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fugir das pressões que o conflito entre burguesia e proletariado impunha de modo cada
vez mais evidente (M
ARINI, 1968, p. 94). Com o aparato ditatorial então colocado, o
Governo pôde realizar reformas políticas, econômicas e institucionais, de modo a
continuar atraindo o capital estrangeiro (especialmente o americano) para o
crescimento industrial do País. A ênfase será dada ao setor de produção bélica, o qual
permite a maior absorção de tecnologia pretendida pela burguesia. Politicamente,
vinculava-se essa expansão à defesa nacional (M
ARINI, 1968, p. 64), mas estava claro
que o objetivo era maior.
Neste ponto, começa aquela que é a grande contribuição original de Marini
na teorização da dependência. Com a maior capitalização da agricultura e da indústria,
acaba-se criando, inevitavelmente, um exército industrial de reserva, restringindo o
mercado interno da indústria de bens de consumo. É semelhante ao processo ocorrido
nos países desenvolvidos, exceto pela irracionalidade que caracteriza o caso brasileiro:
aqui, a tecnologia não surge naturalmente, mas como resultado da importação das
técnicas de produção mais modernas. A solução dos mercados centrais foi o imperialismo
e a criação de mercados periféricos. Por um caminho parecido, o Brasil (país mais
avançado, em termos de indústria, na América Latina, naquele período, quase pareado
pela Argentina), estabelece o subimperialismo. “O capitalismo brasileiro orientou-se,
assim, para um desenvolvimento monstruoso, dado que chega à etapa imperialista antes
de ter conseguido a mudança global da economia nacional e em situação de dependência
crescente diante do imperialismo internacional” (M
ARINI, 1968, p. 97-98).
Por ser um subimperialismo, os excedentes gerados pela atividade não se
dirigem primordialmente ao País, mas, sim, aos países centrais que ainda controlam o
ao fim do governo de Kubitschek. Percebe-se que a crise leva cada vez menos tempo para retornar,
com cada vez mais força. O governo de Jânio, entretanto, fracassa, pois “pratica uma política
econômica de contenção dos níveis salariais e de liberalismo, cujo objetivo é criar novos atrativos aos
investimentos estrangeiros, ao mesmo tempo que coloca a necessidade de reformas de base, sobretudo
no campo. A isso se acrescenta uma orientação independente na política externa, que se destina a
ampliar o mercado brasileiro para exportações tradicionais, diversificar suas fontes de abastecimento
em matérias-primas, equipamentos e créditos, e possibilitar a exportação de produtos manufaturados
para a África e América Latina” (M
ARINI, 1968, p. 88). Essas atitudes “despertavam o
descontentamento dos mais diferentes setores, desde os comunistas até os de extrema direita”, o que
acabou por trazer uma crise enorme, cuja rota de fuga vislumbrada foi a renúncia (M
ARINI, 1968, p. 34).