAN, 1985,
HORBE et al.,
2003 e), compondo a Formação Alter do Chão (antigamente chamada de Formação
Barreiras), sendo essa a mais representativa na região Amazônica, Os solos
derivados destes sedimentos foram expostos ao clima tropical ao longo de grande
parte dos 60 milhões de anos, desde que a região foi drenada pelo efeito da
elevação dos Andes; com isso, a maioria dos nutrientes dos solos foi perdida por
lixiviação (SOMBROEK, 1984). Solos mais jovens, tais como aqueles derivados de
rochas ígneas no Escudo das Guianas e no Escudo Brasileiro, apresentam uma alta
fertilidade.
Atividades de manejo agrícola ao redor da floresta remanescente com uso de
produtos que visam aumento de produção, gradualmente desgastam o solo exposto.
Isso acontece devido a escorrimentos superficiais da água da chuva que geram
erosões profundas. Com essas erosões, há uma entrada adicional de material
edáfico no sistema que carrega matéria orgânica, inorgânica e eventuais compostos
químicos ao longo da bacia.
A ausência de manutenção de pastos e o pisoteio intensivo do próprio gado
nessas áreas propiciam o empobrecimento em nutrientes do solo e facilitam a
erosão (RAFFLES, 1999). Essas atividades causam alterações no estado da
cobertura vegetal e pedológica, que induzem a uma modificação do regime climático,
onde os efeitos conjugados, clima e coberturas, influenciam nos processos de
transferência de sedimentos (ELBAZ-POULICHET et al., 1999).
2.1.3. Hidrografia
A distribuição da chuva na região da Bacia Amazônica é responsável pelas
grandes flutuações no nível de água dos rios e nos fluxos de material nestes
ambientes. A descarga do Rio Amazonas e seus tributários é determinada pela
precipitação em suas largas áreas de represamentos, com a regular variação entre
estações secas e chuvosas. Os níveis de água dos rios apresentam curvas
monomodais (Figura 4). Os níveis de águas baixas variam mais do que em altas
águas, chegando a uma altura mínima média de 8 metros (IRION et al, 1997).
Próximo à cidade de Óbidos, Meade et al. (1979) indicou um valor médio do volume
de 220000 m
3
s
-1
em altas águas e 120000 m
3
s
-1
em baixas águas.
Hidrograma do Rio Amazonas
0
50 000
100 000
150 000
200 000
250 000
300 000
0 50 100 150 200 250 300 350
Dias
Vazão (m
3
s
-1
)
1 970
1 971
1 972
1 973
1 974
1 975
1 976
1 977
1 978
1 979
1 980
1 981
1 982
1 983
1 984
1 985
1 986
1 987
1 988
1 989
1 990
1 991
1 992
1 993
1 994
1 995
Figura 4: Hidrograma monomodal do Rio Amazonas. Variação interanual da vazão do Rio Amazonas
a partir das medições realizadas pela ANA (Agência Nacional de Águas) na cidade de Óbidos,
durante os anos de 1970 a 1999.
Na região Amazônica estão presentes uma grande diversidade de ambientes
aquáticos de diversos tipos e tamanhos, tornando a região conhecida como a mais
densa rede hidrográfica do globo terrestre. Essa quantidade de corpos aquáticos e o
grande tamanho se dão devido aos elevados índices pluviométricos encontrados
nesta região (SALATI e MARQUES, 1984).
Devido a enorme vazão, média em Óbidos de 163.000 m
3
s-1 (CALLÈDE et
al., 2002), o Rio Amazonas é considerado como o maior rio do mundo, tanto em
extensão - com 6.885 km, 214 km a mais que o Rio Nilo, que era considerado o mais
extenso, como em volume d'água, pois despeja no mar cerca de 200.000 m³ de
água por segundo, o equivalente a um quinto de todos os rios do planeta. Este, em
alguns pontos, em época de cheia, atingir cerca de 10 ou mais quilômetros, em
alguns lugares não é possível avistar as margens. Próximo à cidade de Óbidos,
onde o rio sofre um estreitamento, no chamado Estreito de Óbidos, a largura diminui
para 1,5 km e a profundidade pode chegar a 100 m em épocas de cheia (RICHEY et
al., 1986).
O rio nasce a 5.300 metros de altitude, na montanha Nevado Mismi no
planalto de La Raya, Andes peruanos, com o nome de Vilcanota, e ao longo de seu
percurso recebe ainda os nomes de Apumirac, Ucayali, Urubanda e Marañon. No
Brasil recebe primeiramente o nome de Solimões, e, a partir da confluência com o rio
Negro, próximo à cidade de Manaus passa a ser chamado de rio Amazonas. Típico
rio de planície, o Amazonas tem seu curso em três países - Colômbia (em curtíssimo
trecho), Peru e Brasil - cortado o Pará no sentido Oeste- Leste. No território
paraense ele recebe vários dos seus 1100 afluentes, como Tapajós e Xingu pela
margem direita, e Nhacundá, trombetas, Paru e Jari pela margem esquerda. Na foz
do Amazonas, que mede cerca de 149.000 km², ficam os rios Pará, Tocantins e
Capim. Após seu longo percurso, o Amazonas protagoniza um dos maiores
fenômenos hidrográfico da região: a Pororoca. Este seria o encontro das águas do
oceano com as águas dos rios. A pororoca acontece quando grandes ondas de 1 a 4
m de altura invadem as águas fluviais, durante as marés de sizígia que ocorrem nas
luas Nova e Cheia.
Embora seja uma bacia de planície com capacidade para navegação de
grande porte, a bacia Amazônica apresenta também grande potencial hidroelétrico,
segundo o IBGE (censo 2001), conforme a Tabela a seguir:
Tabela I: Potencial hidroelétrico em algumas principais localizações da bacia Amazônica
Bacias
Potencial (Energia Firme em
MW/Ano)
Afluentes (Margem Esquerda) ao norte do
Amazonas
7.770
Afluentes (Margem Direita) ao sul do
Amazonas
28.393
Amazônia (Total) 36.163
Rio Xingu 10.454
Rio Tapajós 9.610
Rio Madeira 8.170
Rio Tocantins 12.660
Considerando o Rio Amazonas a partir da confluência dos rios Negro e
Solimões, o Solimões é o principal tributário do rio Amazonas em termos de
descarga líquida (Figura 5) e sólida (com o rio Madeira). A bacia do rio Negro ocupa
aproximadamente 10% da bacia Amazônica. A jusante, o rio Amazonas recebe as
águas do rio Madeira, vindo dos Andes Bolivianos, na margem esquerda desemboca
o rio Trombetas e na margem direita mais à jusante, desembocam os tributários de
águas claras, Tapajós e Xingu, oriundos do Escudo Brasileiro.
Outros
3%
Negro
15%
Trombetas
1%
Xingu
5%
Madeira
16%
Solimões
54%
Tapajós
6%
Figura 5: Descarga liquida média dos tributários do Rio Amazonas.
Trabalhos como de Filizola et al. (2002) e Moreira-Turcq et al (2003) atestam
a importância do rio Amazonas no processo de transferência de material (entre eles,
sedimento e carbono orgânico, respectivamente). Em seus estudos, Filizola et al
(2002) estimaram que o fluxo de sedimento em suspensão do rio Amazonas, em
Óbidos, é em torno de 600 - 800 10
6
t ano
-1
. Sendo que o rio Solimões contribui com
62% da descarga de sedimento, o rio Madeira com 35%, sendo os 3% restantes do
somatório da concentração de material em suspensão que são liberados pela bacia
Amazônica, advindos dos rios Negro, Trombetas, Tapajós e Xingu.
2.1.4. Climatologia
O clima da região Amazônica Brasileira é quente e úmido e é caracterizado
por uma fraca periodicidade termal durante o ano. Sua temperatura média anual é
de 26,6º C. A época mais quente vai de agosto a novembro, e a época mais fria vai
de janeiro a abril. A variação diurna da temperatura é maior de que a variação anual
(IRION et al, 1997). A taxa de umidade relativa do ar permanece alta durante o ano
todo, variando entre 75,6 a 86,7% (SALATI e MARQUES, 1984). Com relação à
precipitação, a estação chuvosa vai de dezembro a abril, e a estação chuvosa é de
junho a outubro. A chuva total é em média de 2100 mm ano
-1
(IRION et al, 1997;
MOREIRA-TURCQ et al., 2003).
Nas regiões de fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela a precipitação
média é de aproximadamente 3.500 mm ano
–1
(SALATI, 1986). Nestas regiões não
existe período de seca (Figura 6). Estes valores de precipitação elevada próximo à
Cordilheira dos Andes devem-se a ascensão orográfica da umidade transportada
pelos ventos alíseos de leste da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Nos
vales Andinos os valores de precipitação mínima são em torno de 300 mm.ano
-1
,
sendo que as máximas nas regiões tropicais úmidas chagam a 6000 mm.ano
-1
.
Figura 6 – Mapa de precipitações médias anuais sobre a bacia Amazônica (fonte: Molinier et al.
1997).
Segundo Molion (1993), os mecanismos que provocam chuva na Amazônia
podem ser agrupados em 3 tipos:
a) convecção diurna resultante do aquecimento da superfície e condições de larga-
escala favoráveis;
b) linhas de instabilidade originadas na costa N-NE do litoral do Atlântico;
c) aglomerados convectivos de meso e larga escala, associados com a penetração
de sistemas frontais na região S/SE do Brasil e interagindo com a região Amazônica;
O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é
compreendido entre Novembro e Março, já o período de seca é entre os meses de
Maio e Setembro. A distribuição de chuva no trimestre Dezembro-Janeiro-Fevereiro
(DJF) apresenta uma região de precipitação alta (superior a 900 mm) situada na
parte oeste e central da Amazônia, em conexão com a posição geográfica da Alta da
Bolívia. Por outro lado, no trimestre Junho-Julho-Agosto (JJA), o centro de máxima
precipitação deslocou-se para o norte e situa-se sobre a América Central (Fisch et
al. 1998). A região Amazônica, principalmente na parte central, está sob o domínio
do ramo descendente da Célula de Hadley, induzindo um período de seca bem
característico. Este comportamento está completamente de acordo com o ciclo anual
da atividade convectiva na região, conforme demonstrado por Horel et al. (1989).
Marques et al. (1980) estimou o balanço de água na Amazônia usando a
divergência do fluxo de vapor d’água. Em média, a precipitação da bacia é 11,9 x
10
12
m
3
.ano
-1
, sendo que a descarga fluvial do Rio Amazonas no Estreito de Óbidos
é 5,5 x 10
12
m
3
.ano
-1
. A estimativa da evapotranspiração (método de Penman) foi
estimada por Marques et al. (1980), obtendo um valor de 6,4 x 10
12
m
3
.ano
-1
.
Segundo Fisch et al (1998), os valores médios da temperatura na Amazônia
variam em torno de 24 e 26
o
C, sua amplitude térmica sazonal é da ordem de 1-2
o
C,
podendo assim caracterizar o clima como equatorial úmido e sub-úmido com duas
variações:
Clima equatorial úmido sem estação seca definida: na porção oeste da
Amazônia. Elevado regime pluviométrico. As temperaturas também são
elevadas variando entre 25 e 27
o
C. Durante os meses de maio a setembro as
chances de ocorrer o fenômeno da friagem são grandes, quando ocorrem,
duram em média de 3 a 4 dias e as temperaturas diminuem chegando a 10
graus (mínima).
Clima equatorial com pequena estação seca: na porção leste da Amazônia.
Chuvas com registros superiores a 2.500 mm.ano
-1
e temperaturas de 26
o
C.
A estação seca ocorre na primavera, no norte do Amazonas, e no verão, no
sul do rio Amazonas.
Segundo Fisch et al (1998), a bacia Amazônica, por apresentar dimensões
geográficas, é afetada por variações climáticas globais. Esta é controlada pela ação
dos alísios e baixas pressões equatoriais (doldrums) e pela Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT). Na Amazônia Ocidental, o clima sofre a interferência da massa
equatorial continental (mEc). Já na Amazônia Oriental, região do médio e baixo
Amazonas e litoral, o clima sofre interferência da massa equatorial marítima e da
ZCIT. A massa polar atlântica (mPa) atua no interior da Amazônia, percorrendo o
território nacional no sentido S - NW através da depressão do Paraguai, canalizando
o ar frio e provocando queda da temperatura causando o fenômeno da friagem. O
período mais quente ocorre de agosto a novembro, e o período com média de
baixas temperaturas ocorre entre os meses de janeiro a abril (SALATI, 1985).
Os fluxos das águas na Bacia Amazônica estão diretamente relacionados a
pluviometria da região, sendo esta influenciada pelas variações de temperaturas de
superfície do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico tropical. O nordeste da Bacia
Amazônica reage fortemente ao pacífico tropical e aos fenômenos El Niño e La Niña,
enquanto que o sudoeste da região é sob a influência do Atlântico tropical norte.
Atualmente observa-se que a temperatura da superfície das águas oceânicas
excedem de 0,5 a 1,0ºC. Estes valores elevados da temperatura de superfície dos
oceanos correspondem as pressões muito baixas, que enfraquecem os ventos
alíseos e diminuem o fluxo da monção em direção à Amazônia. Ao Norte, as águas
quentes são alimentadas em energia por uma série de furacões e ao sul, na
Amazônia, as mesmas águas anormalmente quentes impedem a chegada de
monções na bacia Amazônica (ROCHAIL, 2005)
2.1.5. Vegetação
Com o soerguimento dos Andes, no após o Plioceno, definindo assim a
formação da bacia Amazônica, em função do deposito de material proveniente dos
Andes, a diversidade vegetal apresenta algumas características peculiares ao longo
da planície amazônica. Nesta encontram-se florestas montanhosas Andinas,
florestas de terra firme, as florestas fluviais alagadas, além de áreas com cerrados,
caatingas e campinaranas.
Abaixo, encontram-se os principais tipos de vegetação e algumas de suas
características:
- Floresta de Terra Firme - A maioria dos seis milhões de km
2
da bacia
Amazônica é constituída por uma floresta de terra firme. Esta é uma floresta que
nunca é alagada exceto a que esta situada na planície de enchente, ao longo dos
rios, e se espalha sobre uma grande planície de até 130-200 m de altitude, até os
sopés das montanhas (Araújo, 1984). Estas apresentam grande porte, variando
entre 30 e 60 m de altura. O dossel é contínuo e bastante fechado, tornando o
interior da mata bastante úmido e escuro. Essas florestas podem se apresentar
misturada com outros tipos de associações locais, como os campos e os cerrados
amazônicos. Isto, em função das inúmeras adaptações à pobreza em nutrientes dos
seus solos argilosos e podzólicos.
As chuvas intensas que ocorrem na região provocam lixiviação superficial
dos solos de terra firme que carreiam a deposição orgânica de vegetais e sua
microfauna associada. Esses processos resultam em empobrecimento do solo e
conduzem o material para áreas mais baixas, que em geral convergem para rios e
lagos (JUNK e FURCH, 1985).
- Campinaranas ou Caatingas - são caracterizadas pela presença de árvores
mais baixas, com troncos finos e espaçados. Esta vegetação típica das bacias do
Rio Negro, Orinoco e Branco situa-se sobre areias brancas, lavadas e pobres. Além
das áreas tabulares, encontra-se em grandes depressões fechadas, suficientemente
encharcadas no período chuvoso e com influência dos grandes rios que cortam a
região, em todas as direções (PIRES, 1974).
- Florestas de Igapó - Ocorrem em solos que permanecem alagados durante
cerca de 6 meses, em áreas próximas aos rios de água preta. As árvores raramente
perdem as folhas - geralmente largas para captar a maior quantidade possível de luz
solar (PADOCH et al., 1999).
- Florestas de Várzea - Correspondem a segunda maior formação vegetal da
bacia amazônica, ocupando uma superfície de cerca de 80.000 km
2
. As matas
banhadas pelas águas brancas costumam serem chamadas desse nome. As
florestas inundáveis de várzea estão ao alcance das enchentes anuais do rio
Amazonas e de seus tributários mais próximos, as flutuações do nível da água
podem chegar a 10 metros ou mais nos períodos de março a setembro e grandes
trechos de floresta ribeirinha são alagados.
Um aspecto importante nos ambientes de vegetação inundável é a presença
de espécies adaptadas à submersão parcial ou total durante um período prolongado.
As árvores das matas alagadas têm várias adaptações morfológicas e fisiológicas
para viverem parcialmente submersas, como raízes respiratórias. As árvores são
pobres em plantas epífitas e o sub-bosque praticamente inexiste. Em seu lugar
existe uma rica flora herbácea.
Apesar das limitações ambientais, as várzeas englobam diversas formas de
vida, A riqueza de espécies não é elevada como na terra firme, embora apresente
características próprias, a variedade de espécies madeireiras de várzea com valor
comercial atrativo e de características tecnológicas desejáveis não é muito ampla
(Araújo et al., 1986). A bioprodutividade anual nas várzeas é muito elevada,
proveniente das macrófitas, das árvores, ervas, e do plâncton. Uma parte importante
dessa produção é degradada in situ.
As regiões de várzeas são ambientes frágeis e de difícil recuperação após
alteração pela intervenção humana. A remoção da cobertura vegetal pode
simplesmente levar a perda do habitat, isto é, devido a importância ecológica e
estrutural que certas plantas desempenham para a manutenção desse ecossistema
(JUNK, 1997).
2.1.6. Compreendendo o Sistema Amazônico
Devido ao fato dos rios de águas brancas ocorrerem numa zona de transição
altimétrica entre as zonas submontanhosas e as terras baixas de planície, estes,
possuem uma dinâmica hidrológica considerável, apresentando consideráveis taxas
de erosão das margens e de deposição de sedimentos, com um gradiente
granulométrico importante na planície distal. Os sedimentos mais finos são
transportados rio abaixo e depositados a centenas de quilômetros à jusante.
Segundo Salati e Marques (1984), devido a grande extensão da bacia e dos
altos índices pluviométricos da região, estimou-se que a evapotranspiração da
floresta era equivalente à 1.400 mm.ano
-1
, ou seja, 56% da água da chuva retorna à
atmosfera proveniente das florestas. Ou seja, a partir da evapotranspiração da água
precipitada pela chuva, mais de 50% do vapor d´água retorna a atmosfera, sendo o
restante importado para a região pela fluxo atmosférico proveniente do Oceano
Atlântico. Com isso, aproximadamente 50% da chuva precipitada na região é
evaporada da própria bacia e o restante segue por escoamento até o mar.
Esse regime de precipitação presente na região define o padrão de
armazenamento de umidade no solo que apresentam diferenças em escalas
variando de secas a alagamento de áreas. As inundações locais e as inundações
das planícies mantêm certos processos ecológicos que definem o estado de
oxidação dos solos e o transporte de material orgânico e mineral da superfície
terrestre para os rios e várzeas da bacia, bem como para seu estuário e oceano
(ALFAIA e FALCÃO, 1993).
O tempo de armazenamento e a quantidade de água fornecida aos canais,
assim como a geomorfologia das várzeas e os caminhos de escoamento através dos
corredores fluviais modificam as cargas biogeoquímicas nos canais, o transporte e
processamento de material orgânico, os processos de trocas hidrológicas e as
condições do substrato. As condições de umidade nos solos das bacias e, sobretudo
o aporte sazonal de nutrientes pelo rio principal sustentam a produção primária e a
reciclagem dos nutrientes que mantém as concentrações de nutrientes no ambiente
amazônico (TOMASELLA e HODNETT, 1998).
2.2. AS PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO
2.2.1. Compreendendo o Sistema das Várzeas
O Rio Amazonas e seus largos tributários são acompanhados ao longo de
seu médio e baixo cursos por grandes planícies de inundação (várzeas) que cobrem
uma área de cerca de 300 000 km
2
(JUNK, 1997). Essas planícies de inundação
também são caracterizadas, assim como os rios da bacia Amazônica, pela coloração
de suas águas. O termo várzea é dado a planícies de inundação ao longo de rios de
águas brancas, que são ricos em nutrientes e material em suspensão. E igapó, para
aquelas ao longo de rios de águas pretas, caracterizadas por altas concentrações de
substâncias húmicas dissolvidas e baixas concentrações de material em suspensão
(SIOLI, 1984).
A formação de várzeas e igapós é estritamente relacionada com a flutuação
do nível do mar durante o período Pleistoceno, e é, portanto um resultado direto de
mudanças climáticas globais (IRION, 1989). A maioria dos sedimentos das várzeas
amazônicas são derivadas de sedimentos oriundos dos Andes. Após chegarem em
terrenos sub-andinos, estes sofrem uma extensiva alteração devido a condições
tropicais, causando alterações no material sedimentar (IRION et al., 1997).
Pelo fato das várzeas se localizarem em regiões planas, marginais aos rios,
estas são compostas por vários lagos permanentemente conectados, ou não, entre
si e ao rio por canais, fazendo com que acompanhem o regime de águas da região,
altas e baixas águas. Estes lagos podem ter suas superfícies triplicadas durante o
período de cheias.
As várzeas são conhecidas por terem águas de grande produtividade fitoplanctônica
e macrofítica. A produção primária nas várzeas é estimada em 110 toneladas de
peso seco por há / ano, onde 73% são atribuídos ao fitoplâncton e as macrófitas
terrestres e aquáticas, e 27% a floresta alagada (JUNK, 1985). Esta importante
produtividade é devida principalmente ao aporte durante as altas águas de
elementos nutritivos transportados pelos rios.
2.2.2. Formação
A evolução da atual morfologia das áreas alagadas sofreu influência
determinante das oscilações do nível do mar ocorridas durante os períodos glaciais
do Quaternário (IRION, 1984; SIOLI, 1975). Durante o mais recente destes períodos
(Glacial-Wurn, 18.000 anos), o nível do mar caiu até 130 m abaixo do nível atual,
formando um profundo canyon. Á medida em que o período glacial se extinguia, as
extensas geleiras que circundavam o norte e sul do planeta se derretiam e o nível do
mar subia. Uma enorme quantidade de sedimentos eram carreados para o canyon,
preenchendo os vales dos rios amazônicos. Os vales dos rios de águas brancas,
como o Amazonas e o Madeira, foram preenchidos rapidamente, devido à alta carga
de sedimentos e à baixa declividade em relação ao mar, formando a paisagem plana
que é característica da Bacia Amazônica. Os vales dos rios de águas pretas e
claras, como o Negro e o Tapajós, por carrearem poucos sedimentos, tiveram as
margens de seus vales pouco preenchidas e, em alguns pontos, suas margens não
foram sedimentadas. Nestes rios ainda podemos encontrar um relevo menos
monótono, como pequenas cachoeiras e margens altas (AYRES, 1993; KLAMMER,
1984).
2.2.3. Controle Hidrológico das Várzeas
Estima-se que as zonas de inundação representam uma área de 300.000 km²
sendo 200.000 km
2
de várzea e 100.000 km
2
de igapó (JUNK, 1993; JUNK, 1997), o
que consiste a 5% da superfície da bacia Amazônica. No balanço hídrico, estima-se
que 30% da vazão média do rio Amazonas transita pelas várzeas (RICHEY et al,
1986). Esse resultado permite entender o equilíbrio e a estabilidade do hidrograma
do rio Amazonas e explicar o motivo da vazão máxima (280.000 m
3
. s
-1
) equivaler a
só quatro vezes a vazão mínima (70.000 m
3
.s
-1
) (KOSUTH, 2002).
Segundo Prance (1979), as várzeas amazônicas podem ser divididas em
dois grupos de acordo com o sistema hídrico:
- Várzeas de marés, que estão sujeitas aos pulsos de inundação diária;
- Várzeas sazonais, que são submetidas ao ciclo anual de enchente e
vazante pelo rio principal.
À montante do estreito de Óbidos, as várzeas não têm mais tanto a
influência das marés e se caracterizam como várzeas sazonais. Seus picos de
enchentes e vazante seguem o regime de águas do Rio Amazonas. Os picos de
enchente se encontram entre maio e julho e de vazante entre novembro e janeiro.
Nesse tipo de várzea, sazonal, a altura de inundação é maior, 5 a 10 m, e os ciclos
dos ambientes semi-aquáticos apresentam aproximadamente oito meses de
períodos de cheia e quatro meses de períodos secos (PRANCE, 1979). Já em
várzeas de maré, a influência da maré pode ser medida na época de águas baixas
nas vazões saindo dos lagos de várzea, seguindo um ciclo semi-diurno de maré.
No rio Amazonas e seus afluentes o pulso de inundação é monomodal, ou
seja, de um único tipo, ou modo, a flutuação do nível da água é lenta e mostra um
ciclo anual previsível de períodos de cheia e seca. A amplitude média é alta, mas
pode mudar ao longo do curso de um rio. Nas proximidades de Manaus essa
amplitude é cerca de 10 m, ou seja, áreas que no período da seca estão emersas,
durante a cheia chegam a estar a 10 m de profundidade (MOLINIER et al., 1997).
Para a compreensão da ecologia e limnologia da bacia amazônica, é
necessário o conhecimento de alguns fatores ambientais locais, fundamentais para o
estudo:
- Flutuações de nível e as interações dinâmicas entre os rios, os igarapés e
os lagos;
- A natureza dinâmica em permanente alteração dos lagos produzida pela
dinâmica hidrológica dos rios e das chuvas;
- O contato permanente entre as comunidades aquáticas e a floresta
inundada.
A flutuação no nível da água é o fator fundamental para o funcionamento
ecológico do sistema de várzeas. Durante o período de altas águas dos rios, todo o
sistema sofre inundação. Os rios e as várzeas do Amazonas constituem um
complexo de canais, rios, lagos, ilhas, depressões, permanentemente modificadas
pela sedimentação e transporte do material em suspensão que vem carreado dos
principais rios de águas brancas. Esse aporte é responsável pela sucessão da
vegetação terrestre pela constante modificação, remoção e deposição de material
nos solos (MERTES et al., 1996).
No período de enchente, a água de superfície dos grandes rios entra nos
lagos através dos canais, permanecendo nas várzeas e no período de vazante, esta
água armazenada é liberada naturalmente, influenciando a geoquímica dos rios.
Dessa forma, as várzeas agem como bacias naturais que afetam o ciclo
hidrológico e a dinâmica sedimentar do rio Amazonas e seus principais afluentes. A
deposição de sedimentos, formação de bancos e colonização pioneira são
processos muito dinâmicos nas várzeas amazônicas (KALLIOLA et al., 1991).
Essa dinâmica hidrológica que ocorre no sistema faz com que as várzeas se
tornem zonas de acúmulo de material particulado e de permanência do material
dissolvido entre 4 a 5 meses (BONNET et al, 2005) advindos das águas dos rios,
dos lençóis e das chuvas, assim como de nutrientes. Por esses motivos, as várzeas
se apresentam como um ambiente de importantes características geoquímicas para
o sistema, com uma produção autotrófica considerável. Esta produção tem influência
direta pelo regime de águas dos rios da região.
As planícies ao longo do rio Amazonas encerram aproximadamente 6.500
lagos, os quais variam em dimensão e forma. Apenas nos últimos 400 km dos quatro
maiores tributários (Japurá, Purus, Negro e Madeira) encontram-se
aproximadamente 2.400 lagos (MELACK, 1984; SIPPEL et al., 1992).
2.2.4. Características Geoquímicas das Várzeas
Considerando o balanço hidrológico e sedimentar, as zonas de inundação (ou
várzeas) têm um papel de armazenamento temporário ou permanente do material
dissolvido e particulado; podendo este tempo de armazenamento variar de alguns
meses (água e substâncias dissolvidas) a algumas centenas a milhares de anos
(sedimentos) (DUNNE et al., 1998).
Com isso, faz com que a região das várzeas, pelo seu comportamento e seu
papel no sistema e sua variação sazonal, na época de enchente atue como um filtro
e também como um reator bioquímico (FORSBERG et al., 1988). Pitelli (1984)
ressalta o significado ecológico das várzeas devido à sua enorme riqueza biológica,
resultante da alta produtividade aliada à grande multiplicidade de cadeias
alimentares.
Estes lagos interferem no fluxo de nutrientes de todo o complexo,
aumentando suas concentrações e influenciando na composição química dos rios.
Além disso, as várzeas têm um papel essencial na dinâmica do balanço de massa
de elementos químicos, assim como a do ferro e de outros elementos redox. A
instalação de condições redutoras ou oxidantes nos sedimentos ou em sua coluna
d’água depende, principalmente, de sua dinâmica hidrológica. Quanto mais longo é
o tempo de transferência da massa de água na várzea, mais estável será o processo
de redução e maior será a produção de espécies químicas reduzidas (IRION et al.,
1997).
Para o complexo sistema, essas inundações sazonais presentes nas
várzeas têm um papel chave na produtividade dos rios e das áreas alagadas
associadas. As várzeas constituem zonas preferenciais de deposição de
sedimentos, matéria orgânica (MOREIRA-TURCQ et al., 2004; OHLY e JUNK, 1999)
e metais associados.
Estudos de Meade et al. (1985), Mertes (1994) e Dunne et al. (1998)
demonstraram que há uma estocagem temporária de sedimento nas zonas de
inundação, ao longo do rio Amazonas, em função da acumulação de água rica em
material em suspensão nestas áreas, sendo que o material é reconduzido ao canal
principal do rio por meio dos processos de ressuspensão do sedimento de fundo que
ocorrem nos lagos das várzeas.
2.3. A VÁRZEA DO LAGO GRANDE DE CURUAI
Nesse trabalho, a várzea estudada é a Várzea do Lago Grande do Curuai. A
várzea está localizada na margem sul do Rio Amazonas, próximo à cidade de
Óbidos, Pará e está a 850 km a montante da desembocadura deste no Oceano
Atlântico. Está localizada entre as latitudes sul 01°50S e 02°15’S e longitude oeste
de 55°00W-56°05’W (Figura 07). A Várzea do Lago Grande do Curuai está
localizada nos municípios de Óbidos, Juruti e Santarém.
Figura 7 – Localização da Várzea do Lago Grande do Curuai.
A várzea de Curuai está inserida na bacia de sedimentação da Formação
Alter do Chão, que de acordo com os estudos de Cunha et al. (1994) é composta por
arenitos arcoseanos, pelitos, argilitos, arcóseos, quartzo-arenitos e brechas intra-
formacionais sob a forma de estratos esbranquiçados a avermelhados, depositados
em ambiente flúvio-lacustre, além de paleossolos avermelhados, inserida no Planalto
Dissecado rio Trombetas-Negro e definida por Barbosa et al. (1978) como um relevo
de interflúvios tabulares e de colinas com topos de extensão entre 250 a 750 m,
separados por vales abertos e de fraco grau de aprofundamento.
Dentro da várzea, há vários tipos de paisagens presentes. Porém essas
paisagens seguem o ciclo sazonal hidrológico do nível da água.
Em águas baixas, podem-se encontrar pastagens naturais que inundam
gradualmente até desaparecerem em águas elevadas, as espécies vegetais se
adaptam a essa sazonalidade. Em períodos de seca, essas áreas de pastagem são
usadas para criação de animais, principalmente gado e búfalo, onde em épocas de
entrada das águas, é facilmente possível ver embarcações de médio porte fazendo o
transporte do gado para regiões mais elevadas.
O restante da região de estudo é ocupada de acordo com um gradiente de
vegetação, que vão de áreas de pastagens naturais à formação de florestas com
altura das árvores de aproximadamente dez metros. São classificados em 4 tipos de
ocupações vegetais (Figura 8): pastos naturais; zonas compostas por pouca
vegetação arbustiva dispersada entre as gramináceas; florestas que são
parcialmente inundadas; e florestas que não sofrem influência das inundações
(MARTINEZ et al., 2003, RADAMBRASIL, 1976).
Figura 8 – Mapa da Vegetação da região da Várzea do Lago Grande do Curuai. (Fonte:
Martinez et al. 2003).
Na estação chuvosa que vai de dezembro a junho, as áreas inundadas tem
a sua vegetação alagada, onde parte morre e se decompõe, formando os detritos
orgânicos, fonte de alimento dos peixes; parte da vegetação funciona como
substrato ou filtro que retém os sedimentos e matéria orgânica dissolvida, servindo
como substrato para desenvolvimento de algas e microorganismos animais e
finalmente um terceiro estrato, a vegetação terrestre alagada que fornece alimento
aos peixes na forma de flores, frutos e sementes, sendo assim chamadas de “zonas
de transição aquática/terrestre (ATTZ)”, porque esta alterna entre ambiente aquático
e terrestre.
Na fase seca, há novamente todo o crescimento da vegetação terrestre nas
áreas anteriormente alagadas, devido ao material enriquecido depositado após a
descida das águas. Assim como pela decomposição da vegetação presente antes
da subida das águas. Dessa forma, o sistema consegue incorporar e aproveitar
matéria orgânica de forma eficiente, influenciando na diversidade ambiental. Esta
alternação de ambiente permite uma rápida renovação. Durante a fase terrestre
(seca) a biomassa entra em colapso e uma intensa e rápida decomposição no
sedimento ocorre quando exposto ao oxigênio (VIERS et al., 2005).
A hidrologia de toda a várzea está controlada por quatro réguas linimétricas
ao longo de sua expansão. A várzea ainda é palco de vários estudos realizados em
função do Projeto HiBam.
A Várzea do Lago Grande do Curuai apresenta em sua extensão
aproximadamente 130 km ao longo do curso principal do rio Amazonas é formado
por um conjunto de mais de 30 lagos interconectados. Essa várzea é representativa
das várzeas do rio Amazonas, possui regiões de lagos e igarapés com diferentes
características geoquímicas, que configuram lagos de águas brancas e pretas.
A várzea de Curuai possui uma dinâmica de interconexão do rio Amazonas
com os lagos de águas brancas, como o lago Grande, o lago do Poção, o lago Santa
Ana e do lago Salé, e lagos de águas pretas, como o Curumucuri e Açaí. As
conexões são realizadas através de vários canais e igarapés que propiciam a
entrada e saída de água e material em suspensão. Por esses canais conectados ao
rio Amazonas ocorre à variação anual do nível da água do rio que influencia a
variação do nível da várzea.
O sistema na margem sul é delimitado por terra firme, onde se localiza a
maior parte das comunidades, e na porção norte uma série de ilhas, restingas e
terras baixas separa a várzea do rio Amazonas. Durante o período de águas baixas
observa-se a formação de pequenos lagos secundários como o Santa Ana (Santa
Ninha), Salé, Miuá e Curumucuri. Na porção noroeste da várzea, encontra-se uma
grande área dividida de forma pouco precisa entre o lago Grande de Curuai ao
sudeste, e o lago do Poção (Figura 9).
Figura 9 -Várzea do Lago Grande do Curuai e seus respectivos lagos: 1 – Curumucuri; 2 –Salé; 3 –
Lago do Poção; 4 – Açaí; 5 – Santa Ninha; 6 – Grande do Poção; 7 – Lago Grande; e 8 – Rio
Amazonas.
As águas do rio Amazonas entram, principalmente, pelos nove canais
maiores entre a várzea e o Rio Amazonas. Em período de cheia, esses canais,
alimentam os lagos Grande, Salé, Poção e Santa Ninha. O fluxo de água entra e
cruza a várzea de oeste para leste com uma saída principal pela Boca da várzea na
Foz Norte e Foz Sul localizadas na extremidade sudeste do lago Grande.
Estudos de Martinez et al. (2003), com o uso de imagens Radar e de
Sistema de Informação Geográfica apresentou uma estimativa na variação das
superfícies inundadas entre 700 km² nas águas baixas, até 2.300 km² em águas
altas, ou seja, uma variação de até três vezes a área que alaga em período de
cheia, chegando a uma média de 9,5 km
3
de quantidade de água retida pelo sistema
da várzea. Este volume foi obtido a partir de observações em réguas limnimétricas
instaladas em Curuai. Os dados das réguas demonstram que a variação de nível das
cotas de água na várzea e no rio Amazonas são praticamente sincronizados (Figura
10) (MOREIRA-TURCQ et al. 2005). Dessa forma, o gradiente de volume líquido da
várzea acompanha temporalmente o fluxo de água do rio Amazonas.
Figura 10 - Curvas monomodais da variação anual do nível de água entre Várzea do Lago grande do
Curuai e o Rio Amazonas
A época de subida das águas ocorre em dezembro e janeiro com o pico da
cheia nos meses de maio a junho, que corresponde aos máximos anuais de vazão
no rio Amazonas. O período de enchente varia em torno de 4 a 5 meses. Já o nível
mínimo de águas na várzea ocorre no período de outubro a dezembro coincidindo
com o período de menores vazões no rio Amazonas.
No período de cheia, a água superficial do Rio Amazonas entra nos lagos e
é armazenada dentro da várzea devido não só a entrada de água do rio, como pela
acumulação da água de chuva da própria região. A profundidade média da região
pode variar de 0,5 m em baixas águas a 10 m de coluna d’água em período de
cheia.
A várzea de Curuai, como as outras várzeas ao longo do rio Amazonas, atua
como um armazenamento de sedimentos, com uma taxa de depósito muito alta em
lugares específicos do sistema, como de até 1 cm.ano
-1
(MOREIRA-TURCQ et al.,
2004) no Lago Santa Ninha. Segundo Maurice-Bourgoin et al. (2005) cerca de 50%
do fluxo do material em suspensão que entra na várzea de Curuai pelo rio
Amazonas, se depositam no sistema, à escala do ano hidrológico.
Na tabela II pode-se observar o comportamento da Várzea do Lago Grande
de Curuai ao longo de um ciclo hidrológico anual.
Tabela II – Comportamento das águas da várzea ao longo de um ciclo hidrológico.
Mês Situação Profundidade
(Lago Grande)
Balanço Fluxo
d'água
Vazão em
Óbidos
% da
vazão de
Óbidos
Março
cheia 9,13 m entrando 350 m3/s 170000 m
3
/s 0,2
Junho cheia 10,00 m saindo 1100 m3/s 220000m
3
/s 1
Outubro Vazante 5,26 m saindo 785 m3/s 100000 m
3
/s 0,8
Dezembro Vazante 4,70 m entrando 330 m3/s 115000 m
3
/s 0,3
A economia da região é baseada em agricultura de subsistência e pecuária de
gado e búfalo. Sua principal forma de alimentação baseia-se na pesca. As
comunidades mais populosas da região da várzea são as Vilas de Curuaí, Uruari,
Piraquara e Vila Socorro. Estas representam um típico exemplo de comunidades
ribeirinhas. As principais atividades econômicas são o extrativismo vegetal,
principalmente frutos de açaí e palmito, exploração madeireira, pesca, captura de
camarão e agricultura familiar (ANDERSON, 1991).
3. AMOSTRAGEM E METODOLOGIAS
3.1. AMOSTRAGEM
3.1.1. Material em Suspensão
As coletas (Anexo 1) do material em suspensão (35 amostras) foram
realizadas em superfície e fundo utilizando-se diretamente uma garrafa plástica de
um litro (limpa previamente), para as amostras de fundo foi utilizado uma garrafa tipo
“Van Dorn” (Figura 11). Todas as coletas foram feitas a partir de uma voadeira.
Figura 11: Garrafa de Van Dorn para coleta de água a partir de uma voadeira
3.1.2. Sedimentos
Foram coletadas 91 amostras (Anexo 2) de sedimento superficial ao longo de
toda várzea englobando todos os lagos presentes com o intuito de se ter a melhor
distribuição espacial possível dos sedimentos visando a melhor caracterização
granulométrica, mineralógica, e orgânica dos sedimentos superficiais. A coleta dos
sedimentos superficiais foi realizada durante duas campanhas de amostragem
(novembro de 2003 e agosto de 2004).
As amostras de sedimentos superficiais foram coletadas utilizando-se uma
draga tipo Eckman (Figura 12). Estas amostras foram armazenadas em pequenos
frascos pré-lavados em laboratório com água destilada e uma solução de ácido
clorídrico.Todas as amostras foram acondicionadas refrigeradas até o laboratório na
Universidade Federal Fluminense.
As coordenadas geográficas das estações de amostragem estão na Tabela I
(em anexo), onde as siglas representam as estações onde foram coletadas amostras
de sedimento superficial.
Figura 12 - Draga de Eckman utilizada para a amostragem do sedimento superficial.
3.2. METODOLOGIAS
Alguns parâmetros físico-químicos como, temperatura, pH, condutividade,
foram medidos diretamente in situ através de eletrodos específicos da marca WTW.
Os principais parâmetros analisados durante este estudo foram:
1. Condutividade elétrica da água
2. Temperatura e pH
3. Concentração do material em suspensão
4. Granulometria do sedimento
5. Mineralogia do material
6. Análise de Carbono e Nitrogênio
7. Isótopos estáveis do Carbono e do Nitrogênio (δ
13
C e δ
15
N)
3.2.1. Estudo da Caracterização do Material em Suspensão e dos Sedimentos
Superficiais
Os princípios teóricos e as técnicas adotadas para cada parâmetro estão descritos a
seguir:
- Condutividade:
A condutividade traduz o teor de sais dissolvidos, entre os quais podem-se
destacar os cloretos de sódio, magnésio e cálcio, os sulfatos de magnésio, potássio
e cálcio e os carbonatos e nitratos de cálcio e magnésio.
Os sais dissolvidos e ionizados presentes na água transformam-na num
eletrólito capaz de conduzir a corrente elétrica. Como há uma relação de
proporcionalidade entre o teor de sais dissolvidos e a condutividade elétrica,
podemos estimar o teor de sais pela medida de condutividade de uma água. A
medida é feita através de eletrodos específicos de condutividade e a unidade de
condutância adotada pelo Sistema Internacional de Unidades é Siemens (S). Como
a condutividade aumenta com a temperatura, emprega-se 25 ºC como temperatura
padrão (GRASHOFF, 2000).
- Material em Suspensão (MES):
As amostras (35) para a determinação das concentrações em material em
suspensão foram coletadas durante a campanha de março de 2005. A concentração
do MES nas diferentes estações da várzea foi obtida a partir da filtragem, em filtros
Millipore de 0,45 µm de porosidade e 47mm de diâmetro, de um volume conhecido
de água. Geralmente foram filtrados de 250 a 500ml de água dependendo da
concentração de partículas presentes na água. As filtrações foram feitas in situ
(barco) poucas horas após a amostra ter sido coletada.
No laboratório os filtros foram secos a 60°C por 3 horas até atingirem peso
constante (medido em balança digital de 5 casas decimais). A diferença de massa
obtida entre o filtro com material (já seco em estufa até peso constante) e o filtro
inicial (sem material) correspondem à quantidade de material particulado presente
no volume filtrado.
Cálculo do Material em Suspensão (MES):
mg sólidos total /L = (A-B) * 1000
C
Onde :A= peso de resíduo seco + filtro(mg)
B= peso do filtro (mg)
C= volume da amostra filtrada (L)
O MES é constituído de uma fração mineral (ou inorgânica) e outra orgânica.
As concentrações na água são bastante variáveis no espaço e no tempo
dependendo da hidrodinâmica, do aporte terrestre, da constituição do substrato e
margens dos corpos d’água, de fatores meteorológicos, biológicos, etc.
- Granulometria:
A granulometria dos sedimentos foi determinada através de duas técnicas:
Na primeira, através do uso de uma peneira de 63 µm (Figura 13), as
amostras (91 amostras) foram separadas em duas frações, inferior à 63 µm (argila e
silte) e superior à 63 µm (areia e restos orgânicos), logo em seguida as amostras
foram secas em estufa à 40º C (para a preservação da matéria orgânica). Após a
secagem as amostras foram pesadas e foram calculadas as percentagens das duas
frações.
Figura 13 : Uso de peneiras para a separação granulométrica inferior e superior a 63 µm
Na segunda, as amostras (64) foram passadas em um analisador de
partículas à laser, que é um procedimento comumente utilizado para identificar
partículas de tamanho compreendido entre 0,02 e 2000 µm.
A análise das dimensões das partículas sedimentares é importante para indicar
informações sobre a origem (tipos de rochas), o transporte e os ambientes
deposicionais.
Segundo Dias (2004), a análise granulométrica consiste na determinação das
dimensões das partículas que constituem as amostras representativas do sedimento
e no tratamento estatístico dessa informação. Essa determinação e o estudo da
distribuição das partículas sedimentares podem ser feitos pelo peso da classe
dimensional considerada, pelo seu volume, ou pelo número de partículas integrada
em cada classe. Quanto menor for a amplitude das classes granulométricas, melhor
é a descrição da variabilidade dimensional das partículas que constituem o
sedimento.
As análises granulométricas foram realizadas no Analisador de Partículas a
Laser (CILAS
®
modelo 1064) pelo método de difratometria a laser, comumente
designado LALLS – Low Angle Laser Light Scattering. Este método baseia-se no
princípio de que o ângulo de difração é inversamente proporcional à dimensão da
partícula. A teoria sob este se baseia a granulometria a laser é a teoria de Mie. Esta
teoria compreende em captar os fenômenos da difração, da difusão e da absorção
dos raios luminosos (GRELAUD, 2004).
O equipamento utilizado apresenta faixa analítica de 0,04 microns a 500
microns, 64 detectores e 100 classificações de tamanho de partículas, e dois
emissores de laser para uma melhor precisão na faixa do sub-mícron. No
funcionamento do equipamento, um laser de He-Ne produz um feixe de luz
monocromático, com λ de 830 nm (banda do vermelho) e outro com λ de 635 nm
(banda do vermelho), que iluminam uma célula de medida onde se encontra o fluido
com as partículas. A luz incidente é difratada pelas partículas, gerando-se um
padrão de difração estável, independente do movimento das partículas. Este padrão
de difração é focado por uma lente, para um detector fotoelétrico constituído por um
conjunto de detectores de silício foto-sensitivo. Produz-se, deste modo, um sinal
proporcional à intensidade da luz incidente, o qual, após ser amplificado por um tubo
fotomultiplicador, é transmitido a um computador que registra o padrão de difração e
realiza as integrações necessárias. Teoricamente, este tipo de equipamento
determina o volume das partículas, deduzindo-se o seu raio. Como, normalmente, as
partículas não são esféricas e têm densidades diferentes, este diâmetro não pode
ser diretamente correlacionado com o diâmetro de sedimentação (DIAS, 2004).
A presença de duas fontes de luz para a difração, com λ diferentes – comum
nos equipamentos mais modernos - permite ao instrumento cobrir toda a classe
granulométrica em uma única medição, sem qualquer ajuste mecânico ou
realinhamento ótico, com maior resolução no que se refere às partículas com
dimensões inferiores a um micra. As partículas finas são medidas pelo modelo de
difração aplicando a teoria de Fraunhofer ou de Mie.
Dois tipos de procedimento das amostras a serem analisadas no Analisador
de partículas à laser foram empregados:
-amostras totais úmidas
-amostras inferiores a 63 µm (secas inicialmente) e posteriormente colocadas em
suspensão
Para a re-umidificação das amostras secas inicialmente, nos procedemos da
seguinte maneira:
Homogeneização de cerca de 1 g da amostra seca, acréscimo de 25 ml de
água destilada e em seguida 5 ml de pirofostato de sódio como dispersante. A
amostra ficou em torno de 12 horas em um homogeneizador automático. Em
seguida a amostra passou em uma peneira de 500 µm. Após esta peneiragem, as
amostras foram então, levadas diretamente ao aparelho, onde foram passadas em
ultra-som por 10 minutos antes da separação granulométrica nas 100 peneiras,
determinadas pelo laser. Entre cada amostra o aparelho foi programado para ser
rinsado 4 vezes com água destilada. As amostras úmidas inicialmente foram
processadas a partir da passagem pela peneira.
Figura 14: Esquema de funcionamento do Analisador de Partículas por difração à laser CILAS
1064.(Fonte: http://www.particle-size-analyzer.com/cilas_1064_particle.htm#)
Os dados gerados pelo equipamento foram rodados no programa GRADISTAT
v. 4.0 - A Grain Size Distribution and Statistic Package for the Analysis of
Unconsolidated Sediments by Sieving or Laser Granulometer, desenvolvido por
Simon Blott (Dept of Geology, Royal Holloway, University of London). A partir deste
programa foi obtida a divisão granulométrica de cada amostra, a distribuição
amostral de nossa área de estudo, e a classificação do material presente na
amostra, representada pelo Triângulo de Shepard.
- Mineralogia
As amostras (51) para a determinação da composição mineralógica presente
nas duas frações dos sedimentos superficiais foram analisadas por espectrometria
infravermelha à transformada de Fourrier (FTIR), pelo método desenvolvido por
Bertaux, et al. (1998), onde a quantidade de radiação absorvida é proporcional à
quantidade de matéria absorvente na amostras. Para essa análise, somente
amostras inferiores de 63 µm foram utilizadas. A realização das pastilhas de KBr
para a passagem das amostras no FTIR foi obtida após secagem, maceração
manual, maceração automática até alcançar um tamanho de partículas inferior a 2
µm, secagem em estufa a 50°C por alguns minutos, homogeneização da amostra
com KBr (proporção 1:400), secagem à 50°C por alguns minutos, prensagem para a
obtenção das pastilhas e finalmente passagem no FTIR (Perkin Elmer Spectrum
1000).
Os espectros obtidos (entre 4000 e 400 cm
-1
de comprimento de onda) após a
passagem foram tratados utilizando o programa SPECTRUM para Windows. Todos
os espectros tiveram a linha de base corrigida manualmente antes de realizarmos a
quantificação mineralógica. O cálculo das quantificações foi realizado no Programa
Excel através da comparação com um espectro padrão (modificando as
percentagens dos diferentes minerais presentes na amostra ate encontrarmos um
espectro correspondente ao padrão) (Figura 15).
Figura 15 – exemplo do espectro retirado da amostra e do espectro calculado no Programa Excel.
- Carbono e Nitrogênio Orgânico Total
As amostras (51 amostras) para as análises de carbono e nitrogênio orgânico
total dos sedimentos superficiais foram secas, maceradas e pesadas
(aproximadamente 10 g), acondicionadas em cápsulas de estanho e analisadas a
Universidade da California (UC Davies Stable Isotope Facility), Departamento de
Agronomia nos Estados Unidos. As amostras não foram acidificadas pois nos lagos
não ocorre precipitação de carbonatos. A composição elementar foi obtida em um
analisador elementar CHN.
- Determinação da composição isotópica da matéria orgânica (δ
13
C e
δ
15
N)
As amostras para estas análises foram as mesmas que para a composição
elementar e também realizadas no mesmo laboratório americano. As determinações
de
13
C e
15
N foram obtidas em um espectrômetro de massa acoplado ao analisador
elementar CHN.
4. RESULTADOS
4.1. MATERIAL EM SUSPENSÃO
As amostras de material em suspensão (n = 37) coletadas nos lagos da
várzea de Curuai e também nos igarapés de conexão com o Rio Amazonas foram
coletadas em março de 2005. Esse conjunto de dados associado a outros resultados
obtidos no banco de dados do próprio projeto Hibam (www.ird.mpl.hybam.fr) tiveram
o intuito de melhor entender a hidrodinâmica e a distribuição do material em
suspensão (MES) no sistema. Visando a compreensão dos processos de
sedimentação. A longa série temporal (março de 2000 a dezembro de 2003) de MES
permite uma avaliação da evolução do sistema em função da variação do nível
d’água (Figura 16).
Curuai (A40)
Boca Lago do Poção (A27)
Lago Grande (A03)
Lago do Poção (A24)
São Nicolau (A30)
Altura da água - Óbidos
Curumucuri (A33)
Lago Salé (A20)
Curuai (A40)
Boca Lago do Poção (A27)
Lago Grande (A03)
Lago do Poção (A24)
São Nicolau (A30)
Altura da água - Óbidos
Curumucuri (A33)
Lago Salé (A20)
Curuai (A40)
Boca Lago do Poção (A27)
Lago Grande (A03)
Lago do Poção (A24)
São Nicolau (A30)
Altura da água - Óbidos
Curumucuri (A33)
Lago Salé (A20)
Figura 16 - Gráfico representando o material em suspensão de acordo com o nível de água ao longo
quatro anos de medição (março de 2000 a dezembro de 2003).
No gráfico acima é possível notar que as concentrações do material em
suspensão são inversamente proporcionais à altura de nível de água na várzea. O
lago que apresenta a maior concentração é o Lago do Poção, seu maior valor ocorre
no período de dezembro de 2002, com aproximadamente 1550 mg.l
-1
, seguido do
Lago Salé, em dezembro de 2001 com aproximadamente 800 mg.l
-1
. Os menores
valores de concentração ao longo de todos os ciclos hidrológicos encontram-se no
Lago Curumucuri, com menos de 2mg/L. É possível notar que as maiores
concentrações de todos os lagos se encontram no período de menor altura de água
no interior da várzea. Justamente ao contrário que ocorre no Rio Amazonas, onde
suas maiores concentrações ocorrem nos períodos de altas águas. Em períodos de
baixas águas no interior da várzea as concentrações de material em suspensão são
bem mais elevadas do que as do Rio no período de máximas vazões (maior altura
do nível de água).
Com relação à distribuição espacial, foram tomadas algumas amostras em
março de 2005 (Tabela III), no período de enchente, onde a várzea começa a se
encher com as águas do Amazonas, para se ter uma noção sobre as concentrações
de MES ao longo da várzea (Anexo). Foi verificado que as maiores concentrações
se encontram também no lago do Poção, acima de 130mg/L. Com uma diferença
bastante considerável em relação aos demais lagos, principalmente os de águas
pretas de aproximadamente 3 mg/L.
Em algumas estações foi retirada amostra de água na superfície, no meio e
no fundo da coluna d’água. Isso teve o intuito de estudar se há alguma estratificação
ao longo da coluna d’água. Neste período do ciclo hidrológico, foi verificada uma
homogeneidade entre as amostras de superfície, meio e fundo. Não sendo
verificadas estratificações entre estas, com exceção de uma estação do lago do
Poção (estação Poção). Mas acredita-se que este valor seja pelo fato da estação se
encontrar próxima da margem. Com exceção do Lago do Poção, todas as demais
estações apresentaram valores de concentração inferiores á estação do Rio
Amazonas.
Tabela III – dados de concentração de Material em Suspensão e suas respectivas estações.
Dados coletados nos dias 25 a 29 de março de 2005.
Lagos estação Latitude Longitude
MATERIAL EM SUSPENSÃO
(mg/L)
A20-A sup -2,19606 -55,80930 26,47 Salé
A20-A fundo -2,19606 -55,80930 28,85
A25 sup -2,11670 -55,63490 136,05
A25 meio -2,11670 -55,63490 142,55
A25 fundo -2,11670 -55,63490 119,80
A26 Central sup -2,07895 -55,65891 138,35
Poção
A26 Central fundo -2,07895 -55,65891 150,30
Poção sup -2,16385 -55,66381 130,35
Poção fundo -2,16385 -55,66381 61,40
A09 sup -2,10850 -55,41740 66,91
Grande do
Poção
A09 fundo -2,10850 -55,41740 58,11
A11 sup -2,05200 -55,48400 47,60
A11 meio -2,05200 -55,48400 35,77
A11 fundo -2,05200 -55,48400 44,06
Sta Ninha sup -2,05019 -55,48400 41,50
Santa Ninha
Sta Ninha fundo -2,05019 -55,48400 37,00
A05 sup -2,25050 -55,35120 44,30
A05 meio -2,25050 -55,35120 48,17
Grande
A05 fundo -2,25050 -55,35120 51,40
A33-2 sup -2,13538 -56,00756 2,67 Curumucuri
A33-2 fundo -2,13538 -56,00756 8,94
Rio Amazonas -1,94603 -55,51078 92,53
Foi estudado também o material em suspensão ao longo de um canal que liga
o Rio Amazonas aos lagos Curumucuri e Salé. As coletas foram realizadas no dia 25
de março de 2005, na época de enchente das águas. Este canal é longo, de
aproximadamente 40 Km, e muito sinuoso. Dependendo do período do ciclo anual
de águas, as águas do Lago Curumucuri podem seguir por esse canal, se
encontrando com as águas do Rio Amazonas e chegando ao Lago Salé (figura 17),
durante a subida das águas. Os resultados indicam um aumento das concentrações
no momento que as águas do Curumucuri se encontram com a bifurcação, de 6,4
para 13,7mg l
-1
. Assim como as águas provenientes do Rio Amazonas diminuem de
92,53 para 63,4 mg/L. Seguindo-se o canal em direção ao Lago do Salé, as
concentrações diminuem de 43,75 mg/L para 35,05 mg l
-1
, e em seguida, nos pontos
I24 e I22, vai aumentando sua concentração até alcançar a concentração de 52,45
mg l
-1
. Chegando ao Lago do Salé, sua concentração é reduzida devido à
distribuição para o lago além do encontro com água proveniente dos igarapés que
deságuam no lago. Sua concentração é encontrada com valor de 35,25 mg l
-1
. É
possível notar que há um aumento na concentração ao longo do canal, onde suas
margens são erodidas com o aumento do volume de água e transportadas para o
lago.
Figura 17 – Mapa do canal que liga o Rio Amazonas ao Lago do Salé, pontos de coleta e valor da
concentração do Material em Suspensão. Cólera realizada no dia 25 de março de 2005.
Salé
Curumucuri
Rio Amazonas
5 km
I18
I19
I26
I24
I22
I36
I20
I21
6,40mg/L
13.7 mg/L
63,4 mg/L
43,75 mg/L
35,05 mg/L
48,40 mg/L
52,45 mg/L
35,35 mg/L
4.2. GRANULOMETRIA DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS
Os resultados totais de granulometria obtidos na várzea podem ser
observados no anexo. A análise granulométrica dos sedimentos superficiais dos
Lagos da Várzea de Curuai mostra, de uma maneira geral, uma predominância de
sedimentos finos (silte e argila) nos conjunto dos lagos. Os pontos escolhidos para
esta análise são distribuídos ao longo da várzea e permitem uma boa caracterização
do ambiente (Figura 18).
Os lagos Santa Ninha e Curumucuri foram bem representados, pois estes
lagos apresentam características diferentes entre si e seria interessante
compreender essa diferença entre eles. Um recebe uma forte influência do Rio
Amazonas, o outro é mais isolado do sistema além de ser um lago com
características de água preta.
Figura 18 – Mapa indicando pontos de coleta para o estudo de granulometria.
A tabela a seguir indica os valores médios de porcentagem de cada lago
indicando a quantidade de argila, silte e areia. Esses valores favorecem a compreensão
da composição granulométrica do solo ao longo da Várzea do Lago Grande do Curuai.
Em seguida cada lago será analisado separadamente.
Tabela IV – valores médios das frações granulométricas e seus respectivos lagos.
Lagos n Argila (%)
( 0,04 –2µm)
Silte (%)
(2 – 63 µm)
Areia (%)
(> 63 µm)
Lago Grande 10 21,1 69,1 9,8
Grande do Poção 2 22,6 76,6 0,8
Santa Ninha 7 24,9 74,0 1,0
Salé 4 16,75 78,9 4,4
Poção 6 30,2 69,1 0,7
Curumucuri 4 6,0 57,0 37,8
Açaí 1 12,9 84,1 3,0
Valor médio da Varzea 34 21,3 70,9 7,5
O Lago Grande apresenta um valor bem representativo de percentagem de
areia comparando com alguns lagos. Os maiores valores de areia são encontrados no
interior do lago, mais precisamente na estação A03-02, seguido da estação A05,
próxima à citada acima. Acredita-se que a estação A03-02 apresente valores altos de
areia por duas razões possíveis. Uma, por se encontrar em uma região onde, na época
seca, o fundo se encontra emerso. E a outra seria por se encontrar em um canal que
haja um maior hidrodinamismo, fazendo com que o material fino seja carreado
sobrando somente a areia. Daí a presença de areia diferente das demais estações. As
demais estações que apresentam areia são as estações próximas à terra firme, na
margem sul do lago, como se pode ver nas estações A05-03, A42 e A01-03.
Com relação ao silte, as estações do Lago Grande apresentam um valor médio
de 69,1%, variando de 20,8 % na estação A03-02, e máximo de 96,9% na estação A02,
localizado próximo à margem norte do lago, porém com características de ser uma
estação que represente o fundo do lago, ou seja, uma região que recebe uma
deposição do material em suspensão. Por se tratar de estar numa região mais
abrigada, sendo de baixa dinâmica, porém com uma energia ainda suficiente para
deslocar a argila. As demais estações variam em torno de 70%. Ou seja, um material
mais fino e possivelmente transportado como material em suspensão e que preenche o
fundo do lago.
A argila vem seguida com um valor percentual médio de 21,1%, apresentando
valores semelhantes em todas as estações, com exceção da A03-02. Seu valor máximo
é encontrado na estação A01-01, com 29,1%, valor não muito diferente da média
apresentada. A argila apresenta um valor muito homogêneo em todas as estações, ou
seja, bem distribuída.
Pelo fato da estação A01-01 estar próxima da área de ligação do Lago com o Rio
Amazonas, acredita-se que esta tenha uma influência muito grande sobre a
composição granulométrica do lago, ou seja, sobre os valores médios encontrados.
Pois de acordo com a sazonalidade do nível de água, épocas de altas e baixas águas,
esse valor se encontra em equilíbrio perante a hidrodinâmica e o transporte do material
em suspensão, carreado pelo próprio rio e pelas águas provenientes do lago (Figura
19).
Figura 19 – Mapa do Lago Grande, suas estações e os valores das frações granulométricas.
Com relação ao seu grupo textural, através do software Gradstat, pôde-se
verificar pelas estações presentes no Lago Grande, através do Triângulo de Shepard,
apresenta de característica siltosa. Sendo o sedimento presente no fundo do lago,
baseado nas estações amostradas, o silte fino (Figura 20).
Figura 20 – triângulo de Shepard referente às estações do Lago Grande.
Uma região peculiar, a qual se encontra submetida dentro do lago Grande,
porém com características peculiares seria a região onde se localiza a vila de Curuai,
onde apresenta uma semelhança das demais estações. Onde apresenta de 3,6 a 5%
de areia provavelmente, provenientes da terra firme, 78% de silte um pouco a mais do
que a media do lago Grande e 16% de argila um pouco abaixo do valor médio.
O lago Grande do Poção apresenta como valor médio de areia 0,8%, valor
muito ínfimo devido à ausência de fonte próximo ao lago, ou seja, região de terra firme
como o Lago Grande. A estação A09-10 apresenta 1,6% de areia, acredita-se por estar
próxima a terra firme ao sul. As outras estações, no meio do lago apresentam valores
abaixo de 1%. Com relação ao silte, este Lago apresenta como valor médio 76,6%, não
tendo uma variação muito considerável entre as estações. O valor percentual de argila
no lago é de 22,6%, sendo que a estação A09-10 apresenta justamente um valor
inferior (14,8%) das demais estações. Isto se deve, talvez por em época seca ser uma
área próxima de áreas emersas. Na época que começa a encher ou quando o nível
começa a descer, tem-se um certo hidrodinamismo, fazendo com que o silte fique retido
na área e a argila se desloque (Figura 21).
Figura 21 – Mapa do Lago Grande do Poção, suas estações e os valores das frações granulométricas.
Através do Triângulo de Shepard das estações no lago do Poção, pôde-se
observar a predominância de material classificado como siltoso no fundo do lago.
Porém a presença de argila faz com que seja inserido no grupo textural como lama
(Figura 22).
Figura 22 – triângulo de Shepard referente às estações do Lago Grande do Poção
O Lago Santa Ninha tem como valor médio percentual de areia somente 1%,
sendo a estação A11-01 que apresenta o maior valor de 4,6%. As demais estações têm
seu valor percentual abaixo da faixa de 1%. Quanto ao valor médio de silte o lago
apresenta 74,3%, sendo a estação A11-01 que apresenta o maior valor também, de
80%. Esse alto valor se dá devido a proximidades do lago com o Rio Amazonas. O lago
é conectado com o rio através de um canal constantemente aberto, pequeno
(aproximadamente 3,5 km) e largo, possibilitando a entrada constante da água do Rio,
e principalmente em época de altas águas. Um grande aporte de material em
suspensão chega a esse lago. Isso pode ser visto através do valor percentual médio de
argila, de 24,91%. A estação A11-08 localizada próximo á entrada do canal, é a que
apresenta um maior valor, de 30,1%. Isso indica que o material oriundo do Rio
Amazonas que chega ao lago, causando assim, uma perda da velocidade, com a
posterior deposição do material fino no lago Santa Ninha.
As estações A11bis e A11-03 apresentam valores bastante semelhantes aos
valores do lago Grande do Poção, ou seja, estas estações podem ser consideradas
como transição entre o lago Santa Ninha e o Lago Grande do Poção, principalmente se
tratando do material fino depositado no fundo. Os valores percentuais médios são muito
parecidos entre ambos os lagos (Figura 23).
Com relação ao triângulo de Shepard representativo do lago Santa Ninha, é
possível observar uma variação entre material siltoso a lamoso. Em geral o fundo é
caracterizado como grupo textural silte fino, porém, em certas estações como lama
(Figura 24).
Figura 24 – Triângulo de Shepard referente as estações do Lago Santa Ninha
Figura 23 – Mapa do Lago Santa Ninha, suas estações e os valores das frações granulométricas
O Lago do Poção apresenta características bem semelhantes aos Lagos Santa
Ninha e Grande do Poção. Seu valor percentual médio de areia é de 0,7%, o menor
valor encontrado nos lagos da Várzea do Lago Grande do Curuai. Isso se
provavelmente devido à distância das fontes de areia (igarapés na terra firme).
Com relação ao valor percentual médio de silte, se encontra o valor de 69,1%,
número bem inferior os demais lagos próximos ao Lago do Poção. A estação A25-02 ,
localizada próxima a um canal que conecta a um outro lago, apresenta o valor de 59%
de silte, bem diferente das demais estações. Esse canal fica exposto em épocas de
baixas águas, podendo sofrer ações erosivas, tanto em baixas águas, de forma eólica,
como em altas águas, onde a proximidade do canal faça com que aumente a
hidrodinâmica. Além disso, essa estação também apresenta o maior valor de areia
(1,8%), auxiliando nesse raciocínio de compreensão da dinâmica sedimentar da região.
O valor percentual médio de argila também é o maior já encontrado na Várzea do
Lago Grande do Curuai, de 30,2%. Esse alto valor se dá provavelmente devido ao lago
ser conectado diretamente ao Rio. A água do Rio Amazonas que chega pelo canal
perde a força no interior do lago, depositando nele esse sedimento bastante fino (Figura
25).
O triângulo de Shepard indica nas amostras do Lago do Poção a predominância
de material siltoso, principalmente a presença de silte fino, porém caracteriza como
grupo textural do Lago, assim como os demais lagos, lama. Conforme já falado, esse
lago não recebe uma influência de águas e material sedimentar oriundo de igarapés
próximos à terra firme, encontrados na margem sul do sistema. Este lago sofre
influência do próprio Rio Amazonas, e de sua hidrodinâmica (Figura 26).
Figura 26 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago do Poção.
Figura 25 – Mapa do Lago do Poção, suas estações e os valores das frações granulométricas.
O Lago do Salé apresenta como valor percentual de areia 4,9% esse valor é
devido à proximidade de fonte de areia, ou seja, terra firme, e um alto hidrodinamismo,
comparado com outros lagos. Esse valor de areia é bastante diferenciado dos outros
lagos de águas brancas somente se equiparando ao Lago Grande. Pois é um lago mais
isolado do que o Lago Grande, além da presença de igarapés que indicam que são as
fontes de areia para o sistema.
Com relação ao silte, esse apresenta 78,9% de material. O Lago do Sa
apresenta um longo e sinuoso canal que traz águas do Rio Amazonas para o seu
interior. Essa água vem diluída com águas do lago Curumucuri, facilmente perceptível
através de medições de condutividade e das concentrações de MES ao longo do canal.
O Lago Salé se conecta somente com o Lago Grande do Poção e com o Canal da
Fazenda. Esse valor médio de silte é relativamente próximo do valor encontrado no
Lago Grande, que apresenta características semelhantes a este lago.
O valor de argila encontrado (16,7%) é inferior aos demais lagos de águas
brancas do sistema. Isso pode ser entendido pela alta hidrodinâmica local associada ao
fato deste canal ser bastante longo e sinuoso fazendo com que uma grande parte das
argilas se deposite pelo caminho, uma vez que os igarapés presentes no lago só sejam
fontes de areia e não muito de argila (Figura 27).
A característica do fundo do Lago do Salé verificado pelo triângulo de Shepard é
de material siltoso, porém com presença de areia. Seu tamanho granulométrico mais
representativo é de silte fino a médio. Seu grupo textural é tomado, assim como os
demais lagos de água branca, como lama (Figura 28).
Figura 28 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago do Salé
Figura 27 – Mapa do Lago do Salé, suas estações e os valores das frações granulométricas.
O Lago Curumucuri é um lago de águas pretas, além de ser um pouco isolado
do sistema. Apresentam características bem diferentes dos demais lagos. Seu valor
percentual médio de areia é de 37,8%. Esse valor é disparadamente o maior
encontrado no sistema. A estação A33-10 é localizada no interior de um igarapé e
pode-se ver que quase toda a amostra é de areia (99%) indicando assim realmente os
igarapés como fonte de areia para o sistema. Porém essa areia fica retida no lago, pois
na sua saída, suas águas se encontram com águas do Rio Amazonas, fazendo com
que sua saída seja dificultada pela diferença de densidade entre as águas do Rio
Amazonas e As águas pretas do Lago Curumucuri, não permitindo o transporte de
material como a areia.
O valor percentual médio de silte é de 57%, mas é um valor abaixo do
encontrado em outras estações devido à presença da estação A33-10. Encontram-se
valores entre 75 a 85% de silte depositado no fundo do lago.
Quanto à argila, o Lago Curumucuri apresenta um menor valor percentual médio
de todo o sistema, apenas 5,95%. Esse resultado se dá à ausência de contato com
águas do Rio Amazonas causando esse baixo valor de argila no fundo do lago (Figura
29).
O triângulo de Shepard indica o material presente no fundo do lago Curumucuri é
silte médio a areia fina. Como grupo textural, lama e areia lamosa. Uma estação é
apresentada como de areia siltosa. Essa estação se localiza justamente próxima ao
igarapé, mais uma vez indicando a areia apresentar como a principal fonte de areia no
sistema, os igarapés que chegam principalmente aos rios próximos da margem sul,
assim como o lago Curumucuri, que tem uma grande influência dessa terra firme, além
de se encontrar um pouco isolado do sistema como um todo (Figura 30).
Figura 30 – Triângulo de Shepard referente às estações do Lago Curumucuri.
Figura 29 – Mapa do Lago Curumucuri, suas estações e os valores das frações granulométricas.
O Lago Açaí apresenta apenas uma estação representativa para ele. Esse lago
de águas pretas também é isolado do sistema, tendo como conexão ao Rio Amazonas
um canal bastante sinuoso e estreito. Não possui conexões com nenhum outro lago.
Seu valor percentual de areia é de 3%. Essa areia deve ser de origem local.
O valor de silte é de 84,1%, o maior encontrado em todo o sistema. E o valor de
argila encontrado nesse lago é de 12,9%, um dos menores encontrados, sendo menor
que os valores referentes ao lago Curumucuri, justamente os dois lagos de águas
pretas do sistema (Figura 31).
Figura 31 – Mapa do Lago Açaí, suas estações e os valores das frações granulométricas
4.3 ESTUDO DA DINÂMICA SEDIMENTAR
O estudo de perfis longitudinais realizados nos lagos do Salé e Santa Ninha,
este em diferentes períodos de altura do nível d’água, permite entender um pouco a
dinâmica sedimentar e a classificação do material. Isso ajuda a identificar algumas
situações encontradas, permitindo assim, entender e interpretar o comportamento e a
hidrodinâmica nesses lagos para o sistema.
4.3.1. Lago do Salé (agosto de 2004)
Foi realizado um Perfil Longitudinal ao longo do Lago Salé, de uma margem a
outra, para tentar entender a distribuição granulométrica ao longo do lago. Na tabela (V)
abaixo, indicando as estações de uma margem à outra, temos a estação A20-01
situada na margem leste e a estação A20-09 representando a margem oeste. Foi
possível verificar um aumento de argila das margens em direção ao meio do lago indo
de 8,4% da estação A20-01 e chegando a 30,8% na estação A20-15. Com relação ao
silte, foi notada uma relativa homogeneidade entre os valores de silte, havendo uma
pequena diferença entre 70,5% na estação A20-09, na margem, para 84,2% na estação
A20-08, encontrada mais ao meio do lago. Com relação a areia nota-se um valor mais
alto nas margens, principalmente na margem oeste, mais próxima da terra firme, com
valor de 17,7%. Há uma diminuição em direção ao meio do lago. Porém essa areia é
encontrada novamente no meio do lago, na estação A20 centro, com 3,1% de areia
presente.
Tabela V – estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal ralizado no
Lago do Salé:
Estação Latitude Longitude Profundidade
(m)
Argila (%) Silte (%) Areia (%) Teor de água
(%)
A20-1 -2,16584 -55,85959 0,5 8,4 73,9 17,7 31,84
A20-2 -2,16970 -55,85954 1 15,2 77,6 7,2 46,90
A20-3 -2,16949 -55,85899 1,5 18,2 81,8 0,1 66,01
A20-4 -2,16900 -55,85667 2 23,1 76,9 0,0 64,46
A20-5 -2,16899 -55,85646 2,5 22,2 77,6 0,0 54,77
A20-6 -2,16930 -55,85466 3 22,8 77,1 0,1 61,96
A20-7 -2,16705 -55,84974 3,5 20,2 79,1 0,8 68,57
A20-8 -2,16694 -55,85027 4 14,3 84,2 1,5 52,37
A20 centro -2,16614 -55,82438 4 13,0 83,9 3,1 70,55
A20-16 -2,15191 -55,81454 3,5 27,6 72,1 0,4 66,69
A20-15 -2,14638 -55,81070 4,5 30,8 69,2 0,0 46,32
A20-14 -2,14615 -55,81060 4 29,0 70,9 0,1 58,75
A20-13 -2,14570 -55,81020 3,5 21,5 77,5 1,1 54,50
A20-12 -2,14559 -55,80995 3 25,1 74,7 0,1 63,97
A20-11 -2,14546 -55,80994 2,5 16,5 81,6 1,8 60,69
A20-10 -2,14544 -55,80976 2 20,6 78,5 0,9 56,25
A20-9 -2,14547 -55,86974 1,5 10,2 70,5 19,0 39,49
As estações próximas às margens apresentam uma presença significativa de
areia, e têm como grupo textural lama arenosa, chegando a 19,3% de areia em todo
conjunto de amostras (Figura 32). Conforme as estações vão se distanciando da
margem suas características vão se transformando para material siltoso, onde é
encontrado aproximadamente 68% de material siltoso nas amostras analisadas. Com
relação à argila, esta apresenta em torno de 10% das estações.
#S
#S
#S
#S#S
#S
#S
#S
#S
#S
#S
#S
#S
#S#S#S#S
A20-1
A20 centro
A20-13
A20-16
A20-7
A20-2
6 0 6 Kilometers
N
Transect - Lago Salé - Estações
Figura 32 – Estações do perfil longitudinal ao longo do Lago do Salé
A característica geral do fundo do Lago do Salé verificado pelo triângulo de
Shepard é de material siltoso, porém indicando a presença de areia predominando em
algumas estações, principalmente próximas às bordas. Seu tamanho granulométrico
mais representativo é de silte fino a médio. Seu grupo textural é tomado como lama
(Figura 33).
Figura 33 - Triângulo de Shepard referente às estações do perfil longitudinal no Lago do Salé.
Com relação ao gráfico de distribuição do tamanho das partículas, é perceptível
a diferença entre os dois lados do lago e as margens. As margens apresentam na curva
de distribuição valores de material mais grossos, principalmente areia. Os valores do
lado oeste entre as estações A20-03 a A20-08 apresentam materiais um pouco mais
grossos, ou seja, melhor selecionados, do que as estações do lado leste. Valores esses
que indicam uma presença maior de silte grosso na lateral esquerda e silte mais fino na
lateral direita (Figura 34).
Figura 34 – Gráfico referente à distribuição de material granulométrico nas estações do perfil
longitudinal do Lago do Salé.
4.3.2. Lago Santa Ninha em altas águas (agosto de 2004)
Foi realizado também um estudo do Perfil Longitudinal no Lago Santa Ninha,
pois é um lago importante para a compreensão da dinâmica da sedimentação de
material possivelmente vindo do Rio Amazonas ao sistema junto com a dinâmica das
águas que entram no sistema de várzea, já que este lago apresenta uma importante
conexão com o Rio Amazonas devido ao canal que o conecta. Através das estações
apresentadas na tabela a seguir, indo de uma margem a outra, é possível notar a
presença de areia somente estação A11-20 representando a margem mais oeste e na
estação A11-30, a outra margem. Com relação ao silte, é possível verificar uma certa
homogeneidade com relação à distribuição ao longo do lago, tanto na sua margem
como no meio do lago, sempre variando por volta de 70 a 80% de silte. Com a argila,
nota-se um aumento das margens indo a direção ao meio do lago do Santa Ninha, indo
de 16,3 até 39,2% na margem oeste (do A11-20 até A11-25) (Tabela VI).
Tabela VI – Estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal ralizado no
Lago Santa Ninha em altas águas.
Estação Latitude Longitude Profundidade
(m)
Argila (%) Silte (%) Areia (%) Teor de água (%)
A11-20 -2,08233 -55,46797 1 16,3 78,5 5,1 67,33
A11-22 -2,08172 55,46832 2 29,4 70,6 0,0 65,10
A11-23 -2,08153 -55,46807 2,5 31,0 69,0 0,0 68,70
A11-24 -2,08143 -55,46808 2 35,7 64,3 0,0 50,37
A11-25 -2,08125 -55,46827 3,5 39,2 60,8 0,0 62,76
A11-26 -2,08162 -55,46815 4 27,1 72,9 0,0 68,40
A11-32 -2,05329 -55,45055 4 15,9 84,1 0,0 52,35
A11-31 -2,05314 -55,44938 3,5 13,9 86,1 0,0 57,46
A11-30 -2,05306 -55,44867 3 4,1 86,2 9,6 56,63
A11-29 -2,05295 -55,44539 2,5 26,0 74,0 0,0 53,87
A11-28 -2,05296 -55,44483 2 29,9 70,1 0,0 57,46
A11-27 -2,05290 -55,44459 1,5 19,2 80,8 0,0 59,06
O mapa indica as localizações das estações, é notável que as estações são
próximas, porém a diferença entre elas parece ser importante, pelo simples fato de
alterar a profundidade do fundo assim conforme vai se afastando das margens (figura
35).
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
#
S
A11-23
A11-28
A11-31
A11-32
A11-23
A11-20
03Kilometers
N
Transect - Santa Ninha - Estações
Figura 35 – Estações do perfil longitudinal ao longo do Lago Santa Ninha em altas águas.
Com relação ao triângulo de Shepard, pode-se verificar que as estações do Perfil
Longitudinal a presença de silte médio a silte fino predominando as estações, porém a
estação A11-30 demonstra um silte muito grosso como sua característica. E as
estações A11-24 e A11-25 apresentam lama. O grupo textural predominante pelo Perfil
Longitudinal é lama (Figura 36).
Figura 36 - Triângulo de Shepard referente às estações do perfil longitudinal no Lago Santa
Ninha em altas águas.
Já com relação à distribuição granulométrica ao longo de todas as estações do
Perfil Longitudinal é possível notar a presença de areia na estação A11-30, a qual se
localiza próxima à margem leste. Acredita-se que esta estação tenha sido em cima de
um banco que fica emerso em baixas águas. Com relação a A11- 20, que é uma
estação da margem, esta apresenta uma característica diferente das demais estações
apresentando pouca argila, silte grosso a areia que as demais, ou seja, mal
classificados. No geral, as estações apresentam nas suas distribuições silte fino a
médio. Exceto as estações já comentadas (Figura 37).
Figura 37 - Gráfico referente à distribuição de material granulométrico nas estações do perfil
longitudinal do Lago Santa Ninha em altas águas.
4.3.3 Perfil Longitudinal Santa Ninha em baixas águas (novembro de 2004)
Foi realizado também um Perfil Longitudinal no Lago Santa Ninha na época de
baixas águas, no mês de novembro de 2004, com o intuito de poder comparar com o
outro Perfil Longitudinal realizado na época de altas águas. Foram coletadas 7
amostras. Pelo fato do lago se encontrar com menor volume de água, a localização não
pôde ser repetida como na época de altas águas. A argila apresentou um aumento da
estação da margem oeste (A11-01) de 14,1% para a estação da margem leste (A11-7)
com 26,9%. No mesmo sentido, o silte apresentou uma redução na sua porcentagem
de 84,1% na estação A11-01 para 73,1% na estação A11-07. Só foi detectado a
presença de areia (1,8%) na estação A11-01, logo a mais próxima da margem (Tabela
VII).
Tabela VII – Estações e valores percentuais da fração granulométrica do perfil longitudinal
realizado no Lago Santa Ninha em baixas águas
Estação Latitude Longitude Profundidade
(m)
Argila (%) Silte (%) Areia (%) Teor de
água (%)
A11-1 -2,04878 -55,49028 0,45 14,1 84,1 1,8 44,10
A11-2 -2,04914 -55,49060 0,65 22,7 77,3 0,0 52,47
A11-3 -2,04978 -55,48833 0,79 21,5 78,5 0,0 61,07
A11-4 -2,05167 -55,48389 0,79 24,3 75,7 0,0 65,02
A11-5 -2,05342 -55,47969 0,69 25,3 74,7 0,0 59,53
A11-6 -2,05447 -55,47869 0,55 26,8 73,2 0,0 56,63
A11-7 -2,05497 -55,47836 0,35 26,9 73,1 0,0 50,61
No mapa a seguir estão localizadas as estações ao longo do Perfil Longitudinal
realizado. Esse perfil foi realizado de uma extremidade a outra de um pequeno flanco
do lago, pois nessa época o lago diminui seu tamanho e seu volume, além de perder
altura na coluna d’água. Isto torna difícil a navegação em seu interior (figura 38).
#S
#S
#S
#S
#S
#S
#S
A11-1
A11-4
A11-6
4 0 4 Kilometers
N
Transect Santa Ninha - Estações - Baixas Águas
Figura 38 - Estações do perfil longitudinal ao longo do Lago Santa Ninha em baixas águas.
Com relação ao triângulo de Shepard, as amostras são classificadas como
siltosas, sendo que a maioria do material encontrado no lago, nesse Perfil Longitudinal
varia entre silte fino a muito fino a material argiloso. Seu grupo textural é tido
predominantemente como lama (Figura 39).
Figura 39 - Triângulo de Shepard referente às estações do perfil longitudinal no Lago Santa Ninha em
baixas águas.
Com relação ao gráfico de distribuição, assim como no Perfil Longitudinal da
estação de altas águas, é notável a diferença entre as margens (Figura 39). A
distribuição segue o mesmo padrão da distribuição anterior. A estação A11-04, situada
no meio do Perfil Longitudinal, apresenta uma distribuição diferente das demais (Figura
40).
Figura 40 - Gráfico referente a distribuição de material granulométrico nas estações do perfil longitudinal
do Lago Santa Ninha em altas águas
4.4.
MINERALOGIA
Os resultados obtidos das amostras inferiores de 63 µm através da análise por
espectrometria infra vermelha a transformada de Fourier permitiram evidenciar e
quantificar os principiais componentes minerais presentes nos sedimentos superficiais
da Várzea do Lago Grande de Curuai. Entre eles encontram se as argilas (esmectita e
caolinita), o quartzo, a sílica amorfa e outros de menor representatividade. O uso do
infravermelho não permite uma identificação precisa dos diferentes tipos de esmectitas,
ou seja, montmorilonita, ilitas e clorita.
Para a identificação desse material argilo-mineral, é utilizada primeiramente a
técnica da difração de raios-X, onde, através de seus espectros permite identificar os
argilo-minerais que compõem as amostras da Várzea do Lago Grande do Curuai. O
resultado é apresentado sob forma de gráficos de curva representando a intensidade do
sinal medido pelo difratômetro em função do ângulo de Bragg, isto por cada amostra
analisada. Em cada pico de intensidade medido pelo difratômetro, o elemento
corresponde ao ângulo de difração (com a fórmula química) e repete-se na base do
gráfico.
Estudos realizados por Grelaud (2004) na própria Várzea, utilizando a difração de
raios-X, mostram que os minerais majoritariamente presentes são o quartzo, caolinita,
ilita, sílica amorfa e esmectita.
Os argilo-minerais são inicialmente produtos de alterações dos minerais
primários. São formados no continente, pela lixiviação dos cátions mais prontamente
solúveis. O tipo de argilo-mineral formado depende diretamente da atuação de vários
fatores, como a petrografia da rocha que está se alterando, a drenagem, se é escassa
ou abundante, se é acida ou alcalina, a topografia, o tempo de exposição das rochas
aos processos de meteorização (LIMA, 1985). Os produtos de alteração dos minerais
primários comuns das rochas é o resultado de uma combinação desses fatores, e
dependendo da combinação, haverá argilo-minerais diferentes.
A seguir abaixo algumas características dos minerais encontrados na região. A
classificação dos minerais presentes nas amostras encontra-se no anexo (KLEIN
et al,
1999):
Caolinita (Al
2
Si
2
O
5
(OH)
4
– é um mineral comum, geralmente o principal
constituinte da argila. É um mineral formado por intemperismo ou alterações
hidrotermais de silicatos aluminosos, particularmente feldspatos. Como é
um dos produtos comuns de decomposição de rochas, este é achado em
solos, e transportado por água e depositado, misturado com quartzo e
outros materiais, em lagos e na forma de leitos de argilas).
Ilita (K,H
3
O)(Al
2
(Si
3
Al)O
10
(H
2
O,OH)
2
– é uma mica sem alcalinos próximo da
composição da muscovita. A ilita difere das demais micas por ter menor
substituição de Al para Si, contendo mais água e tendo K parcialmente
substituído por Ca e Mg
Quartzo (SiO
2
) – é um mineral comum e abundante ocorrendo em uma
grande variedade de ambiente geológico. Na quebra do quartzo em rocha,
devido a sua estabilidade mecânica e química, este persiste como grãos
detríticos e acumula como areia. Os grãos de areia são ricos em quartzo e
seus equivalentes metamórficos.
Esmectita (Na, Ca)
0,3
(Al, Mg)
2
Si
4
O
10
(OH)
2n
H
2
O - a mais comum esmectita
dos solos é a Montmorilonita, caracterizada pela considerável substituição
isomórfica de Al por Mg nas camadas octaédricas. É o argilo-mineral
dominante. Pode ser caracterizada com um conjunto de alguns argilo-
minerais, os quais estão presentes num só pico do espectro. Tornando
difícil identificação individual de cada argilo-mineral.
Sílica amorfa - tem como origem material orgânico, sílica formada
organicamente por animais e vegetais presentes nos ambiente que após
morrerem, suas carapaças são quebradas e depositadas como material
sedimentar.
A análise mineralógica nos permite observar de uma maneira geral uma
predominância de Esmectita em todas as estações (Figura 41). Análises de difração
indicam a presença majoritária de esmectita, seguida de ilita e clorita respectivamente.
Figura 41 – Mapa da Várzea do Lago Grande do Curuai, suas estações e os valores percentuais
dos argilo-minerais.
A tabela (VIII) a seguir indica os valores médios de porcentagem de cada lago.
Nela, estão presentes demonstrando os principais minerais encontrados e melhor
visualizados nos espectros do infravermelho nas amostras dos respectivos lagos. Isto
favorece uma boa compreensão da composição mineralógica depositada no fundo da
Várzea do Lago Grande do Curuai. Na tabela 05, também está presente a razão
Esmectita/Caolinita, que indica as possíveis fontes dos minerais, Rio Amazonas e terra
firme, respectivamente.
Tabela VIII – valores percentuais médios de argilo-mineral presentes nos lagos da Várzea do Lago
Grande do Curuai e razão esmectita/caolinita.
Lagos n Esmectita Quartzo Sílica Caolinita Esmectita/
Caolinita
Lago Grande 5 72,20 4,30 7,30 8,40
8,59
Poção 3 69,00 6,33 9,33 11,00
6,27
Santa Ninha 3 57,67 8,17 7,33 7,67
7,52
Salé 4 59,25 12,25 5,00 5,75
10,30
Grande do Poção 3 75,33 4,00 9,00 8,67
8,69
Curumucuri 4 62,33 5,33 8,00 12,33
5,05
Açaí 3 40,67 1,33 4,00 6,00
6,78
Os valores de esmectita em todos os lagos são sempre presentes em
quantidades superiores a 50%, no conjunto dos lagos. Sendo o Lago Grande e Grande
do Poção os que apresentam os maiores percentuais. O menor valor é encontrado no
Lago Açaí. Com relação ao quartzo, o lago onde se encontra o maior valor é no Lago
do Salé. Os valores de sílica ficam praticamente bastante semelhantes entre os lagos,
com exceção do lago Açaí. O maior valor de caolinita é encontrado no Lago Curumucuri
seguido pelo lago do Poção. Os menores valores da razão foram encontrados nos
lagos Açaí, Curumucuri e Poção. O maior valor foi encontrado no Lago do Salé, este
apresentando um maior valor de esmectita.
As estações do Lago Grande apresentam uma distribuição dos minerais bem
homogêneas, somente a estação A02 que não foi encontrado quartzo. A caolinita se
apresenta bem homogênea entre as estações.
No lago Grande do Poção, a estação A09-03 apresenta teor de 95% de
esmectita. A estação A09-04 apresenta um valor de Esmectita de apenas 49%, além de
baixo valor de caolinita (5%) além de baixos valores de quartzo, apenas 2%.
As Estações do Lago Santa Ninha apresentam um baixo valor de caolinita
também. É também a que se apresenta mais próxima à entrada do canal que liga o lago
ao Rio Amazonas. A estação A11-01 apresenta baixos valores de quartzo se
comparado com as demais estações.
No Lago do Poção, os valores de cada mineral nas estações são bem
homogêneos entre elas. Nesse lago é onde se tem um maior valor de esmectita do
sistema. É encontrado valor de sílica amorfa um pouco maior que nos outros lagos.
No Lago Santa Ninha, as estações A11-03 e A11-02 são muito próximas,
chegando a não ser visualizada no mapa. A estação A11-02 apresenta um valor muito
alto de quartzo (30%), o valor mais alto encontrado em toda a várzea como foi indicado
na granulometria um dos maiores índices de areia, só perdendo para o Lago
Curumucuri. Esta estação também apresenta um baixo valor de caolinita, apenas 3%.O
lago do Salé é o que apresenta o menor valor de caolinita de toda a Várzea.
No Lago Curumucuri, a estação A33-19 apresentou um valor de caolinita inferior
das demais estações. Sendo de 5%. Mesmo assim o valor percentual médio de
caolinita encontrado no Lago Curumucuri é maior do que os demais lagos. Acredita-se
por ser fato de se encontrar a caolinita nos solos envolta do sistema encontrado. E
como o lago não recebe uma influência representativa do Rio Amazonas, senão não
permaneceria sua característica de águas pretas, fica indicado esse alto valor
percentual desse mineral.
No Lago Açaí, encontra-se o menor valor percentual médio de esmectita dos
lagos estudados, assim como o de quartzo, e sílica amorfa.
4.5.
MATÉRIA ORGÂNICA
Com o objetivo de caracterizar a origem da matéria orgânica presente nos
sedimentos superficiais da Várzea do Lago Grande de Curuai e de compreender os
processos que regem a sedimentação orgânica recente, assim como para avaliar a
importância dos sedimentos transportados pelo Rio Amazonas para a Várzea, dos solos
e da cobertura vegetal adjacente, foram analisadas 51 amostras de sedimentos para a
determinação de carbono e nitrogênio orgânico e dos isótopos estáveis do carbono e
nitrogênio, δ
13
C e δ
15
N, respectivamente.
4.5.1. Composição elementar em Carbono:
A caracterização do material orgânico sedimentar no sistema é de suma
importância e utilidade para se conhecer a origem, os processos e características da
composição geoquímica de todo ambiente estudado. Segundo Meyers (1994) a razão
carbono/nitrogênio (C/N) é um dos marcadores confiáveis para indicação da fonte de
matéria orgânica para um ecossistema. A matéria orgânica de origem autóctone na
água, isto é, produzida principalmente pela comunidade planctônica local, tem razão
molar de C/N entre 4 a 10. Valores de C/N superiores a 20 são característicos da
matéria orgânica terrestre, produzida principalmente por plantas superiores.
A partir dos dados apresentados na tabela em anexo é possível termos uma
idéia da distribuição geral dos dados. Podem-se identificar os valores e as
características de cada estação analisada.
O conteúdo de
Carbono (%), nos sedimentos superficiais, variou entre 1,5 e
37% de carbono para a fração inferior a 63µm (Figura 42). Os maiores valores (entre 21
e 37%) foram encontrados em estações dispersas dentro da várzea (Lago Santa Ninha,
Lago Grande e Lago do Poção (Estação A11-1, A11-9, A05-3 e A25-03,
respectivamente). Estas altas concentrações de carbono foram encontradas em locais
próximos as margens onde provavelmente durante a descida das águas, a coluna
d’água seja pequena e desenvolvam-se bancos de macrófitas (vegetações vasculares).
Mas, de uma maneira geral, os lagos os quais as concentrações e percentagens de
carbono foram mais homogeneamente distribuídas, foram os Lagos Açaí (média de
12,41% de carbono) e Curumucuri, (6,71% de carbono), ambos lagos caracterizados
por águas pretas (tabela em anexo). Algumas análises (n=8) foram realizadas na fração
superior a 63µm e os resultados são bastante variáveis (anexo), entre 1 e 30%.de
carbono. Sendo que os maiores teores para esta fração estejam nos lagos de águas
pretas e no Poção.
Figura 42 – Estações e Valores percentuais de carbono total ao longo da Várzea do Lago Grande do Curuai
4.5.2. Razão C/N
A razão C/N determinada para as amostras de sedimentos superficiais, indica a
fonte da matéria orgânica, ou seja, se ela é composta por vegetais superiores,
macrófitas, organismos fitoplanctônicos ou bactérias. As algas têm tipicamente a razão
C/N entre 4 e 10, e plantas terrestres vasculares apresentam um valor superior a 20.
Esta diferença é devido à ausência de celulose nas algas e sua abundância em plantas
vasculares e é largamente preservada em matéria orgânica no sedimento (MEYERS,
1994, MEYERS e ISHIWATARY, 1993).
Os valores se apresentam bem homogêneos e baixos, sendo a maior parte
inferior a 10, indicando uma certa similaridade com relação à origem da matéria
orgânica nos lagos do interior da Várzea do Lago Grande do Curuai. A razão C/N
(Figura 43) inferior a 10 indica principalmente uma origem fitoplanctônica e perifítica da
matéria orgânica. A várzea apresenta uma alta produtividade primária no seu interior.
Poucos valores de C/N são superiores (entre 15 e 25) a isto e foram encontradas nas
estações mais próximas as margens. Estes valores mais elevados demonstram
provavelmente a presença de macrófitas no entorno dos lagos ou macrófitas flutuantes
bastante presente na região. E o alto valor de C/N encontrado na fração superior a
63µm é possivelmente originado de um resto de vegetal superior. Os lagos que
apresentam uma ligação ou influência com o Rio Amazonas, apresentam os valores
médios dessa razão mais elevados.
Figura 43 – Estações e Valores da razão C/N ao longo da Várzea do Lago Grande do Curuai.
4.5.3. Isótopos estáveis da Matéria orgânica
(δ
13
C e δ
15
N)
A composição de carbono isotópico de matéria orgânica (MO) no sedimento
lacustre é importante traçador para a identificação das fontes de MO, para reconstrução
passada de taxas de produtividade e para identificação de mudanças na disponibilidade
de nutrientes em águas superficiais. O aumento na taxa de acumulação de MO e a
razão
13
C/
12
C têm sido amplamente usados como indicadores de aumento da
produtividade aquática nos lagos (MEYERS, 1994)
As plantas preferencialmente utilizam
12
C para produzir MO que é em media
20%
o
mais leve do que a razão
13
C/
12
C de sua fonte de CO
2
(O´LEARY, 1988). A
sedimentação de MO algal conseqüentemente remove o
12
C da reserva Carbono
Inorgânico Dissolvido (DIC) na coluna d’água. Como o DIC torna-se reduzido, a razão
13
C/
12
C do resto do carbono inorgânico aumenta e produz um subseqüente aumento
nos valores δ
13
C da nova MO produzida. Portanto alta produtividade primária, como em
“blooms” fitoplanctônicos, provocam um aumento do δ
13
C.
Quando o CO
2
dissolvido (δ
13
C= -7%
o
) é limitado e as algas lacustres começam
a usar HCO
-
3
dissolvido (δ
13
C = 1%
o
) como fonte de carbono, suas composições
isotópicas tornam-se mais pesadas do que as das plantas terrestres. Situações onde
HCO
-
3
torna-se importante inclui períodos de alta produtividade durante o qual a
avaliação de CO
2
diminuí e na água onde a razão de HCO
-
3
para CO
2
é mantida
elevada por um pH alcalino.
Em alguns casos, os valores de δ
13
C de MO algal pode aumentar para alcançar
mais do que -9‰. Em outros casos, a grande disponibilidade de DIC para um lago pode
levar à produção no lago de uma MO algal isotopicamente leve (δ
13
C= -32‰)(
HAMILTON e LEWIS, 1992).
A distribuição dos valores δ
13
C de plantas C
3
e C
4
usados junto com os valores
C/N em conjunto pode ajudar e identificar de forma mais precisa as maiores fontes de
MO nos sedimentos do lago (MEYERS, 1994).
A composição do isótopo estável de carbono (δ
13
C) da matéria orgânica
produzida por organismos fotossintéticos reflete a dinâmica da assimilação de carbono
e a composição isotópica da fonte de carbono inorgânico. A diferença no δ
13
C entre
matéria orgânica produzida por plantas terrestres e algas tem sido sucessivamente
usado para traçar as fontes de distribuição da matéria orgânica no sedimento
(GARCETTE-LEPECQ
et al, 2000). Plantas que incorporam carbono C
3
, ou seja plantas
com menos presença de carbono na sua cadeia, apresentam valores de δ
13
C de
aproximadamente -20‰ de razão isotópica. Gramíneas, as quais têm necessidade de
terem mais carbono em sua cadeia (C
4
) apresentam uma razão isotópica entre
aproximadamente -8 a -12‰. Valores de razão isotópica acima de -20‰ podem indicar
a formação da matéria orgânica por algas planctônicas tanto em ambiente lacustre
quanto marinho (MEYERS e ISHIWATARI, 1993).
As razões isotópicas de δ
13
C encontrados nos sedimentos da várzea de Curuai
variaram entre -31 e -23‰ (Figura 44). Os valores mais baixos (-30‰) foram
encontrados no Lago Curumucuri. Os demais se encontram numa mesma faixa entre -
24,68 a -26,57‰ indicando uma mistura de fontes fitoplanctônicas, macrofíticas e
terrestre.
Os lagos de água preta diferem-se dos outros, pois apresentam de maneira geral
valores mais negativos. Nestes lagos, pode-se ver ainda que o lago Açaí apresenta
valores um pouco maiores do que o Lago Curumucuri. Isso pode indicar uma maior
influência do Amazonas. Nos outros lagos, as estações próximas às margens têm
valores um pouco mais negativos do que os demais pontos.
Figura 44 – Estações e Valores de δ
13
C ao longo da Várzea do Lago Grande do Curuai.
O isótopo de nitrogênio (δ
15
N) não é tão usado como uma ferramenta
paleolimnológica como o isótopo de carbono δ
13
C. O valor de δ
15
N de NO
3
dissolvido
que é a forma mais comum de nitrogênio inorgânico dissolvido (DIN) usado por algas é
tipicamente 7-10‰ maior do que N
2
derivado da atmosfera feito para plantas terrestres
fixadoras de nitrogênio do solo que tem valor igual a 0%
o
(MEYERS, 1993). A diferença
isotópica entre estas duas fontes de nitrogênio é preservada no δ
15
N da MO das algas
(+8,5‰) e por plantas C
3
(+0,5‰) (PETERSON e HOWARTH, 1987).
O possível aumento dos valores de δ
15
N pode ocorrer devido a uma grande
possibilidade de processos de fracionamento relacionado a amonificação, nitrificação,
denitrificação reações de assimilação de nutrientes. A complexidade do ciclo do
nitrogênio compromete o uso do δ
15
N e o caracteriza como um difícil indicador de
origem de matéria orgânica. Não há uma correlação entre δ
15
N e razão C/N devido a
essa complexidade do nitrogênio. Ao contrário do δ
13
C, a distribuição tempo- espaço
de valores de δ
15
N não dá uma informação adicional nas fontes contribuintes para o
“pool” de Carbono em cada estação de matéria orgânica observada(CARREIRA
et al.,
2002).
Os resultados do δ
15
N encontrado para os sedimentos da várzea variaram entre
-1 e 6%
o,
sendo que a maior parte encontra-se entre 1 e 4 %
o
(Figura 44). Nos valores
apresentados abaixo, pode-se ver que os lagos de águas pretas apresentam valores
inferiores ao dos lagos de água branca. Os lagos que se dispõem no meio da Várzea,
ou seja, recebem influência tanto de lagos próximos ao Rio Amazonas quanto a regiões
de terra firma, é onde ocorre uma presença visível de “blooms” planctônicos, como é o
caso dos Lagos Grande do Poção e Poção, logo, estes apresentam os maiores valores.
Acredita-se que seja justamente pela presença dessa alta produção primária presente
nesses lagos.
Na figura 45 podemos observar a variação espacial da razão isotópica de δ
15
N.
Os menores valores estão presentes nos lagos de águas pretas, sendo o Lago
Curumucuri o que apresenta os valores mais negativos. A maioria das estações
situadas no meio dos lagos apresenta altos valores, principalmente a A25-04, situada
no Lago do Poção. Onde se acredita que possa ser devido à produção primária
realizada no local. As estações próximas ao Rio Amazonas apresentam baixos valores
de δ
15
N. Isso se deve, devido as águas do Rio Amazonas serem pobres de matéria
orgânica oriunda de plâncton e sim de material oriundo de plantas C
3
e C
4
. Uma
estação, A11D, situada bem próxima a entrada do canal que liga o Lago Santa Ninha
ao Rio Amazonas, apresentou um valor bastante diferente de todos os outros (-1%
o
).
Indicando provavelmente a presença de cianobactérias.
Figura 45 – Estações e Valores de δ
15
N ao longo da Várzea do Lago Grande do Curuai
5 DISCUSSÃO
Para se falar do material em suspensão (MES) nos lagos da várzea, é
necessário uma melhor compreensão sobre o comportamento do MES ao longo da
bacia até a chegada na área estudada. Ao longo de um ciclo hidrológico, vários
estágios ocorrem ao nível da bacia Amazônica: do final de novembro ao final de
fevereiro se observa um aumento gradativo das concentrações de MES em Óbidos.
Este aumento está ligado a um aumento da enchente do Rio Madeira onde as águas
são muito carregadas de MES (da ordem de 400 mg.l
-1
) vindo da cordilheira dos Andes.
No início de março ao fim de maio, ao tempo de uma segunda fase de aumento de
enchente, é observada uma queda da concentração de material em suspensão
provocada pela enchente do Rio Negro, onde as águas pretas e acidas são
particularmente pouco carregadas de MÊS ao curso da fase de estiagem do Amazonas,
sendo suas concentrações restantes relativamente fracas (da ordem de 50 mg.l
-1
). Este
período corresponde à fase de cheias nas várzeas do curso médio do Amazonas
(FILIZOLA, 1999).
As concentrações do material em suspensão nos lagos da várzea podem variar
de valores muito baixos a muito altos ao longo do ciclo anual das águas na várzea. Esta
alta variabilidade é função de dois fatores: diferentes tipos de lagos (águas brancas e
águas pretas) e do ciclo hidrológico da várzea que acompanha as variações
hidrológicas do Rio Amazonas.
Com relação ao ciclo hidrológico os lagos seguem uma tendência a apresentar
maiores concentrações de material em suspensão em épocas de baixas águas e
menores concentrações durante as águas altas. Durante a época de altas águas, as
concentrações são baixas devido à diluição desse material com a entrada das águas do
Amazonas, quando a variação do nível de água nas várzeas pode alcançar até 6,5 m.
Já durante a estação de águas baixas, o MES é alto. Acredita-se que o material fique
retido nos lagos, uma vez que em baixas águas, a profundidade atinja em média
apenas 0,6 á 1 m nos lagos e ocorra uma concentração maior desse material, uma vez
que a água apresente uma baixa hidrodinâmica não favorecendo o transporte do
material fino e esse fique retido no interior dos lagos, aumentando sua concentração.
Durante esta época, como a coluna d´água está muito pequena, também temos um
enriquecimento do MES por meio da ressuspensão dos sedimentos do fundo, devido a
ação do vento. A influência do vento vai depender da intensidade, do tempo de
exposição na região, da espessura da lâmina d’água e do “fetch”. Com o aumento do
nível dos lagos o MES volta a apresentar concentrações inferiores as do Amazonas
para o mesmo período. Esta evolução temporal do MES parece indicar que seria
durante o começo da descida do nível das águas na várzea, quando a ação
hidrodinâmica perde sua força, que ocorreria a sedimentação de parte deste material.
Através da figura 46 (imagem de agosto de 2004, começo da descida das águas), é
possível ver onde e em quais lagos as águas do rio Amazonas têm maior influência. É
possível ver, através da coloração das águas dos lagos, que os lagos do Salé, o Poção
e, principalmente, o Santa Ninha, recebem diretamente as águas do Rio Amazonas
ricas em material em suspensão.
Figura 46 – Mapa da várzea indicando a entrada de material em suspensão pelos canais
principalmente nos lagos próximo ao Rio Amazonas.
No interior da Várzea, os lagos Grande do Poção e Grande apresentam
concentrações de MES mais variáveis, indicando uma influência mais atenuada do
Amazonas. Somente o Lago Grande apresenta concentração inferior aos demais lagos,
de águas brancas, na época de cheia (provavelmente devido ao maior volume deste
lago). Este recebe também água e material dos outros lagos. O lago do Salé apresenta
uma pequena variação de concentração durante o ciclo. Este lago apesar da distância
(aproximadamente 40 km) do Rio está constantemente conectado. O lago Curumucuri,
por se tratar de ser de águas pretas, apresenta baixas concentrações durante todo
ciclo, porém, assim como os outros lagos, um aumento na concentração não
significativo é encontrado na época de baixas águas.
Maurice-Bourgoin e colaboradores (2005) atribuem o balanço de material em
suspensão no interior da várzea à variação dos ciclos hidrológicos dos principais
tributários do Amazonas. De novembro a fevereiro, durante o aumento do nível das
águas, há um aumento da concentração de MES com a descarga, devido à cheia do rio
Madeira (março) e logo após a cheia do Rio Solimões (abril-maio) visto que as duas
cheias não são simultâneas. Em maio-junho, com o pico da descarga do Amazonas, há
um decréscimo na concentração de MES em Óbidos, devido ao acréscimo das águas
provenientes da cheia do Rio Negro, pobre em MES. E de julho a outubro, com a
descida das águas no Amazonas e o baixo nível na várzea, uma alta concentração de
MES é observada no interior da várzea.
Pelo fato do próprio Rio Amazonas ser o gerador da variação do nível no
sistema, é notável, assim como no interior da várzea a variação de concentração
baseada no ciclo de altas e baixas águas. No Amazonas, as maiores concentrações em
material em suspensão, contrariamente aos lagos de várzea, são encontradas durante
as águas altas. Este estudo demonstrou que o material vindo do rio sofre diluição no
encontro do canal que vem do lago Curumucuri e logo depois é novamente enriquecido.
Isso se dá provavelmente devido a erosão das margens do próprio igarapé.O material
mais grosso do Rio Amazonas, como areia, só chega ao sistema através da erosão das
margens pelas águas do rio, ao passar pelos canais. Um fato que corrobora a isso é a
comparação da profundidade do Amazonas com a profundidade média da várzea, uma
vez que as partículas mais pesadas são transportadas junto ao fundo (SUGUIO, 1980),
ou por tração, ou por rolamento. O Rio Amazonas na altura da várzea tem como
profundidade aproximadamente 60 metros, e o complexo de lagos têm em média, 4 a 6
metros. Isso dependendo do ciclo anual das águas. A água do Rio Amazonas que entra
no sistema seria superficial, ou seja, só poderia transportar sedimento fino como argila
e silte. A areia que existe no interior dos lagos é, na maior parte, de origem local, ou
seja, é proveniente dos igarapés que deságuam nos lagos próximos a terra firme, como
o Lago Salé e o Lago Grande ambos de águas brancas, e o Lago Curumucuri de águas
pretas (Figura 47) e também, como já foi dito acima, pela erosão das margens do Rio. A
maioria dos lagos apresenta característica siltosa, variando entre silte médio a fino. Isso
se dá devido à influência e entrada do material em suspensão oriundo do Rio
Amazonas e até mesmo da ressuspensão do material fino. O estudo granulométrico
mostra igualmente que os sedimentos de fundo dos lagos, próximos a terra firme,
alimentados pelas florestas de terra firme são em geral mais grosseiros do que os
sedimentos de fundo dos lagos conectados diretamente ao Rio.
Figura 47 – Esquema representando o perfil entre o Rio Amazonas, a várzea e um lago de águas pretas.
Figura 48 – Mapa da várzea com gráficos indicando as frações granulométricas dos lagos de Grande,
Salé, do Poção e Santa Ninha.
É possível verificar que os lagos mais próximos ao Rio Amazonas apresentam,
em geral, sedimentos mais finos (em geral mais silte fino) do que os demais lagos no
interior da várzea. Acredita-se que por influência direta do Rio Amazonas. A presença
predominante de material fino no Lago Açaí (águas pretas, mas não próximo a terra
firme) também corrobora com esta hipótese, pois este se encontra em contato direto
com o Rio Amazonas e sem contato com os demais lagos. A areia só é encontrada nos
lagos próximos a terra firme, como o Lago do Salé, e Grande. O Lago Curumucuri
indica muito bem isso. Como este é um lago de águas pretas e está praticamente
isolado do sistema, pois tem contato com águas do Amazonas (Figura 48 e 49). Este
lago é o que apresenta as maiores porcentagens de areia. Acredita-se que essa areia
só vai ser redistribuída dependendo do hidrodinamismo local. Geralmente no período
de enchente, quando esse material grosso é transportado.
Figura 49 – mapa da várzea com gráficos indicando as frações granulométricas dos lagos de Curuai,
Grande do Poção, Curumucuri e de um igarapé.
Através do estudo dos perfis longitudinais realizados nos lagos Santa Ninha e Salé,
pôde-se observar que as estações situadas nas margens são as que apresentam os
maiores teores de areia e os menores teores de água, isso se deve, respectivamente, à
ação das ondas e à perda da porosidade dos sedimentos durante a fase seca, ou seja,
a perda da água no sedimento é conseqüentemente a compactação destes. As
margens mais expostas à ação do vento dominante (Nordeste), ou seja, as margens
situadas à oeste, apresentam uma melhor classificação do material sedimentar. As
estações localizadas a leste apresentam uma pior classificação do material, por
estarem mais protegidas do vento e com menor hidrodinamismo. Em alguns lagos,
através da hidrodinâmica correlacionada com o ciclo anual hidrológico, é possível
verificar o transporte do material fino ao longo dos lagos. No Lago do Salé, pode-se
encontrar, mesmo no centro, concentrações significativas de areia, com alto teor de
água, demonstrando um transporte do material fino para o interior da várzea (outros
lagos) decorrente da hidrodinâmica do canal de ligação com o Amazonas. Este canal,
permanentemente conectado ao Rio, apesar de seu comprimento (aproximadamente 40
Km) é responsável por uma vazão de até 100 m
3
. s
-1
(março, subida das águas), e seria
provavelmente capaz de criar uma corrente de água em direção ao lago Grande do
Poção transportando os sedimentos mais finos do lago do Salé para este. Estações
próximas a canais entre os diferentes lagos também demonstram alguns pontos de
maior hidrodinamismo. É possível verificar a perda de material argiloso e uma
porcentagem de silte maior do que a esperada. No Lago do Poção, o canal de ligação
com o Amazonas não é permanentemente conectado (em baixas águas, se encontra
fechado) e a ligação ao sistema é feita por um estreito canal, desta forma, a água fica
mais tempo retida no interior do lago, permitindo a deposição deste material.
A Várzea do Lago Grande do Curuai apresenta em sua margem sul, próxima a
terra firme, uma forte presença de caolinita na composição do solo (Formação Alter do
Chão). O Rio Madeira é fortemente enriquecido em ilita e clorita, já o Solimões aporta
principalmente a esmectita, assim como o Rio Negro também é enriquecido em caolinita
(GUYOT, comunicação pessoal). O quartzo é presente, principalmente no material
arenoso, que pode vir bastante trabalhado ao longo do curso do rio. A baixa presença
de caolinita nos lagos Santa Ninha, Salé e Açaí indica justamente a influência do Rio
Amazonas na composição dos minerais presentes em seus fundos.
Em várzeas próximas a Manaus, Irion et al. 1997 encontraram quartzo
predominando em areia fina e em frações de silte grosso. A calcita se encontra
dissolvida a jusante do Rio Amazonas, sendo ela presente somente em afluentes dos
Andes e terras Sub-Andinas como os rios formadores do Solimões. Nas frações de
argila e silte fino, encontrou-se a predominância de Esmectita seguido por clorita e
caolinita. Esses materiais se dão também na Várzea de Lago Grande de Curuai, porém
com características diferentes, ou seja, ocorrem alguns processos de perda e ganho de
material mineralógico ao longo do Rio, como a entrada de afluentes de origem
diferentes e também de outras planícies de alagamento.
Quanto ao conteúdo de matéria orgânica presente nas várzeas e a sua origem,
nós observamos que, de maneira geral, são os lagos de águas pretas que possuem as
maiores quantidades de material orgânico no sedimento. Nos lagos de águas brancas,
as quantidades de matéria orgânica são variáveis e geralmente dependentes da
proximidade ou não do Rio Amazonas, ou seja, lagos próximos têm tendência a
apresentarem menores concentrações que lagos mais distantes. Isso se dá ao fato de
que nos lagos de águas pretas, por serem de águas mais ácidas, tendem a preservar
melhor o material. Em lagos próximos ao rio, o material orgânico que chega pelas
águas do Amazonas já é bem degradado.
Já quanto a origem deste material é mais difícil fazermos uma única afirmação,
pois o material orgânico presente na várzea é conseqüência de processos de produção
in situ, decomposição e da diluição do material transportado pelo Rio. Os baixos valores
de C/N parecem indicar que a principal fonte da matéria orgânica presente nos
sedimentos seja a produção autóctona, ou seja, fitoplâncton e perifiton produzidos no
ambiente, misturado a macrófitas e à matéria orgânica terrestre transportada pelo rio.
O valor de
13
C do Rio Amazonas encontrado na literatura, segundo Hedges et al,
(1986) é de aproximadamente -28,5‰, enquanto que os valores encontrados no interior
da várzea, são geralmente mais pesados (em torno de -26‰), demonstrando ser um
ambiente autotrófico. Isso pode ser observado no gráfico entre
13
C e a razão C/N
(Figura 50). Onde foi identificada que a origem do material encontrado na várzea é
proveniente de fitoplâncton e perifitons, mas misturado a material provindo do
Amazonas. Meyers (2003), propõe em seu trabalho um gráfico com valores que
demostram a origem da matéria orgânica em alguns lagos. Os valores encontrados na
várzea do Lago Grande de Curuai não correspondem ao proposto pelo autor acima
referido. A região de estudo de Meyers situa-se no Canadá, uma região temperada,
diferente da região desse estudo, nos trópicos, além do fato de que nosso sistema é
aberto, sofrendo com o hidrodinamismo do rio. O sinal em
13
C do Amazonas é
levemente mais negativo do que a maioria das amostras encontradas na várzea. Isso
indica que nosso material é uma mistura. Na Figura 49, é possível observar que os
lagos apresentam valores de C/N relativamente próximos, e em sua maioria abaixo de
10. O C/N dos lagos Curumucuri e Açaí, ou seja, os lagos de água preta, apresentam
valores maiores. Isso indica uma maior preservação do material nesses lagos, por se
tratarem de terem águas mais ácidas que os de água branca. Com relação ao
13
C, os
valores são mais leves do que o sinal registrado do Amazonas. O
13
C encontrado em
um “bloom” fitoplanctônico no interior da várzea (Moreira-Turcq, comunicação pessoal),
mostra um valor bastante diferente (-17,68‰) do proposto por Hamilton e Lewis (1992)
e por Meyers (1994), demonstrando mais uma vez a dificuldade em comparar
ambientes com diferentes características. A maioria dos dados de
13
C da várzea
encontram-se entre estes extremos (Amazonas e “Bloom“) indicando uma mistura de
fontes de matéria orgânica no interior da mesma com uma componente fitoplanctônica
bastante importante e preservada visto o baixo C/N (em torno de 7,5) e aos valores de
13
C. Na Tabela IX podemos observar uma comparação deste trabalho com outras
bibliografias.
Figura 50 – Gráfico com valores da razão C/N e
13
C demonstrando a diferentes qualidades de matéria
orgânica nos sedimentos da Várzea do Lago Grande co Curuai. Adaptado de Meyers, 1994.
A partir da figura 51, pode-se notar a relação entre os valores de carbono total e
Nitrogênio total. Este gráfico indica uma boa correlação. Somente as estações que se
apresentam próximas à margem, que sofrem influência de macrófitas e fogem um
pouco devido aos maiores teores de carbono.
Figura 51 – Gráfico referente aos valores de total de Carbono e de Nitrogênio, indicando a diferença entre
as estações no meio do lago com as estações que sofrem influencia de macrófitas.
Hamilton e Lewis (1992), através de um estudo dos isótopos estáveis do carbono
e do nitrogênio em várzeas do Rio Orinoco, na Venezuela acharam valores menores do
que os achados na várzea do Lago Grande de Curuai, tanto em amostras de frações
algais presentes no sedimento, quanto no material em suspensão. Estes autores
estabeleceram através do gráfico δ
13
C versus δ
15
N, os valores das diversas fontes e os
separaram em diferentes grupos (figura 51). Os grupos autótroficos distribuídos ao
longo do gráfico foram de algas em plantas C
3
, algas em gramíneas C
4,
plantas
vasculares C
3
e gramíneas C
4
.
Tabela IX – dados referentes a diferentes trabalhos, e em diferentes áreas comparados com
relação a razão C/N e δ
13
C.
Trabalhos Local de estudo C/N δ
13
C n
Hedges et al (1986) Rio Amazonas, Brasil 9 -28,3 21
Hamilton et al (1996) Várzeas no Rio Orinoco, Venezuela 7,67 -28,17 15
Amorim (este trabalho) Várzea do lago Grande do Curuai 9,33 -26,13 41
Moreira-Turcq Várzea do lago Grande do Curuai
(bloom de algas)
6,25 -17,68 -
Meyers, 1993 Grandes Lagos Laurentian, Canadá 16,4 -20,6 -
Durante a permanência no interior da várzea, o material orgânico original contido
nas águas do rio é misturada com a matéria orgânica vinda de novas fontes como
crescimento de algas, novos detritos de plantas vasculares, e matéria húmica dos solos
de áreas sazonalmente inundadas. Na figura 52 é possível notar também, a grande
quantidade de valores de
15
N acima de 2‰. Isso indica que há um processo de
nitrificação no interior da várzea. Os valores abaixo de 2‰, indicam a presença de
cianofíceas que mantêm uma troca do nitrogênio atmosférico. Pode-se ver que os
valores de lagos de água preta, encontram-se abaixo de 2‰. Isso indica que a matéria
orgânica é mais preservada nesses lagos devido suas águas de pH mais ácido,
sustentando o nitrogênio na sua forma original por mais tempo do que os demais lagos.
O Lago do Poção é onde se encontra a matéria orgânica mais degradada.
Figura 52 – Gráfico para os dados de δ
15
N e δ
13
C da Várzea do Lago Grande do Curuai.
De acordo com o conjunto de resultados obtidos ao longo deste estudo é
possível colocar em evidência as principais características de cada um dos lagos.
Os sedimentos superficiais do Lago Grande apresentam características siltosas,
com presença de areia em uma estação. Levantando a hipótese de um maior
hidrodinamismo em algumas regiões, o que acarreta no transporte de sedimentos finos,
sobrando somente a areia no fundo. Este lago também apresenta um alto teor em
carbono orgânico, destacando-o dos demais lagos.
O Lago Grande do Poção, também de característica siltosa, apresenta altos
teores em carbono. Não apresenta muita areia no sedimento, pois não tem uma
hidrodinâmica tão alta.
O Lago Santa Ninha, apresenta mais silte que os demais lagos devido a
proximidade com o Rio Amazonas onde o MES que chega do Rio tende a se depositar.
O Lago do Poção apresenta os maiores valores de MES de toda a várzea,
chegando a ser maior do que as concentrações encontradas no Rio Amazonas. Esse
alto valor é devido provavelmente a ressuspensão do material do lago e a sua baixa
hidrodinâmica. Sua granulometria é semelhante aos Lagos Santa Ninha e Grande do
Poção, porém com mais argila. Isso indica também um baixo hidrodinamismo no lago.
Uma vez que este lago dispõe de somente um estreito canal de conexão com o resto
do sistema. Devido a essa baixa hidrodinâmica, o lago apresenta uma alta
produtividade e altos teores em carbono no sedimento. O tempo de residência das
águas no interior deste lago parece ser maior.
O Lago do Salé apresenta altos teores em areia no centro do lago. Isso se dá
devido ao aporte de material vindo dos igarapés que deságuam neste lago e da alta
hidrodinâmica do lago, principalmente no período de enchente das águas. Este lago
tem o maior valor da razão entre esmectita/caolinita, indicando o aporte do Rio
Amazonas, já que a esmectita é representativa das águas vindas do Amazonas.
O Lago Curumucuri tem baixos valores de MES em relação aos demais lagos e é
caracterizado pela presença de areia em seus sedimentos. Porém neste lago, a
presença de areia ocorre não devido a uma hidrodinâmica do Rio, mas principalmente
pela presença de Igarapés que transportam areia da terra firme para o interior do Lago.
Somente no período de enchente e cheia do rio, é que as águas do Amazonas
conseguem penetrar um pouco neste lago. Isso pode ser observado também pelo baixo
valor da razão esmectita /caolinita. O Curumucuri tem o menor
13
C de todos os lagos.
O Lago Açaí apresenta baixos teores de areia e altos teores de silte, isso é
devido a um baixo hidrodinamismo e também a diferença de densidade entre as águas
do lago e do Rio Amazonas, não permitindo uma maior dinâmica. Apresenta também
um menor δ
13
C, como no Curumucuri.
6 CONCLUSÕES
Com relação às concentrações em material em suspensão encontrado nas
águas da Várzea do Lago Grande de Curuai, observa-se que as maiores concentrações
encontram-se nas baixas águas. Isso se dá devido principalmente ao menor volume de
águas nesta estação, ocasionando uma acumulação do material retido nos lagos e
também pela ressuspensão causada pela ação do vento sobre uma lâmina de água
muito pequena neste período. O lago do Poção é o lago que apresenta as maiores
concentrações em material em suspensão com relação aos demais lagos, maiores
mesmo que as concentrações encontradas no Rio Amazonas.
As águas do Rio Amazonas têm influência direta nos lagos mais próximos no que
diz respeito à concentração do material em suspensão e na granulometria dos
sedimentos superficiais. Os lagos Salé, Santa Ninha e Poção apresentam sedimentos
mais finos que os demais. Os lagos Salé e Santa Ninha são os lagos que apresentam
os maiores valores na razão esmectita/caolinita demonstrando a influência do
Amazonas. Concentrações mais significativas de areia foram encontradas somente nos
lagos Curumucuri e Grande. A presença de areia pode ocorrer devido: à presença de
igarapés que deságuam na margem Sul diretamente nestes lagos e trazem consigo a
areia; ou devido um maior hidrodinamismo no interior da várzea devido aos canais de
conexão entre os lagos, tendo força pra levar o material fino, mas não tendo força pra
levar a areia, sobrando somente essa no sedimento, ou devido a erosão das margens
do Rio Amazonas que através dos igarapés possa também transportar areia de seu
curso até os lagos. A várzea de um modo geral apresenta-se como siltosa, variando
entre silte médio a fino, com alguns lagos um pouco arenosos.
Os minerais encontrados na Várzea são: a caolinita, a esmectita, o quartzo, e a
sílica amorfa. Apresentando como o argilo-mineral mais representativo a esmectita
(principalmente esmectita, seguido por clorita e ilita, respectivamente). A sílica amorfa
apresenta uma variação pequena em todos os lagos da várzea.
Os sedimentos da várzea, no que diz respeito ao conteúdo de matéria orgânica
podem ser divididos em dois grupos: os sedimentos dos lagos de águas pretas mais
ricos em material orgânico e os sedimentos dos lagos de águas brancas com
concentrações um pouco inferiores aos primeiros. E dentro dos lagos de águas brancas
os mais próximos do Rio Amazonas (sofrendo maior influência deste e de suas águas)
e os mais distantes (mais influenciados pela ação biológica local). De acordo com esta
divisão, esta matéria orgânica também apresentará diferentes origens. Ou seja os lagos
de águas pretas apresentam uma matéria orgânica com um δ
13
C muito próximo ao do
material em suspensão do Rio Negro indicando a presença principalmente de
substâncias húmicas com alguma participação fitoplanctônica. Já os lagos de águas
brancas mais próximos do Rio Amazonas apresentam um material bastante misturado
indicando diferentes fontes (material terrígeno transportado pelo Rio Amazonas,
material vascular e não vascular presente nas margens e nos lagos da própria planície
de inundação). E os lagos mais afastados que apresentam principalmente
características autotróficas, ou seja, a matéria orgânica presente nos sedimentos dos
lagos é conseqüência principalmente da atividade fitoplanctônica
in situ. Podendo estes
ser epifitados em material C
3
presente no interior da várzea.
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7 ANEXOS
Tabela I – Estações, coordenadas geográficas e valores percentuais de frações
granulométricas.
Estações Latitude (Y) Longitude (X) argila total (%) silte total (%) areia total (%)
A01 -2,14014 -55,09017 23,7 74,7 1,55
A01-01 -2,24673 -55,14979 29,1 70,6 0,26
A01-03 -2,21132 -55,19309 28,6 67,3 4,03
A01-02 -2,22236 -55,16776 24,8 73,3 1,95
A02 -2,2008 -55,2178 2,5 96,9 0,62
A02-01 -2,2047 -55,23941 27,5 71,7 0,76
A03-01 -2,19049 -55,3255 27,9 71,9 0,1
A03-02 -2,21031 -55,33012 5,6 20,8 73,66
A05 -2,2505 -55,3512 15,6 71 13,39
A05-03 -2,23982 -55,26873 25,9 72,3 1,77
A09-05 -2,26268 -55,33188 28,2 71,2 0,65
A09-06 -2,1517 -55,21625 24,7 75 0,24
A09-10 -2,16533 -55,57123 14,8 83,6 1,6
A11 BIS -2,0836 -55,5173 22,1 77,4 0,5
A11 -01 -2,05962 -55,49418 15,1 80,3 4,65
A11-03 -2,0778 -55,50491 24,2 74,9 0,81
A11-07 -2,07505 -55,47039 29,1 70,3 0,58
A11-08 -2,0584 -55,48069 30,1 69,8 0,05
A11-09 -2,0644 -55,48731 29,4 70,3 0,2
A11-16 -2,07438 -55,48081 24,4 75,2 0,38
A20-05 -2,16899 -55,85646 18,2 69,8 11,93
A20- centro -2,16614 -55,82438 13 83,9 3,1
A20-08 -2,16694 -55,85027 14,3 84,3 1,5
A20-13 -2,14570 -55,81020 21,5 77,6 1,1
A25-02 -2,15179 -55,61635 39,1 59,1 1,77
A25-03 -2,13646 -55,60047 21,6 78,2 0,1
A25-04 -2,12896 -55,62146 29,6 68,6 1,76
A25-06 -2,12148 -55,67671 28,2 71,6 0,18
A26 -2,0668 -55,6673 32,3 67,6 0,08
A26-01 -2,0739 -55,65638 30,4 69,5 0,12
A33--04 -2,14814 -56,00156 5,1 84,1 10,84
A33-10 -2,18057 -56,00611 0,01 0,2 99,82
A33-13 -2,15992 -55,9942 10,6 86,7 2,7
A33-15 -2,1336 -56,00318 8,1 85,2 67
A36-04 -1,94753 -55,5901 12,9 84,1 3,02
A40 -2,24982 -55,55695 18,6 77,8 3,56
A42 -2,25089 -55,56392 15,2 79,8 5,02
Tabela II - Valores percentuais médios das frações granulométricas dos Lagos
Lagos n argila total (%) total silte (%) areia total (%)
Lago grande 10 21,12 69,05 9,8
Poção 2 22,57 76,60 0,8
Santa Ninha 7 24,91 74,03 1,0
Salé 1 18,20 69,80 11,9
Grande do Pocao 6 30,20 69,10 0,7
Curumucuri 4 5,95 57,00 37,8
Açaí 1 12,90 84,10 3,0
valor médio da várzea 34 21,27 70,91 7,5
Tabela III – Estações, coordenadas e valores percentuais de argilo-minerais
encontrados na Várzea do Lago Grande do Curuai.
Estações longitude latitude Esmectita quartzo sílica caolinita
A01-1 -55.14979 -2.2467 83,0 6,0 4,0 10,0
A02-e -55.23941 -2.2047 87,0 0,0 7,0 8,0
A03-3 -55.3378 -2.2322 71,0 5,0 15,0 10,0
A05 -55.351 -2.2505 57,0 3,0 5,5 8,0
A03-3 -55.3255 -2.19049 63,0 7,5 5,0 6,0
A09-5 -55.4327 -2.1145 63,0 10,0 10,0 10,0
A09-4 -55.40744 -2.12283 49,0 2,0 10,0 5,0
A09-3 -55.37988 -2.13475 95,0 7,0 8,0 18,0
A11 -55.484 -2.052 54,0 10,0 5,0 2,0
A11-1 -55.49418 -2.05962 49,0 1,0 10,0 10,0
A11-6 -55.48081 -2.07438 70,0 13,5 7,0 11,0
A20-8 -55.85027 -2.16694 65,0 5,0 5,0 8,0
A20-3 -55.85899 -2.16949 45,0 9,0 5,0 4,0
A20-2 -55.85954 -2.1697 62,0 30,0 5,0 3,0
A20-8 -55.85027 -2.16694 65,0 5,0 5,0 8,0
A24 -55.7006 -2.1336 83,0 4,0 9,0 10,0
A25-5 -55.62375 -2.11164 73,0 3,0 8,0 8,0
A25-9 -55,6382 -2.08837 70,0 5,0 10,0 8,0
A33-18 -56.02098 -2.12951 68,0 4,0 8,0 15,0
A33-2 -56.00756 -2.13538 54,0 3,0 8,0 17,0
A33-19 -56.02158 -2.11454 65,0 9,0 8,0 5,0
A36-1 -55.57908 -1.95429 41,0 2,0 8,0 5,0
A36-3 -55.57214 -1.95136 53,0 2,0 1,0 8,0
A36-4 -55.5901 -1.94753 28,0 0,0 3,0 5,0
Tabela IV - Valores médios dos argilo-minerais encontrados nos Lagos:
Lagos n Montimorilonita quartzo sílica caolinita albita
Lago grande 5 72,200 4,300 7,300 8,400 0,900
Poção 3 69,000 6,333 9,333 11,000 2,333
Santa Ninha 3 57,667 8,167 7,333 7,667 0,667
Salé 4 59,250 12,250 5,000 5,750 1,250
Grande do Poção 3 75,333 4,000 9,000 8,667 0,000
Curumucuri 3 62,333 5,333 8,000 12,333 0,000
Açaí 3 40,667 1,333 4,000 6,000 0,000
Tabela V – Estações, coordenadas e valores da concentração de Material em
suspensão no interior da Várzea do Lago Grande do Curuai:
Estação Latitude Longitude MATERIAL EM SUSPENSÃO (mg/L)
I18 -2,11557 -56,02120 6,40
I19 -2,10324 -56,00765 13,70
I20 -2,10291 -56,00712 63,40
I21 -2,10357 -56,00663 43,75
I22 -2,14755 -55,89219 52,45
I24 -2,12309 -55,93843 48,40
I26 -2,11867 -55,97380 35,05
A20-A sup -2,19606 -55,80930 26,47
A20-A fundo -2,19606 -55,80930 28,85
I36 -2,19972 -55,80660 35,35
I38 -2,20582 -55,79990 24,67
I40 -2,21090 -55,79643 33,30
A24 -2,13360 -55,70060 160,85
A24 central sup -2,12567 -55,67261 154,90
A25 sup -2,11670 -55,63490 136,05
A25 meio -2,11670 -55,63490 142,55
A25fundo -2,11670 -55,63490 119,80
A26 Central sup -2,07895 -55,65891 138,35
A26 Central fundo -2,07895 -55,65891 150,30
Poção sup -2,16385 -55,66381 130,35
Poção fundo -2,16385 -55,66381 61,40
Amazonas -1,94603 -55,51078 92,53
A08 -2,11672 -55,46728 71,03
A09 sup -2,10850 -55,41740 66,91
A09 fundo -2,10850 -55,41740 58,11
A11 sup -2,05200 -55,48400 47,60
A11 meio -2,05200 -55,48400 35,77
A11 fundo -2,05200 -55,48400 44,06
A11 A -2,04999 -55,44915 54,05
Sta Ninha sup -2,05019 -55,48400 41,50
Sta Ninha fundo -2,05019 -55,48400 37,00
A05 sup -2,25050 -55,35120 44,30
A05 meio -2,25050 -55,35120 48,17
A05 fundo -2,25050 -55,35120 51,40
A05-3 -2,23982 -55,26873 40,80
A33-2 sup -2,13538 -56,00756 2,67
A33-2 fundo -2,13538 -56,00756 8,94
Tabela VI – Estações, coordenadas e valores de Isótopos de
13
C,
15
N; razão C/N e
valores percentuais de total de Carbono e de Nitrogênio:
Estações Latitude (Y) Longitude (X)
15
N
13
C C/N %C %N
Foz Sul 1 -2,23934 -55,37213 1,14 -31,01 10,19 9,301206 0,912447
A01-1 -2,24673 -55,14979 1,59 -26,55 7,18 1,536826 0,213976
A01-3 -2,21132 -55,19309 3,13 -27,28 8,52 2,255767 0,264897
A02-1 -2,20470 -55,23941 1,90 -26,45 7,49 1,995893 0,266612
A02 -2,20080 -55,21780 2,20 -26,26 7,51 1,687172 0,224699
A03-1 -2,19049 -55,32550 2,78 -26,07 8,59 3,001202 0,349399
A03-3 -2,23220 -55,33788 1,94 -24,19 9,92 2,400492 0,241953
A05 -2,25050 -55,35120 2,56 -25,72 7,59 2,031132 0,267527
A05-1 -2,25175 -55,32506 1,93 -23,31 8,37 1,725551 0,206158
A05-3 -2,23982 -55,26873 5,80 -26,44 17,11 21,04032 1,22952
A05 (>63) 2,37 -25,81 7,59 2,217555 0,292068
A09-2 -2,15303 -55,32514 3,73 -23,36 8,29 5,870824 0,708334
A09-4 -2,12283 -55,40744 3,44 -25,19 7,01 1,657029 0,236538
A09-5 -2,11450 -55,43272 2,87 -25,23 8,34 2,066045 0,247737
A09-6 -2,10375 -55,46388 3,30 -25,32 7,41 1,748342 0,235891
A09-8 -2,11406 -55,45738 2,57 -25,85 8,19 1,919038 0,23431
A09-9 -2,15359 -55,52559 2,54 -24,73 8,01 1,833446 0,228883
A09-5 (>63) 3,13 -24,58 8,71 1,806807 0,207445
A11 D -2,05208 -55,45210 -1,23 -26,49 9,20 0,617876 0,067124
A11-1 -2,05962 -55,49418 4,57 -28,79 24,05 30,92955 1,286298
A11-3 -2,07778 -55,50491 1,56 -24,86 8,07 1,31119 0,162486
A11-6 -2,07438 -55,48081 1,66 -23,42 8,35 1,246401 0,149318
A11-8 -2,05840 -55,48069 0,97 -25,02 7,49 1,531749 0,204508
A11-9 -2,06440 -55,48731 4,97 -29,45 13,88 37,33638 2,689924
A11-12 -2,04280 -55,47583 2,06 -25,75 7,74 1,072857 0,138563
A11-20 -2,08233 -55,46797 4,48 -23,22 9,39 4,291141 0,456777
A20 centro -2,16614 -55,82438 2,17 -25,52 9,13 1,887614 0,206843
A20-4 -2,16900 -55,85667 3,26 -23,84 8,99 3,61599 0,402407
A25-2 -2,15179 -55,61635 1,41 -23,03 7,08 1,120865 0,158273
A25-4 -2,12896 -55,62146 4,69 -29,22 15,23 30,75009 2,019023
A11-8 (>63) 1,45 -25,89 9,39 1,328687 0,141457
A25-7 -2,14618 -55,71562 1,99 -24,82 7,44 2,114558 0,284169
A25-9 -2,08837 -55,63818 3,68 -24,76 7,41 1,721977 0,232451
A26 -2,06680 -55,66730 2,27 -26,47 7,83 1,890211 0,241315
A26-1 -2,07391 -55,65638 4,07 -25,81 7,04 1,604175 0,2279
A27 -2,09249 -55,37213 2,78 -26,54 10,42 7,086248 0,680227
A33-2 -2,13538 -56,00756 1,40 -30,43 9,58 7,898557 0,824312
A33-3 -2,14385 -56,00392 1,95 -30,80 9,95 9,162407 0,920396
A33-18 -2,12951 -56,02098 0,80 -28,89 9,37 6,036324 0,644147
A33-19 -2,11454 -56,02158 1,65 -27,91 9,77 3,72923 0,381866
A36-1 -1,95429 -55,57908 0,42 -26,44 9,25 12,05361 1,30353
A36-3 -1,95136 -55,57214 0,87 -27,05 9,52 13,38564 1,405792
A36-4 -1,94753 -55,59010 0,46 -26,22 8,92 11,78411 1,321672
A20-16 total -2,15191 -55,81454 1,00 -25,37 8,27 0,931391 0,112599
A20-9 total -2,14547 -55,86974 2,43 -26,01 7,24 2,301703 0,318123
A02 (>63) 1,19 -24,53 6,54 0,598258 0,091479
A20 centro (>63) 1,10 -25,00 7,02 1,833411 0,261137
A25-7 -2,14618 -55,71562 3,04 -23,52 7,55 1,619562 0,214465
A26-1 (>63) 4,10 -29,82 38,15 32,32423 0,84725
A33-18 (>63) 2,28 -29,03 12,56 20,01631 1,593255
A36-1 (>63) 0,89 -27,89 12,60 32,21328 2,55571
Classificação dos minerais presentes nas amostras:
1- Quartzo
Classe: Tectosilicatos
Sistema cristalino: romboédrico
Fórmula: SiO
2
Minerais Associados: Galene, Pirita. Sphlérita, Barytine, Biotita, Microcline,
Muscovita
Forma: Cristais prismático alongados, terminado por uma pirâmide hexagonal,
igualmente em massas compactas
Clivagem: Inexistente
Classe: Tectosilicatos
Freqüência: o mais abundante dos minerais na crosta terrestre
Depósitos: mineral ubiquiste: a maioria das rochas eruptivas, sedimentares e
metamórficas, pegmatitas, filons hidrotermais, etc.
2- Caolinita
Classe: Filosilicatos
Sistema cristalino: triclínico
Fórmula: AlSi
2
O
5
(OH)
4
Minerais associados:
silicatos muito nobres, freqüentemente óxidos de ferro
Lista de minerais associados: dickite, halloysite, ilita, muscovita, quartzo
Forma: em massa e todos agregados criptocristalinos, cristais muito raros e sempre
minúsculos.
Clivagem: não dircernivel
Classe: filossilicatos
Utilização: muito nobres: cerâmica, industria de borracha, indústria química
(materiais enchangeuses de íons, saponificantes, dégraissants), etc.
Depósitos: e rochas nobres: proveniene da alteração hidrotermal ou atmosférica
dos silicatos dealumínios, notavelmente os feldspatos.
3- Ilita
Classe: Filosilicatos
Sistema cristalino: monoclínico
Fórmula: (K, H
3
O)Al
2
(Si
3
Al)O
10
(H
2
O,OH)
2
Minerais associados: Caolinita, Montmorilonita, Muscovita, quartzo
Forma: em masses sempre criptocristalinas.
Clivagem: fácil e perfeita
Frequência: mineral muito frequente
Depósitos: em rochas nobres: proveniente da alteração hidrotermal ou atmosférica
de silicatos de alumínio, notavelmente os felspatos, costituinte importante de rochas
argilosas.
4. Esmectita
Classe: Filossilicatos
Sistema cristalino: monoclínico
Fórmula: (Na, Ca)
0,3
(Al,Mg)
2
Si
4
O
10
(OH)
2n
H
2
O
Minerais associados: Ilita, Caolinita, Muscovita, Quartzo
Forma: Em masses sempre criptocristalinos.
Clivagem: perfeita
Frequência: mineral muito frequente
Depósitos: provenientes da alteração atmosférica das rochas eruptivas básicas
constituem importancia de certas rochas argilosas.
Figura I – mapa com a localização e nome das estações de material em suspensão
Figura II- Mapa com a localização de todas as amostras coletadas para o estudo sedimentar da Várzea do Lago Grandedo Curuai.
Figura IIII – Mapa geológico da Várzea do Lago Grande do Curuai.
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