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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA / PEDIATRIA E
SAÚDE DA CRIANÇA
MESTRADO EM SAÚDE DA CRIANÇA
EVENTOS COM APARENTE RISCO DE VIDA: PREVALÊNCIA,
CAUSAS E INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
Alessandra Marques dos Anjos
Dissertação de Mestrado apresentada à
Faculdade de Medicina da PUCRS para
obtenção do título de Mestre em Saúde da
Criança.
Orientador: Profa. Dra. Magda Lahorgue Nunes
Porto Alegre, 2006
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Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
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ii
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Rosária Maria Lúcia Prenna Geremia
Bibliotecária CRB10/196
A599c Anjos, Alessandra Marques dos
Casos de evento com aparente risco de vida (ALTE) em
hospital universitário em Porto Alegre e a incidência de morte
súbita nesta população / Alessandra Marques dos Anjos;
orient. Magda Lahorgue Nunes. Porto Alegre: PUCRS; 2006.
107f.: il. tab.
Dissertação (Mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do
Rio do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-
Graduação em Medicina. Mestrado em Pediatria e Saúde da
Criança.
1. MORTE SÚBITA. 2. MAUS-TRATOS INFANTIS. 3. EPILEPSIA. 4.
ANAMNESE. 5. EXAME FÍSICO. 6. APNÉIA DO SONO TIPO
OBSTRUTIVA. 7. REFLUXO GASTROESOFÁGICO. 8. DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL. 9. MORTALIDADE INFANTIL. 10. LACTENTE. 11.
HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS. 12. ESTUDOS DE COORTES. 13.
ESTUDOS TRANSVERSAIS. I. Nunes, Magda Lahorgue. II. Título.
C.D.D. 618.92
C.D.U. 616-053.2:316.3(043.3)
N.L.M. WS 16
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iii
MESTRANDA: Alessandra Marques dos Anjos
ENDEREÇO: Campos Sales,212, Canoas
TELEFONE: (051)34754840
ÓRGÃO FINANCIADOR: CAPES
CONFLITO DE INTERESSES: NENHUM
iv
dedicatória
dedicatóriadedicatória
dedicatória
Para meus pais pelo carinho e incentivo constantes.
Para meu irmão, Gabriel, pela paciência e apoio nas horas mais difíceis.
v
AGRADECIMENTOS
À Dra Magda Lahorgue Nunes, pelo exemplo profissional e a quem devo
a possibilidade de acompanhar o serviço de neurologia infantil do Hospital São
Lucas- PUCRS.
Ao Dr Irenio Gomes pela grande ajuda na análise estatística deste
estudo.
Aos amigos Richard Lester Khan e Patrícia Khan pelas sugestões e
palavras de incentivo.
À Maria Dall Pozzo técnica em eletroencefalograma pela ajuda e
disponibilidade.
À Sra Carla Rothmann pela organização constante, mesmo nos menores
detalhes.
À CAPES pelo fornecimento da bolsa de estudos, que possibilitou a
realização deste trabalho.
A minha família pelo incentivo inesgotável, grande amor, paciência, apoio
e tolerância nos momentos de maior dificuldade.
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS......................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS ......................................................................................... x
LISTA DE QUADROS....................................................................................... xi
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................. xi
RESUMO.......................................................................................................... xii
ABSTRACT..................................................................................................... xiii
CAPÍTULO I
1 REFERENCIAL TEORICO ..............................................................................3
1.1 Definição ...................................................................................................3
1.2 Incidência..................................................................................................4
1.3 ALTE e SMSL............................................................................................5
1.4 Causas Neurológicas...............................................................................7
1.5 Causas Gástricas .....................................................................................9
1.6 Causas Respiratórias.............................................................................11
1.7 Causas Cardiológicas............................................................................13
1.8 Maus Tratos (MT)....................................................................................15
1.9 Erros Inatos do Metabolismo (EIM) ......................................................16
1.10 Descrição de Estudos.........................................................................17
1.11 Manejo Clínico do ALTE ......................................................................21
1.12 Investigação..........................................................................................23
vii
1.13 Justificativa ..........................................................................................25
1.14 Objetivos...............................................................................................26
1.15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................27
CAPÍTULO II
2 METOLOGIA .................................................................................................37
2.1 Delineamento..........................................................................................37
2.2 População ...............................................................................................37
2.3 Critérios de Inclusão..............................................................................38
2.4 Critérios de Exclusão.............................................................................38
2.5 Inclusão de pacientes ............................................................................38
2.6 Exames....................................................................................................39
2.7 Acompanhamento..................................................................................40
2.8 Comitê de Ética ......................................................................................41
2.9 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.....................................41
2.10 Variáveis ...............................................................................................41
2.10.1 As variáveis estudadas quanto ao paciente ................................41
2.10.2 Variáveis estudada quanto à família do paciente ........................43
2.10.3 Variáveis relacionadas ao episódio de ALTE...............................43
2.10.4 Variáveis relacionadas à investigação .........................................44
2.10.5 Variáveis relacionadas ao acompanhamento ..............................44
2.11 Análise estatística................................................................................45
2.12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................46
viii
CAPÍTULO III
ARTIGO ORIGINAL .........................................................................................48
PÁGINA DE ROSTO ........................................................................................49
RESUMO ..........................................................................................................50
ABSTRACT ......................................................................................................51
INTRODUÇÃO..................................................................................................52
METODOLOGIA...............................................................................................54
RESULTADO....................................................................................................58
DISCUSSÃO.....................................................................................................64
REFERÊNCIAS ................................................................................................69
CAPÍTULO IV
CONCLUSÕES.................................................................................................78
CAPÍTULO V
ANEXOS
Anexo 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............83
Anexo 2 - Artigo enviado a Revista Scientia Médica ...................................84
APÊNDICE.......................................................................................................... i
ix
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO V
Figura 1 - Paciente realizando monitorização com Holter-EEG .......................81
x
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tabela 1 – Causas definidas a partir de estudos prévios .................................33
CAPÍTULO III
Tabela 1 – Exames realizados durante a internação........................................72
Tabela 2 – Aplicação do teste exato de Fisher para: Variável Clínica versus
Recorrência e Variável Clínica versus Idiopatia...............................73
Tabela 3 – Regressão Logística ..................................................................... 74
CAPÍTULO V
Tabela 1 Variáveis versus Recorrência e Variáveis versus
Fator Idiopático............................................................................80
ANEXOS
Tabela 1 – Principais causas de ALTE...........................................................105
Tabela 2 – Etiologia dos episódios de ALTE ..................................................106
xi
LISTA DE QUADROS
CAPÍTULO I
Quadro 1 - Principais causas de ALTE ............................................................32
Quadro 2 – Exames iniciais e complementares no ALTE ................................34
CAPÍTULO III
Quadro 1 - Características e diagnósticos dos pacientes estudados
com ALTE ........................................................................................75
ANEXOS
Quadro 1 - Exames iniciais e complementares no ALTE ...............................107
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
ACE Enzima de Conversão da Angiotensina
ALAPE Associação Latino Americana de Pediatria
ALTE Apparent Life Threatening Event
AOS Apnéia Obstrutiva do Sono
BQLT Bronquiolite
DNPM Desenvolvimento Neuropsicomotor
ECG Eletrocardiograma
EEG Eletroencefalograma
EIM Erros Inatos do Metabolismo
FC Frequência Cardíaca
SIDS Sudden Infant Death Syndrome
SMSL Síndrome de Morte bita do Lactente
RDNPM Retardo do Desenvolvimento Neuropsicomotor
RGE Refluxo Gastroesofágico
RN Récem Nascido
UTI Unidade de Terapia Intensiva
xiii
RESUMO
Objetivos: Descrever os casos de ALTE acompanhados prospectivamente no
Hospital São Lucas da PUCRS, determinando a prevalência e as causas de
ALTE em crianças de 0 a 2 anos e sua associação com caracteristicas clínicas.
Métodos: Estudo transversal com coleta prospectiva de dados para determinar
a prevalência de ALTE em crianças de zero a 2 anos internadas no Hospital
São Lucas com descrição das características destes pacientes. Realizado
estudo de coorte para avaliar o seguimento destes pacientes. Realizada
regressão logística com as variáveis de maior relevância clínica : sexo, idade,
idade gestacional, problema neurológico neonatal, antecedentes dicos, ciclo
sono-vigília, tratamento psiquiátrico materno.
Resultados: A prevalência de ALTE foi 4,2%. Predomínio masculino em 73,3%,
até 3 meses em 80%, em crianças nascidas a termo (70%), 13,4% com
problemas neurológicos neonatais, 10% com atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor e 20% com doença prévia , história de vacinação prévia em
3,3%. 83% dos episódios ocorreram em vigília, tabagismo materno em 13,3% e
6,7% das mães realizaram acompanhamento psiquiátrico. Foram descritos
53,3% de casos idiopáticos, 20% de refluxo gastroesofágico, 13,3% de causas
neurológicas. Não houve significância estatística entre as variáveis estudadas.
Não ocorreu relato de morte súbita.
Conclusão: A prevalência, a frequência de casos idiopáticos e causas
determinadas assemelham-se à descrita previamente na literatura. O pior
prognóstico relacionou-se com malformação do sistema nervoso central. As
variáveis estudadas não foram preditivas quanto a recorrência do episódio de
ALTE, nem influenciaram na elucidação do diagnóstico.
Palavras Chaves: ALTE, etiologia, prospectivo, morte súbita
xiv
ABSTRACT
Objectives: Describe the routine used for investigation of etiology and follow up
of patients with ALTE studied prospectively at the Hospital São Lucas of
PUCRS.
Method: Transversal study with the prospective collection of data to determine
the prevalence of ALTE in children from 0 to 2 years hospitalized in the São
Lucas Hospital, with the description of the characteristics of these patients. A
cohort study was carried out to evaluate the follow up of these patients. The
Fischer’s exact test was used. A logistic regression was done with the variables
that had more clinical relevance.
Results: The prevalence of ALTE was 4,2% (IC95% 2,9 5,9%). Males were
predominant (73,3%), at three months of age (80%) and term (70%). Neonatal
neurological problems were reported in 13,4% of the cases, neurological
alterations in 10%, previous illness in 20%, history of vaccination in 3,3%,
occurred in the vigil state in 83% of the cases. Report of maternal tobacco use in
13,3% of the cases, 6,7% of the mothers had psychiatric consults. 53,3% of
idiopathic cases were described, 20% of gastroesophagic reflux, 13,3% of
neurological causes. The variables studied were not statistically significant.
There was no report of sudden death.
Conclusion: The prevalence, frequency of idiopathic cases and determined
causes are similar to those described previously in literature. The case with the
worst prognosis was related to the malformation of the central nervous system.
The studied variables were not statistically significant in relation to the
recurrence of the ALTE episode and were not elucidative for the diagnosis.
There was no report of sudden death in this population.
Keywords: ALTE, etiology, prospective, sudden death
1
CAPÍTULO I
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
2
REFERENCIAL TEÓRICO
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
3
1 REFERENCIAL TEÓRICO
1.1 Definição
O evento com aparente risco de vida (Apparent life-threatening event-
ALTE) foi definido no Consenso sobre Apnéia Infantil e Monitorização Domiciliar
realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos em 1986, como
episódio que aterroriza o observador, caracterizado pela combinação dos
seguintes fatores: apnéia (central ou obstrutiva), alterações na coloração da
pele (cianose, palidez ou pletora), alteração no tonus muscular (hipotonia,
hipertonia), sufocação ou engasgo.
1
Anteriormente conhecido como “Síndrome
de quase morte súbita (Near-miss sudden infant death syndrome) a
modificação da terminologia foi proposta pois implicava em associação muito
estreita com a Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL)
2
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
4
1.2 Incidência
A incidência de ALTE, possui uma margem ampla de valores. Em Brooks,
1992 a incidência foi descrita entre 0,5% e 6% da população infantil.
2
Quatro
estudos posteriores, definiram a incidência entre 0,6-0,8% em crianças abaixo
de 1 ano em emergências pediátricas inglesas (3,4), 2,27% em crianças
hospitalizadas na França e 0,6/1000 nascidos vivos na Austrália.
5,6
Esta
diferença, deve-se a grande variação de populações estudadas e metodologias
de estudos empregadas.
7
Não registro de estudos com acompanhamento
ambulatorial.
Os episódios de ALTE devem ser considerados como um sintoma ou
queixa principal e nunca como um diagnóstico definitivo. O objetivo da
avaliação clínica é determinar a causa do episódio de ALTE, visto que não
tratamento específico para o ALTE, mas sua resolução e prognóstico baseiam-
se na definição da doença de base. (QUADRO 1) Aproximadamente 50% das
crianças possuem um diagnóstico definido e 50% são classificadas como ALTE
idiopático. É definido como idiopático, o episódio que permanecer sem
diagnóstico após a realização de exames iniciais, investigação complementar e
evolução clínica após a alta hospitalar.
8
Na avaliação diagnóstica inicial desses pacientes, deve-se levar em
consideração se este foi um episódio realmente anormal ou uma preocupação
excessiva sobre um evento normal.
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
5
Para facilitar o manejo inicial da investigação devemos classificar o
episódio de ALTE segundo sua gravidade em ALTE Menor, aquele episódio que
reverte espontaneamente ou através de estimulação leve; e ALTE Maior, o
episódio que reverte através de estimulação vigorosa ou reanimação
cardiorespiratória. Esta classificação, associada à história clínica detalhada,
orientada para o episódio e exame físico adequado constituem a base para a
definição diagnóstica.
9
Nos estudos mais importantes realizados sobre o assunto, as
manifestações clínicas mais freqüentes variaram entre as causas do trato
gastrointestinal de 13 a 66%
6,10
e do sistema nervoso central entre 4 a 38%
3,5,10
e causas idiopáticas entre 8 a 83%.
5,11
(TABELA 2)
1.3 ALTE e SMSL
A maioria das crianças apresenta episódios moderados de ALTE, e
estas possivelmente não apresentam risco maior do que a população geral para
síndrome de morte súbita do lactente (SMSL) 1-2%. Episódios de ALTE mais
severos, que ocorrem durante o sono e exigem reanimação cardiopulmonar,
têm risco de 8-10% de evoluir para SMSL.
2
Grande parte da controvérsia atual sobre a hipótese da apnéia do sono é
sobre a sugestão realizada em 1972, de que a apnéia do sono prolongada era
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
6
uma manifestação de anormalidade crônica que ocasionaria um aumento do
risco para SMSL. Logo após, a hipótese foi expandida para incluir episódios
breves de obstrução de via aérea associada com desenvolvimento pido de
braquicardia ocorrendo durante sono,
12
e mais tarde, para incluir manifestações
semelhantes (episódio de apnéia central e/ou obstrução de via aérea) durante
sucção nutritiva.
13
Suporte para esta hipótese foi inicialmente pesquisado por
Naeye e colaboradores que observaram evidência histológica de hipóxia
crônica em crianças que morreram de SMSL.
14
Estudos em crianças que apresentaram clínica inicial de ALTE, deram
suporte adicional a esta teoria. Os cuidadores, geralmente os pais, observam
episódio súbito de apnéia ou dificuldade respiratória frequentemente associado
à mudança de cor da pele (palidez, cianose, rubor) e mudança de tonus
muscular. Temendo a morte da criança, o observador administra alguma forma
de manobra ressucitadora e traz o episódio para atenção médica. Estudos de
follow up de crianças com ALTE revelaram, que quando comparados à
população geral, estas crianças com ALTE apresentam risco aumentado para
morrer de SMSL.
15
Estudos retrospectivos conduzidos em crianças que
morreram de SMSL, também revelaram aumento da incidência de crianças que
tiveram ALTE antes da morte.
16
A dúvida de que a criança com apnéia prolongada tenha risco
aumentado para SMSL, deve-se ao fato que em crianças que morreram por
SMSL, a apnéia foi pouco observada e relatada. A apnéia observada desta
forma torna-se inadequada para determinação da porcentagem de crianças
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
7
com SMSL, que tiveram episódios prévios de apnéia prolongada observados ou
não detectadados. Sabe-se que a observação dos pais sofre várias
interferências. Os pais o mais observadores da atividade da criança quando
ela está acordada, e menos quando a criança está dormindo. Além da
impossibilidade dos pais de descrever de forma mais acurada o estado
fisiológico da criança.
17
Para confirmar a hipótese de apnéia é necessária a monitorização da
atividade cardiorrespiratória por tempo prolongado. A partir destes registros
podem-se obter informações e a incidência de eventos fisiológicos anormais em
crianças que morreram de SMSL.
18
1.4 Causas Neurológicas
O ALTE de origem neurológica pode ser descrito por apnéia,
sufocamento, hipotonia ou rigidez com movimentos anormais do corpo,
podendo ocorrer versão ocular. O ALTE pode ser a primeira manifestação de
crise convulsiva em lactentes e crianças maiores, entretanto, o diagnóstico
nestes casos pode ser retardado quando não obtemos de imediato um EEG
ictal. Isto geralmente ocorre, pois nestas crianças, o EEG interictal geralmente é
normal. Como a prevalência de refluxo gastroesofágico, distúrbio que tamm
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
8
pode se manifestar com episódio de ALTE, é bastante elevada nesta mesma
faixa etária a convulsão muitas vezes é subdiagnosticada.
8
Criança apresentando episódio de apnéia provavelmente representa um
grupo heterogêneo de desordens clínicas. Sabe-se que doses terapêuticas de
metilxantinas, utilizadas para tratamento da apnéia da prematuridade, podem
precipitar a ocorrência de crises convulsivas em crianças com alteração
epileptogênica latente não detectada em eletroencefalograma de rotina.
19
Em
trabalho apresentado por Davis em 1986, sugere que há um subgrupo de
crianças diagnosticadas com ALTE que apresentam apnéia associada com
convulsões. O limiar convulsivo pode ser diminuído por estimulantes do sistema
nervoso central como metilxantinas e resultam em convulsões clínicas.
Conforme Lombroso, foi realizado estudo prospectivo com 57 recém-
nascidos (RN) admitidos em unidade de tratamento intensivo neonatal em 5
anos e referidos por apresentarem apnéias e com suspeita de apnéias de
origem convulsiva. Destas crianças, 75% eram a termo, enquanto 25% eram
prematuros. Foi verificado que embora a apnéia seja um manifestação
freqüente em RN e principalmente em prematuros, a apnéia ictal ou convulsiva
foi encontrada somente em 1,6% dos RN com crises convulsivas e 14% dos RN
referidos para o estudo por apnéia.
20
A apnéia pode ocorrer como manifestação ictal de epilepsia parcial do
lobo temporal. Descargas que originam-se em regiões profundas da córtex
cerebral poderiam explicar porque a pausa respiratória precede a alteração
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
9
eletrográfica e também justificar porque em alguns casos não ocorrem
alterações ictais no EEG de superfície.
19,20,21
Quando a epilepsia é a causadora do ALTE, a droga de escolha é
carbamazepina com bom controle sobre as crises. Alguns estudos sugerem
que a resposta imediata à terapia anticonvulsivante, em pacientes com ALTE
sem etiologia definida, comprova a causa epileptogênica.
8
Em casos onde o EEG ictal não é disponível, o exame de neuroimagem
alterado pode ajudar no diagnóstico de ALTE neurológico. Sabe-se que o
prognóstico de controle dos episódios e presença de alteração no
desenvolvimento neuropsicomotor está relacionado com a presença ou não de
malformação do sistema nervoso central, sendo os distúrbios de migração
neuronal relacionados à presença de epilepsia refratária.
22
Sabe-se que os casos de ALTE com origem neurológica como
malformação do sistema nervoso central ou estado de mal convulsivo e
episódios de isquemia por hipóxia prolongada, possuem o pior prognóstico.
23
1.5 Causas Gástricas
O refluxo gastroesofágico (RGE) implica no movimento retrógrado
involuntário do conteúdo gástrico através do esôfago. Estudos que utilizaram a
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
10
monitorização do pH esofagiano demonstraram que RGE ocorre
frequentemente em lactentes mesmo sem sintoma clínico evidente. Em alguns
lactentes, o RGE apresenta-se como o sintoma de regurgitação, sendo que a
maioria das crianças encontra-se assintomática ao completar 12 meses, o que
sugere um componente maturacional na ocorrência do RGE.
24
Estudos usando a monitorização do pH esofágico demonstraram que a
ocorrência do refluxo gastroesofágico é maior nas crianças do que a
manifestação clínica aparente.
24
Apesar do RGE ser freqüente em crianças,
não deve ser facilmente apontado como a causa do ALTE. Existem evidências
de que o refluxo gastroesofágico pode causar apnéias centrais por estimulação
de quimiorreceptores laringeos pelo ácido. O refluxo pode provocar também,
apnéias obstrutivas devido ao reflexo vasovagal e laringoespasmo com
obstrução de via aérea.
25
ALTE de origem digestiva geralmente ocorre durante
ou logo após a alimentação e podem se acompanhar de vômitos e engasgo.
23
Alguns autores associaram o refluxo gastroesofágico como causa de
apnéia prolongada e SMSL a apartir da década de 70.
26
A existência de RGE
foi confirmada pelo estudo com bário, estudo de motilidade esofágica e
pHmetria em todas as crianças. Durante a medida do pH, algumas crianças
apresentaram apnéia e cianose imediatamente após o episódio de refluxo. Em
todas as crianças, o diagnóstico de refluxo foi confirmado e o tratamento
instituído. Na maioria das crianças houve melhora dos sintomas respiratórios e
do refluxo. Uma criança que descontinuou o tratamento foi a óbito e na autópsia
os achados foram compatíveis com SMSL.
26
Os autores concluíram que o
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
11
refluxo, nestas crianças, induziu à parada cardiorrespiratória podendo ser a
causa da morte de crianças com SMSL. Observou-se também, a falta de
evidência clínica ou história de vômitos, implicando o refluxo oculto como causa
dessa resposta.
Várias características de refluxo gastroesofágico foram identificadas em
crianças com ALTE. A primeira é que a apnéia ameaçadora da vida é iniciada
por refluxo. A segunda, que ALTE se relaciona ao refluxo prolongado durante o
sono em estágio superficial. A terceira é que o ALTE se relaciona à excessiva
quantidade de refluxo. É proposto que estas características de refluxo sejam
patogênicas, visto que estes eventos são únicos em crianças com ALTE, se
estas características representam um fenômeno patológico e único do refluxo
gastroesofágico é questionável. A resposta respiratória ao refluxo e à
quantidade de refluxo medido pela prova do Ph depende não do paciente,
mas de múltiplos fatores técnicos e metodológicos e cada um destes fatores
pode ser responsável pelo desfecho.
24
1.6 Causas Respiratórias
Problemas respiratórios respondem por aproximadamente 20% dos
casos de ALTE.(3,4)
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
12
A apnéia obstrutiva do sono (AOS) caracteriza-se por episódios repetidos
de obstrução de vias aéreas durante o sono, podendo afetar membros da
mesma família. Relaciona-se com fatores genéticos, dismorfias craniofaciais ou
baixa resposta ventilatória à hipoxemia, afetando a permeabilidade de vias
aéreas superiores e controle central da ventilação. Recentemente demonstrou-
se a coexistência entre adultos com apnéia obstrutiva do sono e casos de
crianças com SMSL e ALTE na mesma família.
27
Apesar deste mecanismo
ainda ser incerto, sabe-se que crianças com irmãos com ALTE ou SMSL tem
mais chance de apresentarem apnéia obstrutiva do sono no primeiro ano de
vida. Sabe-se também, que AOS foi identificada em crianças
subsequentemente timas de SMSL. Desta forma, a presença de eventos
obstrutivos durante o sono podem estar relacionados a uma predisposição para
crianças com SMSL.
28
A apnéia obstrutiva do sono pode estar associada com infecções, seja
por citomegalovírus ou influenza, anormalidades do tecido linfático, alergias ou
privação de sono. Os agentes mais comuns responsáveis pelo desenvolvimento
de apnéia são vírus sincicial respiratório, parainfluenza ou influenza, além de
Haemophilus ou pertussis.
23
Medicações como fenotiazídicos ou barbitúricos podem contribuir para
apnéia obstrutiva na infância. A apnéia obstrutiva pode ser idiopática, sendo
mais freqüente em recém-nascidos prematuros.
29
Esta, deve ser diferenciada
da apnéia da prematuridade, que ocorre devido à falta de maturação dos
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
13
centros respiratórios em indivíduos prematuros, e apresenta melhora com o
tratamento com xantinas.
30
Também a anemia significativa pode estar associada com episódios de
apnéia especialmente em crianças prétermo. História de respiração ruidosa e
/ou transpiração excessiva durante o sono podem indicar, em crianças,
obstrução de vias aéreas.
31
1.7 Causas Cardiológicas
O papel das arritmias cardíacas na patogênese da SMSL e do ALTE
ainda é incerto, porém tem sido relatada a associação de alterações do ritmo
cardíaco em várias crianças com ALTE. Níveis de alargamento do intervalo QT
no eletrocardiograma estão associados com morte súbita e falência cardíaca e
risco aumentado de fibrilação ventricular no infarto agudo do miocárdio. Existe
controvérsia se o alargamento QT está associado ao mau prognóstico de
cardiomiopatia hipertrófica. Nas crianças com ALTE, que apresentam maior
risco para SMSL, a morbidade e mortalidade pode ser reduzida se a
fisiopatologia puder ser identificada, ou monitorizada de perto ou corrigida.
32
A disfunção autonômica como causa de bradicardia severa foi sugerida
por Edner em estudo publicado em 1997. Foi avaliado o controle autonômico da
frequência cardíaca (FC) em 18 crianças com ALTE e comparado com 12 casos
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
14
controle através do TILT-TEST. Oitenta e oito porcento dos controles
responderam com aumento de frequência cardíaca seguido por uma diminuição
ou aumento sustentado, comparado com 55% das crianças com ALTE. Uma
proporção significativamente maior de crianças com ALTE que o grupo controle
responderam com diminuição da FC ou não mudaram a FC (45x8%).Essa
reação alterada durante o TILT TEST, pode ser uma expressão de disfunção
autonômica em crianças com episódios de ALTE.
33
A incidência de alargamento de QT acima de 2 desvios padrões acima
da média, é encontrada em 30% de crianças com arritmias cardíacas. Desta
forma, observa-se a relação entre alargamento do QT com regulação
autonômica, alterações do ritmo cardíaco e manifestações clínicas de outras
doenças, no caso ALTE.
32
O alargamento do intervalo QT é achado mais frequentemente em
crianças com ALTE do que em crianças normais, e principalmente encontrado
em meninos. De acordo com Goldhammer em estudo de 2002, o achado de
alargamento de QT pode ser considerado como marcador independente de
ALTE. Se é apenas uma expressão de disfunção autonômica ou marcador de
possivel causa arritmogênica de ALTE e se tem um valor preditivo para ALTE,
deve ser mais investigado. relatos de pesquisas sobre a relação do
polimorfismo do alelo D da enzima de conversão da angiotensina (ACE) com o
aumento do alargamento QT e sobre a possibilidade de inibidores da ACE
serem usados para potencialmente prevenir SMSL em crianças com ALTE que
apresentam QT longo.
32
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
15
1.8 Maus Tratos (MT)
Em casos de ALTE idiopático e recorrente, deve-se considerar a
possibilidade de maus tratos principalmente tentativa de asfixia,
envenenamento intensional ou “Síndrome do Bebê Sacudido”. Deve ser
suspeitado quando a descrição do episódio é confusa e pobre em detalhes,
ocorrência do episódio sempre na presença do mesmo observador, admissão
em vários hospitais, história familiar de SMSL e/ou ALTE, presença de sangue
vivo em boca e/ou nariz da vítima, petéquias em face, sinais de traumatismo
craniano ou hemorragia retiniana.
34
Os achados mais comuns são ao exame
físico e complementar são hemorragias retinianas, hematomas subdurais, lesão
axonal difusa com edema cerebral, comuns na “Síndrome do Bêbe Sacudido”,
dosagem sérica de substâncias tóxicas positiva e raio x demonstrando múltiplas
lesões ou lesões antigas.
23
Infelizmente, nos casos de maus tratos nem sempre a manifestação
clínica é evidente. Sabe-se que episódios de apnéia e dificuldades respiratórias
podem complicar crises convulsivas. Acredita-se que crianças que sofrem atos
de sufocamento provocado repetidos podem apresentar episódios de apnéia e
crises convulsivas sem causa identificada em exames de rotina.
35
Nestes casos,
o video-eletroencefalograma constitui-se método de escolha para diagnóstico
de maus-tratos.
9
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
16
1.9 Erros Inatos do Metabolismo (EIM)
Arens et al,
36
em 1993 avaliou 166 crianças com clínica de apnéia no
Childrens Hospital Los Angeles entre outubro de 1988 a outubro de 1992.
Destas, 65 apresentaram episódios de ALTE. A dosagem sérica de amonia foi
realizada na avaliação metabólica inicial geral. Para casos que apresentaram
história familiar de SMSL ou ALTE, hiperamonemia, acidose metabólica,
elevação de aminotransferase hepática, hipoglicemia ou crises convulsivas foi
realizada a dosagem sérica de amonia, carnitina, acylcarnitina, aminoácidos, e
avaliação de deficiência de Acyl-coenzima A, concentração urinária de carnitina,
acylglicina e ácidos orgânicos não-voláteis. Das 65 crianças avaliadas com
ALTE, cinco apresentaram erro inato do metabolismo (7,7%), em todas
constatou-se aumento do nível sérico da amonia. Não houve diferença de idade
no primeiro episódio de ALTE entre as crianças com e sem erros inatos.
Constatou-se que todas as crianças com ALTE puderam ser adequadamente
investigadas inicialmente com a dosagem sérica de amonia. Testes mais
avançados foram reservados para crianças com história familiar sugestiva de
EIM, persistência de eventos severos ou persistencia de eventos após sete
meses de idade. Confirmando assim que EIM são responsáveis por uma
pequena mas significativa causa de ALTE.
36
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
17
1.10 Descrição Estudos
Em estudo retrospectivo na Bélgica, em 1991, Veereman-Wauters estudou 130
crianças que apresentaram apnéia, hipotonia e alteração de cor, com idade
entre 2 a 36 semanas. Observou 42% de casos idiopáticos, 26% de refluxo
gastroesofágico, 9% de obstrução anatômica de via aérea, seguido de 7% de
causas neurológicas. Não foram realizadas exclusões.
38
Em estudo japonês retrospectivo com 19 pacientes entre 1993-95,
Tsukada e colaboradores observaram maior incidência de casos trato
gastrointestinal 43% (RGE, disfunção esofágica), seguido de causas
respiratórias 42% (pertussis e infecção respiratória alta).
37
Em 1995, Rivarola e colaboradores,
39
realizaram estudo argentino com
26 crianças menores de 1 ano de idade que apresentaram um ou mais
episódios de ALTE. Foi observado episódios de ALTE menor em 88% dos
casos, 26% dos pacientes apresentaram causa idiopática. Dentre as causas
identificadas, o refluxo gastroesofágico foi o mais frequente em 53,8% dos
casos, seguido de causas neurológicas em 15%. Não houve casos de SMSL
nesta população.
39
Em estudo brasileiro, publicado em 1999, incluindo 56 crianças
investigadas a nível hospitalar, a causa mais freqüente foi refluxo
gastroesofágico (50%), seguido de causas neurológicas (16%) (epilepsia,
malformações cranioencefálicas), distúrbios metabólicos e cardíacos (3,2%),
quatro pacientes apresentaram combinação variada desses fatores e um
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
18
apresentou malformação cranio-facial. A idade de ocorrência do primeiro
episódio de ALTE variou entre o primeiro dia de vida e dois anos e sete meses.
Em 92% dos casos o episódio de ALTE aconteceu nos primeiros seis meses de
vida e 83% antes dos três meses. O tempo de seguimento após o primeiro
episódio de ALTE variou entre dois e 138 meses.
Este seguimento mostrou 52% crianças normais, 37,5% com problemas
neurológicos (epilepsia, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, déficits
sensoriais e dificuldades escolares/distúrbio de atenção). Todas as crianças nas
quais foi observado doença neurológica associada ao episódio de ALTE
apresentaram seguimento desfavorável. Das crianças com episódios idiopáticos,
61% apresentaram seguimento normal, as restantes apresentaram problemas
neurológicos (quatro dificuldade escolares, uma dificuldade na aquisição de
linguagem, uma retardo desenvolvimento neuropsicomotor RDNPM, uma
epilepsia e RDNPM). Foram observados quatro episódios de ALTE em quatro
pacientes. Outras complicações como a desnutrição, foi observada em um
paciente. Dois pacientes evoluíram para óbito em decorrência de complicações
de suas patologias de base (Tetralogia de fallot e hiperglicemia não cetótica).
Não foi relatado nenhum episódio de SMSL.
7
Em estudo israelense 1999, Tal e colaboradores avaliaram
retrospectivamente entre 1993-95, 65 pacientes com idade entre um a seis
meses, baseados na definição do consenso de 1986. Observou-se predomínio
de causas idiopáticas (83%) seguido de causas do trato gastrointestinal (13%).
No mesmo estudo foi comparado a validade das informações obtidas em três
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
19
dias de observação com as informações obtidas nas primeiras 24 horas.
Constatou-se que em 64 casos foram obtidas informações médicas relevantes
para o definição do diagnóstico nas primeiras 24 horas de observação.
11
Em estudo inglês de 1999, Gray e colaboradores
3
analisaram
retrospectivamente 130 prontuários, de crianças com critérios de inclusão para
ALTE, idade entre zero e doze meses, média de oito semanas. Foram excluídas
crianças com mais de seis meses e crise convulsiva febril. Cento e sessenta e
três episódios de ALTE foram registrados. Nesta população, prevaleceram as
causas neurológica (38%) como crises convulsivas e trauma cerebral, seguido
de doenças respiratórias (21%) como infecção respiratória baixa, pertussis,
infecção do trato respiratório superior, asma.
3
Em estudo americano em 2000, Sheikh e colaboradores avaliaram 74
casos retrospectivos entre 1993-97, de crianças entre zero a doze meses, com
episódios de apnéia prolongada, hipotonia e palidez ou cianose ocorridos no
primeiro ano de vida, não foram realizadas exclusões. A idade dia da
população foi sete semanas, não havendo crianças prematuras. Observou-se
maior número de casos de doença do trato gastrointestinal 66% (refluxo
gastrointestinal) seguida de causas idiopáticas 15%.
10
Em estudo inglês mais recente de 2002, Davies e colaboradores
avaliaram prospectivamente 65 prontuários entre 1996-97, onde o paciente
preencheu critérios conforme o consenso de 1986 para ALTE, sendo excluídos
crianças com mais de 6 meses que apresentaram crise convulsiva febril.
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
20
Crianças com idade entre zero a doze meses, com média de sete semanas, a
principal causa de ALTE foram doenças do trato gastrointestinal como refluxo
gastroesofágico (28%) seguido de causas respiratórias (18%). Observou-se
15 % de SMSL em pré-termos abaixo de 34 semanas.
4
Em estudo brasileiro, publicado em 2003, foi realizado acompanhamento
de seis crianças onde ALTE foi a primeira manifestação de epilepsia, observou-
se este diagnóstico pede ser mascarado devido a grande incidência de EEG
interictal normal, dificuldade de obtenção do EEG ictal e coesistência de refluxo
gastro-esofágico em pacientes com menos de um ano. O EEG ictal, quando
disponível é padrão ouro para relação diagnóstica de ALTE e epilepsia, porém
um exame de neuroimagem alterado quando não se dispõe de EEG ictal
também é de grande contribuição. Os pacientes com doença neurológica como
distúrbio da migração neuronal apresentaram pior evolução com atraso do
desenvolvimento neuopsicomotor e crise convulsiva refratária à medicação.
22
Importante salientar, que assim como as diferentes metodologias
influenciam a incidência, também se reflete na diferença entre as causas mais
freqüentes encontradas nos maiores estudos.
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
21
1.11 Manejo Clínico do ALTE
Para facilitar o manejo clínico inicial dos casos de ALTE, a Associação
Latinoamericana de Pediatria (ALAPE) classificou os casos conforme sua
gravidade em ALTE maior, como aquele que necessita estimulação vigorosa ou
reanimação cardiopulmonar; ALTE menor, como aquele que reverte
espontaneamente ou após estimulação mínima; e menor com fatores de risco,
os episódios recorrentes, ocorridos durante o sono, em crianças prematuras,
história familiar de morte súbita ou ALTE, fatores de risco social ou fatores de
risco para SMSL (drogadição materna, HIV, tabagismo,...).
A história clínica direcionada, exame físico adequado são essenciais
para elaboração diagnóstica. A história clínica direcionada deve pesquisar
antecedentes familiares como óbitos, alterações genéticas e metabólicas,
cardíacos ou neurológicos, doença respiratória obstrutiva, ALTE ou SMSL,
maus tratos infantil. Antecedentes perinatais número de gestações, gravidez
desejada, intercorrências durante gravidez, tipo de parto, Apgar, peso de
nascimento e idade gestacional, sofrimento fetal agudo, antecedentes maternos
de tabagismo, alcoolismo, drogadição e medicações. Hábitos gerais e de sono
da criança como agitação, posição de dormir, horário de início do sono, coleito,
suor excessivo, movimentos durante o sono, roncos, pausas respiratórias, uso
de chupeta. Características alimentares: sucção débil, alimentação em horário
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
22
fixo ou livre demanda, alimentação durante a noite, tipo de alimentação, vômitos
freqüentes.
9,23
Quanto à caractestica do evento, deve ser pesquisado: se evento foi
precedido por alguma enfermidade, imunização, medicação, alteração do sono
ou modificação do comportamento; onde ocorreu, quem estava presente,
medidas realizadas para interromper evento, ocorrência em sono ou vigília,
presença de alteração da coloração se periférica ou generalizada, qual postura
adquirida (hipotonia ou hipertonia), movimentos anormais, tempo de duração,
relação com alimentação, choro, posição e estado de consciência logo após o
evento.
Na maioria dos casos, o exame clínico e relato detalhado do episódio
definem a necessidade de internação hospitalar. É recomendado pela
Associação Latinoamericana de Pediatria a internação de casos de ALTE maior
e menor com fatores de risco e encaminhado ao acompanhamento ambulatorial
os casos de ALTE menor simples.
9
Caso seja indicada a internação do paciente com ALTE, esta
hospitalização deve ter por objetivos gerais a observação do lactente e
avaliação do vínculo mãe-filho, técnica de alimentação, ritual do sono e
eventualmente de despertar; monitorização durante o sono com saturômetro de
pulso, e registro gráfico; avaliação clínica completa; exames complementares
iniciais; exames específico; avaliação psicológica e manejo da ansiedade
familiar.
39
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
23
1.12 Investigação
Durante a hospitalização recomenda-se a avaliação interdisciplinar.
Devido a multiplicidade de possíveis causas de ALTE, se é encontrada um
diagnóstico para o episódio não se justifica a realização de estudos
considerados de maior complexidade e custo. Porém, deve-se considerar que
determinar uma patologia concomitante muitas vezes o implica em
determinar a causa específica do evento.
9
Nos casos em que os episódios se repetem e quando a causa não for
identificada após a realização de exames iniciais, solicitam-se exames
complementares (QUADRO 2) e avaliações com especialidades pertinentes
(gastroenterologia, otorrinolaringologia, cardiologia, neurologia, pneumologia).
Os casos recorrentes idiopáticos podem estar associados com apnéias
obstrutivas durante sono, transtornos digestivos, neurológicos, transtornos
metabólicos, síndrome de Munchausen por procuração ou sufocação induzida.
Nestes casos se amplia a investigação com video-EEG e ressonância nuclear
magnética, estudos metabólicos. Nos casos recorrentes, graves observados
sempre e exclusivamente pela mesma pessoa, com várias internações em
diversos hospitais, suspeitar de Síndrome de Munchausen por procuração.
23,35
A persistência de condições ambientais e/ou de cuidado inadequado ao
lactente contraindicam a alta hospitalar, incluindo desde situações gerais como
problemas sociais que dificultam os cuidados domiciliares, até mais específicas
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
24
de sono, como a posição de decúbito ventral no sono, tabagismo materno ou
intradomiciliar, excesso de cobertores, cobrir o rosto, temperatura ambiental
inadequada, fragmentação e restrição do sono e/ou prolongamento e
forçamento da vigília.
Os pacientes com ALTE secundário, controlada a causa devem iniciar o
tratamento específico para sua doença de base, com pais e cuidadores
realizando o curso de reanimação cardiorespiratória, estabelecimento de
condições ambientais adequadas com programa de seguimento clínico e
emergencial.
Quanto à monitorização cardiorrespiratória domiciliar, ainda não
consenso na comunidade científica sobre a diminuição da ocorrência de
síndrome de morte súbita mesmo em grupos de risco. A monitorização
domiciliar é considerada em casos onde há risco de apnéia ou bradicardia
recorrente como no ALTE maior com a causa conhecida e controlada e em
casos de ALTE idiopático que persistam com apnéia e bradicardia.
40
Para o bom funcionamento da monitorização intradomiciliar devemos
considerar seguimento clínico e psicológico da criança e sua família;
monitorização domiciliar durante, pelo menos um mês, sem episódios de ALTE
e passada as situações de estresse familiar; sistema de comunicação telefônica
e sistema de emergências; lugar de origem incluindo apoio técnico para bom
uso e funcionamento dos monitores; condição ideal de monitorização é aquele
monitor cardiorespiratório com saturação de oxigênio e gravador de eventos;
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
25
curso de parada cardiorespiratória para pais e cuidadores; explicações sobre
sono seguro; consentimento informado deve incluir uma explicação clara aos
pais que inclua os aspectos dos cuidados domiciliares.
9
1.13 Justificativa
A prevalência e a etiologia do ALTE em nosso meio ainda são
desconhecidas. Não relato, no país, de estudo realizado de forma
prospectiva, com avaliação e acompanhamento destes pacientes baseado no
protocolo elaborado pela Associação Latinoamericana de Pediatria (ALAPE).
Tendo em vista, que o prognóstico do ALTE é definido essencialmente pela
resolução de sua doença de base, é imprescindível o reconhecimento da
população infantil, as causas mais frequentes em nosso hospital e dos fatores
relacionados ao episódio.
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
26
1.14 Objetivos
O objetivo principal deste estudo é descrever os casos de ALTE,
acompanhados de forma prospectiva, no Hospital São Lucas- PUC em crianças
de 0 a 2 anos, entre setembro de 2004 a março de 2006, observando
prevalência, fatores etiológicos, problemas associados a partir da seqüência de
manejo proposta pelo protocolo da ALAPE para investigação de ALTE. O
objetivo secundário é determinar a incidência de morte súbita nestes pacientes.
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
27
1.15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
32
Quadro 1 - Principais causas de ALTE
Respiratória
Infecção: BCP, BQLTE
Obstrução de via aérea: retrognatia, traqueomalácea
Neurológica
Crise convulsiva
HIC
Hipoventilação central
Doença neuromuscular
Infecciosa
Sepse, ITU, GEA
Meningoencefalite
Cardíaca
Arritmias Wolf-Parkinson-White, síndrome QT longo
Miocardite
Alterações metabólicas
EIM
Alterações eletrolíticas
Autonomicas
Vasovagal
Alterações de mudança de cor
Gástrica
RGE
Outros
Muchausen por procuração: abuso físico, trauma cerebral, sufocação,
envenenamento intensional
Anafilaxia
Uso indevido de medicações
Idiopática
BCP: broncopneumonia, BQLTE: bronquiolite, HIC: hemorragia intra-craniana, ITU: infecção do
trato urinário, GEA: gastroenterite aguda, EIM: erros inatos do metabolismo, RGE: refluxo
gastroesofágico
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
33
Tabela 1 – Causas definidas a partir de estudos prévios
GIT: gastro-intestinal; RESP: respiratório; SNC: sistema nervoso central; CVS: cardio-vascular;
ORL: otorrinolaringológica;
IDIOP: idiopáticos; n: número de pacientes do estudo. McGovern and Smith modificada
Autor GIT RESP
SNC CVS
ORL
OUTROS
IDIOP
Davies, n=65, 2002,
Inglaterra
28% 18% 14% 4% 2% 17% 23%
Sheik, n=74, 2000, USA 66% 10% 4% 2% zero 1% 15%
Gray, n=130, 1999,
Inglaterra
20% 20% 38% zero 0,5%
13% 13%
Tal, n=65, 1999, Israel 13% zero 5% zero zero zero 83%
Nunes, n=56, 1999,
Brasil
50% zero 16% 3,2%
zero 1,6% 29%
Kurz, n=60, 1997,
Áustria
35% 33% 38% 2% 3% 16% 8%
Rivarola, n=26, 1995,
Argentina
53,8%
3,8% 15% zero zero zero 26,5%
Tsukada, n=19, 1993,
Japão
43% 42% 5% zero 11% 11% zero
V-Wauters, n=130,
1991, Bélgica
26% Zero 7% zero 11% 17% 42%
Laisne, n=100, 1989,
França
66% zero 5% zero 6% 31% 9%
Capítulo I
Capítulo ICapítulo I
Capítulo I
34
Quadro 2 - Exames iniciais e complementares no ALTE
Estudos Iniciais Estudos Complementares
Hemograma e hemocultura Gasometria arterial,lactato, amônia
Eletrólitos Pesquisa toxicológica sangue e urina
Enzimas hepáticas Phmetria
E QU e urocultura Ecocardiografia
Glicemia Laringoscopia
Rx tórax EEG, Polissonografia, vídeo-EEG
Ecografia cerebral Imagem cerebral
ECG com intervalo QT Holter-ECG
Aspirado nasofaringeo Monitorização domiciliar
Estudo da deglutição
Fundo de olho
35
CAPÍTULO II
36
METODOLOGIA
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
37
2 METODOLOGIA
2.1 Delineamento
Estudo transversal com coleta prospectiva de dados para determinar a
prevalência de ALTE em crianças de zero a 2 anos internadas no Hospital São
Lucas entre setembro de 2004 a março de 2006 e descrever as características
destes pacientes, seguido de estudo de coorte destas crianças com diagnóstico
de ALTE, asetembro de 2006, para determinara incidência de morte súbita
nestes pacientes.
2.2 População
A população estudada foi constituída de crianças de 0 a 2 anos
internadas nas dependências do Hospital São Lucas da PUCRS para
investigação de episódios de ALTE.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
38
2.3 Critérios de inclusão
Os critérios de inclusão foram idade entre 0 e 2 anos, internadas no
hospital São Lucas da PUCRS, com quadro clínico compatível com definição de
ALTE, incluídos seqüencialmente na medida que preencheram os critérios de
inclusão.
2.4 Critérios de exclusão
Os critérios de exclusão foram a ausência do consentimento dos pais ou
responsável e o não preenchimento dos critérios clínicos de ALTE no momento
da avaliação.
2.5 Procedimento de coleta de dados
A criança com episódio compatível com ALTE, ao chegar à emergência,
era avaliada inicialmente pelo pediatra de plantão, juntamente com o residente
da pediatria na emergência. No momento da internação, o residente de
pediatria ou plantonista comunicava o residente de neurologia responsável
pelas avaliações na emergência pediátrica. A partir de então, o residente de
neurologia comunicava o pesquisador nas primeiras 24 horas de internação,
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
39
caso este não se encontrasse no hospital no momento da internação. Para
facilitar o reconhecimento do episódio pelos médicos residentes, foi realizada
orientação aos mesmos, baseados no protocolo da ALAPE
1
antes do início da
coleta de dados.
2.6 Exames
Após a avaliação inicial foram realizados exames de rotina iniciais para
ALTE como hemograma, eletrólitos, glicemia, culturais de sangue e urina, Rx
tórax, eletrocardiograma conforme a indicação de cada caso, além de
avaliações com as equipes da gastroenterologia, pneumologia, cardiologia
infantis, mantendo o acompanhamento neurológico. A realização de exames
específicos de cada área, como pHmetria, ecocardiografia, eletroencefalograma,
polissonografia e video-EEG, dependeu da indicação e necessidade de cada
caso.
O registro polissonográfico consistiu no registro eletroencefalográfico,
eletroculograma (direito/esquerdo), um canal de eletromiografia submentoniano,
ECG, monitorização da atividade respiratória abdominal e nasal através do fluxo
aéreo nasal e cinta abdominal, monitorização em vídeo com tela dividida e
monitorização de saturação de oxigênio. Em casos de suspeita de refluxo
gastroesofágico foi realizada monitorização do pH esofágico em 24 horas.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
40
Em casos de ALTE de repetição durante a internação foi realizado o
holter-EEG, através do aparelho EEGHolter marca EMSA, versão 1.0.0 . Este
método consiste na monitorização contínua por 24 horas, em 16 canais do EEG,
além de eletrodo cardíaco. Devido ao formato reduzido deste aparelho em
relação aos aparelhos convencionais, esta técnica permitiu que o paciente
fosse monitorizado nos quartos, junto à família, sem modificação da sua rotina.
Durante a internação, no momento em que o diagnóstico era confirmado pelas
equipes, ficava devidamente registrado em prontuário para acompanhamento
multidisciplinar.
2.7 Acompanhamento
Após a alta hospitalar, a criança foi acompanhada ambulatorialmente
para avaliação da evolução clínica e verificação da presença de episódios de
morte bita infantil nesta população. Foi mantido contato telefônico nos casos
em que o acompanhamento não foi realizado nos ambulatórios do hospital
universitário.
2.8 Comitê de ética
Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS em 2004.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
41
2.9 Termo de Consentimento Informado
Por ser um exame relativamente novo em nosso meio, quando
necessário o uso do Holter EEG, foi solicitado preenchimento por responsáveis
do Termo de Consentimento Informado para realização do mesmo.
2.10 Variáveis
2.10.1 As variáveis estudadas quanto ao paciente
As variáveis estudadas quanto ao paciente com ALTE foram: sexo, faixa
etária, idade gestacional, estado nutricional ao nascimento, problema
neurológico neonatal, antecedentes médicos, exame neurológico no momento
da internação.
Sexo: pacientes foram divididos em masculinos e femininos.
Faixa etária: idade descrita em meses no momento da internação.
Idade gestacional: pacientes foram divididos em pré-termo, os nascidos
até 36 semanas e 6 dias de gestação; a termo, os nascidos entre 37 semanas e
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
42
41 semanas e 6 dias; pós-datismo, os nascidos a partir de 42 semanas de
idade gestacional. Informação a partir do familiar e confirmada a partir da
carteira de vacinação.
Estado nutricional ao nascimento: pacientes foram divididos em
pequenos para idade gestacional, adequados para a idade gestacional, grandes
para idade gestacional, a partir de informações coletadas em carteira de
vacinação e com familiares.
2
Problema neurológico neonatal: descrição de problemas de origem
neurológica no primeiro mês de vida, relatados pelo familiar e confirmados
através de exames e/ou nota de alta hospitalar.
Antecedentes médicos: relato através do familiar de existência de
doenças prévias ao episódio de ALTE, confirmadas por exames e/ou notas de
alta hospitalar.
Exame neurológico: descrição de alteração no exame neurológico
realizado pelo pesquisador durante a internação.
3,4,5
2.10.2 Variáveis estudadas quanto à família do paciente
As variáveis estudadas quanto à família do paciente foram: tratamento
psiquiátrico materno, história familiar de episódio de ALTE ou SMSL, tabagismo
materno.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
43
Tratamento psiquiátrico materno: relato de mãe em acompanhamento
psiquiátrico prévio ou atual e uso de medicações controladas pelo psiquiatra.
História familiar de ALTE/SMSL: relato de irmão com episódio de ALTE
ou história de óbito de irmãos previamente hígidos, ocorridos em casa, durante
o sono, sem estabelecimento da causa da morte após a necrópsia.
Tabagismo materno: relato de tabagismo materno atual.
2.10.3 Variáveis relacionadas ao episódio de ALTE
As variáveis relacionadas ao episódio de ALTE foram: gravidade do
episódio, recorrência, vacinação prévia, ciclo sono e vigília.
Gravidade do episódio: foi classificada a partir dos critérios da ALAPE em
episódios de ALTE maior, ALTE menor com riscos e ALTE menor.
Recorrência: foi considerado o número de episódios ocorridos a partir da
primeira manifestação clínica de ALTE relatada pelo observador.
Vacinação prévia: relato de vacinação no período de 24-48h que
antecederam o episódio de ALTE.
Ciclo sono e vigília: relato de ocorrência do episódio relacionado ao sono
ou à vigília.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
44
2.10.4 Variáveis relacionadas à investigação
As variáveis relacionadas à investigação foram: exames realizados
(laboratoriais, Rx tórax, EEG interictal, EEG ictal, polissonografia, exame de
imagem neurológico, pHmetria, ECG e ecocardiografia) foram relatados como
normais, alterados ou não realizados. Se alterado foi descrito o tipo de
alteração.
2.10.5 Variáveis relacionadas ao acompanhamento
Variáveis relacionadas ao acompanhamento foram: tempo de
acompanhamento, desfecho de morte súbita.
Tempo de acompanhamento: descrita em meses a partir da internação
até setembro de 2006.
Desfecho de morte súbita: relato de morte do paciente em
acompanhamento, ocorrida durante o sono, domiciliar, sem causa esclarecida
em necrópsia, até setembro de 2006.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
45
2.11 Análise estatística
Os dados foram inseridos em um banco feito para esta finalidade em
EXCEL e analisados utilizando o software estatístico SPSS. Foram descritas
frequências, médias, desvios padrões e medianas. Para inferência estatística foi
calculado o intervalo de confiança a 95% para todas as variáveis descritas. As
variáveis qualitativas foram avaliadas com o teste não-paramétrico, teste exato
de Fisher, pois em todas as análises se observou valor esperado inferior a 5.
Foram escolhidas as variáveis de maior relevância clínica e incluídas no modelo
de regressão logística para detectar possíveis fatores de confusão.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo II
46
2.12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Episodio de posible amenaza a la vida-ALTE; Guía de practica clínica ;
2005.Comité en syndrome de muerte súbita del lactante. Asociación
Latinoamericana de Pediatría; disponible no site:
http.://www.alape.org/documentos.html.
2. Lubchenco L, hansman C, Dressler M, Boyd E. Intrauterine growlh as
estimated from live born birth weight data at 24 to 42 weeks of gestation.
Pediatrics 1963;32:793-800.
3. Nunes ML, Costa JC.Exame neurológico do recém-nascido. In Nunes
ML, Marrone AC, organizadores. Semiologia Neurológica. Porto Alegre:
Edipucrs;2002. p 327-49.
4. Costa DI, Azambuja LS, Nunes ML. Avaliação do desenvolvimento
neuropsicomotor. In Nunes ML, Marrone AC, organizadores.
Semiologia Neurológica. Porto Alegre: Edipucrs;2002. p 351- 59.
5. Pinho AP, Silva LF. Particularidades do exame neurológico pediátrico.
In Nunes ML, Marrone AC, organizadores. Semiologia Neurológica.
Porto Alegre: Edipucrs;2002. p 361-64.
47
CAPÍTULO III
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
48
ARTIGO ORIGINAL
PÁGINA DE ROSTO
INTRODUÇÃO
MÉTODOS
RESULTADOS
DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
49
PÁGINA DE ROSTO
Avaliação prospectiva de pacientes com ALTE internados em hospital
terciário
Prospective analysis and etiology of patients with ALTE treated in a
tertiary hospital.
Alessandra Marques dos Anjos*
Magda Lahorgue Nunes**
Serviço de Neurologia e Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Hospital São Lucas
da PUCRS
* Mestranda do Curso de Pós-graduação em Clínica Pediátrica da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Aluna do curso de especialização em
Neurofisiologia clinica/ EEG do Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Hospital São
Lucas da PUCRS
**Professora Adjunta de Neurologia e Pediatria da FAMED PUCRS
Endereço para correspondência:
Dra. Alessandra Marques dos Anjos
Campos Sales, 212 ; Canoas – RS
CEP 92130 310
Fone/FAX: 051 34754840
e-mail : alemanjos@bol.com.br
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
50
RESUMO
Objetivos: Descrever os casos de ALTE acompanhados prospectivamente no
Hospital São Lucas da PUCRS, determinando a prevalência e as causas de
ALTE em crianças de 0 a 2 anos e sua associação com caracteristicas clínicas.
Métodos: Estudo transversal com coleta prospectiva de dados para determinar
a prevalência de ALTE em crianças de zero a 2 anos internadas no Hospital
São Lucas com descrição das características destes pacientes. Realizado
estudo de coorte para avaliar o seguimento destes pacientes. Realizada
regressão logística com as variáveis de maior relevância clínica : sexo, idade,
idade gestacional, problema neurológico neonatal, antecedentes dicos, ciclo
sono-vigília, tratamento psiquiátrico materno.
Resultados: A prevalência de ALTE foi 4,2%. Predomínio masculino em 73,3%,
até 3 meses em 80%, em crianças nascidas a termo (70%), 13,4% com
problemas neurológicos neonatais, 10% com atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor e 20% com doença prévia , história de vacinação prévia em
3,3%. 83% dos episódios ocorreram em vigília, tabagismo materno em 13,3% e
6,7% das mães realizaram acompanhamento psiquiátrico. Foram descritos
53,3% de casos idiopáticos, 20% de refluxo gastroesofágico, 13,3% de causas
neurológicas. Não houve significância estatística entre as variáveis estudadas.
Não ocorreu relato de morte súbita.
Conclusão: A prevalência, a frequência de casos idiopáticos e causas
determinadas assemelham-se à descrita previamente na literatura. O pior
prognóstico relacionou-se com malformação do sistema nervoso central. As
variáveis estudadas não foram preditivas quanto a recorrência do episódio de
ALTE, nem influenciaram na elucidação do diagnóstico. Não ocorreu relato de
morte súbita nesta população.
Palavras Chaves: ALTE, etiologia, prospectivo, morte súbita, estudo coorte
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
51
ABSTRACT
Objectives: Describe the routine used for investigation of etiology and follow up
of patients with ALTE studied prospectively at the Hospital São Lucas of
PUCRS.
Method: Transversal study with the prospective collection of data to determine
the prevalence of ALTE in children from 0 to 2 years hospitalized in the São
Lucas Hospital , with the description of the characteristics of these patients. A
cohort study was carried out to evaluate the follow up of these patients. The
Fischer’s exact test was used. A logistic regression was done with the variables
that had more clinical relevance.
Results: The prevalence of ALTE was 4,2% (IC95% 2,9 5,9%). Males were
predominant (73,3%), at three months of age (80%) and term (70%). Neonatal
neurological problems were reported in 13,4% of the cases, neurological
alterations in 10%, previous illness in 20%, history of vaccination in 3,3%,
occurred in the vigil state in 83% of the cases. Report of maternal tobacco use in
13,3% of the cases, 6,7% of the mothers had psychiatric consults. 53,3% of
idiopathic cases were described, 20% of gastroesophagic reflux, 13,3% of
neurological causes. The variables studied were not statistically significant.
There was no report of sudden death.
Conclusion: The prevalence, frequency of idiopathic cases and determined
causes are similar to those described previously in literature. The case with the
worst prognosis was related to the malformation of the central nervous system.
The studied variables were not statistically significant in relation to the
recurrence of the ALTE episode and were not elucidative for the diagnosis.
There was no report of sudden death in this population.
Keywords: ALTE, etiology, prospective, sudden death
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
52
INTRODUÇÃO
O evento com aparente risco de vida (Apparent life-threatening event-
ALTE) foi definido no National Institutes of Consensus Development Conference
of Infantile Apnea and Home Monitoring, realizado pelo Instituto Nacional de
Saúde dos Estados Unidos em 1986, como episódio que aterroriza o
observador, caracterizado pela combinação dos seguintes fatores: apnéia
(central ou obstrutiva), alterações na coloração da pele (cianose, palidez ou
pletora), alteração no tonus muscular (hipotonia, hipertonia), sufocação ou
engasgo.
1
Anteriormente conhecido como “Síndrome de quase morte súbita”
(Near-miss sudden infant death syndrome) a modificação da terminologia foi
proposta pois implicava em associação muito estreita com a Síndrome da
Morte Súbita do Lactente (SMSL).
2
A incidência de ALTE, possui uma margem ampla de valores. Em Brooks,
1992 a incidência foi descrita entre 0,5% e 6% da população infantil.
2
Quatro
estudos posteriores, definiram a incidência entre 0,6-0,8% em crianças abaixo
de 1 ano em emergências pediátricas inglesas,
3,4
2,27% em crianças
hospitalizadas na França e 0,6/1000 nascidos vivos na Austria.
5,6
Esta
diferença, deve-se a grande variação de populações estudadas e metodologias
de estudos empregadas.
7
Não registro de estudos com acompanhamento
ambulatorial.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
53
Os episódios de ALTE devem ser considerados como um sintoma ou
queixa principal e nunca como um diagnóstico definitivo. O objetivo da
avaliação clínica é determinar a causa do episódio de ALTE, visto que não
tratamento específico para o ALTE, mas sua resolução e prognóstico baseiam-
se na definição da doença de base. Aproximadamente 50% das crianças
possuem um diagnóstico definido e 50% são classificadas como ALTE
idiopático. É definido como idiopático, o episódio que permanecer sem
diagnóstico após a realização de exames iniciais, investigação complementar e
evolução clínica após a alta hospitalar.
8
Para facilitar o manejo inicial da investigação devemos classificar o
episódio de ALTE segundo sua gravidade em ALTE Menor, aquele episódio que
reverte espontaneamente ou através de estimulação leve; e ALTE Maior, o
episódio que reverte através de estimulação vigorosa ou reanimação
cardiorespiratória. É considerado ALTE Menor com riscos aqueles episódios
recorrentes, ocorridos durante o sono, em crianças prematuras, história familiar
de morte súbita ou ALTE, fatores de risco social ou fatores de risco para SMSL
(drogadição materna, HIV, tabagismo,...). Esta classificação, associada à
história clínica detalhada, orientada para o episódio e exame físico adequado
constituem a base para a definição diagnóstica.
9
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
54
METODOLOGIA
Estudo transversal com coleta prospectiva de dados para determinar a
prevalência de ALTE em crianças de zero a 2 anos internadas no Hospital São
Lucas entre setembro de 2004 a março de 2006 e descrever as características
destes pacientes, seguido de estudo de coorte destas crianças com diagnóstico
de ALTE, até setembro de 2006, para determinar a desfecho de morte súbita
nestes pacientes.
A população estudada era constituída de crianças internadas nas
dependências do Hospital São Lucas para investigação de episódios de ALTE .
Os critérios de inclusão foram idade entre 0 e 2 anos, internadas no
hospital São Lucas da PUC, com quadro clínico compatível com definição de
ALTE, incluídos seqüencialmente na medida que preencheram os critérios de
inclusão para ALTE.
Os critérios de exclusão foram a ausência do consentimento dos pais ou
responsável e o não preenchimento dos critérios clínicos de ALTE no momento
da avaliação.
A criança com episódio compatível com ALTE, ao chegar á emergência,
era avaliada inicialmente pelo pediatra de plantão, juntamente com o residente
da pediatria na emergência. No momento da internação, o residente de
pediatria ou plantonista comunicava o residente de neurologia responsável
pelas avaliações na emergência pediátrica. A partir de então, o residente de
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
55
neurologia comunicava o pesquisador nas primeiras 24 horas de internação,
caso este não se encontrasse no hospital no momento da internação. Para
facilitar o reconhecimento do episódio pelos médicos residentes, foi realizada
orientação aos mesmos, baseados no protocolo da ALAPE
9
antes do início da
coleta de dados.
Após a avaliação inicial foram realizados exames de rotina iniciais para
ALTE como hemograma, eletrólitos, glicemia, culturais de sangue e urina, Rx
tórax, eletrocardiograma conforme a indicação de cada caso, além de
avaliações com as equipes da gastroenterologia, pneumologia, cardiologia
infantis, mantendo o acompanhamento neurológico. A realização de exames
específicos de cada área, como pHmetria, ecocardiografia, eletroencefalograma,
polissonografia e video-EEG, dependeu da indicação e necessidade de cada
caso.
O registro polissonográfico consistiu no registro eletroencefalográfico,
eletroculograma (direito/esquerdo), um canal de eletromiografia submentoniano,
ECG, monitorização da atividade respiratória abdominal e nasal através do fluxo
aéreo nasal e cinta abdominal, monitorização em vídeo com tela dividida e
monitorização de saturação de oxigênio. Em casos de suspeita de refluxo
gastroesofágico foi realizada monitorização do pH esofágico em 24 horas.
Em casos de ALTE de repetição durante a internação foi realizado o
holter-EEG, através do aparelho EEGHolter marca EMSA, versão 1.0.0. Este
método consiste na monitorização contínua por 24 horas, em 16 canais do EEG,
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
56
além de eletrodo cardíaco. Devido ao formato reduzido deste aparelho em
relação aos aparelhos convencionais, esta técnica permitiu que o paciente
fosse monitorizado nos quartos, junto à família, sem modificação da sua rotina.
Por ser um exame relativamente novo em nosso meio, quando
necessário o uso do Holter EEG foi solicitado preenchimento por responsáveis
do Termo de Consentimento Informado para realização do mesmo.
Durante a internação, no momento em que o diagnóstico era confirmado
pelas equipes, ficava devidamente registrado em prontuário para
acompanhamento multidisciplinar.
Após a alta hospitalar, a criança foi acompanhada ambulatorialmente
para avaliação da evolução clínica e verificação da presença de episódios de
morte bita infantil nesta população. Foi mantido contato telefônico nos casos
em que o acompanhamento não foi realizado nos ambulatórios do hospital
universitário.
As variáveis estudadas quanto ao paciente com ALTE foram: sexo, faixa
etária, idade gestacional, estado nutricional ao nascimento, problema
neurológico neonatal, antecedentes médicos, exame neurológico no momento
da internação. As variáveis estudadas quanto à família do paciente: tratamento
psiquiátrico materno, história familiar de episódio de ALTE ou SMSL, tabagismo
materno. As variáveis relacionadas ao episódio de ALTE: gravidade do episódio,
recorrência, vacinação prévia, ciclo sono e vigília. As variáveis relacionadas à
investigação: exames realizados (laboratoriais, Rx tórax, EEG interictal, EEG
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
57
ictal, polissonografia, exame de imagem neurológico, pHmetria, ECG e
ecocardiografia) foram relatados como normais, alterados ou não realizados. Se
alterado foi descrito o tipo de alteração. Variávies relacionadas ao
acompanhamento: tempo de acompanhamento, desfecho de morte súbita.
Os dados foram inseridos em um banco feito para esta finalidade em
EXCEL e analisados utilizando o software estatístico SPSS. Foram descritas
frequências, médias, desvios padrões e medianas. Para inferência estatística foi
calculado o intervalo de confiança a 95% para todas as variáveis descritas. As
variáveis qualitativas foram avaliadas com o teste não-paramétrico Teste Exato
de Fisher, pois em todas as análises se observou valor esperado inferior a 5.
Foram escolhidas as variáveis de maior relevância clínica e incluídas no modelo
de regressão logística para detectar possíveis fatores de confusão.
Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS em 2004
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
58
RESULTADOS
Foram avaliadas 30 crianças com história de episódios de ALTE com
idade entre zero a 2 anos entre setembro de 2004 a março de 2006. A
prevalência dos casos de ALTE nesta população foi 4,2% (IC95% 2,9 - 5,9%). A
população constituiu-se de crianças entre 2 dias de vida a 18 meses. A média
de idade do foi 3,6 meses (dp=5,1 meses e mediana 2 meses, considerando
uma distribuição assimétrica), com 80% dos casos ocorrendo até os 3 meses
de vida.
Houve predomínio do sexo masculino com 22 casos (73,3%) em relação
ao feminino, 8 casos (26,7%). Foram relatados 98 episódios de ALTE,
previamente à internação, observados em sua totalidade pelos pais.
Predominaram crianças nascidas a termo (70%) em relação a
prematuros (30%). Quanto ao estado nutricional, 26 crianças (86,7%)
apresentaram peso adequado à idade gestacional, 2 crianças (6,7%)
apresentaram baixo peso, e outras 2 crianças (6,7%) apresentaram peso acima
do esperado para idade.
Na população estudada, 10% das crianças apresentaram problemas
neurológicos no período neonatal. Ocorreram casos de meningite (33,3%), de
encefaloce (33,3%) e de anóxia neonatal (33,3%). Seis crianças apresentaram
comorbidades prévias à internação: displasia broncopulmonar, luxação
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
59
congênita de quadril, distúrbio de deglutição e episódio de bronquiolite, sífilis
congênita tratada, HIV positivo e encefalocele.
No momento da internação, 3 crianças (10%) apresentaram atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor considerando a idade cronológica ou idade
gestacional corrigida em casos de prematuros .
Em dois casos (6,7%) foi confirmado tratamento psiquiátrico materno,
sendo um caso de depressão pós-parto e um caso de transtorno esquizotípico.
Foi relatado 1 caso de história familiar de morte súbita (3,3%). História de
tabagismo materno foi referido em 13,3% dos casos.
Em um caso (3,3%) houve vacinação nas 48 horas que antecederam o
episódio de ALTE. Em apenas 5 casos (16,7%), o episódio ocorreu durante o
sono.
Houve predomínio de casos de ALTE menor com riscos em 25 casos da
população estudada (83,3%), seguido de casos de ALTE menor em 4 casos
(13,4%) e 1 caso (3,3%) de ALTE maior onde foi necessária reanimação
cardiorespiratória. Dentre os casos de ALTE menor com riscos, o fator de risco
isolado mais frequente foi a recorrência do evento em 14 casos (56%), seguido
de prematuridade como fator único em 7 casos (28%). Os casos de risco devido
à história familiar de morte súbita, fatores associados como prematuridade e
mãe HIV positiva, prematuridade e recorrência, e prematuridade e fator social
ocorreram em 1 caso (4%) para cada combinação de fatores.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
60
Quanto aos exames, (TABELA 1) foi observado que todas as crianças
(100%) realizaram os exames laboratoriais de rotina. Destes, 10 casos (33%)
apresentaram alterações, sendo a anemia o achado mais comum em 60% dos
casos. Vinte e sete crianças (90%) tiveram indicação de realizar Rx de tórax.
Destes pacientes, 2 (7,4%) apresentaram alterações compatíveis com
bronquiolite. Vinte e oito crianças (93,3%) realizaram investigação cardiológica,
em 3 casos (15%) foi realizada ecocardiografia e 66% apresentavam forame
oval patente, porém sem repercussão clínica.
Em onze pacientes (36,7%) foi indicada a realização da monitorização do
pH esofágico por 24 horas. Foi confirmado o refluxo gastroesofágico patológico
em 54,5% dos casos, sendo iniciado ranitidina e domperidona no momento do
diagnóstico.
Doze pacientes (40%) realizaram polissonografia. Três exames (25%)
demonstraram alterações, e destes, dois (66,7%) casos apresentaram
alterações paroxísticas focais e 1 caso (33,3%) apresentou apnéias obstrutivas.
Vinte e sete crianças (90%) realizaram eletroencefalograma interictal,
destas, apenas um caso (3,3%) demonstrou alteração do ritmo de base e
atividade paroxística multifocal neste registro, relacionado à mal-formação do
sistema nervoso central. Em nove pacientes (30%) foi realizado o
eletroencefalograma ictal, e destes, 3 casos (33,3%) apresentaram atividade
paroxística focal.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
61
Dezessete crianças (56,7%) realizaram tomografia computadorizada de
encéfalo. Foi demonstrada alteração em dois casos (11,8%). Um caso de mal-
formação e distúrbio de migração neuronal e outro caso de hipodensidade com
transformação hemorrágica, ambos confirmados por ressonância magnética.
Na população estudada foram observados 16 casos idiopáticos (53,3%),
6 casos de refluxo gastroesofágico (20%), 4 casos de neurológicos (13,3%), 2
casos de bronquiolite (6,7%) e 2 casos classificados como outras doenças (1
caso de estenose hipertrófica de piloro e 1 caso de Muchausen por procuração)
(QUADRO 1).
As variáveis qualitativas foram avaliadas com a recorrência e fator
idiopático com o teste exato de Fisher (TABELA 2). Ocorreu significância
estatística apenas com a variável idade gestacional, observando-se que
crianças a termo apresentaram maior recorrência de episódios que crianças
pré-termo (71,4% x 28,6% p=0,04). Porém, este achado deve-se ao fator de
confusão, pois após a realização de análise multivariada não foi observada
significância estatística. Não ocorreu significância estatística quanto ao fator
idiopático e demais variáveis estudadas.
As crianças desta população apresentaram variação no tempo de
seguimento após a alta hospitalar entre 7 a 24 meses com tempo médio de
acompanhamento de 17,6 meses (dp 4,8 meses, mediana 19 meses).
Durante o seguimento, as crianças com doenças neurológicas foram
acompanhadas no ambulatório de neurologia infantil ou de
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
62
neurodesenvolvimento. As crianças que apresentaram outras causas foram
acompanhadas através de contato telefônico e revisão de consultas pediátricas.
Nos casos acompanhados, ocorreu um óbito no caso com características
de Muchausen por procuração. Neste caso foi realizada ampla investigação
pediátrica que incluiu exames de laboratório, erros inatos do metabolismo,
tomografia e ressonância de encéfalo normais, avaliação cardiológiaca normal,
monitorização eletroencefalográfica contínua por 24 horas com registro ictal dos
episódios normal. Em última internação, foi constatado administração errônea
de medicações pela mãe, além da interrupção do acompanhamento psiquiátrico
materno que conforme constatado e registrado pela equipe de psiquiatria deste
hospital apresentava doença psiquiátrica grave.
Dos casos neurológicos, apenas 1 caso de epilepsia refratária à
medicação (topiramato e ácido valproico) relacionado à malformação do SNC e
distúrbio de migração neuronal apresentou atraso importante do
desenvolvimento. Dois casos de epilepsia foram totalmente controlados com
carbamazepina, e não apresentam atraso do desenvolvimento. Um caso de
ALTE neonatal devido a anóxia encontra-se sem novos episódios e com DNPM
adequado.
Todos os casos de RGE confirmados por pHmetria foram controlados
com medicação (ranitidina e domperidona), sem apresentação de novos
episódios de ALTE, após terapia medicamentosa. Dos casos de bronquiolite,
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
63
um encontra-se em acompanhamento com ambulatório de pneumologia infantil
por sibilância e o segundo recebeu alta deste ambulatório há 3 meses.
Nenhuma criança repetiu o episódio de ALTE após a alta hospitalar, com
excessão do caso de Muchausen por procuração.
Não houve registro de morte súbita nas crianças estudadas.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
64
DISCUSSÃO
O presente estudo diferencia-se dos estudos anteriores principalmente
por apresentar coleta prospectiva de dados em crianças até 2 anos e
acompanhamento destes pacientes quanto ao desfecho de morte súbita
baseado no protocolo elaborado pela Associação Latinoamerica de Pediatria.
Em apenas três estudos prévios, publicados por Rivarola em 1995, por
Kurz em 1997 e por Davies em 2002, os dados foram coletados
prospectivamente.
4,5
Rivarola estudou crianças até 12 meses, Kurz estudou
crianças até 45 semanas de idade e Davies, crianças até 12 meses de vida com
follow up em 6 meses. Os demais estudos de autores com experiência sobre o
assunto basearam-se em coleta de dados retrospectiva, tedo como referência
National Institute of Health Consensus.
1,3,10,11,12,13
A prevalência de 4,2% de casos de ALTE na população estudada
encontra-se de acordo com a margem de valores descrita na literatura por
Brooks,
2
porém, superior à prevalência em emergências inglesas (0,6-0,8%) e
em hospitalizações infantis na França (2,27%).
3,4,6
Este fato deve-se à
diferença de metodologia empregada em cada estudo.
A maior ocorrência de episódios de ALTE neste estudo foi em crianças
até os 3 meses de idade em 80% dos casos. Este achado é semelhante aos
estudos brasileiro
7
e argentino.
14
O paciente mais jovem apresentou o primeiro
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
65
episódio de ALTE com apenas 2 dias de vida, o que também foi relatado em
estudos prévios.
15,16
Houve predomínio de crianças de sexo masculino em 73,3% da
população. Este achado é compatível com os relatos de Brooks e Nunes, mas
discorda do estudo argentino onde ocorreu predomínio de crianças do sexo
feminino em 69,2% da população.
2,3,14
Ocorreu maior número de pacientes a termo nesta população (70%).
Este achado também foi evidenciado nos estudo brasileiro publicado em 1999
3
e inglês de 2002 onde 85% de crianças eram a termo,
4
de maneira que não
podemos relacionar a prematuridade como fator de risco para ALTE.
Inicialmente, em nossa população, foi encontrada relação entre pacientes a
termo e recorrência do episódio de ALTE (p=0,04), porém, após a realização de
análise multivariada, este achado demonstrou ser devido a fator de confusão e
portanto sem relevância estatística.
Rivarola em 1995, relatou 7,7% de casos de história familiar de
ALTE/SMSL; Gray em 1999, descreveu 3,1% de casos de história familiar e
Davies em estudo de 2002, relatou 15,4% de casos de ALTE/SMSL em
familiares de pacientes com ALTE.
3,4,14,
Devido à pequena quantidade de
pacientes com história familiar de ALTE/SMSL (3,3%) não foi possível
estabelecer sua relação com a ocorrência de novos episódios de ALTE ou
predisposição para SMSL em pacientes da mesma família.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
66
A presença de tabagismo materno foi encontrado em 13,3% dos casos,
porém Davies em 2002 descreveu presença de tabagismo intradomiciliar em
60% da população estudada
4
.
O refluxo gastroesofágico foi a causa mais frequente nesta população,
sendo responsável por 20% dos casos. Este achado é semelhante ao estudo
inglês de 1999.
3
É sabido que nos casos de ALTE precocemente
diagnosticados como refluxo gastroesofágico e sem a obtenção de EEG ictal
pode-se mascarar e até mesmo retardar o diagnóstico de epilepsia nestes
pacientes. Isto ocorre porque o RGE é freqüente nesta faixa etária, e também,
pela dificuldade na obtenção do EEG ictal nestas crianças que geralmente
apresentam o EEG interictal normal.
8
Neste estudo, os casos de RGE
diagnosticados através de pHmetria, não apresentaram novos episódios após o
início de ranitidina e domperidona, o que afasta a possibilidade de epilepsia
subdiagnosticada até o término do seguimento destes pacientes.
Para o diagnóstico de ALTE neurológico foi essencial a monitorização
contínua de EEG para a obtenção do registro ictal do episódio, pois como
relatado na literatura,
8
na maioria dos casos o EEG interictal é normal. Esta
afirmação se refletiu em nossa população, visto que dos 4 casos neurológicos,
apenas um caso relacionado a malformação do sistema nervoso central
apresentou EEG interictal alterado. Três casos de epilepsia puderam ser
diagnosticados apenas com a monitorização do EEG ictal através da
polissonografia e holter-EEG. Particularmente nos casos neurológicos, houve
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
67
maior quantidade de episódios prévios a internação e de maior recorrência
durante a internação, porém sem significância estatística.
Hewertson e colaboradores
17
registraram a indução de hipóxia a partir de
crises convulsivas como fator a ser considerado como um dos fatores
responséveis pelo mau prognóstico dos casos neurológicos. Nesta população,
das crianças com diagnóstico de ALTE neurológico, manteve atraso no DNPM
apenas aquela que possui epilepsia refratária e distúrbio de migração neuronal.
As demais crianças com diagnóstico de causas neurológicas como epilepsia e
anóxia neonatal, encontram-se com desenvolvimento global adequado para
idade, com as crises totalmente controladas com carbamazepina.
No caso relatado de Muchausen por procuração, toda a investigação foi
negativa, incluindo EEG ictal, apesar da insistência materna no diagnóstico de
epilepsia. Assim como descrito por Truman e Kahn
18,19
em casos de ALTE
grave, recorrente, observados sempre pela mesma pessoa, com várias
internações em diversos hospitais deve-se suspeitar de Muchausen por
procuração. No caso desta população, os episódios ocorreram sempre na
presença do mesmo observador portador de doença psiquiátrica grave (a mãe),
várias internações em diferentes hospitais. A investigação foi negativa para
possíveis doenças causadoras de ALTE, incluindo o registro ictal do episódio.
Porém, não houve evidência clínica de sufocamento ou espancamento.
Em estudos de maior população, a prevalência de causas cardíacas
encontram-se entre 2-4%,
4,5,10
as causas metabólicas entre 1- 4,2%.
5,13,20
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
68
A ausência de casos de origem cardiológica, metabólica, otorrinolaringológica
deve-se provavelmente ao pequeno número de pacientes desta população.
Apesar de estudo prévio
21
sugerir maior risco de morte súbita no lactente
em pacientes com ALTE idiopático, não houve registro de morte súbita no
presente estudo, mesmo nossa população sendo constituída na sua maioria
(53%) por de casos idiopáticos e apresentar 80% dos casos até os 3 meses de
idade, faixa etária de maior risco para SMSL. Isto deve-se, provavelmente ao
fato da nossa população ser constituída na sua maioria por casos de ALTE
menor com risco, que conforme Brooks, não apresentam maior chance de
síndrome de morte súbita no lactente do que a população geral (1-2%).
2
Concluindo observamos que a prevalência de ALTE encontrada em
nossa população é semelhante a encontrada na literatura. A freqüência de
casos idiopáticos, bem como as causas mais frequentes de ALTE,
correspondem aos descritos em estudos prévios. O caso de pior prognóstico,
com recorrência dos episódios durante a internação e atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor estava relacionado à malformação do sitema
nervoso central e epilepsia refratária. As variáveis estudadas não foram
preditivas quanto a recorrência do episódio de ALTE, nem influenciaram na
elucidação do diagnóstico. Não houve relato de morte súbita nesta população.
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
69
REFERENCIAS
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Infantile Apnea and Home Monitoring, 1986. Pediatrics 1987;
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Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
70
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Muchausen by Proxy in the Evaluation of Children Experiencing
Capítulo III
Capítulo IIICapítulo III
Capítulo III
71
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apparent life-threatening event. Consensus document of the
European Society for the Study and Prevention of Infant Death,2003.
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Development SIDS Cooperative Epidemiological Study. Annals New
York Ademy of Science. 1988;533:13-29.
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo III
II
I
72
Tabela 1 - Exames realizados durante a internação
Exames N
o
. de exames
Realizados
Normais Alterados
Laboratório
Rx tórax
ECG
Ecocardiograma
pHmetria
Polissonografia
EEG interictal
EEG ictal
Imagem
30 (100%)
27 (90,0%)
28 (93,3%)
3 (10,0%)
11 (36,7%)
12 (40,0%)
27 (90,0%)
9 (30,0%)
17 (56,7%)
20 (66,7%)
25 (92,6%)
28 (100%)
1 (33,3%)
5 (45,5%)
9 (75,0%)
26 (96,3%)
6 (66,7%)
15 (88,2%)
10 (33,3%)
2 (7,4%)
0 (0,0%)
2 (66,7%)
6 (54,5%)
3 (25,0%)
1 (3,7%)
3 (33,3%)
2 (11,8%)
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo III
II
I
73
Tabela 2 - Aplicação do teste exato de Fisher para:Variável Clínica versus
Recorrência e Variável Clínica versus Idiopatia
*Teste Exato de Fisher
VARIÁVEL RECORRÊNCIA
(%)
P*
IDIOPÁTICO (%)
P*
Sexo
Masculino
Feminino
22
8
45,5
75,0
0,226
59,1
37,5
0,417
Faixa Etária
3 meses
>3 meses
24
6
50,0
66,7
0,657
50,0
66,7
0,657
Idade Gestacional
Prematuro
Termo
9
21
11,1
71,4
0,04
44,4
57,1
0,694
Problema Neurológico
Neonatal
Sim
Não
3
27
66,7
50,0
0,657
33,3
58,3
0,378
Antecedentes Mórbidos
Sim
Não
6
24
66,7
50,0
0,657
16,7
62,5
0,072
História familiar
ALTE/SIDS
Sim
Não
1
29
0,0
55,2
0,467
100
51,7
1,000
Vacinação 24-48h
prévias
Sim
Não
1
29
0,0
66,7
0,467
100
51,7
1,000
Tratamento Psiquiátrico
Materno
Sim
Não
2
28
50,0
53,6
0,724
50,0
53,6
0,724
Mãe tabagista
Sim
Não
4
26
25,0
57,7
0,249
50,0
53,8
0,648
Ciclo Sono-vigília
Vigília
Sono
25
5
52,0
60,0
1,000
56,0
40,0
0,642
Exame Neurológico
Normal
Anormal
27
3
48,1
100,0
0,228
59,3
0,0
0,090
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo III
II
I
74
Tabela 3 - Regressão Logística
VARIÁVEL
Beta Erro Padrão P OR (odds
ratio)
Sexo -36,062 1207,880 0,998 <0,001
Faixa etária -1,749 1,452 0,229 0,174
Idade gestacional -55,760 16608,491 0,997 0,000
Problema Neurológico
Neonatal
18,687 8643,376 0,998 <0,001
Antecedentes Médicos 19,221 10811,259 0,999 <0,001
Ciclo sono-vigília -0,398 1,624 0,807 0,672
Mãe tratamento psiquiátrico -0,477 1,784 0,789 0,621
Capítulo II
Capítulo IICapítulo II
Capítulo III
II
I
75
Quadro 1 - Características e diagnósticos dos pacientes estudados com ALTE
Identificação Sexo Idade
(meses)
História Familiar
ALTE/SMSL
Tipo de ALTE Diagnóstico
CLB Masculino 3 Não Menor RGE
MMR Masculino 1 Não Menor com Riscos EHP
DFS Masculino 1 Não Menor com Riscos RGE
GS Masculino 1 Não Menor com Riscos RGE
GDC Masculino 15 Não Menor com Riscos Idiopático
SRCC Feminino 1 Não Menor com Riscos Idiopático
BPPG Masculino 1 Não Menor com Riscos Idiopático
EBA Feminino 2 Não Menor com Riscos Epilepsia
HSS Masculino 17 Não Menor com Riscos Idiopático
GSM Masculino 2 Não Menor com Riscos Idiopático
LCB Masculino 5 Não Menor com Riscos Idiopático
VRP Feminino 11 Não Menor com Riscos Epilepsia
SCMV Masculino 2 Não Menor Idiopático
PGPZ Masculino 1 Não Menor com Riscos Idiopático
ISL Feminino 2 Não Menor com Riscos Idiopático
NNG Feminino 2 Não Menor com Riscos Bronquiolite
GVS Masculino 18 Não Menor com Riscos Muchausen
BMS Feminino 0,6 Não Menor com Riscos RGE
KBM Masculino 1 Não Menor com Riscos Idiopático
JPOV Masculino 0,5 Não Menor com Riscos Idiopático
LS Feminino 0,4 Não Maior Anóxia
neonatal
AJO Masculino 2 Não Menor com Riscos Idiopático
JGCA Masculino 1 Sim Menor com Riscos Idiopático
LNL Masculino 3 Não Menor com Riscos Epilepsia
JVP Masculino 1 Não Menor com Riscos RGE
YSF Masculino 2 Não Menor Idiopático
JS Masculino 0,4 Não Menor com Riscos RGE
GRGS Masculino 10 Não Menor Idiopático
KPR Masculino 2 Não Menor com Riscos Bronquiolite
ETA Feminino 2 Não Menor com Riscos Idiopático
76
CAPÍTULO IV
77
CONCLUSÕES
Capítulo IV
Capítulo IVCapítulo IV
Capítulo IV
78
CONCLUSÕES
A prevalência de 4,2% (IC95% 2,9 - 5,9%) de ALTE encontrada em
nossa população é semelhante a encontrada na literatura .
A freqüência de casos idiopáticos, bem como as causas mais frequentes
de ALTE, correspondem aos descritos em estudos prévios.
O caso de pior prognóstico, com recorrência dos episódios durante a
inetrnação e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor estava
relacionado à malformação do sistema nervoso central e epilepsia
refratária.
As variáveis estudadas não foram preditivas quanto a recorrência do
episódio de ALTE, nem influenciaram na elucidação do diagnóstico.
Não houve relato de morte súbita nesta população.
79
CAPÍTULO V
Capítulo V
Capítulo VCapítulo V
Capítulo V
80
Tabela 1- Variáveis versus Recorrência e Variáveis versus Fator Idiopático
* Teste exato de Fisher
VARIÁVEL RECORRÊNCIA (%)
P*
IDIOPÁTICO (%)
P*
Sexo
Masculino
Feminino
22
8
45,5
75,0
0,226
59,1
37,5
0,417
Faixa Etária
3 meses
>3 meses
24
6
50,0
66,7
0,657
50,0
66,7
0,657
Idade Gestacional
Prematuro
Termo
9
21
11,1
71,4
0,04
44,4
57,1
0,694
Problema Neurológico Neonatal
Sim
Não
3
27
66,7
50,0
0,657
33,3
58,3
0,378
Antecedentes Mórbidos
Sim
Não
6
24
66,7
50,0
0,657
16,7
62,5
0,072
História familiar ALTE/SIDS
Sim
Não
1
29
0,0
55,2
0,467
100
51,7
1,000
Vacinação 24-48h prévias
Sim
Não
1
29
0,0
66,7
0,467
100
51,7
1,000
Tratamento Psiquiátrico Materno
Sim
Não
2
28
50,0
53,6
0,724
50,0
53,6
0,724
Mãe tabagista
Sim
Não
4
26
25,0
57,7
0,249
50,0
53,8
0,648
Ciclo sono-vigília
Vigília
Sono
25
5
52,0
60,0
1,000
56,0
40,0
0,642
Exame Neurológico
Normal
Anormal
27
3
48,1
100,0
0,228
59,3
0,0
0,090
EEG Ictal
Normal
Anormal
6
3
83,3
100
1,000
66,7
0,0
0,167
EEG Interictal
Normal
Anormal
26
1
57,7
100
1,000
57,7
0,0
0,444
Rx tórax
Normal
Anormal
23
4
52,2
50,0
1,000
60,9
25,0
0,940
Laboratório
Normal
Anormal
20
10
65,0
30,0
0,122
60,0
40,0
0,442
PHmetria
Normal
Anormal
5
6
100
33,3
0,610
40,0
0,0
0,182
Polissonografia
Normal
Anormal
9
3
75,0
75,0
1,000
75,0
0,0
0,061
Exame Imagem Neurológico
Normal
Anormal
15
2
46,7
52,9
0,471
53,3
0,0
0,471
Capítulo V
Capítulo VCapítulo V
Capítulo V
81
Figura 1 – Paciente realizando monitorização com Holter-EEG
82
ANEXOS
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
83
Anexo 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
ALTE é o termo dado ao episódio em que a criança apresenta pausa respiratória, fica
pálida ou roxa, com diminuição do tônus muscular (fica mole) geralmente assustando
quem observa. Este acontecimento pode ser a primeira manifestação de um problema
apresentado pela criança e deve ser amplamente investigado. Em 50% dos casos
pode-se encontrar uma causa definida, seja neurológica, gástrica, respiratória,
cardiológica ou por alteração do metabolismo da criança. O tratamento e medidas
adequadas para cada paciente baseia-se no diagnóstico definitivo do ALTE.
Esta pesquisa tem por objetivo diagnosticar a causa do ALTE, através de
exames de rotina na admissão do paciente como exames de sangue,
eletrocardiograma, RX de tórax, eletroencefalograma, monitorização cardiorespiratória.
Nos casos onde os exames iniciais não indicarem a etiologia do evento, o paciente
será monitorizado com holter-EEG, exame não invasivo que não traz qualquer tipo de
risco ao paciente. O holter-EEG consiste na monitorização eletroencefalográfica
contínua do paciente, que será realizada nas unidades de internação pediátrica por
tempo mínimo de 24horas até o registro de EEG ictal ( episódio de ALTE). Durante a
realização do exame o paciente permanecerá em acompanhamento contínuo do
familiar ou responsável. A realização de holter EEG não implicará em qualquer tipo de
despesa para o familiar do paciente.
Ressalto que a concordância ou não em realizar o holter, não implicará em
modificações no tratamento que está sendo realizado para o paciente.
Eu, _____________________________________________(responsável pelo
paciente) fui informado dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada.
Recebi informações a respeito do tratamento recebido e esclareci todas as minhas
dúvidas. Sei que há qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão se assim o desejar. A Dra.: Alessandra Marques dos Anjos certificou-me
de que todos os dados desta pesquisa referentes ao meu filho(a) serão confidenciais,
bem como o seu tratamento não será modificado em razão desta pesquisa e terei
liberdade de retirar meu consentimento de participação na pesquisa frente a estas
informações.
Caso tenha novas perguntas sobre o estudo, posso chamar Dra. Alessandra no
telefone 99672308.
Declaro que recebi cópia do presente termo de consentimento.
__________________ _____________________________ ___________
Assinatura responsável Nome Data
Alessandra Marques dos Anjos
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
84
Anexo 2 – Artigo enviado a Revista Scientia Médica
EVENTOS COM APARENTE RISCO DE VIDA: INCIDÊNCIA, ETIOLOGIA E
INVESTIGAÇÃO CLÍNICA.
APPARENT LIFE-THREATENING EVENTS: INCIDENCE, ETIOLOGY AND
INVESTIGATION
Alessandra M Anjos
1
Magda Lahorgue Nunes
2
Serviço de Neurologia e Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Hospital São Lucas
da PUCRS
1 Mestranda do Curso de Pós-graduação em Clínica Pediátrica da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Aluna do curso de especialização em
Neurofisiologia clinica/ EEG do Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Hospital São
Lucas da PUCRS
2. Professora Adjunta de Neurologia e Pediatria da FAMED PUCRS
Endereço para correspondência:
Dra. Alessandra Marques dos Anjos
Campos Sales, 212 ; Canoas – RS
CEP 92130 310
Fone/FAX: 051 34754840
e-mail : alemanjos@bol.com.br
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
85
RESUMO
Objetivo: Avaliar a incidência, fatores etiológicos e investigação clínica de
pacientes com Evento com Aparente Risco de vida (Apparent life-threatening
event -ALTE).
Métodos: Revisão da literatura através de pesquisa no banco de dados Medline
e LILACS entre 1986-2006 e publicações da Associação Latinoamericana de
Pediatria, selecionados a partir de autores com experiência reconhecida em
ALTE. Foram revisados 17 artigos de autores renomados além de 3 consensos:
americano sobre apnéia infantil e monitorização domiciliar, consenso
latinoamericano sobre ALTE e consenso da sociedade européia para estudo e
prevenção de morte infantil.
Resultados: A incidência de ALTE descrita foi de 0,6 a 2,27% nos casos
revisados. Quanto a etiologia aproximadamente 50% dos casos de ALTE são
sintomáticos, sendo mais freqüente doenças do trato gastrointestinal e
neurológicas. A investigação deve ser realizada seguindo protocolo padrão e
estar direcionada para o diagnóstico da doença de base que definirá o
prognóstico do ALTE. Casos recorrentes sem etiologia definida na investigação
inicial necessitam de exames complementares, devendo ser considerado o
abuso infantil e Munchausen por procuração como diagnóstico diferencial.
Conclusão: Como o episódio de ALTE pode ser a manifestação inicial de
entidades nosológicas diversas recomenda-se sempre sua investigação
diagnóstica direcionada para doença de base.
Unitermos: ALTE, apnéia, SMLS
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
86
ABSTRACT
Objectives: Evaluate incidence, etiologic factors and the clinical investigation of
patients with Apparent life-threatening event – ALTE.
Methods: Revision of Medline and LILACS articles from 1986-2006 and articles
from “Associação Latinoamericana de Pediatria” (Pediatrics Latin American
Association), selected from authors with recognized expertise with ALTE.
Thirteen articles, from renowned authors, was reviewed together with three
consensus: American about infantile apnea and home monitoring, Latin
American consensus about ALTE and European Society consensus for the
study and prevention of infant death
Results The incidence of ALTE was described in studies as 0,6-2,27%.
pproximately 50% of ALTE cases are symptomatic, being the most frequent
etiologic pathologies the gastrointestinal and neurologic diseases. The ALTE
episode can be the first presentation of many pathologies.The investigation must
follow the standard protocol and must be focused to diagnose the base condition
that will define prognostic. Recurrent cases without etiology established at initial
investigation, need complementary exams, with child abuse and Munchausen by
proxy being considered as differential diagnosis.
Conclusion: The ALTE episode must be faced as the first manifestation of
many diseases. It’s investigation must follow standard guidelines and be
directed to define the base disease.
Keywords: ALTE, apnea, SMLS
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
87
Introdução
O evento com aparente risco de vida (Apparent life-threatening event-
ALTE) foi definido no Consenso sobre Apnéia Infantil e Monitorização Domiciliar
realizado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos em 1986, como
episódio que aterroriza o observador, caracterizado pela combinação dos
seguintes fatores: apnéia (central ou obstrutiva), alterações na coloração da
pele (cianose, palidez ou pletora), alteração no tonus muscular (hipotonia,
hipertonia), sufocação ou engasgo.
1,2,3
Anteriormente conhecido como
síndrome de quase morte súbita (Near miss sudden infant death syndrome) a
modificação da terminologia foi proposta pois implicava em associação muito
estreita com a Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL).
3,4
A incidência de ALTE foi descrita em quatro estudos como 0,6-0,8% em
crianças abaixo de 1 ano em emergências pediátricas,
5,6,7
2,27% em crianças
hospitalizadas e 0,6/1000 nascidos vivos,
7
não sendo registrados os casos de
acompanhamento ambulatorial. Esta diferença deve-se a variações entre as
populações estudadas e metodologias empregadas.
4,8
Os episódios de ALTE devem ser considerados como um sintoma ou
queixa principal e nunca como um diagnóstico definitivo,
4
sendo que após a
investigação em torno de 50% das crianças possuem um diagnóstico definitivo
e 50% são classificadas como ALTE idiopático.
8
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
88
Existem diversas causas que podem estar associadas aos episódios de
ALTE: refluxo gastro-esofágico e crises convulsivas são dois exemplos mais
comuns. O ALTE pode ser a primeira manifestação de crise convulsiva em
lactentes e crianças maiores, entretanto, o diagnóstico nestes casos pode ser
retardado quando não obtemos de imediato um EEG ictal. Isto geralmente
ocorre, pois nestas crianças, o EEG interictal geralmente é normal. Como a
prevalência de refluxo gastro-esofágico, distúrbio que também pode se
manifestar com episódio de ALTE, é bastante elevada nesta mesma faixa etária
a convulsão muitas vezes é subdiagnosticada.
9
A grande maioria das crianças apresenta episódios moderados de ALTE,
e estas possivelmente não apresentam risco maior do que a população geral
para síndrome de morte bita do lactente, (SMSL) 1-2%. Episódios de ALTE
mais severos, que ocorrem durante o sono e exigem reanimação
cardiopulmonar, têm risco de 8-10% de evoluir para SMSL.
9
Na avaliação
diagnóstica desses pacientes, deve-se levar em consideração se este foi um
episódio realmente anormal ou uma preocupação excessiva sobre um evento
normal. O diagnóstico diferencial destes episódios deve ser dividido em três
grupos após a investigação: crianças normais, condições agudas como
infecções (sepsis, meningite, vírus sincicial respiratório, pertussis) ou causas
iatrogênicas (apnéia reflexa por refluxo gastro-esofágico, convulsões, arritmias
cardíacas, maus tratos e síndrome de Muchausen). Os demais casos são
considerados idiopáticos.
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
89
A relação entre episódios de ALTE e SMSL foi sugerida pelos defensores
da hipótese da apnéia como causa da SMSL, relacionando a hipóxia crônica
com risco pra SMSL.
10
Como os estudos realizados através da observação dos
pais não demonstrou a existência de episódios prévios de apnéia prolongada,
essa teoria passou a ser questionada. Estudos retrospectivos mais atuais,
conduzidos em crianças que posteriormente morreram com SMSL, mostram
uma maior incidência de casos de ALTE nestas crianças, assim como estudos
de seguimento de pacientes com ALTE mostram aumento de risco para SMSL.
Atualmente não é mais questionada a relação nociva entre episódios de apnéia
prolongados e aumento de risco de SMSL.
3
Este estudo teve como objetivo revisar consensos e artigos de autores
renomados sobre ALTE que avaliam a incidência, fatores etiológicos e
investigação clínica de pacientes com ALTE.
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
90
Metodologia
Revisão da literatura através de pesquisa no banco de dados Medline e
LILACS entre 1986-2006 e publicações da Associação Latinoamericana de
Pediatria, selecionados a partir de autores com experiência reconhecida em
ALTE.
Foram revisados 17 artigos de autores com experiência reconhecida em ALTE,
além de 3 consensos: Consenso sobre Apnéia Infantil e Monitorização
Domiciliar realizado nos Estados Unidos em 1986, Consenco sobre Avaliação
Clínica em crianças com ALTE da Sociedade Européia para estudo e
prevenção da morte infantil em 2004, e ALTE – Guia de pratica clínica realizado
pela Sociedade Latinoamericana de pediatria em 2005.
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
91
Resultados
Baseado nos artigos e consensos revisados, observou-se que o episódio
de ALTE não é um diagnóstico definitivo e sim a apresentação clínica inicial de
diversas entidades nosológicas.
10
Para facilitar o manejo inicial da investigação
devemos classificar o apisódio de ALTE segundo sua gravidade em ALTE Maior,
aquele episódio que reverte através de estimulação vigorosa ou reanimação
cardiorespiratória e ALTE Menor o episódio que reverte espontaneamente ou
através de estimulação leve. Esta classificação, associada a história clínica
detalhada, orientada para o episódio e axame físico adequado constituem a
base para a definição diagnóstica.
11
A TABELA 1 demonstra as principais causas de ALTE.
Nos estudos mais importantes realizados sobre o assunto, as
manifestações clínicas mais freqüentes variaram entre as causas do trato
gastrointestinal de 13 a 66%
7,11
e do sistema nervoso central entre 4 a
38%
6,12,13
e causas idiopáticas entre 8 a 83%.
11,12
TABELA 2.
A apnéia pode ocorrer como manifestação ictal de epilepsia parcial do
lobo temporal. Descargas que originam-se em regiões profundas da córtex
cerebral poderiam explicar porque a pausa respiratória precede a alteração
eletrográfica e também justificar porque em alguns casos não ocorrem
alterações ictais no EEG de superfície.
1415,16
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
92
Em estudo brasileiro, incluindo 56 crianças, investigadas a nível
hospitalar, a causa mais freqüente foi refluxo gastro-esofágico (50%), seguido
de patologias neurológicas (16%) (epilepsia, malformações cranioencefálicas),
distúrbios metabólicos e cardíacos (3,2%), quatro pacientes apresentaram
combinação variada desses fatores e um apresentou malformação cranio-facial.
A idade de ocorrência do primeiro episódio de ALTE variou entre o primeiro dia
de vida e dois anos e sete meses. Em 92% dos casos o episódio de ALTE
aconteceu nos primeiros seis meses de vida e 83% antes dos três meses.
Houve predomínio dos episódios sintomáticos em 71% da população estudada.
O tempo de seguimento após o primeiro episódio de ALTE variou entre dois e
138 meses. Este seguimento mostrou 52% crianças normais, 37,5% com
problemas neurológicos (epilepsia, retardo do desenvolvimento
neuropsicomotor, déficits sensoriais e dificuldades escolares/distúrbio de
atenção). Todas as crianças onde foi observado patologia neurológica
associada ao episódio de ALTE apresentaram seguimento desfavorável. Das
crianças com episódios idiopáticos, 61% apresentaram seguimento normal, as
restantes apresentaram problemas neurológicos (quatro dificuldade escolares,
uma dificuldade na aquisição de linguagem, uma retardo desenvonvimento
neuropsicomotor RDNPM, uma epilepsia e RDNPM). Foram observados
quatro episódios de ALTE em quatro pacientes. Outras complicações
(desnutrição) foram observadas em um paciente. Evoluíram para óbito dois
pacientes em decorrência de complicações de suas patologias de base
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
93
(Tetralogia de fallot e hiperglicemia não cetótica). Não foi relatado nenhum
episódio de SMSL.
3
Em estudo brasileiro, onde foi realizado acompanhamento de seis
crianças onde ALTE foi a primeira manifestação de epilepsia, observou-se este
diagnóstico pede ser mascarado devido a grande incidência de EEG interictal
normal, dificuldade de obtenção do EEG ictal e coesistência de refluxo gastro-
esofágico em pacientes com menos de um ano. O EEG ictal, quando disponível
é padrão ouro para relação diagnóstica de ALTE e epilepsia, porém um exame
de neuroimagem alterado quando não se dispõe de EEG ictal também é de
grande contribuição. Os pacientes com patologia neurológica como distúrbio da
migração neuronal apresentaram pior evolução com atraso do desenvolvimento
neuopsicomotor e crise convulsiva refratária a medicação.
17
Em estudo inglês de 1999, Gray e colaboradores analisaram
retrospectivamente 130 prontuários, de crianças com critérios de inclusão para
ALTE, idade entre zero e doze meses, média de oito semanas, excluídas
crianças com mais de seis meses e crise convulsiva febril. Foram observados
163 episódios de ALTE, onde prevaleceram as causas neurológica 38% (crises
convulsivas e trauma cerebral) seguido de patologias respiratórias 21%
(infecção respiratória baixa, pertussis, infecção do trato respiratório superior,
asma).
5
Em estudo inglês mais recente de 2002, Davies e colaboradores
avaliaram prospectivamente 65 prontuários entre 1996-97, onde o paciente
Anexos
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Anexos
94
preencheu critérios conforme o consenso de 1986 para ALTE, sendo excluídos
crianças com mais de 6 meses que apresentaram crise convulsiva febril.
Crianças com idade entre zero a doze meses, com média de sete semanas, a
pricipal causa de ALTE foram patologias do trato gastrointestinal como refluxo
gastro-esofágico (28%) seguido de causas respiratórias (18%). Observou-se
15 % de SMSL em pré-termos abaixo de 34 semanas.
6
Em estudo americano em 2000, Sheikh e colaboradores avaliaram 74
casos prospectivos entre 1993-97, de crianças entre zero a doze meses, com
episódio de apnéia prolongada, hipotonia e palidez ou cianose ocorrida no
primeiro ano de vida, não foram realizadas exclusões. Observou-se mair
número de casos de patologia do trato gastrointestinal 66% (refluxo
gastrointestinal) seguida de causas idiopáticas 15%.
13
Em estudo israelense 1999, Tal e colaboradores avaliaram
retrospectivamente entre 1993-95, 65 pacientes com idade entre um a seis
meses, baseados na definição do consenso de 1986. Observou-se predomínio
de causas idiopáticas 83% seguido de causas do trato gastrointestinal 13%
(RGE e cólica).
12
Em estudo japonês de 1993, Tsukada e colaboradores observou maior
incidência de casos trato gastrointestinal 43% (RGE, disfunção esofágica),
seguido de causas respiratórias 42% (pertussis e infecção respiratória alta).
18
Anexos
AnexosAnexos
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95
Importante salientar, que assim como as diferentes metodologias
influenciam a incidência, também se reflete na diferença entre as incidências
encontradas nos maiores estudos.
Anexos
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96
Discussão
Os episódios de ALTE devem ser considerados como um sintoma ou
queixa principal e nunca como um diagnóstico definitivo. Sendo assim, o
objetivo da avaliação clínica é determinar a causa do ALTE, sendo definido
como idiopático o episódio que permanecer sem diagnóstico após a realização
de exames iniciais, investigação complementar e evolução clínica após a alta
hospitalar.
9
Em alguns casos de ALTE, onde a apnéia é a primeira manifestação de
crise convulsiva no lactente, pode ocorrer diagnóstico errôneo de refluxo gastro-
esofágico (RGE) devido a dificuldade de se obter EEG ictal, presença de EEG
interictal normal, contexto clínico pouco claro de epilepsia no lactente e grande
coesistência de RGE nesta faixa etária.
17
Para facilitar o manejo clínico inicial dos casos de ALTE, a Associação
Latinoamericana de Pediatria
11
classificou os casos conforme sua gravidade em
ALTE maior, como aquele que necessita estimulação vigorosa ou reanimação
cardiopulmonar; ALTE menor, como aquele que reverte espontaneamente ou
após estimulação mínima e menor com fatores de risco os episódios
recorrentes, ocorridos durante o sono, em crianças prematuras, história familiar
de morte súbita ou ALTE, fatores de risco social ou fatores de risco para SMSL
(drogadição materna, HIV, tabagismo).
Anexos
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97
A história clínica direcionada, exame físico adequado são essenciais
para elaboração diagnóstica. A história clínica direcionada deve pesquisar
antecedentes familiares como óbitos, alterações genéticas e metabólicas,
cardíacos ou neurológicos, doença respiratória obstrutiva, ALTE ou SMSL,
maus tratos infantil. Antecedentes perinatais número de gestações, gravidez
desejada, intercorrências durante gravidez, tipo parto, Apgar, peso de
nascimento e idade gestacional, sofrimento fetal agudo, antecedentes maternos
de tabagismo, alcoolismo, drogadição e medicações. Hábitos gerais e de sono
da criança como agitação, posição de dormir, horário de início do sono, co-leito,
suor excessivo, movimentos durante o sono, roncos, pausas respiratórias, uso
de chupeta. Características alimentares: sucção débil, alimentação em horário
fixo ou livre demanda, alimentação durante a noite, tipo de alimentação, vômitos
freqüentes.
Quanto à caractestica do evento, deve ser pesquisado: se evento foi
precedido por alguma enfermidade, imunização, medicação, alteração do sono
ou modificação do comportamento; onde ocorreu, quem estava presente,
medidas realizadas para interromper evento, ocorrência em sono ou vigília,
presença de alteração da coloração se periférica ou generalizada, qual postura
adquirida (hipotonia ou hipertonia), movimentos anormais, tempo de duração,
relação com alimentação, choro, posição e estado de consciência logo após o
evento.
Na maioria dos casos, o exame clínico e relato detalhado do episódio
definem a necessidade de internação hospitalar.
11
É recomendado pela
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
98
Associação Latinoamericana de Pediatria a internação de casos de ALTE maior
e menor com fatores de risco e encaminhado ao acompanhamento ambulatorial
os casos de ALTE menor simples.
Caso seja indicada a internação do paciente com ALTE, esta
hospitalização deve ter por objetivos gerais a observação do lactente e
avaliação do víncilo mãe-filho, técnica de alimentação, ritual do sono e
eventualmente de despertar; monitorização durante o sono com saturômetro de
pulso, e registro gráfico; avaliação clínica completa; exames complementares
iniciais; exames específico; avaliação psicológica e manejo da ansiedade
familiar.
Durante a hospitalização recomenda-se a avaliação interdisciplinar.
Devido a multiplicidade de possíveis causas de ALTE, se é encontrada um
diagnóstico para o episódio não se justifica a realização de estudos
considerados de maior complexidade e custo. Porém, deve-se considerar que
determinar uma patologia concomitante muitas vezes o implica em
determinar a causa específica do evento.
Nos casos em que os episódios se repetem e quando a causa não for
identificada após a realização de exames iniciais, solicitam-se exames
complementares (TABELA 3) e avaliações com especialidades pertinentes
(gastroenterologia, otorrinolaringologia, cardiologia, neurologia, pneumologia).
Os casos recorrentes idiopáticos podem estar associados com apnéias
obstrutivas durante sono, transtornos digestivos, neurológicos, transtornos
Anexos
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Anexos
99
metabólicos, síndrome de Muchausen por procuração ou sufocação induzida.
Nestes casos se amplia a investigação com video-EEG e ressonância nuclear
magnética, estudos metabólicos. Nos casos recorrentes, graves observados
sempre e exclusivamente pela mesma pessoa, com várias internações em
diversos hospitais, suspeitar de Síndrome de Munchausen por procuração.
19,20
A persistência de condições ambientais e/ ou de cuidado inadequado ao
lactente contraindicam a alta hospitalar, incluindo desde situações gerais como
problemas sociais que dificultam os cuidados domiciliares, até mais específicas
de sono, como a posição de decúbito ventral no sono, tabagismo materno ou
intradomiciliar, excesso de cobertores, cobrir o rosto, temperatura ambiental
inadequada, fragmentação e restrição do sono e/ou prolongamento e
forçamento da vigília.
Os pacientes com ALTE secundário, controlada a causa devem iniciar o
tratamento específico para sua patologia de base, com pais e cuidadores
realizando o curso de reanimação cardiorespiratória, estabelecimento de
condições ambientais adequadas com programa de seguimento clínico e
emergencial.
Quanto à monitorização cardiorrespiratória domiciliar, ainda não
consenso na comunidade científica sobre a diminuição da ocorrência de
síndrome de morte súbita mesmo em grupos de risco. A monitorização
domiciliar é considerada em casos onde há risco de apnéia ou bradicardia
Anexos
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Anexos
100
recorrente como no ALTE maior com a causa conhecida e controlada e em
casos de ALTE idiopático que persistam com apnéia e bradicardia.
Para o bom funcionamento da monitorização intradomiciliar devemos
considerar: seguimento clínico e psicológico da criança e sua família;
monitorização domiciliar durante, pelo menos 1 mês, sem episódios de ALTE e
passada as situações de estresse familiar; sistema de comunicação telefônica e
sistema de emergências; lugar de origem incluindo apoio técnico para bom uso
e funcionamento dos monitores; condição ideal de monitorização é aquele
monitor cardiorespiratório com saturação de oxigênio e gravador de eventos;
curso de parada cardiorespiratória para pais e cuidadores; explicações sobre
sono seguro; consentimento informado deve incluir uma explicação clara aos
pais que inclua os aspectos dos cuidados domiciliares.
11
Anexos
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Anexos
101
Conclusão
O episódio de ALTE deve ser considerado como a primeira manifestação
de entidades nosológicas diversas. A incidência é variada nas populações
estudadas devido a diversidade de metodologias empregadas. Sua
investigação deve obedecer protocolo padrão e estar direcionada para definição
da doença de base. Com o avanço dos métodos de investigação como a
ressonância magnética, vídeo - EEG e das condições de monitorização
domiciliar, têm-se observado uma diminuição dos casos idiopáticos e aumento
de episódios com causas definidas. Dessa forma determina-se melhor o
prognóstico de ALTE que tem estreita relação com a doença de base.
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
102
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Anexos
AnexosAnexos
Anexos
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Anexos
AnexosAnexos
Anexos
105
Tabela 1 - Principais causas de ALTE
Respiratória
Infecção: BCP, BQLTE
Obstrução de via aérea: retrognatia, traqueomalácea
Neurológica
Crise convulsiva
HIC
Hipoventilação central
Doença neuromuscular
Infecciosa
Sepse, ITU, GEA
Meningoencefalite
Cardíaca
Arritmias Wolf-Parkinson-White, síndrome QT longo
Miocardite
Alterações metabólicas
EIM
Alterações eletrolíticas
Autonomicas
Vasovagal
Alterações de mudança de cor
Gastro
RGE
Outros
Muchausen por procuração: abuso físico, trauma cerebral, sufocação,
envenenamento intensional
Anafilaxia
Uso indevido de medicações
Idiopática
BCP: broncopneumonia, BQLTE: bronquiolite, HIC: hemorragia intra-craniana, ITU: infecção do trato urinário, GEA:
gastroenterite aguda, EIM: erros inatos do metabolismo, RGE: refluxo gastro-esofágico
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
106
Tabela 2 - Etiologia dos episódios de ALTE
Autor GIT RESP SNC CVS ORL OUTROS IDIOP
Davies, n=65, (2002), Inglaterra 28% 18% 14% 4% 2% 17% 23%
Sheik, n=74, (2000), USA 66% 10% 4% 2% zero 1% 15%
Gray, n=130, (1999), Inglaterra 20% 20% 38% zero 0,5% 13% 13%
Tal, n=65, (1999), Israel 13% zero 5% zero zero zero 83%
Nunes, n=56, (1999), Brasil 50% zero 16% 3,2% zero 1,6% 29%
Kurz, n=60, (1997), Áustria 35% 33% 38% 2% 3% 16% 8%
Raviola, n=26, (1995), Argentina 53,8% 3,8% 15% zero zero zero 26,5%
Tsukada, n=19, (1993), Japão 43% 42% 5% zero 11% 11% zero
V-Wauters, n=130, (1991), Bélgica 26% zero 7% zero 11% 17% 42%
Laisne, n=100, (1989), França 66% zero 5% zero 6% 31% 9%
GIT: gastro-intestinal; RESP: respiratório; SNC: sistema nervoso central; CVS: cardio-vascular; ORL:
otorrinolaringo; IDIOP: idiopáticos; n: número de pacientes do estudo. McGovern and Smith modificada
(7)
Anexos
AnexosAnexos
Anexos
107
Quadro 1 - Exames iniciais e complementares no ALTE
Estudos iniciais Estudos complementares
Hemograma e hemocultura Gasometria arterial,lactato, amônia
Eletrólitos Pesquisa toxicológica sangue e urina
Enzimas hepáticas Phmetria
E QU e urocultura Ecocardiografia
Glicemia Laringoscopia
Rx tórax EEG, Polissonografia, vídeo-EEG
Ecografia cerebral Imagem cerebral
ECG com intervalo QT Holter-ECG
Aspirado nasofaringeo Monitorização domiciliar
Estudo da deglutição
Fundo de olho
Modificado de referencia 16
i
APÊNDICE
Apêndice
ApêndiceApêndice
Apêndice
ii
Apêndice – Banco de dados
Identificação
Sexo
Idade
IG estnut
PNN
AM
AF
Eneu
EEG
ICT
EEG
inter Rxt
Lab
pHmetria
av
cardio
imagem
PLNS
CLB 1 3 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 2 1 1 3
MMR 1 1 1 2 1 2 2 1 3 3 1 2 3 2 3 3
DFS 1 1 1 1 1 1 2 1 3 1 1 2 2 1 1 1
GS 1 1 2 2 2 2 2 1 3 1 1 2 2 1 3 3
GDC 1 15 1 2 2 2 2 1 3 1 3 2 3 1 1 3
SRCC 2 1 1 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 3 3
BPPG 1 1 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 3 1
EBA 2 2 2 2 2 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 2
HSS 1 17 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 3 1
GSM 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 3 1 3 3
LCB 1 5 2 2 2 2 2 1 1 1 1 2 1 1 1 1
VRP 2 11 1 1 2 1 2 2 2 1 1 2 1 1 1 2
SCMV 1 2 2 3 2 2 2 1 1 1 1 2 3 1 1 3
PGPZ 1 1 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 3 1
ISL 2 2 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 1 1
NNG 2 2 2 2 2 2 2 1 3 1 2 2 1 1 1 3
GVS 1 18 2 2 2 2 2 1 1 1 3 1 3 1 1 3
BMS 2 0,6 2 2 2 2 2 1 1 1 3 1 2 1 3 3
KBM 1 1 1 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 1 1
JPOV 1 0,5 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 3 3
LS 2 0,4 2 3 1 2 2 1 3 1 1 1 3 1 2 2
AJO 1 2 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 1 3
JGCA 1 1 2 2 2 2 1 1 3 3 1 1 3 1 3 3
LNL 1 3 2 2 1 1 2 2 2 2 1 1 3 2 2 3
JVP 1 1 1 2 2 2 2 1 3 3 1 1 2 1 3 3
YSF 1 2 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 3 3
JS 1 0,4 2 2 2 1 2 1 3 1 1 1 2 1 3 1
GRGS 1 10 2 2 2 2 2 1 3 1 1 1 3 1 1 3
KPR 1 2 1 2 2 2 2 1 3 1 2 2 3 1 1 1
ETA 2 2 1 2 2 1 2 1 3 1 1 2 3 1 1 3
Apêndice
ApêndiceApêndice
Apêndice
iii
Identificação
n° episodios
ate inicio inv
Tabagismo
materno VACINAS
CICLO
S-V
Mãe
Psiq
T
Acomp DNPM TIPO Risco Diagnostico
Desf
morte
súbita
CLB 1 2 2 1 2 13 1 1 1 1 2
MMR 1 2 2 1 2 18 1 2 2 5 2
DFS 2 1 2 1 2 19 1 2 2 1 2
GS 3 2 2 1 2 19 1 2 2 1 2
GDC 1 2 2 1 2 20 1 2 5 4 2
SRCC 2 2 2 1 2 19 1 2 2 4 2
BPPG 4 2 2 1 2 20 1 2 3 4 2
EBA 10 2 2 1 2 21 1 2 3 2 2
HSS 3 1 2 1 2 21 1 2 3 4 2
GSM 2 2 2 1 2 23 1 2 3 4 2
LCB 4 2 2 1 2 21 1 2 3 4 2
VRP 10 2 2 1 2 23 1 2 6 2 2
SCMV 1 2 2 2 2 21 1 1 1 4 2
PGPZ 2 2 2 2 2 20 1 2 3 4 2
ISL 4 2 2 1 2 12 1 2 3 4 2
NNG 2 2 2 2 2 12 1 2 3 3 2
GVS 10 2 2 1 1 13 3 2 3 5 3
BMS 4 2 2 2 2 14 1 2 3 1 2
KBM 2 1 2 1 2 24 1 2 2 4 2
JPOV 2 2 2 1 2 14 1 2 3 4 2
LS 5 2 2 1 2 23 1 3 8 2 2
AJO 6 2 2 1 2 16 1 2 3 4 2
JGCA 1 2 2 1 2 24 1 2 4 4 2
LNL 10 2 2 1 2 23 2 2 3 2 2
JVP 2 2 2 1 2 21 1 2 2 1 2
YSF 1 2 1 1 1 15 1 1 1 4 2
JS 3 2 2 1 2 13 1 2 3 1 2
GRGS 1 2 2 1 2 7 1 1 1 4 2
KPR 2 1 2 2 2 10 1 2 2 3 2
ETA 1 2 2 1 2 10 1 2 7 4 2
Apêndice
ApêndiceApêndice
Apêndice
iv
LEGENDAS DO APÊNDICE – BANCO DE DADOS
Sexo:
1-Masculino
2- Feminino
Idade em meses
Idade Gestacional:
1- Prematuro
2- Termo
3- Pós-datismo
Estado Nutricional ao Nascimento:
1- Pequeno para idade gestacional
2- Adequado para idade gestacional
3- Grande para idade gestacional
Problema Neurológico Neonatal :
1- Sim
2- o
Antecedentes Médicos:
1- Sim
2- o
Antecedente Familiar de ALTE/SMSL:
1- Sim
2- Não
Exame Neurológico no momento da internação:
1- Normal
2- Alterado
EEG Ictal:
1- Normal
2- Alterado
3- Não realizado
EEG Interictal:
1- Normal
2- Alterado
3- o realizado
Apêndice
ApêndiceApêndice
Apêndice
v
Rx Tórax:
1- Normal
2- Alterado
3- o realizado
Laboratório:
1- Normal
2- Alterado
Phmetria:
1- Normal
2- Alterada
3- o realizada
Avaliação cardiológica:
1- Normal
2- o realizada
Exame de imagem neurológico:
1- Normal
2- Alterada
3- o realizada
Polissonografia:
1- Normal
2- Alterada
3- o realizada
Número de episódios até o final da investigação:
Tabagismo materno:
1- Sim
2- o
Mãe em tratamento psiquiátrico:
1- Sim
2- o
Ciclo sono-vigília:
1- Vigília
2- Sono
Vacinação com 24-48h de antecedência:
1- Sim
Apêndice
ApêndiceApêndice
Apêndice
vi
2- o
Tempo de acompanhamento em meses
Desenvolvimento neuropsicomotor ao final do acompanhamento:
1- Normal
2- Alterado
3- o registrado
Tipo de ALTE:
1- Menor
2- Menor com riscos
3- Maior
Tipo de risco:
1- Sem risco
2- Prematuridade
3- Recorrência
4- História familiar de ALTE/SMSL
5- Prematuridade + problemas sociais
6- Prematuridade + recorrência
7- Prematuridade + HIV
8- Maior
Diagnóstico- causas:
1- Gastricas
2- Neurológicas
3- Pneumológicas
4- Idiopáticas
5- Outras
Desfecho de morte súbita:
1- Sim
2- Não
3- Óbito devido à outra causa
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