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torturaram com alicate de pressão, tentaram introduzir uma garrafa no meu ânus.
Mas, a todo o momento, eu dizendo que era pai de família, que era trabalhador.
Eles tentaram introduzir uma garrafa no meu ânus. Mandando eu ficar de quatro,
fizeram eu comer capim e a o todo momento eles estavam perguntando quanto que
eu poderia levantar. Passei pelo menos por esse determinado tipo de tortura por
volta de 2 horas sendo torturado. Eles me agrediam, fechavam a caçapa e abriam a
caçapa, me agrediam de novo. [...]. Todos eles fardados. No primeiro momento,
eles perguntaram quanto eu poderia levantar para eles. Eu no desespero, depois que
eu já havia sofrido vários tipos de torturas: pauladas, garrafada, tentaram me
molestar sexualmente querendo me diminuir, e eu falando que era sujeito homem.
No desespero eu falei R$ 200,00, R$ 300,00, R$ 500,00. Eles fecharam a caçapa e
começaram a rir de mim: “o que é isso! Você está de sacanagem? Está de
brincadeira? Você está zoando com a minha cara? Alegaram, perguntando se eu
possuía ouro. Eles ficaram sabendo que eu tinha “ourinho” ou uma “pecinha”. Eu
falei a o todo momento que traficante é esse que anda com um chinelo colado com
“cascola” e com R$ 36,00 no bolso. E até esse dinheiro eles levaram. E que
“pecinha”, que eu não sabia em que sentido seria essa “pecinha”. Nem seta eu
tinha, atiradeira, imagina arma de fogo, alguma coisa... A todo momento eu sofri
todos os tipos de torturas. Um deu um tiro no meu ouvido sem bala, outro deu um
tiro com arma de fogo que eu não consegui vê-lo. Deu um disparo com arma de
fogo, fez um barulho na minha cabeça, parecia que eu estava morrendo. Mas tinha
sido um tiro, tiro sem bala, tiro de pistola sem bala, eu só escutei o barulho: tec, tec,
tec... na minha cabeça. [...]. E eu com isso, com medo, no primeiro momento fiquei
muito preocupado com medo e procurei ajuda dos meus familiares, que graças a
Deus eu tive uma educação imensa. Peço a Deus que a educação que meu pai e
minha mãe me deu, apesar deles serem separados. Mas o meu pai, meus amigos,
todo mundo procurou conversar comigo, me deixar tranqüilo. E num primeiro
momento eu não queria denunciar. Eu fiquei com medo porque a gente sabe hoje
em dia como é que é a polícia, como é que são as coisas, porque eu tenho filhos,
minha casa não tem tanta segurança, é em um local aberto. Entendeu? E graças a
Deus com a ajuda dos meus familiares eu tive força, e de alguns amigos, para
denunciar e coagir esses maus elementos. Denunciando eles, do mesmo jeito que
eles fizeram comigo, eles já fizeram isso com dezenas de pessoas, nem todos
tiveram a coragem que minha família me deu para eu tomar uma decisão dessa. Eu
sei que é muito perigosa, é uma decisão que é um estopim do limite de vida que
você pode ter. Você tem que deixar sua casa, você tem que deixar tudo. Viver com
medo. [...] Eu entrei em contato com o meu pai, ele trabalha no meio político com a
senadora Heloísa Helena, com o deputado Babá, deputado Chico Alencar que são
amigos dele. Eles se juntaram e pediram para eu recorrer a Corregedoria Geral
Unificada que é um órgão que está aí para ajudar a sociedade. Até então o próprio
coronel Antunes que atendeu a meu pai primeiro e depois me atendeu, foi muito
educado. Eu entrei em contato com o meu pai, ele trabalha no meio político com a
senadora Heloísa Helena, com o deputado Babá, deputado Chico Alencar que são
amigos dele. Eles se juntaram e pediram para eu recorrer a Corregedoria Geral
Unificada que é um órgão que está aí para ajudar a sociedade. Até então o próprio
coronel Antunes que atendeu a meu pai primeiro e depois me atendeu, foi muito
educado (informal verbal).
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Perguntei também como foi o atendimento realizado pela CGU, como foi montada a
operação de flagrante e como se deu o reconhecimento pessoal:
O atendimento foi ótimo, com muita preocupação e dedicação em dar total
tranqüilidade a mim e a minha família. Até então não tenho nada a falar, só tenho a
agradecer a todos eles, a equipe toda. Dos inspetores, dos policiais que me
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Entrevista concedida pela vítima de tortura no dia 11 de dezembro de 2005. A entrevista na íntegra encontra-
se, em anexo (volume 2).