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Universidade Federal de Goiás
Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas
Mestrado em Ecologia e Evolução
Dissertação de Mestrado
Análise comparativa da comunidade de macroinvertebrados aquáticos
em diferentes micro-habitats e estudo da riqueza e raridade de espécies
Mestranda: Shirley Silva Costa
Orientador: Prof. Dr. Adriano Sanches Melo
Maio de 2006
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“Love is all that you can’t leave behaind.” (U2)
Para minha família e amigos.
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Agradecimentos
Agradeço carinhosamente à minha família e a Deus por ter me colocado nela. Meus
pais, Izaias e Maria do Carmo, pelo incentivo, telefonemas inesperados, pelo apoio
emocional e financeiro e principalmente pelo amor que vocês têm por mim.
Agradeço também às minhas irmãs pelo companheirismo, amizade, cumplicidade e
carinho. Todos vocês são tudo na minha vida e essa vitória, vocês também
conquistaram comigo!
Sou eternamente grata aos mestres: Adriano S. Melo, por me dar esta oportunidade,
pelo voto de confiança, pelas palavras de sabedoria, pelos ensinamentos. Muito obrigada
por ter me ajudado a crescer e amadurecer; Rogério B. Pereira, por interceder
financeiramente por mim e à Capes, por ter atendido suas interseções; Leandro G. Oliveira,
por me ceder seu laboratório e sua equipe durante o primeiro ano de mestrado; Luíz M. Bini,
por me aguçar a curiosidade pelos números e ver a ecologia com outros olhos; Sandra
Hartz, por abrir as portas do Departamento de Ecologia da UFRGS para me receber durante
os anos de 2005 e 2006. Aos professores Heirich Hasenak e Flávia Sá pelo apoio, incentivo
e confiança depositados em mim.
Também sou infinitamente grata aos meus amigos... Como esquecê-los? Míriam,
Talita, Bárbara, Tatiane Melo, João Carlos, Thiago Rangel, Humberto Oliveira, Silvia Leitão,
André Limno, Ana Paula e famíliares, Marisa Azzoli, Josi Cerveira, Franciele Bücher, ao
LabGeo, Danielle Crashaw e Zé, ao Laboratório de Ecologia de Paisagens, Rogério,
Ricardo, Juliane, Fritz, Gilberto, minhas amigas de quarto Grazi e Fabi. À Silvana, secretária
do PPG Ecologia da UFRGS, pelos favores, pela paciência e amizade. Todos vocês foram
muito importantes na realização desse sonho, seja nas horas difíceis ou nos momentos
felizes e sempre serão lembrados com muito carinho e afeto.
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Sumário
Resumo ....................................................................................................................... 5
Abstract ....................................................................................................................... 6
1. Introdução ............................................................................................................. 7
1.1. Diversidade de macroinvertebrados em diferentes micro-habitats ................ 8
1.2. Componentes espaciais da diversidade ......................................................... 12
1.3. Raridade ......................................................................................................... 14
2. Objetivos ............................................................................................................... 17
2.1. Caracterização da macrofauna em quatro ambientes de riachos .................. 18
2.2. Espécies raras numa amostra são abundantes em outros riachos ou em
outros micro-habitats? .................................................................................... 18
3. Material e Métodos ................................................................................................ 18
3.1. Área de estudo ............................................................................................... 18
3.2. Métodos de amostragem ................................................................................ 20
3.3. Identificação do material ................................................................................ 21
3.4. Análise de dados ............................................................................................ 22
4. Resultados ............................................................................................................ 24
5. Discussão .............................................................................................................. 31
6. Conclusão ............................................................................................................. 38
7. Referências Bibliográficas ..................................................................................... 40
8. Apêndice ............................................................................................................... 46
8
Resumo
Macroinvertebrados bentônicos são importantes componentes da diversidade aquática, pois
são conectores fundamentais dos diferentes níveis tróficos existentes em corpos d’água. No
presente estudo, tal grupo foi utilizado como objeto de estudo da organização espacial e
como indicadores de diferentes níveis de riqueza e diversidade. Riachos possuem uma
ampla heterogeneidade espacial. Nosso principal objetivo foi demonstrar qual dos dois
fatores, riachos ou micro-habitats, eram mais importantes na estruturação da comunidade
aquática. Para tanto, quatro micro-habitats distintos foram analisados: i) musgos na região
de interface ar-água; ii) raízes submersas de plantas terrestres; iii) folhiço depositado em
remanso; iv) pedras em corredeiras. Nossos resultados demonstraram que, para
comunidade de macroinvertebrados bentônicos, os micro-habitats são mais importantes na
composição da comunidade do que o próprio riacho. Para três tipos de análises
explanatórias realizadas, PCA, pCCA e UPGMA utilizando a distância de Bray-Curtis, houve
a formação clara de quatro gupos, correspondentes aos quatro ambientes estudados,
independentes do riacho. Isso nos remete ao fato de que tais micro-habitats são providos de
recursos como alimento e refúgio, que são importantes para que os macroinvertebrados
bentônicos ali se estabilizem por algum tempo. Contudo, não houve diferença significativa
entre a riqueza encontrada em cada ambiente, quando traçada uma curva de rarefação de
espécies. Ainda, para cada micro-habitat analisado, encontraram-se espécies indicadoras
diferentes, pertencentes às ordens Diptera, Trichoptera, Odonata e Ephemeroptera. Em
média 41% das espécies presentes numa amostra (combinação de um riacho e um micro-
habitat) apareceram com apenas 1 ou 2 indivíduos. Destas espécies raras, cerca de 1/3
foram encontradas com maior abundância (abundância relativa > 1%) em outros riachos e
ou micro-habitat.
Palavras-chaves: macroinvertebrados bentônicos, micro-habitat, raridade, riqueza, espécies
indicadoras.
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Abstract
Benthic macroinvertebrate community is an important component of aquatic diversity, as they
are fundamental conectors in the differents trofic levels of running waters. In the present
study, such group was the study object of the spatial organization, different richness and
diversity levels indicators. Our main objective was to demonstrate which factor, streams or
micro-habitat, was most important structuring the aquatic community. For such approach,
four different micro-habitats were analyzed: i) moss in the air-water interface; ii) submerged
roots of terrestrial plants; iii) leaf litter deposited in pools; iv) stones in riffles. The results
demonstrated that micro-habitats are more important than streams in the determination of
community composition. The three multivariate exploratory analysis used – PCA, pCCA and
UPGMA with Bray-Curtis distance – resulted in four distinct groups, corresponding to the four
studied micro-habitats, independent of streams. This is in accordance to the fact that micro-
habitats are provided with food resource and shelter, important for benthic macroinvertebrate
persistence. However, there was no significant difference among each micro-habitat in terms
of richness when evaluated by rarefaction curves. Micro-habitats presented different indicator
species, most of them belonging to insect orders such as Diptera, Trichoptera, Odonata and
Ephemeroptera. Around 41% of the species present in a sample (combination of micro-
habitat and stream site) appeared as singletons or doubletons (1 or 2 individuals). However,
1/3 of these rare species were present in common (relative abundance > 1%) in other micro-
habitats or stream sites.
Key words: benthic macroinvertebrates, micro-habitat, rarity, richness, indicator species.
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1. Introdução
Nas últimas décadas, muito se tem estudado sobre os corpos d’águas e seus componentes.
Os riachos, em particular, são importantes para o estabelecimento da paisagem, visto que
conduzem o fluxo de energia. Isso, do ponto de vista aquático, pode ocorrer de duas
maneiras: i) entre o meio terrestre e o corpo d’água e ii) ao longo do mesmo (Vannote et al.
1980; Cardinale et al. 2001).
Riachos possuem uma ampla variedade de grupos taxonômicos, tais como plantas
(musgos, pteridófitas, macrófitas), algas, fungos, bactérias, invertebrados (insetos,
moluscos, crustáceos) e vertebrados (peixes, mamíferos, répteis) (Allan 1995). Entre os
invertebrados, os insetos destacam-se em quantidade e número de espécies (McCulloch
1986; Marques et al. 1999; Bispo et al. 2001). Diversas ordens de insetos estão
representadas em riachos. Entre elas, as ordens mais frequentemente encontradas são
Diptera, Ephemeroptera, Trichoptera, Plecoptera, Megaloptera, Coleoptera e Odonata.
A fauna aquática desempenha papel importante no funcionamento de ecossistemas
lóticos. São fundamentais para a saúde dos corpos d’água, dinâmica de nutrientes,
processamento de matéria e fluxo de energia. Por exemplo, o revolvimento da superfície do
sedimento e a fragmentação da matéria vegetal proveniente da vegetação ripária são
exemplos de processos realizados pela comunidade bentônica e que resultam na liberação
de nutrientes para a água e na aeração dos sedimentos, sendo a saúde e a qualidade de
um corpo d’água dependente de tais processos (Marques et al. 1999)
A abundância relativa e a diversidade da fauna lótica podem ser afetadas por
diversos fatores ambientais. Bispo et al. (2001) e Huamantinco & Nessimian (1999) indicam
a sazonalidade na distribuição de chuvas como um fator importante na determinação da
diversidade de comunidade de invertebrados em riachos. Os regimes de chuva e seca, em
sistemas tropicais, resultam em ciclos nos quais os riachos se encontram ora com pouco
volume de água ora com muito. Há autores que acreditam que em períodos de cheias,
11
abrem-se novos micro-habitats (ou nichos) onde a comunidade pode se estabelecer
(Cardinale et al. 2001).
Heino et al. (2003), estudando as relações existentes entre a riqueza de espécies
regional (RSR – Regional Species Richness) e a riqueza de espécies local (LSR – Local
Species Richness) argumentam que em ambientes onde há maior heterogeneidade espacial
– relacionada a quantidade de macrófitas, tamanho do riacho e tipo de substrato – também
é possível encontrar ambientes com maior riqueza de espécies. E ainda, que riachos com
baixa qualidade da água (referente aos valores do pH) estavam associados com valores
baixos de diversidade da comunidade.
1.1. Diversidade de macroinvertebrados em diferentes micro-habitats
Existe uma importante e fina relação entre os macroinvertebrados e o meio no qual estão
inseridos.
Riachos são providos de uma ampla heterogeneidade espacial, o que proporciona
diferentes habitats aos invertebrados ali presentes (Brown 2003). Apesar desta reconhecida
importância, pouco se discute sobre a distribuição espacial da comunidade de invertebrados
bentônicos em seus micro-habitats dentro e entre riachos. Geralmente, tal interesse se
estende apenas a alguns grupos específicos ou ainda a um determinado micro-habitat
(Huamantinco & Nessimian 1999; Bispo et al. 2001; Glime & Clemons 1972; Trivinho-
Strixino et al. 2000). McCulloch (1986) em seu estudo sobre a distribuição destes animais
em corredeiras e poções, afirma que “...enquanto a localização geográfica e a qualidade da
água teriam maior efeito nas diferenças faunísticas entre riachos, uma ampla variedade de
fatores ambientais afetam distribuições dentro dos riachos”. Segundo Brown (2003), como
resultado da influência dos diversos fatores que afetam a fauna em riachos, esta encontra-
se distribuída de forma heterogênea dentro de riachos. Tal heterogeneidade influencia
diretamente as interações ecológicas como presa-predador, competição por recursos,
dinâmica de populações (inclusive formação de ilhas, Cody & Diamond 1979) e riqueza.
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Um grande número e variedade de habitats em um certo espaço sugere, por exemplo,
a diminuição na sobreposição de nichos. Com isso, o sistema (riachos) pode abrigar
diferentes grupos funcionais – fragmentadores, coletores, raspadores e filtradores – e
reduzir a competição interespecífica. Acredita-se que tal aumento de diversidade leve à
estabilidade da comunidade, diminuindo as variações do fluxo de energia na mesma
(Vannote 1980; Cody & Diamond 1979; Cardinale et al. 2001).
Segundo Robson & Chester (1999), micro-habitats podem ser vistos como mosaicos
de manchas internamente similares. Estes mosaicos (e.g. pedras em corredeira) estariam
situados dentro de habitats maiores (e.g. corredeiras), que por sua vez estariam inseridos
dentro de habitats ainda maiores (riachos) e assim por diante, criando uma hierarquia de
escalas espaciais. Sendo assim, a definição precisa de micro-habitat e habitat é dependente
da escala de estudo.
O tipo de micro-habitat é um dos fatores mais importantes na determinação de
comunidades biológicas, tanto em sistemas lênticos quanto lóticos. Tais micro-habitats são
definidos pela combinação de diversos fatores físicos e estruturais, tais como geomorfologia,
velocidade da água, vazão, complexidade espacial e tipo de substrato (orgânico ou
inorgânico).
Muitas vezes só encontramos um determinado grupo de organismos em um único tipo
de ambiente, porque este é o seu habitat natural. Se dois micro-habitats são muito
dissimilares em composição de espécies, isto significa que os animais lá inseridos estão
pouco se movendo para além de seus limites, ou seja, estão pouco se dispersando. Neste
sentido, movimento de organismos entre micro-habitats causa a homogeneização da fauna.
Por exemplo, Robson & Chester (1999) demonstraram que houve pouca diferença entre o
micro-habitat debaixo de pedras e fendas de lajes e que isto foi devido à dispersão ativa ou
passiva entre os locais estudados.
Lamouroux et al. (2004), fizeram um estudo sobre quais fatores (espaciais e
temporais) influenciariam diretamente a relação entre a estrutura da comunidade e o habitat.
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No entanto, os autores também afirmam que há alguns fatores que poderiam “mascarar” tais
padrões de distribuição e organização da comunidade como, a capacidade dela se adaptar,
de os organismos responderem de forma distinta às variações e de atuarem
hierarquicamente sobre a multiplicidade do habitat. Eles obtiveram medidas da densidade
total, velocidade, profundidade, matéria orgânica bentônica particulada e rugosidade do
substrato, e concluíram que os micro-habitats analisados explicam pouco da variabilidade
funcional da comunidade de invertebrados de riachos. Os autores discutem tais resultados
em termos de complexidade estrutural do habitat sobre tal comunidade e as estratégias por
ela desenvolvidas para: i) adaptação; ii) distribuição e deslocamento aleatório de um local
instável para outro, estável; e iii) submissão às forças existentes entre habitats que se
sobrepõem ou até mesmo a interferência do crescimento dos indivíduos na distribuição
espacial dos mesmos sobre os micro-habitats.
Entre os diferentes micro-habitats dentro de riachos, podemos citar: i) pedras em
corredeiras, ii) folhiço acumulado em remansos, iii) raízes submersas de plantas terrestres e
iv) musgos aderidos à pedras na interface água-ar. O presente trabalho se deterá nestes
quatro micro-habitats. Segue abaixo uma breve descrição da fauna nestes micro-habitats.
i) Pedras em corredeiras
As zonas de corredeiras são aproveitadas por invertebrados filtradores que colocam suas
redes de captura (e.g. Trichoptera) ou aparelho bucal filtrador (e.g. Simuliidae) na direção do
fluxo de forma a otimizar a obtenção de alimento. Nas pedras, além das espécies filtradoras,
encontram-se também as raspadoras, que se alimentam principalmente de diatomáceas que
crescem expostas à correnteza e à luz (Huamantico & Nessimian 1999). Durante a estação
seca, a comunidade estabelecida em substratos pedregosos se torna mais estável servindo
como refúgio para organismos mais jovens.
14
ii) Folhiço acumulado em remansos
Nas áreas de águas mais lentas, acumula-se grande quantidade de partículas orgânicas,
restos de madeira e folhas. Nas cabeceiras predominam invertebrados fragmentadores que
são importantes conectores da cadeia de utilização de detrito, que condiz com a Teoria do
Continuum Fluvial (Vannote et al. 1980).
iii) Raízes submersas de plantas terrestres
Raízes submersas oferecem uma miríade de espaços físicos nos quais os indivíduos podem
evitar predação, ficar à espera de presas e compartilhar espaço baseado nas limitações do
tamanho e desse modo reduzir as competições inter- e intra-específica (Wood & Sites
2002). Elas também fornecem um substrato com características tri-dimensionais, diferentes
na configuração estrutural daqueles da maioria dos outros habitats lóticos. Possuem uma
fauna relativamente distinta (Wood & Sites 2002). Tal ambiente é usado de diferentes
formas por macroinvertebrados, como local para oviposição, viveiro protetor para pequenas
larvas, retenção de detritos vegetais e perifiton, que promovem a riqueza taxonômica da
comunidade local. Raízes submersas, que possuem uma alta heterogeneidade intra-habitat
(e.g. raízes de diferentes espécies de árvores), têm importância considerável na
microdistribuição de invertebrados, pois fornecem um amplo espectro de refúgios, que
podem servir para proteger populações contra uma variedade de perturbações abióticas ou
interações bióticas.
iv) Musgos na região de interface ar-água
Musgos nas áreas de interface ar-água podem ser considerados como um substrato em
potencial para os organismos ali presentes, abrangendo desde algas e protozoários até
invertebrados terrestres. Essa definição se deve ao fato de tal micro-habitat prover tanto
alimento quanto refúgio para diferentes espécies. Estudos demonstraram que junto à
alimentação direta do vegetal, invertebrados aquáticos acabam por ingerir também algas
15
perifíticas. Ainda, larvas filtradoras podem ser encontradas neste micro-habitat quando este
se localiza em região de alta velocidade de água (Glime & Clemons 1972).
1.2. Componentes Espaciais da Diversidade
Whittaker (1972) foi pioneiro no estudo da diversidade e suas componentes alfa, beta e
gama. Glime & Clemons (1972) afirmam que a diversidade de espécies é uma medida quali-
quantitativa, enquanto que o termo riqueza aplica-se apenas à expressão numérica da
mesma.
Segundo Harrison et al. (1992) entende-se por diversidade alfa (α) aquela específica
de um ambiente. É também chamada de diversidade local e freqüentemente medida como
riqueza de espécies. Já a diversidade gama (γ) (ou regional) compreende toda a diversidade
existente em uma região. A diversidade beta (β) é definida como a variação em diversidade
de um local para outro. Se dois locais possuem a mesma composição de espécies, dizemos
que a diversidade beta entre eles é nula. Por outro lado, a diversidade entre dois locais é
alta quando estes possuem composição (e abundância relativa) de espécies distintas. A
combinação das diversidades alfa e beta resulta na diversidade gama. Tal combinação pode
ser feita de maneira multiplicativa (gama = alfa * beta, Whittaker (1972)) ou aditiva (gama =
alfa + beta, Gering & Crist (2002)).
O estudo dos componentes espaciais da diversidade, em particular a medida da
diversidade beta, pode ser feito de diversas maneiras. Os primeiros trabalhos sobre o
assunto sugerem índices baseados na proposição inicial de Whittaker (1972) em que beta =
gama/alfa. Mais recentemente tem-se sugerido o uso de beta = gama – alfa. Em ambos os
casos a diversidade alfa é definida como a média do número de espécies nas áreas de
estudo. Outros índices levam em consideração não apenas o número total nas amostras,
mas também a identidade das espécies. Neste caso, usa-se a informação de “ganho” e
“perda” de espécies conforme se vai de uma amostra para a outra. Revisões dos diversos
16
índices para medir a diversidade beta usando as três abordagens acima podem ser
encontradas em Wilson & Schmida (1984) e Magurran (2004).
Uma outra forma de avaliar diversidade beta é por meio do Teste de Mantel. Neste
caso, estuda-se a variação em composição usando índices de distância (ou dissimilaridade)
entre os locais e correlaciona-se estas distâncias biológicas com “distâncias ambientais”.
Estas últimas podem ser tanto distâncias geográficas quanto distâncias multivariadas de
fatores ambientais. Um exemplo de uso de tal abordagem em riachos no Brasil é o trabalho
de Diniz-Filho et al. (1998).
A diversidade beta é, na verdade, uma medida de dissimilaridade entre ambientes.
Legendre et al. (2005) argumentam que tal dissimilaridade pode ser causada principalmente
por variações aleatórias (autocorrelacionada no espaço) e por variações nas condições
ambientais.
Sobre esta última fonte de variação, Huamantinco & Nessimian (1999) afirmam que,
para a ordem Trichoptera, o tamanho das partículas do substrato, a disponibilidade de
alimento, a velocidade da correnteza e os fatores físico-químicos da água (ressaltando
temperatura e oxigênio dissolvido) são fatores que podem influenciar a distribuição espacial
do grupo ao longo de um riacho.
No intuito de diferenciar esta variação eminentemente espacial daquela causada por
fatores ambientais, Legendre et al. (2005) sugerem o uso Análise de Correspondência
Canônica Parcial (pCCA) como uma ferramenta adequada no estudo da diversidade beta.
Neste caso, é possível saber quanto da variação em espécies é devido às i) distâncias das
amostras no espaço geográfico, ii) distâncias das amostras no espaço de variáveis
ambientais, iii) ambas as distâncias combinadas e iv) uma fração restante não explicada.
Bini et al. (2004) explicam que a análise fragmentada de um determinado gradiente
espacial (o que denominaram subgrupos) leva a uma compreensão mais detalhada da
diversidade, e que o tamanho do objeto de estudo possui atributos ecológicos e
evolucionários que explicam os padrões de diversidade no tempo e espaço.
17
1.3. Raridade
Uma das primeiras percepções dos naturalistas quanto à diversidade de espécies é que
esta era maior nos trópicos do que em regiões temperadas. Embora isto de fato tenha se
confirmado posteriormente, na maioria dos sistemas ecológicos, até a década de 1960,
havia dúvidas se invertebrados em riachos constituiria uma exceção.
Coletas rápidas em riachos tropicais produziram número reduzido de espécies
quando comparados a riachos temperados. Stout & Vandermeer (1975) investigaram o
assunto amostrando intensivamente riachos da América Central (tropicais) e da América do
Norte (temperados) e concluíram que sistemas lóticos seguem o padrão geral: riachos
tropicais possuem mais espécies que riachos equivalentes em regiões temperadas.
Os autores concluem que a idéia anterior, de que riachos tropicais fossem pobres,
deve-se ao fato de eles possuírem comunidades compostas por poucas espécies comuns e
uma infinidade de espécies raras. Em riachos temperados, embora possamos identificar um
grupo de espécies dominantes, a abundância relativa destas em relação às espécies raras
não é tão discrepante quanto aquela observada em riachos tropicais. Assim, por um efeito
puramente amostral, coletas breves em sistemas tropicais produzem poucas espécies,
enquanto que este mesmo esforço em sistemas temperados produz valores maiores.
Por outro lado, a intensificação da amostragem em riachos temperados resulta em
uma saturação no número de espécies acumuladas. Em sistemas tropicais, a intensificação
da amostragem leva a acréscimos graduais, mas constantes, no incremento de espécies
acumuladas com pouco sinal de saturação. Portanto, quando comparados com amostragens
intensas, riachos tropicais acabam se revelando muito mais diversos que aqueles de regiões
temperadas.
A maneira como as espécies irão se distribuir depende do tamanho da escala
espacial estudada pois, segundo Magurran & Henderson (2003), há uma associação
positiva entre área e riqueza de espécies. Contudo, Longino et al. (2002) lembram que
18
riqueza estimada nunca é maior que a real. A observação dos autores é devido ao fato de
quanto maior o esforço amostral, maior também será o número de espécies amostradas.
O fato de boa parte das espécies possuírem baixas abundâncias relativas,
particularmente nos trópicos, instigou vários pesquisadores a examinar os fatores que
geram tal padrão (Murray & Lepschi 2004; Novontný & Basset 2000). De forma genérica,
porque há espécies raras e espécies comuns? Onde poderíamos encontrar espécies raras e
como as variações ambientais de um bioma, por exemplo, poderiam explicar a existência
das mesmas (Santoul et al. 2005)?
É fato que áreas que contêm espécies raras podem concentrar uma fração
importante da biodiversidade regional. Porém, existem várias definições para espécies raras
dentro do contexto ecológico, que seriam o grau de conservação das espécies, sua
distribuição espacial, freqüência, ocorrência dos taxons conforme a sazonalidade, dentre
outros, como sugeridos por Resh et al. 2005.
Murray & Lepschi (2004) e Resh et al. (2005) afirmam que espécies raras poderiam
não o ser: elas seriam mais freqüentes em outros locais dentro da sua distribuição espacial
ou em amostragens de longa duração, onde se denomina a raridade temporal. No entanto,
segundo Murray & Lepschi (2004), certamente todas as espécies serão raras em algum
lugar.
Alguns estudos sobre a raridade dos organismos em seu meio têm demonstrado que
há uma grande discrepância nos dados que servem para análise de riqueza, diversidade e
abundância, porque os métodos amostrais também são bastante divergentes principalmente
no que diz respeito ao coletor, esforço amostral, estação na qual as coletas foram realizadas
e até mesmo se o ano da amostragem foi mais seco ou úmido, em casos de sistemas
tropicais (Price et al. 1995; Novontný & Basset 2000; Resh et al. 2005).
Espécies raras coletadas como indivíduos únicos, ou singletons, freqüentemente
podem representar mais da metade das espécies amostradas, mesmo em grandes coleções
(Novontný & Basset 2000; Resh et al. 2005; Price et al. 1995; Murray & Lepschi 2004).
19
Vários fatores podem influenciar na distribuição de espécies raras (onde encontrá-
las): i) espécies transientes (ou turistas), que permanecem temporariamente e
ocasionalmente em um local; ii) especialistas ou generalistas amostrados por métodos
inadequados; iii) especialistas com níveis populacionais baixos, por causa da predação ou
ciclo de vida; iv) generalistas alimentando-se ocasionalmente no local examinado, mas cujos
níveis da população total pode ser relativamente alto quando considerado sobre todos os
habitats ocupados; v) especialistas alimentando-se no habitat examinado, porém previsível e
mais abundante em (poucos) outros habitats, freqüentemente próximos. As categorias (i) e
(ii) representam artefatos de amostragem, (iii) é um exemplo da raridade suffusive, enquanto
(iv) e (v) são exemplos da raridade difusa (Novontný & Basset 2000).
Dentro de riachos, uma possibilidade é que espécies raras num determinado micro-
habitat e riacho possam ser abundantes no mesmo micro-habitat, mas em um outro riacho.
Da mesma forma, espécies raras num micro-habitat e riacho podem ser abundantes no
mesmo riacho, mas em um outro micro-habitat. Alguns fatores podem contribuir para tal
observação: i) o ambiente possui condições ambientais sub-ótimas para a espécie e o seu
uso acontece quando há inexistência de habitats mais favoráveis; ii) os organismos foram
acidentalmente deslocados para outro ambiente, por exemplo, durante perturbações
ambientais (enchentes) que os redistribuíram entre micro-habitats; iii) o método de coleta
não foi muito específico, englobando áreas de outro micro-habitat.
Riachos são sistemas dendríticos, com restrições na direção de dispersão imposta
pelo meio terrestre circundante (Fagan 2002). Neste sentido, uma população de um trecho
de riacho está parcialmente isolada de outra população presente em riacho de outra
microbacia. Como conseqüência desta restrição no fluxo de migrantes, as dinâmicas das
populações podem ser relativamente independentes. Em um riacho tal dinâmica pode
apresentar uma tendência de aumento de espécies enquanto em outro, seria de redução,
podendo até chegar à extinção.
20
Contudo, bacias hidrográficas que se localizam em baixas altitudes contribuem para a
dispersão das espécies, não obstante as raras, uma vez que no estudo de Santoul et al.
(2005) a proximidade da nascente foi um fator de importância das condições locais que
influenciou a distribuição de espécies raras ao longo de uma bacia. As causas de tais
variações podem ser tanto determinísticas quanto estocásticas. No primeiro caso, fortes
competidores presentes em um dos locais podem restringir a presença ou a alta abundância
de espécie naquele local. No segundo caso, i) perturbações por enchentes podem afetar
drasticamente a população em um riacho, mas não em outro localizado em uma diferente
microbacia; ii) altas taxas de mortalidade ao longo dos estágios de vida (ovo, larva, pupa,
adulto) somada com não encontro de parceiros podem fazer com que apenas algumas
fêmeas consigam colocar ovos para a próxima geração, resultando em uma alta
variabilidade do tamanho populacional ao longo das gerações (Bunn & Hugues 1997).
Tem-se observado que, como o estudo da raridade de espécies nas comunidades é
recente, ainda não há artefatos de amostragem que garanta com precisão a inferência do
tipo de raridade. Por isso, alguns autores (Resh et al. 2005; Murray & Lepschi 2004;
Magurran & Henderson 2003; Novontný & Basset 2000) concordam que existe uma
insuficiência temporal e espacial que tendencionam as análises para medidas marginais.
2. Objetivos
Neste estudo analisaremos a diversidade de macroinvertebrados entre micro-habitats
e entre riachos. Especificamente, i) exploraremos a similaridade em composição e
abundância relativa da fauna em quatro micro-habitats e três riachos e ii) investigaremos
qual a proporção de espécies raras numa amostra (combinação de riacho e micro-habitat) é
comum em outra.
21
2.1. Caracterização da macrofauna em quatro ambientes de riachos
O primeiro objetivo deste projeto é descrever a fauna de macroinvertebrados aquáticos de
quatro micro-habitats dentro de riachos: i) pedras em corredeiras, ii) folhiço depositado em
poções/remansos, iii) raízes submersas de plantas terrestres e iv) musgos localizados na
região de interface água-ar. Especificamente, i) analisaremos as similaridades em
composição entre os micro-habitats de um mesmo riacho, ii) de um mesmo micro-habitat
entre riachos e iii) particionaremos a variação em composição de espécies (diversidade
beta) em componentes de espaço (i.e. riachos) e características ambientais (i.e. micro-
habitats).
2.2. Espécies raras numa amostra são abundantes em outros riachos e ou em outros
micro-habitats?
Como citado anteriormente, as causas de raridade de espécies em amostras variam desde
fatores metodológicos até fatores históricos. O segundo objetivo do trabalho é investigar
qual a proporção de espécies raras numa amostra são abundantes em amostras de outros
micro-habitats e ou riachos. Os resultados permitirão a separação de espécies que ocorrem
genuinamente com abundância relativa baixa (as raras stricto sensu) daquelas que são
abundantes em outros ambientes e ou locais.
3. Material e Métodos
3.1. Área de estudo
Os riachos de estudo localizam-se na bacia do Rio Carmo, no Parque Estadual Intervales
(lat 24º18` S, long 48º25` W), no estado de São Paulo, Brasil. A vegetação é de Floresta
Tropical Ombrófila Montanhosa-Submontanhosa, conhecida como Mata Atlântica. Seu
22
estado de conservação é bom, exceto pela exploração de palmito (Euterpe edulis Mart.) em
algumas áreas até os anos 80 (Melo & Froehlich 2001).
Os riachos foram selecionados com base em similaridade geológica, variação em
tamanho e facilidade de acesso. Os leitos dos riachos são compostos de vários tipos de
rochas, predominando aquelas de origem sedimentar. O tamanho da maioria das rochas
varia de 10 a 100 cm de comprimento (Melo & Froehlich 2001). Um mapa da bacia do Rio
do Carmo com os locais de estudo é apresentado na Figura 1.
Figura 1. Localização da bacia do Rio do Carmo no Brasil e pontos de amostragens de trabalho anterior
(Melo & Froehlich 2001). Os riachos aqui estudados, designados como 1, 2 e 3, correspondem, respectivamente,
aos riachos 1, 6 e 8 estudados por Melo & Froehlich (2001).
Este trabalho inseriu-se dentro do programa de pesquisa do orientador, que trabalha
na área de estudo desde 1997. Durante estes anos, criou-se um banco de dados contendo
amostras de pedras em corredeiras coletadas em 10 riachos (Fig. 1). As coletas foram feitas
sempre no verão (fevereiro-março) ou no inverno (julho-agosto). No ano de 2004, no período
entre 06 e 10 de março (verão), os riachos 1, 6 e 8 foram amostrados em três outros
23
ambientes, i) folhiço acumulado em poções/remanso, ii) raízes submersas de plantas
terrestres e iii) musgos aderidos à pedras na interface ar-água. Em cada ambiente e riacho,
coletou-se 10 unidades amostrais, num total de 90 unidades amostrais.
O riacho representado com o número 1 no mapa corresponde ao riacho 1
(Barranquinho), de primeira ordem, cuja largura abrange de 0,5-1,0 m. Sua vazão durante a
estação seca é de 0,0040 m
3
/s. O número 6 no mapa corresponde ao riacho 2 (Três
Córregos), de terceira ordem, largura 3-4 m e vazão equivalente a 0,0768 m
3
/s durante a
estação seca. Já o riacho 3 (Carmo, número 8 no mapa) é de quarta ordem, 9-11 m de
largura e vazão na estação seca 0,4934 m
3
/s (Melo & Froehlich 2004).
A bacia de drenagem dos riachos 1, 2 e 3 correspondem a 0,50, 3,62 e 25,19 km
2
,
respectivamente. Ainda, no leito do riacho 1 predominam-se areia e seixos; nos demais
riachos, o leito é composto de seixos e pedras grandes (Melo & Froehlich 2004).
3.2. Métodos de Amostragem
As pedras em corredeiras foram coletadas com auxílio de puçá aquático em forma de
U. O método consiste em remover a pedra (~20 cm diâmetro) e coletar com o puçá o
material deslocado. Adicionalmente, examina-se a pedra cuidadosamente para coleta de
indivíduos aderidos. A coleta de folhiço em remanso foi feita com puçá aquático. O material
coletado foi armazenado em sacos ou potes plásticos até o volume de 1,5-2,0 litros. Os
musgos foram coletados a partir de raspagem com canivete da zona de respingo em
grandes pedras. Musgos em cada pedra compuseram uma unidade amostral. Cada unidade
amostral consistiu num volume de cerca de 250 ml de material. A coleta de raízes foi feita
com auxílio de tesoura e facão. Após identificar as raízes, estas eram cortadas e despejadas
dentro de um puçá. Cada unidade amostral foi composta por cerca de 1,0-1,5 litros de
material.
24
As amostragens nos quatro micro-habitats foram feitas nos três riachos. No caso das
coletas em corredeiras, cada amostra (combinação de riacho e micro-habitat) foi composta
pela fauna presente em 25 unidades amostrais (pedras). Para os demais micro-habitats,
cada amostra foi composta por 10 unidades amostrais (volume de material).
Com exceção das pedras em corredeiras, pode-se dizer que as demais amostras são
semiquantitativas. Como estamos querendo analisar a abundância relativa de espécies, o
fato das amostras entre micro-habitats não estarem padronizadas não é um problema, visto
que espécies raras são interpretadas aqui como aquelas com poucos indivíduos quando
comparadas a outras espécies abundantes do mesmo micro-habitat. Todas as amostras
foram conservadas em álcool e ou formol.
3.3. Identificação do material
No laboratório fez-se a triagem do material sob microscópio estereoscópico. Visto a
grande quantidade de material nas unidades amostrais de folhiço e raízes, se fez a triagem
apenas da metade do material coletado. Após remoção do material do total, os organismos
foram preservados em álcool 70% para posterior identificação.
Devido ao baixo conhecimento taxonômico dos macroinvertebrados bentônicos em
riachos no Brasil os indivíduos foram identificados até o menor nível possível, com auxílio de
chaves de identificação (e.g. Dominguez et al. 1992; Merrit & Cummins 1996; Holzenthal
1998; Pes et al. 2005) e então designados como morfoespécies.
O material coletado nas corredeiras foi identificado pelo orientador, visto que estas
coletas pertenciam originalmente a outro trabalho. Tal identificação foi feita com auxílio de
uma coleção de referência. Isto assegurou a uniformidade das determinações ao longo do
período de trabalho. As demais unidades amostrais foram identificadas pela mestranda.
Para tanto, uma nova coleção de morfoespécies foi montada. Após a conferência e
25
padronização das identificações com o orientador, realizou-se uma comparação entre as
duas coleções (a primeira, contendo somente o material coletado em pedras e a segunda,
para os outros micro-habitats analisados) a fim de se identificar qual morfoespécie era
realmente nova na coleção e qual já tinha ocorrido nas pedras em corredeiras.
Um importante critério utilizado para a montagem da coleção de referência foi que
característica que poderiam variar à medida que ocorre a muda das larvas tais como cor e
tamanho não seriam utilizados. Porém, estruturas que poderiam ser vistas como variações
claras, como espinhos nas patas ou dorso do corpo do animal, cerdas, diferentes padrões
de construção e arquitetura de casas (no caso da ordem Trichoptera), tipo de brânquias
(como ocorreu nas ordens Odonata e Ephemeroptera), ornamentação das partes
esclerozadas do corpo (família Elmidae), tamanho da unha, formato do abdome e cabeça,
entre outras, seriam consideradas para distinguir os morfotipos. Como auxílio, para grande
parte das morfoespécies foi feito um desenho esquemático, sem câmara clara, somente a
título de ilustração das diferentes variações que poderiam ocorrer nas morfoespécies.
Os primeiros estágios de larvas de algumas famílias não foram considerados na
identificação devido às poucas estruturas diagnósticas que elas possuem e que podem
variar muito de um estágio a outro. Ainda, com o decorrer da identificação, vários indivíduos
considerados inicialmente como da mesma morfoespécie, foram separados, ou vice-versa.
Devido a dificuldades na determinação de morfoespécies, larvas de Chironomidae e
Acari não foram incluídas. Oligochaeta foi incluído, mas sem distinção de morfoespécies.
3.4. Análise de dados
Os dados das diferentes unidades amostrais dentro de um determinado riacho e dentro de
um determinado micro-habitat foram combinados e são designados daqui em diante como
amostras. Obteve-se portanto 12 amostras (3 riachos x 4 micro-habitats). Visto que a
26
metodologia de coleta de material em cada micro-habitat é distinta, as amostras foram
padronizadas dividindo-se a abundância de cada taxon numa amostra pela soma de
indivíduos na mesma amostra. Com intuito de reduzir a influência de espécies muito
comuns, os dados de abundância relativa foram transformados por raíz-quadrada. Esta
padronização (divisão pelo total) seguida de transformação (raíz-quadrada) é conhecida por
transformação de Hellinger (The R Development Core Team 2005).
As relações de semelhança entre as amostras foram avaliadas de forma exploratória
utilizando-se diagramas de ordenação produzidos por Análise de Componentes Principais
(PCA) e por dendrogramas produzidos por classificação hierárquica. Na análise de PCA
utilizou-se matriz de correlação. Na classificação hierárquica, estimou-se a distância entre
amostras por meio do índice de Bray-Curtis. Em seguida, aplicou-se o método UPGMA
(Unweighted Pair-Group Average Method) sobre a matriz triangular de distâncias para
obtenção do dendrograma.
Com o objetivo de se determinar a importância relativa dos dois fatores de estudo
(riacho, micro-habitat) na composição e abundância relativa das morfoespécies nas
amostras, obteve-se a porcentagem de variação explicada por cada um dos fatores por meio
de uma Análise de Correspondência Canônica Parcial. Uma vez que os dois fatores de
estudo são ortogonais (correlação = 0), o procedimento recomendado por Legendre et al.
(2005) foi simplificado por não haver variação compartilhada pelos dois fatores. As análises
de ordenação e classificação foram feitas usando funções do pacote “vegan” disponíveis no
pacote “R” (The R Development Core Team 2005).
A partir das análises multivariadas descritas acima, detectou-se a formação de
grupos de amostras baseados na composição e abundância relativa de espécies. No intuito
de obter espécies características dos grupos encontrados, empregamos a Análise de
Espécies Indicadoras (Dufrêne & Legendre 1997) para os grupos resultantes das análises
multivariadas exploratórias. Após o cálculo dos Valores de Indicação (IV) de cada espécie,
27
obteve-se, por aleatorização, a probabilidade de um valor tão alto de IV ter surgido ao
acaso. As espécies com IVs significativamente altos (i.e. p < 0,05) foram selecionadas para
caracterização dos grupos.
De forma exploratória, tabulou-se o número de espécies raras numa amostra que
foram abundantes em outra. Morfoespécies raras aqui foram definidas como aquelas
presentes na amostra com apenas 1 ou 2 indivíduos (unicatas, duplicatas) e abundantes,
aquelas em que a abundância relativa dentro da amostra foi maior que 1%.
4. Resultados
Nas 12 amostras foram encontradas 20.149 indivíduos e 191 morfoespécies. A amostra com
menor número de indivíduos foi o Riacho 3 em Corredeiras, com 641 indivíduos. O número
de espécies esperado em 641 indivíduos para as demais amostras está indicado na Tabela
1. As amostras obtidas em musgos apresentaram riquezas bastante próximas entre si (em
média 46 morfoespécies). O mesmo ocorreu com as amostras em corredeiras (em média
52,4 morfoespécies). Nas amostras de folhiço e raízes, os riachos 1 e 3 apresentaram
riquezas semelhantes, entre si e menores dos valores encontrados no riacho 2 (Tabela 1).
Dentro de cada riacho, não houve uma tendência clara de um micro-habitat em particular ser
mais rico ou mais pobre em espécies (Figura 2).
Definindo morfoespécies raras aquelas que apareceram com 1 ou 2 indivíduos nas
amostras (unicatas, duplicatas), em média 41,2% (DP = 8,5) de cada amostra foi composta
por morfoespécies raras.
28
Tabela 1. Número de indivíduos, morfoespécies e morfoespécies raras em amostras de Musgo, Folhiço,
Corredeiras e Raízes em três riachos. Riacho 1 = Barranquinho, Riacho 2 = Três Córregos, Riacho 3 = Carmo.
Micro-habitats Musgos Folhiço Corredeiras Raízes
Riachos 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Indivíduos 1053 2168 3288 1154 1396 1428 746 891 641 1783 2524 3077
Morfoespécies 56 65 71 57 74 64 55 57 53 58 80 77
Morfoespécies
em 641 indiv.
48,6 45,3 44,2 47,4 56,8 45,5 51,1 53,0 53,0 42,4 60,3 48,3
Unicatas 15 19 20 17 24 30 19 12 14 12 12 22
Duplicatas 7 9 5 7 9 3 10 6 13 13 6 9
% raras 39,3 43,1 35,2 42,1 44,6 51,6 50,9 31,6 50,9 43,1 22,5 40,2
Total de
indivíduos
6509 3978 2278 7384
Total
morfoespécies
106 107 94 113
29
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 20406080
Riqueza de espécies
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 20406080
Riqueza de espécies
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
0 20406080
Número de indivíduos
Riqueza de espécies
Figura 2. Curvas de rarefação do número de espécies em quatro micro-habitats dentro de três riachos. a) Riacho
1, b) Riacho 2 e c) Riacho 3. ⎯⎯ = Musgo, - - - - - - = Raíz; ⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅⋅ = Folhiço; - - - = Corredeiras
c
)
b
)
a
)
30
Ambas análises multivariadas exploratórias (PCA e UPGMA) revelaram que os tipos
de micro-habitas explicaram melhor a distribuição de espécies do que os riachos onde foram
feitas as coletas. Na ordenação por PCA, as amostras foram divididas em quatro grupos
distintos, independentemente dos riachos (Figura 3). O primeiro eixo explicou 17,11% da
variância enquanto que o segundo, 15,21%, totalizando 32,23% da variância explicada. Tais
variâncias explicadas são distintamente maiores do que aquelas esperadas por um modelo
nulo de vara-quebrada (“broken-stick”) (eixo 1 = 5,8%, eixo 2 = 4,8%). Apesar de distintos, é
possível notar que os grupos formados por amostras de folhiço e raízes são bastante
próximos no espaço de ordenação. Musgos e pedras em corredeiras foram ambientes
bastante distintos dos demais. O primeiro eixo de ordenação separou amostras de
corredeiras e de musgo das demais. Tais amostras em geral se localizam em locais com
alta velocidade da água. Por outro lado, o eixo 2 da ordenação separou as amostras de
folhiço e raíz das demais. Embora algumas amostras de raízes tenham sido coletadas em
locais com correnteza intermediária, a maioria foi coletada em locais de baixa velocidade.
Além disso, tais amostras possuem em comum a disponibilidade de substrato vegetal.
De maneira geral, a ordenação revela que micro-habitats onde predomina matéria
orgânica se agruparam distintamente do micro-habitat corredeiras. Tal diferença sugere uma
ordenação que além de espacial também é funcional, já que grupos que se encontram em
micro-habitats com grande quantidade de matéria orgânica possuem hábitos alimentares
diferentes dos encontrados em pedras, que geralmente são raspadores e filtradores.
31
-2 0 2 4
-3 -2 -1 0 1 2 3
PC1
PC2
Musgo-1
Musgo-3
Musgo-2
Raíz- 1
Raíz-3
Raíz -2
Folhiço-1
Folhiçp-3
Folhiço-2
Corredeira-1
Corredeira-3
Corredeira-2
Figura 3. Análise de Componentes Principais (PCA) usando matriz de correlação. O primeiro eixo, PC1, explica
17,11% da variância total e o segundo eixo PC2, 15,21%. Os números de 1 a 3 correspondem, respectivamente,
aos riachos Barranquinho, Três Córregos e Carmo.
A análise de agrupamento com UPGMA revelou os mesmo quatro grupos formados
na ordenação (Figura 4). As amostras mais distintas foram aquelas coletadas em
corredeiras. Das amostras coletas em substrato vegetal, musgos foram um grupo a parte.
Tal diferenciação concorda com a separação destas amostras daquelas coletadas em raízes
e folhiço no eixo 1 da PCA (Figura 3). Mais uma vez, as características do micro-habitat
foram mais relevantes para o estabelecimento da comunidade aquática do que o próprio
riacho.
32
A partição de variâncias entre riachos e entre micro-habitat por meio da Análise de
Correspondência Canônica Parcial (pCCA) confirmou os resultados obtidos na ordenação
com PCA e classificação com UPGMA. Micro-habitats explicaram 42,02% da variação na
composição e abundância relativa das espécies nas 12 amostras. Riachos explicaram cerca
de metade da variação (22,27%) explicada por micro-habitats. O restante da variação,
35,71%, permaneceu não explicada. Isso demonstra que, apesar de distantes
geograficamente, amostras obtidas de um mesmo micro-habitat são mais semelhantes entre
si do que amostras de diferentes micro-habitats coletadas no mesmo riacho.
Musgo-1
Musgo-3
Musgo-2
Raíz-1
Raíz-3
Raíz-2
Folho-1
Folhp-3
Folhiço-2
Corredeira-1
Corredeira-3
Corredeira-2
0.30 0.35 0.40 0.45 0.50 0.55 0.60 0.65
Distância de Bray-Curtis
Psychodidae sp1
Hydrophilidae sp6
Hydroptilidae sp2
Zygoptera sp1
Askola sp.
Caenidae
Thraulodes sp.
Glossosomatidae s
p
1
Figura 4. Classificação das 12 amostras (3 riachos e 4 micro-habitats) utilizando o método de ligação UPGMA
e distância de Bray-Curtis. Os números de 1 a 3 correspondem, respectivamente aos riachos Barranquinho,
Três Córregos e Carmo. Morfoespécies indicadoras de cada um dos quatro grupos formados são mostradas.
33
As duas primeiras espécies que possuíam maior Valor de Indicação (IV) em cada
micro-habitat estão citadas na figura 4 e Apêndice 1, onde estão representados os valores
de indicação para as espécies com p < 0,05. Nos musgos, Psychodidae sp1 obteve IV =
100% e Hydrophilidae sp6, com IV = 90,3%. Nas raízes, o valor de indicação para
Hydroptilidae sp2 = 98,3% e para Zygoptera sp1 = 78,8%. Folhiço e corredeiras obtiveram
valores de indicação para Askola sp = 88,9% e Caenidae = 91,7%, e Thraulodes sp = 95,5%
e Glossosomatidae sp1 = 86,7%, respectivamente.
Cerca de um terço (média = 31,3%, DP = 6,7) das espécies raras (unicatas +
duplicatas) numa amostra foram comuns (abundância relativa > 1%) em pelo menos uma
das outras 11 amostras (Tabela 2). A amostra Raiz do riacho 3 possuiu a menor
porcentagem (19,4%) de espécies raras e que foram comuns em outras amostras. Por outro
lado, mais de um terço (39,4%) das espécies raras na amostra Folhiço do riacho 3 foram
comuns em outras amostras. Não houve uma tendência clara de espécies raras num
determinado micro-habitat serem comuns em outros micro-habitats, e espécies raras num
determinado riacho serem comuns em outros riachos.
34
Tabela 2. Número de morfoespécies raras numa amostra (linhas) que foram comuns em outras amostras
(colunas). Morfoespécies raras são definidas como aquelas com 1 ou 2 indivíduos na amostra. Espécies comuns
são aquelas com abundância relativa maior que 1% dentro de sua amostra. Mus = Musgo; Fol= Folhiço, Cor =
Pedras em Corredeiras. N.Expl.= indica o número de espécies raras na amostra que não foram comuns em
nenhuma das outras 11 amostras. Total = número de espécies raras na amostra. % Expl. = indica qual a
porcentagem de espécies raras na amostra que foram abundantes em pelo menos uma das outras 11 amostras.
1-
Mus
2-
Mus
3-
Mus
1-
Raiz
2-
Raiz
3-
Raiz
1-
Fol
2-
Fol
3-
Fol
1-
Cor
2-
Cor
3-
Cor N.Expl. Total
%Expl.
1-Mus -- 0 1 1 0 0 1 0 0 1 0 1 16 22 27.3
2-Mus 1 -- 0 2 1 0 1 1 0 0 0 1 21 28 25.0
3-Mus 1 0 -- 0 1 0 1 0 0 1 0 2 19 25 24.0
1-Raiz 3 1 0 -- 0 0 0 1 0 1 0 1 17 24 29.2
2-Raiz 0 1 2 0 -- 1 1 0 0 1 0 1 11 18 38.9
3-Raiz 0 1 0 0 0 -- 1 0 0 2 0 2 25 31 19.4
1-Fol 2 1 0 0 0 0 -- 0 1 3 0 2 15 24 37.5
2-Fol 2 0 3 0 2 1 0 -- 0 1 1 2 20 32 37.5
3-Fol 2 2 1 1 1 1 1 0 -- 2 0 2 20 33 39.4
1-Cor 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -- 0 1 19 29 34.5
2-Cor 0 1 0 1 1 0 0 1 0 1 -- 1 13 18 27.8
3-Cor 0 1 1 2 2 1 0 1 1 1 0 -- 18 28 35.7
5. Discussão
Embora alguns micro-habitats tenham produzido diferentes valores de riqueza de
morfoespécies, a riqueza esperada (por rarefação) para um tamanho padronizado de
esforço amostral mostrou-se bastante similar entre habitats (Tabela 1). Tal resultado
contrasta com trabalhos anteriores mostrando diferenças em riqueza entre micro-habitats.
Nos estudos de McCulloch (1986) e Boulton & Lake (1992), remansos possuíram
faunas mais diversificadas que aquelas encontradas em corredeiras. Por outro lado, Brown
& Brussock (1991) encontraram maior diversidade em corredeiras do que em remansos
próximos. A aparente inconsistência acima pode ser devido a um artifício de amostragem.
Nos trabalhos de McCulloch (1986), Boulton & Lake (1992) e Brown & Brussock (1991) os
micro-habitats mais diversificados também foram aqueles onde se obteve o maior número
de indivíduos. Visto a riqueza de espécies ser extremamente dependente do esforço
35
amostral, é provável que as conclusões dos autores acima sejam basicamente devido a
diferentes esforços amostrais nos micro-habitats. McCabe & Gotelli (2000) chamam a
atenção para o fato de riqueza de espécies (i.e. esforço padronizado por indivíduos) e
densidade de espécies (i.e. esforço padronizado por área) produzirem conclusões distintas
em trabalhos investigando padrões de colonização de substrato seguindo um evento de
perturbação. Os autores sugerem, portanto, que comparações devem ser padronizadas por
indivíduos e não por área. Argumento semelhante é apresentado por Gotelli & Colwell
(2001).
Em ambas análises multivariadas exploratórias (UPGMA e PCA), micro-habitats
foram mais determinantes na distribuição e estabelecimento da comunidade aquática do que
riachos. Assim, a análise UPGMA mostrou a formação de quatro grupos de amostras, cada
um representando um micro-habitat. Folhiço e Raízes foram relativamente semelhantes
entre si. Pedras em corredeiras, o único micro-habitat com substrato não-vegetal foi o grupo
mais distante dos demais. A diferenciação em micro-habitats (e não em riachos) foi
posteriormente confirmada pela Análise de Correspondência Canônica Parcial (pCCa).
Nesta análise, micro-habitats explicaram cerca do dobro (42,02%) da variação explicada por
riachos (22,27%).
O primeiro eixo da PCA separou as amostras Musgos e Pedras dos demais micro-
habitats. Em comum, ambos estão em locais com alta correnteza, que propicia o
estabelecimento de espécies filtradoras. De fato, Musgos e Pedras em corredeiras
apresentaram grande abundância de tricópteros da família Hydropsychidae e dípteros da
família Simuliidae (borrachudos) (Apêndice 1). O segundo eixo da PCA separou as amostras
de Musgos das de Pedras em corredeiras, deixando em posições intermediárias as
amostras de Folhiço e Raízes. Diferente das amostras de Pedras e de Musgos, as amostras
de Folhiço e, em menor grau, as de Raízes foram coletadas em locais de baixa velocidade
da água. Tal similaridade em velocidade da água foi refletida na grande similaridade entre
36
amostras de Raíz e Folhiço. Embora estudando micro-habitats um pouco diferentes, os
resultados nos dois eixos da ordenação são extremamente semelhantes aos encontrados
por Huamantinco & Nessimian (1999) num trabalho envolvendo Trichoptera em areia,
pedras, folhiço depositado em remansos e folhiço retido em corredeiras. Em ambos os
estudos, o primeiro eixo separa micro-habitas em termos de velocidade da correnteza,
enquanto o segundo eixo separa micro-habitats em relação à disponibilidade de matéria
orgânica. Embora não tenhamos avaliado diretamente o papel de velocidade da água e tipo
de substrato (e.g. orgânico vs. inorgânico), os resultados de ordenações em nosso estudo e
naquele de Huamantinco & Nessimian (1999) descritos acima indicam que esses dois
fatores são fundamentais na determinação da fauna num determinado micro-habitat. Tal
encontro corrobora trabalhos anteriores mostrando a importância de substrato e correnteza
em comunidades lóticas (Beisel et al. 1998).
No presente estudo, as comunidades de macroinvertebrados em Folhiço e Raízes
foram mais semelhantes entre si do que qualquer um destes micro-habitats com corredeiras.
Este resultado é distinto daquele encontrado por Wood & Sites (2002), onde as faunas de
corredeiras e remansos foram mais semelhantes entre si e em conjunto bastante diferentes
da fauna encontrada em raízes.
Nas análises de ordenação e também na de classificação foi possível observar que
micro-habitats onde predomina matéria orgânica se agruparam distintamente do micro-
habitat corredeiras. Tal diferença sugere uma ordenação que além de espacial também é
funcional, já que grupos que se encontram em habitats com grande quantidade de matéria
orgânica possuem hábitos alimentares diferentes dos encontrados em pedras, que
geralmente são raspadores e filtradores. Oliveira et al. (1999), em um estudo sobre a
distribuição de categorias funcionais de Trichoptera, argumentam que a disponibilidade de
alimentos é um fator primordial na distribuição desse grupo em riachos. Afinal, eles
representaram quatro categorias distintas (coletor, fragmentador, predador, raspador), que
37
durante os meses de seca atingiram picos de 62% (fragmentadores) e 79% (coletores) de
representantes da comunidade. Para Dudgeon & Wu (1999) além de os micro-habitats
serem locais onde as espécies podem se estabelecer, também possuem um papel
fundamental na nutrição da comunidade, já que em seu estudo, demonstrou-se que o nível
de consumo de plantas palatáveis, por macroinvertebrados bentônicos, representou 71% de
perda de massa de folhas, em 14 dias. Estudos como os de Korsu (2004) e Dudgeon & Wu
(1999) mostram que ambientes com uma grande quantidade de vegetação associada ao
substrato são colonizadas pela comunidade de macroinvertebrados em um período de
tempo menor do que se não houvesse matéria orgânica. Estes resultados ressaltam a
importância dos micro-habitats como locais de refúgio e alimentação, onde é possível
encontrar recursos dos quais a comunidade ali presente necessita (Heino et al. 2003, Korsu
2004, Dudgeon & Wu 1999, Paavola et al. 2003, Oliveira et al. 1999, Huamantinco &
Nessimian 1999).
Num estudo anterior usando pedras em corredeiras abrangendo os três riachos
deste estudo e outros sete na mesma bacia hidrográfica, Melo & Froehlich (2001)
encontraram um gradiente de composição de fauna em relação a tamanho de riachos.
Resultados semelhantes foram encontrados para bacias hidrográficas de outras regiões
(Baptista et al. 2001; Paavola et al. 2003). Os três riachos do presente trabalho diferiram em
tamanho (1ª, 3ª e 4ª ordem, respectivamente os riachos 1, 2 e 3) e no trabalho de Melo &
Froehlich (2001) apresentaram faunas relativamente distintas.
Neste trabalho, mostramos que a variação na comunidade, devido à micro-habitats, é
ainda maior do que aquela devido a tamanho de riacho. Em se tratando da conectividade
entre os riachos, isso indica que, apesar de distantes geograficamente, amostras obtidas de
um mesmo micro-habitat são mais semelhantes entre si do que amostras de diferentes
micro-habitats coletadas no mesmo riacho. Resultados semelhantes são apresentados por
Wood & Sites (2002) num estudo envolvendo três micro-habitats (raízes, corredeiras e
38
remansos) em três riachos de terceira ordem nos EUA e por McCulloch (1986) num estudo
com remansos e corredeiras em dois riachos também nos EUA. No presente estudo e
naqueles citados acima, os riachos eram permanentes. Num estudo de riachos temporários
na Australia, Boulton & Lake (1992) mostram que época do ano pode ser tão importante ou
mesmo mais importante que micro-habitat na determinação da fauna em corredeiras e
remansos.
Quanto às espécies indicadoras, Rolstad et al. (2002) afirmam que estas são
definidas como espécies que possui a capacidade de representar a realidade das condições
ambientais e biológicas de uma dada comunidade. Para tanto, Dufrêne & Legendre (1997)
concordam que os índices de riqueza e diversidade são insuficientes para demonstrar tal
realidade, já que a comparação de diferentes níveis de complexidade estrutural dos habitats,
mesmo diante de esforço amostral padronizado, é questionável.
Nos musgos, a morfoespécie Psychodidae sp1, foi a que obteve maior valor de
indicação, seguida de Hydophilidae sp 6. Sabe-se que ambos os gêneros, nos sistemas
tropicais, são bastante característicos de ambientes húmidos, como na região de interface
ar-água. Nas corredeiras, onde a PCA demonstrou uma certa proximidade com musgos, a
espécie Thraulodes sp. foi a mais representativa do micro-hábita, com IV = 95,5%, cujo
habitat preferido, segundo Baptista et al. (2001), é principalmente de correnteza. O mesmo
pode se dizer para os Glossosomatidae sp1, que se alimentam das algas perifíticas que
crescem aderidas às rochas (Bispo et al. 2001).
Em folhiço, ambiente onde encontrou-se maior quantidade de folhas e gravetos, a
principal espécie indicadora, com IV = 88,9%, foi Askola sp., seguida de Caenidae (IV =
91,7%). O hábitat preferencial de ambos os grupos é de águas lentas, sendo o segundo,
mais comumente encontrado em lagos, entre detritos, vegetação submersa e algas
filamentosas (Holzenthal 1998). Hydroptilidae sp2 (IV = 98,3%) e Zygoptera sp1 (IV =
78,8%) foram as duas primeiras espécies que melhor caracterizaram as raízes, que por sua
39
vez, foi o micro-hábitat que mais se aproximou de folhiço, de acordo com a PCA e a
UPGMA. Segundo Holzenthal (1998), Hydroptilidae são facilmente encontrados em águas
lentas, onde se predomina algum tipo de vegetação associada, seja banco de macrófitas,
algas ou raízes. Contudo, os Zygoptera possuem como característica marcante preferência
por hábitat de águas estáveis (Baptista et al. 2001), como as raízes amostradas neste
trabalho.
Em média, 41,2% de cada amostra foi composta por espécies raras, aqui definidas
como aquelas com 1 ou 2 indivíduos. Tal proporção variou pouco entre amostras coletadas
em diferentes micro-habitats e riachos (Coeficiente de Variação = 20,6%). Esta alta
proporção de espécies raras esta de acordo com outros trabalhos feitos em regiões tropicais
abordando diferentes sistemas ecológicos (Stout & Vandermeer 1975; Price et al. 1995;
Novontný & Basset 2000; Longino et al. 2002; Melo 2004). Por exemplo, num estudo sobre
diversidade de formigas na América Central, Longino et al. 2002 observaram que 12% do
total de espécies apareceram como unicatas, ou seja, espécies que ocorreram com apenas
um indivíduo. Magurran & Henderson (2003) num estudo de longo prazo (21 anos)
envolvendo peixes num estuário mostram que a comunidade pôde ser dividida em dois
grupos, um composto por espécies persistentes e geralmente abundantes e outro de
espécies infreqüentes com abundância variável no tempo. Num intervalo curto de tempo,
este segundo grupo de espécies geralmente aparecem como raras nas amostras. Em
riachos, Brown & Brussock (1991) citam que parte das espécies encontradas em remansos
era comum em corredeiras próximas e sugerem que isto é devido ao contínuo deslocamento
de indivíduos das corredeiras devido à força exercida pela água corrente. Wood & Sites
(2002) estudaram a entomofauna associada a remansos, corredeiras e raízes e sugerem
que algumas espécies comuns nos dois primeiros micro-habitats são eventualmente
encontradas em raízes.
40
Muito se discute sobre a raridade dentro de amostragens ecológicas (Longino et al.
2002, Novontný & Basset 2000, Murray & Lepschi 2004, Resh et al. 2005). Contudo, torna-
se importante ressaltar que, muitas vezes, a raridade ocorre devido a erros de amostragem,
espécies transientes (turistas), altos ou baixos níveis populacionais de um determinado
taxon, surgindo, assim, como ruído na análise dos dados. Isto faz com que mesmo em
amostragens intensas, a curva de acumulação de espécies não atinja uma assíntota. De
fato, Melo (2004) examinou inventários de seis sistemas ecológicos (árvores, anuros em
serrapilheira, opiliões em serrapilheira, Drosophila spp. em iscas de banana,
macroinvertebrados em riachos e aranhas na vegetação) e concluiu que a proporção de
espécies raras é relativamente constante ao longo de diferentes intensidades amostrais. Isto
ocorre porque algumas espécies deixam de ser raras com o aumento da amostragem,
enquanto outras não detectadas anteriormente são adicionadas à lista. Novontný & Basset
(2000) argumentam que existem dois fatores que poderiam explicar tal resultado: ou as
espécies se encontram em um determinado ambiente por serem transientes (mass effect),
ou se distribuem em vários ambientes, porém com baixa abundância. No presente estudo,
cerca de 1/3 das espécies raras numa amostra puderam ser encontradas em amostras de
outros riachos ou micro-habitats. Visto que os três riachos e os quatro micro-habitats de
estudo representam apenas uma pequena amostra dos riachos e micro-habitats na região,
poderíamos esperar que a alta fração de 2/3 das espécies raras restantes é abundante em
outros riachos e ou micro-habitats. Na mesma linha de interpretação, espécies raras num
determinado micro-habitat e riacho hoje podem ser comuns em outra estação do ano ou
mesmo em outros anos (Resh et al. 2005). De fato, Bispo et al. (2001) mostram profundas
mudanças sazonais na composição de comunidades de invertebrados em riachos de Goiás.
Neste caso, espécies abundantes numa estação poderiam ser raras em outra época do ano.
41
6. Conclusões
Os principais objetivos desse estudo foram caracterizar diferentes micro-habitats e,
conseqüentemente, avaliar a riqueza e raridade de espécies dentro dos mesmos. Isso nos
permitiu observar se a riqueza de espécies varia entre micro-habitats e o que é mais
importante na composição da comunidade de macroinvertebrados aquáticos, os riachos ou
os micro-habitats.
Os resultados obtidos neste trabalho nos mostraram que micro-habitats foram muito
mais importantes que riachos na determinação da composição e abundância relativa de
macroinvertebrados. Amostras de micro-habitats próximos dentro de um mesmo riacho são
mais diferentes entre si do que amostras de um mesmo micro-habitat em riachos distantes
geograficamente. Isso foi demonstrado pela PCA. Contudo na análise de agrupamento,
UPGMA, observamos que os ambientes de raízes e folhiço, por possuírem velocidade de
correnteza relativamente baixa, quando comparada aos outros ambientes, se agruparam
separadamente. E quase a metade da variação de espécies no micro-habitat (42,02%) foi
explicado pela pCCA. Contudo, mesmo obtendo resultados satisfatórios, outras variações,
como a velocidade de correnteza e o tamanho do riacho também poderiam explicar a
distribuição espacial da comunidade (Melo & Froehlich 2001).
Em média 41% das espécies presentes numa amostra (combinação de um riacho e
um micro-habitat) apareceram com 1 ou 2 indivíduos. Destas espécies raras, cerca de 1/3
foram encontradas com maior abundância (abundância relativa > 1%) em outros riachos e
ou micro-habitat. Existem vários fatores que nos levam a crer que espécies que são raras
em um determinado local podem se tornar abundantes em outros. Contudo, os 2/3 das
espécies raras remanescentes são provavelmente, resultado da ação desses fatores, como
espécies transientes (ou turistas), especialistas se dispersando ou generalistas com baixos
níveis populacionais e erros de amostragem. Porém, mesmo em estudos à longo prazo
42
(Magurran & Henderson 2003, Resh et al. 2005) houve oscilações constantes entre as
espécies raras e comuns dentro da comunidade.
Embora o número de morfoespécies encontrado em cada micro-habitat tenha variado
bastante, o número de espécies esperado por rarefação para um tamanho amostral (em
indivíduos) padronizado foi relativamente constante entre micro-habitats. Pelo fato de
trabalhos de outros autores não conduzirem a tal resultado, sugere-se que estudos
posteriores usem comparações baseadas em riquezas de espécies padronizadas por
número de indivíduos.
43
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