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LÚCIA CRISTINA DA SILVA RAINHO
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS:
UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Ciências em Arquitetura; linha de pesquisa
Desenvolvimento Sustentável, Arquitetura e
Entorno.
Orientadora:
Prof. Dra. Ângela Maria Moreira Martins
Rio de Janeiro
2006
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Capa
Foto: Lúcia Rainho
Design de capa: Bernardo Lac
www.designgenuino.com.br
Dissertação impressa em papel reciclado
R155 Rainho, Lúcia Cristina da Silva.
As tecnologias ambientais nas ecovilas: um exemplo de
gestão da água/ Lúcia Cristina da Silva Rainho. Rio de Janeiro:
UFRJ/ FAU, 2006.
314f.: il.; 31 cm.
Orientadora: Ângela Maria Moreira Martins
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ PROARQ/ Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura, 2006.
Referências Bibliográficas: f. 244-255.
1.Tecnologias ambientais. 2.Ecovilas. 3.Gestão da água. 4.
Sustentabilidade ambiental. 5.Ambiente natural. I. Martins,
Ângela Maria Moreira. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-graduação em Arquitetura. III. Título.
CDD 628
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AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS:
UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
Lúcia Cristina da Silva Rainho
Orientadora:
Prof. Dra. Ângela Maria Moreira Martins
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências em
Arquitetura.
Aprovada por:
_________________________________________________
Prof.
a
Ângela Maria Moreira Martins, D.Sc.(orientadora)
_________________________________________________
Prof.
a
Cláudia Mariz de Lyra Barroso Krause, D.Sc.
_________________________________________________
Prof.
a
Louise Land Bittencourt Lomardo, D.Sc.
Rio de Janeiro
Março de 2006
À meus pais que sempre me incentivaram e me
deram força em todos os momentos da minha
vida: à minha querida mãe que está junto de
Deus e a meu querido pai, que sempre foi meu
apoio neste momento difícil que estamos
vivendo e me ajudou a transpor as barreiras
para continuar o mestrado.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que me presenteou com o mestrado e por estar ao meu lado em todos os
momentos com Sua Paz, Sua Palavra e Seu Amor, inclusive e especialmente nos momentos
mais difíceis;
À meus pais que exultaram de alegria quando ingressei no mestrado, embora atualmente
minha mãe só esteja presente espiritualmente participando do término desta etapa da minha
vida. E a meu pai que se tornou forte quando eu estava fraca me mostrando como era
importante para todos da família que eu concluísse o mestrado;
À meus irmãos Ricardo e Carlos, minhas cunhadas Jacinta e Luciane, meu sobrinho Mateus
por terem me ajudado, mesmo sem saber, através de conversas, carinhos, brincadeiras,
posturas e opiniões. À toda minha família, tios e primos, que rezaram por mim para que
conseguisse finalizar a dissertação e continuasse a vida;
Aos professores de Conforto Ambiental do PROARQ que me ajudaram na busca do
conhecimento;
Às professoras Marta Irving e Cláudia Krause que participaram da banca do exame de
qualificação ajudando com suas opiniões, dicas e sugestões; e às professoras Louise Lomardo
e novamente Cláudia Krause por terem aceitado participar da banca final da defesa de minha
dissertação de mestrado;
À minha orientadora Ângela Martins, que aceitou entrar nessa “viagem” comigo, me recebeu
de braços abertos e abriu minha mente para a pesquisa científica e para detalhes que antes não
eram percebidos por mim;
À querida amiga Lourdes Zunino pela força nos momentos de preocupação e tristeza, pela
ajuda bibliográfica, pela revisão do conteúdo da dissertação, pelas dicas e pelo imenso apoio
ao tema que escolhi para a dissertação - foi quem me apresentou ao mundo das ecovilas!;
À minha querida amiga e maninha Sandra e seu filho que me auxiliaram (e como!) com
questões do Photoshop. A ela que transcreveu todas as entrevistas me ajudando de forma
indescritível e também por ter se prontificado a me auxiliar nas pesquisas quando eu estava
tentando me reerguer, sempre me dando força e me encorajando a continuar e lutar para
terminar o mestrado;
À meu irmão Carlos e a amiga Eliana Theme por terem feito a primeira revisão nas
entrevistas transcritas;
À querida amiga Cristina Braz pelas longas conversas e pela grande ajuda nos momentos em
que eu precisava de alguém para me mostrar outras visões principalmente da vida, e que de
forma indireta refletiram nesta pesquisa;
À querida amiga Christiane Erthal pela imensurável ajuda durante a visita ao Parque Visão,
pela elaboração do mapa da ecovila e pelas inúmeras conversas despretensiosas e divertidas;
À amiga Denise pela força e apoio espiritual através de longas e agradáveis conversas ao
telefone;
À querida amiga Adriana e sua família (Eduardo e Brunninho), que sem saber me motivaram
e me fizeram descobrir uma força que eu mesma não sabia existir dentro de mim, além de
sempre estarem solícitos quando eu precisava (e como precisei !)
Às meninas da turma do mestrado Eliva, Alexandra, Bárbara e Ivone, e aos meninos da turma
Marcello Dantas, Ernani, Rafael, Marcelo Biangolino, Guilherme e Leonardo pelos risos,
brincadeiras, amizade, alegria, piadas, sorrisos e claro pesquisas!;
À FAPERJ pela bolsa de estudos obtida em meados de 2005 que muito auxiliou na realização
desta pesquisa;
À turma da secretaria: Maria da Guia, Rita e Dionízio, por serem sempre solícitos aos meus
pedidos desesperados e intermináveis, além das brincadeiras, sorrisos e alegrias. Volto a
agradecer a Maria da Guia que ajudou na obtenção da bolsa de estudos da FAPERJ me
informando sobre inscrição, documentação e todos os detalhes administrativos além de estar
sempre pronta para intervir a meu favor me ajudando de forma emocionada. Muito obrigada!;
A bibliotecária da FAU, Dilza Torres, pela simpatia e pela imensa paciência em relação aos
meus pedidos de empréstimos de livros e dissertações, tudo sempre em caráter de urgência!!!;
Ao Niels Gudme, morador do Parque Ecológico Visão Futuro, que respondeu à algumas
questões referentes a ecovila. À Rosane, responsável pela área administrativa do Parque, que
elucidou minhas dúvidas durante minha segunda visita. Aos funcionários e moradores que
concordaram em me conceder as entrevistas tornando a pesquisa mais rica;
À May East, diretora de Relações Internacionais da Rede Mundial de Ecovilas, que se
prontificou a me conceder uma entrevista, momento em que pude tornar a pesquisa mais
crível e próxima da realidade das ecovilas;
À equipe do grupo de oração Nossa Senhora Rainha do qual faço parte, pelas orações
conversas, carinho e mensagens de otimismo e principalmente de fé que fortaleceram e ainda
fortalecem a mim e a meu pai;
Ao Bernardo Lac, por ter aceitado o desafio de desenvolver e diagramar a capa conseguindo
expressar o tema da minha dissertação através de formas simples, leves e arredondadas e com
cores que representam o ambiente natural e seus recursos (água, florestas e ar);
À todos pelo carinho, confiança, enfim pela amizade que ajudou e ajuda a superar e transpor
as dificuldades e mostrar que tudo se consegue quando há fortaleza de espírito e alma
agraciada por Deus.
EPÍGRAFE
“Somente quando a última árvore for cortada,
o último peixe pescado, o último rio poluído, o
último pássaro morto é que os homens vão
perceber que não podem comer dinheiro”.
(Autor desconhecido)
Não há desenvolvimento sem o cuidado com o
meio ambiente”.
(Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente)
“Não há felicidade sem vida, não há vida sem
futuro, não há futuro sem respeito. Respeitar a
natureza é respeitar a si mesmo”.
(Lúcia Rainho)
“Tudo posso Naquele que me fortalece”.
(Filipenses 4, 13)
RESUMO
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS:
UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
Lúcia Cristina da Silva Rainho
Orientadora:
Prof. Dra. Ângela Maria Moreira Martins
A preocupação com o ambiente natural é o motor propulsor do debate ambiental e do
desenvolvimento sustentável que, aliados à arquitetura, se dispõem a encontrar soluções para
a harmonia entre o ser humano e a natureza. As ecovilas são uma dessas soluções por serem
assentamentos humanos que priorizam a proteção dos recursos naturais através do uso de
tecnologias ambientais, em especial àquelas ligadas a gestão da água. As tecnologias
ambientais em assentamentos humanos que buscam a sustentabilidade ambiental como as
ecovilas demonstram a efetividade de sua implantação usufruindo da natureza e seus recursos
sem exauri-los. Este trabalho tem o intuito de auxiliar a disseminação dessas técnicas e a
divulgar esses assentamentos como exemplos possíveis e reais da busca permanente à
sustentabilidade ambiental, espiritual, social e econômica e da harmonia entre homem e
natureza. Para isso se fez necessário desenvolver o aspecto histórico do debate ambiental e
inserir as ecovilas nesta temática relatando a origem das mesmas, suas preocupações e a
importância da mudança do pensamento humano linear para um pensamento complexo que
engloba idéias transdisciplinares. Delineado este item evolui-se para o desenvolvimento das
tecnologias ambientais com prioridade àquelas relacionadas a gestão da água e cujo enfoque
pretende mostrar a simbiose existente entre as técnicas e o ambiente natural. A escolha do
Parque Ecológico Visão Futuro como o exemplo de ecovila brasileira que visa a
sustentabilidade ambiental através das tecnologias e prioriza a gestão da água tem o objetivo
de demonstrar a viabilidade do conjunto tecnologias ambientais-ecovilas para a proteção do
ambiente natural e da vida como um todo.
Palavras-chave: tecnologias ambientais, ecovilas, gestão da água, sustentabilidade ambiental,
ambiente natural.
Rio de Janeiro
Março 2006
ABSTRACT
ENVIRONMENTAL TECNOLOGIES IN THE ECOVILLAGES:
A EXAMPLE OF WATER MANAGMENT
Lucia Cristina da Silva Rainho
Orientadora:
Prof. Dra. Angela Maria Moreira Martins
The concern with the environment is the main drive for the natural environment and the
sustainable development debates which, together with Architecture, thrive to find solutions to
reach the desired rapport between man and nature. Ecovillages are one of these solutions
because they are human settlements which prioritize the protection of natural resources
through the use of environmental technologies, especially those concerning water
management. Human settlements that aim at environmental sustainability such as ecovillages,
can showcase the efficiency of the implemented environmental technologies enjoying nature
and its resources, but preventing their depletion. This dissertation intends to help disseminate
these techniques and to promote these settlements as possible and real examples in the
permanent search for environmental, spiritual, social and economic sustainability and the
accordance between man and nature. Therefore it was necessary to develop the historic
perspective of the environmental debate, and the insertion of ecovillages in this subject
depicting their origins, worries, and the importance of the shift from human linear thought
into complex thinking which encompasses trans-disciplinary ideas. This done, the next topic
shows the development of environmental technologies, prioritizing the ones related to water
management and which intend to mimic the natural environment. The choice of Visao Futuro
Ecological Park as the example of a brazilian ecovillage which seeks environmental
sustainability through the use of technologies and prioritizes water management has the
purpose of demonstrating the feasibility of the pair environmental technologies-ecovillages
for the protection of the natural environment and of life as a whole.
Key words: environmental technologies, ecovillages, management water, sustainability
environmental, environment.
Rio de Janeiro
March 2006
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -Os três ímãs: cidade, campo e cidade-campo ........................................................................................ 29
Figura 2- Visão do Mundo e Ecologia Profunda................................................................................................... 33
Figura 3- As Metas do Milênio e ODM. Figura adaptada pela autora................................................................... 39
Figura 4 - Localização da Fundação Findhorn na Escócia .................................................................................... 53
Figura 5 - Planta de localização na Baía de Findhorn ........................................................................................... 53
Figura 6 - Os traileres originais de Findhorn......................................................................................................... 54
Figura 7 - Implantação da Fundação Findhorn...................................................................................................... 55
Figura 8 - Construção com madeira de barris de whisky ....................................................................................... 56
Figura 9 - Detalhe de parede em palha.................................................................................................................. 56
Figura 10 - Residências ecológicas construídas com madeira............................................................................... 56
Figura 111 - Residências em madeira.................................................................................................................... 57
Figura 122 - Centro Comunitário em madeira....................................................................................................... 57
Figura 13 - Máquina Viva. .................................................................................................................................... 58
Figura 14 - Tanque aeróbico aberto da Máquina Viva.......................................................................................... 58
Figura 153 - Esquema do sistema de tratamento biológico de águas servidas. Adaptado pela autora .................. 59
Figura 164 - Residência construída em madeira com telhado verde e coletor solar.............................................. 59
Figura 17 - Santuário da Natureza construído com pedras locais, além do telhado verde integrado à paisagem.. 60
Figura 18 - Manutenção de um telhado verde ....................................................................................................... 60
Figura 19 - Localização da Ecovila The Farm no Estados Unidos. Adaptado pela autora.................................... 61
Figura 5 - Ônibus escolares utilizados na viagem “A Caravana”.......................................................................... 61
Figura 21 -Habitação bioclimática construída com madeira ................................................................................. 63
Figura 226 -Habitação bioclimática construída com madeira ............................................................................... 63
Figura 23 -Habitação bioclimática construída com madeira ................................................................................. 63
Figura 24 - Habitação bioclimática construída com palha..................................................................................... 63
Figura 25 - Habitação bioclimática construída com palha..................................................................................... 64
Figura 26 - Habitação bioclimática construída com material natural local: em argila .......................................... 64
Figura 27 - Coletor solar fotovoltaico ................................................................................................................... 64
Figura 287 - Gráfico do sistema de captação e armazenamento de águas pluviais ............................................... 65
Figura 29 - Tanque de 900 litros e galões de 600 litros ao fundo.......................................................................... 65
Figura 30 - Mapa da Austrália............................................................................................................................... 66
Figura 31 - Localização da Ecovila ....................................................................................................................... 66
Figura 32 - Projeto de permacultura de Cristal Waters ......................................................................................... 68
Figura 33 - Vista observada da entrada da Ecovila Cristal Waters........................................................................ 68
Figura 34 - Acomodação para visitantes em madeira............................................................................................ 69
Figura 35 - Residência em tijolos de terra............................................................................................................. 69
Figura 36 - Área externa para refeições em pedra................................................................................................. 69
Figura 37 - Residência em tijolo............................................................................................................................ 69
Figura 38 - Represas e rios na propriedade de Cristal........................................................................................... 70
Figura 39 - Localização do Estado de Goiás. Adaptado pela autora ..................................................................... 71
Figura 40 - Localização de Pirenópolis ................................................................................................................. 72
Figura 41 - Localização do IPEC em Pirenópolis. Adaptado pela autora.............................................................. 72
Figura 42- Entrada do IPEC .................................................................................................................................. 73
Figura 43- Mapa ilustrativo do IPEC .................................................................................................................... 74
Figura 44- Alojamentos......................................................................................................................................... 75
Figura 45- Anfiteatro em construção (tijolos de adobe)........................................................................................ 76
Figura 46- Cozinha cooperativa ............................................................................................................................ 76
Figura 47- Casa em madeira de jatobá .................................................................................................................. 78
Figura 48 - Módulo de construção em super adobe............................................................................................... 79
Figura 49 - Construção em super adobe ................................................................................................................ 79
Figura 50- Construção em super adobe ................................................................................................................. 79
Figura 51 - Módulos de construção em taipa de pilão........................................................................................... 80
Figura 52- Casa de taipa........................................................................................................................................ 80
Figura 53- Construção em jatobá na entrada principal, fundos e laterais em taipa................................................ 80
Figura 54- Recanto de bambu................................................................................................................................ 81
Figura 55- Construção em fardo de palha.............................................................................................................. 81
Figura 56- Casa em cob......................................................................................................................................... 81
Figura 57- Refeitório em pedra: bancos e mesas................................................................................................... 82
Figura 58- Jardim e escada em pedras................................................................................................................... 82
Figura 59- Escada em pedras................................................................................................................................. 82
Figura 60- Piso em pedras..................................................................................................................................... 83
Figura 61- Energia fotovoltaica............................................................................................................................. 83
Figura 62- Detalhe do coletor solar fotovoltaico................................................................................................... 84
Figura 63- ASBC sendo montado.......................................................................................................................... 84
Figura 64- ASBC e reservatório............................................................................................................................ 84
Figura 65- Corte esquemático do sanitário seco.................................................................................................... 85
Figura 66- Interior do sanitário seco...................................................................................................................... 85
Figura 67- Vista externa do sanitário seco ............................................................................................................ 86
Figura 68- Calha coletora da água de chuva.......................................................................................................... 86
Figura 69- Reservatório em ferrocimento para armazenamento da água coletada ................................................ 87
Figura 70- Abertura de um canal de infiltração..................................................................................................... 87
Figura 71- Canal de infiltração com água de chuva .............................................................................................. 87
Figura 72- Tanques com plantas filtrantes............................................................................................................. 88
Figura 73- Tanque em ferrocimento com plantas aquáticas.................................................................................. 88
Figura 74- Tanque em ferrocimento com plantas aquáticas.................................................................................. 89
Figura 75- Tanque biodigestor .............................................................................................................................. 89
Figura 76- Cama de tratamento com lago.............................................................................................................. 89
Figura 77- Cama de tratamento em tanque............................................................................................................ 90
Figura 78- Separação e descrição do destino do lixo do refeitório........................................................................ 90
Figura 79- Área para armazenagem de materiais recicláveis ................................................................................ 90
Figura 80 - Tabela dos dez maiores consumidores no mundo adaptada pela autora............................................. 96
Figura 81 - Teste de contração. Adaptado pela autora ........................................................................................ 102
Figura 82 - Teste de tração. Adaptado pela autora .............................................................................................. 102
Figura 83 - Teste de resistência........................................................................................................................... 103
Figura 84 - Etapas da fabricação de tijolo de adobe.Adaptado pela autora ......................................................... 103
Figura 85 - Detalhes da parede construída .......................................................................................................... 104
Figura 86 -Entrada de uma edificação em Santa Fé, Estados Unidos.................................................................. 104
Figura 87 -Residência em Arembepe, Salvador, Brasil....................................................................................... 104
Figura 88 -Restaurante em Santa Fé, Estados Unidos......................................................................................... 104
Figura 89 -Residência no Algarve, Portugal........................................................................................................ 105
Figura 90 -Residência no Alentejo, Portugal....................................................................................................... 105
Figura 91 -Atelier no Algarve, Portugal.............................................................................................................. 105
Figura 92 -Detalhe da parede do atelier.Algarve, Portugal ................................................................................. 105
Figura 93 -Tipos de tijolo de solo cimento utilizados em algumas construções da Caixa Econômica Federal... 106
Figura 94 -Exemplos de encaixe com tijolos de solo cimento vazado com 2 furos ............................................ 106
Figura 95 -Prensa................................................................................................................................................. 106
Figura 968 -Assentamento dos tijolos de solo-cimento....................................................................................... 107
Figura 97 -Fase da construção com solo cimento................................................................................................ 107
Figura 98 -Superfície lisa e plana: sem reboco e emboço ................................................................................... 107
Figura 99 -Instalação elétrica e hidráulica........................................................................................................... 108
Figura 100 -Travamento vertical e horizontal e os batentes das esquadrias........................................................ 108
Figura 101 -Batentes de portas e janelas com chumbamento.............................................................................. 108
Figura 102 -Passo a passo do encaixe da caixa de tomada no tijolo de solo-cimento ......................................... 108
Figura 103 -Pintura das paredes de tijolo de solo-cimento.................................................................................. 109
Figura 104 -Habitações em solo cimento. Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil........................................... 109
Figura 105 -Habitações em solo cimento. São Simão, São Paulo, Brasil............................................................109
Figura 106 -Habitações em solo cimento no Brasil............................................................................................. 109
Figura 107 -Habitação em solo cimento no Brasil .............................................................................................. 109
Figura 108 -Habitação em solo cimento no Brasil .............................................................................................. 110
Figura 109 -Chalés em solo cimento, Brasil........................................................................................................ 110
Figura 110 - Habitação em solo cimento, Zâmbia............................................................................................... 110
Figura 111 -Habitação solo cimento, Austrália ................................................................................................... 110
Figura 112 - Funcionamento da tecnologia ......................................................................................................... 112
Figura 113 - Esquema do sistema de aquecimento solar por termossifão. Adaptado pela autora ....................... 112
Figura 114 - Esquema do sistema de aquecimento solar forçado........................................................................ 113
Figura 115 -Componentes do coletor solar.......................................................................................................... 114
Figura 116- Reservatório térmico e seus componentes ....................................................................................... 115
Figura 117 -Exemplo de reservatório térmico..................................................................................................... 115
Figura 118 -Bombas integrantes do sistema de aquecimento solar..................................................................... 115
Figura 119 -Esquema de funcionamento do ASBC. Adaptado pela autora......................................................... 117
Figura 120- Residência em Minas Gerais, Brasil ................................................................................................ 119
Figura 121 -ASBC no Brasil ............................................................................................................................... 119
Figura 122 -ASBC no IPEC, Goiás, Brasil.......................................................................................................... 119
Figura 123 - Residência no Reino Unido ............................................................................................................ 119
Figura 124 - Residência em Nova York, Estados Unidos ................................................................................... 119
Figura 125 - Residência no Reino Unido ............................................................................................................ 120
Figura 126 - Residência em Nova York, Estados Unidos ................................................................................... 120
Figura 127 - Coletor solar em residência na Austrália ........................................................................................ 120
Figura 128 - Célula octógona e detalhe de sua trama.......................................................................................... 121
Figura 129 - Célula, módulo e painel: diferenças fundamentais ......................................................................... 121
Figura 130 - Tipos de painéis fotovoltaicos vendidos no mercado brasileiro......................................................121
Figura 131 - Painel rastreador fotovoltaico ......................................................................................................... 122
Figura 132 - Esquema de funcionamento do sistema fotovoltaico...................................................................... 122
Figura 133 - Esquema do sistema fotovoltaico em uma residência..................................................................... 123
Figura 134 - Painéis fotovoltaicos....................................................................................................................... 124
Figura 135 - Painéis fotovoltaicos na fachada da Biblioteca de Mataró, Barcelona, Espanha ............................ 124
Figura 136 - Iluminação preservada no interior da biblioteca em Barcelona ...................................................... 124
Figura 137 - Painéis na cobertura do IEE/ USP, São Paulo, Brasil..................................................................... 125
Figura 138 - Painéis em residência - Califórnia, Estados Unidos........................................................................ 125
Figura 139 - Telhado em painel fotovoltaico ...................................................................................................... 125
Figura 140 - Telhado em painel fotovoltaico ...................................................................................................... 125
Figura 141 - Cobertura com painéis fotovoltaicos............................................................................................... 125
Figura 142 - Lixo na margem dos rios ................................................................................................................ 126
Figura 143 - Exemplo de lixão ............................................................................................................................ 129
Figura 144 - Exemplo de aterro........................................................................................................................... 129
Figura 145 - Exemplo de forno incinerador ........................................................................................................ 130
Figura 146 - Compostagem: futuro adubo orgânico............................................................................................ 130
Figura 147 - Compostagem: futuro adubo orgânico............................................................................................ 131
Figura 148 - Tempo de decomposição de alguns materiais. Adaptado pela autora............................................. 131
Figura 149 - Galpão para triagem dos recicláveis e lixo separado e enfardado................................................... 135
Figura 150 - Lixo separado, prensado e enfardado.............................................................................................. 136
Figura 151 - Lixo coletado de porta em porta e separado em tambores com as cores definidas pelo CONAMA136
Figura 152 - Latas de lixo com as cores definidas pelo CONAMA, lixo coletado e local onde era depositado . 137
Figura 153 - Ações humanas e uso da água. Adaptado pela autora..................................................................... 140
Figura 154 - Lagoa de estabilização em Penápolis, São Paulo, Brasil ................................................................ 142
Figura 155 - Estaco de Tratamento de Esgoto Sarapuí - Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil............................ 142
Figura 156 - Tanque com peixes para purificação da água, Brasil...................................................................... 142
Figura 157 - Sistema montado............................................................................................................................. 144
Figura 158 - Detalhe do encaixe da tubulação..................................................................................................... 144
Figura 159 - Sistema da fossa biodigestora (sem as tampas)............................................................................... 145
Figura 160 - Sistema da fossa biodigestora tampado .......................................................................................... 145
Figura 161 - Sistema da fossa biodigestora. Adaptado pela autora ..................................................................... 145
Figura 162 - Filtro de areia conectado a caixa 3.................................................................................................. 146
Figura 163 - Tanque de sedimentação................................................................................................................. 147
Figura 164 - Tanque de peixes ............................................................................................................................ 147
Figura 165 - Tanque de macrófitas...................................................................................................................... 147
Figura 166 - Horta ............................................................................................................................................... 148
Figura 167 - Detalhe das camadas existente no tratamento do efluente.............................................................. 149
Figura 168 - Detalhe do sanitário seco compostável. Adaptado pela autora ....................................................... 149
Figura 169 - Sanitário seco compostável fabricado por Lengen.......................................................................... 150
Figura 170 - Sistema básico de captação de águas pluviais (filtro ou pequeno reservatório).............................. 152
Figura 171 - Gráfico de consumo de água em residências. Adaptado pela autora .............................................. 152
Figura 172 - Calha e tubulação para a coleta da água de chuva .......................................................................... 154
Figura 173 - Vertedouro: vazão da água ............................................................................................................. 154
Figura 174 - Coletor automático:qualidade da água............................................................................................ 154
Figura 175 - Locação e marcação do diâmetro da cisterna para futura fabricação.............................................. 155
Figura 176 - Colocação da estrutura em ferro ..................................................................................................... 155
Figura 177 - Construção da cisterna em sistema
de mutirão............................................................................... 156
Figura 178 - Emboço das cisternas...................................................................................................................... 156
Figura 179 - Cisterna construída ......................................................................................................................... 156
Figura 180 - Cisterna de água de chuva no sertão nordestino ............................................................................. 156
Figura 1819 - Cisterna de água de chuva de uma
habitação no nordeste ............................................................ 156
Figura 182 - Mapa ilustrativo do Parque Ecológico Visão Futuro ...................................................................... 159
Figura 183 - Localização do Estado de São Paulo. Adaptado pela autora...........................................................160
Figura 184 -Localização de Porangaba no Estado de São Paulo......................................................................... 161
Figura 185 - Localização da ecovila na região entre Porangaba e Quadra..........................................................161
Figura 186 - Acesso ao Parque. Adaptado pela autora (sem escala) ................................................................... 161
Figura 187 - Vista da entrada do Parque Ecológico Visão Futuro....................................................................... 162
Figura 188 - Placa na entrada .............................................................................................................................. 162
Figura 189 - Vista da estrada de terra e da área onde estão a maioria das residências........................................ 163
Figura 190 - Vista de um acesso á área onde estão a maioria das residências.....................................................163
Figura 191 - Vegetação nativa ao lado do salão grande ...................................................................................... 163
Figura 192 - Atividade dentro da floresta............................................................................................................ 164
Figura 193 - Horta circular.................................................................................................................................. 167
Figura 194 - Pomar.............................................................................................................................................. 168
Figura 195 - Estufa com mudas de plantas.......................................................................................................... 168
Figura 196 - Interior da loja (produtos a venda).................................................................................................. 168
Figura 197 -Produtos da padaria.......................................................................................................................... 169
Figura 198 - Vista da futura “ala saúde” ............................................................................................................. 169
Figura 199 - Parque Ecológico Visão Futuro. Mapa esquemático do uso geral das edificações......................... 170
Figura 200 - Distância entre as construções e o caminho em pedras................................................................... 170
Figura 201 - Distância entre as construções ........................................................................................................ 170
Figura 202 - Cozinha nova em construção: tijolo de barro e estrutura em concreto (2004)................................ 171
Figura 203 - Cozinha nova construída (2005) ..................................................................................................... 171
Figura 204 - Planta baixa esquemática do dormitório “Borboleta”..................................................................... 172
Figura 205 - Dormitório “Borboleta”. ................................................................................................................. 172
Figura 206 - Planta baixa esquemática do dormitório “Sol e Lua” ..................................................................... 173
Figura 207 - Dormitório “Sol e Lua”................................................................................................................... 173
Figura 208 - Sala Lótus ....................................................................................................................................... 173
Figura 209 - Sala ao lado da Lótus...................................................................................................................... 173
Figura 210 - Pintura na sala Lótus....................................................................................................................... 174
Figura 211 - Pintura na sala Lótus....................................................................................................................... 174
Figura 212 - Quarto coletivo para 4 pessoas (Borboleta) .................................................................................... 174
Figura 213 - Quarto coletivo para 8 pessoas (Sol e Lua)..................................................................................... 174
Figura 214 - Banheiro coletivo (Borboleta)......................................................................................................... 174
Figura 215 - Banheiro coletivo (Sol e Lua)......................................................................................................... 174
Figura 216 - Planta baixa esquemática do dormitório “Pomar” .......................................................................... 175
Figura 217 - Dormitório “Pomar” ....................................................................................................................... 175
Figura 218 - Dormitório “Céu”. .......................................................................................................................... 176
Figura 219 - Acesso ao dormitório “Mandala” (2004)........................................................................................ 176
Figura 220 - Dormitório “Mandala” (2005) ........................................................................................................ 176
Figura 221 - Residência em madeira................................................................................................................... 177
Figura 222 - Residência em madeira de origem desconhecida............................................................................ 177
Figura 223 - Residência em formato hexagonal.................................................................................................. 177
Figura 224 - Residência em formato hexagonal.................................................................................................. 177
Figura 225 - Vista de algumas residências .......................................................................................................... 178
Figura 226 - Residência....................................................................................................................................... 178
Figura 227 - Residência....................................................................................................................................... 178
Figura 228 - Alojamentos individuais ................................................................................................................. 178
Figura 229 - Laboratório ..................................................................................................................................... 179
Figura 230 - Laboratório ..................................................................................................................................... 179
Figura 231 - Centro Ananda 1............................................................................................................................. 179
Figura 232 - Centro Ananda 2............................................................................................................................. 179
Figura 233 - Estufa.............................................................................................................................................. 180
Figura 234 - Detalhe da estufa............................................................................................................................. 180
Figura 235 - Abrigo do trator .............................................................................................................................. 180
Figura 236 - Casa da agricultura.......................................................................................................................... 181
Figura 237 - Refeitório........................................................................................................................................ 181
Figura 238 - Salão da creche ............................................................................................................................... 182
Figura 239 - Escola da creche ............................................................................................................................. 182
Figura 240 - Interior da creche ............................................................................................................................ 182
Figura 241 - Banheiro da creche.......................................................................................................................... 182
Figura 242 - Vista das construções pertencentes à creche................................................................................... 182
Figura 243 - Salão grande.................................................................................................................................... 183
Figura 244 - Detalhe do beiral............................................................................................................................. 183
Figura 245 - Interior do “salão grande”............................................................................................................... 183
Figura 246 - Centro de artes................................................................................................................................ 183
Figura 247 - Sala de meditação ........................................................................................................................... 184
Figura 248 - Detalhe do teto................................................................................................................................ 184
Figura 249 - Interior da sala de meditação .......................................................................................................... 184
Figura 250 - Casa central (frente)........................................................................................................................ 185
Figura 251 - Casa central (fundos) ...................................................................................................................... 185
Figura 252 - Antigo refeitório da casa central..................................................................................................... 186
Figura 253 - Varanda da casa central (lateral)..................................................................................................... 186
Figura 254 - Varanda da casa central (fundos).................................................................................................... 186
Figura 255 - Refeitório redondo comunitário (exterior)...................................................................................... 186
Figura 256 - Interior do refeitório redondo comunitário ..................................................................................... 187
Figura 257 - Interior da cozinha dos moradores.................................................................................................. 187
Figura 258 - Cozinha dos moradores................................................................................................................... 187
Figura 259 - Sala das Nuvens.............................................................................................................................. 188
Figura 260 - Antiga cozinha dos moradores........................................................................................................ 188
Figura 261 - Padaria ............................................................................................................................................ 188
Figura 262 - Vista da padaria e construções vizinhas.......................................................................................... 189
Figura 263 - Loja do Parque................................................................................................................................ 189
Figura 264 - Bancos de madeira próximos ao dormitório “Borboleta” ...............................................................190
Figura 265 - Ambiente próximo ao dormitório “Borboleta” ............................................................................... 190
Figura 266 - Quiosque próximo à casa central .................................................................................................... 190
Figura 267 - Quiosque próximo à padaria........................................................................................................... 190
Figura 268 - Local de contemplação próximo ao “jardim da paz”...................................................................... 190
Figura 269 -Interior do local de contemplação.................................................................................................... 190
Figura 270 - Brinquedos em madeira .................................................................................................................. 191
Figura 271 - Labirinto mandala em frente ao Centro Ananda 2.......................................................................... 191
Figura 272 - Lago do jardim da paz .................................................................................................................... 191
Figura 273 - Detalhe do lago............................................................................................................................... 192
Figura 274 - Ambiente do jardim da paz............................................................................................................. 192
Figura 275 - Ambiente do jardim da paz............................................................................................................. 192
Figura 276 - Lago em frente ao refeitório redondo ............................................................................................. 192
Figura 277 - Mesa e bancos de madeira .............................................................................................................. 192
Figura 278 - Convidativa varanda do dormitório “Borboleta” ............................................................................ 193
Figura 279 - Varanda no dormitório ”Sol e Lua”................................................................................................ 193
Figura 280 - Varanda do dormitório “Borboleta”................................................................................................ 193
Figura 281 - Recanto no dormitório “Borboleta”................................................................................................ 193
Figura 282 - Tipos de luminárias usadas na iluminação externa (indireta) ......................................................... 194
Figura 283 - Parque Ecológico Visão Futuro.Mapa esquemático das tecnologias ambientais............................ 195
Figura 284 - Energia da concessionária e energia fotovoltaica (açude) .............................................................. 196
Figura 285 - Sala “Lótus” do dormitório “Borboleta”......................................................................................... 196
Figura 286 - Painel fotovoltaico para a sala “lótus”............................................................................................ 196
Figura 287 - Detalhe da lâmpada na sala “lótus”. ............................................................................................... 196
Figura 288 - Painel fotovoltaico da cozinha........................................................................................................ 197
Figura 289 - Detalhe da lâmpada na cozinha....................................................................................................... 197
Figura 290 - Painel fotovoltaico da cozinha........................................................................................................ 198
Figura 291 - Detalhe: bomba e coletor ................................................................................................................ 198
Figura 292 - Cata-vento e açude.......................................................................................................................... 199
Figura 293 - Detalhe do cata-vento ..................................................................................................................... 199
Figura 294- Cata-vento próximo a creche ........................................................................................................... 199
Figura 295 - Chuveiro elétrico ............................................................................................................................ 200
Figura 296 - Casa com escorrega e rede.............................................................................................................. 200
Figura 297 - Gangorra ......................................................................................................................................... 200
Figura 298 - Área para armazenagem de materiais recicláveis ........................................................................... 201
Figura 299 - Separação do lixo próximo ao refeitório redondo........................................................................... 201
Figura 300 -Detalhe das placas............................................................................................................................ 201
Figura 301 - Separação do lixo da cozinha dos moradores ................................................................................. 202
Figura 302 - Área de compostagem..................................................................................................................... 202
Figura 303 - Detalhe da compostagem................................................................................................................ 202
Figura 304 - Antiga sala de artes: confecção de produtos com material reciclado.............................................. 203
Figura 305 - Mapa indicativo dos açudes............................................................................................................ 204
Figura 306 - Vista do lago................................................................................................................................... 205
Figura 307 - Riacho............................................................................................................................................. 205
Figura 308 - Ponte sobre o lago........................................................................................................................... 205
Figura 309 - Açude ao lado de um riacho............................................................................................................ 205
Figura 310 - Açude perto da horta circular.......................................................................................................... 206
Figura 311 - Açude com água bombeada através de energia solar...................................................................... 207
Figura 312 - Esquema do sistema de bombeamento com energia solar .............................................................. 207
Figura 313 - Açude com água bombeada através de energia eólica .................................................................... 207
Figura 314 - Esquema do sistema de bombeamento com energia eólica............................................................. 208
Figura 315 - Esquema do tratamento biológico da água de chuva com aguapé .................................................. 208
Figura 316 - Tratamento biológico da água de chuva com aguapé ..................................................................... 209
Figura 317 - Detalhe do tambor central e da espiral com aguapé........................................................................ 209
Figura 318 - Detalhe do iglu de concreto e a bomba........................................................................................... 209
Figura 319 - Zona de raízes antiga ...................................................................................................................... 210
Figura 320 - Esquema do tratamento de esgoto com a utilização da Zona de Raízes ......................................... 211
Figura 321 - Vista da Zona de Raízes (2005)...................................................................................................... 211
Figura 322 - Zona de Raízes delimitada por cerca em madeira (2004)............................................................... 211
Figura 323 - Mapa indicativo da casa modelo na ecovila.................................................................................... 212
Figura 324 - Detalhe da localização da casa modelo........................................................................................... 212
Figura 325 - Esquema da utilização da água de chuva na casa modelo............................................................... 213
Figura 326 - Residência modelo: calha coletora e tanques de armazenamento................................................... 213
Figura 327 - Detalhe do tratamento biológico: a planta junco............................................................................. 214
Figura 328 - Mapa indicativo da residência Lila na ecovila................................................................................ 214
Figura 329 - Detalhe da localização da residência Lila....................................................................................... 214
Figura 330 - Residência Lila ............................................................................................................................... 214
Figura 331 - Coleta de água de chuva ................................................................................................................. 215
Figura 332 - Tratamento da água de chuva e tratamento do efluente de esgoto.................................................. 215
Figura 333 - Compostagem de lixo em anéis de tubulações................................................................................ 216
Figura 334 - Lateral da “Residência Lila............................................................................................................. 216
Figura 335 - Castelo d’água (verdes) .................................................................................................................. 217
Figura 336 - Detalhe dos castelos e da bomba .................................................................................................... 217
Figura 337 - Detalhe da bomba ........................................................................................................................... 217
Figura 338 - Castelo d’água (branco).................................................................................................................. 217
Figura 339 - Reunião de confraternização de final de ano .................................................................................. 218
Figura 340 - Chefe de cozinha: Luís Carlos........................................................................................................ 218
Figura 341 - Brincadeira “amigo oculto”: troca de presentes.............................................................................. 219
Figura 342 - Exibição de filme brasileiro............................................................................................................ 219
Figura 343 - Exibição de filme brasileiro............................................................................................................ 219
Figura 344 - Calçados à frente da porta da sala “Lótus” ..................................................................................... 220
Figura 345 - Criança brincando nos brinquedos com a mãe................................................................................ 220
Figura 346 - Uso da sala de apoio técnico na casa central................................................................................... 221
Figura 347 - Sala da recepção da administração do Parque................................................................................. 221
Figura 348 - Funcionárias trabalhando no interior da padaria............................................................................. 221
Figura 349 - Funcionária limpando o Parque para o evento................................................................................ 222
Figura 350 - Funcionária limpando o dormitório ‘Borboleta” para o evento” .................................................... 222
Figura 351 - Funcionários limpando a mata ciliar perto de um açude................................................................. 222
Figura 352 - Aula de yoga na sala de meditação antes do jantar......................................................................... 222
Figura 353- Jantar no refeitório redondo com visitantes que chegaram para o evento........................................ 223
Figura 354 - Palestra na sala “Lótus” .................................................................................................................. 223
Figura 355 - Cozinha industrial dos moradores................................................................................................... 223
Figura 356 - Vivência no gramado...................................................................................................................... 224
Figura 357 - Conversa ao lado da sala de palestras............................................................................................. 224
Figura 358 - Conversa ao lada da recepção e no gramado .................................................................................. 224
Figura 359 - Almoço no refeitório redondo......................................................................................................... 225
Figura 360 - Almoço à mesa de madeira ao lado do refeitório redondo.............................................................. 225
Figura 361 - Vivência após o almoço.................................................................................................................. 225
Figura 362 - Levando suco para o refeitório ....................................................................................................... 226
Figura 363 - Lanchando ao ar livre ..................................................................................................................... 226
Figura 364 - Colocando a sopa na estufa............................................................................................................. 226
Figura 365 - Levando o pão para o refeitório...................................................................................................... 226
Figura 366 - Música e dança na sala “Lótus”...................................................................................................... 227
Figura 367 - Café da manhã ................................................................................................................................ 227
Figura 368 - Brincando na creche........................................................................................................................ 228
Figura 369 - Apropriação do espaço gramado..................................................................................................... 228
Figura 370 - Vivência no “grande salão” ............................................................................................................ 228
Figura 371 - Venda dos produtos da padaria....................................................................................................... 228
Figura 372 - Separação do lixo............................................................................................................................ 229
Figura 373 - Uso do banheiro coletivo ................................................................................................................ 229
Figura 374 - Limpeza da louça............................................................................................................................ 229
Figura 375 - Pegada Ecológica: harmonia com o Planeta ................................................................................... 256
Figura 376 - Divisão harmônica no Planeta: mar, floresta, cultivo, pastagem, moradia ..................................... 257
Figura 377 - Pegada Ecológica da humanidade................................................................................................... 258
Figura 378 - Relação do número de perguntas para cada tema da ASC. Adaptada pela autora .......................... 259
Figura 379 - Indicação do grau de sustentabilidade pela ASC ............................................................................ 260
Figura 380 - Etapas da fabricação de tijolo de adobe.Adaptado pela autora.......................................................263
Figura 381 - Molde para um tijolo: 40x20x15cm e um super molde para 6 tijolos............................................. 264
Figura 382 - Forma de madeira e tijolo com espaço para reforço ....................................................................... 264
Figura 383 - Detalhes da parede construída ........................................................................................................ 264
Figura 384 -Tipos de tijolo de solo cimento utilizados em algumas construções da Caixa Econômica Federal. 267
Figura 385 -Exemplos de encaixe com tijolos de solo cimento vazado com 2 furos .......................................... 267
Figura 386 -Molde para tijolo de solo-cimento................................................................................................... 267
Figura 387 -Etapas do processo de moldagem manual. Adaptado pela autora.................................................... 268
Figura 388 -Prensa............................................................................................................................................... 268
Figura 389 -Assentamento dos tijolos de solo-cimento....................................................................................... 269
Figura 390 -Fase da construção com solo cimento.............................................................................................. 269
Figura 391 -Superfície lisa e plana: sem reboco e emboço ................................................................................. 269
Figura 392 -Instalação elétrica e hidráulica......................................................................................................... 270
Figura 10 -Travamento vertical e horizontal e os batentes das esquadrias.......................................................... 270
Figura 394 -Batentes de portas e janelas com chumbamento.............................................................................. 270
Figura 395 -Passo a passo do encaixe da caixa de tomada no tijolo de solo-cimento ......................................... 271
Figura 396 -Pintura das paredes de tijolo de solo-cimento.................................................................................. 271
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 - Verificação de alguns detalhes antes da fabricação do ASBC...................................................... 309
Anexo 2 - Lista de peças, ferramentas e complementos para fabricação do ASBC..................................... 310
Anexo 3 - Resolução CONAMA n
o
275 de 25 de Abril 2001.......................................................................... 311
Anexo 4 - Carta da Água (Conselho da Europa) ............................................................................................ 312
Anexo 5 - Quadro de parâmetros de potabilidade - Portaria n
o
518 de 25 de Março de 2005.................... 313
Anexo 6 - Classificação das águas definida pela Resolução n
o
357, de 17 de Março de 2005...................... 313
Anexo 7 - Índice de balneabilidade - Resolução n
o
274 de 29 de Novembro 2000........................................ 313
Anexo 8 - Lista de material da fossa biodigestora - EMBRAPA................................................................... 314
LISTA DE SIGLAS
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASBC - Aquecedor Solar de Baixo Custo
ASC - Avaliação da Sustentabilidade Comunitária
CDE - Coordenação de Desenvolvimento Energético
CDE Coordenação de Desenvolvimento Energético - Universidade Livre do Meio Ambiente
CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica
CETHS - Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis
CMMAD - Comissão Mundial sobre Meio ambiente e Desenvolvimento
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
CRESESB - -Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito
ELETROBRÁS - Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ENA - Ecovillage Network of Americas (Rede de Ecovilas das Américas)
ENA-Brasil - Rede das Ecovilas do Brasil
ENCA - Encontro Nacional de Comunidades Alternativas
ENNA - Ecovillage Network of North America
GEN - Global Ecovillage Network (Rede Mundial de Ecovilas)
IEE/USP - Instituto de Eletrotécnica e Elétrica da Universidade de São Paulo
IPEC - Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado
IPEMA - Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica
IPEP - Instituto de Permacultura e Ecovilas dos Pampas
LABEEE - Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (da UFSC)
LES - Laboratório de Energia Solar
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia
MEP - Ministério da Economia Portuguesa
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MME - Ministério de Minas e Energia
NBR - Norma Brasileira
ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
OIA - O Instituto Ambiental
ONG - Organização Não-Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo
OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar
Rio Coop - Cooperativa de Coleta Seletiva & Reciclagem de Materiais Plásticos e Resíduos
SOSOL - Sociedade do Sol
TA’s - Tecnologias Ambientais
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina
WWI - WorldWatch Institute
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 22
CAPITULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
1.1- A Revolução Industrial e alguns de seus críticos.......................................................... 26
1.2- 2ª Guerra Mundial à Ecologia Profunda...................................................................... 31
1.3- “Limites do Crescimento” à Crise do Petróleo de 1973............................................... 34
1.4- “Nosso Futuro Comum” às Conferências da ONU ...................................................... 35
CAPITULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
2.1- A origem das ecovilas no mundo.................................................................................... 41
2.2- A origem das ecovilas no Brasil...................................................................................... 46
2.3- Os principais modelos de ecovilas no mundo................................................................51
2.3.1- Ecovila de Findhorn....................................................................................................... 53
2.3.2- Ecovila The Farm........................................................................................................... 61
2.3.3- Ecovila Cristal Waters ................................................................................................... 66
2.3.4- Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado .........................................................71
2.3.5- Quadro Sinóptico ........................................................................................................... 91
CAPITULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
3.1- Um breve panorama do ambiente natural mundial e brasileiro ................................94
3.2- As tecnologias ambientais e sua importância ...............................................................97
3.3- As tecnologias ambientais mais utilizadas nas ecovilas
3.3.1- Métodos construtivos .....................................................................................................99
3.3.2- Gestão de energias renováveis..................................................................................... 110
3.3.3- Gestão do lixo .............................................................................................................. 125
3.4- A gestão da água............................................................................................................ 137
3.4.1- O uso do efluente de esgoto e das águas de chuva
3.4.1.1- Tratamento do efluente de esgoto ............................................................................. 141
3.4.1.2- Captação, armazenamento e aproveitamento das águas de chuva ............................150
CAPITULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
4.1- História e localização da ecovila ..................................................................................157
4.2- Estruturas social, jurídica e econômica.......................................................................164
4.3- Arquitetura .................................................................................................................... 169
4.4- Uso das tecnologias ambientais ....................................................................................194
4.5- Uso e gestão da água .....................................................................................................203
4.6- Avaliação do espaço e das tecnologias ambientais ..................................................... 217
4.6.1- Observação direta........................................................................................................ 218
4.6.2- Entrevistas.................................................................................................................... 229
4.6.3- Quadro Sinóptico ......................................................................................................... 234
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 238
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................244
APÊNDICES.........................................................................................................................256
ANEXOS ............................................................................................................................... 309
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
INTRODUÇÃO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
22
INTRODUÇÃO
A evolução do homem mostra que, nos primórdios, existia a preocupação com a qualidade da
habitação transformando-a em um local seguro e protegido das variações climáticas. Pode-se
observar que povos antigos construíam moradias confortáveis e agradáveis tirando partido dos
recursos naturais, sem deteriorá-los. Não havia o interesse em conservar o ambiente natural
porque o mesmo era abundante, mas sabiam que precisavam dele para sobreviver.
Embora a preocupação com a natureza e seus recursos esteja intimamente ligada ao conforto
dos seres vivos principalmente ao do ser humano, eles vêm sendo degradados ao longo dos
séculos e nas últimas décadas tornou-se mais visível com o aumento da população mundial
que trouxe como conseqüência o aumento do consumo.
Uma grande parcela dos grupos sociais alterou a natureza suprimindo grande parte da
vegetação existente, diminuindo a permeabilidade do solo e modificando as características do
ar e da água, o que a princípio está levando a mudanças no clima e na qualidade ambiental
como o aumento das temperaturas de verão e inverno e da quantidade de poluentes no ar, a
diminuição da umidade relativa e da velocidade dos ventos além da formação do nocivo efeito
estufa. Esses são alguns dos motivos que contribuíram e ainda contribuem para que existam
diferenças climáticas significativas entre as áreas rurais e as áreas urbanas (grandes cidades e
metrópoles).
Em toda a parte constata-se a degradação ambiental com perda de solos férteis e crescimento
de desertos; ameaça no abastecimento de energia e água potável, supressão de florestas e do
consumo de combustíveis fósseis, entre outros. É importante ressaltar que a degradação não
significa apenas a supressão de indivíduos arbóreos ou florestas inteiras, a poluição de rios ou
sistemas lagunares completos, a degeneração genética de espécies ou extinção de várias delas.
Ela também transforma a qualidade de vida, pois polui o ar que se respira, a água que se bebe,
aumenta a impermeabilidade do solo intensificando o calor e quebra o ciclo de vida do planeta
levando-o ao desequilíbrio.
A necessidade de mudar tal idéia para que a própria vida humana fosse protegida deste
processo de destruição fez surgir encontros mundiais entre os governantes de inúmeros países,
como as conferências da Organização das Nações Unidas, para que juntos tomassem medidas
visando diminuir a degradação e o impacto ambiental gerado por várias ações humanas,
inclusive, na implantação de edificações. Entre essas medidas pode-se citar como exemplo
alguns dos documentos que derivaram desses encontros: Relatório de Brundtland, Agenda 21
e Plano de Implementação de Joanesburgo.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
INTRODUÇÃO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
23
Dentre os documentos resultantes desses encontros, a maioria cita a importância de projetos
de arquitetura voltados para a proteção dos elementos naturais não renováveis quando a
concepção do local é discutida antes da materialização da edificação. Além disso, o uso do
bioclimatismo e das tecnologias ambientais nos projetos intervém de forma significativa na
diminuição dos impactos ambientais aliados a adequação da construção à natureza.
É a conservação do ambiente natural através do uso racionalizado dos recursos naturais com a
utilização de fontes renováveis e limpas, sistemas de captação das águas pluviais; tratamento
das águas servidas; reciclagem de lixo e uso de materiais naturais encontrados no local onde
será implantada a edificação.
As tecnologias indicadas acima mencionadas são definidas neste trabalho como tecnologias
ambientais, isto é, são técnicas que priorizam a conservação e manutenção dos recursos
naturais e minimizam o impacto ambiental causado pelo modus vivendi da humanidade, além
de ser parte integrante de um projeto de arquitetura voltado para a conservação da natureza. E
este tipo de pensamento tem sido implantado pelas ecovilas que por definição são
assentamentos completos, de escala humana, onde as atividades estão harmoniosamente
integradas ao mundo natural, que sustenta o desenvolvimento humano saudável para
continuar indefinidamente no futuro.
Grande parte dessas tecnologias ambientais já foi aplicada em inúmeras ecovilas mundiais
(Findhorn na Escócia, Cristal Waters na Austrália) antes mesmo dos citados documentos
serem elaborados. As ecovilas são uma das respostas a contínua deterioração dos recursos
naturais, pois são assentamentos humanos que têm como prioridade a relação harmoniosa do
homem com a natureza através de ideologias espirituais, sócio-culturais e/ou ambientais. Seu
principal objetivo é a conquista da sustentabilidade em todos os aspectos produzindo todo ou
até mesmo grande parte do que consome desde gêneros alimentícios à confecção de roupas
além da importância de ver o ambiente natural como parte integrante de cada indivíduo.
Partindo deste princípio a proteção e preocupação com os recursos naturais em particular e
com o ambiente natural em geral, tornam-se as principais diretrizes e para obtê-las as ecovilas
utilizam as tecnologias ambientais com o intuito de diminuir a degradação e o uso desses
recursos.
A sustentabilidade ambiental que as ecovilas buscam de forma permanente é um exemplo da
existência de uma nova consciência em relação a uma arquitetura voltada para a conservação
do ambiente natural. Comprovar essa tendência e apontar caminhos para a adoção desse
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
INTRODUÇÃO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
24
pensamento leva o profissional da área de arquitetura a ter uma visão integrada com a
natureza no momento da concepção do projeto de arquitetura. Entre os recursos naturais, a
água é o que recebe maior atenção por parte das ecovilas, por ser um recurso sabidamente
finito e indispensável á vida humana.
Esta pesquisa descreve algumas das tecnologias ambientais implantadas nas ecovilas
aprofundando as relacionadas à gestão da água, pois priorizam sua reutilização, uso
racionalizado e consciente considerando que essas técnicas são de baixo impacto e
minimizam a degradação ambiental. Entre as várias tecnologias utilizadas para esse fim, serão
enfocadas as relacionadas à água de chuva e ao tratamento do efluente do esgoto. Através
deste aprofundamento, esta pesquisa tem o objetivo de demonstrar que as ecovilas são
assentamentos humanos que priorizam a gestão da água buscando a auto-suficiência nesta
área.
A principal questão da pesquisa a ser enfatizada é mostrar quais são as tecnologias ambientais
e como ocorre o uso das mesmas, em especial as que fazem parte da gestão da água nas
ecovilas, por elas serem assentamentos humanos que estimulam a criação, desenvolvimento e
manutenção de métodos e tecnologias que minimizam a degradação ambiental.
A metodologia deste estudo consiste em levantamento, análises e conclusões dos dados
pesquisados. São feitos levantamentos bibliográfico e iconográfico através de pesquisas em
dissertações, teses e livros relacionados ao tema, pesquisas na rede mundial de computadores
(Internet) em páginas de centros de pesquisa credenciados e reconhecidos pela área científica.
A avaliação do exemplo da ecovila Parque Ecológico Visão Futuro, apresentada no capítulo 4,
é feita por meio de visitas ao local utilizando métodos de observação direta, entrevistas
diretivas, semi-diretivas e não diretivas sempre corroboradas com iconografia do local.
O capítulo 1 trata do surgimento do debate ambiental através da história do movimento
ambientalista que culminou com a mudança da visão do mundo para algumas comunidades do
planeta, entre elas as ecovilas.
O capítulo 2 relata a origem do movimento das ecovilas, sua história no Brasil, a relação da
Agenda 21 Global e a Agenda 21 Brasileira com as comunidades brasileiras e a apresentação
de três principais assentamentos internacionais e um brasileiro (Findhorn, The Farm, Cristal
Waters e Instituto de Permacultura do Cerrado). Pretende demonstrar a importância da
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
INTRODUÇÃO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
25
arquitetura e das tecnologias voltadas para a conservação do ambiente natural, seus recursos e
para o conforto ambiental do próprio homem.
O capítulo 3 mostra algumas das tecnologias ambientais mais utilizadas nas ecovilas do Brasil
dando ênfase às relacionadas a gestão da água, e quais são as diretrizes utilizadas para a
escolha e implantação dessas técnicas que auxiliam na melhoria da qualidade de vida dos
usuários e minimiza o impacto das edificações e da infra-estrutura na natureza. Este capítulo
também traz exemplos bem sucedidos de cada tecnologia pesquisados no Brasil, sem
necessariamente estarem implantados em ecovilas.
O capítulo 4 relata a história e evolução de um exemplo brasileiro de ecovila: a Ecovila
Parque Visão Futuro, integrante da Rede Mundial de Ecovilas (GEN) e da Rede de Ecovilas
das Américas (ENA). Também avalia a ecovila através de análise individual e o uso das
tecnologias ambientais, observados durante visita a mesma e sendo corroborado através de
registros fotográficos. Também são feitas entrevistas com alguns moradores para analisar o
modo de vida dos habitantes, sua apropriação do espaço e da arquitetura do local e o uso das
tecnologias ambientais. Esta avaliação pode trazer confirmações de técnicas adequadas ao
local ou sugestões para melhoria da qualidade de vida, da sustentabilidade e da minimização
do impacto ambiental na área das ecovilas.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
26
CAPITULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
Este capítulo aborda a evolução do debate ambiental a partir da Revolução Industrial para que
se possa entender a importância da natureza para as ecovilas. Afinal, os problemas ambientais
decorrentes da Revolução foram alguns dos motivos que levaram grupos sociais de diversos
lugares do planeta, incluindo as ecovilas, a buscar um modo de vida diferente da sociedade
mundial (BRAUN, 2001, P.8-11). O quadro teórico de alguns críticos da Revolução compõe-
se de pensadores políticos, arquitetos e idealistas de vários países europeus que não aceitavam
os impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos na vida da população, especialmente
do proletariado. A industrialização também fez iniciar uma disputa entre os países
desenvolvidos para conquistar o poderio econômico mundial, o que levou às guerras. Foi a 2ª
Guerra Mundial, com as bombas atômicas, que trouxe ainda mais destruição e uma grande
preocupação com o ambiente natural. Desde então surgiram idéias como a Teoria de Gaia e a
Ecologia Profunda enfatizando a importância do respeito a natureza, ao mesmo tempo em que
iam surgindo documentos sobre o mesmo tema. A Organização das Nações Unidas (ONU)
iniciou uma série de conferências entre os países do mundo para tentar reverter o estado de
depauperamento dos recursos naturais publicando documentos a partir destas reuniões:
Declaração de Estocolmo, Agenda 21, Metas do Milênio entre outros; confirmando a
necessidade de intensificar a ligação do binômio homem-natureza.
1.1- A Revolução Industrial e alguns de seus críticos
O aumento da poluição atmosférica, de desastres ecológicos como derramamento de óleo em
baías e a poluição de rios com substâncias químicas são fatos que fomentam o crescimento do
movimento ambientalista
1
. Este movimento surgiu no momento em que a melhoria nas
condições de vida obtida através da Revolução Industrial trouxe o desequilíbrio ambiental em
um tempo historicamente curto devido ao uso indiscriminado dos recursos naturais
(BRANDÃO, 2001, p.51).
1
No início o movimento ambientalista era conhecido como ecológico. A modificação do termo surgiu com a
necessidade de tornar mais abrangente a atuação do movimento, antes limitada à conservação de matas e
florestas. Atualmente a proteção requerida pelos ambientalistas está relacionada a visão biocêntrica: o homem
está inserido no mundo como qualquer ser vivo sem destaque especial e a natureza tem seu valor independente
de sua utilidade para o homem (SIQUEIRA, 2002).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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A Terra tem 4,6 bilhões de anos. Durante as últimas frações de segundo
geológico da história do nosso planeta, o Homo sapiens industrial interferiu
em ciclos naturais que levaram de milhões a bilhões de anos interagindo
dinamicamente para formar as atuais condições de vida que conhecemos e às
quais nos adaptamos. Tais intervenções antrópicas têm se traduzido
freqüentemente em problemas como extinção de espécies, mudanças
climáticas, poluição, exaustão de recursos úteis ao homem e outras questões
que nos são hoje bastante familiares (BRÜGGER, 1994, p.17).
Apenas os pressupostos básicos como crítica à cidade industrial serão abordados para
auxiliarem na futura análise da ecovila brasileira escolhida para esta pesquisa.
A necessidade de crescimento econômico e da melhoria na vida dos indivíduos aliada à idéia
de natureza como uma entidade infinita” (PORTOGHESI, 2002, p.37) foram elementos que
propiciaram o início da Revolução Industrial transformando o processo de produção artesanal
em um processo de estandartização
2
. Na arquitetura, esse pensamento baseou o modelo
progressista que identificou o ser humano como “tipo” e a casa como “máquina de morar”.
A autora Françoise Choay (1965) reuniu em seu livro “O urbanismo: realidades e utopias”,
os pensadores, arquitetos e intelectuais que declaravam sua posição em relação à cidade
industrial. Choay classificou o movimento progressista como aquele que apoiou a cidade
industrial declarando que o problema da relação dos homens com o meio e entre si poderia ser
resolvido através do racionalismo, da ciência e da técnica; e que a Revolução foi o
acontecimento mundial necessário para promover o bem estar humano e assim trazer o
progresso (CHOAY, 1965, p.8-10). Le Corbusier, principal divulgador deste movimento,
entendia que era preciso criar o estado de espírito para conceber, construir e residir em casas
em série (CORBUSIER, 1989, p.159).
As críticas contrárias à industrialização e à qualidade de vida derivada deste processo, foram
entendidas por Choay como diretrizes de um movimento que a mesma definiu como
culturalista. Para ela, o culturalismo priorizou uma vida que colocava as necessidades
espirituais acima das necessidades materiais com a intenção de manter o equilíbrio entre o
homem e o meio ambiente evidenciando a cultura, uma arquitetura adaptada ao local e
integrada à paisagem e a preocupação com o individuo como ser único e insubstituível
(CHOAY, 1965, p.11-16).
Em nome do progresso, a industrialização ocasionou a supressão de florestas e recursos
naturais, deteriorou a saúde humana e aumentou a segregação social com a explosão
2
Estandartização - palavra aportuguesada derivada da palavra inglesa standard, que significa padrão:
padronização, produção em série.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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demográfica nas cidades. Além disso, priorizou a construção em série para obter um rápido
desenvolvimento, ignorando a existência de indivíduos diferentes e diferenciados.
Estes problemas foram criticados por alguns pensadores políticos do século XIX. Um deles,
Karl Marx, revoltou-se com o deprimente modo de vida entendendo que as cidades inibiam os
sentidos humanos e que os indivíduos estavam em situação pior que os animais, pois não
tinham direito à luz, ao ar e ao céu. Friedrich Engels complementou as idéias de Marx
destacando a má qualidade do ar que se respirava e a falta de conforto ambiental nos bairros e
nas unidades residenciais (CHOAY, 1965, p.141 e 148).
Engels direcionou suas críticas às cidades industriais inglesas, mas que puderam ser
incorporadas às cidades industriais do mundo, porque em todas se observava a mesma cena: a
moradia do trabalhador era insalubre e distante do local de trabalho; as ruas sujas, sem esgoto
e escoamento de águas; e os bairros do proletariado não possuíam jardins públicos. Também
relatou que a segregação social aumentava à medida que as cidades inchavam, pois isto podia
ser observado no contraste entre os bairros da burguesia e do proletariado. Este último possuía
edificações de arquitetura monótona e similar; construídas irregularmente pelos próprios
operários, em locais considerados os mais feios da cidade além de distantes dos bairros ricos
(CHOAY, 1965, p.6 e 141).
Acreditando que grande parte desta situação poderia ser minimizada, o socialista inglês
Ebenezer Howard desenvolveu a teoria da cidade-jardim (Garden City) para unir as
qualidades da cidade e do campo como imãs atraídos pelos seus opostos. Sua intenção era
limitar o crescimento das cidades de forma ordenada para que houvesse diminuição da
segregação social, para que não se perdessem as características culturais, sociais e econômicas
daquela comunidade, e para manter a simbiose entre a natureza e o ser humano (CHOAY,
1965, p.226-227).
A cidade é o símbolo da sociedade - de ajuda mútua e de cooperação
amistosa, de paternidade, maternidade, fraternidade, de uma ampla relação
homem a homem, de simpatias expansivas, de ciência, arte, cultura e
religião. E o campo: O campo é o símbolo do amor e das liberalidades de
Deus para com o homem. Tudo o que somos e tudo o que temos provém do
campo. (...) Sua beleza inspira a arte, a música e a poesia. Suas forças
animam as engrenagens da indústria. Mas a plenitude de sua alegria e de sua
sabedoria não foi revelada ao homem e não poderá ser revelada enquanto
persistir essa separação ímpia e antinatural entre a sociedade e a natureza. A
cidade e o campo devem esposar-se, e dessa feliz união brotará uma nova
esperança, uma nova vida, uma nova civilização.” (HOWARD apud
CHOAY, 1965, p.221).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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Figura 1 -Os três ímãs: cidade, campo e cidade-campo. Fonte: LETCHWORTH, 2005.
Ebenezer Howard idealizou a cidade-jardim no centro de um terreno com ruas largas e
arborizadas, terrenos na área central para as construções públicas (teatro, museu,
administração pública, hospital, galeria de artes), terrenos espaçosos para as residências,
escolas, igrejas e quadras de jogos e um cinturão verde envolvendo todo este espaço. Após o
cinturão estaria o comércio e as indústrias próximos à estrada de ferro para facilitar a entrada
e a saída de mercadorias. Quando a população não pudesse mais crescer de forma ordenada,
outra cidade-jardim seria construída com as mesmas diretrizes e a implantação de um meio de
transporte faria a integração entre as cidades (CHOAY, 1965, p.221-227).
Com a ajuda de arquitetos, Howard tornou realidade esta teoria ao construir duas cidades-
jardim que se tornaram modelos na Europa naquela época: Letchworth e Welwyn, ambas na
Inglaterra.
O inglês Rob Owen sentiu de perto os problemas ocasionados pela Revolução Industrial e
pelos quais passavam os trabalhadores porque desde os 10 anos de idade trabalhou em
fábricas. Ao realizar um casamento rico tornou-se co-proprietário de uma fábrica e teve a
oportunidade de oferecer melhorias no trabalho ao reduzir a carga horária, privilegiou as
residências dos trabalhadores com espaços verdes e tornou a educação uma prioridade em sua
fábrica. Assim como Howard, Owen também possuía um modelo de assentamento humano
ideal similar a idéia das cidades-jardim. Em seu modelo cada cidade se sustentaria com suas
fábricas e sua produção agrícola, todas as residências teriam áreas verdes e o setor industrial
Ímã cidade-campo
união das qualidades da cidade e
das qualidades do campo
Beleza natural;
convívio social;
fácil acesso ao campo e a cidade;
capital de giro;
salários altos;
aluguéis, taxas e preços baixos;
boa drenagem das águas;
ar e água puro;
muito a fazer;
casas e jardins;
sem fumo;
sem favelas;
liberdade e coo
p
era
ç
ão.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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estaria separado dos demais setores por meio de plantações (CHOAY, 1965, p.61-65).
Outras idéias foram retiradas do arquiteto francês Tony Garnier, que embora progressista,
desenvolveu estudos de uma cidade industrial com capacidade para 35.000 habitantes cujas
moradias não teriam muros limítrofes e receberiam luz e ventilação natural em seus quartos.
Priorizou espaços verdes amplos e um complexo comunitário no centro da cidade para
comportar os serviços culturais e administrativos da comunidade como sala de espetáculos,
biblioteca, museu, galerias de arte, ginásio, pistas de ciclismo, cartório e tribunal de justiça
(CHOAY, 1965, p.164-169).
Em relação a arquitetura e o urbanismo, diversos arquitetos negaram as cidades industriais
como modelo de habitação, trabalho e lazer, porém os mais críticos foram o suíço Camilo
Sitte e o americano Frank Loyd Wright. Camilo Sitte entendia que a degradação do meio
ambiente ocorria em nome de uma banal simetria na arquitetura e no urbanismo da Era
Industrial, motivando desvios de cursos d’água, cortes de morros para nivelamento de
terrenos e destruição de caminhos existentes (CHOAY, 1965, p.217).
Para Sitte, os locais públicos não atraíam os moradores e nem serviam para a realização de
festas populares e manifestações culturais. O homem apenas trabalhava e morava, pois não
existia a sensação de pertencimento
3
em relação ao lugar, tanto que o arquiteto expressou esse
sentimento ao dizer que “o homem não sente nenhuma alegria em morar ali, não se vincula
ao local e não adquire nenhum sentimento de lar” (CHOAY, 1965, p.216).
Tal visão era compartilhada por Frank Loyd Wright, para quem a cidade industrial distorcia o
verdadeiro significado de felicidade: “a felicidade do cidadão ”urbanizado” consiste em
aglutinar-se aos outros dentro da desordem, iludido como é pelo calor hipnótico e pelo
contato forçado com a multidão” (CHOAY, 1965, p.236, grifo nosso). O arquiteto americano
acreditava que o trabalhador acabava por se acostumar ao modo de vida da cidade que o
distanciava cada vez mais do contato com a natureza, da meditação e reflexão em um campo
verde sob um céu resplandecente. A arquitetura da época também recebia seu
questionamento, pois para ele “que significado tem um edifício, se não está estreitamente
vinculado ao solo em que se levanta?” (apud CHOAY, 1965, p.241). O que Wright
questionava não era simplesmente a adaptação da arquitetura ao local, mas sua integração
com a paisagem.
As áreas rurais foram trocadas pelas cidades industriais na busca pela qualidade de vida
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
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idealizada, ocasionando um crescimento demográfico impressionante e sem precedentes.
Devido à alta densidade demográfica, as construções em série foram a saída para que a
população obtivesse residências com condições mínimas de habitabilidade. Como o solo era
utilizado de forma indiscriminada e sem planejamento prévio, as moradias eram
desconfortáveis e sem direito ao sol, ao vento e ao ar puro. Wright acreditava que a felicidade
estava em habitações que estivessem próximas ao local de trabalho e tivessem espaço para
seus ocupantes se dedicarem à agricultura, a outros tipos de lazer (CHOAY, 1965, p.30).
Na contemporaneidade o pensador francês Edgar Morin (1991) reafirma o pensamento
culturalista acreditando que o ser humano não deve ser tratado como coletivo e sim como
sujeito por ser ímpar e singular, devendo-se enaltecer as particularidades e a experiência de
vida de cada um nos aspectos sociais, econômicos, culturais e religiosos.
Mas o desenvolvimento industrial iniciado com a Revolução no século XVII continuou sua
saga de desmatamentos e extinção de espécies nos séculos seguintes, mesmo que as pesquisas
e declarações de tantos profissionais deixassem claras as suas conseqüências e marcas
irreversíveis na natureza.
1.2- 2ª Guerra Mundial à Ecologia Profunda
Os países desenvolvidos, em nome da industrialização, utilizaram seus recursos naturais sem
critério e planejamento resultando em uma rápida deterioração da natureza naqueles locais. O
contínuo processo de desenvolvimento econômico de visão tecnocentrista
4
levou alguns
países a conflitos por interesses econômicos, mas foi na II Guerra Mundial (1939-1945) que
esta visão foi abalada. As bombas atômicas que destruíram as cidades japonesas Hiroshima e
Nagasaki foram um marco na História, levando a população mundial a questionar o destino do
planeta, especialmente da raça humana caso nada fosse feito para mudar as idéias e o
comportamento da sociedade. Foi a partir daquele momento que se percebeu o quanto o
mundo era frágil perante a ambição desmedida da humanidade e que a extinção da vida no
planeta era um perigo latente, mais próximo do que nunca antes imaginado.
3
Segundo Norberg-Schulz (1971) pertencimento é a sensação que o individuo tem de ser elemento integrante de
algo ou de algum lugar.
4
Segundo FOLADORI e TOMASINO, os tecnocentristas entendem que as relações capitalistas solucionam os
problemas ambientais, e na visão deles não há recursos naturais finitos e crise sócio-ambiental (apud FUJITA,
2003).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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A miséria dos tempos de guerra deu lugar ao consumo frenético e desenfreado, fazendo a
indústria crescer influindo diretamente na vida com a poluição do solo, da água e do ar. Além
disso, com o fim da II Guerra, o mundo entrou em um período denominado Guerra Fria, pois
o Estados Unidos e a União Soviética; que disputavam a liderança mundial, continuavam
fabricando bombas e armamentos, e a iminência de um novo conflito parecia cada dia mais
próximo.
Era urgente a conscientização ambiental em todo o mundo, mas o século XX tornou-se o oásis
da arquitetura moderna e o deserto do meio ambiente. As construções ditas modernas, trazem
alegria aos olhos e tristeza à alma, pois são edificações construídas com materiais que na
maioria das vezes não oferecem conforto ambiental a seus usuários e aumentam o consumo
energético. Tanto que Paolo Portoghesi (2002, p.40-41) afirma que a arquitetura moderna é “a
arquitetura do desperdício de energia” consumindo “os limitados recursos da terra” e que
“uma civilização que queira realmente reparar o desequilíbrio ecológico e a devastação dos
recursos naturais não pode dar-se ao luxo de construir com tais métodos e ideais”. Algo
precisava ser feito para que a humanidade percebesse o abismo para o qual estava se
dirigindo.
Um desses acontecimentos foi a apresentação da Teoria de Gaia
5
ao mundo. Em 1970, o
cientista James E. Lovelock declarou que a Terra não era simplesmente uma “bola de pedra”
habitada pelos seres vivos:
Novas evidências científicas mostram, a cada dia, que de fato a Terra é um
superorganismo, dotado de auto-regulação. Como partes desses sistemas,
porém, temos responsabilidade individual em mantê-la viva e saudável para
as futuras gerações (LOVELOCK, 1986).
Outros cientistas haviam feito tal declaração, mas acabaram sendo ignorados pela visão ampla
e interdisciplinar. Para Lovelock (1986), a Teoria de Gaia vê os elementos da natureza e seus
habitantes como elementos de um mesmo processo e afirma que “Gaia funciona a partir do
ato de um organismo individual que se desenvolve até o altruísmo global. Envolve ação em
nível pessoal”. A teoria confirma a interdependência entre os seres vivos e o planeta e a
consciência que o ser humano é apenas parte integrante desse superorganismo. Todas as ações
humanas, boas ou ruins, têm suas conseqüências na Terra, por isso a importância de cuidar do
local onde se vive através da conservação ambiental.
5
Os antigos gregos consideravam a Terra um ser vivo e lhe deram o nome de Gaia. Foi o romancista William
Golding quem sugeriu utilizar este nome para a teoria que supunha a Terra estar viva (LOVELOCK, 1986).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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Em 1972, o filósofo norueguês Arne Naess, iniciou o movimento chamado Ecologia Profunda
(Deep Ecology) como uma resposta ao depauperamento dos recursos naturais. Não foi o
primeiro a criar esta idéia, mas foi quem cunhou o termo ajudando a formar uma base
científica. Ecologia profunda é assim chamada porque indaga com profundidade questões “do
relacionamento humano com os elementos e vibrações da natureza” (BRAUN, 2001, p.31).
Segundo Ricardo Braun (2001, p.33), Naess priorizou a harmonia com a natureza por meio de
duas normas:
A auto-realização obtida através do crescimento espiritual. O ser humano se identifica
com a natureza e os outros seres vivos no momento em que se liberta da visão e dos
limitados valores da sociedade contemporânea.
A eqüidade biocêntrica. Todos os seres vivos têm igual direito a vida e ao
desenvolvimento de sua espécie e têm a mesma importância no processo evolutivo do
planeta. Nega veemente o antropocentrismo que afirma que o ser humano é o centro
do ecossistema e por isso tem o direito de manipular e manusear a natureza da forma
que melhor lhe convier.
A visão do mundo globalizado ignora esse chamado e põe em risco a continuidade da vida. O
quadro abaixo dispõe de forma clara as diferenças entre as visões do mundo e da ecologia
profunda.
Visão do Mundo Ecologia Profunda
Domínio da natureza Harmonia com a natureza
Meio ambiente natural com recursos
voltados basicamente para os seres
humanos
Natureza possuidora de valores intrínsecos e de
equidade para todas as espécies
Crescimento material e econômico
para o crescimento da população
humana
Preenchimento das necessidades materiais de
maneira elegante e simples: os bens materiais
são voltados para servir a auto-realização e a
realização global
Crença em amplas reservas de
recursos naturais
Os “suprimentos” da Terra são limitados com a
atual exploração
Soluções e progresso baseados em
alta tecnologia
Uso de tecnologias apropriadas; ciência não
dominante
Consumismo
Desenvolvimento com o suficiente, reciclando e
re-usando
Comunidade nacional e centralizada
Sistema de bio-regiões e tradição local
descentralizada
Figura 2- Visão do Mundo e Ecologia Profunda. Fonte: BRAUN, 2001, p.36.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
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1.3- “Limites do Crescimento” à Crise do Petróleo de 1973
O Clube de Roma, atualmente uma Organização Não-Gvernamental (ONG), foi criado em
1968 por um grupo composto por chefes de Estado, cientistas, economistas, banqueiros,
industriais e políticos de diferentes países que no ano de 1972 publicou um relatório intitulado
“Limites do Crescimento” (Limits to Growth). Segundo Meadows (1972), este documento era
o modelo de mundo que os integrantes do Clube idealizaram e investigou cinco problemas
mundiais: a industrialização acelerada, o rápido crescimento populacional, a desnutrição
crescente, a degradação dos recursos não renováveis e a deterioração do meio ambiente.
Denunciou que o crescente consumo mundial ocasionaria um colapso no século seguinte com
poluição da atmosfera, cursos d’água e degradação dos solos originando grande escassez de
alimentos. A proposta deste relatório era o crescimento zero, mas os países subdesenvolvidos
e os em desenvolvimento não aceitaram essa política porque seriam eternamente pobres sem
perspectivas de progresso enquanto os países do Primeiro Mundo já teriam sua economia
consolidada (BRAUN, 2001. p.23; FUJITA, 2003, p.74-75, MEADOWS, 1972; ROCHA,
2000, p.3).
Esta proposta não foi aceita, mas revelou que os problemas supra citados precisavam ser
solucionados. Por isso, naquele mesmo ano a ONU realizou a Conferência de Estocolmo
6
com
a participação de mais de 110 países e entendeu que a solução seria diminuir a geração de
resíduos com a racionalização dos processos produtivos e produzir melhor aproveitando as
matérias-primas. A partir de então, a questão ambiental tornou-se preocupação em âmbito
mundial abrangendo o controle e a conservação da natureza. (BRAUN, 2001, p.23).
Esta Conferência teve como resultado a Declaração de Estocolmo
7
com 26 princípios que
enfatizaram entre outros temas:
O ser humano deve continuar pesquisando, inventando, criando e progredindo e deve
utilizar a ciência e a tecnologia de forma correta e prudente, melhorando o bem-estar
sem prejuízo ao meio ambiente;
Todos os países devem progredir protegendo o meio ambiente, e os países
desenvolvidos devem diminuir a distância que os separa dos demais;
6
O nome oficial é Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.
7
A Declaração de Estocolmo bem como os diversos documentos resultantes das conferências da ONU tratam o
termo “ambiente natural” como “meio ambiente”.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
35
Todos têm responsabilidade com o planeta e devem estar atentos aos seus atos para
que não causem danos profundos e até irreparáveis ao meio ambiente;
Os governos e cada indivíduo devem defender e melhorar o meio ambiente humano
para as futuras gerações com paz, desenvolvimento sócio-econômico e o
estabelecimento de normas que protejam o meio ambiente. Devem implantar uma
política ambiental e promover o desarmamento mundial para evitar a destruição em
massa;
Todos devem proteger o meio ambiente e seus recursos naturais para as futuras
gerações, evitando o uso indiscriminado de recursos não renováveis.
O ano seguinte, 1973, ficou marcado pela crise mundial do petróleo. Em 6 de outubro, Dia do
Perdão - Yom Kippur
8
, houve invasão síria e egípcia em território israelense como vingança à
humilhante derrota árabe na Guerra dos Seis Dias; época em que Israel conquistou
Cisjordânia e outros territórios. Em plena Guerra do Yom Kippur, a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) decretou boicote ao Estados Unidos e Holanda por serem
aliados israelenses, aumentando absurdamente o preço do barril de petróleo. Esta atitude era
uma forma de pressionar Israel a devolver os territórios conquistados e a reconhecer os
direitos dos palestinos. A crise repercutiu mundialmente e em praticamente todos os países
houve racionamento no consumo de energia, combustível e derivados (O GLOBO 2000,
1999, p.613).
GISSEN (2003, p.12-13) relata que a crise do petróleo encorajou nações a pesquisar e
aperfeiçoar o uso de fontes de energia alternativa diminuindo a dependência de fontes não-
renováveis, além de projetar edificações que diminuíssem o consumo energético e
priorizassem o conforto térmico, lumínico e acústico tirando partido da natureza e integrando-
se a ela.
1.4- “Nosso Futuro Comum” às Conferências da ONU
A Assembléia Geral das Nações Unidas em 1983 instituiu a Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) para elaborar um relatório que avaliasse a situação
8
Yom Kippur é uma data sagrada para os judeus que refletem sobre o perdão e sobre suas vidas por meio de
silêncio e contrição.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
36
ambiental no planeta, e quatro anos depois - 1987 - o trabalho da comissão foi publicado. O
documento “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future), também conhecido como
Relatório Brundtland
9
; conceituou o termo desenvolvimento sustentável como “o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de
as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”, consolidou a crítica ao modelo
econômico vigente na maioria dos países por este não ser mais viável em vista do estado
degradante que se encontrava a natureza, e propôs a realização de uma Conferência para um
debate sobre o assunto.
A real impossibilidade de ajustar o consumo e a produção mundial existente ao uso de
recursos naturais sabidamente finitos fez do Relatório uma referência na elaboração e
implantação de políticas que visassem a proteção e conservação ambiental (NOVAES, 2005;
ROCHA, 2005, p.4).
Em 1992, a ONU realizou a Conferência proposta pela CMMAD, desta vez em um país em
desenvolvimento: o Brasil. A cidade do Rio de Janeiro foi a sede deste encontro que também
ficou conhecido como Cúpula da Terra, Rio 92 ou Eco 92
10
, com a participação de quase
todos os países vinculados à ONU. O resultado desta conferência se traduz em documentos
como a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Carta da Terra e a
Agenda 21.
A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento ratifica a Declaração de
Estocolmo e o Relatório Brundtland, e contém 27 princípios considerados “referenciais
importantes na questão do desenvolvimento sustentável” (SIQUEIRA, 2002, p.57):
As nações têm o direito de explorar seus recursos naturais em busca do
desenvolvimento desde que não causem danos ao meio ambiente e risco à
sobrevivência das presentes e futuras gerações;
A conservação ambiental não deve estar à margem do desenvolvimento dos países e
sim se tornar parte integrante. Todos os países devem eliminar os processos de
produção que degradam o meio ambiente.
Os países desenvolvidos reconhecem sua responsabilidade no que concerne a
9
Este nome deve-se a Gro Harlem Brundtland, na época primeira-ministra da Noruega que se tornou a
presidente da Comissão responsável pela elaboração do relatório.
10
O nome oficial é Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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degradação ambiental do planeta;
Todos os países devem aplicar o princípio da precaução: sempre que houver perigo de
ocorrência de um dano grave ou irreversível ao meio ambiente, a falta de certeza
científica absoluta não pode ser utilizada como motivo para adiar medidas que
impeçam esse dano.
A Carta da Terra reafirma a estreita ligação entre os seres vivos e o planeta, confirmando a
Teoria de Gaia e o movimento Ecologia Profunda ao proclamar que “a Terra, nosso lar, está
viva com uma comunidade de vida única” e que “somos uma família humana e uma
comunidade terrestre com um destino comum” (CARTA DA TERRA, 1992, p.1). Também
cita a preocupação com os recursos finitos; a busca pela sustentabilidade econômica,
ambiental, social e espiritual; a necessidade de promover a integridade ecológica do planeta e
a adoção de “padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades
regenerativas da terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário” (CARTA DA
TERRA, 1992, p.4).
A Agenda 21
11
é um documento contendo compromissos para a resolução dos problemas
existentes e preparando o mundo para os desafios do século XXI. O capítulo 7 trata dos
assentamentos humanos com base no desenvolvimento sustentável tendo por objetivo
melhorar a qualidade social, econômica e ambiental dos assentamentos humanos e as
condições de vida e de trabalho de todas as pessoas” (AGENDA 21, 1992, cap.7). Os
assentamentos devem proporcionar habitação adequada promovendo, entre outros itens,
sistemas sustentáveis de energia, abastecimento de água, saneamento e manejo de resíduos
sólidos.
Junto a Rio-92 foi realizado o Fórum Global com a participação de ONG’s de inúmeros países
que elaboraram propostas e diretrizes criando o lema “pensar globalmente e agir localmente”
demonstrando que “o que fazemos a nível local irá refletir a nível global” e “que somos
responsáveis pelo Planeta” (BRAUN, 2001, p. 25).
Embora tenha sido uma conferência extremamente importante para o mundo e para o meio
ambiente, os países não transformaram todos os compromissos assumidos na Rio-92 em
realidade (JURAS, 2002, p.3-4). Esta questão levou a ONU a criar, no ano 2000, as Metas do
Milênio: são 18 metas divididas entre 8 objetivos chamados Objetivos de Desenvolvimento
11
O documento Agenda 21 Brasileira será enfocado no Capítulo 2.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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do Milênio (ODM), cujo princípio é que todos os países se empenhem em cumprir tanto os
objetivos como as metas até o ano de 2015 para que possa haver o processo de reversão de
todas as questões levantadas no documento (SACHS, 2005, p.xii-xvi; SALLES, 2004, p.10-
11; PNUD, 2003, p.1).
A figura 3 relaciona os objetivos às Metas do Milênio. Nela, pode-se observar que as metas 9,
10 e 11 definem a necessidade em rever o processo de depauperamento de recursos naturais,
melhorar o acesso à água potável e melhorar a qualidade de vida de habitantes residentes em
áreas degradadas. Estas metas têm a intenção de garantir a sustentabilidade ambiental,
preocupação existente também nas ecovilas que utilizam as TA´s como uma das formas de
chegar a esse objetivo.
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO E METAS DO MILÊNIO
8 OBJETIVOS 18 METAS
1-Erradicar a pobreza
absoluta e a fome
Meta 1:
reduzir pela metade, entre 1990 até 2015, a proporção da
população com renda inferior a um dólar PCC por dia;
Meta 2:
reduzir pela metade, entre 1990 até 2015, a proporção da
população que sofre de fome.
2-Universalizar o acesso à
educação primária
Meta 3: Garantir, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos,
terminem um ciclo completo de ensino básico.
3-Promover a igualdade de
gênero e a autonomia das
mulheres
Meta 4: Eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primário e
secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, o mais
tardar até 2015.
4-Reduzir a mortalidade
infantil
Meta 5: Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a mortalidade das
crianças menores de 5 anos.
5-Melhorar a saúde
materna
Meta 6: Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de
mortalidade materna.
6-Combater o HIV/AIDS, a
malária e outras doenças
Meta 7:
até 2015 ter detido a propagação da AIDS e começado a
inverter a tendência atual;
Meta 8:
até 2015 ter detido a incidência de malária e de outras doenças
importantes e começado a inverter a tendência atual
7-Garantir a
sustentabilidade ambiental
Meta 9:
integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas
políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos
ambientais;
Meta 10:
reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem
acesso permanente e sustentável à água potável e segura;
Meta 11:
até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas
de pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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8-Estabelecer uma parceria
mundial para o
desenvolvimento
Meta 12:
avançar no desenvolvimento de um sistema comercial e
financeiro aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório
(inclui compromisso com a boa governança, o desenvolvimento e a
redução da pobreza - nacional e internacionalmente);
Meta 13:
atender as necessidades especiais dos países menos
desenvolvidos;
Meta 14:
atender as necessidades especiais dos países sem acesso ao
mar e dos pequenos Estado insulares em desenvolvimento;
meta 15:
tratar globalmente o problema da dívida dos países em
desenvolvimento, mediante medidas nacionais e internacionais, de
modo a tornar a sua dívida sustentável a longo prazo;
Meta 16:
em cooperação com os países em desenvolvimento, formular
e executar estratégias que permitam que os jovens obtenham um
trabalho digno e produtivo;
Meta 17:
em cooperação com as empresas farmacêuticas, proporcionar
o acesso a medicamentos essenciais a preços acessíveis, nos países em
vias de desenvolvimento;
Meta 18:
em cooperação com o setor privado, tornar acessíveis os
benefícios de novas tecnologias, em especial de tecnologias de
informação e de comunicações.
Figura 3- As Metas do Milênio e ODM. Figura adaptada pela autora. Fonte: SACHS, 2005, p. xii-xiii.
Em 2002 foi realizada a Conferência Rio + 10
12
em Joanesburgo, África do Sul, para avaliar o
que havia sido feito, como estava o planeta naquele momento e quais metas seriam utilizadas
para transpor as dificuldades ainda existentes. A Rio + 10 renovou os compromissos
assumidos na Rio-92, ratificou as Metas do Milênio e propôs que os “países se
comprometessem em adotar ações concretas” (JURAS, 2002, p.4) integrando os
desenvolvimentos econômico, social e ambiental. Os documentos resultantes foram o Plano
de Implementação e a Declaração de Joanesburgo que reafirmam a preocupação com os
recursos naturais propondo o gerenciamento de resíduos sólidos, a reciclagem, métodos de
tratamento ambientalmente adequados e a implantação de técnicas (JURAS, 2002, p.4-6;
LARRAIN, 2002, p.86-87).
A história do movimento ambientalista demonstra a capacidade que o ser humano tem de se
informar, refletir e agir. Prova disso é ter conseguido levar essa preocupação para a esfera
mundial através, principalmente, da democratização das informações. Por meio dela todos os
povos puderam se posicionar e reivindicar melhorias sócio-ambientais visando o
desenvolvimento sustentável.
O movimento das ecovilas é uma das respostas a estes anseios na tentativa de reverter a
degradação ambiental com o uso de técnicas construtivas que respeitam a natureza, como foi
12
O nome oficial é Conferência da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 1: O DEBATE AMBIENTAL E AS ECOVILAS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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declarado na Agenda 21, Rio 92 e RIO +10. Na realidade sua maior preocupação é não
desfazer o elo entre o homem e o ambiente natural.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
41
CAPITULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
Este capítulo traça a evolução das ecovilas no mundo, enfatizando o movimento Cohousing
como o precursor do movimento das ecovilas, além da criação da Associação Gaia Trust que
foi determinante para a definição do termo ecovila e do crescimento das comunidades
sustentáveis. Também relata a importância do surgimento das redes mundiais de ecovilas
como instrumentos de união entre as comunidades para trocas de informações. Com estes
dados, foi possível entender a origem das ecovilas no Brasil e a partir de então, relacionar as
diretrizes das ecovilas aos aspectos da Agenda 21 Global e da Agenda 21 Brasileira. A
apresentação de três modelos internacionais e um brasileiro finaliza o capítulo demonstrando
que a busca pela sustentabilidade ambiental é contínua e permanente.
2.1- A origem das ecovilas no mundo
Ninguém duvide que um pequeno grupo de cidadãos consiga mudar o
mundo. Na verdade esta é a única maneira disso acontecer.
Margareth Mead (apud JACKSON, H; 1998, p.1)
As ecovilas são comunidades que vivem em harmonia com a natureza tendo como fio
condutor uma visão espiritual, social, ambiental ou econômica. O movimento das ecovilas não
surgiu como dissidência de outro movimento, e sim da união de vários movimentos -
cohousing, educação alternativa, ativismo ambiental, hippie - e cada ecovila os utiliza de
acordo com sua vertente. Entre todos, o movimento cohousing
13
é o que está mais relacionado
à arquitetura.
A publicação do livro Primavera Silenciosa (Silent Spring), de Rachel Carson em 1962 trouxe
a confirmação de que a tecnologia e a industrialização não eram a chave da felicidade. A
partir desta constatação surgiram movimentos como os dos hippies rejeitando valores
materialistas e tentando recriar um novo conceito de comunidade. Porém outro movimento, o
cohousing, foi mais aceito por ser menos radical que o anterior oferecendo a real sensação de
comunidade e pertencimento (DAWSON, 2004, p.2-3).
Corria o inverno de 1964 quando o arquiteto dinamarquês Jan Gudmand-Hoyer e um grupo de
amigos se propuseram a discutir opções de habitação devido a insatisfação que sentiam em
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
42
relação as residências e ao isolamento que as cidades modernas haviam imposto ao ser
humano. Destas reuniões surgiu a idéia de uma espécie de condomínio que priorizasse a vida
em comunidade, o contato e a proximidade entre os residentes, sem perder a privacidade e
abstendo-se dos problemas das cidades densamente povoadas (MILMAN, 1994;
COHOUSING, 2005). A idéia recebeu o nome “cohousing” tendo como aspectos mais
relevantes:
as residências devem estar agrupadas em torno da casa comunitária (common house).
Nesta se encontram cozinha central, sala para as refeições comunitárias, sala de estar,
sala de jogos, salas multifuncionais, espaço para as crianças brincarem e lavanderia;
cada família tem sua própria residência com todos os ambientes pertinentes inclusive
uma cozinha privativa;
a administração da cohousing é feita pelos próprios moradores, e os que trabalham
fora da comunidade a sustentam financeiramente. Não há hierarquização: todos são
iguais;
A existência da casa comunitária com a realização de eventos e refeições comunitárias
intensifica o convívio entre os moradores fortalecendo o espírito de comunidade e
aumentando a sensação de segurança.
Este sonho foi compartilhado, guardadas as épocas, por Ebenezer Howard ao explicitar como
seria a cidade-jardim: “... a arquitetura e as disposições variadas das casas e dos grupos de
casas [...] têm jardins comunitários e cozinhas cooperativas” (CHOAY, 1965, p.223). Hoyer
e os amigos tentaram executar o projeto, mas não obtiveram sucesso. Em 1968, o arquiteto
dinamarquês escreveu um artigo sobre as idéias do grupo e, ao publicá-lo em um jornal de
circulação nacional, recebeu respostas positivas de inúmeras famílias interessadas por aquele
modo de vida (MILMAN, 1994; COHOUSING, 2005). Entre as décadas de 70 e 80 várias
cohousings foram implantadas na Dinamarca fazendo o movimento ser uma das opções de
habitação mais procuradas naquele país.
Este movimento chegou ao Estados Unidos pelas mãos do casal de arquitetos Kathryn
McCamant e Charles Durrett, após terem estudado o cohousing em Copenhague de 1980 a
13
O Movimento Cohousing é entendido como Movimento de Cohabitação, isto é, habitação comunitária, em
comunidade (ENA, 2004).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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43
1981. Publicaram um livro
14
em 1988 que foi transformado em marco do cohousing e fonte de
inspiração do movimento norte-americano disseminando-o por todo o país. Mais tarde, os
arquitetos americanos agregaram o enfoque ambiental com a implantação de tecnologias
ambientais: gestão da água, esgoto, energia, reciclagem de resíduos sólidos e métodos
construtivos ecológicos (MILMAN, 1994; COHOUSING, 2005).
O objetivo do movimento cohousing e das ecovilas é diferente, pois a primeira prioriza a
convivência em comunidade enquanto as ecovilas adicionam à convivência, a harmonia com a
natureza e a sustentabilidade sob uma visão espiritual, social, cultural, ambiental e/ou
econômica.
Hildur e Ross Jackson são personagens importantes no crescimento do movimento das
ecovilas pelo mundo, porque após terem morado em um projeto cohousing durante 20 anos “o
conceito de ecovila foi o próximo passo para seguir a visão do modo de vida sustentável,
alegre, saudável e equilibrado que desejávamos” (JACKSON, H; 1998, p.1). Para eles, já era
tempo do ser humano decidir como conduziria seu modo de vida em relação a natureza e seus
habitantes.
Em 1987 fundaram a Associação Gaia Trust na Dinamarca, com o propósito de financiar o
movimento das ecovilas na busca pela sustentabilidade através de cursos, encontros das
ecovilas de todo o mundo para a troca de informações, criação da rede de ecovilas da
Dinamarca, da rede mundial de ecovilas e para investir o capital em empresas iniciantes,
consideradas ecológicas, que promovessem a criação de empregos e negócios mais
sustentáveis (JACKSON, H. 1998, p.1).
No ano de 1991, os Jackson em nome da Gaia Trust convidaram Diane e Robert Gilman
15
,
editores da revista In Context, a elaborar uma pesquisa sobre os melhores exemplos de
comunidades com bases sustentáveis. Na reportagem “Ecovilas e Comunidades Sustentáveis”
(Ecovillages and Sustenable Communities), os Gilman cunharam o termo ecovila definindo-o
como “um assentamento completo, de escala humana, onde as atividades estão
harmoniosamente integradas ao mundo natural, que sustenta o desenvolvimento humano
saudável para continuar indefinidamente no futuro” (JACKSON, H; 1998, p.2, tradução
nossa).
14
Cohousing - A Contemporary Approach to Housing Ourselves.
15
Eles já haviam publicado reportagens descrevendo as comunidades sustentáveis como estratégias para a
criação de uma cultura mais sustentável (DAWSON, 2004).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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44
Dois anos depois, Ross e Hildur Jackson criaram uma comunidade eco-espiritual, Fjordvang,
e convidaram integrantes das melhores comunidades, identificadas por Diane e Robert
Gilman, para discutirem a idéia das ecovilas. Atraíram projetos sociais, ambientais e
espirituais para formar uma visão comum e assim criar uma organização para as ecovilas.
Nascia a Rede de Ecovilas da Dinamarca visando respeitar a natureza e os quatro elementos:
terra, água, fogo e ar tendo como proposta “re-estabilizar em todos os níveis os sistemas de
circulação da natureza e da população” (JACKSON. H ,1998, p.2).
Em 1995, foi realizada a Conferência em Findhorn com financiamento da Gaia Trust, que
teve como tema “Ecovilas e comunidades sustentáveis - modelos para o século XXI” reunindo
as ecovilas mais desenvolvidas no momento. Lá nasceu a Rede Mundial de Ecovilas (GEN -
Global Ecovillage Network) tendo como seus membros fundadores os líderes das oito
principais ecovilas do mundo, entre elas Findhorn (Escócia), The Farm (Estados Unidos) e
Cristal Waters (Austrália) além de membros da Rede de Ecovilas da Dinamarca (DAWSON,
2004, p.3; BUENO, 2004, p.5). Desde então, todo ano há uma celebração em uma ecovila,
ocasião ideal para as pessoas conhecerem o movimento. Os membros das novas ecovilas
visitam comunidades estabelecidas para trocar informações sobre tecnologia, métodos
construtivos, economia e educação obtendo o aprimoramento de suas comunidades. A partir
daquela data redes foram criadas para agrupar e estreitar os laços entre todas as ecovilas
existentes no planeta.
A GEN foi criada em 1995, conforme já mencionado, para ser uma confederação mundial de
pessoas e comunidades que se encontram para compartilhar idéias e novidades no âmbito
tecnológico, ambiental, cultural e educacional. Esses indivíduos se dedicam a viver de forma
sustentável diminuindo o uso de recursos ambientais ajudando a aumentar gradativamente e
de forma natural as reservas da natureza.
Operando na Europa, África, Ásia, Oceania e América, a GEN tem como propostas sustentar
e encorajar o crescimento de assentamentos sustentáveis em todo o mundo, aproximar as
ecovilas para facilitar a troca de informações, coordenar projetos relacionados a esses
assentamentos, e construir redes fortes de ecovilas nacionais e internacionais que possam se
tornar autônomas em um futuro bem próximo. Também pretende auxiliar as comunidades na
busca pela harmonia social, ambiental e econômica introduzindo uma cultura onde predomine
o respeito, a solidariedade e o amor, abrindo espaço para a troca de experiências.
Em 1994 Alberto Bates, representante da ecovila The Farm, desenvolveu um jornal e uma
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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45
página na Internet para escrever sobre a necessidade de fundar uma rede para as Américas.
Resolveu, no mesmo ano, viajar com seu irmão, Will, por todo o Estados Unidos fotografando
e filmando as ecovilas do país, e pedindo aos líderes a criação dessa rede. No final de 1995 foi
criada a Rede de Ecovilas da América do Norte (ENNA - Ecovillage Network of North
America). Somente em 1997, a ENNA transformou-se em ENA (ENA - Ecovillage Network of
Américas) para englobar todas as comunidades do continente americano.
A ENA “é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é engajar os povos das Américas
em um esforço comum; juntando-se às transformações a nível global, lutando por
comunidades ecológica, econômica e culturalmente sustentáveis” (ENA, 2004). Como a
GEN, também propõe o estreitamento de relações entre as ecovilas para troca de informações
procurando fomentar o desenvolvimento sustentável e criar o enraizamento dos membros da
comunidade.
Com cerca de 15.000 ecovilas em todo o mundo, as Redes de todos os continentes têm o
mesmo objetivo, e da mesma forma que a GEN, conseguem divulgar o movimento das
ecovilas principalmente pela Internet. Todas possuem página na rede mundial de
computadores e trabalham com a democratização das informações oferecendo cursos e
vivências em ecovilas, relacionando as novidades e disponibilizando gratuitamente a maioria
dos artigos, revistas e livros listados nas respectivas páginas.
Também acontecem encontros entre as ecovilas tanto em âmbito nacional como internacional.
No Brasil, o Fórum Mundial Social e o Encontro Nacional de Comunidades Alternativas
(ENCA) são alguns dos que antecedem o encontro mundial. Estes, como “O Chamado do
Condor” em 2003 no Peru e “O Chamado do Beija-Flor”
16
em 2005 no Brasil, reúnem os que
se preocupam em cuidar da Terra e protegê-la do desequilíbrio ambiental e social (ENA,
2004; GEN; 2005).
Para os ecovilenses, nome dado aos que moram em ecovilas; cada vez mais pessoas precisam
tomar conhecimento da existência de comunidades que dão prioridade a harmonia com a
natureza, ao respeito à vida e aos seres vivos, para entender que é possível crescer sem
destruir o ambiente natural e a si mesmo.
16
Informações sobre o encontro mundial: www.ochamado.org.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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2.2- A origem das ecovilas no Brasil
Em todo o mundo se tem buscado um modo de vida diferente do existente atualmente
(BRAUN, 2001,p.164). Conforme mencionado acima, não apenas no modo de vida mas
especialmente na qualidade de vida, na harmonia com a natureza, na harmonia entre os seres
humanos e consigo próprio.
O que se acredita é que a crise global pela qual a sociedade mundial está passando, tem
ocasionado um sério questionamento em como diminuir o impacto que o ser humano causa ao
planeta sem diminuir a qualidade de vida
17
. Isto levou e tem levado várias pessoas a se
identificarem com a vida e a ideologia das ecovilas (EAST, 2005).
No Brasil não tem sido diferente. Porém, as ecovilas brasileiras não possuem um fio condutor
que determina com precisão quando e onde se iniciou este movimento no país . Segundo May
East
18
(2005), diretora de Relações Internacionais da GEN e residente na Ecovila de Findhorn,
não há um nome ou nomes específicos que possam ser indicados como os que iniciaram o
movimento em solo brasileiro, pois desde a década de 70 do século passado, várias
comunidades têm sido criadas. Inúmeros brasileiros fizeram treinamentos e cursos sobre as
ecovilas e seus princípios, e visitaram algumas comunidades, se inspirando e trazendo para o
país este modelo de assentamento humano.
May acredita que o movimento das ecovilas brasileiras nasceu em diversos lugares e
momentos dentro do próprio país e que ao mesmo tempo conectou-se com a GEN. Quando
criou a ENA (Rede da qual são integrantes as ecovilas do continente americano e por
conseqüência as brasileiras) e as outras Redes de Ecovilas dos outros continentes, a GEN
destinou a esses secretariados regionais a função de “conectar com todos aqueles que estavam
fazendo experimentos com aquilo que se chamava assentamentos humanos
sustentáveis”(EAST, 2005), para iniciar uma troca de informações e idéias entre elas e uma
ligação das mesmas com a Rede Mundial.
No início da década de 90, May East, representando a GEN, auxiliou na criação da ENA-
Brasil e suas respectivas regiões (ENA-Brasil Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste
19
)
17
Este impacto é conhecida pelas ecovilas como “pegada ecológica”. Mais informações sobre o tema podem ser
encontradas no Apêndice 1 desta pesquisa.
18
May East é brasileira e mora na Ecovila de Findhorn (Escócia) há 14 anos. Concedeu entrevista (gravada) a
autora por telefone no dia 20 de julho de 2005.
19
May East não participou da reunião para a criação da ENA-Brasil Nordeste.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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47
no que diz respeito a formação de uma rede de ecovilas brasileiras que passassem a se
comunicar, o que não existia anteriormente.
A ENA-Brasil é um secretariado da ENA representando as ecovilas nacionais e que possui as
redes regionais que integram as comunidades espalhadas por todo o país conectando-as entre
si para a troca de informações e tecnologias. As Regionais e a ENA-Brasil respeitam e
enaltecem a diversidade brasileira e difundem conhecimentos e experiências de assentamentos
humanos sustentáveis (ENA-BRASIL, 2005).
O Brasil teve o Instituto de Permacultura do Cerrado (IPEC) como uma de suas primeiras
ecovilas a se denominar como tal. Há cerca de 30 ecovilas espalhadas pelo país (GEN, 2004),
e esse número está aumentando visto que inúmeros assentamentos humanos estão sendo
implantados com base nos princípios das ecovilas, por vezes aliados a outros movimentos
como o cooperativismo (EAST, 2005).
Em 1998, a ONU incluiu na lista do Prêmio de Melhores Práticas, quatro ecovilas
20
como
exemplos de modelos excelentes de vida sustentável, que atendem à Agenda 21 e preconizam
o equilíbrio entre o homem e a natureza (BEST PRACTICES, 1998). Com a comprovação
pela ONU que as ecovilas são realmente modelos de assentamento humano; será feita uma
relação entre as comunidades brasileiras e a Agenda 21 indicando as semelhanças existentes
entre as TA’s implantadas e as propostas indicadas no documento, provando que as ecovilas
já preconizavam estas propostas em sua vida comunitária antes mesmo da elaboração da
Agenda 21.
Um fator que demonstra a importância do surgimento de mais ecovilas no país está
relacionado à situação em que se encontra o ambiente natural. Segundo o documento
GeoBrasil de 2002, o meio ambiente brasileiro recebe interferência humana pelo adensamento
populacional desordenado em especial em treze (13) cidades do país que já passaram de um
milhão de habitantes, a saber: Belo Horizonte, Guarulhos, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília,
Goiânia, Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Curitiba e Porto Alegre. A especulação
mobiliária, o interesse pelas riquezas minerais e a falta de consciência em conservar são os
maiores motivadores da degradação ambiental. O ar é poluído por refinarias, indústrias e
pelos veículos automotores; as águas de rios, lagos, lagunas estão diminuindo e sendo
poluídas por causa da má distribuição da população no território brasileiro e da
20
O Prêmio Melhores Práticas ocorre a cada 2 anos. Em 1998, entre as ecovilas listadas se encontravam 2
estudadas nesta pesquisa: Findhorn e Cristal Waters.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
48
impermeabilização do solo derivada desta ocupação territorial adensada (SANTOS, 2002,
p.28-29).
As ecovilas brasileiras têm diferentes propostas, mas entendem que é vital proteger a imensa
reserva ambiental existente no país (florestas, cursos d’água e recursos naturais) através da
minimização do impacto que qualquer tipo de ação antrópica cause à natureza proporcionando
aos habitantes e funcionários da ecovila o real sentimento de pertencimento, da busca pela
igualdade social, do conforto ambiental, da qualidade de vida e do desenvolvimento
econômico preocupado em integrar e não destruir.
A Agenda 21 e as ecovilas brasileiras
A Agenda 21 é um dos documentos resultantes da Conferência da ONU em 1992, a Rio 92.
Na época, sua elaboração teve a intenção de voltar o mundo “para os problemas prementes de
hoje” com ”o objetivo, ainda, de preparar o mundo para os desafios do próximo século”
enaltecendo propostas “ambientalmente saudáveis” (AGENDA 21, 1992, cap.1). Este
documento
21
possui 40 capítulos que discorrem sobre a preocupação com a qualidade de vida
sempre aliada à conservação do ambiente natural. O capítulo 7 dedica-se aos assentamentos
humanos sustentáveis objetivando “melhorar a qualidade social, econômica e ambiental dos
assentamentos humanos e as condições de vida e de trabalho de todas as pessoas”
(AGENDA 21, 1992, cap.7).
Para alcançar esse objetivo foram incluídos 8 itens de interesse local, nacional e internacional,
isto é, de interesse para as cidades, os países e o mundo. São eles:
1. Oferecer a todos habitação adequada;
2. Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos;
3. Promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra;
4. Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água, saneamento,
drenagem e manejo de resíduos sólidos;
21
A Agenda 21 preocupa-se intensamente com o ambiente urbano devido ao adensamento populacional, embora
não deixe de avaliar e indicar necessidade de implementação de ações no ambiente rural. Como grande parte das
ecovilas existentes no mundo são assentamentos humanos implantados em ambiente rural, é importante
esclarecer que, mesmo elas, incorporam medidas que visam uma estrutura ambientalmente saudável, conforme a
determinação do documento em questão.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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49
5. Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos assentamentos humanos;
6. Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos localizados em
áreas sujeitas a desastres;
7. Promover atividades sustentáveis na indústria da construção;
8. Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação institucional e
técnica para o avanço dos assentamentos humanos;
No âmbito das TA’s o capítulo, por meio dos itens 4 e 5, visa a determinação de metas a ser
adotadas pelos países, para o manejo sustentável do lixo, para o uso de fontes renováveis de
energia e para o planejamento, desenvolvimento, manutenção e manejo da infra-estrutura
ambiental dos assentamentos humanos como abastecimento de água e saneamento. As
ecovilas nacionais e internacionais, em sua maioria, desenvolvem projetos que se adequam a
todos estes itens antes mesmo da elaboração da Agenda 21, devido a permanente preocupação
com o binômio homem-natureza. Os itens relativos às TA’s são defendidos pelas ecovilas por
estas acreditarem na importância de se manter os ciclos da natureza (época de chuva, sol, frio,
calor, plantar e colher) fazendo o assentamento evoluir a partir deles (AGENDA 21, 1992,
cap.7).
Sobre o aperfeiçoamento do manejo dos assentamentos humanos, indicado no item 2, há
diversas ecovilas ou institutos de formação em todo o mundo que disseminam através de
cursos teórico-práticos as tecnologias ambientais e a importância da harmonia com a natureza
por meio do binômio homem-natureza. Alguns dos exemplos deste tipo de local são os 4
principais modelos de ecovilas que serão mencionados no capítulo 2 deste estudo e os
institutos de permacultura existentes no Brasil como o Instituto de Permacultura e Ecovilas
dos Pampas (IPEP) e o Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA)
22
.
A Agenda 21 Global define metas e prioridades, porém deixa claro que o bom êxito das ações
é responsabilidade principalmente dos Governos dos países. Naquele momento, cada país se
responsabilizou em elaborar e implantar sua própria Agenda 21 baseada na Agenda 21 Global
levando em consideração as características especificas do país e suas regiões.
A Agenda 21 Brasileira foi implantada em julho de 2002, dez anos após a elaboração do
texto-base mundial, e divide-se em dois documentos: Ações Prioritárias e Resultado da
22
Para maiores informações:IPEP- www.permacultura.org.br/ipep/ ; IPEMA- www.ipemabrasil.org.br.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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50
Consulta Nacional. O documento Ações Prioritárias “estabelece os caminhos preferenciais da
construção da sustentabilidade brasileira” (BEZERRA, 2002b, p.3); e o Consulta Nacional,
como o próprio nome diz, é o resultado dos encontros e discussões realizados em todo o país,
nas cinco regiões.
“Na Agenda 21 Brasileira, o que se busca é um mínimo de integração dentro
de um processo de desenvolvimento, entre transformações produtivas,
eqüidade social e proteção ambiental, numa perspectiva de sustentabilidade
ampliada e progressiva” (BEZERRA, 2002a, p.84).
O Ações Prioritárias se traduz em ações e recomendações referenciadas no desenvolvimento
sustentável principalmente para os aspectos econômico, social, ambiental e cultural. Devem
ser seguidas e entendidas por todos os brasileiros como um compromisso ético e político para
um período de 10 anos (2002-2012) com o intuito de solidificar a sustentabilidade brasileira
nestes quesitos e assim levar o país a uma mudança real e equilibrada entre crescimento
econômico, eqüidade social e conservação ambiental (BEZERRA, 2002a, p.4-5).
O documento Resultado da Consulta Nacional selecionou 6 temas estratégicos para englobar
as especificidades e complexidades das regiões brasileiras e então propor discussões para sua
elaboração:
1. Gestão dos recursos naturais;
2. Agricultura sustentável;
3. Cidades sustentáveis;
4. Infra-estrutura e integração regional;
5. Redução das desigualdades sociais;
6. Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável.
Estes 6 temas foram intitulados cadernos e publicados em 2000 pelo Ministério do Meio
Ambiente (MMA). Embora grande parte das ecovilas esteja assentada em ambiente rural, e o
caderno Cidades Sustentáveis proponha mudanças e ações essencialmente no ambiente
urbano, é possível observar que as ações que norteiam o documento visando a
sustentabilidade ampliada e progressiva através do equilíbrio entre a dimensão ambiental,
social e econômica (BEZERRA, 2000a, p.12) são as mesmas propostas implantadas nas
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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ecovilas.
Nesta pesquisa a evidência desse equilíbrio poderá ser observada no capítulo 4 com a
apresentação da ecovila brasileira escolhida como exemplo: o desenvolvimento econômico
deste tipo de assentamento humano está sempre imbuído da intensa preocupação com o
ambiente natural e com a igualdade social.
2.3- Os principais modelos de ecovilas no mundo
As ecovilas surgiram a medida que crescia a insatisfação de alguns indivíduos, em viver em
uma sociedade consumista e individualista preocupada com o “ter” em detrimento do “ser”, e
que definia a natureza apenas como um elemento a ser explorado para satisfazer a própria
sociedade, independente do impacto ambiental que ocasionasse. Para Coelho (2000, p.24),
impacto ambiental
23
é o processo de mudanças sociais e ecológicas causado por
perturbações, de uma nova ocupação e/ou construção de um equipamento novo” no ambiente
e a evolução inter-relacionada das condições sociais e ecológicas estimulada pelos impulsos
das relações entre forças externas e internas à unidade espacial, ecológica, histórica ou
socialmente determinada. Para as ecovilas a diminuição deste impacto significa não causar
processos de mudanças bruscas no ambiente natural e isso pode ser obtido através entre outras
opções, do uso das tecnologias ambientais.
Dessa forma foram surgindo “pessoas engajadas com os novos paradigmas ambientais
(BRAUN, 2001, p.164) que se uniram com a intenção de criar comunidades que buscassem o
mesmo objetivo: o respeito a natureza e aos outros seres humanos e a convivência harmônica
em grupo por meio de um estilo de vida diferente do encontrado nas sociedades do mundo
moderno. Esse objetivo comum é conhecido entre as ecovilas como “cola”, pois tem esse
significado: colar, unir de forma coesa todos os moradores da comunidade a partir de um
mesmo objetivo, de uma mesma visão. Esta “cola” pode ser espiritual, ambiental, cultural,
social ou econômica ou a junção de algumas delas.
Segundo Ricardo Braun (2001, p.43-47), as ecovilas têm princípios comuns, a saber:
1. Ecologia - respeito pela natureza e conservação através de um modo de vida de baixo
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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impacto ambiental, reflorestamento e recuperação da paisagem;
2. Agricultura e alimentação orgânica - cultivo de alimentos com adubo orgânico obtido
pela compostagem
24
, sem elementos químicos. Ingestão de alimentos leves: verduras,
legumes e fibras. As carnes fazem parte do cardápio de poucas ecovilas;
3. Tecnologias alternativas - serão abordadas no Capítulo 3 como tecnologias ambientais.
Utilizam os recursos naturais para consumir menos energia, água, insumos e
elementos artificiais;
4. Dinheiro alternativo - também denominado dinheiro verde, é utilizado pelas
comunidades de forma criativa, como sistema de troca ou partilha, contribuindo para
diminuir a especulação monetária dos serviços, materiais e equipamentos;
5. Arquitetura - também será abordada no Capítulo 3. A arquitetura intitulada ambiental
tem como princípio adaptar-se ao ambiente natural utilizando materiais que diminuam
o impacto ambiental e que auxiliem no conforto ambiental das construções;
6. Permacultura - desenvolvimento de projetos agrícolas para ecossistemas específicos
com o uso sustentável da terra; gestão sustentável de energia, água, esgoto e resíduos
sólidos; e projeto de casas ecológicas para manter a qualidade ambiental aproveitando
“as facilidades da natureza sem causar dano” (BRAUN, 2001, p.121);
7. Integração social - utilização de algumas horas semanais para realização de trabalhos
na comunidade e maior integração entre os membros através de celebrações como
danças, meditações e eventos;
8. Espiritualidade - o desenvolvimento espiritual é necessário para aumentar a harmonia
entre ser humano e natureza, fortalecendo o objetivo da comunidade e a união entre os
membros;
9. Desenvolvimento sustentável - todos os princípios acima estão relacionados a
obtenção do desenvolvimento sustentável, prioridade para que os descendentes
possam usufruir de uma vida saudável e harmoniosa com o meio ambiente.
23
Por isso o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu resumo, Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),
possuem esse nome pois é feita uma pesquisa dos efeitos negativos que uma construção poderá causar e para
assim indicar ações mitigadoras que minimizem esse impacto.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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53
Os principais modelos de ecovilas internacionais a serem abordados ainda não estão
estabilizados mesmo com a vasta experiência adquirida pelo tempo em que estão implantadas,
pois a busca pela sustentabilidade é longa e evolui de forma gradativa. Já o modelo nacional
embora tenha surgido a pouquíssimo tempo, é conhecido entre as ecovilas do Brasil como
referência nacional na implantação de diversas tecnologias ambientais.
A “cola” de cada ecovila tende a priorizar um ou dois fatores (espiritual, ambiental, cultural,
social e econômico) limitando o desenvolvimento interdisciplinar e completo; por isso será
possível notar diferenças no grau de sustentabilidade obtido pelas ecovilas. Assim sendo, as
ecovilas internacionais descritas abaixo são membros fundadores da GEN e exemplos de
sustentabilidade: Ecovila de Findhorn na Escócia; Ecovila The Farm no Estados Unidos,
Ecovila Cristal Waters na Austrália
25
e o IPEC no Brasil, a primeira a se reconhecer como um
assentamento humano sustentável.
2.3.1- Ecovila de Findhorn
26
Localizada no hemisfério norte, a Ecovila de Findhorn encontra-se ao norte da Escócia na
Baía de Findhorn. Possui clima temperado com ventos fortes e gelados vindos do Mar do
Norte, e seu terreno é circundado por vegetação de restinga, bosques, dunas e ambiente
marinho com praias cuja faixa litorânea é formada por seixos rolados (BRAUN, 2001, p.50).
Figura 4 - Localização da Fundação Findhorn Figura 5 - Planta de localização na Baía de
na Escócia. Fonte: FINDHORN, 2005. Findhorn. Fonte: FINDHORN, 2005.
24
Compostagem é uma mistura de restos de alimentos, excrementos, folhas e caules de árvores. Tem grande teor
de nutrientes, próprios para enriquecer o solo após ser transformado em adubo orgânico.
25
No capítulo 3 será desenvolvido o modelo brasileiro escolhido para o aprofundamento da pesquisa.
26
Os dados obtidos foram retirados da página oficial da Ecovila de Findhorn. Dados obtidos em outras fontes
serão indicados conforme as Normas Brasileiras (NBR).
INGLATERRA
ESCÓCIA
Mar do Norte
Bahia de
Findhorn
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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54
No ano de 1957, Peter Caddy, Eileen Caddy e Dorothy Maclean
27
foram contratados para
administrar o Hotel Cluny Hill na cidade de Forres, no norte da Escócia. Obtiveram sucesso
transformando o hotel simples em um quatro estrelas, próspero e de sucesso. Porém, em 1962,
os Caddy foram dispensados do trabalho no hotel e junto com os três filhos e Dorothy se
mudaram para um acampamento de traileres (The Caravan Park) na Baía de Findhorn.
Figura 6 - Os traileres originais de Findhorn. Fonte: FINDHORN, 2005.
Peter resolveu plantar legumes e vegetais para sobreviver e embora o solo fosse seco e
arenoso não desistiu e foi perseverante. Enriqueceu o solo criando um substrato nutritivo com
a mistura de capim, excrementos de cavalo e gado, restos de folhas e caules de árvores, algas
marinhas, palha e resíduos de cevada. Conseguiu transformar o solo em terreno fértil e hoje o
jardim é conhecido e reconhecido internacionalmente, devido a diversidade de verduras,
legumes, raízes, flores, árvores de grande porte, árvores frutíferas e inúmeras espécies de
plantas.
A ecovila foi crescendo com a chegada de pessoas que, interessadas na harmonia com a
natureza através do jardim orgânico e de maior desenvolvimento espiritual, se instalaram em
traileres e construíram bangalôs
28
até hoje utilizados para acomodar convidados e palestrantes
dos seminários lá realizados.
Ainda em meados dos anos 60, foi construído o Santuário da Natureza, uma edificação
reservada às meditações diárias; e o Centro Comunitário onde se reúnem para conviver e
partilhar as refeições. Na década seguinte erigiram o centro de artes Universal Hall com um
moderno teatro; sala de concertos; sala de computadores; café; estúdio fotográfico, de dança e
de gravação.
27
Atualmente, Eileen Caddy vive em Findhorn. Dorothy mora no Estados Unidos, ministra seminários pelo
mundo e visita a ecovila quase todo ano. Peter Caddy retirou-se da comunidade em 1979 para trabalhar em
âmbito internacional, mas visitava Findhorn regularmente até seu falecimento em 1994 na Alemanha.
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55
Em 1975, a comunidade comprou o Hotel Cluny Hill para a realização de cursos educacionais
dando-lhe o nome de Colégio Cluny Hill. Na década de 80 foram realizadas várias aquisições
ao patrimônio de Findhorn, conseguidas através de doações de membros que não moravam
mais na comunidade e de simpatizantes da visão interdisciplinar: em 1982 foi comprado o
terreno onde estavam instalados, o Parque de Traileres da Baía de Findhorn (Findhorn Bay
Caravan Park), construções como a vizinha Cullerne House cujos jardins transformaram-se
no centro de produção vegetal orgânica, e a Drumduan House em Forres para acolher a
Escola Moray Steiner.
Figura 7 - Implantação da Fundação Findhorn. Fonte: BRAUN, 2001, p. 51.
A Fundação Findhorn, criada em 1972, representa a comunidade e é atualmente a responsável
pelo centro de educação e organização levando para todo o mundo através de seminários,
palestras, vivências e cursos, a visão integrada dos aspectos espirituais, ambientais, culturais,
sociais e econômicos; enaltecendo a interdependência entre ser humano e natureza.
Preocupada com a sustentabilidade no futuro, a Fundação comprou dois terrenos próximos
para trazer estabilidade e tranqüilidade às futuras gerações.
A busca pela sustentabilidade foi o caminho natural para concretizar, com medidas práticas, o
respeito a natureza e seus recursos. No período de 1984 a 1988 planejaram transformar a área
em uma comunidade ecológica para torná-la um exemplo de sustentabilidade através da união
de experiências espirituais, ambientais, sociais, culturais e econômicas. Dessa forma,
implantaram métodos construtivos; gestão de água, energia e utilizaram telhados verdes
ampliando a integração da comunidade com ambiente natural.
28
Bangalô - casa de construção leve, para residência de campo ou arrebalde (DICIONÁRIO Cultural da Língua
Portuguesa. 13 ed. v.1. Paraná: Educacional Brasileira S.A. [ca 1972]. p. 202).
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56
Arquitetura
As edificações foram concebidas a partir de uma arquitetura voltada para a eficiência
energética e conforto do usuário, e para a utilização de materiais recicláveis naturais sem
toxidade existentes no local como a madeira de barris de whisky, pneus de automóveis, palha
e pedras. Além disso, a Fundação Findhorn está sempre aberta a novas tecnologias que
tenham por objetivo a conservação ambiental.
Figura 8 - Construção com madeira de barris de whisky. Fonte: BRAUN, 2001.
Figura 9 - Detalhe de parede em palha. Fonte: FINDHORN, 2005.
Figura 10 - Residências ecológicas construídas com madeira. Fonte: FINDHORN, 2005.
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Figura 11 - Residências em madeira. Fonte: FINDHORN, 2005.
Figura 12 - Centro Comunitário em madeira. Fonte: FINDHORN, 2005.
O uso de madeiras, com plano de manejo sustentável, maximizam o aquecimento e tendo a
maioria das janelas voltada para a orientação sul, a radiação solar é utilizada para aquecer a
residência reduzindo a necessidade de aquecimento convencional. As lâmpadas fluorescentes
compactas também foram adicionadas aos projetos para aumentar a eficiência energética das
construções residenciais, comerciais e comunitárias da Fundação.
Tecnologias ambientais
A produção de energia renovável é essencialmente eólica devido aos ventos fortes e
freqüentes na Baía de Findhorn, fazendo o Parque de Ventos (Wind Park) ser responsável por
quase todo o fornecimento de energia para as construções. A próxima etapa na gestão dessa
energia será a aquisição de novas turbinas para aumentar a capacidade geradora, pois se
chegou a conclusão que o custo da energia para as novas edificações é bem menor que o custo
dos antigos traileres. Atualmente 28% do consumo energético é gerado pelos ventos, pela
água e pela lenha (utilizada para o aquecimento primário). A pretensão é chegar a algo em
torno de 90% dentro de alguns anos, eliminando a energia produzida por combustíveis fósseis.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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58
A gestão das águas servidas é desenvolvida através de um tratamento biológico chamado
Máquina Viva (Living Machine) que trata diariamente do efluente de cerca de 300 pessoas,
isto é, 50m
3
por dia. Encontra-se no interior de uma estufa de vidro de 10x30 metros que
mantém ummicroclima estável para os processos biológicos e reações bioquímicas
necessárias ao funcionamento ideal deste sistema” (BRAUN, 2001, p.54).
Figura 13 - Máquina Viva. Fonte: BRAUN, 2001.
O esgoto chega em 3 tanques anaeróbicos primários, localizados fora da estufa, que têm como
função reduzir o material orgânico e os sólidos do efluente sem a presença de oxigênio para
promover o crescimento da população de bactérias anaeróbicas. Já no interior da estufa segue
para um tanque aeróbico fechado onde os gases serão filtrados para eliminar os odores antes
de serem liberados para a atmosfera. Após esta etapa o efluente se instala em 4 tanques
aeróbicos abertos com diversas espécies de plantas flutuantes dotadas de grandes raízes
grossas que favorecem o aumento da atividade microbiana removendo metais e destruindo os
organismos patogênicos.
Figura 14 - Tanque aeróbico aberto da Máquina Viva. Fonte: FINDHORN, 2005.
Depois os resíduos se acomodam no fundo do tanque de depósito pela ação das bactérias, e o
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59
efluente de esgoto se direciona para as camas ecológicas fluídicas
29
compostas por camadas
de pedras envoltas por bactérias que auxiliam na filtragem da água. Finalmente seguem para
um tanque de armazenamento, onde moluscos e peixes terminam a limpeza da água se
alimentando dos microorganismos ainda existentes. A qualidade da água é considerada boa e
pode ser conduzida para o mar ou ser reutilizada para fins não potáveis como irrigação dos
jardins, hortas e lavagem de piso. As águas pluviais coletadas e armazenadas também são
utilizadas para irrigação dos diversos jardins.
Figura 15 - Esquema do sistema de tratamento biológico de águas servidas. Adaptado pela autora.
Fonte: BRAUN, 2001, p.54.
Outra tecnologia ambiental implantada em Findhorn é o uso dos telhados verdes, isto é, a
colocação de vegetação nos telhados. Ela foi incorporada em algumas construções para
melhor integração com a paisagem e manutenção do conforto térmico em seu interior e muitas
vezes recebem placas de coletores solares.
Esses painéis solares são utilizados para aquecimento de água e produção de energia elétrica
sendo fabricados por uma empresa da própria comunidade. Além disso também são vendidos
para unidades residenciais e comerciais do Reino Unido.
Figura 16 - Residência construída em madeira com telhado verde e coletor solar. Fonte: BRAUN, 2001.
29
Camas ecológicas fluídicas também são conhecidas como camas filtradoras e são locais onde a água é filtrada
e livre das bactérias.
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Figura 17 - Santuário da Natureza construído com pedras locais, além do telhado
verde integrado à paisagem. Fonte: BRAUN, 2001.
Figura 18 - Manutenção de um telhado verde. Fonte: FINDHORN, 2005.
Quadro sinóptico
Abaixo se encontra um quadro com o resumo dos métodos construtivos e das tecnologias
ambientais aplicadas na Ecovila de Findhorn.
CARACTERÍSTICAS FINDHORN
País Escócia
clima local temperado/subtropical
Ano de origem 1962
Cola/ideologia espiritual/social
Métodos construtivos
palha; pedra; madeira de florestas sustentáveis; madeira
de barris de whisky; pneus de automóveis.
Gestão de energia
energia eólica com turbina para produção de
eletricidade;
energia solar com coletor para produção de eletricidade.
energia solar com coletor de fabricação própria para
aquecimento de água.
Gestão da água
tratamento biológico de águas servidas.
captação e reaproveitamento de água de chuva.
telhados verdes utilizado
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2.3.2- Ecovila The Farm
30
The Farm está localizada a leste do Estados Unidos, em Summertown, no Estado do
Tennessee, próxima a capital Nashville. O clima temperado ou subtropical úmido se
caracteriza pela definição das estações do ano com temperatura em torno de 30
o
C em dias de
sol forte no verão e temperatura entre 5 e 10
o
C em dias de inverno com ocorrências de
nevadas de pouca intensidade que derretem rapidamente; e a precipitação pluviométrica
abundante na maior parte do ano gira em torno de 1000 a 2000mm.
Figura 19 - Localização da Ecovila The Farm no Estados Unidos. Adaptado pela autora.
Fonte: http://www.netstate.com/states/maps/images/usa_states.jpg. Acesso em 20 mar.2005.
Na década de 60, habitantes de diversos países se reuniram em São Francisco, Estados
Unidos, procurando um crescimento espiritual que mudasse o pensamento da sociedade
industrial. Este movimento ficou conhecido internacionalmente como hippie. Em 1970, após
encontros sobre religião e esoterismo, um grupo de 300 jovens hippies e seu líder espiritual
Stephen Gaskin saíram de São Francisco para percorrer o Estados Unidos em 60 ônibus
escolares levando mensagens de paz e convictos que o mundo só poderia melhorar se cada um
mudasse interiormente.
Figura 20 - Ônibus escolares utilizados na viagem “A Caravana”. Fonte: THE FARM, 2005.
30
Os dados obtidos foram retirados da página oficial da Ecovila The Farm. Dados obtidos em outras fontes são
indicados conforme as Normas Brasileiras (NBR) para referências bibliográficas.
ESTADOS UNIDOS
Tennessee
The Farm
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Em 1971, a viagem denominada “A Caravana” aportou no Tennessee e certos da necessidade
de formar uma comunidade compraram 200 acres de terra (809.372m
2
) com o dinheiro dos
integrantes da caravana. O início foi difícil e só conseguiram sobreviver graças a preciosa
ajuda dos vizinhos que lhes ensinaram a cultivar e trabalhar com a terra.
Uma parte do grupo continuou viajando pelo país em busca de adeptos daquela filosofia de
vida fazendo o número de habitantes aumentar e tornando necessária a compra de 750 acres
(3.035.145m
2
). Em 1975 a comunidade chegou a 750 habitantes e no período de 1977 a 1982
entre 1100 a 1500 residentes. Mas no ano de 1983 muitos se retiraram da comunidade por não
conseguirem pagar as despesas mensais e por não acreditarem mais no líder espiritual.
Atualmente apenas 280 pessoas vivem na The Farm em 1750 acres (7.082.005m
2
) com
situação financeira estável e previsão de crescimento ordenado.
Arquitetura
As primeiras residências foram os próprios ônibus escolares, mas como no inverno a neve no
teto os tornava frios e difíceis de serem habitados; a comunidade mudou-se para barracas
utilizadas pelo exército daquele país. Depois de várias tentativas de moradias alternativas,
construíram a Casa do Sol (Sun House) orientada para o sul com árvores à frente para obterem
sombra durante o verão. Outra edificação, a Casa “Calor Enclausurado” (Canned Heat), foi
erigida com parede dupla e com regulagem da entrada de correntes de ar para diminuir a
perda de calor durante o inverno
A partir de então, as 27 habitações edificadas no período de 1974 a 1978 utilizaram esses dois
conceitos por serem eficazes e baratos: ganho de radiação solar e isolamento térmico. O
aperfeiçoamento das técnicas levou a comunidade a projetar todas as construções baseadas na
arquitetura bioclimática aliada a materiais naturais encontrados na região como madeira,
palha, pedra e argila (BATES, 1987).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
63
Figura 21 -Habitação bioclimática construída com madeira. Fonte: THE FARM, 2005.
Figura 22 -Habitação bioclimática construída com madeira. Fonte: THE FARM, 2005.
Figura 23 -Habitação bioclimática construída com madeira. Fonte: THE FARM, 2005.
Figura 24 - Habitação bioclimática construída com palha. Fonte: THE FARM, 2005.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Figura 25 - Habitação bioclimática construída com palha. Fonte: THE FARM, 2005.
Figura 26 - Habitação bioclimática construída com material natural local: em argila. Fonte: THE FARM, 2005.
Tecnologias ambientais
A energia elétrica é produzida por fontes renováveis como a solar, a biomassa e em especial a
eólica acionada por um moinho de vento, mas a energia solar sempre foi uma tecnologia de
grande interesse para a comunidade (BATES, 1987). Como não havia dinheiro para comprar
as células fotovoltaicas foi construído um coletor solar fotovoltaico portátil que concentrava a
luz através de diversas superfícies refletidas
31
.
Figura 27 - Coletor solar fotovoltaico. Fonte: THE FARM, 2005.
31
Para maiores informações sobre o sistema: www.thefarm.org.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
65
O aquecimento de água foi iniciado com instalação de tubos pretos e tanques pintados de
preto localizados em cima do telhado. Adicionaram vidro ou vinil além de chapas refletoras
de alumínio para aumentar a retenção de calor e o resultado foi tão positivo que começaram a
vender o produto para vários Estados do Estados Unidos.
A gestão da água é desenvolvida através do tratamento biológico das águas servidas similar
ao utilizado na Ecovila de Findhorn, e da captação e reaproveitamento da água de chuva. Esta
última funciona com um sistema por gravidade em que a água desce pelo telhado, é coletada
por uma calha para ser condicionada em 3 galões com capacidade total de 150 litros. De lá é
armazenada em um tanque de 900 litros até transbordar, e este excesso de água é recebido por
2 galões com capacidade total de 600 litros. Em épocas de chuva forte é possível coletar 1500
litros em poucas horas.
Figura 28 - Gráfico do sistema de captação e armazenamento de águas pluviais. Fonte: THE FARM, 2005.
Figura 29 - Tanque de 900 litros e galões de 600 litros ao fundo. Fonte: THE FARM, 2005.
Quadro sinóptico
Abaixo se encontra um resumo dos métodos construtivos e das tecnologias ambientais
tan
q
ue 900 litros
g
alões 600 litros
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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66
aplicadas na Ecovila The Farm.
CARACTERÍSTICAS THE FARM
País Estados Unidos
clima local temperado/subtropical
Ano de origem 1971
Cola/ideologia espiritual/social
Métodos construtivos palha; pedra;madeira de florestas sustentáveis; argila.
Gestão de energia
para produção de eletricidade: energia eólica com
moinho de vento, energia solar com coletor e biomassa.
energia solar com coletor de fabricação própria para
aquecimento de água.
Gestão da água
tratamento biológico de águas servidas.
captação e reaproveitamento de água de chuva.
2.3.3- Ecovila Cristal Waters
32
Cristal Waters localiza-se em Queensland ao norte de Brisbane, na Austrália. O clima sub-
tropical é caracterizado pelo verão úmido e relativamente quente; a primavera e o outono
moderados com noites frescas e o inverno moderado com noites frias que ocasionalmente
registram temperatura abaixo de 0
o
C. Os ventos fortes são observados no mês de setembro
enquanto as brisas ocorrem no restante do ano, e a chuva com presença constante nos
primeiros meses do ano com índice pluviométrico médio de 1350mm.
Figura 30 - Mapa da Austrália. Fonte: http://www. ozzystudy. Figura 31 - Localização da Ecovila.
com.au/ozzystudy/australia/images/mapa_australia.jpg. Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Acesso: 02 mar.2005.
O terreno onde hoje se encontra a ecovila era propriedade de Bob Sample que o utilizava para
criar cavalos. Em uma determinada época deu permissão a uma comunidade alternativa
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
67
chamada Cristal Waters para se abrigar naquelas terras, mas com o passar do tempo sentiu
necessidade em ajudá-la a viver legalmente naquele lugar.
Em 1981, a comunidade foi registrada como uma cooperativa para ter representação legal e
conseguir aprovação do governo local para ocupação residencial rural, mas não obteve êxito.
Somente em 1985 alguns remanescentes da Cristal Waters original contrataram uma empresa
de permacultura
33
para elaborar um projeto que demonstrasse a viabilidade de um
assentamento que priorizasse o potencial agrícola e as necessidades ecológicas de uma
propriedade.
O governo reconheceu e aprovou a comunidade em 1986, e Cristal Waters tornou-se a
primeira ecovila de permacultura do mundo e exemplo de desenvolvimento sustentável em
ambiente rural. A cooperativa não teve financiamento e não possuía dinheiro para o
pagamento de todas as etapas do projeto, por isso o proprietário da terra, Bob Sample, aceitou
como pagamento 10 lotes da ecovila e os permacultores responsáveis pelo projeto receberam
3 lotes cada um.
No que concerne ao projeto, foram feitos estudos sobre a topografia, tipo de vegetação e sua
distribuição no local, as vias fluviais e os ventos dominantes na propriedade identificando as
áreas propícias para a implantação das estradas, lotes, agricultura e o centro da ecovila. Em
um ano o projeto estava implantado e recebendo os primeiros habitantes. Foi priorizada a
convivência entre os residentes como ocorre em cohousings; e a harmonia e o respeito à
natureza com a criação de sistemas de gestão de água, esgoto e energia.
32
Os dados obtidos foram retirados da página oficial da Ecovila Cristal Waters. Dados obtidos em outras fontes
são indicados conforme as Normas Brasileiras (NBR).
33
Para um melhor entendimento é importante definir o significado de permacultura e como ele é visto por seu
criador, o australiano Bill Mollison. Permacultura, isto é, cultura permanente, é “uma estrutura de trabalho para
um sistema agricultural sustentável, baseado na policultura de árvores perenes, arbustos, ervas, fungos e
tubérculos(RBP, 2003), unindo arquitetura com biologia, agricultura com estudo de florestas e florestas com
zootecnia. Bill Mollison vê a permacultura como uma associação, entre as plantas e os animais de uma
comunidade, direcionada para a subsistência alimentar de cada família e conseqüentemente, de toda comunidade.
E a utilização da produção excedente, quando houvesse, seria um meio de obter retorno financeiro para o
assentamento (RBP, 2003).
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LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
68
Figura 32 - Projeto de permacultura de Cristal Waters. Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Figura 33 - Vista observada da entrada da Ecovila Cristal Waters.
Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Com área de 2.590.000m
2
, capacidade para 250 a 300 pessoas
34
e aberta a todas as religiões,
Cristal Waters constitui-se de 83 lotes residenciais com área total de 4.000 até 6.000m
2
e 2
lotes comerciais sendo um para acomodação de visitantes e outro para o centro comercial com
atividades educacionais, de turismo e indústrias de baixo impacto ambiental. Todas essas
edificações ocupam apenas 20% da área total do terreno, portanto a área livre de 80% pode
ser utilizada para agricultura sustentável, silvicultura, recreação e futuros projetos de
habitação.
Projeto de Permacultura
CRISTAL WATERS
acesso à ecovila
(figura 33)
lotes
re
p
resas
lotes
área
livre
lotes
re
p
resas
área
livre
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Arquitetura
Os habitantes de cada lote definiram o projeto de suas residências, e a maioria buscou
construir em harmonia com a natureza minimizando o impacto ambiental. Adequaram o
projeto ao local e ao clima utilizando conceitos bioclimáticos, especialmente para o
aproveitamento da radiação solar passiva que aquece as residências durante o inverno.
Os materiais mais utilizados são os naturais como a madeira de florestas próximas manejadas
sustentavelmente, palha em fardo, pedras, terra batida, bambu e tijolos de terra comprimidos,
além dos materiais ditos “segunda mão”, isto é, aqueles já utilizados em outras construções
que estão sendo descartados por seus proprietários como portas e janelas. São evitados os
materiais artificiais como o alumínio, os de origem distante que necessitam de transporte
motorizado para sua entrega ao local ou madeiras de florestas sem manejo, pois causam
desequilíbrio na natureza.
Figura 34 - Acomodação para visitantes em madeira. Figura 35 - Residência em tijolos de terra.
Fonte: CRISTAL WATERS, 2005. Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Figura 36 - Área externa para refeições em pedra. Figura 37 - Residência em tijolo.
Fonte: CRISTAL WATERS, 2005. Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Tecnologias ambientais
Uma rede elétrica próxima ao assentamento fez os projetistas optarem por ela temendo que a
energia solar não fosse suficiente, pois o clima na região caracteriza-se por um verão de céu
nublado e chuvoso, fatores que diminuem a eficiência de coletores solares fotovoltaicos e
34
Atualmente há 200 residentes na ecovila (CRISTAL WATERS, 2005).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
70
elevam o tempo de amortização do sistema. Utilizou-se coletores solares para aquecimento da
água e em algumas casas foram adicionados coletores fotovoltaicos para produção de energia.
Para diminuir o gasto com energia elétrica foi decidido que os habitantes reduziriam o
consumo instalando um cabo de baixa voltagem que leva aproximadamente metade da
corrente normal que uma casa australiana comum consome. O cabo foi instalado em galerias
subterrâneas para diminuir a poluição visual e gerou economia à ecovila além da convivência
harmoniosa com a natureza.
O grande número de represas e rios possibilitou a implantação de atividades recreativas como
natação, canoagem e pesca. Porém a água para a irrigação dos pomares e hortas coletivos e
individuais é retirada do resultado do sistema de tratamento das águas servidas e da captação e
reaproveitamento das águas.
Figura 38 - Represas e rios na propriedade de Cristal Waters. Fonte: CRISTAL WATERS, 2005.
Quadro sinóptico
Abaixo se encontra um resumo dos métodos construtivos e das tecnologias ambientais
aplicadas na Ecovila Cristal Waters.
CARACTERÍSTICAS CRISTAL WATERS
País Austrália
clima local temperado/subtropical
Ano de origem 1985
Cola/ideologia ambiental/social
Métodos construtivos
palha; pedra;
madeira de florestas sustentáveis;
tijolos de terra; terra batida; bambu.
Gestão de energia
rede elétrica pública instalada com cabo de baixa
voltagem e alguns coletores solares para produção de
eletricidade.
energia solar para aquecimento de água.
Gestão da água
tratamento biológico de águas servidas.
captação e reaproveitamento de água de chuva.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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2.3.4- Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado
35
O Instituto localiza-se na cidade de Pirenópolis, latitude 15º51', no Estado de Goiás, na região
centro-oeste do Brasil. Conforme dito anteriormente, o IPEC foi a 1ª ecovila a se denominar
como tal, porém seus coordenadores acreditam que há muito a ser feito na área relacionada ao
respeito pelo ambiente natural para então se tornar uma ecovila voltada para essa questão.
Mesmo assim, o Instituto está sendo usado como exemplo de modelo pois se encontra na lista
de ecovilas da GEN, da ENA e da ENA-Brasil e reúne inúmeras tecnologias ambientais em
especial a gestão da água, cerne desta pesquisa.
Figura 39 - Localização do Estado de Goiás. Adaptado pela autora.
Fonte: http://www.guiageo.com/brasil-mapa.htm. Acesso em: 5 jan.2005.
Pirenópolis está a 150 Km da capital do país, Brasília. Possui clima tropical sub-úmido com
estações bem definidas: a das chuvas ocorre de outubro a março, e a de seca de abril a
setembro. O vento predominante é o sudeste, embora haja ocorrência de vento norte em
épocas de chuva e pouca incidência de ventos entre setembro e outubro e entre fevereiro e
março (PIRENÓPOLIS TUR, 2005).
35
Os dados que não estiverem referenciados foram obtidos na página oficial do IPEC.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Figura 40 - Localização de Pirenópolis. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 41 - Localização do IPEC em Pirenópolis. Adaptado pela autora. Fonte: PIRENOPOLIS TUR, 2005.
Na década de 80 o hoje coordenador técnico do IPEC, André Soares, resolveu viajar pelo
mundo à procura de sua independência. Trabalhou em propriedades orgânicas na Europa e de
lá seguiu para Israel, mas não se interessou pela agricultura daquele país. Lá conheceu Lucy
Leagan (sua esposa atualmente), que tinha os mesmos sonhos que ele e juntos foram para a
Austrália, país do pai da Permacultura - Bill Mollison, lugar onde conhecerem e aplicaram
este sistema de agricultura (JBr, 2001).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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73
Após obter conhecimentos sobre este sistema o casal criou um Instituto de Permacultura no
nordeste australiano, mas em 1997 resolveu voltar para o Brasil com a intenção de procurar
um local para aplicar o que aprenderam e assim espalhar esses valores por todo o país através
de agentes multiplicadores.
No ano de 1998, o cerrado brasileiro foi o bioma
36
escolhido para criar um instituto de
permacultura, o IPEC, devido a proximidade com Brasília, a vegetação do cerrado (GOMEZ,
2005) e com a intenção de demonstrar na prática a viabilidade de se obter “modelos de
sustentabilidade apropriados para a realidade do Cerrado e do Brasil, a partir de uma
perspectiva global” (IPEC, 2004).
Figura 42- Entrada do IPEC. Fonte: ZUNINO, 2005.
No mapa abaixo é possível observar a distribuição do espaço onde as tecnologias, as
construções e os princípios
37
da permacultura estão implantados em um mesmo local tendo
como complemento a vegetação do cerrado em seu entorno que é utilizada como
agrofloresta
38
.
36
Bioma é “um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação
contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada
de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria” (fonte: http://www.ibge.gov.br/home/
presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=169 Acesso em: 02 jul.2004).
37
Os princípios da permacultura são 3: cuidado com a terra, cuidado com as pessoas e distribuição eqüitativa dos
recursos.
38
Para os permacultores a agrofloresta é o plantio de legumes, cereais, raízes na floresta para uma comunidade
poder sobreviver do que planta.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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74
Figura 43- Mapa ilustrativo do IPEC. Fonte: IPEC, 2004.
Na época em que compraram o terreno a única construção existente era uma residência de
quatro cômodos com capacidade para 12 pessoas, hoje chamada de Casa Mãe, e que foi
transformada em alojamento de estudantes. Com ajuda financeira da Rede Permacultura
América Latina (PAL), e o trabalho de André, Lucy, voluntários e pessoas contratadas da
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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75
localidade foi iniciada a implantação de algumas construções.
Um ano depois, 1999, o IPEC obteve capacitação reconhecida no Design de Ecovilas,
Permacultura e Uso sustentável da água e iniciaram as construções das residências. No ano de
2000 foi reconhecido pela GEN como “Centro de Vivência e Aprendizagem” e um centro de
capacitação em âmbito internacional.
No ano seguinte o IPEC, também chamado Ecocentro IPEC, fez alguns convênios com
universidades “para créditos e reconhecimento profissional com Universidade da Catalunha
(IPEC, 2005): foi o início da Ecoversidade tendo a vinda dos primeiros “ecoversitários” em
2002 com a inauguração da Vila dos Universitários. Os estudantes permanecem no Instituto
por um tempo pré-determinado para conhecer a permacultura na prática e todas as tecnologias
ambientais lá implantadas.
Também recebem estudantes de diversas regiões do Brasil e de outros países para pesquisar e
aprender sobre a sustentabilidade ambiental através do uso de métodos construtivos e
tecnologias ambientais que respeitam a natureza e ver como a permacultura é aplicada na
prática e no dia-a-dia. A vila Ecoversidade, como mencionado, é o núcleo residencial que
recebe esses estudantes e os instrutores dos cursos para que haja maior convivência e troca de
informações entre eles. Para isso no centro deste núcleo foram implantados um forno, um
banco em cob
39
e um espaço para fogueiras.
Figura 44- Alojamentos. Fonte: ZUNINO, 2005.
Em 2004 o Instituto fez convênio com o Exército Brasileiro para capacitação de construtores
ecológicos, convênio com o governo do Haiti para a construção de um Ecocentro e ganhou o
prêmio Planeta Casa na área de Arquitetura Social da Revista “Casa Cláudia”.
39
Cob - mistura de argila, palha, água e às vezes pedra triturada.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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76
Em agosto de 2005 ainda estava em fase de construção o Anfiteatro com capacidade para 120
pessoas que será denominado Centro Mollison de Estudos Sustentáveis para a realização de
cursos, reuniões e eventos. A cozinha cooperativa já é utilizada pelas mulheres da região para
que produzam doces e compotas e vendam seus produtos na loja do IPEC durante os eventos.
Figura 45- Anfiteatro em construção (tijolos de adobe). Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 46- Cozinha cooperativa. Fonte: ZUNINO, 2005.
Uma ONG, que tem André Soares entre seus membros, por ser a proprietária do terreno
possui o direito sobre a terra e administra o IPEC. Embora ainda não o definam como uma
ecovila, o Ecocentro possui em torno de 10 moradores e 10 funcionários para manter e cuidar
de jardins, animais, horta, pomar e toda a estrutura permacultural lá existente.
Os recursos financeiros para a manutenção da estrutura da ecovila são obtidos através dos
cursos oferecidos e dos produtos vendidos na loja (revistas, livros, etc). Com duração de um
fim de semana a 8 dias, os cursos são conhecidos por todos aqueles que pesquisam a
sustentabilidade nas residências e comunidades, pois enfocam temas como permacultura,
educação sustentável e tecnologias ambientais aliadas a utilização correta dos princípios
bioclimáticos. Com esses cursos André Soares pretende disseminar o uso das tecnologias pelo
país e formar líderes que sejam responsáveis por projetos semelhantes ao do instituto.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
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Os cursos são completos, pois os participantes aprendem a teoria e a utilizam no próprio
instituto através da construção. São cisternas de ferrocimento
40
para armazenamento das
águas de chuva, paredes ou fechamentos de residências utilizando algumas das diversas
técnicas ensinadas, aquecedores solares e sanitários compostáveis entre outros.
São 5 cursos: Bioconstruindo, Permacultura: design e consultoria, Educação sustentável,
Água: manejo para o uso sustentável e permacultura na mesa.
Bioconstruindo (8 dias) - são oficinas teóricas e práticas que ensinam métodos construtivos
como construção em adobe
41
, cob, taipa de pilão, fardo de palha, bambu entre outros; e
tecnologias ambientais como Aquecedores Solares de Baixo Custo (ASBC), sanitários
compostáveis e uso de energias renováveis.
Permacultura: design e consultoria (8 dias)- seu objetivo é conseguir que o participante
discuta e vivencie o que rege o design de sistemas sustentáveis através da questão
transdisciplinar.
Educação sustentável (fim de semana) - curso para educadores e professores que pretendem
trabalhar com as disciplinas como um todo e não como é feito atualmente: divididas em
disciplinas sem contar com as visões de cada área.
Água: manejo para o uso sustentável (fim de semana)- ensina a manejar a água através do
tratamento do efluente do esgoto e da captação, armazenamento e reaproveitamento das
águas de chuva.
Permacultura na mesa (fim de semana) - ensina a produzir o próprio alimento, conservá-lo e
aproveitá-lo segundo a permacultura e com a finalidade de obter uma alimentação mais
saudável e balanceada.
Com 7 anos de existência, o Instituto tem sido o caminho de muitos profissionais de
diferentes áreas, na busca pelo equilíbrio entre homem e natureza. A maior preocupação é
priorizar a função nas construções sem abrir mão da harmonia entre os materiais utilizados e a
natureza, por este motivo é considerado um centro de incentivo na aplicação de tecnologias
ambientais e métodos construtivos.
40
Ferrocimento - mistura de cimento e areia que envolve um aramado de vergalhões finos e telas.
41
Adobe- barro amassado e misturado com areia e palha.
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Arquitetura
Como na ecovila de Findhorn, a arquitetura do Instituto prioriza o bioclimatismo e utiliza
métodos construtivos que estão em harmonia com a natureza; materiais recicláveis como
vidro de carro e garrafas e materiais naturais existentes no local e entorno como terra, madeira
abandonada ou bambu objetivando o respeito aos ciclos da natureza e diminuindo a geração
de resíduos no ambiente natural. Uma das residências existentes no local foi feita a partir da
madeira de apenas um tronco de jatobá que estava tombado na estrada.
Figura 47- Casa em madeira de jatobá. Fonte: ZUNINO, 2005.
Há diversidade de métodos construtivos entre as construções do local, indo da taipa de pilão a
fardos de palhas passando pelo adobe, cob, superadobe
42
, bambu, pedras e solo cimento
43
para
estrutura e fechamento das construções. A preocupação com o bom uso dos materiais é tanto
que há dentro do IPEC uma fábrica de tijolos de adobe para serem produzidos e utilizados
pela própria ecovila e durante as aulas práticas do curso Bioconstruindo, pois muitas
construções ou partes delas são erguidas durante a realização deste curso. As figuras abaixo
confirmam essa diversidade de materiais e métodos além de mostrarem a criatividade em usá-
los.
42
Superadobe - sacos de polipropileno preenchidos com solo do local (areia ou argila).
43
Solo cimento - mistura de solo do local, cimento e água para obter a liga entre os materiais.
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Figura 48 - Módulo de construção em super adobe. Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 49 - Construção em super adobe. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 50- Construção em super adobe. Fonte: IPEC, 2005.
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Figura 51 - Módulos de construção em taipa de pilão. Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 52- Casa de taipa. Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 53- Construção em jatobá na entrada principal, fundos e laterais em taipa. Fonte: IPEC, 2005.
material
reciclado:
vidro de carro
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Figura 54- Recanto de bambu. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 55- Construção em fardo de palha. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 56- Casa em cob. Fonte: IPEC, 2005.
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As pedras abundantes na região são empregadas em pisos, escadas, jardins, estruturas de
edificações e construções em si. O refeitório foi produzido com pedras vindas de uma pedreira
próxima após serem consideradas resíduos não-aproveitáveis.
Figura 57- Refeitório em pedra: bancos e mesas. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 58- Jardim e escada em pedras. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 59- Escada em pedras. Fonte: IPEC, 2005.
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Figura 60- Piso em pedras. Fonte: IPEC, 2005.
Tecnologias ambientais
As tecnologias ambientais estão presentes em todo o IPEC. Seus membros acreditam que a
aplicabilidade das TA’s na própria ecovila é um meio de comprovar a eficiência das mesmas
para que haja sua adoção no Brasil e em outros países, sempre de acordo com o local e a
paisagem em que estará inserida. Estão implantadas a geração de energia térmica através do
aquecedor solar de baixo custo (ASBC), a gestão de resíduos sólidos, e a gestão da água por
meio da captação das águas de chuva e do tratamento do efluente do esgoto.
No que se refere a gestão de energia, apenas 1% da energia elétrica consumida advém da
energia solar e o restante é fornecida pela concessionária do local. O aquecimento de água é
totalmente produzido pelo sistema solar térmico fabricado na própria ecovila (IPEC, 2005).
Figura 61- Energia fotovoltaica. Fonte: IPEC, 2005.
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Figura 62- Detalhe do coletor solar fotovoltaico. Fonte: IPEC, 2005.
O ASBC é um produto com tecnologia desenvolvida pela ONG Sociedade do Sol e será
demonstrado com maiores informações no capítulo 3. Para um bom entendimento, é um
aquecedor com sistema de termossifão
44
tendo o custo reduzido e a montagem fácil e rápida
como as mais importantes diferenças entre ele e os industrializados. O modelo de coletor solar
para aquecimento de água do Instituto aquece 1000 litros de água por dia e o reservatório da
água possui material isolante para manter a temperatura.
Figura 63- ASBC sendo montado. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 64- ASBC e reservatório. Fonte: IPEC, 2005.
44
termossifão - trabalha com a diferença da densidade da água quente e fria criando uma circulação natural da
água dentro do sistema.
reservatório
ASBC
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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A gestão da água é um fator muito observado no Ecocentro. Além de tratar o efluente do
esgoto e utilizar a água de chuva, existe a preocupação em não desperdiçar a água em especial
na descarga dos sanitários.
Essa necessidade levou a ecovila a implantar o sanitário seco ou compostável, que ao invés da
água, utiliza a adição manual de serragem para que os dejetos humanos fiquem livres dos
agentes patogênicos que causam doenças, e posteriormente se transformem em adubo
orgânico para a plantação. Isso exigiu uma mudança de hábitos oriunda da necessidade do uso
da serragem e do fechamento da tampa após a utilização do banheiro. A construção inclui
duas câmaras na parte inferior e o sanitário na superior para que os dejetos desçam até a
câmara por gravidade. Os dejetos são acumulados durante 6 meses em cada câmara e não
exalam mau cheiro devido ao uso da serragem (IPEC, 2004; ESTRADA, 2004).
Figura 65- Corte esquemático do sanitário seco. Fonte: ESTRADA, 2005.
Figura 66- Interior do sanitário seco. Fonte: ZUNINO, 2005.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Figura 67- Vista externa do sanitário seco. Fonte: IPEC, 2005.
Toda a água do IPEC se origina das águas de chuva que são coletadas pelos telhados das
construções e armazenadas em reservatórios circulares de ferrocimento fechados. O
ferrocimento é bastante utilizado por ser um material barato e eficaz que suporta carga de até
500 mil litros com espessura de 3cm (IPEC, 2004).
Figura 68- Calha coletora da água de chuva. Fonte: IPEC, 2005.
res
p
irador
sanitário
câmaras em
chapa metálica
acesso ao
sanitário
portas
metálicas
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Figura 69- Reservatório em ferrocimento para armazenamento da água coletada. Fonte: IPEC, 2005.
Para a agricultura são utilizados os swales (canais de infiltração), isto é, fendas com vegetação
ao nível do terreno que recolhem a água de chuva e umedecem o solo aumentando a produção
da horta e do pomar e por conseqüência diminuindo a área degradada.
Figura 70- Abertura de um canal de infiltração. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 71- Canal de infiltração com água de chuva. Fonte: IPEC, 2005.
O efluente do esgoto atualmente é tratado através das camas de tratamento biológico ou dos
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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ecossistemas vivos. E mais duas tecnologias estão em fase de estudo e implantação: o
infiltrador séptico e o tratamento biolítico. Abaixo segue pequena descrição de cada um
desses sistemas.
tratamento biolítico - usa a minhoca para a limpeza da água obtendo também o húmus para
adubar o solo.
infiltrador séptico - segundo o IPEC, é um sistema mais eficaz que as fossas sépticas porque
limpam a água dos sanitários que ainda utilizam água na descarga. Essa limpeza ocorre
através de plantas filtradoras e microorganismos anaeróbicos que absorvem a matéria
orgânica das fezes, purificando a água para então ser absorvida pelo solo.
ecossistemas vivos - é um processo de purificação de águas servidas semelhante ao da ecovila
de Findhorn além de peixes e patos nos últimos tanques do sistema para aumentar a eficiência
da purificação da água deixando-a pronta para o reuso em chuveiros, lavatórios e pias de
cozinha.
Figura 72- Tanques com plantas filtrantes. Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 73- Tanque em ferrocimento com plantas aquáticas. Fonte: IPEC, 2005.
planta com
raiz profunda
para limpar a
água
tanque com
plantas
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Figura 74- Tanque em ferrocimento com plantas aquáticas. Fonte: IPEC, 2005.
Figura 75- Tanque biodigestor. Fonte: ZUNINO, 2005.
cama de tratamento biológico - Este sistema utiliza plantas que filtram os resíduos existentes
nas águas cinzas, isto é, vinda dos chuveiros, da cozinha e lavanderia, não incluindo os
dejetos e efluentes do esgoto.
Figura 76- Cama de tratamento com lago. Fonte: IPEC, 2005.
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CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Figura 77- Cama de tratamento em tanque. Fonte: IPEC, 2005.
A gestão de resíduos sólidos é bem resolvida na ecovila pois toda e qualquer pessoa sabe que
destino terá o lixo que produziu inclusivo os restos de comida. Nada é desperdiçado, tudo é
aproveitado seja para compostagem, para servir de alimentação aos animais ou para posterior
reuso de materiais como madeiras, vidros de carro, garrafas e outros.
Figura 78- Separação e descrição do destino do lixo do refeitório. Fonte: ZUNINO, 2005.
Figura 79- Área para armazenagem de materiais recicláveis. Fonte: ZUNINO, 2005.
destino de cada
tipo de lixo
(cascas, resto
de comida,
vegetais, etc).
recipientes
para diversos
tipos de lixo
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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Quadro sinóptico
Abaixo se encontra um quadro com o resumo dos métodos construtivos e das tecnologias
ambientais aplicadas no Ecocentro IPEC.
CARACTERÍSTICAS IPEC
País Brasil
clima local tropical sub-úmido
Ano de origem 1998
Cola/ideologia em definição (ambiental/social)
Métodos construtivos
taipa de pilão; taipa leve, fardo de palha; adobe, cob;
superadobe, fibrocimento, bambu, pedra; madeira e solo
cimento
Gestão de energia
energia solar para produção de eletricidade.
energia solar com ASBC de fabricação própria para
aquecimento de água.
Gestão da água
tratamento biológico de águas servidas;
captação e reaproveitamento de água de chuva;
swales (canais de infiltração).
telhados verdes ainda não implantado
2.3.5- Quadro Sinóptico
O quadro sinóptico demonstra as semelhanças e diferenças entre as quatro ecovilas
apresentadas. Tanto as ecovilas estrangeiras, localizadas em regiões de clima temperado ou
subtropical com inverno rigoroso e a brasileira localizada em região de clima tropical sub-
úmido necessitam da promoção de conforto térmico no interior das edificações através de
projetos de arquitetura bioclimática. Isso é observado através dos materiais utilizados e do
aproveitamento dos elementos naturais na implantação das construções.
O bioclimatismo minimizou o uso dos recursos naturais não renováveis e conseqüentemente o
impacto ambiental das edificações ao utilizar materiais que mantêm o calor no interior das
edificações durante o inverno, e a ventilação durante o verão.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
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FINDHORN THE FARM
CRISTAL
WATERS
IPEC
País Escócia Estados Unidos Austrália Brasil
clima local temperado/subtropical
tropical sub-
úmido
Ano de origem 1962 1971 1985 1998
Cola/ideologia espiritual/social ambiental/social
palha, pedra e madeira de florestas sustentáveis --
__
tijolos de terra, terra batida e
bambu
Métodos
construtivos
madeira de
barris de whisky
e pneus de
automóveis
argila __
taipa de pilão;
taipa leve, fardo
de palha; cob;
superadobe,
fibrocimento,
pedra; madeira e
solo cimento
Gestão de
energia eólica para produção de
eletricidade
rede elétrica pública para produção
de eletricidade.
energia energia solar para produção de eletricidade;
energia solar para aquecimento de água.
Gestão da água
tratamento biológico de águas servidas.
captação e reaproveitamento de água de chuva.
telhados verdes utilizado -
A diversidade de materiais de construção naturais e existentes no local demonstra a
preocupação em pesquisar soluções para obter habitações energeticamente eficientes e
integradas à paisagem. No caso de Findhorn nota-se a introdução do uso de materiais
reciclados como pneus e madeira de barris de whisky demonstrando a necessidade em se
trabalhar tanto com materiais naturais (pedra, argila) como com os materiais reciclados para a
conservação ambiental. E o IPEC, embora criado há pouco tempo, possui variedade de
materiais reciclados como vidros de carro e plásticos.
No tocante as tecnologias ambientais; observou-se que a gestão de energia e a gestão da água
são as mais desenvolvidas e estão em constante evolução técnica e ambiental. O tipo de
energia foi escolhido de acordo com o custo de implantação e da energia predominante nos
locais onde as ecovilas estão implantadas. Porém, complementam essas fontes de energia
principais à outras fontes renováveis como a energia solar para aquecimento da água e
geração de eletricidade promovendo uma constante busca à sustentabilidade.
Ecovilas
Características
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 2: AS ECOVILAS NO MUNDO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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A gestão da água através da captação, armazenamento e reaproveitamento das águas pluviais
e do tratamento biológico das águas servidas é ponto comum nesses quatro estudos. Com
similaridades na implantação destas técnicas, as ecovilas defendem o uso racional da água e
trabalham para que o processo de degradação de cursos d’água seja revertido, servindo de
exemplo para quem se interessa em viver de forma harmoniosa com o mundo.
A implantação de telhados verdes foi utilizada apenas na ecovila mais antiga, a de Findhorn,
mesmo sendo uma técnica que mantêm a temperatura interna nas residências, ideal para os
climas nos quais se encontram as ecovilas estudadas.
Mesmo sendo as mais antigas do mundo que se tem conhecimento e uma das mais completas
do Brasil, as ecovilas pesquisadas neste capítulo ainda estão em busca da sustentabilidade
ambiental para terem suas necessidades básicas satisfeitas e para alcançar a harmonia entre ser
humano e natureza.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
Este capítulo inicia com um breve panorama do estado do ambiente natural mundial e
brasileiro para que haja um melhor entendimento sobre a ligação entre a proteção à natureza e
a necessidade de se implantar, conforme descreve a Agenda 21 Global, as tecnologias
ambientalmente saudáveis ou como são chamadas nesta pesquisa, as tecnologias ambientais.
A partir de então se aborda o conceito das TA’s, a importância das mesmas no mundo atual e
seu uso nas ecovilas.
Pretende-se descrever sobre as tecnologias mais empregadas em ecovilas (brasileiras e
estrangeiras) e centros de treinamentos ligados a elas e às comunidades sustentáveis, dando
ênfase as tecnologias concernentes à gestão da água. As tecnologias foram analisadas o
quanto possível através do relato do funcionamento e manutenção de cada técnica com
orientações que possam ser entendidas tanto por arquitetos como por indivíduos que
pretendem implantar algumas dessas tecnologias onde moram e que precisam entender um
pouco sobre o que é necessário para a mesma. A apresentação de cada tecnologia finaliza com
alguns exemplos dos quais a maioria está implantada no Brasil, em outros países do mundo e
também em locais que não são ecovilas para demonstrar que tais técnicas também têm
aplicabilidade em outros tipos de assentamentos humanos.
As TA’s pesquisadas são: terra e solo-cimento (métodos construtivos), energia solar (gestão
de energia), reciclagem e compostagem de lixo (gestão do lixo), o reaproveitamento das águas
pluviais e o tratamento das águas servidas (gestão da água).
3.1- Um breve panorama do ambiente natural mundial e brasileiro
O ambiente natural no mundo, conforme já mencionado, tem sido degradado de forma
contínua desde a Revolução Industrial, comprovando que os recursos naturais estão sendo
deteriorados em um curto espaço de tempo e este processo poderá levar a Terra à sua
extinção
45
(WWI, 2004, p.6).
O documento Estado do Mundo 2004
46
(WWI, 2004, p.xxx) confirma essa situação e ressalta
que, em todo o planeta, durante os últimos 50 anos, o uso e consumo mundial de água doce
45
Várias bibliografias usam este termo, “extinção da Terra, de forma recorrente. Cabe salientar que a extinção a
que se referem está vinculada a extinção dos recursos naturais e dos seres vivos.
46
O documento Estado do Mundo é elaborado pela ONU e pelo Instituto WorldWatch todos os anos para traçar
o panorama do ambiente natural mundial e comparar com a pesquisa dos anos anteriores.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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triplicou, o de combustíveis fósseis quintuplicou e os recursos naturais e renováveis, como os
lençóis freáticos, estão sob ameaça de extinção. Deixa claro que isto se deve ao padrão de
consumo da população levando à perda do patrimônio ambiental e ao aumento de doenças e
da pobreza em todos os países: os desenvolvidos, os em desenvolvimento e os
subdesenvolvidos.
O documento também relata que o consumo excessivo causa transtornos como o aumento da
geração de lixo, a poluição do ar e a diminuição do conforto no ambiente construído; cabendo
ressaltar que os países industrializados da Europa e América do Norte, aliados ao Japão e
Austrália, são os principais responsáveis pela deterioração da natureza e seus recursos. O
Estado do Mundo 2005” ratifica essa informação afirmando que esta situação “é mais
calamitosa para os pobres, uma vez que tendem a estar mais diretamente expostos, têm
proteção inadequada e muito pouco em termos de recursos e meios para lidarem com as
conseqüências” (WWI, 2005, p.8).
O consumo não significa apenas a compra de produtos em embalagens ditas inimigas da
natureza, eletrodomésticos com alto consumo de energia elétrica ou materiais que poluem o
ar. Há mais questões neste item, em especial na área da arquitetura e engenharia, pois se torna
evidente que as construções também são responsáveis pela deterioração ambiental através de
materiais causadores de grande impacto ambiental principalmente da falta de planejamento da
obra que traz como conseqüência o desperdício de materiais, a não reutilização dos mesmos,
nos projetos de arquitetura que não priorizam a arquitetura bioclimática e as tecnologias
ambientalmente saudáveis.
Matthew Bentley definiu que a classe de consumidor global é composta por pessoas com
renda superior a US$ 7.000 anuais em termos de paridade de poder aquisitivo (uma medida
de renda ajustada ao poder aquisitivo em moeda local), ou seja, aproximadamente o nível da
linha oficial de pobreza da Europa Ocidental” (apud WWI, p.5), porém o próprio Bentley
percebeu que essa classe varia muito em relação a riqueza, mesmo que seus membros
possuam “televisão, telefones e Internet, junto à cultura e idéias que esses produtos
transmitem” (apud WWI, p.5).
Conforme observado na figura abaixo, o Brasil, sendo um país em desenvolvimento, se
encontra na sétima posição da lista dos dez maiores consumidores mundiais ficando na frente
de paises europeus como França, Itália e Reino Unido.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Dez Maiores Países de Classe de Consumidor (2002)
Países População da Classe de
Consumidores (milhões)
Participação na População
Nacional (percentual)
Estados Unidos 242,5 84
China 239,8 19
Índia 121,9 12
Japão 120,7 95
Alemanha 76,3 92
Federação Russa 61,3 43
Brasil 57,8 33
França 53,1 89
Itália 52,8 91
Reino Unido 50,4 86
Figura 80 - Tabela dos dez maiores consumidores no mundo adaptada pela autora.
Fonte: BANCO MUNDIAL apud WWI, 2004, p. 8.
Também é possível notar na tabela acima que 1/3 da população brasileira é responsável pelo
8º país mais consumista enquanto outros países têm como consumidores mais de 80% da
população, o que significa que poucos brasileiros consomem muito e podem estar influindo de
forma direta no ambiente natural brasileiro. Com este cenário, o ambiente natural do país não
é diferente do mundial, porém o Brasil possui um elemento que pode levá-lo a ter e ser um
diferencial na economia mundial:
O território brasileiro tem na sua dimensão e diversidade natural sua
diferença fundamental, residindo aí, em grande parte, as chances reais e
potenciais de desenvolvimento e de se inserir, com relativa autonomia, no
mundo globalizado atual (CÂMARA, 2002, p.3, grifo nosso).
Essa diversidade e a grande dimensão territorial fez os governantes de algumas cidades
brasileiras se preocuparem com a questão ambiental criando leis que estimulassem
tecnologias ambientalmente saudáveis, em especial, na execução de novas construções.
Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba possuem leis que regulamentam a
captação de águas pluviais levando à diminuição do volume das águas em enchentes e do uso
de água tratada para fins não potáveis. São atos isolados que demonstram o interesse em não
deixar o tema natureza desaparecer dentre os atos administrativos (BREMER, 2004, p.150).
É realmente necessária uma mudança de pensamento e comportamento como essa para que
haja um processo de revalorização e restauração do ambiente natural, e essa mudança é de
vital importância que esteja inserida na área da arquitetura.
É possível perceber que uma arquitetura adequada ao local e a utilização de tecnologias de
baixo impacto na natureza colaboram na concepção de uma edificação com características
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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ambientais proporcionando ao indivíduo a sensação de conforto. Neste item, as ecovilas
buscam adequar suas construções através do uso de métodos construtivos ambientalmente
saudáveis e o uso de TA’s que tornem os assentamentos cada vez mais eficientes e
harmônicos com a natureza.
Implantar ou criar sistemas e técnicas que diminuam a agressão humana ao ambiente natural é
o objetivo das tecnologias ambientais, pois são em sua maioria técnicas de baixo custo
escolhidas para conservar e reutilizar alguns recursos naturais em detrimento de técnicas
impactantes e até mesmo onerosas.
3.2- As tecnologias ambientais e sua importância
A Agenda 21 Global define como tecnologias ambientalmente saudáveis as que “protegem o
meio ambiente, são menos poluentes, usam todos os recursos de forma mais sustentável,
reciclam mais seus resíduos e produtos e tratam os dejetos residuais de uma maneira mais
aceitável do que as tecnologias que vieram substituir” e que “são tecnologias, de “processos
e produtos" que geram pouco ou nenhum resíduo, para a prevenção da poluição” (AGENDA
21, 1992, p. 350).
Para esta pesquisa será utilizado o termo tecnologias ambientais com o conceito definido a
partir do disposto acima. Portanto, tecnologias ambientais são técnicas que priorizam a
conservação e manutenção dos recursos naturais e minimizam o impacto ambiental
causado pelo modus vivendi da humanidade, além de ser parte integrante de um projeto
de arquitetura voltado para a conservação da natureza.
Podem ser técnicas construtivas onde se utiliza material local de forma sustentável como
madeira, argila, solo cimento; ou material reciclado como material de construção de
demolição, plástico, restos de gravetos encontrados no chão, vidro de carro, garrafas de vidro.
Também há técnicas como tratamento biológico do efluente do esgoto, reuso de água para fins
não potáveis, captação de águas pluviais evitando o uso de água tratada
47
e reciclagem de lixo
diminuindo a infestação de vetores de doenças e o acúmulo de lixo perto de moradias.
Todo o exposto acima dever ter prioridade devido a situação em que se encontram as
47
A água tratada na maioria das cidades brasileiras possui custo elevado e utiliza energia elétrica (de
hidroelétricas) para este tratamento. Quando se diminui o seu uso consegue-se diretamente diminuir o consumo
desta energia elétrica e seu impacto no ambiente natural.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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condições sociais e habitacionais brasileiras. Grande parte das moradias é excludente do ponto
de vista social além de ambientalmente perigosas porque freqüentemente se localizam em
áreas de proteção ambiental, matas ciliares, marginais de cursos d’água ou encostas. Reverter
esse processo de degradação ambiental é tarefa árdua que necessita da integração da
sociedade civil e do Governo (BREMER, 2004, p.150).
Uma das soluções encontradas por algumas cidades foi a implantação do Estatuto da
Cidade
48
, a elaboração da Agenda 21 Local
49
e do Plano Diretor
50
, pois estes documentos
evidenciam a preocupação com o uso do solo e com a natureza mantendo a qualidade de vida
dos seres humanos. Mas a questão é maior, pois abrange medidas administrativas dos
governos, maior participação da sociedade na governança, aumento do nível educacional e
democratização das informações.
O mais interessante é a função que o profissional da área da arquitetura tem dentro deste
quadro social, político e ambiental: a arquitetura e as TA’s são aspectos a serem
desenvolvidos na busca pela sustentabilidade ambiental porque a construção civil é um dos
segmentos que mais degradam o ambiente natural através do desperdício de material que gera
resíduos e da especulação imobiliária que transforma construções em protótipos erigidos em
várias partes do país sem preocupação com a adequação da edificação ao local, a paisagem e
ao conforto do usuário (BREMER, 2004, p.150).
Para Lengen (2004, p.537) implantar as tecnologias ambientais
51
e assim satisfazer aos
objetivos, isto é, proteger a natureza, diminuir o uso de recursos naturais e minimizar o
impacto ambiental de qualquer intervenção antrópica; é necessário responder a algumas
questões:
1. A nova tecnologia vai satisfazer às necessidades básicas das pessoas como abrigo,
alimentação, saúde e educação e vai empregar mão-de-obra e materiais da região?
2. Na aplicação desta tecnologia, as pessoas da região têm iniciativa própria e são
48
O Estatuto da Cidade, Lei Federal n
o
10.257 (10 de julho de 2001) “reúne importantes instrumentos
urbanísticos, tributários e jurídicos que podem garantir a efetividade ao Plano Diretor” (OLIVEIRA, 2001,
p.3).
49
Agenda 21 Local é “um processo de desenvolvimento de políticas para o alcance da sustentabilidade, cuja
implementação depende, diretamente, da construção de parcerias entre autoridades e outros setores da
sociedade” (BATISTA, 2003, p.32).
50
O Plano diretor, definido como prioridade pelo Estatuto, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana na esfera municipal e “responsável pelo desenvolvimento das funções
sociais da cidade e da propriedade urbana”. É obrigatório para cidades acima de vinte mil habitantes devendo
ser aprovado pela Câmara Municipal (OLIVEIRA, 2001, p.3; BRASIL, 2001).
51
O Arquiteto Johan Van Legen, autor do livro “Manual do arquiteto descalço”, denomina as técnicas
ambientais como ecotécnicas (LEGEN, 200, p.536).
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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orientadas por pessoal local?
3. A nova tecnologia é simples, permite a participação criativa das pessoas e leva em
conta os valores tradicionais da comunidade?
4. A tecnologia não provoca a extinção dos materiais nem a contaminação do meio
ambiente?
5. Com esta tecnologia se melhora o aspecto das edificações e do meio ambiente ao seu
redor?
As ecovilas são uma das opções para assentamentos humanos ambientalmente responsáveis
que respondem de forma positiva a essas perguntas, pois englobam as tecnologias ambientais
em sua proposta de binômio homem-natureza. Além disso, há uma mudança de pensamento
onde o “nós” passa a ser prioritário em detrimento do “eu” com a criação de uma educação
voltada para o homem em harmonia com a natureza desde a mais tenra idade fazendo os
indivíduos participarem de forma ativa das questões, problemas e situações que aparecem na
ecovila.
3.3- As tecnologias ambientais mais utilizadas nas ecovilas
3.3.1- Métodos construtivos
Com a crise do petróleo em 1973 e a questão ambiental tornando-se prioridade pela
preocupação com o patrimônio que será deixado para as gerações futuras, rever os métodos
construtivos é uma necessidade e para isso a arquitetura deve desempenhar um novo papel
onde a criatividade não deve passar à margem, mas complementar uma arquitetura
preocupada com o ser humano e a natureza através de construções mais econômicas,
confortáveis e racionais do ponto de vista ambiental.
O documento “Ações Prioritárias” da Agenda 21 Brasileira acredita na importância do
combate ao desperdício enfatizando esta necessidade na área da construção civil:
“Combate ao desperdício ainda durante o processo produtivo, pela adoção de
tecnologias menos intensivas em energia e que requeiram menos matérias-
primas. A construção civil é um segmento que tem muito a contribuir, como
por exemplo, buscando alternativas para o desperdício praticado nos
canteiros de obras” (BEZERRA, 2002a, p.33).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Antes dos desperdícios dos canteiros de obras, a escolha de materiais e os métodos
construtivos empregados no momento da concepção do projeto de arquitetura merecem
especial atenção. As ecovilas reutilizam materiais construtivos de outras construções (janelas,
portas, tijolos), materiais de difícil decomposição (plásticos, vidros) e métodos construtivos
com materiais naturais. Sobre este item, as ecovilas buscam técnicas que não sejam
impactantes do ponto de vista ambiental, sejam adequadas ao local e a paisagem e
principalmente possam ser encontradas na região do assentamento. Assim, acreditam que
evitando o transporte de materiais entre grandes distâncias ajudam a diminuir a degradação da
natureza como foi citado pelo professor Miguel Sattler: “o ideal em uma construção que
busca ser sustentável é a utilização de materiais locais, que não exijam grandes distâncias de
transporte e que gerem empregos e renda no local na construção” (apud MCT
52
, 2004).
Mesmo em busca da sustentabilidade em todos os aspectos, ainda existem ecovilas que não
construíram edificações com métodos de baixo impacto no ambiente natural e a isso se deve
vários fatores: falta de matéria-prima de qualidade na região que possa ser usada na
construção, até mesmo a falta de mão-de-obra e técnicos especializados nas tecnologias
construtivas.
Em contra partida, muitas ecovilas são exemplos de implantação de métodos construtivos de
baixo impacto ambiental e muitos desses métodos foram mencionados nos principais modelos
de ecovilas do mundo no capítulo 2 desta pesquisa, provavelmente por existir matéria-prima
abundante na região onde as ecovilas estão localizadas ou até mesmo no terreno das mesmas.
Johan Van Lengen (2004, p.296) afirma que para escolher o sistema construtivo algumas
questões devem ser pensadas além das que foram mencionadas anteriormente: como é a
manutenção do método construtivo e se poderá onerar o método construtivo; se o material
ajudará a manter a construção confortável; se na região há abundância do material de
construção escolhido; e saber quanto tempo de duração tem o material e se é adequado ao
clima da região.
A partir dos dados obtidos com as questões acima se consegue fazer a escolha do tipo de
material e método construtivo ideal para o local onde a edificação será implantada. Entre os
diversos métodos existentes (madeira, terra, pedra) esta pesquisa irá enfocar duas técnicas que
utilizam a terra
53
como matéria-prima por serem bastante implantadas nas ecovilas,
52
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia.
53
Outras técnicas com terra: taipa de pilão, pau a pique, superadobe.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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101
principalmente as brasileiras: tijolos de adobe e solo-cimento.
Tijolos de adobe
Também conhecido como tijolo cru, o adobe é uma “peça de barro em forma de
paralelepípedo, semelhante ao tijolo utilizado em alvenarias” (ALBERNAZ, 2003, p.16) e
seu termo originou-se do árabe attobi. Segundo Albernaz (2003) é composto por argila e areia
podendo ser adicionado estrume, fibra vegetal, capim, palha ou crina de cavalo para aumentar
a resistência do produto. Há duas diferenças básicas entre ele e o tijolo comum: no momento
da secagem o adobe é seco à sombra e depois ao sol, e o tijolo de barro é cozido no forno; e
suas dimensões geralmente são superiores às do tijolo comum.
Para Lengen (2004, p.298) praticamente todos os tipos de terra podem ser utilizados para
confeccionar tijolos de adobe, mas é necessário fazer testes com amostras do solo retiradas de
várias partes do terreno para que isto possa ser comprovado. A primeira camada destas
amostras deve ser descartada por conter vegetação pois esta não é utilizada para confeccionar
tijolos, depois se deve observar o odor e a coloração e executar testes para dureza,
sedimentação, contração e tração.
ODOR - se o solo tem cheiro de mofo significa que tem vegetação misturada ao solo, ou seja,
não é apropriado para confeccionar tijolos;
COLORAÇÃO (pela observação)
negra (gordurosa) e branca (arenosa) não servem para adobes.
Vermelha e castanha servem para adobes.
Amarela são as melhores.
DUREZA (através da mordedura de um pedaço do solo)
se não ranger terra argilosa (ideal).
Se ranger pouco terra limosa.
Se ranger muito terra arenosa.
SEDIMENTAÇÃO - encher 2/3 de um copo de vidro cilíndrico com o solo e acrescentar 1/3
de água e mais 2 colheres de sal (o sal tem a propriedade de separar os grãos dos materiais
existentes no solo). Após misturar bem, deve-se deixar repousar por algumas horas e observar
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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102
se houve separação da argila e da areia. Essa separação pode ser medida proporcionalmente e
a proporção ideal, segundo Lengen (2004, p.301) é 1 parte de areia para 1 de argila (traço 1:1)
até 2 partes de areia para 1 de argila (traço 2:1). Caso seja necessário criar um traço
condizente para a confecção dos tijolos, este teste da sedimentação será de grande ajuda, além
disso o traço também poderá ser usado para os locais onde as matérias-primas serão
compradas na região onde a construção será erigida.
CONTRAÇÃO - deve-se fazer uma mistura do solo com água até tornar a mistura maleável e
assim colocar em um molde de madeira de 4cm de largura, 40cm de profundidade e 4cm de
altura deixando secar à sombra.
Se a massa curvar no centro da peça o solo não serve para ser transformado em tijolo.
Se encolher e rachar o solo serve para ser transformado em tijolo.
Neste último caso a massa não deve encolher mais que 1/10 do comprimento, no caso, 4 cm.
Figura 81 - Teste de contração. Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN, 2004, p.300.
TRAÇÃO - mistura-se o solo com água até obter uma massa, dela se faz uma tira de 20cm de
comprimento, 5cm de espessura e 2.5cm de largura e com o dedo polegar se empurra um lado
da tira para fora até romper.
Se arrebentar antes de chegar a 5cm tem muita areia (precisa de argila).
Se arrebentar depois de 15cm
tem muita argila (precisa de areia).
Se arrebentar entre 5 e 15cm
ideal.
Figura 82 - Teste de tração. Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN, 2004, p.300.
RESISTENTE - Para testar a resistência e conseqüentemente a qualidade do produto é só
colocar dois tijolos afastados entre si em torno de 30cm e um outro em cima dos dois. Se pisar
neste terceiro tijolo e ele não quebrar significa que o tijolo tem qualidade (LENGEN, 2004;
p.302; IPEMA, 2004).
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Figura 83 - Teste de resistência. Fonte: LENGEN, 2004, p.302.
A técnica do adobe consiste em misturar manualmente o solo com água e as fibras e ser bem
amassado para depois secar à sombra durante 2 dias sem ser molhado por água nenhuma
inclusive a água de chuva (IPEMA, 2004; SILVA, 2000, p.33). Os moldes devem ser
molhados antes da mistura ser colocada para que a madeira não retire a água do barro,
deixando secar por 10 dias sendo que o tijolo é virado a cada 2 dias (IPEMA, 2004). Silva
(2000, p.33) recomenda que os tijolos devem ser postos no chão para não flambarem e que a
secagem deve durar três dias ensolarados ou cinco dias chuvosos e Lengen (2004, p.306)
entende que a secagem pode ser feita até 2 dias dependendo do clima, depois antes de usá-los
devem ser guardados por 20 dias dispostos em fileiras com espaços entre elas.
Figura 84 - Etapas da fabricação de tijolo de adobe.Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN,2004, p.305.
As fiadas são erguidas até o pé direito desejado e para haver uma boa vedação o acabamento
entre a última fiada e o teto é feito com a massa usada entre os tijolos. O revestimento pode
ser um reboco de cal e areia para evitar o surgimento de abrigos de insetos
54
nas rachaduras
(ALBERNAZ, 2003, p. 16; SILVA, 2000, p. 36-37).
54
O inseto mais comum é o “barbeiro cientificamente conhecido como “Tryponossoma Cruzi”, causador da
doença de chagas. Embora o tijolo de adobe não seja o método construtivo mais propenso a abrigar este tipo de
inseto, a vedação com reboco de cal dá a construção proteção a este tipo de vetor de doença além de qualidade e
beleza (SILVA, 2000).
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Figura 85 - Detalhes da parede construída. Fonte: RAINHO, 2005.
Em todo o mundo existem inúmeras construções em adobe e nas figuras abaixo pode se
observar algumas delas:
Figura 86 -Entrada de uma edificação em Santa Figura 87 -Residência em Arembepe, Salvador, Brasil.
Fé, Estados Unidos. Fonte:
http://photo.net/photo/ Fonte: http://www.ipemabrasil.org.br/ecovila2.htm.
pcd1631/santa-fe-adobe-41. Acesso em 20 jan.2006. Acesso em 20 jan.2006.
Figura 88 -Restaurante em Santa Fé, Estados Unidos.
Fonte: http://www.thepinkadobe.com/story.php. Acesso em 20 jan.2006.
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Figura 89 -Residência no Algarve, Portugal. Figura 90 -Residência no Alentejo, Portugal.
Fonte: http://www.construdobe.com/pt. Fonte: http://www.construdobe.com/pt.
Acesso em 20 jan.2006. Acesso em 20 jan.2006.
Figura 91 -Atelier no Algarve, Portugal. Figura 92 -Detalhe da parede do atelier.Algarve,
Fonte: http://www.construdobe.com/pt. Portugal. Fonte: http://www.construdobe.com/pt.
Acesso em 20 jan.2006. Acesso em 20 jan.2006.
Solo cimento
O solo-cimento é “o material resultante da mistura homogênea, compactada e curada de
solo, cimento e água em proporções adequadas” (ABCP
55
, 2005), onde o solo é o elemento-
base da mistura e o cimento entre 5% e 10% do peso do solo dá ao material estabilidade e
propriedades físicas como boa resistência à compressão, boa durabilidade, boa
impermeabilidade e pouca retração volumétrica.
Qualquer tipo de solo pode ser utilizado e o interessante deste método construtivo é aproveitar
o solo do local da construção e que poderá ser obtido através da retirada de terra para fazer
uma piscina, um porão ou nivelar um terreno inclinado fazendo diminuir o impacto ambiental
que uma construção causa ao ambiente natural. Os solos mais apropriados são os que possuem
entre 45% a 50% de areia em sua composição e os solos de cor preta que são os que possuem
matéria orgânica são inadequados para este fim (ABCP, 2005).
O solo-cimento é utilizado em pavimentações e na construção civil, e nesta última se observa
55
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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106
uma maior aplicação: são contrapisos, fundações e principalmente paredes, sejam elas
monolíticas, de blocos prensados ou tijolos (ABCP, 2005). As paredes monolíticas, como
possuem bom acabamento, não necessitam de revestimentos como reboco e emboço e por isso
podem ser apenas pintadas. Já os blocos ou tijolos de solo-cimento possuem furos que vazam
o bloco ou furos até metade da espessura do mesmo e os furos têm a função de fazer o encaixe
dos tijolos sem o uso de argamassa.
Figura 93 -Tipos de tijolo de solo cimento utilizados em algumas construções da Caixa Econômica Federal.
Fonte: https://webp.caixa.gov.br/liminação/popup/pop_fotos.asp?item=sc&limin=14.
Acesso em: 05 out.2005.
Figura 94 -Exemplos de encaixe com tijolos de solo cimento vazado com 2 furos.
Fonte:
http://www.man.com.br/800x600/liminação_de_casa_economica/tijolo_encaixe.htm.
Acesso em 02 out.2005.
Os tijolos podem ser fabricados em moldes de metal, prensa manual ou prensa hidráulica. As
prensas são utilizadas para obras de grande porte porque aumentam a produção de tijolos em
um período menor de tempo e sem muito esforço humano.
Figura 95 -Prensa. Fonte: http://www.permaq.com.br/prensa%20manual.html. Acesso em 02 out.2005.
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As paredes com tijolos de solo-cimento possuem as mesmas propriedades físicas das
alvenarias com tijolos convencionais (como o tijolo de barro cozido). Como as paredes
monolíticas de solo-cimento, as de tijolos de solo-cimento também podem ser apenas pintadas
com tinta a base de cimento sem necessidade alguma de reboco e emboço (ABCP, 2005;
HABITAR, 2005). Abaixo segue o procedimento da construção de uma alvenaria em tijolo de
solo-cimento
56
.
Figura 9611 -Assentamento dos tijolos de solo-cimento. Fonte: http://www.man.com.br/
liminação_de_casa_economica/liminação_argamassa.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 97 -Fase da construção com solo cimento. Fonte: https://webp.caixa.gov.br/liminação/
popup/pop_fotos.asp?item=sc&limin=16. Acesso em: 05 out.2005.
Figura 98 -Superfície lisa e plana: sem reboco e emboço. Fonte: http://www.man.com.br/
liminação_de_casa_economica/liminação_reboco.htm. Acesso em 02 out.2005.
56
Este procedimento está baseado em uma empresa de fabricação de prensas para tijolos de solo-cimento.
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108
Figura 99 -Instalação elétrica e hidráulica. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica/eliminacao_cortes.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 100 -Travamento vertical e horizontal e os batentes das esquadrias. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /travamento.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 101 -Batentes de portas e janelas com chumbamento. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /embolsamento.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 102 -Passo a passo do encaixe da caixa de tomada no tijolo de solo-cimento.
Fonte: http://www.man.com.br/construcao_de_casa_economica/instalacoes_tomadas_interruptores.htm.
Acesso em 02 out.2005.
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Figura 103 -Pintura das paredes de tijolo de solo-cimento. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /Pintura_direto.htm. Acesso em 02 out.2005.
Abaixo seguem alguns exemplos de construções em solo-cimento:
Figura 104 -Habitações em solo cimento. Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Brasil.
Fonte: https://webp.caixa.gov.br/urbanizacao/popup/pop_fotos.asp?item=sc&codigo=5.
Acesso em: 05 out.2005.
Figura 105 -Habitações em solo cimento. São Simão, São Paulo, Brasil.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/memoria/memoria16.asp. Acesso em: 08 out.2005.
Figura 106 -Habitações em solo cimento no Brasil. Figura 107 -Habitação em solo cimento no Brasil.
Fonte: http://www.vimaqprensas.com.br/ Fonte: http://www.vimaqprensas.com.br/fotos_
fotos_construcoes/foto11.htm. Acesso em: 22 set.2005. construcoes/foto5.htm. Acesso em: 22 set.2005.
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Figura 108 -Habitação em solo cimento no Brasil. Figura 109 -Chalés em solo cimento, Brasil.
Fonte: http://www.vimaqprensas.com.br/fotos_ Fonte: http://www.vimaqprensas.com.br/ fotos_
construcoes /foto2.htm. Acesso em: 22 set.2005. construcoes/foto15.htm. Acesso em: 10 ago.2005.
Figura 110 - Habitação em solo cimento, Zâmbia. Figura 111 -Habitação solo cimento, Austrália.
Fonte:http://www.abako.se/index.php? page_id=0& img id=475 Fonte: _ http://www.earthbuilding.org.nz/
&current_page_id=140&view=single. Acesso em: 10 ago.2005. photo04.htm Acesso em: 22 set.2005.
3.3.2- - Gestão de energias renováveis
A Agenda 21 Brasileira, publicada em 2002, defende a criação de incentivos fiscais para que
seja utilizada energia gerada por fontes com menor impacto e que é preciso valorizar a energia
produzida por essas fontes. Por isso, acredita ser importante aumentar o suprimento
energético por meio de energias renováveis ao mesmo tempo em que se aumenta a eficácia do
seu uso e conservação; mas se implantação, uso e manutenção não estiverem juntos a matriz
energética brasileira não terá seu perfil modificado (BEZERRA, 2002a, p.86,91).
Sabendo que o interesse por essas energias era pouco na época em que foi elaborada, a
Agenda 21 Brasileira definiu entre suas ações: tarifas e custos que viabilizassem fontes de
menor impacto, racionalização do consumo para evitar o desperdício, redução do uso dos
recursos naturais não renováveis como petróleo, carvão e gás e elegeu como prioridades
promover a pesquisa, desenvolvimento, demonstração, difusão e absorção pelo mercado de
tecnologias de fontes novas e renováveis de energia” (BEZERRA, 2002a, p.99), a
universalização do acesso à energia elétrica através da “popularização de tecnologias
alternativas a partir da execução contínua de projetos, que atuem com efeito multiplicador”
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(BEZERRA, 2002a, p.100) e a necessidade de “desenvolver e incorporar tecnologias de
fontes renováveis de energia, considerando sempre as disponibilidades e as necessidades
regionais” (BEZERRA, 2002a, p.39).
Deve-se ressaltar que o documento Agenda 21 Brasileira baseou-se na Agenda 21 Global
promovendo adequações devido a diversidade cultural, social, territorial e ambiental do país.
Observa-se que a prioridade defendida no documento já era defendida pelas ecovilas e suas
Redes (GEN, ENA e ENA-Brasil) e nos tempos atuais este ainda é um dos desafios destes
assentamentos humanos.
As energias advindas de fontes renováveis, como sol, vento e biomassa, têm sido implantadas
em grande parte das ecovilas, como observado nos modelos citados no capítulo 2 desta
pesquisa e em outras inúmeras comunidades espalhadas pelo mundo. Este estudo pretende
enfocar a energia solar para geração de energia elétrica e para geração de energia térmica.
Neste último caso será enfocado o aquecimento da água dos chuveiros e pias de cozinha, por
ser mais comum entre as ecovilas.
Energia solar térmica: aquecimento da água
A conversão da energia solar em energia térmica é a mais utilizada no Brasil principalmente
para aquecimento de água, e devido ao aumento da demanda de coletores solares há inúmeras
empresas comercializando-os. A escolha deste processo se traduz em economia na questão
financeira e no consumo de energia elétrica especialmente ao trocar os chuveiros elétricos por
esta tecnologia. A própria ELETROBRÁS (2005) - Centrais Elétricas Brasileiras - empresa
responsável pela administração da energia elétrica no Brasil, considera o chuveiro elétrico um
dos vilões na questão elétrica por ser um dos grandes consumidores de energia junto ao ar
condicionado.
O sistema de aquecimento solar tem um funcionamento simples: a água fria armazenada na
caixa d’água vai para o coletor solar, este capta a energia vinda do sol, porém parte dessa
energia reflete no vidro do equipamento ou é perdida enquanto absorvida. Já a energia
absorvida passa pela serpentina em tubos de cobre aquecendo a água e devido a densidade da
água quente passa por toda a serpentina em direção ao reservatório térmico que mantém a
temperatura da água até ser consumida. Em dias sem sol ou com insolação insuficiente existe
um sistema auxiliar para aquecimento da água que pode ser a gás ou elétrico (SOLETROL,
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2006; QUINTEROS, 2001, p.6).
Figura 112 - Funcionamento da tecnologia. Fonte: SOLETROL, 2006.
Existem dois sistemas de circulação da água: o forçado e o de circulação natural também
conhecido como termossifão.
O sistema de circulação natural ou termossifão consiste em fazer a água circular na serpentina
sem auxílio de uma bomba e sim pela diferença de densidade da água fria e da água quente.
Segundo as leis da Física, a água fria tem densidade mais pesada que a água quente e isso faz
com que ela se acomode na parte inferior do coletor enquanto a água quente sobe. Esta segue
naturalmente para o reservatório térmico e para que esse efeito aconteça é importante que a
base do reservatório esteja no mínimo 30cm acima do coletor (QUINTEROS, 2001, p.6;
STOECKER, 1985, p.423; SOLETROL, 2006).
Figura 113 - Esquema do sistema de aquecimento solar por termossifão. Adaptado pela autora.
Fonte: SOLETROL, 2006.
O sistema forçado é implantado quando não há possibilidade de colocar o reservatório acima
do coletor de acordo com a medida mencionada no sistema de termossifão. Dessa forma é
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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necessário utilizar uma bomba para levar a água quente do coletor ao reservatório. Em grande
parte das instalações que possuem este sistema o reservatório fica muito próximo ou até
mesmo abaixo do coletor (QUINTEROS, 2001, p.6; STOECKER, 1985, p.423; SOLETROL,
2006).
Figura 114 - Esquema do sistema de aquecimento solar forçado. Fonte: RAINHO, 2005.
Um sistema de energia solar para aquecimento tem como seus componentes o coletor solar, o
reservatório térmico (também denominado boiler), em alguns casos a bomba (STOECKER,
1985, p.422-423) além de também se poder considerar uma caixa d’água neste sistema.
Coletores solares
Os coletores são localizados em cima do telhado e em sua maioria, têm estrutura em alumínio
e são compostos por vidro, chapa de alumínio enegrecida, serpentina em tubos de cobre e
isolante térmico. O vidro é o fechamento do coletor que impede a perda de calor e a entrada
de água de chuva, poeira, elementos sólidos; a chapa de alumínio auxilia no aquecimento
devido a sua cor que absorve mais calor que uma cor clara; a serpentina em tubos de cobre
conduz a água até o reservatório; e o isolante térmico que pode ser poliuretano expandido ou
lã de vidro ,como o próprio nome diz, isola o coletor impedindo que o calor se dissipe
(QUINTEROS, 2001, p.4).
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114
Figura 115 -Componentes do coletor solar. Fonte: http://www.transen.com.br/portugues/index2.htm.
Acesso em: 5 jun.2005.
O vidro provoca o efeito estufa aquecendo todo o coletor e esse calor é mais intensamente
absorvido através da chapa de alumínio negra que o transmite para a serpentina. Esta
serpentina tem em seu interior a água fria recebida do reservatório térmico e que vai sendo
aquecida a medida que vai atravessando os tubos de cobre. Como a água quente tem
densidade mais leve que a água fria ela chega até a parte superior do coletor e nesse momento
a água quente mistura-se à água fria do reservatório térmico com ou sem o auxílio de uma
bomba dependendo do tipo de sistema de circulação de água adotado, termossifão ou forçado.
(SOLETROL, 2006; QUINTEROS, 2001, p.4).
Reservatório térmico
Também denominado boiler, o reservatório térmico pode ficar exposto às intempéries ou sob
o telhado. É umcilindro de cobre, inox ou polipropileno isolado termicamente com
poliuretano expandido sem CFC, que não agride a camada de ozônio” (SOLETROL, 2006).
Recebe e armazena a água fria vinda da caixa d’água e a aquecida pelo coletor e em seu
interior ocorre o mesmo processo físico mencionado no coletor: a água aquecida vai para a
parte superior do reservatório e a fria, mais pesada, se deposita na parte inferior. O
reservatório possui um termostato que é acionado automaticamente por uma resistência
elétrica a medida que a água vai esfriando. Por isso quanto mais tempo estiver exposto à
radiação solar mais tempo o reservatório conservará a água aquecida. (QUINTEROS, 2001,
p.5).
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Figura 116- Reservatório térmico e seus componentes.
Fonte: http://www.transen.com.br/portugues/index2.htm. Acesso em: 5 jun.2005.
Figura 117 -Exemplo de reservatório térmico. Fonte: SOLETROL, 2006.
Bombas
Podem ser necessárias duas bombas dependendo do tipo de instalação: uma bomba para
enviar a água aquecida do coletor para o reservatório e outra para enviar água do reservatório
para a edificação. Essa necessidade depende do tipo de sistema de circulação de água adotado,
termossifão ou forçado e em geral ficam sob o telhado, protegidas de chuva e vento.
Figura 118 -Bombas integrantes do sistema de aquecimento solar. Fonte:STOECKER, 1985, p.423.
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Caixa d’água
É uma caixa d’água também utilizada para a instalação de água fria devendo ficar
preferencialmente sob o telhado, mas caso não seja possível pode estar sobre o telhado ou
apoiada em uma estrutura própria. Sua função no sistema de aquecimento solar é alimentar o
reservatório térmico com água fria onde será aquecida e armazenada para futuro consumo.
Sabendo-se como funciona e como é composto um sistema solar de aquecimento de água, a
implantação do mesmo no hemisfério sul, onde se localiza o Brasil, deve ser precedida de
algumas simples orientações (KRAUSE, 2005, p.5):
1. o coletor solar deve estar voltado para a direção Norte, pois é a direção que mais recebe
sol durante o ano;
2. para o aquecimento da água “a inclinação do coletor deve ser perpendicular a altura
solar média do inverno” (KRAUSE, 2005, p.5) no horário de 12 horas. De forma prática é
só acrescentar 15º à latitude do local para coletar por mais tempo a energia térmica que irá
aquecer a água;
3. o painel deve ser instalado em um local livre de sombreamento para que a eficiência do
sistema não seja reduzida (NOGUEIRA JR, 2004).
Exemplos de aquecedores solares
Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC) - ONG Sociedade do Sol (SOSOL)
57
O ASBC foi desenvolvido pela ONG Sociedade do Sol (SOSOL) e apresentado publicamente
pela primeira vez durante a Eco-92. Não foi registrado e patenteado porque o objetivo era e
ainda é que ele possa ser construído por qualquer pessoa com materiais baratos e fáceis de
encontrar em lojas de materiais de construção, pois para a SOSOL o projeto do ASBC teve e
tem como prioridades a “melhoria social, preservação ambiental, conservação de energia,
possibilidade de geração de empregos, economia financeira familiar e nacional (8 a 9% da
demanda elétrica) e redução de emissões do gás estufa - CO2” (SOSOL, 2006, p.3).
O sistema de circulação da água recomendado pelo manual do aquecedor é o termossifão
enfatizando que o reservatório deve ficar acima do coletor para utilização do tal sistema
57
Todas as informações deste item foram retiradas da página oficial da SOSOL na Internet e do manual de
fabricação do ASBC.
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117
visando diminuir o consumo de energia elétrica convencional. O sistema de aquecimento solar
do ASBC tem o mesmo funcionamento do aquecimento solar já descrito e umas das
diferenças entre as duas tecnologias (ASBC e aquecimento solar convencional) é a relação de
materiais para sua fabricação, bem mais acessíveis que os vendidos por empresas
especializadas em aquecedores solares. Os produtos utilizados são os coletores solares, o
reservatório térmico e o chuveiro elétrico com misturador.
Neste sistema não são utilizados o reservatório térmico e a caixa d’água, mas apenas a caixa
d’água que também tem a função de reservatório e que será chamada nesta pesquisa de caixa-
reservatório. Isto ocorre de forma simples: uma tubulação é levada até a parte inferior da
caixa onde está a água fria e uma outra tubulação é colocada na parte superior da caixa onde
se encontra a água quente.
As duas tubulações são instaladas no chuveiro e o uso da água ocorre no momento que o
mesmo é utilizado: o usuário escolhe como prefere temperatura de seu banho através da
mistura ou não de águas com temperaturas diferentes
58
.
Figura 119 -Esquema de funcionamento do ASBC. Adaptado pela autora. Fonte:SOSOL, 2005.
Como observado na figura anterior, a caixa-reservatório pode ser divida em 3 camadas de
água de acordo com a densidade da mesma: a água fria (b), mais pesada, no fundo da caixa; a
água quente (c), mais leve, na parte superior; e uma camada de água entre estas duas,
chamada de camada de transição (b) com água morna. O manual do ASBC aponta que quanto
menor estiver a camada (b) mais reserva de água quente terá a edificação ao longo dos dias. O
sistema de dutos furados (d) distribui na caixa o fluxo da água quente vinda do coletor solar e
da água fria vinda da rede de distribuição do local.
58
Para maiores informações sobre o ASBC: <http://www.sociedadedosol.org.br/arquivos/asbc-br-jan06V2-
3.doc>. A lista de material está em Anexos.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Os coletores solares do ASBC têm a mesma função dos demais tipos de aquecimento, porém
não possuem o fechamento em vidro e embora mais econômicos não conseguem aquecer a
água na mesma temperatura que os outros. Mesmo assim os inventores do ASBC acreditam
existir 2 vantagens neste sistema de aquecimento solar: a diminuição do risco de queimar
crianças com uma temperatura de água muito elevada, e a facilidade na execução com dutos
tipo PVC devido à temperatura mais baixa que a obtida em outras tecnologias de
aquecimento.
Abaixo será explicada de forma breve a construção do coletor conforme descrito no manual
do ASBC
59
.
Deve-se fazer uma abertura em 2 tubos de PVC e a mesma deve
ser lixada para que tenha um bom acabamento.
Deve-se lixar as extremidades de uma placa encaixando a mesma
na abertura de cada tubo e colando os dois materiais.
Após 24 horas pinta-se uma das faces da placa, a parte superior
dos tubos e a área da colagem com esmalte preto fosco.
O ASBC já foi implantado em vários locais do país e a tendência é aumentar o seu uso devido
ao real baixo custo. Abaixo alguns locais onde o ASBC foi implantado.
Figura 120a -Chalés no interior paulista, Brasil. Fonte:SOSOL, 2005.
59
idem.
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Figura 120- Residência em Minas Gerais, Brasil. Figura 121 -ASBC no Brasil. Fonte:SOSOL, 2005.
Fonte:SOSOL, 2005.
Figura 122 -ASBC no IPEC, Goiás, Brasil. Fonte:SOSOL, 2005.
Os coletores solares para aquecimento de água industrializados, vendidos por empresas
especializadas, e outros também fabricados de forma manual como o ASBC estão sendo cada
vez mais instalados em edificações por todo o Brasil e em diversos países do mundo devido a
diminuição do gasto com energia elétrica, a preservação da natureza sem impacto ambiental e
acesso a todas as classes sociais do país. Nas figuras abaixo seguem exemplos desta
tecnologia ambiental.
Figura 123 - Residência no Reino Unido. Figura 124 - Residência em Nova York, Estados Unidos.
Fonte:http://www.solheat.co.uk. Fonte: http://www.toolbase.org/docs/images/nyserda_
Acesso em 27 jan.2006. gerbercent2 _big.jpg. Acesso em 27 jan.2006.
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Figura 125 - Residência no Reino Unido. Figura 126 - Residência em Nova York, Estados Unidos.
Fonte: http://www.toolbase.org/docs/images/ Fonte: http://www.toolbase.org/docs/images/
EssexHomes014Big.jpg. Acesso em 27 jan.2006. Morrell3_big.jpg. Acesso em 27 jan.2006.
Figura 127 - Coletor solar em residência na Austrália.
Fonte: http://www.wignells.com.au/products/solar/Solar%20Pic%203.jpg . Acesso em 27 jan.2006.
Energia elétrica fotovoltaica: geração de energia
A conversão da energia solar em elétrica a ser descrita neste item ocorre com o uso do sistema
fotovoltaico. A palavra fotovoltaico pode ser dividida em duas: photo que significa
produzido pela luz” e o sufixo voltaico relativo a “eletricidade produzida por uma reação
química” (NOGUEIRA JR, 2004).
Esta tecnologia utiliza o silício
60
para a produção da célula fotovoltaica por ele ser um
material semicondutor que auxilia na condução e transformação da energia solar em elétrica.
A célula é a menor parte do sistema fotovoltaico, possui tonalidade entre o azul escuro e o
preto e seu formato é similar ao octógono, mas não é considerada a menor unidade
fotovoltaica, isto é, a capaz de converter energia. A menor unidade é o módulo que é
composto por algumas células conectadas entre si e módulos conectados em série ou paralelos
dá-se o nome de painel fotovoltaico (SILVA, 2006, p.7-8; ZILLES, 2006, p.1-2).
60
Existem o silício monocristalino, o multicritalino e o amorfo, sendo os dois últimos os mais aplicados para o
sistema fotovoltaico (ZILLES, 2006, p.1).
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Figura 128 - Célula octógona e detalhe de sua trama. Fonte: CASTRO, 2004, p.18.
Figura 129 - Célula, módulo e painel: diferenças fundamentais. Fonte: SILVA, 2006, p.7.
Os painéis fotovoltaicos são integrantes de um sistema de geração de energia e possuem
algumas vantagens: facilidade na instalação, não possuem nenhuma parte móvel, exigem
pouca manutenção, não poluem o ambiente na geração de eletricidade, não produzem ruído
(SILVA, 2006, p.3) além de operarem silenciosamente (CDE
61
, 2005).
Os painéis fotovoltaicos podem ser fixos ou rastreadores e sua aplicação depende basicamente
da necessidade do projeto. Os fixos são os mais utilizados por serem os mais baratos e são
implantados em coberturas, telhados e fachadas.
Figura 130 - Tipos de painéis fotovoltaicos vendidos no mercado brasileiro. Fonte:ZILLES, 2006, p.2.
Os rastreadores são assentados no solo e seu sistema funciona com o deslocamento de um gás
inserido na tubulação da estrutura inferior do painel que se orienta através da posição do sol,
por isso é chamado rastreador. De acordo com o sol, um dos lados do painel será mais
aquecido que o outro levando o gás a se expandir e provocar o deslocamento e inclinação do
painel para o lado menos aquecido pelo sol e este processo vai ocorrendo enquanto houver
61
CDE - Coordenação de Desenvolvimento Energético.
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radiação solar suficiente para tal. Cabe informar que devido a este deslocamento o painel está
sempre perpendicular à incidência do sol (CRESESB, 2004).
Figura 131 - Painel rastreador fotovoltaico. Fonte:CRESESB, 2004.
Funcionamento
Segundo a Coordenação de Desenvolvimento Energético (CDE) da Universidade Livre do
Meio Ambiente (2005), um sistema fotovoltaico é composto basicamente dos seguintes
elementos : módulo solar, regulador de carga, inversor e baterias.
A energia solar é convertida em energia elétrica nos painéis fotovoltaicos em corrente
contínua, passa pelo regulador de carga que estabiliza a corrente elétrica e deste a corrente
passa por um aparelho chamado inversor que a transforma em alternada para que possa ser
utilizada nas edificações (SILVA, 2006, p.15-16; ZILLES, 2006, p.1-3).
Figura 132 - Esquema de funcionamento do sistema fotovoltaico. Fonte: SPES, 2005.
Os módulos solares são os painéis que convertem a energia da luz do sol em energia elétrica
de corrente contínua (SILVA, 2006, p.15; ZILLES, 2006, p.2-3).
tubulação onde o gás
está inserido
painel perpendicular à
radiação solar
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O regulador de carga é o aparelho eletrônico que regula o fluxo da energia elétrica vinda dos
módulos fotovoltaicos protegendo as baterias de sobrecargas e descargas excessivas,
variações e intermitências das cargas elétricas, o que prolonga a vida útil das baterias.
Também tem como função manter a bateria sempre carregada e quando isso ocorre ele cessa o
fluxo de carga vindo dos módulos (SILVA, 2006, p.15).
O inversor é um aparelho eletrônico necessário, pois o movimento dos elétrons forma
eletricidade de corrente direta ou contínua. Ele converte a corrente contínua em corrente
alternada (110 ou 220 Volts) para ser compatível com o sistema da rede elétrica e assim a
energia poder ser utilizada nas edificações (SILVA, 2006, p.16).
As baterias armazenam a energia gerada pelos painéis já transformada em corrente elétrica
alternada para fornecer eletricidade a noite ou em dias nublados. Para suprir a energia durante
longos períodos, os sistemas fotovoltaicos necessitam de baterias de longa duração que são
feitas de chumbo e projetadas “para descarregarem gradualmente e recarregarem até 80%
da sua capacidade centenas de vezes” (SILVA, 2006, p.15). As baterias devem estar
localizadas em um espaço ventilado e isolado do local onde estão os componentes elétricos do
sistema fotovoltaico e das construções, porém com espaço que permita facilitar seu acesso
durante manutenção como reparos e até mesmo substituições (SILVA, 2006, p.15; LABEEE,
2005).
Figura 133 - Esquema do sistema fotovoltaico em uma residência. Fonte: LABEEE, 2005.
Os sistemas de energia solar são dimensionados de acordo com as necessidades de cada local
e usuário e em momentos em que a energia solar acumulada nas baterias não for suficiente
pode-se utilizar geradores a diesel ou gasolina (CDE, 2005).
Atualmente a energia fotovoltaica ainda é mais cara que a energia das concessionárias, mas a
tendência é diminuir o custo dos painéis pela melhoria na tecnologia de fabricação e pelo
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aumento gradativo de sua utilização (VIANNA, 2005). As ecovilas utilizam este sistema para
diminuir o uso da energia elétrica vinda das concessionárias, porém muitas delas não
conseguem implantar essa tecnologia devido ao custo alto.
Figura 134 - Painéis fotovoltaicos. Fonte: MEP
62
, 2005, p.11.
Os painéis fotovoltaicos podem ser instalados em telhados, coberturas e fachadas, e a
manutenção do sistema limita-se a substituição das baterias nas épocas determinadas pelo
fabricante e a revisão do sistema de acumulação de energia (MEP, 2005, p.10; ZILLES, 2006,
p. 3).
Entendendo como funciona e como o sistema de painéis solares fotovoltaicos é composto há,
em regra geral, orientações que devem ser seguidas para locais que se encontram no
hemisfério sul como o Brasil e que são as mesmas já indicadas para a obtenção de energia
térmica através da radiação solar.
Exemplos de sistemas fotovoltaicos
Figura 135 - Painéis fotovoltaicos na fachada da Biblioteca Figura 136 - Iluminação preservada no interior da
de Mataró, Barcelona, Espanha. Fonte: ZILLES, 2006, p.4. biblioteca em Barcelona.Fonte:ZILLES, 2006,p.5.
62
MEP - Ministério da Economia Portuguesa.
maior espaçamento entre as células
para entrada da luz natural
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Figura 137 - Painéis na cobertura do IEE/ USP
63
, Figura 138 - Painéis em residência - Califórnia,
São Paulo, Brasil. Fonte: ZILLES, 2006, p.3. Estados Unidos. Fonte:NOGUEIRA JR, 2005.
Figura 139 - Telhado em painel fotovoltaico. Figura 140 - Telhado em painel fotovoltaico.
Fonte: http://www.sicilimpianti.it/fotovoltaici.htm. Fonte: http://www.cansiglio.it/Immagini/varie/Tetto%
Acesso em 07 fev.2006. 20fotovoltaico%201.jpg. Acesso em 07 fev.2006.
Figura 141 - Cobertura com painéis fotovoltaicos. Fonte: http://met.provincia.fi.it/public/
images/Fotovoltaico%2003112004.jpg. Acesso em 07 fev.2006.
3.3.3- Gestão do lixo
A palavra lixo vem do termo latim lix que significa "cinza" e segundo um dicionário de língua
portuguesa tem o significado de “tudo que não serve ou se joga fora” (LIXO, ca 1972), no
“Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente” como “restos das atividades
humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis
63
IEE/USP - Instituto de Eletrotécnica e Elétrica da Universidade de São Paulo.
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(MONTEIRO FILHO, 2004, p.308) e pela “Cartilha de Limpeza Urbana” como “todo e
qualquer resíduo sólido proveniente das atividades humanas ou gerado pela natureza em
aglomerações urbanas, como folhas, galhos de árvores, terra e areia espalhados pelo vento,
etc ” (BAHIA, ca 1992, p.8). Porém o que não é útil para um indivíduo pode ser para outro.
Neste caso não se deve tratar o lixo como destino final de algo que não tem utilidade e sim
como continuação de sua vida útil para terceiros.
Nos séculos passados o lixo era produzido em pequena quantidade e constituído
principalmente de restos de alimentos e cascas que eram usados para adubar o pomar e a horta
caseira, mas a partir da Revolução Industrial as fábricas, por produzirem objetos em larga
escala, foram incorporando ao lixo materiais de difícil decomposição na natureza como vidro,
plásticos, borracha e metal (TEIXEIRA, 2004).
A quantidade de lixo gerado e sua deposição sem qualquer tratamento ou reciclagem podem
ocasionar esgotamento dos recursos naturais devido a poluição das águas, do ar e do solo
além de fazer surgir problemas de saúde da população com a proliferação de parasitas e
vetores de doenças (GONÇALVES, 2003).
Figura 142 - Lixo na margem dos rios. Fonte: <http://centros.edu.aytolacoruna.es/
sfxabier/lixo_rio.jpg>. Acesso em: 02 jan.2006.
A gestão do lixo é uma solução necessária para a diminuição do impacto ambiental por ele
gerado. Para que possa ser implantada, deve-se entender um pouco sobre o lixo e suas
propriedades. Segundo o “Dicionário de Ecologia de A a Z” (apud GONÇALVES, 2003), o
lixo possui classificações referentes a sua origem, características físicas e composição
química.
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Quanto a origem
Domiciliar: origina-se das residências uni e multifamiliares de pequeno, médio e grande porte.
É composto por restos de alimentos como cascas de frutas, legumes e talos de verduras;
papéis como jornais e revistas; garrafas de plástico e de vidro; embalagens em geral, papel
higiênico, fraldas descartáveis, alimentos deteriorados e outros itens. Também pode conter
alguns resíduos tóxicos.
Comercial: originado de unidades comerciais e de serviços como supermercados, padarias,
bancos, lojas, bares e restaurantes.
Industrial: tem sua origem nas diversas áreas da indústria como metalurgia, petroquímica,
alimentícia e química, e por ser um tipo de lixo considerado tóxico e com alto teor de
envenenamento deve receber tratamento especial. Neste item classificam se óleos, fibras,
metal, cinzas, borracha, papel, lodos, resíduos alcalinos ou ácidos, escórias, plásticos,
madeira, vidros e cerâmicas.
Agrícola: advém de atividades agrícola e pecuária como ração, defensivos agrícolas,
embalagens de adubos e restos de colheita. Deste lixo, o que é gerado pelo uso de pesticidas
deve receber tratamento especial porque é considerado tóxico.
Hospitalar: lixo descartado por clínicas veterinárias, hospitais, farmácias, clínicas (agulhas,
algodão, curativos, seringas, resina sintética, restos de remédios, luvas, sangue coagulado,
órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais utilizados em testes, filmes
fotográficos de raios X). Devido ao alto teor de contaminação precisa receber cuidados
especiais ao ser acondicionado, manipulado e descartado. Seria importante que este lixo fosse
incinerado, isto é, queimado, e que suas cinzas fossem levadas para um aterro sanitário.
Entulho: é o que sobra na área de construção civil: restos de obras, demolições, sobras de
solos escavados.
Público: este lixo vem da limpeza urbana e inclui o resultado da varrição das vias públicas, da
limpeza de praias, galerias, córregos, restos de podas de plantas e limpeza de feiras livres.
Radioativo: provém de atividade nuclear com urânio, césio, radônio e cobalto.
Portos, Aeroportos, Terminais Rodoviários e Ferroviários: são locais com grande potencial
em receber germes patogênicos, devido ao grande fluxo de pessoas nos ambientes indicados.
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É composto basicamente de material de higiene pessoal e restos de alimentos, e pode
hospedar vetores ou até mesmo doenças provenientes de outras cidades, estados e países.
Quanto às características físicas
Seco: tecidos, papéis, plásticos, isopor, metais, porcelana, vidros, madeiras, cortiças,
guardanapos e toalhas de papel, pontas de cigarro, lâmpadas, cerâmicas e espumas.
Molhado: restos de comida, cascas de frutas, ovos e legumes, talos de verduras e alimentos
estragados.
Quanto à composição química
Orgânico: restos de comida, cascas de frutas, ovos e legumes, talos de verduras e alimentos
estragados, cabelos, pó de café e chá, ossos, aparas e podas de jardim.
Inorgânico: tecidos, parafina, plásticos, metais (alumínio, ferro, etc.), porcelana, vidros,
tecidos, borrachas, lâmpadas, velas, isopor, cerâmicas, espumas e cortiças.
Entendendo como o lixo é classificado a gestão do lixo desde residências unifamiliares até
uma metrópole torna-se mais fácil de ser implantada. A gestão do lixo é uma ação necessária
e tem sido amplamente divulgada na mídia devido ao grande volume gerado em todo o
planeta além do aumento da degradação ambiental decorrente deste problema. Como já
mencionado o consumo mundial cresceu após a Revolução Industrial e naquela época a
maioria buscava melhorias de vida e acreditava que o consumo era uma forma de mostrar que
era membro integrante da sociedade. Conforme a ONG WorldWatch Institute (2004, p.18) o
consumo é considerado alto, em especial nos países desenvolvidos que não têm obtido
sucesso na redução do mesmo. Mas não se deve culpar os habitantes porque eles estão em um
ciclo onde consumir é parte do mundo atual, por isso é necessário uma nova consciência
ambiental para buscar um consumo consciente e racional.
Essa preocupação tem dado lugar a ações concretas que já haviam sido defendidas pelo
documento da Agenda 21, o “Ações Prioritárias”, que entre outras ações e recomendações
evidenciou a necessidade de “promover hábitos de redução do lixo e a implantação da coleta
seletiva voltada para reciclagem e aproveitamento industrial” (BEZERRA, 2002a, p.51).
A preocupação no documento acima citado tem sua razão de ser: atualmente no Brasil, a
deposição do lixo ainda pode ser vista em marginais de cursos d’água, ruas e calçadas, porém
uma parte é depositada em locais como lixões, aterros sanitários ou incinerados além do uso
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da compostagem para diminuir o lixo orgânico coletado.
Também conhecido como vazadouro a céu aberto, o nome lixão já designa bem o local, pois é
um espaço onde qualquer tipo de lixo é depositado sem preocupações com o tratamento do
solo e proteção ao ambiente natural (MONTEIRO FILHO, 2004, p.311). Devido a este fato,
há a proliferação de vetores de doenças, odores desagradáveis, poluição do solo, de cursos
d’água e até mesmo de lençóis freáticos devido a penetração do chorume
64
. Deveria ser
extinto, mas para isso é necessário que os governos locais se empenhem e tenham consciência
da real situação e da degradação ambiental que ocorre com a existência deles.
Figura 143 - Exemplo de lixão. Fonte: <http://www.oleschmitt.com.br/sinaldostempos/postimg/lixao.jpg>.
Acesso em: 13 fev.2006.
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 10703
65
(1989), aterro sanitário é um local onde o lixo é depositado sobre o solo seguindo normas
operacionais específicas, protegendo a saúde da população e permitindo o controle da
poluição ambiental. A deposição é feita através de camadas de lixo e solo como se fosse a
compostagem (descrita abaixo), porém há no lixo materiais orgânicos e inorgânicos como
plástico, metal, vidro que causam problemas ao solo. Por isso é determinado um tempo para o
uso deste local como aterro e após esse tempo, que em geral varia de 5 a 12 anos, é utilizada a
técnica de biorremediação onde o solo é tratado com o uso de bactérias que se alimentam das
matérias ainda existentes no solo limpando-o para ser usado para outro fim (BAHIA, ca 1992,
p.47).
Figura 144 - Exemplo de aterro. Fonte: <http://www2.rio.rj.gov.br/comlurb/imagens/aterro.jpg>.
Acesso em: 14 fev.2006.
64
Chorume é uma substância líquida de cor preta gerada na decomposição de material orgânico. Tem mau cheiro
e é considerada altamente poluente.
65
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. Degradação do solo - terminologia. Rio de Janeiro, 1989.
45p. (NBR 10703).
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A incineração é um processo em que se queima o lixo de forma controlada “com o objetivo de
transformá-lo em matéria estável e portanto inofensiva a saúde pública” (MONTEIRO
FILHO, 2004, p.308). Este método ocorre em fornos próprios para tal fim reduzindo o volume
e o peso do lixo, e o uso de filtros de boa qualidade é de vital importância para que o ar não
seja poluído pela fumaça derivada desse processo (BAHIA, ca 1992, p.47).
Figura 145 - Exemplo de forno incinerador. Fonte: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./
residuos/index.php3&conteudo=./residuos/lixo.html#incine>. Acesso em: 14 fev.2006.
A compostagem é o método onde se recicla o lixo orgânico “através da fermentação da
matéria orgânica contida nos mesmos, conseguindo-se a sua estabilização, sob a forma de
um adubo denominado composto” (MONTEIRO FILHO, 2004, p.81) para ser utilizado em
jardins e hortas devolvendo à terra os nutrientes que necessita e evitando o uso de agrotóxicos
(BAHIA, ca 1992, p.47). Os materiais mais utilizados para a compostagem são penas,
resíduos de couro, lixo doméstico, algas marinhas, cinzas de madeira, feno, palha, podas de
vegetação, resíduos de cervejaria, folhas, jornais, rocha moída e conchas, turfa, serragem,
ervas daninhas e aparas de grama. A figura abaixo demonstra o ciclo da matéria orgânica
desde a fertilização da plantação até a transformação dos restos de alimentos em adubo.
Figura 146 - Compostagem: futuro adubo orgânico. Fonte: <http://www2.cm-seixal.pt/compostagem/
oquee/imagens/ciclo_mat_organica.jpg>. Acesso em: 14 fev.2006.
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Figura 147 - Compostagem: futuro adubo orgânico. Fonte: <http://www.desa.ufmg.br/imagens/projeto01-
01gd.jpg>. Acesso em: 14 fev.2006.
Para evitar o aumento de locais como lixões e aterros, é possível implantar o conceito racional
dos “3 R’s”: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, isto é, reduzir o desperdício, reutilizar sempre
antes de jogar fora e reciclar. O tempo de decomposição de cada produto encontrado nos
diversos tipos de lixo indica como a natureza é e ainda será degradada se os “3 R’s” não
forem utilizados para criar uma consciência racional.
MATERIAIS
TEMPO DE
DECOMPOSIÇÃO
aço
mais de 1000 anos
alumínio
200 a 500 anos
cerâmica
indeterminado
chiclete
5 anos
cordas de nailon
30 anos
embalagens longa vida
até 100 anos (alumínio)
embalagens PET
mais de 100 anos
esponjas
indeterminado
filtro de cigarro
5 anos
isopor
indeterminado
louças
indeterminado
luvas de borracha
indeterminado
metais (componentes de
equipamentos)
cerca de 450 anos
papel e papelão
cerca de 6 meses
plástico (embalagem e
equipamento)
até 450 anos
pneus
indeterminado
sacos e sacolas plásticas
mais de 100 anos
vidros
indeterminado
Figura 148 - Tempo de decomposição de alguns materiais. Adaptado pela autora. Fonte: SEBRAE, 2004.
O “reduzir” e “reutilizar” levam o indivíduo a pensar na real necessidade de comprar
determinado produto e caso haja essa necessidade, de procurar saber se a embalagem é de
fácil decomposição, se poderá ser reciclada ou reutilizada. Para o programa USP Recicla da
Universidade de São Paulo, os dois primeiros R’s podem ser cumpridos através de algumas
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dicas (USP RECICLA, 2006):
1. aproveitamento das duas faces das folhas de papel, tanto para escrita quanto para
impressão e cópias;
2. revisar textos na tela do computador antes de imprimir;
3. fazer apenas o número necessário de cópias;
4. usar envelopes somente quando for necessário e se for imprescindível utilizar os
envelopes que podem ser reaproveitados inúmeras vezes;
5. adotar coadores, guardanapos e toalhas de pano;
6. recusar papéis de propaganda que não serão utilizados;
7. fazer assinatura comunitária de jornais e revistas;
8. substituir produtos descartáveis como fraldas, copos, talheres, canudos e isqueiros por
produtos duráveis;
9. aproveitar talos de verduras, cascas de frutas e legumes;
10. diminuir o desperdício de alimentos;
11. evitar comprar produtos em embalagens supérfluas que sejam difíceis de reciclar no país
como isopor, celofane e papel aluminizado.
Para o último R, isto é, reciclar, deve-se elaborar uma coleta seletiva por ser uma alternativa
ambientalmente correta e onde ocorre a separação dos produtos em recipientes. A Resolução
n
o
275/2001 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) define as cores do
recipiente para deposição de cada material:
CORES TIPO DE MATERIAL
azul
papel/papelão
vermelho
plástico
verde
vidro
amarelo
metal
preto
madeira
laranja
resíduos perigosos
branco
resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde
roxo
resíduos radioativos
marrom
resíduos orgânicos
cinza
resíduo geral não reciclável ou misturado, ou
contaminado não passível de separação
Se o habitante de uma residência mora em um local onde não há coleta seletiva municipal e
seus vizinhos não se interessam na separação do lixo, o mesmo pode depositar seu lixo em
dois recipientes simplesmente separando o lixo orgânico do lixo inorgânico. O orgânico pode
se tornar adubo através da compostagem caso o indivíduo tenha plantas ou então ser levado
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pelo caminhão da limpeza pública do local, enquanto o lixo passível de reciclagem pode ser
entregue a catadores pedindo aos mesmos que recolham este seu lixo em dias específicos. Não
há necessidade de separar por tipo de material porque o próprio catador fará isso, mas é
importante que esteja limpo (GONÇALVES, 2003). Este é um caso simples, mas se o
interesse em participar da coleta seletiva é de um grupo social seja em um bairro, condomínio
ou ecovila, seria interessante passar pelas três fases da coleta antes de implantá-la:
planejamento, implantação e manutenção.
O programa de coleta seletiva indicado nesta pesquisa tem por base o trabalho da ONG
Lixo.Consulting coordenada pela educadora Pólita Gonçalves (2003) e da Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Instituto GEA (2005).
Planejamento
GONÇALVES (2003) entende que o planejamento deve ser feito do fim para o início, ou seja,
deve-se pensar em qual será o destino do lixo para depois estruturar o programa e montar um
trabalho de educação ambiental no local para que haja a adesão de outros indivíduos. O
planejamento pode ser realizado através da resposta às seguintes perguntas:
-Qual é o volume e peso do lixo gerado?
-Qual é a composição do lixo e suas proporções (quantidade de lixo orgânico, papel, plásticos,
alumínio, outros metais, vidro, etc)?
-Que caminho o lixo faz, isto é, onde é gerado, como é condicionado e onde é disposto para a
coleta?
-O que é feito com o lixo atualmente? Identificação dos materiais que não são coletados para
reciclagem e os que já são coletados e para onde são encaminhados.
-Há espaço físico necessário para armazenagem e locais intermediários
66
?
-Existem recipientes para condicionar o lixo como tambores, baldes de lixo antigos e em bom
estado, latões e outros que possam ser reutilizados?
-Quantas pessoas e quais serão responsáveis pela limpeza e a coleta normal do lixo? Em que
dias e horários será feita?
-O material separado vai ser doado ou vai ser vendido? Se for doado, deve-se pesquisar as
ONG’s, instituições e entidades beneficentes que recebem material reciclável. Se for vendido
66
Os locais intermediários podem ser entendidos como aqueles que recebem o lixo reciclável antes de ser levado
para a área de armazenamento É colocado em uma área enquanto o responsável não o leva para a armazenagem.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
134
deve-se pesquisar preços dos recicláveis·e compradores (internet, classificados e ONG’s)
67
.
-Caso escolha uma cooperativa de catadores, ela poderá fazer a coleta no local?
-O que será feito do lixo se o catador ou a cooperativa desistir de comprar seu lixo?
-Por que separar em quatro ou mais recipientes se a coleta será feita pelo mesmo veículo ou
pela mesma pessoa?
Com os dados obtidos com as respostas das perguntas acima se inicia o momento de decidir:
-Se a coleta vai ser de todos os materiais ou só dos mais fáceis de comercializar;
-Se a coleta vai ser em um lugar apenas ou irá ter pontos intermediários como corredores,
estacionamento;
-Quem vai fazer a coleta;
-A freqüência necessária para a coleta e onde o material será estocado;
-Para quem vai ser vendido e/ou doado o material;
- Recursos materiais necessários.
Definidos os itens acima já é possível fazer uma lista dos materiais que serão necessários para
o programa, lista do que pode ser recuperado, lista do que precisa ser adaptado, lista do que
precisa ser providenciado como placas sinalizadoras e adesivos.
A partir de então deve-se iniciar o processo de educação ambiental para obter a adesão de
outros integrantes do local onde a coleta seletiva será implantada. Para isso é necessário listar
os diferentes segmentos sociais, de gênero e faixa etária e imaginar como a informação deverá
chegar a eles. Depois deve-se planejar o que será feito para fixar as informações como o uso
de cartazes, palestras, folhetos, reuniões, festas. E o mais importante é iniciar o programa com
algo que seja marcante como uma festa, exposição, treinamento para que alcance mais
adeptos.
Implantação
Com todos os dados do planejamento em mãos já se torna possível prever quando o programa
será iniciado, não esquecendo que material educativo como cartazes já devem estar
confeccionar no momento da inauguração da coleta seletiva no local. Também é importante
que os responsáveis pela coleta, separação e entrega dos recicláveis às instituições,
cooperativas ou catadores deve receber treinamento para a função. E para finalizar, a data da
67
O Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE) e o Instituto GEA são algumas instituições que
possuem esses dados.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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135
inauguração do programa deve ter bastante divulgação com característica de festa para
chamar atenção de todos os integrantes daquele grupo social.
Manutenção
A manutenção necessita de acompanhamento e gerenciamento da coleta, armazenamento,
venda e/ou doação dos materiais; relação da quantidade coletada e se possível por produtos;
atividades de informação, sensibilização e incentivos permanente repassando os resultados
para motivar mais adesões; e sempre fazer um balanço do andamento e resultado do
programa.
Um programa de coleta seletiva não precisa, necessariamente, seguir de forma criteriosa o que
foi descrito acima. O importante é entender que ocorre um grande processo de estruturação do
local fazendo com que o planejamento, a implantação e a manutenção sejam realizados de
forma consciente levando todos os indivíduos a uma consciência ambiental que os faça
perceber a real necessidade de trabalhar a favor da natureza.
Exemplos de gestão do lixo
Cidade de Blumenau (SC) - Embora já existisse coleta seletiva na cidade, ela foi repassada
para a Seletiva Cooperativa de Coleta de Materiais Recicláveis, em regime cooperativado em
julho de 2004 para as seguintes atividades: coleta, triagem, enfardamento, limpeza,
administração e comercialização dos materiais recicláveis no horário comercial.
Figura 149 - Galpão para triagem dos recicláveis e lixo separado e enfardado. Fonte: <http://www. recicloteca.
org.br/Default.asp?ID=22&Editoria=4&SubEditoria=13&Ver=1>. Acesso em: 20 jan.2005.
Comunidade da Maré (RJ) - Através da Cooperativa de Coleta Seletiva & Reciclagem de
Materiais Plásticos e Resíduos (Rio Coop), o lixo na comunidade coletado, separado e
vendido a empresas interessadas. Possui mais de 30 funcionários com carteira assinada e
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todos os benefícios sociais aos quais têm direito. Em 18 meses conseguiram recolher 300
toneladas de recicláveis.
Figura 150 - Lixo separado, prensado e enfardado. Fonte: <http://www.ecopop.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/
sys/start.htm?infoid=78&from%5Finfo%5Findex=26&sid=2>. Acesso em: 20 jan.2005.
Bairro Jardim Boa Vista (Butantã - SP) - a coleta seletiva e a reciclagem foi denominada
“Projeto vira-lata” e reúne trabalhadores com mais de 40 anos de idade que não conseguiram
uma vaga no mercado de trabalho. O projetou obteve a adesão de grande parte dos moradores
do bairro e até mesmo de bairros vizinhos.
Figura 151 - Lixo coletado de porta em porta e separado em tambores com as cores definidas pelo CONAMA.
Fonte: <http://www.institutogea.org.br/7a.htm>. Acesso em: 20 jan.2005.
Condomínio residencial (Morumbi - SP) - Com população em torno de 350 pessoas, o
programa de coleta seletiva recolhe mensalmente em torno de 1 tonelada de material
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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reciclável e utiliza o lixo orgânico na compostagem utilizada no próprio condomínio.
Figura 152 - Latas de lixo com as cores definidas pelo CONAMA, lixo coletado e local onde era depositado.
Fonte: <http://www.institutogea.org.br/7b.htm>. Acesso em: 20 jan.2005.
3.4- A gestão da água
A água vem sendo poluída em todo o mundo através do lançamento de produtos químicos no
mar, de esgoto “in natura” em cursos d’água, lixo nas marginais de rios e lagos além de outras
ações antrópicas. Por esse motivo no ano de 1968 o Conselho da Europa promulgou a Carta
da Água
68
que em doze itens expressou a preocupação com esse elemento da natureza
deixando claro que todo ser humano é responsável pela qualidade da água devendo utilizá-la
de forma racional (STECKEL, 2003). A ONU também fez sua parte e declarou o ano de 2003
como o Ano Internacional da Água e o dia 22 de março como o dia mundial da água para que
todos entendessem a necessidade de conservar este recurso finito.
O Brasil possui em seu território uma grande quantidade de recurso hídrico que está presente
em 48,2 l/s/km
2
do Atlântico Norte e 34,2 l/s/km
2
na bacia amazônica até 2,8 l/s/km
2
na região
semi-árida do Atlântico Leste, 1 ate 4,5 l/s/km
2
na bacia do rio São Francisco. A água
subterrânea de lençóis profundos está estimada em 112.000 km
3
e em torno de 61% da
população brasileira é abastecida de mananciais de subsuperfície como poços rasos (6%),
nascentes/fontes (12%) e poços profundos (43%) (BEZERRA, 2002a, p.33).
Esta grande reserva hidrológica deve ser conservada para as futuras gerações e devido a este
fato em 1986 o CONAMA determinou a qualidade dos recursos hídricos através da Resolução
n
o
20
69
classificando a água de acordo com a porcentagem de salinidade existente: águas doce,
salobra e salina. A água doce possui salinidade igual ou inferior a 0,5%; água salobra entre
0,5% e 30%, e água salina com salinidade igual ou superior a 30%. A partir dessa
classificação, esses 3 tipos foram subdivididos em outras classes para definir tal qualidade que
68
Ver Anexos.
69
Esta resolução foi confirmada e alterada em alguns artigos pela resolução n
o
274 de 29 de Novembro de 2000
e posteriormente pela Resolução 357 de 17 de março de 2005. Ver Anexos.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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deveriam possuir os corpos d’água pertencentes a essas divisões. Através dessa Resolução o
CONAMA pretendia alertar a todos, governo e sociedade, da importância da qualidade da
água e conscientizá-los da necessidade de uma gestão voltada para a racionalização e
reutilização da mesma.
Porém tem-se observado a continua poluição e conseqüente degradação da água sem a devida
preocupação das três esferas governamentais (federal, estadual e municipal). O último livro da
série GeoBrasil
70
publicado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Renováveis (IBAMA) revela a “extensa degradação da qualidade destas águas definindo um
quadro paradoxal de escassez” (CÂMARA, 2002, p.78), que é relevante tratar o efluente de
esgoto “para melhoria da qualidade das águas” (CÂMARA, 2002, p.80) e que “parcelas
adequadas de água devem ser reservadas para manter saudáveis os ecossistemas
71
” e a
própria sobrevivência dos seres vivos (CÂMARA, 2002, p.85).
Reverter a degradação dos recursos naturais, em especial a água, é uma preocupação e pode
ser observada com a democratização das informações sobre o assunto, ou seja, através de
cursos e seminários que demonstram a necessidade dessa reversão e da informação constante.
Os institutos de permacultura e ONG’s ambientais realizam esse trabalho de forma eficiente e
sempre ligada a solidariedade porque os cursos utilizam a prática para construir as tecnologias
ambientais em ecovilas que estão surgindo ou locais que têm necessidade da implantação de
tais tecnologias.
Essa preocupação com a água também está relacionada com o destino que se dá ao esgoto e
seu efluente, pois é uma fonte de poluição da água. Segundo o Manual de Saneamento
publicado pela Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) 90% da população urbana tem
acesso a água potável, e 60% com redes coletoras de esgotos (BRASIL, 2004, p.10), mas em
torno de 15 milhões em sua maioria população de baixa renda, ainda não possuem este
serviço (apud VARGAS, 2004, p.5). Destes, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico 2000 (PNSB) apenas 35% dos esgotos recebem tratamento antes de serem despejados
em corpos d’águas (apud VARGAS, 2004, p.5). Nota-se que unidades residenciais,
comerciais, industriais bem como cidades de pequeno, médio e grande porte deveriam tratar
seu esgoto antes de jogá-lo na rede de coleta de esgotos para evitar a contaminação da água.
70
“GeoBrasil 2002: Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil”. Ver Referências.
71
Segundo o “Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente” ecossistema é um “sistema integrado e
autofuncionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos, e cujas dimensões podem variar
consideravelmente”. (MONTEIRO FILHO, 2004, p.112).
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Como complemento a PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do ano de 1999
relata que 20% da população brasileira não é atendida por abastecimento de água, 57% não
têm seus esgotos ligados à rede pública e 80% não têm tratamento de esgotos (apud
BEZERRA, 2002a, p.50).
As Metas do Milênio sob os números 9, 10 e 11 têm a intenção de garantir a sustentabilidade
ambiental, mas especificamente a meta 9 pretende “integrar os princípios do desenvolvimento
sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais
(SACHS, 2005, p. xii) e nela pode-se incluir a água como recurso natural que necessita ter seu
processo de degradação revertido.
A gestão da água é um meio de reverter essa degradação, pois o uso da água canalizada e a
utilização de águas não convencionais
72
como a água de chuva coletada e a reutilização do
efluente de esgoto previamente tratado são formas de racionalizar e diminuir o uso desse
recurso natural finito.
Para entender o significado de gestão da água e tudo o que nela se insere, torna-se relevante
estabelecer o conceito de gestão e gestão dos recursos naturais porque a água pertence a classe
dos recursos naturais. A publicação do MMA “Gestão dos recursos naturais: subsídios à
elaboração da Agenda 21 brasileira” definem o conceito de gestão como ”o modus operandi
cuja premissa básica é manter os recursos naturais disponíveis para o desenvolvimento, hoje,
amanhã e sempre” (BEZERRA, 2000b, p.16-17) e a gestão de recursos naturais como:
Uma particularidade da gestão ambiental, que preocupa-se em especial
com o conjunto de princípios, estratégias e diretrizes de ações determinadas
e conceituadas pelos agentes socioeconômicos, públicos e privados, que
interagem no processo de uso dos recursos naturais, garantindo-lhes
sustentabilidade” (BEZERRA, 2000b, p.16).
A partir desses conceitos pode-se definir o significado de gestão da água como o modus
operandi de manter a água para o desenvolvimento de hoje, amanhã e sempre através de
um conjunto de ações, estratégias e diretrizes que visem a sustentabilidade.
A gestão da água racionaliza o uso de água tratada, do efluente de esgoto previamente tratado
e da água de chuva para fins não potáveis. Um tratamento de esgoto adequado leva a
população à melhoria da qualidade de vida diminuindo o custo com saúde para o governo,
porque segundo o Manual de Saneamento (BRASIL, 2004, p.11) para “cada R$1,00 (hum
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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140
real) investido no setor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de
medicina curativa”.
O uso indiscriminado da água revela que este recurso natural não está sendo conservado
conforme deveria. Abaixo há uma tabela com algumas das ações humanas mais comuns e
quantos litros se gasta para executá-las:
Ação humana litros d’água
lavar as mãos 7 litros
escovar os dentes 18 litros
tomar banho com chuveiro (15minutos) 45 a 243 litros
tomar banho com ducha (15minutos) 135 a 242 litros
lavar louça com a torneira aberta o tempo todo até 105 litros
lavar roupas (tanque) 117 a 279 litros
lavar roupas - lavadora (5 quilos) 135 litros
irrigaçãor o jardim (10 minutos) 186 litros
lavar calçada (15 minutos) 279 litros
lavar o carro com balde (30 minutos) 560 litros
mangueira (30 minutos) 216 a 560 litros
deixar uma torneira aberta (por minuto) 12 a 20 litros
deixar uma torneira pingando (por dia) 46 litros
válvula de descarga (um acionamento) até 20 litros
Figura 153 - Ações humanas e uso da água. Adaptado pela autora. Fonte: MMA, 2005.
A primeira ação utilizada na gestão da água é racionalizar seu uso através de algumas dicas
73
muito comuns e pouco observadas pela grande maioria da sociedade (MMA, 2005):
-se não houver coleta de água de chuva na unidade habitacional onde se mora, pode-se
aproveitar e armazenar esta água em recipientes que devem ser colocados na saída das
calhas lembrando que os mesmos devem ficar tampados para evitar a propagação de
doenças;
-ao fazer a higiene pessoal e bucal observar o fechamento da torneira nos momentos em
que a água não é utilizada;
- dar preferência, se possível, às caixas de descarga no lugar das válvulas por serem mais
econômicas;
-evitar o desperdício de água racionalizando-a no uso de mangueiras, em tanques, pias,
máquina de lavar louça e de lavar roupa, irrigação de plantas. Sempre que possível
aproveitar a água utilizada para fins não potáveis;
72
Segundo Rebouças (2004, p.82) as águas não convencionais são as que não estão inseridas no sistema nacional
de gerenciamento de recursos hídricos: água de solo, águas subterrâneas, água de chuva captadas e água
reutilizada.
73
Mais algumas dicas estão em Apêndices e na página oficial do MMA. Ver referências.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Estas são algumas dicas fáceis de serem incorporadas ao dia-a-dia de cada cidadão e que
trazem maior consciência ambiental através do cuidado e do interesse pela natureza e seus
recursos.
As demais ações definem a necessidade da utilização de águas não convencionais para
diminuir de forma gradativa o uso das águas de rios e lagos que são tratadas pela
concessionária local e que em seguida são levadas até as habitações, comércios, industriais e
segmentos da área da saúde.
Nesta pesquisa, como já mencionado, serão enfocadas duas tecnologias ambientais muito
utilizadas em ecovilas e que são determinantes na gestão da água: o tratamento do efluente de
esgoto e o uso das águas de chuva.
3.4.1- O uso do efluente de esgoto e das águas de chuva
3.4.1.1- Tratamento do efluente de esgoto
A preocupação com a conservação da água e seus mananciais tornou importante o tratamento
e posterior reuso do efluente
74
de esgoto diminuindo a necessidade de água tratada para fins
não potáveis. O efluente é aquele que foi utilizado pelo ser humano em suas ações diárias e
pode ser dividido basicamente em águas cinzas e águas negras: as cinzas são as que foram
utilizadas para limpeza e higiene pessoal sem dejetos (banho e lavagem de roupa e louça); e
as negras são as provenientes dos vasos sanitários e que contém coliformes.
A resolução em tratar esse efluente veio também da constatação de que o esgoto é composto
de água de banho, dejetos, papel higiênico, restos de comida, sabão, detergentes e águas de
lavagem (BRASIL, 2004, p.154), indicando que 99,9% equivale a água e 0,1% de material
sólido (MALTA, 2001, p.26; BONNET, 1997 apud KAICK, 2002, p.37). O tratamento do
efluente de esgoto tem a função de retirar as impurezas, bactérias e agentes patogênicos
existentes e reutilizá-lo para fins não potáveis como em vasos sanitários, irrigação de jardins,
lavagem de pisos e carros.
Existem algumas tecnologias ambientais para utilizadas para tratar o efluente de esgoto e que
foram desenvolvidas e implantadas por empresas e ONG’s podendo-se citar a mini-estação de
74
O efluente é qualquer tipo de água ou liquido, que flui de um sistema de coleta, ou de transporte, como
tubulações, canais, reservatórios, e elevatórias, ou de um sistema de tratamento ou disposição final, com estações
de tratamento e corpos de água receptores (MONTEIRO FILHO, 2004, p.113).
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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142
tratamento do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA), lagoas de
estabilização, biodigestores da ONG “O Instituto Ambiental”, tratamento por zona de raízes
entre outras. Esta última utiliza as raízes de plantas para o tratamento e se tornou a tecnologia
mais difundida entre as ecovilas por não utilizar produtos químicos.
De uma maneira geral o tratamento ocorre do seguinte modo: o esgoto é levado por meio de
tubulações ao local onde será tratado, depois para um tanque de armazenamento que levará a
água até uma caixa d’água na laje da edificação através do acionamento de uma bomba e
então estará pronta para ser usada. O tratamento pode ser feito em lagos construídos para o
uso de filtros naturais como as raízes de plantas
75
, camadas de materiais porosos como areia e
pedra, através Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) que utilizam filtros químicos com
adição de produtos como cloro, lagoas de estabilização onde há a espera da acomodação do
material sólido no fundo da lagoa ou uso de tanques com plantas, peixes e patos que também
purificam a água sem uso de produtos químicos
76
.
Figura 154 - Lagoa de estabilização em Penápolis, São Paulo, Brasil. Fonte: <www.daep.com.br/lagoa.jpg>.
Acesso em: 05 fev.2005.
Figura 155 - Estaco de Tratamento de Esgoto Sarapuí - Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil
Fonte: <http://www.cibg.rj.gov.br/galeria_design.asp?img=27>. Acesso em: 05 fev.2005.
Figura 156 - Tanque com peixes para purificação da água, Brasil. Fonte: OIA, 2004.
75
Este tratamento foi utilizado na ecovila de Findhorn e está indicado nesta pesquisa no capítulo 2. O estudo de
caso, relatado no capítulo 4, também tem esta tecnologia implantada.
76
Esta tecnologia é utilizada pela ONG O Instituto Ambiental que será mencionada como um dos exemplos de
tratamento de esgoto.
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Os tratamentos supra citados priorizam a qualidade da água depois de tratada e intencionam
obedecer aos índices de balneabilidade e potabilidade de acordo com o uso que terão. A
Resolução n
o
274 de 2000 do CONAMA definiu os índices de balneabilidade para águas
doces, salobras e salinas definindo a água em excelente, muito boa, satisfatória e imprópria
levando em consideração que “80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada
uma das 5 semanas anteriores, colhidas no mesmo local” a água tem as seguintes
classificações (BRASIL, 2000):
Excelente
- no máximo 250 coliformes fecais / l ml ou 200 Escherichia coli / l00 ml;
Muito boa - no máximo 500 coliformes fecais / 100 ml ou 400 Escherichia coli / 100 ml;
Satisfatória
- no máximo 1.000 coliformes fecais / 100 ml ou 800 Escherichia coli / 100 ml;
Imprópria - superior a 2.500 coliformes fecais ou 2000 Escherichia coli / 100 ml.
A Portaria 518/2005 do Ministério da Saúde estabelece parâmetros de potabilidade em que na
saída do tratamento a água deve estar isenta de coliformes totais
77
em 100ml, e a água para
consumo humano isenta do Escherichia coli ou coliformes termotolerantes também em
100ml.
Através dos parâmetros acima e com a análise da água do local é possível classificar as águas
servidas após a sua limpeza propondo algum tratamento adicional se estiver acima do limites
ou então comprovar a eficiência do sistema. Exemplo disso é a ONG OIA em que o
biodigestor e os tanques para purificação obtiveram bons resultados com 180 coliformes
fecais / 100ml tendo a água classificada como excelente para balneabilidade.
Exemplos de tratamento do efluente de esgoto
Fossa séptica não-contaminante de lençol freático (biodigestor)- EMBRAPA
78
Esta fossa séptica desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) foi projetada para decompor a matéria orgânica vinda da bacia sanitária e servir
de alimento para bactérias que a transformará em biogás e em um efluente sem odores que
poderá ser utilizado para a agricultura. As fases pelas quais passa a matéria orgânica eliminam
todo e qualquer tipo de elemento patogênico existente nas fezes devido a variação de
temperatura melhorando a qualidade de vida especialmente no ambiente rural.
77
Segunda a mesma Portaria, coliformes totais são bactérias capazes de se desenvolver na presença de sais
biliares ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído.
78
Os dados referentes a este exemplo foram obtidos através de documento sobre a fossa biodigestora. Autor:
Santiago, 2005.
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Portanto, este sistema a um custo barato tem a intenção de eliminar o esgoto a céu aberto e
utilizar o efluente como adubo orgânico diminuindo os custos com produtos químicos,
conservando o ambiente rural através da melhoria do saneamento além de auxiliar no
desenvolvimento da agricultura orgânica.
O sistema é composto por 3 caixas de fibrocimento ou fibra de vidro de 1.000 litros cada que
são facilmente encontradas no comércio. As duas primeiras são conectadas somente ao vaso
sanitário porque a água da pia e chuveiros não tem potencial patogênico, mas contém sabão
ou detergente que podem inibir o processo de biodigestão por conter propriedades antibióticas
e a terceira caixa coleta o efluente.
Figura 157 - Sistema montado. Fonte: SANTIAGO, 2005, p.6.
Figura 158 - Detalhe do encaixe da tubulaçao. Fonte: SANTIAGO, 2005, p.6.
A vedação das tampas deve ser feita com borracha, as caixas devem estar enterradas no solo
para manter o isolamento térmico e unidas por tubos e conexões de PVC de 4"(curva de 90
o
longa no interior e um “T” de inspeção quando houver entupimento do sistema). A primeira
caixa deve ser preenchida com aproximadamente 20 litros de uma mistura de água e esterco
bovino fresco (metade de cada item) para aumentar a atividade microbiana e a eficiência da
biodigestão e a cada 30 dias esta mistura, porém apenas 10 litros, deve ser colocada através da
válvula de retenção.
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Figura 159 - Sistema da fossa biodigestora (sem as tampas).
Fonte: <http://www.cnpdia.embrapa.br/menuleft_desenv_produtos_fossa.html>. Acesso em: 02 jun.2005.
Figura 160 - Sistema da fossa biodigestora tampado.
Fonte: <http://www.cnpdia.embrapa.br/menuleft_desenv_produtos_fossa.html>. Acesso em: 02 jun.2005.
Há ainda duas chaminés de alívio que estão sobre as duas primeiras caixas para liberar o gás
acumulado. A coleta do efluente é feita através do registro de esfera de 50mm instalado na
caixa coletora. Caso não se deseje aproveitar o efluente como adubo e utilizá-lo somente para
irrigação, pode-se montar na terceira caixa um filtro de areia, que permitirá a saída de água
sem excesso de matéria orgânica dissolvida.
Figura 161 - Sistema da fossa biodigestora. Adaptado pela autora. Fonte: SANTIAGO, 2004, p.4.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
146
Se o efluente não for utilizado como adubo orgânico a última caixa pode se tornar um filtro de
areia para que a saída da água não seja acompanhada por excesso de matéria orgância. Este
filtro contém areia fina lavada, 10cm de pedra britada nº 1, 10cm de pedra britada nº 3 e tela
de nylon fina conhecida como mosquiteiro no fundo da caixa e outra apoiada na brita nº 1.
Figura 162 - Filtro de areia conectado a caixa 3. Fonte: SANTIAGO, 2004, p.5.
Biossistema em Sertão de Carangola, Petrópolis, RJ - OIA
79
A ONG “O Instituto Ambiental” (OIA) preocupa-se com o desenvolvimento de soluções
ecologicamente sustentáveis. Em 1994 implantou em uma comunidade de baixa renda -
Sertão do Carangola, Petrópolis, Rio de Janeiro - um biossistema que além de resolver o
destino do esgoto dos 4000 moradores porque o esgoto ficava a céu aberto. O sistema tem a
função de tratar as águas servidas e reciclar seus nutrientes, produzir composto orgânico e
alimentos como peixes, patos, marrecos, hortaliças, frutas e legumes.
O funcionamento do biossistema funciona da seguinte maneira: o esgoto é coletado e levado
ao biodigestor localizado próximo às edificações e construído em tijolos maciços por técnicos
chineses especializados em biogás e o gás proveniente dele é usado na cozinha do centro
comunitário que atende em torno de 60 crianças/dia.
Depois o efluente é levado para um tanque de sedimentação com 3 metros de profundidade
onde permanece por algum tempo para que os microorganismos eliminem os agentes
patogênicos para então seguir para outros dois tanques denominados tanques de oxigenação.
Neles com o auxílio do ar e do sol se multiplicam as microalgas que passam para o tanque
onde se encontram peixes como tambaquis, pacús, carpas e tilápias.
79
Os dados referentes a este exemplo foram obtidos na página oficial da ONG OIA e de artigo do arquiteto
Sérgio Pamplona. Ver referências.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
147
Figura 163 - Tanque de sedimentação. Fonte: OIA, 2004.
Figura 164 - Tanque de peixes. Fonte: OIA, 2004.
Depois do tanque dos peixes a água desce por gravidade para os tanques de macrófitas que
são plantas aquáticas (salvinia, azola, lemna, pistia) que servem de alimento para os peixes e
absorvem os nutrientes mineralizados existentes na água e o excesso de macrófitas é retirado
do tanque e produz composto orgânico para o pomar e a horta.
Figura 165 - Tanque de macrófitas. Fonte: OIA, 2004.
A água sai do tanque das macrófitas para ser levada para o rio porque o resultado é uma água
com condições de balneabilidade, isto é, 180 coliformes fecais / 100ml. O sólido é retirado de
todos os tanques a cada 3 meses para ser seco ao sol, passa a ser chamado biossólido e
utilizado como adubo orgânico na horta. Atualmente os biossistemas do Sertão de Carangola
são administrados por moradores treinados pelo OIA e seus produtos são consumidos no
próprio local. A produção anual gira em torno de 5 toneladas de peixes, frutas, legumes e
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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148
verduras.
Figura 166 - Horta. Fonte: OIA, 2004.
Para comprovar a eficiência do sistema, o biossólido foi analisado pela EMBRAPA e
obtiveram os seguintes resultados: a porcentagem dos coliformes fecais foi reduzida a zero
após 54 dias de sua aplicação no solo e foi comprovada a inexistência de ovos de bactérias e
metais pesados em sua composição.
Tratamento dos efluentes com zona de raízes (Casa eficiente) Eletrosul, Procel e
UFSC/Labee
80
A casa eficiente ainda não foi edificada, mas foi escolhida como exemplo devido o interesse
que os responsáveis pelo projeto têm em implantar uma tecnologia ambiental muito utilizada
pelas ecovilas: o tratamento dos efluentes com zona de raízes. O mesmo utilizará a espécie
nativa de junco e casca de ostra no lugar de brita para reaproveitar o efluente vindo da bacia
sanitária e assim limpá-lo e reutilizá-lo na irrigação dos jardins e lavagem de piso.
Através de uma tubulação com diâmetro 10cm, o esgoto será levado até a zona de raízes. Esta
será construída no terreno da Casa Eficiente com profundidade de 65cm e envolvida por uma
base em concreto de 5cm de espessura impermeabilizado para evitar a contaminação do solo.
Dentro desta área serão assentadas as seguintes camadas: 20cm de altura de casca de ostra,
10cm de seixo rolado, 5cm de casca de arroz ou serragem, 3 a 4 camadas intercaladas de areia
e saibro, e novamente 5cm de casca de arroz ou serragem.
80
Os dados deste exemplo foram obtidos na página oficial da Casa Eficiente. Ver referências.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Figura 167 - Detalhe das camadas existente no tratamento do efluente. Fonte: CASA EFICIENTE, 2005.
Ao chegar nesta zona de raízes, o esgoto entrará em contato com as raízes da planta junco e
com as camadas e a medida que for perpassando por elas a parte sólida ficará e servirá de
alimento para as raízes e o efluente sairá limpo para ser usado para fins não potáveis.
Banheiro seco compostável (TIBÁ)
Neste exemplo não há um tratamento do efluente de esgoto e sim o uso de uma tecnologia que
não utiliza água. Para LENGEN (2004, p. 653) o banheiro seco compostável substitui o vaso
sanitário convencional e possui algumas vantagens sobre ele como utilizar os dejetos para
compostagem, excluir o uso da água e criar um local para receber o lixo orgânico
enriquecendo o composto. Se sua implantação ocorrer em área rural também podem ser
adicionadas folhas secas, cinzas e serragem ao composto.
Figura 168 - Detalhe do sanitário seco compostável. Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN, 2004, p.653.
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150
Conforme a figura acima, o banheiro seco é dividido em duas câmaras: a primeira recebe os
dejetos e o lixo orgânico e o fundo tem inclinação com ângulo de 30º para facilitar o
deslizamento dos dejetos até a segunda câmara que realiza o processo de compostagem
transformando a matéria orgânica em adubo no período de um ano. Uma vez por semana esse
composto é mexido através de uma manivela para oxigenar e uma chaminé de exaustão que
tem ligação com a primeira câmara evita os odores desagradáveis e a pequena porta de
madeira da segunda câmara por onde é retirado o adubo deve possuir uma abertura com tela
de mosquiteiro para evitar a entrada de animais de pequeno e médio porte (LENGEN, 2004,
p.653-661).
Abaixo seguem algumas observações importantes indicadas por Johan Lengen (2004, p.661)
para que a eficiência do banheiro seco compostável seja contínua:
-antes de serem utilizadas, as câmaras devem receber uma camada de 30cm de folhas secas,
serragem ou cinzas para acomodar os dejetos humanos e o lixo e absorver os dejetos líquidos;
-nenhum outro líquido, exceto o dos humanos, deve ser jogado dentro do sanitário;
-As tampas para retirada de adubo e do sanitário devem estar sempre fechadas;
-alguns materiais podem ser colocados no sanitário: dejetos humanos sólidos e líquidos, papel
higiênico, gordura, lixo orgânico da cozinha, cascas, carne e ossos;
-nunca devem ser colocados no sanitário os seguintes materiais: latas, plástico, detergentes,
metais, vidro, madeira, tinta, papel cartão, remédios e sabão.
Figura 169 - Sanitário seco compostável fabricado por Lengen. Fonte: TIBÁ, 2004.
3.4.1.2- Captação, armazenamento e aproveitamento das águas de chuva
A captação e uso das águas de chuva também denominadas águas pluviais sempre foi uma
tecnologia ambiental muito utilizada em locais onde não há água ou onde a água não é
considerada potável. Porém a preocupação com o estado em que se encontram as águas de
rios, mares e lagos aliado a falta de eficiência de uma política pública para os recursos
sanitário
manivela
saída do
adubo
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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151
hídricos levou uma parte da sociedade brasileira a procurar tal técnica para aplicá-la em
construções residenciais, comerciais e outros tipos de uso resguardando e protegendo esse
recurso natural finito.
A importância da tecnologia de captação de água de chuva foi ratificada pelo 3º Fórum
Mundial da Água
81
que ocorreu em março de 2003 no Japão. Lá foi declarado que a técnica
pode beneficiar em torno de dois bilhões de pessoas no mundo, “a custos relativamente
baixos, de maneira participativa, passando para as próprias comunidades a responsabilidade
de gerenciar o seu abastecimento de água, e com um impacto ambiental mínimo” (AGUA DE
CHUVA, 2005).
A captação da água de chuva é uma necessidade nos tempos atuais porque racionaliza a água,
traz economia, diminui o uso das águas de cursos d’água e da água tratada deixando esta
última para o consumo potável. Para completar diminui o volume de água no solo, nas ruas e
no sistema de drenagem local em épocas de chuva conseguindo minimizar alagamentos e
transbordamento de rios.
Basicamente, o sistema de captação e armazenamento de águas pluviais funciona do seguinte
modo: a água que cai no telhado é recolhida pelas calhas, desce por gravidade para um filtro e
depois para um reservatório, deste é bombeada para uma caixa d’água na laje da habitação
para então ser usada. Portanto, a tecnologia possui os seguintes componentes: superfície de
captação (normalmente os telhados), reservatórios (cisternas), mecanismos de filtragem
(filtros) e distribuição (caixas d’água) (MARINOSKI, 2004, p.3).
Devido as impurezas existentes na superfície de captação, os primeiros 15 a 20 minutos de
chuva devem passar por um filtro ou ser coletados e armazenados em um reservatório menor
que depois pode ser usada na limpeza de pátios descobertos e irrigação de plantas, pois eles
que já recebem as chuvas de forma direta (MARINOSKI, 2004, p.3). Depois de cheio, o
reservatório tem um dispositivo (bóia) que fecha a entrada de água e esta passa a encher a(s)
cisterna(s) enterrada(s).
81
Evento ocorrido de 16 a 23 de março de 2003 em Kioto, Japão. O próximo Fórum Mundial da Água ocorrerá
em 2006.
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Figura 170 - Sistema básico de captação de águas pluviais (filtro ou pequeno reservatório).
Fonte: RAINHO, 2005.
Como a água vinda pelo telhado apresenta impurezas (fezes pássaros, gatos e ratos; folhas e
poeira), podem ser colocadas telas ou grelhas sobre as calhas como um dispositivo simples de
filtragem, mas não se deve descartar o uso do pequeno reservatório ou de filtros para a
limpeza da água evitando o acúmulo de detritos no reservatório e futuros danos aos
equipamentos pela falta deles. Os filtros podem ser comprados em empresas especializadas
nesta tecnologia ou se pode montar o filtro utilizando materiais como brita ou plantas com
raízes que impedem a entrada das impurezas e vetores de doenças nas cisternas e caixas
d’água (MARINOSKI, 2004, p.3).
A água nas habitações tem seu uso vinculado a higiene pessoal e serviços domésticos e
segundo dados da ONU que podem ser observados através da figura abaixo, as ações relativas
a fins não potáveis flutuam entre 29% (apenas o vaso sanitário) e 72% (vaso, lavatório,
lavagem de louça e roupa) do total da água utilizada, porém a lavagem de roupa e louça
necessita de água limpa sem coliformes fecais ou qualquer tipo de bactéria ou vírus.
Figura 171 - Gráfico de consumo de água em residências. Adaptado pela autora.
Fonte: ONU apud MARINOSKI, 2004, p.4.
Segundo CREDER (1991, p.10) o uso da edificação define o consumo de água e o estimado
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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para habitações é de 150 litros por pessoa por dia. Observando essa informação e os dados da
ONU através do gráfico acima, se for considerado o uso da água de chuva apenas para o vaso
sanitário entende-se que haverá a economia de 43,5 litros d’água / dia / pessoa da água de
mananciais e da água tratada, e se for considerar uma boa eficiência dos filtros esse valor
tender a aumentar progressivamente demonstrando que a tecnologia é de grande valia.
Sendo assim, entende-se que a água de chuva pode servir para economizar a água vinda da
concessionária e que este valor pode chegar a 100% se forem usados filtros eficientes que
retirem as impurezas e os agentes patogênicos. Neste caso a água também pode ser usada para
banho como ocorre em algumas ecovilas
82
.
Para o dimensionamento dos reservatórios precisa-se da precipitação pluviométrica do local,
da área de captação, do consumo estimado além do espaço disponível e o volume de água que
se pretende recolher (MARINOSKI, 2004, p.3).
Para definir o volume da água da chuva aproveitada deve-se considerar a perda da água
referente à limpeza do telhado nos primeiros momentos de chuva, a evaporação da mesma em
torno de 20% das precipitações anuais em telhados sem vegetação
83
, 50% em telhados com
vegetação extensiva e 70% nos de vegetação densa. O tamanho das cisternas pode ser
estimado entre 7 e 10% das precipitações anuais presumidas sobre a área que receberá as
mesmas, isto sem retirar o fator de evaporação. Entende-se portanto que o volume de chuva
captado não é o mesmo que o volume de precipitação pluviométrica (KOLB, 2003, p.7;
MARINOSKI, 2004, p.3). Kolb indica a implantação das cisternas sob o solo porque há
menos proliferação de agentes patogênicos e germes.
Os exemplos abaixo demonstram que a implantação dessa tecnologia ambiental é uma
realidade no Brasil e possuem um funcionamento modelo, conforme mencionado.
Exemplos do uso da água de chuva
Centro de Técnicas de Construção Civil (CTCC) da Escola Politécnica (São Paulo)
Em 2001, o CTCC implantou a tecnologia ambiental de captação, armazenamento e utilização
da água de chuva para limpeza de vasos sanitários, calçadas e pátios, irrigação de jardins e
lavagem de veículos do próprio Centro diminuindo o uso da água tratada pela concessionária
82
O estudo de caso desta pesquisa. O Parque Ecológico Visão Futuro, utiliza a água de chuva para todas as ações
humanas, exceto para beber.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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154
local. O outro interesse foi a verificação da qualidade de amostras dessa água.
A técnica utilizada tem um funcionamento simples: as calhas recebem um filtro para impedir
a entrada de folhas, galhos e outras impurezas a água; e para evitar o entupimento das
tubulações. A água proveniente dos primeiros 15 a 20 minutos de chuva é coletada e
armazenada em um pequeno reservatório porque traz impurezas encontradas nos telhados
como fezes de pássaros, ratos e gatos. Este reservatório fecha a entrada da água através de
uma bóia assim que está cheio e a água passa para uma caixa d’água com capacidade para 500
litros que está no nível do solo. Uma bomba leva água para outra caixa instalada na laje da
edificação para abastecer 2 sanitários (USP, 2005).
Figura 172 - Calha e tubulação para a coleta da água de chuva. Fonte: USP, 2005.
Neste sistema foram incluídos um vertedouro e um coletor automático de amostras. O
primeiro realiza a leitura da vazão da água e o segundo verifica a qualidade da água para que
se possa propor um tratamento para consumo não potável e sem prejudicar a saúde. Para
completar os responsáveis pela implantação da tecnologia pretendem instalar um dosador de
cloro para desinfetar a água e este deverá ser localizado entre a bomba e o reservatório
(ERENO, 2005).
Figura 173 - Vertedouro: vazão da água. Figura 174 - Coletor automático:qualidade da água.
Fonte: USP, 2005. Fonte: USP, 2005.
As amostras indicaram que há existência de coliformes fecais de animais como pássaros,
gatos e ratos além de outras bactérias, e só pode ser usada para higiene pessoal ou lavagem de
roupas se for tratada e for confirmada a sua pureza. Para irrigação de plantas, lavagem de
83
Segundo Kolb, os telhados verdes, isto é, telhados com cobertura vegetal, diminuem a captação da água de
chuva porque uma porcentagem da mesma fica retida no solo existente no telhado.
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CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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calçadas e carros ela não precisa ser filtrada e pode ser aproveitada para tais fins (ERENO,
2005).
Cisternas no sertão nordestino brasileiro
As cisternas no sertão nordestino brasileiro estão sendo implantadas pelo governo federal
através da campanha “Fome Zero” e por ONG’s como a “Amigos do Bem”. O sistema
construtivo utilizado pelas instituições é similar e será mostrado através de fotos incluindo as
de cisternas já implantadas em algumas partes da região Nordeste.
A cisterna é confeccionada usualmente em ferrocimento
84
devido ao baixo custo e boa
eficiência do produto e a parede da cisterna possui em torno de três centímetros de espessura.
São seguras contra vazamento, a forma circular dá ao reservatório resistência suficiente para
suportar até 500 mil litros e se não houver entrada de luz podem armazenar água por meses.
Segundo o IPEC (2004) o ferrocimento assegura as seguintes vantagens às cisternas
fabricadas com esse material: custo mínimo por volume armazenado devido a espessura da
parede não ultrapassar os 3 cm, tecnologia de fácil domínio popular e viável em locais de
difícil acesso, construção no local, garantia da qualidade da água armazenada se não houver
entrada de luz alem de não necessitar de formas para fabricá-las.
Figura 175 - Locação e marcação do diâmetro da cisterna para futura fabricação. Fonte:
<http://www.febraban.org.br/ arquivo/destaques/destaque-fomezero.asp>. Acesso em: 15 jan.2005.
Figura 176 - Colocação da estrutura em ferro. Fonte: http://www.ecocentro.org/galeria/ ferrocimento/
index.htm. Acesso em: 15 jan.2005.
84
Uso de cimento com vergalhões de ferro para melhorar a resistência do produto final: a cisterna.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 3: AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS E A GESTÃO DA ÁGUA
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Figura 177 - Construção da cisterna em sistema de mutirão. Fonte: http://www.ecocentro.org/galeria/
ferrocimento/index.htm. Acesso em: 15 jan.2005.
Figura 178 - Emboço das cisternas. Fonte: <http://www.ecocentro.org/galeria/
ferrocimento/index.htm>. Acesso em: 15 jan.2005.
Figura 179 - Cisterna construída. Fonte: http://www. ecocentro.org/galeria/
ferrocimento/index.htm. Acesso em: 15 jan.2005.
Figura 180 - Cisterna de água de chuva no sertão nordestino. Fonte: http://www.amigosdobem.org/
img/projeto/3-8.jpg. Acesso em: 15 jan.2005.
Figura 18112 - Cisterna de água de chuva de uma habitação no nordeste. Fonte: http://www. smi.
org.br/cultura/sertao_arquivos/image013.jpg. Acesso em: 15 jan.2005
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
157
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
O Parque Ecológico Visão Futuro foi escolhido como o estudo de caso desta pesquisa porque
a gestão da água ainda está em desenvolvimento em grande parte das ecovilas brasileiras, não
sendo possível conseguir outro exemplo com a gestão implantada de forma abrangente como
ocorre no Parque.
Também se tentou privilegiar o método semidiretivo que consistia em enviar um
questionário
85
para 100 ecovilas nacionais e internacionais e interpretar os dados a partir das
respostas recebidas, mas não foi possível porque não se obteve resposta. A 1ª visita para
conhecer o Parque ocorreu durante a realização de um curso no local nos dias 13 e 14 de
novembro de 2004, e a 2ª visita para aprofundamento da pesquisa ocorreu no período de 1º a 4
de dezembro do ano de 2005.
Após este pequeno esclarecimento, já se torna possível iniciar a síntese deste capítulo. Ele
aborda a origem e evolução da ecovila Parque Ecológico Visão Futuro relatando sua estrutura
econômica, política e social. Descreve a arquitetura existente e as tecnologias ambientais
adotadas, em especial as referentes à gestão da água relacionando-as com o uso observado no
assentamento. Os dados qualitativos e a sua interpretação são corroborados pela iconografia
obtida durante visita ao local.
4.1- História e localização da ecovila
Tendo como slogan “um modelo viável para um futuro harmonioso”, o Parque teve sua
história iniciada com uma norte-americana chamada Susan Andrews. Em 1992, Susan veio ao
Brasil para participar da Conferência da ONU, a Rio 92, e se encantou com o país por
acreditar que o Brasil tem o destino de oferecer uma grande solução de harmonia integral
para o mundo”
86
. Resolveu implantar uma ecovila que trabalhasse para o surgimento de uma
sociedade mais solidária, cooperativa e espiritualizada que se tornasse um modelo de
desenvolvimento rural integrado.
85
O questionário encontra-se em Apêndices.
86
Susan Andrews concedeu entrevista para o Programa “Globo Ecologia” dedicado ao Parque Ecológico Visão
Futuro. O programa foi exibido no canal de TV a cabo Futura e na emissora de TV aberta Rede Globo no ano de
2003 e reprisado em 2004.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
158
A escolha da cidade de Porangaba, mas especificamente a área da ecovila, deve-se
exclusivamente a vontade pessoal de Susan Andrews que gostou e aprovou o local após
conhecer uma chácara que estava à venda na região. A mesma lhe foi mostrada por uma
pessoa conhecida que possuía propriedades naquela área.
Através da ONG Fundação Globetree da Suécia, Andrews conseguiu apoio financeiro dos
governos sueco e alemão (Agência Internacional de Desenvolvimento Sueco e a Fundação de
Tecnologia Alternativa em Frankfurt) para comprar o terreno onde hoje se encontra o Parque,
para a construção do primeiro dormitório e para a ampliação da cozinha existente.
Na época havia apenas uma residência em madeira
87
e uma edificação que posteriormente
recebeu o nome de casa central, mas era importante construir um refeitório e parte da cozinha
da casa e para isso a força de trabalho volunrio, as doações vindas de várias partes do
mundo e principalmente os cursos ministrados na ecovila foram o suporte financeiro
necessário para tal realização (VISÃO FUTURO, 2004; GUDME, 2005).
A intenção inicial era transformar o local em um centro de educação ambiental para jovens,
adultos e crianças de escolas da região, mas atualmente além deste interesse a ecovila tem
como meta demonstrar que uma comunidade rural é capaz de manter suas necessidades
alimentares e a estabilidade financeira priorizando a conservação dos recursos naturais e o
respeito à natureza. Prova disto é a certificação de especialistas suecos em meio ambiente que
definiram a ecovila como uma “pequena fazenda de mínima entropia” (VISÃO FUTURO,
2004); devido a sua auto-suficiência em alimentos, remédios, energia e educação, além da
gestão da água, pouco desperdício e prevenção constante da degradação ambiental.
87
A casa em madeira a que se refere o texto é aquela em frente ao “labirinto mandala” e onde moram Susan e
Rosane (responsável pela área administrativa).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Figura 182 - Mapa ilustrativo do Parque Ecológico Visão Futuro. Fonte: RAINHO, 2005.
A ecovila Parque Ecológico Visão Futuro, ecovila brasileira integrante da GEN, da ENA e da
ENA-Brasil, está localizada a 700 metros acima do nível do mar entre as cidades de Quadra e
Porangaba, no Estado de São Paulo, região Sudeste do Brasil.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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160
Figura 183 - Localização do Estado de São Paulo. Adaptado pela autora.
Fonte: http://www.guiageo.com/brasil-mapa.htm. Acesso em 30 mai.2005.
O Parque localiza-se geográfica e politicamente na cidade de Porangaba, latitude 23º11’ e
possui clima subtropical com inverno seco propenso a possíveis geadas nos meses de junho e
julho principalmente nas áreas mais baixas (DOMINGUES, 2003, p.28; PMP, 2005).
O local onde se encontra a ecovila pode ser identificado com apenas duas estações: uma
estação chuvosa no período de novembro a março; e outra estação mais seca, fria e com mais
ventos no período de abril a outubro (GUDME, 2005)
88
. Os índices climáticos incluem
temperatura média anual de 21,5
o
C, vento sudeste como vento dominante e índice
pluviométrico oscilando entre 1100 e 1300mm, que pode chegar a média anual de 2065mm
(DOMINGUES, 2003, p.28; PMP, 2005).
88
Não há dados oficiais disponíveis sobre as características do verão na cidade de Porangaba e da ecovila.
Utilizou-se as informações fornecidas pelo coordenador de comunicação social do Parque, Niels Gudme, durante
entrevista concedida à autora, por email, em 19 de julho de 2005.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Figura 184 -Localização de Porangaba no Estado de São Figura 185 - Localização da ecovila na região entre
Paulo. Fonte: http://www.guianet.com.br/sp/ mapasp.htm. Porangaba e Quadra. Fonte: DER SP, 2005.
Acesso em: 30 mai.2005.
Figura 186 - Acesso ao Parque. Adaptado pela autora (sem escala). Fonte: VISÃO FUTURO, 2004.
A distância de Porangaba à capital do Estado de São Paulo é de 168 km. A viagem em veículo
de passeio relativa a esta distância equivale a quase 3 horas de viagem
89
e em transporte
rodoviário (ônibus) por volta de 3:30 horas.
O Parque está localizado no km 162 da Rodovia Castelo Branco - SP 280 no mesmo endereço
oficial da cidade de Porangaba
90
, e para chegar a este destino se deslocando de São Paulo
(capital) por meio de transporte rodoviário coletivo ou metrô deve-se chegar ao Terminal
Rodoviário da Barra Funda e então ir, em outro transporte rodoviário, até a dita rodovia no
quilômetro já mencionado. A partir da Rodovia, após contornar e passar por baixo dela, entra-
se em uma estrada de barro onde só transitam veículos de pequeno porte como carros de
passeio, transporte alternativo com capacidade máxima para 10 pessoas
91
e carro de boi. A
89
A capital de São Paulo foi utilizada como ponto de partida da viagem para facilitar o entendimento acerca do
percurso. A duração da viagem da capital do Estado do Rio de Janeiro até a ecovila é de quase 9 horas, caso o
meio de transporte seja o ônibus.
90
Esta localização é encontrada na página oficial da prefeitura de Porangaba na rede mundial de computadores.
91
O transporte mais utilizado é um veículo popularmente conhecido como Kombi ou perua, fabricado por uma
montadora de veículos automotores, a Volkswagen.
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LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
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viagem dura 20 minutos até a entrada do Parque e durante o percurso, a calmaria, a
tranqüilidade e a paisagem de grandes áreas verdes faz com que se esqueça do agito do
ambiente urbano.
Figura 187 - Vista da entrada do Parque Ecológico Visão Futuro. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 188 - Placa na entrada. Fonte: RAINHO, 2005.
O Parque tem área em torno de 100ha (100 mil m
2
) dividida por uma estrada de terra, a
mesma que leva à Rodovia e que dá acesso também a terrenos de outros proprietários. Em
uma parte do terreno encontram-se os dormitórios para visitantes denominados “Sol e Lua”,
“Céu”, “Pomar” e “Borboleta”, recepção, loja, cozinha, refeitório redondo (comunitário),
salas para os cursos (no dormitório “Sol e Lua”), Sala das Nuvens, sala de meditação, salão
grande para aulas de teatro e dança, pomar, horta circular, laboratório de produtos naturais e
Centro Ananda (local para massagens terapêuticas e outras terapias).
Na outra área do terreno estão a padaria, o dormitório “Mandala”, o centro de artes mais
conhecido como casa de rawa, as duas construções pertencentes a creche, a “casa da
agricultura”, a maioria das casas dos moradores, tratamento biológico das águas pluviais, a
primeira casa modelo com captação e armazenamento de águas pluviais, grande parte do
pomar e 3 açudes de água de chuva.
estacionamento
coberto
estacionamento
descoberto
salão grande
(dança, teatro)
fileira de pinheiros
entrada do
Parque
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163
Figura 189 - Vista da estrada de terra e da área onde estão a maioria das residências.
Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 190 - Vista de um acesso á área onde estão a maioria das residências.
Fonte: RAINHO, 2005.
Foram adquiridas pequenas áreas de vegetação nativa, vizinhas à propriedade da ecovila, para
conservação da biodiversidade, reflorestamento, educação ambiental e para evitar queimadas
próximas a comunidade. Neste último item o Parque faz um trabalho de conscientização
ambiental com moradores da região para utilizarem outro método no preparo do terreno para
um futuro plantio.
Figura 191 - Vegetação nativa ao lado do salão grande.
Fonte: RAINHO, 2005.
dormitório
“Mandala"
pomar
estrada
de terra
área onde está grande parte
da infra-estrutura do Parque
açude
(lago)
p
omar
estrada de
terra
residências
vegetação
nativa
salão
grande
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164
Figura 192 - Atividade dentro da floresta. Fonte: ZUNINO, 2004.
Quanto à novas edificações, havia planos de construir um condomínio de residências com
projeto de arquitetura voltado para as tecnologias ambientais e o bioclimatismo, mas este
projeto foi adiado por tempo indeterminado devido a falta de apoio financeiro.
4.2- Estruturas social, jurídica e econômica
Estrutura social
A ideologia da ecovila
92
, isto é, a “cola” é a espiritual/social com planos futuros para a
inclusão da questão ecológica, pois os coordenadores do Parque, Susan Andrews
93
e Niels
Gudme
94
, acreditam que já obtiveram respostas positivas no binômio espiritual-social e
podem a partir de então, enfocar os trabalhos e as atividades na ecologia principalmente na
arquitetura e nas TA’s.
Para morar no Parque é necessário participar do curso de biopsicologia
95
para que a pessoa
interessada se identifique com a “cola”. Após o curso deve estar disposta a participar das
práticas existentes no Parque como meditação, yoga, dieta lacto-vegetariana, além de oferecer
um tipo de trabalho que seja interessante para algum dos setores do Parque. Este trabalho
92
É costume os habitantes adotarem um nome espiritual quando vão morar na ecovila: Susan é Dídi; Niels é
Naviim, Rosane é Rocinii e Luís Carlos é Lila Dahra. Eles mesmos escolheram seus próprios nomes.
93
Susan Andrews é a coordenadora do Parque, Formada em antropologia e mestre em psicologia e sociologia,
ministra praticamente todos os cursos existentes no Parque.
94
Niels Gudme é coordenador de comunicação social do Parque. Formado em Engenharia de Produção pela
UFRJ. Ministra palestras sobre “pegada ecológica” para os visitantes aos domingos, faz a traduções dos livros de
Susan e faz as revisões teóricas do curso de biopsicologia. Foi morar na ecovila entre os anos de 2000 e 2001.
95
Para o endocrinologista Dr. Louis Berman “a ciência da biopsicologia é um sistema de treinamento físico e
mental para desenvolver equilíbrio emocional através do controle das suas próprias “moléculas de emoção””
(apud VISÃO FUTURO, 2004). Ajuda a modificar as complexas respostas bioquímicas do ser humano para
aperfeiçoar o desempenho, melhorar a saúde, experimentar a felicidade interior – e criar um futuro luminoso
para si e para o mundo ao redor (VISÂO FUTURO, 2004).
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165
seria um estágio não remunerado de 90 dias com direito apenas a moradia e comida e estaria
sob a responsabilidade do setor que a aceitou. Após este tempo, se o setor entender que pode
pagar um salário de acordo com sua função e acomodá-la, a mesma deverá formalizar por
escrito seu interesse em ser moradora da ecovila. Este pedido é submetido a um colegiado
composto pelos moradores mais antigos onde através de uma votação vão aceitar ou
desconsiderar o pedido.
Para que a harmonia seja constante na ecovila e os problemas resolvidos de forma breve e
justa, são feitas reuniões semanais às segundas-feiras entre todos os moradores e onde são
colocados em pauta um ou mais assuntos. Podem ser problemas de relacionamento entre
alguns moradores se os mesmos não conseguiram resolvê-los entre si, problemas do Parque,
assunto espiritual e até mesmo uma reunião do grupo para brincar, dançar e cantar
aumentando a convivência e a integração entre eles. Segundo o chefe de cozinha Luís Carlos
96
toda quarta-feira há um jantar comunitário após um momento de meditação para que a união e
o entrosamento entre os habitantes sejam constantes e prazerosos.
O Parque Visão Futuro é o terceiro maior empregador da região contabilizando, até julho de
2005, 45 funcionários com carteira assinada, entre agricultores para plantio, colheita e
manutenção da horta e do pomar, jardineiros para manutenção da área verde, técnicos
ambientais, fisioterapeutas, farmacêuticos, contadores, cozinheiras para a padaria e cozinha
entre outros (GUDME, 2005).
Há 18 moradores
97
e das 7 residências nem todas estão ocupadas, pois alguns moradores
dividem uma mesma residência e outros se acomodam em uma edificação com alojamentos
individuais. Já os funcionários têm suas próprias casas localizadas em bairros e loteamentos
próximos à ecovila.
Estrutura jurídica
No aspecto jurídico, foi criada a ONG Instituto Visão Futuro para representar oficialmente a
ecovila perante o governo e a sociedade civil. Dessa forma o Parque firma parcerias com o
setor público e/ou privado, contrata pessoas de forma legal e correta (carteira assinada) e
participa das seleções de projetos de cunho ambiental ou social para a captação de recursos
96
Luís Carlos, conhecido na ecovila como Lila Dahra, concedeu entrevista gravada a autora no dia 02 de
dezembro de 2005 durante estadia da mesma na comunidade.
97
Informação obtida junto a Niels Gudme em entrevista concedida à autora, por email, em 19 de julho de 2005.
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166
financeiros oriundos de órgãos públicos e privados, entre outras ações. O Instituto Visão
Futuro tem sede na ecovila e como toda a ONG segue as leis tributárias do 3º Setor.
A partir de então a ONG se tornou representante oficial da ecovila e o terreno foi registrado
como sua propriedade. Isto significa que a ONG é a responsável por tudo inserido no terreno,
inclusive pela construção, reforma e manutenção (consertos, instalações e pinturas) das
edificações e das tecnologias.
O direito sobre a terra e sobre as edificações também pertence a ONG tornando possível que
os projetos de futuras edificações e a ampliação das tecnologias ambientais possam ser
estudados para o terreno como um todo priorizando o conforto ambiental de toda a
comunidade. Todos os moradores estão cientes disso e sabem que não possuem nenhum
direito sobre o terreno e a residência onde habitam pois vivem sob o regime de comodato
98
.
Estrutura econômica
No aspecto econômico, enquanto não obtêm o grau de sustentabilidade que almejam em todos
os aspectos (espiritual, social, econômico e ambiental), os cursos
99
ministrados por Andrews e
Gudme são as principais fontes de recursos responsáveis financeiramente pela manutenção da
ecovila. Outras fontes de renda definidas como setores são: Padaria, Agricultura, Laboratório,
Centro Ananda
100
e Publicações. A princípio todos esses setores devem se sustentar e gerar
um excedente para que possam auxiliar na manutenção e estrutura do Parque.
SETOR DESCRIÇÃO
Seminários cursos e eventos que são realizados na ecovila.
Padaria produtos fabricados na cozinha industrial da padaria
Agicultura produtos plantados na horta e no pomar (alface, feijão, arroz)
Laboratório
produtos naturais como shampoo, condicionador, óleos para massagem,
remédios fitoterápicos.
Centro
Ananda
terapias alternativas: massagem, aromaterapia, cromoterapia.
Publicações livros escritos por Susan e traduzidos por Niels.
98
Regime de comodato é entendido como o direito de moradia sem pagamento de aluguel e sem direito sobre o
imóvel. No caso da ecovila, o morador que desistir de viver na ecovila devolverá a casa para que possa ser
habitada por outro indivíduo interessado em morar na comunidade.
99
Os cursos fazem parte do setor Seminários.
100
O Centro Ananda trabalha o binômio corpo-mente através de massagem, aromaterapia, cromoterapia além de
outras terapias alternativas.
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O controle financeiro de cada um desses setores ocorre através de um sistema denominado
pela administração do Parque como “sistema de bolhas”. As bolhas possuem cores e cada cor
equivale a um grau de sustentabilidade financeira que os setores devem alcançar.
BOLHA GRAU DE SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DO SETOR
vermelha não consegue se sustentar necessitando de investimentos de outros setores.
amarela consegue pagar apenas suas despesas, mas não existe excedente.
verde consegue pagar suas despesas e auxilia nas despesas básicas
101
da ecovila.
dourada
consegue pagar suas despesas, auxilia nas despesas básicas e contribui com
um excedente a mais para investir na ecovila.
O único setor incluso na bolha dourada é o setor “Seminários” (cursos) e este é o basicamente
que mantém a ecovila. A maioria está na amarela e apenas o setor “Publicações” está na bolha
verde.
BOLHAS SETORES
vermelha Centro Ananda
amarela Padaria, Agricultura, Laboratório
verde Publicações
dourada Seminários
No ano de 2005 a agricultura foi inserida na bolha amarela devido ao plantio de culturas
(feijão, milho e arroz) com maior produtividade. Apenas como informação adicional, a
produção orgânica da agricultura era vendida somente na região, pois o gasto com o
transporte para levá-la até São Paulo, um mercado sabidamente maior e mais aberto a este
tipo de produto, era inviável. Atualmente a produção é vendida para a cozinha dos moradores,
para a cozinha dos funcionários, creche e setor “Seminários” em épocas de eventos. Esta
venda não utiliza dinheiro e sim números para o controle administrativo e a organização no
sistema de bolhas.
Figura 193 - Horta circular. Fonte: RAINHO, 2005.
101
As despesas básicas podem ser entendidas como as despesas necessárias para a ecovila conseguir pagar todas
as contas evitando saldo negativo mensal, mas sem excedente.
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Figura 194 - Pomar. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 195 - Estufa com mudas de plantas. Fonte: RAINHO, 2005.
A loja do Parque e os setores “Padaria” e “Agricultura” vendem seus produtos aos domingos
logo após o almoço quando há evento. Na loja há diversidade de produtos como roupas,
produtos fabricados no Laboratório, CD’s, artesanato, livros e outros itens relacionados a
preocupação com o binômio corpo-mente. Já os produtos da padaria e da agricultura são
vendidos em mesas de madeira próximas à loja e entre eles estão alface, feijão, arroz, pão
integral panetone, granola e bolo.
Figura 196 - Interior da loja (produtos a venda).
Fonte: RAINHO, 2005.
loja do
Parque
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Figura 197 -Produtos da padaria. Fonte: RAINHO, 2005.
4.3- Arquitetura
A área do Parque é dividida em 3 alas: ala saúde, ala residencial e ala central. A ala saúde é
composta pelo laboratório, Centro Ananda e farmácia de manipulação; e um projeto futuro
pretende utilizar a construção em madeira que atualmente serve como residência (a que está
ao lado da farmácia) como parte integrante do setor saúde e a piscina localizada atrás da
habitação será transformada em piscina de hidroterapia para complementar o Centro
Ananda
102
.
Figura 198 - Vista da futura “ala saúde” Fonte: RAINHO, 2005.
A ala central é a mais utilizada durante eventos, cursos e seminários e lá estão os dormitórios
“Borboleta”, “Sol e Lua”, “Pomar”, a casa central, refeitório, sala das nuvens e outros. A ala
residencial é formada pelas residências implantadas próximas ao pomar.
Em toda a área do Parque há 60 construções, que nesta pesquisa, foram divididos em 7 tipos
de uso: dormitórios, residências, saúde, agricultura, educação/cultura, apoio e locais de
contemplação/lazer.
102
Informações obtidas com Rosane, responsável pela área administrativa do Parque, durante entrevista gravada
na ecovila no dia 2 de dezembro de 2005.
residência em
madeira
Centro Ananda
laboratório
p
iscina
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Figura 199 - Parque Ecológico Visão Futuro. Mapa esquemático do uso geral das edificações.
Fonte: RAINHO, 2005.
As construções estão distantes entre si de 3 a 10 metros. A maioria tem formato hexagonal ou
derivado dele e praticamente todas possuem grandes varandas. Entre elas há um gramado
verde com caminhos definidos por grandes pedras.
Figura 200- Distância entre as construções e o caminho em pedras. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 201 - Distância entre as construções. Fonte: RAINHO, 2005.
grandes
pedras
grandes
pedras
rece
ão
dormitório
“Sol e Lua
acesso às construções
e ao Parque
residências
mata
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Segundo Niels Gudme (2005), o planejamento para a localização e posterior construção das
edificações para os dormitórios dos visitantes, residências dos moradores, padaria, refeitório,
cozinha e horta circular ocorreu de acordo com as necessidades do Parque. As primeiras
foram implantadas em formato retangular, mas a partir de um determinado momento
103
iniciaram o uso de ângulos de 60
o
por acreditarem ser esta a forma mais harmoniosa da
natureza, exemplificados pelas colméias de abelhas e os flocos de neve.
A maioria das edificações tem estrutura de concreto, fechamento (paredes) com tijolo furado
de barro e telhado com telhas de barro. Niels Gudme
104
informou que devido a rápida
evolução da ecovila houve a necessidade de construir algumas acomodações para os
visitantes, porém a falta de mão de obra especializada para a implantação de métodos
construtivos de baixo impacto ambiental levou o Parque a optar por este sistema de
construção. Um exemplo desta situação é a cozinha nova dos moradores (e do setor
“Seminários”) que precisou ser construída com urgência, pois a antiga era pequena e estava
próxima às salas onde são ministrados os cursos, o que causava incômodo devido aos sons
emitidos durante o preparo das refeições.
Figura 202 - Cozinha nova em construção: tijolo de Figura 203 - Cozinha nova construída (2005).
barro e estrutura em concreto (2004). Fonte: RAINHO, 2005.
Fonte: RAINHO, 2005.
103
Niels Gudme não soube precisar a data de início das construções com ângulos de 60
o
.
104
Niels Gudme fez algumas declarações durante seminário realizado nos dias 13, 14 e 15 de Novembro de
2004, época em que a autora visitou a ecovila pela primeira vez.
cozinha
dormitório
Céu
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Dormitórios
Os dormitórios são utilizados para acomodar os visitantes e participantes dos cursos
ministrados na ecovila e juntos têm capacidade para receber mais de 100 pessoas em um
mesmo evento. São eles: “Borboleta”, “Sol e Lua”, “Pomar”, “Céu” e “Mandala”.
Os dormitórios “Borboleta” e “Sol e Lua” estão próximos e implantados na área onde se
concentra a maioria das edificações do Parque. Possuem varandas sombreadas, pilares de
concreto que sustentam os telhados com telhas de barro e o entorno é formado por área
gramada, árvores frutíferas e árvores floridas.
Figura 204 - Planta baixa esquemática do
dormitório “Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 205 - Dormitório “Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2005.
fig. abaixo
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Figura 206 - Planta baixa esquemática do dormitório
“Sol e Lua”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 207 - Dormitório “Sol e Lua”. Fonte: RAINHO, 2005.
O “Sol e Lua” tem em sua construção 2 salas para a realização dos cursos, para os moradores
assistirem filme e até mesmo para reuniões entre os eles. A sala mais usada nos eventos é
denominada “Lótus” que se localiza no centro da construção e tem suas paredes pintadas com
motivos da natureza (arco-íris, flor de lótus, etc). A sala ao lado dela, embora não tenha nome,
é um ambiente agradável composto por um sofá, cadeiras e poltronas em vime e adornos
artesanais.
Figura 208 - Sala Lótus. Figura 209 - Sala ao lado da Lótus.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
fi
g
. abaixo
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Figura 210 - Pintura na sala Lótus. Figura 211 - Pintura na sala Lótus.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Em ambas as construções os quartos acomodam de 4 a 8 pessoas, sendo que o “Borboleta”
tem capacidade total para 32 pessoas e o “Sol e Lua” para 28 pessoas. Os banheiros são
coletivos e comportam 2 chuveiros e 2 bacias sanitárias com divisões individuais em alvenaria
de tijolo além de 4 lavatórios.
Figura 212 - Quarto coletivo para 4 pessoas Figura 213 - Quarto coletivo para 8 pessoas
(Borboleta). Fonte: RAINHO, 2005. (Sol e Lua). Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 214 - Banheiro coletivo (Borboleta). Figura 215 - Banheiro coletivo (Sol e Lua).
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
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175
O dormitório “Pomar” acomoda em torno de 8 pessoas sendo 2 pessoas por cada quarto e tem
proximidade com os dormitórios mencionados anteriormente, a estrada de barro que divide a
área do Parque e a alameda de pinheiros. Possui formato hexagonal com beiral em torno de
70cm, telhas de barro e o mesmo material de construção utilizado nas demais edificações. O
dormitório é destinado a pessoas com dificuldades motoras e palestrantes.
Figura 216 - Planta baixa esquemática do dormitório
“Pomar”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 217 - Dormitório “Pomar”. Fonte: RAINHO, 2005.
O dormitório “Céu”
105
foi construído entre os anos de 2004 e 2005 ao lado da nova cozinha
dos moradores e acomoda em torno de 15 pessoas.
105
A autora não teve acesso ao interior do dormitório “Céu”, sendo este o motivo pelo qual não foi possível
desenvolver a planta baixa esquemática do mesmo, conforme os demais dormitórios.
fi
g
. abaixo
alameda de
p
inheiros
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Figura 218 - Dormitório “Céu”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 219 - Acesso ao dormitório “Mandala Figura 220 - Dormitório “Mandala” (2005).
(2004). Fonte: RAINHO, 2004. Fonte: RAINHO, 2005.
O dormitório “Mandala”
106
estava em reforma durante a 2ª visita da autora desta pesquisa
devido a necessidade de melhoria e aumento dos banheiros e tem capacidade para cerca de 20
pessoas. O “Mandala”, apelidado de “pizza” pelos moradores devido ao formato dos quartos
em fatias de pizza, tem seu acesso formado por um caminho florido conforme observado na
figura acima.
Residências
Quanto às residências, elas foram construídas na área localizada no outro lado da estrada de
terra junto ao pomar. Esta área é denominada “ala residencial” e as edificações são habitadas
pelos moradores. Apenas 1 residência está fora desta ala, mas isso é perfeitamente entendido
pois a dita construção já existia e futuramente fará parte da ala saúde. Das 8 residências 2 são
em madeira e as demais são em tijolo de barro e estrutura de concreto.
Entre as de madeira, a que está próxima à “Horta Circular” e ao “Jardim da Paz” tem a origem
106
Dormitório Mandala: idem nota anterior.
Mandala
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da matéria-prima desconhecida por parte dos coordenadores, pois já existia na época em que a
propriedade foi comprada. A outra em madeira está perto das demais residências e não segue
o mesmo padrão construtivo além de ser a única com 2 pavimentos.
Figura 221 - Residência em madeira. Figura 222 - Residência em madeira de origem desconhecida.
Fonte: ZUNINO, 2004. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 223 - Residência em formato hexagonal. Figura 224 - Residência em formato hexagonal.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
As demais residências possuem o mesmo padrão construtivo e formato hexagonal ou derivado
e dentre elas apenas 2 foram construídas com algumas tecnologias ambientais para a gestão da
água que será enfocado mais adiante.
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Figura 225 - Vista de algumas residências. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 226 - Residência. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 227 - Residência. Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 228 - Alojamentos individuais. Fonte: RAINHO, 2004.
Há também uma residência multifamiliar com 6 alojamentos individuais. Todas elas possuem
varanda coberta com mais de 1 metro de largura e seu entorno é cercado por vegetação
rasteira e de pequeno a médio porte.
casa em tijolo de barro
e estrutura em concreto
casa em
madeira
casas em tijolo de barro
e estrutura em concreto
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179
Saúde
As construções relacionadas à área da saúde fazem parte do Centro Ananda que é composto
por 4 construções: o laboratório que confecciona medicamentos naturais, a farmácia de
manipulação e 2 clínicas que aplicam terapias alternativas como aromaterapia, cromoterapia,
massagem e outras.
Figura 229 - Laboratório. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 230 - Laboratório. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 231 - Centro Ananda 1. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 232 - Centro Ananda 2. Fonte: RAINHO, 2005.
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180
Agricultura
As construções que pertencem a este tipo de uso são a estufa, o abrigo do trator e a casa da
agricultura. A estufa é um local onde as mudas de plantas germinam e permanecem protegidas
das intempéries até estarem prontas para serem plantadas na horta, no pomar e nas áreas de
vegetação para reflorestamento. O abrigo do trator é um local coberto para abrigar o trator e
outras máquinas utilizadas na agricultura.
Figura 233 - Estufa. Fonte: RAINHO, 2004. Figura 234 - Detalhe da estufa.
Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 235 - Abrigo do trator. Fonte: RAINHO, 2005.
A casa da agricultura engloba um compartimento para guardar as ferramentas e materiais
utilizados no plantio e colheita do pomar e da horta, a cozinha e o refeitório dos funcionários.
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181
Nela há também o relógio de ponto para registrar a entrada e a saída dos funcionários e uma
varanda com uma mesa em madeira utilizada para as refeições dos mesmos.
Figura 236 - Casa da agricultura. Figura 237 - Refeitório. Fonte: RAINHO, 2005.
Fonte: RAINHO, 2005.
Educação/cultura
Na área da educação e cultura tem-se a creche; o “salão grande”; camarim, centro de artes;
publicações e sala de meditação. Todas são em alvenaria em tijolo de barro com estrutura de
concreto e telhados com telha francesa ou portuguesa.
A creche denominada “Crescer” é composta por duas construções que distam entre si 5 a 8
metros e recebem respectivamente um salão para as brincadeiras e aulas de canto, e uma
pequena escola com salas de aula, refeitório e banheiro. Nesta última pode-se observar uma
varanda que praticamente a circunda levando para o interior a luz indireta vinda sol e
conseqüentemente evitando a incidência solar direta. É um projeto social totalmente gratuito
com um veículo do próprio Parque como meio de transporte para fazer o deslocamento das
crianças suas residências até a ecovila e vice-versa. As crianças passam o dia na ecovila:
fazem 3 refeições, tomam banho, brincam, desenham, recebem aulas de educação ambiental e
voltam para casa no final da tarde.
A creche aceita crianças de 2 a 6 anos que sejam filhas de moradores da região e embora
tenha capacidade para atender 30 crianças há apenas entre 15 e 20. Não se tem um número
exato e todas as vagas preenchidas devido a sazonalidade destes pequenos estudantes, pois
vários deles saem da creche quando os pais ficam desempregados e/ou vão buscar um novo
trabalho fora da região.
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Figura 238 - Salão da creche. Figura 239 - Escola da creche.
Fonte: RAINHO, 2004. Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 240 - Interior da creche. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 241 - Banheiro da creche.
Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 242 - Vista das construções pertencentes à creche. Fonte: RAINHO, 2005.
O “salão grande” é uma construção ampla utilizada para apresentação do grupo de teatro da
escola
salão
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ecovila, para as vivências dos eventos e para eventos da creche. Ao lado se encontra o apoio
que abriga o camarim e os banheiros dos atores.
Figura 243 - Salão grande. Figura 244 - Detalhe do beiral.
Fonte: RAINHO, 2004. Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 245 - Interior do “salão grande”.
Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 246 - Centro de artes. Fonte: RAINHO, 2005.
O centro de artes, observado na figura acima e mais conhecido como “casa de rawa”
107
, é o
local onde são feitos os ensaios do grupo de artes e também onde são guardados os cenários,
roupas e móveis utilizados nas apresentações e nas peças encenadas.
107
Rawa é a sigla de um termo sâncscrito. Rosane, responsável pela administração, não lembrava o significado.
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A área das publicações
108
ocupa um pequeno espaço em uma construção próxima ao “jardim
da paz”. Lá, Niels Gudme traduz os textos de Susan Andrews para serem publicados em
português. Os livros de Andrews também são vendidos na loja do Parque.
A sala de meditação encontra-se atrás do refeitório redondo comunitário próximo à casa
central. Acontecem aulas de yoga e meditação e todo aquele que respeitar o lugar por meio do
silêncio é sempre bem-vindo.
Figura 247 - Sala de meditação. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 248 - Detalhe do teto.
Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 249 - Interior da sala de meditação. Fonte: RAINHO, 2005.
108
A construção está envolvida por alguma vegetação, o que dificultou o registro fotográfico da mesma.
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Apoio
As construções pertencentes a este uso são: casa central, refeitório redondo comunitário,
cozinha e refeitório dos moradores, sala das nuvens, antiga cozinha dos moradores, padaria,
loja do Parque.
A casa central possui quartos, salas, refeitório e uma varanda com redes, plantas e móveis
rústicos para descanso e contemplação da natureza. Ao lado, em uma construção no formato
derivado do hexágono, se encontra o refeitório redondo comunitário com mesas e cadeiras em
estrutura de vime. Este refeitório é utilizado pelos visitantes, moradores, voluntários e
estagiários em dias de eventos ou em época de cursos/seminários.
Figura 250 - Casa central (frente). Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 251 - Casa central (fundos). Fonte: RAINHO, 2005.
acesso ao
refeitório
anti
g
o
varanda
(fundos)
varanda
(lateral)
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Figura 252 - Antigo refeitório da casa central. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 253 - Varanda da casa central (lateral). Figura 254 - Varanda da casa central (fundos).
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 255 - Refeitório redondo comunitário (exterior). Fonte: RAINHO, 2005.
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Figura 256 - Interior do refeitório redondo comunitário. Fonte: RAINHO, 2005.
A cozinha e o refeitório dos moradores, conforme já mencionado, estão em uma construção
erigida há pouco tempo. O refeitório é composto por uma mesa e bancos de madeira; fogão;
geladeira e bancada com pia, pois após as refeições cada morador lava a louça que usou. A
cozinha, industrial, fornece alimentação para os moradores e para visitantes e palestrantes
quando há eventos e cursos. Neste caso as refeições são servidas no refeitório redondo
comunitário.
Figura 257 - Interior da cozinha dos moradores.
Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 258 - Cozinha dos moradores. Fonte: RAINHO, 2005.
acesso ao refeitório acesso cozinha
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A “sala das nuvens” é uma construção isolada no meio da área verde, possui formato derivado
do hexágono e com telhado em telhas de barro. É utilizada para os cursos e se encontra ao
lado do “jardim da paz”.
Figura 259 - Sala das Nuvens. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 260 - Antiga cozinha dos moradores.. Fonte: RAINHO, 2005.
A construção que abrigava a antiga cozinha e refeitório dos moradores se encontra distante da
casa central em torno de 10 metros. Esta mesma construção também abriga a sala de
reciclagem que, na época da 2ª visita da autora, estava desativada.
A padaria foi implantada na área do Parque onde se encontram as residências dos moradores.
Possui varanda e os pilares em concreto sustentam o telhado sextavado composto por telhas
de barro.Tem como vizinhos o centro de artes e o dormitório “Mandala”.
Figura 261 - Padaria. Fonte: RAINHO, 2005.
p
adaria
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Figura 262 - Vista da padaria e construções vizinhas. Fonte: RAINHO, 2004.
Figura 263 - Loja do Parque. Fonte: RAINHO, 2005.
A loja do Parque foi erigida em madeira com matéria-prima vinda de uma empresa
especializada em casas de madeira pré-fabricadas. A loja abre somente quando ocorrem
eventos.
Contemplação/lazer (pérgolas, quiosques
109
e ambientes abertos)
Os locais de contemplação e descanso existem por toda a ecovila e podem ser encontrados
durante passeios que se abrem para um pequeno lago, vegetação por toda a parte, singelos
bancos de madeira ou até mesmo quiosques com cobertura em telha de barro e os móveis
utilizados são em vime e madeira. Há brinquedos em madeira para as crianças que estão em
frente ao dormitório “Sol e Lua” e criam um ambiente lúdico aumentando a conexão entre
homem e natureza.
109
No suplemento “Dicionário da Arquitetura” da Revista Arquitetura e Construção; quiosque é umpequeno
coreto. A origem da palavra é turca e denomina as pequenas construções, normalmente abertas, que realçam a
decoração de jardins” (1986, p.40).
p
adaria centro de artesdormitório Mandala
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Figura 264 - Bancos de madeira próximos ao dormitório Figura 265 - Ambiente próximo ao dormitório
“Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2005. “Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 266 - Quiosque próximo à casa central. Figura 267 - Quiosque próximo à padaria.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 268 - Local de contemplação próximo ao Figura 269 -Interior do local de contemplação.
“jardim da paz”. Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
móveis em
vime
estrutura em
madeira
bancos em madeira
e ambiente aberto
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Figura 270 - Brinquedos em madeira. Fonte: RAINHO, 2004.
Outro ambiente é o “labirinto mandala” que complementa a paisagem próxima a horta
circular, a residência em madeira e o Centro Ananda 2.
Figura 271 - Labirinto mandala em frente ao Centro Ananda 2. Fonte: RAINHO, 2004.
O jardim da paz fica ao lado da “sala das nuvens” e é circundado por vegetação de médio
porte. Em seu interior há caminhos que levam a vários ambientes de paz e tranqüilidade
ouvindo-se apenas o canto dos pássaros, sendo esses os motivos pelos quais o jardim recebeu
esse nome.
Figura 272 - Lago do jardim da paz. Fonte: RAINHO, 2005.
área
gramada
brinquedos
labirinto
mandala
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Figura 273 - Detalhe do lago. Figura 274 - Ambiente do jardim da paz.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 275 - Ambiente do jardim da paz. Fonte: RAINHO, 2005.
Há também um lago em frente ao refeitório redondo comunitário composto por pedras,
vegetação tendo ao lado alguns bancos em madeira e um pouco mais distantes uma mesa e
banco de madeira para quem tiver interesse em fazer as refeições ao ar livre ou conversar.
Figura 276 - Lago em frente ao refeitório redondo. Figura 277 - Mesa e bancos de madeira.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
As varandas cobertas dos dormitórios também são opções para quem está a procura de um
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lugar calmo, tranqüilo e agradável. No “Borboleta” também existe um recanto com móveis
em vime tendo uma iluminação natural indireta devido a existência de um domus.
Figura 278 - Convidativa varanda do dormitório
“Borboleta”. Fonte: ZUNINO, 2004.
Figura 279 - Varanda no dormitório ”Sol e Lua”. Figura 280 - Varanda do dormitório “Borboleta”.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 281 - Recanto no dormitório “Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2004.
paredes pintadas
com motivos da
n
atu
r
e
z
a
móveis em vime;
plantas finalizam
a composição do
ambiente
teto em madeira
com domus para
entrada de luz
natural
lago e mesa em
madeira ao lado
refeitório
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A iluminação externa para os gramados e caminhos em pedra também pode ser considerada
como parte integrante de momentos de contemplação, pois é feita com luminárias localizadas
no chão ou a altura de no máximo 30cm dele. Isto resulta em uma iluminação indireta e de
penumbra, indicada pela biopsicologia, porque muita luz à noite inibe a produção de
melatonina
110
prejudicando um sono noturno restaurador.
As luminárias se encontram no meio da vegetação e entre árvores, próximas aos caminhos em
pedra, do pequeno lago do “jardim da paz” e do lago em frente ao refeitório redondo criando
um ambiente propício para conversas sob a lua e uma caminhada tranqüila até seus quartos.
Figura 282 - Tipos de luminárias usadas na iluminação externa (indireta). Fonte: RAINHO, 2005.
4.4- Uso das tecnologias ambientais
111
Como já mencionado anteriormente, a sustentabilidade no quesito ambiental ainda é
insuficiente principalmente no que diz respeito à arquitetura, mais especificamente aos
métodos construtivos como já observados no item anterior. Em contra partida, para não tirar
da natureza mais do que ela pode repor, já estão implantadas as tecnologias referentes a
gestão da energia, dos resíduos sólidos e gestão da água, sendo que esta será desenvolvida
com enfoque mais aprofundado no item 4.5.
O uso das TA’s a que se refere este item abrange a descrição do funcionamento e manutenção
das tecnologias, sua aplicabilidade na ecovila, vantagens, desvantagens e como as pessoas se
comportam em relação a elas.
110
Melatonina - substância produzida pelo organismo humano que auxilia o sono noturno, também é conhecida
como sonífero natural.
111
Este item é resultado de pesquisas junto às seguintes fontes bibliográficas: página oficial na Internet do
Parque Visão Futuro e entrevista concedida pelo coordenador social Niels Gudme à autora.
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CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Figura 283 - Parque Ecológico Visão Futuro.Mapa esquemático das tecnologias ambientais.
Fonte: RAINHO, 2005.
Gestão de energia
No início do Parque havia geração de energia elétrica através da energia solar para a
iluminação das poucas construções existentes e para aquecimento da água, além da energia
eólica para retirar água do açude. Como o fluxo de pessoas na ecovila era pequeno essas
tecnologias atendiam a demanda, mas a ecovila começou um rápido processo de crescimento
e não foi possível expandir as técnicas para todas as construções que estavam sendo erigidas
devido a falta de suporte financeiro. A ala central foi a que mais recebeu estas tecnologias.
A energia consumida na ecovila ainda é essencialmente a que vem da concessionária local,
mas já foram implantadas as energias solar e eólica para o funcionamento de sistemas de
bombeamento de água de chuva reservada em açudes.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
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Figura 284 - Energia da concessionária e energia fotovoltaica
(açude). Fonte: RAINHO, 2005.
A energia elétrica vinda da concessionária é distribuída para todas as construções e apenas
alguns locais recebem energia elétrica produzida pela solar. Os ambientes atendidos por essa
técnica são a sala “Lótus” no dormitório “Sol e Lua”, um quarto e a cozinha da casa central,
sendo que cada local possui apenas uma lâmpada com luz gerada por essa tecnologia.
Figura 285 - Sala “Lótus” do dormitório “Borboleta”. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 286 - Painel fotovoltaico para a sala “lótus”. Figura 287 - Detalhe da lâmpada na sala “lótus”.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
única lâmpada
com energia
gerada por painel
solar fotovoltaico
lâmpadas:
energia
recebida da
concessionária
ventiladores:
energia recebida da
concessionária
local
painel
fotovoltaico
coletor
fotovoltaico
energia da
concessionária
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Figura 288 - Painel fotovoltaico da cozinha. Figura 289 - Detalhe da lâmpada na cozinha.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Para usufruir deste tipo de energia renovável foi aplicada uma tecnologia muito comum em
todo o mundo: os coletores solares fotovoltaicos, já desenvolvidos no capítulo anterior, que
estão nos telhados do dormitório e da casa central. Esta técnica ainda é considerada muito
onerosa, e na ecovila acreditam que polui visualmente devido a necessidade de implantar
vários coletores que geram eletricidade para poucos locais. Por isso, a ecovila está em busca
de técnicas mais acessíveis, fáceis de instalar e com pouca ou nenhuma poluição visual
112
.
Outro método utilizado no Parque é o uso deste tipo de coletor para o acionamento de uma
bomba. Ao transformar a energia solar em elétrica, os painéis fazem esta bomba funcionar
puxando água de um açude para ser levada em um duto, que está sob a terra, com destino aos
castelos d’água próximos a publicações. Esta TA está próxima à antiga cozinha dos
moradores e ao lado de outro açude que funciona com energia eólica.
112
Estas observações foram feitas pela responsável pela área administrativa, Rosane, durante entrevista no dia 2
de dezembro de 2005 à autora desta pesquisa.
painel
fotovoltaico
fig acima
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Figura 290 - Painel fotovoltaico da cozinha. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 291 - Detalhe: bomba e coletor. Fonte: RAINHO, 2005.
Quanto a energia eólica, há 2 cata-ventos que transformam esta energia em elétrica para
alimentar as respectivas bombas que puxam a água de açudes. O primeiro cata-vento está
próximo a antiga cozinha dos moradores e não tem turbina, portanto ao ser movimentado pelo
vento aciona uma bomba que está inserida nele e que puxa a água do açude e leva-a por meio
de um duto sob a terra para chegar ao castelo d’água com capacidade para 10 mil litros
d’água, mas isto será enfocado com mais detalhes no item referente a gestão de água da
ecovila.
p
ainel fotovoltaico
bomba
salão grande
antiga cozinha
dos moradores
bomba
painel
fotovoltaico
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Figura 292 - Cata-vento e açude. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 293 - Detalhe do cata-vento.
Fonte: ZUNINO, 2004.
O outro cata-vento está próximo a creche e possui o mesmo sistema do primeiro: puxa a água
do açude, passa por um duto sob a terra, porém leva a água para um tanque em espiral que
possui camadas de filtragem e plantas tipo aguapé para ser levada a um iglu de concreto.
Deste a água é bombeada para uma caixa d’água para ser utilizada. Também será enfocado de
forma mais detalhada no item 4.5.
Figura 294- Cata-vento próximo a creche.
Fonte: RAINHO, 2005.
Mesmo assim a produção de energia elétrica por meio de fontes renováveis é pequena e
insuficiente, por isso a energia produzida pela concessionária da região garante o
funcionamento da ecovila. Há um projeto futuro, que depende da aprovação e investimento do
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CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Ministério do Turismo para implantarem em todas as construções os aquecedores solares
ASBC da ONG Sociedade do Sol, já mencionado no capítulo 3, para substituir a energia dos
chuveiros pela energia solar através do aquecimento da água gerando economia e diminuindo
a degradação ambiental oriunda do uso de fontes não-renováveis.
Figura 295 - Chuveiro elétrico. Fonte: RAINHO, 2005.
Gestão de resíduos sólidos
Antes de pensar no que fazer com o lixo, a ecovila pensa em como não gerar muito lixo e
evitar o uso de materiais que não evidenciam a preocupação com a natureza. Um exemplo é o
tipo de brinquedo colocado na creche: eles são produzidos por uma fábrica que recicla
material como os utilizados para a confecção da gangorra e da casa com escorrega.
Figura 296 - Casa com escorrega e rede. Figura 297 - Gangorra. Fonte: RAINHO, 2005.
Fonte: RAINHO, 2005.
Outro exemplo é o tipo de papel utilizado em toda a ecovila. O papel comprado é sempre
reciclado e o valor torna-se viável, pois compram em grandes quantidades. Existe uma área do
Parque onde são colocados restos de obras e materiais que futuramente poderão ser utilizados.
p
neus
madeira
reciclada
parte de equipamento
de ginástica
madeira
reciclada
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Figura 298 - Área para armazenagem de materiais recicláveis. Fonte: RAINHO, 2005.
A gestão dos resíduos sólidos não foi desenvolvida através de cartilhas ou implantada por
técnicos, ela ocorreu de forma natural, pois a preocupação com o ambiente natural é constante
no Parque.
A separação do lixo orgânico e do lixo inorgânico é feita em dois locais. Para o lixo
produzido no refeitório redondo comunitário e construções adjacentes há 3 recipientes junto à
cozinha de apoio e cada um possui uma placa acima informando o tipo de lixo além de alguns
exemplos para que cada pessoa que está participando de um curso ou evento possa fazer a
separação de seu próprio lixo sem precisar de ajuda. São eles: não- recicláveis, recicláveis e
orgânicos.
Não-recicláveis - lâmpadas, esponjas de aço, cerâmica, porcelana e embalagens de biscoito;
Recicláveis - vidro, plástico, metal e papel seco;
Orgânico
- alimentos e guardanapos sujos.
Figura 299 - Separação do lixo próximo ao refeitório Figura 300 -Detalhe das placas.
redondo. Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
O outro local é destinado a separação do lixo produzido na cozinha dos moradores e
edificações próximas e se encontra na parte externa da cozinha, porém sem placas para
1
2
3
1
2
3
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indicação dos tipos de lixo. Após esta separação, todo o lixo orgânico é colocado em uma área
que foi denominada no Parque como “área de compostagem” localizada ao lado da estufa das
mudas de plantas. Esta área possui vegetação rasteira que recebe o lixo orgânico e em cima é
colocada uma camada de vegetação encontrada no chão da própria ecovila (gravetos, pinhas,
vegetação). Depois é coberto com um plástico para que essa mistura fermente ao receber sol e
se transforme em adubo: são algumas camadas de lixo e vegetação e no final cobertos por
plástico, mas ninguém soube precisar quantas camadas são colocadas. O importante para a
ecovila é que essa compostagem seja protegida das intempéries e torne-se um adubo rico para
o pomar e a horta.
Figura 301 - Separação do lixo da cozinha dos
moradores. Fonte: AUTORA
Figura 302 - Área de compostagem. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 303 - Detalhe da compostagem.
Fonte: RAINHO, 2005.
Os outros tipos de lixo têm destino diferenciado. Materiais recicláveis como vidros e plásticos
eram utilizados como matéria-prima em uma oficina de artes que está temporariamente
desativada e ainda está instalada na antiga cozinha dos moradores. Os papéis usados são
reutilizados pelo chefe de cozinha, pelas crianças da creche e para alguma produção de papéis
sendo muito pouco jogado fora.
Uma empregada da padaria
113
separa papelão, plástico, metal e vidro que não são reciclados
113
Esta empregada chamada Rose foi entrevistada pela autora.
vegetação e lixo orgânico
cobertos com plásticos
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
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pela ecovila e pelos moradores e vende obtendo uma renda extra. Os não recicláveis, inclusive
o papel higiênico, são levados até a Rodovia Castelo Branco para que o caminhão da
prefeitura de Porangaba recolha e leve para o lixão da cidade. Esta não é a melhor solução
para a visão de consciência ambiental existente na comunidade, porém ainda não conseguiram
idealizar um projeto de reciclagem que pudesse descartar a entrega deste lixo degradante para
o lixão.
Figura 304 - Antiga sala de artes: confecção de produtos com material reciclado. Fonte: RAINHO, 2005.
4.5- Uso e gestão da água
A preocupação com a água é uma constante para o Parque, por isso o mesmo participa junto a
18 prefeitos da região de um projeto de micro bacias que tem como intuito proteger o
Aqüífero Guarani
114
que passa embaixo da cidade de Porangaba. Esse projeto busca medidas
e soluções para proteger essa reserva de água doce da poluição e também do uso
indiscriminado de sua água.
Na ecovila a preocupação com a água foi transformada em medidas reais, porque conforme
mencionado anteriormente, a região na qual se encontra o Parque possui meses de seca e isto
influi diretamente na falta d’água em toda a área. Esse fator aliado a consciência ambiental e a
inexistência de água canalizada levou o Parque a desenvolver uma gestão da água através da
construção de 7 açudes cercados por mata ciliar
115
para captar a água da chuva nos meses em
que a estação é a chuvosa (novembro a março).
A água captada é utilizada para praticamente todas as suas funções, pois testes
116
comprovaram não haver coliformes fecais na água captada, embora não seja potável por ser
114
O Aqüífero Guarani é a principal reserva subterrânea de água doce da América do Sul e um dos maiores
sistemas aqüíferos do mundo.
115
Mata ciliar é uma formação vegetal a beira dos cursos d’água que ajuda na estabilização das margens dos
mesmos.
116
Os testes da água foram feitos pelo laboratório da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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salobra. Devido a este fato, a ecovila compra água em garrafões; e para limpeza e cocção dos
alimentos e fabricação dos produtos do laboratório a água é oriunda de um poço artesiano
próximo à creche.
Percebe-se portanto que a gestão da água inclui basicamente a captação, armazenamento e
utilização da água de chuva. De modo geral, após seu uso ela é direcionada para um sistema
de tratamento do efluente de esgoto para ser re-utilizada. Dentro desta gestão da água há 2
tecnologias ambientais: tratamento biológico da água de chuva antes de ser consumida e
tratamento do efluente do esgoto, ambos para toda a comunidade. Há também a implantação
dos mesmos sistemas em uma residência denominada “casa modelo” que servirá de modelo
para as futuras construções, e em uma residência no final da “ala residencial” construída há 2
anos e denominada nesta pesquisa como “residência Lila”. Cada tecnologia será desenvolvida
e explicada mais adiante.
Dentre os 7 açudes na propriedade, 3 estão próximos à “ala residencial” e ao pomar, e 4 estão
entre a “ala central” e a “ala saúde”:
Figura 305 - Mapa indicativo dos açudes. Fonte: RAINHO, 2005.
Dos açudes na “ala residencial” o maior está próximo ao pomar e é denominado lago por ser
usado pelos moradores e visitantes para banho e local de meditação. No caminho para chegar
a este lago se encontra um açude ao lado de um riacho e o terceiro está em um declive mais
perto da creche. Este último possui tratamento biológico da água de chuva através com o uso
de energia eólica.
lago
açude: tratamento da
água com energia eólica
açude próximo a
um riacho
açude: tratamento da
água com energia eólica
açude: tratamento da
água com energia solar
a
ç
ude
a
ç
ude
riacho
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Figura 306 - Vista do lago. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 307 - Riacho. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 308 - Ponte sobre o lago. Figura 309 - Açude ao lado de um riacho.
Fonte: ZUNINO, 2004. Fonte: RAINHO, 2005.
Na área das alas “saúde” e “central” dentre os 4 açudes há um com energia eólica e outro com
energia solar
117
. Estes dois estão próximos entre si e perto do limite da propriedade
pertencente ao Parque. Um terceiro, bem menor, está à frente daquele que utiliza a energia
solar e o último se encontra entre o que utiliza a energia eólica e a horta circular.
117
Não foi vista bomba nem nenhum outro equipamento nos outros dois açudes. Na ecovila não souberam
explicar com a água é retirada deles, provavelmente por já existirem antes de pertencer a mesma.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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206
Figura 310 - Açude perto da horta circular. Fonte: RAINHO, 2005.
Segundo Niels Gudme
118
os açudes possuem altura de aproximadamente 2 metros quando
estão cheios sempre tomando com base o ponto mais fundo dos mesmos, já que todos são
mais rasos nas pontas e mais fundos no meio.
Tendo sido apresentados todos os açudes, pode-se iniciar a descrição de cada tratamento
integrante da gestão da água na comunidade. Inicialmente serão desenvolvidos os
relacionados à comunidade seguidos pelos sistemas da casa modelo e da casa construída há
pouco tempo. Neste contexto, primeiramente será enfocada a tecnologia relacionada a
captação, armazenamento e distribuição da água de chuva e depois a tecnologia referente ao
tratamento e reutilização desta água que se transformou em efluente de esgoto.
Captação de água de açude para a comunidade
A captação da água dos açudes é feita por meio de energia solar através de um coletor solar
fotovoltaico e pela energia eólica representada por 2 cata-ventos; e todos têm como função
bombear a água de chuva armazenada nos respectivos açudes.
As medidas dos equipamentos pertencentes a estas tecnologias não foram repassadas para a
autora desta pesquisa devido a inexistência das mesmas em um documento oficial elaborado
pelo responsável pela implantação da técnica e também pelo desconhecimento desta questão
por parte dos coordenadores da ecovila.
O painel solar fotovoltaico aciona uma bomba elétrica que está dentro do açude em uma
pequena balsa e ao colocar a bomba em funcionamento envia a água através de um duto
subterrâneo até a caixa d’água de 15.000 litros localizada ao lado do “jardim da paz”.
118
Niels Gudme respondeu a algumas questões relativas as tecnologias ambientais através de email recebido dia
12 de janeiro de 2006.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
207
Figura 311 - Açude com água bombeada atras de energia solar. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 312 - Esquema do sistema de bombeamento com energia solar. Fonte: RAINHO, 2005.
Um açude ao lado do citado acima utiliza um cata-vento que aciona uma bomba que faz parte
de seu sistema e também leva a água através de uma canalização subterrânea a mesma caixa
d’água do anterior. Esse reservatório, que também é chamado castelo d’água, abastece a casa
central e os banheiros dos dormitórios “Borboleta, ”Sol e Lua” e “Pomar”.
Figura 313 - Açude com água bombeada através de energia eólica. Fonte: RAINHO, 2005.
bomba
coletor solar
fotovoltaico
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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Figura 314 - Esquema do sistema de bombeamento com energia eólica. Fonte: RAINHO, 2005.
O outro cata-vento está perto da creche e bombeia a água de chuva para um sistema de
tratamento biológico da água com o uso de uma planta chamada aguapé e um tanque com
camadas de materiais que têm a propriedade de limpar a água.
A água é puxada pela bomba do cata-vento, levada ao ponto mais extremo do tanque em
espiral para percorrer a serpentina de concreto enquanto a planta aguapé, que se encontra em
todo o tanque, faz a purificação biológica da água com suas raízes até chegar ao centro do
espiral. Lá encontra um tambor que possui aberturas para a entrada da água, onde é feita mais
uma filtragem pois em seu interior há camadas de carvão vegetal, pedra, brita e areia que têm
a função de purificar a água a medida que ela vai entrando neste tambor de forma ascendente,
ou seja, de cima para baixo. A água é enviada para o reservatório de concreto em formato de
iglu por gravidade através de um duto subterrâneo para então ser bombeada para as caixas
d’águas que também por gravidade alimentam os banheiros coletivos das acomodações,
especificamente chuveiros e lavatórios.
Figura 315 - Esquema do tratamento biológico da água de chuva com aguapé. Fonte: RAINHO, 2005.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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209
Figura 316 - Tratamento biológico da água de chuva com aguapé. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 317 - Detalhe do tambor central e da espiral com aguapé. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 318 - Detalhe do iglu de concreto e a bomba. Fonte: RAINHO, 2005.
A manutenção desta tecnologia consiste em limpar o tambor que se encontra no meio do
tanque em espiral, lavá-lo e então refazer as camadas dos materiais, sendo que estas são feitas
sem uma medida precisa. O tanque precisa ser limpo para não criar lodo nas paredes que
tambor
central
espiral e planta
aguapé
bomba: leva a
água para
reservatórios
superiores
(caixas d’água)
i
g
lu de concreto
açude de águas
de chuva
tanque em
espiral
reservatório de
concreto (iglu)
a
ç
ude
cata-vento
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
210
origina um odor desagradável e torna a água suja, e as plantas velhas precisam ser retiradas
para darem lugar as novas.
Zona de Raízes - tratamento do efluente de esgoto da comunidade
Três zonas de raízes servem ao Parque, porém duas já existiam no momento da aquisição do
terreno e os responsáveis pelo Parque desconhecem como funciona e onde podem ser
localizados os técnicos que implantaram essas tecnologias.
A zona de raízes que está no meio da vegetação próxima a antiga cozinha dos moradores e do
limite do terreno recebe o esgoto da cozinha nova, da antiga cozinha e da casa central. Seu
processo e manutenção são os mesmos da zona de raízes mais nova que será desenvolvida
mais abaixo, e o destino final da água tratada por esta tecnologia é o pomar e a horta.
Figura 319 - Zona de raízes antiga. Fonte: RAINHO, 2005.
A segunda tecnologia chamada “zona de raízes em linha” localiza-se próxima a farmácia de
manipulação e inicia o tratamento em 2 fossas sépticas anaeróbicas que recebem o esgoto da
farmácia e do laboratório para depois passar na zona de raízes onde o efluente é purificado e
posteriormente utilizado no pomar. Ela é subterrânea por isso não se torna possível visualizá-
la através de material iconográfico.
A terceira tecnologia está localizada próxima ao dormitório “Borboleta”. Também conhecida
como “zona de raízes” leva o esgoto dos banheiros dos dormitórios “Borboleta”, “Sol e Lua”
e “Pomar” para uma fossa séptica onde as partículas mais pesadas da parte sólida são
depositadas no fundo. Após isso, o efluente do esgoto vai para um local chamado “zona de
raízes” que possui uma camada de concreto para evitar que o efluente contamine o solo. O
efluente vai sendo limpo a medida que o nível desse efluente represado vai se elevando e
perpassando pelas camadas de carvão vegetal, pedra, brita, areia e a planta junco, cujas raízes
zona de raízescozinha anti
g
a
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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211
penetram nestas camadas.
Devido ao enraizamento em profusão do junco nos sentidos vertical e horizontal, a velocidade
do efluente diminui ao entrar em contato com as raízes fazendo com que as pequenas
partículas sólidas ainda existentes na parte líquida sejam retidas pelas raízes por serem uma
espécie de alimento, fazendo com que o efluente (parte líquida) fique limpo e pronto para ser
usado na irrigação
119
sem comprometer o lençol freático.
Figura 320 - Esquema do tratamento de esgoto com a utilização da Zona de Raízes. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 321 - Vista da Zona de Raízes (2005). Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 322 - Zona de Raízes delimitada por cerca em madeira (2004).
Fonte: Fonte: ZUNINO, 2004.
119
. O sistema de irrigação é feito por gotejamento aumentando a economia da água na ecovila sem prejudicar a
plantação.
junco: zona
de raízes
abaixo do solo
estão as camadas
para filtragem
junco: zona
de raízes
estrada
de terra
dormitório
“Borboleta”
Local de
contemplação
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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212
A manutenção desta tecnologia consiste em limpar a área cortando o junco, retirando plantas
velhas para dar lugar as novas, e como é um sistema a céu aberto também é necessário retirar
folhas e gravetos que caem das árvores que estão no entorno. Para fazer este serviço são
nomeados 3 a 4 funcionários que trabalham na horta e no pomar para que a manutenção seja
feita em pouco tempo e com eficiência, pois é necessário que volte a funcionar o mais breve
possível.
Casa Modelo
A casa modelo encontra-se na “ala residencial” próxima às construções da creche e tem
implantadas apenas as tecnologias referentes a gestão da água. Ainda não foram implantadas
as tecnologias referentes a gestão de energia, principalmente a solar tanto para aquecimento
da água usada no chuveiro como para geração de eletricidade.
As TA’s são as mesmas utilizadas para a comunidade, por esse motivo a descrição será feita
como se estivesse seguindo um ciclo da água, ou seja, iniciando com a captação,
armazenamento e primeira utilização da água; tratamento da água após o primeiro uso,
reutilização da água tratada e mais um tratamento do efluente de esgoto para encaminhá-lo a
seu destino final: a horta e o pomar.
Figura 323 - Mapa indicativo da casa modelo na ecovila. Figura 324 - Detalhe da localização da casa
Fonte: RAINHO, 2005. modelo. Fonte: RAINHO, 2005.
Os coordenadores do Parque consideram esta residência um modelo de auto-suficiência em
relação a gestão de água. A água de chuva passa por quatro etapas: na primeira etapa, ela é
coletada de um telhado projetado para recolhê-la e direcioná-la às calhas, depois é levada para
um primeiro tanque de filtragem com uma camada de brita n
o
1 para tirar as impurezas
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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213
maiores. Deste tanque vai para outro tanque em concreto semi-enterrado no terreno, sem filtro
e com capacidade para 10 mil litros. Quando a água chega a um determinado nível, é
bombeada
120
para uma caixa d’água na parte superior da residência. Sempre que a caixa
necessitar de mais água, esta é bombeada automaticamente.
Na segunda etapa, essa água é usada no tanque de roupa na área de serviço, no chuveiro e no
lavatório do banheiro, e depois de utilizada é novamente coletada e levada para um tanque
enterrado no terreno e iniciar o tratamento deste esgoto. Na terceira etapa, neste tanque
enterrado as raízes da planta junco fazem o trabalho de purificar a água para depois ser levada
para outra caixa também localizada no telhado e então utilizada para a descarga do vaso
sanitário. Após esse uso, na quarta etapa, vai para um filtro anaeróbico e depois para uma
zona de raízes em forma de dreno indo irrigar a horta e o pomar.
Figura 325 - Esquema da utilização da água de chuva na casa modelo. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 326 - Residência modelo: calha coletora e tanques de armazenamento.
Fonte: ZUNINO, 2004.
120
A bomba utilizada para bombear e levar a água para a caixa d’água está ao lado do tanque de lavar roupa e
funciona com energia elétrica gerada pela concessionária de luz do local.
tratamento biológico
do efluente do esgoto
calha
residência
modelo
tanque de
filtragem ao-
nível do solo
tanque semi
enterrado com
capacidade de
armazenamento
de 10 mil litros
vegetação para
proteger da
insolação direta
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
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Figura 327 - Detalhe do tratamento biológico: a planta junco. Fonte: RAINHO, 2004.
Residência Lila
Esta residência é habitada pelo chefe de cozinha da ecovila, Luís Carlos (ou Lila). A
construção foi custeada pelo Parque, mas como pretendia fazer modificações nas divisões
internas dos ambientes o próprio morador resolveu arcar com as despesas.
Figura 328 - Mapa indicativo da residência Lila na ecovila. Figura 329 - Detalhe da localização da residência
Fonte: RAINHO, 2005. Lila. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 330 - Residência Lila. Fonte: RAINHO, 2005.
tratamento
biológico
tanque de
filtragem
tanque semi
enterrado com
capacidade de
armazenamento
de 10 mil litros
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CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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215
A moradia possui as mesmas tecnologias ambientais para tratamento de água de chuva e para
tratamento de efluente de esgoto que foram implantadas na casa modelo e por isso não será
descrita. A figura abaixo mostra o sistema de calhas de alumínio que recebe a água de 2
telhados (telhado da residência e telhado da varanda) e leva para um reservatório semi-
enterrado.
Figura 331 - Coleta de água de chuva. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 332 - Tratamento da água de chuva e tratamento do efluente de esgoto. Fonte: RAINHO, 2005.
Esta residência é a única que possui sua própria compostagem de lixo e que utiliza a mesma
técnica de compostagem feita com o lixo orgânico de toda a comunidade. Este lixo é colocado
em anéis de tubulação de drenagem pluvial e após um determinado tempo utilizado para
adubar o jardim que circunda a casa e que foi plantado pelo próprio morador. Os demais lixos
recicláveis (resto de papel, papelão) são doados para a empregada da padaria (Rose).
coleta água
de chuva
tratamento do
efluente de esgoto
reservatório
semi-enterrado
calha e tubo em
alumínio
telhado
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Figura 333 - Compostagem de lixo em anéis de tubulações. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 334 - Lateral da “Residência Lila”. Fonte: RAINHO, 2005.
Quando a água do reservatório da residência está terminando, é utilizada a água tratada vinda
do sistema biológico próximo a creche. Essa água está armazenada no castelo d’água pintado
da cor branca com capacidade para 10.000 litros (dentro da “ala residencial”) e vai até a casa
através de um duto subterrâneo.
Os castelos d’água pintados na cor verde e localizados ao lado da construção destinada à
Publicações e da sala de meditação reservam a água de chuva e a água vinda do poço
artesiano. O menor tem capacidade para 10.000 litros e somente quando está bem cheio faz a
água descer por gravidade para as construções. Em geral, a bomba localizada ao lado é
acionada automaticamente para fazer este trabalho. O reservatório de 15.000 litros recebe
água do açude com energia eólica perto da horta e não necessita de bomba pois a gravidade se
incumbe de fazer esse trabalho. Ainda existe outro castelo d’água ao lado de uma moradia na
“ala residencial” que reserva em torno de 10 mil litros d’água originados do açude com
tratamento biológico.
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CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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217
Figura 335 - Castelo d’água (verdes). Figura 336 - Detalhe dos castelos e da bomba.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 337 - Detalhe da bomba. Fonte: RAINHO, 2005. Figura 338 - Castelo d’água (branco).
Fonte: RAINHO, 2005.
4.6- Avaliação do espaço e das tecnologias ambientais
A avaliação do espaço e das TA’s é resultado da segunda visita realizada ao Parque no ano de
2005 devido a um maior tempo de permanência no assentamento. Na avaliação foram
utilizados 2 métodos científicos: observação direta e entrevista.
A observação direta é uma técnica onde o pesquisador está presente ao local investigado
observando aquilo que ele deseja desenvolver. Nesta pesquisa é enfocado o uso do espaço e
das tecnologias ambientais em dias de eventos e em dias sem eventos.
As entrevistas trazem a opinião de alguns moradores e funcionários sobre o que acham da
ecovila, da preocupação com a natureza e o uso das tecnologias ambientais, em especial as
relacionadas a gestão da água.
reservatório
15.000 litros
reservatório
10.000 litros
bomba
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CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
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218
4.6.1- Observação direta
Durante os quatros dias de estadia da autora desta pesquisa muitas observações puderam ser
anotadas. Para iniciar este item é importante dividir os dias: dia 1º e 2 de dezembro,
respectivamente quinta-feira e sexta-feira são dias sem eventos e visitantes; e os dias 3 e 4 de
dezembro, sábado e domingo, os dias com eventos e visitantes. Cabe salientar que mesmo
assim, os dois primeiros dias não puderam ser considerados como dias rotineiros pois
ocorreram eventos para os moradores e funcionários na quinta-feira e no dia seguinte houve a
preparação do Parque para a chegada dos visitantes para o evento do final de semana.
1º dia: 1º / dezembro (5ª feira)
A primeira observação ocorreu durante o almoço do 1º dia: era confraternização de final de
ano dos moradores e funcionários e o cardápio - pizza - era diferente do usual. Essa festa no
início do mês de dezembro tem seu motivo, pois logo após o evento do fim de semana e da
semana seguinte todos entrariam de férias a partir do dia 12 de dezembro, não sendo possível
deixar a reunião para um outro momento.
Figura 339 - Reunião de confraternização de final de ano. Fonte: RAINHO, 2005.
A reunião, com muita conversa e sorrisos, foi realizada no refeitório redondo comunitário
provavelmente por ser o maior e ter espaço para todos. Este local de encontro para refeições
comunitárias é composto por mesas e cadeiras em vime e tem capacidade entre 60 a 80
pessoas. O chefe de cozinha, Luis Carlos que coordenou e fez o almoço também se sentou
com os demais ecovilenses e funcionários para festejar o término de mais um ano do Parque.
Figura 340 - Chefe de cozinha: Luís Carlos. Fonte: RAINHO, 2005.
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Após a refeição eles dispuseram as cadeiras em um círculo deixando as mesas no meio do
refeitório para iniciar a brincadeira do “amigo oculto”. Durante mais de 2 horas houve troca
de presentes e brincadeiras para que se adivinhassem quem era o tal amigo oculto de cada um
deles.
Figura 341 - Brincadeira “amigo oculto”: troca de presentes. Fonte: RAINHO, 2005.
Após a brincadeira apenas alguns foram assistir a um filme brasileiro
121
na sala “Lótus” no
dormitório “Sol e Lua” . A maioria havia retornado às suas residências, pois foram liberados
do trabalho às 11 horas.
Figura 342 - Exibição de filme brasileiro. Figura 343 - Exibição de filme brasileiro. Fonte: RAINHO, 2005.
Fonte: RAINHO, 2005.
Um dos costumes observados foi a retirada dos calçados antes das pessoas entrarem nas salas
do dormitório “Sol e Lua”. Até aquele momento o Parque continuava vazio como se não
morasse nem trabalhasse ninguém no local. O único movimento observado foi o de uma
121
O filme exibido “Dois filhos de Francisco: a história de Zezé di Camargo e Luciano” ainda estava em cartaz
nos cinemas de todo o país.
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criança com a mãe (professora da creche) e uma amiga que estava nos brinquedos das
crianças em frente ao dormitório já mencionado.
Figura 344 - Calçados à frente da porta da sala Figura 345 - Criança brincando nos brinquedos com a
“Lótus”. Fonte: RAINHO, 2005. mãe. Fonte: RAINHO, 2005.
No restante do dia não foi observado nenhum movimento e no Parque só se ouvia o som dos
pássaros e o balançar dos galhos das árvores. Neste dia percebeu-se que não houve
apropriação do espaço mesmo com tantos lugares aprazíveis, porém somente nos locais onde
foram realizados os eventos.
2º dia: 2 / dezembro (6ª feira)
O 2º dia era um dia normal de trabalho, por isso resolveu-se andar pelo Parque para observar a
apropriação do espaço e o uso das TA’s. O Parque estava tranqüilo na parte da manhã e a sala
do computador localizada na casa central estava sendo utilizada pelo coordenador Niels
Gudme. Esta sala pode ser denominada como “sala de apoio técnico dos moradores” porque é
o local onde se encontram os equipamentos de comunicação, isto é, onde são feitas ligações
telefônicas pessoais, onde se usa o computador para elaborar documentos e fazer pesquisas na
rede mundial de computadores, e sempre há uma fila para utilizar os citados equipamentos.
Este foi um dia atípico porque não havia ninguém esperando e o coordenador estava
trabalhando sem preocupação.
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Figura 346 - Uso da sala de apoio técnico na casa central. Fonte: RAINHO, 2005.
Outro local onde se observou o uso do espaço foi na recepção da administração onde duas
funcionárias faziam os seus trabalhos. As demais salas onde outros funcionários estavam
trabalhando estavam com as portas fechadas não sendo possível obter um registro
iconográfico.
Figura 347 - Sala da recepção da administração do Parque. Fonte: RAINHO, 2005.
Por volta de 16 horas a padaria já havia iniciado a fabricação de pães para o jantar e 2
empregadas trabalhavam no interior da cozinha industrial utilizando todo o espaço. Enquanto
isso o Parque estava sendo preparado (limpeza das varandas e banheiros) para receber os
primeiros visitantes que chegariam no final da tarde.
Figura 348 - Funcionárias trabalhando no interior da padaria. Fonte: RAINHO, 2005.
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Figura 349 - Funcionária limpando o Parque Figura 350 - Funcionária limpando o dormitório
para o evento. Fonte: RAINHO, 2005. “Borboleta” para o evento. Fonte: RAINHO, 2005.
Antes de terminar o horário de trabalho, 17 horas, alguns funcionários limpavam e aparavam
a mata ciliar de alguns açudes para mantê-los protegidos da erosão.
Figura 351 - Funcionários limpando a mata ciliar perto de um açude. Fonte: RAINHO, 2005.
Antes do jantar os ecovilenses convidaram os visitantes a fazerem uma aula de yoga na sala
de meditação. Grande parte dos que já estavam no Parque aceitou o convite e durante uma
hora meditaram e cantaram músicas.
Figura 352 - Aula de yoga na sala de meditação antes do jantar. Fonte: RAINHO, 2005.
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No refeitório redondo comunitário foi realizado o jantar com os moradores e visitantes
dividindo as mesmas mesas, conversando e trocando experiências e na parte externa as
luminárias emolduram o caminho de pedras que levam aos dormitórios.
Figura 353- Jantar no refeitório redondo com visitantes que chegaram para o evento. Fonte: RAINHO, 2005.
3º dia: 3 / dezembro (sábado)
Após o café da manhã no refeitório comunitário por volta das 8 horas da manhã, o 3º dia
iniciou com uma palestra na sala “Lótus”, no dormitório “Sol e Lua” que durou até a hora do
lanche por volta de 10:30 horas. Durante a palestra não havia ninguém circulando na ecovila
inclusive os moradores que em sua maioria também estavam assistindo a mesma.
Figura 354 - Palestra na sala “Lótus”. Fonte: RAINHO, 2005.
Por volta de 9:30 horas, enquanto o evento ocorria na sala “Lótus”, os trabalhos para elaborar
o lanche da manhã já haviam sido iniciados na cozinha dos moradores. A cozinha tipo
industrial possui entre 40 e 50m
2
e tem por volta de 9 assistentes além do chefe de cozinha.
Figura 355 - Cozinha industrial dos moradores. Fonte: RAINHO, 2005.
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224
Após o lanche, entre 11:00 e 12:30 horas, iniciaram uma vivência
122
em um recanto com
estrutura aramada em frente a sala “Lótus”. Todos estavam participando e foi pedido que
fizessem duplas para que conversassem sobre a palestra da manhã. O dia estava agradável
mesmo o sol não tendo aparecido e os participantes do curso estavam vestidos de forma
confortável (jeans ou calça de malha, tênis, blusa leve e casaco).
Figura 356 - Vivência no gramado. Fonte: RAINHO, 2005.
Após a vivência antes do almoço, os visitantes se apropriam do espaço aberto existente no
Parque: conversando perto da sala de palestras, ao lado da recepção da ecovila e até mesmo
no gramado. Naquele momento foi possível notar que os visitantes ainda estavam
reconhecendo o local e se integrando a ele.
Figura 357 - Conversa ao lado da sala de palestras. Figura 358 - Conversa ao lada da recepção e
Fonte: RAINHO, 2005. no gramado. Fonte: RAINHO, 2005.
Aos poucos os visitantes foram se apropriando do espaço externo e o almoço daquele dia teve
integrantes sentados à mesa de madeira ao lado do refeitório.
122
Vivência- o movimento das ecovilas entende como vivência a forma prática de mostrar aos interessados a
refletir e entender o processo de evolução do ser humano e sua conexão com a natureza. Isto é feita através de
conversas entre os interessados como as que foram feitas no evento daquele momento.
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Figura 359 - Almoço no refeitório redondo. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 360 - Almoço à mesa de madeira ao lado do refeitório redondo. Fonte: RAINHO, 2005.
Após o almoço foi realizada uma nova vivência no mesmo local da anterior e onde no final as
pessoas se abraçaram. Muitas estavam emocionadas e este sentimento estava relacionado à
palestra da manhã em que as pessoas falaram sobre seus medos, angústias e alegrias.
Figura 361 - Vivência após o almoço. Fonte: RAINHO, 2005.
Novamente enquanto a vivência era desenvolvida a cozinha continuava trabalhando, desta vez
para elaborar o lanche da tarde com sucos, bolos e frutas. Todos as vezes em que há refeições
no refeitório comunitário, as assistentes de cozinha precisam levar as comidas e as bebidas
sob céu aberto da cozinha nova até o refeitório redondo devendo distar mais de 100 metros. A
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226
partir deste lanche as pessoas começaram a usufruir e se apropriar mais do espaço aberto
existente no Parque, fazendo as refeições em mesas de madeira e até mesmo sentadas na
grama.
Figura 362 - Levando suco para o refeitório. Figura 363 - Lanchando ao ar livre. Fonte: RAINHO, 2005.
Fonte: RAINHO, 2005.
Depois do lanche aconteceu uma nova palestra até o fim da tarde quando os visitantes foram
liberados para tomarem banho, participar da yoga e jantar. Antes da última refeição do 3º dia
as assistentes de cozinha levaram tudo o que era necessário para o jantar.
Figura 364 - Colocando a sopa na estufa. Figura 365 - Levando o pão para o refeitório.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
O dia terminou com muita música brasileira e muita dança na sala “Lótus” onde se notou a
alegria entre os presentes através de sorrisos, abraços, canto e muito balanço.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
227
Figura 366 - Música e dança na sala “Lótus”. Fonte: RAINHO, 2005.
4º dia: 4 / dezembro (domingo)
O 4º e último dia da pesquisa de campo foi mais breve porque o evento, para quem pagou
apenas o fim de semana, terminou no almoço ou após a vivência da tarde. O dia iniciou como
sempre com um tranqüilo e agradável café da manhã. Como em todas as refeições foi difícil
levar os visitantes para a sala de palestras devido a grande troca de experiências, conversas e
contatos durante esses momentos.
Figura 367 - Café da manhã. Fonte: RAINHO, 2005.
Durante a palestra da manhã algumas pessoas aproveitaram o dia de sol para levar as crianças,
alguns haviam levado os filhos pequenos, para brincar nos brinquedos reciclados da creche
enquanto outros simplesmente conversavam em grupo sobre o gramado ou mesmo em pé em
frente ao dormitório “Sol e Lua”.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
228
Figura 368 - Brincando na creche. Figura 369 - Apropriação do espaço gramado.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
A vivência da tarde foi realizada no “grande salão” em duplas onde a pergunta em foco era “a
qual projeto específico você se dedicaria? E para concretizá-lo você faria alguma mudança
no planeta?”. Enquanto as pessoas conversavam sobre a questão, a funcionária da padaria,
Rose, arrumava a mesa ao lado da recepção para vender os produtos fabricados naquele setor.
Figura 370 - Vivência no “grande salão”. Figura 371 - Venda dos produtos da padaria.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Em todas as refeições foi observada que se formava uma fila para que cada um pudesse se
servir com tranqüilidade e sem confusão e em cada refeição as pessoas sentavam em outros
lugares, outras mesas e com outras pessoas aumentando o convívio entre o grupo.
As TA’s durante a pesquisa de campo estavam sendo usadas de forma implícita: a lâmpada
com luz solar da sala “Lótus”, a água utilizada nos banheiros e a que era levada para o
tratamento de esgoto após o uso, a água para o preparo e cocção dos alimentos para as
refeições e lanches e limpeza dos utensílios da cozinha.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
229
Figura 372 - Separação do lixo. Figura 373 - Uso do banheiro coletivo.
Fonte: RAINHO, 2005. Fonte: RAINHO, 2005.
Figura 374 - Limpeza da louça. Fonte: RAINHO, 2005.
4.6.2- Entrevistas
As entrevistas foram realizadas durante a segunda visita da autora à Ecovila Parque Visão
Futuro entre os dias 1º a 4 de dezembro de 2005. A intenção inicial era conversar com os
coordenadores e alguns moradores e funcionários, mas a entrevista com os coordenadores se
tornou inviável, pois os mesmos estavam muito atarefados com um evento que seria realizado
naquele final de semana e outro durante toda a semana seguinte.
A escolha dos entrevistados foi feita através de alguns critérios: dentre os moradores deveriam
ser os 2 ou 3 mais antigos e um outro mais novo, e os funcionários deveriam trabalhar em
setores diferentes e horários diferentes, pois também há empregados com carteira assinada
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
230
que trabalham apenas nos fins de semana. As entrevistas foram feitas com os 2 moradores, 1
estagiária e 5 funcionários e o resumo de cada entrevista pode ser observado logo abaixo:
Luís Carlos (Lila Dahra) - chefe de cozinha
A entrevista com Lila, como é mais conhecido, ocorreu na quinta-feira, dia 1º de dezembro de
2005, às 16 horas na residência do entrevistado.
Lila tem 44 anos, é artista plástico e mora na ecovila há 8 anos. Nascido no Rio de Janeiro, já
havia morado durante 3 anos em outra ecovila, uma comunidade de monges. Lá conheceu
Susan Andrews, a idealizadora do Parque, que seguia a mesma filosofia. Tempos depois ela o
convidou para ser chefe de cozinha do Parque e embora não tenha se interessado em morar e
sim ajudar por algum tempo acabou fincando raízes no Parque e mora lá até hoje. O que o fez
permanecer na comunidade foi o lado espiritual praticado no dia-a-dia.
Ele entende que o trabalho como chefe de cozinha lhe proporciona uma oportunidade de
mostrar ao visitante uma outra visão da comida lacto-vegetariana e servir e ajudar aos outros
através do seu trabalho.
Lila, por ser o morador mais antigo, viu a evolução da ecovila e na questão ambiental ele
incluiria a ecologia externa e principalmente a interna, isto é, a ecologia profunda, pois
acredita que todos precisam ter consciência que somos parte de um todo, da natureza. Em
relação a ecologia externa foram adquiridas áreas de vegetação para preservação, compra de
mudas para reflorestamento e a implantação das tecnologias ambientais.
Outro fator interessante está relacionado a moradia em regime de comodato: não acha justo a
ecovila ser a responsável por toda e qualquer tipo de manutenção, por isso na maioria das
vezes eles mesmo conserta ou manda consertar algo que não está correto em sua residência.
Comentou que a ecovila é realmente uma grande família, e como toda família há problemas
de convívios mas estes são resolvidos através de conversas ou até reuniões.
Sua habitação é uma das mais bonitas, pois Lila se preocupou em plantar um jardim em torno
de sua casa tornando-a mais fresca nos dias quentes e porque todo ser humano precisa estar
em contato com a natureza. Por sua própria conta implantou as tecnologias ambientais para
captação de água de chuva e tratamento do efluente do esgoto, e no ano de 2006 pretende
colocar aquecedor solar e energia solar para geração de eletricidade ao menos para que se
tenha a solar além da energia vinda da concessionária.
Acredita que o Parque é um grande laboratório que deveria implantar um tipo de TA em cada
residência para que pesquisadores e técnicos pudessem observá-las, esclarecer dúvidas e
implantá-la em seus locais de origem.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
231
Rosane (Rocinii) - responsável pela administração
A entrevista com Rosane ocorreu em dois momentos: na quinta-feira, dia 1º de dezembro de
2005, às 18 horas em uma sala ao lado da sala Lótus, no dormitório “Sol e Lua”; e no sábado,
dia 3 de dezembro de 2005, durante o jantar no refeitório redondo comunitário.
Rosane tem 34 anos, é contadora e mora na ecovila há 6 anos. Vinda de Palmitos, Santa
Catarina, conheceu a filosofia/ideologia da ecovila ao participar do curso de biopsicologia e
durante o tempo que fez o curso
123
começou a ter interesse em morar na comunidade. É
responsável pela área administrativa do Parque e as TA’s, pois é quem pesquisa e procura por
novas técnicas de baixo impacto ambiental que possam ser adaptadas ao assentamento. Foi
para o Parque para trabalhar com contabilidade, mas sempre trabalhou na área administrativa.
Gosta de morar na ecovila e não se sente isolada, pelo contrário, acredita que aprende muito
com os que estão na comunidade e os que vão até lá visitar e participar de cursos e eventos,
pois há muita troca de experiência de vida.
Comentou e confirmou o que Lila disse sobre a ecovila ser como uma família, que também
possui problemas que são solucionados ou entre as pessoas que estão envolvidas no conflito
ou nas reuniões semanais entre os moradores.
Sua moradia é a habitação de madeira na “ala saúde” e a adora, por isso tem a impressão que
a mesma foi feita pra ela (essa construção já existia no momento da compra do terreno). Não
tem nenhuma tecnologia ambiental implantada, mas como toda a comunidade utiliza a água
de chuva para seu consumo, exceto para beber.
Entende que a questão ecológica é importante, por isso entre 2004 e 2005 acredita que
aconteceram melhorias. Além disso muitos projetos voltados para as TA’s estão prontos
esperando apenas aprovação de um projeto encaminhado para o Ministério do Turismo para
serem implantados e melhorar essa questão no Parque. Algumas TA’s serão reaplicadas mas
em alguns lugares serão outras, pois depende de cada espaço e da realidade do local.
Acredita que as TA’s tem relação com a preservação do ambiente natural e utilizou como
exemplo a gestão da água: se houver mais reflorestamento, o Parque conseguirá aumentar o
manancial de água, aumentar o nível do lençol freático e conseqüentemente diminuir o tempo
de seca nos rios e córregos da região. E confirma a necessidade de se ter água para consumo
aliada a preocupação com a natureza.
Enfatizou a grande preocupação com esse elemento natural e a necessidade do uso das TA’s
em mais residências, pois somente duas possuem captação de água de chuva e tratamento do
123
O curso de biopsicologia é dividido em 8 módulos e sua duração gira em torno de um ano letivo, pois inicia
em março e termina em novembro. Cada módulo é ministrado em um final de semana por mês.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
232
esgoto para reuso do efluente.
No tocante a melhorias nas tecnologias ambientais, frisa a importância de se usar várias
espécies de plantas que tem o poder de limpar a água para aumentar a eficácia do tratamento
de esgoto por zona de raízes existente. Segundo seu ponto de vista, há uma necessidade de
implantar tecnologias mais práticas, mais fáceis e cita como exemplo a manutenção da zona
de raízes e do tratamento biológico, e o filtro deste último pode ser mais eficiente, pois a água
embora saia limpa sem coliformes fecais não é potável.
No Parque poderia ser implantados filtros especiais para tornar a água, hoje salobra, em água
potável e diminuir a incidência de ferro, pois foi comprovado um alto teor deste minério na
água. Acredita que deve haver uma busca constante de TA’s que sejam visualmente menos
poluídas e mais eficazes.
Na segunda parte da entrevista, já no refeitório, Rosane esclareceu questões sobre a estrutura
econômica, jurídica e social do Parque e alguns detalhes da gestão da água.
Graci - estagiária
A entrevista não diretiva
124
com Graci ocorreu no refeitório dos moradores na sexta-feira, dia
2 de dezembro de 2005, após o almoço.
Graci tem cerca de 20 anos, mora na ecovila há 3 meses e tem previsão de ficar em torno de 6
meses, pois está participando do projeto de um CD da creche. Ela gosta de morar no Parque e
não teve nenhuma dificuldade em se adaptar porque sempre morou perto da natureza e sempre
se adaptou a qualquer lugar e situação.
Flaviana - recepcionista
A entrevista com Flaviana ocorreu na sexta-feira, dia 2 de dezembro de 2005, às 11 horas na
recepção da administração enquanto a entrevista trabalhava.
Flaviana tem cerca de 20 anos, trabalha há 5 anos no Parque como recepcionista e sua função
é atender ao telefone, informar sobre os cursos e eventos do Parque e fazer as inscrições dos
mesmos. Mora próxima a ecovila, gosta e se sente bem trabalhando no local.
Em relação a preocupação com a natureza, ela acha interessante o Parque se esmerar em não
fazer queimadas e em deixar a vegetação rasteira sempre bem cuidada. Frisou que não sente
diferença entre a água utilizada no Parque e de sua residência inclusive que a água da ecovila
é mais limpa do que a do lugar onde reside e que se pudesse também implantaria as
124
A entrevista não diretiva foi uma conversa informal entre a entrevistada e a autora desta pesquisa, porém a
mesma foi gravada sem uma autorização explícita da entrevistada.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
233
tecnologias ambientais onde mora.
Rose - responsável pela padaria
A entrevista não diretiva com Rose ocorreu na sexta-feira, dia 2 de dezembro de 2005, às 14
horas na varanda da padaria.
Rose tem cerca de 40 anos, é responsável pela padaria e funcionária do Parque há 7 anos.
Mora em um loteamento próximo ao Parque tanto que caminha por volta de 15 minutos para
se deslocar até o trabalho e vice-versa. Ela encurta o caminho passando por dentro da ecovila
em direção ao açude com energia solar.
Por trabalhar a muito tempo no assentamento foi testemunha da evolução do mesmo: no início
onde se encontra a “ala residencial” só existia vegetação rasteira e uma das construções da
creche. Gosta de trabalhar no Parque, acha o local muito tranqüilo e aprecia a comida lacto-
vegetaria, porém em casa come carne
125
.
Em relação as tecnologias ambientais, em especial a gestão da água ela não acredita que a
água é um recurso finito, e que tratar esgoto é algo que ela não concorda, pois não acredita
que a água esteja limpa e livre das impurezas após este tratamento.
Maria - ajudante na padaria
Ela foi entrevistada porque havia iniciado o trabalho naquele dia no lugar de outra funcionária
que havia acabado de entrar na licença-maternidade. A entrevista não diretiva com Maria
ocorreu na sexta-feira, dia 2 de dezembro de 2005, às 15 horas na padaria enquanto embalava
produtos para serem vendidos.
Maria tem 29 anos, é assistente de cozinha e embora tivesse iniciado o trabalho naquele dia já
havia trabalhado no Parque antes durante 2 anos. Mora após o loteamento onde mora a Rose
(a responsável pela padaria) e gostaria de continuar trabalhando após o término da licença-
maternidade da outra assistente. Gosta da comida lacto-vegetariana da ecovila, mas come
carne em sua casa. Em relação às TA’s, acha interessante utilizar a água de chuva para
consumo e não sente diferença entre essa água e a que utiliza em sua moradia.
Franceli - funcionária nos finais de semana
A entrevista com Franceli ocorreu no domingo, dia 5 de dezembro de 2005, às 10 horas na
cozinha e refeitório dos funcionários, na casa da agricultura.
125
Os funcionários não precisam seguir a dieta lacto-vegetariana. Em relação aos moradores isso é necessário
pois faz parte da filosofia do Parque.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
234
Franceli tem 20 anos, trabalha nos finais de semana para auxiliar na cozinha dos moradores e
possui carteira assinada há alguns anos.
Acha interessante o uso da água de chuva, mas não tem interesse em implantar essa
tecnologia ambiental em sua residência porque tem um poço, e acha estranho usar água do
esgoto, mesmo sendo lembrada pela autora que a água é tratada antes de ser consumida.
Patrick - agricultor
A entrevista com Patrick ocorreu no domingo, dia 5 de dezembro de 2005, às 10:30 horas no
refeitório dos funcionários, na casa da agricultura.
Patrick tem 22 anos, trabalha com há 4 anos no Parque cuidando da horta e do pomar, leva as
verduras e legumes para a cozinha dos moradores além de fazer manutenção simples nas
construções como troca de lâmpadas, consertos pequenos e retirada do lixo da cozinha. Fica
aliviado por não ser um dos funcionários a fazer a manutenção no tratamento da água de
chuva e no tratamento de esgoto. Mora próximo ao Parque e gosta de trabalhar lá porque é um
ambiente tranqüilo, bonito e agradável.
Em relação às tecnologias ambientais, ele acha a técnica de captação de chuva interessante, e
embora saiba que o efluente do esgoto é tratado não pareceu confiar muito.
José dos Passos - agricultor
A entrevista com José dos Passos ocorreu no domingo, dia 5 de dezembro de 2005, às 10:40
horas no refeitório dos funcionários, na casa da agricultura junto com a entrevista do Patrick.
José dos Passos é mineiro, tem cerca de 35 anos, seu trabalho é o mesmo que o de Patrick
além de ser responsável em levar a produção da horta e do pomar para vender.
Sobre as tecnologias ambientais, achou as idéias tão boas que após observar como era feito
resolveu implantar a captação da água de chuva em sua própria moradia próxima ao Parque.
Também implantaria o tratamento de esgoto se tivesse espaço no terreno onde mora.
4.6.3- Quadro Sinóptico
Após o relato descrito no item acima o resumo da pesquisa de campo será desenvolvido
abaixo através de uma tabelas: a primeira parte identifica o dia e a hora de um determinado
uso e o respectivo local este foi realizado, e a segunda identifica através dos dados da primeira
tabela o uso direto e/ou indireto das tecnologias ambientais.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
235
APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO E USO DAS TA’S
TA’s utilizadas Dia /
hora
Uso Local
diretamente indiretamente
1º de dezembro de 2005 (quinta-feira)
13:00
almoço de
confraternização de
final de ano entre
funcionários e
moradores
refeitório redondo
(comunitário)
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
14:30
brincadeira “amigo
oculto”
refeitório redondo __
reciclagem de lixo
(papéis de presente)
16:00
exibição de filme
brasileiro;
lazer/contemplação
sala “Lótus”
área externa e
brinquedos em
madeira
__
__
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
19:30 jantar
refeitório dos
moradores
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
2 de dezembro de 2005 (sexta-feira)
10:00
horário de
expediente
sala de apoio
técnico dos
moradores (casa
central)
__
uso da água de chuva
(banheiros)
11:00
horário de
expediente
recepção da
administração
__
uso da água de chuva
(banheiros)
16:00 fabricação de pães
para o jantar;
limpeza do Parque
(preparo p/ receber
os visitantes)
padaria;
em todas as
construções
__
uso da água de
chuva
uso da água de chuva
(higiene das mãos)
16:30 limpeza das
marginais dos
açudes
área dos açudes
__
__
19:30 aula de yoga sala de meditação - -
20:30
jantar refeitório redondo
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
gestão da água
(higiene pessoal dos
visitantes/moradores)
3 de dezembro de 2005 (sábado)
8:00 café da manhã refeitório redondo
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
9:00 palestra sala “Lótus”
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
236
3 de dezembro de 2005 (sábado)
9:30
preparação do
lanche
cozinha dos
moradores
reciclagem de lixo
uso da água de
chuva (lavagem da
louça)
__
10:30 lanche
refeitório redondo
e área externa ao
redor do refeitório
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
11:00 vivência em duplas
recanto na área
externa com
estrutura aramada
em frente a sala
“Lótus”
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
13:00
convivência entre
os visitantes
enquanto
esperavam a hora
do almoço
área externa
próxima ao
refeitório e a sala
“Lótus”
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
13:30 almoço
refeitório redondo
e mesa de
madeira próxima
ao refeitório
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
15:00 vivência em grupos
recanto na área
externa com
estrutura
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
15:30
preparação do
lanche
cozinha dos
moradores
reciclagem de lixo
uso da água de
chuva (lavagem da
louça)
__
16:30 lanche
refeitório redondo
e área externa ao
redor do refeitório
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
17:00 palestra sala “Lótus”
energia solar
fotovoltaica
__
19:30 aula de yoga sala de meditação - -
20:30 jantar refeitório redondo
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
uso da água da chuva
(higiene pessoal dos
visitantes/moradores)
21:30 /
23:00
momento de
relaxamento e
confraternização
entre os visitantes e
moradores com
música brasileira e
dança
sala “Lótus” no
dormitório “Sol e
Lua”
energia solar
fotovoltaica
__
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CAPÍTULO 4: PARQUE ECOLÓGICO VISÃO FUTURO
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
237
4 de dezembro de 2005 (domingo)
8:00 café da manhã
refeitório redondo
(comunitário)
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
uso da água da chuva
(higiene pessoal dos
visitantes/moradores)
9:00 palestra sala “Lótus”
energia solar
fotovoltaica
-
9:40
diversão e
tranqüilidade para
as crianças
brinquedos da
creche
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
10:00
convivência entre
os visitantes
área gramada
próxima a sala
“Lótus”
__
uso do efluente de
esgoto tratado para
irrigação do jardim
12:00 almoço
refeitório redondo
e mesa de
madeira próxima
ao refeitório
reciclagem de lixo
(restos de comida,
guardanapos)
reciclagem de lixo
(durante preparação
da refeição);
uso da água de chuva
(lavagem da louça)
13:00
vivência em
duplas
grande salão __ __
13:00 /
16:00
venda dos
produtos da
padaria;
venda produtos da
loja;
venda produtos
do pomar.
área coberta
próxima à
recepção;
loja do Parque;
área coberta
próxima à loja.
__
__
__
uso da água de chuva
(higiene das mãos e
lavagem da louça);
__
__
a partir
de 16:00
entrega das chaves dos quartos.
Despedida dos visitantes.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
238
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As conseqüências das ações antrópicas que degradaram a natureza no decorrer do século
passado e início deste século, a partir da Revolução Industrial; são por si só amostras do que
se espera de um futuro no qual o ser humano abstrai de sua vida a importância do ambiente
natural.
A Revolução Industrial de seu tamanho, estava em busca de algo contrário ao que o
desenvolvimento industrial proporcionava e tudo o que ela representava recebeu críticas de
profissionais renomados como Marx, Wright e Sitte que se tornaram a voz de uma parcela da
população mundial que, independente. Isso demonstrou que existiam idéias diferentes e que
estas se preocupavam com a natureza, o conforto ambiental dos trabalhadores e com a
manutenção do binômio homem-natureza por este ser algo essencial à preservação dos seres
vivos, principalmente do ser humano.
Acontecimentos como a Teoria de Gaia de James Lovelock, o movimento Ecologia Profunda
de Arnie Naess e a elaboração de documentos reconhecidos em âmbito mundial como
“Limites do crescimento”, “Nosso futuro comum”, Agenda 21, Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio e Plano de Implementação de Joanesburgo confirmam e
externam a preocupação com o ambiente natural, seus recursos e a vida existente no planeta.
Em compensação faltam ações concretas que os mesmos priorizam porque tornar realidade os
princípios e diretrizes destes documentos transformou-se em um grande desafio para a
maioria dos países do mundo.
Para enfrentar esse desafio na arquitetura, os profissionais da área precisam impulsionar este
pensamento em que homem e natureza estão ligados e são interdependentes e para
transformá-lo em realidade uma das metas é implantar tecnologias ambientais. Afinal, a
preocupação com a sustentabilidade ambiental na arquitetura é um avanço em relação ao
pensamento da era da arquitetura moderna, e as tecnologias aliadas à democratização das
informações levam a sociedade a uma profunda reflexão da questão ambiental na vida do ser
humano. Como conseqüência, uma parcela da sociedade passa a cobrar ações administrativas
mais rigorosas e eficientes nas três esferas de Governo (municipal, estadual e federal), pois
seu pensamento passa a ser direcionado ao ambiente natural ligado ao ser humano de forma
definitiva onde as ações tomadas trazem resultado positivo para ambos.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
239
A escolha e posterior implantação de uma TA deve observar todo o ciclo pelo qual ela precisa
passa para obter a verdadeira sustentabilidade ambiental. Antes da implantação de qualquer
tecnologia, deve-se estudá-la previamente, pois em determinados locais não há a possibilidade
de sua implantação e isto pode ser percebido por meio da análise/avaliação prévia sem
comprometer a natureza e os recursos financeiros dos interessados. Implementar uma TA com
matéria-prima que não existe nas proximidades e que necessita de transporte para levá-la ao
local onde será utilizada ou degradar uma área para obter a matéria não é sinônimo de
sustentabilidade ambiental. Deve haver a preocupação em se evitar a “sustentabilidade
radical” onde se apregoa a sustentabilidade através de um pensamento linear que ignora o
pensamento complexo, ou seja, não leva em conta uma visão interdisciplinar que possa
alcançar a sustentabilidade nos aspectos espiritual, econômico e social, para assim se tornar a
real sustentabilidade.
Um exemplo prático desta visão interdisciplinar são as ecovilas, mesmo aquelas que definem
como “cola” outro aspecto que não o ambiental. As ecovilas mostradas nesta pesquisa,
especificamente as relacionadas no capítulo 2, levam adiante o conceito de ecovilas
ampliando-o, pois estão na busca do desenvolvimento harmonioso com a natureza e
preocupadas com o futuro de novas gerações.
As tecnologias ambientais são parte integrante dessas ecovilas, de seus moradores e a
natureza que as envolve, e a implantação das mesmas ocorre tanto nas ecovilas mais antigas
como Findhorn quanto nas ecovilas criadas recentemente como o IPEC. O importante a
destacar é a busca permanente e contínua de TA’s mais harmoniosas com a natureza, menos
impactantes do ponto de vista ambiental e aliadas aos aspectos social, espiritual e econômico.
A ecovila de Findhorn, mesmo sendo uma das mais antigas que se tem conhecimento, está
aprimorando as TA’s existentes, implementou projetos para a gestão da água como o
tratamento biológico do efluente de esgoto e está aberta a novas tecnologias que priorizem a
proteção ao ambiente natural. A The Farm também prioriza a gestão da água e aborda o
interesse em criar, na própria ecovila, os produtos pertencentes as TA’s como os coletores
solares para produção de energia elétrica e os coletores para aquecimento da água. E Cristal
Waters ao planejar o assentamento a partir de um projeto de permacultura demonstrou o real
interesse em respeitar o ambiente natural adequando o local a natureza e respeitando o ciclo
da mesma.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
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Já o IPEC pode ser considerado um laboratório de TA’s devido as diversas técnicas e sistemas
aplicados na comunidade e a contínua busca por uma visão interdisciplinar exemplificadas
através de projetos de gestão da água como as cisternas em ferrocimento, os banheiros secos
com decoração singular e a captação de água de chuva. Além do interesse em implementar as
TA’s, o IPEC democratiza as informações por meio de sua página oficial na rede mundial de
computadores (Internet) e por meio dos cursos que ministra.
Nota-se, portanto, que a água é um elemento importante para estas ecovilas e sua gestão
demonstra isso, pois todos os modelos a implantaram através do tratamento biológico de
águas servidas e da captação e reaproveitamento de água de chuva e de acordo com os seus
recursos financeiros. Entretanto, os próprios modelos de ecovilas e assentamentos humanos
continuam em busca da sustentabilidade ambiental aliando-a às sustentabilidade social,
econômica e espiritual, e pretendem estar sempre porque a cada dia surge uma nova forma,
um novo meio de diminuir o impacto das ações humanas na natureza e seus recursos, em
especial a água.
Através da visita a ecovila Parque Ecológico Visão Futuro, estudo de caso da pesquisa
abordado no capítulo 4, foram obtidos dados como entrevistas sobre o cotidiano, observação
direta da apropriação do espaço e fotografias ilustrativas.
A administração do Parque, em especial o sistema de bolhas, demonstra que os recursos
financeiros obtidos na ecovila são tratados com seriedade e criatividade. Este sistema relata de
forma clara quais setores conseguem sustentar a ecovila e quais necessitam de injeção de
capital para que no futuro possam se auto-sustentar e assim auxiliar o Parque a crescer e a se
desenvolver sem a necessidade de recursos financeiros vindos de setores públicos ou
privados.
As palestras e vivências ministradas na ecovila são momentos de reflexão interna,
tranqüilidade e relaxamento para os visitantes que vêm do meio urbano em busca de
harmonia, do contato com a natureza e da necessidade se reabastecer para transformar a
própria vida por meio de valores diferentes dos existentes da “cidade grande”. É a busca,
talvez até inconsciente, da harmonia do binômio homem-natureza que leva tantas pessoas a
lugares como o Parque.
As entrevistas realizadas no Parque com moradores e funcionários trouxeram informações
relevantes. Os moradores têm consciência ambiental e a filosofia de vida deles (ou a “cola”)
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auxilia na harmonia entre eles e fortalece o binômio homem-natureza; possuem visão
interdisciplinar entendendo que mais importante que a questão ambiental em si é a igualdade
social e econômica unida a preservação do ambiente natural. Eles buscam o respeito à
natureza como resultado da mudança interior que alcançaram por intermédio da “cola” da
ecovila. Alguns obtiveram essa mudança antes de morarem no Parque, mas o que há de
interessante é que a mentalidade de todos, mesmo com experiências de vida e idades
diferentes, é a permanente procura pela paz interior que se reflete no cuidado com a natureza.
Os funcionários não seguem a “cola” do Parque, se adaptaram à rotina dos moradores como a
dieta lacto-vegetariana, yoga e meditação, mas a dieta não foi adotada pelos que foram
entrevistados. Eles enfatizaram que em suas residências não há restrições alimentares e
mesmo que haja, as mesmas não estão relacionadas à questão espiritual. Praticamente todos
os entrevistados compreendem um pouco mais sobre a preocupação com ambiente natural,
devido a educação ambiental implementada para eles (funcionários) e moradores da região.
No que concerne a apropriação do espaço, a pesquisa se deu nos dias em que haviam
visitantes e os mesmos utilizavam a área externa gramada e os locais de contemplação de
forma freqüente enquanto em relação aos funcionários e moradores não foi observado tal fato.
Entende-se portanto que o espaço da ecovila é utilizado especialmente pelos visitantes e
durante os eventos que são realizados no Parque, afinal o local é um convite à contemplação
devido a bela paisagem de montanhas, grandes áreas verdes, existência de animais de pequeno
porte (aves) além da tranqüilidade obtida através do som da natureza.
A cerca da questão ambiental, particularmente das TA’s, o Parque implantou algumas
tecnologias, mas teve dificuldades de aplicabilidade de outras como os métodos construtivos
devido a falta de recursos financeiros e profissional capacitado para avaliação do local antes
da implementação das TA’s. Conceitualmente se insere na definição de ecovilas e tem como
exemplo a gestão da água que ganhou ênfase dentre as demais devido a necessidade de
armazenamento da água em épocas de seca e a inexistência de distribuição de água vinda da
concessionária. O Parque, mesmo com dificuldades, demonstrou a viabilidade de implantar
TA’s de gestão da água que trabalham em integral harmonia com a natureza ao aproveitarem
as qualidades da própria natureza com a utilização de materiais porosos (pedra e areia) e
plantas com propriedades de limpeza em detrimento de produtos químicos maléficos ao
ambiente natural e a saúde do ser humano.
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O Parque demonstrou sua real preocupação com o ambiente natural, o elemento água e a
disposição em ampliar seu enfoque ambiental através da adição de novas TA’s como o ASBC
para os chuveiros e a busca de uma tecnologia mais barata para a geração de energia elétrica.
O Parque como as demais ecovilas já mencionadas tem visão interdisciplinar onde as questões
ambientais, sociais, econômicas e espirituais estão unidas para valorizar o indivíduo com a
mudança interna através da ecologia profunda para então ocorrer a mudança externa e, a partir
de momento de reflexão se entender que a natureza é um elemento integrante da vida de cada
ser.
Nesta pesquisa observou-se que alguns indivíduos preocupados com a situação do mundo e
insatisfeitos com o estilo de vida da sociedade da qual faziam parte resolveram buscar um
outro caminho para suas vidas e, encontrando pessoas com o mesmo pensamento, resolveram
criar uma forma de viver completamente diferente daquela que não lhes trazia alegria. Estes
indivíduos são os ecovilenses e estas novas sociedades são as ecovilas, onde a mudança de
pensamento e de atitude do ser humano é a maneira mais direta que existe de buscar o novo e
neste caso, o novo é a consciência ambiental que valoriza algo além dos próprios seres
humanos: a vida de todos os seres vivos.
Portanto espalhar ecovilas pelo Brasil será de grande valia se o pensamento não for linear, isto
é, motivado por interesses próprios em detrimento do bem estar dos grupos sociais. Assim, a
mentalidade e o pensamento humano devem ser aprimorados para se obter melhores
resultados na implantação de TA' s percebendo que as ecovilas não são apenas assentamentos
humanos preocupados com a natureza e sim com uma nova forma de convivência em
sociedade e de ver o mundo.
As ecovilas se propuseram a colocar em prática a necessidade da união entre ser humano e
ambiente natural através da implantação de tecnologias ambientais. Sendo não convencionais,
vernaculares, com tecnologia de ponta ou até mesmo ignoradas por alguns profissionais, as
TA’s são a expressão real de uma ecovila que respeita a natureza e seus recursos. Há uma
busca constante na melhoria das técnicas, na igualdade social e na necessidade de se
sustentarem financeiramente através do que podem oferecer com esta nova ideologia, e
possuem uma grande esperança na humanidade com a certeza de que em um certo momento a
minoria se tornará maioria e estará mais próxima de conquistar a sustentabilidade em todos os
aspectos.
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Esta pesquisa chegou ao resultado esperado: disseminar o conceito de ecovilas e TA’s
acreditando que poderá motivar outros pesquisadores a entrarem nesse mundo onde respeito,
dignidade e o binômio homem-natureza estão unidos e caminhando ao lado da vida na busca
de um futuro em harmonia com todos os seres vivos.
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AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
APÊNDICES
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256
APÊNDICES
Apêndice 1- Ferramenta de medição da sustentabilidade: a Pegada Ecológica
A Pegada Ecológica
126
é uma ferramenta de medição da sustentabilidade utilizada pela ONU,
por diversas ONG’s ambientais e pelas ecovilas que através de uma avaliação individual e
coletiva é possível descobrir se a humanidade ou um determinado grupo social está a caminho
da sustentabilidade ou se faz parte do grupo que degrada e depaupera os recursos naturais.
Em 1996, o lançamento do livro Our Ecological Footprint (Nossa Pegada Ecológica) da
autoria de Mathis Wackernagel
127
e William Rees
128
foi um marco na utilização deste
instrumento de avaliação, pois embora já houvesse estudos sobre o assunto, o pioneirismo dos
autores auxiliou a outros pesquisadores na busca por melhorias nos métodos dessa avaliação
da sustentabilidade (VAN BELLEN, 2004, p.68).
Pode-se entender que a Pegada Ecológica é um índice que mede a sustentabilidade ambiental
com base na utilização dos recursos naturais renováveis e com a capacidade da natureza em
renovar esses recursos. Por meio dela obtém-se informações sobre o estado dos ecossistemas
e dos impactos causados pelas ações antrópicas (WACKERNAGEL, 2004, p.3).
Figura 375 - Pegada Ecológica: harmonia com o Planeta. Fonte: GEA,2005.
Van Bellen relata que a Pegada representa o espaço ecológico correspondente para sustentar
um determinado sistema ou unidade e que Wackernagel e Rees acreditam na importância
dessa ferramenta:
126
Esta ferramenta de avaliação da sustentabilidade foi consagrada na Conferência de Joanesburgo, em 2002.
127
Mathis Wackernagel é pesquisador da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá e atual diretor
executivo da Rede Mundial da Pegada Ecológica.
128
William Rees é pesquisador e professor da escola de Planejamento Urbano da Universidade da Columbia
Britânica, no Canadá.
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APÊNDICES
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
257
Esta técnica é considerada pelos autores tanto como analítica quanto como
educacional, sendo que ela não só analisa a sustentabilidade das atividades humanas
como também contribui para a construção de consciência pública a respeito dos
problemas ambientais e auxilia no processo decisório. O processo de avaliação
reforça sempre a visão da dependência da sociedade humana em relação a seu
ecossistema (2004, p.69).
Figura 376 - Divisão harmônica no Planeta: mar, floresta, cultivo, pastagem, moradia.
Fonte: GEA, 2005.
Wackernagel e Rees (VAN BELLEN, 2004, p.69) basearam-se no cálculo da capacidade de
carga para definir o quanto o Planeta Terra consegue suprir as necessidades de uma população
com número limitado. Porém, é notória a incapacidade de limitar o crescimento da população,
pois esta cresce de forma rápida como o consumo dos recursos naturais que aumenta na
mesma intensidade e proporção. Os autores resolveram inverter este cálculo, isto é, “calcular
a área requerida por uma população de um determinado sistema para que esta população se
mantenha indefinidamente” (VAN BELLEN, 2004, p.69).
O método define esta área necessária através da entrada de dados como a capacidade de
absorver os resíduos ou dejetos do sistema, e energia e recursos naturais. Para o cálculo é
importante definir a área utilizada para a produção de energia e matéria, e a quantidade de
recursos naturais que serão necessários para tal ação e como a natureza vai absorver os
resíduos produzidos. Como se torna extremamente complexo, o cálculo se restringe à algumas
categorias
129
como alimentação, transporte, energia, água, tomando por base a importância em
sensibilizar a sociedade com os resultados. E para facilitar os autores desta ferramenta de
avaliação da sustentabilidade criaram questionários para que se pudesse avaliar a Pegada
individual, de uma cidade e de um país.
O Cálculo da Pegada Ecológica
A capacidade de produtividade total da Terra em um ano é 1,8 hectares/pessoa. Isto significa
129
Wackenagel e Rees entendem que este sistema de avaliação é limitado, e por isso mesmo é criticado por
outros pesquisadores que argumentam que a ferramenta não é científica. Mas os autores do livro “Nossa Pegada
Ecológica’ ressaltam que a grande parte dos sistemas científicos de avaliação são limitados, mas com o Pegada
há a possibilidade de se obter estimativas, o que antes não se conseguia (VAN BELLEN, 2004, p.71).
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
APÊNDICES
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que, em teoria, nenhum país deveria ultrapassar este valor, pois o Planeta não teria como
regenerar o que foi ceifado, mas são poucos os países que possuem Pegada abaixo desse
valor.
O Relatório “Planeta Vivo 2004” (WACKERNAGEL 2004, p.30) indica que o Brasil possui
Pegada 2.2 hectares/pessoa, atrás de países como Estados Unidos (9.5), Emirados Árabes
(9.9), França (5.8), Suécia (7.0) e Reino Unido (5.4). Com estes dados (atualizados até o ano
de 2001), na Pegada de energia o Brasil estava em 82º lugar e na da água em 70º lugar
(WACKERNAGEL 2004, p.30). Mesmo tendo diversos países desenvolvidos, em
desenvolvimento e subdesenvolvidos à sua frente, o país ainda tem muito a resolver e
implantar para buscar a sustentabilidade.
A Pegada Ecológica é convertida de hectares/pessoa para número de planetas, onde cada
planeta equivale a 1.8 hectares/pessoa, com a intenção de se verificar o impacto que cada ser
humano causa à Terra, ou seja, quanto mais planetas der o resultado da Pegada de um
indivíduo ou de um grupo social, mais impactante é a vida deste no meio ambiente.
O importante é que a partir dos resultados se pode tomar medidas como uma pequena
mudança ou até mesmo uma mudança radical no modo de vida para minimizar o impacto do
estilo de vida degradante que se causa ao meio ambiente.
Figura 377 - Pegada Ecológica da humanidade. Fonte: WACKERNAGEL, 2004, p.3.
Observa-se na figura acima que a Pegada Ecológica mundial aumentou vertiginosamente
desde o primeiro ano em que foi iniciada a avaliação (1961) chegando no ano de 2001 a 1.8
hectares/pessoa (WACKERNAGEL, 2004, p.12).
A GEN (2005) se baseou na Pegada Ecológica para criar a Análise da Sustentabilidade
Comunitária (ASC). A ASC é um questionário com 158 perguntas que visa traçar o perfil da
N
ú
m
p
l
a
n
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t
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APÊNDICES
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sustentabilidade obtida na ecovila até aquele momento. As perguntas estão dividas em 5
temas: ecologia, educação, cultura, economia, governança, comunicação, espiritualidade,
saúde e cola. Abaixo seguem os sub-itens:
Ecologia: conexão com o lugar, localização e escala da ecovila; restauração e conservação
da natureza; disponibilidade, produção e distribuição de alimentos; infra-estrutura física,
construções e transporte – materiais, métodos e desenhos ecológicos; padrões de consumo
e manejo do lixo sólido; água, fontes, qualidade e padrões de uso; águas residuais e
manejo da contaminação das águas; fontes e uso da energia.
Educação
Cultura: abertura, confiança e segurança e espaços comuns; sustentabilidade cultural;
artes e lazer; uma nova visão holística do mundo.
Economia Sustentável
Governança: diversidade e tolerância; tomada de decisões; resoluções de conflitos.
Comunicação: comunicação, o fluxo das idéias e da informação serviços, formação de
redes; assistência e difusão – intercâmbio de recursos.
Espiritualidade: sustentabilidade espiritual; paz e consciência global.
Saúde
Cola: cola da ecovila; habilidade de resposta comunitária.
Abaixo se encontra o número de perguntas referente a cada item dos temas já descritos.
Perguntas Item Perguntas Item
11 Conexão com o lugar 5 Cultura: visão geral do mundo
8 Alimentos 9 Economia
10 Tecnologias ambientais 12 Governança
6 Resíduos sólidos 3 Comunicação: informação
6 Água 6 Comunicação: intercâmbio
6 Águas servidas 9 Espiritualidade sustentável
11 Energia 6 Espiritualidade paz consciência
5 Educação 7 Saúde
10 Cultura: espaço comum 9 Cola comunitária
5 Sustentabilidade cultural 5 Cola: resposta comunitária
9 Artes e lazer
158 total de respostas
Figura 378 - Relação do número de perguntas para cada tema da ASC. Adaptada pela autora. Fonte: GEN, 2004.
As alternativas para resposta de cada pergunta têm o número de pontos ao lado. Cada tema
tem seu somatório parcial e após responder a todas as perguntas, esses valores parciais são
somados e comparados com o resultado da tabela abaixo:
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Pontos Descrição
+ de 1033 Indica um excelente progresso em direção a sustentabilidade
484 -1032 Indica um bom conhecimento em direção a sustentabilidade
0 - 483 Indica que se requer mais ação para empreender o caminho à
sustentabilidade
Figura 379 - Indicação do grau de sustentabilidade pela ASC. Fonte: GEN, 2004.
No que diz respeito a arquitetura, e em especial a arquitetura bioclimática e as tecnologias
ambientais, o tema Ecologia é o mais interessante para a pesquisa e poderá ser utilizado para
complementar a avaliação empírica e das entrevistas que serão desenvolvidas no capítulo 4.
Através do resultado da avaliação da sustentabilidade é importante implementar técnicas que
objetivam, por exemplo, a racionalização do uso de água e energia e a adequação da
construção ao local. É neste contexto que as tecnologias ambientais estão inseridas.
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Apêndice 2 - Dicas para racionalizar o consumo de água. Fonte: MMA, 2005.
-conferir se há vazamentos no vaso sanitário, nas torneiras e na tubulação;
-se não houver coleta de água de chuva na unidade habitacional onde se mora, pode-se
aproveitar e armazenar esta água em recipientes que devem ser colocados na saída das calhas
para depois usá-la na irrigação de jardins e plantas. È importante lembrar que esses recipientes
devem ficar tampados após estiverem cheios para evitar a propagação de doenças como a
dengue;
-limitar o banho em aproximadamente 5 minutos fechando a torneira enquanto se ensaboa;
-escovar os dentes e depois encher um copo com a quantidade necessária para lavá-los e
limpá-los;
-apertar a válvula de descarga apenas o tempo necessário. Mas se a construção estiver em
reforma ou sendo edificada deve-se dar preferência às caixas de descarga no lugar das
válvulas por serem mais econômicas;
-para esfregar a roupa com sabão usar um balde com água que pode ser a mesma usada para
deixar a roupa de molho, mantendo a torneira do tanque fechada. A água corrente deve ser
usada somente no enxágüe;
-o resto da água utilizada na dica acima pode ser aproveitado para lavar quintal ou varanda;
-ao lavar louças, panelas e talheres é só retirar os restos de alimentos, colocar sabão e depois
enxaguar tudo de uma só vez;
-para lavar as calçadas é necessário utilizar a vassoura para retirar a sujeira e passar o sabão
ao invés da mangueira. Seria melhor evitar o uso da mangueira diminuindo o desperdício. A
água que sobrou da lavagem da roupa pode ser utilizada também;
-lavar roupas apenas quando a máquina de lavar estiver cheia e evite o excesso de sabão que
exige um número maior de enxágües;
-se não há máquina de lavar roupa e há a necessidade de adquirir uma, é preferível as de
abertura frontal pois gastam menos água que as de abertura superior;
-ao lavar o automóvel utilizar um balde no lugar da mangueira;
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-para lavar a louça utilizar uma bacia ou a própria cuba da pia para deixar os pratos e talheres
de molho por alguns minutos antes da lavagem ajudando a soltar a sujeira ou aqueça a água
para facilitar o trabalho. Utilizar a água corrente somente para enxaguar;
-para lavar verduras utilizar também uma bacia para deixá-las de molho passando-as depois
por um pouco de água corrente para terminar de limpá-las;
-antes de irrigar as plantas é interessante consultar a meteorologia para saber se irá chover e
assim evitar o uso de água sem necessidade;
-cultivar plantas que necessitam de pouca água como bromélias, cactos, pinheiros e violetas.
Molhar a base das plantas não as folhas;
-não irrigação as plantas em excesso nem nas horas quentes do dia ou em momentos com
muito vento porque muita água será evaporada antes de atingir as raízes;
-utilizar cobertura morta como folhas e palha sobre a terra de canteiros e jardins para diminuir
a perda de água;
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Apêndice 3 - A técnica do adobe
A técnica do adobe consiste em misturar o solo com água e as fibras, colocar a massa em
formas de madeira e secá-los à sombra. O processo é manual e possui alguns detalhes: o solo
(já com o traço correto) deve ser misturado à água e as fibras e bem amassado com os pés até
obter boa consistência, ou seja, uma liga entre os dois elementos. Deve descansar durante dois
dias com o cuidado de não ser molhado por água nenhuma inclusive a água de chuva porque
terminados os dois dias volta-se a amassar o barro e colocá-lo em moldes de madeira
previamente produzidos (IPEMA, 2004; SILVA, 2000, p.33).
Os moldes devem ser molhados antes da mistura ser colocada para que a madeira não retire a
água do barro, depois se nivela a massa no molde para obter tijolos com formato retangular e
liso. Retira-se das formas deixando secar por 10 dias sendo que o tijolo é virado a cada 2 dias
levando em consideração que os tijolos devem estar separados entre si o suficiente para não se
unirem durante a secagem (IPEMA, 2004). Silva (2000, p.33) recomenda que os tijolos
devem ser postos no chão para não flambarem e que a secagem deve durar três dias
ensolarados ou cinco dias chuvosos, além disso o material só pode ser empilhado após duas
semanas. Lengen (2004, p.306) entende que a secagem pode ser feita até 2 dias dependendo
do clima, depois antes de usá-los devem ser guardados por 20 dias dispostos em fileiras com
espaços entre elas. O importante é que a secagem seja lenta e gradativa evitando o
aparecimento de rachaduras e deformação nos tijolos.
Figura 380 - Etapas da fabricação de tijolo de adobe.Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN,2004, p.305.
Com relação aos moldes, a dimensão mais usual é a do formato 40cm de comprimento, 20cm
de largura e 15cm de altura, mas Legen (2004, p.304) sugere outras dimensões: 20x10x5cm,
40x10x8cm e 30x15x10cm. Os moldes podem ser feitos de madeira ou metal (LEGEN, 2004,
p.308), para mais de um tijolo e até mesmo um super molde para produzir mais tijolos em
menos tempo. Se o projeto de arquitetura tiver ângulos arredondados ou chanfrados podem
ser fabricados moldes específicos.
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Figura 381 - Molde para um tijolo: 40x20x15cm e um super molde para 6 tijolos. Fonte: AUTORA.
Se houver necessidade de usar reforço entre os tijolos os moldes podem ser elaborados com
espaços em semicírculo para que sejam colocadas barras de ferro no momento da construção.
Figura 382 - Forma de madeira e tijolo com espaço para reforço. Fonte: AUTORA.
As fiadas são erguidas até o pé direito desejado e para haver uma boa vedação o acabamento
entre a última fiada e o teto é feito com a massa usada entre os tijolos. O revestimento pode
ser um reboco de cal e areia para evitar o surgimento de abrigos de insetos
130
nas rachaduras
(ALBERNAZ, 2003, p. 16; SILVA, 2000, p. 36-37).
Figura 383 - Detalhes da parede construída. Fonte: RAINHO, 2005.
130
O inseto mais comum é o “barbeiro cientificamente conhecido como “Tryponossoma Cruzi”, causador da
doença de chagas. Embora o tijolo de adobe não seja o método construtivo mais propenso a abrigar este tipo de
inseto, a vedação com reboco de cal dá a construção proteção a este tipo de vetor de doença além de qualidade e
beleza (SILVA, 2000).
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De acordo com Silva (2000, p.34) alguns cuidados devem ser tomados:
a construção deve ser edificada em um terreno plano com no máximo um pequeno aclive.
Portanto locais com inclinações muito íngremes são desaconselhados;
também devem ser evitadas áreas propensas a alagamentos;
na construção deve haver a distância mínima de 1 metro entre os vãos (portas e janelas)
bem como entre eles e os ângulos da edificação;
é aconselhável utilizar grandes beirais para proteger os tijolos de adobe da chuva.
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266
Apêndice 4 - Técnica do solo-cimento
Qualquer tipo de solo pode ser utilizado e o interessante deste método construtivo é aproveitar
o solo do local da construção e que poderá ser obtido através da retirada de terra para fazer
uma piscina, um porão ou nivelar um terreno inclinado fazendo diminuir o impacto ambiental
que uma construção causa ao ambiente natural. Os solos mais apropriados são os que
possuem entre 45% a 50% de areia em sua composição e os solos de cor preta que são os que
possuem matéria orgânica são inadequados para este fim (ABCP, 2005).
O solo-cimento é utilizado em pavimentações e na construção civil, e nesta última se observa
uma maior aplicação: são contrapisos, fundações e principalmente paredes, sejam elas
monolíticas, de blocos prensados ou tijolos. O traço ideal é 10:1, isto é, dez partes de solo
para uma de cimento com água suficiente para umidificar a mistura e não há necessidade de
mão de obra especializada e sim de um técnico para acompanhar a obra (ABCP, 2005).
Segundo o Projeto Habitar da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para construir
paredes monolíticas coloca-se sobre o contrapiso acabado guias
131
alinhadas e aprumadas com
espessura da parede em torno de 12cm, depois o solo-cimento é colocado e compactado com
soquetes a cada 20cm de altura e logo após as formas são retiradas e colocadas sobre a
primeira parte da parede construída. Esse processo se repete até a parede estar concluída, isto
é, com a altura desejada. Após a construção da alvenaria é necessário curar o solo-cimento
para evitar trincas e isto é feito molhando-o três vezes ao dia durante uma semana.
As instalações hidro-sanitárias e elétricas nas paredes monolíticas podem ser embutidas, mas
os tubos e cabos dessas instalações devem ser colocados através de um corte na alvenaria
quando a mistura estiver recém compactada. Como possuem bom acabamento, essas paredes
não necessitam de revestimentos como reboco e emboço e por isso podem ser apenas pintadas
com tinta à base de cimento para aumentar sua impermeabilidade.
Já os blocos ou tijolos de solo-cimento possuem formato de paralelepípedo com furos que
vazam o bloco ou com furos até metade da espessura do mesmo e os furos têm a função de
fazer o encaixe dos tijolos sem o uso de argamassa, diferentemente da construção com
métodos construtivos convencionais.
131
Essas peças podem ser de madeira, aço ou concreto, mas o material mais usual é a madeira.
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Figura 384 -Tipos de tijolo de solo cimento utilizados em algumas construções da Caixa Econômica Federal.
Fonte: https://webp.caixa.gov.br/liminação/popup/pop_fotos.asp?item=sc&limin=14.
Acesso em: 05 out.2005.
Figura 385 -Exemplos de encaixe com tijolos de solo cimento vazado com 2 furos.
Fonte:
http://www.man.com.br/800x600/liminação_de_casa_economica/tijolo_encaixe.htm.
Acesso em 02 out.2005.
Os tijolos podem ser fabricados em moldes de metal, prensa manual ou prensa hidráulica.
Para Lengen (2004, p.310) os moldes são compostos por dois elementos: o externo com 40cm
de comprimento, 20cm de largura e 15cm de altura e vergalhões nas laterais para facilitar o
manuseio e o interno com dois espaços ocos que dão resistência às construções de pequeno
porte.
Figura 386 -Molde para tijolo de solo-cimento. Fonte: AUTORA.
O molde interno é colocado dentro do molde externo, preenchido com a mistura de solo-
cimento ainda fresca, bem sovado para ficar compactado e alisar a mistura deixando-a
nivelada com a borda do molde. Para retirar do molde é só virá-lo de cabeça para baixo,
assentá-lo no piso e então retirar o molde interno com todo o cuidado (LENGEN, 2004;
p.311; HABITAR, 2005). Os blocos devem ser colocados em um local coberto para serem
protegidos das intempéries e a cura é igual à das paredes monolíticas.
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Figura 387 -Etapas do processo de moldagem manual. Adaptado pela autora. Fonte: LENGEN, 2004, p.311.
As prensas são utilizadas para obras de grande porte porque aumenta a produção de tijolos em
um período menor de tempo e sem muito esforço humano. O procedimento com a prensa
manual é simples: coloca-se a mistura na abertura e puxa-se a gaveta para a 2ª parte da prensa,
fecha-se com tampa que também nivela o produto e use a alavanca para comprimir o solo-
cimento. É importante que se empurre a alavanca até o chão para pressionar bem e assim
compactar os tijolos, depois é só abrir a tampa e retirar os tijolos já prontos. O tempo de cura
é igual aos processos anteriores.
Figura 388 -Prensa. Fonte: http://www.permaq.com.br/prensa%20manual.html. Acesso em 02 out.2005.
As paredes com tijolos de solo-cimento possuem as mesmas propriedades físicas das
alvenarias com tijolos convencionais (como o tijolo de barro cozido). Como as paredes
monolíticas de solo-cimento, as de tijolos de solo-cimento também podem ser apenas pintadas
com tinta a base de cimento sem necessidade alguma de reboco e emboço (ABCP, 2005;
HABITAR, 2005). Abaixo segue o procedimento da construção de uma alvenaria em tijolo de
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solo-cimento
132
.
Como os tijolos possuem furos podem ser assentados sem argamassa, apenas encaixados e
bem nivelados e alinhados. Outra vantagem dos furos é colocar barras de ferro para
sustentação da parede.
Figura 389 -Assentamento dos tijolos de solo-cimento. Fonte: http://www.man.com.br/
liminação_de_casa_economica/liminação_argamassa.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 390 -Fase da construção com solo cimento. Fonte: https://webp.caixa.gov.br/liminação/
popup/pop_fotos.asp?item=sc&limin=16. Acesso em: 05 out.2005.
Figura 391 -Superfície lisa e plana: sem reboco e emboço. Fonte: http://www.man.com.br/
liminação_de_casa_economica/liminação_reboco.htm. Acesso em 02 out.2005.
Quanto as instalações, elas são colocadas atravessando os furos dos tijolos sem quebra de
material e perda de tempo na construção.
132
Este procedimento está baseado em uma empresa de fabricação de prensas para tijolos de solo-cimento.
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Figura 392 -Instalação elétrica e hidráulica. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica/eliminacao_cortes.htm. Acesso em 02 out.2005.
O travamento vertical é feito com barras de ferro colocadas nos furos dos tijolos e o
horizontal com as barras entre dois tijolos. Em ambos os casos o espaço é preenchido com
concreto fino para estabilizar o ferro e conseqüentemente a parede. Os batentes de portas e
janelas já são colocados durante a execução da parede e encaixados nos tijolos tendo
preenchimento de reboco entre batente e tijolos.
Figura 13 -Travamento vertical e horizontal e os batentes das esquadrias. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /travamento.htm. Acesso em 02 out.2005.
Figura 394 -Batentes de portas e janelas com chumbamento. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /embolsamento.htm. Acesso em 02 out.2005.
Para a colocação de tomadas e interruptores o processo é simples: deve-se medir o tamanho
da caixa no tijolo, cortar no local demarcado, confirmar se o corte está correto colocando a
caixa no espaço aberto pelo corte e depois envolver a caixa de argamassa na parte externa e
colocar na parede. A argamassa tem a função de fixá-la na parede e como em obras realizadas
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com métodos construtivos convencionais o espelho das tomadas e interruptores é colocado
após a pintura.
Figura 395 -Passo a passo do encaixe da caixa de tomada no tijolo de solo-cimento.
Fonte: http://www.man.com.br/construcao_de_casa_economica/instalacoes_tomadas_interruptores.htm.
Acesso em 02 out.2005.
Os tijolos não precisam ser rebocados, emboçados e emassados porque a pintura pode ser
feita diretamente devido a superfície lisa e em algumas construções o tijolo aparente se torna
um elemento de atração.
Figura 396 -Pintura das paredes de tijolo de solo-cimento. Fonte: http://www.man.com.br/
construcao_de_casa_economica /Pintura_direto.htm. Acesso em 02 out.2005.
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Apêndice 5 - Questionário para ecovilas nacionais e internacionais
QUESTIONÁRIO
-Quais são as tecnologias ambientais utilizadas na ecovila? (energia solar, eólica, tratamento
de águas servidas, métodos construtivos, etc).
-Como vocês as utilizam? Seguem modelos, estudos, legislações? Criaram modelos?
Quais são as etapas de procedimento? (utilize o modelo abaixo para todas as tecnologias)
Tecnologia ambiental (nome):
Como vocês as utilizam:
Seguem modelos, etc (Quais?):
Criaram modelos (Quais?):
Etapas de procedimento:
Materiais e tipos de construções utilizados:
Lista de Materiais:
Tipo de construção:
No que concerne à gestão da água na ecovila, especificamente.
O USO DE ÁGUAS PLUVIAIS (AP) E O TRATAMENTO DE ÁGUAS SERVIDAS (AS)
-Quais foram os procedimentos anteriores à execução do sistema (ex: escolha do terreno e do
sistema, levantamentos, estudos, limpeza do terreno, etc)?
AP:
AS:
-Qual o motivo da escolha do local onde foi implantada a tecnologia? Qual a importância
desta técnica para o local (condições ambientais) e para as pessoas (condições sociais e
econômicas)?
AP:
AS:
-Que problemas ocorreram durante a implantação do sistema?
AP:
AS:
-Há quanto tempo (meses, anos) foi implantado o sistema?
AP:
AS:
-Os materiais utilizados para compor os elementos do sistema são reciclados ou foram
retirados do local de forma sustentável? Quais são eles?
AP:
AS:
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273
-Quais melhorias foram feitas no sistema após sua implantação? Onde foram realizadas essas
melhorias (tipo do material, mudança dos componentes do filtro, etc)?
AP:
AS:
-Como é feita a ligação entre o sistema e as construções que utilizam a água?
AP:
AS:
-Os tanques que filtram e armazenam a água recebem tratamento especial
(impermeabilização, etc)?
AP:
AS:
-Onde é utilizada a água tratada deste sistema? Após utilizada, a água é reaproveitada? Onde?
Qual seu destino?
AP:
AS:
-Foi determinada alguma distância entre os elementos que compõe o sistema e as
construções? Qual o motivo?
AP:
AS:
- Quais problemas que ainda necessitam ser solucionados?
AP:
AS:
-Como é feita a manutenção? Qual sua periodicidade? É de fácil manutenção (questão
financeira, tempo x homem-hora)?
AP:
AS:
-Qual a periodicidade da manutenção do sistema no interior das construções? Essa
manutenção incomoda os moradores das mesmas? De que forma (tempo de manutenção,
sujeira, etc)?
AP:
AS:
-A eficácia da tecnologia é comprovada através de testes e laudos técnicos? Se sim, que
instituição elaborou esses testes? A água tem qualidade comprovada para consumo humano
(potabilidade e balneabilidade) ou apenas para ser usada para fins não potáveis?
AP:
AS:
-Quem foi o responsável pela implantação da tecnologia? É o mesmo que está responsável
pela manutenção?
AP:
AS:
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274
-Os moradores estão satisfeitos com a tecnologia? Como demonstram suas opiniões sobre o
assunto? Eles são informados a cerca da importância das tecnologias? Através de que
instrumento de informação (palestras, informativos, conversa informal, etc)?
AP:
AS:
-Como ela influencia o modo de viver da comunidade?
AP:
AS:
ESPECIFICAMENTE EM RELAÇÃO ÀS ÁGUAS PLUVIAIS
-Qual a média de precipitação de chuva anual no local? Em que épocas do ano se observa uma
maior armazenagem da água de chuva? Qual a capacidade de armazenamento do sistema?
-O sistema de captação, armazenamento e reaproveitamento de AP descarta a água
proveniente dos primeiros momentos da chuva? Como isso é feito?
ESPECIFICAMENTE EM RELAÇÃO ÀS ÁGUAS SERVIDAS
-A utilização de raízes é muito comum para a limpeza das águas servidas. Vocês utilizam esse
procedimento? Possuem algum teste que comprove a eficiência desta(s) planta(s)?
Dados gerais acerca da ECOVILA:
Nome:
Nome e responsabilidade de quem respondeu a este questionário:
Localização / Endereço:
Número de pessoas que habitam no local:
Número médio de visitantes: pessoas/dia Picos (época/hora):
Principais atividades ali realizadas:
Quantidade e tipo de habitações:
Quantidade de construções e suas funções:
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Apêndice 6 - Questionário para os moradores e funcionários do Parque Ecológico Visão
Futuro
1- Que tipo de sensação te passa este lugar?
2-Qual a relação deste lugar com a preservação do meio-ambiente? Você acredita que o uso
de tecnologias renováveis tem algo a ver com isto? Justifique.
3- Qual sua visão em relação às tecnologias renováveis utilizadas no Parque Visão Futuro?
4-Como é a vida em uma comunidade como a do Parque?
5- O que o (a) levou a vir morar no Parque?
6- Qual das opções abaixo definem o motivo que lhe fez resolver morar no Parque?
( ) tranqüilidade ( ) contato permanente com a natureza ( )outros. Quais?
( ) fuga dos problemas ( ) preocupação com a saúde
( )violência da cidade ( ) busca de uma vida diferente
7- Descreva a sensação sentida no interior das construções existentes no Parque em relação a:
vento:
chuva:
sol:
entorno (áreas em volta das construções e da ecovila):
dispositivos arquitetônicos (varandas, brises): obs:
8- Faça uma breve comparação com sua antiga casa e a que mora no Parque em relação as
tecnologias:
9-Quais são suas atividades dentro da sua residência?
10-Dentro dessas atividades, quais as tecnologias que você realmente utiliza em seu
cotidiano?
11-Qual sua opinião sobre as tecnologias nos seguintes aspectos: (a) manutenção, (b) custo x
benefício, (c) obtenção de conforto ambiental, (d) qualidade de vida.
Métodos construtivos:
a ____________________________________________________________________
b ____________________________________________________________________
c ____________________________________________________________________
d ____________________________________________________________________
fontes de energia:
a ____________________________________________________________________
b ____________________________________________________________________
c ____________________________________________________________________
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276
d ____________________________________________________________________
reciclagem de lixo:
a ____________________________________________________________________
b ____________________________________________________________________
c ____________________________________________________________________
d ____________________________________________________________________
tratamento água chuva
a ___________________________________________________________________
b ____________________________________________________________________
c ____________________________________________________________________
d ____________________________________________________________________
tratamento de esgoto:
a ____________________________________________________________________
b ____________________________________________________________________
c ____________________________________________________________________
d ____________________________________________________________________
12- Como é feita a manutenção das tecnologias em sua residência?
13-Existe alguma interferência em sua casa (problemas como infiltração, etc) com a utilização
dessas tecnologias?
Daria alguma sugestão para melhorar o conforto dentro da ecovila ou para aumentar a eficácia
das tecnologias em relação a preservação do meio ambiente
Informações adicionais:
Nome: Profissão:
Sexo: F M idade: Grau instrução:
Tempo como morador: Origem (de onde veio):
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Apêndice 7 - Entrevistas com alguns moradores e funcionários do Parque Ecológico
Visão Futuro
Todas as entrevistas foram concedidas a autora desta pesquisa, Lúcia Rainho, e gravadas.
Entrevista com Lila Dahra em 1
o
de dezembro de 2005 no Parque Visão Futuro, Porangaba, São Paulo. Lila
é artista plástico, tem 44 anos e trabalha como chefe de cozinha no Parque. Mora na ecovila há 8 anos e
gosta do que faz.
Lila, eu gostaria de lhe fazer umas perguntas...
Vem conhecer minha casa (ele mostra a parte externa da residência)...Na minha casa eu fiz captação de água de
chuva e fiz também o tratamento de água. Só que na verdade a água cinza que sai da minha casa que passa por
esse tratamento ela não volta de novo. Como eu tenho um jardim grande, eu irrigo o jardim com ela.
Mas a sua casa é do Parque?
A casa na verdade é do Parque . Eu na verdade investi um dinheiro nela, fiz umas coisas melhoradas nela... Se
um dia eu for embora vai ficar para outra pessoa.
Mas aí tudo bem você está usufruindo... Seu nome é Lila Dahra aqui?
Isso Lila Dahra...é nome espiritual.
E seu nome não espiritual? (risos)
Luís Carlos.
Sua profissão aqui?
Aqui eu sou chefe de cozinha
Mas você fora daqui ?
Sou formado em Artes Plásticas...artista plástico.
Interessante. Você vai fazer parte do trabalho de reciclagem deles?
Não. A cozinha já ocupa quase o tempo todo.
Você mora aqui há quanto tempo?
oito anos
Bastante! Eu falei com uma moça chamada Rose que trabalha na padaria, ela também está aqui há oito,
sete anos uma coisa assim.
Ela chegou depois de mim deve ter mais ou menos sete anos.
É... por aí ela falou que tem uns sete, oito anos...
Ela não mora aqui, ela só trabalha com a gente. Ela mora aqui embaixo (indica um loteamento depois da
cozinha).
Qual sua origem?
Eu sou carioca.
Carioquíssimo...
Da gema (risos)
Já que você mora aqui há oito anos, talvez tenha muita informação para me passar... Que tipo de sensação
que você tem quando você está aqui nesse ambiente, no Parque em si. Porque você já morou em cidade
grande, sabe como é. Por que você veio pra cá pra começar e qual a sensação que você tem de morar
aqui?
Bom na verdade não é a primeira vez que eu moro em ecovila, eu já morei antes numa outra comunidade. Eu
estou aqui pelo lado espiritual, simplesmente isso.
A parte espiritual deles te interessou bastante, aí você veio pra cá?
É assim, não é só parte espiritual, mas é espiritualidade que ela é praticada no dia-a-dia, no teu cotidiano. Não
adianta nada você falar de Deus e ir lá pra dentro de um mosteiro rezar e ponto final e o resto da população...
Aqui não, eu posso estar exercendo um trabalho que está inspirando outras pessoas, inspirando as pessoas a
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serem vegetarianas, enfim inspirando as pessoas a autoconhecerem, a se conhecerem internamente. O trabalho
aqui é integrado sabe,não é apenas um trabalho....
É teoria e prática.
Exatamente. E isso é legal !
Você morou em qual ecovila?
Eu morei, aliás, não é uma ecovila, na verdade, é uma comunidade de monges da filosofia que eu sigo, que é a
Damonga Marga, eu sou adepto de uma filosofia de vida que é Damonga Marga. Eu morei três anos com monges
em Juiz de Fora, Minas, e de lá depois que eu vim de lá pra cá.
Como você soube do Parque?
A Dídi (nome espiritual de Susan Andrews) também fazia parte dessa filosofia enfim, quando eu saí de lá ela me
convidou pra vir pra cá. Aí eu disse que não, que eu poderia ajudar enfim, mas pra vim morar eu não queria, mas
acabei me envolvendo (risos).... Enfim, eu tô aqui. Eu vim pra passar só uns dias e acabei ficando...
... oito anos?
E lá também eu fui pra ficar uma semana e acabei ficando três anos.
E qual é a sensação que você tem quando você chegou aqui? Você viu o Parque ser construído. Qual a
sensação que você tem aqui?
É, na verdade o Parque já existia antes, mas não na proporção que tem hoje. Os cursos de biopsicologia são o
carro-chefe do Parque. Naquela época não tinha nada, quase nada. O Parque, depois começou os cursos de
Biopsicologia depois que a coisa começou a funcionar,..., padaria, as clínicas...
Esse é o Chaminho e esse é o Madu.. (apresentando seu gato e seu cachorro).
Essa sensação que você tem? A sensação ...
Que eu estou ajudando o próximo e me ajudando automaticamente com isso, experimentando uma forma de estar
servindo, numa forma consciente que eu goste, enfim.
E a preservação do meio ambiente, porque na verdade, eles estão engatinhando, mas estão fazendo muita
coisa como tratamento de água de esgoto, de água de chuva. Que relação que esse lugar tem que faz parte
dessa preocupação em preservar o meio ambiente? Você acha que eles estão no caminho certo, você acha
que eles evoluíram bastante?
Claro, eu acho que o primeiro ponto quando você pensa em ecologia é ecologia interna, tomar consciência dentro
de você mesmo, o que é ecologia, o que é.
O que a gente chama de ecologia profunda...
Exatamente! Eu acho que o primeiro passo é tomar consciência disso, sabe. Eu acho que ecologia ainda.. As
pessoas falam muito de ecologia porque virou moda, é igual a yoga, todo mundo fala ah vou fazer yoga taranam
taranam (sic) porque virou moda. É uma coisa séria, profunda mesmo, é integração do corpo, alma, espírito,
mente, sabe?. Então a ecologia é a mesma coisa também é integração. Nós somos o quê?. Nós somos um animal
que faz parte da natureza, é integração.
Então você acha que eles trabalharam muito em relação ao meio ambiente no momento que você chegou
aqui há oito anos até agora?
Com certeza, foi plantada floresta, foram plantadas milhões de árvores aqui no Parque, já vieram vários
caminhões chegaram aqui com mudas, plantas, enfim.
Em oito anos você viu muita coisa acontecer no Parque...
Já teve, ano passado não teve, mas nos outros anos rolou uma estória de vir pessoas jovens aqui para passar um
final-de-semana e falava só sobre ecologia, que é um trabalho bem legal, de conscientização das pessoas que
estão afim, tanranram (sic), de tentar fazer alguma coisa.
Entendo.
Eu acho que a melhor forma é mesmo assim é conscientizar, eu acho que é essa coisa, é a ecologia mesmo
interna, você estar se preocupando primeiro, se eu fizer isso o que vai acontecer comigo.
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E a externa é justamente o uso dessas tecnologias...
É justamente A mesma coisa é a espiritualidade, espiritualidade aquela coisa só externa blá blá blá blá (sic) não
adianta nada, eu acho que espiritualidade é assim: você expandir a tua mente,, entender essa consciência maior,
que guia a gente, que criou o Universo todo e a partir daí sabe tentar lidar com ela no teu cotidiano. Por isso que
eu gosto do trabalho aqui, trabalho aqui não é só cozinhar, não é isso, é algo além disso, é algo que vai além até
do raciocínio lógico, de dizer porque que você está aqui, às vezes eu nem mesmo sei.
Agora, essas tecnologias, que na verdade é isso que eu estou enfocando, você acha que elas realmente
ajudam nessa preservação desse ambiente natural?
Eu acho que tem que ter um equilíbrio dos dois lados. Eu acho que tudo na vida tem que ter um equilíbrio. Eu
acho que a ciência e a tecnologia têm que evoluir, mas junto tem que acompanhar também um sistema que não
ultrapasse os limites de você extrapolar as coisas, na área da ecologia, na área como ser humano, dos valores
humanos.
Você acabou de falar que elas fazem parte da sua casa, ou seja, fazem parte da sua vida?
Claro, eu tenho máquina de lavar, tenho uma TV, enfim tenho som.
Mas a tua iluminação, a sua energia ela vem da concessionária?
Ainda é elétrica, mas a gente no futuro realmente quer colocar solar ou pelo menos ter as duas. Por exemplo,
esse ano (2006) eu vou colocar chuveiro a energia solar aqui em casa.
Quer dizer, vocês estão evoluindo aos poucos. Agora é você quem paga ou é o Parque paga?
Enfim, money. Algumas coisas sou eu quem pago.
Por exemplo?
Você pegou o morador mais esquisito do Parque. Porque...
Você gosta de fazer as coisas e não gosta esperar?
Exatamente. Eu acho que não tem essa de ficar o Parque pagando tudo. Eu corro atrás das coisas que eu quero.
Eu quis uma casa melhoradinha porque eu sou artista plástico, eu quis um enfeitizinho no tanque, o piso da
minha casa é bonitinho, tem uns detalhezinhos. Então, eu tirei do meu bolso pra fazer isso. Por exemplo, talvez,
a energia solar pro chuveiro, eu vá colocar do meu bolso.
Quer dizer, você tem realmente essa preocupação de diminuir esse uso de vários elementos naturais, da
água?
Com certeza, mas no meu ponto de vista. Não é coisa do Parque, é coisa minha. Tudo com equilíbrio.
Mas o Parque também trabalha isso?
Eu acho que a gente vive num mundo moderno, por exemplo, eu detesto lavar roupa na mão, eu gosto de uma
máquina de lavar, acho uma coisa necessária não é uma coisa supérflua.
Mas isso não tem no Parque? O Parque não aceita esse tipo de coisa?
Aceita claro!
É que você falou de um jeito como se o Parque não aceitasse esse tipo de eletrodoméstico....
Não, imagina. Aceita sim. Só que é o equilíbrio que eu tô te dizendo.
Como é a vida em comunidade no Parque?
É uma grande família. (risos)
É mesmo uma grande família? É só impressão que a gente tem, quer dizer, quando a gente chega aqui tem
a impressão de que todo mundo se conhece e se dá bem, e é realmente assim?
É como uma grande família: tem o lado bom e tem o lado ruim.
Que tem suas discussões, enfim, lógico.
Com certeza, você briga com seu irmão, briga com sua irmã e aqui é a mesma história, só que aqui é uma coisa,
como a gente está num caminho espiritual, que a cola do Parque é a espiritualidade mesmo, toda comunidade
tem uma cola. A cola aqui do Parque é realmente o lado espiritual. Então, a gente de vez em quando se
desentende, briga e tararam (sic). Mas fica tudo resolvido.
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Social também...
Com certeza. Espiritual e social também.
Eu lembro também que o Niels comentou comigo, que a idéia deles é de que como eles já estão em uma
excelência muito boa espiritual e social, eles estão querendo implantar a cola ambiental.
Também.
Tudo isso é um processo, é longo, é complicado...
Tudo isso é um processo. Olha aqui, o Parque na verdade assim, devia funcionar como se fosse um evento
mesmo pra sociedade de como viver no campo.
Que dá pra você viver bem com todo mundo, sem degradar o ambiente natural, enfim.
Exatamente, exatamente. Tudo com equilíbrio, enfim.
Bom, você comentou que veio morar Parque porque você veio atrás do que você buscava, da sua
espiritualidade.
Isso.
Agora, além disso, teve outra coisa além da espiritual? Tranqüilidade?
Não.
Fuga dos Problemas? Violência da Cidade?
Não.
Contato permanente com a natureza?
Não. Tudo isso que você tá me falando eu tinha tudo isso no Rio.
Você tinha tudo isso no Rio?
Tenho, meu pai tem um sítio em Itaipava que é super tranqüilo. Parte financeira não tinha problema nenhum,
nunca fugi de problema nenhum, encarei eles ali, violência também não, que mais você falou?
Preocupação com saúde, uma busca de vida diferente?
Também não. Preocupação com saúde sim, em ter uma qualidade melhor de vida, isso talvez sim, mas não que
era doente nem nada, enfim.
Busca por uma vida diferente? Espiritualmente falando?
Não sei se é bem essa palavra que dá pra usar... Seria mais... Ah, não seria bem essa palavra assim...
Você veio buscar o seu interior, digamos assim?
Não é buscar, é que você pegou a pessoa mais esquisita do Parque...
Não é uma busca então?
Tá deixa eu te falar uma coisa. Desde adolescente eu tive uma procura espiritual muito grande. Nunca me
encontrei em lugar nenhum.Que eu achava que era tudo muito blá blá blá blá blá blá (sic), e não tinha muita
coisa. E ai quando eu conheci esse tipo de meditação, que eu conheci os monges, que eu fui iniciado, eu mudei
totalmente a minha vida. Porque os monges dessa ordem eles estão dentro da sociedade pra ajudar as pessoas. E
sempre eu achei que as pessoas precisam ser ajudadas. Se você ama Deus na consciência cósmica, ou o nome
que você queira dar, Cristo, Buda, Jeová, Maomé. Não é Ele que tem que ajudar. É a criação Dele. Por isso que é
tudo ligado ao espiritual pra mim. Por exemplo, quando se fala de ecologia, quando se fala de serviço social,
quando se fala de elevação, política, tudo, tudo tem um contexto espiritual por trás. Mas não é aquela
espiritualidade de rezar, orar, não. É uma coisa prática no dia a dia sabe. Imagina se os políticos tivessem uma
consciência espiritual, tipo um Dalai Llama da vida, ou uma outra pessoa, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce
enfim. Como é que seria? Seria outra história, sabe... Eu acho que é isso que me fez vir pra cá. O pouquinho que
eu posso ajudar, já é um pouquinho que as pessoas estão recebendo. Entendeu?
Entendi...
Não que eu seja perfeito, porque eu não sou, estou indo pelo mesmo caminho e graças a Deus. Aliás, todo
mundo aqui no Parque ninguém é hipócrita, todo mundo sabe de seus problemas, de suas dificuldades, tá todo
mundo no mesmo caminho, caminho espiritual, mas com altos e baixos na vida, mas eu acho que isso que é a
magia, isso que eu acho que é legal.
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Todos os moradores são funcionários?
Não, moradores não, quer dizer, são funcionários em termos. Todo mundo tem suas responsabilidades nos seus
setores.
Mas eles recebem, tem carteira assinada?
Não, estão aqui de voluntário. Eu recebo um ”X” pelo meu trabalho, mas não tenho carteira assinada. Talvez no
ano que vem mude isso porque a gente ta realmente pedindo pra se mudar.
Porque, é uma garantia que vocês tem né?
Com certeza, imagina, daqui a pouco eu, to ficando com 44 anos, daqui a pouco estou com 50 e aí?
E aí, como é que fica?
É, eu acho que é legal a gente ter. como a gente tá fazendo um trabalho como outro qualquer.
Queria que você me descrevesse sua sensação no interior da sua construção em relação a diversas coisas.
Por exemplo, o vento?
Nem um pouco agradável.
É muito forte?
É muito forte, venta demais.
Venta demais?!?
Tanto é que já falei com a Dídi pra gente plantar. É porque na verdade ainda vão ser construídas mais casas aqui,
mas a gente tem vontade de plantar várias árvores pra ver se diminui um pouquinho. Aqui venta demais.
E o Sol? Porque tudo isso aqui é avarandad...Então, a varanda já protege um pouco.
O bate Sol direto na minha casa inteira, ela não mofa, não tem cheiro de nada e eu tenho várias plantas em volta
dela que me deixam fresquinho.
Então nenhum problema. E a chuva?
É, chuva aqui é assim, como o tempo tá muito doido, não sei nem mais te dizer se é boa ou se é ruim. Bom claro
que é porque recebe água. O Parque não tem água, ele capta água das chuvas através dos lagos inclusive, um
pouco da minha água quando falta água da minha cisterna de chuva eu tenho que recorrer ao lago. Então, tem um
outro encanamento que vem água pra minha casa do lago quando a minha água da cisterna acaba.
Vocês na verdade têm uma eficiência quase completa na gestão da água em relação ao uso da captação do
uso da água de chuva?
Na verdade a gente não tem água encanada aqui. A água vem toda dos açudes.
Não vem de nenhuma companhia? Tudo vem de água de chuva?
Tudo vem de água de chuva e de um poço infelizmente artesiano que a gente tem porque é preciso ter. Na
cozinha eu preciso ter uma água mais limpa, a clínica precisa ter uma água mais limpa.Então a gente
infelizmente teve que furar, que não é a nossa proposta, porque é totalmente antiecológico.
E onde se localiza o poço artesiano?
Lá embaixo onde se encontra a creche, porém um pouco mais pra baixo onde tem o tratamento biológico. Por ali
tem uma nascente de água.
Porque na verdade, esse lençol freático é pra ele ficar do jeito no nível que está pra poder manter o nível
das águas.
É...mas infelizmente, a gente ainda não tem como na cozinha, não tem como cozinhar com água do lago.
Essa água de chuva vocês bebem não é potável?
Não é.
Ela é usada pra lavar roupa...
Pra lavar roupa, lavar chão, tomar banho, tanto é que tem gente que toma banho no lago, sem problema nenhum,
já foi feita até análise, não tem nada de mais.
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Você sabe qual foi a empresa que fez a análise?
Ah, não sei, você pergunta a Roti.
Quem é a Roti?
É a Rosane.
Sei quem é, eu conheço ela como Rosane...
É.. Roti é nome espiritual.
Pois é, vocês falam dois nomes ai a gente fica com dificuldade pra saber quem é quem (risos) E o Entorno,
que tem a sua volta dentro no Parque.
Não, tá muito bom. Eu quero até que tenha mais casas.
Mas tendo casas muito próximas você sabe que vai começar a abafar...
Eu sei, mas aí eu vejo pelo aspecto humano mesmo, mais gente morando no Parque pra realizar um trabalho
maior, eu vejo mais por esse lado.
Mas acho vocês tem espaço pra poder cada um ter sua casa e seu espaço sem ficar um casa ao lado da
outra...
É, na verdade, como a gente vive aqui muito essa coisa de meio de família. Eu acho que não é como numa
cidade grande, é diferente. Tendo que você tá numa cidade grande, tá dentro de um condomínio, que uma casa é
do lado da outra, o cara bota a música alta. Aqui a coisa é meio que incomum as coisas, nossos gostos. Eu adoro
música. Eu ponho música alta pras minhas plantas, que eu tenho planta demais... Quando eu ponho música alta
aqui a galera ainda fala: ”Aumenta mais que eu quero escutar lá em casa”. Assim, tem uma certa harmonia nesse
ponto.
Vocês se complementam nisso. Vocês m a mesma idéia, o mesmo ideal.
E quando a gente não chega nesse ideal comum, sempre tem reunião, a gente é muito sincero aqui no Parque, se
tiver que falar a gente fala mesmo um do outro, você me incomodou com isso, isso e naquilo, então rola uma
coisa legal de não ser hipócrita mesmo.
Vocês têm reuniões mensais, toda semana?
Toda segunda-feira.
Pra falar sobre isso?
Não só sobre isso, como outras coisas também.
Mas também falam sobre isso? Quer dizer, segunda-feira é o dia pra...
Isso, segunda-feira pode rolar uma reunião que seja só coisas do Parque, problemas do Parque, pode ser uma
reunião só pra falar sobre algum assunto espiritual, pode ser uma reunião só pra fazer brincadeira, enfim, uma
integração com nós mesmos, pode rolar que mais?... Pode rolar às vezes uma reunião com duas coisas ao mesmo
tempo.
Entendi, quer dizer, vocês estão sempre tentando estar cada vez mais unidos e resolver os problemas.
É, tem que rolar. Tem que ter reunião pra gente poder saber o que ta acontecendo no Parque, coletivamente. Por
exemplo, vai vir morador morar, enfim, a gente tem que decidir se a proposta dela é legal, se condiz com o
Parque, se ela vai se adaptar a realidade da gente aqui.
Bom Você já me falou você morou no Rio não é isso? Mas morou em Itaipava ou você morou na cidade
grande, digamos assim?
Nos dois.
Mas você já morou no Centro do Rio?
No Centro do Rio, sim. Em Laranjeiras. Meu pai tem um apartamento lá. Parque Guinle
O Parque Guinle também é uma maravilha. É uma benção aquele lugar.
Por isso que eu to te falando.
Mas vamos pegar o pior lugar que você já morou...
Deixa eu te falar um lugar, já morei em São Paulo também.
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No centrão?
No Centrão, pouco tempo, mas já morei.
Qual é a diferença, o que você sente que te fez na casa que você morou e nessa casa, não vamos pelo lado
espiritual, vamos pegar seu conforto dentro dessa casa?
A minha integração com a natureza. Eu acho que todo ser humano precisa disso. Todo ser humano precisa ter
contato com a natureza. Eu acho que um pouco da felicidade da gente tá em contato com a natureza. É a troca de
energia. É a troca de ver uma planta, de ver uma flor nascendo, de ver a água de chuva sem tá poluída caindo na
sua cabeça, enfim. Acho que a integração mesmo. Nós somos partes integrantes da natureza. É que no Rio é até
um pouco difícil da gente falar, porque tem praia, tem muita mata linda, bem diferente de São Paulo, que é muito
concreto. Tem até jardins e plantas, mas é coisa meio artificial.
E o conforto dentro de casa? Você falou que a sua casa era fresquinha. E lá em São Paulo, como é que
era?
Era fresquinha também.
Era fresquinha?
Eu morava bem.
Você morava bem. Você tinha um ambiente gostoso lá dentro. Então você não tem muito do que reclamar.
Você pegou uma pessoa...
Muito calma?
Não é que seja calma não. Você pegou uma pessoa que é de bem com a vida.
Mas isso é bom.
Quando eu morei na outra comunidade, era um lugar extremamente simples. Muito, mas muito simples mesmo.
Minha casa era uma cocheira e eu transformei a cocheira numa casa super agradável depois. Todo mundo ia e
queria ficar na minha casa, e não na casa da sede principal junto dos monges. Você pegou uma pessoa que é
artista, que é de bem com a vida, que gosta de inventar.
Mas você me deu esse diferencial, você sentiu falta da natureza onde você morava.
Mais ou menos.
Mas você falou isso.
Meu apartamento era cheio de plantas.
Sim, mas não era como aqui.
Não, não era.
Você não tinha uma floresta do seu lado?
Sim isso não.
Até porque São Paulo... (risos)
Não dá....é verdade...(risos)
Então você me deu sua opinião sobre as fontes de energia. Reciclagem de lixo você faz na sua casa?
Sim. Tem ali, composto orgânico, e... Ali, aqueles dois negócios cinzas ali (indica onde está o seu lixo).
Todo lixo orgânico, não só de reciclagem como de jardim, quem cuida dos jardins sou eu, porque eu gosto muito
de trabalhar com terra. Ali é a compostagem do meu lixo orgânico. Quando ele tá bom, ele volta pro meu jardim.
O outro lixo eu dou pra uma moça que trabalha aqui no Parque que junta e vende pra um caminhão.
O lixo reciclável?
Isso, e algumas coisas a gente recicla como papel...
Ou seja, essa implantação do esgoto, da captação de água de chuva, da compostagem você fez por você
mesmo?
Na verdade sim. O Parque perguntou na época que eu tava construindo minha casa se eu queria, eu falei: “Claro
que eu quero”, e a gente correu atrás e a gente fez meio que em parceria. Mas foi uma coisa mais do Parque.
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Entendi. Você ajudou em alguma coisa...
É, eu ia correr atrás, mas o Parque já tinha. Porque a minha casa foi construída junto com aquela de lá, foi
construída ao mesmo tempo, que é casa geminada.
São duas casas ali?
São duas casas. Então como foi feito lá, eu achei interessante, aí foi feito aqui em casa também.
Mas lá também tem?
Lá também tem.
Também tem tratamento de esgoto, captação de águas pluviais também?
Tem, mesma coisa que tem aqui.
Mas o teu telhado também capta águas pluviais?
Capta.
E aquele lá também (da casa modelo)?
Também. Só que o de lá eles colocaram de lado ao contrário. Só que no meu eu quis colocar na minha varanda
porque eu pego dois telhados, e pego uma quantidade maior de água.
Ah sim.
Porque na verdade é assim, eu fui o único morador que participou das obras. Por isso foi feito com detalhes, eu
escolhi o que eu queria e o que eu não queria. Eu tive que seguir um padrão que é a casa arredondada, tanto é
que por dentro eu mudei totalmente do que a arquiteta tinha colocado. Eu não quis nada que ela colocou.
Por isso que ficou um pouco por sua conta também né?
Por isso que ficou um pouco por minha conta também. Algumas coisas, nem tudo.
Você pode perceber que a sua casa é uma das mais agradáveis, por causa das plantas, da composição,
talvez por você ser realmente artista plástico também, que você deu essa cara.
(risos)
A manutenção disso é você que faz?Ou tem alguém
O Parque dá tudinho se você quiser. Quebrou alguma coisa na sua casa ele vai e coloca.
A regra seria essa né? Mas é você que quer...
Eu acho que não é direito, eu acho. Eu corro atrás...chamo o vidraceiro ele vai lá trocar ou eu mesmo troco.
Quebrou alguma coisa na minha casa... Eu acho que não é direito o Parque dar. Eu acho, eu, como pessoa:
quebrou um vidro na minha casa eu chamo o vidraceiro, vai lá troca tarananam (sic), ou eu mesmo troco.
Como é regime de comodato, a princípio, você está morando aqui digamos “de passagem” há oito anos?
(risos)
É, a minha casa é nova. Minha casa tem dois anos só.
Você morava aonde antes?
Eu morava no condomínio lá embaixo, junto com os meninos. É um condomínio, uma casa, que os quartos são
individuais. Então cada um tinha seu quarto.
É, não tão usando?
É, tem uma pessoa morando só lá.
Que é a Graci (é a estagiária no Parque)?
Que é a Graci.
Só tem ela né? Mas tinha mais gente morando aqui né? O pessoal sai daqui...
Tinha, na época que eu morava lá tinham seis pessoas. Muita gente vem às vezes só pra passar temporada aqui.
Vem pra passar seis meses, desenvolver algum trabalho e vai embora, gente que vem por causa da faculdade.
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Você acha que já teve gente que veio com vontade de ficar e desistiu?
Não.
Muita gente, não? Você acha que vieram com intenção de ficar mesmo achando que aqui que era a cara
delas e depois viram que não?
É, e depois cai na real. Justamente isso que você falou: ”Ah, morar no campo é difícil e nem todo mundo quer”.
Exatamente. Não tem as facilidades que você tem.
É, ta numa cidade grande de repente vai no shopping, no cinema, namorar, enfim. Apesar de que ninguém ta
preso aqui. Todo mundo sai. Por exemplo, eu mesmo, às vezes de vez em quando pinta vontade de ir à cidade
grande ir ao teatro, ir ao cinema. Sem problema nenhum, não sou preso a nada.
Qual seu horário de trabalho?
Na verdade assim, você pegou a pessoa justamente errada pra falar isso.
Não tem horário, você faz o que você...
Exatamente, porque tem oito anos que eu moro aqui. Eu montei essa cozinha. Eu não tenho um horário fixo.
Além de eu ser o chefe lá da cozinha, mesmo eu tendo as minhas funcionárias, mas eu sou um chefe diferente, eu
gosto de fazer a comida. Eu que cozinho aqui. As meninas são assessoras na cozinha. Elas me ajudam a
assessorar, cortarem as coisas, lavarem, taranam taranam (sic). Enfim, do que eu ia falar mesmo?
Estava falando do seu horário fixo...
É, do horário fixo. Então assim, não tem muito essa. Às vezes, por exemplo, sei lá, quarta-feira a gente faz um
jantar aqui depois de uma medicação que a gente faz aqui, então sempre tem um jantar coletivo com todo
mundo. Então, às vezes, sei lá, nove, dez horas eu to lá ajudando a servir o jantar.
São mais ou menos quantas pessoas que moram no Parque?
No Parque são... Acho que nós somos em dezessete agora
Isso você contando o Niels e a Susan?
Todo mundo, todo mundo é morador.
Quer dizer, alguns são moradores e funcionários e alguns prestam trabalho né?
É, aí tem duas categorias. Os funcionários são pessoas que trabalham aqui, que tem carteira assinada, que tem
tudo, que tem salário direitinho, mas que não moram dentro do Parque, que não fazem parte da filosofia. Aqui é
o emprego que eles têm. A gente tá empregando essas pessoas que é uma das propostas do Parque que é tá
empregando cada vez mais um número de pessoas daqui da região, profissionalizando mesmo.
Por exemplo, as meninas que trabalham comigo na cozinha. Têm nove meninas na minha equipe. Têm algumas
delas que hoje em dia já podem sair e de repente trabalhar numa cozinha industrial como auxiliar de uma
cozinheira.
Interessante.
Até já saiu uma menina daqui mesmo que já foi trabalhar numa casa de uma pessoa, que foi convidada
justamente porque trabalhava no Parque e sabia fazer comida vegetariana. Pra mim é muito legal é muito
gratificante isso.
É uma recompensa pra você, você que ajudou-as.
É isso. Mas eu sou o cara mais esquisito pra você perguntar.
Mas não tem problema. Foi o que o Niels falou, o Lilá é um dos mais antigos. Se não for o mais antigo.
Eu sou o mais antigo.
Porque aí você já conhece um pouco mais. Porque o próprio Niels já vai fazer cinco anos já. Ele chegou
depois de você. Agora, só pra fechar a nossa entrevista. Eu falei eram 10 minutos e já deve ter uns 30 já.
(risos) Você tem alguma sugestão em relação... Todos os tratamentos que você tem na sua casa, também
tem no Parque a preocupação deles é fazer...
Em alguns lugares sim.
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Você daria alguma sugestão pra melhorar isso?
Eu acho que o Parque é um grande laboratório. Eu acho que não deve ter necessariamente só esse tratamento. Eu
acho que na outra casa devia ter outro tratamento diferente, na outra, outro tratamento diferente, criar coisas
novas, porque o Parque é isso mesmo, ele é um laboratório.
Você o vê assim ou os coordenadores vêem ele assim?
Eu vejo assim, e é assim mesmo. É um laboratório tanto externo como internamente. Tanto interno, nosso, como
espiritual, da gente tá descobrindo coisas dentro da gente mesmo, como fora, externo. Aliás, eu acho que tudo
tem a ver com o interno tem a ver com o externo. Você, por exemplo, eu falar, essa cara é tão bonitinha, tão
legal, taranam taranam (sic). Mas isso a respeito do que eu vejo internamente dentro de você. Como eu enxergo
essa coisa que todo mundo chama Deus, que eu não gosto nem de usar essa palavra. O que é essa consciência, o
que é essa energia maior que criou isso tudo. É o que tá dentro de mim. E o que tá dentro de mim é expressado
pra fora. Por isso que eu gosto de jardim, gosto de arrumar, gosto de enfeitar, adoro cozinhar, tenho prazer em
cozinhar, enfeitar, tá dentro de mim.
Você sente falta da sua família? Assim, vocês vivem como família aqui, mas você tem pai, mãe, irmãos?
Sim. Não, eu tenho uma relação legal com a minha família.
Mas você sente falta deles?
Às vezes eu corro até lá, fico com eles. É porque a gente não é preso aqui. Todo mundo tem um conceito assim:
”Nós, uma comunidade, uma ecovila, faz parte de uma religião ou filosofia” que não tem nada a ver com religião
o que a gente faz aqui. Aí as pessoas pensam: ”Ai, então vocês estão presos”. Não. Imagina, todo mundo aqui é
livre. Se fossemos presos as pessoas vão embora mesmo.
Agora, porque assim, é diferente quando você mora, digamos, mesmo que você morasse numa cidade do
interior, mas se você mora perto dos pais, deu saudade, você vai lá rapidinho, dá beijinho e volta.
Mas o Rio é tão pertinho daqui.
Pertinho não é não. Eu moro no Rio...(risos)
Ah, não é tão longe. 6 horas de viagem não é tão longe.
6 horas? São 8 horas de viagem...
Ah, to numa idade boa. Eu não acho longe, acho tranqüilo.
Então, deu saudade, você vai lá rapidinho, beija todo mundo e volta?
Isso, não tem problema nenhum.
Você mora sozinho?
Moro sozinho.
Você não se incomoda de morar sozinho?
Não. Eu gosto, mas gosto de companhia também se é isso que você quer perguntar.
Então você gosta de companhia. Eu não quero entrar na sua vida íntima de jeito nenhum.
Não, mas eu namoro. Eu tenho namorada.
Mas a pessoa não mora aqui?
Não, em São Paulo.
Então você vai pra lá de vez em quando?
De vez em quando ela vem pra cá. Na verdade não é um namoro muito sério.É um namoro meio colorido
Na verdade é como se você morasse em dois lugares diferentes?
Não, eu saio muito pouco do Parque.
Ela vem mais pra cá?
Sim, por exemplo, ontem eu fui porque foi aniversário dela. Mas não é uma coisa muito séria o que eu tenho
com ela. É só de vez em quando rola uns amores coloridos.
Ela é uma pessoa adulta, é psicóloga, tem a vida profissional dela. E eu também tenho a minha vida profissional
aqui, que eu gosto. Ela faz parte também da mesma filosofia.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
APÊNDICES
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Ela não tem vontade de morar aqui?
Ela não!
Não quer saber nada de campo? (risos)
Ela adora vir pra cá, mas ela tem a vida profissional dela lá que ela não deixa, que ela curte.
Você não sente vontade de ter uma pessoa com você, nem se fosse sua mãe com você aqui?
Não.
Você acha que dentro da sua casa é só você?
Mas é uma coisa minha.
Você acha que os moradores daqui sentem essa necessidade?
Alguns sim.
Por exemplo, tem o casal (há um casal morando na ecovila há menos de um ano). Tudo bem, o casal é o casal.
Alguns sentem a necessidade de ter uma pessoa. Mas isso é conseqüência de qualquer lugar. Você pode estar
numa cidade grande. Todo mundo gosta de companhia.
Exatamente. Porque pra vir pra cá, além de você ter alguém, essa pessoa também tem que gostar dessa
ideologia...
Com certeza, se não gostar não dá vai embora, aliás, nem chega a vir. Tem uma regra aqui no Parque, pra você
morar no Parque existem várias regras. Uma delas é você fazer o curso de biopsicologia pra saber o que a gente
faz aqui.
Pra conhecer a identidade do Parque.
Com certeza. Porque senão, aí vem pra cá, de repente a pessoa não é vegetariana e a gente fala sobre
vegetarianismo e a pessoa come carne, o que que rola, fica estranho. Ou de repente a gente fala sobre meditação
e a pessoa não medita. Esquisito né, blá blá blá (sic) da boca pra fora.
Porque aí como são formas de pensar diferentes, fica mais difícil de conseguir uma pessoa pra uma
companhia pra vir para um lugar assim. Na cidade você vê de tudo, é um ecletismo espiritual, cada um
tem uma religião, cada um faz parte de uma espiritualidade. Aqui não, todo mundo tem mais ou menos a
mesma espiritualidade...
Na verdade aqui, o Parque, na verdade a filosofia que a gente segue, na verdade é muito aberta para outras
religiões, tanto é que os cursos têm pessoas de várias religiões que vem. Já veio padre franciscano fazer curso
aqui, tem gente muita gente do kardecismo que vem, tem gente de outras religiões, enfim. Então é uma coisa
aberta, uma coisa que é passada aqui.
Mas, pra morar não dá, digamos que um padre franciscano não viria morar aqui.
Se ele quiser se adaptar a realidade da gente, por que não?
Pois é, pra se adaptar. Mas aí ele, mas o Deus dele é o Deus dele, e o seu é uma coisa diferente?
Na verdade Deus é uma coisa, ó, o homem, por isso é que eu não gosto muito de religião, porque religião te
coloca; religião é o quê? É religar a Deus; religião às vezes te afasta de Deus, sabe a religião às vezes, não to
dizendo, eu acho até é um processo legal.
Vamos pra lá? Porque aqui está um ventinho...
É o vento incomoda. É o que eu te falei:incomoda bastante né?...
Eu acho que a religião tem que fazer o papel de te religar a Deus. Mas algumas religiões te deixam afastado de
Deus. Está lá em cima uma coisa inatingível, que você não pode, porque você é um pecador; imagina, eu não
acredito nisso, eu nunca acreditei nisso, por isso é que eu gosto de meditação, porque meditação te expande a tua
mente internamente, inconsciência, de entender o que é Deus, Deus está dentro dessa planta, está dentro da água
que cai, dentro da pedra, dentro dos animais que vem no ciclo evolutivo. Enfim, assim é mais do que ter uma
imagem...
É mais do que você ficar lá...
E rezar ou meditar ou cantar ou enfim, sei lá né, eu acho que atrapalha às vezes no crescimento das pessoas. É o
ego, essa coisa de ismo...É bom a gente usar a palavra correta pra depois não interpretar mal. Eu gosto das
religiões, não tenho nada contra, elas fazem as pessoas crescerem, só que eu acho, que algumas bitolam muito.
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O exemplo disso é na cozinha, a maioria das meninas, que trabalham comigo, são crentes e às vezes elas querem
dançar, querem botar, sei lá, se pintar, botar brinco e não podem. Aí eu pergunto porquê? Aí elas falam porque
Deus não quer, porque o pastor não quer, porque está escrito na bíblia. Aí eu falo, mas por que? Aí elas
perguntam, elas falam “Porque Deus quer assim”. Mas será que Deus quer assim? Deus não quer ver a gente
feliz?Nós não somos criação de Deus? Ele não é nosso Pai ou Nossa Mãe, enfim. Quando é o nosso pai e nossa
mãe, o que que, o pai e a mãe quer pro filho? O melhor quer a felicidade deles. Por exemplo, meus pais não
queriam que eu estivesse aqui, meus pais tem verdadeiro pavor que eu esteja aqui. Eu vejo uma família de classe
média, eles são extremamente burgueses.
Ah é?
Então pra eles eu deixar a minha profissão, deixar tudo o que eu tinha pra estar morando aqui, eles detestam.
E qual a religião deles?
Eles são católicos, super católicos. E meu pai já é de idade e minha mãe também; meu pai tem 91 anos e minha
mãe tem quase 80. Então é complicadinha a situação às vezes. Hoje em dia não, eles aceitam.
Acostumaram ...
Isso. Aceitam que esse é o tipo de vida que Ele quer pra minha vida e aonde eu encontro a minha felicidade. A
minha felicidade não está no carro do ano, não está dentro da casa de praia, de campo, sei lá, como a minha
família acha.
Ganhar muito dinheiro...
Exatamente E a minha felicidade está aqui, é ter uma vida simples, legal, confortável, minha casa super
confortável, enfim, mas estar em harmonia com isso tudo, é estar de bem comigo mesmo e estar de bem comigo
mesmo, tem que estar de bem com o meu trabalho, com as pessoas que eu convivo, respeitando essa coisa
espiritual que eu acho que é isso que...
Como é que foi mostrar, falar pros teus pais que você não era católico e que você pensava de uma outra
forma.
Ah é assim: meus pais nunca forçaram a gente a ser católico. Eles deram uma empurradinha, taranam (sic), mas
assim...
Suas irmãs são católicas?
As minhas irmãs não; nenhuma delas. É, eu tenho uma irmã que faz parte também de meditação e yoga, não
como eu, uma coisa mais light e eu tenho outra irmã, do Rio, que não é nada. Acredita em Deus, mas enfim.
Ela acredita em Deus e acabou...
Isso. Não vai na igreja, enfim.
Mas você falou das meninas da cozinha. Eu sou católica praticante, mas eu acho que é uma forma errada
de ver a Bíblia.., não é nem só o pastor, eu acho que é uma forma errada de interpretar a Bíblia e o que
Deus quer. Porque Deus não quer que você fique fechado em si, ele quer que você realmente... por isso
Ele diz é uma comunhão, é uma comum união com Ele, com os irmãos que estão com você e você colocar
um brinco, colocar um batom, seja lá o quer for não interfere.
Se colocar o peito de fora, eu acho que é outra realidade, que a gente vive numa sociedade, que a sociedade te
impõe o padrão que você tem que viver. Por exemplo: os índios têm peito de fora e são pessoas altamente
conscientes, ligados a consciência suprema, eles tem a natureza como uma dádiva mesmo. Então assim, eu acho
que a mente humana é que provoca toda, por exemplo, o que atrapalha em muitas religiões é o dogma, que essas
meninas vivem, é o dogma, é aquele dogma de fé. Deus quer assim e acabou, não questiona.
......(longa conversa sobre religião). Aqui tudo tem uma justificação: porque a gente medita, porque a gente não
come carne..
Uma justificativa...
Olha Deus quer que você pegue essa pedra e ande com ela na cabeça, aí você vai, daqui a pouco outro vai tá te
imitando, aí o outro já vai, aí não sabe nem porque isso, então isso é o que..
É a estória do centésimo macaquinho.
Exatamente!
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E você nem sabe porque está fazendo aquilo, mas você vê todo mundo fazer, então vai fazer também.
Aí a essência se perde. Eu não tenho nada contra nenhuma religião, muito pelo contrário. As religiões até
ajudam as pessoas, e muito, imagina. Quem não tem nada, que não acredita em Deus e que não tem nada, eu
acho uma tristeza, porque a pessoa é extremamente infeliz. Porque eu acho que o homem, a verdadeira felicidade
do ser humano é estar se encontrando com ele mesmo, mergulhando dentro dele. E acho que o processo pra isso
são as religiões que te fazer mergulhar dentro, mas como as religiões são feitas por homens normais, o que
acontece: eles tem defeitos até a nossa existem defeitos. Mas eu acho que isso é a grande magia do mundo. É
que a gente vive um grande teatro de tudo, que é a lila de Deus, se fala que é a lila da consciência cósmica, é esse
teatro, esse jogo cósmico pa gente, imagina o quanto que a gente não perde, quando leva uma bordoada na
cabeça, quando a gente sofre. Por exemplo, quando alguém está com tumor, com câncer, enfim, o quanto ela não
está crescendo com aquilo.
É o processo de santificação que nós católicos chamamos. É você estar melhorando cada vez mais, a partir
daquele sofrimento que você está tendo.
É Deus a essência da consciência cósmica: Deus, Buda, Maomé, Jesus Cristo, Shiva, enfim é uma coisa só. Eu
acho que Deus é assim, como se fosse assim forma figurada, não é realmente o que eu interpreto internamente,
mas não tem como expressar isso através de palavras, mas é como se fosse essa pedra aqui, o que acontece essa
consciência cósmica foi tão sábia, porque sabe que no mundo há tanta diversidade e os seres humanos são tão
diferentes uns dos outros que Ele simplesmente dividiu cada partezinha dessa pedra e espalhou no mundo para as
pessoas terem consciência do que é realmente essa criação Dele.
Exato.
Então por isso eu acho que vários mestres vieram como Jesus Cristo, Buda, Christna, o nosso mestre:
Schinichiaro Mamurte, Shiva, Maomé, enfim, agora o homem por sua vez com a ignorância dele,, ele que acha
melhor a religião dele, do que essa coisa maior, que realmente a expansão da tua consciência pra se levar para
ele que acaba criando esses dogmas, essas coisas. Eu fui criado dentro de um colégio de padres e eu vi muita
coisa, assim, que não era, eu brigava com eles, “olha eu não aceito isso”.
Desde pequeno se incomodava com isso?
Eu me incomodava porque era coisa assim, absurdas. E tinha um padre que me incutia na cabeça que eu era um
pecador, eu falava “mas eu não sou um pecador”, só porque eu gosto de brincar, só porque eu gosto às vezes de
fazer uma brincadeira, eu não sou um pecador, está botando medo na minha cabeça pra que eu me agarrasse a
alguma coisa. E eu só não fui expulso da escola, porque meu pai ajudava muito na escola, eles estavam
interessados no dinheiro do meu pai, de estar ajudando a escola, senão eu já tinha...
Sido expulso...
sido expulso há muito tempo, nossa! O que eu entendi, é por isso que eu tinha uma procura, eu passei por muitas
religiões na minha vida, kardecista, mais todas elas foi uma escadinha que eu fui subindo, de entender realmente
o que que é isso? Ainda estou nesse processo de entender, mas hoje em dia a minha consciência é muito maior
por isso que eu quis morar num lugar desse, não só pelo Parque, mas poderia ser uma outra coisa qualquer, é de
estar servindo. A minha alegria está de estar servindo a isto, servindo realmente; que as pessoas né possam
experimentar um pouquinho do que eu experimento internamente.
É ajudar as pessoas nisso.
Com certeza. Mesmo que elas não queiram fazer parte da filosofia, mas que queiram se dedicar a uma outra
coisa. Tudo pra mim é expressão da consciência divina, do divino mesmo. Dessa energia maior que a gente
chama de vários nomes, que às vezes é uma coisa que é muito interna, é muito difícil você expressar, quando vê
tá, sei lá, atualmente mais expandida, não tem como você usar nomes de matéria física para você expressar isso.
Mas eu consegui entender...
Mas eu sou o cara mais esquisito do Parque
(risos) Não é não.
Eu sou a pessoa mais esquisita. É que eu estou de bem com a vida, eu to de bem comigo mesmo, tenho meus
altos e baixos, lógico, um dia posso estar triste, posso estar taranam (sic), mas eu tenho essa coisa de ta....não
sei.Aos poucos, Deus me faz realizar isso dentro de mim mesmo, Ele me dá um tipo de graça especial para poder
saborear isso, eu não sei enfim.
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Mas eu acho que foi ótimo Lila, porque você me passou a informação. Até porque você é o mais antigo,
você enfim, entende muito o Parque, da ideologia do Parque e se eu for falar com uma pessoa que está
aqui há dois, três meses, um ano, por exemplo, não é a mesma coisa...
É legal você conversar com Niels. O Niels está dentro da filosofia há vinte anos, eu também estou dentro da
filosofia a mais ou menos quinze anos. Ele já veio com essa filosofia morar no Parque, eu também já conhecia o
que era a filosofia, porque eu já conhecia no Rio essa filosofia. Eu não caí...
...de pára-quedas
De pára-quedas aqui, como o pessoal costuma falar; eu vim sabendo onde eu estava entrando, é uma coisa
prazerosa pra mim. Chega uma certa hora da tua vida, que não é só a família que você quer bem, você quer bem
aos teus vizinhos, ao pessoal que mora na tua rua, que mora na tua cidade...
É o teu crescimento espiritual, na verdade...
... ao teu país, ao planeta, ao universo todo. Isto também é uma questão de expandir, ecologicamente a tua mente
também. Por isso que eu falo: tudo é interno, tudo é interno, nada é externo, externo é só a expressão do que a
gente coloca.
O externo só está mostrando o seu interior.....
Exatamente. Por exemplo, quando alguém faz uma música, uma poesia, interno... aqui (indica o coração)
Está expressando o que a pessoa é na verdade, mas é mesmo....Lila muitíssimo obrigada...
Imagina...estes são o tico e teco (ele mostra em uma gaiola dois periquitos), são os meus menininhos. Na
verdade eles ficam soltos, mas hoje eu prendi porque está chovendo muito e eles estão com frio.
Mas eles voltam pra ti?
Voltam, voltam...
É mesmo?
é....
...
Lila, obrigada pela entrevista. Adorei nossa conversa, você me passou muitas informações interessantes.
Obrigada mesmo!
De nada. Que isso!
Entrevista com Rosane em 1
o
de dezembro de 2005 no Parque Visão Futuro, Porangaba, São Paulo. é
contadora e mora na ecovila há 6 anos. É responsável pela parte administrativa do Parque e pela pesquisa
para futuras implantações de tecnologias ambientais.
Qual é seu nome?
Rosane.
Qual a sua profissão? Qual o seu trabalho aqui?
Eu trabalho na parte administrativa, na coordenação dos eventos e na parte financeira.
Era essa a sua atividade antes de vir para cá?
Na verdade eu tinha um escritório de contabilidade.
Você é formada em Ciências Contábeis?
Sim.Hoje em dia a contabilidade está bem ligada com a administração. Eu vim para fazer contabilidade e foi o
que eu menos fiz.
Você está aqui há quanto tempo?
Vai fazer seis anos.
Então você está aqui há mais tempo que o Niels (o coordenador social do Parque)...
Sim, mas o Niels está ligado com a Susan há muito tempo antes do Parque.
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Na verdade ele já está em contato com ela há muito tempo, mas só veio morar há cinco anos?
É...
De que estado você veio?
De Santa Catarina
O que te motivou vir pra cá?
O curso de biopsicologia. Eu terminei o curso, e mesmo já durante o ano antes de terminar eu tinha muita
vontade de morar aqui em função dessa filosofia de vida, foi o q mais me atraiu, essa forma de viver aqui.
Vou te fazer agora umas perguntinhas. Preciso saber a opinião de pessoas de diferentes vivências que
moram aqui. Preciso saber que tipo de sensação te passa esse lugar onde você mora e trabalha.
A sensação?.....
É.
É interessante,a sensação que eu tenho.... A maioria das pessoas chegam aqui perguntam e questionam a gente
sobre como a gente consegue viver isolado, mas na verdade não me sinto isolada muito pelo contrário, aqui me
sinto bem dentro de tudo.
Vocês não sentem falta de nada aqui?
Não. Eu me sinto por dentro de muito mais informações que não acessava antes..eu aprendi muita coisa aqui. E
esse aspecto de estar desenvolvendo às vezes passando conscientizar nesse sentido é muito rico. E mesmo
porque a gente tem um mix: uma vida tranqüila durante a semana e no final de semana recebemos várias
pessoas, então esse contato de todos os finais de semana com várias pessoas é muito rico.
O que percebi é que quando cheguei quinta-feira, eu vi o Parque vazio e pensei na diferença do ano
passado quando estive aqui para um evento e é claro tinha muita gente e vocês estavam trabalhando.
Dessa vez eu tive a impressão de que não morava ninguém no Parque. Não vi ninguém na administração,
não vi ninguém por aqui e pensei: onde estão esses moradores e trabalhadores? Será q ninguém trabalha
ou mora aqui, além dos fins de semana? Dessa forma me ocorreu perguntar se vocês trabalham de oito às
cinco horas ou cada um faz seu horário? Como funciona?
Na quinta-feira houve amigo oculto e nós paramos de trabalhar às 11 horas. Cada setor tem um pouco o seu
horário, mas na administração a gente trabalha de segunda a sexta-feira normalmente.
Vocês têm carteira assinada?
Os moradores não.
Quem mora não tem carteira assinada mas recebem um salário pelo seu trabalho?
Sim.
Você acredita q exista uma relação do Visão Futuro com a preservação do ambiente natural?
Existe.
Você acha que a preocupação existente ou simplesmente um gramado bem aparado é o suficiente?
Não. Acho que, por exemplo, os funcionários.....estão desenvolvendo um pouco mais a consciência ecológica.
Ainda é pouco, mas comparando com alguns anos atrás eles já tem mais consciência hoje do que há alguns anos
atrás. E dos moradores é a mesma coisa... então...porque as pessoas chegam aqui buscando um outro aspecto não
exatamente pelo aspecto ecológico, vem mais pelo aspecto filosófico mesmo e espiritual. A gente encontra esse
canal ecológico aqui, muito forte que é trazido pela Susan.
Você já morou em outra ecovila?
Não, essa é a primeira. E, por exemplo o aspecto ecológico está muito ligado na parte de como a gente
desenvolve a agricultura, a horta, o replantio de árvores. São plantadas muitas árvores aqui, muitas.
O Lila comentou que vocês compraram uma parte da mata para poder fazer reflorestamento, com o
intuito de preservar?
Exato. Temos esse conceito, mas estamos indo num processo realmente gradativo, porque a parte ecológica não
é o foco principal, o principal é o desenvolvimento do ser.
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Eu me lembro que o Niels comentou ano passado que vocês, Visão Futuro, já tinham atingido aqua
excelência no lado espiritual, que está junto com o social e que agora vocês vão partir para o ecológico.
Vocês estão percebendo essa diferença do ano passado para cá? Você viu que aconteceram coisas novas
em relação à preservação do meio ambiente? O que foi feito para se sentir essa diferença?
A gente só está aguardando um projeto que a gente já encaminhou para ampliar um pouco mais a parte de
energia solar que ainda é pouca. Um outro aspecto que a gente quer melhorar também mais o sistema de
tratamento de água, e já temos esses projetos prontos, já dimensionamos várias coisas e só estamos aguardando
uma verba para prosseguir.
Vocês pensam em continuar com os mesmos tratamentos que já são utilizados ou pensam em buscar novas
alternativas?
O que a gente está pesquisando é tentar replicar alguns iguais a esses que a gente tem, mas buscar outros
também. Porque dependem um pouco da realidade de cada espaço.... temos que ver a realidade de cada espaço.
Eu fiz uma pergunta para o Lila e ele comentou que acredita que o Visão Futuro é um grande laboratório
para esse tipo de tecnologia. Ele acha interessante que cada casa tenha um tipo diferente de tratamento,
porque como é um laboratório, os pesquisadores podem vir até aqui e ver os diferentes tipos de tecnologia.
Mas não é só isso, também tem que ver a funcionalidade de cada projeto.
Lógico e o impacto ambiental também?
Isso. Não dá simplesmente para desenvolver um projeto que não seja viável, porque se torna um transtorno, vira
problema até para manutenção. Por isso precisamos verificar a viabilidade de cada coisa que fazemos aqui
Essas tecnologias que eu chamo de ambientais, algumas pessoas chamam de tecnologias renováveis. A
agenda 21 diz que é tecnologia ambientalmente saudável, mas enfim são tecnologias ambientais, ou seja: a
captação da chuva e o uso dessa água, tratamento de esgoto, uso da energia solar e eólica. Você acha que o
uso dessas tecnologias tem relação com a preservação do ambiente natural? Porque você acha que tem
essa relação?
Porque eu vejo assim, por exemplo, a deficiência que nós temos de água, então se a gente realmente reflorestar
mais, conseguiremos ampliar um pouquinho o manancial de água. Nós temos pequenos córregos, mas que secam
durante o ano.Se a gente conseguir preservar e fazer um bom reflorestamento ao redor desses pequenos córregos,
dessas pequenas nascentes, com certeza vamos aumentar o lençol freático e vamos ter mais água durante o ano.
Nós temos sérios problemas de água, por isso nós temos que fazer o sistema de captação de água da chuva para
podermos abastecer nossas necessidades.
Então na verdade você está querendo dizer que a captação da água de chuva é sim uma tecnologia
ambiental que vocês têm muito interesse em utilizar mas principalmente porque vocês não têm água
tratada vinda da companhia estadual de água. Vocês precisam tratar essa água para utilizá-la. Então você
acha que tudo isso que se faz aqui tem uma relação muito grande com a preservação do ambiente natural?
Tem a ver com a preservação e com a nossa necessidade.
Você acredita que uniram a consciência ambiental com a necessidade de armazenar água na época da
seca?
Exato.
E quanto as energias solar e eólica?
A energia solar quando começou o Parque todas as casas que estavam construídas tinham energia solar,
aquecimento solar de água de chuva e energia eólica que mandava água para as caixas d’água. Mas o fluxo de
pessoas que passava por aqui era pequeno, então supria as necessidades. Mas o Parque começou a crescer,
desenvolver mais rapidamente e essas tecnologias não seguiram em todos os outros dormitórios. Pode ver, é
basicamente na parte central que tem ainda energia solar. Então a idéia é expandir essa parte de energia solar em
todas as outras casas.
Esse programa que você comentou?
Sim. Fazer sistemas de reuso da água como tem na casa do Lila que é captar água de chuva com calhas,
cisternas, reuso da água para lavar roupa, depois por último, reuso para o vaso sanitário.
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Vocês têm uma casa modelo e vocês pretendem fazer no futuro todas as casas iguais ou simplesmente
mostrar que vai existir captação de água de chuva e tratamento biológico?
Pretendemos fazer todas iguais, mesmo porque esse sistema não atende o ano todo porque aqui temos seis meses
de chuva e seis meses de seca então quando não chove não tem como captar água, e não vai ter água na caixa,
por isso precisamos dos sistemas das cisternas, dos lagos..
E esses açudes que tem lá embaixo?
Isso, eles servem para captar mais água. Precisamos tratar essa água para termos água durante o período que não
chove.
Mas não é água potável. Como vocês fazem com a água potável?
A água potável nós compramos garrafões de água mineral e pra cozinha nós temos um poço semi-artesiano que
abastece a cozinha e o laboratório.
Você está falando de um poço que fica perto do sistema de tratamento biológico?
Sim, ele fica perto do sistema de tratamento.
Eu vi uma zona de raízes envolvida com cerca de madeira perto do dormitório “Sol e Lua”. Ali realmente
é uma zona de raízes?
Sim.....
A planta que tem ali não é junco? Qual é a planta?
Nós temos várias raízes que tem as mesmas características que o junco. Normalmente usamos a planta que não
lembro o nome... A palha dessa planta se faz tranças para chinelos...
Pode fazer com outras plantas?
Você pode fazer com arroz. O ideal é misturar várias plantas, fazer um mix, tanto o junco, a do arroz, várias
outras raízes.
Esse tratamento de raízes é o tratamento do esgoto da comunidade?
Do esgoto do vaso sanitário.
Só do vaso sanitário?
Do vaso sanitário.
E a água do chuveiro,?
Também vai para essa zona de raízes.
E a da cozinha?
A água da cozinha tem outro sistema.
Esse sistema também é uma zona de raízes?
É um sistema bem mais antigo, já tem outras plantas misturadas.
Onde ela se localiza?
Ela é bem no vale, mais para cima perto da cerca.
Fica no declive?
Sim. E daí a água da caixa séptica da cozinha ela é também direcionada para lá.
Que visão que você tem dessas tecnologias que são utilizadas? O que você acha dessas tecnologias? Você
acha que elas funcionam realmente? Você acha que falta alguma coisa ou você acha que eles estão no
caminho?Claro que perfeito nada é infelizmente, mas você acha que estão no caminho? Qual a tua visão
em relação a essas tecnologias?
Eu acho que a gente está caminho mesmo. Porque eu tenho certeza que vão surgir mais e mais coisas e melhores
cada vez. Porque hoje e do jeito que nós estamos elas estão funcionando e nos servindo. Mas eu vejo que
sempre há necessidade…as pessoas normalmente procuram a praticidade de cada sistema, então tem alguns
sistemas que às vezes não são tão práticos, né. Mas pra gente são muito necessários, até que a gente não consiga
descobrir alguma coisa que seja ecologicamente correto e dê uma praticidade e mais fácil de se lidar...
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O que você não acha tão prático nessas tecnologias? Qual dessas tecnologias não acha tão prática?
Eu acho que a gente poderia melhorar bastante o sistema do filtro.
Da água de chuva?
Da água de chuva
Você acha que a água não sai tão limpa assim?
Ela pode ser bem melhor, eu acho, pode ser melhorada. Ela atende as necessidades porque a gente usa essa água
pra lavar roupa, pra limpar a casa….
Pra tomar banho e ninguém teve nenhuma doença de pele por causa disso?
Não, a gente faz análise.
E qual é a empresa que faz esta análise?
A gente faz em Botucatu, na UNESP.
UNESP, interessante é Universidade...
Então acho que poderia ser mais prático porque é um sistema que precisa ser limpo, organizado duas vezes por
mês. Então não é um sistema tão prático, talvez tivesse que pensar em uma coisa um pouquinho mais prática,
mas funciona.
Mas, por exemplo, vocês têm manutenção nessas tecnologias? Tem pessoas específicas?
Tem
Como é que funciona esta manutenção, por exemplo, no caso de água de chuva?
Do sistema de filtro, né?
É.
Tem um pessoal que trabalha aqui no campo, trabalha na lavoura, na horta, eles que fazem a manutenção.
E o tratamento de esgoto precisa de alguma manutenção?
Precisa. Essas plantas precisam ser podadas e revistas, mesma coisa o filtro onde tem alface d’água
(aguapé);essa alface d`água precisa ser tirada, precisa tirar as plantas velhas, pra que dê espaço para a planta
nova. E da manutenção: sim precisa tirar, limpar. Como é um filtro a céu aberto, próximo tem árvores, precisa
tirar folhas, tem que dar manutenção. Por isso que eu digo que não é tão prático.
L:Exatamente
Requer uma manuntenção..
E quem faz a manutenção são os próprios trabalhadores rurais daqui?
Isso
Eles mesmos fazem isso? Têm alguma supervisão, não?
Normalmente eu faço a supervisão.
Tem alguém pra mostrar como se faz, pra eles poderem até aprender?
Mas eles sabem
Os mais antigos já sabem?
Sim
Aí eles passam pros outros?...
Não eles fazem juntos, porque para limpar o filtro precisa de três a quatro pessoas, pra limpar aquele filtro, ou
você pode fazer com um só, mas leva mais tempo.
Exatamente...
Mas como a gente precisa repor a água rapidamente, então pega três, quatro pessoas, vai lá, limpa, higieniza...
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...
... tirar banco de areia, tirar aquele tambor que tem...
O tambor lá de baixo, que fica no tanque em espiral?
Isso. O que tem…carvão.
Tem que refazer as camadas?
Isso, isso. Então tem que limpar aquilo …se não a água também sai com mau cheiro.
Como é a vida aqui em comunidade, aqui?
A vida em comunidade? Em que aspecto?
Por exemplo, eu estou falando só em relação a moradores, porque os funcionários eu percebi, que eles vem
aqui trabalham de oito as cinco e vão embora. Foi como uma moça me falou: eu como a comida daqui,
mas de noite na minha casa eu vou comer carne, ou seja, eles não se adaptaram ao estilo de vocês: a
questão espiritual, a questão da relação com a comida, enfim… como é a vida entre moradores que
trabalham aqui, existe harmonia? Como é que vocês se dão aqui? É uma rotina?
É claro todo mundo discute, todo mundo briga? Briga assim: expõe a opinião, olha você fez uma coisa que eu
não gostei, mas enfim, como é que funciona essa vida em comunidade?
Se vive no que se chama uma grande família, grande família com treze irmãos mais ou menos, então é claro que
existem conflitos, mas eu acho que o foco não é tanto no conflito, mas sim na resolução desse conflito, como a
gente resolve esse conflito.
E vocês conseguem resolver bem.
É, porque fica melhor de lidar com o conflito quando vai direto ao ponto, né? Quando duas pessoas estão em
conflito as duas pessoas se entendem, sem ter muita intermediação.
Porque de repente eu estou mal com você, eu vou e falo com uma terceira pessoa o que você me fez, que eu não
gostei e daí vai criando uma situação realmente incômoda.
Desagradável.
Mas o ideal é que se eu estou com problemas com você, eu resolvo com você.
Então a idéia de vocês é essa, assim: vocês vivem em comunidade, mas se tem alguma coisa que se fez e
que não gostou, as pessoas vão ter que conversar. O Lila comentou comigo que vocês fazem reuniões
semanais, que falam sobre tudo, inclusive sobre isso, olha aconteceu isso que eu não gostei....
Também. E o ideal é sempre que a resolução seja feita assim,.
Com a própria pessoa, diretamente.
É, mas às vezes ainda acontece de não ter uma solução, aí sim, aí vai pra essas reuniões que daí a gente discute,
conversa até que chega numa resolução.
Até porque vocês têm o mesmo objetivo? É mais fácil também que vocês lidam a espiritualidade de vocês,
segue o mesmo foco, então pra vocês fica mais fácil, vocês tem a mesma idéia, a mesma mentalidade, fica
mais fácil de resolver?
E mesmo porque a gente difere em muitas idéias... não é que todo mundo pense igual.
O que eu quero dizer é que vocês estão buscando o mesmo ideal ... a espiritualidade de vocês está muito
próxima, é muito parecida...
Isso. A questão filosófica ta é muito semelhante de cada um, é isso que atrai...a gente estar junto, mas a gente
difere em várias linhas de pensamento.
É isso é comum, até porque são pessoas diferentes.
Então dessa diversidade de pensamento surgem os conflitos, então a partir dali que a gente resolve os conflitos
dessas maneiras.
Já teve algum conflito que vocês não conseguiram resolver desde que você está aqui?
Eles demoraram mais para serem resolvidos.
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Mas não teve nenhum, por exemplo, de a pessoa resolver sair porque não agüentava aquela situação e
nada conseguia resolver, levava para as reuniões, mas não resolvia. Já teve alguma coisa assim?
Não...
Vocês sempre conseguiram resolver, demora um pouco mais ou um pouco menos, mas conseguem
resolver?
Porque a questão do tempo auxilia bastante no processo da resolução, deixa a coisa passar. Cada um reflete, o
que acontece muito aqui é que cada um de nós é espelho pro outro e a gente fica exposto com as nossas, ah... por
exemplo, como eu poderia dizer... feridas, mas as nossas dificuldades ficam mais expostas.
As falhas que são normais de todo mundo...
Isso mesmo. Então eu vejo aqui, como um processo de lapidação interna de cada um, quem tá pronto e pré-
disposto a se lapidar.. cresce.
O que te fez vir morar no Parque, você falou que morava no sul, o que fez você vir morar aqui?
A questão filosófica mesmo.
Como era a sua vida lá no sul e o que você não tinha no sul que você veio achar aqui? Por que você saiu de
lá do sul e veio pra São Paulo, ficar longe de família, embora vocês sejam uma família aqui. Como é que
funciona isso na sua cabeça? Por que aconteceu isso?
Pra mim é essa filosofia.
Simplesmente. Você conheceu essa filosofia lá no sul, se interessou e aí resolveu, buscar mais e veio pra
cá?
Porque a minha intenção era me aprofundar mais nessa filosofia. Então...eu senti, que era vir morando aqui
mesmo que eu ir conseguir.
Pra aprofundar, precisava morar e estar lidando com ela todos os dias.
E eu tenho essa tendência de mergulhar fundo no processo...
Você veio simplesmente por isso ou teve mais alguma coisa, eu fiz uma relação, por exemplo: Além da
busca por essa filosofia, esse aprofundamento, você veio morar aqui por causa de tranqüilidade?
Não, porque aonde eu morava em uma cidade era super tranqüila.
Fuga dos problemas?
Também não.
Violência da cidade?
Não, não tinha violência, é pouca.
Contato permanente com a natureza?
Eu também tinha lá, onde eu morava, a cidade era pequena, dezessete mil habitantes.
Qual era a cidade?
Palmitos, Santa Catarina. Então eu sempre tive muito contato com a natureza desde pequena, então pra mim isso
é muito natural e é muito gostoso e eu gosto, eu curto isso.
Existia a preocupação com a saúde? Que aqui é a dieta lacto-vegetariana, você fazia essa dieta?
Não, eu comecei a fazer essa dieta em 98, quando um senhor que dava um curso pra gente lá em Palmito, que fez
o curso aqui 98, então ele começou passar as informações já pra gente em 1998.
Desde então, quando ele falou a primeira vez, eu já mudei minha dieta, já comecei a fazer os exercícios de yoga,
cuidar da saúde, fazer relaxamento. Então, ele simplesmente falou e foi como música pros meus ouvidos, eu me
identifiquei completamente, porque eu não gostava muito de carne, eu comia muito pouco, ah, então eu senti
assim que...
Não foi uma dificuldade pra você mudar, porque você já não gostava de carne?
É. Então foi muito, eu disse nossa agora eu encontrei o meu..., a minha família.
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Você acha que isso foi uma busca, para um modo de vida diferente, ao que você tinha? Ou você acha que o
teu modo de vida em relação ao que você tinha em Santa Catarina é parecido?
Acho que é parecido.
O que muda realmente é a visão filosófica?
É, é o que mais mudou, é o que realmente mudou foi isso.
Entendi. Agora eu quero que você fale das suas sensações, você mora naquela casa de madeira, lá do outro
lado (perto da ala da saúde)?.
Isso.
Eu queria que você me descrevesse a sua sensação dentro do interior da sua casa, em relação ao vento.
Qual é a sua sensação em relação ao vento?
Em relação ao vento? Até que a minha casa é bem ventilada.
E quando está esse tempo assim, com esse vento frio?
É tranqüilo, porque a minha casa é bem quentinha.
Aí você fecha tudo e não tem problemas?
Não
Em relação ao sol?
Em relação ao sol, também.
A mesma coisa?
A mesma coisa, é supergostoso...
Tem uma varandinha, não tem, se eu não me engano?...Essa varanda ajuda o sol não bater diretamente.
É, mas eu gosto, na verdade ...aquela casa foi desenvolvida exatamente pra mim, porque ela é super quente e eu
gosto, eu gosto muito.Então, pra mim é muito bom.
Mas ela não foi feita pra você ...
Não, aquela casa ela já existia. Quando foi comprado aquele terreno, ele já foi comprado com a casa.
Com a casa e com uma parte da casa principal?
É, mas essa casa aqui... aquele terreno foi comprado bem depois, aquele terreno lá (terreno onde fica a ala da
saúde)..onde tem o Centro Ananda, onde tem minha casa, onde tem o labirinto, onde tem o laboratório.
Aquele labirinto é o labirinto mandala, que você chamam?
É. aquele terreno foi comprado bem depois...
Essa parte foi comprada primeiro (a área central) e já tinha uma parte da casa principal, que eu li que foi
reformada, aumentada, fizeram cozinha, enfim....
Isso.
Mas essa era uma das casas existentes (o dormitório “Sol e Lua”)?
Isso, exatamente.
E a sensação que você tem em relação à chuva?
Boa...
Normalmente vem chuva de vento, melhor, vem chuva com vento e ela te incomoda?
Não.
E o entorno da sua casa, entorno que eu digo, as casas que estão em volta, a vegetação que está em volta,
tem o labirinto mandala bem em frente da sua casa. Como é que você vê esse entorno na sua casa? Isso te
agrada? Você acha que poderia ser melhor, ter mais árvores?
Não, acho que está super legal, eu adoro aquele espaço.
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Você se tivesse que mudar alguma coisa, você não mudaria nada?
Eu gostaria, seu eu tivesse mais tempo eu faria um jardim, ali do lado, tirava aquela piscina...
Aquela piscina já existia?
Já existia.
Aí vocês acabaram não mexendo em nada, porquê?
Mas, na verdade aquela casa ali onde eu estou morando é uma ala da saúde, então provavelmente aquela casa, no
dia que realmente resolver usar aquela casa, eu vou ter que realmente sair dali, e aí vai construir outra casa pra
mim e essa casa com a piscina provavelmente vai ser usada talvez... é um dos sonhos fazer hidroterapia, alguma
coisa assim, aí vai usar aquela casa sim.
Ah, então aquela parte onde tem o labirinto Mandala, onde tem uma horta circular e tem o laboratório,
aquela parte vocês estão chamando de ala da saúde. E pra cá (perto do dormitório “Sol e Lua”)?
Pra cá, aqui é mais os seminários, onde tem todos os dormitórios, onde as pessoas vem...
Seria a parte central?
Isso é a parte central.
E o lado de lá do outro terreno, é à parte onde o pessoal mora?
É, exatamente pra lá, aí provavelmente minha casa vai ser construída pra lá.
Perto do Lila, perto daquelas outras casas?
É, perto do condomínio dos moradores novos.
E também aquela casa em madeira do outro lado, perto da casa do Lila, ele falou pra mim que foi a
primeira casa construída, que por isso ela é tão diferente das de agora.
Inclusive no começo a idéia era que cada morador construísse a sua casa. Mas essa idéia não...
Não vingou.
Não vingou muito. Por isso, agora o Parque constrói as casas e cada morador tem o direito de uso da casa,
enquanto tiver morando aqui no Parque.
Mas a idéia que eles tinham antes era de cada um de construir a sua casa, a pessoa seria dona da sua casa?
Sim.
Então mudou o regime porque agora é regime de comodato...
Bom você já comentou que a sua casa antiga e onde você mora são muito parecidas, mas você tinha essas
tecnologias ambientais, na sua casa?
Não.
Como era o seu cotidiano com essas, a sua casa primeiro: tem captação de água de chuva? Tem
tratamento de esgoto?
De esgoto sim, mas não de captação água de chuva.
Mas a água que você usa é a água que vem dos açudes?
É.
O seu telhado não capta água, mas você usa essa água de chuva e o esgoto é tratado...?
Na zona de raízes, aí também.
Aquela perto do dormitório? E você tendo isso dentro da sua casa e você não tinha na casa onde você
morava, lá no sul, você sente diferença, na qualidade da água, na forma de você ver as coisas, você sente
alguma coisa?
É o que eu sinto, por exemplo...e que me preocupa bastante que lá em Santa Catarina, tinha um amigo meu, que
se formou... com a faculdade que fala sobre a água, é Engenheiro Hidráulico e então ele falava muito sobre os
problemas com água, principalmente em Santa Catarina que tem muita criação de suínos e a infiltração da urina
do suíno no lençol freático polui realmente, que é uma das maiores problemas de poluição da água e isso me
preocupava muito lá já.
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Então eu ficava assim pensando: puxa vida, o que poderia fazer, como é que poderia esse povo, que a base,
basicamente da economia é a criação de gado, suíno e frango em Santa Catarina, naquela região e isso me
preocupava de certa maneira, eu não tinha essa consciência toda que eu tenho hoje de não comer carne, essas
coisas todas, mas isso de certa maneira me preocupava, porque eu já tinha esse amigo que falava sobre isso. E
ele dava muitos dados, ele dizia que a gente vai ter uma crise de água, vai ter guerra por água, ele já falava muito
dessas coisas. Então quando eu vim aqui, hoje, eu me sinto pelo menos um pouco mais tranqüila em termos
ambientais.
É como se você fizesse a sua parte?
É exatamente. Então eu me sinto um pouco mais assim, hoje em dia. Não sinto mais que eu to sendo parte
também do problema. E acho assim que a gente consegue fazer um trabalho com várias pessoas e conscientizar
mais pessoas, que eu acho que é muito importante, isso.
Você acha que a qualidade da água é boa? A água da chuva?
Então, poderia melhorar...
Poderia melhorar em relação ao banho... agora vocês poderiam colocar filtros especiais e utilizá-la para
beber?
Poderia.
Existe essa intenção?
Poderia, porque as análises que a gente faz, a nossa água não está contaminada com coliformes fecais, mesmo
porque a gente não tem basicamente animais aqui, a gente não cria animais, então não tem como poluir essa
captação de água de chuva. Porque ela vem toda daqui, tudo, os sistemas de esgotos não são a céu aberto, são
tratados, então a gente tem maior controle dos coliformes fecais, do que pode está contaminando a água também.
...
Mas a nossa água normalmente ela tem um teor alto de ferro e alguns elementos químicos...essa água é bastante
salobra porque tem um pouco de vertente, então isso torna nossa água é bastante salobra.
Então vocês precisariam de um tratamento mais específico, para poder utilizar pra beber?
Exato, pra beber sim. Tanto a água do poço artesiano, não usa pra beber por causa disso, inclusive a gente
comprou filtro Europa (marca de um filtro doméstico), que fala que tira tudo...
E não tira?
Não tira... não tira.
Propaganda enganosa então, Tem que reclamar.
(risos) A gente fez as análises e ainda tem gosto, a água tem muito gosto. Então não é uma água potável,
realmente pra tomar.
Dessas tecnologias que são usadas no parque, você daria alguma sugestão de melhoria pra elas, além do
filtro que você já falou; que o filtro realmente tem que ser revisto, tem alguma coisa além, além da
praticidade que você comentou?
....
Pra você embora não seja uma técnica nisso, enfim, pelo que você já viu, pelo que você sabe, que já
estudou, seria interessante pra melhorar esses aspectos ambientais?
Ah, com certeza. Eu acho que deveria ter outros sistemas, por exemplo, não usando cloro, pra purificar a água,
com certeza deve ter outro sistema, deve haver outras possibilidades.
Mas vocês não usam cloro...
A gente não usa cloro porque cloro é altamente cancerígeno.
O que você quer dizer é que a intenção é continuar não usando cloro?
Exatamente. Porque existem outras tecnologias, mas são muito caras. A gente pesquisou algumas coisas e são
muito caras. Então ficaram basicamente inviáveis pra gente fazer e aí existem outras, por exemplo: outros filtros,
que não só Europa, tem outras empresas que tem filtros, nesse sentido, com raios ultravioletas, mas aí acaba
eliminando basicamente toda a vida da água.... Mas aí não tira também os elementos químicos, isso não tira, tira
mais partículas vivas mesmo da água.
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E então eu acho que esse aspecto de purificação da água poderia ser bem melhoro, mas aí precisa alguém
realmente especialista, que tenha mais conhecimento.
Pra ver isso?
Possa trazer mais informação pra fazer alguma coisa nesse sentido. E eu acho que também ainda a parte de
energia solar, ela poderia ser muito melhor. Mas eu acho que em muitas pesquisas...
Mas você acha que não tem por falta de dinheiro?
Não é que a gente não tem.
Que é falta de estrutura, por isso?
Não, a gente pode implantar o sistema de energia solar, a gente pode implantar sim, tem hoje em dia tem, só que
significa, são aquelas placas enormes que você precisa instalar, eu acho que se o ser humano se debruçar um
pouco mais, em cima disso ele vai conseguir achar formas melhores de captar energia solar...
Vocês já pensaram em usar para aquecimento da água do chuveiro eliminando o chuveiro elétrico que
existe nos dormitórios?...Vocês já pensaram em usar o ASBC, que é o aquecedor solar de baixo custo da
Sociedade do Sol?
Então é esse que a gente vai implantar...a gente tem várias coisas pra fazer aqui, a gente está com objetivo de
transformar basicamente todas as casas com sistema de captação de água de chuva com calhas, cisternas, reuso
da água, tanto pra lavar roupa, depois reusa novamente pro vaso sanitário.
Depois usa pra irrigar...
...pra irrigar o jardim. Aí o outro que a gente vai ampliar é a parte da energia solar, iluminação fotovoltaica e
também a gente ta no projeto de ampliar todos os chuveiros com energia e aquecimento solar, todos, porque isso
realmente vai trazer bastante economia. A energia fotovoltaica não vai trazer tanta economia, porque são apenas
lâmpadas, né.. ah... precisa uma estrutura muito grande pra você ter um pouco de energia, ligar um freezer, uma
geladeira, um forno, isso está bem inviável em termos de tecnologia, não tem uma tecnologia tão desenvolvida,
ainda hoje em dia.
E os painéis fotovoltaicos são muito caros também ...
E são enormes os painéis, ...
Eu vi que pra sala lótus é um painel relativamente grande pra uma lâmpada...
Exatamente. Então, por isso é que digo, eu acho que o ser humano tem que desenvolver mais tecnologias nesse
sentido e mesmo porque aqui no Brasil a gente tem muito sol.
...
É uma energia que está totalmente disponível.
E aqui vocês têm muito vento também.
É, então eólica é muito cara também. Extremamente cara, talvez até mais cara que a energia solar. Então se a
gente conseguir realmente a iluminação com a energia fotovoltaica e transformar todos os chuveiros com
aquecimento solar, já vai dar boa economia.
Vocês fazem uma previsão dessas transformações, dessas mudanças em quanto tempo, um, dois anos?
A previsão é pro próximo ano, já.
Em 2006 vocês querem até o meio do ano já estar com todas essas tecnologias...
Saindo essa verba, com certeza.
Vocês estão pedindo verba pra quem?
Pro Ministério do Turismo.
Na verdade vocês estão querendo uma espécie de um patrocínio?
Isso.
É que vocês na verdade estão no site de Porangaba, se não me engano, como um local turístico...
Exato. Porque o que aconteceu: o prefeito de Porangaba foi a Brasília no Ministério do Turismo solicitar verba
pra um projeto de ecoturismo do município. Aí ele chegou em Brasília pro Coordenador do Ministério do
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Turismo, ele falou então que é de Porangaba, do Instituto Visão Futuro, conhece a Dra. Susan, então ele já tinha
conhecimento do Parque lá. Aí o Prefeito nunca tinha vindo aqui era o primeiro mandato dele aqui em
Porangaba, ele era de São Paulo, do interior de São Paulo...ele veio nos visitar, conhecer o parque, ele não
conhecia o parque. Então a partir dali e que realmente surgiram várias possibilidades. Essas idéias que nos temos
de ampliar e melhorar essa parte ecológica a gente tem a muitos anos, já ...
Falta verba?
Falta verba pra poder implantar isso. A gente quer melhorar muita coisa aqui.
E vocês acham que vai sair?
É possível, é bem provável.
Pelas contas que vocês tem, está quase certo que vocês vão conseguir?
Pelo que ele nos falam é bem provável, é bem provável que o Ministério está com várias ... com muita verba e tá
com poucos projetos, então é bem provável que saia já.
Aí vocês fariam uma parceria com o Ministério do Turismo e aí o que vocês dariam em troca a ele?
Na verdade é subsídio, mesmo.
Entendo...
Porque o Ministério do Turismo quer desenvolver o Ecoturismo, tem foco pro ecoturismo no Brasil...então quem
ta capacitado a conseguir essas verbas com Prefeituras é 1º Setor que são os órgãos governamentais, Prefeituras,
o Estado e as organizações não governamentais sem fins lucrativos, ongs ...
...
Entidades que possam ta pleiteando essa verba e é uma verba que vem e que você não precisa repor ela, você
precisa simplesmente dar satisfação no que você aplicou e claro o retorno pra isso seria ...o Ministério do
Turismo quer o quê com isso, desenvolver o ecoturismo , melhorar aquele local, que ele possa ser sustentável...
Diminuir o impacto ambiental, degradação?
Isso exatamente.
É aumentar essa consciência ambiental, que a gente percebe que no Brasil cresceu muito depois de 92,
quando aconteceu a Eco 92...
É.
Antigamente quando alguém falava disso, “ih, já vem o fulano falar desse negócio de cortar água, é uma
bobagem”... (risos)
É verdade
Agora você é mais difícil ver pessoas falando isso.
É mesmo.
Quer dizer, as pessoas já abriram a mente delas e tendo locais como o Visão, e tendo locais como Tibá lá
no Rio de Janeiro, como o IPEC em Goiás. Enfim, isso só traz retorno financeiro pro próprio Ministério
do Turismo!
Exatamente.
Você tem que pagar imposto como todo mundo.. Isso é interessante. Uma pergunta que você não é
obrigada a me responder. Quantos anos você tem (risos)?
34 (risos).
Obrigada pela entrevista Rosane. Você me repassou informações muito interessantes.
De nada, Lúcia !
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Entrevista com Flaviana no dia 2 de dezembro de 2005 no Parque Visão Futuro, Porangaba, São Paulo.
Trabalha no Parque há 5 anos e mora próximo a ele. Sua função é atender telefone, dar informações sobre os
cursos e eventos, e fazer as inscrições para os mesmos. Mora em um bairro próximo a ecovila.
Quantas pessoas trabalham nesta sala (a sala indicada é a referente a recepção da administração)?
São duas aqui: eu e a Elisângela (a outra secretária).
A Rosane (é a responsável pela área administrativa do Parque) trabalha aqui ou na outra sala (uma sala ao
lado da recepção)?
Na outra.
Quantas pessoas trabalham na administração em si?
Duas pessoas nesta sala e 5 na outra sala. São sete pessoas no total.
Vocês atendem ao telefone e fazem a administração, a inscrição, como se fosse a triagem?
É isso mesmo.
E as outras pessoas em que trabalham?
Compras, vendas, já é a parte mais complexa da administração.
A luz que vocês tem, é luz também da concessionária local ou é energia fotovoltaica?
Da concessionária.
Qual a sensação que te passa esse lugar?
Eu gosto daqui, é agradável.
Qual a relação deste lugar com a preservação do meio-ambiente? Você acredita que o uso de tecnologias
renováveis tem algo a ver com isto?
Eles (os coordenadores do Parque) cuidam direitinho, não deixam fazer queimadas, aparam o gramado, cuidam
bem do verde....Acho isso legal...
Qual sua visão em relação às tecnologias renováveis utilizadas no Parque?
Não entendo muito disso....
Descreva a sensação sentida no Parque em relação ao vento, chuva, sol e o entorno (nesse momento a
autora explicou o que seria o entorno do Parque):
O vento é gostoso (mesmo sendo fria), a chuva incomoda um pouco e o sol é bom. O entorno...o entorno é
bonito, agradável.
Qual sua opinião sobre as tecnologias ambientais? Sobre o reuso da água do esgoto, da água de chuva....
Eu acho legal. A água da minha casa e a que tem aqui é igual, mas eu não tenho água de chuva lá em casa.
Entrevista com Franceli no dia 5 de dezembro de 2005 no Parque Visão Futuro, Porangaba, São Paul. É
funcionária no Parque nos fins de semana.
Você só trabalha aqui final de semana?
É..
Ah, entendi, só por causa dos cursos? Então você fica na cozinha dos moradores?
É....
Você está a quanto tempo trabalhando final de semana?
4 anos.
E você tem carteira assinada pra trabalhar final de semana?
Tenho, tudo direitinho.
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303
Vocês, funcionários, usam esse espaço pra almoçar enquanto os moradores ficam do outro lado?
Isso.
A perua (veículo automotivo também conhecido como Kombi) está levando, o quê?
Verduras pra vender na cidade e pra não demorar muito, tá muito sol.
Eles levam de perua para não pegar o sol e acabar estragando, porque daqui a pouco é almoço também?
Já estão cuidando. E você não vai lá ajudar?
Vou, mas tenho que terminar aqui (lavar a louça).
Ah, entendi. Qual é o seu nome?
Franceli
Posso perguntar quantos anos você tem?
(risos) Pode...
Quantos anos você tem?
20
Você gosta de trabalhar aqui?
Eu gosto!
Eles pagam direitinho?
Pagam.
Isso é bom, né?
É.
Ter carteira assinada é bom, porque você tem uma garantia. E você já ouviu falar do uso da água que eles
fazem aqui?
Já.
Você acha isso legal?
É bom.
Você tem vontade de fazer isso na sua casa?
No momento não.
Você tem água na sua casa? É de poço?
De poço.
E a água é boa?
É boa, é.
Por enquanto você não usa água de chuva?
Não, mas é boa.
E quando eles fazem tratamento no esgoto e usam a água de novo no pomar? O que você acha?
Eu acho estranho.
Acha estranho, é mesmo?...(risos) Ah, mas depois vai acostumando, vai até achando normal é só até
acostumar.
....
...
Franceli, obrigada então..
De nada....
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Entrevista com Patrick e José dos Passos no dia 5 de dezembro de 2005 no Parque Visão Futuro, Porangaba,
São Paulo. São funcionários do Parque desempenhando a função de agricultores. Durante a entrevista
estavam presente além dos entrevistados, a Franceli e a Flaviana.
P- Patrick J- José dos Passos
Oi, você trabalha aqui?
Trabalho. Faço manutenção.
Manutenção de que?
P: Manutenção de água, tirar o lixo lá da cozinha, mexer com trinco de porta, lâmpada.
E você faz a manutenção no tratamento de esgoto?
P: Não!
São outras pessoas que fazem isso?
P: São outras pessoas.(risos)
Ainda bem, né? (risos)
P: Ainda bem (risos). Contrataram uma pessoa pra fazer isso.
A manutenção dessas tecnologias que tem por aqui não é você quem faz não?
P:Não (risos)
Graças a Deus, né? (risos)
P:Graças a Deus (risos)
Você tem quantos anos Patrick?
P: de idade?
É de idade.
P: 22.
Você trabalha aqui há quanto tempo?
P: quatro
Você trabalha todos os dias ou é como ela, a Franceli, que trabalha só nos finais de semana?
P: todos os dias
Todos os dias...tem carteira assinada, direitinho?
P: carteira assinada.
Você mora na região?
P: Moro, moro.
Onde você mora?
P: Depois do loteamento (bem depois do açude com energia fotovoltaica).É, mais pra frente.
Você gosta de trabalhar aqui?
P: Gosto. É gostoso.
É agradável o ambiente?
P: É muito agradável.
E agora vocês estão levando a comida pro Lila (cozinha dos moradores e dos eventos)?
P: Não. Isso aqui é pra vender.
É pra vender?
P: É. Pro Lila foi levado mais cedo, agora a gente vai vender.
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E o dinheiro que vocês arrecadam fica para o Parque?
P: Fica pro Parque.
Então você trabalha até domingo também?
P: Domingo.
Ela trabalha final de semana e você trabalha de domingo a domingo?
P: De domingo a domingo
Você não tem folga?
P: Às vezes eu tiro uma folgazinha, às vezes quando me dá na telha.
Aí você ganha um pouquinho mais, né?
P: Ganho, mas é por fora né..... só quando não tem curso daí não precisa.
Mas sempre tem curso final de semana?
P: Direto, agora é o ano todo...
Agora durante a semana é mais tranqüilo não tem ninguém por aqui? Como é durante a semana aqui
deve ser uma tranqüilidade, não tem as pessoas do cursos?
P: Ter tem; os funcionários...
Ah é tem os funcionários andando (risos)
P:...você sobe, enquanto o outro desce...tem sempre gente andando por aqui.
É mesmo. É porque eu cheguei na 5ª feira e estou indo embora amanhã, eu não vejo funcionários. Gente
cadê esses funcionários, está todo mundo de férias (risos). É porque na 5ª feira foi dia de amigo oculto e
vocês saíram mais cedo do trabalho, Pararam de trabalhar às 11 horas, tiveram uma folguinha?
P: Uma folguinha...
Ainda teve um filmezinho?
P: É. Vimos lá os filhos do Francisco.
Eu vi que vocês estavam lá prestando atenção. (risos)
P:...(risos)
E na 6ª feira vocês trabalharam?
P: Trabalhamos.
É? Mas eu não vi ninguém trabalhando. Onde vocês estavam que eu não achei ninguém? Eu andei, corri
isso aqui tudinho, não vi ninguém. Eu vim no dia errado (risos)
P: (risos) Não. A gente estava aí, só que a gente vai de um lado pro outro..
Entendi, é que é muito grande também. Fica difícil de ver as pessoas.
P:...é isso.
J- A gente não pára em um lugar só.
Então tem que correr atrás de vocês? Senão...
P:...correria.
Qual o horário de trabalho de vocês?
P: Sete às quatro.
Sete às quatro? 8 horas de trabalho?
P: É.
Mas é agradável, o lugar é bom...
P: É bom.
Vocês já estão acostumados com essa vegetação toda....ou...(risos)?
P:...(risos) é bom.
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O que vocês acham dessas músicas que são tocadas aqui?
P: ...
O que vocês acham das meditações que eles fazem, das músicas? Você tem religião?
P:...meditação...
E você faz meditação também?
P: Não, não faço, mas eu sei que as pessoas ficam calmas, né?
É verdade, né?
P: ...As pessoas que fazem meditação ficam muito tranqüilas...
Você tem religião?
P:...eu sou católico.
Não praticante pelo jeito, né? Porque você falou meio assim e você também?
P:Às vezes, a gente vai na igreja...
Quando tem festinha, aí você vai a igreja?
P:...é
J- eu já fui pra várias religiões...e as vezes vou...
Ou seja, você vai um pouquinho de cada. Então não te incomoda quando começam a cantar aquelas
músicas?
P: Ah, não, já acostumou...a gente canta também
Nem sabe do que se trata, mas está cantando também? (risos)
P: Tu viu lá, você estava na 5ª feira lá? Na hora que começou a cantar lá?
... de noite?
P: Não...lá no amigo oculto lá...
Não não fui ... eu estava uma hora lá, mas na hora que vocês estavam...não.
P:...cantamos lá...
É mesmo é? E você sabe o que significa isso?
P:...ah eu sei mas não lembro...
Eu já ouvi falar, mas eu queria saber se vocês sabem...
(estão tentando lembrar)
Vocês ficam falando e não sabem do que se trata, gente?
(todos falam ao mesmo tempo)
“Baba nam kevalam” é “Deus é amor”, não é isso?
P: Deus é amor. É isso
J: é isso aí...Deus é amor...
Qual é o seu nome?
J: José dos Passos
Você tem nome espiritual também?
J: Não.
José dos Passos está bom?
J: tá....
P: Ele é mineiro.
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
APÊNDICES
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
307
Mineiro espiritual ou você é de Minas mesmo?
J:...sou.
É mesmo?
J:...sou de Minas, do mundão. Já corri muito lugar.
... do mundão né?
J:...é
Eu estava perguntando pra ela o que ela achava dessa estória de usar água de chuva e o que vocês acham
dessa estória de usar água de chuva?
J: uma coisa legal
Vocês usam na casa de vocês?
P: eu não....
J: eu tenho. Coloquei pra pegar água de chuva...
É? que bacana!
Eu coloquei pra diminuir a entrada de água encanda...
Pra tomar banho, menos pra beber né?
P: Não, eu tenho água encanada...
Ah é verdade. Também usam no vaso sanitário?
: No vaso tem água da rua
Você aprendeu com eles ou você já tinha? ...Você aprendeu com eles a fazer isso?
P: Eu via eles fazendo aqui...e depois fiz lá em casa.
Ah você viu e depois foi fazer. Então aprendeu com eles?
P: A gente vai copiando, né. As coisas boas
E o que você acha da casa do Lila?
P: do Lila? Eu acho bonita, a cada dele.
J: Dá muito trabalho, na verdade...
Você acha que uma das casas mais bonitas? É a mais bem cuidada?
P:...é sim
Ele trabalha bem na casa?
P:...é
J: é bonita.
E o que vocês acham de usar a água de esgoto para irrigar as plantas. Ela (a Franceli) acha meio
esquisito...
P: É uma coisa muito boa isso daí...
J: A água é tratada, né? É bom, é...
Exato. Tratada para depois usar.
J: Mas não estão conseguindo muito ainda. Ta tendo pouca água pra usar.
Não está dando não?
J: ...com um projeto bem feito...não perde nada. Essa água que faz o tratamento sai limpinha.
Exatamente. Aí vocês não têm vontade de fazer isso também na casa de vocês?
P: Eu não. (risos)
J: não dá pra fazer não...
Não dá não, mas porquê?
J: ...O terreno é pequeno...Meu terreno tem só mil metros... mil metros pra gente do campo é pouco...
AS TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NAS ECOVILAS: UM EXEMPLO DE GESTÃO DA ÁGUA
APÊNDICES
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
308
É, pra vocês é pequeno mesmo, vocês tem muita coisa. Olha a Flaviana, já falei com ela também (risos)
P: mostra as fotos pra ela...ela estava cortando repolho..(risos).
(mostrando foto com o Patrick e a Franceli) Aqui a Francelí e o Patrick. Vamos montar uma foto, vocês
sentados aqui.Vai ficar uma foto bacana....
P: Eu estou sem camisa....
É só colocar sua camisa então. A gente espera....
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
ANEXOS
Anexo 1 - Verificação de alguns detalhes antes da fabricação do ASBC. Fonte: SOSOL,
2006.
Antes de iniciar a instalação definitiva do ASBC, procure responder as perguntas abaixo:
Coletores:
Teste de pressurização realizado?
A memória de forma da placa de PVC foi eliminada?
As tiras de Isopor ou no caso das instalações nos estados sulinos a chapa completa de
isopor foram coladas no verso dos coletores?
Espaço de instalação:
Tem certeza de que o norte foi determinado corretamente?
Tem certeza de que a laje suporta o peso do reservatório do ASBC?
A altura da caixa é suficiente para gerar o processo de termo sifão?
O tubo de retorno permite a eliminação dos gases?
Lembra-se que na primeira instalação os componentes de PVC não devem ser
soldados?
Caixa de água:
6. Um termômetro está à disposição da equipe?
7. A base da Caixa de água está devidamente protegida, conforme sugestão do manual do
fabricante?
8. Por sinal, já pediu o manual de instalação da caixa a seu fornecedor?
9. A serra copo e furadeira para a montagem dos flanges na caixa foram providenciadas?
10. O furo para o ladrão da água foi previsto?
Interligação Caixa Chuveiro
Tem certeza que o tubo de interligação Caixa – Chuveiro elétrico é 100% horizontal
ou então está sempre descendo, evitando-se assim as bolhas de ar?
Tem certeza que o local de saída da água quente dos coletores à caixa é o ponto mais
alto destes coletores? Ou então, eles estão com a inclinação lateral recomendada?
Enchimento da caixa e coletores e respectiva operação
4. Lembra-se de que a água que encherá os coletores somente pode vir do tubo de saída?
5. Lembra-se de que se a água vier do tubo de retorno, os coletores ficarão com grandes
bolhas de ar encalacradas, impedindo a circulação?
6. Lembra-se que a palma de sua mão é o melhor termômetro?
Vários
O chapéu para evitar insolação está disponível?
Lembra-se que depois da chuva as telhas quebram-se com a maior facilidade?
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
Anexo 2 - Lista de peças, ferramentas e complementos para fabricação do ASBC
Componentes Finalidade
Placa de forro de PVC alveolar modular
1,25 x 0,62 m
Componente do coletor (1)
Tubos de PVC marrom 32 mm (φ ext.) e
700 mm de comprimento (2 por coletor)
Componente do coletor (2)
Luvas soldáveis de PVC marrom 32 mm Para fazer a união entre os coletores (3)
Adaptador de PVC marrom 32 mm x 1"
Escoar a água dos coletores ASBC para efeito
de manutenção (4)
Joelhos 90° de PVC marrom soldável de
32 mm
Unir os coletores aos tubos de PVC (5)
Cap PVC branco com rosca de 1"
Fechar o adaptador da saída de água de
manutenção (6)
Caps de PVC marrom de 32 mm
Vedar as pontas do coletor no teste de
vazamento e fechar definitivamente a ponta
superior esquerda do coletor (7)
Adesivo (bi-componente) Plexus 310 ou
Araldite 24h - 30 gr por placa ou resina
isofitálica
Unir a placa ao tubo de 32 mm
Esmalte sintético preto fosco (40 ml por
coletor). Nunca usar tinta denominada de
“imobiliária”.
Pintar as placas do coletor
Placa EPS / Manta PE expandido Isolamento térmico e proteção mecânica (8)
Lista de ferramentas Finalidade
Trena ou metro Fazer as medidas de corte na placa e nos tubos
Furadeira com broca 3 mm p/ aço
Fazer os furos-guia no tubo de PVC marrom
de 32 mm
Pincel 2" ou rolo de 5 cm Pintar as placas do forro
Espátula flexível com ponta arredondada,
tipo misturador de café/açúcar
Aplicar a cola sobre a união tubo PVC e placa
de forro
Serra de extremidade livre Abrir rasgo nos tubos
Lista de complementos Finalidade
Lixa 120 Lixar as rebarbas e superfícies
Fita crepe Limitar a área de pintura
Jornal Apoiar a placa sobre a superfície de trabalho
Tábua plana de 80 x 15 cm Guia para segurar o tubo durante o rasgo
Pregos de 4 cm Pressionar o tubo sobre a guia de madeira
Lápis Riscar o tubo de 32 mm antes de cortá-los
Régua de 70 cm ou outra estrutura reta Guiar o lápis para fazer o risco no tubo
Manual recente "Tigre - Água" Reconhecer as peças de montagem
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
Anexo 3 - Resolução CONAMA n
o
275 de 25 de Abril 2001.
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das atribuições que
lhe conferem a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, e tendo em vista o disposto na Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e no Decreto no 3.179, de 21 de setembro de 1999, e
Art.1o Estabelecer o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na
identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a
coleta seletiva.
Art. 2o Os programas de coleta seletiva, criados e mantidos no âmbito de órgãos da
administração pública federal, estadual e municipal, direta e indireta, e entidades paraestatais,
devem seguir o padrão de cores estabelecido em Anexo.
§ 1o Fica recomendada a adoção de referido código de cores para programas de coleta seletiva
estabelecidos pela iniciativa privada, cooperativas, escolas, igrejas, organizações não-
governamentais e demais entidades interessadas.
§ 2o As entidades constantes no caput deste artigo terão o prazo de até doze meses para se
adaptarem aos termos desta Resolução.
Art. 3o As inscrições com os nomes dos resíduos e instruções adicionais, quanto à segregação
ou quanto ao tipo de material, não serão objeto de padronização, porém recomenda-se a
adoção das cores preta ou branca, de acordo a necessidade de contraste com a cor base.
Art. 4o Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ SARNEY FILHO (Presidente do CONAMA) Publicado DOU 19/06/2001
ANEXO Padrão de cores
AZUL: papel/papelão;
VERMELHO: plástico;
VERDE: vidro;
AMARELO: metal;
PRETO: madeira;
LARANJA: resíduos perigosos;
BRANCO: resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde;
ROXO: resíduos radioativos;
MARROM: resíduos orgânicos;
CINZA: resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de
separação.
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
Anexo 4 - Carta da Água (Conselho da Europa)
Não há vida sem água. A água é um bem precioso, indispensável a todas as atividades
humanas.
A disponibilidade de água doce não é ilimitada. É indispensável preservá-la e, na medida
do possível, aumentá-la.
Alterar a qualidade da água significa prejudicar a vida do ser humano e a dos outros seres
viventes que dela dependem.
A qualidade da água deve ser tal que satisfaça as exigências das utilizações previstas; mas,
em particular, deve satisfazer as exigências da saúde pública.
Quando a água, depois de usada, é restituída ao seu ambiente natural, ela não deve
comprometer os possíveis usos, tanto públicos quanto privados, que, naquele ambiente,
possam ser realizados.
A conservação de um mando vegetal, de preferência florestal, é essencial para a defesa e
sobrevivência dos recursos hídricos.
Os recursos hídricos devem ser, o quanto antes, no mundo, objeto de um inventário.
A boa gestão da água deve ser objeto de um plano estabelecido das autoridades
competentes.
A proteção da água implica grande esforço de pesquisa científica, de formação de
especialistas e de informação de público.
A água é um patrimônio comum, cujo valor deve ser reconhecido por todos. Cada pessoa
tem o dever de economizá-la e usá-la com cuidado.
É melhor que a gestão dos recursos hídricos seja realizada no local das bacias naturais do
que nas repartições administrativas e políticas.
A água não tem fronteiras. Ela é um recurso comum que precisa da cooperação internacional.
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
Anexo 5 - Quadro de parâmetros de potabilidade - Portaria n
o
518 de 25 de Março de
2005.
(1) - VMP: Valor Máximo Permitido.
Anexo 6 - Classificação das águas definida pela Resolução n
o
357, de 17 de Março de
2005
“...Art. 2o Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - águas doces: águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 %;
II - águas salobras: águas com salinidade superior a 0,5 % e inferior a 30 %;
III - águas salinas: águas com salinidade igual ou superior a 30 %;
...
Art. 50. Revoga-se a Resolução CONAMA n
o
020, de 18 de junho de 1986.”
Anexo 7 - Índice de balneabilidade - Resolução N
o
274 de 29 de Novembro 2000
“...recreação de contato primário: quando existir o contato direto do usuário com os corpos de
água como, por exemplo, as atividades de natação, esqui aquático e mergulho.
Art. 2o As águas doces, salobras e salinas destinadas à balneabilidade (recreação de
contato primário) terão sua condição avaliada nas categorias própria e imprópria.
§ 1o As águas consideradas próprias poderão ser subdivididas nas seguintes categorias:
a) Excelente: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das
cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 250 coliformes
fecais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli ou 25 enterococos por l00 mililitros;
b) Muito Boa: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das
cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo, 500 coliformes
fecais (termotolerantes) ou 400 Escherichia coli ou 50 enterococos por 100 mililitros;
c) Satisfatória: quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das
cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo 1.000 coliformes
fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mililitros.
§ 4o As águas serão consideradas impróprias quando no trecho avaliado, for verificada uma
das seguintes ocorrências:
valor obtido na última amostragem for superior a 2500 coliformes fecais (termotolerantes) ou
2000 Escherichia coli ou 400 enterococos por 100 mililitros...”.
A CONSERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS RENOVÁVEIS: O EXEMPLO DAS ECOVILAS
ANEXOS
LÚCIA RAINHO MARÇO/2006
Anexo 8 - Lista de material da fossa biodigestora - EMBRAPA
Item Quant. Unidade Descrição
01 03 Caixa de fibrocimento ou fibra de vidro de 1000 L
02 06 m Tubo de PVC 100mm para esgoto
03 01 Válvula de retenção de PVC 100mm
04 02 Curva 90
o
longa de PVC 100mm
05 03 Luva de PVC 100mm
06 02 Tê de inspeção de PVC 100mm
07 10 O’ring 100mm
08 02 m Tubo de PVC soldável 25mm
09 02 Cap de PVC soldável 25mm
10 02 Flange de PVC soldável 25mm
11 01 Flange de PVC soldável 50mm
12 01 m Tubo de PVC soldável 50mm
13 01 Registro de esfera de PVC 50mm
14 02 tb Cola de silicone de 300g
15 25 m Borracha de vedação 15x15mm
16 01 tb Pasta lubrificante para juntas elásticas em PVC rígido – 400g
17 01 tb Adesivo para PVC – 100g
18 01 litro Neutrol
FERRAMENTAL
01 01 Serra copo 100mm
02 01 Serra copo 50mm
03 01 Serra copo 25mm
04 01 Aplicador de silicone
05 01 Arco de serra c/ lâmina de 24 dentes
06 01 Furadeira elétrica
07 01 Pincel de ¾’
08 01 Pincel de 4”
09 01 Estilete ou faca
10 02 fl Lixa comum no. 100
Se não for utilizar o efluente como adubo orgânico, acrescentar: areia fina lavada, pedra
britada nº 1 e pedra britada nº 3.
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