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Centro Universitário de Caratinga - UNEC
Programa de Pós-Graduação Meio Ambiente e Sustentabilidade
Mestrado Profissionalizante
ANÁLISE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO
EVANGELISTA-MG.
CELMA DE CÁSSIA ROCHA MELO
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Meio Ambiente e
Sustentabilidade para obtenção do Título
de Mestre.
Caratinga – Minas Gerais – Brasil
Setembro de 2006
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iii
CELMA DE CÁSSIA ROCHA MELO
ANÁLISE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO
EVANGELISTA-MG.
Dissertação apresentada ao Centro
Universitário de Caratinga, como parte
das exigências do Programa de Pós-
Graduação em Meio Ambiente e
Sustentabilidade para obtenção do
Título de Mestre.
Aprovada em: ___/___/___
___________________________________ ________________________________
Prof
a
Ph.D.Nora Presno Amodeo Profª. Ph.D.Pierina German Castelli
(Orientadora)
__________________________________ ________________________________
Prof: Ph.D. Jorge Luis Góes Pereira Prof. D. Sc. Gilberto Paixão Rosado
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iv
Aos meus pais, Henrique e Lia, e minha irmã Célia, que sempre me apoiaram e
são pessoas especiais que Deus colocou em minha vida.
Ao meu esposo Alair e minha filha Lara, que sempre me apoiaram, nos
momentos das conquistas e frustrações e, especialmente, durante as longas
ausências.
A todos aqueles que são privados de uma alimentação digna e que vivem a
espera silenciosa por uma realidade melhor.
v
“No final, vamos conservar apenas aquilo que amamos e amar apenas aquilo
que compreendemos”.
Baba Dioum (Ecologista Africano)
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, por acreditar que somente através da fé somos capazes de realizar
nossos objetivos.
À Profª. Drª. Nora e ao Prof°. Dr. Jorge pela atenção, pelos conhecimentos
compartilhados, pelo envolvimento no trabalho e pelo carinho dedicado a esta
dissertação.
Aos meus familiares que foram essenciais para que eu pudesse realizar este
trabalho.
Ao meu cunhado Aurélio e minha irmã Célia que muito me auxiliaram na
realização da pesquisa.
Aos amigos de estrada, Edmar, Nildimar e Sidilene que mais do que
companheiros, foram amigos durante esta jornada.
À direção da Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG por ter
contribuído para que eu pudesse concretizar este sonho.
A todos servidores e alunos da EAFSJE pelos momentos de colaboração.
À Prefeitura Municipal de São João Evangelista, à Secretaria Municipal de
Educação e à Direção e funcionários das escolas integrantes da pesquisa, pelo
consentimento à realização desta pesquisa.
A Secretária de Educação D. Nilza e ao Técnico Aderli que foram
imprescindíveis para a realização desta pesquisa.
A aluna Elizabeth de Souza pela colaboração durante o trabalho de campo.
Aos alunos das escolas municipais, pelo carinho e amor demonstrado durante
a pesquisa.
vii
As minhas colegas professoras do curso Técnico em Alimentação pelo apoio e
estímulo no decorrer da pesquisa.
Em especial, a todos os produtores rurais que tão gentilmente participaram das
entrevistas e por quem eu tenho grande admiração.
A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização
deste trabalho.
viii
BIOGRAFIA
Celma de Cássia Rocha Melo, filha de Henrique Moreira da Rocha e
Maria Terezinha da Conceição Rocha, nasceu em Belo Horizonte – Minas
Gerais, em 07 de janeiro de 1970.
Formou-se em Técnico em Economia Doméstica e Magistério em 1987.
Graduada em Economia Doméstica pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro no ano de 1991.
Especializou-se em Nutrição Humana e Saúde pela Universidade Federal
de Lavras e em Didática de Ensino pela Faculdade Clarentianas em São
Paulo.
Em 1992 foi aprovada em concurso público e leciona na Escola
Agrotécnica Federal de São João Evangelista no Curso Técnico em
Alimentação.
Além de lecionar, desenvolve projetos de pesquisa e extensão para a
comunidade e atua como instrutora do SENAR-MG.
Em 2004, ingressou no Programa de Mestrado Profissionalizante em
Meio Ambiente na UNEC, submetendo-se a defesa da dissertação em
setembro de 2006.
ix
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Preferência dos alunos em relação aos alimentos servidos nas
escolas .......................................................................................42
TABELA 2 – Nível de preferência por determinados alimentos na EMPAP..... 48
TABELA 3 – Preferências por determinados tipos de alimentos que os
alunos gostariam que fossem servidos na EAMC ......................50
TABELA 4 - Preferências por determinados tipos de alimentos que os
alunos gostariam que fossem servidos na EJG..........................52
TABELA 5 – Distribuição das famílias entre escolas de acordo com a renda
familiar........................................................................................53
TABELA 6 – Principais produtos e quantidades produzidas no município....... 66
TABELA 7 – Principais produtos agrossilvopastoris e respectivas produções
do município ...............................................................................66
TABELA 8 – Relação das produções dos produtores entrevistados................ 69
x
LISTA DE FIGURAS E MAPAS
FIGURA 1- Localização de São João Evangelista-MG.................................... 36
FIGURA 2 - Distribuição dos alunos entrevistados por série e sexo................ 41
FIGURA 3 – Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EMPAP............... 44
FIGURA 4 - Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EMAMC............... 44
FIGURA 5 - Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EJG ..................... 45
FIGURA 6 – Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EMPAP. ......... 46
FIGURA 7 – Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EMAMC.......... 46
FIGURA 8 - Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EJG................. 47
FIGURA 9 – Avaliação da importância da alimentação para os alunos –
EMPAP.......................................................................................54
FIGURA 10 - Avaliação da importância da alimentação para os alunos –
EMAMC ......................................................................................56
FIGURA 11 - Avaliação da importância da alimentação para os alunos – EJG58
FIGURA 12 – Avaliação da importância da pesquisa pelos servidores. .......... 65
xi
LISTA DE ABREVIATURAS, NOMENCLATURAS E SÍMBOLOS
APIS: Associação de Apicultores de São João Evangelista
APPCC: Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle
CAE: Conselho de Alimentação Escolar
CEASA-BH: Central de Abastecimento de Belo Horizonte
CNAE: Comissão Nacional de Alimentos
CME: Campanha Nacional de Merenda Escolar
EAFSJE-MG: Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista de Minas
Gerais
EAMC: Escola Antônio Medina Cardoso
ECO-92: Conferência sobre Meio Ambiente ocorrida no Rio de Janeiro em
1992
EJG: Escola José Guimarães
EMATER-MG: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas
Gerais
EMPAP: Escola Municipal Prefeito Alberto Pimenta
FAE: Fundação de Assistência ao Estudante
FAO : Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
FNDE : Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
INAN: Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição
xii
IPH: Índice de Pobreza Humana
MEC: Ministério da Educação
MDS: Movimento de Desenvolvimento Sustentável
ONU: Organização das Nações Unidas
Paal :Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar
PAE: Programa de Alimentação Escolar
PIB: Produto Interno Bruto
PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar
SBAN: Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAR-MG: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais
SIM: Serviço de Inspeção Municipal
UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância
xiii
RESUMO
MELO, Celma de Cássia Rocha. M.S. Centro Universitário de Caratinga-MG,
setembro de 2006. ANÁLISE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DO MUNICÍPIO
DE SÃO JOÃO EVANGELISTA-MG. Professora Orientadora: Prof
a
Ph.D. Nora
Presno Amodeo, Co-orientador: Prof: Ph. D. Jorge Luis Góes Pereira
A pesquisa foi realizada nas Escolas Municipais de São João Evangelista,
tendo por objetivo analisar o Programa de Alimentação Escolar, observando se
o cardápio é regionalizado e se oferece mercado para o pequeno produtor
rural, numa proposta de sustentabilidade. Esta pesquisa é do tipo descritiva,
exploratória com abordagem qualitativa e quantitativa. A amostra investigada
constituiu-se por sorteio. Foram levantados os dados através da observação
participante, questionários e entrevistas. Os dados revelaram uma gestão
participativa em que as crianças avaliaram positivamente a merenda, os
funcionários reconheceram a importância de uma alimentação que preconize
hábitos saudáveis e regionalizados, além de contemplar a diversidade de
alimentos regionais existentes, podendo contribuir para a melhoria da
qualidade de vida das crianças e jovens escolares. Quanto à possibilidade de
inserção do pequeno produtor rural no mercado da merenda escolar,
constatou-se que existe grande possibilidade, uma vez que as ações poderão
ocorrer dentro dos aspectos legais do sistema de compras e dentro de uma
política de desenvolvimento local. Conclui-se que uma proposta que articule o
desenvolvimento local, com a participação do Programa de Alimentação
xiv
Escolar, é perfeitamente viável dentro do município de São João Evangelista –
Minas Gerais.
Palavras chaves: Alimentação Escolar, Sustentabilidade, Segurança
Alimentar.
xv
ABSTRACT
MELO, Celma de Cássia Rocha, MSc. University Center of Caratinga-MG,
September 2006. ANALYSIS OF THE SCHOOL ALIMENTATION OF THE
MUNICIPAL DISTRICT OF SÃO JOÃO EVANGELISTA-MG. Adviser: Prof
a
Ph.D. Nora Presno Amodeo,: Comittee Member: Prof: Ph. D. Jorge Luis Góes
Pereira
The research was accomplished at Municipal Schools of São João
Evangelista, having for objective analyze the Program of School Alimentation,
observing if the menu is regionalizing and offers market for the small rural
producer, in a sustenable proposal. This research belongs to the descriptive,
exploratory kind with qualitative and quantitative approach. The investigated
sample it constituted for draw. They were lifted the data through the
participating observation, questionnaires and interviews. The data revealed an
administration active participation in which the children evaluated positively the
snack, the employees recognized the importance of an alimentation that praises
healthy habits and regionalizing, besides contemplating the diversity of existing
regional food, could contribute for the improvement of life quality of the children
and school young people. regarding the insert possibility of the small rural
producer in the market of the school snack, it verified that there is great
possibility, once that the actions will be able to occur inside the legal aspects of
the purchases system and inside a policy of local development. It concludes
that the proposal of local development, with the participation of the Program of
xvi
School Alimentation is perfectly viable inside the municipal district of São João
Evangelista - Minas Gerais .
Key Words: School Alimentation, Sustenable, Security Feed.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS......................................................................................... ix
LISTA DE FIGURAS E MAPAS ......................................................................... x
LISTA DE ABREVIATURAS, NOMENCLATURAS E SÍMBOLOS.................... xi
RESUMO .........................................................................................................xiii
ABSTRACT...................................................................................................... xv
INTRODUÇÃO...................................................................................................1
Origem do Trabalho.......................................................................................................1
Objetivos..........................................................................................................................2
Objetivo Geral.................................................................................................... 2
Objetivos Específicos......................................................................................... 2
Hipóteses.........................................................................................................................3
Justificativa e Importância do Trabalho......................................................................3
Metodologia de Trabalho..............................................................................................6
Considerações Sobre a Pesquisa de Campo .................................................. 10
CAPÍTULO I.....................................................................................................14
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................14
1.1 Evolução da Segurança Alimentar e Nutricional .......................................14
1.2 Programa Nacional de Alimentação Escolar...............................................18
1.3 Hábitos Alimentares.........................................................................................21
1.4 Desenvolvimento Rural Sustentável.............................................................29
1.5 O Município de São João Evangelista – MG...............................................35
CAPÍTULO II....................................................................................................40
RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................40
2.1 Percepção dos Alunos em Relação à Merenda Escolar...........................40
2.2 Cardápio escolar e sua importância: uma visão segundo as
cantineiras das escolas...................................................................................59
2.3 Percepção dos produtores rurais de São João Evangelista em
relação ao Programa de Alimentação Escolar............................................65
2.4 Percepção do programa de alimentação escolar pelos gestores do
Programa Municipal de Alimentação Escolar..............................................71
CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................74
RECOMENDAÇÕES DE TEMAS PARA PESQUISAS FUTURAS..................76
BIBLIOGRAFIA................................................................................................77
ANEXOS..........................................................................................................83
1
INTRODUÇÃO
Origem do Trabalho
A escolha do tema da pesquisa: análise do programa de alimentação
escolar do município de São João Evangelista surgiu da necessidade de obter
dados que pudessem apresentar a atual realidade da questão alimentar aliada
a uma preocupação com a sustentabilidade da localidade em questão. Devido
à minha formação de Economista Doméstica e a experiência em atividades de
extensão e pesquisa suscitou-me a preocupação com a alimentação escolar,
sendo sensibilizada a unir este estudo a uma discussão maior sobre a
implementação das políticas públicas e desenvolvimento sustentável,
conhecimentos estes adquiridos no mestrado em meio ambiente e
sustentabilidade. Acreditando que o mestrado profissionalizante deve estar
voltado para assuntos relevantes, a questão social desta discussão me chamou
a atenção.
Esta dissertação busca analisar o programa de alimentação escolar de
São João Evangelista, num contexto da política de descentralização
1
da
1
Até 1993, o gerenciamento do programa de alimentação escolar no Brasil era feito de forma centralizada
pelo Governo Federal, o qual comprava e distribuía os alimentos para as escolas de todo o país, mas a
partir de 1994 foi descentralizado e os estados e municípios passaram a administrar o programa
juntamente com o Governo Federal.
2
merenda escolar com estudo dos hábitos alimentares locais, visando a
melhoria da qualidade de vida das crianças e jovens envolvidos no programa.
Percebe-se que a partir de 1993, com a política de descentralização da
merenda escolar, a busca pela eficácia do programa escolar deve passar
necessariamente pelas potencialidades locais, buscando aproveitar os recursos
da região, ou seja, utilizando a produção local e os mecanismos existentes de
abastecimento e de distribuição de alimentos, favorecendo a integração da
população atendida. Portanto, esse trabalho visa também analisar o programa
mencionado sob esse prisma.
Objetivos
Objetivo Geral
Analisar o programa de alimentação escolar do município de São João
Evangelista-MG, visando avaliar sua potencialidade para melhorar a qualidade
de vida das crianças e jovens envolvidos no programa, e propor ações que
possam contribuir para seu aprimoramento, assim como promover o
desenvolvimento rural sustentável do município.
Objetivos Específicos
Coletar e analisar dados sobre a gestão da alimentação escolar
do Município de São João Evangelista-MG.
Avaliar a apreciação da alimentação escolar por todas as
pessoas envolvidas no programa.
Propor projetos e ações visando uma alimentação saudável e
regionalizada, com o estudo dos hábitos alimentares locais
existentes, num contexto de educação ambiental.
Propor projetos e ações de desenvolvimentos rurais,
relacionados ao programa de alimentação escolar, apoiando a
produção e a ampliação do mercado aos agricultores familiares.
3
Hipóteses
A pesquisa pretende testar a hipótese de que apesar do programa de
alimentação escolar municipal atender as exigências legais relacionadas ao
cardápio escolar, o mesmo não contempla a riqueza de alimentos regionais da
localidade, desfavorecendo a comercialização dos produtos da merenda pelos
pequenos produtores do município.
Justificativa e Importância do Trabalho
A pobreza e a miséria resultam da ação conjunta de fatores ecológicos,
econômicos, políticos e socioculturais que conduzem à subalimentação e à
desnutrição, que vem acontecendo principalmente com crianças da população
de baixa renda. Segundo Angelis (1999) e Sgarbieri (1987), a desnutrição por
má nutrição proteico-energético é o maior flagelo nutricional do mundo e tem
influência considerável na mortalidade de crianças brasileiras.
A nutrição e a saúde de indivíduos de algumas localidades são
influenciadas pelos sistemas agrícola e econômico, pela segurança alimentar e
principalmente pela eficácia da gestão dos órgãos públicos. Atualmente no
Brasil, grande parte da população possui uma renda insuficiente para satisfazer
as necessidades básicas de sobrevivência, que exige, urgentemente, políticas
públicas que possam suprir estas carências. Segundo estudo do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF 2004), mais de 27 milhões de crianças
brasileiras vivem abaixo da linha de pobreza no Brasil, e têm três vezes mais
possibilidades de morrer antes dos cinco anos por problemas relativos à fome.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO 2004)
relata que além da morte, a desnutrição crônica também provoca diminuição da
visão, apatia, atrofia do crescimento e aumenta consideravelmente a
susceptibilidade às doenças.
Ao mesmo tempo, o acesso a uma alimentação equilibrada e segura
torna-se uma meta nos países em desenvolvimento, pois se faz necessário
4
mudar o cenário de fome e criar alternativas para superar esta barreira, visto
que a alimentação é essencial para a qualidade de vida de uma sociedade.
Neste cenário brasileiro surgem iniciativas governamentais no sentido de
suprir as necessidades nutricionais das crianças escolares, sendo reconhecida
a importância dessa fase da vida no desenvolvimento futuro. Compreende-se
que na fase escolar, com o aspecto nutricional da alimentação escolar, e a
socialização que as refeições oferecem, as crianças passam a conhecer
alimentos novos e a adquirir hábitos alimentares saudáveis. Anderson entende
que:
As contribuições nutricionais do almoço escolar são muito
importantes para as crianças que não recebem alimentos adequados
em casa. Entretanto, todas podem compartilhar os aspectos sociais
da alimentação em grupo, e isso, por si só, pode ser bastante
estimulante para que a criança experimente um alimento
desconhecido ou beba seu leite, porque as crianças o fazem
(Anderson et.al, 1988, p.303).
A fase do pré-escolar caracteriza-se como uma fase de transição
alimentar em que ocorre o abandono gradativo das mamadeiras, maior
preferência a alimentos sólidos e variados, sendo essa uma fase da vida da
criança particularmente vulnerável à desnutrição e deficiências nutricionais, que
poderão prejudicar seu crescimento e desenvolvimento adequado. Conforme
Burton (1979).
“As necessidades nutricionais de crianças e adolescentes são únicas,
exigindo especial atenção. Em termos de nutrição, esse período
introduz não apenas necessidades muito aumentadas de nutrientes
para atender ao crescimento físico, mas também uma reviravolta nos
hábitos alimentares da criança para as concepções do adulto naquilo
que constitui uma escolha adulta de alimentos”. (Burton, 1979, p.
228).
Durante este século, muitos estudos demonstraram a importância de uma
dieta adequada para a saúde, no entanto, ainda hoje se pode observar os
efeitos da alimentação inadequada no crescimento de crianças e jovens
durante o período escolar. Com o propósito de mudar este quadro, surge o
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); Programa que vem
reforçar medidas, no sentido de oferecer uma alimentação adequada, no
período crucial de formação de hábitos alimentares, fase escolar, onde todo o
5
desenvolvimento social, emocional e psicológico está em formação.
2
Tal como
entende Kathleen(1994),
Embora o crescimento físico possa ser menos notado e mais
equilibrado que durante o primeiro ano de vida, é no período da pré-
escola até metade dos anos escolares onde há crescimento
significativo nas áreas social, emocional e cognitiva (Kathleen, 1994,
p. 228).
Com a descentralização do PAE (Programa de Alimentação Escolar) a
gestão municipal passa a ter um caráter participativo muito importante, pois,
podem-se desenvolver projetos com a comunidade no sentido de valorização
dos recursos existentes e de elaboração de um cardápio regionalizado. Cabe a
rede escolar a garantia de complementação alimentar das crianças, uma vez
que, já foi constatado que a maioria das crianças matriculadas nas escolas
públicas vem de famílias de baixa renda. Segundo Cunha (1980), nas regiões
mais carentes, a merenda escolar atinge um significado social bem maior à
medida que, na maioria das vezes, transforma-se na única refeição adequada
com a qual a criança carente pode contar; necessitando, no entanto de
nutrientes que possam contribuir para os plenos desenvolvimentos físicos,
sociais e mentais.
Esta política governamental poderia acarretar efeitos positivos para o
município de São João Evangelista, uma vez que, o sistema produtivo é
favorável pela diversidade de cultivos de produtos agrícolas aliada à criação de
gado bovino e suíno. Essa atividade agrária, que é exercida por pequenos
produtores familiares, poderia estar abastecendo a merenda escolar,
possibilitando a melhoria da qualidade de vida e promovendo um cardápio
regionalizado, em que os hábitos alimentares sejam respeitados e a
alimentação seja adequada nutricionalmente.
O apoio à produção ambientalmente adequada e a ampliação dos
mercados para a produção da agricultura familiar contribuirão certamente para
o desenvolvimento sustentável
3
da região em estudo.
2
O PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) é coordenado pelo Ministério da Educação, por
intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, foi criado para atender alunos da
educação pré-escolar e/ou ensino fundamental matriculados em escolas públicas através da resolução
número 015, 25/08/00.
6
Dentro da política municipal de São João Evangelista, um dos problemas
que têm sido observados é referente à falta de articulação do sistema de
compras da merenda com a produção local, pois os alimentos contidos no
cardápio são comprados em supermercados, onde os produtos geralmente são
oriundos de outras regiões do país. Também, não existem políticas municipais
que estimulem os pequenos produtores locais, nem se promovem ações que
incentivem a formação de cooperativas e /ou impulsionem as associações
existentes. Sabe-se que as associações e cooperativas devem surgir da
necessidade da comunidade, mas se não houver uma sensibilização para a
questão e uma vontade do grupo em participar haverá certamente um fracasso.
Portanto, torna-se evidente a proposta deste trabalho, que é a de apresentar
como se encontra a gestão
4
do programa de alimentação escolar do município
de São João Evangelista-MG e propor ações que venham contribuir para a
melhoria da qualidade de vida das crianças envolvidas no programa, articulada
a uma política de desenvolvimento rural sustentável.
Metodologia de Trabalho
Neste trabalho será utilizado o método de pesquisa de observação
participante Também foram utilizados outros métodos de coleta de dados:
observação direta, aplicação de questionários entrevistas semi-estruturadas,
além de utilizar documentos diversos e fontes de pesquisa bibliográfica.
A informação participante é um método usado para testar uma hipótese
previamente definida, onde a coleta de dados requer participação junto aos
atores, estudando as situações rotineiras. A observação participante parte do
pressuposto de que o ambiente exerce grande influência sobre a pesquisa e o
pesquisador interage com sujeitos no contexto natural, realizando a coleta de
3
Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa levar em consideração fatores sociais, ecológicos,
assim como econômicos; as bases dos recursos vivos; as vantagens e desvantagens das ações,
alternativas a longo e curto prazo. Desenvolver em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, ou
seja, sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de
acordo com as suas necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência).
(Stake, 1991, p.9).
4
Segundo Maximiano (1997), gestão é o processo de tomar e colocar em prática decisão sobre a eficácia
(realização de objetivos) e a eficiência (utilização racional de recursos) das empresas.
7
dados. A observação participante pesquisa os sujeitos dentro de seu próprio
ambiente, mas tem como viés o fato dos pesquisados saberem que estão
sendo observados. O pesquisador realiza anotações em forma de diário
codificado, separando fatos e impressões.
Gil (1999) conceitua a observação participante como:
“Método em que o observador participa da vida diária das pessoas
em estudo, tanto abertamente no papel de pesquisador, como
assumindo papéis disfarçados, observando fatos que acontecem,
escutando o que é dito e questionando as pessoas ao longo de um
período de tempo”.(Gil, 1999, p.31).
Esta metodologia oferece assim uma grande diversidade de alternativas
ao pesquisador. Becker (1997) descreve as operações analíticas básicas
realizadas na observação participante como três estágios da análise de campo:
a seleção e definição de problemas, conceitos e índices; o controle sobre a
freqüência e a distribuição de fenômenos; e a incorporação de descobertas
individuais num modelo de organização de estudo. Sendo que o quarto estágio
de análise final envolve problemas de apresentação de evidências e provas.
Alguns fatores devem ser observados na observação participante: a
credibilidade dos informantes, as declarações dirigidas ou espontâneas e a
equação grupo-informante-observador. O pesquisador deve analisar tais
situações, tomando os devidos cuidados para que sua maneira de observar,
não afete esses comportamentos, interferindo assim no resultado da pesquisa.
A coleta de dados ocorreu também através da aplicação de questionários
ou de entrevistas padronizadas (compostas por perguntas com alternativas
fixas ou fechadas) e por entrevistas abertas (compostas por perguntas que
deixaram a pessoa responder livremente), permitindo a exploração do processo
de forma espontânea.
A entrevista é uma técnica que facilita a exploração de áreas a serem
compreendidas naturalmente, pelo seu caráter flexível.
“Num questionário, a informação obtida pelo pesquisador limita-se às
respostas escritas a questões pré-determinadas. Já numa entrevista,
como o entrevistador e a pessoa entrevistada estão presentes no
momento em que as perguntas são apresentadas e respondidas;
existe oportunidade para maior flexibilidade na obtenção das
informações”.
(Slltiz et al, 1971,p. 45).
8
Nesta dissertação as perguntas abertas foram necessárias, uma vez que,
a pesquisa foi explorada em todo o processo. Nogueira (1964) relata que se
deve sempre recorrer à entrevista, quando se tem necessidade de dados que
não possam ser encontrados em registros ou fontes documentárias e que se
espera que alguém esteja em condições de prover.
A entrevista consiste em uma técnica envolvendo duas pessoas numa
situação “face a face”, numa forma de diálogo assimétrico, em que uma das
partes, busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação
(Gil, 1999).
Foi abordada de forma qualitativa na qual Silva e Menezes (2001)
consideram que existe “[...] uma relação dinâmica entre o mundo real e o
sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade
do sujeito que não pode ser traduzido em números”.
De acordo com Gil (1999, p.117), por meio da entrevista obtém-se:
“informações acerca do que as pessoas crêem, esperam, sentem ou desejam,
pretendem fazer, fazem ou fizeram”. Dentre os vários tipos de entrevistas há a
parcialmente estruturada que, segundo o autor, é guiada por uma relação de
pontos de interesse que o entrevistado vai explorando ao longo de seu curso.
Quanto aos meios de investigação, esta pesquisa também inclui uma
revisão bibliográfica, incorporando uma revisão de literatura sobre o tema,
subsidiando teoricamente a entrevista com a população e análise dos dados e
pesquisa de campo.
No presente estudo a amostra foi definida aleatoriamente, sendo
sorteadas três escolas dentre as dez escolas municipais existentes. As escolas
sorteadas foram: Escola Municipal José Guimarães (meio urbano), Escola
Municipal Prefeito Alberto Pimenta (meio urbano) e Escola Municipal Antônio
Medina Cardoso (meio rural).
Foram aplicados 100 questionários para as crianças de cada escola, na
faixa etária de 7 a 12 anos, totalizando 300 questionários num universo de 978
crianças, a amostra significou 30% do universo, número superior à amostra
mínima necessária, para minimizar a margem de erro, devido que se trata de
respostas de crianças. Os questionários aplicados foram constituídos de
9
questões estruturadas e semi-estruturadas, dando maior liberdade para as
crianças responderem as questões. Algumas entrevistas foram feitas quando a
pesquisadora percebeu a necessidade de alguma explicação relacionada ao
questionário. Foram inquiridos sobre sua percepção em relação à merenda e
sobre seus hábitos alimentares: se participam da merenda da escola e por quê,
se estão satisfeitos com a merenda, quais os alimentos que mais gostam e os
que menos gostam e por quê, se gostariam de acrescentar algum alimento na
merenda e qual a importância da merenda no dia-a-dia.
Já no segmento dos responsáveis pela gestão da alimentação escolar:
Prefeito, Secretária da Educação, Secretário da Agricultura, Técnico em
Economia Doméstica (responsável pela merenda), Diretoras das Escolas,
Conselho de Alimentação Escolar e Merendeiras, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas a respeito de itens referentes do cardápio, hábitos
alimentares dos alunos, variedade e freqüência dos alimentos do cardápio,
equipamentos existentes nas cantinas, abastecimento e aquisição de
mercadorias, treinamento para os manipuladores de alimentos e projetos de
alimentação desenvolvidos pela escola. Opinaram ainda, a respeito dos
aspectos positivos e negativos do Programa de Alimentação Escolar (PAE).
Observou-se a distribuição da merenda aos alunos nas três escolas
pesquisadas, a preparação da merenda, o espaço da cantina escolar e
recursos físicos e equipamentos existentes, o comportamento das crianças
durante a merenda, a participação das crianças em projetos pedagógicos
envolvendo a alimentação e o relacionamento entre as crianças e as
merendeiras das escolas; as visitas às escolas ocorreram sem aviso prévio,
não havendo nenhuma alteração da rotina normal em razão desta pesquisa.
Quanto à ampliação do mercado para os pequenos produtores na
comercialização de produtos da merenda, foram entrevistados alguns
produtores, o responsável pela Secretaria da Agricultura Municipal, para obter
informações sobre capacidade produtiva, forma de produção, conhecimento do
programa de merenda escolar municipal, interesse em comercialização para o
programa e projetos para melhoria da qualidade de vida. Ainda, foram
observadas suas propriedades (espaço físico, equipamentos, etc.), alimentos
produzidos, existência de assistência técnica e potencial de abastecimento
10
para a merenda escolar, incluindo as organizações existentes. Foram
entrevistados alguns pequenos produtores rurais e foram perguntados a
respeito de suas necessidades, realidade, anseios para melhoria da qualidade
de vida e possibilidades de inserção no mercado da merenda escolar. No
tratamento dos dados foram usadas técnicas estatísticas e percentuais das
variáveis mensuráveis do questionário. Foram feitos registros fotográficos de
algumas cenas da observação participante, os quais irão retratar o cotidiano e
a realidade dos envolvidos na pesquisa.
Os questionários e roteiros de entrevistas com os diferentes atores sociais
encontram-se ao final deste trabalho, no anexo. Neste estudo, o uso de fontes
secundárias de dados: documentos institucionais, dados do IBGE, bibliografias
e artigos combinados com fontes primárias de questionários e entrevistas,
possibilitou apreender o desenho do Programa de Alimentação Escolar
Municipal, identificando suas estratégias e sua gestão.
Considerações Sobre a Pesquisa de Campo
Ao se realizar uma pesquisa de campo, é necessário revelar as condições
em que esta se desenvolveu para que os limites do trabalho se estabeleçam.
A pesquisa de campo aconteceu entre os meses de maio de 2005 e
março de 2006, em período escolar, acontecendo em 2005 uma vez por
semana e mais freqüentemente em 2006. Houve restrições nas regularidades
das visitas, uma vez que, foram respeitados os momentos possíveis e
autorizados pela Secretaria de Educação do Município.
Ao iniciar a pesquisa, em maio de 2005, as primeiras entrevistas foram
com os responsáveis diretos pela merenda: a Secretária da Educação
Municipal e com o técnico responsável pela merenda.
No mês de setembro pude acompanhar a entrega de alimentos da
merenda para as dez escolas municipais. Fotografei as escolas, participei da
distribuição da merenda e visitei os arredores das escolas onde haviam
algumas hortas plantadas.
11
Observei que na escola rural antes da merenda, ao iniciar as aulas, é
servido leite com achocolatado para todas as crianças. Este procedimento
ocorre devido à necessidade de reforçar a dieta alimentar das crianças para
que as mesmas possam aguardar o momento do recreio, pois na maioria das
casas não é servido um café da manhã ou lanche para que a criança possa
aguardar o momento da merenda na escola. Muitas crianças percorrem longa
distância para chegarem à escola e o leite servido funciona como um reforço
alimentar. A rotina alimentar diária das crianças é a seguinte: café puro, almoço
(arroz, feijão e verdura), frutas de época, sopa de macarrão com legumes no
jantar. Esta dieta apresentada é resultado da observação em algumas casas de
crianças pertencentes às escolas pesquisadas.
A princípio, as conversas informais com as cantineiras e diretoras das
escolas foram realizadas com cautela, pois o viés da entrevista era o receio
quanto à intenção da pesquisa, uma vez que, algumas delas são contratadas.
As entrevistas com as crianças e as cantineiras aconteceram nos meses
de setembro e outubro de 2005; juntamente com as entrevistas foi passado um
questionário para 300 (trezentas) crianças pesquisadas da amostra e para
doze cantineiras das escolas sorteadas. Entre as cantineiras entrevistadas, três
não quiseram responder algumas perguntas do questionário.
No mês de fevereiro de 2006 realizaram-se as entrevistas com quinze
produtores rurais em dias e horários estabelecidos e de acordo com a
disponibilidade dos mesmos.
Existiram inibições por parte de cinco entrevistados, quando perguntados
em grupo ou em presença de estranhos, então passei a marcar horários
individuais para melhor andamento da pesquisa.
Em relação às observações feitas sobre a alimentação servida no dia-a-
dia das famílias das crianças foram registrados os seguintes alimentos: arroz
simples, abobrinha, salada de alface, almeirão refogado, cenoura crua ou
refogada couve refogada, molho de tomate, salada de pepino, chuchu
refogado, cará cozido, sopa de inhame, repolho, angu, frango com quiabo,
canjiquinha com costelinha, arroz com galinha ou “galinhada”, feijão batido ou
inteiro, feijão tropeiro, banana verde frita, sopa de banana verde, mandioca frita
12
ou cozida, carne cozida, macarrão com molho de carne moída, sopa de
macarrão com legumes e carne, almôndegas, batata frita, bife, farofa de
cenoura, ovos fritos, etc. Os alimentos são servidos acompanhados com sucos
naturais de frutas dos próprios quintais, tais como: acerola, laranja, limão,
mamão, abacate, manga, maracujá, abacaxi e amora. Em relação às
sobremesas mais apreciadas podemos citar: doces cristalizados e em calda, de
mamão, laranja, abóbora e figo, doce de leite, pudins, bolo de mandioca, arroz
doce, pé-de-moleque, goiabada e etc.
Quanto aos eventos sociais e manifestações culturais em São João
Evangelista, pude observar e participar de festas religiosas, onde após a missa,
havia “barraquinhas” com leilões e vendas de pratos típicos, tais como: leitoa
assada, galinhada com arroz, canjica grossa, costela com canjiquinha, banana
verde frita, torresmo com mandioca, frango com quiabo e angu, etc.
Em eventos festivos das comunidades, geralmente comemorados em dias
de domingo, o cardápio era composto por churrasco e galinha com arroz ou
galinhada.
Em junho, comemora-se a festa junina, envolvendo danças (tradicional
quadrilha), comidas típicas (canjica, pipoca, pé-de-moleque) e bebidas quentes
(quentão e vinho). Embora muitos não participem da quadrilha nesta época, é
tradição servir um prato típico nas residências durante a sobremesa, tais como:
pé-de-moleque, canjica e paçoca.
Durante a Semana Santa pude observar que alguns estudantes católicos
não comem carne e procuram alimentar-se de peixes (pescados na própria
região ou comprados em supermercados), no sábado tem como ritual a
confecção da “paçoca” (alimento feito à base de amendoim e farinha). Embora
estas preparações não estejam presentes no cardápio escolar, algumas
escolas rurais servem alguns pratos típicos, tais como: canjica grossa com
amendoim e paçoca.
Apesar das considerações apresentadas acima sobre o cardápio presente
em algumas casas do meio rural e residências localizadas em bairros mais
carentes a alimentação do dia-a-dia é precária, tendo como base apenas o
13
arroz e o feijão. Muitas crianças freqüentam a escola para merendar, pois em
casa passam fome.
Estas informações foram obtidas através da observação participante, uma
vez que durante as entrevistas não foram citados essas informações referentes
à cultura local, nem mesmo, quaisquer alterações nos cardápios. As relações
estabelecidas ocorreram de forma mais natural possível, uma vez que, as
crianças e os agricultores são pessoas simples, espontâneas e sinceras.
Quando não queriam responder alguma pergunta, apenas não falavam.
Geralmente apresentaram grande interesse pela pesquisa, sendo
demonstrados através de relatos emocionados e transparentes.
14
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Evolução da Segurança Alimentar e Nutricional
Conforme Montana (2003), o conceito de segurança alimentar teve sua
origem na Europa a partir da I Guerra Mundial, assumindo uma conotação de
segurança nacional, no sentido de que os países deveriam garantir-se na
formação de estoques de alimentos; nessa perspectiva estabeleceu-se uma
vinculação da questão alimentar a capacidade de produção.
No entanto, o conceito limitava-se a perspectiva de produção de
alimentos, tomando outros rumos ao longo da história. O enfoque da segurança
alimentar, nesse período, estava ligado mais à disponibilidade segura e
adequada do alimento e menos ao direito humano a esse alimento. O conceito
de segurança alimentar foi modificando-se quando se observou que a produção
de alimentos não assegurava o mesmo acesso para a população nas suas
diferentes camadas sociais. A distribuição de renda, as diferenças regionais e
as políticas públicas voltadas para as questões alimentares proporcionaram um
repensar no cenário mundial.Segundo Maluf (2000),
15
“Pelo menos desde o fim da década de 1970 os diagnósticos
passaram a apontar para os problemas de acesso aos alimentos
como sendo a principal condicionante da segurança alimentar dos
países e das famílias, ganhando proeminência os elementos
determinantes do nível de renda familiar urbana e rural e o tratamento
do fenômeno da pobreza”.(Maluf, 2000, p.42).
O repensar nas desigualdades sociais do país fez com que a Política de
Segurança Alimentar se solidificasse no Brasil, uma vez que o nível de renda
era um elemento determinante da pobreza.
Segundo Galeazzi (1998) amplia-se então, o conceito de segurança
alimentar:
“A garantia da alimentação para a família depende do acesso aos
alimentos - financeiros, físicos, sociais - entendidos como condição
distinta da disponibilidade dos alimentos. Contudo, a Segurança
Nutricional não está garantida pelo acesso aos alimentos. Os
problemas de saúde relativos à má nutrição quando se analisa a
inadequação por falta ou pelo excesso de nutrientes são indicadores
de segurança”.(Galeazzi, 1998, p.37).
Portanto, a questão crucial da segurança alimentar deixa de ser
essencialmente a capacidade de acesso aos alimentos por parte dos povos e
passam a ser analisadas a questão referente à qualidade e sanidade dos
alimentos; isto é, a preferência por alimentos com qualidades nutricionais. Num
conceito mais amplo, envolvendo aspectos políticos, sociais, econômicos e
culturais, Maluf (2000) afirma:
“Segurança Alimentar e Nutricional é a garantia do direito de todos ao
acesso a alimentos de qualidade, em quantidades suficientes e de
modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e
respeitando as características culturais de cada povo, manifestadas
no ato de se alimentar. Esta condição não pode comprometer o
acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o sistema
alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis. É de
responsabilidade dos estados nacionais assegurarem este direito e
devem fazê-lo em obrigatória articulação com a sociedade civil,
dentro das formas possíveis para exercê-lo”.(Maluf, 2000, p.26)
Refletindo a respeito desta conceituação, para garantir o acesso aos
alimentos saudáveis será necessário o fortalecimento desde a estrutura do
sistema alimentar (atividades ligadas à produção, distribuição e consumo de
alimentos) à conscientização do consumidor sobre a importância de uma
política nacional de segurança alimentar. Assegurar uma produção alimentar
de forma sustentável requer profundas mudanças em toda a estrutura
16
organizacional do país. Conforme Pessanha (2004), a segurança alimentar é
tema de amplo debate sobre os objetivos prioritários ao planejamento e
construção das políticas públicas no Brasil.
Foram criados programas de segurança alimentar com o fim de enfrentar
as carências nutricionais, buscando qualidade de alimentos e tornando os
hábitos alimentares mais saudáveis. No entanto, esta finalidade definiria o
encaminhamento político dos programas atuais, mas geralmente este objetivo
fica apenas restrito em conceitos teóricos que possuem pouca aplicabilidade
em nosso cotidiano; não sendo realizadas ações concretas neste sentido.
Em 2006, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) traçou
perfil inédito sobre Segurança Alimentar no Brasil e apresenta os seguintes
dados: em 65,2% dos 51,8 milhões de domicílios particulares brasileiros havia
segurança alimentar. Dentre os 18 milhões com insegurança alimentar, 3,4
milhões foram classificados em situação de insegurança alimentar grave e 1,6
milhão destes domicílios estavam no Nordeste. Das 14 milhões de pessoas
que viviam em domicílios com insegurança alimentar grave, perto de 6 milhões
moravam naqueles com rendimento mensal domiciliar per capita que não
ultrapassava R$ 65 por pessoa. Em todas as regiões, a prevalência de
insegurança alimentar foi maior nos domicílios com pessoas de menos de 18
anos de idade. Estes dados apresentam uma realidade que necessita
urgentemente de medidas que possam modificá-la, uma vez que, em domicílios
com jovens e crianças com insegurança alimentar o índice foi alto e
preocupante.
Tais modelos internacionais, elaborados para políticas de países de
primeiro mundo são contraditórios em relação à realidade brasileira. Para
serem implantados estes padrões será necessário buscar políticas públicas
que determinem a condição alimentar e o bem-estar da população.
O grande desafio, portanto, consiste em propor ações públicas que
possam promover a garantia de alimentos saudáveis em paralelo com a
educação alimentar e à defesa dos direitos do consumidor. Alguns programas
têm sido implementados com a finalidade de buscar soluções para as questões
da fome e desnutrição; problemas esses que se agravam mais nas regiões
mais pobres do Brasil, onde as desigualdades sociais são mais intensas; mas
17
suas metas possuem geralmente caráter assistencialista, uma vez que não
geram mudanças satisfatórias no comportamento da população.
Constata-se, assim, que é bastante complexa a situação da alimentação e
nutrição no Brasil, país com características epidemiológicas e regionais
bastante heterogêneas, no qual coexistem problemas típicos de sociedades
subdesenvolvidas.
Sendo assim, faz-se necessário relembrar os direitos humanos referentes
à alimentação e nutrição, os quais compreendem responsabilidades do Estado,
da sociedade e do indivíduo. Conforme documento redigido na Declaração
sobre o Direito ao Desenvolvimento da ONU (1986),
“Todos os seres humanos são responsáveis pelo desenvolvimento,
individualmente e coletivamente, levando em conta a necessidade do
respeito integral dos seus direitos humanos e liberdades
fundamentais, bem como suas obrigações para com a comunidade,
que podem garantir a livre e completa realização do potencial
humano”.(ONU, 1986, p.10).
Nas três últimas décadas, a constatação dessas evidências converteu-se
em amplo consenso, e a segurança alimentar e nutricional passou a ser
considerado requisito básico para a afirmação plena do potencial de
desenvolvimento físico, mental e social de todo ser humano (Valente 1997).
Espera-se que novas posturas ocorram em relação a Segurança
Alimentar e Nutricional; uma vez que o consumidor deverá conscientizar-se da
necessidade de buscar alimentos saudáveis, produzidos de forma
ambientalmente correta e principalmente seguros para o consumo, contribuindo
para a saúde coletiva.
De acordo com Gouveia (1999),
Dessa forma, a escola torna-se um espaço onde é possível, por meio
de atividades incorporadas aos programas existentes, estimular o
consumo de alimentos com atestada qualidade nutricional, uma vez
que, é na infância que pode ser consolidada a prática alimentar,
freqüentemente mais difícil de ser modificada na idade adulta
(Gouveia, 1999, p.
247).
Apesar dessa conscientização ocorrer de forma lenta e gradual, devemos
estar atentos, pois, uma mudança de comportamento é um processo
18
educacional que precisa ser construído em bases sólidas, para que ocorra uma
melhoria realmente efetiva.
1.2 Programa Nacional de Alimentação Escolar
No Brasil, até a década de 50, não havia qualquer trabalho de
alimentação escolar na área governamental. Nos anos 30, as escolas deram
início ao atendimento aos alunos com alimentação e objetivos assistenciais,
através da arrecadação junto aos próprios estudantes, às empresas, à
comunidade, fornecendo alimentação aos alunos. Em algumas unidades o
atendimento era feito aos mais carentes, em outras a todos que iam à escola.
Em 1954, com o final da Guerra da Coréia e a supersafra americana,
houve uma quantidade de excedente da produção agrícola doada à UNICEF e
parte do alimento foi repassado ao Brasil, atendendo inicialmente a estudantes
carentes de alguns Estados (Ceará, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte) do
país. Devido às pressões políticas, o governo resolveu expandir os donativos
para os demais Estados, ofertando leite em pó, margarina e cápsulas de
vitamina A.
Surgiu assim o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
elaborado pela Comissão Nacional de Alimentos (CNAE), estimulado pela
Campanha de Merenda Escolar (CME) em 1955. A partir de 1983, ficou sob a
responsabilidade da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), na
atualidade chama-se Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), vinculado ao Ministério da Educação.
“Entende-se por alimentação escolar a refeição tomada no ambiente
da escola e que faz parte da alimentação diária do aluno, que deve
suprir as necessidades nutricionais dos estudantes, correspondente a
sua faixa etária e ao número de horas que ela permanece na escola,
portanto ao desgaste advindo das atividades desenvolvidas
(Governo do Estado de São Paulo, 1986).
Inicialmente, o objetivo era a suplementação alimentar e a melhoria das
condições nutricionais das crianças, diminuindo os índices de evasão e
repetência, gerando um melhor rendimento escolar.
19
Em 1972 foi criado o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN),
pela Lei Federal 5.829/72, com vistas ao estabelecimento de normas para a
Política de Alimentação e Nutrição, sendo elaborados vários programas de
alimentação, entre eles o Programa Nacional de Alimentação Escolar, com o
objetivo de suplementar a alimentação aos escolares do primeiro grau,
matriculados em escolas oficiais e filantrópicas, assim como aos pré-escolares,
com a proposta de oferecer uma refeição com valor nutricional equivalente a
15% e até 30% das recomendações nutricionais diárias, durante o ano letivo.
Outros objetivos, como os de melhorar os hábitos alimentares, as
condições nutricionais, a capacidade de aprendizagem, a redução dos índices
de repetência e evasão escolar, também fizeram parte do PNAE. O aspecto
assistencialista perdurou até 1988, visto que a verba que se destinava à
alimentação escolar provinha dos orçamentos da Educação.
Entre 1986 e 1989, o PNAE iniciou um projeto piloto de descentralização,
com cerca de 200 municípios conveniados diretamente com a FAE, tendo
como objetivo adequar os hábitos alimentares dos alunos, incorporando ao
cardápio dos escolares produtos provenientes do próprio município ou região.
Mais tarde, os problemas econômicos e políticos sobrepuseram à proposta de
implantar gradativamente a municipalização em todo país e o processo foi
interrompido, retornando sete anos depois. A FAE retornou com a
descentralização entre 1992 e 1994, inicialmente nos Estados e depois no
âmbito municipal, alterando consideravelmente o perfil da alimentação do
estudante.
Na operacionalização do programa federal de alimentação escolar
existem duas modalidades: a modalidade centralizada e a escolarizada. No
Brasil, até 1993 o gerenciamento do programa de alimentação escolar era feito
de forma centralizada pelo Governo Federal, o qual comprava e distribuía os
alimentos para as escolas de todo o país, mas a partir de 1994 foi
descentralizado e passou a ser administrado em conjunto pelos estados e
municípios.
De acordo com o Programa de Alimentação Escolar, os municípios que
possuem o sistema de operacionalização descentralizada possuem vários
benefícios tais como: garantia de alimentação com qualidade; compras de
20
alimentos em menores quantidades e, sem tantos intermediários, estímulo à
produção e comercialização local, promovendo o desenvolvimento de cada
localidade e respeito aos hábitos alimentares de cada região. Cabe então, a
Secretaria de Educação administrar o programa para todas as escolas de seu
município de forma legal e numa gestão participativa. No Brasil todos os
municípios devem ter um Conselho de Alimentação Escolar (CAE), formado por
representantes da comunidade escolar, os quais se reúnem para participar e
fiscalizar a gestão da alimentação escolar. Este órgão possui uma importância
fundamental no processo da merenda escolar, pois suas ações visam
assegurar o direito a uma alimentação adequada para todos os estudantes
envolvidos no programa e poderão propor melhorias na gestão do referido
programa.
É necessário compreender que a gestão do programa de alimentação
escolar envolve verbas específicas para aquisição dos alimentos da merenda,
outros gastos como o transporte, pagamentos de funcionários e despesas com
locais de abastecimento são de inteira responsabilidade da gestão da
secretaria de educação do município. São verbas independentes que não
serão abordadas nesta dissertação.
O repasse do Governo Federal é de R$ 0,18 por dia, por aluno para a
alimentação no ensino fundamental, sendo que o recurso total repassado ao
município de São João Evangelista no mês de novembro de 2005 foi de R$
4.560,00.
5
Segundo a lei n 8.913 de 12 de julho de 1994, que dispõe sobre a
municipalização da merenda escolar, o Programa é financiado pelo Governo
Federal e executado pelas entidades executoras que recebem diretamente os
recursos; caso estes recursos repassados pelo Fundo Nacional
Desenvolvimento Escolar (FNDE) não sejam suficientes, as próprias prefeituras
deverão complementá-los, conforme estabelecido pela lei federal.
O histórico do Programa Nacional de Alimentação Escolar é de suma
importância nesta pesquisa, uma vez que, um tema tão abrangente e complexo
5
Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Educação -SJE-MG.
21
merece uma abordagem considerável em relação às questões sociais, políticas
e econômica.
No Brasil, um país que apresenta características de desigualdade
econômica, social e regional, a administração da alimentação escolar
municipalizada só poderá surtir os efeitos desejados se houver fortalecimento
do poder local, descentralização não apenas das atribuições e competências,
mas também dos recursos, e uma sociedade organizada e participativa.
Conforme Conceição (1994),
“A merenda escolar tem, pois, uma característica de ambigüidade ou
ambivalência, sendo ao mesmo tempo vista como paliativo e como
direito. Por esta razão, não se consegue analisar de forma fechada o
programa de merenda escolar, buscando-se, ao contrário relacioná-lo
com a questão do Estado, dos direitos humanos e da criança, com os
princípios de transparência administrativa, probidade, racionalidade e
economia, com a estrutura tributária”.(Conceição, 1994, p.72)
Esta concepção reflete uma preocupação com a conscientização da
população em relação ao perfil da alimentação escolar para sua localidade,
suas potencialidades, seu comprometimento político.
1.3 Hábitos Alimentares
No Programa de alimentação escolar a elaboração do cardápio é um
ponto relevante a ser considerado, uma vez que o estudo da nutrição deverá
ser compreendido, para que o mesmo possa atender as reais necessidades
dos estudantes envolvidos. Este assunto merece uma reflexão juntamente com
a comunidade escolar, por oferecer subsídios que irão confirmar a importância
de um planejamento de cardápio adequado e dará suporte para a inserção da
agricultura familiar no programa alimentar.
Segundo a American Medical Association,
“Nutrição é a ciência do alimento, dos nutrientes e outras substâncias
afins, da atuação, interação e balanço em relação à saúde e à
enfermidade, e do processo através do qual o organismo ingere,
digere, absorve, transporta, utiliza e excreta as substâncias
alimentares”. (Anderson et al., 1988).
22
É pertinente elucidar-se os termos alimentação e nutrição, tendo-se em
vista que não são sinônimos e, muitas vezes trazem confusões ao
entendimento dos leitores e da população em geral. Proença comenta:
“O alimento é todo material que o organismo recebe para satisfazer
suas necessidades de manutenção, crescimento, trabalho e
restauração dos tecidos. A alimentação representa o processo
voluntário e consciente pelo qual o ser humano obtém produtos
alimentares para o seu consumo. A nutrição, por sua vez, é a ciência
que estuda o conjunto de processos por meio dos quais o organismo
vivo recolhe e transforma substancias sólidas e líquidas exteriores, de
que precisa para sua manutenção, desenvolvimento orgânico e
produção de energia” (Proença, 2002, p.32).
A nutrição deve estar relacionada com as implicações sociais,
econômicas, culturais e psicológicas estabelecidas pelo alimento e
alimentação, sendo um processo complexo que exige atenção. Entretanto, não
se pode afirmar que toda a população de baixa renda alimenta-se mal e que
todos os “ricos” alimentam-se bem. Isto não parece ser verdade, a julgar pelos
hábitos alimentares de camadas melhor situadas economicamente, as quais
não revelam freqüentemente uma alimentação nutricionalmente correta. A má
alimentação pode se dar tanto por falta quanto por excesso de alimentos,
podendo acarretar doenças carenciais e doenças da civilização
6
. Concordo
com Conceição (1994) quando coloca que,
“A educação nutricional não pode ser exclusividade de educadores e
nutricionistas, devendo envolver outros profissionais como o
agrônomo, o economista, psicólogos, sociólogos e antropólogos.
Pois, os hábitos alimentares estão diretamente relacionados aos
fatores emocionais e culturais, sendo importante buscar a
compreensão para o que determinado grupo social come, escolhe ou
prefere, analisando a origem de tais hábitos e a origem de
determinada cultura alimentar. Não se pode ignorar que os alimentos
têm valor psicosócio-cultural e que as resistências às mudanças não
costumam ser gratuita, razão pela qual devem-se evitar as mudanças
bruscas”. (Conceição, 1994: p.67-68)
São inúmeras as razões que envolvem a escolha de alimentos, não
podendo o consumo alimentar restringir-se apenas às razões econômicas.
Muitas vezes o consumo deste ou daquele alimento está relacionado às
crenças que foram construídas por uma sociedade ao longo de sua história, as
quais nem sempre estão de acordo com a ciência. Os valores culturais irão
6
Doenças da civilização são as doenças causadas pelo excesso de agrotóxicos nas dietas e pelo
consumo excessivo de alimentos calóricos sugeridos pela mídia, como por exemplo, refrigerantes.
23
interferir diretamente na alimentação e no cardápio das escolas, devendo ser
respeitados as diferenças culturais de cada povo. É evidente a necessidade da
educação nutricional, uma vez que existem várias vantagens desse estudo, na
busca por melhoria da saúde. De Angelis (2001) destaca algumas razões para
a educação nutricional:
- Equipar recursos humanos com habilidade para fazer escolha
adequada de alimentos que possam efetivamente contribuir para a
melhoria da saúde e bem-estar, conseguindo obter o máximo de seu
potencial genético.
- A educação nutricional dá aos indivíduos melhor compreensão para
avaliar as informações recebidas.
- Promover o melhor uso das fontes econômicas.
- Reforçar o conhecimento, corrigindo os conceitos sobre nutrição.
- Ajudar a economizar dinheiro e evitar o desperdício
(De Angelis, 2001, p.11).
Muitos peritos nas questões da fome acreditam que, fundamentalmente, a
maneira de reduzir a fome é através da educação. As pessoas instruídas têm
uma maior capacidade para sair deste ciclo de pobreza que provoca a fome
(UNICEF, 2000).
O baixo poder de compra de grande parte da população de baixa
renda, tanto rural como urbana leva a deficiência quantitativa e
qualitativa em relação a certos nutrientes na alimentação, uma vez
que se desconhece a riqueza e diversidade de alimentos nativos e
regionais (Sgarbieri, 1987, p. 36).
Embora o Brasil possua em seu cenário uma rica diversidade de
alimentos, são poucos os estudos relacionados ao valor dos alimentos
disponíveis nas diversas regiões do país. O restrito acesso a estes estudos nos
remete a um consumo de alimentos industrializados e de baixo valor nutritivo, e
ao mesmo tempo, à desvalorização dos alimentos disponíveis que poderiam
fornecer uma dieta equilibrada e de custo acessível para a maioria da
população. Por outro lado, há um grande investimento da mídia no consumo de
alimentos que não satisfazem uma dieta equilibrada.
Outra análise importante no contexto da alimentação e nutrição diz
respeito às diferenciações regionais. O relatório de Desenvolvimento Humano
de 1997 destaca a redução da pobreza no Brasil, com extensão e padrões que
24
variem internamente, porque o Índice de Pobreza Humana (IPH)
7
difere de
maneira expressiva de uma região para outra.
O IPH encontrado no Nordeste foi de 46%, já no Sul e no Sudeste ficou
situado em 17% e 14%, respectivamente. Assinalam ainda, os estudos que
essas disparidades têm se ampliado ao longo das duas décadas, haja vista que
a prevalência de pobreza humana decresceu 2/3 no Sul e apenas 1/3 no
Nordeste (PNUD, 1997). Enquanto na população urbana do Nordeste 13,5% de
crianças apresentam déficit de estatura, na zona rural a freqüência é de 25,2%
em contraste com 4,6% no Centro-sul urbano do País.
Nas áreas urbanas da Região Norte, verifica-se que o declínio da
prevalência é menor do que a observada no resto do País. Em 1996, os
maiores índices de déficit de crescimento na população urbana passaram a ser
encontrados no Norte e não mais no Nordeste. Portanto, os estudos da
alimentação deverão possibilitar mudanças neste quadro, uma vez que, as
diferentes realidades regionais devem ser estudadas e seus hábitos
alimentares respeitados. Torna-se um dever enquanto cidadão promover ações
que possam apresentar propostas de cardápios saudáveis que respeitem a
cultura e os hábitos alimentares da população. O estudo sobre os hábitos
alimentares é necessário, uma vez que vários programas institucionais que
visavam mudar o hábito das populações dos países em desenvolvimento foram
frustrados por desconsiderar os preceitos, proibições religiosas e práticas
culinárias locais.
Castro (2002) afirma que
“Caracterizando o tipo de alimentação e os variados tipos de fome
que tem sofrido a nossa gente, estamos certos de que faremos refletir
nessas características biológicas com maior exatidão do que através
do estudo de quaisquer outras manifestações de natureza ecológica,
o grau de ajustamento dos diferentes grupos regionais de nossas
populações às variadas zonas geográficas do país. E são exatamente
as expressões dessas variadas formas de adaptação que dão relevo
à fisionomia cultural de uma nação” (Castro, 2002, red, p.22).
7
IPH:O índice de pobreza humana mede as carências no desenvolvimento humano básico em termos do
percentual de pessoas cuja expectativa de vidao atinge os 40 anos, o percentual de adultos
analfabetos e o estabelecimento de condições econômicas para um padrão de vida aceitável em termos
do percentual de pessoas sem acesso à serviços de saúde e água potável e do percentual de crianças
menores de 5 anos com peso insuficiente.
25
A falta de compreensão e de sensibilidade dos interventores fez com que
muitos programas alimentares fracassassem, devido ao desconhecimento da
cultura do povo. As variadas culturas têm evoluído dentro de um equilíbrio
alimentar próprio, através da sabedoria repassada através das gerações.
Percebe-se que a alimentação de diferentes culturas está sendo
transformada rapidamente, proporcionalmente à medida que a cultura se
modifica. Para Claude Fischler (1994), a cultura moderna tem reduzido a
capacidade do ser humano em perceber qual alimentação ser-lhe-ia mais
adequada. Enquanto Contreras (1995) acredita que as razões estão
assentadas na crise cultural vivida pelas sociedades mais desenvolvidas.
Outro fator que merece ser repensado é o que se refere à dissolução dos
rituais que acompanham o ato de alimentar; a relação de afeto e satisfação no
momento da refeição cede espaço para momentos solitários. A importância
social do momento das refeições em família e a procura por alimentos
veiculados pela mídia no apelo à facilidade e rapidez no seu consumo, é outro
fator que tem sido apontado como causador da má alimentação.
Ora, se a alimentação faz parte da cultura, essas transformações não
poderiam ser de outra forma, uma vez que, a cultura alimentar tem sofrido
notável mudança na atualidade.
Calil e Aguiar afirmam que:
“O hábito alimentar varia de acordo com a região do Estado, origem
da população, assim como da sua produção agrícola. Portanto, na
elaboração dos cardápios deve-se observar as características da
população alvo quanto ao gosto e paladar próprios da clientela, que
varia de acordo com a idade correlacionada à educação ou
reeducação de hábitos não adequados” (Calil e Aguiar, 1999, p.22).
Atualmente no Brasil, dentro do Programa Nacional de Alimentação
Escolar, é eminente a preocupação com a formação de hábitos saudáveis,
visto que, durante a infância, os bons hábitos são essenciais, pois evitam a
incidência de problemas nutricionais difíceis de serem solucionados
posteriormente. Na perspectiva de formação de hábitos alimentares saudáveis,
Motta e Boog (1991) reconheceram a relevância da educação alimentar e
nutricional como fator importante para a saúde física e mental, assim como
para o bem-estar social do indivíduo. O papel da escola na promoção de
26
padrões de alimentação saudáveis também têm sido reconhecido por muitas
organizações internacionais (Blom-Hoffman et al. 2004).
“Além disso, as escolas também deveriam, à medida do possível,
dirigir seus objetivos à educação dos pais, com esforços que
propiciem maior conhecimento em relação às medidas de prevenção,
bem como ao estímulo para a realização de atividades físicas e
adoção de um padrão de alimentação e estilo de vida mais saudável”
(Sothern, 2004, p.32).
Conforme resolução número 015, de 25/08/2000, capítulo III - Do cardápio
da alimentação escolar art.5, ficou estabelecido que algumas normas deverão
ser satisfeitas ao planejar o cardápio para a alimentação escolar; portanto não
devem ser preconizados no cardápio escolar alimentos que não sejam
saudáveis, tais como: excesso de carboidratos e gorduras. O cardápio da
alimentação escolar deverá ser programado de modo a fornecer, no mínimo,
por refeição, 15% das necessidades nutricionais diárias dos alunos
beneficiados
8
. Em relação ao consumo de alimentos, merece destaque a
situação das crianças, de ambos os gêneros, com idade entre seis e onze
anos, que revela baixa ingestão de alimentos fontes de fibras dietéticas e
ingestão deficiente de cálcio (American Dietetic Association, 2004).
Segundo a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
9
(1990),
necessidades nutricionais são as quantidades mínimas de um determinado
nutriente biodisponível
10
nos alimentos, que um indivíduo deve ingerir para
satisfazer todas as necessidades fisiológicas e manter a saúde.
Segundo a legislação da alimentação escolar, os 15% das necessidades
nutricionais diárias exigidas correspondem a um valor nutricional de 350
quilocalorias (kcal) e 9 gramas de proteína, por cardápio, no mínimo. Na
elaboração de um cardápio correto e equilibrado é importante incluir, em cada
refeição alimentos construtores
11
, energéticos
12
e reguladores
13
. Portanto, no
planejamento do cardápio devem ser considerados alguns aspectos técnicos
8
Conforme resolução número 015, de 25/08/2000 capítulo III - Do cardápio da alimentação escolar art.5...
9
SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição)
10
Biodisponível: entende-se por toda substância que é digerida, absorvida e utilizada pelo organismo.
11
Construtores: grupo alimentar responsável pelo fornecimento de material para a construção e reparo
dos tecidos.
12
Energéticos: grupo alimentar responsável pelo fornecimento de energia ao organismo.
27
tais como: a escolha dos alimentos, composição química e compatibilidade
entre os ingredientes.
Entretanto, a introdução de alimentos saudáveis na alimentação escolar
será mais facilitada pela inclusão nos cardápios de alimentos já incorporados
aos hábitos diários dos alunos. A lei que regulamenta a alimentação escolar
deixa bem claro que um planejamento alimentar adequado irá contribuir para o
desenvolvimento intelectual e físico dos alunos inseridos no programa,
portanto, a alimentação do pré-escolar e escolar deve ser rica em ferro, cálcio
necessário para a mineralização adequada e manutenção do crescimento
ósseo. Além disso, a alimentação precisa ser enriquecida de vitaminas e
minerais.
Ainda a dieta deve fornecer energia adequada para sustentar um ótimo
crescimento e desenvolvimento sem excesso de gordura, os carboidratos
fermentáveis devem ser controlados para uma boa saúde dental e as fibras
devem estar presentes para auxiliar no bom funcionamento do intestino. Na
fase escolar, muitas crianças e jovens necessitam de orientação sobre o
consumo de alimentos. Nesta fase, as escolhas feitas de forma impensada
poderão ocasionar grandes problemas futuros. Um aspecto que deve ser
considerado na alimentação escolar, e que tem sido alvo de grandes
preocupações de pais, educadores e médicos é a obesidade infantil, a qual
está diretamente relacionada à elaboração de um cardápio inadequado e às
questões referentes a segurança alimentar.
A obesidade tem tido suas origens na infância onde, aliada aos meios de
comunicação, existe um fortalecimento do consumo de alimentos inadequados
e bastante calóricos tais como: refrigerantes, balas, doces, sanduíches, etc., e
ausência de alimentos ricos em vitaminas, em especial verduras e frutas.
Atualmente, a obesidade representa um dos mais graves problemas de
saúde pública no mundo, além de manter célere o seu ritmo de expansão, sem
distinguir raça, gênero, idade ou nível social (Daniels et al., 2005).
A maneira de apresentar as informações sobre nutrição aos jovens e
crianças deve ser feita de forma educativa, com experiências vivenciais e com
13
Reguladores: grupo alimentar responsável pela regulação das funções do organismo.
28
o envolvimento dos interessados nesta discussão. É um papel que requer um
educador que possa facilitar esta comunicação e promover a participação sem
imposição de conceitos ao grupo.
Burton (1979) afirma:
“... Como a aplicação diária do conhecimento nutricional baseia-se
nos progressos científicos da área, uma proporção significativa da
população não desfruta do alto nível de saúde mental e vigor físico
que potencialmente se poderia obter. A educação nutricional surge
como o meio mais promissor para acabar com essa diferença. Mais
ainda, a educação nutricional é responsável e importante para corrigir
informações erradas assim como para fornecer dados certos” (Burton,
1979, p.533).
Neste sentido, será imprescindível perceber que a educação nutricional
envolve várias áreas do conhecimento humano, estando enraizada em valores
que norteiam todo um processo educacional.
“... a questão da alimentação não se resolve somente pela adaptação
das recomendações às diferentes realidades, mas, sobretudo pela
acessibilidade da população a uma dieta que satisfaça as
recomendações energéticas e nutricionais... a consideração da
construção social de um grupo e de sua história
possibilita
compreender os problemas nutricionais e pensar em alternativas
possíveis para sua redução num campo de ação onde a questão
nutricional articula-se com questões políticas, sociais, econômicas,
etc.” (Benevenuto, 1993, p.210).
Enfim, a preocupação com uma alimentação equilibrada e saudável deve
estar interligada a questões educacionais, visto que só através da educação
pode-se mudar o comportamento das pessoas.Massol (1997) já afirmava:
“Há que se reconhecer a grande dificuldade que se prende à
informação nutricional [...] Existe uma relação entre alimentação,
bem-estar, qualidade de vida e saúde, ao mesmo tempo imediata e
nos dias vindouros em promover conceitos positivos ao invés de
conceitos negativos feitos de proibições [...]”.(Massol, 1997, p. 137
)
Contreras (1992) ressalta que é na história de cada sociedade ou cultura,
que se pode encontrar o significado e as razões para as preferências e as
aversões individuais ou coletivas, em suma, o que o alimento representa num
meio social.
Esta citação contempla uma riqueza de conceitos, visto que é de suma
importância o estudo e conhecimento dos aspectos culturais de uma sociedade
para compreensão de sua realidade. O alimento representado num
29
determinado meio social pode ter um significado muito diferente em
comparação com outra localidade.
1.4 Desenvolvimento Rural Sustentável.
A preocupação ecológica passou a ser uma variável importante a ser
considerada pelas administrações públicas após o movimento da ECO-92
14
,
quando as cidades passaram a ser entendidas como capital coletivo
15
e tem
buscado maior qualidade ambiental. As administrações públicas procuram
atualmente se adequar às exigências da lei e buscam desenvolver uma gestão
que assegure a preservação ambiental. O planejamento participativo envolve
assumir responsabilidades com a finalidade de um desenvolvimento que
beneficie toda comunidade.
Cascino destaca a elaboração do tratado de educação ambiental para
sociedades sustentáveis e responsabilidade global, durante a realização da
ECO-92 que diz o seguinte:
A educação ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas
causas e inter-relações em sua perspectiva sistêmica, em seu
contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados com o
desenvolvimento e o meio ambiente, como população, saúde, paz,
direitos humanos, democracia, fome, degradação da flora e fauna,
devem ser abordados dessa maneira (Cascino, 1999, p. 44).
Para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, a proteção do
ambiente tem que ser entendida como parte integrante do processo de
desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente. Nesta perspectiva
encontra-se a principal diferença entre crescimento e desenvolvimento, pois o
crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça sociais,
pois não leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida a
não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns
indivíduos da população. O desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a
geração de riquezas sim, mas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a
14
ECO 92: Conferência ocorrida no Rio de Janeiro no ano 1992,reunindo diversos países para discussão
de um modelo de desenvolvimento ambiental e socialmente sustentável em escala planetária
15
Capital coletivo: entendimento pela população da importância das cidades como um valor ambiental,
social e sustentável.
30
qualidade de vida de toda a população, levando em consideração, portanto, a
qualidade ambiental do planeta.
Na tentativa de chegar ao desenvolvimento sustentável sabemos que a
Educação Ambiental é parte vital e indispensável, pois é a maneira mais direta
e funcional de se atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da
população.
Neste contexto, é fundamental associar o programa de alimentação
escolar com projetos de educação ambiental nas escolas, com o propósito de
promover um desenvolvimento sustentável do município. Os projetos
ambientais a serem desenvolvidos pelas escolas poderão ser relacionados à
questão alimentar, no sentido de sugerir projetos de hortas e pomares dentro
do espaço escolar, onde os alunos poderão participar plantando, cuidando e
colhendo os alimentos para seu consumo. Digo que, com a participação dos
alunos nesses projetos a valorização da alimentação escolar se dará de forma
eficaz, pois com a vivência dos alunos a aprendizagem ocorrerá dentro de uma
visão de desenvolvimento sustentável. Quanto ao significado de
desenvolvimento sustentável, Cavalcanti (1995) apresenta a seguinte definição:
"Equilíbrio entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos
grupos sociais de uma nação e também dos diferentes países na
busca da equidade e justiça social” (Cavalcanti, 1995, p.429).
Para Stake (1991, p.9), para ser sustentável o desenvolvimento precisa
levar em consideração fatores sociais, ecológicos, assim como econômicos; as
bases dos recursos vivos; as vantagens e desvantagens das ações,
alternativas a longo e curto prazo.
Em essência, as gestões públicas voltadas para o desenvolvimento
sustentável devem atender as necessidades e aspirações humanas,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do ambiente. Pensar no
desenvolvimento sustentável é o grande desafio deste século; pois nossas
atitudes poderão comprometer as gerações futuras. Segundo Leff (2000):
A qualidade de vida está entrelaçada com a qualidade do ambiente e
com a satisfação das necessidades básicas, com a conservação do
potencial produtivo dos ecossistemas, com o aproveitamento
integrado dos recursos naturais e com a sustentabilidade ecológica
do habitat (Leff, 2000, p. 223).
31
As administrações municipais que se orientarem pelo conceito de
desenvolvimento sustentável terão que trabalhar para que as economias em
crescimento permaneçam ligadas a suas raízes ecológicas, colocando a
proteção ao meio ambiente como algo inerente ao desenvolvimento.
Reafirmando esses paradigmas, Araújo (2000) afirma que:
“A alimentação influencia decisivamente a saúde do homem, por
relacionar-se com nutrição, sobrevivência, desempenho na vida e
conservação da espécie, além de recentemente ser apontada como
um dos fatores mais importantes para a longevidade com qualidade
de vida”.(Araújo, 2000, p.45)
A afirmativa de Araújo revela a importância da alimentação para a
qualidade de vida em bases sustentáveis. O município deve propor ações que
tratem a questão alimentar, voltada para o fortalecimento do desenvolvimento
local, em parceria com a comunidade numa gestão participativa. Neste
contexto, a municipalização da merenda favorece este vínculo entre o produtor
rural e o mercado da merenda escolar, quando busca resgatar a melhoria da
qualidade de vida das famílias, mantendo ligada à cultura ao meio ambiente em
bases sustentáveis.
Tal como entende Vianna e Tereso (1997) a municipalização da merenda
foi fundamental para que os municípios decidissem por implementar projetos
de produção de alimentos, com a finalidade última de encontrar alternativas
para o fornecimento de gêneros para as escolas, e, sobretudo, colocaram na
agenda das administrações municipais o comprometimento com a questão da
alimentação.
Não podemos esquecer que a alimentação está diretamente ligada às
questões ambientais, portanto, priorizar a merenda orgânica
16
faz com que
ocorra melhoria nos hábitos alimentares e focaliza a criança como parte
integrante do meio ambiente. É necessário incentivar os produtores na
produção de alimentos orgânicos, modificando todo o sentido de apenas
produzir alimentos para a merenda.
Não só é importante refletir sobre o valor nutritivo da merenda, mas é
fundamental propor projetos ambientais dentro da escola como, por exemplo, a
32
criação de hortas escolares com a participação dos estudantes, pois quando as
crianças e jovens participam da plantação e cultivo das hortas escolares, passa
a existir um elo fortalecido entre a teoria e a prática da educação ambiental.
Com isso, as possibilidades de transformações e consumo dos alimentos
tornam-se viáveis e desenvolvem a apreciação pela alimentação escolar.
O campo de estudos sobre alimentação contemporânea é vasto, e, além
de discorrer-se a respeito dos hábitos alimentares e suas conseqüências, não
podem deixar-se de mencionar as inúmeras irregularidades em, praticamente,
todos os grupos de alimentos. Conforme Proença (2002, p.33), “... desde
excesso de agrotóxicos em produtos vegetais, parasitas, hormônios, drogas
veterinárias em produtos animais e o uso de aditivos polêmicos em produtos
industrializados”.
Percebe-se que o desafio da nutrição é muito grande. A alimentação
contemporânea e seus hábitos alimentares têm sido foco de inúmeras
investigações científicas, devido ao aumento de sobrepeso e obesidade,
principalmente no mundo ocidental; sem uma proposta ambiental efetiva a
questão alimentar têm gerado comportamentos compulsivos que agridem o
meio ambiente através da geração de lixo e de práticas agrícolas inadequadas.
A educação ambiental deve levar o homem a viver em harmonia com a
natureza, passando pela participação de todos os cidadãos na solução e
prevenção de problemas ambientais. Para isso, é necessário compreender o
meio ambiente, a relação existente entre os ecossistemas naturais e os
sistemas sociais. Como nos lembra Capra (1998),
Há uma preocupação crescente com a ecologia, expressa por
movimentos de cidadãos que estão se organizando em torno de
questões sociais e ambientais, apontando os limites para o
crescimento, advogando uma nova ética ecológica e desenvolvendo
apropriadas tecnologias “brandas” (soft). (...).Esses novos valores
estão sendo promovidos pelo movimento do “potencial humano”, pelo
movimento da “saúde holística” e vários movimentos espirituais
(Capra, 1998, p. 43).
As políticas ambientais municipais devem buscar estratégias de
desenvolvimento rural sustentável, para que as economias locais cresçam e
16
Todo o sistema de produção agrícola que não utiliza fertilizantes, defensivos e ingredientes químicos
sintéticos.
33
permaneçam ligadas as suas raízes ecológicas, levando sempre em conta as
conseqüências da destruição ambiental e da importância do fortalecimento da
agricultura familiar para melhoria da qualidade de vida dos pequenos
produtores. Pela tradição da produção local, algumas atividades constituem
oportunidades concretas de desenvolvimento econômico local (produção de
banana, feijão, milho, mandioca). “Se o agricultor tem renda e sua auto-estima
é resgatada, ele fica no campo. Isso melhora a qualidade de vida no interior e
conseqüentemente, nas cidades”, afirma Schimidt (1987). O estímulo a
estratégias de cooperação entre os agricultores para o fornecimento de
produtos para a merenda escolar poderia se converter numa alavanca para o
desenvolvimento municipal, que no momento carece de iniciativas e políticas
neste sentido. Novas exigências ligadas ao mercado a favor de produtos que
usam menos insumos químicos, o interesse por produtos orgânicos e a
preocupação pelo meio ambiente têm sido evidentes na atualidade. Mas do
que sensibilizar, é preciso entusiasmar as comunidades para inseri-las e
comprometê-las ao dinamismo e às transformações do mundo moderno.
Conforme Itacarambi (1986, p.52), “os programas municipais de
alimentação indicam o caminho a seguir. Não por sua dimensão econômica,
mas pelo seu significado político”.
Nessa perspectiva, o desenvolvimento local sustentável não depende
tanto das potencialidades produtivas, nem das vantagens naturais. Depende
essencialmente das capacidades humanas, das energias afetivas, das
articulações em rede dos atores sociais e institucionais para impulsionar
projetos comuns.
Para que o desenvolvimento local sustentável ocorra será necessária toda
uma política municipal que favoreça ao empreendedorismo para a comunidade.
Para Franco (2000), o empreendedorismo significa protagonismo social,
ruptura de laços de dependência, crença dos indivíduos e das comunidades na
própria capacidade de construir o seu desenvolvimento pela cooperação entre
os diversos âmbitos políticos-sociais que a caracterizam. Em poucas palavras:
assumir responsabilidade pela construção de seu próprio destino. Aqui estão
embutidos dois conceitos importantes; a capacidade da comunidade de tornar
dinâmicas suas potencialidades e a localidade como palco em
34
desenvolvimento, Isto é, como palco para o exercício de novas formas de
solidariedade, parceria e cooperação.
Portanto, através do empreendedorismo qualquer sonho coletivo deve
perseguir a construção permanente do que pode ser chamado de
desenvolvimento da comunidade.
O desenvolvimento de comunidade a ser proposto é aquele que tem
por fundamental (...) melhorar a vida das pessoas (desenvolvimento
humano), de todas as pessoas (desenvolvimento social), das que
estão vivas hoje e das que viverão amanhã (desenvolvimento
sustentável). (Dolabela, 2003, p.49).
Com a possibilidade do desenvolvimento da comunidade surgirá o capital
social que, conforme Dolabela (2003) pode ser entendido como a capacidade
dos membros de uma comunidade organizarem-se em torno da solução de
seus problemas, e da construção de sua prosperidade social e econômica.
Portanto, o desenvolvimento local produz um ambiente de solidariedade
e confiança, onde as potencialidades produtivas irão contribuir para melhorar
as condições de interferência na realidade e uma predisposição à realização de
mudanças.
O desenvolvimento local, de certo modo, troca a generalidade
abstrata de uma sociedade global configura a semelhança ou como
suporte do Estado (como é o caso das chamadas sociedades de
massa) pelas particularidades concretas das múltiplas maiorias
sociais orgânicas que podem projetar (...) futuros alternativos para
coletividade e, sobretudo, antecipar esses futuros em experiências
presentes. Objetivamente o desenvolvimento local “produz”
comunidade ou cria um contexto onde se manifesta um etos de
comunidade (Franco, 2001, p.33).
Para que haja o desenvolvimento local sustentável será necessária toda
uma política municipal que promova uma visão empreendedora para a
comunidade. Pois, à medida que, os produtores da localidade compreenderem
a importância de ações comunitárias haverá certamente uma mudança de
comportamento no sentido da melhoria da qualidade de vida.
35
1.5 O Município de São João Evangelista – MG
O município de São João Evangelista, com área de 480km
2
, possui
população de 15.224 habitantes, densidade populacional de 31,83 habitantes
por km
2
; apresenta um PIB total de R$ 15.636.992,50, PIB por habitante de R$
1.027,13, escolaridade média de 5,5 anos, e IDH de 0,55. Conta com
aproximadamente 785 propriedades rurais que exploram principalmente
bovinocultura de leite, milho, feijão, café, silvicultura, apicultura, 172
estabelecimentos comerciais e 23 pequenas indústrias. Possui energia elétrica
e é servida pelos serviços de telefonia e por estradas asfaltadas no sentido de
Belo Horizonte (280km), Governador Valadares (165km) e Diamantina
(150km).
17
O município está localizado no centro nordeste mineiro, numa região rica
em recursos naturais, embora pouco explorada. A FIGURA 1 representa o
mapa de Minas Gerais e a localização do município de São João Evangelista-
MG.
17
Dados do IBGE
36
FIGURA 1 – Localização de São João Evangelista-MG
Fonte: DER/MG, 2000.
Sua população sobrevive de atividades ligadas à agricultura e ao
comércio local e 90 % das crianças está matriculada e freqüenta regularmente
as escolas. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município
atende 1.219 crianças nas dez escolas existentes, sendo três na área urbana e
sete na área rural
18
. Foram destinados R$ 5,1 bilhões a merenda escolar do
país para alunos da pré-escola e do ensino fundamental e de crianças
mantidas em entidades filantrópicas com registro no Conselho Nacional de
Ação Social
19
. Portanto, é necessário salientar que a gestão da alimentação
escolar municipal poderá contribuir para a melhoria da qualidade de vida
20
da
18
Dados do censo escolar de 2004
19
Segundo o FNDE/MEC de 1995 a 2001,
20
“Qualidade de vida é todo bem-estar produzido por elementos sociais, econômicos, culturais, políticos,
religiosos, etc., que configuram com as dimensões do ter e do possuir, mas também do ser, do viver em
condições de produzir, de gerir e de usufruir dos bens e serviços necessários e disponíveis na sociedade”
(Ferreira,1986).
37
população envolvida e principalmente para reduzir o cenário de fome, doenças
e pobreza.
No município de São João Evangelista-MG a operacionalização do
programa é centralizada; isto ocorre quando as Secretarias Estaduais de
Educação ou prefeituras executam o programa em todas as suas fases, ou
seja, recebem, administram e prestam contas do recurso ao Governo, são
responsáveis pela aquisição e distribuição dos alimentos e também pela
elaboração dos cardápios, juntamente com o conselho municipal de merenda
escolar.
No caso do município de São João Evangelista faz-se necessária a
complementação do recurso através de parcerias; são feitas parcerias com a
Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG através do
fornecimento de legumes, verduras, leite e com a comunidade escolar através
da doação de frutas, legumes, hortaliças e mão-de-obra na manutenção de
hortas escolares.
Segundo entrevista com o técnico em Economia Doméstica responsável
pela gestão da alimentação escolar do município, o sistema de abastecimento
é mensal, sendo adquiridos os seguintes alimentos: leite em pó, carne bovina,
ovos, sal, toucinho, frango, queijo, macarrão, achocolatado, açúcar, alho,
biscoito, café, caldo de carne, colorau, canjiquinha, farinha, feijão, fubá e óleo.
As hortaliças são fornecidas pelas hortas cultivadas em nove escolas
municipais, as quais produzem para o próprio consumo. Além dessas hortas,
existe uma horta em maior extensão, localizada num terreno da prefeitura, no
meio rural, que abastece outras escolas municipais. A prefeitura afirma que as
hortas escolares são cultivadas sem o uso de agrotóxicos
21
o que permite uma
alimentação mais saudável para crianças e jovens, assim como a utilização das
hortas como objeto de estudo para a educação ambiental. As escolas
pesquisadas possuem um projeto de educação ambiental o qual é
desenvolvido pelos estudantes durante o ano letivo. O plantio e a manutenção
das hortas são feitos pelos próprios funcionários e alunos da escola, dentro de
21
Agrotóxicos são produtos químicos utilizados no combate e prevenção de pragas agrícolas.
38
uma proposta pedagógica de educação ambiental
22
. Nas escolas municipais
são realizadas palestras para alunos e familiares sobre alimentação saudável.
O fornecimento de leite in natura ocorre com a parceria da Escola
Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG, que doa o alimento para as
escolas municipais. A elaboração dos cardápios das escolas está sob a
responsabilidade de um técnico em Economia Doméstica contratado pela
prefeitura que administra e gerencia os recursos do programa da merenda
escolar, estando diretamente ligada a Secretaria Municipal de Educação.
Quando perguntado a respeito da composição do cardápio das escolas o
técnico informou que os mesmos são diferenciados para as escolas do meio
rural e urbano; nas escolas rurais são servidos pratos salgados, por exemplo:
canjiquinha, caldos de feijão e mandioca, galinha com arroz, sopas e etc., e
nas escolas urbanas o cardápio é composto por alimentos doces sendo
servidos mingaus, canjica, arroz doce e etc. e alimentos salgados, sendo
observadas as necessidades das mesmas. O responsável técnico da merenda
justifica esta diferenciação pelo poder aquisitivo dos alunos; após verificação
no cadastro socioeconômico das crianças observou-se que nas escolas
urbanas algumas crianças matriculadas são oriundas de famílias de classe
média, portanto a merenda é uma complementação alimentar, enquanto nas
escolas rurais a merenda compreende a refeição diária mais completa,
tornando-se um vínculo entre a criança e a escola. Muitas vezes, os
responsáveis pelas crianças buscam as matricular nas escolas do meio rural no
sentido de assim garantir para elas o suprimento das necessidades básicas de
alimentação.
Sabe-se que não havendo dados que comprovem a necessidade do
cardápio diferenciado, torna-se incorreto afirmar que as pessoas que possuem
uma renda melhor possuem uma alimentação mais completa e faz-se
necessário avaliar se o cardápio dessa forma atende realmente as
necessidades nutricionais desejadas.
22
As escolas possuem em sua matriz curricular uma proposta de educação ambiental, propondo
desenvolver projetos que valorizem o meio ambiente e inserindo as crianças em ações educativas como
por exemplo: plantação e cultivo de hortas.A educação ambiental está diretamente ligada à questão da
cidadania, resgatando valores que beneficiem toda a sociedade.
39
Nota-se, portanto, a necessidade de pesquisas e obtenção de dados que
possam avaliar algumas ações dessa gestão.
40
CAPÍTULO II
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1 Percepção dos Alunos em Relação à Merenda Escolar
Foram entrevistados 300 alunos, em três escolas sorteadas, sendo: duas
localizadas na zona urbana e uma localizada na zona rural (Escola Prefeito
Alberto Pimenta; meio urbano e total de 294 alunos, Escola José Guimarães;
meio urbano e total de 468 alunos e Escola Antônio Medina Cardoso; meio rural
e total de 216 alunos matriculados), na faixa etária de 7 a 12 anos, sendo 144 do
sexo feminino e 156 do sexo masculino. Os questionários aplicados contém
perguntas estruturadas e semi-estruturadas.
Na FIGURA 2 está demonstrada a distribuição dos alunos entrevistados por
série freqüentada e sexo. Escolas Municipais de São João Evangelista, MG,
2005.
41
24
75
45
33
70
53
57
145
98
0
20
40
60
80
100
120
140
160
feminino masculino total
1° série
2° série
3° série
FIGURA 2 - Distribuição dos alunos entrevistados por série e sexo.
Com relação às preferências relacionadas ao cardápio nas escolas
pesquisadas verificaram-se os seguintes resultados apresentados na TABELA 1.
É importante citar que as crianças receberam um questionário, contendo as
opções de cardápio, podendo marcar as opções que desejassem. Observou-se
que algumas crianças entraram em contradição marcando os mesmos alimentos
que gostavam e os que menos gostavam. A entrevista foi fundamental para
compreensão dos dados.
Na TABELA 1 estão demonstrados os dados sobre os alimentos que as
crianças mais gostam e que menos gostam.
42
TABELA 1 – Preferência dos alunos em relação aos alimentos servidos nas
escolas
Cardápio Escola Municipal Prefeito
Alberto Pimenta
Escola Municipal
Antônio Medina
Cardoso
Escola Municipal José
Guimarães
Gostam
Não
gostam
Não
resp.
Gostam
Não
gostam
Não
resp
Gostam
Não
gostam
Não
resp.
Arroz com
frango
78% 3% 19% 73% 10% 17% 90% 10% 0%
Feijão tropeiro 69% 21% 10% 71% 11% 18% 56% 29% 15%
Salada 61% 16% 23% 65% 16% 19% 58% 22% 20%
Arroz doce 58% 19% 13% 67% 17% 16% 63% 35% 2%
Canjiquinha
com carne de
boi
57% 20% 23% 58% 27% 15% 35% 55% 10%
Tutu de feijão 52% 22% 16% 54% 24% 22% 33% 43% 24%
Farofa de arro
com ovos e
cenoura
52% 24% 69% 14% 17% 67% 20% 13%
Feijão inteiro 51% 25% 56% 28% 6% 40% 30% 30%
Sopa de
macarrão
37% 40% 48% 32% 20% 33% 55% 12%
Arroz simples 50% 22% 55% 25% 20% 42% 35% 23%
O prato preferido pelas crianças das três escolas pesquisadas foi o frango
com arroz, merecendo uma reflexão, visto que a escolha pelos estudantes
reforça a questão dos hábitos alimentares, pois na maioria das casas do
município verificou-se pela observação dos hábitos alimentares locais que a
“galinhada ou galinha com arroz”, é bastante apreciada; esta preferência
reforça a questão cultural já que é um prato tradicional nos almoços de
domingo das famílias, feito com caldo e geralmente com arroz limpo no pilão, o
qual confere um sabor especial à preparação.
Este fato reforça a citação descrita abaixo:
‘’O comportamento alimentar tem suas bases fixadas na infância,
transmitidas pela família e, desta forma, a freqüência com que os pais
adotam e preservam hábitos alimentares saudáveis pode estar
associada à ingestão alimentar e repercutir em longo prazo sobre o
desenvolvimento do consumo dos alimentos dos filhos” (Davanço,
Taddei, Gaglianone, 2004, p 52).
Em oposição à questão anterior foi perguntado aos alunos “o que eles
menos gostam”. Verificou-se que a maioria dos entrevistados não gosta de sopa
de macarrão.
43
Com a obtenção desses dados é necessário observar que quase a
metade do universo de alunos pesquisados não gosta da sopa de macarrão;
sendo um número significativo; merecendo atenção quanto ao motivo desta
afirmação. Esses dados refletem uma realidade que deve ser investigada, pois o
macarrão é um alimento bastante consumido e geralmente apreciado na maioria
das casas; tendo observado a preparação da merenda em todas as escolas
pesquisadas, pude observar que a forma de preparação e o tempo de cozimento
são os motivos principais deste rechaço, uma vez que, o macarrão não sendo
cozido “al dente”, o mesmo continua em processo de cozimento, não tendo
aparência nem paladar agradável para a degustação. O ideal seria que o mesmo
continuasse seu processo de cozimento através do acompanhamento do molho
no momento de servir. Este molho, portanto, deverá ser fornecido com uma
aparência que desperte o apetite das crianças e que contenha alimentos ricos
em vitaminas, pela presença de verduras e legumes.
Outra observação importante foi feita durante algumas visitas às escolas,
pois no momento que a merenda era servida na Escola Municipal Antônio
Medina Cardoso, pude observar que o cardápio do dia era feijão simples e arroz,
e 80% das crianças deixaram sobras nos pratos, quando perguntei a cantineira
qual o possível motivo do desagrado da comida, a mesma me respondeu que
eles não gostam de comer sem alguma verdura no prato. Segundo todas as
cantineiras a sopa de macarrão quando possui legumes (batata, cenoura,
chuchu) possui grande aceitação, mas geralmente tem sido feito com caldo e as
crianças não gostam de comer neste dia.
Quanto à avaliação da merenda pelas crianças foram obtidos os
seguintes resultados: na Escola Municipal Prefeito Alberto Pimenta - EMPAP
com relação a avaliação da merenda escolar, do total de alunos entrevistados,
70% considera a merenda ótima, 10% considera a merenda boa, 6% considera a
merenda regular, 2% considera a merenda ruim e 12% não quiseram responder
a pergunta. (FIGURA 3).
44
70%
10%
6%
2%
12%
Ótima Boa Regular Ruim Não Responderam
FIGURA 3 – Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EMPAP.
Por este gráfico, conclui-se que a merenda é considerada ótima pela
maioria dos entrevistados.
Na Escola Municipal Antônio Medina Cardoso - EMAMC em relação à
avaliação geral da merenda escolar, 57% consideram-na ótima, 35%
consideram-na boa, e 2% consideram-na ruim e não responderam 6%
(FIGURA 4).
57%
35%
2%
6%
Ótima Boa Ruim Não responderam
FIGURA 4 - Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EMAMC.
Percebe-se, portanto que 92% consideram a avaliação da merenda entre
boa e ótima.
45
Na Escola Municipal José Guimarães – EMJG o resultado da avaliação da
merenda foi o seguinte: de forma geral 56% a considera ótima, 36% a
considera boa, 7% considera a merenda regular e nenhum aluno considera a
merenda ruim. Apenas 1% não respondeu a pergunta. Conclui-se pelos dados
apresentados que a merenda possui uma entre boa e ótima pela maioria dos
entrevistados (FIGURA 5).
56%
36%
7%
0%
1%
Ótima Boa Regular Ruim Não responderam
FIGURA 5 - Avaliação da merenda escolar pelos alunos – EMJG
Quando perguntados sobre o porquê da avaliação dada à merenda na
Escola Prefeito Alberto Pimenta, 48% responderam que é porque ela é
saborosa, saudável, gostosa e com vitamina; 22% disseram que é porque as
cantineiras fazem a merenda com amor e carinho, 5% responderam é porque
ela é ruim e 25% não quiseram responder a pergunta (FIGURA 6).
46
53%
22%
5%
20%
Saborosa, Saudável. Fazem c/ amor Ruim Não Responderam
FIGURA 6 – Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EMPAP.
Ao responderem o porquê da avaliação na Escola Municipal Antônio
Medina Cardoso 40% responderam que as cantineiras fazem a merenda com
amor, 30% porque a merenda é boa, 17% porque é gostosa e 13% não
responderam (FIGURA 7).
17%
40%
30%
13%
Saborosa, Saudável. Fazem c/ amor Boa Não Responderam
FIGURA 7 – Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EMAMC.
Alguns depoimentos ilustram o exposto:
“O que comemos é muito importante, porque a cantineira faz com
amor”.(menina, sete anos, primeira série).
47
“Porque a merenda é ótima? É porque a cantineira é nota 1000”.(menina,
oito anos, segunda série).
“A comida é boa, eu não acho ótima”.(menino, sete anos, primeira série).
“A merenda na escola é doce, e eu não gosto de merenda doce”.(menino,
oito anos, segunda série).
Ao justificarem a resposta sobre a avaliação da merenda na Escola
Municipal José Guimarães, 40% considera a merenda gostosa e com
variedade, 39% diz que é porque ela é feita com carinho e capricho, 9%
responderam que é porque ela é mais ou menos, 4% porque é boa e 1%
porque é salgada. Não responderam sete alunos (FIGURA 8).
40
%
39%
4%
7%
9%
1%
Saborosa, Saudável. Fazem c/ amor Boa
Não Responderam Mais ou menos Salgada
FIGURA 8 - Avaliação das respostas obtidas na FIGURA 3 – EMJG.
Os depoimentos das crianças ilustram o exposto:
“Acho a merenda regular, porque a merenda é salgada”.(menina, dez
anos, terceira série)
“Porque ela é gostosa, e ás vezes tem variedade de verdura, como couve,
cenoura e alface”.(menino, oito anos, segunda série)
48
“Porque as cantineiras fazem a merenda com capricho e ela fica mais
gostosa. Elas deixam a gente repetir, se quiser”.(menino, nove anos, segunda
série )
Em todas as respostas obtidas, a avaliação da merenda aponta por um
dado relevante, que é a relação entre a cantineira e as crianças. Este vínculo
reforça a importância do afeto nas relações e a confiança entre aquela que
prepara a merenda, sendo um elemento fundamental no processo alimentar e
nutricional.
Na Escola Prefeito Alberto Pimenta por questões de analogia, os alunos
foram indagados sobre seus hábitos e preferências alimentares domésticos, e
quais alimentos gostariam que fossem acrescentados na merenda escolar
(TABELA 2). Verificaram-se as seguintes sugestões de inclusão no cardápio:
30% gostam de banana verde frita, sopa de banana verde e farofa de banana,
22% gostam de canjica grossa, lingüiça, carne moída e frango assado, 19%
gostam de bolos de mandioca, fubá e chocolate, 17% gostam de batata frita,
15% gostam de macarronada e de mandioca cozida, 13% gostam de banana
madura, 12% gostam de lasanha e frutas (laranja, maçã e morango), 10%
gostam de beterraba, cenoura, inhame, 7% gostam de mexido (preparação
feita com arroz, feijão, ovos, farinha de mandioca e de milho) e 05% gostam de
cereais.
TABELA 2 – Nível de preferência por determinados alimentos na EMPAP
Quais alimentos você gostaria que existissem na merenda?
Banana madura 13
Banana verde frita, sopa de banana verde, farofa de banana 30
Batata frita 17
Bolos (mandioca, fubá, chocolate) 19
Canjica grossa 22
Carne (lingüiça, carne moída, frango assado) 22
Cereais 5
Laranja, maça, morango. 12
Lasanha 12
Legumes (Beterraba, cenoura, inhame) 10
Macarronada 15
Mandioca cozida 15
Mexido (preparação feita c/arroz, feijão, farinha de milho ou de mandioca e ovos) 7
49
É necessário ressaltar que apesar da sopa de macarrão ser o alimento
menos apreciado pelos alunos, foram sugeridos macarronadas e lasanhas para
compor o cardápio da merenda escolar. Este fato confirma a observação feita
durante a preparação do macarrão, na qual pude observar atentamente que na
maioria das vezes se restringe ao macarrão sem a presença de legumes ou de
carne.
Em relação às preferências domésticas, nota-se que enquanto alguns
alunos sugerem alimentos da própria cultura local, tais como: banana verde,
“mexido, bolo de mandioca, inhame, laranja, cenoura, beterraba, canjica
grossa; outros preferem alimentos industrializados e incentivados pela mídia
(bolo de chocolate, morango, cereais). Muitos alimentos citados fazem parte do
cotidiano dos alunos, estando presentes em hortas e pomares domiciliares;
reforçando o fato da alimentação servida em casa ter influência direta nos
hábitos alimentares das crianças.
Em relação aos hábitos alimentares obtidos na entrevista aplicada na
Escola Antônio Medina Cardoso, os alimentos que as crianças gostariam que
estivessem presentes na merenda são: 27% sugeriram sopa de banana verde
e banana frita, 26% preferem sucos (limão, acerola, laranja, maracujá), 23%
preferem legumes e verduras (couve, beterraba, inhame), 19% gostariam que
tivessem frutas no cardápio, tais como: laranja, banana, mamão, mexerica,
17% disseram macarronada, 14% biscoito de polvilho, 12% bolo de fubá, 10%
batata frita e mexido, 8% vitamina de abacate e 6% sopa de inhame e 5%
gostam de feijoada (TABELA 3).
50
TABELA 3 – Preferências por determinados tipos de alimentos que os alunos
gostariam que fossem servidos na EMAMC
Quais alimentos você gostaria que existissem na merenda?
Vitamina de abacate 8
Suco (limão, acerola, laranja, maracujá) 26
Sopa de inhame 6
Mexido (preparação feita com arroz, feijão, farinha de milho ou de mandioca e
ovos)
10
Macarronada 17
Legumes (Beterraba, cenoura, inhame) 23
Laranja, maçã, morango 19
Feijoada 5
Canjica grossa 4
Bolo de fubá 12
Biscoito de polvilho 14
Batata frita 10
Banana verde frita, sopa de banana verde, farofa de banana 27
Alguns alimentos sugeridos pelas crianças são oriundos do cardápio
servido em suas casas, uma vez que, na zona rural, os quintais das casas são
grandes e são cultivadas frutas: laranja, mamão, abacate, maracujá, mexerica,
limão, acerola, banana e são plantados: couve, beterraba, inhame, alface,
milho, mandioca e feijão. Os pomares são utilizados para o consumo da própria
família.
Apesar de nos arredores da Escola Municipal Antônio Medina Cardoso
encontrarem-se plantadas árvores frutíferas, não foi presenciado serem
servidas tais frutas no cardápio da mesma. Existe também uma horta escolar
que abastece a merenda com algumas e verduras ao longo do ano, sendo
plantadas e cultivadas pelos próprios alunos e funcionários da escola.
Repetidamente existe a controvérsia a respeito da sopa de macarrão que
teve o maior índice de não aceitação na merenda, e a citação da macarronada
como uma preferência alimentar em casa, e foi sugerida para compor o
cardápio da merenda escolar.
Quando indaguei para as crianças como deve ser a macarronada
sugerida por elas foi respondido que ela deve ter macarrão, massa de tomate,
carne moída e queijo parmesão. Comida esta servida em dias de domingo ou
51
em festas comemorativas (Natal, Aniversários, Batizados), contrárias à sopa de
macarrão composta simplesmente pelo macarrão e caldo.
Observa-se também uma tendência entre as crianças que utilizam a
merenda escolar como suplemento alimentar, preferindo uma merenda
composta por lanches (bolos, biscoitos e sucos) ao invés de preparações
(comidas) como almoço e/ ou jantar.
Durante as visitas às casas próximas às escolas, pude observar a
existência de fornos, onde são preparados bolos, biscoitos, roscas e quitandas.
Em geral, as mães preparam “essas quitandas” para o lanche da família as
quais são servidas acompanhadas por leite e/ ou café e oferecidas para
visitantes.
É importante relatar que, na Escola Municipal Antônio Medina Cardoso,
localizada no meio rural, antes das aulas iniciarem-se, as cantineiras servem
para todas as crianças leite com açúcar ou leite com achocolatado para os
alunos, agindo como um reforço para assistirem às aulas, uma vez que alguns
percorrem alguns quilômetros para chegar à escola. Oliveira (1998) destaca
que:
Um consumo alimentar inadequado, por períodos prolongados,
resulta em esgotamento das reservas orgânicas de micronutrientes,
trazendo como conseqüência para crianças e adolescentes, retardo
no desenvolvimento, redução na atividade física e diminuição da
capacidade de aprendizagem (Oliveira, 1998, p. 45).
A respeito dos hábitos alimentares dos alunos da Escola Municipal José
Guimarães e após perguntá-los quais alimentos que eles gostariam que
fizessem parte do cardápio escolar, 28% responderam carne de porco, 25%
frutas: abacaxi, laranja, jabuticaba, manga, acerola e banana, 17% disseram
legumes e verduras (tomate, chuchu, pimentão e cenoura), 10% sopa de
inhame, 6% bolo de fubá, 5% pão com molho de carne moída e 3% lasanha
(TABELA 4).
52
TABELA 4 - Preferências por determinados tipos de alimentos que os alunos
gostariam que fossem servidos na EMJG
Quais alimentos você gostaria que existissem na merenda?
Frutas (Abacaxi, laranja, jabuticaba, manga, acerola, banana) 25
Sopa de inhame 10
Lasanha 3
Pão com molho de carne moída 5
Carne de porco 28
Bolo de fubá 6
Sopa de banana verde 4
Omelete 2
Legumes, verduras (tomate, pimentão, chuchu, cenoura) 17
Ao analisar as respostas das crianças da Escola Municipal José
Guimarães é necessário apresentar sua localização dentro do município. A
mesma está situada na área urbana, próxima aos morros e favelas da cidade e
o seu maior público reside em suas proximidades, ficando claro que representa
uma clientela de famílias bem carentes. Portanto, os alimentos citados
geralmente confirmam a composição do cardápio das crianças em suas
moradias, sendo alimentos cultivados nos quintais e utilizados na culinária
local. Como por exemplo, o inhame, o qual é servido cozido e com açúcar ou
em forma de sopa de inhame a qual é muito apreciada; em relação às frutas
nativas sugeridas, estas são consumidas em abundância em época de safra
(jabuticaba, manga, laranja, abacaxi, acerola, banana) e o consumo de frangos
e galinhas é comum, pela grande presença dos mesmos nos quintais. Apesar
da precariedade de condições socioeconômicas dessas famílias, a riqueza
natural da localidade facilita a obtenção de alimentos cultivados pelos mesmos
ou oferecidos pela vizinhança. Após a época de safra dos alimentos citados, a
alimentação torna-se precária e pobre nas moradias, fato este confirmado no
serviço de assistência social municipal. É importante comentar que para a
maioria das crianças da escola, em torno de 90%, a merenda possui o
significado de refeição mais completa servida no dia. Todas as crianças
merendam na escola e não trazem de casa alimentos que complementam a
merenda. É um universo de pessoas que possui uma trajetória de vida de
pobreza e ausência de carinho e amor, sendo a escola o espaço principal onde
recebem todas as orientações necessárias para a vida. Muitos dos alimentos
53
sugeridos por elas correspondem aos alimentos servidos em casa em
momentos festivos e de recordações. Tal como é relatado abaixo:
“Quando tem visita em casa, aí tem bolo de fubá que eu adoro!” (menina,
sete anos, primeira série).
“No meu aniversário de seis anos mamãe fez pão com molho e convidou
meus colegas, aí ela me abraçou e eu adorei” (menina, oito anos, segunda
série).
“Vovó mora com a gente e adora sopa de banana verde. Eu aprendi a
gostar da sopa com ela” (menino, dez anos, terceira série).
As escolhas e sugestões feitas pelas crianças refletem diretamente as
diferentes realidades socioeconômicas das crianças da escola em estudo,
conforme veremos a seguir. Estes dados foram obtidos após entrevista com as
famílias dos pesquisados, não existindo dados legais que possam confirmar os
resultados aqui apresentados.
TABELA 5 – Distribuição das famílias entre escolas de acordo com a renda
familiar
Renda por família E. M. P. Alberto
Pimenta
E.M.Antônio Medina
Cardoso
E.M. José
Guimarães
Abaixo de 1 salário-mínimo 30% 68% 86%
1 salário mínimo 28% 30% 12%
1 a 2 salários-mínimos 25% 2% 2%
2 a 3 salários-mínimos 12% 0% 0%
Acima de 3 salários-mínimos 0% 0 % 0%
Na FIGURA 9 está demonstrada a importância que os alunos da Escola
Prefeito Alberto Pimenta dão à merenda, destacando-se os seguintes
depoimentos:
“pra crescer, saudável, forte e musculoso”(menino,nove anos,segunda
série).
54
“pra não morrer de fome, pois lá em casa falta comida”(menina oito anos,
segunda série).
“para eu ficar feliz e ter uma vida melhor”(menina, sete anos, primeira
série).
“pra eu engordar, pois não quero ficar fraca”( menina,dez anos, terceira
série).
“Merendar é importante porque eu consigo estudar melhor”(menino, oito
anos, segunda série).
52%
4%
25%
6%
13%
Crescer saudável Engordar Não morrer de fome
Ficar feliz Não responderam
FIGURA 9 – Avaliação da importância da alimentação para os alunos – EMPAP
Analisando os dados apresentados sobre a importância da merenda
percebe-se que o interesse pela alimentação escolar varia da alimentação
saudável a uma alimentação para a sobrevivência. Ao analisar as respostas
obtidas é compreensível que existam diferentes preocupações, uma vez que,
para 70% dos entrevistados a merenda compreende a única refeição mais
completa servida durante o dia e para os 30% corresponde a um suplemento
alimentar.
Durante visitas à Escola Municipal Prefeito Alberto Pimenta observou-se
que 38% das alunos trazem diariamente merenda de casa, não participando
da merenda servida na escola. Conforme depoimento de uma mãe de uma
aluna, no início do ano de 2006, foi realizada uma reunião com os pais e
professores, onde a diretora da escola pediu que os lanches que as crianças
55
estivessem levando para a escola fossem compostos por alimentos naturais e
saudáveis. A diretora da Escola Prefeito Alberto Pimenta manifestou uma certa
preocupação em relação aos lanches trazidos pelas crianças, os quais
geralmente são compostos por frituras ou alimentos industrializados, visto que,
as crianças devem ser estimuladas pela família a merendarem a merenda da
própria escola, apenas trazendo suco para complementação da mesma.Além
disso, um possível problema poderá surgir no ambiente escolar, uma vez que,
ocorrerá uma certa comparação entre os alimentos servidos pela escola no
Programa da Merenda Escolar e os alimentos trazidos por algumas crianças de
poder aquisitivo melhor. Geralmente este comportamento das famílias tem
ocasionado uma separação entre as crianças pela classe social à qual
pertencem. Neste sentido Pegolo, (2005) afirma:
“A escola pode atuar como um canal para que informações relativas
aos alimentos, bem como da importância de cada grupo alimentar
para a manutenção da saúde, alcancem as crianças e adolescentes
e, desta maneira, possibilite situação mais favorável no que se refere
ao consumo também fora do ambiente escolar” (Pegolo, 2005.p.184).
Esta recomendação da escola é pertinente e muito favorável, pois
possibilita uma conscientização nutricional e fortalece o vínculo entre a escola
e a família. No momento que a escola convida a família a participar do
processo de educação ambos serão favorecidos, pois a questão principal deste
elo no momento está relacionada à promoção da formação humana das
crianças e jovens matriculados.
Na FIGURA 10 está demonstrada a importância da merenda escolar
citada pelos alunos da Escola Municipal Antônio Medina Cardoso, destacando-
se alguns depoimentos:
“Aqui na roça a vida é difícil, tem dia que vou na escola pra poder
comer.”( menino, dez anos, terceira série).
“Tudo na escola é bom, mas a merenda é importante pra fazer crescer
forte e inteligente”.(menino, oito anos, segunda série).
“Às vezes eu sinto fome em casa, e fico esperando a hora de ir pra escola
merendar, lá sim, não existe fome”.(menina, dez anos, quarta série).
“Quando nóis merenda ficamos forte e com saúde, essa é a importância
principal da merenda pra mim” (menino, sete anos, primeira série).
56
78%
17%
5%
Crescer Saudável Não morrer de fome Não responderam
.
FIGURA 10 - Avaliação da importância da alimentação para os alunos – EAMC
Conclui-se que 78% dos alunos consideram importante a merenda pelo
caráter nutritivo da mesma, auxiliando no crescimento saudável e inteligente e
17% consideram-na importante para suprir as necessidades básicas de
sobrevivência no sentido de não passarem fome. Esses resultados retratam a
realidade vivida pelas crianças dessa escola, situada numa região com fartura
de frutas, legumes, leite e derivados, frangos e etc. As crianças possuem uma
alimentação rica e com variedade de nutrientes, no entanto, o percentual de
17% que responderam que a merenda é essencial porque sem ela morreriam
de fome, retratam a realidade das famílias compostas, às vezes, por mais de 8
filhos e que os pais passam a maior parte do tempo fora de casa, para garantir
o sustento de família.
Apesar da maioria (68%) possuir uma renda inferior a um salário mínimo,
a ligação com a terra é fortemente notada, em especial nas plantações de
milho, feijão, mandioca e banana, e nas hortas e pomares nos quintais de casa.
Este fato reforça a escolha feita pelos alunos dos alimentos que gostariam
que estivessem presentes no cardápio escolar, quando são citados alimentos
pertinentes aos hábitos alimentares locais. Algumas crianças trazem para a
escola laranja e banana para merendarem.
Foi observada nesta escola, a presença de comercialização de alimentos
industrializados durante o horário da merenda, tais como: pipoca doce e
salgada, chicletes, balas, pirulitos e “chup-chup” de “kisucos” (sucos
industrializados acondicionados em pequenas sacolas plásticas e congelados).
57
Quando perguntado sobre o objetivo da venda, é respondido que é uma forma
de arrecadar fundos para a escola.
“É importante considerar que as cantinas escolares que funcionam
como” vendinhas “dentro da escola, freqüentemente comercializam
alimentos com elevada densidade energética e que por tradição são
amplamente divulgados pela publicidade, tais como: balas, chicletes,
doces, salgados tipo” chips “, etc. A comercialização desses
alimentos no ambiente escolar, invariavelmente, representa um
entrave para a educação nutricional e a formação de hábitos
saudáveis” (Danelon, 2004).
Este fato contradiz com a proposta do PNAE que é a de oferecer uma
alimentação escolar saudável e regionalizada sem a presença de produtos
industrializados. Pois, no momento que a escola oferece paralelamente uma
merenda que deve ser paga, ela induz a criança a um consumo inadequado,
dando preferência ao industrializado em detrimento da merenda natural
oferecida pela escola.
Inclusive, algumas crianças compram os produtos da “vendinha escolar” e
não se alimentam da merenda oferecida pela escola.
Destacam-se alguns depoimentos:
“Quando eu tenho dinheiro eu compro pipoca e chup-chup e não merendo
na hora da merenda com meus colegas”.(menino, nove anos, segunda série)
“Adoro chiclete e bala, mas meu pai não dá dinheiro pra comprar, então
trago uma laranja e merendo a comida da escola”(menino, oito anos, segunda
série).
Quanto aos projetos didáticos pedagógicos desenvolvidos pela escola e
relacionados à merenda escolar existe a produção da horta escolar com auxílio
dos alunos e na Semana da Alimentação em outubro é servida merenda
diferenciada com frutas na sobremesa e são desenvolvidos pelos professores
trabalhos relacionados ao tema, tais como: redação, encenação e brincadeiras.
Os alunos são convidados a participar de projetos em parceria com a Escola
Agrotécnica Federal de São João Evangelista-MG durante a Semana da
Alimentação.
Quanto à importância da merenda para as crianças da Escola Municipal
José Guimarães 59% respondeu que é para matar a fome, 28% para ter saúde
e força, 5% porque é feita com carinho pelas cantineiras, é um momento afetivo
58
entre as crianças, ainda, 8% dos entrevistados não responderam a questão
(FIGURA 11).
59%
5%
28%
8%
Matar a fome Feito c/ capricho Saúde e força Não responderam
FIGURA 11 - Avaliação da importância da alimentação para os alunos – EMJG
Depoimentos das crianças relatados na pesquisa:
“A merenda é importante porque mata a fome” (menino, nove anos,
segunda série).
“É muito importante para não ir para casa com a barriga vazia” (menina,
dez anos, quarta série).
“Porque é importante na hora que chego em casa, eu não sinto dor de
fome, por isso nunca deixo de ir pra escola”.(menina, sete anos, primeira série)
“No final do mês a comida acaba lá em casa, e mamãe fala pra eu
merendar bastante na escola” (menina, nove anos, terceira série).
“Merendar pra mim, é a hora de comer comida gostosa na escola, então é
hora que eu mais gosto” (menino, onze anos, quarta série).
59
2.2 Cardápio escolar e sua importância: uma visão segundo as
cantineiras das escolas.
Foram entrevistadas todas as cantineiras das 3 escolas pesquisadas,
totalizando 12 funcionárias; sendo 7 efetivas por meio de concurso pela
prefeitura e 5 em regime de contrato.
A idade das cantineiras variou entre 25 a 43 anos, e o grau de
escolaridade de nível fundamental a segundo grau, sendo que 5 responderam
ter segundo grau e 7 já concluíram o ensino fundamental.
Ao serem perguntadas a respeito da avaliação da merenda foram obtidas
as seguintes respostas: oito responderam boa e quatro responderam ótima. E
quanto ao porque as respostas variavam, os depoimentos abaixo ilustram as
respostas:
“Embora seja muito boa, é necessário ter maior variedade de verduras”.
“Acho ótima, pois é uma alimentação saudável e com vitaminas”.
“Poderia ser melhor se houvesse sucos naturais”.
“A gente se esforça bastante, e tem muita fartura de alimentos; para mim
então é ótima”.
Quanto à oferta de treinamentos para as cantineiras, foi respondido que
em 2003 foi realizado treinamento pela prefeitura municipal e a Escola
Agrotécnica Federal em parceria com o SENAR-MG onde todas as cantineiras
puderam participar do Curso de Manipulador de Alimentos.
Segundo informações da Secretária de Educação os funcionários
municipais relacionados ao programa de alimentação escolar são capacitados
através de cursos ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR-MG)
23
ministrados em parceria com a Escola Agrotécnica Federal de
São João Evangelista-MG
24
, os cursos têm por finalidade, ministrar técnicas
corretas de manipulação de alimentos, de forma a propiciar segurança
alimentar e melhor qualidade dos alimentos produzidos.
SILVA (1998) ressalta que no caso das refeições distribuídas nas
unidades de ensino a preocupação com a preservação dos nutrientes
deve ser constante. No que diz respeito à vitamina c, tais perdas
23
SENAR-MG: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Minas Gerais.
24
Segundo informações da secretaria de educação de São João Evangelista-MG
60
podem ocorrer tendo em vista que a maioria das hortaliças quando
incluídas no cardápio são freqüentemente submetidas a processos de
cocção por períodos prolongados, acentuando as perdas indesejáveis
da referida vitamina.
Conforme depoimento das cantineiras, ocorreram algumas mudanças de
comportamento após o treinamento no sentido de propiciar alimentações
saudáveis, higiênicas e com qualidade.
Com relação a essa fala observou-se durante as visitas às escolas, que
os procedimentos técnicos das cantineiras durante a merenda são corretos,
mas outros funcionários da escola (professoras, diretora) às vezes utilizam o
espaço da cantina sem os cuidados necessários. Por exemplo: todas as
cantineiras utilizam fardamento adequado: avental, botas, gorro e rede nos
cabelos, ausência de bijuterias, e o mesmo não ocorre com outros funcionários
que eventualmente freqüentam a área de preparo de alimentos.
Foi perguntado as cantineiras quais alimentos que elas observam que as
crianças e jovens das escolas mais gostam e as respostas obtidas foram: arroz
com frango, feijão tropeiro, feijão com arroz, farofa de arroz com ovos e
cenoura. E os alimentos que eles menos gostam na opinião delas são a sopa
de macarrão, a canjiquinha e o arroz doce.
Ao fazer um paralelo entre as respostas obtidas nas entrevistas com as
crianças existe uma confirmação dos resultados. Visto que, o alimento citado
pelas crianças e cantineiras como sendo o mais preferido é o arroz com frango
e feijão tropeiro e o alimento que eles menos consomem e gostam é a sopa de
macarrão. Percebe-se, portanto, a necessidade de mudar este cenário, através
do estudo de outras possibilidades de receitas desse alimento dentro do
cardápio. Foi observado que a sopa de macarrão servida com legumes e
verduras possibilitará uma dieta rica em nutrientes e poderá ser apreciada
pelas crianças.
Em relação à questão relacionada ao respeito aos hábitos alimentares
das crianças no cardápio, foram obtidos os seguintes resultados: duas
cantineiras responderam que o cardápio contempla os hábitos alimentares
locais e dez cantineiras disseram que o cardápio oferece uma alimentação
mais completa e variada em relação à alimentação servida no dia-a-dia das
famílias.
61
Quanto às respostas obtidas nesta questão é necessário compreender
qual é a concepção das cantineiras em relação aos hábitos alimentares e seu
entendimento em relação ao conceito de alimentação saudável.
Ao responderem esta questão, faz-se necessário refletir sobre um
comentário feito pelas cantineiras:
“Em casa, eles não têm carne pra comer, e aqui na escola, toda semana
servimos carne. Aí sim estão comendo comida saudável”.
“As crianças comem em suas casas verduras, saladas e poucas vezes
comem carne. Às vezes, quando tem no quintal frango e galinha, é servido no
domingo uma” galinhada“, no mais, é só na escola mesmo. A vida hoje em dia
está muito difícil, o dinheiro pra comprar carne não tem”.
Após ouvir este comentário percebe-se nitidamente que o entendimento
de hábito alimentar saudável corresponde à existência da carne no cardápio.
Conclui-se que aquelas que responderam que os hábitos alimentares
saudáveis fornecidos pela merenda são melhores, podem querer significar que
uma alimentação rica em carnes é uma alimentação totalmente adequada.
Ao serem perguntadas sobre a ocorrência de algum problema na gestão
da alimentação escolar municipal, todas responderam que não há problemas.
Na opinião delas tudo está ótimo.
Quanto a sugestões para o PNAE municipal, sete cantineiras
responderam que não tem sugestões e quatro responderam que a merenda
deveria conter uma maior quantidade e variedade de verduras, pois às vezes, a
horta escolar não consegue abastecer adequadamente a merenda escolar.
Acreditam que este seja o motivo principal das crianças não gostarem da sopa
de macarrão, pois, geralmente é servido apenas o macarrão.
Outra sugestão feita por uma cantineira foi relacionada à necessidade de
um forno elétrico ou a gás para as cantinas escolares. Caso existisse o forno
poderiam estar preparando um alimento assado (bolos, biscoitos, pães, etc.)
que além de agradar o paladar das crianças poderia estar enriquecido da
multimistura
25
. O comentário feito é:
25
Multimistura é um alimento enriquecido produzido pela Pastoral da Criança, feito com farinhas,
farelos; contendo vitaminas e minerais.
62
“Se houvesse forno, nós podia fazê biscoito, quitanda, né? Aí a gente
podia colocar a farinha da Pastoral, pra nossas crianças crescê com saúde,
sem anemia e forte. Pois, quando a gente vê essas crianças esperando pela
merenda, é que a gente percebe como nosso trabalho é bom, como Deus
coloca cada um no lugar certo; uns plantando a roça e nós aqui fazendo a
comida pra eles não sentir mais fome!”
Neste momento da entrevista perguntei se a multimistura já tinha sido
acrescentada na merenda em algum momento. A resposta foi negativa, pois
segundo ela não é acrescentado nenhum alimento no cardápio sem
autorização do técnico responsável ou da diretora da escola. Era apenas uma
sugestão que ela gostaria de dar, visto que trabalhou como voluntária na
pastoral da criança e pode ver ótimos resultados com a utilização da
multimistura no cardápio.
Percebe-se que na fala desta cantineira existem dois pontos importantes
que merecem atenção: um que se refere ao papel social que a cantineira
exerce no contexto da alimentação escolar e outro ponto está relacionado à
percepção da importância da merenda para a vida das crianças. Em seu
depoimento ela percebe a necessidade da merenda reforçada, que possa
suprir as necessidades nutricionais das crianças, sugere uma alternativa para
sanar o problema e resgata a auto-estima, compreende seu papel social,
enquanto merendeira da escola. Este comentário possui uma relação direta
com o diagnóstico de pobreza apresentado nas escolas municipais.
Neste momento, vale ressaltar que a educação alimentar e capacitação
das pessoas envolvidas na alimentação escolar são fatores de suma
importância na gestão pública, pois os gestores terão que conhecer sobre
segurança alimentar e toda a importância social de valorização aos
profissionais envolvidos no processo.
Conforme a legislação que regulamenta a merenda escolar o programa
de capacitação das merendeiras municipal deve ter como meta resgatar o
prestígio e fazer com que elas reflitam sobre sua função no município, no Brasil
e no mundo, função que ultrapassa o simples ato de fazer comida em
quantidade e atinge a transmissão de um conhecimento alimentar básico na
construção da cidadania.
63
Quanto à importância da merenda escolar para as crianças, todas as
cantineiras responderam que a merenda representa a refeição mais completa
servida diariamente pra todas as crianças das escolas. Exceto, na “Escola
Municipal Prefeito Alberto Pimenta”, onde existem crianças com uma condição
financeira melhor, as quais geralmente levam lanche, não merendando a
merenda da escola. Porém, não existe uma postura da escola com relação a
esta questão, haja vista a importância da discussão deste assunto em
assembléia entre pais e mestres. A comparação entre a merenda da escola e a
merenda de casa é nítida, gerando transtornos durante o momento da
merenda. O depoimento reforça esta afirmação:
“Na hora da merenda na Escola Prefeito Alberto Pimenta, algumas
crianças ficam sentadas numa mesa separada, merendando lanches trazidos
de casa. As outras crianças ficam olhando e às vezes abandonam a merenda
da escola. Acho que todos deveriam merendar a mesma merenda!”
Quando perguntadas sobre a existência de reuniões entre as cantineiras
e os responsáveis técnicos pela merenda, foi respondido que sempre
acontecem reuniões com o intuito de tirar dúvidas e melhorar a qualidade da
merenda servida. Quando o técnico responsável pela merenda, vem fazer o
abastecimento mensal, elas têm oportunidade de conversar e resolver algum
problema eventual que tenha surgido.
No município são realizadas reuniões mensalmente com a coordenação e
os funcionários para trocarem experiências e proporem sugestões para
melhoria do trabalho realizado. Nota-se uma gestão participativa no que se
refere às possibilidades de mudanças e abertura para encontrar soluções.
Outro fator é referente à valorização do profissional que trabalha nos serviços
de alimentação; trocar experiências e informá-los sobre a importância de seu
trabalho no contexto educacional faz com que estes trabalhem de forma
organizada e correta. “Quanto mais aprimorada a democracia, mais ampla é a
noção de qualidade de vida, o grau de bem-estar da sociedade e de igual
acesso a bens materiais e culturais” (Matos, 1999, p. 26).
Quando perguntadas sobre a possibilidade do abastecimento da merenda
ser feito por produtores locais, onze delas responderam que existe
possibilidade, enquanto apenas uma respondeu que não é possível, pois
64
alguns produtores não possuem nota fiscal. Este dado apresentado ressalta
uma falta de organização ou legalização dos produtores e não falta de produtos
adequados para a merenda. Sobre a rotina de trabalho das mesmas, observa-
se que duas cantineiras de cada escola fazem o café e a merenda, enquanto
as outras duas, fazem a faxina e auxiliam na preparação da merenda. Esta
rotina de trabalho sofre algumas alterações, em alguns momentos as tarefas se
alternam.
Este fato traduz uma preocupação quanto à questão de segurança
alimentar, visto que, quando as atividades são realizadas separadamente e
com o máximo de cuidados higiênicos necessários podem-se evitar
contaminações alimentares. Mas, atividades ligadas à limpeza ou faxina de
ambientes poderão acarretar um comprometimento com a qualidade e
segurança da alimentação a ser servida, caso ocorra uma alteração na rotina
de trabalho. Essa alternância entre atividades ligada à manipulação de
alimentos e limpeza merece ser avaliada pelo técnico responsável pela
merenda.
Foi perguntado se são servidos alimentos que não constam do cardápio
oficial da merenda escolar, e as respostas obtidas foram: sete cantineiras
responderam que não; apenas são servidos os alimentos do cardápio e cinco
responderam que sim; são servidos alimentos disponíveis na horta escolar,
para complementar a merenda. Vale ressaltar que dentre as escolas
pesquisadas da amostra, duas possuem horta escolar (Escola Antônio Medina
Cardoso e Escola José Guimarães) e a Escola Prefeito Alberto Pimenta não
possui espaço disponível para a horta.
Quanto à questão da importância desse tipo de pesquisa para o município
de São João Evangelista, a Figura 12 demonstra as porcentagens das
respostas dos servidores sendo que 66% responderam que é um trabalho
muito importante, 17% responderam que é um bom trabalho e 17% não
responderam a questão.
65
66%
17%
17%
Muito importante Bom trabalho
Não res
p
onderam
FIGURA 12 – Avaliação da importância da pesquisa pelos servidores.
2.3 Percepção dos produtores rurais de São João Evangelista em
relação ao Programa de Alimentação Escolar.
Antes de relatar sobre as entrevistas feitas com os produtores rurais é
necessário apresentar os produtores locais existentes e suas ocupações dentro
do contexto do município.
Dentre as 785 propriedades rurais que exploram principalmente
bovinocultura de leite, milho, feijão, café, silvicultura, horticultura, apicultura,
existem também 172 estabelecimentos comerciais e 23 pequenas indústrias.
Em especial a agroindústria tem tido um crescimento ao longo dos anos. As
TABELAS 5 e 6 demonstram os dados das principais produções de São João
Evangelista-MG.
66
TABELA 6 – Principais produtos e quantidades produzidas no município.
Produção de Lavoura Temporária
Alho 03 toneladas
Amendoim em casca 03 toneladas
Arroz em casca 14 toneladas
Cana-de-açúcar 12.600 toneladas
Feijão em grão 740 toneladas
Mandioca 132 toneladas
Milho em grão 120 toneladas
Produção de Lavoura Permanente
Banana 900 toneladas
Café em grão 90 toneladas
Laranja 144 toneladas
Fonte: IBGE (2003)
TABELA 7 – Principais produtos agrossilvopastoris e respectivas produções do
município
Pecuária
Bovinos 22.684 cabeças
Suínos 4.170 cabeças
Eqüinos 850 cabeças
Ovinos 70 cabeças
Galinhas 18.900 cabeças
Galos, frangos e pintos 29.500 cabeças
Caprinos 125 cabeças
Outros
Vacas ordenhadas 7.990 cabeças
Leite de vaca 9.650 mil litros
Ovos de galinha 58 mil dúzias
Mel de abelha 3.631 kg
Fonte: IBGE (2003)
67
É necessário compreender que estes dados não retratam a produção real
do município, pois são dados obtidos pela emissão de nota fiscal, ficando a
produção comercializada informalmente sem registros na pesquisa do IBGE.
Mediante os dados apresentados foram entrevistados 15 produtores
rurais nas áreas de fruticultura (banana, laranja, abacaxi), agroindústria (ricota,
doces, queijo minas, mussarela, iogurte), horticultura (legumes e verduras),
apicultura (mel, própolis), lavouras de feijão, milho, mandioca e cana-de-
açúcar.
Na realidade do município existem dois tipos de situações: os produtores
rurais que produzem para subsistência de suas famílias e comercializam
apenas o excedente de produção e aqueles que possuem um plantio voltado
para o abastecimento do comércio local e externo.
Em 2006 foram registrados no município de São João Evangelista 68
produtores rurais que participam efetivamente da feira livre municipal, evento
que ocorre semanalmente aos domingos, e não foram constatados registros
referentes ao número de pequenos produtores que produzem para a própria
subsistência.
Grande parte das verduras, frutas e legumes consumidos pelos
moradores da cidade são oriundas do CEASA-BH (Central de Abastecimento
de Belo Horizonte).
Devido ao reduzido número de empresas e estabelecimentos comerciais
de S.J.E., o desemprego tem aumentado e com isso o êxodo rural é constante;
os jovens têm buscado os grandes centros brasileiros ou vão para o exterior
em busca da melhoria da qualidade de vida. Geralmente, os produtores rurais
que permanecem no campo, têm procurado atender as necessidades do
mercado e garantir uma melhoria da qualidade dos serviços oferecidos no
intuito de ampliar as possibilidades de mercado existente.
Todos os produtores rurais que participaram desta pesquisa possuem
propriedades rurais próximas das escolas e possuem idade entre 27 e 65 anos.
Ao serem indagados sobre há quanto tempo trabalham com a atividade
produtiva, as respostas variaram entre 3 a 10 anos. Inclusive três deles citaram
68
que mudaram recentemente de atividade. O comentário abaixo apresenta esta
situação:
“Antes eu mexia com gado pra leite, vendia o leite e fazia o queijo aqui
pra casa né? Então, como o preço do leite só ficava baixo, eu resolvi tentar
outro negócio. Meu filho fez um curso do SENAR-MG sobre mussarela e viu
que dava mais lucro e que é um bom negócio. Estou no novo ramo há quatro
anos e estou achando bem melhor. Toda mussarela que faço vendo bem
rápido; as coisas têm melhorado” (homem, 63 anos).
“Em 2003 eu comecei a plantar verduras, e aí tinha gente que só me
desanimava. Diziam:
_ Você tá ficando doido, deixar de mexer com porco e passar a vender
verduras é uma loucura!
Mas pra mim acho que as coisas melhoraram, pois vendo tudo o que levo
pra feira no domingo. Meus filhos me ajudam a plantar e mesmo o lucro sendo
pouco dá pra viver.”(mulher, 47 anos)
Ao serem perguntados sobre o significado de qualidade de vida, as
respostas variavam:
“É manter minha família bem”.(mulher, 40 anos).
“Qualidade de vida significa ser feliz, ter saúde e paz!” (homem, 59 anos)
“Penso que é poder estuda meu filho, ou se estou errado, e vê todo
mundo daqui de casa bem”.(homem, 59 anos).
“É ter paz, saúde, relacionamento, afetividade e condição financeira
boa”.(homem, 40 anos).
Foi perguntado sobre a existência de uma relação entre a atividade
exercida e a qualidade de vida alcançada; todos os entrevistados responderam
que sim, que a atividade exercida tem influência direta na qualidade de vida
alcançada e almejada. Ao responderem esta questão percebe-se uma certa
satisfação quanto à realização da atividade.
69
Quanto à produção mensal dos entrevistados, foram obtidos os seguintes
resultados, apresentados na TABELA 7.
TABELA 8 – Relação das produções dos produtores entrevistados
Produto Quantidade
Barras de mussarela 300 kg
Mel 500 kg
Propólis 05 kg
Verduras e legumes 15000 kg
Feijão 10.000 kg
Banana prata 50.000 kg
Mandioca 20.000 kg
Laranja 30.000 kg
Inhame 5.000 kg
Milho 300 sacos
Ao serem perguntados sobre o Programa de Alimentação Escolar
Municipal (PAE), todos os entrevistados responderam que conhecem um pouco
sobre o assunto. Relataram que é um programa que oferece merenda as
crianças e jovens estudantes das escolas; possui verba especifica do governo
federal para garantir este benefício.
Quanto ao interesse em comercializar o produto para a alimentação
escolar, apenas um entrevistado respondeu que não têm interesse, uma vez
que acredita que a compra estaria com os preços abaixo dos valores de
mercado. Os demais mostraram bastante interessados, pois acreditam que
possuem condições para se inserir neste mercado. Embora, apenas poucos
tenham condição de emitir nota fiscal, eles estão dispostos a buscar
mecanismos para que a comercialização ocorra legalmente.
Os depoimentos abaixo ilustram esta afirmação:
Acho sim, que há possibilidades de mercado para a merenda escolar. A
meu ver, o crescimento da apicultura está no mercado interno. Deve-se buscar
70
uma consolidação interna para depois buscarmos o mercado externo. Pois,
atualmente o mel é vendido mais nas cidades vizinhas do que em nosso
município, e deveria ser o inverso. Quando o mel passar a ser visto como
alimento, haverá toda uma mudança na concepção desse alimento para a
merenda escolar. O mercado está aí, basta apenas fazer parcerias! Desde que
hajam programas regionais entre as associações apícolas e as prefeituras,
haverá viabilidade para a merenda escolar”. (homem, 40 anos)
“Estou tentando vender para a merenda escolar; mandioca, feijão e creio
que vai dar certo, sim”.(homem, 37 anos)
“Faço queijo e crio porco pra engorda e quero um dia poder vender pra
merenda. Meu filho já estudou numa escola do meio rural e sei como a
merenda é importante. Ainda não ofereci meus produtos para a prefeitura”.
(homem, 40 anos)
“É muito viável buscar a comercialização para a merenda escolar, pois
são várias as vantagens: negócio fixo, pagamento em dia e contribuição para a
questão social da merenda escolar”. (homem, 40 anos)
Ao serem indagados sobre a participação em associações ou
cooperativas, um entrevistado respondeu que é associado, inclusive,
atualmente é o presidente da APIS (Associação de Apicultores de São João
Evangelista-MG), os demais não quiseram ainda associar-se, acham que não
há vantagem em associarem-se.
Quanto às dificuldades que têm enfrentado para vender para a merenda
escolar, oito produtores rurais citaram o problema principal que é a dificuldade
de fornecimento de nota fiscal para comercialização. Pois, sem a emissão da
nota não podem vender para a prefeitura, e, portanto não possuem canais de
ampliação de mercado na merenda escolar.
“Pretendo vender verduras e milho para a merenda escolar, pois além de
ser um alimento saudável e orgânico, posso contribuir para que nossas crianças
alimentem de comidas típicas da nossa região. São costumes da nossa terra
que precisamos manter, como, por exemplo, a pamonha que é um alimento
gostoso, barato e acessível. Hoje em dia, eu já posso emitir nota fiscal, e vendo
71
meus produtos em Guanhães e num sacolão em Ipatinga e em São João eu
vendo aqui na roça, isto quando alguém procura para comprar. Mas tenho
vontade de vender pra merenda sim”.(homem, 47 anos)
Pelas entrevistas pode-se observar que os produtores locais sabem da
importância da emissão das notas fiscais para o fornecimento de produtos para
a merenda de forma regular e legal. Embora todos não tenham percebido que
só através da organização em associações ou cooperativas registradas poderão
estar aptos na emissão das devidas notas. Outra possibilidade de mercado é
fazer uso do Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (Paal),
lançado em julho de 2003, Lei n. º 10.696/2003 pelo Governo Federal com o
objetivo de incentivar a produção dos pequenos agricultores. A proposta do Paal
é garantir recursos para que os agricultores familiares comercializem sua safra
por meio das compras dos produtos pelo Governo Federal, os quais serão
utilizados em programas de segurança alimentar nos municípios. Este programa
é uma das principais ações do Programa Fome Zero para incentivar os
pequenos produtores locais.
Ainda, conforme a legislação é possível realizar a compra de alimentos
perecíveis no valor de até R$8 mil por mês, sem licitação, mas para isso será
necessária a Criação do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), o qual irá
contribuir para assegurar a qualidade dos alimentos produzidos no município.
será possível comprar legumes, frutas e verduras no mercado da cidade ou na
feira perto da escola. Durante a entrevista ficou claro que os entrevistados
desconhecem tal programa governamental ou mesmo a legislação que permite
a abertura do mercado da merenda escolar.
2.4 Percepção do programa de alimentação escolar pelos gestores
do Programa Municipal de Alimentação Escolar
Ao serem indagados a respeito de pesquisa sobre aceitação da
alimentação escolar foi respondido que não têm sido feitas pesquisas por
iniciativa do município e geralmente o cardápio procura atender as
recomendações e exigências legais.
72
Em relação ao abastecimento de produtos, a aquisição é feita mediante a
apresentação de nota fiscal.
O cultivo da horta é coordenado atualmente pelo secretário da agricultura,
o qual tem procurado aumentar a produção da horta municipal localizada na
usina, com a finalidade de abastecer a alimentação escolar adequadamente,
pois mesmo com a parceria existente entre a EAFSJE – MG para aquisição de
hortaliças e legumes o abastecimento ainda não é suficiente. Existe por parte
da secretaria da agricultura e da educação um interesse na abertura do
mercado para os pequenos produtores uma vez que, após ter sido iniciada esta
pesquisa foram viabilizadas ações de compra para a alimentação escolar
Inclusive um produtor rural passou a comercializar banana prata para a
merenda escolar.
Quanto ao respeito aos hábitos alimentares locais, os gestores do
programa acreditam que os mesmos são atendidos e que o baixo valor pago
pela merenda não é suficiente para provocar alterações no cardápio atual.
Observa-se que os resultados obtidos neste estudo não indicam uma
proposta de educação nutricional sistematizada e orientada pelos responsáveis
pela merenda escolar. As ações ocorridas partem da iniciativa dos próprios
professores, diretora da escola e cantineiras não ocorrendo em todas as
escolas e geralmente são ações informais e às vezes são registradas. Inclusive
é de conhecimento dos dirigentes a existência de “vendinhas” em algumas
escolas sendo autorizado o seu funcionamento, apesar de relatarem sobre a
preocupação de uma alimentação que preconize hábitos saudáveis.
Na ótica dos professores e servidores diretamente envolvidos com a
merenda escolar, os fatores determinantes tanto da variedade quanto da
freqüência de alimentos servidos são: o custo mais acessível, a facilidade de
obtenção de produtos da própria região e, por último, o tipo e quantidade de
equipamentos disponíveis nas escolas.
Os cardápios da merenda escolar são definidos pela secretária de
educação e técnico em Economia Doméstica, os mesmos são feitos baseados
em recomendações legais sobre a alimentação escolar, e em experiências
vivenciadas nos dia-dia das escolas.
É relatado que na merenda servida no meio rural, ocorre uma maior
variedade de alimentos, em especial em relação a verduras e legumes
73
disponíveis nas próprias hortas escolares. Existe uma monotonia no cardápio,
uma vez que o mesmo se repete durante todo o ano, sem sofrer alterações.
Conforme depoimento do técnico responsável pela merenda não são
servidos alimentos assados, pois não existem fornos elétricos nas escolas, e o
modo de preparo não sofre alteração ao longo do ano, pois acreditam que a
merenda é apreciada pelas crianças.
A questão do baixo custo no planejamento do cardápio tem sido uma
meta na atual administração, e segundo os dirigentes PAE municipal as
compras ocorrem freqüentemente de forma legal, não ocorrendo qualquer
ilegalidade. Os treinamentos oferecidos para as cantineiras são realizados por
parceria entre a prefeitura e a Escola Agrotécnica Federal de S.J.E. e conforme
comentário da secretária da educação estão em andamento algumas propostas
de melhorias relacionadas às normas exigidas pelos manipuladores de
alimentos, como por exemplo, aquisição de fardamento adequado para todas
as cantineiras das escolas.
Quanto à necessidade de reuniões o técnico informa que sempre que
possível reúne com as cantineiras e com o conselho de alimentação escolar,
inclusive tem procurado atender as necessidades que surgem dentro do
possível.
74
CONCLUSÕES GERAIS
Conclui-se que a análise da gestão da alimentação escolar do município
de São João Evangelista – MG, envolve aspectos políticos, sociais e
econômicos, os quais precisam ser avaliados junto à comunidade escolar.
Os resultados obtidos em relação à apreciação da merenda escolar
pelas crianças das escolas mostram-se favoráveis, uma vez, que em geral o
cardápio é apreciado, necessitando apenas de contemplar uma maior
variedade de frutas, hortaliças e alimentos da própria cultura local.
Quanto ao cardápio escolar, apesar do mesmo atender as exigências
legais mínimas de nutrientes, torna-se difícil uma avaliação nutricional da
merenda, pois os alimentos apresentados no cardápio sofrem alterações
devido à freqüência de alguns alimentos disponíveis para algumas escolas. Um
exemplo disso é a maior variedade de hortaliças nas escolas situadas na área
rural, as quais possuem hortas que produzem com maior fartura durante o ano,
ainda demonstra uma certa monotonia não só na escolha de tipos de
alimentos, mas também das formas de preparo destes.
Embora a região apresente uma grande variedade de alimentos
nutritivos, os mesmos não estão presentes no cardápio, necessitando incluí-los
para uma valorização da cultura local e fortalecimento dos hábitos alimentares,
em especial a inclusão de frutas e sucos naturais para o consumo. Esta
inclusão ampliaria o mercado para os pequenos produtores rurais, os quais
75
poderiam vender seus produtos para a merenda escolar e conseqüentemente
melhorar a qualidade de vida, numa proposta de desenvolvimento sustentável.
Considerando a realidade socioeconômica das famílias das crianças das
escolas pesquisadas faz-se necessário uma abordagem educativa e o
desenvolvimento de projetos nutricionais que possam incentivar hábitos
alimentares saudáveis, sendo necessário que os gestores do PAE municipal
eliminem as “vendas” do espaço escolar.
A presente pesquisa apresentou a percepção dos produtores locais e as
possibilidades de ampliação do mercado da alimentação escolar pelo poder
público, e existe na atualidade uma vontade política de ampliação deste
mercado, necessitando, porém de projetos que viabilizem tais ações. Durante
esta dissertação pude pesquisar que na região têm sido desenvolvidos projetos
relacionados à ampliação dos mercados da merenda escolar, por exemplo, o
projeto do Movimento de Desenvolvimento Sustentável (MDS) realizado pela
EMATER de Braúnas, que tem possibilitado a compra de alimentos pelos
pequenos produtores locais para abastecimento da merenda escolar municipal,
através de verba específica do projeto.
Percebe-se que a gestão municipal de São João Evangelista está
preocupada com a melhoria da qualidade da alimentação escolar, porém
necessita fortalecer alguns elos entre as ações da Secretaria de Educação e a
Secretaria de Agricultura para que ocorram ações conjuntas tendentes ao
fomento do desenvolvimento sustentável.
Neste contexto é importante relatar que durante as pesquisas algumas
ações foram desenvolvidas no sentido de oportunizar a comercialização de
frutas por produtores rurais da localidade. Exemplo disso tem sido a compra da
banana prata, visto que o alimento é bastante apreciado pelas crianças.
76
RECOMENDAÇÕES DE TEMAS PARA PESQUISAS FUTURAS
A presente pesquisa não se esgota, procura apenas responder as
questões do tema proposto. Sugere-se, dessa forma, que outros estudos sejam
efetuados, a fim de complementarem os resultados obtidos neste trabalho, tais
como:
¾ O estudo dos alimentos regionais e sua avaliação nutricional
¾ A relação entre a alimentação oferecida pela escola e o rendimento
escolar dos alunos
¾ O estudo do programa municipal de desenvolvimento sustentável.
¾ A educação alimentar no contexto educacional.
77
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83
ANEXOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADA AS CANTINEIRAS DAS ESCOLAS
MUNICIPAIS.
Nome:
Escola:
1- Como você avalia a aceitação da merenda pelas crianças de sua
escola?
2- É oferecido treinamento ou capacitação para você no que se refere à
alimentação escolar?
3- Quais os alimentos servidos na merenda escolar que as crianças mais
gostam?
4- Quais os alimentos servidos na merenda escolar que as crianças menos
gostam?
5- O cardápio da escola está de acordo com a realidade dos hábitos
alimentares das crianças?Explique.
6- Existe algum problema com relação a merenda escolar que você
gostaria de comentar?
7- Quais as sugestões que você pode dar para a gestão da alimentação
escolar do município?
8- Qual a importância da merenda para você?
9- Existem reuniões com as cantineiras e os responsáveis pela merenda,
no sentido de avaliarem o programa e de discutirem propostas que
possam contribuir para a melhoria da alimentação servida?
10- Você acha possível o abastecimento de alguns produtos da merenda ser
feito pelos produtores locais, gerando melhoria de renda e
desenvolvimento local? Em caso afirmativo, dê sua opinião sobre ações
que possam ser implantadas nesse sentido.
84
11- Comente sobre as atividades que você exerce durante o dia na cantina
da escola em que trabalha.
12- Existe algum(s) alimento (s) que você utiliza na merenda que não são
oferecidos pela prefeitura? Em caso positivo, cite-os e explique como
são adquiridos.
13- Qual a sua opinião sobre a relevância desse trabalho para a merenda
escolar municipal?
14- Sugestões que julgar necessária:
Suas falas e comentários serão muito importantes para o desenvolvimento
deste trabalho. Obrigada!
85
ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA COM PRODUTORES RURAIS DE
SÃO JOÃO EVANGELISTA-MG.
Nome:
Idade:
Atividade de produção:
Local onde a atividade é exercida:
Há quanto tempo você trabalha com essa atividade produtiva?
O que significa qualidade de vida para você?
Existe alguma relação entre a atividade que você exerce e sua qualidade
de vida? Explique.
Você considera sua atividade importante para sua cidade?
Qual a produção mensal:
Você conhece sobre o programa municipal de merenda escolar?
Você teria interesse em comercializar seu produto para a merenda
escolar municipal?
Caso sua resposta acima tenha sido positiva, quais seriam as vantagens
desta comercialização?
Você é associado a alguma cooperativa ou associação?
Qual a sugestão que você daria para que o produtor rural pudesse se
inserir no mercado de trabalho de São João Evangelista?
Agradeço sua colaboração ao responder estas perguntas. Esta
entrevista faz parte de um projeto de mestrado que tem por objetivo avaliar a
gestão do programa de alimentação escolar do município de São João
Evangelista-MG e buscar alternativas de inserção dos produtores rurais no
mercado da merenda escolar, na busca de uma alimentação saudável,
regionalizada e fortalecedora dos hábitos alimentares locais.
86
ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADA AOS ALUNOS DAS ESCOLAS DE
SÃO JOÃO EVANGELISTA
ASSUNTO: MERENDA ESCOLAR
NOME DO ALUNO:-------------------------------------------------------------
ESCOLA:---------------------------------------------------------------------------
IDADE:----------------------- SÉRIE:------------------------
1. Marque com x os alimentos que você gosta que sejam servidos na merenda
de sua escola?
( ) farofa de arroz com ovos e cenoura ( ) sopa de macarrão
( ) tutu de feijão ( ) arroz com frango
( ) arroz doce ( ) arroz simples
( ) canjiquinha com carne de boi ( ) feijão inteiro
( ) salada ( ) feijão tropeiro
2. Marque com um x os alimentos que você não gosta que sejam servidos na
merenda escolar?
( ) farofa de arroz com ovos e cenoura ( ) sopa de macarrão
( ) tutu de feijão ( ) arroz com frango
( ) arroz doce ( ) arroz simples
( ) canjiquinha com carne de boi ( ) feijão inteiro
( ) salada
( ) feijão tropeiro
3. Como você avalia a merenda escolar de sua escola:
( ) ótima ( ) boa
( ) regular ( ) ruim
4. Por quê?
5. Quais os alimentos que você consome no seu dia-a-dia e que gostaria que
existissem na merenda escolar?
6. Qual a importância da merenda para você?
87
ROTEIRO DE ENTREVISTA REALIZADA AOS RESPONSÁVEIS PELA
ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO EVANGELISTA -
MG.
1) Qual a composição do cardápio da alimentação escolar?
2) Quantas escolas municipais possuem o programa de alimentação
escolar e quais são elas?
3) Como é realizado o sistema de compras de alimentos para a
alimentação escolar?
4) Existem parcerias do município com instituições e/ou sociedade para
complementação dos recursos do Programa? Caso existam, explique
sobre estas parcerias.
5) A prefeitura desenvolve junto com a comunidade escolar algum projeto
relacionado à alimentação escolar?
6) Descreva a realidade sócio-econômica das famílias que pertencem à
comunidade escolar municipal, e comente sobre a importância da
alimentação escolar neste contexto.
7) Apresente algumas ações desenvolvidas pela gestão da alimentação
escolar dentro do município.
8) Existe participação das associações de pequenos produtores rurais no
programa de alimentação escolar do município? Em caso negativo, quais
têm sido as dificuldades desta interação?
9) Qual a avaliação que você faz da atual administração da alimentação
escolar do município?
10) Na sua opinião, qual a relevância desta pesquisa para a sociedade e
para o município em geral?
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