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SONIA MARIA DE MELO RICHIERI
ESTUDO DO IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
GLOBAIS NOS MANGUES TROPICAIS
SÃO CAETANO DO SUL
2006
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SONIA MARIA DE MELO RICHIERI
ESTUDO DO IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
GLOBAIS NOS MANGUES TROPICAIS
Dissertação apresentada à Escola de Engenharia
Mauá do Centro Universitário do Instituto Mauá de
Tecnologia para obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos.
Linha de Pesquisa: Impacto Ambiental de Processos
Orientador: Prof. Dr. Roberto de Aguiar Peixoto
SÃO CAETANO DO SUL
2006
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II
Richieri, Sonia Maria de Melo
A
valiação do impacto das mudanças climáticas
globais nos mangues tropicais / Sonia Maria de Melo
Richieri. São Caetano do Sul, SP: CEUN-EEM, 2006.
103p.
Dissertação de Mestrado – Escola de
Engenharia Mauá do Centro Universitário do Instituto
Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, SP, 2006.
Orientador: Prof. Dr. Roberto de Aguiar Peixoto
1. Impacto Ambiental
III
TERMO DE APROVAÇÃO
IV
DEDICATÓRIA
Às minhas filhas, Patrícia e Renata.
V
AGRADECIMENTOS
Ao universo e sua inexplicável divindade, pela conspiração com a saúde, paz de
espírito e tempo que me proporcionou.
À minha família, pela presente ausência durante o curso e nos diversos momentos
em que me isolava com o estudo.
Ao professor e orientador Dr. Roberto de Aguiar Peixoto, pelas sugestões e
confiança depositada na realização do estudo e pela tranqüilidade que me passou nas horas
difíceis.
Ao professor Dr. João Vicente de Assunção, pela experiência profissional.
Ao professor Dr. Eduardo Antonio Licco, como propulsor pelo interesse inicial deste
estudo.
À professora Dr. Suzana Maria Ratusznei, pelo carinho e disponibilidade em suas
aulas.
Aos poucos amigos que incentivaram e tiveram paciência em me ouvir e trocar
idéias, dar sugestões e confortar.
Aos funcionários do Centro Universitário do Instituto Mauá, Margareth, Cleide e Jair,
pela solicitude em atender e pelo sentimento de solidariedade.
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo agradeço pela bolsa de estudos
conferida durante parte do curso.
Aos colegas de trabalho e alunos, com quem aprendi a discutir muitas idéias.
Agradecimentos especiais ao Maurício, Patrícia e Renata.
VI
EPÍGRAFE
“As grandes cisões que dividiram os humanos dos humanos, a
humanidade da natureza, o indivíduo da sociedade, a cidade do campo, a
atividade mental da física, a razão da emoção e geração de geração
devem ser agora ultrapassadas. O cumprimento da luta antiquada pela
sobrevivência e segurança material num mundo de escassez foi uma vez
olhado como a condição prévia para a liberdade e para uma vida
inteiramente humana. Para viver nós tivemos que sobreviver. Como Brecht
disse:
“Primeiro a alimentação e depois a moralidade”.
A situação começou agora a modificar-se. A crise ecológica do
nosso tempo, crescentemente, inverteu esta máxima tradicional. Hoje, se
nós temos que sobreviver, devemos começar por viver. As nossas
soluções devem ser proporcionais ao nível do problema, ou então a
natureza vingar-se-á, terrivelmente, da humanidade.
Murray Bookchin
VII
RESUMO
Os mangues apóiam os processos químicos e bioquímicos de produtividade e
biodiversidade nos oceanos. Dependendo da relação entre clima, nível do mar, e
sedimentos as comunidades ecológicas podem reduzir ou expandir, modificando seus
processos, variando a biomassa e alterando a biodiversidade. Essa variação pode ser
investigada, utilizando-se uma combinação de causa-efeito das mudanças climáticas
globais, do aumento do nível do mar e fatores biológicos dos manguezais. Especialistas
viram-se despreparados frente a questões ambientais, não apenas na compreensão da
dinâmica de alguns processos naturais, mas, em última análise, na relação entre os vários
processos induzidos pelas ações humanas, processos que retornam à humanidade com o
sabor amargo de seus efeitos. As ações antrópicas foram discutidas nesta dissertação,
avaliando-se sua relação com as mudanças climáticas globais, bem como o que se
considera risco ou perigo para a espécie humana, a biodiversidade e ecossistemas. O
objetivo central desta dissertação foi o estudo dos ecossistemas de zonas costeiras
tropicais, os manguezais, e os efeitos das mudanças climáticas e aumento do nível do mar
sobre a estabilidade desses ecossistemas. Na América Latina, a costa brasileira tem sido
tema de discussão dos efeitos das alterações climáticas e aumento do nível do mar,
chamando atenção para a diversidade de ecossistemas. Essa diversidade, não só de
ecossistemas e espécies, como sócio-econômicas, tecnológicas e culturais, tornam a
análise ambiental ímpar em cada local. A resposta às mudanças climáticas e ao aumento do
nível do mar será diversificada. Alguns lugares já apresentam sinais intensivos de
modificações, contribuindo para o aumento dos efeitos impactantes sobre esses
ecossistemas. As taxas metabólicas dos organismos e a produtividade dos ecossistemas
são diretamente reguladas pela temperatura. O estudo foi direcionado a discutir os efeitos
das mudanças climáticas e do aumento do nível do mar sobre os manguezais. Utilizou-se a
Matriz de Leopold para avaliar os impactos ambientais sobre os manguezais e construir uma
escala hierárquica entre eles. Temperatura e aumento do nível do mar foram os fatores
ambientais de maior impacto, com significância crítica, onde se fazem necessários
mecanismos de controle ou recuperação ambiental em curto prazo. Na avaliação da
vulnerabilidade dos fatores biológicos dos manguezais recorreu-se à metodologia de tomada
de decisão – MACBETH, chegando-se também a uma escala hierárquica. Fatores bióticos
relacionados à fisiologia, desenvolvimento e distribuição vegetal foram os mais vulneráveis,
podendo afetar o manguezal em curto prazo. Finalizou-se o estudo com algumas
considerações sobre a aplicação e recomendações para a sua continuidade visando a
avaliação de alternativas para novas situações ou as já existentes.
VIII
ABSTRACT
The mangroves support the chemical and biochemical process of the productivity and
biodiversity in the oceans. Depending on relationship between climate, sea level and
sediments, the ecological communities could reduce or expand, modifying their chemicals
and biochemical process, modifying the biomass and changing the biodiversity. This
variation can be investigated by the combination of the cause-effect models of the global
climate change, of the sea level rise and biological factors of the mangroves. The various
experts, based on the lack of knowledge of the actual sciences, found themselves
unprepared when facing environmental matters. This occurs, not only in the understand of
the dynamics processes in the nature, but, on a further analysis, on the relationship between
the several processes that are induced by humans actions, processes that return over the
humanity with their adverse effects. The antropical actions were discussed in this
dissertation, evaluating its relationship with the global climate change, as well what is
considered as risk or danger for the human specie, for the biodiversity and ecosystems. The
main purpose of this dissertation was the study of the ecosystems of the tropical coast
zones, the mangroves, and the effects on global climate change and sea level rise on the
stability of this ecosystem. In the Latin America, the Brazilian coast has been the subject of
discussion of the effects of the climate change and the increase of the sea level rise,
considering the ecosystems diversity. This diversity, not only of the ecosystems and species,
but also the social-economical, technological and cultural, converts the environmental
analysis uneven on each location. The effects by climate changes and sea level rise will be
diversified. Some places already present intense signs of modifications, contributing for the
increase of the impact effects on these ecosystems. The metabolic rates of the organisms
and the productivity of the ecosystems are directly regulated by temperature. This study was
directed to discuss the effects of the climate change and increase of sea level over the
mangroves ecosystems, evaluating some changes in consequence of these impacts.
Leopold Matrix was used to evaluate the environmental impacts on the mangroves and to
construct a hierarchic scale between them. Temperature and increase of the level of the sea
had been the ambient factors of bigger impact, with critical significance, where if they make
necessary mechanisms of the control or ambient recovery in short term. On the evaluation of
the vulnerability of the mangroves biological factors, the methodology of decision making –
MACBETH was used, providing also hierarchic scale. Related biological factors to the
physiology, development and vegetal distribution on had been most vulnerable, being able to
affect the mangrove in short term. This study was finished with some considerations about its
application, and recommendations for further analyses of how to deal with the new situations
and the ones that already exists.
IX
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
2.1. Ciclos biogeoquímicos .................................................................................... 7
2.2. Balanço energético do sistema climático terrestre ....................................... 11
2.3. Sistema climático terrestre ............................................................................ 14
2.4. Aumento da temperatura global de 1850 a 2000 .......................................... 15
2.5 Aumento das concentrações de dióxido de carbono e metano .................... 17
2.6. Distribuição média do ozônio na atmosfera .................................................. 18
2.7. Reações do ozônio na atmosfera ................................................................. 19
2.8. Condições oceânicas do pacífico tropical ..................................................... 23
2.9. Condições climáticas globais do el niño ....................................................... 24
2.10. Condições climáticas globais de la niña ....................................................... 24
2.11. Emissões de carbono, 1996 ......................................................................... 28
2.12. Correntes oceânicas ..................................................................................... 32
3.1. Distribuição mundial de manguezais ............................................................. 39
3.2. Faixas de colonização do manguezal ........................................................... 45
3.3. Efeitos da degradação do manguezal relacionados à temperatura e umidade
relativa do ar .................................................................................................. 52
3.4. Estado de conservação, tendências de vulnerabilidade e nível de ameaças
sobre os manguezais da América Latina ...................................................... 53
4.1. Fluxo de impactos nos manguezais .............................................................. 58
4.2. Matriz de interação dos impactos ambientais nos manguezais .................... 64
4.3. Matriz hierárquica dos impactos ambientais nos manguezais ...................... 68
4.4. Hierarquia dos impactos ambientais nos manguezais .................................. 76
4.5. Matriz de vulnerabilidade dos fatores biológicos e de relações ecológicas dos
manguezais ................................................................................................... 80
4.6. Hierarquia da vulnerabilidade dos manguezais ............................................ 81
X
LISTA DE TABELAS
2.1. Composição química da atmosfera atual ......................................................... 6
2.2. Causas potenciais das mudanças climáticas ................................................ 10
2.3. Gases de efeito estufa ................................................................................... 14
2.4. Valores atmosféricos de algumas SDOs e seus substitutos ......................... 20
2.5. Indicadores de emissão de CO
2
- 1997 ....................................................... 29
3.1. Distribuição de manguezais na América Latina e Caribe .............................. 40
4.1. Fatores biológicos e de relação ecológica dos manguezais ......................... 78
5.1. Significância dos impactos ambientais nos manguezais .............................. 84
5.2. Vulnerabilidade dos fatores bióticos dos manguezais .................................. 85
XI
LISTA DE ABREVIATURAS
CFC - Clorofluorcarbono
FAO – Food and Agriculture Organization
HCFC - Hidroclorofluorcarbono
HFC - Hidrofluorcarbono
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
NASA - National Aeronautics and Space Administration
NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration
ONU - Organização das Nações Unidas
PFC - Perfluorcarbono
PIB - Produto Interno Bruto
SDOs - Substâncias Destruidoras de Ozônio
UNEP - United Nations os Environmental Protection
UNESCO - United Nations for Education, Science and Culture Organization
UNFCCC - United Nations Framework Convention on Climate Change
WCMC - World Conservation Monitoring Centre
WMO - World Meteorological Organization
XII
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 01
2. EFEITO ESTUFA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: .................................................... 05
2.1. Sistema climático .......................................................................................... 05
2.2. Dinâmica climática e efeito estufa ................................................................. 09
2.3. Camada de ozônio ........................................................................................ 18
2.4. “El niño” e “la niña” ........................................................................................ 22
2.5. Mudanças climáticas ..................................................................................... 25
2.6. Impactos decorrentes das mudanças climáticas ........................................... 30
3. MANGUEZAIS ............................................................................................................ 35
3.1. Caracterização dos manguezais ....................................................................... 35
3.1.1. Definição de manguezais .................................................................. 35
3.1.2. Localização e distribuição dos manguezais ...................................... 37
3.1.3. Dinâmica dos manguezais ................................................................ 41
3.1.4. Flora e fauna dos manguezais .......................................................... 43
3.1.5. Valor dos manguezais ....................................................................... 48
3.1.6. Impactos sobre os manguezais ......................................................... 50
3.1.7. Manguezais brasileiros ...................................................................... 51
3.2. Mudanças Climáticas X Manguezais ................................................................ 55
4. METODOLOGIA: AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUES . 58
4.1. Matriz de Interação dos impactos ambientais nos manguezais ................... 59
4.2. Matriz hierárquica dos impactos ambientais nos manguezais ...................... 65
4.2.1. Temperatura e radiação UV-B ........................................................... 69
4.2.2. Nível do mar ...................................................................................... 70
4.2.3. Precipitação e evaporação ................................................................ 71
4.2.4. Topografia e geomorfologia ............................................................... 72
XIII
4.2.5. Correntes oceânicas e salinidade oceânica ..................................... 73
4.2.6. Qualidade do substrato e das águas estuarinas, correntes fluviais,
salinidade estuarina e distribuição dos nutrientes ............................ 74
4.3. Matriz de vulnerabilidade dos manguezais ................................................... 77
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 82
5.1. Conclusões ........................................................................................................ 82
5.2. Recomendações ................................................................................................ 86
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 88
GLOSSÁRIO ............................................................................................................ 96
1
1. INTRODUÇÃO
As atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis e o
manejo da terra, estão contribuindo para o aumento da concentração dos gases de efeito
estufa na atmosfera, alterando o balanço radiativo e causando o aquecimento global.
Mudanças nas concentrações dos gases de efeito estufa (IPCC, 1997), conduzirão a
mudanças globais e regionais de temperatura, precipitação e outras variáveis climáticas,
originando alterações nos ecossistemas e levando a um aumento do nível do mar.
As conseqüências das mudanças climáticas nos ecossistemas dependerão da
magnitude e espaço de tempo em que as variações térmicas ocorrerem. A literatura aponta
modificações na distribuição de espécies, alterações no metabolismo orgânico e na
estabilidade do habitat, alterações na dispersão de nutrientes nas águas e na dinâmica do
ciclo hidrológico, bem como na dinâmica dos demais ciclos biogeoquímicos.
As projeções dos modelos climáticos (IPCC, 2005) prevêem aumento da temperatura
média da superfície do planeta de 1,4°C a 5,8°C até o ano de 2100 e aumento do nível do
mar entre 9 e 88 centímetros.
É provável que a rapidez do aquecimento seja maior que as conhecidas nos últimos
dez mil anos, ainda que valores regionais possam diferir da média mundial. Esta alteração,
em longo prazo e em grande escala, induzidas pelas atividades antrópicas, irão interagir
com fenômenos naturais e temporais, como o fenômeno El Niño
1
, afetando o bem-estar
social e econômico.
Estudos científicos desenvolvidos por diversas organizações intergovernamentais
mostram que a saúde humana, ecossistemas e vários setores econômicos (recursos
hídricos, produção de alimentos, sistemas costeiros e assentamentos humanos), vitais para
o desenvolvimento sustentável, são vulneráveis às variações climáticas, em particular à
1
Fenômeno de atuação oceano-atmosférica que se origina no Pacífico tropical, influenciando o clima
regional e global, principalmente ecossistemas tropicais.
2
magnitude e rapidez dessas variações.
Em várias regiões as mudanças climáticas provavelmente ocasionarão efeitos
adversos, irreversíveis em alguns casos. O IPCC prevê ainda o desgaste de ecossistemas
já afetados pela crescente demanda de recursos, por práticas de gestão não sustentável e
pela contaminação, podendo tomar igual ou maiores proporções que as alterações
climáticas ou agravar os efeitos dessas alterações.
O enfrentamento das questões ambientais exigirá altos investimentos, seja para a
adaptação humana ou o abrandamento da degradação ambiental.
Mudanças do clima podem afetar a distribuição geográfica dos sistemas ecológicos,
a variabilidade de espécies que abrigam e mudar as condições que permitem a continuidade
de sua existência. Os sistemas ecológicos estão influenciados constantemente pela
variação climática, proveniente da maior concentração de gás carbônico
na atmosfera. Se
benéficas para algumas espécies vegetais, as mudanças climáticas podem alterar a
composição de ecossistemas através da proliferação de organismos indesejáveis,
enfermidades ou alterações na cadeia alimentar.
As várias disciplinas do conhecimento científico viram-se despreparadas frente às
questões ambientais, não apenas para a compreensão da dinâmica de alguns processos
naturais, mas, em última análise, no relacionamento da modificação desses processos pela
ação humana, modificações estas que retornam à humanidade com o sabor amargo de seus
efeitos.
Desempenhando a ação antrópica reais alterações no clima, quais as
responsabilidades humanas frente às alterações climáticas? Qual o risco para a espécie
humana, para a biodiversidade e para os ecossistemas? Como diminuir a ação antrópica e
buscar alternativas mitigadoras de novas situações de risco ou daquelas já existentes?
O aumento do nível oceânico seja ele decorrente da expansão térmica das águas
oceânicas, do derretimento das geleiras ou das calotas polares, afetará as zonas costeiras.
Tais regiões abrigam valiosos sistemas ecológicos e mais de metade da população mundial.
3
Podem ocorrer inundações, erosão costeira e salinização. Aves marinhas, peixes,
fitoplâncton e zooplâncton serão afetados. No presente já se verifica a destruição de recifes
de corais. Regiões portuárias podem tornar-se problemas econômicos. Ilhas ou países-ilha
desaparecerão parcial ou totalmente, bem como cidades costeiras de altitude próxima ou
inferior a zero. Estes fatos, embora pareçam alarmistas, podem servir como alerta na
tomada de decisões que diminuam as conseqüências do aquecimento global e aumento do
nível do mar em regiões costeiras vulneráveis.
Os relatórios do IPCC (1997, 2000, 2001), utilizados como referência para o estudo
realizado, têm como uma de suas preocupações os ecossistemas costeiros, caracterizados
por uma rica diversidade e grande número de atividades sócio-econômicas. Estes
ecossistemas têm uma importância fundamental para a sustentabilidade, proporcionando
bens e serviços, entre os quais:
o Fonte de alimentos, abrigo, medicamentos e energia;
o Processamento e armazenamento de carbono e nutrientes;
o Assimilação de dejetos;
o Purificação da água e regulação de correntes;
o Formação de solos e atenuação de sua degradação;
o Atividades recreativas e de turismo;
o Diversidade genética.
Estes ecossistemas naturais possuem ainda valores culturais, religiosos e estéticos.
As zonas costeiras tropicais abrigam grande diversidade de ecossistemas, entre eles
os manguezais. A América Latina chama atenção pela riqueza de ecossistemas e tem sido
tema de discussão dos efeitos de alterações climáticas e marinhas. A sua diversidade, não
só de ecossistemas e espécies, como sócio-econômicas, tecnológicas e culturais, torna a
análise ambiental ímpar para cada lugar.
As diversas morfologias costeiras responderão de maneira diferenciada ao aumento
do nível do mar. Alguns lugares já apresentam sinais intensivos de erosão devido a ações
4
antrópicas, contribuindo para o aumento dos efeitos impactantes.
Os manguezais, ecossistemas costeiros, típicos de regiões tropicais, importantes
como sustentáculos da cadeia biológica marinha, podem sofrer variações devido ao clima e
nível do mar, diminuindo ou expandindo, variando a proporção das diferentes espécies que
utilizam seus recursos e, conseqüentemente, modificando a cadeia alimentar e acabando
por interferir nas condições de vida da população humana que daí retira sua sobrevivência.
Os manguezais chamam atenção por estarem a baixíssima altitude e já terem sofrido
grande ação antrópica. Na maioria das zonas costeiras tropicais os espaços naturais de
manguezais já estão totalmente descaracterizados, como é o caso da maioria das cidades
litorâneas brasileiras, especialmente da região sudeste, entre elas, Rio de Janeiro, Santos,
Cubatão. Agrava-se o fato quando as populações que utilizam estes recursos vivem em
nível extremo de pobreza.
Os conhecimentos atuais sobre alterações climáticas e as interações com os
ecossistemas que possam conduzir a interpretações precisas ainda são insuficientes.
Buscou-se apoio na literatura específica sobre manguezais, incluindo os conhecimentos de
ecossistemas brasileiros e de regiões tropicais, para compor os dados utilizados na
avaliação do impacto das mudanças climáticas e aumento do nível sobre áreas de
manguezais. O objetivo principal do estudo proposto nesta dissertação foi avaliar os
impactos ambientais sobre os manguezais.
5
2. EFEITO ESTUFA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
2.1. SISTEMA CLIMÁTICO
A atmosfera terrestre é única entre os planetas do sistema solar; química e
fisicamente favorável à evolução da vida como a conhecemos.
O estudo da constituição química da terra primitiva passa pela questão da origem do
universo, há cerca de 15 bilhões de anos, conforme a teoria da grande explosão
denominada “Big-Bang”, baseada na expansão de matéria densa e quente, formando
nuvens cósmicas e estrelas. Estima-se que a formação do Sol tenha ocorrido há cinco
bilhões de anos, por aglutinação de uma nuvem de gás em seu campo de gravidade.
Admite-se que parte da massa solar tenha escapado sob forma de um anel incandescente e
outra parte manteve-se orbitando ao redor da recente estrela, formando os planetas e
demais corpos celestes do Sistema Solar.
Acredita-se que a terra, no princípio, possuía uma pequena massa, aumentada pela
ação da força de gravidade que exercia sobre as partículas que a circundavam. Com o
aumento de massa a atração sobre as partículas aumentava e estas sofriam maior
compressão, levando à gradual elevação da temperatura. Seguiu-se o processo de
resfriamento, durando alguns milhões de anos. Novos aquecimentos seguidos de
resfriamentos contribuíram para a formação de várias substâncias químicas.
Segundo hipótese mais aceita, a hipótese heterotrófica, a atmosfera primitiva era
constituída por metano (CH
4
), amônia (NH
3
), vapor d'água (H
2
O) e hidrogênio (H
2
). Não
existia, na atmosfera da época, oxigênio (O2). De acordo com tal hipótese, moléculas
protéicas formaram-se nos oceanos da terra primitiva e teriam atraído moléculas de água. O
fenômeno teria como produto o coacervado
2
, primeira forma de organização de moléculas
2
Macromoléculas com grau de polimerização mais elevado que se agrupam ou aglutinam em
soluções macromoleculares.
6
químicas capazes de nutrirem-se e reproduzirem-se – características fundamentais para os
seres vivos. Contínuas reações químicas devem ter originado ácidos nucléicos que
controlavam de maneira mais eficaz os processos vitais, originando indivíduos mais
organizados. O processo de fermentação produzia gás carbônico (CO
2
), antes inexistente na
atmosfera terrestre. Surgiram então seres capazes de aproveitar a água, o gás carbônico e
a luz solar para produzirem compostos orgânicos. Tal processo, denominado fotossintético,
promoveu o aparecimento de oxigênio no planeta. O aumento da concentração de oxigênio,
atribuído à evolução de organismos fotossintetizantes, levou à formação da camada de
ozônio (O
3
) (NASA, 1999a). Embora ainda não exista um consenso, atualmente os cientistas
concordam ter sido a atmosfera primitiva formada entre 3,5 e 4,5 bilhões de anos atrás.
O modelo de atmosfera atual, apresentada na tabela 2.1, é o resultado de
modificações acumuladas ao longo do tempo geológico da terra, acreditando-se ser a
mesma existente no período Cambriano
3
, há 500 milhões de anos.
TABELA 2.1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ATMOSFERA ATUAL.
Componentes % em volume % em massa
Nitrogênio (N2) 78,02 75,55
Oxigênio (O2) 20,99 23,13
Argônio (Ar) 0,94 1,26
Gás carbônico (CO2) 0,03 0,04
Hidrogênio (H2) 0,01 0,006
Neônio (Ne) 0,0015 0,001
Hélio (He) 0,0005 0,00006
Outros 0,0080 0,01294
FONTE: NASA, 1999a.
O ciclo de consumo e renovação dos gases atmosféricos revela um processo de
transferência de matéria e energia entre solo, ar, água, plantas, animais e demais seres
vivos. Este processo é descrito pelos ciclos biogeoquímicos (figura 2.1).
3
Período da era Paleozóica, compreendido entre 600 e 500 milhões de anos atrás.
7
FIGURA 2.1 – CICLOS BIOGEOQUÍMICOS
amonia
respiração
Ciclo da água
Ciclo do
nitrogênio
Ciclo do
Gás carbônico
Ciclo do
oxigênio
Outras
formas de
energia
calor
Radiação
solar
desnitrifica
ç
ão
biofixação
fotossíntesefotossíntese
evaporação
nuvens
chuva
Solo
Oceanos
Rios
La
g
os
SISTEMA
CLIMÁTICO
decomposição
excreção
SERES VIVOS
nitrificação
N2
CO2
Perda da
biomassa
respiração
Comb. fósseis
combustão
nutrição
VEGETAIS
NIMAI
O3
O2
8
Todos os seres vivos têm em sua constituição oxigênio, hidrogênio, carbono e
nitrogênio. Enquanto o oxigênio é produzido por organismos fotossintetizantes, através da
fotossíntese, o gás carbônico é lançado na atmosfera pela respiração e decomposição de
todos os seres vivos e por processos químicos de combustão. O oxigênio participa ainda da
formação da camada de ozônio, de extrema importância como filtro das radiações
ultravioleta do sol. Parte do gás carbônico atmosférico dissolve-se nos oceanos e, somando-
se àquele formado pelo fitoplâncton
4
e zooplâncton
5
, faz dos oceanos o grande reservatório
de gás carbônico do planeta. É de grande importância o fato do oxigênio originar-se da vida
na terra, pela fotossíntese e, ao mesmo tempo, garanti-la através da respiração, enquanto o
gás carbônico, juntamente com a luz solar, água e nitrogênio, é responsável por formar a
base da cadeia alimentar.
A relação entre terra, ar e vida fica mais evidente com o ciclo do nitrogênio, o mais
abundante dos gases atmosféricos. Quimicamente, o nitrogênio é um elemento de difícil
combinação, não sendo utilizado diretamente pelos seres vivos, que o incorporam em
proteínas. O trabalho é feito por bactérias fixadoras de nitrogênio, livres no solo e água
aderidas a raízes, que convertem o nitrogênio do ar em compostos nitrogenados, facilmente
assimilados pelos vegetais. Os nitratos que as bactérias produzem no solo alimentam as
plantas, que por sua vez alimentam os animais, e estes retornam ao solo outros compostos
nitrogenados em forma de uréia ou, tanto plantas como animais, como tecido morto. Neste
ponto começam a atuar as bactérias nitrificantes
6
, decompondo os organismos mortos e
convertendo a amônia resultante em nitratos minerais. As bactérias desnitrificantes liberam
nitrogênio, devolvendo-no à atmosfera, completando o ciclo.
A água, principal fonte de hidrogênio disponível, é encontrada em três estados
físicos. Sob condições específicas de temperatura e pressão atmosférica, entre outras, a
água das nuvens se precipita na forma de chuva, gelo ou neve, permanecendo na superfície
4
Organismos vegetais em suspensão na água do mar.
5
Organismos animais em suspensão na água do mar.
6
Organismos que transformam o amoníaco ou sais amoniacais em nitritos e depois em nitratos.
9
do planeta ou infiltrando-se pelo solo. O retorno à atmosfera ocorre pela evaporação de
mares, rio, lagos, bem como pela transpiração e excreção de seres vivos, que a absorvem
do solo ou da superfície.
Um sistema termodinâmico aberto e macroscópico é aquele que envolve fluxos de
massa e sofre efeitos em grade escala e de diversificados fluidos que dele fazem parte,
efeitos esses que podem ser percebidos pelos nossos sentidos e medidos por instrumentos
(Gordon, J; Sonntag, R; Borgnakke, C., 1997). Do ponto de vista termodinâmico, os ciclos
biogeoquímicos são parte de um sistema aberto e macroscópico. O fluxo de massa ocorre
nas trocas de matéria do sistema, enquanto os efeitos se fazem notar pelas propriedades
termodinâmicas das substâncias que compõem o sistema, entre elas, temperatura e
pressão.
2.2. DINÂMICA CLIMÁTICA E EFEITO ESTUFA
O conceito de energia, fundamental no entendimento dos processos climáticos
globais, pode ser compreendido como a capacidade de gerar trabalho ou de transferir calor.
De modo geral, aquece, movimenta e transforma a matéria. A energia que entra no sistema,
na forma de radiação solar, é o suporte direto da vida na terra. Ela ilumina, aquece, forma
nuvens e chuva e ainda é armazenada sob forma de calor na atmosfera, ou de combustíveis
fósseis que se formaram pela decomposição de seres vivos há milhões de anos.
Um estudo geográfico de década de 80 (Goudie, 1983) apontava as causas
potenciais das mudanças climáticas em ordem decrescente de interferência mostradas na
tabela 2.2.
A interferência da evolução do sol, ondas gravitacionais do universo, poeira galáctica
e eixo terrestre são valores de escala espacial, fugindo, assim, aos efeitos que podem ser
percebidos no planeta em escalas de tempo menores. Massa e composição do ar aparecem
logo a seguir, ressaltando a importância do conhecimento dos ciclos biogeoquímicos.
10
TABELA 2.2 – CAUSAS POTENCIAIS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.
ORDEM DE
IMPORTÂNCIA
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
1
Evolução do sol
2
Ondas Gravitacionais do Universo
3
Poeira galáctica
4
Massa e composição do ar
5 Mudanças polares
6 Gás carbônico na atmosfera
7 Elementos orbitais da terra
8 Relação mar-ar-gelo
9 Circulação oceânica abissal
10 Variação da intensidade solar
11 Cinzas vulcânicas na estratosfera
12 Variações oceano-atmosfera
13 Dinâmica atmosférica
FONTE: GOUDIE, 1983.
O clima é uma relação complexa entre o espaço e a superfície terrestre, sendo a
atmosfera a lâmina de contato entre os dois meios, onde a dinâmica das reações químicas
ocorre. A atmosfera é uma faixa de 700 quilômetros de extensão que envolve a Terra,
formada por uma mistura de gases e desempenhando duplo papel. De fora para dentro, age
como filtro das radiações solares incidentes do espaço, permitindo que apenas 42,3% (146
Watt/m
2
) da energia total emitida pelo sol (342 Watt/m
2
)
seja absorvida pelo solo e águas.
Os outros 57,7% da energia total são absorvidos pela atmosfera (94 Watt/m
2
) ou devolvidos
ao espaço (102 Watt/m
2
), conforme figura 2.2.
O Sol emite radiação de onda curta a uma razão que varia pouco, pelo que é
designada constante solar (NASA, 1999b). Os valores numéricos utilizados no exemplo
compõem a radiação solar média que chega a terra. Esses valores sofrem variações de
acordo com a latitude, nebulosidade, características da superfície terrestre local, tipo de
vegetação. As superfícies de regiões tropicais recebem maior quantidade de radiação solar
em relação às regiões polares. As regiões equatoriais, com maior nebulosidade, recebem
menor quantidade de radiação solar que os desertos.
11
A entrada de energia na forma de radiação solar deveria ser equilibrada pela saída
de energia térmica sob forma de calor. Contudo, os fluxos de energia emitidos pela
superfície da terra e retidos pela atmosfera caracterizam-se, atualmente, por altos valores,
com importantes conseqüências para o clima. Grande parte desse calor é absorvida pelo
vapor de água e dióxido de carbono existentes na atmosfera.
FIGURA 2.2 – BALANÇO ENERGÉTICO DO SISTEMA CLIMÁTICO TERRESTRE.
146
FONTE: HUPFER, GRABL, LÓZAN, 2001.
Do calor emitido pela superfície terrestre, 17 Watt/m² são originados de fontes de
calor; 84 Watt/m² da evapotranspiração de seres vivos e corpos d’água, formando nuvens
na atmosfera; 393 Watt/m² da radiação direta da superfície da terra. Desse total, a
atmosfera devolve para a superfície terrestre 348 Watt/m
2
, resultando no aquecimento do
planeta.
A atmosfera atua como uma cobertura ou como o vidro de uma estufa, filtrando a
radiação externa e aquecendo o ambiente interno proporcionalmente às atividades
desenvolvidas dentro da estufa. Como resultado desse aquecimento, a temperatura do
planeta experimentou o acréscimo de 33°C (de –18°C a 15°C) em longo prazo, benéfica
12
para a instalação e desenvolvimento da vida como a conhecemos. O fenômeno descrito é
conhecido como Efeito Estufa, atribuído à capacidade de armazenamento de calor pela
atmosfera.
Em longo prazo, o aumento de 33°C, que variou de –18°C a 15°C, atribuiu-se aos
gases de efeito estufa nas seguintes proporções (HUPFER, GRABL, LÓZAN, 2001):
Vapor d’água: 20,8°C;
Gás carbônico: 7°C;
Ozônio: 2,4°C;
Óxido nitroso: 1,4°C;
Metano: 0,8°C;
Outros gases: 0,6°C.
O vapor de água é um dos gases de efeito estufa mais importantes no
armazenamento de calor pela atmosfera, sendo que as atividades humanas aumentam sua
quantidade. É ainda afetado pelo aquecimento do planeta.
O Dióxido de Carbono (CO
2
) é produzido naturalmente através da respiração, pela
decomposição de plantas e animais e pelas queimadas naturais em florestas. Fontes
antropogênicas de dióxido de carbono são: queima de combustíveis fósseis, mudanças na
vegetação, como o desflorestamento e queima de biomassa. Estas fontes antropogênicas
têm contribuído em grande escala para o aumento da concentração de dióxido de carbono
na atmosfera. Os principais receptores do dióxido de carbono são os oceanos e a
vegetação, especialmente as florestas. Amostras de gelo revelaram que no período anterior
à revolução industrial a concentração atmosférica global de dióxido de carbono era de
280ppmv.
O metano (CH
4
) é formado naturalmente em regiões onde existe matéria orgânica
em decomposição, isto é, solos úmidos ricos em atividades microbiológicas e lagunas.
Somado a isso existe muitas fontes antropogênicas de metano que vem contribuindo para o
aumento da sua concentração na atmosfera, dentre estas fontes estão o cultivo de arroz,
13
criação de gado, queima de biomassa e a queima de combustíveis fósseis. O principal
processo de remoção do metano é uma reação química com radical hidroxila (OH) na
troposfera (baixa atmosfera).
O óxido nitroso (N
2
O) é produzido naturalmente pelos oceanos e pelas florestas
tropicais, sendo produto intermediário de transformações biológicas. As fontes, tanto
naturais quanto antrópicas, são difíceis de serem quantificadas. Fontes antrópicas de óxido
nitroso são as atividades agrícolas, queima de biomassa, queima de combustíveis fósseis e
vários processos industriais (a produção de ácido adípico e ácido nítrico). O principal
processo de remoção do óxido nitroso são as reações fotolíticas na estratosfera (IPCC,
1995).
Os gases descritos acima estão presentes na atmosfera anteriormente à revolução
industrial. Com o transcurso do desenvolvimento tecnológico, novas substâncias químicas
chegaram à atmosfera, como os clorofluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre. Algumas
dessas substâncias têm forte impacto ambiental, relacionado ao efeito estufa e, ao mesmo
tempo, destroem a camada de ozônio que envolve a terra (clorofluorcarbonos).
Os gases principais de efeito estufa, discriminados na tabela 2.3, comportam-se de
maneira particular, segundo suas propriedades físico-químicas, interferindo nos ciclos
biogeoquímicos da matéria no planeta.
TABELA 2.3 – GASES DE EFEITO ESTUFA.
CO
2
CH
4
N
2
0 CFCs CF
4
SF
6
Pré-industrial
280 ppm 700 ppb 270 ppb zero 40 ppb zero
Concentração em
1998
365 ppm 1745 ppb 314 ppb 268 ppb 80 ppb 3 a 4 ppt
Taxa de aumento
(ano)
(1)
1,5 ppm
(0,4%)
7,0 ppb
(0,6%)
0,8 ppb
(0,25%)
-1,4ppb
zero
1,0 ppb
(2%)
0,2 ppt
(5%)
Tempo de vida
(anos)
50 – 200
(2)
12
(3)
114 45 50.000 3.200
FONTE: IPCC, 2001a.
NOTAS: CO
2
(dióxido de carbono), CH
4
(metano), N
2
O (óxido nitroso), SF
6
(hexafluoreto de enxofre)
e CF
4
(perfluoreto de carbono)
são cobertos pelo Protocolo de Quioto. Substitutos do CFC também
são substâncias que destroem o ozônio, sendo, portanto, tratados pelo Protocolo de Montreal e não
nos acordos relativos a mudanças do clima. As taxas de concentração e aumento dos gases são
14
expressas em ppm (parte por milhão em volume), ppb (parte por bilhão em volume), ppt (parte por
trilhão);
(1) as taxas de aumento dos gases representam a média calculada durante a década de 1990 a
1999;
(2) não se pode definir uma duração de vida única para o CO
2
, devido as diferentes velocidades de
absorção pelos processos dos vários sumidouros;
(3) foi definido o tempo de vida levando-se em conta o efeito da própria duração do metano.
Atmosfera, oceanos, continentes e os organismos vivos são os principais
componentes de nosso meio ambiente, estando em permanente interação através do fluxo
de matéria e energia que ocorrem nos processos físicos e químicos da atmosfera (figura
2.3). O clima é o estado característico desse sistema, podendo ser quantificado através de
medidas de temperatura, pressão, velocidade do vento, radiação, precipitação, evaporação,
nebulosidade, concentração de componentes, formando o conjunto de variáveis
atmosféricas. Os princípios de conservação de massa e energia e as leis dos processos
físicos e químicos permitem explicar interações fundamentais à compreensão do sistema
climático.
FIGURA 2.3 – SISTEMA CLIMÁTICO TERRESTRE.
FONTE: HUPFER, GRABL, LOZÁN, 2001.
Qualquer mudança no equilíbrio deste sistema, inclusive aquelas provocadas pelo
aumento das concentrações dos gases de efeito estufa obrigarão o sistema a buscar
15
novamente uma nova situação de equilíbrio, isto é, modificarão as variáveis do sistema por
um tempo que pode ser avaliado a partir de modelos matemáticos, que fornecem projeções
do futuro climático.
O conceito de tempo descreve o estado atual da atmosfera e define variações
conjuntas de processos que ocorrem em algumas semanas. Observações de maior duração
fazem parte do estudo climático, onde o clima é a síntese do tempo por um período mais
longo, permitindo cálculos aproximados de parâmetros estatísticos descritivos (média,
variabilidade e valores extremos de: temperatura, precipitação, evaporação, insolação) e
das dimensões que descrevem o estado da atmosfera.
As medições verticais na atmosfera realizam-se desde o final da década de 1950,
com aceitável exatidão e quantidade suficiente de estações, indicando aumento de
temperatura em toda a atmosfera (IPCC, 2001).
FIGURA 2.4 – AUMENTO DA TEMPERATURA GLOBAL DE 1850 A 2000.
FONTE: IPCC, 2001.
Entre as observações resultantes, de acordo com a variação da temperatura global
mostrada na figura 2.4, destacam-se as seguintes:
16
Aumento, com flutuações, da temperatura anual média desde o início do
século XX;
O aquecimento alcançou em 1940 seu primeiro máximo;
Após esse período houve uma fase de pouca variação, de
aproximadamente 30 anos;
A partir de 1970 o aquecimento aumenta;
O aumento desde 1850 varia de 0,4°C a 0,7°C;
O ano mais quente foi o de 1998, onde o aquecimento foi ao redor de
1,6°C sobre o valor referencial;
Diferentes métodos utilizados demonstraram que o aumento de temperatura sobre a
superfície da terra não foi apenas por causas naturais, mas também pela interferência
antrópica na composição da atmosfera. Causas naturais como o aumento da atividade solar,
erupções vulcânicas, movimentos atmosféricos internos são de efeitos reduzidos se
comparados à influência humana. O IPCC (2001a)
chegou à conclusão de que há mais
argumentos demonstrando haver influência antrópica no desenvolvimento atual do clima do
que o contrário, sendo provável que o resultado mais direto seja um aumento “aquecimento
global” de 1,4°C a 5,8°C nos próximos cem anos, somados ao aumento aparente de cerca
0,5°C na temperatura desde o período anterior a 1850.
As principais fontes de emissão dos gases de efeito estufa atualmente devem-se a
queima de combustíveis fósseis (50%), indústria química (20%), agricultura (15%) e
destruição de florestas (15%) segundo HUPFER, GRABL, LOZÁN, 2001.
O gás carbônico é responsável por 55% do efeito estufa, cabendo 15% ao metano,
20% aos CFCs e 10% ao óxido nitroso, ozônio e outros gases (Brasil, 2001).
É interessante observar o crescimento de gases do efeito estufa, como o dióxido de
carbono (CO2) e metano (CH4) indicado pela figura 2.5. (NASA, 1999a).
17
FIGURA 2.5– AUMENTO DAS CONCENTRAÇÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO E METANO.
FONTE: NASA, 1999a.
As florestas dependem do clima e também o influenciam. A vegetação de regiões
úmidas ao desaparecer provoca seca local. Ocorre ainda a decomposição da matéria
orgânica do solo, com emissões de gás carbônico, metano e óxido nitroso. Presume-se que
desde 1850 tenham sido liberados 117 bilhões de toneladas de carbono fixado em
vegetação, perdendo-se simultaneamente valiosos receptores de gás carbônico e
ganhando-se importantes fontes de emissões de gás carbônico, metano e óxido nitroso pela
agricultura e criação de gado. Com o aumento da população deverá crescer também a
produção de alimentos, levando a um aumento nas taxas de emissões.
18
Como impactos do efeito estufa, são apontados pela comunidade científica: elevação
da temperatura, elevação do nível do mar e alterações no regime de chuvas.
2.3. CAMADA DE OZÔNIO
O ozônio encontra-se principalmente em duas regiões da atmosfera. A maioria do
ozônio reside a uma altitude compreendida entre 18 e 28 km, podendo ser encontrado até a
altitude de 50 km. Esta região da atmosfera denomina-se estratosfera. O ozônio restante
está em uma camada mais baixa da atmosfera, denominada troposfera. A figura 2.6. é um
exemplo da distribuição do ozônio na atmosfera.
FIGURA 2.6 – DISTRIBUIÇÃO MÉDIA DO OZÔNIO NA ATMOSFERA.
FONTE: UNEP, 2001.
A camada de ozônio, proteção natural da terra, é composta por moléculas de O
3
.
Apesar da pequena quantidade, o ozônio estratosférico é componente chave na absorção
da radiação ultravioleta, protegendo a vida contra os efeitos nocivos desta radiação
(denominada radiação UV-B). O ozônio desempenha também papel importante na
distribuição de temperaturas na atmosfera terrestre. Próximo à superfície terrestre, o ozônio
tem poder destrutivo, altamente tóxico para sistemas vivos. Vários estudos já foram
19
documentados sobre os efeitos nocivos do ozônio sobre a vida humana, crescimento de
florestas e produção de frutos e vegetais.
O ozônio é produzido e destruído naturalmente a partir de uma série de reações
fotoquímicas complexas. A diminuição da camada de ozônio está associada à destruição do
ozônio causada pelas emissões de substâncias químicas artificiais (figura 2.7).
FIGURA 2.7 – REAÇÕES DO OZÔNIO NA ATMOSFERA.
O ozônio é também um gás de efeito estufa, por absorver a radiação infravermelha
que é liberada pela Terra. A camada de ozônio sofre variações normais, conforme a hora do
dia, estações do ano e de ano a ano, contudo, na década de 60 começou a se a verificar
uma destruição dessa camada, em quantidades cada vez maiores.
A tecnologia química trouxe novas substâncias que chegam à estratosfera,
destruindo a camada de ozônio na estratosfera e tendo forte influência sobre o efeito estufa.
Com o intuito de proteger a camada de ozônio e o meio ambiente, firmou-se o Protocolo de
Montreal em 1987. O objetivo foi a eliminação gradativa do uso de substâncias destruidoras
da camada de ozônio, entre elas os CFCs.
Vários produtos químicos produzidos pelo homem são capazes de destruir o ozônio
estratosférico. Esses produtos têm duas características comuns:
o em níveis mais baixos da atmosfera são estáveis, sendo insolúveis em água e
resistentes à degradação física e biológica;
o contém cloro e bromo, elementos extremamente reativos na forma livre,
podendo “atacar” o ozônio.
20
Essas características facilitam a presença das substâncias destruidoras de ozônio no
ar por longos períodos, sendo gradativamente difundidas para todas as partes da atmosfera,
inclusive a estratosfera. Lá elas são degradadas pela intensa radiação UV, liberando átomos
de cloro e bromo destruidores de ozônio.
As SDOs
7
podem contribuir direta ou indiretamente para o efeito estufa. A tabela 2.4
reúne algumas SDOs, comparando os valores estimados pelo IPCC e WMO.
TABELA 2.4 – VALORES ATMOSFÉRICOS DE ALGUMAS SDOs E SEUS SUBSTITUTOS.
Potencial de Aquecimento Global
IPCC (2001) &
WMO (2003
)
Nome
industrial
Fórmula
Química
Tempo
de
Vida
(anos)
(a)
Eficiência
Radiativa
(Wm
-2
ppb
-4
)
IPCC
(1996)
(100
anos)
(b)
(20 anos) (100 anos) (500 anos)
Dióxido de carbono
CO
2
1,55x10
-5
11 11
Metano
CH
4
12 (c)
3,7x10
-4
21 63 (c) 23 (c) 7 (c)
Substâncias controladas pelo Protocolo de Montreal
CFC-11
CCl
3
F
45 0,25 3800 6330 4680 1630
CFC-12
CCl
2
F
2
100 0,32 8100 10340 10720 5230
CFC-113
CClFCClF
2
85 0,30 4800 6150 6030 2700
CFC-114
CClF
2
CClF
2
300 0,31 7560 9880 8780
CFC-115
CClF
2
CF
3
1700 0,18 4990 7250 10040
Halon-1301
CBrF
3
65 0,32 5400 7970 7030 2780
Halon-1211
CBrClF
2
16 (d) 0,30 4460 1860 578
Halon-2402
CBrF
2
CBrF
2
20 (d) 0,33 (d) 3460 (d) 1620 (d) 505 (d)
Tetracloreto de carbono
CCl
4
26 (d) 0,13 1400 2540 (d) 1380 (d) 437 (d)
Metil brometo
CH
3
Br
0,7 0,01 16 5 1
Bromoclorometano
CH
2
BrCl
0,37 (d)
Metil clorofórmio
CH
3
CCl
3
5 (d) 0,06 476 (d) 144 (d) 45 (d)
HCFC-22
CHClF
2
12 (d) 0,20 1500 4850 (d) 1780 (d) 552 (d)
HCFC-123
CHClCF
3
13 (d) 0,14 (d) 90 257 (d) 76 (d) 24 (d)
HCFC-124
CHClFCF
3
5,8 (d) 0,22 470 1950 (d) 599 (d) 186 (d)
HCFC-141b
CH
3
CC
2
F
9,3 0,14 2120 713 222
HCFC-142b
CH
3
CClF
2
17,9 (c) 0,2 1800 5170 2270 709
HCFC-225ca
CHCl
2
CF
2
CF
3
1,9 (d) 0,2 (d) 404 (d) 120 (d) 37 (d)
HCFC-225cb
CHClFCF
2
CClF
2
5,8 (d) 0,32 1910 (d) 586 (d) 182 (d)
Hidrofluorcarbonos
HFC-23
CHF3 270 (d) 0,19 (e) 11700 11100 (f) 14310 (f) 12100 (f)
HFC-32
CH2F2 4,9 (d) 0,11 (e) 650 2220 (f) 670 (f) 210 (f)
HFC-125
CHF2CF3 29 0,23 2800 5970 3450 1110
HFC-134a
CH2FCF3 14 (d) 0,16 (e) 1300 3590 (f) 1410 (f) 440 (f)
HFC-143a
CH3CF3 52 0,13 3800 5540 4400 1600
HFC-152a
CH3CHF2 1,4 0,09 140 411 122 38
HFC-227ea
CF3CHFCF3 34,2 (d) 0,26 (e) 2900 4930 (f) 3140 (f) 1030 (f)
HFC-236fa
CF3CH2CF3 240 (d) 0,28 6300 7620 (d) 9500 (d) 7700 (d)
7
Substâncias Destruidoras de Ozônio
21
Potencial de Aquecimento Global
IPCC (2001) &
WMO (2003
)
Nome
industrial
Fórmula
Química
Tempo
de
Vida
(anos)
(a)
Eficiência
Radiativa
(Wm
-2
ppb
-4
)
IPCC
(1996)
(100
ano )
s
(b)
(20 anos) (100 anos) (500 anos)
Compostos perfluorados
Hexafluoreto de enxofre
SF
6
3200 0,52 23900 15290 22450 32780
Trifluoreto de nitrogênio
NF
6
740 0,13 7780 10970 13240
PFC-14
CF
4
50000 0,08 6500 3920 5820 9000
PFC-116
C
2
F
6
10000 0,26 9200 8110 12010 18280
PFC-218
C
3
F
8
2600 0,26 7000 5940 8690 12520
PFC-3-1-10
C
4
F
10
2600 0,33 7000 5950 8710 12550
PFC-5-1-14
C
6
F
14
3200 0,49 7400 6230 9140 13350
PFC-318
c-C
4
F
8
3200 0,32 8700 6870 10090 14740
Outros fluorados
HFE-449s1 CH
3
O(CF
2
)CF
3
5 0,31 1310 397 123
HFE-569sf2
CH
3
CH
2
O(CF
2
)CF
3
0,77 0,30 189 56 17
HFE-347pcf2 (g)
CF
3
CH
2
OCF
2
CHF
2
7,1 0,25 1800 540 170
FONTE: IPCC, 2005.
NOTAS: Parte da tabela original adaptada: (a) IPCC (2001, cap. 6); (b) valores adaptados pelo
UNFCCC; (c) o tempo de vida do metano inclui emissões (IPCC, 2001, cap. 6) e efeitos indiretos de
gases de efeito estufa; (d) atualizados pelo WMO (2003, cap. 1); (e) atualizado por resultados obtidos em
modelos consistentes por Gohar et al (2004); (f) escala para atualização da eficiência radiativa; (g)
Tokuhashi et al (2000), IPCC(2001).
Os efeitos diretos ocorrem quando as SDOs contribuem para o aquecimento global.
Os efeitos indiretos ocorrem quando transformações químicas das SDOs produzem outros
gases de efeito estufa, ou quando os produtos de sua degradação provocam forçamento
radiativo e influenciam a química atmosférica.
Devido ao aumento do buraco de ozônio, cresceram as suspeitas de que o
aquecimento global possa estar favorecendo as reações químicas que destroem o ozônio. O
problema é acompanhado de perto porque a distribuição vertical da camada de ozônio
influencia na radiação UV que chega à terra. O aumento da radiação UV será tanto maior
quanto mais tênue for a camada de ozônio.
Tanto a destruição do ozônio estratosférico quanto as mudanças climáticas são
efeitos das atividades humanas sobre a atmosfera global. Estes são dois problemas
ambientais distintos, mas ligados de várias maneiras:
Produtos químicos destruidores de ozônio contribuem para o aquecimento global por
terem um impacto no balanço térmico da Terra, bem como na camada de ozônio (os CFCs
22
11 e 12 são gases do efeito estufa e também os dois principais compostos
clorofluorcarbonos que destroem o ozônio, tendo um potencial de aquecimento global
elevado, em relação ao dióxido de carbono, para um período de 100 anos). Os HFCs,
produtos químicos desenvolvidos para substituir CFCs, são também poderosos gases
causadores do efeito estufa.
O próprio ozônio é um gás causador do efeito estufa e a camada de ozônio faz um
papel de manutenção do equilíbrio geral de temperatura do planeta. Acredita-se atualmente
que a destruição da camada de ozônio reduza o efeito estufa. Por outro lado, a maior
exposição à radiação UV poderia alterar o ciclo dos gases causadores do efeito estufa, tais
como dióxido de carbono, de tal modo que poderia aumentar o aquecimento global. Em
particular, maior incidência de UV provavelmente suprime a produção primária de plantas
terrestres e fitoplâncton marinho, reduzindo assim a quantidade de dióxido de carbono que
eles absorvem da atmosfera.
Espera-se que o aquecimento global aumente as temperaturas médias na baixa
atmosfera, o que poderia esfriar a estratosfera e aumentar a destruição do ozônio, mesmo
que as concentrações de produtos químicos que atingem a estratosfera fossem as mesmas.
Os HCFCs são menos nocivos à camada de ozônio do que os CFCs porque seu
átomo de hidrogênio torna mais provável a sua degradação em níveis inferiores da
atmosfera, impedindo que muito do seu cloro atinja a estratosfera. No entanto, por serem
SDOs, os HCFCs também são controlados e têm a eliminação se seu uso estabelecida pelo
Protocolo de Montreal.
2.4. “EL NIÑOE LA NIÑA
A energia circulante do sistema climático é transportada pelas águas oceânicas e
movimentos do ar na atmosfera. Regiões extratropicais de alta pressão recebem
quantidades mais significativas das massas circulantes. De acordo com o verificado pelo
23
IPCC, no Hemisfério Norte as variações são maiores e mais distribuídas, enquanto no
Hemisfério Sul, estão concentradas próximo à Antártica. A localização e o alinhamento
desses pontos de alta pressão causa influencias no clima regional.
O fenômeno El Niño, de atuação oceânico-atmosférica, é um dos fatores, embora
ocorrendo de tempos em tempos, que influencia a mudança no clima do Pacífico-Leste. Tal
mudança é provocada pelo aumento anormal da temperatura da superfície da água do mar
nessa região, próximo a linha do Equador, na área central do oceano Pacífico, conforme
figura 2.8.
FIGURA 2.8 - CONDIÇÕES OCEÂNICAS DO PACÍFICO TROPICAL
FONTE: NOAA, 2001.
O que ocorre normalmente sobre as águas da faixa tropical do Pacífico, é o vento
soprando de leste para oeste, acumulando águas mais quentes, de toda a superfície da
faixa tropical que foi aquecida pelo Sol, no setor oeste, deixando o nível do oceano na
Indonésia meio metro acima do nível da costa oeste da América do Sul. Assim, na costa sul-
24
americana a temperatura da água é cerca de 8°C mais fria e rica em nutrientes para o
ecossistema marinho.
Em anos de El Niño, os ventos leste-oeste enfraquecem em algumas áreas na faixa
tropical, invertem o sentido e sopram de oeste para leste. Logo, a água mais quente do
oeste é empurrada para o leste, deixando a água da costa oeste da América do Sul com
temperaturas acima da média, e as águas da região da Indonésia e norte e nordeste da
Austrália abaixo da média térmica (NOAA, 2000). A anomalia da temperatura dessa parte do
oceano provoca mudanças climáticas regionais e globais, conforme figura 2.9.
Quando há anos de El Niño, logo após quase sempre ocorre La Niña. Tal fenômeno
caracteriza-se por um resfriamento da água na faixa equatorial do Oceano Pacífico, mas de
magnitude bem menor, parecendo não afetar tanto o clima global, conforme figura 2.10.
FIGURA 2. 10 – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
GLOBAIS DE LA NIÑA.
FONTE: NOAA, 2001.
FIGURA 2. 9 – CONDIÇÕES CLIMÁTICAS.
GLOBAIS DE EL NIÑO.
FONTE: NOAA, 2001.
25
Durante o século XX foram registrados 29 episódios de El Niño e 20 de La Niña. Só
agora diversos institutos climáticos estão montando o perfil desses acontecimentos.
2.5. MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Desde o início da Revolução Industrial as concentrações de gás carbônico na
atmosfera aumentaram 30%, concentrações de metano duplicaram, concentrações de óxido
nitroso cresceram 15%, somando-se as SDOs. Ao que se deve essa taxa de crescimento
dos gases de efeito estufa? Levando em conta as características da sociedade humana do
passado e de hoje, acompanhando sua evolução tecnológica, vê-se que a introdução de
novas formas de energias originadas a partir do uso intensivo de combustíveis fósseis,
principalmente na industria, e nos transportes, foi responsável por quase 98% das emissões
de dióxido de carbono nos Estados Unidos, 24% das emissões de metano e 18% das
emissões de óxido nitroso.
É difícil o cálculo de emissões futuras, uma vez que depende de demografia,
economia, tecnologia, política e desenvolvimento institucional. Vários cenários de emissões
foram desenvolvidos com base em diferentes projeções destes fatores e suas
sobreposições. Por exemplo, na ausência de controle político de emissões, as
concentrações de dióxido de carbono podem estar de 30 a 150% mais altas que hoje.
Quando se alerta para riscos associados ao efeito estufa, o foco é sua possível
intensificação causada pelo homem e a conseqüência para o clima da terra. Do ponto de
vista quantitativo, a hipótese do aumento dos gases de efeito estufa é simples: quanto maior
for a concentração de gases, maior será o aprisionamento do calor e, conseqüentemente,
mais alta a temperatura média do globo terrestre. O problema é que estamos adicionando
cada vez mais dióxido de carbono na atmosfera ao queimarmos combustíveis fósseis para
obter energia. Adicionamos também outros gases como o óxido nitroso, metano e outros e
continuamos, ainda, a cortar milhares e milhares de árvores por dia.
26
A energia, vital para o homem, inicialmente foi obtida com sua força física, depois
com animais domesticados, queima de lenha para cozimento e aquecimento de casas,
rodas e moinhos de água. No século XVIII, com a Revolução Industrial, a madeira forneceu
energia para as máquinas a vapor, fato que deu início às discussões ambientais quanto ao
destino das florestas européias. Aos poucos, a energia do carvão mostrou-se mais eficiente
e substituiu a madeira no final do século XIX. A partir do século XX, com o uso de motores
de combustão interna, cresce o uso do petróleo, ultrapassando o consumo de carvão na
metade do século. Outras formas de energia, hidráulica, nuclear, de biomassa, eólica, são
utilizadas em menor escala atualmente.
A matriz energética de uma época ou país depende de fatores ligados à política,
economia, recursos naturais e tecnologia. Deveria estar relacionada à consciência das
mudanças climáticas causadas pelos diferentes energéticos e do compromisso com o
desenvolvimento limpo e sustentável como solução ambiental benéfica ao planeta e a vida.
Em junho de 1992, durante a “Cúpula da Terra”, no Rio de Janeiro, foi negociada e
assinada a Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A mudança
climática foi reconhecida como uma preocupação comum da humanidade e 175 países mais
a União Européia propuseram-se a elaborar uma estratégia que visasse garantir a vida de
gerações presentes e futuras em condições climáticas favoráveis (BRASIL, 2000).
Em 1995, na Alemanha, a Conferência de Berlim examinou a adequação de
obrigações estabelecidas e propôs a constituição do Protocolo. Seriam estipulados limites
de emissão dos gases do efeito estufa, principalmente o CO
2
. Em 1996, na Suíça, foi
assinada a Declaração de Genebra, visando a criação de obrigações legais e apresentando
o Segundo Relatório de Avaliação do IPCC, considerado o mais autorizado documento
sobre a ciência da mudança do clima.
Na terceira Conferência, realizada em dezembro de 1997 em Quioto, no Japão,
elaborou-se o compromisso de 39 países desenvolvidos quanto à redução ou limite de
emissões futuras de CO
2
e outros gases responsáveis pelo efeito estufa, exceto os já
27
controlados pelo Protocolo de Montreal. O Protocolo estabelecido durante a conferência
estabelece 5,2% de redução nas emissões entre os anos de 2.008 e 2.012, com relação aos
níveis de 1.990 para CO
2
, CH
4
e N
2
O, e aos níveis de 1995 para SF
6
, PFCs e HFCs
(UNFCCC, 2000).
O Protocolo de Quioto inclui três mecanismos: implementação conjunta, comércio de
emissões e mecanismos de desenvolvimento limpo. Este último desenvolvido a partir de
proposta brasileira, onde seria instituído o princípio de poluidor-pagador. Esta proposta
transformou-se na possibilidade de um país desenvolvido financiar projetos em países em
desenvolvimento.
Os maiores emissores de gases do efeito estufa são cautelosos no combate às
mudanças climáticas por temerem altos custos e destruição do atual modelo energético.
Não é fácil calcular os custos das políticas de combate ao aquecimento global, a forma com
que os juros afetam o planejamento e o investimento corporativos e como os investidores e
consumidores responderão às iniciativas tomadas. Contudo, devem ser calculados também
os custos ambientais e de saúde relacionados às mudanças climáticas.
A quarta conferência, na Argentina, em novembro de 1998, resultou no Plano de
Ação de Buenos Aires, onde foi ratificada a necessidade de considerar as atuais emissões e
o conceito de responsabilidade histórica das emissões. Foi avaliada a real contribuição de
cada país no aumento da temperatura global, de acordo com a figura 2.11.
O histórico de emissões também deve ser lembrado, uma vez que faltam dados
anteriores a 1990, e não sendo garantido que a previsão de emissões futuras ocorra. Por
um lado, os países industrializados não querem se responsabilizar pelo custo futuro de
emissões que não farão devido ao seu estágio de desenvolvimento. De outro lado, países
em desenvolvimento não concordam em assumir 150 anos de emissões que não
produziram.
28
FIGURA 2.11 – EMISSÕES DE CARBONO, 1996.
FONTE: UNFCCC, 2000.
Países industrializados, como Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e França,
vêm consumindo energia por mais tempo, desenvolveram-se pelo consumo energético,
sendo maior o acúmulo das emissões. O Japão atingiu pico menor que os demais países,
sendo retardatário no processo de desenvolvimento, tendo provocado menos emissões que
seus precedentes.
E quando se compara o desempenho de alguns países quanto à emissão de dióxido
de carbono, de acordo com a Tabela 2.5, Estados Unidos e Japão possuem a maior média
de emissões por habitante e também por área territorial.
29
TABELA 2.5. - INDICADORES DE EMISSÃO DE CO
2
– 1997.
ESPECIFICAÇÃO BRASIL EUA JAPÃO AM. LATINA MUNDO
t CO2 / HAB. 1,8 20,5 9,3 2,2 4,0
t CO2 / tep Oferta Int. Energia 1,8 2,5 2,3 2,0 2,4
t CO2 / 10^3 US$(85) de PIB 0,52 0,83 0,35 0,77 0,90
t CO2 / Km² de superfície 35 595 3107 48 113
FONTE: BRASIL, 2000.
O êxito conseguido no que se refere à redução das emissões de substâncias que
destroem a camada de ozônio, nos termos do Protocolo de Montreal, baseou-se no fato dos
países desenvolvidos liderarem a ação de eliminar os CFCs nocivos e em dar apoio
financeiro e técnico, tendo em vista ajudar os outros países a procederem da mesma
maneira. Os países em desenvolvimento aceitaram metas semelhantes de redução das
emissões, com um período de graça de quinze anos. O Protocolo de Quioto pode não ser
tão bem sucedido quanto o de Montreal, uma vez que os interesses envolvidos nas
negociações são de maior complexidade e envolvem decisões que poderiam alterar a
posição de hierarquia no mundo globalizado.
Finalmente, Canadá, Japão e Nova Zelândia decidiram ratificar este acordo
internacional. Estados Unidos, apesar de tentar bloquear o processo, decidiu atualizar-se na
luta contra as mudanças climáticas.
Com a ratificação por parte da Rússia, em setembro de 2004, o Protocolo de Quioto
converteu-se em Lei internacional, entrando em vigor aos 16 de fevereiro de 2005, sem a
participação dos Estados Unidos e Austrália.
O debate internacional sobre as mudanças climáticas continuará intenso, à medida
que as negociações sobre o Protocolo de Quioto prosseguem. A perspectiva do aumento da
temperatura e do nível do mar, com impactos sobre as pessoas e ecossistemas, poderão
30
levar alguns governos a tomarem medidas no sentido do desenvolvimento limpo, mas as
preocupações com os custos econômicos e políticos destas medidas persistirão, até que
países desenvolvidos que se recusam a ratificar o Protocolo de Quioto percebam que as
mais drásticas alterações climáticas ocorrerão no hemisfério norte.
2.6. IMPACTOS DECORRENTES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Informações indicam que o clima é muito mais instável do que se imagina e altera-se
de forma rápida no presente, mostrando marcas das atividades humanas no planeta.
Satélites facilitam a observação das correntes marítimas, monitoram o clima, marégrafos
dão informações sobre o nível do mar, modelos computacionais mostram a distribuição do
gelo polar e de florestas, o homem percebe as sensações do aquecimento global em seu
organismo, nos extremos do tempo e nas modificações de ecossistemas.
A principal conseqüência das alterações climáticas, segundo as pesquisas, é o
aumento do nível do mar a partir da dilatação térmica e alterações das placas de gelo nos
pólos.
Com o aquecimento, prevê-se maior quantidade de neve na Antártida, hemisfério sul.
Na região ártica, no hemisfério norte, as temperaturas são da ordem de 10°C a 15°C mais
elevadas, predominando o degelo, em relação ao pólo sul. Como a região ártica possui,
hoje, maior extensão de gelo, haveria um déficit nas massas de gelo, conseqüentemente ao
aquecimento do planeta, ou seja, o degelo prevaleceria à formação de novas placas de gelo.
O processo de degelo é lento, levando a ocorrer fissuras nas lâminas, que passariam
a flutuar, aumentando o nível do mar ainda neste século. Vale lembrar que a água no estado
sólido ocupa maior volume, isto é, sua densidade é menor. Segundo prevê o IPCC, esse
aumento pode variar de 50 a 90 centímetros acima do nível atual e será ocasionado pela
dilatação térmica da água e pelo degelo das placas oceânicas e de glaciares localizados nos
topos de cordilheiras. Os glaciares de cordilheiras constituem importantes indicadores de
31
mudanças climáticas por responderem rapidamente ao aquecimento.
Monitoram-se instrumentalmente as características oceânicas, com nível de certeza
bem confiável, observando-se aumento da evaporação de 1973 a 1988, na região dos
trópicos, e conseqüente aumento de temperatura na superfície do mar. O gelo marinho
também diminuiu entre 1973 e 1994, de acordo com relatório do IPCC (2001), e o nível do
mar subiu de 10 a 25 centímetros durante o século XX, com base na leitura de marégrafos
em diversas áreas costeiras.
As regiões equatoriais recebem mais energia do que as polares, contudo, há um
balanço energético que transfere essa energia, recebida com maior intensidade no equador,
para os pólos, através da atmosfera e também dos oceanos. Nas baixas latitudes, a
evaporação da água oceânica é o principal mecanismo de remoção de calor da superfície
terrestre, fato que ocorre graças ao calor latente de vaporização, alto para a água. Quando
evapora, a água retira do ambiente parte do calor, transportando-o até regiões mais frias do
planeta. Nessas regiões o vapor de água se resfria e se condensa, liberando o calor. A
evaporação ocorre, neste caso, sobre os oceanos e “viaja” pela atmosfera devido à ação
dos ventos.
A atmosfera gera, por atrito com as águas oceânicas, as principais correntes
superficiais marinhas (figura 2.12), hoje bem conhecidas. Ventos alísios formam as
correntes equatoriais comuns a todos os oceanos (Campos, 1995). Nos oceanos Atlântico e
Pacífico essas correntes são interceptadas pelos continentes e desviadas para norte e sul,
sendo responsáveis por formarem as mais intensas correntes. Ao soprar em sentido oeste,
os ventos alísios levam junto as águas, provocando um aumento médio de quatro
centímetros a cada 1.000 quilômetros percorridos no mesmo sentido. Esse acúmulo de
água, ao retornar, gera as contracorrentes equatoriais. Ocorrem giros sub-polares no
hemisfério norte, o que não acontece no hemisfério sul por não haver barreiras de terra
obstruindo o fluxo de água.
32
FIGURA 2.12 – CORRENTES OCEÂNICAS.
FONTE: HUPFER, GRABL, LOZÁN, 2001.
Os maiores volumes de água transportados estão na região ártica, 100 milhões de
metros cúbicos por segundo. A corrente do Brasil transporta o volume máximo de 14
milhões de metros cúbicos por segundo, sessenta e duas vezes a quantidade de água
movimentada pelo rio Amazonas.
Águas menos densas tendem a ocupar altura mais elevada na coluna de água.
Assim, além das correntes marinhas superficiais, existem as profundas, causadas por
diferenças de densidade da água do mar. Estas correntes são produzidas por alterações na
temperatura ou salinidade, podendo ocorrer devido ao resfriamento ou aquecimento da
água. O movimento é vertical, pela densidade, e, depois, horizontal, pelo deslocamento. São
correntes importantes no estabelecimento das características profundas do oceano, fazendo
com que o alto teor de oxigênio circule.
De modo geral, correntes de águas profundas são formadas em altas latitudes e
correntes de águas superficiais são formadas em latitudes menores. As correntes de águas
superficiais não são consideradas verdadeiras massas de água por estarem freqüentemente
submetidas a constantes alterações de temperatura e salinidade.
33
Oceanos desempenham papel importante no armazenamento de calor e carbono.
Sua atuação frente o aquecimento global será a de difundir os efeitos da variação de
temperatura por grandes distâncias, seja através da circulação vertical ou horizontal. Em
conseqüência dessa capacidade, levará mais tempo para que este meio retorne às
condições normais. Ainda há o que ser resolvido sobre o estudo do aumento do nível do
mar, mas há fortes evidências de que, realmente, está ocorrendo, incluída a região Sudeste
brasileira e, nela, o litoral de São Paulo (Mesquita, 1997).
O aumento do nível oceânico afetará regiões costeiras, onde são encontrados
valiosos sistemas ecológicos e mais de metade da população mundial. Podem ocorrer
inundações, erosão costeira e salinização. Aves marinhas, peixes, fitoplâncton e
zooplâncton serão afetados, bem como já se constata a destruição de recifes de corais.
Regiões portuárias podem tornar-se problemas econômicos, ilhas ou países-ilhas
desaparecerão parcial ou totalmente, bem como cidades costeiras de altitude zero. Estes
fatos, embora pareçam alarmistas, podem servir como alerta na tomada de decisões que
diminuam as conseqüências do aquecimento global e aumento do nível do mar em regiões
de preservação ambiental ou que abriguem, principalmente, população de baixa renda,
como os manguezais,área de estudo desta dissertação.
Contudo, as alterações climáticas desencadearão uma série de modificações
globais, como reação em cadeia, segundo Hupfer, Grabl, Lozán (2001) e IPCC (2001).
Prevê-se que a agricultura será o setor da economia mais suscetível às
variações do clima, podendo sofrer fortes oscilações no volume das
colheitas e na qualidade dos diferentes cultivares;
Aumento da desertificação;
Intensificação da circulação global de água, isto é, maior evaporação e
precipitação (3 a 15%), com distribuição diferenciada nas regiões
intertropicais, onde deve ocorrer aumento de precipitação, e diminuição
de chuvas nas regiões subtropicais, levando a problemas de escassez de
34
água;
Mudanças na cobertura vegetal do globo terrestre, dependendo da
capacidade adaptativa das espécies;
Conseqüências econômicas ocasionadas pelo aumento de catástrofes
climáticas em relação à década de 1960; danos de bens assegurados
contra temporais extremos, aumento do nível do mar e intensificação das
tormentas e chuvas – juntam-se a esse processo outros fatores, como o
crescimento populacional, crescimento de valores materiais, urbanização
e aumento da vulnerabilidade de uma região;
Biodiversidade ameaçada, levando à extinção total ou regional, adaptação
seletiva, oportunismo ou migração – um dos ecossistemas mais afetados
pelo efeito das mudanças climáticas é o de manguezais;
Influências à saúde humana por ondas de calor mais freqüentes e
intensas, além de condições extremas do tempo – os efeitos das ondas
de calor podem agravar-se nas grandes cidades, causando “ilhas de
calor” urbano;
A distribuição geográfica de diversas enfermidades infecciosas tropicais,
como a malária, ou invasão de áreas humanas por zoonoses, como
infestações de carrapatos que podem converter-se em grandes problemas
para a Europa Central;
Ainda persistem dúvidas sobre a quantificação dos impactos causados e em que
escala de tempo devem ocorrer. Mesmo assim, medidas de proteção e prevenção devem
ser tomadas, partindo-se das evidências já conhecidas. Não é preciso explicar todas as
questões para se tomar atitudes. Algumas já podem ser adotadas com base na primeira
compreensão do problema. Implica ainda em colaboração por parte dos países
desenvolvidos cooperarem com os ainda não industrializados.
35
3. MANGUEZAIS
3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS MANGUEZAIS
Os manguezais são ecossistemas costeiros das regiões de clima quente do planeta,
típicos de zonas tropicais, estimando-se que ocupem uma área de 165.530 quilômetros
quadrados, distribuídos entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio. Estão
localizados na faixa entre a maré alta e a maré baixa, junto à foz de rios, no interior de
baías, estuários e locais protegidos da ação direta das ondas do mar, mas expostos ao
contato entre rios e mares, onde água doce e salgada se misturam em diversificadas
proporções.
Devido sua estrutura, os manguezais vem há muito tempo despertando interesse. A
primeira descrição de manguezais (Shaeffer-Novelli, 1995) foi realizada em 1526, por
Oviedo, na obra História Geral e Natural das Índias. Outra obra de 1587, Trabalho Descritivo
do Brasil, do historiador português Gabriel Soares de Souza, é conhecida como uma das
referências mais antigas sobre os manguezais brasileiros.
3.1.1. Definição de manguezais
Snedaker (1985)
define os manguezais como bosques de plantas lenhosas tolerantes
ao sal, caracterizados pela habilidade comum de crescerem e desenvolverem-se ao longo
de litorais protegidos das marés e localizados em meio a sedimentos salinos
freqüentemente anaeróbios.
Os manguezais estão dominados por um grupo de espécies arbóreas que
desenvolvem adaptações fisiológicas, reprodutivas e estruturais que lhes permite colonizar
36
substratos instáveis e áreas alagadas, sujeitas às mudanças de marés das costas tropicais
e subtropicais protegidas das forças das ondas (Mainardi, 1996).
Devido à localização costeira destes ecossistemas, sempre em contato com massas
de água oceânica em combinação com águas que chegam através de correntes fluviais ou
desembocadura dos rios, também podem ser denominados bosques hidrófilos. Neste
sentido Von Prahl (1990) define os manguezais como sistemas estuarinos naturais, onde
ocorrem etapas larvais de inúmeras espécies marinhas e de água salobra.
Os manguezais são formações de transição da terra para o mar, protegendo as
costas tropicais com árvores e arbustos que crescem abaixo do nível máximo das marés de
primavera. Seus sistemas radiculares estão em contato regular com água salobra. Apenas
um número reduzido de espécies vegetais pode sobreviver em condições fisiológicas tão
adversas, sendo a formação de bosques de manguezal pouco variada. No mundo são
conhecidas 90 espécies, das quais 55 encontram-se geralmente em manguezais
pantanosos. Os gêneros mais importantes são
Rhizophora, com raízes arqueadas que
servem como suporte,
Avicennia e Sonneratia, ambas com raízes respiratórias
(pneumatóforos) que brotam da superfície do solo (Christensen, 2002).
Na realidade, não existe uma definição precisa sobre manguezais. Os autores valem-
se, para sua caracterização, de elementos em comum, como os benefícios oferecidos por
este ecossistema, mecanismos de adaptação das espécies vegetais que o constituem,
condições ambientais adversas como a salinidade, entre outras. A dinâmica destes
ecossistemas está ainda determinada por vários fatores marinhos, atmosféricos e terrestres,
como o clima local, a geomorfologia, salinidade, freqüência e duração das inundações e
distância do mar. Estas características determinam a distribuição das espécies e a sua
sucessão na geologia terrestre.
37
3.1.2. Localização e distribuição dos manguezais
A distribuição dos manguezais corresponde à de florestas tropicais, estendendo-se
ao norte e sul do Equador. Raras vezes encontram-se além dos trópicos, uma vez que estes
ecossistemas são sensíveis a baixas temperaturas. Os limites de latitude são determinados
pela temperatura, estendendo-se ao norte ou sul apenas naquelas regiões em que as
correntes costeiras modificam o clima (Snedaker, 1985).
Sustenta-se a teoria de que a diferença de espécies dos mangues orientais e
ocidentais deve-se a correntes oceânicas que evitam o movimento de migração de espécies
(FAO, 1994). Mundialmente podem ser distinguidas duas zonas de distribuição de
manguezais:
Zona Ocidental, incluindo a África Ocidental, as costas da América e o Caribe;
Zona Oriental, compreendendo as costas da África Oriental, sul da Ásia e
Pacífico, incluindo desde ilhas até a Austrália e onde está concentrada a
maior diversidade.
Cuatrecasas (1958) em seu estudo sobre os manguezais da costa ocidental afirma
que os manguezais da costa do Pacífico americano estendem-se desde a Baixa Califórnia
até o norte do Peru, tendo seu máximo desenvolvimento nas costas do Panamá, Colômbia e
norte do Equador, cobrindo uma larga faixa lateral cortada por uma rede de rios e canais
chamados estuários. A Rhizophora brevistyla, espécie de mangue vermelho, constitui as
formações mais importantes destes manguezais e ocupa a posição mais próxima ao mar.
Segundo Bernardi (1959), os manguezais da costa do Pacífico tem seu ponto mais
baixo de localização a 30°48'S, no delta do rio Tumbez, Peru. O ponto mais baixo na costa
Atlântica situa-se a 28°20'S, ao sul de Florianópolis, apresentando um manguezal já muito
empobrecido. O motivo dessa desigualdade foi atribuído à corrente fria de Humbolt que
percorre a costa sul-americana ocidental e tornaria difícil o crescimento de árvores tropicais.
Às plantas lenhosas dos manguezais associam-se outros componentes da flora e
38
fauna altamente adaptados a condições especiais de solo periodicamente inundado e
grande variação de salinidade, sendo a temperatura considerada como um dos principais
limitantes, não se desenvolvendo satisfatoriamente em regiões onde a média anual seja
menor que 19°C e normalmente não toleram flutuações térmicas que excedam a 10°C
(Adaime, 1985). Rey (1999) escreve sobre a teoria de que as espécies de manguezais
originaram-se na região Indo-Malasia e, através das correntes oceânicas, os propágulos
8
chegaram a Índia e Leste da África. Devem ter chegado à América Central e do Sul durante
o período Cretáceo superior e a época do baixo Mioceno, entre 66 e 23 milhões de anos
atrás.
Andrade (1965) faz referências aos estudos dos manguezais brasileiros, sendo os
estudos realizados do ponto de vista florístico e carecendo de informações ecológicas ou
fisiológicas.
A distribuição mundial de manguezais está ilustrada na figura 3.1, (WCMC, 1997).
Os manguezais não existem em costas rochosas como as da costa colombiana,
(Bernardi, 1959). Nas costas arenosas do Pacífico podem ser encontrados manguezais em
lagoas ribeirinhas, separadas do mar aberto por bancos de areia.
Os manguezais da América Latina e Caribe, apresentados na tabela 3.1, constituem
58.310 quilômetros quadrados, 35,27% da área total ocupada pela distribuição deste
ecossistema no mundo (FAO, 1994). As maiores extensões de bosques de manguezais
encontram-se no Brasil (25.000 quilômetros quadrados) e no México (6.600 quilômetros
quadrados).
8
Órgão destinado à multiplicação vegetativa das plantas.
39
FIGURA 3.1. DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DE MANGUEZAIS.
1
3
2
FONTE: WCMC, 1997.
NOTAS: (1) África e Ásia; (2) Américas; (3) Ásia e Austrália.
40
TABELA 3.1. DISTRIBUIÇÃO DE MANGUEZAIS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE.
Superfícies aproximadas de manguezais na América Latina e Caribe
Área
País
Superfície
(quilômetros quadrados)
% na América
Latina
% mundial
Belize 750 1,286 0,454
Brasil 25.000 42,874 15,124
Colombia 3.070 5,265 1,857
Costa Rica 390 0,669 0,236
Cuba 4.480 7,683 2,710
El Salvador 360 0,617 0,218
Equador 1.960 3,361 1,186
EUA (Flórida e Porto Rico) 1.780 3,052 1,077
Guadalupe 30 0,051 0,018
Guatemala 500 0,857 0,302
Guiana 1.500 2,572 0,907
Guiana Francesa 550 0,943 0,333
Haiti 180 0,309 0,109
Honduras 1.450 2,487 0,877
Jamaica 70 0,120 0,042
Martinica 20 0,034 0,012
México 6.600 11,319 3,993
Nicarágua 600 1,029 0,363
Panamá 4.860 8,335 2,940
Peru 280 0,480 0,169
República Dominicana 90 0,154 0,054
Suriname 1.150 1,972 0,696
Trinidad e Tobago 40 0,069 0,024
Venezuela 2.600 4,459 1,573
total 58.310 35,275
Total mundial 165.300
FONTE: FAO, 1994.
41
3.1.3. Dinâmica dos manguezais
Os manguezais são ecossistemas muito variados quanto sua composição e
estrutura, sempre marcando a transição entre terra e mar. Vários são os fatores ambientais
que determinam a dinâmica dos manguezais. Cuatrecasas (1958) refere-se ao solo dos
manguezais que aparece na maré baixa como sendo um lodo negro azulado, macio,
completamente saturado de abundantes colóides, minerais e restos orgânicos, ricos em
bactérias e pobre em oxigênio, com substâncias putrefatas.
Lamprecht (1959) associa os solos lamacentos, enriquecidos pela matéria orgânica e
partículas finas de solo levadas pelas águas, ao estabelecimento propício de manguezais.
Temperatura e precipitação são os fatores bioclimáticos fundamentais na
caracterização da dinâmica destes ecossistemas. A temperatura mínima no inverno é maior
que 20° C, sendo constante durante o ano, com variações menores que 5°C. Altas
temperaturas combinadas com alta radiação solar aumentam a evapotranspiração e,
conseqüentemente, aumenta os níveis de salinidade do solo, condição que pode ser
prejudicial para o desenvolvimento do manguezal. Segundo Mainardi (1996), pode haver a
formação de crostas salinas na superfície do solo. A temperatura mínima e a variação de
temperatura ao longo das estações do ano são fatores importantes para o crescimento dos
manguezais. Chapman (1976), refere-se ao melhor crescimento e desenvolvimento dos
manguezais quando a variação estacional
9
da temperatura não superasse 10°C e a
temperatura mínima também não fosse inferior a 10
°C.
Ribeiro e Costa (2001) analisaram aspectos climáticos dos manguezais e, em termos
de temperatura, o manguezal apresentou-se sempre mais ameno em relação a áreas
desmatadas ou urbanizadas, com cerca de 2°C de diferença. O manguezal apresentou
também maior umidade em todo ciclo diário. O aquecimento do solo em áreas desmatadas
chegou a amplitudes de até 39°C, atingindo 27°C em manguezais intactos.
9
Relativo às estações do ano.
42
A precipitação desempenha papel fundamental no controle da salinidade do solo. A
FAO (1994) sustenta que manguezais desenvolvem-se melhor em regiões onde a
precipitação supera os 2.500 mm anuais, enquanto em regiões com precipitação inferior a
1.500 mm anuais formam-se salinas, como ocorre em Cuba e parte do Panamá. Lacerda
(1993) refere-se à região costeira da Costa Rica, de estações menos pronunciadas e
precipitações anuais entre 2.100 e 6.400 mm, onde as árvores superam os 35 metros de
altura, assim como na Guiana Francesa e norte do Brasil.
Os solos de manguezais são classificados por Von Prahl (1990) como orgânicos e
inorgânicos. Os primeiros formam-se pela grande acumulação de restos orgânicos,
caracterizados pelo pouco conteúdo de argila, limo e areia; e mantidos por processos
anaeróbios. Os nutrientes dos solos orgânicos são liberados pela decomposição de matéria
orgânica, sendo periodicamente inundados, mas sua drenagem é lenta, fazendo com que
mantenham uma saturação permanente de água.
Os solos inorgânicos formam-se por depósitos de limo e argilas em terrenos aluviais,
definidos como terraços de sedimentos que se depositam ao longo dos rios como produto
da erosão. Estes solos são geralmente ricos em nutrientes, como cálcio, magnésio e
potássio, retidos temporariamente. Nesta categoria de solos há um tipo que perde os
nutrientes por lixiviação, acumulando elementos tóxicos como ferro e alumínio. Existem
manguezais que se desenvolvem neste tipo de solo pobre em nutrientes.
Geomorfologicamente, os manguezais crescem em regiões litorâneas de deltas
formados a partir de sedimentos fluviais provenientes da erosão, resultado da passagem
das águas pelas rochas. Estes sedimentos são transportados pelos rios em direção ao mar,
depositando-se na desembocadura de rios protegidos das ondas oceânicas e quando o rio
diminui a velocidade de suas águas. O formato dos deltas depende dos sedimentos
carregados, sendo determinantes na estrutura dos bosques formados.
Bernardi (1959) afirma que a formação de manguezais em terrenos arenosos não
poderia efetuar-se ou ficaria reduzida a poucas matas, sem alcançar o clímax.
Lacerda (1993) verifica que as principais taxas de transporte de água para os
43
manguezais geralmente ocorrem durante curtos períodos (1 a 2 horas) do ciclo de marés. O
fluxo interno à vegetação é pequeno, apesar da velocidade da corrente. Os mangues mais
desenvolvidos se estabelecem em regiões com abundante aporte de água doce, devendo-
se considerar também que tais aportes
10
podem também afetar negativamente a
possibilidade de desenvolvimento pela diminuição da densidade do manguezal, caso
encontrado na desembocadura do rio Amazonas, cuja descarga ocasiona a invasão de
plantas de água doce que excluem os manguezais.
A amplitude da vegetação dos manguezais depende da morfologia e exposição da
linha costeira. Em costas abertas, o mangue pode estar ausente ou limitado a uns poucos
arbustos protegidos atrás de rochas, enquanto em costas resguardadas com grandes praias
constantemente molhadas por marés pode estender-se por mais de 25 km terra adentro
(Christensen, 2002).
3.1.4. Flora e fauna dos manguezais
Alta tolerância à salinidade é específica das espécies vegetais que habitam os
manguezais. A presença de adaptações especiais das raízes, estruturas respiratórias e
filtradoras para a troca de gases facilitam a presença desses vegetais em substratos
anaeróbios. Seus embriões, capazes de flutuar, facilitam o mecanismo de dispersão através
da água.
Os estudos de Walter (1936) na África oriental demonstram ser a transpiração dos
vegetais de áreas de manguezais bem mais baixa. Os valores da pressão osmótica são
constantes para cada espécie, sem variações diurnas ou anuais.
Lamprecht (1959) faz referência aos mecanismos de adaptação e defesa específicos
que tornam possível a sobrevivência das espécies vegetais em meio hostil:
10
Contribuição do rio, relativa às substâncias e partículas que carrega em suas águas.
44
Desenvolvimento de raízes epígeas
11
, com geotropismo negativo
12
, garantem
a respiração durante inundações periódicas;
Desenvolvimento de raízes arqueadas que apóiam e sustentam os vegetais
no solo;
Adaptação do metabolismo a elevadas concentrações salinas, provavelmente
devido a altos valores osmóticos das células;
Propagação incomum dentre as espécies do reino vegetal que facilita a
conquista de novos ambientes, sendo as sementes excelentes nadadoras e
podendo permanecer tempo considerável na água salgada sem perder a
capacidade germinativa.
Lamprecht (1959) descreve a zonação
13
da flora, em terreno ascendente uniforme e
suave, a partir da costa. Ao longo da costa encontra-se a primeira faixa, composta de
Rhizophora mangle de 4 a 6 m de altura. Depois dessa faixa desenvolve-se o tipo arbóreo
deste vegetal, ao encontrar solos mais elevados e firmes e de menor umidade, contudo sob
a forte influência da maré. Numa terceira faixa a partir da costa aparecem a
Avicennia nitida
e
Laguncularia racemosa, espécies de maior freqüência, possuindo características
especiais.
Em solos lamacentos, úmidos, temporariamente inundados, profundos e formados
por resíduos orgânicos encontra-se uma associação de manguezal maduro, apresentando o
considerado ótimo em termos de bosque de manguezais. Neste caso prevalece a
Rhizophora mangle, com árvores de até 25 m de altura, acompanhadas de Avicennia nitida
de porte semelhante e um pequeno número de Laguncularia racemosa e Conocarpus
erecta
.
A última faixa do manguezal é claramente delimitada por outras formações vegetais,
caracterizadas pelo
Conocarpus erecta, outros arbustos ou pequenas árvores que ocupam
lugar intermediário entre vegetais halófitos
14
e não halófitos, de acordo com suas
11
Raízes que se posicionam acima do solo.
12
Movimento trópico orientado pela ação contrária à gravidade, comum a caules e raízes aéreas.
13
Delimitação, região com particularidades de vegetação.
14
Vegetais suculentos, que podem habitar meios ricos em sais.
45
características. Um exemplo de zonação está ilustrado na figura 3.2.
1
2
3
FIGURA 3.2 - FAIXAS DE COLONIZAÇÃO DO MANGUEZAL.
FONTE: Guide to the Mangroves of Singapore, 2001 (3).
NOTAS: 1. Faixas de colonização vegetal, de acordo com o declive do terreno, marés e adaptação
das espécies vegetais colonizadoras; 2. Passos de colonização por agrupamentos de adaptação
vegetal; 3. Zonação com Avicennia como pioneira em manguezal jovem de Singapura.
46
Lamprecht (1959) atribui uma zonação mais complexa aos manguezais situados nas
desembocaduras dos rios, onde as oscilações no nível de água doce poderiam ter um efeito
antagônico às marés. Desta forma, a zonação para os manguezais da costa não pode ser
aplicada ao manguezal do rio.
Marshall (1939) atribui à
Avicennia menor sensibilidade a concentrações elevadas de
sal no solo e a fortes oscilações de salinidade, enquanto a
Laguncularia parecia menos
exigente com relação à luz e de crescimento mais rápido. Essas diferenças podem
condicionar a presença de uma ou outra espécie num determinado ambiente.
As espécies constituintes dos manguezais correspondem a um número limitado de
famílias, onde cada gênero é representado por espécies que diferem pouco entre si sob o
ponto de vista morfológico. Segundo Cuatrecasas (1959), este fato indica o fator ecológico
como força tão considerável que consegue imprimir uma morfologia especial e bastante
heterogênea às espécies de diversas origens taxonômicas. O autor alerta ainda para o fato
de que as raízes não penetram profundamente no solo, sendo necessário um grande
sistema de sustentação ocupando uma grande área, para assegurar estabilidade a cada
indivíduo. Mesmo assim, as grandes árvores não resistem à força do vento, sendo o fator
coletivo essencial para a subsistência do indivíduo. Tanto os ramos como as raízes apoiam-
se entre si.
Scholander et al (1955) reforça a função mecânica de suporte das raízes epígeas
15
,
com relação aos arcos que nascem obliquamente. Desempenham ainda a função de órgãos
de ventilação, dando entrada ao oxigênio pelas lenticelas e, possivelmente, desempenham
papel absorvente, como raízes semi-aquáticas.
Von Prahl (1990) descreve a
Pellicera rizophora como possuidora de raízes que
formam uma ampla base de apoio. Refere-se também às estratégias de dispersão, onde as
espécies vegetais desenvolvem estruturas flutuantes e alongadas (25 a 60 cm), com
reservas de ar, permitindo seu transporte através da água. Ao caírem no substrato os
15
Raízes que estão acima do solo.
47
embriões podem germinar rapidamente ou flotar verticalmente e conservarem sua
viabilidade por até 12 meses, chegando a desenvolverem raízes de fixação.
No Brasil, os estudos de Ule, (1901), sobre manguezais descrevem a vegetação de
Cabo Frio, registrando a ocorrência em maior quantidade da
Avicennia tomentosa e
Laguncularia racemosa e menor freqüência de Rhizophora mangle, afirmando não haver
encontrado manguezal desenvolvido nesta região.
Luederwaldt (1919) relata a vegetação dos mangues santistas, citando como
componentes arbóreos a
Laguncularia racemosa, Rhizophora mangle e Avicennia
tomentosa
.
Frois-Abreu (1939) considera a
Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e
Avicennia sp espécies componentes dos manguezais do Maranhão, sendo que as duas
primeiras ocupam as frentes que recebem diretamente as águas das marés, enquanto a
terceira espécie situa-se na retaguarda, em contato com água menos salgada.
Rawistscher (1944) apontou como componentes essenciais para os manguezais a
Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa
e Avicennia schaueriana.
Estudando a zonação e sucessão na restinga do Rio de Janeiro, Dansereau (1947)
refere-se aos manguezais como formações que não podem fixar-se em outros solos que
não os de textura fina, limosa ou argilosa, admitindo que as três espécies desse ambiente
têm exigências específicas relacionadas a essas características.
Lima (1957) admite para os mangues a existência de espécies obrigatórias e
marginais ao estudar a zona litorânea de Pernambuco. Como obrigatórias estavam
Rhizophora mangle, C. erecta, Laguncularia racemosa e Avicennia nitida e Avicennia
schaueriana
.
Tomlinson (1986) listou 34 espécies em 9 gêneros e 4 famílias como componentes
principais da vegetação de manguezais e 20 espécies em 11 gêneros e 10 famílias como
componentes secundários. Biogeograficamente, a região indo-pacífica inclui
aproximadamente 40 espécies de mangues verdadeiros, enquanto a ocidental abrange
apenas oito espécies de mangues verdadeiros.
48
A fauna dos manguezais inclui exemplares tanto marinhos como terrestres (Lacerda,
1993). Marés e ciclo vital condicionam as espécies presentes. Tanto a fauna residente como
a migratória é abundante e diversa, com importantes santuários para a manutenção da
biodiversidade em muitas áreas da América Latina e Caribe. Em localidades de águas
transparentes as raízes da
Rhizoophora mangle abrigam muitas espécies de invertebrados
marinhos, como esponjas, moluscos, crustáceos e algas. A ostra do mangue
Crasostrea
rhizophorae
é um dos produtos fundamentais na economia da população costeira.
Adicionalmente à fauna aquática e diversidade aviária, muitos répteis e mamíferos habitam
os bosques de manguezal, alguns residentes e outros visitantes em alguma etapa de seus
ciclos vitais ou atividades diurnas durante a movimentação de suas migrações.
3.1.5. Valor dos manguezais
Estuários são caracterizados pela variabilidade na concentração dos nutrientes
(Kemp, 1982). As áreas estuarinas e costeiras trocam continuamente materiais e, através
dessas trocas, a riqueza das águas estuarinas poderia ser exportada para as águas
costeiras, hipótese sustentada por vários autores, entre eles McLusky (1981) que atribui aos
estuários a propriedade de fertilizadores dos mares e oceanos. Legovic (1991) compartilha a
mesma opinião e atribui à água doce a propriedade de ser portadora de um grande número
de substâncias que são liberadas dentro do estuário e de espécies biológicas que têm nesse
meio sua movimentação limitada.
Ghetti & Ravena (1994) indicam o uso de critérios biológicos e técnicas capazes de
identificar as condições de funcionalidade de cada ecossistema e a estrutura das
populações neles existente.
Adaime (1987) considera os manguezais ecossistemas altamente produtivos que
contribuem para a fertilidade das águas costeiras devido à produção de grande quantidade
49
de matéria orgânica, exportando essa matéria para as águas costeiras e transformando
material foliar em partículas alimentares para um grande número de organismos
consumidores. Esses fatores caracterizam o manguezal como excelentes indicadores de
alteração do nível do mar (Jablonsky, 1999).
O papel dos manguezais é muito importante, econômica e ecologicamente, como
recurso natural e como proteção do ambiente, sendo que ambos os aspectos não se podem
separar sem prejuízo para a região (Christensen, 2002). A madeira do mangue é fonte de
lenha, postes e outros materiais.
A formação de bosques de mangues contribui com a cadeia alimentar marinha
porque produz detritos, e várias espécies de animais marinhos de importância comercial
passam ao menos parte de seu ciclo vital nos manguezais. A formação de manguezais
também foi condicionada a características edafohidrológicas
16
, aportes sedimentares,
temperatura ambiente, salinidade, aporte de água doce e energia do mar promovida por
ondas e marés (Abrahão, 1998). É possível calcular a taxa de decomposição e salinidade
das folhas de mangue através da concentração de alguns elementos químicos (Schimidt,
1988).
Em termos de produtividade Altenburg (1990) sustenta serem os manguezais
ecossistemas produtivos que provêm uma importante variedade de recursos de pesca,
recursos florestais e a milhões de aves residentes e migratórias, bem como a mamíferos e
répteis.
A região de manguezal pode ser tratada como recurso renovável, porém finito,
quando considerada a produção natural de ostras, caranguejos, mariscos, camarões, além
das oportunidades recreacionais, científicas e educacionais. Por outro lado, pode tornar-se
recurso não renovável, quando o espaço que ocupa é substituído por prédios,
ancoradouros, residência, portos, marinas, aeroportos, rodovias, salinas ou servem de
receptáculo de despejos de efluentes líquidos ou resíduos sólidos (Maciel, 1991).
16
Relativo à quantidade de água no solo.
50
Por esses motivos, os manguezais não devem ser considerados somente como
bosques, mas também como produtores de alimentos em forma de caranguejos, peixes e
camarões, muitos dos quais acabem por serem capturados debaixo dos manguezais, o que
acarreta problemas especiais de controle de áreas. Nem sempre se reconhece todo o valor
dos manguezais e, com freqüência se descuida de seu controle. O corte indiscriminado para
obtenção de lenha pode reduzir a vegetação a mato aberto que, com o tempo dará lugar a
outras formas de uso da terra.
3.1.6. Impactos sobre os manguezais
As informações sobre a existência e função dos manguezais na sua totalidade
tornam-se importantes para quantificar os efeitos da degradação dessas florestas,
fornecendo também parâmetros para sua conservação.
Os fatores que podem determinar modificações na dinâmica de um ecossistema
aquático são de origem climatológica, hidrológica, biológica ou de atuação conjunta. Para
Esteves (1991) só o estudo detalhado da fisiologia de um ambiente aquático pode apontar
as melhores formas de uso do meio sem alterar suas características ou danificá-lo.
Segundo Bowden (1967), o principal aspecto que pode ser investigado num estuário
é o movimento das águas, associado aos processos de mistura e distribuição da salinidade.
No ambiente estuarino, o fluxo de água doce varia intensamente e modifica o volume de
água transportado, podendo diluir gradativamente a água do mar, causando um
comprometimento na conservação da biota condicionada a estas variações.
Chester (1990) e Denat (1991) relatam que a interface água doce – água do mar vem
sendo descrita como um filtro capaz de remover biomassa viva e detritos, conduzindo a uma
biotransformação. Para Svetlecic (1991), esses processos poderão formar uma camada
orgânica seletiva de floculação.
51
Flint (1985) acredita que a manutenção do equilíbrio ecológico e da alta
produtividade em ambientes costeiros e marinhos está diretamente relacionada com os
nutrientes fornecidos pelas várias fontes, incluindo as trocas flúvio-estuarinas-costeiras,
ressurgências, precipitação, fixação de nitrogênio, que repõe esses nutrientes perdidos por
morte ou degradação.
Para Ibañez (1981), registros contínuos de medições físicas, químicas e biológicas
podem definir estágios diferentes de um sistema dinâmico no tempo e espaço, isto é, definir
o tempo de variação do ecossistema e a área variante.
As fontes dos sais nutrientes são controladas pela precipitação atmosférica, fluxo de
água doce, produção dos alagados circundantes, regeneração e ressuspensão dos
nutrientes sedimentados nos limites do estuário. Por sua vez, a distribuição de sais dentro
do estuário é controlada por processos físicos, químicos e biológicos. Para Fan & Jin (1989),
os processos mais importantes ocorrem nas interfaces atmosfera-mar, rio-mar, alagados-
mar e sedimentos-mar. Porém, para um determinado estuário, haverá unicamente uma
característica potencialmente importante que afeta a variação de cada nutriente. Dois
estuários não serão iguais em relação à importância desses processos. As influências
físicas e topográficas dependem das condições geomorfológicas e oceanográficas locais.
Os manguezais são de importância fundamental como barreira natural, reduzindo
impactos permanentes e inundações freqüentes, além da capacidade estabilizadora do
litoral, conseqüentemente anti-erosiva da linha costeira, retendo sedimentos estuarinos
(Abrahão, 1998). O relatório do IPCC (2001) preocupa-se com as opções de adaptabilidade
desses ecossistemas.
3.1.7. Manguezais brasileiros
No Brasil, os manguezais ocorrem desde o Oiapoque, no Amapá (Cabo Orange a
04°52'N), até Laguna, em Santa Catarina (28°30'S). O litoral brasileiro, com 7.408
52
quilômetros de extensão possui uma das maiores áreas de manguezal do planeta, com
25.000 quilômetros quadrados. De São Vicente, no litoral de São Paulo, até a Ponta da
Vigia, em Santa Catarina, a linha da costa apresenta longos arcos de praia e importantes
estuários, como o de Santos e Cananéia, em São Paulo; Paranaguá e Guaratuba, no
Paraná e São Francisco do Sul, em Santa Catarina. O perfil da linha costeira, especialmente
dos estuários, originou-se de formações geológicas recentes, constantemente alterado pela
erosão marinha ou deposição de sedimentos vindos dos rios.
Moraes e Costa (2001) estudaram variações sazonais de direção e velocidade do
vento, temperatura e umidade relativa do ar em ecossistemas de manguezal brasileiro
(Bragança, PA), e as mudanças ocasionadas pela degradação de bosques de manguezal,
onde foram elaborados os gráficos apresentados na figura 3.3, ilustrando as diferenças de
temperatura e umidade encontradas em bosques de manguezal devastados e naturais.
FIGURA 3.3. – EFEITOS DA DEGRADAÇÃO DO MANGUEZAL RELACIONADOS À
TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR (Bragança, PA).
FONTE: MORAES & COSTA, 2001.
53
Silva, Costa e Filho (2001) pesquisaram os efeitos do fenômeno El Niño e a
conseqüente redução de chuvas, com secas de longos períodos. Verificaram que as chuvas
regionais exercem uma influência importante na dissolução dos sais marinhos, baixando seu
teor no substrato. Um alto teor de sal conduziria o manguezal a alterações fisiológicas
extremas que se converteriam em intolerância por parte das espécies vegetais típicas e uma
conseqüente extinção.
Olson (1996), em trabalho realizado sobre a conservação dos manguezais da
América Latina e Caribe, avaliou os sistemas costeiros, onde podem ser observadas as
áreas assinaladas nas imagens constantes da figura 3.4, correspondentes ao litoral paulista.
FIGURA 3.4. ESTADO DE CONSERVAÇÃO, TENDÊNCIAS DE VULNERABILIDADE E
NÍVEL DE AMEAÇAS SOBRE OS MANGUEZAIS DA AMÉRICA LATINA.
FONTE: adaptado de Olson, 1996.
54
Na América Latina, a costa brasileira desperta interesses de discussão sob o ponto
de vista das alterações climáticas devido à riqueza e diversidade de ecossistemas,
principalmente os abrigados pela Mata Atlântica. A região sudeste brasileira, com diversas
morfologias costeiras (cordões litorâneos, pequenas praias, costões rochosos, lagunas,
baías, estuários e mangues) responderá de maneira diferenciada ao aumento do nível do
mar e às mudanças climáticas. Algumas localidades, como cidades do nordeste, situadas na
orla marítima, Rio de Janeiro e a baixada santista, em São Paulo, já apresentam sinais de
erosão que deixam clara a interferência antrópica como fator acelerador dos processos
erosivos naturais.
Os manguezais não possuam valor de mercado discutido e pesquisado amplamente
no Brasil, levando em conta a produtividade de cada região onde estão instalados. Contudo,
as funções naturais que exercem, como a preservação da linha da costa e a de criadouro
marinho, podem reverter-se em alto custo social se houver a necessidade de regeneração
ou recriação artificial. Frente a diversas perspectivas de aumento do nível do mar nas
próximas décadas, qualquer elevação afetará diretamente o ecossistema estuarino-lagunar,
os manguezais e suas funções.
Não se deve esquecer que o Brasil é signatário de oito convenções internacionais
sobre o meio ambiente, com responsabilidades de desenvolver ações governamentais
comprometidas com o assumido nas convenções. Almeida, (1999), relaciona essas
convenções que envolvem fiscalização e legislação sobre a produção industrial, uso de
recursos naturais e medidas de preservação de ecossistema:
Convenção sobre Diversidade Biológica;
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima;
Convenção de Combate à Desertificação;
Convenção de Viena para a proteção da Camada de Ozônio;
Convenção de Basiléia sobre Movimento Transfronteiriço de Resíduos
Perigosos;
Convenção de Londres sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento
de Resíduos e Outras Matérias;
55
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar;
Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional especialmente
como Habitat de Aves Aquáticas (RAMSAR).
A Convenção de RAMSAR preocupa-se com a conservação e utilização adequada
de zonas úmidas e seus recursos, inclusive os bosques. Entre os bosques úmidos figuram
os manguezais. No período de 2000/2001 foi elaborado um plano de trabalho conjunto entre
a Convenção de Ramsar e a Convenção sobre Diversidade Biológica, dando maior atenção
à conservação da diversidade biológica em zonas úmidas (FAO, 2002).
3.2. MUDANÇAS CLIMÁTICAS X MANGUEZAIS
O aumento da temperatura na atmosfera terrestre, devido ao efeito estufa, também
se fará sentir pelas espécies que habitam ou visitam os manguezais e nos processos de
erosão e sedimentação dos cursos d’água locais. Um pequeno aumento do nível médio do
mar aumentaria a salinidade do estuário, favorecendo a substituição de espécies típicas do
manguezal por outras que se adaptassem facilmente ao ambiente com maior concentração
salínica. Chuvas mais intensas provocariam maiores alterações nos sedimentos e
modificariam a competição das espécies pelo substrato.
Durante os últimos vinte anos as pesquisas sobre o manguezal cresceram pelo
mundo, envolvendo estudos regionais e de relações dos gases de efeito estufa com o
aumento do nível do mar e a salinidade em ambiente estuarino.
No estudo da salinidade do estuário do rio Delaware, costa leste dos Estados
Unidos, (Hull e Titus, 1986), verificou-se que a elevação de 30 cm no nível médio do mar
causará impactos na região costeira, aumentando a erosão, provocando alagamentos e
mudando a taxa de concentração de sal no estuário. Excessiva concentração de sal pode
causar riscos à saúde pública, elevar o custo de tratamento da água, danificar equipamentos
utilizados no mar e modificar a ecologia do estuário. A distribuição da salinidade em um
56
estuário afeta a sedimentação dos bancos de areia e sua geometria.
Biólogos identificaram efeitos da salinidade nos ciclos de vida de predadores,
oferecendo vantagens a essas espécies. Evidenciou-se o declínio na produção de ostras na
baía do Delaware, gradualmente ao aumento do nível do mar. Espécies estuarinas podem
avançar e afugentar espécies de água doce. Organismos estuarinos que aderem a cascos
de embarcações ou rochas podem infestar o sistema de águas. Espécies migratórias de
pássaros e peixes podem ter os movimentos migratórios inibidos e o ciclo vital alterado.
Aqüíferos subterrâneos também podem ser comprometidos pela infiltração de água salgada.
A sensibilidade às mudanças climáticas diz respeito ao grau com que o sistema é
afetado benéfica ou nocivamente pelo clima, sua variabilidade, freqüência e magnitude de
extremos. Os efeitos podem ser diretos, quando dependem da variação da temperatura, ou
indiretos, causados pelo aumento de enchentes costeiras ou do nível do mar.
Capacidade de adaptação é a habilidade que o sistema tem de se ajustar às
alterações climáticas, incluindo variações e extremos, avaliando-se os prejuízos potenciais,
oportunidades de recuperação ou conseqüências efetivas.
Vulnerabilidade é o grau em que o sistema é suscetível ou irrecuperável frente aos
efeitos das alterações climáticas, incluindo variações e extremos.
Muitos sistemas são sensíveis às alterações climáticas, como a agricultura, zonas
costeiras, sistemas marinhos, cursos d’água, energia, saúde ou serviços humanos. A
vulnerabilidade desses sistemas é variável de acordo com a localização geográfica,
conhecimento do povo e condições de desenvolvimento. A habilidade de adaptação
depende de fatores tecnológicos, educacionais, informação, infra-estrutura, acesso a
recursos, riqueza, competência, conhecimento e capacidade de gerenciamento. Os custos
podem ser estimados em unidades monetárias e agregados a custos regionais, nacionais ou
globais. Essas estimativas, geralmente, excluem extremos de variação.
Nas zonas costeiras e ecossistemas marinhos são esperados altos impactos devido
ao aumento de temperatura da superfície oceânica e do nível do mar, mudanças na
salinidade, condições adversas da maré e circulação oceânica, com significativas
57
conseqüências em sociedades dependentes da pesca. Muitas áreas costeiras terão
acelerada a erosão, com perda de ilhas e manguezais e a penetração de água salgada no
curso de rios.
Para a América Latina, segundo o IPCC (2001), a capacidade de adaptação é baixa,
particularmente no que diz respeito a extremos climáticos, com sinais de alta
vulnerabilidade. O derretimento de glaciares causará impactos nos fluxos de água dos rios.
Enchentes serão mais freqüentes e o aumento de sedimentos comprometerá a qualidade da
água em muitas regiões. Ciclones tropicais podem trazer riscos de vida, destruir
propriedades e ecossistemas, bem como chuvas fortes, enchentes, tempestades e
vendavais. A agricultura pode ser afetada pelos efeitos do aumento da concentração de gás
carbônico. A distribuição geográfica de vetores infecciosos pode expandir-se. A perda da
biodiversidade deverá ser acelerada.
Poff et al (2002) entendem os ecossistemas aquáticos como componentes críticos do
desenvolvimento global, contribuindo adicionalmente para a biodiversidade e produtividade
ecológica. Provê uma variedade de serviços para a população humana, entre eles, água,
recreação e pesca. O aumento da temperatura da água como resultado das mudanças
climáticas afetará fundamentalmente o processo ecológico e a distribuição geográfica de
espécies aquáticas. Modificações no regime de chuvas e estações irão alterar o ciclo
hidrológico do ecossistema, afetando espécies e a produtividade do ecossistema. Poderá
ocorrer a deterioração da qualidade da água, com impactos sobre a população humana e
sobre diversas espécies que dependem desse habitat.
58
4. METODOLOGIA: AVALIAÇÃO DE IMPACTOS
AMBIENTAIS NOS MANGUES.
Na figura 4.1 está ilustrado um fluxo simplificado de impactos da complexa relação
existente entre os fatores bióticos
17
e abióticos
18
dos manguezais.
FIGURA 4.1 – FLUXO DE IMPACTOS NOS MANGUEZAIS.
O esquema apresentado na figura 4.1. procurou representar a rede de interações
entre os efeitos que produzem impactos e os fatores que são potencialmente afetados, a
partir das informações coletadas na revisão bibliográfica, facilitando o trabalho de
entendimento. É possível visualizar efeitos diretos e indiretos de forma clara na
representação gráfica da seqüência lógica em que acontecem.
17
Compreendem todos os seres vivos ou componentes biológicos.
18
Compreendem a oferta, qualidade e interação dos componentes ambientais não vivos (água, solo e
atmosfera).
59
Dos impactos abióticos, o aumento de temperatura e a radiação UV-B foram
considerados de efeitos diretos sobre a biologia do manguezal, pois as espécies de seres
vivos encontram suas condições de existência em intervalos relativamente pequenos de
temperatura. Anfíbios dependem da umidade do ar devido ao tecido epitelial delicado. Os
peixes suportam mínimas variações térmicas das águas. A evapotranspiração vegetal
aumenta com o aumento de temperatura. A radiação UV-B é letal aos tecidos vivos,
interferindo negativamente em sua fisiologia.
4.1. MATRIZ DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS
Matrizes podem ser utilizadas na identificação de impactos, comparando informações
e descrevendo impactos potenciais. A Matriz de Leopold (1971) foi desenvolvida pela
Sociedade Geológica Americana e é tida como um guia para avaliação e preparação de
relatórios de impacto ambiental, particularmente em projetos de construção. A base da
Matriz de Leopold lista 100 ações potenciais, expostas na primeira coluna, e 88 fatores
ambientais na primeira linha, totalizando 8.800 células. Os fatores são, usualmente,
agrupados em fatores físicos, químicos, biológicos e ecológicos. É possível incluir fatores
sociais, econômicos e culturais.
A avaliação de impactos ambientais neste estudo reúne informações sobre os efeitos
das mudanças climáticas globais e regionais e as características biológicas do manguezal.
Procurou-se trabalhar sistemática e objetivamente na construção da matriz de interação dos
impactos, estruturada a partir das informações coletadas na revisão bibliográfica.
Procedeu-se à elaboração da matriz de interação de impactos ambientais que,
potencialmente, podem afetar as características vitais do manguezal. A partir da
caracterização de manguezais encontrada na literatura pesquisada, foram listados 13
fatores abióticos ou componentes ambientais e 18 fatores bióticos ou componentes
biológicos do manguezal.
60
A matriz de interação de impactos foi utilizada para identificar relações causa-efeito
entre os fatores bióticos e abióticos do manguezal, admitindo-se as alterações físicas e
químicas como causas das alterações biológicas e ecológicas ecossistêmicas.
As variáveis ou fatores abióticos do ecossistema formaram o conjunto de ações que
podem ser decorrentes das alterações climáticas, enquanto os fatores bióticos ou de
relações ecológicas formaram o conjunto de indicadores, efeitos ou fatores afetados pelos
impactos. Procurou-se listar fatores de relevante interesse tanto regional como do
ecossistema, compatíveis com as peculiaridades apontadas pelas referências.
A matriz desenvolvida neste estudo (13 X 18) contém 234 células de interação. A
primeira coluna da matriz em questão reuniu fatores abióticos considerados causas físico-
químicas dos impactos ambientais, distribuídos em 4 subgrupos, de acordo com o local
onde a ação se desenvolve: no solo, na água, na atmosfera, ou em interfaces de relação
entre dois ou mais ambientes.
Assim, estão discriminados a seguir os subgrupos e a descrição dos fatores que os
compõem:
1. Solo
Qualidade do substrato – diz respeito às alterações na composição química
do solo ou qualidade e quantidade dos sedimentos em razão dos impactos
provocados por alterações climáticas;
Topografia e geomorfologia – alterações dependentes da formação geológica
e altitude do terreno, podendo sofre mudanças erosivas;
2. Água
Nível do mar – referente a alterações provocadas pelo aumento do nível das
águas oceânicas em conseqüência do aquecimento global;
Correntes oceânicas – refere-se a mudanças na direção ou velocidade das
correntes marinhas em virtude das interações oceano-atmosfera;
Corrente fluvial – diz respeito ao aporte das correntes fluviais da região em
conseqüência do aumento da precipitação;
61
Qualidade das águas estuarinas – resultado da somatória das reações
ocorridas no estuário e que modificam a qualidade das suas águas;
3. Atmosfera
Temperatura – aumento da temperatura em razão do aumento de gases do
efeito estufa;
Precipitação – variação do índice pluviométrico em conseqüência do
aquecimento global;
Radiação UV-B – variação da radiação ultravioleta do sol em função da
diminuição da camada de ozônio ou da maior luminosidade que pode
penetrar no solo devido à diminuição da vegetação;
Evaporação – diminuição de retenção de água próximo à superfície devido ao
aumento da temperatura atmosférica;
4. Processos de interação
Salinidade do estuário – interação entre solo, atmosfera e água capaz de
provocar variações na taxa normal de salinidade do estuário;
Salinidade do mar – diz respeito às variações de salinidade oceânica;
Distribuição de nutriente – relativa a interações que ocorrem no estuário e
acabam por interferir na variação da concentração dos nutrientes.
A primeira linha da matriz reuniu fatores bióticos ou efeitos biológicos dos impactos
ambientais, distribuídos em dois grupos (de fatores biológicos e de relações ecológicas), de
acordo com o componente que sofre a ação. Assim, estão discriminados a seguir os grupos
e a descrição dos fatores:
B. Fatores bióticos
4. Flora
Adaptações fisiológicas – relativas às adaptações orgânicas dos órgãos
vegetais, principalmente das raízes;
Adaptações reprodutivas – dizem respeito à facilidade de propagação e
62
reprodução das sementes;
Adaptações estruturais – referente à estrutura física do vegetal e à
capacidade de fixação em terrenos alagados;
Crescimento e desenvolvimento – porte e número de representantes da
espécie que pode haver na região, bem como tempo de colonização;
Distribuição – referente à variação específica encontrada nas diferentes
regiões;
2. Fauna
Migração de aves e mamíferos – compreende as condições que interferem
nos movimentos migratórios sazonais dessas duas classes de vertebrados;
Fixação de aves e mamíferos – relativo às condições que permitem a vida
residente dessas classes de animais;
Berçário de peixes – diz respeito à propriedade dos manguezais e águas
estuarinas em abrigar peixes jovens em seu desenvolvimento;
Répteis e Anfíbios – fator que permite ao manguezal abrigar algumas
espécies características de répteis e de anfíbios;
Organismos bentônicos – relativo àqueles que freqüentam o manguezal por
serem levados pelos movimentos de maré, embora originalmente marinhos;
Microfauna – referente às características que permitem ser o manguezal
abrigo de pequenos invertebrados típicos, ostras e caranguejos;
Distribuição e desenvolvimento – conjunto de fatores que podem interferir na
distribuição das espécies ou no desenvolvimento de determinada espécie
animal;
C. Fatores de Relações Ecológicas
1. Cadeia trófica
Fertilizadores oceânicos – propriedade que concede aos manguezais a
função de ser base de alimento às espécies marinhas;
63
Eutrofização – propriedade dos estuários que abrigam os manguezais têm de
ser produtores de alimentos para serem consumidos pelas espécies do
próprio manguezal;
Produtor de recursos naturais – propriedade dos manguezais em ser fonte
natural de inúmeros recursos aproveitados por várias espécies animais e pelo
próprio homem;
5. Proteção ambiental
Recurso florestal – fator que atribui ao manguezal a propriedade de abrigar
espécies vegetais aproveitáveis;
Proteção da linha da costa – fator que atribui às espécies de mangues a
propriedade de barrar a força das águas oceânicas;
Biodiversidade – atribuição geral dos manguezais com relação à diversidade
de espécies que pode ser encontrada nos manguezais;
Após a organização dos fatores, procedeu-se à associação de interação entre os
fatores bióticos e abióticos da matriz, de acordo com as referências bibliográficas
relacionadas no capítulo 3. Foram utilizadas 135 referências de 40 autores, aquelas que
associavam características biológicas e de relações ecológicas do manguezal a condições
do ambiente. As relações descritas pelos diversos autores apenas estão classificadas em
sua devida categoria. A célula assinalada representa a associação entre os fatores de
pressão ou fatores abióticos dos manguezais, e as funções biológicas ou fatores bióticos ,
de acordo com a literatura pesquisada. Essa associação indica a interdependência
percebida pelos autores entre o meio e a biota .
Na leitura vertical da figura pode-se ver o total de fatores abióticos, potencialmente
impactantes do manguezal. A revisão bibliográfica encontrou referências a partir do ano de
1936 (Walter, 1936), até os dias atuais: Christensen (2002) e Poff et al (2002). Nota-se que
os fatores de pressão observados mais tardiamente foram o nível do mar e as correntes
fluviais, a partir de 1967 (Bowden, 1967), e precipitação a partir de 1985 (Flint, 1985).
64
Fatores biológicos Fatores de
relação ecológica
Fatores abióticos
Flora Fauna
Cadeia
trófica
Proteção
Ambiental
.
Meio
Fator
A
daptações fisiológicas
A
daptações reprodutivas
A
daptações estruturais
D
esenvolvimento
D
istribuição
M
igração aves/mamíferos
F
ixação Aves/mamíf.eros
B
erçário de peixes
R
epteis/anfíbios
O
rganismos Bentônicos
M
icrofauna local
D
esenvolvimento/distribuição
F
ertilizadores Oceânicos
E
utrofização
P
rodução Recursos Naturais
R
ecurso florestal
P
roteção da linha de costa
B
iodiversidade
Referências bibliográficas do capítulo 3
(Autor, ano)
Qualidade do
substrato
XXX X X X X
(Mainardi, 1996), (Von Prahl, 1990), (Cuatrecasas,1958), (Bernardi, 1959), (Lamprecht, 1959), (Marshall, 1939),
(Scholander, 1955), (Dansereau, 1947), (Denat, 1991), (Adaime, 1985),
(Silva, Costa e Filho, 2001), (Abrahão, 1998)
Solo
Topografia/
geomorfologia
X X X X X X X X X X X
(Von Prahl, 1990), (Christensen, 2002), (Bernardi, 1959), (Lamprecht, 1959),
(Fan & Jin, 1989), (Jablonsky, 1999), (Hull e Titus, 1986)
Nível do mar
XX
(Bowden, 1967), (Fan & Jin, 1989), (Hull e Titus, 1986)
Correntes
oceânicas
X X X X X X X X X X X X X
(Snedaker, 1985), (Mainardi, 1996), (Von Prahl, 1990), (FAO, 1994), (Bernardi, 1959), (Rey, 1999), (Lamprecht,
1959), (Lacerda, 1993), (Dansereau, 1947), (Esteves, 1991), (Bowden, 1967),
(Flint, 1985), (Silva, Costa e Filho, 2001)
Corrente
fluvial
X X X X X X X
(Von Prahl, 1990), (Christensen, 2002), (Lamprecht, 1959), (Lacerda, 1993), (Legovic, 1991),
(Esteves, 1991), (Bowden, 1967), (Flint, 1985), (Fan & Jin, 1989), (Silva, Costa e Filho, 2001)
Águas
Qualidade
das águas
estuarinas
X X XX X X X XX XXXXX X X X X
(Snedaker, 1985), (Mainardi, 1996), (Von Prahl, 1990), (Altenburg, 1990), (Christensen, 2002),
(Cuatrecasas,1958), (Lamprecht,1959), (Scholander, 1955), (Fróis-Abreu, 1939), (Lima, 1957),
(Kemp, 1982), (Mc Lusky, 1981), (Legovic, 1991), (Esteves, 1991), (Chester, 1990), (Denat, 1991), (Svetlecic,
1991), (Flint, 1985), (Fan & Jin, 1989), (Adaime, 1985), (Silva, Costa e Filho, 2001),
(Maciel, 1991), (Hull e Titus, 1986), (Poff et al, 2002)
Temperatura
XX X X XXXXXX X X X X
(Shaeffer-Novelli, 1995), (Snedaker, 1985), (Mainardi, 1996), (Christensen, 2002), (Cuatrecasas,1958),
(Bernardi, 1959),(Chapman, 1976), (Dansereau, 1947), (Lima, 1957), (Esteves, 1991),
(Adaime, 1985), (Silva, Costa e Filho, 2001), (IPCC, 2001), (Almeida, 1999), (Poff et al, 2002)
Precipitação
X XX X X XXXXXX X X X X
(Mainardi, 1996), (Christensen, 2002), (FAO, 1994), (Esteves, 1991), (Denat, 1991), (Flint, 1985),
(Silva, Costa e Filho, 2001), (IPCC, 2001), (Almeida, 1999), (Poff et al, 2002)
Rad. UV-B
X X X X X X
(Mainardi, 1996), (Marshall, 1939), (Esteves, 1991), (Ribeiro e Costa, 2001), (Almeida, 1999)
Atmosfera
Evaporação
X X X X X X
(Mainardi, 1996), (FAO, 1994), (Walter, 1936), (Marshall, 1939), (Esteves, 1991),
(Moraes, 2001),(Ribeiro e Costa, 2001), (IPCC, 2001), (Almeida, 1999)
Salinidade
Estuarina
X X X X X X X X X X X X X
(Mainardi, 1996), (FAO, 1994), (Lamprecht, 1959), (Frois-Abreu, 1939), (Dansereau, 1947),
(Bowden, 1967), (Adaime, 1985), (Silva, Costa e Filho, 2001), (Hull e Titus, 1986)
Salinidade
do mar
XX X
(Lamprecht, 1959), (Silva, Costa e Filho, 2001)
Processos de
i
nteração
Distrib. de
nutrientes
X X XXX X X X
(Von Prahl, 1990), (Christensen, 2002), (Cuatrecasas,1958), (Lamprecht,1959), (Lacerda, 1993),
(Kemp, 1982), (McLusky, 1981), (Legovic, 1991), (Denat, 1991), (Svetlcic, 1991), (Flint, 1985), (Adaime, 1985),
(Silva, Costa e Filho, 2001)
Fatores abióticos 9 5 3
13
11
4378878267 877
FIGURA 4.2. – MATRIZ DE INTERAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS.
65
4.2. MATRIZ HIERÁRQUICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS
Leopold (1971) descreve cada intersecção causa-efeito em termos de magnitude e
importância. A magnitude é a medida extensiva, grau ou escala de impacto. Importância
refere-se à significância da causa sobre o efeito. Utilizamos neste estudo a matriz
simplificada de hierarquia dos impactos, construída com a avaliação de incidência,
abrangência, probabilidade, severidade, escala e detecção dos impactos, onde o resultado
foi a qualificação da importância (relevância) e hierarquia dos impactos.
O campo designado “Impacto Ambiental” representou os impactos ambientais
associados às mudanças climáticas, que constituem os fatores abióticos dos manguezais,
avaliados individualmente no campo designado “Avaliação”, que expressou a magnitude dos
impactos numa escala numérica. O campo referente à avaliação dos impactos foi
subdividido nos seguintes subgrupos:
Incidência (I): tomou-se como referência para a classificação dos impactos a
ação que irão desempenhar nos fatores bióticos dos manguezais, sendo
Diretos (D) – aqueles que interferem diretamente na função biótica do
manguezal; ou Indiretos (I) – aqueles que atuam no manguezal através de
sua interferência em outra função abiótica.
Abrangência (A): o impacto ambiental foi avaliado conforme se faz sentir, com
relação ao local onde ocorreu, sendo Local (L) – aquele que se faz sentir
apenas no meio e imediações onde se deu a ação; Regional (R) – cujos
efeitos se propagam por uma área além das imediações onde ocorreu a ação;
Global (G) – aquele cujos efeitos atingem um componente ambiental de
importância coletiva, nacional ou mesmo internacional.
Probabilidade (Pr): os impactos ambientais têm, potencialmente, chances de
ocorrerem, conforme os critérios adotados. Essa probabilidade foi classificada
em três classes de intensidade, acompanhadas de valor numérico, podendo
ser:
66
o Alta (3) – quando a possibilidade for muito grande ou existam várias
evidências de que tenha ocorrido no passado, indica uma ocorrência
constante a partir de iniciada a ação;
o Média (2) – quando houver probabilidade razoável de ocorrência ou
existam algumas evidências de ocorrência no passado, indica uma
ocorrência intermitente a partir do início da ação;
o Baixa (1) – quando a possibilidade de ocorrência for nula ou não
existam evidências de ocorrência no passado, indicativo de
ocorrências, quando muito, esporádicas.
Severidade (Sr): os impactos puderam ser avaliados segundo sua criticidade
em relação ao meio ambiente, distribuídos em três categorias também
acompanhadas de valores numéricos, sendo classificados em:
o Severo (3) – quando o impacto ambiental causa danos irreversíveis,
críticos ou de difícil reversão, podendo colocar ainda em perigo a vida
de seres humanos;
o Leve (2) – quando o impacto causar danos reversíveis ou
contornáveis, ameaçando ainda a vida de seres humanos;
o Sem dano (1) – aquele impacto que causa danos mínimos ou
imperceptíveis ao sistema.
Escala (Es): os impactos ambientais puderam ser avaliados conforme a
escala ou fronteiras onde ocorre o prejuízo. Pode ser disposto em três
categorias de escala, acompanhadas de valor numérico conforme a
grandeza:
o Ampla (3) – se o prejuízo alastra-se para fronteiras amplas ou
desconhecidas, como a contaminação de lençóis subterrâneos, rios,
mares, erosão generalizada, ou prejuízos semelhantes;
o Limitada (2) – quando o prejuízo alastra-se pelos limites regionais, nas
67
vizinhanças de onde ocorreu a ação;
o Isolada (1) – quando o prejuízo restringe-se a uma área específica,
não extrapolando o local de ocorrência da ação.
Detecção (De): os impactos potenciais ou reais puderam ser avaliados
segundo seu grau de detecção, também em três categorias acompanhadas
de valores numéricos, conforme os critérios a seguir:
o Difícil (3) – indica improbabilidade de ser o impacto ambiental real ou
o potencial detectado através de meios de monitoramento disponíveis;
o Moderado (2) – neste caso é provável que o aspecto ambiental real ou
o potencial possam ser detectados através de meios de monitoramento
disponíveis e dentro de um período razoável de tempo;
o Fácil (1) – quando existe a certeza que o impacto ambiental real ou o
potencial, quando vier a se manifestar, seja detectado rapidamente
através de meios de monitoramento disponíveis.
O campo “Significância” foi composto pelos parâmetros:
Resultado (Re), determinado pela multiplicação simples dos fatores
Probabilidade, Severidade, Escala e Detecção. (Re = Pr X Sr X Es X De),
fornecendo uma noção de grandeza da causa sobre seus efeitos.
Relevância dos impactos ambientais foi determinada de acordo com a
hierarquia final, indicada no parâmetro resultado, sendo considerada:
Desprezível – admitiu-se quando o resultado obtido foi de valor inferior ou
igual à quarta parte da máxima obtida, indicando que não há necessidade
de nenhuma atitude de controle ou recuperação ambiental;
Significante – admitiu-se quando o resultado obtido foi de valor maior que
a quarta parte e menor ou igual à metade da máxima obtida, indicando a
necessidade de mecanismos de controle ambiental ou plano de
recuperação ambiental que podem ser executados em longo prazo;
Importante – admitiu-se quando o resultado obtido foi de valor maior que
68
metade e menor ou igual a três quartos da máxima obtida, indicando a
necessidade de mecanismos de controle e recuperação ambiental em
médio prazo;
Crítico – quando o resultado obtido foi de valor superior a três quartos da
máxima obtida, indicando a necessidade de mecanismos de controle e
recuperação ambiental em curto prazo.
A matriz ilustrada na figura 4.3 deve ser entendida como estimativa da magnitude e
importância dos impactos ocasionados pelas mudanças climáticas, utilizando resultados
como indicadores de possibilidades. Ressalta-se que a magnitude dos impactos irá
depender da política de gestão ambiental utilizada nas diversas regiões estuarino-lagunares,
especificamente nos manguezais.
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Qualidade do substrato D L 2 2 2 2 16 Significante
Solo
Topografia e geomorfologia I L 2 2 2 1 8 Desprezível
Nível do mar D G 3 3 3 2 54 Crítico
Correntes oceânicas I R 1 2 2 3 12 Desprezível
Correntes fluviais I R 3 3 2 1 18 Significante
Água
Qualidade das águas estuarinas D L 2 3 3 1 18 Significante
Temperatura D R 3 3 3 2 54 Crítico
Precipitação I R 3 3 2 2 36 Importante
Radiação UV-B D G 2 3 2 2 24 Significante
Atmos-
fera
Evaporação I R 2 2 2 1 8 Desprezível
Salinidade estuarina D L 2 3 3 1 18 Significante
Salinidade oceânica I L 1 2 2 3 12 Desprezível
Proces-
sos de
intera-
ção
Distribuição de nutrientes D L 2 2 2 2 16 Significante
FIGURA 4.3. MATRIZ HIERÁRQUICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS.
O texto explicativo, acompanhado pela respectiva secção da figura 4.3, não visa
explorar profundamente essas relações, mas apenas oferecer alguns exemplos como
69
parâmetros para a compreensão das interações.
4.2.1. Temperatura e Radiação UV-B
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Temperatura D R 3 3 3 2 54 Crítico Atmos-
fera
Radiação UV-B D G 2 3 2 2 24 Significante
Dos impactos abióticos, a temperatura e a radiação UV-B foram considerados de
efeitos diretos sobre a biologia do manguezal, pois as espécies de seres vivos encontram
suas condições de existência em intervalos relativamente pequenos de temperatura. A
evapotranspiração vegetal aumenta com o aumento de temperatura. A radiação UV-B é letal
aos tecidos vivos, interferindo negativamente em sua fisiologia. Considerou-se que há a
necessidade da temperatura ser avaliada regionalmente, pois fatores como a altitude,
frentes frias e cobertura vegetal podem minimizar seus efeitos.
A probabilidade de que a temperatura aumente foi considerada alta em razão das
evidências. O aumento da radiação UV-B, como conseqüência da diminuição da camada de
ozônio, foi considerada média. A severidade dos dois impactos foi classificada como alta,
pois podem trazer danos irreversíveis às espécies e ao ecossistema. Enquanto a radiação
UV-B afeta as espécies vivas do manguezal, os efeitos do aquecimento global podem ser
mais devastadores por suas conseqüências poderem atingir áreas externas ao ecossistema,
como a produção e distribuição de nutrientes aos oceanos.
O aumento da temperatura, segundo o fluxo de impactos, tem ainda conseqüências
diretas sobre fatores ambientais, como o aumento do nível do mar, o aumento da
precipitação e aumento da evaporação.
70
4.2.2. Nível do Mar
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Água Nível do mar D G 3 3 3 2 54 Crítico
O aumento do nível do mar, como conseqüência do aquecimento global, teve seus
efeitos sobre os manguezais avaliados como violentos, interferindo diretamente no aumento
da salinidade do estuário, importante para a adaptação fisiológica da flora, e modificando a
cadeia trófica. As águas oceânicas entrariam em contato direto com as raízes, importantes
como suporte dos vegetais, e possuidoras de estruturas adaptadas em captar oxigênio
atmosférico.
Atualmente as informações sobre a progressão marinha podem ser razoavelmente
detectadas pela avaliação contínua das marés locais. A abrangência do impacto provocado
pelo aumento do nível do mar sobre a linha da costa foi considerada global, mesmo que a
reação ao fenômeno possa variar regionalmente para os manguezais. Neste ponto é
conveniente ressaltar a importância desse ecossistema como barreira natural aos avanços
marinhos. A probabilidade de ocorrer tal avanço foi considerada alta, segundo estudos
atuais. Os impactos causados pelo aumento do nível do mar foram julgados severos, visto
que ocorrem em curto espaço de tempo (neste século), além de trazerem danos à fixação
humana litorânea.
A escala dos impactos causados pelo aumento do nível do mar foi considerada
ampla, com prejuízos desconhecidos, pois envolvem dimensões ainda não bem estudadas,
como as alterações da salinidade oceânica e sua interferência nos estuários. Levou-se em
conta a grande possibilidade de danos a regiões que abrigam grandes patrimônios
econômicos, sociais e culturais.
71
4.2.3. Precipitação e Evaporação
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Precipitação I R 3 3 2 2 36 Importante
Atmos-
fera
Evaporação I R 2 2 2 1 8 Desprezível
Precipitação e evaporação afetam primeiramente o solo, interferindo na fixação do
sedimento e na salinidade do estuário. Excessiva precipitação pode ocasionar aumento das
correntes fluviais e diluição dos sedimentos estuarinos. O aumento de evaporação diminui a
fixação de água pelo solo do manguezal, aumentando a concentração de sal.
O aumento da precipitação foi considerado diretamente relacionado ao aumento da
corrente fluvial para o estuário e o arraste de sedimentos do solo pela erosão. Para o
manguezal as conseqüências foram tidas como indiretas, uma vez que alterariam o
substrato e a qualidade das águas estuarinas. A abrangência das chuvas, dependentes de
outros fatores climáticos, foi julgada de caráter regional.
A probabilidade do aumento da precipitação acreditou-se ser alta, visto as mudanças
climáticas que estão ocorrendo mundialmente e os casos de enchentes em todo o mundo
causadas pelo aumento de chuvas, documentados em todos os meios de comunicação. A
severidade foi considerada alta e sua detecção moderada, visto que, apesar das previsões
climáticas atuais permitirem a retirada da população com antecedência em relação a
calamidades, nem sempre é possível.
A evaporação diminui a quantidade de água no estuário, aumentando o teor de
salinidade estuarina. Consideraram-se os impactos causados pelo aumento de evaporação
como indiretos, uma vez que a cutícula das espécies vegetais dos manguezais é espessa,
protegendo-as da perda excessiva de água. Os maiores efeitos serão sentidos pelas raízes
que entram em contato com as águas do estuário mais concentradas. A abrangência do
fenômeno foi tida como regional, dependente da cobertura vegetal que protege a superfície
alagada da alta taxa de evaporação.
72
A probabilidade de que aumente a evaporação foi considerada média, uma vez que
está ocorrendo o aquecimento global e diversos sistemas estuarinos estão perdendo sua
cobertura vegetal. A severidade foi classificada como leve, visto que é possível aplicar
políticas de controle e recuperação nessas áreas. A escala da perda, pelos motivos
descritos, foi tida como limitada. Quanto à detecção do aumento do índice de evaporação,
tendo em vista a facilidade dos métodos meteorológicos, foi classificada como de fácil
obtenção.
4.2.4. Topografia e geomorfologia
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Solo
Topografia e geomorfologia I L 2 2 2 1 8 Desprezível
Consideraram-se os impactos causados pela alteração da topografia e geomorfologia
como locais, visto a baixa altitude dos manguezais tropicais e sua extensão ser intercalada
por costões rochosos ou outros acidentes geográficos, isto é, os manguezais não ocupam
uma faixa contínua ao longo das costas continentais, mas porções isoladas por condições
ambientais específicas e propícias ao desenvolvimento de vegetação característica e fauna
associada em locais protegidos do contato direto do mar.
Modificações topográficas ou geomorfológicas estão relacionadas à erosão pelo
vento ou chuvas, movimento das correntes oceânicas ou fluviais locais, que vão lentamente
desenhando e formando o terreno. Essas modificações poderão ser abruptas, no caso de
graves alterações climáticas. Seus efeitos foram julgados indiretos, pela contribuição na
composição do substrato, quando arrastadas pelo movimento das águas.
Alterações na topografia ou geomorfologia do solo foram consideradas de leve
severidade, uma vez que tais alterações costumam ser lentas e há facilidade de colonização
pelos vegetais específicos dos manguezais. Vale observar que o tempo geológico ou
73
terrestre não é medido na mesma escala do tempo de vida humana. Alterações lentas
permitem melhor adaptação do sistema. A escala dessas alterações foi julgada de caráter
limitado, devido à descontinuidade desse ecossistema.
4.2.5. Correntes oceânicas e salinidade oceânica
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Água
Correntes oceânicas I R 1 2 2 3 12 Desprezível
Processos de
interação
Salinidade oceânica
I L 1 2 2 3 12 Desprezível
As correntes oceânicas atuam regionalmente, dependentes do movimento
atmosférico, sendo as águas superficiais submetidas a alterações constantes de
temperatura, podendo difundir esses efeitos por grandes distâncias. Com a modificação das
temperaturas superficiais, as características da flora podem ser comprometidas
indiretamente pelo aquecimento das águas estuarinas, bem como de animais que se
movimentam nessas águas superficiais, segundo entendimento da autora. As correntes
oceânicas mais quentes provavelmente irão interferir indiretamente no desenvolvimento
animal e na sua distribuição, comprometendo a cadeia trófica e a biodiversidade.
A probabilidade de mudanças nas correntes oceânicas foi considerada baixa, devido
ao fato de não haver documentos que apresentem estudos específicos sobre suas prováveis
alterações e efeitos. Caso ocorram, sua modificação deve levar em conta os movimentos
oceânicos regionais, sendo considerada de severidade média e escala limitada. Prever e
estudar modificações relativas às correntes oceânicas considerou-se de difícil detecção,
levando-se também em conta a falta de estudos atuais sobre o tema.
Pelo mesmo critério aplicado às mudanças nas correntes oceânicas julgou-se o fato
das alterações de salinidade do mar, uma vez que o tema carece de melhores estudos.
74
4.2.6. Qualidade do substrato e das águas estuarinas, correntes
fluviais, salinidade estuarina e distribuição dos nutrientes
AVALIAÇÃO SIGNIFICÂNCIA
MEIO IMPACTO AMBIENTAL
I A Pr Sr Es De Re Relevância
Solo
Qualidade do substrato D L 2 2 2 2 16 Significante
Correntes fluviais I R 3 3 2 1 18 Significante
Água
Qualidade das águas estuarinas D L 2 3 3 1 18 Significante
Salinidade estuarina D L 2 3 3 1 18 Significante Proces-
sos de
intera-
ção
Distribuição de nutrientes
D L 2 2 2 2 16 Significante
O papel das correntes fluviais, ao contrário, já foi bem documentado, estando
diretamente relacionado à salinidade do estuário, condição à qual as plantas dos
manguezais estão adaptadas. Um aumento das correntes fluviais que chegam ao sistema
estuarino irá afetar indiretamente o desenvolvimento e distribuição da vegetação e, com a
perda de espécies vegetais, a função de berçário dos oceanos ficará comprometida, assim
como a fauna local. Prejudicado na criação de pequenos animais, o manguezal deixará de
ser fertilizador oceânico e de produzir recursos naturais para a região.
A probabilidade de que ocorra um aumento do fluxo das correntes fluviais foi tida
como alta levando-se em conta o possível aumento da precipitação. A severidade também
foi considerada alta, pois uma grande descarga de água doce no manguezal pode diminuir
abruptamente o teor de sal e comprometer a adaptação das raízes. Como a hidrografia
regional é bem conhecida nos dias atuais, sua detecção é razoavelmente fácil.
A perda da qualidade do substrato provocaria impactos diretos sobre as condições
de adaptação, desenvolvimento e distribuição dos manguezais. Como conseqüências da
perda da área de manguezais, haveria queda da população das espécies animais e de sua
diversidade, quer utilizem o local de modo fixo ou migratório, seja em busca de alimento,
abrigo ou local de reprodução. O excesso de tecidos vegetais mortos juntar-se-ia à oferta de
nutrientes pelo declínio de consumo, favorecendo a eutrofização local.
75
A probabilidade de que tal impacto possa ocorrer foi considerada média, podendo
causar danos irreversíveis ou difíceis de contornar, com conseqüências inclusive sobre a
vida econômica da população humana local. Contudo, é de fácil controle se houver
aplicação de políticas ambientais. A escala atingida pela perda da qualidade do substrato foi
considerada limitada, visto que as regiões afetadas serão aquelas próximas ao local
impactado. A detecção de alterações no substrato pode ter avaliação simples atualmente,
com métodos razoáveis de análise físico-química do solo.
A qualidade das águas estuarinas exerce impacto direto sobre a biologia dos
manguezais, atuando localmente. Caso haja uma perda substancial dessa qualidade, os
efeitos para as espécies vegetais consideraram-se severos, e a escala ampla por interferir
na exportação de recursos para outras áreas. A detecção da qualidade das águas
estuarinas, estimada como simples, é de fácil manejo, através de avaliações físico-químicas.
A qualidade das águas estuarinas diz respeito à somatória de sedimentos dissolvidos
e tecidos animais e vegetais mortos, revolvidos por pequenos invertebrados que habitam o
local. Quando falado em termos de salinidade estuarina, diz respeito exclusivamente ao teor
de sal dissolvido nas águas do estuário.
A qualidade do substrato diz respeito aos sedimentos formadores do solo, arrastados
pelo fluxo dos rios da região ou depositados pelos movimentos de avanço e recuo do mar
durante o passado geológico. A distribuição de nutriente é feita pelo movimento das águas
no estuário e também pelo movimento de pequenos animais. O contato de ambos com a
vegetação do manguezal, tido como direto, é feito através das raízes. A abrangência do
impacto foi considerada local, de média probabilidade e julgado de leve severidade, mais
uma vez devido à possibilidade da aplicação de políticas ambientais. A escala de ocorrência
foi estimada como limitada à região, enquanto a detecção moderada por envolver diversas
variáveis, tanto na formação do solo do manguezal, como encontradas entre os nutrientes.
Pelo ensaio realizado neste estudo, podemos ordenar e classificar os impactos dos
fatores abióticos do manguezal de acordo com sua relevância (figura 4.4).
76
Hierarquia dos impactos ambientais nos manguezais
impacto ambiental
evaporação
topografia e geomorfologia
salinidade oceânica
correntes oceânicas
distribuição dos nutrientes
qualidade do substrato
salinidade estuarina
Qualidade das águas estuarinas
Correntes fluviais
Radiação UV-B
Precipitação
Nível do mar
Temperatura
desprezível significante importante crítico
FIGURA 4.4. HIERARQUIA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS.
77
De forma geral, os manguezais não possuem valor de mercado discutido e
pesquisado, levando em conta a produtividade de cada região onde estão instalados.
Contudo, podem reverter-se em alto custo social e econômico se houver a necessidade de
regeneração. Cada um dos fatores dos manguezais provoca impactos e, ao mesmo tempo,
sofre impactos pelo desequilíbrio do ecossistema. O manguezal possui uma dinâmica
interna complexa, tornando-se evidente a importância de cada componente para esse
ecossistema aberto, sem limites definidos, e dependente de ecossistemas vizinhos.
4.3. MATRIZ DE VULNERABILIDADE DOS MANGUEZAIS
A vulnerabilidade expressa a predisposição do meio frente às ameaças dos
processos de pressão que este meio sofre. É determinada pela sua sensibilidade e
capacidade adaptativa frente aos fatores de pressão.
O modelo da matriz de Leopold (1971) não permite uma ordenação dos fatores
biológicos ou de relação ecológica dos manguezais nem a construção de uma escala de
vulnerabilidade para esses fatores.
Recorreu-se à metodologia MACBETH
19
(Schmidt, 1995), adaptada em seus
princípios básicos, visando organizar uma escala hierárquica e simples de vulnerabilidade
para os fatores biológicos e de relação ecológica dos manguezais.
A partir da combinação de dados obtidos na revisão bibliográfica, tabulados,
procedeu-se a escolha entre duas alternativas, segundo critério mensurável e avaliável por
decisão.
Um processo de tomada de decisão é um sistema aberto, composto por valores e
objetivos do avaliador e pelas ações e suas características. A metodologia MACBETH
19
“Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique”
78
propõe ao avaliador algumas hipóteses de trabalho na elaboração de julgamentos. Essas
hipóteses se traduzem pela verificação de aspectos relativos à significação de julgamentos e
pela verificação de consistência entre os juízos expressos. A avaliação do resultado permite
uma visualização do problema.
Os fatores biológicos e de relação ecológica dos manguezais foram retirados da
figura 4.2 e dispostos na primeira linha e primeira coluna da matriz de vulnerabilidade.
Comparados par-a-par, obteve-se o peso relativo do fator (
PFn), onde n corresponde ao
número do fator, conforme tabela 4.1.
TABELA 4.1. FATORES BIOLÓGICOS E DE RELAÇÃO ECOLÓGICA DOS MANGUEZAIS.
FATOR NOME DO FATOR
PF1 Adaptações fisiológicas vegetais
PF2 Adaptações reprodutivas vegetais
PF3 Adaptações estruturais vegetais
PF4 Desenvolvimento da flora
PF5 Distribuição da flora
PF6 Migração de aves e mamíferos
PF7 Fixação de aves e mamíferos
PF8 Berçário de peixes
PF9 Répteis e anfíbios
PF10 Organismos bentônicos
PF11 Microfauna local
PF12 Desenvolvimento e distribuição da fauna
PF13 Fertilizadores oceânicos
PF14 Eutrofização
PF15 Produção de recursos naturais
PF16 Recurso florestal
PF17 Proteção da linha da costa
PF18 Biodiversidade
Essa comparação foi norteada pelo total de fatores de pressão (abióticos) que atuam
sobre o fator biológico ou de relação ecológica, totalizados na figura 4.2, assumindo peso
igual a zero (para o fator menos afetado no par), um (para o fator mais afetado no par) e
79
meio (se ambos os fatores forem igualmente afetados). A ordem de comparação foi de linha
para coluna da matriz. A soma dos pesos foi totalizada na linha referente ao fator analisado,
não se comparando um fator com ele mesmo.
Nas colunas finais da matriz estão as somas dos pesos relativos de cada fator e o
cálculo da porcentagem relativa desses pesos. Cada valor do peso relativo do fator foi
dividido pela somatória dos pesos relativos para obtenção da porcentagem relativa de
vulnerabilidade de cada fator biológico ou de relação ecológica.
Acrescentou-se à matriz um fator nominal (PFN), de valor zero quando comparado
aos demais, para que nenhum dos fatores significantes obtivesse o valor zero, isto é,
significância nula (figura 4.5).
A somatória dos pesos relativos corresponde a
n(n-1)/2, onde n é o número de
fatores considerados. Assim, para 19 fatores, a somatória obtida é
19x18/2 = 171.
Neste estudo os fatores puderam ser reduzidos a uma mesma escala de valores,
tornando-se comparáveis entre si e permitindo a tradução dos resultados em dados
contínuos.
Assim como a significância dos impactos ambientais nos manguezais foi classificada
em quatro categorias, procurou-se fazer a mesma classificação para a vulnerabilidade dos
fatores biológicos e de relações ecológicas dos manguezais. Assim, para a vulnerabilidade
desprezível, as perdas não serão sentidas pelo ecossistema; para a vulnerabilidade
significante, as perdas serão sentidas em longo prazo; para a classificação importante de
vulnerabilidade as perdas serão sentidas em médio prazo; finalmente, para o estado crítico
de vulnerabilidade, as perdas ocorreriam em curto prazo.
A escala de zero (menos vulnerável) a 18 (mais vulnerável) pode ser representada
graficamente (figura 4.6).
80
Fatores bióticos dos
manguezais
PF1 PF2 PF3 PF4 PF5 PF6 PF7 PF8 PF9 PF10 PF11
P
F12 PF13 PF14 PF15 PF16 PF17 PF18 PFN
Somatória dos pesos
relativos
% relativa de
vulnerabilidade
PF1
1,0 1,0 0,0 0,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 16,0
9,36
PF2
0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 1,0 5,0
2,92
PF3
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 1,0 2,5
1,46
PF4
1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 18,0
10,53
PF5
1,0 1,0 1,0 0,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 17,0
9,94
PF6
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 0,5 1,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 13,5
7,89
PF7
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 0,0 1,0 1,0 0,5 1,0 9,0
5,26
PF8
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 0,0 1,0 1,0 0,5 1,0 9,0
5,26
PF9
0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 1,0 4,0
2,34
PF10
0,0 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 1,0 2,5
1,46
PF11
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 1,0 1,0 0,0 0,0 0,5 0,0 1,0 1,0 0,5 1,0 9,0
5,26
PF12
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 1,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 13,5
7,89
PF13
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 1,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 13,5
7,89
PF14
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 1,0 1,0 0,5 0,0 0,0 0,0 1,0 1,0 0,5 1,0 9,0
5,26
PF15
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 0,5 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 13,5
7,89
PF16
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 1,0
0,58
PF17
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,0 0,0 1,0 6,0
3,51
PF18
0,0 1,0 1,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 1,0 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 0,0 1,0 1,0 1,0 9,0
5,26
PFN
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
0,00
total
171,0
100,00
FIGURA 4.5. MATRIZ DE VULNERABILIDADE DOS FATORES BIOLÓGICOS E DE RELAÇÕES ECOLÓGICAS DOS MANGUEZAIS.
81
FIGURA 4.6. HIERARQUIA DA VULNERABILIDADE DOS MANGUEZAIS.
Hierarquia da vulnerabilidade dos manguezais
fatores biológicos e de relações ecológicas dos manguezais
Recurso florestal
Organismos bentônicos
Adaptações estruturais vegetais
Répteis e anfíbios
Adaptações reprodutivas vegetais
Proteção da linha da costa
Biodiversidade
Microfauna local
Fixação de aves e mamíferos
Berçário de peixes
Eutrofização
Produção de recursos naturais
Migração de aves e mamíferos
Fertilizadores oceânicos
Desenvolvimento e distribuição da fauna
Adaptações fisiológicas vegetais
Distribuição da flora
Desenvolvimento da flora
desprezível significante importante
crítica
82
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. CONCLUSÕES
Durante a revisão bibliográfica verificou-se a insuficiência de conhecimentos e dados
precisos sobre os manguezais, principalmente no Brasil. Falta a completa identificação de
fatores de pressão que agem sobre eles, a sistematização a respeito do estado de
conservação e das espécies que neles habitam. Não se dispõe de métodos muito
especializados para controlar a eficiência das áreas protegidas, embora haja interesse
crescente para esta questão.
A ordenação de informações procurou ajustar e refinar o estudo, detectando
possíveis ameaças e riscos em áreas de manguezais, bem como sua hierarquização e
qualificação.
Outro problema encontrado foi uma falta de unanimidade conceitual entre as
definições de risco e ameaça. Risco expressa as conseqüências em termos de danos e
perdas reais caso um impacto venha a ocorrer, ameaça refere-se à probabilidade da
ocorrência desse impacto.
Para avaliar o risco de determinado impacto devem ser avaliados alguns elementos,
em particular a suscetibilidade da área estudada ao tipo de impacto em foco e à
vulnerabilidade dos sistemas ali existentes.
Suscetibilidade expressa a predisposição das características do meio físico frente
aos processos impactantes e a vulnerabilidade reflete a fragilidade dos sistemas
encontrados na área considerada.
A vulnerabilidade poderia ser expressa sob o ponto de vista econômico, traduzindo-
se em perdas monetárias. Não foi possível associar valores econômicos ao estudo, seja
pela falta de dados, seja pela falta de conhecimentos mais amplos. Estudos de
vulnerabilidade ambiental ainda não estão sistematizados e carecem de modelos aplicáveis
83
a diferentes situações.
A biota dos manguezais também é conhecida de forma parcial, faltando estudos
sobre a interação entre as diversas espécies locais e delas com o ambiente. Os estudos
relacionados à diversidade são muito descritivos, não sendo conhecidas taxas de perda ou
degradação.
Para avaliar a suscetibilidade do ecossistema são considerados fatores relacionados
ao desencadeamento de eventos e para a vulnerabilidade são definidas as perdas
potenciais biológicas que se darão como conseqüência do impacto.
A contribuição deste estudo foi o trabalho de investigação e reflexão a respeito de
um ecossistema frágil, complexo, ainda desconhecido, que tem ocupado o centro das
atenções entre as zonas tropicais úmidas, devido às funções ecológicas que desempenham.
Com isto, a compreensão dos processos envolvidos é parcial e as ferramentas
utilizadas na compreensão focam os poucos aspectos conhecidos. Podem surgir
divergências com os diferentes significados de risco ou ameaça, que irão depender do ponto
de vista e da perspectiva de avaliação.
Qual o valor do quilômetro quadrado de manguezal destruído?
Qual o preço da biodiversidade de um determinado manguezal ameaçado?
Quanto vale um ovo de fragata?
As questões ambientais não se encaixam nos moldes vigentes e também não se
adaptam aos mecanismos de preços, que são próprios do setor privado. Pode-se dizer que
o custo material das questões ambientais situa-se no setor privado e o benefício faz-se
sentir no setor público. Portanto, pode-se afirmar que os custos são racionais enquanto os
benefícios são emocionais.
Considere-se, por exemplo, o aumento do nível do mar provocando a destruição de
uma área de manguezal. Seria inevitável a comparação entre os custos econômicos e os
ganhos biológicos da recuperação dessa área ou entre os prejuízos econômicos e perdas
biológicas que essa destruição causou. Custos ou prejuízos econômicos são
financeiramente mensuráveis enquanto ganhos ou perdas biológicas dependem de noções
84
mais amplas e complexas de interações biológicas.
O estudo procurou ordenar os fatores de impactos ambientais sobre os mangues de
acordo com uma possível significância, utilizando a bibliografia consultada e o quanto foram
citados esses fatores. Da mesma forma, procurou-se ordenar a vulnerabilidade biológica dos
manguezais.
A análise utilizada mostrou-se adequada aos objetivos propostos. A matriz de
Leopold e as rotinas de apoio à decisão (MACBETH) permitiram a ordenação,
hierarquização e qualificação de forma mais objetiva.
A metodologia utilizada apresentou a vantagem de sistematização da análise e
ofereceu a possibilidade de visualizar graficamente os resultados, permitindo aproveitar o
que já se publicou sobre o tema e incorporar na análise.
Deve-se ressaltar a importância de definir critérios, a partir dos quais os dados são
gerados e quantificados por pesos diferentes.
De acordo com o estudo, os impactos ambientais que exercem pressão sobre
manguezais foram classificados por sua significância de acordo com a tabela 5.1.
TABELA 5.1. SIGNIFICÂNCIA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS NOS MANGUEZAIS.
Significância do
impacto ambiental
Atitudes em relação ao impacto
ambiental
Fatores geradores do impacto ambiental
DESPREZÍVEL
Não há necessidade de controle
ambiental ou recuperação
ambiental.
Correntes oceânicas
Salinidade oceânica
Evaporação
Topografia e geomorfologia
SIGNIFICANTE
Há necessidade de mecanismos
de controle ambiental ou de
recuperação ambiental em longo
prazo.
Distribuição de nutrientes
Salinidade estuarina
Qualidade das águas estuarinas
Correntes fluviais
Qualidade do substrato
Radiação UV-B
IMPORTANTE
Há necessidade de mecanismos
de controle ambiental ou de
recuperação ambiental em médio
prazo.
Precipitação
CRÍTICO
Há necessidade de mecanismos
de controle ambiental ou de
recuperação ambiental em curto
prazo.
Temperatura
Nível do mar
85
A vulnerabilidade dos fatores bióticos dos manguezais também foi classificada, como
mostra a tabela 5.2.
TABELA 5.2. VULNERABILIDADE DOS FATORES BIÓTICOS DOS MANGUEZAIS.
Grau de
vulnerabilidade
Prazo em que o ecossistema
será afetado
Fatores bióticos vulneráveis dos
manguezais
DESPREZÍVEL
Não serão sentidos pelo
ecossistema.
Recurso florestal
Organismos bentônicos
Répteis e anfíbios
Adaptações estruturais vegetais
SIGNIFICANTE Longo prazo.
Biodiversidade
Proteção da linha de costa
Eutrofização
Microfauna local
Berçário de peixes
Fixação de aves e mamíferos
Adaptações reprodutivas vegetais
IMPORTANTE
Médio prazo.
Produção de recursos naturais
Fertilizadores oceânicos
Desenvolvimento e distribuição da fauna
Migração de aves e mamíferos
CRÍTICA Curto prazo.
Distribuição da flora
Desenvolvimento da flora
Adaptações fisiológicas vegetais
É possível, ainda, ordenar os fatores bióticos dos manguezais, segundo sua
resistência, do afetado em menor espaço de tempo ou mais vulnerável ao menos vulnerável
com relação às modificações que possam ocorrer nesse ecossistema. Assim, tem-se como
fator mais vulnerável o desenvolvimento da flora, seguido de sua distribuição e das suas
adaptações fisiológicas.
Tal fato reforça ser o termo manguezal uma classificação ecológica das espécies
vegetais que o constitui.
Outra vantagem da ordenação de vulnerabilidade pode ser a escolha de
bioindicadores, isto é, de organismos cujas funções vitais se correlacionem tão
estreitamente com determinados fatores ambientais que podem ser empregados como
indicadores na avaliação dos impactos em uma dada área. Estes organismos podem ser
utilizados para detectar alterações ambientais.
86
Portanto, no estudo de impactos ambientais e manguezais, chegou-se à conclusão
de que a análise da vulnerabilidade do ecossistema pode auxiliar no gerenciamento e
controle dos impactos. Assim, se o aumento da temperatura é um impacto crítico para o
ecossistema, pode ser estudada a interferência da temperatura na fisiologia vegetal das
espécies dos manguezais, em seu desenvolvimento ou na distribuição dessas espécies,
como fez Moraes e Costa (2001).
O estudo da vulnerabilidade permite ainda ordenar a prioridade nos planos de
recuperação dos manguezais. Assim, preservar a vegetação dos manguezais pode ser uma
ação que minimiza os impactos do aumento da temperatura sobre o ecossistema.
O Brasil possui uma extraordinária riqueza em biodiversidade. Essa biodiversidade
só poderá ser garantida se os ecossistemas forem preservados e recuperados. Trata-se de
mantermos as condições de vida para as gerações futuras. Os manguezais constituem o elo
entre a manutenção da vida oceânica e as condições de desenvolvimento para a população
litorânea. Fatores de pressão como o aumento de população, destruição de habitat,
aumento de contaminação de origem terrestre ou carregada pelos rios, crescentes insumos
de nutrientes, somados aos efeitos das mudanças climáticas, podem desencadear uma
série de impactos sobre os manguezais.
5.2. RECOMENDAÇÕES
O aquecimento global, o aumento do nível do mar e o crescimento de tormentas
causarão impactos adversos sobre o transporte marinho, a saúde e bem-estar humano,
atividades recreativas e turísticas.
Os manguezais carecem de sistematização das informações sobre os processos
bioquímicos de seus componentes, informações econômicas e sociais para a construção de
cenários regionais completos e coerentes.
87
Assim, as recomendações listadas abaixo são consideradas de alta relevância para
os propósitos a serem alcançados:
Inventário dos recursos naturais, incluindo características quantitativas e qualitativas
dos seus elementos, bem como sua distribuição espacial;
Manejo de informações por satélites e monitoramento do uso da terra são
ferramentas que podem ser utilizadas vantajosamente, se consideradas as
informações referentes ao passado, as atuais e as previsões estimadas;
Modelos de cenários ou simulações, que podem ser utilizadas com a finalidade de
melhorar o processamento de dados para a previsão e classificação da amplitude de
um evento, importante em medidas de planejamento;
O intercâmbio de experiências e conhecimento entre os grupos de trabalho locais e
deles com os grupos que atuam em outras regiões, países ou continentes pode
trazer vantagens significativas ao desenvolvimento sócio-econômico e científico.
Impactos climáticos, juntamente com os fatores de adaptação natural e planejada do
ecossistema irão atuar sobre a resiliência
20
do manguezal.
Cabe à humanidade controlar e reduzir as pressões que exerce sobre o clima e,
conseqüentemente, sobre os ecossistemas, entre eles os manguezais.
20
Característica que define a capacidade da conservação do estado de equilíbrio de um sistema.
88
REFERÊNCIAS
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Santa Catarina – Estado de São Paulo). v.1. São Paulo: [S.I.], 1998. P 80-99.
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º
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São Paulo: Editora Universidade São Paulo. 1965. V.I. p 151-178.
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GLOSSÁRIO
Abiótico - é o componente não vivo do meio ambiente. Inclui as condições físicas e
químicas do meio.
Aeróbio – organismo que necessita, para viver, da presença de oxigênio livre.
Aerossóis – suspensão de partículas finas de um líquido, ou de uma solução, no ar.
Aluvial – terreno constituído por inundações, geralmente rico em matéria orgânica
deixada pelas águas.
Amônia (NH3) – substância química existente no estado livre ou dissolvido em água.
Amônio (NH4) – grupo ou radical monovalente com a função de cátion nos sais
amoniacais.
Anaeróbio organismos que vivem na ausência do oxigênio e extraem a energia
necessária à vida de substâncias que ele próprio decompõe; diz também do meio
marinho, fluvial ou lacustre pobre em oxigênio.
Anti-ciclone - área de pressão que diverge os ventos numa rotação oposta à rotação da
Terra. Move-se no sentido horário no Hemisfério Norte e no sentido anti-horário no
Hemisfério Sul. Também conhecida como área de alta pressão; é o oposto de uma área
de baixa pressão, ou ciclone.
Antrópico – qualquer paisagem ou alteração ambiental que resulta da intervenção
humana.
Assoreamento – ato de encher com sedimento ou outros materiais detríticos uma baía,
um lago, um rio ou um mar. Processo de elevação da superfície do leito dos rios e
reservatórios por deposição de sedimentos. (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro
de 2002)
Atmosfera - porção de ar do ambiente físico que cerca um planeta. No caso da Terra,
está situada mais ou menos perto da superfície em razão da atração gravitacional da
Terra. As divisões da atmosfera terrestre incluem: troposfera, estratosfera, mesosfera,
ionosfera e exosfera.
Avicennia - nome genérico das plantas da família Avicenniaceae, típica de manguezais,
conhecida popularmente como mangue.
Avicennia nitida – planta da família Avicenniaceae, típica de manguezais.
Avicennia schaueriana - planta da família Avicenniacea, típica de manguezais
brasileiros, conhecida popularmente como mangue preto ou siriúba.
Avicennia tomentosa - planta da família Avicenniaceae, típica de manguezais.
97
Bactérias nitrificantes – bactéria do solo que assegura a mineralização dos restos
animais e vegetais, fechando o ciclo do nitrogênio.
Baía – trecho côncavo do litoral marinho ou lacustre, delimitado entre dois cabos ou
promontórios, menor que um golfo e maior que uma enseada.
Benton – ser vivo do fundo do mar, seja em regiões litorâneas ou abissais.
Bio-acumulação – acumulação de resíduos por bactérias, geralmente em meio aquático.
Bio-degradação – decomposição de resíduos por bactérias, geralmente em meio
aquático.
Biodiversidade – riqueza em variedade de espécies em dada comunidade ou amostra
necessária para a manutenção de seu equilíbrio. É a variabilidade entre os diversos
organismos vivos de todas as origens, incluindo terrestres, marinhos e outros sistemas
aquáticos, assim como os complexos ecológicos dos quais tais sistemas participam. São
incluídas a diversidade dentro de uma mesma espécie (genética), entre espécies
diferentes (de organismos) e a dos ecossistemas (ecológica).
Bioma – amplo conjunto de espaços terrestres, facilmente reconhecível em seu todo,
caracterizado por tipos fisionômicos semelhantes de vegetação com diferentes estados
climáticos.
Biomassa - Conjunto de substâncias orgânicas depositadas em determinado lugar.
Biosfera - zona de transição entre a Terra e a atmosfera, dentro da qual é encontrada a
maior parte das formas de vida terrestre. É considerada a porção exterior da geosfera e a
porção interna ou mais baixa da atmosfera.
Biota – conjunto de plantas e animais de uma determinada região ou área biogeográfica.
Biótico – fator ligado à atividade dos seres vivos e que age sobre a distribuição das
espécies.
Bio-transformação – transformação bioquímica de substâncias por bactérias.
Cadeia alimentar – conjunto de espécies vegetais e animais associada pelo fluxo de
energia que ocorre através da alimentação, de modo que o precedente se alimenta do
antecedente, sendo o vegetal denominado produtor primário, sem precedente, realizando
a fotossíntese para fabricar seus alimentos. Os animais formam o subconjunto dos
consumidores por não obterem sozinhos a energia necessária.
Camada de ozônio - Camada atmosférica que contém uma proporção alta de oxigênio
que existe como ozônio. Na condição de ozônio ela age como um filtro, protegendo o
planeta da radiação ultravioleta. Situa-se entre a troposfera e a estratosfera, com a maior
concentração de ozônio entre 25 e 30 km.
Cenozóico – era geológica mais moderna, com a duração aproximada de 65 milhões de
anos.
98
Ciclos bioenergéticos – ciclo da produção e consumo de energia que ocorre nos seres
vivos ou em um meio, mas que dependem da participação dos seres vivos.
Circulação oceânica abissal – conjunto dos movimentos efetuados pelas grandes
massas de água das regiões profundas dos oceanos.
Clímax – grau máximo ou ótimo de desenvolvimento, representado pelo estado de
equilíbrio atingido pelo conjunto dos fatores bióticos e abióticos de um sistema, sob
determinadas condições climáticas.
Coacervado – macromoléculas com grau de polimerização mais elevado que se agrupam
ou aglutinam em soluções macromoleculares.
Conocarpus erecta – espécie vegetal, da família Combretaceae, típica de sistemas
costeiros no Brasil.
Convergência Subtropical do Atlântico Sul – acumulação de ar em conseqüência de
sua entrada horizontal sobre a região subtropical do Atlântico Sul, e que provoca no local
de acumulação, um movimento vertical compensatório de baixo para cima.
Cordão litorâneo – acumulação alongada de composição predominantemente arenosa,
disposta paralelamente a paleolinhas de praias e separadas entre si por depressões. São
formadas a partir da ação de ondas de tempestades, correntes e marés.
Costões rochosos – trecho da costa escarpada e abrupta, formada por rochas que se
pronunciam para o mar.
Delta – resultado do trabalho de acumulação de materiais de origem fluvial, sob
condições de disposição do fundo marinho e de movimento das correntes marinhas,
configurando a foz de um rio.
Desenvolvimento sustentável – conceito originado em 1968, na Conferência da Biosfera
de Paris. Modelo de desenvolvimento que leva em consideração, além dos fatores
econômicos, aqueles de caráter social e ecológico, assim como a disponibilidade dos
recursos vivos e inanimados, as vantagens e os inconvenientes, a curto e a longo prazo,
de outros tipos de ação.
Dióxido de carbono (CO2) - Um gás pesado e incolor que é o quarto componente mais
abundante do ar seco.
Drenagem – remoção de água, superficial ou subterrânea, de uma determinada área, por
bombeamento ou por gravidade.
Ecossistema – sistema ecológico que inclui todos os organismos vivos de uma
determinada área, interagindo com o meio físico, de forma a originar um fluxo de energia
definindo claramente uma estrutura de níveis de cadeia alimentar e um ciclo de materiais,
resultando no intercâmbio entre os fatores vivos e não vivos daquele ambiente ou unidade
funcional.
Edáfica – relativo ao solo, fatores ligados à natureza do solo.
99
Edafohidrológica – fatores relacionados à natureza do solo e aportes de água que este
solo recebe.
El Niño – fenômeno que repercute em diferentes áreas do planeta, ainda que de maneira
diversa. Apresenta uma fase quente (El Niño) e uma fase fria (La Niña), estabelecidos em
relação a um índice que relaciona anomalias na pressão do nível do mar (índice de
oscilação sul).
Espécie endêmica – aquela cuja área de distribuição é restrita a uma região geográfica
limitada e usualmente bem definida.
Espécies migratórias – aquelas que se locomovem entre países, continentes ou até
hemisférios diferentes, impulsionadas pela busca de alimento ou reprodução.
Estômato – organela da epiderme vegetal que efetua as trocas gasosas entre a planta e
a atmosfera.
Estratosfera – região da atmosfera situada cima da troposfera, caracterizada pelo
aumento da temperatura em função da altitude. Na Terra, estende-se de 18 a 30 km,
contendo a camada de ozônio.
Estuário – corpo aquoso litorâneo de circulação mais ou menos restrita, porém ainda
ligado a oceano aberto. Pode corresponder a desembocaduras fluviais afogadas. É um
corpo d'água parcialmente encerrado, que se forma quando a água doce proveniente de
rios e córregos fluem até o oceano e se misturam com a água salgada do mar. São áreas
de transição entre a terra e o mar, entre a água doce e salgada. Porção final de um rio
sujeita aos efeitos sensíveis das marés. (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de
2002)
Evapotranspiração - o total de água transferida da superfície da Terra para a atmosfera.
É composto da evaporação do líquido da superfície acrescida da transpiração das
plantas.
Fisiografia – descrição da natureza da terra e fenômenos naturais, refere-se à geografia
física.
Fitoplâncton - conjunto das espécies vegetais que fazem parte do plâncton, geralmente
microscópicos, que vivem em suspensão nos sistemas aquáticos, com atividade
fotossintética.
Folha coriácea – de epiderme endurecida por cutícula espessa.
Forçamento radiativo – perturbação do balanço de energia do sistema Terra-atmosfera,
medida potencial de mudanças climáticas.
Fotodissociação – dissociação química na presença da luz.
Fotossíntese – reação bioquímica das plantas verdes que, em presença de luz,
produzem moléculas orgânicas a partir de moléculas minerais simples.
100
Frente fria - a extremidade principal de uma massa de ar fria que avança deslocando o ar
quente de seu caminho. Geralmente, com a passagem de uma frente fria, a temperatura e
a umidade diminuem, a pressão sobe e o vento muda de direção.
Frontogênese - nascimento ou criação de uma frente. Isto acontece quando duas
massas de ar adjacentes que exibem densidades e temperaturas diferentes se reúnem
pela ação dos ventos, criando uma frente. Poderia acontecer quando qualquer uma das
massas de ar, ou ambas se movem sobre uma superfície que fortalece suas propriedades
originais. Gás carbônico (CO
2) -
Geomorfologia - ciência que estuda as formas de relevo, tendo em vista a origem, da
estrutura , natureza das rochas, o clima da região e as diferentes forças endógenas e
exógenas que, de modo geral, entram como fatores modificadores do relevo do relevo
terrestre.
Habitat – ambiente que oferece um conjunto de condições favoráveis ao
desenvolvimento, à sobrevivência e reprodução de determinados organismos.
Halófita – planta adaptada a ambientes de água ou solo salgados, caracterizadas por
apresentarem tecidos carnosos que permitem diluição do sal em meio interno.
Hidatódio – organela das folhas de alguns vegetais, com a função de eliminar soluções
aquosas em forma de gotículas.
Hidrófilo – que absorve bem a água ou tem afinidade por ambientes excessivamente
úmidos.
Hidrosfera – totalidade das águas do planeta, compreendendo os oceanos, mares, lagos,
e cursos d’água, como também as águas subterrâneas, calotas polares e geleiras.
Holoceno – época mais recente do período quarternário, iniciada há 11.000 anos.
Impacto ambiental – alteração provocada ou induzida pelo homem, com efeito
temporário ou permanente das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente. Qualquer alteração significativa no meio ambiente - em um ou mais de seus
componentes - provocada por uma ação humana. Qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: (i) a
saúde, a segurança e o bem-estar da população; (ii) as atividades sociais e econômicas;
(iii)a biota; (iv) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e (v) a qualidade dos
recursos ambientais. (Resolução Conama nº 001, de 23.01.86)
Laguna – corpo de águas rasas e calmas, em geral mantendo comunicação restrita com
o mar. Freqüentemente forma um sistema de ilha barreira/laguna, relacionado
geneticamente à dinâmica costeira. A salinidade de suas águas é variável.
Laguncularia – nome genérica das plantas da família Combretaceae, típica de
manguezais.
Laguncularia racemosa – planta da família Combretaceae, típica de manguezais
brasileiros, conhecida como mangue branco ou tinteira no Brasil.
101
Latitude - localização, em relação à linha do equador, de um dado ponto na superfície da
Terra. É medida em graus, e a linha do equador está a zero grau. Sua representação é
feita através de linhas paralelas que circundam o planeta horizontalmente e o dividem em
Norte e Sul. Os pólos Norte e Sul estão a 90 graus em relação à linha do equador.
Lençol freático –zona subsaturada de água edáfica, situada acima do nível hidrostático.
Longitude - localização, em relação ao Meridiano Principal, de um dado ponto na
superfície da Terra. Tal como a latitude, é medida em graus - e o Meridiano Principal, em
Greenwich, corresponde a zero grau de longitude. Sua representação é feita em linhas
verticais que cruzam a Terra do Pólo Norte ao Pólo Sul. A distância entre as linhas de
longitude é maior no equador e menor latitudes mais altas. As Zonas de tempo são
relacionadas à longitude. Veja Tempo Médio de Greenwich.
Mangue - terreno baixo, junto à costa, sujeito às inundações das marés, constituído, na
quase totalidade, de vasas (lamas) de depósitos recentes e vegetação característica.
(Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002)
Manguezal - (1) - ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos sujeitos à ação
das marés localizadas em áreas relativamente abrigadas e formado por vasas lodosas
recentes às quais se associam comunidades vegetais características. (Resolução
CONAMA 004/85). (2) - ecossistema costeiro tropical dominado por espécies vegetais
típicas (mangues), às quais se associam outros componentes da flora e da fauna,
adaptados a um substrato periodicamente inundado pelas marés, com grandes variações
de salinidade. (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002). (3) - ecossistema
litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos a ação das marés, formado por vasas
lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação
natural conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típicas de solos limosos
de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os
estados do Amapá e Santa Catarina. (Resolução Consema nº 002, de 15/10/2002)
Massa de ar - um corpo extenso de ar, ao longo do qual as características da
temperatura horizontal e da umidade são semelhantes.
Mata ciliar – (1) - floresta existente ao longo e às margens dos cursos d'água e ao redor
de nascentes, lagos, lagoas e reservatórios. É conhecida, também, como mata aluvial, de
galeria, ripária ou marginal. (2) - vegetação arbórea que se desenvolve ao longo das
margens dos rios, beneficiando-se da umidade, ali, existente. (Decreto Estadual 24.017,
de 07 de fevereiro de 2002)
Mesozóico – era geológica situada entre a paleozóica e a cenozóica, entre 245 e 65
milhões de anos.
Metano (CH4) – hidrocarboneto saturado, conhecido como gás dos pântanos, formado na
decomposição de matéria orgânica por fermentação ou por pirólise. Fonte de carbono e
hidrogênio para a indústria petroquímica, produzindo derivados como cloreto de metila,
clorofórmio, tetracloreto de carbono e nitrometano.
Mitigação – ação de atenuar ou diminuir o mal.
102
Morfogenético – processo de modelagem das formas do relevo da superfície terrestre,
resultante da ação das chuvas, águas correntes, gelo e ventos sobre as formações
estruturais.
Nitratos – sais derivados do ácido nítrico, de importante papel como adubo, constituindo
o principal nutriente das plantas, favorecendo seu crescimento.
Oclusões – processo em que, durante a ocorrência de um ciclone, uma frente fria
empurra o ar quente de depressões para níveis mais elevados.
Período Cambriano – período mais antigo da era paleozóica, compreendido entre 600 e
500 milhões de anos.
Pleistoceno – época mais antiga do período quarternário, compreendida entre 1.800.000
anos e 11.000 anos, caracterizada por vários estágios glaciais e interglaciais.
Preservação – manutenção das características próprias de um ambiente e as interações
entre seus componentes, garantindo sua proteção integral.
Propágulo elemento de propagação vegetativa.
Quarternário – último e atual período da era cenozóica, de 11.000 anos até o presente,
caracterizado por pequenas alterações climáticas, domínio da espécie humana e
problemas ambientais.
Radiação solar – total de radiação de origem eletromagnética emitida pelo sol, que
influencia não apenas as condições de tempo e clima, mas também processos terrestres,
aquáticos e biológicos. A quantidade de radiação incidente no planeta é bastante variável
no tempo e no espaço.
Resiliência – característica que define a capacidade da conservação do estado de
equilíbrio de um sistema.
Ressurgência movimento vertical das águas do mar, em que a água fria das correntes
profundas provenientes de altas latitudes sobem em direção à superfície, sendo propícias
ao desenvolvimento do plâncton.
Rhizophora sp – nome genérico das plantas da família Rhizophoraceae; típicas de
manguezal, constitui um dos tipos de mangue.
Rhizophora brevistyla - planta da família Rhizophoraceae, típica de manguezais,
espécie de mangue vermelho.
Rhizophora mangle – planta da família Rhizophoraceae, típica dos manguezais
brasileiros, conhecida popularmente como mangue vermelho ou sapateiro.
Savana – formação vegetal própria de regiões tropicais, com longa estação seca e
predomínio de gramíneas.
Sazonal – relativo às estações do ano.
103
Sonneratie sp – planta da família Sonneratiaceae, típica dos manguezais do leste
africano, Austrália, Micronésia, Nova Caledônia, ameaçada de extinção.
Uréia – diamida carbônica, resíduo das matérias nitrogenadas do organismo, produzida a
partir de aminoácidos.
Viviparidade – em botânica, crescimento do embrião enquanto a semente ainda está
dentro do fruto e encontra-se presa ã árvore; formação da planta jovem mediante o
crescimento de gemas adventícias e pequenos bulbos, comum entre plantas de
manguezais.
Vulnerabilidade – suscetível de ter suas condições de sobrevivência afetadas por fatores
de pressão, perdendo ou podendo ter suas características afetadas.
Zona costeira - (1) - É o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra,
incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra
terrestre. (Lei Federal nº 7.661 de 16/05/88). (2) - Espaço geográfico de interação do ar,
do mar e da terra, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre e incluindo seus
recursos ambientais. (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002)
Zonas úmidas - são consideradas zonas úmidas toda extensão de pântanos, charcos e
turfas, ou superfícies cobertas de água, de regime natural ou artificial, permanentes ou
temporárias, podendo ser doce, salobra ou salgada, incluindo áreas de água marítima
com menos de seis metros de profundidade na maré baixa. Estas áreas são consideradas
armazéns naturais de diversidade biológica, importantes para a estabilidade climática e
consideradas as áreas mais produtivas do mundo.
Zooplânton – conjunto das espécies animais que fazem parte do plâncton, geralmente
microscópicos, que vivem em suspensão nos sistemas aquáticos.
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