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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
MESTRADO EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DE ALGUMAS OPERAÇÕES
FLORESTAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA BÁRBARA-MG
PATRÍCIA COELHO FERREIRA
CARATINGA
MINAS GERAIS BRASIL
AGOSTO/2006
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA
MESTRADO EM MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DE ALGUMAS OPERAÇÕES
FLORESTAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA BÁRBARA-MG
PATRÍCIA COELHO FERREIRA
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como
parte das exigências do Programa de
Pós Graduação em Meio Ambiente e
Sustentabilidade, para obtenção do
título de Magister Scientiae
CARATINGA
MINAS GERAIS BRASIL
AGOSTO/2006
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ii
PATRÍCIA COELHO FERREIRA
AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DE ALGUMAS OPERAÇÕES
FLORESTAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA BÁRBARA-MG
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como parte
das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Meio Ambiente e
Sustentabilidade, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
APROVADA: Agosto de 2006.
Prof. D.Sc. Meubles Borges Júnior Prof. D.Sc. Marcos Alves de Magalhães
(Orientador) (Co-orientador)
Prof. D.Sc. Luciano José Minette Prof. D.Sc. Amaury Paulo de Souza
iii
"Pode o homem tornar-se culto pela cultura dos outros; mas só se torna sábio
pelas próprias experiências”.
MANSOUR CHALITA
iv
A Deus
Aos meus pais, Antonia e João,
A minha irmã Camila, à tia Leonor,
Isaura, tio Arquimedes, vó Rute e familiares.
Aos amigos e todos que amo, que são a
forte razão da minha existência, meus
exemplos puros e sinceros de fé, caráter,
honestidade e perseverança.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todas as pessoas que, direta ou indiretamente,
contribuíram para a realização desse estudo, em especial:
Ao Centro Universitário de Caratinga, professores, funcionários e colegas
do mestrado pela oportunidade de realizar o curso de Pós-Graduação.
Ao professor Meubles Borges Junior pelo apoio e dedicação na
orientação deste trabalho.
Aos Professores Luciano José Minette e Marcos Alves Magalhães, os
meus sinceros agradecimentos pela oportunidade, pelo tempo dispensado,
pelo esforço para que fossem obtidos os melhores resultados, pela amizade,
dedicação, competência, incentivo e respeito aos meus limites. Vocês foram os
grandes responsáveis por mais esta conquista.
À professora Drª. Miriam Abreu Albuquerque pelo carinho e compreensão
nos momentos difíceis.
À minha adorável mãe pelo esforço sublime e apoio incondicional para
que pudesse realizar mais este sonho em minha vida, a minha querida irmã, a
minha maravilhosa avó Rute pelas palavras sábias de carinho, aos amigos
Marta e Ramon e todos os demais parentes e amigos pelo apoio, compreensão
e carinho destinados à minha pessoa.
A todas as pessoas, que me auxiliaram ao longo de toda esta trajetória
até aqui, dedico meus sentimentos de profunda e eterna gratidão, com a
esperança de um dia poder retribuir-lhes um pouco do tanto que fizeram por
mim.
vi
BIOGRAFIA
PATRÍCIA COELHO FERREIRA, filha de João Marçal Ferreira Filho e
Antônia Pinto Coelho Ferreira, nasceu em 14 de novembro de 1977, na cidade
de Ipatinga, Estado de Minas Gerais.
Graduou-se em Fisioterapia no ano de 2001, pela Faculdade de
Fisioterapia de Caratinga FAFISC.
Especializou-se em Ergonomia Aplicada à Saúde do Trabalhador no ano
de 2002, pelo Instituto de Educação Continuada PUC Minas Gerais.
Em julho de 2004 iniciou o Programa de mestrado Profissionalizante em
Meio Ambiente e Sustentabilidade pelo Centro Universitário de Caratinga -
UNEC.
vii
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
Bpm Batimento por Minuto
CCV Carga Cardiovascular
Cm Centímetros
CRL Carga Limite Recomendada Ultrapassada
DORT Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
EPI Equipamento de Proteção Individual
FCL Freqüência Cardíaca Limite
FCM Freqüência Cardíaca Máxima
FCR Freqüência Cardíaca de Repouso.
FCT Freqüência Cardíaca de Trabalho
Ha Hectare
Ht Duração do Trabalho (em minutos)
Hz Hertz
Kg Kilograma
Kw Kilowatts
LER Lesões por Esforço Repetitivo
L
5
Quinta Vértebra Lombar
Min Minutos
N Newton
S
1
Primeira Vértebra Sacral
SRL Sem Risco de Lesões nas Articulações
Tr Tempo de Repouso (em minutos)
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Trabalhador efetuando o coveamento manual................................14
Figura 2 Abastecimento do reservatório costal de gel...................................15
Figura 3 Abastecimento do reservatório de mudas.......................................16
Figura 4 Plantio de mudas............................................................................17
Figura 5 Seqüência da atividade de plantio florestal manual com gel...........18
Figura 6 Seqüência das atividades de distribuição de adubo químico...........19
Figura 7 Abastecimento da bolsa de adubo químico.....................................20
Figura 8 Atividade de roçada semi-mecanizada............................................21
Figura 9 Variação da freqüência cardíaca observada na atividade de
coveamento manual com enxadão em função do tempo............43
Figura 10 Freqüência cardíaca observada durante a atividade de plantio
com aplicação de gel em função do tempo de trabalho.................45
Figura 11 Freqüência cardíaca observada na atividade de distribuição de
adubo químico em função do tempo..............................................46
Figura 12 Freqüência cardíaca observada na atividade de roçada semi-
mecanizada em função do tempo de trabalho...............................48
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Check-List para avaliação simplificada do risco de
tenossinovites e distúrbios músculos-esqueléticos de membros
superiores.....................................................................................25
Quadro 2 Dados pessoais dos trabalhadores florestais................................29
Quadro 3 Grau de escolaridade dos trabalhadores florestais........................29
Quadro 4 Refeições diárias realizadas pelos trabalhadores florestais...........31
Quadro 5 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dor e desconforto muscular que atrapalham a execução normal
da tarefa........................................................................................34
Quadro 6 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dor e desconforto muscular...........................................................36
Quadro 7 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dor e desconforto muscular que atrapalham a realização normal
da atividade...................................................................................39
Quadro 8 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dor e desconforto muscular que atrapalharam a realização
normal da atividade.......................................................................41
Quadro 9 Resultado da análise biomecânica das atividades de
coveamento manual, plantio, distribuição de sulfato de amônia
e roçada semi-mecanizada............................................................51
Quadro 10 Força de compressão no disco L5-S1 nas diferentes
atividades de implantação florestal, considerando-se o limite
recomendado de 3426,3N...........................................................52
x
RESUMO
FERREIRA, PATRÍCIA COELHO. M.Sc., Centro Universitário de Caratinga,
Agosto de 2006. Avaliação Ergonômica de algumas operações florestais
no Município de Santa Bárbara MG. Orientador: Prof. D.Sc. Meubles
Borges Júnior. Co-orientador: Prof. D.Sc. Marcos Alves Magalhães.
Este estudo foi desenvolvido em atividades de implantação florestal de
eucalipto, em uma empresa localizada no município de Santa Bárbara, no
Estado de Minas Gerais. O objetivo geral foi realizar avaliação ergonômica das
atividades de coveamento, plantio, distribuição de adubo manual e roçada
semi-mecanizada em floresta de eucalipto, visando à melhoria da saúde, do
conforto, da segurança e do bem-estar dos trabalhadores. Especificamente
pretendeu-se: caracterizar o perfil dos trabalhadores e as condições de
trabalho; avaliar a carga de trabalho físico; avaliar a biomecânica das
atividades e avaliar o risco de Lesão por Esforços Repetitivos. Os dados foram
obtidos por meio de entrevistas individuais, medições e avaliações das
atividades desenvolvidas. Os resultados evidenciaram que os trabalhadores
possuíam idade média de 34,5 anos, sendo a média de estatura 1,70 metros e
de peso médio de 69,7 Kg. Quanto ao estado civil 28,6% dos trabalhadores são
casados e tem em média três filhos e 100% não concluíram o ensino
fundamental. Na avaliação da carga de trabalho físico em todas as atividades a
média de freqüência cardíaca foi acima do valor recomendado de 110 bpm. As
atividades de coveamento manual e aplicação de adubo manual apresentaram
carga cardiovascular acima de 40%. O estudo biomecânico permitiu verificar
xi
que a força de compressão do disco vertebral L5 S1 está acima do valor
recomendado para as atividades de coveamento manual, plantio florestal
manual com aplicação de gel e distribuição de adubo manual. A atividade
roçada semi-mecanizada apresentou um altíssimo risco de LER/DORT, sendo
as articulações dos punhos/mãos as mais propensas a serem acometidas por
estas patologias.
xii
ABSTRACT
FERREIRA, PATRÍCIA COELHO. M.Sc., Academic Center of Caratinga,
August of 2006. Ergonomic evaluation of some Forest os in the Municipal
District of Santa Bárbara MG. Adviser: Prof. D.Sc. Meubles Borges Júnior.
Committee Member: Prof. D.Sc. Marcos Alves de Magalhães
This study was developed from activities in planting a forest of eucalyptus, in a
company located in the municipality district of Santa Barbara, in the State of
Minas Gerais. The general objective is to accomplish an ergonomic evaluation
of the coveamento activities, planting, distribution of manual fertilizer and semi-
automated cleared land in eucalyptus forest, promoting the improvement of the
health, comfort, safety and of the workers' well-being. Specifically intended to
characterize the hard-work profiles and the working conditions; to evaluate the
load of physical work; to evaluate the biomechanics of the activities and to
evaluate the risk of Lesion for Repetitive Efforts. The data was obtained through
individual interviews, measurements and evaluations of the activities were
developed. The results showed evidence that the workers possessed an
average age 34,5 years old, being an average height of 1,70 meters and an
average of 69,7 Kg. As to the workers' marital status 28,6% of them are married
and they have three children and 100% didn't finish the basic schooling. During
the evaluation of physical workload in all o in the evaluation of the load of the
activities the average heartbeat was above the recommended value of 110
bpm. The activities of manual digging and manual application of fertilizer
presented a cardiovascular load above 40%. The biomechanic study tended to
xiii
verify that the force of compression of the vertebral disk L5 S1 to be above the
value recommended by the activity regulations in the diggers manual, planting
forest manual with cold application and distribution of manual fertilizer. The
activity of semi-automated clearing presented a high risk of LER/DORT, from
the motions of the wrists/hands are such that they will be affected by these
pathologies.
CONTEÚDO
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ............................................................ VII
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................... VIII
LISTA DE QUADROS...................................................................................... IX
RESUMO.......................................................................................................... X
ABSTRACT..................................................................................................... XII
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................01
1.1. Objetivos..................................................................................................04
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................05
2.1. Perfil dos trabalhadores...........................................................................05
2.2. Biomecânica............................................................................................07
2.3. Avaliação da carga de trabalho físico.......................................................10
2.4. Avaliação do Risco de LER/DORT...........................................................11
3. MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................13
3.1. Caracterização da área de estudo...........................................................13
3.2. População e amostra...............................................................................13
3.3. Atividades analisadas..............................................................................13
3.3.1. Coveamento manual......................................................................14
3.3.2. Plantio florestal manual com aplicação de gel................................14
3.3.3. Distribuição do adubo químico .......................................................18
3.3.4. Roçada semi-mecanizada..............................................................20
3.4. Caracterização do perfil dos trabalhadores e das condições de trabalho.21
3.5. Avaliação da carga de trabalho físico por meio da freqüência cardíaca...22
3.6. Avaliação biomecânica............................................................................23
3.7. Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho - LER/DORT..........................................................................24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................28
4.1. Caracterização do perfil dos trabalhadores e das condições de trabalho.28
4.1.1. Caracterização do perfil dos trabalhadores....................................28
4.1.1.1. Dados pessoais.......................................................................28
4.1.1.2. Grau de escolaridade..............................................................29
4.1.1.3. Hábitos, costumes, vícios e crença dos trabalhadores............30
4.1.1.4. Tipos de refeições dos trabalhadores......................................31
4.1.1.5. Atividades recreativas dos trabalhadores................................31
4.1.1.6. Sindicalização.........................................................................32
4.1.2. Condições de trabalho....................................................................32
4.1.2.1. Atividade de coveamento manual............................................32
4.1.2.2. Plantio florestal manual com aplicação de gel.........................35
4.1.2.3. Distribuição de adubo químico................................................37
4.1.2.4. Roçada semi-mecanizada.......................................................40
4.2. Avaliação da carga de trabalho físico por meio da freqüência cardíaca...42
4.3. Avaliação biomecânica............................................................................48
4.4. Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados
ao trabalho...............................................................................................53
5. CONCLUSÃO..........................................................................................54
6. RECOMENDAÇÕES................................................................................57
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................59
1
INTRODUÇÃO
O setor florestal brasileiro contribui com uma parcela importante para a
economia brasileira, gerando produtos para consumo direto ou para
exportação, impostos e emprego para a população e, ainda, atuando na
conservação e preservação dos recursos naturais (LADEIRA, 2002).
Como em outros países com economias voltadas para a produção
primária de commodities baseadas em recursos naturais, as florestas
brasileiras têm sido intensamente exploradas ao longo da história e continuam
a oferecer novas oportunidades para a expansão econômica
(GONÇALVES, 2005).
Dos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro,
aproximadamente 63,7% são cobertos por florestas nativas, 23,2% ocupados
por pastagens, 6,8 % agricultura, 4,8 % pelas redes de infra-estrutura e áreas
urbanas, 0,9 % culturas permanentes e apenas 0,6% abrigam florestas
plantadas (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas
ABRAF, 2005).
De acordo com LADEIRA (2002), o PIB Florestal responde por 4 % do
PIB nacional, perfazendo um total US$ 21 bilhões, com destaque de três
setores: celulose e papel (US$ 7 bilhões), Siderurgia a Carvão vegetal (US$ 4,2
bilhões) e Madeira e Móveis (US$ 9,3 bilhões).
A geração de 2 milhões de empregos (diretos e indiretos) demonstra a
importância social do setor florestal, que também é relevante em relação aos
impostos recolhidos, em torno de US$ 3 bilhões anuais. O potencial do Brasil,
2
que possui a segunda maior cobertura florestal do mundo, é ultrapassar US$
11 bilhões com vendas externas, em 2010 (SBS, 2002).
O setor florestal reafirmou em 2005 a sua importância como vetor de
desenvolvimento sócio-econômico. O setor, como um todo, adicionou valores
da ordem de US$ 23 bilhões ao PIB, exportou mais de US$ 7,5 bilhões e gerou
superávit expressivo para a balança comercial. Foram reflorestados 550 mil
hectares no ano, dos quais 420 mil ha pelas empresas verticalizadas. Os
outros 130 mil ha (23%) foram plantados por pequenos e médios proprietários
rurais via fomento ou por produtores independentes que acessaram R$ 50
milhões das linhas de crédito do Propflora e Pronaf Florestal (SBS, 2005).
No Brasil, a década de 90 representou o início de uma mecanização
florestal mais intensa, principalmente devido à maior liberdade de importação
de equipamentos especificamente desenvolvidos para o setor florestal. A
mecanização melhorou as condições ergonômicas do trabalho florestal,
aumentando o bem-estar, a saúde, a segurança e a produtividade do operador.
No entanto, novos problemas surgiram em decorrência de ruído, vibração,
trabalho noturno, esforço mental, lesões por esforços repetitivos (LER),
sobrecarga de trabalho, fadiga, isolamento. Apesar disso, a mecanização não
conseguiu evoluir a ponto de melhorar as condições de trabalho dos operários
florestais envolvidos em atividades de regiões montanhosas.
A implantação florestal pode ser realizada por métodos manuais, semi-
mecanizados ou mecanizados, dependendo da topografia do terreno e de
fatores econômicos, ambientais e sociais. A atividade de implantação de
eucalipto envolve um conjunto de operações que pode iniciar com o preparo do
terreno e terminar com o último trato cultural do povoamento estabelecido. As
etapas geralmente são: limpeza da vegetação; abertura de carreadores;
estradas; controle de erosão; controle de formigas e cupins, preparo do solo
que envolve a marcação de covas, coveamento, sulcamento, adubação,
correção de acidez do solo; plantio e replantio, irrigação e tratos culturais como:
capina, roçada e aplicação de herbicida.
Dentre os principais fatores ergonômicos relacionados às atividades de
implantação florestal, é importante conhecer o perfil dos trabalhadores; os
fatores biomecânicos, envolvendo as posturas, as forças aplicadas, a carga de
trabalho físico e os movimentos repetitivos que podem ter influência direta
3
sobre a saúde do trabalhador e conseqüentemente sobre o desempenho da
operação, os quais podem ser minimizados por meio da adaptação ergonômica
do trabalho e da forma de execução das atividades às características do ser
humano.
O estudo do perfil dos trabalhadores é importante para a implantação de
novas técnicas de treinamento, melhoria das condições de trabalho e
satisfação do trabalhador. Através do conhecimento das características do
trabalhador pode-se evitar mudanças constantes de função (LOPES, 1996).
A avaliação da carga de trabalho físico foi o primeiro problema tratado
pela fisiologia do trabalho (WISNER, 1987). Dessa forma, a carga de trabalho
físico continua sendo uma questão central para a grande maioria dos
trabalhadores do mundo, inclusive para os que atuam em setores mais
modernos e com esforços físicos menores. Várias atividades envolvidas na
implantação florestal são realizadas com o manuseio de cargas, e mesmo
atividades mais leves podem envolver processos onde a carga de trabalho
físico pode estar acima do limite.
Dependendo da maneira como as tarefas são executadas os
trabalhadores, muitas vezes, levantam e transportam cargas com pesos acima
dos limites toleráveis, além de realizarem essa movimentação de modo
incorreto e de forma contínua durante vários anos A manutenção excessiva ou
repetida de uma postura e/ou manutenção de cargas, são fatores de riscos que
ameaçam a integridade do sistema osteoarticular vertebral, podendo levar a um
desgaste de todas as articulações envolvidas, comprometendo seriamente as
condições de saúde dos trabalhadores (FIEDLER, 1998).
O aparecimento das LER/DORT deve-se a movimentos repetitivos,
posturas inadequadas e excesso de pressão, a ergonomia pode auxiliar na
modificação de máquinas e condições de trabalho, minimizando os riscos
relacionados à atividade ocupacional.
As operações de implantação do eucalipto que fizeram parte deste estudo
foram: coveamento manual, plantio florestal manual com aplicação de gel,
distribuição de adubo químico e roçada semi-mecanizada. Estas atividades
apresentam uma série de problemas ergonômicos, que se não forem,
corrigidos ou prevenidos poderão acarretar danos à saúde, bem como afetar a
satisfação e o bem-estar dos trabalhadores.
4
No Brasil, são escassos os resultados de pesquisas conduzidas que
permitam inferir, de modo consistente sobre a influência da ação isolada ou da
interação dos fatores relacionados ao perfil e condição de trabalho, carga de
trabalho físico, biomecânica da atividade e seus riscos de lesões no
desempenho e na saúde do trabalhador de implantação florestal. Mesmo na
literatura internacional, é mencionada a falta de pesquisa nessa área.
1.1. Objetivos
Este estudo teve como objetivo geral realizar uma avaliação ergonômica
das atividades de coveamento, plantio, distribuição de adubo químico e roçada
pré-corte semi-mecanizada em floresta de eucalipto, visando à melhoria da
saúde, do conforto, da segurança e do bem-estar dos trabalhadores.
Especificamente os objetivos da pesquisa foram:
a) Caracterizar o perfil dos trabalhadores e as condições de trabalho;
b) Avaliar a carga de trabalho físico por meio da freqüência cardíaca;
c) Fazer avaliação biomecânica das atividades;
d) Avaliar o risco de Lesão por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios
Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT);
5
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Perfil dos trabalhadores
A utilização de conhecimentos da ergonomia e do perfil dos trabalhadores
permite que alguns fatores como a monotonia, fadiga e erros sejam reduzidos.
Com isso, torna-se possível diminuir custos e evitar que os trabalhadores
desperdicem tempo e energia inutilmente, o que gera motivação e
cooperativismo no ambiente de trabalho.
O processo de produção industrial e a produção agrícola têm sofrido
transformações consideráveis, alcançando as relações sociais, culturais e
econômicas das sociedades. Tais mudanças exigem discussão sobre questões
envolvendo a formação do trabalhador, necessitando de um novo perfil do
trabalhador (SOUZA, 2006). O perfil do trabalhador pode ser definido através
de cinco variáveis, as quais são: remuneração mensal, tempo de serviço, faixa
etária, grau de instrução e gênero.
A educação assume uma posição de importância fundamental, que não
está dirigida apenas às empresas, mas também aos trabalhadores, os que
mais sofrem devido aos avanços tecnológicos incorporados ao processo
produtivo (SOUZA, 2006).
Segundo BOM SUCESSO (1997), os trabalhadores semi-analfabetos e
analfabetos geralmente demonstram vergonha em dizer que não sabem ler ou
6
que a compreensão de textos é insuficiente para uma leitura devido à falta de
conhecimento, tal situação inibe o desenvolvimento do trabalhador.
Quando se analisa a variável faixa etária percebe-se que em 2003, a
participação dos empregados na faixa de 30 até 39 anos foi maior que outras
faixas, sendo de 30%, retratando as diferenças existentes entre os
trabalhadores jovens e os adultos acima de 49 anos (SESI, 2005).
Determinar e analisar as fontes de insatisfação dos trabalhadores deve
ser uma condição de fundamental importância para a empresa montar
estratégias para que o trabalho torne-se uma atividade satisfatória para os
mesmos. Segundo IIDA (1990), algumas classificações para essas fontes
podem ser: Ambiente físico refere-se tanto às condições ambientais quanto
ao local de trabalho, quando esses fatores extrapolam os limites de tolerância
humana, o trabalhador fica sujeito à incidência de stress, por conseguinte,
insatisfação com o trabalho; Remuneração pode ser uma fonte de
insatisfação dado que, geralmente, os trabalhadores se sentem incomodados
com injustiças salariais, quando comparado aos colegas, e isto está
relacionado com o reconhecimento do seu trabalho por parte da empresa.
Segundo BOM SUCESSO (1997), as relações trabalhistas podem ser mais
eficazes através da redução das diferenças salariais, seja no contexto nacional
quanto a nível de empresa.
Os trabalhadores que são submetidos a uma jornada de trabalho superior
a 8 horas, muitas vezes polpam energia durante a jornada normal, diminuindo o
ritmo de trabalho, a fim de economizar para a execução das horas-extras, o
que diminui o rendimento do processo (IIDA, 1990), em um estudo verificou
uma correlação entre horas-extras e doenças e absenteísmo.
Todas as variáveis envolvidas na caracterização do perfil do trabalhador
ressaltam a importância que o mesmo possui, a fim de que possam ser
definidas as atividades em que ele se adapte e que a realize com prazer,
contribuindo com o desenvolvimento do trabalhador, da empresa e do setor.
7
2.2 Biomecânica
O objetivo da biomecânica ocupacional é analisar as interações
associadas ao ser humano e o trabalho e as possíveis conseqüências que
implica a partir dos movimentos do sistema musculoesquelético, estudando as
posturas e as forças aplicadas (IIDA, 1990).
A postura é a organização dos segmentos do corpo humano no espaço. A
permanência do corpo em uma determinada posição, proporcionando-o uma
atitude de conjunto, expressa a atividade postural, que retrata como o
organismo enfrenta e reage aos estímulos externos (GONTIJO et al., 1995).
A atividade realizada pelo trabalhador relaciona-se com a postura que o
mesmo adota durante a jornada de trabalho, sendo que a anatomia e a
fisiologia do corpo humano regem a postura, ressaltando-se que a mesma
pessoa adota diferentes posturas dentro do conjunto de tarefas que ela executa
(MERINO, 1996).
Segundo IIDA (1990), o corpo humano pode assumir três posições:
deitada, sentada ou em pé. Posição deitada: nesta posição, não há maior
incidência de tensão em uma parte isolada do corpo, sendo distribuída ao
longo do mesmo. Dessa forma, a circulação sanguínea mantém-se livre de
compressões em todas as partes do corpo, isso contribui para evitar a fadiga à
medida que elimina os resíduos do metabolismo e as toxinas dos músculos;
Posição sentada: para se manter a posição sentada os músculos do dorso e do
ventre são exigidos, e com isso, a pele que cobre o osso ísquio, nas nádegas,
suporta praticamente todo o peso do corpo. Devido a tais esforços, o consumo
de energia é de 3 a 10% maior que na posição deitada. Manter o corpo
ligeiramente inclinado para frente é mais natural e menos fatigante do que
quando ereto. Posição de pé: a fim de se manter a posição parada, em pé, a
musculatura envolvida realiza muito trabalho estático, tornando essa postura
extremamente fatigante. Além disso, faz com que o coração encontre maiores
dificuldades para levar sangue aos extremos do corpo. Já quando a postura de
trabalho é dinâmica, em pé, as pessoas, geralmente, apresentam menos fadiga
em relação àquelas que realizam trabalho estático ou com pouca
movimentação.
8
A postura pode ser classificada como principal ou secundária, a primeira
refere-se às posições que o indivíduo assume durante a realização de suas
tarefas, segundo os esforços que a atividade implica ou pelo layout do local de
trabalho. A segunda trata daquelas que são adotadas de forma consciente e
inconsciente pelo trabalhador, a fim de tornar variável o que se exige dos
músculos (RIO e PIRES, 2001).
Em movimentos que exijam o levantamento ou transporte de uma carga,
constantemente aparece nas articulações uma alavanca, que é um sistema
mecânico formado pela interação de um segmento rígido que gira sobre um
pivô, sujeito a uma força ou potência aplicada contra uma resistência. No corpo
humano o segmento rígido está associado ao osso, enquanto o ponto de apoio
ou pivô refere-se à articulação, a força ou potência aos músculos e a
resistência é o peso do segmento corpóreo adicionado dos objetos
manuseados (RIO e PIRES, 2001).
Segundo COUTO (1995), existem três tipos de alavancas: Interfixa: nesta
situação o pivô está localizado entre a potência e a resistência. Quanto maior
for o braço de potência, distância entre a potência e o ponto de apoio, menor
será a força exigida contra a resistência. Essa alavanca refere-se às áreas de
equilíbrio do corpo humano, a saber: pescoço, lombossacral, joelhos e
tornozelos; Inter-resistente: ocorre quando o peso está localizado entre a
potência e o ponto de apoio, sendo que o braço de potência é sempre maior
que o braço de resistência (distância entre a resistência e o pivô), isso implica
que a força exercida frente a uma resistência é menor que o peso nominal da
mesma. Na prática, esse tipo de alavanca não é encontrada no corpo humano;
Interpotente: nesse tipo de alavanca, o braço de potência é sempre menor que
o braço de resistência, obrigando o indivíduo a exercer uma força maior que o
valor nominal da resistência. Tal alavanca é predominante no sistema
osteomuscular do ser humano.
Ao se estudar a biomecânica, os conceitos e leis da física são estendidos
ao corpo humano. Por conseguinte, torna-se possível estimar as tensões
presentes nos músculos e articulações durante uma postura ou um movimento.
O corpo humano pode ser dividido em seis alavancas, as quais são
antebraços, braços, troncos, coxas, pernas e pés, que formam a base
mecânica utilizada na analise ergonômica. Os pivôs dessas alavancas são as
9
principais articulações do corpo humano, ou seja, cotovelos, ombros,
coxofemurais, joelhos e tornozelos (REBELATTO et al., 1989).
Uma das formas mais práticas de se fazer a analise biomecânica do ser
humano é através da análise bidimensional ou tridimensional no plano sagital.
Para realizar a análise bidimensional, uma técnica comumente utilizada e a
gravação em videoteipe do trabalhador executando a tarefa na posição de
perfil. Através do congelamento dos movimentos, os ângulos formados nas
articulações são medidos (cotovelo, ombro, coxofemurais, joelho, e tornozelo).
Os ângulos, citados anteriormente, associados às características das
forças utilizadas, como magnitude e direção, à quantidade de mãos utilizadas e
às características antropométricas de altura e peso da população em estudo,
são empregados para a realização da análise. Para se proceder á essa análise,
utiliza-se o programa computacional de modelo biomecânico de predição de
posturas e forças estáticas desenvolvido pelo Centro de Ergonomia da
Universidade de Michigan (UNIVERSITY OF MICHIGAN, 2005). Tal programa
identifica e caracteriza as exigências físicas nas atividades estudadas,
mostrando o limite de peso recomendado, a carga-limite superior para cada
articulação e a posição adotada sob três planos diferentes: por cima, de frente
e de lado e a força de compressão no disco L5 -S1 da coluna, sendo que: Força
de compressão abaixo de 3.400 N implica em poucas chances de lesão; Força
de compressão entre 3.400 N e 6.600 N indica um valor problemático ou risco
de lesão; Força acima de 6.600 N indica valor com altíssima condição de lesão
do disco.
Os limites de tolerância variam de um indivíduo para o outro, o que
tornam necessárias providências que venham aliviar a carga sobre a
musculatura e articulações, a fim de garantir um trabalho mais seguro e
confortável que atenda os trabalhadores envolvidos nesse tipo de atividade.
10
2.3 Avaliação da carga de trabalho físico
A fisiologia do trabalho tratou inicialmente da avaliação da carga de
trabalho físico, que ainda afeta a maioria dos trabalhadores do mundo,
inclusive para os que atuam em setores mais modernos e com esforços físicos
menores (WISNER, 1999).
A utilização do índice fisiológico da freqüência cardíaca permitiu indicar a
existência de fadiga durante a atividade. Ergonomicamente aceita-se que
durante a jornada de trabalho de 8 horas, o valor da freqüência cardíaca seja
de no máximo 110 batimentos por minuto (COUTO, 1996). Entretanto, fatores
como tensão mental, emoção, café e tabaco podem ser variáveis que alteram
esse índice, aumentando os riscos (WISNER, 1987).
Os limites que um indivíduo pode exercer durante uma atividade física
podem ser determinados através da medida dos índices fisiológicos, bem como
se torna possível definir, de acordo com a capacidade física do trabalhador, a
duração da jornada de trabalho e das pausas, assim como a freqüência delas.
Os métodos fisiológicos quando aplicados, de acordo com a ergonomia,
permitirão estabelecer a carga de trabalho dentro dos limites que podem ser
mantidos numa jornada de 8 horas (SOUZA e MACHADO, 1991).
O aparecimento de sintomas de fadiga por sobrecarga física depende do
esforço desenvolvido, da duração do trabalho e das condições individuais como
estado de saúde, nutrição e condicionamento decorrente da prática da
atividade. À medida que aumenta a fadiga, reduz-se o ritmo de trabalho,
atenção e rapidez de raciocínio, tornando o operador menos produtivo e mais
sujeito a erros e acidentes (SOUZA, 1993).
As jornadas de trabalho muito longa, horas extras, carga elevada de
produção, pausas insuficientes e as atividades organizadas em metas
são fatores que podem determinar o aparecimento da LER/DORT
(MACIEL, 2000). Para reduzir a sobrecarga física desta atividade, é
necessária a introdução de pausas durante a jornada de trabalho. Para
cada hora trabalhada, o indivíduo deveria trabalhar 55 min e descansar 5
min.
11
As pausas proporcionam alívio entre o esforço e o repouso; o
organismo humano necessita de períodos de recuperação de energia
que possam manter sua capacidade funcional. Quanto mais intenso e
duradouro o esforço, maior a necessidade de pausas; que devem ser
curtas e freqüentes e sempre que possível deve-se evitar pausas longas.
2.4 Avaliação do risco de LER/DORT
A definição, proposta por BROWNE (1984) citado por COUTO (1998),
para as lesões por esforços repetitivos destaca que a sobrecarga de um grupo
de músculos, utilizados repetitivamente ou a manutenção de posturas
contraídas que levam a dor, fadiga e queda de produtividade, causam doenças
músculo-tendinosas dos membros superiores.
Segundo COUTO (1998), as perturbações funcionais, mecânicas e lesões
de músculos e outras estruturas causadas pela utilização biomecanicamente
incorreta dos membros superiores compreendem as Doenças
Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT).
Segundo COUTO (1998), as lesões ocorrem quando o período de
recuperação do organismo é, em intensidade, menor que as exigências da
tarefa sobre os membros superiores.
A força e a repetitividade são os principais causadores de lesões por
esforços repetitivos, visto que quanto maior a força, o número e freqüência dos
movimentos de um grupo muscular que a tarefa exige, maiores são as chances
de o indivíduo desenvolver tais lesões. Todavia, segundo GONTIJO et al.
(1995), a interação entre força e repetitividade produz um efeito maior que
quando separados, sendo que a probabilidade de lesões aumenta em
aproximadamente 16 vezes.
Além dos fatores citados anteriormente, pode-se ressaltar ainda outros
fatores biomecânicos que contribuem para o surgimento de LER/DORT, como
a vibração, quando em freqüência de 8 a 100 Hz e alta aceleração e a adoção
de posturas incorretas dos membros superiores (COUTO, 1998).
12
As condições de trabalho não devem ser alteradas pelo ritmo, pois os
limites fisiológicos e psicológicos devem ser respeitados, visto que a não
observância desses limites pode redundar em um acelerado desgaste físico,
estresse, fadiga, aumento no risco de acidentes e a desmotivação, gerando
insatisfação no trabalhador (MERINO, 1996).
Segundo o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, Occupational
Safety and Health Administration (OSHA, 2005), as lesões por esforços
repetitivos são os mais comuns e caros problemas de saúde da nação,
afetando centenas de milhares de trabalhadores americanos, custando em
compensações trabalhistas mais de U$ 20 milhões por ano, sendo que,
indiretamente, esses gastos podem oscilar entre U$ 45 a 60 bilhões ao ano.
A adaptação do trabalho às características do trabalhador, da melhor
forma possível, procurando diminuir o cansaço, os acidentes, o absenteísmo e
aumentar a precisão, conforto e bem estar social do trabalhador, são condições
essenciais para que haja um aumento na produtividade. Isso porque o ser
humano é o principal componente que determina a produtividade, assim como
o sucesso ou fracasso de um sistema de trabalho (MINETTE, 1996).
13
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Caracterização da área de estudo
Este estudo foi realizado em uma empresa florestal, localizada no
município de Santa Bárbara, estado de Minas Gerais, nas seguintes
coordenadas geográficas: 19°56’15” latitude sul e 43°26’15” de longitude oeste.
3.2 População e amostra
A população entrevistada foi constituída por 32 trabalhadores envolvidos
nas atividades florestais de coveamento manual, plantio, distribuição de adubo
químico e roçada semi-mecanizada. A população avaliada faz parte do quadro
de funcionários da empresa prestadora de serviço (terceirizada) e todos
trabalhadores são efetivos.
3.3 Atividades analisadas
As atividades de coveamento manual, plantio florestal manual com
aplicação de gel, distribuição de adubo químico e roçada semi-mecanizada,
estão descritas de acordo com suas etapas.
14
3.3.1Coveamento manual
O ciclo operacional da atividade de coveamento manual consiste em abrir
covas, com auxílio do enxadão, previamente demarcadas na área.
Nesta atividade o trabalhador deslocava-se pela área carregando o
enxadão até encontrar a primeira marcação da cova no espaçamento
determinado pelo planejamento do plantio. A abertura da cova terminava
quando o solo era perfurado formando uma cova de borda quadrada com 30
cm e uma profundidade de 30 cm (30x30 cm), como mostra a Figura 1.
Figura 1 Trabalhador efetuando o coveamento manual.
Na seqüência o trabalhador se deslocava novamente até o próximo ponto
da marcação para perfurar a próxima cova e assim sucessivamente.
3.3.2 Plantio florestal manual com aplicação de gel
O kit de trabalho, usado na atividade de plantio com a utilização de gel é
composto por um utensílio de material plástico (costal) para comportar o gel.
Esse utensílio dispõe de alças para a regulagem de altura, um recipiente
15
plástico que fica preso por um cinto à cintura do trabalhador (reservatório de
mudas) e uma plantadeira (matraca).
a) Abastecimento do reservatório costal de gel
Para realizar essa etapa o trabalhador retirava o reservatório das costas e
colocava-o no solo ou em uma base de apoio, adaptada à carroceria do
caminhão. Em seguida, com auxílio de um regador transferia o gel do depósito
para o reservatório, conforme mostrado na Figura 2. O reservatório utilizado foi
projetado com capacidade para 22 litros de gel e quando cheio pesa 28,4Kg.
Figura 2 Abastecimento do reservatório costal de gel.
b) Abastecimento do reservatório manual de mudas
O operador retirava as mudas depositadas em bandejas e as colocava no
reservatório de transporte, como mostra a Figura 3, em seguida deslocava-se
com o reservatório já abastecido com o gel e as mudas para o local de plantio.
16
Figura 3 Abastecimento do reservatório de mudas.
c) Plantio de mudas
Nesta operação o trabalhador utilizava uma plantadora manual (matraca)
que pesa 3,5 Kg. Esse equipamento possui dois compartimentos: um para
depositar a muda na cova e outro, acoplado ao reservatório de gel por uma
mangueira, para depositar o gel próximo a muda.
O trabalhador se deslocava no alinhamento das covas e ao chegar a cada
uma delas, fixava a ponta da plantadora no solo e em seguida, apanhava a
muda no reservatório de transporte e fazia sua remoção do tubete (recipiente
onde as mudas ficam inseridas para não serem danificadas) e a introduzia na
parte superior da plantadora e completava o plantio pressionando com auxílio
do pé, em torno da muda para firmá-la no solo e formar uma espécie de
depósito para retenção da água de irrigação como mostra a Figura 4.
17
Figura 4 Plantio de mudas.
Ao terminar de plantar as mudas o trabalhador deixava a plantadora na
área de plantio e retornava aos depósitos de gel e mudas retirando os tubetes
vazios do reservatório de transporte, iniciando um novo ciclo de trabalho.
d) Encerramento da atividade
A atividade era encerrada quando o trabalhador cumpria sua meta de
plantar 480 mudas diárias (6 caixas de mudas).
A Figura 5 apresenta a seqüência de operações realizadas durante o
plantio florestal manual com aplicação de gel.
18
Figura 5 Seqüência da atividade de plantio florestal manual com gel.
3.3.3 Distribuição do adubo químico
A Figura 6 apresenta a seqüência de operações realizadas durante a
distribuição do adubo químico.
Plantadora manual
Depósito
gel
Depósito de
Mudas
Abastecimento
do reservatório
de gel
Abastecimento
do reservatório
de Mudas
Deslocamento até
área de plantio
Plantio de mudas
Reabastecimento
19
Figura 6 Seqüência das atividades de distribuição de adubo químico.
a) Depósito de adubo químico
O adubo químico era armazenado em sacos plásticos com capacidade
para 60 KG. Esses sacos eram distribuídos na estrada próxima à área de
plantio, para que o trabalhador efetivasse a adubação química.
b) Abastecimento da bolsa de adubo químico
A bolsa utilizada para distribuição do adubo químico era confeccionada de
um material plástico com alça e comportava 34 Kg.
O trabalhador colocava a bolsa no chão, próximo ao depósito, e com
auxílio de dosador abastecia a bolsa com adubo químico até sua capacidade
máxima, como mostra a Figura 7. Em seguida pendurava a bolsa no ombro e
seguia em direção a área determinada para distribuir o produto.
Reabastecimento
20
Figura 7 Abastecimento da bolsa de adubo químico.
c) Distribuição do adubo químico
Nessa etapa o trabalhador sustentava a bolsa de adubo com uma das
mãos e com a outra utilizava o dosador com capacidade de 1,6 Kg para
distribuir o produto.
Ao terminar de distribuir o adubo, o trabalhador retornava para
reabastecer a bolsa e novamente iniciar o ciclo.
3.3.4 Roçada semi-mecanizada
O principal objetivo da atividade de roçada semi-mecanizada é manter as
mudas florestais livres da competição e dos efeitos maléficos das ervas
daninhas. A ferramenta de trabalho utilizada para essa atividade é uma
máquina (motorroçadeira), composta por um motor de dois tempos de 37,7
cilindradas, com potência de 1,3 kW e uma broca com lâminas na extremidade.
O manual de utilização da máquina recomenda mistura de óleo com gasolina a
4%, em caso de se usar óleo PROSINT recomenda-se utilizar uma mistura a
2% e em caso de óleo EXTRASINT, utilizar mistura a 1%.
21
Nesta atividade o trabalhador abastecia a máquina, deslocava pela área
segurando a roçadeira com ambas as mãos. A partir deste momento iniciava o
trabalho de roçada propriamente dito, como mostrado na Figura 8, com
algumas pausas para ingestão de água, descanso e necessidades pessoais.
Figura 8 Atividade de roçada semi-mecanizada.
3.4 Caracterização do perfil dos trabalhadores e das condições de
trabalho
Para caracterizar o perfil dos trabalhadores e das condições de trabalho,
foi utilizado um questionário apropriado, com levantamento das informações,
aplicado com auxílio de entrevista. O questionário estruturado desta maneira
evita problemas como perguntas mal entendidas, permitindo o esclarecimento
no momento da entrevista e respostas equivocadas. Por esse método, é
possível incluir na amostragem pessoas analfabetas ou com baixo grau de
escolaridade. Entrevistas também ajudam o pesquisador a conhecer as
atividades desenvolvidas no trabalho em estudo e a se familiarizar com os
termos utilizados no ambiente de trabalho.
22
Neste estudo foi analisado o perfil do trabalhador; as características
gerais da função; os hábitos, costumes e vícios; questões sobre treinamento;
saúde; ambiente de trabalho; higiene e segurança no trabalho; supervisão;
sindicalização; fontes de renda; atividades recreativas; escolaridade;
ergonomia e postura de trabalho. Para análise dos dados do questionário foi
utilizado o software Epi Info, versão 3.3.2 (2005), que é um programa de
estatística de domínio público.
3.5 Avaliação da carga de trabalho físico por meio da freqüência
cardíaca
A carga de trabalho físico foi avaliada por intermédio do levantamento da
freqüência cardíaca durante a jornada de trabalho, nas atividades de
coveamento manual, plantio florestal manual com aplicação de gel, distribuição
de adubo químico e roçada semi-mecanizada. Os dados foram coletados e
analisados por meio do sistema da Polar Eletro Oy, da Finlândia. O
equipamento utilizado, modelo Polar Vantage NV é formado por três partes, um
receptor digital de pulso, uma correia elástica e um transmissor com eletrodos.
O transmissor fixado ao trabalhador na altura do tórax, por meio da correia
elástica, emite os sinais de freqüência que são captados e armazenados pelo
receptor de pulso em intervalos de tempo predeterminados. Ao término da
coleta de dados, estes podem ser transferidos para um computador, por
intermédio da interface que acompanha o equipamento e, posteriormente,
analisados por meio de um software desenvolvido pelo próprio fabricante para
tal finalidade.
Com base nesses dados, foi possível determinar a carga de trabalho
físico imposta por cada atividade e estabelecer os limites aceitáveis para uma
“performance” contínua no trabalho, bem como ajustar a carga de trabalho
físico à capacidade dos trabalhadores para melhoria dos seus níveis de saúde,
bem-estar e satisfação.
Esses dados permitiram calcular a carga cardiovascular no trabalho,
conforme metodologia proposta por APUD (1989), que corresponde à
percentagem da freqüência cardíaca durante o trabalho, em relação à
23
freqüência cardíaca máxima utilizável. A carga cardiovascular é dada pela
seguinte equação:
100×
=
FCRFCM
FCRFCT
CCV
em que:
CCV = carga cardiovascular, em %;
FCT = freqüência cardíaca de trabalho (bpm);
FCM = freqüência cardíaca máxima (220 - idade) (bpm); e
FCR = freqüência cardíaca de repouso (bpm).
A freqüência cardíaca limite (FCL), em bpm, para a carga cardiovascular
de 40% é obtida pela seguinte fórmula:
FCRFCRFCMFCL
+
×
=
)(40,0
Quando a carga cardiovascular ultrapassava 40% (acima da freqüência
cardíaca limite) para reorganizar o trabalho, foi determinado, segundo APUD
(1989), o tempo de repouso (pausa) necessário, pela equação:
FCRFCT
FCLFCTHt
Tr
=
)(
em que:
Tr = tempo de repouso, descanso ou pausas, em minutos; e
Ht = duração do trabalho, em minutos.
3.6 Avaliação biomecânica
As avaliações biomecânicas das atividades de coveamento manual,
plantio florestal manual com aplicação de gel, distribuição de adubo químico e
roçada semi-mecanizada foram realizadas por meio da análise bidimensional,
através de fotos, filmagens de diversas posturas. Após análise das fotos e
filmes foram selecionadas as posturas estáticas forçadas e os ângulos foram
24
medidos e inseridos no programa computacional de modelo biomecânico
bidimensional de predição de posturas e forças estáticas, desenvolvido pela
Universidade de Michigan, dos Estados Unidos (2005).
A análise, através do software, forneceu a carga-limite recomendada, que
corresponde ao peso que mais de 99% dos homens e 75% das mulheres
conseguem levantar. A carga-limite recomendada induz a uma força (medida
em Newton) de compressão da ordem de 3.426,3 N sobre o disco L5-S1 da
coluna vertebral, que pode ser tolerada pela maioria dos trabalhadores jovens e
em boas condições de saúde.
3.7 Lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho LER/DORT
Os riscos de lesões por esforços repetitivos da atividade de roçada semi-
mecanizada foi avaliado considerando o Check-List de Couto (COUTO, 1998).
O mesmo é um instrumento subjetivo e simplificado para possíveis riscos de
tenossinovites e distúrbios músculos-esqueléticos de membros superiores
relacionados ao trabalho.
O Check-list de Couto possibilita que todos os pontos importantes de uma
análise de trabalho sejam observados, evitando a omissão de algum aspecto,
além de possibilitar um mapeamento rápido da empresa, obtendo-se uma
espécie de visão panorâmica do risco de lesões de membros superiores
(COUTO, 1998).
Para esta análise foram realizadas filmagens, fotos e observações in loco
das atividades, posteriormente esse material foi utilizado para responder as
questões envolvidas no Check-List. As questões do instrumento de avaliação
utilizado estão citadas no Quadro 1.
25
Quadro 1 Check-List para avaliação simplificada do risco de tenossinovites e
distúrbios músculos-esqueléticos de membros superiores
relacionados ao trabalho
Perguntas Pontos
1. Sobrecarga Física
1.1 O trabalho pode ser feito sem que haja contato da
mão ou do punho ou dos tecidos moles com alguma
quina viva de objeto ou ferramenta?
Não (0) Sim (1)
( )
1.2 O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?
Sim (0) Não (1)
( )
1.3 O trabalho é feito em condições ambientais de frio
excessivo?
Sim (0) Não (1)
( )
1.4 A tarefa pode ser feita sem a necessidade do uso de
luvas?
Não (0) Sim (1)
( )
1.5 Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um
pequeno descanso? Ou há pausa bem definida de
cerca de 5 a 10 minutos por hora?
Não (0) Sim (1)
( )
2. Força com as Mãos
2.1 Aparentemente as mãos fazem pouca força?
Não (0) Sim (1)
( )
2.2 A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é
utilizada para fazer força?
Sim (0) Não (1)
( )
2.3 Quando usados para apertar botões, teclas ou
componentes, para montar ou inserir, ou para exercer
compressão digital, a força de compressão exercida
pelos dedos ou pela mão é pequena?
Não (0) Sim ou não se aplica (1)
( )
2.4 O esforço manual detectado é feito durante mais que
10% do ciclo ou é repetido mais que 8 vezes por
minuto?
Sim (0) Não (1)
( )
3. Postura no Trabalho
3.1 Há algum esforço estático da mão ou do antebraço na
realização do trabalho?
Sim (0) Não (1)
( )
26
Quadro 1 Cont.
3.2 Há algum esforço estático do braço ou do pescoço na
realização do trabalho?
Sim (0) Não (1)
( )
3.3 O trabalho pode ser feito sem extensão ou flexão
forçadas do punho?
Não (0) Sim (1)
( )
3.4 0 trabalho pode ser feito sem desvio lateral forçado do
punho?
Não (0) Sim (1)
( )
3.5 Há abdução do braço acima de 45 graus ou elevação
dos braços acima do nível dos ombros como rotina na
execução da tarefa?
Sim (0) Não (1)
( )
3.6 Existem outras posturas forçadas dos membros
superiores?
Sim (0) Não (1)
( )
3.7 O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante
a jornada?
Não (0) Sim (1)
( )
4. Posto de Trabalho
4.1 0 posto de trabalho permite flexibilidade no
posicionamento das ferramentas, dispositivos e
componentes, incluindo inclinação dos objetos quando
isto for necessário?
Não (0) Sim (1)
Desnecessária a flexibilidade de que trata este item (1)
( )
4.2 A altura do posto de trabalho é regulável?
Não (0) Sim (1)
( )
5. Repetividade e Organização do Trabalho
5.1 0 ciclo de trabalho é maior que 30 segundos?
Não (0) Sim (1)
Não há ciclos (1)
5.2 No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes
padrões de movimentos (de forma que nenhum
elemento da tarefa ocupe mais que 50% do ciclo?)
Não (0) Sim (1)
Ciclo <30 segundos (0) Não há ciclos (1)
( )
( )
5.3 Há rodízio (revezamento) nas tarefas?
Não (0) Sim (1)
Desnecessário o revezamento (1)
( )
27
Quadro 1 Cont.
5.4 Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo
apertado para realizar sua tarefa?
Sim (0) Não (1)
( )
6. Ferramenta de Trabalho
6.1 Para esforços em prensão: - O diâmetro da manopla da
ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulheres) ou entre
25 e 35 mm (homens)? Para esforços em pinça: O cabo
não é muito fino nem muito grosso e permite boa
estabilidade da pega?
Não (0) Sim (1)
Não há ferramenta (1)
( )
6.2 A ferramenta pesa menos de 1 kg ou, no caso de pesar
mais de 1 kg, encontra-se suspensa por dispositivo
capaz de reduzir o esforço humano?
Não (0) Sim (1)
( )
Total de pontos
( )
Para a interpretação dos resultados quanto aos riscos de ocorrência de
LER/DORT, devem-se somar todos os pontos do questionário e classificar a
atividade de acordo com o total de pontos alcançados.
- Acima de 22 pontos: baixíssimo risco
- Entre 19 e 22 pontos: baixo risco
- Entre 15 e 18 pontos: Risco moderado
- Entre 11e 14 pontos: alto risco
- Abaixo de 11 pontos: altíssimo risco
28
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização do perfil dos trabalhadores e das condições de
trabalho
4.1.1 Caracterização do perfil dos trabalhadores
No estudo do perfil dos trabalhadores foram analisadas variáveis como
dados pessoais, grau de escolaridade, hábitos, costumes, vícios, crenças,
atividades recreativas, tipos de refeições realizadas e sindicalização dos
trabalhadores.
4.1.1.1 Dados pessoais
A média de idade dos trabalhadores florestais é de 34,5 anos, sendo a
estatura media de 1,70 metros e média de peso de 69,7 Kg. Com relação a
cútis verificou-se que 57,1% são negros e a respeito da lateralidade observou-
se que 71,4% são destros. O Quadro 2 apresenta os dados pessoais dos
trabalhadores florestais.
29
Quadro 2 Dados pessoais dos trabalhadores florestais
Variáveis analisadas Valores
Idade (anos) 34,5
Peso (kg) 69,7
Estatura (m) 1,70
Branca 14,3
Negra 57,1 Cútis (%):
Mestiça 28,6
Canhoto 28,6
Lateralidade (%)
Destro 71,4
4.1.1.2 Grau de escolaridade
Entre os trabalhadores florestais entrevistados, o grau de escolaridade foi
baixíssimo, visto que nenhum deles concluiu sequer o ensino fundamental.
Atualmente nenhum dos trabalhadores estuda, 57,1% declarou que parou de
estudar para trabalhar. Quando interrogados sobre a possível volta à escola
100% afirmaram ter vontade de voltar a estudar e destes, 85,7% não voltam
por causa do trabalho, isto é, “não há como conciliar as duas coisas por motivo
de tempo e cansaço físico”. O grau de escolaridade dos trabalhadores
pesquisados está representado no Quadro 3.
Quadro 3 Grau de escolaridade dos trabalhadores florestais
Até que série estudou Porcentagem de trabalhadores
14,3
-
-
28,6
42,8
-
14,3
-
2° grau incompleto -
2° grau completo -
Nunca estudou -
30
4.1.1.3 Hábitos, costumes, vícios e crença dos trabalhadores
Em função dos entrevistados morarem a diferentes distancias da área de
trabalho, declararam acordar cedo para serem transportados até o local da
atividade, prejudicando o período de sono. Constatou-se que 68,7% acordam
às 4 horas da manhã. Com relação ao período de sono, 38,6% dorme média de
7 horas por noite e destes 3,2% declaram que tem insônia. Apesar disto 63,4%
dos entrevistados afirmam que o período de sono é suficiente para o descanso;
84,9% não se sentem cansados ao iniciar a jornada de trabalho e 58% relatam
sentir cansaço físico após o dia de serviço. 97,7% dos trabalhadores
declararam que passam os sete dias da semana com a família.
O tabagismo está presente em 50% dos trabalhadores, destes 33,3%
fumam cigarro de palha (“rolão”) e 66,7% cigarros industrializados. A média de
cigarros por dia é de 5 cigarros. Dentre os entrevistados 66% afirmaram que
consomem bebidas alcoólicas aos finais de semana, destes 23% declararam
consumir aguardente (cachaça) e 43% cerveja.
O trabalhador florestal está exposto a insolação, logo é extremamente
importante se hidratar. Todos os trabalhadores responderam que a empresa
fornece uma garrafa térmica, com capacidade para 5 litros, 50% afirmam tomar
quatro litros de água durante o serviço.
Quando questionados sobre a origem da água que bebem 66,7%
responderam consumir água de torneira, (tratada pela Copasa), 33,3%
disseram beber água filtrada.
Um dado importante a ser registrado é que 76,7% dos trabalhadores
entrevistados declararam ter o hábito se esforçarem para concluir a meta de
trabalho antes do almoço, fato este que pode levar a uma sobrecarga músculo-
esquelética, fadiga e até mesmo desencadear, se de forma repetitiva, o
aparecimento de LER/DORT e outros acidentes de trabalho.
31
4.1.1.4 Tipos de refeições dos trabalhadores
Às 10h30min horas é o horário que 66,7% dos trabalhadores admitem
sentir mais fome, entretanto, somente após as 12h00min horas é que retornam
do trabalho para almoçar. As refeições dos trabalhadores tanto nos dias de
folga quanto nos dias de trabalho, estão apresentadas no Quadro 4.
Quadro 4 Refeições diárias realizadas pelos trabalhadores florestais
Refeições Dias de serviço (%) Dias de folga (%)
Café da manhã 71,4 71,4
Lanche da manhã 71,4 71,4
Almoço 85,7 100
Lanche da tarde 28,6 71,4
Jantar 71,4 100
Lanche da noite 28,6 71,4
Com base nos dados pode-se afirmar que um percentual de
trabalhadores só tem fixado, seus horários de refeição durante os dias de
serviço se comparado com os dias de folga.
4.1.1.5 Atividades recreativas dos trabalhadores
De acordo com a declaração dos trabalhadores, 15% dos entrevistados
responderam que participam de atividades comunitárias no local em que vivem.
Dos trabalhadores pesquisados 28,6% tem algum tipo de atividade
recreativa, a principal delas, para 50% dos entrevistados, é ir ao clube.
Com relação à prática de esportes, 28,6% declararam praticar futebol aos
finais de semana.
32
4.1.1.6 Sindicalização
Dos trabalhadores entrevistados 42,9% são sindicalizados, destes
somente 33,3% tem conhecimento do papel desempenhado pelo sindicato e
relataram que nunca foram beneficiados pela entidade de classe. Quando
questionados sobre a importância de ser sindicalizado 66,7% responderam que
é importante e para 50% os principais motivos são as consultas médicas que o
sindicato oferece. Entre os benefícios que deveriam ser conseguidos pelo
sindicato o aumento de salário é a opinião de 87% dos pesquisados.
4.1.2 Condições de trabalho
4.1.2.1 Atividade de coveamento manual
a) Características gerais do trabalho
Na atividade de coveamento manual os trabalhadores utilizam como
ferramenta de trabalho um enxadão que pesa 2,1 kg fixado num cabo de
madeira com 1,10 m de comprimento. A meta de cada trabalhador é abrir 300
covas por dia. As covas são abertas com dimensões média de trinta
centímetros de profundidade e trinta centímetros de diâmetro, distanciada três
metros uma da outra. Dos trabalhadores da atividade de coveamento manual
70% escolheram a profissão por falta de outras oportunidades, 23% por já ter
experiência anterior na função e 7% por gostar da atividade; apenas 9,9%
consideram difícil, entretanto, 57,5% considera a atividade perigosa devido ao
risco de quedas. Para 100% dos entrevistados essa atividade é considerada
cansativa devido ao fato de ter que subir e descer as linhas demarcadas no
terreno várias vezes abrindo covas. As áreas de plantio, em sua maioria, têm
inclinação superior à 20º e para 36,4% oferece risco de quedas aos
trabalhadores.
O clima quente da região no período de verão é um fator adverso que os
trabalhadores têm que superar para conseguir desenvolver a atividade.
33
Entre os pesquisados 16,5% relataram faltar ao trabalho, 74% deles uma
vez ao mês, os principais motivos são problemas de saúde (53,4%) e
problemas particulares (46,6%).
Dos trabalhadores, 68% declararam ter vontade de mudar de atividade
dentro da empresa e dentre os motivos 93% relataram terem como objetivo
melhorar o salário, para isso o cargo mais pretendido é a aplicação de
herbicida, devido ao adicional de insalubridade. Todos os entrevistados
declararam ter um bom relacionamento com o encarregado e o considera um
bom profissional.
b) Grau de exigência de treinamento
A atividade de coveamento manual é considerada simples pelos
trabalhadores, entretanto, os treinamentos são de suma importância para a
segurança dos operadores e redução dos riscos de acidentes. De acordo com
82% dos trabalhadores entrevistados para aqueles que executam a atividade
de coveamento manual recebem treinamentos com o encarregado ou técnico
de segurança, com duração média de um dia, sendo considerado por esses
como suficiente para aprender a função, o restante (18%) afirmou que o
aprendizado do serviço foi adquirido com os colegas de trabalho.
Vale ressaltar que entre os que tiveram treinamentos, 74% relataram que
foram treinados ao iniciar a função, 93,2% consideram importantes os
treinamentos recebidos. Entre os pesquisados 98,9% relataram já terem
recebido treinamento sobre segurança no trabalho.
c) Efeito do trabalho na saúde dos trabalhadores
Observou-se que apenas 9,7% dos trabalhadores da atividade de
coveamento manual apresentam atualmente algum problema de saúde, e
afirmam que os mesmos não estão relacionados com o trabalho. Decorrente do
esforço visual nos dias de trabalho 15,8% sente dores nos olhos; 13,4%
irritação que atribuem estar relacionada ao clima quente e sudorese.
Ao final do dia de trabalho, à parte do corpo que os trabalhadores mais
sentem dores e/ou desconfortos musculares são os punhos 23,7%, coluna
34
47,8% e 6% disseram estar adaptados à atividade e não queixam dor em
nenhuma região do corpo. O Quadro 5 mostra as partes do corpo que os
trabalhadores apresentaram queixas de dor e desconforto muscular e que
acabam atrapalhando a execução normal da tarefa.
Quadro 5 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de dor
e desconforto muscular que atrapalham a execução normal da
tarefa
Partes do corpo Porcentagem de trabalhadores
pescoço 13,3
ombros 27,2
cotovelos 26,9
pulsos 50,7
Coluna vertebral 47,8
Quadris e coxas 10,6
joelhos 2,9
Tornozelos/pés 3,1
d) Ferramenta de trabalho, postura trabalho e acidentes
De acordo com 92,8% dos trabalhadores a ferramenta utilizada na
atividade de coveamento manual (enxadão) oferece boa segurança e encontra-
se em bom estado de conservação e não tem regulagem para comprimento do
cabo.
Na opinião de 89,7% dos trabalhadores a postura de trabalho é
extremamente desconfortável, pois devido à inclinação do terreno tem-se uma
sobrecarga da coluna (flexão com aumento da cifose torácica da coluna
vertebral), além da região dos pulsos, ombros e cotovelos; 84,6% disseram que
a mesma pode ser facilmente alterada, porém não demonstram vontade de
alterá-la. Para 89,7% não consegue percorre a área de trabalho subindo e
descendo o terreno sem o risco de quedas e 63% deles declararam que
conseguem sair rapidamente numa eventual situação de emergência. O local
de trabalho foi considerado de difícil acesso para 75,3% dos trabalhadores.
35
Nenhum trabalhador que realiza a atividade de coveamento manual afirmou ter
sofrido acidente de trabalho na empresa.
4.1.2.2 Plantio florestal manual com aplicação de gel
a) Características gerais do trabalho
As áreas de plantio, em sua maioria, têm inclinação superior a 20º o que
torna o trabalhador mais susceptível a quedas de acordo com 36,4% dos
entrevistados.
O clima quente da região no período de verão é um fator adverso que os
trabalhadores têm que superar para conseguir desenvolver a atividade.
Para 65,7% dos trabalhadores envolvidos no plantio manual com
aplicação de gel a escolha da atividade está relacionada a falta de
oportunidade para trabalharem em outras atividades, no entanto, 34,3%
confessam que gostam do que fazem. Quando questionados sobre as
dificuldades da profissão 27,6% afirmaram ser difícil; 84,4% a consideram
perigosa, sendo que destes 72,7% destacaram o risco de quedas como
principal perigo. A atividade foi considerada cansativa por todos os
entrevistados e 89,7%, atribui ao fato de ter que subir e descer o terreno várias
vezes carregando peso.
Dentre os entrevistados 27,7% relatam faltar ao trabalho e destes, 22,4%
declararam que faltam duas vezes ao mês, 13,7% alegam dor na coluna e
muito cansaço físico como motivo; 49,8% tem vontade de mudar de atividade
dentro da empresa. O cargo mais almejado para 37,7% dos trabalhadores é o
de encarregado. O relacionamento com o encarregado para 71,7% dos
trabalhadores entrevistados é bom, porque se trata de um bom profissional.
b) Grau de exigência de treinamento
A atividade de plantio manual com aplicação de gel requer um cuidado
especial com as mudas e com a maneira de plantá-las.
Todos os trabalhadores entrevistados receberam treinamento do
encarregado e técnico de segurança com duração média de dois dias,
36
garantindo que o mesmo foi suficiente para o aprendizado. A maioria (87,7%)
recebeu os treinamentos antes de iniciar a função na empresa, 71,4%
afirmaram que recebem treinamento mensal, além disto, 97,7% consideram
importantes os treinamentos recebidos, 34,1% disseram aumentar a segurança
no trabalho e 6,4% apontaram outros fatores. Entre os pesquisados 100%
receberam treinamento sobre segurança no trabalho.
c) Efeito do trabalho na saúde dos trabalhadores
Nenhum dos trabalhadores envolvidos na atividade de plantio
apresentam problema de saúde atualmente.
Decorrente do esforço visual nos dias de trabalho 11,8% sentem dores
nos olhos, 37,6% irritação e atribuem a poeira como fator causal, 5,9%
possuem dificuldade para ouvir e 11,8% sentem dores de ouvido, mas afirmam
que o fator causal não está relacionado ao trabalho. A poeira é motivo de
alergia para 17,6% dos trabalhadores entrevistados e nenhum deles apresenta
problemas respiratórios.
Ao final do dia de trabalho, à parte do corpo que os trabalhadores mais
sentem dores e/ou desconfortos musculares são os dedos das mãos 34,5% e a
coluna 65,5%. O Quadro 6 mostra as partes do corpo que os trabalhadores
apresentaram queixas de dor e desconforto muscular.
Quadro 6 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de dor
e desconforto muscular
Partes do corpo Porcentagem de trabalhadores
Pescoço 17,6
Ombros 27,1
Cotovelos 7,9
Pulsos/dedos das mãos 64,8
Coluna vertebral 73,7
Quadris e coxas 23,2
Joelhos 11,8
Tornozelos/pés 15,6
37
d) Ferramenta de trabalho, postura trabalho e acidentes
De acordo com 81,6% dos trabalhadores o equipamento utilizado no
plantio manual com aplicação de gel oferece boa segurança e se encontra em
bom estado de conservação, entretanto, o reservatório de gel possui
regulagem para altura e estofamento não é considerado ideal para os
entrevistados, pois incomodam e aumentam a sudorese. Com relação à
plantadeira todos consideraram os controles de acionamento bem instalados e
de fácil acesso, como a altura não é ajustável os trabalhadores são obrigados a
adotar posturas forçadas que resulta em dores na coluna vertebral,
principalmente na região lombar.
Para 88,5% dos pesquisados a postura de trabalho é extremamente
desconfortável, além disto, 45,1% disseram que a mesma não pode ser
facilmente alterada. De acordo com os entrevistados, 79% não consegue subir
e descer o terreno sem o risco de quedas e a mesma porcentagem consegue
sair rapidamente numa eventual situação de emergência. O local de trabalho
foi considerado de difícil acesso por 24,4% dos trabalhadores.
Dentre os entrevistados na atividade de plantio com matraca não foram
registrados acidentes.
4.1.2.3 Distribuição de adubo químico
a) Características gerais do trabalho
As áreas de plantio, em sua maioria, têm inclinação superior à 20º,
oferecendo risco de quedas de acordo com 36,4 dos trabalhadores.
Dos trabalhadores que realizam a atividade de distribuição de adubo
químico 46% escolheram a profissão por falta de oportunidades e 54% por que
oferece um melhor salário; 35,6% gostam do que fazem e apenas 9,9%
consideram difícil. Entretanto, 54,5% considera a atividade perigosa devido ao
risco de quedas e intoxicação e 100% considera cansativa devido ao fato de ter
que subir e descer o terreno várias vezes carregando a sacola com o adubo.
Do total dos trabalhadores avaliados 28,4% relataram faltar ao trabalho,
15% deles com freqüência de duas vezes ao mês. Os principais motivos
38
apontados são problemas de saúde (42,6%) e cansaço físico do dia anterior de
trabalho (23,8%). Para 39% dos trabalhadores declararam ter vontade de
mudar de atividade dentro da empresa, a maioria deles com o intuito melhorar
o salário e o cargo mais pretendido é o de chefe de setor (encarregado). Todos
os entrevistados têm um bom relacionamento com o encarregado e o considera
um bom profissional.
b) Grau de exigência de treinamento
A distribuição de adubo químico como qualquer atividade requer cuidado
dos trabalhadores, conhecimento sobre segurança no trabalho e noções
básicas sobre como agir em eventuais situações de emergência.
De acordo com a declaração dos trabalhadores da atividade de
distribuição de adubo, 89% relataram ter recebido treinamento com o
encarregado ou técnico de segurança, com duração média de dois dias, que
segundo os entrevistados, seria o suficiente para aprender a função, 11%
afirmaram que aprenderam o serviço com os colegas de trabalho.
Entre os que tiveram treinamentos todos declararam o receberam ao
iniciar a atividade na empresa; 74% afirmaram receber treinamentos mensais e
99% consideram importantes os treinamentos recebidos, para evitar acidentes,
além de esclarecimentos sobre o que fazer em possíveis acidentes. Entre os
pesquisados 100% declararam que já receberam treinamento sobre segurança
no trabalho.
c) Efeito do trabalho na saúde dos trabalhadores
Observou-se que 12% dos trabalhadores da atividade de distribuição de
adubo químico apresentam problema de saúde e consideram os mesmos
relacionados à profissão. Os problemas mencionados foram irritações na pele e
lombalgias.
Decorrente do esforço visual nos dias de trabalho 4,8% sente dores nos
olhos e 11,3% relatou sofrer irritação. Todos os trabalhadores acreditam que
esses sintomas estejam relacionados ao clima quente, sudorese e a
composição química do produto.
39
Ao final do dia de trabalho, a parte do corpo que 60,8% dos trabalhadores
mais sentem dores e/ou desconfortos musculares são os ombros 65,5%
relataram dores e/ou desconforto na coluna. O Quadro 7 mostra as partes do
corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de dor e desconforto
muscular que atrapalharam a realização normal da atividade.
Quadro 7 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dores e/ou desconforto muscular que atrapalharam a realização
normal da atividade
Partes do corpo Porcentagem de trabalhadores
Pescoço 26,3
Ombros 68,5
Cotovelos 16,8
Pulsos 24,7
Coluna vertebral 47,9
Quadris e coxas 10,9
Joelhos 13,0
Tornozelos/pés 12,6
d) Ferramenta de trabalho, postura trabalho e acidentes
De acordo com 60,2% dos trabalhadores as bolsas utilizadas na atividade
distribuição de adubo oferecem boa segurança, encontram-se em bom estado
de conservação e possuem regulagem para a altura.
Na opinião de 87% dos trabalhadores a postura de trabalho é
extremamente desconfortável, pois não conseguem subir e descer o terreno
sem o risco de quedas e 55,5% declarou que conseguem sair rapidamente
numa eventual situação de emergência. O local de trabalho foi considerado de
difícil acesso para 76,6% dos trabalhadores e 100% nunca sofreram acidentes
de trabalho nesta empresa.
40
4.1.2.4 Roçada semi-mecanizada
a) Características gerais do trabalho
Na atividade de roçada semi-mecanizada o trabalhador tem como meta
realizar “limpeza” na área de e para isto utiliza máquina que abastecida pesa
10,6 Kg. Trata-se de uma atividade desgastante, pois não bastasse o peso da
máquina, o trabalhador tem de suportar a vibração e o ruído produzido. Dos
trabalhadores dessa atividade 87,3% declararam que escolheram a profissão
por falta de outras oportunidades, 44,9% consideram a atividade de difícil
realização, 83% perigosa e 100% cansativa devido ao fato de subir e descer o
terreno várias vezes carregando a máquina.
As áreas de trabalho em sua maioria têm inclinação superior à 20º, o que
pode favorecer as quedas.
Entre os pesquisados 69,7% relataram faltar ao trabalho, 45% deles
declararam faltar três vezes ao mês. Para 78,6% os principais motivos são
dores no corpo, que acreditam estar relacionada à vibração emitida pela
máquina.
Dos trabalhadores dessa atividade, 79% declararam ter vontade de mudar
de atividade dentro da empresa, 60,5% para uma atividade menos cansativa,
de preferência para o cargo de encarregado. O relacionamento com o
encarregado foi considerado bom pelos trabalhadores, que afirmaram não ter o
que reclamar do chefe imediato.
b) Grau de exigência de treinamento
Nesta atividade é necessário que o trabalhador tenha conhecimento
técnico e habilidade para manusear a máquina; pois qualquer descuido pode
levar a acidentes com conseqüências graves para operador.
Entre os entrevistados que aprenderam a função através de treinamentos
realizados pelo encarregado e técnico de segurança, com duração média de
dois meses, todos relataram como sendo o mesmo suficiente para o
aprendizado da atividade. Todos relataram que receberam treinamentos ao
iniciar a função na empresa e destes, 73,7% afirmam que recebem treinamento
41
mensalmente sobre a atividade de roçada semi-mecanizada, além disto, todos
consideram importantes os treinamentos recebidos para evitar acidentes.
c) Efeito do trabalho na saúde dos trabalhadores
De acordo com 39% dos entrevistados que relataram apresentar dores de
ouvido e dificuldades para ouvir, acreditando estar o problema relacionado ao
ruído excessivo produzido pela motorroçadeira. Decorrente do esforço visual a
que são submetidos no trabalho, 23% dos trabalhadores sentem dores e
irritação nos olhos, e afirmam que esses sintomas estão relacionados à
exposição aos raios solares.
Ao término da jornada de trabalho, as partes do corpo que os
trabalhadores mais relatam dores são: coluna (63%), os punhos e os dedos
das mãos (37%) devido ao fato de acionar repetidamente os controles da
motorroçadeira. O Quadro 8 mostra as partes do corpo que os trabalhadores
apresentaram queixas de dores e/ou e desconforto muscular e que
atrapalharam a realização normal da atividade.
Quadro 8 Partes do corpo que os trabalhadores apresentaram queixas de
dores e/ou desconforto muscular que atrapalharam a realização
normal da atividade
Partes do corpo
Porcentagem de
trabalhadores
Pescoço 29,2
Ombros 47,9
Cotovelos 29,6
Pulsos/ mãos 70,7
Coluna vertebral 74,6
Quadris e coxas 17,6
Joelhos 27,7
Tornozelos/ pés 19,9
42
d) Ferramenta de trabalho, postura trabalho e acidentes
A atividade de roçada semi-mecanizada obteve reclamações dos
trabalhadores em relação à máquina utilizada nas atividades, pois, para 87%
dos trabalhadores, o equipamento utilizado na atividade não oferece boa
segurança, apesar de se encontrar em bom estado de conservação, além disto,
84% consideram o ruído produzido pela motorroçadeira excessivo mesmo
usando o protetor auricular e a vibração gerada pela máquina causa
desconforto e atrapalha na execução da atividade segundo 96% dos
trabalhadores. Os trabalhadores admitiram que os controles de acionamento
estão bem instalados e são de fácil acesso; 78,6% consideram os movimentos
de curso e direções difíceis de se realizar e todos manifestaram ser
extremamente cansativo e doloroso para os dedos das mãos ter que acionar
várias vezes os controles para acelerar a máquina.
A motorroçadeira possui regulagem para altura, mesmo assim 88% dos
trabalhadores consideram a postura de trabalho extremamente desconfortável,
63,2% disseram que a mesma não pode ser facilmente alterada. A grande
maioria (94,6%) não consegue subir e descer o terreno sem o risco de quedas,
e apenas 15% deles acha que conseguem sair rapidamente numa eventual
situação de emergência. O local de trabalho foi considerado de difícil acesso
para 89,4% dos trabalhadores. De acordo com os trabalhadores entrevistados,
apesar de algumas condições desfavoráveis de trabalho, nenhum deles relatou
ter sofrido acidentes de trabalho nesta empresa.
4.2 Avaliação da carga de trabalho físico por meio da freqüência
cardíaca
a) Coveamento manual
A atividade de coveamento manual exige grande esforço físico dos
trabalhadores florestais. Para desenvolver esta atividade, a carga
cardiovascular exigida é de 41%. Este valor está acima do recomendado por
APUD (1989) de 40% para execução de atividades florestais.
43
Durante a execução de atividades que requerem grandes esforços
cardiovasculares, o fluxo sangüíneo para o coração pode ser prejudicado, a
ponto de ocorrer tonteira e vertigem, quando se reduz o fluxo sangüíneo para o
cérebro (KATCH e McARDLE,1996).
A freqüência cardíaca média durante toda a atividade foi de 117 bpm,
sendo que a freqüência cardíaca limite era de 115 bpm. Os trabalhadores
quando expostos a estas situações podem comprometer a integridade de sua
saúde, ficando susceptível as DORT´s, estresse, cansaço mental, problemas
cardiovasculares dentre outras patologias.
Para uma jornada de trabalho de 8h, a freqüência cardíaca não deve
exceder a 110 bpm (COUTO, 1995). No entanto, está não é a realidade da
atividade de coveamento manual. Considerando que a maior parte do tempo
em que o trabalhador foi submetido ao teste, para avaliar a variação da
freqüência cardíaca, observou-se durante o desenvolvimento da atividade, que
as oscilações da freqüência cardíaca excedem a 110 bpm, conforme
demonstrado na figura 9.
Figura 9 Variação da freqüência cardíaca observada na atividade de
coveamento manual com enxadão em função do tempo
44
Esta atividade pode ser classificada como moderadamente pesada,
segundo COUTO (2002). Com a evolução industrial o ser humano poderá cada
vez menos desenvolver trabalho fisicamente pesado, pois o mesmo favorece o
surgimento de sintomas de fadiga, reduzindo assim seu ritmo de trabalho,
atenção e raciocínio, o que torna o operador menos produtivo e mais sujeito a
erros e acidentes (SOUZA e MINETTE, 2002).
Para esta atividade o trabalhador deverá trabalhar 57 min e descansar 3
min a cada 1h. A ausência das pausas nas atividades pesadas está
relacionada ao acúmulo de ácido lático que resulta em fadiga, provocando
cansaço, desmotivação, irritabilidade, redução das capacidades cognitivas e
sintomas psicossomáticos (RIO e PIRES, 1999). As pausas devem ser
freqüentes e menores, pois até certo limite, melhor será a recuperação do
trabalhador e mais fácil a manutenção do ritmo de trabalho. As mesmas devem
ser distribuídas adequadamente durante a jornada de trabalho e não devem ser
instituídas livremente pelos trabalhadores, pois podem se tornar menos
eficiente que as programadas, em razão de poderem ter sido escolhidas em
momentos inadequados (COUTO, 1995).
b) Plantio florestal manual com aplicação de gel
O trabalho pesado ainda pode ser observado de maneira intensa no setor
florestal, onde os conceitos de ergonomia e saúde ocupacional têm sido
ignorados usualmente (RIO e PIRES, 1999).
A carga cardiovascular da atividade estudada foi de 40%, este valor está
dentro do recomendado por APUD (1989). Mesmo estando não ultrapassando
o limite recomendado, este dado não deixa de ser relevante, a sobrecarga
física no trabalho florestal mesmo que mínima pode produzir enfermidades no
organismo humano, resultando em afastamento do trabalho e aposentadorias
(APUD, 1999).
A freqüência cardíaca média durante a jornada de trabalho de 8h é 116
bpm e a freqüência cardíaca limite encontrada nesta atividade é de 116 bpm,
sendo a atividade classificada como moderadamente pesada. As
conseqüências desta situação podem ser fadiga aguda ou crônica, tontura,
câimbra, dores musculares e distúrbios músculo-ligamentares (COUTO, 1995).
45
A atividade apresenta risco de sobrecarga física, como pode ser
observado o trabalhador realizou toda a tarefa com uma freqüência cardíaca
média igual a limite, e isso pode ser considerado um risco, pois como ilustra a
Figura 10, existem oscilações da freqüência acima de 116 bpm.
Figura 10 Variação da freqüência cardíaca observada durante a atividade de
plantio com aplicação de gel em função do tempo de trabalho
A organização do trabalho em metas como acontece no plantio florestal,
faz com que as pausas não aconteçam, já que o trabalhador fica ansioso para
cumprir sua tarefa e ir para o ponto de apoio da empresa esperar o transporte,
desconsiderando a importância das pausas como um dos mecanismos de
recuperação de fadiga, colocando em risco a integridade de sua saúde.
c) Distribuição de adubo químico
Durante a realização da atividade de distribuição de adubo químico a
freqüência cardíaca média foi 120 bpm, exceto no período de almoço, onde
46
houve uma redução dos batimentos cardíacos devido à pausa de 1h realizada
pelo trabalhador como ilustra a Figura 11.
Figura 11 Freqüência cardíaca observada na atividade de distribuição de
adubo químico em função do tempo
A freqüência cardíaca limite encontrada para esta atividade foi de 113
bpm, ou seja, durante a execução da atividade os batimentos cardíacos do
trabalhador não deveriam exceder este valor. As atividades que elevam a
freqüência cardíaca podem dar origem a hipertensão arterial e ao acidente
vascular cerebral (KATCH e McARDLE, 1996).
A carga cardiovascular foi 47%, esse percentual está acima do
recomendado por APUD (1989) que é de 40%. O indicado seria que o
trabalhador não excedesse o percentual recomendado, pois todo indivíduo tem
um limite de tolerância a fadiga, que quando ultrapassado torna o mesmo
propenso a patologias, acidentes e perda de produtividade e qualidade no
trabalho (APUD, 1999).
A atividade de distribuição de adubo, e acordo com COUTO, (2002) pode
ser classificada como moderadamente pesada com tendência à pesada. As
47
atividades moderadamente pesadas podem ocasionar lombalgias que
costumam afastar o trabalhador de suas atividade por aproximadamente 7 a 10
dias, com recidivas freqüentes; já as atividades pesadas provocam distúrbios
dos discos intervertebrais que podem ocasionar quadro álgico intenso e
incapacitante, gerando afastamentos prolongados e muitas vezes permanente.
d) Roçada semi-mecanizada
Para a realização da atividade de roçada semi-mecanizada a carga
cardiovascular exigida ao trabalhador foi de 35%, este percentual apesar de
não estar acima do recomendado por APUD (1989) e o ciclo de trabalho
avaliado permite classificá-lo como atividade moderadamente pesada, visto
que a freqüência cardíaca média durante toda a jornada de trabalho foi de 112
bpm.
Para COUTO (1995), durante jornada de trabalho de 8h a freqüência
cardíaca não deve exceder a 110 bpm. Quando o trabalhador é exigido acima
do limite a conseqüência é fadiga física, que pode se manifestar das seguintes
maneiras: tendência a cãibras, dores musculares, lombalgias e tendinites;
absenteísmo; tremores e erros que podem levar a acidentes; envelhecimento
precoce; uso excessivo do álcool, como fonte de energia e redução do ritmo e
qualidade do trabalho. A Figura 12 ilustra as oscilações da freqüência cardíaca.
48
Figura 12 Freqüência cardíaca observada na atividade de roçada semi-
mecanizada em função do tempo de trabalho
Para os trabalhadores não comprometerem sua saúde, ficando expostos
a doenças, afastamentos provisórios ou permanentes e incapacidade é
importante que o mesmo não desenvolva suas tarefas sob condições de
sobrecarga física.
4.3 Avaliação biomecânica
A sobrecarga postural e o trabalho estático podem gerar fadiga muscular,
transtornos músculos esqueléticos, compreensão de estruturas nervosas e
até mesmo o agravamento de lesões prévias nos tecidos moles (músculos,
ligamentos) dos membros inferiores (COUTO, 1995). As exigências físicas e os
riscos posturais das atividades coveamento manual, plantio florestal manual
com aplicação de gel, distribuição de adubo químico e roçada semi-
mecanizada estão citadas.
49
a) Coveamento manual
Na atividade de coveamento manual, na fase de perfurar cova a carga
limite recomendada só não foi ultrapassada para as articulações do joelho e
tornozelo. Sendo que 16% dos trabalhadores apresentam riscos de danos para
as articulações coxofemurais e 10% para o disco vertebral L5-S1.
b) Plantio florestal manual com aplicação de gel
Na atividade de plantio de mudas a carga limite recomendada foi
ultrapassada nas articulações coxofemurais e tornozelos. Na fase de
abastecimento do compartimento costal de gel a carga limite recomendada foi
ultrapassada em todas as articulações, sendo que 17,0% dos trabalhadores
apresentam riscos de danos para a articulação do joelho e disco L5 S1, 23,0%
risco de lesão para o tornozelo, 26,0% para as articulações coxofemurais, 7,0%
para os ombros e 2,0% não são capazes de exercer a atividade sem risco de
lesão nos cotovelos. Já na fase de deslocamento entre covas a carga limite
recomendada foi ultrapassada nas articulações coxofemurais e tornozelos.
c) Distribuição de adubo químico
Na atividade de distribuição do adubo, na fase de abastecimento da
bolsa somente as articulações do cotovelo e ombro não apresentam riscos de
lesão; 12% dos trabalhadores apresentam a carga limite recomendada
ultrapassada para as articulações coxofemurais e 9% para os tornozelos.
d) Roçada semi-mecanizada
Nesta atividade a carga limite recomendada não foi ultrapassada para a
articulação do cotovelo, ombro, joelho e tornozelo, no entanto 2,0% dos
trabalhadores apresentam risco de lesões para a articulação do disco vertebral
L
5
-S
1
e 4% não são capazes de exercer essa função sem risco de lesões para
as articulações coxofemurais.
50
e) Análise biomecânica
O Quadro 9 apresenta o resultado da análise biomecânica para as
atividades de coveamento manual, plantio florestal manual com aplicação de
gel, distribuição de adubo químico e roçada semi-mecanizada. Para cada uma
das fases destas atividades são mostrados se as articulações apresentam ou
não algum problema causado pela carga de trabalho. A sigla SRL representa
“Sem Risco de Lesão nas Articulações”, ou seja, mais de 99% dos
trabalhadores conseguem suportar a carga imposta pela atividade sem risco
para as articulações envolvidas e a sigla CLR representa “Carga Limite
Recomendada Ultrapassada”, ou seja, menos de 99% dos trabalhadores
conseguem suportar a carga imposta pela atividade sem risco para as
articulações envolvidas.
51
Quadro 9 Resultado da análise biomecânica das atividades de coveamento manual, plantio, distribuição de sulfato de amônia e
roçada semi-mecanizada
Articulações e suas respectivas condições de suportar a carga
Atividade Fase do Ciclo
Postura estática
selecionada para
análise
Cotovelos Ombros Disco L5/S1 Coxofemurais Joelhos Tornozelos
Coveamento
manual
Perfurar cova
CLR CLR CLR CLR SRL SRL
Plantio
SRL SRL SRL CLR SRL CLR
Abastecimento do
Costal
CLR CLR CLR CLR CLR CLR
Plantio
Deslocamento
entre covas
SLR SRL SLR CLR CLR SRL
Distribuição de
adubo químico
Enchimento da
bolsa
SRL SRL CLR CLR CLR CLR
Roçada semi-
mecanizada
Roçada
SRL SRL CLR CLR SRL SRL
SRL = Sem Risco de Lesão nas articulações
CLR = Carga Limite Recomendada Ultrapassada
Fonte: Modelo biomecânico bidimensional de predição de posturas e forças estáticas, desenvolvido pela Universidade de Michigan, dos Estados Unidos
(MICHIGAN, 2005)
52
O Quadro 10 mostra a força de compreensão no disco vertebral L
5
-S
1
nas
atividades avaliadas.
Os resultados da análise evidenciaram que a atividade de coveamento
manual, na fase de perfurar covas oferece risco de compressão do disco L
5-
S
1
da coluna vertebral, com força de compreensão igual a 4402 N, a atividade de
plantio florestal manual com aplicação de gel na fase de abastecimento do
costal oferece risco de compreensão do disco por uma força de 4724 N e a
atividade de distribuição de adubo químico com uma força de compreensão de
3659 N. Esses valores estão acima do recomendado por MICHIGAN (1990)
que é de 3426,3 N e devem ser evitados, pois oferece riscos a saúde do
trabalhador.
Quadro 10 Força de compressão no disco L5-S1 nas diferentes atividades de
implantação florestal, considerando-se o limite recomendado de
3426,3 N
Atividade Fase do ciclo
Força de compressão
do disco
Coveamento manual Perfurar covas 4402 ± 330
Plantio 1131 ± 67
Abastecimento do
costal
4724 ± 366
Plantio Florestal
Manual com aplicação
de gel
Deslocamento entre
covas
1469 ± 95
Distribuição de adubo
químico
Enchimento da bolsa 3659 ± 281
Roçada semi-
mecanizada
Roçada 2334 ± 165
A atividade de roçada semi-mecanizada apresentou valor de 2334 N de
força de compressão no disco L5-S1. Embora não tenha ultrapassado o limite
recomendado, este valor está relacionado com as posturas inadequadas
durante a realização da atividade.
53
4.4 Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho
a) Roçada semi-mecanizada
A análise do Check-List de Couto evidenciou que a atividade de roçada
semi-mecanizada apresenta um altíssimo risco de LER/DORT, a soma total foi
de 7 pontos. A etiologia das LER/DORT está ligada à exigência de manutenção
de posição fixa dos ombros e pescoço por tempo prolongado, uso de máquinas
que exigem posturas ou movimentos forçados e/ou repetitivos, pressão para se
produzir, impossibilidade de pausas (MAENO, 2001). Estes fatores mostram o
tanto que o sistema músculo-esquelético do trabalhador é exigido, e está
realidade pode ser observada na atividade de roçada semi-mecanizada. O
grande problema das patologias ocupacionais são as pausas insuficientes e
falta de organização do trabalho. O trabalho quando organizado em meta
dificulta os mecanismos de prevenção e reabilitação dessas patologias.
A roçada semi-mecanizada quando realizada em condições de
sobrecarga para o trabalhador florestal, pode provocar moléstias na região
posterior do pescoço e quando o operário necessita trabalhar com os braços
elevados na altura dos ombros a atividade se torna altamente fatigante. Neste
estudo foi possível observar que a articulação de maior exigência foi
punhos/mãos.
Apesar de não haver um procedimento padrão para realização de muitas
atividades, algumas técnicas, como por exemplo, alongamentos,
posicionamento adequado, tempo de pausas, são imprescindíveis para evitar o
aparecimento das patologias ocupacionais. É importante sempre que possível
que o trabalhador mantenha uma postura neutra, posição em que os músculos
e ligamentos que se estendem entre as articulações são esticados o menos
possível, ou seja, são tencionados o mínimo. Além disso, os músculos são
capazes de liberar a força máxima, quando as articulações estão na posição
neutra (DUL e WEERDMEESTER, 1995) e evite a utilização de forças
excessivas, movimentos repetitivos, pausas insuficientes e etc.
54
CONCLUSÃO
Através da pesquisa realizada pode-se concluir que:
- Os trabalhadores envolvidos nas atividades de coveamento, plantio,
distribuição de adubo manual e roçada semi-mecanizada em floresta
de eucalipto tem idade média de 34,5 anos, baixo nível de
escolaridade visto que 100% dos entrevistados declararam que não
concluíram se quer o ensino fundamental e também não estudam
atualmente;
- Em função dos trabalhadores não morarem próximo à área de
trabalho, é necessário acordar cedo para serem transportados até o
local da atividade prejudicando o período de sono, considerando que
68,7% acordam às 4 horas da manhã, dormem 7 horas por noite e
destes 3,2% tem insônia;
- A atividade de coveamento manual apresentou carga cardiovascular
igual a 41%. A freqüência cardíaca média era de 117 bpm e estava
acima da freqüência limite do trabalhador de 110 bpm. A atividade
foi classificada como moderadamente pesada;
- As atividades de plantio florestal manual com aplicação de gel e
roçada semi-mecanizada não apresentaram carga cardiovascular
55
acima do valor recomendado e os trabalhadores exerceram suas
tarefas com uma freqüência cardíaca média acima do valor da
freqüência cardíaca limite para uma jornada de trabalho de 8h, no
entanto, ambas as atividades foram classificadas como
moderadamente pesada que não deveria ultrapassar 110 bpm. O
fato das atividades apresentarem carga cardiovascular abaixo do
valor recomendado de 40%, não anula os fatores de riscos para a
saúde dos trabalhadores;
- A atividade de distribuição de adubo químico apresentou carga
cardiovascular de 47%. Esta sobrecarga pode provocar
enfermidades no sistema músculo-esquelético do trabalhador,
levando a afastamento do trabalho e absenteísmo. Essa atividade
pode ser classificada como moderadamente pesada;
- Durante a realização da atividade de coveamento manual, há risco
de lesão para as articulações do cotovelo, ombros, disco vertebral L5
-S1 e coxofemurais. A força de compressão exercida sobre a
articulação L5 -S1 é igual a 4402 N, o que torna o trabalhador
susceptível a transtornos patológicos da coluna vertebral, sendo
esses transtornos uma das maiores causas de afastamento
prolongado do trabalho e sofrimento humano;
- Para realização da atividade de plantio florestal manual com
aplicação de gel na fase de abastecimento do costal todas as
articulações do corpo humano apresentam risco de lesão do tipo
entorses, tendinites, miosites, fraturas, dentre outras, sendo que o
risco de danos foi maior para o tornozelo, seguido pelo joelho e
disco entre L5 -S1. No deslocamento entre covas a carga limite
recomendada foi ultrapassada para as articulações coxofemurais e
tornozelos;
56
- Na atividade de distribuição de adubo químico somente as
articulações do cotovelo e ombro não apresentam risco de lesão
articular;
- Na atividade de roçada semi-mecanizada 4% dos trabalhadores não
são capazes de exercer a função sem risco de lesão para a
articulação coxofemoral;
- A força de compressão do disco vertebral L5 -S1 está acima do valor
recomendado para as atividades manuais de coveamento, plantio
com aplicação de gel e distribuição de adubo. Todo aumento de
pressão sobre o disco vertebral tende a tornar sua degeneração
precoce, o que acaba resultando no aparecimento de hérnias discais
e artroses;
- As atividades de roçada semi-mecanizada apresenta um altíssimo
risco de LER/DORT, sendo as articulações dos punhos/mãos as
mais propensas a serem acometidas por estas patologias.
57
RECOMENDAÇÕES
Como forma de melhoria das condições de ergonômicas da atividade de
implantação florestal, da saúde, do conforto, da segurança e do bem-estar dos
trabalhadores, sugere-se a adoção das seguintes medidas:
- Incluir pausas programadas para todas as atividades avaliadas,
objetivando a recuperação do trabalhador, evitando fadiga e lesões
por sobrecarga física;
- Discutir a organização das atividades em metas. Este tipo de
organização de trabalho induz ao trabalhador a não respeitar as
limitações físicas do seu organismo para determinada atividade,
ficando o mesmo susceptível a erros e acidentes;
- Adequar o posto de trabalho para depósito de adubo químico,
observando a relação da altura do mesmo de acordo com as
características antropométricas da população, ou seja, uma
plataforma de deposição de adubo elevada/alta em relação ao
chão/piso respeitando as medidas antropométricas dos
trabalhadores envolvidos nesta atividade e possibilitar que o adubo
fique depositado o mais próximo possível da área de distribuição,
reduzindo assim o manuseio manual de cargas;
58
- Reorganizar a fase de abastecimento da sacola de adubo químico
com objetivo de melhorar as condições de trabalho. A bolsa de
adubo deve ser planejada de maneira que o peso seja dividido
simetricamente, evitando assim que apenas um lado do corpo seja
sobrecarregado. Para retirar a bolsa do solo, os trabalhadores
devem ser orientados a não utilizar a cabeça como instrumento de
auxílio, pois isto leva a degeneração dos discos vertebrais da coluna
cervical;
- Incluir na rotina de trabalho de todas as atividades, um programa de
ginástica laboral. A ginástica laboral beneficia os trabalhadores
envolvidos nas atividades pesadas e moderamente pesadas, pois
possibilita o aquecimento e alongamento dos músculos, prevenido
as LER/DORTS.
59
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