Download PDF
ads:
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
CONTRIBUIÇÃO DE INDÚSTRIAS E ESCOLAS PARA A FORMAÇÃO
PROFISSIONAL DO SETOR DA CONFECÇÃO DO VESTUÁRIO NO PARANÁ
ROBERTO RANNA KELLER
Dissertação apresentada como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa
de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de
Educação Tecnológica do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia
CURITIBA
2005
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ROBERTO RANNA KELLER
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
CONTRIBUIÇÃO DE INDÚSTRIAS E ESCOLAS PARA A FORMAÇÃO
PROFISSIONAL DO SETOR DA CONFECÇÃO DO VESTUÁRIO NO
PARANÁ
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em
Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em
Tecnologia, Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia
CURITIBA
2005
ads:
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da UTFPR – Campus Curitiba
K29q Keller, Roberto Ranna
A qualificação de quem nos veste : um estudo sobre a contribuição de indústrias
e escolas para a formação profissional do setor de confecção do vestuário no
Paraná / Roberto Ranna Keller. – Curitiba :
CEFET- PR, 2005.
xiii, 132 f. : il. ; 30 cm
Orientador : Prof. Dr. Nilson Marcos Dias Garcia
Dissertação (Mestrado) – CEFET-PR. Programa de Pós-Graduação em Tecno-
logia. Curitiba, 2005.
Bibliografia : f. 112-15
1. Vestuário – Indústria – Paraná. 2. Formação profissional. 3. Ensino profissio-
nal. 4. Indústria têxtil – Brasil – História. 5. Indústria e educação. 6. Tecnologia.
7. Trabalho. I. Garcia, Nilson Marcos Dias, orient. II. Centro Federal de Educa-
cão Tecnológica do Paraná. Curso de Pós-Graduação em Tecnologia. III. Título.
CDD : 338.47687
CDU : 677(81)
ii
À memória de meu pai, que antes de
partir, ainda jovem, deixou-me os
ensinamentos de honradez e ética
profissional. À minha mãe que, nos raros
momentos de repouso, permitia que eu
“pilotasse” a sua Singer, ou o meu
primeiro carro projetado na imaginação de
um menino pobre. E à minha filha que
apenas no olhar encoraja-me em tudo.
iii
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram
para que este projeto fosse concretizado, porém, especialmente são dedicados:
Ao professor Nilson Marcos Dias Garcia, meu orientador, que, além de
pacientemente conduzir meu trabalho, ajudou-me a manter sempre a serenidade
necessária para a superação dos muitos obstáculos encontrados, não só no curso
como na vida, durante o período de estudos e pesquisas.
Ao professor Herivelto Moreira pelas aulas esclarecedoras, apoio
metodológico, mas, principalmente, pelo encorajamento inicial para entrar no
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia do CEFET-PR.
Ao professor César Gomes Pessoa, amigo e apoiador, que dedicou uma vida
profissional inteira ao SENAI, sempre acreditando ser esta uma escola de
oportunidades para todos, sem distinção.
Ao SENAI e aos colegas de lá, ao SEBRAE e ao CITPAR que sempre me
ofereceram oportunidades para a atuação junto ao setor do vestuário no Paraná e,
assim, poder conhecê-lo melhor.
À professora Leila de Almeida de Locco pelo forte incentivo e fornecimento de
diversas publicações desde a fase da graduação até a fase de seleção para o
mestrado.
À professora Maria Vilma Rodrigues Nadal pela sua didática e necessária
rigidez no processo de aprendizado do significado social da Tecnologia e da História
da Técnica, os quais me permitiram o resgate do orgulho do meu passado
profissional.
À colega de turma Luciene Pereira de Cristo Bracht, que com constantes
atitudes altruístas, esquecendo das suas próprias dificuldades, colaborou, não só
comigo, mas com todos os colegas de turma do Programa de Pós-Graduação.
À colega de turma Marina Ribas Gubert pelo interesse e apoio em minha
caminhada.
iv
À prima Darcíria Helena Ranna Soviersoski e à amiga e professora Maria
Lúcia Rodrigues Afonso pelo apoio e crítica direcionados à composição deste
documento.
E aos professores da banca pela paciência, comprometimento e orientação
final deste trabalho.
v
Ode a quem nos veste
Mãos que um dia delicadas, embrutecidas se tornam
de muito alisar tecidos que por elas passam e se transformam.
Dedos que como as agulhas, finos também foram,
e que de tanto sangrar às suas pontadas, mais grossos ficaram.
Olhos brilhantes em sorrisos puros, agora já cansados,
por inúmeras vezes conduzir a linha, em escuro, a passar pelos furos.
Testa franzida, lisa não mais, mostrando todo o cansaço que no labor se faz.
Permanece o ser humano que ao passar dos anos se entristece
mas que, ainda, conserva os suspiros de carinho que por esses nos veste.
Roberto Ranna Keller
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................................viii
LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS......................................................ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.....................................................................x
RESUMO...................................................................................................................xii
ABSTRACT..............................................................................................................xiii
INTRODUÇÃO: Tecendo o pano de fundo que envolve nossa investigação.......1
Capítulo 1 – RECORTANDO O PASSADO E O PRESENTE: Um pouco
sobre a indústria do vestuário e a formação de seus
profissionais.......................................................................................11
1.1 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO TÊXTIL NO BRASIL.....................11
1.2 A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DO VESTUÁRIO....................15
1.3 A QUESTÃO DA ESCOLARIZAÇÃO E DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL...17
1.4 O PROCESSO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA CONFECÇÃO NO
BRASIL E NO PARANÁ .................................................................................27
1.4.1 A primeira escola oficial do Paraná.............................................................30
1.4.2 Um pouco sobre o Senai e sua história ......................................................33
1.4.3 As atuais ofertas de educação profissional no Paraná ...............................37
1.5 INDICADORES ATUAIS E OS PROCESSOS CONSTITUINTES DA
INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO PARANAENSE...............................................39
1.5.1 A indústria paranaense do vestuário...........................................................39
1.5.2 Os profissionais do setor da confecção do vestuário..................................40
1.5.3 Condições em que são montadas e funcionam as confecções
paranaenses ...............................................................................................44
1.5.4 Perfil básico do empreendedor da indústria de confecção no Paraná........44
1.5.5 Índices de faturamento no Brasil e no Paraná ............................................45
Capítulo 2 – MODELANDO A INVESTIGAÇÃO: Metodologia e instrumentos....47
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA REALIZADA ........................................47
2.2 UNIDADES DE ANÁLISES.............................................................................48
2.2.1 As indústrias pesquisadas ..........................................................................49
2.2.2 As escolas pesquisadas..............................................................................52
2.3 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS............................................53
2.3.1 Informações documentais...........................................................................53
2.3.2 Entrevistas ..................................................................................................54
vii
2.3.3 Protocolo.....................................................................................................54
2.3.4 Tratamento dos dados................................................................................55
2.4 ITENS DE ANÁLISE.......................................................................................55
2.5 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA............................................................56
Capítulo 3 – COSTURANDO OS DADOS OBTIDOS: A interação entre
escolas e indústrias do vestuário ....................................................58
3.1 ALGUNS ASPECTOS DA RELAÇÃO EMPRESA E TRABALHADOR...........60
3.1.1 Condições de trabalho oferecidas pelas indústrias.....................................60
3.1.2 A necessidade das indústrias e suas exigências para a contratação .........64
3.1.3 As relações trabalhistas: o que é oferecido ao trabalhador ........................71
3.1.4 De parte a parte: como é visto o aprendizado da profissão........................73
3.1.5 A visão de futuro do trabalhador.................................................................80
3.2 COMO OCORRE A RELAÇÃO EMPRESA E ESCOLA.................................82
3.2.1 A função da escola na visão do empresário ...............................................84
3.2.1.1 A escola ideal na visão dos empresários ................................................88
3.2.2 Quando a empresa assume o papel da escola...........................................89
3.2.3 A função da escola na visão da própria escola...........................................92
3.2.4 A função da escola na visão do trabalhador ...............................................95
3.3 A RELAÇÃO DA ESCOLA COM O TRABALHADOR: Uma relação
“social” ou “mercadológica”? ..........................................................................98
3.3.1 Razões para a abertura dos cursos e escolha das disciplinas..................101
3.3.2 Expectativas e frustrações dos alunos e dos trabalhadores já formados..103
3.4 ASPECTOS RELEVANTES DA INTERAÇÃO..............................................105
ACABAMENTO FINAL: Nossas conclusões .......................................................106
REFERÊNCIAS.......................................................................................................112
ANEXO 1 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS PROPRIETÁRIOS OU
GERENTES DAS INDÚSTRIAS....................................................117
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS PROFISSIONAIS
ATUANTES E EX-ALUNOS DE CURSOS....................................122
ANEXO 3 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS COORDENADORES DE
CURSOS........................................................................................125
ANEXO 4 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS ALUNOS DE CURSOS..........128
ANEXO 5 – CARTA DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO DE SIGILO...........130
APÊNDICE 1 - OCUPAÇÕES LIGADAS À ÁREA DE PRODUÇÃO DA
INDÚSTRIA DO SETOR DE VESTUÁRIO, SELECIONADAS
DA CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES
RETIRADAS DA CBO ...................................................................131
viii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS LOCAIS PESQUISADOS..............9
FIGURA 2: MÁQUINA DE COSTURA DE 1ª GERAÇÃO..........................................78
FIGURA 3: MÁQUINA DE COSTURA DE 2ª GERAÇÃO..........................................78
FIGURA 4: MÁQUINA DE COSTURA DE 3ª GERAÇÃO..........................................78
FIGURA 5: MÁQUINA DE COSTURA DE 4ª GERAÇÃO..........................................79
ix
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 NÍVEL DE EMPREGO ACUMULADO DE JANEIRO A JULHO
DE 2001 CONTRA JANEIRO A JULHO DE 2000 - PARANÁ............14
GRÁFICO 2 QUALIFICAÇÃO DO PESSOAL ACUPADO EM ATIVIDADES
RELATIVAS AO VESTUÁRIO NO PARANÁ – 1999..........................41
GRÁFICO 3 OCORRÊNCIA DE TREINAMENTO FORA DO LOCAL DE
TRABALHO E RESPECTIVO PESSOAL OCUPADO LIGADO À
ATIVIDADE PRINCIPAL DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO NO
PARANÁ – 1999 (em%).....................................................................42
GRÁFICO 4 PESSOAL OCUPADO EM UNIDADES QUE PATROCINAM
PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO PARA SEUS EMPREGADOS
NO PARANÁ – 1999..........................................................................43
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – CONFECCIONADOS TÊXTEIS NO BRASIL NO ANO 2002 –
VESTUÁRIO, MEIAS E ACESSÓRIOS ...............................................4
QUADRO 2 – UNIDADES FABRIS INSTALADAS NO BRASIL /
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DAS FÁBRICAS.....................................4
QUADRO 3 – BLOCOS TEMÁTICOS ABORDADOS COM AS RESPECTIVAS
QUESTÕES.......................................................................................56
QUADRO 4 – PARTICIPANTES DA PESQUISA COM CARACTEÍSTICAS
BÁSICAS ...........................................................................................57
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 PESSOAL EMPREGADO NO SETOR DO VESTUÁRIO NO
BRASIL ................................................................................................5
TABELA 2 – NÚMERO DE UNIDADES FABRIS DA INDÚSTRIA DO
VESTUÁRIO NO BRASIL ....................................................................5
x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil
ABRAVEST – Associação Brasileira do Vestuário
CBO – Classificação Brasileira de Ocupações
CEMEP – Centro Municipal de Educação Profissionalizante
CNA – Confederação Nacional da Agricultura
CNI – Confederação Nacional da Indústria
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá
CETEP – Centro de Tecnologia e Educação Profissional de Curitiba
CETIQT – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil
C.F.P – Centro de Formação Profissional
CITPAR – Centro de Integração de Tecnologia do Paraná
CNC – Comando Numérico Computadorizado
ETFs – Escolas Técnicas Federais
FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FIESP – Federação das Indústrias do Estado De São Paulo
GTZ – Deutsche Gesellsschaft für Technische Zusammenarbeit – Sociedade Alemã
para Cooperação Técnica
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBQP – Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade
IED – Istituto Europeo di Design – Instituto Europeu de Design
IEMI – Instituto de Estudos e Marketing Industrial
MDIC – Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio
MJPI – Modelo Japonês de Produção Industrial
PAER – Pesquisa da Atividade Econômica Regional
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas Empresas
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAT – Serviço Nacional de Aprendizagem de Transportes
SESI – Serviço Social da Indústria
SINDVEST – Sindicato da Indústria do Vestuário
UEL – Universidade Estadual de Londrina
UEM – Universidade Estadual de Maringá
xi
UNICENP – Centro Universitário Positivo
UNIPAR – Universidade Paranaense
UNISEP – União de Ensino do Sudoeste do Paraná
UTP – Universidade Tuiuti do Paraná
VESTPAR – Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário
xii
RESUMO
Este estudo teve por objetivo investigar o processo de formação profissional para o
setor têxtil da confecção do vestuário no Estado do Paraná, nos três níveis de
profissionalização, ou seja, o de formação básico, o técnico e o tecnológico. O
universo investigado constituiu-se de escolas e indústrias de diversos portes
localizadas em diferentes municípios e regiões do Estado do Paraná e o processo
investigativo foi desenvolvido através de um estudo de caso, sendo realizadas 16
(dezesseis) entrevistas semi-estruturadas junto a coordenadores das escolas, aos
seus alunos, a empresários e a funcionários egressos de escolas de formação. Para
melhor localizar os elementos da pesquisa, realizaram-se também estudos de
caráter histórico sobre o processo da industrialização têxtil e da confecção do
vestuário no Brasil e Paraná e sobre a formação do profissional da indústria têxtil e
do vestuário no Brasil. Constatou-se que, apesar de haver uma concordância nos
interesses das escolas e das empresas, elas não comungam das mesmas
percepções a respeito dos seus papéis no processo de formação dos trabalhadores,
cada qual apresentando questionamentos a respeito das exigências e contribuições
para a formação e aproveitamento dos profissionais formados. Também são
apontados temas para futuros estudos voltados para o desenvolvimento do setor
têxtil do vestuário paranaense e brasileiro.
Palavras-chave: Formação Profissional; Indústria do Vestuário e Tecnologia e
trabalho
Área de conhecimento: Educação profissional.
xiii
ABSTRACT
This study has for objective to investigate the process of professional formation for
the textile sector of the confection of clothes in the State of the Paraná, in the three
levels of vocational, or either, of basic formation, the technician and the technological
one. The investigated universe consisted of schools and industries of diverse
transports located in different cities and regions of the State of Paraná and the
process research was developed through a case study, being carried through 16
(sixteen) half-structuralized interviews together the coordinators of the schools, to
their students, the entrepreneurs and the employee egresses of formation schools.
Better to locate the elements of the research, it also realized studies of historical
character about process of textile industrialization and the confection of clothes in
Brazil and Paraná and on the formation of the professional of textile industry and
clothes in Brazil. One evidenced that, although to have an agreement in the interests
of the schools and enterprises, it was observed that they do not take communion of
the same perceptions regarding their roles in the process of formation of the workers,
each one presenting, questionings regarding the requirements and contributions for
the formation and exploitation of the formed professionals. Subjects also are pointed
with respect to future studies directed toward the development of the textile sector of
Paranaense and Brazilian clothes.
Key words: Professional formation; Industry of Clothes; Technology and work.
Knowledge Areas: Professional education.
1
INTRODUÇÃO: Tecendo o pano de fundo que envolve a investigação
O setor industrial da confecção do vestuário no Paraná vem apresentando, há
pelo menos dez anos, sinais de crescimento não muito significativo. Apesar de o
governo estadual da época ter criado, na metade da década de 1990, o Pólo Têxtil
na Região Norte do Estado, do surgimento de muitos cursos superiores, e de outros
em nível técnico, da grande divulgação do setor pela Imprensa, do surgimento de
feiras comerciais em várias regiões e de tantos outros eventos, na realidade o setor
se mantém quase que estável, o que pode ser verificado nas pesquisas realizadas
pela Federação das Indústrias do Estado Paraná – FIEP, além de outros órgãos
competentes.
Apesar de o setor têxtil da confecção do vestuário ter sido alvo, nos últimos
anos, de muitas pesquisas, essas se preocuparam mais com aspectos estatísticos
econômicos que envolvem questões como, por exemplo, demografia, número de
postos de trabalho, faturamento das empresas, investimentos infra-estruturais, assim
como maquinaria avançada etc., sem, no entanto, se preocupar, exclusivamente, em
checar a qualidade da formação profissional voltada para este setor.
Algumas dessas pesquisas, como por exemplo os diagnósticos de 1995, 2000
e 2004 referenciados neste documento, apontam diversos motivos para a referida
falta de expansão, sendo citados o despreparo administrativo dos empresários, a
falta, ou a má utilização, dos equipamentos e máquinas mais modernos, a
concorrência internacional etc. Porém, dentre os mais mencionados, nos chamam
atenção o despreparo técnico e a falta de profissionais qualificados para o setor.
Assim, nossa preocupação constante na presente investigação foi a de constatar
como e, principalmente, porque é desenvolvido o processo de educação profissional
voltado ao setor industrial da confecção do vestuário no Estado do Paraná.
Após período de formação e atuação na área do vestuário no Estado do Rio
de Janeiro, chegamos ao Paraná, no ano de 1989, e desde então trabalhamos
ininterruptamente por quase todo o seu território com o mesmo segmento industrial.
Nesse mesmo período de, aproximadamente, 16 anos desenvolvemos trabalhos de
assessorias técnicas para mais de duas centenas de indústrias pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Pequenas Empresas – Sebrae e também atuamos como
técnico e professor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai de
2
Curitiba, onde participamos do projeto de implementação do Curso Técnico de
Estilismo, o que gerou maior interesse pelo aprofundamento nas questões da
profissionalização para o segmento. Mesmo após termos realizado, no ano de 1995,
pesquisa, com posterior diagnóstico econômico
1
, para o mesmo Sistema FIEP,
algumas indagações sobre a formação dos quadros de trabalhadores ainda
persistiam. Apesar das muitas outras constatações sobre o setor do vestuário
paranaense que foram levantadas no referido trabalho, naquele momento já havia
sido observado, segundo a opinião de 216 empresários, que a formação profissional
para a indústria do vestuário era deficiente e, segundo suas opiniões, comprometia o
crescimento do setor.
Por isso, resolvemos, através de pesquisa no âmbito do nosso curso de
mestrado, tentar responder alguns questionamentos inerentes ao processo de
formação profissional para o setor industrial do vestuário no Estado. O nosso
objetivo principal, então, foi oferecer respostas para a seguinte questão: “Como o
processo de interação, entre escolas de formação profissional e indústrias da
confecção do vestuário no Paraná, contribui para a formação profissional no setor?”.
Nossa preocupação também perpassou pela questão das expectativas de ambas as
partes, ou seja, o que as indústrias esperam do processo de formação profissional e
das escolas e o que essas, por sua vez, fazem pela educação e esperam das
indústrias. No processo, dedicamos especial atenção para o aluno e para o
trabalhador, que são, em nosso entender, os principais sujeitos de todo o processo.
Assim, também, observamos a trajetória de alguns alunos e egressos dos cursos de
formação profissional.
Nesse sentido, tornou-se fundamental caracterizar o ambiente no qual a
pesquisa se desenvolve, ou seja, o pano de fundo político e econômico, haja vista
que o entendimento desse ambiente permitirá melhores análises de alguns dos
problemas que envolvem o setor.
1
Diagnóstico Técnico e Econômico do Setor de Confecção do Vestuário das Regiões Norte,
Noroeste, Oeste, Sudoeste e Sul do Estado do Paraná (1995). O documento é parte integrante do
Projeto SIDEE de Cooperação Técnica entre o Brasil e a Alemanha, projeto coordenado pelo
Centro de Integração de Tecnologia do Paraná (CITPAR), do Sistema FIEP, por parte do Brasil e
pela GTZ (Deutsche Gesellsschaft für Technische Zusammenarbeit – Sociedade Alemã para
Cooperação Técnica), por parte da Alemanha.
3
Dados do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade - IBQP / Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (Sistema de Contas Nacionais, 1999)
mostravam que, ofertando cerca de 1.291.525 vagas, o ramo do vestuário era o
setor industrial de transformação que mais empregava no Brasil, sendo ainda o
segundo no plano geral, vindo após a construção civil que empregava cerca de
3.706.878 pessoas. Contudo, o setor vem reduzindo a demanda por mão-de-obra,
fechando, a cada ano, cerca de 30.000 postos de trabalho, já que em 1995 o
número de empregos era de 1.468.127, fato que incisivamente colabora no processo
de desemprego no Brasil e no Paraná e, de acordo com a Análise conjuntural do
mês de julho de 2001 do Departamento Econômico – DEC da FIEP, o setor foi um
dos que mais desempregou, tendo um decréscimo de 49,39% no nível de emprego
acumulado de janeiro a julho de 2001 contra o mesmo período no ano de 2000.
O crescimento do desemprego continuou acelerado pois, de acordo com os
últimos dados da Associação Brasileira do Vestuário - ABRAVEST, o Brasil conta
com, aproximadamente, 16.023 indústrias do vestuário, que empregam cerca de
1.022.036 trabalhadores diretos, sendo que desse universo 93% são mulheres e 7%
são homens, como pode ser observado nos Quadros 1 e 2 (ABRAVEST, 2003). Isto
representa, de acordo com dados do IBGE, 1,5% da população trabalhadora ativa
do país e do universo de trabalhadoras, esses 93%, ou sejam aproximadamente 1
milhão de mulheres, significam 3,3% da população feminina economicamente ativa
(IBGE, 2003), dados que mostram o quanto a indústria da confecção é importante
para a economia familiar e principalmente para a independência financeira da
mulher brasileira.
4
QUADRO 1 – CONFECCIONADOS TÊXTEIS NO BRASIL NO ANO 2002 –
VESTUÁRIO, MEIAS E ACESSÓRIOS
N.º de empresas 16.023
N.º de empregos 1.022.036 (93% mulheres; 7% homens)
Faturamento US$ 12.804.565 (em mil US$)
Produção
794,53 (mil/ton.)
5.046.353 (em mil peças/ano)
Composição de matérias-primas
utilizadas
48% tecidos de malha
52% tecidos planos
Composição de matérias-primas
em tipos de fibras
65% roupas de algodão
25% roupas tecidos artificiais e sintéticos
10% roupas em seda, linho e outros
Fonte: site http://www.abravest.org.br/abravest/bancodados.htm. Acessado em: 19 abr.
2003
QUADRO 2 – UNIDADES FABRIS INSTALADAS NO BRASIL /
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DAS FÁBRICAS
1997 2001 2002
Regiões
% % %
Nº. Absoluto
Norte 5,9 4,1 2 325
Nordeste 9,1 11,5 14,3 2.306
Sudeste 62,4 55,6 55,9 8.949
Centro Oeste 2,6 4,1 5,1 813
Sul 20 24,7 22,7 3.640
Total 16.023
Fonte: site http://www.abravest.org.br/abravest/bancodados.htm. Acessado em: 19 abr.
2003
De acordo com a mesma ABRAVEST, é bem pequeno o investimento para a
criação de um posto de trabalho na confecção do vestuário, podendo ser
considerado um dos mais baratos dentre todas as atividades industriais, o que
possibilita a abertura de diversas empresas simultaneamente. Porém, esse fato
acaba por gerar empreendedores com baixa capacitação administrativa e que
5
contratam profissionais sem uma adequada qualificação. Também é antiga a prática
da transformação de costureiras domésticas em industriárias sem uma adequada
qualificação. As pretensas indústrias acabam nascendo dentro da própria casa dos
empreendedores, que contratam as costureiras domésticas, geralmente da
vizinhança, para compor o seu quadro funcional o que não contribui para o avanço
técnico deste setor industrial. Essa prática decorre de diversos fatores, que vão
desde a inexperiência do empreendedor até à falta de escolas profissionalizantes,
que poderiam colaborar com a oferta de profissionais melhor preparados
tecnicamente para ocuparem os postos de trabalho oferecidos.
Esses fatores também contribuem negativamente para o crescimento do
setor, que vem desempregando número considerável de trabalhadores a cada ano,
conforme pode ser observado nas Tabelas 1 e 2.
TABELA 1 – PESSOAL EMPREGADO NO SETOR DO VESTUÁRIO NO BRASIL
ANOS
1991 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Total
1.705.568 1.534.798 1.468.127 1.459.778 1.318.140 1.237.181 1.204.148 1.233.156 1.191.837
Vestuário 1.466.412 1.273.902 1.209.152 1.202.255 1.086.054 1.013.566 992.557 1.039.928 1.006.559
Meias/Acessórios 78.490 103.105 104.355 103.790 93.560 91.604 83.537 72.902 70.239
Linha Lar 127.205 123.893 121.781 121.097 109.138 104.086 99.718 95.493 91.064
Art. Técnicos 33.461 33.898 32.839 32.636 29.388 27.925 28.336 24.833 23.975
Fonte: http://www.abit.org.br/ com link para: http://www.iemi.com.br/qd_estatisticastxtConfec.htm
2
.
Acessado em: 09 abr. 2004.
TABELA 2 – NÚMERO DE UNIDADES FABRIS DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO
NO BRASIL
Regiões
1997 1998 1999 2000 2001 2002
3
Norte 447 435 427 402 459 421
Nordeste 2.312 2.388 2.430 2.587 2.599 2.607
Sudeste 11.856 11.757 10.072 10.852 10.192 9.667
Sul 3.731 3.733 3.738 4.151 4.310 4.208
C. Oeste 668 696 711 805 878 863
Total
19.014 19.009 17.378 18.797 18.438 17.766
Fonte: http://www.abit.org.br/ com link para: http://www.iemi.com.br/qd_estatisticastxtConfec.htm.
Acessado em: 09 abr. 2004.
2
ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
O IEMI – Instituto de Estudos e Marketing Industrial é responsável pelo fornecimento de dados
estatísticos tanto para a ABRAVEST, quanto para a ABIT.
3
Só obtivemos dados estatísticos no Brasil até o ano de 2002.
6
Diante dos fatos apresentados e de outros fatores relacionados à
macroeconomia, como por exemplo a concorrência intercapitalista internacional,
pode-se deduzir que este é um setor que poderia ser maior e estar empregando
muito mais pessoas, não fosse a situação de defasagem tecnológica
4
em que
atualmente se encontra. A presente situação também é motivada pelo baixo
investimento em aquisição de conhecimento, destacando-se a qualificação e o
aprimoramento profissional dos trabalhadores, tanto dos ligados diretamente à
produção quanto dos responsáveis pela gestão dessas empresas.
No escopo do objetivo, queremos investigar as razões da presente dificuldade
e por que, de acordo com os próprios empresários, é difícil para as indústrias
contratarem profissionais melhor preparados ou egressos de escolas
profissionalizantes, tanto em nível básico, quanto em nível técnico.
Salienta-se que as únicas escolas de qualificação profissional, principalmente
nesses níveis, com reconhecimento e de abrangência nacional são as do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI. Sobre o “problema” relata a
ABRAVEST (2003)
5
que:
Sem dúvida, cabe principalmente ao sistema Senai a atividade de
divulgação e o treinamento das tecnologias específicas do setor. Isso
é particularmente verdadeiro quando se observa a quantidade de
pequenas empresas que compõe o universo dos confeccionistas
nacionais. É necessário que os recursos desse sistema seja
descentralizado, atendendo proporcionalmente ao número de
empresas existentes nos principais pólos produtores, e, se possível,
agregados às faculdades de moda regional onde houver.
Face ao grande número de indústrias de confecção e às atuais ofertas de
cursos propostos pelo Senai, questiona-se a sua suficiência para promover a
qualificação, principalmente em nível básico, de todos os trabalhadores deste setor
industrial. No Paraná, esse problema se agrava, pois enquanto o número de cursos
superiores se avoluma, os de formação profissional básicos, como em costura
industrial e o em corte de tecidos, ficam cada dia mais restritos.
4
A referida defasagem tecnológica é observada segundo a perspectiva de Gama (1986, p. 185) que
conceitua tecnologia como sendo “a ciência do trabalho produtivo” e não apenas ao aparelhamento
ou maquinarias sofisticadas.
5
Disponível no site http://www.abravest.org.br.
7
Essa situação oferece algumas das maiores razões para o presente estudo, já
que o setor da confecção está encontrando problemas para se desenvolver; aqui
desenvolvimento é entendido num sentido mais amplo, não apenas restrito ao
crescimento infra-estrutural das indústrias e ao aumento do lucro dos empresários
capitalistas ou mesmo à oferta de novos empregos, mas incorporando a visão de
Furtado (2000, p. 19), para quem:
O aumento da produtividade econômica no plano da empresa
significa, algumas vezes, apenas aumento da taxa de lucros para o
empresário, sem repercussão no nível da renda global. Não se deve,
portanto, confundir aumento de produtividade – no plano
microeconômico – com desenvolvimento, o qual dificilmente se
poderia conceber sem elevação da renda per capita. Não obstante, o
aumento de produtividade física no plano da empresa, pelo fato de
que se baseia quase sempre na incorporação de novas técnicas e
contribui para liberar mão-de-obra, é fenômeno de grande
importância no processo do desenvolvimento.
Muitas escolas são criadas a cada ano no Paraná com vistas a formar
profissionais com as competências necessárias para suprir alguns dos cargos
oferecidos por esse segmento industrial. Muitas delas foram motivadas pela própria
propaganda governamental, que procurou difundir a idéia de que o Paraná é um
pólo têxtil do vestuário, principalmente na sua Região Norte, o que também facilitou
a abertura de faculdades de moda e engenharia têxtil nas cidades de Londrina
(Universidade Estadual de Londrina - UEL), Maringá (Universidade Estadual de
Maringá - UEM e Centro Universitário de Maringá - CESUMAR) e Cianorte
(Universidade Estadual de Maringá - UEM e Universidade Paranaense - UNIPAR).
Importante fato verificado é que o número de escolas superiores e tecnológicas
criadas nos últimos anos é maior que o número de escolas de formação básica e
técnica, o que já pode estar provocando os desequilíbrios verificados nos processos
de contratação, já que faltam nas empresas os profissionais de nível básico,
egressos de escolas de formação profissional, e já começam a sobrar aqueles com
formação superior, o que também pode acarretar o achatamento salarial dos
profissionais desse nível.
É interesse deste trabalho também saber se as escolas de formação
paranaenses, em todos os níveis de profissionalização, estão contribuindo para a
reversão do referido quadro, sem com isso acreditar que apenas a educação
8
profissional dê conta do processo de desenvolvimento do setor, assim como, do
próprio país. Apesar de haver o reconhecimento da centralidade que a educação
profissional assume na questão do desenvolvimento setorial, entende-se que ela
sozinha não pode ser responsabilizada pelo atraso ou avanço deste ou de qualquer
outro setor produtivo.
A falta de informações nesse campo, também, foi o que inspirou a execução
deste trabalho, que, conforme descrito nos objetivos apresentados anteriormente,
visou investigar a formação profissional para o setor têxtil da confecção do vestuário
em todo o estado do Paraná.
Compuseram o escopo da investigação escolas de formação tecnológica,
técnica e básica, assim como, indústrias de pequeno, médio e grande porte, situadas
em diversas regiões do Estado.
A Figura 1 ilustra a delimitação do presente estudo, onde consta: 1 indústria
de grande porte com mais de 500 funcionários; 1 de médio porte, com mais de 100
funcionários; 3 de pequeno porte, com menos de 100 funcionários
6
; 1 escola de nível
tecnológico; 1 escola de nível técnico e 1 de nível básico.
6
Essa classificação por porte das empresas é utilizada pelo SEBRAE, baseada na do próprio IBGE,
e está disponível no site: http://www.sebrae.com.br/br/mortalidade_empresas/ acessado em
01/06/2005.
9
FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DOS LOCAIS PESQUISADOS NO
PARANÁ
FONTE: Elaborado pelo autor
A partir dessa distribuição foi possível estabelecer relações, de parte a parte,
entre as escolas de formação profissional e as indústrias paranaenses e, por
conseguinte, da qualidade dos processos formativos e dos profissionais oriundos
dessas mesmas escolas, já que o referido desenvolvimento industrial, em qualquer
setor, também está ligado à qualidade do processo de formação profissional e, como
já foi colocado, o setor têxtil do vestuário é um dos que mais oferta vagas no Brasil.
Para apresentar os resultados dessa pesquisa, esse trabalho foi organizado
em três capítulos. No primeiro são apresentados aspectos relacionados à história da
industrialização têxtil no Brasil e mais alguns indicadores atuais da indústria do
vestuário paranaense, com ênfase no número de trabalhadores envolvidos no setor
local, visando oferecer dados sobre a realidade da indústria têxtil do vestuário no
país e a atual situação deste setor industrial no Paraná. Para isso, foi dado destaque
ao seu passado histórico com relevância a fatos que contribuíram para a situação
10
em que o setor se encontra atualmente, convergindo a atenção, porém, para o
processo de formação de profissionais para o segmento em questão.
No segundo capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos,
incluindo a caracterização da pesquisa, o método utilizado, sua justificativa,
processos de coleta de dados e de entrevistas, bem como o protocolo de entrevistas
e o tratamento detalhado dos dados, além da caracterização das indústrias e
escolas estudadas.
O terceiro capítulo apresenta os resultados do estudo no que concerne ao
processo de interação entre escolas e empresas da indústria do vestuário no
Paraná, sendo discutidas, também, as razões para a abertura de vagas, as
expectativas das escolas e dos seus alunos, das indústrias e dos profissionais já
formados e que nelas atuam.
Ao final, nas conclusões, são apresentadas reflexões e proposições
relacionadas a este setor industrial, sendo, também, estabelecidas propostas de
novas investigações e algumas considerações gerais sobre as questões analisadas.
11
Capítulo 1 RECORTANDO O PASSADO E O PRESENTE: Um pouco sobre a
indústria do vestuário e a formação de seus profissionais
O processo de constituição de um segmento de trabalho, muitas vezes, é
permeado pelas ideologias das classes sociais que o dominam e que também
acabam por ser transmitidas ao processo educacional profissional. No setor da
indústria do vestuário não é diferente e este capítulo destacará fatos históricos e do
presente, que promovem a manutenção dessas ideologias, que, em nosso entender,
dificultam o desenvolvimento do setor.
No capítulo também é apresentado um pouco do processo de industrialização
e da formação profissional para o segmento têxtil da confecção do vestuário,
relevando sua importância no contexto industrial brasileiro.
1.1 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO TÊXTIL NO BRASIL
Pode-se dizer que o segmento têxtil é um dos que marca o início da
industrialização brasileira e o processo de desenvolvimento têxtil pode ser marcado,
de acordo com as informações contidas no periódico Textília (2004)
7
, por 4 (quatro)
fases. Mesmo tendo conhecimento da limitação que periodizações impõem à
análise, utilizamo-las por entender que elas facilitam a compreensão do processo
histórico deste setor industrial.
A “primeira fase”, ou a fase dos artesanatos, é a mais longa se estendendo
por todo o período colonial até os primeiros anos do Império e está marcada pela
incipiência e descontinuidade do processo de industrialização têxtil. Nessa época, de
acordo com Bardi (1981, p.126), fiar, tecer e preparar as roupas domésticas eram
ofícios artesanais reservados às mulheres. Na medida em que aumenta o interesse
de Portugal em civilizar mais rapidamente a colônia, é favorecido o aparecimento
das primeiras tecelagens.
Civilizar, então, era também vestir e portanto necessário existir
tecidos. Desponta assim o momento da tecelagem. Inicialmente
eram utilizados teares rústicos em formato horizontal, com dois
quadros de liços
8
ligados aos pedais por cordas de sisal, lançadeiras
7
Dados extraídos de matéria publicada na revista Textília, periódico especializado do setor, que
também é disponibilizado no site http://www.textilia.net/. Acessado em: 08 jul. 2004.
8
Quadro de liço é uma peça componente do tear, por onde são passados manualmente cada um
dos fios que compõem o tecido. O movimento dos quadros de liço combinados à forma como são
12
com a bobina, o carretel. O material era o algodão, passando pela
‘descaroçadeira’, a fibra limpa num ‘arco’ de bambu, o fio ‘tirado no
dedo’, torcido e urdido. Carpinteiros e marceneiros copiavam os
teares vindos de Portugal, modificando-os e aperfeiçoando-os,
adaptando aos pentes
9
talos de palmeiras ou hastes de tabocas.
(BARDI, 1981, p. 124). (Grifos meus).
Na segunda metade do Séc. XVIII as manufaturas domésticas se organizam
e, num sistema pré-industrial, formam as primeiras tecelagens. Porém, como era a
metrópole quem estabelecia as diretrizes econômicas para a Colônia, ficava o
crescimento industrial local sujeito a estímulos ou restrições estabelecidos pelos
interesses da política comercial travada com outros países. Esse mesmo período da
industrialização foi muito mais marcado por medidas restritivas, o que, de certo,
prejudicou o desenvolvimento industrial do país.
Exemplo de medida restritiva é o Alvará de 1785 de D. Maria I, que tem por
diretriz o fechamento de todas as fábricas de tecidos mais finos de algodão, lã e
outras fibras, com exceção daquelas que fabricavam os mais grosseiros. Essa
medida
era uma tentativa de Portugal de evitar que a abertura de fábricas e
manufaturas pudesse vir a diminuir o número de braços que
trabalhavam na extração de minérios e pedras preciosas, que eram
encaminhadas para a corte portuguesa. (RUBEGA e PACHECO,
2000, p. 152).
Apesar de ter revogado o Alvará de 1785, D. João VI, quando do
estabelecimento da família real no Brasil, adotou outra medida, que foi a “abertura
dos portos às nações amigas”, o que também afetou o desenvolvimento do setor
têxtil, pois tal medida favorecia especialmente a Inglaterra, através da importação
dos produtos daquele país e, neste caso, os tecidos ingleses tinham lugar de
destaque.
Sob uma nova égide, agora no Brasil Imperial, a política industrial brasileira
impõe tarifas alfandegárias maiores aos produtos importados, o que proporcionou
um dos primeiros momentos de real estímulo à industrialização nacional,
especialmente para o ramo têxtil, que foi o pioneiro nesse processo, o que marca
passados os fios é que permitem, de acordo com a escolha do tecelão, a formação do desenho e o
tipo característico do tecido.
9
Pente é um outro componente do tear utilizado para posicionar e direcionar os fios que serão
tecidos.
13
decisivamente a “segunda fase”, que corresponde à sua fase de implantação, ou
seja, o artesanato cede espaço ou transforma-se em indústria têxtil. Ainda de acordo
com o texto da Textília (2004),
o processo da industrialização não se deu de imediato; ele foi lento,
podendo ser considerado o período de 1844 até 1913 como fase de
implantação da indústria no Brasil. Em 1864, o Brasil já tinha uma
razoável cultura algodoeira, matéria-prima básica da indústria têxtil,
mão-de-obra abundante e um mercado consumidor em crescimento.
Outros fatores não econômicos também influenciaram a evolução da
indústria têxtil, dentre os quais citam-se: a guerra civil americana, a
guerra do Paraguai e a abolição do tráfico de escravos, fato este que
resultou na maior disponibilidade de capitais, antes empregados
nessa atividade.
Assim, em 1864 estariam funcionando no Brasil 20 fábricas, com
cerca de 15.000 fusos e 385 teares. Menos de 20 anos depois, ou
seja, em 1881, aquele total cresceria para 44 fábricas e 60.000
fusos, gerando cerca de 5.000 empregos. Nas décadas seguintes,
houve uma aceleração do processo de industrialização e, às
vésperas da I Guerra Mundial, contávamos com 200 fábricas, que
empregavam 78.000 pessoas.
A “terceira fase”, ou o momento da consolidação industrial, dura um tempo
menor, indo de 1913 até meados da década de 1950, período de estagnação
industrial na Europa, ocasionado pelas duas grandes guerras, fatos que
proporcionaram ao Brasil maior desenvolvimento industrial, pelo intenso aumento da
demanda interna, já que as importações daquele continente não ocorriam
normalmente, e porque até aquele mesmo período, o Brasil era um grande
importador de produtos confeccionados europeus. Além de tais fenômenos estarem
aliados ao fato da consolidação do sistema de produção linear na indústria da
confecção brasileira, o que facilitaria a produção em massa, o Brasil, naquele
momento, já podia contar com considerável parque fabril têxtil.
Ainda segundo a Textília (2004), em 1919 a indústria têxtil contava com cerca
de 105.000 trabalhadores, o que representava 38,1% do contingente empregado na
indústria de transformação da época. Nesse mesmo período, o Brasil passa à
categoria de exportador e a negociar com mercados importantes como países da
Europa e os Estados Unidos. O fim do período é justamente marcado pela retração
quase total das exportações, pois a queda foi na ordem de 95%, e pelo obsoletismo
das máquinas fabris.
14
A “quarta fase”, que corresponde ao momento atual, tem início em meados da
década de 1950, sendo marcada por períodos distintos. Após alguns anos de baixo
crescimento, surge um período importante com a retomada das exportações
brasileiras, que de US$ 42 milhões em 1970, passam para US$ 535 milhões em
1975, aumentando gradativamente até atingir a marca de US$ 1,5 bilhão em 1992.
Não coincidentemente, foi dentro deste mesmo período, ou seja, de 1976 até 1992,
que o Brasil reservou o seu mercado bloqueando as importações. Um outro ocorre a
partir do ano de 1993 com a abertura do mercado brasileiro ao restante do mundo e
as indústrias têxteis se vêem em forte desvantagem perante o mercado
internacional, já que era grande a obsolescência dos seus equipamentos e assim,
novamente, o setor passa por momentos difíceis. Investindo fortemente em
equipamentos de última geração, o setor têxtil brasileiro volta a crescer e este novo
período de crescimento marca o presente momento da fase atual. Apesar da quebra
de muitas indústrias de fiações e tecelagens, outras novas surgiram e o setor têxtil é
um dos que mais cresce no país. Só no Paraná, segundo dados constantes no
documento da FIEP-DEC (ANÁLISE, 2001) o crescimento percentual do nível de
empregos registrado em 2001, em relação ao ano anterior, foi de 141,87%. Contudo,
a mesma pesquisa mostrou que o setor de confecções, em sentido inverso,
aumentou o desemprego, ou decresceu, em (-) 49,39%. O Gráfico 1 mostra o
resultado da análise da FIEP-DEC.
GRÁFICO 1 – NÍVEL DE EMPREGO ACUMULADO DE JANEIRO A JULHO DE
2001 CONTRA JANEIRO A JULHO DE 2000 - PARANÁ
Fonte: Federação das Indústrias do Estado do Paraná – FIEP / Departamento Econômico – DEC
-80,00% -60,00% -40,00% -20,00% 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 120,00%
1
Produtos Farmacêuticos e Veterinários
Couros, peles e Produtos Similares
Vestuário, Calçados e Artefatos de Tecidos
Papel e Papelão
Editorial e Gráfica
Madeira
Mobiliário
Matérias Plásticas
Minerais não Metálicos
Metalúrgica
Química
Total da Indústria de Transformação
Material de Transportes
Perfumaria, Sabões e Velas
Mecânica
Bebidas
Material Elétrico e de Comunicação
Produtos Alimentares
Têxtil
15
1.2 A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DO VESTUÁRIO
Os primeiros sinais de industrialização da confecção do vestuário ocorreram
após a invenção da máquina de costura no final do século XVIII, mais precisamente
em 1790 por Thomas Saint (SINGER, 2003). Contudo, os processos artesanais que
deram origem à indústria, surgiram na Idade Média quando uma das primeiras
ocupações profissionais de que se tem registro foi a de alfaiate. Já na Era Mercantil
surgiram as Corporações de Ofícios que foram, na realidade, as primeiras escolas
profissionais, onde os mestres alfaiates ensinavam no próprio trabalho o ofício da
alfaiataria aos seus aprendizes. Foram as Corporações de Ofícios que deram origem
à modernização das alfaiatarias, que passaram a utilizar a máquina de costura em
maior escala. A evolução daquelas “fábricas” de costura resultou nas atuais
denominadas indústrias da confecção do vestuário.
No século XX os norte-americanos adaptaram a produção da indústria da
confecção ao sistema fordista, ou seja, a linha de produção seriada em grande
escala. Para tanto, houve uma simplificação no desenho das peças, no sentido de
facilitar o aumento da produção e gerar maior lucratividade aos capitalistas. Sobre
essa simplificação, assim se expressa Vincent-Ricard (1989, p. 135):
Descobriu-se o casual wear
10
, nascido na Califórnia, que destacava
as vantagens dos modelos simples onde se aliavam estética e
conforto, que tanto podiam ser usados em separado como em
conjunto, que se prestavam a combinações por já estarem
perfeitamente adaptados à realidade industrial da produção em série:
a mass production
11
.
Em meados do mesmo século o pret-à-pórter
12
francês impulsionaria
definitivamente a industrialização em grande escala da confecção do vestuário na
Europa e em outros países mais desenvolvidos, como o próprio E.U.A.
Hoje as técnicas de produção em larga escala estão bastante difundidas e em
muitos casos, somadas ao constante desenvolvimento tecnológico, facilitam ou
mesmo dispensam os trabalhos humanos anteriormente desenvolvidos pelos
alfaiates.
10
Termo inglês que significa: estilo casual.
11
Expressão americana, que viria a se tornar universal, que significa produção em massa.
12
Termo francês que significa: pronto para vestir. São peças do vestuário adquiridas em lojas com
diversos tamanhos, ou seja numerações, em que basta o usuário escolher o modelo e o tamanho
já estará a ele adequado.
16
No Brasil, apesar do atraso, essa “evolução” também é notada, conforme
descreve a ABRAVEST (2003):
O parque industrial brasileiro totaliza hoje cerca de 875.000
máquinas, tendo sido descartadas nos últimos três anos 165.000
unidades e adquiridas outras 232.000. Na realidade, o descarte de
máquinas não significa obrigatoriamente a sua inutilização. A grande
maioria destes equipamentos acaba sendo revendida ao mercado
informal.
As máquinas novas adquiridas são, em sua grande maioria, dotadas
de acessórios auxiliares que incrementam a produtividade como
cortadores de linha, motores de passo com velocidades e pontadas
programáveis, posicionamento da agulha, arremate automático,
refiladores etc., considerados equipamentos de 2ª geração. As de 3ª
geração, em que as peças são carregadas em bastidores e todo o
processo de costura é executado automaticamente, estão também
sendo introduzidas, porém em menor número, devido ao elevado
custo comparado e as características específicas desses
equipamentos, voltados para volumes de produção mais elevados.
A introdução das máquinas avançadas, que incorporaram as técnicas do
alfaiate, também transformaram esse profissional em simples “abastecedor” de
máquina, enquanto que antes era o seu conhecimento que fazia a diferença entre os
processos de produção existentes, materializando o que Marx já havia ponderado:
Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da
ferramenta; na fábrica, serve à máquina. Naqueles, procede dele o
movimento do instrumental de trabalho; nesta tem de acompanhar o
movimento do instrumental. Na manufatura, os trabalhadores são
membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, eles se tornam
complementos vivos de um mecanismo morto que existe
independente deles (MARX, 1994, p. 483).
Como reflexo dessa situação, tem-se constatado a perda de especialização
por parte de alguns profissionais do ramo têxtil, principalmente nos países de capital
avançado, sendo mais procuradas para contratação pessoas com maior
escolarização, em detrimento da habilidade técnica, tornando o costureiro, ou o
antigo alfaiate, peça obsoleta no processo produtivo.
Entretanto, no Brasil, as dificuldades econômicas impossibilitam aos
empresários arcar com o alto custo de aquisição de equipamentos de terceira
geração, desacelerando assim esta transformação, havendo ainda espaço para o
costureiro tradicional.
17
1.3 A QUESTÃO DA ESCOLARIZAÇÃO E DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
“A escola não é uma ilha, mas faz parte do mundo, e nesse sentido
reflete as disparidades e as lutas sociais. Ignorar esse fato é permitir
que a escola permaneça a serviço do ‘status quo’, deixando de se
tornar um possível instrumento de formação.
Aranha
Mesmo só adquirindo caráter profissionalizante a partir da Idade Média, a
educação voltada ao trabalho existe desde os primórdios da existência humana.
Entre os povos primitivos, as crianças iniciam seu aprendizado desde cedo imitando
as ações de produção dos adultos, ou seja, os meninos, ao brincarem, imitam os
adultos nas ações de caça, pesca, pastoreio etc.; as meninas aprendem a preparar
os alimentos, “vestimentas” etc. Inicialmente a imitação é realizada como brincadeira
infantil, porém, em uma segunda etapa, com a criança em fase de adolescência,
essa imitação já tem um caráter mais educativo, pois é executada sob a orientação
de um adulto. De acordo com Pilleti (1997, p. 13) “essa etapa tem início quando se
começa a exigir trabalho da criança”. É importante salientar que, nas sociedades
tidas como “primitivas”, desde cedo, o jovem aprende que o resultado do seu
“trabalho” tem caráter social e sempre será compartilhado entre os demais membros
de sua comunidade, pois
a organização social das tribos se baseia em uma estrutura que
mantém homogêneas as relações, sem a dominação de um ou outro
segmento. Mesmo que a divisão de tarefas leve as pessoas a
exercerem funções diferentes, o trabalho e o seu produto são
sempre coletivos. (ARANHA, 1996, p. 27).
Nesse período, o processo de educação do jovem não ocorria apenas por
imitação do adulto. Entre os povos primitivos também existiam cerimônias de
iniciação com durações variadas de caráter educativo. Nessas cerimônias os jovens
aprendiam valores morais, sociais, políticos e religiosos, todos com foco na sua
adaptação à convivência com a sociedade onde viviam. Mais que isso, muitos
desses rituais expunham o jovem ao sofrimento e a dor, marcando-o fisicamente,
fazendo-os “entender de forma subjetiva” que eram “pertencentes” a sua
comunidade.
Todos os processos educacionais visavam preparar o indivíduo a ser útil. De
acordo com Aranha (1996, p. 28) nas sociedades tribais “a formação é integral –
18
abrange todo o saber da tribo – e universal, porque todos podem ter acesso ao
saber e ao fazer apropriados pela comunidade”.
Na medida em que as tribos se tornam sedentárias, desenvolvendo melhores
técnicas de agricultura e pastoreio, as relações entre os homens também se
modificam tornando-se mais complexas. Surgem as primeiras cidades e a produção
excedente provoca o surgimento do processo comercial com a troca de produtos,
anteriormente ao aparecimento da moeda. Ainda de acordo com Aranha:
as principais mudanças são: na organização social homogênea, na
qual antes havia indivisão, surgem hierarquias por causa de
privilégios de classes; aparecem formas de servidão e escravismo;
as terras de uso comum passam a ser administradas pelo Estado,
instituição criada para legitimar o novo regime de propriedade (...)
Finalmente o saber, antes aberto a todos, torna-se patrimônio e
privilégio da classe dominante. Nesse momento surge a necessidade
da escola para que apenas alguns iniciados tenham acesso ao
conhecimento. (1996, p. 28).
Na Grécia antiga, considerada o berço das sociedades civilizadas, a
educação toma um caráter ainda mais individualista. “Como resultado dessa
característica da educação grega surgiu um novo conceito de educação que ainda
hoje é denominada ‘liberal’”. A chamada educação do homem livre, tinha como
objetivo “o habilitar a tirar proveito da sua liberdade” (PILETTI, 1997, p. 27) e ainda
visava à preparação para a cidadania e, basicamente, ao desenvolvimento
intelectual da personalidade. Porém, essa educação era voltada aos poucos
cidadãos livres da Grécia, já que a grande maioria da população grega era composta
de escravos, a quem eram destinadas as maiores ações produtivas. “Em todas as
atividades artesanais o braço escravo ‘liberta’ o cidadão para se dedicar às funções
teóricas, políticas e de lazer, consideradas mais dignas” (ARANHA, 1996, p. 40), ou
seja, uma educação voltada para poucos.
O único traço de uma educação profissional na Grécia antiga, está na
educação espartana, que era voltada ao aprendizado militar, já que novas
conquistas e a preservação territorial dependiam do poderio militar grego. É
importante salientar que o soldado grego gozava de grandes privilégios sociais.
A semelhança, ou herança grega, com os dias atuais, está presente na
questão onde a educação de melhor qualidade, seja ela de caráter propedêutico ou
19
profissional de melhor nível, está voltado às classes economicamente privilegiadas,
que sempre compõem a minoria da sociedade.
A Antigüidade também é marcada pelo Império Romano e foi nos primórdios
da história daquela sociedade, no período denominado
Realeza compreendido entre 753 a 509 a.C., que surge o comércio e
Roma começa a se transformar em urbs, ‘cidade’ e a posse comum
da terra é substituída pela propriedade privada, surgindo então a
divisão de classes. (ARANHA, 1996, p. 59).
Essa divisão de classes somada à introdução do escravismo, caracterizará,
assim como na Grécia, a estrutura social romana na República (509 a 27 a.C.) e no
Império (27 a.C. a 476 d.C.).
Na época da Realeza, a educação era de caráter essencialmente prático, ou
seja, tinha foco mais voltado ao aprendizado do trabalho ou tarefas diárias sendo
incumbência da própria família, mais especificamente dos pais. O jovem aprendia
fazendo, na maioria das vezes por imitação. De acordo com Aranha é a educação
heróico-patrícia, onde a criança fica sob os cuidados da mãe até os sete anos, a
partir daí as meninas continuam no lar para aprender os afazeres domésticos e o
menino passa a acompanhar o pai
às festas e aos acontecimentos mais importantes, ouve o relato das
histórias dos heróis e dos antepassados, decora a Lei das Doze
Tábuas, assim desenvolvendo a sua consciência histórica e o
patriotismo
.
Por viver em uma sociedade agrícola, o menino aprende a cuidar da
terra, trabalho que de início coloca lado a lado o senhor e o escravo.
Aprende também a ler escrever e contar, torna-se hábil no manejo
das armas, na natação, na luta e na equitação. (ARANHA, 1996, p.
64-5).
Posteriormente, no período republicano (509 a 27 a.C.), a sociedade maior,
cosmopolitana, já tendo, definitivamente, como base o comércio e o enriquecimento
de algumas camadas de plebeus, exige que a educação sofra modificações em seus
métodos. “A partir do século IV a.C., são criadas as escolas elementares
particulares, que se disseminam no século seguinte.” (ARANHA, 1996, p. 65). É
nesse período que os romanos conquistam a Grécia, e acabam por sofrer forte
influência daquela cultura, principalmente na educação.
20
São desse período as escolas dos gramáticos, em que os jovens de
12 aos 16 anos entram em contato com os clássicos gregos,
ampliando seus conhecimentos literários, ao mesmo tempo que
estudam as chamadas “disciplinas reais”, como geografia, aritmética,
geometria e astronomia. Iniciam-se na arte de bem escrever e bem
falar. (ARANHA, 1996, p. 65).
No mesmo período, no decorrer do séc. I a.C., surgem as escolas superiores
que eram
freqüentadas por jovens da elite, que se destacarão na vida pública e
que por isso devem se preparar para as assembléias e tribunais.
Estudam política, direito e filosofia, sem esquecer as disciplinas
reais, próprias de um saber enciclopédico. Acrescenta-se uma
viagem de estudos à Grécia. (ARANHA, 1996, p. 65).
No período do império, a educação se torna mais organizada e complexa,
sofrendo a intervenção do Estado, já que este, em sua organização burocrática,
depende de funcionários com uma justa formação. Surgem cursos
profissionalizantes como o de estenógrafo, pois
esse recurso era exigido cada vez mais dos notários – hoje
conhecidos como tabeliães –, mas que inicialmente eram apenas
secretários incumbidos de fazer anotações, ao acompanhar os
magistrados e altos funcionários. (ARANHA, 1996, p. 66).
Ainda de acordo com Aranha, outras cátedras irão surgir nesse período da
história romana como a de Medicina, Mecânica, Matemática e sobretudo a de
Direito, sempre levadas às classes dominantes, assim “do ponto de vista da
educação efetivamente dada, por se tratar de uma sociedade escravista que
desvaloriza o trabalho manual, continua sendo privilegiada a formação intelectual da
elite dominante
. (ARANHA, 1996, p. 67).
A Idade Média é um longo período da História, de quase mil anos,
compreendido entre os séculos V (476 d.C.) e XV (1453 d.C.). O seu início é
marcado pelo fim do Império Romano no Ocidente e pela introdução do sistema
feudal que não utiliza o escravo e onde os trabalhadores são os vassalos e servos.
Num primeiro momento desse período, ocorre o esvaziamento das cidades com o
retorno do homem ao campo em função da auto-suficiência agrícola e também
artesanal dos feudos.
21
No mundo feudal, a condição social dos homens é determinada pela
sua relação com a terra e por isso os que são proprietários (nobreza
e clero) têm poder e liberdade. No outro extremo se encontram
servos da gleba, os despossuídos, impossibilitados de abandonar as
terras do seu senhor, a quem são obrigados a prestar serviços.
(ARANHA, 1996, p. 70)
A educação é função da Igreja Católica, que deteve a maior parte do
conhecimento das sociedades greco-romanas, e imprimiu a ela sua doutrina, que
substitui o caráter prático e individualista da antigüidade, passando a valorizar o
desenvolvimento moral e espiritual do homem.
Os mosteiros eram praticamente as únicas instituições de ensino da
época. Eram os únicos centros de pesquisa, as únicas casas
editoriais para a multiplicação dos livros, as únicas bibliotecas para a
conservação do saber, enfim, os mosteiros preparam os únicos
sábios e estudiosos da Época. (PILETTI, 1997, p. 54).
A base educacional propedêutica estava fundamentada nas chamadas “sete
artes liberais”, uma herança romana conservada pelos monges da igreja católica,
composta pelo trivium formada pelas disciplinas de Gramática, Dialética e Retórica e
pelo quadrivium formado por Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Juntos
formavam o septivium, ou sejam, as sete artes liberais.
Num segundo momento da Idade Média, com o desenvolvimento do
comércio, as cidades retomam o seu crescimento, estimulando o interesse pelo
ensino. O crescimento populacional e o aumento da demanda pelos produtos
artesanais favorecem o aumento do comércio, os artesãos desenvolvem melhores
técnicas e, com o objetivo de aumentar a produção e os lucros, além de se
protegerem do explorador comerciante, se organizam em pequenos grupos de
especialistas, criando as chamadas Corporações de Artesãos ou Ofícios. São
corporações de “alfaiates”, “tecelões”, ferreiros, boticários, sapateiros, marceneiros,
pedreiros etc.
Essas organizações se tornam mais fortes e
nada, porém, pode ser produzido sem a regulamentação das
corporações de ofícios (ou grêmios). Na cidade, cada profissão
determina o material a ser usado, o processo de fabricação, o preço
do produto, o horário de trabalho e as condições de aprendizagem.
(ARANHA, 1996, p. 78).
22
Portanto, será no interior das oficinas dessas mesmas Corporações, que
surgirá a primeira forma de educação profissional técnico-produtiva. Porém, assim
como na Antigüidade, essa educação ocorria de forma prática, ou seja, o aprendiz
aprendia fazendo. De acordo com Manacorda (2004, p. 162) “Aqui não há separação
entre o trabalhar e o aprender; uma coisa é também a outra. (...) Não é uma escola
do trabalho, pois o próprio trabalho é a escola”. O jovem aprendia o ofício até o
momento em que passava pelas “provas finais, pelas quais, mediante a execução de
uma ‘obra prima’, o aprendiz era recebido entre os mestres e podia, portanto,
exercer seu ofício como autônomo”.
Assim, os aprendizes vivem na casa dos mestres artesãos até estarem
prontos a prestarem esse teste final que os habilitará ao nível de oficial artesão. A
partir desse momento, poderão trabalhar por conta própria recebendo honorários, ou
continua trabalhando com o antigo mestre, agora como um “companheiro”. Porém
ser aprendiz era uma situação tão privilegiada que, de acordo com Aranha (1996, p.
78), as corporações “com o passar do tempo, cobram taxas tão altas, que só os
filhos dos mestres têm acesso às provas de ofício, delas ficando excluídos os mais
pobres”.
De acordo com Manacorda (2004, p. 270), num segundo momento, já na
Idade Moderna, surgirá dentro dessas mesmas oficinas a divisão técnica do
trabalho, ou sejam, as primeiras manufaturas. Cada artesão executará poucas
partes do trabalho de montagem do produto, não mais executando o trabalho
integralmente, o que também facilitará a sistematização do aprendizado profissional.
Essa ainda é uma prática comum nos dias atuais no Brasil, pois a grande maioria
dos trabalhadores da confecção do vestuário, em especial nas pequenas indústrias,
ainda aprende na prática o seu ofício. Porém, de maneira parcelizada, conforme
ficou constatado nas entrevistas por nós realizadas junto aos empresários do setor.
O crescimento das cidades e do comércio inicia o processo de mudanças
políticas e educacionais ainda na Idade Média. Os burgueses que no início dessa
época
freqüentavam as escolas monacais e catedrais, passaram a buscar
uma educação que atendesse a vida prática e por volta do século XII
surgem pequenas escolas nas cidades mais importantes, com
professores leigos nomeados pela autoridade municipal. (ARANHA,
1996, p. 77).
23
Ao final da Idade Média, no século XV, com as sociedades mais complexas e
o crescimento da burguesia, surgem as primeiras universidades européias e os 4
primeiros cursos são os de Teologia, Direito, Medicina e Filosofia.
No Renascimento, período compreendido do século XV ao XVI, foi observada
a retomada dos valores humanistas e liberais greco-romanos em contra posição aos
valores teológicos da Idade Média. O interesse pela educação se expande e apesar
das metodologias educacionais da Idade Média persistirem, surge a preocupação
com uma didática participativa com maior integração entre professores e aprendizes.
A vida nas cidades e a expansão comercial favorecem o crescimento
populacional pelo aumento de oportunidades e novos trabalhos. É nesse período
que ocorre a divisão dos alunos em classes por faixas etárias, surgindo também os
colégios, pois
enquanto os homens muito ricos ou da alta nobreza continuam a ser
educados por preceptores em seus próprios castelos, a pequena
nobreza e a burguesia querem educar seus filhos e os encaminham
para a escola, na esperança de melhor prepará-los para a liderança
e a administração da política e dos negócios. (ARANHA, 1996, p.
90).
Apesar disso as já comentadas universidades criadas na Idade Média estão
em decadência, justamente por se tornarem arcaicas para o momento e
na tentativa de reestruturação, iniciada um pouco antes pela
Universidade de Paris, em 1452 a Faculdade de Artes, propedêutica
às outras três (filosofia, medicina e leis), se torna a semente do curso
colegial, o que proporciona a separação mais nítida dos graus
secundários e superior. (ARANHA, 1996, p. 90).
A Igreja ainda dominava o ensino e apesar da Reforma Protestante, iniciada
no século XVI, a educação evolui pouco nesse período histórico. Os ofícios
profissionais artesanais continuam sendo incumbência das Corporações e o
capitalismo toma mais força fortalecendo a classe burguesa, conferindo-lhe maior
poder político.
A Idade Moderna, período iniciado no século XV, é marcada pela Reforma
Protestante, enfraquecimento político da Igreja Católica, maior ascensão política e
econômica da classe burguesa, expansão do comércio e do capitalismo, apoiados
no desenvolvimento da ciência e, também, pelo surgimento da imprensa. Esses
24
grandes fenômenos sócio-econômicos provocarão mais transformações na
educação, apesar da forte resistência da Igreja, especificamente dos jesuítas. A
“Companhia de Jesus”, ou sejam os jesuítas, ordem religiosa fundada por Inácio de
Loyola (1491-1556) em 1534, foi a principal responsável pela educação promovida
nos séculos XVI e XVII na Europa, inclusive no Brasil, até então colônia de Portugal.
Seguindo o ideal educacional protestante de Martinho Lutero (1483-1546) da
escola primária para todos, algumas cidades alemãs tornam esse ensino obrigatório.
De acordo com Piletti:
em 1619 estabeleceu-se a freqüência obrigatória, dos seis aos doze
anos, no Estado de Weimar. No Estado de Ghota a freqüência
obrigatória era a partir dos cinco anos. (...) Os pais cujos filhos não
freqüentassem a escola eram multados. (1997, p. 76).
Porém, tanto na educação oferecida pelos jesuítas quanto na protestante só
prosseguiam os estudos aqueles que tinham condição financeira privilegiada ou,
ainda, aqueles pertencentes às classes subalternas, porém, vocacionados à carreira
sacerdotal.
Na Idade Moderna, a filosofia da educação passou a ser orientada pelo
liberalismo e pelo método indutivo, de Francis Bacon (1561-1626), que pode ser
resumido na busca sistemática e científica na investigação da verdade e das novas
descobertas, que dão origem ao “realismo científico”. “O método indutivo tornou-se a
mola mestra da ciência moderna” (PILETTI, 1997, p. 78).
A implementação de novas descobertas científicas aos processos das já
comentadas manufaturas, permitiu o desenvolvimento de máquinas e ferramentas
que propiciaram o aparecimento das primeiras fábricas. Porém, só os maiores
artesãos e outros capitalistas tiveram acesso a essas novas possibilidades, em
função dos investimentos tanto nos inventores que as desenvolveram quanto na
própria aquisição das mesmas. Esse processo dificultará o pequeno artesão,
compelindo-o para o interior dessas novas fábricas, agora na categoria de
empregado subalterno ao capitalista investidor.
O crescimento das manufaturas provoca alterações nas formas de
trabalho. Os artesãos de produção doméstica começam a perder
para os capitalistas seus instrumentos de trabalho e, reunidos nos
galpões onde nascem as futuras fábricas, passam a receber salários.
(ARANHA, 1996, p. 104).
25
O crescente emprego da ciência aos modos de produção provocaria no
século XVIII a Revolução Industrial, com a implementação da máquina a vapor aos
processos fabris, aumentando significativamente a quantidade de produtos
fabricados e os lucros do capitalista industrial. Fato que marcou o avanço da
industrialização da confecção do vestuário, foi a, já comentada, invenção da
máquina de costura no ano de 1790 por Thomas Saint. Como qualquer invento da
época era de difícil acesso e também caro para o pequeno artesão, só os maiores
puderam adquirir essa nova máquina. As primeiras fábricas européias eram, como
algumas ainda são nos dias atuais, compostas por algumas máquinas de costura e o
artesão alfaiate só podia manusear e aprender a utilizá-la na condição de
empregado. Fato esse também muito comum nos dias atuais, principalmente,
quando o aprendizado do trabalho requer os equipamentos mais sofisticados e mais
caros, que o trabalhador dificilmente terá condição financeira para adquiri-los.
A emergência do sistema fabril revoluciona completamente as
estruturas de produção que permaneciam na sua retaguarda: a
manufatura se transforma constantemente em fábrica, o artesanato
em manufatura e, finalmente, os resquícios do artesanato e do
trabalho doméstico transformam-se, rapidamente, em antros de
miséria onde campeia livremente a exploração capitalista. (ARRUDA,
1988, p. 67).
A explosão demográfica é uma outra importante característica do período da
Revolução Industrial e o trabalhador, agora assalariado, para garantir seu emprego e
sustento, face ao imenso exército de mão-de-obra de reserva, precisará trabalhar
em jornadas com mais de 14 horas. Por outro lado, o crescimento da indústria é tão
acelerado, que o capitalista acaba por utilizar também a mão-de-obra de pessoas
em suas próprias casas, “a indústria a domicílio converteu-se numa espécie de
seção externa da fábrica” (ARRUDA, 1988, p. 67). Esse é, ainda, um fato comum
nos dias atuais, ou seja, as costureiras domésticas a quem o setor atribuiu o nome
de “Facções de Produção”, que dentre outros motivos, são utilizadas pelos
capitalistas para minimizar os encargos trabalhistas e obterem maior produção e
extração de mais-valia, a partir da baixa remuneração do trabalho executado e
considerável aumento na jornada de trabalho dessas “operárias externas”.
Sobre esse mesmo fenômeno comum na indústria da confecção, Marx já
apontava que
26
além dos trabalhadores fabris, de manufatura e dos artesãos, que
concentra grande número num mesmo local e comanda diretamente,
o capital põe em movimento, por meio de fios invisíveis, um grande
exército de trabalhadores a domicílio, espalhados nas grandes
cidades e pelo interior do país. É o caso da camisaria dos Tillie em
Londonderry, Irlanda, que na fábrica emprega 1.000 trabalhadores e,
espalhados pelo campo, 9.000 trabalhadores a domicílio. (MARX,
1994, p. 529).
É no período da Revolução Industrial, já no século XIX, que surgirão as
escolas técnicas. Manacorda (2004, p. 288) descreve que “desde 1823 começaram
a ser criados institutos de mecânica para instruir os operários nos princípios
científicos da matemática e das manufaturas”. O objetivo dessa educação de foco
profissional tinha como preocupação a melhor qualificação do trabalhador, para que
este propiciasse ao capital melhores resultados em seus trabalhos nas fábricas.
Esse ideal irá favorecer o aparecimento de escolas técnico-profissionais por toda a
Europa,
enquanto vai desaparecendo o tradicional aprendizado da oficina
artesanal, controlado pelas corporações de artes e ofícios, a
instituição escola vai atingindo todas as classes produtoras,
recebendo novos conteúdos científicos e técnicos. Com base nesses
conteúdos renova-se também a universidade, na qual as ciências
matemáticas e naturais acabam separando-se definitivamente da
velha matriz das artes liberais, onde se situaram durante milênios
como philosophia naturalis ou phisica, e constituindo-se como um
corpo ou faculdade em si, destinado a tornar-se cada vez mais
complexo. O renascimento da universidade, do qual a história da
universidade alemã, reformada por Humboldt (1769-1859), é um
exemplo típico, consiste no fim do seu caráter abstrato e
universalístico e na assunção de todo um conjunto diferenciado de
especializações. (MANACORDA, 2004, p. 288).
É interessante ressaltar que as escolas técnico-profissionais tinham como
públicos os operários e seus filhos e as comentadas universidades tinham como
público principal a alta burguesia, situação que, até certo ponto, perdura até os dias
de hoje no Brasil.
27
1.4 O PROCESSO DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA CONFECÇÃO NO BRASIL E
NO PARANÁ
“A presença do alfaiate é, então, notável, na Colônia. A ele é
possível atribuir marcante participação na estética dos tempos.”
Bardi
Apesar da dificuldade encontrada para a elaboração de uma melhor descrição
da história do setor têxtil, particularmente o da indústria do vestuário, apresentou
certa dificuldade, principalmente pelo pequeno número de publicações relacionadas
a ele, dada a relevância dessas informações e a necessidade de contextualização,
buscou-se deixar registrado pelo menos os aspectos considerados fundamentais
para a caracterização da profissionalização deste segmento produtivo no Brasil.
De início é interessante pontuar alguns dos fatores que retardam o processo
de industrialização e conseqüentemente o ensino profissional no país. Inicialmente
o ensino rudimentar e caseiro dos ofícios, ministrado apenas aos
escravos e índios durante três séculos e meio, tornou esse tipo de
atividade aviltante aos olhos dos brancos. As conseqüências
negativas dessa imagem se fazem sentir até os dias de hoje, tanto na
baixa produtividade da mão-de-obra como na degradação do
trabalho manual entendido como inferior pela elite burguesa.
(RUBEGA E PACHECO, 2000, p. 153).
E, assim como na Grécia antiga, ainda de acordo com Rubega e Pacheco
(2000, p. 153), “o fato de, entre nós, terem sido índios e escravos os primeiros
aprendizes de ofício marcou com o estigma da servidão o início do ensino
profissional no Brasil”. Outro fator que prejudicou o crescimento industrial brasileiro,
foi o já comentado alvará expedido por D. Maria I, só tendo sido revogado 23 anos
depois, em 1808, por D. João VI. Um ano mais tarde, no sentido de fomentar o
aprendizado industrial, o mesmo rei, cria por decreto o “Colégio das Fábricas
13
”.
Porém, a formação profissional dos alfaiates no Brasil Colônia ocorreu de
forma semelhante a das Corporações de Ofícios européias, que dividia a classe
profissional em três estágios: mestre, oficial e aprendiz, incluindo contudo, algumas
particularidades brasileiras. Os primeiros mestres ou oficiais alfaiates foram oriundos
13
O Colégio das Fábricas foi uma escola profissional instalada no Rio de Janeiro no ano de 1809,
tendo sido a primeira intervenção governamental em direção à formação profissional logo após a
suspensão da proibição do funcionamento de indústrias manufatureiras no Brasil.
28
de Portugal e tinham por aqui certas regalias, assim como na Europa. De acordo
com Bardi (1981, p. 18), os oficiais vindos de Portugal ou por estes aqui formados,
constituíam uma classe, se não com privilégios, pelo menos com alguma
consideração.
Para obter reconhecimento profissional, ou seja, a habilitação para exercer a
sua profissão, era necessário o licenciamento do oficial para o trabalho, emitido
pelas autoridades coloniais. Ainda de acordo com Bardi (1981, p. 20):
Os oficiais eram aqueles matriculados pelas autoridades, os que
para tanto recebiam autorização, excluindo-se os escravos. (...) Para
obter matrícula o aspirante antes devia submeter-se a um exame de
seleção, os ‘ossos’ e demonstrar ‘ter dedo’ e, forte na prova
carimbada pela câmara, prestar juramento invocando os Santos
Evangelhos, comprometendo-se por outro lado a trabalhar ‘bem e
direitamente’, a ‘serviço de Deus e de Sua Majestade’.
A caminhada para o aperfeiçoamento não parava por aí. Para que o então
oficial pudesse transmitir a sua profissão para outros, e pudesse ter a sua própria
corporação, era necessário trilhar um caminho mais longo. “Assim, o oficial
industriava-se com sagacidade no progredir, aspirando chegar a quase mestre para
depois passar a mestre, autorizado a ter uma tenda” (BARDI, 1981, p. 20). Só assim,
conseguiam montar sua própria corporação ou organização de trabalhos
profissionais.
De acordo com Bardi (1981, p. 23), no Brasil Imperial, na Província de São
Paulo, no ano de 1827, existiam cadastrados 159 mestres alfaiates, 195 oficiais e
182 aprendizes, perfazendo um total de 536 profissionais. Número razoável para as
necessidades de vestimenta da sociedade da época, já que os mais pobres
consumiam pouco, utilizavam roupas usadas, além de confeccionar
rudimentarmente parte de suas vestimentas. Para Bardi (1981, p. 126) a elegância
do popular ainda não tinha despontado. “Vestiam-se eles de algodão, de pano de
serviço, burel e pelotis pardos e azuis. Raramente eram vistos jibões de cetim e
roupetas de gorgurão”.
Já no Século XX, a evolução dos processos de industrialização da confecção
do vestuário e do seu design industrial acabam por criar a necessidade de uma
diversidade de tipos de operações e acabamentos, que são realizados por diferentes
tipos de máquinas e outros equipamentos necessários ao processo de produção.
29
Para que a mesma indústria possa produzir com eficiência, trabalhadores com
diversas especializações também se tornam necessários e novas profissões acabam
surgindo, sendo que várias delas resistem até os dias atuais, tais como riscadores,
cortadores, arrematadores, bordadores, passadores etc. Considerando-se apenas
atividades ligadas à produção na indústria do vestuário, foram selecionadas da
CBO
14
, as ocupações relativas a este setor (Apêndice 1). O resultado da seleção
apresenta alguns grupos, subgrupos famílias de ocupações, de onde se pode inferir
sobre a necessidade de formação de profissionais com diferentes conhecimentos e
habilidades.
No Brasil, mesmo existindo escolas ligadas ao setor da confecção do
vestuário, boa parte das técnicas profissionais ainda é transmitida no próprio local de
trabalho, de profissional para profissional, ou mesmo de profissional para aprendiz.
Algumas empresas optam por desenvolver seu próprio sistema de transmissão de
conhecimentos, como mostrou a pesquisa do Centro de Integração de Tecnologia do
Paraná - CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995). Essa prática é também decorrente da
escassez de cursos de formação profissional destinados especificamente à indústria
da confecção.
Entre as poucas escolas que se dedicam à formação profissional para o setor
da confecção, o Senai é o maior representante e, às vezes, o único responsável por
algumas qualificações profissionais específicas, como por exemplo a de riscador de
roupas (vide classificação 7631-20 da CBO, Apêndice 1, p. 130). Dessa constatação
resulta a seguinte questão: “Até que ponto a mencionada falta de escolas
profissionais e a baixa oferta do próprio Senai podem se constituir como fator
limitante do desenvolvimento do setor, principalmente para as pequenas indústrias?”
e uma outra: “Até que ponto, essa mesma falta de escolas dificulta a ascensão
profissional dos profissionais de nível básico que buscam melhores horizontes de
crescimento profissional e, por conseqüência, melhores salários?”.
Considerando aspectos regionais, diferente de Estados como São Paulo, Rio
de Janeiro, Minas-Gerais e outros, que iniciaram o processo de industrialização com
14
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) é o documento, do Ministério do Trabalho e
Emprego,
que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do
mercado de trabalho brasileiro. Sua última atualização e modernização, em 2002, se deve às profundas
mudanças ocorridas no cenário cultural, econômico e social do País nos últimos anos, implicando
alterações estruturais no mercado de trabalho.
30
as tecelagens, facilitando a implantação de diversas indústrias de confecção do
vestuário, o Paraná é um Estado sem tradição no segmento têxtil.
Até os anos 70, as cidades paranaenses cresceram e prosperaram graças a
sua agricultura e à produção industrial das serrarias, olarias, farinheiras, engenhos
de mate, mas, principalmente, à cultura, industrialização e comercialização do café,
que por fatores climáticos e econômicos, entrou em decadência. Diante deste
quadro, o Estado buscou outras alternativas de desenvolvimento econômico, entre
elas a industrialização. Indústrias dos setores metal-mecânico, eletro-eletrônico,
automotivo e de outros setores foram implantadas em todo o Estado, principalmente
em Curitiba, sendo que em algumas regiões a opção maior foi pela indústria do
vestuário, como é o caso das cidades de Cianorte e Maringá.
1.4.1 A primeira escola oficial do Paraná
A primeira escola de formação profissional de maior abrangência, ou de
reconhecimento público no Paraná, foi a Escola de Aprendizes Artífices, inaugurada
em 1910. Iniciou suas atividades com 45 alunos, distribuídos nas oficinas de alfaiate,
marceneiro e sapateiro. No mesmo ano foram ainda criadas as oficinas de
serralheiro mecânico e seleiro tapeceiro. Dentre elas, a oficina de Alfaiates ocupava
o maior espaço físico da escola (65 m
2
). As verbas para instalação, extremamente
limitadas, foram fornecidas pelo Governo Federal e distribuídas entre as oficinas,
limitando a aquisição de equipamentos que proporcionassem um melhor
aprendizado técnico. Desta forma, as oficinas tornaram-se essencialmente
artesanais.
Segundo dados apresentados por Queluz (2000, p. 50), desde a inauguração
da Escola, até o ano de 1930, 1.176 alunos foram matriculados na Oficina de
Alfaiate. Estes pertenciam à camada mais pobre da população, situação prevista e
estabelecida no Decreto 7.566 como critério de ingresso de alunos para todas as
oficinas. Diversas dificuldades, decorrentes na maioria das vezes das condições
financeiras dos alunos, resultaram em um grande número de desistências. Aliado a
este fator, e mesmo decorrente deste, era a procura e absorção dos aprendizes pelo
mercado, nos primeiros anos de curso, com o objetivo de adquirir mão de obra
barata e razoavelmente qualificada” (QUELUZ, 2000, p. 55). Dados de 1910 a 1922
31
retratam que do total dos 3.529 alunos matriculados nas diferentes oficinas, apenas
25 (0,7%) concluíram os cursos (aulas e oficina).
De acordo com Queluz (2000, p. 151), o período compreendido entre os anos
de 1910 a 1930 foi “marcado pelas reformas e pelo desejo de regeneração em
diversos setores sociais e econômicos”, dentre os quais se destacava a valorização
do ser humano e
na procura deste homem novo, uniram-se, com diferentes
estratégias, industrias e engenheiros em defesa da racionalização do
trabalho; higienistas, sanitaristas e eugenistas, na busca da profilaxia
social e aperfeiçoamento da raça; educadores em busca da escola
nova. Procurava-se ‘consolidar’ a república através da moralização
das classes proletárias. (QUELUZ, 2000, p. 151).
Que podem ser entendidos como fatores que determinavam o teor da
legislação relativa ao aprendizado profissional.
Para esse autor, o governo e as classes dominantes da época entendiam
como principais problemas sociais a delinqüência e a escassez de mão-de-obra
qualificada, já que as iniciantes indústrias brasileiras, até então, contavam com a
qualificação profissional dos imigrantes europeus. Naquele momento ocorria drástica
redução da imigração em função da I Guerra Mundial e os trabalhadores brasileiros,
apesar de contarem com menor qualificação que os estrangeiros, já se colocavam
contrários às condições de trabalho e salários oferecidos a eles pelas indústrias da
época, e as greves aumentavam a cada dia.
Contra a insubordinação dos trabalhadores, objetivando a
conservação da sociedade burguesa, estas elites desejavam a
criação de uma identidade operária de acordo com os padrões de
eficiência e moralidade capitalistas, em si só uma vasta empresa
causadora de moralização das classes perigosas. (QUELUZ, 2000,
p. 152).
Para a sociedade daquela época, um trabalhador mais dócil e aliado ao
empresário capitalista no propósito da produção de mercadorias era um objetivo a
ser alcançado. Nesse sentido, a educação profissional deveria adquirir importante
papel na formação e no controle do trabalhador para a manutenção da ordem social.
Segundo o então Ministro da Agricultura Indústria e Comércio, João Gonçalves
Pereira Lima (1864-1937),
32
o ensino técnico poderia ser um dos caminhos possíveis para a
solução do problema operário (...) portanto, a formação do
trabalhador nacional, dentro de uma escola profissional, desde mais
tenra idade possibilitaria as condições para o desenvolvimento
econômico nacional. (QUELUZ, 2000, p. 154).
Ainda segundo Queluz (2000, p. 155) esse mesmo ministro, em 1918,
proporia a criação dos patronatos agrícolas, aperfeiçoamento de estudantes no
exterior e na criação de um novo regulamento para as Escolas de Aprendizes
Artífices. O objetivo do novo regulamento das escolas era a melhoria do ensino
técnico profissional, contudo, um outro era a formação de menores aprendizes e a
idade de admissão na referida escola baixou de 12 para 10 anos de idade. Medidas
que tinham como princípio a redução da delinqüência juvenil.
Dois anos mais tarde o novo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio,
Ildefonso Simões Lopes (1866-1943), criou a Comissão de Remodelação do Ensino
Profissional Técnico, que objetivaria direcionar mais o ensino técnico à formação de
um operário mais eficiente, deixando de lado a “ênfase na salvação dos menores
abandonados e delinqüentes” (QUELUZ, 2000, p. 158).
As medidas adotadas colaboraram apenas razoavelmente, mas não
eficazmente, na redução da já mencionada, alta taxa de evasão e nos índices de
freqüência de alunos das Escolas de Aprendizes Artífices
15
.
Anos mais tarde, a Constituição de 1937 obrigava as indústrias e os
sindicatos patronais criarem, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes
destinadas a filhos de seus operários ou seus associados.
A “lei” orgânica distinguia, com nitidez, as escolas de aprendizagem
das escolas industriais. Estas eram destinadas aos menores que não
trabalhavam, ao passo que as outras, pela própria definição de
aprendiz, aos que estavam empregados. (CUNHA, 2000, p. 37).
Neste mesmo ano, a Escola de Aprendizes Artífices do Paraná passou a
ministrar o ensino de 1º grau, em consonância com a realidade da época, sendo
então denominada de Liceu Industrial de Curitiba, ainda especializando mão-de-obra
para diferentes ofícios, entre eles o de alfaiate.
15
Ver Queluz (2000, p.182).
33
Em 1942, com a Reforma Capanema, o ensino profissional brasileiro teve
alterada a sua organização, passando a ser ministrado em dois ciclos: no primeiro
incluía-se o industrial, o de mestria, o artesanal e a aprendizagem, e no segundo o
técnico e o pedagógico. A mesma Reforma criou também, e nesse mesmo ano, o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, instituição que ocupa uma
posição central na formação e qualificação dos profissionais da indústria têxtil da
confecção do vestuário.
Decorrente da Reforma, o Liceu Industrial de Curitiba, em consonância com a
evolução do ensino técnico no país, teve seus conteúdos reestruturados, incluindo e
excluindo cursos conforme a necessidade do Estado e do País. Dentre os excluídos
estava o curso de alfaiates, que a partir desse momento passou a ser de
responsabilidade do Senai.
1.4.2 Um pouco sobre o Senai e sua história
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial é uma entidade com mais de
60 anos, gerenciada de forma tripartite entre as federações das indústrias, governo e
sindicato dos trabalhadores, com as indústrias representando o “braço mais forte”
nessa gestão, e que desde a sua criação vem contribuindo de forma incisiva na
criação e manutenção de postos de trabalho e no avanço tecnológico das indústrias
nacionais, seja através da formação profissional, da pesquisa tecnológica ou pela
assessoria técnica que presta a essas indústrias.
O Senai foi criado no dia 22 de janeiro de 1942, por meio do Decreto-lei n.º
4.048, e de acordo com o SENAI-DN (2002, c. 2, p. 5), “sustentava suas atividades,
inicialmente, com a arrecadação de 2 mil réis mensais por empregado das empresas
filiadas à Confederação Nacional da Indústria”, a primeira forma encontrada para a
manutenção da entidade. A partir de 1944, através do Decreto-lei n.º 6.246, e até
hoje, a arrecadação passou a ser de 1% do valor total da folha de pagamento das
indústrias, recolhida compulsoriamente via Governo Federal e repassada, por este, à
entidade, recursos distribuídos pelo Departamento Nacional aos departamentos
regionais.
De acordo com Cunha (2000, p. 47), antes da criação do Senai os industriais
não desejavam a institucionalização da aprendizagem, só a
aceitando após vários anos de pressão e, possivelmente, depois de
34
uma ameaça feita pelo presidente da República, de “conceder” essa
atividade (e outros recursos dos empregadores) aos sindicatos
operários.
Para o Governo e os industriais da época, o Senai precisaria ter em sua
direção pessoas que coadunassem com suas idéias e, de acordo com Weinstein
(2000, p. 136), os três nomes indicados para os seus mais importantes postos foram:
o de João Lüderitz, para a direção nacional da entidade, por sua experiência com a
educação profissional desde o ano de 1906, quando fundou o Instituto Parobé do
Rio Grande do Sul, por ter trabalhado, na década de 1930, como consultor para o
Ministério da Educação para assuntos de formação profissional e, ainda, por ter sido
um dos três técnicos que deram assessoria à “comissão de empregadores”
responsável pelo projeto final do Senai. O segundo nome foi o de Joaquim Faria
Góes Filho, que também havia sido um dos três técnicos citados, tendo colaborado
na composição de relatórios da comissão interministerial original, que refletiam
coerentemente o ponto de vista dos industriais; sua nomeação foi para diretor do
Senai do Estado do Rio de Janeiro. O terceiro nome foi o de Roberto Mange (1885-
1955), ele fora nomeado para direção do departamento do Senai de São Paulo.
Mange recebera o cargo no Estado mais industrializado do país por várias razões
como, por exemplo, ter sido pessoa que ao lado de Roberto Simonsen (1889-1948),
presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, concebeu a
própria organização do Senai.
Lüderitz teria ficado no cargo de diretor do Departamento Nacional até o dia
25 de novembro de 1947; em seu lugar assumiria o cargo, no dia 18 de maio de
1948, Joaquim Faria Góes Filho, permanecendo até o dia 22 de novembro de 1960,
por quase treze anos.
O Senai fora criado dentro de uma necessidade extrema de
profissionalização, segundo Weinstein (2000, p. 136), “a emergência era a carência
cada vez maior de operários especializados causada pelo aumento da produção
industrial e pela redução da imigração no período da guerra”. Segundo a mesma
autora, a principal missão do Senai era a qualificação de jovens aprendizes,
contudo, a emergência fez com que inicialmente o Senai fosse obrigado a acelerar e
adaptar processos de formação “concentrando-se na rápida reciclagem ou em
programas de aperfeiçoamento de operários adultos para funções especializadas
35
(WEINSTEIN, 2000, p. 136). Um pouco mais tarde, o governo, mantendo a visão de
que para a indústria do país crescer seria necessário qualificar em curto e médio
prazos os profissionais, determinou, através do Decreto-lei n.º 9.567 de 1946, que as
indústrias fossem
obrigadas a empregar e a matricular nas escolas mantidas pelo
Senai um número de aprendizes equivalente a 5%, no mínimo, e
15% no máximo, dos operários cujos ofícios demandassem formação
profissional. (CUNHA, 2000, p. 50).
Nos primeiros anos de existência, pelos motivos já apresentados, o Senai
funcionou em caráter emergencial para qualificar e requalificar o maior número de
profissionais possível e para o seu funcionamento utilizou prédios alugados ou
mesmo emprestados, marcando a primeira fase do período 1942-48 de seu
funcionamento.
De acordo com o SENAI-DN (2000, c. 2, p. 8)
no relatório de 1948, caracterizava-se a segunda fase do período
1942-48 como aquela que teve início com a “compra de terrenos,
com o projeto de prédios definitivos, com o estudo das necessidades
industriais e com o início de muitas construções”, ou seja, com o
assentamento das bases materiais indispensáveis ao
desenvolvimento do Sistema Senai, que não mais poderia depender,
como ocorrera no princípio, de prédios alugados ou emprestados,
pouco ou nada adaptados ao formato de seus programas de ensino
profissional, especialmente no que se refere às oficinas para
aprendizes
16
.
Segundo Cunha (2000, p. 51), no ano de 1946, o Senai submeteu ao
Ministério da Educação uma lista de ofícios considerados qualificados nos diversos
ramos industriais, como o da alimentação, construção civil e mobiliário, fiação e
tecelagem, artefatos de couro, joalheria e pedras preciosas, química e farmacêutica,
gráfica, vidros e afins, metalúrgica, mecânica, de material elétrico e o de “vestuário”
que era composta pelos seguintes ofícios: sapateiro, alfaiate, bordadeira, chapeleira
e costureira. Porém, segundo o mesmo autor,
muitos desses cursos foram sendo desativados à medida que o
próprio processo de industrialização demonstrava sua obsolescência
ou a instituição sintonizava sua atuação com a grande indústria.
16
Aprendizes foram definidos como os trabalhadores menores de 18 anos e maiores de 14, sujeitos
à formação metódica do ofício em que exerciam seu trabalho. (CUNHA, 2000, p. 51).
36
Assim especialidades como ferraria, latoaria, fiação, tecelagem,
alfaiataria, costura e padaria, deixaram o catálogo de aprendizagem
do Senai, o que não impediu que fossem incluídas nos cursos para
adultos, de duração mais curta. (CUNHA, 2000, p. 60).
Ainda de acordo com Cunha (2000, p. 56), na década de 1950, o Senai
passou por grande crescimento, sob a direção de Góes Filho que, tendo como
principal aliado Roberto Mange, orientou a entidade na edificação de mais prédios
com uma concepção arquitetônica voltada para a comodidade e bem estar do aluno.
Nessa época, cada Estado da Federação contava com pelo menos uma escola e os
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, eram os que concentravam maior número.
Nos anos 60, as escolas de aprendizagem, denominação datada do
tempo da criação da instituição, passaram a ser chamadas de
centros de formação profissional
17
, o que denotou a atuação do
Senai nos cursos de qualificação para trabalhadores adultos, já não
por causa da emergência da guerra, mas, sim, pela ampliação do
número de trabalhadores incorporados à indústria sem qualificação
formal e, mais ainda, pelo crescimento relativo do contigente de
operários semiqualificados no conjunto da força de trabalho.
(CUNHA, 2000, p. 61).
Essas duas décadas, ou seja, a de 1950 e 60, representaram para o Senai o
momento de sua consolidação, pois, apesar das limitações, frente ao enorme
crescimento industrial brasileiro, acabou cumprindo bem o seu papel na capacitação
profissional. Esses foram anos que, de acordo com Cunha (2000, p. 63), o Senai
dedicou-se muito mais a treinamentos de curto prazo, priorizando a quantidade, e
não a qualidade da aprendizagem industrial de fato, que, de acordo com ele, seria a
atividade justificadora da entidade. Treinamentos de adestramento eram facilitados
pelo sistema fordista, ou produção estandardizada, em face da parcelização do
trabalho existente em uma linha de montagem. Esse mesmo sistema ditava o ritmo
de produção das empresas, que produziam e escoavam facilmente os seus produtos
devido à alta demanda no consumo.
Após esse período, os anos de 1970 marcam uma modificação no perfil dos
cursos ofertados pela entidade, devido a razões de política educacional; os cursos
técnicos de nível médio foram criados para certas especialidades. Nas décadas de
1970 a 1990 o Sistema Senai criou inúmeros centros de tecnologia onde são
17
Conhecidos como os C.F.Ps.
37
ofertadas vagas para a formação de técnicos e, após o ano de 1997, também de
tecnólogos.
Nos anos da década de 1990 muitos fatos marcaram drásticas mudanças no
Sistema Senai, tais como a redução em sua arrecadação
18
, acarretando a
implementação de cobrança de mensalidades e outras taxas dos alunos e empresas
que matriculam seus funcionários; o aumento na oferta de treinamentos mais curtos
para adultos; a redução no número de matrículas para a formação dos menores
aprendizes; a entidade, antes voltada apenas ao ensino profissional, amplia a sua
“missão” passando a oferecer assessoria técnica às indústrias através dos seus
Núcleos de Apoio Técnico - N.A.T.; entre outras medidas operacionais. Na filosofia
educacional, seguindo as ideologias políticas vigentes, adotou a pedagogia das
competências.
1.4.3 As atuais ofertas de educação profissional no Paraná
O Estado do Paraná conta, atualmente, com a oferta de sete cursos em níveis
tecnológicos e superiores em design e tecnologia de moda, oferecidos pelas
seguintes entidades: Universidade Estadual de Londrina – UEL, na cidade de
Londrina, que foi a pioneira no Paraná na formação superior nesta área;
Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, na cidade de Curitiba; Centro Universitário
Positivo – UNICENP, também em Curitiba; Centro Universitário de Maringá –
CESUMAR, na cidade de Maringá; Universidade Estadual de Maringá – UEM, na
cidade de Cianorte; Universidade Paranaense – UNIPAR, nas cidades de Toledo e
Cianorte e outros três na área técnica produtiva, sendo um de engenharia da
produção do vestuário oferecido pela UEM em Maringá, um em tecnologia da
confecção oferecido pela União de Ensino do Sudoeste do Paraná – UNISEP no
município de Dois Vizinhos e um em engenharia têxtil oferecido pela mesma UEM no
município de Goioerê, curso este mais focado na indústria de fiação e tecelagem.
Todos esses cursos reunidos formam, em média e por semestre, 360 novos
profissionais.
18
Essa redução deve-se a fatores como: o aumento da sua estrutura física, a redução da ajuda das
grandes indústrias que costumavam fornecer máquinas para o aprendizado, a criação do Serviço
Nacional de Aprendizagem de Transportes – SENAT, que retirou do sistema de arrecadação do
SENAI uma série de indústrias e outras empresas de transporte rodoviário e o advento do
SIMPLES, sistema que reduziu a carga tributária das pequenas empresas o que também afetou a
arrecadação do SENAI.
38
O Senai do Paraná oferece 2 cursos de nível técnico, ou pós-médio: Técnico
em Estilismo Industrial, em Curitiba, e Técnico em Confecção Industrial do Vestuário,
em Maringá. Juntos ofertam cerca de 60 vagas semestralmente.
Além destes cursos, o próprio Senai e algumas prefeituras formam
profissionais de nível básico, como os de modelagem industrial e costura industrial e
muito raramente oferecem o já comentado curso para riscador de roupas (vide
classificação 7631-20 da CBO, Apêndice 1, p. 130). Estima-se que o Senai do
Paraná forme, semestralmente, em suas quatro unidades especializadas: Curitiba,
Maringá, Cascavel e Pato Branco, cerca de 120 profissionais de costura e 40 de
modelagem, sendo este último ofertado apenas em Curitiba e Maringá. Não é
possível estimar o número de pessoas formadas através das prefeituras, já que os
cursos não são oferecidos com regularidade.
Frente ao porte das indústrias paranaenses, na maioria pequenas empresas,
e às constantes declarações dos empresários que indicam a grande necessidade de
técnicos e profissionais de nível básico, o que se observa é que a oferta de cursos
superiores é maior que a de cursos de formação básica e técnica. Essa realidade
poderá provocar, em curto prazo, maior desequilíbrio na oferta de profissionais no
mercado de trabalho. Desta forma, serão mais privilegiadas as indústrias que
conseguirem contratar profissionais oriundos de cursos em nível básico ou técnico.
Outro problema, que também poderá ocorrer com o crescente número de
profissionais do design de moda, é a manutenção da já constatada depreciação
salarial da classe
19
.
De acordo com as pesquisas e diagnósticos do CITPAR (1995) e do
SEBRAE-PR (2000), e apesar da declarada falta de profissionais de nível básico, os
empresários questionam a qualidade dos poucos cursos ofertados para a formação
de costureiros industriais, formados pelo Senai do Paraná. Estando ou não com a
razão, o fato constatado nessas pesquisas é que esses cursos são escassos e ainda
pouco contribuem para a melhoria da qualidade do processo industrial desse
segmento.
19
De acordo com a Convenção Coletiva de Trabalho (2004/2005), estabelecida no dia 28 de outubro
de 2004, entre o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Curitiba e o Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias do Vestuário de Curitiba e Região Metropolitana, estabelece que o salário pago para
criação e desenvolvimento de produtos: estilista (designer de moda), modelista e encarregado de
produção será de R$ 628,74 (seiscentos e vinte e oito reais e setenta e quatro centavos), salário
do Nível V, constante no Artigo 8, dessa Convenção.
39
Pequenas empresas, de acordo com o próprio SEBRAE-PR, são as que mais
ofertam vagas de trabalho e nelas, as pesquisas sempre apontam, que a maioria dos
profissionais em nível básico não têm cursos de qualificação.
1.5 INDICADORES ATUAIS E OS PROCESSOS CONSTITUINTES DA
INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO PARANAENSE
O entendimento da importância do significado do processo de formação
profissional dos trabalhadores da indústria da confecção do vestuário paranaense só
será possível se houver uma correspondente contextualização, em que sejam
ressaltadas as características básicas dessa indústria, tanto de seus profissionais
quanto dos seus empreendedores.
1.5.1 A indústria paranaense do vestuário
Recentes pesquisas e diagnósticos realizados, um pelo SEBRAE-PR em
conjunto com a Associação Paranaense da Indústria Têxtil e do Vestuário
VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004) e outro somente pelo SEBRAE-PR
(DIAGNÓSTICO, 2000), mostram fragilidade administrativa e operacional de grande
parte das indústrias da confecção paranaense. No ano de 1995, em pesquisa
realizada pelo CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995), também com apoio dessas
entidades, detectou-se a existência de 2.400 indústrias do setor no Estado. Na
pesquisa realizada no ano de 2000 pelo SEBRAE-PR, eram apenas 1.900, ou seja,
até aquele ano já havia ocorrido um decréscimo quantitativo na ordem de 21% no
total das empresas.
De acordo com a própria ABRAVEST (2003) toda a Região Sul conta com
aproximadamente 3.700 indústrias e que em Santa Catarina existam cerca de 40%
desse total, restando ao Paraná e Rio Grande do Sul cerca de 2.200 indústrias. De
acordo com o SEBRAE-PR e VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004), no Paraná a
grande maioria das indústrias de confecção são de micro e pequeno porte, e
empregam, em média, cerca de 17,8 funcionários. De acordo com CITPAR
(DIAGNÓSTICO, 1995), em 1995 a média de pessoas empregadas era de 22
funcionários por indústria, o que marca um decréscimo de 19,1% na quantidade de
40
pessoas absorvidas por unidade fabril, o que pode ter contribuído muito para o
aumento do desemprego no Paraná.
Outro fenômeno constatado é que em 1995, o Paraná, de acordo com a
pesquisa do CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995), contava com 4 grandes indústrias, que
empregavam mais de 500 pessoas cada uma, e hoje esse número se mantém
inalterado. Contudo, das empresas originais apenas uma dentre elas resistiu à última
década e as demais encerraram suas atividades. As três outras “novas” grandes
indústrias ascenderam, nessa mesma década, de médio para grande porte.
Segundo o Programa de Expansão da Educação Profissional / Pesquisa da
Atividade Econômica Regional – PAER (BRASIL, 2001), as regiões de Londrina e
Maringá, ao contrário, apresentam elevado número de unidades e de pessoas
ocupadas no setor de bens de consumo não-duráveis, fundamentalmente em três
segmentos, entre eles o de vestuário.
Aproximadamente 300 indústrias de confecção de Londrina e municípios
circunvizinhos e os 12 mil empregados, que juntos produzem uma média de 10
milhões de peças, justificam o título de Pólo Nacional da Confecção, entregue a
Londrina pelo Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio – MDIC, no
final de 2002.
1.5.2 Os profissionais do setor de confecção do vestuário
Dados da PAER (BRASIL, 2001) indicavam que em 1999, 23.968
profissionais trabalhavam na indústria do vestuário, representando 10,16% do total
do pessoal ocupado no Estado. O Gráfico 2, elaborado a partir dos resultados da
mesma pesquisa revela que, destes profissionais, 46,07% enquadram-se na
categoria de pessoal semiqualificado (pessoal alocado em ocupações com
atividades repetitivas, encadeadas e previsíveis que podem ser aprendidas com
orientação direta, por meio de procedimentos simples, requerendo alguma iniciativa
e conhecimentos técnicos rudimentares) e que 49,55% deles enquadram-se como
pessoal qualificado (pessoal ligado à produção, alocado em ocupações
caracterizadas por atividades assistemáticas e aleatórias com aplicação de
conhecimentos profissionais de 1º grau e que exigem responsabilidade, iniciativa e
autonomia se necessário).
41
No entanto, é visível a falta do técnico de nível médio, ou seja, aquele ligado à
produção, em ocupações com atividades variadas ou especializadas, de maior
complexidade, com aplicações de conhecimentos profissionais de 2º grau. O mesmo
acontece com o profissional cujas ocupações só podem ser exercidas com formação
de nível superior. Somados os percentuais dessas duas categorias, a pesquisa
encontrou um total de apenas 1,18%. Salienta-se que no ano daquela pesquisa, ou
seja em 1999, ainda não havia profissionais de moda de nível técnico ou superior
formados por escolas do Paraná.
GRÁFICO 2 – QUALIFICAÇÃO DO PESSOAL OCUPADO EM ATIVIDADES
RELATIVAS AO VESTUÁRIO NO PARANÁ – 1999
Semiqualificado
46,07%
Qualificado
49,55%
Braçais e de
Menor
Qualificação
3,19%
vel Superior
0,19%
Técnico de
vel Médio
0,99%
Fonte de dados: BRASIL (2001)
Mesmo estando clara a necessidade de qualificação e requalificação
profissional para o segmento, constata-se através do Gráfico 3 que esta
necessidade não vem sendo suprida, visto que este é um setor dos que menos
oferece capacitação externa para seus funcionários, o que também foi percebido
pelo SEBRAE-PR e VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004), quando o mesmo
apresentou a seguinte constatação:
Cerca de 55% das micro empresas assumem nunca participar de
treinamentos, sendo que de um modo geral, apenas 20% da amostra
fez treinamento do seu pessoal nos últimos 3 meses, sendo os
setores de produção, vendas e administrativo os mais beneficiados.
As instituições mais utilizadas para os treinamentos de pessoal são
as próprias empresas (61%) e o SEBRAE (24%).
42
Apesar da baixa participação, a grande maioria das empresas
20
declaram necessitar de treinamento, apontando como críticas as
atividades operacionais, gerência e supervisão. A maioria das
empresas também revelam
21
necessitar de treinamento e
qualificação da sua força de trabalho, principalmente nos setores de
produção, vendas e administrativo. (SEBRAE-PR e VESTPAR,
DIAGNÓSTICO, 2004).
A apontada falta de ofertas de cursos regulares de qualificação básicos, de
acordo com o PAER (BRASIL, 2001) aqueles de conhecimento profissional de 1º
grau, também pode ser um dos fatores responsáveis por essas constatações.
GRÁFICO 3 – OCORRÊNCIA DE TREINAMENTO FORA DO LOCAL DE
TRABALHO E RESPECTIVO PESSOAL OCUPADO LIGADO À ATIVIDADE
PRINCIPAL DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO NO PARANÁ - 1999 (em %)
95,9
91
89,7
80
76,9
75,9
73,8
73,2 73
72,7 72,4
69,2
68,5
67,9
61,2
53
43,6
20
Eletrônicos, Informática, Ap.Óticos e de
Precisão
Aparelhos Elétricos
Papel
Química e Combusveis
Metalurgia
Minerais Não-Metálicos
Madeira
Alimentão e Bebida
Móveis
xteis
Máquinas e Equipamentos
Produtos de Metal (exceto Máq. e Equip.)
Edição e Impressão
Demais
Vestuário
Borracha e Plástico
Automobilística e outros Equip. de Transporte
Indústria Extrativa e Reciclagem
Fonte de dados: BRASIL (2001)
Analisando por outro ponto de vista (pessoal ocupado no setor têxtil), fica
mais acentuada a visão da situação da falta de apoio das empresas do setor de
vestuário à capacitação de seus funcionários, fato constatado através do Gráfico 4.
20
O presente DIAGNÓSTICO avaliou empresas de diversos portes.
21
São os próprios empresários que fizeram essas mesmas revelações.
43
Estes dados nos permitem inferir que existe uma necessidade de programas
de treinamento e capacitação de mão-de-obra, o que também é confirmado tanto
pelo CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995), quanto pelo SEBRAE-PR e VESTPAR
(DIAGNÓSTICO, 2004), em suas pesquisas sobre a intenção dos empresários em
realizar investimentos nesta área.
Independentemente do porte, os fatores de maior influência no
desenvolvimento das empresas entrevistadas são a capacitação da
mão de obra (92%), os incentivos fiscais (91%), as taxas de juros
(88%) e as cargas tributárias (85%). (...) na opinião dos
entrevistados. (SEBRAE-PR e VESTPAR, DIAGNÓSTICO, 2004).
GRÁFICO 4 – PESSOAL OCUPADO EM UNIDADES QUE PATROCINAM
PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO PARA SEUS EMPREGADOS NO PARANÁ – 1999
77,8
56,8
46,5
45,2
43,8
41,3
35,3 35,1
32,6
27,8
24,7 24,7
22,3
20,3 20,1
13,7
12,7
8,2
Eletrônicos, Inform., Ap.Óticos e de Precisão
Papel
Aparelhos Elétricos
xteis
Alimentão e Bebida
Máquinas e Equipamentos
Produtos de Metal
Metalurgia
Química e Combustíveis
Minerais Não-Metálicos
Madeira
Demais
Automobilística Equip. de Transporte
veis
Edição e Impressão
Borracha e Plástico
Indústria Extrat. e Reciclagem
Vestuário
Fonte de dados: BRASIL (2001)
Estudos do PAER (BRASIL, 2001, p. 112), indicavam que dentre as indústrias
pesquisadas no Estado do Paraná, cerca de 74%, que eram pertencentes ao grupo
de empresas que pretendiam expandir suas atividades entre 1999 e 2001, avaliaram
que os investimentos para a expansão do negócio deveriam resultar em crescimento
de certas ocupações. Deste grupo aquelas pertencentes ao setor da indústria do
44
vestuário apontavam que a ocupação de costureiro à máquina (confecção em série),
era a que prometia maior expansão em razão dos investimentos previstos.
Porém, os dados da ABRAVEST (2003) e da FIEP-DEC (ANÁLISE, 2001),
anteriormente apresentados, demonstram que, ao contrário, o desemprego no setor
está aumentando, o que vem confirmar que a situação deste segmento industrial é
delicada.
1.5.3 Condições em que são montadas e funcionam as confecções paranaenses
Conforme dados apresentados pela ABRAVEST, é pequeno o investimento
inicial para a implementação de um posto de trabalho na indústria do vestuário. Essa
facilidade acaba por atrair vários empreendedores para o setor, a maioria com
conhecimentos técnicos e administrativos muito incipientes.
O segmento de confecções se caracteriza pela falta de barreira
tecnológica à entrada de novas empresas (equipamento básico
continua a ser a máquina de costura e a sua operacionalização é
amplamente difundida) e baixo investimento requerido para a
construção de uma unidade produtiva de médio a pequeno porte.
IEL, CNA e SEBRAE (ANÁLISE, 2000, p. 127).
De acordo com o IEL, CNA e SEBRAE (ANÁLISE, 2000, p. 127), as pequenas
indústrias correspondem a 70% do total, o restante é composto por 27% de médias e
apenas 3% por indústrias de grande porte. No Paraná, a realidade é a mesma,
sendo cerca de 35% o número de empresas abertas anualmente e que não chegam
a completar 1 ano de vida, segundo o Sebrae, significando que cerca de 465
indústrias são fechadas anualmente.
No estudo realizado pelo CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995) já havia sido
verificado que as indústrias paranaenses são abertas com o mínimo em infra-
estrutura. Poucas máquinas; funcionários com baixa especialização e em pequeno
número, que de acordo com o SEBRAE-PR e VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004, p.
5) são cerca de 17,8 empregados por empresa, dados esses que compõem o perfil
da indústria do vestuário paranaense.
1.5.4 Perfil básico do empreendedor da indústria de confecção no Paraná
Por exigir pouco capital para a abertura da empresa, a confecção acaba por
atrair empreendedores de diversas origens. Pesquisa anterior coordenada pelo
45
CITPAR (DIAGNÓSTICO, 1995), indicou que predominam ex-funcionários de
médias e grandes empresas, públicas e privadas, e mulheres que buscam a
complementação da renda familiar, a maioria deles sem formação superior. Essa
mesma pesquisa identificou que 84% dos empresários adentram no segmento com
pouco ou nenhum conhecimento técnico sobre a indústria do vestuário.
Na pesquisa realizada para este trabalho, dentre os 5 empresários e gerentes
pesquisados, apenas um não tinha a formação superior. Também ficou explícito que
2 dentre eles são oriundos do sistema bancário e não tinham qualquer experiência
na confecção antes de abrirem o negócio, sendo os demais conhecedores da
indústria de confecção antes da abertura de suas empresas. Esses dados não
contradizem o que foi verificado em 1995, porém mostram que o perfil empresarial
pode estar mudando.
1.5.5 Índices de faturamento no Brasil e no Paraná
De acordo com o IEMI (2003, p. 34) a indústria da confecção brasileira
chegou a faturar cerca de US$ 12,8 bilhões no ano de 2002, o que representou o
equivalente a 3,9% do PIB brasileiro.
O último estudo do SEBRAE-PR e VESTPAR (2004, p. 12), aponta que o
faturamento das 1.000
22
indústrias pesquisadas em 2003 era na ordem de R$ 420
milhões. Essa informação relacionada ao número total de indústrias de confecção
existentes no Paraná, que não é maior que 2.000 indústrias, permite estimar que o
faturamento anual no Estado pode ser considerado baixo, se comparado ao total
brasileiro.
Ainda de acordo com o SEBRAE-PR e VESTPAR (2004, p. 12), em 2003, o
faturamento de 50% das indústrias de confecção do vestuário no Paraná foi de até
R$ 100 mil. As empresas que fecharam o mesmo ano com um faturamento entre R$
101 mil e R$ 200 mil representam 20% do universo pesquisado. Apenas 2% das
empresas tiveram um faturamento anual superior a R$ 3.375 mil.
Sob o foco do faturamento em relação ao número de empregados o SEBRAE-
PR e VESTPAR (2004, p. 12) ainda conclui que:
66% das indústrias com até 19 empregados faturam até R$ 100 mil.
22
Essa amostra foi composta por empresas de todos os portes, ou seja, por micro, pequenas, médias
e grandes indústrias.
46
60% das indústrias que têm de 20 a 99 empregados faturam de R$ 101
mil a R$ 900 mil.
68% das indústrias com mais de 99 empregados faturam acima de R$ 900
mil.
Os dados até aqui apresentados identificam que o setor do vestuário no
Paraná, apesar de muito importante para a economia local, continua incipiente, pois
a maioria das indústrias é de pequeno porte, contam com profissionais com baixa
qualificação profissional e seus faturamentos não são significativos se comparado ao
restante do Brasil. Essas comprovações mostram a grande necessidade de maiores
investimentos administrativos e técnicos no setor, o que denota a importância de um
melhor processo de qualificação de seus profissionais.
47
Capítulo 2 – MODELANDO A INVESTIGAÇÃO: Metodologia e instrumentos
O presente capítulo apresenta os procedimentos metodológicos que
subsidiaram a realização deste trabalho, sendo o mesmo subdividido em:
caracterização da pesquisa, as unidades de análise, os instrumentos de coleta de
dados, os itens de análise, a descrição das empresas, das escolas e algumas das
características profissionais dos participantes da pesquisa.
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA REALIZADA
Uma correta compreensão da importância da pesquisa no processo da
investigação científica dos fatos é condição sine qua non para o desenvolvimento de
um trabalho desta natureza. A preocupação com o fato é bastante comum, contudo,
seu conhecimento e análise só serão possíveis após uma sistemática investigação.
Demo (1993, p. 99) define pesquisa como sendo “a arte de questionar de modo
crítico e criativo”, da qual a posse permitirá melhores interferências sobre o fato, o
que não deixa de ser mais um objetivo deste trabalho, ou seja, também subsidiar
futuras ações no interior deste contexto. Silva e Menezes (2001, p. 20) apontam que
pesquisa é um conjunto de ações, propostas para encontrar a
solução para um problema, que têm por base procedimentos
racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem um
problema e não se têm informações para solucioná-lo.
A pesquisa aqui desenvolvida é de natureza qualitativa, pois, ainda de acordo
com as mesmas autoras, esse tipo de pesquisa
considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são
básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de
métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta
para a coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É
descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais
de abordagem. (SILVA e MENEZES, 2001, p. 20).
48
A proposta da pesquisa foi a de obter informações sobre a dinâmica inter-
relacional entre indústrias, escolas e alunos, assumindo objetivo exploratório. De
acordo com Gil (2002, p. 41), pesquisas exploratórias
têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-
se dizer que essas pesquisas têm como objetivo principal o
aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu
planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a
consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado.
Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento
bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências
práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que
“estimulem a compreensão”
Portanto, este trabalho foi configurado como uma pesquisa exploratória onde
ocorreram levantamentos bibliográficos, pesquisas históricas, que por sua vez
envolveram análises de documentos, além de entrevistas com pessoas inseridas na
problemática apontada. Os entrevistados escolhidos foram dirigentes e funcionários
de uma grande indústria, de uma média e de outras três pequenas e, também,
coordenadores e alunos em uma escola de nível básico e técnico e uma outra em
nível tecnológico, perfazendo um total de 16 entrevistas. Era uma preocupação
desenvolver a pesquisa com foco nos três sujeitos que representam o cerne de
nosso estudo, ou seja, indústrias, escolas e alunos.
2.2 UNIDADES DE ANÁLISES
Frente às dificuldades que impediram a transposição do limite numérico para
a realização de uma pesquisa quantitativa, porém sem se afastar do objetivo em
atender aos requisitos de uma pesquisa qualitativa, foram escolhidos casos que
pudessem representar a realidade das indústrias e escolas profissionais de
confecção no Paraná, tendo sido selecionadas empresas dos três portes, bem como
escolas em nível básico, técnico e tecnológico.
No caso das indústrias foram aplicados 2 (dois) questionários, um deles
voltado para dirigentes ou gerentes e o outro para os trabalhadores egressos de
cursos profissionais (vide Anexos 1 e 2). Seguindo o mesmo raciocínio, nas escolas
49
também foram aplicados dois questionários sendo um voltado para coordenadores
dos cursos e o outro para alunos cursantes (vide Anexos 3 e 4).
2.2.1 As indústrias pesquisadas
Com a finalidade de apresentar casos que representassem bem o universo de
indústrias da confecção existentes no Paraná, a pesquisa buscou analisar empresas
dos três portes, sendo elas:
Uma indústria de grande porte localizada na cidade de Ampére, que é
especializada em moda masculina e que produz, em síntese, calças sociais e
esportivas, camisas e trajes
23
com, aproximadamente
24
, 1.200 funcionários. Lá
foram entrevistados gerentes da área de recursos humanos e um supervisor de
produção, que é estudante, aluno do curso de Tecnologia da Indústria da
Confecção.
A principal razão pela escolha dessa indústria é por ser ela a maior do setor
no Estado e poder representar bem a realidade das grandes indústrias paranaenses.
É, também, a maior fornecedora de empregos na cidade onde está situada, sendo a
maior responsável pela economia gerada naquele município. É uma empresa cuja
produção mensal aproximada é de 1.000.000 (um milhão de peças) e que fornece
produtos para todos os Estados da Federação, além de exportá-los para diversos
países.
Com o propósito de identificar a empresa e seus respondentes, além de
preservar as suas identidades, será adotada a letra “A” (maiúscula), que a
identificará, e os números “1” e “2” para a gerente e o funcionário, sucessivamente,
ficando a composição “A1”, que deverá ser entendida como a sua gerente e “A2”
como o seu supervisor de ‘piso de fábrica’.
Uma indústria de médio porte localizada na cidade de Santo Antônio do
Sudoeste, especializada na produção de calças masculinas e femininas,
23
Traje é o nome que a indústria do vestuário masculino atribui ao conjunto de duas peças, ou seja o
paletó e a calça, que substituíram o antigo “terno”, que além dessas era composto também pelo
colete.
24
O termo “aproximadamente” foi utilizado em função da flutuação mensal no número de funcionários
nas indústrias de confecções. No caso dessa empresa no dia da pesquisa o número de
funcionários era exatamente 1.200, sendo 343 homens e 857 mulheres.
50
produzindo, em síntese, calças sociais e esportivas, com, aproximadamente, 300
funcionários. Nessa indústria foram entrevistados o seu diretor administrativo e a
supervisora de desenvolvimento de produtos que tem formação em nível técnico.
Essa indústria foi escolhida por também ser significativa para o seu
município, justamente, por ser uma das maiores geradoras de empregos, sendo a
que mais oferece empregos para as mulheres naquela cidade e poder representar
bem a realidade das indústrias paranaenses de médio porte. A empresa produz
cerca de 110.000 (cento e dez mil) produtos mensalmente, vendendo-os para todas
as cinco regiões do país.
Com o propósito de identificar a empresa e seus respondentes, serão
adotados a letra “B” (maiúscula), que a identificará, e os números “1” e “2” para o
seu diretor e funcionária, sucessivamente, ficando a composição “B1”, que deverá
ser entendida como o seu diretor e “B2” como a sua funcionária de supervisão.
Uma indústria de pequeno porte localizada na cidade de Marechal Cândido
Rondon, com, aproximadamente, 40 funcionários e que também produz trajes
masculinos. Nessa empresa foi entrevistado o seu proprietário e uma operária
costureira. Ela é egressa de escola de formação profissional de costura industrial
em nível básico.
Essa foi escolhida por sua localização geográfica e pelo segmento em que
atua, pois a confecção de trajes masculinos é uma das mais laboriosas, exigindo
bastante treinamento por parte dos trabalhadores, além de ter sido uma empresa
também receptiva à nossa pesquisa e por representar bem a realidade das
pequenas indústrias. Nela são produzidos cerca de 1.000 (mil) trajes mensalmente,
ressaltando que o traje é composto por calça comprida e paletó, o que perfaz um
total de 2.000 (dois mil) produtos.
Com o propósito de identificar a empresa e seus respondentes, serão
adotados a letra “C” (maiúscula), que a identificará, e os números “1” e “2” para o
seu diretor e funcionária, sucessivamente, ficando a composição “C1”, que deverá
ser entendida como o seu diretor, “C2” como a sua funcionária costureira.
51
Uma indústria de pequeno porte localizada na cidade de Toledo, com
aproximadamente 50 funcionários e, que produz calças jeans
25
para o vestuário
masculino e feminino. Nessa empresa foi entrevistado o seu proprietário e uma
operária costureira egressa de escola de formação profissional de costura
industrial em nível básico.
Sua escolha se deve em razão do segmento em que atua, já que o Paraná é
um pólo produtor de jeans, por sua localização, por, também, ter sido receptiva ao
nosso trabalho e poder representar a realidade de uma pequena empresa do ramo.
Essa é uma indústria que produz cerca de 8.000 (oito mil) unidades mensalmente e
fornece peças para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país.
Com o propósito de identificar a empresa e seus respondentes, serão
adotados a letra “D” (maiúscula), que a identificará, e os números “1” e “2” para o
seu diretor e funcionária, sucessivamente, ficando a composição “D1”, que deverá
ser entendida como o seu diretor e “D2” como a sua funcionária costureira.
Uma indústria de pequeno porte localizada na cidade de Curitiba, com,
aproximadamente, 25 funcionários e que produz roupas íntimas de malha
26
. Na
empresa foram entrevistados o seu proprietário e uma operária estilista de moda
egressa de curso de formação superior na área de Design de Moda.
Ela foi escolhida por ser de pequeno porte e estar localizada em Curitiba,
cidade que, na atualidade, não conta mais com indústrias de grande porte no
segmento, mas, ainda assim continua a ser um pólo de confecções, justamente pela
grande concentração de pequenas indústrias do setor. A indústria produz cerca de
20.000 (vinte mil) unidades por mês, utilizando as já citadas facções de produção
externas; fenômeno também bastante comum em Curitiba.
Com o propósito de identificar a empresa e seus respondentes, serão
adotados a letra “E” (maiúscula), que a identificará, e os números “1” e “2” para o
seu diretor e funcionária, sucessivamente, ficando a composição “E1”, que deverá
ser entendida como o seu diretor e “E2” como a sua funcionária de desenvolvimento
de produtos, ou seja, estilista com formação superior.
25
Jeans é o nome popular dado ao tecido Brim de Algodão com o tingimento Denin Índigo Blue.
26
Tecido composto por filamento único e sua tessitura ocorre por entrelaçamento deste mesmo fio,
de forma contínua, com utilização de teares de agulhas.
52
A escolha das três pequenas indústrias, conforme explicitado, se deteve na
preocupação com uma maior representatividade da amostra, assim como, nas
possíveis diferenças regionais que poderiam representar.
2.2.2 As escolas pesquisadas
Também com a finalidade de apresentar casos que representassem bem o
universo das escolas profissionais para a indústria da confecção existentes no
Paraná, a pesquisa buscou analisar escolas de formação básica, técnica e
tecnológica em locais diferentes, mas importantes para o setor. Os cursos de nível
básico e técnico são ministrados em escolas pertencentes ao Sistema Senai, sendo
considerados como referência e o de nível tecnológico é ministrado numa escola
pertencente à rede particular e fica localizada no principal pólo do setor no Estado.
São elas:
Curso de formação básica em costura industrial do CETEP (Centro de
Tecnologia e Educação Profissional de Curitiba) – SENAI-PR. Curso básico de
120 horas/aula, com 20 alunos matriculados por turma aberta
27
. Nesse curso
foram entrevistadas a sua coordenadora e uma das alunas
28
.
Curso Técnico em Estilismo de Confecção Industrial com 1.600 horas/aula, com
mais 400 horas de estágio supervisionado na empresa, com 35 alunos
matriculados semestralmente. Nesse curso foram entrevistados a sua
coordenadora, que também é a mesma pessoa responsável pelo curso básico, e
um dos seus alunos, nesse caso aluna.
Foram muitos os motivos que nos levaram a escolha da escola do Senai. O
principal, conforme já citado, é o fato de ser esta entidade uma referência para o
setor, o segundo é que só ela oferece, no Estado do Paraná, cursos técnicos,
reconhecidos, voltados à indústria do vestuário. Nesse caso, são oferecidos apenas
2 (dois), um na Cidade de Maringá e o presente na cidade de Curitiba. O fato de o
pesquisador já ter sido aluno da entidade, no Estado do Rio de Janeiro, e também
ter feito parte do seu quadro funcional no Paraná, o que permitiu conhecê-la um
27
A escola do SENAI em questão não mais oferece, regularmente, esse curso. Ele só é realizado
quando existe encomenda de alguma outra entidade ou mesmo empresa.
28
Toda a turma era composta por alunas.
53
pouco melhor “por dentro”, favoreceu a análise das respostas colhidas com o
questionário.
Com o propósito de identificar a escola e seus respondentes, será adotada a
letra “a” (minúscula), que a identificará, combinada aos números “I”, “II” e “III”, em
algarismos romanos. A coordenadora dos cursos poderá ser identificada através da
composição ‘a-I’, a aluna do curso técnico como ‘a-II’ e a aluna do curso de
formação básica como ‘a-III’.
Curso de Tecnologia em Gestão de Moda e Estilo da UNIPAR – Campus de
Cianorte. Este é um curso de nível tecnológico e, seguindo o mesmo critério
anterior, também foram entrevistados o seu coordenador e uma aluna.
O principal motivo de a escola ter sido escolhida é o fato de estar localizada
na Região Norte do Estado, que é o principal pólo produtor do vestuário.
Também com o propósito de identificar a escola e seus respondentes, será
adotada a letra “b” (minúscula), que a identificará, combinada aos números “I” e “II”,
em algarismos romanos. A coordenadora do curso poderá ser identificada através da
composição ‘b-I’ e aluna do curso tecnológico de moda por ‘b-II’.
2.3 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
As seguintes fontes foram utilizadas para a coleta de dados:
2.3.1 Informações documentais
Tanto as empresas quanto as escolas forneceram informações documentais
relevantes ao trabalho. Segundo Yin (2001, p. 109), “o uso mais importante de
documentos é corroborar e valorizar as evidências oriundas de outras fontes”.
Os documentos acessados foram, basicamente, folders e aqueles coletados
nos web sites, tanto das empresas quanto das escolas.
Tanto os folders quanto os web sites forneceram informações gerais sobre
elas, com a descrição de breves históricos, características físicas e funcionais, linha
de produtos e serviços ofertados, currículo e os conteúdos programáticos e outras
informações menores.
54
Algumas respostas fornecidas puderam ser constatadas junto a esses
documentos.
2.3.2 Entrevistas
O processo de entrevistas é sempre destacado pelos autores que escrevem
sobre a Metodologia da Pesquisa Científica. Yin (2001, p. 112:114) comenta que a
entrevista “é uma das mais importantes fontes de informações para um estudo de
caso” e ainda ressalta que “respondentes bem informados podem dar interpretações
importantes para uma determinada situação, (...) ajudando outras fontes relevantes
de evidências”.
Portanto, as entrevistas foram baseadas em questionários semi-estruturados,
com perguntas abertas que além de possibilitar a intervenção do pesquisador,
quando necessário, possibilitaram maior amplitude das respostas e também
colaboraram para a obtenção de outras informações relevantes e que não estavam
explicitamente contempladas no questionário. Foram quatro diferentes questionários
aplicados na pesquisa, sendo dois deles focados nas empresas e os outros dois
focados nas escolas. No caso das indústrias, um deles foi dirigido aos seus diretores
ou gerentes e o outro aos trabalhadores egressos de escolas, ou seja, ex-alunos ou,
ainda, para alunos em curso, para o caso da não existência de profissionais
formados naquela área escolhida para a pesquisa em determinada indústria. No
caso das escolas, seguiu-se a mesma linha, ficando um para os coordenadores de
cursos e outro para os alunos. As entrevistas possibilitaram que observações
relevantes pudessem ser coletadas e relacionadas ao processo de interação entre
as indústrias e as escolas.
Todo o processo das entrevistas, somado à observação de outras
documentações e referências bibliográficas, permitiu melhores análises dos dados e
informações obtidas para a elaboração do presente trabalho.
2.3.3 Protocolo
Para a coleta dos dados, nos diferentes locais escolhidos para a pesquisa, foi
utilizado um protocolo de entrevistas considerado como importante estratégia para a
orientação deste estudo. Yin (2001, p. 89) destaca que o protocolo deve conter “as
55
questões específicas que o pesquisador do estudo de caso deve manter em mente
ao coletar os dados”.
Os instrumentos para as coletas de dados estão disponíveis nos Anexos “1”,
“2”, “3” e “4”, e foram organizados tomando como base o referencial teórico e os
objetivos de pesquisa. Assim, o instrumento de pesquisa denominado de “roteiro de
entrevistas”, proporcionou condições para se conhecer um pouco mais sobre a
relação tripartite entre “indústria do vestuário”, “escolas profissionais” e “alunos”
egressos ou, ainda, em formação.
Visando demonstrar e garantir sigilo às indústrias e seus profissionais, foi
utilizada uma carta-compromisso disponível no Anexo “5”. Salienta-se que no caso
das escolas isso não foi necessário, contudo os nomes dos coordenadores e alunos
dos cursos profissionais também foram mantidos em sigilo.
2.3.4 Tratamento dos dados
O tratamento dos dados foi composto da seguinte forma:
Transcrição das entrevistas gravadas. Em média, a transcrição de cada
entrevista foi realizada em 6 (seis) horas, totalizando 96 horas de trabalho
e 203 páginas escritas.
Cruzamento das respostas similares oferecidas por todos os respondentes
enquadrados nas 4 (quatro) categorias, ou seja:
1º) Diretor ou gerente de indústria;
2º) Funcionário egresso de escola ou em fase de conclusão;
3º) Diretor ou coordenador de curso;
4º) Aluno de curso.
Análise de todas as respostas oferecidas. Comentários às respostas
pertinentes foram incluídos no capítulo 3 do presente trabalho.
2.4 ITENS DE ANÁLISE
Os itens de análise em cada questionário foram divididos em torno de 4
(quatro) grandes blocos que objetivavam proporcionar as respostas relativas a cada
objetivo deste trabalho. Abaixo está apresentado o Quadro n.º 3 que relaciona as
temáticas, os blocos e as referidas questões:
56
QUADRO 3 – BLOCOS TEMÁTICOS ABORDADOS COM AS RESPECTIVAS
QUESTÕES
Anexo Temática abordada
N.º do
Bloco
Seqüência
das questões
Total de
questões
Caracterização da empresa
1 1.1 a 1.8 8
Dados do respondente
2 2.1 a 2.9 9
Processos de contratação, avaliação e
formação profissional
3 3.1 a 3.15 15
1
Relação com as escolas profissionais
4 4.1 a 4.16 16
Dados do respondente
1 1.1 a 1.13 13
Relação com a empresa onde trabalha
2 2.1 a 2.10 10
Relação com o curso e a profissão
3 3.1 a 3.12 12
2
Perspectivas quanto ao próprio futuro
4 4.1 a 4.3 3
Dados do respondente
1 1.1 a 1.6 6
Caracterização e forma de
funcionamento da escola
2 2.1 a 2.16 16
Relacionamento da escola com as
indústrias
3 3.1 a 3.23 23
3
Perspectivas quanto ao futuro
4 4.1 a 4.3 3
Dados do respondente
1 1.1 a 1.7 7
Relação com o curso e com a escola
2 2.1 a 2.10 10
4
Perspectivas quanto ao próprio futuro
3 3.1 a 3.4 4
FONTE: Elaborado pelo autor
2.5 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA
Os participantes da pesquisa, com algumas de suas características, estão
relacionados com os códigos mencionados nos itens “2.2.1” e “2.2.2”, no Quadro n.º
4.
57
QUADRO 4 – PARTICIPANTES DA PESQUISA COM CARACTERÍSTICAS
BÁSICAS
Indústria /
Escola
Localização Código Cargo Formação do respondente
“A1”
Gerentes de
RH
Superior com pós-graduação lato-sensu
Grande
Indústria
Ampére
“A2”
Supervisor de
produção
Cursando nível tecnológico
“B1”
Diretor
Industrial
Superior completo
Média
Indústria
Stº Antônio
do
Sudoeste
“B2”
Supervisora
de Produtos
Nível médio e ensino técnico
“C1” Diretor Nível médio
Pequena
Indústria 1
Mal.
Cândido
Rondon
“C2” Costureira 4ª série do ensino fundamental
“D1” Diretor Superior completo
Pequena
Indústria 2
Toledo
“D2” Costureira Ensino fundamental completo
“E1” Diretor Superior com pós-graduação lato-sensu
Pequena
Indústria 3
Curitiba
“E2” Designer Superior com pós-graduação lato-sensu
“a-I”* Coordenador Superior com pós-graduação lato-sensu
Escola de
Nível Básico
Curitiba
“a-III” Aluna Ensino fundamental completo
“a-I”* Coordenador Superior com pós-graduação lato-sensu
Escola de
Nível Técnico
Curitiba
“a-II” Aluna Ensino médio completo
“b-I” Coordenador Superior com pós-graduação lato-sensu
Escola de
Nível
Tecnológico
Cianorte
“b-II” Aluna Ensino médio completo
(*) Observação: a respondente ‘a-I’ é responsável pelos dois cursos em questão, tendo oferecido as
respostas em apenas uma entrevista.
FONTE: Elaborado pelo autor.
58
Capítulo 3 COSTURANDO OS DADOS OBTIDOS: A interação entre escolas e
indústrias do vestuário
A constante preocupação em aprofundar questões a respeito dos aspectos
que permitam atingir os objetivos de nossa pesquisa foi o que norteou a construção
deste capítulo, que tem como finalidade apresentar e analisar os resultados da
investigação.
É lugar comum que uma melhor interação entre as escolas de formação
profissional e as empresas da indústria do vestuário proporcionarão maior
desenvolvimento para o setor. Contudo, jamais será possível obter esse mesmo
desenvolvimento, se o trabalhador, principal ator de qualquer transformação, não
desfrutar do devido preparo profissional e de condições satisfatórias de trabalho.
Nossa pesquisa apontou que as escolas mantêm uma relação significativa de
dependência das empresas do setor, haja vista que as propostas curriculares destas
escolas sofrem influência das exigências do mercado e, também, das opiniões de
empresários do ramo. É observado que a abertura de vagas no nível básico se dê,
na grande maioria das vezes, quando as indústrias, em especial as grandes e
médias, ofertam vagas, gerando uma corrida à qualificação para um posto de
trabalho iminente.
Impera também no sistema de educação profissional a política de
privatização, a começar pelo próprio Senai, que, conforme as informações de
CUNHA (2000, p. 65), no ano de 1995 matriculou 1.899.578 alunos em treinamentos
de curta duração, contra 88.402 matriculados em cursos de aprendizagem.
Normalmente esses treinamentos são pagos pelos alunos ou empresas e os cursos
de aprendizagem, geralmente, são oferecidos gratuitamente ao aluno, muitos
desses aos menores aprendizes. No Paraná, os cursos de nível técnico pós-médio
têm sido pagos pelo aluno, e muitos dos cursos de aprendizagem de nível básico
por entidades tais como: Prefeituras Municipais, que têm interesse em fomentar a
industrialização na sua região ou mesmo fortalecer uma determinada indústria local;
pela Agência do Trabalhador do Ministério do Trabalho, desde que alguma indústria,
ou conjunto delas, ofereça elevado número de vagas; eventualmente por instituições
de caráter social; e por outras entidades afins. Por outro lado, as ofertas de
treinamentos livres gratuitos são mais raras.
59
Em vista dessa situação, hoje o aluno carente tem grande dificuldade em
acessar uma formação de nível técnico, diferentemente do que ocorria até o final da
década de 80, quando os mesmos cursos eram oferecidos gratuitamente. O mesmo
fenômeno, só que por outros motivos, também ocorre nas Escolas Técnicas
Federais – ETFs e nos Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFETs,
desde o mesmo período, como aponta Garcia (1996, p. 4):
A crescente procura por estas escolas, sentida a partir de 1980,
principalmente por sua qualidade sobrevivente, fez com que a
seleção de ingresso passasse a ser mais rigorosa e provocasse uma
alteração social (de baixa para média/alta) dos alunos por elas
atendidos, principalmente nos cursos diurnos.
E também dessa forma, para ter acesso a cursos de formação básica do setor
do vestuário, o aluno carente necessita da participação de pelo menos duas
instituições; uma financiadora e outra executora, o que reduz significativamente, ou
quase elimina, qualquer ação espontânea de sua parte. Decorrente desse
panorama, as escolas de formação profissional acabam por se transformar em locais
que não atendem, de maneira geral, aqueles a quem originalmente se destinam.
Esse fenômeno pode ser observado em nossa pesquisa. As alunas de nível
básico, tanto as que estavam cursando quanto as que já se encontravam
trabalhando, são pertencentes às classes menos favorecidas e suas preocupações
maiores são com a preservação de seus empregos, enquanto que os alunos dos
cursos técnicos, tecnológicos e superiores são de extratos sociais mais elevados e
aspiram à continuidade de estudos.
Outro fato observado foi que o controle da educação profissional de nível
médio, ou técnico, também está, assim como a educação tecnológica e superior,
passando, drasticamente, à iniciativa privada, em detrimento da educação pública.
Esse domínio tem afastado ainda mais a classe proletária de qualquer manifestação
de poder ou organização, pois se até há pouco restavam os ofícios técnicos, tidos
como medianos, hoje nem isso resta, disseminando cada vez mais a concepção de
que a educação deixa de ser um dever do Estado para se transformar numa
mercadoria vendida a quem pode pagar o preço de mercado.
Observou-se que no campo da formação profissional, mesmo com o passar
do tempo, a classe proletária e as economicamente ainda menos favorecidas têm
60
muito menos chances de ter acesso à educação; imperando a ideologia neoliberal
de que “as chances estão abertas e o seu acesso só depende do esforço pessoal de
cada um” e que só
ocupa a posição quem para ela estiver mais habilitado. Isso
corresponde perfeitamente à lei da oferta e da procura no mercado
em que diferentes vendedores e compradores de mercadorias
competem na fixação de preços, dando ‘equilíbrio’ ao sistema.
(FREITAG, 1994, p. 31).
Tem-se a impressão de que, a cada dia, estamos mais distantes de uma sociedade
mais justa.
De acordo com Martins (2000, p. 14), “para que a classe dominante e
dirigente mantenha sua hegemonia, faz-se necessário que haja consenso em
relação à ideologia vigente” e, em nosso entender, esse consenso tornar-se-á ainda
mais fácil com o domínio social dos níveis profissionais médios, antes também
freqüentados pelos filhos da classe proletária.
Tomando essas reflexões como pano de fundo é que foram desenvolvidas as
análises de nossa investigação.
3.1 ALGUNS ASPECTOS DA RELAÇÃO EMPRESA E TRABALHADOR
Na presente pesquisa constatou-se que na relação mantida entre as
indústrias e trabalhadores, as exigências para com o trabalhador não são poucas,
sendo a principal dentre elas o aumento da produção. Porém, a contrapartida
oferecida, especialmente nas pequenas indústrias, como salários, qualificação,
ambiente fabril e oportunidades de crescimento e de qualificação, normalmente, não
condizem com as cobranças. Nesse mesmo processo de relação achou-se
conveniente destacar alguns desses aspectos que estão relacionados a seguir.
3.1.1 Condições de trabalho oferecidas pelas indústrias
A indústria paranaense do vestuário de hoje, em especial as de pequeno
porte, tende a parecer mais com os ateliês ou as incipientes indústrias do Século
XIX, do que com aquilo que se pode imaginar ser uma indústria moderna, aos
moldes do Século XXI.
61
De um modo geral as pequenas e médias indústrias de confecção
são desorganizadas em seu espaço físico. Seu layout normalmente é
irracional, elaborado sem prévios estudos e não facilitam o fluxo de
produção. O layout desestruturado aumenta em muito o tempo de
processamento das peças, pois requer movimentos e transporte de
materiais fáceis de eliminar ou reduzir. CITPAR (DIAGNÓSTICO,
1995, p. 40).
Ainda de acordo com esse relatório, máquinas de costura enfileiradas dentro
de uma proposta de produção linear, mas sem muito sucesso; ambiente fabril com
iluminação precária, com a temperatura alta e a ventilação comprometida, chão sujo
e ar poluído pelo excesso de poeira, que é acarretada pelo próprio processo de
produção; cadeiras com suas estruturas de madeira revestidas com palha,
inadequadas ao sistema produtivo e à ergonomia e refeitórios improvisados, são
alguns dentre os diversos aspectos ambientais que continuam a ser observados
atualmente.
Sobre a indústria de confecção do Século XIX, Marx (1994, p. 541) apontava
a ocorrência do fenômeno, semelhante aos dos dias atuais, escrevendo: “Quando a
máquina de costura se instala em oficinas acanhadas e superlotadas, como com as
sapatarias, com a confecção de espartilhos, chapelarias etc., contribui para
aumentar a insalubridade.”. O mesmo autor ainda enfatiza:
“Os efeitos que sentimos”, diz o comissário Lord, “ao entrar nesses
locais de trabalho, de teto baixo, onde 30 a 40 pessoas trabalham à
máquina, são insuportáveis... É horrível o calor que se deve em parte
ao fogão a gás que serve para aquecer os ferros de passar... Nesses
locais, mesmo quando o horário de trabalho é moderado, assim
chamado o que vai de 8 da manhã às 6 da noite, verifica-se
regularmente todos os dias desmaio de 3 ou 4 pessoas”. (MARX,
1994, p. 541).
Apesar de ter sido constatada essa situação em algumas das empresas
investigadas, salienta-se que uma dentre as de pequeno porte está providenciando
cadeiras projetadas com ergonomia correta para os postos de trabalho em costura e
que as indústrias de grande e médio porte oferecem razoáveis condições de
trabalho. Sobre essas condições, procurou-se responder a seguinte questão: “O
quanto esse maior respeito ao trabalhador contribui, ou já contribuiu, para o maior
crescimento dessas indústrias maiores?”
62
Para dar conta dessa questão, foram ouvidos diversos trabalhadores e nesse
caso em particular, ou seja, a falta de infra-estrutura fabril, reproduziu-se o
comentário da trabalhadora costureira ‘C-2’, de Marechal Cândido Rondon:
Olha, como era, melhorou 100%, está ótimo, tem espaço mais
grande, talvez falte ainda um pouco de ventilação, é um pouco
quente. Tem que ter bastante luz para ver muito perto, a máquina
que eu trabalho, para mim está boa, trabalho bem, a tesoura de vez
em quando tem que mandar afiar, quando o patrão está de bom
humor ele faz tudo direitinho.
Sobre o mesmo problema e, principalmente, a respeito da questão da
condição climática no ambiente de trabalho, a trabalhadora costureira ‘D-2’, de
Toledo, assim se manifestou:
Eu acho que as máquinas estão muito umas em cima das outras e
pouco ventilador, pouco ventilador não, mas pouca ventilação na
verdade. A gente quase “morre cozida” ali dentro e o espaço para a
gente circular ali dentro não tem espaço, a gente tem que estar
achando os “becos” para passar. (Grifos meus).
A pesquisa mostrou que essa situação não ocorre apenas no ambiente fabril,
mas também nas salas destinadas à criação, onde o improviso também acontece. A
trabalhadora designer ‘E-2’, de Curitiba, declarou o seguinte:
O espaço físico é pequeno, na verdade as pessoas se amontoam,
vão colocando uma em cima da outra, e vêem no que dá. Depois
eles vêem onde colocam cada pessoa, meio complicado. (...) A infra-
estrutura é horrível não tenho nem computador para mim, mesa de
luz
29
nem pensar, que é uma questão básica.
Tudo isso demonstra que a maximização dos lucros em detrimento da própria
saúde e conforto do trabalhador, peça principal do processo produtivo, está bastante
presente nesse segmento produtivo. Se forem comparados os níveis de
desenvolvimento e informação nos dias de hoje, pode-se dizer que, dentro desta
relatividade, as condições atuais a que estão expostos os trabalhadores não são
muito melhores que as encontradas no Século XIX, tornando atual um antigo
29
Mesa de luz é um equipamento de trabalho composto por uma lâmina de vidro fosco que é
utilizado como prancheta e abaixo dessa são instaladas lâmpadas incandescentes que
proporcionam visualizar as linhas de um desenho colocado abaixo de uma folha de papel na qual
se quer aplicar o novo desenho. A finalidade do equipamento é o de facilitar o desenho de cópias e
permitir o encaixe de telas de serigrafia.
63
questionamento de Marx (1994, p. 552): “O que poderia caracterizar melhor o
sistema capitalista de produção do que a necessidade de o Estado impor-lhe
coativamente a adoção das mais simples precauções de limpeza e higiene?
Como se constituem em minoria, os trabalhadores formados nas escolas
profissionais, que normalmente orientam o aluno sobre o que é necessário ao bom
funcionamento de um ambiente fabril, assim como os trabalhadores que possuem
somente o conhecimento tácito, acabam por desconhecer ou desconsiderar o que é
importante para seu bom desempenho e saúde, deixando de lado as reivindicações
a respeito de melhores condições de trabalho. Outro elemento entendido como
responsável pela falta dessas reivindicações pode ser, também, o receio do
desemprego, geralmente ocasionado pela consciência, por parte dos trabalhadores,
da existência de um exército de mão-de-obra de reserva.
Os profissionais de nível técnico e superior, por sua vez, que sabem um
pouco mais sobre os seus direitos, normalmente, não se conformam com o ambiente
ruim. Geralmente, eles aguardam nova oportunidade buscando um novo emprego,
agindo diferentemente do trabalhador de nível básico que tende a se conformar com
aquilo que lhe é oferecido.
A designer, trabalhadora ‘E-2’, revelou este sentimento quando fez a seguinte
afirmação durante a pesquisa, quando perguntada sobre a satisfação em seu
emprego atual e se pretendia permanecer nele:
Não nessa empresa, eu estou saindo dela porque realmente o
reconhecimento não atingiu as metas que gostaria. Mas, estou
entrando em outra agora. (...) Estou entrando nessa outra empresa
para continuar meu trabalho, tentar ser reconhecida. (trabalhadora
‘E-2’).
Em contrapartida, as funcionárias de nível básico, mesmo reclamando da
atual situação, tanto salarial quanto com o ambiente de trabalho, ao serem
perguntadas sobre planos futuros mostraram estar conformadas com o atual
emprego, como foi o caso da trabalhadora ‘C-2’, que declarou o seguinte:
A gente tem vontade de continuar e torce para que a empresa vá
bem, que sempre cresça, cresça e cresça, para a gente crescer
junto. Porque se a empresa não cresce, então a gente se sente
insegura, de uma hora para outra a gente pode ser dispensada, a
empresa pode falir, então a gente torce para que vá bem e cresça
64
mesmo, para a gente crescer junto, tem que procurar cada vez
melhorar, ter um serviço cada vez melhor.
Corroborando a idéia de que a formação profissional pode ser sentida nas
ações dos trabalhadores, o depoimento da trabalhadora ‘D-2’ reflete a influência de
orientadores do curso profissionalizante que ela concluiu. Apesar disso, e dos
aspectos negativos existentes na empresa, ela pretende continuar ali:
Crescer em várias áreas, porque no curso que a gente fez, tivemos
uma palestra e a psicóloga disse assim: “Quem tem várias
especializações jamais fica desempregado”. (...) Eu quero ir para o
corte. Interesso-me bastante pelo corte, sempre gostei, eu já sei
enfestar
30
. O meu problema é usar a máquina, no mais eu gosto do
corte porque ali se vai decidir tudo numa produção. É ali que vai
mandar, se sair um corte errado vai atrasar todo mundo, vai sair tudo
errado, é isso que eu quero aprender certinho. (trabalhadora ‘D-2’).
O que pode ser percebido nos depoimentos das funcionárias de nível básico
é a existência do que pode ser chamado de “uma boa fé brasileira”, além de ser
notado o quanto essas operárias se conformam com o pouco que lhes é oferecido,
trocando os maus momentos do presente pela esperança de dias melhores no
futuro. Com suas declarações a respeito do ‘vestir a camisa’, aceitando a condição e
salário a que estão submetidas, esperando promoções ou dias melhores no futuro
incerto, demonstram o quanto a “ideologia patronal” está inserida em suas próprias
filosofias.
3.1.2 A necessidade das indústrias e suas exigências para a contratação
As exigências das indústrias para a contratação de profissionais variam
conforme a demanda e a necessidade de manutenção da produção em níveis
satisfatórios, regulando-se, entretanto, pelo equilíbrio da remuneração do capital
investido. Como a atual oferta de profissionais bem qualificados é baixa, os
empresários e gerentes acabam por ser mais complacentes no momento da
contratação. Alguns deles, inclusive, teceram duras críticas ao Senai, por este não
preparar profissionais de forma a atender a demanda das indústrias.
30
Enfestar significa dispor o tecido em várias camadas para o corte simultâneo de várias peças.
65
A esse respeito, foram selecionadas algumas declarações que explicitam os
critérios que as indústrias adotam para fazer suas contratações, como as da gerente
de grande indústria ‘A-1’, de Ampére, que para a admissão de funcionários
em nível básico, os critérios de contratação são as questões da
escolaridade, ou seja, que tenha o primeiro grau completo ou que
esteja concluindo, que esteja cursando entre a quinta e a oitava série
e que tenha habilidade e agilidade manual. Nas mãos, para o
manuseio. (Gerente ‘A-1’).
A exigência de uma formação escolar básica aliada à destreza manual, sem
necessidade de experiência anterior, se justifica pelo fato de que é a própria
empresa que treina o profissional candidato ao cargo. Por sua vez, a exigência da
escolaridade mínima pela grande fábrica, diferentemente da pequena, aparece como
um dos fatores de contratação, porque alguns trabalhadores do “piso de fábrica”
assessam planos de produção e fichas descritivas de montagem de produtos, além
de trabalharem com máquinas do tipo CNC
31
, o que exigirá deles a capacidade de
uma boa leitura.
Outro fator importante é que tanto a grande, quanto a média indústrias
adotam, pelo menos em parte, o chamado Modelo Japonês de Produção Industrial –
MJPI
32
e muitos dos seus setores de montagem operam segundo o paradigma das
31
CNC significa comando numérico computadorizado, ou seja, o controle automatizado dos tipos e
as regulagens de pontos de costura das máquinas, as quantidades de pontos por centímetro ou
polegadas, o desenho da costura etc.
32
O MJPI está baseado em um conceito, ou filosofia, denominada “just-in-time”, ou “apenas a
tempo”, que é a organização de toda uma cadeia industrial no sentido de sincronizá-la e integrar a
logística aos processos de fabricação, que estão, por sua vez, baseados apenas na produção dos
produtos que já estão vendidos, ou seja, na capacidade de vendas, no sentido da não formação de
estoques intermediários. Essa, então, é a idéia principal do MJPI e do just-in-time” – a não
acumulação de estoques, ou seja, de capital parado. O objetivo é não desperdiçar os recursos
físicos necessários na produção de artigos que ainda não foram vendidos. Para isso o fabricante
do produto final de uma determinada cadeia produtiva necessita que a produção das matérias-
primas e outros insumos que o compõem sejam entregues no exato momento em que este será
produzido. Para que isso ocorra é necessário que exista fidedignidade dos fornecedores nas
promessas de entrega, que o tempo de transporte corresponda ao planejamento e que o fabricante
final também planeje a sua produção, no sentido de entregar pontualmente o produto ao cliente
final ou revendedor. Dentre as medidas adotadas internamente pelo fabricante final estão, por
exemplo, o controle de produção via painel “kanban”, o autocontrole do operário para a qualidade,
as células de produção, chamadas também de unidades autônomas ou semi-autônomas de
produção, a polivalência do operário etc. No Brasil, pela dificuldade da integração dos produtores
das matérias-primas, ocasionada por uma série de dificuldades de planejamento interno e
integração da logística, algumas indústrias adotam o MJPI parcialmente, ou seja, executam o que
sozinhas podem fazer. No caso da indústria da confecção são adotadas as células de produção, às
vezes o “kanban” etc. A implantação do sistema de produção em células na indústria da confecção,
muitas vezes se torna tarefa difícil, pelo fato das costureiras trabalharem sentadas, o que dificulta
66
unidades independentes de manufatura ou, simplesmente, células de produção. O
trabalhador treinado, desde o início do seu aprendizado profissional, para operar
dentro da filosofia e dos critérios do MJPI, oferece menos resistência do que o
trabalhador acostumado a outro modelo de gestão da produção.
As pequenas indústrias, hoje, estão passando também a se preocupar com o
nível de escolarização do funcionário operador, pois, aos poucos, estão adquirindo
máquinas do tipo CNC. No caso da pequena indústria ‘C’, de Marechal Cândido
Rondon, que já adquiriu equipamentos de última geração, essas exigências já estão
acontecendo. Sobre essa modificação na exigência de contratação, seu proprietário
declarou o seguinte:
Dependendo da operação e do que ela vai fazer aqui, tipo, se ela for
ser passadeira não precisa ter segundo grau, mas se for para ser
costureira eu tenho opção para o segundo grau. (...) O problema é
que hoje nós temos muitas máquinas eletrônicas, máquinas de
ultima geração. Então quer dizer que ela tem que ter conhecimento
de um pouquinho de inglês, porque a maioria delas são em inglês, os
parâmetros, a programação e o uso da máquina em si. Quando está
lá escrito em inglês e o cara não têm conhecimento nenhum não
adianta nada. Então tem que ter pessoas escolarizadas para poder
botar na mão delas uma máquina dessa. Você não pode pôr uma
máquina dessa na mão de ‘qualquer um ferreiro’. Tem que ser
pessoas mais habilitadas que tenham conhecimento de um pouco de
informática, um pouco de inglês, porque botar uma máquina de cento
e cinqüenta mil reais na mão de uma pessoa leiga, ela é capaz de
quebrar a máquina. (Empresário de pequena indústria ‘C-1’).
Apesar das novas exigências de escolaridade para os operadores com nível
básico de profissionalização, não existe qualquer modificação salarial, ou seja, os
salários continuam na faixa média de 1,5 salários mínimos em todo o Estado do
Paraná
33
. O profissional que antes tinha como maior exigência a sua destreza
os seus movimentos quando necessitam trocar rapidamente de posto de trabalho, ou seja de uma
máquina de costura para outra, como pede o sistema celular de produção.
Ainda sobre MJPI ou “just-in-time” ver: ANTUNES, R. O Toyotismo, as novas formas de
acumulação de capital e as formas contemporâneas de estranhamento Alienação).
Disponível em: http://www.alast.org/PDF/Walter/Tec-Antunes. ,Acessado em 04 jul. 2005.;
ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? São Paulo: Cortez, 1995. OHNO, T. Sistema Toyota de
Produção, Além da Produção em Larga Escala. Porto Alegre : Bookman, 1997. SHINGO, S. O
Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre : Bookman, 1996.
33
A Convenção Coletiva de Trabalho 2004/2005 estabelecida entre o sindicato patronal e o dos
trabalhadores de Curitiba e Região Metropolitana estabeleceram no dia 28 de outubro de 2004 os
seguintes níveis salariais para costureiras, em resumo: Nível III – R$ 358,76 (trezentos e cinqüenta
e oito reais e setenta e seis centavos) para operadores de máquina; e Nível IV – R$ 449,31
(quatrocentos e quarenta e nove reais e trinta e um centavos) para costureiro profissional. Não
67
manual e o seu esforço físico, agora, além disso, necessita fornecer maior
capacitação e esforço intelectual. Notadamente, se amplia a extração de “mais
valia”, pois os equipamentos mais caros mencionados pelo empresário, obviamente,
oferecem maior produção e este funcionário melhor qualificado e que vai operar tal
equipamento, provavelmente fará sozinho o trabalho de mais pessoas. Também é
possível que, estando ele inserido em processo produtivo que se apóia em alguns
parâmetros do MJPI, tenha de operar duas ou mais máquinas de costura durante os
ciclos de montagem dos produtos nas células de produção.
Segundo Peliano (1998, p. 22),
nesta ampliação da dimensão do trabalho, entretanto, o trabalhador
tende a sair perdendo mais uma vez. O que se aumenta em
responsabilidade, em cuidado, em atenção, em conhecimento e em
experiência, não se acompanha proporcionalmente em salário, em
emprego e em qualificação.
O empresário de pequena indústria ‘D-1’, de Toledo, que representa uma
indústria convencional de pequeno porte, declarou que a contratação é feita a partir
de um teste prático, no posto de trabalho onde o candidato deverá atuar e que este
teste dura até três dias e, dependendo da sua performance, a empresa o contrata ou
não.
A respeito da contratação em nível básico, o empresário de pequena indústria
‘E-1’, de Curitiba, declarou que
isso é um pouco complicado em confecção, principalmente em
Curitiba. Nós buscamos através de mídia, imprensa em geral e
jornais que normalmente são mais lidos. Infelizmente, a quantidade é
muito maior do que a qualidade. Buscamos em meio eletrônico,
Internet, que já vimos algumas pessoas, inclusive uma até já
trabalhou conosco, e também tentamos buscar via Senai.
Infelizmente a gente não tem tido sucesso.
Por outro lado, pelo crescente número de escolas de nível superior de design
de moda, já é significativo o número de alunos formados nessa área, e constata-se,
nesse caso, que ao lado da elevação dos níveis de exigências, os salários para
existem grandes diferenças entre o que é pago aos costureiros no Estado, mesmo porque os
sindicatos patronais mantêm contato via FIEP. O apresentado nível IV representava 1,73 do salário
mínimo nacional até o dia 1º de maio de 2005, a partir dessa data passou a corresponder a 1,5
salário mínimo.
68
esses profissionais se achatam, o que pode ser verificado pelo comentário do
empresário ‘E-1’, que em sua empresa também já nivela o nível superior ao técnico:
Temos uma pessoa de nível superior, logicamente tivemos já
algumas pessoas que passaram pela firma na área de
desenvolvimento de produtos, nesse sentido ele acaba se
misturando um pouco, digamos, com o nível técnico.(...)
Para o nível técnico e tecnológico pagamos entre R$ 700,00
(setecentos reais) e R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais), (“cerca de
2,33 a 5 salários mínimos”) dependendo do conhecimento, know how
de cada profissional. (...) Buscamos um pouco mais de resultado da
pessoa, o que, qual foi, onde que ela já estudou, o que ela já fez, os
resultados que ela atingiu, como que ela fez. Fazemos alguns testes,
no caso, por exemplo, uma pessoa para área de produto,
desenvolvimento de coleções, enfim, a gente procura saber qual é a
intimidade que ela tem com sua criatividade, com cores, com
harmonia. A gente faz algum tipo de teste, pedindo que a pessoa
faça um croqui, crie uma coleção em cima de alguns materiais que
nós damos, para poder ficar sabendo qual a potencialidade da
pessoa. (Grifos meus).
A pesquisa mostrou que dentre as pequenas indústrias o número de seus
profissionais formados por escolas profissionais não ultrapassa a 10% e que dentre
as médias e grandes esse número chega aos 50%, vide questão número 1.8 do
Anexo 2. Isso só é possível por dois motivos básicos: em primeiro, as grandes
indústrias têm condições de manter as suas próprias escolas de formação básica e,
em segundo, tanto as grandes como as médias empresas podem negociar junto às
suas prefeituras a instalação de escolas para o segmento, o que ajuda a lhes
proporcionar maior crescimento. Sobre a prática de preparar o funcionário no âmbito
interno da empresa, as manifestações das empresas ‘A’ e ‘B’ são interessantes,
como pode ser verificado pelos comentários que seguem:
A gente tem um treinamento interno de curso de costureiro. Então a
pessoa tendo as habilidades, a gente coloca no curso, com direito a
diploma, tudo dentro da empresa. Ele já sai dali pronto, qualificado
para ir para o setor, na linha de produção. (Gerente ‘A-1’).
O empresário de média indústria ‘B-1’, de Santo Antônio do Sudoeste,
demonstrou estar conformado com o curso de formação básico, pois desenvolveu
um processo de adaptação do aluno, recém chegado da escola, ao sistema
produtivo da sua fábrica. Ele nos falou assim:
69
(...) O curso profissional da nossa cidade é um curso básico. Porque
eles não podem ensinar, por exemplo num curso, costurar uma
roupa estilisadíssima
34
. Você sabe que no interior, num lugar, um
município de poucos recursos, às vezes nossa empresa e outra
empresa juntam alguns retalhos para fornecer para a escola, com os
tecidos doados eles aprendem fazer roupas de crianças, roupas
pequenas, roupas de bebês, juvenil, essas coisas, né. Então ele não
tem como fazer, digamos, uma roupa mais estilizada, com mais
qualidade. Se exige o mínimo porque ele já está familiarizado com a
máquina e aqui dentro tem o período de adaptação de 60, 90 ou 120
dias, o básico para que ele se adapte dentro das nossas normas,
dentro da nossa qualidade. (Empresário ‘B-1’).
Essa adaptação comentada por ‘B-1’, como se pode constatar, nada mais é
do que um complemento à qualificação recebida pelo trabalhador na escola da
prefeitura. Contudo, se pergunta: “Em que níveis estão preparados esses
profissionais. Estão preparados de forma mais ampla, ou seja, dominando várias
técnicas de trabalho, para o mercado de trabalho, ou estão apenas preparados para
desenvolverem tarefas específicas dentro daquela empresa que ‘patrocinou’ a sua
formação?”
O universo de operações possíveis em cada uma das máquinas de costura é
bastante amplo, o que significa dizer que para o profissional adquirir conhecimento
suficiente para ser considerado um oficial naquele posto de trabalho, será exigido
maior tempo de aprendizado. O que as indústrias geralmente não fazem. Preferem
“adestrar” o trabalhador para um restrito, mas para ela interessante, universo de
operações. Dessa forma a atuação do trabalhador fica reduzida a processos
semelhantes e dentro daquelas operações que está habilitado a realizar, o que
constitui maior dificuldade para a procura de uma melhor colocação em qualquer
outra indústria. Em um novo emprego ele necessitará aprender novas operações, o
que o recolocará novamente como aprendiz, provavelmente, causando uma redução
em seu nível salarial.
Essa realidade contribui para fixar o trabalhador em seu atual emprego,
mesmo que esteja insatisfeito com ele, situação já descrita por Freitag (1994, p. 28),
para quem
34
Utilizando esse termo o empresário se referiu a uma roupa com muitos detalhes e com alto grau de
dificuldade em sua confecção, ou montagem.
70
A força de trabalho não é qualificada, no interesse do trabalhador,
para que melhore sua vida, se independentize e se emancipe das
relações de trabalho vigentes, mas sim, para aprimorar e tornar mais
eficazes essas relações, ou seja, a dependência do trabalhador em
relação ao capitalista.
Outra conseqüência desse fenômeno é o surgimento da justificativa para que
as indústrias, de maneira geral, mantenham baixos os níveis salariais, e cerceiem o
crescimento do trabalhador, apoiando-se no fato de que ele tem poucas habilidades.
O depoimento do empresário ‘E-1’ revela, de forma discreta, essa situação quando
busca contratar novo funcionário:
Pagamos aos profissionais de nível básico entre R$ 350,00
(trezentos e cinqüenta reais) e R$ 500,00 (quinhentos reais). (“cerca
de 1,17 a 1,67 salário mínimo
35
”).
Bem, nível básico, o próprio nome diz, é o pessoal “chão de fábrica”,
é a pessoa que vai direto para uma operação. (...) Logicamente a
gente conversa com a pessoa, vê qual o seu “back ground”, qual a
experiência que ela tem, quais são as empresas que ela já trabalhou,
em que tipo de maquinário, enfim, que tipo de cargo ela ocupava.
Após esta entrevista prévia a pessoa faz um teste na máquina ou no
setor da produção, enfim, no cargo que está disponível. (Empresário
‘E-1’).
Apesar de não ser percebida a intencionalidade dessa prática, ela cerceia a
liberdade profissional do trabalhador, dificulta o seu crescimento e o “subordina”,
pois com os níveis salariais apresentados, seu acesso a uma educação de nível
técnico ou superior se torna uma tarefa quase impossível.
Ao ser perguntado à aluna de nível técnico ‘a-II’, de Curitiba, quais eram os
seus custos mensais para se manter no curso técnico, ela declarou que giram em
torno de R$ 450,00 (quatrocentos e cinqüenta reais), correspondentes,
aproximadamente aos mesmos 1,5 salários mínimos anteriormente citados, salário
médio de um costureiro, deixando em aberto pelo menos duas questões: “Como um
trabalhador poderá financiar o seu curso técnico ou qualquer outro curso de
formação nesse nível, ou mesmo superior, para se aperfeiçoar profissionalmente?”.
Em segundo: “A quem interessa esta exclusão, se não ao próprio sistema
capitalista?”.
35
Salário mínimo estabelecido pelo Governo Federal de R$ 300,00 (trezentos reais) para o ano de
2005.
71
3.1.3 As relações trabalhistas: o que é oferecido ao trabalhador
A experiência, além das pesquisas realizadas para a composição do presente
trabalho, demonstra que as pequenas indústrias, geralmente, oferecem o mínimo
garantido por lei, ou seja, o piso da categoria e o vale transporte. A grande e a
média oferecem um pouco mais. Alimentação na própria empresa, assistência
médica e prêmios por aumento da produção foram os citados pelas indústrias
pesquisadas. No caso da grande empresa, de acordo com a sua gerente ‘A-1’, parte
do valor da mensalidade do curso de formação tecnológica é pago pelo empregador,
através de convênio mantido com duas faculdades da Região Sudoeste do Estado.
Ela comentou:
Existem os convênios que a gente faz com as universidades. A gente
tem, então, o convênio com a Unisep, que é de Dois Vizinhos, que é
a faculdade de confecções e com o Centro de Ensino Superior de
Realeza, o curso de Administração. Então, a empresa tem convênios
fechados com eles. Todos os nossos funcionários que vão até lá,
eles têm um valor diferenciado na sua mensalidade. (Gerente ‘A-1’).
Essa grande indústria que conta com, aproximadamente, 1200 funcionários,
declarou conceder o referido benefício para 5 trabalhadores, o que representa cerca
de 0,42% do seu efetivo. Esse investimento na formação dessas cinco pessoas, ao
mesmo tempo que as privilegia e as distingue com uma prática não muito comum no
setor, indica uma preocupação com a preparação de seus próprios quadros, haja
vista que a referida empresa, hoje, não possui profissionais com formação superior
em suas linhas de produção, revelando uma intencionalidade que contempla, ao
mesmo tempo, tanto os interesses do trabalhador quanto os da empresa.
Nas pequenas e médias indústrias, por sua vez, ficou constatado que
treinamentos e outros cursos de formação são ofertados aos funcionários em função
das necessidades do processo produtivo, raramente com vistas a beneficiar o
trabalhador em seu crescimento profissional, apesar de que isso, indiscutível e
contraditoriamente, acabe por acontecer. Neste sentido, programas de requalificação
ocorrem com muita raridade, principalmente, nas pequenas indústrias.
Outra questão importante constatada da vida profissional dos trabalhadores
foi a inexistência de plano de carreira, em quaisquer das indústrias pesquisadas, fato
que já havia sido observado pela própria experiência pessoal do pesquisador, que
72
ao longo dos 16 anos de trabalho neste setor no Paraná, jamais encontrou qualquer
indústria que oferecesse este benefício.
Para corroborar esse fato, foram selecionados alguns comentários de
representantes de pequenas indústrias, tais como o do empresário ‘C-1’, que relatou
não ter em sua empresa o referido plano e deu destaque à relação do “valor do
funcionário” à sua “rentabilidade do capital” para as questões de promoção a
melhores cargos. Ele disse:
Eu não tenho um plano de carreira propriamente dito. Eu faço uma
avaliação profissional de comportamento, liderança, que possa
destacar, (...) A empresa está crescendo, eu tenho que formar novos
líderes e procurar aproveitar da melhor forma o funcionário.
A compensação deles é o salário. No momento que eu acho que ele
tem condição de ganhar mais e que ele é mais importante para
empresa que outro, embora que todos tenham a mesma importância,
mas numa fase assim que ele possa te dar mais rentabilidade, eu o
destaco de forma que eu aumento o salário, melhoro o salário e
ganha a função de liderar o parque. (Empresário ‘C-1’).
O empresário ‘D-1’ também relatou não ter plano de carreira em sua empresa
e que as promoções a melhores cargos são ofertadas aos funcionários que se
destacarem, porém, somente no caso de necessidade com a abertura de vaga em
cargo maior. Ele nos falou:
Não, não temos nada. A gente tem até na própria ficha funcional
todos os cursos que o funcionário fez, como fez, mesmo quando ele
ingressa, a gente pede certificados que tem, para constar na sua
ficha funcional. É claro que dentro da oportunidade que tiver dentro
da empresa, aquele que tiver melhor qualificação em termos de
curso, é claro que a gente vai procurar fazer um trabalho em cima,
mas não tem nada pré-definido de como vai funcionar ou não.
(Empresário ‘D-1’).
O empresário ‘E-1’ também utiliza os mesmos critérios já citados. Ele
declarou que:
Não existe um plano para carreira ou crescimento pessoal,
operacional. Como não existe, não é divulgado, não é entendido. (...)
Nós beneficiamos alguns funcionários e que deixamos claro quando
entram na empresa, que vestindo a camisa, participando da equipe,
colaborando, isso conseqüentemente traz resultados para empresa,
a pessoa vai estar sendo beneficiada, ela pode vir até a passar a um
cargo acima.
73
Em nossa produção temos funcionários que iniciaram como auxiliar
de produção e hoje já estão chefiando. (Empresário ‘E-1’).
O setor têxtil da confecção do vestuário no Brasil, e principalmente no Paraná,
é composto em sua grande maioria por pequenas indústrias. De acordo com o
SEBRAE-PR e VESTPAR são cerca de 86%
36
. Por oferecer um salário normalmente
baixo, por não existir plano de carreira, o que limita a perspectiva de crescimento do
funcionário, por oferecer poucos benefícios e outras vantagens e, principalmente,
por não oferecer maior estabilidade, acaba por afastar considerável número de
trabalhadores do setor. Esse afastamento pode ser a principal razão que dificulta as
indústrias do segmento para contratar novos funcionários.
Convém registrar que, ao lado desses fatores e excetuando-se,
contraditoriamente, a grande e a média indústria, todos os empresários das
pequenas empresas, reclamaram na pesquisa sobre a dificuldade para se contratar
profissionais melhor qualificados.
3.1.4 De parte a parte: como é visto o aprendizado da profissão
A pesquisa permitiu identificar que, tanto por parte dos alunos, quanto por
parte das empresas, as avaliações sobre o desempenho da escola são diferentes.
Foi observado, também, que mesmo por parte dos alunos elas variam, parecendo
indicar que, na medida em que o nível da formação se eleva, mais crítico se tornam
eles.
Podem ser vários os motivos que levam os alunos a essas diferentes
intensidades de avaliações apresentadas. Acredita-se que a duração seja um dentre
eles, pois, parece que quanto menos ele permanece no curso, melhor é a sua
avaliação sobre o mesmo.
Na pesquisa, verificou-se que os alunos dos cursos de nível básico fazem
melhores avaliações, tendo sido constatado pelas entrevistas e pela análise dos
respectivos currículos, que os referidos cursos básicos têm duração que variam
entre 100 e 200 horas. Nas entrevistas também se constatou que os alunos de nível
técnico e tecnológico não avaliaram tão bem os seus cursos, sendo verificado que
os mesmos têm duração de 1600 e 2.500 horas, respectivamente. Acredita-se que
36
SEBRAE-PR e VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004). Esse documento foi elaborado, estando
baseado em recentes pesquisas sobre o setor realizadas entre os anos de 2003 e 2004.
74
sendo maior o contato do aluno com a escola e a necessária realização do estágio,
quando ele passa a conhecer também as empresas e as suas realidades e
necessidades e as compara com o que a escola oferece, acabam tendo algum tipo
de decepção.
Outro motivo pode ser a gratuidade do curso de formação básica e a
cobrança dos demais e que, por isso, necessitam atrair os futuros alunos e geram, a
partir das publicidades que seus mantenedores veiculam, expectativas maiores do
que seja possível atender. Um outro motivo pode ser, ainda, o diferente nível de
formação e informação dos alunos.
Sobre esses aspectos foram selecionados comentários de alguns alunos,
tanto daqueles que estão em fase de aprendizado, quanto aqueles que já
terminaram os seus cursos e estão trabalhando.
A aluna de nível básico ‘a-III’, que realiza o curso de costura de Curitiba, ao
ser questionada sobre a qualidade do curso que está realizando, relatou o seguinte:
Como assim satisfeita, se acho bom, se eu estou gostando? Está
muito bom, bem adequado, as professoras são boas e dão muita
atenção para os alunos, está bom. (Aluna de nível básico ‘a-III’).
Seguindo a mesma linha de raciocínio a profissional costureira ‘C-2’ declarou
o seguinte, a respeito do curso que, recentemente, havia concluído:
Eu gostei, achei muito bom, como se diz assim, não é que você vai
sair de lá profissional, para fazer tudo quanto é costura, o que
acontece é que tem pessoas que não sabem nem pegar na máquina,
nem acelerar a máquina, ela bota o pé ali, ‘pezão’ pesado, muitas
que estavam fazendo o curso comigo eram assim. (...) A professora
do curso, já de idade, muito legal essa mulher, então ela falou:
“Nossa você está de parabéns, você sabe, você serve para
costureira mesmo”. Ela falou, apesar de ser um pouco nervosa:
“Costureira tem que ter calma, se tiver que abrir, tem que abrir e
fechar de novo, mas você serve para costureira, porque você é
caprichosa”. (...) É, e eu sou assim, então eu acho muito bom, gostei
do curso.
Bem diferente das estudantes de nível básico foram as declarações da aluna
‘a-II’ do profissionalizante técnico. Quando lhe foi perguntado sobre a qualidade do
curso que faz, ela inicia a sua resposta descrevendo detalhadamente os maiores
problemas que percebeu, deixando clara a sua insatisfação. As declarações foram
as seguintes:
75
Em algumas matérias, realmente excede, como foi na têxtil, que
ultrapassou a carga horária. Nós tivemos algumas aulas para ficar
‘coçando’. Não acrescentou nada. (...) Desenho técnico, a nossa
professora vive tendo problemas, tanto que agora ela pediu para se
afastar. Era uma ótima professora, ela passa muito bem os detalhes
dos desenhos, mas no primeiro semestre a gente teve duas aulas.
Uma de apresentação e outra ela foi dar uma olhadinha nos
trabalhos. Aí a gente teve que aprender sozinhos. Acho que eu
aprendi desenho técnico sozinha, correndo atrás de trabalhos de
outras pessoas. Em desenho de modas acho que pecaram um
pouco, porque o professor é muito alegre e pouco profissional. (...) A
quantidade de aulas foi legal, mas nove horas da noite todo mundo
estava indo embora, porque ele não queria mais. (...) Eu estou sendo
sincera porque acho que é a primeira vez que estou tendo
oportunidade de falar sem ser criticada, sem rirem da minha cara.
(Aluna de nível técnico ‘a-II’).
Assim como a aluna do curso técnico, a trabalhadora designer ‘E-2’, que tem
formação superior, com maior contundência declarou:
Eu achava péssimo, na verdade o primeiro e o segundo ano foram
bons, nós tínhamos professores ótimos, no terceiro ano é que foi
horrível. (...) Colocaram pessoas não profissionais em design de
modas e para produtos eles não sabiam nada. De repente a gente
ensinava mais para eles do que eles para a gente.
Dentro da mesma linha das últimas duas transcrições, quase todas as
empresas fizeram críticas, nestes casos, mais abrangentes, pois foram direcionadas
para as escolas dos três diferentes níveis. As empresas também criticaram a
qualidade da formação dos alunos egressos.
Na visão dos empresários a escola não prepara para a prática profissional.
Geralmente, eles afirmam que a empresa é quem acaba ensinando ao aluno e este
processo é muito dispendioso. Algumas declarações corroboram essas afirmações,
como por exemplo a do empresário ‘E-1’:
Olha, realmente existe no papel e na propaganda, infelizmente não
temos em Curitiba nenhum órgão competente dentro da confecção
que disponibilize profissionais aptos a trabalhar. Infelizmente, essa é
a realidade. Nós temos o Senai aqui em Curitiba, mas ele não se
prontifica de, ao menos, ir nas empresas para ver nossa
necessidade, para poder estar formando, de fato, profissionais
competentes. Hoje, nós temos vagas na empresa e infelizmente não
temos profissionais competentes. Temos que buscar de São Paulo,
de Cianorte ou manter contato com as pessoas de Curitiba, pessoas
do ramo, para tentar localizar e pescar a dedo um a um. Porque,
infelizmente, o Senai que seria o órgão competente para estar
76
formando, não cumpre esse papel. Ele forma profissionais para um
mundo utópico, não real. O curso que ele oferece hoje é um curso
técnico considerado bom, porém utópico, porque não junta a
realidade, o mundo real, o mercado, o que acontece no dia a dia. Os
estudantes vivem no mundo da fantasia.(...) Infelizmente essa é a
situação de Curitiba.
O empresário ‘D-1’, da cidade de Toledo, também teceu críticas aos cursos
de formação básica existentes em sua região, tendo declarado o seguinte:
Hoje está tendo em nossa região uma grande preocupação. As
prefeituras municipais estão muito preocupadas em qualificar mão-
de-obra para o segmento de confecção. Uma preocupação das
prefeituras é qualificar, estão comprando máquinas, montando
fábricas, escolas e por aí vai. Só que na verdade, no mesmo tempo
que há uma preocupação em qualificar, a qualificação não está
sendo a contento, não está, na verdade, tendo uma preocupação em
tentar mostrar para esse aluno como se portar numa empresa, como
é que vai ser na hora que ele estiver lá na indústria. Então, na
verdade, os cursos estão meio que amadores, são, vamos dizer
entre aspas, cursos de corte e costura, na verdade não um curso de
costura industrial.
Um outro problema bastante sério da formação profissional, principalmente na
básica, levantado durante a realização da pesquisa e percebido nas declarações de
alguns dos empresários, se refere à questão do descompasso entre a evolução dos
equipamentos e o formato dos cursos que são oferecidos, tanto pelo Senai quanto
pelas prefeituras municipais que se dedicam à formação de costureiros industriais.
Foi verificado que os equipamentos utilizados nas escolas são, normalmente,
de controle humano e acionamento eletromecânico, tidos como de 2ª geração, onde
a destreza do operador é fundamental para o controle da máquina e o aumento da
eficiência da fábrica. Alguns especialistas, como visto no item 1.4, preferem
classificar esses equipamentos como ainda sendo de 1ª geração. Contudo, os
equipamentos que já começam a ser utilizados, em grande escala, nas indústrias,
são os de 3ª geração, nesse caso os mecatrônicos
37
, com os quais a destreza ou
habilidade do operador é reduzida e, em grande parte, substituída pelo já citado
controle CNC, onde ele necessitará dos conhecimentos já comentados no item 3.1.1.
Aqui existe um grave distanciamento entre esta “nova necessidade” das indústrias e
o que as escolas de formação básica estão oferecendo.
37
Mecatrônica é um neologismo que significa a combinação entre mecânica e eletrônica, ou seja,
equipamentos de controle eletrônico, normalmente, computadorizados.
77
Normalmente, os fabricantes ou revendedores desses equipamentos de 3ª e
4ª gerações costumam oferecer treinamentos para as indústrias que os adquirem.
Geralmente eles são de curta duração em função do custo para o deslocamento do
instrutor, que normalmente é um técnico, até a empresa adquirinte. De acordo com
as informações dos empresários, quando o preço do equipamento não é tão elevado
ele acaba acontecendo em forma de demonstração nas dependências da empresa
onde foi adquirido. No caso de um equipamento mais caro e sofisticado, como os de
4ª geração, esses treinamentos são um pouco mais detalhados e costumam ocorrer
na indústria que os compra. Contudo, os mesmos são menos eficazes no caso das
pequenas indústrias, pois não contam com profissionais melhor preparados para
assimilarem o conteúdo técnico em curto prazo de tempo.
É bom salientar que durante a visita e pesquisa no Senai de Curitiba, notou-
se a presença de duas dessas máquinas dentre as 25 existentes na escola de
costura. Porém, foi também observado que esses equipamentos não são
disponibilizadas para o aprendizado e os alunos não utilizam os equipamentos
eletrônicos.
Os equipamentos de 1ª geração, os primeiros utilizados na era da Revolução
Industrial, são totalmente mecânicos, sendo acionados e controlados pela própria
força humana, onde apenas os pontos feitos pelas agulhas não retiraram do
processo de construção das roupas os necessários conhecimentos e técnicas do
artesão. Nesse caso, apenas agilizam os seus trabalhos e reduzem o tempo de
montagem das peças, mas, ainda, continuam a depender da sua destreza. Já as
máquinas de costura de última geração, ou 4ª, são aquelas 100% automatizadas e
que não dependem de qualquer técnica do operador, ou seja, aqueles equipamentos
que já incorporaram o conhecimento e as habilidades do artesão.
As 4 ilustrações a seguir demonstram exemplos de cada um desses tipos de
máquinas:
78
Figura n.º2: máquina de 1ª geração
fonte: www.cornet.nf.ca/cbmuseum
Figura n.º4: máquina de 3ª geração
fonte: www. www.silmaq.com.br
Figura n.º3: máquina de 2ª geração
fonte: www.alfa.maquinas.com.br
79
Leite (1994, p. 84), ao falar dos equipamentos de última geração,
comenta que eles permitem maior flexibilidade ao processo produtivo sendo que
A flexibilidade dos equipamentos microeletrônicos veio atender
precisamente a essa necessidade. A característica fundamental
desse tipo de maquinaria consiste na sua possibilidade de adaptação
às exigências de modificação do produto. (...) Pelo fato de serem
“programáveis”, as máquinas com base técnica na microeletrônica
permitem rápidas adaptações às flutuações do mercado e podem ser
utilizadas tanto nas produções em grandes séries como nas de
pequenos e médios lotes. (LEITE, 1994, p. 84).
Conforme a, já registrada, opinião do empresário ‘C-1’, a operação desses
equipamentos exige que o profissional tenha melhor escolarização, para que
entenda leituras eletrônicas, conheça unidades de medidas em centímetros e
polegadas, que saiba fazer conversões métricas e que tenha mínimo conhecimento
de Inglês e Informática. Porém, esse operador não precisa conhecer qualquer
técnica específica de montagem, o que faz dele, em termos técnicos, um operário
“abastecedor” de máquinas, mas com melhor nível escolar.
Parte das empresas pesquisadas já contam com alguns equipamentos dessa
geração, como é o caso da grande indústria de Ampére, da média de Santo Antônio
do Sudoeste e da pequena indústria localizada em Marechal Cândido Rondon. As
Figura n.º5: máquina de última geração
fonte: www. www.silmaq.com.br
80
afirmações do empresário, de média indústria, ‘B-1’, também corroboram essas
constatações:
Infelizmente hoje o mercado está exigindo isso, que a pessoa pelo
menos tenha um conhecimento básico de escrita, de leitura. Temos
aí máquinas informatizadas que exigem que tenha até, às vezes,
curso de computação.
Diante de todas essas constatações, concluímos que acabam por gerar um
grave conflito, ou seja, se parte dos próprios alunos reprovam o curso que fazem, se
o empresário desaprova o currículo desses mesmos cursos e, de certa forma, evita
contratar seus egressos, fica a pergunta: “Qual a função da escola profissional
paranaense no segmento da confecção do vestuário?”
3.1.5 A visão de futuro do trabalhador
“É importante pensar sobre, sonhar com, e finalmente visualizar o
futuro, pois é nele que passaremos o restante de nossas vidas”.
Barker
Barker (1992) afirma que “uma visão positiva do próprio futuro” é fundamental
para a uma boa construção e sucesso na vida profissional. Apesar da concordância
com a sua teoria, tenta-se mostrar neste item o quanto é difícil para o aluno do setor
do vestuário paranaense, mesmo construindo essa “visão”, obter realização
profissional em seus empregos.
Existe uma dissonância entre o que é difundido sobre o setor de confecções e
a verdadeira realidade do segmento no Estado. Os veículos de comunicação, de
forma geral, propagam que o setor da confecção paranaense está em franco
crescimento. Contudo, tanto na opinião de alguns empresários quanto nos dados, já
apresentados do documento da FIEP-DEC (ANÁLISE, 2001), evidencia-se o
contrário.
No entanto, para as escolas, é interessante a propaganda positiva, pois esse
é o mote que propicia o interesse do aluno pelos cursos profissionais de todos os
níveis nesta área. As observações da aluna ‘a-III’ confirmam tais afirmações, apesar
de ela mesma perceber que localmente a realidade é outra:
Bom, pelo que eu tenho visto, que eu assisto jornais, tenho visto que
está crescendo bastante, nessa área, assim de industrialização de
81
confecção e por isso que eu acredito que é uma área que vai ajudar
muita gente ainda. Pena que aqui, Curitiba, não tem muita indústria.
(Aluna ‘a-III’).
Trabalhando no interior da fábrica o aluno percebe que a realidade é bastante
diferente. Lá ele espera, em primeiro, preservar o seu emprego e, em segundo, que
a indústria onde trabalha não venha fechar as portas. O já registrado depoimento da
costureira ‘C-2’, no item 3.1.1 página 64, demonstra tais preocupações. Contudo,
quando lhe é perguntado sobre o seu futuro e o que enxerga sobre o seu próprio
crescimento profissional, ela responde: “Pode ser, eu, para mim, acho que sendo a
melhor costureira já está bom, sei lá, a gente já não sonha tão alto”, mostrando o
quanto é limitada a sua “visão do seu futuro” e continua:
Têm vezes que a gente pensa em procurar sempre um serviço
melhor, sair da máquina, para não ficar direto sentada ali, isso e
aquilo. Mas na hora, vem um pensamento negativo: ah! está bom, é
melhor “ficar na minha”. Esse que é o problema! (Costureira ‘C-2’).
(Grifos meus).
Até aqui foi observado que o aluno em nível básico, após o ingresso na
indústria, perde muito de sua capacidade de enxergar um futuro um pouco melhor
para ele. Essa realidade é bem diferente quanto aos alunos já formados nos demais
níveis de qualificação, pois seus sonhos futuros, declaradamente, não estão
vinculados às indústrias onde trabalham, ou mesmo a qualquer outra, mas sim
pensam em iniciar seus próprios negócios, o que pode ser considerado uma boa
iniciativa de reação frente aos problemas que encontram no emprego; iniciativa esta
bem aceita no mundo capitalista. Atribuímos essa reação de independência a três
fatores fundamentais:
1) por construírem um melhor currículo escolar, em geral apresentam
uma visão mais ampliada de seus direitos e suas oportunidades,
2) têm melhores condições de reunir capital inicial para os
empreendimentos que almejam possuir,
3) o salário é importante, mas não constitui uma questão direta para suas
sobrevivências.
A falta de um plano de carreira na indústria de porte médio e nas outras três
menores, aliado ao fato de a grande ter declarado possuir, mas não divulgar, tal
82
plano, ajuda a obscurecer as “visões de futuro” de seus profissionais de todos os
níveis de formação. Para os de nível básico não existe uma visão de ampla
progressão, eles demonstram se conformarem com o pouco que têm e apenas
pensam em preservar esse mesmo pouco, enquanto que os melhores preparados,
de certa forma, continuam a enxergar positivamente seus futuros.
3.2 COMO OCORRE A RELAÇÃO EMPRESA E ESCOLA
Ao mesmo tempo em que a pesquisa registrou manifestações de insatisfação
dos empresários com as escolas e seus egressos, foi detectada uma relação de
dependência dessas para com as empresas. O Senai demonstra ter essa
dependência, que não deixa de ser uma característica histórica da entidade, por
projetar seus cursos e seus currículos para atender as necessidades e orientações
das indústrias.
De acordo com Weinstein (2000, p. 15),
A fundação do SENAI e do SESI deu à liderança industrial a
oportunidade sem igual de estabelecer programas e atividades
visando à racionalização do ambiente industrial, tanto dentro quanto
fora da fábrica. Os decretos-leis que criaram o SENAI e o SESI e a
legislação posterior regulamentando esses novos órgãos traçaram
apenas um esboço muito geral de suas estruturas. (...) Em ambos os
casos, o papel do governo foi criar uma entidade que era pouco mais
que um recipiente vazio; de caso pensado, ele deixou aos industriais
e aos seus tecnocratas a tarefa de preencher essas novas estruturas
com programas e doutrinas adequados.
A declaração da coordenadora dos cursos em níveis básico e técnico ‘a-I’:
(...) estamos atendendo a solicitação de um grupo de Curitiba, o
grupo da Lycra, para fazer requalificação de mão-de-obra, daquele
pessoal que já passou pelos cursos do SENAI.
demonstra uma certa subordinação da escola à vontade do empresariado.
Outra importante questão é a formatação dos currículos do curso técnico do
Senai, que ocorre de acordo com a análise e orientação dos empresários, mostrando
a subordinação dessa escola para com as indústrias. Uma declaração da
coordenadora ‘a-I’ sobre essa interferência da classe empresarial também foi
registrada:
83
Os empresários, foram eles que avaliaram o nosso projeto e o
validaram, acharam que era importante, que fosse daquela maneira.
Temos a cada final de curso, quando o aluno está fazendo o terceiro
módulo, uma banca de avaliação, onde os empresários são
convidados para virem participar dessa banca e validar o processo
ou não. O que nós temos ouvido são informações assim, que nos
orientam para manutenção desse processo e o resultado é que
temos que trabalhar muito para manter esse padrão. (Coordenadora
‘a-I’).
Essa não é entretanto, conforme o declarado, a situação dos cursos
tecnológicos. No caso da faculdade, a sua coordenadora ‘b-I’, declarou que o curso
surgiu para suprir a carência de mão-de-obra especializada para as indústrias locais
em design e também em administração. No entanto, ela também declarou não existir
uma interferência direta dos empresários na formatação do currículo, o que
demonstra uma certa independência. O que está sendo feito pela escola, através de
um órgão que ela própria instituiu, é buscar uma aproximação com as indústrias, no
sentido de encaminhar o aluno para estágio e também para o suprimento de
algumas vagas ofertadas pelas empresas, fato que pode ser considerado positivo no
processo de profissionalização do aluno.
Porém, surge uma outra situação que pode não estar sendo levada em conta,
como princípio: a formação mais ampla do aluno, posto que, de acordo com as
declarações, o curso foi criado por existir uma demanda e por isso uma oportunidade
de negócio, ou seja, um interesse mercadológico gerado pelo número de indústrias
daquela região e por esses possíveis alunos que, para eles, são “clientes
potenciais”. Enfatiza-se que o referido curso é de nível tecnológico e a sua duração
é de 3 (três) anos, ou seja, uma formação mais rápida que os cursos superiores em
design industrial de moda. Apesar de existir um sentido prático nesse nível de
formação, o aluno não tem a mesma quantidade de informações e frente ao
mercado de trabalho ele poderá não ter o mesmo “valor” que um bacharel em
design.
Constatam-se, então, duas situações: por um lado, cursos com pouca
independência na organização curricular e por outro, cursos que vêem a formação
profissional como uma oportunidade de negócio. Nessa relação paradoxal surge um
questionamento: ‘Como fica, então, o aluno diante desse quadro?’
84
3.2.1 A função da escola na visão do empresário
Durante o processo de algumas das entrevistas, mesmo não tendo sido
explícita esta parte durante as gravações, foi verificado que para os empresários das
pequenas indústrias a função da escola profissional é o fornecimento de mão-de-
obra bem qualificada e mais abundante. Por não conseguirem número suficiente de
pessoas bem treinadas eles acabam se queixando.
A grande indústria, que tem a sua própria escola de formação básica, e a
média indústria, que interfere no processo de aprendizagem da escola da prefeitura,
declararam estarem satisfeitas com os resultados obtidos nessas escolas. Esse
fenômeno ocorre, justamente, por elas interferirem diretamente no processo de
qualificação, além do fato de terem uma produção mais fragmentada
38
, o que facilita
o processo de qualificação, e por isso elas não têm queixas. O empresário ‘B-1’
sobre isso falou:
Olha! Eu não tenho reserva, não tenho nenhuma queixa não. Se eu
tiver queixa, vou lá na escola e peço, dizendo que nossa
necessidade não está sendo atendida. Acho que tem que fazer isso
e isso. Porque de nada me adianta falar mal da escola, a escola está
ali. Eu tenho que participar, tenho que fazer a minha parte e dizer:
Olha gente, eu acho que vocês deviam fazer isso e aquilo outro, para
vocês melhorarem a capacitação das pessoas.
A opinião dos empresários das pequenas indústrias a respeito das
expectativas da formação em nível básico é diferente, conforme se pode depreender
da fala do empresário ‘D-1’:
O que a gente espera é que realmente saiam profissionais lá de
dentro, que a gente possa ver após o curso um profissional na nossa
empresa. Quando ele diz ‘fiz tal curso em tal escola, fui classificado e
está aqui o meu certificado’, isso quer dizer que a gente tendo a
certeza de que estando ele certificado, vou colocá-lo em uma
máquina e ele vai realmente me produzir o mínimo, que seria de se
esperar de alguém que está com certificado na mão. É claro que nós
não vamos querer aquele funcionário padrão, porque é claro que ele
terá que se habituar com o tipo de produto que a gente trabalha, com
38
A fragmentação, ou parcelização, do processo em etapas menores, facilita o aprendizado,
permitindo a geração de especialistas em micro processos. Na produção em uma indústria da
confecção do vestuário podemos fazer a seguinte distinção: o costureiro chamado oficial, ou
completo, é aquele que sabe montar uma peça inteira; o especialista em máquina, é aquele que
executa qualquer costura, ou operação, em uma determinada máquina; e o especialista em
operações determinadas, como por exemplo na montagem de bolsos, ou golas, ou zíperes etc.
Esse último caso se refere ao operador em uma produção parcelizada.
85
o próprio sistema da empresa, tudo isso aí leva um tempo para se
adaptar. Mas, nesse tempo ele tem condições de produzir o mínimo
possível, com a qualidade mínima. Quando um cara que sai de um
curso e ao chegar na nossa empresa, já sabendo que não tem
condições de ter essa qualidade e não tem essa produtividade
mínima esperada, o que esperar dele? Que fez um curso por cento e
oitenta ou duzentas horas aula e não saiu apto de lá? Então, o que a
gente espera do profissional é competência e da escola que largue
esse profissional no mercado e tenha uma preocupação de ver se
ele ou ela estão conseguindo emprego. Que estão formados
realmente, se estão conseguindo emprego, estão conseguindo se
colocar no mercado de trabalho. Então, essa é a preocupação que a
escola tem que ter, não adianta simplesmente ela pegar e chegar no
final de cada sessenta dias, certifica dez, vinte alunos, para depois
ficarem largados, não ter preocupação de ver se eles realmente
conseguiram entrar no mercado de trabalho.
Reforçando a opinião de ‘D-1’ no que se refere à qualidade do profissional e
suas habilidades adquiridas na escola, o empresário ‘C-1’ sobre o que estaria
faltando, declara o seguinte, a respeito do que estaria faltando na formação desses
profissionais:
Nas costureiras, a prática, ter a prática, por exemplo, saber
confeccionar uma peça por inteiro, saber todos os processos, não só
costurar. Uma costureira não deve só saber costurar, tem que
conhecer entretelas
39
, sabendo o que é uma colante e o que não é
colante. (...) Somente sentar na máquina não é ser costureira, ser
costureira é ter conhecimento geral e é o que elas normalmente não
têm. Então, você tem que ensinar isso, na prática, o que se faz é dar
continuidade ao curso, é juntar conhecimento ao pouco que ela tem.
Você a pega costurando, coloca na máquina ela costura, reta, torto,
direito, mas ela não faz uma peça e você precisa ensinar.
(Empresário ‘C-1’).
Essas declarações expressam exatamente o sentimento dos três pequenos
empresários entrevistados. Porém, apesar de existirem muitas críticas à escola,
algumas considerações positivas também foram feitas, já que os empresários
acabam, por necessidade, aceitando alguns poucos profissionais oriundos dela.
Os empresários, entretanto, acreditam que existem alguns pontos positivos
nos cursos profissionais oferecidos. Nesse sentido, assim se expressou o
empresário ‘E-1’ sobre o curso técnico oferecido em Curitiba:
39
Entretelas são tecidos para a forração interna, utilizadas em boa parte das peças do vestuário. No
entanto, para sua utilização são necessários conhecimentos técnicos e habilidades no manuseio.
86
Em nível básico não, porque não temos ninguém. Em nível técnico,
com certeza tem pontos positivos, existe um certo conhecimento
técnico e um conhecimento teórico que o curso dá. Eu acho muito
importante para formação do aluno, até porque se não existisse,
como seria a formação, uma formação um pouco precária. Então,
realmente, o conhecimento teórico é muito importante, eu acho um
ponto positivo, o incentivo que a instituição de ensino dá ou
transparece. Ele motiva ao estudante, o recém formado, a se
profissionalizar cada vez mais, se especializar cada vez mais na sua
função, na sua, digamos assim, das suas aptidões. Porém nem tudo
isso é o que a empresa necessita, novamente na questão teórica, os
cursos são bons.
Ainda sobre elogios dos empresários aos cursos de formação profissional,
surgiram, coincidentemente, comentários favoráveis dirigidos a uma mesma escola
do Senai. Contudo, esta escola não é do Paraná, mas, sim, da cidade de Jaraguá do
Sul, Estado de Santa Catarina. Foram dois os empresários que comentaram terem
contratado, ocasionalmente, profissionais oriundos de lá, tendo ficado bastante
satisfeitos com esses mesmos profissionais. Um deles foi o ‘D-1’, de Toledo, e o
outro o ‘E-1’ de Curitiba.
A profissional costureira ‘D-2’, entrevistada, é oriunda dessa escola e, em
conversa não gravada, foi bastante elogiada pelos proprietários da pequena
indústria ‘D’. Já em Curitiba o empresário ‘E-1’ declarou o seguinte:
Viemos a saber depois de ter contratado que ela tinha passado por
um Senai, o de Jaraguá do Sul, que é muito eficiente. Eles realmente
formam profissionais competentes e aptos a trabalharem na área de
desenvolvimento de coleção. Uma pessoa, uma funcionária, já tinha
passado por outras empresas de renome e com certeza oriunda de
escolas e instituições de ensino específicas. Na parte de nível básico
tivemos bons funcionários que já haviam passado pelo Senai de
Santa Catarina.
Os comentários do empresário ‘D-1’ sobre as escolas de formação
profissional de outros centros de maior referência no setor, inclusive Jaraguá do Sul,
foram os seguintes:
Nós temos mais um ou dois casos de pessoas que vieram de centros
maiores ou outro centro de confecção maior. É que eles vêm com
outra visão, com uma visão diferente de empresa e de profissão.
Quer dizer, eles são mais conscientes que têm que produzir, que
produzir com qualidade, não podem ficar dando retrabalho, que
retrabalho é custo e tudo isso são coisas que vão definir se nós
vamos continuar no mercado. Então, esse pessoal, que vêm destes
87
centros que têm por tradição o segmento de confecção, está mais
bem preparado. Tanto eles são melhor preparados para produzir em
termos de qualidade quanto de produtividade. Como suas cabeças
estão mais preparadas, foram trabalhadas, sentimos que trabalham
com maior aptidão para fazerem o serviço. (...) Eles entendem
melhor o sistema de produção, o quanto é importante que ele tenha
essa qualidade e essa produtividade.
Sobre o que ainda esperam da escola, também foram colhidas declarações,
da já comentada preocupação com o suprimento da necessidade de formação
profissional para operadores dos equipamentos de última geração, ou de maior
sofisticação técnica. O empresário ‘C-1’ ao criticar a escola, também falou sobre
isso:
(...) Elas nunca mais viram uma overlock
40
decente, elas não sabem
o que é uma refiladeira
41
, não sabem o que é uma máquina de bolso
eletrônica, não sabem o que é uma máquina reta eletrônica, não
sabem mexer com nada. Então quer dizer o que se oferece hoje, isso
é água com açúcar, isso não resolve nada, não vai resolver o
problema.
Apesar de estar satisfeito com a escola de formação em nível básico o
empresário ‘B-1’, conforme já descrito em item anterior, teceu comentários sobre a
referida formação, pois ele também se preocupa com a falta de instrução para quem
vai operar os equipamentos mais sofisticados. De acordo com Paiva (1993, p. 316),
a qualificação é o instrumento para quebrar a rigidez e impedir que
se aniquilem as potencialidades da tecnologia; aos trabalhadores
cabe, cada vez mais, controlar os controles, não podendo ser
competentes apenas com tarefas fixas e previsíveis, mas devendo
compreender a totalidade do processo de produção para fazer face
ao imprevisível. Com sistemas de produção flexíveis é vantajoso
recorrer a equipes com trabalhadores mais qualificados para
minimizar perdas onerosas de tempo, o que levaria o setor produtivo
a demandar qualificação mais elevada e de melhor qualidade de
caráter geral.
40
Um tipo de máquina de costura que opera simultaneamente com 3 (três) fios, ou linhas, para
costuras de extremidades.
41
É uma máquina de costura de ponto comum, ou reto, que utiliza duas linhas simultaneamente, e
que corta o tecido margeando a costura que ela mesma executa, ou seja, faz um acabamento
uniforme.
88
3.2.1.1 A escola ideal na visão dos empresários
Para os empresários, independentemente do porte de suas indústrias, a
escola para ser ideal deveria suprir as reais necessidades das suas empresas,
realizando, segundo as suas opiniões, uma formação profissional mais abrangente e
duradoura. Para os empresários das pequenas, já que os das indústrias maiores
resolvem seus problemas de forma independente, o aluno deveria ter algumas
especializações, sabendo montar peças completas e ainda ter conhecimentos
técnicos sobre procedimentos operacionais, tecidos, linhas e outros materiais que
envolvem o processo de fabricação.
Nesse sentido as declarações foram bastante contundentes. A preocupação
maior do empresário ‘C-1’, de pequena indústria, é justamente, quanto à duração e
conteúdos dos cursos. Ele declarou:
Uma escola profissional, como eu falei antes, deveria ser mais
técnica, ou formar quase um técnico mesmo, levar um ano. (...) não
adianta formar meio profissional. Profissional tem que ter habilidades
e conhecimentos além da máquina de costura, saber que ele pode
crescer dentro da empresa. A gente ganha pouco, todo mundo
ganha pouco, ganha pouco porque conhece pouco.
A maior preocupação do empresário ‘D-1’, é quanto à funcionalidade e
eficácia da escola. Ele declarou o seguinte:
A escola ideal, na minha opinião, é aquela que atinge o objetivo para
que ela foi feita, quer dizer, a escola tem que alcançar sua finalidade,
que é preparar a mão-de-obra e essa mão-de-obra tem que ser
aproveitada. Enquanto a escola estiver largando esse profissional
formado em parte, nós não chegamos à finalidade da escola. Na
verdade é mais um arranjo que propriamente uma escola
profissional.
O empresário ‘E-1’, mostrou preocupação quanto à abrangência dos
conhecimentos e à prática que o aluno deveria adquirir e declarou:
Acho que a escola ideal, no caso da confecção, tinha que ter uma
sistemática de aprendizagem mais prática, seja em nível básico,
técnico ou tecnológico. Nível básico é ter, por exemplo, a questão da
produção, conhecer, por exemplo, o que são células de produção e
que até pudesse oferecer serviços à indústria. (...) Onde o estudante,
fazendo aprendizagem, encontre uma vivência prática de produção e
de empresa e não uma vivência prática de escola. Na formação
técnica e tecnológica já envolve um pouco mais de relação direta.
89
Acho que deveria a escola ir até aos empresários, constantemente,
alimentando os conteúdos de necessidades reais, através de diálogo
com a empresa. O que está sendo preciso informar para o novo
profissional e até a questão dos empresários fazerem um debate, um
diálogo com os estudantes, os estudantes escutarem os
empresários.(...) No momento que os empresários levam isto,
mostram a realidade, mostram como funciona, chegam ao ponto de
ensinarem alguns assuntos, alguns temas importantes aos
estudantes, eles estariam mais preparados. Então, é a escola
permitir o acesso, este tipo de acesso, é estar mais presente, escola
empresa, empresa escola.
Na visão do empresário a prática é a questão fundamental. No curso de
formação básica não existe o estágio e mesmo existindo nos cursos de nível técnico
e tecnológico, o empresariado mostrou o descontentamento com o despreparo do
aluno estagiário quando ele está na empresa.
3.2.2 Quando a empresa assume o papel da escola
A pesquisa mostrou que as expectativas dos empresários para com as
escolas profissionais estão ligadas ao suprimento das necessidades do processo
produtivo, para que o mesmo possa evoluir, tanto no que tange à produtividade
quanto ao que tange à melhoria da qualidade dos produtos. Contudo, face ao
problema da, já comentada, desaprovação dos empresários aos cursos ofertados
pelo Senai e pelas prefeituras, as indústrias, pelo menos as que podem, resolvem a
sua situação de qualificação profissional, em nível básico, de forma independente da
escola.
O primeiro caso descrito é de uma empresa que resolveu o problema
internamente, por já ter tentado suprir as suas necessidades, tanto junto ao Senai
quanto à Prefeitura local, e não obter sucesso ou mesmo o preenchimento mínimo
de suas expectativas. Este é o já comentado caso da grande indústria de Ampére e
que através da gerente ‘A1’ declarou ter um treinamento interno, conforme o
transcrito no item 3.1.2. Sobre o mesmo comentário é chamada atenção para
quando ela relata: ”pronto, qualificado para ir para o setor na linha de produção”,
acreditando que ela quer dizer qualificado como um sinônimo de adequação à sua
empresa e ao seu processo de produção industrial e não qualificado
profissionalmente para atuar em qualquer indústria do setor.
90
Ao ser perguntada sobre o porquê da decisão em desenvolver um curso de
formação interno, ela respondeu:
(...) a gente até tem um curso de costureiro industrial na cidade, que
tem o amparo da prefeitura e do Senai. Mas, além de não suprir as
nossas necessidades, as pessoas que vinham de lá, não vinham
qualificadas com o perfil da empresa. Porque não éramos nós que
selecionávamos, era a prefeitura quem selecionava. Então, às vezes
entravam funcionários que não batiam com o perfil, aí acaba tendo
que dispensar e é todo aquele processo novamente. Então pelo
menos a gente tem esse amparo interno. (Gerente ‘A-1’).
Quando questionada sobre como a empresa encara as questões da formação
em nível técnico, ela respondeu o seguinte:
Nível técnico, na realidade, a gente só formou técnico aqui dentro,
assim, funcionários que saíram de dentro da produção e hoje são
técnicos. Por exemplo, a nossa técnica de segurança era uma
operadora de máquina de costura. Então é uma pessoa que a gente
investe no sentido, assim, de fornecer esse recurso para as pessoas.
(Gerente ‘A-1’).
Ao responder “técnico aqui dentro”, ela não quis dizer que a empresa mantém
cursos técnicos internos, mas que propicia a formação técnica para seus
trabalhadores em escolas profissionais desse nível.
O segundo caso foi o da indústria de médio porte da cidade de Santo Antônio
do Sudoeste, que através da Prefeitura local, supre as suas necessidades de
formação em nível básico. É grande o interesse da Prefeitura por esta indústria, já
que ela garante, aproximadamente, 300 empregos diretos, numa cidade que tem
cerca de 18.000 habitantes
42
, o que colabora na estabilização e fortalecimento da
economia municipal. Agregado a isto está a ajuda material que a empresa fornece
para o curso, o que reduz bastante os custos operacionais do mesmo.
Esses fatos influenciam a escola a oferecer tratamento personalizado para
esta indústria, adequando seu conteúdo programático às necessidades da mesma.
Isso facilita muito a contratação de novos funcionários e acelera o processo de suas
adequações à empresa. Sobre isso declarou o empresário ‘B-1’:
Quanto à escola municipal, a gente tem um bom contato com as
pessoas, a gente forma um grupo de diversas pessoas, em torno de
42
Fonte: http://www.achetudoeregiao.com.br/PR/santo_antonio_do_sudoeste.htm.
91
40 (quarenta). A prefeitura se deu ao luxo de comprar e instalar as
máquinas. No início dessas aulas, chamam o nosso gerente de
produção, para se falar alguma coisa, fazer uma palestra, falar o que
se espera das pessoas que estão fazendo o curso, ou seja mecânica
ou costura. Realmente, é um curso de costura mesmo. E lá a gente
coloca as necessidades que temos, o que nos falta e o
comprometimento que a pessoa deve ter com a empresa.
No que tange ao complemento da formação profissional ofertada pela
Prefeitura e adequação do novo funcionário, o empresário ‘B-1’, ainda, declarou:
Preenchida parte da nossa necessidade de treinamento, a pessoa,
após fazer esse curso lá fora, (...) faz mais um treinamento dentro da
empresa para que a pessoa possa desenvolver um produto dentro
do que o mercado está exigindo.
Bem diferente das grandes e médias é o caso das pequenas indústrias, que
não têm como formar seus profissionais. Por isso, costumam ser muito mais
exigentes na hora da contratação e esperam que o profissional já venha preparado
para aquele posto de trabalho que têm em disponibilidade. É nesse momento que
surge o descontentamento com a escola, pois a formação oferecida não consegue
acompanhar as exigências da grande maioria dessas pequenas indústrias, ou seja,
a escola não é capaz de formar um conjunto de profissionais qualificados para
atuarem em tão distintos casos. Por isso, quando os profissionais são contratados,
normalmente com experiência anterior ou, em minoria, oriundos de escolas, mas que
ainda não estão aptos a atuarem conforme esperam os empresários, acabam
aprendendo na prática, no dia-a-dia da produção a realizar suas operações. Mas
para isso, precisam passar nos diversos e diferentes processos de seleção dessas
indústrias.
Muitos dos funcionários entram sem uma formação e na empresa, aos
poucos, vão aprendendo a executar os diversos trabalhos, fazendo lembrar o
processo de ensino profissional das antigas Corporações de Ofícios. Sobre esse
aprendizado prático foram coletadas algumas informações, dentre as quais se
destacam os comentários do empresário ‘D-1’:
(...) A gente contrata alguém para serviços gerais, desde que tenha
vontade de crescer. Ele procura, é claro, o próprio encarregado, que
vai lhe orientando dentro das condições que a gente tem disponível.
O encarregado vai orientando, vai ensinando para ele, sairá dos
92
serviços gerais e passará a ser costureiro, a ser cortador, ou outro
setor, como de expedição por exemplo.
Dentre as duas situações apresentadas, ou seja, as ações adotadas quanto à
formação profissional, nos casos das grandes e médias indústrias, comparadas às
ações adotadas nas pequenas, muitas questões podem ser apresentadas.
No caso das indústrias maiores, ficou claro o vínculo e a dependência da
escola; em contrapartida se evidencia a sua ineficácia para atender aos anseios das
menores. Porém, quais são os questionamentos que surgem dessa análise?
Inicialmente, acredita-se que os empregados da grande e média indústrias
apresentadas podem estar sendo condicionados aos processos em que trabalham,
tendo menores oportunidades para aprenderem outros ofícios ou técnicas, limitando
a ampliação de seus conhecimentos e, assim, os seus futuros horizontes de
trabalho. Então, o questionamento é: “O quanto estariam, esses funcionários,
limitados neste mesmo universo de conhecimentos técnicos e o quanto, tendo eles
essa limitação, estariam aptos a buscar novos empregos, sem ter que recomeçar por
um novo aprendizado ou requalificação?”
Um outro questionamento é: “Além deste possível prejuízo profissional
causado pelo condicionamento, não estariam estes funcionários também adquirindo
‘vícios’ operacionais destas mesmas empresas?”
3.2.3 A função da escola na visão da própria escola
O Senai foi criado para formar profissionais, servindo à indústria com o
fornecimento de mão-de-obra especializada. É possível que no Estado do Paraná
isso ocorra em outros setores industriais, contudo, na opinião do empresário do setor
da confecção do vestuário este apoio não está acontecendo como deveria. Esta não
é, entretanto, a opinião da coordenadora, ‘a-I’, dos cursos oferecidos em Curitiba,
que assim se manifestou sobre o curso de formação técnica em design de moda, ou
simplesmente curso técnico de estilismo:
(...) O nosso carro chefe é o Curso de Estilismo.(...) Temos tido
resultados, assim, “fantásticos” para um curso de dois anos de
duração. Os alunos tem mil e seiscentas horas e mais quatrocentas
horas de estágio supervisionado. A proposta é que o aluno saia
daqui com condição de fazer a pesquisa de moda, o planejamento da
coleção, os croquis da coleção, as fichas técnicas, ou seja, toda
parte da criação. (...) afinal o Senai tem sessenta anos e foi criado
93
com essa finalidade: fazer formação profissional. (Coordenadora ‘a-
I’). (Grifos meus).
O curso de estilismo é tido pelo Senai como sendo um curso excelente,
apesar disso os empresários, inclusive os alunos, declararam não estarem
totalmente satisfeitos com os seus resultados.
Sobre os cursos de formação básica, ela admite, porém, existirem algumas
deficiências e complementa com as seguintes informações:
O aprendiz, aluno nosso do curso de qualificação, aprende as
operações básicas e também o manejo básico das máquinas de
costura. (...) O curso realmente dá ao aluno condição para ser um
profissional da área. Ele opera costuras retas, linhas retas, ângulos,
cantos, arremates
43
, aprende a fazer o genérico de maneira que ele
possa trabalhar, tanto numa fábrica de camisas, como numa fábrica
de calças e outras. (...) Então, nosso aluno carece do curso de
qualificação, que seja um curso genérico, para atender às diversas
indústrias que existem por aí. Seria, principalmente, em tecidos
planos
44
, depois, passariam por uma requalificação, de
provavelmente quarenta horas, em máquinas especiais, que serão
fornecidas pelos interessados, pelas empresas interessadas. Isso é
uma coisa nova. “Os empresários estão se dando conta dessa
necessidade e, certamente, nos mobilizará para fazermos um projeto
específico para esta necessidade”. (Coordenadora ‘a-I’). (Grifos
meus).
Grifou-se essa última frase da coordenadora para reforçar a questão da já
comentada dependência dessa entidade às indústrias.
O Senai de Curitiba, conforme informações da coordenadora, periodicamente
oferta cursos de modelagem industrial. Ela comentou:
No caso da modelagem, é voltado para um profissional já
especializado em costura. Uma indústria precisa de um modelista
para algumas dezenas de operadores de máquinas de costura. Com
cem horas de modelagem, que vamos oferecer em modelagem
masculina, o operador, ou o aprendiz, terão uma condição bastante
boa de fazer um diagrama
45
, ampliações e reduções de moldes,
fazer modelagem masculina em si e interpretação de modelos. Ele
vai ter uma boa base, mas com cem horas, lamento muito, mas não
tem jeito de dizer que o aluno sai daqui como profissional. Ele terá
que exercitar, exercitar e exercitar, indo para as linhas de frente, para
43
Nome dado a um grupo de operações de acabamentos das peças costuradas, onde boa parte dos
mesmos é realizada manualmente com o apoio de ferramentas.
44
Tecidos planos são aqueles compostos pelo entrelaçamento de fios na vertical e na horizontal.
Tecnicamente chamados de fios de trama e de urdimento.
45
Diagrama é o nome dado a base geométrica onde se originam os moldes.
94
poder realmente adquirir prática nesta modalidade ou nessa
profissão. (Coordenadora ‘a-I’).
Apesar de mostrar que considera o curso como bom e acreditar que o Senai
de Curitiba está cumprindo seu papel, a coordenadora parece ter consciência da
insuficiência na sua carga horária, no sentido deste poder oferecer ao aluno uma
formação melhor e mais consistente. Esse é um problema já comentado pelo
empresário, ou seja, ele considera a formação básica oferecida no Senai como
sendo insuficiente em sua duração.
Quanto ao curso de formação tecnológica, não existe uma avaliação feita
sobre o mesmo por parte dos empresários. Nem a nossa pesquisa detectou
qualquer crítica mais direta, ou mesmo a escola jamais registrou qualquer queixa, ou
ainda, nunca realizou pesquisa para levantar a opinião dos empresários. Contudo, é
importante destacar que em conversa informal, não gravada, com um dos
proprietários da indústria localizada em Toledo, ocorreram críticas voltadas à
capacitação de algumas estagiárias de curso de nível tecnológico que por lá
estiveram.
Ainda quanto ao curso tecnológico, foi notado que a sua coordenadora, ‘b-I’,
assim como a aluna entrevistada ‘b-II’, teceram grandes elogios ao mesmo,
demonstrando de forma clara que fazem uma avaliação positiva da escola. As
declarações de ‘b-I’ foram pertinentes à boa qualidade das instalações,
especificamente das salas de aula e dos laboratórios, dos docentes, da formação
continuada que é oferecida com os cursos de pós-graduação e, também, da
preocupação da escola em encaminhar o aluno ao estágio. Ela acredita que a sua
escola esteja cumprindo o seu papel, pois o curso foi criado para o preenchimento
das vagas naquela região, sendo que, hoje, já existe uma boa taxa de absorção de
estagiários pelas indústrias locais, apesar de ela não saber exatamente o número de
estagiários aproveitados por essas mesmas empresas nos últimos meses.
As declarações da aluna de curso de tecnologia ‘b-II’, ao ser questionada
sobre a qualidade do curso, foram as seguintes:
Sobre os professores, eles são os melhores profissionais possíveis.
Uma equipe bem qualificada, cada um em sua área e fazem com
dedicação. (...) Sobre o curso e a faculdade não tenho reclamações,
existem salas com boa infraestrutura e exclusivas para o curso, salas
específicas para cada disciplina, os laboratórios são ótimos,
95
equipamentos de primeira, o curso possui uma infraestrutura de dar
inveja. (Aluna ‘b-II’).
Algumas escolas superiores e de tecnologia de moda são ainda muito
recentes e ainda não formaram a sua primeira turma, o que, talvez, não esteja
permitindo uma avaliação mais profunda por parte dos empresários. Como o que os
aflige é a formação básica, quando perguntados sobre a qualidade dos profissionais
formados, eles se detiveram em falar mais sobre as escolas desse nível. Um fato
bastante curioso revelado pela pesquisa é que nem a indústria de grande e nem a
de médio porte possuíam funcionários estilistas com formação superior ou mesmo
técnica em seus quadros funcionais. Essas empresas declararam optar pela
terceirização do serviço de design dos produtos, o que não pode ser considerado
uma regra, mas que nesse caso não permitiram melhores relatos sobre as escolas
de nível superior, ou tecnológico, em moda por parte das grandes e médias
indústrias.
A única empresa que contratou funcionária com formação superior em moda
foi a indústria de Curitiba, porém muito recentemente, e a profissional, ‘E-2’, foi quem
forneceu maiores esclarecimentos sobre o curso que fez e se mostrou bastante
insatisfeita com o mesmo.
3.2.4 A função da escola na visão do trabalhador
Na presente pesquisa percebeu-se que em todos os níveis da formação
profissional, o aluno espera que a escola o torne apto a ingressar no mercado de
trabalho e, além disso, também espera a sua imediata colocação ao término do
curso. Essa última expectativa é muito mais freqüente no aluno de formação básica,
já que para ele o emprego é uma questão de sobrevivência.
Também foi verificado que, em alguns casos, o aluno desse nível busca a
escola para preservar o seu emprego, quando ele já está trabalhando em alguma
indústria.
Na fala da aluna do curso profissional de nível básico do Senai, ‘a-III’, notou-
se a preocupação com a sua colocação no mercado após terminar o curso:
É exatamente isso, o desemprego tá difícil né, e as empresas estão
exigindo mais hoje, na experiência, nos cursos que você tem, no
conhecimento também. Optei por costura industrial para ver se
facilita um pouco mais para arranjar um emprego logo. (Aluna ‘a-III’).
96
Na fala da costureira ‘C-2’ foi percebido que ela buscou o curso quando já
trabalhava na indústria e tomou essa providência no sentido de sair do cargo de
auxiliar, ascendendo ao de costureira e, assim, também preservar o seu emprego ou
conseguir ascensão ao cargo em uma outra indústria, conforme declarou:
Peguei e pensei assim: Eu vou fazer o curso, que talvez seja mais
fácil de eu entrar como costureira, porque aqui eu não tinha tempo
de pegar nas máquinas, só para treinar. Peguei e fui no CEMEP
46
, foi
onde eu fiz o curso de três meses, foi de 16 de julho a 17 de outubro
de 2000, quando terminei o curso. (...) Me sentia insegura, eu
pensava assim: Eu não tenho curso então como eu vou procurar
uma profissão como costureira, se eu não tenho curso. Eles vão
pedir para mim: Escuta, você é costureira? Não! Você já fez algum
curso? Não! Então, eu vou atrás de um curso porque se eu pedir
para o meu patrão assinar minha carteira como costureira, mesmo
que ele saiba que eu fiz o curso e ele não me aceitar, eu me sinto
mais segura para sair daqui. Isso que eu pensava, eu vou sair daqui
e vou procurar um serviço como costureira em outra empresa, eles
vão pedir: Você tem prática com costura? Eu vou ser sincera, eu não
tenho prática em costura, só que eu tenho vontade, eu fiz o curso de
costura, sou acostumada tocar a máquina. Por isso que eu fui atrás
do curso de costura (...) pois eu me sinto mais segura, creio que eu
sou mais profissional. (Costureira ‘C-2’).
Com a costureira ‘D-2’ o contexto não foi diferente, pois sua história
profissional é bastante parecida com ‘C-2’. Ela iniciou na profissão de costureira em
Jaraguá do Sul, Estado de Santa Catarina, e necessitou vir morar na cidade de
Toledo. Sobre o início do seu percurso e formação profissional ela declarou o
seguinte:
Eu comecei há quatro anos atrás, como auxiliar em Jaraguá. Lá eu
aprendi overlock, aí apareceu o curso de costureira, no Senai. Dois
meses de duração. Aí eu aprendi todas as máquinas básicas. Aí fui
para a facção
47
lá mesmo. Aí eu aprendi aperfeiçoamento na facção.
De lá eu vim para cá, comecei em uma empresa, fazendo lingerie.
De lá fui para outra e de lá trabalhei como costureira de interlock
48
,
fechando laterais de calças e fazendo o restante do bolso na reta. Aí
depois, de lá eu vim para cá. (Costureira ‘D-2’).
46
CEMEP significa Centro Municipal Ensino Profissionalizante.
47
Facção de Produção, conforme já explicitado no item 1.3, é um termo que significa produção, ou
montagem, externa à empresa, não pertencente a ela, ou ainda, terceirizada.
48
Um outro tipo de máquina de costura similar à overlock, porém que opera com 5 fios, ou linhas,
também para costuras de extremidade que exigem muito maior resistência.
97
A mesma expectativa, apesar de ser um pouco mais tênue, também ocorre
entre os alunos de nível técnico e tecnológico. Ela também pode estar sendo gerada
pelas propagandas governamentais e da Imprensa sobre o setor, aliada a um outro
fator, que é a própria, e já comentada, divulgação dos cursos pelas escolas que os
promovem.
Sobre esse fenômeno a aluna ‘a-II’, de curso técnico, fez os seguintes
comentários:
Eu acho que está “crescendo horrores”. Eu acho que está precisando
de profissionais, pelo pouco tempo que eu trabalhei e vi que as
fábricas, os donos, as pessoas, estavam perdidos. Eles querem
obter resultados mas não sabem como. São meio amadores. Eu
acho que está precisando de gente para isso. (Grifos meus).
Sobre a influência da propaganda das escolas, um fato importante é a forma,
que se entendeu ser exageradamente positiva, como os coordenadores dos cursos
enxergam o mercado de trabalho. Um exemplo dessa “visão” é a afirmação da
coordenadora ‘b-I’ de Cianorte, que disse o seguinte:
O nosso curso de Moda e Estilo foi criado em 2002 em Cianorte,
principalmente, para atender a necessidade de pessoal qualificado
para as indústrias de confecção da cidade e região. Cianorte, como
citei anteriormente, é conhecida como Capital do Vestuário e
encontra-se dentro do Corredor da Moda Paranaense. Cianorte é
uma cidade com aproximadamente 65 mil habitantes e conta com
mais de “1500 indústrias de confecção”, podendo ultrapassar este
número se contarmos com as pequenas facções de fundo de quintal.
(Grifos meus).
Grifou-se essa parte do relato relacionado à quantidade de indústrias,
justamente por não se acreditar nesse número tão elevado para uma só cidade de
pequeno porte, mesmo que seja ela a maior representante do segmento no Estado.
Baseados nos dados oferecidos pelo SEBRAE-PR e ABRAVEST, pode-se estimar
que hoje em todo o Paraná existam, no máximo, 2.500 indústrias do setor e a média
dessas indústrias contam com 18 funcionários
49
, aproximadamente. Só em Cianorte,
ao cruzar esse dado com a afirmação da coordenadora, estariam empregados na
produção cerca de 27.000 pessoas e esse número equivale a, aproximadamente,
49
Fonte: SEBRAE-PR e VESTPAR (DIAGNÓSTICO, 2004).
98
43,5% de toda a população local
50
. É preciso considerar que dentro do universo de
habitantes, a população economicamente ativa no Brasil, de acordo com o IBGE,
não chega a atingir a metade de toda a população, sendo necessário entender,
também, que o comércio e a prestação de serviços, juntos, sempre empregam mais
pessoas que a indústria. Em Cianorte o número de pessoas envolvidas com a
distribuição no varejo é elevado e bastante significativo e, também, por isso não se
acredita que apenas naquela cidade estejam instaladas tantas indústrias, já que
ainda é preciso considerar outros pólos importantes como os de Maringá,
Apucarana, Londrina, Curitiba e sua Região Metropolitana e, ainda, toda a Região
Sudoeste do Estado que tem grande representatividade.
São dados como esse que influenciam a decisão da escolha do aluno e, no
final, o que realmente se percebe é a dificuldade de suas colocações nas indústrias.
3.3 A RELAÇÃO DA ESCOLA COM O TRABALHADOR: Uma relação “social” ou
“mercadológica”?
Dos nove cursos superiores e tecnológicos paranaenses voltados para a
indústria do vestuário, apenas três são gratuitos e pertencem à rede estadual de
ensino. Os demais são da rede privada e têm, obviamente, interesse mercadológico.
No caso do curso de tecnologia pesquisado, em alguns momentos durante a
entrevista, a coordenadora ‘b-I’, de certa forma, deixou clara a sua intenção em
atender uma demanda, que não pode deixar de ser vista como uma oportunidade,
que certamente é também a dos mantenedores daquela escola, o que justificou a
abertura do curso naquela cidade. Foram estas as suas palavras:
O Curso de Tecnologia em Gestão de Moda e Estilo foi criado em
2002 em Cianorte, principalmente para atender a necessidade de
pessoal qualificado para as indústrias de confecção da cidade e
região. Cianorte, como citei anteriormente, é conhecida como Capital
do Vestuário e encontra-se dentro do Corredor da Moda Paranaense.
(Coordenadora ‘b-I’).
Como, segundo a própria coordenadora, existe um grande mercado de
trabalho para os alunos naquela região denominada “Corredor da Moda
50
De acordo com o IBGE, a população total, urbana e rural, estimada de Cianorte em 2005 é de
62.136 habitantes. Disponível em: http://www.saude.pr.gov.br:2080/perfilweb.nsf/municipios/.
99
Paranaense”, o objetivo social da formação profissional, por conseqüência, acaba
sendo cumprido.
No caso dos cursos técnicos oferecidos pelo Senai no Paraná, a preocupação
é o atendimento das necessidades das indústrias, já que esses cursos foram criados
a partir das solicitações do empresariado paranaense. Entretanto, como tem
acontecido nos últimos anos, e talvez em decorrência de uma política econômica de
influência neoliberal, também no Senai, que oferecia qualificação técnica
gratuitamente, os cursos na área têxtil estão sendo cobrados. Fazendo uma
comparação entre os custos do Senai para a formação de um técnico de nível médio
e o curso de tecnologia anteriormente citado, para a formação de um profissional
tecnólogo, depara-se com uma situação intrigante e que, de certa forma, pode
justificar algumas das observações já feitas. De acordo com a coordenadora ‘b-I’, do
curso de tecnologia, um aluno paga uma mensalidade de cerca de 0,726 do salário
mínimo (R$ 218,00 - duzentos e dezoito reais), enquanto o Senai cobra
mensalmente um valor em torno de 0,983 do salário mínimo (R$ 295,00 - duzentos e
noventa e cinco reais), o que deve contribuir para o afastamento de alunos de
segmentos de baixa renda, dificultando suas colocações em cargos com melhor
remuneração.
Apesar de não ser o objeto desse trabalho, uma interrogação, já manifestada
em diversas ocasiões por pesquisadores que se preocupam com políticas públicas
para a educação, aqui também fica presente: “Se o Senai recebe compulsoriamente
verbas das indústrias para a sua manutenção, por que cobra pela formação
técnica?”. E mais: “Por que o valor por ele cobrado é maior que o curso tecnológico
privado?”. Pensando em sua função social, “se o Senai também foi criado para
promover empregos aos filhos da classe trabalhadora, por que, então, não oferece
gratuitamente o seu curso?”.
Respostas a estas questões estão ligadas às modificações filosófico-
operacionais pelas quais o Senai atravessou a partir do início da década de 1990, e
que permanecem até hoje. Modificações estas que ocorreram em conjunto com as
políticas de gestão que o Brasil atravessou no mesmo período. A visão gerencial e
política do “Estado-mínimo” e as decorrentes privatizações, influenciaram as
lideranças empresariais, responsáveis pela gestão do Senai, que imprimiram a
“visão mercantil” ao Sistema “S”. Palavras do professor Alexandre F. Rodrigues
100
(apud, OLIVEIRA, 1999, p. 19), diretor geral do Senai da época, denotam tais
mudanças:
Tanto docentes como supervisores e técnicos terão que passar a ter
a visão e postura não só de educadores, mas empresarial,
associando as imposições didático-pedagógicas às conveniências
econômicas e sociais. (...) Essa nova época que começa a
consolidar-se, concebe a escola com uma importância econômica
maior do que a fábrica, a fazenda, a loja ou o banco.
Sobre essas palavras proferidas pelo então diretor do Senai, Oliveira (1999,
p. 19), destaca que
Comparar a importância da escola com a de estabelecimentos
inseridos numa dimensão produtiva acaba confirmando o caráter
imediatista e mercadológico que a instituição atribui à educação; a
atribuição de uma importância eminentemente produtiva à escola
também sugere a defesa da educação privada, gestada e praticada
no âmbito de uma administração não pública, uma mercadoria a ser
disponibilizada pelo mercado.
Toda essa situação conduz a uma outra reflexão, esta a respeito das
oportunidades de formação profissional para o setor têxtil. Como não existem cursos
técnicos gratuitos voltados à área do vestuário no Estado, um trabalhador, ou
mesmo seus filhos, terão chances muito limitadas de melhorar sua performance
profissional, se por aqui escolherem este segmento industrial. O Senai do Paraná,
ao cobrar uma alta mensalidade em seu curso, dificulta o ingresso do aluno de baixa
renda e, dessa forma, demonstra que está abandonando o caráter social de sua
existência.
Diante do quadro apresentado, conclui-se que, quando a questão é a
formação profissional no segmento têxtil, são poucas as alternativas restantes para o
trabalhador ou o aprendiz de baixa renda. Os cursos superiores gratuitos estão
apenas concentrados na Região Norte do Paraná, nas cidades de Londrina, Maringá
e Cianorte, sendo que para acessá-los eles ainda encontram a barreira da
aprovação no vestibular. Os cursos técnicos também se tornam inacessíveis, pois
para sua conclusão eles necessitam ter uma renda significativa para poderem
dispor, cerca, de dois salários mínimos mensalmente para investir em tal formação.
Entende-se, assim, que ao trabalhador ou estudante de baixa renda só
restam os cursos de formação básica, de curtíssima duração, criticados pelos
101
empresários e que como ele próprio enxerga, apenas o ajuda a se manter no seu
emprego de operário ou a almejar cargo semelhante.
3.3.1 Razões para a abertura dos cursos e escolha das disciplinas
O que pode explicar a razão da grande abertura de cursos superiores e de
tecnologia, especialmente os de design de moda, criados nos últimos anos no
Paraná, se não a propaganda sobre o crescimento do setor, já que o aumento do
número de empresas registrado na última década, conforme as pesquisas e
informações da FIEP-DEC (ANÁLISE, 2001) do SEBRAE-PR e da ABRAVEST, não
foi tão significativo?
A oferta de cursos técnicos é bem menor que a oferta de cursos superiores e
os mesmos foram abertos pelo Senai, de acordo com a coordenadora ‘a-I’, em
função de constantes solicitações de algumas indústrias e, principalmente, dos
sindicatos patronais de todo o Estado. A entidade também constatou por pesquisas
realizadas pela FIEP, que era uma necessidade do setor a criação dos referidos
cursos. A presente pesquisa nas indústrias permitiu confirmar que existe a
necessidade da contratação de técnicos por essas empresas para atuarem em todo
o processo produtivo. Sobre todas essas constatações a mesma coordenadora ‘a-I’
declarou o seguinte:
No ano de 1996 o Senai da Região Sul encomendou uma pesquisa a
um especialista, para levantar as necessidades dos nossos três
Estados com relação à indústria da confecção. Foi feito um trabalho,
uma pesquisa sistemática, não, não é sistemática é sistêmica, que
se chamou Necessidades para o Desenvolvimento da Indústria de
Confecções da Região Sul. (...) Nessa pesquisa ficou evidenciada a
necessidade que a Região Sul tem, por ter grandes industrias têxteis,
por ter grandes fábricas de tecelagem, que têm tecnologia de ponta e
por conseqüência emprega pouca gente, (...) existia a necessidade
de aproveitar esse potencial da matéria-prima para fazer criação. (...)
Isso ficou muito evidente nesse trabalho, que está à disposição, e
com isso as direções do Senai, dessas regiões, se sensibilizaram e
buscaram recursos do Departamento Nacional, através do projeto
estratégico para nós fazermos, uma equipe de técnicos, o
levantamento da necessidade, de conteúdo, de currículo, afinal, da
cara que se daria para esse curso de estilismo. O resultado foi
buscado através de pesquisa que fizemos em muitas escolas, aqui
no Brasil como a Alvares Penteado, o CETIQT
51
, a Anhembi-
Morumbi, o SENAC e tantas outras escolas que visitamos. Também
51
CETIQT – Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil do SENAI, que está localizado na
Cidade do Rio de Janeiro.
102
visitamos algumas escolas no exterior, que buscamos para serem
nossos parceiros, e nos trazer o “know how” da moda européia.
Visitamos algumas escolas na França e outras na Itália e optamos
pela parceria com Instituto Europeu de Design – IED, que até hoje
nos traz sistematicamente professores daquela escola, para
trabalhar simultaneamente com a moda que está acontecendo lá, e
trazer informações bem recentes para o nosso aluno.
Presente nas declarações da mesma coordenadora também está explícito
quais foram as informações e os subsídios buscados para que fosse estruturado o
currículo do Curso Técnico de Estilismo de Moda. Ela declarou que o mesmo foi
baseado em diversas experiências de vários estados do país, somado à contribuição
de escolas européias, principalmente a do Instituto Europeu de Design – IED.
Quanto aos cursos de formação básica para costureiro industrial, sabe-se, por
experiência do trabalho no Senai de Curitiba, que a série metódica
52
administrada
para a formação do aluno é bastante antiga, não tendo sido reformulada nos últimos
vinte anos, sendo a mesma aplicada na maioria das escolas das prefeituras, pois
uma boa parte dessas mesmas escolas receberam apoio do SENAI-PR para a sua
estruturação e abertura. Assim é o caso das escolas de Ampére, Marechal Cândido
Rondon e Toledo. No caso da cidade de Santo Antônio do Sudoeste, não se sabe
como foi estruturado o currículo do curso de costura, porém ficou evidenciado que o
mesmo sofre, conforme verificado na pesquisa, interferência direta das empresas
locais.
A maioria dos cursos de qualificação básica é ofertada pelas prefeituras do
interior, já que as mesmas têm grande interesse na industrialização de seus
municípios e no aumento da demanda por mão-de-obra naquelas cidades, o que,
conforme já referido, faz grande diferença para o desenvolvimento da economia
local. Tanto os cursos básicos ofertados pelas prefeituras, quanto os do próprio
Senai foram criados para atender, tão somente, as necessidades das indústrias.
No caso do curso tecnológico pesquisado em Cianorte, a sua coordenadora
informou que não existiu qualquer influência direta das indústrias para a elaboração
de seu currículo, apenas que os empresários têm mostrado algum interesse nos
alunos estagiários daquela escola.
52
Série metódica é nome dado pelo Senai ao conjunto de exercícios práticos pelo qual o aluno,
passo a passo, vai aprendendo a manusear e a utilizar a máquina, seguindo métodos de trabalho
preestabelecidos.
103
3.3.2 Expectativas e frustrações dos alunos e dos trabalhadores já formados
São muitas as expectativas dos alunos quando vão buscar um curso de
qualificação profissional em qualquer nível, porém, a que mais sobressai é a
esperança da conquista do emprego. Isso ficou bastante claro nas palavras das
alunas ‘a-II’ e ‘a-III’ do Senai de Curitiba e ‘b-II’ do curso de tecnologia de Cianorte.
Outras expectativas observadas na pesquisa, por parte dos ex-alunos que já
trabalham nas indústrias, foram quanto à preservação do emprego, à conquista por
melhores salários,à melhoria da qualidade de vida e à independência profissional.
Nem todos, entretanto, limitam suas expectativas à obtenção e manutenção
de emprego. Dois profissionais, a designer ‘E-2’, formada em faculdade de moda em
Curitiba, e o supervisor de grande indústria ‘A-2’, que ainda está cursando o nível
tecnológico na cidade de Dois Vizinhos, têm expectativas não muito diferentes e que
redundam na questão da melhoria da qualidade de vida e da independência
profissional. A maior expectativa da primeira é a realização da pós-graduação para
posterior abertura de um pequeno negócio. Este foi o registro de sua fala a respeito
do momento atual, realização pessoal e futuro:
Eu, realizada totalmente não, porque eu quero mais, eu um dia quero
abrir meu negócio. Mas antes, quero ir para Londres fazer meu
mestrado, ir para Saint Martin School, que é uma das melhores do
mundo, fazer meu mestrado, trabalhar com estamparia, de repente
abrir um pequeno negócio, negócio super legal, assim, mexendo com
essa coisa artesanal, puxando para o moderno, não aquela coisa
artesanal mostrando que é artesanal, mas indicando que é uma
coisa industrializada. Sabe, eu quero mexer mais com isso.
(Designer ‘E-2’).
Apesar de seu sonho de independência futura, a trabalhadora tem muitas
frustrações no presente momento, relacionadas com a indústria onde está
trabalhando. Frustrações salariais, de reconhecimento, infra-estrutura do local de
trabalho, entre outras. Sobre isso ela declarou:
Eu acho que agora não tenho mais crescimento profissional nenhum,
até porque estão querendo tirar o crescimento profissional que eu
tive, isso me chateou muito. Agora não tem mais condição, pois não
há nenhum crescimento profissional a partir desse limite. (...)
É o suficiente, pode se dizer que sim, apenas porque eu tenho uma
estrutura por trás, tenho uma família que tem uma boa estrutura.
Agora, se eu estou satisfeita? Nem um pouco! Com certeza, acho
104
que o reconhecimento aí deveria ser maior e eu, até agora, ganho
oitocentos reais (“cerca de 3,1 salários mínimos”). (Designer ‘E-2’).
No caso do supervisor ‘A-2’, que ainda está cursando a faculdade de
Tecnologia do Vestuário, a maior expectativa, assim como a designer ‘E-2’, é a
busca pela independência a partir da abertura de um pequeno negócio. Disse ele:
Minha maior expectativa em relação ao futuro é ser dono. Mas, para
isso vou primeiro terminar a faculdade, melhorar a minha situação
aqui na empresa, para depois começar a economizar para comprar
as primeiras máquinas. Colocar minha própria empresa, já estou no
ramo, estou buscando cada vez mais conhecimentos, não
abandonando aqui, mas futuramente quem sabe um dia eu consiga
colocar meu próprio negócio. (Supervisor ‘A-2’).
Mesmo com essas declarações ele salientou não ter nenhuma decepção ou
frustração com a indústria onde trabalha, tendo ainda declarado o seguinte: “Não,
estou feliz aqui, mas o meu maior sonho é ter também o meu negócio e sonho é
sonho, nós devemos ir atrás dele.” (Supervisor ‘A-2).
A profissional de supervisão de média indústria ‘B-2’ foi a única que se
mostrou satisfeita, não desejando se ausentar da empresa onde está.
No caso das profissionais ‘C-2’ e ‘D-2’, elas têm algumas frustrações em
comum, principalmente em relação à remuneração. Contudo elas também
mostraram que estão conformadas com o salário que atualmente recebem. Quanto a
isso as declarações de ‘C-2’ foram as seguintes:
Tem hora em que eu penso que sim, outra hora eu penso, acho que
não vão me dar valor, então eu fico lá parada esperando, penso,
depois paro de novo, estou esperando até hoje, vamos ver no que
vai dar. (...)
A gente nunca agradece mesmo, diz que quanto mais ganha mais
quer. Mas eu acho o meu salário baixo, para ser sincera acho muito
pouco, não dá nem para os meus gastos, que dirá se fosse para
ajudar em casa, ao marido nisso e naquilo.
Não muito diferentes foram as declarações de ‘D-2’:
Não, não me importo de mencionar o valor e não estou satisfeita com
o meu salário, eu tenho dois anos de firma, entrei com duzentos e
dezoito e hoje estou com trezentos e trinta e oito (“cerca de 1,13
salário mínimo”) em dois anos e cinco meses, isso quer dizer
aumentou cem reais, eu entrei como overloquista, só auxiliava e hoje
105
eu já faço barra, faço pontas, já estou aprendendo no corte, já sei
pespontar etc.
Outras frustrações dessas trabalhadoras estão relacionadas com o, já
comentado, ambiente físico de trabalho, geralmente ruim, e com a falta de
reconhecimento profissional.
3.4 ASPECTOS RELEVANTES DA INTERAÇÃO
O processo de pesquisa e análises, permitiu uma visão mais ampliada do
segmento têxtil do Paraná, principalmente nos aspectos ligados à formação dos
profissionais que nele trabalham. Nesse particular, foi possível perceber que há uma
carência de boa qualificação para preenchimento de vagas nas diversas atividades
profissionais que o setor constantemente disponibiliza. A expectativa de profissionais
melhor qualificados foi percebida por todas as indústrias, independente do seu porte.
Dentre outras análises, atribuímos relevância ao mencionado processo de
interação, que inicialmente, explicitou a dependência da escola às indústrias e às
regras do mercado, dependência essa que não a torna melhor segundo a própria
avaliação dos empresários, que, ao contrário, afirmam não estar a escola cumprindo
bem o seu papel. Em decorrência desse fato, as empresas acabam por não valorizar
o aluno egresso dos cursos profissionais paranaenses, excetuando-se quando a
empresa imprime o seu ritmo de aprendizado a elas, ou seja, quando influencia
diretamente a escola, determinando o “modelo” do profissional que deseja, como é o
caso das indústrias ‘A’ e ‘B’, grande e média sucessivamente.
Do outro lado as escolas, segundo o depoimento de suas coordenadoras, que
apesar de admitirem algumas deficiências em seus cursos, acreditam no bom
trabalho que desempenham. Em seu interior os alunos de formação em nível básico
também se mostram satisfeitos com o curso que realizam, enquanto no nível técnico
existem inúmeras decepções com o referido curso, que ficam a cargo do conteúdo
programático e da forma como é gerenciada a aplicação das disciplinas.
106
ACABAMENTO FINAL: Nossas conclusões
Todo o processo de pesquisa ampliou o entendimento sobre a importância do
setor têxtil da confecção do vestuário para o fortalecimento econômico do Brasil e,
principalmente, para a economia doméstica de muitos brasileiros. Primeiro, pela já
mencionada grande quantidade de profissionais absorvidos, direta e indiretamente
pelo setor e, em segundo, por ser ele um dos segmentos industriais que mais
emprega a força de trabalho feminina.
Apesar desta participação na economia, há indícios de uma aparente
fragilidade das indústrias, que também pode ser acarretada pelo deficiente processo
de formação profissional observado. Diante da globalização do mercado mundial e
da forte e ameaçadora presença dos países do bloco econômico asiático, em
especial a “China”, muito eficientes na produção de todos os itens da cadeia têxtil, os
segmentos industriais mais atrasados, em países de economia aberta, como hoje é
o caso da confecção brasileira, correm sério risco.
É fato que o produto da nossa confecção melhorou muito em sua qualidade
intrínseca, a evolução do design aliado à produção de melhores tecidos e outros
materiais secundários colaboraram muito para essa melhoria. Porém, nos últimos
anos não foram notados significativos avanços em relação à redução do tempo de
produção de nosso vestuário, ou seja, quando a questão é a produtividade, ainda se
deixa a desejar. Existem alguns fatores importantes e responsáveis, talvez, por essa
realidade. Ao observar as Tabelas 1 e 2, nota-se que o crescimento do desemprego
no setor foi muito grande, mesmo constatando-se haver, no mesmo período, em
algumas Regiões, inclusive no Sul do Brasil, um pequeno crescimento do número de
empresas, apesar de o setor, como um todo, estar decrescendo no país.
Os mesmos dados comprovam que a cada dia a indústria se torna menor,
pois a redução dos postos de trabalho é grande e a automação industrial não foi tão
presente. Permanece clara a certeza de que, no Paraná, há um pouco mais de
indústrias, porém, menores em seu porte. A redução no quadro de trabalhadores
pode significar aumento no tempo de processo de fabricação, já que um número
menor de operadores necessita mais tempo para a realização das mesmas
operações necessárias à montagem de um produto, enquanto que um grupo maior,
obviamente, necessitaria de menor tempo.
107
Essa afirmação só deixa de ser real quando o trabalho humano é substituído
por máquinas 100% automatizadas, de 4ª geração, o que, de acordo com as
informações da ABRAVEST, ainda não é a realidade do setor confeccionista
brasileiro. Outra hipótese seria o profissional, em questão, ter se tornado mais
eficiente, o que parece não estar ocorrendo, já que os empresários, atualmente,
ainda se queixam da qualificação e habilidade de seus funcionários.
Entende-se que a reversão dessa realidade também passa por uma profunda
reestruturação de toda a política de formação e da escola profissional paranaense,
já que as identificadas falhas não permitem que sejam formados bons profissionais.
No atual processo de interação, foi observada a existência de conflitos e
contradições desta relação tripartida que envolve indústrias, escolas e alunos, onde
a maior dentre eles talvez seja o crédito que a escola dá a seu próprio trabalho e a
falta de reciprocidade para com este pensamento por parte das próprias indústrias,
que parecem não estar aprovando o mesmo. Neste processo, em nosso entender, o
maior prejudicado é o aluno, pois enquanto a escola continua formando turmas, e
alimentando “sonhos”, e a empresa criticando a qualidade das mesmas, segue no
centro do conflito o aluno, sentindo-se mal preparado e, também por isso, menos
valorizado e com menores perspectivas com relação ao seu futuro profissional,
deixando clara a sua frustração.
Todas as entrevistas realizadas, somadas às publicações e outros
documentos acessados, forneceram inúmeras e relevantes informações que nos
ajudaram a entender melhor o quanto a educação profissional, assim como a
propedêutica, são importantes no processo de desenvolvimento de um país.
Uma educação quando promove a cidadania, por sua vez, promove o referido
desenvolvimento, termo esse que é entendido e relacionado com a melhoria da
qualidade de vida da população; também expressa no aumento do poder aquisitivo
do trabalhador e de sua melhor participação na vida social e material, ampliação da
consciência política e democrática, que permite a cobrança dos direitos básicos de
saúde, transporte e educação sobre o poder público.
A cidadania é um termo que gera entendimento bastante amplo, porém, no
cerne da sua compreensão está a relação com a consciência e as ações do cidadão
por seus direitos e deveres individuais e da coletividade. Esta mesma consciência,
como conseqüência, remete ao próprio desenvolvimento ao qual nos referimos.
108
E quando a educação cumpre o seu papel no desenvolvimento e na formação
do cidadão? Em nosso entender, no momento em que, sendo ela de qualidade, é
abrangente à participação de todos, ou seja, sem barreiras econômicas ou de
distinção de classes, não se subordina ideologicamente e que promove a reflexão do
aluno quanto à sua importância no contexto social e material da sociedade.
Percebe-se, então, que a educação profissional para a indústria do vestuário
no Paraná ainda está bastante distante das idéias descritas, pois não é de
qualidade, distingue as classes quando identifica seu público-alvo, não está isenta
de ideologias, pois é sujeita aos controles patronais, e não promove a reflexão à
qual nos referimos, pois está sujeita a própria ideologia capitalista.
No caso da educação em nível básico, o problema da qualidade já aparece
na carga horária proposta em seus cursos, que, em média, é de 150 horas. Dentro
dessa duração dificilmente ocorrerá a profissionalização técnico-profissional de um
indivíduo no setor do vestuário, quanto menos o ajudará a desenvolver as referidas
reflexões que o caracterizarão como cidadão participante. O que se percebe como
resultados da profissionalização básica que ocorre no Paraná, são profissionais de
baixa qualificação e por isso desvalorizados. Notou-se também uma menor
consciência desse aluno sobre sua importância no processo de produção material e
da sua participação social, o que também contribui na resignação e na baixa
esperança de crescimento profissional e de dias melhores em seus futuros.
No caso da profissionalização técnica, observaram-se as barreiras
econômicas existentes e também decorrentes do Decreto 2.208/97, que dificultam o
acesso do aluno das classes subalternas e, além disso, “não unificando saber e
fazer, não dá condições para que o trabalhador se forme como sujeito ativo e capaz
de adaptar-se constantemente às novas e cambiantes formas produtivas da
atualidade” (MARTINS, 2000, p. 105). Nessa modalidade também foi observada a
total dependência da escola às empresas na estruturação curricular e avaliação do
aluno, o que dificulta a presença de disciplinas que proporcionem a reflexão sócio-
histórica, enfatizando, apenas, as disciplinas práticas e que muito pouco colaboram
na referida formação da consciência cidadã. Apesar disso, dentro da já referida
contradição, o curso recebe poucos elogios da classe empresarial, o que pode
favorecer a manutenção dos salários mais baixos propostos pelos sindicatos
patronais, observados anteriormente.
109
No caso dos cursos tecnológicos também perceberam-se as mencionadas
barreiras econômicas ao aluno e trabalhador com menores condições financeiras e a
existência de um currículo apenas de natureza prática, como ocorre com os cursos
de nível técnico, existindo muitas semelhanças entre eles.
Um outro fenômeno observado é a própria regra de mercado escolhida para a
gestão de escolas e indústrias, pois as expõe a fatores flutuantes que também as
distanciam. As regras capitalistas de controle e valoração, as inovações
tecnológicas, busca por alta eficiência e que por muitas vezes compromete a própria
qualidade do processo, acabam por excluir o aluno do diálogo, passando a entendê-
lo como mercadoria e não como verdadeiro ator do processo e merecedor de
atenção e dedicação de ambos os segmentos.
Frente ao mesmo desequilíbrio, além do aluno, segue o profissional
trabalhando em ambientes fabris inadequados, com pouca infraestrutura e baixa
valorização pessoal, também sendo entendido como produtor de mais valia mas
nunca como o grande valor de um processo de produção.
E o que fazer frente às questões tão complexas e que parecem irresolutas?
Não se tem a pretensão de aqui equacioná-las, principalmente no que se refere ao
sistema capitalista de produção. Contudo, se quer trazer à discussão algumas
propostas de soluções aos problemas referentes à educação profissional apontados,
que poderão compor a pauta de futuras discussões.
Quanto à profissionalização em níveis básicos, a primeira proposição está
relacionada à carga horária. Aqui se destaca o clássico exemplo da formação para
costureiro industrial que ocorre em 100 horas. Esse curso é muito criticado pelo
próprio empresário. Acredita-se que ele, e outros deveriam ser compostos por, no
mínimo, 500 horas e em seu currículo além de reforçar os conteúdos práticos, conter
disciplinas de ciências humanas, as quais ajudariam o aluno no processo de reflexão
de sua condição sócio-histórica.
Quanto à profissionalização técnica e tecnológica, além dos problemas
decorrentes do Decreto 2.208/97 e também do 5.154/2005, que requerem uma
discussão mais aprofundada, reforçando a importância de se facilitar o seu acesso
aos trabalhadores e aos seus filhos, deste ou de qualquer outro segmento produtivo.
Ainda destacamos que “facilitar o acesso” para nós significa o barateamento de suas
mensalidades, seja pela adoção de bolsas ou na maior participação financeira das
110
indústrias ou do poder público. Facilitar o acesso do já trabalhador do segmento a
cursos desse nível de formação, pode significar também a melhoria dos processos
produtivos, já que o conhecimento técnico acumulado por ele, aliado aos novos
adquiridos na escola, possivelmente propiciará um profissional mais eficaz.
Para esses níveis de formação, também foi percebida a necessidade de
algumas alterações curriculares, objetivando a inserção de disciplinas de ciências
humanas, conforme a proposta para os cursos básicos, também poderiam ser
adotadas.
Quanto aos cursos superiores públicos, sugerimos a abertura de alguns deles
em Curitiba, para que interessados dessa e de outras regiões próximas, também
carentes de cursos superiores gratuitos, possam ter acesso aos mesmos.
Obviamente a adoção de uma política nesse sentido também provocaria o
fortalecimento e o aparecimento de novas indústrias nesses locais.
Por fim, entende-se que o setor necessita de um urgente projeto para a
estruturação de uma nova formação profissional, onde sejam consideradas as
necessidades das indústrias, mas também as dos alunos e futuros trabalhadores,
oferecendo a eles uma formação mais completa, de forma a gerar maior
independência e dignidade, através de uma educação patrocinadora de maior
consciência, liberdade e, principalmente, futuro.
No que tange às indústrias, é necessário entender que só conseguirão obter
bons funcionários a partir do momento que oferecerem melhores condições de
trabalho. Melhores condições, para nós significam salários mais dignos, planos de
crescimento profissional, ambientes mais saudáveis e melhor adequados ao trabalho
na confecção, maiores investimentos em requalificação profissional, dentre outros.
Isso ocorrendo, obviamente, conseguirão atrair maior número de interessados no
aprendizado e no crescimento profissional, por isso mais produtivas e críticas, não
apenas preocupadas com a sobrevivência e com a preservação do emprego para a
manutenção de suas necessidades básicas.
Um profissional melhor qualificado facilita a introdução de formas de produção
mais contemporâneas, tais como o MJPI, muito defendido e apontado por
especialistas como sendo o novo, e melhor, paradigma, para a organização dos
sistemas industrias dos últimos anos. Ao contrário, algumas das nossas indústrias
confeccionistas, também por falta de profissionais mais qualificados e que podem
111
ser muito mais flexíveis tecnicamente, acabam por adotar, conforme constatado,
frações ou adaptações pontuais desse modelo, fenômeno apontado por Passos
(2002, p. 12) como sendo um “fordismo flexibilizado”. Não havendo essa
qualificação, acreditamos que as empresas continuarão a atuar dentro desse
“fordismo flexibilizado”, em muitos casos, sequer fordismo tradicional, pois em
muitas indústrias não há sinais de qualquer estudo científico dos métodos e técnicas
adotados na produção.
Aos alunos mais privilegiados e esclarecidos, de nível técnico, tecnológico e
superior, cabe a ampliação da luta por melhores condições, que pode ser
desempenhada junto aos sindicatos dos trabalhadores, hoje, muito pouco
freqüentado por trabalhadores desses níveis.
No que cabe ao avanço da ciência, ou seja, ao trabalho da academia, e da
sua contribuição para o desenvolvimento social, propomos novas investigações que
estão baseadas nos diversos questionamentos descritos ao longo desse nosso
trabalho, dentre os quais se destaca um necessário aprofundamento na pesquisa
histórica sobre a indústria no vestuário no Paraná, algo que permitiria melhor
entendimento do setor na atualidade.
Acreditamos que também devam ser feitas outras pesquisas sobre as
questões da formação profissional e dos impactos causados na indústria do
vestuário, não só do Paraná, mas de todo o Brasil. É interessante também
desenvolver investigações em várias outras escolas e indústrias, com mais análises
quantitativas, que caracterizem a natureza e o número de escolas, o de alunos
cursantes e o dos absorvidos pelas indústrias, e qualitativas, sobre os currículos dos
cursos, expectativas dos alunos e sobre a vida profissional dos egressos e suas
interferências no processo de desenvolvimento industrial, que possam melhor
caracterizar o universo da produção têxtil brasileira.
Essas novas investigações poderão refletir no avanço das questões
relacionadas à interação entre escola, indústria e trabalhadores, e contribuir para o
progresso da indústria brasileira do vestuário.
112
REFERÊNCIAS
ANÁLISE conjuntural do mês de julho de 2001. Curitiba : FIEP-DEC.
ANÁLISE da eficiência econômica e da competitividade da cadeia têxtil brasileira.
Brasília, D.F. : IEL, CNA, SEBRAE, 2000.
ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? São Paulo: Cortez, 1995.
ANTUNES, R. O Toyotismo, as novas formas de acumulação de capital e as
formas contemporâneas de estranhamento (Alienação). Disponível em:
http://www.alast.org/PDF/Walter/Tec-Antunes. Acessado em 04 jul. 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL – ABIT. Estatísticas da
cadeia têxtil. Disponível em: : http://www.abit.org.br/htm. Acesso em: 20 abr. 2003
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO VESTUÁRIO - ABRAVEST. Estrutura da cadeia
industrial têxtil. Disponível em: http://www.abravest.org.br/
abravest/bancodados.htm. Acesso em: 19 abr. 2003.
ARANHA, Maria L. A. História da educação. 2. ed. São Paulo : Moderna, 1996.
ARRUDA, José J. A. A Revolução Industrial. 1. ed. São Paulo : Ática, 1988.
BARBOSA M. Indústria do vestuário aposta no crescimento. Folha de Londrina
Norte, 28 dez. 2002. Disponível em:
http://www.londrinanorte.com.br/noticias/noticias_comunicade/47_c_2.html. Acesso
em 16 jul. 2003.
BARDI, P. M. Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil. [S.l] : Banco
Sudameris Brasil, 1981.
BARKER, J. Visão de futuro. São Paulo : Siamar, 1992. 1 Videocassete (32 min.) :
VHS, Ntsc, son., color. Dublado. Port.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
Programa de Expansão da Educação Profissional Pesquisa da Atividade Econômica
Regional – PAER do Estado do Paraná. Estudo de mercado de trabalho como
subsídio para a reforma da educação profissional no Estado do Paraná.
Curitiba, 2001.
BRAZIL HOST O Paraná sedia o 3º maior evento de moda do Brasil: Paraná
Fashion - a identidade da moda. Disponível em:
http://www.agendadobairro.com.br/11agosto/paranafashion.htm Acesso em: 23 set.
2003.
CEFET-PR. Apresentação. Disponível em: http://www.cp.cefetpr.br/
instituicao/index.php. Acesso em: 19 ago. 2003.
113
CUNHA, Luis A. O ensino profissional na irradiação do industrialismo. 1. ed.
São Paulo : UNESP, 2000.
DIAGNÓSTICO SETORIAL indústria do vestuário do Estado do Paraná. Curitiba :
SEBRAE-PR, 2000.
DIAGNÓSTICO setorial indústria do vestuário do Estado do Paraná. Curitiba :
SEBRAE-PR, VESTPAR, 2004.
DIAGNÓSTICO técnico e econômico do setor de confecção de vestuário das
Regiões Norte, Noroeste, Oeste, Sudoeste e Sul do Estado do Paraná. Curitiba :
CITPAR, SIDEE, 1995. 71 f. (Série SIDEE; 5).
DEMO, P. Desafios Modernos da Educação. Petrópolis : Vozes, 1993.
FISCHLOWITZ, E. A formação profissional. São Paulo : Pioneira, 1966.
FREITAG, B. Escola, Estado e Sociedade. 6. ed. São Paulo : Moraes, 1994.
FURTADO, C. Teoria e política do desenvolvimento econômico. São Paulo : Paz
e Terra, 2000.
GAMA, R. A tecnologia e o trabalho na história. São Paulo : Nobel : Edusp, 1986.
GARCIA, Nilson. M. D. A reforma do ensino técnico: sua trajetória e seus
impactos. In : Anais do I CONED. Belo Horizonte, 1996.
________________ Física Escolar, Ciência e Novas Tecnologias de Produção:
o desafio da aproximação. São Paulo, 2000. 276 f. Tese (Doutorado em Educação)
– USP.
GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo : 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Distribuição
das pessoas ocupadas de 10 ou mais , por classe de rendimento no trabalho
principal: 2001. Disponível em: http://www.ibge.
gov.br/brasil_em_sintese/trabalho.htm. Acesso em: 06 maio 2003.
INSTITUTO DE ESTUDOS E MARKETING INDUSTRIAL - IEMI. Brasil Moda
Confecção: 1º relatório setorial da indústria confeccionista brasileira. São Paulo :
2003. 114 p.
LEITE, Márcia P. O futuro do trabalho: novas tecnologias e subjetividade operária.
1. ed. São Paulo : Página Aberta, 1994.
LOPES, S. SENAI 50 anos: retrato de uma instituição brasileira. Paraíba :
Universidade Federal da Paraíba, 1992.
MANACORDA, Mario A. História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias.
11. ed. São Paulo : Cortez, 2004.
114
MARTINS, Marcos F. M. Ensino técnico e globalização: cidadania ou submissão?
1. ed. Campinas : Autores Associados, 2000.
MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 14. ed. Rio de Janeiro : Bertrand
Brasil, 1994. v. 1. Livro Primeiro: O processo de produção do capital.
MORAES, Carmen Sylvia V. e FERRETTI, Celso João (coords.) Diagnóstico da
formação profissional, ramo metalúrgico. São Paulo, Artchip, 1999.
OLIVEIRA, Maria Teresa C. A nova lógica das lideranças empresariais sobre a
educação no Brasil. PUC-RIO. Disponível em:
http://www.cpdoc.fgv.br/projetos/arq/Preal_Debate04.pdf. Acesso em 30 mar. 2004.
OHNO, T. Sistema Toyota de Produção, Além da Produção em Larga Escala.
Porto Alegre : Bookman, 1997.
PAIVA, V. O novo paradigma de desenvolvimento: Educação, cidadania e trabalho.
Revista Educação & Sociedade. Campinas, n. 45, p. 309-326, agosto 1993.
________________ Inovação tecnológica e qualificação. Revista Educação &
Sociedade. Campinas, n. 50, p. 70-92, abril 1995.
PASSOS, C. A. K. Modernização conservadora ou modernização inovativa. In:
BASTOS, João Augusto S. L. A. (Org.) Capacitação tecnológica e
competitividade. Curitiba : IEL/PR, 2002.
PELIANO, José Carlos P. Reestruturação produtiva e qualificação para o trabalho.
Revista Educação & Tecnologia, Curitiba : Centro Federal de Educação
Tecnológica do Paraná, ano 2, n. 3, p. 16-37, ago.1998.
________________ Acumulação de trabalho e mobilidade do capital. Brasília :
UNB, 1990.
PILETTI, N; PILETTI, C. História da educação. 7. ed. São Paulo : Ática, 1997.
QUELUZ, Gilson L. Concepções de ensino técnico na República Velha
(1909-1930). Curitiba : CEFET-PR, 2000. 237 p.
RUBEGA, Cristina C; PACHECO D. A formação da mão-de-obra para a indústria
química: uma retrospectiva histórica. Revista Ciência & Educação. Bauru, v. 6 n. 2,
p. 151-166, 2000.
SAVIANI, D. Escola e democracia. 35. ed. Campinas : Autores Associados, 2002.
SENAI.DN. Histórias e percursos; o Departamento Nacional do SENAI (1942-
2002). Brasília, 2002. 108 p.
SILVA, Edna L; MENEZES, Estera M. Metodologia da Pesquisa e elaboração de
dissertação. 3. ed. Florianópolis : Laboratório de Ensino a Distância da UFSC,
2001.
115
SINGER. Os primeiros inventores de máquinas de costura. Disponível em:
http://www.singer.com.br/institucional/historia/primeiros_inventores_maquina_costura
.asp. Acesso em: 13 jul. 2003.
SHINGO, S. O Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre : Bookman, 1996.
TEXTÍLIA. História da indústria têxtil no Brasil. Disponível em:
http://www.textilia.net/. Acessado em 08 jul. 2004.
________________ História da indústria têxtil no Brasil e no mundo. Disponível
em: http://www.textilia.net/. Acessado em 08 jul. 2004.
VICENT-RICARD, F. As espirais da moda. 2. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra,
1989.
WEINSTEIN, B. (Re)formação da classe trabalhadora no Brasil 1920-1964. São
Paulo : Cortez, 2000.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre :
Bookman, 2001.
116
ANEXOS
Anexo 1 - Questionário voltado aos proprietários ou gerentes das indústrias
Anexo 2 - Questionário voltado aos profissionais atuantes e ex-alunos de cursos
Anexo 3 - Questionário voltado aos coordenadores de cursos
Anexo 4 - Questionário voltado aos alunos de cursos
Anexo 5 - Carta declaração de compromisso de sigilo
APÊNDICE
Apêndice 1 - Ocupações ligadas à área de produção da indústria do setor de
vestuário, selecionadas da classificação brasileira de ocupações
117
ANEXO 1 QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS PROPRIETÁRIOS OU GERENTES
DAS INDÚSTRIAS:
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O SETOR DA CONFECÇÃO DO
VESTUÁRIO NO PARANÁ
1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA
1.1 Razão Social:________________________________________________
1.2 Nome fantasia: ______________________________________________
1.3 Endereço da empresa: ________________________________________
1.4 Tempo em atividade / Data da inauguração: ______________________
1.5 Principal linha de produtos:____________________________________
1.6 Histórico da empresa – “Como surgiu a empresa, ou seja, relate um breve
histórico dela e o que motivou o fundador a abri-la e se ele já conhecia o
negócio quando o fez, mudou de ramo”?: __________________________
1.7 N.º de funcionários: __________Homens: _________Mulheres: ______
1.8 Setores da produção com a respectiva distribuição de funcionários:
Setores:
n.º de
funcionários:
Nível médio de
escolarização:
Quantos são egressos de
escolas profissionalizantes:
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
_ _ Homens
_ _ Mulheres
Fundamental
Ensino médio
Superior
118
2. DADOS DO RESPONDENTE:
2.1 Nome:_______________________________________2.2 Idade: _____
2.3 Tempo na empresa: __________________________________________
2.4 Cargo que ocupa: ____________________________________________
2.5 Tempo no cargo:_____________________________________________
2.6 Escolaridade:________________________________________________
2.7 Descreva sucintamente sua trajetória profissional - “Fale-me um pouco
sobre a sua trajetória profissional”:________________________________
2.8 Principais funções desenvolvidas:______________________________
2.9 Outras funções que desenvolve - “Fale-me sobre o seu dia-a-dia na
fábrica”:_____________________________________________________
3. PROCESSOS DE CONTRATAÇÃO, AVALIAÇÃO E FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
3.1 Qual é a faixa salarial de:
- Estilistas: de R$ ________________a R$ ____________________
- Modelistas: de R$ ________________a R$ ____________________
- Cortadores: de R$ ________________a R$ ____________________
- Costureiro: de R$ ________________a R$ ____________________
3.2 Quais os critérios para a contratação de um profissional (operacional)
- De nível básico: ___________________________________________
- De nível técnico: __________________________________________
- De nível tecnológico (superior):______________________________
3.3 Como e por que, ou seja, quais as atuais necessidades que fizeram com
que a empresa desenvolvesse estes critérios?____________________
3.4 Onde busca e quais os meios que a empresa utiliza para contratar novos
profissionais? _______________________________________________
3.5 Existe um plano de carreira para o pessoal operacional. Isso é divulgado
ou bem entendido por parte dos funcionários - “Ou seja, quais os critérios
utilizados para a ascensão (crescimento) interna” ?:__________________
119
3.6 Quais os critérios utilizados para a avaliação de desempenho de um
funcionário? ________________________________________________
3.7 Em média, em quanto tempo um funcionário é promovido? _________
3.8 Como identificam a necessidade de aperfeiçoamento profissional dos
funcionários? / Existem responsáveis por isso? __________________
3.9 Identificadaa a necessidade, que estratégias são usadas para supri-la?
___________________________________________________________
3.10 Há na empresa um sistema organizado voltado à formação profissional
básica in-job, ou ainda, existem tutores profissionais delegados ou
instrutores internos?:_________________________________________
3.11 Quem são os responsáveis por estes cursos de formação internos? _
3.12 Desenvolve, pessoalmente, funções e atividades voltadas à formação
profissional na empresa. Quais? - “Como você se envolve com as questões
de qualificação e treinamento na empresa? ________________________
3.13 Há na empresa algum sistema de incentivo ao aprimoramento ou à
formação profissional continuada? Qual é o sistema? _____________
3.14 Os funcionários são motivados a se aprimorarem e como isso ocorre, ou
seja, o que a empresa faz? ____________________________________
3.15 Como classifica o turn-over da empresa:
- Alto: (Nesse caso, como fazem para manter o conhecimento (técnico e
tácito) do pessoal operacional para manter a empresa competitiva) ___
- Baixo: (Nesse caso, como fazem para ampliar, ou renovar. o
conhecimento (técnico e tácito) do pessoal operacional) ____________
- Justifique: (fale mais sobre essa realidade, como você a analisa) ____
4. RELACIONAMENTO COM AS ESCOLAS PROFISSIONALIZANTES
4.1 Existem escolas profissionalizantes na sua região? Elas são suficientes
para atender a demanda de vagas ofertadas por sua e as demais
empresas?__________________________________________________
4.2 De um modo geral, como analisa a qualidade da educação transmitida
nas escolas profissionalizantes para confecção do Paraná, ou na sua
120
região. O que acredita estar faltando - “Ou seja, na verdade, o que você
espera das escolas profissionalizantes”?___________________________
4.3 Você contrata estagiários? Justifique:___________________________
4.4 Já solicitou “diretamente” à escola a presença de estagiários ou
formandos em:
- Nível básico: ( ) Sim ( ) Não. Quantos: ________________________
- Nível técnico: ( ) Sim ( ) Não. Quantos:________________________
- Nível tecnológico (superior): ( ) Sim ( ) Não. Quantos: ___________
4.5 É costume da empresa solicitar profissionais oriundos das escolas;
como isso ocorre? Caso negativo, por quê?______________________
4.6 Já contratou, mesmo sem saber, profissionais oriundos dessas ou de
outras escolas profissionalizantes; quantos e para quais áreas da
empresa e como a contratação aconteceu? ______________________
4.7 A empresa conhece ou se relaciona com alguma escola de formação
profissional e como se dá este relacionamento? __________________
4.8 Se a empresa não se relaciona com as escolas e nunca contratou
egressos, qual o motivo?______________________________________
4.9 Recebe visitas dos representantes dessas escolas, com que freqüência
e quais os assuntos normalmente tratados?______________________
4.10 Como analisa o relacionamento das escolas com a sua empresa e as
outras confecções, de um modo geral?__________________________
4.11 O que acredita estar faltando (ainda,) para essa relação avançar? ____
4.12 Sua indústria coopera com as escolas? Como se dá esta cooperação?
___________________________________________________________
4.13 Outras instituições (p. ex. sindicato) cooperam com a escola? ______
4.14 Que pontos positivos você percebe no perfil dos profissionais egressos
dessas escolas em
- Nível básico:______________________________________________
- Nível técnico: _____________________________________________
- Nível tecnológico (superior): ________________________________
4.15 que acredita estar faltando em conhecimentos e habilidades a esses
mesmos profissionais de
- Nível básico:______________________________________________
121
- Nível técnico: _____________________________________________
- Nível tecnológico (superior): ________________________________
4.16 Em sua “visão” como seria a escola ideal, ou seja, como seriam suas
instalações, currículo, o perfil do profissional egresso, o que ele deveria
saber e como deveria ser a relação dessa escola com as empresas? _
122
ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS PROFISSIONAIS ATUANTES E EX-
ALUNOS DE CURSOS:
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O SETOR DA CONFECÇÃO DO
VESTUÁRIO NO PARANÁ
1. DADOS DO RESPONDENTE:
1.1 Nome:______________________________________________________
1.2 Idade: ___________________ 1.3 Sexo: __________________________
1.4 Escolaridade:________________________________________________
1.5 Cidade onde reside: __________________________________________
1.6 Cidade e empresa onde trabalha: _______________________________
1.7 Tempo na empresa: __________________________________________
1.8 Cargo que ocupa: ____________________________________________
1.9 Tempo nesse cargo:__________________________________________
1.10 Outros cargos que já ocupou:__________________________________
1.11 Descreva sucintamente sua trajetória e qualificação profissional - “Fale-
me um pouco sobre a sua trajetória profissional”: ____________________
1.12 Antes de entrar nesta empresa o que você fazia? _________________
1.13 Curso(s) Profissionalizante(s) que possui: _______________________
2. RELAÇÃO COM A EMPRESA ONDE TRABALHA
2.1 Descreva o seu dia-a-dia na empresa - “Fale-me um pouco sobre o seu dia-
a-dia aqui nessa empresa”: _____________________________________
2.2 Suas principais funções ou tarefas na empresa: __________________
2.3 Cite outras funções ou tarefas que desenvolve na empresa: ________
2.4 Você acredita que esta empresa aproveita bem o seu potencial pessoal e
profissional? Comente: _______________________________________
2.5 Comente seus planos de crescimento profissional (nessa empresa): _
2.6 Tem pretensões em continuar no mesmo setor desta empresa?: ____
123
2.7 Como avalia o ambiente da empresa em relação a:
- Espaço físico: ____________________________________________
- Infra-estrutura (condições de trabalho): _______________________
- Inter-relacionamento: ______________________________________
- Condições de crescimento profissional: ______________________
2.8 Qual é a sua faixa de salário nesta empresa? - “Seu salário é suficiente
para você? Está satisfeito com ele? Importa-se em mencionar qual é o valor
do mesmo”:__________________________________________________
2.8 Acha adequada a sua remuneração? Justifique: __________________
2.9 Possui outro emprego ou mais alguma outra atividade que proporcione
complementação de renda? (descrever):_________________________
2.10 Qual é a sua renda total? ______________________________________
3. RELAÇÃO COM O CURSO E A PROFISSÃO:
3.1 Quais as razões que o levaram a buscar o curso profissionalizante que o
qualificou para o atual emprego? _______________________________
3.2 Você já trabalhava quando foi fazer esse curso? O que fazia?_______
3.3 Qual era a sua visão sobre o mercado de confecções? (por que optou
por ele?)____________________________________________________
3.4 Caso tenha mudado de área, por que fez isso? ___________________
3.5 Quais eram as suas expectativas quanto ao mercado de trabalho,
quando resolveu fazer o curso? ________________________________
3.6 Como conseguiu o seu primeiro emprego na área?________________
3.7 Sua escola o ajudou a conseguir, ou mesmo o encaminhou, para o seu
primeiro emprego? ___________________________________________
3.8 Recebeu a ajuda de empresas ou de outros? Quem e como ocorreu?
3.9 Enquanto aluno, qual era a avaliação do curso profissionalizante quando
o fazia?_____________________________________________________
3.10 Hoje, como profissional, como você avalia o curso que fez? ________
3.11 Que sugestões você daria no sentido de melhorar o curso que fez?__
3.12 Tem alguma decepção ou frustração com a profissão e com o mercado
de trabalho?_________________________________________________
124
4. PERSPECTIVAS QUANTO AO PRÓPRIO FUTURO
4.1 Você está realizado com a sua profissão? Que projeto tem em mente
para o seu futuro profissional?_________________________________
4.2 Tem intenções de mudar de setor algum dia? Justifique: ___________
4.3 Você acredita no setor de confecções brasileiro? _________________
125
ANEXO 3 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS COORDENADORES DE CURSOS:
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O SETOR DA CONFECÇÃO DO
VESTUÁRIO NO PARANÁ
1. DADOS DO RESPONDENTE:
1.1 Nome:______________________________________________________
1.2 Tempo na escola: ____________________________________________
1.3 Cargo que ocupa: ____________________________________________
1.4 Tempo no cargo:_____________________________________________
1.5 Formação: __________________________________________________
1.6 Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional:_________________
2. CARACTERIZAÇÃO E FORMA DE FUNCIONAMENTO DA ESCOLA
2.1 Razão Social:________________________________________________
2.2 Nome fantasia (ou nome da escola): ____________________________
2.3 Unidade:____________________________________________________
2.4 Endereço:___________________________________________________
2.5 Tempo em atividade / Data da fundação: _________________________
2.6 Histórico da escola – “Como surgiu a escola, ou seja, relate um breve
histórico dela, os primeiros cursos e o que motivou o seu fundador a abri-la e
se ele já conhecia a educação profissional quando a fundou”?: _________
2.7 Os cursos que a escola oferece, profissionais e/ou propedêuticos, e em
que níveis: __________________________________________________
2.8 Cursos profissionais na área da confecção do vestuário que oferece:
2.9 Fale sobre o processo de criação do(s) curso(s) profissional(is)
voltado(s) ao setor de confecção do vestuário e quais os motivos que
levaram a escola a ofertar cursos nessa área: ____________________
2.10 N.º de funcionários não docentes da escola (da unidade): ___________
Homens:__________ Mulheres: ___________
2.11 N.º de professores da escola: Homens: ______ Mulheres:___________
126
2.11 N.º de professores envolvidos com a formação profissional para a
confecção:____________ Homens:__________ Mulheres: ___________
2.12 Quem mantém a escola – “Existem subsídios governamentais (municipal,
estadual ou federal), empresariais, ou de outra fonte, para a manutenção dos
cursos voltados ao vestuário”?___________________________________
2.13 Existem taxas e/ou mensalidades cobradas aos alunos? No caso
afirmativo, quais os valores cobrados: __________________________
2.14 Em média, quanto um aluno investe anualmente para a sua formação?
___________________________________________________________
2.15 Como foi elaborado o currículo do curso, ou seja, quais foram as
premissas para a determinação das disciplinas e respectivas cargas
horárias? ___________________________________________________
2.16 O curso superior em questão é reconhecido pelo MEC?____________
3. RELACIONAMENTO DA ESCOLA COM AS INDÚSTRIAS
3.1 Na orientação do currículo ocorreu a participação, ou influência, direta
por parte das indústrias do setor do vestuário no Estado?__________
3.2 Seria desejável a participação dos mesmos? Fale mais sobre isso: __
3.3 Existe projeto para, ou já ocorreram modificações do currículo em
função das informações ou influências das indústrias, depois de criados
os cursos?__________________________________________________
3.4 Quais as disciplinas que compõem o curso e quais as suas cargas
horárias? ___________________________________________________
3.5 Quantas vagas são oferecidas em cada curso por semestre ou
anualmente? ________________________________________________
3.6 Em que turnos e freqüência os cursos são oferecidos? ____________
3.7 Em que premissas a escola se baseou para limitar/estabelecer o número
de vagas?___________________________________________________
3.8 Quantos alunos são matriculados semestralmente, ou anualmente, e
quantos chegam a se formar?__________________________________
3.9 Relacionar os tipos e as quantidades de máquinas e outros
equipamentos utilizados para a formação dos alunos: _____________
127
3.10 Você considera suficientes em qualidade e quantidade para tal
formação? Justifique:_________________________________________
3.11 O que estaria faltando em espécie, qualidade e quantidade? ________
3.12 Quantas salas de aula e outros ambientes didáticos a escola
disponibiliza para esses cursos? / Quais são elas?________________
3.13 Qual a maior vocação do município? (se comercial ou industrial – tem
vocação no segmento do vestuário)?: _____________________________
3.14 Como controla o fluxo e os egressos? (Existe alguma pesquisa, ou
estatística, que comprove?) _____________________________________
3.15 A taxa de absorção dos alunos já formados pelo mercado: _________
3.16 O nível de satisfação do empregador com o profissional egresso dessa
escola: _____________________________________________________
3.17 O nível de satisfação do profissional que atua nessas empresas: ____
3.18 A escola mantém contato com empresas e profissionais egressos e
como isso ocorre:____________________________________________
3.19 Como a escola valida, ou não, as informações fornecidas pelas
indústrias?__________________________________________________
3.20 De um modo geral, como vê a participação das indústrias nesse
relacionamento com a sua, ou demais, escolas? __________________
3.21 Como vê o relacionamento da escola com as indústrias?___________
3.22 Com quais indústrias a escola mais se relaciona?_________________
3.23 Qual a causa, ou razão, dessa maior interatividade? _______________
4. PERSPECTIVAS QUANTO AO FUTURO
4.1 De maneira geral, como vê a escola no processo de desenvolvimento
industrial da região? O que acredita estar, ainda, faltando? _________
4.2 Existe algum caso que mereça ser relacionado como de sucesso nesse
processo de interatividade? ___________________________________
4.3 Como vê o futuro da indústria da confecção brasileira e dos cursos de
formação profissional destinados a ela? _________________________
128
ANEXO 4 – QUESTIONÁRIO VOLTADO AOS ALUNOS DE CURSOS:
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O SETOR DA CONFECÇÃO DO
VESTUÁRIO NO PARANÁ
1. DADOS DO RESPONDENTE:
1.1 Nome:______________________________________________________
1.2 Idade: _________________ 1.3 Sexo: ___________________________
1.4 Escolaridade:________________________________________________
1.5 Cidade onde reside: __________________________________________
1.6 Descreva sucintamente sua trajetória e qualificação profissional:____
1.7 Já concluiu algum outro curso profissional? Quais?_______________
2. RELAÇÃO COM O CURSO E COM A ESCOLA
2.1 Descreva o seu dia-a-dia:______________________________________
2.2 Quais as razões que o(a) levaram a buscar este curso
profissionalizante? ___________________________________________
2.3 Você já trabalhava no setor da confecção quando veio fazer esse curso?
O que fazia?_________________________________________________
2.4 Qual é a sua visão sobre o mercado de confecções? (por que optou por
ele?):_______________________________________________________
2.5 Caso tenha mudado de área, por que fez isso? ___________________
2.6 Quais as suas expectativas quanto ao mercado de trabalho na
confecção? _________________________________________________
2.7 Como conseguiu o seu primeiro emprego na área?________________
2.8 Recebe a ajuda de empresas ou alguma bolsa para estudar? _______
2.9 Qual a avaliação geral do curso profissionalizante que faz?_________
2.9.1 E quanto ao currículo?________________________________________
2.9.2 E quanto às cargas horárias? __________________________________
2.9.3 E quanto aos docentes?_______________________________________
2.9.4 E Quanto às instalações? (salas, laboratórios etc.):________________
2.9.5 E no Geral? _________________________________________________
129
2.10 Que sugestões você daria no sentido de melhorar o curso que faz: __
3. PERSPECTIVAS QUANTO AO PRÓPRIO FUTURO
3.1 Você acredita ter encontrado o seu caminho profissional? Explique: _
3.2 Que projeto tem em mente quanto a sua futura profissão?__________
3.3 Tem intenções de mudar de setor algum dia? Justifique: ___________
3.4 Você acredita no setor de confecções brasileiro? Descreva: ________
130
ANEXO 5 – CARTA DECLARAÇÃO DE COMPROMISSO DE SIGILO
A QUALIFICAÇÃO DE QUEM NOS VESTE: UM ESTUDO SOBRE A
FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA O SETOR DA CONFECÇÃO DO
VESTUÁRIO NO PARANÁ
Declaração de compromisso com o sigilo
Curitiba, 12 de março de 2004
Caro empresário
Antes de tudo, obrigado por sua colaboração.
O presente trabalho, para o qual solicito sua contribuição, faz parte do meu
projeto de pesquisa de mestrado, “A formação profissional para o setor da
confecção do vestuário no Paraná”, que está sendo realizado junto ao
Programa de Pós Graduação em Tecnologia do CEFET-Pr (Centro Federal de
Educação Tecnológica do Paraná), sob a orientação da prof. Dr. Nilson
Marcos Dias Garcia.
Tal pesquisa visa caracterizar a situação do ensino profissional para a
indústria da confecção do vestuário no Paraná e o relacionamento escola e
empresa e vice-versa, considerando a opinião dos empresários e gerentes,
neste caso a sua própria, profissionais ex-alunos, de diretores e atuais alunos
dessas mesmas escolas. Então, a sua participação se dará por meio de uma
entrevista que colherá suas opiniões a respeito do processo de formação das
escolas e do relacionamento dessas com as empresas.
Considerando a importância de sua contribuição, comprometo-me a resguardar o
necessário “anonimato” sobre todos os dados, informações e opiniões aos quais
tiver acesso, não permitindo que sejam identificadas as pessoas que participaram da
investigação.
Certo de poder contar com sua colaboração, coloco-me à disposição para os
esclarecimentos que se fizerem necessários para a execução do projeto.
Atenciosamente,
Roberto Ranna Keller
131
APÊNDICE 1 OCUPAÇÕES LIGADAS À ÁREA DE PRODUÇÃO DA
INDÚSTRIA DO SETOR DE VESTUÁRIO, SELECIONADAS DA
CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES:
7630 - Profissionais polivalentes da confecção de roupas
7630-05 - Alfaiate - Alfaiate modelista, Buteiro, Paramenteiro-alfaite.
7630-10 - Costureira de peças sob encomenda - Cortador, Estilista, Modelista.
7630-15 - Costureira de reparação de roupas - Reformadora de roupas.
7630-20 - Costureiro de roupa de couro e pele.
7631 - Trabalhadores da preparação da confecção de roupas
7631-05 - Auxiliar de corte (preparação da confecção de roupas) - Preparador de
lotes e pacotes.
7631-10 - Cortador de roupas - Cortador de roupas (couro e pele), Operador de
máquina de corte de roupas, Talhador de roupas.
7631-15 - Enfestador de roupas - Operador de máquina de enfestar.
7631-20 - Riscador de roupas - Programador de encaixe (CAD), Programador de
risco e corte, Riscador de tecidos.
7632 - Operadores de máquinas para costura de peças do vestuário
7632-05 - Costureiro de roupas de couro e pele, a máquina na confecção em série.
7632-10 - Costureiro na confecção em série - Auxiliar de costura, Costureiro de
amostra, Costureiro de roupas (confecção em série).
7632-15 - Costureiro, a máquina na confecção em série.
7633 - Operadores de máquinas para bordado e acabamento de roupas
7633-05 - Arrematadeira.
7633-10 - Bordador, à máquina - Auxiliar de operador de máquina de bordar,
Operador de máquina de bordar.
7633-15 - Marcador de peças confeccionadas para bordar - Preparador de produção
de peças para bordar, Revisor de produção de peças para bordar.
7633-20 - Operador de máquina de costura de acabamento - Auxiliar de costureira
(no acabamento).
7633-25 - Passadeira de peças confeccionadas - Coladeira (confecção em série).
7650 - Trabalhadores polivalentes da confecção de artefatos de tecidos e
couros
7650-05 - Confeccionador de artefatos de couro (exceto sapatos).
7650-10 - Chapeleiro de senhoras - Chapeleiro - exclusive de palha, Chapeleiro de
chapéus de luxo , Conformador de chapéus, Cortador de chapéus,
Decatizador, Fulista, Modelador de chapéus, Padronista de chapéus.
7650-15 - Boneleiro.
7651 - Trabalhadores da preparação de artefatos de tecidos, couros e
tapeçaria
7651-05 - Cortador de artefatos de couro (exceto roupas e calçados) - Cortador a
balancim, Cortador a mão.
7651-10 - Cortador de tapeçaria - Cortador de tapetes.
132
7652 - Trabalhadores da confecção de artefatos de tecidos e couros
7652-05 - Colchoeiro (confecção de colchões) - Costureiro de colchões, Operador de
máquina de encher colchões.
7652-15 - Confeccionador de brinquedos de pano - Costureiro de artefatos de tecido
(brinquedos), Montador de brinquedos de pano.
7652-25 - Confeccionador de velas náuticas, barracas e toldos - Costurador de lonas
e encerados, Costureiro velamista, Padronizador de velas de
embarcações, toldos e barracas.
7652-30 - Estofador de aviões - Tapeceiro de aviões.
7652-35 - Estofador de móveis - Forrador de móveis , Reformador de móveis,
Tapeceiro de móveis.
7653 - Operadores de máquinas na confecção de artefatos de couro
7653-10 - Costurador de artefatos de couro, a máquina (exceto roupas e calçados).
7653-15 - Montador de artefatos de couro (exceto roupas e calçados).
7654 - Trabalhadores do acabamento de artefatos de tecidos e couros
7654-05 - Trabalhador do acabamento de artefatos de tecidos e couros.
7681 - Ttrabalhadores de tecelagem manual, tricô, crochê, rendas e afins
7681-05 - Tecelão (tear manual) - Operador de tear manual, Tecedor - exclusive de
tapetes, Tecelão - exclusive de tapetes.
7681-10 - Tecelão de tapetes, à mão - Montador de tapetes, Operador de urdideira
de tapetes, Tapeceiro a mão (tapetes), Tecedor de tapetes, Tecelão de
alfombras, à mão, Tecelão de tapeçaria em tear manual, Trabalhador de
tapetes de nós, à mão.
7681-15 - Tricoteiro, à mão - Tecelão de malhas, à mão, Tricotador, à mão.
7681-20 - Redeiro - Mamucabeira, Montador de punho de rede, Tecedor de redes -
inclusive de punho, mamucaba, varanda, Tecelão de redes - inclusive de
punho, mamucaba, varanda, Varandeira.
7681-25 - Chapeleiro (chapéus de palha) - Acabador de chapéus de palha,
Chapeleiro de palha, Confeccionador de chapéus de palha, Decorador de
chapéus de palha, Moldador de chapéus de palha, Trançador - na
fabricação de chapéus de palha.
7681-30 - Crocheteiro, à mão – Crocheteiro.
7682 - Trabalhadores artesanais da confecção de peças e tecidos
7682-05 - Bordador, a mão - Bordadeira, Criveira, Labirinteira bordadeira, à mão,
Rebordadeira.
7682-10 - Cerzidor - Cerzideira de malha, Cerzideira de meias, Cerzideira de
roupas, Cerzideira de tecidos, Consertador de roupas, Remendeira.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo