65
A esse respeito, foram selecionadas algumas declarações que explicitam os
critérios que as indústrias adotam para fazer suas contratações, como as da gerente
de grande indústria ‘A-1’, de Ampére, que para a admissão de funcionários
em nível básico, os critérios de contratação são as questões da
escolaridade, ou seja, que tenha o primeiro grau completo ou que
esteja concluindo, que esteja cursando entre a quinta e a oitava série
e que tenha habilidade e agilidade manual. Nas mãos, para o
manuseio. (Gerente ‘A-1’).
A exigência de uma formação escolar básica aliada à destreza manual, sem
necessidade de experiência anterior, se justifica pelo fato de que é a própria
empresa que treina o profissional candidato ao cargo. Por sua vez, a exigência da
escolaridade mínima pela grande fábrica, diferentemente da pequena, aparece como
um dos fatores de contratação, porque alguns trabalhadores do “piso de fábrica”
assessam planos de produção e fichas descritivas de montagem de produtos, além
de trabalharem com máquinas do tipo CNC
31
, o que exigirá deles a capacidade de
uma boa leitura.
Outro fator importante é que tanto a grande, quanto a média indústrias
adotam, pelo menos em parte, o chamado Modelo Japonês de Produção Industrial –
MJPI
32
e muitos dos seus setores de montagem operam segundo o paradigma das
31
CNC significa comando numérico computadorizado, ou seja, o controle automatizado dos tipos e
as regulagens de pontos de costura das máquinas, as quantidades de pontos por centímetro ou
polegadas, o desenho da costura etc.
32
O MJPI está baseado em um conceito, ou filosofia, denominada “just-in-time”, ou “apenas a
tempo”, que é a organização de toda uma cadeia industrial no sentido de sincronizá-la e integrar a
logística aos processos de fabricação, que estão, por sua vez, baseados apenas na produção dos
produtos que já estão vendidos, ou seja, na capacidade de vendas, no sentido da não formação de
estoques intermediários. Essa, então, é a idéia principal do MJPI e do “just-in-time” – a não
acumulação de estoques, ou seja, de capital parado. O objetivo é não desperdiçar os recursos
físicos necessários na produção de artigos que ainda não foram vendidos. Para isso o fabricante
do produto final de uma determinada cadeia produtiva necessita que a produção das matérias-
primas e outros insumos que o compõem sejam entregues no exato momento em que este será
produzido. Para que isso ocorra é necessário que exista fidedignidade dos fornecedores nas
promessas de entrega, que o tempo de transporte corresponda ao planejamento e que o fabricante
final também planeje a sua produção, no sentido de entregar pontualmente o produto ao cliente
final ou revendedor. Dentre as medidas adotadas internamente pelo fabricante final estão, por
exemplo, o controle de produção via painel “kanban”, o autocontrole do operário para a qualidade,
as células de produção, chamadas também de unidades autônomas ou semi-autônomas de
produção, a polivalência do operário etc. No Brasil, pela dificuldade da integração dos produtores
das matérias-primas, ocasionada por uma série de dificuldades de planejamento interno e
integração da logística, algumas indústrias adotam o MJPI parcialmente, ou seja, executam o que
sozinhas podem fazer. No caso da indústria da confecção são adotadas as células de produção, às
vezes o “kanban” etc. A implantação do sistema de produção em células na indústria da confecção,
muitas vezes se torna tarefa difícil, pelo fato das costureiras trabalharem sentadas, o que dificulta