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MARIA APARECIDA DE FÁTIMA MIGUEL
Ruth Rocha, página a página:
bibliografia de e sobre a autora.
Assis - SP
2006
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MARIA APARECIDA DE FÁTIMA MIGUEL
Ruth Rocha, página a página:
bibliografia de e sobre a autora.
Dissertação apresentada à Faculdade de
Ciências e Letras de Assis – UNESP –
Universidade Estadual Paulista, para
obtenção do título de Mestre: Área de
conhecimento “Literatura e Vida Social”
Orientador:
Professor Doutor João Luís Cardoso
Tápias Ceccantini.
Assis - SP
2006
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MARIA APARECIDA DE FÁTIMA MIGUEL
Ruth Rocha, página a página:
bibliografia de e sobre a autora.
Dissertação apresenta à Faculdade de Ciências e
Letras – UNESP para a obtenção do título de
Mestre em LETRAS (Área: Literatura e Vida
Social).
Data da Aprovação: 10 de novembro de 2006.
BANCA EXAMINADORA
Presidente: PROF. DR. JOÃO LUÍS C. TÁPIAS CECCANTINI – UNESP/Assis
Membros: PROF. DR. RONY FARTO PEREIRA – UNESP/Assis
PROF. DR. JOSÉ BATISTA DE SALES – UFMS/Três Lagoas
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Dedico este trabalho a minha filha, razão da minha
incansável luta, motivo sublime de viver; a minha mãe,
que me ensinou com grande amor as primeiras letras; à
memória de meu pai, com quem aprendi o amor
incondicional pela leitura; a minha irmã Rosângela, pelo
incentivo nos momentos de dificuldade.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em especial a meu orientador João Luís C. T.
Ceccantini, pela atenção, carinho e dedicação que
sempre me destinou; a minha amiga Ana B. Narente, por
todo apoio e compreensão durante esta etapa; e a meus
companheiros do Departamento de Letras da FAFICOP,
por todo o incentivo oferecido.
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MIGUEL, MARIA APARECIDA DE FÁTIMA. Ruth Rocha, página a página: bibliografia
de e sobre a autora. 197 p. 2006. Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de
Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Mestre: Área de
conhecimento “Literatura e Vida Social”, Assis, 2006
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo central o levantamento sistemático das obras escritas
pela escritora Ruth Rocha (1931), bem como da produção crítica produzida sobre sua obra
(em livros, teses, dissertações, artigos científicos, artigos de divulgação publicados em jornais
e revistas). Além disso, é realizada uma reflexão introdutória sobre as principais tendências
observadas no conjunto dessa produção crítica. Motivou a realização do trabalho o fato de a
autora destacar-se significativamente em meio aos escritores que compõem a “geração de 70”
da literatura infanto-juvenil brasileira, num momento em que esta passa por profundas
transformações, incorporando-se definitivamente à indústria cultural e contando com o
mecenatismo do Estado, comprador e distribuidor de grandes tiragens de obras infanto-
juvenis para escolas e bibliotecas de todo o Brasil. Num primeiro momento da dissertação, é
apresentada uma rápida visão geral dos caminhos trilhados pelo gênero infanto-juvenil,
enfatizando a questão do utilitarismo e do mercado. Em seguida, são organizados dados sobre
a vida da autora, coletados em diversas fontes (entre elas, muitas entrevistas), no intuito de
constituir um apanhado biográfico geral sobre Ruth Rocha. No capítulo subseqüente, procura-
se levantar “o estado da questão” referente à produção crítica sobre a obra da escritora, com
base em dados extraídos da crítica profissional e da imprensa não especializada. Finalmente, é
feito um amplo levantamento dos títulos literários publicados pela escritora.
Palavras-chave: literatura infantil, literatura juvenil, Ruth Rocha, indústria cultural, formação
do leitor, narrativa.
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MIGUEL, MARIA APARECIDA DE FÁTIMA. Ruth Rocha, página a página: bibliografia
de e sobre a autora. 197 p. 2006. Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências e Letras de
Assis – UNESP – Universidade Estadual Paulista, para obtenção do título de Mestre: Área de
conhecimento “Literatura e Vida Social”, Assis, 2006
ABSTRACT
The present work has for central objective the systematic rising of the works written by writer
Ruth Rocha (1931), as well as of the critical production produced on your work (in books,
theses, dissertations, scientific goods, popularization goods published in newspapers and
magazines). besides, an introductory reflection is accomplished on the main tendencies
observed in the group of that critical production. It motivated the accomplishment of the work
the author's fact he/she to stand out significantly amid the writers that compose the generation
of 70 " of the Brazilian infantile-juvenile literature, in one moment in that this raisin for deep
transformations, incorporating definitively to the cultural industry and counting with the
sponsor of the State, buyer and distributor of great circulations of infantile-juvenile works for
schools and libraries of the whole Brazil. In a first moment of the dissertation, a fast general
vision of the roads is presented thrashed by the infantile-juvenile gender, emphasizing the
subject of the utilitarian and of the market. Soon after, they are organized data about the
author's life, collected in several sources (among them, many interviews), in the intention of
constituting has been hit biographical general on Ruth Rocha. In the subsequent chapter,
he/she tries to get up " the state of the subject " regarding the critical production on the
writer's work, with base in extracted data of the professional critic and of the press non
specialized. Finally, it is made a wide rising of the literary titles published by the writer.
Key-Words: infantile literature, juvenile literature, Ruth Rocha, cultural industry, the reader's
formation, narrative.
7
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................4
RESUMO.....................................................................................................................5
ABSTRACT.................................................................................................................6
SUMÁRIO....................................................................................................................7
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
2 LITERATURA INFANTIL EM TEMPO DE MASSA ............................................13
2.1 A dessacralização da produção artística........................................................13
2.2 A literatura infantil e o princípio da eficácia. ...................................................17
3 RUTH ROCHA: UM OLHAR SOBRE A VIDA DA ESCRITORA ........................28
3.1 Ruth Rocha – criança e adolescente, orientadora e mulher...........................28
3.2 “Uma autora em verdadeira grandeza”...........................................................29
3.3 “Lê-la é como nadar em correnteza” ..............................................................31
3.4 Para Ruth Rocha, mensagem é invenção do leitor ........................................32
3.5 Ruth e Ana: Traços Lobatianos ......................................................................35
3.6 A obra de Ruth ...............................................................................................37
3.7 Cronologia......................................................................................................40
3.7.1 Nascimento.................................................................................................40
3.7.2 Locais de vida/viagens................................................................................40
3.7.3 Vida familiar ................................................................................................40
3.7.4 Formação....................................................................................................41
4 A VISÃO CRÍTICA SOBRE A PRODUÇÃO DE RUTH ROCHA ........................45
4.1 Ruth Rocha- filha de Lobato: uma nova ótica sobre a questão do poder.......45
4.2 Vozes que questionam o utilitarismo.............................................................57
4.3 “democratização” da arte: a literatura como mercadoria ................................63
5 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DOS TÍTULOS DA AUTORA ..................75
5.1 Obras com a data da primeira edição.............................................................75
5.2 Obras cuja data da primeira edição não foi identificada.................................81
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................87
ANEXOS ...................................................................................................................89
Anexo 1: Resenhas ou recensões de obras de Ruth Rocha.....................................90
Anexo 2: Reprodução de entrevistas, artigos e depoimentos sobre a autora. ........137
8
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação tem como escopo realizar o levantamento de um conjunto de
dados biográficos sobre a escritora Ruth Rocha, rastrear a fortuna crítica sobre a sua obra e
elencar as obras produzidas pela escritora que, em pleno vigor da indústria cultural, publicou
mais de 160 títulos de prosa, poesia, contos de fadas e fábulas, além de algumas adaptações de
clássicos.
Este trabalho justifica-se pela necessidade que encontramos de compreender o
fenômeno “novo” que recentemente passou a fazer parte das preocupações de pesquisadores -
a literatura destinada a crianças e adolescentes, e que tem sido alvo de discriminação por ser
considerada uma “literatura menor”. A nossa prática na educação fundamental e também no
ensino superior levou-nos a perceber que, embora os estudos nesta área tenham ganho fôlego,
ainda assim esta realidade se encontra muito aquém das preocupações e das prioridades dos
professores, que atuam na educação básica. Por falta de conhecimento, a maioria dos
docentes infelizmente ainda possui uma visão equivocada da literatura infantil, utilizando-a
como manual para ensinar normas de conduta.
Embora o estado tenha investido muito na aquisição de obras desta natureza,
percebemos que os bons autores ainda não ganharam espaço suficiente nas salas de aula. A
observação da prática pedagógica nos leva a perceber que os professores têm como texto
literário apenas as fábulas e os contos de fadas. Autores que propõem uma leitura mais
“difícil” são evitados. Em muitos casos, percebemos que isto se dá pelo desconhecimento da
importância da estética na formação dos alunos. São inúmeros os fatores que levam a esta
atrofia, dentre eles o fato de os cursos de formação de professores ou não possuírem na grade,
muitas vezes, a disciplina de literatura infantil, ou o fato de a disciplina ser ministrada
geralmente por pedagogos e não por profissionais da área de Letras.
Concordamos que a criança tem “o direito à literatura” e este trabalho visa a servir de
apoio a professores e outros profissionais da área, no sentido de orientar e esclarecer sobre a
especifidade e a função do texto literário.
A obra de Ruth Rocha constitui, de um modo geral, um exemplo de trabalho
comprometido com a estética, seus livros possuem aquela marca do texto bem elaborado,
permeado da mais profunda literariedade. Na produção da autora não prevalecem as
preocupações de uma educadora ocupada com textos empenhados apenas em emitir juízos de
valor, ou em inculcar valores morais ou cívicos, nem tampouco se vê uma escritora com a
necessidade urgente de comercialização, que tanto prejudica a qualidade de textos que
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chegam ao mercado editorial com o objetivo apenas de lucro.
Na literatura da autora, destaca-se o comprometimento com a boa produção, com
aquela escrita que transcende o imediatismo, que acredita no leitor e, por isso, lhe propõe
“enigmas esfíngicos”, sem, contudo, esquecer de que a arte é também útil, e como tal serve
para desalienar, para esclarecer, para desenvolver o senso crítico e o despertar da cidadania.
Isso sem permitir que sua obra se transforme em um mero manual de conduta. Ruth Rocha
alia arte e eficácia, sem ser planfetária. Sem ser tendenciosa, ela dialoga com os seus leitores,
quer sejam crianças quer não, pois a sua escrita é polissêmica, aberta, polifônica. Utilizando-
se de símbolos universais, ela constrói um mundo ficcional onde adultos e crianças se vêem
refletidos.
É certo que a escola já nasceu sob a égide da pedagogia, com o objetivo de ser a
redentora da massa inculta e, desse modo, os textos destinados à criança foram desde a sua
origem um meio pelo qual se transmitiram valores, regras e normas. Com a realidade
brasileira não foi diferente. Especificamente nos anos 70, o governo patrocina a explosão, “o
boom”, da literatura infanto-juvenil e foi principalmente por meio da escola que a maioria das
crianças em idade escolar teve acesso à leitura. Mas Ruth Rocha, sendo legítima “herdeira de
Lobato”, fez desse espaço a chance de apresentar ao leitor uma literatura viva, dinâmica, que
visa ir além do pedagogismo, despertando o senso crítico de crianças, jovens e adultos.
O primeiro capítulo deste trabalho objetiva realizar um vôo panorâmico sobre questões
teóricas e históricas ligadas à literatura infanto juvenil. Discutem-se alguns caminhos
trilhados pela produção da arte que, em séculos de existência, foi perdendo a sua conotação
primária, de intenção estética, até transformar-se em mercadoria e, portanto, ser
comercializada.
Nesse primeiro capítulo, procuramos deslindar alguns caminhos da arte, partindo da
sua concepção de objeto exclusivo e, portanto, dotado de “aura”, até atingir o processo de
“democratização” que a tornou acessível às diferentes camadas sociais. São abordados fatores
que levaram a essa “democratização”, contextualizados historicamente do surgimento da
imprensa até a reprodução da produção artística em larga escala. Procura-se apresentar,
sobretudo, a forma com que a literatura infanto-juvenil, em específico, veio a ocupar uma
função estabilizadora da nova burguesia emergente no período posterior à Revolução
Francesa, daí o seu caráter “utilitário” mencionado por escritores do porte de Edmir Perrotti e
Regina Zilberman, entre outros, que procuraram apontar na produção contemporânea
destinada a crianças as marcas desse “utilitarismo”. Este, por vezes, renegou o caráter estético
da produção, mas também, em muitos casos, serviu como elemento de eficácia, não tendo, por
10
sua vez, eliminado totalmente a função estética dos textos produzidos por um grupo de
escritores, que primou pelo cuidado com a sua produção. Esses autores, embora tenham se
utilizado do sentido pragmático da literatura, também conseguiram produzir uma obra
esteticamente elaborada, de forma a não direcioná-la ao público por meio de didatismos e
moralismos, mas, sim, apontando caminhos possíveis, sempre com vistas a dialogar com o
leitor e despertar-lhe o senso crítico.
O segundo capítulo denominado: Ruth Rocha: Um olhar sobre a vida da escritora,
trata de levantar alguns de seus dados biográficos, com base em diversas fontes, haja vista que
pouco se escreveu de fato, de forma sistemática sobre a autora. Por isso, valemos-nos de
entrevistas concedidas pela escritora a jornais, revistas, editoras e sites, bem como utilizamos
o dicionário crítico de Nelly Novaes Coelho, que, de forma tão responsável, se ocupa em
traçar um perfil mais cuidadoso de Ruth Rocha e do livro Ana & Ruth, organizado por Dau
Bastos e publicado pela Editora Salamandra em 1995. Nessa obra encontramos muitos dados
acerca da vida e da produção da autora, que permite formular uma idéia mais abrangente de
Ruth Rocha como mulher, educadora, escritora, empresária etc.
Bastos organiza o livro com base em depoimentos de amigos e parentes, assim como
em textos de críticos acerca da escritora. Começa por traçar um perfil da criança Ruth Rocha,
abordando o convívio familiar e a influência das leituras feitas por sua mãe, por seu pai, além
do entusiasmo da avó com quem aprendeu o amor pela música. Escrito para comemorar os 25
anos de carreira de Ruth Rocha e de sua cunhada Ana Maria Machado, o livro não se
preocupa em analisar e julgar obras, mas, sim, em “festejar” a efeméride homenageando
ambas as escritoras, daí as inúmeras recorrências a depoimentos de pessoas que convivem
com ela e que constituem um valioso documento de pesquisa.
Amparada principalmente pelo Dicionário crítico da Literatura Infantil e Juvenil de
Nelly Novaes Coelho estabeleceu-se uma cronologia da autora, na qual constam suas
atividades literárias e culturais, as homenagens, títulos e prêmios recebidos por ela em três
décadas de carreira.
Por meio de várias fontes percebemos que existe sempre um dado novo a acrescentar
na história de Ruth Rocha, a cada leitura sentimos a necessidade de acrescentar, reiterar os
dados sobre a sua história.
Em suma, este segundo capítulo, busca da forma mais abrangente possível,
caracterizar quem é Ruth Rocha, quais são os seus contatos e influências, qual a sua
motivação para escrever, assim como o sentido de “produzir” literatura de seu ponto de vista,
sempre no intuito de construir uma imagem a mais próxima possível da escritora.
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No capítulo três tratamos de levantar o atual estado da questão, sobre a obra de Ruth
Rocha, fazendo um levantamento do que foi publicado sobre a sua produção. Compõem a
unidade do trabalho dados extraídos de obras críticas, tais como as de Regina Zilberman,
Marisa Lajolo, Edmir Perrotti, Fanny Abramovich entre outros, que conferiram seus pareceres
sobre a produção de Ruth Rocha, às vezes em uníssono e, por vezes, em tons discordantes,
mas em ambos os casos num trabalho de crítica profissional, com o objetivo de acrescentar
sempre algo mais ao que se estava sendo produzido.
Este trabalho também se ocupa da crítica não especializada, encontrada em variadas
fontes, entre elas, jornais, revistas e sítios, onde encontramos pareceres ligados a interesses,
na maioria dos casos, comerciais, caracterizando assim uma crítica que se detém na
apresentação de um resumo da obra, sem, contudo, ater-se à qualidade do texto em questão.
Concluímos que incluir esta “vertente crítica” faz-se de suma importância, uma vez que o
momento pelo qual passa a literatura destinada a crianças está diretamente ligado e orientado
pelas necessidades do mercado, de forma que se torna “impossível” escrever sobre uma
escritora que está inserida nesta engrenagem industrial, como produtora, organizadora,
empresária, sem atentarmos para esta crítica que objetiva à venda, pois é sabido e inegável
que a literatura-infantil já nasceu sob a égide do mercado.
O quarto e último capítulo é composto pelo levantamento do conjunto da produção de
Ruth Rocha, inclusive as obras compostas em parceria, constando dados tais como a data da
primeira edição e a referência bibliográfica completa da obra, procurando-se elencar o maior
número de dados possíveis, citar os nomes do ilustradores, o número de páginas, bem como a
coleção à qual pertence cada obra. Este capítulo foi escrito com o objetivo de fornecer ao
leitor uma visão ampla e organizada de tudo que foi publicado pela escritora. Para que isto
fosse possível, valemo-nos de uma ampla pesquisa em bibliotecas, com o objetivo de reunir,
comparar e catalogar a vasta produção da escritora.
Além destes capítulos, a presente dissertação apresenta anexos onde constam textos
extraídos de jornais, revistas e sites e onde foi possível localizar importante material para esta
pesquisa. Por meio destes textos entramos em contato com a visão de críticos de renome sobre
a produção da autora. Por outro lado também nos utilizamos deste referencial para elencar
textos oriundos da crítica informal não especializada, que também foi de grande valor para
este trabalho, visto que este se ocupa de uma escritora que está estreitamente ligada à
engrenagem da “Indústria cultural”. Também compõem os anexos resenhas e recensões de
parte das obras produzidas por Ruth Rocha até o mês de março de 2006 e alguns textos
suplementares que ofereceram apoio a esta pesquisa.
12
Em suma, a tessitura deste material orientou-se pela necessidade de ordenar os dados
referentes à produção de Ruth Rocha, apontando as diversas tendências por que passou a sua
produção, sem perder de vista o arcabouço teórico que se refere à democratização da obra de
arte desde o surgimento da imprensa, o caráter utilitário desta produção no período posterior à
essa revolução e, no que tange ao Brasil, o processo de massificação pelo qual passa a
literatura destinada a crianças nos idos dos anos 70. Sobretudo, buscamos com este trabalho
propiciar uma visão geral sobre a escritora, com o intuito de servir de fonte e apoio para quem
se interesse em trabalhar com a literatura destinada a crianças e adolescentes. Cumpre
ressaltar que este não teve por objetivo qualquer análise mais vertical das obras da autora,
mas, sim, definir o que foi escrito por ela e quando foi escrito, ou seja, procuramos elencar
dados sólidos sobre Ruth Rocha para um posterior trabalho onde, talvez, possamos nos
debruçar sobre a sua obra com o intuito de emitir pareceres e/ou dar sugestões sobre como
trabalhar seus textos no contexto escolar.
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2 LITERATURA INFANTIL EM TEMPO DE MASSA
2.1 A DESSACRALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA
A produção artística sofreu, com o decorrer dos tempos, uma grande perda do seu
valor original, que era o de se revelar a um público culto e restrito constituído pela
aristocracia. A arte em seus primórdios possuía, conforme afirmou o filósofo Walter
Benjamim, uma “aura” que a tornava inacessível às camadas mais incultas da sociedade. A
obra, por sua vez, era dotada do seu “hic et nunc”, que a fazia existir no aqui e agora, e por
isso, não poderia ser reproduzida em série. Um concerto, por exemplo, só era apreciado no
momento em que era executado. O advento do fonógrafo tornou a música no caso, audível em
qualquer lugar e momento, dessacralizando a unicidade da produção artística, banalizando-a.
Aquilo que Benjamim designa por aura decresce rapidamente. A cópia
técnica não é senão um veículo de informação e não pretende ser adorada
nem olhada com temor; ela permite uma posição objetiva. O mesmo é
verdade relativamente à impressão do livro em
comparação com o
manuscrito ou até com a forma arcaica da mera transmissão oral dos
conteúdos culturais pela boca dos sacerdotes e de chefes. A reprodução
técnica faz desaparecer a atitude passiva e devota para possibilitar a
posição crítica.” (Wellershoff, 1978, p.44)
Com o advento da imprensa de Gutenberg, no final da Idade Média, por volta de 1450,
a produção do livro, tal como elemento dotado de “aura”, sofre o seu primeiro abalo, que é o
surgimento da técnica de reprodução. Com o surgir do Renascimento, e a conseqüente criação
da primeira igreja protestante por Martinho Lutero, o livro que era produzido de forma
artesanal, no interior dos monastérios, é substituído pela tradução em massa da Bíblia, ou seja,
aquilo que era exclusivo do clero, passa a circular livremente, caracterizando assim a primeira
forma de democratização da escrita. No entanto, durante o período do Classicismo, a obra de
arte ainda era mantida pelo mecenato, que, por sua vez, patrocinava a criação das obras em
trocas de exaltação a autoridades e feitos históricos de cada nação, como é o caso dos
Lusíadas, que tem como objetivo principal fazer a exaltação dos feitos dos portugueses e a
conquista de suas colônias. Durante os três séculos que compreendem o Quinhentismo, o
Barroco e o Arcadismo, a produção artística ainda foi subsidiada pelo “mecenas”, era a
aristocracia quem ditava as regras e selecionava os temas a serem trabalhados pelos artistas.
Paralelamente a este processo, o mundo passou desde a Idade Média, e nos três
14
primeiros séculos da idade moderna, por um lento processo de transformação de uma
sociedade centrada no modo de produção feudal para o modo de produção capitalista, que
teve suas raízes com o lento êxodo das comunidades que habitavam os feudos e passaram, aos
poucos, a se organizar em torno dos reinos, formando os primeiros “burgos”. Com essa
mudança gradual, o mundo assiste ao fortalecimento do mercantilismo. Se no modo de
produção feudal predominava a corvéia, em que o servo trabalhava para o seu senhor durante
alguns dias da semana, e outros para si, no mercantilismo o foco era a moeda. Fortalece-se
assim a troca cambial dando origem lentamente ao capitalismo, que veio a se instalar com o
advento do Iluminismo. Cumpre ressaltar ainda, que durante esse período apesar do
surgimento da imprensa e da criação da primeira igreja protestante, o público leitor ainda é
muito rarefeito e ainda centrado na aristocracia na maioria das vezes.
O século XVIII, considerado como Século das Luzes, inspirou inúmeros filósofos
entre eles Voltaire, Robespierre, Montesquieu, Locke e outros, que elaboraram um novo
código de valores para uma sociedade pautada no poder descentralizado, onde a livre
concorrência pudesse oferecer ao homem iguais chances de crescer. Em decorrência desses
ideais iluministas a burguesia, agora já plenamente estabelecida, alia-se a esse novo
pensamento e deflagra a Tomada da Bastilha, ou seja, ocorre em 1789 a Revolução Francesa
trazendo consigo seu tríplice ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Nos anos que se
seguiram floresceu a glória napoleônica, em que o povo se espelhava na figura do imperador,
que já havia se transferido de uma camada social para outra, às custas de seu talento.
Paralelamente a isso há o surgimento de umblico leitor emergente, que sentia necessidade
de ter acesso à arte, mas que, por outro lado, sentia dificuldades em ler os clássicos. Para este
novo público surge um novo gênero literário: o romance-folhetim, ou romances em folhetim,
como explica a escritora Marlize Meyer (1996). Para este novo leitor-consumidor, surge este
gênero híbrido, nascido da tradicional epopéia.
Para sanar a necessidade deste novo público leitor, surge, então, esta modalidade, que
de início ocupava os rodapés das páginas de jornal, depois a primeira página, tendo sido
transformado em encarte, para que o leitor pudesse montar o seu próprio livro, sua biblioteca
particular. As tiragens são inúmeras, os autores passam a ser trabalhadores do que seria
chamado de indústria cultural pelos teóricos da escola de Frankfurt, pois ganham por página
escrita. Um livro de grande sucesso é rapidamente traduzido para outros países. Surgem os
clichês, os pastiches, as tramas previamente elaboradas, tudo de forma a agradar ao público,
garantir a vendagem, e obter, conseqüentemente, o lucro. É o sistema capitalista ditando as
regras, delimitando gostos, reificando as massas. A arte perde a sua “aura” e transforma-se se
15
em objeto, e como tal pode ser transformada em dinheiro.
Edmir Perrotti, no Capítulo II de O texto sedutor na literatura infantil (1986),
denominado: “Discurso estético e discurso utilitário”, afirma que se já tornou lugar-comum
que a literatura para crianças e jovens tem desempenhado um papel pedagógico, desde o
século XVIII. Esta sempre esteve ligada ao compromisso com o ensinamento e ao cuidado
com a elaboração de um discurso que só interessava à medida que não constituísse um entrave
para o ensinamento. A feitura do texto nunca foi uma preocupação maior dos autores de
literatura para crianças e jovens. Isto porque o texto sempre foi pretexto, complementação do
trabalho escolar, recurso didático.
A literatura infanto-juvenil serviu em primeiro plano como um veículo de propaganda
das idéias burguesas refletindo seus objetivos e necessidades, o que levou a produção desse
período a uma hipertrofia excessiva que extrapolou os limites da transmissão ideológica,
tendo feitio de forma “utilitária”, a ponto de o discurso estético ceder totalmente lugar ao
discurso utilitário. O crítico salienta que especificamente no caso do Brasil a preocupação
com a estética apresenta um atraso de cem anos na comparação aos movimentos
revolucionários que acompanharam as artes em geral, sobretudo na cultura ocidental.
Perrotti propõe-se discutir pareceres de diversos críticos sobre questões relativas à
eficácia na produção artística e salienta que perante a mercantilização crescente da arte, que
repousa sob a égide do capitalismo burguês, o artista sincero e humanista já não se pode
afirmar. Já não se podia acreditar que a vitória da burguesia significava a vitória da
humanidade. A arte como atividade “auto-remunerativa” ostentava-se como recusa, como
negação do caráter estético, ou arte pura. E também recusa da política cultural, ou seja, da
política pura. O crítico também ressalta a existência de uma área própria e exclusiva da
atividade estética, que a separa da propaganda, embora reconheça um caráter instrumental na
atividade literária, chegando a prescrevê-lo como recurso a ser utilizado a favor do
proletariado.
Discute também a visão de Adorno apregoada em seu ensaio “Engagement” no qual
discursa sobre o pragmatismo burguês, que transformou todos os produtos em mercadoria.
Perrotti alinha este pensamento ao de Kant, no qual o prazer proporcionado pela arte
constitui-se como “gratuidade” e por Osborne como “desinteresse”. Para Aristósteles este
prazer seria sempre algo intrínseco tornando, assim, a arte poética sempre adaptável ao
público.
Perrotti realça que existe diferença entre a “arte engajada” e o “tendencionismo”. Para
o crítico, um fato se distingue do outro, pois a arte engajada não intenta instituir medidas, atos
16
legislativos, cerimônias práticas, como antigas campanhas de conscientização. Fazer a
distinção é possível, à medida que o texto, no qual o autor se engaja, é sempre
plurissignificativo, ambíguo, não configurando um discurso unívoco, determinado
exclusivamente pelo narrador, como ocorre nas obras tendenciosas, onde se percebe sempre a
simples intenção de “mandar o recado”. Reconhece também que não existe arte pura, pois isto
seria utópico.
Mas, se Adorno se rebela indignado no célebre ensaio. “A indústria
cultural” contra a redução da arte ao “princípio do efeito”, ou seja o
que aqui se chama de “tendencionismo” por outro lado, reconhece
também que a “pureza” absoluta é uma utopia, pois não há conteúdo
objetivo, nem uma categoria formal da poesia, por mais
irreconhecivelmente transformada e às escondidas de si mesmo, que
não proceda da realidade empírica a que se furta. (Perrotti, 1986,
p.31)
Salienta Perrotti, que as palavras de Adorno se confirmam no Qu’est-ce la littérature?
de Sartre, no qual autor de O existencialismo é um humanismo defende a atitude
compromissada do escritor perante a literatura, sendo a palavra uma arma contra o processo
de alienação, no qual a sociedade se encontra imersa. Para Sartre: o prosador é alguém que
designa, demonstra, ordena, recusa, interpela, suplica, insulta, persuade, insinua, ou seja:
Assim, ainda que a finalidade da leitura seja a de comunicar conteúdos
que libertam o leitor das estruturas de alienação que o enredam, o
discurso utilitário teria sempre apesar da instrumentalidade, que seria
sua condição e finalidade, uma medida mágica gratuita que o
aproximaria do jogo primitivo realizado pela criança em sua
aproximação com a linguagem geral. (Perrotti, 1986, p.35)
A questão do engajamento reside muitas vezes no fato de que o registro e a denúncia
dos fatos históricos sobressaem perante o caráter estético da obra.
Engels, em carta à escritora Minna Kautsky, pede a esta que aplique às feições
utilitárias de sua obra maiores traços estéticos, pois segundo ele, o maior defeito encontrado
em sua obra consiste no fato de a autora ter expressado a necessidade de declarar
publicamente as suas convicções. Para o pensador, Aristófanes, Ésquilo, foram todos
escritores engajados, porém seu engajamento não refuta de suas produções o caráter estético.
17
2.2 A LITERATURA INFANTIL E O PRINCÍPIO DA EFICÁCIA.
Regina Zilberman e Lygia Cademartori esboçam em seu livro: Literatura Infantil:
Autoritarismo e emancipação, (1982) os processos pelos quais passou a sociedade até atingir
o estado atual, com suas concepções de família, bem como de infância.
Ambas assinalam que foi o século XVIII o marco da decadência da Aristocracia com
suas formas de manifestação artística, suas peculiaridades, seu modo de organização. Enfim,
foi este o período em que o quadro social apontou para um redimensionamento, para uma
nova forma de encarar a organização da sociedade e, em conseqüência disso, uma nova
constituição de modelo de família.
O modo de produção feudal trazia consigo um modelo de relação social centrada no
patriarcado, as decisões eram tomadas pelo chefe da família, estando exclusos deste processo
os filhos e também a figura feminina representada pela mãe.
Nesta sociedade antiga não havia a noção de “infância”, ou seja, a criança não tinha
um espaço separado do adulto, trabalhava e vivia com os maiores, testemunhando todos os
processos naturais da existência tais como: o nascimento, a doença, a morte. Participava na
vida pública e política nas festas, nas guerras, audiências, execuções tendo seu lugar também
nas tradições culturais comuns tais como na narração de histórias, nos cantos e nos jogos. As
crianças eram neglicenciadas, tratadas brutalmente e até mesmo mortas.
Com o surgimento do Absolutismo ocorre um enfraquecimento dos grupos de
parentesco e suas características cedem lugar a um modelo de família nuclear, centrado no
afeto, na troca de carinho e com um novo papel a ser desempenhado pela mulher.
Durante o século XVII já eram editados os primeiros tratados de pedagogia, mas foi o
século XVIII que consolidou o status de “infância”, que atribuiu aos pequenos uma condição
diferenciada. Na França, este processo se fez ambíguo à medida que o fenômeno tem dupla
finalidade, que é a de conservar o modelo de família burguesa, e, ao mesmo tempo preparar,
uma futura mão-de-obra. Cabia, portanto, estimular o casamento e o nascimento de crianças
para manutenção do capitalismo emergente.
As autoras argumentam que no período que precede a instauração do Capitalismo, a
noção de infância avançava a passos lentos, à medida que a mulher tornava-se figura
predominante no lar.
Não há duvidas de que, entre 1660 e 1800, aconteceram mudanças
significativas na prática de criação de crianças, particularmente entre a
alta burguesia e os profissionais liberais. Os cueiros apertados deram
18
lugar a roupas soltas, amas-de-leite pagas à amamentação materna, a
dominação da vontade pela força à permissividade, a distancia formal
à empatia, assim que a mãe se tornou figura dominante na vida das
crianças.”(Zilberman, Cademartori, 1987,p.08)
O século XIX, por sua vez, não impediu a manutenção da divisão social e conseqüente
diferenciação de tratamento para com os cidadãos em plena vigência do Estado Moderno.
Destacam-se as marcas de valorização da unidade interna na família unicelular, os laços de
afeto, bem como a conseqüente elevação do papel social da mulher e da criança, por meio do
estímulo à privacidade e o conseqüente enfraquecimento dos laços de parentesco, conforme
mencionado anteriormente.
As autoras salientam que, para este novo modelo de família, surgiu um novo modelo
de ensino, que a princípio tinha por finalidade oferecer educação a todos. A escola adquiriu
uma nova significação, pois se tornou um traço de união entre os meninos, restabelecendo de
certa forma a unidade perdida. Surgiu, então, um único modelo pedagógico para atender a
burgueses e proletariado. No entanto, esta realidade possuía uma dupla face, pois preparava a
criança burguesa para os papéis de direção e os proletários para constituírem mão-de-obra
num futuro próximo. Desta forma a ascensão do proletário à escola se deu por meio da
necessidade de um contingente obreiro, e estes foram jogados no mundo com maior rapidez e
violência.
A Escola, por sua vez, possuía uma função ideológica e funcionava como elemento
saneador dos contrastes sociais. A vivência mundana da criança obrigou o Estado a tornar
obrigatório o ensino, com vistas a concorrer com o aprendizado das ruas. A diminuição de
renda decorrida do fato de tirar as crianças do trabalho aumentou a produtividade do adulto.
No entanto, a simples obrigatoriedade não era suficiente, foi necessário incluir estas famílias
nos laços de solidariedade, que lhes concedia determinadas isenções, e desta forma estimular
o proletariado a ingressar nos bancos escolares.
A literatura-infantil transformou-se num dos instrumentos pelo qual a burguesia
almejou atingir seus objetivos. Os textos priorizavam a função educativa em detrimento da
função literária. Desta forma estes colaboravam para a afirmação da dominação burguesa,
ainda que os contos de fadas atuassem como um instrumento de identificação, no qual os
leitores podiam realizar seus sonhos de mobilidade social. Os contos fantásticos espelhavam
a realidade, por exemplo, de uma afilhada indefesa, torturada pela madrasta e salva por uma
fada, ou de um soldado pobre, salvaguardado por uma agente encantador.
Zilbermann e Cademartori, afirmam que: “O que chamamos de literatura-infantil
19
“específica”, tem sua origem, primariamente, não em motivos literários, mas sim
pedagógicos.”
Ao estabelecer um fundamento antropológico para o livro infantil, o mundo interior da
criança é caracterizado como um “espaço vazio”, e este, não existe na perspectiva das duas
pesquisadoras. É a literatura-infantil que irá preencher este espaço, de modo particular, pois
lida com elementos que são especiais para a compreensão do real. Constitui um primeiro
fator a dificuldade que a criança apresenta ao lidar de maneira sistemática com os textos, fato
este que ela, por si só, não consegue perceber, e, em um segundo momento, a forma com que
ela lida com a linguagem, enquanto seu fator de mediação com o mundo, pois é por meio do
contato com a leitura que a criança alarga seu domínio lingüístico, e isto se dá pela função
específica da fantasia infantil, com a credulidade na história e conseqüente aquisição do saber.
Pelas razões citadas, a fantasia é um componente indispensável do texto dirigido à
infância, e somado aos interesses dos adultos, o realismo é banido dos livros. Desse resultado
pode advir o desprestígio da literatura-infantil. Em suma, esta vive um conflito entre ser ou
não literatura, o que nas palavras de Zilberman e Cademartori não significa necessariamente
uma diluição na generalidade da arte literária, devido à constituição específica de seu
recebedor.
Como forma de facilitar o acesso dos pequenos à leitura, o escritor adulto identifica-se
com o seu pequeno leitor e com ele se solidariza criando os processos de adaptação das obras
da tradição oral e escrita.
As autoras apontam a assimetria do escritor adulto X leitor criança, e afirmam que
esta recai na fala impositiva do adulto sobre a criança, muitas vezes não deixando espaço para
o alargamento de horizontes de expectativas do leitor, e por vezes a tentativa de superá-la
converte o texto numa impostura que repercute no enfraquecimento da forma artística,
justificando a acusação de que se trate de uma pseudoliteratura e legitimando desta maneira o
descrédito em relação à modalidade.
Estas duas qualificações têm por sua vez, caráter contraditório refletindo
aspirações diversas, a do emissor adulto e a do beneficiário, criança,
reforçando a assimetria mencionada, gerando a adaptação e configurando, de
novo, uma dualidade. De modo que, sob a perspectiva do destinatário, o que
a literatura infantil tem a lhe proporcionar deve provir necessariamente desta
sua inclinação dual, a fim de não desmentir ou falsificar sua natureza.
(Zilberman, Cademartori, 1987, p.19)
20
As autoras mencionam que o texto de literatura-infantil pode invalidar a criatividade e
a inventividade da criança, se usado com fins meramente pedagógicos e/ou moralizantes, pois
constitui um hábito vivido na solidão, podendo também o jogo e a brincadeira serem vítimas
deste embuste. No entanto, estes são produtos da inventividade em grupo, o que não se passa
com o livro, que é apresentado pronto e acabado, assinalando os confrontos entre o adulto e a
criança. Segundo as escritoras, o resultado deste intercâmbio é a integração da criança à
cultura burguesa, que, por sua vez, assume este caráter pedagógico pela transmissão de
normas e valores da sociedade que as gerou.
Ler tornou-se marca da burguesia; o fortalecimento da imprensa e “democratização”
do livro tornou-o acessível às camadas mais populares, acelerando o processo de
industrialização da arte e uma conseqüente “socialização” do conhecimento.
A leitura para o burguês tomou contrastes de “consumo” tornando-se útil para as
crianças. No que tange à literatura, esta transformação da arte em mercadoria aproximou a
literatura infantil das histórias em quadrinhos, e esta aproximação da cultura de massas tornou
uniformes os gostos.
Zilberman e Cademartori afirmam que a inclinação pedagógica motivou o
mascaramento da verdade, pois visou adequar o indivíduo a uma sociedade imutável, sem
possibilidade de questionar o modelo vigente. E, isto, transladado ao texto infantil, impediu
qualquer representação verossímil, exagerando os traços de positividade do status quo, ou dos
sinais de negatividade dos aspectos marginais, que poderiam desestabilizar o todo
circundante.
Sob a ótica das autoras, a plena realização literária supera o dilema realidade X
fantasia, bem como a assimetria escritor adulto X leitor criança, pois a verdadeira obra não
pode ser simplória ou impositiva, uma vez que os valores exigidos dos textos destinados a
crianças e adolescentes são iguais àqueles que contam para a avaliação do texto literário, cujo
destinatário é o adulto.
Edmir Perrotti em O texto sedutor na literatura infantil (1986) aponta e analisa uma
questão urgente, que é o caráter utilitário presente nos textos literários e, em especial,
naqueles destinados ao público infantil. O autor classifica estes textos como “eficazes”,
caracterizando o seu conteúdo como discurso utilitário, e comenta que este cedeu lugar ao
discurso estético. Perrotti salienta que a eficácia é necessária para que se produza o efeito
estético, porém o discurso eficaz se direciona para agir em direção ao leitor, enquanto que o
discurso estético não se orienta para além de si mesmo, mas sim segundo critérios decorrentes
de sua própria dinâmica interna, sendo a preocupação com a utilidade do texto a última
21
instância a ser trabalhada.
Retomando Umberto Eco, Perrotti atribui a este tipo de composição, que repousa
sobre os critérios de autonomia, auto-regulação e coerência interna, a denominação de “obra
aberta”, onde a ambigüidade é marca definitiva e fundamental.
Confirmando o discurso de Zilberman e Cademartori, Perrotti menciona igualmente
que as obras destinadas a crianças têm sido munidas de um discurso que visa em primeiro
lugar atuar junto ao leitor, no sentido de integrá-lo à ordem social dominante. E acrescenta
que a eficácia tem sido uma marca do discurso utilitário, mesmo que isso o retire da esfera da
estética e o situe na esfera da educação, mas, por outro lado, salienta que existem livros que
ultrapassam o caráter da utilidade e satisfazem as inquietações humanas, pois possuem uma
essência de verdade que permanece viva por mais que os séculos passem. E conclui que nos
tempos em que vivemos, em que a obra cada vez mais atinge o status de “mercadoria” fica
difícil aos autores escaparem a essa condição, embora o livro de literatura infantil seja, antes
de mais nada, uma obra literária.
Perrotti afirma que não temos um referencial teórico próprio para a análise dos textos
destinados ao publico infantil, vivemos do empréstimo das categorias aplicáveis à literatura
feita para os adultos e, desse modo, talvez a literariedade não seja um dos critérios que
possam levar à compreensão do fenômeno. Segundo o pesquisador devemos considerar as
condições de recepção e isto constitui um grande desafio para a literatura-infantil, bem como
para toda forma de expressão artística que deve ao mercado o seu surgimento.
Ressalta Perrotti que todas as teorias são unânimes em reconhecer um estatuto próprio
da literatura, que a diferencia enquanto manifestação artística e que esta ultrapassa sempre o
utilitarismo apressado, que está, por sua vez, atrelado à indústria cultural.
O discurso utilitário é tão eficaz que nem mesmo o furacão Lobato conseguiu abalá-lo,
o discurso estético cedeu muitas vezes lugar para a propaganda de um estilo de vida, à
maneira do “discurso utilitário”. Segundo o escritor, foi preciso que chegássemos à década de
70, para que a situação dos textos destinados a jovens e crianças tomasse novos rumos em
nosso país.
Marisa Lajolo e Regina Zilberman dedicam um capítulo de seu livro Literatura
Infantil Brasileira: História e histórias (1985) à indústria cultural e à revolução literária
ocorrida no Brasil entre os anos de 1960 e 1980, e afirmam que os anos sessenta foram
fecundos em instituições e programas voltados ao crescimento da literatura infanto-juvenil,
pois neste período surgem a Fundação do Livro Escolar em 1966 e a Fundação Nacional do
Livro Infantil em 1968.
22
Os anos 60 puseram fim ao modelo presidencialista que vinha regendo o país desde 31
de março de 1964, devido a um golpe de estado. A promulgação do AI5 realizou os últimos
ajustes essenciais para a manutenção e o exercício no poder, que se voltava para a
consolidação dos interesses da burguesia. O ensino é afetado pelos acordos afirmados com os
órgãos internacionais. Surge um novo modelo de ensino burocrático e profissionalizante.
O pretenso “milagre brasileiro” afetou as condições de vida do país beneficiando a um
pequeno segmento da população brasileira.
Ocorre nos anos 70 uma mobilização do estado, paralela ao desenvolvimento de um
comércio especializado em obras de literatura infanto-juvenil. Entre 1975 e 1978 ocorre uma
explosão no número de publicações destinadas ao público infantil. Do total de 189 títulos,
50,4% constituem traduções e 46,6% são textos nacionais.
Essa produção maciça de obras para crianças insere-se num contexto social,
político e econômico que favorece o modo de produção bastante moderno e
condizente com a etapa do capitalismo que os anos 60 inauguram no Brasil.
(Zilberman, Lajolo, 1985, p.125).
Como conseqüência disto, autores publicam vários livros por ano que,
independentemente da sua qualidade, têm o seu consumo garantido. No entanto, ao lado
dessas obras, seguem outras de tradição lobatiana repetindo personagens e cenários, beirando,
às vezes, a cultura de massa. Paralelo a esses autores lobatianos surge aos poucos um novo
cenário que é o da urbanização. Este percurso se dá, por exemplo, por meio da obra de Isa
Silveira Leal e sua série de “Glorinhas”, “no entanto, é só com Justino o retirante (1970) de
Odete Barros Mott, que a literatura infantil brasileira passa a apontar crises e problemas da
sociedade contemporânea”. (Zilberman, Lajolo,1985, p.126)
A crítica mais radical dá-se com a publicação de Pivete, de Henry Correa de Araújo.
Nesta linha seguem autores como Wandir Pirolli que escreve O menino e o pinto do menino, e
Vivina de Assis Viana com O dia de ver meu pai (1977).
Essa linha social sofre desdobramentos importantes que marcam a perda da identidade
infantil, valendo citar autores como Lygia Bojunga Nunes, com a publicação de A bolsa
amarela (1976) e Corda bamba (1979). Em autores como Ruth Rocha, Lygia Bojunga Nunes
e Ana Maria Machado, percebem-se as marcas de um texto que se quer libertário.
A industrialização da cultura favorece o aparecimento de alguns gêneros como a
ficção científica e o mistério policial. Outro traço de modernidade a ser considerado são os
aspectos gráficos que passam a constituir um elemento autônomo. Dentre os autores que
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recorrem a esta técnica se destacam João Carlos Marinho, Ziraldo e Chico Buarque.
A poesia situa-se no pólo oposto do mistério policial e da ficção científica. Segundo as
autoras, esta desenvolveu-se muitos nos últimos anos e dentre seus produtores destacam-se
Sidônio Muralha, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes e Chico Buarque.
Ao lado destas tendências surgem obras que apontam para outros caminhos e fogem
da representação realista. Nesta arte de representação destacam-se autores como: Clarice
Lispector e Marina Colasanti.
Surge nos “últimos 20 anos” ao lado de escritores de expressão como João Guimarães
Rosa, João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector, uma literatura de esquerda por meio dos
CPCs Centros Populares de Cultura, que anseiam pela discussão quanto às reivindicações
populares em títulos como O que é a reforma agrária? ou Quem é o povo no Brasil?
A ingenuidade com que este projeto transformava o poema, a peça ou a
canção num instrumento de pedagogia política é um traço que aproxima essa
produção cultural da literatura infantil, presa fácil de variados projetos de
pedagogia ideológica. (Lajolo, Zilberman, 1985, p.132)
Aparecem, neste ínterim, obras como Quarup de Antonio Callado, além da paródia
histórica e a retomada da novela arcaica e de cordel, por meio de produções como A pedra do
Reino (1970) de Ariano Suassuna , Sargento Getúlio de João Ubaldo Ribeiro (1971) e A festa
de Ivan Ângelo (1976).
O Instituto Nacional do Livro – INL – neste período passa a bancar co-edições
afastando-se do “mecenatismo”, e apoiando a iniciativa privada. Ocorre, então, uma corrida
do funcionalismo para o jornalismo e a publicidade, pois estes oferecem formas mais
rentáveis para a profissionalização do homem de letras, e que se põe a serviço de uma forma
de produção definitivamente capitalista. A partir dos anos 70 se escreve muito, entre 1978 e
1979, o número de livros publicados saltou de 7080 para 13.228 e o número de exemplares de
166 milhões para 249 milhões.
A partir de 64 ocorre uma ruptura com o paraíso idílico apresentado na série das
“Glorinhas”. A publicação de Aventuras do escoteiro Bila, traz na sua temática o desejo de
migração e as dificuldades enfrentadas pelos sitiantes, obra que rompe por sua vez com uma
visão otimista da cidade. Em 1970 com a publicação de Justino o retirante, de Odete de
Barros Mott assiste-se a uma mudança de uma economia de trocas para uma economia mais
sofisticada, mas é com a publicação de A rosa dos ventos, 1972 é que se dá o espelho de uma
família em ritmo de desmantelamento, este livro tematiza problemas como o uso de drogas,
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carência afetiva, tendências homossexuais etc. Em 1977, Henry Correa de Araújo radicaliza
com a publicação de Pivete, onde o final não traz um happy end.
Além desta linha de protesto, também surgem as narrativas que valorizam o suspense,
que teve um crescimento sem procedentes, e, embora sua tradição seja bastante pobre, seu
surgimento foi bastante adequado ao molde de produção industrial característico da literatura
infantil mais contemporânea. A marca destes livros é a presença de crianças como detetives
ou detentores de poderes agenciados pela ciência. São marcas destes a ironia e o “non sense”,
a citar o caso de um escritor inovador, como João Carlos Marinho, com as publicações de O
caneco de prata e o Gênio do crime, nas quais figuram as personagens Pituca, Edmundo,
Godofredo e Berenice que gravitam em torno de Gordo, o personagem central.
Segundo as autoras, o texto de João Carlos Marinho envereda por uma representação
crítica do real, de forma sutil e rigorosamente literária. Salientam as autoras que a obra do
autor se vale duma espécie de estética da redundância, responsável tanto pela violência das
histórias, como pela inserção dessa violência num discurso crítico que se perfaz pela ironia.
Stella Carr também é citada pelas autoras, sendo caracterizada como uma autora que se utiliza
de recursos modernos com vistas a prender o público.
Quanto às inovações na narrativa pontua-se o registro do coloquial e desta forma o
texto para crianças se aproxima da proposta modernista de 22. São marcas desta produção, a
metalinguagem e a intertextualidade, que aproximam de certa forma a literatura infantil de
obras não infantis.
Clarice Lispector, segundo as escritoras, foi a primeira que revelou neste tipo de
produção os dilemas do escritor moderno. Suas obras para crianças, abandonam a onisciência,
ponto de vista tradicional da história infantil. Esse abandono permite o afloramento no texto
de todas as hesitações do narrador e, como recurso narrativo, pode atenuar a assimetria que
preside a emissão adulta e a recepção infantil de um livro para crianças.
São figuras marcantes neste gênero os autores Chico Buarque e Ruth Rocha. As
autoras tecem comentários sobre as obras Marcelo marmelo, martelo (1976) ou O reizinho
mandão (1978) da autoria de Ruth Rocha e Chapeuzinho amarelo (1979) de Chico Buarque.
Num diálogo narrador/leitor as autoras citam ainda Ana Maria Machado com História
meio ao contrário (1979) e Lygia Bojunga Nunes por meio das publicações Os colegas
(1972) Angélica (1975) A bolsa amarela (1976), A casa da madrinha (1978) Corda bamba
(1979) e O sofá estampado (1980), que apresentam histórias que contam desajustes,
frustrações, marginalização social e familiar.
Marina Colasanti recupera o fantástico e dialoga não só com as fontes originais dos
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contos de fadas, mas contesta este acervo. Suas produções Uma idéia toda azul e Doze reis e
a moça no labirinto do vento, trazem personagens simbólicas tais como: tecelãs, princesas,
fadas, sereias, corças e unicórnios. Elas salientam que a efabulação dos seus enredos é simples
e linear, mas emerge significados para a vivência da solidão, da morte do tempo e do amor.
Em suma, as autoras afirmam que os anos 60 e 70 assistiram à implantação de uma
nova etapa da sociedade brasileira em direção ao modelo capitalista. Surge na literatura
infantil uma categoria que repele velhas fórmulas devido à necessidade de produção em série.
Em contrapartida existe uma renovação que a aproximou da literatura não infantil, e que
nestes últimos anos apresentou um fortalecimento da poesia.
As autoras salientam que são muitas as formas pelas quais o texto infantil buscou
romper com a “esclerose” da pedagogia conservadora e desta forma atingiu o “status” que a
tornou uma produção autônoma e independente.
Reiterando os dados mencionados por Zilberman e Lajolo em Literatura infantil
brasileira: História e histórias (1985), Tânia Pellegrini, em A imagem e a letra (1999) realiza
um estudo abrangente sobre o mercado editorial brasileiro como uma das engrenagens, que
fazem girar a máquina da “indústria cultural”.
A autora analisa o mercado editorial como um todo, propondo uma análise panorâmica
deste mercado. Afirma que a “indústria cultural” está ligada à definitiva profissionalização do
escritor, e à formação de um novo tipo de público. Pellegrini observa que houve um
crescimento no número de publicações, que saltaram de 43,6 milhões em 1966 para 330
milhões de publicações em 1996, com 40 mil títulos. No entanto, os livros chamados de
“literatura” ocupam uma fatia muito pequena do mercado se comparados ao cenário
internacional. A autora aponta como causa para o baixo índice de consumo de livros, fatores
como o fato de as tiragens serem baixas, as reedições ocasionais e o preço alto.
Menciona fatores como o pequeno número de livrarias em relação aos pontos de
venda, que são consideravelmente maiores ainda mais se considerarmos que esses pontos se
localizam em sua maioria em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Segundo Pellegrini, a leitura no
Brasil é rarefeita devido a problemas históricos-estruturais.
A autora salienta que o livro só cumpre o seu percurso à medida que se destina a um
leitor, e nesse sentido o papel da recepção é fundamental. Público e/ou leitor não constituem
um objeto passivo, embora o mercado trabalhe com essa idéia. No entanto, o leitor médio,
segundo a autora, não vai recriar o sentido original produzido pelo autor, pois para este o ato
de ler é inocente e ingênuo.
Os anos 70, que foram considerados os anos do “milagre brasileiro” não apresentaram
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avanços qualitativos no que se refere à leitura, pelo contrário gerou-se na sua raiz um modelo
de exclusão cultural. O público brasileiro constitui um público educado na estética da
imagem. No entanto, houve um crescimento da literatura destinada aos jovens e às crianças. O
leitor é determinado pelo mercado e não pela sua livre escolha, e a mídia possui papel
fundamental neste processo. A literatura adaptou-se a esse processo criando um público
dividido entre a letra e a imagem, entre a guitarra e o violão.
Em 1975 assiste-se ao famoso “boom” da literatura no Brasil. Revistas como Visão e
Veja foram-se adaptando ao novo modelo cultural. Estas cumprem o papel da crítica ao
exaltarem ou criticarem determinada obra. A autora destaca os dois papéis da crítica: a crítica
profissional e a crítica de propaganda com a finalidade de venda.
Segundo ela, a crítica assume um papel de oratória e alguns críticos recaem no
impressionismo; os de esquerda no sociologismo, e os minuciosos são acusados de
formalismo. A crítica no final dos anos 80 não estimula a reflexão, mas preocupa-se com a
vendagem do livro. Atualmente, afirma Pellegrini, a crítica literária inexiste em relação à vida
excessiva da televisão.
Mas olhando mais fundo, percebe-se que essa “morte” é relativa, só
existe em relação a vida excessiva da TV, e a aura literária, mesmo
esmaecida, ainda tremeluz brandamente, emprestando-se ao veículo,
que dela precisa mais do que nunca para iluminar a escuridão.
(Pellegrini, 1999, p.168).
Os autores, por sua vez, se reconhecem como produtores, (trabalhadores) inseridos
num modo de produção capitalista, o autor compelido pela pressa, muitas vezes tem optado
pelo gosto padrão, transformando seu texto em produto de má qualidade, recaindo nas
redundâncias, nos clichês e até mesmo nos erros gramaticais. O autor nunca esteve tão
evidente na mídia. “É a literatura em tempo de espetáculo”. (Pellegrini, 1999, p.173)
Da mesma forma que Zilberman e Lajolo, Pellegrini se ocupa em mencionar as
transformações advindas com a ditadura militar, citando também a proliferação das rádios FM
e a criação da Embratel. Segundo a escritora a transmissão via satélite fortaleceu a
homogeneização na produção e consumo de bens e a população passou a ter acesso a uma
cultura de massa democrática de tal forma que nas suas palavras hoje é impossível que algo
exista na mente, a não ser depois de produzido e/ou vinculado por impulsos imagéticos.
Enquanto isso acentua-se um descompasso, pois cresce a sofisticação tecnológica a serviço da
cultura ao mesmo tempo que se afirma um modelo de exclusão.
Pellegrini afirma que a cultura assume, pois, um aspecto de “produto embalado” apto a
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agradar a todos. É a cultura de entretenimento, que aproxima de imediato consumidor e
produto. Reportando-se a Adorno, a autora observa que o indivíduo perdeu seu poder de
escolha frente a produção padronizada de bens culturais. Comenta que a técnica na “indústria
cultural”, é idêntica à técnica nas obras de arte apenas no nome. Esta se refere à organização
interna do próprio objeto, à sua própria lógica. Já a técnica na “indústria cultural” é a da
distribuição e reprodução mecânica, portanto externa ao texto. Assim o mercado a assimila
para fins artísticos e tecnológicos fetichizando a técnica de maneira a elaborar produtos em
série, que sirvam a um gosto padrão desenvolvido por ele próprio num público considerado
como massa.
A autora salienta que não existe um público de massa, pois isso anularia as diferenças
de classe, e qualquer possibilidade cultural que respeite e trabalhe com essas diferenças. O
que existe de fato, segundo ela, é “uma ideologia produtora da cultura de massa”, que serve
aos seus consumidores produtos de entretenimento baseados na repetição de modelos já
testados, concessões ao fácil e seduções baratas.
O público, por sua vez, não recebe a imagem, mas o reflexo desta; uma cópia desta.
Não é a experiência que liga o indivíduo à realidade, mas uma imagem projetada nas paredes
da caverna do nosso tempo. (Pellegrini, 1999, p.201)
Ocorre por parte do homem uma gradativa perda de consciência da realidade, da
totalidade do mundo e da história, acatando, por sua vez, o consumo como maior estímulo.
E é neste panorama que se inscreve Ruth Rocha, cuja produção apresentará traços de
uma escrita estética e comprometida com a nova realidade social com vistas a atingir o
pequeno leitor e respeitá-lo em suas mais diversas necessidades. É uma autora que nasceu
neste momento do afloramento de uma dimensão do texto destinados aos pequenos e, como o
gênero, também se afirmou lentamente. Produziu inicialmente obras de cunho didático,
embora polissêmicos, em que já podemos sentir as características embrionárias de textos
inquietantes, abertos, polifônicos sem, no entanto, perder de vista o público a quem se
dirigiam. A escritora cresceu e amadureceu, passando de uma produção por vezes utilitária,
para uma produção elaborada esteticamente. Pode-se sentir na produção da autora essa linha
de crescimento que vai desde as primeiras produções, onde ainda se sente mais a educadora
do que a escritora, para uma fase de conscientização, de quebra da assimetria implícita em sua
escrita, até uma densa produção, que privilegia antes de tudo o estético e que alarga o
horizonte de expectativas do leitor.
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3 RUTH ROCHA: UM OLHAR SOBRE A VIDA DA ESCRITORA
3.1 RUTH ROCHA CRIANÇA E ADOLESCENTE, ORIENTADORA E MULHER
Ruth Rocha se define como paulista, descendente de baianos, mineiros e cariocas, mas
com sangue de muitos portugueses num tempo longínquo, além de possuir sangre negro ou
índio, e afirma que isso se traduz na “cor de cuia”, que ostenta quando apanha sol. Como
forma de lazer a autora afirma que gosta de muita praia, sol, mar, que gosta de músicas e
livros, cantar dançar e rir, mas, que, sobretudo gosta de gente, principalmente de criança, pois
esta é autêntica.
A escritora afirma que gosta de Monteiro lobato, mas não do Lobato das “Mil mortes”
e Urupês, mas do criador de Emília, síntese da rebeldia; gsta também de Guimarães Rosa e da
frase célebre de Riobaldo quando diz: “Mestre não é aquele que sempre ensina, mas aquele
que de repente aprende”. Aprecia também Mário de Andrade, que sintetizou seu sentimento
mais secreto, nas palavras de Macunaíma:“Ai, que preguiça”.
Ruth Rocha cursou o primário e o ginasial no Colégio Bandeirantes, onde teve seus
primeiros contatos com amigos e namorados. Sua primeira tentativa como escritora foi em
companhia de uma amiga, mas o resultado não foi bom, pois segundo ela, faltava-lhes uma
coisa essencial: a leitura. Ruth Rocha afirma que já “tinha lido com paixão Monteiro Lobato,
mas não tinha discernimento para destacar os elementos literários do texto”.
Na sétima série entrou em contato com a obra de Eça de Queiros, A Cidade e as
Serras, e esse foi seu primeiro encontro com a literatura. Segundo ela entre outros motivos
para que ela se tornasse escritora, este foi um fator fundamental.
Ruth Rocha formou-se em Sociologia Política e foi trabalhar em uma biblioteca. Com
trinta anos tornou-se Orientadora Educacional no Colégio Rio Branco. Através de Carlos
Alberto Fernandez, o Caloca, Ruth Rocha começou a escrever para a Revista Cláudia com a
ajuda do amigo que “arredondava” os seus textos. Para esta revista escreveu durante três anos.
Compôs um artigo sobre preparação para alfabetização, na época em que a Abril estava
produzindo o projeto da revista Recreio. Sonia Robatto leu seu artigo e a convidou para fazer
os exercícios para a revista, mais tarde propôs a Ruth Rocha que escrevesse a sua própria
história. Sua primeira produção para a revista foi Romeu e Julieta, uma obra que versava
sobre o preconceito e narrava a história de amor entre uma borboleta amarela e um borboleto
azul. Permaneceu durante sete anos na revista Recreio, e em 1976, ainda com Sônia Robatto
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criou a Revista Bloquinho, na editora Bloch, na qual exerceu a função de diretora. De volta à
Abril, Ruth Rocha atuou como assistente de redação, dirigindo durante algum tempo uma
equipe de 42 profissionais. A autora publica seu primeiro livro em 1976, Palavras, muitas
palavras, após participar de um congresso para escritores, na cidade de Florianópolis.
Afirma ter gostado de todas as profissões que exerceu mas, enfim, se descobriu
escritora, e segundo ela, é isso mais que gosta e sente orgulho de fazer.
3.2 “UMA AUTORA EM VERDADEIRA GRANDEZA
Ana Maria Machado tece comentários no sítio oficial de Ruth Rocha, hospedado nos
domínios da Universo On Line, sobre sua “história” com a autora. Neste, Machado reitera
dados já informados na biografia de Ruth Rocha. De forma sucinta a escritora cita fatos tais
como a passagem de Ruth Rocha pela Editora Abril e pela Editora Bloch, bem como a sua
participação efetiva na revista Recreio e Bloquinho. Inicia a sua saudação dizendo que o
Brasil ficou órfão de bons escritores de literatura-infantil desde a morte de Lobato e faz
algumas ressalvas, citando os nomes de Francisco Marins, Maria Clara Machado, Malba
Tahan entre outros, mas comenta que na geração de 70 surgiu um grupo de escritores que
desejava brincar com as palavras e o imaginário, dividindo esse brinquedo com as crianças.
Machado comenta que Ruth Rocha teve sua trajetória privilegiada, pois foi antes de
tudo uma excelente leitora, ela relembra bem como se deu conta disso. Foi numa viagem
compartilhada com ela que pôde perceber que esta não parava de contar histórias para sua
filha Mariana. Nesta época ambas nem sonhavam em ser escritoras, nem que depois de quatro
ou cinco anos estariam vendendo 250.000 exemplares por semana. Ana Maria Machado
percebeu que tinha na cunhada uma ótima leitora de textos, que compreendia o seu discurso.
Passaram a trocar informações sobre leituras feitas, no entanto nesta época a literatura infantil
não estava em seus planos. Escrever para crianças era visto como diminutivo – “aquelas
historinhas”.
Foi no final de 1968 que a Editora Abril resolveu lançar uma revista, não com
ilustrações, mas com histórias corridas. Os critérios para seleção dos escritores foram rígidos
mas, enfim, nasceu a revista Recreio. Em 1976 a revista já havia tomado conta do mercado,
estava nas bancas, havia se incorporado à “indústria cultural”, trabalho realizado também
anteriormente por Lobato, que era antes de tudo um “marqueteiro”. Em palavras de Machado,
“toda literatura- infantil só se implanta quando passa por um processo de “massificação” e, é,
30
a escola que a torna conhecida do grande público.
O chamado “boom” da literatura infantil, salienta a escritora, deu-se por dois motivos:
as bancas de revistas que vendiam a Recreio e a Bloquinho e a leitura das obras por parte dos
professores que passavam a adotar os livros. No início, as escolas adotavam as revistas, a
edição em livro só veio depois como exigência do mercado. Ruth Rocha deixa de produzir
histórias em casa e ingressa na editora Abril, sai por uns tempos e vai trabalhar na Bloch, mas
retorna à Abril, e é enviada aos Estados Unidos. Em menos de um ano já era editora chefe.
Foi, nesta segunda fase de Recreio, que nomes como os de Sylvia Orthof e Marina Colasanti
foram revelados. Demitiu-se da Abril e foi ser escritora, “somente escritora”.
Como escritora, Ruth Rocha publicou mais de 160 livros e foi traduzida para 20
países. Vendeu mais de 12 milhões de exemplares, ganhou 29 prêmios entre eles o da
Academia Brasileira de Letras, várias vezes o prêmio Jabuti, e a indicação para o
internacional Hans Christian Andersen. Teve livro lançado pela ONU e recebeu a Ordem do
Mérito Cultural. Alguns de seus livros foram adaptados para teatro, televisão, discos e CD
ROMs. Atuou como “free lancer”, e coordenou coleções de livros infantis. Fundou sua
própria editora, Quinteto, atuou como tradutora de autores como Alan Garner e Virginia
Woolf. Como colunista, teve uma espaço regular na revista Cláudia por alguns anos. Adaptou
Homero para crianças, além de se desdobrar em palestras, mesas redondas e presidir a ONG
Instituto Brasil Leitor.
Ruth Rocha lutou pela melhoria da remuneração do escritor, que era irrisória, pela
valorização dos ilustradores e designers. Machado afirma que ambas sustentam a bandeira de
não escrever obras de encomenda para satisfazerem o mercado editorial, com essa atitude os
autores de literatura-infantil conseguiram sair do “gueto” e estar em pé de igualdade com
outros escritores, além de lutarem pela igualdade na elaboração das fichas catalográficas,
inclusive indicando a idade da autora.
Machado afirma que Ruth Rocha não é só escritora, mas também pratica o jazz.
Participou como debatedora permanente em um programa semanal de política e cultura.
Segundo ela, Ruth Rocha possui um humor e uma linguagem inconfundíveis, que se
manifestam por meio de uma inteligência aguda e estimulante que provoca o leitor a pensar.
Comenta que Ruth Rocha em plena ditadura militar cria o seu “reizinho mandão”, no entanto
sua obra está longe daquelas obras de fundo didático, cheias de maniqueísmos, tampouco
constitui-se uma escrita panfletária, mas sim uma produção rica, libertária, que provoca o
riso em seus leitores. Comenta que Ruth Rocha, traz a realidade para dentro de sua obra, de
forma crítica, questiona os valores, e os devolve ao leitor em forma de humor e ironia. Por
31
meio do seu ludismo, da sua fala coloquial, ocorre uma quebra nas expectativas do leitor, e no
ato do riso este encontra a crítica e a lucidez. Termina seu artigo dizendo que a PEN Club
recebe uma autora sem qualquer diminutivo, “em sua verdadeira grandeza”.
3.3 “LÊ-LA É COMO NADAR EM CORRENTEZA
Segundo Carlos Moraes
1
, a escritora é uma pessoa encantadora, de boa nascença,
tendo nascido na provinciana São Paulo de 1931. A mãe desde cedo lia-lhe Lobato,
encantando-a com as histórias deste “comunista”, meio proibido na vizinhança,
principalmente com As reinações de Narizinho. O pai era homem de duas histórias só: Aladim
e a lâmpada maravilhosa e O homem da perna amarrada, seu avô Ioiô sim era exímio
contador de histórias. Sua avó gostava de cantar, e foi pela mão dela, que Ruth Rocha foi um
dia cantar na rádio. Era uma menina feliz e nem mesmo as noites com asma, quando varava
madrugada adentro, lhe trazem lembrança ruins. Suas primeiras leituras foram feitas em casa,
em uma salinha que reservava para os estudos, mas o que mais lhe encantava era a biblioteca
do pai, onde encontrou um livro sobre cantadores nordestinos, cheio de ilustrações, e se perdia
nos versos, olhava o retrato dos cantadores e não entendia como gente tão pobre e sumida, de
cara tão judiada usando óculos tão escuros pudessem produzir tanta rima, tanta música, tantas
maravilhas. Na puberdade, descobriu a biblioteca circulante da praça D. José Gaspar e
desenvolveu o hábito desenfreado da leitura, manteve contato com toda a poesia brasileira e
com um tal Cleômenes Campos
2
.
Segundo Moraes, da influência dos versos de Cleômenes Campos adveio o espírito
terno sardônico, presente na produção de Ruth Rocha
Mais tarde, durante a adolescência estudou nos colégios Rio Branco e Bandeirantes,
conheceu e apaixonou-se pela literatura, depois mergulhou no Modernismo de Mário de
Andrade e Fernando Pessoa. Casou-se com Eduardo Rocha e durante quinze anos, a partir de
1957, exerceu o cargo de Orientadora Educacional no colégio Rio Branco. Moraes afirma que
durante esses quinze anos, Ruth Rocha estava se munindo para o exercício da literatura.
Depois da primeira história obrigatória para a Recreio as coisas foram ficando difíceis para a
1
Jornalista, escreveu em parceria com Dau Bastos e Marisa Lajolo o referido livro Ana & Ruth. Este
foi publicado pela editora Salamandra em 1995, em virtude da comemoração dos 25 anos de
existência da editora, e também dos 25 anos de carreira de Ruth Rocha e Ana Maria Machado.
Embora não seja ligado à área de produção literária, Moraes traça um perfil da escritora Ruth Rocha.
2
(1897- 1968), poeta nascido em Maruim, no estado de Sergipe, tendo exercido intensa vida literária,
inclusive atuado como Sócio-fundador da Academia Sergipana de Letras.
32
orientadora, solicitou dois anos para uma pós-graduação. Em 1972 estava trabalhando na
redação da revista e se perdeu de vez para a literatura. “Pegou a poeta de nascença e a
educadora de profissão e foi ser Ruth na vida” (Bastos,1995, p.39).
Lançou seu primeiro livro em 1976, Palavras muitas palavras. De 1976 a 1977 foram
treze livros entre histórias novas e outras publicadas na Recreio. De 1977 a 1988 foram 67
livros publicados, sempre batalhando a vida. Em 1981 trabalha como editora free lancer
coordenando coleções de livros infantis para a Cultrix, Record e Mosaico. Na Melhoramentos,
junto com João Noro, criou a coleção Minha Primeira Biblioteca, lançada também na China,
no Japão e na Coréia. Editaram também os dezesseis volumes da coleção Meu Livro de
Bichos, na Rio Gráfica Editora. Nas noites vagas cantava músicas de jazz, das décadas de 40 e
50, nas casas noturnas 2001 e Piu Piu. Ruth Rocha teve em 20 anos de carreira mais de 100
títulos publicados, algumas de suas obras viraram peça de teatro. Em São Paulo, “O ciclo dos
reis” foi adaptado por Flávio de Souza, no Rio foi adaptado Dois idiotas sentados cada qual
no seu barril. Em Santos um grupo produziu Procurando firme. Segundo Moraes, a obra de
Ruth “tem bíblia e rua, cadência de profeta e drible de moleque”. “Lê-la é como nadar em
correnteza. A gente cai e vai”. A mensagem é como rima, sai quase sem querer. Ruth flui
toda. Ler em voz alta e devagarzinho o final da história A menina que aprendeu a voar é voar
junto. (Bastos, 1995, p.42).
Em palavras da autora: história boa é a que tem coerência bastante para ser entendida e
má intenção suficiente para se entender mais um pouco; e seu critério para ver se uma história
é boa é o arrepio na espinha. Se sente que está escrevendo sem arrepio, pára e joga fora. Em
geral confessa que gesta sério, demorado, conta rápido, não teme palavras, nem temas
difíceis. Argumenta Moraes que em: Faca sem ponta, galinha sem pé machismo e feminismo
são tratados da mesma forma e conseguem ter ao mesmo tempo, verdade e poesia.
Durante os anos negros da repressão conseguiu sempre ver uma luzinha no fundo do
túnel. Os vinte anos de ditadura bem podem se ver retratados metaforicamente nas histórias de
reizinhos, podendo ser classificados como reis, pais, mães, tios deputados ou qualquer
autoridade. Ruth Rocha é, nas palavras do crítico, a urbana cantadora do seu tempo, digna
filha de Esopo sempre a falar por metáforas.
3.4 P
ARA RUTH ROCHA, MENSAGEM É INVENÇÃO DO LEITOR
A autora argumenta que fazer literatura infantil é um trabalho profissional e, por isso
requer técnica e conhecimento. Afirma que desde o início da sua carreira sentia que o que
33
estava fazendo não era educação, mas, sim, literatura. Escreve para dizer o que pensa, pois
quer mostrar a desigualdade entre homem e mulher. Não foge de temas, pois na sua
concepção todo mundo é capaz de aprender, e tem como regra que uma história sempre deve
acabar num momento feliz.
Para a autora escrever sempre parte da percepção, para escrever é preciso antes de tudo
saber olhar. Afirma que escreve porque gosta, que não quer “mandar mensagens”, pois não é
telegrafista. Para ela a função da obra literária é criar um momento de beleza através da
palavra. Escrever para crianças talvez seja mais aberto, mais lúdico, mais perto da conotação e
da poesia, enfim mais polissêmico, mas no fundo não acredita que as coisas se dividam entre
adultos e crianças. Argumenta que alguns livros são complexos demais para a compreensão
infantil, admitem níveis mais profundos de leitura, outros textos são também acessíveis para
criança, mas o importante é que o livro seja bom, e, portanto, o livro que não seja capaz de
interessar também ao adulto não é bom.
Ruth Rocha afirma que o autor escreve para si mesmo, pela própria linguagem, não se
importando muito com a idade de quem vai ler, e que na maioria das vezes escreve sem
pensar na idade do destinatário, com exceção dos livros que escreveu para crianças que
estavam aprendendo a ler. Para ela o uso da linguagem deve ser feito para libertar e deve estar
a serviço da transparência, assim a linguagem pode ter vários sentidos, para que o leitor
invente seus próprios significados. Em dados momentos afirma que a linguagem deve ser
simplificada, sem o seu barateamento e quando ocorrem as rupturas, estas são intencionais,
têm uma função estilística, pois dominar a gramática é fundamental para domá-la e assim
partir para uma linguagem nova.
Menciona que Lobato foi um autor de enorme importância, tanto que preparou a
geração de 70, quase toda sua filha. Dentre os vários fatores que explicam o aparecimento
desta geração, Lobato foi o mais decisivo. Segundo Ruth Rocha, essa geração foi influenciada
pela linguagem e irreverência, pelo realismo mágico, pelo amor pela pátria, pela discussão
política, pelas figuras femininas fortes e, sobretudo, pelo apreço que Lobato teve com as
crianças considerando as inteligentes e criativas. Para a autora a história sempre dá o fio
condutor. Em cima da história se constrói a obra, mas sempre com base na realidade. A
literatura que não se refere à história, não existe. Esta sempre leva o leitor a questionar seus
pontos de vista, e isso é que faz o encanto da leitura e, com o autor de literatura infantil, não é
diferente e argumenta: “Mensagem é invenção do leitor”. Esclarece que segundo seu ponto de
vista a leitura não deve ser encarada como obrigação, sempre com a preocupação de passar a
mensagem e deve ser posta na escola como Educação Artística, não como lição ou tarefa, feita
34
desta forma é capaz de vacinar a criança contra a leitura para sempre.
Salienta que a leitura é sempre ambígua, portanto não é na compreensão racional do
texto que está o maior valor da leitura, mas sim no prazer que ela proporciona. Afirma que a
função do escritor é mostrar a realidade por outro ângulo, é criticar o que se passa por toda
parte sem dar solução nenhuma, e sobretudo sem dar conselhos. Que cada um encontre a sua
verdade sozinha. A autora se afirma uma feminista, pois tem acesa dentro de si a chama de
independência. E quando afirma ser feminista, o faz para fortalecer a posição, pois segundo
ela o machismo ainda é muito forte.
Em entrevista concedida em 05/05/1999 à Joseana Paganini, jornalista do Jornal de
Brasília, Ruth Rocha afirma que o escritor de literatura-infantil é sempre influenciado pela
literatura de adulto, pois o escritor sempre escreve com a cabeça de adulto. Afirma que do
seu ponto de vista, existe prosa e verso, uma literatura infantil e também uma literatura para
adultos, mas quando se trata de literatura para jovens esta situação é mais complexa, pois ela
mesma com treze anos lia de tudo, inclusive literatura para adultos. Argumenta que existem
livros que são escritos para crianças e que também agradam aos adultos, como é o caso de A
República dos Argonautas, de Anna Flora e de Tom Sawyer, o que torna difícil definir se
nestes casos é literatura infanto-juvenil ou não, pois a criança não é capaz de criticá-la e o
adulto não possui as condições ideais para isto. Ruth Rocha afirma que não gosta de discutir o
assunto com literatos, pois existe um certo desprezo pela literatura infantil, alguns, inclusive
são taxativos, dizem que não existe literatura infantil e pronto, fato que ela se abstém de
discutir, pois na sua concepção só há lógica naquilo que é melhor para a criança.
Quanto às personagens rebeldes que existem em seus livros a escritora afirma que isto
resultou do fato de ter trabalhado com crianças durante muito tempo, e neste contato com os
pequenos desenvolveu a idéia de que estas são muito pouco amadas, mesmo em sua própria,
casa. Sua experiência com crianças mostrou-lhe que existe muito pouca cumplicidade entre
pais e filhos e que hoje acredita que muitas pessoas não gostam de crianças, e que de um
modo geral o brasileiro não gosta, pois se gostasse já tinha resolvido os problemas que
atingem a infância no Brasil, por isso põe nos seus livros a revolta real da criança. A escritora
diz que com sua pena, não as maltrata, nem as subestima, o que quer de fato é desenvolver a
cumplicidade, e talvez por isso Marcelo, marmelo, martelo, seja o seu livro mais vendido, as
crianças gostam muito porque no final os pais acabam compreendendo o menino. Salienta a
escritora que criança precisa ser amada e compreendida, mas seus personagens apontam para
o adulto, para o homem que reivindica e não se conforma.
Quanto à preocupação didática existente em seus livros, concorda que alguns traços
35
devem ter, sim, marcas da educadora que foi, durante muito tempo, mas acrescenta que a
maior influência vem mesmo da vida. Suas idéias surgem de tudo, da infância, do colégio, dos
lugares onde trabalhou, da experiência, enfim de tudo que viveu. Afirma também que foi uma
criança muito feliz e que nunca lhe faltou nada, seus pais eram amorosos, e apesar de ter sido
uma criança meio adoentada, sempre teve a companhia da mãe por perto, que gostava muito
de ler e sempre lhe contava muitas histórias. Seu avô era um nordestino, também contador de
histórias, com a avó aprendeu a cantar modinhas imperiais, além de ter tido um excelente
convívio com as empregadas que trabalharam em sua casa. Depois de adulta interessou-se por
política e acabou formando-se em Sociologia, e reforça que a ditadura influenciou muito a sua
obra, que criou o personagem reizinho para falar do autoritarismo e sobre as formas de
revolta, pois tudo isso faz parte da sua formação. Quando tem uma preocupação pedagógica,
ela afirma que sabe identificá-la. Geralmente o que escreve é intuitivo, no entanto as suas
soluções agradam aos pedagogos.
3.5 RUTH E ANA: TRAÇOS LOBATIANOS
Ainda em Ana & Ruth, Marisa Lajolo expõe a situação da sociedade brasileira num
momento de mudanças importantíssimas, no que se refere à modernização do estado brasileiro
nos idos dos anos 70, e inclui Ruth Rocha e Ana Maria Machado neste panorama, onde
destaca que houve uma forte aceleração da produção da literatura destinada ao público
infanto-juvenil, por meio da publicação de milhares de títulos a serem distribuídos e
consumidos no interior das escolas públicas de todo o país. Argumenta Lajolo, que o Brasil
neste momento procura se ajustar à nova imagem de nação atrelada ao mundo moderno,
reflexo do modelo capitalista que sempre presidira todas as etapas de nossa evolução. Os
livros, destinados ao público infantil, cumpriam a tarefa de operar o milagre de transformar
em leitor a multidão de menores de idade, a quem a escola dizia ensinar.
Esta nova realidade apresentou uma dupla face, se por um lado cuidava de manter os
desígnios da classe dominante, por outro gerou condições para a resistência. Resistência, esta,
que se fez com muita intensidade, na área das letras infantis e juvenis, da qual Ruth faz parte.
A produção do livro transformou-se em indústria e afastou-se do amadorismo, pois constituía
um objeto diferenciado que envolvia por sua vez, um tratamento gráfico cuidadoso, que se
entende da diagramação ao projeto de capa, multiplicando profissionais e favorecendo a
profissionalização. Salienta Lajolo que a obra de Ruth Rocha espelha esse novo modo de
produção cultural, onde a leitura se faz disponível em lugares pouco ortodoxos tais como:
36
farmácias, bancas de jornal, estantes de supermercado, e até mesmo, argumenta ironicamente
Lajolo, em livrarias especializadas. Era sempre possível encontrar em qualquer hora, um livro
para lazer, ou para o dever escolar.
Surge neste ínterim a revista Recreio, onde autoras do porte de Ruth Rocha e Sônia
Robatto estavam envolvidas. Constituía um bom espaço de leitura, sendo barata e acessível e
de boa qualidade, abria e ampliava os horizontes de leitura. Por meio de seus textos
inteligentes e inovadores interferiu qualitativamente na prática de leitura.
Lajolo comenta que Ruth Rocha recebeu a missão de dirigir a revista e, juntamente
com ela, a Recreio passou a congregar autores do porte de Ana Maria Machado, entre outros,
que passaram a integrar um corpo de escritores que descobriu nas letras infantis e juvenis sua
verdadeira vocação. Lajolo aponta na produção tanto de Ruth Rocha quanto de Ana Maria
Machado traços Lobatianos inquestionáveis, pois na produção de ambas pode-se encontrar
características da produção do autor, que muitos anos atrás, selou na tradição brasileira a
modernidade do gênero infantil. São marcas da produção de ambas as autoras: a
modernização do texto, a coloquialização da linguagem, o arejamento das mensagens, a
concepção da criança leitora como inteligente e inventiva, além de uma atitude radicalmente
crítica da realidade brasileira.
De Lobato Ruth Rocha herdou a irreverência do seu modo de escrever, fazer e vender
livros. A autora acompanha profissional e cuidadosamente todos os aspectos envolvidos na
produção de seus livros aceitando desafios como a organização profissional de editoras,
coleções e livrarias e sempre articulada com o seu tempo mergulha fundo nos meandros da
indústria editorial brasileira contemporânea.
Outra semelhança com Lobato é valorização da voz feminina. No universo de suas
obras, entre outras personagens, destaca-se a voz da mulher a falar sempre de igual para igual,
com o discurso de Emília, e com o bom senso de Dona Benta e Tia Anastácia, embora o texto
de Lobato esteja sob a ótica de um escritor homem. Ao tempo de Ruth Rocha a mulher já
ocupa outros patamares e se manifesta de maneira bem mais complexa, em diversos
segmentos da instituição literária, a citar: autoria, circulação, produção, difusão, crítica etc.
Ruth, afirma Lajolo, é uma exemplar pioneira de invulgar profissionalismo, e sua obra
documenta o novo modo de produção cultural, sempre trabalhando a muitas mãos, é um
exemplo eloqüente da agilidade da modalidade e, sobretudo, da possibilidade de que o
profissionalismo se revista da mais alta ética nas relações de trabalho e respeito aos leitores.
Em suma, na ferocidade dos anos 70 Ruth e Ana se despontam com grande fôlego, lutando de
forma incansável pela modernização e feminização do texto infantil, abrindo novos caminhos
37
e mudando o horizonte brasileiro de livros infantis e juvenis.
Lilia Moritz, editora da Companhia das Letrinhas, no site oficial da Editora, esboça
um perfil de Ruh e se diz agraciada por tê-la conhecido de perto, ter trabalhado com ela e
guarda a certeza de ter conhecido uma escritora de verdade, um grande ser humano. Moritz
diz que com ela podemos entender o que significa viajar com um livro nas mãos, conhecer o
mundo sem sair do sofá, pois a autora tem uma escrita saborosa, um humor fino e suas
criaturas saltam dos livros.
Relata que trabalhou com Ruth Rocha durante a produção da adaptação de A Odisséia
e que pôde perceber uma autora de grande responsabilidade, um pessoa muito sensível de
excelência, por isso esticou o mais que pôde as etapas do processo e acabou compartilhando
com as diversas faces de uma mesma escritora, aprendeu mais sobre a riqueza de pensar e
discutir, debater idéias, com um livro na mão. Depois, juntos, discutiram tudo sobre a
produção da obra, o formato, a cor do papel, as ilustrações, além da divulgação, e salienta
Moritz, que no caso de Ruth Rocha esta já nasce feita e brinda a sorte por tê-la conhecido.
3.6 A OBRA DE RUTH
Ruth Rocha estréia na literatura infantil na década de 70, e sua obra apresenta
características embrionárias desde as suas primeiras produções. Dona de um texto inovador
que apresenta sempre um discurso rico, em constante diálogo com o seu tempo a autora está
sempre a interagir com tudo que já se produziu no conjunto de textos que define uma
literatura. Seu discurso estrutura-se em diferentes níveis, em diversas linguagens e maneiras,
sempre por meio dos mais variados recursos e sem essa técnica sua obra não transcenderia o
imediatismo do consumo rápido e da linguagem descartável. Sua produção também estabelece
um diálogo interno que lhe possibilita sempre se renovar e enriquecer. São traços marcantes
de sua escrita: o humor e a linguagem.
A crítica implícita na sua obra se desdobra por meio do riso constante. É por meio dele
que a autora se encontra com o seu tempo e, sobretudo, com os leitores. O humor é uma arma
para inverter valores, princípios, comportamentos, conselhos, contrariando sempre as
mensagens conformistas e o conservadorismo reinantes nos contos de fadas e mesmo nas
narrativas de aventuras que disseminam sempre noções de submissão e obediência num
universo cosmicamente inabalável. Ao criar reis que são antipáticos, ministros desonestos,
mulheres liberadas e crianças contestadoras a autora provoca risadas inesperadas preenchendo
o gênero infantil com novos significados, por vezes também dialoga com a literatura não
38
infantil de forma parodística, irônica e irreverente.
A linguagem nos textos de Ruth Rocha é trabalhada com afinco, afastando-se da fala
cotidiana e quebrando as expectativas do leitor. Afasta-se dos clichês, estereótipos e lugares
comuns emigrando para novos contextos, onde ganham novas significações, renovando
sempre os leitores. Desta forma, chavões e provérbios populares disponíveis na literatura e na
memória dos leitores são retrabalhados e fecundados com novos valores. Sua produção
altamente polissêmica tem por projeto a reescritura crítica e retomada da tradição cultural.
Esta desconstrução propicia uma mobilidade, que confere ao leitor a capacidade de rearranjar,
redistribuir e ressignificar os textos lidos anteriormente.
A obra O reizinho mandão ilustra essa tendência, pois inverte e rompe com as
expectativas. Baseada no provérbio “Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou
eu” colocada na boca de uma menina, esta apresenta um redimensionamento da realidade,
convocando o leitor a cruzar fronteiras por meio de uma linguagem nova, num processo de
verdadeira “alquimia” verbal.
Em uma curta entrevista concedida à Editora FTD em maio de 2005, Ruth diz que tem
bom humor e que foi muito influenciada pela Emília lobatiana, pela sua alegria, e que quando
começou a escrever foi em grande parte por influência da personagem.
Ruth Rocha relembra que começou a trabalhar como atendente de biblioteca e que
conversava muito com as crianças, escolhia livros para elas, fazia graças, por isso ocorreu
uma grande aproximação com os pequenos que a cercavam muito, e por este motivo foi
convidada pela direção da escola a trabalhar como Orientadora Educacional, depois fez pós-
graduação e, por quinze anos atuou no cargo, mas considera que as bibliotecas são
imprescindíveis. Desta necessidade foi criada a ONG Brasil Leitor, onde a escritora atua,
buscando patrocínios e afirma que a organização já construiu bibliotecas no metrô, na
Academia de Polícia, sendo ao todo dezessete, que são fruto de um extenuante trabalho.
Sobre o tema “racismo”, sempre retratado em suas obras, a autora afirma que o tema
adveio da sua formação como Socióloga, pois a Sociologia nos ensina a ver a sociedade de
outra maneira. Sobre os dialetos encontrados nos blogs e no MSN, Ruth afirma que isso não a
incomoda, pois considera isto um modismo que vai passar, que não vai destruir a Língua
Portuguesa, no seu ponto de vista o que realmente atrapalha é quando a pessoa não sabe o
resto.
Entrevistada pela revista Crescer em julho de 2005, logo após a publicação do livro:
Um cantinho só pra mim em parceria com Ziraldo, pela Editora Melhoramentos, a escritora
afirma que é cúmplice da criança, pois sente o que a criança está sentindo e, talvez, por isso,
39
acrescenta o colunista, as histórias de Ruth parecem que são sobre a vida da gente. Sobre o dia
do Escritor, dia 25 de julho, a escritora afirma que é um dia muito importante, não somente
porque ela é escritora, mas porque se tornou uma escritora, por causa dos livros que leu e
afirma mais uma vez que o pai era médico, tinha cultura e tudo, mas era a mãe quem lia os
livros e depois comprava para os filhos.
Ao ser questionada a respeito dos motivos que a levaram a cursar Sociologia, se acaso
teria sido por causa da leitura, ela responde que foi para essa área por ter lido Casa Grande e
Senzala, de Gilberto Freyre. Na escola, teve como professor Sérgio Buarque de Holanda “que
era sensacional”, no entanto, a profissão era muito difícil, pois neste tempo os sociólogos
eram vistos como baderneiros e comunistas. Em seguida veio o seu emprego como atendente
de biblioteca depois a Orientação, os tempos da Recreio, da Abril etc.
Ruth Rocha conta que nesse tempo, os escritores viviam sob uma sombra imensa, que
os impedia de fazer algo original. Essa sombra era o Lobato. Havia muita gente boa que foi se
conhecendo e publicando, dentre estes nomes estão os Sílvia Orthoff, Ana Maria Machado e
ilustradores fantásticos entre eles o Ziraldo, que sempre fez muita coisa, sempre esteve muito
disponível e não pensa na idade para fazer. Salienta Ruth Rocha, o Ziraldo faz primeiro, para
depois pensar na idade e aí diz: “Ai tô cansado”.
Reafirma que tinha 38 anos quando escreveu seu primeiro conto. Salienta que a vida
toda se preparou para isso, por meio de suas leituras. Seu trabalho como orientadora
educacional lhe deu régua e compasso e só percebeu mesmo que era escritora em 1976,
quando publicou 13 livros de uma vez. Vieram as resenhas, as críticas, aí ela pensou: “ Gente,
sou escritora!”
A escritora afirma que escreve como adulto e não como criança, diz que fazer livro
para criança é muito divertido, pois além de ser um ato muito importante, pode-se “brincar” o
quanto quiser. Afirma que a criança é um ser indefeso, que se solidariza com elas, sente o que
elas estão sentindo.
Ao ser indagada se contava histórias para a filha Mariana ou para os netos, Ruth conta
que a filha queria sempre uma história que não existisse e se ela contasse A Gata Borralheira
Mariana dizia: “Não, eu quero a história dessa mesa”. Quanto aos netos afirma que eles não
mitificam o fato de tê-la como avó, não ligam muito para isso, se na escola alguém comenta
eles não levam muito a sério.
Sobre a sua infância, a escritora conta que gostava de boneca, de fazer boneca de
papel, vestidos, recortava homem e mulher de revista, montava as famílias e que adorava ficar
na rua, brincava de roda, de pegador, de bola, de amarelinha, gostava de andar de bicicleta e
40
até de empinar papagaio. Quando indagada se acha que é melhor ser criança na atualidade, diz
que hoje os pequenos têm uma oportunidade que antes não tinham, pois hoje eles podem falar,
ser ouvidos, expor suas opiniões e isso, na opinião da escritora, é uma maravilha.
3.7 CRONOLOGIA
3.7.1 Nascimento
1931 - São Paulo SP - 2 de março
3.7.2 Locais de vida/viagens
1931/1995 - São Paulo SP
1974 - Nova York e Racine (EUA); Holanda
1980 - Alemanha, França, Holanda
1984 - Itália, Espanha, Argentina
1985 - Miami (EUA)
1987 - França, Portugal
1988 - Alemanha
1989 - Nova York (EUA)
1990 - Nova York (EUA)
1993 - Equador
1994 - Bolonha (Itália) e Alemanha
3.7.3 Vida familiar
Filiação: Álvaro de Faria Machado, médico, e Esther de Sampaio Machado
1956 - São Paulo SP - Casamento com o empresário Eduardo Rocha
1962 - São Paulo SP - Nascimento da filha Mariana
41
3.7.4 Formação
1952 - São Paulo SP - Bacharel em Ciências Políticas e Sociais, na Escola de Sociologia e
Política de São Paulo
1969 - Santos SP - Licenciatura em Ciências Sociais, na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Santos
1970 - São Paulo SP - Pós-graduação em Orientação Educacional, na Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da PUC/SP
1974 - Nova York e Racine (EUA) - Especialização em Editoração, na Western Publishing
Co.
Contatos/influências
Influência da poesia de Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes
Convivência com Ana Maria Machado, Ana Maria Martins, Anna Flora Camargo Coelho,
Fábio Lucas, João Carlos Marinho, Julieta Godoy Ladeira, Lygia Fagundes Teles, Ricardo
Ramos, Sylvia Orthof, Sylvio Fiorani, Tatiana Belinky
Co-autorias: Anna Flora Camargo Coelho, Otávio Roth, Walter Ono, Ziraldo
Atividades literárias/culturais
1956/1972 - São Paulo SP - Organizadora e diretora do Departamento de Orientação
Educacional do Colégio Rio Branco
1968/1970 - São Paulo SP - Colaboradora para assuntos de educação da revista Cláudia (Ed.
Abril)
1969/1971 - São Paulo SP - Orientadora pedagógica da revista Recreio (Ed. Abril)
1970/1995 - São Paulo SP - Tradutora e adaptadora de histórias infantis (cerca de 60 títulos)
1971/1972 - São Paulo SP - Orientadora pedagógica e redatora da revista Bloquinho (Bloch
Editores)
1973/1974 - São Paulo SP - Redatora-chefe e diretora editorial da Divisão Infanto-juvenil da
Editora Abril
1975/1981 - São Paulo SP - Editora-chefe e diretora editorial dos grupos de atividades, livros
42
e coleções da Editora Abril
1982/1983 - São Paulo SP - Consultora editorial de Livros Abril e do setor de educação da
Abril Cultural
1983/1987 - São Paulo SP - Diretora da União Brasileira de Escritores
1984/1995 - São Paulo SP - Sócia e editora do Quinteto Editorial
1984/1985 - São Paulo SP - Editora das séries Peixinho e Cultrix Juvenil (Ed. Cultrix)
1985 - São Paulo SP - Editora da série Reco-Reco (Ed. Record)
1987/1990 - São Paulo SP - Editora executiva da Grande Enciclopédia Larousse Cultural
1990/1995 - São Paulo SP - Membro do Conselho Consultivo da Fundação Abrinq pelos
direitos da criança
1991/1995 - São Paulo SP - Comentarista política no programa Gazeta Meio-Dia (TV Gazeta)
1993 - Quito (Equador) - Participação em mesa-redonda e leitura de textos no II Seminário
Internacional de Literatura-infantil
1994 - Bolonha (Itália) - Participação na Feira de Bolonha
1979/2001 - Brasil - Entre 1979 e 2001 Ruth Rocha já publicou mais de 140 livros infanto-
juvenis
Homenagens/títulos/prêmios
1976 – Altamente Recomendável pela LNLIJ pela publicação da obra Palavras, muitas
palavras.
1977 – Altamente Recomendável pela LNLIJ pela publicação da obra Nicolau tinha uma
idéia.
1978 – Altamente Recomendável pela LNLIJ pela publicação da obra O reizinho mandão.
1978 – Lista de Honra do Prêmio Hans Christian Andersen, FNLIJ
1980 - Prêmio do Jornal Auxiliar, pelo livro O rei que não sabia de nada, concedido pelo
Banco Auxiliar.
1980 – Prêmio João de Barros da Prefeitura de Belo Horizonte pela publicação de Davi ataca
outra vez.
1981 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio Ofélia Fontes (O Melhor para a Criança), pelo livro O que
os olhos não vêem, concedido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
43
1981 - São Paulo SP - Prêmio Melhor Autor Infantil, pelo livro O que os olhos não vêem,
concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte
1981 - Belo Horizonte MG - Prêmio João de Barro, pelo livro Davi ataca outra vez,
concedido pela prefeitura.
1981 – Selo de Ouro – O melhor para criança, FNLIJ.
1981 – Prêmio APCA , melhor edição de livro infantil.
1983 - São Paulo SP - Exposição de ilustrações dos livros da autora na Editora Nobel, em
homenagem ao marco de um milhão de livros vendidos.
1983 – Prêmio Monteiro Lobato, melhor livro infantil da Academia Brasileira de Letras.
1983 – Livro Altamente Recomendável pela LNLIJ pela publicação de Quando eu comecei a
crescer.
1983 – Livro Altamente Recomendável pela LNLIJ pela publicação da obra Faca sem ponta,
galinha sem pé.
1984 - São Paulo SP - Prêmio Abril de Jornalismo - Destaque, pelo livro Alvinho o edifício of
city Taubaté e o cachorro Venceslau.
1989 - São Paulo SP - Criação da Biblioteca Ruth Rocha, na EMPG Paulo Duarte
1990 - São Paulo SP - Prêmio Jabuti de Literatura Infantil, pelo livro Uma história de rabos
presos, concedido pela Câmara Brasileira do Livro
1991 - Barra Mansa RJ - Criação da Biblioteca Ruth Rocha (Ciac)
1992 - Rio de Janeiro RJ - Prêmios Monteiro Lobato, concedido pela Academia Brasileira de
Letras, e Malba Tahan (O Melhor Livro Informativo), concedido pela Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil, pela coleção O Homem e a comunicação, em co-autoria com Otávio
Roth
1992 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio de Melhor Livro Informativo, pela coleção O Homem e a
comunicação, em co-autoria com Otávio Roth, concedido pela Fundação nacional do livro
infantil e juvenil
1993 - São Paulo SP - Prêmios Jabuti de melhor produção editorial, obra, coleção e melhor
Produção editorial infantil e/ou juvenil, pela coleção O Homem e a comunicação, em co-
autoria com Otávio Roth, concedidos pela Câmara brasileira do livro
1993 – Prêmio Monteiro Lobato, melhor livro infantil da Academia brasileira de letras.
1994 - Rio de Janeiro RJ - Publicação de um catálogo comemorativo pelo 25o. aniversário de
sua carreira literária.
44
2001 - Rio de Janeiro RJ - Prêmio de literatura infantil 2001, pela adaptação da Odisséia
(Companhia das Letrinhas), concedido pela Academia brasileira de letras
45
4 A VISÃO CRÍTICA SOBRE A PRODUÇÃO DE RUTH ROCHA
4.1 RUTH ROCHA- FILHA DE LOBATO: UMA NOVA ÓTICA SOBRE A QUESTÃO DO PODER.
Conforme já assinalado no primeiro capítulo deste trabalho, lembramos que a
literatura infanto-juvenil cumpriu um longo trajeto rumo à sua emancipação, que foi a década
de 70, consagrando diversos autores, cuja produção rompeu com os padrões existentes até
então. Consolidou-se, então, a geração de escritores “filha de Lobato”, pois deste herdou a sua
forma de escrever, abandonando o pedagogismo, a marca simplesmente utilitária, valorizando
a criança como ser inteligente criativo, capaz de optar, refletir, opinar e escolher.
Nomes como os de Lygia Bojunga Nunes, Maria Clara Machado, Ana Maria Machado
e Ruth Rocha surgem nesse intervalo, trazendo à tona este texto “libertário”, que confere à
criança uma voz ativa. Sobre Ruth Rocha pode-se mencionar que foi uma das escritoras que
se afirmou neste período e, sobre a sua produção, a crítica posicionou-se no sentido de
conferir-lhe pareceres que às vezes são unânimes e por vezes apontam “falhas” no seu
conjunto. Destacam-se os nomes de Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Edmir Perrotti, Fanny
Abramovich entre outros pesquisadores, encarregados de apontar na produção da literatura
destinada ao público infanto-juvenil um juízo de valor que antes era conferido somente à
literatura para adultos.
É certo que o gênero é novo e encontra-se ainda em fase de afirmação, por isso não
possui ainda um corpus definido ou um conjunto de normas para que seja apreciado, tendo
tomado de empréstimo os mesmos parâmetros atribuídos à crítica da literatura produzida para
adultos. Com esta nova modalidade surge também uma nova crítica que analisa, classifica e
atribui valores às produções do momento.
Paralelo a esse processo de profissionalização dos escritores, bem como de uma crítica
especializada que irá analisar e atribuir seus juízos de valor, emerge também a crítica não
especializada, publicada em jornais, revistas e outros setores da mídia, com vistas a divulgar a
obra com a finalidade de estimular a venda e a adoção por parte das escolas. É comum neste
panorama este tipo de abordagem, que geralmente se limita a exaltar a obra por meio da
apresentação de uma breve resenha do enredo, sem muitas vezes se preocupar com o seu
conteúdo estético. Como a autora em questão faz parte deste momento de franca expansão da
literatura infantil e está atrelada fortemente a indústria cultural, este trabalho cuidará também
de apresentar esta vertente da crítica.
46
Fanny Abramovich em: O estranho mundo que se mostra às crianças, publicado pela
Summus Editorial em 1983, em seu primeiro capítulo comenta que o texto de Ruth Rocha é
bom para qualquer idade, que o contato com a literatura infantil a levou a concluir que
existem nas obras preconceitos implícitos, que até então lhe passavam desapercebidos. Sua
obra se propõe examinar títulos destinados ao público infantil. Comenta a autora que por um
lado existe a proposta lobatiana, em que as crianças vivem isoladas do mundo, são protegidas
de tudo, inclusive de pai e mãe, num mundo imaginário, “num eterno faz de conta”, é a utopia
construída. Por outro lado, comenta a autora, a editora Comunicação de Belo Horizonte
propõe-se discutir situações reais do mundo no qual a criança interage com problemas tais
como: o desmatamento, a poluição dos rios, a separação dos pais. Outras editoras de São
Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, seguem, segundo a autora, este tipo de preocupação, mas
com textos de menor densidade e impacto. Uma terceira tendência segundo Abramovich é a
da Editora Primor do Rio de Janeiro, que se preocupa com o visual do texto e cita a obra de
Ruth Rocha Nicolau tinha uma idéia, cuja narrativa visual propõe uma obra aberta com várias
possibilidades de leitura. De resto, afirma a autora, o que se percebe é um acúmulo de
publicações onde a criança é vista como um ser passivo, estático, ou nas palavras da autora, a
criança é “oligofrênica”
Ressalta que as obras apresentam a ideologia da classe média com seus valores, seu
código de ética e de estética. No pós scriptum de seu primeiro artigo, a autora reitera seus
conceitos, e comenta que o mercado editorial melhorou muito, editoras como a
Melhoramentos, a Salamandra, o Círculo do Livro adotaram critérios mais rígidos para a
publicação daquilo que consideravam ser um bom livro para crianças, cita autores do porte de
Ziraldo e Ana Maria Machado, salienta que Ruth Rocha discute com as crianças as questões
do poder, da autoridade, das mudanças possíveis dos caminhos políticos, de modo
compreensível, sensível e inteligente.
Que bom constatar que em alguma área houve crescimento,
amadurecimento, solidez de talentos, clareza quanto aos propósitos,
perda do medo de dizer tudo que importa realmente para a criança.
(Abramovich, 1983, p.27)
No capítulo “Lobatear: verbo primeiro da literatura infantil”, Abramovich retoma
seus conceitos sobre a produção lobateana. Afirma que “Lobato está vivo dentro de cada um
de nós. Faz referência a toda a produção do escritor para crianças e adultos. Comenta a
importância fundamental deste para as novas gerações de escritores e transcreve uma frase de
47
Ruth Rocha: “Li tanto, que já sei de cor...”. Afirma que, para a autora, o amor vai todo para a
Emília, que representa“ o eu diante do mundo”; já em relação ao visconde, Ruth Rocha não
gosta de seu papel de dominado, acha que ele deveria se libertar da Emília e que Dona Benta
não lhe toca muito, é autoridade embora simples e democrática. Lamenta o esquecimento do
João-faz-de-conta , que foi logo abandonado por Lobato. Ruth Rocha, afirma a pesquisadora,
é admiradora incondicional do autor, do seu lado fantasioso, imaginário, riquíssimo, ressalta
que ele nunca dá medo ao leitor, não provoca angústias. Ruth Rocha afirma que ele escreve
simples, correto, não tem medo das construções complicadas, muito menos das palavras
difíceis. Isto para ela é sinal de respeito à criança. Comenta as imagens que Lobato criou tais
como: escorregar pelos anéis de Saturno, fazer estrelinhas de rosca com massa cósmica e
lamenta o fato de o autor nunca ter escrito poesia, pois na sua visão, Lobato era um poeta e
não sabia. Ainda sob a perspectiva da escritora, o que Lobato fez de pior foi no nível
pedagógico, opinião comungada por quase todos. Afirma que quando mocinha, ficava
passando pela Barão de Itapetininga só para vê-lo na porta da Brasiliense. Se resolveu
escrever, foi por causa dele, tamanha a influência que exerceu sobre sua infância .
Abramovich comenta que o que falta na literatura infantil é gente que escreva sério,
com gosto, com qualidade, “sobretudo, o que falta, mas falta mesmo é gente que saiba
escrever ,e escrever bem! Gente que escreva com gosto, solto, prazerosamente como a Rocha”
(Abramovich,1983, p.62). Cumpre ressaltar que este trabalho é um dos primeiros a tratar do
assunto no país e, embora outros autores também tenham levantado esta questão, a autora o
faz de forma apaixonada, o livro dialoga com escritores do porte de Mário Quintana e Millôr
Fernandes, não se intimida com a mudança pela qual passa a literatura-infantil, que muda do
ritmo de artesanato para o de indústria. A escritora procura separar o joio do trigo e, no meio
das “melecas” que são servidas às crianças, apontar o que de bom pode lhes ser oferecido. É
entusiástica a forma como aborda temas-tabu tais como a música, o teatro, a televisão e os
brinquedos e a maneira como estes elementos são oferecidos ao público infantil, na maioria
das vezes visando mais a formar adultos em miniatura do que conferir à criança o direito de
sê-lo de forma crítica e desalienante.
Regina Zilberman em: A Literatura Infantil na Escola (1985) reafirma que a literatura
infantil constitui uma modalidade que não conhece limites definidos, o que torna bastante
difícil estabelecer suas principais linhas de ação, podendo englobar histórias veristas,
fantásticas, criar seres antropomorfizados, enfocar situações humanas existenciais, inclusive
englobar todas estas situações numa mesma produção. São comuns os casos onde o autor
envereda pelo verismo naturalista ou alinha-se à representação dos contos de fadas, com
48
vistas à simbolização dos estados existenciais infantis. Ao lado destas permanecem atuantes a
história policial ou de aventuras, bem como o aproveitamento de episódios da História do
Brasil.
Tal como Abramovich, Zilberman destaca a questão do poder. A autora se propõe
investigar os contos de fadas e seu engajamento com a arte renovadora, desviando-se do seu
didatismo transmissor de ideologias previamente estabelecidas.
Enfoca a obra de Ana Maria Machado História meio ao contrário como exemplo
desse redimensionamento, afirmando que a convenção dos contos de fadas se dá pela
existência de uma seqüência narrativa, de um elenco de personagens, e que a evolução do
relato se dá através de três momentos básicos que são: um conflito, uma ação saneadora que
envolve uma entidade mágica que auxilia o herói, e o desfecho final que culmina num
casamento real, as personagens se dividem em bons e maus instaurando uma realidade
dicotômica, predominando a imposição do bem sobre o mal. No caso da obra citada acorre
uma inversão do paradigma, pois a autora lança mão de artifícios não convencionais aos
contos de fadas. Em primeiro plano ocorre uma inversão da seqüência narrativa, uma vez que
a história começa pelo fim. Um segundo fator de desequilíbrio é dado pelas personagens, pois
desaparecem as distinções sociais, a nobreza se confunde com as personagens oriundas das
classes inferiores. Zilberman afirma que essa inversão constitui uma tônica da literatura
brasileira voltada ao reaproveitamento do conto de fadas. Cita Ruth Rocha, que, segundo a
autora, utiliza semelhante procedimento em O reizinho mandão e também Eliardo França,
com a obra: O rei de quase tudo. Nestes casos, a personagem responsável pelo mando tem ao
mesmo tempo atitudes arbitrárias e pueris, salientando uma crítica à autoridade. Enquanto o
herói se infantiliza, há um crescimento da voz infantil, que quando se torna senhora do poder
é contrariada e condenada por intermédio das insinuações do narrador que geralmente é um
adulto. Para amenizar esta dificuldade ocorre o surgimento de uma nova personagem que
desafia o poder estabelecido.
“É a princesa que diz não ao pai, é a menina que manda o “ reizinho mandão” “calar a
boca”, repetindo-se o processo de “A roupa nova do imperador”, de Hans Christian Andersen,
no qual cabe à inocência infantil a denúncia da farsa encenada pelos adultos”
Zilberman menciona que, nestes casos, um estereótipo do conto de fadas é contrariado,
a justiça, a sabedoria e o poder conferidos ao rei são substituídos pela puerilidade e pela
tirania, enquanto questiona-se o comportamento da criança mimada, comportamento, este,
que pode ser modificado pela denúncia da falsidade dos valores adultos pelos mais jovens,
que, não tendo ainda absorvido sua ideologia, podem revelar sua obsolescência.
49
Em Literatura infantil brasileira: História e histórias, Regina Zilberman e Marisa
Lajolo reiteram as colocações de Zilberman em a Literatura infantil na escola. Afirmam que:
Ruth está entre os escritores que, nos anos 70, encontraram novas
propostas e caminhos para a renovação
da literatura para crianças, e se
empenharam numa produção que hoje é conhecida como responsável
pelo “boom” da literatura infantil brasileira dos anos 70/80.
(Zilberman; Lajolo, 1985, p. 25).
As características mais relevantes de seu estilo são: bom humor, espírito lúdico ou
parodístico, regaste do passado por meio da reinvenção das histórias antigas, consciência
crítica acessível ao espírito infantil, linguagem dialogante, coloquial, fluente e viva,
consciência do momento de crise e de transformações que o século XX atravessa, entusiasmo
pela vida, confiança no poder transformador do homem e esperança.
No terreno da ficção, dialogar com seu tempo significa mandar recados para os
contemporâneos. Implica, além disso, dialogar com tudo o que já se produziu, na longa
cadeia de escritores e textos, cujo conjunto configura uma literatura. O diálogo de Ruth
Rocha se perfaz de diferentes maneiras, em diversas linguagens, estruturas e níveis, por meio
de vários recursos. Sem ele, a obra não transcenderia o imediatismo do consumo rápido e da
linguagem descartável. Sua vasta produção produz também um constante diálogo interno que
lhe possibilita se renovar e enriquecer. Neste sentido, há dois procedimentos recorrentes que
muitas vezes se superpõem, que são o humor e o incessante trabalho com a linguagem.
Como obras que representam este estilo destacam-se entre outras: a ‘Tetralogia dos
Reis”, que se configura como marca de um texto irreverente, polissêmico, de alto teor
literário.
A geração de 70 foi influenciada pela linguagem, pela irreverência,
pelo realismo mágico, pelo amor pelo Brasil, pela discussão política,
pelas figuras femininas
fortes, pelo inconformismo, e a principalmente
pelo apreço que Lobato mostrou pelas crianças, considerando-as
inteligentes e criativas. (Zilberman; Lajolo, 1985, p.53)
As pesquisadoras comentam a obra Marcelo marmelo martelo (1976) e O Reizinho
Mandão de (1978) e afirmam que Marcelo, marmelo, martelo mergulha os leitores na
aventura da linguagem. Segundo elas ao brincar comicamente com a elasticidade da
linguagem, a escritora acaba por tematizar a arbitrariedade do signo lingüístico, ao nomear o
cachorro de Latildo, travesseiro como olhereiro e pegar fogo de embrasar-se. Segundo as
autoras, as obras de Ruth Rocha incorporam-se à ambigüidade do compromisso estando, de
50
um lado, os usos sociais da linguagem e, de outro, os limites que tal uso impõe às inferências
do falante no sistema lingüístico.
Sobre O Reizinho Mandão, as autoras afirmam que a obra conta a história de uma
população que vive subjugada pela tirania de um soberano, por isso não exerce seu direito de
fala, mas por outro lado tem sua voz restaurada por meio de uma menina que enuncia as
palavras: “Cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu”. A obra, segundo
Zilberman e Lajolo, retoma um provérbio, fato que reforça seu uso libertador, pois esta é
construída sobre a tradição das fórmulas de encantamento.
Como elemento enriquecedor da produção irreverente de Ruth Rocha pontua-se o
discurso parodístico. A autora utiliza-se de símbolos universais dos contos de fadas. Através
do recurso oral, “Era uma vez”, descortina-se um mundo de sonhos, que o leitor reconhece
facilmente. Ruth conta causos, retoma personagens conhecidas dos contos maravilhosos, seu
texto é permeado de reis, princesas, dragões, talismãs etc. Enfim, sua obra é tomada por um
brilho que o leitor já conhece, já tem armazenado em sua memória coletiva. O “Era uma vez”
funciona como uma chave mágica, que seduz a criança por meio dos aspectos lúdicos e
encantadores a serem apresentados pela escritora. Seu texto se acresce de um fascínio
presente nas metamorfoses. É a mágica da fabulação, do contador que dialoga com o leitor.
Segundo Affonso Romano de Sant’anna: “a paráfrase é um discurso em repouso, a
paródia é o discurso em progresso”. (Sant´Anna,1995, p.28). Dessa forma, a paráfrase tem
um caráter ocioso, enquanto a paródia tem um caráter contestador. Na paráfrase alguém está
abrindo mão de sua voz para deixar falar a voz do outro. Na paródia busca-se a fala recalcada
do outro. A paráfrase é um discurso sem voz, pois quem está falando está dizendo na verdade
o que o outro já disse. É uma máscara que se identifica totalmente com a voz que fala atrás de
si. Neste sentido, ela difere da paródia, pois, nesta, a máscara denuncia a duplicidade, a
ambigüidade e a contradição. Enfim, o que o texto parodístico faz é exatamente uma re-
apresentação daquilo que havia sido recalcado. É nestes termos parodísticos, que Ruth
trabalha a sua dinastia de reizinhos arbitrários e mandões, que, por sua vez, não são nada
amados pelo povo, a ouvir broncas de crianças e mulheres que estão muito longes da
submissão. Pode-se afirmar que a autora trabalha os aspectos ambíguos, contraditórios, dos
textos que retoma. Através da paródia, oferece ao leitor uma nova visão acerca da realidade.
Em Um Brasil para crianças: Para conhecer a literatura infantil brasileira: história,
autores e textos (1993), Regina Zilberman e Marisa Lajolo realizam um balanço geral da
evolução do gênero, além de o ilustrarem com textos pertinentes a cada fase abordada por
elas. As autoras subdividem o livro em cinco capítulos que se denominam:
51
A formação da literatura infantil brasileira (1890-1920)
A literatura infantil brasileira ao tempo do Modernismo(1920-1945)
A literatura infantil brasileira civiliza-se (1945-1965)
A literatura infantil brasileira: arte, pedagogia, indústria (1965-1980)
A literatura infantil brasileira: entre teoria (literária) e a (prática escolar)
Em relação a Ruth Rocha, as pesquisadoras afirmam que sua obra é marcada pela
coloquialidade, que aproxima a sua produção daquela não destinada ao público infantil e que
ela se encontra na “esteira da metalinguagem”. Citam Clarice Lispector como pertencente a
esta modalidade de escritores que utilizam o intertexto e patrocinam o diálogo com outros
textos por meio das paródias. Da autoria de Ruth Rocha, Zilberman e Lajolo apontam O
reizinho mandão como uma obra que exerce essa função metalingüística por meio do
processo intertextual. Tal exercício somente se concretiza no momento em que o gênero em
que estas obras se manifestam já se consolidou. Para isso é necessário garantir um “lastro de
memória coletiva”, que evoque os textos matrizes. Salientam que a literatura infantil
contemporânea é hoje capaz de ombrear com a literatura não-infantil, tanto na reflexão sobre
linguagem, como na formação dos sentidos, citam como obras promissoras nestes sentido
Marcelo, martelo ,marmelo de Ruth Rocha e A primeira só de Marina Colasanti.
E assim o gênero, continua marcado por procedimentos e circulação
desde o seu nascimento, em fins do século passado, soube incorporar
de cada período certas marcas essenciais, para dialogar com o seu
tempo.E chega à modernidade com a ambição maior de dialogar em pé
de igualdade com a literatura não infantil (Zilberman; Lajolo, 1985,
p.182)
Ana Maria Machado por meio de matéria publicada no Jornal do Brasil em 25/04/76,
traça um perfil da obra Palavras, muitas palavras de Ruth Rocha e a caracteriza como um
dicionário infantil em estado de poesia. Machado inicia seu texto dizendo que trabalhos desse
tipo no Brasil são raros e cita exemplos oriundos do exterior tais como: os clássicos Golden
Books e as variantes do Larousse até o recente Charlie Brown Dictionary. No Brasil comenta
a escritora, o que tínhamos até o momento eram apenas arremedos de fora, meras listas de
palavras para acompanhar ilustrações relativas a cada letra, sendo o Z sempre caracterizado
por uma zebra e o X por um Xilofone ou Xadrez.
A obra Palavras, muitas palavras, segundo ela, traz inovações trabalhando com os
sons das palavras e apostando em palavras brasileiras do tipo: xavante, xerém e xará.
Machado afirma que a obra é poesia, pura poesia para crianças, pois sugere uma mágica e
52
encantatória brincadeira com as palavras que sublinha o ludismo verbal que tem estado tão
ausente da literatura infantil, mas que constitui uma característica tão inerente ao convívio das
crianças.
Machado comenta que Ruth Rocha tem essa coragem e parte para o desafio, pois pega
as palavras e as joga para o alto, virando-as pelo avesso, paralelismo da poética popular, ou
pela exploração de sonoridades engraçadas, sempre confiando na inteligência infantil ao
incluir temas mais abstratos, mas de importância inquestionável, olhando-as sem óculos de
professor, mas com olhar de criança e de povo, retratando o folclore, com deliciosos toques de
humor a partir das próprias estruturas do paralelismo da poética popular, ou pela exploração
de sonoridades engraçadas, sempre confiando na inteligência infantil ao incluir temas mais
abstratos, mas de importância inquestionável.
Machado conclui dizendo que este é um livro pequeno e despretensioso, mas de
inquestionável importância, uma obra de arte para todas as idades, valorizada pela
diagramação e pelas ilustrações de Adalberto Cornavaca e prejudicadas por alguns desleixos
de revisão.
Marisa Lajolo no Jornal O Estado de São Paulo, Caderno de Programas e Leituras, no
dia 25 /12/82, comenta obras de Ruth Rocha. Começa por mencionar Sapo-rira-rei-rira-sapo,
publicado pela Salamandra em 1982, com ilustrações de Walter Ono, que, segundo ela, conta
os mandos e desmandos de um reizinho mandão, ranzinza. Lajolo afirma que Ruth Rocha tem
se especializado em histórias de reizinhos mandões, que infelizmente estão longe daqueles
reis magnânimos que encontramos nos contos de fadas, mas que podemos cruzar com um
destes em qualquer esquina.
Ruth Rocha a exemplo de muitos autores que buscam registrar as marcas da nossa
história recente, também compõe uma obra alegórica e divertida, dizendo coisas
importantíssimas, mas que agradam tanto a crianças como a adultos. Em Sapo vira-rei-vira-
sapo, Ruth Rocha retoma os contos de fadas tradicionais, a princesinha se casa com o rei, mas
não são felizes para sempre, de príncipe transforma-se num reizinho chato e implicante.
Ficam claros os usos das alegorias e de metáforas. Nas obras anteriores O rei que não sabia
de nada (1980). O que os olhos não vêem (1981), Ruth realiza variações sobre o mesmo tema,
que segundo Lajolo é de “capital importância”, e não é por casualidade que a criança se
identifica tanto com o reizinho, pois esta é diretamente submetida ao mandonismo dos pais,
da escola que impinge regras. A escritora afirma que o texto de Ruth é um texto livre de
retórica de “salvacionismo milagreiro”, sempre permeado de humor e irreverência, e atuam
como forma de resistência, sendo o verso curto e prosa direta a garantia da comunicabilidade
53
entre a obra e o leitor.
Rosa Maria Cuba Riche no artigo “Histórias de reis e questionalismo ideológico de
Ruth Rocha” (1990), afirma que a obra de Ruth Rocha possui um emaranhado de temas e
questionamentos enriquecedores que se cruzam com o dado bíblico, intertextual, folclórico e
malazarteano no tom da orla do contador nordestino. A escritora afirma que entre as muitas
leituras possíveis de sua obra, o questionamento ideológico é um dos traços marcantes,
gerador da tensão repressão X transgressão, menciona que a produção de Ruth vincula-se aos
anos 70. Salienta que esta década foi inaugurada treze meses depois do AI 5 e que os fatores
sociais, políticos e econômicos tiveram razoável influência sobre as prioridades estabelecidas
pelos intelectuais e artistas. A interferência do estado gerou um clima de insatisfação entre
políticos e intelectuais, o que levou essa geração na maioria das vezes a valer-se de metáforas
e símbolos para falarem do real.
Tal situação atinge também a literatura infantil, ocorre um abandono do escapismo, do
moralismo, do maniqueísmo e o didatismo e a linguagem assumem uma dimensão lúdica.
Com isso, afirma cuba Riche, a literatura passa a ser encarada como um dado do real, e os
problemas sociais deixam de ser alijados do universo infantil.
A escritora afirma que a transgressão na obra de Ruth Rocha se dá em dois níveis: A
nível formal como nas obras: Marcelo, Martelo, Marmelo, De hora em hora e A primavera da
lagarta, e a transgressão relacionada a estrutura social vigente. Cuba Riche aborda a
contestação do poder dominante, que segundo ela é a tônica da maior parte da produção de
Ruth, seja representada pela figura do pai, da mãe, de um professor ou de uma criança
mimada. Opta por analisar em seu artigo as “Histórias de reis”, por ser o representante mais
legítimo do poder, e também porque nesta é que a tensão dominante/dominado melhor se
configura. O ciclo dos reis iniciou-se em 1978 com O reizinho mandão, seguindo-se a ele O
rei que não sabia de nada (1980), O que os olhos não vêem (1981) e “Sapo vira rei vira
sapo” ou “A volta do reizinho mandão” (1982).
Afirma a autora que o rei simboliza o mais abstrato e geral, o homem universal e
arquétipo e, como tal, possui poderes sobrenaturais e mágicos, o rei dos contos de fadas é
absoluto, autoritário e ditador de leis, os reis de Ruth Rocha são diferentes, mantém o
autoritarismo, a voz imperativa e mandona, mas são capaz de arrependerem-se, modificarem-
se ou mesmo serem vencidos pela união do povo.
Cuba Riche menciona que Ruth inicia sua história calcada no ludismo verbal, a
tipificação do rei do conto popular “barba branca batendo no peito”, “capa vermelha batendo
no pé”, no entanto utiliza-se da palavra “reizinho” no diminutivo, atribuindo-lhe
54
características de teimoso, implicante, xereta. Em O reizinho mandão, Ruth Rocha traça um
paralelo entre o rei adulto e o rei criança, configurando a dialética adulto X criança que irá
percorrer toda a obra, mostrando a complacência do rei velho e a insensatez e os caprichos do
rei criança. Em O reizinho mandão e O rei que não sabia de nada, a autora inicia suas
histórias nos moldes dos contos de fadas, deixando subjacente um paralelo entre a realidade e
a ficção a “história” e “História”, ao mesmo tempo que promove o distanciamento do real,
lançando a narrativa no espaço da emoção. Seus reis vivem confinados, sem terem contato
com os problemas do povo. Em outra obra o rei é acometido de uma estranha cegueira, que o
impede de ver os pobres e pequenos, além de ser assessorado por ministros corruptos e
fingidos.
Segundo Cuba Riche, Ruth Rocha lança mãos de artifícios como a célebre frase saída
da boca de uma menina em O reizinho mandão: “Cala a boca já morreu, quem manda na
minha boca sou eu”, ou então na obra O que os olhos não vêem, onde o povo constrói pernas
de pau para ser visto e ouvido pelo rei. Ruth delega ao povo o poder das decisões do reino e
valoriza a criança conferindo a sua obra uma ideologia democrática.
Na obra de Ruth Rocha nada parece ser gratuito, afirma a escritora. Em O reizinho
mandão, ninguém escapa à ideologia dominante com exceção do papagaio e do governante,
fica muito clara a relação entre história e História, num momento em que a sociedade passa
por bruscas transformações e ocorrem intervenções do regime militar nas universidades
dificultando as condições do trabalho intelectual.
Ruth Rocha trabalha com temas do cotidiano tais como: campos secos e esturricados,
máquinas que não funcionam direito, ônibus que se atrasam, escolas que não funcionam.
Desta forma a escritora faz com que os problemas sociais entrem na vida da criança através
dos meios de comunicação tornando próxima uma realidade distante.
Cuba Riche salienta que o tom de contador de causos que Ruth Rocha retoma em sua
narrativa torna sua obra muito mais próxima do leitor que vivencia de forma lúdica, mas
critica a realidade do seu cotidiano.
Segundo ela, os questionamentos vem assentados, num tom oral do contador que se
faz presente, aí o narrador coloca suas impressões, faz julgamentos, diminui a distância entre
ele e o leitor. Ruth Rocha sabe valorizar os provérbios populares e seu poder de síntese alia-se
ao dado oral, que faz do dito popular o fecho das estrofes, em exemplos tais como: “o que os
olhos não vêem o coração não sente”; “quem monta na garupa, não pega nunca na rédea”.
Aos provérbios juntam-se também as frases feitas e os ditos populares “sua alma sua
palma” que acentuados pela linguagem lúdica liga as crianças aos dados da tradição oral, que
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muitas vezes estão longe da sua realidade.
Aos governados, Ruth Rocha propicia a possibilidade das atitudes democráticas,
várias vozes fracas se transformam em trovão, uma canção pode detonar uma explosão, o
povo possui a capacidade de criação própria, as pessoas exercem a sua cidadania
confeccionando elas próprias suas pernas de pau. Os dados inverossímeis dentro da sua
história tornam-se coerentes, a sabedoria e o poder de criação são as melhores armas na luta
contra os fortes.
Tanto em Monteiro Lobato, quanto em Ruth Rocha há um projeto transformador, a
criança é tida como um ser inteligente e capaz de optar. Ambos aliam a realidade à fantasia
como projeto de transformação da realidade. O grande sucesso da literatura infantil está em
não alienar o leitor, “para a criança de hoje é necessário uma história que fale a sua língua”. A
proposta finaliza Cuba Riche, é que o processo educativo desenvolva o espírito crítico por
meio não de uma leitura imposta mas, sim, por meio de uma obra literária que possa
desenvolver o espírito de reflexão e crítica sobre si mesma e sobre o mundo.
Severino Francisco, Redator do Caderno Civilização, menciona que as crianças
possuem um antídoto contra a burrice, a prepotência, a arrogância e o conformismo: os livros
de Ruth Rocha. No seu ponto de vista, Ruth Rocha é uma das maiores defensoras dos direitos
da crianças tais como os de rir, divertir-se, viajar na imaginação, receber valores positivos e
serem respeitadas em sua inteligência. Tal como outros críticos, salienta o redator que a
escritora é uma legítima herdeira de Monteiro Lobato em “sua ambição de inventar histórias,
onde as crianças possam morar”. Dele, afirma Francisco, Ruth Rocha assimilou o gosto pela
invenção dos jogos de linguagem, o amor pelo Brasil, a preocupação em passar valores de
afirmação, o senso crítico e de humor, a cumplicidade e o respeito pela inteligência do leitor.
Comenta que após a ausência de Lobato a Literatura Infanto Juvenil sofreu um vácuo, tendo
se reduzido a uma “xaropada”, que visava a passar lições de moral e cívica, sempre usando
terminações em “inha” e “inho”, como se os jovens leitores fossem debilóides. Ruth Rocha
recusou esse moralismo, mas ao mesmo tempo atua como agente civilizadora para crianças, à
medida que sua literatura não ensina com regras de condutas pré-estabelecidas, mas, sim, com
a própria experiência.
Salienta Francisco que Ruth Rocha, ao criar Armandinho o juiz, retoma o
inconformismo da boneca Emília, a personagem decide deixar de ser juiz, por ter sua mãe
xingada por todo mundo, mas ao final retoma o posto e passa a levar os xingamentos na base
da “valsa”.
Em Marcelo, marmelo, martelo a personagem questiona a lógica da linguagem,
56
revelando que tudo não passa de convenção. Argumenta Francisco que a produção de Ruth
nada tem de maniqueísta, mesmo não respeitando as convenções de linguagem, pois, ao
questionar a língua, a personagem acaba por aprender com a própria experiência.
Francisco menciona que na atualidade as crianças vivem sob a mira de uma cultura
imbecilizante de vídeo-games, de babás eletrônicas, o que provoca uma ruptura radical entre
diversão e educação. Diversão e bobagem na sua ótica tornaram-se sinônimos e Ruth Rocha
mostra que os termos não são incompatíveis. Suas personagem são transgressoras natas,
sempre se opondo à prepotência, à esperteza ou à indiferença do mundo adulto. A autora sabe
falar a língua dos pequenos usando amor, afeto, subversão, imaginação e cumplicidade.
Tatiana Belinky em O Estado de São Paulo, no dia 03/03/84, sob o título “Toques
feministas num belo livro infantil”, inicia sua matéria de forma entusiasta citando as inúmeras
atividades profissionais nas quais Ruth encontra-se envolvida. Acrescenta que esta extrapolou
a casa de um milhão de exemplares vendidos, excetuando-se os livros didáticos e faz menção
aos vários prêmios recebidos pela autora.
Reforça que os livros para crianças escritos por Ruth Rocha para as diversas faixas
etárias são sempre interessantes, renovadores, instigantes, enriquecedores e divertidos levando
a criança a rir, a pensar, pois a autora respeita a inteligência da criança sem tentar “fazer-lhe a
cabeça” mas sim procurando fazer com que os pequenos desenvolvam a observação, o senso
crítico, e o senso de humor, despertando-lhes a atenção para vida, para o mundo, levando-os a
enxergar problemas como a injustiça, o autoritarismo, a opressão, bem como a vontade de
resistir-lhes e combatê-los, tudo isto numa linguagem que é uma atração por si mesma.
Sobre Procurando firme, Belinky afirma que este parece um conto de fadas, mas não
é; também parece história para criança, mas não é. A obra, afirma a escritora, é um diálogo
imaginário com o autor, que começa por questionar com o leitor ouvinte que esta história tem
todos os elementos de um conto de fadas, mas não é uma daquelas “histórias chatíssimas” e se
propõe contá-la.
Belinky menciona brevemente o enredo da história que confronta a educação de um
príncipe e de uma princesa. Ele preparando-se para enfrentar o mundo e ela para o casamento.
Ruth Rocha constrói uma narrativa ágil engraçada misturando fatos antigos e atuais, numa
sucessão de anacronismos engraçadíssimos, sempre colocando as coisas no lugar, com humor
e crítica.
A princesa depois de recusar vários pretendentes prepara-se para a vida às escondidas
dos pais. Seu objetivo é correr o mundo e fazer sua própria escolha. Em suma, o livro ilustra
de forma lúdica, as reivindicações feministas do nosso tempo. É um livro bonito com texto e
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ilustrações entrosadíssimas, num tom integrado, que capta todo o humor criado pela autora.
A escritora ressalta que Ruth Rocha teve a idéia de escrever este livro depois de ler a
obra de Collete Dowling, Complexo de Cinderela, que fala entre, outras coisas interessantes,
do medo do sucesso, endêmico entre as mulheres.
4.2 VOZES QUE QUESTIONAM O UTILITARISMO
Edmir Perrotti, em O texto sedutor na literatura infantil, argumenta que nos
anos 70 a produção literária destinada a crianças, que era marcada por uma concepção
puramente utilitária da arte, com vistas à eficácia, sofreu um abalo que configurou uma crise.
Neste espaço surgem vários escritores que retomam a postura de Lobato. Estes reclamam a
sua condição de artista, almejam que suas obras sejam apreciadas enquanto objeto estético,
não admitem mais serem vistos como “moralistas” ou “pedagogos”, e, desta forma, firmam
compromisso com a arte. O resultado deste impulso é um quadro literário rico, que, se não
consegue eliminar o utilitarismo, ao menos faz-lhe frente, reduzindo-lhe o espaço, colocando-
o em “crise”.
Segundo o crítico, o sintoma mais evidente desta mudança é a publicação de O caneco
de prata de João Carlos Marinho Silva, que por sua vez eleva a produção destinada a crianças
à condição artística, orientando-se para a dinâmica interna do próprio texto.
Salienta Perrotti, que o abandono do pragmatismo não se deu de maneira fácil. Em
algumas produções pode-se perceber a preocupação com a mensagem. Estas ainda se
orientam pelo princípio da eficácia e, embora, apresentem temas atuais ainda se pautam pelo
princípio do ensinamento, fator este que o crítico denominou de “utilitarismo às avessas”.
Perrotti lança um questionamento sobre a natureza da literatura para crianças. Seria a
literariedade um critério suficiente para dimensionarmos o valor de uma obra infantil?
Há que considerar que a literatura para crianças nasce sob a égide do mercado, tal
como as demais manifestações estéticas, e tendo nascido no contexto da mercantilização
apresenta características específicas em função do público a que se dirige, e desta forma não
há como desconsiderar o público no julgamento que se faz da representação artística, então
conclui-se que as teorias estéticas preocupadas apenas com a estrutura narrativa interna não
dão conta de responder adequadamente às questões levantadas pelos objetos artísticos
nascidos sob a égide do Mercado. Nas palavras do crítico: “Como conjugar ´literariedade´ e
´condições de recepção´, eis o grande desafio da literatura para crianças e toda arte que deve
ao mercado o seu surgimento”.
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Não há como desvincular as estruturas narrativas presentes na obra
literária dirigida à criança da representação que a criança faz da
infância, de um lado; e de outro, das condições sociais da infância,
pois o mercado funciona em consonância com tais condições.
(Perrotti, 1986, p.21).
Salienta Perrotti que ultrapassar o utilitarismo não significa deixar de reconhecer que a
obra literária também educa, transmite valores, pois é certo que a literatura também é útil, mas
é lastimável saber que muitas vezes a dinâmica interna seja submetida a este fator.
Sabe-se que o discurso utilitário encontra-se permeado de valores tais como o
sexismo, o preconceito racial, o etnocentrismo, o antropocentrismo, a vida afetiva meramente
formal, o saber como instrumento de poder, o individualismo etc., aspectos que visam, por sua
vez, manter a “ordem burguesa”. Seria perfeitamente plausível supor que os autores da “nova”
literatura fugissem a este padrão, principalmente, no que se refere à organização do discurso.
No entanto, esta produção muitas vezes incorreu no que o crítico denomina como
“utilitarismo às avessas”. Nestes casos a eficácia simplesmente mudou de feição adaptando-se
aos interesses contemporâneos.
Edmir Perrotti analisa a obra Marcelo, marmelo, martelo da autoria de Ruth Rocha, e
a enquadra nesta vertente, pois ostenta uma inversão de ótica em relação ao narrador
tradicional. Segundo ele, Ruth Rocha procura valorizar a criatividade da criança, o
pensamento crítico face às convenções sociais, o saber infantil, o questionamento de relações
de poder que conferem aos adultos autoridade indiscriminada sobre a criança, bem como
comportamentos divergentes.
Todavia, afirma Perrotti que, em Marcelo, marmelo, martelo, a autora conserva como
tradição, a atitude utilitária, pois todo o relato é feito no passado configurando uma narrativa
onde o presente está excluído, e somente no final que o tempo verbal é modificado e, então, o
narrador passa a falar no presente. Toda a narração é feita em terceira pessoa como forma de
dissimular o utilitarismo implícito na obra, a história aparece como verdade e não como
“viés” do autor.
Na verdade, como na tradição, Marcelo, Marmelo, Martelo propõe de
forma unilateral modelos exemplares de relações sociais. A diferença
é que eles apresentam caráter contemporâneo (Perrotti,1986, p.129)
Em relação a obra O que os olhos não vêem, Perrotti afirma que este processo não
ocorre, pois a renovação se dá também em termos da relação autor-texto-leitor, relativizando
59
então o princípio da utilidade. A ficção não se confunde com a realidade, pois a criação é
mediada pela voz do criador dando margem a novos enunciados.
O crítico em artigo publicado no Jornal O Estado de São Paulo, em 12/05/1984,
discorre sobre Procurando Firme e afirma que Ruth Rocha é uma das mais festejadas
escritoras brasileiras da atualidade e, que tem, “batalhado firme” no sentido de fazer chegar ao
público infantil a causa da luta feminista em prol de novas concepções sociais do masculino e
do feminino.
Perrotti tece comentários sobre Procurando Firme, que relata a história de dois irmãos
que têm seu destino previamente decidido pelos pais. O menino deverá enfrentar o mundo e a
menina deverá esperar um pretendente com quem se casará e será feliz para sempre. No
entanto, a princesa decide por sua conta se aventurar e conhecer o mundo, com essa atitude a
personagem rompe com os esquemas convencionais.
Perrotti afirma que a obra investe novamente contra os estereótipos sócio-culturais,
através de narrativa ágil, ponteada de lances de humor, que é fruto, sobretudo, da postura
narrativa adotada: “a história dentro da história”. Desta forma o narrador pode discutir com
ouvintes-personagens o desenrolar dos acontecimentos.
Os comentários vão dando os toques humorísticos e críticos, permitindo o
engajamento na causa feminista de forma natural. Salienta Perrotti que a preocupação com o
“recado” é o elemento estruturador do todo, composto afinal para ensinar o melhor
comportamento de uma menina moderna. Segundo o escritor, tal atitude impede a criação de
um universo ficcional mais rico, e menos utilitário, condição, ao que parece, necessária a toda
obra literária que se queira mais duradoura.
Contudo, dentro daquilo que se propõe, a obra é correta, diverte e não compromete.
No entanto, salienta Perrotti, a “feliz carpintaria” não consegue esconder posições que o
feminismo mais crítico rejeita hoje, ou seja, as mulheres não desejam, ao que se sabe,
tornarem-se príncipes de saias e seguir o padrão masculino dominante.
Perrotti afirma que este “triste papel” pertence a um passado que foi modificado, pois
hoje todos podem sair procurando firme sem seguir modelos já constituídos. Na obra de Ruth
Rocha, argumenta Perrotti, este caminho acaba sendo o único a ser seguido e conclui que não
se trata de assimilar padrões privilegiados até hoje mas, sim, da construção de novos padrões,
por sua vez, plurais, diferenciados, discordantes e, sobretudo, sem receitas.
O crítico comenta uma segunda obra de Ruth Rocha: A Decisão do Campeonato, da
Coleção “Catapimba e sua turma”. Esta relata uma partida de futebol entre garotos e tem um
desfecho inesperado e bem humorado. Apesar de gracioso e saudável, Perrotti comenta que o
60
texto como um todo revela problemas que uma autora do nível de Ruth poderia solucionar.
Segundo o escritor, o livro apresenta fragilidades, o menino Catapimba atua como mero
adorno para o efeito final e que é impossível não sentir a pouca carpintaria do conjunto, o
ritmo apressado que achata a narrativa.
Ainda no que tange a abordagem utilitária, que por vezes permeia a produção da
escritora, a professora Cláudia de Arruda Campos, atuante no Departamento de Teoria
Literária e Literatura Comparada da USP, estabelece uma dialética em seu artigo: Prosas e
Narrativas: Ruth Rocha e Maria Heloisa Penteado e se propõe a abordar as escritoras
mencionadas traçando-lhe os perfis e, ao mesmo tempo, confrontando as produções de ambas.
Como preâmbulo a seu trabalho, Arruda Campos menciona que o momento é de “caça
ao leitor”, de procura dos leitores perdidos e, por isso, o título Literatura-infantil se expande
em tantas direções. O resultado deste processo tem sido em muitos casos a produção de uma
obra “nem tão infantil assim” e, que, por vezes, encontra-se distante do conceitos correntes de
literatura.
A pesquisadora menciona que os últimos 20 anos têm sido de sofreguidão para a
literatura infantil, pois transbordam contornos nos escritores desta área. Estes ocupam
inúmeras funções, entre elas, a de criar e de dirigir produções, bem como, participarem de
simpósios e congressos. Paralelos a este fator existe uma crise de leitura, um público a ser
conquistado e também um mercado em franca expansão, e em meio dessa (re) democratização
do país faz-se urgente delimitar espaços, demarcar terreno para a literatura infanto juvenil,
“antes que alguum aventureiro o faça”.
Argumenta Arruda Campos, que a pressa criou uma certa sujeição da escrita à
imagem, pois esta obteve maiores e mais rápidas chances de expandir-se. Menciona que a
palavra encontra-se “envergonhada” perante os demais meios de expressão e, por vezes,
apresenta-se desprovida de qualquer pretensão literária e, isto, se faz notório principalmente
nas obras, cujo objetivo é a alfabetização, e deste processo, Arruda Campos exclui a poetisa
Cecília Meireles.
A pesquisadora refere-se à produção que chegou aos anos 60, produção esta destinada
a um público de mais idade, quase que desprovida de recursos estilísticos, falando meramente
ao leitor, obras cuja efabulação é mínima, onde a conquista da coloquialidade obtida pelos
modernistas em muitos casos atua meramente como um adorno, um artifício. Em outros casos
a distância entre o escritor adulto e o público alvo destas produções, somados aos anseios
desta aproximação gera uma falsa democratização da escrita.
Menciona que em muitos casos as obram variam entre aquelas que visam apenas ditar
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valores a serem assimilados pelas crianças, e aquelas que não são qualificadas pelas suas
qualidades literárias, mas, sim, por sugerir comportamentos “criativos” e/ou “questionadores”.
Também nesta esteira estão as obras que procuram despertar nos jovens leitores a consciência
política, e as que inquietam os adultos.
Há também as que procuram compreender o mundo dos pequenos e apoiá-los em seus
medos, fraquezas e ansiedades, ou as que buscam por meio da escrita transmitir informações
sobre a natureza e a cultura de maneira agradável atuando como um manual.
Arruda Campos afirma que são vários os ângulos pelos quais se têm aproximado do
pequeno leitor, mas em poucos casos percebe-se a preocupação com a “literariedade”, o texto
por sua vez, acaba sendo mais uma “ponte ideológica” do que propriamente um exercício
literário. Comenta que nem por isso todos estes “ansiosos” textos deixaram de ter ser valor,
mas ao contrário contribuíram para a criação de um círculo definitivo chamado de “literatura-
infantil”.
Ruth Rocha é classificada pela pesquisadora como uma das mais exemplares escritoras
desta fase da literatura-infantil e, quanto a Maria Heloisa Penteado, a autora afirma que esta
pode vangloriar-se de “algum pioneirismo”, que fugindo do “realismo” e “fantasia” valorizou
as histórias maravilhosas, embora os títulos de suas obras não sejam nada extraordinários
remetendo na maioria das vezes ao nome da personagem principal. Em seus enredos são
comuns a inserção de acontecimentos fantásticos, tendo especial predileção por bruxas e
feiticeiras, mas como tradicionalmente ocorre neste tipo de narração, existe sempre a
intervenção de agentes encantadores ou desencantadores, sendo que muitas vezes em suas
narrativas a solução venturosa não acontece, e o desfecho aponta para uma situação
constrangedora para a personagem que pode ir parar no “reino do beleléu”.
Arruda Campos afirma que a produção de Ruth Rocha trabalha no pólo oposto. Sobre
os medos, Ruth Rocha trabalha no sentido de desautorizar ou aliviá-los. Em suas histórias as
crianças não são impotentes, mas, sim, convidadas a exercer seus direitos, opondo-se a toda
forma de imposição, ou seja, Ruth Rocha busca no passado a solução para os problemas
presentes com a finalidade de projetar isto para o futuro.
Na obra de Ruth Rocha a aproximação do escritor adulto e leitor criança se dá pela
valorização do mundo infantil pelo adulto, na tradução de problemas para as crianças que
preocupam os grandes, ou por um terceiro caminho que, consiste em aliar tema e linguagem
tornando adultos e crianças cúmplices e vítimas de um mesmo preconceito.
Arruda Campos afirma que a escritora tem grande preocupação com uma linguagem
aproximativa e cita obras como Marcelo martelo marmelo, onde a adesão ao infantil se dá no
62
nível da fábula. Em O Reizinho Mandão ocorre, segundo ela, uma fusão entre a fala do adulto
e a fala da criança, e, finalmente, em Faca sem ponta, galinha sem pé ocorre uma explosão do
diálogo e o encontro do equilíbrio. Criança e adulto, então, já possuem falas diferenciadas e o
narrador já não mimetiza tanto a fala infantil.
Enquanto em Maria H. Penteado as histórias apelam para uma momento de aconchego
e intimidade, num tom de murmúrio, em Ruth Rocha o tom dominante é outro, este encontra-
se permeado de diálogos teatrais, ressoando os metros populares dos cantadores com frases
diretas, enfim, textos para auditórios, vozes de praça e palanques.
Em Penteado, argumenta Arruda Campos, não há uma linguagem infantil mimetizada
e a autora possui pleno domínio dos recursos da narrativa, apesar de apresentar uma
linguagem nada ornamentada, esta não desdenha o tom poético e apesar dos coloquialismos a
produção da autora se configura como “escrita”.
A autora confronta as produções de ambas as escritoras afirmando que em Penteado
há um valorização do conto tradicional, ou seja, a situação inicial tem seu equilíbrio rompido
voltando no final à normalidade, e em Ruth Rocha há o gosto pela parábola, pela alegoria,
portanto suas obras agradam a crianças, e segundo ela, “piscam os olhos para os adultos”
Quanto às ilustrações, é a própria Penteado quem as faz, enquanto Ruth Rocha conta
em grande parte das suas produções com o ilustrador Walter Ono, que por sua vez possui um
traçado hiperbólico e caricaturante, chegando a caricaturar os próprios procedimentos
literários. Em Penteado as ilustrações se diluem no tecido verbal e, por vezes, se destacam
como jogo complementar.
Afirma a pesquisadora, que em Penteado temos uma espécie de artesã que recupera o
conto para crianças e em Ruth Rocha temos um recorte ousado para um tipo de público a
quem tudo se indica e certamente se fixa como veículo de idéias.
Concluindo, Arruda afirma que em ambos os casos não se trata de comparar valores,
pois onde Ruth Rocha ganha em termos de atualidade, de aposta em um mundo livre das
convenções, pode perder devido ao utilitarismo apressado. Penteado pode perder por
contribuir para a manutenção dos valores, mas ganha no cuidado de construir uma obra por
inteiro. Em suma, “são dois caminhos nítidos, que não levam igualmente a Roma”, e
privilegiar um ou outro não é a opção, sem que se considere motivos e conseqüências.
63
4.3 DEMOCRATIZAÇÃO DA ARTE: A LITERATURA COMO MERCADORIA
Ruth Rocha se insere num momento de franca expansão capitalista e, conforme, já
descrevemos, surgem instituições e programas voltados para o fomento da leitura e discussão
da literatura-infantil. Neste ínterim surgem a Fundação Nacional do Livro Infantil (1968) e o
Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil (1973) entre outras. Durante os anos 70, O
Instituto Nacional do Livro (1937) investe significativamente na produção de livros voltados
para a população escolar. No plano da iniciativa privada, isto correspondeu ao investimento
de grandes capitais, que, por sua vez, promoveram uma inovação na veiculação destas obras,
que, então, se atrelavam a revistas, jornais, estes livros são vendidos em farmácias, bancas,
supermercados etc.
O reflexo desta mudança desencadeou o desenvolvimento de um comércio
especializado, que promoveu, por exemplo, a abertura de livrarias organizadas em torno deste
novo público.
Essa “democratização” da obra para o público infantil incorreu por vezes na “pressa”
decorrente das exigências do mercado. Alguns escritores lançam vários títulos por ano, que
independentemente da sua qualidade têm seu consumo garantido.
Cumpre lembrar que neste período ocorre também uma proliferação das rádios FM e
das emissoras de televisão, que sobrevivem da propaganda e, tal qual, uma mercadoria, as
obras são divulgadas. Estas ocupam espaço nos jornais, bem como, nos demais meios de
divulgação, surge então, uma crítica com vistas à venda do produto, não com o objetivo de
lançar um olhar crítico sobre as obras, daí serem recorrentes as notas publicadas, sob o
pretexto de informar o conteúdo de uma determinada obra, mas que cumpria antes de tudo a
missão de persuadir o leitor a comprar, é a ditadura do consumo nos tempos da ascensão
capitalista.
Percebemos durante o processo de coleta de dados que ampara esta pesquisa que a
“geração de 70” está atrelada a esta crítica, que muitas vezes não se apresenta como
especializada, fator este decorrente da urgente mercantilização da obra destinada ao público
infantil, devido a fatores sociais e/ou políticos. Podemos constatar que uma vez que esse novo
tipo de escritor desempenha inúmeras funções, são inúmeras as vezes em que a divulgação de
lançamentos de livros e coleções estão ligados à mídia de uma maneira em geral, e muitas
vezes esta crítica apresenta-se simplesmente com o objetivo de venda. A esta modalidade
soma-se a postura de autores consagrados tais como os já citados, Marisa Lajolo, Fanny
Abramovich, Edmir Perrotti, Tatiana Belinky entre outros, mas na maioria dos casos
64
encontramos artigos sem assinatura em jornais, revistas, cujo teor é sempre parecido e em
alguns casos “iguais”.
Notamos também que neste período uma das formas de se conferir um valor estético a
uma determinada produção é a recompensa em termos monetários e Ruth Rocha participa
desta engrenagem, não somente como escritora e redatora, mas como uma empresária que
organiza coleções, selecionando obras e fazendo sua apresentação, emitindo pareceres sem,
contudo, que isso implique no barateamento daquilo que se está oferecendo ao público. A
citar, por exemplo, a Coleção “Literatura em minha casa”, lançada pelo Ministério da
Educação em 2003, onde de forma responsável e lúcida seleciona e apresenta obras de
escritores do porte de Ana Maria Machado, Dorival Caymmi, Vicente de Carvalho etc., além
de ter sua obra publicada em parceria com outros autores, como é o caso do título: Meninos e
meninas, publicada na mesma coleção ao lado de textos de Ana Maria Machado e Sônia
Robatto.
O que se pretende enunciar aqui é o fato de que a literatura em ritmo industrial abre
margem para estas inúmeras funções do escritor, mas cumpre destacar que esta rápida
“mercantilização”, não constitui uma total degeneração destas obras, pois se houve de um
lado falhas na pressa em atender ao mercado, percebemos claramente que há cuidado na
seleção e apresentação destas coleções.
Em artigo publicado no Jornal O Globo, em 24/10/76, o redator versa sobre Marcelo,
Marmelo, Martelo e outras histórias e afirma que três histórias compõem esta obra da coleção
Livros de Recreio. Segundo o ponto de vista do redator, são contos divertidos que agradarão
plenamente as crianças recém alfabetizadas, pois retratam situações muito próprias do seu
mundo.
Sobre Marcelo, a personagem da primeira história, o autor afirma ser um menino que
não se conforma com o nome das coisas, e acaba de descobrir que estes são símbolos
inventados pelo homem, por isso começa a renomear as coisas chamando, por exemplo,
colher de mexedor, cavalo de puxador etc. Argumenta também o redator, que de início os pais
se preocupam, mas depois procuram compreender o que ele diz, depois dessa mudança de
atitude o convívio em família se torna bem melhor. Nesta sátira, Ruth Rocha procura situar o
problema da linguagem da juventude, expondo muito bem qual seria a atitude dos pais: evitar
falar como eles, mas procurar entender o que eles dizem. A segunda obra mencionada é
Terezinha e Gabriela, duas meninas que se vêem obrigadas a mudar de atitude, pois se
cansam de ouvir elogios uma a respeito da outra. Ao se encontrarem vêem-se refletidas uma
na outra e percebem a situação ridícula em que estão metidas. Preservando suas reais
65
personalidades as duas se tornam amigas e percebem que cada uma lucra mais com o convívio
e com as suas diferenças.
A terceira obra da Coleção é: O dono da bola, cuja personagem central é Carlos
Alberto, um menino rico e cheio de vontade, que possui uma bola de futebol de couro,
enquanto os demais meninos da rua jogam futebol com bola de meia. A cada pequeno
desentendimento Carlos coloca a bola embaixo do braço e vai embora, até levar uma lição da
turma, que resolve ignorá-lo. A lição funciona e o menino aprende que a camaradagem é mais
importante que os ataques de voluntarismo. Ele se integra à turma e passa a ser chamado de
Caloca.
O redator afirma que é a primeira vez que Ruth escreve textos maiores e que suas
personagens são bem variadas, sendo os temas bem definidos, mantendo as mesmas
qualidades de estilo encontradas em trabalhos anteriores: simplicidade, clareza, inventividade
e humor, sempre usando uma linguagem coloquial que dá o seu recado, acrescentando sempre
uma mensagem enriquecedora. A respeito das ilustrações de Adalberto Cornavaca, este afirma
que são perfeitamente adequadas, vivas, movimentadas e alegres.
O jornal O Globo em 03/04/77 traz uma matéria sobre a obra Nicolau tinha uma idéia
e nesta o redator afirma que se trata de mais um dos títulos de Ruth Rocha que vêm
demonstrar a coerência do seu trabalho, no que se dirige a crianças ainda bem pequenas. Após
breve resumo da história, o redator menciona que o texto é quase uma legenda bem despojada,
clara e direto, que transmite exatamente a idéia da autora, que é realmente muito criativa Suas
ilustrações são cheias de elementos bem brasileiros que enriquecem a obra que se dirige à
crianças pré alfabetizadas, e que será facilmente decifrado por aquelas que se iniciam no
processo de aprendizado.
O Globo em 03/04/77 traz uma breve resenha sobre a obra No caminho do Alvinho
tinha uma pedra. O artigo expõe brevemente o enredo mencionado que Alvinho tinha a mania
de trazer tudo que encontrava na rua para casa. Um dia aparece com uma pedra redonda e a
guarda debaixo da cama, da pedra nasce um avestruz que passa a morar escondido no quarto
do menino para que a mãe não veja. O avestruz é enviado ao Jardim Zoológico, onde Alvinho
vai visitá-lo todos os domingos. O texto mantém a clareza e a simplicidade dos livros
precedentes, e ao estilo acrescentam-se as rimas ocasionais, suas ilustrações são caricaturais e
bem coloridas acompanhando de perto as intenções do livro.
Linguagem perfeita, num ritmo ágil é o título de um artigo publicado em O Globo, na
data de 06/11/77, por Laura C. Sandroni, onde esta afirma que Ruth Rocha é a mais atuante
escritora na faixa de histórias para crianças bem pequenas, e comenta a publicação de alguns
66
contos destinados ao público que já domina melhor a leitura: a coleção Histórias de Recreio
onde aparece Catapimba e sua turma. Em relação às obras, A decisão do campeonato,
Armandinho, o juiz, e A máquina maluca Sandroni afirma que a autora utiliza-se de uma
linguagem perfeita, divertida, num ritmo ágil como o de uma partida de futebol,
desenvolvendo de maneira bem humorada um tema que sem ser original é muito pouco
encontrado em nossa literatura.
Sobre A máquina maluca, Luciana Sandroni afirma ser esta a melhor história do livro,
pois é lúcida ante a realidade tecnológica que nos afoga, partindo para a fábula, onde
desmitifica essa realidade, constituindo um tema que na visão da redatora deveria ser mais
explorado. Ruth Rocha segundo ela, dá a partida, abrindo um campo fecundo e vasto, sua
máquina enlouquecida e enlouquecedora é bem um retrato de um mundo, onde se torna cada
vez mais necessária a coragem de desligar a tomada.
Em nota publicada em 06/11/77 pelo Jornal O Globo sobre Catapimba e sua turma, o
redator realiza um comentário sobre as obras da coleção “Catapimba e sua turma”. Afirma
que Catapimba é o centro avante do Estrela D’ Alva Futebol Clube, e afirma que quando este
pega a bola lá vem o gol. Armandinho é o juiz. O redator afirma que Ruth utiliza-se de uma
linguagem perfeita, divertida, ágil como o de uma partida de futebol, desenvolvendo seus
temas de forma sempre bem humorada. O artigo traz um breve comentário sobre as obras:
Como se fosse dinheiro, Armandinho, o juiz e A máquina maluca.
Sobre como se fosse dinheiro este traz um breve resumo sobre o conteúdo da obra,
menciona que, utilizando-se do mesmo estilo, Ruth Rocha critica e incentiva a reação das
crianças diante do que está errado. Conclui afirmando que esta é uma proposta válida ao nível
da criança.
Sobre Armandinho, o juiz, o redator se restringe a esboçar uma breve síntese sobre a
narrativa onde Armandinho, que é o juiz de uma partida de futebol decide não mais exercer a
função, pois está cansado de ser xingado por todo mundo. Na primeira partida sem árbitro
estabelece-se uma confusão geral e o quadro volta a normalidade, com o menino ocupando
outra vez o seu posto.
A respeito de A máquina maluca, após expor o resumo do conteúdo do texto, que
versa sobre uma maquina construída para fazer o trabalho do homem e, que, se revolta
passando a exigir coisas em demasia, Sandroni utilizando as mesmas palavras do artigo que o
antecede, afirma que esta é a melhor obra das três, pois é lúcida ante a realidade tecnológica
que nos afoga, sendo que a autora parte para a fábula, onde desmistifica essa realidade.
Sobre as ilustrações este afirma que elas são caricaturais e estereotipadas e frisam os
67
aspectos cômicos do texto, sem nada a acrescentar.
O Jornal O Globo em 11/12/77, em artigo denominado: Romeu e Julieta em versão
para crianças, escrito também por Laura Constância Sandroni, informa que o conjunto é
formado por quatro histórias independentes que têm em comum a graça e a comunicabilidade
da linguagem.
Sobre O Trenzinho do Nicolau esta afirma que é a melhor história do livro
constituindo um tema lírico, tratado de forma poética.
Sobre a Escolinha de mar comenta que é uma história tradicional, mas de conteúdo
bastante crítico, fator no qual reside sua maior qualidade. Ao colocar no fundo do mar figuras
como a do Tubarão Barão e de seu filho Tubaronete a escritora leva o pequeno leitor a refletir
sobre o absurdo da existência de “play peixes”, apresentando a escola como elemento
democratizador.
Segundo Sandroni os nomes dados aos personagens são muito bem achados e o uso de
versos e cantigas tradicionais brasileiras servem como elemento enriquecedor do texto.
O Jornal O Estado de São Paulo em 20/03/78, em breve artigo, divulga a obra
Catapimba e sua turma, lançado pela Editora Abril, sendo este o primeiro volume de uma
nova coleção infantil: Histórias de Recreio. O texto apresenta algumas características de Ruth
Rocha e conclui que o resultado atingiu o alvo certo, que é a mente infantil. Sobre as
ilustrações a nota informa que são de Alberto Linhares e César Sandoval, com saudáveis
doses de bom humor.
A Folha de S.Paulo de 23/08/78 divulga a coleção Pinju, uma série de livros
destinados ao público jovem e apresenta os nomes de alguns títulos como os de: Marcus robô
de Maria Heloisa Penteado, O enigma do autódromo de Interlagos de Stella Carr, A sombra
das bananeiras de Lilia Malferrari , O Reizinho mandão de Ruth Rocha , No dia em que os
peixes pescaram os homens de Jorge Medauar, Uma estranha aventura em Talalai de Joel
Rufino dos Santos.
A nota publicada pelo Jornal da Tarde em 23/08/78 retoma as mesmas obras da
coleção Pinju e esboça um breve parecer sobre cada uma das obras pertencentes ao conjunto.
A Folha de S.Paulo de 13/09/78 esboça um pequeno texto elogiando a obra O
Reizinho Mandão de Ruth Rocha salientando, sobretudo, o humor e a criticidade presentes no
texto.
O Jornal do Brasil em 20/01/79 apresenta um texto divulgando que cinco livros de
autores infantis foram selecionados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil para
concorrerem ao prêmio Janusz Korczac (educador e escritor polonês, vítima do nazismo),
68
criado pela seção polonesa da Organização Internacional para o Livro Infantil e Juvenil
(IBBY). Sendo eles: Pivete de Henry Correa de Araújo da Editora Comunicação, O menino de
Palmares de Isa Silveira Leal da Brasiliense, Aventuras do escoteiro Bila de Odete de Barros
Mott também da Brasiliense, A Casa da madrinha de Lygia Bojunga Nunes editado pela Agir
e O Reizinho Mandão de Ruth Rocha, da Pioneira e dos livros sobre criança o escolhido foi
Educação não é privilégio de Anísio Teixeira.
O jornal O Globo em Notícias do IBBY, em 04/02/79 traz várias notas sobre livros
infantis e juvenis, entre elas A criação de uma bibliografia de obras realistas, comentadas em
inglês, reunindo 20 títulos de 29 países e ainda indicação de cinco obras de referência de cada
um deles, as publicações do Guia Internacional de fontes para Literatura Infantil e os Anais do
16 Congresso do (IBBY).
Em relação ao ano Internacional da Criança o IBBY decidiu criar uma lista de Honra
do Prêmio Hans Cristian Andersen e, concluindo, a nota apresenta os nomes dos títulos de
autores brasileiros selecionados pela FNLIJ, dentre eles O Reizinho Mandão de Ruth Rocha.
Em nota publicada em 21/11/79, o Jornal da Tarde anuncia a publicação da Coleção
Amarelinha a ser lançada pela Abril. O texto ressalta que a grande maioria dos títulos já saiu
vendida da editora e, portanto, somente três mil exemplares estarão à venda exclusivamente
em bancas de São Paulo .
Esclarece que A amarelinha é uma coleção de 12 títulos, a serem publicados
semanalmente, sendo que o primeiro será Nicolau tinha uma idéia. Posteriormente sairão as
reedições de Palavras, muitas palavras, Bom dia todas as cores, De hora em hora, A
primavera da lagarta, No caminho do Alvinho tinha uma pedra e A árvore do Beto. Farão
também parte da coleção quatro historietas de Maurício de Souza, uma de Joel Rufino dos
Santos: O curupira e o espantalho, sendo de fácil acesso e bom preço, constituindo uma boa
chance de pular amarelinha em literatura.
Em nota publicada no Jornal de Alagoas em 24/08/80, o redator limita-se a comentar
o estilo da escritora Ruth Rocha, e o faz de forma simples e direta. Entre as menções que faz à
autora este afirma que Ruth Rocha está preocupada basicamente em questionar o problema da
dependência em toda a sua amplitude, e que escreve numa linguagem simples e objetiva,
despindo-se de qualquer moralismo conformador presente em quase todas as obras infantis
tradicionais.
Laura C. Sandroni em nota publicada pelo jornal O Globo em 08/03/82, sob o título:
Quatro títulos, série “Peixinho” comenta que Ruth Rocha está com dois de seus melhores
textos em reedição. Sobre A máquina maluca, esta afirma que a obra tematiza a dependência
69
cada vez maior do homem frente à tecnologia levando a um paroxismo, enquanto a autora
propicia uma história engraçada que leva o leitor a questionar a realidade que o cerca.
Em A árvore do Beto, Ruth Rocha mostra a sua face poética num belo texto.
Argumenta que poucos autores souberam mostrar o Natal com originalidade, tendo como
ilustrador o competente Rogério Borges.
Tatiana Belinky em nota da Folha de S.Paulo da data de 08/03/82, afirma que a
mentira é o tema do último livro de Ruth As coisas que a gente fala, lançado pela Editora
Rocco. Belinky diz que colocaria como epígrafe do livro um provérbio russo que afirma que
“uma palavra é como um pardal, se voar a gente não pega mais”, pois o tema do livro é
exatamente o peso e a importância da palavras, as palavras que a gente diz sem pensar (ou por
malícia), e que segundo ela, saem voando, se espalhando e aprontando.
Bia Cardoso em breve comentário, denominado “Respeito aos pequenos leitores” na
Folha de S.Paulo, Seção Vida Infantil, em 09/07/83, esboça seu parecer sobre duas obras
publicadas pela Nova fronteira: Praga de unicórnio, de Ana Maria Machado e Faca sem
ponta, Galinha sem pé, de Ruth Rocha, e afirma que os dois livros são bem escritos uma vez
que as autoras conseguem abordar questões que estão presentes no dia a dia das crianças sem,
no entanto, cair num realismo extremo.
Sobre Praga de Unicórnio, Bia Cardoso se limita a fazer um resumo da obra. Conclui
que a autora consegue adentrar o mundo das crianças, mostrando as diferenças da realidade
dos adultos, argumentando que talvez com essa leitura, os pequenos possam entender melhor
como funciona a cabeça de gente grande. Sobre as ilustrações de Humberto Guimarães, esta
afirma que ele brinca com as transparências e diferentes escalas de tamanho com muito
colorido, que saem da estereotipia de desenho para crianças.
Sobre a produção de Ruth Rocha, Cardoso aponta o trabalho com as diferenças dos
papéis exercidos por homem, mulher enfocando as relações de família e a relação entre dois
irmãos mencionando que Ruth com muito tato, descreve situações nas quais, surge a cobrança
de se seguir um modelo dado, deixando transparecer os conflitos gerados em uma criança
devido a estas cobranças.
A redatora afirma que este é um livro destinado a faixa dos 7/8 anos, pois é nesta fase
em que meninos e meninas formam os seus clubes do Bolinha e da Luluzinha. Ruth ao
inverter os papéis de Pedro e Joana, personagens do livro, permite à criança vivenciar outra
realidade que é a do sexo oposto. Conclui dizendo que é um livro gostoso de ler, que Ruth
Rocha tem a saudável mania de pôr as coisas estabelecidas de pernas para o ar e deixar que a
criança, através de dados novos e de sua experiência de vida, conclua o que achar melhor.
70
Em nota publicada pelo jornal O Globo, na data de 22/01/1984 o redator refere-se a
duas obras lançadas, então, recentemente, pela Editora Nova Fronteira Dois Idiotas sentados
cada qual no seu barril e Quando eu comecei a crescer, qualificando-as como excelentes
textos.
Pertencentes a gêneros distintos o redator primeiramente cita a obra: Quando eu
comecei a crescer limitando-se a expor a linha temática da obra, em que uma criança em fase
de descoberta do mundo percebe suas fantasias. Sobre Dois Idiotas sentados cada qual no seu
barril o redator se restringe a fazer uma breve resenha do enredo.
Vivina de Assis Viana em breve comentário sobre a obra Nicolau tinha uma idéia,
afirma que qualquer criança que ficar conhecendo Nicolau e suas experiências fantásticas,
certamente viverá uma identificação imediata, como se a personagem fosse seu pai, irmão ou
colega. Ressalta que a obra foi escrita há mais de trinta anos, e que seu nome é merecidamente
consagrado na literatura-infantil brasileira. Comenta que a autora nos tempos de Recreio criou
“Nicolau” que veio para ficar, o que não é nada mais do que justo, pois sua história é simples
e verdadeira, o que faz dele uma personagem magicamente atual e enseja: “Que ele povoe
para sempre bibliotecas e livrarias”.
Eliana Yunes afirma em artigo publicado no Jornal do Brasil, em novembro de 1986,
que Ruth Rocha deixou a experiência com suas rimas e seus reis, e embarcou na literatura
para adolescentes. Em De repente dá certo a autora expressa sua sensibilidade para captar as
situações, suas circunstâncias e expressar numa linguagem coloquial as questões de fundo
existencial, sem no entanto, abdicar da opção de passar uma mensagem implícita em sua
produção.
A Ruth Rocha de O reizinho mandão, escreve agora sobre a temática existencial de
uma menina de doze anos, na cidade de São Paulo, no seio da classe média. As inseguranças
da adolescente são captadas por uma linguagem muito segura e cheia de emoção. Yunes
argumenta que esta constitui uma na narrativa fluente em primeira pessoa, mas que não
objetiva a mera preocupação de orientar pedagogicamente.
Pra que serve? é outra obra da autora, lançada pela Salamandra, que aborda os dramas
familiares e afetivos da pré-adolescência. Segundo Yunes, Ruth contribui para que os
adolescentes identifiquem-se com a narrativa “infanto- juvenil”.
Em nota publicada pelo jornal O Globo de 07/12/86 o redator esboça uma breve
leitura sobre duas obras de Ruth Rocha: Histórias de antigamente e De repente dá certo.
Antes de adentrar na análise das obras propriamente ditas, o redator afirma que os
papéis femininos sempre ocuparam um espaço muito pequeno nos livros infantis. Segundo a
71
psicóloga Fúlvia Rosemberg da Fundação Carlos Chagas, os protagonistas eram em sua
maioria homens, e a figura feminina sempre ocupava um papel secundário na trama, e coube a
“geração de 70” modificar este quadro, embora em poucos trabalhos as mulheres maduras
aparecem em situação de trabalho fora do lar.
A respeito de Histórias de antigamente, o redator menciona que se trata de três belas
lendas da Europa medieval nas quais as protagonistas rebelam-se contra um destino confinado
no lar e mesmo vestidas com pesadas armaduras conquistam três belos cavaleiros, com quem
compartilham a sua existência.
Em relação a De repente dá certo, afirma que Ruth trata de um assunto delicado que é
o segundo casamento da mãe. Narrado em primeira pessoa, numa linguagem coloquial e
simples mas, adequada ao personagem, seu texto desvenda pequenos problemas próprios da
idade, tratando com coragem situações difíceis e cada vez mais comuns em nossos dias.
Eliana Yunes em artigo publicado na Tribuna da Imprensa em 21/09/89, discorre
sobre a adaptação da obra de Ruth Rocha: Dois Idiotas sentados cada qual no seu barril, sob
a direção do então, estreante, Dudu Sandroni .Comenta a escritora, que o texto da autora
constitui um mero roteiro de idéias, que toma novo corpo em cena, e acrescenta que o
trabalho em questão é criativo e muito vivo, com cenas que sucedem num crescendo, o que
torna extremamente lúdico o resultado.
Yunes comenta que a partir das duas personagens: Mandão e Teimoso, Luis Carlos
Persegani e Carolina Virguez, armam situações de confronto permanente, colocando
simultaneamente um lado da insensatez idiota e um outro satírico, o próprio comportamento
absurdo. Os seres nascem de dentro de um ovo-barril, o que causa já de primeiro momento
um efeito de estranhamento.
O percurso do espetáculo, com poucos, mas bons recursos cênicos, conduz ao
aprofundamento de uma crise que levará ao final a um momento de maturidade. Aproximação
e repulsa vão ganhando intensidade pela acumulação de cenas que giram em torno do
crescimento, reunião, conflito, reparação, nova disputa, acordo, etc, enquanto confere menos
enfoque ao aprofundamento do tema, o que desviaria o rumo, a proposta do trabalho.
A autora comenta que o trabalho da direção foi bastante valorizado pela preparação
dos palhaços de Dácio Lima, e comenta também, a colaboração da figurinista Lidia Kosovisk,
da coreógrafa Gisela Saldanha e do diretor musical Ubirajara Cabral. Concluindo, Yunes
afirma que no conjunto foi um trabalho despretensioso, coerente e lúcido no tratamento do
tema “louco”, e que o trabalho do diretor iniciante foi bem conduzido apontando para um
começo feliz, configurando-se um espetáculo para todas as idades.
72
Luiz Henrique Romagnoli inicia seu artigo sobre a premiação da obra O rei que não
sabia de nada, de Ruth Rocha citando uma frase da própria autora. “Embora todos saibam que
o país vive um momento difícil, a atitude mais comum das autoridades é fingir que não vêem
as coisas mais gritantes, foi isso o que eu quis refletir na minha história”. Desta forma, o
redator afirma que Ruth Rocha resume a idéia básica de seu livro, uma ficção com que acaba
de obter o primeiro lugar do I Concurso Nacional de Contos Infantis, promovido pelo Jornal
Auxiliar, órgão da Corporação Bonfiglioli.
Menciona posteriormente que a obra faz parte de uma trilogia, sendo que a primeira
foi publicada com o título de O reizinho mandão, a segunda O que os olhos não vêem, e nas
três os reis são marca registrada dos contos de fadas, argumenta que em palavras da própria
Ruth Rocha, é com essas personagens que ela pretende mostrar a realidade de uma forma que
não seja ultrapassada pelo tempo, e que seja entendida mesmo depois que a criança cresça e a
situação seja outra, pois as figuras de reis conferem universalidade à história.
Em seguida, Romagnoli afirma que este o primeiro prêmio de Ruth em concursos de
contos, mas salienta que a escritora é uma recordista em vendas tendo escrito e publicado 15
livros com tiragem de 300 mil exemplares.
Afirma ainda que Ruth Rocha não se julga um caso isolado, e que considera que a
literatura-infantil é boa, sendo que toda a “geração de 70” é filha de Lobato, e dele sofreu
máxima influência. Ainda sob a concepção de Ruth Rocha, Romagnoli afirma que a mesma
procura fugir do realismo puro acreditando que a realidade pode ser apresentada numa
parábola, numa história “non sense”, mas bem feita, de maneira que se perceba o elemento
real do assunto tratado.
Concluindo o artigo, o redator cita as obras que ganharam os prêmios menores e
anuncia que todos os trabalhos serão publicados pela Santo Alberto Artes Gráficas e Editora,
de São Paulo.
Carmem Moretzsohn inicia seu artigo dialogando com diversas obras de Ruth Rocha,
e afirma que a escritora aprendeu a subversão com Lobato, por isso, multiplica a irreverência,
a graça, a insubordinação.
Comenta que Ruth Rocha seja talvez a autora de literatura infanto-juvenil de maior
sucesso no país, e que seus cerca de 130 títulos já foram traduzidos para 25 idiomas entre as
línguas mais conhecidas e outras, sendo a primeira representante da literatura infanto juvenil a
ter livro lançado na Biblioteca Nacional, e que pode ser também a primeira a entrar na
Academia Brasileira de Letras.
Moretzsohn afirma que este sucesso não sobe à cabeça da escritora, pois prefere saber
73
que está plantando aquela sagrada indignação na alma das crianças, fazendo-as não temer a
autoridade arbitrária, tomar posições diante das injustiças, ter argumentos contra o racismo e
toda sorte de preconceitos, a escritora quer dizer coisas e ser ouvida, contar histórias e
entreter.
Moretzsohn esboça uma breve biografia de Ruth Rocha afirmando que foi com a
publicação de Romeu e Julieta que a autora respondeu à pergunta de sua filha Mariana sobre o
racismo, e salienta que as personagens de Ruth são sempre contestadoras, não se acovardam
diante de reizinhos mandões, ministros desonestos, príncipes entediantes, pois ela acredita que
o que educa é mesmo a literatura, é com ela que a criança aprende a lutar pelos seus direitos.
Em suas obras os vilões não sofrem castigos físicos ou morais, o desfecho aponta sempre para
o bom senso.
Afirma que Ruth Rocha é um agente das crianças, alguém que como Lobato, não lhes
oferece um prato pronto, frio, de difícil digestão, ela ajuda a desvendar segredos, trocar
intimidades, experimentar o mundo em liberdade, defendendo sempre o supremo direito à
graça de viver.
Em nota publicada na Tribuna de Santos, intitulada A vez das crianças, o redator
retoma a obra Marcelo, marmelo, martelo, e afirma que esta transcende o conceito
pedagógico de que a história visa apenas informar e formar a criança. O redator comenta que
a obra da autora visa transformar a criança sem, contudo, conformar, reformar, ou deformá-la.
Em Marcelo, marmelo, martelo Ruth Rocha procura desenvolver especialmente uma das
coisas mais importantes de todos os seres humanos: a independência para agir, pensar, criar
conduzindo a criança ao amadurecimento.
Visando ampliar e divulgar ainda mais a proposta literária de Ruth Rocha o selo
“DISQUINHO” lança a obra também em disco, e o faz de forma de forma bastante oportuna e
inteligente, apresentando uma série muito grande de possibilidades sonoras e brincadeiras
com o som das palavras, sendo que as canções feitas para este disco pelo maestro e arranjador
Sérgio Sá são gostosas, agradáveis, de fácil compreensão e comunicação.
O jornal O Globo, em 24/09/91, esboça um comentário sobre duas obras de Ruth
Rocha, publicadas pela FTD: Histórias das mil e uma noites e Mulheres de coragem. Neste
artigo o redator argumenta que desta vez a autora não se utiliza do recurso do humor
encontrado em suas narrativas ágeis e engraçadas, as quais ela habituou os seus leitores, mas
mostra sua faceta de contadora de histórias de contos tradicionais, que encantaram gerações e,
que, ainda guardam a capacidade de conquistar as crianças de hoje.
Histórias das Mil e Uma Noites reúne apenas três narrativas: Aladim e a lâmpada
74
maravilhosa, O pescador e o gênio e Ali Babá e os quarenta ladrões. Mas, segundo o redator,
é suficiente para deixar no leitor “aquele gosto de quero mais”, pois além de as histórias
serem fascinantes, o estilo de Ruth Rocha é bem adequado ao jovem. A tática de Sherazade
em contar toda noite uma história constitui uma metáfora para o trabalho da escritora, que se
dispõe a criar continuamente e desta forma estar sempre no coração dos leitores.
A reedição de Mulheres de coragem conta com a ilustração de Claudia Scatamacchia e
retoma mais uma vez figuras femininas fortes que, com coragem e audácia, destoavam dos
costumes da época.
Breve nota publicada na revista Claudinha de número 209, apresenta um resumo sobre
a obra O reizinho mandão e enfatiza que a obra e da autoria de Ruth Rocha, publicada pela
Editora Pioneira
Maria José da Nóbrega em Láurea “Altamente recomendável para crianças da LNLIJ”
DE 1997, comenta a obra: Atrás da porta e afirma que o livro tem como próprio tema a
leitura. Um grupo de crianças descobre uma biblioteca e nas páginas dos livros um mundo
extenso e variado, sobre os mais variados assuntos. Comenta que Elizabeth Teixeira cria
ilustrações apropriadas para um ambiente, onde uma boa contadora de histórias aconchega as
crianças para o ato da leitura. A construção do espaço nas ilustrações constitui-se algo
dinâmico, sendo que a capa sugere o título, mas com um tom de mistério representado pela
figura de uma vela acesa. A escritora ressalta que Ruth Rocha é um nome consagrado na
literatura infantil, quer como produtora de obras infantis, quer como adaptadora, quer como
tradutora. Suas histórias são marcadas por uma prosa ágil, entremeada de uma dialogicidade
fluente.
Em Atrás da porta Ruth aborda um tema de fundamental importância que é o
funcionamento das bibliotecas, que muitas vezes é o único contato da criança com o livro.
Fica claro nesta obra o seu engajamento na luta pelo direito de ler dos meninos brasileiros e,
enquanto, objeto o livro é um bom exemplo da qualidade editorial brasileira. Finaliza seu
artigo afirmando que o nome de Ruth Rocha deve constar sempre numa biblioteca que
represente a produção nacional para crianças e jovens.
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5 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO DOS TÍTULOS DA AUTORA
5.1 OBRAS COM A DATA DA PRIMEIRA EDIÇÃO
DATA AUTOR OBRA
1976 ROCHA, Ruth
Palavras, muitas
palavras
Ilustrações de Adalberto Cornavaca.
14.ed. São Paulo: Quinteto , s.d.
1976 ROCHA, Ruth Bom dia todas as cores
Ilustrações de Adalberto
Cornavaca.16. ed. São Paulo:
Quinteto Editorial, 1995, p.22
1976 ROCHA, Ruth De hora em hora São Paulo:FTD,1999, p.32.
1976 ROCHA, Ruth
Marcelo, Marmelo,
Martelo
Ilustrações de Adalberto Cornavaca.
2.ed. São Paulo: Cultura,1981, p.60
1976 ROCHA, Ruth A árvore do Beto
Ilustrações de Walter Ono. São Paulo:
FTD, 2004, p.32. – A turma da nossa
rua
1977 ROCHA, Ruth
Nicolau tinha uma
ídéia
Ed.? São Paulo: Quinteto
Editorial,1985, p.24 ( Impresso pela
Palmares Impressora Litográfica
Ltda.)
1977 ROCHA, Ruth
No caminho do
Alvinho tinha uma
pedra
Ilustrações de Walter Ono. 10.ed. São
Paulo: Melhoramentos,1993, p.24. As
aventuras de Alvinho.
1977 ROCHA, Ruth Romeu e Julieta
Ilustrações de Cláudio Martins.14. ed.
São Paulo: Ática, 2000, p.40.
1977 ROCHA, Ruth Pedrinho, o pintor
Ilustrações de Ivan Zigg. 2.ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.40 – Sambalelê.
1978 ROCHA, Ruth
Uma história com mil
macacos
Ilustrações de Alcy Linhares. 7.ed.
São Paulo: Ática, 2000, p.32 ( 30
anos de muita história pra contar)
1978 ROCHA, Ruth Faz muito tempo
Ilustrações de Eva Furnari. 11.ed. São
Paulo:Ática, 2000, p.32. ( 30 anos de
muita história pra contar)
1978 ROCHA, Ruth O reizinho mandão
Ilustrações de Walter Ono.2. ed. São
Paulo: Quinteto Editorial,1995, p.32.
1979 ROCHA, Ruth A primavera da lagarta
Ilustrações de Alcy Linhares. 2.ed.
São Paulo: Ática, 2000, p.40.
Sambalelê
1980 ROCHA, Ruth Davi ataca outra vez
Ilustrações de Ivan Zigg. 2.ed. São
Paulo: Ática, 1999, p.40 – Procurando
firme
1980 ROCHA, Ruth
O rei que não sabia de
nada
Ilustrações de José Carlos de Brito.19.
ed. Rio de Janeiro: Salamadra, p.38. (
25 anos de muita história pra contar)
1981 ROCHA, Ruth
O que os olhos não
vêem
Ilustrações de José Carlos de Brito.15.
ed. Rio de Janeiro: Salamandra,1985,
p.36.
1982 ROCHA, Ruth
Sapo – vira – rei – vira
– sapo ou a volta do
reizinho mandão
Ilustrações de Walter Ono. 5.ed. Rio
de Janeiro: Salamandra, 1983,p.28.
1982 ROCHA, Ruth
As coisas que a gente
fala
Ilustrações de Mariana Massarani. Rio
de Janeiro: Salamandra, 1982, p.24.
1982 ROCHA, Ruth Elefante?
Ilustrações de Cláudio
Martins.2.ed.São Paulo:Saraiva, 2005,
p21
76
1982 ROCHA, Ruth
A menina que
aprendeu a voar.
Ilustrações de José Roberto
Graciano.6.ed. Rio de Janeiro:
Salamandra,1984, p.30.
1983 ROCHA, Ruth
Dois idiotas sentados
cada qual no seu barril
Ilustrações de Jaguar.2 ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira,1984, p.24.
1983 ROCHA, Ruth
Faca sem ponta,
galinha sem pé
Ilustrações de Walter Ono.6. ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira,1986, p.28.
1983 ROCHA, Ruth Gabriela e a titia
Ilustrações de Alberto Llinares.8.ed.
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.16. (25 anos de muita história pra
contar.
1983 ROCHA, Ruth Emoções
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Quantidades
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Formas
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Números
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth O meu corpo
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Palavras Opostas
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Indo e Vindo
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Cores
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth As horas do dia
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Tamanhos
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth
Fazendo, desfazendo e
refazendo.
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth Pesos e volumes.
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1995,
p.14 – Meu primeiro livro
1983 ROCHA, Ruth
O velho, o menino e o
burro
Ilustrações de Cesar Landucci.
6.ed.São Paulo:Global,1988, p.17.
Ruth Rocha conta
1983 ROCHA, Ruth
Aladim e a lâmpada
maravilhosa
3.ed. São Paulo: Global, 1988, p.16. -
Ruth Rocha conta
1983 ROCHA, Ruth
Quando eu comecei a
crescer
Ilustrações de Walter Ono.9 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18
1984 ROCHA, Ruth Armandinho, o juiz
Ilustrações de Ivan Baptista e
Marcello Barreto. 2.ed. Rio de
Janeiro,1986, p.22.
1984 ROCHA, Ruth
A decisão do
campeonato
Ilustrações de Ivan Zigg. 4 ed. São
Paulo: FTD,1997, p.22. A turma da
77
nossa rua
1984 ROCHA, Ruth Como se fosse dinheiro
Ilustrações de Marcello Barreto e Ivan
Baptista.3.ed.Rio de Janeiro:
Rocco,1986, p.20. A turma da nossa
rua.
1984 ROCHA, Ruth A máquina maluca
Ilustrações de Ivan Zigg. São Paulo:
FTD,1992, p.22. A turma da nossa rua
1984 ROCHA, Ruth Procurando firme
Ilustrações de Marcello Barreto e Ivan
Baptista.4.ed.Rio de Janeiro: Nova
Fronteira,1986, p.33.
1984 ROCHA, Ruth
Enquanto o mundo
pega fogo
Ilustrações de Walter Ono. 3.ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira,1984, p.20.
1984
ROCHA, Ruth, ROTH,
Otávio.
Declaração universal
dos direitos humanos
Ed.? São Paulo: Quinteto
Editorial,1986, p.42. (Impresso pelo
círculo do livro).
1984 ROCHA, Ruth
Pra vencer certas
pessoas
Ilustrações de Alcy. 2 ed. São Paulo:
Ática, 2000, p.22.
1985 ROCHA, Ruth Cheirar
São Paulo:FTD, 1998, p. 8 –O livro
dos sentidos
1985 ROCHA, Ruth Comer
São Paulo: FTD, 1998, p. 8 – O livro
dos sentidos
1985 ROCHA, Ruth Ouvir
São Paulo: FTD, 1998, p. 8 – O livro
dos sentidos
1985 ROCHA, Ruth Pegar
São Paulo: FTD, 1998, p. 8 – O livro
dos sentidos
1986 ROCHA, Ruth Fábulas de Esopo
Ilustrações de Cláudia Scatamacchia.
São Paulo: FTD, 1995, p.41 Coleção:
Era outra vez.
1986 ROCHA, Ruth Mulheres de coragem
Ilustrações de Cláudia Scatamacchia.
São Paulo: FTD,1995, p.32 Coleção:
Era outra vez
1986 ROCHA, Ruth
– Quem tem medo de
dizer não?
Ilustrações de Ivan e Marcello. Rio de
Janeiro:
Riográfica,1986, p12. – Quem tem
medo de quê?
1986 ROCHA, Ruth
Quem tem medo de
quê?
Ilustrações de Ivan e Marcello. Rio de
Janeiro: Riográfica, 1986, p.12–
Quem tem medo de quê?
1986 ROCHA, Ruth
Quem tem medo de
monstro?
Ilustrações de Ivan e Marcelo. Rio de
Janeiro: Riográfica, 1986, p. – Quem
tem medo de quê?
1986 ROCHA, Ruth
Quem tem medo de
cachorro?
Ilustrações de Ivan e Marcello. Rio de
Janeiro: Riográfica, 1986, p12- Quem
tem medo de quê?
1986 ROCHA, Ruth
O piquenique do
Catapimba
Ilustrações de Ricardo Dantas.
1.ed.São Paulo: FTD, 2001, p 23.
Literatura em minha casa.
1986
ROCHA, Ruth,
LORCH,Dora.
Será que vai doer?.
Ilustrações de Walter Ono.4 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18 –Os medos
que eu tenho. 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA, Ruth, LORCH,
Dora
Fantasma existe?
Ilustrações de Walter Ono. 4 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18 Os medos
que eu tenho. 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA, Ruth, LORCH,
Dora
Ninguém gosta de mim.
Ilustrações de Walter Ono. 4 ed. São
Paulo: Ática, p.18. 2000 – Os medos
que eu tenho – 30 anos de muita
história pra contar.
78
1986
ROCHA, Ruth, LORCH,
Dora
Tenho medo mas dou
um jeito
Ilustrações de Walter Ono. 4.ed. São
Paulo; Ática, 2000, p.18. – Os medos
que eu tenho – 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA, Ruth LORCH,
Dora.
As coisas que eu gosto
Ilustrações de Walter Ono.3 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18 – As coisas
que eu gosto. 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA, Ruth, LORCH,
Dora
Sabe do que eu gosto?
Ilustrações de Walter Ono. 3.ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18. – As coisas
que eu gosto. 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA. Ruth,
LORCH, Dora
Tem umas coisas que
eu gosto
Ilustrações de Walter Ono. 3 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18 – As coisas
que eu gosto. 30 anos de muita
história pra contar.
1986
ROCHA, Ruth, LORCH,
Dora.
Eu gosto muito
Ilustrações de Walter Ono. 3.ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.18. As coisas
que eu gosto. 30 anos de muita
história pra contar.
1986 ROCHA, Ruth
Este admirável mundo
louco, Admirável
mundo louco, Uns
pelos outros, quando a
escola é de vidro.
Ilustrações de Walter Ono.15 ed. Rio
de Janeiro: Salamandra,1986, p 78.
1986 ROCHA, Ruth De repente dá certo
Ilustrações de Graça Lima.13. ed. Rio
de Janeiro: Salamandra,1986, p. 84.
1987 ROCHA, Ruth
Historinhas
malcriadas: O dia em
que eu mordi Jesus
Cristo; Apanhei assim
mesmo: Bom pra tosse;
O dia em que meu
primo quebrou a
cabeça do meu pai.
Ilustrações de Mariana Massarani. 3
ed. Rio de
Janeiro:Salamandra,1999,p.26.
1987 ROCHA, Ruth
Livro de números do
Marcelo
Ilustrações de Walter Ono. São Paulo:
Repro, 1986, p.12.
1987 ROCHA, Ruth
Alvinho, o edifício City
of Taubaté e o
cachorro Venceslau
Ilustrações de Ivan Zigg.3 ed. São
Paulo: FTD, 1994, p.38
1987 ROCHA, Ruth Boi, boiada, boiadeiro
Ilustrações de José Antonio da Silva.
São Paulo: Quinteto, 1987.
1988 ROCHA, Ruth
Que eu vou pra Angola
( Coleção Era outra
vez)
Ilustrações de Walter Ono. São
Paulo:FTD,1999, p.32 – Era outra
vez.
1988 ROCHA, Ruth
O que é, o que é –
volume I
Ilustrações de Walter Ono. 3.ed. São
Paulo: FTD,1999, p.24. – Enigma
1988 ROCHA, Ruth
O que é, o que é?
(volume II)
Ilustrações de Walter Ono.São
Paulo:FTD,1993, p.24 – Enigma
1988 ROCHA, Ruth
O que é, o que é?
Volume III
Ilustrações de Walter Ono.3.ed. São
Paulo: FTD,1999, p.24 – Enigma
1989 ROCHA, Ruth
Uma história de rabos
presos
Ilustrações de José Carlos de Brito.8
ed. São Paulo :Salamandra,1995, p.
24. Coleção 25 anos de muita história
pra contar.
1991 ROCHA, Ruth
Azul e lindo: planeta
Terra, nossa casa
3.ed. São Paulo: Moderna, 2004, p.30.
1991 ROCHA, Ruth
O mistério do
caderninho preto
Ilustrações de Vera Azevedo. São
Paulo: Melhoramentos,1991, p.56.
79
1991 ROCHA, Ruth
Histórias das mil e
uma noites
Ilustrações de Claudia Scatamacchia.
7.ed. São Paulo:FTD, 1997, p.44. A
turma da nossa rua Era outra vez
1992 ROCHA, Ruth O livro das letras
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992
O livro dos gestos e
símbolos.
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro dos lápis
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro das letras
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro das tintas
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro da escrita
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro do papel
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth O livro das línguas
Rio de Janeiro: Melhoramentos,1992,
p.32 – O Homem e a comunicação
1992 ROCHA, Ruth Nosso amigo ventinho
Ilustrações de Ivar da Cool. 2.ed. São
Paulo: Ática,1999, p.40 – Sambalelê
1992 ROCHA, Ruth
Macacote e Porco
Pança
Ilustrações de Margarita Menéndez.
5.ed. São Paulo: Ática, 1999, p.32.
1992 ROCHA, Ruth
A fantástica máquina
dos bichos
Ilustrações de Margarita
Menéndez.3.ed. São Paulo: Ática,
1999,p.32.
1992 ROCHA, Ruth Um macaco pra frente
Ilustrações de Xan López Domínguez.
2.ed. São Paulo: Àtica.???,p.40. – 30
anos de muita história pra contar.
1992 ROCHA, Ruth A Escolinha de mar
Ilustrações de Helena Alexandrino.
7.ed. São Paulo:Ática, 1999, p.40 –
Sambalelê
1992 ROCHA, Ruth Eugênio, o gênio
Ilustrações de Mariana Massarani.4.
ed. São Paulo: Ática,1996,p.32.
1992 ROCHA,Ruth
A cinderela das
bonecas
Ilustrações de Ivan Zigg. 3.ed. São
Paulo: FTD, 1994, p.
22. - A turma da nossa rua.
1993 ROCHA, Ruth Borba , o gato
Ilustrações de Mariana Massarani.3.
ed. São Paulo: Ática,1999, p.32.
1993 ROCHA, Ruth A arca de Noé
Ilustrações de Cláudio Martins.9. ed.
São Paulo: Ática, 2000, p.24.
1993 ROCHA, Ruth O amigo do rei
Ilustrações de Eva Furnari. 9. Ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.32.
1993 ROCHA, Ruth O trenzinho do Nicolau
Ilustrações de Eliardo França. E São
Paulo: Ática, 1983, p. 32. Sambalelê.
1993
ROCHA, Ruth, FLORA,
Anna
Coleção: Escrever e
criar é só começar
volume 5
São Paulo: FTD, 1998, p.160.
Didático – Disciplina Redação
1993
ROCHA, Ruth, FLORA,
Anna
Escrever e criar é só
começar volume 6
São Paulo: FTD, 1998, p.176. –
Didático Disciplina: Redação
1993
ROCHA, Ruth, FLORA,
Anna
Escrever e criar é só
começar volume 7
São Paulo: FTD, 1998, p. 208
Didático – Disciplina Redação
1993
ROCHA, Ruth, FLORA,
Anna
Escrever e criar é só
começar volume 8
São Paulo: FTD , 1998, p.240
Didático Disciplina: Redação
1994
ROCHA, Ruth, Shua, Ana
Maria
A porta para sair do
mundo
São Paulo:Global,2001, p.40
1994 ROCHA, Ruth
O coelhinho que não
era da páscoa
Ilustrações de Walter Ono. 8. Ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.30.
1994 ROCHA, Ruth Carmem Ilustrações de Cláudia
80
Scatamacchia.São Paulo: Callis,1994,
p.40 – Ópera para crianças.
1996 ROCHA, Ruth Lá vem o ano novo
Ilustrações de Nicoletta Costa. 6. ed.
São Paulo, 2000, p.40.
1996 ROCHA, Ruth
Quando eu for gente
grande.
Ilustrações de Cláudio Martins. 3. ed.
São Paulo: FTD,1999, p.22. As
Aventuras de Alvinho
1996
Adaptação de ROCHA,
Ruth
O rato do campo e o
rato da cidade
Ilustrações de Regina Coeli Rennó.3.
ed. São Paulo: FTD,1998, 21.
1996 ROCHA, Ruth
Mil pássaros pelos
céus
Ilustrações de Cláudio Martins.3. ed.
São Paulo; Ática,1996.
2000 ROCHA, Ruth
No tempo em que a
televisão mandava no
Carlinhos
São Paulo: FTD, 2000, p. 32.
2000 ROCHA, Ruth
Ruth Rocha conta a
Odisséia
Ilustrações de Eduardo Rocha.2.ed.
São Paulo: Companhia das Letrinhas,
2002, p.102
2002
ROCHA, Ruth, ROCHA,
Eduardo, VALERO, Maria
José
Meus terríveis
fantasmas
São Paulo:Record, 2002, p.45 –
Horripilantes
2002
ROCHA, Ruth, ROCHA,
Eduardo, VALERO, Maria
José
Histórias de bruxas
(Travessas)
São Paulo: Record, 2002, p.45 –
Horripilantes
2002
ROCHA, Ruth, ROCHA
Eduardo, VALERO, Maria
José
Bichos monstruosos
(asquerosos)
São Paulo:Record, 2002, p.45 –
Horripilantes
2002
ROCHA, Ruth, ROCHA,
Eduardo, VALERO, Maria
José
Múmias e outros
mortos ( muito vivos)
São Paulo:Record, 2002, p.45 –
Horripilantes
2003 ROCHA, Ruth Rubens, o Semeador
Ilustrações de Fernanda Barreto. São
Paulo: Nova Fronteira: São Paulo,
2003, p. 10 - Literatura em minha
casa.
2003 ROCHA, Ruth Marília Bela
Ilustrações de Fernanda Barreto. São
Paulo: Nova Fronteira, 2003, p.8.
Literatura em minha casa.
2003 ROCHA, Ruth Leila Menina
Ilustrações de Fernanda Barreto. São
Paulo: Nova Fronteira, 2003, p.7 -
Literatura em minha casa
2004 ROCHA, Ruth
Joãozinho e o pé de
feijão
Ilustrações de Suppa. São Paulo: FTD,
2004, p.29 - Lê pra mim.
2003
Adaptação de ROCHA,
Ruth da obra de TWAIN,
Mark
Tom Sawyer
Ilustrações de Pinky Wainer. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2003, p.70 -
Literatura em minha casa.
2004 ROCHA, Ruth O patinho feio
São Paulo:FTD, 2004, p32 - Lê pra
mim
2004 ROCHA, Ruth Os músicos de Bremem
São Paulo:FTD, 2004, p.32 Lê pra
mim
2004 ROCHA, Ruth O barba azul
São Paulo:FTD, 2004, p.32 Lê pra
mim
2004 ROCHA, Ruth Joãozinho e Maria
São Paulo:FTD, 2004, p.32 Lê pra
mim
2004 ROCHA, Ruth
Ruth rocha conta A
Ilíada
Ilustrações de Eduardo Rocha. São
Paulo: Companhia das Letrinhas,
2004, p. 144.
2004 ROCHA, Ruth Almanaque Ruth São Paulo:Ática ,2004, p.136
81
Rocha
2005 ROCHA, Ruth
Pois é, poesia para
jovens
São Paulo:Global, 2005, p.63
2005 ROCHA, Ruth, ZIRALDO
Um cantinho só pra
mim.
Ilustrações de Walter Ono. São Paulo:
Melhoramentos, 2005, p.40.
2006 ROCHA, Ruth O jacaré preguiçoso
Ilustrações de Cláudio Martins.Rio de
Janeiro:Salamandra, 2006, p.32.
2006 ROCHA, Ruth
O dia em que Miguel
estava muito triste
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.24.
2006 ROCHA, Ruth
A menina que não era
maluquinha e outras
histórias
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.40
2006 ROCHA, Ruth
O menino que quase
virou cachorro.
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.15.
2006 ROCHA, Ruth Meu amigo dinossauro
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.16.
2006 ROCHA, Ruth
Meu irmãozinho me
atrapalha
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.24.
2006 ROCHA, Ruth
Meus lápis de cor são
só meus
Rio de Janeiro: Melhoramentos, 2006,
p.24
2006 ROCHA, Ruth.
Quando o Miguel
entrou na escola
Ilustrações de Eduardo Rocha. Rio de
Janeiro: Melhoramentos, 2006, p.24.
5.2 OBRAS CUJA DATA DA PRIMEIRA EDIÇÃO NÃO FOI IDENTIFICADA
Texto original de VOOLF,
Virginia, tradução de
ROCHA, Ruth.
A Cortina da Tia Bá
Ilustrações de Julie Vivas. São Paulo :
Ática, 1993, p.32.
ROCHA, Ruth
Você é capaz de fazer
isso?
Ilustrações de Cláudio Martins. 3.ed.
São Paulo: FTD,1999, p. 21. – As
aventuras de Alvinho
Tradução de ROCHA,
Ruth, texto original de
John Lennon com
introdução de Yoko Ono.
Amor de verdade:
desenhos para meu
filho
ROCHA, Ruth
O dia em que Miguel
estava triste
Ilustrações de Cláudio Martins.São
Paulo: Callis, 1995, p.25 –
Comecinho
ROCHA, Ruth. ROCHA,
Eduardo
Quando Miguel entrou
na escola
São Paulo: Callis,1999, p.25. –
Comecinho.
ROCHA, Ruth
O menino que Quase
morreu afogado no lixo
Ilustrações de Alcy Linhares. São
Paulo: FTD, 1999, p.32.
Tradução de ROCHA,
Ruth, texto original de Ivar
da Cool
Não, não fui eu
ROCHA, Ruth
Alvinho, a
apresentadora de TV e
o campeão.
Ilustrações de Cláudio Martins. São
Paulo: FTD, 2004, p.32. – As
aventuras do Alvinho
ROCHA, Ruth
Alvinho e os presentes
de natal
Ilustrações de Cláudio Martins. São
Paulo: FTD,1996, p.24.
ROCHA, Ruth Atrás da porta
São Paulo: Moderna, 2002, p.96
Literatura em minha casa.
ROCHA, Ruth O barbeiro de Sevilha
Ilustrações de Claudia Scatamacchia.
São Paulo: Callis, 2000, p.40 – Ópera
para crianças.
82
ROCHA, Ruth A coisa.
Ilustrações de Walter Ono.10.ed. São
Paulo: Melhoramentos,1993, p.32 -
As aventuras do Alvinho
ROCHA, Ruth
As coisas que a gente
fala
Ilustrações de Walter Ono.3.ed.São
Paulo: Moderna,1997, p.24.
ROCHA, Ruth
Contos de Perrault
Coleção
4.ed.São Paulo: FTD,1996, p.44 – Era
outra vez
ROCHA, Ruth
Os direitos da criança
segundo Ruth Rocha
São Paulo: Companhia das Letras,
2002, p.48.
ROCHA, Ruth
Escrever e criar...uma
nova proposta!
Redação, jogos,
literatura volume 1
São Paulo: FTD, 2001, p. 80 –
Didático – Disciplina: Redação
ROCHA, Ruth
Escrever e criar...uma
nova proposta !
Redação, jogos,
literatura volume 2
São Paulo: FTD, 2001, p. 96 –
Didático – Disciplina: Redação
ROCHA, Ruth
Escrever e criar...uma
nova proposta !
Redação, jogos,
literatura, volume 3
São Paulo: FTD, 2001, p. 104 –
Didático Disciplina: Redação
ROCHA, Ruth
Escrever e criar...uma
nova proposta!
Redação, jogos,
literatura, volume 4
São Paulo: FTD, 2001,p. 136
Didático – Disciplina: Redação
ROCHA, Ruth A família do Marcelo
Ilustrações de Adalberto Cornavaca.
São Paulo:Moderna,2001,p.24 –Série:
Marcelo, Marmelo, Martelo
ROCHA, Ruth A escola do Marcelo
Ilustrações de Adalberto
Cornavaca.São Paulo: Moderna, 2001,
p.09 – Série Marcelo Marmelo,
Martelo
ROCHA, Ruth O bairro do Marcelo
Ilustrações de Adalberto Cornavaca.
3.ed. São Paulo: Moderna, 2001, p.24
Série : Marcelo, Marmelo, Martelo
ROCHA, Ruth
A flauta mágica
Ilustrações de Cláudia
Scatamacchia.São Paulo:Callis,1994,
p.40 – Óperas para crianças
ROCHA, Ruth O Guarani
Ilustrações de Cláudia Scatamacchia.
3.ed.São Paulo:Callis,1996, p.40
Ópera para crianças
ROCHA, Ruth
Microdicionário Ruth
Rocha
São Paulo: Scipione,1997, p.310.
ROCHA, Ruth Pesquisar e aprender São Paulo:Scipione,1997,p.48.
ROCHA, Ruth
Quem vai salvar a
vida?
ROCHA, Ruth
O último golpe de
Alvinho
Ilustrações de Mariana Massarani.
4.ed.São Paulo:FTD,1997, p.24 –
Aventuras de Alvinho
ROCHA, Ruth
Viva o ano novo!
ROCHA, Ruth Por nome de passaredo
ROCHA, Ruth Pra que serve?
ROCHA, Ruth
O menino que
aprendeu a ver
ROCHA, Ruth
A flauta mágica
83
ROCHA, Ruth Minha turma
ROCHA, Ruth
Entrevistando seus
amigos
ROCHA, Ruth
Entrevistando seus
ídolos
ROCHA, Ruth, Cuellar
Olga, REYES,Yolanda
A pior hora do dia
ROCHA, Ruth
Minidicionário Ruth
Rocha
ROCHA, Ruth, ROTH,
Otávio
A história do livro
84
6 CONCLUSÃO
Quando do início deste trabalho fizemos uma proposta de elencar dados sobre a
escritora Ruth Rocha que viessem atender às necessidades de professores, pesquisadores e
profissionais da área no que tange à literatura-infantil, com o objetivo de melhor conhecer a
autora, bem como o momento no qual ela se insere. Esta pesquisa cuidou, num primeiro
momento, de estabelecer um estudo sobre caminhos percorridos pela arte, desde os seus
primórdios, em seu estado “aurático”, até a contemporaneidade, quando se tornou
“mercadoria”.
Concluímos que esta primeira parte do trabalho foi de fundamental importância para a
compreensão do restante da pesquisa, pois nos ofereceu subsídios para levantarmos dados e
interpretá-los à luz das teorias que envolvem o mercado como fator decisivo e determinante,
no que se refere à circulação e à comercialização de obras, sobretudo as de literatura-infantil,
uma vez que estas constituem um alvo certo do mercado, pois delas as escolas se abastecem.
O livro produzido para crianças não estanca nas livrarias, é muito comum procurarmos
determinadas obras e estas encontrarem-se esgotadas. O estado investe maciçamente neste
“produto” e, se podemos ver uma luz no fim do túnel, é o fato de que ao contrário do que
ocorria há algum tempo, percebemos um maior cuidado nas seleções e aquisições de obras
para crianças pelo estado. Haja vista a coleção “Literatura em minha casa”, distribuída pelo
governo federal em 2003, composta por inúmeros títulos, cuidadosamente escolhidos e
organizados por pessoas especializadas da área. A coleção oferece ao pequeno leitor uma
enorme variedade de títulos, constando desde os poetas românticos e prosadores ingleses do
século XVIII até os títulos consagrados pela “geração de 70”, da qual Ruth Rocha faz parte.
Conhecer os fatores que levaram a esta “democratização” é fundamental, pois o termo
“atrofia da aura” carrega consigo um sem número de determinantes que expressam as
profundas modificações pelas quais a sociedade passou desde o século XV. Esta
democratização traz implícito um processo, talvez ainda mais excludente, em que a
vulgarização do objeto artístico, o seu esvaziamento, não são gratuitos, pois isso implica
formar uma cultura de massa que unifica os gostos e aliena as pessoas. Distinguir, pois, o que
é bom do que não é, pode ser a possibilidade de conferir ao ser humano a liberdade de escolha
e de ação. A tessitura do primeiro capítulo deste trabalho objetivou elucidar esta questão. Sem
sermos “apocalípticos”, a perda da “aura” não é o fim do mundo, mas a “massicultura” pode,
ao nosso ver, contribuir para a continuidade do capitalismo frio e tardio.
Sobre a biografia de Ruth Rocha, constatamos que existe uma vastidão de informações
85
às quais não tivemos acesso. Utilizamo-nos dos recursos mais imediatamente disponíveis para
chegar aos dados biográficos, dentre eles o já mencionado livro Ana & Ruth, organizado pelo
jornalista Dau Bastos. Além deste, buscamos em jornais, revistas, artigos e muitas entrevistas
concedidas pela escritora, a matéria prima para o nosso texto. Como o objetivo deste trabalho
não é analisar obras da escritora, não encontraremos nada que pertença a esta natureza, mas
durante a catalogação dos dados podemos perceber uma jovem estudante de Ciências Sociais
perdida e encantada dentro de uma biblioteca, interagindo com os pequenos leitores. Este
contato deu origem à Orientadora Educacional, que foi a Ruth Rocha que primeiro se
manifestou como escritora nos tempos da revista Recreio.
No final da década de 70, a ditadura amordaça a palavra e Ruth Rocha solta o verbo. A
orientadora cede lugar à socióloga. É a hora e a vez dos “reizinhos”, de denunciar as histórias
de rabos presos, enquanto o mundo pega fogo. Enfim, surge a Ruth Rocha madura, mais
preocupada com a dinâmica interna do texto, porém não menos educadora, não menos
militante. Em suma, parafraseando Ana Maria Machado, Ruth Rocha é uma trança de gente,
que vale a pena ser lida estudada e repassada.
Sobre o “atual estado da questão” em relação à obra de Ruth Rocha, procuramos
rastrear tanto a crítica especializada quanto a não especializada e reiteramos o que Tânia
Pellegrini afirma em A imagem e letra (1999), quando diz que a crítica especialisada quase
inexiste em relação à vida excessiva da televisão. No arcabouço teórico que elencamos no
corpo desta pesquisa, percebemos que, apesar de a literatura infanto-juvenil ter crescido
consideravelmente nas últimas três décadas, existe pouco material relevante para um trabalho
desta natureza, embora os críticos que tratam do assunto o façam sempre de forma
responsável. Em meio ao trabalho sério de Regina Zilbermann, Marisa Lajolo, Edmir Perrotti,
Fanny Abramovich e outros, encontramos um sem número de críticas que não se ocupam em
analisar a obra, mas apenas em fazer a exaltação vazia desta, com o objetivo de estimular a
venda, daí os textos encontrados em jornais, revistas etc.
Vale ressaltar que com esta crítica ligeira, encontramos pareceres de gente
especializada no assunto, pois o “novo” escritor ganhou espaço na mídia, saiu do gabinete.
Desta forma fez-se necessário ler com atenção, selecionar e dispor os textos que melhor
puderam atender os nossos objetivos.
Quanto ao levantamento das obras de Ruth Rocha, o trabalho foi penoso, pois esta
atende ao mercado, é escritora, empresária, coordena coleções, escreve em parceria, faz
adaptações, traduções. Um dia sem pesquisa pode significar um livro a menos na bibliografia.
Com tudo isso percebemos que ela não só escreve, mas lê vorazmente, criticamente, sente
86
gosto em contar histórias. Resenhar todas as suas obras seria um trabalho inesgotável, daí a
nossa opção em selecionar alguns títulos que compreendem os vários estilos de Ruth Rocha.
Oferecer uma visão geral sobre sua obra foi o objetivo destas resenhas. Analisar o conjunto da
obra da escritora pode ser um próximo passo.
87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pós Graduação em Letras-UNESP, 1998.
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Revista Perspectiva de Santa Catarina, 1982.
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88
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ZILBERMAN, Regina & CADEMARTORI, Lígia . Literatura infantil: autoritarismo
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ZILBERMAN, Regina & LAJOLO, Marisa. Literatura infantil brasileira: História e
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ZILBERMAN, Regina & LAJOLO Marisa. Um Brasil para crianças: para conhecer a
literatura infantil brasileira: histórias, autores e textos. 4 ed. São Paulo: Global, 1993
89
ANEXOS
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Anexo 1: RESENHAS OU RECENSÕES DE OBRAS DE RUTH ROCHA
1) ROCHA, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias. Ilustrações de
Adalberto Cornavaca. 2.ed.São Paulo: Cultura, p.60.
A) Marcelo, Marmelo, Martelo
Narrado em terceira pessoa a obra se constitui daquilo que Perrotti denominou
como utilitarismo às avessas, pois embora apresente um narrador mirim munido de
curiosidade e coragem, que questiona entre outras coisas o uso da linguagem criando um
conflito, a obra revela toda a assimetria Adulto X Criança, pois o impasse continua a ser
resolvido pelo adulto que tem a função de ordenar as acontecimentos.
Marcelo vive em uma família constituída de pai, mãe, avó , cachorro etc. Surge,
então, o conflito inicial, o narrador começa por questionar o seu próprio nome. Porque ao
invés de Marcelo, não poderia ser martelo ou marmelo. Esta indagação se estende ao
nome convencional de todas os seres e objetos, causando um transtorno aos pais que, nem
sempre encontrar respostas lógicas para suas perguntas. Um dia a casa de Latido, o
cachorro de Marcelo, pega fogo e este entra em desespero. Entra para pedir socorro e diz:
_ Papai, papai , embrasou a moradeira do Latildo! O pai não consegue entender o que o
menino diz e a casa se transforma em cinzas, a partir daí os país passam a entender o
vocabulário de Marcelo e soluciona-se, então o conflito. Ruth sugere ao final do livro que
o leitor também escreva uma história e mostre a sua professora.
B) Terezinha e Gabriela
Esta obra narra a história de duas meninas muito diferentes, Gabriela, que é
sapeca, levada, bem humorada, gosta ente outras coisas de pular corda, brincar de
amarelinha, pegador, usa roupas de meninos e é muito querida pelos colegas, todos
querem brincar com ela. A segunda personagem é Terezinha, o oposto de Gabriela,
“loirinha”, “bonitinha”, “arrumadinha”, estudiosa e usa sempre roupas cor de rosa,
vestidos de “rendinha”, cachos no cabelo, tem caixinha de música e é muito “boazinha”.
As duas meninas ouvem sempre os maiores elogios a respeito da outra. Os amigos
elogiam Gabriela e dizem que ela é quem sabe pular corda e coisa e tal, e de Terezinha
dizem que ela é boazinha. As meninas começam a ter uma crise de identidade e passam a
91
dotar o comportamento uma da outra, o que soa muito estranho a todos.
Um dia as duas se encontram e se olham com desconfiança e depois riem porque
acham a situação engraçada, daí em diante tornam-se amigas e aprendem muito com suas
diferenças. Ao final da história a escritora sugere que os leitores inventem um amigo com
qualidades e com defeitos também, salientando que ninguém é perfeito.
Nesta obra Ruth Rocha preserva a preocupação didática e o ensinamento, como é
comum a todas as obras escritas nesta fase.
C) O dono da bola
Caloca é o dono da bola, motivo da narrativa , que descreve a personalidade de um
menino mimado e arrogante que sempre queria fazer prevalecer suas vontades. No decorrer da
narração percebemos o ensinamento implícito na produção, o de que as pessoas têm que
aprender a ouvir e respeitar a opinião dos outros.
Carlos Alberto como gosta de ser chamado pelos amigos, é apresentado pelo narrador
onisciente como um menino legal, mas que nem sempre foi assim. Dirigindo-se ao leitor, num
tom de diálogo, o narrador afirma que Caloca era enjoado, pois morava numa casa bonita da
rua e tinha brinquedos caros. O time da rua chamado Estrela - D’Alva Futebol Clube, sempre
jogava usando bolas de meia e, somente, Caloca tinha uma bola de verdade, mas toda vez que
alguém contrariava a sua vontade, ele pegava a bola e ia embora, deixando os colegas
desprovidos.
Cansados do seu comportamento os amigos resolvem ignorá-lo por algum tempo, o
que fez com o que o menino se sentisse sozinho e procurasse se adaptar ao grupo, mas agora
sem utilizar-se de caprichos. No final do campeonato o time da rua venceu e todos ficaram
felizes. Caloca tinha aprendido a trabalhar em grupo. No final do livro Ruth sugere que o
leitor escreva um diário e conte como a personagem se sentia desde que ganhou a bola até
doá-la ao time e fecha com a pergunta: Você já deu alguma coisa sua a seus amigos?
2) ROCHA, Ruth. Nicolau tinha uma idéia. São Paulo: Quinteto Editorial, 1985, p. 24.
Nicolau tinha uma idéia é uma obra inteligente, voltada ao público de 4 a 8 anos,
portanto em fase de alfabetização, rico em ilustrações de Walter Ono. Um livro com poucas
palavras, mas de um conteúdo denso que leva o leitor a refletir sobre a sua necessidade de se
comunicar, de expressar seus pontos de vista e entrosar-se com o meio em que vive.
92
O enredo é simples. Conta a história de Nicolau que chega a uma cidade, na qual cada
pessoa tinha uma idéia, mas a mantém guardada para si. A personagem principal traz a
inovação e conta sua idéia a outra pessoa e, assim por diante, até que todas as pessoas do
lugar estão repletas de idéias, ou seja houve uma real comunicação, um entrosamento que
propiciou uma nova tomada de posições por parte daqueles que estão envolvidos no processo.
O livro possui frases curtas, mas bem distribuídas, o apelo gráfico é maior do que a
escrita e no final do livro Ruth Rocha sugere que o leitor também desenhe a sua idéia.
Embora fique evidente o tom utilitário da obra, pois esta se presta a trabalhar com
crianças em fase de alfabetização, no entanto seu conteúdo e rico e denso, podendo levar o
leitor a reflexão sobre a necessidade de expor e aceitar idéias alheias, num processo
democrático que conduza ao bem estar de todos.
93
3) ROCHA, Ruth . No caminho do Alvinho tinha uma pedra. 10.ed.Ilustrações de Walter
Ono.São Paulo: Melhoramentos, 1993, p.24.
Pertencente a Coleção As aventuras de Alvinho, publicada pela Melhoramentos pela
primeira vez em 1984, traz um enredo simples, onde um narrador em terceira pessoa conta
que Alvinho, um menino “gorduchinho” e comilão, tinha a mania de trazer para casa tudo que
achava na rua e vive a receber broncas de sua mãe, Dona Branca.
Um dia o menino encontra uma pedra e esconde debaixo da cama. Todos os dias ele
confere se seu “tesouro” ainda está no lugar, até que dentro da pedra, que na verdade era um
ovo, nasce um avestruz. Com medo de que mãe de fim no animal ele o esconde causando os
maiores transtornos, pois está sempre a arranjar desculpas para que sua mãe não entre no seu
quarto. Finalmente o animal é descoberto e mandado para o jardim zoológico e todos os
domingos Alvinho vai visitá-lo.
Narrado em forma de poesia a obra brinca com as rimas, possui um tom coloquial e se
utiliza de palavras do cotidiano, onomatopéias, além do uso do discurso direto em alguns
recortes.
94
4) ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. Ilustrações de Cláudio Martins. 14.ed. São Paulo: Ática,
2000, p.40.
Esta obra de Ruth Rocha estabelece uma relação intertextual com a obra Romeu e
Julieta de Willian Shakespeare, uma vez que trabalha as diferenças de ideologia entre duas
classes que se mantém separadas. O enredo é simples, trata do caso de uma borboleta amarela
e um borboleto azul que, apesar, de terem nascidos e sido predestinados a ocuparem os seus
devidos lugares sem misturarem-se a outras classes, rompem as barreiras. Romeu visita o
canteiro de flores amarelas em que Julieta passeava, e se identifica com ela. Juntos desafiam
os limites impostos e adentram pela floresta desbravando um mundo desconhecido para os
dois, com seus prazeres e perigos. Embora possua um forte apelo contra- ideológico esta obra
recai no “utilitarismo as avessas”, pois as borboletas perdidas na noite são socorridas por seus
pais, ostentando o poder que se estabelece de cima para baixo.
A obra, no entanto, traz as marcas de um discurso estético, é um texto lúdico, onde
Ruth Rocha brinca com as rimas, com a imaginação e utiliza-se de recursos da tradição oral
apelando para os ditos populares como em:_ “Não Julieta cada borboleta no seu
canteiro”(ROCHA?)
95
5) ROCHA, Ruth. Uma história com mil macacos. Ilustrações de Alcy Linhares.7.ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.32.
Esta obra de Ruth Rocha trabalha de forma divertida “os ruídos da comunicação”. O
doutor Eduardo Quaresma resolve fazer uma experiência científica com o intuito de descobrir
cura para várias doenças. Resolve mandar um telegrama a um amigo que vive na
tranzamazônica e pede dois macacos, no entanto o telegrafista digita 102 macacos e os bichos
começam a aparecer aos montes. Cansado da experiência, Eduardo resolve telegrafar
novamente dizendo para o amigo parar de enviar macacos. O telegrafista envia mais uma vez
ao mensagem truncada dizendo “Não pare de mandar macacos”, os bichos vão chegando às
centenas até que Eduardo resolve deixar cidade e escreve uma carta a todos onde deixa seus
“bens”, ou seja seus macacos para o Zeca telegrafista.
96
6) ROCHA, Ruth. Faz muito tempo. Ilustrações de Eva Furnari.11.ed. São Paulo: Ática, 2000,
32.
Esta obra exerce um processo intertextualidade com a história oficial do
descobrimento do Brasil. A narrativa se reduz a apresentar uma personagem criança, que
morando em terras portuguesas sonha em ser marinheiro, um dia a convite do padrinho
resolve embarcar na comitiva de Pedro Álvares Cabral e acaba chegando ao solo brasileiro.
De tom utilitário a obra se limita a recontar a história oficial, sem propor nenhuma indagação
a respeito do processo de colonização do Brasil pelos portugueses, mas apresenta uma
realidade ufana onde o jovem marinheiro português brinca pacificamente com os meninos
indígenas. Entre as cenas se intercalam informações históricas, tais como o acontecimento da
primeira missa em solo brasileiro e atribuição de nomes aos lugares encontrados pelos
colonizadores como por exemplo: Monte Pascoal, Terra de Vera Cruz etc. Enfim a obra é uma
adaptação dos conteúdos dos livros de História do Brasil do ponto de vista dos portugueses ao
público infantil.
97
7) ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. Ilustrações de Walter Ono.2.ed. São Paulo: Quinteto
Editorial,1995, p.32.
O Reizinho Mandão, assim como as demais referentes à “Tetralogia dos Reis”, é uma
narrativa que pertence a linha do maravilhoso satírico, pois utiliza-se elementos literários
do passado ou situações, facilmente reconhecíveis, para denunciá-las como erradas, superadas
e transformá-las em algo ridículo. O humor, a graça, as situações inesperadas ou satíricas são
fatores básicos dessa diretriz. Ruth Rocha inaugura a linha que hoje se conhece como a Série
dos Reizinhos ou a Tetralogia dos Reis. Utilizando o recurso da sátira ou da paródia que
contestam pelo riso a prepotência dos fortes, gera situação exemplar (em que o reizinho
mandão é totalmente ridicularizado) , satirizando o autoritarismo despótico vivido pelo país.
Entretanto, a seriedade da proposta temática fica oculta pelo ludismo da narrativa, pelo
bom humor e pela vibração de liberdade que percorre a narrativa. E para exemplificar a sua
originalidade estilística em primeiro plano, manifesta-se por meio da voz narradora no
artifício do cordel:
A saga do Reizinho é retirada do seu caminho “natural”, e, através do poder de uma
criança, desviada para outro desfecho. Fica clara a preocupação da autora em valorizar o leitor
mirim. Neste plano ele deixa de ser apenas um leitor passivo como quer o discurso utilitário,
que visa à transmissão de valores com vistas a perpetuação da ordem estabelecida. A criança é
um ser capaz de opinar, de interferir, de jogar com a situação, acima de tudo de mudar os
rumos da situação.
Através desta obra, conforme já mencionado, a autora produz outros três livros que
formam um eixo no qual o Reizinho se mostra como uma figura antipática, ora boba, ora
cega, mas sempre cometendo arbitrariedades, ou se omitindo das responsabilidades de ser
representante do “povo”. São três os volumes que se seguem;”O rei que não sabia de
nada”,” O que os olhos não vêem” e finalmente “Sapo vira rei vira sapo ou a volta do
reizinho mandão”. Com esta “tetralogia” Ruth denuncia o que de mais despótico o país esta
atravessando durante o auge da ditadura militar. Sua obra é marcada por essa irreverência,
pelo aspecto contra-ideológico que permeia toda a sua narrativa. A Série dos reis proporciona
ao leitor criança ou adulto uma nova perspectiva de se ver o mundo, através dos olhos da
crítica, da audácia com que os personagens infantis ou adultos de Ruth Rocha agem,
interagem e procuram soluções para os seus conflitos.
8) ROCHA, Ruth. Dois idiotas sentados cada qual no seu barril. Ilustrações de Jaguar. 2.ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.24.
98
Misto de prosa e poesia esta produção de Ruth Rocha é altamente crítica e manda um
recado claro ao poder dominante. Cria duas personagens: o Teimosinho e o Mandão que estão
“comodamente” sentados cada um sobre um barril de pólvora. Ambos começam em tom
educado uma discussão pedindo um ao outro que apague a vela que traz na mão, como em
todo poder arbitrário os dois acabam se por se desentenderem-se e se agredirem-se
mutuamente. Após xingos, agressões e palavrões e com muita munição estocada, Mandão
solta um espirro assustando Teimosinho, que deixa cair a vela de sua mão causando um
grande explosão, e se vão pelos ares o Teimosinho e o Mandão.
99
9) ROCHA, Ruth. Faca sem ponta, galinha sem pé. Ilustrações de Walter Ono. 6.ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 28.
Este livro segue a linha do contra-ideológico utilizada por Ruth Rocha em grande
parte de suas obras. Narrada a história de Pedro e Joana, dois irmãos que sofrem, pois são
muito conscientes das imposições dos papéis sociais que lhe são impostos e, por isso, sempre
a questioná-los.
Pedro e Joana desempenham seus papéis de homem e mulher, mas esbarram em
convenções do tipo, “homem não chora e mulher não joga futebol”, é a partir daí, que surge o
conflito. Um dia ambos estão voltando da escola e passam debaixo do arco-íris, trocando de
papéis. Desta forma podem se ver um na pele do outro, a troca gera muitas angústias, pois
agora as cobranças se invertem, Pedro que agora é uma menina, sente vontade de chutar
tampinhas na rua e é repreendido pela irmã que agora é Joano. Joana quer chorar, mas é
corrigida por Pedra, pois menino não chora. O impasse é resolvido, pois os dois concluem que
para voltar a ser como eram, deviam passar outra vez debaixo do arco-íris, e depois de uma
longa espera pela chuva eles voltam a ser Pedro e Joana, mas agora conscientes de que devem
respeitar seus desejos e diferenças. As ilustrações de Walter Ono acompanham a narrativa de
forma harmônica, não atuam simplesmente como adereço, mas conferem vida à obra,
trabalhando o imaginário e o abstrato.
100
10)ROCHA, Ruth. O velho, o menino e o burro. Ilustrações de César Landucci. 6.ed. São
Paulo: Global,1988, p.17.
Conto da sabedoria popular, narrado em forma de poesia, trata de uma questão
importante, que é a força da opinião alheia sobre o comportamento humano.
A narrativa se resume em contar como um menino e um velho chegaram a conclusão
de que somos verdadeiros “burros”, quando ignoramos nossas próprias opiniões e agimos em
função de agradar aos outros.
Vinha pela estrada um velho, um menino e um burro. A princípio o velho e o menino
andavam, ambos a pé, puxando um burro, ao verem a cena dois homens comentam que é um
despropósito, pois ao invés de montarem o burro, os dois estavam a puxar o animal,
imediatamente o velho montou no burro e tomaram a estrada. Em seguida duas mulheres ao
verem a cena comentam que aquilo é um desfrute, um velho no bem-bom, e o menino a pé e
logo os dois trocam de lugar, mas em seguida uma velha e uma menina vêem a cena e falam
que aquilo é uma absurdo, um velho que nem se agüenta nas pernas a pé, e o guri em cima do
burro. Cansados os dois resolvem carregar o burro e chegam em casa extenuados, e concluem
que como diz o ditado: “Quem quer agradar a todos, a si próprio não faz bem, pois só faz
papel de burro e não agrada a ninguém”.
101
11) ROCHA, Ruth. Como se fosse dinheiro. Ilustrações de Marcello Barreto e Ivan Baptista.
4.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1996, p.20.
O livro Como se fosse dinheiro possui um forte tom de utilitarismo, destina-se à
criança, que se encontra na faixa etária dos 8 anos. O enredo é simples e trabalha uma questão
fundamental, que é exercício da cidadania.
Como se fosse dinheiro narra a história de Catapimba, que todos os dias leva dinheiro
a escola para comprar lanche, e recebe como troco, do Senhor Lucas, balas como troco e ao
dizer que quer receber o troco em dinheiro, recebe a resposta de que bala é como se fosse
dinheiro.
Cansado de ouvir sempre a mesma resposta Catapimba resolve dar o troco “na mesma
moeda”, um dia compra um lanche e coloca em cima do balcão, como forma de pagamento,
uma galinha, o que causa grande alvoroço entre as crianças.Para acabar com a confusão Sr.
Lucas aceita galinha e ainda dá o troco em moedas para Catapimba.
Nos dias que se seguiram todas as crianças passaram a levar coisas exóticas, como
forma de pagamento do lanche e, quando, o homem reclamava eles respondiam: “Ué Seu
Lucas é como se fosse dinheiro” até o dia em que Caloca resolver trazer um bode, chateado o
vendedor chama a diretora e expõe a situação. A diretora concorda que galinha e bode
realmente não são dinheiros, mas conclui que bala também não é.
A mulher o aconselha que quando não tiver troco, marque e pague no dia seguinte. A
atitude dos meninos causa grande impacto sobre todos, pois a história se espalhou e os demais
comerciantes mudaram de atitude, não mais devolvendo trocos com mercadorias.
102
12) ROCHA, Ruth. Enquanto o mundo pega fogo. Ilustrações de Walter Ono. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984, p.20.
Trata de um assunto universal, a falta de solidariedade e a cobiça desenfreada. No tom
de contador de causos e em forma de poesia, o narrador inicia a história apresentando dois
compadres, amigos e cúmplices: o Zé e o Mané. Um dia ganharam um dinheirinho e
compraram um pedaço de terra e começaram a plantação, logo acharam melhor dividir o
terreno e delimitar quem era dono do quê
Feita a divisão logo começam os conflitos, pois um não podia avançar a cerca do
outro, se a galinha do Zé botava no terreno do Mané, este guardava o ovo argumentando que o
terreno era dele, e o Zé reivindicava seus direitos argumentando que a galinha era dele. Se a
mangueira do Mané atravessava os galhos para o outro lado o Zé cortava e o compadre
reclamava. Desta discórdia nasce a rivalidade entre os dois. Um dia O Zé faz uma grande
festa e não convida o vizinho que vai dormir. No final da festa Zé solta um rojão para acordar
o outro, e este vai parar justo do telhado do compadre. A casa pega fogo e os dois começam
a discutir, as labaredas se estendem e queimam as duas casas. No dia seguinte desanimados os
dois decidem limpar os terrenos juntos.
103
13) ROCHA, Ruth. O homem e a galinha. Ilustrações de Walter Ono. 3 ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984, p.10.
Recontagem adaptada do conto da tradição oral A galinha dos ovos de ouro, o
narrador parte do chavão “Era uma vez” e conta que um homem possuía uma galinha, que
certa ocasião pôs um ovo de ouro. Feliz com o acontecido este foi contar a novidade para a
esposa, afirmando que iriam ficar ricos. A mulher passou a tratar a galinha com pão de ló, o
marido discordou e disse que aquilo era um luxo, e que a mulher a tratasse com farelos.
Assim ela o fez, e a galinha continuou a botar ovos de ouro. Daí em diante, o marido exigia
que a esposa sempre diminuísse a qualidade do alimento oferecido ao animal até chegar ao
ponto de não alimentá-la mais. A galinha que procurasse o que comer. Dizia ele.
A galinha não deixou de pôr seus ovos de ouro, no entanto um dia achou o portão
aberto e foi embora, e o narrador conclui dizendo que corre o boato de que ela agora está
morando numa boa casa, onde é tratada a pão de ló.
104
14) ROCHA, Ruth. Declaração universal dos direitos humanos. Ilustrações de Nelson
Mielnik. São Paulo: Quinteto Editorial, 1986, p.42.
Escrita em parceria com Otávio Roth, A Declaração Universal dos Direitos Humanos,
não possui os pré – requisitos necessários que possam enquadra-la como uma obra literária.
Compõe-se de um pequeno texto introdutório, onde os autores explicam quais foram as
circunstâncias que levaram a ONU a elaborar tal documento. O narrador onisciente explica
que foi depois de uma guerra, que uma porção de pessoas, com características muito
diferentes se uniram em torno de um objetivo comum e escreveram a declaração, e numa
linguagem adaptada à criança, vai descrevendo que todas as pessoas nascem iguais e, por isso,
possuem o mesmo direito etc.
Sendo uma obra destinada a ensinar, possui uma linguagem bem simples sem a
inserção de metáforas e/ou alegorias e, no final, traz uma mensagem dizendo que apesar de
fazer muitos anos que essa declaração foi escrita, ainda existem países que não a obedecem e,
que, para isto aconteça é necessário que todos aprendam nas escolas o seu conteúdo.
As ilustrações são feitas por Nelson Mielnick, em formas de desenhos abstratos que
variam entre o marrom e o branco, sempre fugindo à figuratividade, sugerindo a
universalidade dos direitos do homem. A última página consta de um breve comentário sobre
os autores.
105
15) ROCHA, Ruth. Pra vencer certas pessoas. Ilustrações de Alcy. 2.ed. São Paulo: Ática,
2000, p.22.
Pra vencer certas pessoas, é uma obra de forte conteúdo crítico que de forma irônica e
divertida abrange temas como a vaidade, a esperteza, o abuso da autoridade e do poder.
Conta a história de Pedro, um vaqueiro simples, e sem cultura que trabalha num
convento, e gosta especialmente de um clérigo: Frei Damião, porque é inteligente e sempre
tem histórias para contar, a fama do Frei chegou até o rei, que o convida para ir até a sua
corte, para responder três perguntas. Neste ponto o narrador conversa com o leitor e diz que
os reis naquele tempo tinham essa mania de fazer perguntas complicadas, e, que quando as
pessoas não sabiam responder eram castigadas. Pedro sabendo disso, se oferece para ir no
lugar do frade, que se opõe à idéia, mas o vaqueiro insiste e sai bem cedo, dirigindo-se ao
reino, onde é bem recebido. Com astúcia responde as perguntas, sempre saindo pela tangente,
ou inflamando o ego do rei, e quando finalmente este lhe pergunta o que estaria pensando, ele
responde que o rei está pensando que ele é o Frei Damião, mas na verdade, ele é o vaqueiro
dele, todos caem na risada e o monarca não encontra outra saída a não ser liberá-lo para
voltar. Em seguida volta ao chegar no convento encontra Frei Damião, preocupado e já se
aprontando para ir procurá-lo.
106
16) ROCHA, Ruth. Quem tem medo de quê? Ilustrações de Ivan e Marcello. Rio de Janeiro:
Riográfica, 1986.
Este livro questiona os medos internos e latentes que moram dentro do inconsciente do
ser humano. Fica claro o tom “utilitário”desta obra, visto que a personagem, cujo nome não é
identificado, mas fica claro por meio das ilustrações, que se trata um menino, dialoga com o
leitor sobre seus medos infundados, medo de escuro de lobo mau, de bruxa e de fantasmas,
sempre realçando que seus medos são imaginários. É notória a preocupação da escritora em
salientar que os medos são sempre menores que os seres humanos. “Esses medos estão na
cabeça da gente, nos sonhos da gente. Mas nós somos mais fortes do que os nossos sonhos.
Nós podemos mandar neles. então, não precisamos ter medo!”(ROCHA, 1986).
Este livro foi escrito em parceria com Dora Lorch, Mestre em Psicologia Clínica e
pesquisadora da área relacionada à psicossomática .
107
17) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora. Será que vai doer? Ilustrações de Walter Ono. 4. Ed. São
Paulo: Ática, 2000, p.12.
Mais um volume da coleção “Os medos que eu tenho”, esta obra também escrita em
parceria com Dora Lorch, trata de uma questão específica, que é o medo de ir ao dentista. O
ponto de vista apresentado, é o do narrador protagonista, que expõe seus medos e dificuldades
em enfrentar uma situação nova, no momento em que a mãe está distante, ou seja, é a
primeira experiência de reconhecimento de si mesmo, enquanto ser dotado de autonomia. O
narrador expõe e afirma que possui todos os medos possíveis quando tem que enfrentar um
dentista, mas por outro lado pondera que a situação não é pior que a própria dor de dente, ou
seja, na verdade, este narrador questiona o medo do medo e, conclui, que embora não seja
nada confortável para ele essa situação, é necessário saber enfrentá-la, além de salientar que
quando mais se cuida dos dentes, menos temos que enfrentar situações como esta.
108
18) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora Fantasma existe? Ilustrações de Walter Ono. 4 ed. São
Paulo: Ática, 2000, p. 14.
Livro escrito em pareceria com Dora Lorch pertencente a coleção “Os medos que eu
tenho, esta obra possui um tom utilitário, pois se destina a um público a faixa etária de 04 a 08
anos, e tem como objetivo principal atenuar os medos que assolam as crianças em fase de
formação de sua personalidade. Narrado em primeira pessoa, o enredo do livro é basicamente
simples, apresentando uma linguagem direta que se adapte a capacidade de compreensão de
seu público alvo.
Este narrador personagem narra seus medos citando coisas como o receio do barulho,
de fantasmas, de bruxas, de monstros, de lobo mau, do escuro, etc. Por outro lado situa-se a
voz do autor implícito que direciona o discurso no sentido de ajudar a controlar os medos,
que são comuns a todas as crianças. Esta obra torna-se útil à medida que, a autora direciona a
mensagem no sentido de levar o leitor a questionar seus próprios receios e, desta forma,
superar seus conflitos internos.
É porque estes medos estão na cabeça da gente, nos sonhos da gente.
Mas nós somos mais fortes que os nossos sonhos. Nós podemos
mandar neles. Então podemos mandar neles. Então não precisamos ter
medo!(ROCHA, 2000).
109
19) ROCHA, Ruth, LORCH,Dora. Ninguém gosta de mim. Ilustrações de Walter Ono. 4. Ed.
São Paulo: Ática, 2000, p.12
Pertencente também a coleção “Os medos que eu tenho”, esta obra irá trabalhar a
sensação de desamparo, de solidão e carência afetiva .
A personagem reflete sobre seus medos, medo de perder o pai, medo que o pai leve
outra criança para a escola, medo de perder a mãe por isso, sente ciúmes do pai. A
personagem, que claramente, se apresenta em fase de formação de personalidade, sente medo
de perder tudo e se questiona o tempo todo, no sentido de saber se é amada ou não, pois às
vezes sente que ninguém gosta dela.
Tem vezes que eu me sinto tão sozinho..acho que ninguém gosta de
mim, mas ai a gente se junta e brinca e conversa e quando eles vão
embora eu não me sinto mais sozinho, pois eles agora estão no meu
coração( ROCHA, 2000)
110
20) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora. Tenho medo mas dou um jeito. Ilustrações de Walter Ono.
4. ed. São Paulo: Ática, 2000, p.14.
Pertencente a coleção “Os medos que eu tenho”, esta obra também possui um fundo
utilitário. Trata também do medo. Narrado em primeira pessoa, este livro não discute os
medos imaginários e abstratos, mas sim os medos reais, os perigos que toda criança corre e a
necessidade de saber enfrentá-los. O titulo da obra já aponta para uma solução. A personagem
protagonista passa por situações de perigo tais como ter que atravessar a rua sozinho, medo de
se queimar ao mexer no fogão, medo de altura etc, mas por outro lado ao viver suas próprias
experiências, conclui que existem perigos e que preciso ter cautela para não se machucar no
entanto, não se percebe no discurso da autora a voz implícita que direciona moralmente a
história de forma a passar uma “mensagem”. Não há a predominância da voz do adulto como
dono do saber a apontar caminhos a serem trilhados, ou ainda impor seu ponto de vista sobre
o leitor mirim. Ele por si próprio aprende com suas experiências, agindo como ser inteligente,
capaz de superar suas próprias barreiras. Mas afinal, ter medo serve para alguma coisa? Serve
sim, porque tem coisas que são perigosas. Mas a gente pode aprender como mandar nos
medos (ROCHA,2000).
111
21) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora. As coisas que eu gosto. Ilustrações de Walter Ono. São
Paulo: Ática,2000, p. 12.
Também escrita em parceria em Dora Lorch, esta obra apresenta um personagem que
se delicia conhecendo as coisas à sua volta. Encontra-se sua fase de reconhecimento tátil do
mundo. Como toda criança nesta fase, a personagem-narrador afirma que gosta de revirar as
coisas, de jogar tudo para o alto e para fora, mas gosta mesmo é de mexer na bolsa da mãe. A
autora utiliza-se de uma língua fluente, dialogante e coloquial, e usa o verbo “panelar” para
se referir aos atos da criança ao mexer nos utensílios domésticos. Fica clara a intenção da
obra de se dirigir a um público que está descobrindo as coisas do mundo. A personagem
afirma que adora comer papinha, mas que não gosta só do sabor, gosta de pegar, de esfregar,
de cheirar e de brincar com ela.
112
22) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora. Sabe do que eu gosto? Ilustrações de Walter Ono. São
Paulo: Ática, 2000, p.12.
Na mesma linha utilitária de Tem umas coisas que eu gosto, a obra apresenta-se sem
um personagem nomeada, que está em fase de formação de personalidade. Apela para a
universalidade trabalhando com símbolos. Escrita em parceria com Dora Lorch, a obra denota
a preocupação mais uma vez entre meninos e meninas, trabalhando desta vez o complexo de
Electra. A personagem afirma , num tom coloquial e dialogante, que prefere brincar com
meninas, pois os meninos são “muito chatos”, identifica-se com a mãe, mas “namora o
papai”. Também se sente um heroína, possui curiosidades sobre a gravidez da mãe e pergunta
:“O que será que tem dentro”, quando percebe o tamanho de sua barriga, também afirma que
meninos e meninas são diferentes até na hora de brincar, mas conclui dizendo que “até tem
meninos que são bonzinhos”(ROCHA, 2000).
113
23) ROCHA, Ruth, LORCH, Dora. Tem umas coisas que eu gosto. Ilustrações de Walter Ono.
São Paulo: Ática,2000, p.14.
Esta obra escrita por Ruth Rocha em parceria Dora Lorch, trabalha as diferenças entre
os sexos .Um menino reflete sobre as suas preferências, seus gostos pessoais. Afirma gostar
de brincar com meninos, se identifica com seu pai e “namora”a mamãe, deixando claro a
preocupação de Dora com Lorch o trabalho sobre “Complexo de Édipo”. A personagem se
sente dotada de poderes mágicos, e se identifica com o super homem ao proteger a mãe, é
curioso e comenta que meninos e meninas são diferentes até na hora de brincar, “mas até que
tem meninas” que são legais (ROCHA, 2000).
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24) ROCHA, Ruth. O menino que aprendeu a ver.
O menino que aprendeu a ver apresenta um enredo simples, onde um menino chamado
Joãozinho olha o mundo e não “vê”. Curiosa, a personagem olha para as placas e letreiros e
reconhece os desenhos, mas ainda não sabe decodificar as letras e os números. Ao reclamar
para mãe que não consegue entender direito as coisas, esta afirma que está na hora de
Joãozinho ir para a escola. Assim que começam as aulas, o menino muda a sua percepção e
começar a reconhecer as letras que aprende em todos os lugares, até que aprende a ler. Ao
comentar com o pai o acontecido, o pai feliz afirma que o filho tinha aprendido a ver.
Nesta obra podemos perceber traços e preocupações da educadora Ruth Rocha. O livro
apresenta uma visão estereotipada da professora, ao descrevê-la sempre de óculos e também
uma visão puramente tradicional da escola, baseada apenas no conhecimento do alfabeto
como forma de conhecimento do mundo.
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25) ROCHA, Ruth. Alvinho, o edifício city of Taubaté e o cachorro Venceslau. Ilustrações de
Ivan Zigg. 3. Ed.São Paulo: FTD, 1994, p.18.
Este livro foi publicado pela Editora Melhoramentos em 1987. Possui ilustrações de
Ivan Zigg, narra a história de um menino, personagem central, chamado Alvinho, que mora
em um edifício onde é proibido ter animais. Alvinho sonha em ter um cachorro, mas esbarra
nas normas do prédio. Dona Violeta, a síndica do prédio, proíbe expressamente a permanência
de animais no edifício e isso deixa a personagem frustrada. Como elemento de subvenção da
ordem surge no condomínio o neto de dona Violeta, que como todas as crianças também
adorava animais.
A partir da chegada de Marcos instaura-se o conflito, pois Dona Violeta sente afeição
pelo neto, e este traz para o apartamento um cachorro peludo chamado Wenceslau, que acaba
sendo descoberto pelos demais moradores. A partir do incidente todos passam a ter animais e
o edifício City of Taubaté passa a se chamar Arca de Noé.
Em suma, o enredo do livro é simples e tem uma preocupação óbvia que é a de dar o
“recado”. Ao analisar esta obra percebemos o estilo dialogante e informal de Ruth Rocha. Ela
se dirige ao leitor mirim, e com ele dialoga, respeitando a sua capacidade de compreensão
dos dados em torno de sua realidade. No entanto percebemos uma Ruth Rocha com menores
preocupações estilísticas, do que as encontradas em outras obras de maior relevo e apuro
estético. A narrativa flui no ritmo do diálogo, sem rimas, ou uso de demais figuras de estilo, o
que se observa é uma clara tendência à produção industrial. Constitui uma obra de fácil
digestão, sem mensagens implícitas, que exijam um maior esforço em sua decodificação. Fica
claro que a obra não possui um tom didático e moralizante, no entanto constitui-se uma obra
utilitária, pois presta-se a ensinar como uma criança inteligente deve portar-se frente aos
desafios encontrados pela vida a fora.
Percebemos a assimetria Escritor Adulto e Leitor Criança, pois a voz que enuncia os
fatos é uma voz de adulto, um narrador onisciente que apresenta os fatos e o desfecho da
narrativa.
116
26) ROCHA, Ruth. Macacote e Porco Pança. Ilustrações de Margarita Menéndez. São
Paulo:Ática,1999, p. 32.
Ruth estabelece uma paráfrase com a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de
La Mancha, e cria duas personagens: Macacote, um macaco atrapalhado e lunático, e seu fiel
companheiro, um porco gordo, chamado Pança. Macacote vive a se meter em trapalhadas e de
tanto apanhar resolve fazer para si uma armadura com restos de panelas velhas que encontra.
Como não sabe usa-lo, o acessório acaba caindo e despertando risos de toda a bicharada e
mais uma vez é protegido pelo amigo. Resolve sair pela floresta com o objetivo de proteger os
animais e sua amada Macaquéia. Propõe-se a lutar contra seu mais terrível inimigo: o
elefante, no entanto acaba atacando uma roda d´água. Pança propõe que Macacote volte para
casa e trabalhe. O macaco resolve mudar de vida e retoma a sanidade casando-se com
Macaquéia. Macacote e Pança têm filhos, que por sua vez, tornam-se amigos. Zé Mico e
Pancinha brinca juntos e tudo leva a crer que ambos também irão se meter nas maiores
confusões.
117
27) ROCHA, Ruth. A fantástica máquina dos bichos. Ilustrações de Margarita Menéndez. 3.
Ed. São Paulo: Ática, 1999, p.32.
Ruth Rocha retoma a história de Macacote e Porco Pança. Os dois casaram e tiveram
filhos, que se tornaram amigos. Um dia seus filhos resolvem construir uma máquina que não
sabem ao certo para que serve. Juntaram as mais diversas “bugigangas” e quando a máquina
estava pronta, os animais da vizinhança se aproximaram movidos pela curiosidade, e ligaram
a máquina. A máquina, como se fosse um aspirador de pó, começou a sugar todos para dentro
de si. Entravam por um lado e saíam pelo outro modificados, tendo suas características físicas
modificadas, por exemplo de dentro do invento saiu o cabrelho, uma cabra com as orelhas de
coelho. Zé Mico e Pancinha ficaram preocupados, mas começaram a rir do acontecimento. Os
bichos ficaram agitadíssimos e os dois fogem com medo, enquanto são perseguidos pelos
animais enfurecidos. De tanto correr passam de novo pela máquina e voltam a sua forma
original.Zé Mico e Pancinha desta vez também sofrem transformações,no entanto logo tratam
de passar novamente pela máquina.O invento começa a zunir a estalar e, de repente, estoura
jogando ambos para o alto, que por sua vez , prometem nunca mais se meter em outra.
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28)ROCHA, Ruth. Um macaco pra frente. Ilustrações de Xan López Domínguez.2. ed. São
Paulo: Ática, 2000, p. 40.
O enredo traz a história de um macaco que possui a habilidade de falar como os seres
humanos. Vive na floresta e é encontrado pelo professor Serapião, que decide trazê-lo para a
cidade. Simão decide ser igual aos humanos e parte em procura de um emprego, mas se perde
fazendo “macaquices”e estripulias. Serapião conclui que Simão tem vocação para ser macaco
de circo. Quando o circo vai embora, o professor vai se despedir de Simão, que conclui que
não é um humano, mas é pelo menos “um macaco pra frente”. O professor encerra a narrativa
afirmando que não basta saber falar para ser um humano de verdade.
A obra possui um tom questionador, e ao apresentar a personagem Simão revela a
natureza do ser humano, enquanto ser irracional que se limita a falar, sem questionar o seu
próprio discurso, transformando-se em objeto manipulado pela vontade alheia, não
configurando um cidadão, mas apenas um animal melhorado.
119
29) ROCHA, Ruth. Eugênio, o gênio. Ilustrações de Mariana Massarani. 4. Ed. São Paulo:
Ática, 1996, p. 32.
A obra em questão traz uma personagem central, Eugênio, o gênio, um burro
inteligente, genial, mas que, por vez empaca, como é da natureza de todo burro. Um dia surge
um concurso de talentos na floresta e Eugênio é incentivado a participar. A pergunta chave é:
Que cor era o cavalo branco de Napoleão, os animais concorrentes seguem sua intuição e
respondem de acordo com seus limites, sua visão restrita de mundo. Eugênio, que era um
burro genioso, acaba respondendo a pergunta e ganha o concurso. Esta obra trabalha valores
como a dependência afetiva dos filhos em relação aos pais. Eugênio é extremamente mimado,
mas se vê numa situação, onde tem que resolver seus problemas sozinhos e vence esta
barreira, transformando-se de um burro de mau gênio e empacado, em um burro genial sendo
conhecido como “Eugênio, o bom gênio”.
120
30) ROCHA, Ruth. A cinderela das bonecas. Ilustrações de Ivan Zigg. 3.ed. São Paulo: FTD,
1994. p 22.
Esta obra contém uma dedicatória da autora a todas as crianças com quem brincou na
infância. Possui um tom saudosista e um tanto melancólico, contendo uma breve
autobiografia de Ivan Zigg, ilustrador da produção.
O enredo lembra as reminiscências contidas nas obras de Lobato, apresentando uma
personagem idosa, chamada Dona Neném, que lembra Dona Benta, pois concentra em torno
de si muitas crianças, que são seduzidas pelo seu poder contar histórias.
O enredo é linear e narrado em terceira pessoa, traz a tona temas como o consumismo
e a valorização da aparência em detrimento da essência. Dona Neném é uma exímia
contadora de histórias, meio atrapalhada, que mistura sempre o enredo dos contos de fadas.
Um dia resolve promover uma festa para as meninas, onde todas devem levar suas bonecas.
Marina fica triste, pois sua boneca está velha e a mãe não pode comprar uma nova e, então, a
velha Senhora, num tom de ensinamento pergunta a menina: “_ E nossos filhos quando ficam
feios ou doentes, nos também jogamos fora?”. E arrumam a boneca com maravilhas que estão
escondidas num velho baú de Dona Neném, que atua como uma fada. Finalmente a boneca é
elogiada por todas as meninas e recebe o nome de Cinderela.
121
31) ROCHA, Ruth. Borba, o gato. Ilustrações de Mariana Massarani. 3.ed. São Paulo:
Ática,1999, p.32.
A narrativa traz a história de duas personagens, o gato Borba e o cachorro Diogo. De
alto tom utilitário, a obra se presta a questionar os lugares ocupados pelos indivíduos na
sociedade, que, por sua vez, são apresentados como imposições ideológicas a serem
respeitadas pelas pessoas. O enredo traz uma personagem, Borba ,o gato, que encontra-se em
desacordo com a ideologia dominante e sonha exercer a profissão do amigo, Diogo, que é cão
policial. A mãe tenta dissuadi-lo da idéia, pois segundo ela a natureza dos gatos é outra.
Inconformado com a situação Borba discorda da mãe e continua a sonhar com a profissão de
policial.Um dia numa ronda noturna os amigos encontram um ladrão que tenta fugir por um
telhado. Diogo por ser cão não tem aptidão para subir em telhados e Borba se dispõe a fazê-
lo. Assusta o ladrão que cai e recebe voz de prisão pelo cachorro. No final da história Borba é
condecorado policial pela sua bravura, realizando assim seu grande sonho.
Esta obra questiona valores impostos pela sociedade e estimula os pequenos leitores a
buscarem sua verdadeira identidade, por meio do livre questionamento das idéias.
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32) ROCHA, Ruth. A arca de Noé. Ilustrações de Cláudio Martins. 9.ed. São
Paulo:Ática,2000, p. 24.
Recontagem do mito bíblico da Arca de Noé. Ruth Rocha conta em forma de poesia a
história bíblica, utilizando-se de recursos poéticos para construir a musicalidade, prender a
atenção do leitor. A autora faz algumas inferências, num tom fluente de contador de casos,
sempre retomando os dados bíblicos.
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33) ROCHA, Ruth. O amigo do rei. Ilustrações de Eva Furnari. 9. Ed. São Paulo: Ática, 2000,
p. 32.
Esta obra, de Ruth Rocha, versa sobre duas personagens Matias, que era escravo, e
seu dono Ioiô, as duas crianças, da mesma faixa etária, se dão muito bem, pois nasceram na
mesma época e brincavam juntas. Matias diz a Ioiô que um dia vai ser rei, pois seu avô tinha
sido rei há muito tempo atrás numa terra distante, onde os negros eram livres. Matias, na
qualidade de escravo, sempre se submetia às ordens do amigo, no entanto, um dia o pai de
Ioiô se zanga e dá uma surra nos dois. Estes resolvem fugir e enfrentam todos os perigos de
uma floresta adentro. A personagem Matias é corajosa e estimula o amigo a seguir adiante, até
que um dia chegam a um quilombo e Matias é reconhecido como rei. Os dois convivem no
lugar e Iodo se torna “o amigo do rei”, até que sente saudades de casa e resolve voltar, os dois
se despedem com tristeza. Matias volta para casa e se torna um homem a lutar pela liberdade
do seu povo. A autora encerra o livro afirmando que muitos homens lutaram pela abolição da
escravatura, entre eles negros, mulatos e brancos, entre eles Ioiô, o amigo do rei.
124
34) ROCHA, Ruth. O trenzinho do Nicolau. Ilustrações de Eliardo França. 3. Ed. São Paulo:
Ática,1993, p.24.
Esta obra de Ruth Rocha, trabalha com conceitos, símbolos universais e situações
problemas sobre as quais a criança possa refletir, discute o tema da senilidade, da sensação de
inutilidade do idoso perante a vida. A obra é narrada em forma de poesia, com forte carga
sinestésica e aliterativa que faz lembrar O trem de Carlos Drummond de Andrade.
A história de Nicolau, um homem que, manobra um trenzinho, e vê toda gente passar
,toda agitação do mundo, e um dia cansado resolve se aposentar, passa a cultivar flores, levar
uma vida típica de trabalhador aposentado, mas sente com o passar do tempo a angústia
crescer e resolve comprar o seu trenzinho, que já esta todo enferrujado, e com ele se interage
abandonando o sentimento de solidão. A velha máquina passa a ser instrumento de
brincadeira para as crianças que lhe fazem companhia.
125
35) ROCHA, Ruth. O coelhinho que não era da páscoa. Ilustrações de Walter Ono. 8. Ed.
São Paulo: Ática, 2000, p. 30.
A obra, O coelhinho que não era da páscoa, relata a história de Vivinho, um
coelhinho filho de “família” tradicional de coelhinhos da páscoa, no entanto Vivinho não
deseja ter essa profissão, enquanto os irmãos treinam para seguir a tradição dos ancestrais,
Vivinho se diverte fazendo amizades com outras espécies de animais. Na véspera da Páscoa,
os pais de Vivinho saem à procura de ovos de páscoa para comprarem e distribuírem às
crianças. Voltam decepcionados, pois todo o estoque já havia sido vendido. Vivinho, por sua
vez, havia aprendido com a borboleta Julieta, a arte de fazer o mel, e com a borboleta
Melinda, a fazer todos os tipos de doces. Todos se reúnem e conseguem preparar os ovos a
tempo. Ruth Rocha de forma lúdica brinca com o significado das palavras, tecendo um
discurso poético, permeado de sinestesias, rimas e, mais uma vez, apelando para a intenção
claramente contra-ideológica do texto, ao sugerir que cada ser humano tem direito de escolher
sua profissão e seu caminho, sem a interferência de outras pessoas.
126
36) ROCHA, Ruth Lá vem o ano novo. Ilustrações de Nicoletta Costa. 2.ed. São Paulo,1997,
p.40.
A obra é uma alegoria do surgimento do Ano Novo. As horas, os segundos, os
minutos todos os elementos que representam o tempo, são personificados. A obra apela para
um conteúdo moral. Apresenta a mensagem explícita de que todos os seres humanos, no calor
dos festejos, e das emoções prometem melhorar no próximo ano, mas continuam a cometer
os mesmos erros.A Senhora meia noite revoltada com essa realidade resolve fazer greve e não
comparecer,o tempo a convence que o ano Velho esta cansado demais e, que, talvez o Ano
Novo, que é jovem, possa trazer uma nova realidade, em face disso ela resolve trabalhar e
assim nasce mais um ano para a alegria de todos.
127
37) ROCHA, Ruth. Mil pássaros pelos céus. Ilustrações de Cláudio Martins.São
Paulo:Ática,1996. p.30.
Texto narrativo em tom poético, conta a história da cidade de Arvoredo, que vivia
cheia de pássaros a voar pelos céus.Um dia estes alçam vôo e desaparecem. Os moradores
ficam preocupados e resolvem consultar o sábio da cidade que se chama Andrade, este se
emprenha em sua pesquisa e descobre que as aves foram embora, porque não existe música na
cidade.Os moradores logo começam a tocar variados instrumentos e eles voltam enchendo
novamente a cidade de alegria e beleza.
128
38) ROCHA, Ruth. Joãozinho e o pé de feijão. Ilustrações de Suppa. São Paulo: FTD, 2004,
p29.
Joãozinho e sua mãe eram muito pobres e não tinham mais o que comer. Então, o
garoto saiu para vender o único boizinho que tinham. Ludibriado, trocou-o por três grãos de
feijão, que a mãe, zangada, atirou pela janela. Ali brotou um pé de feijão enorme. O garoto
escalou a planta até o alto e encontrou o reino do malvado Gigantão Grandão. Entrou no
castelo dele e fugiu com uma galinha que botava ovos de ouro. Chegando em casa, cortou o
pé de feijão. O gigante despencou lá de cima e morreu. Joãozinho e a mãe nunca mais
passaram fome.
129
39) ROCHA, Ruth. O patinho feio. São Paulo: FTD, 2004, p.32.
Dona Pata teve lindos patinhos, mas um deles era bem esquisito e passou a sofrer
humilhações por sua feiúra. Até que um dia, cansado daquela situação, o patinho fugiu para
bem longe. Passou por muitos apuros: tiroteio de caçadores, ataque de animais, brincadeiras
de crianças malvadas. No verão, encontrou belos cisnes num lago e aí descobriu sua
verdadeira origem.
130
40) ROCHA, Ruth. O barba azul. São Paulo: FTD, 2004, p. 32
Este livro pertence a coleção Lê pra mim, publicada pela FTD, que consta de 12
títulos entre fábulas e contos de fadas, recontados por Ruth Rocha e Ana Maria Machado. O
Barba Azul, clássico da tradição oral, adaptado por Charles Perrault, faz parte da coleção.
Ruth Rocha narra de forma musical a obra, com todo o encanto das rimas, num tom coloquial
e sempre dialogando com o leitor-ouvinte, num típico livro escrito, para ser lido em voz alta.
O Barba Azul narra a história de uma jovem e ingênua donzela, que se encanta por
homem misterioso, embora saiba que sua fama não é das melhores, pois corre o boato de que
este some com as esposas. Mesmo contra todas as circunstâncias a moça, apaixonada, opta
pelo casamento. Logo depois das bodas o marido a deixa sozinha e a entrega um molho de
chaves dizendo que poderia abrir todos os cômodos, menos um do qual ela deveria manter
distância.
Movida pela curiosidade a moça não se contém e abre a porta descobrindo que o
esposo mata todas as suas esposas e as guarda naquele local. Chegando de viagem o marido
descobre que foi traído pela esposa e tenta matá-la também. A moça reluta com todas as suas
forças, e quase sucumbi quando, finalmente, é salva pelos irmãos que chegam para resgatá-la.
Como todo conto de fada fica evidente a preocupação moralizante da história, pois ao
ler o clássico percebemos conselhos indiretos do tipo. A curiosidade pode ser benéfica, mas
também pode ser perigosa.
131
41) ROCHA, Ruth. Joãozinho e Maria. São Paulo: FTD, 2004, p.32.
Joãozinho e Maria, deixados pelos pais, que não tinham dinheiro para criá-los, na
floresta, encontraram uma casa feita de doces. Famintos, começaram a devorá-la. Não sabiam
que ali morava uma velha bruxa que, comia criancinhas, e gostava principalmente das
gordinhas. A bruxa prendeu Joãozinho numa gaiola e lhe dava muita comida para que ele
engordasse. Quando chegou o dia, acendeu o forno, mas Maria conseguiu prendê-la lá dentro.
Soltou o irmão e os dois acharam na casa muitas moedas de ouro. Voltaram para a casa dos
pais e nunca mais passaram dificuldades.
132
42) ROCHA, Ruth. WOOLF, Virginia.Tradução de Ruth Rocha. A cortina da Tia Bá.
Ilustrações de Julie Vivas. 2.ed.São Paulo:Ática,1993.
O livro A Cortina de Tia Ba é pertencente a escritora Virginia Woolf, e traduzido por
Ruth Rocha. O enredo conta a história de Tia Bá, uma velha senhora, que bordava em tecido
animais de toda espécie, os quais viviam “aprisionados” dentro do tecido. Ocorre que esta
senhora adormeceu e estava roncado sentada defronte à lareira, com o dedo esticado, com o
dedal na ponta e no seu colo uma grande peça de bordado azul de tecido com várias figuras.
Enquanto a velha senhora ronca os animais bordados se movimentam por toda parte
ganhando vida própria.O desenho do tecido representa uma paisagem com bandos de animais
selvagens, sendo que um pouco abaixo há um lago e uma ponte, e também uma aldeia com
telhados redondos e homens e mulheres que espiam pelas janelas e que passam a cavalo por
sobre a ponte. O azul do tecido se transforma em ar e pode-se ver as pessoas movendo-se na
ponte e acenando das janelas. Os bichos começam a se mover. À medida que os bichos
descem ao campo para beber, o azul ia transforma- se grama, rosas e margaridas, em pedras
brancas e pretas, com poças de trilhos de carroça e sapinhos que pulam.
E na aldeia, que se chamava Milpassinhópolis, chega a rainha do Carnaval na sua
liteira, o general da banda,o primeiro ministro o carrasco e as pessoas importantes da cidade.
Ninguém se importa com a presença dos bichos, pois consideram que uma grande feiticeira do
lugar mantinha todos em seu poder.Os homens e mulheres contemplam Tia Bá, e sua face
parecia a encosta de uma montanha, e nas falhas destas estavam os seus olhos, seu cabelo, seu
nariz e seus dentes.De repente a velha senhora acorda com o som de um besouro que zumbia
em seus ouvidos .Ela endireita e espeta a agulha e volta seu tecido. E a cortina volta a ficar
quietinha nos seus joelhos.
133
43) ROCHA, Ruth. Quando eu comecei a crescer. Ilustrações de Walter Ono.9.ed.São
Paulo:Ática, 2000, p.30.
Ao ler a obra Quando eu comecei a crescer, percebemos um forte apelo auto-
biográfico, sentimos claramente a Ruth Rocha criança, que há por detrás da escrita, sem
contudo tornar a obra um instrumento de ensinamento apenas. Narrada em primeira pessoa
por uma personagem que não se identifica, mas que é uma menina, o enredo se constitui da
contagem de um fato que desencadeou na personagem a sensação de que ela estava
“crescendo”.
A personagem fala de um passado em que tudo era diferente, pois acreditava em
coelhinho da páscoa, papai Noel, cegonha etc, mas queria muito brincar com crianças
maiores, que andavam de bicicleta e a excluíam do grupo. A menina conclui que se tivesse
também uma bicicleta seria gente grande igual às outras crianças. Numa noite de Natal,
tipicamente burguesa, a menina vê suas crenças desmoronando, pois descobre que são seus
pais mesmos é que dão os presentes. Sente uma grande sensação de perda, mas supera a crise,
pois é chegado outro momento de sua vida. No dia seguinte, feliz, sai às ruas andar de
bicicleta com os outros.
134
44) ROCHA, Ruth. A rua do Marcelo. Ilustrações de Adalberto Cornavaca. São Paulo:
Moderna, 2001, p.22.
Esta produção de Ruth Rocha, apresenta um forte cunho didático, inclusive com
sugestões de exercícios para serem feitos em sala de aula. Pode-se sentir paralelamente a
escritora e a educadora agirem juntas.
Narrado em primeira pessoa, por Marcelo, o enredo destina-se a descrever o ambiente
em que Marcelo reside, mais propriamente a sua rua, com suas as mais diversas
peculiaridades. O narrador se refere há vários personagens que integram as coleções de Ruth.
A descrição do local é sempre feita salientando as diferenças entre uma casa e outra, por
exemplo: a calçada da casa da Terezinha é de pedrinhas brancas e pretas, a da frente do
apartamento do Alvinho é feita de uns quadrados cheios de quadrinhos etc.
Além das descrições de moradias, a personagem descreve tamm os quintais e a
iluminação pública e, num tom de diálogo com o leitor, explica que soltar pipas perto da
iluminação elétrica pode ser perigoso, ou seja, Ruth Rocha conserva o utilitarismo na obra,
esta se destina a passar ensinamentos, embora, use um tom coloquial percebe-se claramente a
voz implícita do adulto sobre a criança.
No final da obra a autora sugere alguns exercícios para os “leitores-alunos”, e os
convidam para brincar. São quatro jogos denominados: Jogo do apito, O que eu vejo na
minha janela, A quadra do Marcelo, Enquete da rua.
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45) ROCHA, Ruth. Atrás da porta. São Paulo: Moderna, 2002, p.96.
Narra a história de Carlinhos, que mora num casarão dividido em duas partes, sendo
que em uma delas funciona a Escola Dona Carlotinha de Araújo Cintra, nome da avó do
menino, que tinha o hábito de lhe contar as mais incríveis histórias. Com a morte da avó
Carlinhos sente muitas saudades e passa muito tempo brincando sozinho no seu quarto, até
que um dia descobre uma passagem secreta, que dá para um quarto escuro, e lá dentro a
personagem encontra um verdadeiro tesouro, lá estão todos os pertences de sua avó. Em
pouco tempo várias crianças estão freqüentando o tal quartinho secreto para desfrutar dos
livros, o que desencadeia o boato de que a casa seja mal assombrada. Os pais de Carlinhos
vão sondar e revelam que ali na verdade era a biblioteca da escola e que é bom que todos
leiam.
A biblioteca é novamente inaugurada com grande festa. O ambiente vive cheio e
quando Carlinhos sente saudade da avó, vai ler os seus livros.
Com o ocorrido Antonio, o pai de Carlinhos, descobre que os livros que o menino
tanto gostava tinham sido feitos à mão por Dona Carlota e os envia para a Editora
Salamandra, que o publica com Ilustrações de Walter Ono, Carlos de Brito, Ivan Zigg etc. Na
ocasião também são lançados livros de Ana Maria Machado, Sylvia Orthoff, João C. Marinho,
Anna Flora e Edy Lima e o narrador, que não se identifica, também se faz presente e ganha o
prêmio “Jacaré”.
136
46) ROCHA, Ruth. A coisa. Ilustrações de Walter Ono. 10.ed. São Paulo: Melhoramentos,
1993, p.32.
Pertencente a Coleção As aventuras de Alvinho, A coisa apresenta um enredo simples.
Alvinho está na casa de seus avós, uma casa grande, antiga, de dois andares, com um velho
portão. Um dia o menino resolver descer para procurar uns patins, pegou uma lanterna e foi,
mas voltou aos berros, dizendo que havia lá embaixo uma coisa horrível, de cabelo vermelho
e com uma luz hedionda saindo da barriga, com uns tufos espetados na cabeça. O seu tio
Gumercindo resolve resolver o impasse, mas logo volta horrorizado com o que havia visto.
Para desvendar o enigma, Dona Julinha, a avó de Alvinho, desce ao porão para ver o
que estava acontecendo e descobre que se trata de um espelho que ela havia coberto por causa
da chuva, uma vez que tinha medo de raios, o pano que o cobria caiu e cada um que descia no
escuro via uma coisa diferente no espelho. O narrador termina a história perguntando: Você já
reparou como um espelho no escuro é esquisito?
137
ANEXO 2: REPRODUÇÃO DE ENTREVISTAS, ARTIGOS E DEPOIMENTOS
SOBRE A AUTORA.
JORNAL DO BRASIL 25/04/76.
Por Ana Maria Machado
Dicionário Para Crianças Em Estado de Poesia
PALAVRAS, MUITAS PALAVRAS (Dicionário Infantil), Ruth Rocha, Ed. Abril (Coleção
Beija-Flor), ilustrações de Adalberto Cornavaca, São Paulo, 1976, 26 páginas.
A idéia de um dicionário infantil não é nova. No exterior, há vários exemplos desse
tipo de publicação, desde os clássicos Golden Books e as variantes do Larousse até um
recente (e muito bem feito) Charlie Brown Dictionary, do próprio Schulz em colaboração
com a Universidade de Indiana. No Brasil, até agora, salvo engano, o que se tinha era apenas
um arremedo de fora, meras listas de poucas palavras para acompanhar ilustrações relativas a
cada letra, sem nada a ver diretamente com nossa cultura e o dia-a-dia da criança brasileira.
Assim, o Z era sempre mostrado pela Zebra, o X era um eterno Xilofone alternando com
Xadrez. Só o fato de agora encontrarmos nesse caso uma quadrinha falando em xavante,
xerem e xará (e esclarecendo os respectivos significados) já demonstra que estamos diante de
algo bem diferente. De uma obra que é pura poesia – e para nossas crianças.
Trata-se de Palavras, muitas palavras, de Ruth Rocha, para a Coleção Beija-Flor da
Abril.
Do início (“A é a letra de Avião/ De Amarelo/ E de Atenção/ De Automóvel/ E
Assombração…” ao fim, (em que a letra Z “Vem Zanzando, vem Zoando,/ Como um
Zangado Zangão/ Vem Zangando, vem Zunindo, / Vem Zoando, vem Zumbindo…”) o livro
sugere as crianças uma mágica e encantatória brincadeira com as palavras, sublinhando
justamente esse ludismo verbal, que tem estado tão marcadamente ausente de nossa literatura
infantil, e que é uma inegável característica do convívio entre as crianças e a linguagem. Basta
compararmos o casticismo consciente de Monteiro Lobato com a borbulhante criatividade
linguística de Lewis Carroll ou A. A. Milne para termos uma dimensão do fenômeno.
Pois Ruth Rocha, se dispõe a pegar as palavras, jogá-las para cima, virá-las pelo
avesso, olhá-las sem óculos de professor, mas com olhar de criança e de povo. Então,
138
ressurgem lembranças folclóricas (na letra P “Pedro Pereira Pinto; Pobre Pintor Português,
Pintava Portas, Paredes, Pontes, Painéis com seus Pincéis”, na letra R, “O Rato Roeu a Roda
do Carro do Rei da Rússia Povo). E alguns”, na letra T, “O Tempo perguntou ao Tempo/
Quanto Tempo o Tempo Tem,/ O Tempo respondeu ao Tempo/ Que o Tempo Tem Tanto
Tempo/ Quanto Tempo/ O Tempo/ Tem”. Aparecem deliciosos toques de humor a partir das
próprias estruturas de paralelismo da poética popular (como nas letras M e S) ou pela
exploração de sonoridades engraçadas (caso da letra I). A confiança na inteligência infantil
inclui conceitos mais abstratos, mas de importância inquestionável (verbetes H e O, por
exemplo, que introduzem História, Homem e instantes são da mais pura poesia, tendo até
despertado em uma criança o comentário deslumbrado: “ É bonito que nem flict!” como a
letra V (“ Vento Venta no quintal, / Seca as roupas do Varal”) e, sobretudo, o L (“ Lá…/No
Longe, / A Luz/ Da Lua/ Alumia…”). As rimas se mexem, as alterações se sucedem, a bitola
da letra inicial se rompe (muito expressivo o exemplo da letra E, que inclui palavras
começadas com E, que têm E no meio e que acabam em E), o ritmo se mantém.
Enfim, um livro pequeno, despretensioso, mas de inquestionável importância. Uma
obra de arte para todas as idades valorizada pela diagramação e pelas ilustrações de Adalberto
Cornavaca e prejudicada apenas por alguns imperdoáveis desleixos de revisão, inconcebíveis
em um livro desse tipo tão pequenino, de uma editora tão grande, e destinado a ajudar as
crianças na descoberta das palavras, acionando um processo para toda a vida.
AMM é jornalista.
139
O GLOBO 24/10/76
MARCELO, MARMELO, MARTELO E OUTRAS HISTÓRIAS. Ruth Rocha. II. Adalberto
Cornavaca. São Paulo: Abril Cultural. 62p.
Três histórias compõem este Marcelo, marmelo, martelo com que a Abril amplia, na
coleção Livros de Recreio, os títulos de autores brasileiros. Por sinal o nome da coleção é
bem adequado; São contos divertidos que agradarão plenamente a crianças recém-
alfabetizadas, especialmente porque retratam situações muito próprias do seu mundo.
Assim Marcelo, o herói da primeira história, não se conforma com o nome das coisas.
Ele acaba de descobrir que eles são símbolos, são invenções do homem e que cada coisa
poderia se chamar de outra forma. Leva essa teoria ao extremo e cria seu próprio código: os
outros que o decifrem. Então ele passa a chamar a colher de mexedor; leite, suco de vaca,
carroça, carregadeira; cavalo, puxador. Os pais a princípio se preocupam, mas não procuram
compreender o que ele diz. Depois mudam de atitude e as relações da família melhoram
bastante.
Nesta sátira, Ruth Rocha procura situar o problema da linguagem da juventude e
expõe muito bem qual deveria ser a atitude dos pais: evitar falar como eles, mas procurar
entender o que eles dizem.
Terezinha e Gabriela, a segunda história, mostra como duas meninas, de
temperamentos completamente diversos, são levadas a mudar de gosto e de jeito para agradar
a um grupo de amigos.
Uma é vaidosa e cheia de não-me-toques; a outra brinca na rua como um menino. De
tanto ouvirem exaltar as virtudes uma da outra, vão mudando, imitando os estilos opostos.
Finalmente, ao se encontrarem, vêm uma caricatura de si mesmas e sentem o ridículo da
situação. Tornam-se amigas e cada uma lucra muito com o convívio, preservando, entretanto,
as respectivas personalidades.
O dono da bola é o Carlos Alberto. Menino rico e cheio de vontade, possui uma bola
de futebol de couro, cobiçada pelo time da rua, que só treina com bola de meia. Quando joga
no time, Carlos Alberto empresta a bola, mas a qualquer aborrecimento coloca-a debaixo do
braço e dá o fora.
Cansados de agüentar o dengoso, a turma dá-lhe um gelo. A lição funciona e o
menino aprende que a camaradagem é mais importante que os ataques de voluntarismo.
Agora, ele está integrado e os amigos até o chamam de Caloca.
140
Ruth Rocha escreve pela primeira vez textos mais longos, em que a história se
desenvolve em todas as suas possibilidades; os personagens são variados e os temas bem
definidos. E mantém as mesmas qualidades de estilo encontradas em trabalhos anteriores:
simplicidade, clareza, inventiva e bom humor.
Numa linguagem coloquial muito bem empregada, dá o seu recado, acrescentando
sempre uma mensagem enriquecedora.
As ilustrações de Adalberto Cornavaca são perfeitamente adequadas: vivas,
movimentadas e alegres. Chamam atenção especialmente as páginas de guarda, em laranja
vivo, apresentando e despedindo os principais personagens. A página de rosto também é
muito bem diagramada.
A impressão é boa, os tipos grandes e o uso da cor laranja, apenas, em nada diminui o
tom alegre do livro.
141
A CRIANÇA
RUTH ROCHA
Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias
Um grande sucesso de Ruth Rocha, a autora que escreve com graça e clareza para a
criança de hoje.
Marcelo, o menino curioso que cisma com o próprio nome: Teresinha e Gabriela,
duas meninas, uma levada e outra boazinha: o garoto que é ‘dono da bola” e quer mandar no
timinho de futebol: eis os deliciosos personagens das três histórias deste livro. Um conteúdo
sem deslizes e uma bonita apresentação gráfica, com ilustrações em cores de Adalberto
Cornavaca.
64 págs. 18,8 X 25,4 cm.
Edição ilustrada em cores
142
O GLOBO 03/04/77
NO CAMINHO DO ALVINHO TINHA UMA PEDRA – Ruth Rocha. II Ennio L. Possebon.
São Paulo: Editora Abril. 32p.
No caminho do Alvinho tinha uma pedra, da Coleção Conte um Conto, fala de um
menino que cultivava a mania muito comum de carregar para casa tudo o que encontrava na
rua, para desespero de sua mãe. Um dia traz uma linda pedra redonda, a qual guarda debaixo
da cama. Passados alguns dias, da “pedra” nasce um avestruz, que fica morando no quarto
do menino para mamãe não ver.
Dona Branca se espanta da quantidade de comida que Alvinho está ingerindo e resolve
examinar o quarto. Evidentemente manda o avestruz para o Jardim Zoológico, onde Alvinho
vai agora todos os domingos visitar seu novo amigo.
O texto bem maior que no livro precedente, mantém as mesmas características de
clareza e simplicidade, a elas se acrescentando a utilização ocasional da rima.
As ilustrações caricaturais e bem coloridas acompanham de perto as intenções do
texto. Agradará certamente às crianças acima de seis anos.
Distribuídos em bancas de jornal, estes livros são agora também encontrados em
livrarias.
143
NICOLAU TINHA UMA IDÉIA. Ruth Rocha II. Walter Ono. Editora Abril 26p.
O GLOBO 03/04/1977
Mais um dos títulos de Ruth Rocha vêm demonstrar a coerência do trabalho que essa
autora desenvolve no campo da literatura dirigida às crianças bem pequenas.
Nicolau tinha uma idéia, da coleção Beija Flor, fala de um lugar onde cada pessoa só
tinha uma idéia na cabeça. Nicolau chega e vai contando aos demais a sua idéia e assim as
pessoas vão ficando com várias idéias na cabeça, as próprias e as dos outros. As idéias vão se
misturando e dessa mistura nascem outras diferentes. Assim, naquele lugar, tornou-se um
divertimento alegre trocar as idéias que cada um tinha na cabeça.
O texto, quase legenda, é absolutamente despojado. Claro e direto, transmite exatamente
a idéia da autora, que é realmente muito criativa.
Ótimas ilustrações, cheias de elementos bem brasileiros, enriquecem esse livrinho que
deve ser lido para as crianças pré-alfabetizadas e será facilmente decifrado por aquelas que se
iniciam no processo de aprendizado
144
O Globo de 06/11/77
Linguagem perfeita, num ritmo ágil (por Laura Constância Sandroni)
Certamente a melhor e a mais atuante escritora na faixa de histórias para crianças bem
pequenas, Ruth Rocha publica agora alguns contos destinados aos que já dominam melhor a
leitura. Na Coleção “Histórias de Recreio” aparece Catapimba e sua turma.
Em A decisão do campeonato, Armandinho, o juiz e A máquina maluca, a linguagem é
perfeita, divertida, ritmo ágil como o de uma partida de futebol, desenvolvendo de maneira
bem humorada um tema que sem ser original é muito pouco encontrado em nossa literatura.
A máquina maluca. Essa é sem dúvida a melhor história do livro. Lúcida ante a
realidade tecnológica que nos afoga, a autora parte para a fábula, onde desmitifica essa
realidade.
Eis um tema que deveria ser bem mais explorado: a desmitificação das máquinas. Ruth
Rocha dá a partida, abre um campo que é fecundo e vasto. Sua máquina enlouquecida e
enlouquecedora é bem um retrato de um mundo em que se torna cada vez mais necessária a
coragem de desligar a tomada.
145
O GLOBO 06/11/77
Catapimba e sua turma. Ruth Rocha. II. Alberto Llinares e César Sandoval. Abril / MEC.
62p.
Certamente a melhor e a mais atuante escritora na faixa de histórias para crianças bem
pequenas, Ruth Rocha publica agora alguns contos destinados aos que já dominam melhor a
leitura. Na Coleção Histórias de Recreio aparece Catapimba e sua turma.
“Catapimba” é o centro-avante do Estrela D’Alva Futebol Clube que funciona no
campinho pegado à casa do Seu Manuel. Ele é o verdadeiro astro do time. Cada vez que
pega na bola dribla todo o mundo e lá vai gol. Armandinho é o juiz. E de repente no meio do
jogo ouve-se um apito sem quê nem porquê. Juiz ladrão! A turma berra. Mas Armandinho
não tinha apitado. A cena se repete e novamente o apito soa na hora em que Catapimba vai
marcar. Todos se revoltam até que percebem: quem estava apitando era Bicão, o papagaio de
Seu Manuel.
Linguagem perfeita, divertida, ritmo ágil como o de uma partida de futebol,
desenvolvendo de maneira bem humorada um tema que sem ser original e muito pouco
encontrado em nossa literatura.
Como se fosse dinheiro critica os comerciantes que têm a mania de dar às crianças (e
também aos adultos) o troco em balas alegando; “é como se fosse dinheiro”. Catapimba,
muito esperto, mesmo fora do campo de futebol, resolve driblar o “seu” Lucas. Leva para o
colégio uma galinha e na hora de comprar o sanduíche usa do mesmo argumento: é para
pagar o sanduíche-galinha é como se fosse dinheiro.
A moda pega e o resto da meninada passa a levar as mais variadas coisas para pagar o
lanche. E assim “seu” Lucas é agora obrigado a dar o troco em dinheiro vivo.
O mesmo estilo desta vez usado para a crítica e o incentivo à reação diante do que está
errado. Uma proposta válida, ao nível da criança.
Armandinho, o juiz dos jogos da rua, se cansa de ser chamado de ladrão cada vez que
apitava uma falta. Resolve que agora vai jogar com os outros em vez de ficar ali numa atitude
de árbitro, sempre antipática ao punido. E assim começa o segundo tempo, sem juiz. Pra
quê! A cada falta a confusão é geral e há mais de meia hora que se perde na discussão, até
recomeçar o jogo.
De repente alguém grita: também, essa droga de jogo não tem nem juiz…E volta tudo
ao que era antes. Inclusive o grito: Juiz ladrão!
146
A máquina maluca” foi inventada pelo Professor Batista e simplesmente faz tudo.
Isto é, substitui o homem em todas as suas funções. Ela começa a funcionar, ninguém mais
tem que trabalhar.
No começo todo mundo fica na maior felicidade, os cinemas ficam cheios, os parques
de diversão também. Mas de repente a máquina começa a ficar exigente. Quer lhe dêem
coisas: 20.000 latas de goiabada, uma fantasia de carnaval, 1.000 litros de perfume francês e
assim por diante. Todo mundo começa a trabalhar de novo para satisfazer a máquina. E
muito mais do que antes.
As pessoas pensam em se reunir para fazer alguma coisa, para reagir. Mas a máquina
é muito esperta: não manda os telegramas que convocam a reunião, prende todo mundo nos
elevadores ou nas conduções. Até que o sobrinho do cientista resolve a questão desligando a
tomada.
Essa é sem dúvida a melhor história do livro. Lúcida ante a realidade tecnológica que
nos afoga, a autora parte para a fábula, onde desmitifica essa realidade.
Eis um tema que deveria ser bem mais explorado: a desmitificação das máquinas.
Ruth Rocha dá a partida, abre um campo que é fecundo e vasto. Sua máquina enlouquecida e
enlouquecedora é bem um retrato de um mundo em que se torna cada vez mais necessária a
coragem de desligar a tomada.
Ilustrações caricaturais e estereotipadas frisam os aspectos engraçados do texto, sem
nada a acrescentar.
147
ROMEU E JULIETA E OUTRAS HISTÓRIAS
Quatro lindas narrativas, Romeu e Julieta são duas borboletas cuja amizade une velhos
inimigos: Ventinho é a brisa que ajuda o pai a tocar os barcos e afastar a chuva: “Seu”
Nicolau faz pipocas na caldeira de uma locomotiva; e o peixinho Peixoto acha a pérola
perdida de Dona Ostra.
Desta vez, autora de Marcelo, marmelo, martelo usa a rima, provérbios, canções
folclóricas. E se comunica com a criança sem nenhuma pieguice ou falsa pretensão didática.
72 págs. 18,5 X 25,5 cm
Edição Ilustrada em cores.
148
O GLOBO – 11.12.77
Por Laura Sandroni
ROMEU E JULIETA EM VERSÃO PARA CRIANÇAS
Ruth Rocha: Romeu e Julieta e outras histórias, ilustrações de Maria Cecília Marra /
Abril Cultural / MEC 63 páginas
Formado por quatro histórias independentes, Romeu e Julieta tem como atrativo
comum, a graça e a comunicabilidade da linguagem, características dos trabalhos de Ruth
Rocha.
Na história título a trama de Romeu e Julieta se repete entre borboletas de diferentes
cores que não admitiam qualquer contacto entre si. Ventinho, personagem que conduz a ação,
tenta Romeu a dar um passeio fora do seu canteiro e apresenta-lhe Julieta. Os dois se
encantam um com o outro e depois de algumas aventuras levam à confraternização geral.
A trama é bem desenvolvida embora a mensagem de paz e amor seja explícita demais.
Em Nosso amigo Ventinho, agora o protagonista, gosta de olhar as crianças da escola,
enquanto preparam uma representação. Isto além das obrigações diárias, quais sejam, secar
roupas na corda ou girar o cata-vento da igreja.
No dia da festa, Ventinho, muito animado, aprecia o entusiasmo da criançada quando
percebe seu primo Vento Noroeste, armando uma tempestade. Não tem dúvida, pede ajuda a
todos os ventinhos seus amigos: brisas, aragens, virações, vento encanado, golpe de vento e
assim consegue carregar a chuva para bem longe e salvar a festa.
A trama explora a dicotomia bem/mal representada pelo vento Noroeste, que coitado,
torna-se o bandido sem querer. Uma proposta pobre para uma autora em geral tão aberta.
O trenzinho do Nicolau é a melhor história do livro: um tema lírico, tratado de
forma poética. Um maquinista envelhece e se aposenta. Fica morando perto da estação de
estrada de ferro, mas sente-se muito só.
Até que o trem, também envelhece e é vendido como ferro velho. Nicolau compra-o e
transforma-o em máquina de fazer pipoca. Vive agora cercado de crianças e é novamente
feliz.
A solidão vencida pela vontade de proporcionar alegria aos outros. A velhice que
reencontra a infância perdida.
A Escolinha de mar é uma história tradicional, mas de conteúdo bastante crítico, no que
149
reside sua principal qualidade. Colocando no fundo do mar figuras como a do Tubarão Barão
e a de seu filho Tubaronete, Ruth Rocha leva o pequeno leitor a refletir sobre o absurdo da
existência de “play-peixes”. A ênfase dada à escola como elemento democratizador é a meu
ver positiva.
Os nomes dados aos personagens são muito bem achados e juntamente com o uso de
versos e cantigas tradicionais brasileiras enriquecem o texto.
Destinado às crianças acima de sete anos podendo ainda ser lido em voz alta para os
menores, o livro é bem impresso e bem diagramado como de resto o é toda a Coleção
“Histórias de Recreio”.
As ilustrações de Maria Cecília Marra são de nível desigual. Destaca-se a figura de
menina lendo, que separa as histórias, pela qualidade do traço. A capa utiliza uma das
ilustrações da história título, justamente as mais fracas.
Uma falha a ser destacada é a baleia que dá mamadeira ao filhote à página 54, quando o
texto é claro ao dizer: dá de mamar, pois são aparentadas com o homem. A informação
errada é sempre prejudicial às crianças, seja ela transmitida pelo texto ou pela ilustração.
Nos postos de gasolina está à venda por Cr$ 50,00, um livro acompanhado de fita
cassete como o título Fábulas Sonoras. As histórias do que tenho em mãos, são Branca de
neve e A gata borralheira. Bem apresentado, dentro de envelope plástico inviolável, o livro,
tem a 1a. e a 4a. capas com desenhos coloridos de Walt Disney. Qual a surpresa porém ao
abrir-se o invólucro e verificar-se que o interior do livro é apenas de texto corrido, sem
nenhuma ilustração como a capa deixa supor.
Ao ouvir-se a fita o espanto é ainda maior: A gata borralheira é apenas teatralizada,
sem nenhuma das músicas tradicionais, inseridas no texto. E, de repente, surgem João e
Maria e Peter Pan, sequer mencionadas, estas sim musicadas. Talvez sejam o brinde.
Entre tantos enganos, não há crédito para a Editora, Produtora, adaptação, e nem
mesmo Disney merece ser citado, sendo reconhecido pelo traço inconfundível.
Os irmãos Grimm aparecem como autores das histórias. Há apenas uma informação
além dessa: Composto e Impresso em Coregraf – Comunicações e Reproduções Gráficas
Ltda. – São Paulo.
Aos pais que forem tentados a comprar esse livro/fita, levados pela atraente capa
colorida, aqui fica a advertência: o miolo do livro e a fita não são o que deles se espera.
150
O ESTADO DE SÃO PAULO – 26/03/78
IMAGINAÇÃO E BOM HUMOR
Catapimba e sua turma, de Ruth Rocha, Editora Abril, Cr$ 20,00. Este é o primeiro
volume de uma nova coleção infantil: Histórias de Recreio. A autora, que já foi orientadora
educacional, entende, e muito, de texto de criança. O resultado não poderia ser outro: seus
livros atingem o alvo e acertam a mente infantil, explorando o que ela tem de mais rico, que é
a imaginação. O leitor vai encontrar, além disso, situações próximas de sua realidade (como o
futebol, por exemplo), que contribuem para aumentar ainda mais esta difícil integração livro-
criança. As ilustrações, com saudáveis doses de bom humor, são de Alberto Llinares e César
Sandoval.
Cotação; ótimo.
151
FOLHA DE S. PAULO – 23/08/78
PANORAMA
A “PINJU” A TODO VAPOR!
Eu não disse, outro dia, que o pessoal está, mesmo, querendo dar coisas boas para os
jovens lerem? Já num segundo movimento a Livraria “Pioneira” Editora, lançou uma série de
livros da coleção “Pinju”. São trabalhos excelentes de gente muito boa. Vejam, por exemplo:
“Marcus robô”, de Maria Heloisa Penteado – aventura de uma menina que achava que
“ as mães dão muito trabalho”.
O enigma do Autódromo de Interlagos, de Stella Carr – onde aos heróis do automobilismo
misturam-se, cientistas, criminosos internacionais e espiões, numa habilidosa trama policial.
“À sombra das bananeiras”, de Lilia Malferrari – história de uma adolescente confusa com as
mudanças que essa fase da vida traz.
“O reizinho mandão”, de Ruth Rocha – que mostra como agem as pessoas autoritárias e
sugere o “jeitinho” de se lidar com elas.
“No dia em que os peixes pescaram os homens”, de Jorge Medauar – em que Juca Alemão e
seus amigos resolvem fazer uma pescaria e são “pescados”.
“Uma estranha aventura em Talalai”, de Joel Rufino dos Santos – que conta a história de
uma comunidade fechada e dominada que recebe a visita de um estranho que deseja apenas
ensinar uma técnica de aumentar a velocidade das jangadas mas acaba mudando a vida na
ilha de Talalai.
152
JORNAL DA TARDE 23.08.78
PARA AS ESTANTES INFANTIS
A coleção Pinju – livros infantis da editora Pioneira – ganhou, recentemente, seis
novos títulos, já a venda nas livrarias da cidade. 1)Marcus robô, de Maria Heloisa Penteado –
história de uma menina que achava que as mães dão muito trabalho e ganha um robô especial.
2) O enigma do Autódromo de Interlagos, de Stella Carr – três Irmãos briguentos, Isabel,
Marco e Eloísa se envolvem numa intriga internacional, que começa com um acontecimento
real, o Grande Prêmio Brasil Fórmula 1. 3) À Sombra das bananeiras, de Lilia Malferrari – a
heroína é Patina, adolescente confusa diante das mudanças dessa fase. 4) O reizinho
mandão, de Ruth Rocha – O título do livro já indica o tipo de gente que é o herói: aquele que
quer mandar me tudo. 5) No dia em que os peixes pescaram os homens, de Jorge Madauar –
meninos, pescaria, aventura e sustos. 6) Uma estranha aventura em Talalai, de Joel Rufino
dos Santos, - realidade e fantasia se confundem a partir do momento em que um estranho
visita a ilha de Talalai.
153
FOLHA DE S. PAULO 13/09/78
PANORAMA
“CALA A BOCA!”
Coisa mais gostosa de se ler (e com um conteúdo pra lá de bom!) o último livro de
Ruth Rocha: “O reizinho mandão”.
Faz parte da Coleção “Pinju” – de livros infantis e juvenis – da “Pioneira”, mas é para
ser lido por “criança de qualquer idade”. É a história de um reizinho que, como o título
revela, queria mandar, mesmo, e para isso, mandava que todos no seu reino calassem a boca,
até que…Bom, mas pra saber é preciso ler o livro. Por enquanto, conheçam este trecho, que é
quando o reizinho quer que o sábio resolva seu problema. Vai daí, o sábio diz:
“-Olha aqui, mocinho. Esse negócio de ser rei não é assim, não ! Não é só ir mandando pra
cá, ir mandando pra lá. Tem que ter juízo, sabedoria. As coisas que um rei faz fazem
acontecer outras coisas. Veja só o seu caso: mandou que mandou! Inventou uma porção de
leis bobocas. Mandou todo mundo calar a boca, calar a boca, calar a boca! Decerto, com
medo que todo mundo dissesse que você estava fazendo bobagens. Pois todo mundo calou!
Não era isso que você queria?”
É, Ruth como isso é verdade! Eu conheço tanta gente mandona que, cedo ou tarde, acabou se
dando mal! Parabéns pelo seu “Reizinho”!
154
JORNAL DA TARDE 21/11/79
UMA NOTÍCIA QUE VAI PROVOCAR A CORRIDA ÁS BANCAS
Esta notícia é tão boa, sugere sair correndo e, logo na primeira banca de revistas,
comprar rapidinho cada livro da “Coleção Amarelinha” que a Abril está soltando por Cr$
20,00. Como a edição foi praticamente toda vendida antes de sair da tipografia, só três mil
exemplares de cada título é que estarão à venda só em bancas de São Paulo.
A “Amarelinha” é uma coleção de 12 títulos, que serão publicados semanalmente. O
primeiro é Nicolau Tinha uma idéia, obra-prima de Ruth Rocha e Walter Ono, imprescindível
em qualquer estante infantil (e de gente grande também). Da própria Ruth sairão também as
reedições de Palavras Muitas Palavras, Bom Dia Todas as Cores, De Hora em Hora, A
Primavera da Lagarta, No Caminho do Alvinho Tinha uma Pedra e A Árvore do Beto (todos
da maior gostosura, plenos de inventiva, graça, crítica, irreverência e bom humor). Haverá
também quatro historietas de Maurício de Souza, uma de Joel Rufino dos Santos – O
Curupira e o Espantalho – um autor sempre inventivo, lúdico, ligado às raízes mais profundas
e que sabe contar uma história como poucos. Pelos autores, pelo preço (de revista), pelo fácil
acesso, uma chance de pular amarelinha em literatura.
155
O ESTADO DE SÃO PAULO 30/12/79
PRÊMIOS DO CONCURSO INFANTIL
O conto O Rei que não sabia de nada, da escritora Ruth Rocha, de São Paulo, ganhou
o prêmio e 100 mil cruzeiros do 1o.Concurso Nacional de Contos Infantis, promovido pelo
Jornal Auxiliar, órgão de divulgação das empresas da Corporação Bonfiglioli. Ruth Rocha
obteve a unanimidade dos votos dos jurados Edy Lima, Tatiana Belinky, Fanny Abramovich,
Gilberto Mansur e Gaudêncio Torquato, que classificou em segundo lugar – 60 mil cruzeiros
– o conto Bililaque, de Antonio Carlos Bezerra de Menezes de Souza Pacheco, também de
São Paulo; em terceiro – 30 mil cruzeiros – Jonas, o Macaquinho, escrito por Júlio Borges
Gomide, de Belo Horizonte; e em quarto – 15 mil cruzeiros –Porquinho-da-índia, de Antonio
César Drumond Amorim, de Brasília. Os contos premiados, juntamente com mais seis
selecionados, serão publicados em livro pela Santo Alberto Artes Gráficas e Editora.
156
JORNAL DO BRASIL 01.12.79
REIZINHO SURDO GANHA PRÊMIO DE CR$ 100 MIL
Por Luiz Henrique Romagnoli
São Paulo – “Embora todos saibam que o país vive um momento difícil, a atitude mais
comum das autoridades é fingir que não vêem as coisas mais gritantes. Foi isso o que eu quis
refletir na minha história “. Assim Ruth Rocha expõe a idéia básica de O Rei que não Sabia
de Nada, ficção com que acaba de obter o primeiro lugar (Cr$ 100 mil) do I Concurso
Nacional de Contos Infantis, promovido pelo Jornal Auxiliar, órgão da Corporação
Bonfiglioli.
Escrita há algum tempo, a história faz parte de uma trilogia. A primeira parte já foi
publicada em livro com o título de O Reizinho Mandão; a segunda, O Que os Olhos Não
Vêem, permanece inédita. Nas três histórias, os personagens são reis, marca registrada dos
contos de fada. “Mas é com eles que pretendo mostrar a realidade”, explica a escritora,
acrescentando: “Quero mostrar a realidade, mas de uma forma que não seja ultrapassada pelo
tempo. Que seja entendida mesmo quando a criança cresça e a situação seja outra. Além do
mais, figuras de reis dão universalidade à história”.
Apesar de ser seu primeiro prêmio em concursos, Ruth é uma recordista em vendas.
Escreveu e publicou 15 livros, com tiragem de 300 mil exemplares. “É uma tiragem
fantástica, da qual eu mesma me admiro. Sei que escrevo bem, que meus livros são adotados
por professores: mas boa parte do sucesso devo creditar a distribuição da editora Abril, que é
muito agressiva”.
Ruth Rocha, contudo, não se julga um caso isolado. “a literatura infanto-juvenil é boa.
Desde o surgimento da geração que saiu da sombra de Monteiro Lobato, até Edy Lima e João
Carlos Marinho, com suas obras de vanguarda. A minha geração literária é filha de Lobato,
uma sombra que nos inibia. Sua influência era enorme. Alguns simplesmente se puseram a
escrever como ele. Outros, tentando fugir dele, fizeram má literatura. Mas houve quem
achasse o seu próprio caminho”.
Depois de afirmar que a distribuição através das livrarias continua deficiente e de dizer
que é favorável, embora com restrições, à indicação de leitura nas escolas (é contra a cobrança
do tipo: “O que aconteceu com tal personagem na página 18?”), a autora manifesta-se sobre a
querela realismo x fantasia: “A realidade pode ser representada numa parábola, numa história
157
nonsense, mas bem feita, de maneira que se perceba o elemento real do assunto tratado. O
realismo mágico fiou-se no Brasil muito mais na literatura infantil do que na adulta”.
Nascida em São Paulo e por 15 anos orientadora educacional do Colégio Rio Branco,
Ruth Rocha escreve contos para a revista Recreio há dez anos, mas só há três lançou o seu
primeiro livro, A Nossa Ilha, didático, ao qual se seguiram outros 14, todos de literatura para
criança.
Fanny Abramovich, Gilberto Mansur e Galdino Torquato – foram escolhidos, além da
história de Ruth Rocha, os seguintes:
Segundo lugar – Bililaq, de Antonio Carlos B.M. de Souza (Cr$ 60 mil). Terceiro –
Jonas, o Macaquinho, de Julio Borges gomide (Cr$ 30 mil). Quarto – Porquinho da Índia, de
Antonio César Drumond Amorim (Cr$ 15 mil). E mais: Everaldo Moreira Veras; O Menino
que Descobriu o Sol, de Roberto Goms; Quatro Operações Sem Dor, de Maria Angélica
Carvalho; O Menino, de Lula Vasconcelos; e O Pé Chato e a Mão de Fada, de Silvia Orthof
Todos esses trabalhos reunidos em livro que será publicado pela Santo Alberto Artes
Gráficas e Editora, de São Paulo.
158
CLAUDINHA NO 2 – REVISTA CLAUDIA NO. 209
JORNAL DO BRASIL – 20/01/79
Cinco livros infantis de Autores brasileiros foram selecionados pela Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil a fim de concorrerem ao Prêmio Janusz Korczak
(educador e escritor polonês vítima do Nazismo), criado pela seção polonesa da Organização
Internacional para o Livro Infantil e Juvenil (IBBY). Foram indicados: Pivete, de Henry
Corrêa de Araújo (Comunicação), O Menino de Palmares, de Isa Silveira Leal (Brasiliense),
Aventuras do Escoteiro Bila, de Odette de Barros Mott (Brasiliense), A Casa da Madrinha, de
Lygia Bojunga Nunes (Agir) e o Reizinho Mandão, de Ruth Rocha (Pioneira). Dos livros
sobre a criança, foi escolhido Educação não é privilégio, de Anísio Teixeira.
159
NOTÍCIAS DO IBBY – O GLOBO – 04/02/79
- O 16o. Congresso da Organização Internacional para o Livro Infantil e Juvenil (IBBY)
realizado em Wurzburg em outubro passado teve por tema “O realismo nas modernas
histórias para crianças e jovens”. Um de seus resultados objetivos mais importantes me
parece ser a adição de uma bibliografia de obras realistas, comentadas em inglês, que
reúne 20 títulos de 29 países e ainda a indicação de cinco obras de referência de cada um
deles. Essa bibliografia é do maior interesse sobretudo para os editores que estão atentos
ao que de melhor se faz no exterior.
- Outras publicações necessárias são o Guia Internacional de fontes para Literatura Infantil
e os Anais do 16o. Congresso do IBBY. Todo esse material pode ser consultado na
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil ou encomendado diretamente a Seção
Alemã do IBBY.
- Em comemoração ao Ano Internacional da Criança, o IBBY decidiu criar
excepcionalmente uma Lista de Honra do Prêmio Hans Christian Andersen. Essa lista é
indicada por cada país membro e circula internacionalmente como indicação para
tradução. Este ano os títulos escolhidos serão exibidos em um stander do IBBY na Feira
de Bolonha em abril próximo.
- A FNLIJ selecionou os seguintes livros de autores brasileiros: O índio brasileirinho de
Ofélia Fontes: O rei de quase tudo, de Eliardo França; O menino de asas, de Homero
Homem; A escada de nuvens, de Orígenes Lessa; A chave do tamanho, de Monteiro
Lobato; Flicts, de Ziraldo; Pantanal, amor-baguá, de José Hamilton Ribeiro; O Reizinho
Mandão, de Ruth Rocha; Uma estranha aventura em Talalai, de Joel Rufino dos Santos;
Três garotos na Amazônia, de Antonieta Dias de Moraes.
- A Seção Polonesa do IBBY criou o prêmio Janusz Korczak em comemoração ao
centenário de nascimento desse educador e escritor mártir do nazismo. Dividido em duas
medalhas o prêmio destina-se ao melhor livro para crianças e ao melhor livro sobre um
problema das crianças. A FNLIJ remeteu para concorrerem pelo Brasil os seguintes
textos: Pivete, de Henri Correia de Araújo; O menino de Palmares, de Isa Silveira Leal;
Aventuras do Escoteiro Bila, de Odette de Barros Mott; A casa da madrinha, de Lygia
Bojunga Nunes e O Reizinho mandão, de Ruth Rocha.
- Para concorrer à segunda medalha foi escolhido Educação não é privilégio, de Anísio
Teixeira.
160
BOOK BIRD 04/79
“O Melhor para o Jovem” (The best for the young):
Lygia Bojunga Nunes: A casa da Madrinha (the godmother’s house).
III. by Regina Yolanda. Rio de Janeiro:
AGIR 1978. 94 pp.
(See Bookbird 1/1979, p.40)
Highly commended:
Maria Heloisa Penteado: Lúcia já vou indo (Lúcia, I am coming).
Fernanda Lopes de Almeida: A curiosidade premiada (Curiosity Awarded).
Ruth Rocha: O reizinho mandão (The bossy little king).
Clarice Lispector: Quase de verdade (Almost true).
Marta Pannunzio: Veludinho (Little velvet).
Joel Rufino dos Santos: Uma estranha aventura em Talalai (A strange adventure in Talalai).
Fausto Cunha: O lobo do Espaço (The wolf in space).
Série Para gostar de ler (series “Pleasure in reading”) with texts by Rubem Braga, Carlos
Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos and Fernando Sabino.
161
FOLHA DA TARDE 04/12/79
Por Alik Kostakis
A escritora Ruth Rocha, de São Paulo, ganhou o prêmio de Cr$ 100 mil do I Concurso
Nacional de Contos Infantis, promovido pelo Jornal Auxiliar, órgão de divulgação da
Corporação Bonfiglioli. Ela é autora de O rei que não sabia de nada que, por unanimidade de
votos, foi considerado o melhor trabalho inscrito.
Aliás, Ruth Rocha deve estar se sentindo extremamente feliz não só pela “erva” que
recebeu como, também, por ter conseguido aplauso unânime de um júri que tinha Edy Lima,
Tatiana Belinky, Fanny Abramovich, Gilberto Mansur e Gaudêncio Torquato.
162
Jornal de Alagoas de 24/08/80
Em Marcelo, Martelo, Marmelo, percebe-se uma Ruth Rocha preocupada basicamente
em questionar o problema da dependência em toda sua amplitude. Escrito numa linguagem
clara, simples e objetiva revela-se, no entanto, despido de qualquer moralismo conformador
presente praticamente em todas as obras infantis tradicionais.
163
A Tribuna de Santos de 31/08/80
A vez das crianças
Marcelo, Martelo, Marmelo, transcende o conceito pedagógico de que história na
educação devem apenas formar e informar a criança. Sua proposta literária visa, além disso,
transformar a criança sem contudo, conformar, reformar ou deformá-la. Mesmo porque, Ruth
Rocha, a exemplo de todas as suas obras, concebeu Marcelo, Marmelo, Martelo para
desenvolver especialmente uma das coisas mais importantes de todos os seres humanos: a
independência para agir, pensar, criar e que possa levar necessariamente ao amadurecimento.
E agora, visando ampliar e divulgar ainda mais a proposta literária de Ruth Rocha, o
selo ”DISQUINHO” lança Marcelo, Marmelo, Martelo, em disco.
Essa nova dimensão da mais importante obra de Ruth Rocha e explorada de forma
bastante oportuna e inteligente, visto apresentar uma série muito grande de possibilidades
sonoras e brincadeiras com o som das palavras. E as canções feitas especialmente para esse
disco pelo maestro e arranjador Sérgio Sá, são gostosas, agradáveis, de fácil compreensão e
comunicação.
VALE A PENA LER ESTE LIVRO
O Reizinho Mandão é um livro muito divertido. Conta a história de m menino que era
rei e que só sabia fazer bem uma coisa: mandar nas pessoas. Mandava e todo mundo tinha
que obedecer, gostasse ou não, pois ele era o rei. Até o dia em que uma menina resolveu dar
um basta na mandonice dele.
O Reizinho Mandão é escrito por Ruth Rocha, editado pela Pioneira.
164
O GLOBO 17/01/82
O que os olhos não vêem. Ruth Rocha. II. José Carlos de Brito. Rio de Janeiro: Salamandra.
32p.
A riqueza verbal, o lúdico das rimas, a descoberta de que se pode brincar com os
fonemas ao sabor da imaginação são algumas das inúmeras qualidades que encontramos nos
textos de Ruth Rocha e que apontam todas no mesmo sentido, o da valorização da palavra
como fonte de prazer.
O que os olhos não vêem continua a trilogia iniciada com O reizinho mandão e O rei
que não sabia de nada na qual se propõe, à criança que se inicia na literatura, uma reflexão
sobre as estruturas de dominação.
Um rei atacado por doença estranha não consegue ver nem ouvir seus súditos a não ser
aqueles grandalhões que falam muito alto:
“Pessoas grandes e fortes, o rei enxergava bem, mas se fossem pequeninas e se falassem
baixinho, o rei não via ninguém”. E como “ o que os olhos não vêem, o coração não sente”,
os pequenos, os fracos, os pobres não tinham mais vez naquele reino distante. O pior é que a
doença, além de grave, era contagiosa: todos os que cercavam sua majestade também não
viam nem ouviam senão a eles mesmos.
Mas o povo reunido decide subir em pernas de pau e ir gritar ao balcão do palácio real
suas reivindicações. Apavorados, rei e nobreza fogem, enquanto o povo queda espantado
com a confusão causada, pois pretendia apenas ser ouvido.
O desfecho da narrativa é aberto: “Eu vou parar por aqui, a história que estou
contando, o que se seguiu depois, cada um vá inventando”. Mas as pernas de pau ficam muito
bem guardadas para uso futuro, se necessário for.
Como se vê, um texto rico em matéria para reflexão, estruturado em versos simples e
saborosos que bem exemplificam as propostas teóricas que identificamos na autora e que a
colocam entre os melhores escritores contemporâneos do gênero.
As ilustrações de José Carlos de Brito, em apenas uma cor, são perfeitas e demonstram
mais uma vez que a beleza de um produto gráfico depende muito mais de um bom traço e da
diagramação inventiva do que da policromia. Edição extremamente cuidada com o selo de
qualidade da Salamandra.
Prêmios:
165
Prêmio Ofélia Fontes, O Melhor para a Criança / 1981, da FNLIJ;
APCA / 1981 nas categorias infantil (autor) e ilustração.
166
Folha de S. Paulo de 08/03/82
A mentira é o tema do último livro da excelente Ruth Rocha (por Tatiana Belinky)
Para As coisas que a gente fala, de Ruth Rocha (Editora Rocco), eu poria como epígrafe
o velho provérbio russo que ele me fez lembrar: “Uma palavra é um pardal, se voar não se
pega mais”. O tema deste delicioso livro é justamente este: o peso e a importância da palavra,
a palavra que a gente diz sem pensar (ou por malícia), e que sai voando, se espalhando e
aprontando…
167
VIDA INFANTIL 09/07/83
RESPEITO AOS PEQUENOS LEITORES
Por Bia Cardoso
A Nova Fronteira acaba de lançar dois livros muito interessantes, que, apesar de
tratarem de assuntos totalmente diversos, têm alguns pontos em comum. O primeiro deles é
que, além de serem extremamente bem escritos, suas autoras conseguem abordar questões que
estão presentes no dia-a-dia das crianças destas gerações mais recentes sem cair num realismo
extremo.
O livro Praga de Unicórnio, de Ana Maria Machado, tem como cenário um prédio de
apartamentos, e, aí ela consegue sintetizar a vida das crianças da cidade. Fala com extremo
bom humor, das necessidades das crianças, que não cabem em um condomínio fechado,
principalmente se o síndico é um chato, com idéias próprias. É um livro que não dá receitas,
pelo contrário, resolve tudo da forma mais fantástica possível. Ela não sugere uma solução
única para os problemas, mas prova que, usando a cabeça, de alguma forma eles serão
resolvidos. Neste prédio o síndico resolveu proibir a entrada de bichos. Mas as crianças não
deixam barato, encontrando um bicho que não cheira mal, que não faz barulho, que se
enquadra perfeitamente em todas as exigências que o síndico havia feito: o unicórnio.
Através desta história, a autora consegue retratar como são diferentes os interesses do mundo
infantil e os do mundo adulto.
Com esta leitura talvez a criança consiga entender um pouco mais da cabeça de gente
grande. Ao mesmo tempo, o livro valoriza muito a capacidade dos pequenos e mostra a força
que eles podem ter ao se reunirem. Outro aspecto que torna a leitura agradável são as
ilustrações de extremo bom gosto, de Humberto Guimarães. O ilustrador brinca com
transparências e diferentes escalas em trabalhos com muito colorido que saem completamente
da estereotipia, de desenhos para crianças.
O outro livro é Faca sem Ponta, Galinha Sem Pé , da conhecida Ruth Rocha. Ela trata
neste livro de um daqueles problemas sempre atuais: as diferenças dos papéis sociais
desempenhados pelo homem e pela mulher. Ela retrata bem as relações de uma família,
enfocando basicamente a relação entre dois irmãos. Com muito tato, a autora descreve
situações nas quais surge a cobrança de se seguir um modelo dado, de como ser menino e
como ser menina. Ao mesmo tempo que deixa transparecer o conflito que isto gera em uma
168
criança, entre o que ela quer fazer e o que ela deve fazer. É um tema escolhido a dedo para
crianças com 7/8 anos de idade, pois nesta fase elas estão justamente buscando a compreensão
das diferenças de papel social, dadas pelas diferenças sexuais. É nesta idade que se formam
os clubes do bolinha e da Luluzinha. Eles se agrupam com seus semelhantes para
compreender o modelo social existente. Ruth Rocha, depois de retratar a situação, penetra no
mundo da fantasia e as crianças têm a oportunidade de viver junto com Pedro e Joana a troca
de papéis. Os dois irmãos, ao voltarem da escola, passam debaixo de um arco-íris, o que faz
com que troquem de sexo, então viram Pedra e Joano. O leitor certamente vai trocar sua
identidade junto com os dois irmãos e vai ter a oportunidade de por algumas horas de ser
menino ao invés de menina, e vice-versa. É um livro gostoso de ler como a maioria das
histórias escritas por Ruth Rocha, que parece ter a saudável mania de pôr as coisas
estabelecidas de pernas para o ar, e deixar que a criança, através destes dados novos e de sua
experiência de vida, conclua o que achar melhor.
PRÍNCIPE, NÃO. DE SAIAS, QUEM SABE?!
Procurando Firme, de Ruth Rocha, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1984.
Ruth Rocha, uma das mais festejadas escritoras brasileiras atuais de literatura para
crianças, tem “batalhado firme” no sentido de fazer chegar ao público infantil os ecos da luta
feminista por novas concepções sociais do masculino e do feminino. Procurando Firme, seu
novo título, com ilustrações de Ivan e Marcelo, não foge à regra.
Desde pequeno, um príncipe era treinado para sair dos muros do castelo em que vivia
e correr mundo “como todo príncipe que se preza faz”. Nem mesmo um terrível dragão, que
guardava zelosamente a entrada do reino, impedindo a saída de quem quer que fosse, seria
capaz de detê-lo. O príncipe passava por todo tipo de treinamento para enfrentar os perigos
do mundo e nada podia amedrontá-lo.
Sua irmã, ao contrário, era educada para aguardar a vinda de um pretendente com
quem casaria, teria muitos filhos e seria feliz para sempre. A princesa, todavia, escapa às
previsões e não quer porque não quer, ora bolas – seguir o destino reservado a todas as
donzelas reais. Assume, então, sua vontade e, para escândalo real, aprende as artes reservadas
apenas para o irmão, corta os longos cabelos, marca do “eterno feminino real”, sai pela vida,
“procurando firme” o que desse e viesse, tal qual seu irmão, segundo o modelo dele.
Ruth Rocha é uma hábil contadora de estórias. Sua narrativa é ágil, fluente, ponteada
169
de humor, neste caso decorrente sobretudo da postura adotada: a história dentro da história.
Todavia, a feliz carpintaria literária não consegue esconder posições que o feminismo mais
crítico rejeita hoje, ou seja: as princesas (leia-se: as mulheres) não desejam, ao que se sabe,
tornar-se príncipes de saias, partir para o mundo “procurando firme”, segundo o padrão
masculino dominante.
Este (triste papel!) pertence a um tempo que se quer modificado. E neste tempo, todos
poderão “procurar firme”, claro, mas livres para produzirem seus próprios modelos e não para
seguirem o e um modelo masculino que, no livro, acaba se mostrando como exemplo a ser
seguido. Não se trata, convenhamos, de assimilar padrões privilegiados até hoje, mas da
construção de novos padrões: plurais, diferenciados, discordantes. Sobretudo, sem receitas.
Edmir Perrotti
170
O ESTADO DE SÃO PAULO 03/03/84
TOQUES FEMINISTAS, NUM BELO LIVRO INFANTIL
Procurando Firme – de Ruth Rocha – ilustr. Ivan & Marcelo Ed. Nova Fronteira
Se eu quisesse citar todas as atividades nas áreas educacional, didática, pedagógica,
jornalística, editorial e literatura no campo da produção cultural para crianças, desse dínamo
humano que se chama Ruth Rocha, acabaria com o espaço desta matéria sem chegar a falar do
livro em epígrafe (apenas o do título publicado da autora, sem contar os “ milhões” de
coleções, revistas, traduções, adaptações, palestras, seminários, etc, etc, etc). Então, só direi,
a título de curiosidade, que Ruth Rocha é um dos poucos escritores no Brasil que conseguiu
romper a barreira do um, isto é, a marca do milhão de exemplares de livros vendidos – sem
constar os didáticos, bem entendido. E em falar nos nem-sei-quantos prêmios…
Isto posto, convém acrescentar que “apesar” de serem best-sellers (o que nem sempre
é uma recomendação), os livros para crianças – de várias faixas etárias – de Ruth Rocha, são
sempre interessantes, renovadores, instigantes, enriquecedores e, divertidos: fazem rir e
fazem pensar, confiam na inteligência da criança, não tentam “ fazer-lhe a cabeça”, mas
procuram ajudá-la a desenvolver a observação, o senso crítico e o senso de humor. Abrir-lhe
os olhos para a vida e para o mundo, despertando-lhe a atenção para problemas importantes,
como injustiça, autoritarismo, opressão – e a necessidade de resistir-lhe e combatê-los. Tudo
numa linguagem que é uma atração por sim mesma, seja em prosa, diálogo solto, verso livre,
redondilha, “cordel” ou o que for.
Mas vamos a este último (ou melhor, penúltimo: o próximo já deve estar saindo do
forno…) livro de Ruth Rocha. Procurando Firme é “uma história que parece história de
fadas, mas não é. Também parece história para criança pequena mas não é”, avisa a autora na
página de rosto. E, num diálogo imaginário com o leitor, que reclama quando ela lhe diz
tratar-se da história de um príncipe e de uma princesa, com castelo, rei, rainha e tudo (até
dragão), porque “já não agüenta aquelas histórias chatíssimas”, ela lhe diz: “Ah, vá, deixa eu
contar. Depois você vê se gosta…
Pois eu garanto que o leitor – de qualquer idade – vai gostar e muito: aqui se trata de
uma princesa muito especial, que se revolta contra a sua educação principesca, com aulas de
canto, bordado e tricô, um pouquinho de piano…flores de marzipã, cursinhos de iniciação de
Castro Alves…Enfeitar bolos, fazer crochê com fios de cabelo…frivolitê…Tudo isso à espera
171
da chegada de um príncipe encantado, deixando até crescer umas tranças à
Rapunzel…Enquanto o príncipe seu irmão tinha aulas de esgrima, corrida, alpinismo, de berro
(para assustar o inimigo), de línguas estrangeiras, e uso de cotovelo (para cutucar quem
ficasse na frente), e outras coisas úteis. Tudo isso entremeado de conversas com aquele leitor
questionador, misturando as coisas mais antigas com as mais atuais, numa sucessão de
anacronismos engraçadíssimos sempre “colocando as coisas no lugar”, com um humor e uma
crítica à la Emília-de-Monteiro-Lobato que é uma delícia.
Ruth Rocha diz que teve a idéia de escrever esta história, quando leu o livro Complexo
de Cinderela, da jornalista americana Colette Dowling, que fala de coisas interessantes, como
o medo do sucesso, endêmico entre as mulheres).
Bem, para resumir, a nossa princesa, depois de recusar vários pretendentes, se prepara
às escondidas do rei e da rainha, “masculinamente”, a fim de sair e correr mundo, como os
príncipes fazem…e fazer sua própria escolha. E a princesa se mandou, “e foi pelo mundo
procurando não sei o quê, mas procurando firme!”
Brincando-brincando, o livro resume, de modo bastante radical, as reinvindicações
feministas do nosso tempo. E cá pra mim, o que a princesa está procurando é a síntese entre o
machismo e o “eterno feminino”. (Corrija-me, Ruth Rocha, se estou errada…)
O livro é também bonito. Texto e ilustrações entrosadíssimos, num todo integrado
papel cor-de-marfim, letras e desenhos em havana, com toques amarelo-diretas para animar.
E todo o humor da autora captado nos desenhos, caricaturas e hilariantes, com seus castelos e
dragões medievais e personagens de tênis e jeans, e quejandos.
Tatiana Belinky
172
O Globo de 30/06/85
Quatro títulos, série “Peixinho” (por Laura Constancia Sandroni)
A própria Ruth Rocha está presente com dois de seus melhores textos em reedição. A
máquina maluca, com ilustrações de Walter Ono, tematiza a dependência cada vez maior do
homem à tecnologia. Levando ao paroxismo essa idéia, a autora cria uma história engraçada e
que certamente faz pensar.
A árvore de Beto mostra a faceta poética de Ruth Rocha. Um belo texto e um dos
poucos entre nós a abordar o Natal com originalidade. Ilustrações do competente VogRogério
Borges.
173
VEJA 03/09/86
PRA QUE SERVE?
RUTH ROCHA, NOVA FRONTEIRA, 120 PÁGINAS
Em sua primeira investida junto à tênue faixa etária que separa a infância da
adolescência, a escritora Ruth Rocha consegue repetir o talento que demonstra ao escrever
livros apenas para crianças. Ela conta a história da adolescente Marina durante sua estada
numa colônia de férias. O mesmo acampamento de todos os anos torna-se uma fonte de
emoções inéditas. A menina descobre o valor da amizade, a alegria do amor e as dores da
separação e, através da experiência, amadurece suavemente. Pra que Serve? É um livro de
prosa atraente, destinado às crianças que já sabem ler bem, pois o livro é longo.
174
O GLOBO 07/12/86
PAPEL DA MULHER NO MUNDO FANTÁSTICO
Por Laura Sandroni
Ruth Rocha, Histórias de antigamente; José Olympio, 50 páginas, Cr$ 88,00
De repente dá certo; Salamandra, 48 páginas, Cr$ 30,00
Prá que serve? Nova Fronteira, 148 páginas, Cr$ 58,90
Em pesquisa realizada para o Inep anos atrás sobre os papéis femininos nos livros
infantis, a psicóloga Fúlvia Rosemberg, da Fundação Carlos Chagas de São Paulo, verificou
que, com raras exceções, a mulher pouco atuava nos textos examinados. Os protagonistas
eram na sua maioria homens, e o elemento feminino representava papéis passivos, sempre
secundários na trama.
A mudança dessa situação veio com os novos autores da década de setenta, e cada vez
mais surgem hoje histórias em que meninas conduzem a ação, embora ainda sejam poucos os
textos em que mulheres maduras apareçam em situação de trabalho, fora do lar.
Ruth Rocha, cujo primeiro livro publicado data de 1976 e hoje já alcança a casa dos
dois milhões de exemplares vendidos, publicou recentemente três novos títulos nos quais as
jovens têm papel principal: Histórias de antigamente, De repente dá certo e Prá que serve?
No primeiro Ruth reúne três belas lendas, originárias da Europa medieval nas quais as
protagonistas têm em comum a coragem e a rebeldia contra um destino confinado ao lar,
fiando e tecendo, e optam por atividades masculinas como cavalgar e lutar com lanças e
espadas. Mesmo vestidas com pesadas armaduras, essas jovens conquistam belos e nobres
cavaleiros com quem compartilharão suas existências.
A narrativa flui em atmosfera de sonho e encantamento não fosse a autora uma
excelente “contadora de histórias”, acompanhada de perto pelo belo trabalho de Rogerio
Borges em desenhos de traço vigoroso e cores vibrantes.
Em De repente dá certo Ruth Rocha aborda, de modo especialmente feliz uma
temática muito atual” as novas relações que surgem na vida de uma adolescente quando sua
mãe se casa novamente. Narrada na primeira pessoa numa linguagem coloquial muito
adequada ao personagem, o texto desvenda pequenos problemas típicos da idade e trata com
coragem de situações difíceis cada vez mais comuns em nossos dias. Ilustrações a traço de
Graça Lima compõem o pequeno volume que marca a estréia da autora em textos destinados à
175
juventude.
O recém lançado Prá que serve? passa-se num acampamento de jovens, com a
narrativa de conflitos e diversões que ocorrem nessa situação. Em linha semelhante a de De
repente dá certo é destinado ao mesmo público, não alcança no entanto seu nível de
qualidade.
Ao abordar um universo ficcional mais amplo, com personagens que se entrecruzam,
a autora perde a espontaneidade narrativa, tão característica de sua obra. As ilustrações do
mesmo Graça Melo ficam igualmente muito aquém do seu trabalho anterior.
176
O ESTADO DE SÃO PAULO 07/02/87
NAS LIVRARIAS
DE REPENTE DÁ CERTO
Ruth Rocha ocupa lugar privilegiado entre os criadores da moderna literatura infantil
brasileira. Desde os anos 70, quando sua obra começou a ser gestada, tanto público quanto
crítica identificaram qualidades na autora, capazes de distingui-la e de colocá-la em evidência
no panorama de nossas letras para crianças e jovens.
Inquieta, incansável, Ruth Rocha parte agora para a exploração de novas searas: a da
novela juvenil. Assim, para adolescentes, acaba de lançar dois títulos: De repente dá certo
(Ed Salamandra)e Pra que Serve? (Ed. Nova Fronteira).
De repente dá certo relata as dificuldades sentidas pela garota narradora, quando do
segundo casamento de sua mãe com um homem também divorciado e pai de um rapaz pouco
mais velho que a garota. Tendo de compartilhar o espaço doméstico com pessoas até a pouco
estranhas, a menina resiste, ocasionando diversos dissabores para a nova família. Com o
tempo, a situação acomoda-se de forma inusitada: os dois jovens apaixonam-se e começam a
namorar. Mas, para azar deles, isto acontece quando o garoto deve partir para os Estados
Unidos para estudar, o que efetivamente ocorre.
Pra que serve? Trata de problemas de jovens também, só que reunidos num desses
acampamentos juvenis de férias. O título refere-se à pergunta sempre presente na boca de
uma das personagens, a qual quer entender o sentido de todas as coisas. Se tal atitude gera
dificuldades, por outro lado possibilita ao autor reflexões sobre questões de interesse dos
adolescentes, como namoro, casamento, divórcio, maternidade, etc.
Narradora hábil, Ruth Rocha sabe como dirigir-se a seu público. Solta, fluida, sua
linguagem procura não ser um complicador a mais na vida de leitores que supostamente
experimentariam dificuldades semelhantes às relatadas. Aliás, comunicação fácil, sem
banalização, foi sempre um dos grandes méritos da autora. Num tempo de poucos encontros
para conversas desinteressadas, é difícil resistir às delícias do charme narrativo de Ruth
Rocha. Ela sabe contar uma história, um “causo”, fazer do narrar uma festa.
Por outro lado, retrato dos novos tempos, dos tempos “cada-um-na-sua”, ambos os
textos enfocam problemas pequenos de uma classe média não tão pequena e incapaz de viver
a vida em dimensões mais amplas. As questões pertencem sempre ao âmbito do privado e
quase nunca alçam vôos capazes de questionar o modelo social que reduziu os jovens a meros
177
coadjuvantes da cena brasileira. Como diria Hanna Arendt, o universo retratado mostra
adultos e jovens que trocaram a participação social e política pelo conforto que a sociedade de
consumo pode oferecer. Daí a dúvida: os caminhos apontados pelos textos poderão “de
repente dar certo” ou serão indicação de que certo neo-romantismo anda fazendo a cabeça de
muitos de nós?
Edmir Perrotti
178
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11.7.87
UMA FELIZ IDÉIA. COM TEXTO DE RUTH ROCHA
Por Clóvis Garcia
O Grupo Persona que tem apresentado espetáculos para adultos e para crianças há
bastante tempo, mas distanciados entre si, teve a feliz idéia de aproveitar um texto de Ruth
Rocha para sua encenação no ALS Teatro Câmara de Arte – mais um dos auditórios
particulares de instituição de ensino a serviço do teatro – de O Rei que Não Sabia de Nada,
adaptação de Pamela Duncan e direção de Reynaldo Puebla.
Escritora de grande sucesso, com mais de dois milhões de livros vendidos, com 60
títulos publicados no Brasil e no Exterior Ruth Rocha é uma das iniciadoras da literatura
infantil, que teve um verdadeiro “boom” nos últimos anos, tornando-se uma das mais
rentáveis atividades editoriais do País. O segredo de seu sucesso está, possivelmente, porque
gosta de criança – e ninguém pode fazer literatura, cinema, ou teatro infantil sem gostar de
crianças – como ela mesma declara: “ Gosto muito de criança-criança. Que dá risada fora de
hora, que se impacienta quando gente grande fala demais, e que grita quando o rei está nu”.
Por gostar do público jovem, Ruth Rocha escreve histórias deliciosas, com mensagens sérias
mas sem didatismo. Neste texto transposto para o teatro, há um rei, isolado pelos seus
ministros, que lhes mostram uma situação cor-de-rosa. A realidade, porém, é outra, que o rei
vai descobrir quando entra em contato com o povo descontente. Mas a solução não é o
simplismo do rei se modificar e, sim, a participação do povo.
O texto, que foi premiado e publicado, primeiro numa antologia e depois numa edição
própria, já teve uma adaptação teatral da autora e de Flávio de Souza, com o título O Sapo que
Vira Rei que Vira Sapo, estreada em setembro de 1983, no Teatro Anchieta. A atual
adaptação de Pamela Duncan, apesar de retomar o título original, é mais livre, numa forma
musical. Mantém, porém, a temática básica e a linha fundamental da história, permitindo um
espetáculo variado e interessante. A produção procurou cercar a encenação dos cuidados
necessários para um espetáculo bem apresentado, inclusive com grande elenco, que Reynaldo
Puebla soube aproveitar na direção. Com cenários e figurinos de Márcio Tadeu, na linha
teatralista, com direção musical de Gisele Correa, coreografia de Juçara Amaral, iluminação
de Vicente de Paula Souza, a montagem resulta numa boa apresentação, digna do público
infantil.
No elenco, Ivan Correa faz um rei pançudo e alienado, com dois valiosos ministros,
179
Adilson Azevedo e Hugo Villavicencio. Celso Rorato, Keisa Blaske, Alzira Paiva, Benjamin
Meneses e a própria Pâmela Duncan, representando o povo, completam os personagens, com
a vantagem de cantar, ao vivo, com a flauta de Cláudia Kizzeli.
180
FOLHA DE S. PAULO 19/03/88
ACERTOS VALORIZAM PROCURANDO FIRME
Por Thales de Menezes
Procurando Firme. De Ruth Rocha. Adaptação e direção de Neyde Veneziano. Com o
grupo Pinta o 7 & Cia. Espaço Mambembe Rua do Paraíso, 494, tel. 287-2782. Paraíso,
zona sul). Sábados e domingos, às 15h30. Ingresso: Cr$ 250,00
Trazendo na bagagem quatro prêmios em festivais de teatro pelo Estado de São Paulo,
o grupo santista “Pinta o 7 e Cia.” Está a partir de hoje no Espaço Mambembe apresentando o
espetáculo “Procurando Firme”. Adaptada de um texto da escritora Ruth Rocha, a peça não é
perfeita, mas compensa seus erros com um número maior de acertos.
Em mais uma história de princesas, dragões e castelos, a autora retrata a diferença
entre a educação recebida pelas mulheres e a recebida pelos homens. A primeira metade da
peça divide-se basicamente em duas duplas dialogando: o príncipe e seu instrutor, e a
princesa e sua criada. Enquanto seu irmão aprende esgrima e técnicas de guerra, para que
possa sair pelo mundo atrás de aventuras, a princesa Linda Flor não se conforma com suas
aulas de bordado, minueto, macramê, etc. São futilidades com as quais ela deve se distrair até
que um príncipe venha desposá-la. A estrutura da história já deixa bastante explícita a
intenção de questionar os papéis masculino e feminino na sociedade, sendo dispensáveis os
pequenos discursos feministas da princesa.
A partir da viagem de seu irmão, ela começa a mudar seu comportamento e seu visual,
enquanto rejeita todos os pretendentes que aparecem no castelo, para desespero de seus pais e
da criada. É no desfile dos engraçados candidatos a marido que está o ponto alto da peça.
Representados por um único ator, os personagens têm trejeitos circenses. Os muitos tombos
que eles levam pelo palco são bem executados, quase naturais, travando empatia imediata
com as crianças da platéia.
Boas canções
A música é outro destaque de “Procurando Firme”. É usada como reforço ao espetáculo, mas
as letras não trazem a ladainha descritiva da maioria das músicas de peças infantis. São boas
181
canções, algumas até poderiam fazer carreira nas rádios. Já a parte visual da peça não
consegue passar do convencional, exceção feita ao traje futurista do Príncipe da
computolândia, um dos pretendentes da princesa. Os trajes da família real são pobres.
Quando Linda Flor adotada um visual “moderninho”, o resultado é muito brega; não fica claro
se esta era mesma a intenção. As soluções encontradas para as alterações de cenário durante
as cenas não apresentaram bom resultado na pré-estréia da peça, mas é um problema que pode
ser resolvido com um melhor entrosamento do elenco.
Os atores são esforçados, mas alguns estão presos a personagens fracos e dispensáveis.
Os pais de Linda Flor não têm nada a dizer; entram e saem de cena sem acrescentar nada a
história. A criada, personagem responsável pela maioria das piadas, consegue segurar o
pique, mas o texto não ajuda em muitos momentos. O instrutor que inicia a apresentação da
história dizendo “Brasileiras, brasileiros…”, e a criada que entoa o “jingle” das Casas Bahia
quando diz “dedicação total a você” são piadas sem criatividade. Os insuportáveis e o coitado
do dragão – uma fantasia de boa qualidade – só aparece no final, sem ter o que fazer.
Os erros estão presentes, mas “Procurando Firme” se destaca entre as opções
oferecidas ao público infantil. A peça diverte e consegue prender a atenção, ainda o maior
desafio das peças infantis, que enfrentam platéias potencialmente dispersivas.
182
TRIBUNA DA IMPRENSA 21/01/89
PROVA DOS NOVE
Por Eliana Yunes
Tomando como referência um livro de Ruth Rocha: Dois idiotas sentados cada qual
no seu barril. Dudu Sandroni – estreante na direção – realiza um teste no teatro infantil. A
partir mesmo da sua adaptação, onde o texto da autora é mero roteiro de idéias a tomar novo
corpo em cena, o trabalho é criativo e muito vivo, com cenas que se sucedem num crescendo,
o que torna extremamente lúdico o resultado.
Com dois personagens – Mandão e Teimoso – na criação de Luis Carlos Persegani e
Carolina Virguez (convincente presença no teatro infantil de 88, em Cinderela Chinesa) são
armadas situações de confronto permanente, desenhando simultaneamente o lado idiota da
insensatez e um outro, satírico do próprio comportamento absurdo. Isto em si justifica a
escolha do tipo “clown” para compor as personagens que nascem de seus barris/ovo já em
posição de estranhamento.
Todo o percurso do espetáculo, com pouquíssimos e bons recursos cênicos será o de
aprofundar a crise para vê-la explodir afinal num momento de maturidade: a aproximação e a
repulsa vão ganhando em intensidade mais pela acumulação das cenas (crescimento, reunião,
conflito, reparação, nova disputa, acordo, etc.) que pelo aprofundamento do tema, o que
desviaria o rumo a proposta.
Entre as brincadeiras infantis e os jogos adultos não parece existir muita diferença,
senão intensidade e virulência, mas as teimosias continuam pequenas e irrelevantes.
Masculino/feminino, amor/ódio são dimensionados através do humor e da fina caricatura de
situações.
O trabalho da direção foi bastante valorizado pela preparação dos “palhaços” de Dácio
Lima, pelos justos figurinos e cenários de Lídia Kosovisk, pela coreografia alegre de Gisela
Saldanha (muito boa) e pela programação visual do espetáculo feita por João de França. A
direção musical coube ao premiado Ubirajara Cabral que tem criado excelentes trilhas sonoras
para o teatro infantil. A iluminação ficou por conta de Jorginho de Carvalho. No conjunto,
um trabalho despretensioso, coerente e lúcido no tratamento do tema louco. O desafio do
diretor estreante foi bem conduzido e aponta um começo feliz. Para crianças de todas as
idades.
183
Jornal da Tarde de 06/06/89
Dois livros, uma só qualidade (por Tatiana Belinky)
Uma História de Rabos Presos, de Ruth Rocha. Ilustrações de Carlos Brito, Ed.
Salamandra. Ruth Rocha é uma grande contadora de histórias. O seu texto flui como um
riacho saltitante (quase eu disse “rutilante” – mas há quem não goste de trocadilhos – já eu
gosto, e criança também gosta, mas estou saindo do assunto, parece…). Voltando ao texto de
Ruth, como eu ia dizendo, ele é assim, alegre e brincalhão, tão fácil de ler e de curtir que pode
apanhar o leitor desprevenido, ao transmitir-lhe um recado, uma mensagem da maior
significância. Sem essa de didatismo, sem essa de “fazer a cabeça”, a escritora procura ajudar
o jovem a abrir os olhos e os ouvidos, abrir a sua própria cabeça, numa visão atenta e
inteligente para algumas realidades de nossa vida pessoal, social e por que não, política.
Vocês já perceberam, pelo próprio título do livro, que esta história de rabos presos se
enquadra nessa categoria. É um livro leve, fácil de ler e muito engraçado. É na verdade “uma
grande sátira à corrupção e à política… mas que leva a pensar muito”. E é bom para qualquer
idade, esse “causo” que acontece na “Egolândia”, onde os tais rabos não eram metafóricos,
mas verdadeiros, e nasciam nas pessoas, em quantidades cada vez maiores, até começarem a
se enganchar e a se emaranhar, ao ponto de… bem, o melhor é ler o livro. Bom divertimento!
184
O GLOBO 24/09/91
HISTÓRIAS DAS MIL E UMA NOITES. Ruth Rocha. São Paulo: FTD. 48p.
MULHERES DE CORAGEM. Ruth Rocha. II. Cláudia Scatamacchia. São Paulo:
FTD. 48p.
Quase todos os escritores tiveram na família uma pessoa que lhes contava histórias.
Avó, pai, tio ou babá, o certo é que um adulto passava horas narrando casos, aventuras,
lendas, fazendo trabalhar a imaginação, enchendo seus olhos de personagens maravilhosos.
Ruth Rocha é uma dessas escritoras que não negam a influência benéfica que exerceram seu
avô e Monteiro Lobato, este quando, já ávida leitora, perdia-se entre as páginas do Sítio do
Pica-pau Amarelo.
Os dois livros que a FTD acaba de lançar mostram bem sua faceta de contadora de
histórias. Não das narrativas ágeis e engraçadas a que ela habituou seus leitores, mas de
contos tradicionais que encantaram as antigas gerações e guardam a capacidade de conquistar
as crianças de hoje.
Histórias das mil e uma noites reúne apenas três contos dessa famosa coletânea do
mundo islâmico: Aladim e a lâmpada maravilhosa, O pescador e o gênio e Ali Babá e os
quarenta ladrões. Mas é o suficiente para deixar nos leitores aquele gosto de quero mais.
Não apenas as histórias são fascinantes, mas especialmente o estilo da narrativa de Ruth, bem
adequado ao jovem.
A lembrança da jovem e bela Sherazade contando, a cada noite, um novo conto para
encantar o Rei Shanyar e assim permanecer viva por mais um dia é boa metáfora do trabalho
da escritora, que se dispõe a criar continuamente para permanecer sempre no coração dos seus
leitores.
Em Mulheres de coragem, numa reedição muito oportuna, Ruth Rocha trabalha três
figuras femininas dos tempos antigos que, por sua audácia e coragem, destoavam dos
costumes da época. Por entre bordados e tapeçarias, reis e guerreiros viviam situações
capazes dos maiores sacrifícios na defesa dos sentimentos mais puros.
As primorosas ilustrações a traço, com toques de apenas uma cor, de Claudia
Scatamacchia, demonstram o cuidado da editora em cercar o texto com a qualidade do
trabalho dessa grande artista.
185
JORNAL DE BRASÍLIA – QUARTA-FEIRA, 5 DE MAIO DE 1999.
CAD. CIVILIZAÇÃO
DEFENSORA DOS DIREITOS DA CRIANÇA
Ruth Rocha teve uma infância feliz e cresceu em um ambiente cercado por livros,
histórias, brincadeiras e amor à cultura.
Era uma vez um reizinho mandão que queria todo mundo de bico calado, mas encontrou pela
frente uma menina destemida, que lhe disse, sem papas na língua: “ – Cala a boca já morreu,
quem manda na minha boca sou eu”, e tirou o reino do silêncio. Era uma vez um dono de
cantina escolar que sempre dava balinhas e doces como troco para as crianças e que um dia,
recebeu na mesma moeda. Era outra vez, dois irmãos que passam debaixo do arco-íris e
trocam de corpo; assim, percebem os problemas de meninos e meninas. Ainda outra vez, dois
homens ligeiramente ridículos conversam sentados, cada um num barril de pólvora. E ainda
outra vez mais, uma menina que censurada na escola e ignorada em casa aprende que,
olhando pela janela, ela pode voar. É, não dá pra ficar enrolando esta meninada. Eles querem
a verdade, têm fome de viver a liberdade e não deixam que nenhum adulto venha cortar suas
asinhas. “ Sou a independência ou a morte”, já gritava a boneca Emília, a grande personagem
de Monteiro Lobato. A escritora Ruth Rocha aprendeu e hoje multiplica a irreverência, a
graça, a louvável insubordinação.
Ruth Rocha é talvez a autora de literatura infanto-juvenil de maior sucesso hoje no
Brasil. Seus cerca de 130 títulos já foram traduzidos para 25 idiomas. Línguas mais
conhecidas como inglês, alemão, italiano, francês, espanhol, e outras nem tanto, pelo menos
por aqui: vietnamita, hindi, bengali, pujambi e gujarati, entre outros. No total 350 edições.
Quase 10 milhões de exemplares vendidos, dois milhões só no exterior. Foi a primeira
representante da literatura infanto-juvenil a ter livro lançado na Biblioteca Nacional. Pode ser
também a primeira a entrar na Academia Brasileira de Letras.
Mas este tipo de sucesso não faz a cabeça da escritora. Ruth prefere saber que está
plantando aquela sagrada indignação na alma das crianças, fazendo-as não temer a autoridade
arbitrária, tomar posições diante das injustiças, ter argumentos contra o racismo e toda sorte
de preconceitos. Ruth quer dizer coisas e ser ouvida. Contar histórias e entreter.
Toda esta rebeldia que faz o encanto da obra de Ruth, ela aprendeu em casa. A mãe era
leitora voraz, dizia às outras que proibiam os filhos de ler gibis: “ Enquanto houver uma letra
escrita, compro para minhas filhas”. Foi assim que Rilda e Ruth cresceram lendo tudo. A
186
casa delas funcionava como um centro de subversão, para onde os amiguinhos cerceados iam
esconder-se para ler. Ao mesmo tempo, Ruth lia Monteiro Lobato.
Ruth Rocha nasceu em 2 de março de 1931, na ainda pacata e provinciana Vila Mariana,
em São Paulo. Teve uma infância feliz. A mãe desde cedo lia para as filhas As Reinações de
Narizinho. O pai, médico, era excelente contador de duas histórias, Aladim e a Lâmpada
Maravilhosa e O homem da perna amarrada. A avó Neném gostava de cantar e ensinava à
menina antigas marchas de carnaval e modinhas do tempo do império. Para completar, havia
Vovô Ioiô, inigualável criador de histórias, que misturavam realidade e folclore regional.
O primário e o ginasial foram cursados no Colégio Bandeirantes. Na adolescência,
descobriu a Biblioteca Circulante e passou a ler por metro. Leu tudo que encontrou sobre
poesia brasileira. Um dia, um professor lhe deu um trabalho sobre A cidade e as serras, de
Eça de Queirós. A leitura deste livro mudaria para sempre a percepção de Ruth e selaria seu
amor pela literatura. Depois, a formatura em ciências sociais pela Escola de Sociologia e
Política e o casamento, com Eduardo, o melhor amigo da irmã Rilda. Em 1957, a autora
assumiu a função de orientadora educacional do Colégio Rio Branco, onde ficou por 15 anos,
como se hibernando para criar depois seu mundo fabuloso.
Ruth Rocha só saiu de sua salinha no Rio Branco em 1966, quando começou a escrever
sobre educação para a revista Claudia, a convite de Carlos Alberto Fernandez. Passou três
anos assinando artigos mensais. Em 1969, Sônia Robatto, que tinha lido um artigo sobre
alfabetização e era editora da revista infantil Recreio (que vendia um milhão de exemplares
mensais), a convidou para escrever uma história para a revista. Ruth argumentou que não
sabia escrever. Mas Sônia insistiu, pediu que apenas colocasse no papel aquelas historinhas
que inventava para a filha, Mariana. Ruth, então, ficou trancada num quarto por algumas
horas. Ao sair, tinha nas mãos o original de Romeu e Julieta a história de duas borboletas de
cores diferentes.
A trama de Romeu e Julieta procurava responder a uma pergunta que Mariana havia feito
sobre racismo. Estava concluída a mistura entre a alma e o talento da poeta com a experiência
como educadora, que resultou neste jeito Ruth Rocha de ser. A partir daí, a escritora sempre
usaria a realidade como base para suas histórias.
Ruth passou sete anos escrevendo para Recreio. Depois, ainda com Sônia, fez a revista
Bloquinho, na Bloch, assumindo a função de editora. Lançou a Enciclopédia da Criança, cem
livros das coleções Beija-flor e Conte um Conto, traduziu e completou coleções americanas
da Disney, coordenou coleções de livros infantis pela Cultrix, Record, Mosaico. Na
Melhoramentos junto com João Noro, criou a coleção Minha Primeira Biblioteca, publicada
187
depois na China, Japão e Coréia. Na Rio Gráfica, coordenou os 16 volumes da coleção Meu
Livro de Bichos. Paralelamente, escreveu sempre.
O primeiro livro veio só em 1976, Palavras, Muitas Palavras. Mas depois disso
desencantou: de 1977 a 1988, foram 67 livros publicados. Todos tratando, com lucidez,
poesia e uma particular virulência, de temas delicados e espinhosos como política nacional
(Uma história de rabos presos), internacional (Dois idiotas sentados cada qual no seu barril,
Enquanto o Mundo Pega Fogo), feminismo (Faca Sem Ponta), ecologia, qualidade de vida
(Davi, Por Nome Passaredo), beleza das palavras (As Coisas que a Gente Diz), dúvidas e
descobertas da adolescência (Histórias Malcriadas, A Menina que Aprendeu a Voar).
Para a escritora, uma história é boa quando tem lógica bastante para ser entendida por
todo mundo e na intenção suficiente para oferecer algo mais – aos bons entendedores. E qual
o termômetro? Um arrepio na espinha.
Ruth Rocha acredita que “ O que educa mesmo é a literatura” e que é possível formar o
caráter de uma pessoa pela literatura. A autora colabora, apresentando personagens infantis
que têm sempre certa dose de rebeldia. Nos livros de Ruth, não existem atitudes passivas.
Suas crianças são contestadoras, não se acovardam diante de reizinhos mandões, ministros
desonestos, príncipes entediantes. A criançada aprende mesmo a lutar por seus direitos. “Se
você dobra a criança, terá no futuro um adulto passivo”, costuma argumentar. Mas seus
vilões não sofrem castigos físicos ou morais. Ao contrário: o desfecho é sempre pacífico e
inteligente, com o triunfo do bom senso.
Hoje, Ruth é um agente das crianças, alguém que, como Lobato, não lhes oferece um
prato pronto, frio, de difícil digestão. Ruth ajuda a desvendar segredos, trocar intimidades,
experimentar o mundo em liberdade. Defende sempre o supremo direito à graça de viver.
Carmen Moretzsohn
188
O primeiro romance foi para o lixo, mas os outros...
Quando se menciona o nome Ruth Rocha o que vem à mente é a lembrança de uma
grande dama da literatura brasileira.
Autora de mais de uma centena de títulos escritos para crianças e jovens, Ruth Rocha
consolidou, a partir da década de 1970, uma carreira literária reconhecida pela crítica e,
principalmente, pelos milhões de leitores de sua obra fartamente premiada.
Paulistana, Ruth Rocha tornou-se, com o tempo, uma personalidade cultural de âmbito
nacional. Ainda mais: seu trabalho também é reconhecido - e lido - em diversos países.
Na entrevista com a escritora que você vai ler em seguida, Ruth aborda temas como o
prazer da criação literária, a primeira tentativa de construir uma história e a importância de
autores como Monteiro Lobato e Eça de Queirós na sua formação intelectual.
Ática: Como foi seu primeiro contato com a literatura? Como você decidiu ser escritora
e como começou?
Ruth Rocha: Meu contato com a literatura se deu através de Monteiro Lobato, sem dúvida.
Mas depois, quando eu tinha uns 13 anos e andava lendo uma porção de livros medíocres, um
professor, Aderaldo Castelo, pediu na escola que fizéssemos um trabalho sobre A cidade e as
serras, de Eça de Queirós. Esse livro foi para mim não um encontro com a literatura, mas uma
verdadeira trombada! Até hoje eu ainda leio esse livro de vez em quando.
A minha decisão de ser escritora se deu quando comecei a escrever para a revista Recreio.
Depois de vinte ou trinta histórias percebi que era o que eu queria realmente fazer.
Ática: Já lhe aconteceu de jogar fora um livro que escreveu por não considerá-lo
satisfatório?
Ruth: Já aconteceu, sim. Segundo Ana Maria Machado, um escritor deve ter uma gaveta
pequena, para guardar originais, e uma cesta de lixo grande, para jogar fora o que não fica
bom.
Ática: Os jovens de hoje gostam de ler?
Ruth: Em todos os tempos houve jovens que gostavam de ler e outros que não tinham grande
189
interesse. O escritor sempre espera conquistar esse grupo.
Ática: Como é seu jeito de escrever? Quando começa, já tem a história pronta na
cabeça? Sai tudo de uma vez ou você precisa ficar "burilando" o texto?
Ruth: Geralmente já tenho uma idéia aproximada do que vai ser o texto. Mas os detalhes vão
saindo conforme eu escrevo. Além disso, quando se escreve é que aparecem certas
contradições, e então temos de fazer algumas correções.
Ática: Você, como uma das autoras para crianças mais conhecidas do Brasil, tem um
público fiel, que praticamente começou a ler com seus livros e hoje já atingiu a
adolescência. Como é a sensação de fazer parte da vida desses jovens?
Ruth: Teoricamente é ótimo, reconfortante, gratificante. Mas, de um ponto de vista mais
profundo, é mágico. Tenho encontrado jovens no mundo todo que me afirmam ter crescido
lendo meus livros e meus textos em Recreio. É um assombro!
Ática: Como era a Ruth aos 15 anos? Acha que alguma coisa mudou para os jovens dos
dias de hoje em relação ao seu tempo?
Ruth: Eu era uma menina introvertida, tímida, leitora compulsiva; no entanto, na intimidade,
eu era expansiva, alegre e engraçada. Mas, na adolescência, todo mundo é muito inseguro e
muito instável, por isso é uma barra, sempre, ser adolescente.
Ática: Você acha que o computador, nos dias de hoje, pode ocupar o lugar do livro na
vida das pessoas?
Ruth: O computador compete com um certo tipo de livro; definitivamente vai competir com
os livros de referência, enciclopédias e dicionários. Mas só na forma, já que ele, sozinho, não
se programa. Alguém tem de fazer o livro e pôr dentro do computador.
Um outro tipo de livro, no entanto, tem de ser portátil, ninguém vai levar o computador para a
cama. A não ser que inventem um livro num computador de espessura mínima que possa ser
lido no metrô. E assim mesmo o conteúdo terá características semelhantes às dos livros atuais.
190
Ática: Você acha que escrever é sempre um prazer?
Ruth: Escrever ou é fácil ou é impossível. Ou nos dá prazer ou não é viável.
Os trechos desta entrevista foram extraídos de O Mistério do Caderninho Preto, da coleção
"Sinal Aberto".
(c) 2003 - Editora Ática
191
Ruth Rocha lança em SP A Odisséia
de Homero para crianças
ANDRÉ TARCHIANI SAVAZONI
Repórter da Folha On line
A Odisséia de Homero em linguagem para crianças. Sim, isto é possível. É o que prova o
lançamento de “Odisséia” (Cia. das Letras, 144 págs.), da escritora Ruth Rocha.
A “epopéia” infantil, segundo Ruth Rocha, considerada uma das maiores escritoras
infantis brasileiras, não traz novidades: “mantive toda a estrutura e o esqueleto do original”,
disse.
O lançamento oficial está marcado para o dia 25 de abril, às 19h, na Livraria Cultura
da Avenida Paulista (SP). As ilustrações, parte importante da obra, são de Eduardo Rocha,
marido da escritora. “Mostramos a cultura grega da época, com todos os seus elementos,
destacando a cerâmica branca”, afirmou Ruth.
Para a autora, mesmo escrevendo para crianças de 9 a 11 anos, ela não se sente
responsável pela formação dos “pequenos e futuros amantes dos livros”. “Nenhum escritor
pensa assim”, disse Ruth. Mas ela considera muito importante que as pessoas tenham contato
com as obras clássicas. “Todos devem tomar conhecimento para a formação da cultura geral.”
Segundo a escritora infantil, tudo o que está sendo publicado para crianças no Brasil
ainda tem referências ao grupo que ela faz parte e que se destacou há 30 anos. “O grupo da
ditadura”, brinca a autora do clássico da literatura infantil “Marcelo, Marmelo, Martelo”.
De acordo com ela, a única coisa que mudou nesse tempo foi a venda dos livros. “O
mercado cresceu enormemente nesse tempo.” A escritora, porém, aposta em mudanças
editoriais nos próximos anos. “Acho que vai aparecer algo realmente.”
A escritora conversou com a reportagem da Folha Online, falou sobre “Odisséia” e
sobre a literatura brasileira. Veja os principais trechos da entrevista:
192
Folha Online - Como foi traduzir para uma linguagem acessível para crianças a
Odisséia de Homero?
Ruth Rocha - Na verdade, fiz uma adaptação da Odisséia de Homero preservando todos os
seus capítulos. Mantive a estrutura e o esqueleto. Como é difícil ler o original, deixei todos os
elementos para que as pessoas tomem conhecimento da obra, o que considero muito
importante para a formação da cultura geral. A ilustração, feita pelo meu marido (Eduardo
Rocha), é bem adequada, mostrando a arte grega da época, com destaque para a cerâmica
branca.
Folha On-line - Mas dessa forma a senhora vai atingir todas as gerações?
Ruth - Realmente. Escrevi o livro pensando em crianças de 9, 10 e 11 anos, mas muitos
adultos estão dizendo que estão lendo o livro, achando-o engraçado e muito interessante. Essa
é uma coisa muito bacana e que eu não esperava.
Folha On-line - Quanto tempo durou todo o trabalho de publicação de “Odisséia”?
Ruth - Foi uma pesquisa longa e, no total, levei quatro anos para concluir a “Odisséia”. Mas
não quer dizer que fiquei quatro anos escrevendo o livro. É que tive alguns incidentes durante
esse tempo, também me dediquei a outras obras, mas, na verdade, foi um livro bastante
trabalhoso. Porém, foi agradável e um dos que eu mais gostei em toda a minha carreira.
Folha On-line - A senhora escreve para crianças que estão começando a tomar gosto
pela leitura, fundamental para o desenvolvimento. Como é lidar com essa
responsabilidade?
Ruth - Acho que o escritor não tem esse negócio de se sentir responsável. Ele faz o que gosta
e publica o que quer. Isso é certo. Depois é claro que eu vejo o que aconteceu com uma obra
minha. Mas não fico pensando nisso e, na verdade, escrevemos como se não tivéssemos
leitores. É uma oposição porque todo mundo quer ser lido (risos). O que me assusta é
perceber que já vendi 10 milhões de livros, atingindo 50 milhões de pessoas na minha
carreira. Isso sim me faz pensar.
Folha On-line - Como a senhora define a atual fase do mercado infantil brasileiro e
quais as suas tendências?
193
Ruth - O mercado infantil cresceu enormemente nos últimos 30 anos, com a entrada geração
da qual faço parte, a “Geração da Ditadura”. Essa nova turma da literatura continua sendo
seguida até hoje. João Carlos Marinho, Ana Maria Machado... não gosto de citar nomes
porque sempre esqueço vários. O importante é o grupo todo. O interessante é que isso é uma
coisa natural. Só depois percebermos que havia um grupo que desenvolvia propostas
parecidas. Continuamos em evidência. São os pais que nos liam e que agora passam os livros
para os filhos. Na minha opinião, nos próximos anos deve aparecer algo realmente novo para
mudar o mercado editorial.
194
ENTREVISTA: RUTH ROCHA
Fizemos um rápido "bate-bola" com a grande Ruth Rocha, uma das maiores autoras
infantis do Brasil e do Mundo. Simpática e sorridente, fomos muito bem recepcionados pela
autora, nascida em 1931. Ruth já possui mais de 130 livros publicados e suas obras já foram
traduzidas para mais de 25 idiomas. Confira o resultado de nossa pequena entrevista, realizada
no estande da Editora FTD:
Sobre a personagem Emília:
Ruth Rocha: Emília era a minha personagem predileta, de todos os livros do Monteiro
Lobato. Eu adorava. Bem, eu acho que sou uma pessoa bem humorada. Aquele bom humor da
Emília sempre me encantou e quando eu comecei a escrever fui muito influenciada pelo clima
da Emília.
Sobre o tempo em que trabalho na Biblioteca do Colégio Rio Branco:
Ruth Rocha: Eu fui atendente de biblioteca, comecei atendendo o público e aconteceu que eu
comecei a ter uma aproximação muito grande com as crianças. Nós conversávamos, eu fazia
uma graça, escolhia livros para elas. Com isso elas começaram a me cercar muito. Então, a
direção da escola me convidou a ser orientadora educacional. Depois eu fiz minha pós
graduação e fui orientadora durante 15 anos. Mas eu adorava o meu trabalho na biblioteca e
acho que as bibliotecas são imprescindíveis. Tínhamos que ter uma biblioteca em cada escola,
em cada esquina.
Sobre A ONG Brasil Leitor:
Ruth Rocha: Em São Paulo, eu trabalho numa ong que se chama Brasil Leitor e nós fazemos
bibliotecas, buscando patrocínio. Já fizemos biblioteca no metrô, fizemos biblioteca na
Academia de Polícia, fizemos bibliotecas em 17 escolas, trabalhamos muito.
Sobre a contribuição da Sociologia no seu trabalho:
Ruth Rocha: Contribuiu porque a Sociologia é uma matéria muito abrangente e eu acho que
195
ela nos dá uma capacidade de ver a sociedade de outra maneira. Eu acho que a primeira coisa
que a gente aprende na Sociologia é ser contra o racismo. E eu acho que isso é uma marca de
meu trabalho e da minha personalidade. Uma grande influência da Sociologia.
Sobre o dialeto dos blogs e do MSN:
Ruth Rocha: Eu não acho isso muito importante. Acho que isso é modismo e passa, muda.
Cada um usa o seu dialeto. Não acho que isso atrapalhe a Língua Portuguesa. O que eu acho
que atrapalha a Língua é quando a pessoa não sabe o resto. A gente encontra nos jovens
muita coisa mal escrita, mas um "vc" abreviado não me incomoda em nada.
E para escrever: à mão ou no computador?
Ruth Rocha: A mão, gosto de escrever a mão. Eu tenho computador, mas eu não gosto de
escrever no computador.
Entrevista realizada em Maio de 2005
196
Jornal de Brasília 05/05/99 por Joseana Paganini
Que escritores foram essenciais para a sua literatura?
Fui muito influenciada por Lobato. Mas, na verdade, o autor de obras infantis é
influenciado pela literatura de adulto. A gente escreve com a cabeça de adulto. Não é possível
escrever como uma criança. Uma vez me perguntaram se as minhas frases curtas eram
influência da linguagem televisiva. E eu disse: “não, é influência mesmo de Mário de
Andrade e de Manuel Bandeira”.
Muitos críticos afirmam que não existe literatura infantil…
Não concordo. Acho que existe prosa e verso, que existe literatura infantil e para
adultos. No entanto, isso é mais complexo quando se trata de literatura para jovens. Com 13
anos, por exemplo, eu lia de tudo, inclusive obras ditas de adultos.
Também há livros infantis como A República dos Argonautas, de Anna Flora, que
qualquer adulto sente prazer em ler. Os livros de Ana Maria Machado são lindos,
independentemente se são feitos para crianças ou adultos. Tom Sawyer é uma obra que tanto
as crianças quanto os adultos gostam. Então, é literatura infanto-juvenil ou é literatura?
Eu não sei, a criança não é capaz de criticar a literatura infantil e o adulto não possui a
condição ideal. Então, não me preocupo mais com isso, se existe ou não literatura infantil.
Também não gosto de discutir com literatos. Há um certo desprezo pela literatura infantil.
Existem pessoas que são taxativas, dizem que não existe literatura infantil e pronto.
Não discuto. Para mim, há lógica no que é melhor para a criança.
De onde vieram os personagens rebeldes que aparecem em seus livros?
Vêm do fato de ter trabalhado com criança durante muitos anos, nos quais desenvolvi
a idéia de que a criança é muito pouco amada, mesmo em sua própria casa. Há muito pouca
cumplicidade entre pais e filhos. Vi coisas de espantar. Hoje acredito que muitas pessoas não
gostam de crianças. De um modo geral, o brasileiro não gosta. Se gostasse já tinha resolvido
os problemas da infância no país. Então, nos meus livros, ponho a revolta real da criança.
Tenho pena, mas não as subestimo, nem as maltrato. O que eu quero é desenvolver uma
cumplicidade. Marcelo, Marmelo, Martelo foi meu livro mais vendido, as crianças gostam
muito, porque, no fim, os pais resolvem compreender o Marcelo. Criança é assim, precisa ser
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amada e compreendida. Mas meus personagens apontam para o adulto, para o homem que
reivindica, que não se conforma.
Em suas obras, há uma preocupação quase didática. Até que ponto o fato de ser
orientadora educacional influenciou seus livros?
Deve ter influência, sim. Mas acho que a maior influência vem mesmo da minha própria vida.
As idéias surgem de tudo, da minha infância, do colégio, dos lugares onde trabalhei, da minha
filha que era muito perguntadeira, dos lugares mais estranhos. Fui uma criança muito feliz,
tive tudo o que uma criança pode querer. Não que fôssemos ricos, mas eu tinha casa, boa
alimentação, escola de qualidade, assistência médica. Meus pais eram muito amorosos, eu
vivia na rua, tinha muitos amigos, festas, muita alegria, apesar de ter sido uma criança meio
adoentada. Mas, quando eu adoecia, lembro que minha mãe ficava junto de mim todo o
tempo. Ela era uma mulher que gostava muito de ler. Meu avô era um nordestino contador de
histórias. Contava desde contos dos irmãos Grimm até histórias do folclore brasileiro. Já
minha avó adorava cantar modinhas imperiais. Aprendi a cantar com ela. Na nossa casa
também trabalharam empregadas muito divertidas. Naquela época, as empregadas ficavam
muito tempo com uma mesma família. Quando cresci, me interessei muito por política e
acabei me formando em sociologia. A ditadura influenciou muito a minha literatura. Criei o
personagem reizinho para poder falar sobre o autoritarismo e sobre as formas de revolta. Tudo
isso faz parte da minha formação. Agora, quando eu tenho uma preocupação pedagógica, eu
sei. Mas, normalmente, o que escrevo é quase intuitivo. Só que as minhas soluções agradam
aos pedagogos.
198
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP
Miguel, Maria Aparecida de Fátima
M636r Ruth Rocha, página a página: bibliografia de e sobre a
autora / Maria Aparecida de Fátima Miguel. Assis, 2006
256 f.
Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências e Letras
de Assis – Universidade Estadual Paulista.
1. Literatura infanto-juvenil. 2. Rocha, Ruth, 1931-. 3.
Indústria cultural. 4. Leitura. I. Título.
CDD 028.5
372.4
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