que tudo acontece, pois no bairro vive sua família, os seus amigos e é onde está a escola,
enfim é o único universo que conhece, onde, inclusive, todos se identificam pelo seus
costumes, calores e linguagem.
Observamos que a história se inicia na casa, logo que amanhece o dia. Depois segue,
exatamente nesta ordem: no colégio, no posto médico do bairro, no bar da esquina e
novamente na casa, completando um ciclo. Vemos que, no mesmo espaço que houve
divergência por conta de o avô não querer a festa, houve também a alegria proporcionada pela
festa, assim o elemento festa proporcionou dois tipos de emoção que se contrapõem.
Para finalizar a narrativa, a autora proporciona ao leitor a “visão” da cena, através da
narração de Manolito, que a descreve minuciosamente. Sentados em um dos poucos bancos
inteiros do parque, o pequeno Imbécil dorme com cabeça no colo do avô e os pés em Manolito,
que apreciam o pôr-do-sol, o qual, segundo eles, é o mais bonito do mundo. Nessa cena há um
“acontecimento mágico”, pois em pleno mês de abril, no bairro Carabanchel Alto, o sol se põe
tarde como se estivessem no verão. Para dar veracidade à cena, Manolito diz que os cientistas
não conseguem explicar o porquê de o verão, no Carabanchel Alto, começar no dia do
aniversário de seu avô.
Os personagens presentes no corpus são os seguintes: narrador/personagem Manolito,
sua mãe, que não é identificada pelo nome no corpus (assim como no resto da obra), seu
irmão caçula apelidado de Imbecil, seu avô Don Nicolás, a professora Sita Assunción, o pai
Manoel Garcia Moreno, os vizinhos Luisa e Bernabé, os amigos do avô, os amigos de Manolito
(Orejones Lopez, Paquito Medina e Yihad), o dono do bar Sr. Ezequiel e o Doutor Morales. Na
narrativa, todos os personagens citados têm “voz”, ou seja, todos se expressam, seja por meio
do discurso indireto, seja por meio do discurso direto, encontramos ainda alguns poucos
discursos diretos livres.
Embora não tenhamos explorado esse aspecto de forma contundente, pudemos
observar que os discursos diretos e os indiretos se apresentam praticamente na mesma
proporção, sendo que a maior parte dos discursos diretos pertence ao avô.
O uso do discurso direto garante maior realidade ao texto, assim, ao encontrar esse tipo
de discurso na narrativa, o leitor tem a sensação de estar “ouvindo” exatamente o que
determinado personagem disse, visto que não há a voz de um narrador que fale por ele.
Porém, a fim de não tornar o texto cansativo e aproxima-lo de uma situação real, o
narrador intercala ao discurso direto o discurso indireto, pois, quando nos expressamos
oralmente, fazemos uso dessas duas formas de discurso.
A pessoa que mais tem “voz” no texto, além de Manolito, que narra a história, é seu avô,
depois sua mãe. Já seu pai, se expressa apenas uma única vez, mesmo assim, através do
discurso indireto; o irmão não se expressa nunca, é como se Manolito não lhe desse esse