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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA
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Dissertação de Mestrado
Orientadora:
Dra. Delia del Pilar M. de Almeida
Co-orientador:
Dr. Henrique Zerfass
São Leopoldo, janeiro de 2006.
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Aos meus amigos,
àqueles que fizeram diferença,
àqueles que ainda fazem e
àqueles que sempre farão!
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The Road goes ever on and on
down from the door where it began.
Now far ahead the Road has gone,
and I must follow, if I can,
pursuing it with eager feet,
until it joins some larger way
where many paths and errands meet.
And whither then? I cannot say.
Still round the corner there may wait
A new road or a secret gate,
And though I oft have passed them by,
A day will come at last when I
Shall take the hidden paths that run
West of the Moon, East of the Sun.
(J. R. R. Tolkien)
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao CNPq pela bolsa de mestrado, sem a qual não seria
possível a realização deste trabalho. Da mesma forma, agradeço à FAPERGS
pelo apoio financeiro através do projeto número 01/0881-5.
Agradeço a minha orientadora, Delia del Pilar M. de Almeida e
meu co-orientador, Henrique Zerfass, por me apoiarem e ampararem não só
durante o desenvolvimento deste trabalho, mas há muito mais tempo, desde a
graduação. Em especial a minha orientadora, por compartilhar muito mais que o
trabalho.
Agradeço aos colegas e amigos Francisco Bennetti, por conseguir
ilustrar minhas idéias no papel, Samuel Gedoz, pela paciência nas
fotomicrografias e Abel Schons e Camila Esmeris, pela companhia em campo.
Agradeço também a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, estiveram do
meu lado durante os dois últimos anos.
Agradeço aos professores Dr. Fernando J. Althoff e Ubiratan F.
Faccini pelas preciosas sugestões na banca do Seminário II, e de modo especial
ao Professor Fernando por estar presente em tantos momentos e por fazer parte
da caminhada.
Agradeço aos integrantes da banca da dissertação, Dr. Farid
Chemale Jr. E Dr. Miguel Basei, pela prestatividade ao se fazerem disponíveis a
contribuir para este trabalho.
ÍNDICE
L
ISTA DE FIGURAS 7
L
ISTA DE TABELAS 11
L
ISTA DE ANEXOS 11
R
ESUMO 12
A
BSTRACT 12
1. I
NTRODUÇÃO 13
1.1. Localização 13
1.2. Objetivos 14
1.3. Justificativa 15
1.4. Metodologia 15
2. I
NTERAÇÕES VULCANO-SEDIMENTARES 18
2.1. Marcas de fluxo 19
2.2 Diques clásticos 21
2.3. Brechas vulcano-sedimentares 21
2.3.1. Peperitos 22
2.4. Xenólitos e apófises 24
3. M
AGMATISMO RODEIO VELHO: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 26
3.1. Alogrupo Santa Bárbara 26
3.2. Alogrupo Guaritas 28
3.3. Magmatismo Rodeio Velho 29
4. M
AGMATISMO RODEIO VELHO: ARROIO CARAJÁ, PASSO DO MOINHO 32
4.1. Litologias e interações vulcano-sedimentares no Arroio Carajá 33
4.2. Estratigrafia do Arroio Carajá 40
4.3. Modelo conceitual para o Arroio Carajá 42
4.4. Passo do Moinho 44
5. V
ULCANISMO SERRA GERAL: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 47
5.1. Formação Botucatu 49
5.2. Formação Serra Geral 50
6. V
ULCANISMO SERRA GERAL: TORRES, SÃO SEBASTIÃO DO C, FELIZ 53
6.1. Litologias e interações vulcano-sedimentares em Torres 53
6
6.2. Estratigrafia de Torres 60
6.3. Modelo conceitual para Torres 61
6.4. São Sebastião do Caí 64
6.5. Feliz 67
7. D
ISCUSSÕES 71
7. 1. Modo de posicionamento do magma: intrusão versus derrame 73
7. 1. 1. Tipo de derrame: aa versus pahoehoe 74
7. 2. Estado do sedimento: litificado, coeso ou inconsolidado 74
7. 3. Outras influências nas feições de interação vulcano-sedimentar 77
7. 4 Características petrográficas nas interações vulcano-sedimentares 78
8.
CONCLUSÕES 81
9. R
EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84
10.
ANEXOS 89
LISTA DE FIGURAS
1. I
NTRODUÇÃO
1.1 mapa do Estado do Rio Grande do Sul com a localização geográfica das
áreas de estudo 13
2. INTERAÇÕES VULCANO-SEDIMENTARES
2.1 estrias de fluxo de lava sobre areias inconsolidadas (Jerram & Stollhofen,
2002). A linha indica a direção de fluxo 19
2.2 marca em crescente causada pelo fluxo de lobos de lava tipo pahoehoe
(Jerram & Stollhofen, 2002). A seta indica o sentido de fluxo 19
2.3 estruturas do tipo ripple preservadas por fluxo de lava (Jerram &
Stollhofen, 2002) 20
2.4 duna preservada entre derrames na Bacia de Etendeka (Jerram et al, 1999) 20
2.5 dique clástico de preenchimento em derrame da Formação Serra Geral.
Torres, RS 21
2.6 exemplo de peperito, brecha formada pela interação de derrame com
sedimento inconsolidado (Jerram & Stollhofen, 2002) 22
2.7 diversas formas assumidas pelos pacotes de peperito (adaptada de Skilling
et al., 2002b) 23
2.8 morfologias dos clastos ígneos juvenis em peperitos. Adaptada de Skillin et
al. (2002b) 24
3. M
AGMATISMO RODEIO VELHO: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
3.1 Bacia do Camaquã no contexto geológico do Escudo Sul-Riograndense.
Mapa adaptado de Paim & Lopes (1999) 27
3.2 evolução dos conceitos estratigráficos para a Bacia do Camaquã. Adaptado
de Paim et al. (2000) 28
4. M
AGMATISMO RODEIO VELHO: ARROIO CARAJÁ, PASSO DO MOINHO
4.1 localização das áreas de estudo no contexto da Bacia do Camaquã.
Adaptado de Paim et al. (2000) 32
4.2 estrias marcando a superfície de uma falha levógira. (a) aspecto geral; (b)
detalhe. As setas vermelhas assinalam a superfície onde se deu o
movimento 33
4.3 distribuição das litologias no afloramento da barragem do Arroio Carajá.
As fotos indicadas pelas setas azuis mostram o contato que está encoberto
na fotomontagem maior. As localizações das falhas normais e direcionais
são apenas aproximadas.
35
4.4 litologias sedimentares: (a) arenito com laminação plano-paralela
mascarada por intenso fraturamento; (b) pelito com gretas de contração 36
4.5 feições de lava em corda à jusante da barragem do Arroio Carajá. A barra
de escala mede (a) 1 metro e (b) 10 centímetros 36
4.6 feições de interação vulcano-sedimentar encontradas no afloramento da 37
8
barragem do Arroio Carajá. (a) estrias de fluxo; (b) marca em crescente; (c)
xenólito; (d) apófise e (e) dique clástico. As siglas correspondem às
unidades de rochas ígneas e sedimentares apresentadas anteriormente
4.7 diagrama estatístico de roseta para as direções de fluxo marcadas por
estrias no topo de S1 38
4.8 ripas de plagioclásio em matriz vítrea oxidada, características das rochas
ígneas do Arroio Carajá. LN 39
4.9 amídalas no Arroio Carajá. (a)- preenchimento de carbonato; (b)- borda de
quartzo, interior de carbonato. LP 39
4.10 aspecto geral dos arenitos do Arroio Carajá. 1- agregado microcristalino de
quartzo; 2- quartzo policristalino; 3- quartzo monocristalino; 4-
plagioclásio; 5- fragmento lítico de rocha vulcânica; 6- fragmento lítico de
granitóide; 7- fragmento lítico de rocha metamórfica. LP 40
4.11 imagem MEV de arenito do Arroio Carajá, mostrando grãos de feldspato
alcalino e quartzo cimentados por sílica. As linhas amarelas marcam as
bordas de alguns grãos de quartzo, que são de difícil identificação uma vez
que apresentam a mesma composição que o cimento. FK- feldspato
alcalino; Qt- quartzo 40
4.12 diagrama QFL de classificação de arenitos para as amostras do Arroio
Carajá. 1- arenito arcoseano; 2- arenito lítico; 3- arcóseo; 4- arcóseo lítico;
5- litarenito arcoseano; 6- litarenito 40
4.13 esquema dos eventos que formaram a atual configuração do afloramento do
Arroio Carajá. (a) primeiro evento vulcânico; (b) deposição de sedimento
sobre o derrame; (c) segundo evento vulcânico; (d) intrusão. Desenho sem
implicação de escala ou proporção entre as unidades 43
4.14 dique clástico principal do Passo do Moinho 45
4.15 esquema fluxo da lava ao redor do dique clástico no Passo do Moinho.
Visto em planta 46
5. V
ULCANISMO SERRA GERAL: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
5.1 áreas de estudo inserida no contexto geológico do estado, mostrando
também a área de ocorrência das formações Botucatu e Serra Geral 47
5.2 província de Basaltos Continentais de Paraná-Etendeka. (a) – localização
da província sobre o Gondwana; (b) – localização da província sobre os
continentes atuais. Adaptada de Koius & Tilling [on-line] 48
5.3 evolução das concepções estratigráficas para a Bacia do Paraná 49
6. V
ULCANISMO SERRA GERAL: TORRES, SÃO SEBASTIÃO DO C, FELIZ
6.1 localização da área de estudo em Torres, indicando a posição dos perfis
colunares 54
6.2 diversos aspectos dos derrames em Torres. (a)- base de derrame, com
disjunção tabular (Morro das Furnas); (b)- meio de derrame, marcada pela
intensa disjunção colunar (Torre Sul); (c)- topo de derrame, vesicular
(Morro do Farol) 55
6.3 textura glomeroporfirítica bastante comum nos derrames de Torres. LP 55
6.4 fenocristais de plagioclásio e piroxênio em amostra do Arroio Carajá. 56
9
Imagem de MEV.
6.5 amídala preenchida por carbonato nos derrames de Torres. LP 56
6.6 litofácies de arenito. (a)- litofácies de arenito com estratificação cruzada,
com diagrama de paleocorrente (Morro das Cabras); (b) litofácies de
arenito com estratificação plano-paralela (Morro do Farol). 57
6.7 diagrama QFL de classificação de arenitos para as amostras de Torres. 1-
arenito arcoseano; 2- arenito lítico; 3- arcóseo; 4- arcóseo lítico; 5-
litarenito arcoseano; 6- litarenito 57
6.8 aspecto geral dos arenitos encontrados em Torres. LP 57
6.9 diques clástico. (a)- na fácies de meio de derrame, Morro das Furnas; (b)-
ligando bolsões de peperito em fácies de topo de derrame, Morro das
Furnas; (c)- esquema de bolsões de peperito com dique clástico
interligando-os. (Da) – derrame amigdaloidal; (Pe) – peperito 59
6.10 Aspecto do peperito em Torres, mostrando os clastos autóctones de basalto
em matriz de areia 59
6.11 esquema do empilhamento das diversas unidades nas seções trabalhadas e
suas correlações laterais. O datum utilizado foi o nível médio do mar no
local 62
6.12 estágios de evolução dos eventos que deram origem às rochas de Torres.
(a)- derrame sobre sedimentos inconsolidados; (b)- formação de peperito de
frente de derrame e diques clásticos de preenchimento; (c)- início de novo
ciclo com novo derrame, aprisionando lentes de arenito. Desenho sem
implicação de escala ou proporção entre as unidades 63
6.13 afloramento estudado em São Sebastião do Caí. A parte abaixo da linha
tracejada é o arenito e acima, o derrame. A seta marca a localização
aproximada do dique clástico, que não é distinguido nesta imagem. Os
bolsões de peperito ocorrem mais à esquerda da foto 64
6.14 contato abrupto entre o sedimento e o derrame em São Sebastião do Caí 65
6.15 dique clástico ligado pela base ao sedimento e associado a bolsão de
peperito no topo em São Sebastião do Caí 66
6.16 processo de formação de dique clástico e peperito de injeção. (a)- formação
de fendas na base do derrame; (b)- remobilização do sedimento e injeção de
sedimento por meio de diques clásticos; (c)- formação de peperito na
porção mais interna do derrame 67
6.17 aspecto geral do afloramento estudado em Feliz. (a)- parte superior do
afloramento onde ocorrem as (b) impressões de fluxo e ripples (c); (d)-
lateral do afloramento, com destaque para a forma de lacólito da intrusão;
(e) vista frontal do afloramento, diques de borda irregular, com a presença
de (e) apófises
68
6.18 marcas em crescente no topo do arenito em Feliz 69
7. D
ISCUSSÕES
7.1 comparação do empacotamento no topo e no centro da camada de arenito
no Arroio Carajá 77
7.2 comparação da porosidade e cimento no topo e base da camada de arenito
do Arroio Carajá 78
10
7.3 comparação entre as quantidades de cimento na borda e no centro de um
dique clástico de preenchimento em Torres. 78
7.4 dissolução e recristalização de quartzo na matriz de peperito de injeção 79
7.5 matriz de peperitos em contato com clastos ígneos. (a)- matriz em contato
com clasto angular em peperito de frente de derrame; (b)- matriz em
contato com clasto fluidal em peperito de frente de derrame; (c)-
concentração de matriz parcialmente recristalizada em peperito de injeção;
(d)- concentração de matriz em peperito de injeção. A barra amarela tem
0,5 cm de largura. 80
8. C
ONCLUSÕES
8.1 formação das diversas feições de interação vulcano-sedimentar em três
tempos (T1, T2 e T3) 82
11
LISTA DE TABELAS
1.1 contexto das amostras analisadas para o afloramento do Arroio Carajá,
indicando a presença dos componentes ígneo e sedimentar 16
1.2 contexto das amostras analisadas para os afloramentos de Torres,
indicando a presença dos componentes ígneo e sedimentar. 17
4.1 relação entre as principais características analisadas nas rochas
sedimentares do Arroio Carajá 41
6.1 relação entre as principais características analisadas nas rochas
sedimentares de Torres 58
6.2 contatos entre as diferentes litologias encontradas em Torres 61
7.1 síntese das relações entre as diversas feições de interação vulcano-
sedimentar que ocorrem em cada uma das áreas de estudo e o que cada
uma destas feições diz sobre o evento que lhe deu origem 76
L
ISTA DE ANEXOS
Anexo A
O Vulcanismo Serra Geral em Torres, RS, Brasil: empilhamento
estratigráfico local e feições de interação vulcano-sedimentar.
Karla Petry; Delia del Pilar M. de Almeida; Henrique
Zerfass 90
Anexo B
Volcanic-sedimentary features in the Serra Geral Fm., Paraná
Basin, southern Brazil: examples of dynamic lava-sediment
interactions in an arid setting. Karla Petry; Delia del Pilar M. de
Almeida; Henrique Zerfass; Dougal A. Jerram 91
12
RESUMO
Feições de interação vulcano-sedimentar foram estudadas em associação com dois
eventos vulcânicos: o Magmatismo Rodeio Velho (470 Ma), associado aos alogrupos
Santa Bárbara e Guaritas (Bacia do Camaquã), nas localidades de Arroio Carajá e Passo
do Moinho; e o Vulcanismo Serra Geral (idade média de 130 Ma), associado à
Formação Botucatu (Bacia do Paraná), em Torres, São Sebastião do Caí e Feliz. A
metodologia principal foi trabalho de campo, integrando-se, dados de microscopia ótica
e eletrônica. Arroio Carajá mostra uma sucessão de dois derrames intercalados por
arenito e pelito, e um sill, encaixado na superfície de contato entre o derrame e o
arenito. No Passo do Moinho, apenas um derrame é registrado. Torres mostra três ciclos
de sedimentação com vulcanismo e formação de peperito. São Sebastião do Caí e Feliz
apresentam contato entre rocha sedimentar e derrame, com intrusões alimentadoras em
Feliz. Marcas de fluxo indicam derrame pahoehoe. Peperito e dique clástico de injeção
são formados pela injeção de sedimento para dentro do derrame. Peperito de frente de
derrame é formado por autobrechamento e tração. Diques de preenchimento atestam a
migração de sedimento. Xenólitos e apófises indicam intrusão. As seguintes feições
indicam indubitavelmente contemporaneidade entre sedimento e derrame: estrias de
fluxo, impressões de lava em corda, marcas em crescente, peperitos de frente de
derrame e peperitos e diques clásticos de injeção. É possível perceber influência dos
derrames na diagênese das rochas sedimentares. A interação se deu com sedimento seco
e são raras as feições de recristalização presentes.
ABSTRACT
Volcanic-sedimentary interaction features were studied in association with two volcanic
events: Rodeio Velho Magmatism (470 Ma), associated to Santa Bárbara and Guaritas
allogroups (Camaquã Basin), at the localities of Arroio Carajá and Passo do Moinho;
and Serra Geral Volcanism (average age of 130 Ma), associated to the Botucatu
Formation (Paraná Basin), at Torres, São Sebastião do Caí and Feliz. The main
methodology was field work, integrated with optical and electronic microscopy. Arroio
Carajá shows a succession of two flows intercalated by sandstone and mudstone, and a
sill at the contact surface of a flow and the sediment. Torres shows three cycles of
sedimentation with volcanism and peperite formation. São Sebastião do Caí and Feliz
show the contact between sedimentary rocks and a lava flow, with feeding intrusions at
Feliz. Flow impressions indicate a pahoehoe flow over unconsolidated sediment.
Injection peperite and clastic dyke are formed by the injection of sediment inwards the
flow. Flow front peperite is formed by autobrecciation and bulldozing. Filling clastic
dykes attest sediment migration. Xenoliths and apophasis indicate intrusion. The
following features indicate undoubtfully the contemporaneity of sedimentation and
flow: flow striation, ropy lava flow impression, crescent marks, flow front peperites
and injection peperites and clastic dykes. It is possible to recon influence of the lava
flows in the diagenesis of the sedimentary rocks. The interaction was with dry sediment,
and recrystallization features are rare.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como foco o estudo das feições de interação vulcano-
sedimentar. Estas feições são geradas pela interação de um magma, seja em um derrame
ou uma intrusão epizonal, com sedimentos em diferentes graus de litificação. No
presente caso, foram estudadas as feições geradas em dois eventos distintos:
Magmatismo Rodeio Velho (470 Ma) e Vulcanismo Serra Geral (138 a 127 Ma).
1.1 Localização
Para o desenvolvimento do trabalho em dois eventos distintos foram escolhidas
cinco localidades, duas para o Magmatismo Rodeio Velho e três para o Vulcanismo
Serra Geral (Figura 1.1).
Figura 1.1- mapa do Estado do Rio Grande do Sul com a localização geográfica das áreas de estudo
14
Para o Magmatismo Rodeio Velho foram escolhidas as localidades de Arroio
Carajá e Passo do Moinho, ambas localizadas nos arredores do município de Caçapava
do Sul, no centro do Estado. O afloramento do Arroio Carajá está localizado na
barragem construída neste arroio, na coordenada central UTM 246,087km W e
6592,150km S, cerca de 40 quilômetros de Caçapava do Sul em estrada vicinal acessada
pela RS-357. O afloramento do Passo do Moinho encontra-se nas margens do Arroio do
Moinho, onde este é cortado por uma ponte de uma estrada vicinal, na coordenada
central UTM 278,045 km W e 6575,850 km S, cerca de 40 km a leste da BR-153, pela
estrada de Minas do Camaquã (RS-625), ao sul de Caçapava do Sul.
As localidades que representam o Vulcanismo Serra Geral neste estudo incluem
afloramentos localizados nos municípios de Torres, São Sebastião do Caí e Feliz.
Os afloramentos estudados em Torres, no litoral norte, 198 km de Porto Alegre,
abrangem, em cerca de 0,43 km
2
, os morros do Farol (ou Torre Norte) e Furnas (ou
Torre do Meio) e o Parque da Guarita, com o Morro das Cabras e a Torre Sul, entre as
coordenadas UTM 6751,536km e 6753,203km W e UTM 622,688km e 623,701km S.
O afloramento estudado no município de São Sebastião do Caí localiza-se na
margem da RS-122, em uma pedreira de extração de arenito imediatamente acima do
Arroio Cadeia. O afloramento de Feliz localiza-se em uma antiga extração de brita na
RS-452, cerca de cinco quilômetros depois de seu acesso pela RS-122.
1.2. Objetivos
O objetivo principal deste trabalho é compreender as feições de interação
vulcano-sedimentar e os mecanismos que as formam, tornando-a uma ferramenta para
estudos estratigráficos.
A partir da caracterização dos eventos que deram origem às feições de interação
vulcano-sedimentar que ocorrem em cada uma das áreas de estudo é possível determinar
quais indicam relações de contemporaneidade entre o sedimento e a rocha ígnea,
amarrando-os temporalmente.
Assim temos os seguintes objetivos a serem desenvolvidos no decorrer da
pesquisa:
Caracterização dos processos ocorridos nas áreas de estudo;
Caracterização dos processos envolvidos na gênese das feições de interação
vulcano-sedimentar;
15
Comparação entre as diferentes feições de interação vulcano- sedimentar;
Determinação de características diagnósticas de relação temporal entre
sedimento e rocha ígnea
1.3. Justificativa
As bacias sedimentares são compostas por pacotes que muitas vezes levam
alguns milhões de anos para serem depositados. A partir da compreensão dos processos
sedimentares é possível ter uma noção do período de tempo necessário para a deposição
de um pacote sedimentar. Entretanto, mesmo tendo-se uma idéia de quanto tempo levou
a deposição de uma bacia, isto não localiza temporalmente estas rochas.
Classicamente tem-se utilizado o registro fossilífero para tal datação, contudo
isto não é suficientemente preciso e, além disso, está condicionado à presença de fósseis
nas rochas, o que nem sempre ocorre. Então, a partir do desenvolvimento de técnicas
isotópicas de datação em rochas ígneas, a datação relativa de rochas sedimentares, a
partir das relações entre elas, tornou-se uma ferramenta muito importante na
organização temporal das bacias sedimentares.
Contudo, para que seja possível utilizar um intervalo vulcânico dentro de uma
bacia sedimentar como guia na datação é necessário conhecer as relações de
contemporaneidade entre as rochas ígneas e as sedimentares. Neste sentido, o trabalho
com as feições de interação vulcano-sedimentares é de grande valia dentro do estudo
estratigráfico de uma bacia.
Assim, é necessário que se desenvolvam as pesquisas neste assunto, a fim de que
se possa compreender as feições de interação vulcano-sedimentar na sua totalidade, bem
como suas implicações no modelamento genético e estratigráfico do contexto em que
estão inseridas.
1.4. Metodologia
A base de todo o trabalho se deu sobre informações coletadas em afloramento,
depois analisadas de forma individual para cada afloramento e integradas em um estudo
comparativo.
Assim, foram realizadas diversas etapas de campo ao longo do trabalho em cada
uma das diferentes áreas de estudo, totalizando cerca de três campanhas de campo (dez
dias) em Caçapava do Sul, duas em Torres (cinco dias) e três em São Sebastião do Caí e
Feliz (um dia cada), além das visitas efetuadas ás áreas durante saídas de campo das
16
disciplinas de Petrologia Ígnea, Tópicos Especiais em Geociências II, e Introdução ao
Sistema Terra.
Durante estas etapas de campo foram coletadas 11 amostras no Arroio Carajá e
outras 18 em Torres, descritas e analisadas do ponto de vista ígneo e sedimentar e da
interação vulcano-sedimentar. Dos demais afloramentos (São Sebastião do Caí, Feliz e
Passo do Moinho) utilizou-se somente os dados de campo. As tabelas 1.1 e 1.2 mostram
o contexto de cada uma das amostras e a presença de componentes sedimentar e ígneos.
As amostras coletadas foram encaminhadas à laminação e submetidas à análise
petrográfica. As análises modais foram feitas com uma média de 300 pontos por lâmina.
Algumas destas lâminas foram ainda examinadas com Microscopia Eletrônica de
Varredura (Laboratório de Microscopia Eletrônica da UFRGS), durante duas seções,
totalizando cerca de dez horas de análise.
Os dados coletados em campo foram criteriosamente analisados e, sempre que
possível, transformados em elementos gráficos, levando, juntamente com os dados
provenientes do estudo microscópico, à compreensão dos processos que levaram à
vigente configuração de cada uma das áreas.
Para facilitar a compreensão do significado real das falhas presentes no Arroio
Carajá (Magmatismo Rodeio Velho), elas foram horizontalizadas, com o auxílio de uma
rede estereográfica de Wulff, de acordo com a média das medidas de S
0
.
Tabela 1.1- contexto das amostras analisadas para o afloramento do Arroio Carajá, indicando a presença
dos componentes ígneo e sedimentar
Amostra Contexto Ígnea Sedimentar
AC-1 RV3, coletada a montante da barragem X
AC-2 S1 a montante da barragem X
AC-2i
S1 a montante da barragem, mais
intemperisada que AC-2
X
AC-3 S1 próximo ao contato com RV3 (10 cm) X
AC-4 S1 mais distante de RV3 (1 m) X
AC-5 RV3, base X
AC-6 RV2 próxima a espelho de falha X
AC-7 RV1, topo X
AC-10 Dique clástico em RV1 X
AC-11 RV2, topo X
AC-12 RV1, meio X
17
Tabela 1.2- contexto das amostras analisadas para os afloramentos de Torres, indicando a presença dos
componentes ígneo e sedimentar. Para os níveis e seções indicados, ver figura 6.6
Amostra Contexto Ígnea Sedimentar
T-02-01a Peperito N1, seção 02, concentração de matriz X
T-02-01b Peperito N1, seção 02, contato matriz x clasto X X
T-04-01
Topo do arenito N1, seção 04, próximo ao
contato com derrame
X
T-04-02 Derrame N1, seção 04 X
T-04-03 Derrame N2, seção 04 X
T-05-01 Derrame N1, seção 05 X
T-08-01
Borda de dique clástico, entre as seções 08 e
09
X
T-08-02
Centro de dique clástico, entre as seções 08 e
09
X
T-09-02 Derrame N2, seção 09 X
T-09-03 Derrame N3, seção 09 X
T-09-04b Peperito N2, seção 09 X X
Tg-10-A1 Dique clástico em derrame N2, seção 10 X X
T-12-01 Topo do arenito N1, seção 12 X
Tg-12A Base do arenito N1, seção 12 X
T-12-02 Derrame N2, seção 12 X
T-13-01 Topo do derrame N3, seção 13 X
T-13-02 Base do derrame N3, seção 13 X
2. INTERAÇÕES VULCANO-SEDIMENTARES
As interações vulcano-sedimentares se dão na medida em que um magma
interage com um ambiente sedimentar ativo, em deposição ou muito recente, gerando
feições que caracterizam sua íntima relação. Derrames, fluxos piroclásticos e intrusões
rasas (diques e sills) podem gerar tais feições, desde que encontrem em seu caminho
sedimentos inconsolidados ou muito pouco consolidados, característicos de ambientes
sedimentares ainda em fase de deposição, mesmo em porções que já sofreram algum
soterramento.
As feições de interação vulcano-sedimentar geradas são controladas por
inúmeros fatores que dependem mais ou menos diretamente da reologia destes dois
componentes. Assim, do ponto de vista ígneo, são determinantes o modo de colocação
(derrame, intrusão rasa, fluxo piroclástico), a composição e temperatura do magma ou
lava (determinantes da plasticidade) e o conteúdo de voláteis. A granulometria do
sedimento, seu grau de litificação, a presença ou não de água, bem como a morfologia
das formas de leito geradas pelos processos deposicionais são os principais fatores
controladores do ponto de vista sedimentar. Somente com o total entendimento de todos
estes fatores é possível assumir completo controle sobre as feições de interação vulcano-
sedimentar geradas em um evento específico.
O estudo das interações vulcano-sedimentares pressupõe um modelo conceitual
da dinâmica vulcânica que lhes deu origem. Entretanto, suas aplicações não ficam
restritas a este campo. O simples fato de tais feições implicarem na existência de
sedimentos inconsolidados ou pouco consolidados já leva a uma importante implicação
estratigráfica, amarrando um intervalo sedimentar, normalmente datado relativamente
ao evento ígneo, que pode ser datado absolutamente por radiometria. Além disso, uma
vez compreendidos os papéis dos fatores controladores de feições de interação vulcano-
sedimentar citados anteriormente, é possível utilizar os dados daí provenientes em
auxílio à reconstrução paleo-ambiental, especialmente no que diz respeito à presença de
água nos sedimentos. Contudo, grande parte disto ainda encontra-se fora de nosso
alcance, uma vez que as interações vulcano-sedimentares ainda não são totalmente
compreendidas.
Diversas formas de interação entre um ambiente sedimentar ativo e um magma
19
podem ficar registradas, como feições características do corpo específico que lhes deu
origem. Estas feições podem ser agrupadas por tipo genético, como registro da migração
de lavas sobre sedimento inconsolidado, migração e deposição de sedimento sobre
derrames e feições de intrusão rasa. De maneira mais direta, sem implicações genéticas,
pode-se citar as marcas de fluxo de lava sobre sedimento inconsolidado, os diques
clásticos, as brechas com constituintes sedimentares e vulcânicos, os xenólitos e as
apófises.
2. 1. Marcas de fluxo
A lava, ao fluir sobre o sedimento inconsolidado pode deixar marcas de seu
fluxo, seja sob a forma de estrias de fluxo ou marcas em crescente, ou pode ainda
preservar formas de leito que, em condições normais, teriam pouco potencial de
preservação.
As estrias são causadas pelo atrito da
lava ainda fluida sobre a areia inconsolidada.
São estrias subparalelas pouco espaçadas
entre si (<1 cm) e pouco profundas (± 1
mm), indicando a direção do fluxo, contudo
sem indicar seu sentido (Jerram &
Stollhofen, 2002, Scherer, 2002). Exemplos
destes registros podem ser vistos na Figura
2.1.
Figura 2.1- estrias de fluxo de lava sobre areias
inconsolidadas (Jerram & Stollhofen, 2002). A
linha indica a direção de fluxo
O sentido do fluxo de lava só pode
ser percebido quando da ocorrência de
marcas em crescente, originadas pelo avanço
de lobos de lavas tipo pahoehoe,
deformando a areia (Jerram & Stollhofen,
2002, Scherer, 2002). Assim, o sentido do
fluxo de lava seria aquele marcado pela
convexidade da forma em crescente (Figura
2.2).
Estas duas estruturas (estrias e
marcas em crescente) podem ser usadas,
Figura 2.2- marca em crescente causada pelo
fluxo de lobos de lava tipo pahoehoe (Jerram &
Stollhofen, 2002). A seta indica o sentido de
fluxo
20
portanto, como indicadores do fluxo das lavas. Entretanto, este dado não atesta
fielmente para a direção de origem destes fluxos, uma vez que as lavas fluidas ficam
confinadas, em primeira instância, às regiões de relevo mais deprimido, sendo
controladas, portanto, pelo paleo-relevo da região (Scherer, 2002).
O fluxo de lavas, quando ocorre de forma pacífica sobre as areias, ao invés de
erodi-las, pode preservar as formas de leito, que de outro modo tenderiam a ser
apagadas do registro geológico. Assim, em alguns casos, é possível perceber, no contato
da base de fluxos de lava com areias eólicas, estratificações do tipo ripple, inteiramente
preservadas (Figura 2.3), marcando o dorso
da duna. Também a própria duna pode ser
“afogada” pelo derrame e ficar preservada
(Figura 2.4), o que, caso não existisse o
derrame de lavas, teria uma chance muito
reduzida de acontecer (Jerram &
Stollhofen, 2002), especialmente no caso
das dunas da Formação Botucatu,
parcialmente depositadas acima do espaço
de preservação (Scherer, 2002).
Figura 2.3- estruturas do tipo ripple preservadas
por fluxo de lava (Jerram & Stollhofen, 2002)
Figura 2.4- duna preservada entre derrames na Bacia de Etendeka (Jerram et al, 1999)
21
2. 2. Diques clásticos
Diques clásticos são estruturas planares, discordantes do pacote em que estão
inseridas, e que se caracterizam por serem preenchidas por sedimento clástico.
De modo geral, um derrame tende a apresentar no topo uma superfície bastante
irregular, com amídalas e fraturas. Estas fraturas podem ser de diversas origens, desde
fraturas pouco abertas (milímetros a centímetros), causadas pelo resfriamento do corpo
de lava ou pelo fluxo interno, quando a parte
externa do derrame já resfriou, ou fraturas mais
largas, podendo atingir até um metro, de origem
tectônica (Jerram & Stollhofen, 2002). Todas
estas imperfeições são preenchidas por qualquer
material que venha a cobrir o derrame,
incluindo-se aí os sedimentos que porventura
venham a migrar sobre este derrame, gerando os
chamados diques clásticos de preenchimento
(Figura 2.5), pois, apesar de sua origem
sedimentar, são corpos discordantes que cortam
os derrames.
Figura 2.5- dique clástico de preenchimento
em derrame da Formação Serra Geral.
Torres, RS
2. 3. Brechas vulcano-sedimentares
Um fluxo de lava pode dar origem a diversos tipos de brecha. Algumas delas são
compostas exclusivamente por integrantes vulcânicos, especialmente naqueles casos em
que a lava flui sobre um substrato litificado. Entretanto, quando a lava encontra
sedimentos inconsolidados ou pouco consolidados, pode misturar-se a eles, formando
uma brecha cuja matriz é composta pelos sedimentos e os clastos maiores são de
fragmentos da lava.
A fragmentação do magma que dá origem à brecha é facilitada na presença de
água, que causa explosões freatomagmáticas, desintegrando o magma e fazendo com
que se misture aos sedimentos. Entretanto, a presença de água não é imprescindível,
visto que o próprio fluxo de lava, tipo aa, já é suficiente para desintegrá-la
parcialmente. Além disso, ao descer por superfícies com alto gradiente topográfico, o
aumento de velocidade da lava também auxilia na sua desintegração (Scherer, 1998). A
mistura com os sedimentos se dá na medida em que esta lava desintegrada é arrastada
22
pelo substrato sedimentar, causando uma mistura de origem bastante dinâmica.
Esta brecha, formada pela desintegração da lava ainda durante o seu avanço e
pela mistura desta com sedimentos é conhecida como peperito (Figura 2.6).
2. 3. 1. PEPERITOS
O termo peperito foi utilizado
pela primeira vez por Scrope (1827
apud Skilling et al., 2002b) para
descrever rochas clásticas na região de
Limagne d’Auvergne, na França, as
quais, posteriormente, foram
interpretadas como sendo originadas
pela efusão de magma basáltico sobre
lamas úmidas (Michel-Levy 1890
apud Skilling et al., 2002b). A
definição atual de peperito mais
largamente empregada é a de White et al. (2000): “um termo genético aplicado a rochas
formadas essencialmente in situ, por desintegração de magma durante uma intrusão, o
qual se mistura a sedimentos inconsolidados ou pouco consolidados e tipicamente
úmidos. O termo também se refere às misturas similares geradas pelo mesmo processo
em contatos de lavas ou outros depósitos vulcanoclásticos com tais sedimentos”. Assim,
como já foi referido, os peperitos formam-se preferencialmente em ambientes com
presença de água no processo, entretanto, isto não é condição sine qua non.
Figura 2.6- exemplo de peperito, brecha formada pel
a
interação de derrame com sedimento inconsolidado
(Jerram & Stollhofen, 2002)
Entre as características dos peperitos, pode-se citar seu volume e geometria, sua
relação espacial com a intrusão, lava ou depósito vulcanoclástico que lhe deu origem,
sua estruturação interna, suas variações espaciais de textura e a morfologia dos clastos
ígneos que o compõem (Skilling et al., 2002b). Pacotes de peperito com volumes que
variam de poucos metros cúbicos até vários quilômetros cúbicos (Snyder & Fraser,
1963 apud Skilling et al., 2002b; Hanson & Wilson, 1993) têm sido descritos com uma
variedade de formas, desde totalmente irregulares até lobadas ou planares, formando
pacotes únicos ou se interconectando (Figura 2.7) (Skilling et al., 2002b). Os contatos
destes pacotes com o sedimento costumam ser discordantes. Muitas vezes é possível
observar um aumento da quantidade de clastos em direção à fonte emissora do magma,
23
bem como uma diminuição do tamanho destes clastos (Skilling et al., 2002b).
Os clastos ígneos presentes em
um peperito são fruto de explosões
hidromagmáticas, contrastes de
densidade entre o magma ou a lava e os
sedimentos, stress mecânico durante o
fluxo da lava já parcialmente resfriada,
ou efeitos de tensão superficial, entre
inúmeros outros fenômenos que
ocorrem em tais ambientes (Skilling et
al., 2002b). Assim, os clastos podem
apresentar texturas ígneas similares
àquelas do magma que lhes deu origem,
apresentando-se, em geral, bastante
vítreos ou, ao menos, com as bordas
vítreas. Os clastos ígneos do peperito
podem apresentar morfologia angulosa
ou fluidal, podendo haver populações
com contribuições de ambos os tipos
(Figura 2.8) (Skilling et al., 2002b).
Figura 2.7- diversas formas assumidas pelos
pacotes de peperito (adaptada de Skilling et al.,
2002b)
Diversos fatores podem determinar a forma dos clastos ígneos e a forma do
próprio pacote de peperito. Entre eles, pode-se mencionar a reologia do magma e do
sedimento envolvidos, o conteúdo de voláteis do magma, a permeabilidade e
estruturação do sedimento, os volumes de magma e sedimento envolvidos e a
velocidade de mistura dos mesmos além da velocidade de injeção e de fluxo do magma.
A maioria destes fatores pode variar espacialmente e temporalmente durante a formação
de um mesmo pacote de peperito. Diversos autores (Brooks et al., 1982 e Doyle, 2000
apud Skilling et al., 2002b; Goto & McPhie, 1998; e Squire & McPhie, 2002)
perceberam uma mudança de morfologia fluidal para morfologia angulosa nos clastos
de peperitos ao longo do tempo, durante a formação de um mesmo pacote. Isto seria
devido a mudanças na reologia do magma, conforme este resfria e se torna cada vez
mais rúptil.
24
Os sedimentos que
compõem um peperito
podem variar amplamente,
tanto em granulometria (de
argila a seixo), quanto em
composição, seleção,
coesão interna, porosidade e
permeabilidade. A ausência
de agregados de grãos, a
destruição de estruturas
sedimentares no contato
com o corpo ígneo e a
presença de vesículas no
sedimento, bem como
vesículas ou pequenas
fissuras na rocha ígnea
preenchidas por sedimento são evidências da não consolidação do sedimento no
momento da formação do peperito (Skilling et al., 2002b).
Figura 2.8- morfologias dos clastos ígneos juvenis em peperitos.
Adaptada de Skillin et al. (2002b)
Apesar de tudo que foi apresentado acima, diversas questões sobre os peperitos e
seus processos formadores permanecem. Os processos responsáveis pela dispersão dos
clastos ígneos dentro da matriz sedimentar (que pode alcançar distâncias de até 100
metros) ainda não são totalmente compreendidos (Hanson & Wilson, 1993; Hanson &
Hargrove, 1999). Os fatores que influenciam a forma e o tamanho dos clastos e a exata
reologia do sedimento e do magma durante a formação dos peperitos, a extensão
temporal deste fenômeno e a presença de água como condicionante para sua ocorrência
ainda são pontos a serem esclarecidos.
2. 4. Xenólitos e apófises
Xenólitos e apófises são termos comumente aplicados no contexto de grandes
intrusões profundas, geralmente corpos graníticos de relevante extensão. Entretanto,
podem ser aplicados no contexto de intrusões rasas de menor porte (volume),
independente da rocha encaixante.
Xenólitos são pedaços da rocha encaixante que são englobados pela intrusão
25
durante sua ascensão.
Apófises são ramificações de intrusões, associadas à presença de diques ou sills
e que atestam a natureza intrusiva do magma. A morfologia da apófise e o
comportamento da rocha encaixante, em especial no caso de uma rocha sedimentar,
podem trazer inferências a respeito da profundidade de colocação da rocha ígnea e do
grau de litificação da encaixante.
3. MAGMATISMO RODEIO VELHO: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
A Bacia do Camaquã, assentada sobre terrenos ígneos e metamórficos do
Escudo Sul Rio-Grandense e onde se encontram as áreas do Arroio Carajá e Passo do
Moinho (Figura 3. 1), esta relacionada às fases tardias da Orogênese Brasiliana e é
dividida em quatro sub-bacias: (i) Sub-bacia Piquirí/ Arroio Boicí; (ii) Sub-bacia
Guaritas; (iii) Sub-bacia Santa Bárbara e (iv) Sub-bacia Ramada/ Taquarembó e é
caracterizada por seqüências vulcano-sedimentares depositadas em diferentes contextos
tectônicos.
Os primeiros conceitos estratigráficos para a Bacia do Camaquã foram propostos
por Carvalho (1932 in Paim et al., 2000), que definiu a Série Camaquan, que englobaria
os depósitos contidos entre as “Erupções de Andesitos e Tufos Vulcânicos”, além do
correspondente à sucessão Permiana da Bacia do Paraná. Os conceitos adotados
atualmente para a sucessão estratigráfica da Bacia do Camaquã foram definidos por
Paim (1994), que caracterizou toda a seqüência como Alossupergrupo Camaquã,
dividida, com base em discordâncias angulares, em cinco alogrupos: (i) Alogrupo
Maricá, (ii) Alogrupo Bom Jardim, (iii) Alogrupo Cerro do Bugio, (iv) Alogrupo Santa
Bárbara e (v) Alogrupo Guaritas (Figura 3. 2).
Durante a evolução da Bacia do Camaquã é possível perceber um progressivo
aumento da exposição subaérea nos ambientes deposicionais, bem como uma
diminuição da influência marinha nos corpos de água. O início da deposição se dá em
condições marinhas totalmente subaquáticas (Alogrupo Maricá), evoluindo para um
ambiente lacustre com influxo da águas marinhas, raramente (Alogrupo Bom Jardim) a
comumente dissecado (alogrupos Cerro do Bugio e Santa Bárbara), até um ambiente
totalmente continental, com freqüente exposição subaérea (Alogrupo Guaritas) (Paim et
al., 2000).
3. 1. Alogrupo Santa Bárbara
O Alogrupo Santa Bárbara, delimitado por discordâncias angulares na base
(Alogrupo Cerro do Bugio) e no topo (Alogrupo Guaritas), compreende as aloformações
Serra dos Lanceiros (inferior) e Pedra do Segredo (superior), separadas por uma superfície
de afogamento (Paim et al. 2000). O Alogrupo Santa Bárbara engloba duas
27
parasseqüências progradacionais de sistemas deltáicos, registrando depósitos finos de
fluxo de fundo na base e sucessões aluviais no topo. A Aloformação Serra dos Lanceiros
representa um sistema deltáico arenoso e a Aloformação Pedra do Segredo, um sistema
deltáico areno-conglomerático. A deposição destas seqüências teria ocorrido entre 559 e
540 Ma (Paim et al. 2000).
Figura 3.1- Bacia do Camaquã no contexto geológico do Escudo Sul-Riograndense. Mapa adaptado
de Paim & Lopes (1999)
28
Figura 3.2- evolução dos conceitos estratigráficos para a Bacia do Camaquã. Adaptado de Paim et al.
(2000)
Considera-se que o Alogrupo Santa Bárbara tenha sido depositado durante o
Cambriano Inferior, especialmente por conta de dados de icnofauna (Neto et al., 1992,
Rosa, 1999). Borba & Mizusaki (2003) destacam a presença de feições diagenéticas
características de clima semi-árido e diagênese de pouca profundidade, o que já havia
sido notado por Robertson (1966) e Ribeiro et al. (1966).
Também Borba & Mizusaki (2003) propõem a deposição deste alogrupo através
de leques aluviais e deltáicos que terminam em um ambiente lacustre, com sistemas
fluviais entrelaçados arenosos e conglomeráticos associados. Este sistema passava por
períodos de dissecação, com exposição subaérea marcada por gretas de contração e
marcas de pingos de chuva e períodos de maior inundação, onde os sedimentos eram
retrabalhados por processos fluviais.
3. 2. Alogrupo Guaritas
O Alogrupo Guaritas representa o último evento deposicional da Bacia do
Camaquã. Assentado em discordância angular sobre as unidades que o antecedem, é
composto por duas aloformações: Varzinha e Pedra Pintada, delimitadas por uma
29
discordância erosiva.
A Aloformação Varzinha é composta por fácies que representam um sistema
fluvial entrelaçado na porção oeste da Sub-bacia Guaritas e um sistema de leques
aluviais na porção leste (Paim & Lopes, 1999). Períodos de inatividade fluvial deram
margem ao retrabalhamento eólico dos sedimentos, junto com dissecação de lama e
precipitação de silcretes e calcretes (Paim & Lopes, 1999). Ortoconglomerados
polimíticos, arcóseos conglomeráticos avermelhados, arenitos finos a médios, lentes de
siltito e arenitos finos bem selecionados (Lopes et al., 1999) caracterizam a
Aloformação Varzinha.
A Aloformação Pedra Pintada foi originada em ambiente desértico com
pequenas dunas eólicas crescentes, áreas de interduna que registram uma alternância de
períodos secos e úmidos e planícies de nível de base que encerram períodos de seca
durante períodos mais úmidos (Paim 1994). Arenitos finos a médios, bem selecionados,
com estratificação cruzada acanalada de grande e muito grande porte, com ocorrências
secundárias de arenitos grossos, pelitos e arenitos finos a médios com laminação
cruzada por corrente e por onda (Paim, 1994) caracterizam a Aloformação Pedra
Pintada.
3. 3. Magmatismo Rodeio Velho
De acordo com o modelo evolutivo do Escudo Sul-Riograndense proposto por
Chemale Jr. (2000), o Magmatismo Rodeio Velho teria ocorrido após a colisão das
placas Rio de La Plata (com o microcontinente Encantadas já anexado) e Kalahari.
Associado ao Hemi-graben Guaritas, o Magmatismo Rodeio Velho foi gerado sob um
regime transtrativo, pela reativação de falhas e lineamentos regionais de orientação NE-
SW (Paim et al. 2000). Por sua associação com a Bacia do Camaquã, e baseados em
dados geoquímicos, Almeida et al. (2003b) sugerem que o Magmatismo Rodeio Velho
representa a última manifestação magmática da Orogenia Brasiliana, em um evento
fissural em ambiente intraplaca extensional. Entretanto, diversos autores (Fambrini
1998; Fragoso-Cesar et al. 1999; Lopes et al. 1999; Paim et al. 2000) sugerem que a
deposição do Alogrupo Guaritas, bem como a instalação do Magmatismo Rodeio Velho
tenha se dado em uma crosta já estável (Gondwana), no estágio de rift precursor da
instalação da Bacia do Paraná.
Classicamente associado à base da Aloformação Pedra Pintada, o Magmatismo
30
Rodeio Velho foi definido por Ribeiro et al. (1966) como Membro Rodeio Velho da
Formação Guaritas, constituído por uma série de derrames de andesito vesicular, sem
indícios de atividade explosiva. Seu caráter intrusivo foi notado primeiramente por
Silva Filho (1996). Fragoso-Cesar et al. (1999) denominaram este magmatismo de Suíte
Intrusiva Rodeio Velho, representada por intrusões tabulares alojadas nos depósitos
continentais sub-horizontais do então Grupo Guaritas. Almeida et al. (1998) mencionam
também a existência de depósitos piroclásticos estratificados pertencentes ao
Magmatismo Rodeio Velho.
O Magmatismo Rodeio Velho, de idade meso-ordoviciana (470± 19 Ma,
Hartmann 1998), é um evento de tipo alcalino (Almeida et al. 1993) com características
de basaltos intraplaca continentais (Almeida et al. 2000). Análises químicas permitem
classificar os derrames do Magmatismo Rodeio Velho como basaltos sub-alcalinos,
andesitos, traquiandesitos, basaltos alcalinos e andesitos basálticos, as rochas epizonais,
como traquiandesitos e basaltos alcalinos e as piroclásticas, como traquiandesitos
(Almeida et al. 2003a).
De acordo com Almeida et al. (1998, 2000) os derrames e as intrusões do
Magmatismo Rodeio Velho apresentam textura glomeroporfirítica com fenocristais de
plagioclásio e resquícios de piroxênio e olivina, minerais opacos, apatita e zircão em
matriz pilotaxítica, vitrofírica ou ofítica composta por plagioclásio, piroxênio e olivina.
O vidro intersetal pode estar recristalizado, formando esferulitos, ou alterado. As rochas
piroclásticas são estratificadas e variam de tufos a pó a lapilitos brechados e pouco
selecionados. A presença de shards e fiames atesta o caráter piroclástico. Cristaloclastos
de quartzo euédrico e plagioclásio encontram-se dispersos em matriz tufácea,
parcialmente vítrea.
Fragoso-Cesar et al. (1999) sugerem, baseados no caráter intrusivo do
Magmatismo Rodeio Velho que este seja posterior ao Alogrupo Guaritas. Entretanto,
uma contemporaneidade entre o vulcanismo e a deposição dos sedimentos do Alogrupo
Guaritas é sugerida pela presença de feições que indicam uma interação da lava com
sedimentos úmidos muito pouco consolidados (Lima et al., 2002). Almeida et al.
(2003b) sugerem que o Magmatismo Rodeio Velho é contemporâneo ou mais jovem
que as rochas da Aloformação Pedra Pintada e mais antigo ou contemporâneo (na
porção leste da bacia) a Aloformação Varzinha.
Feições de interação vulcano-sedimentar foram descritas no contexto do
31
Magmatismo Rodeio Velho associado ao Alogrupo Guaritas por diversos autores. Lopes
et al. (1999), Fragoso-Cesar et al. (1999) e Lima et al. (2002) notaram feições que
indicam a intrusão do Magmatismo Rodeio Velho na Aloformação Pedra Pintada.
Sander et al. (2005) notaram a presença de peperitos em testemunhos de sondagem no
contato do magmatismo Rodeio Velho com rochas da Aloformação Pedra Pintada, na
região de Minas do Camaquã e logo ao norte desta. Almeida et al. (2000) descrevem a
presença de xenólitos e texturas de assimilação no contato do Magmatismo Rodeio
Velho como intrusão na Aloformação Pedra Pintada, inclusive no afloramento da
barragem do Arroio Carajá.
4. MAGMATISMO RODEIO VELHO: ARROIO CARAJÁ, PASSO DO
MOINHO
O estudo de interações vulcano-sedimentares associadas ao Magmatismo Rodeio
Velho tem como fundamento o afloramento localizado na barragem do Arroio Carajá,
cerca de 30 km a sudoeste de Caçapava do Sul, com acesso pela rodovia RS-357. Dois
outros afloramentos também são considerados, tendo em vista que as informações que
eles apresentam contribuem na compreensão do quadro geral que se apresenta no Arroio
Carajá. O afloramento do Passo do Moinho encontra-se cerca de 40 km a leste da BR-
153, pela estrada de Minas do Camaquã (RS-625). A figura 4.1 mostra a localização das
áreas em questão.
Figura 4.1- localização das áreas de estudo no contexto da Bacia do Camaquã. Adaptado de Paim et al.
(2000)
33
4.1. Litologias e interações vulcano-sedimentares no Arroio Carajá
Cerca de dois quilômetros ao norte do afloramento do Arroio Carajá e
associados a uma caldeira do evento Hilário (580 Ma, Remus et al., 1999) existem,
segundo Almeida et al. (2000), quatro cones do evento Rodeio Velho, em um
alinhamento NNE-SSW. As estruturas destes cones estão coberta por rochas da
Aloformação Varzinha. Além destes cones, ocorrem vários diques de orientação média
N026º, alojados em rochas do Alogrupo Santa Bárbara. Estes cones e as rochas
vulcânicas do Arroio Carajá devem estar ligados ao mesmo evento. Segundo Almeida et
al. (2000), os cones do evento Rodeio Velho devem ter servido de fonte de emissão para
as lavas do afloramento do Arroio Carajá.
O afloramento do Arroio Carajá é marcado pela presença de falhas (figura 4.2),
que também devem estar ligadas à instalação e evolução dos edifícios vulcânicos
relacionados ao Magmatismo Rodeio Velho, o que já havia sido notado por Almeida et
al. (2000). As rochas presentes na barragem do Arroio Carajá encontram-se basculadas
e cortadas por falhas normais e transcorrentes. As falhas normais apresentam atitude
média de N170º/80ºSW e são truncadas pelas falhas transcorrentes. As falhas
direcionais, com atitude média de N137º/55ºNE, ilustram um evento lateral-esquerdo
posterior ao falhamento normal.
Figura 4.2- estrias marcando a superfície de uma falha levógira. (a) aspecto geral; (b) detalhe. As setas
vermelhas assinalam a superfície onde se deu o movimento
Os mergulhos apresentados pelas falhas normais são exageradamente próximos da
vertical para este tipo de falhamento, enquanto que os mergulhos das falhas transcorrentes
não são verticais o suficiente, o que sugere que estas falhas se instalaram anteriormente ao
34
basculamento geral das camadas no local. Ao considerar como horizontal a superfície de
contato entre as rochas sedimentares e as ígneas que as recobrem (S
0
=N153º/22ºSW) e
reconsiderar as atitudes das falhas em relação a esta superfície, encontramos atitudes médias
de N140º/76ºNE para as falhas transcorrentes, e N172º/61ºSW para as normais, ambas com
mergulhos mais próximos ao esperado para estes tipos de falhas. Entretanto, apesar desta
pronunciada presença de falhas, a sucessão estratigráfica descrita pode ser vista em um
único bloco.
O afloramento da barragem do Arroio Carajá é composto por dois derrames
(denominados RV1 e RV3), uma intrusão rasa (RV2) e por uma camada de rocha
sedimentar (S1) (Figura 4.3). A camada de rochas sedimentares (S1) é composta
predominantemente por arenitos médios a finos com estratificação cruzada de muito
baixo ângulo. Níveis de pelito associados a este arenito apresentam feição de exposição
subaérea, como gretas de contração. Esta descrição é coerente com a apresentada por
Borba & Mizusaki (2003) para a associação de fácies de frente de leque deltáico no
Alogrupo Santa Bárbara.
Na porção do afloramento acima da barragem ocorrem vários sets de arenitos
com estratificação cruzada acanalada recobertos por rocha ígnea. A superfície de S1 que
se encontra em contato com a rocha ígnea está mais endurecida. A figura 4.4 mostra o
aspecto geral destas litologias.
Acima da barragem do Arroio Carajá, as rochas sedimentares encontram-se
encobertas por uma camada de rochas ígneas (RV3). Na porção do afloramento
localizada abaixo da barragem, além das rochas que capeiam as sedimentares, aparecem
ainda dois níveis de rochas ígneas abaixo das sedimentares (RV1 e RV2).
O primeiro dos três níveis de rocha ígnea encontrado abaixo das rochas
sedimentares (RV1) é composto por fluxos de lava melanocrática, de textura afanítica,
predominantemente canalizados em tubos anastomosados de cerca de 40 cm de
diâmetro. Os fluxos superiores, não canalizados, apresentam estruturas de lava em corda
(Figura 4.5). A presença de amídalas e vesículas é intensa, podendo as amídalas estarem
preenchidas por quartzo (em geral leitoso) e/ou carbonato.
O segundo nível (RV2) de rochas ígneas, imediatamente abaixo de S1 é
composto por rochas ígneas também de textura afanítica melanoctica. Este nível
guarda, como característica típica de derrame, a intensa presença de vesículas, estando
praticamente todas preenchidas por carbonato, com uma pequena parcela preenchida
35
Figura 4.3- distribuição das litologias no afloramento da barragem do Arroio Carajá. As fotos indicadas
p
elas setas azuis mostram o contato que está encoberto na fotomontagem maior. As localizações das
falhas normais e direcionais são apenas aproximadas
36
Figura 4.4- litologias sedimentares: (a) arenito com laminação plano-
p
aralela mascarada por intenso
fraturamento; (b) pelito com gretas de contração
Figura 4.5- feições de lava em corda à jusante da barragem do Arroio Carajá. A barra de escala mede (a)
1 metro e (b) 10 centímetros
por quartzo, especialmente quando associadas ao sedimento. Entretanto, as feições de
interação vulcano-sedimentar (xenólitos e apófises) presentes neste contato indicam
tratar-se na realidade de uma intrusão, ainda que extremamente rasa.
O último nível de rochas ígneas (RV3) se assemelha muito ao RV1. Entretanto,
talvez dada sua pequena área de exposição, não foram encontradas evidências de tubos
de lava ou lavas em corda.
As feições de interação vulcano-sedimentar presentes na área incluem estrias de
fluxo, marcas em crescente, diques clásticos, xenólitos e apófises (figura 4.6). As estrias
de fluxo são abundantes na superfície de contato entre S1 e RV3, o que evidencia o
caráter de derrame de RV3. A direção principal de fluxo de RV3, marcada por estas
estrias, é de N254º, considerando as alterações decorrentes do basculamento das camadas
(S
0
=153º/22ºSW) (figura 4.7). Ainda que esta direção aponte os cones e a caldeira
37
discutidos anteriormente como fonte dos derrames (sugerido por Almeida et al., 2000),
isto pode ser eventual, uma vez que o paleo-relevo pode ter grande influência sobre a
direção local dos derrames.
A superfície de contato entre o topo de RV2 e a base de S1 é também marcada
por feições de interação vulcano-sedimentar. A presença de apófises de RV2 em S1
(figura 4.6d) atesta para o caráter intrusivo desta unidade vulcânica. A linha de contato
entre RV2 e S1 é bastante irregular. As apófises que ocorrem ao longo desta linha fazem
Figura 4.6- feições de interação vulcano-sedimenta
r
encontradas no afloramento da barragem do Arroio Carajá. (a)
estrias de fluxo; (b) marca em crescente; (c) xenólito; (d)
apófise e (e) dique clástico. As siglas correspondem às
unidades de rochas ígneas e sedimentares apresentadas
anteriormente
38
parte destas irregularidades. Estas apófises
apresentam uma forma protuberante que seria
totalmente incompatível com uma colocação
subaérea de uma unidade vulcânica. As bordas
das apófises são marcadas pelo alinhamento das
amídalas
RV2 também é marcado pela presença de
xenólitos de S1. Estes xenólitos são, em geral,
placas tabulares do sedimento de S1, muitas
vezes conservando em parte sua laminação
original, que pode estar na posição original
(horizontalizada) (figura 4.6c) ou verticalizada (figura 4.6e). No primeiro caso, fica
claro que, ao desprender-se da camada original, a placa de sedimento pouco se moveu, e
não rotacionou ao longo de um eixo horizontal. Por outro lado, algumas placas de
sedimento se apresentam verticalizadas, provavelmente pelo próprio fluxo da intrusão
ao colocar-se.
Figura 4.7- diagrama estatístico de roset
a
ara as direções de fluxo marcadas po
estrias no topo de S1
Diques clásticos também ocorrem no afloramento da barragem do Arroio Carajá,
entretanto, ao contrário das apófises e xenólitos, estes são encontrados em RV1.
Pequenos vênulos de quartzo acompanham a orientação dos diques próximos a eles. O
sedimento que preenche os diques clásticos é maciço, sugerindo que podem ser fruto do
preenchimento de fissuras no topo de um derrame (RV1).
As rochas ígneas do Arroio Carajá possuem texturas pilotaxítica, vitrofírica e
ofítica, com fenocristais de plagioclásio e opacos (figura 4.8). Os plagioclásios,
euédricos a subédricos, de tamanhos próximos a 0,5 mm estão geralmente alterados a
carbonato e podem encontrar-se orientados dentro da matriz. Os minerais opacos,
geralmente euédricos, apresentam tamanhos normalmente entre 0,3 mm e 0,1 mm.
Raras ocorrências de clinopiroxênio, de tamanho médio de 0,25 mm, costumam estar
associadas a forte oxidação. A matriz é composta por material vítreo, com ocorrência de
esferulitos.
A presença de vesículas e amídalas é comum, com tamanhos variando desde
cerca de 0,5 mm até 10 mm. As amídalas encontram-se preenchidas por quartzo,
carbonato ou uma sucessão destes, onde o quartzo antecede o carbonato (Figura 4.9).
Não é possível distinguir petrograficamente os derrames e as intrusões,
39
provavelmente porque as últimas
são extremamente epizonais,
tendo uma aparência petrográfica
similar à dos derrames.
As rochas sedimentares
analisadas no Arroio Carajá são
arenitos finos a médios, de boa
seleção e baixa maturidade, com
grãos arredondados a
subarredondados e de
esfericidade média a boa (Figura
4.10). Os grãos são compostos
por quartzo (monocristalino,
policristalino ou agregados
microcristalinos), feldspato alcalino (figura 4.11) e fragmentos líticos, em sua maioria
correspondendo às rochas ígneas do Magmatismo Rodeio Velho, ocorrendo também
litoclastos de granitóides e rochas metamórficas (xistos). Correspondem a arcóseos,
arcóseos líticos e litarenitos arcoseanos (figura 4.12). A porosidade é bastante baixa,
chegando a zero na maioria das amostras, dada pela intensa presença de cimento no
espaço intergranular. O cimento pode alcançar mais de 30% do volume total da amostra,
e é predominantemente sílica. A figura 4.13 sumariza as principais características das
rochas sedimentares analisadas no Arroio Carajá.
Figura 4.8- ripas de plagioclásio em matriz vítrea oxidada,
características das rochas ígneas do Arroio Carajá. LN
Figura 4.9- amídalas no Arroio Carajá. (a)- preenchimento de carbonato; (b)- borda de quartzo, interior
de carbonato. LP
40
4.2. Estratigrafia do
Arroio Carajá
O afloramento da
barragem do Arroio Carajá
apresenta uma sucessão de
rochas ígneas e sedimentares. As
relações de contato entre as
unidades e a presença de
diferentes tipos de feições de
interação vulcano-sedimentar
indicam o modo de colocação de
cada litologia e sua respectiva
distribuição temporal.
O nível RV1,
caracterizado pelas estruturas de
tubos de lava e lavas em corda, é
claramente um derrame do tipo pahoehoe, extremamente fluido. A presença de diques
clásticos nesta unidade indica que houve deposição sedimentar sobre ela após seu
resfriamento. Por tratar-se de diques de preenchimento, que necessitam de fraturas
abertas (qualquer que seja sua natureza, tectônica ou não) para depositarem-se, fica
Figura 4.10- aspecto geral dos arenitos do Arroio Carajá. 1-
agregado microcristalino de quartzo; 2- quartzo policristalino;
3- quartzo monocristalino; 4- plagioclásio; 5- fragmento lítico
de rocha vulcânica; 6- fragmento lítico de granitóide; 7-
fragmento lítico de rocha metamórfica. LP
Figura 4.12- diagrama QFL de
classificação de arenitos para as
amostras do Arroio Carajá. 1- arenito
arcoseano; 2- arenito lítico; 3- arcóseo;
4- arcóseo lítico; 5- litarenito
arcoseano; 6- litarenito
Figura 4.11- imagem MEV de arenito do Arroio Carajá,
mostrando grãos de feldspato alcalino e quartzo cimentados
por sílica. As linhas amarelas marcam as bordas de alguns
grãos de quartzo, que são de difícil identificação uma vez que
apresentam a mesma composição que o cimento. FK-
feldspato alcalino; Qt- quartzo
41
claro que o derrame, originalmente fluido, já havia resfriado o suficiente para romper-se
num regime rúptil antes ou durante a sedimentação.
Tabela 4.1- relação entre as principais características analisadas nas rochas sedimentares do Arroio
Carajá
GRÃOS
AMOSTRA
EVENTOS
DIAGENÉTICOS
CIMENTO
TOTAL
(%)
POROSIDADE
TOTAL
(%)
INDICE DE
CONTATO
*
QUARTZO FELDSPATO LÍTICOS
AC-02
Fe Si 30 0 2,1 46,5 34,9 18,6
AC-02i
Fe Si 28,8 0 2,3 48,2 33 18,8
AC-03
Fe Si 13,3 11,2 2,1 38,1 20,6 41,3
AC-04
Fe Si 20,2 0 1,6 54,1 32,8 13,1
AC-10
Fe Si 34,2 0 1,9 73,4 22,3 4,3
*- O índice de contato indicado nas figuras 7.11 e 7.14 foi determinado a partir da atribuição de valores
numéricos para cada tipo de contato (flutuante = 1; pontual = 2; reto = 3; côncavo-convexo = 4 e
suturado = 5). A partir de uma análise modal dos contatos, obtém-se a média da soma dos valores de
cada contato em razão do número total de contatos. Assim, os índices de contato próximos a dois, que
predominam nas amostras analisadas, indicam um predomínio de contatos pontuais. Quanto mais
elevado o valor, mais apertado é o empacotamento. Esta metodologia permite comparar numericamente
amostras de empacotamento muito similar, como é o caso das amostras analisadas aqui.
Portanto, pode-se afirmar que o pacote sedimentar observado no afloramento do
Arroio Carajá depositou-se logo após a colocação de RV1, e antes da colocação de
RV2. Da mesma forma, dada a presença de estrias de fluxo no topo de S1, este se
depositou antes da colocação de RV3, e encontrava-se ainda inconsolidado.
RV2 fica, portanto, restrito a uma intrusão, que se colocou em algum momento
após a deposição do sedimento S1, talvez relacionado à colocação de RV3. A intensa
presença de vesículas e amídalas em RV2 sugere que esta intrusão colocou-se em um
nível crustal extremamente raso, possibilitando a exsolução dos gases contidos no
magma. Isto concorda com o que foi sugerido por Almeida et al. (2000).
O caráter vulcânico de RV3 é evidenciado pela presença de estrias de fluxo em
S1. Esta unidade é pouco expressiva na área, o que talvez explique a ausência de
estruturas do tipo tubos de lava e lavas em corda.
Assim, pode-se afirmar que, no afloramento do Arroio Carajá existem dois
níveis de derrame, um nível intrusivo raso de rocha vulcânica e um nível de rocha
sedimentar.
4.3. Modelo conceitual
A figura 4.13 mostra de forma resumida os eventos que ocorreram no Arroio
Carajá, descritos a seguir. Em um primeiro momento, sobre um substrato desconhecido,
42
uma vez que a primeira unidade a aflorar no local é exatamente a unidade em questão,
ocorre um derrame, caracterizado pela presença de tubos de lava e lavas em corda. Após
a extrusão destas lavas, o pacote ígneo
resfria e, como resultado disso, surgem, ao longo
de sua superfície superior, algumas diáclases.
Ao término do derrame, volta a imperar o ambiente de sedimentação sobre o
derrame resfriado. É neste momento que as fraturas abertas no derrame durante seu
resfriamento são preenchidas por sedimento.
A deposição sedimentar é interrompida por novo derrame que, por encontrar
como substrato o sedimento inconsolidado, deixa estrias de fluxo e impressões de lava
em corda durante seu fluxo.
O último pacote vulcânico, que pode ou não estar ligado ao anterior, é uma
intrusão. A lava, em seu caminho até a superfície, aproveita o intervalo de fraqueza
encontrado no contato do sedimento com o derrame subjacente e coloca-se aí sob a
forma de um sill. Por já encontrar-se extremamente próxima da superfície, é possível a
exsolução dos voláteis contidos no magma e a conseqüente formação de vesículas.
É também esta característica que permite a formação das apófises lobadas no
contato com o sedimento sobrejacente. Apófises com morfologia mais angulosa
pressupõem níveis crustais mais profundos, onde a pressão litostática tem um papel
importante, fazendo com que o magma se coloque principalmente com o auxílio de
fraturas. Ao contrário, quando a intrusão é rasa, a pressão litostática é menor, quase
nula, permitindo que a intrusão interaja mais com a rocha encaixante, deformando-a e
adquirindo morfologias mais suaves, lobadas.
A simples existência de enclaves de sedimento que resistiram à intrusão já indica
um certo grau de coesão original. Esta coesão pode ser dada pela litificação do
sedimento, caso em que o xenólito apresentaria bordas bastante angulares, resultantes da
quebra da rocha sedimentar. Contudo, em uma intrusão rasa, onde a pressão litostática é
praticamente desprezível e a colocação da rocha intrusiva pode ocorrer de forma um
tanto pacífica, a simples compactação inicial do sedimento já lhe fornece uma coesão
inicial passível de resistir à intrusão. Assim, o sedimento, no momento da intrusão,
encontrava-se já suficientemente coeso a ponto de descolar como placas e “flutuar”
como xenólito dentro da intrusão que se colocava.
Análises químicas de elementos maiores, traço e terras raras apresentados por
Almeida et al. (2000) para amostras das rochas vulcânicas e intrusivas do afloramento
43
Figura 4.13- esquema dos eventos que formaram a atual configuração do afloramento do Arroio Carajá.
(a) primeiro evento vulcânico; (b) deposição de sedimento sobre o derrame; (c) segundo evento
vulcânico; (d) intrusão. Desenho sem implicação de escala ou proporção entre as unidades
do Arroio Carajá e dos cones que se localizam logo ao norte deste sugerem que estas
44
rochas são cogenéticas. Entretanto, tratando-se da questão em mais detalhe, não é
possível afirmar que a intrusão presente no Arroio Carajá (RV2) foi gerada no mesmo
instante que o último derrame (RV3), podendo ser fruto de um pulso vulcânico anterior
ou posterior, mas geneticamente ligados ao mesmo evento.
Da mesma forma, apesar de os dados de direção de fluxo apontarem os cones
como local de emissão da lava do Arroio Carajá e de esta sugestão ser corroborada pelas
análises químicas (Almeida et al., 2000), isto pode ser apenas uma casualidade. É
possível que a lava do Arroio Carajá tenha sido emitida por alguma falha associada a
instalação do edifício vulcânico nas suas redondezas, sendo, portanto, geneticamente
ligada a este evento. Esta falha emissora pode estar localizada na mesma direção dos
cones, explicando as direções de fluxo medidas no afloramento. Entretanto, pode ter
ocorrido que as direções observadas no afloramento sejam fruto de um fluxo de lava
localmente canalizado no paleo-relevo.
4.4. Passo do Moinho
Localizado em uma estrada secundária, com acesso pela estrada de Minas do
Camaquã (RS-625), o Passo do Moinho é um afloramento ao longo do Arroio do
Moinho, exatamente na altura em que este é cortado pela estrada secundária, por meio
de uma ponte.
A presença de interações vulcano-sedimentares e a configuração espacial da área
de afloramento (predominantemente bidimensional, altura e largura) dificultam o estudo
de estruturas e a determinação da paleo-horizontal na área.
A parte leste do afloramento, acima da ponte, é composta por fluxos de lava,
predominantemente estruturados em tubos de lava anastomosados e, em partes,
marcados por estruturas do tipo lava em corda. Os fluxos de lava no Passo do Moinho
possuem intensa presença de vesículas, de maneira geral preenchidas por carbonato.
Somente na porção do afloramento acima da barragem é que aparecem rochas
sedimentares e feições de interação vulcano-sedimentar, e somente na margem esquerda
do arroio; a margem direita é também composta por fluxos de lava em tubos.
As feições de interação vulcano-sedimentar no Passo do Moinho restringem-se
aos enclaves e diques clásticos, entretanto, não existe nenhuma evidência de correlação
genética entre os dois, ainda que ocorram nos mesmos níveis. Na margem esquerda
ocorrem também arenitos finos a médios, com estratificação cruzada acanalada de
45
grande porte, associados com lentes de pelito com laminação plano-paralela,
representando um sistema deposicional eólico com interduna úmido.
Diques clásticos no Passo do Moinho ocorrem em geral com espessura
centimétrica, com orientações subverticais variadas e, por vezes associados a amídalas
preenchidas por sedimento. O
sedimento que preenche estes diques
clásticos é maciço, o que não ocorre
com um dique clástico maior, de
cerca de 15 a 20 centímetros de
espessura, orientado segundo o
Arroio do Moinho (NE-SW) (figura
4.14). Este dique clástico apresenta
feições que o distinguem dos
demais, sugerindo também que sua
gênese pode ser totalmente diversa
daquela da maioria dos diques
clásticos neste afloramento. O
sedimento que preenche este dique
clástico preserva fracamente sua
laminação original e apresenta as
bordas mais escuras e endurecidas.
Os enclaves de sedimento
encontrados no derrame aparecem a
pouca distância do contato deste
com o sedimento sobreposto. São clastos arredondados, cerca de 5 centímetros de
diâmetro, com borda semelhante à que ocorre no grande dique clástico. A distribuição
destes enclaves no derrame é aleatória.
Figura 4.14- dique clástico principal do Passo do Moinho
46
O afloramento do Passo do Moinho mantém
a característica de interação com sedimentos
coesos. Entretanto, neste caso, existe a interação da
lava com o sedimento, e não uma intrusão. Os
enclaves encontrados representam pedaços do
sedimento coeso do substrato remobilizados pelo
fluxo da lava. Contudo, o fluxo de lava não teve
potência suficiente para remobilizar todo o
sedimento, deixando para trás o dique clástico
principal. A porção de sedimento que compõe este
dique clástico não foi remobilizada, tornando-se um obstáculo que perturba levemente a
direção geral do fluxo da lava (figura 4.15).
Figura 4.15- esquema fluxo da lava ao
redor do dique clástico no Passo do
Moinho. Visto em planta
Após o resfriamento da lava, algumas descontinuidades foram preenchidas pelo
sedimento que a recobriu, formando os demais diques clásticos e preenchendo também
algumas amídalas.
5. VULCANISMO SERRA GERAL: CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL
Os afloramentos de Torres, São Sebastião do Caí e Feliz (Figura 5.1)
representam a interação de lavas da Formação Serra Geral com arenitos associados,
correlacionáveis à Formação Botucatu, ambas pertencentes à Bacia do Paraná. A fim de
compreender as interações sedimento-lava que ocorrem neste contexto, é importante
conhecer tanto as lavas quanto os sedimentos correlacionados.
A Bacia do Paraná é
uma extensa bacia sedimentar,
com derrames vulcânicos
associados às porções mais
superiores, e que ocupa cerca
de 1.500.000km
2
dentro do
Brasil, Uruguai, Paraguai e
Argentina. As idades dos
depósitos que a compõem vão
desde o Neo-Ordoviciano até
o Neocretáceo (Milani et al.,
1998).
As rochas vulcânicas
da Bac
res da Bacia do Paraná foram primeiro descritas por White
(1908
ia do Paraná integram a
Província Paraná-Etendeka,
uma das maiores províncias
de derrames basálticos
continentais do mundo
(Figura 5.2), e que marca o
início da separação da
América do Sul e África, com a quebra do mega-continente de Gondwana e a abertura
do Oceano Atlântico. Dessa forma, muitos dos depósitos existentes na Bacia do Paraná
podem ser relacionados diretamente a depósitos da Bacia de Etendeka, na Namíbia.
As porções superio
Fig
est
ura 5.1- áreas de estudo inserida no contexto geológico do
ado, mostrando também a área de ocorrência das formações
Botucatu e Serra Geral
apud Scherer et al., 2000), que propôs o então Série São Bento, englobando as
48
camadas vermelhas do
Rio do Rasto, a Grês de
São Bento (Formação
Botucatu) e rochas
eruptivas da Serra Geral,
com contatos
concordantes.
Gordon Jr. (1947)
reformulou a estratigrafia
gondwânica no sul do
Brasil, propon
s do
Rio do Rasto, a Grês de
São Bento (Formação
Botucatu) e rochas
eruptivas da Serra Geral,
com contatos
concordantes.
Gordon Jr. (1947)
reformulou a estratigrafia
gondwânica no sul do
Brasil, propondo a Série
São
de ainda considerarem o contato superior da
Formaç
do a Série
São
de ainda considerarem o contato superior da
Formaç
Bento, composta
pelas formações Santa
Maria, Botucatu e Serra
Geral com contatos
discordantes, e excluindo
a Formação Rio do Rasto,
que passou a fazer parte
da Série Passa Dois. A
idéia de contatos
discordantes entre a
Formação Serra Geral e a
Formação Botucatu é
corroborada por Bortoluzzi (1974), que tomou a existência de contatos da Formação
Serra Geral com unidades inferiores à Formação Botucatu, e as grandes variações de
espessura do pacote de arenitos eólicos como evidência de um período de pronunciada
erosão anterior à Formação Serra Geral.
Northfleet et al. (1969), apesar
Bento, composta
pelas formações Santa
Maria, Botucatu e Serra
Geral com contatos
discordantes, e excluindo
a Formação Rio do Rasto,
que passou a fazer parte
da Série Passa Dois. A
idéia de contatos
discordantes entre a
Formação Serra Geral e a
Formação Botucatu é
corroborada por Bortoluzzi (1974), que tomou a existência de contatos da Formação
Serra Geral com unidades inferiores à Formação Botucatu, e as grandes variações de
espessura do pacote de arenitos eólicos como evidência de um período de pronunciada
erosão anterior à Formação Serra Geral.
Northfleet et al. (1969), apesar
Figura 5.2- província de Basaltos Continentais de Paraná-Etendeka. (a)
localização da província sobre o Gondwana; (b) – localização d
a
província sobre os continentes atuais. Adaptada de Koius & Tilling [on-
line]
ão Botucatu como discordante com a Formação Serra Geral, já condicionam a
idade da primeira às datações realizadas por Cordani & Vandoros (1967 in Northfleet et
al., 1969) nos basaltos da Serra Geral. Além disso, admitem a intercalação das duas
unidades (Formação Botucatu e Formação Serra Geral) na região norte do Estado de
São Paulo e a existência de lentes intertrápicas eólicas em toda a extensão lateral da
ão Botucatu como discordante com a Formação Serra Geral, já condicionam a
idade da primeira às datações realizadas por Cordani & Vandoros (1967 in Northfleet et
al., 1969) nos basaltos da Serra Geral. Além disso, admitem a intercalação das duas
unidades (Formação Botucatu e Formação Serra Geral) na região norte do Estado de
São Paulo e a existência de lentes intertrápicas eólicas em toda a extensão lateral da
49
base da Formação Serra Geral.
Contudo, Andreis et al. (1980) admitem um contato concordante entre a base da
Formaç
ndwânico no Rio Grande do Sul foi dividido por Faccini (1989) em
quatro
. 1. Formação Botucatu
o correspondente africano na Bacia de Etendeka é a
porção
ão Serra Geral e o topo da Formação Botucatu, o que é confirmado pela
interpretação de Montardo (1982 apud Scherer et al., 2000), de que as variações de
espessura da Formação Botucatu seriam resultado da preservação do paleo-relevo do
sistema desértico.
O pacote go
seqüências deposicionais, delimitadas por superfícies erosivas, onde a Seqüência
IV corresponde ao período Jurássico/Cretáceo, incluindo as formações Botucatu e Serra
Geral. Um quadro sumarizando as concepções estratigráficas de White (1908 apud
Scherer et al., 2000), Gordon Jr. (1947), Andreis et al. (1980) e Faccini (1989) pode ser
observado na Figura 5.3.
Figura 5.3- evolução das concepções estratigráficas para a Bacia do Paraná
5
A Formação Botucatu, cuj
superior da Formação Etjo (Mountney et al., 1999), representa um imenso
50
campo de dunas eólicas, com interdunas secas (Scherer 1998). Sua espessura no Rio
Grande do Sul é bastante variável, provavelmente devido à preservação do paleo-relevo
de dunas, podendo atingir até 100 metros e encontrando-se ausente em áreas da região
central do estado, onde a Formação Serra Geral encontra-se diretamente sobre os
depósitos fluviais e lacustres do Triássico (Scherer, 2000) (Figura 5.1)
Idades
40
Ar/
39
Ar de cerca de 138 Ma obtidas por Stewart et al. (1996) para a
Formaç
terizada por arenitos vermelhos,
finos a
(2000)
. 2. Formação Serra Geral
da seqüência estratigráfica da Bacia do Paraná no
Rio G
ão Serra Geral servem como limite superior de idade para a Formação Botucatu.
Ainda que uma idade mais precisa para o início da sedimentação eólica não seja
conhecida, sua íntima relação com a Formação Serra Geral e suas pequenas espessuras
no Estado sugerem que sua deposição deu-se num período de apenas algumas centenas
de milhares de anos (Scherer, 1998). A presença de lentes de arenito intertrápicas na
Formação Serra Geral sugere que as condições desérticas persistiram durante o
vulcanismo (Milani et al., 1998; Scherer et al., 2000).
Litologicamente, a Formação Botucatu é carac
médios, compostos por grãos foscos quartzosos (Faccini, 1989). Do ponto de
vista sedimentológico, é marcante a presença de estratificações cruzadas acanaladas,
cunhas planares e tabulares, normalmente de grande porte, representando dunas
barcanas simples e complexas, e dunas lineares complexas, além da presença de
estratificações plano-paralelas e cruzadas acanaladas, associadas à laminação do tipo
ripple, representando o ambiente interduna (Faccini, 1989; Scherer, 2002).
Faccini (1989) ressaltou a ausência de depósitos de interduna úmidos. Scherer
chama também a atenção para este fato, ressaltando que a ausência de superfícies
úmidas ou quaisquer outras características de interduna úmida sugere um nível freático
abaixo da superfície, reforçando o fato de que a Formação Botucatu teria se originado
em condições climáticas de intensa aridez.
5
A Formação Serra Geral, topo
rande do Sul, é o registro do vulcanismo ocasionado pela ruptura do
megacontinente de Gondwana, dando origem ao Oceano Atlântico Sul. Na Bacia de
Etendeka, na Namíbia, as rochas vulcânicas das formações Awahab e Tafelberg são
correspondentes da Formação Serra Geral (Jerram & Stollhofen, 2002) e juntas formam
a Província Vulcânica Paraná-Etendeka. A espessura média deste pacote vulcânico é de
51
800 metros, podendo atingir até 1500 metros, e ocupa, na sua totalidade, 1.280.000 km
2
,
estando 1.200.000 km
2
destes na América do Sul, ocupando áreas do sul do Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai (Roisenberg & Viero, 2000).
De maneira geral, as rochas vulcânicas da Formação Serra Geral recobrem os
arenito
ulcânicas da
Formaç
ma série de derrames de lavas
básicas
e
acordo
da por basaltos do tipo alto-TiO
2
(> 3,0
%), co
tro da qual encontra-se a área de estudo, é
s eólicos da Formação Botucatu, mas podem ser também encontrados em contato
direto com rochas permo-triássicas da Bacia do Paraná e até mesmo com o
embasamento cristalino, nas bordas da bacia (Roisenberg & Viero, 2000).
Os métodos radiométricos empregados na datação das rochas v
ão Serra Geral vêm evoluindo. Isto ocasiona o estabelecimento de idades cada
vez mais precisas, bem como a definição mais correta do intervalo de tempo e taxas de
efusão das lavas. Mantovani et al. (1985) propuseram uma idade Rb-Sr de 135 ± 3,5
Ma, a partir de amostras de riolito. Desde então, as datações pelo método
39
Ar-
40
Ar vêm
confirmando um intervalo que vai de 135 Ma até 128 Ma, com um pico de atividades
em cerca de 132 Ma (Hawkesworth et al., 1992; Renne et al. 1992; Turner et al. 1994).
Stewart et al. (1996) estabelecem um intervalo temporal de 10 a 12 milhões de anos
para Formação Serra Geral, indo de 138 Ma até 127 Ma, estando, portanto,
temporalmente localizada dentro do Cretáceo Inferior.
A Formação Serra Geral é constituída por u
toleíticas, intercaladas com alguns derrames andesíticos e riodacíticos,
especialmente em direção ao topo da seqüência. Existem registros de magmatismo
subordinado de afinidade picrítica e de afinidade alcalina (Roisenberg & Viero 2000).
O vulcanismo da Bacia do Paraná pode ser dividido em três províncias, d
com seu caráter geoquímico, especialmente no que diz respeito aos conteúdos de
TiO
2
e P
2
O
5
(Mantovani et al. 1985; Fodor 1987; Piccirillo et al. 1988): (a) Bacia do
Paraná Sul, localizada ao sul do Lineamento do Rio Uruguai; (b) Bacia do Paraná
Central, entre os lineamentos do Rio Uruguai e do Rio Piquiri; (c) Bacia do Paraná
Norte, ao norte do Lineamento do Rio Piquiri.
A Bacia do Paraná Norte é caracteriza
ntando também com um enriquecimento relativo de P
2
O
5
(> 0,3 %), FeO
t
(> 12
%) e elementos traço incompatíveis. Os termos intermediários são raros nesta porção da
bacia, e os derrames ácidos, fortemente porfiríticos, concentram-se na porção superior
do pacote (Roisenberg & Viero 2000).
A Bacia do Paraná Sul, den
52
caracterizada por basaltos do tipo baixo-TiO
2
(< 2,0 %) com empobrecimento relativo
de elementos incompatíveis em relação à porção norte da bacia. É marcante nesta parte
da bacia a ocorrência de termos andesíticos e andesibasaltos, contando ainda com
termos ácidos de característica ofírica (Roisenberg & Viero 2000).
A Bacia do Paraná Central é considerada uma zona de transição, onde derrames
com c
rmediário da Formação Serra Geral no
Rio Gr
para o contato da
Formaç
aracterísticas de alto-TiO
2
e de baixo-TiO
2
ocorrem intercalados, além da
ocorrência de basaltos com valores de TiO
2
intermediários aos extremos apresentados
nas duas outras porções da bacia. Da mesma forma se comportam os tipos petrográficos,
com a ocorrência dos tipos característicos tanto da Bacia do Paraná Norte quanto da
Bacia do Paraná Sul (Roisenberg & Viero 2000).
De modo geral, o vulcanismo básico e inte
ande do Sul é constituído por basaltos e andesibasaltos de textura afírica a
subafírica, compostos por menos de 5% de fenocristais de plagioclásio (An
86-40
), augita
(Wo
12-6
), titanomagnetita e ilmenita, com raras ocorrências de olivina em matriz de
mesma constituição, mas sem olivina (Roisenberg & Viero 2000).
Feições de interação vulcano-sedimentar foram descritas
ão Botucatu com o Vulcanismo Serra Geral. Scherer (1998, 2000) nota a
presença de estrias de fluxo e marcas em crescente na região de Santa Cruz do Sul, além
da presença de peperito (ainda que tenha sido chamado apenas de brecha). A presença
de uma brecha com constituintes sedimentares e vulcânicos (peperito) também foi
notada por Heemann & Strieder (2000). Wildner et al. (2002) notam a presença de
diques clásticos e peperitos na Formação Serra Geral. Waichel et al. (2005) reportam a
ocorrência de peperitos no estado do Paraná. Segundo Wildner et al. (2003), estas
feições de interação vulcano-sedimentar concentram-se na fácies Gramado, que é
caracterizada pelo interdigitamento com a Formação Botucatu.
6. VULCANISMO SERRA GERAL: TORRES, SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ,
FELIZ
A presença de interações vulcano-sedimentares associada ao Vulcanismo Serra
Geral foi estudado principalmente na praia de Torres. Além disso, dois afloramentos
expressivos foram encontrados, um em São Sebastião do Caí, ao longo da rodovia RS
122 e outro em Feliz, na rodovia RS 425. As litologias e feições de interação vulcano-
sedimentar que ocorrem em Torres serão apresentadas em detalhe, seguidas por uma
descrição mais concisa dos afloramentos de Feliz e São Sebastião do Caí. Estes dois
últimos afloramentos não possuem tanta representatividade espacial quanto Torres, mas
algumas características das feições de interação vulcano-sedimentar são de grande
importância na compreensão da gênese destas feições e no modelamento do vulcanismo
ocorrido especificamente em Torres.
6.1. Litologias e interações vulcano-sedimentares em Torres
As litologias de Torres foram estudadas tendo como base 13 perfis elaborados ao
longo dos morros do Farol, das Furnas, das Cabras e Torre Sul (figura 6.1). As litofácies
encontradas em Torres foram agrupadas em três associações de fácies: basaltos, arenito
e feições de interação vulcano-sedimentar, incluindo-se nesta última associação de
fácies as seguintes fácies: peperito e diques clásticos. Uma descrição mais detalhada é
apresentada no Anexo A
Os basaltos encontrados em Torres representam seções típicas de derrames, com
basaltos amigdaloidais e vesiculares no topo, seguidos por basaltos com intensa
disjunção colunar e basaltos com disjunção planar na base da seqüência (figura 6.2). Os
derrames são a litologia mais abundante em Torres, podendo alcançar até 27 metros de
espessura.
Os derrames de Torres são caracterizados por textura porfirítica com matriz
ofítica a subofítica e fenocristais de plagioclásio, minerais opacos e clinopiroxênio, em
geral bem formados (euédricos a subédricos). Os fenocristais de plagioclásio
(freqüentemente alterado a carbonato) são encontrados como ripas de tamanho variando
desde 0,2 mm até 1 mm. Os minerais opacos (provavelmente óxidos de ferro e titânio)
apresentam tamanhos em torno de 0,5 mm, podendo ser encontrados como parte da
matriz, com tamanhos de cerca de 0,05 mm. O clinopiroxênio (augita, por vezes
54
Figura 6.1- localização da área de estudo em Torres, indicando a posição dos perfis colunares
55
alterada a epidoto), são os menores, com tamanhos próximos a 0,2 mm. Ocorrem
também raras olivinas. A matriz é composta por vidro e material criptocristalino,
podendo ocorrer também os minerais que ocorrem como fenocristais.
Figura 6.2- diversos aspectos dos derrames em Torres. (a)- base de derrame, com disjunção tabula
r
(Morro das Furnas); (b)- meio de derrame, marcada pela intensa disjunção colunar (Torre Sul); (c)- topo
de derrame
,
vesicular
(
Morro do Farol
)
A textura glomeroporfirítica é
bastante comum (Figura 6.3),
caracterizada pela presença
concentrada de fenocristais de
clinopiroxênio e plagioclásio (Figura
6.4) de até 1 mm de comprimento. Os
fenocristais da textura
glomeroporfirítica são, em geral, um
pouco maiores que os fenocristais
dispersos. Minerais opacos, quando
fenocristais, raramente caracterizam a
Figura 6.3- textura glomeroporfirítica bastante comu
m
nos derrames de Torres. LP
56
textura glomeroporfirítica, estando predominantemente dispersos na rocha. Em pontos onde
há uma maior concentração de matriz,
percebe-se que a mesma encontra-se
bastante oxidada ou alterada a
argilominerais.
As amídalas encontradas
apresen
renitos são o litotipo menos
abunda
elíticos na área estudada em Torres confirma o
ambien
Torres correspondem a arenitos
arcosea
tam tamanhos bastante
variados, desde submilimétricas até
alguns milímetros e podem estar
preenchidas por zeolita, sedimento
(com cimento de sílica) ou uma sucessão de
quartzo e carbonato. Por vezes uma das fases
não chega a ocorrer, ficando a amídala
preenchida somente por quartzo ou carbonato
(figura 6.5).
Os a
nte em Torres, ocorrendo somente
em pontos isolados. Em sua ocorrência
mais expressiva, no Morro das Cabras
(ponto 12 na figura 6.1), com ao menos três
metros de espessura, é possível identificar
diversos sets de laminações cruzadas acanaladas, de origem eólica. As demais
ocorrências de arenito são de menor porte (não mais que 1,5 m de espessura) e
apresentam no máximo um mesmo set, com laminação não tão expressiva (Figura 6.6).
Estas menores ocorrências podem representar apenas o preenchimento do paleo-relevo
deixado pelos derrames, visto que preenchem depressões na superfície destes últimos.
A total ausência de sedimentos p
Figura 6.4- fenocristais de plagioclásio e piroxênio em
amostra do Arroio Carajá. Imagem de MEV.
Figura 6.5- amídala preenchida por carbonato nos
derrames de Torres. LP
te extremamente árido já proposto pela literatura para a Formação Botucatu
(Faccini, 1989, Scherer, 1998, Sherer et al., 2000).
As rochas sedimentares estudadas em
nos (Figura 6.7). São arenitos médios a finos, bem selecionados e de boa
maturidade, com grãos arredondados e boa esfericidade. Os grãos são compostos
principalmente por quartzo, com ocorrências de feldspato alcalino (figura 6.8). A
57
presença de clastos líticos é rara, sendo sempre de granitóides. O volume total de
cimento nestas amostras varia de cerca de 20% até cerca de 45%, entretanto, a
porosidade é mais alta que a das amostras do Arroio Carajá, evidenciando um
empacotamento mais frouxo. A cimentação corresponde a uma sucessão de fases,
iniciando por óxido de ferro, seguido por sílica e finalizando com carbonato. Contudo,
esta seqüência completa só foi verificada em duas amostras, uma delas com nova
contribuição de ferro na última fase de cimentação. As demais amostras apresentam ou
a seqüência óxido de ferro sílica, ou sílica carbonato. A tabela 6.1 sumariza as
principais características das rochas sedimentares em Torres.
Figura 6.6- litofácies de arenito. (a)- litofácies de arenito com estratificação cruzada, com diagrama de
paleocorrente (Morro das Cabras); (b) litofácies de arenito com estratificação plano-
p
aralela (Morro do
Farol).
Figura 6.7- diagrama QFL de classificação de arenitos para as
amostras de Torres. 1- arenito arcoseano; 2- arenito lítico; 3-
arcóseo; 4- arcóseo lítico; 5- litarenito arcoseano; 6- litarenito
Figura 6.8- aspecto geral dos
arenitos encontrados em Torres. LP
58
Tabela 6.1- relação entre as principais características analisadas nas rochas sedimentares de Torres
GRÃOS
AMOSTRA
EVENTOS
DIAGENÉTICOS
CIMENTO
TOTAL
(%)
POROSIDADE
TOTAL
(%)
INDICE DE
CONTATO
QUARTZO FELDSPATO LÍTICOS
T 02-01a
Si CaCO3
39,4 1,0 2,1 83,9 16,1 0,0
T 02-01b
Si CaCO3
31,9 1,2 1,9 82,2 14,0 3,8
T 04-01 Si
CaCO3+Fe
44,0 3,3 2,0 87,5 12,5 0,0
T 08-01
Fe Si
45,3 0,0 1,9 75,8 22,2 2,0
T 08-02
Fe Si
39,9 3,9 1,6 79,0 21,0 0,0
T 09-04b Fe Si
CaCO3
37,4 0,6 2,0 81,6 17,5 0,9
Tg 10-A1
Fe Si
37,5 8,2 2 90,3 9,7 0,0
T 12-01
Fe Si
19,3 19,4 2,2 74,8 23,4 1,8
Tg-12A Fe Si
CaCO3+Fe
27,4 16,4 2,2 85,4 12,2 2,4
*- O índice de contato indicado nas figuras 7.11 e 7.14 foi determinado a partir da atribuição de valores
numéricos para cada tipo de contato (flutuante = 1; pontual = 2; reto = 3; côncavo-convexo = 4 e
suturado = 5). A partir de uma análise modal dos contatos, obtém-se a média da soma dos valores de
cada contato em razão do número total de contatos. Assim, os índices de contato próximos a dois, que
predominam nas amostras analisadas, indicam um predomínio de contatos pontuais. Quanto mais
elevado o valor, mais apertado é o empacotamento. Esta metodologia permite comparar numericamente
amostras de empacotamento muito similar, como é o caso das amostras analisadas aqui.
As feições de interação vulcano-sedimentar presentes em Torres abrangem
estrias de fluxo, diques clásticos e peperitos.
Em Torres, são conhecidos dois tipos de diques clásticos cujas características
geométricas e suas relações com a rocha encaixante denotam diferentes processos
genéticos.
Os diques clásticos de orientação vertical a subvertical são bastante planos,
apresentando as maiores extensões verticais (mais de cinco metros) e espessuras (até 20
centímetros), não tendo sido possível verificar suas extensões longitudinais, e estão
diretamente relacionados à fácies de meio de derrame, onde se destaca a disjunção
colunar (Figura 6.9a). O fato de os diques clásticos encontrados na litofácies de derrame
com disjunção tabular não refletirem esta disjunção, sugere que sua formação foi
posterior ao resfriamento da lava, sugerindo que sejam fruto do preenchimento de
descontinuidades (disjunções, fraturas, falhas) pelo sedimento que migra sobre o
derrame já resfriado.
O segundo tipo de diques clásticos reconhecido apresenta orientações caóticas,
espessuras em geral não superiores a cinco centímetros, ficando na maioria das vezes na
magnitude de apenas um centímetro. Sua extensão é pequena, em torno de um metro, e
encontram-se associados aos peperitos, interligando bolsões desta rocha e cortando a
59
litofácies de basalto vesicular (Figura 6.9b). Estes diques estão associados aos mesmos
processos que geraram os peperitos, representam fases mais rúpteis do derrame. Este
mecanismo será mais bem explicado a seguir.
Figura 6.9- diques clástico. (a)- na fácies de meio de derrame, Morro das Furnas; (b)- ligando bolsões
de peperito em fácies de topo de derrame, Morro das Furnas; (c)- esquema de bolsões de peperito co
m
dique clástico interligando-os. (Da) – derrame amigdaloidal; (Pe) – peperito
Os peperitos de Torres (Figura 6.10) são compostos por matriz na fração areia, a
mesma vista nos arenitos e diques
clásticos. A coloração mais
avermelhada adquirida pela matriz no
contato com os clastos é devida a
uma mais intensa presença de óxidos
de ferro.
Os clastos ígneos encontrados
nos peperitos variam de tamanho
desde alguns milímetros até 50
centímetros, sendo que se verifica um
aumento de tamanho do clasto
Figura 6.10- Aspecto do peperito em Torres, mostrando
os clastos autóctones de basalto em matriz de areia
60
conforme se distancia do contato do derrame que lhe deu origem. São clastos originados
dos derrames e petrograficamente muito similares, bastante vesiculares e em geral com
mais intensa presença de vidro, indicando um resfriamento mais rápido que a maior
parte dos derrames. Fraturas que ocorrem nos clastos não tendem a se propagar pela
matriz, podendo estas serem resultado do resfriamento dos clastos.
O contato entre os clastos e a matriz, nos peperitos, é bastante abrupto,
mostrando, em geral, feições claras de plasticidade, ora com a matriz englobando os
clastos, ora com os clastos englobando a matriz, o que sugeriria uma formação a quente
num regime de deformação dúctil. Entretanto, os clastos podem, às vezes, apresentar
uma morfologia bastante angulosa, sugerindo uma fragmentação em regime mais rúptil,
de acordo com o apresentado na figura 2.8.
Assim, os peperitos são fruto da desintegração da lava, seja em estado dúctil ou
rúptil, ao encontrar os corpos de areia ainda inconsolidados. A morfologia do clasto ígneo
do peperito reflete o estado da lava no momento da desintegração, com os clastos
angulosos correspondendo a uma lava mais resfriada e rúptil que os clastos fluidais.
6.2. Estratigrafia de Torres
As relações de contato entre as diferentes unidades encontradas em Torres e o
modo como estas se sucedem são de grande importância na compreensão dos eventos
que ali ocorreram. Todos os contatos entre as diferentes litologias são abruptos, mas
diversas particularidades marcam cada uma das sucessões litológicas encontradas,
conforme mostra a tabela 6.2.
Na Figura 6.11 é possível perceber a existência de duas superfícies de contato
(Sc
1
e Sc
2
), que delimitam as unidades da área em três níveis (N
1
, N
2
e N
3
). Esta
superfície de contato foi delimitada levando-se em consideração a base dos derrames,
uma vez que sua ocorrência marcaria uma interrupção do ciclo sedimentar, marcado
pela ocorrência de lentes de arenito em algumas das seções. Dessa forma, temos, na área
de trabalho, três pacotes que representam três ciclos de derrame, formação de peperito e
deposição de arenito.
É interessante notar que todas as ocorrências de arenito encontram-se restritas ao
N
1
e as ocorrências de peperito também são mais abundantes neste nível. Isto poderia
estar indicando uma progressiva diminuição na quantidade de sedimento
disponibilizado entre cada derrame, talvez causada pelo contínuo afogamento do
61
sistema eólico vigente. Entretanto, esta diminuição na quantidade de sedimentos pode
ser um fenômeno isolado, restrito aos níveis aflorantes em Torres, ou ainda, se
considerado o número extremamente pequeno de níveis disponíveis para estudo, pode
tratar-se apenas de uma coincidência.
Tabela 6.2- contatos entre as diferentes litologias encontradas em Torres
Litologias Tipo de contato
Arenito sobre
peperito
Contato abrupto, mas sem linha definida de contato.
Percebe-se a sucessão litológica quando os clastos
ígneos somem repentinamente
Derrame sobre
peperito
Contato abrupto. A irregularidade da linha de contato
demonstra a plasticidade do derrame no momento de
sua colocação
Derrame sobre
arenito
Contato abrupto, podem ocorrer estrias de fluxo no
topo do arenito
Derrame sobre
derrame
Contato abrupto e regular
Peperito sobre
derrame
Contato abrupto e regular
Outra informação importante diz respeito ao nível de arenito no ponto S-12.
Uma vez determinada sua relação com N
1
e evidenciada a presença de derrames na base
deste nível, fica claro o caráter intertrápico do pacote de arenito, excluindo-se a
possibilidade de que se tratasse da Formação Botucatu em contato com o primeiro
derrame da Formação Serra Geral.
6. 3. Modelo conceitual para Torres
Assumindo-se para Torres um ambiente sedimentar eólico em constante
deposição entre cada derrame do Serra Geral, parte-se de um substrato coberto por
sedimento eólico inconsolidado. Sobre este substrato corre um derrame de lava (figura
6.12a), deixando como impressão de sua passagem, estrias de fluxo.
Conforme o derrame se distancia de seu centro emissor e resfria, sua frente
torna-se cada vez menos fluida, passando de um regime pahoehoe para um regime aa.
Neste momento, a frente do derrame começa a fragmentar-se, e os fragmentos caem
dentro da massa de sedimento remobilizada pela frente do derrame, misturando-se ao
sedimento e formando peperito de frente de derrame (figura 6.12b).
62
Figura 6.11- esquema do empilhamento das diversas unidades nas seções trabalhadas e suas
correlações laterais. O datum utilizado foi o nível médio do mar no local
63
Figura 6.12- estágios de evolução dos eventos que deram origem às rochas de Torres. (a)- derrame sobre
sedimentos inconsolidados; (b)- formação de peperito de frente de derrame e diques clásticos de
preenchimento; (c)- início de novo ciclo com novo derrame, aprisionando lentes de arenito. Desenho se
m
im
p
lica
ç
ão de escala ou
p
ro
p
or
ç
ão entre as unidades
Após o resfriamento deste derrame, nova deposição de sedimento segue,
cobrindo o derrame já resfriado e, onde ocorrem fraturas (em geral de resfriamento),
formando diques clásticos de preenchimento. Os sedimentos podem, então, recobrir
tanto o derrame, quanto o peperito formado a sua frente (figura 6.12b). Este processo
64
repete-se a cada novo derrame que ocorre nestes moldes (figura 6.12c).
Os diques clásticos de preenchimento são formados por um processo
relativamente simples, e já são conhecidos da literatura (Jerram & Stollhofen 2002).
Entretanto, em Torres é possível perceber a presença de uma população distinta de
diques clásticos, que não combinam com o padrão de fraturas preenchidas, seja por suas
mais variadas orientações ou por sua associação a porções do derrame não fraturados,
mas principalmente pela existência, ainda que rara, de fusão de grãos de quartzo. Estes
diques foram interpretados como tendo sido formados por um processo distinto, onde
ocorre injeção de sedimento para o interior do derrame, dando-lhes, assim, o nome de
diques clásticos de injeção. Este processo será mais bem detalhado a seguir.
6.4 São Sebastião do Caí
O afloramento em questão localiza-se no município de São Sebastião do Caí, ao
longo da rodovia RS 122, em uma pedreira de extração de arenito, logo após o Arroio
Cadeia. A base do afloramento é um espesso pacote com mais de 10 metros de arenito
coberto por um derrame de basalto (figura 6.13). No contato entre o arenito e o basalto
podem ocorrer bolsões de peperito e diques clásticos.
Figura 6.13- afloramento estudado em São Sebastião do Caí. A parte abaixo da linha tracejada é o arenito
e acima, o derrame. A seta marca a localização aproximada do dique clástico, que não é distinguido nesta
imagem. Os bolsões de peperito ocorrem mais à esquerda da foto
O arenito em São Sebastião do Caí apresenta um set de estratificações cruzadas
acanalada de muito grande porte, representando uma única duna eólica de ao menos 10
metros de altura. Entretanto, o baixo ângulo das estratificações sugere que o
afloramento mostra apenas uma porção da base da duna, e que esta teria muito mais de
65
10 metros.
O derrame que cobre o arenito apresenta disjunção horizontal na base, por cerca
de dois metros, dando lugar à disjunção colunar no restante do derrame, cerca de mais
dois metros. O topo do pacote está encoberto por vegetação e no último metro percebe-
se uma intensa alteração do basalto,
levando à formação de solo. A porção do
derrame vista na figura 6.13 não apresenta
uma disjunção muito clara,
provavelmente por sua íntima relação
com o sedimento, o que deve interferir
nos processos normais de resfriamento.
As interações vulcano-
sedimentares presentes no afloramento
incluem peperito e diques clásticos. O
peperito ocorre apenas no lado esquerdo
do afloramento, como uma camada com
base plana em contato com o arenito e
topo irregular, em contato com o basalto.
No lado direito do afloramento o arenito
está em contato direto com o derrame
(figura 6.14).
Figura 6.14- contato abrupto entre o sedimento e o
derrame em São Sebastião do Caí
Devido às atividades de extração de arenito no local não é possível visualizar em
nenhum ponto a linha de contato entre o arenito e o peperito ou entre o peperito e o
derrame. No lado direito do afloramento, o contato direto do arenito com o derrame é
claro e bastante abrupto. Entretanto, nesta linha de contato ocorre um dique clástico de
características bastante singulares.
Trata-se de um dique clástico de arenito de cerca de 15 centímetros de espessura
em média. O dique inicia no topo do arenito e entra por cerca de um metro no derrame,
terminando em um bolsão de peperito. A base do dique é deformada, como a base de
uma taça, e a extensão do dique é levemente inclinada para o lado direito, em relação à
linha de contato entre o arenito e o derrame (Figura 6.15).
Injeções de sedimento são bastante conhecidas quando se trata de sedimento fino
(pelito) ou areia saturados em água. Estas injeções costumam ocorrer em face da
66
pressão exercida pelo peso do pacote sedimentar que o sobrepõe, fazendo com que o
sedimento se fluidize e seja injetado para as porções superiores do pacote sedimentar,
onde a pressão é menor. Da mesma forma, um derrame pode gerar injeções de areia,
onde o movimento de fluxo do derrame
favoreça o processo de injeção,
especialmente em se tratando de
sedimento inconsolidado seco, onde a
fluidização não é promovida pela
saturação em água, como na maioria
dos casos.
O afloramento de São Sebastião
do Caí representa de maneira mais
ilustrativa a formação de diques
clásticos e peperito de injeção. A região
de contato entre o derrame e o
sedimento é dividida em duas áreas. Em
uma delas há a formação de peperito
provavelmente de frente de derrame,
entretanto a precariedade do
afloramento neste sentido não permita afirmar com certeza. Na outra área predomina o
contato abrupto e direto entre o derrame e o sedimento. É nesta segunda área que
ocorrem um dique clástico e o peperito de injeção. Aqui sim, a estrutura destas feições
não deixa dúvida quanto ao mecanismo de sua origem.
Figura 6.15- dique clástico ligado pela base ao
sedimento e associado a bolsão de peperito no topo e
m
São Sebastião do Caí
Durante o fluxo da lava, parte do derrame “afunda” no sedimento inconsolidado
e passa a se comportar como um sill, de muito pequeno porte. Isto é, com o esforço de
tração na base do derrame, parte do sedimento é empurrada para dentro do derrame.
Enquanto esta areia migra pelas porções mais frias (e, portanto já rúpteis) do derrame,
atravessando fraturas e confinada por elas, forma diques clásticos de injeção. Ao
encontrar porções mais internas e quentes (ainda plásticas), mistura-se ao derrame,
formando peperito de injeção. Este processo é exemplificado na figura 6.16.
A forma do dique clástico e do peperito de injeção sugere que o fluxo da lava se
dava no sentido da esquerda para a direita da foto (Figura 6.15). Desta maneira, uma
fratura com mergulho no sentido de fluxo do derrame permitiria que a porção de trás da
67
fratura se comportasse como uma cunha, dragando o sedimento para dentro do derrame.
Ao mesmo tempo, a inflexão para a direita da porção de peperito de injeção associado a
esta fratura demonstra que o sedimento que encontrou a porção mais plástica do
derrame acompanhou em parte o movimento da lava, alongando-se na direção de seu
fluxo.
Figura 6.16- processo de formação de dique clástico e peperito de injeção. (a)- formação de fendas na
base do derrame; (b)- remobilização do sedimento e injeção de sedimento por meio de diques clásticos;
(c)- formação de peperito na porção mais interna do derrame
68
6.5. Feliz
O afloramento de Feliz localiza-se à margem da rodovia RS 425. Trata-se
provavelmente de um local de extração de brita abandonado, contando com exposições
em três planos, frontal, lateral e superior. O afloramento é composto por um pacote de
arenito com pouco mais de cinco metros de altura (figura 6.17a), cortado por um uma
estrada na lateral, o que oferece mais um plano de exposição (figura 6.17b). Este pacote
é cortado por diques e coberto por um derrame.
Figura 6.17- aspecto geral do afloramento estudado em Feliz. (a)- parte superior do afloramento onde
ocorrem as (b) impressões de fluxo e ripples (c); (d)- lateral do afloramento, com destaque para a form
a
de lacólito da intrusão; (e) vista frontal do afloramento, diques de borda irregular, com a presença de (f)
apófises
69
O arenito em Feliz não apresenta claramente nenhum tipo de estruturação
interna. Em alguns pontos parece apresentar estratificações cruzadas acanaladas.
O plano frontal do afloramento mostra duas intrusões com contornos irregulares,
onde aparecem apófises a partir destes. As bordas das intrusões são vítreas e bastante
alteradas para argilominerais. As irregularidades do contorno dos corpos sugerem
intrusões rasas, o que também explicaria a ausência de estruturação interna no arenito,
uma vez que este teria sido perturbado pela intrusão antes mesmo de sua litificação. No
corte lateral do afloramento é possível perceber que uma das intrusões comporta-se
como lacólito, não tendo alcançado a superfície, como no caso dos diques.
Na parte superior do afloramento, encontra-se o contato do arenito com o
derrame sobreposto. A superfície superior
do arenito apresenta-se coberta por
estruturas do tipo ripple, que foram
preservadas devido ao rápido
recobrimento pelo derrame de uma
superfície sedimentar ativa. Nesta mesma
superfície, encontram-se abundantes
marcas em crescente (figura 6.18) e
estrias de fluxo, o que novamente atesta
para o caráter não litificado do arenito no
momento do derrame.
Figura 6.18- marcas em crescente no topo do
arenito em Feliz
No afloramento de Feliz observa-se o extravasamento de lava através de
intrusões localizadas ali mesmo. Assim, é possível o controle das feições de interação
vulcano-sedimentares em função de sua relação com a fonte emissora de lava. Além da
presença de apófises nas paredes dos diques, é importante notar que as únicas feições de
interação vulcano-sedimentar existentes são as estrias de fluxo e as marcas em
crescente. Isto ocorre dada a proximidade da fonte de emissão de lava. Neste caso, por
estarem ainda muito quentes e fluidos, os derrames não tiveram potência de tração
suficiente para arrastar grandes quantidades de sedimento, tampouco ocorre o
autobrechamento. Assim, nestas condições, não há a formação de peperito.
É possível acompanhar a porção mais superior de uma intrusão, até o momento
em que esta se transforma em um derrame. As bordas difusas, contudo sem a formação
70
de peperito (ou seja, total desagregação do sedimento) dos diques ali presentes atestam
o caráter já coeso do sedimento, embora ainda não litificado. A condição de sedimento
não litificado fica clara ao notar-se a presença de estrias de fluxo na porção superior do
afloramento. Nas bordas dos diques é possível perceber a presença de apófises,
características de intrusões em sedimentos coesos não litificados.
7. DISCUSSÕES
A compreensão completa das feições de interação vulcano-sedimentar em um
dado quadro significa, em última instância, a compreensão de seus processos genéticos.
Para tanto, é importante conhecer a formação de cada uma das litologias envolvidas e de
suas inter-relações e peculiaridades.
A compreensão da gênese das feições de interação vulcano-sedimentar permite a
definição de parâmetros que servem como diagnóstico a respeito da natureza do
sedimento e do posicionamento dos magmas envolvidos em qualquer área de ocorrência
destas feições, tornando o estudo destas uma ferramenta extremamente útil na
estratigrafia de bacias com preenchimento vulcano sedimentar.
Algumas das feições de interação vulcano-sedimentar encontradas em
associação com o Magmatismo Rodeio Velho (nos afloramentos de Arroio Carajá e
Passo do Moinho) foram também encontradas no vulcanismo Serra Geral (em Torres,
São Sebastião do Caí e Feliz), enquanto que outras feições ficaram restritas a um
derrame ou mesmo a um afloramento. Isto ocorre porque a interação vulcano-
sedimentar se deu sob condições distintas em cada um dos casos. Além da marcante
diferença de idade entre os eventos Rodeio Velho (c.a. 470 Ma) e Serra Geral (c.a. 130
Ma) que, do ponto de vista do estudo das interações vulcano-sedimentares é irrelevante,
existem ainda diferenças quanto ao estado do sedimento e o tipo e posicionamento do
magma.
No afloramento da barragem do Arroio Carajá são encontradas estrias de fluxo,
diques clásticos de preenchimento, xenólitos e apófises. No Passo do Moinho, xenólitos
e um dique clástico remanescente. Em Torres, são encontradas estrias de fluxo, diques
clástico de preenchimento e de injeção e peperito de frente de derrame e de injeção. O
afloramento de São Sebastião do Caí apresenta diques clásticos e peperito de injeção e o
de Feliz, estrias de fluxo, marcas em crescente, apófises e formas de leito frágeis
preservadas.
As rochas do Magmatismo Rodeio Velho no Arroio Carajá colocaram-se tanto
como derrame quanto como intrusão rasa. No Vulcanismo Serra Geral, temos na maior
parte derrames, com a presença de intrusões rasas apenas no afloramento de Feliz.
Quanto ao estado de litificação dos sedimentos, podem ocorrer feições de interação
72
entre intrusões e sedimento coeso no Arroio Carajá (Magmatismo Rodeio Velho) e
Feliz (Vulcanismo Serra Geral) e entre derrames e sedimento inconsolidado no Arroio
Carajá e Passo do Moinho (Magmatismo Rodeio Velho) e em Torres, São Sebastião do
Caí e Feliz (Vulcanismo Serra Geral).
7.1. Modo de posicionamento do magma: intrusão versus derrame
Feições geradas pela interação de intrusões com sedimentos podem ser utilizadas
na investigação das do modo de posicionamento do magma que lhe deu origem.
Algumas das feições de interação vulcano-sedimentar podem servir como indicadores
precisos de intrusões ou de derrames.
Desta forma, temos que a presença de estrias de fluxo, marcas em crescente e
impressões de fluxo apontam indiscutivelmente para um derrame, enquanto que a
presença de apófises indica tratar-se de intrusão.
A presença de xenólitos de sedimento dentro do corpo ígneo não diferencia
precisamente um derrame de uma intrusão, na medida em que esta feição pode ocorrer
nos dois casos, com um processo um pouco diferente para cada. No caso de xenólitos
em intrusões (Arroio Carajá), estes xenólitos são placas do sedimento originalmente
sotoposto que se descolam e alojam-se na intrusão. No caso de derrames, quando estes
fluem sobre sedimento coeso, é possível que a tração de base do derrame arranque e
arraste pedaços do sedimento sobjacente.
A formação de peperitos também não é feição diagnóstica do modo de
posicionamento do corpo ígneo. Ainda que não tenha sido observado dentro das áreas
de estudo, são comuns na literatura casos de formação de peperito ao longo das margens
de intrusões (Kano 2002; Martin & White 2002; Coira & Pérez 2002).
O processo de injeção de sedimento para dentro do corpo ígneo foi observado
somente em derrames, contudo isto não exclui a possibilidade de formação de peperito e
dique clástico de injeção dentro de uma intrusão, uma vez que este processo pode
repetir-se também nas bordas de um corpo epizonal que atravesse sedimentos
inconsolidados ou pouco consolidados.
Os peperitos de frente de derrame, como o próprio nome sugere, indica uma
colocação vulcânica para o magma que o gerou. Contudo, não servem como feição
diagnóstica, uma vez que, para poder classificar um peperito como tal, é necessário
conhecer a relação deste com um corpo comprovadamente vulcânico. Ou seja, neste
73
caso somente é possível o diagnóstico no sentido inverso, o posicionamento do corpo
indicando a característica do peperito.
7. 1. 1. TIPO DE DERRAME: aa versus pahoehoe
Contudo, o processo de formação dos peperitos de frente de derrame, por auto-
fragmentação do derrame durante seu fluxo, serve como indicador da plasticidade do
derrame. Ou seja, é necessário que o derrame já se encontre parcialmente resfriado, para
que torne-se rúptil e forme os clastos do peperito. Assim, é possível saber que, no caso
de derrames extremamente fluidos como os do Vulcanismo Serra Geral, peperitos de
frente de derrame somente se formam quando o derrame passa de um comportamento
tipo pahoehoe para um aa, o que ocorre a alguma distância da fonte emissora de lava.
Desta forma, a presença de peperito de frente de derrame é indicativa de derrames tipo
aa. Da mesma forma, os processos de injeção também devem ocorrer com o derrame já
mais resfriado pois, com o aumento da viscosidade dado pelo resfriamento, aumenta-se
também a espessura do derrame, favorecendo os processos que dependem da força de
tração na sua base.
Por outro lado, a preservação de formas de leito frágeis e a presença de estrias e
marcas de fluxo e marcas em crescente indicam um derrame extremamente fluido, ainda
num regime tipo pahoehoe, e portanto mais próximo a fonte emissora que o derrame no
momento em que este forma peperito de frente de derrame. É importante ressaltar que
um mesmo derrame pode comportar-se ora como pahoehoe, ora como aa, conforme se
dá seu resfriamento gradual, ainda durante o fluxo. Assim, é possível que um mesmo
derrame gere estrias de fluxo e peperito de frente de derrame. Neste caso, o peperito
será encontrado a uma maior distância da fonte emissora da lava que as estrias de fluxo.
Isto ocorre no caso de Torres, onde o mesmo derrame que formou as estrias de fluxo no
ponto 12 (Morro das Cabras) é o responsável pela formação de peperito em vários
outros pontos.
7. 2. Estado do sedimento: litificado, coeso ou inconsolidado
Da mesma forma que as feições de interação vulcano-sedimentar podem servir
como diagnóstico da colocação do magma, podem também dar indicações quanto ao
grau de litificação do sedimento que interage com este.
Feições como estrias de fluxo, marcas em crescente, impressões de fluxo e
74
formas de leito frágeis preservadas somente ocorrem quando o derrame flui sobre
sedimento inconsolidado. Importante notar que o derrame que gera tais feições é ainda
extremamente fluido e não muito espesso, pois a tração em sua base é pouca e a
remobilização de sedimento é quase inexpressiva. Dessa forma é impossível pensar em
tal derrame interagindo com um substrato parcialmente litificado. Por tratar-se da
porção mais superficial do sedimento, é difícil concebê-lo coeso sem um processo
diagenético completo. No caso da preservação das formas de leito, poder-se-ia esperar
que uma total litificação do sedimento favorecesse este processo. Entretanto, as formas
de leito em questão são justamente aquelas com baixo poder de preservação, como o
caso das dunas do deserto de Botucatu e ripples no seu dorso. Sem o afogamento destas
formas de leito pelos derrames, elas não teriam sido preservadas no registro geológico.
Portanto, fica claro que elas se perderiam antes do processo diagenético, sendo sua
preservação somente possível quando “fossilizadas” por um derrame.
A feição de interação vulcano-sedimentar que mais denota inconsolidação do
sedimento na sua formação é o dique clástico de preenchimento. Isto porque não
somente o sedimento encontra-se inconsolidado, como também migrando sobre a rocha
que alojará o dique. Na verdade, esta feição de interação vulcano-sedimentar apresenta
uma particularidade, no sentido em que não se trata de um magma interagindo com os
sedimentos que se encontravam depositados, mas o contrário. Trata-se de uma feição
em que o sedimento migrando interage com qualquer espaço vazio do substrato. Assim,
isto é muito comum em ambientes vulcano-sedimentares, onde derrames que
desenvolvem disjunção por resfriamento são recobertos por sedimento.
Por outro lado, esta talvez seja a única feição que não exige a
contemporaneidade do evento ígneo com a deposição sedimentar, uma vez que o
derrame pode ficar exposto por um período de tempo relativamente longo antes de ser
recoberto por sedimento. Contudo, levando-se em consideração o caso específico do
Vulcanismo Serra Geral, sabe-se que o intervalo entre os diferentes derrames é curto o
suficiente para comprovar esta contemporaneidade por meio de diques clásticos de
preenchimento. No caso do Passo do Moinho, o grande dique clástico descrito talvez
não mereça esta nomenclatura, utilizada especialmente por causa de sua forma. Na
verdade, por ser um relicto do sedimento que ali se encontrava, pode ser considerado
um xenólito.
A formação de peperitos em geral pode dar-se em condições de sedimento
75
inconsolidado ou parcialmente consolidado, de acordo com a própria definição de
peperito de White et al. (2000) (ver capítulo 2, pg. 24). Entretanto, existem vários tipos
de peperito, de acordo com seu mecanismo de formação. O Anexo B apresenta a
formação de quatro tipos de peperito, dois deles com base em dados de Torres e dois
com dados da Bacia de Etendeka, na Namíbia, no mesmo intervalo estratigráfico.
Os peperitos de frente de derrame e de injeção pressupõem uma interação com
sedimento inconsolidado, a fim de que este possa se misturar completamente com os
clastos gerados no processo ígneo, ou para que possa comportar-se de maneira fluida e
ser injetado no derrame, respectivamente. No caso de um derrame com capacidade de
tração suficiente para a remobilização do sedimento e formação de peperito de frente de
derrame que, contudo, encontra em seu caminho sedimentos já coesos, o que ocorre é o
arranque de pedaços do sedimento do substrato, que vão comportar-se dentro da lava
como xenólitos, conforme o que é visto no afloramento do Passo do Moinho.
A formação de xenólitos ao longo da borda de um corpo intrusivo epizonal é, da
mesma forma, diagnóstico de interação desta intrusão com sedimentos já bastante
coesos ou quase totalmente litificados. Neste caso, quanto mais avançado o processo
diagenético, maior a tendência dos xenólitos de apresentarem bordas angulosas, pois
mais frágil é seu regime de ruptura.
A formação de apófises ígneas em um corpo sedimentar sobreposto é passível de
ocorrer praticamente sob qualquer condição do sedimento encaixante. Entretanto,
diferenças no resultado final destas apófises podem indicar o grau de litificação.
Intrusões em sedimento completamente litificado preservam a estrutura interna do
sedimento, mas costumam apresentar formas angulares, pois se colocam somente por
meio de fraturas. Ao contrário, intrusões em sedimento ainda inconsolidado tendem a
adquirir formas lobadas, mas costumam apagar a estrutura interna do sedimento, como
no caso do afloramento de Feliz. As apófises encontradas no Arroio Carajá indicam um
sedimento em processo de litificação, sem comportamento rúptil, pois as formas de
intrusão encontradas são lobadas, mas com uma coesão suficiente para que a estrutura
interna permaneça em parte preservada e deformada.
A tabela 7.1 apresenta um resumo das feições de interação vulcano-sedimentar
trabalhadas nas áreas do Arroio Carajá, Passo do Moinho, Torres, São Sebastião do Caí
e Feliz, correlacionando-as às condições de colocação do corpo ígneo e ao grau de
litificação do sedimento no momento da interação.
76
Tabela 7.1- síntese das relações entre as diversas feições de interação vulcano-sedimentar que ocorrem
em cada uma das áreas de estudo e o que cada uma destas feições diz sobre o evento que lhe deu origem
Feição
Colocação do
corpo ígneo
Sedimento Ocorrência
Xenólitos
Intrusão ou
derrame
Coeso ou
litificado
Arroio Carajá (intrusão),
Passo do Moinho
(derrame)
Apófises Intrusão
Inconsolidado,
coeso ou
litificado
Arroio Carajá, Feliz
Preservação de formas
de leito frágeis
Feliz
Estrias de fluxo
Arroio Carajá, Torres,
Feliz
Marcas em crescente Arroio Carajá, Feliz
Impressões de fluxo
Derrame
pahoehoe
Inconsolidado
Arroio Carajá
Peperito e dique
clástico de injeção
Derrame ou
intrusão
Inconsolidado
Torres, São Sebastião do
Caí
Peperito de frente de
derrame
Derrame aa Inconsolidado
Torres, São Sebastião do
Caí
Dique clástico de
preenchimento
Rocha
resfriada
Migração de
sedimento
Arroio Carajá, Passo do
Moinho, Torres
7. 3. Outras influências nas feições de interação vulcano-sedimentar
Outra aplicação das interações vulcano-sedimentares diz respeito ao diagnóstico
do próprio ambiente sedimentar em que ocorre. O momento em que esta interação mais
claramente trás contribuições é na preservação de formas de leito, o que guarda no
registro geológico informações que normalmente seriam apagadas. Outra informação de
grande valor neste sentido que pode advir do estudo das feições de interação vulcano-
sedimentar diz respeito a presença de água superficial no sedimento. Um derrame ou
intrusão rasa, ainda não resfriado, quando em contato com água ou sedimento saturado,
gera uma série de feições de explosão hidromagmática não registradas em nenhuma das
áreas de trabalho. Assim, a presença de tais feições indica a presença de água no momento
da interação, enquanto que sua ausência indica da mesma forma a ausência de água.
As implicações das diferenças do tipo de magma envolvido na interação com o
sedimento ainda não são suficientemente claras. O Magmatismo Rodeio Velho é um
evento alcalino (Almeida et al., 1993) enquanto que o Vulcanismo Serra Geral é do tipo
toleítico (Roisenberg & Viero, 2000). Um magma alcalino tem por característica um
comportamento mais plástico que um toleítico (este mais fluido). Entretanto, como um
77
derrame do tipo pahoehoe pode evoluir para um derrame tipo aa isto não serve como
critério de distinção entre o tipo químico do derrame. Além disso, as feições de
interação vulcano-sedimentar presentes no Arroio Carajá sugerem um comportamento
do tipo pahoehoe, sugerindo que as diferenças de reologia ocasionadas pelas diferenças
geoquímicas entre os magmas do Magmatismo Rodeio Velho e do Vulcanismo Serra
Geral são muito pequenas.
Outro fator que deveria influenciar na reologia do magma é seu conteúdo de
voláteis. As análises petrográficas mostram que o Magmatismo Rodeio Velho
apresentava um conteúdo de voláteis significativamente mais elevado que o Vulcanismo
Serra Geral. Com maior tendência a um
vulcanismo explosivo, era esperado que isto
favorecesse a formação de peperitos
associados ao Magmatismo Rodeio Velho.
Entretanto, isto não foi notado nas áreas de
trabalho, onde o Magmatismo Rodeio Velho
não ocorre como rocha piroclástica. Contudo,
ocorrências de peperito associado ao
Magmatismo Rodeio Velho foram descrita
por Sander et al. (2005), sugerindo que a
ausência de peperitos associados ao
Magmatismo Rodeio Velho na área de estudo
seja apenas circunstancial.
Figura 7.1- comparação do empacotamento no
topo e no centro da camada de arenito no
Arroio Carajá
7.4. Características petrográficas em interações vulcano-sedimentares
Os capítulos anteriores mostram a descrição das rochas sedimentares em
associação com rochas vulcânicas, entretanto, ainda restam algumas discussões quanto
aos dados obtidos na análise petrográfica da matriz do peperito, do preenchimento dos
diques clásticos e dos níveis de arenito presentes nas áreas em questão.
No Arroio Carajá (Magmatismo Rodeio Velho) é possível perceber uma
variação no empacotamento do arenito do topo para o centro da camada (Figura 7.1). O
espaço intergranular reduzido no topo, logo abaixo do derrame sugere um efeito de
sobrepressão, provocando uma aproximação prematura dos grãos ainda durante a eo-
diagênese e com o sedimento ainda em estado plástico (inconsolidado).
78
Da mesma forma, comparando-se a porosidade e o cimento no topo e na base do
arenito (Figura 7.2) é possível perceber uma maior precipitação de cimento na base,
indicando uma provável origem em RV2 para o fluido cimentante, com uma percolação
de fluidos mais intensa na base do arenito (em contato com RV2).
Em Torres, a circulação de fluido mais intensificada na borda dos corpos de
arenito é clara no caso das amostras T 08-01 e T 08-02, que correspondem à borda e o
centro de um dique clástico de preenchimento de cerca de 20 centímetros de espessura
no Morro das Furnas, em Torres. Esta característica está representada na maior
abundância de cimento na amostra que representa a borda do dique, em relação ao
centro (Figura 7.3).
Em Torres não foi percebido o
mesmo efeito de sobrepressão que ocorre
no Arroio Carajá, uma vez que o
empacotamento não varia dentro das lentes
de arenito. Entretanto, percebe-se uma
relação entre a presença de cimento de
carbonato e a associação do arenito ao
derrame: a cimentação por carbonato está condicionada a interação do sedimento com o
derrame quente. Esta questão ainda deve ser melhor analisada, com uma amostragem
mais densa nos litotipos em questão. Assim, percebe-se que o cimento de carbonato só
está presente na matriz dos peperitos (amostras T 02-0a, T 02-01b e T 09-04b) e no topo
das lentes de arenito (amostras T 04-01 e T 12-01), quando estas são sobrepostas por
derrames. Nos casos dos
diques clásticos de
preenchimento (amostras T
08-01, T 08-02 e Tg 10-A1),
formados após o
resfriamento, e na base das
lentes de arenito (amotra Tg
12A) não há cimentação por
carbonato.
Figura 7.3- comparação entre as quantidades de
cimento na borda e no centro de um dique clástico
de preenchimento em Torres.
As amostras de
sedimento analisadas para
Figura 7.2- comparação da porosidade e cimento no topo e base da
camada de arenito do Arroio Carajá
79
Torres apresentam uma sucessão
de fases de cimentação,
iniciando por óxido de ferro,
seguido por sílica e carbonato de
cálcio. A fase do carbonato pode
mostrar contribuições de ferro
sob a forma de siderita. Sugere-
se que a primeira fase (óxido de
ferro) represente o ambiente
oxidante sob o qual as areias
eólicas estavam sendo
depositadas. A segunda fase
(sílica) pode ser proveniente do próprio vulcanismo que solubiliza sílica dos arenitos
subjacentes ao serem atravessados pelo magma basáltico. A fase carbonática está
relacionada aos fluidos do derrame, sendo que o ferro da siderita pode ser uma
remobilização da primeira fase de cimentação ou pode ser proveniente do próprio
derrame, toleítico, rico em cálcio e ferro.
Figura 7.4- dissolução e recristalização de quartzo na matriz de
peperito de injeção
Uma das características mais interessantes observadas nas amostras de Torres é a
ausência quase total de recristalização de quartzo. A figura 7.4 mostra um dos raros
casos onde houve recristalização de quartzo, em uma porção de arenito na matriz de um
peperito de injeção. O peperito de injeção é o caso em que a areia é submetida às mais
altas temperaturas e por maior duração de tempo, em relação às demais interações
vulcano-sedimentares.
No topo dos arenitos que são sobrepostos por derrames existe uma faixa de cerca
de um centímetro de espessura onde o arenito está mais endurecido e apresenta uma
coloração ligeiramente mais avermelhada e escura. Entretanto, isto aparentemente é
apenas resultado de uma mais intensa concentração de cimento de óxido de ferro. Por
haver entrado em contato com o derrame ainda fluido, era esperado que houvesse algum
tipo de recristalização do quartzo que compõe a areia, contudo, isto não ocorre.
Também na matriz do peperito de frente de derrame, que está associado a um
derrame tipo aa, mais frio que no caso do peperito de injeção, não ocorre nenhuma
feição de recristalização do quartzo. A figura 7.5 mostra o arenito em associação com
componentes ígneos em diversas situações. Apenas no caso dos peperitos de injeção é
80
possível a ocorrência de fusão do quartzo da matriz e, mesmo nestas condições, nem
sempre isto ocorre. Nas figuras 7.5a e 7.5c, os clastos ígneos presentes são bastante
angulares, sugerindo uma fragmentação a mais baixas temperaturas, o que não
favoreceria a recristalização do quartzo. Entretanto, a figura 7.5b mostra um clasto
vulcânico com margem bastante fluidal e, mesmo neste caso, não há fusão e
recristalização do quartzo.
Figura 7.5- matriz de peperitos em contato com clastos ígneos. (a)- matriz em contato com clasto angular
em peperito de frente de derrame; (b)- matriz em contato com clasto fluidal em peperito de frente de
derrame; (c)- concentração de matriz parcialmente recristalizada em peperito de injeção; (d)-
concentração de matriz em peperito de injeção. A barra amarela tem 0,5 cm de largura.
81
8. CONCLUSÕES
A maior aplicação do estudo das interações vulcano-sedimentares é na
estratigrafia de bacias sedimentares que registram também eventos vulcânicos. Nestes
casos, os eventos vulcânicos podem ser utilizados na datação dos pacotes sedimentares,
desde que as relações temporais entre as rochas vulcânicas e sedimentares sejam
compreendidas. Assim, um nível de rocha vulcânica, que pode ser datado absolutamente
por radiometria, sendo anterior ou posterior à rocha sedimentar, pode fornecer a idade
máxima ou mínima desta.
Por outro lado, de ainda maior utilidade estratigráfica, é o conhecimento de um
evento vulcânico contemporâneo à sedimentação. Por isto, as feições de interação
vulcano-sedimentares podem trazer uma contribuição ainda maior ao estudo
estratigráfico.
A figura 8.1 mostra os processos de formação de cada uma das feições de
interação vulcano-sedimentar analisadas neste estudo. Optou-se pela ilustração em um
ambiente sedimentar eólico, pois é o que mais facilmente gera as feições estudadas.
Entretanto, foi necessário introduzir a presença de água para que parte dos sedimentos
estivessem coesos, gerando feições similares às do Passo do Moinho.
Na figura 8.1, o tempo 1 (T1) representa um derrame ainda bastante fluido, tipo
pahoehoe; no tempo 2 (T2), o derrame inicia seu resfriamento, mudando para um
derrame do tipo aa; no tempo 3 (T3) o derrame já se encontra completamente resfriado.
Em T1, o derrame não é capaz de remobilizar grandes volumes de sedimento,
sendo capaz apenas de gerar as estrias de fluxo, impressões de lava em corda e marcas
em crescente. A intrusão que alimenta este derrame apresenta suas paredes irregulares,
pois está encaixada em sedimentos inconsolidados.
Em T2, o derrame torna-se mais espesso e pesado, se autofragmentando na frente e
remobilizando grandes quantidades de sedimento. Seu próprio esforço de tração faz com
que o sedimento remobilizado se misture aos clastos ígneos, formando o peperito de frente
de derrame. Também os esforços de tração na base do derrame são os responsáveis pela
injeção de sedimento derrame adentro, primeiro por meio de fraturas, formando dique
clástico de injeção e, em seguida, misturando-se ao derrame, formando peperito de injeção.
Ao cobrir parte do dorso da duna maior, o derrame é capaz de preservar estruturas do tipo
ripple. O sill formado a partir da intrusão maior também possui as margens irregulares, com
apófises.
82
Figura 8.1- formação das diversas feições de interação vulcano-sedimentar em três tempos: T1, derrame tipo pahoehoe; T2, derrame tipo aa; e T3, derrame resfriado
83
Em T3 o sedimento volta a migrar, sobre um derrame resfriado. As disjunções
de resfriamento são preenchidas por este sedimento, formando os diques clásticos de
preenchimento. A duna pequena que aparecia em T1 e T2 foi quase totalmente erodida,
restando apenas uma pequena porção de orientação vertical, perpendicular à direção do
fluxo da lava, apresentando uma aparência enganosa de dique clástico, como no Passo
do Moinho. Ao longo da borda do sill, ocorrem xenólitos, rotacionados ou em sua
orientação original, mas que mantêm sua estruturação interna.
Assim, algumas das feições de interação vulcano-sedimentar não representam
exatamente uma contemporaneidade entre atividade ígnea e sedimentação. Entre estas
feições, temos os xenólitos e as apófises, que resultam de uma intrusão em sedimentos
que podem estar depositados já há algum tempo. Também os diques clásticos de
preenchimento podem ser formados em qualquer momento após um derrame e não há
como determinar quanto tempo transcorreu entre o derrame e a sedimentação que o
recobriu, responsável pela geração do dique clástico de preenchimento. Mesmo assim,
espera-se curtos intervalos de tempo, ou uma quase contemporaneidade entre os
eventos, permitindo a definição de idades máximas e mínimas com razoável precisão.
O restante das feições de interação vulcano-sedimentares denota claramente a
contemporaneidade entre o vulcanismo e a sedimentação, amarrando-os temporalmente,
e permitindo uma datação precisa da sedimentação ao determinar-se isotopicamente a
idade do derrame. Estas feições indicam tal contemporaneidade por terem sua gênese
ligada à disponibilidade de sedimentos ainda totalmente inconsolidados.
Assim, as feições que indicam indubitavelmente uma relação de
contemporaneidade entre o sedimento e a rocha ígnea e podem ser prontamente
utilizadas como ferramenta estratigráfica são:
estrias de fluxo;
impressões de lava em corda;
marcas em crescente;
peperitos de frente de derrame;
peperitos de injeção
diques clásticos de injeção
84
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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