feita a nova cidade e onde existem 160 mil favelados, é natural, Senhor Presidente,
que não apenas um cidadão brasileiro, mas muitos, procuram por ressaltar a
gravidade da situação, como um esforço cumprir este dever, aproveitando as
oportunidades que tenho de transportar os clamores populares para dentro desta
Casa, numa tentativa de fazer com que esta cúpula invertida que sobreposta está a
este edifício as lágrimas das massas sofredoras.
44
Ao apelo em relação dos miseráveis, Brizola conjugou a necessidade do engajamento e
adiantamento dos trabalhos da Comissão Especial que emitiria o parecer sobre o projeto de
emenda constitucional da reforma agrária. Verifica-se o pedido de prioridade pelo ex-
governador gaúcho ao processo de aprovação do projeto:
Sr. Presidente, já foi constituída a Comissão Especial para dar parecer sobre o
projeto de emenda constitucional, objetivando a realização da reforma agrária,
segundo o princípio da desapropriação por interesse social, como a indenização por
títulos da Dívida Pública. Lamentavelmente, Sr. Presidente, até agora a Comissão
não pode reunir-se. Eu quero dizer a V. Exa. que vim esta semana para os trabalhos
da Câmara justamente pensando em participar desde logo dos trabalhos dessa
Comissão, e que – repito – por motivos certamente respeitáveis ainda não se reuniu,
no dia imediato à sua formação, por motivos independentes, inteiramente, da minha
pessoa, porque, por mim, ela teria se reunido. Nesta oportunidade, desejo formular
um apelo aos integrantes daquele órgão, por intermédio de V. Exa., para que desde
logo se volte às suas tarefas, ao menos para fazer pois, segundo as decisões da
Convenção da UDN e, de outra parte, de um manifesto da Ação Democrática
Parlamentar, já está formado aquele terço necessário do Congresso que significa
veto a qualquer alteração da Constituição, sabendo-se que não pode haver reforma
agrária séria, autêntica, sem reforma da Carta Magna. Faço essa ressalva e um apelo
a V. Exa., a fim de que a Mesa, colaborando com os demais integrantes desta
Comissão, tome também providências para que efetivamente passe a funcionar e,
com isso, dê cumprimento a sua missão, aguardada ansiosamente pelo povo
brasileiro...
45
Referia-me à reforma agrária. Sugeri, com relação ao projeto enviado
por S. Exa., o Sr. Presidente da República à Câmara, se desse prioridade à reforma
agrária, sobre todas as demais reformas, tramitando sob forma de emenda
constitucional. Sugeri a inclusão de um dispositivo que institui a propriedade
familiar, o chamado mínimo vital e a isenção de impostos para as operações da
reforma.
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Brizola reputava a estrutura agrária brasileira como antidemocrática, anticristã e anti-
humana. Dizia também que a estrutura econômico-social brasileira era função de processo
espoliativo a que estava submetida. Enfocou cinco pontos, como sendo os principais para a
reforma agrária: homem, terra, organização, produção e mercado. Não acreditava na coalizão
com o PSD para aprovação da reforma agrária por entender que as propostas pessedistas eram
lesivas ao interesse nacional.
47
A oposição de Brizola ao PSD influenciaria posteriormente na
derrota do projeto de reforma agrária encaminhado por Jango ao Congresso, aumentando a
rejeição dos social-democratas ao governo. Brizola advogava a aprovação do projeto de reforma
44
Diário do Congresso Nacional, em 26 de março de 1963.
45
Diário do Congresso Nacional, em 3 de maio de 1963.
46
Diário do Congresso Nacional, em 4 de maio de 1963.
47
Correio da Manhã, em 14/05/1963, p. 14.