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Fernando Pacífico Homem
EXPEDITO VIANNA: um flautista à frente de seu tempo
Artigo apresentado ao Programa de Pós-Graduação da Escola
de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música.
Área de concentração: Performance Musical.
Linha de Pesquisa: Flauta Transversal – Pedagogia
Orientador: Prof. Dr. Maurício Freire Garcia
Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Música
Maio de 2005
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao mestre Expedito Vianna, fonte de inspiração deste trabalho, pelo
exemplo de vida e dedicação a arte.
Aos amigos Myriam Rugani e Luis Cláudio Vianna, sem os quais não teria sido
possível documentar a obra do mestre.
Ao Professor Maurício Freire, meu orientador, pelo valioso auxílio na elaboração
deste trabalho.
Aos colegas da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Alexandre, Pedro e
especialmente Pamela pelo auxílio nas traduções.
Aos Professores Sérgio Freire, Arthur Andrés e Alberto Sampaio, cuja ajuda foi
fundamental na gravação das experiências apresentadas.
Aos ex-alunos de Expedito Vianna, colegas de profissão, sempre prontos a
relembrar e fornecer dados sobre a obra do mestre.
À Professora Rosangela Almeida, pela colaboração na revisão do texto.
Ao Professor Cláudio Urgel e ao colega Jonatas Reis pela ajuda na editoração das
partituras.
À minha esposa Eliane, pela compreensão e grande incentivo.
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S U M Á R I O
RESUMO E PALAVRAS CHAVE................................................................ 4
ABSTRACT................................................................................................ 5
INTRODUÇÃO........................................................................................... 6
1. A ALTERAÇÃO DO TIMBRE ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DAS
VOGAIS.................................................................................................
8
2. APLICAÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE SONORIDADE DE MARCEL
MOYSE NO ESTUDO DE TRECHOS DIFÍCEIS DO REPERTÓRIO..
19
3. A UTILIZAÇÃO DO REAGRUPAMENTO DE NOTAS PROPOSTA
POR VIANNA.........................................................................................
26
4. O ESTUDO DE TONALIDADES BASEADO NA TRANSPOSIÇÃO
DE MELODIAS FÁCEIS........................................................................
30
5. OS EX-ALUNOS................................................................................... 32
6. CONCLUSÃO........................................................................................ 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................
38
8. ANEXOS................................................................................................ 41
A - Manuscritos de Expedito Vianna utilizando o reagrupamento de
notas em séries extraídas das obras O Carnaval dos Animais de
C. Saint Saens e Leonore de Beethoven.........................................
B - Edição dos manuscritos através do programa Finale.......................
C - Entrevista feita como Expedito Vianna em junho de 2004...............
D - Questionário distribuído aos ex-alunos............................................
E- Gravação do recital final em CD........................................................
42
45
48
52
55
4
RESUMO
Expedito Vianna foi um flautista e professor com expressiva atuação em Belo Horizonte
MG e Salvador BA entre as décadas de 60 a 80 do século passado. Através de um
trabalho de pesquisa pioneiro no Brasil, propôs metodologias, até então, inéditas para o
estudo da flauta transversal. Técnicas de utilização de fonemas, deslocamento rítmico e
transposição não somente foram inéditas no Brasil em seu tempo, como também
continuam a fornecer ainda hoje importantes ferramentas para seus ex-alunos em
atividade profissional. Expedito Vianna esteve à frente de seu tempo e de seus colegas
brasileiros de sua geração. Suas idéias continuam atuais. Ainda hoje diversos flautistas
e professores ao redor do mundo vêm utilizando práticas pedagógicas e técnicas
semelhantes.
Abordamos as quatro principais propostas pedagógicas de Expedito Vianna: a alteração
no timbre através da utilização das vogais, a aplicação dos estudos de sonoridade de
Marcel Moyse no estudo de trechos difíceis do repertório, a solução de problemas
técnicos através do reagrupamento de notas e o estudo de tonalidades baseado na
transposição de melodias simples.
Confrontamos o trabalho de Vianna com o de outros autores e flautistas da atualidade
para comprovar sua validade e inserção no panorama atual do ensino da flauta.
Vianna nunca se preocupou em ser aclamado como uma “estrela” no mundo dos
flautistas. Suas idéias se disseminaram porque constituem instrumentos didáticos
eficazes. Vários de seus ex-alunos hoje ocupam importantes posições profissionais em
várias partes do Brasil. Esta é, sem dúvida, a maior prova da eficácia de suas idéias.
Palavras chave: flauta, Expedito Vianna, sonoridade, mecanismo, pedagogia, ressonância
das vogais, timbres.
5
ABSTRACT
Expedito Vianna was an extremely active and influential flutist and teacher in Belo
Horizonte, MG (Brazil) and Salvador, BA (Brazil) from the 1960's to the 1980's. Through
pioneer research, he proposed methodologies for the study of the flute, that were before
their time in Brazil. Some of his techniques, such as the use of phonemas, rhythmic
dislocation, and transposition, once considered innovative, still serve as important tools
for his former students in their professional lives today. Expedito Vianna was not only
ahead of the Brazilian flutists of his generation, but his ideas were so ahead of his time
that even today they remain current. Many flutists and teachers around the worfd today
utilize similar techniques and pedagogic practices.
Four of Vianna's main pedagogic techniques will be discussed in this study: altering
sound quality through the use of vowels, solving difficult excerpts from the flute
repertoire by re-grouping notes, the application of Marcel Moyse's sonority exercises for
difficult flute passages, and tonal studies based on transposing melodies.
Vianna's work will be compared with that of other present-day flutists and authors to
show its validity within the broader spectrum of modem flute teaching.
Vianna never concerned himself with seeking musical acclaim or stardom in the flute
world. His ideas spread simply because they constitute effective educational tools.
Several of his former students occupy important professional positions throughout Brazil
today, which is the greatest proof of the effectiveness of his ideas.
6
INTRODUÇÃO
Expedito Vianna, nascido em 1928, natural de Visconde do Rio Branco, Minas Gerais,
foi flautista, cantor e professor. Responsável pela formação de vários flautistas no
Brasil, tornou-se conhecido pela bela e inconfundível sonoridade obtida na flauta
através de um trabalho de pesquisa. Vianna veio de uma tradicional família de músicos.
Em sua família, onze irmãos estudaram música, tendo seis deles atuado como
profissionais em orquestras. Iniciou seus estudos no flautim aos sete anos de idade,
em sua cidade natal com o irmão Sebastião Vianna. Transferindo-se para Belo
Horizonte MG, ingressou na Orquestra Sinfônica da Polícia Militar em 1954. Em 1958,
foi estudar em Salvador-BA, nos Seminários Livres de Música, idealizados por Hans
Joaquim Kollreuter. Ali cursou flauta com Armin Guttman, canto com Hilde Sinnek e
matérias teóricas com H. J. Kollreuter. Retornando a Belo Horizonte, iniciou o curso de
bacharelado em flauta transversal no antigo Conservatório, hoje Escola de Música da
UFMG, vindo a concluí-lo em 1964 na classe do professor Fausto Assumpção. Ainda
em 1964, Expedito Vianna voltou aos Seminários Livres de Música da Bahia, desta vez
como professor e flautista da orquestra por um ano. De volta a Belo Horizonte assumiu
o cargo de professor da Escola de Música da UFMG onde permaneceu até sua
aposentadoria em 1992, tendo ainda atuado, de 1981 a 1988, como primeiro flautista da
Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – OSMG.
Neste trabalho abordamos as quatro principais propostas pedagógicas de Expedito
Vianna para o estudo da flauta transversal:
- A alteração dos timbres através da utilização das vogais.
7
- A aplicação dos exercícios de Marcel Moyse
1
no estudo de trechos difíceis do
repertório.
- A utilização do reagrupamento de notas para o estudo de dificuldades.
- O estudo de tonalidades baseado na transposição de melodias fáceis.
Nosso objetivo é o resgate e a validação do trabalho desenvolvido por Vianna, através
da comparação com autores recentes que vêm trilhando o mesmo caminho.
Procuramos demonstrar, através de experimentos e da análise comparativa das
técnicas supra mencionadas, que Vianna propôs uma pedagogia enfocando aspectos
até então não utilizados por flautistas brasileiros de sua geração.
Com relação à mudança de timbres, foi realizada a análise espectrográfica de amostras
de sons produzidos na flauta por três de seus ex-alunos. Estas alterações de timbres
provocadas pela mudança nas vogais foram comparadas por computador através dos
espectros gerados por notas nos registros grave, médio e agudo como será abordado a
seguir. A releitura dos estudos de Marcel Moyse, sobre a homogeneidade do som,
flexibilidade dos lábios, ataque e ligação, amplitude, é facilmente perceptível quando
analisamos os estudos de repertório idealizados por Vianna. São abordadas ainda suas
propostas para estudo de mecanismo na solução de passagens difíceis do repertório
baseadas no reagrupamento de notas e mudanças de acentuação, onde constatamos a
similaridade com o trabalho de outros autores estrangeiros. Esta coincidência com
publicações internacionais é clara também no caso do uso da transposição de melodias
fáceis para diferentes tonalidades. Foi utilizado um questionário com ex-alunos de
1
MOYSE, Marcel (1889-1984). Flautista e professor francês, autor de vários estudos e exercícios para o
instrumento. Foi fundador da Malboro Music School nos Estados Unidos. Seu estilo francês de tocar
influenciou toda a atual geração de flautistas.
8
Expedito Vianna, objetivando aferir se as técnicas propostas pelo mestre ainda vêm
sendo empregadas.
FIGURA 1 – Expedito Vianna em uma de suas últimas atuações antes de se aposentar.
Foto: Arquivo da família Vianna
1 – A ALTERAÇÃO DO TIMBRE ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DAS VOGAIS
Em suas pesquisas, Expedito Vianna utilizou empiricamente as modificações na
cavidade oral, nos lábios, língua e garganta produzidas pela mudança das vogais para
variação de timbres no som da flauta. A prática da utilização de fonemas nos
instrumentos de sopro relacionada à articulação é bastante antiga. Já em 1752, na
9
primeira edição de seu tratado sobre como se tocar a flauta transversa, Quantz
2
discorria sobre o tema, sugerindo combinações de fonemas para se obter diferentes
tipos de articulações. O flautista e professor brasileiro Raul Costa d’Avila aborda
detalhadamente o uso dos fonemas e sílabas como meios para obter diferentes formas
de articular os sons. Sua obra A Articulação na Flauta Transversal Moderna
3
reúne
importante coletânea de autores antigos e modernos discorrendo sobre o tema
articulação. São abordagens bem distintas. Vianna propõe a utilização da ressonância
das vogais direcionada à sonoridade. Os resultados obtidos através desta técnica
mostram-se extremamente úteis quando utilizados pelo flautista como recurso
expressivo, possibilitando alterações de dinâmica e mudança de timbres.
Todo som musical contém uma frequência fundamental e harmônicos. As freqüências
destes harmônicos são múltiplos da fundamental. Estes elementos em conjunto, são
chamados de parciais. Este é um fenômeno bastante simples de se compreender.
Quando, por exemplo, pinçamos uma corda de um violão, ela vibra simultaneamente
em sua extensão total e em subdivisões regulares, também chamados de modos de
vibração. Estas subdivisões vibram com mais velocidade, produzindo freqüências mais
altas do que a vibração fundamental, gerando sons mais agudos, que chamamos de
harmônicos. No campo da percepção auditiva, o ouvido humano geralmente responde à
presença destes harmônicos detectando apenas um som: a fundamental. Este
fenômeno é hoje facilmente detectado e estudado através da análise espectrográfica,
2
QUANTZ, Johann Joaquim, 1697-1773. On Playing the Flute – The classic of Barroc music Instruction.
2nd ed. Translated with notes and introduction by Edward R. Reilly. London: Faber and Faber, 1985,
republicação em 2001, 412 p.
3
D’AVILA, Raul Costa. A Articulação na Flauta Transversal Moderna – Uma abordagem histórica, suas
transformações, técnicas e utilização. São Paulo: Faculdade de Música Carlos Gomes, 2000, 189 p.
10
que produz uma espécie de “fotografia” do som. Esta “fotografia” é a representação
gráfica do conjunto e da intensidade das freqüências fundamentais, harmônicos e
ruídos presentes. Ela inclui todos os elementos que juntos formam a impressão de um
determinado som. Cada instrumento ou voz possui sua composição específica de
harmônicos e ruídos que são fatores determinantes na definição do timbre.
Foi o cientista alemão Hermann von Helmholtz
4
que, em torno de 1860, revolucionou o
conhecimento sonoro ao sistematizar a relação entre o timbre de um determinando som
e os elementos espectrais que o compõe. Um som mais estridente revelaria mais fortes
os parciais mais altos, ao passo que um som mais escuro muito menos ou quase
nenhum deles.
A pesquisa de Vianna sobre sonoridade na flauta transversal foi intimamente
relacionada ao canto e a manipulação dos harmônicos. Como excelente tenor, Vianna
detectou alterações nos harmônicos presentes na voz provocadas pela mudança das
vogais. Relacionando com o som da flauta, Vianna observou que a mudança no formato
da cavidade oral provocada pela alternância entre as vogais provocava também
mudanças no timbre de um mesmo som do instrumento. Neste caso as vogais não são
pronunciadas concomitantemente com a produção do som na flauta. Apenas a forma da
cavidade oral, alterações nos lábios, garganta e língua originadas por determinada
vogal são conservadas ao se soprar. Variações sutis no timbre e intensidade de uma
mesma nota aparecem com o uso desta técnica. Tais variações constituem importantes
4
HELMHOLTZ, von Hermann (1863). On The Sensations of Tone as Physiological Basis of Theory of
Music. After the 2 nd English Ed. 1885. Translated by Alexander Ellis, New York : Dover Publications,
1954.
11
ferramentas de interpretação para os flautistas, considerando a limitada capacidade de
variações de dinâmica na flauta quando comparada a outros instrumentos. Como não
dispunha de aparato científico na época para análise dos resultados obtidos, Vianna
baseou-se apenas em sua aguçada percepção auditiva.
Indagado sobre o que motivou suas pesquisas, Vianna relatou que ouvindo o tenor
Beniamino Gigli
5
identificou harmônicos na voz que coincidiam com a pronúncia de
determinadas vogais. Impressionado com a descoberta, passou a praticar ele, mesmo
como cantor, alternando as vogais na produção de um mesmo som e observando os
harmônicos originados através desta mudança. O próximo passo foi aplicar o mesmo
processo no estudo de sonoridade da flauta. O processo é relativamente simples:
Pronuncia-se a vogal sem o instrumento com a voz plena. Em seguida, conservando-
se a mesma abertura interna da boca e da cavidade nasal toca-se uma nota no registro
grave da flauta sustentando-a até a expiração completa. Verifica-se auditivamente o
timbre obtido (maior ou menor presença de harmônicos). Inicia-se novamente o mesmo
processo com cada uma das vogais (a, e, i, o, u, ê).
O pesquisador norte americano Robert Cogan
6
desenvolveu importantes trabalhos
sobre a análise espectrográfica dos timbres da voz humana e dos instrumentos
musicais. Comprovou através deste método que vogais estridentes como o (é) e (i) são
diferenciadas das vogais mais suaves como (a) e (u) pelos seus parciais mais altos.
5
GIGLI, Beniamino (1890-1957) Tenor italiano internacionalmente famoso como cantor de ópera sendo
considerado o sucessor de Caruso. Seu estilo um pouco sentimental adequava-se especialmente à
música de Puccini. Apersentou-se várias vezes no Brasil.
6
COGAN, Robert. New Images of Musical Sound. Cambridge Massachusets: Publication Contact
International,1998.177 p.
12
Cogan detectou diferenças nos parciais de um mesmo som ao se alterar as vogais na
voz feminina.
FIGURA 2 – Detalhe do espectro de uma mesma nota cantada por voz feminina alternando as vogais
é,i,a,u. As linhas numeradas indicam os parciais. Nota-se que as vogais ( é ) e ( i ), classificadas por
Cogan como mais estridentes, apresentam maior intensidade relativa nos parciais mais agudos.
Fonte: COGAN, Robert. Op. cit. p. 10
O flautista, lingüista e professor escocês Mike MacMahon
7
, em recente artigo divulgado
na internet
8
, aborda uma técnica muito semelhante à de Vianna. Recomenda
pronunciar cada vogal (A,E,I,O,U) separadamente com a voz, sem a flauta, na frente do
espelho observando as mudanças ocorridas nos lábios, língua e garganta. Em seguida
repete-se o processo, ainda sem a flauta, utilizando a mesma abertura da cavidade oral
utilizada para cada vogal, em silêncio. Finalmente toca-se um mesmo som na flauta
alternando-se as vogais. Diferentes nuances e coloridos no som podem ser criados
utilizando-se este processo. Cabe ressaltar que no artigo pesquisado este autor trata da
velocidade do ar e do ângulo da coluna de ar relacionada à posição da mandíbula do
7
Mike MacMahon é professor de fonética da Glasgow University e membro do Conselho da International
Phonetic Association. É flautista e picolista da Glasgow Symphony Orchestra.
8
MACMAHON, Mike. Throat resonance, vowel sounds. Disponível no site
http://www.larrykrantz.com/mike.htm Consulta realizada em 15/10/2004.
13
flautista quando se alternam as vogais. A influência da ressonância das vogais no som
não é diretamente mencionada.
Em recente master class apresentada no VI Encontro Internacional de Flautistas
realizado pela Associação Brasileira de Flautistas – ABRAF em Salvador BA, o flautista
sueco Anders-Ljungar Chapelon apresentou séries de vogais a serem aplicadas em
notas específicas para facilitar a emissão e melhorar a qualidade do som. As vogais
foram divididas em dois grupos: vogais básicas e vogais nasais. Neste caso, a forma
dos lábios, a posição da língua e a cavidade oral estão diretamente relacionados a
fonemas exemplificados pelo autor através de palavras extraídas da língua francesa.
Este método, apesar de evocar os mesmos princípios utilizados por Vianna, nos parece
mais difícil de ser aplicado e menos adequado à realidade brasileira. Em primeiro lugar,
temos a diferença do idioma que impõe dificuldades na pronúncia dos fonemas
apresentados. Em segundo, verificamos que a abordagem de Vianna é mais simples,
uma vez que utiliza apenas as vogais A,E,I,O,U,Ê, exatamente como pronunciadas na
língua portuguesa, indistintamente para qualquer nota ou região do instrumento. Não há
necessidade de se memorizar vogais específicas para notas específicas. Cabe ressaltar
não foi apresentada, no referido encontro da ABRAF, qualquer comprovação científica
sobre a eficácia da técnica ensinada pelo flautista sueco.
14
FIGURA 3 – Quadro com vogais classificadas por Chapelon como básicas e nasais na língua francesa.
São utilizadas palavras para exemplificar a pronúncia das vogais
através de fonemas. Nota-se que as
combinações de vogais são aplicadas a notas específicas com a finalidade de facilitar e melhorar a
emissão do som.
Fonte: CHAPELON, Anders-Ljungar. French Vowel Positions in relation to “Sons Naturel”. Manuscrito
distribuído em Salvador durante a Master Class para o VI Festival Internacional de Flautistas em
18/9/2004.
15
Com o objetivo de verificar estas possíveis alterações nos parciais presentes no som da
flauta alternando-se as vogais, gravamos três ex-alunos de Expedito Vianna. Com esse
experimento, buscamos aferir a eficácia da técnica e parâmetros comuns entre os três
flautistas. O registro foi feito em maio de 2004, no estúdio da Escola de Música da
Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG com a participação dos flautistas e
professores Maurício Freire Garcia, Arthur Andrés e Fernando Pacífico. Foram
escolhidas as notas Re 5, Sol 4 e Re 3 como amostras dos registros grave, médio e
agudo do instrumento. Cada flautista gravou todas as notas escolhidas alternando as
vogais A,E,I,O,U,Ê
9
. Foi feita a análise espectrográfica das amostras sonoras
registradas. Analisamos 54 espectrogramas relativos às gravações dos três flautistas
tocando cada uma das notas escolhidas alternando-se as vogais. Em cada
espectrograma analisado constatamos significativas diferenças na presença e
intensidade dos parciais quando os flautistas alternavam as vogais. Tal fato ocorreu
indistintamente com todos os três flautistas pesquisados. Entretanto, não foi possível
estabelecer um padrão espectral para cada vogal comum aos três instrumentistas. Para
exemplificar e comprovar o experimento demonstramos, a seguir, três dos
espectrogramas analisados. Nos gráficos abaixo o eixo vertical da esquerda, indica a
freqüência em escala logarítmica, o eixo vertical da direita representa a intensidade
relativa dos parciais através de cores. O eixo horizontal representa a duração de cada
nota emitida. Pode-se notar que em todos os três exemplos, há uma estreita coluna
vertical no gráfico intercalando cada som. Isto se explica porque os flautistas, antes de
“tocar cada vogal” pronunciaram a mesma em voz alta apenas para efeito de
identificação.
9
A vogal “Ê” fechada tal como se pronuncia “vez” era também utilizada por Vianna.
16
GRÁFICO 1 – Análise espectrográfica computadorizada da nota Ré 5 (registro agudo),
alternando-se as vogais a,e.i,o,u,ê tocada pelo flautista Arthur Andrés.
1) escala logarítmica representando a freqüência da nota em Hertz
2) tempo
3) intensidade relativa representada em cores que vão do violeta – menor intensidade ao
vermelho – maior intensidade
4) espectro da voz do flautista ao anunciar cada e vogal nota antes de tocá-la
5) as seis linhas coloridas representam a fundamental, ou primeiro parcial de cada uma
das seis vogais utilizadas: a,e,i,o,u,ê. Nota-se que a maior alteração de intensidade
acontece entre as vogais (a) e (e) como demonstrado pela variação na cor vermelha.
6) a intensidade do segundo parcial varia em cada uma das vogais. Nota-se a variação da
escala de cores em todas as seis linhas.
7) a variação da intensidade do terceiro parcial é menor do que no caso anterior.
8) o quarto parcial praticamente não aparece nas vogais (a) e (u). Nas demais sua presença
oscila, mas a intensidade se mantém.
9) a intensidade do quinto parcial é baixa em todas a vogais, mas sua presença oscila,
quase desaparecendo nas vogais (i) e (ê).
17
GRÁFICO 2 - Análise espectrográfica computadorizada da nota Sol 4 (registro médio),
alternando-se as vogais a,e.i,o,u,ê tocada pelo flautista Mauricio Freire.
1, 2, 3 e 4 idem ao gráfico anterior
5) as variações de intensidade no primeiro parcial são discretas ao se alternar as vogais.
Ocorrem principalmente na vogal (u), onde a cor amarela presente indica menor
intensidade em relação ao vermelho das demais.
6) o segundo parcial está presente apenas na vogal (a) com pouca intensidade indicada
pela cor azul. Nas demais praticamente não aparece.
7) a maior intensidade do terceiro parcial é verificada na vogal (a), representada pela cor
verde. Nas demais há variações mais discretas. A presença deste parcial oscila nas vogais
(e) e (i).
8) a maior intensidade do quarto parcial pode ser notada nas vogais (a), (e), (o), (ê), onde a
cor verde predomina. Nas vogais (i) e (u) este parcial aparece com menor intensidade, mas
não oscila.
9) o quinto parcial aparece apenas na vogal (a) e com pouca intensidade. Nas demais ele
está praticamente ausente.
10) verifica-se a discreta presença do sexto parcial nas vogais (a), (e), (o), (ê) com
oscilações, tendendo a se estabilizar na vogal (ê).
18
GRÁFICO 3 - Análise espectrográfica computadorizada da nota Re 3 (registro grave),
alternando-se as vogais a,e.i,o,u,ê tocada pelo flautista Fernando Pacífico.
1,2,3 e 4 idem aos gráficos anteriores
5) o primeiro parcial aparece em todas as vogais com baixa intensidade.
6) segundo parcial aparece com intensidade bem maior que o primeiro nas vogais (a), (e),
(o), (ê), como indicado pela cor amarela esverdeada. Na vogal (i) aparece com baixa
intensidade e oscila. Na vogal (u) aparece com baixa intensidade, mas permanece estável.
7) o terceiro parcial está presente com maior intensidade na vogal (u). Na vogal (e) aparece
com baixa intensidade e oscila. Nas demais aparece estável e com baixa intensidade.
8) o quarto parcial aparece com baixa intensidade em todas as vogais, com oscilações nas
vogais (a) e (o).
9) o quinto parcial aparece com intensidade média em praticamente todas as vogais.
10) o sexto parcial aparece com intensidade média nas vogais (o) e (ê). Nas demais
aparece estável, porém com baixa intensidade.
Analisando os três exemplos apresentados, concluímos que em todos os casos houve
alteração na presença e intensidade dos parciais contidos em cada nota tocada ao se
19
mudar as vogais. Tal fator ocorre nos três registros (agudo, médio e grave) e também
ocorreu em notas tocadas por três diferentes flautistas que dominam a técnica.
Esta experiência valida a teoria de Expedito Vianna sobre a possibilidade de utilização
das vogais para se alterar a intensidade e presença dos harmônicos no som da flauta,
abrindo várias possibilidades para a interpretação musical através da mudança de
timbres no som do instrumento.
2 – A APLICAÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE SONORIDADE DE MARCEL MOYSE NO
ESTUDO DE TRECHOS DIFÍCEIS DO REPERTÓRIO.
Expedito Vianna empregou as técnicas de sonoridade propostas por Marcel Moyse em
sua conhecida obra De La Sonorité – Art e Technique
10
no estudo de passagens
difíceis do repertório. Trata-se sem dúvida de uma releitura da obra, aplicando-a de
forma prática na solução de problemas. No capítulo Colorido e Homogeneidade do Som
da referida obra, Moyse propõe praticar séries pré-fixadas de intervalos de segunda
menor, segunda maior, segunda aumentada e terça maior em escalas descendentes
partindo do Si5. As notas são agrupadas de duas em duas, três em três, cinco em
cinco, etc, em movimento descendente até o Dó3. O mesmo trabalho é realizado em
escalas ascendentes partindo do Si5 em direção ao Si6.
10
MOYSE, Marcel. De La Sonorité-Art e Technique. Paris: Alphonse Leduc Editions Musicales, 1976.
28p.
20
Ascendentes
FIGURA 4 – Moyse op.cit. p. 6 e 9
Vianna propunha a utilização deste método aplicado a passagens do repertório de difícil
execução. As notas são tocadas lentamente tal como aparecem no trecho musical e
agrupadas como no exercício desenvolvido por Moyse. Os intervalos são praticados
exatamente na ordem em que aparecem no trecho escolhido e não como na obra de
Moyse em que aparecem em séries pré-fixadas.
Segundo Vianna a prática lenta das passagens favorece a coordenação motora e
permite aos lábios se ajustarem de maneira lenta e gradativa às notas de difícil emissão
e às mudanças de registro requeridas no trecho. O flautista James Galway em sua
conhecida obra Flute
11
, recomenda o estudo lento destes exercícios, mas não
menciona sua aplicação no estudo de trechos difíceis do repertório.
Na mesma obra, Moyse propõe exercícios para flexibilidade dos sons graves. Grupos
de quatro notas são praticados sucessivamente em semibreves, mínimas pontuadas,
mínimas, semínimas e colcheias sempre se partindo da dinâmica pianíssimo,
crescendo-se até o fortíssimo e retornando-se ao pianíssimo.
11
GALWAY,James. Flute, London: Schimers Books, 1982, 244 p.
21
FIGURA 5 - Moyse. Op. cit. p.10 e11
Este trabalho, segundo Moyse, visa submeter os lábios a uma rígida disciplina e treina-
los a conduzir o som, executando as nuances da melodia segundo o desejo do
compositor e não segundo seus próprios caprichos.
Expedito Vianna aplicou também este exercício na solução de passagens difíceis. As
notas do trecho eram separadas de quatro em quatro, conservando os mesmos
registros e intervalos em que foram escritas na obra. Em seguida eram trabalhadas em
diferentes valores e dinâmicas, tal como proposto por Moyse, sempre se cuidando da
afinação e qualidade do som.
Para Vianna esta também era uma forma eficaz de trabalhar passagens difíceis de
forma lenta, com especial atenção à sonoridade e afinação. Observa-se que Moyse
recomenda este trabalho apenas no registro grave e excepcionalmente nos médios
através de séries por ele propostas em seu método. Vianna utiliza o mesmo processo
aplicando-o em trechos de dificuldade, independente do registro em que as notas
aparecem na obra.
22
Ainda baseando-se no trabalho de Moyse o ataque também era exercitado nas séries
extraídas do repertório por Vianna. O trecho de uma determinada série poderia ser
executado tal como proposto por Moyse no capítulo Ataque e Ligação dos Sons.
FIGURA 6 – Moyse. Op. cit. p.15
Outra abordagem de Vianna, dentro da mesma obra foram os exercícios concebidos
por Moyse para a amplitude do som. Aqui também o trabalho proposto por Moyse era
aplicado diretamente em notas de difícil emissão dentro da peça estudada.
FIGURA 7– Moyse. Op. cit. p.23
23
Como exemplo de aplicação da referida obra de Moyse na solução de passagens do
repertório, idealizada por Vianna, selecionamos um trecho do solo da abertura Leonore,
de Beethoven
11
. No trecho delimitado por colchetes, utilizamos os exercícios de
sonoridade de Moyse tal como proposto por Vianna.
FIGURA 8- Parte do solo de flauta da abertura Leonore Nº 3. Utilizamos o trecho selecionado por
colchetes como exemplo da aplicação dos exercícios de Moyse por Vianna em passagens difíceis.
11
Leonore nº3, op. 72c. Última versão da abertura composta por Beethoven em 1806 por ocasião da
reestréia da ópera com o mesmo nome. É considerada pelos flautistas como solo orquestral de difícil
execução e utilizada freqüentemente como prova em concursos de orquestra em todo o mundo.
24
FIGURA 9 – Aplicação do exercício de Homogeneidade conservando os intervalos do trecho selecionado
na figura anterior.
FIGURA 10 – Utilizamos as quatro primeiras notas do trecho selecionado para aplicação do exercício de
Flexibilidade. As demais notas da seleção podem ser trabalhadas de quatro em quatro usando-se este
mesmo esquema.
25
FIGURA 11Aplicação do exercício de Ataque e Ligação conservando os intervalos do trecho
selecionado.
FIGURA 11 - Aplicamos o exercício de Amplitude na nota La 5 extraída do trecho selecionado. Outras
notas de difícil emissão como, por exemplo, o Fa# 5 também podem ser trabalhadas da mesma forma.
Resumindo, os exercícios do método De La Sonorité – Art e Technique eram aplicados
por Vianna na solução de dificuldades do repertório dentro das cinco abordagens
distintas propostas por Moyse, a saber: Homogeneidade, Flexibilidade, Ataque e
26
Ligação, Amplitude e Transposição. Esta última será detalhada separadamente como
veremos a seguir.
3 - A UTILIZAÇÃO DO REAGRUPAMENTO DE NOTAS PROPOSTA POR VIANNA
Vianna utilizou o reagrupamento de notas como forma de estudar trechos do repertório
mudando a acentuação e conservando o andamento. Já o conhecido flautista norte
americano Willian Morris Kincaid
12
utilizava o reagrupamento de notas com o objetivo
de conduzir a melodia através do fraseado, da expressão e do movimento. Seu trabalho
foi detalhadamente abordado na obra Kincaidiana, de autoria do também flautista norte
americano John Krell
13
.
O reagrupamento de notas também foi largamente explorado por Turmond
14
, em sua
obra Note Grouping
15
, com o mesmo propósito de Kincaid. Embora contemporâneas
de Vianna, estas obras oferecem uma visão totalmente distinta sobre o tema
reagrupamento. Enquanto estes autores empregavam a técnica para dirigir o fraseado,
Vianna utilizava o reagrupamento com outra proposta, ou seja, para solucionar
problemas técnicos de mecanismo e sonoridade.
12
Willian Morris Kincaid (1895-1967) foi por vários anos flautista solista da Philadelpia Orchestra e
responsável pela formação de toda uma geração de flautistas nos EUA.
13
KRELL, John. Kincaidiana. Culver City, Califórnia: For Trio Associates, 1973, 99 p.
14
James Morgan Thurmond foi detentor de uma longa e variada carreira como trompista e professor de
educação musical. Foi trompista da Philadelphia Orchestra, Dallas Symphony , U.S. Navy Band e
professor emérito de educação musical no Lebanon Valley College
15
THURMOND, James Morgan. Note Grouping – A Method for Achieving Expression and Style in Musical
Performance. Ft. Lauderdale: Meredith Music Publications, 1983, 4nd ed. 1991. 144 p.
27
FIGURA 12 – No exemplo extraído de Thurmond o reagrupamento é aplicado no arpejo com a finalidade
única de se conduzir o fraseado. Fonte: Thurmond op. cit. p. 90
FIGURA 13 – Detalhe do reagrupamento proposto por Thurmond para o solo de oboé da abertura
Mestres Cantores de Richard Wagner. Como no exemplo anterior, verificamos que o reagrupamento é
utilizado como forma de direcionamento da frase musical e não como proposta para solução de
problemas de mecanismo. Fonte: Thurmond, op. cit. p. 53
Dentro de um mesmo exercício vários aspectos eram abordados por Vianna:
mecanismo, sonoridade, ataque e ritmos.
Como não dispunha na época de recursos como cópias xerox ou computação gráfica,
Vianna utilizava um processo curioso para simplificar o trabalho de recopiar as mesmas
séries inúmeras vezes. Primeiramente selecionava trechos difíceis do repertório. Estes
trechos eram manuscritos em uma matriz desprezando o ritmo original. Todas as notas
eram convertidas em semínimas (apenas uma haste para cada nota). Várias cópias
heliográficas eram feitas desta matriz. Em cada cópia, estas “semínimas” eram unidas
em grupos de duas, três, quatro, cinco, etc (ANEXO A1). Desta forma com apenas um
28
manuscrito podia-se criar inúmeros agrupamentos de notas. O andamento variava de
acordo com as possibilidades do aluno. Inicialmente utilizava-se um andamento
cômodo que podia ser progressivamente aumentado. Como forma de manter o mesmo
andamento nos diferentes reagrupamentos era feito um cálculo matemático simples
como veremos adiante. Hoje, através da computação gráfica podemos recriar e agrupar
estas séries sem grande esforço.
Tomemos como exemplo um trecho mais extenso da mesma obra:
FIGURA 14 – Do trecho acima serão extraídas apenas as notas do solo, inclusive as apojaturas. O ritmo
original será desconsiderado uma vez que todas as notas serão reagrupadas.
Para preservar o andamento, alterando apenas a acentuação, era utilizada a regra de
três como verificamos abaixo:
Se iniciarmos com quatro notas por batida de metrônomo a sessenta, podemos manter
o mesmo andamento utilizando grupos de cinco notas. Para isto, basta multiplicar
quatro por sessenta e dividir por cinco. Temos o resultado quarenta e oito que
corresponde a cinco notas tocadas no mesmo andamento anterior. Tal processo era
utilizado sempre que se alterava o agrupamento das notas. Desta forma era conseguida
a mudança do acento métrico sem alterar a velocidade do trecho.
29
ã 60
FIGURA 15- Reagrupamento em 4 notas. O reagrupamento é feito sempre do início para o fim do trecho.
As notas que sobram são convertidas em semínimas.
ã 48
FIGURA 16- Reagrupamento em 5 notas. A duração da pulsação foi alterada utilizando-se a regra
mencionada.
ã 40
FIGURA 17- Reagrupamento em 6 notas com alteração na pulsação.
ã 35
FIGURA 18- Reagrupamento em 7 notas com alteração na pulsação.
30
As articulações do trecho original podem ser preservadas ou não. Neste caso abrem-se
várias possibilidades de se trabalhar o legato e stacatto além de outras articulações.
Como forma de organizar o estudo e controlar o que foi feito, Vianna utilizava um
quadro onde eram anotados a cada sessão de estudo, a série executada, a
modalidade, a data e o andamento como forma de controle.
FIGURA 19 – Edição do quadro para planejamento de estudos proposto por Vianna. As letras A,B,C e D,
correspondem aos trechos das séries estudadas (ANEXOS A e B).
4 - ESTUDO DE TONALIDADES BASEADO NA TRANSPOSIÇÃO DE MELODIAS
FÁCEIS
Vianna propõe a prática de se tocar em todas as tonalidades, desde a fase inicial do
estudo do flautista. A existência de tonalidades com grande número de acidentes na
armadura não deve constituir empecilho para a leitura, se partirmos do pressuposto que
tonalidades como Do maior podem ser mais difíceis tecnicamente do que um Fa#
maior. Se observarmos o movimento de troca de dedos nestas duas tonalidades
podemos concluir facilmente que, em Do maior elas são muito difíceis, justamente por
envolverem um número muito maior de movimentos no processo. Muitas vezes as
dificuldades de emissão de som em certas notas acusticamente problemáticas na flauta
são confundidas com dificuldades de mecanismo. O aluno iniciante não pode ser
condenado a tocar em Do maior, Sol maior, Fa maior, Re maior e outras tonalidades
31
consideradas fáceis pelos poucos acidentes que possuem em suas armaduras. Se o
problema é o registro agudo, nada impede ao aluno iniciante de passear por todas as
tonalidades nos registros médio e grave. Esta é a proposta defendida por Vianna. As
tonalidades eram trabalhadas com os alunos a partir da transposição de melodias
fáceis e conhecidas. Um simples “Parabéns pra Você” pode ser tocado pelo aluno
iniciante em todas as tonalidades maiores conservando-se praticamente nos registros
médio e grave. Vianna sugere ao aluno tocar de ouvido uma melodia simples e
conhecida e transportá-la para todas as tonalidades (maiores ou menores conforme o
modo da melodia) para depois se lançar ao estudo de cada respectiva escala ou arpejo.
Esta prática desperta no aluno uma sensação tonal muito mais forte do que o simples
estudo de escalas, além de derrubar o tabu reinante de que quanto mais acidentes na
armadura mais difícil de se tocar. Moyse propõe a prática da transposição na obra já
citada
16
e também na obra Tone Development Through Interpretation for the Flute.
17
FIGURA 20 – Moyse op. cit. p. 25
16
MOYSE. Op. cit. p. 24.
17
MOYSE, Marcel. Tone Development Through Interpretation for the Flute – The study of expression,
vibrato, color, suppleness and their application to different styles. 9nd. edition. New York: MacGinnis &
Marx Music Publishers, 1986, 79p.
32
FIGURA 21 –Moyse op. cit. p. 6
FIGURA 22 – Vianna recomendava a transposição de melodias simples como o Parabéns no exemplo
acima em todas as tonalidades. Esta transposição pode ser praticada deste o início do aprendizado,
antes do aluno se lançar ao estudo de escalas e arpejos.
5 – OS EX-ALUNOS
Como forma de aferir a utilização e a continuidade do trabalho desenvolvido por Vianna
elaboramos um questionário que foi enviado a doze ex-alunos do mestre (ANEXO D).
Verificamos que 100% dos entrevistados utilizam as técnicas aprendidas de Vianna não
só no estudo individual, como também em atividades pedagógicas.
Segue um quadro demonstrativo contendo os doze ex-alunos de Expedito Vianna,
relacionados por ordem alfabética e sua respectiva ocupação. Vianna formou grande
número de alunos. Alguns amadores e outros que desenvolvem intensa atividade
33
profissional como flautistas. Optamos por entrevistar apenas ex-alunos que hoje atuam
profissionalmente, com o objetivo de comprovar os resultados do trabalho de Vianna.
Nome Contato com Expedito Viana Cargo ou Ocupação Atual
Arthur Andrés Ribeiro
Fundação de Educação Artística
e Universidade Federal de Minas
Gerais -UFMG
Professor da Universidade
Federal de Minas Gerais -UFMG
Bernhard Fuchs
Curso de Graduação da UFMG
Professor da Universidade
Estadual de Maringá – PR
Eduardo de Noronha Delgado
Curso de Graduação da UFMG
Professor e músico free lancer de
música popular e erudita
Elena Rodrigues
Universidade Federal da Bahia -
UFBA
Professora aposentada da
Universidade Federal da Bahia –
UFBA e flautista da Orquestra
Sinfônica da Bahia
Felipe Amorim
Curso de Graduação da UFMG
Professor da Universidade
Federal de Ouro Preto – UFOP e
da Fundação de Educação
Artística
Fernando Pacífico Homem
Curso de Graduação da UFMG
1º Flautista da Orquestra
Sinfônica de Minas Gerais –
OSMG e professor da
Universidade do Estado de Minas
Gerais – UEMG
Lucas Robatto
Aulas particulares
1º Flautista da Orquestra
Sinfônica da Bahia e professor da
Universidade Federal da Bahia
Marilena Horta
Universidade Federal de Minas
Gerais –UFMG
Professora do Conservatório
Brasileiro de Música no Rio de
Janeiro-RJ
Maurício Freire Garcia
Curso de Graduação da UFMG
Professor da Universidade
Federal de Minas Gerais –UFMG
e 1º Flautista convidado da
Orquestra SinfônicaEstadual de
São Paulo –OSESP
34
Nome Contato com Expedito Viana Cargo ou Ocupação Atual
Mauro Rodrigues
Curso de Graduação da UFMG
Professor da Universidade
Federal de Minas Gerais –UFMG
e músico free lancer de música
popular e erudita
Raul Costa D’ávilla
Curso de Graduação da UFMG
Professor no Departamento de
Canto e Instrumento do
Conservatório de Música da
Universidade Federal de Pelotas
- RS.
Tuzé Abreu
Universidade Federal da Bahia -
UFBA
Flautista da Orquestra Sinfônica
da Universidade Federal da
Bahia – UFBA e músico free
lancer de música popular e
erudita
Apresentamos a seguir alguns comentários extraídos das entrevistas com os ex-alunos
mencionados no quadro anterior:
“ Expedito fazia um trabalho minucioso onde por meio da orientação sonora, toda
a técnica de execução era influenciada (postura do executante, articulação,
fraseado, interpretação)...”
Bernhard Fuchs. Maio de 2005.
“ Para tentar sintetizar tudo o que Expedito Vianna representou e ainda
representa para todos aqueles que foram seus alunos diretos digo: “ Um dos
melhores flautistas do mundo , basta ver e ouvir alguns de seus alunos como
Maurício Freire, Fernando Pacífico, Mauro Rodrigues, Lena Horta, Arthur Andrés
e vários que no momento me faltam à memória ”...
Eduardo de Noronha Delgado Delgado. Maio de 2005.
“ Utilizo ainda as técnicas do Expedito para a pesquisa. Acho que ele realmente
estava à frente de seu tempo. E mais, sem acesso a bibliografia, laboratórios ou
outros recursos. Apenas seu talento e intuição. É impressionante!” ...
Maurício Freire Garcia. Fevereiro de 2005.
35
“ Certamente Expedito foi um professor muito marcante para mim, fato que se
deve a pedagogia utilizada por ele e sua singular e adorável personalidade...”
Raul Costa D’Avilla. Fevereiro de 2005.
“ Para mim foi uma referência muito importante o trabalho com o mestre. No
início por seu trabalho com o som, o exemplo de dedicação e concentração
quando o instrumento está na mão. Mais tarde pude perceber sua musicalidade
como estímulo e referência também ”...
Felipe Amorim. Março de 2005.
“ Meu trabalho com o Prof. Expedito Vianna foi iniciado por volta do ano de 1973-
74, na FEA. Seu trabalho de iniciação à flauta transversa, já era bastante
reconhecido naquela época. Tinha na questão da sonoridade do instrumento,
seu ponto mais evidente”...
Arthur Andrés Ribeiro. Fevereiro de 2005.
“ O Expedito ensinava como aprender, e não somente uma lição a ser repetida
mecanicamente. Ele realmente despertava o espírito investigativo em relação
aos aspectos técnicos do instrumento”...
Lucas Robatto. Março de 2005
FIGURA 23 – Expedito Vianna tocando no quarteto de flautas formado por ele e seus alunos. Da
esquerda para direita: Fernando Pacífico, Expedito Vianna, Arthur Andrés, Marilena Horta. Reitoria da
UFMG, março de 1982. Foto: Arquivo da família Vianna
36
6 – CONCLUSÃO
A primazia total dada à sonoridade fez de Expedito Vianna um diferencial em relação
aos demais flautistas. Embora a comprovação científica sobre o uso da ressonância das
vogais na alteração de timbres fuja ao âmbito deste trabalho, as pesquisas realizadas
demonstram que importantes flautistas da atualidade vêm trilhando o caminho
percorrido por ele. Não foi possível determinar de maneira científica, no escopo deste
trabalho, a natureza exata dos mecanismos que causam alterações no colorido do som
quando o flautista utiliza-se da técnica da mudança de vogais, uma vez que inúmeros
fatores podem contribuir para estas mudanças. O que podemos concluir é que tais
alterações existem e estão sendo cada vez mais exploradas pelos flautistas. Neste
sentido o presente trabalho constitui um convite à pesquisa científica do tema para
especialistas em acústica, fisiologia da voz e demais interessados.
O nível de detalhamento alcançado por Vianna na releitura dos exercícios propostos
por Moyse é surpreendente. Não encontramos em nenhuma das publicações
pesquisadas qualquer tipo de aplicação prática da obra de De La Sonorité Art e
Technique no estudo de trechos do repertório. Expedito Vianna ensinava aos alunos
como aprender e não somente repetir uma lição ou peça mecanicamente. Suas idéias
despertavam o espírito investigativo nos alunos em relação aos aspectos técnicos e
acústicos do instrumento.
A questão da agilidade técnica é abordada através do controle rítmico e da re-
significação da passagem estudada. Ao invés do simples ato de repetir, Vianna propôs
37
o estudo detalhado dos intervalos através de possibilidades rítmicas e sonoras,
conferindo um conhecimento e aprendizado muito maior e mais sólido da passagem.
Isso se encaixa dentro da concepção de Vianna que priorizava o trabalho técnico,
dentro do próprio repertório estudado, ao invés de estudos dos métodos tradicionais.
A prática da transposição, embora não se constitua uma novidade hoje, nem na época
de Vianna, foi utilizada por ele como forma de desenvolver nos alunos iniciantes um
forte sentimento e percepção da tonalidade, além da quebra do tabu de que é mais
difícil tocar com muitos acidentes na armadura de clave.
Em uma época onde o acesso à informação era extremamente difícil, Expedito Vianna
trilhou seu caminho quase sozinho, chegando a conclusões ainda hoje válidas não só
no Brasil como também em outras partes do mundo.
Através dos depoimentos tomados concluímos que os estudos idealizados por Vianna
constituem importantes ferramentas utilizadas até hoje por seus ex-alunos e para os
alunos destes. O grande número de ex-alunos hoje ocupando posições de destaque no
cenário musical brasileiro confirma a eficácia do trabalho e o legado deixado pelo
mestre.
Em um mundo onde as mudanças e transformações ocorrem em uma velocidade cada
vez maior, as pesquisas realizadas nos levam a crer que as idéias de Expedito Vianna
continuam atuais e em sua época eram muito pouco disseminadas.
Este é o diferencial que fez dele “um flautista à frente de seu tempo”.
38
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CHAPELON, Anders-Ljungar. French Vowel Positions in relation to “Sons Naturel”.
Manuscrito distribuído em Salvador durante a Master Class para o VI Festival
Internacional de Flautistas em 18/9/2004.
COGAN, Robert. New Images of Musical Sound. Cambridge Massachusets:
Publication Contact International,1998.177 p.
D’AVILA, Raul Costa. A Articulação na Flauta Transversal Moderna – Uma
abordagem histórica, suas transformações, técnicas e utilização. São Paulo:
Faculdade de Música Carlos Gomes, 2000, p. 76.
FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicações técnico-
científicas.Colaboração: Ana Cristina de Vasconcelos, Maria Helena de Andrade
Magalhães, Stella Maria Borges. – 6. ed. ver. e ampl.- Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2003, 230p.
GALWAY, James. Flute, London: Schimers Books, 1982, 244 p.
GELB, Michael. O Aprendizado do Corpo: Introdução à Técnica de Alexander, São
Paulo: Martins Fontes Editora, 1987, 181 p.
39
GRAF, Peter-Lucas. Check-Up: 20 Basic Studies for Flutists. 2nd. rev. edition, Mainz:
Edition Schott, 1992. 48p.
KRELL, John. Kincaidiana. Culver City, Califórnia: For Trio Associates, 1973, 99 p.
MACMAHON, Mike. Throat resonance, vowel sounds. Disponível no site
http://www.larrykrantz.com/mike.htm Consulta realizada em 15/10/2004.
MOYSE, Marcel. De La Sonorité-Art e Technique. Paris: Alphonse Leduc Editions
Musicales, 1976, 28p.
MOYSE, Marcel. Tone Development Through Interpretation for the Flute – The study
of expression, vibrato, color, suppleness and their application to different styles. 9nd.
edition. New York: MacGinnis & Marx Music Publishers, 1986, 79p
.
QUANTZ, Johann Joachim. 1697-1773.On Playing the Flute The classic of Barroc
music Instruction. 2nd ed. Translated with notes and introduction by Edward R. Reilly.
London: Faber and Faber, 1985, republicação em 2001, 412 p.
RANEVSKY, Eugenio Kundert. A Embocadura na Flauta Transversa: Como
Entender e Dominar. Rio de Janeiro: FUNARJ, 1999, 96 p.
SHECK, Gustav. Die Flöte und Ihre Musik. Frankfurt: Edition Schott,1975,263 p.
40
TAFFANEL Paul; GAUBERT Philip. Méthode Complete de Flute. Paris: Alphonse
Leduc Editions Musicales, 1958, 228p.
THURMOND, James Morgan. Note Grouping – A Method for Achieving Expression
and Style in Musical Performance. Ft. Lauderdale: Meredith Music Publications,
1983, 4nd ed. 1991. 144 p.
TRANCHEFORT, René-François. Guia de la Musica Sinfônica. Versão espanhola
por Eduardo Rincón. Madrid: Aliança Editorial, 1989, 1318p.
41
8 – ANEXOS
A –Manuscritos de Expedito Vianna utilizando o reagrupamento de notas em séries
extraídas das obras O Carnaval dos Animais de C. Saint Saens e Leonore de
Beethoven
B – Edição dos manuscritos através do programa Finale
18
C - Entrevista feita com Expedito Vianna em junho de 2004
D – Questionário distribuído aos ex-alunos
18
O software Finale versão 2003 é fabricado pela Coda Music Technology. http//: www.codamusic.com
42
ANEXO A1 – Manuscrito de Expedito Vianna com trechos das obras O Carnaval dos animais de
Saint-Saens e Leonore nº3 de Beethoven. Esta era a matriz copiada em semínimas que servia
para a montagem dos agrupamentos. O quadro para planejamento do estudo diário está
presente em todos os manuscritos apresentados.
43
ANEXO A2 – Manuscrito de Expedito Vianna com trechos das obras O Carnaval dos animais de
Saint-Saens e Leonore nº3 de Beethoven. Agrupamentos de quatro em quatro notas feitos
unindo as astes das semínimas do manuscrito mostrado na pagina anterior.
44
ANEXO A3 – Manuscrito de Expedito Vianna com trechos das obras O Carnaval dos animais de
Saint-Saens e Leonore nº3 de Beethoven. Agrupamentos de seis em seis notas.
45
ANEXO B
46
47
ANEXO B – Edição dos manuscritos contidos nos ANEXOS A2 e A3
48
ANEXO C
QUESTIONÁRIO ENVIADO AO PROFESSOR EXPEDITO VIANNA EM JUNHO DE
2004
1 – Discorra, por favor, sobre seus dados biográficos e sua formação musical.
Nasci em Visconde do Rio Branco MG, em 07 de outubro de 1928. Comecei meus
estudos de música no flautim aos sete anos de idade com meu irmão Sebastião Vianna.
Em 1954, mudei para Belo Horizonte onde ingressei na Orquestra da Polícia Militar.
Depois de quatro anos na orquestra, fui estudar em Salvador BA, onde nos Seminários
Livres de Música, um importante movimento musical se iniciava através das influências
de Kollreuter. Nos Seminários estudei flauta com Armin Guttman, canto com Hilde
Sinnek e matérias teóricas com Kollreuter.
Fiquei estudando na Bahia por dois anos e voltei para Belo Horizonte para fazer o curso
superior no Conservatório, hoje Escola de Música da UFMG. Lá fui aluno do professor
Fausto Assumpção. Terminei este curso em 1964 e fui convidado para voltar a Bahia
como professor e flautista da orquestra dos Seminários Livres de Música. Fiquei só
mais um ano lá e voltei para Belo Horizonte onde fiz concurso para professor da Escola
de Música da UFMG. Fiquei neste cargo até me aposentar por problemas de saúde em
1992. Toquei também de 1981 a 1988, na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais como
primeira flauta e também lecionei na Fundação de Educação Artística. É o que consigo
me lembrar.
2 – Além do senhor havia outros músicos em sua família?
49
Sim. Minha mãe cantava no coro da igreja em Rio Branco. Onze irmãos estudaram
música e seis se tornaram profissionais. Meu irmão Sebastião foi meu primeiro
professor. Era um músico importante, além de flautista e maestro foi também revisor de
Villa Lobos no Rio de Janeiro.
3 – As técnicas do reagrupamento de notas e utilização das vogais para mudança de
timbres foram passadas através de professores e publicações ou foram fruto de sua
própria observação e pesquisa?
Não me lembro de ter aprendido ou visto isto em lugar nenhum. Acho que desenvolvi
esta história das vogais ouvindo o tenor italiano Beniamino Gigli. Escutava ele cantando
e ficava impressionado com os harmônicos que surgiam quando mudava as vogais.
Comecei a estudar isto no canto e depois apliquei na flauta. Usava os agrupamentos
para praticar diversos tipos de acentuações e ajudar nas quiálteras onde precisamos
encaixar um grande número de notas com o mesmo valor em uma pulsação.
Raramente tocamos figuras com cinco ou sete notas. Esta prática ajudava na precisão
do ritmo e também na agilidade. Preferia aplicar isto no repertório a ficar tocando
aqueles estudos melódicos intermináveis. É melhor ter os solos de orquestra prontos
para uma necessidade do que tocar todos estes estudos que não servem para muita
coisa.
4 – E sobre a aplicação dos exercícios de sonoridade de Marcel Moyse na solução de
trechos difíceis? Foi pesquisa própria ou fruto de um aprendizado?
50
Quando conheci o método de sonoridade do Moyse gostei muito e resolvi traduzi-lo.
Nunca tinha visto nada tão objetivo nesta questão da sonoridade que era o que na
flauta mais me fascinava. Sempre achei que o maior problema da flauta era a
sonoridade. Tenho os lábios muito finos e achava que isto me atrapalhava a ter um som
grande. Por isso pesquisei muito neste sentido. Notei que era melhor estudar o
repertório e aplicar os exercícios de Moyse nele do que ficar estudando aqueles
estudos melódicos longos e cansativos de Andersen, Kohler, Gariboldi, e tantos outros.
Isto não resolvia muito para os trechos difíceis do repertório e até atrapalhava a
musicalidade. Notei também que ao trabalhar os estudos de Moyse com os alunos,
aplicando-os no repertório fazia eles tocarem melhor e despertava o interesse pela
pesquisa.
5 - E sobre o estudo de tonalidades baseado na transposição de melodias fáceis, houve
alguma influência externa?
Meu irmão Sebastião gostava muito de me fazer tocar a mesma musica em outros tons.
Dizia que era bom para a leitura e que na orquestra os cantores de ópera
freqüentemente pediam para abaixar ou subir a tonalidade. Quem não sabia fazer isto
passava vergonha. Comecei a trabalhar isto com os alunos iniciantes usando melodias
que eles conheciam e dominavam. Era impressionante como eles tocavam com
facilidade em tonalidades com muitos acidentes. Afinal tocar em Do Maior requer alguns
movimentos de dedos mais difíceis do que um Fa# Maior, que tem seis sustenidos na
armadura. Notei que depois de algum tempo trabalhando assim, os alunos não se
51
assustavam mais com as armaduras. Além disso, tinham mais interesse em estudar as
escalas e arpejos. Ficava tudo mais musical e menos mecânico.
6 - Entre os flautistas brasileiros de sua geração havia uma preocupação preponderante
quanto à sonoridade?
Muita gente achava que a dificuldade da flauta era a agilidade. A flauta é por natureza
um dos instrumentos mais ágeis. Por isso preferia trabalhar tudo através da sonoridade.
Gostava muito do som do Ary Ferreira, mas não tive maior contato com ele. Ficava
também impressionado com o Jean Noel Saghaard que tocava uma frase enorme sem
respirar. Ele utilizava pouco ar para fazer o som. Nunca consegui fazer isto.
Dos estrangeiros o que mais me encantou foi o Aurèle Nicolet.
7 – O que fez o senhor despertar para a pesquisa de sonoridade na flauta?
Sempre gostei do canto e acho que a flauta se assemelha a voz humana em muitos
aspectos.
8 – Quais os métodos e publicações sobre sonoridade o senhor tinha disponíveis
durante seus estudos e sua atuação?
Inicialmente tínhamos o Taffanel e Gaubert e os estudos melódicos de Andersen,
Kohler, Gariboldi etc. Só muito tempo depois conheci a obra de Moyse e me interessei
muito por ela. Conheci também o livro do Gustav Sheck e pouco antes de aposentar um
aluno me deu uma cópia do livro do Galway.
52
ANEXO D
QUESTIONÁRIO ENVIADO AOS EX-ALUNOS DE EXPEDITO VIANNA
1) Qual o contato que você já teve com Expedito Vianna:
( ) Curso regular em instituições de ensino
( ) Festivais de música
( ) Master Class
( ) Aulas particulares
2) Durante seu trabalho com Expedito Vianna, foram abordadas técnicas de:
( ) sonoridade empregando a ressonância das vogais
( ) mecanismo envolvendo o reagrupamento de notas
( ) estudo de tonalidades envolvendo a transposição de melodias fáceis
( ) nenhuma das alternativas acima
( ) outra(s) técnica(s). Descrever:
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
53
3) Você já havia visto alguma das técnicas acima antes de estudar com Expedito
Vianna?
( ) Sim. Descrever qual delas e onde teve contato:
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------
( ) Não. Nunca havia tido contato com estas técnicas antes de conhecer
Expedito Vianna.
4) Você utiliza alguma(s) das técnicas aprendidas com Expedito Vianna em suas
atividades como flautista?
( ) Não
( ) Sim. Em que tipo de atividade as utiliza?
( ) Trabalho diário como flautista
( ) Atividade didática
5) Seu trabalho com Expedito Vianna foi importante para sua formação como
flautista?
( ) Sim
( ) Não
54
6) Qual a sua atividade como flautista:
( ) professor
( ) músico de orquestra
( ) profissional free lancer
( ) amador
Se vinculado a alguma instituição, favor relacionar:----------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
7. Comentários:--------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
55
ANEXO E
GRAVAÇÃO EM CD DO RECITAL FINAL REALIZADO EM 30 DE MAIO DE
2005 NO AUDITÓRIO DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFMG.
Programa
Radamés Gnattali (1906 – 1988) Sonatina em Ré Maior
Paul Hindemith (1895 – 1963) Sonata para Flauta e Piano
Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) O Assobio a Jato
W. A. Mozart (1756 – 1791) Quarteto em Ré Maior K. 285
Músicos Convidados:
Sandra Almeida – Piano Cleusa Nébias – Viola
Martha Pacífico – Violino Cláudio Urgel - Violoncelo
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
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