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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF
CENTRO TECNÓLOGICO
LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIO E MEIO AMBIENTE –
LATEC
MESTRADO EM SISTEMAS INTEGRADOS DE GESTÃO – MSG
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO DESEMPENHO DE UM PÓLO.
O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE INDÚSTRIAS DE VESTUÁRIO
DE MURIAÉ-MG.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CARLOS AUGUSTO VEGGI DE SOUZA
NITERÓI
2005
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CARLOS AUGUSTO VEGGI DE SOUZA
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO DESEMPENHO DE UM PÓLO.
O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE INDÚSTRIAS DE VESTUÁRIO
DE MURIAÉ-MG.
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Sistemas Integrados de
Gestão da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
a obtenção do Grau de Mestre. Área de
concentração: Sistemas de Gestão da
Qualidade.
Orientador: Prof° Dr° FERNANDO TOLEDO FERRAZ
Niterói
2005
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CARLOS AUGUSTO VEGGI DE SOUZA
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO DESEMPENHO DE UM PÓLO.
O CASO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE INDÚSTRIAS DE VESTUÁRIO
DE MURIAÉ-MG.
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Sistemas Integrados de
Gestão da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial
para a obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Sistemas de
Gestão da Qualidade.
Aprovada em 13 de Abril de 2005.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Profº Fernando Toledo Ferraz, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense - UFF
________________________________________
Profº José Manoel Mello, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense - UFF
________________________________________
Profª Lia Hasenclever, D. Sc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Niterói
2005
4
Dedico esta Dissertação à memória de meu pai Waldir.
5
Agradecimentos
Esta dissertação é a conclusão de um sonho que um dia parecia muito
distante e hoje tornou-se realidade. Quero expressar minha profunda gratidão às
várias pessoas que me ajudaram com o seu apoio durante os últimos dois anos em
que me dediquei a este trabalho, em especial:
A família, minha gratidão pelo amor e dedicação e, sobretudo pelos exemplos
de capacidade de trabalho, de obstinação e perseverança. Com destaque para
minha mãe Filinha e meu pai Waldir, pelo apoio sempre incondicional e por acreditar
que a educação era a maior contribuição que poderia oferecer aos seus, a ponto de
abdicarem da vida serena e farta no campo e aventurarem-se na cidade com o único
intuito de educar seus filhos. A minha irmã Do Carmo que sempre acreditou em
minhas potencialidades, talvez até mais do que eu próprio, e sempre me incentivou
a trilhar o caminho libertador e fascinante da educação. Meus irmãos Ruy e Beta,
pela torcida e estímulo.
A minha namorada Alessandra pelo amor e afeto sempre dispensados e pela
força nos momentos difíceis.
A todos os amigos e colegas, companheiros de curso, com os quais pude
estreitar laços de amizade, convivência e avanços nesse tempo de crescimento
intelectual, entre os quais estão: Luciano Pacheco, eterno amigo, pelo
companheirismo em sala e brilhantismo nos trabalhos acadêmicos. Oscar, parceiro
de artigos e resenhas. Cláudio Lopes, grande amigo que tornou as travessias Rio-
Niterói-Rio ainda mais agradáveis e pelos registros de todos os melhores momentos
da turma. Dilza e Melba, com quem tive a satisfação de trabalhar e comprovar
tamanha competência profissional.
Um agradecimento muito especial ao professor Fernando Ferraz, meu
orientador, pela sua capacidade de saber dosar, com muita competência, o rigor
acadêmico com sua sensibilidade, paciência e humanismo.
Agradeço a professora Lia Hasenclever pelos valiosos comentários e
sugestões para esse trabalho e por gentilmente aceitar o convite para compor a
banca como examinadora externa.
Ao diretor do LATEC, Professor Osvaldo Quelhas, pela compreensão e
generosidade quando mais precisei.
A Juliana, Bruno e Renan, pela gentileza e cordialidade com que sempre me
hospedaram em suas residências no Rio de Janeiro.
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Aos empresários e demais atores envolvidos com o setor de confecções de
Muriaé que se dispuseram a responder um longo questionário. Espero ter
conseguido com esse trabalho chegar o mais próximo à realidade de vocês.
Agradeço também a Cíntia Nobre do CONDESSC e Simone Porto do IEL,
pela presteza e empenho ao fornecerem dados imprescindíveis para a conclusão
deste trabalho.
A professora Emília Montesano, pela valiosa colaboração no resumo em
língua inglesa.
Ao museólogo e restaurador João Carlos, profundo conhecedor e mantenedor
da cultura e história de Muriaé.
Finalmente, agradeço a todos aqueles que direta e indiretamente somaram na
minha vida para tornar possível a concretização deste meu ideal de formação que
almeja contribuir para a consolidação de uma sociedade brasileira mais justa e
solidária.
7
A moça tecelã
“Acordava ainda no escuro, como
se ouvisse o sol chegando atrás
das beiradas da noite.
E logo sentava-se ao tear [...]”
“[...] Assim, jogando a lançadeira de um
lado para outro e batendo os grandes
pentes do tear para frente e para trás,
a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome
tecia um lindo peixe, com cuidado
de escamas. E eis que o peixe estava
na mesa, pronto para ser comido.
Se sede vinha, suave era a lã cor de
leite que entremeava o tapete.
E, à noite, depois de lançar seu fio
de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era
tudo o que queria fazer [...]”
(Marina Colasanti)
“Nada é tudo Sozinho”.
(Luciano Pacheco)
8
Resumo
O processo de globalização em curso na economia atual, e no Brasil, as
diversas mudanças em seu cenário econômico ao longo dos anos 90, contribuíram
para o maior acirramento da concorrência no mercado interno e provocaram
impactos significativos na indústria de vestuário. Esta dissertação analisa os fatores
críticos de sucesso para o Arranjo Produtivo Local (APL) de vestuário de Muriaé-MG
perante o aumento da concorrência externa e interna e seu desempenho diante
dessas mudanças. O estudo é feito partindo do pressuposto de que a
competitividade das pequenas e médias empresas - tipo predominante no país
está diretamente associada à formação de arranjos interorganizacionais voltados
para maior cooperação entre empresas e instituições de apoio. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa de campo com empresas e instituições que formam o
arranjo, onde foi possível levantar informações a respeito do processo de formação
do arranjo, do ambiente de negócios na localidade, da relação com políticas
macroeconômicas, dos aspectos sociológicos e antropológicos e outros fatores que
influem na competitividade das firmas. Com os dados coletados é possível verificar
que há potenciais elementos a serem desenvolvidos que aumentam o grau de
cooperação e de aprendizado com vistas à inovação, pré-requisitos para um maior
dinamismo competitivo do APL estudado.
Palavras-chave: Micro e Pequenas Empresas, Arranjos Produtivos Locais,
Confecções de Vestuário, Muriaé.
9
ABSTRACT
The globalization process in current economy and also in Brazil, the several
changes in the economic scene troughout the 90's, contributed to increase
competition levels in inner market and provoked significant impact on the clothing
industry. This work analyses critical factors concerning the Local Productive
Arrangement's success of the clothing industry im Muriaé, MG, faced with internal
and external competition, and its performance before those changes. This study
presupposes that competitivity in small and medium size businesses the conuntry's
types is directly associated with the rise of interorganizational arrangemets which
might provide greater cooperation among businesses and supporting institutions.
Therefore, a survey was conducted with businesses and supporting institutions which
constitute that arrangement, making it possible to collect data on the arrangement's
formation process, on the local business environment, on macroeconomic policies,
on sociological and antropological aspects, as well as other factors influencing
competitiviy. The data obtained shows that there are potencial elements to be
improved which might enhance cooperation levels and learning processes aiming at
innovation, prerequisite for a deeper competitive dynamism in the LPA studied.
Key words: Micro and Small Businesses, Productive Local Arrangements, Clothing
Industry, Muriaé city, Brazil.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Determinantes da vantagem competitiva nacional...............................36
Figura 2 A relação entre competitividade, desenvolvimento regional e à
formação de redes interempresariais de PME's..........................
..........
39
Figura 3 Conjunto de variáveis envolvendo os Fatores Críticos de Sucesso
(FCS) a serem consideradas no processo de formação,
desenvolvimento e manutenção de Redes interorganizacionais
de PME's..............................................................................................40
Figura 4 A cadeia Produtiva têxtil e confecções.................................................50
Figura 5 Etapas da pesquisa..............................................................................76
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Geração de emprego na cadeia têxtil...................................................62
Gráfico 2 Brasil: volume da produção de vestuário – 1991 a 2001......................65
Gráfico 3 Brasil: preços médios estimados das peças de vestuário
no fabricante – 1991 a 2001.........................................................................66
Gráfico 4 Brasil: valor da produção de vestuário – 1991 a 2001..........................66
Gráfico 5 Evolução da balança comercial têxtil brasileira – 1990 a 2003............67
Gráfico 6 Porte das empresas..............................................................................84
Gráfico 7 Faturamento bruto total anual – 2004...................................................85
Gráfico 8 Principais produtos fabricados pelo arranjo..........................................85
Gráfico 9 Destino da produção.............................................................................86
Gráfico 10 Participação das empresas no mercado internacional.........................87
Gráfico 11 Projetos desenvolvidos nos últimos dois anos.....................................87
Gráfico 12 Dificuldades encontradas no desenvolvimento do design/projetos......88
Gráfico 13 Grau de escolaridade dos funcionários das empresas..........................89
Gráfico 14 Participação em feiras setoriais ...........................................................90
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Consolidação dos fatores críticos de sucesso (F.C.S.)
validados e graus de importância atribuídos.......................................46
Quadro 2 Classificação e quantidade de participantes na pesquisa....................77
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Número de empresas e pessoal ocupado no Brasil: 2001...................22
Tabela 2 Classificação do porte das empresas por número de empregados.....22
Tabela 3 Líderes de exportação de vestuário de 1980 a 2002............................55
Tabela 4 Líderes de importação de vestuário de 1980 a 2002............................57
Tabela 5 Brasil: participação das regiões na produção de vestuário
de 1996 a 2001.....................................................................................64
Tabela 6 Brasil: remuneração média paga por região no ano de 2002...............65
Tabela 7 Brasil: exportações e importações de têxteis e vestuário -
1990 a 2001..........................................................................................67
Tabela 8 Distribuição setorial do valor agregado na cadeia têxtil nos
Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e no Brasil......73
Tabela 9 Classificação e quantidade de participantes na pesquisa....................90
Tabela 10 Opinião dos respondentes quanto à existência de
identificação e afinidade entre os setores e atividades
das empresas localizadas na região antes da formação do
agrupamento.........................................................................................91
Tabela 11 Opinião dos participantes quanto à existência de
condições básicas prévias para o desenvolvimento
de agrupamentos industriais.................................................................92
Tabela 12 Fatores e percentual das respostas quanto às
causas das dificuldades para a prática da cooperação
entre as empresas locais......................................................................93
Tabela 13 Grau de concordância/discordância quanto às formas
de comunicação...................................................................................94
Tabela 14 Grau de concordância/discordância quanto ao
perfil das empresas da região...............................................................95
14
Tabela 15 Opinião dos respondentes quanto à observação
de determinadas condições iniciais necessárias
para o processo de formação..................................................... ........99
Tabela 16 Grau de concordância quanto a práticas conjuntas
de marketing.......................................................................................100
Tabela 17 Grau de concordância quanto a práticas conjuntas
de treinamento....................................................................................101
Tabela 18 Opinião dos participantes quanto ao fator desenho
das fronteiras organizacionais........................................................ ...103
Tabela 19 Opinião dos participantes quanto às políticas relacionadas
à socialização e conscientização dos diversos agentes
envolvidos com o agrupamento..........................................................105
15
LISTA DE SIGLAS
ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
ABRAVEST Associação Brasileira do Vestuário
APL Arranjo Produtivo Local
ATV Acordo Têxtil Vestuário
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAD Computer Aided Design
CAM Computer Aided Manufacturing
CONDESSC Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Setor de
Confecções de Muriaé
FCS Fatores Críticos de Sucesso
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IEMI Instituto de Marketing Industrial
ITMF International Textile Manufacturers Federation
NAFTA Norte Americam Free Trade Agreement
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PINTEC Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
REDESIST Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SINDIVEST Sindicato das Indústrias do Vestuário
UE União Européia
UNIPAC Universidade Presidente Antônio Carlos
WTO World Trade Organization
16
SUMÁRIO
1 Introdução............................................................................................17
2 Referencial Teórico.............................................................................20
2.1 A importância das Pequenas e Médias empresas para o
Desenvolvimento Econômico e Social..................................................20
2.2 Pequenas e médias empresas – competitividade
e desafios à sobrevivência....................................................................23
2.3 Os clusters, aglomerados ou agrupamentos industriais
entre PME's: definições e caracterizações...........................................26
2.4 Aglomerações Industriais e Eficiência Coletiva....................................32
2.5 A influência da localização na competitividade das firmas...................36
2.6 Fatores críticos de sucesso no processo de formação,
desenvolvimento e manutenção de redes interorganizacionais
entre PME's...........................................................................................38
3 Panorama do setor Têxtil e de confecção no Mundo,
no Brasil e no Estado de Minas Gerais: transformações
e perspectivas.....................................................................................48
3.1 Natureza do processo produtivo..........................................................48
3.2 Transformações no processo produtivo e nos padrões de
concorrência.........................................................................................51
3.3 Panorama mundial da indústria têxtil-confecção..................................56
3.3.1 O fim das restrições quantitativas no comércio internacional
de produtos têxteis e confecções.........................................................59
3.4 Panorama do setor têxtil e confecção no Brasil....................................61
3.5 Panorama do setor Têxtil-confecção em Minas Gerais........................69
4 Metodologia da pesquisa...................................................................74
4.1 Tipo de pesquisa..................................................................................74
4.1.1 Objetivo geral da pesquisa...................................................................75
4.1.2 Objetivos específicos............................................................................75
4.2 Método adotado....................................................................................75
17
4.3 Formulação do problema de pesquisa.................................................77
4.4 Caracterização do universo e critérios de seleção da amostra............77
4.5 Métodos de coleta de dados.................................................................78
4.6 Limitações da pesquisa........................................................................79
5 Estudo de caso do APL de confecções de vestuário
de Muriaé/MG......................................................................................80
5.1 Caracterização do APL.........................................................................80
5.2 Caracterização das empresas do APL.................................................83
5.3 Percepção dos empresários e demais agentes envolvidos
com o APL quanto aos fatores críticos de sucesso..............................90
5.4 Observações e percepções do pesquisador acerca da
estrutura e formas de funcionamento das empresas
pertencentes ao agrupamento............................................................106
6 Conclusões e Recomendações.......................................................109
Referências Bibliográficas....................................................................................113
Anexos....................................................................................................................117
17
1- INTRODUÇÃO
As últimas décadas colocaram as economias locais frente à Globalização e a
Reestruturação Industrial, obrigando regiões relativamente isoladas e com indústrias
preocupadas apenas com a concorrência local, regional ou nacional, a enfrentarem
ambientes cada vez mais competitivos. Esta conjuntura trouxe grandes dificuldades,
mas também a possibilidade das economias locais se inserirem em mercados mais
amplos que podem criar novas oportunidades de negócios para seus produtos.
Nesse renovado processo concorrencial, a indústria de vestuário parece ser
uma das mais simbólicas. Isso porque as fatias de mercado são disputadas não
apenas por firmas de países desenvolvidos, mas por caracterizar-se por uma
indústria intensiva em mão-de-obra e com baixa complexidade tecnológica,
empresas de países em desenvolvimento exercem fortes pressões competitivas,
com enormes vantagens de custo em relação a firmas localizadas em países
desenvolvidos.
Como destacam Fauré & Hasenclever (2003), de um lado, é a acentuação do
processo de globalização das economias entendido aqui como a expansão
mundial das formas mercantis e a interdependência crescente dos diferentes
mercados – que tendem a relativizar o nível nacional-estatal das economias e,
paradoxalmente, a reaproximar as escalas globais e locais colocando em
concorrência os territórios locais da produção. Por outro lado, o processo de
descentralização administrativa e política deu às coletividades locais os municípios
meios, competências jurídicas e, finalmente, responsabilidades importantes em
matéria de desenvolvimento local.
A análise do contexto político-econômico atual aponta para a ampliação das
restrições à atuação competitiva das PME's nas estruturas produtivas dos mais
diversos países. A essas restrições está associado o movimento de centralização e
concentração do capital, responsável pelo aumento das assimetrias de poder de
mercado entre grandes e pequenas empresas. Desse movimento derivam algumas
conseqüências negativas para a atuação competitiva das PME's: dificuldade para
concorrer em preços com as grandes empresas (devido à menor escala técnica) e
em inovação (devido aos poucos recursos para adoção e desenvolvimento de novas
tecnologias); poder de barganha praticamente nulo diante de compradores ou
vendedores maiores; aumento da dependência à transferência tecnológica e às
18
exigências da grande empresa contratante; ampliação das dificuldades para a
obtenção de crédito e de financiamento, dadas as diferenças de risco entre grandes
e pequenas empresas; defasagem tecnológica; entre outras restrições.
Para enfrentar esse novo padrão de competitividade, as Pequenas e Médias
Empresas de vestuário objeto deste estudo - precisam reestruturar-se. Essa
reestruturação envolve mudanças na organização geral da empresa e nas suas
relações com outras empresas. Então, a partir da teoria neoschumpeteriana, com
enfoque nos arranjos produtivos locais (APL’s), destacam-se os aspectos da
cooperação, do aprendizado e da competitividade, como estratégia de prover às
empresas capacitação, sem que elas tenham de disputar o acesso a esta
capacitação no mercado, correndo o risco de sucumbir antes mesmo de entrar na
concorrência do mercado do seu produto.
Considera-se que as PME's, do mesmo setor produtivo concentradas
espacialmente em uma área geográfica delimitada por traços históricos e sociais
comuns, têm potencial para adquirir algumas vantagens competitivas com relação às
PME's que atuam isoladamente. Caso as PME's inseridas em aglomerações
setoriais consigam reunir especialização produtiva, coordenada divisão de tarefas e,
ao mesmo tempo, realizar ações em conjunto, elas serão capazes de minimizar (ou
superar) as deficiências que são inerentes ao porte pequeno (principalmente,
restrição ao crédito, pequena escala e acesso a determinados mercados, como os
externos) e adquirir competitividade suficiente para concorrer com grandes
empresas ou para obter melhores condições nas negociações com grandes
compradoras ou fornecedoras.
Utilizando a abordagem de APL, o objetivo central desta dissertação é o de
analisar em detalhe a indústria de confecções de vestuário de Muriaé e verificar se o
pólo reúne condições ideais para o bom desempenho perante os fatores críticos de
sucesso levantados pela literatura pertinente.
Para tanto, buscou-se, primeiramente, realizar uma breve resenha
bibliográfica, apresentando as principais correntes teóricas que vêm sendo
estudando as pequenas e médias empresas e as chamadas aglomerações
produtivas localizadas em uma mesma região geográfica específica. Ao mesmo
tempo, realizou-se uma pesquisa de campo com empresários e demais agentes
envolvidos com o arranjo em questão.
Este trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos, incluída esta
introdução, que apresenta uma visão geral sobre o tema abordado e a estrutura
19
desta dissertação. O segundo capítulo discorre sobre o referencial teórico utilizado
para a pesquisa, onde são abordadas as principais teorias sobre a competitividade
das PME's, as redes de empresas e aglomerações produtivas e os fatores críticos
de sucesso no processo de formação, desenvolvimento e manutenção de redes
interorganizacionais entre PME's.
No terceiro capítulo apresenta-se um panorama do setor têxtil e de confecção
no Mundo, no Brasil e no Estado de Minas Gerais, mostrando suas transformações e
perspectivas.
O quarto capítulo trata da metodologia utilizada para esta pesquisa,
apontando seu método, objetivos e limitações.
O capítulo cinco é dedicado o estudo de caso, caracterizando o APL e as
empresas e agentes envolvidos, e demonstrando os resultados da pesquisa de
campo e as observações e percepções do pesquisador acerca da estrutura e
formas de funcionamento das empresas pertencentes ao agrupamento.
Finalmente, no sexto capítulo, são apresentadas as considerações finais
deste trabalho, buscando refletir sobre as principais questões levantadas pela
pesquisa.
20
2 – REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 – A importância das Pequenas e Médias empresas para o Desenvolvimento
Econômico e Social
O papel desempenhado por pequenas e médias empresas (PME’s) no
desenvolvimento socioeconômico através da geração de empregos, renda e
progresso tecnológico vem sendo cada vez mais reconhecido na literatura
econômica. Segundo Crocco, Lemos & Santos (2003), vários são os fatores que
contribuem para este fato: (1) os estudos sobre aglomerações de empresas têm
demonstrado que em ambientes locais cooperativos e sinergéticos as PME’s criam
condições propícias para superar barreiras tecnológicas, financeiras e de escala
ao seu crescimento; (2) a literatura sobre o desenvolvimento regional ressalta a
importância destas empresas na redução dos desequilíbrios regionais, através da
diminuição de distorções na distribuição regional do emprego e da renda; (3) por fim,
uma sociedade intensiva em conhecimento abre espaço para um novo papel das
PME’s, pois essas possuem mais flexibilidade para o contato face a face, a
cooperação e o compartilhamento dos riscos.
A experiência internacional comprova que a importância das MPE’s na
economia é crescente. Lastres et al. (1999) destacam que diversos países, tais
como os da União Européia, o Reino Unido, a Austrália, a Coréia do Sul, os Estados
Unidos e o Japão, têm adotado políticas voltadas à melhoria da competitividade das
micro, pequenas e médias empresas, estimulando principalmente a inovação e
deixando de tratá-las como sendo uma extensão das grandes companhias.
Corroborando, Casarotto & Pires (2001) afirmam que nestes países verificam-
se a existência de instituições responsáveis pelas políticas de fomento às micro,
pequenas e médias empresas e a razão para promoção destas empresas é que elas
são importantes na geração de emprego e renda devido aos seguintes fatores: i)
benefícios existentes para o país como um todo, ao ter um forte setor de empresas
de pequeno e médio portes, pois diversifica e amplia o setor privado; ii) o
fortalecimento destas empresas dependerá do apoio estatal e; iii) o apoio às micro,
pequenas e médias empresas traz impactos positivos no bem-estar social, na
21
medida em que cria oportunidades de emprego para as pessoas que estão fora do
mercado de trabalho.
Até meados dos anos 70 do último século, as PME’s tinham pouco espaço no
debate sobre o desenvolvimento econômico devido ao predomínio do paradigma da
produção em massa. Conforme La Rovere (1999), com o surgimento do modelo de
produção baseado nos conceitos de “especialização flexível”, as PME’s passam a
ter um papel relevante e, que diversas políticas de apoio as PME’s vêm sendo assim
implementadas nos países desenvolvidos devido ao reconhecimento de que essas
empresas podem ser potencialmente difusoras de inovações e também
estimuladoras do crescimento regional.
Nas palavras de Amato Neto (2000, p. 10):
De fato, desde os anos 70 vem sendo verificada também uma mudança
na organização industrial, com a criação dos distritos industriais da
chamada Terceira Itália,os sistemas produtivos locais na França, Alemanha
e no Reino Unido, o Vale do Silício nos EUA ou as redes de empresas no
Japão, Coréia e Taiwan. As pequenas e médias empresas começaram a
incorporar tecnologias de ponta nos processos produtivos, a modificar
estruturas organizacionais internas e a buscar novos vínculos com o
entorno socioeconômico, de modo que constitua uma via de reestruturação
industrial que pode competir em alguns setores com as grandes empresas.
Isso se relaciona estreitamente com o caráter das inovações tecnológicas
durante os últimos anos, em particular com a indústria eletrônica, a robótica
e a informática.
As experiências internacionais verificadas pelo autor apontam no sentido de
que um papel importante a ser desempenhado pelas pequenas e médias
empresas com base nas condições colocadas pelo novo paradigma de produção
industrial flexível. Em especial, no caso do Brasil, pode-se esperar que haja um
aumento significativo do número de novas pequenas e médias empresas, que
deverão surgir a partir da lógica de maior descentralização produtiva por parte das
grandes organizações, com a conseqüente terceirização e subcontratação de
serviços das PME's. Portanto, essa nova base produtiva deverá estar apoiada em
um conjunto de políticas concretas, focalizadas em atender às necessidades de
modernização técnica/gerencial das PME's, visando ao maior poder de
competitividade.
No Brasil, de acordo com o dados fornecidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a participação das micro e pequenas
empresas no total de empresas, em 1994, foi de 96,04%. Destes, 96,76% nos
setores do comércio, 97,26% nos serviços e 91,86% na indústria. No mesmo ano, a
participação das micro e pequenas empresas, no valor agregado ou no valor total do
22
faturamento da economia, foi de 28%. Estas empresas também foram responsáveis
por empregar 39,58% da mão-de-obra total do país. Segundo dados da RAIS no ano
de 2000, as MPE’s representam cerca de 52,8% da força de trabalho. em 2000,
havia em todo o país 400 mil microempresas (com até 19 empregados) a mais do
que em 1995, representando 93% do total de estabelecimentos empregadores e
26% dos trabalhadores formais. No ano de 2001, segundo informações disponíveis
no SEBRAE (2004), no Brasil, as micro empresas representam 93,9% do número
total de empresas e detém 35,5% do pessoal ocupado, mostrando que esse tipo de
empresa é a predominante no país e a que mais emprega mão-de-obra em todos os
setores da economia. Somando-se as micro, pequenas e médias empresas
(MPME'S) a representatividade passa para 99,7 % das empresas nacionais,
ocupando 66,2% da massa trabalhadora do país. A Tabela 1 mostra o número de
empresas no Brasil, segundo o porte e também o número de pessoas ocupadas. É
visível, portanto, a importância das MPME’s no Brasil, principalmente no que tange à
geração de empregos.
Tabela 1: Número de empresas e pessoal ocupado no Brasil: 2001
Tipo de empresa Nº de empresas % de empresas Nº pessoas
ocupadas
% do pessoal
ocupado
Micro 4.352.606 93,9 9.169.279 35,5
Pequena 244.929 5,3 5.333.099 20,6
Média 22.910 0,5 2.625.244 10,1
Grande 14.700 0,3 8.729.685 33,8
Total 4.635.145 100,0 25.857.307 100,0
Fonte: SEBRAE (2004).
Vários autores têm ressaltado que não há um consenso quanto à definição
de empresas segundo o porte. De acordo com Lemos (2002), no Brasil, a
classificação das empresas segundo o tamanho, varia amplamente, porém, a
classificação mais utilizada é aquela que se baseia no número de empregados,
adotada pelo SEBRAE.
Tabela 2: Classificação do porte das empresas por número de empregados
Empresas Indústria Serviços
Micro Até 19 Até 9
Pequenas 20 a 99 10 a 49
Médias 100 a 499 50 a 99
Fonte: SEBRAE (2004)
A focalização deste estudo nessa categoria de empresa justifica-se por seu
elevado potencial de contribuir tanto para a melhoria das condições sociais (geração
23
de emprego e de renda), que embora importantes, não serão enfatizadas neste
trabalho, quanto econômicas (aumento de eficiência produtiva numa cadeia
produtiva específica, como no caso da indústria de vestuário, por exemplo). Se, por
um lado, sua importante participação no desenvolvimento econômico e social é
quase um consenso, de outro, a necessidade de compreensão dos principais
problemas enfrentados pelas PME’s tem sido motivo de preocupação de diversos
autores, como desenvolvido a seguir.
2.2 Pequenas e médias empresas competitividade e desafios à
sobrevivência
A competitividade pode ser definida, de acordo com Kupfer (1996, p. 357),
“como a capacidade da empresa de formular e implementar estratégias
concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma
posição sustentável no mercado”.
Como sustenta La Rovere (2001, p. 16):
No novo paradigma tecno-econômico, as empresas estão lidando com
produtos cada vez mais intensivos em conhecimento e tecnologia, cujos
ciclos de vida têm diminuído e muitas vezes requerem processos de
produção flexíveis. Neste contexto, é fundamental para qualquer empresa
não apenas definir uma estratégia competitiva adequada como também
monitorar constantemente o seu desempenho, permitindo ajustes nesta
estratégia.
Existem diferentes definições de estratégia competitiva. Na definição sugerida
por Porter (1996): “estratégia competitiva é a escolha deliberada de um determinado
conjunto de atividades visando à produção de um mix único de valor”. A essência da
estratégia competitiva consiste em realizar atividades de uma forma diferente ou
realizar atividades diferentes das realizadas por empresas rivais.
A definição da estratégia competitiva de uma empresa é feita a partir de uma
análise do seu ambiente competitivo. Conforme observado por Porter (1990),
existem quatro determinantes das vantagens competitivas de uma empresa: (1) as
condições de fatores, (2) as condições de demanda, (3) as condições de
fornecimento de insumos e (4) a estrutura da competição. A empresa deve identificar
as ameaças e oportunidades ligadas ao ambiente competitivo onde está operando
tendo em vista estes quatro determinantes para definir a sua estratégia competitiva.
Kanter apud Cândido (2001), afirma que para as organizações adquirirem as
devidas condições de competitividade no ambiente, elas precisam passar por um
24
processo de transformação que envolveria desenvolver organizações mais
horizontalizadas, focadas na sinergia; busca permanente por novas vertentes de
negócios para o futuro; e principalmente a formação de alianças estratégicas ou
parcerias entre stakeholders que ampliem a capacidade de produção a partir da
combinação das forças de diversas organizações. As novas formas de
relacionamentos exigem graus inéditos de compartilhamento interno e externo - de
informações, e um processo de comunicação que apóie esta mudança.
Segundo a mesma autora, as empresas ao definirem os componentes de
suas estratégias precisam levar em consideração o desenvolvimento de estreitos
relacionamentos de trabalhos com outras organizações, sendo esta uma condição
imprescindível para a sobrevivência e desenvolvimento empresarial, no qual com um
investimento mais modesto e com a propriedade de permanecer independente as
empresas têm uma série de benefícios decorrentes tais como:
constitui-se um poderoso meio de fazer mais com menos;
amplia o alcance da empresa sem aumentar seu tamanho;
permitem que a empresa se mantenha enxuta, controlando os custos e ao mesmo
tempo ganhando acesso a mais capacidade de produção;
maior disponibilidade e acesso à informação;
novos canais para a tecnologia;
maior velocidade de ão e tua adaptação às inovações que criam retorno
mais rápido sobre o investimento.
Além da ausência de estratégias competitivas para o enfrentamento do novo
paradigma tecno-econômico, os estudos centrados na análise das PME’s são
praticamente unânimes em reconhecer que as maiores dificuldades destas
empresas estão relacionadas ao seu tamanho e à elevada taxa de mortalidade.
Ceglie e Dini (1999) apontam um conjunto de problemas relacionados com o
tamanho das PME’s: (1) individualmente, elas seriam incapazes de capturar
oportunidades de mercado que requerem produção em grandes quantidades,
padrões homogêneos e oferta regular; (2) elas também enfrentariam dificuldades em
realizar economias de escala na compra de insumos, tais como equipamentos,
matérias-primas, financiamento e serviços de consultoria; (3) da mesma maneira, o
pequeno tamanho dificultaria a internalização de funções centrais ao dinamismo das
firmas relacionadas a uma efetiva divisão interna do trabalho, que geram melhorias
cumulativas nas capacitações produtivas e inovativas; (4) finalmente, dada a
25
pequena capacidade de alavancagem financeira, elas estariam locked in suas
rotinas, incapazes de sustentar um processo contínuo de introdução de inovações e
de buscar novas oportunidades de mercado.
Estudos mais recentes sobre as PME’s, encontrados em Lastres et al. (2003),
reconhecem que as maiores dificuldades destas empresas estão relacionadas ao
seu tamanho e suscetibilidade a falências. As PME’s individualmente são incapazes
de obter oportunidades de mercado, as quais requerem grande quantidade
produzida, um padrão homogêneo de qualidade e uma oferta regular, além disso,
enfrentam problemas em realizar economias de escala na compra de matérias-
primas e não conseguem sustentar um processo contínuo de introdução de
inovações. Dessa forma, a solução para estes problemas está basicamente na
formação de redes de cooperação, que poderiam se tornar inovativas e competitivas
ao combinar as dimensões dinâmica e estática das relações inter-firmas em um
espaço geograficamente limitado, porém, a forma como estas empresas articulam-
se e o seu papel em cada arranjo produtivo pode variar de acordo com a
especificidade deste.
Cândido & Dias (1998) fizeram um levantamento de parcelas significativas
das publicações científicas compreendidas entre 1980 e 1997 que tratassem dos
problemas enfrentados pelas PME’s e concluíram que a maioria dos problemas
enfrentada pelas PME’s é de fácil identificação e, os principais seriam:
falta de recursos próprios;
política de oferta de crédito inadequada;
ausência de pessoal qualificado e
falta de predisposição para mudança por parte dos seus dirigentes.
Em seguida os autores apontam que as soluções para estes problemas
passam necessariamente, pela adoção de políticas que viabilizem a sua
sobrevivência e desenvolvimento, envolvendo:
financiamento para criação, operação e expansão;
programa de capacitação técnica e gerencial;
estímulos à regulação fiscal, trabalhista e previdenciária e
criação de um sistema de informação de mercado e de oportunidades de
negócios.
26
Amorim apud Cândido (2001) mostra que no Brasil, a despeito da significativa
atenção que as PME’s têm merecido nos últimos vinte anos, quando estas têm sido
alvo de inúmeras políticas voltadas para a criação de emprego e promoção do
crescimento, elas na verdade continuam a enfrentar grandes obstáculos. As
principais barreiras que prejudicam o desenvolvimento das PME’s tem origem nas
dificuldades de acesso a vários instrumentos, tais como: (1) acesso a insumos e
componentes, (2) a dificuldade de acesso a crédito, (3) acesso à tecnologia, (4)
acesso aos mercados, (5) acesso aos orgãos públicos. Todos estes problemas são
de difícil solução, mormente se encarados pelas empresas de forma isolada.
Segundo Crocco et al. (2001) existe um relativo consenso entre os vários
estudos sobre as PME’s de que a solução para os desafios apontados passaria pela
formação de redes cooperativas, sendo os vínculos estabelecidos entre as empresas
tão importantes quanto a noção prementemente econômica de reduções de custos
via usufruto de economias de escala e redução das porosidades do processo
produtivo.
2.3 – Os clusters, aglomerados ou agrupamentos industriais entre PME's:
definições e caracterizações.
Uma das novas tendências que vêm solidificando-se no processo de
reestruturação industrial é a que diz respeito às formas de relações intra e
interempresas. A formação e o desenvolvimento de redes de empresas vêm
ganhando relevância não para as economias de vários países industrializados,
tais como Itália, Japão e Alemanha, assim como para os chamados países
emergentes ou de economias em desenvolvimento, tais como México, Chile,
Argentina e o próprio Brasil.
Os agrupamentos constituem-se numa forma específica de Redes
Interempresariais, surgida a partir de mudanças no ambiente de negócios ocorridos
a partir de meados dos anos 70, inserindo num contexto de reestruturações
capitalistas. Tal modelo de organização é uma alternativa para que as empresas de
um modo geral superem suas debilidades e dificuldades e adquiram as condições
devidas para atuar num ambiente cada vez mais mutante e incerto.
A literatura sobre aglomerações produtivas, arranjos de empresas e distritos
industriais é extensa, e foi iniciada com a contribuição de Alfred Marshall, em 1896,
27
sobre a importância das economias externas para os distritos industriais. Desde
então, acompanhando a complexidade crescente e a variedade de formas de
organização interempresas, diversas tipologias de arranjos industriais e distritos têm
sido propostas, freqüentemente agrupando realidades bastante distintas sobre o
mesmo rótulo.
Cândido (2001, p. 89), afirma que, a partir dos anos 80, diversos autores têm
trabalhado com o tema e têm definições bem próximas para os termos
agrupamentos, aglomerados ou clusters, tais como:
São concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas,
fornecedores especializados, prestadores de serviços, empresas de setores
correlatos e outras instituições específicas (universidades, órgãos de
normatização, associações comerciais) que competem entre, mas também
cooperam entre si. Ou seja, um agrupamento geograficamente concentrado
de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada
área, vinculadas por elementos comuns e complementares (PORTER).
Um conjunto numeroso de empresas, em geral, pequenas e médias,
operando em regime de intensa cooperação, onde cada uma das firmas
executa um estágio do processo de produção. Essas empresas participam
de um negócio como produção de calçados e confecções embora cada
uma das firmas executando um estágio do processo de produção
(AMORIM).
É um conjunto de empresas que normalmente constitui um grupo
econômico de empresas líderes em seus ramos de atividades em
determinada região, apoiando uma as outras através de produtos e serviços
que fornecem, sendo o sistema sustentado por organizações de apoio que
oferecem profissionais qualificados, tecnologias de ponta, recursos
financeiros e ambientes propícios para os seus negócios (LOPES NETO).
São conglomerados de empresas que, graças à proximidade geográfica,
infra-estrutura da região e existência de recursos naturais, especializam-se
em determinado ramo industrial que acaba se tornando a base da economia
da região (FERREIRA et al.).
Conceitua-se um agrupamento (cluster), numa referência geográfica, a
aglomeração de empresas ali instaladas que desenvolvem suas atividades
de forma articulada e com uma lógica econômica comum, a partir por
exemplo, de uma dada dotação de recursos naturais, da existência de
capacidade laboral, tecnológica ou empresarial local, e da afinidade setorial
dos seus produtos. A interação e a sinergia, decorrentes da atuação
articulada, proporcionam ao conjunto de empresas vantagens competitivas
que se refletem em um desempenho diferenciado superior em relação à
atuação isolada de cada empresa (CNI).
É uma associação em redes de empresas com vocações e potencialidades
econômicas semelhantes, que compartilham das mesmas necessidades de
informações, financiamentos, tecnologias, mão-de-obra, treinamento e
outros aspectos afins, que podem ser compartilhados para redução de
custos ou podem ser distribuídos especificamente entre as empresas ao
longo de uma cadeia produtiva.
28
É uma rede de funções conectadas para atividades que se interrelacionam
numa cadeia industrial de valor em determinado espaço geográfico (Banco
Mundial).
Conjunto de Pequenas e Médias Empresas concentradas territorialmente,
produzindo bens similares, em contexto de fragmentação em escala.
Geralmente envolve atividades de setores tradicionais, com baixa presença
de capital fixo e onde as inovações tecnológicas são do tipo incremental,
baseadas na difusão, aprendizagem e adaptação (GATTO).
Preocupado em entender as vantagens competitivas de países, Porter (1990),
enfatizou a importância de cinco fatores para a competitividade (rivalidade entre
empresas e condições de entrada de concorrentes; papel de fornecedores de
equipamentos e outros insumos; ameaça de produtos substitutos; importância dos
diferentes fatores de produção; e condições de demanda). O autor colocou mais
ênfase no aspecto de rivalidade (concorrência) entre empresas, como estimulador
da competitividade, do que nos processos de cooperação, aprendizado e
capacitação.
Schmitz (1995), define Clusters como concentrações geográficas e
setoriais de empresas e introduziu a noção de eficiência coletiva que descreve os
ganhos competitivos associados à interação entre empresas em nível local além de
outras vantagens derivadas da aglomeração.
Pode-se perceber que nas definições citadas, a aplicação dos conceitos e
princípios de redes (cooperação, compartilhamento, ajuda mútua, etc) são
referenciados pelos autores pesquisados, alguns de forma explícita, outros de forma
mais implícita. Neste sentido, o conceito gera uma certa ambigüidade, o que levou
outros autores a explorarem o tema de forma mais detalhada, separando os
conceitos de cluster e agrupamento industrial, sendo o primeiro definido como uma
concentração geográfica e setorial de empresas, enquanto o diferencial do distrito
seria a prática intensiva da cooperação e de nculos laterais e horizontais, com
formas implícitas ou explícitas de colaboração entre os diversos agentes
econômicos locais, favorecendo a produção local e a prática da inovação, conforme
definição de Humphery & Schmitz (1997) ao definirem o conceito de Distrito
Industrial.
Neste sentido, cabe a formulação proposta por Schmitz (1995), no qual os
clusters, considerados como uma concentração geográfica e setorial de firmas,
constitui-se num elemento básico para a formação dos distritos industriais. E que a
existência do cluster não necessariamente traz ganhos para o segmento e sistema
produtivo envolvido. O ganho para o sistema resulta da soma das economias
29
externas ligada à própria existência do cluster visando alcançar determinados
objetivos em nível de coletividade de produtores. Neste sentido, os melhores
resultados a serem obtidos pelas empresas pertencentes ao cluster vão depender
da intensidade dos vínculos estabelecidos entre os diversos tipos de agentes
envolvidos na cadeia produtiva e a participação de instituições (públicas e privadas)
apoiando as atividades empresariais do setor econômico envolvido. A partir dessas
considerações, os autores apontam que um cluster não constitui sempre um distrito
industrial, embora este último sempre tenha a forma de cluster, ou seja, um distrito é
sempre um cluster, mas o contrário não é sempre verdadeiro.
O conceito de Distrito Industrial deve a sua popularidade a Alfred Marshall
(1985), que foi o primeiro a observar as externalidades devidas à co-localização de
pequenas empresas e a diversos pesquisadores que ressuscitaram o seu trabalho
para explicar o desempenho econômico superior de regiões como a Terceira Itália,
ou o Vale do Silício nos EUA, nos anos 1980 e 1990. Também conhecidos como
clusters marshalianos, são sistemas locais de produção caracterizados pela
existência de um conjunto de pequenas e médias empresas em torno de uma
indústria dominante onde as firmas, freqüentemente, se especializam em diferentes
etapas do processo produtivo. Pertencentes, em geral, à comunidade local, essas
empresas a ela se integram por meio de uma extensa teia de relacionamentos.
Nas palavras de Sforzi (1992, p. 37):
Os distritos industriais caracterizam-se, ainda, pela existência de um fluxo
de comércio substancial entre as empresas e pelo fato de as firmas
partilharem diferentes serviços especializados, o mesmo mercado de
trabalho e o estoque de conhecimento.
Outro conceito bastante difundido na literatura econômica é o de Arranjo
Produtivo Local (APL). Na definição de Caporall & Volker (2004), Arranjos Produtivos
Locais constituem um tipo particular de cluster, formado por pequenas e médias
empresas, agrupadas em torno de uma profissão ou de um negócio, onde se
enfatiza o papel desempenhado pelos relacionamentos formais e informais entre
empresas e demais instituições envolvidas. As firmas compartilham uma cultura
comum e interagem, como um grupo, com o ambiente sociocultural local. Essas
interações, de natureza cooperativa e/ou competitiva, estendem-se além do
relacionamento comercial e tendem a gerar, afora os ganhos de escala, economias
externas, associadas à socialização do conhecimento e à redução dos custos de
transação. Note-se que, nesses sistemas, as unidades produtivas podem ter
30
atividades similares e/ou complementares, em que predomina a divisão do trabalho
entre os seus diferentes participantes empresas produtoras de bens e serviços,
centros de pesquisa, centros de capacitação e treinamento e unidades de pesquisa
e desenvolvimento, públicas e privadas.
Segundo definição do SEBRAE (www.sebrae.com.br) :
Arranjos produtivos são aglomerações de empresas localizadas em um
mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum
vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e
com outros atores locais tais como governo, associações empresariais,
instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Um Arranjo Produtivo Local é caracterizado pela existência da aglomeração
de um número significativo de empresas que atuam em torno de uma
atividade produtiva principal. Para isso, é preciso considerar a dinâmica do
território em que essas empresas estão inseridas, tendo em vista o número
de postos de trabalho, faturamento, mercado, potencial de crescimento,
diversificação, entre outros aspectos.
Portanto, o Arranjo Produtivo Local compreende um recorte do espaço
geográfico (parte de um município, conjunto de municípios, bacias
hidrográficas, vales, serras, etc.) que possua sinais de identidade coletiva
(sociais, culturais, econômicos, políticos, ambientais ou históricos).
Conforme a definição proposta pela Rede de Pesquisa em Sistemas
Produtivos e Inovativos Locais RedeSist organizada por pesquisadores do
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - arranjos
produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e
sociais com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que
apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e
a interação de empresas que podem ser desde produtoras de bens e serviços
finais afornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e
serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de
representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e
privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como
escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política,
promoção e financiamento.
Dessa forma, os fatores que caracterizam um APL são, segundo Lastres et al.
(2003): dimensão territorial; diversidade de atividade e atores econômicos, políticos
e sociais; conhecimento tácito; inovação e aprendizado interativos; governança e
grau de enraizamento.
31
Vários estudos da Redesist vêm salientando a importância da promoção de
arranjos locais de pequenas empresas, principalmente sob o ponto de vista de
países em desenvolvimento. Lastres et al. (1999), destacam as vantagens
características de tais empresas a seguir:
• representam parcela significativa e diversificada do setor privado;
• simbolizam fortes oportunidades de emprego;
• significam, em muitos casos, a possibilidade de promoção do desenvolvimento
econômico local.
Existem diversas abordagens acerca dos arranjos produtivos locais e os
aspectos comuns destas são os seguintes, segundo Cassiolato & Lastres(1999):
a) Quanto à localização:
• proximidade ou concentração geográfica.
b) Quanto aos atores:
• grupos de pequenas empresas;
• pequenas empresas nucleadas por grande empresa e;
associações, instituições de suporte, serviços, ensino e pesquisa, fomento,
financeiras, etc.
c) Quanto às características:
• intensa divisão do trabalho entre as firmas;
• flexibilidade de produção e de organização;
• especialização;
• mão-de-obra qualificada;
• competição entre as firmas baseadas em inovação;
• estreita colaboração entre as firmas e demais agentes;
• fluxo intenso de informações;
• identidade cultural entre os agentes;
• relações de confiança entre os agentes e;
• complementaridades e sinergias.
Schmitz (1995) destaca que, apesar das nomenclaturas multivariadas, tais
APL’s, genericamente denominados por ele de Distritos Industriais Contemporâneos,
apresentam alguns pontos em comum: proximidade geográfica entre empresas;
identidade sócio-cultural semeadora de confiança; predominância de pequenas e
médias empresas; estreita colaboração entre as empresas; especialização setorial;
32
organizações de apoio ativas, para prestação de serviços comuns, atividades
financeiras, etc.; e, participação de governos regionais e locais.
Em ntese, podemos dizer que cada uma dessas definições enfatiza
determinados aspectos do sistema produtivo. Porém, no que concerne às
recomendações de política econômica, essas diferenças não são significativas.
Para este trabalho, utiliza-se a abordagem de APL por entender que a
vantagem desta escolha reside no fato de que ela representa uma unidade de
análise que focaliza grupos de agentes (empresas, fornecedores, instituições de
promoção, de treinamento, de financiamento, etc) relevantes para o sistema
inovativo, permite realizar uma ligação entre o território e a atividade econômica e
cobre o espaço onde ocorre o aprendizado, onde fluem os conhecimentos tácitos e
são criadas as capacitações produtivas e inovativas, possibilitando uma análise
dinâmica e completa das potencialidades e dificuldades que determinam a
competitividade das firmas.
2.4 - Aglomerações Industriais e Eficiência Coletiva.
A força econômica que pode ter uma aglomeração espacial de pequenas
empresas de um mesmo setor produtivo primeiramente foi visualizada e analisada
por Marshall (1985) na sua investigação sobre as causas do dinamismo de algumas
pequenas empresas da Inglaterra, concentradas em distritos industriais. Juntas,
beneficiando-se de externalidades positivas (porque externas às empresas, mas
internas ao setor) provenientes da simples aglutinação de empresas, essas
pequenas empresas obteriam as vantagens necessárias para concorrer com as
grandes empresas e, portanto, não deveriam ser eliminadas pelo fato de serem
pequenas e por não contarem com as economias de escala.
Segundo Marshall, as vantagens econômicas (as externalidades positivas)
que podem ser obtidas por empresas que pertencem a uma localidade onde
predomina um setor produtivo específico dizem respeito ao fácil acesso a
trabalhadores qualificados dada a concentração local de mão-de-obra especializada,
e a fornecedores de matérias-primas e a serviços correlatos à atividade principal.
Além disso, a existência de uma massa crítica concentrada geograficamente
com capacitações específicas e semelhantes, além de gerar as economias externas
33
(concentração de mão-de-obra especializada e atração de fornecedores), contribui
para criar um ambiente propício a inovações.
A proximidade física, as aptidões comuns e a mesma identidade cultural de
empreendedores e trabalhadores facilitaria o intercâmbio e uma fluída
circulação de conhecimento e idéias. O ambiente, resultado da união
dessas três fontes de economias externas, pode ser ilustrado pelas
seguintes palavras do autor: “os segredos da profissão deixam de ser
segredos e, por assim dizer, ficam soltos no ar (MARSHALL, 1985, p. 234).
A importância da cooperação entre empresas e da coordenação da divisão de
trabalho entre as empresas também foi bastante evidenciada com os trabalhos de
Hubert Schmitz. Esse autor sublinha que as vantagens marshallianas das
aglomerações de empresas referem-se apenas a aquelas que ocorrem de forma
não-intencional. Para Humphrey & Schmitz (1997), a principal característica de
aglomerações bem sucedidas é a existência de relações colaborativas entre as
empresas, conscientemente planejadas e construídas ao longo do tempo, mesmo
que sejam estimuladas por fatores exógenos.
Segundo Humphrey e Schmitz (1998), o distrito industrial surge quando um
cluster desenvolve mais do que a especialização e divisão do trabalho entre as
firmas. Surge, portanto, quando há, dentro do cluster, a emergência de formas
implícitas e explícitas de colaboração entre os agentes econômicos locais,
ampliando a capacidade produtiva e inovativa das empresas e a emergência de
fortes associações setoriais, gerando, portanto eficiência coletiva. “A eficiência
coletiva pode ser passiva quando for fruto de externalidades incidentais ou ativa,
neste caso, sendo resultado da ação coletiva” (SCHMITZ & NADVI, 1999, p. 37). Os
fundamentos do sucesso dos clusters segundo Nadvi e Schmitz (1994), são:
a) sistemas produtivos que reduzem a rigidez na fabricação de produtos,
permitindo assim a capacidade de resposta flexível e rápida às mudanças na
demanda;
b) a natureza das relações interfirmas no cluster;
c) relações verticais e horizontais de cooperação;
d) especialização, distribuindo custos e riscos através do cluster e
encorajando uma resposta coletiva no compartilhamento dos problemas;
e) identidade sociocultural que facilita a confiança e o fortalecimento das
relações interfirmas;
34
f) capacitações tecnológicas endógenas que facilitem um processo contínuo
de inovação.
Schmitz sustenta a noção de eficiência coletiva para capturar as vantagens
competitivas que crescem desses processos locais que evolvem a cooperação
interfirma. O conceito conjuga vantagens competitivas da firma acumuladas em sua
trajetória e a apropriação de economias externas advindas de ações coletivas. As
ações coletivas envolvem cooperação e colaboração entre firmas e uma variedade
de formas institucionais, sendo a de ocorrência mais freqüente a cooperação
bilateral entre firmas.
Além de desfrutarem dos benefícios da simples aglutinação, as empresas
ainda podem estruturar ações em conjunto a fim de minimizar as deficiências
inerentes e estruturais a uma empresa de pequeno porte que atua isoladamente.
Identificando e valorizando as complementaridades existentes entre seus processos
produtivos (note-se que uma das principais características é a intensa divisão de
trabalho entre as empresas), o grupo de empresa pode compartilhar tecnologia,
contratar em conjunto pesquisas de mercado, formar consórcio para exportação ou
para compra de matéria-prima, desenvolver novos produtos, coordenar a divisão das
atividades entre empresas mantendo a especialização produtiva entre as unidades,
divulgar em conjunto os produtos da região, formar centros de design, entre outras
ações conjuntas responsáveis por manter um ambiente competitivo (e que portanto
exige constantes inovações) e cooperativo (amplificação dos benefícios a partir da
união dos esforços). Schmitz (1995), ressalta que a simples aglomeração de
empresas não é suficiente para a obtenção de ganhos econômicos. Para que as
empresas adquiram competitividade real e sustentada é necessária a busca pela
“eficiência coletiva”, conceituada pelo autor como “a vantagem competitiva derivada
das economias externas locais e das ações em conjunto”.
As análises do autor destacam-se na literatura sobre clusters na medida em
que definem com clareza os pré-requisitos para que as aglomerações setoriais
representem uma forma de organização industrial virtuosa para o segmento das
pequenas empresas. Para consolidar as vantagens competitivas das aglomerações
é imprescindível a existência de relações cooperativas entre as empresas, o que as
distinguiriam, definitivamente, de um simples aglomerado de empresas de um
mesmo setor.
35
A proximidade geográfica não é suficiente, pois, o que determina a
capacidade competitiva das pequenas empresas em aglomerações setoriais é a
possibilidade de reunir especialização (apropriada ao pequeno tamanho) e ganhos
de escala (possíveis a partir das ações em conjunto) como maneira de minimizar as
fragilidades estruturais ao pequeno porte. A simples aglutinação pode, de fato, gerar
as economias externas, mas somente práticas em conjunto são capazes de imprimir
continuidade e dinamismo às vantagens derivadas de aglomeração. Trata-se,
portanto, da capacidade da aglomeração de transformar os recursos disponíveis em
serviços produtivos, tal como Penrose (1962) refletiu para as firmas (uma unidade
autônoma de planejamento administrativo, capaz de organizar e coordenar os seus
recursos produtivos).
Apenas a posse de recursos (físicos e humanos) não permite à localidade se
diferenciar no mercado, dado que os mesmo recursos podem ser encontrados em
outras localidades. Os serviços produtivos, por outro lado, que são resultado do
modo de organização dos recursos, constituem a fonte de geração de assimetrias
das localidades. É a maneira singular de combinar, organizar e coordenar os
recursos que é responsável pela diferenciação do conjunto de agentes da
localidade.
Conforme Penrose (1962, p. 89):
Os recursos produtivos das empresas pertencentes às aglomerações
referem-se às externalidades positivas (presença de mão-de-obra e de
fornecedores especializados no local e a facilidade de comunicação e troca
de informações dada a proximidade física e cultural) enquanto que os
serviços produtivos (capazes de dar singularidade às empresas da
aglomeração) serão frutos do modo em que são coordenados os recursos
(grau de sofisticação das ações coletivas). Assim, caso a mão-de-obra, os
setores correlatos e a proximidade sejam explorados de um modo a
beneficiar o conjunto das empresas (o que pode ser feito a partir do
desenvolvimento de ações coletivas), criando condições para a geração
contínua de inovações, então as empresas da aglomeração estarão
transformando os seus recursos (vantagens da simples concentração
setorial) em serviços produtivos (obtenção da eficiência coletiva).
2.5 – A influência da localização na competitividade das firmas
Michael Porter (1990) enfoca a questão dos clusters procurando perceber
como a localização influencia na competitividade das firmas. Porter está preocupado
em demonstrar que a competitividade das localidades está assentada,
36
principalmente, na natureza do ambiente de negócios que proporciona à empresa.
Para tanto, monta um sistema complexo, sob a forma gráfica de um diamante (figura
1), dos determinantes que comporiam a dinâmica da vantagem nacional, estadual e
local, que influenciariam o sucesso competitivo.
Este “diamante” é composto de quatro facetas principais: condições dos
fatores (de produção), condições de demanda, indústrias correlatas de
apoio e contexto da estratégia da rivalidade. Este sistema é evolutivo e
dinâmico, sendo que cada determinante influencia em diferentes graus os
outros. “Dois elementos rivalidade interna e concentração geográfica da
indústria tem capacidade particularmente grande de transformar o
‘diamante’ num sistema: a rivalidade interna, porque promove o
aperfeiçoamento de todo: ‘diamante’, e a concentração geográfica, porque
eleva e amplia as interações dentro do ‘diamante’” (PORTER, 1990, p. 74).
A amplitude dos efeitos da rivalidade interna estão intimamente ligados à
geração de economias externas. Estas por sua vez dependem sobremaneira da
proximidade geográfica.
Figura 1:Determinantes da vantagem competitiva nacional
Fonte: Porter, 1990.
Em Porter (1999) observamos uma investigação mais profunda e detalhada
sobre a problemática dos clusters. Para se ter uma idéia da importância que o autor
confere ao tema, ele sugere que uma parte significativa da vantagem competitiva
está localizada fora do âmbito da empresa e do próprio setor, se situando na
localização dos negócios, ou seja, no próprio cluster. Os desencadeamentos dessa
perspectiva alteram também a forma de atuação do governo na economia. Crescem
37
de importância as políticas de cunho local para fomentar a competitividade,
relativizando-se a importância das políticas macroeconômicas.
Ainda Porter apud Portela Junior (2004), afirma, especificamente, que para
compreender um cluster é necessário seguir quatro passos:
1. Escolha da localização: a globalização e a facilidade de transporte e
comunicação tem permitido muitas empresas mudarem algumas ou todas as suas
operações para locais com baixos salários, impostos e custos gerais. Estas
qualidades podem ser ilusórias, pois locais com esta descrição geralmente carecem
em infra-estrutura, fornecedores sofisticados e outros malefícios desta natureza.
Poupar em salários impostos e custos gerais é altamente visível e fácil de medir,
mas a penalidade trazida para a produtividade permanece escondida. Entretanto, a
decisão de localização deve ser tomada com base no sistema de custo e no
potencial de inovação. Para trabalhar em uma política de cluster faz-se necessário
pensar que cada linha de produto precisa de uma base e o cluster mais vibrante irá
oferecer a melhor localização. A globalização desempenha papel fundamental neste
sentido, como a competição global que anula o modo comparativo tradicional e
expõe as empresas a mais ferrenha rivalidade mundo afora. Os grandes
conglomerados mudam suas bases ou se associam a empresas locais onde eles
possam ter acesso à mão-de-obra barata, baixos impostos e acesso à tecnologia e
inovação, por exemplo, as montadoras de automóveis.
2. Engajamento local: dentro de um cluster para explicitar o valor da
vantagem competitiva, torna-se necessário forte relacionamento pessoal, o senso de
interesse comum e o status de membro. A fim de maximizar os benefícios do
envolvimento dentro de um cluster, as empresas devem ter participação ativa e
estabelecer uma presença local significante. Torna-se necessário um investimento
local substancial mesmo que o escritório central da empresa seja em outro lugar.
Elas devem nutrir, de forma contínua, um relacionamento direto com o governo e
instituições locais como escolas, grupos de pesquisa e entidades públicas.
3. Atualizando o cluster: esta tomada de decisão deve estar na agenda dos
gerentes das empresas membros do cluster. À medida que o cluster cresce em
qualidade, tecnologia e inovação, surge a necessidade de envolver outras empresas
para dar suporte a esta evolução. Esta atualização se em vários níveis como o
tamanho do cluster, sua tecnologia, inovação, processo produtivo, fornecedores e
38
clientes. Atualizar o ambiente do cluster resulta no crescimento direto das empresas
ou no surgimento de novos negócios.
4. Trabalhando coletivamente: a coletividade pode se dar em dois níveis: da
cooperação mútua dos empregados e da relação interempresarial. Um time de
empregados bem afinados, compreendendo cada um o seu papel e a soma de todos
em favor do bem estar do grupo, gera crescimento da empresa.
Entretanto, segundo o autor, no nível de relacionamento interempresarial a
coletividade pode se dar através da associação comercial, que pode providenciar
fórum de troca de idéias. Focar no ponto da coletividade é uma forma de superar
obstáculos da produtividade e crescimento. As associações comerciais podem
liderar algumas atividades e estabelecer algumas alianças como instalações para
testes com base acadêmica em universidades; programa de treinamento e pesquisa;
informações coletivas relacionadas a cluster; debates para gerenciamento de
problemas comuns ao cluster; investigar soluções para assuntos de meio ambiente;
organizar feiras de negócios ou formar delegações para visitação e viagens de
negócios; por fim gerenciar consórcios para compra de matéria-prima.
Para clusters formados por muitas micro, pequenas edias empresas como
turismo, vestuário e agricultura, por exemplo, a coletividade torna-se particularmente
necessária para o cluster se elevar a uma produção de escala. A fim de competir
num mundo de comércio globalizado, onde a produtividade e a inovação fazem a
total diferença.
2.6 - Fatores críticos de sucesso no processo de formação, desenvolvimento e
manutenção de redes interorganizacionais entre PME's.
Tomando como referência o conceito de Watson et al., os quais definem
Fatores Críticos de Sucesso (FCS) como sendo um conjunto de condições vitais de
um dado projeto social, que quando falhas, aumentam a probabilidade de insucesso
e, quando satisfatórias, assegurarão o alcance dos objetivos pretendidos, Cândido
(2001), após ampla revisão da literatura, procurou consolidar os fatores críticos de
sucesso no processo de formação, desenvolvimento e manutenção de redes
interorganizacionais em um quadro sintético (vide anexo 1 deste trabalho).
Na percepção do autor, os modelos de competitividade e de desenvolvimento
regional, apesar de trabalharem com um conjunto de variáveis que podem ser
39
considerados Fatores Críticos de Sucesso (FCS) também para o processo de
formação das Redes interempresariais entre PME's, são genéricos e abrangentes,
daí surge a necessidade de desenvolver um modelo para identificação dos FCS que
sejam específicos para a formação de Redes entre PME’s, a partir dos modelos de
competitividade e desenvolvimento regional propostos, partindo do princípio de que
estes modelos estão intimamente relacionados, ou seja, a competitividade regional
pode ser obtida através de uma política de desenvolvimento regional que incentive a
criação de Redes Interempresariais de PME's, conforme figura abaixo.
Figura 2: A relação entre competitividade, desenvolvimento regional e a
formação de redes interempresariais de PME's
Fonte: Cândido (2001)
O autor identifica um conjunto de variáveis, referências e citações, as quais
podem ser consideradas Fatores Críticos de Sucesso no processo de formação,
desenvolvimento e manutenção de redes interorganizacionais e mais
especificamente, os agrupamentos industriais entre PME's. Segundo ele, estes
fatores, precisam necessariamente ser levados em consideração no processo, como
condição para que, os interesses e necessidades de todos os agentes envolvidos
sejam alcançados e superados, respectivamente. Neste sentido, os fatores
identificados foram classificados em quatro grupos, cada um deles com um conjunto
de fatores específicos, os quais estão discriminadas em seguida.
40
Figura 3: Conjunto de variáveis envolvendo os Fatores Críticos de Sucesso (FCS) a
serem consideradas no processo de formação, desenvolvimento e manutenção de Redes
interorganizacionais de PME's.
Fonte: adaptado de Cândido (2001).
GRUPO 1 - Ambiente de Negócios
Competitividade local: A existência de condições para a competitividade, a
partir da capacidade das empresas inovar e melhorar, baseada em situações de
pressões e desafios, envolvendo novas tecnologias e novas maneiras de fazer as
coisas, além da existência de concorrentes locais poderosos, base de fornecedores
agressivos e clientes locais exigentes.
Prática da inovação: A existência de um ambiente propício para a prática da
inovação, baseada na cooperação e colaboração interorganizacional, partindo do
princípio de que as empresas participantes dependem umas das outras para
poderem pôr em prática o conjunto das suas operações e suas ações estratégicas
individuais e coletivas.
Perfil das empresas locais: A existência de instituições e/ou pessoas
responsáveis pelo processo que tenham conhecimento adequado do perfil das
41
empresas localizadas na região, tanto individual quanto coletivamente no que se
refere ao conjunto de operações, a lógica inter-relacional e do contexto ambiental.
Infra-estrutura física: Existência de boas condições de infra-estrutura físicas
(elétricas, hidráulicas, sanitárias e ambientais); de comunicação e informação e de
transportes que atendam as necessidades das empresas participantes do
agrupamento.
Condição para a convivência entre a cooperação e competição entre as
empresas locais: Existência de um ambiente propício para a prática da cooperação
e colaboração entre as empresas participantes do agrupamento baseados em
objetivos comuns entre: empresas, o poder público e às instituições de apoio às
atividades empresariais na região.
Formas de comunicação: A existência de múltiplos canais e formas diversas
de comunicação entre os participantes (internos/externos, público/privados), partindo
do princípio de que esta forma de atuação empresarial se desenvolve através de
comunicações e interações ltiplas, em torno de interesses e necessidades
comuns e nos relacionamentos entre os diversos participantes.
Participação de outras empresas e instituições de apoio: Participação de
fornecedores especializados, fabricantes de produtos complementares, prestadores
de serviços especializados, envolvimento de instituições públicas e privadas
(universidades, centros de pesquisa, associações comerciais e industriais, órgãos de
normatização, etc.).
GRUPO 2 - Políticas Macroeconômicas:
Estabilidade nas políticas macroeconômicas: A existência de estabilidade
nas políticas macroeconômicas do tipo (estrutura do sistema tributário, condições do
mercado de trabalho, normas sobre a propriedade intelectual, conhecimentos acerca
da capacidade da absorção e utilização da capacidade de produção, etc.) que
ofereçam as devidas condições para novos investimentos.
Planejamento e coordenação das ações das instituições locais de apoio
ao agrupamento: A existência de uma política que promova o desenvolvimento de
programas voltados para articular o planejamento e coordenação das ações das
instituições locais do tipo: desenvolvimento de novas tecnologias, regulação,
42
treinamento, controle de qualidade, licenciamento, financiamento, segurança do
trabalho, controle ambiental, etc.
Independência e autonomia das empresas participantes: Que as
empresas participantes do agrupamento sejam independentes, ou seja, as empresas
ao atuarem em rede, não significa que elas tenham de abrir mão da sua autonomia.
Investimentos públicos de apoio: Que os investimentos públicos destinados
ao estímulo à produção sejam orientados para a criação de infra-estrutura para a
melhoria na prestação de serviços públicos que atendam as demandas específicas
das PME's.
Forma de concorrência: A existência de formas de concorrência e rivalidade
saudável entre as empresas localizadas na região e entre os participantes da rede.
Mecanismos para fortalecer os relacionamentos e interações: A
existência de mecanismos organizacionais direcionados para o fortalecimento dos
relacionamentos e interações entre os diversos agentes direta e indiretamente
envolvidos com o conjunto das empresas da região.
Capacidade de mobilização: A existência de uma efetiva capacidade
mobilizadora dos agentes e das instituições públicas e privadas, especialmente as
de cunho local e micro-regional.
Participação indireta do poder público: A participação do poder público
deve ser induzida pelos interesses do setor privado, sendo esta participação mais
indireta, ao invés de ser controlada pelo governo, ou seja, as políticas
governamentais devem ser voltadas para a criação de um ambiente em que as
empresas tornem-se capazes de ganhar vantagem competitiva, o se envolvendo
diretamente no processo.
Políticas direcionadas para o fortalecimento da capacitação tecnológica:
As formulações das políticas devem privilegiar conjuntos de indústrias e setores em
articulação com outros agentes que contribuam para o fortalecimento a capacitação
tecnológica das empresas participantes do agrupamento e as demais localizadas na
região.
Política de difusão de tecnologias de informação e conhecimento: A
existência de uma política de difusão de tecnologias de informação e conhecimentos
(TI's) para as empresas participantes do agrupamento, que possibilite troca e
compartilhamento de informações sobre mercados, tecnologias alternativas, novos
insumos, novas técnicas mercadológicas, de gerência financeira, etc.
43
Integração das políticas de apoio: A integração de diferentes políticas
(financeira, industrial, serviços, de C & T, educacional, etc) postas em prática pelo
poder público e instituições privadas.
Estímulo à geração, aquisição e difusão de conhecimentos: O
desenvolvimento de atividades de apoio à formação de ambientes capazes de
estimular a geração, aquisição e difusão de conhecimentos; que estimulem
empresas grupos sociais e países a investirem na capacitação de seus recursos
humanos, mobilizarem a habilidade de aprender e incentivarem suas capacidades
inovativas.
Interação entre os diversos agentes envolvidos: Desenvolvimento de
modelos e sistemas visando a maior interação entre os diversos agentes
econômicos, técnico-científicos, políticos e reguladores existentes na região.
GRUPO 3 - Processo de Formação
Foco em setores e atividades com experiências anteriores ou com
potencial para a prática da cooperação e colaboração: O processo de formação
deve ser focado em setores e atividades para as quais as localidades e regiões
contem com algumas experiências anteriores de prática de cooperação e
colaboração interorganizacional ou demonstrem algum potencial ou afinidade para
tanto.
Vinculação a uma política de desenvolvimento regional: O processo de
formação e desenvolvimento dos agrupamentos industriais deve estar vinculado a
uma política de desenvolvimento regional que envolva diretamente apoio as PME's,
atentando para as potencialidades do agrupamento a ser criado e os benefícios
decorrentes da sua criação.
Remoção aos obstáculos, restrições e limitações: O processo precisa ser
focado na remoção dos obstáculos e atenuação das restrições e limitações para o
funcionamento e desenvolvimento do agrupamento.
Desenho das fronteiras organizacionais: A existência de um adequado
desenho das fronteiras organizacionais, incluindo os diversos elos na cadeia
produtiva.
Familiarização com os conceitos e vantagens da nova forma de atuação
das empresas: Familiarizar os componentes efetivos e potenciais do agrupamento
44
com os conceitos, importância, e vantagens de atuar de forma conjunta e
compartilhada com outras empresas, para superar determinadas carências e
dificuldades.
Expressão dos objetivos comuns de forma explícita: A necessidade de
que os participantes envolvidos direta e indiretamente tenham seus objetivos
expressos explicitamente, a partir da existência de objetivos comuns.
Relacionamentos voluntários e constantes: Que as diversas formas de
interligações e interações entre os diversos componentes do agrupamento sejam
realizados através de relacionamentos voluntários e constantes.
A necessidade e papel das lideranças: A existência de líderes nos diversos
níveis do agrupamento, assumindo compromissos e atuando como um referencial,
com participação ativa na definição e implementação das estratégias e operações e,
principalmente no processo decisório das empresas, tanto individual quanto
coletivamente.
Definição de uma arquitetura organizacional: Definir uma arquitetura
organizacional para o agrupamento que seja a mais adequada ao contexto regional,
definindo quais os papéis e atribuições de cada um deles e, de como serão firmados
e mantidos às relações de dependência com os diversos agentes dentro da cadeia
produtiva do agrupamento.
Definição das competências do núcleo: a identificação, construção e
desenvolvimento e proteção das competências do núcleo responsável pela definição
e implementação do agrupamento.
Estratégias de atuação e políticas mercadológicas: a estratégia mais
indicada para o fortalecimento do aglomerado deve, inicialmente, atender as
necessidades e os interesses do mercado interno e, a partir daí buscar o mercado
externo, realizando campanhas publicitárias em revistas estrangeiras locais
especializadas e publicações de circulação global; participando de feiras e encontros
de interesse.
Existência de um núcleo que centralize as políticas e estratégias do
agrupamento: A existência de uma adequada definição das competências do
núcleo, envolvendo a identificação, construção, desenvolvimento e proteção das
competências do cleo, o qual terá como responsabilidade principal à definição e
implementação da formulação e implementação das estratégias do agrupamento.
Escolha adequada dos agentes responsáveis pela negociação e
consolidação do processo: Escolher adequadamente os atores (agentes) que irão
45
representar os papéis de negociadores e consolidadores do processo de formação
do agrupamento.
Adaptar/adequar experiências anteriores em outras regiões às
características e necessidades locais: Uma pré-condição para a formação do
agrupamento deve ser o conhecimento de experiências de agrupamentos em outras
regiões, objetivando adaptar às características da região, às especificidades dos
interesses e necessidades da comunidade local.
GRUPO 4 - Aspectos Antropológicos e Sócio culturais
Nível de atividade comunitária na localidade: Que nas áreas geográficas
escolhidas como alvo para aplicação do agrupamento existam sistemas sociais que
apresentem um certo nível de atividade comunitária, ou pelo menos tendência para
tanto.
História comum relacionada a aspectos étnicos, religiosos, esportivos,
políticos, etc.: Que as diversas partes componentes do agrupamento tenham um
mínimo de história comum, podendo ser manifestada através de questões étnicas,
históricas, de valores, religiosas, preferências políticas, etc.
Políticas que cuidem dos aspectos relacionados à socialização e
conscientização dos agentes: A promoção de uma política de promoção, que
cuide de aspectos relacionados à socialização e conscientização dos seus
membros, incluindo noções de responsabilidade, compromisso, participação e
consciência coletiva.
Existência de uma tradição de apoio familiar a novos empresários: A
existência de uma cultura empresarial que valorize os laços cooperativos e uma
tradição de apoio familiar a novos empresários.
Difusão de uma cultura relacionada a formas para obtenção da eficiência
coletiva: Que os responsáveis e lideranças do agrupamento primem em trabalhar o
coletivo, estimulando, encorajando e promovendo reuniões entre os diversos
membros, criando oportunidade para que os mesmos se encontrem e discutam
problemas comuns, para que juntos encontrem e encaminhem as soluções coletivas
necessárias para a sustentação e desenvolvimento do agrupamento.
Difusão de uma cultura relacionada à superação de deficiências
coletivas: A difusão de uma cultura que permita a percepção de que a eficiência
46
coletiva do agrupamento depende de uma adequada divisão do trabalho, da
proliferação de parcerias, associações e cooperação entre as empresas permitindo
que elas consigam superar fragilidades e deficiências coletivas.
Clima de confiança e identidade cultural: A existência de um ambiente que
favoreça um clima de confiança e identidade cultural que precisam ser estimulados e
transmitidos a todos os agentes direta e indiretamente envolvidos no processo.
O conjunto destes fatores está devidamente discriminado e com as citações
bibliográficas respectivas no Anexo 1 deste trabalho.
Depois de elencar um conjunto de 40 FCS, Cândido (op. cit.) procurou validá-
los através da aplicação de um questionário junto a um conjunto de atores direta e
indiretamente envolvidos com o processo de formação de Redes Interempresariais
entre PME's, para conhecer o grau de concordância e importância a um conjunto de
Fatores Críticos de Sucesso, anteriormente identificados na pesquisa bibliográfica
(vide Anexo 1); utilizando a técnica Delphi como mecanismo para conseguir um
certo grau de consenso e unanimidade entre os FCS identificados na etapa anterior.
Validados, os FCS foram classificados quanto ao grau de importância e assim
distribuídos conforme quadro abaixo:
Quadro 1: Consolidação dos fatores críticos de sucesso (F.C.S.) validados e graus de
importância atribuídos.
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
1) Quanto ao ambiente de negócios na região:
(1
o.
) Participação de outras empresas e instituições de apoio
(2
o
.) Política de Inovação
(3
o
.) Condições para a prática da cooperação e colaboração
(4
o
.) Perfil das empresas locais
(5
o
.) Infra-estrutura física
(6
o
.)Competitividade local
(7o.)Formas de comunicação
47
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO
2. Quanto a políticas macroeconômicas:
(1
o
.) Interação entre os diversos agentes envolvidos
(2
o
.) Planejamento e Coordenação das Ações das Instituições de Apoio
(3
o
.) Mecanismos para fortalecer os relacionamentos e interações
(4
o
.) Políticas direcionadas para o fortalecimento da capacitação tecnológica
(5
o
.) Participação indireta do poder público
(6
o
.) Política de difusão de tecnologias de informação e conhecimento
(7
o
.) Integração das diferentes políticas de apoio
(8
º
) Independência e Autonomia das empresas participantes
(9
o
.) Estabilidade
(10o.) Existência de concorrência saudável
3) Quanto ao Processo de Formação:
(1
o
.) Familiarização com os conceitos e vantagens da nova forma de atuação
(2
o
.) Escolha adequada dos agentes responsáveis pela negociação e consolidação do agrupamento
(3
o
.) Existência de diversos líderes nos níveis do agrupamento
(4
o
.) Definição de uma arquitetura organizacional
(5
o
.) Relacionamentos voluntários e constantes
(6
o
.) Vinculado a uma política de desenvolvimento regional
(7
o
.) Foco em setores e atividades com experiências anteriores ou com potencial para a prática da
cooperação e colaboração
(8
o
.) Remoção aos obstáculos, restrições e limitações
(9
o
.) Desenho das fronteiras organizacionais
(10
o
.) Estratégias para o fortalecimento do agrupamento
(11o.) Estratégias adequadas para gerenciamento de informações
4) Quanto a Aspectos Antropológicos e Socioculturais:
(1
o
.) Políticas que cuidem de aspectos relacionados à socialização e conscientização dos integrantes
(2
o
.) História comum entre os integrantes
(3
o
.) Difusão de uma cultura relacionada a formas de obtenção da eficiência coletiva
(4
o
.) Clima de confiança e identidade cultural
(5
o
.) Nível de atividade comunitária na localidade
(6
o
.) Existência de uma tradição de apoio familiar a novos empresários
Fonte: Cândido (2001).
A escolha por estes fatores críticos de sucesso, que servirão como
indicadores para avaliar o desempenho do Arranjo Produtivo Local de indústrias do
vestuário de Muriaé-MG, se deu por causa de sua criteriosidade e amplitude, não
limitada apenas a determinantes econômicos, mas sem a pretensão de oferecer um
caminho único ou a “melhor prática” pois entende-se que cada comunidade é única
em suas potencialidades.
A seguir, apresenta-se no próximo capítulo, um breve panorama do setor têxtil
e de confecções no Mundo, no Brasil e no Estado de Minas Gerais.
48
3 PANORAMA DO SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO NO MUNDO, NO
BRASIL E NO ESTADO DE MINAS GERAIS: TRANSFORMAÇÕES E
PERSPECTIVAS.
Este capítulo pretende analisar as transformações na organização da
produção e no cenário comercial que têm ocorrido no setor têxtil e de confecção em
diversas regiões do mundo nas últimas décadas. Além disso, procura identificar
como as firmas nacionais, em específico as de Minas Gerais, estão inseridas neste
contexto e como estas se ajustaram às grandes mudanças econômicas ocorridas a
partir da década de 90 no Brasil.
O capítulo está divido em cinco seções. A primeira delas procura explicar o
processo produtivo na cadeia têxtil e vestuário, assim como os avanços tecnológicos
mais recentes que contribuem para aumentar a sua eficiência.
Em seguida é apresentada uma discussão sobre o panorama mundial do
setor têxtil e vestuário, discorrendo sobre as mudanças na organização mundial da
produção, distribuição de vestuário e a forma de inserção de alguns países no
comércio mundial desse produto e retrata o marco que foi o fim do Acordo de
Têxteis e Vestuário (ATV) em Janeiro de 2005, apontado como um divisor de águas
no setor, e seus possíveis impactos na economia mundial.
A terceira seção procura situar o mercado nacional diante do contexto
mundial, analisando os fatores externos e internos que influenciaram no
desempenho das indústrias brasileiras, levantando alguns fatores de suma
importância para a sua competitividade.
Por fim, a ultima seção, discorre especificamente sobre o setor têxtil-vestuário
em Minas Gerais, analisando como o setor se desenvolve dentro do Estado.
3.1 - Natureza do processo produtivo
A indústria de confecções tem por finalidade transformar matérias-primas -
naturais e químicas - em fios, tecidos e para que possam ser utilizados na fabricação
de outros produtos.
49
Nesta indústria, existe uma divisão do trabalho interna pautada pelas
características do processo produtivo, onde o produto de uma etapa
produtiva constitui insumo para a etapa seguinte, estendendo-se até que as
necessidades finais de diferentes consumidores sejam atendidas pessoal,
doméstico, industriais e usos especiais (GARCIA, 1994, p. 65).
Para o desenvolvimento do processo produtivo têxtil e vestuário, forma-se
uma cadeia produtiva composta por uma rede de inter-relações entre as várias
etapas de um sistema industrial, com a presença de segmentos que atuam em
seqüência ao longo de sua estrutura produtiva.
Segundo Garcia (1994), no âmbito do processo produtivo, são consideradas
as seguintes fases: fiação, tecelagem, malharia, não-tecidos, acabamentos e
confecção. Na primeira etapa – fiação – ocorre o processamento industrial das fibras
têxteis naturais e químicas procedentes de outros segmentos produtivos em fios
com diferentes espessuras e com distintas resistências. O processo industrial de
produção de fios diferencia-se por tipo de fibra. A produção de fios a partir da fibra
natural ocorre através de processo em que as fibras são postas numa mesma
direção formando filas, que estiradas, torcidas e prendidas uma à outra por atrito,
resultam em fios com diâmetro predeterminado. Enquanto a produção de fios a partir
da fibra artificial ocorre através de operações que transformam substância química
pastosa em filamentos que são endurecidos através de operação de solidificação
que atendem especificações físico-químicas diferenciadas. Têm sido recorrentes as
misturas das fibras naturais e artificiais na fase de fiação possibilitando a produção
de fios mistos que são utilizados para a diversificação de produtos à indústria têxtil.
A etapa seguinte do processo produtivo constitui-se no acabamento, onde se
executa o beneficiamento aos materiais têxteis objetivando transformá-los, a partir
do estado cru em artigos brancos, estampados e acabados. São executadas
operações técnicas, respeitando as características físico-químicas dos materiais
têxteis, que conferem conforto, durabilidade e propriedade ao produto têxtil. O
beneficiamento é, em face das características de cada tipo de atividade, classificado
em primário, secundário e terciário. No beneficiamento primário realiza-se atividade
de remoção de impurezas decorrente do processo de fabricação e prepara-se o
material xtil para as operações seguintes. No beneficiamento secundário ocorrem
as atividades de tingimento e de estampagem, tornando os materiais têxteis
coloridos e com desenho, respectivamente. Enquanto, no beneficiamento terciário
são executadas atividades por meio de tecnologias específicas que procuram
fornecer ao material têxtil estabilidade dimensional, características especiais, etc.
50
Por fim, na etapa de confecção são realizadas as fases de criação de moda,
desenvolvimento de design e elaboração de moldes que constituem roteiros para o
corte e a montagem dos tecidos de utilidades diversas no mercado. Os produtos
confeccionados são utilizados em consumo doméstico (revestimento de pisos,
paredes e artigos de cama, mesa e banho etc.), produtos industriais (feltros para
limpeza, filtros industriais, embalagens, revestimento para veis e veículos etc.),
uso especiais (aplicação ao meio ambiente, confecção de roupas especiais,
construção de balões) e vestuário (roupas em geral). Destes segmentos, a utilização
de produtos têxteis confeccionados para vestuário é a mais representativa, pois
constitui um segmento que agrega um número significativo de produtores,
apresenta-se intensivo em mão-de-obra, possui processo de produção dinâmico em
face das mudanças de moda e está em constante processo de desenvolvimento de
design. A figura a seguir mostra os principais elos do processo produtivo da cadeia
têxtil.
Figura 4: A cadeia Produtiva têxtil e confecções
51
3.2 – Transformações no processo produtivo e nos padrões de concorrência
As mudanças que se sucederam nas últimas décadas, principalmente, por
causa da abertura das economias nacionais e a difusão das tecnologias de
informação e comunicação, fizeram com que a indústria têxtil e vestuário passasse
por transformações que alteraram seu padrão de concorrência em nível mundial.
Determinantes tradicionais de competitividade como disponibilidade de
matérias-primas, baixos salários, prolongados incentivos fiscais, política cambial
favorecida etc., foram perdendo espaço para os fatores dinâmicos que resultaram
em aumento da relação capital/produto, maior participação da mão-de-obra
qualificada, avanços na fabricação de produtos mais sofisticados, fortalecimento da
cooperação interfirmas em níveis vertical e horizontal, maior flexibilidade produtiva
frente às mudanças no ambiente econômico, aumento da diversificação dos tipos de
tecidos produzidos, maior proximidade com o consumidor final, eliminação de perdas
etc. Como resultante, intensificou-se a concorrência nos mercados, com empresas
buscando obter informações de forma rápida no intuito de subsidiar o processo de
formulação de estratégias que permita obter vantagens sobre seus concorrentes.
Neste sentido, a indústria têxtil e vestuário, em alguns de seus segmentos,
tornou-se mais intensiva em capital aumentando a produtividade das máquinas e
equipamentos e conseqüente redução da quantidade de trabalhadores. Esta
característica é distinta por etapas do processo produtivo, sendo mais intensiva nas
etapas de fiação, tecelagem e acabamento do que na confecção onde as
especificidades desta fase produtiva conduzem a maior contingente de
trabalhadores no processo produtivo. Como conseqüência da maior participação do
capital na atividade produtiva, foram eliminadas várias operações nas etapas do
processo produtivo e aumentaram-se os níveis de utilização dos equipamentos e de
qualificação dos trabalhadores.
Paralelo a isto, o padrão de produção flexível tem contribuído para as
empresas diversificarem seus produtos. O processo de diversificação dos tipos de
tecidos produzidos em lotes de produção menores tem possibilitado às empresas
atenderem diferentes faixas de mercado, do mais tradicional a segmentos
específicos. Da mesma forma, tem possibilitado ao segmento de vestuário a criação
de novos itens ou novas tendências explorando novos nichos de mercado, bem
como se constituído em atributo para não competir em mercados de produtos de
menor valor agregado. Esta característica do padrão produtivo xtil atual tem
52
possibilitado empresas de fugirem do processo de imitação existente na indústria e
garantirem, por maior tempo, margem de lucro extraordinário, sobretudo quando
este processo ocorre através da utilização de novos tecidos e materiais. Gorini
(2000), cita como exemplo, a esse aspecto, as indústrias têxteis e vestuários norte-
americanas e européias, que procuram se especializar em nichos de mercados mais
lucrativos, explorando a diferença de qualidade aberta pelas novas fibras químicas e
pelos novos processos produtivos.
Com o acirramento da concorrência no mercado, empresas procuram definir
as áreas de especialização e, dentro destas, caminharem para a produção de
artigos com maior nível de sofisticação, visando explorar parcela do mercado para
consumidores com maior poder aquisitivo, onde a qualidade do produto é fator
determinante da demanda. Enquanto outras empresas beneficiadas pelos baixos
custos de produção e aproveitando espaços de mercado, se especializam em
artigos de menor valor agregado, onde o preço constitui, em primeiro plano,
instância determinadora da demanda. Contudo, este processo não é estanque, pois,
empresas se esforçam em caminhar do segundo para o primeiro padrão de inserção
no mercado.
A autora salienta que empresas estabelecidas no Continente Asiático - Coréia
do Sul e Taiwan - num primeiro momento, beneficiaram-se dos baixos custos da
mão-de-obra para penetrar em mercados de produtos menos sofisticados, porém,
em seguida, com o processo de reestruturação produtiva interna e o encarecimento
da mão-de-obra, começaram a projetar em direção a produtos com maior valor
agregado. Com o encarecimento da mão-de-obra nestes locais, passaram a instalar
unidades industriais em outros países deste Continente - Singapura, Indonésia,
China - para continuarem a fabricação de produtos têxteis-vestuários de menor
sofisticação explorando os benefícios dos custos de produção reduzidos.
Além de todas as mudanças e aperfeiçoamentos nos processos intra-
empresariais, as relações de cooperação interempresas, principalmente através de
formações de redes contribuíram para aumentar a competitividade do setor.
Gereffi (1997, p. 31) destaca:
O que está surgindo claramente como forma econômica predominante no
complexo têxtil e de vestuário dos Estados Unidos e do México são redes
de empresas que interligam diferentes tipos de firmas em agrupamentos ou
nós industriais e atravessam as fronteiras do país e do setor. Em vez da
performance de empresas individuais, essas redes da América do Norte é
53
que serão a chave para a futura competitividade do México e dos Estados
Unidos no setor de vestuário como um todo.
O autor utiliza a noção de agentes organizadores, em referência àquelas
empresas, estrangeiras e nacionais, que poderiam intensificar a competitividade da
cadeia produtiva do vestuário por meio de encadeamentos para trás e para frente
com os principais produtores e varejistas. Os agentes organizadores potenciais de
todos os segmentos da cadeia, segundo o autor, começaram a realizar esses
investimentos no México: fibras (Celanese Mexicana, Cydsa, Du Pont); xteis
(Burlington Industries, Guilford Mills, Cone Mills, Grupo Saba); vestuário (Sara Lee,
VF Corporation, Levi Strauss); e varejistas (J.C. Penney, Kmart, Wal Mart). O autor
enfatiza que diferenças significativas no escopo e no conteúdo dessas várias
tentativas de integração vertical e horizontal na economia mexicana, mas um ponto
em comum é que o papel das políticas do Estado é reduzido drasticamente quando
os encadeamentos entre as empresas são usados para aumentar a competitividade
internacional, especialmente quando esses encadeamentos cruzam as fronteiras
nacionais, como é a tendência no setor têxtil e de vestuário.
Conclui-se que, em termos de organização da produção, a cadeia global de
vestuário vem apresentando uma tendência à formação de redes, com o
deslocamento das atividades produtivas mais intensas em trabalho para os países
de menor custo relativo de mão-de-obra e as atividades que agregam mais valor, e
portanto, geram mais lucro como design, marketing e vendas o mantidas sob a
responsabilidade de empresas líderes de países desenvolvidos. E ainda constata-se
que dependendo do papel exercido pelos fornecedores que se inserem nessas
redes, terão a possibilidade de se apropriar de maior ou menor valor gerado e terão
maiores ou menores possibilidades de aprendizado, sobretudo nas formas de
learning by doing e learning by using em função das atividades que consigam
desempenhar.
Porém, Ando & Kimura (2003) destacam, que a formação dessas redes, que
engloblam produtores de diversos países, é rentável quando as despesas com
transportes, telecomunicações e outros custos de coordenação das etapas
produtivas são baixos o suficiente para compensar essa fragmentação. Portanto,
baixos níveis salariais não bastam para que produtores de países em
desenvolvimento consigam se vincular às redes e tornem-se ofertantes globais.
Nesse sentido, políticas públicas para reduzirem esses custos são cruciais para
54
permitir a inserção de empresas de países menos desenvolvidos nessas redes de
produção e comercialização.
3.3 – Panorama mundial da indústria têxtil-confecção
Segundo dados da Organização Mundial do Comércio (2003), o segmento do
vestuário é uma das indústrias mais disseminadas espacialmente no mundo e
constitui uma importante fonte de geração de renda e emprego para muitos países,
especialmente os em desenvolvimento. É formado por um contingente de empresas
com características diferentes em relação ao porte, e na esfera produtiva,
corresponde aproximadamente uma produção de 25 milhões de toneladas em todo
mundo, movimentando cerca de US$ 226 bilhões.
Gorini (2000) destaca que a cadeia produtiva têxtil reunindo fiação,
tecelagem, malharia, acabamento/beneficiamento e confecção vem passando por
muitas transformações recentes, destacando-se, em especial, aquelas relacionadas
não apenas com as mudanças tecnológicas que permitiram expressivos incrementos
de produtividade, mas também com a crescente importância do comércio
intrablocos, cabendo destacar: a) o Nafta; b) a União Européia e as regiões do Norte
da África e Sul da Ásia, como Índia e Paquistão; c) o Sudeste da Ásia e o Extremo
Oriente; e d) o Mercosul e a América Latina.
Segundo a autora, o poder competitivo de alguns países periféricos (como
Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Indonésia, Tailândia, Índia e Paquistão) forçou
norte-americanos e europeus tradicionais produtores têxteis a algumas
mudanças fundamentais. Essas mudanças apontaram para um novo padrão de
concorrência, baseado não apenas em preços, mas também em qualidade,
flexibilidade e diferenciação de produtos, além da própria organização do comércio
intrablocos, procurando reunir os avanços tecnológicos alcançados na indústria têxtil
à mão-de-obra barata de alguns países periféricos, que passaram a atuar
crescentemente na confecção segmento que, apesar de todos os avanços
tecnológicos, ainda permanece intensivo em mão-de-obra.
Observando o cenário internacional através dos dados fornecidos pelo Word
Trade Organization (WTO), disponíveis na Tabela 3, é possível perceber que as
exportações mundiais de têxteis são lideradas pelo bloco econômico da União
55
Européia, seguido da China que teve um crescimento considerável nas duas últimas
décadas.
Países até então com baixa representatividade no comércio internacional de
vestuário, como a Turquia (4ª posição no ranking) e o México (5ª posição), têm se
aproveitado da proximidade geográfica dos grandes mercados consumidores (EUA e
UE) e das vantagens tarifárias em função de acordos regionais estabelecidos (Nafta
e Associação Euro-Mediterrânea) para se vincular às firmas líderes desses países e
expandir suas exportações.
Tabela 3: Líderes de exportação de vestuário de 1980 a 2002 (em bilhões de dólares e
porcentagem)
Exportadores
Valor
(US$ Bilhões)
Participação nas exportações mundiais (%)
2002 1980 1990 2000 2002
União Européia 50,45 42 37,7 24,1 25,1
China 41,3 4 8,9 18,3 20,6
Hong Kong 22,35 - - - -
Exportações locais 3,31 11,5 8,6 5 4,1
Reexportação 14,04 - - - -
Turquia 8,06 0,3 3,1 3,3 4
México 7,75 0 0,5 4,4 3,9
EUA 6,03 3,1 2,4 4,4 3
Índia 5,48 1,7 2,3 3,1 2,8
Bangladesh 4,13 0 0,6 2,1 2,1
Indonésia 3,95 0,2 1,5 2,4 2
Coréia 3,69 7,3 7,3 2,6 1,8
Tailândia 3,37 0,7 2,6 1,9 1,7
Romênia 3,25 - 0,3 1,2 1,6
Rep. Dominicana 2,71 0 0,7 1,5 1,4
Tunísia 2,69 0,8 1 1,1 1,3
Filipinas 2,61 1,4 1,6 1,3 1,3
Total 153,78 73 79,1 76,7 76,7
Fonte: WTO (2003)
Entre os principais exportadores de vestuário o predomínio é dos países
asiáticos. Os produtores desses países aliaram suas competências para ofertar
produtos diferenciados e de qualidade à sua vantagem do baixo custo de mão-de-
56
obra e ainda a participação em redes para aumentar suas exportações nos últimos
20 anos. Mesmo sem ter acesso preferencial aos grandes mercados consumidores e
alguns desses países ainda estarem limitados por cotas comerciais, ampliaram sua
capacidade competitiva e penetraram nos mercados através da fabricação de
produtos mais sofisticados e de alto valor agregado. Com exceção de Hong Kong e
Coréia, praticamente todos os demais países da Ásia que se encontram no ranking
dos 15 maiores exportadores de vestuário aumentaram sua participações nas
exportações mundiais entre 1980 e 2002, com destaque para a China que nesse
período aumentou de 4,0% para 20,6% sua participação.
Os países da Europa e os EUA, mesmo com o custo de mão-de-obra
relativamente elevado, ainda permanecem entre os deres de exportação de
vestuário. As firmas desses países diante da forte concorrência dos produtos de
origem asiática procuraram fazer altos investimentos em marketing e em tecnologias
voltadas para a redução do tempo de concepção, produção e comercialização,
ampliando a velocidade de lançamento de novas coleções. Investiram também na
informatização da logística de toda a cadeia de vestuário alcançando assim alta
flexibilidade produtiva. Ainda assim, a UE vem perdendo espaço no comércio
internacional de vestuário.
O Brasil tem uma participação no comércio internacional de vestuário muito
pequena. Segundo dados da WTO, a participação do Brasil nas exportações de
vestuário em 1990 era de 0,2% do total e ainda caiu para 0,1% em 2000. O país
também não é um fornecedor representativo de nenhum grande mercado, como
acontece com os países do Caribe. O fornecimento de têxteis do Brasil para os EUA
representou, em 2002, 1,7% do valor total das importações de têxteis desse país, e
para a UE as exportações totais de têxteis do Brasil foram apenas 0,3% no mesmo
ano. A participação das exportações de vestuário brasileiras é tão pequena que nem
aparece na lista dos 35 principais ofertantes desses mercados.
No que se refere aos principais exportadores de artigos têxteis, os países
desenvolvidos que em 1980 respondiam em conjunto por quase 70% das
exportações mundiais, vêm perdendo espaço para os países asiáticos. A UE, o
Japão e a Suíça foram os países que mais reduziram sua participação entre 1980 e
2002.
Com relação às importações, os maiores importadores de vestuários UE, EUA
e Japão, juntos responderam por 80,4% do total das importações mundiais desse
produto em 2002 (Tabela 4). Essa concentração nesse pequeno grupo de países
57
deixa evidente que no segmento de vestuário a esfera do consumo ainda não é
globalizada, isto é, a maior parte dos países importa muito pouco de vestuário, e a
produção doméstica é a maior responsável pelo abastecimento desses mercados.
As importações de têxteis, por sua vez, são bem mais dispersas entre os países
os quinze principais importadores juntos representavam somente 67,9% do total
mundial.
A União Européia apesar de ter importado um valor maior de têxteis e
vestuário de 1980 a 2002, comparado aos outros países do ranking, teve um
crescimento das suas importações bem inferior aos demais e, por isso, vem
perdendo participação no total de importações desses produtos. no caso dos
EUA, é possível notar o crescimento expressivo do consumo norte-americano de
têxteis e vestuário importados entre 1980 e 2002, figurando-se portanto, como maior
e mais dinâmico mercado consumidor desses produtos no mundo. Neste período as
importações de vestuário dos EUA aumentaram de US$27 bilhões para US$67
bilhões.
Tabela 4: Líderes de importação de vestuário de 1980 a 2002 (em bilhões de dólares e
porcentagem)
Importadores
Valor
(US$ Bilhões)
Participação nas importações mundiais (%)
2002 1980 1990 2000 2002
União Européia 84,88 54,3 50,6 38,8 40,3
EUA 66,73 16,4 24 32,5 31,7
Japão 17,6 3,6 7,8 9,5 8,4
Hong Kong 15,64 - - - -
Importações definitivas 1,6 0,9 0,7 0,8 0,8
México 4,06 0,3 0,5 1,9 1,9
Canadá 4,01 1,7 2,1 1,8 1,9
Rússia 3,86 - - 1,3 1,8
Suíça 3,45 3,4 3,1 1,6 1,6
Coréia 2,17 0 0,1 0,6 1
Austrália 1,82 0,8 0,6 0,9 0,9
Singapura 1,81 0,3 0,8 0,9 0,9
Importações definitivas 0,54 0,2 0,3 0,3 0,3
Emirados Árabes 1,55 0,6 0,5 0,7 0,8
Noruega 1,36 1,7 1,1 0,6 0,6
China 1,36 0,1 0 0,6 0,6
Arábia Saudita 0,86 1,6 0,7 0,4 0,4
Total 195,85 85,9 92,6 93,2 93,9
Fonte: WTO (2003)
58
A indústria do vestuário mundial é formada por um contingente numeroso de
empresas com características heterogêneas em relação ao porte. Em sua maioria, é
constituída por pequenas e médias empresas, consideradas especializadas, que
fabricam principalmente artigos de pequeno valor agregado, utilizando, em larga
escala, mão-de-obra barata. As empresas sobrevivem pelos seus aspectos
estruturais, mas também pela diversificação da demanda. Essa diversificação,
juntamente com a flexibilidade vinculada aos benefícios de vendas viabiliza os
nichos de mercado antieconômicos para as empresas maiores. Mas a flexibilidade
diz respeito, também, aos benefícios advindos das vendas, a partir do lançamento
de novas coleções em todo o ano.
O setor é formado por cadeias produtivas extensas, capazes de proporcionar
importantes ganhos de escala e agilidade nas etapas do processo produtivo. A
indústria do vestuário possui fatores de competitividade, como elevado grau de
especialização, tecnologias de produção, matérias-primas inovadoras, além de
estratégias de design, comércio e distribuição.
O poder competitivo de alguns dos países asiáticos forçou os norte-
americanos e os europeus a introduzirem fortes mudanças estruturais em suas
indústrias, os quais desistiram de concorrer com os artigos de pequeno valor
agregado, provenientes da Ásia, e buscaram nichos mais lucrativos, com qualidade
diferenciada.
Cabe destacar, ainda, a atuação de países como o México e a Turquia, que
trabalham em parceria com outras nações. Eles possuem condições privilegiadas
por utilizarem matérias-primas provenientes de países vizinhos, pertencentes ao
mesmo bloco comercial (Nafta e UE, respectivamente). A parceria consiste em
importar tecidos e, em contrapartida, produzir com menor custo, devolvendo o
produto acabado com tarifas somente sobre o valor adicionado.
Seguindo uma tendência mundial da cadeia têxtil, o setor de vestuário
também passou por transformações estruturais, acompanhando a própria evolução
da microeletrônica. Tal evolução permitiu a automação e o conseqüente aumento da
produtividade em várias etapas do processo de produção. Ressalta-se que, apesar
das mudanças tecnológicas, que permitiram expressivos incrementos de
produtividade, baseados em preços, qualidade, flexibilidade e diferenciação de
produtos, o setor permanece intensivo em mão-de-obra.
Atualmente, o setor de vestuário assume um papel de extrema relevância,
posicionando-se em terceiro lugar no comércio internacional, para a maioria dos
59
países industrializados. Nos países em desenvolvimento, as indústrias de
confecções têm sido uma porta de entrada no mercado internacional.
3.3.1 - O fim das restrições quantitativas no comércio internacional de
produtos têxteis e confecções
O dia 1º de Janeiro de 2005 marcou o início de uma fase inédita na história do
setor mundial de têxteis e vestuário. Depois de 40 anos, a proteção ao setor têxtil no
mundo acabou em 2005, com o fim do último dos acordos, o Acordo de Têxteis e
Vestuários (Agreement on Textiles and Clothing-ATV), baseado em cotas. O impacto
do fim das cotas de importação dos países desenvolvidos varia conforme o
segmento: confecção, tecido de algodão e tecido sintético. Dados da ABIT (2005),
avaliam que a área mais afetada será a de confecção, dada a competitividade da
Ásia, principalmente na fabricação para terceiros.
O ATV pretendia e tinha o intuito de liberalizar o comércio da indústria xtil-
vestuário em 10 anos (entre 1995 e 2005) (PROCHNIK, 2002). Seu propósito central
seria assegurar a eliminação progressiva de restrições de cotas sobre têxteis e
vestuário, mantidas pelos grandes países desenvolvidos sobre as importações de
países em desenvolvimento.
Passa-se agora a especificar as diretrizes pretendidas no novo Acordo. Para
os países signatários do Acordo em 1995, deliberou-se que liberalizasse as cotas
dos produtos que representassem 16% das importações em volume. Outro grupo de
produtos foi deliberado para ser liberalizado em 1998. Este grupo englobava os
produtos que representassem 18% das importações de 1995. No início de 2002,
outra gama de produtos entrou na lista dos produtos liberalizados, agora seria os
que representassem pelo menos 17% das importações de têxtil-vestuário. O
restante ficou para ser liberado em Janeiro de 2005.
Entretanto, o ATV apresenta alguns problemas e estes contribuem fortemente
também para a não realização da meta de liberalizar toda a gama de produtos
têxteis e de vestuário internacionalmente. Com base em Prochnik (2002), citam-se
os principais problemas do ATV, que são:
a maior parte das liberalizações foram colocadas para o período final (início de
2005);
60
a forma do cálculo está calcada em volume e não valor, ou seja, as liberalizações
ocorridas até agora se concentram principalmente em itens menos sofisticados,
de baixo valor agregado e os produtos sensíveis ficaram de fora, sendo que a
agora os países em desenvolvimento tiveram poucos ganhos;
as barreiras não tarifárias apenas serão eliminadas após 31 de dezembro de
2004, no entanto fortes indícios de serem mantidas. Esta afirmação se
confirma e se reforça, por exemplo, pois “há um movimento por uma barreira às
importações de produtos xteis chineses, por disrupção de mercados” (Prochnik,
2002). Esta bandeira está muito presente nas entidades e associações da
indústria têxtil-vestuário estadunidense;
fortes indicativos que as barreiras tarifárias e as cotas dos países desenvolvidos
serão substituídas por barreiras não tarifárias (mudanças de regras na origem,
investigação antidumping, medidas que em principio tinham, em termos de
discursos, proteger o meio ambiente e o mundo do trabalho), que crescentemente
são utilizadas pelos países desenvolvidos no comércio mundial. Cabe registrar
que o ATV da Organização Mundial do Comércio (OMC) pre aplicação de
salvaguardas para produtos não englobados no acordo no caso de aumento
anormal de importações.
O ATV permitia que EUA, UE, Canadá e Noruega aplicassem cotas para as
exportações dos países em desenvolvimento, particularmente os asiáticos, como
China, Índia e Paquistão. Sem as cotas, as nações industrializadas contarão apenas
com as tarifas para se proteger. No caso da China, ainda será possível aplicar
salvaguardas especiais para alguns produtos até 2012. O país aceitou essa exceção
para poder entrar na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Simulações de economistas da OMC indicam que China e Índia poderão deter
65% do mercado americano de vestuário após o fim do ATV, com a China triplicando
e a Índia quadruplicando sua participação. Na produção de xteis, a China pode
elevar em 50% os embarques.
Além do ATV há tratados regionais de blocos econômicos como Nafta e União
Européia e acordos bilaterais que privilegiam algumas regiões/países através de
cotas, aplicação de tarifas apenas no valor adicionado do produto (observados, por
exemplo, regime Outward Processing Trade-OPT nos países da União Européia e
países do Leste Europeu; acordo entre os Estados Unidos e México) e até isenções
alfandegárias.
61
3.4 – Panorama do setor têxtil e confecção no Brasil
O Brasil possui praticamente todos os elos da indústria têxtil-vestuário, fato
raro entre os países em desenvolvimento. A cadeia integra atividades desde a
produção de fibras/filamentos até o segmento de confecção, assim como os diversos
tipos de produtos. É possível ampliar este campo para incluir a produção de fibras
naturais e a pesquisa agrícola que a sustenta.
Assim como toda a indústria nacional, a indústria têxtil e confecção no Brasil
passou por grandes transformações ao longo dos anos 90. As políticas neoliberais
que se desenrolaram ao longo da década promoveram a abertura comercial, um
amplo programa de privatizações e a estabilidade econômica que se iniciou em
1994 e gerou sobrevalorização cambial até 1999. A apreciação do câmbio produziu
uma significativa redução dos preços relativos dos bens importados que aliado às
reduções das tarifas de importação e acrescido às elevadas taxas de juros, a
restrição ao crédito e ao baixo crescimento da década ocasionou uma grande
reestruturação da indústria nacional.
Como observou Gorini (2000), a cadeia têxtil brasileira que historicamente
desenvolveu-se através da internalização de todas as suas atividades produtivas
(tendo como foco um mercado praticamente imune a produtos estrangeiros), com
baixos índices de produtividade e baixos investimentos em tecnologia de ponta, foi
uma das mais afetadas por essas mudanças, tendo um desempenho pior do que a
média da indústria brasileira.
A conseqüência destas mudanças foi uma grave e profunda crise no setor,
que provocou enormes transformações principalmente a partir da segunda metade
da década de 90 onde se pode destacar o fechamento de grande número de
empresas e de milhares postos de trabalho, conforme gráfico abaixo:
62
Gráfico 1
Fonte: ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), 2004.
O baixo dinamismo que marcou a economia brasileira durante a década de 90
contribuiu para o aumento do número de empresas produtoras de vestuário. Esse
aumento está diretamente relacionado ao fechamento de diversas firmas têxteis no
período. Segundo dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), em
1991 o número de fábricas de tecidos no país era de 1.450 e em 2001 passaram a
ser apenas 425, as confecções de vestuário aumentaram de 13.394 para 15.367
no mesmo período. A explicação para esta reação parece residir no fato da indústria
de vestuário ser caracterizada por baixas barreiras à entrada e a cnica de
produção ser bastante difundida. Em momentos de aumento do desemprego a
abertura de uma confecção acaba sendo uma opção para muitos indivíduos.
Uma característica importante nesta cadeia produtiva no Brasil é a
significativa participação de micro e pequenas empresas, principalmente no
segmento final, o setor de confecção, distribuição e comercialização. Em 2001, eram
18.438 empresas no país sendo que 12.818 tinham até 30 funcionários, portanto,
cerca de 70% de micro e pequenas empresas. Pode-se afirmar que grande parte
dessas firmas tem sua produção voltada para atender a demanda do mercado
interno e caracterizam-se por: defasagem tecnológica, baixo nível de informatização,
sistema de comercialização ineficiente, pouca flexibilidade na produção e pouco
desenvolvidas na parte de design. Uma pequena parcela das empresas de
vestuário, formada por empresas de grande porte, tem se modernizado e
especializado em design, marketing e gerenciamento de marcas próprias.
63
Cabe ressaltar que, apesar do aumento do número de confecções no país e
da forte presença de micro e pequenas empresas, que empregam grande parte da
mão-de-obra nacional, o número de empregos formais caiu 31% no período de 1991
a 2001. A informalidade e a terceirização foram a solução encontrada por muitas
empresas nacionais para flexibilizar a produção e reduzir os custos para tornar seus
preços mais competitivos (ABIT, 2005).
Devido à ausência de barreiras à entrada de importados, a baixa tecnologia
empregada e os constantes movimentos de terceirização para a dissolução de
custos, possibilitam o surgimento e a sobrevivência de muitas empresas informais
acarretando distorção de preços e queda no nível de qualidade que acabam
impactando negativamente na competitividade. Segundo Gorini (2000), duas
particularidades do segmento de vestuário permitem que pequenas empresas
defasadas tecnologicamente e mesmo informais sobrevivam no mercado: a
segmentação do mercado consumidor brasileiro e o padrão de fixação de moda e
diferenciação de produtos.
No que tange à demanda por confeccionados, no Brasil, a tendência de
consumo está diretamente relacionada à classe social do consumidor. As classes
sociais de maior concentração de renda formam um mercado restritivo e demandam
roupas com design moderno e elaborado, marcas, etiquetas e tecidos finos. Já as
classes de menor poder aquisitivo têm menor exigência de marca e etiqueta
concentrando seu consumo em roupas básicas. O maior segmento quantitativo de
consumo está nestas classes de renda mais baixa, onde segundo Gorini (2000),
situam-se 90% dos consumidores de xteis do Brasil. Este grande mercado
consumidor que é menos exigente em qualidade e que considera o preço como fator
determinante para o consumo, absorve a produção das pequenas empresas
defasadas tecnológica e organizacionalmente.
Quanto ao processo produtivo, boa parte das indústrias de vestuário não
concentram sua produção em apenas um artigo. É comum que a empresa tenha
uma variedade produtos em sua linha com o objetivo de atingir às preferências do
mercado consumidor e evitar encalhe de estoque. Segundo a mesma autora,
algumas empresas de médio porte bem sucedidas no Brasil possuem fluxo de
produção dividido em células onde cada célula produz uma etapa do processo.
Apesar dessas empresas possuírem menor volume de produção e maior número de
empregados se comparadas ao padrão internacional, elas não são necessariamente
ineficientes, pois, seguem os requisitos necessários à diversificação da produção
64
para um mercado consumidor mais restrito o que é muito diferente da escala de
produção em nível global que operam as empresas internacionais.
No que diz respeito à questão da distribuição dos produtos confeccionados, o
Brasil tem poucas empresas âncoras de distribuição e logística o que faz com que
as próprias empresas desenvolvam suas redes de distribuição e logística, em sua
maior parte voltadas para o mercados locais. Vale a pena ainda ressaltar que o
segmento de vestuário, como ponta final da cadeia têxtil, possui maior contato com
clientes e receba informações sobre as preferências dos consumidores com relação
a tipos de tecido, padrões de modelagem e de cores. O segmento torna-se, portanto,
o principal responsável pela comunicação de alterações nos padrões de consumo
para os demais elos da cadeia.
Outra mudança que ocorreu ao longo dos anos 90 foi uma certa alteração na
distribuição regional da indústria de vestuário. Ainda que a produção continue
bastante concentrada nas regiões sudeste e sul, o nordeste e o centro-oeste
brasileiros aumentaram significativamente suas produções e estão ampliando sua
participação na produção nacional (Tabela 5). Tal fato esteve relacionado às
políticas de incentivos que os estados adotaram no período, mas também às
vantagens associadas ao custo de mão-de-obra (Tabela 6).
Dentre os principais pólos existentes em todo território brasileiro, sobressai a
região Sudeste, que responde por mais da metade da produção nacional.
Atualmente, o pólo nordestino também vem apresentando bons resultados, sendo
responsável por 11% da produção do país. Tal fato se deve, em grande parte, ao
baixo custo da mão-de-obra local. São Paulo e Santa Catarina são dois dos
principais e mais antigos pólos de produção do país. Atualmente, Santa Catarina é o
maior exportador em malhas do Brasil. São Paulo, por sua vez, detém 11 mil
empresas, dentre as quais estão as principais grifes nacionais. Em termos de
volume da produção, porém, o destaque fica com os estados de Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Ceará.
Tabela 5: Brasil: participação das regiões na produção de vestuário de 1996 a 2001
Região 1996 1998 2001
Norte 1,00% 1,00% 1,00%
Nordeste 7,00% 10,00% 11,00%
Centro-oeste 2,00% 3,00% 4,00%
Sudeste 77,00% 67,00% 64,00%
Sul 13,00% 19,00% 20,00%
65
Fonte: IEMI.
Tabela 6: Brasil: remuneração média paga por região no ano de 2002
Fonte: RAIS
A produção de vestuário cresceu significativamente no período de 1991 a
2001, alcançando um pico de 4,9 bilhões de peças em 2000 (gráfico 2).
Gráfico 2
Em contrapartida, os preços médios das peças de vestuário caíram desde
1991 (gráfico 3), em função de fatores como: aumento da concorrência, ampliação
do consumo da população de baixa renda após a estabilização econômica e a
redução dos preços médios de tecidos em malhas, sobretudo a partir de 1998.
Gráfico 3
Região 2002
Nordeste R$ 302,41
Centro-oeste R$ 302,35
Sudeste R$ 410,50
Sul R$ 397,49
66
Conseqüentemente, o valor da produção de vestuário brasileira acabou
caindo no mesmo período, promovendo inclusive, a perda de participação dessa
indústria no PIB nacional (gráfico 4).
Gráfico 4
Outro fato marcante na década passada foi a invasão de produtos
estrangeiros no mercado nacional. Com a abertura comercial e o câmbio
sobrevalorizado, as importações de vestuário passaram de US$59 milhões em 1990
para US$372 milhões em 1995 (Tabela 7). Dentre os produtos importados,
destacam-se os originários da Ásia que tiveram sucesso no mercado nacional pelo
seu padrão de qualidade e preços baixos. Um exemplo são as camisas, cujas
importações alcançaram a soma de US$58 milhões em 1995, vindas em grande
parte da China.
67
Tabela 7
Em relação às exportações, os maiores mercados consumidores do Brasil,
em 2000, foram os Estados Unidos, que ficaram com 35% do total exportado;
Argentina, com 28%, e o Uruguai, com 6,08%. De modo geral, as exportações
brasileiras se destinam, principalmente, aos países do Mercosul e Estados Unidos,
sendo pequena a participação de alguns países asiáticos e europeus.
Como a produção de têxteis no Brasil ainda é bem reduzida, as importações
aumentaram significativamente ao longo da década passada. Diversas empresas
nacionais que não suportaram a forte concorrência internacional acabaram
encerrando suas atividades. O crescimento expressivo das importações aliado ao
baixo crescimento das exportações gerou um enorme déficit comercial da cadeia
têxtil-vestuário (gráfico 5).
Gráfico 5
Diante desse quadro, em 1996 o governo tentou controlar o aumento das
importações de têxteis e vestuário aumentando as alíquotas de importação de 20%
para 70% para camisas e tecidos artificiais e sintéticos dos grandes exportadores
como China, Coréia do Sul e Taiwan.
68
A desvalorização cambial em 1999 gerou uma melhora no desempenho
externo das indústrias têxteis e confecções nacionais, começando a reverter o
imenso déficit comercial presente desde 1994. Essa melhora da balança comercial
esteve muito mais associada a queda das importações do que ao aumento das
exportações (gráfico 5).
Através de pesquisa realizada pela Pintec (www.ibge.gov.br), fica evidente a
fragilidade da indústria nacional. Os dados mostram que apenas 26,2% das
confecções entrevistadas haviam implementado algum tipo de inovação de produto
e/ou processo entre 1998 e 2000. As inovações nas práticas de marketing foram
realizadas por apenas 25,8% das empresas e mudanças na estrutura organizacional
foram implementadas por 26,2%. Apenas as inovações no design do produto foram
mais freqüentes, realizadas por 72,8% das empresas pesquisadas entre 1998 e
2000. As principais barreiras para a inovação apontadas pelas empresas foram os
elevados custos da inovação e os riscos econômicos excessivos.
A integração cooperativa entre as empresas que poderia auxiliar as firmas
nacionais a superar essas barreiras conjuntamente, diluindo os riscos de
investimento associados à inovação e o compartilhamento dos gastos para financiar
as atividades inovativas, ainda é muito incipiente entre as firmas de vestuário
nacionais. A pesquisa da Pintec apontou que apenas 6,5% das empresas
pesquisadas que haviam implementado inovações realizaram algum tipo de
cooperação com outras organizações entre 1998 e 2000, quando houve cooperação
os parceiros mais freqüentes eram os clientes. A formação de alianças com
empresas concorrentes, fornecedores, centros de capacitação profissional tanto no
país como do exterior foram praticamente inexistentes. Gorini (2000) afirma que a
ausência de alianças estratégicas tanto no varejo para investimentos em postos de
venda para melhor exposição dos produtos, como com fornecedores para o
desenvolvimento conjunto de novos produtos, aquisição de matérias-primas e
redução dos estoques intermediários são gargalos que prejudicam a venda dos
produtos nacionais no exterior.
Segundo Crocco et al. (2001), uma das maiores dificuldades deste setor, e de
toda a indústria brasileira em geral, é diminuir o seu alto grau de verticalização. Este
modo de produção inviabiliza a redução dos custos e a especialização. No modelo
encontrado no exterior, as empresas são mais especializadas, fomentam o inter-
relacionamento, trocam experiências viabilizam a cooperação tecnológica e os
investimentos em inovações no produto final.
69
3.5 - Panorama do setor Têxtil-confecção em Minas Gerais
O setor têxtil-confecção de Minas Gerais abrange todos os segmentos, desde
a produção da matéria-prima (no norte do Estado) a à confecção final. É
conformado por um polígono que se inicia em Montes Claros e Pirapora, atinge
Caetanópolis, passa por Belo Horizonte, Distrito Industrial de Contagem, até a Zona
da Mata, passa por Sete Lagoas e vai a o sul de Minas. De acordo com as
informações fornecidas pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG),
uma concentração de empresas dos setores xtil e confecção, na região central de
Minas, onde estão 53% das indústrias do setor. Na Zona Central está a região da
grande Belo Horizonte, Contagem e o Município de Divinópolis.
O Estado é hoje um dos principais centros produtores de moda do país, com
cerca de 10.000 confecções, a maioria de micro e pequeno portes de elevada
pulverização e heterogeneidade tecnológica. A atividade movimenta anualmente
cerca de R$ 1,2 bilhão, e emprega cerca de 65.000 trabalhadores, segundo
estimativa do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG).
É importante destacar a forte concentração das empresas mineiras do
segmento , pois mais de 70% delas localizam-se em apenas 10 municípios, embora
esses estejam distribuídos em diferentes regiões do Estado e exerçam funções de
pólos, estimulando a expansão da atividade. Esses municípios são: Belo Horizonte,
Divinópolis, Juiz de Fora, Jacutinga , Monte Sião, Muriaé, Contagem e Passos, além
de São João Nepomuceno e Uberlândia.
A Zona da Mata constitui-se na principal referência da indústria de confecção
em Minas, ocupando o primeiro lugar em número de estabelecimentos e de
empregos gerados no Estado, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego
(2003), que apontaram ainda que o setor empregou 54.567 pessoas em 5.441
empresas. No período de 1990 a 2003, o número de estabelecimentos aumentou em
35%, quando sua participação no emprego industrial cresceu 54%.
O principal mercado das empresas têxteis mineiras está no estado de São
Paulo, que absorve 38,80% da sua produção. O segundo mercado em importância é
o próprio Estado que consome 11,84%, enquanto que os demais estados da
federação compram 40,59% da produção comercializada.
As exportações que nas décadas de 70 e 80 contribuíram expressivamente
para o faturamento de algumas empresas mineiras, perderam importância na
primeira metade dos anos 90. Os valores exportados pela indústria têxtil mineira
70
representaram, em 1997, apenas 3,40% do faturamento das empresas. Contudo,
após um período de crise, o segmento industrial readquiriu competitividade e as
exportações voltaram a ter importância. Em 2000, o comércio exterior já havia
atingido 8,77% do faturamento industrial têxtil de Minas Gerais.
Os dados mais importantes do parque fabril de Minas Gerais foram
levantados em 1997 pela FIEMG, a partir de uma amostra de cerca de 182
empresas. Os resultados mostram que o setor de tecelagem tem 18% das empresas
do Estado e o setor de confecções e vestuário, 65%, o restante são empresas
integradas.
Predomina no setor, a confecção do tecido de algodão, lã, seda, linhas e
fibras vegetais, malha, fabricação de produtos sintéticos, meias, fitas e tapeçaria. No
vestuário, prevalece a confecção de roupas e agasalhos, peças íntimas do vestuário
masculino e feminino, trajes completos de passeio, camisas, calças, roupas
esportes, pijamas e toda linha infantil.
Entre as empresas de confecção predomina a categoria da modinha, ou seja,
o aproveitamento das coleções lançadas pela alta moda. No Estado, predomina a
microempresa, com cerca de 50% das indústrias, que emprega até 20 empregados;
a pequena empresa detém 29% de todas as empresas do setor, empregando entre
20 e 100 empregados; a média empresa detém 15% do mercado e detém de 100 a
500 empregados; e a grande empresa, com mais de 500 empregados detém 6% da
produção do Estado.
No complexo têxtil-vestuário mineiro, 26% das empresas têm menos de 5
anos, cerca de 46% das empresas têm de 5 a 10 anos de existência e 18% entre 10
e 20 anos. As empresas mais antigas do setor, com mais de 20 anos somam apenas
6% do total. Cerca de 46% do total das empresas apresentam um parque produtivo
com equipamentos com idade dia de 5 e 10 anos, e 26% com máquinas com
menos de 5 anos. Esses dados levantados pela Federação das Indústrias indicam
que, a despeito da necessidade de ajuste com novos investimentos, com a abertura
comercial, as empresas em 1997, apresentavam um significativo grau de
atualização, ainda que restrito a um conjunto de cerca de 26%. Se tomarmos um
total da idade dos equipamentos, até 10 anos, esse total soma cerca de 71% do
número de empresas no complexo têxtil/confecção e vestuário.
O setor de tecelagem demonstra uma forte tendência à modernização das
indústrias, o que não ocorre com o setor de confecções. A mão-de-obra nas
pequenas e microempresas são caracterizadas por baixo nível de qualificação e
71
profissionalização, e um importante fator é a ocupação de gênero, isto é, a
predominância do emprego feminino.
O desenvolvimento recente é do tipo supplier dominated, que se caracteriza
pela geração de tecnologia exógena com importação de equipamento e maquinário,
com baixo nível de geração de tecnologia própria. As indústrias são, em geral,
atrasadas tecnologicamente em relação a pólos nacionais consolidados.
A indústria no Estado demonstra uma característica importante que é a
flexibilidade da atuação e da saída do mercado, uma vez que a pequena e
microempresa é caracterizada por baixo montante de capital para abertura e
ampliação, com rápida capacidade de contração quando o mercado apresenta sinais
de retração.
A indústria de confecção é caracterizada por uma baixa utilização de
equipamentos informatizados, em torno de 20% das empresas e uma estrutura de
comercialização e mercado com canais bastante frágeis de vendas, à exceção de
algumas confecções que detêm sistemas de franquias e produção voltadas
principalmente para o mercado interno. É elevado o índice de mortalidade
empresarial precoce, observando-se após 2 anos de existência, a eliminação de um
número substancial de empresas.
As principais fontes de financiamento, de acordo com as informações
levantadas pela FIEMG são, em primeiro lugar, a reinversão de lucro, em torno de
47% dos recursos utilizados no complexo têxtil/confecção. A segunda fonte mais
importante de recursos de crédito são os bancos privados, e em terceiro lugar, o
BDMG, com recursos inclusive do BNDES. Em decorrência das elevadas taxas de
juros, a indústria tem conseguido sobreviver aplicando seus próprios recursos na
estrutura patrimonial, nos investimentos e no capital de giro como estratégia de
financiar as suas atividades. Em termos de nível de desenvolvimento tecnológico,
apenas 8% das empresas selecionadas investe em pesquisa dentro da própria
empresa, 6% desenvolvem novos produtos têxteis e novas confecções, e a maioria
recorre a informações externas, em torno de 86%.
Em termos de design de moda, cerca de apenas 17% das empresas, seja no
setor de tecelagem, seja no setor de confecção, investem nessa modalidade de
desenvolvimento. Apenas 22% das indústrias deste conjunto selecionado investe
num programa de qualidade e produtividade.
O número de empresas que investiram em pesquisa e desenvolvimento é
muito pequeno. A preferência das empresas é de investimento em design e em
72
programas de qualidade e produtividade visando a obtenção de maiores
participações no mercado, face à acirrada concorrência interna e externa.
A indústria mineira de têxtil e confecção depende, em torno de 44%, de
matéria-prima proveniente de outros estados e o destino da produção está
concentrado em exportações para outros estados, em torno de 41%. Cerca de 31%
é consumido no próprio Estado de Minas e à exportação destina-se apenas 2%.
Cerca de metade dos insumos e metade da produção se destina a outros estados.
A respeito da competitividade da indústria mineira, Prochnik e Vaz (2002),
afirmam que existem quatro questões centrais na inserção competitiva da cadeia
têxtil mineira. A primeira diz respeito à distância em relação à origem da principal
matéria-prima, o algodão. Atualmente, o principal pólo produtor de algodão, no
Brasil, está na Região Centro-Oeste, distante das fábricas, implicando num custo de
transporte significativo.
A segunda questão relevante é sobre as fibras sintéticas. A evolução dos
produtos têxteis tem sido na direção da crescente participação de matéria-prima
sintética e artificial. Mas a indústria de Minas Gerais é especializada em produtos a
base de algodão. As fibras sintéticas são, em grande parte, importadas de outros
estados.
A terceira questão é o baixo peso relativo do setor de confecções. Como
mostra a tabela 8, a participação do setor de confecções, no valor agregado da
cadeia têxtil, em comparação com São Paulo e Brasil, é muito pequena.
Tabela 8: Distribuição setorial do valor agregado da cadeia têxtil nos estados de Minas Gerais,
rio de Janeiro e São Paulo e no Brasil.
Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo Brasil
Fabricação de artigos do vestuário
e acessórios
12,0 61,7 31,1 34,8
Fabricação de calçados e de
artigos de couro e peles
32,0 8,1 15,0 19,2
Indústria têxtil 56,0 30,2 53,9 46,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Fontes: IBGE (2000); FIPE (2001); Hadad & Domingues (2001) e CIDE (2002) apud Prochnik e Vaz
(2002).
A resultante das três questões mencionadas, importação de algodão e de
fibras sintéticas e pequeno desenvolvimento do setor de confecções, é o nível baixo
de autonomia média da cadeia têxtil em Minas Gerais (40%). A diferença, em
relação a São Paulo e Brasil, é maior pelo lado das compras, pois a cadeia têxtil
73
mineira compra, na própria cadeia, apenas 27% das suas compras totais, enquanto
a cadeia têxtil de São Paulo realiza, na cadeia, 80% das suas compras.
A quarta e última questão é a modernização do setor xtil de Minas Gerais.
Trabalho do BDMG (1999) informa que as pequenas e médias empresas do setor
têxtil estão mais defasadas do que as empresas maiores. Assim, ao lado de
financiar os projetos das grandes empresas têxteis, é útil examinar, mais
detidamente, os problemas das empresas menores. Principalmente sua inserção em
nichos específicos de mercado.
Entre as quatro questões assinaladas, diversas razões contribuem para um
interesse em formular uma política de apoio e incentivo ao setor de confecções. O
comércio internacional de confecções vem aumentando mais rapidamente do que o
comércio internacional global, enquanto este último, por sua vez, vem crescendo
mais do que o comércio internacional de produtos têxteis (fiação e tecelagem). De
fato, entre 1995 e 2000, o comércio internacional de confecções cresceu 5,9 % ao
ano; o comércio internacional, para todos os produtos, cresceu a uma taxa anua de
4,6%, e o de produtos têxteis aumentou apenas 2,6 % ao ano.
74
4 – METODOLOGIA DA PESQUISA
Este capítulo apresenta o procedimento metodológico adotado neste trabalho.
São definidos aqui o tipo de pesquisa, seus objetivos geral e específico e o método
adotado. A seguir, os procedimentos adotados na composição da população e da
amostra, o instrumento utilizado na coleta de dados e as técnicas empregadas no
tratamento dos dados.
A pesquisa que serviu de base para a realização desta dissertação foi
predominantemente qualitativa. A principal técnica utilizada foi o estudo de caso
como um todo de levantamento de dados caracterizado pelo detalhamento das
informações e a busca das relações dinâmicas entre os dados obtidos. A opção por
um estudo de caso se dá, portanto, no momento em que as questões atingem um tal
grau de detalhamento, que apenas a observação da realidade concreta em pleno
funcionamento nos permite obter as respostas.
A metodologia qualitativa e o estudo de caso permitem a utilização de
diversas técnicas concomitantes. O fato de optarmos pelo método
qualitativo e pelo estudo de caso não significa que o utilizemos dados
quantitativos, apenas que submetemos todos os dados de que lançamos
mão ao mesmo tratamento lógico, sem considerar, por exemplo, que os
dados estatísticos sejam mais precisos ou mais objetivos que o resultado de
entrevistas e observações, mas sim que foram
produzidos com técnicas
distintas e permitem responder questões de natureza tamm distinta (YIN,
2001, p. 38).
4.1 - Tipo de pesquisa
De acordo com a classificação proposta por Lakatos & Marconi (1992), esta
dissertação é classificada quanto os fins, como pesquisa aplicada e descritiva.
É aplicada porque se caracteriza por seu interesse prático, nos quais os
resultados são utilizados na solução de problemas que ocorram na realidade.
É descritiva: porque aborda os aspectos descrição, registro, análise e
interpretação do problema, objetivando seu funcionamento no presente.
Ainda segundo os mesmos autores, quanto aos meios, esta dissertação pode
ser classificada como pesquisa de campo com caráter exploratório.
De campo, porque é realizada com o objetivo de conseguir informações ou
conhecimento acerca do problema para o qual se esta procurando respostas,
75
através de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de
dados a eles referentes e no registro de variáveis que se presumem relevantes para
analisá-las.
Exploratória, porque visa a formação do problema, com a finalidade de
desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente,
fato ou fenômeno, para a realização de pesquisas futuras ou modificar e clarificar
conceitos.
A pesquisa tem a natureza prioritariamente qualitativa, pois considera-se que
há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito.
4.1.1 - Objetivo geral da pesquisa.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar a indústria de vestuário em Muriaé
MG e verificar se o pólo reúne condições ideais para o bom desempenho perante os
fatores críticos de sucesso levantados pela literatura pertinente.
4.1.2 - Objetivos específicos
Levantar o perfil das empresas da indústria de vestuário de Muriaé - MG;
descobrir quais são os atores envolvidos no processo e suas formas de atuação;
identificar os fatores agregadores e desagregadores à formação do arranjo
produtivo;
avaliar as relações dos agentes envolvidos com as empresas locais;
sugerir políticas de desenvolvimento local voltadas para a criação e/ou estímulo
de um ambiente favorável no APL para que tenha suas potencialidades
incrementadas e seus obstáculos reduzidos.
4.2 - Método adotado.
O método adotado para esta dissertação foi o estudo de caso em razão da
escassez de conhecimento existente sobre o setor estudado.
76
Os estudos de caso colocam mais ênfase em uma análise contextual
completa de poucos fatos ou condições e suas inter-relações (COOPER &
SCHINDLER, 2003). Yin (2001) coloca o estudo de caso como estratégia de
pesquisa compreende um método que abrange tudo - com a lógica de planejamento
incorporando abordagens específicas à coleta de dados e à análise de dados”.
O objetivo principal deste método, segundo Yin (2001), é descrever as
características de determinada população ou estabelecer relações entre elas,
utilizando-se de técnicas padronizadas de coleta de dados, como, por exemplo, o
questionário.
A pesquisa realizada foi conduzida utilizando dados primários e secundários
obtidos através dos resultados do Diagnóstico da Indústria de Vestuário de Muriaé e
Região, apresentados pelo Instituto Euvaldo Lodi - IEL e da pesquisa feita pelo autor
com empresários e agentes envolvidos com o APL.
A atividade de pesquisa exige que as ações desenvolvidas ao longo do seu
processo sejam efetivamente planejadas, conforme Gil (2002). Seguindo esse
raciocínio, são apresentadas, na Figura 5, as etapas do processo de investigação
desta pesquisa.
Figura 5: Etapas da pesquisa
Fonte: Elaboração própria
4.3 - Formulação do problema de pesquisa
77
O problema de pesquisa que suscitou este trabalho foi: o Arranjo Produtivo
Local de indústrias de vestuário de Muriaé apresenta condições ideais para o bom
desempenho perante os fatores críticos de sucesso elaborados pelos autores mais
evidentes que tratam do assunto?
4.4 - Caracterização do universo e critérios de seleção da amostra.
Para atingir os objetivos propostos, foram entrevistados 30 (trinta) atores
envolvidos com a indústria de vestuário que atuam no Município de Muriaé,
conforme quadro abaixo:
Quadro 2: Classificação e quantidade de participantes na pesquisa
Classificação dos participantes Total de participantes %
1) Empresários, gerentes e técnicos ligados diretamente ao
conjunto de estratégias e operações das empresas
pesquisadas. 21*
70
2) Lideranças e técnicos ligados a instituições de apoio a
atividade empresarial na localidade. 9 30
Totais 30 100
* Sendo 14 empresas formais e 7 informais.
Fonte: Dados da Pesquisa
A amostra de empresas foi selecionada, tendo como base o cadastro da
Prefeitura Municipal de Muriaé, em um universo de 204 estabelecimentos.
O critério para escolha das empresas participantes foi a elaboração de
sorteio, onde foram pré-selecionadas 26 empresas, sendo que 5 delas optaram por
não participar da pesquisa.
Foram entrevistados empresários de organizações de diferentes portes, que
fabricam diferentes tipos de produtos e que estão no mercado a poucos ou muitos
anos, tentando conseguir assim heterogeneidade na amostra.
Há, na cidade, importantes instituições voltadas às atividades específicas do
setor de vestuário, tais como, centros de treinamento, serviços tecnológicos,
sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros. Selecionou-se, então, 7 das
principais instituições locais, que são: CONDESSC, SINDIVEST, SENAI, SEBRAE,
Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Muriaé,
Sindicato das costureiras, UNIPAC e 2 fornecedores especializados.
78
4.5 - Métodos de coleta de dados
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário (Anexo 2),
aplicado em entrevista pessoal pré-agendada com os empresários e agentes
envolvidos, de modo que as dúvidas dos entrevistados fossem sanadas e não
interferissem nos resultados da pesquisa.
A confecção do questionário seguiu o modelo proposto por Cândido (2001),
avaliando a posição dos respondentes perante os fatores críticos de sucesso
quanto: ao ambiente de negócios, às políticas macro-econômicas, ao processo de
formação e a aspectos sociológicos e antropológicos.
A pesquisa de campo foi realizada no período compreendido entre 10 de
Janeiro a 21 de Março de 2005, incluindo as entrevistas nas empresas e nas
instituições. O agendamento das entrevistas com as empresas foi feito via contato
telefônico (e fax) com diretores e/ou gerentes ligados às atividades de produção,
planejamento e financeira, e os questionários e roteiros de entrevistas foram
aplicados pelo próprio autor do trabalho, realizando, quando possível, visitas às
instalações fabris. Por motivos diversos não foi possível entrevistar todas as
empresas selecionadas na amostra, algumas foram substituídas e em alguns casos
a política da direção da empresa de não permitir a divulgação de seus dados
inviabilizou a entrevista. nas instituições, em geral, as entrevistas foram
agendadas sem maiores dificuldades.
Os dados bibliográficos foram coletados de uma bibliografia pré-definida das
teorias e autores de maior evidência, artigos publicados, periódicos (CAPES), teses
e dissertações, sítios da internet e com visitas ao acervo público municipal de
Muriaé.
4.6 - Limitações da pesquisa
Este estudo limitou-se a estudar apenas a cidade de Muriaé, mesmo sabendo
que o APL de confecções de vestuário, no qual a cidade está inserida, abrange uma
micro-região formada por outras cidades circunvizinhas. O principal motivo de não
estender o estudo a outros municípios foi a falta de um patrocinador para a
79
pesquisa, o que inviabilizou sua amplitude, devidos a aspectos logísticos e
financeiros. Para um maior aprofundamento das questões levantadas, fica como
sugestão para estudos futuros, a inclusão das outras cidades que compõe o arranjo.
5 ESTUDO DE CASO DO APL DE CONFECÇÕES DE VESTUÁRIO DE
MURIAÉ-MG
80
Este capítulo pretende analisar os fatores críticos de sucesso para o
desempenho do arranjo produtivo de vestuário de Muriaé, sob a ótica dos fatores
internos que impactam na competitividade das empresas do aglomerado, mas
também nas condições do ambiente no qual elas estão inseridas. Pretende-se ainda
tentar descobrir qual é o desempenho recente e qual o potencial de crescimento do
APL.
A análise foi feita principalmente a partir de dados coletados em pesquisa de
campo realizada no período de 06/2005 a 08/2005. Tal pesquisa possibilitou o
levantamento de dados essenciais para tentar perceber quais são os fatores críticos
de sucesso do APL de Muriaé. Outra significativa fonte de informações foi o I Censo
Diagnóstico das Indústrias do Vestuário de Muriaé realizado pelo IEL do Sistema
FIEMG.
O capítulo está divido em 4 seções. A primeira delas levanta o perfil do
arranjo escolhido para a pesquisa, destacando a importância e a evolução da
atividade confeccionista para o município e apresenta um breve histórico sobre
como originou e desenvolveu-se o arranjo na cidade de Muriaé. Procurou-se
identificar quais são os principais agentes envolvidos e quais as ações que
empresas e instituições de apoio têm realizado para promover o desenvolvimento do
APL. Em seguida, buscou-se caracterizar as empresas do arranjo na tentativa de
entender a dinâmica e competitividade das empresas locais.
A terceira seção apresenta as percepções dos empresários e demais agentes
envolvidos, em relação aos fatores críticos de sucesso e os resultados obtidos com
a pesquisa de campo.
Por fim, são feitas as observações e percepções do pesquisador acerca da
estrutura e formas de funcionamento das empresas pertencentes ao agrupamento.
5.1– Caracterização do APL
O arranjo produtivo de vestuário em questão localiza-se na cidade de Muriaé,
município da região leste da Zona da Mata mineira, com uma população - segundo
dados do IBGE de 97.628 habitantes (51,49% do sexo feminino e 48,51% do sexo
masculino). Sua posição geográfica é considerada privilegiada pela proximidade
81
aos principais mercados consumidores do país, além do próprio estado (Rio de
Janeiro, São Paulo e Espírito Santo).
A cidade, que, em 2005, comemorou seu sesquicentenário, teve sua
economia desenvolvida em forma de ciclos, conforme dados fornecidos pelo
Museólogo e Restaurador do Memorial Municipal de Muriaé - Sr. João Carlos
Pereira em entrevista cedida em 08/07/2005.
O primeiro deles, que começa antes mesmo da emancipação política,
econômica e administrativa da cidade, foi a extração das raízes de ipeacoanha
(poaia), planta com valiosas propriedades medicinais e grande valor econômico.
O segundo ciclo acompanhou a economia nacional com a monocultura do
café. Devido às condições geográficas favoráveis, nas últimas décadas do século
XIX, a cidade tornou-se um importante produtor, promovendo o primeiro
desenvolvimento econômico significativo.
Com a crise de 1929 e a inauguração da rodovia BR 116, em 1939, o
município expandiu sua agropecuária e o setor de serviços, principalmente a
mecânica automotiva, que atingiria grande expressão a partir da década de 60.
A confecção de vestuário é hoje a principal atividade industrial desse arranjo.
Essa atividade é vital para a economia muriaeense, pois é a maior responsável pela
geração de empregos diretos e indiretos no local. Embora sua proliferação se por
volta de 1980, a partir de 1950 as primeiras confecções começavam a exercer suas
atividades na cidade. Como exemplo, cita-se a Malharia Galante e Confecções
Branca de Neve, fundadas em 1959 e 1962 respectivamente.
Schmitz (1995) mostra que a existência de agrupamento industrial de
pequenas empresas, baseado na cooperação interempresarial pode também ser
criado a partir de um pequeno embrião. No caso do agrupamento aqui estudado, o
bordado artesanal parece ter sido tal embrião. Segundo depoimentos de
proprietários de empresas pioneiras do arranjo, a atividade de confecção de
vestuário se desenvolveu a partir do incremento do bordado artesanal, que aos
poucos começava a ser aplicado em camisolas e pijamas, referenciando o local
como “cidade das bordadeiras”. Um dos argumentos que pode explicar essa
tendência é o fato do desenvolvimento econômico sempre ter privilegiado a mão-de-
obra masculina, restando à mulher exercer tarefas que pudessem ser conciliadas
com o trabalho doméstico.
Por sua proximidade à cidade do Rio de Janeiro, os bordados feitos
manualmente que estampavam camisolas e outras peças, logo despertaram a
82
atenção de redes varejistas, o que colaborou para a promoção da cidade como pólo
produtor de vestuário.
Segundo dados da RAIS (2003), existem em Muriaé 239 indústrias de
confecções registradas e de acordo com dados do IEL (2005) cerca de 450
informais, sendo praticamente todas de micro e pequeno portes, gerando 2.030
empregos formais (RAIS, 2003).
Atualmente, o principal produto fabricado pelas indústrias de vestuário de
Muriaé é a lingerie noite, uma espécie de roupa específica para dormir como
camisolas e pijamas, mas também no arranjo um número significativo de
confecções que se dedicam à produção de moda infantil, infanto-juvenil e modinha.
A matéria-prima mais utilizada pelas confecções de Muriaé, segundo dados do IEL,
é o algodão.
Além das firmas que produzem e comercializam vestuário, fazem parte do
quadro de atores que formam o APL de vestuário de Muriaé, um conjunto de
instituições locais que realizam atividades e projetos voltados para o
desenvolvimento desse arranjo.
A primeira iniciativa institucionalizada de associação do arranjo foi efetivada
em 2003 com a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do
Setor de Confecções de Muriaé CONDESSC, quando um grupo de empresários
do setor se organizaram para prover representatividade junto aos órgãos públicos e
reivindicaram junto à Prefeitura Municipal de Muriaé ações mais efetivas para a
principal atividade econômica do município. Além do CONDESSC a cidade possui
uma Delegacia Regional do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de
Minas Gerais (SINDIVEST), outra entidade que promove a integração e aumenta a
representatividade do setor.
SENAI e SEBRAE vêm desenvolvendo algumas atividades importantes para o
arranjo, instituindo diversos programas voltados para micro e pequenas empresas e
que auxiliam no desenvolvimento do APL, tais como: consultoria tecnológica e
educação profissional com vários cursos visando a capacitação profissional.
Por fim, a Universidade Presidente Antônio Carlos, cuja sede se localiza na
cidade de Barbacena-MG, possui um extensão em Muriaé e oferece o curso Técnico
em Moda e Vestuário.
Apesar da impossibilidade de se conseguir informações mais detalhadas junto
a algumas destas instituições, a partir da percepção dos empresários foi possível
tirar algumas conclusões preliminares a respeito da participação e das articulações
83
entre esses agentes que compõe o arranjo. De certa forma existe uma infra-
estrutura institucional montada para funcionar em prol do arranjo, contudo, as
articulações entre elas ainda são incipientes e ainda pode-se dizer que uma
escassez de ações por parte dessas instituições voltadas especificamente à
dinâmica do arranjo. Além disso, programas e projetos desenvolvidos por elas não
atingem grande parte das empresas.
A Prefeitura Municipal, por sua vez, limita-se a tentar promover ações
setoriais para os diversos segmentos, não dando a ênfase necessária que o setor
têxtil-vestuário necessita para o seu desenvolvimento sustentado.
Também não foram identificadas políticas dos governos estadual e federal
voltadas especificamente à atividade produtiva desse arranjo.
5.2 – Caracterização das empresas do APL
Com o intuito de obter um maior detalhamento a respeito das características
das indústrias de vestuário de Muriaé, principal atividade produtiva do arranjo, foi
realizado em 2005, o I Diagnóstico das Indústrias do Vestuário, pelo Instituto
Euvaldo Lodi IEL, onde foram pesquisadas 264 empresas formais e 199 informais
em Muriaé e cidades vizinhas.
O pólo do vestuário de Muriaé e Região (Laranjal, Recreio, Eugenópolis,
Patrocínio do Muriaé e Miraí) é formado por 700 empresas (formais e informais), que
geram 10.000 empregos (diretos e indiretos) (IEL,2005). De acordo com dados da
RAIS de 2003, existem na região 306 estabelecimentos da indústria de
confecções/vestuário, responsáveis pela geração de 2.717 empregos formais
diretos, na sua maioria confecção de roupas íntimas e infantis.
A indústria do vestuário representa 9% dos estabelecimentos e 14% do
emprego total do município de Muriaé e Região. Em relação à industria do vestuário
do Estado, o lo representa 6% dos estabelecimentos e 5% do emprego formal
(RAIS).
O universo da pesquisa, realizada em Muriaé e Região, é representado por
uma amostra de 264 empresas formais de micro, pequeno e dio porte no
segmento do vestuário. Neste diagnóstico, o número de estabelecimentos de porte
muito pequeno (informais), que são unidades produtivas domésticas (duas ou três
pessoas da mesma família, dedicadas à fabricação de produtos do vestuário), não
84
foram observados, apesar da sua relevância na região nas atividades de facção ou
subcontratação.
Informações obtidas sobre o perfil das empresas indicaram que a
predominância de micro empresas (até 19 empregados), sendo a maioria constituída
de capital próprio e baseada no trabalho familiar. As empresas classificadas como
médias e grandes praticamente não existem no local, respondendo por apenas
1,42% dos postos de trabalho gerados, conforme gráfico abaixo:
Gráfico 6: Porte das empresas (%)
Fonte: IEL (2005).
Percebe-se que, a economia do setor é formada quase que totalmente por
empresas consideradas micro e pequenas empresas no que se refere aos critérios
para identificar o tamanho das empresas.
O reflexo do porte das empresas pode ser verificado através do faturamento
bruto total anual, onde parcela significativa de empresas afirmou faturar até
R$50.000,00 brutos anuais em 2004:
Gráfico 7: Faturamento bruto total anual – 2004 (%)
82 ,55
1 6 ,0 4
1,4 2
0 50 1 00
M icro (a té 1 9
E m p re g a d o s )
P e q u e n a (de 2 0 a 9 9
E m p re ga d o s)
M éd ia (d e 100 a 49 9
E m p re gad o s)
85
Fonte: IEL (2005).
O produto mais fabricado pelo arranjo é a Lingerie Noite. Um dos fatores que
explica a vocação da cidade para essa linha de produtos foi a boa receptividade das
camisolas e pijamas pelos grandes mercados consumidores do país. De acordo com
relatos de confeccionistas, a lingerie noite fabricada pelo pólo consegue aliar a
tradição artesanal dos bordados com inovações em design e novos materiais, o que
torna o produto atrativo e diferenciado. O gráfico abaixo mostra os principais
produtos fabricados pelo arranjo:
Gráfico 8: Principais produtos fabricados pelo arranjo
Fonte: IEL (2005).
Lingerie noite 40,46%
Moda bebê 10,86%
Moda Infantil 11,51%
Moda Infato-juvenil 6,25%
Modinha 8,22%
Moda praia 0,99%
Fitnees 4,27%
Jeans 3,62%
Outros 13,82%
5 ,6 1
3 ,5 7
1 ,0 2
0 ,5 1
4 1 ,8 4
4 0 ,3 1
7 ,1 4
0 5 0 1 0 0
D e R $ 1 0 .0 0 1 ,0 0 a R $
5 0 .0 00 ,0 0
A té R $ 1 0 .0 0 0,0 0
D e R $ 5 0 .0 0 1 ,0 0 a R $
1 0 0 .0 00 ,0 0
D e R $ 1 0 0.0 0 1 ,0 0 a R $
2 0 0 .00 0 ,0 0
D e R $ 2 0 0.0 0 1 ,0 0 a R $
6 0 0 .0 00 ,0 0
D e R $ 6 0 0.0 0 1 ,0 0 a R $
1 .2 0 0.0 0 0 ,0 0
M aio r q u e R $ 5 .0 0 0 .0 0 1,0 0
86
Os principais tecidos utilizados pelas indústrias locais são a malha (37%) e o
algodão (25%).
No tocante ao destino das vendas dessas indústrias, a produção foi
preponderantemente vendida para dentro o próprio Estado. Outra boa parte da
produção foi direcionada ao Estado do Rio de Janeiro, segundo maior mercado
consumidor:
Gráfico 9: Destino da produção – Indicador *
* O indicador varia de 0 a 100.Valores acima de 50 pontos são considerados importantes.
Fonte: IEL (2005).
A participação no mercado internacional se mostrou interessante para as
empresas do APL (gráfico 10), que afirmaram que exportaram, exportam ou têm
interesse em exportar parte de sua produção. Apesar disso, não no arranjo até o
momento, um programa específico facilitar e fomentar exportações.
35,0 6
54,13
49,6 9
37,1 9
0 50 100
M inas G erais
R io d e Ja ne iro
Sã o P aulo
E spírito S an to
87
Gráfico 10: Participação das empresas no mercado internacional (%)
Fonte: IEL (2005).
Os projetos mais desenvolvidos pelas empresas do arranjo estão
direcionados para criação de novos produtos, utilizando estratégias de marketing,
uso de novos materiais, novos processos produtivos e design, conforme mostra o
gráfico abaixo:
Gráfico 11: Projetos desenvolvidos nos últimos dois anos (%)
Fonte: IEL (2005).
Foram coletadas informações a respeito de quais são as maiores dificuldades
encontradas pelas empresas do arranjo no que se refere ao desenvolvimento de
design e projetos (gráfico 12).
14 ,74
9,7 6
5,9 8
5,9 8
4,9 8
4,3 8
1,5 9
1 ,3 9
20 ,1 2
15 ,94
15 ,1 4
1 10 10 0
N o vos pro d uto s p a ra o m e rca d o
N o vos tecid o s
E strutu ra visu al d o p rodu to
M aq u in a ria/e q uipam en to
A caba m e n to
P ro ce sso prod utivo
A d e q uaçã o do p ro d u to a o m e rca d o
E m bala g e n s
N o vo s a ca b a m e nto s
O utro s
D u rab ilid a d e
6 ,2 3
3 7 ,4 5
3 3 ,9 2
1 3 ,5 7
0 5 0 1 0 0
In te re s s e e m p a r tic ip a r d e u m p r o je to d e
p r e p a r a çã o e p ro m o ç ã o c o m e rc ia l d e e x p o r ta ç ã o
(g ru p o s d e e x p o r ta ç ã o )
E m p re sa v e n d e p a ra o m e r c a d o in te r n a c io n a l
A e m p re s a a tu a liz a s o b r e o m e rc a d o in te r n a cio n a l
a tr a v é s d e c u rs o s , p a le s tra s , s e m in á rio s
A e m p re s a já v e n d e u p a ra o m e r c a d o
in te r n a c io n a l
88
Gráfico 12: Dificuldades encontradas no desenvolvimento do
design
/projetos (%)
Fonte: IEL (2005).
Ficou evidente que o baixo desempenho de seus recursos humanos, em
específico no que se refere à qualificação profissional, é uma dificuldade relevante e
ocasionada pela ausência de formação profissional específica. A cidade possui
poucos programas de treinamento e capacitação, que não são suficientes para
atender à demanda das empresas locais. A escassez de trabalhadores
especializados se mostrou mais evidente nas áreas de modelagem (17%), costura
(17%), corte (15%) e vendas (13%).
Ainda em relação aos recursos humanos, foi verificada a escolaridade dos
funcionários das confecções de vestuário. A pesquisa indicou que pouco menos da
metade dos funcionários possuem o ensino fundamental. Destes, 1,22% são
analfabetos, 21% têm ensino fundamental incompleto e 24,72% fundamental
completo (Gráfico 13). Segundo o IBGE, parte desses são os considerados como
analfabetos funcionais, ou seja, pessoas, que mesmo sabendo ler e escrever frases
simples, não possuem habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu
dia-a-dia na vida pessoal e profissional. 34,63% os empregados possuem o ensino
médio completo e 15.98% incompleto. O número de funcionários com curso de nível
superior completo apontados pela pesquisa foi de 1,05% do total.
11,03
6,41
35,59
25,98
20,64
0,00
50,00
100,00
Poucos
profissionais
disponíveis no
mercado
Pouca
capacitação
da
equipe de
desenvolvimento
Pouca
disponibilidade de
matérias-primas
alternativas
O
mercado
não é
receptivo
Outros
89
Gráfico 13: Grau de escolaridade dos funcionários das empresas (%)
Fonte: IEL (2005).
Em relação ao custo de mão-de-obra, apesar das queixas de muitos
empresários, em 2002 a remuneração média mensal paga aos trabalhadores das
confecções de vestuário em Muriaé foi, segundo dados da RAIS (2003), de
R$264,17, valor abaixo do médio de R$294,23 pago no estado de Minas Gerais, um
dos mais baixos do país, se comparado aos valores de R$361,75 e R$491,33 pagos
nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente.
Quanto à visitação e exposição em feiras setoriais, a pesquisa mostrou que a
participação das empresas do arranjo ainda é pouco freqüente (gráfico 14). Com
isso, as empresas perdem ótimas oportunidades de negócios, seja através do
contato com inovações e novidades do setor ou conquista de novos clientes e
fornecedores.
15,98
34,63
1,31
1,05
1,22
21,00
24,72
0,09
0 10 20 30 40
Analfabeto
Fundamental
Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
s Graduação
90
Gráfico 14: Participação em feiras setoriais – Indicador *
Fonte: IEL (2005).
*O indicador varia de 0 a 100.Valores acima de 50 pontos são considerados importantes.
5.3 - Percepção dos empresários e demais agentes envolvidos com o APL
quanto aos fatores críticos de sucesso.
A partir de um roteiro de entrevista semi-estruturada (vide Anexo 2),
elaborada seguindo o modelo proposto por Cândido (op. cit), pôde-se obter os
seguintes resultados quanto à percepção dos Fatores Críticos de Sucesso, objeto da
pesquisa. Para a viabilização desta etapa da pesquisa, os participantes foram
categorizados em 2 grupos distintos, conforme tabela a seguir.
Tabela 9: Classificação e quantidade de participantes na pesquisa
Classificação dos participantes Total de participantes %
1) Empresários, gerentes e técnicos ligados diretamente ao
conjunto de estratégias e operações das empresas
pesquisadas. 21*
70
2) Lideranças e técnicos ligados a instituições de apoio a
atividade empresarial na localidade. 9 30
Totais 30 100
* Sendo 14 empresas formais e 7 informais.
Fonte: Dados da Pesquisa
1 ,2 5
8 ,1 2
8 ,4 1
5 ,6 7
0 ,5 2
1 3 ,2 5
1 3 ,3 9
1 5 ,9 9
0 5 0 1 0 0
F e ir a s e m O u tro s E s ta do s
F e ir a s L o ca is
F e ir a s e m O u tra s C id a d e s
F e ir a s e m O u tro s P a ís e s
E m p re s a s V is ita nte s
E m p re s a s E x p o sito ra s
91
Os resultados para as 4 variáveis propostas no modelo de classificação
dos Fatores Críticos de Sucesso estão discriminadas abaixo:
a) Quanto a variável ambiente de negócios na localidade.
1) Características do setor econômico e possibilidades da criação de
agrupamentos na região
A maioria dos entrevistados (75,00%) não reconhece a existência de um clima
de identificação e afinidade entre os setores e atividades das empresas localizadas
na região antes da formação do agrupamento (vide tabela abaixo), por outro lado,
eles fizeram questão de mencionar a importância e a participação de instituições de
apoio no sentido de criar este clima a partir da promoção da integração entre os
atores atuantes no arranjo.
Tabela 10: Opinião dos respondentes quanto à existência de identificação e afinidade entre os
setores e atividades das empresas localizadas na região antes da formação do agrupamento
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
Existência anterior de identificação e afinidade entre os
setores e atividades das empresas localizadas na região
antes da formão do agrupamento.
10,00% 90,00%
30,00%
70,00%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005)
As respostas obtidas neste item o confirmadas pelas respostas fornecidas
no item seguinte, no qual era mencionado um conjunto de condições básicas iniciais
para o desenvolvimento de agrupamentos industriais entre PME's. Neste caso, a
maioria dos participantes dos 2 grupos respondeu que as condições listadas não
existiam antes da formação do agrupamento, ou seja, não existiam as condições
básicas prévias para o desenvolvimento de agrupamentos, conforme quadro abaixo:
92
Tabela 11: Opinião dos participantes quanto à existência de condições básicas prévias para o
desenvolvimento de agrupamentos industriais
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
1) A existência de concorrência e rivalidade saudável entre
as empresas. 23,80%
76,20%
44,55%
55,55%
2) Um clima favorável e estimulante para a prática e
manifestação do espírito empreendedor na região.
28,58%
71,42%
32,23% 77,77%
3) Mecanismos organizacionais direcionados para o
fortalecimento dos relacionamentos entre os diversos
agentes envolvidos.
0,00%
100,0%
43,44%
66,66%
4) Boa rede de comunicação e intercâmbio entre as
cidades onde estão localizadas as empresas participantes.
0,00%
100,0%
44,44%
55,66%
5) Uma cultura empresarial que valorize os laços e
relacionamentos sociais cooperativos.
42,86%
57,14%
11,12% 88,88%
6) Uma tradição de apoio familiar aos novos empresários. 19,05%
80,95%
32,23% 77,77%
7) A existência de sistemas institucionais(públicos e
privados) de apoio às atividades do agrupamento. 9,53%
90,47%
32,23% 77,77%
Fonte: Dados da pesquisa (2005).
2) Competitividade local
A totalidade dos entrevistados de ambos os grupos confirmou que, a
participação da sua empresa no agrupamento tornou-a mais competitiva na medida
em que a empresa melhorou os seus níveis de produtividade e os seus processos
de produção como decorrência da prática da inovação tecnológica e organizacional,
possibilitando a criação e participação de novas empresas no setor.
Quando perguntados, se o aumento da competitividade das empresas tinha
sido decorrência da existência de uma política de informação e conhecimento que
possibilitou troca de informações diversas entre as empresas, e entre elas, e com as
instituições regionais de apoio, a maioria dos respondentes (80%) afirmaram que
não há uma preocupação neste sentido.
3) Condições para a prática da cooperação e colaboração
A maioria dos participantes (93,33%) não concorda que sempre existiu um
clima favorável para a prática da cooperação entre as empresas que formam o
agrupamento. Quando indagados sobre os fatores que contribuíam para e existência
93
da falta de confiança, as respostas compreendem aos aspectos abordados na tabela
a seguir.
Tabela 12: Fatores e percentual das respostas quanto às causas das dificuldades para a
prática da cooperação entre as empresas locais
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
1) Falta de Confiança
90,47%
9,53%
77,77%
32,23%
2) Possibilidade de descumprimento dos parceiros diante
de compromissos assumidos
100,00%
0,00%
88,88% 11,12%
3) Falta debito de cooperação entre os empresários
locais
95,23%
4,77%
100,00% 0,00%
4) Temor e Aversão ao Risco 42,85%
57,15%
66,66% 33,44%
5) Medo da cooperação torná-los mais frágeis perante a
concorrência
80,95%
19,05%
55,55% 44,45%
6) Falta de visão estratégica
47,61%
52,39%
88,88% 11,12%
7) Falta de um órgão legal que fosse o gestor dos diversos
inter-relacionamentos entre as empresas locais
100,00%
0,00%
88,88% 11,12%
8) Falta de lealdade entre os parceiros 85,71%
14,29%
100,00% 0,00%
Fonte: Dados da pesquisa (2005)
Os participantes fizeram referência ao papel das instituições de apoio local no
sentido de convencer os empresários a superarem estas dificuldades através da
explicitação das vantagens e benefícios da prática da cooperação.
4) Infra-estrutura física
A totalidade dos participantes afirmou que existem as devidas condições de
infra-estrutura, sobretudo, relacionadas às condições: elétricas, hidráulicas,
sanitárias, eco-ambientais e de transportes.
5) Formas de comunicação
A grande maioria de ambos os grupos pesquisados alegou que nunca houve
formas mais sistemáticas de comunicação entre as empresas locais e entre elas e
as instituições locais e poder público municipal e regional (vide tabela 15).
94
Eles alegam que a comunicação ocorre de maneira informal e num certo clima
de desconfiança, principalmente entre as empresas que fabricam mesmas linhas de
produtos. Quanto à comunicação com o poder público foi enfatizado que, na maioria
das vezes estava relacionado a aspectos legais e jurídicos - sobretudo a cobrança
de tributos e a pedidos de patrocínios para eventos culturais e esportivos.
Tabela 13: Grau de concordância/discordância quanto às formas de comunicação
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
1) Comunicação entre as empresas do setor
9,53% 90,47%
32,23% 77,77%
2) Comunicação entre as empresas do setor e as
instituições locais e com o poder público.
4,77%
95,23% 33,34% 66,66%
Fonte: Dados da pesquisa (2005).
6) Participação de outras Empresas e Instituições de Apoio
Sobre a existência de um conjunto de fatores de apoio às atividades
empresariais na região, relacionadas principalmente ao acesso e disponibilidade de
informação, capacitação e treinamento para todos os níveis das empresas do setor
de confecção de vestuário, 90% dos respondentes afirmaram que tais condições
ainda são inexistentes no agrupamento com um todo.
7) Atual perfil das empresas do setor de vestuário da localidade
Neste item, os resultados apontam que:
57,14% das pessoas consultadas afirmam não ter a devida compreensão e
consciência de que a eficiência coletiva será obtida a partir da existência de
uma adequada divisão de trabalho, da proliferação de parceria e de
cooperação efetiva entre as empresas.
64,28% não acreditam que os participantes são efetivamente comprometidos
com os objetivos coletivos do agrupamento. Alguns mencionaram que não
acreditam no compromisso e envolvimento de alguns dos participantes, a
95
alegação é de que, ainda existem empresários céticos em relação ao
agrupamento, mesmo participando de projetos comuns.
Um número considerável de empresários alegou que o não envolvimento e a
falta de compromisso com os objetivos do aglomerado são ocasionados pela forte
concorrência entre as empresas de mesma linha de produtos, pela falta de
articulação entre empresas e instituições de apoio, e a falta de interesse e
investimento público para o setor.
Tabela 14: Grau de concordância/discordância quanto ao perfil das empresas da região
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
1) Consciência de que a eficiência coletiva será obtida a
partir da existência de uma adequada divisão de trabalho,
da proliferação de parcerias e de cooperação efetiva entre
as empresas.
19,05% 80,95%
66,66%
33,34%
2) Comprometimento dos participantes com os objetivos
coletivos do agrupamento.
4,77%
95,23% 66,66%
33,34%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005)
b) Quanto às variáveis políticas macroeconômicas
1) Estabilidade nas políticas macroeconômicas
A totalidade das pessoas consultadas aponta a necessidade de existência de
estabilidade nas políticas macroeconômicas, especificamente nos aspectos: sistema
tributário, mercado de trabalho, acesso e disponibilização de informações que
possibilitem melhores condições para otimizar capacidade e absorção da produção
pelo mercado.
Quanto às políticas governamentais postas em prática pelo poder público
(municipal, estadual e federal), 90% dos respondentes afirmam elas não dão a
devida importância para o segmento das Pequenas e Médias Empresas,
considerando efetivamente suas necessidades e seus problemas.
96
2) Planejamento e coordenação das ações das instituições locais de apoio ao
agrupamento
Todos as pessoas consultadas confirmaram a existência de uma efetiva
preocupação, por parte das instituições locais, quanto ao desenvolvimento de
programas para articular o planejamento e coordenação das ações das empresas
participantes do agrupamento, sendo ressaltado aspectos relacionados às novas
possibilidades de criação e/ou adaptação de novas tecnologias; políticas de
treinamento e capacitação; conscientização quanto a: ergonomia, higiene e
segurança do trabalho e aspectos ecológicos e ambientais.
Neste sentido, alguns participantes fizeram referência ao papel do
CONDESSC e do SEBRAE, como elo de ligação entre as instituições de apoio e as
empresas, funcionando ainda como um instrumento para viabilização das decisões
tomadas, através da disponibilização de espaço físico, recursos financeiros e
humanos.
3) Investimentos públicos de apoio
Os participantes foram unânimes em concordar com a afirmação de que, parte
dos investimentos públicos seja destinada à criação de infra-estrutura e na oferta de
melhores condições para atuação das instituições de apoio às atividades
empresariais, de forma a poder atender adequadamente às demandas específicas
de cada setor econômico e, em particular ao agrupamento existente.
4) Tipo de concorrência atualmente praticada no setor
Neste item, 70% dos entrevistados afirmaram que o tipo de concorrência e
rivalidade entre as empresas localizadas na região não pode ser considerado
saudável e de fácil convivência. Na opinião dos empresários a competição entre
empresas ainda é muito forte, mas que algumas ações têm contribuído para
aumentar a cooperação entre firmas, a partir da conscientização de que os
interesses e objetivos dos empresários do agrupamento são comuns.
97
5) Mecanismos para fortalecimento dos relacionamentos e interações
Todos os participantes consultados apontaram a existência de mecanismos
organizacionais que fortalecem os relacionamentos e interações entre os
empresários e entre estes com técnicos ligados a instituições de apoio local, sendo
feitas referências a:
Reuniões periódicas para discutir assuntos de interesse da coletividade;
Cursos de reciclagem e treinamento;
Viagens técnicas realizadas conjuntamente para conhecer formas de atuação
de empresas do mesmo e de diferentes setores em outras localidades e
regiões; participação em feiras e contatos com grandes varejistas do setor,
etc.
6) Forma de Participação do Poder Público
A totalidade dos participantes concorda que a participação do poder público no
agrupamento deva ser induzida pelos interesses do setor privado, sendo esta
participação mais indireta, ao invés de ser controlada pelo governo, ou seja, as
políticas governamentais devem ser voltadas para a criação de um ambiente em que
as empresas tornem-se capazes de ganhar vantagens competitivas, não se
envolvendo diretamente no processo.
7) Políticas direcionadas para o fortalecimento da capacitação tecnológica
Assim como no item anterior, todas as pessoas consultadas concordaram com
a afirmação de que as formulações das políticas precisam privilegiar articulações
entre setores industriais com os diversos agentes que possam participar e contribuir,
efetivamente para o alcance dos objetivos coletivos formulados, dando atenção
especial para o fortalecimento da capacitação tecnológica das empresas
participantes do agrupamento e das demais empresas localizadas na região,
potenciais participantes do agrupamento ou que possam vir a colaborar em
atividades específicas.
98
8) Políticas de difusão de tecnologias de informação e conhecimento
Houve unanimidade ao não reconhecer a existência de uma política
sistematizada de difusão de tecnologias de informação e conhecimento, apesar de
estarem satisfeitos com a oferta de informações disponibilizadas e que, a utilização
destas informações, de um modo geral, têm atendido as suas expectativas e
necessidades.
9) Integração das diferentes políticas de apoio
Neste item houve uma total divisão de opiniões. Todos os empresários
participantes do agrupamento consultados disseram não conhecer ou não estarem
informados sobre a integração de diferentes políticas (financeira, industrial, serviços,
de Ciência e Tecnologia, educacional, etc.) postas em prática pelo poder público e
instituições de apoio local. Por sua vez, a totalidade dos demais participantes
reconhece que existe esta integração.
10) Estratégias adequadas para o gerenciamento da informação
A quase totalidade dos participantes (90%) considera que as informações
mais adequadas e relevantes para os membros do aglomerado não são utilizadas de
forma que atenda às suas necessidades. O “Jornal das confecções“ - periódico
mensal distribuído pelo CONDESSC - foi citado como principal fonte de informação
no agrupamento.
c) Quanto a variável processo de formação
1) Condições básicas iniciais para o processo de formação
A maioria das respostas quanto a este item, aponta que as condições básicas
para dar início ao processo de formação de agrupamentos industriais propostas
devam ser necessariamente observadas. Estas condições envolvem determinados
fatores referentes à política macroeconômicas anteriormente questionadas. Neste
99
sentido, as respostas aqui obtidas confirmam as opiniões emitidas anteriormente,
com os seguintes percentuais de concordância/discordância, explicitadas na tabela
abaixo:
Tabela 15: Opinião dos respondentes quanto à observação de determinadas condições
iniciais necessárias para o processo de formação
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR: condições básicas a serem observadas no
processo de formação
SIM NÃO SIM NÃO
1) realizada a partir de ações planejadas por instituições
voltadas para a promoção do desenvolvimento regional. 100,00% 0,00%
100,00%
0,00%
2) pela identificação de áreas geográficas onde já existem
sinais de aglomeração de PME's em torno de um produto.
100,00%
0,00% 100,00%
0,00%
3) pelo estímulo ao surgimento e consolidação de
agrupamentos e, pela adoção de uma política adequada de
mapeamento da produção a ser observada na localidade
ou distribuição dos diversos serviços de apoio as PME's .
52,39%
47,61% 55,55%
44,45%
4) pela orientação dos investimentosblicos (aqueles
destinados ao estímulo à produção) para a infra-estrutura,
para melhoria na prestação dos serviços públicos, para
pesquisas e assistência técnica de forma a atender
demandas específicas das PME's.
57,14%
42,86% 66,66%
33,34%
5) pelo desenvolvimento de programas voltados para
articular o planejamento e coordenação das ações das
diversas instituições locais, regionais e nacionais que
ofereçam serviços diversos do tipo (desenvolvimento de
tecnologia, regulação, treinamento, controle de qualidade,
licenciamento, financiamento, segurança do trabalho,
controle ambiental, etc.).
100,00%
0,00% 100,00%
0,00%
Fonte: Dados da pesquisa (2005)
2) Participação dos diversos tipos de agentes envolvidos
A totalidade das pessoas consultadas não concorda que no processo de
criação, desenvolvimento e manutenção do agrupamento sempre existiu uma efetiva
participação e influência de outros agentes públicos e privados, além dos
empresários do setor de confecção de vestuário em Muriaé.
100
3) Vinculação a uma política de desenvolvimento regional
Neste item a totalidade das pessoas consultadas concorda que o processo de
formação e desenvolvimento dos agrupamentos industriais deve estar vinculada a
uma política de desenvolvimento regional que envolva diretamente apoio às PME's,
atentando para as possibilidades do agrupamento a ser criado e os benefícios
decorrentes da sua criação.
4) Possibilidade e/ou prática de atividades conjuntas
A partir das respostas obtidas pode-se perceber que apesar da existência do
agrupamento e de práticas de produção compartilhada, a maioria das possibilidades
e/ou práticas de funções administrativas sugeridas, apontam no sentido da não
existência ou ações ainda muito incipientes neste sentido. Pode-se perceber, um
certo nível de discrepância e similaridade nas repostas obtidas quanto às atividades
sugeridas na pesquisa entre os empresários pesquisados e de representantes das
instituições de apoio local, conforme quadro abaixo:
Tabela 16:Grau de concordância quanto a práticas conjuntas de marketing
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
ATIVIDADES
SIM NÃO SIM NÃO
1) Políticas de marketing conjuntas
0,00% 100,00%
33,33%
66,67%
2) Pesquisa de mercado
0,00%
100,00% 33,33%
66,67%
3) Avaliação de necessidades comuns 0,00%
100,00% 44,45%
55,55%
4) Criação de marca conjunta
0,00%
100,00% 0,00%
100,00%
5) Serviços de exportação 4,77%
95,23% 100,00%
0,00%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005).
Percebe-se a quase inexistência de práticas conjuntas de marketing entre os
atores do aglomerado. Nos itens que afirmam a existência de tais práticas, elas
mostraram-se incipientes e incapazes de chegar até as empresas.
101
Tabela 17:Grau de concordância quanto a práticas conjuntas de treinamento
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
ATIVIDADES
SIM NÃO SIM NÃO
Reciclagem e Treinamento em habilidades especializados
tecnológicas e organizacionais 0,00% 100,00%
100,00% 0,00%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005).
Neste item percebe-se uma divergência de opiniões. Enquanto os
empresários afirmaram não realizar práticas conjuntas de treinamento, pôde-se
perceber uma grande preocupação dos diversos agentes envolvidos quanto à
necessidade da capacitação e treinamento, alegando que esta sempre foi uma
preocupação das suas instituições.
Quanto à utilização conjunta de recursos e Pesquisa & Desenvolvimento, as
diversas atividades citadas nestes itens, existe um consenso entre os diversos
participantes da pesquisa de que as práticas sugeridas não são postas em prática
pelo conjunto das empresas participantes do agrupamento.
O tipo de atividade que os participantes mais citaram que poderiam ser
realizadas de forma associada e cooperativa com outras empresas foram as áreas
de estilismo, modelagem e design.
5) Familiarização com os conceitos e vantagens da nova forma de atuação das
empresas
A maioria das pessoas consultadas (70%) negou que sempre existiu uma
preocupação por parte dos responsáveis pela criação e desenvolvimento do
agrupamento em conscientizar os possíveis participantes quanto às vantagens e
benefícios decorrentes de uma nova forma de atuação da empresas baseada na
cooperação e compartilhamento nas diversas fases da cadeia produtiva do setor.
Quando mencionado o que foi feito para viabilizar esta conscientização, foram
citados:
reuniões com os empresários para informar sobre a realização de projetos, no
qual era reforçada a necessidade de uma nova forma de atuação;
102
realização de palestras com consultores e cnicos ligados ao poder público e
instituições de apoio, no qual eram citadas diversas outras experiências neste
sentido e possibilidades reais de aplicação na região;
viagens para conhecer outros setores e empresas que estavam ou tinham
interesse em atuar aplicando as práticas da nova forma de atuação
empresarial.
6) Compromisso e envolvimento dos participantes
Para a totalidade dos respondentes, os participantes não são efetivamente
envolvidos e comprometidos com os objetivos coletivos do aglomerado, os quais
podem ser percebidos pela expressão dos objetivos comuns de forma explícita e de
relacionamentos voluntários e constantes. A forte competição entre as empresas do
aglomerado foi colocada como razão principal para que os participantes não sejam
devidamente comprometidos e envolvidos com os objetivos coletivos.
7) Existência de diversos líderes nos diversos níveis do agrupamento
A totalidade das pessoas consultadas concorda que a participação efetiva de
algumas pessoas nas diversas atividades (formulação de estratégias, mecanismos
de coordenação e controle, treinamento, busca de novos participantes, etc.) foram
fundamentais para o processo de criação e consolidação do agrupamento e, que
estas pessoas têm e exercem uma grande influência e representatividade para os
demais agentes envolvidos. As maiores referências citadas como verdadeiras
lideranças dentro e para o agrupamento foram o presidente da Delegacia Regional
do SINDIVEST – Muriaé e o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura
Municipal de Muriaé, os quais expressam representatividade perante os demais
membros do aglomerado.
103
8) Desenho das fronteiras organizacionais
A maioria das pessoas consultadas (51,59%) discorda que, as diversas formas
de interligações e interações existentes no agrupamento são perceptíveis e que, isto
foi de importância fundamental para o desenvolvimento do agrupamento. Apesar de
existir um certo nível de desalinhamento entre as percepções dos empresários e dos
demais participantes (vide Tabela 18). Estas respostas foram obtidas depois de ter
sido explicado para eles que, o agrupamento estava inserido num sistema
econômico mais amplo e que precisavam manter relações cada vez mais freqüentes
e intensas, sendo necessário para isso um adequado desenho das fronteiras
organizacionais, definindo as diversas formas de inter-relações e interações entre os
diversos participantes (empresas co-participantes, empresas complementares,
instituições públicas e privadas de apoio, etc.).
Tabela 18: Opinião dos participantes quanto ao fator desenho das fronteiras
organizacionais
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
As diversas formas de interligações e interações
existentes no agrupamento são perceptíveis.
19,05% 80,95%
77,77% 22,23%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005).
9) Estratégias mais adequadas para o gerenciamento da informação
A totalidade dos participantes discorda que existe uma estratégia adequada
para o gerenciamento da informação, não oferecendo, assim, as devidas condições
de acesso e disponibilidade de informações que sejam de efetiva utilidade para as
empresas participantes do agrupamento.
104
d) Quanto às variáveis relacionadas a aspectos antropológicos e sócio-
culturais
1) Nível de atividade comunitária e história comum entre as pessoas e
instituições locais
Pode-se perceber que na localidade onde o agrupamento foi criado existe um
sistema social no qual as relações podem ser consideradas estáveis e amistosas a
partir da existência de um alto nível de identificação étnica, histórica, religiosa, de
preferência política, etc., isto pode ser evidenciado pelos aspectos:
a grande maioria dos empresários participantes do agrupamento é natural da
região de Muriaé-MG;
não existem maiores diferenças entre as empresas participantes em termos
de tamanho, faturamento, recursos utilizados, perfil dos empregados, etc.;
os valores sociais considerados e praticados pela comunidade são
relativamente parecidos, tendo este aspecto papel relevante para a
existência de relações amigáveis e estáveis entre a população local e as
poucas divergências existentes não têm nenhuma influência para o convívio
social entre a população local.
Isto foi confirmado pelas diversas pessoas entrevistadas que, além disso,
reforçaram que essas características da sociedade local são fundamentais para o
desenvolvimento do agrupamento.
2) Políticas relacionadas à socialização e conscientização dos diversos
agentes participantes do agrupamento
A grande maioria dos entrevistados (78,80%), quando mencionado se
iniciativas anteriores tinham sido tomadas no sentido da adoção de práticas e
estratégias empresariais conjuntas de forma articulada e cooperada entre os
empresários locais, discorda ou disseram desconhecer qualquer iniciativa neste
sentido (vide quadro abaixo).
105
Tabela 19: Opinião dos participantes quanto ás políticas relacionadas à socialização e
conscientização dos diversos agentes envolvidos com o agrupamento.
GRAU DE CONCORDÂNCIA /
DISCORDÂNCIA
EMPRESÁRIOS DEMAIS
PARTICIPANTES
FATOR
SIM NÃO SIM NÃO
Iniciativas anteriores, no sentido da adoção de práticas e
estratégias conjuntas de forma articulada e cooperada
entre as empresas do setor na localidade 9,53% 90,95%
33,34%
66,66%
Fonte: Dados da Pesquisa (2005).
Eles também discordam que ocorreu algum tipo de promoção no sentido de
realçar aspectos relacionados à socialização e conscientização dos empresários
locais, incluindo noções de responsabilidade, compromisso, participação e
consciência coletiva.
3) Difusão de uma cultura relacionada a formas para a obtenção da eficiência
coletiva
A totalidade dos entrevistados concorda que a sustentabilidade e solidez do
agrupamento depende fundamentalmente dos níveis e formas de entrosamento,
coesão e cooperação entre os diversos participantes do agrupamento, além da
convergência de interesses e das relações de confiança direcionadas para ação
coletiva.
4) Condições antropológicas e sócio-culturais básicas
Partindo do princípio da existência de um ambiente propício para a prática da
cooperação e colaboração entre as empresas participantes do agrupamento e, da
existência de objetivos e propósitos únicos entre as empresas, o poder público e as
instituições de apoio local as atividades empresariais na região. Foi solicitada aos
respondentes que confirmassem (ou não) a existência de um conjunto de condições
básicas iniciais consideradas de extrema importância para o sucesso dos
agrupamentos. A totalidade dos entrevistados confirmou a existência e práticas das
condições básicas citadas, quais sejam:
106
indivíduos que comunguem dos mesmos ideais ou de um passado comum
apresentam maiores chances de formar uma comunidade em relação aos
que, do contrário, tem origens e objetivos diferentes na vida;
uma política de formação de agrupamentos deve, antes de tudo, cuidar dos
aspectos de socialização e consciência de cidadania dos seus membros.
Nesse conceito, incluem-se noções de responsabilidade, compromisso,
participação e consciência coletiva;
deve-se primar por trabalhar o coletivo, estimulando a reunião dos membros,
criando oportunidade para que os mesmos se encontrem e discutam
problemas comuns, para que juntos encontrem e encaminhem as soluções
coletivas;
recomenda-se que as políticas voltadas para a promoção do agrupamento
invistam, preferencialmente, em grupos que já apresentem alguma coesão.
Boa parte dos entrevistados mencionou a existência de uma preocupação
constante com as condições básicas citadas como imprescindíveis para a
manutenção das atuais condições do agrupamento, assim como para a sua
continuidade e desenvolvimento.
5.4 - Observações e percepções do pesquisador acerca da estrutura e formas
de funcionamento das empresas pertencentes ao agrupamento.
1) A pequena e média indústria de confecção de vestuário possui uma estrutura
tipicamente familiar, na qual os proprietários compartilham os bens da família com
os da empresa. Os administradores dessas empresas normalmente são os
proprietários e os demais membros da família executam atividades de apoio no
funcionamento da mesma;
2) Apesar da supremacia da linha Lingerie Noite as empresas participantes do
agrupamento não envolvem todos os processos e serviços para criar a
confluência para este tipo específico de produto;
3) O agrupamento foi criado baseado na proximidade geográfica entre as
empresas e as instituições de locais de apoio às produções e ao desenvolvimento
107
local. No entanto, os empresários parecem ainda não estarem devidamente
esclarecidos acerca do seu papel e importância para a geração da
competitividade local e desenvolvimento regional. A percepção dos empresários
está muito mais direcionada a estratégia de sobrevivência e desenvolvimento, a
partir da maior lucratividade dos seus negócios;
4) A cooperação não pode ser considerada como sendo uma prática constante
entre as empresas dentro da cadeia produtiva de vestuário, pois, a grande maioria
dos pesquisados afirmou não exercer atividades cooperadas com outros
participantes do aglomerado;
5) Os empresários participantes do agrupamento, de um modo geral, não têm os
atributos necessários para o formato e a atuação em redes, qual seja, um
empresariado dinâmico, inovador, empreendedor, qualificado e devidamente
convencido/comprometido com a necessidade da atuação em redes. As principais
qualificações são basicamente a sua grande capacidade de trabalho e seu alto
nível de conhecimento sobre as diversas etapas do processo de produção, o qual
permite, inclusive a criação de inovações do tipo incremental;
6) A força de trabalho, de um modo geral, não é devidamente treinada, capacitada
e com grande capacidade de adaptação, o que pode comprometer a
competitividade dos produtos e das empresas da região, apesar de estarem
sendo tomadas medidas para tentar solucionar estes problemas;
7) Não existe um clima voluntário de confiança e colaboração entre as empresas.
A confiança e colaboração entre os agentes produtivos da região ocorrem muito
mais por relações de amizade, parentesco, do que por uma estratégia pré-
concebida e com objetivos bem definidos e devidamente incorporados;
8) As empresas do agrupamento são responsáveis por todas as etapas de seus
processos produtivos, não havendo complementaridade e especialização
produtivas. Esta característica acaba por fortalecer a rivalidade entre firmas,
limitando práticas cooperativas e a eficiência coletiva;
108
9) O principal capital das pequenas e médias indústrias de confecção de vestuário
é a mão-de-obra, sendo esta considerada bastante intensiva. Como a mão-de-
obra representa o principal elemento para transformação da matéria-prima em
produto acabado, a pequena e média indústria confeccionista absorve elevada
quantidade de pessoas da região na qual está instalada, diminuindo com isso o
êxodo e estimulando a circulação de capital na própria cidade onde a empresa
está inserida. Por outro lado, a falta de mão-de-obra especializada foi apontada
por empresários e demais participantes como o problema mais emergente para o
desenvolvimento do agrupamento;
10) A mão-de-obra local possui uma antiga tradição de conhecimento e
qualificação no processo de produção, mas carece de treinamento em recursos
modernos com o sistema CAD/CAM e outros conceitos modernos de produção de
vestuário;
11) A carência de infra-estrutura educacional adequada e de mão-de-obra
qualificada e devidamente treinada em todas as empresas participantes da cadeia
produtiva, o que contribui para o baixo nível de eficiência dos processos
industriais;
12) O capital financeiro, regularmente, não se apresenta em grande volume, o
que reflete no pouco investimento em tecnologias e equipamentos sofisticados ou
de ponta. Daí a queixa de vários empresários quanto à falta de programas de
financiamentos específicos para o setor, com condições compatíveis à realidade
das empresas locais;
13) A busca pela competitividade ocorre a partir da perseguição incessante de
redução de custos no processo produtivo, na abundância de matéria-prima
disponível e mão-de-obra barata existente no agrupamento, quando comparada a
outras regiões do país;
109
6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O objetivo deste trabalho de dissertação foi o de analisar a indústria de
vestuário enfocando o APL de Muriaé MG e verificar se o pólo reúne condições
ideais para o bom desempenho perante os fatores críticos de sucesso levantados
pela literatura pertinente.
Com o acirramento da concorrência internacional no setor de vestuário, pôde-
se verificar a necessidade emergente de pensar estratégias para aumentar a
competitividade das empresas locais frente aos tradicionais produtores
internacionais, e, principalmente, em relação aos produtores asiáticos, que têm
conseguido parcelas significativas de mercado através de sua capacidade de
produzir a custos baixos, produtos que dependem de o-de-obra intensiva como é
o caso do vestuário.
A partir de um levantamento de dados e da pesquisa de campo foi possível
verificar a necessidade urgente de buscar a eficiência coletiva. Embora constatado
que existem condições favoráveis para as empresas exercerem suas atividades
isoladamente, para a formação de um Arranjo produtivo Local tais condições são
insuficientes.
Puderam ser verificados problemas em relação à falta de capacitação de
mão-de-obra e dificuldades na obtenção de crédito, levando as empresas a
financiarem com capital próprio os investimentos necessários ao aprimoramento do
processo produtivo.
A predominância do Lingerie Noite como produto mais fabricado pelo pólo,
pode facilitar a especialização e complementaridade entre os processos de
fabricação, tornando-se assim um fator agregador. Já a forte competição entre
empresas foi verificada como entrave à colaboração e às ações conjuntas.
As relações dos agentes envolvidos com as empresas locais ainda são
incipientes. Atribuí-se esta dificuldade ao grau de heterogeneidade das empresas
do setor, sobretudo à grande diversidade de nichos de mercado que ele atende e
das estratégias desenvolvidas pelas empresas para atender demandas muito
diferenciadas.
O aspecto local no caso estudado é fundamental, pois, devido à específica
concentração geográfica, verificada neste arranjo, a atividade confeccionista tem sua
110
viabilidade econômica enraizada em ativos históricos – diferenciação por associação
de bordados - incluindo práticas e relações específicas da localidade, que não estão
disponíveis e não podem ser facilmente criadas ou imitadas em outros lugares.
A competitividade das MPE’s locais está baseada, principalmente, no baixo
custo da mão-de-obra - um dos menores do país - que atividade de confecção de
vestuário é intensiva neste recurso. Embora seja possível inferir que essa baixa
remuneração acabe por desestimular a busca voluntária dos trabalhadores por
cursos de capacitação, uma vez que a oferta de tais cursos na cidade é precária.
Conclui-se que sem um maior envolvimento entre empresários e instituições
locais, no sentido de criar vínculos capazes de promover a eficiência coletiva do
arranjo, as perspectivas futuras não são nada animadoras. A estratégia individualista
de sobrevivência, adotada por muitas empresas locais, pode ser o caminho mais
curto para a sua destruição.
É expectativa do autor que além de atender as formalidades acadêmicas, este
estudo contribua para maiores reflexões a respeito das políticas de desenvolvimento
local sustentável promovidas por instituições de fomento ao desenvolvimento, quer
sejam públicas e/ou privadas.
Como recomendações, seguem as possíveis ações específicas:
direcionar esforços de instituições públicas e privadas de capacitação, no sentido
de criar capacidades gerenciais, administrativas e tecnológicas, visando formar
uma mentalidade empreendedora, de associação e de liderança, inovações na
organização da produção, em design, na logística, inovações de produtos e
processos, apoio nas estratégias de mercado, de comercialização, de marketing e
publicidade. É necessário, portanto, que se desenvolvam mais inovações
organizacionais nas empresas para que estas possam contribuir de melhor forma
na dinâmica do APL;
a ausência de cooperação horizontal entre os atores deve ser a questão central a
ser sanada, devendo ser estimuladas ações orientadas para a solução de
problemas;
o sindicato patronal local (SINDIVEST), dada sua representatividade, pode
desempenhar um papel chave no estabelecimento dessa rede de cooperação,
podendo, inclusive, funcionar como elemento de coordenação;
111
é necessário que se aprofunde o processo de especialização e subcontratação
entre empresas. Este seria o resultado direto do aumento da cooperação
horizontal;
a distância dos fornecedores de matérias-primas e de equipamentos dificilmente
será solucionada através da instalação deles na região. Uma forma de contornar
tal problema seria a compra conjunta de insumos, através da criação de uma
central de compras;
faz-se necessária uma definição clara do mercado alvo das empresas do arranjo
produtivo local visando a uma progressão para os mercados regionais, o nacional
e algumas franjas do mercado internacional, como a América Latina;
orientar e estimular o uso dos diversos meios de divulgação dos produtos do APL,
pois se comprovou que as MPE’s desse APL não possuem uma estratégia ativa
de divulgação do seu produto e isto deve ser feito tanto pelas empresas,
individualmente, mas, sobretudo, em cooperação, para que o APL extrapole suas
fronteiras. E não somente para isso, mas para que as MPE’s possam estar
atualizadas quanto ao que acontece no seu segmento em todas as partes do
mundo;
no que se refere às MPE’s informais, dado o grande número desse tipo de
empresa, é imprescindível que o governo incentive e dê subsídios para que
possam se formalizar, através, por exemplo, da diminuição dos encargos dessa
mudança. Isso é necessário, pois as MPE’s informais geram empregos na região,
porém isto não promove um desenvolvimento local sustentável;
por fim, a questão da qualificação da força de trabalho, considerada inadequada,
deve ser enfrentada. Esforços devem ser feitos no sentido da criação de cursos
regulares na área de vestuário, tanto no nível profissionalizante, técnico quanto no
nível superior.
112
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A N E X O S
1) Fatores Críticos de Sucesso no Processo de Formação, Desenvolvimento e
Manutenção de Redes Interempresariais entre Pequenas e Médias Empresas
com Foco no Ambiente de Negócios; Políticas Macro e Microeconômicas;
Processo de Formação e Aspectos Sócio-Culturais
1.1 - Fatores Críticos de Sucesso no Processo de Formação, Desenvolvimento
e Manutenção de Redes Interempresariais entre Pequenas e dias Empresas
com foco no Ambiente de Negócios
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A existência de condições para a competitividade, a
partir da capacidade das empresas inovar e melhorar,
baseada em situações de pressões e desafios,
envolvendo novas tecnologias e novas maneiras de
fazer as coisas, além da existência de concorrentes
locais poderosos, base de fornecedores agressivos e
clientes locais exigentes.
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999) Goodman &
Barnford (1989), Zeitlin (1989),
Pyke, Becattini e Sengenberger
(1990), Garolofi (1992), Becattini
(1992), Brusco (1982)
Coyne & Dye (1998)
A existência de uma estratégia adequada de
gerenciamento da informação, a qual ofereça as
devidas condições de acesso e disponibilidade de
informações que sejam de efetiva utilidade para às
empresas participantes.
Ambiente de
Negócios
Casarotto & Pires (1999), Lastres
& Ferraz (1999),
Roverre (1999),
Lemos (1995), Lipnack &
Stamps
(1994), Coccossis (1991)
A existência de múltiplos canais e formas diversas de
comunicação entre os participantes(internos/externos,
público/privados), partindo do princípio de que esta
forma de atuação empresarial se desenvolve através
de comunicações e interações múltiplas, bem torno de
interesses e necessidades comuns e nos
relacionamentos entre os diversos participantes
Ambiente de
Negócios
Ernst (1994), Roverre (1999),
Lemos (1995), Lastres & Ferraz
(1999), Lipnack & Stamps
(1994), Achrol & Kotler (1999)
A existência de um ambiente propício para á pratica da
inovação, baseada na cooperação e colaboração
interorganizacional, partindo do princípio de que às
empresas participantes dependem umas das outras
para poderem pôr em prática o conjunto das suas
operações e suas ações estratégicas individuais e
coletivas
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999), Humphery &
Schimitz (1997), Lipnack &
Stamps (1994), Coccossis
(1991), Casarotto & Pires (1998),
Bianchi (1997)
Que às instituições e/ou pessoas responsáveis pelo
processo tenham conhecimento adequado do perfil das
empresas localizadas na rego, tanto individual quanto
coletivamente no que refere-se ao conjunto de
operações, a lógica inter-relacional e do contexto
ambiental.
Ambiente de
Negócios
Pyke (1992), Amorim (1998),
Pereira (1998),
Casarotto & Pires
(1999),
Becattini (1992), Brusco
(1982), Bianchi (1997)
Existência de boas condições de infra-estrutura
físicas(elétricas, hidráulicas, sanitárias e ambientais);
de comunicação e informão e, de transportes que
atendam as necessidades das empresas participantes
do agrupamento.
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999), Coccossis
(1991), Pyke, Becattini e
Sengenberger (1990), Bianchi
(1997)
Existência de um ambiente propício para a prática da
cooperação e colaboração entre as empresas
participantes do agrupamento baseados em objetivos
comuns entre: empresas, o poder público e às
instituições de apoio às atividades empresariais na
região
Ambiente de
Negócios
Tendler & Amorim (1995),
Humprey & Schimiz (1995),
Lipnack & Stamps (1994)),
Becattini (1992), Bianchi (1997),
Brusco(1982)
117
Continuação da tabela anterior.
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A identificação de vocação econômica da região para o
desenvolvimento de atividades no setor da economia
no qual será criado o agrupamento
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999),
Pyke
(1995),
Barquero (1993),
Casarotto & Pires (1999)
Os diversos agentes envolvidos no processo de
formão e implementação precisam adotar um
postura pró-ativa em relação as mudanças no seu
ambiente geral
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999)
Participação de fornecedores especializados,
fabricantes de produtos complementares, prestadores
de serviços especializados, envolvimento de
instituições públicas e privadas(universidades, centros
de pesquisa, associações comerciais e industriais,
órgãos de normatização, etc)
Ambiente de
Negócios
Porter (1989, 1999)
Casarotto & Pires (1999),
Humphery & Schimitz (1997),
Goodman & Barnford
(1989),Zeitlin (1989), Pyke,
Becattini e Sengenberger (1990),
Garofoldi (1992)
A existência de uma boa rede de comunicação entre as
cidades onde poderão estar instalados os
agrupamentos
Ambiente de
Negócios
Bagnaso &
Sabel (1995),
Barquero (1993),
Pyke &
Sengenberg (1991)
1.2 - Fatores Críticos de Sucesso no Processo de Formação, Desenvolvimento
e Manutenção de Redes Interempresariais entre Pequenas e Médias Empresas
com foco nas Políticas Macro e Microeconômicas
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A existência de estabilidade nas políticas
macroeconômicas do tipo(estrutura do sistema
tributário, condições do mercado de trabalho, normas
sobre a propriedade intelectual, conhecimentos
acerca da capacidade da absorção e utilização da
capacidade de produção, etc.) que ofereçam as
devidas condições para novos investimentos.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1999), Passos (1999),
Humprhey & Schimitz (1997),
Putnan (1996), Pyke &
Sengenberger (1990), Humphery
(1995), Barquero (1993)
O desenvolvimento de programas voltados para
articular o planejamento e coordenação das ações
das instituições locais do tipo: desenvolvimento de
novas tecnologias, regulação, treinamento, controle
de qualidade, licenciamento, financiamento,
segurança do trabalho, controle ambiental, etc.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1989, 1999) Humprhey &
Schimitz (1997) Schimitz (1995)
Pereira (1998)
Que as empresas ao participarem do agrupamento
sejam independentes, ou seja, as empresas ao
atuarem em rede, não significa que elas tenham de
abrir mão da sua autonomia, implicando que às
empresas podem cooperar e competir, ao mesmo
tempo.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1999), Lipnack & Stamps
(1994),
Humprhey & Schimitz (1997),
Schimitz (1995)
Que os investimentos públicos destinados ao
estímulo à produção sejam orientados para a criação
de infra-estrutura para a melhoria na prestação de
serviços públicos que atendam as demandas
específicas das PME's
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Roverre (1999), Lemos (1995),
Lastres & Ferraz (1999), Lipnack
& Stamps (1994), Pereira (1998),
Casarotto & Pires (1999),
Winter
(1995)
A existência de formas de concorrência e rivalidade
saudável entre às empresas localizadas na região e
entre as participantes do agrupamento
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1989, 1999) Goodman &
Barnford (1989), Zeitlin (1989),
Pyke, Becattini e Sengenberger
(1990), Garofoldi (1992)
118
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A existência de mecanismos organizacionais
direcionados para o fortalecimento dos
relacionamentos e interações entre os diversos
agentes direta e indiretamente envolvidos com o
conjunto das empresas da região
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Pyke (1992), Amorim (1998),
Pereira (1998), Casarotto & Pires
(1999), Humprhey & Schimitz
(1997)
A existência de uma efetiva capacidade mobilizadora
dos agentes e das instituições públicas e privadas,
especialmente as de cunho local e micro-regional.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Tendler & Amorim (1995),
Porter(1989, 1999), Pyke (1992),
Casarotto & Pires (1999).
O processo de formão e desenvolvimento dos
agrupamentos industriais deve estar vinculada a uma
política de desenvolvimento regional que envolva
diretamente apoio às PME's, atentando para as
potencialidades do agrupamento a ser criado e os
benefícios decorrentes da sua criação
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Tendler & Amorim (1995),
Humprey & Schimiz (1995),
Lipnack & Stamps (1994), Pyke
(1992), Casarotto & Pires (1999),
Identificação de áreas geográficas onde existam
sinais de um conjunto de empresas, atuando num
mesmo setor econômico e em torno de um
produto/serviço.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1989, 1999)
Casarotto & Pires (1999),
Humphery & Schimitz (1997)
A participação do poder público deve ser induzido
pelos interesses do setor privado, sendo esta
participação mais indireta, ao invés de ser controlada
pelo governo, ou seja, as políticas governamentais
devem ser voltadas para a criação de um ambiente
em que as empresas tornem-se capazes de ganhar
vantagem competitiva, não se envolvendo
diretamente no processo
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Pereira (1998), Brusco (1982),
Porter (1989, 1999), Robertson &
Langlois (1995) apud Lastres,
Cassiolato, Lemos, Maldonado,
Vargas (1999),
Rabellotti (1995),
Pyke & Sengenberger (1991)
As formulações das políticas devem privilegiar
conjuntos de indústrias e setores em articulação com
outros agentes que contribuam para o fortalecimento
a capacitação tecnológica das empresas
participantes do agrupamento e as demais
localizadas na região.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Lemos(1995, 1999), Lastres &
Ferraz(1999), Passos(1999),
Rabellotti (1995), Pyke &
Sengenberger (1991)
A existência de uma política de difusão de
tecnologias de informação e conhecimentos(TI's)
para às empresas participantes do agrupamento.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Lastres & Ferraz (1999), Rovere
(1999)
A integração de diferentes políticas(financeira,
industrial, serviços, de C & T, educacional, etc)
postas em prática pelo poder público e instituições
privadas.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Lastres & Ferraz (1999), Passos
(1999), Pereira (1998), Brusco
(1982), Rabellotti (1995), Pyke &
Sengenberger (1991)
Desenvolvimento de atividades de apoio à formão
de ambientes capazes de estimular a geração,
aquisição e difusão de conhecimentos; que
estimulem empresas grupos sociais e países a
investirem na capacitação de seus recursos
humanos, mobilizarem a habilidade de aprender e
incentivarem suas capacidades inovativas.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter (1999), Lastres & Ferraz
(1999), Lemos (1999) Rovere
(1999), Lipnack & Stamps (1994),
Humprhey & Schmitiz (1997,
1995), Pyke & Sengenberger
(1991)
Desenvolvimento de modelos e sistemas visando à
maior interação intra e entre os diversos agentes
econômicos, técnico-científicos, políticos e
reguladores existentes na região.
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Porter(1999), Pyke (1995),
Humprhey & Schmitiz (1997,
1995), Casarotto & Pires (1999),
Lastres & Ferraz (1999), Lemos
(1999),
Cassiolato & Lastres (1999)
A adoção de uma estratégia de apoio às empresas
da localidade que possibilite a troca de informações
sobre mercados, tecnologias alternativas, novos
insumos, novas técnicas mercadológicas e de
gerência financeira de modo eficiente
Políticas
Macro e Micro-
econômicas
Bagnasco & Sabel (1995),
Lastres & Ferraz(1999),
Cassiolato (1999), Lemos
(1995,1999), Rovere (1999)
Cassiolato & Lastres(1999)
119
1.3 - Fatores Críticos de Sucesso no Processo de Formação, Desenvolvimento
e Manutenção de Redes Interempresariais entre Pequenas e Médias Empresas
com foco no Processo de Formação
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
O processo de formão deve ser focado em setores
e atividades para as quais as localidades e regiões
contem com algumas experiências anterior de
prática de cooperação e colaboração
interorganizacional ou demostrem algum potencial
ou afinidade para tanto
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994), Tendler
& Amorim (1995), Humprhey &
Schimitz (1995), Goodman &
Barnford (1989), Zeitlin (1989),
Pyke, Becattini e Sengenberger
(1990), Garofoldi (1992)
Os agentes envolvidos com o processo, precisam ter
uma visão compartilhada da competitividade e do
papel dos agrupamentos na obtenção de uma
vantagem competitiva
Processo de
Formão
Porter (1999), Hill (1992),
Boswoth & Rosenfeld (1993)
O processo precisa ser focado na remoção dos
obstáculos e atenuação das restrições e limitações
do agrupamento
Processo de
Formão
Porter (1999), Hill (1992),
Boswoth & Rosenfeld (1993)
A existência de um adequado desenho das fronteiras
organizacionais, incluindo os diversos elos na cadeia
na cadeia produtiva
Processo de
Formão
Porter(1999), Nadler &
Tushman(1994), Gerstein(1994)
Familiarizar os componentes efetivos e potenciais do
agrupamento com os conceitos, importância, e
vantagens de atuar de forma conjunta e
compartilhada com outras empresas, para superar
determinadas carências e dificuldades
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994), Pyke
(1995), Hill (1992)
A necessidade de que os participantes envolvidos
direta e indiretamente tenham seus objetivos
expressos explicitamente, a partir da existência de
objetivos comuns
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994), Hill
(1992), Boswoth & Rosenfeld
(1993), Humprhey & Schimitz
(1995)
Que as diversas formas de interligações e interações
entre os diversos componentes do agrupamento
sejam realizados através de relacionamentos
voluntários e constantes
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994),
A existência de líderes nos diversos veis do
agrupamento, assumindo compromissos e atuando
como um referencial, com participação ativa na
definição e implementação das estratégias e
operações e, principalmente no processo decisório
das empresas, tanto individual quanto coletivamente.
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994), Hill
(1992), Boswoth & Rosenfeld
(1993)
O processo de formação e implantação deve ser
realizado a partir de ações planejadas por
instituições voltadas para a promão do
desenvolvimento regional
Processo de
Formão
Pike(1995),
Casarotto & Pires
(1999),
Cassiolato (1999), Lastres
& Ferraz (1999)
Definir uma arquitetura organizacional para o
agrupamento que seja a mais adequada ao contexto
regional, definindo quais os papéis e atribuições de
cada um deles e, de como serão firmados e
mantidos às relações de dependência com os
diversos agentes dentro da cadeia produtiva do
agrupamento
Processo de
Formão
Nadler & Tushman (1994),
Gerstein(1994), Bosworth &
Rosenfeld(1993), Cameron
(1997), Tendler & Amorim (1995)
A identificação, construção, desenvolvimento e
proteção das competências do núcleo responsável
pela definição e implementação do agrupamento.
Processo de
Formão
Bosworth & Rosenfeld(1993),
Cameron(1997), Miles & Snow
(1986, 1992), Cleveland(1995)
120
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A estratégia mais indicada para o fortalecimento do
aglomerado deva ser, inicialmente atender as
necessidades e os interesses do mercado interno e,
a partir daí buscar o mercado externo, realizando
campanhas publicitárias em revistas estrangeiras
locais especializadas e publicações de circulação
global; participando de feiras e encontros de
interesse.
Processo de
Formão
orter (1999), Lipnack & Stamps
(1994), Pyke & Sengenberger
(1991), Bianchi (1997), Brusco
(1982), Barquero (1993),
Humphery & Schimitiz (1997)
Escolher adequadamente as atores(agentes) que
irão representar os papéis de negociadores e
consolidadores do processo de formão do
agrupamento
Processo de
Formão
Lipnack & Stamps (1994),
Bosworth & Rosenfeld(1993),
Cameron(1997), Miles & Snow
(1986,1992), Cleveland(1995)
Uma pré-condição para à formação do agrupamento
deve ser o conhecimento de experiências de
agrupamentos em outras regiões, objetivando
adaptar às características da região, às
especificidades dos interesses e necessidades da
comunidade local
Processo de
Formão
Cassiolato(1999), Lastres &
Ferraz (1999),
Tendler & Amorim
(1995), Pyke (1995),
Casarotto &
Pires (1999)
A adoção de estratégias ativas e mais abertas de
cooperação com competidores externos à rede,
objetivando reforçar as competências adquiridas.
Processo de
Formão
Camagni (1991) apud Lastres,
Cassiolato, Lemos,
Maldonado,
Vargas (1999)
1.4 - Fatores Críticos de Sucesso no Processo de Formação, Desenvolvimento
e Manutenção de Redes Interempresariais entre Pequenas e dias Empresas
com foco em Aspectos Antropológicos e Sócio-culturais
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
Que nas áreas geográficas escolhidas como alvo
para aplicação do agrupamento existam sistemas
sociais que apresentem um certo nível de atividade
comunitária, ou pelo menos tendência para tanto.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Amorim (1998), Tendler &
Amorim (1995), Pyke (1995),
Casarotto & Pires (1999),
Putnan (1996), Lundvall (2000)
Que as diversas partes componentes do
agrupamento tenham um mínimo de história comum,
podendo ser manifestada através de questões
étnicas, históricas, de valores, religiosas,
preferências políticas, etc.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Amorim (1998), Tendler &
Amorim (1995), Pyke (1995),
Chesnais (1996), Dantas
(1999), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
A promão de uma política de promoção, que cuide
de aspectos relacionados à socialização e
conscientização dos seus membros, incluindo
noções de responsabilidade, compromisso,
participação e consciência coletiva
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Amorim (1998), Tendler &
Amorim (1995), Humprhey &
Schimitz (1997), Putnan (1996),
Lundvall (2000)
Uma cultura empresarial que valorize os laços
cooperativos e uma tradição de apoio familiar a
novos empresários
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Bagnasco & Sabel (1995),
Chesnais (1996), Dantas
(1999), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
Que os responsáveis e lideranças do agrupamento
primem em trabalhar o coletivo, estimulando,
encorajando e promovendo reuniões entre os
diversos membros, criando oportunidade para que os
mesmos se encontrem e discutam problemas
comuns , para que juntos encontrem e encaminhem
as soluções coletivas necessárias para à
sustentação e desenvolvimento do agrupamento.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Lipnack & Stamps (1994),
Bosworth & Rosenfeld (1993),
Cameron (1997), Humprhey &
Schimitz (1997), Cleveland
(1995), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
121
FATOR CRÍTICO DE SUCESSO FOCO AUTORES
A difusão de uma cultura que permita a percepção
de que a eficiência coletiva do agrupamento,
depende de uma adequada divisão do trabalho, da
proliferação de parcerias, associações e cooperação
entre às empresas permitindo que elas consigam
superar fragilidades e deficiências coletivas
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Lipnack & Stamps (1994),
Lemos (1995), Lastres & Ferraz
(1999), Bosworth & Rosenfeld
(1993), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
A existência de um ambiente que favoreça um clima
de confiança e identidade cultural que precisam ser
estimulados e transmitidos a todos os agentes direta
e indiretamente envolvidos no processo.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Bosworth & Rosenfeld (1993),
Cameron (1997), Tendler &
Amorim (1995), Saxenian
(1994), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
A existência de um contexto social nas comunidades
locais socialmente integradas, com grande
mobilidade individual e poucas disparidades.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Lipnack & Stamps (1994),
Bosworth & Rosenfeld (1993),
Cameron (1997), Humprhey &
Schimitz (1997), Cleveland
(1995), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
A existência de políticas que incentivem a
cooperação, a solidariedade e fluxos de informação,
as quais irão intervir diretamente na estrutura social
existente na localidade.
Aspectos
Antropológicos
e Sócio-culturais
Lipnack & Stamps (1994),
Bosworth & Rosenfeld (1993),
Cameron (1997), Humprhey &
Schimitz (1997), Cleveland
(1995), Putnan (1996), Lundvall
(2000)
122
2 - Roteiro para Realização de Entrevistas Junto aos Diversos Agentes
Envolvidos com o Agrupamento Selecionado para a Pesquisa.
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